A Universidade e o Envelhecimento Populacional
A Universidade e o Envelhecimento Populacional
A Universidade e o Envelhecimento Populacional
A Universidade e
O Envelhecimento
Populacional:
Diálogos e Experiências em
Construção no Brasil
Simone
SimoneMartins
Martins
Carmen
CarmenPineda
PinedaNebot
Nebot
Andréia
AndréiaQueiroz
QueirozRibeiro
Ribeiro
Stefania
StefaniaVaccaro
Vaccaro
Marcela
MarcelaGiovana
Giovana
(Orgs)
(Orgs)
A UNIVERSIDADE E O ENVELHECIMENTO
POPULACIONAL: DIÁLOGOS E EXPERIÊNCIAS EM
CONSTRUÇÃO NO BRASIL
Ficha catalográfica elaborada pela Seção de Catalogação e
Classificação da Biblioteca Central da Universidade Federal de Viçosa
Prefácio
O estudo do envelhecimento e da velhice é um tema acadêmico!
Beltrina Côrte
Ao receber o convite para prefaciar esta obra, sobre universidade e enve-
lhecimento, lembrei-me das diversas batalhas acadêmicas que um grupo de
pesquisadores teve na PUC-SP ao implantar o hoje já extinto mestrado em
Gerontologia1. A questão que se colocava na ocasião, meados da década de
90, era se o envelhecimento seria um problema de pesquisa. Várias discus-
sões foram feitas, muitas delas bizarras, porque na academia a situação não
era diferente do que ocorria na sociedade como um todo, embora ninguém
quisesse morrer jovem, ser velho era sinônimo de fraqueza, feiura, e, princi-
palmente, improdutividade.
Se hoje ser velho ainda traz um conjunto imenso de conotações pejorativas
nas universidades, imaginem na época? Para que estudar um tema que não ti-
nha status? Dito em outras palavras, era perda de tempo (e dinheiro também)
estudar um fenômeno terminal. Pior que até hoje tem colegas que pensam
assim...
As universidades pioneiras a encarar o processo de envelhecimento e a ve-
lhice como tema acadêmico foram a Unicamp e a PUC-SP, ambas localizadas
no Estado de São Paulo. De lá para cá outras universidades, principalmente
públicas, introduziram alguns cursos, mas a bem da verdade, ainda são mui-
to poucas ante o fenômeno do envelhecimento populacional neste século.
E muitas delas, infelizmente, produzem conhecimento centrado na série de
eventos que impacta o organismo, nas suas doenças, perpetrando a associa-
ção desta etapa da existência da vida a enfermidades.
Daí a grata surpresa em encontrar uma obra acadêmica, comprometida
socialmente, e que tenta atribuir novos significados às vivências individuais
e coletivas, vivências que ocorrem em um tempo social, e em um lugar. Um
olhar para o sujeito que habita um organismo territorializado.
Repensar a relação entre a universidade e o envelhecimento populacional,
exige a urgência de se olhar o humano na sua existencialidade como sendo
seu tempo vivido, o tempo Kairós, como já assinalava o professor Joel Martins
1
O mestrado tinha como área de concentração a Gerontologia Social e acabou sendo ex-
tinto em 2019. O grupo interdisciplinar de docentes cansou de lutar contra a instituição e
o sistema de avaliação existente no país e preferiu cada um levar o envelhecimento para
dentro da área disciplinar a qual fazia parte.
5
Sumário
Prefácio 4
Apresentação 7
O ensino e a pesquisa universitária voltados à pessoa idosa 10
Reflexões sobre o papel das universidades no contexto de envelhecimento
populacional brasileiro. 11
Leonardo Milhomem Rezende, Karla Lisboa Ramos
Apresentação
Como toda boa conversa, este livro começa com uma pergunta:
para que serve a universidade?
Ora, as universidades servem para formar profissionais de base intelec-
tual, científica e técnica. Servem também à formação humana intelectual - o
que Anísio Teixeira (1964)1 denominou de alargamento da mente humana -,
à construção do conhecimento em pesquisa, à transmissão dos valores e da
cultura de um país. Assim, como o reverso de sua beleza, as universidades
também podem servir como espaço de conservação de poder e de exclusão
de parcelas populacionais.
É, pois, contra essa última possibilidade que este livro surge como um con-
vite para (re)pensarmos a relação entre a universidade e o envelhecimento
populacional. Propomos que a universidade seja o catalisador de uma socie-
dade mais justa e mais preparada para todos os indivíduos, de todas as idades.
A tarefa é desafiadora, já que nem sempre percebemos a universidade como
um lugar de produção e de compartilhamento dos saberes; como o lugar para
a promoção do diálogo e do debate; como o lugar onde se busca o consenso
e o dissenso; como o local em que aprendemos a nos colocar como indivíduo,
mas como um indivíduo que vive, respeita e se preocupa com o coletivo.
Trilhar esse caminho exige, portanto, lembrar que a universidade é espaço
para experimentação, para descobertas, para buscar soluções que melhorem
a nossa vida; um lugar aberto, um lugar de trocas, um local de aprendizagem
constante. Exige lembrar que a universidade é um espaço onde se busca a
inovação de serviços, de processos, de produtos, de gestão - incluindo a ges-
tão pública –, de inovação tecnológica e, sem dúvida, um local de produção de
conhecimento com base na ciência.
Aliás, foi com base nos avanços da ciência em diferentes áreas do conheci-
mento – saúde, educação, saneamento básico, entre outros - que a humani-
dade obteve uma de suas maiores conquistas: o aumento da expectativa de
vida. Conquista que trouxe consigo a possibilidade de atribuirmos novos sig-
nificados às vivências individuais e coletivas, mas que também trouxe inúme-
ros desafios sociais, sanitários e econômicos relacionados ao envelhecimento
populacional.
Essa realidade é hoje um processo acelerado no Brasil. A expectativa é de
que em 2050 tenhamos mais de 30% da população com idade superior a
60 anos (IBGE, 20172). Assim, é imperativo garantir que esse processo seja
1
Teixeira, A. (1962). Funções da Universidade. Boletim Informativo CAPES, (135), 1-2.
2
IBGE. (2017). Relações entre as alterações históricas na dinâmica demográfica Brasileira
e os impactos decorrentes do processo de envelhecimento da população. Recuperado de
l1nk.dev/1DQ43 (Acesso em abril de 2023).
8
acompanhado de qualidade de vida nos anos que foram conquistados. Nessa
direção, o grupo Espaços Deliberativos e Governança Pública (Gegop) e a
Frente Nacional dos Conselhos de Direitos da Pessoa Idosa (FFC) convidam
a conhecer uma amostra do papel que as universidades brasileiras vêm de-
sempenhando frente ao fenômeno do envelhecimento. Conhecer essas con-
tribuições é de grande relevância não apenas para fomentar debate, mas para
subsidiar e fortalecer políticas e ações comprometidas com a transformação,
com vistas a um horizonte de garantia e de ampliação de direitos para se en-
velhecer com dignidade e qualidade de vida.
Os diferentes capítulos deste contemplam desde reflexões teóricas a
exemplos concretos de atuação das universidades no ensino, na pesquisa, na
extensão e no apoio à governança pública. Eles foram divididos em três se-
ções que passamos a conhecer.
Na primeira seção – O ensino e a pesquisa universitária voltada à pessoa
idosa – foram reunidos o capítulo de Leonardo Milhomem Rezende e Karla
Lisboa Ramos que traz “Reflexões sobre o papel das universidades no con-
texto brasileiro”; o capítulo de Jordelina Shier, Paulo Adão de Medeiros, Eliete
Cibele Cipriano Vaz e Juliana Balbinot Reis Girondi sobre “Universidade para
todas as idades: por uma política de acesso e permanência para a pessoa ido-
sa no ensino superior”; o capítulo de Maria Fernanda Baeta Neves Alonso da
Costa e Fábio Marcelo Matos sobre “Contribuições das Universidades para
o envelhecimento ativo”; e o capítulo de Higor Matheus de Oliveira Bueno,
Felipe Bueno da Silva, Márcia Thaís de Souza, Dalyanna Mildred de Oliveira
Viana, Gilson de Vasconcelos Torre e Aline Maino Pergola Marconato sobre
“Sexualidade e Envelhecimento: o conhecimento científico e sua abordagem
no ensino superior”.
A segunda seção – Contribuições da extensão universitária voltadas à
pessoa idosa – reúne o capítulo de Silvia M. M. Costa, Carmen Pineda Nebot,
Simone Martins e Andréia Queiroz Ribeiro sobre “Boas práticas de extensão
universitária para pessoas idosas no Brasil” e o capítulo de Bruno Almeida e
Amauri Ferreira sobre “O projeto arte de cuidar: a experiência de ser velho
e estar idoso à procura de uma outra suavidade” que trazem experiências
concretas de projetos de extensão e que podem servir de inspiração a ações
semelhantes. Esta seção também traz, a narrativa do cuidado direcionado às
pessoas idosas institucionalizadas por meio do “fazer teatral”, no capítulo in-
titulado “Corpos experienciados em expressão: relato de uma prática exten-
sionista em teatro com a população idosa” de Bárbara Carbogim e Emerson
de Paula; bem como traz o capítulo de Márcio José Pinto Ribeiro, Jones No-
gueira Barros, Carmen Pineda Nebot e Ana Maria de Albuquerque Vasconce-
los sobre a “Universidade aberta para a terceira idade: qualidade de vida ao
envelhecer” e o capítulo de Cássia do Carmo Pires Fernandes, Eder Pereira
Giardini Bonfim, Edson Batista de Sena e Pedro Henrique Pereira sobre edu-
9
cação financeira para pessoas idosas, intitulado “Além dos trilhos: convivên-
cia virtual e educação financeira para o envelhecimento ativo.
Na terceira seção – A atuação das universidades na governança pública
voltadas à população idosa – foram reunidos o capítulo de Ivan Beck sobre
“Funções básicas da governança pública e a atuação de universidades volta-
das para a população idosa”; o capítulo de Stefania Becattini Vaccaro, Andréia
Queiroz Ribeiro e Thaís dos Santos Gomes sobre “Histórias da pandemia: a
alegria do encontro”, o qual analisa a potência do trabalho em rede para a
governança de situações complexas, como o que vivenciamos na pandemia
da Covid-19 e; finaliza com o capítulo de Simone Martins, Andréia Queiroz Ri-
beiro, Roseany Gloriane Mendes, Sabrina Olímpio Caldas de Castro, Ivan Beck
Ckagnazaroff e Ricardo Duarte Gomes, o qual apresenta resultados de uma
experiência em governança colaborativa iniciada no contexto da pandemia da
Covid-19 e que se ampliou para o fortalecimento das políticas públicas volta-
das para pessoas idosas. Trata-se da Rapi/MG – Rede de Apoio à Pessoa Idosa
no Estado de Minas Gerais.
O conjunto dessas reflexões e experiências nos coloca diante da seguinte
pergunta: “onde estamos e em que direção caminha a pauta da pessoa idosa
nas universidades e no governo”. Assim, convidamos Tainá Gomide para nos
ajudar a responder e ela nos brinda com algumas respostas no Posfácio deste
livro.
Gostaríamos de destacar que ao longo da produção deste livro a legisla-
ção brasileira foi modificada em relação ao termo “idoso/a(s)”, passando a
recomendar o uso do termo “pessoa(s) idosa(s)”. Assim, tivemos o cuidado
de modificar os títulos dos documentos legais, tais como Estatuto do Idoso,
que passou a se denominar Estatuto da Pessoa Idosa. No entanto, alguns tre-
chos específicos desses documentos, utilizados pelos autores, permanece-
ram com a denominação “idoso/a(s)” considerando o estágio da produção
que este livro já se encontrava.
Desejamos que a leitura deste livro desperte em cada um o sentimento e
o reconhecimento sobre a importância das universidades brasileiras para a
defesa, garantia e ampliação dos direitos das pessoas idosas em nosso País.
Afinal, este livro celebra as vitórias até aqui conquistadas sem deixar de re-
conhecer o longo caminho ainda a ser percorrido. Esperamos que sirva de
incentivo a (re)pensarmos o papel da universidade brasileira como agente de
transformação social e no potencial do trabalho em rede para contribuir no
processo de envelhecimento da nossa sociedade... que seja digno, ativo, sau-
dável e sustentável.
Boa leitura!
10
O ensino e
a pesquisa
universitária
voltados à pessoa
idosa
11
Resumo
O processo do envelhecimento carreia saberes e práticas que por muitas vezes
transitam nas cadeiras das universidades ou instituições de ensino superior. As
universidades se estruturam no tripé ensino, pesquisa e extensão e oportunizam à
comunidade sua participação, além de promoverem o ensino e as pesquisas. A edu-
cação das pessoas idosas é um direito dos cidadãos, e é dever do Estado efetivá-la
mediante a garantia de acesso público e gratuito. Mas como falar em educação em
instituições de ensino superior se, no Brasil, a taxa de analfabetismo das pessoas
idosas é de 18,1% (6 milhões) e acredita-se que seja ainda maior se nos mais vul-
neráveis? Então surge outra pergunta: Qual a contribuição das universidades para
viabilizar o ingresso dos estudantes acima de 60 anos, sendo que muitos deles ainda
são analfabetos? Em virtude do tripé supracitado diversas oportunidades existem,
por exemplo podemos citar experiências exitosas como a Universidade Aberta da
Terceira Idade, pois se enquadra dentre as atividades de programas de extensão
em diferentes áreas de atuação. Mas é preciso ampliar e investir no potencial desse
modelo e de outros similares considerando, ainda, a pesquisa como meio de qualifi-
car o conhecimento e aprimorar os projetos desenvolvidos e políticas públicas para
as pessoas idosas. Importante mencionar ainda o papel formador de profissionais e
cidadãos com capacidade de auxiliar no rompimento de paradigmas e preconceitos
em relação à população idosa, permitindo cidadania a esse público.
Palavras-chave: envelhecimento, direito à educação, universidade aberta à terceira
idade.
Introdução
Antes de avançarmos na discussão dos assuntos propostos é necessário
apresentar alguns conceitos básicos que serão abordados ao longo deste ca-
pítulo. Primeiramente, é importante salientar que usaremos o conceito de
pessoa idosa presente no Estatuto da Pessoa Idosa (Lei nº 10.741/2003), con-
siderando pessoas idosas aquelas com 60 anos ou mais de idade.
Vale observar que se optou por utilizar, no texto, o termo “universidade”
(ou universidades) pelas possibilidades que o tripé ensino, pesquisa e exten-
são permitem às discussões, entretanto, ao leitor ficará claro que parte das
reflexões aqui estão baseadas, principalmente, na parte “ensino” deste tripé
Nota-se que a LDB detalha quais são as etapas de ensino que as pessoas
têm direito ao acesso público e gratuito, fundamental e médio, estendendo
este direito àqueles que não tiveram acesso na idade própria.
Ainda em relação aos direitos das pessoas idosas à educação, não se pode
deixar de mencionar o Estatuto da Pessoa Idosa (Lei nº 10.741/2003). Desta-
cam-se dois trechos:
Tabela 1
Taxa de analfabetismo das pessoas de 15 anos ou mais de idade, por sexo e grupo
de idade - Brasil (PNAD/2019).
Variável de
Indicador Categoria 2016 2017 2018 2019
abertura
Taxa de 15 anos ou 6,7 6,5 6,3 6,1
analfabe- mais
tismo das Grupos de
pessoas idade 60 anos
de 15 anos 20,5 19,4 18,8 18,1
ou mais de ou mais
idade (%).
Fonte: Adaptado de IBGE - Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua Anual - 2º
trimestre, disponível em Sistema IBGE de Recuperação Automática – SIDRA.2023. IBGE.
Figura 1
Escolaridade das pessoas idosas no Cadastro Único para Programa Sociais do Go-
verno Federal, 2018.
Fonte: Encontro sobre Integração entre Serviços e Benefícios Socioassistenciais para Pes-
soa Idosa. Ref: Cadastro Único abril 2018, elaboração Departamento de Proteção Social
Especial / Secretaria Nacional de Assistência Social / Ministério do Desenvolvimento Social.
Tabela 2
Número médio de anos de estudo, por grupos de idade (PNAD/2019).
Variável de aber-
Indicador Categoria 2019
tura
15 a 17 anos 9,2
18 a 24 anos 11,5
Número médio de Grupos de idade – 25 a 39 anos 11,4
anos de estudo anos de estudo
40 a 59 anos 9,4
60 anos ou mais 6,6
Fonte: IBGE - Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua Anual - 2º trimestre,
disponível em Sistema IBGE de Recuperação Automática – SIDRA.2023. IBGE, adaptado.
Pelos dados da PNAD é perceptível que, com uma média de 6,6 anos de
estudo, muitas dessas pessoas idosas não tenham o ensino médio completo
para que possam ingressar em um curso superior e viabilizar o primeiro papel
das universidades (ou outras IES).
Ressaltamos que se muitos dos idosos não conseguem alcançar as univer-
sidades devido à baixa escolarização que os impedem de chegar aos cursos
superiores, então o próprio Estatuto da Pessoa Idosa e a Política Nacional da
Pessoa Idosa (Lei nº 18.842/94) nos mostram o caminho de como as univer-
sidades podem atuar:
um diagnóstico por parte dos municípios participantes que lançam luz para
a relevância da pesquisa na elaboração de diagnósticos sobre a situação da
população idosa, suas necessidades, sua opinião etc.
Este tipo de pesquisa tem relevância para o planejamento e execução de
políticas públicas locais para as pessoas com 60 anos ou mais de idade. Com-
plementar a isso, entende-se que dentre os grandes produtores de conheci-
mento no Brasil estão as universidades. Elas possuem também esse papel de
auxiliarem a evidenciar os problemas sociais existentes.
Ao se pensar em envelhecimento é muito comum que as primeiras infor-
mações que venham à mente sejam relacionadas à saúde, mobilidade e previ-
dência, por exemplo, mas na realidade o envelhecimento como um processo
social deve ser entendido como um processo mais amplo.
O envelhecimento populacional gera consequências econômicas como a
diminuição da proporção da população economicamente ativa (PEA). Outra
consequência importante impacta nos programas de previdência (públicas
e privadas), devido a composição das famílias que hoje possuem um ou dois
filhos (em média) gera atenção para a necessidade de uma política de cui-
dados, pois são cada vez menos pessoas para cuidar (quando necessário) de
cada vez mais pessoas idosas.
A vulnerabilidade de parte das pessoas idosas gera outros alertas impor-
tantes que devem ser estudados/pesquisados como a questão da violência
contra as pessoas idosas (em suas diversas modalidades como física, psicoló-
gica, financeira). Outro ponto muito relevante é a capacidade de nosso siste-
ma de saúde em atender com qualidade todas as demandas advindas com o
envelhecimento dos cidadãos.
Dentre as vulnerabilidades presentes, neste grupo populacional, desta-
cam-se situações como baixa renda, abandono e negligência. Essas situações
podem (e muito provavelmente irão) também gerar uma pressão sobre o Sis-
tema Único de Assistência Social.
Ficam então alguns questionamentos. O nosso modelo de cuidados atual
comporta uma demanda crescente? As nossas instituições de longa perma-
nência (ou os asilos) comportam e comportarão as demandas existentes e
vindouras? O Benefício de Prestação Continuada (BPC) conseguirá ter recur-
sos suficientes para todos os idosos que dele necessitarem? A previdência so-
cial é sustentável ao longo do tempo?
Cada uma dessas perguntas poderiam gerar vários outros capítulos de li-
vros, artigos científicos e até mesmo teses, mas o que importa para esta re-
flexão é que se as universidades são as grandes geradoras de conhecimentos,
23
Conclusão
Em relação à oferta de ensino superior é evidente que a educação formal
está distante do público idoso, inclusive daqueles que possuem poucos anos
de escolarização, o que impede grande parte da população idosa de acessar
o ensino superior. No entanto, a educação não formal o papel das universida-
des ganha relevância com os programas de extensão e Universidades Abertas
da Terceira Idade. Na extensão, as universidades podem avançar infinitamen-
te nas possibilidades de atuação, realizando parcerias, atuando em diversas
áreas do conhecimento, com diversos públicos e objetivos.
A pesquisa, assim como a extensão, possui infinitas possibilidades de per-
guntas a serem respondidas, não só para entender o fenômeno do envelhe-
cimento como também para auxiliar na metodologia de implementação de
políticas públicas, seja no diagnóstico, monitoramento ou avaliação.
25
Referências
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https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm
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d=S1413-81232004000200018&lng=en&nrm=iso. Acesso em: 18 de maio de 2020.
28
Resumo
A longevidade conquistada ainda não se traduz em benefícios sociais, tornando um
desafio a inclusão da temática do envelhecimento no contexto educacional, espe-
cialmente, no âmbito da universidade como um espaço educacional e de vivência
intergeracional para todas as idades. Sendo assim, busca-se ampliar a discussão so-
bre a importância de políticas públicas com ênfase em ações afirmativas para garan-
tir o acesso e permanência da parcela populacional envelhecida ao Ensino Superior.
Tais ações devem envolver o Estado, diversos setores da sociedade destacando as
famílias, as próprias pessoas idosas, os demais acadêmicos, a estrutura universitária
destacando-se o corpo docente. Tornam-se necessárias para que a inclusão da po-
pulação idosa no ambiente acadêmico não cause mais estranhamentos e possamos
identificar na universidade sua função social sendo um espaço em que o conheci-
mento possa ser alcançado por todas as idades.
Palavras-chave: pessoa idosa; envelhecimento; política pública; universidades; polí-
tica de educação superior; ação afirmativa.
Introdução
O envelhecimento populacional global é ponto de pauta nos debates polí-
ticos e midiáticos e nas produções científicas em todas as áreas do conheci-
mento humano. Tal fenômeno reflete no cotidiano e gera múltiplas repercus-
sões que impactam diretamente na vida das pessoas, independentemente da
faixa etária. Ou seja, a maior longevidade interfere no processo de viver e nas
demandas populacionais e, portanto, impacta na gestão financeira, política e
social de uma nação.
Essa realidade surge por um esforço coletivo para se despir de antigos pa-
radigmas discriminatórios e preconceituosos e envidar esforços para o de-
1
Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG). E-mail: [email protected].
2
Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Santa Catarina
(PEN-UFSC). E-mail: [email protected].
3
Departamento de Serviço Social da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). E-mail:
[email protected].
4
Departamento de Enfermagem da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). E-mail:
[email protected]
29
dispositivos legais para garantia dos direitos da pessoa idosa e que a longevi-
dade conquistada evidencia sinais notórios de novas demandas sociais, pres-
supõe-se que a educação seja um instrumento primordial para a construção
da cidadania e promoção da dignidade da pessoa humana. Além do reconhe-
cimento de que há um novo papel da pessoa idosa em curso na sociedade
brasileira, inclusive no meio universitário.
Doravante torna-se fundamental ampliar a discussão coletiva sobre polí-
ticas públicas relacionadas ao papel das universidades frente ao envelheci-
mento populacional. Esse debate precisa trazer repercussões efetivas propa-
gando-se entre outras instituições afins e educacionais, com ênfase em ações
afirmativas, pois é evidente que tais ações são ferramentas cruciais para a ga-
rantia de acesso e permanência da parcela populacional envelhecida no meio
acadêmico. De modo a elevar o ensino superior a um novo patamar inclusivo
e não restritivo, especialmente do ponto de vista etário, ou seja, de uma uni-
versidade para todas as idades.
preparação das aulas e seleção do material didático que será utilizado com
pessoas idosas, além de possuir a atitude livre de discriminação, preconceito
e estereótipo contra a idade. Ainda, é pertinente destacar a diversidade, não
somente etária, mas social, cultural, étnico-racial e sexual, entre outras que
existem nos espaços educacionais. Entretanto, pode-se afirmar que a prepa-
ração para o trabalho com pessoas idosas é ainda mais deficiente, uma vez
que demanda conhecimentos provenientes de outras ciências, como psico-
logia, medicina, nutrição, serviço social, dentre outras (Cachioni & Todaro,
2016).
Consoante ao Estatuto da Pessoa Idosa, é imperativo pontuar que, o po-
der público deve criar oportunidades de acesso desta parcela da população à
educação, adequando currículos, metodologias e material didático aos pro-
gramas educacionais a ela destinados.
No contexto da universidade, no que se refere ao desempenho de suas fun-
ções de ensino, pesquisa e extensão, percebe que se têm utilizado quase que
exclusivamente ações extensionistas para a educação das pessoas idosas no
sentido de proporcionar a inclusão, empoderamento e melhoria da qualidade
de vida desse segmento populacional (Oliveira, Scortegagna & Silva, 2016).
As primeiras universidades brasileiras foram criadas no Rio de Janeiro
(1920), em Minas Gerais (1927), Porto Alegre e em São Paulo (ambas em
1934). Atualmente, existem várias Instituições de Ensino Superior (IES), mas,
apenas a partir da década de 1990 se iniciou a implantação das políticas pú-
blicas de acesso a essas universidades.
Assim, no que tange a educação com pessoas idosas em âmbito universitá-
rio observa-se as iniciativas em Universidades Públicas Estaduais e Federais,
e também de instituições privadas, denominadas “Universidades Abertas à
Terceira Idade” (UnATI), que criaram cursos livres e programas voltados às
questões culturais, sociais e de saúde específicas para o público idoso, embo-
ra não sejam regulamentados e reconhecidos pelo MEC, enquanto mecanis-
mos formais de educação. Porém, questiona-se políticas de acesso do estu-
dante à universidade em termos do Ensino Superior, para além da iniciativa
das chamadas UnATI (Oliveira et al, 2016). No Brasil, atualmente, as UnATI são
denominadas de “Universidade Aberta da Pessoa Idosa (UNAPI)”.
As UNAPIs são programas de educação permanente que vêm consolidando
experiências significativas para o incentivo à cidadania das pessoas idosas,
por meio de ações interdisciplinares no contexto universitário como um meio
para promover o envelhecimento ativo (Yamasaki, Wanderbroocke & Camar-
go, 2019).
Mundialmente, o marco inicial das primeiras políticas educacionais para o
34
público da pessoa idosa foi na França, por volta de 1962, onde o país buscou
uma nova forma de integração das pessoas idosas no cotidiano francês e no
mundo do trabalho. A partir de 1973, o professor Pierre Vellas, que lecionava
ciências humanas e sociais na Universidade de Toulouse, incitado pela exclu-
são de pessoas idosas frente aos direitos sociais, especializou-se em políti-
ca internacional para pessoas idosas, criando na instituição a “Universitè du
Troisième Âge“ (Universidade da Terceira Idade). O programa tinha por obje-
tivo promover a integração social, a partir da análise das experiências de vida
e dos discursos trazidos por esses estudantes idosos sobre assuntos referen-
tes à saúde e educação (Cachioni, 2012).
Almeida e Oliveira (2013) afirmam que a criação desses programas volta-
dos para a população idosa nas universidades só ocorre porque o envelheci-
mento populacional foi uma conquista específica do século XX.
No Brasil, a primeira UNAPI foi uma iniciativa da Universidade Federal de
Santa Catarina (UFSC) em 1982, nominada Núcleo de Estudos da Terceira
Idade (NETI), o qual é reconhecido nacionalmente como um modelo de in-
tervenção gerontológica que realiza educação permanente para o envelhe-
cimento e promove a inclusão da pessoa idosa no meio universitário (Schier
et al, 2013). Tal modelo foi fundamentado nas referências da Universidade da
Terceira Idade da França.
A participação das pessoas idosas no processo educativo torna-se fator
preponderante à sua qualidade de vida, pois através dela conseguirão man-
ter-se integrados à sociedade, desenvolvendo seu senso crítico e sendo reco-
nhecidas como agentes de sua própria história (Martins, Casetto & Guerra,
2019).
Entretanto, a presença da pessoa idosa na educação formal no Brasil ainda
é incipiente e carece de estudos e investigações, o que configura um fator
importante para a implementação de políticas públicas e sociais específicas.
O Ensino Superior apresenta-se como uma alternativa viável para a reformu-
lação dos programas educativos que favoreçam a pessoa idosa a oportunida-
de de aprendizagem inovadora, significativa e inclusiva em todos os aspectos
humanos, desde que adequadamente qualificada nas diferentes áreas de en-
sino (Oliveira et al, 2016).
Sendo assim, conforme aponta uma revisão de literatura (Vagetti et al.,
2020) que buscou caracterizar a produção científica do conhecimento sobre
políticas públicas para pessoas idosas no Brasil, não foi identificado um do-
cumento referente exclusivamente à política nacional de educação para pes-
soas idosas. Os autores mencionam que o Brasil, atualmente, possui relevan-
tes recursos legais para o enfrentamento da violência contra à pessoa idosa,
garantias da saúde e o direito da assistência social à pessoa idosa. Contudo,
no campo da educação, os direitos se apoiam em leis gerais da educação e no
Estatuto da Pessoa Idosa, sem a observação de direitos legais apoiados em
35
duação do ensino superior é pouco explorado. Reis, Meira & Moitinho (2018)
realizaram um levantamento sobre produções acadêmicas e identificaram
uma lacuna de estudos envolvendo o acesso de pessoas idosas no Ensino Su-
perior, sendo que nas buscas a maioria dos estudos encontrados foram re-
lacionados à Universidade Aberta da Pessoa idosa (UNAPI), o que não se en-
quadra ao ensino formal. Os autores reforçam por meio dos dados do Censo
de Educação Superior de 2015, que apesar da transição demográfica Brasil,
a presença de estudantes com mais de 60 anos no Ensino Superior no Brasil,
em comparação ao número de pessoas idosas, é muito reduzida, pois corres-
pondia apenas 0,57% das matrículas.
Estudo de Fernandes (2020) buscou compreender as relações de reconhe-
cimento que os alunos que são pessoas idosas mantêm com a universidade,
identificando uma heterogeneidade nos modos como esses sujeitos atribuem
sentidos sobre sua relação com a Instituição de Ensino Superior. Dentre os
temas emergentes identificou-se: as relações intergeracionais, em que as
pessoas idosas universitárias falaram sobre as vivências e o aprendizado com
os colegas mais novos, o sentimento de exclusão dos grupos de trabalho e a
ausência do reconhecimento do próprio sujeito enquanto pessoa idosa. Outro
tema foi os estereótipos sobre a velhice, no qual identificou-se diferença no
tratamento destinado às pessoas idosas mulheres, as quais frequentemente
são questionadas sobre o motivo do retorno aos estudos, além de acusações
sobre roubar o lugar do jovem. O terceiro tema identificado diz respeito a
acessibilidade das pessoas idosas com deficiência, em que as sugestões de
melhorias são tão diversas quanto os modos de viver a velhice e as lutas por
reconhecimento na universidade não são travadas por todos os participantes
do estudo.
Santos (2017) buscou compreender o percurso singular de uma pessoa
idosa estudante no contexto do curso de Fonoaudiologia da Universidade Fe-
deral da Bahia. A partir de uma análise das falas do sujeito, percebeu que por
vezes a pessoa idosa é colocada em posição na qual parece não haver mais
espaço para sua permanência, ou seja, há um estranhamento em ambientes
compostos predominantemente por jovens. Assim, observou-se a importân-
cia dos contatos intergeracionais para a construção e desconstrução de pre-
conceitos, tendo em vista o ganho mútuo adquirido por meio das trocas de
saberes e experiências.
Fernandes, Meucci & Geremias (2021) estudaram um grupo de pessoas
idosas que frequentava regularmente a Universidade Federal de Viçosa e
identificaram que o reconhecimento familiar, principalmente, no estímulo ao
ingresso e permanência no Ensino Superior tornou-se fundamental no pro-
cesso de vínculo social com a universidade. O apoio recebido dos familiares
contribuiu na defesa do direito de estudar, promovendo o desenvolvimen-
37
estrutura mais flexível e interdisciplinar, que o tema demanda (Silva, Souza &
Sousa, 2017).
Algumas considerações
A Constituição Federal Brasileira (Brasil, 1988) expressa um conjunto de di-
reitos conquistados, individuais e sociais, de fundamental importância ao co-
nhecimento da população idosa, tendo em vista que são regidos pelos princí-
pios da igualdade, da equidade e da justiça social. De igual modo, imprescindível
é o conhecimento da legislação específica voltada a essa população, o Estatuto
da Pessoa Idosa - Lei nº10.741 (Brasil, 2003), que traz a condição expressa das
medidas de proteção a pessoas a partir de 60 anos, dos direitos das pessoas
idosas, das obrigações das entidades assistenciais e das penalidades em situa-
ções de desrespeito a esse segmento que mais cresce, no Brasil.
Ao mesmo tempo em que o envelhecimento populacional evidencia gran-
des conquistas da humanidade, representa um enorme desafio aos diferen-
tes gestores governamentais. E, nesse sentido, a aplicação e continuidade de
legislações referentes à pessoa idosa requerem comprometimento social do
Estado que, por sua vez, é realizado a partir do controle democrático da so-
ciedade, possibilitando que políticas públicas sejam efetivas a esse segmento.
Ainda, é igualmente efetivo o compromisso social firmado para possibilitar
um envelhecimento digno às pessoas idosas que tanto contribuíram e ainda
muito podem contribuir para o desenvolvimento do país e na construção do
conhecimento.
É salutar o reconhecimento da pessoa idosa muito além de sua atividade
produtiva, mas de seu trabalho intelectual e de sua história de vida, de sua
memória que possibilita a reconstrução do passado que é constituinte do
presente, e da própria natureza humana em todas as suas fases.
O envelhecimento ativo contribui para o protagonismo social da pessoa ido-
sa em direção à participação, independência, autonomia, corroborando para
que o acesso aos espaços que contemplem a educação permanente, cultura,
esporte e lazer, efetivem o direito e a cidadania dos mesmos, como preconiza
o Estatuto da Pessoa Idosa (Brasil, 2003). Ainda, a Lei de Diretrizes e Bases
da Educação Nacional, por sua vez, estabelece que a educação é dever da fa-
mília e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solida-
riedade humana tendo por finalidade o pleno desenvolvimento do educando,
seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho
(Brasil, 1996).
Nesse contexto, Freire (2013) adverte que o importante para uma educa-
40
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45
Resumo
Estudo que buscou refletir sobre as contribuições das universidades para o enve-
lhecimento ativo. Método: revisão narrativa da literatura, nas bases de dados ERIC
(Educação; abrangência mundial); SciELO (Multidisciplinar; principalmente revistas
latino-americanas, de Portugal e da Espanha); Scopus (Multidisciplinar; abrangên-
cia mundial); Web of Science (Multidisciplinar; abrangência mundial) e LILACS (Li-
teratura latino-americana e do Caribe em Ciências da Saúde), nos últimos 5 anos,
com coleta em outubro de 2022. Resultados: os resultados deste estudo mostram a
complexidade do conceito de envelhecimento ativo e a necessidade de diversificar
ações nas universidades que possibilitem aprender ao longo da vida. Considerações
finais: torna-se primordial a implantação de políticas baseadas em evidências que
incorporem oportunidades de aprendizado adequadas à pessoa idosa no seu per-
curso de vida.
Palavras-chave: políticas públicas; envelhecimento ativo; universidades; pessoa
idosa.
Introdução
A longevidade é uma realidade mundial e o envelhecimento populacional,
é um marco na contemporaneidade, é o maior fenômeno demográfico e so-
cial da atualidade. A pessoa idosa, nos últimos anos, vem assumindo cada vez
mais um papel relevante na sociedade brasileira. A identificação de diferentes
problemas, discriminações e preconceitos existentes na sociedade justifica a
formulação e a implementação de políticas públicas voltadas a essa popula-
ção.
No Brasil a legislação dirigida ao(a) velho(a) que se encarrega de abordar
o tema da educação é a Política Nacional da Pessoa Idosa (BRASIL, 1994), no
capítulo IV art.10 – III – na área da educação, preconiza que os currículos,
metodologias e material didático devem se adequar aos programas educacio-
nais destinados ao(a) velho(a), assim como, devem ser desenvolvidos progra-
mas que adotem modalidades de ensino à distância, adequados às condições
1
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). E-mail: [email protected]
2
Universidade Regional de Blumenau (FURB). E-mail: [email protected]
46
Além disso, as mulheres têm níveis de escolaridade ainda mais baixos. Como
regra, a educação é construída no início da vida e afeta a saúde futura de uma
pessoa em muitos aspectos. As pessoas com mais anos de escolaridade ten-
dem a ter maiores rendimentos, ocupações mais seguras, mais autoestima,
mais aderência a comportamentos saudáveis e mais recursos para a busca
oportuna de cuidados de saúde (Cachioni al., 2021).
Segundo Cachioni et al. (2021), a feminização da velhice é um fenômeno
reconhecido mundialmente e se deve à diminuição das taxas de mortalidade
das mulheres em relação aos homens. As mulheres são a maioria na popula-
ção adulta idosa em todas as regiões do mundo. Estima-se que elas vivem, em
média, de 5 a 7 anos a mais do que os homens. Entretanto, ao longo de suas
vidas, as mulheres acumulam desvantagens como violência, discriminação,
salários mais baixos que os homens, turnos duplos, baixo nível de educação,
solidão devido à viuvez, pobreza e dependência de recursos externos. As pes-
quisas também apontam que são as mulheres, a imensa maioria, que frequen-
tam as Universidades da Terceira Idade.
Na velhice, uma forma de assistência para as mulheres é sua rede de apoio,
que em muitos casos é composta por membros da família que atendem as
necessidades que os programas governamentais não atendem. Em troca, elas
também prestam apoio aos membros de suas famílias, pois muitas vezes são
provedoras através de seus pagamentos de aposentadoria, pensões e outros
benefícios. Estas mulheres desempenham um papel social importante como
avós e cuidadoras, fornecendo ajuda a amigos doentes ou vizinhos e assumin-
do cada vez mais responsabilidades (Cachioni et al., 2021).
Fatores de risco para incapacidade, morbidade e mortalidade têm sido
amplamente debatidos, mas, recentemente, abordagens que enfocam o en-
velhecimento como fase em que é possível desfrutar de bem-estar têm se
destacado. Nesse sentido, há quase duas décadas, foi lançada a política de
envelhecimento ativo, cuja estrutura está centrada na otimização das oportu-
nidades de saúde, participação, segurança e aprendizagem ao longo da vida
(Derhun et al., 2022).
Para a Organização Mundial da Saúde (OMS), as oportunidades de aprendi-
zado na terceira idade são determinantes do envelhecimento ativo, pois oti-
mizam as oportunidades de saúde, participação, educação permanente, se-
gurança e melhor qualidade de vida. Tais afirmações reforçam que deve haver
mais atenção dos formuladores de políticas públicas e autoridades sobre a
necessidade de ampliação do acesso a programas universitários, e que estes
atendam às necessidades das pessoas idosas (Derhun et al., 2019).
48
do uma territorialidade a pessoa idosa que passa a ser palco para efetivação
de ações e ensaios por meios de pesquisa e extensão.
Para Matos (2018), para que esta política pública possa dar respostas efica-
zes e gradativas nos territórios modificando padrões locais do envelhecimen-
to precisa de um criterioso pacto com a sociedade seguindo estruturalmente
aquilo que se propõe, pois o conceito de envelhecimento ativo da OMS cap-
tura essa visão positiva e holística do envelhecimento e a utiliza tanto como
aspiração individual quanto como meta de políticas e aplica-se igualmente a
indivíduos e sociedades.
Em se tratando de aspirações individuais, a atividade autofocada, implica
principalmente em benefícios individuais, em termos de saúde, bem-estar,
autorrealização, ou desenvolvimento pessoal, mas nenhuma outra pessoa
está envolvida ou afetada pela atividade. Cursos de treinamento nos quais
participam pessoas mais velhas, em prol de aprendizagem, ou atividades de
lazer baseadas no enriquecimento cultural representam bons exemplos de
atividades de envelhecimento autofocada. Enquanto que, a atividade centra-
da em outros, contribui para o desenvolvimento de outras pessoas ou da co-
munidade, ou da sociedade como um todo. Programas de voluntariado são
bons exemplos de outras atividades centrada em outros (Villar et al, 2020).
É razoável pensar que pessoas mais velhas adquirem algum tipo de apren-
dizado como resultado de seu envolvimento em atividades de envelhecimen-
to ativo. Os resultados da aprendizagem são definidos como qualquer tipo de
mudança pessoal, em termos de conhecimentos, habilidades ou atitudes, que
as pessoas percebem em decorrência da sua participação em uma determina-
da atividade, independentemente de sua natureza. Em geral, as pessoas mais
velhas mantêm seu compromisso com a atividade independentemente dos
custos, em termos de tempo e esforço e independentemente dos possíveis
inconvenientes que a atividade também pode envolver (Villar et al, 2020).
No caso de atividades que acontecem em contextos educacionais não for-
mais, os resultados de aprendizagem podem corresponder ao conjunto de
conhecimentos, habilidades instrumentais, atitudes desenvolvidas nas ativi-
dades cotidianas, sociais e comunitárias.
Segundo Villar et al, (2020), as pessoas idosas que realizam atividades de
envelhecimento ativo parecem ver as atividades como uma experiência de
aprendizado, que vai muito além de qualquer objetivo educacional formal, e
são capazes de desenhar lições que eles consideram importantes para suas
próprias vidas. Estas lições de vida podem, por sua vez, ser a chave para en-
tender seu envolvimento na atividade.
Outro ponto importante que foi observado em relação às variáveis socio-
demográficas. Nenhuma delas parecia influenciar nos resultados de apren-
51
Considerações finais
As ideias de envelhecimento ativo têm sido altamente enquadradas pelos
formuladores de políticas que acreditam ser significativo para pessoas mais
velhas. Estas ideias preveem um mundo de pessoas idosas saudáveis, engaja-
das e ativas que contribuem continuamente para a sociedade. Isto criou um
padrão a ser mantido pelas pessoas idosas para envelhecer ativamente (e,
portanto, envelhecer bem). Ela enquadra a participação de pessoas mais ve-
lhas como mais valiosas quando participam de atividades e formas produtivas
que beneficiam a sociedade. Além disso, coloca a responsabilidade de enve-
lhecer com as pessoas mais velhas, ignorando estruturas sociais e físicas mais
amplas (Dizon, Wiles, & Peiris-John, 2020)
55
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58
Sexualidade e Envelhecimento: o
conhecimento científico e sua abordagem
no Ensino Superior
Higor Matheus de Oliveira Bueno1, Felipe Bueno da Silva2, Márcia Thaís de
Souza3, Dalyanna Mildred de Oliveira Viana4, Gilson de Vasconcelos Torres5,
Aline Maino Pergola-Marconato6
Resumo
A sexualidade na velhice é uma temática pouco discutida, repleta de estigmas e pre-
conceitos e que requer melhor atenção e compreensão. Logo, torna-se importante
a elaboração de estudos que evidenciem as necessidades sexuais da pessoa idosa,
bem como a aplicação destes nas universidades de ensino nacionais, abordando as
identidades de gênero e orientação sexual, infecções sexualmente transmissíveis
(ISTs), resultando na avaliação do impacto da desmistificação e educação em saúde
no envelhecimento ativo da população idosa. O objetivo deste capítulo é apresen-
tar os diversos aspectos relacionados à sexualidade da pessoa idosa, tais como, as
orientações sexuais, identidades de gênero, práticas sexuais seguras e as ISTs. A
temática do envelhecimento tem sido objeto de crescente interesse, embora ainda
haja escassez de produção de literatura e de políticas públicas relacionadas. Diante
desse cenário, é fundamental que as universidades, conscientes de sua importân-
cia social e intelectual, estimulem seus estudantes e futuros profissionais a fim de
promover a capacidade de compreensão do que é de fato a sexualidade na velhice e
suas diversas formas de expressão, bem como desenvolver cuidados em saúde que
melhorem a qualidade de vida destes indivíduos e contemplem suas necessidades
em relação à temática.
Palavras-chave: sexualidade, envelhecimento, cuidado integral, políticas públicas.
Introdução
O envelhecimento está presente na vida de todo indivíduo desde o nasci-
mento até a morte e é caracterizado por mudanças físicas, comportamen-
tais e sociais enfrentadas pelo ser humano ao longo da vida (Dardengo &
Mafra, 2019). No Brasil são consideradas pessoas idosas os indivíduos com
1
Discente do Centro Universitário da Fundação Hermínio Ometto – FHO. E-mail: higorma-
[email protected]
2
Discente do Centro Universitário da Fundação Hermínio Ometto – FHO. E-mail: felipebue-
[email protected]
3
Discente do Centro Universitário da Fundação Hermínio Ometto – FHO. E-mail: marcia.
[email protected]
4
Mestre em Ciências da Saúde pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN.
E-mail: [email protected]
5
Professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN. E-mail: gilsonvtorres@
hotmail.com
6
Professora do Centro Universitário da Fundação Hermínio Ometto – FHO. E-mail: aline.
[email protected]
59
Sexualidade e Envelhecimento
A vivência sexual saudável é considerada um componente essencial para a
identidade do indivíduo e sua expressão é elemento integrante da qualidade
de vida na velhice, uma vez que representa uma função vital do ser humano
ligada às necessidades de prazer, reprodução e amor, que podem ser amea-
çadas com o envelhecimento (Souza et al, 2019 e Almeida & Lourenço, 2008).
A sexualidade não se restringe somente a um ato físico, sendo considera-
da como uma necessidade humana básica, essencial para a qualidade de vida
e bem-estar do indivíduo. A negação ou supressão da sexualidade pode in-
tensificar o processo de envelhecimento e impactar negativamente na saúde
mental das pessoas idosas. Apresenta uma relação direta com diversos fato-
res como prazer, intimidade, comportamentos e relacionamentos, tornando-
-se parte integrante da personalidade de uma pessoa (Soares & Meneghel,
2021).
Modificações na anatomia e na fisiologia sexual durante a velhice vêm acom-
panhadas de dificuldades de aceitação da sexualidade devido, principalmen-
te, à falta de informação e a ideia de que a sexualidade está restrita aos órgãos
genitais. Entre os fatores que interferem negativamente na sexualidade nesta
faixa etária, destacam-se a diminuição na produção de hormônios, aspectos
psicológicos e socioculturais e as próprias condições de saúde, com destaque
para as doenças crônicas, declínio físico, cognitivo e social decorrentes do
aumento da fragilidade e o avanço da idade (Lima et al, 2022 e Wang et al,
2008).
A pessoa idosa fica suscetível às denominações impostas pela sociedade
61
qual nasceu, por exemplo, é um indivíduo que nasceu do sexo masculino e que
se reconhece como homem. O indivíduo transgênero é aquele que expressa
identidade de gênero diferente do sexo biológico, isto é, um indivíduo mas-
culino (gênero) que se reconhece como uma mulher (identidade de gênero).
O não-binário refere-se àqueles indivíduos que mesmo nascidos com um de-
terminado gênero (masculino ou feminino) não se reconhecem como perten-
centes a este gênero, ou seja, não se limita ao masculino e feminino (Ferreira,
2021 e Gomes, 2014).
Já para as orientações sexuais pertencentes à sigla LGBTQIA+ estão presen-
tes as Lésbicas que são mulheres que se sentem atraídas por outras mulheres;
Gays representados por homens que se sentem atraídos por outros homens;
Bissexuais, que são homens ou mulheres que se sentem atraídos por ambos
os gêneros; Queer sexuais, que são pessoas que não correspondem à hetero-
normatividade, seja pela sua orientação sexual, identidade de gênero, atração
emocional ou pela sua expressão de gênero; Assexuais, cuja pessoa não sente
atração física e/ou sexual por nenhum dos sexos ou gêneros. O símbolo (+)
em destaque na sigla abrange a pansexualidade, sendo uma orientação sexual
representada por pessoas que sentem atração sexual ou romântica indepen-
dentemente da identidade de gênero (Nogueira, 2010 e Altmann, 2003).
Observa-se que a vivência ativa e saudável da sexualidade em pessoas ido-
sas com orientação sexual ou identidades de gênero diferentes da heteronor-
matividade é um grande desafio em meio a estigmas e dogmas, uma vez que
pessoas idosas que vivem a sexualidade e conversam abertamente sobre a
temática ainda são considerados seres profanos, uma vez que culturalmente,
a velhice está atrelada à pureza (Fernandes & Pessoa, 2018).
Diante disso, torna-se fundamental analisar, identificar e desenvolver estu-
dos que dissertam sobre a sexualidade das pessoas idosas e as principais de-
mandas de saúde relacionadas ao tema. É imprescindível o conhecimento das
inúmeras formas de prevenção acerca das infecções sexualmente transmis-
síveis (ISTs), assim como a importância das práticas de prevenção e cuidados
em saúde para com esta questão. Por conseguinte, para que a pessoa idosa
envelheça de forma ativa e saudável atrelada à sexualidade é fundamental que
ele busque informações acerca das IST, assim como suas formas de prevenção
e tratamentos (Nierotka, Nicaretta & Ferretti, 2020 e Moreira et al., 2015).
63
sendo que destas, 2,8 milhões são indivíduos com a faixa etária superior a 50
anos. Desse modo, enuncia-se que há uma grande relevância epidemiológi-
ca principalmente entre as pessoas idosas, considerado um público que com
crescimento expressivo (Burigo et al., 2015).
Apesar destes dados, os idosos não são considerados como pessoas vul-
neráveis em relação às ISTs, o que representa uma percepção equivocada e,
percebe-se que há um déficit por parte dos profissionais da saúde em desen-
volver atividades de promoção de saúde, como a disseminação de informa-
ções acerca dos métodos preventivos, o desenvolvimento da infecção e o seu
respectivo tratamento, resultando na carência de conhecimento e assistência
ineficaz, o que propicia falta de informações por parte dos longevos e conse-
quentemente este indivíduo poderá apresentar alterações na saúde, como a
infecção e possível propagação de doenças (Silva et al., 2022).
Mesmo com as problemáticas supracitadas, pode-se inferir que nas últi-
mas décadas houve avanços relacionados à vida sexual da pessoa idosa, visto
que mínimos. Entretanto, são ganhos importantes acarretados pelo avanço
da tecnologia em saúde, e desenvolvimento de medicamentos que melhoram
a qualidade sexual da pessoa idosa. Diante das práticas sexuais na velhice, as
ISTs não devem ser descartadas, mesmo que, as transmissões se propaguem
por relações sem uso de métodos eficazes de proteção, escassez de preven-
ção e alto risco de contágio, acrescido pela desinformação, falta de promo-
ção de saúde relacionado às práticas sexuais na terceira idade e educação em
saúde (Monte et al., 2021).
As pesquisas que enfocam na pessoa idosa e em sua relação com a sexuali-
dade são escassas, entretanto, existem diversos instrumentos que podem ser
utilizados para a avaliação da sexualidade e o seu impacto na saúde e na qua-
lidade de vida do indivíduo, como por exemplo, a Escala de Vivências Afetivas
e Sexuais dos Idosos (EVASI). Trata-se de uma escala psicométrica composta
de 38 itens estruturados e divididos em três dimensões: aspectos sexuais,
relações afetivas e adversidades físicas e sociais (Souza-Junior et al., 2022).
Essa escala foi aplicada anteriormente em uma amostra de 250 pessoas
idosas na região Nordeste do Brasil em conjunto com o Instrumento Autor-
referido de Fragilidade e, entre os resultados obtidos, identificou-se que as
pessoas idosas classificados como frágeis apresentaram as piores vivências
relacionadas à sua sexualidade. Além disso, as pessoas idosas melhor expe-
rienciaram sua sexualidade nas relações afetivas (Souza-Junior et al., 2022).
65
Considerações finais
Levando em consideração a importância da sexualidade e a sua relação com
a manutenção da saúde da pessoa idosa, estudos que abordam este tema são
de grande importância, principalmente para que profissionais da saúde e alu-
nos de graduação adotem medidas que reorganizem a atenção de forma a
contemplar ações de educação em saúde, promoção da saúde e prevenção
de agravos. Como a temática ISTs que é muitas vezes deixada de lado para
esse público, torna-se necessário o enfoque para o envelhecimento e suas
singularidades, assim como, a qualificação dos discentes e profissionais para
garantir a saúde integral da pessoa idosa abrangendo aspectos importantes
para a vivência e qualidade de vida da pessoa idosa, como a sexualidade e suas
formas de expressão.
À vista disso, com a inclusão da tríade ensino, pesquisa e extensão relacio-
nada à sexualidade da pessoa idosa, os futuros profissionais possuirão uma
formação sólida e integral, com intuito de contemplar a população idosa em
suas diversas complexidades, e como resultado disso, ser garantido seus di-
reitos de vida ativa, com qualidade e isentos de preconceitos.
68
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72
Contribuições
da extensão
universitária
voltadas à pessoa
idosa
73
Resumo
As evidências do aumento do número de pessoas idosas indicam uma demanda de
iniciativas e espaços inclusivos do grupo etário que mais cresce no Brasil e enfrenta
desafios para a continuidade de sua participação na sociedade. Estudos mostram
que o desenvolvimento humano ocorre a todo tempo e a capacidade de “aprendiza-
gem ao longo da vida” permanece ativa sem interrupção. Paralelamente ao modelo
de universidade aberta às pessoas idosas, os programas de extensão universitária
oferecem oportunidades de desenvolvimento e aprendizagem que unem o prosse-
guimento da participação de pessoas idosas na sociedade e a convivência em geral
e entre gerações. Este capítulo traz exemplos dessas boas práticas.
Palavras-chave: envelhecimento, aprendizagem ao longo da vida, participação.
Introdução
Para além dos dados demográficos, nossa percepção indica um maior nú-
mero de pessoas idosas em nosso convívio nos mais diversos ambientes do
cotidiano. O fato de criarmos uma legislação para estabelecer prioridade
para pessoas de 60 anos e mais sinaliza um novo cenário social, povoado por
uma quantidade crescente de pessoas idosas. Soma-se a isso, nova legislação
(Brasil, 2017) definidora de prioridade para a faixa etária a partir dos 80 anos,
em relação ao grupo que vai dos 60 aos 79 anos.
Com o aumento do número de pessoas idosas no país, nossa sociedade se
depara com uma vida diferente da conjuntura anterior, quando a quantida-
de de crianças e jovens ultrapassava a população envelhecida. A significati-
1
Grupo de Pesquisa Espaços Deliberativos e Governança Pública (GEGOP)/CNPq. silmag.
[email protected].
2
Grupo de Pesquisa Espaços Deliberativos e Governança Pública (GEGOP)/CNPq. car-
[email protected]
3
Grupo de Pesquisa Espaços Deliberativos e Governança Pública (GEGOP)/CNPq Universi-
dade Federal de Viçosa. [email protected]
4
Grupo de Pesquisa Espaços Deliberativos e Governança Pública (GEGOP)/CNPq, Grupo de
Estudos e Práticas em Envelhecimento, Nutrição e Saúde (GREENS), Universidade Federal
de Viçosa. [email protected].
74
6
Em 1972 a UNESCO inaugurou a temática Educação Permanente por meio do Relatório
“Aprender a ser”.
7
Em meados dos anos 1970, surge um novo paradigma acerca do desenvolvimento ao longo
da vida (lifespan) proposto por um grupo de reconhecidos acadêmicos, entre eles, Paul B.
Baltes, K. Warner Schaie, James Birren, Bernice Neugarten, Klaus Riegel e Matilda Riley, que
enuncia o envelhecimento como um processo que não implica, necessariamente, em doen-
ças e isolamento, e que a velhice, como fase do desenvolvimento humano permite não só a
ocorrência de perdas, mas também de ganhos. A educação é apontada como otimizadora
das competências.
78
8
Essas instituições focam no crescimento pessoal da pessoa idosa e no modo como eles
se desenvolverão de forma livre e autônoma no desempenho de seus papéis na sociedade
(Aiuta, 2020), sendo reconhecidas pela Organização das Nações Unidas (ONU), Organiza-
ção Mundial da Saúde (OMS) e outras organizações internacionais (Arruda, 2007).
9
A UNI 3 Uruguay era uma universidade aberta que funcionava independentemente, sem
vínculo com nenhuma universidade tradicional.
79
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88
Resumo
Este capítulo tem sua origem na experiência do Projeto Arte de Cuidar: apoio psico-
lógico às pessoas idosas residentes e trabalhadores de ILPIs mineiras, desenvolvido
através de práticas de estágio e extensão da PUC Minas. Nele discute-se o “ser ve-
lho” e o “estar uma pessoa idosa”, ao abordar a experiência, a memória e proble-
matizar a construção social da pessoa idosa, mantendo o tensionamento produzido
no paradoxo enunciado. Nas práticas com pessoas idosas e trabalhadores, o proje-
to investiu, em uma perspectiva clínico-política, na singularização dos cuidados e
na possibilidade de uma nova suavidade na relação com o velho/pessoa idosa. Com
metodologias diversas e resultados significativos, o trabalho, até o momento, con-
figurou um campo de atuação universitária gerador de práticas educativas com a
pessoa idosa/velha e não para a pessoa idosa.
Palavras-chave: velho. pessoa idosa, arte de cuidar, cuidado. suavidade.
Introdução
A instauração da velhice ocorre em processos que demandam reflexões e
ações. Por um lado, a velhice é uma etapa de um limite imposto aos sujeitos
que nela chegam. Por outro, o modo como se envelhece nas condições socio-
políticas e emocionais nesse ciclo da vida.
Para o primeiro processo, faz parte da condição de mortais para aqueles que
chegaram a essa etapa e atingiram um status, seja ele bom ou não, um modo de
se fazer pertencer a esse mundo. Uma ressignificação do passado e um sentido
de ainda estar nesse mundo configura o “ser velho”. Por outro lado, as condi-
ções de envelhecimento nas sociedades equivalem a um processo de condi-
ções políticas que tornam, a pessoa velha, uma pessoa idosa. Esses processos
estão intimamente imbricados na configuração da velhice. Tanto um processo
quanto o outro envolve projetos sociais que repercutem no modo de se fazer
pertencer ao mundo nessa etapa provisória da existência.
1
Professor de Psicologia (PUC Minas). Pós-doutor em Filosofia (UFMG, 2016; UFMG, 2014).
Doutor e Mestre em Psicologia Clínica (PUC-SP, 2010; PUC-SP, 2005). brunovasconcelos@
pucminas.br.
2
Professor de Filosofia (PUC Minas e Ista). Pós-doutor em Educação (UFMG, 2009). Doutor
em Ciências da Religião (Umesp, 2002). Mestre em Ciências da Religião (PUC-SP, 1995).
[email protected].
89
Estar velho e envelhecer com o outro parece não ser bom para ninguém.
Pois isso implica refletir a condição humana daqueles que já estão instau-
rados na velhice, aqueles que potencialmente a ela chegarão e as condições
psicossociais de se estar nessa etapa da vida. Os limites da condição humana
indicam as mudanças no corpo e no modo de perceber e significar o mundo.
Essa etapa envolve todo um processo de cuidado com o corpo/mente, bem
como um modo de proteção da pessoa.
Há entre nós, no modo de percepção dessa etapa, formas acalentadoras
desse limite, de prevenção do processo de envelhecimento e das conquistas
de políticas públicas para essa etapa.
A velhice é uma etapa tardia e é possível de não se chegar a ela. As contin-
gências da vida podem antecipá-la de tal maneira que, para aqueles que nela
chegam, ocorre a necessidade de pensar como se envelhece, as formas de
se aproveitar dessa etapa, e refletir sobre direitos e deveres da pessoa nessa
condição.
Assim, envelhecer é uma condição que desde sempre e, particularmente,
para os gregos remonta-se a um processo de perda da vitalidade de existir no
90
tempo. Isso de tal maneira que o ideal era morrer jovem, ou seja, desfrutando
de sua beleza e vigor. A velhice seria uma forma de ultraje à condição de mor-
tais, a esses seres que podem não mais contemplar uma alvorada. A perda da
forma (morphé) era sinal de que se perdeu a juventude (força e vigor). Isto é,
“trata-se do velho sem força física, sem ímpeto, sem a juventude vigorosa e
impossibilitado do manejo do escudo e do carro. É visto e vê a si mesmo como
lamentável e destruído em sua pessoa”. (Gazola, 2011, p.124).
Se, por um lado, a condição da velhice no mundo antigo indicava esse peso,
a compensação está na experiência vivida em um tempo, daí a prática de en-
sinamento aos mais jovens. Uma compensação pelo ato de narrar o aconteci-
mento.
Desde Nestor e Príamo, da Ilíada de Homero aos contemporâneos, só é pos-
sível deixar registradas as práticas do que já foi: aprender a esculpir no tempo
uma experiência digna de ser contada às gerações que chegam ao mundo. É
uma vivência de uma singularidade inscrita na espécie humana.
Talvez a história e as lutas e conquistas sociais da pessoa, nessa etapa de
vida, seja para que ela tenha condições de dizer de si, sobre si, para si. A ne-
cessidade de entender os quadros da velhice nas sociedades, e o modo como
as singularidades que envolvem as escolhas e as contingências do estar velho,
pressupõe explicitar o real nessa etapa da vida. Entender a velhice implica ne-
cessariamente pensá-la de forma universal, ou seja, ela poderá vir para qual-
quer um e de modo particular nas culturas, para identificar o modo como o
velho é acolhido, percebido nas relações instituídas e construídas.
Em um processo de modificações físicas, e de modo geral para compreen-
são do modo universal da velhice na espécie humana, ocorrem transforma-
ções internas e externas. Zimerman aponta para essas modificações basean-
do-se em sua vivência com velhos caracterizando-as da seguinte maneira:
Considerações finais
Refletir sobre e com a pessoa idosa/velha pressupõe projetos de longa du-
ração. Projetos que estão circunscritos na última etapa da vida, cuja expe-
riência e memória conduzem a um aprendizado dialético/ético de acompa-
nhamentos de diversos segmentos sociais.
98
Referências
Bobbio, N. (1997). O tempo da Memória. De Senectute e outros escritos autobiográficos. Rio
de Janeiro: Campus.
Gazola, R. (2011). A bela e a boa morte. In: Pensar Mítico e Filosófico - Estudos Sobre a Grécia
Antiga. Loyola.
Resumo
Este relato tem por objetivo registrar uma experiência de extensão realizada no
período de 2008 até 2010. A proposta se desenvolveu no Lar São Vicente de Paulo,
na cidade de Ouro Preto, no estado de Minas Gerais. Possui como estrutura ser uma
ação extensionista inserida no Projeto Cia. Da Gente3, o qual pertence a Pró-Reitoria
de Extensão da Universidade Federal de Ouro Preto – UFOP, sendo fomentado pela
Fundação Gorceix4. O objetivo geral do Projeto é inserir o fazer teatral em Institui-
ções não-formais, atendendo a públicos bem específicos e diferentes. Os locais tra-
balhados além do Lar São Vicente de Paulo são: Associação de Pais e Amigos dos Ex-
cepcionais (APAE), Hospital Santa Casa e Pastoral da Criança, ambos de Ouro Preto
(MG). A prática extensionista aqui relatada foi realizada no Lar São Vicente de Paulo,
tendo como público os/as seus/suas próprios/as moradores/as.
Palavras-Chave: teatro, pessoas idosas, extensão.
Envelhecer de forma sã, com aceitação da idade e dos próprios limites con-
siste em uma busca diária. É nessa busca que incidiu este projeto promoven-
do um envelhecer consciente no encontro entre o expressar e o despertar
também para um dia-a-dia mais prazeroso.
Como toda instituição, o Lar possui suas normas internas e regras de fun-
cionamento com horários marcados para cada atividade. À época, as pessoas
idosas não possuíam nenhum tipo de recreação, tendo a televisão esta função
de acordo com a direção da instituição. Práticas esportivas rotineiras também
não existiam, havendo algumas aulas esporádicas de ginástica oferecida por
uma voluntária. O contato com atividade cultural existia quando participavam
das aulas de Teatro oferecidas pelo projeto de extensão em questão, mas esta
não abrangia todas internas, pois só praticava a mesma quem demonstrasse
interesse.
O Lar São Vicente de Paulo faz parte de um programa social da igreja católi-
ca que ocasiona o direcionamento e funcionamento da instituição. As pessoas
idosas viviam em alas distintas (masculina e feminina) e possuíam um local
fixo e determinado para se acomodarem chamado Sala de Convivência onde
ficava localizada a televisão; cadeirantes que não iam até o refeitório, acaba-
vam fazendo suas refeições também neste local.
Ao adentrar o abrigo tínhamos contato com um pátio onde pessoas idosas
realizavam banho de sol, um pequeno jardim e uma capela. Dentro do abrigo
se localizavam as alas, o refeitório, os banheiros dos funcionários, a sala de
fisioterapia e a sala de Teatro. O Lar se apresentava como um ambiente am-
plo se considerado o número de moradores/as à época (aproximadamente
sessenta e sete), com um gramado em volta, lavanderia no subsolo e quartos
com até seis internos/as.
Neste percurso, uma questão se apresenta: asilo ou abrigo? Por mais que
na atualidade não se use mais o termo asilo, nos confrontamos ainda com es-
truturas de abrigos em que este significado não se transformou. É importante
refletir que a intenção de mudar a nomenclatura não tenha sido apenas uma
tentativa de amenizar a situação. Essas instituições precisam pensar em me-
todologias de funcionamento em que não se tornem um espaço excludente,
deixando internados/as aqueles/as que “não servem mais para a sociedade”.
Fundamentando esta reflexão, está um dos pontos de vista de Michael Fou-
cault que nos diz (1979, p.121):
peça teatral Tartufo6 de Molière7. Tal escolha se deu pela peça por possuir al-
gumas características que se relacionavam com a história das pessoas idosas,
assuntos sobre a religião, o casamento, porém abordados de forma cômica e
até irônica que pode gerar uma reflexão crítica desses valores. Partimos en-
tão, para a construção de uma dramaturgia de imagem ao explicar o que é um
texto dramático. Começamos a contextualizar os elementos teatrais como
personagens, espaço cênico, conflito da cena e suas ações. Ao desenvolver a
dramaturgia a partir de recortes de revistas compreendemos o contexto da
peça teatral e a partir daí desenvolvemos as outras questões que permeiam
o Teatro.
A segunda etapa era a compreensão das personagens e seus respectivos
figurinos tendo sempre a imagem em primeiro lugar. Desenhamos as ideias
construídas por todas e com alguns adereços caracterizamos as pessoas
idosas. Na terceira etapa foi apresentado o espaço cênico, mas antes disso,
percebemos o ambiente em que viviam: as pessoas idosas desenharam como
seria a sala em uma folha branca, depois desenharam esta mesma sala em
um papel áspero e em seguida caminhamos pela sala atentando para cada
detalhe, cheiro, sensação de calor ou frio, textura das paredes, temperatura
do chão e assim em diante. Voltamos para o Tartufo e pensamos os espaços
cênicos realistas e surrealistas, desenhamos e construímos com nossos ele-
mentos este espaço, ressignificando alguns materiais e introduzindo a ideia
destas duas vanguardas. Este processo durou mais de um mês e foi de gran-
des resultados, conseguimos relacionar o contexto teatral à realidade daque-
le ambiente e o interesse pela atividade.
Desenvolvendo mais especificamente a identidade de cada participante,
tema este sempre relacionado às atividades que propomos, aplicamos a prá-
tica psicomotora de construção de corpos com massa de modelar e olhos
vendados. Os corpos experienciados se transformaram em formas abstratas
bem diferentes uns dos outros. Neste mesmo encontro houve o desenvol-
vimento de um autorretrato com tinta em um envelope. Estas duas ativida-
des no mesmo dia se completaram e se relacionaram mostrando a percepção
destas pessoas idosas para com seus corpos e suas fisionomias. O produto
finalizado foi de muita expressividade.
Com estas atividades pudemos começar no processo da oralidade, que
consistiu em análises de discursos trabalhando o reconhecimento e a inter-
pretação de si através dos diferentes formatos de autorretratos, buscando
os sentimentos e características pessoais juntamente com o resgate do que
aquela imagem representava. Percebeu-se como o fato de estarem contando
sobre si mesmas, suas experiências, as faziam observar e participar mais ati-
vamente dos encontros.
6
Mais informações em: https://www.culturaanimi.com.br/post/o-tartufo-de-moli%C3%A-
8re.
7
Mais informações em: https://www.aliancafrancesa.com.br/novidades/400-anos-de-mo-
liere-quem-foi-moliere/.
107
Referências
Anzieu, D. (1989). O Eu-pele. Casa do Psicólogo.
Baron, D. (2004). Alfabetização Cultural: a luta íntima por uma nova humanidade. Alfarra-
bio.
Freire, P. (2008). Medo e Ousadia: O cotidiano do professor (12ª ed.). Paz e Terra.
Koudela, I., & Almeida Júnior, J. S. (Orgs.) (2015). Léxico de Pedagogia do Teatro. Perspec-
tiva: SP Escola de Teatro.
Pio, C. (2009). Da beleza do corpo à beleza da alma. A terceira idade: Estudos sobre o enve-
lhecimento, v. 20, n. 44, fevereiro de 2009.
Sacks, O. (1997). O homem que confundiu sua mulher com um chapéu. Cia. Das Letras.
Resumo
O envelhecimento populacional é um fenômeno mundial que demanda atenção de
diversas políticas públicas. No Brasil, surgiram programas universitários voltados
para a população idosa, por exemplo, das Universidades Abertas para a Terceira
Idade (UnATI). O artigo é resultado de uma pesquisa dividida em 2 etapas, a pri-
meira um levantamento histórico e a segunda uma análise da UnATI, programa de
extensão da Universidade Federal do Pará (UFPA). O artigo foca na primeira etapa e
trata do processo histórico de criação dos programas universitários no Brasil e sua
relevância para a qualidade de vida das pessoas idosas. Conclui-se que os primeiros
programas de cunho educativo para as pessoas idosas foram liderados pelo SESC -
Serviço Social do Comércio, que posteriormente se disseminou pelas universidades
brasileiras, constituindo-se as UnATIs.
Palavras-chave: universidade aberta, longevidade,envelhecimento.
que as pessoas idosas utilizem seu tempo livre de maneira cultural, social e
esportiva. Além disso, visam também à integração das pessoas idosas com
diferentes gerações, assim como a atualização e aquisição de novos conheci-
mentos, possibilitando a participação integral, a elevação da autoestima, vi-
sando a melhora da qualidade de vida desse grupo populacional.
O artigo apresenta o resultado parcial de uma pesquisa sobre as Univer-
sidades Abertas para a Terceira Idade e a qualidade de vida ao envelhecer. A
pesquisa foi dividida em 2 etapas, sendo a primeira um levantamento históri-
co e a segunda etapa, análise da Universidade da Terceira Idade, programa de
extensão da Universidade Federal do Pará (UFPA).
O artigo foca na primeira etapa e trata do processo histórico de criação dos
programas universitários no Brasil e sua relevância para a qualidade de vida
das pessoas idosas. Conclui-se que os primeiros programas de cunho edu-
cativo para as pessoas idosas foram liderados pelo SESC - Serviço Social do
Comércio, que posteriormente se disseminou pelas universidades brasileiras,
constituindo-se as UnATIs.
Quadro 1
UnTI de Universidades Públicas Federais do Brasil
IFES Denominação da UnTI Idade Data
UFSC NETI 50 anos 1983
UFSM NIEATI 55 anos 1984
UFU AFRID 50 anos 1989
UFJF Polo de Enriquecimento Cultural para 45 anos 1991
a Terceira Idade.
UFRGS Núcleo de Estudos Interdisciplinares 60 anos 1991
sobre o Envelhecimento: UNITI
UFPB Núcleo Integrado de Estudos e Pesqui- 60 anos 1992
sas da Terceira Idade: NIETI
UFF Centro de Referência em Atenção à 60 anos 1992
Saúde do Idoso: CRASI
UFMT NEATI 45 anos 1993
UFMG Projeto Maioridade - Universidade 60 anos 1993
Aberta para a Terceira Idade.
UFOP Programa Terceira Idade. 60 anos 1993
UFPel Núcleo de Atividades para a Terceira 60 anos 1993
Idade: NATI
UFAM PIFPS-U3IA 45 anos 1994
UFPA Programa Universidade da Terceira 55 anos 1994
Idade: UNITERCI
FURG Núcleo Universitário da Terceira Ida- 60 anos 1994
de: NUTI
UFSJ Programa Universidade para a Tercei- 55 anos 1995
ra Idade.
UNIRIO Grupo Renascer. 55 anos 1995
UFMA Universidade Integrada da Terceira 50 anos 1995
Idade: UNITI
UFES Núcleo de Estudos sobre o Envelhe- 60 anos 1996
cimento e Assessoramento à Pessoa
Idosa: NEEAPI
UFS Núcleo de Pesquisa e Ações da Tercei- 60 anos 1998
ra Idade: NUPATI
UFPI Núcleo de Pesquisa e Extensão Univer- 55 anos 1998
sitária para a Terceira Idade: NUPEU-
TI
UNIFAL UNATI 50 anos 1999
UNIFESP Universidade Aberta à Terceira Idade: 60 anos 1999
UATI
UFAC UNATI 60 anos 1999
UFPE UnATI 60 anos 2002
UFSCar Programa de Revitalização de Idosos. 50 anos 2005
UFT Universidade da Maturidade: UMA 45 anos 2006
115
Nossas evidências
O artigo teve como objetivo apresentar o processo histórico de criação dos
programas universitários no Brasil e sua relevância para a melhoria da qua-
lidade de vida das pessoas idosas, como resultado parcial de uma pesquisa
sobre as Universidades Abertas para a Terceira Idade e a qualidade de vida ao
envelhecer.
O histórico da UnaTI no mundo e no Brasil aponta para uma diversidade de
formas de atuação. Inicialmente originada na França nos anos 60, a criação
das UnaTIs espalhou-se pelo mundo.
No pós-guerra, a França observou que sua população envelhecida passou
por um período de baixa condição de vida. A partir da recuperação econômi-
ca nos anos 60 e a emergência de uma classe média com mais recursos, con-
comitantes às políticas para as pessoas idosas, passou a observar os novos
aposentados como sinônimo de bem viver.
O Brasil acompanhou o modelo Francês e singularmente as literaturas pes-
quisadas para o embasamento do artigo, pode-se vislumbrar que as UnaTIs se
desenvolvem via projetos de extensão e relacionado a isto identifica-se falta
de investimentos denotando baixa relevância pelos os decisores da política
pública, embora sejam reconhecidas pelo corpo funcional e voluntários.
No caso brasileiro, a emergência do tema pela educação das pessoas ido-
sas, deu-se em um contexto de mudança previdenciária no final das décadas
de 60 e 70 e desencadeou a participação e movimento dos sindicatos.
Os primeiros programas de cunho educativo para as pessoas idosas foram
liderados pelo SESC - Serviço Social do Comércio, que posteriormente se dis-
seminou pelas universidades brasileiras. Destaca-se que o protagonismo das
universidades no desenvolvimento de pesquisas e atividades para enfrenta-
mento da mudança demográfica faz-se imperioso.
121
Referências
Banco Mundial. (2011). Envelhecendo em um Brasil mais velho (Relatório No. 62179-
BR). Disponível em: http://siteresources.worldbank.org/BRAZILINPOREXTN/Resour-
ces/3817166-1302102548192/Envelhecendo_Brasil_Sumario_Executivo.pdf.
Inouye, K., et al. (2018). Efeito da Universidade Aberta à Terceira Idade sobre a qualidade de
vida do idoso. Educação e Pesquisa, 44.
Silva, F. M. da, et al. (2019). Como funcionam as universidades da terceira idade no Brasil?,
XIX Colóquio Internacional de Gestão Universitária. Brasília, 25-27 de novembro.
Simões, J. A. (1998). A maior categoria do país: o aposentado como ator político. In: Barros,
M. M. L. (Org). Velhice ou Terceira Idade? Estudos antropológicos sobre identidade,
memória e política, 13-34. Editora Fundação Getúlio Vargas.
123
Resumo
Situado na antiga estação ferroviária da cidade Ponte Nova, o Instituto Federal de
Educação Ciência e Tecnologia de Minas Gerais possui um papel estratégico na ex-
pansão e interiorização da Rede Federal. Buscando ir além dos trilhos da oferta de
educação profissional e tecnológica, o presente texto resulta de um projeto de ex-
tensão que teve o propósito de promover a convivência virtual e a socialização de
conhecimentos sobre educação financeira com pessoas idosas. Diante da pandemia,
as atividades ocorreram por meio do grupo de WhatsApp “Ativa Idade”, conduzido
como ambiente virtual de aprendizagem e de convivência. As expectativas das pes-
soas idosas eram aprender sobre o cuidado com o dinheiro, o não endividamento e
o consumo mais consciente. Como avaliação, o projeto teve retornos positivos, com
relatos de mudanças de comportamento em função do que foi compartilhado e a
satisfação das pessoas idosas em integrar o grupo, corroborando a premissa de que
a convivência, mesmo que virtual, contribui para minimizar o isolamento e o senti-
mento de solidão.
Palavras-chave: educação financeira, consumo consciente, envelhecimento.
1
Professora no Ensino Básico, Técnico e Tecnológico do Instituto Federal de Minas Gerais/
Campus Ponte Nova. E-mail: [email protected]
2
Egresso do curso de Tecnologia em Processos Gerenciais - IFMG campus Ponte Nova
3
Professor no Ensino Básico, Técnico e Tecnológico do Instituto Federal de Minas Gerais/
Campus Ponte Nova. E-mail: [email protected]
4
Professor no Ensino Básico, Técnico e Tecnológico no Instituto Federal de Minas Gerais/
Campus Ponte Nova. E-mail: [email protected]
124
Imagem 1
Perfil do projeto em rede social
Fonte: https://www.instagram.com/ativaidade.pontenova/
Imagem 2
Evento Café virtual
Fonte: https://www.instagram.com/p/CEsQ84mH5KV/?utm_source=ig_web_copy_link
Quadro 1
Resumo das interações
Dia Conteúdo
Apresentação por áudio e mensagem de texto de todos os membros do
22/06 grupo.
Podcast Qualidade do Sono - https://serdh.mg.gov.br/grupo-tematico/
idoso/biblioteca-videoteca/audios;i=qualidade-do-sono
Vídeos: Meditação em 5 minutos (https://www.youtube.com/watch?v=k-
23/06 cl87gRy07w) e Yoga para a terceira idade (https://www.youtube.com/
watch?v=N2ZeYhdEFcc )
Questão: Como está seu sono? O que te ajuda a dormir bem? Conte pra
nós!
Só durmo a poder de remédio. Alprazolan 2 ml, e ainda acordo uma ou
duas vezes à noite. Mais uma das coisas que falaram neste áudio eu faço
Comentá- muito, toda noite: Celular. Existe um horário melhor para essa prática
rios (meditar)?(I1)
Resposta do bolsista: É bom separar o horário da meditação e criar uma
rotina, mas não existe a melhor hora e sim a sua melhor hora. Muitas
pessoas preferem fazer pela manhã antes de iniciar o dia.
Podcast Atividade física - https://serdh.mg.gov.br/grupo-tematico/ido-
so/biblioteca-videoteca/audios;i=atividade-fisica
24/06 Vídeo Exercícios para idosos em casa: https://www.youtube.com/wat-
ch?v=xcM3aaBl-8U
Questão: Vocês têm praticado alguma atividade nesse período de isola-
mento? Conte pra nós!
Tenho feito caminhada no hall do prédio. (I3)
Faxina conta como exercício físico? Limpo casa o dia inteiro. Os serviços
Comentá- domésticos ficaram pesados com esta pandemia. Tenho mais uma per-
rios gunta. Pular corda é recomendado para maiores de 60? (I5)
Resposta Profa. Cássia: Teremos na próxima semana um profissional da
área de educação física para esclarecer dúvidas como essa. Aguardem!
Imobilismo - https://serdh.mg.gov.br/orientacoes/covid19/biblioteca-vi-
25/06 deoteca/audios;i=imobilismo
Levantamento de dúvidas. Sugestão cultural Mostra de artes CEFET:
26/06 https://youtu.be/TsReR_a5Vzk
Muito bom! Amei. (I3)
Gostei muito bom, eu prefiro rock anos 70 mais gosto de música (...)nessa
época só quem sabia tocar fez sucesso, sem recursos acústicos e tecno-
Comentá- logia, eram pessoas virtuosas, sem recursos mais o dom da música, isto é
rios importante, como vcs o dom de ensinar (I6)
Resposta do Prof Edson: Eu também adoro rock, principalmente as ban-
das dos anos 70 e 80.
130
Dia Conteúdo
Saúde Mental - https://serdh.mg.gov.br/grupo-tematico/idoso/bibliote-
ca-videoteca/audios;i=saude-mental
29/06
Boa tarde! Diante desses novos e desafiadores tempos que estamos
vivendo, preservarmos a saúde física, mental e emocional é de grande im-
portância para obtermos mais leveza e confiança de que tudo vai passar.
Comentá- E os temas aqui abordados estão sendo satisfatórios. (I5)
rios Resposta de Rafael: Ficamos felizes em ajudar vocês, isto nos motiva a
procurar mais conteúdo de qualidade para compartilhar aqui. Muito
obrigado!
30/06 Automedicação - https://serdh.mg.gov.br/orientacoes/covid19/bibliote-
ca-videoteca/audios;i=automedicacao
Complementar: http://www.blog.saude.gov.br/promocao-da-saude/
32252-dia-do-uso-racional-de-medicamentos-lembra-dos-perigos-da-
-automedicacao
Comentá- Temos que nos conscientizar, não devemos fazer isso. Pois as consequên-
rios cias podem ser desastrosas, como diz a médica(I1)
Isolamento social - https://serdh.mg.gov.br/orientacoes/covid19/biblio-
01/07 teca-videoteca/audios;i=isolamento-social
Vídeo: Questões respondidas pelo especialista em educação física Darlan
(https://www.instagram.com/tv/CCHIL9QnXBf/?utm_source=ig_web_
copy_link)
Comentá- Bora exercitar pessoal. (I7)
rios Também gostei muito das explicações. E vamos pular corda, minha gen-
te! Sem exagero (I5)
Saúde Mental Durante a Pandemia - https://serdh.mg.gov.br/grupo-te-
02/07 matico/idoso/biblioteca-videoteca/audios;i=saude-mental-durante-a-
-quarentena
Temos que nos cuidar, se não iremos pirar. E foco nas coisas boas, pois
Comentá- estamos bem, por isso vamos pedir a proteção de Deus. (I1)
rios Ontem fiquei muito feliz com as respostas sobre exercício físico e hoje seu
podcast veio pra somar. (I5)
Sugestão cultural Live O Grande Encontro: https://youtu.be/PYE4QsZ-
03/07 T7Ro
Esquecimento - https://serdh.mg.gov.br/orientacoes/covid19/biblioteca-
07/07 -videoteca/audios;i=esquecimento
Legal. Gostei muito. Eu, às vezes, esqueço onde guardei alguma coisa.
Comentá- Mas paro de procurar naquele momento. E depois eu encontro. Muito
rios boa as dicas. (I1)
Nossa! Valeu a pena este podcast. Ando bem esquecida ultimamente. (I5)
Boa tarde! Excelente! (I9)
08/07 Uso de máscara - https://serdh.mg.gov.br/orientacoes/covid19/bibliote-
ca-videoteca/audios;i=uso-de-mascara
Bom dia. Um mal necessário, temos que usar. (I7)
Comentário
131
Dia Conteúdo
Hidratação - https://serdh.mg.gov.br/orientacoes/covid19/biblioteca-vi-
09/07 deoteca/audios;i=hidratacao
Eu faço o possível para tomar pelo menos 1 litro e meio de água por dia.
Comentá- (I1)
rios Excelente informação. Temos que criar este hábito, pois é importantíssi-
mo para nossa saúde. (I9)
Dúvidas da semana.
Estão comentando que o medicamento ivermectina é bom para prevenir
contra a covid 19, sabemos que cientificamente não tem nada comprova-
do. Se vocês puderem e tiverem alguém que tire esta dúvida, seria muito
bom. Obrigada. (I1) Eu também fiquei sabendo, ia até tomar, mas vou
aguardar a resposta. (I12) Bom dia!!! Tem muitas pessoas tomando estes
10/07 medicamentos. (I14)
Resposta da equipe em Vídeo e a mensagem: Boa tarde! As pesquisas são
Comentá- recentes e indicam que a dose da ivermectina que seria necessária para
rios “destruir” o coronavírus no nosso organismo atuaria como veneno. Ou
seja, nos mataria. Precisamos ter muito cuidado para não acreditarmos
em “soluções milagrosas “. O problema é mundial e a vacina sim, será o
que precisamos!
Enquanto isso, vamos ficar em casa e seguir as regras de limpeza! E não
esquecer que a máscara, lavar as mãos e o isolamento é o nosso maior
aliado. Mais uma vez obrigada por esclarecer, pois ficam mandando
vídeos dizendo que é muito bom. (I1)
13/07 Limpeza - https://serdh.mg.gov.br/orientacoes/covid19/biblioteca-video-
teca/audios;i=limpeza
Comentá- Vamos limpar minha gente! (I5)
rios
Acidentes Domésticos - https://serdh.mg.gov.br/orientacoes/covid19/
14/07 biblioteca-videoteca/audios;i=acidentes-domesticos
Bom dia! Ótimas informações. Sempre tomo alguns cuidados... Princi-
palmente em subir em cadeiras ou bancos, estes fico atenta, pois já vi
Comentá- pessoas caírem e o resultado foi muito grave. (I9)
rios Aqui em casa evito subir em qualquer lugar. Nem banco, nem cadeira e
muito menos escada. (I5)
17/07 Dúvidas da semana.
Nenhuma dúvida. Mas realmente a atividade física é um problema para a
dona de casa. Mas sigamos em frente. Quando dá pra fazer. Essa sema-
na só fiz dois dias de bicicleta. (I1)
20/07 Direito do Consumidor - https://serdh.mg.gov.br/orientacoes/covid19/
biblioteca-videoteca/audios;i=direitos-do-consumidor
Boa tarde! É muito importante sabermos dos nossos direitos como con-
Comentá- sumidores para evitarmos, como você disse, aquela dor de cabeça. (I5)
rios
21/07 Violência contra a pessoa idosa
https://serdh.mg.gov.br/orientacoes/covid19/biblioteca-videoteca/au-
dios;i=violencia-contra-a-pessoa-idosa
Bom dia a todos! Muito importante e sério. Cuidar de um idoso é um ato
Comentá- de amor. Porém requer paciência e responsabilidade. (I5)
rios Boa tarde. Verdade, mas exige muita calma e jeito e paciência (I15)
132
Dia Conteúdo
Fake news
https://serdh.mg.gov.br/orientacoes/covid19/biblioteca-videoteca/audios;i=fake-news
22/07
Isso mesmo Eder, como foi o caso da ivermectina. Todo mundo tá toman-
do, é já está faltando nas farmácias. Valeu pelas informações. (I1)
Mercado de trabalho
https://serdh.mg.gov.br/grupo-tematico/idoso/biblioteca-videoteca/au-
dios;i=mercado-de-trabalho
28/07 Eder, procuro me manter ativa, fui vereadora depois que aposentei e ago-
ra ajudo meu marido. Ele tem uma parceria com um advogado e ajuda-
mos algumas pessoas, no caso de aposentadoria, auxílio doença, BPC e
outros. Apesar de ficar muito em casa, me sinto muito útil. (I1)
Boa tarde! Sim. Faço crochê, docinhos e comprei uma máquina de cos-
Comentá- tura para fazer alguns pequenos serviços, só para passar o tempo. Mas
rios o que gosto mesmo de fazer é passear. Ainda trabalhei 11 anos após a
minha aposentadoria no mesmo trabalho em que me aposentei. (I9)
Também faço crochê. Adoro. Amo muito o que faço. Só que trabalho de
graça, pois não consigo dar preço e acho que não é valorizado. (I5)
Áudio da coordenadora explicando sobre o início da temática “Educa-
ção Financeira”.
29/07 Bom dia! A educação financeira é hoje considerada muito importante na
família. (I9)
Bom dia! Vamos em frente, sabemos da importância do tema. Espero
Comentá- poder aprender mais, pois o saber é e sempre foi importante em nossas
rios vidas. (I1) Estou precisando dessas orientações (I11)
Boa tarde, Cássia! A educação financeira é um tema muito importante,
pois sabemos que viveremos, já esperado, uma crise. Saber como vencer
esta difícil face vai ajudar muito. (I5)
Vídeo. Questão: Vamos começar a pensar nas nossas compras no super-
30/07 mercado?
Amei o vídeo, sempre fazemos isso. Pego o carrinho e acabo trazendo pra
casa coisas desnecessárias. (I1) Ultimamente faço uma lista e compro
Comentá- somente o necessário. (I9) Eu mesmo com a lista, descobri que trago pra
rios casa coisas desnecessárias. (I5) Eu também quero aprender fazer isso às
vezes trago e vence! (I15)
Questão: Alguém aí gosta de assistir novela? (Vida e Dinheiro) - https://
04/08 www.youtube.com/watch?time_continue=8&v=3w9L6boLb9k&featu-
re=emb_logo
Aviso: A partir desta semana teremos conteúdos às terças e quintas-fei-
ras! Vamos conversar sobre consumo consciente, orçamento familiar e
outros temas relacionados à educação financeira.
Vídeo “Pare, pense e decida” da ENEF - https://youtu.be/B90kgwLWd-
11/08 vg
Boa tarde! Sou muito Dona Graça. Dinheiro é coisa séria! (I5) Boa tarde
Comentá- Cassia, realmente temos que nos planejar. Já caí em muito nesse tipo de
rios empréstimo. Custei para me conscientizar. Infelizmente, existem ainda
algumas dívidas de consignado. Valeu as dicas. Gostei muito (I1)
13/08 Vídeo 10 dicas para economizar no supermercado: https://youtu.be/oMW-
v91vGe2I
CONTA DE LUZ: 7 DICAS PARA economizar https://www.youtube.com/
17/08 watch?v=-Em9L669hv8
133
Dia Conteúdo
18/08 Vídeo E agora, Seu Arlindo? Educação financeira! [MERCANTIL DO
BRASIL] https://www.youtube.com/watch?v=dLOLd43tMjA&featu-
re=youtu.be
Comentá- Nossa! Este vídeo tem tudo de bom. O casal que faz contas juntos sonha
rios juntos. Amei! (I5) Legal adorei as dicas (I14)
21/08 Vídeo: Dicas para sobrar dinheiro - https://youtu.be/CNCCKjxUM3I
Videoclipe “Está cansado de receber ligações de bancos?” https://
25/08 www.youtube.com/watch?v=wdI0JKriKZ4&feature=youtu.be
Adorei Semana passada cheguei até ser um pouco grosseria com uma
Comentá- moça. Depois pedi desculpas, pois esse é o serviço dela. Mas pedi que não
rios ligasse mais. Não estou interessada. (I1) Muito bom me ligam umas 8
vezes por dia, até domingo (I10)
27/08 Site para bloqueio chamadas de Telemarketing ,Telecomunicações
e Bancos Consignado: https://www.naomeperturbe.com.br/ e tutorial:
https://youtu.be/LzzFon2gcxc
Comentá- Boa noite! Vou usá-lo agora. Haja paciência para tantas ligações (I5).
rios
31/08 Vídeo sobre dívidas - https://www.youtube.com/watch?v=iwacYbvH-KI
Vídeo 20 Dicas de Economia doméstica em tempos de crise https://
02/09 www.youtube.com/watch?v=zwHAthsPEcI
I Café Virtual – Convite: https://www.instagram.com/p/CEpTqSJnJ-
03/09 gA/?utm_source=ig_web_copy_link
Fotos: https://www.instagram.com/p/CEsQ84mH5KV/?utm_source=ig_web_copy_link
Vídeo Como fazer um orçamento familiar: https://www.youtube.com/
10/09 watch?v=-U_Xpki6ms4&feature=youtu.be
11/09 Vídeo 1“Ser Idoso” – alunos do 1*Ano ADM https://www.instagram.com/tv/
CFA9_4Znvx6/?utm_source=ig_web_copy_link
Considerações finais
A equipe do projeto avalia que iniciar a aproximação com o grupo de pes-
soas idosas, a partir de temas que se relacionam ao cotidiano e ao contexto
imposto pela pandemia, mostrou-se uma estratégia assertiva por explorar o
suporte digital, através de podcasts e vídeos, de maneira acessível às diferen-
ças de escolarização e contextos de vida.
Na abordagem do tema educação financeira, buscamos selecionar e com-
partilhar conteúdos, conscientizando sobre o endividamento, modalidades
de empréstimos, dívidas no cartão de crédito, crédito consignado, consumo
136
Referências
Abreu, B. M., Gomes, A. P., & Martins, S. (2018). Envelhecimento Ativo: das diretrizes às
ações para melhorar a qualidade de vida das pessoas idosas. Perspectivas em Po-
líticas Públicas, 11(21). [Link](http:// revista.uemg.br/index.php/revistappp/article/
view/2890)
Barros Júnior, E. M., Barreto, E. C., & Assis, A. P. B. (2018). Inovação e criatividade após a
aposentadoria: o direito de empreender do idoso. In: S. Martins & A. Ribeiro (Orgs.),
Envelhecimento ativo: das ações à política [recurso eletrônico]. Viçosa: IPPDS.
Brasil. (1994). Decreto-Lei n. 8.842. Dispõe sobre a política nacional do idoso, cria o Conse-
lho Nacional do Idoso e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF,
4 de janeiro de 1994. Disponível em: <http://www.pla- nalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8842.
htm>. Acesso em: 13 mar. 2020.
Buaes, C. S. (2015). Educação Financeira com Idosos em um Contexto Popular. Educ. Real.,
40(1), 105-127. Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&- pi-
d=S2175-62362015000100105&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 13 mar. 2020. https://doi.
org/10.1590/2175-623646496.
Organização Mundial da Saúde [OMS]. (2005). Envelhecimento ativo: uma política de saú-
de / World Health Organization. tradução Suzana Gonti- jo. Brasília: Organização
Pan-Americana da Saúde. Disponível em http:// bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/
envelhecimento_ativo.pdf. Acesso em 29 de junho de 2022.
Martins, S., & Ribeiro, A. (2018). Envelhecimento ativo: das ações à política [recurso ele-
trônico]. Viçosa: IPPDS.
Ribeiro, A., & Martins, S. (2018). Das políticas às ações. Revista Científica de Direitos Huma-
nos, 1(1), 58-81.
A atuação das
universidades
na governança
pública voltada à
população idosa
139
Resumo
Este capítulo parte da perspectiva de que as universidades ou instituições de ensino
superior possuem um papel relevante na questão da defesa, garantia e implemen-
tação dos direitos das pessoas idosas. Ele considera que a realização de tal papel
implica não apenas em ações realizadas por elas mesmas, mas principalmente em
iniciativas compartilhadas com outros atores da sociedade e do Estado, que podem
tomar a forma de pesquisa, ensino ou extensão. Nesse sentido, se faz necessário uma
atenção para a governança pública. Este capítulo apresenta funções consideradas
relevantes para o funcionamento de arranjos de governança pública. A governança
pública se refere à capacidade governativa de gestão em articulação com outros
atores, sejam da sociedade civil, sejam do mercado, em processos voltados para
objetivos comuns. Os arranjos podem assumir diferentes modos de articulação: a
hierarquia, o mercado e as redes. Para que se consiga a eficácia de um projeto em
um processo que se pretende democratizar, são apresentadas as seguintes funções
e discutida sumariamente a atuação das universidades/IFEs nestas funções: estabe-
lecimento de metas, coordenação, implementação e responsabilização e avaliação.
Ao longo desta apresentação é discutida sumariamente a atuação das universida-
des/IFEs nestas funções. Conclui-se que essas funções podem auxiliar na obtenção
de um resultado eficaz e legítimo em relação às demandas dos cidadãos, à medida
em que se faça uso adequado de capacidades técnica-administrativas e política-re-
lacionais dos atores envolvidos em um determinado projeto.
Palavras-chave: governança pública, direitos da pessoa idosa, universidades.
Introdução
Este capítulo busca apresentar funções importantes para o funcionamento
de arranjos de governança pública que podem ser úteis para a atuação de uni-
versidades em projetos voltados para as pessoas idosas e que contem com o
envolvimento de atores da sociedade e do Estado. O tema da governança pú-
blica ganhou espaço nas últimas décadas na discussão sobre administração
pública, tanto em processos de reforma do aparelho de Estado em diversos
países, quanto em pesquisas acadêmicas que buscavam estabelecer uma re-
flexão crítica sobre este conceito. Dentre os vários entendimentos que o ter-
mo tem, uma ideia que interessa aqui é a de que governança se refere à capa-
cidade governativa de gestão (Diniz, 1997). Ela é tratada tanto por governos
Prof. Titular do departamento de Ciências Administrativas, Faculdade de Ciências Econô-
1
1. Governança pública
O termo “governança” é de origem grega e está relacionada à ideia de con-
dutor (kybernêtes) dos navios de guerra gregos. Esta expressão também era
utilizada para tratar o aparato político-administrativo à época. No latim se
tem as palavras “gubernare” e “regere” aplicados para a condução tanto “de
um navio quanto do Estado”. Em inglês se tem a expressão “to govern”. O
conceito de governança seria um substantivo relacionado ao verbo governar
(Schneider, 2005, p. 34). Na perspectiva de Peters (2013), o termo grego
original estaria relacionado a direção. Neste sentido, a governança implica
na direção da sociedade e da economia para o atingimento de objetivos co-
letivos. Objetivo é entendido, neste trabalho, como a situação que se deseja
alcançar ao fim de uma determinada iniciativa (projeto, política pública) pla-
nejada anteriormente (Cohen & Franco, 1994, p. 88).
Como afirma Bevir (2013), governança é um termo amplo como também é
sua literatura. O termo se refere a todos processos de governar/administrar/
reger, seja por meio de um governo, mercado, ou rede, seja sobre uma famí-
lia, tribo, corporação ou território; e seja por meio de leis, normas, poder ou
linguagem. Ela é mais ampla que o termo governo, já que não focaliza apenas
o Estado e suas instituições, mas também lida também com a criação de re-
gras e ordem em práticas sociais. Estes processos possuem caráter interor-
ganizacional, já que envolvem a articulação de atores de Estado com atores
de mercado e da sociedade civil.
De acordo com Schneider (2005, p.34), que reforça os argumentos já apre-
sentados, a noção contemporânea de governança não se reduz à administra-
ção do Estado, “mas se aplica também ao governo, regulação e condução da
sociedade por meio de instituições e atores sociais. Governança transcende
com isso o conceito tradicional estatal e remete a formas adicionais de con-
dução social”. Assim, governança se refere a arranjos institucionais constituí-
141
3. Conclusão
O capítulo buscou apresentar uma noção de governança pública, que res-
salta um modo de governo onde se tem a articulação de uma organização
pública estatal com outras de outros setores como o mercado e/ou a socie-
dade civil. Os arranjos de governança podem ter três modos de coordenação:
o hierárquico, o de mercado e o de redes. Tais modos podem ser utilizados
simultaneamente. De toda forma, o intuito é garantir que a iniciativa a ser
realizada tenha eficácia e seja democrática. As funções comentadas servem
de orientação tanto para gestores quanto para acadêmicos. Em termos práti-
cos, a realização das funções citadas demanda tanto capacidades técnica-ad-
ministrativas quanto capacidades político-relacionais. A atuação de um órgão
público, como uma universidade, exige uma busca por eficácia e por demo-
cratização da sua gestão simultaneamente, de tal maneira que as demandas
daqueles para os quais as iniciativas sejam dirigidas possam ser minimamente
atendidas, com efeitos sociais e políticos que garantam os direitos do público
atendido pela organização pública.
150
Referências
Bevir, M. (2011). Governancy as Theory, Practice, and Dilemma. In M. Bevir (Ed.), The SAGE
Handbook of Governance (pp. 1-16). London: SAGE.
Bevir, M. (2013). A Theory of Governance. Berkeley and Los Angeles: University of California
Press.
Cohen, E., & Franco, G. (1993). Avaliação de Projetos Sociais. Petrópolis: Vozes.
Hill, M., & Hupe, P. (2009). Implementing Public Policy. London: Sage.
Pires, R. R. C., & Gomide, A. de A. (2016). Governança e capacidades estatais: uma análise
comparativa de programas federais. Revista de Sociologia e Política, 24(158), 121-
143.
Worthen, B. R., Sanders, J. R., & Fitzpatrick, J. L. (2004). Avaliação de Programas. São Paulo:
Editora Gente, Edusp.
151
Resumo
O convite à escrita de um capítulo sobre as políticas e os direitos da pessoa idosa
nas universidades trouxe a possibilidade de realizarmos um brinde à esperança. Um
brinde à alegria do encontro entre pessoas, Conselhos de Direito da Pessoa Idosa e
universidades, o qual tem sido capaz de rearticular a construção da cidadania nos
territórios e a transformação social. Mas, que história é essa?
Palavras-chave: governança colaborativa, direitos da pessoa idosa, gestão social.
1
Professora do Departamento de Direito da Faculdade de Ciências Sociais Aplicadas da Uni-
versidade Federal de Lavras. E-mail: [email protected]
2
Professora do Departamento de Nutrição e Saúde da Universidade Federal de Viçosa.
E-mail: [email protected]
3
Secretaria de Planejamento e Gestão do Estado de Minas Gerais. E-mail: go.thaissantos@
gmail.com
152
cada noite, precisava sozinho reaprender a viver. Foram tempos duros que a
todos desafiava.
Àquele momento nada sabíamos da doença propriamente; apenas sobre
a vida. Sabíamos ser necessário alimentar, exercitar fisicamente, trabalhar,
estudar, encantar com as artes, amar; sem o que morreríamos ainda que
a doença não nos acometesse. Atos cotidianos que, de repente, ganharam
enorme complexidade e, para alguns, muito mais que para outros. Pobres e
velhos morriam em maior número e revelavam a nossa cegueira social.
Foi nesse cenário desconhecido e assustador que decidimos nos mover. De
forma voluntária, reunimos várias pessoas para realizar apoio técnico aos mu-
nicípios mineiros no cuidado à população mais vulnerável e às pessoas idosas.
A ação foi capitaneada pela Universidade Federal de Viçosa (UFV) e pelo Go-
verno de Minas Gerais, mas reuniu pesquisadores dos mais diferentes rincões
do país.
A capacidade de articulação rápida só foi possível porque vários professo-
res-pesquisadores estavam vinculados ao GEGOP - grupo de trabalho Clacso:
espaços deliberativos e governança pública – e já vinham desenvolvendo pes-
quisas e ações extensionistas voltadas à população idosa para implementar a
Estratégia Brasil Amigo da Pessoa Idosa4.
Esse grupo de pesquisadores, conhecendo a realidade do interior do Brasil,
detectou rapidamente a ausência de planos emergenciais e elaborou docu-
mentos orientadores para apoiar os municípios em suas ações. Mas, os anos
de vivência e de pesquisa junto às municipalidades também revelavam de
pronto a insuficiência dessa iniciativa. Sabíamos que sem a presença de uma
rede de apoio aos municípios os planos emergenciais se resumiriam a papéis.
Além disso, sabíamos de várias ações voluntárias adotadas individualmente
ou em pequenos grupos.
A pergunta era: como rearticular e fortalecer essas ações para alcançar
todo o território de Minas Gerais? A luz veio com a ideia de formar uma Rede
de Apoio à Pessoa Idosa (RAPI) coordenada pelo governo estadual; único ente
capaz de ver e acessar a integralidade do território.
Assim, surgiu a rede de governança colaborativa entre governo, regionais
da secretaria de estado e desenvolvimento social (SEDESE), sociedade civil e
universidades para apoiar os municípios e permitir que cuidassem do maior
4
Estratégia Brasil Amigo da Pessoa Idosa é um programa de integração de políticas públi-
cas para que comunidades e cidades promovam o envelhecimento ativo, saudável e sus-
tentável. O programa foi criado no ano de 2017 sob a coordenação do antigo Ministério do
Desenvolvimento Social (MDS) em parceria com o Ministério da Saúde, com o Ministério
de Direitos Humanos, com a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) e com o Fundo
Nacional de Direitos da Pessoa Idosa (FNDPI).
153
6
Para maiores informações consultar http://bit.ly/2QOIJ0P
155
cária. Aliás, para ter o Fundo ativo em sua cidade é preciso justamente abrir
uma conta em um banco público e validar esse dado junto à Receita Federal
do Brasil. A partir daí cada indivíduo ou cada empresa, residente ou não na
cidade, poderá destinar para o Fundo de Direito da Pessoa Idosa parte do Im-
posto de Renda devido anualmente à União.
Observe que a quantia a ser destinada ao FDPI é um valor devido ao Im-
posto de Renda, de modo que não há a criação de novo encargo ao contri-
buinte e nem ao município. A diferença é que a Lei nº 12.213/2010 e a Lei nº
13.797/2019 autorizaram ao contribuinte reservar uma parcela do imposto
devido para ser aplicado em um setor específico de sua escolha, in casu as
políticas e os programas voltados à pessoa idosa.
Essa destinação de parte do imposto de renda é, pois, uma autorização le-
gal que pode ser utilizada tanto pelas pessoas físicas (PF) quanto pelas pes-
soas jurídicas (PJ) e, atualmente, não compete com igual valor7 que pode ser
destinado ao Fundo da Infância e da Adolescência (FIA). Trata-se, portanto,
de uma enorme oportunidade para os Conselhos trabalharem em seus ter-
ritórios com a cidadania tributária. Simples ações adotadas aqui podem ter
grande repercussão.
Mas, lembrem-se do conselho: é preciso conhecer o território de sua cida-
de para realizar campanhas de arrecadação de receitas para o Fundo. Ima-
gine que na sua cidade existe uma universidade pública ou uma comarca do
Poder Judiciário. Se o Conselho conseguir que cada servidor público destine
a parcela de seu IR devido ao Fundo da cidade, serão muitos os recursos arre-
cadados e, para isso, basta um simples convênio com a fonte pagadora dos sa-
lários e uma campanha de conscientização sobre a importância do Fundo nas
políticas locais. De quebra, o Conselho conseguirá comunicar-se com toda a
sociedade e ganhar visibilidade para suas causas.
A próxima etapa é realizar o plano de ação para aplicação dos recursos.
Esse plano de ação se refere ao planejamento de ações políticas voltadas a
aprimorar a rede de atendimento à pessoa idosa no município e o ideal é que
seja desenvolvido com base em diagnóstico qualificado, capaz de identificar
lacunas e fragilidades da rede de atenção à pessoa idosa, bem como na distri-
buição territorial da rede de serviços.
Essa pode ser aparentemente uma etapa difícil porque requer a investiga-
ção sobre os equipamentos e os serviços já existentes no território em com-
7
As pessoas jurídicas optantes pelo lucro real podem destinar até 1% do imposto devido,
enquanto as pessoas físicas podem destinar de 6% a 3% a depender do momento de efeti-
vação da entrega (se dentro do próprio ano base da declaração de imposto de renda ou se
no momento de realização da declaração de imposto de renda).
156
paração com as políticas nacionais e estaduais dentro das oito dimensões in-
dicadas pelo Guia Global Cidade Amiga do Idoso. Mas, não se assuste! Aqui
o conselho é contar com a experiência da universidade que congrega em si
diferentes campos do saber e tem dentro de sua finalidade última a realização
de pesquisas.
Além disso, na elaboração desse plano, o Conselho deve envolver toda so-
ciedade local por meio da realização de fóruns, encontros setoriais e de Con-
ferências municipais voltadas a discutir as políticas públicas de promoção da
pessoa idosa. Deve também promover o diálogo entre Conselho e Adminis-
tração Pública para decidir as prioridades do município e eleger objetivos co-
muns a serem perseguidos pelas partes. Viu, como é fácil!
Em sequência, o Conselho deve elaborar o Plano de Aplicação para indicar
o montante de recurso do Fundo da Pessoa Idosa destinado ao atendimen-
to dos respectivos programas, ações e projetos a serem executados naquele
ano, os quais devem estar intimamente relacionados às prioridades definidas
no Plano de Ação.
Já para realizar a escolha dos programas, ações e projetos em específico,
o Conselho deverá realizar um chamamento público8 e, então, selecionar as
entidades públicas ou privadas sem fins lucrativos que estejam mais aptas a
executar o projeto ou ação. Assim, o Conselho vai estimular que toda a socie-
dade se envolva na construção da cidade amiga da pessoa idosa.
Mas, lembre-se: os editais de chamamento público devem indicar uma co-
missão de seleção (órgão colegiado composto por pelo menos um servidor
público efetivo) para processamento e julgamento das propostas apresen-
tadas. Aqui a peça-chave para o sucesso das parcerias entre a administração
pública e as organizações da sociedade civil é a atuação efetiva do Conselho
de Direitos da Pessoa Idosa no planejamento do edital.
Essa receita trará novos recursos financeiros ao município e irá alimentar a
dinâmica de participação social e de descentralização das políticas públicas.
Também irá se constituir como um importante mecanismo de fortalecimento
da cidadania e de desenvolvimento local. Você quer experimentar?
8
Embora haja obrigatoriedade de chamamento público para uso das verbas de natureza
pública, a Lei nº 13.019/2014 prevê três exceções: a parceria dispensada, a parceria dispen-
sável e a parceria inexigível (arts. 30 e seguintes).
157
10
O curso ConFoco SC, Foco MG, AGE ILPIs, GERAR foram alguns dos cursos ofertados no
ano de 2021 e 2022.
159
Resumo
O capítulo apresenta parte dos resultados de uma pesquisa-ação, realizada no ano
de 2021, com o qual se buscou analisar o processo de criação e implementação da
Rede de Apoio à Pessoa Idosa no Estado de Minas Gerais (Rapi/MG). Esta Rede é uma
inovação na gestão pública, à medida em que sua coordenação se baseia na noção
de governança colaborativa. Para a análise foram abordadas as seguintes dimen-
sões da Rede: atores sociais (colaboradores, financiadores), tipos de colaboração
e formas de organização. Verificou-se que a criação e implementação da Rapi/MG
contou com o apoio de universidades. Foi estruturada inicialmente em macro ações
que colaboraram para a resolução de problemas coletivos emergenciais, principal-
mente relativos à pandemia da Covid-19, os quais desafiavam a atuação isolada da
administração pública. A Rede é financiada pelos próprios entes públicos e demais
parceiros e continua ativa com o objetivo de fortalecer as políticas para a população
idosa. Se verificou que tanto a criação quanto a implementação reproduzem traços
de governança colaborativa.
Palavras-chave: cooperação, governança colaborativa, população idosa, rede de
apoio à pessoa idosa em minas gerais.
1. Introdução
As críticas ao modo hierárquico de governar, adotado pela administração
pública ao longo do século XX, e a emergência dos denominados wicked pro-
blems7 desafiavam a capacidade da administração pública de, a partir de uma
1
Professora do Departamento de Administração e Contabilidade da Universidade Federal
de Viçosa. E-mail: [email protected].
2
Professora do Departamento de Nutrição e Saúde da Universidade Federal de Viçosa.
E-mail: [email protected].
3
Doutoranda em Administração no programa de Pós-Graduação em Administração da Uni-
versidade Federal de Viçosa. E-mail: [email protected].
4
Professora do Instituto Federal Fluminense. E-mail: [email protected].
5
Professor do Departamento de Ciências Administrativas da Faculdade de Ciências Econô-
micas da Universidade Federal de Minas Gerais. E-mail: [email protected].
6
Professor do Departamento de Comunicação Social da Universidade Federal de Viçosa.
E-mail: [email protected].
7
De acordo com Alvesko (2012), trata-se de problemas sociais ou culturais de difícil ou im-
possível solução por quatro razões: conhecimento incompleto ou contraditório dos proble-
160
traram as ações.
Este capítulo, além desta breve introdução, está estruturado nas seguintes
seções: Governança Colaborativa, uma breve contextualização do processo
de criação da Rapi/MG, o papel das universidades na Rapi/MG e se encerra
com as considerações finais.
2. Governança colaborativa
Tanto a abordagem top-down de políticas públicas quanto o modelo bu-
rocrático de administração pública se caracterizam pela hierarquia e cen-
tralização decisória. No caso das políticas públicas, na perspectiva top-down
considerava-se que uma única entidade pública detinha jurisdição legal sobre
determinada área de política pública, de acordo com uma delegação de auto-
ridade definida (Bingham, 2011, p. 386).
Estas estratégias de gestão de comando e controle hierárquicos, adotadas
pela entidade responsável, falhavam em lidar com problemas que não pode-
riam ser enfrentados por uma única entidade (Kissler & Heidemann, 2006).
Degradação ambiental, ineficácia em processos de desenvolvimento econô-
mico urbano e problemas de saúde pública eram, e ainda são, exemplos des-
ses problemas que a administração pública e os governos enfrentavam e en-
frentam a partir dos anos 70.
No contexto supracitado, o conceito de governança foi crescentemente
adotado em diversos países. A noção de governança adotada aqui segue as
concepções de Frederickson (2007) e Bingham (2011), pelas quais a gover-
nança implica em atividades entre vários atores e com potencial justaposição
jurisdicional. Isto significa que o Estado deixa de atuar sozinho para trabalhar
com outros órgãos públicos de uma mesma jurisdição (seja ela federal, esta-
dual ou municipal, no caso brasileiro), ou de jurisdições diferentes, ou, ainda,
entre órgãos de setores distintos, e, finalmente, com organizações privadas e,
ou, da sociedade civil. Este processo engloba interações não-hierarquizadas
(Kohler-Koch & Rittberger, 2006). Cabe agregar que tais processos ganham
corpo por meio de estruturas, constituindo assim arranjos de governança.
Segundo Bingham (2011) a literatura que se refere à colaboração em go-
vernança pode ser alocada em duas categorias gerais. A primeira trata da co-
laboração entre organizações, que também pode ser denominada de gestão
pública colaborativa ou governança de rede. A noção de rede implica em rela-
ções entre mais atores do que simplesmente dois em uma relação de contrato
bilateral. De qualquer modo, a noção de contrato como metáfora pode ser
162
Quadro 1
Dimensões empregadas na análise dos dados
Dimensão Descrição
Quem colabora Analisa quais atores estão envolvidos na ação colabo-
rativa, podendo incluir os da administração pública, de
diferentes setores e jurisdições; do Legislativo e do Judi-
ciário, atores do setor privado lucrativo e da sociedade
civil.
Quem financia a colabo- Analisa a fonte dos recursos que financia a governança
ração colaborativa. Geralmente, são os organismos públicos.
Forma de organização da Analisa o modo pelo qual a rede está organizada e confi-
colaboração gurada.
Fonte: Elaboração própria dos autores a partir de Ansell (2012).
• capacitação dos profissionais das ILPIs para prevenção e manejo dos ca-
sos de Covid-19 nas instituições, via produção de informativos ou realiza-
ção de lives para orientação;
• produção e disseminação de material informativo (podcasts, vídeos,
cartilhas) para diferentes públicos, com a temática do envelhecimento,
Covid-19, políticas públicas;
• projetos de extensão de escuta solidária a pessoas idosas em isolamento
social e de apoio psicológico a cuidadores e demais profissionais das ILPI
mineiras;
• articulação com os demais atores da Rede para implementação de ações.
Considerações finais
A descrição e interpretação do caso da Rapi/MG MG contribui para eluci-
dar a utilidade da noção de governança colaborativa no cenário de crise oca-
sionado pela pandemia, assim como para o fortalecimento das políticas para
pessoas idosas de forma constante. Além disso, percebe-se o relevante papel
das universidades no fomento a formas alternativas de gestão e qualificar os
resultados da gestão pública.
Verificou-se que, financiada pelos próprios entes públicos e parceiros, a
Rapi/MG se caracteriza como uma governança colaborativa que conta com
um conjunto de atores de diferentes jurisdições, que se unem para desenvol-
ver ações em prol de amenizar as implicações da pandemia, em especial para
a população idosa.
As primeiras iniciativas da Rede, estruturadas em macro ações, colaboram
para a resolução de problemas coletivos, os quais desafiam a atuação isolada
da administração pública, uma vez que os atores envolvidos possuem com-
plementaridade de recursos e de capacidades.
Conclui-se que a diversidade de atores proporciona importantes contribui-
ções no atendimento a demandas sociais e que a atuação conjunta de univer-
sidades, instituições privadas, instituições participativas e do terceiro setor
171
Referências
Almeida, L. S. B., Silveira, R. M. C., Silva, B. C. N., Queiroz, J. V. R., & De Oliveira, P. H. C. N.
(2020). As universidades públicas brasileiras no contexto da pandemia: iniciativas
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173
Considerações finais
Tainá Gomide Rodrigues de Souza Pinto
Este livro inicia com um convite para (re)pensarmos a relação entre a uni-
versidade e o envelhecimento, reflexão essa assaz necessária e que foi reali-
zada ao longo de cada capítulo desenvolvido. O grupo Espaços Deliberativos
e Governança Pública (Gegop) e a Frente Nacional dos Conselhos de Direitos
da Pessoa Idosa (FFC), ao entender a importância da universidade e o seu
grande potencial de contribuição para o debate, que subsidia e fortalece as
políticas públicas comprometidas com a defesa, a garantia e a ampliação dos
direitos das pessoas idosas e a consequente promoção da qualidade de vida
desta população em nosso país, organizaram várias amostras de ações que
são realizadas tendo as universidades como promotoras ou parceiras.
As universidades possuem como pilares as atividades de ensino, de pes-
quisa e de extensão. E, a partir da leitura do livro, podemos verificar que, em
cada um desses pilares, encontramos possibilidades de ações universitárias
que buscam transformar a situação atual e proporcionar melhores condições
de vida às pessoas idosas.
Já na primeira seção, podemos conhecer e refletir sobre ações de ensino
e de pesquisa dedicadas à temática do envelhecimento. Quanto ao ensino, é
sabido que o percentual de analfabetismo das pessoas idosas chama atenção
e é reflexo de um processo educacional complexo no Brasil ao longo dos anos.
Ocorre que, considerando a alta taxa de analfabetismo da população idosa,
fica ainda mais difícil encaixar as pessoas idosas no contexto da universidade.
Entretanto, a dificuldade não pode ser transformar em um empecilho confor-
mado.
É importante que o conformismo e o preconceito em relação às pessoas
idosas sejam rompidos, permitindo que esta população tenha acesso à edu-
cação, inclusive a pública, do fundamental ao ensino superior, e fazer valer
o Estatuto da Pessoa Idosa. Para tanto, além das políticas de inclusão e de
acesso à educação, é necessário que as universidades se adaptem e desen-
volvam metodologias e materiais didáticos adequados para essas pessoas,
ou seja, que sejam respeitadas as suas peculiaridades, proporcionando a sua
permanência no ensino universitário. É preciso considerar que para a popu-
lação idosa é muito difícil acessar a universidade e, também, para se manter
nela quando conseguem acessar; dessa forma, é preciso que sejam realizadas
ações afirmativas não só para garantir o seu acesso, mas, também, a sua per-
manência no ensino superior. Tais ações devem envolver o Estado, a socieda-
de em geral, as famílias e toda comunidade acadêmica.
174
cessidade de que eles sejam construídos com a efetiva participação das pes-
soas idosas, o que significa ir além da ideia de apenas apresentar projetos
para esta população. A construção conjunta de projetos e ações é de fato um
desafio, pois envolve instigar a participação, fortalecer o momento da escuta,
compreender as realidades em que as pessoas idosas estão inseridas, mas
proporciona ações efetivas, em que se percebe o engajamento e comprome-
timento das pessoas idosas participantes dos projetos.
A partir do tripé universitário – ensino, pesquisa e extensão – percebemos
as várias possibilidades de atuação e contribuição das universidades para o
envelhecimento com qualidade de vida; ocorre que é necessário destacar que
as parcerias entre entidades/instituições é de grande valia. O caso da Rede
de Apoio à Pessoa Idosa no Estado de Minas Gerais (RAPI-MG), tratada nesse
livro, revela o quão importante é o estabelecimento de uma rede de atores em
que a política pública voltada para o envelhecimento seja efetiva.
As universidades possuem a possibilidade de apoiar os Estado e as famílias
no desenvolvimento de ações voltadas para as pessoas idosas, como podem
até serem indutoras, norteadoras e orientadoras de ações e de tomadas de
decisão. A governança em rede se demonstra necessária nesse contexto em
que são imprescindíveis que o Estado, a família e o mercado, terceiro setor e
sociedade precisam se juntar em prol da qualidade de vida das pessoas ido-
sas. O que se percebe é que a diversidade de atores proporciona importan-
tes contribuições no atendimento das demandas da população idosa e que
as universidades podem colaborar na geração de inovações e soluções para a
gestão de crises e resolução de problemas coletivos.
Esse potencial de colaboração das universidades pode ser atribuído à sua
estrutura física, ao seu conhecimento técnico e recurso humano qualificado,
além da pesquisa, extensão e disposição geográfica, o que proporciona o re-
conhecimento de sua região e suas demandas específicas. Ocorre que não
podemos deixar de observar que as universidades enfrentam falta de recurso
orçamentário para garantir o desenvolvimento dos projetos, o que dificulta
sobremaneira a sua atuação, fazendo com que as atividades voluntárias de
pesquisadores, professores, estudantes e técnicos sejam uma constate. Nes-
se sentido, o Estado necessita estar atento ao potencial das universidades e
ao fomento das ações de pesquisa e de extensão.
Precisamos reconhecer que a população brasileira está envelhecendo, esse
reconhecimento se dá além dos dados demográficos censitários, mas, tam-
bém, a partir da percepção de um maior número de pessoas idosas em nosso
convívio. Entretanto, além do reconhecimento do processo de envelhecimen-
to é precisar observar que as pessoas idosas tendem a exercer um novo papel
na sociedade brasileira, e as universidades devem se preparar para esse novo
177
Bárbara Carbogim
Profa da Educação Básica Pública do Estado de Minas Gerais ( Juiz de Fora - MG).
Doutoranda na área de Pedagogia das Artes Cênicas pelo PPGAC-UDESC (Flo-
rianópolis - SC). Mestra em Artes Cênicas pelo PPGAC-UFOP (Ouro Preto - MG).
Integrante do Coletivo Anticorpos - Investigações em Dança (Ouro Preto - MG).
Currículo: http://lattes.cnpq.br/3515212967424661. E-mail: barbaracarbogim@
hotmail.com.
179
Beltrina Côrte
Profa. da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Doutora e
pós-doutora em Ciências da Comunicação pela USP. Pesquisadora do Núcleo de
Estudo e Pesquisa do Envelhecimento (NEPE/PUCSP). Membro da REDIP - Red
Latinoamericana Interdisciplinaria de Psicogerontologia. Currículo: http://lattes.
cnpq.br/2236463664195609. E-mail: [email protected]
Emerson de Paula
Prof. Adjunto do Curso de Teatro da Universidade Federal do Amapá (UNIFAP).
Pós-doutorando em Artes da Cena na UNICAMP. Líder do Grupo de Pesquisa NE-
CID – Núcleo de Estudos em Espaços Culturais, Inclusivos e Deliberativos (CNPq).
Currículo: https://lattes.cnpq.br/6072084944115357. Email: emersondepaula@
unifap.br
Jordelina Schier
Enfermeira Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Doutora em Enfer-
magem UFSC. Especialista em Gerontologia Sociedade Brasileira de Geriatria e
Gerontologia (SBGG). Currículo: http://lattes.cnpq.br/5517912617374606. E-mail:
[email protected]
Marcela Giovanna
Diretoria Presidente do CeMAIS. Psicóloga Especialista em Elaboração, Gestão e
Avaliação de Projetos Sociais em Áreas Urbanas. Profissional com experiência em
gestão organizacional e coordenação de projetos sociais e de desenvolvimento
comunitário. Entre os projetos sobre sua responsabilidade destaca-se a Revista
Valor Compartilhado, Rede Cemais 3i e Caleidoscópio 60+. É Conselheira titular e
1º conselheira do Confoco - Conselho de fomento e colaboração de Belo Hori-
zonte e coordenadora da Frente Nacional de Fortalecimento dos Conselhos de
direitos Da Pessoa idosa. Lattes http://lattes.cnpq.br/9564719232950408 email:
[email protected]
Silvia M. M Costa
Pesquisadora do Instituto de Políticas Públicas e Desenvolvimento Sustentável
(IPPDS), da Universidade Federal de Viçosa (UFV) e dos Grupos do CNPq - Ge-
gop/Universidade Federal de Viçosa (UFV) e Gesdel/Universidade da Amazônia
(UNAMA). Conselheira do Observatório Paraense da Longevidade. Ex-diretora do
Departamento de Atenção do Idoso, do Ministério da Cidadania, responsável pela
concepção da Estratégia Brasil Amigo da Pessoa Idosa – uma política para municí-
pios. Mestre em Ensino de Biociências e Saúde (Fiocruz), com especializações em
comunicação e em educação. ORCID no 0000-0002-7737-6722. Currículo Lattes:
http://lattes.cnpq.br/3157505879151283
184
Simone Martins
Profa da Universidade Federal de Viçosa (UFV). Doutora e pós-doutora em Admi-
nistração. Pesquisadora do GEGOP, do IPPDS/UFV e do GESDEL. Membro da FFC
- Brasil e da Rapi MG. Currículo: http://lattes.cnpq.br/5311862771207808. E-mail:
[email protected]