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Como fazer um roteiro para um

filme
Juliana Vaz

https://ebaconline.com.br/cursos-de-audiovisual
Como fazer um roteiro para um
filme
Tire a ideia do papel

Desenvolva sua história

Busque referências

Quem é seu público-alvo

Defina a viabilidade do projeto, o conflito, a curva dramática

Construa personagens consistentes

Faça o argumento, a escaleta

O roteiro: exemplos a partir de “A Cidade de Deus”


O roteiro é um documento essencial para que projetos
Como fazer um audiovisuais ganhem forma. Neste texto, você irá
encontrar dicas de como elaborar o seu de forma
estruturada e profissional.
roteiro para um Trata-se de um documento narrativo que guia as cenas e
filme diálogos de qualquer produto audiovisual: filmes, comerciais
publicitários, programas de tv, animações, vídeos para redes
sociais, podcasts, videocasts e até mesmo os games. Neste texto,
Juliana Vaz iremos focar na construção de um bom roteiro para filmes e
séries.

O roteiro é essencial para que o projeto ganhe forma, pois é a


partir desse documento que os processos de produção
começam. Por exemplo, o produtor lê o roteiro e desenvolve uma
lista do que será necessário, prepara um orçamento prévio de
custos, busca os profissionais necessários para o projeto dar
continuidade (como maquiador, cinegrafista, editor de vídeo),
define qual será o local da gravação, quais são os personagens,
etc.
Como fazer um
roteiro para um
filme
É importante ressaltar que o roteiro é um
documento que passa por várias revisões e tem
alterações contínuas até chegar a uma versão
final. Existem filmes que demoraram anos para
terminar o processo de escrita e revisão do roteiro.
Cidade de Deus, dirigido por Fernando Meirelles e
Kátia Lund e roteirizado por Bráulio Mantovani, por
exemplo, passou por 12 tratamentos (revisões e
alterações, no jargão audiovisual) até ficar pronto.
O roteiro não conta a história, ele “mostra” como
será a história. Diferentemente da literatura, em
que é possível descrever emoções e os
sentimentos dos personagens, no roteiro, isso
Como começar a deve ser evidente através das ações.

escrever um Ao ler o documento, uma pessoa deve ser capaz


roteiro de imaginar o que o roteirista quis dizer. Por
exemplo, num roteiro a montanha do Everest não
deve ser descrita minuciosamente, mas o que vai
acontecer com os personagens naquele lugar. O
roteirista deve ser capaz de traduzir
imageticamente o que ele quer para as cenas.

E para que isso aconteça, indicamos algumas


dicas essenciais para desenvolver um roteiro. Mas,
lembre-se, cada autor tem seu próprio método de
criação.
Tire a ideia do papel
Uma boa ideia por si só não é suficiente. Para tornar concreto o que
está na sua imaginação, é preciso ter uma boa história, personagens
bem desenvolvidos e um bom conflito.

Desenvolva sua história


Ideias simples, aquelas que a gente não se perde para contar,
acabam rendendo grandes histórias. Uma ideia aparentemente
simples pode ser desenvolvida com maestria. Um bom exemplo é
Aquarius, do cineasta brasileiro Kleber Mendonça Filho, de 2016. O
longa gira em torno da personagem vivida pela atriz Sônia Braga, que
trava uma batalha contra uma construtora. A empresa quer derrubar
o prédio em que a personagem vive (e é a única moradora), mas que
se nega a vender seu apartamento, impossibilitando a transação
imobiliária. O filme foi indicado à Palma de Ouro no 69ª Festival de
Cannes e ganhou diversos prêmios latinoamericanos.

Para que uma ideia simples seja bem retratada é preciso pesquisar
sobre o tema e se perguntar: isso já foi feito? O que de novo pode ser
acrescentado? Outro ponto importante é definir o gênero, se será um
drama, uma comédia ou quem sabe um suspense.
Busque referências
Embora cada roteirista desenvolva seu próprio processo, pesquisar sobre o
tema que se deseja retratar é uma importante etapa para embasar a
história. Um caminho é a leitura de livros especializados e manuais e a
realização de cursos na área, como o Curso de Roteiro para Cinema, TV e
Games da EBAC.

Outra dica é acompanhar profissionais do audiovisual falando sobre seus


projetos. No livro Três Roteiros, Kleber Mendonça Filho compartilha o roteiro de
seus longas Som ao Redor, Aquarius e Bacurau. Em episódio do podcast
Primeiro Tratamento, Janaina Tokitaka, escritora e ilustradora, conta sobre sua
carreira e processo criativo no episódio 215, de junho deste ano. Janaina foi
chefe de sala de roteiro da série De Volta aos 15 (da Netflix).

Um dos melhores filmes de terror da década, Corra! é um filme essencial para


amantes do gênero edo cinema de forma geral. A trama acompanha um
fotógrafo negro que viaja com a namorada para conhecer os seus sogros
(todos brancos). E não demora até que ele se depare com situações bizarras
envolvendo aquela família.

Corra! foi escrito e dirigido pelo comediante Jordan Peele, que entrou para a
história como o primeiro homem negro a vencer o Oscar de Melhor Roteiro
Original. Aqui, você pode ver o roteiro do filme (em inglês).
Saiba quem é o público-alvo
É preciso ter clareza para qual público você está escrevendo. São crianças ou adultos
acima de 35 anos? O filme é um comercial publicitário ou um vídeo institucional de
uma empresa para seus próprios funcionários?

Defina a viabilidade do projeto


De forma objetiva, é identificar de onde virá o financiamento para o projeto. O roteiro
será inscrito em algum edital, lei de incentivo à cultura ou oferecido a alguma
produtora? A ideia está de acordo com a realidade de seu orçamento? Assim, será
possível desenhar uma estratégia para tornar sua ideia viável.

Defina o conflito
Esse é o passo principal para escrever um roteiro. O conflito é um elemento básico da
dramaturgia, segundo o roteirista Robert McKee: “em uma história, nada se move para
frente se não for através de conflito”. Na dramaturgia o conflito é gerado a partir da
necessidade frustrada do personagem, ou seja, quando ele não consegue o que
deseja.

Existem três tipos de conflito: o interno, do protagonista consigo mesmo, o pessoal


entre o protagonista e outro personagem e o externo, entre o protagonista e outro
elemento. Como exemplo de conflito extrapessoal, em Erin Brockovic, a atriz Julia
Roberts luta contra a empresa de energia PG&E; no longa 127 Horas, James Franco vive
o escalador Aron Ralston, que fica preso em um cânion, em Utah, após o deslizamento
de pedra por cinco dias.
Desenhe a curva dramática
O enredo cria tensão, o que torna uma história interessante e divertida. A
história parte de um ponto inicial equilibrado, que apresenta a situação ao
espectador em seu estado de repouso. Até que algo acontece e provoca
uma ruptura de conforto, promovendo uma tensão. Então, o protagonista
parte para a busca de um novo equilíbrio, que é representado pelo
crescimento da curva. O clímax é o ponto em que o conflito alcança seu
máximo e se resolve. Ou seja, a curva dramática é basicamente a variação
de intensidade do filme em relação ao seu tempo de narrativa.

Dica: introduza tensão à história usando a oposição. Um antagonista pode ser


um vilão, um rival, uma falha de caráter ou circunstâncias externas, como a
sociedade como um todo. A tensão vai aumentando cada vez mais até que
um novo equilíbrio seja estabelecido.

Construa personagens
consistentes
Um bom filme precisa de bons personagens. Sem eles, não existirá história.
Um exemplo é Jamal Malik, um rapaz indiano de 18 anos que teve uma
infância difícil, lidando com a violência e a miséria. Em dado momento, ele é
chamado para participar da versão indiana do famoso programa de TV
Quem quer ser um milionário? e sua experiência de vida o ajuda a responder
as perguntas do show televisivo.
Construa personagens
consistentes
Desenvolva personagens consistentes, que tenham personalidades com
camadas e nuances. O que ele mais gosta de fazer? Qual seu tipo de música
preferida? Como foi sua infância e adolescência? Essas informações não
estão respondidas no roteiro, mas saber a fundo como é cada personagem,
os torna mais reais na hora da escrita e se tornam consistente. Mesmo o cara
mau deve ter uma razão para ser mau, embora possa ser injustificado.
Existem várias técnicas para traçar o perfil de um personagem. A mais
conhecida são as fichas ou formulários onde o roteirista preenche as
informações com as características do personagem.

Um bom exemplo de ficha de personagem é inspirado no modelo


apresentado por Walter Lima Jr., diretor do longa Através da Sombra, de 2016.
Ele estrutura a ficha de personagem da seguinte forma:

Aspectos físicos: idade, estado de saúde, cor de olhos e cabelos, peso,


pele, voz, cacoetes e características específicas.

Dados sociais: nome, região onde mora, pessoa religiosa ou não,


profissão, classe econômica e ideário (o conjunto de ideias políticas e sociais
sobre o mundo).
Construa personagens
consistentes
Aspectos psicológicos: qualidades, defeitos e medos. Também podem ser
descritas ambições, manias e fugas, bem como os sentimentos em relação aos
demais personagens da narrativa.

Biografia: rápida descrição do histórico da personagem, contando episódios


importantes de sua vida.

Esse modelo não é rígido. Você pode mudar sua ficha da forma que quiser. Inclusive,
colocando ou retirando alguns campos.

Por exemplo, um personagem galã pode ter alguns arquétipos clássicos. O galã
badboy é o mais famoso de todos. Se o filme se passar em uma escola, ele será o
mais popular e o cara mais atraente. Mas temos também o galã antipático: seu
passado tem uma história difícil, é frio e ríspido com as pessoas e principalmente com
o personagem protagonista em uma comédia romântica. No entanto, ele tem seus
momentos sentimentais e, no fim, acaba superando seus traumas e descongelando o
coração através do amor pela pessoa amada.

Um bom perfil de personagem, além de te ajudar a determinar certas ações ou falas


dentro do enredo, faz com que outras pessoas da equipe – dos atores a direção de
arte – tenham uma base concreta para trabalhar.
Faça o argumento
Esta é uma ferramenta de trabalho do roteirista para o
desenvolvimento do roteiro. Com a história, o enredo, o
conflito e os personagens na cabeça, é a hora de
escrever o argumento: um texto corrido que conta de
forma simples qual é a história. Deve ser escrito em
parágrafos e em discurso direto, no tempo presente, e
mantendo uma ordem de começo, meio e fim.

É no argumento que os personagens são apresentados.


A leitura deve ser agradável e engajadora, pois é
comum que essa ferramenta seja usada para
apresentar o projeto de audiovisual às produtoras,
empresas e equipes.

Não existe muito consenso com relação ao tamanho


do argumento. Para autores iniciantes recomenda-se
algo em torno de 3 a 5 páginas. Ao terminar de
escrever, leia o argumento em voz alta e peça para
outras pessoas lerem e darem feedbacks sobre o que
entenderam.
Legenda: trecho do argumento de O Iluminado. As demais páginas
podem ser lidas aqui, em inglês. Trecho traduzido pela Tetúlia Narrativa.
Reescreva quantas vezes for necessário para que seja
compreensível, claro e prenda o leitor.
Faça a escaleta
Após descrever o argumento, é hora de estruturar a escaleta. Trata-se
de um “resumo” de cada cena a fim de demonstrar como a história irá
se desenvolver.

A escaleta é uma ferramenta para auxiliar o roteirista a montar a


ordem das cenas e acertar o ritmo do filme. O habitual é incluir um
cabeçalho com a indicação da cena e uma breve descrição da
situação e a ação do personagem.

Cada roteirista aplica o nível de detalhamento que prefere ao fazer a


escaleta, ou seja, não existe uma regra. Uma escaleta bem escrita
ajuda a visualizar a importância de cada cena, o seu ritmo e a função
dela dentro da macroestrutura. A escaleta deve ter as indicações e
separações das cenas, as situações e ações do personagem. Na
escaleta, cada ação dos personagem deve estar clara para quem lê.
Escreva o roteiro

Com tudo feito até aqui e os personagens desenvolvidos, é hora de escrever. Existe um padrão para
alguns elementos do documento que devem ser seguidos para que o roteiro tenha uma “cara” mais
profissional. O formato mais comum é Master Scenes: cada página corresponde a um minuto de filme
rodado, o que permite que o roteirista tenha noção do tempo do filme enquanto o escreve.

Normalmente, um roteiro de longa-metragem de Hollywood tem entre 95 e 120 páginas. Comédias


costumam ser mais curtas e dramas, mais longos. São escritos necessariamente na fonte Courier –
tamanho 12 e entregues à equipe em fichários – nunca encadernados! Isso porque é comum
acontecerem edições no textos, e as páginas são mais fáceis de serem substituídas assim.

Existem diversos modelos de roteiro disponíveis na internet, mas também softwares que
automaticamente padronizam o roteiro. Os mais usados pelos roteiristas profissionais são Final Draft,
Celtx ou Trelby, os dois últimos têm uma versão gratuita.

A diagramação “esquisita”, cheia de espaçamentos, serve justamente para para receber comentários.
Exemplos de roteiros
Com todas as dicas que passamos, agora é a hora de
elaborar o seu próprio roteiro. Para ajudar, destacamos
dois modelos de roteiros.

A dica de ouro é: revise. Não apenas uma, mas 20, 100


vezes. E de preferência leia em voz alta. Ao ler, é preciso
visualizar cada cena e cada fala do personagem. Pedir
ajuda para que alguém leia as outras falar pode ajudar
no processo.

Depois disso, apresente o roteiro para alguém mais


experiente nessa área e aceite os feedbacks com um
olhar positivo para que seu projeto seja um sucesso!

Imagem: Cena do filme “Cidade de Deus” / Produzido pela O2 Filmes,


Globo Filmes e VideoFilmes e distribuído pela Lumière Brasil.
Foto: Reprodução.
Exemplo a partir do roteiro de “Cidade de Deus”

Cabeçalho de cena
O cabeçalho introduz uma nova cena. Geralmente, uma nova cena é criada quando existe alguma
mudança de lugar ou tempo. Ele aparece sempre em letras maiúsculas e tem informações sobre o
local em que a cena acontece e em qual momento do dia, se de noite, por exemplo.

Se a cena é dentro de alguma locação usamos a sigla “INT”, para “interno” e se for externa, “EXT”, para
cenas que serão filmadas em ambientes abertos.

Veja o exemplo abaixo:

INT. BIBLIOTECA DA ESCOLA – DIA

EXT. PRAÇA DA CIDADE – NOITE


Ação

Depois do cabeçalho vem a ação, que é a


descrição do que ocorre na cena, sempre no
tempo presente: “Maria lentamente coloca a mão
na maçaneta e abre a porta de casa”.
Trecho do roteiro do filme Cidade de Deus. Reprodução: Tertúlia Narrativa
Diálogos
Os diálogos em roteiro não precisam ser anunciados (Exemplo: “O personagem fala: blá blá”). O nome do
personagem antecede o diálogo para sabermos quem fala.

BUSCA PÉ

‘“O Trio Ternura não tinha medo de ninguém… Nem da polícia”

Transição
Indica um corte específico de uma cena para outra. Termos como, CORTA PARA, FUSÃO PARA, MATCH PARA, são
usados assim, em caixa alta. As transições entre todas as cenas caiu em desuso, por isso, só utilize quando
necessário por questões conceituais ou de linguagem.
Como começar a escrever
um roteiro

Se você tem vontade de trabalhar como roteirista, mas ainda


não sabe por onde começar, dá uma conferida no curso
Profissão: Roteirista da EBAC!

Para conferir outors webinars com Thiago Fogaça:


- Como criar grandes personagens para roteiros
de audiovisual;
- Análise de filmes e séries: do fim ao começo;
- Storyline: sua história em uma linha;
- A estrutura do episódio em séries de TV.
Obrigada!

https://ebaconline.com.br +55 (11) 3030-3200

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