Filipenses 3
Filipenses 3
Filipenses 3
Esses versículos – vs. 1 ao 11 - contêm a condenação que Paulo faz dos falsos
mestres, que entendiam a obediência à lei como o caminho para obter ou
manter a salvação.
Esse apelo – Finalmente, meus irmãos, alegrai-vos no Senhor - é exatamente
reafirmado em 4.4. A intenção de Paulo não era a de mandar ou recomendar
que os filipenses fossem alegres no sentido de que tristeza ou desânimo
devem ser interpretados como pecado.
Se esse fosse o caso, então o próprio Cristo pecou (Lc 19.41; 22.44; Jo 11.35).
Suas palavras eram uma expressão de esperança e ânimo de que os filipenses
fossem felizes nas boas coisas que Cristo havia dado a eles.
Isso se refere ao que Paulo estava para dizer-nos vs. 2-21 (veja o vs.18). Aqui
Paulo repetia material que ele havia previamente comunicado tanto
pessoalmente quando por carta, como uma "garantia" contra os falsos mestres
na igreja.
Os inimigos de Paulo podem ter sido tanto cristãos judaizantes (como em
Gálatas) quanto judeus não cristãos que defendiam a lei de Moisés e insistiam
na circuncisão como o símbolo da salvação (At 15.1).
Por isso que ele alerta para terem cuidado com os cães. Apesar de que "cães"
era, às vezes, um termo judeu para gentios (cf. Mt 15.22-27; Mc 7.26-28), a
metáfora era também aplicada aos judeus pecadores (cf. Is 56.10-11), talvez
afirmando que eles não eram melhores do que os gentios.
Em Ap 22.15 a metáfora identifica todos os pecadores sem referência à etnia.
Não eles, os cães, mas nós é que somos a circuncisão. Em resposta aos
judaizantes (aqueles na igreja visível que insistiam em manter a lei mosaica
juntamente com a fé em Cristo como um meio de assegurar santidade e
aceitação diante de Deus) e sua ênfase errônea com relação ao rito da
circuncisão, Paulo afirmou que os cristãos são a verdadeira circuncisão (ou
seja, a verdadeira Israel espiritual; cf. GI 3.6-4.7).
Os da verdadeira circuncisão, não da carne, mas do coração – vs. 3:
Isso está em nítido contraste com "confiança na carne". Como empregado por
Paulo, esse termo – carne - muitas vezes engloba tudo o que é natural e
humano (p. ex., Ef 6.5, onde no grego é traduzido "terreno"). Nesse versículo –
vs. 3 -, entretanto, o ato físico da circuncisão é que está sendo considerado
(v.5; cf. GI 6.12-15).
Esses versículos – vs. 4 a 6 - listam as sete maiores realizações de Paulo nos
seus dias como legalista.
· Circuncidado no oitavo dia de vida.
Paulo havia sido circuncidado de acordo com Gn 17.12.
· Pertencente ao povo de Israel.
Veja Rm 9.3-4; 11.1.
· Pertencente à tribo de Benjamim.
Paulo, anteriormente Saulo de Tarso, pode ter sido nomeado pelo rei Saul,
também um da tribo de Benjamim (1 Sm 9.1-2).
· Verdadeiro hebreu.
Ou hebreu de hebreus. Essa expressão pode indicar que o hebraico (ou
aramaico) era falado em sua casa (At 6.1; 22.2), diferenciando-o de outros
judeus de Diáspora que não mais falavam a(s) língua(s) de sua herança étnica.
· Quanto à lei, fariseu.
A vida de Paulo era de escrupulosa obediência à lei, que incluía tanto a Tora
como as tradições farisaicas elaboradas sobre ela (At 22.3; 26.5; GI 1.14).
· Quanto ao zelo, perseguidor da igreja.
Veja At 9.13-14; 22.4-5; 26.9-11; veja também 1 Co 15.9; GI 1.13-14.
· Quanto à justiça que há na lei, irrepreensível.
Essa frase também pode ser traduzida "quanto à justiça estabelecida na lei, ou
requerida pela lei" (cf. o v. 9), irrepreensível.
Essa não era uma declaração de pureza absoluta (Rm 7.7-13), mas de
fundamental fidelidade ao estilo de vida que o Antigo Testamento prescrevia. A
obediência de Paulo à lei era louvável, mas a sua "confiança" resultante (a
palavra é repetida três vezes nos vs. 3-4) era pecaminosa.
Tudo isso para Paulo, antes era lucro, mas agora, não. Paulo obviamente não
estava pensando nas suas transgressões à lei, mas na sua escrupulosa
obediência aos seus mandamentos (vs. 6).
Por causa de Cristo aquilo que lhe parecia lucro, ele agora considerava perda.
A decisão foi ainda mais significativa porque ele (pelo menos em parte) havia
renunciado a uma virtude (muitas vezes, é mais difícil renunciar a uma virtude
do que a um vício).
No entanto, Paulo via que quanto mais nobre a linhagem e mais virtuosos os
feitos de uma pessoa, maior era a tentação ao orgulho e à autoconfiança (Lc
18.9-14; Ef 2.8-9). De modo voluntário, Paulo havia se desfeito de todas as
fontes de autoconfiança e lucro pessoal "por causa de Cristo".
Mais ainda do que tudo isso, ele agora considerava essas coisas valiosas,
antes, agora como refugo. A palavra grega aqui é gráfica; na versão do rei
Tiago, ela é mais apropriadamente traduzida por "estrume". Paulo deitou fora
com repugnância tudo o que o pudesse interferir na "sublimidade do
conhecimento de Cristo Jesus".
Vejamos o que diz os vs. de 9 a 11. O vs. 9 fala de justificação, o vs. 10 de
santificação e o vs. 11 de glorificação. A sequência de privilégio, morte e
exaltação sugere uma ligação com 2.6-11.
A justiça de Paulo, agora, não procedia da lei, antes vinha mediante a fé em
Cristo. Paulo reconhecia que a salvação é baseada não em obras humanas de
obediência à lei, mas inteiramente e exclusivamente na "justiça que precede de
Deus", que é dada àqueles que estão unidos com Cristo (Rm 1.16-17; 3.21-26).
Ela nos é dada mediante a fé em Cristo. Cristo é o objeto da fé (GI 2.16), e
agora que Paulo confiava somente em Cristo, ele havia abandonado toda a
confiança em suas próprias credenciais (vs. 7-8).
A fé é o meio, não a base, da salvação. Paulo declara que nós somos salvos
por meio da fé, nunca que somos salvos por causa da fé. O mérito de Cristo é
a base da salvação. A fé é o instrumento que liga os crentes a Cristo e seu
mérito.
Por isso que ela é baseada na fé. Essa frase pode ser traduzida "dada por
Deus em resposta à fé". A fé recebe o dom de Deus da justiça (Rm 3.22; 5.17),
e o exercício da fé precede o veredicto de Deus da justificação (Rm 4.3; 5.1; GI
3.6).
Na teologia reformada, tem sido tradicionalmente dito de que a "fé precede a
justificação", não em termos de tempo, mas em termos de prioridade lógica. A
justificação da pessoa depende da fé, não é a fé da pessoa que depende da
justificação, embora as duas ocorram simultaneamente.
Este era o desejo de Paulo, expresso sinteticamente do vs. 10:
· Queria Paulo conhecer a Cristo.
· Queria Paulo conhecer o poder da sua ressurreição.
· Queria Paulo conhecer a participação em seus sofrimentos.
· Queria Paulo tornar-se como ele em sua morte para de alguma forma
alcançar a ressurreição dentre os mortos.
Conhecer a Cristo – vs. 10 - era o anseio mais ardente de Paulo (1.20-24). Ele
não falava meramente de uma percepção mental mais aguçada, mas também
da profundidade de uma união pessoal.
As próximas duas orações explicam como conhecer Cristo é experimentado
nesta era: ele queria também conhecer o poder da sua ressurreição - a
identificação com o Cristo crucificado e ressuscitado é fundamental para a vida
cristã – e queria ainda conhecer ou participar dos seus sofrimentos.
Em todos os lugares (p. ex. 2Co 4.7-11), Paulo ensinou que é pela participação
no sofrimento de Cristo que o poder da ressurreição de Cristo é manifestado na
vida do cristão.
Essa identificação com os sofrimentos de Cristo envolve não somente martírio
(2.17), mas toda a vida. Paulo não era nisso cético e nem presunçoso.
Ele reconhecia que a perseverança dos crentes depende do desejo e da obra
do Deus soberano (1.6; 2.13; 3.12-14,21).
Compartilhar o sofrimento de Cristo é uma preparação para compartilhar a sua
glória na ressurreição dos mortos (vs. 20-21; Rm 8.17).
Dos vs. 3.17 ao 4.1, Paulo vai falar contra os libertinos. Esse parágrafo é
direcionado especialmente (embora não exclusivamente) contra o
antinomianismo (a crença de que o cristão não está sujeito à lei moral de
Deus), o que com frequência resulta de uma exagerada reação ao legalismo
(cf. vs. 2-11). GI 5.13-26 também trata desse problema.
Paulo os exorta a eles serem imitadores dele e dos que andam de acordo com
o padrão que lhes foi apresentado por eles. O exemplo de Paulo foi o oposto
do que foi expresso nos vs. 18-19. Paulo era fiel à cruz (GI 6.14), Cristo era a
sua glória (vs. 21; cf. o vs. 3), e a sua mente estava voltada para as coisas
celestiais (vs. 20-21).
Esses versículos – vs. 18 e 19 - poderiam descrever todos os tipos de
antagonistas (cf. 1Co 1.23), incluindo os judaizantes (vs. 2-6; GI 2.15-21).
Nesse caso, Paulo devia estar pensando especialmente nas pessoas que
concebiam como um puro espírito e que desprezavam a ideia de sua salvação
por meio da encarnação e um "corpo de sua carne, mediante a sua morte" (CI
1.22).
Essas pessoas consideravam-se como vivendo numa atmosfera espiritual
elevada que as deixava livres para gozarem os prazeres sensuais, como a
glutonaria ("o deus deles é ventre") ou o prazer sexual ("a glória deles está na
sua infâmia"). Compare com 1Co 6.9-10.
Paulo chorava – vs. 18 -, não porque temesse que alguém pudesse desfazer o
que Cristo havia feito, mas por causa da destruição que aguardava aqueles
que se opunham ao evangelho. Esse destino (vs.19) completa um processo
destrutivo iniciado pelo próprio pecado deles (Rm 1.18-32; GI 6.7-8).
Enquanto esses somente pensam em coisas terrenas – vs. 19 – a nossa
cidadania, a nossa pátria está nos céus – vs. 20. Assim como Filipos era uma
colônia romana (At 16.12), a igreja é uma colônia do céu. Os crentes
pertencem ao céu porque é onde Cristo habita agora.
Quando Cristo retornar em glória, entretanto, a maravilha do céu virá para a
terra, e os crentes terão o seu lar nos novos céus e na nova Terra (veja Ap
21.1-5).
Por isso que ansiosamente aguardamos o Salvador. Essa antecipação é
equivalente ao anseio de 1.23. Todos os outros usos desse verbo nas epístolas
de Paulo têm um foco semelhante na consumação dos tempos quando da volta
de Cristo (Rm 8.9,23,25; 1Co 1.7; GI 5.5).
Em vez de desprezar o corpo físico e o mundo físico como alguns de seus
oponentes faziam, Paulo entendia – vs. 21 - que a salvação estaria incompleta
até que o físico fosse totalmente transformado.
Aqui – Fp 3.21 - Paulo celebra a futura transformação do corpo dos crentes
(1Co 15.50-53) que terão como Cristo um corpo de glória.
O próprio Cristo ressuscitou fisicamente da tumba, as "primícias" de uma
grande colheita (1Co 15.20-23). O Pai vindicou a obediência de Cristo (2.6-11);
e a fé dos crentes em aflição, prenuncia a sua gloriosa ressurreição.
Em aspectos gerais !
Comentários
3.1 - Para resumir tudo o que disse sobre uma vida digna de Cristo, Paulo
acrescenta que vos regozijeis no Senhor. Este regozijo é no Senhor, não nas
circunstâncias. Deus sempre está no comando, por isso, mesmo na prisão,
Paulo pode regozijar- se. Consequentemente, ele não se aborrece (incomoda)
de incentivar os filipenses a regozijar-se. Seria uma garantia para a conduta
deles porque eles tomariam a atitude correta. A preocupação de Paulo era que
os filipenses não caíssem na armadilha preparada por aqueles que estavam
dentro da igreja e apoiavam a heresia, por isso o apóstolo disse que seus
conselhos são segurança.
3.2 - Nos tempos do Novo Testamento, cães eram animais odiados. O termo
passou a ser usado como referência a todos os que tinham uma mente impura
no que diz respeito à moral. Uma vez que o termo obreiros era usado
ocasionalmente para identificar aqueles que propagavam uma religião, é
provável que as palavras maus obreiros aludam a mestres que estavam
espalhando doutrinas destrutivas.
3.4-7 - Paulo fala como se pudesse confiar na carne para mostrar que a razão
por que ele não confiava nas credenciais judaicas não era o fato de que não as
tinha, mas de que elas não poderiam cumprir a justiça que somente Deus podia
prover.
Hebreu de hebreus. Esta descrição de Paulo pode indicar que (1) seus pais
eram judeus, (2) ele era um judeu exemplar ou (3) ele foi totalmente educado
como um judeu. Quanto ao termo fariseu, este se refere a líderes judeus muito
instruídos que encabeçaram a oposição contra Jesus enquanto Ele esteve na
terra e, tempos depois, contra a Igreja. Seguiam à risca e defendiam a carta da
Lei judaica. O próprio Paulo veio de uma linhagem de fariseus (At 23.6) e havia
estudado com Gamaliel, um fariseu muito respeitado daquela época (At 22.3).
3.8 - A palavra excelência indica que o valor de conhecer Cristo excede todas
as outras coisas (Fp 2.3; 4.7). O termo esterco significa algo detestável ou sem
valor. Todas as coisas deste mundo são esterco comparadas a Cristo. Até as
nossas justiças [são] como trapo da imundícia (Is 64.6). No tocante à sentença
para que possa ganhar, o primeiro ganho (v. 7) é substituído pelo último ganho:
Cristo Jesus (Fp 1.21).
3.9 - A minha justiça que vem da lei. Nos versículos 6 e 7, Paulo revela o
caráter inútil da justiça que estava na Lei. Neste versículo, ele comenta que sua
própria justiça, que se baseava naquela Lei, também era vã. Neste sentido,
Paulo reconhece que a verdadeira justiça é uma questão de fé, pela fé em
Cristo, não de obras. E a justiça de Deus que vem por meio de Cristo, não a
nossa.
3.10 - Paulo mostra que rejeitou sua própria justiça para obter não
simplesmente um conhecimento intelectual de Cristo, mas também um
conhecimento relacional; na verdade, para conhecê-lo [Jesus] intimamente, e a
virtude da sua ressurreição. O apóstolo não diz virtude na Sua ressurreição, o
que especificaria a virtude do fato da ressurreição de Jesus. Em vez disso,
Paulo procura a constante virtude que é a experiência diária de estar em Cristo.
E possível que ele também esteja referindo-se ao desejo de ser revestido de
seu próprio corpo ressurreto.
3.11 - Chegar significa alcançar, bem como tornar-se participante de. Paulo
não estava duvidando de sua participação na ressurreição, mas, em vez disso,
vendo-a com expectativa (1 Co 15.1-34). Paulo desejava estar com aqueles
cristãos que, por meio de sua vitória em Cristo, receberiam a recompensa
especial na ressurreição (Hb 11.35).
3.12 - Não que já a tenha alcançado. Paulo escolheu uma palavra grega
diferente daquela traduzida no versículo 11 como chegar. Neste texto, ele
indica que ainda não se apoderou de ou conquistou tudo o que ele
procurava ser. O termo grego traduzido como perfeito significa maduro
ou completo, acabado. Não denota especificamente uma perfeição moral
ou pura. Paulo não está falando de justiça ou perfeição moral, mas de
alcançar o estado de perfeição como cristão. A forma verbal prossigo
indica que Paulo persegue com toda a velocidade intencional,
continuamente, o objetivo que tem diante dele. A palavra alcançar
acrescenta ao sentido de apoderar-se de algum objeto a ideia de apanhar
de surpresa. Paulo quer urgentemente estar com Deus, uma vez que foi
conquistado por Ele (At 9.1-22). Cristo se apoderou de Paulo de forma
drástica e súbita na estrada para Damasco, e a vida do apóstolo nunca
mais foi a mesma depois disso.
3.13 - Paulo não podia apagar o passado de sua memória, mas se recusou a
deixar que ele o impedisse de avançar em direção ao seu objetivo. O apóstolo
queria esquecer seu passado moralista (v. 4-7). Ao usar o verbo esquecendo-
me no tempo presente, Paulo estava indicando que se trata de um processo
contínuo. Talvez ele até estivesse indicando que queria esquecer-se de tudo
para não apoiar em seu passado os êxitos em Cristo, mas continuar a trabalhar
para o Senhor. A expressão verbal avançando para significa completamente
estendido. E usada para se referir a um cavalo que se estica e esforça-se para
conquistar a vitória em uma corrida.
3.15 - Quanto ao termo perfeitos, Paulo usa a forma adjetiva (gr. teleios) da
forma verbal (gr. teleioo) que ele registra em Fp 3.12 (perfeito). Um modo de
entender como essas palavras estão relacionadas é reconhecer que no
versículo 15 Paulo está falando sobre a postura ou posição de alguém em
Cristo, enquanto no versículo 12 está discutindo o nível de crescimento
espiritual de um cristão.
Outra forma de associar esses dois vocábulos é imaginar que Paulo está
usando um toque de sarcasmo ou ironia no versículo 15. Assim, quando ele
comenta sobre aqueles que são perfeitos, é possível que esteja zombando dos
que espalhavam heresias entre os filipenses que acreditavam que já haviam
alcançado a perfeição.
3.16 - Andemos segundo a mesma regra. Paulo ordena aos filipenses que se
comportem como soldados que marcham em fila juntos, organizados, cada um
em sua própria posição.