A Universidade e o Envelhecimento Populacional

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1

A Universidade e
O Envelhecimento
Populacional:
Diálogos e Experiências em
Construção no Brasil
Simone
SimoneMartins
Martins
Carmen
CarmenPineda
PinedaNebot
Nebot
Andréia
AndréiaQueiroz
QueirozRibeiro
Ribeiro
Stefania
StefaniaVaccaro
Vaccaro
Marcela
MarcelaGiovana
Giovana
(Orgs)
(Orgs)
A UNIVERSIDADE E O ENVELHECIMENTO
POPULACIONAL: DIÁLOGOS E EXPERIÊNCIAS EM
CONSTRUÇÃO NO BRASIL
Ficha catalográfica elaborada pela Seção de Catalogação e
Classificação da Biblioteca Central da Universidade Federal de Viçosa

U58 A universidade e o envelhecimento populacional [recurso eletrônico] :


2023 diálogos e experiências em construção no Brasil / Simone
Martins … [et al.] organizadoras -- Viçosa, MG : UFV, IPPDS,
2023.
1 livro eletrônico (177 p.) : il. color.

Disponível em: https://aksaam.ufv.br/publicacoes


Inclui bibliografia.
ISBN 978-85-60601-20-2

1. Idosos - Educação. 2. Idosos - Envelhecimento. 3.


Universidades e faculdades. 4. Políticas públicas. I. Martins, Simone,
1969-. II. Pineda Nebot, Carmen, 1954-. III. Ribeiro, Andréia
Queiroz, 1973-. IV. Vaccaro, Stefania, 1976-. V. Geovana, Marcela,
1977-. VI. Universidade Federal de Viçosa. Instituto de Políticas
Públicas e Desenvolvimento Sustentável. VII. Universidade
Federal de Viçosa. Grupo de Trabalho Clacso: Espaços Deliberativos
e Governança Pública. VIII. Frente Nacional de Fortalecimento dos
Conselhos e Direitos da Pessoa Idosa.

CDD 22. ed. 378.00846

Bibliotecária responsável: Bruna Silva CRB6/2552


4

Prefácio
O estudo do envelhecimento e da velhice é um tema acadêmico!
Beltrina Côrte
Ao receber o convite para prefaciar esta obra, sobre universidade e enve-
lhecimento, lembrei-me das diversas batalhas acadêmicas que um grupo de
pesquisadores teve na PUC-SP ao implantar o hoje já extinto mestrado em
Gerontologia1. A questão que se colocava na ocasião, meados da década de
90, era se o envelhecimento seria um problema de pesquisa. Várias discus-
sões foram feitas, muitas delas bizarras, porque na academia a situação não
era diferente do que ocorria na sociedade como um todo, embora ninguém
quisesse morrer jovem, ser velho era sinônimo de fraqueza, feiura, e, princi-
palmente, improdutividade.
Se hoje ser velho ainda traz um conjunto imenso de conotações pejorativas
nas universidades, imaginem na época? Para que estudar um tema que não ti-
nha status? Dito em outras palavras, era perda de tempo (e dinheiro também)
estudar um fenômeno terminal. Pior que até hoje tem colegas que pensam
assim...
As universidades pioneiras a encarar o processo de envelhecimento e a ve-
lhice como tema acadêmico foram a Unicamp e a PUC-SP, ambas localizadas
no Estado de São Paulo. De lá para cá outras universidades, principalmente
públicas, introduziram alguns cursos, mas a bem da verdade, ainda são mui-
to poucas ante o fenômeno do envelhecimento populacional neste século.
E muitas delas, infelizmente, produzem conhecimento centrado na série de
eventos que impacta o organismo, nas suas doenças, perpetrando a associa-
ção desta etapa da existência da vida a enfermidades.
Daí a grata surpresa em encontrar uma obra acadêmica, comprometida
socialmente, e que tenta atribuir novos significados às vivências individuais
e coletivas, vivências que ocorrem em um tempo social, e em um lugar. Um
olhar para o sujeito que habita um organismo territorializado.
Repensar a relação entre a universidade e o envelhecimento populacional,
exige a urgência de se olhar o humano na sua existencialidade como sendo
seu tempo vivido, o tempo Kairós, como já assinalava o professor Joel Martins

1
O mestrado tinha como área de concentração a Gerontologia Social e acabou sendo ex-
tinto em 2019. O grupo interdisciplinar de docentes cansou de lutar contra a instituição e
o sistema de avaliação existente no país e preferiu cada um levar o envelhecimento para
dentro da área disciplinar a qual fazia parte.
5

(1920-1993)2. Em sua palestra proferida em 1991, sobre o ser e o tempo, dizia


ele que o “tempo é o sentido da vida”. E que o “sujeito não pode ser uma série
de eventos psíquicos, isto é – ser criança, ser adolescente, ser adulto, ser ve-
lho – como um conjunto segmentado de eventos” (p. 12).
Como a universidade pode dar conta desse homem que vai além de uma
sequência de anos e acontecimentos, que também é kairós? Como o tempo
do velho pode ser reinventado continuamente? Perguntas que ficam no ar à
espera de outros pesquisadores que, curiosos, queiram se debruçar nesses
territórios muitas vezes inóspitos.
Hoje, podemos afirmar com certeza que da década de 90 para cá, já existe
um acervo acadêmico sobre o envelhecimento e a velhice brasileira, demons-
trando que o tema está vencendo as resistências e os mitos envolvidos tanto
no envelhecimento quanto na velhice em si.
Iniciativas como esta são mais que necessárias, afinal, o futuro é velho e
navegar por esse território deve ser preciso, como já dizia meu conterrâneo
Fernando Pessoa. O grupo Espaços Deliberativos e Governança Pública (Ge-
gop) e a Frente Nacional dos Conselhos de Direitos da Pessoa Idosa (FFC)
acertaram em organizar material recente produzido pelas universidades bra-
sileiras que vão auxiliar a navegação por esse mar tão “agitado e ainda estra-
nho para muitos”, como o envelhecimento ainda é encarado por nós.
Num país onde a velhice vem se tornando cada vez mais feminina e mais
avançada, encontrar subsídios para fortalecer a governança pública e fomen-
tar boas reflexões na sociedade que asseguram a construção de uma cultura
onde o longeviver seja digno e desejado, é tudo o que queremos, nós, estudio-
sos do envelhecimento que nos tornamos objetos de nosso próprio estudo.
Após mais de 20 anos atuando na disseminação qualificada sobre nosso lon-
geviver, é muito bom testemunhar o interesse da universidade na análise, na
pesquisa e na elaboração de projetos de ação que tornem possível as pessoas
viverem longamente com dignidade. Também é muito bom ver finalmente a
universidade cumprindo seu papel - o de contribuir para o desenvolvimento
social -, a começar por potencializar a popularização do conhecimento que ali
é produzido.
Que outras iniciativas como esta, que promovam a difusão e divulgação do
conhecimento a respeito do envelhecimento e da velhice em si - na perspec-
tiva do ser que envelhece e da governança pública -, possam se replicar em
todas as universidades do país afora, subsidiando, incentivando e fomentando
políticas públicas que garantam um melhor envelhecer e longeviver!
2
A palestra do professor Joel Martins foi transcrita e publicada na Revista Kairós-Geronto-
logia, Ano 1-n. 1, 1998, pp. 11-24, sob o título: Não somos cronos, somos Kairós”
6

Sumário
Prefácio 4
Apresentação 7
O ensino e a pesquisa universitária voltados à pessoa idosa 10
Reflexões sobre o papel das universidades no contexto de envelhecimento
populacional brasileiro. 11
Leonardo Milhomem Rezende, Karla Lisboa Ramos

Universidade para todas as idades: por uma política de acesso e


permanência para a pessoa idosa no Ensino Superior 28
Jordelina Schier, Paulo Adão de Medeiros, Eliete Cibele Cipriano Vaz, Juliana Balbinot Reis Girondi

Contribuições das universidades para o envelhecimento ativo 45


Maria Fernanda Baeta Neves Alonso da Costa, Fábio Marcelo Matos.

Sexualidade e Envelhecimento: o conhecimento científico e sua abordagem


no Ensino Superior 58
Higor Matheus de Oliveira Bueno, Felipe Bueno da Silva, Márcia Thaís de Souza, Dalyanna Mildred de
Oliveira Viana, Gilson de Vasconcelos Torres, Aline Maino Pergola-Marconato

Contribuições da extensão universitária voltadas à pessoa idosa 72


Boas práticas de extensão universitária para pessoas idosas no Brasil 73
Silvia M. M. Costa , Carmen Pineda Nebot, Simone Martins, Andréia Queiroz Ribeiro

O projeto Arte de Cuidar: a experiência de ser velho e estar uma pessoa


idosa à procura de uma outra suavidade 88
Bruno Vasconcelos de Almeida, Amauri Carlos Ferreira

Corpos experienciados em expressão: relato de uma prática extensionista


em teatro com a população idosa 100
Bárbara Carbogim, Emerson de Paula

Universidade aberta para a terceira idade: qualidade de vida ao envelhecer 112


Márcio José Pinto Ribeiro, Jones Nogueira Barros, Carmen Pineda Nebot,
Ana Maria de Albuquerque Vasconcellos

Além dos trilhos: convivência virtual e educação financeira para o


envelhecimento ativo 123
Cássia do Carmo Pires Fernandes, Eder Pereira Giardini Bonfim, Edson Batista de Sena,
Pedro Henrique Pereira

A atuação das universidades na governança pública voltada à


população idosa 138
Funções básicas da governança pública e a atuação de universidades
voltada para a população idosa 139
Ivan Beck Ckagnazaroff

Histórias da Pandemia: a alegria do encontro 151


Stefania Becattini Vaccaro, Andréia Queiroz Ribeiro, Thaís dos Santos Gomes

Governança Colaborativa nas Políticas da Pessoa Idosa no Estado de


Minas Gerais: o Caso da Rapi/MG 159
Simone Martins , Andréia Queiroz Ribeiro , Roseany Gloriane Mendes , Sabrina Olímpio Caldas de
Castro, Ivan Beck Ckagnazaroff, Ricardo Duarte Gomes

Considerações finais 173


Tainá Gomide Rodrigues de Souza Pinto
7

Apresentação
Como toda boa conversa, este livro começa com uma pergunta:
para que serve a universidade?
Ora, as universidades servem para formar profissionais de base intelec-
tual, científica e técnica. Servem também à formação humana intelectual - o
que Anísio Teixeira (1964)1 denominou de alargamento da mente humana -,
à construção do conhecimento em pesquisa, à transmissão dos valores e da
cultura de um país. Assim, como o reverso de sua beleza, as universidades
também podem servir como espaço de conservação de poder e de exclusão
de parcelas populacionais.
É, pois, contra essa última possibilidade que este livro surge como um con-
vite para (re)pensarmos a relação entre a universidade e o envelhecimento
populacional. Propomos que a universidade seja o catalisador de uma socie-
dade mais justa e mais preparada para todos os indivíduos, de todas as idades.
A tarefa é desafiadora, já que nem sempre percebemos a universidade como
um lugar de produção e de compartilhamento dos saberes; como o lugar para
a promoção do diálogo e do debate; como o lugar onde se busca o consenso
e o dissenso; como o local em que aprendemos a nos colocar como indivíduo,
mas como um indivíduo que vive, respeita e se preocupa com o coletivo.
Trilhar esse caminho exige, portanto, lembrar que a universidade é espaço
para experimentação, para descobertas, para buscar soluções que melhorem
a nossa vida; um lugar aberto, um lugar de trocas, um local de aprendizagem
constante. Exige lembrar que a universidade é um espaço onde se busca a
inovação de serviços, de processos, de produtos, de gestão - incluindo a ges-
tão pública –, de inovação tecnológica e, sem dúvida, um local de produção de
conhecimento com base na ciência.
Aliás, foi com base nos avanços da ciência em diferentes áreas do conheci-
mento – saúde, educação, saneamento básico, entre outros - que a humani-
dade obteve uma de suas maiores conquistas: o aumento da expectativa de
vida. Conquista que trouxe consigo a possibilidade de atribuirmos novos sig-
nificados às vivências individuais e coletivas, mas que também trouxe inúme-
ros desafios sociais, sanitários e econômicos relacionados ao envelhecimento
populacional.
Essa realidade é hoje um processo acelerado no Brasil. A expectativa é de
que em 2050 tenhamos mais de 30% da população com idade superior a
60 anos (IBGE, 20172). Assim, é imperativo garantir que esse processo seja
1
Teixeira, A. (1962). Funções da Universidade. Boletim Informativo CAPES, (135), 1-2.
2
IBGE. (2017). Relações entre as alterações históricas na dinâmica demográfica Brasileira
e os impactos decorrentes do processo de envelhecimento da população. Recuperado de
l1nk.dev/1DQ43 (Acesso em abril de 2023).
8
acompanhado de qualidade de vida nos anos que foram conquistados. Nessa
direção, o grupo Espaços Deliberativos e Governança Pública (Gegop) e a
Frente Nacional dos Conselhos de Direitos da Pessoa Idosa (FFC) convidam
a conhecer uma amostra do papel que as universidades brasileiras vêm de-
sempenhando frente ao fenômeno do envelhecimento. Conhecer essas con-
tribuições é de grande relevância não apenas para fomentar debate, mas para
subsidiar e fortalecer políticas e ações comprometidas com a transformação,
com vistas a um horizonte de garantia e de ampliação de direitos para se en-
velhecer com dignidade e qualidade de vida.
Os diferentes capítulos deste contemplam desde reflexões teóricas a
exemplos concretos de atuação das universidades no ensino, na pesquisa, na
extensão e no apoio à governança pública. Eles foram divididos em três se-
ções que passamos a conhecer.
Na primeira seção – O ensino e a pesquisa universitária voltada à pessoa
idosa – foram reunidos o capítulo de Leonardo Milhomem Rezende e Karla
Lisboa Ramos que traz “Reflexões sobre o papel das universidades no con-
texto brasileiro”; o capítulo de Jordelina Shier, Paulo Adão de Medeiros, Eliete
Cibele Cipriano Vaz e Juliana Balbinot Reis Girondi sobre “Universidade para
todas as idades: por uma política de acesso e permanência para a pessoa ido-
sa no ensino superior”; o capítulo de Maria Fernanda Baeta Neves Alonso da
Costa e Fábio Marcelo Matos sobre “Contribuições das Universidades para
o envelhecimento ativo”; e o capítulo de Higor Matheus de Oliveira Bueno,
Felipe Bueno da Silva, Márcia Thaís de Souza, Dalyanna Mildred de Oliveira
Viana, Gilson de Vasconcelos Torre e Aline Maino Pergola Marconato sobre
“Sexualidade e Envelhecimento: o conhecimento científico e sua abordagem
no ensino superior”.
A segunda seção – Contribuições da extensão universitária voltadas à
pessoa idosa – reúne o capítulo de Silvia M. M. Costa, Carmen Pineda Nebot,
Simone Martins e Andréia Queiroz Ribeiro sobre “Boas práticas de extensão
universitária para pessoas idosas no Brasil” e o capítulo de Bruno Almeida e
Amauri Ferreira sobre “O projeto arte de cuidar: a experiência de ser velho
e estar idoso à procura de uma outra suavidade” que trazem experiências
concretas de projetos de extensão e que podem servir de inspiração a ações
semelhantes. Esta seção também traz, a narrativa do cuidado direcionado às
pessoas idosas institucionalizadas por meio do “fazer teatral”, no capítulo in-
titulado “Corpos experienciados em expressão: relato de uma prática exten-
sionista em teatro com a população idosa” de Bárbara Carbogim e Emerson
de Paula; bem como traz o capítulo de Márcio José Pinto Ribeiro, Jones No-
gueira Barros, Carmen Pineda Nebot e Ana Maria de Albuquerque Vasconce-
los sobre a “Universidade aberta para a terceira idade: qualidade de vida ao
envelhecer” e o capítulo de Cássia do Carmo Pires Fernandes, Eder Pereira
Giardini Bonfim, Edson Batista de Sena e Pedro Henrique Pereira sobre edu-
9

cação financeira para pessoas idosas, intitulado “Além dos trilhos: convivên-
cia virtual e educação financeira para o envelhecimento ativo.
Na terceira seção – A atuação das universidades na governança pública
voltadas à população idosa – foram reunidos o capítulo de Ivan Beck sobre
“Funções básicas da governança pública e a atuação de universidades volta-
das para a população idosa”; o capítulo de Stefania Becattini Vaccaro, Andréia
Queiroz Ribeiro e Thaís dos Santos Gomes sobre “Histórias da pandemia: a
alegria do encontro”, o qual analisa a potência do trabalho em rede para a
governança de situações complexas, como o que vivenciamos na pandemia
da Covid-19 e; finaliza com o capítulo de Simone Martins, Andréia Queiroz Ri-
beiro, Roseany Gloriane Mendes, Sabrina Olímpio Caldas de Castro, Ivan Beck
Ckagnazaroff e Ricardo Duarte Gomes, o qual apresenta resultados de uma
experiência em governança colaborativa iniciada no contexto da pandemia da
Covid-19 e que se ampliou para o fortalecimento das políticas públicas volta-
das para pessoas idosas. Trata-se da Rapi/MG – Rede de Apoio à Pessoa Idosa
no Estado de Minas Gerais.
O conjunto dessas reflexões e experiências nos coloca diante da seguinte
pergunta: “onde estamos e em que direção caminha a pauta da pessoa idosa
nas universidades e no governo”. Assim, convidamos Tainá Gomide para nos
ajudar a responder e ela nos brinda com algumas respostas no Posfácio deste
livro.
Gostaríamos de destacar que ao longo da produção deste livro a legisla-
ção brasileira foi modificada em relação ao termo “idoso/a(s)”, passando a
recomendar o uso do termo “pessoa(s) idosa(s)”. Assim, tivemos o cuidado
de modificar os títulos dos documentos legais, tais como Estatuto do Idoso,
que passou a se denominar Estatuto da Pessoa Idosa. No entanto, alguns tre-
chos específicos desses documentos, utilizados pelos autores, permanece-
ram com a denominação “idoso/a(s)” considerando o estágio da produção
que este livro já se encontrava.
Desejamos que a leitura deste livro desperte em cada um o sentimento e
o reconhecimento sobre a importância das universidades brasileiras para a
defesa, garantia e ampliação dos direitos das pessoas idosas em nosso País.
Afinal, este livro celebra as vitórias até aqui conquistadas sem deixar de re-
conhecer o longo caminho ainda a ser percorrido. Esperamos que sirva de
incentivo a (re)pensarmos o papel da universidade brasileira como agente de
transformação social e no potencial do trabalho em rede para contribuir no
processo de envelhecimento da nossa sociedade... que seja digno, ativo, sau-
dável e sustentável.
Boa leitura!
10

O ensino e
a pesquisa
universitária
voltados à pessoa
idosa
11

Reflexões sobre o papel das universidades


no contexto de envelhecimento
populacional brasileiro
Leonardo Milhomem Rezende1, Karla Lisboa Ramos 2

Resumo
O processo do envelhecimento carreia saberes e práticas que por muitas vezes
transitam nas cadeiras das universidades ou instituições de ensino superior. As
universidades se estruturam no tripé ensino, pesquisa e extensão e oportunizam à
comunidade sua participação, além de promoverem o ensino e as pesquisas. A edu-
cação das pessoas idosas é um direito dos cidadãos, e é dever do Estado efetivá-la
mediante a garantia de acesso público e gratuito. Mas como falar em educação em
instituições de ensino superior se, no Brasil, a taxa de analfabetismo das pessoas
idosas é de 18,1% (6 milhões) e acredita-se que seja ainda maior se nos mais vul-
neráveis? Então surge outra pergunta: Qual a contribuição das universidades para
viabilizar o ingresso dos estudantes acima de 60 anos, sendo que muitos deles ainda
são analfabetos? Em virtude do tripé supracitado diversas oportunidades existem,
por exemplo podemos citar experiências exitosas como a Universidade Aberta da
Terceira Idade, pois se enquadra dentre as atividades de programas de extensão
em diferentes áreas de atuação. Mas é preciso ampliar e investir no potencial desse
modelo e de outros similares considerando, ainda, a pesquisa como meio de qualifi-
car o conhecimento e aprimorar os projetos desenvolvidos e políticas públicas para
as pessoas idosas. Importante mencionar ainda o papel formador de profissionais e
cidadãos com capacidade de auxiliar no rompimento de paradigmas e preconceitos
em relação à população idosa, permitindo cidadania a esse público.
Palavras-chave: envelhecimento, direito à educação, universidade aberta à terceira
idade.

Introdução
Antes de avançarmos na discussão dos assuntos propostos é necessário
apresentar alguns conceitos básicos que serão abordados ao longo deste ca-
pítulo. Primeiramente, é importante salientar que usaremos o conceito de
pessoa idosa presente no Estatuto da Pessoa Idosa (Lei nº 10.741/2003), con-
siderando pessoas idosas aquelas com 60 anos ou mais de idade.
Vale observar que se optou por utilizar, no texto, o termo “universidade”
(ou universidades) pelas possibilidades que o tripé ensino, pesquisa e exten-
são permitem às discussões, entretanto, ao leitor ficará claro que parte das
reflexões aqui estão baseadas, principalmente, na parte “ensino” deste tripé

1 Mestre em Gestão de Políticas e Sistemas Educacionais pela Universidade de Brasília e ex-


-Diretor de Atenção ao Idoso do Ministério da Cidadania. E-mail: [email protected]
2 Doutora em Nutrição Humana pela Universidade de Brasília e ex-Subsecretária de Segu-
rança Alimentar e Nutricional da Secretaria de Desenvolvimento Social do Distrito Federal.
[email protected]
12

e, por consequência, podem e devem ser ampliadas para as demais Institui-


ções de Ensino Superior – IES, como Centros Universitários e Faculdades.
E para que possamos falar sobre o envelhecimento, ou pessoas idosas, é
fundamental, primeiramente, saber o nível de conhecimento dessas pessoas
em termos educacionais (de escolarização e alfabetização, por exemplo) e
quais direitos elas possuem. Para isto, buscou-se tanto a legislação nacional
quanto dados demográficos oficiais, sem o intuito de exaurir todos estes as-
suntos, mas de forma a embasar a discussão que se segue.
Após entender minimamente a situação das pessoas idosas no Brasil em re-
lação à educação e os seus direitos, abordaremos o papel das Universidades
para a mudança da realidade nacional.

Direitos das pessoas idosas em relação à educação


Ao mencionar “direitos” é imprescindível citar a Constituição Federal de
1988, que em seu art. 6º traz como referência a educação como direito social:

Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a ali-


mentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a
segurança, a previdência social, a proteção à maternida-
de e à infância, a assistência aos desamparados, na forma
desta Constituição (Constituição Federal, 1988).

Mas o direito à educação é reforçado em outro artigo, que acrescenta não


apenas o direito à educação, mas também a quem compete o “dever”:

Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado


e da família, será promovida e incentivada com a colabo-
ração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento
da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e
sua qualificação para o trabalho (Constituição Federal,
1988).

Merece destaque no artigo citado o termo “direito de todos”, ou seja, inde-


pendentemente da idade (e de outras características) “todos” têm direito à
educação, devendo o Estado e a família proverem este direito. Esta afirmação
pode ser corroborada pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional –
LDB (Lei nº 9394/1996).
13

Art. 4º O dever do Estado com educação escolar pública


será efetivado mediante a garantia de:
(...)
IV – acesso público e gratuito aos ensinos fundamental
e médio para todos os que não os concluíram na idade
própria; (Lei nº 9394/1996).

Nota-se que a LDB detalha quais são as etapas de ensino que as pessoas
têm direito ao acesso público e gratuito, fundamental e médio, estendendo
este direito àqueles que não tiveram acesso na idade própria.
Ainda em relação aos direitos das pessoas idosas à educação, não se pode
deixar de mencionar o Estatuto da Pessoa Idosa (Lei nº 10.741/2003). Desta-
cam-se dois trechos:

Art. 3º É obrigação da família, da comunidade, da socie-


dade e do Poder Público assegurar ao idoso, com abso-
luta prioridade, a efetivação do direito à vida, à saúde,
à alimentação, à educação, à cultura, ao esporte, ao la-
zer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao
respeito e à convivência familiar e comunitária.

Art. 20. O idoso tem direito à educação, cultura, espor-


te, lazer, diversões, espetáculos, produtos e serviços que
respeitem sua peculiar condição de idade. (Estatuto da
Pessoa Idosa-Lei nº 10.741/2003)

O Estatuto da Pessoa Idosa reforça o direito das pessoas idosas à educação,


inclusive alertando e garantindo que esta educação (entre outras coisas) res-
peite a sua “peculiar condição de idade”.
Por todo o exposto até aqui, fica evidente que está garantida, em diversas
normas nacionais, o direito das pessoas idosas à educação, mas vale ainda
citar “como” essa educação deve ser ofertada/garantida para as pessoas ido-
sas:
14

Art. 21. O Poder Público criará oportunidades de aces-


so do idoso à educação, adequando currículos, metodo-
logias e material didático aos programas educacionais a
ele destinados.
§ 1º Os cursos especiais para idosos incluirão conteú-
do relativo às técnicas de comunicação, computação e
demais avanços tecnológicos, para sua integração à vida
moderna.
(...)
Art. 25. As instituições de educação superior ofertarão
às pessoas idosas, na perspectiva da educação ao lon-
go da vida, cursos e programas de extensão, presenciais
ou a distância, constituídos por atividades formais e não
formais. (Estatuto da Pessoa Idosa-Lei nº 10.741/2003).

Diante do exposto, fica evidente o direito das pessoas idosas à educação,


inclusive pública, gratuita, que respeita às suas peculiaridades com currícu-
los, metodologias e materiais didáticos adequados, inclusive para aquelas
pessoas que não tiveram acesso à idade adequada.
Mas a primeira reflexão que é necessária diz respeito às leis e normas men-
cionadas que são datadas após 1988 (ano da promulgação da atual Cons-
tituição Federal). Assim, as pessoas idosas de hoje tiveram seus direitos à
educação, durante muito tempo, estabelecidos, ou não, por outras leis e
constituições. Isso significa que uma pessoa idosa que tenha 60 anos de ida-
de vividos no Brasil, em 2020, viveu sobre a égide de duas constituições (1967
e 1988), já alguém com 100 anos passou por 5 constituições distintas (1934,
1937, 1946, 1967, 1988) que trataram a educação com diferentes contextos e
abrangência do direito.
Um outro trabalho poderia ser feito apenas dedicado aos direitos à educa-
ção nas Constituições Federais anteriores, mas por ora, das inúmeras refle-
xões que se pode fazer a respeito deste assunto, é importante destacar que
grande parte do que temos garantido em relação à educação hoje, não era
realidade anteriormente. Em outras palavras, é possível dizer que aquele que
hoje tem 60 anos ou mais de idade não teve parte dos direitos à educação
garantidos em sua juventude e muitos desses não tiveram acesso a nenhuma
educação formal.
Vale destacar sobre estes direitos o que cita Barbosa-Fohrmann e Araújo
(2019).
15

Em virtude da noção de que o serviço educacional deve


ser fornecido, prioritária ou exclusivamente, às gerações
mais jovens, as pessoas idosas findam por experimen-
tar limitações quanto ao exercício desta prerrogativa,
e isso implica um aprofundamento das possíveis infra-
ções de direitos humanos que venham a sofrer. (Barbo-
sa-Fohrmann e Araújo, 2019).

Obviamente, a ausência destes direitos traz consequências para os dias


atuais e, a este respeito, alguns dados do Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatísticas – IBGE, podem ser esclarecedores.
O primeiro que merece destaque se refere à taxa de analfabetismo, no Bra-
sil. Em 2019, da população com 15 anos ou mais de idade, 6,1% eram analfabe-
tas, segundo dados do IBGE (BRASIL, 2023). No entanto, quando segregados
os dados por faixas de idade temos que 18,1% da população com 60 anos ou
mais de idade era analfabeta (Tabela 1).

Tabela 1
Taxa de analfabetismo das pessoas de 15 anos ou mais de idade, por sexo e grupo
de idade - Brasil (PNAD/2019).

Variável de
Indicador Categoria 2016 2017 2018 2019
abertura
Taxa de 15 anos ou 6,7 6,5 6,3 6,1
analfabe- mais
tismo das Grupos de
pessoas idade 60 anos
de 15 anos 20,5 19,4 18,8 18,1
ou mais de ou mais
idade (%).
Fonte: Adaptado de IBGE - Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua Anual - 2º
trimestre, disponível em Sistema IBGE de Recuperação Automática – SIDRA.2023. IBGE.

Isso corresponde a aproximadamente 6 milhões de pessoas idosas que não


sabem ler ou escrever, ou seja, não tiveram acesso nem ao mínimo, à essên-
cia da educação formal, que é a alfabetização. É relevante saber que essas
pessoas também não dominam as quatro operações básicas da matemática,
basilar na educação formal.
E o que dizer da população idosa em situação de vulnerabilidade? Segundo
o Ministério da Cidadania (BRASIL, 2020) o Cadastro Único de Programa So-
16

ciais do Governo Federal – CadÚnico é um registro que permite ao governo


saber quem são e como vivem as famílias de baixa renda no Brasil.
Por sua característica de Cadastro e não de censo ou pesquisa, como as do
IBGE, o CadÚnico não possui dados com as mesmas características da PNAD
(Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua) ou Censo Demográ-
fico e, por este motivo é de difícil comparação. Entretanto, não se pode negar
que os dados ali presentes não possuem validade. Pois ao fazerem o cadastro,
as pessoas devem informar ao servidor responsável uma série de informações
que compõem o questionário e, dentre estes dados, há informações sobre a
escolarização.
Ao extrair informações de pessoas idosas mais vulneráveis (CadÚnico), a
realidade parece ser ainda pior. Neste caso, como as perguntas e as formas
de mensuração são diferentes, não podendo ser comparáveis com dados do
IBGE, mas apontam uma triste realidade conforme demonstrado na Figura 1.

Figura 1
Escolaridade das pessoas idosas no Cadastro Único para Programa Sociais do Go-
verno Federal, 2018.

Fonte: Encontro sobre Integração entre Serviços e Benefícios Socioassistenciais para Pes-
soa Idosa. Ref: Cadastro Único abril 2018, elaboração Departamento de Proteção Social
Especial / Secretaria Nacional de Assistência Social / Ministério do Desenvolvimento Social.

Para a realidade das pessoas cadastradas no CadÚnico, 37% se declaram


como “sem instrução” e mais de 52% declararam possuírem apenas o ensino
fundamental incompleto. Somando-se as duas informações chegamos a 89%
da população idosa vulnerável, constante no cadastro único, não completa-
ram o ensino fundamental.
Sem clichês, mas buscando a origem da palavra dada a esta etapa de ensi-
17

no, estes idosos e idosas não possuem o “fundamental” em relação à educa-


ção. Entretanto, não se pode dizer que lhes foi negado o acesso à educação,
até porque talvez isso não fosse um direito à época, no entanto, atualmente
essas pessoas já possuem esse direito conforme nossa legislação atual. E qual
o papel das universidades na garantia desse direito?

O papel das universidades


Dentro do cenário de dificuldade de acesso pelas pessoas idosas à educa-
ção, mesmo que esse direito seja garantido, uma análise pertinente é com-
preender o papel da universidade nesse processo. Mas como as pessoas ido-
sas poderiam ter acesso à educação superior?
Um desejo, quase utópico, seria que pessoas idosas tivessem acesso, se não
a cursos superiores completos, ao menos acesso a esta etapa de ensino. Esse
acesso permitiria às instituições de ensino superior realizarem uma de suas
funções: a oferta de educação de nível superior à população.
No entanto, como demonstrado anteriormente, ainda estamos muito dis-
tantes dessa oferta. Como poderíamos falar de educação superior para a po-
pulação idosa se ainda temos cerca de 18,1% analfabetos? E entre a população
mais vulnerável que chega a 89% e não possui o ensino fundamental comple-
to?
Desta forma, na realidade brasileira a oferta de educação superior para a
população idosa (ou para parte significativa dela), ainda que seja um direito,
está longe de atender a grande quantidade de pessoas, mesmo considerando
as diferentes formas de acesso.
Segundo Assis, Dias & Necha (2016), muito investimento é necessário para
suprir a carência acumulada ao longo de várias décadas, em relação ao acesso
das pessoas idosas às formas de saber.
Os dados da Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílios sobre os anos de
escolaridade por faixa etária (PNAD Contínua-2019) corroboram para o fato
de as pessoas idosas estarem mais distantes da educação superior, pois nas
categorias apresentadas às pessoas idosas são as que possuem menor quan-
tidade de anos de estudo (Tabela 2).
18

Tabela 2
Número médio de anos de estudo, por grupos de idade (PNAD/2019).
Variável de aber-
Indicador Categoria 2019
tura
15 a 17 anos 9,2
18 a 24 anos 11,5
Número médio de Grupos de idade – 25 a 39 anos 11,4
anos de estudo anos de estudo
40 a 59 anos 9,4
60 anos ou mais 6,6
Fonte: IBGE - Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua Anual - 2º trimestre,
disponível em Sistema IBGE de Recuperação Automática – SIDRA.2023. IBGE, adaptado.

Pelos dados da PNAD é perceptível que, com uma média de 6,6 anos de
estudo, muitas dessas pessoas idosas não tenham o ensino médio completo
para que possam ingressar em um curso superior e viabilizar o primeiro papel
das universidades (ou outras IES).
Ressaltamos que se muitos dos idosos não conseguem alcançar as univer-
sidades devido à baixa escolarização que os impedem de chegar aos cursos
superiores, então o próprio Estatuto da Pessoa Idosa e a Política Nacional da
Pessoa Idosa (Lei nº 18.842/94) nos mostram o caminho de como as univer-
sidades podem atuar:

Art. 25. As instituições de educação superior ofertarão


às pessoas idosas, na perspectiva da educação ao longo
da vida, cursos e programas de extensão, presenciais
ou a distância, constituídos por atividades formais e não
formais. (Estatuto da Pessoa Idosa-Lei nº 10.741/2003).
Art. 10. Na implementação da Política Nacional da Pes-
soa Idosa, são competências dos órgãos e entidades pú-
blicos:
(...)
III - na área de educação:
(...)
f) apoiar a criação de universidade aberta para a ter-
ceira idade, como meio de universalizar o acesso às di-
ferentes formas do saber; (Política Nacional da Pessoa
Idosa – Lei nº 8.842/1994)
19

Observa-se, então, que os programas de “extensão” passam a ter bastante


relevância para mitigar os efeitos da não oferta da educação escolar formal
em tempos anteriores para esta população, promovendo, com isso, diferen-
tes formas de saber.
No entanto, o conceito de extensão na educação superior é bem mais am-
plo e pode contribuir para outras reflexões. Segundo a Resolução do Conse-
lho Nacional de Educação Nº 7, de 18 de dezembro de 2018, a extensão na
Educação Superior Brasileira é a atividade que se integra à matriz curricular
e à organização da pesquisa, constituindo-se em processo interdisciplinar,
político educacional, cultural, científico, tecnológico, que promove a intera-
ção transformadora entre as instituições de ensino superior e os outros se-
tores da sociedade, por meio da produção e da aplicação do conhecimento,
em articulação permanente com o ensino e a pesquisa, das quais se destacam
algumas concepções estruturantes:

II - o estabelecimento de diálogo construtivo e trans-


formador com os demais setores da sociedade brasi-
leira e internacional, respeitando e promovendo a inter-
culturalidade;
III - a promoção de iniciativas que expressem o compro-
misso social das instituições de ensino superior com
todas as áreas, em especial, as de comunicação, cultu-
ra, direitos humanos e justiça, educação, meio ambiente,
saúde, tecnologia e produção, e trabalho, em consonân-
cia com as políticas ligadas às diretrizes para a educação
ambiental, educação étnico-racial, direitos humanos e
educação indígena;
(...)
V - o incentivo à atuação da comunidade acadêmica e
técnica na contribuição ao enfrentamento das ques-
tões da sociedade brasileira, inclusive por meio do de-
senvolvimento econômico, social e cultural; (Resolução
CNE, nº 7/2018).

Mas, ainda assim, é importante estar atento ao que menciona o art. 25 do


Estatuto da Pessoa Idosa: a educação, neste caso, pode ser formal ou até mes-
mo não formal, presenciais e à distância, na perspectiva de educação ao longo
da vida. Isso abre uma gama de possibilidades para o trabalho das Universi-
20

dades, que podem (e devem) entender e atender as demandas locais de sua


população. E a extensão na educação superior é um meio promissor para isso.
As Universidades Abertas da Terceira Idade (Unati ou Uati) surgem como
uma dessas formas de atuação das universidades na educação, sem necessa-
riamente ser na oferta de cursos superiores. Segundo Veras e Caldas (2004)
essas instituições possuem propósitos comuns, como o de rever os estereó-
tipos e preconceitos com relação à velhice, promover a autoestima e o resga-
te da cidadania, incentivar a autonomia, a independência, a autoexpressão e
a reinserção social em busca de uma velhice bem-sucedida. Segundo Assis,
et al. (2016) as Unatis possuem diferentes denominações e seguem modelos
pedagógicos diferentes. As atividades se enquadram como programas de ex-
tensão de universidades, no que pese nem todas serem viabilizadas em espa-
ços universitários.
Assis, et al. (2016) detalham dois exemplos de Unatis, uma da Universidade
Federal de Minas Gerais - UFMG e outra da PUC Minas (Unaí) e conclui, dentre
outras coisas, que a universidade para a terceira idade pode e deve funcionar
como um elo nesta cadeia de construção da cidadania na velhice brasileira.
Sobre as atividades de extensão, e seu potencial no âmbito universitário,
um bom exemplo dessas atividades de extensão e pesquisa, e de uma relação
com a comunidade, é o Programa Municipal da Terceira Idade (PMTI) do mu-
nicípio de Viçosa - MG. Trata-se de um convênio entre a Prefeitura Municipal
de Viçosa com a Universidade Federal de Viçosa - UFV que funciona desde
1997.

“As atividades e ações que compõem o organograma e o


calendário anual do PMTI são desenvolvidas por profis-
sionais e estagiários da Prefeitura Municipal de Viçosa,
por profissionais participantes dos Programas de Apri-
moramento Profissional e de Pós-Graduação em Ciência
da Nutrição, ambos do Departamento de Nutrição e Saú-
de da UFV. O programa conta, ainda, com profissionais
que atuam como voluntários. Alunos de graduação de
diversos cursos da UFV, bem como de cursos de facul-
dades privadas de Viçosa atuam no programa, sob su-
pervisão de docentes. O PMTI ainda tem como parceira a
Defensoria Pública do Estado de Minas Gerais.” (Ribeiro
& Oliveira, 2014).
21

Ribeiro e Oliveira (2014) corroboram sobre o relevante potencial do papel


das universidades, ao mencionarem os diversos cursos e departamentos en-
volvidos no programa:

Os idosos têm a oportunidade de participarem de um


diversificado elenco de atividades realizadas no âmbito
das ações de ensino, pesquisa e extensão da universida-
de, coordenadas por docentes dos Departamentos de
Nutrição e Saúde, de Economia Doméstica, de Artes, de
Educação Física, de Comunicação, de Agronomia, de En-
fermagem e Medicina (Ribeiro & Oliveira, 2014).

Em seu artigo Ribeiro e Oliveira (2014) descreveram, apenas neste progra-


ma (PMTI), nove projetos de pesquisa e extensão. Assim, como o exemplo do
Programa Municipal da Terceira Idade de Viçosa existem muitos outros pelo
Brasil com benefícios para a população idosa que podem ser gerados pelas
múltiplas variedades de relações entre os diversos campos de conhecimento
presentes na universidade, das instalações físicas, dos corpos docente e dis-
cente, do ensino, pesquisa e extensão.
Mas é preciso mencionar que as universidades, no Brasil, são os grandes
polos de pesquisa científica, e esta parte do tripé não poderia deixar de estar
presente nas discussões sobre o papel das universidades. Ao se falar em “pes-
quisa”, temos outro amplo universo de atuação para docentes e discentes.
O envelhecimento populacional como fenômeno social é recente no Brasil,
mesmo que seja um processo acelerado em relação a outros países, ainda te-
mos cerca de 15,5% da população com 60 anos ou mais (BRASIL, 2019). Isto
é pouco quando comparado com outros países como Itália, Alemanha, Grécia
que possuíam em 2018 mais de 20% da população com 65 anos ou mais de
idade. Então o assunto do envelhecimento ainda está entrando na agenda das
políticas públicas.
No âmbito da população idosa as pesquisas são essenciais considerando
que o fenômeno do envelhecimento populacional é relativamente novo no
mundo, segundo a OMS (2008) “pela primeira vez na história da humanidade
haverá mais idosos que crianças (com idade 0–14 anos) na população”.
As pesquisas, por si só, já seriam importantes para estudar e entender este
fenômeno. Mas qualquer avanço em políticas públicas deve advir de uma ava-
liação ou da detecção de um problema social a ser resolvido. Medidas recen-
tes como a Estratégia Brasil Amigo da Pessoa Idosa do Governo Federal prevê
22

um diagnóstico por parte dos municípios participantes que lançam luz para
a relevância da pesquisa na elaboração de diagnósticos sobre a situação da
população idosa, suas necessidades, sua opinião etc.
Este tipo de pesquisa tem relevância para o planejamento e execução de
políticas públicas locais para as pessoas com 60 anos ou mais de idade. Com-
plementar a isso, entende-se que dentre os grandes produtores de conheci-
mento no Brasil estão as universidades. Elas possuem também esse papel de
auxiliarem a evidenciar os problemas sociais existentes.
Ao se pensar em envelhecimento é muito comum que as primeiras infor-
mações que venham à mente sejam relacionadas à saúde, mobilidade e previ-
dência, por exemplo, mas na realidade o envelhecimento como um processo
social deve ser entendido como um processo mais amplo.
O envelhecimento populacional gera consequências econômicas como a
diminuição da proporção da população economicamente ativa (PEA). Outra
consequência importante impacta nos programas de previdência (públicas
e privadas), devido a composição das famílias que hoje possuem um ou dois
filhos (em média) gera atenção para a necessidade de uma política de cui-
dados, pois são cada vez menos pessoas para cuidar (quando necessário) de
cada vez mais pessoas idosas.
A vulnerabilidade de parte das pessoas idosas gera outros alertas impor-
tantes que devem ser estudados/pesquisados como a questão da violência
contra as pessoas idosas (em suas diversas modalidades como física, psicoló-
gica, financeira). Outro ponto muito relevante é a capacidade de nosso siste-
ma de saúde em atender com qualidade todas as demandas advindas com o
envelhecimento dos cidadãos.
Dentre as vulnerabilidades presentes, neste grupo populacional, desta-
cam-se situações como baixa renda, abandono e negligência. Essas situações
podem (e muito provavelmente irão) também gerar uma pressão sobre o Sis-
tema Único de Assistência Social.
Ficam então alguns questionamentos. O nosso modelo de cuidados atual
comporta uma demanda crescente? As nossas instituições de longa perma-
nência (ou os asilos) comportam e comportarão as demandas existentes e
vindouras? O Benefício de Prestação Continuada (BPC) conseguirá ter recur-
sos suficientes para todos os idosos que dele necessitarem? A previdência so-
cial é sustentável ao longo do tempo?
Cada uma dessas perguntas poderiam gerar vários outros capítulos de li-
vros, artigos científicos e até mesmo teses, mas o que importa para esta re-
flexão é que se as universidades são as grandes geradoras de conhecimentos,
23

possuem em seus quadros pesquisadores capacitados, docentes e discentes


dispostos a pesquisarem e atuam em diversos campos (ou áreas) de conheci-
mento, então é exatamente nas universidades (e outras instituições de ensino
superior) que as respostas a essas questões devem ser discutidas.
Em outras palavras, muito conhecimento pode e deve ser gerado para que
se possa entender em detalhes o fenômeno do envelhecimento no Brasil com
todas as suas nuances e, a partir de então, embasar as políticas públicas des-
tinadas às pessoas idosas.
Em destaque, outra missão importante das universidades é a pesquisa. A
relevância da pesquisa científica aqui evidenciada reside no importante papel
que as universidades possuem na produção de pesquisas científicas no Brasil.
Se as universidades (e demais instituições de educação superior) não realiza-
rem pesquisas sobre o envelhecimento, quem mais realizará?
E se não tivermos pesquisas científicas? E como iremos entender os reais
problemas sociais causados pelo envelhecimento populacional? Como iremos
resolver os problemas apresentados? Corremos o risco de nossas políticas
públicas ficarem a predileção de gestores com intenções políticas eleitorei-
ras?
Fica evidente que as universidades possuem um papel preponderante em
relação às pesquisas científicas, muitos são os exemplos de pesquisas desen-
volvidas por instituições de ensino superior. Um bom exemplo de uma pes-
quisa ampla para se entender a realidade local em relação à população idosa é
a apresentada no livro “Percepção das pessoas idosas frente às políticas públi-
cas oferecidas no município de Balneário Camboriú” (Vanzuita et al. (2020).
Em suma, trata-se de uma pesquisa desenvolvida com o apoio do Instituto Fe-
deral de Educação, Ciência e Tecnologia Catarinense – IFC em parceria com a
Prefeitura Municipal de Balneário Camboriú - SC para avançar na certificação
da Estratégia Brasil Amigo da Pessoa Idosa.
Veja que não se trata de uma “universidade”, mas sim de um Instituto Fe-
deral de Educação, Ciência e Tecnologia (uma instituição de educação supe-
rior), no entanto, em essência, a pesquisa em questão serve para demonstrar
a relevância e o potencial que as instituições de ensino superior possuem de
auxiliar nas pesquisas das diversas áreas do conhecimento, inclusive para au-
xiliar na gestão pública.
Até aqui mencionou-se o que está no famoso tripé ensino, pesquisa e exten-
são, entretanto as universidades podem atuar também como consultoras de
prefeituras e governos estaduais, podem realizar convênios e parcerias (en-
volvendo ou não recursos financeiros), oferecerem serviços e desenvolverem
produtos e soluções para as pessoas idosas, dentre tantas outras atividades.
24

Vale lembrar que as universidades podem desenvolver uma série de ativi-


dades, ações, iniciativas voltadas para a população idosa nos seus diversos
campos de conhecimento e instalações físicas, como, por exemplo, acesso a
tecnologias, alimentação, saúde, direitos humanos, música, atividades físicas,
arquitetura, acessibilidade, tecnologia assistiva, medicamentos, apoio jurídi-
co, acesso à leitura, atividades de lazer, passeios, assistência social e inúme-
ras outras.
Mesmo que tenhamos mencionado apenas a educação para a pessoa idosa
propriamente dita, é importante ressaltar que as universidades são as gran-
des responsáveis pela qualidade da formação de grande parte dos profissio-
nais de nível superior (médicos, engenheiros, enfermeiros, assistentes so-
ciais, professores etc.). Neste contexto Scortegagna e Oliveira (2010), muito
bem resumem a relevância da educação para a população idosa:

A educação surge como uma oportunidade de ação, tan-


to para a sociedade conhecer e aprender a respeito do
idoso, como para o idoso ter novas condições de abrir-se
para o mundo, conhecendo seus limites e vivenciando
suas experiências (Scortegena & Oliveira, 2010, s/pg.).

As universidades podem (e devem) ser formadoras de profissionais que en-


tendam as demandas sociais, conhecerem e aprenderem sobre a população
idosa, e despertarem os estudantes, professores, técnicos e a comunidade
reflexões sobre o próprio processo de envelhecimento.

Conclusão
Em relação à oferta de ensino superior é evidente que a educação formal
está distante do público idoso, inclusive daqueles que possuem poucos anos
de escolarização, o que impede grande parte da população idosa de acessar
o ensino superior. No entanto, a educação não formal o papel das universida-
des ganha relevância com os programas de extensão e Universidades Abertas
da Terceira Idade. Na extensão, as universidades podem avançar infinitamen-
te nas possibilidades de atuação, realizando parcerias, atuando em diversas
áreas do conhecimento, com diversos públicos e objetivos.
A pesquisa, assim como a extensão, possui infinitas possibilidades de per-
guntas a serem respondidas, não só para entender o fenômeno do envelhe-
cimento como também para auxiliar na metodologia de implementação de
políticas públicas, seja no diagnóstico, monitoramento ou avaliação.
25

É importante mencionar o relevante papel formador de profissionais e cida-


dãos também compete às universidades, pois essas têm a capacidade de au-
xiliar no rompimento de paradigmas (e preconceitos) em relação à população
idosa, permitindo cidadania a esse público.
Sem eximir as responsabilidades das autoridades competentes do Poder
Público, é preciso dizer que existem os poderes constitucionalmente insti-
tuídos (legislativo, executivo e judiciário) que têm o “dever” de fazer confor-
me suas atribuições legais. Mas existe um outro poder, o “poder” de “fazer”
e “transformar”. E, dentre as várias instituições que possuem este “poder”,
sem dúvida e, por todo o exposto, estão as universidades. Seja pelas estrutu-
ras físicas, pelo conhecimento, pelos seus recursos humanos, pela pesquisa,
pelo ensino, pela extensão as universidades (e demais IES) possuem o poder
de transformar diversas realidades da população idosa e do processo de en-
velhecimento que ocorre no Brasil.
Por fim, o papel das universidades é de contribuir para uma mudança da
realidade nacional em relação a tudo que envolve a população idosa e o enve-
lhecimento, seja auxiliando nas políticas públicas nacionais, seja por ações lo-
cais. Essas instituições possuem um papel relevante na melhoria da qualidade
de vida e na garantia da cidadania das pessoas idosas brasileiras, até mesmo,
para outras áreas além da educação.
26

Referências
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27

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d=S1413-81232004000200018&lng=en&nrm=iso. Acesso em: 18 de maio de 2020.
28

Universidade para todas as idades: por


uma política de acesso e permanência para
a pessoa idosa no Ensino Superior
Jordelina Schier1, Paulo Adão de Medeiros2, Eliete Cibele Cipriano Vaz3,
Juliana Balbinot Reis Girondi4

Resumo
A longevidade conquistada ainda não se traduz em benefícios sociais, tornando um
desafio a inclusão da temática do envelhecimento no contexto educacional, espe-
cialmente, no âmbito da universidade como um espaço educacional e de vivência
intergeracional para todas as idades. Sendo assim, busca-se ampliar a discussão so-
bre a importância de políticas públicas com ênfase em ações afirmativas para garan-
tir o acesso e permanência da parcela populacional envelhecida ao Ensino Superior.
Tais ações devem envolver o Estado, diversos setores da sociedade destacando as
famílias, as próprias pessoas idosas, os demais acadêmicos, a estrutura universitária
destacando-se o corpo docente. Tornam-se necessárias para que a inclusão da po-
pulação idosa no ambiente acadêmico não cause mais estranhamentos e possamos
identificar na universidade sua função social sendo um espaço em que o conheci-
mento possa ser alcançado por todas as idades.
Palavras-chave: pessoa idosa; envelhecimento; política pública; universidades; polí-
tica de educação superior; ação afirmativa.

Introdução
O envelhecimento populacional global é ponto de pauta nos debates polí-
ticos e midiáticos e nas produções científicas em todas as áreas do conheci-
mento humano. Tal fenômeno reflete no cotidiano e gera múltiplas repercus-
sões que impactam diretamente na vida das pessoas, independentemente da
faixa etária. Ou seja, a maior longevidade interfere no processo de viver e nas
demandas populacionais e, portanto, impacta na gestão financeira, política e
social de uma nação.
Essa realidade surge por um esforço coletivo para se despir de antigos pa-
radigmas discriminatórios e preconceituosos e envidar esforços para o de-
1
Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG). E-mail: [email protected].
2
Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Santa Catarina
(PEN-UFSC). E-mail: [email protected].
3
Departamento de Serviço Social da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). E-mail:
[email protected].
4
Departamento de Enfermagem da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). E-mail:
[email protected]
29

senvolvimento de uma cultura positiva em prol da velhice e do envelhecimen-


to. Desse modo, são necessários investimentos para tornar factível e efetivo o
arcabouço legal regido pelo direito humano fundamental de envelhecer com
dignidade numa sociedade de todas as idades, especialmente para a imple-
mentação de políticas inclusivas visando as diversidades populacionais.
A pessoa idosa vem, cada vez mais, ocupando espaços fora de casa – “dos
seus aposentos” e desafiando a invisibilidade discriminatória da velhice que
ainda persiste em várias sociedades, especialmente, na ocidental, apesar das
conquistas de cidadania garantidas nos dispositivos legais vigentes e do seu
papel nos contextos familiar, social, econômico e político.
A Política Nacional da Pessoa Idosa, instituída pela Lei nº 8.842 (Brasil, 1994)
e o Estatuto da Pessoa Idosa, regido pela Lei nº 10.741/2003 (Brasil, 2003),
são algumas das bases jurídicas brasileiras que fundamentam políticas pú-
blicas para subsidiar o exercício da cidadania e o acesso aos direitos que sus-
tentam o viver com dignidade, respeito, autonomia, inclusão e participação
efetiva da pessoa idosa em sociedade. Cabe ressaltar que, com a aprovação
da Lei nº 14.423 (Brasil, 2022), foram substituídas as expressões “idoso” e
“idosos” por “pessoa idosa” e “pessoas idosas” na Lei nº 10.741/2003 (Brasil,
2003), que passa a ter a denominação de “Estatuto da Pessoa Idosa” (Brasil,
2022).
Dentre os direitos, a educação é universal e constitucional, garantido na
Carta Magna de 1988. No entanto, a ausência de uma política pública voltada
para a diversidade etária da população brasileira acaba por alijar as pessoas
contidas nesse estrato populacional (Rodrigues, Mafra & Pereira, 2018).
Entretanto, apesar da educação ser propalada principalmente em relação
à infância e à juventude, nunca foi restrita aos jovens. E, em se tratando de
pessoa idosa, a educação é um importante preditor para manutenção das
capacidades cognitivas na velhice – possivelmente fator de proteção contra
demências; e com efeito positivo na saúde geral. Por isso, a partir da segunda
metade do século XX, propostas educacionais para aprendizagem ao longo da
vida, inicialmente voltadas para os adultos e a atualização profissional, esten-
deram-se para as pessoas idosas (Doll, 2022).
Os reflexos da conquista da longevidade e do envelhecimento populacional
para a organização da sociedade afetam a distribuição de recursos, políticas
públicas, mercado de trabalho e formação escolar e profissional. Além disso,
trazem o desafio educacional de incluir o tema do envelhecimento nos currí-
culos escolares e na formação profissional (Doll, 2022); e, especialmente, de
traduzir o contexto da universidade como um espaço educacional e de vivên-
cia intergeracional para todas as idades.
Logo, considerando que o Brasil dispõe de normas constitucionais e demais
30

dispositivos legais para garantia dos direitos da pessoa idosa e que a longevi-
dade conquistada evidencia sinais notórios de novas demandas sociais, pres-
supõe-se que a educação seja um instrumento primordial para a construção
da cidadania e promoção da dignidade da pessoa humana. Além do reconhe-
cimento de que há um novo papel da pessoa idosa em curso na sociedade
brasileira, inclusive no meio universitário.
Doravante torna-se fundamental ampliar a discussão coletiva sobre polí-
ticas públicas relacionadas ao papel das universidades frente ao envelheci-
mento populacional. Esse debate precisa trazer repercussões efetivas propa-
gando-se entre outras instituições afins e educacionais, com ênfase em ações
afirmativas, pois é evidente que tais ações são ferramentas cruciais para a ga-
rantia de acesso e permanência da parcela populacional envelhecida no meio
acadêmico. De modo a elevar o ensino superior a um novo patamar inclusivo
e não restritivo, especialmente do ponto de vista etário, ou seja, de uma uni-
versidade para todas as idades.

A pessoa idosa no contexto educacional e


universitário
Os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (IBGE, 2017) mos-
tram que a taxa de analfabetismo brasileira era de 7,0%, compreendendo um
contingente de aproximadamente 11,5 milhões de pessoas não escolarizadas.
Destas, 19,3% (2,9 milhões) estão acima dos 60 anos. Apesar da tendência
de queda, os números variam de acordo com a região geográfica, sendo no
Nordeste o maior contingente (14,5%) e no Sul, o menor percentual (3,5%).
No Censo da Educação Básica de 2016 (INEP, 2017) não consta informação
sobre pessoas idosas no ambiente educacional, embora seja notório o con-
vívio em meio social com pessoas idosas não alfabetizadas ou com baixa ins-
trução. Tal constatação aponta para a negligência do direito à educação e à
ausência/ineficiência de políticas públicas educacionais voltadas ao estrato
populacional envelhecido.
Quanto à Educação Superior, os dados do Brasil de 2017 (INEP, 2018) apon-
tam que 7.792 pessoas acima dos 65 anos estavam matriculadas em cursos de
graduação presencial ou à distância no Brasil, sendo que 2.461 possuíam mais
de 70 anos.
Nessa perspectiva, políticas públicas precisam ser estruturadas e reestru-
turadas no sentido de amparar e regulamentar as necessidades de um novo
perfil de envelhecimento que vem se configurando rapidamente em nosso
31

País. Para além da estruturação, o monitoramento da aplicabilidade desses


dispositivos legais é essencial, a fim de avaliar a sua factibilidade e exequibili-
dade. Portanto, cabe destacar os principais marcos históricos no âmbito das
políticas públicas relacionando-as com a área da educação.
Na busca da efetividade dos princípios constitucionais foi implementada no
Brasil a Lei nº 8.842, que dispõe sobre a Política Nacional da Pessoa Idosa
(PNI). Esta cria o Conselho Nacional do Idoso e, após seu advento, o Estado
proíbe qualquer tipo de discriminação às pessoas com idade avançada, bem
como incentiva a difusão de conhecimentos sobre o processo de envelheci-
mento à população brasileira (Cachioni & Todaro, 2016).
No que tange às questões ligadas à educação, seis intenções são destaca-
das na PNI, três delas, relacionadas à educação formal. Para que se possa re-
fletir sobre as questões relativas ao currículo e às metodologias para o ensino
de pessoas idosas é necessário o reconhecimento de programas destinados
a esse segmento e suas principais características (Cachioni & Todaro, 2016).
A Educação de Jovens e Adultos (EJA), ou como alguns locais já adotam a
nomenclatura de Educação de Jovens Adultos e Idosos (EJAI), é a modalidade
de ensino no âmbito da educação formal, voltada às pessoas não alfabetiza-
das ou com pouca escolarização. Essa modalidade atende as pessoas idosas,
mas não pode ser considerada como um programa educacional destinado,
exclusivamente, a este segmento (Cachioni & Todaro, 2016).
Em 2012, mais de 10 milhões de brasileiros com mais de 60 anos não sabiam
ler ou escrever, fazendo com que o analfabetismo funcional atingisse 49% das
pessoas acima de 60 anos (IBGE,2012). Lembrando que, o analfabetismo fun-
cional é considerado em pessoas com menos de quatro anos de estudos. Au-
tores como Oliveira & Oliveira (2019) destacam que a educação não é vista
como um direito isolado dos demais ou apenas de uma categoria ou geração
de direitos; mas sim, como um direito articulador e provedor da garantia de
vários outros direitos. Portanto, a garantia de uma educação de qualidade
para jovens, adultos e pessoas idosas é primordial na contemporaneidade.
Destaca-se ainda, que um dos objetivos da Meta 9 do atual Plano Nacional
de Educação (PNE 2014-2024) é a erradicação do analfabetismo absoluto até
2024. Porém, em 2021, haviam no Brasil quase 9,9 milhões de pessoas com
15 anos ou mais que não sabiam ler e escrever. Nesse contexto, vale ressaltar
que erradicar o analfabetismo significa também alfabetizar politicamente
as pessoas para transformarem criticamente a realidade, pois trata-se de um
fenômeno social e político reproduzido por um processo histórico de exclu-
são (Oliveira, 2022).
Já o Estatuto da Pessoa Idosa, outro marco legal importante, destaca em
32

seus artigos 20, 21 e 25, o direito à educação, respeitando a peculiar con-


dição etária. Portanto, refere que o poder público deve criar condições de
oportunidades para o acesso da pessoa idosa à educação, por meio de cursos
especiais para que se integre à vida moderna. Assim, esse dispositivo da Lei
delibera que as universidades devem criar, por exemplo, escolas abertas às
pessoas idosas, mas não faz menção a sua (re) integração em termos da edu-
cação formal na modalidade dos cursos superiores (Oliveira et al, 2016).
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), de 20 de dezembro
de 1996, no que se refere à Educação Superior, em seu Capítulo IV, estabelece
o estímulo à criação cultural, ao desenvolvimento do espírito científico e do
pensamento reflexivo. Contudo, não oferece pistas de inclusão da população
idosa que, não necessariamente, está em busca de alfabetização ou de quali-
ficação profissional, mas de conhecimentos que respaldam sua interação com
o mundo contemporâneo, sua compreensão e uma melhor vivência de sua
velhice.
Entre as pessoas idosas, comumente a procura pela escola está relacionada
à realização de uma vontade de aprender os conteúdos escolares. Dentre os
motivos destaca-se: associação do saber ler e escrever com uma melhor qua-
lidade de vida; a influência da escolaridade de filhos e netos é outro fator que
os impulsiona a estudar; além da busca por independência, de fazer amigos e
se sentir parte de um grupo social (Cachioni & Todaro, 2016).
O novo perfil de pessoa idosa, ocupando os espaços educativos, emerge
como um indivíduo que pensa e atua de forma diversa dos demais, exigindo
tratamento diferenciado, lutando pelos seus direitos e por sua cidadania. A
pessoa idosa do século XXI busca, por meio da educação, ocupar um espaço
social e, quando tem a possibilidade de ingressar em uma universidade, au-
mentam suas chances de participar ativamente do processo de aquisição de
novos conhecimentos, de contribuir para a construção de uma nova cultura a
partir da bagagem de experiências adquiridas nos anos vividos e de sentir-se
inserido na sociedade (Tavares, 2008). É possível supor que a educação se
configura como uma importante estratégia de superação da marginalização
do indivíduo frente à velhice (Oliveira, Scortegagna & Oliveira, 2009). Para
a garantia do direito à educação, a sociedade deve se basear em uma con-
cepção de inclusão não apenas como um movimento educacional, mas como
um processo social e político. Assim, a educação inclusiva não é aquela que
apenas aceita as diferenças, mas faz da diferença uma maneira distinta de
expressão e de operacionalização do mundo (Oliveira,Scortegagna & Silva,
2016).
No que se refere a metodologias de ensino, sabe-se que lidar com a diver-
sidade etária é desafiador, pois exige do corpo docente uma expertise na
33

preparação das aulas e seleção do material didático que será utilizado com
pessoas idosas, além de possuir a atitude livre de discriminação, preconceito
e estereótipo contra a idade. Ainda, é pertinente destacar a diversidade, não
somente etária, mas social, cultural, étnico-racial e sexual, entre outras que
existem nos espaços educacionais. Entretanto, pode-se afirmar que a prepa-
ração para o trabalho com pessoas idosas é ainda mais deficiente, uma vez
que demanda conhecimentos provenientes de outras ciências, como psico-
logia, medicina, nutrição, serviço social, dentre outras (Cachioni & Todaro,
2016).
Consoante ao Estatuto da Pessoa Idosa, é imperativo pontuar que, o po-
der público deve criar oportunidades de acesso desta parcela da população à
educação, adequando currículos, metodologias e material didático aos pro-
gramas educacionais a ela destinados.
No contexto da universidade, no que se refere ao desempenho de suas fun-
ções de ensino, pesquisa e extensão, percebe que se têm utilizado quase que
exclusivamente ações extensionistas para a educação das pessoas idosas no
sentido de proporcionar a inclusão, empoderamento e melhoria da qualidade
de vida desse segmento populacional (Oliveira, Scortegagna & Silva, 2016).
As primeiras universidades brasileiras foram criadas no Rio de Janeiro
(1920), em Minas Gerais (1927), Porto Alegre e em São Paulo (ambas em
1934). Atualmente, existem várias Instituições de Ensino Superior (IES), mas,
apenas a partir da década de 1990 se iniciou a implantação das políticas pú-
blicas de acesso a essas universidades.
Assim, no que tange a educação com pessoas idosas em âmbito universitá-
rio observa-se as iniciativas em Universidades Públicas Estaduais e Federais,
e também de instituições privadas, denominadas “Universidades Abertas à
Terceira Idade” (UnATI), que criaram cursos livres e programas voltados às
questões culturais, sociais e de saúde específicas para o público idoso, embo-
ra não sejam regulamentados e reconhecidos pelo MEC, enquanto mecanis-
mos formais de educação. Porém, questiona-se políticas de acesso do estu-
dante à universidade em termos do Ensino Superior, para além da iniciativa
das chamadas UnATI (Oliveira et al, 2016). No Brasil, atualmente, as UnATI são
denominadas de “Universidade Aberta da Pessoa Idosa (UNAPI)”.
As UNAPIs são programas de educação permanente que vêm consolidando
experiências significativas para o incentivo à cidadania das pessoas idosas,
por meio de ações interdisciplinares no contexto universitário como um meio
para promover o envelhecimento ativo (Yamasaki, Wanderbroocke & Camar-
go, 2019).
Mundialmente, o marco inicial das primeiras políticas educacionais para o
34

público da pessoa idosa foi na França, por volta de 1962, onde o país buscou
uma nova forma de integração das pessoas idosas no cotidiano francês e no
mundo do trabalho. A partir de 1973, o professor Pierre Vellas, que lecionava
ciências humanas e sociais na Universidade de Toulouse, incitado pela exclu-
são de pessoas idosas frente aos direitos sociais, especializou-se em políti-
ca internacional para pessoas idosas, criando na instituição a “Universitè du
Troisième Âge“ (Universidade da Terceira Idade). O programa tinha por obje-
tivo promover a integração social, a partir da análise das experiências de vida
e dos discursos trazidos por esses estudantes idosos sobre assuntos referen-
tes à saúde e educação (Cachioni, 2012).
Almeida e Oliveira (2013) afirmam que a criação desses programas volta-
dos para a população idosa nas universidades só ocorre porque o envelheci-
mento populacional foi uma conquista específica do século XX.
No Brasil, a primeira UNAPI foi uma iniciativa da Universidade Federal de
Santa Catarina (UFSC) em 1982, nominada Núcleo de Estudos da Terceira
Idade (NETI), o qual é reconhecido nacionalmente como um modelo de in-
tervenção gerontológica que realiza educação permanente para o envelhe-
cimento e promove a inclusão da pessoa idosa no meio universitário (Schier
et al, 2013). Tal modelo foi fundamentado nas referências da Universidade da
Terceira Idade da França.
A participação das pessoas idosas no processo educativo torna-se fator
preponderante à sua qualidade de vida, pois através dela conseguirão man-
ter-se integrados à sociedade, desenvolvendo seu senso crítico e sendo reco-
nhecidas como agentes de sua própria história (Martins, Casetto & Guerra,
2019).
Entretanto, a presença da pessoa idosa na educação formal no Brasil ainda
é incipiente e carece de estudos e investigações, o que configura um fator
importante para a implementação de políticas públicas e sociais específicas.
O Ensino Superior apresenta-se como uma alternativa viável para a reformu-
lação dos programas educativos que favoreçam a pessoa idosa a oportunida-
de de aprendizagem inovadora, significativa e inclusiva em todos os aspectos
humanos, desde que adequadamente qualificada nas diferentes áreas de en-
sino (Oliveira et al, 2016).
Sendo assim, conforme aponta uma revisão de literatura (Vagetti et al.,
2020) que buscou caracterizar a produção científica do conhecimento sobre
políticas públicas para pessoas idosas no Brasil, não foi identificado um do-
cumento referente exclusivamente à política nacional de educação para pes-
soas idosas. Os autores mencionam que o Brasil, atualmente, possui relevan-
tes recursos legais para o enfrentamento da violência contra à pessoa idosa,
garantias da saúde e o direito da assistência social à pessoa idosa. Contudo,
no campo da educação, os direitos se apoiam em leis gerais da educação e no
Estatuto da Pessoa Idosa, sem a observação de direitos legais apoiados em
35

políticas nacionais específicas para a educação da pessoa idosa.

Ações afirmativas: garantia de acesso e permanência


da pessoa idosa na universidade
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a pessoa idosa é todo in-
divíduo com 60 anos ou mais. Todavia, para efeito de formulação de políticas
públicas, esse limite mínimo pode variar segundo as condições de cada país.
A própria OMS reconhece que, qualquer que seja o limite mínimo adotado,
é importante considerar que a idade cronológica não é um marcador preci-
so para as alterações que acompanham o eenvelhecimento. Portanto, podem
existir grandes variações quanto a condições de saúde, nível de participação
na sociedade e nível de independência entre as pessoas idosas, em diferentes
contextos (WHO, 2002).
A Constituição Federal de 1988 assegurou a pessoa idosa brasileira leis es-
peciais para a garantia de direitos necessários a uma vida digna e com parti-
cipação social cidadã; sendo o direito à educação um importante instrumento
para a construção da cidadania e promoção da dignidade da pessoa humana.
Sabe-se que a universidade, além de formar profissionais qualificados, de-
sempenha valoroso papel no desenvolvimento de estudos e pesquisas acerca
dos fenômenos decorrentes do processo de envelhecimento humano, na ge-
ração de novas tecnologias e de conhecimentos basilares para a tomada de
decisão em políticas públicas e na estruturação de serviços. Portanto, a pes-
quisa, o ensino e a extensão universitária são considerados pilares que sus-
tentam a produção, sistematização e socialização dos diversos saberes que
contribuem para a formação do ser humano e do profissional com consciên-
cia crítica, atitude ética e solidária no ato de viver e conviver em sociedade.
Pesquisa de Rodrigues, Mafra & Pereira (2018), investigou a importância
do acesso à educação formal para a promoção da cidadania da pessoa ido-
sa brasileira, constatando que esse sujeito vem sendo negligenciado e que
não figura na pauta das políticas educacionais. Assim, indicam a necessidade
de conceber a pessoa idosa como detentora do direito à educação e imple-
mentar políticas públicas de acesso e permanência, de modo factível, ou seja,
que assegure o exercício desse direito. Nesta perspectiva, acredita-se que
da mesma forma que Educação de Jovens e Adultos no Brasil nunca foi vista
como prioridade, a preocupação com a educação formal das pessoas idosas a
nível superior, além de ser uma experiência nova para as universidades, con-
tinua carregando esse estigma de pouca valorização e invisibilidade.
O debate sobre a inserção deste público com mais idade nos cursos de gra-
36

duação do ensino superior é pouco explorado. Reis, Meira & Moitinho (2018)
realizaram um levantamento sobre produções acadêmicas e identificaram
uma lacuna de estudos envolvendo o acesso de pessoas idosas no Ensino Su-
perior, sendo que nas buscas a maioria dos estudos encontrados foram re-
lacionados à Universidade Aberta da Pessoa idosa (UNAPI), o que não se en-
quadra ao ensino formal. Os autores reforçam por meio dos dados do Censo
de Educação Superior de 2015, que apesar da transição demográfica Brasil,
a presença de estudantes com mais de 60 anos no Ensino Superior no Brasil,
em comparação ao número de pessoas idosas, é muito reduzida, pois corres-
pondia apenas 0,57% das matrículas.
Estudo de Fernandes (2020) buscou compreender as relações de reconhe-
cimento que os alunos que são pessoas idosas mantêm com a universidade,
identificando uma heterogeneidade nos modos como esses sujeitos atribuem
sentidos sobre sua relação com a Instituição de Ensino Superior. Dentre os
temas emergentes identificou-se: as relações intergeracionais, em que as
pessoas idosas universitárias falaram sobre as vivências e o aprendizado com
os colegas mais novos, o sentimento de exclusão dos grupos de trabalho e a
ausência do reconhecimento do próprio sujeito enquanto pessoa idosa. Outro
tema foi os estereótipos sobre a velhice, no qual identificou-se diferença no
tratamento destinado às pessoas idosas mulheres, as quais frequentemente
são questionadas sobre o motivo do retorno aos estudos, além de acusações
sobre roubar o lugar do jovem. O terceiro tema identificado diz respeito a
acessibilidade das pessoas idosas com deficiência, em que as sugestões de
melhorias são tão diversas quanto os modos de viver a velhice e as lutas por
reconhecimento na universidade não são travadas por todos os participantes
do estudo.
Santos (2017) buscou compreender o percurso singular de uma pessoa
idosa estudante no contexto do curso de Fonoaudiologia da Universidade Fe-
deral da Bahia. A partir de uma análise das falas do sujeito, percebeu que por
vezes a pessoa idosa é colocada em posição na qual parece não haver mais
espaço para sua permanência, ou seja, há um estranhamento em ambientes
compostos predominantemente por jovens. Assim, observou-se a importân-
cia dos contatos intergeracionais para a construção e desconstrução de pre-
conceitos, tendo em vista o ganho mútuo adquirido por meio das trocas de
saberes e experiências.
Fernandes, Meucci & Geremias (2021) estudaram um grupo de pessoas
idosas que frequentava regularmente a Universidade Federal de Viçosa e
identificaram que o reconhecimento familiar, principalmente, no estímulo ao
ingresso e permanência no Ensino Superior tornou-se fundamental no pro-
cesso de vínculo social com a universidade. O apoio recebido dos familiares
contribuiu na defesa do direito de estudar, promovendo o desenvolvimen-
37

to de autoconfiança para permanecer em um ambiente que, historicamente,


não foi projetado para receber essas pessoas como estudantes universitários
e que pode ser hostil à presença delas.
Além disso, uma das principais barreiras de entrada de pessoas idosas es-
tudantes na universidade é o desconhecimento e/ou a inabilidade em operar
aparelhos tecnológicos, seja o celular, o tablet ou o computador. Portanto,
atualmente é imprescindível o acesso à Tecnologia Digital, bem como a ne-
cessidade de apoio da universidade no desenvolvimento de atividades que
possibilitem às pessoas idosas tornarem-se capazes de utilizar tais dispo-
sitivo, de modo que se sintam devidamente incluídas no âmbito acadêmico
(Ehmke et al., 2020).
Os principais motivos que levam as pessoas idosas a buscar o Ensino Supe-
rior se vinculam à realização profissional e pessoal, ao prazer de elevar a au-
toestima e à participação nas atividades da sociedade contemporânea. Para
esses sujeitos, o apoio e o incentivo da família para o ingresso no ensino supe-
rior, a própria mobilização e as referências sociais e institucionais são deter-
minantes. Neste cenário, tornam-se necessárias mais pesquisas sobre o aces-
so e a permanência das pessoas idosas no Ensino Superior, como também
aumentar o debate sobre políticas e estratégias educacionais adequadas
à essa população, cada vez mais presente no cenário social e educacional
(Reis, Meira & Moitinho, 2018).
Diante disso, são necessários encaminhamentos para o fortalecimento das
políticas para pessoas idosas na universidade, que abrangem a educação so-
bre a velhice, o processo de envelhecimento e os direitos das pessoas idosas,
o estímulo à convivência entre pessoas de diferentes idades, a conscientiza-
ção dos familiares para que haja reconhecimento e apoio para permanência,
além da ampliação dos atendimentos da Unidade de Políticas Inclusivas (Fer-
nandes, 2020; Fernandes, Meucci & Geremias, 2021).
Portanto, a construção de políticas públicas envolvendo ações afirmativas
que garantam tanto o acesso quanto a permanência da pessoa idosa no Ensi-
no Superior são incipientes, mas urgentes.
O termo Ação Afirmativa refere-se a um conjunto de políticas públicas para
proteger minorias e grupos que, em uma determinada sociedade, tenham
sido discriminados. Assim, busca reconhecer as desigualdades e remover
barreiras que impeçam o acesso de certos grupos ao mercado de trabalho,
universidades e posições de liderança. Portanto, por meio de ações pontuais e
por um período provisório, criam-se incentivos aos grupos minoritários bus-
cando o equilíbrio em sua participação e composição nas diversas instituições
que fazem parte da sociedade. Sendo assim, a Ação Afirmativa, configura-se
38

como forma de discriminação positiva, é uma política de aplicação prática e


tem sido implementada em diversos países, variando o público a que se des-
tina. No Brasil, a implementação desse tipo de política pode ser observada
com as cotas nas universidades, com base em dados raciais (Oliven, 2007).
Outro exemplo, é a Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991, a qual dispõe sobre
a reserva de vagas no mercado de trabalho para as pessoas com deficiência
(Brasil, 1991).
Para pensarmos tais ações, torna-se necessário conhecer o perfil da popu-
lação idosa que acessa a universidade para entendermos suas perspectivas
e suas necessidades. Neste sentido, acredita-se que são pessoas idosas dife-
renciadas, pois conseguiram romper várias barreiras para dar continuidade
aos estudos nesta etapa da vida. Assim, dentre tantas possibilidades, podem
buscar a realização profissional adiada por diversas circunstâncias da vida, na
qual a entrada na universidade poderá permitir novas perspectivas de ascen-
são social. Ou ainda, podem ser pessoas já com nível de escolaridade superior
e que retornam ao ambiente universitário para um novo projeto de vida após
a aposentadoria. No entanto, seja qual for o perfil, são estudantes que neces-
sitam de um olhar diferenciado para que permaneçam em busca da realiza-
ção de suas metas e objetivos no meio universitário.
Neste contexto, surge um relato de experiência inovadora vivenciada na
Universidade Federal de Santa Catarina, em que por meio da Secretaria de
Ações Afirmativas e Diversidades (SAAD/UFSC) foi instituído em 2019 um
grupo de trabalho composto por representantes docente, discente e técni-
co-administrativo em educação com o objetivo de estudar e propor uma polí-
tica institucional de acesso e permanência para pessoas idosas estudantes. A
primeira preocupação do Grupo de Trabalho constituído foi buscar em outras
instituições nacionais de Ensino Superior a informação quanto a existência
de uma política institucional ou algum outro dispositivo interno que visasse
a garantia de acesso e permanência da pessoa idosa no meio acadêmico e ou
atividades de extensão. O contato realizado, por meio de correio eletrônico,
obteve dezessete (17) respostas sem indícios de atenção específica dirigida a
esse grupo etário. Desse modo, ressalta-se que a iniciativa de ação afirmativa
visando a garantia de direito à educação formal para a pessoa idosa, demons-
trava caráter pioneiro no âmbito das instituições de Ensino Superior no Brasil.
Por meio da destinação dos recursos públicos aos direitos sociais, se men-
sura a democratização do Estado e da universidade. Desse modo, a real inclu-
são de questões emergentes, como o envelhecimento populacional e a po-
pulação idosa dentro da universidade demandam um pensar interdisciplinar
e aberto. Para tanto, a universidade deve contemplar a pessoa idosa em sua
estrutura institucional, cumprindo sua função social, promovendo pesquisas
e qualificando recursos humanos, numa perspectiva de inovação social que
contemple ensino, pesquisa e extensão de forma indissociável, e com uma
39

estrutura mais flexível e interdisciplinar, que o tema demanda (Silva, Souza &
Sousa, 2017).

Algumas considerações
A Constituição Federal Brasileira (Brasil, 1988) expressa um conjunto de di-
reitos conquistados, individuais e sociais, de fundamental importância ao co-
nhecimento da população idosa, tendo em vista que são regidos pelos princí-
pios da igualdade, da equidade e da justiça social. De igual modo, imprescindível
é o conhecimento da legislação específica voltada a essa população, o Estatuto
da Pessoa Idosa - Lei nº10.741 (Brasil, 2003), que traz a condição expressa das
medidas de proteção a pessoas a partir de 60 anos, dos direitos das pessoas
idosas, das obrigações das entidades assistenciais e das penalidades em situa-
ções de desrespeito a esse segmento que mais cresce, no Brasil.
Ao mesmo tempo em que o envelhecimento populacional evidencia gran-
des conquistas da humanidade, representa um enorme desafio aos diferen-
tes gestores governamentais. E, nesse sentido, a aplicação e continuidade de
legislações referentes à pessoa idosa requerem comprometimento social do
Estado que, por sua vez, é realizado a partir do controle democrático da so-
ciedade, possibilitando que políticas públicas sejam efetivas a esse segmento.
Ainda, é igualmente efetivo o compromisso social firmado para possibilitar
um envelhecimento digno às pessoas idosas que tanto contribuíram e ainda
muito podem contribuir para o desenvolvimento do país e na construção do
conhecimento.
É salutar o reconhecimento da pessoa idosa muito além de sua atividade
produtiva, mas de seu trabalho intelectual e de sua história de vida, de sua
memória que possibilita a reconstrução do passado que é constituinte do
presente, e da própria natureza humana em todas as suas fases.
O envelhecimento ativo contribui para o protagonismo social da pessoa ido-
sa em direção à participação, independência, autonomia, corroborando para
que o acesso aos espaços que contemplem a educação permanente, cultura,
esporte e lazer, efetivem o direito e a cidadania dos mesmos, como preconiza
o Estatuto da Pessoa Idosa (Brasil, 2003). Ainda, a Lei de Diretrizes e Bases
da Educação Nacional, por sua vez, estabelece que a educação é dever da fa-
mília e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solida-
riedade humana tendo por finalidade o pleno desenvolvimento do educando,
seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho
(Brasil, 1996).
Nesse contexto, Freire (2013) adverte que o importante para uma educa-
40

ção libertadora é que os indivíduos se sintam sujeitos de seu pensar, discutin-


do o seu pensar, sua própria visão do mundo, manifestada implícita ou expli-
citamente, nas suas sugestões e nas de seus companheiros.
Assim, para a desafiante transformação do presente, considerando-se as
históricas desigualdades sociais brasileiras, cada vez mais é necessário o sa-
ber de cada um e o saber coletivo. Todavia, em leis como as Diretrizes e Ba-
ses da Educação Nacional – LDB (Brasil, 1996) e no Estatuto da Pessoa Idosa
(Brasil, 2003), a educação parece não estar contemplada como um problema
social que afe­ta grande parte da população idosa (19,3%) com pouca ou ne-
nhuma escolarização, sobretudo, as mulheres, os negros, os indígenas e os
residentes em área rural, segundo dados da PNAD – 2017 (IBGE, 2018). Ain-
da, os dados demonstram que os con­trastes regionais são muito significativos
e as taxas de analfabetismo estão diretamente relacionadas à renda familiar.
Tal situação reflete o descaso do Estado brasileiro quanto à educação como
direito universal, o que requer condições de acesso e permanência nas insti-
tuições de ensino, para se evitar o rápido retorno à condição de analfabeto.
Para isso, são prementes estratégias específicas, por segmento etário, con-
tratação de maior número de professores e sua respectiva qualificação, am-
pliação e qualificação de políticas e de programas educacionais que conside-
rem diferentes perfis da população, especialmente, a idosa.
O acesso e permanência da pessoa idosa em diferentes níveis de aprendiza-
gem é primordial, refletindo diretamente na ampliação do espaço social e de
convivência que ocupa, possibilitando maior participação na vida social e eco-
nômica. Pois, sabe-se que a educação pode contribuir para o processo de for-
mação e emancipação da pessoa humana, contribuindo para a sua autonomia
e dignidade. Por vezes, a pessoa idosa retorna aos estudos após longo tempo
longe das instituições de ensino e reconhece os benefícios desse acesso para
a sua vida e no seu processo de envelhecimento.
Sendo assim, a educação possibilita novas aprendizagens, a percepção am-
pliada do envelhecimento e da própria velhice, melhor compreensão de po-
líticas e serviços públicos, maior participação social, o engajamento em es-
paços coletivos que desafiem a pessoa idosa a atuais reflexões sobre a vida
social, o cotidiano e o processo contínuo de formação.
Nesse sentido, é primordial a ampliação de investimentos em políticas pú-
blicas na área do envelhecimento, propiciando que todos cheguem à velhice
com melhores condições de vida. Ainda a destinação de recursos na área da
educação possibilita o aumento de matrículas, o aumento de professores, a
manutenção e ampliação de necessários projetos de pesquisa para o forta-
lecimento da ciência, considerando-se que o desenvolvimento e o futuro do
41

país acontecem pela educação.


Portanto, o planejamento de políticas educacionais e de políticas públicas,
como um todo, requer constantes revisões e ajustes considerando a oscila-
ção de cenários sociais, econômicos e demográficos para a necessária mo-
dernização do sistema educacional e eliminação das desigualdades sociais,
principalmente no que se refere ao Ensino Superior em nosso país. Com isso,
deve-se pensar sobre ações para a ampliação de vagas, o acesso de todos aos
diferentes espaços acadêmicos como áreas de convivência, biblioteca, com-
putadores, laboratórios e a outros recursos educacionais que muito contri-
buem no aprendizado da pessoa idosa. Pois, pelo que se percebe tais recur-
sos, no momento, são privilégios para uma minoria de estudantes, dado as
disparidades resultantes da ampla desigualdade social, sendo o investimento
público um importante instrumento para a reversão desse quadro.
Sendo assim, o debate sobre políticas públicas envolvendo ações afirmati-
vas para o facilitar o acesso e a permanência da pessoa idosa no Ensino Su-
perior devem ganhar destaque para dar visibilidade à problemática e, com
isso, entrar para a agenda de prioridades dos legisladores em nosso país. As-
sim, entende-se que alguns temas são importantes para a elaboração dessas
ações afirmativas como: as relações intergeracionais, estereótipos sobre a
velhice, acessibilidade, inclusão digital, apoio pedagógico e familiar, perfil e
demandas da população idosa que acessa a universidade, capacitação docen-
te incluindo o seu próprio processo de envelhecer. Tais ações são necessárias
e devem existir para que a inclusão da população idosa no ambiente acadê-
mico não cause mais estranhamentos e possamos identificar na universidade
sua função social sendo um espaço em que o conhecimento e seus desdobra-
mentos possam ser acessados por todas as idades.
42

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45

Contribuições das universidades para o


envelhecimento ativo
Maria Fernanda Baeta Neves Alonso da Costa 1, Fábio Marcelo Matos 2

Resumo
Estudo que buscou refletir sobre as contribuições das universidades para o enve-
lhecimento ativo. Método: revisão narrativa da literatura, nas bases de dados ERIC
(Educação; abrangência mundial); SciELO (Multidisciplinar; principalmente revistas
latino-americanas, de Portugal e da Espanha); Scopus (Multidisciplinar; abrangên-
cia mundial); Web of Science (Multidisciplinar; abrangência mundial) e LILACS (Li-
teratura latino-americana e do Caribe em Ciências da Saúde), nos últimos 5 anos,
com coleta em outubro de 2022. Resultados: os resultados deste estudo mostram a
complexidade do conceito de envelhecimento ativo e a necessidade de diversificar
ações nas universidades que possibilitem aprender ao longo da vida. Considerações
finais: torna-se primordial a implantação de políticas baseadas em evidências que
incorporem oportunidades de aprendizado adequadas à pessoa idosa no seu per-
curso de vida.
Palavras-chave: políticas públicas; envelhecimento ativo; universidades; pessoa
idosa.

Introdução
A longevidade é uma realidade mundial e o envelhecimento populacional,
é um marco na contemporaneidade, é o maior fenômeno demográfico e so-
cial da atualidade. A pessoa idosa, nos últimos anos, vem assumindo cada vez
mais um papel relevante na sociedade brasileira. A identificação de diferentes
problemas, discriminações e preconceitos existentes na sociedade justifica a
formulação e a implementação de políticas públicas voltadas a essa popula-
ção.
No Brasil a legislação dirigida ao(a) velho(a) que se encarrega de abordar
o tema da educação é a Política Nacional da Pessoa Idosa (BRASIL, 1994), no
capítulo IV art.10 – III – na área da educação, preconiza que os currículos,
metodologias e material didático devem se adequar aos programas educacio-
nais destinados ao(a) velho(a), assim como, devem ser desenvolvidos progra-
mas que adotem modalidades de ensino à distância, adequados às condições
1
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). E-mail: [email protected]
2
Universidade Regional de Blumenau (FURB). E-mail: [email protected]
46

dos(as) velhos(as); e também preconiza que como meio de universalizar o


acesso às diferentes formas de saber, se deve apoiar a criação de Universida-
des Abertas para a Terceira Idade (UNATI). À exceção do apoio à criação de
UNATI, as outras diretrizes citadas, ainda não se concretizaram (Lins, 2020).
Também, é no Estatuto da Pessoa Idosa (Lei nº.10.741/2003 de 1º de outu-
bro de 2003), que o velho (a) brasileiro(a) tem assegurado direitos especiais,
pois, esta é a principal Lei para esse fim. Entre esses direitos especiais, está
o direito à educação e o acesso a essa educação, sobre os quais versam os
artigos 20, 21 e § 1º, respectivamente, do capítulo V do referido documento
(Lins, 2020).
A UNATI surge como possibilidade de inserção da pessoa idosa em um es-
paço educacional não formal, que visa a integração social, aquisição de co-
nhecimentos, elevação da autoestima, valorização pessoal, ao conhecimento
dos direitos e deveres, e ao exercício pleno da cidadania. Os programas vin-
culados às universidades cumprem um papel fundamental na democratiza-
ção da aprendizagem ao longo da vida (Cachioni & Flauzino, 2020).
Assim, as instituições de ensino superior assumem sua responsabilidade
social, pois, além da questão social, a criação de UNATI, com o apoio do poder
público, assim como, ações educacionais voltadas para ele, são necessárias
para a superação de uma visão assistencialista (BRASIL, 2003).
As questões referentes à temática do envelhecimento afetam diretamente
as universidades, visto que os estudantes de todas as áreas formativas atuarão
como pesquisadores e profissionais, em uma sociedade em envelhecimento
ou envelhecida, e precisarão estar preparados para os desafios deste cenário.
A presença de pessoas idosas no campus universitário aproxima o encontro
de gerações. Entende-se que atitudes positivas sobre o envelhecimento e seu
cotidiano são essenciais para combater o idadismo, uma ocorrência mundial
que se manifesta em forma estereotipada e discriminada contra as pessoas
idosas porque são velhas (Cachioni & Flauzino, 2020).
A educação requer do sujeito o desenvolvimento de atitudes do aprender
para o autoconhecimento, comunicação, empatia, resolução de conflitos e a
realização de tarefas, utilizando-se de uma bagagem de conhecimentos teó-
rico-práticos construídos em seu trânsito de vida, de modo a tomar para si
uma consciência crítica do mundo e das práticas sociais (Pereira, Todaro &
Cachioni, 2021).
Em Portugal, o nível de escolaridade dos adultos mais velhos é muito infe-
rior ao nível de escolaridade da população adulta em todo o país. A média de
anos de escolaridade é de 6,3, o que significa que a maioria dos adultos mais
velhos não teve acesso ao ensino médio ou deixou de estudar antes disso.
47

Além disso, as mulheres têm níveis de escolaridade ainda mais baixos. Como
regra, a educação é construída no início da vida e afeta a saúde futura de uma
pessoa em muitos aspectos. As pessoas com mais anos de escolaridade ten-
dem a ter maiores rendimentos, ocupações mais seguras, mais autoestima,
mais aderência a comportamentos saudáveis e mais recursos para a busca
oportuna de cuidados de saúde (Cachioni al., 2021).
Segundo Cachioni et al. (2021), a feminização da velhice é um fenômeno
reconhecido mundialmente e se deve à diminuição das taxas de mortalidade
das mulheres em relação aos homens. As mulheres são a maioria na popula-
ção adulta idosa em todas as regiões do mundo. Estima-se que elas vivem, em
média, de 5 a 7 anos a mais do que os homens. Entretanto, ao longo de suas
vidas, as mulheres acumulam desvantagens como violência, discriminação,
salários mais baixos que os homens, turnos duplos, baixo nível de educação,
solidão devido à viuvez, pobreza e dependência de recursos externos. As pes-
quisas também apontam que são as mulheres, a imensa maioria, que frequen-
tam as Universidades da Terceira Idade.
Na velhice, uma forma de assistência para as mulheres é sua rede de apoio,
que em muitos casos é composta por membros da família que atendem as
necessidades que os programas governamentais não atendem. Em troca, elas
também prestam apoio aos membros de suas famílias, pois muitas vezes são
provedoras através de seus pagamentos de aposentadoria, pensões e outros
benefícios. Estas mulheres desempenham um papel social importante como
avós e cuidadoras, fornecendo ajuda a amigos doentes ou vizinhos e assumin-
do cada vez mais responsabilidades (Cachioni et al., 2021).
Fatores de risco para incapacidade, morbidade e mortalidade têm sido
amplamente debatidos, mas, recentemente, abordagens que enfocam o en-
velhecimento como fase em que é possível desfrutar de bem-estar têm se
destacado. Nesse sentido, há quase duas décadas, foi lançada a política de
envelhecimento ativo, cuja estrutura está centrada na otimização das oportu-
nidades de saúde, participação, segurança e aprendizagem ao longo da vida
(Derhun et al., 2022).
Para a Organização Mundial da Saúde (OMS), as oportunidades de aprendi-
zado na terceira idade são determinantes do envelhecimento ativo, pois oti-
mizam as oportunidades de saúde, participação, educação permanente, se-
gurança e melhor qualidade de vida. Tais afirmações reforçam que deve haver
mais atenção dos formuladores de políticas públicas e autoridades sobre a
necessidade de ampliação do acesso a programas universitários, e que estes
atendam às necessidades das pessoas idosas (Derhun et al., 2019).
48

Ao ponderar as particularidades de tal cenário e a complexidade das de-


mandas da população idosa, que exigem dos serviços e profissionais a capaci-
dade de resposta orientada por políticas públicas, pergunta-se: quais as con-
tribuições das universidades para o envelhecimento ativo?
Segundo Derhun et al. (2022), as contribuições das universidades se re-
ferem à capacidade das atividades ofertadas permitirem às pessoas idosas
perceberem-se com potencial para o próprio bem-estar e engajamento na
sociedade. As pessoas idosas têm melhor autoavaliação, comportamento e
responsabilidade pela saúde e melhor nível de atividade física, capacidade
cognitiva, convívio social e qualidade de vida.
As atividades de aprendizagem não formais, quando ocorrem de forma in-
clusiva e equitativa, têm mostrado impacto no bem-estar das pessoas idosas
e assegurados, mesmo aos mais vulneráveis, uma estratégia compensatória
para fortalecer suas capacidades de autonomia e satisfação com a vida.
Além disso, a aprendizagem ao longo da vida nas UNATIs tem envolvido a
promoção de estilos de vida saudáveis, uma vez que a participação no con-
texto tem sido reconhecida como preditor de comportamentos favoráveis à
saúde, melhorando a autoavaliação de saúde e a qualidade de vida. Porém,
pondera-se que o engajamento parece não ter efeito sobre condições crôni-
cas já instaladas, tendo implicações para a saúde por meio de mudanças em
comportamentos e acesso aos recursos de saúde.
Exemplos de fatores de risco potencialmente minimizados são a ausência
de suporte social, a solidão, a dependência para atividades cotidianas, o com-
prometimento cognitivo, a depressão, as condições crônicas, a autopercep-
ção de saúde negativa, o estado de fragilidade e o desempenho físico baixo/
ruim. O envelhecimento ativo vai além de uma responsabilidade individual,
configurando-se como uma meta para que os entes federativos estimulem,
por meio de políticas públicas, o engajamento das pessoas idosas em tarefas
significativas (Derhun et al, 2022).
Muitos fatores contribuem para a longevidade e o processo dinâmico do
envelhecimento ativo: genética, gênero, comportamento, classe socioeconô-
mica, cultura e meio ambiente. Ou seja, o envelhecimento não é apenas um
processo biológico, mas um processo determinado por uma série de fatores
biológicos, sociais, psicológicos e ecológicos. Como consequência, há uma
grande diversidade de perfis entre as pessoas idosas com uma ampla gama de
necessidades. Isto também é visto pela Organização Mundial da Saúde (OMS)
que desenvolveu o Modelo dos determinantes do envelhecimento, o que re-
flete a influência de vários fatores que afetam o envelhecimento processo e
impacto no envelhecimento ativo (Álvarez-García et al., 2018).
49

A Organização Mundial da Saúde (OMS) desenvolveu o Modelo dos deter-


minantes do envelhecimento, que reflete a influência de vários fatores que
afetam o processo do envelhecimento e o impacto no envelhecimento ativo.
Existem fatores externos: determinantes transversais (cultura e gênero), de-
terminantes relacionados aos serviços de saúde e serviços sociais, determi-
nantes relacionados ao ambiente físico (ambientes físicos adaptados), deter-
minantes relacionados com o ambiente social (apoio social, oportunidades de
educação e aprendizagem, etc.), determinantes econômicos que influenciam
saúde das pessoas, segurança e oportunidades de participar ativamente na
sociedade (Álvarez-García et al., 2018).
A participação implica física, social, econômica, cultural, cognitiva, e ativi-
dades espirituais em interação com o meio ambiente. Apoio à participação
em atividades socioeconômicas, atividades culturais e espirituais, de acordo
com seus direitos humanos básicos, habilidades, necessidades e preferências
através de políticas sociais e programadores do mercado de trabalho, empre-
go, educação e saúde, com as pessoas idosas contribuindo de forma produ-
tiva para a sociedade através de atividades remuneradas e não remuneradas
como eles ficam mais velhos (Álvarez-García et al., 2018).
O termo segurança significa segurança e proteção; ter nutrição básica, mo-
radia, e acesso a serviços essenciais que melhoram o padrão de vida e que
atendem às necessidades sociais, financeiras e de segurança física e aos di-
reitos das pessoas à medida que envelhecem. As famílias e comunidades re-
cebem apoio em seus esforços para cuidar de seus membros mais antigos.
Finalmente, a aprendizagem ao longo da vida é necessária para investir em
treinamento e processos destinados a fortalecer as habilidades e capacidades
para melhorar a autonomia das pessoas idosas (Álvarez-García et al., 2018).
Embora o conceito de envelhecimento ativo tenha sido amplamente utiliza-
do como uma estrutura que sustenta uma visão otimista do envelhecimento,
poucos estudos têm se concentrado nas atividades que ele engloba e o que as
pessoas idosas aprendem. Segundo, Villar et al (2020) há dois tipos principais
de aprendizagem: autofocada e centrada em outros, cuja frequência difere
dependendo da atividade em que os participantes estão envolvidos.
Quando pensamos no processo de aprendizagem, a aplicação das diretrizes
da política pública do envelhecimento ativo é uma possibilidade viável uma
vez que as universidades e outras Instituições de Ensino Superior (IES), são
territórios de desenvolvimento deste modelo, pois tem na sua composição
a diversidade do conhecimento, a múltipla formação de seus profissionais, a
capacidade da realização de relações intergeracionais entre as pessoas ido-
sas, os especialistas, os acadêmicos e toda a comunidade no entorno, geran-
50

do uma territorialidade a pessoa idosa que passa a ser palco para efetivação
de ações e ensaios por meios de pesquisa e extensão.
Para Matos (2018), para que esta política pública possa dar respostas efica-
zes e gradativas nos territórios modificando padrões locais do envelhecimen-
to precisa de um criterioso pacto com a sociedade seguindo estruturalmente
aquilo que se propõe, pois o conceito de envelhecimento ativo da OMS cap-
tura essa visão positiva e holística do envelhecimento e a utiliza tanto como
aspiração individual quanto como meta de políticas e aplica-se igualmente a
indivíduos e sociedades.
Em se tratando de aspirações individuais, a atividade autofocada, implica
principalmente em benefícios individuais, em termos de saúde, bem-estar,
autorrealização, ou desenvolvimento pessoal, mas nenhuma outra pessoa
está envolvida ou afetada pela atividade. Cursos de treinamento nos quais
participam pessoas mais velhas, em prol de aprendizagem, ou atividades de
lazer baseadas no enriquecimento cultural representam bons exemplos de
atividades de envelhecimento autofocada. Enquanto que, a atividade centra-
da em outros, contribui para o desenvolvimento de outras pessoas ou da co-
munidade, ou da sociedade como um todo. Programas de voluntariado são
bons exemplos de outras atividades centrada em outros (Villar et al, 2020).
É razoável pensar que pessoas mais velhas adquirem algum tipo de apren-
dizado como resultado de seu envolvimento em atividades de envelhecimen-
to ativo. Os resultados da aprendizagem são definidos como qualquer tipo de
mudança pessoal, em termos de conhecimentos, habilidades ou atitudes, que
as pessoas percebem em decorrência da sua participação em uma determina-
da atividade, independentemente de sua natureza. Em geral, as pessoas mais
velhas mantêm seu compromisso com a atividade independentemente dos
custos, em termos de tempo e esforço e independentemente dos possíveis
inconvenientes que a atividade também pode envolver (Villar et al, 2020).
No caso de atividades que acontecem em contextos educacionais não for-
mais, os resultados de aprendizagem podem corresponder ao conjunto de
conhecimentos, habilidades instrumentais, atitudes desenvolvidas nas ativi-
dades cotidianas, sociais e comunitárias.
Segundo Villar et al, (2020), as pessoas idosas que realizam atividades de
envelhecimento ativo parecem ver as atividades como uma experiência de
aprendizado, que vai muito além de qualquer objetivo educacional formal, e
são capazes de desenhar lições que eles consideram importantes para suas
próprias vidas. Estas lições de vida podem, por sua vez, ser a chave para en-
tender seu envolvimento na atividade.
Outro ponto importante que foi observado em relação às variáveis socio-
demográficas. Nenhuma delas parecia influenciar nos resultados de apren-
51

dizagem relacionados ao autoconhecimento, habilidades instrumentais ou


sociais. No entanto, quanto mais instruída for a pessoa, mais ela será capaz
de identificar o conhecimento social como um resultado, por ter um nível de
educação mais elevado (Villar et al, 2020).
Segundo Martins et al (2019), 36 UNATIs federais brasileiras oferecem es-
paço à participação das pessoas idosas, por meio de cursos palestras, oficinas
e atividades de lazer, dispondo de núcleos de estudo vinculados à extensão e
pesquisa, projetos e programas direcionados a essa faixa etária ou ainda ce-
lebrando algum tipo de parceria com fundações, associações, estados e mu-
nicípios. Apenas três delas, a exemplo da Universidade Federal de São Paulo
campus Baixada Santista- Unifesp/BS, facultam às pessoas idosas a participa-
ção nas aulas de graduação. Os professores são, em sua maioria, docentes e
técnicos da universidade, atuando voluntariamente.
Desta forma, as UNATIs, consagram-se como um ambiente de integração,
no qual a educação pode ser reafirmada por meio de novas aprendizagens e
trocas de experiências auxiliando as pessoas idosas a melhorar sua qualidade
de vida física e mental, despertando-lhes a importância do autocuidado e da
autovalorização, aumentando sua motivação, autoestima e resgatando sua ci-
dadania (Martins et al, 2019).
A participação de pessoas idosas em atividades educacionais tem sido re-
lacionada a decorrências positivas, como a redução de doenças psicossomá-
ticas; aumento da reserva cognitiva e à consequente melhoria da qualidade
de vida. Nesse mesmo sentido, constatou-se que a participação na UNATI
possibilitou a revisão dos estudos da juventude, aquisição de novos conhe-
cimentos, possibilidade de expor as próprias ideias, ouvir e ser ouvido, além
de colocar em prática os aprendizados adquiridos, em um exercício do que se
convenciona chamar de educação continuada ao longo da vida (Martins et al,
2019).
Na Polônia e em vários países do mundo, as UNATIs organizam e conduzem
palestras, seminários e aulas regulares, tais como workshops, cursos e círcu-
los de interesse, e para fornecer insumos culturais e artísticos, com o objetivo
principal de aumentar a qualidade de vida através da educação, atividades
sociais e esportivas. Seu crescimento tem sido substancial e tem contribuído
para a implementação do modelo de envelhecimento ativo, entre as pessoas
idosas adultas (Zadworna, 2020).
Em Madri (Espanha) foi realizado estudo com o objetivo de encontrar um
modelo capaz de explicar como as variáveis psicossociais estão relacionadas
à melhoria da qualidade de vida durante o envelhecimento ativo. A modela-
gem da equação estrutural (SEM) foi usada para examinar as relações entre a
disponibilidade de recursos sociais, memória, depressão e percepção da qua-
lidade de vida, de três centros comunitários de pessoas idosas.
52

Os resultados sugerem um modelo psicossocial onde a disponibilidade de


apoio social melhora a qualidade de vida e memória, reduz a depressão em
pessoas idosas adultas ativas, e foram encontrados dois elementos princi-
pais para compreender a qualidade de vida: percepção de saúde e satisfação.
Concluíram que, a disponibilidade de recursos sociais, entendidos não apenas
como as pessoas interagindo diariamente, mas também com outros membros
da família, amigos próximos ou instituições que poderiam ajudar em caso de
emergência, poderiam evitar o isolamento e a solidão, aumentar a satisfação
e o bem-estar em adultos mais velhos (León, Mangin, & Balles-Teros, 2020).
Vale ressaltar a relevância de criar políticas públicas destinadas a implan-
tar iniciativas que, como as UNATIs, atuem elevando a qualidade de vida das
pessoas idosas, por favorecer a convivência social e a aprendizagem contínua,
ajudando a alavancar a autoestima, a inclusão e o estabelecimento de novos
objetivos de vida.
O envelhecimento ativo adota a meta de melhorar a saúde da população
e de reduzir as desigualdades de saúde para que se possa alcançar um ple-
no potencial de saúde ao longo da vida. Essa visão de saúde está firmemente
enraizada no conceito e nas estratégias para a saúde articuladas ao longo de
décadas pela OMS e universalmente consideradas como normativas. Saúde
é um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não somente au-
sência de afeições e enfermidades, é um recurso para a vida cotidiana. É uma
dimensão importante de qualidade de vida que se precisa alcançar não so-
mente por meio dos serviços de saúde, mas também garantindo segurança
e aprendizagem, através de paz, abrigo, educação, alimentação, renda, esta-
bilidade ecossistêmica, recursos sustentáveis, justiça social e igualdade (ILC-
-BRASIL, 2015).
A necessidade de aprendizado é variada e constante ao longo do curso de
vida. Paralelo à educação formal e às habilidades de leitura e escrita, a educa-
ção para a saúde é necessária para o autocuidado, a educação financeira é ne-
cessária para gerenciar renda e despesas, e a educação tecnológica é neces-
sária para estar plenamente conectado. Ficar desatualizado sobre os avanços
tecnológicos pode fazer com que a pessoa não possa mais exercer a profissão
que aprendeu (ILC-BRASIL, 2015).
A vulnerabilidade aumenta nas pessoas que apresentam baixo nível de es-
colaridade – um grupo em que, com frequência, preponderam minorias ra-
ciais e culturais, imigrantes, deficientes e pessoas idosas e, em muitos paí-
ses, mulheres também. A educação organizada para adultos, após o fim da
escolarização, tende a se focar na aquisição de habilidades e conhecimentos
relacionados ao trabalho e a se direcionar a pessoas em atividade na força de
trabalho. A necessidade de uma abordagem mais inclusiva e estratégica feita
53

especialmente para determinados grupos alvo no intuito de promover o en-


velhecimento ativo foi reconhecida pela Comissão Europeia incluindo pessoas
que deixaram a escola precocemente e imigrantes (ILC-BRASIL, 2015).
Um modelo de curso de vida ainda mais abrangente para a aprendizagem
de adultos pressupõe uma variedade de programas que atendam às necessi-
dades de lidar com situações, de contribuir e de cultivar relacionamentos (ou
seja, aperfeiçoamento pessoal). A participação ativa de todos os cidadãos em
todos os níveis dos processos de tomada de decisões da sociedade mantém
robusta a democracia, aumenta a capacidade de resposta das políticas e dá
poder aos indivíduos (ILC-BRASIL, 2015).
As pessoas que têm mais recursos - aquelas que têm melhor educação for-
mal, renda mais alta e redes sociais mais extensas e são adultos maduros -
participam mais na vida política e social. Os indivíduos que se engajam em
atividades cívicas na juventude tendem a manter esse engajamento ao longo
da vida. Encorajar a participação cívica intensa desde a juventude, por meio
de órgãos como associações voluntárias, se tornará cada vez mais importante
para garantir que venham a ter sua voz ouvida em um diálogo saudável entre
gerações acerca de questões sociais. Ter acesso à internet também está as-
sociado com o engajamento cívico. Promover a inclusão digital por meio do
acesso à internet e do treinamento pode ser uma forma de facilitar a partici-
pação de pessoas que foram excluídas da vida cívica (ILC-BRASIL, 2015).
Portanto, as políticas públicas devem propiciar oportunidades flexíveis e
acessíveis de ampliação de conhecimentos, educação, treinamento e retrei-
namento ao longo do curso de vida; e adaptar os arranjos de trabalho para
facilitar e estimular a aprendizagem para suprir uma gama de necessidades
pessoais e profissionais. Dar suporte para que a sociedade civil ofereça acesso
e encoraje a aprendizagem em situações e modalidades não tradicionais para
alcançar pessoas excluídas ou socialmente isoladas. Assim como, dar suporte
para que instituições de educação formal da comunidade e da sociedade ci-
vil incluam a educação sobre o envelhecimento enquanto processo que dura
toda a vida, a forma diferente como afeta homens e mulheres e sobre os direi-
tos da pessoa idosa em situações educacionais (ILC-BRASIL, 2015).
Estudo realizado na Coréia do Sul mostrou que a alfabetização em saúde
pode gerar capacidade de acessar, compreender, avaliar, promover, manter
e melhorar a saúde durante o curso da vida, desempenha um papel significa-
tivo no gerenciamento de múltiplas doenças crônicas em adultos mais velhos.
Os resultados mostraram que mais de 90% dos adultos com idade > 70 anos
têm baixo nível educacional e resultados de saúde negativos, incluindo o mau
uso dos serviços de saúde, interpretação equivocada das instruções médicas,
má adesão ao uso de medicamentos, e uma saúde mais pobre e autorrelatada
pelas pessoas idosas (Lee & Oh, 2020).
54

O estudo mostrou uma associação positiva entre autoestima e o compo-


nente de saúde mental em adultos mais velhos, que se refere à confiança na
sua capacidade de alcançar o sucesso com os resultados comportamentais
desejados e que indivíduos com alta autoestima têm menos estresse relacio-
nado à saúde, emoções positivas e otimismo. Os indivíduos mais velhos com
maior autoestima podem ganhar uma maior sensação de confiança em sua
capacidade de controlar e gerenciar sintomas associados a doenças crônicas
e aderência a longo prazo em gerenciar sua doença. Consequentemente, as
crenças dos adultos mais velhos em relação à autoestima podem afetar sua
percepção mental e, assim, aqueles que pretendem assumir a responsabili-
dade pelo autocuidado, acreditam ter as habilidades no comportamento de
cuidado desejado. Na prática clínica, os profissionais de saúde devem plane-
jar e executar estratégias de ensino adequadas à idade das pessoas e devem
proporcionar às pessoas idosas uma educação de saúde para melhorar sua
qualidade de vida (Lee & Oh, 2020).
Estudo realizado em uma UNATI em Campinas (SP/Brasil) foi avaliada a
relação entre as variáveis sociodemográficas, nível de atividade física e as-
pectos psicológicos nos membros mais velhos. Os resultados mais relevan-
tes sugerem uma associação entre variáveis sociodemográficas, autoestima
e resiliência, demonstrando a influência da capacidade de adaptação e ajuste
individual em compreender os aspectos emocionais investigados (ou seja, au-
toestima, resiliência, autoeficácia e distúrbios mentais) (Alves et al., 2020).
Um nível elevado de educação é um fator de proteção para o declínio cog-
nitivo. O programa de uma UNATI demonstrou que a renda e a escolaridade
desempenham um papel vital nas habilidades emocionais, particularmente
em autoestima e resiliência. Finalmente, os resultados mostraram que adul-
tos mais velhos com boa adaptação e habilidades exibem níveis mais altos de
autoestima, autoeficácia e resiliência e menos doenças mentais (Alves et al.,
2020).

Considerações finais
As ideias de envelhecimento ativo têm sido altamente enquadradas pelos
formuladores de políticas que acreditam ser significativo para pessoas mais
velhas. Estas ideias preveem um mundo de pessoas idosas saudáveis, engaja-
das e ativas que contribuem continuamente para a sociedade. Isto criou um
padrão a ser mantido pelas pessoas idosas para envelhecer ativamente (e,
portanto, envelhecer bem). Ela enquadra a participação de pessoas mais ve-
lhas como mais valiosas quando participam de atividades e formas produtivas
que beneficiam a sociedade. Além disso, coloca a responsabilidade de enve-
lhecer com as pessoas mais velhas, ignorando estruturas sociais e físicas mais
amplas (Dizon, Wiles, & Peiris-John, 2020)
55

Em suma, os formuladores de políticas deveriam incentivar e criar oportu-


nidades para as pessoas mais velhas viverem vidas plenas, ativas e realizadas
através da participação ativa em todos os aspectos da vida, onde a participa-
ção é importante por duas razões: para melhorar a qualidade de vida e contri-
buir à sociedade (Dizon, Wiles, & Peiris-John, 2020).
É preponderante que as universidades criem programas que possam esti-
mular a pessoa idosa e os indivíduos próximos a chegarem a este marco, em
seus aspectos biopsicossociais e ambientais, além de possibilitar a conecti-
vidade com redes sociais e a comunidade. A universidade deverá ser espaço
de construção de territorialidades, contribuindo para a oferta da construção
de um envelhecimento mais positivo, fortalecendo os vínculos e a cidadania
destas pessoas.
56

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58

Sexualidade e Envelhecimento: o
conhecimento científico e sua abordagem
no Ensino Superior
Higor Matheus de Oliveira Bueno1, Felipe Bueno da Silva2, Márcia Thaís de
Souza3, Dalyanna Mildred de Oliveira Viana4, Gilson de Vasconcelos Torres5,
Aline Maino Pergola-Marconato6

Resumo
A sexualidade na velhice é uma temática pouco discutida, repleta de estigmas e pre-
conceitos e que requer melhor atenção e compreensão. Logo, torna-se importante
a elaboração de estudos que evidenciem as necessidades sexuais da pessoa idosa,
bem como a aplicação destes nas universidades de ensino nacionais, abordando as
identidades de gênero e orientação sexual, infecções sexualmente transmissíveis
(ISTs), resultando na avaliação do impacto da desmistificação e educação em saúde
no envelhecimento ativo da população idosa. O objetivo deste capítulo é apresen-
tar os diversos aspectos relacionados à sexualidade da pessoa idosa, tais como, as
orientações sexuais, identidades de gênero, práticas sexuais seguras e as ISTs. A
temática do envelhecimento tem sido objeto de crescente interesse, embora ainda
haja escassez de produção de literatura e de políticas públicas relacionadas. Diante
desse cenário, é fundamental que as universidades, conscientes de sua importân-
cia social e intelectual, estimulem seus estudantes e futuros profissionais a fim de
promover a capacidade de compreensão do que é de fato a sexualidade na velhice e
suas diversas formas de expressão, bem como desenvolver cuidados em saúde que
melhorem a qualidade de vida destes indivíduos e contemplem suas necessidades
em relação à temática.
Palavras-chave: sexualidade, envelhecimento, cuidado integral, políticas públicas.

Introdução
O envelhecimento está presente na vida de todo indivíduo desde o nasci-
mento até a morte e é caracterizado por mudanças físicas, comportamen-
tais e sociais enfrentadas pelo ser humano ao longo da vida (Dardengo &
Mafra, 2019). No Brasil são consideradas pessoas idosas os indivíduos com

1
Discente do Centro Universitário da Fundação Hermínio Ometto – FHO. E-mail: higorma-
[email protected]
2
Discente do Centro Universitário da Fundação Hermínio Ometto – FHO. E-mail: felipebue-
[email protected]
3
Discente do Centro Universitário da Fundação Hermínio Ometto – FHO. E-mail: marcia.
[email protected]
4
Mestre em Ciências da Saúde pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN.
E-mail: [email protected]
5
Professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN. E-mail: gilsonvtorres@
hotmail.com
6
Professora do Centro Universitário da Fundação Hermínio Ometto – FHO. E-mail: aline.
[email protected]
59

idade igual ou superior a 60 anos e, segundo as Projeções de População divul-


gadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), atingiu uma
proporção de 19,2 milhões de pessoas com mais de 65 anos no ano de 2018,
correspondendo a 9,2% da população total (Organização das Nações Unidas
[ONU], 2020).
Dos anos de 2004 a 2014, a população acima de 60 anos cresceu expres-
sivamente, o que levou a um processo denominado de transição da estrutura
etária, e com isso, em 2006, foi realizada a implementação de uma política na-
cional dirigida às pessoas idosas, Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa
(PNSPI) (Bortolozzi & Netto, 2020). Estima-se que no ano de 2025 o Brasil se
torne o sexto país com maior quantitativo de pessoas idosas do mundo, esse
fenômeno se dá pelo declínio das taxas de fertilidade, aumento da expecta-
tiva de vida e a melhoria das condições de vida da população, que reforçam a
importância do conhecimento científico para que seja possível compreender
as demandas da longevidade (Govindaraju et al., 2018).
O envelhecimento é acompanhado por mudanças fisiológicas, comporta-
mentais, psicológicas e sociais advindas do processo de senescência, entre-
tanto, ser uma pessoa idosa não é sinal de enfermidade ou doença. À medida
que o processo de envelhecimento progride, a qualidade de vida das pessoas
idosas tende a sofrer redução de forma gradativa, devido ao comprometimen-
to da sua funcionalidade o que pode implicar na instalação de uma condição
clínica desfavorável devido ao aumento de sua fragilidade e vulnerabilidade
(Vilela-Júnior et al., 2010). Embora o envelhecimento esteja associado à fra-
gilidade, esses dois termos não podem ser tratados como sinônimos, uma vez
que, o envelhecimento pode ser alcançado de forma saudável, longeva e com
melhor qualidade mesmo em presença de fragilidade (Lenardt et al., 2016).
A Organização Mundial da Saúde [OMS] (2005) tem evidenciado cada vez
mais a importância de se estabelecer um envelhecimento ativo, conceito pro-
posto em 2002, a fim de assegurar melhores condições na velhice envolvendo
o bem-estar físico, psicológico e social, bem como a segurança e os cuidados
de saúde adequados (World Health Organization [WHO], 2005). A saúde da
pessoa idosa deve ser vista de forma integral, desde suas necessidades bási-
cas de vida aos desejos mais complexos, para que seja possível transcender o
cuidado, e para que isso seja realizado, é necessário compreender que a qua-
lidade de vida entrelaça aspectos pessoais desses indivíduos, como é o caso
da sexualidade (Bortolozzi & Netto, 2020).
Torna-se imprescindível desmistificar estereótipos acerca da sexualidade,
que foram instituídos por décadas e que muitas vezes é vista como uma práti-
ca estagnada e impassível de mudança, resultado de costumes culturais e so-
60

ciais. O envelhecimento ativo inclui a possibilidade de vida sexual ativa, dado


que o sexo não deve ser visto como algo exclusivo da população jovem ou
da reprodução, pois a sexualidade também está relacionada às necessidades
fisiológicas humanas, logo, é considerado um fator preditor de melhor quali-
dade de vida para muitas pessoas idosas (Alencar et al, 2014).
Portanto, o objetivo deste capítulo é apresentar os diversos aspectos re-
lacionados à sexualidade da pessoa idosa, tais como, as orientações sexuais,
identidades de gênero, práticas sexuais seguras e as infecções sexualmente
transmissíveis (ISTs).
Dessa forma, pretende-se fornecer subsídios para uma reflexão sobre a se-
xualidade na velhice, proporcionando compreensão e possibilidade para de-
senvolvimento de cuidados em saúde que melhorem a qualidade de vida des-
tes indivíduos e atendam às demandas da pessoa idosa quanto à sexualidade.

Sexualidade e Envelhecimento
A vivência sexual saudável é considerada um componente essencial para a
identidade do indivíduo e sua expressão é elemento integrante da qualidade
de vida na velhice, uma vez que representa uma função vital do ser humano
ligada às necessidades de prazer, reprodução e amor, que podem ser amea-
çadas com o envelhecimento (Souza et al, 2019 e Almeida & Lourenço, 2008).
A sexualidade não se restringe somente a um ato físico, sendo considera-
da como uma necessidade humana básica, essencial para a qualidade de vida
e bem-estar do indivíduo. A negação ou supressão da sexualidade pode in-
tensificar o processo de envelhecimento e impactar negativamente na saúde
mental das pessoas idosas. Apresenta uma relação direta com diversos fato-
res como prazer, intimidade, comportamentos e relacionamentos, tornando-
-se parte integrante da personalidade de uma pessoa (Soares & Meneghel,
2021).
Modificações na anatomia e na fisiologia sexual durante a velhice vêm acom-
panhadas de dificuldades de aceitação da sexualidade devido, principalmen-
te, à falta de informação e a ideia de que a sexualidade está restrita aos órgãos
genitais. Entre os fatores que interferem negativamente na sexualidade nesta
faixa etária, destacam-se a diminuição na produção de hormônios, aspectos
psicológicos e socioculturais e as próprias condições de saúde, com destaque
para as doenças crônicas, declínio físico, cognitivo e social decorrentes do
aumento da fragilidade e o avanço da idade (Lima et al, 2022 e Wang et al,
2008).
A pessoa idosa fica suscetível às denominações impostas pela sociedade
61

que prejudicam a expressão da sua sexualidade, como assexualidade, pureza,


deserotização, tal qual a própria orientação sexual, uma vez que muitas vezes
é exigida a heteronormatividade, resultando na deterioração e conformismo
das vontades da pessoa idosa, o que contribui para inúmeros agravos à saúde
mental destas pessoas (Crema & Tilio, 2021).
Logo, faz-se necessário a identificação e compreensão de todos os prismas
que a sexualidade da pessoa idosa envolve, desde o sexo biológico aos anseios
íntimos, envolvendo a orientação e a prática sexual.
A sexualidade é iniciada desde o nascimento e não há idade que expresse o
fim das descobertas humanas acerca dos sentimentos, prazeres e atrações. A
construção do gênero e da sexualidade dá-se ao longo de toda a vida, contí-
nua e infindavelmente. Este termo na velhice deve ser considerado para além
da semântica, de modo que não se limite apenas ao gênero, mas que vise as-
similar os aspectos emocionais, sociais, dispondo-se da assistência à pessoa
idosa e conduzi-lo para a satisfação que pretende (Vieira, 2012).
Em relação à orientação sexual, muitas pessoas idosas são oprimidas so-
cialmente, por meio da religião, mídia, crenças, mitos e, em grande parte,
pela família. Portanto, a sexualidade na velhice, deve resultar em preservação
e proteção da imagem e a maneira pela qual a pessoa idosa gostaria de viver,
já que, a sexualidade é uma construção multifatorial que envolve comporta-
mentos, funções, motivação, valores e identidade. Muitas vezes, a vergonha
e o medo de expressar a verdadeira personalidade sobressai neste indivíduo,
mantendo-o privado dos prazeres e bem-estar que isso poderia proporcio-
nar, como o reconhecimento pessoal, satisfação e melhor qualidade de vida
(Souza et al., 2021).
A orientação sexual na velhice é um dos tabus mais consolidados na so-
ciedade. Pode-se dizer que a orientação sexual é uma propriedade da per-
sonalidade de um indivíduo e que se destaca pela atração sexual, física e ou
romântica. A diversidade dos modos de atração permeia a sociedade desde
a antiguidade, e atualmente ganhou espaço para ser debatido. Diante dis-
so, vale destacar os diversos e variados grupos pertencentes à comunidade
LGBTQIA+, acrônimo que se refere a Lésbicas, Gays, Bissexuais, Transsexuais,
Transgêneros, Travestis, Queer Sexuais, Intersexuais, Assexuais e o símbolo
(+) que abrange todas as outras siglas e identidades que integram esse gru-
po, como pessoas pansexuais, não binárias, entre outras (Caceres & Peres,
2021).
Esta sigla agrega tanto as orientações sexuais quanto as identidades de
gênero que é o reconhecimento interpessoal do indivíduo, destacadas por
cisgênero, transgênero e não binários (Bortoletto, 2019). A cisgeneridade
é o reconhecimento e identificação do gênero (feminino e masculino) com o
62

qual nasceu, por exemplo, é um indivíduo que nasceu do sexo masculino e que
se reconhece como homem. O indivíduo transgênero é aquele que expressa
identidade de gênero diferente do sexo biológico, isto é, um indivíduo mas-
culino (gênero) que se reconhece como uma mulher (identidade de gênero).
O não-binário refere-se àqueles indivíduos que mesmo nascidos com um de-
terminado gênero (masculino ou feminino) não se reconhecem como perten-
centes a este gênero, ou seja, não se limita ao masculino e feminino (Ferreira,
2021 e Gomes, 2014).
Já para as orientações sexuais pertencentes à sigla LGBTQIA+ estão presen-
tes as Lésbicas que são mulheres que se sentem atraídas por outras mulheres;
Gays representados por homens que se sentem atraídos por outros homens;
Bissexuais, que são homens ou mulheres que se sentem atraídos por ambos
os gêneros; Queer sexuais, que são pessoas que não correspondem à hetero-
normatividade, seja pela sua orientação sexual, identidade de gênero, atração
emocional ou pela sua expressão de gênero; Assexuais, cuja pessoa não sente
atração física e/ou sexual por nenhum dos sexos ou gêneros. O símbolo (+)
em destaque na sigla abrange a pansexualidade, sendo uma orientação sexual
representada por pessoas que sentem atração sexual ou romântica indepen-
dentemente da identidade de gênero (Nogueira, 2010 e Altmann, 2003).
Observa-se que a vivência ativa e saudável da sexualidade em pessoas ido-
sas com orientação sexual ou identidades de gênero diferentes da heteronor-
matividade é um grande desafio em meio a estigmas e dogmas, uma vez que
pessoas idosas que vivem a sexualidade e conversam abertamente sobre a
temática ainda são considerados seres profanos, uma vez que culturalmente,
a velhice está atrelada à pureza (Fernandes & Pessoa, 2018).
Diante disso, torna-se fundamental analisar, identificar e desenvolver estu-
dos que dissertam sobre a sexualidade das pessoas idosas e as principais de-
mandas de saúde relacionadas ao tema. É imprescindível o conhecimento das
inúmeras formas de prevenção acerca das infecções sexualmente transmis-
síveis (ISTs), assim como a importância das práticas de prevenção e cuidados
em saúde para com esta questão. Por conseguinte, para que a pessoa idosa
envelheça de forma ativa e saudável atrelada à sexualidade é fundamental que
ele busque informações acerca das IST, assim como suas formas de prevenção
e tratamentos (Nierotka, Nicaretta & Ferretti, 2020 e Moreira et al., 2015).
63

Conhecimento Científico Sobre Sexualidade no


Envelhecimento
O envelhecimento populacional trouxe ganhos significativos às pessoas
idosas, processo esse que foi advindo do avanço da tecnologia e consequen-
temente da saúde e longevidade. No entanto, há ainda muitas barreiras para
serem rompidas, como a pouca abordagem à saúde sexual da pessoa idosa,
o extremo julgamento e inúmeros preconceitos. É inegável que houve uma
mudança no comportamento sexual dos longevos, mas é necessário que junto
com essa progressão ocorra também a prevenção das ISTs, sendo primordial
que esta população detenha entendimento sobre as relações sexuais, e que
estas, devem ser uma experiência prazerosa bem como segura e que não cau-
se danos de saúde (Monte et al., 2021).
Por volta dos anos de 2007, houve um aumento expressivo das ISTs e dos
casos de AIDS entre os indivíduos com idade acima de 50 anos nas regiões
da Austrália, China, Coreia, África Subsaariana e América do norte. No Brasil,
realizou-se um estudo no Piauí e verificou-se que muitas pessoas idosas pos-
suíam ainda a vida sexual ativa, entretanto, de forma insegura, como relação
sexual sem uso de preservativos, ausência da realização de exames preventi-
vos, bem como a falta de rastreamento de indivíduos portadores de alguma
IST, o desconhecimento de métodos preventivos contra o risco de infecção
pelo vírus HIV, como a Profilaxia Pré-Exposição (PrEP) e a Profilaxia Pós-Ex-
posição (PEP) e, a não adesão ao tratamento medicamentoso para qualquer
ou determinada doença (Minichiello et al., 2012).
Os dados como este corroboram para o aumento dessas patologias em âm-
bito mundial, mas não foi observado amplitude nacional sobre esta temática
para esta faixa etária, o que sugere a importância desse assunto ser estuda-
do, discutido e colocado em pauta, para que seja identificado e tratado as
demandas desse público, bem como a desmistificação de estereótipos que
foram instalados na sociedade desde o passado acerca da sexualidade dos
longevos (Andrade et al., 2017).
Denominadas um problema de saúde pública, as ISTs têm como agentes
etiológicos vírus, bactérias e outros microorganismos, que podem ser trans-
mitidos através do ato sexual seja ele oral, vaginal ou anal sem o uso de pre-
servativo. Logo, é necessário que apenas um dos membros envolvidos esteja
infectado para que contamine o parceiro. Há também outras formas de con-
tágio como o contato de mucosas ou com a pele não íntegra e secreções cor-
porais contaminadas, estas, são formas de transmissão menos recorrentes
quando comparado à transmissão advinda do ato sexual (Ministério da Saúde
[MS], 2022).
Nota-se que dentre as principais ISTs no mundo, a Síndrome da Imunode-
ficiência Adquirida (AIDS), possui alta incidência e prevalência quando com-
parada com outras infecções sexualmente transmissíveis, a partir disso, esti-
ma-se que cerca de 42 milhões de pessoas no mundo convivem com a AIDS,
64

sendo que destas, 2,8 milhões são indivíduos com a faixa etária superior a 50
anos. Desse modo, enuncia-se que há uma grande relevância epidemiológi-
ca principalmente entre as pessoas idosas, considerado um público que com
crescimento expressivo (Burigo et al., 2015).
Apesar destes dados, os idosos não são considerados como pessoas vul-
neráveis em relação às ISTs, o que representa uma percepção equivocada e,
percebe-se que há um déficit por parte dos profissionais da saúde em desen-
volver atividades de promoção de saúde, como a disseminação de informa-
ções acerca dos métodos preventivos, o desenvolvimento da infecção e o seu
respectivo tratamento, resultando na carência de conhecimento e assistência
ineficaz, o que propicia falta de informações por parte dos longevos e conse-
quentemente este indivíduo poderá apresentar alterações na saúde, como a
infecção e possível propagação de doenças (Silva et al., 2022).
Mesmo com as problemáticas supracitadas, pode-se inferir que nas últi-
mas décadas houve avanços relacionados à vida sexual da pessoa idosa, visto
que mínimos. Entretanto, são ganhos importantes acarretados pelo avanço
da tecnologia em saúde, e desenvolvimento de medicamentos que melhoram
a qualidade sexual da pessoa idosa. Diante das práticas sexuais na velhice, as
ISTs não devem ser descartadas, mesmo que, as transmissões se propaguem
por relações sem uso de métodos eficazes de proteção, escassez de preven-
ção e alto risco de contágio, acrescido pela desinformação, falta de promo-
ção de saúde relacionado às práticas sexuais na terceira idade e educação em
saúde (Monte et al., 2021).
As pesquisas que enfocam na pessoa idosa e em sua relação com a sexuali-
dade são escassas, entretanto, existem diversos instrumentos que podem ser
utilizados para a avaliação da sexualidade e o seu impacto na saúde e na qua-
lidade de vida do indivíduo, como por exemplo, a Escala de Vivências Afetivas
e Sexuais dos Idosos (EVASI). Trata-se de uma escala psicométrica composta
de 38 itens estruturados e divididos em três dimensões: aspectos sexuais,
relações afetivas e adversidades físicas e sociais (Souza-Junior et al., 2022).
Essa escala foi aplicada anteriormente em uma amostra de 250 pessoas
idosas na região Nordeste do Brasil em conjunto com o Instrumento Autor-
referido de Fragilidade e, entre os resultados obtidos, identificou-se que as
pessoas idosas classificados como frágeis apresentaram as piores vivências
relacionadas à sua sexualidade. Além disso, as pessoas idosas melhor expe-
rienciaram sua sexualidade nas relações afetivas (Souza-Junior et al., 2022).
65

A Produção de Conhecimento e a Formação de


Recursos Humanos pelo Ensino Superior e seu
Impacto no Processo de Envelhecimento Ativo e
Saudável
A temática do envelhecimento tem sido objeto de crescente interesse na
literatura científica e em políticas públicas, em função do aumento da expec-
tativa de vida e do envelhecimento da população mundial. Apesar disso, ainda
são escassos os estudos que se dedicam a analisar as diversas dimensões e
a influência de fatores que compõem esse processo, em especial quando se
trata de questões mais complexas, como a sexualidade na velhice, deixando
de atender de forma integral esses indivíduos.
Diante desse cenário, é fundamental que as universidades, conscientes de
sua importância social e intelectual, estimulem seus estudantes a se interes-
sarem por essa temática, destacando sua relevância no desenvolvimento de
novas políticas públicas e na possibilidade de tornar o processo de envelhe-
cimento mais ativo e saudável por meio de pesquisas e aplicação dos novos
conhecimentos produzidos.
Nesse sentido, é preciso que a formação de novos profissionais de saúde
seja orientada para atender uma sociedade em constante evolução de forma
holística, considerando as individualidades e necessidades em cada fase da
vida.
É fundamental que novas técnicas e métodos de ensino sejam introduzidas
nas universidades a fim de garantir que os estudantes adquiram conhecimen-
to técnico-científico e desenvolvam habilidades para um cuidado competente
e ético (Carvalho, 2008).
No âmbito da saúde da pessoa idosa, é imprescindível que a temática seja
inserida na grade curricular de forma abrangente, contemplando a magni-
tude dos processos fisiológicos, cognitivos e emocionais advindos do enve-
lhecimento, a fim de que estes possam desenvolver habilidades em diversas
dimensões e sejam abordadas temáticas que frequentemente são negligen-
ciadas devido a estigmas sociais. Conforme Motta e Aguiar (2007), tópicos
específicos da Gerontologia, tais como fragilidade e síndromes geriátricas,
não são comumente contemplados nos conteúdos abordados durante a gra-
duação, embora esses temas sejam de suma importância para a tomada de
decisões e para a abrangência do cuidado.
As instituições de ensino superior têm papel fundamental na propagação
de conhecimento, visto que elas são excelentes produtores de ciência e ino-
66

vação. A pesquisa científica produzida pelas universidades é de suma relevân-


cia para o desenvolvimento social e econômico, sendo uma ferramenta eficaz
para instruir na implementação de políticas públicas (Novaes et al., 2019).
Por meio dos estudos científicos, são observadas evidências empíricas e
baseadas em dados que podem ser usadas para orientar órgãos públicos e
privados na formulação e reformulação de políticas públicas. Portanto, o co-
nhecimento científico pode contribuir para que as políticas públicas sejam
baseadas em evidências e fundamentadas em uma abordagem baseada em
dados, em vez de serem tomadas com base em suposições ou crenças pes-
soais (Campêllo & Souza, 2019).
Isso tende a aumentar a eficácia das políticas públicas e evitar o desperdício
de recursos humanos e financeiros em intervenções que não são resolutivas,
tornando um elemento fundamental para uma prática de cuidado mais efeti-
va.
Torna-se imprescindível a conscientização das universidades quanto à pro-
dução e a aplicação de novos conhecimentos acerca das necessidades sexuais
e humanas da população idosa. A partir do reconhecimento destas necessida-
des, podem ser criados grupos de pesquisa destinados a identificar as princi-
pais demandas desses indivíduos e com isso iniciar as intervenções adequa-
das.
Com a criação de grupos de pesquisa, projetos de extensão e atividades
complementares, é possível que esta temática se torne atrativa aos estudan-
tes e estimule a busca por novos conhecimentos e assuntos mais complexos
e que posteriormente, os resultados sejam destinados à sociedade a fim de
melhorar a qualidade de vida.
Com a introdução da sexualidade na velhice na matriz curricular, propõe-
-se a preparação de profissionais mais capacitados em sua formação téc-
nico-científica, ética, humanística e com visão integral das necessidades
da pessoa idosa, buscando melhor compreensão do processo de saúde e o
compromisso com a promoção de saúde (Barroso, 2007). A sensibilização do
estudante quanto às necessidades sexuais da pessoa idosa é relevante para
melhor entendimento do processo de saúde desses indivíduos, uma vez que a
sociedade estereotipa a pessoa idosa como assexuado, despojada de sensua-
lidade e utilidade, tornando-o isento dos prazeres que os cerca e limitando a
qualidade de vida.
A partir da estruturação desses estudos pretende-se que os futuros pro-
fissionais detenham o conhecimento técnico-científico acerca dos assuntos
mais complexos, bem como, extinguir tabus ainda estabelecidos socialmente.
Por meio destas pesquisas produzidas nas universidades, espera-se fortale-
67

cer as políticas e direitos da pessoa idosa; garantir e valorizar o atendimento


acolhedor e resolutivo; implementar ações que contraponham atitudes pre-
conceituosas e sejam esclarecedoras; investir na promoção da saúde em to-
das as idades; informar e estimular a prática de sexo seguro e hábitos de vida
saudáveis.
Assim, espera-se que a Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa seja
atualizada de acordo com os estudos realizados nas instituições de ensino
superior, introduzindo questões sobre a sexualidade da pessoa idosa, ISTs,
orientação sexual, práticas sexuais seguras e saudáveis, qualidade de vida e
envelhecimento ativo, partindo da integralidade de cada indivíduo bem como
a coletividade.

Considerações finais
Levando em consideração a importância da sexualidade e a sua relação com
a manutenção da saúde da pessoa idosa, estudos que abordam este tema são
de grande importância, principalmente para que profissionais da saúde e alu-
nos de graduação adotem medidas que reorganizem a atenção de forma a
contemplar ações de educação em saúde, promoção da saúde e prevenção
de agravos. Como a temática ISTs que é muitas vezes deixada de lado para
esse público, torna-se necessário o enfoque para o envelhecimento e suas
singularidades, assim como, a qualificação dos discentes e profissionais para
garantir a saúde integral da pessoa idosa abrangendo aspectos importantes
para a vivência e qualidade de vida da pessoa idosa, como a sexualidade e suas
formas de expressão.
À vista disso, com a inclusão da tríade ensino, pesquisa e extensão relacio-
nada à sexualidade da pessoa idosa, os futuros profissionais possuirão uma
formação sólida e integral, com intuito de contemplar a população idosa em
suas diversas complexidades, e como resultado disso, ser garantido seus di-
reitos de vida ativa, com qualidade e isentos de preconceitos.
68

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Contribuições
da extensão
universitária
voltadas à pessoa
idosa
73

Boas práticas de extensão universitária


para pessoas idosas no Brasil
Silvia M. M. Costa 1, Carmen Pineda Nebot2, Simone Martins3, Andréia
Queiroz Ribeiro4

Resumo
As evidências do aumento do número de pessoas idosas indicam uma demanda de
iniciativas e espaços inclusivos do grupo etário que mais cresce no Brasil e enfrenta
desafios para a continuidade de sua participação na sociedade. Estudos mostram
que o desenvolvimento humano ocorre a todo tempo e a capacidade de “aprendiza-
gem ao longo da vida” permanece ativa sem interrupção. Paralelamente ao modelo
de universidade aberta às pessoas idosas, os programas de extensão universitária
oferecem oportunidades de desenvolvimento e aprendizagem que unem o prosse-
guimento da participação de pessoas idosas na sociedade e a convivência em geral
e entre gerações. Este capítulo traz exemplos dessas boas práticas.
Palavras-chave: envelhecimento, aprendizagem ao longo da vida, participação.

Introdução
Para além dos dados demográficos, nossa percepção indica um maior nú-
mero de pessoas idosas em nosso convívio nos mais diversos ambientes do
cotidiano. O fato de criarmos uma legislação para estabelecer prioridade
para pessoas de 60 anos e mais sinaliza um novo cenário social, povoado por
uma quantidade crescente de pessoas idosas. Soma-se a isso, nova legislação
(Brasil, 2017) definidora de prioridade para a faixa etária a partir dos 80 anos,
em relação ao grupo que vai dos 60 aos 79 anos.
Com o aumento do número de pessoas idosas no país, nossa sociedade se
depara com uma vida diferente da conjuntura anterior, quando a quantida-
de de crianças e jovens ultrapassava a população envelhecida. A significati-
1
Grupo de Pesquisa Espaços Deliberativos e Governança Pública (GEGOP)/CNPq. silmag.
[email protected].
2
Grupo de Pesquisa Espaços Deliberativos e Governança Pública (GEGOP)/CNPq. car-
[email protected]
3
Grupo de Pesquisa Espaços Deliberativos e Governança Pública (GEGOP)/CNPq Universi-
dade Federal de Viçosa. [email protected]
4
Grupo de Pesquisa Espaços Deliberativos e Governança Pública (GEGOP)/CNPq, Grupo de
Estudos e Práticas em Envelhecimento, Nutrição e Saúde (GREENS), Universidade Federal
de Viçosa. [email protected].
74

va extensão da longevidade é uma conquista social recente, intensificada, no


Brasil, a partir dos anos 1940. Ainda ligada ao passado, a sociedade atual está
voltada para a juventude – embora os números de jovens estejam em franca
redução (Brasil, PNAD, 2016)5. Nesse contexto, a juventude simboliza um es-
tilo de vida e um estado de espírito relacionados a certa fase da vida, mais do
que uma referência numérica de idades, influenciando algumas formas de no-
mear pessoas idosas que não correspondem a uma velhice, como por exem-
plo, associada ao declínio.
A conquista de viver mais anos traz também desafios. Envelhecer no Brasil
significa lidar com o papel estipulado pela sociedade para quem alcança a ve-
lhice, originado por representações fluidas ao longo das décadas que, porém,
mantêm um aspecto comum: a associação da pessoa idosa a um ócio pós-apo-
sentadoria, ao declínio das capacidades funcional e produtiva e à inutilidade.
A demarcação da idade cronológica para o início da velhice é arbitrária e
socialmente construída nas diferentes épocas e espaços geográficos. No sé-
culo XX, a Organização Mundial da Saúde (OMS) estabeleceu como as pes-
soas idosas com 60 anos e mais - para países em desenvolvimento-, e fixou
65 anos e mais - para a população de países desenvolvidos. Em relatório sobre
envelhecimento e saúde (OMS, 2015) a OMS coloca em discussão a existência
de faixas etárias dentro da faixa etária correspondente às últimas décadas da
vida, que começariam aos 60 anos. No relatório, para a OMS, a pessoa idosa
de 70 anos seria (grifo nosso) uma nova pessoa idosa de 60 anos, por estar,
comparativamente, em melhor situação de saúde do que seus pais ou avós
quando tinham essa idade. A OMS dá título a esse debate, como sendo uma
suposição: “70 não é o novo 60 – mas poderia ser” (p. 9), por considerar que
“os adultos maiores de 70 anos de hoje estão em melhor posição para se de-
fenderem sozinhos e, portanto, há menos necessidade de ação política para
ajudá-los.”

Segundo Guita Debert em A reinvenção da Velhice (1999, p. 67),

A concepção de velhice como um conjunto de perdas foi


fundamental para a legitimação de direitos sociais. En-
tretanto, as novas imagens do envelhecimento, na luta
contra os preconceitos, tratam de acentuar os ganhos
que o avanço da idade traz.
5
A taxa de fecundidade vem diminuindo drasticamente desde meados do século passado.
Enquanto uma mulher teve em média 6,15 filhos em 1950, o número de filhos por mulher
caiu para 2,39 em 2000. Hoje, com uma taxa de 1,77 filhos por mulher, a taxa já está abaixo
do nível de reposição (2,1 filhos por mulher) e continuará caindo para 1,50 filhos por mulher
até 2050. O aumento da esperança de vida nos últimos anos se deve, em grande parte, pela
diminuição nos níveis de mortalidade nos idosos a partir dos 70 anos e nas crianças abaixo
de 1 ano de idade. (Brasil, PNAD, 2016, p. 20)
75

Em consonância com o questionamento da OMS sobre os 70 anos serem os


novos 60, Debert, em outra publicação (1999, p.7), analisa a abordagem dos
signos do envelhecimento que nos leva a designações, como “terceira idade”,
“nova juventude”, “idade do lazer”. E, aqui, acrescentamos outras em voga:
“melhor idade”, “envelhescência”, “alargamento da meia idade”; além do dis-
farce da idade ao incluir nela um ponto, como, por exemplo, 6.0 – prática das
tecnologias da informação para denominar melhorias em versões tecnológi-
cas.
Debert pressupõe uma “invenção da terceira idade” como experiência de
envelhecimento que não se restringe a indicadores apenas referentes ao pro-
longamento da vida na sociedade atual e que parte do princípio de que há
grupos de pessoas aposentadas influentes, em vista da boa saúde demons-
trada, da independência financeira e de outras evidências que atendem às ex-
pectativas de que esse período da vida seja pleno de realizações e satisfação
pessoal (Debert, 1999, p. 77).
Birman (2015) considera que o surgimento de termos como “terceira ida-
de”, entre outros eufemismos, pode significar uma tentativa de escapar a
estereótipos que funcionem como preconceitos ao inverso. O autor entende
que a imagem da velhice passou por transformações, deixando de represen-
tar “o fim da vida e a expectativa da morte iminente”, para indicar não apenas
um “tempo outro” da vida, como também a inserção social e a experiência
existencial. Birman estima que “por essa transformação relevante, a velhice
perdeu a marca de ser uma ‘negatividade’ em si mesma para se tornar uma
‘positividade’, de fato e de direito.” (p. 4). A dimensão numérica das idades
faz parte de uma organização administrativa da sociedade e contribui apenas
parcialmente para a compreensão de quem são as pessoas idosas. Para Ca-
marano (2004, p.11), a conceituação de pessoa idosa vai mais além do que a
simples determinação de idades-limite biológicas, vinculando-se ao aumento
da esperança de vida e às transformações sociais daí decorrentes.
A forma de falar sobre as pessoas idosas mostra preconceitos que nos fa-
zem usar palavras que não lembram que a idade chegou. Ademais, as pessoas
idosas percebem que os outros não olham muito para quem tem idade, como
se fosse melhor nem olhar - para não ver as marcas da velhice – o estigma:
rugas; manchas na pele; cabelo grisalho ou careca; às vezes um andar mais
lento, tudo o que lembra que a pessoa pode estar mais perto da morte. Os
estereótipos também são fatores de rejeição à idade, como o hábito de pes-
soas que acham que precisam proteger as pessoas idosas tratando-os no di-
minutivo como se fossem crianças. Preconceito, estigma e estereótipos são
materializados em atos de discriminação etária, que devem ser evitados.
76

Nesse sentido, a velhice vem sendo associada à estagnação, como se um


“início” dessa fase da vida fosse indicativo da interrupção do desenvolvimento
das pessoas, não havendo mais o que aprender nem novas perspectivas de
trajetória pessoal ou profissional. Podemos até dizer que a fase é interpretada
como o momento de “espera da morte” – tal o isolamento social decorrente
da rejeição ao envelhecimento.
Entretanto, a multiplicação de ações e projetos voltados às pessoas ido-
sas revela as possibilidades de desenvolvimento humano em qualquer época
da vida, especificamente durante a velhice. Sendo desenvolvimento huma-
no conceituado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
(PNUD, 2015, p. 5) como “processo de ampliação da liberdade de escolha das
pessoas, com relação às suas capacidades e às oportunidades a seu dispor,
para que elas possam viver conforme desejam”. Conceito surgido no primeiro
Relatório do Desenvolvimento Humano, publicado em 1990, partindo de uma
definição simples: “o desenvolvimento significa alargar as escolhas humanas
atribuindo maior destaque à riqueza das vidas humanas, e não, de forma re-
dutora à riqueza das economias.”
Muitas das inúmeras iniciativas disponíveis para as pessoas idosas visam à
continuidade de seu desenvolvimento, em diversas formas, com diferentes
ofertas nascidas da demanda das pessoas idosas ou da idealização de institui-
ções. Certamente, as pessoas idosas influenciam as oportunidades que deter-
minam e transformam suas vidas. Alguns autores referem uma “lazerização”
da velhice, como se as iniciativas fossem constituídas de pura diversão, na
direção contrária da busca das pessoas idosas por fontes de ampliação de
conhecimento e de socialização, como oferecidas pelas universidades.
A busca de diversão é parte do desenvolvimento humano, não é o único ob-
jetivo. Junta-se às práticas culturais, como cinema, teatro, ballet, circo, dan-
ça, enfim, oportunidades de fruição estética que ultrapassam a diversão, em-
bora também resultam em divertimento. Este tópico requer amplo debate,
não fazendo parte deste trabalho, mas recomendado para estudos futuros.

A Extensão Universitária para a População Idosa


A aprendizagem ao longo da vida é uma filosofia, um marco conceitual e um
princípio organizador de todas as formas de educação, baseada em valores
inclusivos, emancipatórios, humanistas e democráticos que está pautada nos
pilares da aprendizagem: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a
ser e aprender a conviver (UNESCO, 2009). Essa ideia de educação perma-
nente começa a se consolidar no mundo a partir dos relatórios sobre edu-
77

cação elaborados pela UNESCO, nos anos 19726-1993, e os fundamentos da


perspectiva lifespan7 em psicologia. Provocando também mudanças no para-
digma sobre a velhice.
Muitos autores consideram que a educação e a formação são grandes alia-
dos do envelhecimento ativo e de uma velhice considerada mais positiva e
inclusiva ( Jacob, 2015). Para Cachioni e Neri (2004), a educação torna-se um
meio de progresso dos indivíduos em todas as idades e grupos sociais. No
caso das pessoas idosas a educação permite a sua integração e participação
na sociedade através de novas aprendizagens que oportunizam a manuten-
ção da funcionalidade, flexibilidade e ganhos evolutivos que estão associados
à velhice bem-sucedida. Segundo Marques e Pachane (2010) a educação é
tanto um direito da pessoa idosa como um espaço privilegiado para a cons-
cientização, tornando-se um dos pilares para a construção de sua cidadania.
É preciso entender estes sujeitos em suas peculiaridades, o que não remete
apenas a uma questão de especificidade etária, mas a uma questão de espe-
cificidade cultural.
O termo gerontologia educacional foi usado pela primeira vez em 1970, na
Universidade de Michigan, por David Peterson, no contexto de um curso de
doutorado em gerontologia. Em 1976, esse autor definiu-a como a área res-
ponsável pelo estudo e pela prática das tarefas de ensino a respeito de orien-
tação a pessoas envelhecidas e em processo de envelhecimento. Em 1980, o
mesmo autor refez sua definição, acrescentando que a gerontologia educa-
cional é a tentativa de aplicar o que se conhece sobre a educação e o enve-
lhecimento em benefício da melhoria da vida das pessoas idosas. Ele fez uma
classificação dos conteúdos da gerontologia educacional: 1) Educação para as
pessoas idosas se constitui de programas educacionais voltados a atender às
necessidades da população idosa, considerando as características desse gru-
po etário. 2) Educação para a população em geral sobre a velhice e as pessoas
idosas envolvem programas educacionais que possibilitam à população mais
jovem rever seus conceitos sobre a velhice; e, as pessoas idosas, rever o seu
próprio processo de envelhecimento. 3) Formação de recursos humanos para
o trabalho com as pessoas idosas: ocorre através da capacitação técnica de
profissionais e da formação de pesquisadores.

6
Em 1972 a UNESCO inaugurou a temática Educação Permanente por meio do Relatório
“Aprender a ser”.
7
Em meados dos anos 1970, surge um novo paradigma acerca do desenvolvimento ao longo
da vida (lifespan) proposto por um grupo de reconhecidos acadêmicos, entre eles, Paul B.
Baltes, K. Warner Schaie, James Birren, Bernice Neugarten, Klaus Riegel e Matilda Riley, que
enuncia o envelhecimento como um processo que não implica, necessariamente, em doen-
ças e isolamento, e que a velhice, como fase do desenvolvimento humano permite não só a
ocorrência de perdas, mas também de ganhos. A educação é apontada como otimizadora
das competências.
78

Ainda em torno de 1973, Pierre Vellas cria em Toulouse (FRA) a primeira


“Universidade da Terceira Idade” (UnTI)8. Essas iniciativas foram se desenvol-
vendo e se disseminando pela Europa, principalmente em universidades da
Alemanha, Suíça, Polônia e Espanha. Os objetivos eram tirar as pessoas ido-
sas do isolamento e propiciar-lhes saúde, energia e interesse pela vida, bem
como modificar sua imagem (Uchoa, 1997; Lemieux, 1995 & Lefêvre, 1993).
Existem hoje dois grandes modelos de organização das UnTIs: o modelo
francês ou continental e o modelo inglês ou britânico. Para Posadas (2016),
o modelo inglês é visto como bottom-up, em que os docentes normalmente
não são professores universitários, mas pessoas idosas com habilidades espe-
cíficas no conteúdo transmitido, enquanto o francês é top-down, funcionando
como extensão da universidade regular, preocupada com a participação e o
desenvolvimento dos programas, oferecendo infraestrutura, instalações e re-
cursos didáticos utilizados pelos docentes. O fato mais relevante para Jacob
(2015) é que as UnTIs são universidades “da” Terceira Idade em vez de Uni-
versidades “para a” Terceira Idade. Os seniores podem desempenhar nestas
organizações até três papéis em simultâneo: alunos, professores e dirigentes.
Na América Latina, a UnTI pioneira foi, em 1983, a Universidad Abierta Uru-
guay (Uni 3 Uruguay)9, com sede em Montevidéu. Ela alicerçou-se no modelo
francês e as suas ações foram estendidas aos demais países sul-americanos
(Gomes, Loures & Alencar, 2004). Ainda que os modelos apresentem varia-
ções determinadas por características históricas, políticas e culturais, mesmo
localizando-se em um mesmo país, há diferenças determinadas pela estrutura
da instituição, por exemplo, se é pública ou privada. No Brasil, desde a década
de 1980, as universidades cederam espaço às UnTI, tanto à população idosa
como a profissionais interessados no envelhecimento. Em 1990, a Pontifícia
Universidade Católica (PUC) de Campinas (SP) cria a Universidade da Terceira
Idade da PUC-Campinas, baseada no modelo francês, que para Veras e Caldas
(2004) foi a primeira divulgada no cenário nacional e, por isso, o marco para
consolidar novos projetos (Pacheco, 2006). Nos anos de 1990, aumentou o
número de UnTI nas universidades brasileiras. Para Alencar e Carvalho (2009,
p. 439), as UnTI no Brasil são balizadas como “Unatis francesas de segunda
geração”, pela força em pesquisa gerontológica, isto é, “por meio de progra-
mas de educação continuada, educação em saúde e trabalho comunitário”,
contribuindo aos programas de terceira idade os brasileiros usarem o modelo
francês centrado na educação permanente (Pacheco, 2006). Em 2012, fala-

8
Essas instituições focam no crescimento pessoal da pessoa idosa e no modo como eles
se desenvolverão de forma livre e autônoma no desempenho de seus papéis na sociedade
(Aiuta, 2020), sendo reconhecidas pela Organização das Nações Unidas (ONU), Organiza-
ção Mundial da Saúde (OMS) e outras organizações internacionais (Arruda, 2007).
9
A UNI 3 Uruguay era uma universidade aberta que funcionava independentemente, sem
vínculo com nenhuma universidade tradicional.
79

va-se em mais de 200 programas dessa natureza em instituições de ensino


superior, mas a maioria como projetos de extensão (Cachioni, 2012). Cabe
destacar que estes programas possuem diferentes denominações e seguem
modelos pedagógicos diversos, mas têm propósitos comuns como promover
o resgate da cidadania e da autoestima; incentivar a autonomia, a indepen-
dência, a autoexpressão e a reinserção social em busca de um envelhecimen-
to bem-sucedido; e rever os estereótipos e os preconceitos com relação à
velhice (Veras e Caldas, 2004a). Nesse cenário, há espaço de ampliação das
UnTI uma vez que a tendência de inversão da pirâmide demográfica é real10.
Consolidado o modelo de UnTI e garantida sua expansão, recomenda-se que
a oferta de novos espaços siga as características da região em que está inse-
rida (Da Silva, Da Silva & Da Rocha, 2017).
As UnTIs coexistem com outro potente empreendimento educacional da
sociedade voltado à educação e desenvolvimento das pessoas idosas: a ex-
tensão universitária. Componente do tripé da educação universitária – ensi-
no, pesquisa e extensão – a extensão universitária integra a “matriz curricu-
lar” e a organização da pesquisa, de modo interdisciplinar e com uma missão
transformadora junto à sociedade. (Brasil, 2018, p. 1)

A educação a serviço do envelhecimento ativo


A antiga relação da universidade com a sociedade nos remete ao diálogo
entre problemas sociais e problemas de pesquisa agregados aos interesses
de cientistas e pesquisadores na busca de saberes indicadores de soluções,
ou não, para os problemas que requerem reflexão e apresentação de resulta-
dos, em geral provisórios e sujeitos a novos estudos.
As iniciativas de extensão universitária se constituem como formas e meto-
dologias de educação não-formal, de duração variável, sem diplomação vin-
culada a aprovação/reprovação, que fortalecem o currículo das graduações
e são oferecidas em diversas modalidades, como cursos teóricos e/ou práti-
cos, eventos acadêmicos, com objetivos de atualização, aperfeiçoamento e/
ou qualificação, visando atender demandas da sociedade na interação com os
grupos participantes.
Há alguns anos, preocupadas com o envelhecimento populacional, univer-
sidades brasileiras realizam iniciativas de extensão universitária voltada às
pessoas idosas, bilateralmente com as pessoas idosas e a partir de pesquisas
com a participação dessas pessoas idosas.
10
No Brasil, há 18,9 mil universitários com idades entre 60 e 64 anos. Na faixa etária acima
dos 65, o número é de 7,8 mil pessoas. Os dados incluem instituições públicas e privadas
(Censo de Educação Superior de 2017).
80

Descrevemos aqui cinco iniciativas como ilustração de boas práticas de ex-


tensão universitária para pessoas idosas, alinhadas à Gerontologia Educacio-
nal ( Jacob, 2015): (1) direcionada às pessoas idosas com o objetivo atender às
demandas da população idosa, de acordo com suas características. (2) mobi-
lização da população em geral sobre a velhice e o processo de envelhecimen-
to inerente a pessoas de todas as idades. 3) preparação profissional para o
trabalho com as pessoas idosas.
São descritas quatro experiências do Estado de Minas Gerais e uma expe-
riência da cidade do Rio de Janeiro (Costa, 2019). De Minas Gerais, apresen-
tamos as boas práticas para o envelhecimento realizadas na Universidade
Federal de Viçosa (UFV), por três grupos de pesquisa de diferentes departa-
mentos:

• Grupo de Pesquisa Espaços Deliberativos e Governança Pública (GE-


GOP), vinculado ao Departamento de Administração e Contabilidade;
• Grupo de Pesquisa Risco social e Envelhecimento, vinculado ao Departa-
mento de Economia Doméstica;
• Grupo de Estudos e Práticas em Envelhecimento Nutrição e Saúde
(Greens), vinculado ao Departamento de Nutrição e Saúde.

Ainda de Minas Gerais, do município de Ponte Nova, a experiência da Facul-


dade Dinâmica do Vale do Piranga (FADIP) que realiza relevantes projetos de
extensão com pessoas idosas.
No Rio de Janeiro, a Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PU-
C-Rio) desenvolve dois programas com diversas ações para as pessoas de 50
anos.

UFV – Programa de Envelhecimento Ativo


Surgido a partir da observação do processo de envelhecimento na Comuni-
dade do Beco situada no município de Ponte Nova, Minas Gerais, o programa
de extensão para o envelhecimento ativo foi concebido e implantado com a
realização de pesquisa qualitativa, ações e eventos para identificar a situa-
ção das pessoas idosas ali residentes; para realizar o diagnóstico participativo
no Conselho de Direitos da Pessoa Idosa, e para sensibilizar o poder público
para a inserção da política de envelhecimento ativo na agenda pública. Ações,
81

eventos e reuniões foram espaços de escuta, de troca de experiências, de so-


cialização e convivência intergeracional.
À frente do programa, estiveram professores e estudantes do Grupo de
Pesquisa Espaços Deliberativos e Governança Pública (GEGOP), vinculado ao
Departamento de Administração e Contabilidade e ao Departamento de Nu-
trição e Saúde, ambos da UFV.
Moradores, especialmente moradoras – em sua maioria, passaram a uma
postura proativa e demandada que levou o Prefeito de Ponte Nova a tomar
conhecimento e se engajar no movimento gerado pelas atitudes das pessoas
idosas da Comunidade do Beco. O Conselho de Direitos da Pessoa Idosa teve
a oportunidade de acompanhar e apoiar as ações. A gestão pública local insti-
tuiu uma agenda pública para o envelhecimento ativo. Como desdobramento,
Ponte Nova aderiu a um programa federal de políticas públicas para o enve-
lhecimento ativo e foi o primeiro município a receber uma premiação.
A história desse programa é documentada na publicação Envelhecimento
Ativo: das ações à política, que teve como principal estímulo o grande envol-
vimento da Comunidade do Beco, que foi protagonista de um novo olhar para
o envelhecimento no município de Ponte Nova (Martins; Ribeiro, 2018).

UFV - Faces do Envelhecimento em Viçosa


A pergunta de pesquisa “como é envelhecer em Viçosa?” desencadeou uma
série de iniciativas nos professores e alunos do Grupo de pesquisa Risco So-
cial e Envelhecimento, vinculado ao Departamento de Economia Doméstica.
As pessoas idosas participantes são frequentadores do “Programa Munici-
pal da Terceira Idade (PMTI)”- política pública da Prefeitura de Viçosa com o
apoio da Universidade Federal de Viçosa - e do “Clube da Vovó” - uma iniciati-
va particular de uma cidadã viçosense. As faces das pessoas idosas de Viçosa
participantes da iniciativa estão em um livro contendo histórias de vida, fotos
e a percepção de cada um sobre como é envelhecer na cidade.
Além do livro, a iniciativa gerou os eventos “I Encontro Mineiro sobre Enve-
lhecimento e Risco Social – a face da velhice: uma discussão necessária” e o “II
Encontro Mineiro sobre Envelhecimento e Risco Social – a cultura do cuidado,
a insuficiência familiar e o risco social no envelhecimento”. Também foi pro-
duzido um livro acadêmico sobre os temas discutidos nos eventos.
82

UFV – Envelhecimento, Nutrição e Saúde


Muitas pessoas idosas sabem cozinhar e prover uma alimentação saudável,
tendo a consciência do valor nutricional da comida que preparam. O reconhe-
cimento de que essa consciência pode ser ampliada e resgatada no contexto
das inúmeras mudanças que ocorrem com o envelhecimento, trazendo ainda
maiores benefícios à saúde, foi a base do Programa de Extensão Interdiscipli-
nar: Estratégias e Ações com Vistas a Contribuir para o Envelhecimento Ati-
vo. O programa desenvolve oficinas para produção e degustação de receitas
com intercâmbio de conhecimentos das pessoas idosas e dos condutores das
oficinas, para promover mudanças no comportamento alimentar e construir
uma visão da alimentação como oportunidade de criação e fortalecimento de
vínculos.
Para a efetivação do Programa, o Grupo de Estudos e Práticas em Enve-
lhecimento Nutrição e Saúde (Greens) coloca em campo seus professores e
estudantes em um trabalho que evidenciou haver chegado a hora de pensar
que a alimentação contribui sim, para o controle e/ou prevenção de doen-
ças crônicas que podem ocorrer durante o processo de envelhecimento, mas
também faz parte da necessidade do prazer pelo sabor e pela memória afeti-
va. Além disso, é profundamente marcada por histórias, trajetórias, símbolos
e significados, que podem ser resgatados e compartilhados em espaços de
convívio, contribuindo para o fortalecimento dos vínculos sociais
Na última edição em que participaram pessoas idosas do Programa Munici-
pal da Terceira Idade (PMTI) e da Comunidade do Beco, esses tiveram a opor-
tunidade de experienciar atividades de educação alimentar e nutricional em
um contexto ampliado de promoção da saúde, pois além de aprimorarem o
autocuidado em relação às doenças crônicas por meio da alimentação, res-
significaram a alimentação pelas memórias afetivas dos hábitos alimentares
passados, pelo estímulo ao ato de cozinhar e de comer em companhia.

Relações Empáticas em Universidade de Ponte Nova


Durante o estágio curricular de fisioterapia da Faculdade Dinâmica do Vale
do Piranga (FADIP), os alunos conceberam e manufaturaram produtos para
reabilitação de pessoas idosas de baixa renda atendidos em Unidades Básicas
de Saúde (UBS), do município de Ponte Nova. A FADIP tem sede em Ponte
Nova, MG.
Os produtos usados no cotidiano do atendimento foram objeto de exposi-
ção na “III Semana da Farmácia”, promovida para cursos da área da saúde da
Faculdade Dinâmica e de outras instituições e profissionais farmacêuticos de
Ponte Nova e região. O conhecimento sobre a velhice foi discutido na confe-
83

rência “Eu jovem! Não me preocupo em envelhecer?”.


Houve grande destaque para a experimentação de relações empáticas em
duas estratégias: (1) a roupa simuladora da velhice e (2) o exercício de imagi-
nação da velhice.

PUC Mais de 50 na cidade do Rio de Janeiro


Pessoas idosas da Zona Sul do Rio de Janeiro foram consultadas em pesqui-
sas, expressando suas demandas de cursos e atividades a serem realizados
para eles, idealizados conjuntamente com os professores. O Laboratório de
Design, Memória e Emoção (LABMEMO) da Pontifícia Universidade Católica
do Rio de Janeiro (PUC-Rio) planejou com os participantes as ações baseadas
em Design e Envelhecimento organizadas em eixos temáticos. Além da pro-
gramação de extensão, o envelhecimento foi estudado em projetos de disci-
plinas curriculares e gerou o estágio para pessoas idosas na graduação - Pro-
grama de Iniciação Científica e Tecnológica Sênior (PICT-Sênior).

Análise e Considerações finais


É importante reconhecer que são muitos os desafios para a naturalização
da velhice; valorização e promoção do envelhecimento ativo, saudável e cida-
dão; para alcançar o respeito entre as diferentes gerações; e, essencialmente,
para o fortalecimento da política da pessoa idosa em nosso país.
Diante da atual pandemia da Covid-19, fica evidente a necessidade de se
rever a política de saúde fiscal, que acabou fragilizando a capacidade da ad-
ministração pública de responder às demandas urgentes da população que
depende do SUS e do SUAS, especialmente a população idosa, colocando em
risco a saúde humana.
As universidades são campos férteis de proteção ao estado de direito e de
geração de conhecimento com vistas à transformação social. Há que se reco-
nhecer que a extensão universitária é o que “permanente e sistematicamente
convoca a universidade para o aprofundamento de seu papel como institui-
ção comprometida com a transformação social, que aproxima a produção e
a partilha de conhecimento de seus efetivos destinatários, cuidando de cor-
rigir, nesse processo, as interdições e bloqueios, que fazem com que seja as-
simétrica e desigual a apropriação social do conhecimento, das ciências, das
tecnologias” (De Paula, 2013, p.6).
84

No estado brasileiro, marcado por profunda desigualdade e falta de ser-


viços e equipamentos básicos para a população, a extensão universitária se
apresenta como alternativa à promoção de saúde e inserção social da popu-
lação idosa, fortalecimento de vínculos e oportunidades de aprendizagem e
aperfeiçoamento. Nesse contexto, é fundamental que ela se concretize por
meio de ações pedagógicas dialógicas, que compreendam as pessoas idosas
como protagonistas do processo (Freire, 1979).
Os exemplos aqui apresentados são demonstrações claras das possibilida-
des de alcance de ações verdadeiramente extensionistas, que se utilizaram
de projetos educativos, culturais e científicos, para (re)significar e qualificar
a vida das pessoas idosas e influenciar a agenda pública.
A importância das ações extensionistas, aqui destacadas, está na possi-
bilidade de promover mudanças em três públicos. A transformação pessoal
das pessoas idosas (que participaram dos diferentes projetos), contribuindo
para que as próprias pessoas idosas recuperem a sua autonomia, autoesti-
ma, dignidade e autoconfiança e se tornem agentes de transformação social.
A transformação dos estudantes, que têm a oportunidade de construir uma
visão positiva da velhice, a partir de uma perspectiva de desenvolvimento hu-
mano. Por último, a influência na agenda da própria universidade, que tem a
oportunidade de pautar o envelhecimento e a velhice como temas prioritários
de suas ações. Essa contribuição concreta da universidade agrega valor sig-
nificativo ao seu papel na sociedade, sendo instrumento emancipatório não
apenas no ensino e na pesquisa – o que é tradicionalmente reconhecido, mas
também na extensão.
85

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88

O projeto Arte de Cuidar: a experiência


de ser velho e estar uma pessoa idosa à
procura de uma outra suavidade
Bruno Vasconcelos de Almeida1, Amauri
Carlos Ferreira2

Resumo
Este capítulo tem sua origem na experiência do Projeto Arte de Cuidar: apoio psico-
lógico às pessoas idosas residentes e trabalhadores de ILPIs mineiras, desenvolvido
através de práticas de estágio e extensão da PUC Minas. Nele discute-se o “ser ve-
lho” e o “estar uma pessoa idosa”, ao abordar a experiência, a memória e proble-
matizar a construção social da pessoa idosa, mantendo o tensionamento produzido
no paradoxo enunciado. Nas práticas com pessoas idosas e trabalhadores, o proje-
to investiu, em uma perspectiva clínico-política, na singularização dos cuidados e
na possibilidade de uma nova suavidade na relação com o velho/pessoa idosa. Com
metodologias diversas e resultados significativos, o trabalho, até o momento, con-
figurou um campo de atuação universitária gerador de práticas educativas com a
pessoa idosa/velha e não para a pessoa idosa.
Palavras-chave: velho. pessoa idosa, arte de cuidar, cuidado. suavidade.

Introdução
A instauração da velhice ocorre em processos que demandam reflexões e
ações. Por um lado, a velhice é uma etapa de um limite imposto aos sujeitos
que nela chegam. Por outro, o modo como se envelhece nas condições socio-
políticas e emocionais nesse ciclo da vida.
Para o primeiro processo, faz parte da condição de mortais para aqueles que
chegaram a essa etapa e atingiram um status, seja ele bom ou não, um modo de
se fazer pertencer a esse mundo. Uma ressignificação do passado e um sentido
de ainda estar nesse mundo configura o “ser velho”. Por outro lado, as condi-
ções de envelhecimento nas sociedades equivalem a um processo de condi-
ções políticas que tornam, a pessoa velha, uma pessoa idosa. Esses processos
estão intimamente imbricados na configuração da velhice. Tanto um processo
quanto o outro envolve projetos sociais que repercutem no modo de se fazer
pertencer ao mundo nessa etapa provisória da existência.
1
Professor de Psicologia (PUC Minas). Pós-doutor em Filosofia (UFMG, 2016; UFMG, 2014).
Doutor e Mestre em Psicologia Clínica (PUC-SP, 2010; PUC-SP, 2005). brunovasconcelos@
pucminas.br.
2
Professor de Filosofia (PUC Minas e Ista). Pós-doutor em Educação (UFMG, 2009). Doutor
em Ciências da Religião (Umesp, 2002). Mestre em Ciências da Religião (PUC-SP, 1995).
[email protected].
89

As escolhas de e por projetos de longa duração, que envolvem a relação


entre ser e estar velho/pessoa idosa na sociedade, indicam práticas pedagó-
gicas intersubjetivas que são cruciais para deslindar, aprender e aprimorar
aspectos psicossociais.
Este capítulo propõe apresentar o modo de conceber a pessoa velha/pes-
soa idosa, em especial aquelas que residem em instituições de longa perma-
nência para idosos (ILPIs), a partir de uma relação que envolve o ato de cuidar
do outro em uma escuta cuidadosa de experiências alheias. Uma prática que
envolve o Projeto de Extensão Arte de cuidar: apoio psicológico às pessoas
idosas residentes e trabalhadores de ILPIs mineiras, da PUC Minas, na relação
de diversos sujeitos sociais que, ao perceber a pessoa nessa etapa de existir
no mundo, institui um modo singular da construção social/educativa da ve-
lhice.

Das relações com a pessoa idosa: experiência e


memória
O mundo dos velhos, de todos os velhos, é de modo mais
ou menos intenso, o mundo da memória. (Bobbio, 1997,
p.300).

Estar velho e envelhecer com o outro parece não ser bom para ninguém.
Pois isso implica refletir a condição humana daqueles que já estão instau-
rados na velhice, aqueles que potencialmente a ela chegarão e as condições
psicossociais de se estar nessa etapa da vida. Os limites da condição humana
indicam as mudanças no corpo e no modo de perceber e significar o mundo.
Essa etapa envolve todo um processo de cuidado com o corpo/mente, bem
como um modo de proteção da pessoa.
Há entre nós, no modo de percepção dessa etapa, formas acalentadoras
desse limite, de prevenção do processo de envelhecimento e das conquistas
de políticas públicas para essa etapa.
A velhice é uma etapa tardia e é possível de não se chegar a ela. As contin-
gências da vida podem antecipá-la de tal maneira que, para aqueles que nela
chegam, ocorre a necessidade de pensar como se envelhece, as formas de
se aproveitar dessa etapa, e refletir sobre direitos e deveres da pessoa nessa
condição.
Assim, envelhecer é uma condição que desde sempre e, particularmente,
para os gregos remonta-se a um processo de perda da vitalidade de existir no
90

tempo. Isso de tal maneira que o ideal era morrer jovem, ou seja, desfrutando
de sua beleza e vigor. A velhice seria uma forma de ultraje à condição de mor-
tais, a esses seres que podem não mais contemplar uma alvorada. A perda da
forma (morphé) era sinal de que se perdeu a juventude (força e vigor). Isto é,
“trata-se do velho sem força física, sem ímpeto, sem a juventude vigorosa e
impossibilitado do manejo do escudo e do carro. É visto e vê a si mesmo como
lamentável e destruído em sua pessoa”. (Gazola, 2011, p.124).
Se, por um lado, a condição da velhice no mundo antigo indicava esse peso,
a compensação está na experiência vivida em um tempo, daí a prática de en-
sinamento aos mais jovens. Uma compensação pelo ato de narrar o aconteci-
mento.
Desde Nestor e Príamo, da Ilíada de Homero aos contemporâneos, só é pos-
sível deixar registradas as práticas do que já foi: aprender a esculpir no tempo
uma experiência digna de ser contada às gerações que chegam ao mundo. É
uma vivência de uma singularidade inscrita na espécie humana.
Talvez a história e as lutas e conquistas sociais da pessoa, nessa etapa de
vida, seja para que ela tenha condições de dizer de si, sobre si, para si. A ne-
cessidade de entender os quadros da velhice nas sociedades, e o modo como
as singularidades que envolvem as escolhas e as contingências do estar velho,
pressupõe explicitar o real nessa etapa da vida. Entender a velhice implica ne-
cessariamente pensá-la de forma universal, ou seja, ela poderá vir para qual-
quer um e de modo particular nas culturas, para identificar o modo como o
velho é acolhido, percebido nas relações instituídas e construídas.
Em um processo de modificações físicas, e de modo geral para compreen-
são do modo universal da velhice na espécie humana, ocorrem transforma-
ções internas e externas. Zimerman aponta para essas modificações basean-
do-se em sua vivência com velhos caracterizando-as da seguinte maneira:

Modificações externas: as bochechas se enrugam; apa-


recem manchas escuras na pele (manchas senis); a pro-
dução de células diminui, a pele perde o tônus, tornan-
do-se flácida; podem surgir verrugas; o nariz alarga-se,
os olhos ficam mais úmidos; há um aumento na quanti-
dade de pelos nas orelhas e no nariz; os ombros ficam
mais arredondados; as veias destacam-se sob a pele dos
membros, enfraquecem; encurvamento postural devido
às modificações na coluna vertebral; diminuição de esta-
tura pelo desgaste das vértebras.
91

Modificações internas : os ossos endurecem; os órgãos


internos atrofiam-se, reduzindo seu funcionamento; os
cérebro perde neurônios e atrofia-se, tornando-se me-
nos eficiente; o metabolismo fica mais lento; a digestão
mais difícil; a insônia aumenta, assim como a fadiga du-
rante o dia; a visão de perto piora devido à falta de flexibi-
lidade do cristalino; a perda de transparência (catarata,
se não operada pode provocar cegueira; as células res-
ponsáveis pela propagação dos sons no ouvido interno
e pela diminuição dos nervos auditivos degeneram-se;
o endurecimento das artérias e seu entupimento provo-
cam arteriosclerose; o olfato e o paladar diminuem. (Zi-
merman, 2005, pp.21-22).

A esse quadro de modificações, que cotejam o universal presente na sin-


gularidade dos sujeitos, configura-se uma possível abertura para doenças. Há
uma fragilidade inevitável da velhice com todos os avanços na área da saúde
contemporânea e nas especialidades médicas para essa etapa da vida. “Estar
velho” implica modificações corporais que afetam as relações sociais e psíqui-
cas. A linha demarcatória entre o adulto e o velho está em aceitar limites de
sua condição.
Como em cada cultura, essas modificações vão sendo acentuadas e passam
a ser remediadas, buscando uma pausa que alivie sofrimentos espirituais e
dores corporais, conviver com as limitações configura um modo singular das
sociedades.
Na sociedade brasileira, percebe-se um envelhecimento ao longo dos anos,
o que marca um perfil no modo de se fazer pertencer ao mundo e, ao mesmo
tempo, uma virada na compreensão da velhice em sua condição de situação
limite imposta pela etapa de vida. Há uma mudança de significação dessa eta-
pa, que tem origem nos estudos da década de 1970.

Na década de 1970 tem início a ressignificação do dis-


curso sobre o envelhecimento que vai conferir virtu-
de e otimismo a todo o universo do envelhecer - medi-
cina, ciência, indústria estética, produção acadêmica,
políticas públicas e muito mais. A velhice, transmutada
em terceira idade, que até então se confundia com um
período sombrio, associado à debilidade física e ao fim
da vida, passou a representar conforto, sociabilidade e
autonomia para pessoas idosas, a partir dos anos 1970.
(Cerqueira & Ribeiro, 2017, p.20).
92

Há uma configuração sobre a velhice construindo significações dicotômicas


marcadas pela etapa da vida e a construção social da velhice, entendida como
a pessoa velha (etapa da vida) e a pessoa idosa (construção social). Configu-
ramos como processos marcados pela mesma urdidura, por isso estão imbri-
cados. Neles estão associados os preconceitos, aceitação da condição limite
do envelhecimento e o processo de institucionalização da pessoa velha. À me-
dida que as melhores condições de vida avançam nessa etapa, tendo em vista
as pesquisas na área da saúde e as reivindicações sociais, há uma tendência
do processo de institucionalização da pessoa idosa, uma espécie de transfe-
rência da obrigação socioafetiva dos familiares para instituições cuidadoras
da pessoa velha em locais públicos e privados.
As inúmeras transformações demográficas em diferentes povos e países
resultaram na diminuição do número de filhos e em um novo desenho das
práticas de cuidado no interior das famílias. Do ponto de vista das políticas
públicas, as pontas frágeis da vida, isto é, crianças e velhos, passaram a dispor
de cuidados sob responsabilidade pública, daí decorrendo diferentes formas
de institucionalização.
A questão da institucionalização da pessoa idosa/velha é crucial na socie-
dade brasileira, quando se considera o aumento do envelhecimento da popu-
lação e a formação valorativa da vida em suas etapas para as gerações mais
jovens. Esse processo de terceirização da pessoa velha para instituições de
pessoas idosas estabelece quadros sociais de compreensão da pessoa idosa
nas relações intersubjetivas entre parentes e cuidadores. A fragilidade física
da velhice tende a aumentar com a fragilidade socioemocional.
Um paradoxo se evidencia: a negação da velhice por parte das pessoas ido-
sas e da sociedade com as melhores condições sociais e de serviços de saúde
no atendimento à pessoa idosa. Tal paradoxo configura situações problemáti-
cas e dilemáticas na figuração da pessoa nessa etapa.
Negar a velhice como etapa implica perder a dimensão de ser uma pessoa
velha com todos os limites que essa etapa impõe, o que nos lembra histórias
e memórias de velhos. Aqui destacamos a experiência de Norberto Bobbio
quando atingiu os 80 anos, em sua experiência única da velhice como etapa:

A velhice é a última etapa da vida, representada como


aquela da decadência, da degeneração, da parábola des-
cendente de um indivíduo, mas também metaforicamen-
te, de uma civilização, de um povo, de uma raça, de uma
cidade. Dentro de uma visão cíclica é o momento no qual
o ciclo termina. De fato o inverno é representado como
um velho decadente que caminha com dificuldade sob a
93

neve... A vida do velho desenvolve-se em marcha lenta.


São cada vez mais lentos os movimentos das mãos e dos
dedos, o que torna difícil manejar instrumentos como o
computador, no qual a agilidade dos dedos é indispen-
sável para o aproveitamento de todo o seu potencial. É
cada vez mais lento o passo: em meus breves passeios
percebo (mas até pouco tempo atrás não percebia,
quantos são os velhos que, como eu, se arrastam pelas
ruas acompanhados muitas vezes de uma pessoa mais
jovem, dando pequenos passos circunspectos, como se
estivessem em uma estrada perigosa, cheia de obstácu-
los, e não em uma rua plana e bem pavimentada da ci-
dade... Também as ideias demoram a surgir na cabeça. E
quando surgem são sempre as mesmas. Que tédio! Não
que o velho seja particularmente apegado às suas ideias.
É que ele não tem outras. (Bobbio, 1997, p.47).
Refletir sobre a velhice e sobre a sua, em particular, marca uma compreen-
são do que se universaliza e o que está singularizado na percepção de mundo.
A velhice é um dos temas universais, como nascimento e morte. O corpo que
entra no mundo tende à dilaceração, à decadência. É possível conservá-lo? É
possível ter uma outra ideia que não seja mais uma etapa do viver?
A figuração dada ao ser velho como forma de negação dessa etapa implica
uma ação de preservação da saúde no adiar os limites do corpo, impondo um
cuidado em uma derivação da ideia de cura ou de proteção do indivíduo. Na
ideia de cuidado, impõe-se o curvar-se sobre o outro, para tentar curá-lo. A
velhice não é uma doença ao fazer parte de uma etapa do viver e de ser pró-
prio da condição de existir no mundo. Ela não tem cura. Por outro lado, a ideia
de proteção conduz à dependência do outro. O reconhecimento de si, em seu
limite do corpo, vivido em uma dependência de um outro, cuja contingência
ainda não se hospedou.
Tanto uma condição como outra implicam entender socialmente e subje-
tivamente a pessoa idosa/velha em seu mundo de limitações e significações.
A experiência e a memória atuam juntas em processos que demandam uma
atitude de cuidado para com a pessoa velha/idosa.
De acordo com Norberto Bobbio (1997, p.17) “a velhice é um tema não aca-
dêmico”. Já a pessoa idosa, sim. Há um hiato entre pesquisa, ensino e exten-
são que o Projeto Arte de Cuidar: apoio psicológico a idosos residentes e tra-
balhadores de ILPIs mineiras buscou e busca reverter. Ele inova uma prática
pedagógica no que se refere ao ser e estar velho/pessoa idosa, através de
uma escuta cuidadosa de seu público-alvo e dos diversos sujeitos sociais que
atuam com a pessoa idosa, atento à escuta apurada das demandas do dizer
de si e para si.
94

Cuidado, suavidade e projeto


No começo, animais e humanos passam pelos mesmos
estágios. Um recém-nascido sobreviveria sem cuidados?
Não é preciso que seja protegido, cercado, falado, pen-
sado, imaginado, para que possa realmente vir ao mun-
do? O que acontece quando a suavidade falta totalmen-
te? O cuidado do pequeno mamífero por sua mãe é outro
nome do envoltório daquilo que não acabou de crescer e
está ameaçado em sua integridade. O estudo das primei-
ras ligações afetivas mostra que, tanto o corpo do bebê
quanto o do animal, guardam na memória todas as in-
tensidades (e todas as carências) que lhe foram concedi-
das. Todo comprometimento grave colocará em perigo,
agora ou mais tarde, suas capacidades de sobrevivência.
(Dufourmantelle, 2022, p.19).

No fim de 2019, a Organização Mundial de Saúde foi alertada da existência


de casos de pneumonia na cidade de Wuhan, na China. A partir daí, o plane-
ta vivenciou a pandemia de coronavírus (Covid-19), com milhares de conta-
minações, doentes e mortos. Os sistemas de saúde não estavam preparados
para as demandas geradas na pandemia, em especial, na escala em que ocor-
reram. Os mais vulneráveis foram os primeiros atingidos.
Uma das demandas surgidas naquele momento indicava algo para além do
combate ao coronavírus: a necessidade de replanejamento das políticas vol-
tadas para a atenção da pessoa idosa. O número de óbitos de pessoas idosas,
além da situação de desamparo, de maneira geral, em alguns países, dispara-
va o alarme de uma preocupação global com o enfrentamento daquele mo-
mento.
Diante de alguns diagnósticos produzidos em grupos de pesquisa, a Pontifícia
Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas) criou, por meio da atuação
conjunta de docentes e discentes, o Projeto Arte de Cuidar: apoio psicológico
a pessoas idosas residentes e trabalhadores de ILPIs mineiras, cujo objetivo ini-
cial era precisamente promover apoio psicológico, de forma remota, a pessoas
idosas e trabalhadores de instituições de longa permanência.
O cuidado às pessoas idosas objetivava reduzir os efeitos do isolamento de-
terminado pelas autoridades sanitárias, buscando ao mesmo tempo promo-
ver saúde a partir das interações entre as pessoas idosas, os trabalhadores
e estudantes universitários. O início, cercado de temores, foi marcado pelas
dúvidas acerca da viabilidade do trabalho remoto, com as tecnologias dispo-
95

níveis naquele momento, principalmente com as pessoas idosas. Mas, para


surpresa geral, foi superado com a adesão das pessoas idosas e o esforço dos
trabalhadores das inúmeras instituições participantes.
O Arte de Cuidar, projeto envolvendo estágios comunitários e práticas ex-
tensionistas, se desdobrou para outras linhas de atuação como o direito de
ser cuidado e o direito da pessoa idosa, a formação dos trabalhadores da área,
a urgente necessidade de planejamento de políticas públicas voltadas para a
pessoa idosa, o olhar atento às cidades despreparadas para o envelhecimento
e outras, de forma que a atuação demandou das equipes pesquisa, qualifica-
ção e criatividade.
Para que fique claro para o leitor, as atividades do Arte de Cuidar consistem
no acolhimento e apoio psicológico às pessoas idosas e trabalhadores da área;
no acompanhamento terapêutico online, em uma multiplicidade de atendi-
mentos; na leitura e contação de histórias; na realização de grupos temáti-
cos; na realização de oficinas de música, tapeçaria e outras; na produção de
material para redes sociais. São realizadas reuniões semanais de supervisão,
envolvendo professores e estudantes, em encontros com as instituições par-
ceiras, em atividades de formação continuada para integrantes e parceiros e
na participação em eventos externos ligados à política da pessoa idosa.
Em 2022, o Arte de Cuidar ampliou as atividades para o modo presencial,
mantendo as atividades online, pois estava atuando em 24 cidades mineiras,
incluindo a capital, e 25 instituições de longa permanência para idosos. Mui-
tas estratégias e diferentes metodologias foram utilizadas, levando-se em
consideração caso a caso, a preferência pelo trabalho individual ou coletivo, o
grau de autonomia das pessoas idosas, a disponibilidade dos trabalhadores,
os recursos tecnológicos disponíveis, o envolvimento de estudantes e as arti-
culações intersetoriais.
Através do esforço de se aprimorar metodologias de trabalho com pessoas
idosas e profissionais da área, com destaque especial para as técnicas e tec-
nologias do cuidado, os resultados até o momento sinalizam uma experiência
enriquecedora para todos os envolvidos: cuidado, vínculo, troca de experiên-
cias, resgate da autoestima pelo reconhecimento dos saberes das pessoas
idosas, espaços de acolhimento psicológico e acompanhamento terapêutico
em um momento em que os níveis dos platôs de saúde mental sinalizam a ur-
gente necessidade de ampliação dessas práticas.
Não há proposta de trabalho com grupos comunitários vulneráveis que não
contenha dificuldades e problemas de solução complexa. No caso do Arte de
Cuidar, foram as dificuldades que desenharam o caminho para uma prática
exitosa. A partir de 2023, o projeto passou a se chamar Arte de Cuidar: clí-
nica, políticas públicas inclusivas e espaços de convivência voltados para a
96

pessoa idosa. Desenvolvido através de estágios do curso de Psicologia da PUC


Minas, ele acontece nas formas presencial e online, com pessoas idosas insti-
tucionalizadas e não institucionalizadas.
A necessidade de se repensar os espaços e trocas cotidianos na política da
pessoa idosa, promoveu a compreensão de que não se podia ficar restrito aos
espaços da institucionalização e às políticas de saúde, gerando a necessidade
de atuação em áreas como educação e cultura. Dessa forma, novos parceiros
integram o projeto. As práticas acontecem nos espaços urbanos, nas visitas
domiciliares, em grupos de convivência, em obras sociais ligadas à igreja e em
espaços culturais.
A prática da escuta e o aprendizado da velhice estão ligados ao cuidado
com a pessoa idosa. Aliás, cuidado que deveria acontecer ao longo de toda
uma vida, mas em especial nas pontas frágeis da vida, na infância e no enve-
lhecimento. Sem o cuidado, essas vidas se despotencializam, perdem sentido
e vitalidade, vida nua, e a morte em vida antecipa a morte.
No Brasil, em 1920, as pessoas idosas representavam 4% da população; já
em 2010, 10,8% da população tinha 60 anos ou mais. (Miranda et al., 2016).
Atualmente, um censo populacional está em andamento e possivelmente
apresentará dados impactados pela pandemia do coronavírus. As desigual-
dades econômicas indicam variadas formas de se envelhecer no país e a ne-
cessidade de compreensão dessa heterogeneidade deve ser um elemento no
planejamento das ações voltadas para pessoas idosas.
O Arte de Cuidar, que faz ciência e faz arte, aprendeu que o contato, o vín-
culo, o estabelecimento de relações com as pessoas idosas e com todos os
envolvidos nesses cuidados, demandam uma certa suavidade, um olhar aten-
to que é carregado de envolvimento, um estabelecer de vínculos que passa
pelo afeto e pela disponibilidade para o outro, velho e pessoa idosa. O cuidar,
na perspectiva do projeto, é, ao mesmo tempo, trabalho complexo e busca
algum tipo de suavidade. Essa característica fica evidenciada nas supervisões
semanais, quando os estudantes relatam a riqueza de suas experiências, não
sem forte carga emocional.
Atentos às agruras e especificidades do envelhecimento e ao caráter ambi-
valente e problemático do lugar das pessoas idosas nas sociedades contem-
porâneas, apostamos na singularidade das relações com o envelhecer, em nós
e com o outro, e pensamos que uma pista para o nosso trabalho cotidiano seja
exatamente a busca de uma suavidade no cuidado, no vínculo e no acompa-
nhamento.
97

Filósofos norte-americanos chamaram esse pensamento


de care, pois lhes permitia falar da vulnerabilidade dos
seres de maneira inédita. Fazer os gestos apropriados
para conter a doença, fechar a ferida, acalmar a dor: o
cuidado está associado, desde o início da humanidade, à
suavidade. Ele exprime a intenção do bem, daquilo que é
dado para além do ato médico ou da substância analgési-
ca. Aqueles que cuidam dos grandes prematuros sabem
disso, pois o mistério da sobrevivência desses bebês tão
frágeis, mas cuja resistência por vezes surpreende, tal-
vez se deva ao fato de que uma palavra ou um gesto lhes
foram concedidos com ternura. A suavidade é suficiente
para curar? Ela não precisa de nenhum poder, nenhum
saber. Para apreender a vulnerabilidade do outro é pre-
ciso que o sujeito reconheça a própria fragilidade. Essa
aceitação é uma força, faz da suavidade um grau mais
alto na compaixão que o simples cuidado. Ter compaixão
é sofrer com o outro aquilo que ele sofre, sem capitular.
É poder se deixar atingir por outro, por sua tristeza ou
sua dor, e conter essa dor levando-a para longe.
Mas a suavidade não é apenas um princípio de relação,
qualquer que seja a intensidade que a anime. Ela abre o
caminho para aquilo que é mais singular no outro. Se a
atenção de suavidade, no sentido do “cuidado da alma”
compreendido por Patocka, acena para nossa responsa-
bilidade de ser humano para com o mundo que nos cerca,
os seres que o compõem e até mesmo os pensamentos
que lhes dedicamos, ela inclui uma relação de familiari-
dade com o animal, o mineral, o vegetal, o estelar. (Dufo-
urmantelle, 2022, p.19-20).

Considerações finais
Refletir sobre e com a pessoa idosa/velha pressupõe projetos de longa du-
ração. Projetos que estão circunscritos na última etapa da vida, cuja expe-
riência e memória conduzem a um aprendizado dialético/ético de acompa-
nhamentos de diversos segmentos sociais.
98

Esse processo de configurar a etapa da velhice como sendo a da pessoa


idosa, pressupõe no campo da política pública, avanços no que se refere à exi-
gência de direitos novos. Ao mesmo tempo, explicita a relação intersubjetiva
da pessoa idosa com familiares e sujeitos presentes nas instituições públicas
e particulares de acolhimento.
Ao entender como a sociedade brasileira em seu processo de envelheci-
mento passou a lidar com a pessoa idosa institucionalizada, abriu-se uma
perspectiva ainda embrionária de projetos que buscam uma escuta cuidado-
sa com a pessoa idosa/velha .
O Arte de Cuidar, projeto realizado com estágios e com a extensão univer-
sitária com a pessoa idosa/velha, nesses três anos de existência, foi desenha-
do pela atuação de uma equipe multidisciplinar, em diálogo permanente com
a área da saúde, e pressupôs a categoria do cuidado, em termos de fragilida-
de, aliada ao de proteção. O Arte de Cuidar busca igualmente na suavidade
uma de suas estratégias metodológicas e, ao fazer da suavidade um elemento
de sua prática, abre com isso novas possibilidades de atuação, marcada pela
singularidade de processos e por outro entendimento da articulação neces-
sária em políticas públicas.
É evidente que, no amadurecimento desses anos de vivência, a equipe con-
figurou um campo de atuação universitária gerador de práticas educativas
com a pessoa idosa/velha e não para a pessoa idosa. Tal experiência tem ge-
rado frutos, tais como o reconhecimento da velhice e a compreensão da sub-
jetividade da pessoa idosa, novas metodologias de escuta singular da pessoa
idosa/velha, mais clareza sobre o alcance das políticas públicas voltadas para
a pessoa idosa e, sobretudo, a possibilidade de se percorrer caminhos na pro-
dução de subjetividade de pessoas idosas/velhas que não aqueles bastante
difundidos socialmente, ora o velho incapaz, “coitadinho”, ora o velho cheio
de vida, forte e capaz de correr maratonas.
Projetos dessa natureza implicam a longa duração e a sua própria transfor-
mação. A importância do papel da universidade é inquestionável. O projeto
Arte de Cuidar, no formato estágios obrigatórios da graduação, está amplian-
do sua atuação para fora das instituições de longa permanência, para os es-
paços da cidade, e até mesmo domiciliares, no formato presencial. O espaço
da velhice é o espaço urbano ou rural, e sua relação se dá com a cidadania.
Viver e experimentar a velhice, ciente dos direitos e deveres nela implicados,
atentos à possibilidade de uma outra suavidade antes de morrer.
99

Referências
Bobbio, N. (1997). O tempo da Memória. De Senectute e outros escritos autobiográficos. Rio
de Janeiro: Campus.

Cerqueira, B.M., & Ribeiro, A. A. V. (2017). Semânticas do envelhecimento - modos de en-


velhecer nos anos 70. In Raimunda Silva D’Alencar (Org.), A Representação Social na
Construção da Velhice Ilhéus-BA: Editus, 1017.

Dufourmantelle, A. (2022). Potências da suavidade. (H. Lencastre, Trad.) n-1 edições.

Gazola, R. (2011). A bela e a boa morte. In: Pensar Mítico e Filosófico - Estudos Sobre a Grécia
Antiga. Loyola.

Miranda, G. M. D., Mendes, A. C. G., & Silva, A. L. A. O envelhecimento populacional brasi-


leiro: desafios e consequências sociais atuais e futuras. Disponível em: https://www.
scielo.br/j/rbgg/a/MT7nmJPPRt9W8vndq8dpzDP/?format=pdf&lang=pt. Acesso em: 21 de
janeiro de 2023.

Zimerman, G. I. (2005). Velhice - Aspectos Biopsicossociais. Artmed.


100

Corpos experienciados em expressão:


relato de uma prática extensionista em
teatro com a população idosa
Bárbara Carbogim1, Emerson de Paula2

Resumo
Este relato tem por objetivo registrar uma experiência de extensão realizada no
período de 2008 até 2010. A proposta se desenvolveu no Lar São Vicente de Paulo,
na cidade de Ouro Preto, no estado de Minas Gerais. Possui como estrutura ser uma
ação extensionista inserida no Projeto Cia. Da Gente3, o qual pertence a Pró-Reitoria
de Extensão da Universidade Federal de Ouro Preto – UFOP, sendo fomentado pela
Fundação Gorceix4. O objetivo geral do Projeto é inserir o fazer teatral em Institui-
ções não-formais, atendendo a públicos bem específicos e diferentes. Os locais tra-
balhados além do Lar São Vicente de Paulo são: Associação de Pais e Amigos dos Ex-
cepcionais (APAE), Hospital Santa Casa e Pastoral da Criança, ambos de Ouro Preto
(MG). A prática extensionista aqui relatada foi realizada no Lar São Vicente de Paulo,
tendo como público os/as seus/suas próprios/as moradores/as.
Palavras-Chave: teatro, pessoas idosas, extensão.

O Projeto “Terceira idade - Uma proposta de construção artística junto a


corpos experienciados” promoveu o desenvolvimento de trabalhos artísticos
a partir do estudo em Teatro tendo como público alvo aproximadamente vin-
te moradores, incluindo homens e mulheres, do Lar São Vicente de Paulo lo-
calizado na cidade de Ouro Preto em Minas Gerais5.
Levando em consideração que a pessoa idosa carrega consigo um grande
número de histórias construídas durante sua vida, pretendeu-se respeitar es-
sas experiências, ir para além delas - não subjugando o corpo da pessoa idosa
1
Professora de Arte da educação básica pública no município de Juiz de Fora-MG e Douto-
randa em Pedagogia das Artes Cênicas pela UDESC-SC. Discente do curso de Licenciatura
em Artes Cênicas da UFOP e bolsista do Projeto Cia.da Gente à época. barbaracarbogim@
hotmail.com.
2
Professor Adjunto do Curso de Teatro da UNIFAP. Professor Substituto do Curso de Artes
Cênicas da UFOP (2009 a 2011). Orientador do Projeto à época. emersondepaula@unifap.
br.
3
Mais informações em: https://ciadagenteufop.wixsite.com/cia-da-gente/trabalhos
4
Mais informações em: https://site.gorceix.org.br/
5
Este projeto também contou com a parceria da artista e arte-educadora Thálita Motta,
que compartilhou e também criou os processos criativos e metodológicos aqui relatados.
101

somente ao seu passado, mas também às experiências do presente - e apro-


veitá-las para conscientizar esse corpo, o qual é marginalizado e reconhecido
como incapaz perante a sociedade ocidental capitalista, muitas vezes tenden-
do assim, ao sedentarismo, reforçado pelo próprio ambiente em que vivem.
A Arte possibilita também o conhecimento do corpo e o que este ainda pode
criar. É por esta via que caminhou o Projeto, transitando entre os sentidos do
tato, olfato, audição e percepção de um olhar dentro do espaço em que os/
as participantes se encontravam. Desenvolveu-se a escuta do próprio corpo,
sua memória e expressão, para gerar o movimento desses corpos envelheci-
dos e, então, modificar o paradigma corporal/intelectual que circunda a pes-
soa idosa. Paradigma este citado por Moreira (Apud Pio, 2009, p.53):

O envelhecimento que está associado ao processo bioló-


gico de declínio e deterioração que ocorre com a passa-
gem do tempo, e é próprio daquelas pessoas que atingi-
ram o estágio final do ciclo vital, no qual a idade se define
como limitativo do bem-estar biológico (fragilidade e/
ou invalidez), psicológico (diminuição da velocidade dos
processos mentais) e comportamental (isolamento).

Através da sensibilização dos cinco sentidos pretendeu-se levar as pessoas


idosas ao autoconhecimento, respeito à individualidade e prazer pelo cole-
tivo, criando também um espaço de conversa e troca, onde puderam se ex-
pressar livremente. Focando sempre na oralidade, compreendemos melhor
as pessoas idosas, sendo este o meio de comunicação eficaz no que tange o
registro das tradições e modos de viver de uma comunidade.
Tratando-se de um público que, em sua maioria, possuía diversas deficiên-
cias e transtornos mentais e que, além disso, residiam em um abrigo (antiga-
mente chamado de asilo) e com visões diversas sobre suas próprias expecta-
tivas de vida, este Projeto teve como relevância o estudo na prática do Teatro
com a terceira idade e a contribuição na pesquisa em Teatro-Educação para
esta faixa etária, uma vertente pouco estudada.
No Lar São Vicente de Paulo as pessoas idosas conviviam, mas muitas vezes
não se conheciam e não se reconheciam, também pelo excesso de medica-
mentos por estes usados. Então, esta prática extensionista buscou gerar o
encontro entre essas pessoas despertando-as para um mundo além de seus
próprios e construindo através do Teatro uma vida com mais qualidade. De
acordo com Anzieu (1989, p.17) a “pele é como dado de origem orgânica e ao
102

mesmo tempo imaginária, como sistema de proteção de nossa individualida-


de, assim como primeiro instrumento e lugar de troca com o outro”. Essas
pessoas idosas carregam/carregavam em sua pele uma gama de vivências em
contraponto a um processo de perdas sensoriais tendo por consequência a
diminuição do desejo, caminhando para processos depressivos e sedentários.
Pensando no contato entre o eu e o outro por meio da pele, o toque se apre-
sentou como auxílio para uma experiência de troca. Baron (2004, p. 18) tam-
bém explicita essa importância:
Durante nossa formação necessitamos estabelecer um
diálogo com nosso corpo, isto nos dá segurança e sen-
tido de pertença, a base de nossa autoestima. A pele da
realidade é a superfície de todos os objetos que a com-
põem, depende de nós deixarmos nosso sinal, nosso ves-
tígio. Temos toda uma história gravada na pele.

Envelhecer de forma sã, com aceitação da idade e dos próprios limites con-
siste em uma busca diária. É nessa busca que incidiu este projeto promoven-
do um envelhecer consciente no encontro entre o expressar e o despertar
também para um dia-a-dia mais prazeroso.

Cotidiano do Lar São Vicente de Paulo


O Lar São Vicente de Paulo está localizado no Bairro Cabeças, na cidade de
Ouro Preto, em Minas Gerais. Por se tratar de um abrigo para pessoas idosas,
lidamos com uma rotina regrada. Ao nos confrontarmos com essa realidade
foi desenvolvido um trabalho em que pudesse haver a modificação do dia-a-
-dia dessas pessoas e uma, mesmo mínima, reflexão de suas realidades, ao
propormos a potencialização das sensibilidades artística e sensorial.
As pessoas idosas no Lar, assim como em outros locais de abrigo para a
terceira idade (ILPI - Instituições de Longa Permanência para Idosos), são de-
nominadas como pessoas idosas institucionalizadas. Quando se instituciona-
liza um local, este assume características circunstancialmente econômicas,
culminando por este viés também os serviços prestados. O ato de reconhecer
uma pessoa como institucionalizada suscita discussões pois, em muitos ca-
sos, é como se o sujeito tivesse perdido sua identidade e se tornado somente
parte integrante de um local, não respondendo mais por si e sendo “dirigido”
por uma coordenação.
103

Como toda instituição, o Lar possui suas normas internas e regras de fun-
cionamento com horários marcados para cada atividade. À época, as pessoas
idosas não possuíam nenhum tipo de recreação, tendo a televisão esta função
de acordo com a direção da instituição. Práticas esportivas rotineiras também
não existiam, havendo algumas aulas esporádicas de ginástica oferecida por
uma voluntária. O contato com atividade cultural existia quando participavam
das aulas de Teatro oferecidas pelo projeto de extensão em questão, mas esta
não abrangia todas internas, pois só praticava a mesma quem demonstrasse
interesse.
O Lar São Vicente de Paulo faz parte de um programa social da igreja católi-
ca que ocasiona o direcionamento e funcionamento da instituição. As pessoas
idosas viviam em alas distintas (masculina e feminina) e possuíam um local
fixo e determinado para se acomodarem chamado Sala de Convivência onde
ficava localizada a televisão; cadeirantes que não iam até o refeitório, acaba-
vam fazendo suas refeições também neste local.
Ao adentrar o abrigo tínhamos contato com um pátio onde pessoas idosas
realizavam banho de sol, um pequeno jardim e uma capela. Dentro do abrigo
se localizavam as alas, o refeitório, os banheiros dos funcionários, a sala de
fisioterapia e a sala de Teatro. O Lar se apresentava como um ambiente am-
plo se considerado o número de moradores/as à época (aproximadamente
sessenta e sete), com um gramado em volta, lavanderia no subsolo e quartos
com até seis internos/as.
Neste percurso, uma questão se apresenta: asilo ou abrigo? Por mais que
na atualidade não se use mais o termo asilo, nos confrontamos ainda com es-
truturas de abrigos em que este significado não se transformou. É importante
refletir que a intenção de mudar a nomenclatura não tenha sido apenas uma
tentativa de amenizar a situação. Essas instituições precisam pensar em me-
todologias de funcionamento em que não se tornem um espaço excludente,
deixando internados/as aqueles/as que “não servem mais para a sociedade”.
Fundamentando esta reflexão, está um dos pontos de vista de Michael Fou-
cault que nos diz (1979, p.121):

Qual poderá ser então o papel do asilo neste movimen-


to de volta às condutas regulares? Certamente ele terá
de início a função que se confiava aos hospitais do sécu-
lo XVIII. Permitir a descoberta da doença mental, afas-
tar tudo aquilo que, no meio do doente possa mascará-
-la confundi-la, dar-lhe formas aberrantes, alimentá-la e
também estimulá-la […].
104

Acreditamos ser necessária a pontuação dessa questão nos levando para a


abertura de uma reflexão sobre os espaços institucionalizados para a pessoa
idosa por nos apresentar vias diversas de estudo sobre as políticas públicas
e os direitos das pessoas idosas no Brasil. Neste sentido, esta ação extensio-
nista apresenta uma possibilidade de promover um trabalho qualitativo so-
bre o envelhecimento populacional, com ênfase na Cultura, promovido pela
universidade consolidando sua missão de diálogo com a comunidade a que
pertence.

Descoberta de uma metodologia do ensino teatral


para a pessoa idosa institucionalizada
Este projeto considerou dois conceitos: experiência e experienciar. O
que chamamos de corpos experienciados é a junção dessas duas ideias prin-
cipais no corpo da pessoa idosa observando a potência da idade e das vivên-
cias. A experiência segundo Larrosa (Apud Telles, 2007, p.2), pensador da
Educação, é aquilo “o que nos passa, o que nos acontece, o que nos toca” e
o experienciar segundo Telles (2007, p.1) a partir do pensamento do filósofo
Gadamer é “este movimento que devolve ao homem o conhecimento de sua
finitude, pois cada experiência faz com que perceba sua limitação diante do
mundo”. Já para a teatróloga Viola Spolin (Apud Telles, 2001, p.4), “experien-
ciar é penetrar no ambiente, é envolver-se total e organicamente com ele.
Isto significa envolvimento em todos os níveis: intelectual, físico e intuitivo”.
As pessoas idosas do Lar São Vicente de Paulo eram mais tocadas pelo o
que passaram em suas vidas, pois por estarem abrigadas se alimentam/ali-
mentavam da reflexão e nostalgia de suas experiências. Tornaram-se obser-
vadores/as pacatos/as do que ainda não viveram por desacreditarem em suas
expectativas de vida e enxergarem cada vez mais próxima sua finitude. E é na
busca da velhice enquanto qualidade que continuamos os/as considerando
corpos experienciados, para que a Arte e mais especificamente o Teatro, con-
tribuíssem no cotidiano desse abrigo.
De acordo com a Teoria do Desengajamento de Elaine Cummings e Willian
Henry (Apud Oliveira, 2002, p.39) “o envelhecimento é como um decréscimo
inevitável na interação entre a pessoa que envelhece e as demais [...] Portan-
to, existe um retraimento recíproco entre sociedade e indivíduo”. Assim, a
sociedade não está disposta a receber a participação da pessoa idosa e con-
sequentemente a exclui. Inseridas em um abrigo, encontramos uma popu-
lação idosa desmotivada, se considerando abandonada por seus familiares e
sem expectativas de vida. Retirá-las desse paradigma era o grande desafio e
105

também instigá-las a desejar algo, a redescobrir seus gostos, a questionar a


realidade em que estavam inseridas, a se reconhecerem pessoas idosas, mas
não incapazes e provarem para elas mesmas que é possível envelhecer de for-
ma saudável, num sentido amplo dessa expressão.
Pudemos observar que a realidade ali se caracterizava pela ideia de que a
vida estava em detrimento daquilo que se foi e não do vir a ser. Por mais que a
memória não armazene todas as vivências, o corpo as carrega inconsciente-
mente, registrando na pele o que a mente esqueceu. Por isso, é tão essencial
o estímulo aos cinco sentidos - por existir as perdas sensoriais ocasionadas
pelo tempo e que faz o envelhecer algo passível de difícil aceitação. Notamos
que ao estimular os sentidos poderíamos aguçar a sensibilidade e tornar mais
ativa a participação de algumas pessoas idosas, principalmente as que haviam
se tornado Pessoas com Deficiência. Neste ponto o trabalho se mostrou de-
licado e complexo, pois se tratava de pessoas idosas com as mais específicas
necessidades. De certa forma, o Projeto iniciou um diálogo com a Acessibi-
lidade Cultural, mas esta temática carece de um outro momento para uma
reflexão específica.
Uma atividade significativa de utilização e sensibilização dos sentidos foi
assim realizada: iniciamos o encontro com a exposição da importância desses
sentidos e a falta de percepção diária dos mesmos. Após isso, ativamos o ol-
fato através da venda dos olhos e propomos um jogo de adivinhações levando
elementos como sementes de café, folhas de chás e incensos diversificados.
A segunda parte era a sensibilização do tato também com os olhos vendados
em que utilizamos materiais presentes no próprio ambiente. Percebemos a
ativação da concentração das pessoas idosas, como também o desconforto
em não saber o que estava acontecendo, concomitantemente com a curio-
sidade. Constatamos depois de um determinado período de trabalho, como
a imagem é algo que se faz necessário na percepção dessas pessoas idosas e
o modo como havia o entendimento e compreensão de uma proposta quan-
do esta se inseria. Ao levar para os encontros quadros de pintura de rostos
de mulheres, as pessoas idosas conseguiram abstrair com mais facilidade e
deixar a imaginação fluir através da construção de estórias daquela figura, se
permitiram à descoberta do jogo e era notável o interesse em revelar aquela
imagem.
Incomodava o fato de não conseguirmos inserir diretamente a linguagem
teatral nos encontros. Então, partindo da constatação anterior, propomos um
determinado período em que trabalharíamos, aos poucos, um texto dramáti-
co, onde em cada encontro seria escolhido uma cena diferente. Escolhemos a
106

peça teatral Tartufo6 de Molière7. Tal escolha se deu pela peça por possuir al-
gumas características que se relacionavam com a história das pessoas idosas,
assuntos sobre a religião, o casamento, porém abordados de forma cômica e
até irônica que pode gerar uma reflexão crítica desses valores. Partimos en-
tão, para a construção de uma dramaturgia de imagem ao explicar o que é um
texto dramático. Começamos a contextualizar os elementos teatrais como
personagens, espaço cênico, conflito da cena e suas ações. Ao desenvolver a
dramaturgia a partir de recortes de revistas compreendemos o contexto da
peça teatral e a partir daí desenvolvemos as outras questões que permeiam
o Teatro.
A segunda etapa era a compreensão das personagens e seus respectivos
figurinos tendo sempre a imagem em primeiro lugar. Desenhamos as ideias
construídas por todas e com alguns adereços caracterizamos as pessoas
idosas. Na terceira etapa foi apresentado o espaço cênico, mas antes disso,
percebemos o ambiente em que viviam: as pessoas idosas desenharam como
seria a sala em uma folha branca, depois desenharam esta mesma sala em
um papel áspero e em seguida caminhamos pela sala atentando para cada
detalhe, cheiro, sensação de calor ou frio, textura das paredes, temperatura
do chão e assim em diante. Voltamos para o Tartufo e pensamos os espaços
cênicos realistas e surrealistas, desenhamos e construímos com nossos ele-
mentos este espaço, ressignificando alguns materiais e introduzindo a ideia
destas duas vanguardas. Este processo durou mais de um mês e foi de gran-
des resultados, conseguimos relacionar o contexto teatral à realidade daque-
le ambiente e o interesse pela atividade.
Desenvolvendo mais especificamente a identidade de cada participante,
tema este sempre relacionado às atividades que propomos, aplicamos a prá-
tica psicomotora de construção de corpos com massa de modelar e olhos
vendados. Os corpos experienciados se transformaram em formas abstratas
bem diferentes uns dos outros. Neste mesmo encontro houve o desenvol-
vimento de um autorretrato com tinta em um envelope. Estas duas ativida-
des no mesmo dia se completaram e se relacionaram mostrando a percepção
destas pessoas idosas para com seus corpos e suas fisionomias. O produto
finalizado foi de muita expressividade.
Com estas atividades pudemos começar no processo da oralidade, que
consistiu em análises de discursos trabalhando o reconhecimento e a inter-
pretação de si através dos diferentes formatos de autorretratos, buscando
os sentimentos e características pessoais juntamente com o resgate do que
aquela imagem representava. Percebeu-se como o fato de estarem contando
sobre si mesmas, suas experiências, as faziam observar e participar mais ati-
vamente dos encontros.
6
Mais informações em: https://www.culturaanimi.com.br/post/o-tartufo-de-moli%C3%A-
8re.
7
Mais informações em: https://www.aliancafrancesa.com.br/novidades/400-anos-de-mo-
liere-quem-foi-moliere/.
107

Ao longo do processo, por sermos uma ação extensionista ligada a um pro-


jeto maior de extensão e sermos fomentados pela Fundação Gorceix, tivemos
que mostrar um produto final do que estava sendo desenvolvido. Propomos
a realização e mostra de um documentário, criado a partir do trabalho com a
oralidade e o autorretrato que iria melhor explicar o que fazíamos e apresen-
tar o pensamento dos/das participantes. Esta apresentação foi significativa
devido a observação das pessoas idosas para consigo. Quando se assistiram
no vídeo se reconheceram, foram colocadas como protagonistas, apresenta-
ram suas possibilidades e capacidades artísticas, tiveram o direito de expres-
sar o que sentem e criticar/refletir a situação em que vivem, diferentemente
de como sempre são/eram vistas, de como sempre são/eram apresentadas
para as pessoas que ali as visitavam.
No primeiro semestre de 2010, com a continuidade do projeto, partimos
para um foco maior no corpo pois queríamos realmente movimentá-los, mas
com todo o cuidado e limite de suas estruturas corporais. Inserimos um aque-
cimento corporal e vocal todos os dias de nossos encontros, mas estes tam-
bém se deram através de relações com suas realidades. Por exemplo, como a
grande maioria é oriunda da zona rural, o alongamento era direcionado para
o abrir de janelas, a respiração daquele ar de campo, as etapas do plantio até
a colheita e partilha das frutas, flores, verduras, legumes imaginados (este
exercício foi baseado na proposta do arte-educador Dan Baron8). O interes-
sante foi que introduzimos essa proposta depois de plantarmos verdadeira-
mente com eles/as feijão e girassol, buscando nisso a continuidade do traba-
lho, assim, ao cuidarem e olharem para os vasos não se esqueceriam do que
construímos, porém, essa estratégia não se efetivou.
Este ponto é importante, pois tínhamos dificuldade em dar continuidade
ao processo de uma semana para outra pelo fato de suas memórias se apre-
sentarem comprometidas e por não termos tido a possibilidade, à época, de
expor o trabalho realizado em qualquer espaço da instituição.
Lidamos com uma perda importante quando se chega à terceira idade que
é a memória. Oliver Sacks em seu livro “O homem que confundiu sua mulher
com um chapéu” conta histórias de pacientes que perdem a memória e não se
curam, estes geralmente são internados. O que há com a sociedade que não
consegue conviver com essas pessoas? A perda de memória promove uma
mudança na lida com o mundo, que difere da relação tal qual a sociedade oci-
dental capitalista apresenta e que Bunuel (Apud Sacks,1997, p.38), explica:
É preciso começar a perder a memória, mesmo que a
das pequenas coisas, para percebermos que é a memó-
ria que faz nossa vida. Vida sem memória não é vida. […]
8
Mais informações em: https://en.wikipedia.org/wiki/Dan_Baron_Cohen
108

Nossa memória é nossa coerência, nossa razão, nosso


sentimento, até mesmo nossa ação. Sem ela somos nada.
[…] só posso esperar pela amnésia final, a que pode apa-
gar toda uma vida, como fez com a de minha mãe.
Retomando a inserção do trabalho corporal, percebemos que por causa
dele tivemos um crescimento na participação das pessoas idosas, pois além
de se divertirem e se movimentarem, tocamos em algo palpável, o contato
físico, e fez toda a diferença. Aconteceu de uma pessoa idosa participante
que em um ano de processo nunca havia falado e, de repente, soltou gritos e
frases, que ao nosso ver eram de reivindicação. Isso mostra mais uma vez a
importância da expressão corporal dentro da prática teatral para um maior
autoconhecimento.
As pessoas idosas participantes da ação extensionista, moram/moravam em
alas diferentes, possuindo pouco contato entre homens e mulheres. Quando
conseguíamos reunir as duas alas era uma transformação em todos os senti-
dos, pois tinham pessoas que não se conheciam, existiam poucos que convi-
viam e incrivelmente até dois irmãos que não se viam: a senhora se esquecera
do irmão, continuaram sem se relacionar, o irmão sentia saudades e a irmã já
nem se lembrava. Mas o contato, reavivou os sentidos e as lembranças!
Dando continuidade e aprofundando na série de encontros através do texto
teatral, trabalhamos com as mulheres o texto teatral Gota D’água9 e com os
homens Ópera do Malandro10, ambos musicais de Chico Buarque11, pois além
de tratar temáticas interessantes ao trabalho, tínhamos o elemento artístico
da música, que eram canções que conhecíamos. Por exemplo: com as mulhe-
res focamos no primeiro ato que era o encontro das lavadeiras, então traba-
lhamos ações físicas e cotidianas do ato de lavar a roupa sem perder também
a contextualização da peça; com os homens demos prioridade para a figura
do homem protagonista da peça, com sua personalidade e vida pessoal/pro-
fissional, suas relações com os amigos, com as mulheres. Com os dois grupos
trabalhamos as realidades cenográficas que eram de cortiço e vila.
Estes exemplos das práticas extensionistas em Teatro pretendem apresen-
tar possibilidades de ações culturais com a população idosa contribuindo aqui
com uma temática ainda pouco explorada que é o Teatro com pessoas ido-
sas. A Pedagogia do Teatro avançou muito no que tange o estudo, aprofun-
damento, metodologias e pesquisas voltadas ao Teatro com/para e a partir
da comunidade. Mas a questão do envelhecimento ainda necessita de maior
socialização/atenção por diferentes áreas (para além da Saúde e do Social,
9 Mais informações em: http://joinville.ifsc.edu.br/~luciana.cesconetto/Textos%20teatrais/
CHICO%20BUARQUE%20-%20Gota%20D%C3%A1gua.pdf
10 Mais informações em: https://teatroemescala.com/2021/04/12/opera-do-malandro/
11 Mais informações em: http://www.chicobuarque.com.br/
109

chegar à Cultura) e a universidade é um local em que ações como estas são


mobilizadas, realizadas e fomentadas por uma política de extensão institu-
cionalizada que, além de contribuir com a comunidade em que a Instituição
está inserida, contribui diretamente na formação de graduandos/as que se
permitem a estas experiências.

Ir/Dialogar/Pertencer à Comunidade: Extensão como


ação política e formativa
Uma característica comum em trabalhos extensionistas é a ligação com a
Educação Libertadora de Paulo Freire, contextualizada no conceito de ilumi-
nação. Paulo Freire (2008) defende a ideia de que nós educadores/as, deve-
mos iluminar a realidade dos/as educandos/as para ativarmos a potenciali-
dade criadora. E é dentro deste pensamento de educador/a libertador/a que
nos posicionamos, desafiando as pessoas idosas a se conscientizarem da li-
berdade que podem/podiam ter, despertando as para a situação em que es-
tavam inseridas, iluminando suas mentes para o poder e o desejo que ainda
possuem/possuíam. São ideias que podem ser consideradas utópicas, mas foi
a maneira encontrada para movimentar um pouco os padrões sociais, e ci-
tando ainda Freire (2008, p.209), pensar que a utopia é denunciar e propor
efetivamente a mudança, pois:
O educador libertador tem de criar criando, isto é, inse-
rido na prática, aprendendo os limites muito concretos
de sua ação, esclarecendo-se sobre as possibilidades,
não muito aquém e nem muito além de nossos limites
do medo necessário. [...] Isto é o utopismo, como relação
dialética entre denunciar o presente e anunciar o futuro.
Antecipar o amanhã pelo sonho de hoje. A questão é o
que Cabral (rodapé) disse: O sonho é um sonho possível
ou não? Se é menos possível, trata-se para nós, de saber
como torná-lo mais possível.

É indispensável também assumir a postura política que os projetos exten-


sionistas possuem uma vez que, ações em/com diversos públicos e comuni-
dades, promovem mudanças de pontos de vista em relação a diversas ques-
tões tanto a quem participa como a quem a realiza.
O trabalho se pautou na redescoberta de aprendizes que, a partir do ato
criativo, utilizando recursos expressivos e linguagens não-verbais, desenvol-
110

vessem suas potencialidades como indivíduo dentro de um coletivo institu-


cionalizado, reconhecendo a si mesmo e o outro, assim como, o espaço em
que vivem/viveram, isto para se alcançar um objetivo maior que era a busca
por um envelhecimento saudável em todos os sentidos.
O envelhecimento é mais um ciclo da vida e ações como esta aqui relatada
podem contribuir com a erradicação do preconceito etário. Cabe ao Teatro-
-Educação propiciar, através do contato/fazer cultural, que é direito de todos
e todas, encontros sinestésicos capazes de promover experiências pessoais e
coletivas mediadas pela Arte e que possam ser transpostas para a vida diária.
Este processo que perdurou quase dois anos, se desenvolveu com muita
dificuldade por falta de pesquisa nesta área, uma vez que as referências exis-
tentes naquele período tratavam, geralmente, de uma terceira idade “ativa e
saudável” carecendo de pesquisas na área com a população idosa institucio-
nalizada. Fato este marcado pela própria história do termo terceira idade:
Se, de um lado, a “invenção” da terceira idade trouxe
para os aposentados novas possibilidades de viver o en-
velhecimento, por outro impôs um estilo de vida e uma
tentativa de homogeneização da velhice, encobrindo, em
parte, os problemas e dificuldades dos idosos empobre-
cidos e dos idosos mais velhos (Koudela & Júnior, 2015,
p. 188).

Registramos também a importância de como este trabalho extensionista


nos levou a repensar sobre o conceito de velhice que possuíamos à época
em diálogo com a inexperiência inicial para a realização de tal prática. O que
une coletivamente quem proporcionou esta ação e quem dela participou foi
a experiência nos fazendo descobrir caminhos metodológicos construídos no
tempo que o envelhecer nos indicou.
111

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pdf. Acesso em: 5 de outubro de 2022.
112

Universidade aberta para a terceira idade:


qualidade de vida ao envelhecer
Márcio José Pinto Ribeiro1, Jones Nogueira Barros2, Carmen Pineda Nebot3,
Ana Maria de Albuquerque Vasconcellos4

Resumo
O envelhecimento populacional é um fenômeno mundial que demanda atenção de
diversas políticas públicas. No Brasil, surgiram programas universitários voltados
para a população idosa, por exemplo, das Universidades Abertas para a Terceira
Idade (UnATI). O artigo é resultado de uma pesquisa dividida em 2 etapas, a pri-
meira um levantamento histórico e a segunda uma análise da UnATI, programa de
extensão da Universidade Federal do Pará (UFPA). O artigo foca na primeira etapa e
trata do processo histórico de criação dos programas universitários no Brasil e sua
relevância para a qualidade de vida das pessoas idosas. Conclui-se que os primeiros
programas de cunho educativo para as pessoas idosas foram liderados pelo SESC -
Serviço Social do Comércio, que posteriormente se disseminou pelas universidades
brasileiras, constituindo-se as UnATIs.
Palavras-chave: universidade aberta, longevidade,envelhecimento.

O que nos move


O envelhecimento populacional é um fenômeno mundial com estimativa de
aumento constante, que demanda atenção de diversas políticas públicas, nas
áreas da saúde, mobilidade, econômica, social e educacional, dentre outras.
Tais políticas interferem na qualidade e nas condições de vida da pessoa ido-
sa, com reflexos nas relações sociais, suas experiências pessoais e afetivas.
Neste contexto, criou-se no Brasil diversos instrumentos como forma de
garantir e fortalecer a criação de políticas públicas voltadas às necessidades
das pessoas idosas, ainda que precisem de maior efetividade.
Um desses instrumentos são os programas universitários voltados para a
população idosa, por exemplo, das Universidades Abertas para a Terceira Ida-
de (UnATI), esses espaços têm como objetivo oferecer uma alternativa para
1
Universidade da Amazônia
2
Universidade da Amazônia
3
Gigapp/Gegop
4
Universidade da Amazônia
113

que as pessoas idosas utilizem seu tempo livre de maneira cultural, social e
esportiva. Além disso, visam também à integração das pessoas idosas com
diferentes gerações, assim como a atualização e aquisição de novos conheci-
mentos, possibilitando a participação integral, a elevação da autoestima, vi-
sando a melhora da qualidade de vida desse grupo populacional.
O artigo apresenta o resultado parcial de uma pesquisa sobre as Univer-
sidades Abertas para a Terceira Idade e a qualidade de vida ao envelhecer. A
pesquisa foi dividida em 2 etapas, sendo a primeira um levantamento históri-
co e a segunda etapa, análise da Universidade da Terceira Idade, programa de
extensão da Universidade Federal do Pará (UFPA).
O artigo foca na primeira etapa e trata do processo histórico de criação dos
programas universitários no Brasil e sua relevância para a qualidade de vida
das pessoas idosas. Conclui-se que os primeiros programas de cunho edu-
cativo para as pessoas idosas foram liderados pelo SESC - Serviço Social do
Comércio, que posteriormente se disseminou pelas universidades brasileiras,
constituindo-se as UnATIs.

Revirando a história – a criação das Universidades


Abertas para a Terceira Idade (UnATI) no Brasil
Antes de adentrarmos a história da criação das Universidades Abertas para
a Terceira Idade (UnATI) no Brasil é necessário situar como surgiram as pri-
meiras iniciativas nesse sentido no mundo.
Identifica-se historicamente o pioneirismo da França no trabalho com edu-
cação junto à população idosa, a criação da Université Du Troisième Âge –
Universidade da Terceira Idade (UnTI) (Silva et al., 2019).
No Brasil, nos anos de 1980, foram criadas as UnTI da Universidade Federal
de Santa Catarina (UFSC) - Núcleo de Estudos da Terceira Idade (NETI) e da
Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) - Núcleo Integrado de Estudos e
Apoio à Terceira Idade (NIEATI). No ano de 1990, a PUC-Campinas e o Servi-
ço Social do Comércio (SESC) criaram a Universidade da Terceira Idade, nos
moldes do Modelo Francês. O pioneirismo das duas universidades brasilei-
ras fez com que a iniciativa se propagasse pelas demais universidades. Silva
(2019) evidencia que no ano de 2016, 36 das 63 universidades federais brasi-
leiras desenvolviam atividades com UnTI, como apresenta o Quadro 1.
114

Quadro 1
UnTI de Universidades Públicas Federais do Brasil
IFES Denominação da UnTI Idade Data
UFSC NETI 50 anos 1983
UFSM NIEATI 55 anos 1984
UFU AFRID 50 anos 1989
UFJF Polo de Enriquecimento Cultural para 45 anos 1991
a Terceira Idade.
UFRGS Núcleo de Estudos Interdisciplinares 60 anos 1991
sobre o Envelhecimento: UNITI
UFPB Núcleo Integrado de Estudos e Pesqui- 60 anos 1992
sas da Terceira Idade: NIETI
UFF Centro de Referência em Atenção à 60 anos 1992
Saúde do Idoso: CRASI
UFMT NEATI 45 anos 1993
UFMG Projeto Maioridade - Universidade 60 anos 1993
Aberta para a Terceira Idade.
UFOP Programa Terceira Idade. 60 anos 1993
UFPel Núcleo de Atividades para a Terceira 60 anos 1993
Idade: NATI
UFAM PIFPS-U3IA 45 anos 1994
UFPA Programa Universidade da Terceira 55 anos 1994
Idade: UNITERCI
FURG Núcleo Universitário da Terceira Ida- 60 anos 1994
de: NUTI
UFSJ Programa Universidade para a Tercei- 55 anos 1995
ra Idade.
UNIRIO Grupo Renascer. 55 anos 1995
UFMA Universidade Integrada da Terceira 50 anos 1995
Idade: UNITI
UFES Núcleo de Estudos sobre o Envelhe- 60 anos 1996
cimento e Assessoramento à Pessoa
Idosa: NEEAPI
UFS Núcleo de Pesquisa e Ações da Tercei- 60 anos 1998
ra Idade: NUPATI
UFPI Núcleo de Pesquisa e Extensão Univer- 55 anos 1998
sitária para a Terceira Idade: NUPEU-
TI
UNIFAL UNATI 50 anos 1999
UNIFESP Universidade Aberta à Terceira Idade: 60 anos 1999
UATI
UFAC UNATI 60 anos 1999
UFPE UnATI 60 anos 2002
UFSCar Programa de Revitalização de Idosos. 50 anos 2005
UFT Universidade da Maturidade: UMA 45 anos 2006
115

IFES Denominação da UnTI Idade Data


UNIFAP Universidade da Maturidade da Uni- 60 anos 2006
versidade Federal do Amapá: UMAP
UFTM Universidade Aberta à Terceira Idade. 60 anos 2009
UFMS Programa de Promoção dos Direitos 60 anos 2010
Humanos da Pessoa Idosa: UNAPI
UFAL UNATI 60 anos 2011
UFPR Universidade Aberta da Maturidade: 55 anos 2012
UAM
UFGD Terceira Idade na Universidade. 55 anos 2013
UFRR Projeto Girassol. 60 anos 2013
UFCSPA Esporte e Lazer para Idosos / Progra- 60 anos 2015
ma de Exercício, Saúde e Cidadania
para Idosos.
UNIVASF UNATI 60 anos 2015
UFRB Programa Universidade Aberta da 60 anos 2015
Terceira Idade.
Fonte:
Elaborado pelos autores a partir de Silva et al, (2019)

Como resultado da pesquisa realizada em UnATI públicas, Silva et al. (2019)


relata que os resultados mostraram que as UnATI são atividades de extensão
universitária, com registros na Pró-Reitoria de Extensão, Direção de Centro
ou Departamento de Ensino, das universidades estudadas.
Os resultados da pesquisa apontam, ainda, que são utilizadas variadas ações
e metodologias para a educação pelas UnATI com diversas estratégias de for-
mação como a organização em módulos, oficinas, atividades e cursos para as
pessoas idosas; palestras, jornadas e debates. E também, ações de educação
não diretamente junto às pessoas idosas, mas relacionadas com a capacita-
ção de Conselhos e conselheiros, cuidadores, orientação para grupos de con-
vivência; especialização em gerontologia; treinamento dos bolsistas da UnATI
(Silva et al., 2019).
O estudo de Silva et al. (2019) questiona a necessidade de institucionali-
zação das UnATI para além dos projetos de extensão, com oferta no ensino
de disciplinas que tratam do envelhecimento e que possibilite a inserção das
pessoas idosas participantes, como estudantes em cursos regulares, bem
como o atendimento a legislação que regula as universidades brasileiras e
trata como indissociáveis as atividades de ensino, pesquisa e extensão (BRA-
SIL, 1988).
Na busca de maior compreensão do processo de criação e ampliação das
UnATI no Brasil, para além das questões já tratados por Silva et al. (2019),
observa-se a falta de dotação orçamentária que garantem o desenvolvimento
dos projetos, o que condiciona as atividades a colaboração de facilitadores
voluntários que são profissionais da universidade ou externos, alunos com
116

projetos de pesquisa, e bolsistas e alguns coordenadores (Silva et al., 2019;


Loreto & Ferreira, 2014; Silva, 2013; Cachioni, 2012).
A falta de orçamento diverge dos instrumentos legais como o Estatuto da
Pessoa Idosa que preconiza que a inserção de conteúdos voltados ao proces-
so de envelhecimento, respeito e valorização da pessoa idosa nos currículos
mínimos dos diversos níveis de ensino formal como forma de eliminar o pre-
conceito e produzir conhecimentos sobre o tema (Silva et al., 2019; Brasil,
2003).
Importa compreender que o estudo sobre as UnATI revela a diversidade de
ações desenvolvidas em cada universidade. Silva et al. (2019) destaca que as
universidades compreendem espaços diversos, o que reflete na diversidade
de projetos, que deve ser respeitada, até porque cada região do país tem suas
características, e ao longo dos anos as UnATI desenvolveram know-how para
desenvolver atividades relevantes voltadas ao público específico. Muitas das
conquistas das pessoas idosas brasileiras estão entrelaçadas com estes pro-
gramas, que são referência na comunidade na qual estão inseridas. Tal hete-
rogeneidade nas ofertas destes programas é vista como positiva, tendo em
vista à adaptação ao contexto, mas para o estabelecimento de políticas mais
concretas, algumas diretrizes podem ser dadas, sem a ideia de engessar tais
programas, que necessitam de flexibilidade.
Compreende-se que as UnATI desenvolvem trabalho de inclusão social e
estabelecem elo com as comunidades onde estão inseridas, mas que preci-
sa ser fortalecida para além das atividades extensionistas, as quais têm seu
potencial e reconhecimento, podendo integrar o tripé do ensino, como esta-
belece a legislação universitária brasileira. Ressalta-se que tal fortalecimento
demanda interesse e decisão política, que de fato priorize o atendimento com
políticas públicas mais assertivas e amplas, especialmente com alocação de
orçamento, que atendam a população idosa.

A pessoa idosa universitária: levantamento das


Universidades Abertas para a Terceira Idade (UnATI)
O envelhecimento da população no Brasil, afetará todos os aspectos da so-
ciedade, desde a seguridade social e assistência de saúde, até o planejamento
urbano, oportunidades educacionais e mercado de trabalho, impondo neces-
sidade de atenção com tempo limitado para ajustes (Silva et al.,2019; Banco
Mundial, 2011).
Diante do cenário de envelhecimento da população, a educação das pes-
soas idosas, como resposta aos desafios e demandas sociais latentes mostra-
117

-se como indispensável, inclusiva e inovadora, que promova o acesso (Silva et


al., 2019; Cachioni, 2013).
Considera-se que as representações da velhice são sociais e em permanen-
te mudança, relacionadas à posição remetida às pessoas idosas na socieda-
de, refletindo as mudanças físicas, as necessidades políticas e econômicas
de uma época, impondo às pessoas idosas desafios de comportamentos, de
atitudes e de valores, cujo papel das instituições de ensino apontam para as
múltiplas possibilidades, no caso das universidades são inexoráveis (Silva et
al., 2019; Daniel, 2006).
Inouye et al. (2018) considera que a educação na velhice tem como finali-
dade promover conhecimentos de diversos campos de saberes que deter-
minam redimensionamentos para o fomento da qualidade de vida. Para os
autores, a educação para as pessoas idosas precisa ter como base pressupos-
tos de interdisciplinaridade, participação social e promoção da saúde. Tais
argumentos corroboram com a observação de Pereira (2022) de que muitas
das pessoas idosas que procuram as UnATIs apresentam sintomas depressi-
vos, ansiedade e índice de stress. Neste sentido, estratégias interdisciplinares
associadas à Psicologia Positiva podem contribuir para tais situações proble-
mas, especialmente atuando na prevenção de adoecimento.
Martín García e Requejo Osório (2005) relataram ser relevante potenciali-
zar os aspectos positivos e diminuir os negativos da mudança etária, sem nu-
trir ilusões que ocultem a verdade do envelhecimento, nem assumir a atitude
pessimista de ausência de possibilidades (Silva et al., 2019).
Apreende-se por meio da literatura consultada que os modelos de UnATI
apresentam-se diversos, como o contexto. Destaca-se que o modelo Francês se
fundamenta no sistema universitário tradicional, o Anglo-saxão foca na apren-
dizagem compartilhada e autoajuda. No modelo Norte-americano as pessoas
idosas participam mais na organização dos cursos, e o modelo chinês foca mais
na vida e cultura tradicional dentro da comunidade (Cachioni, 2012).
O modelo Sul-americano, no qual insere-se o contexto brasileiro, segue o
modelo Francês e cabe destacar que funciona dentro das instituições de nível
superior (Cachioni, 2012), especificamente, nos projetos de extensão.
No caso brasileiro, a emergência do tema pela educação das pessoas ido-
sas, dá-se em um contexto de mudança previdenciária no final das décadas
de 60 e 70 e desencadeou a participação e movimento dos sindicatos no pro-
tagonismo quanto a este tema, surgindo então as associações que buscaram
ocupar esse espaço e a manifestar-se sobre pleitos dessa categoria. Esse
movimento deu maior visibilidade à causa das pessoas idosas brasileiras (Ca-
chioni, 2012; Simões,1998).
118

Concebeu-se no país, nas décadas dos anos 60 e 70, os primeiros progra-


mas de cunho educativo para as pessoas idosas liderados pelo SESC - Serviço
Social do Comércio, que posteriormente se disseminou pelas universidades
brasileiras (Cachioni, 2012).
A Universidade Federal de Santa Catarina, criou em 1982, o Núcleo de Estu-
dos da Terceira Idade (NETI). O foco desse núcleo é na realização de estudos,
na divulgação de conhecimentos gerontológicos, e na formação de recursos
humanos, que é considerado o primeiro programa brasileiro com caracterís-
ticas de Universidade da Terceira Idade. Porém, somente em 1990 a PUC -
Pontifícia Universidade Católica de Campinas criou um programa conforme o
Modelo Francês (Cachioni, 2012).
O programa da PUC Campinas estabeleceu como objetivo propiciar aos
mais velhos um ambiente de aprendizagem e culturalmente estimulante, de
diálogo entre seus pares, de exercício da cidadania, para ocupação do tempo
livre e de estabelecimento de redes sociais e influenciou as primeiras univer-
sidades da terceira idade no Brasil. A PUC Campinas desenvolveu o modelo
semelhante à Toulouse, com especial ênfase na revisão de estereótipos e pre-
conceitos em relação à velhice. Mas o perfil dos alunos brasileiros não era de
solidão e inatividade; de condições de vida precária e, sim, de pessoas ativas,
saudáveis, e engajadas socialmente (Cachioni, 2012).
Estima-seque no ano de 2012, no Brasil, já somava mais de 200 programas
com esse formato em instituições de ensino superior. Na maioria formado por
projetos de extensão universitária. Tais programas se caracterizam também
pela modalidade de educação permanente de natureza não-formal, cujo ob-
jetivo não seria certificar ou profissionalizar as pessoas idosas, mas, sim, pos-
sibilitar o aprendizado ao longo de toda a vida. O ambiente universitário, mul-
tidisciplinar e intergeracional, fornece o lócus onde a troca de experiências,
a sociabilidade, o resgate da cidadania se tornam possíveis (Cachioni, 2012).
Como contribuição a um modelo de educação de pessoas idosas o Relatório
“Aprender a ser” da Unesco (1972) trouxe as bases de uma educação perma-
nente, colocando os sistemas educativos tradicionais em questão (Cachioni,
2012; Faure, 1972) e de certo modo refletiu no formato dos programas de-
senvolvidos pelas universidades.
No ano de 1993, sob a liderança de Jacques Delors, o Relatório sobre a edu-
cação para o século XXI: Educação – Um tesouro a Descobrir, discutiu a edu-
cação de maneira mais ampla sob a perspectiva da Educação ao longo de toda
a vida (Cachioni, 2012; Delors, 2012).
Um novo paradigma acerca do desenvolvimento ao longo da vida (LIFES-
PAN) surge em meados dos anos 70. Desenvolvido por um grupo de reconhe-
cidos acadêmicos, dentre eles, Paul B.Baltes, K.Warner Schaie, James Birren,
Bernice Neugarten, Klaus Riegel e Matilda Riley.
119

O paradigma enunciado por tais acadêmicos corrobora com o pensamento


de que o envelhecimento é um processo que não implica, obrigatoriamente,
em doenças e afastamento, e que a velhice entendida como fase do desenvol-
vimento humano, traz perdas e ganhos. A educação seria nesse sentido otimi-
zadora das competências e habilidades. Desenvolvimento e envelhecimento
são reconhecidos como eventos correlatos (Cachioni, 2012; Neri ,2006).
Pereira (2022) enuncia que o envelhecimento é vivido de diferentes manei-
ras pelos indivíduos, que enfrentam a velhice de modo singular, cujo contexto
vivido, também, tem influência. Por sua vez, a longevidade é o aumento dos
anos de vida, numa perspectiva que se anuncia uma vida longa, que necessa-
riamente não representa uma melhora na qualidade de vida dessas pessoas,
à medida que, também, resulta do contexto e das políticas públicas, como de
saúde, lazer e educação.
É preciso compreender que a aprendizagem e o desenvolvimento ao lon-
go de toda a vida demandaram mudança de paradigma sobre a velhice. As
universidades da terceira idade representam parte desse novo paradigma –
lugar de gente velha também é na escola. As universidades da terceira idade
expressam na prática o potencial da educação e do desenvolvimento humano
ao longo de toda a vida. Voltar aos bancos escolares na velhice, é possível,
as nossas universidades não são mais habitadas somente pela juventude. De
alguma maneira, ampliou-se o direito de aprender para todas as idades, mas
ainda muito precisa ser feito. Legitima-se que o processo de desenvolvimento
não cessa na idade adulta, mas está presente em toda a existência humana.
De Oliveira e De Souza Wanderbroocke (2021) verificaram que não há um
único modelo ou padrão referente à sistematização e estruturação dos pro-
gramas das UnATIs no cenário brasileiro. Apontam que existem diversas for-
mas de delinear, planejar, e estruturar os programas descritos, mesmo que
respaldados em um mesmo modelo de base: o francês. Contrapõem-se as ob-
servações dos autores na perspectiva de não engessamento a modelos pres-
critivos de planejamento e estrutura. Faz-se necessário compreender o meio
e contexto em que as UnATIs estão inseridas.
Cachioni (2012) argumenta que as universidades da terceira idade exer-
cem um papel apenas como equipamento educativo e social, e não como pro-
tagonistas de pesquisa e geradoras de novos conhecimentos para a popula-
ção idosa. Os investimentos na produção de pesquisas no tema são escassos,
mormente que se observa que a produção é pouco expressiva no cenário das
publicações gerontológicas.
Observa-se a importância das universidades da terceira idade, também,
constituírem-se em campo de pesquisas e estudos sobre longevidade e o
120

processo de envelhecer, que possibilite compreender as necessidades das


pessoas idosas, a exemplo da experiência da Universidade Aberta à Terceira
Idade da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São
Paulo (UnATI-EACH) com o Caderno Temático intitulado “Universidade Aber-
ta à Terceira Idade e Velhice”, que tem como objetivo a produção de conhe-
cimento científico para melhor atender as demandas dos educandos que são
pessoas idosas.

Nossas evidências
O artigo teve como objetivo apresentar o processo histórico de criação dos
programas universitários no Brasil e sua relevância para a melhoria da qua-
lidade de vida das pessoas idosas, como resultado parcial de uma pesquisa
sobre as Universidades Abertas para a Terceira Idade e a qualidade de vida ao
envelhecer.
O histórico da UnaTI no mundo e no Brasil aponta para uma diversidade de
formas de atuação. Inicialmente originada na França nos anos 60, a criação
das UnaTIs espalhou-se pelo mundo.
No pós-guerra, a França observou que sua população envelhecida passou
por um período de baixa condição de vida. A partir da recuperação econômi-
ca nos anos 60 e a emergência de uma classe média com mais recursos, con-
comitantes às políticas para as pessoas idosas, passou a observar os novos
aposentados como sinônimo de bem viver.
O Brasil acompanhou o modelo Francês e singularmente as literaturas pes-
quisadas para o embasamento do artigo, pode-se vislumbrar que as UnaTIs se
desenvolvem via projetos de extensão e relacionado a isto identifica-se falta
de investimentos denotando baixa relevância pelos os decisores da política
pública, embora sejam reconhecidas pelo corpo funcional e voluntários.
No caso brasileiro, a emergência do tema pela educação das pessoas ido-
sas, deu-se em um contexto de mudança previdenciária no final das décadas
de 60 e 70 e desencadeou a participação e movimento dos sindicatos.
Os primeiros programas de cunho educativo para as pessoas idosas foram
liderados pelo SESC - Serviço Social do Comércio, que posteriormente se dis-
seminou pelas universidades brasileiras. Destaca-se que o protagonismo das
universidades no desenvolvimento de pesquisas e atividades para enfrenta-
mento da mudança demográfica faz-se imperioso.
121

Envelhecer é um processo que ocorre desde que se nasce e se desenvolve


a história de vida de cada um e de cada coletividade. A educação como pre-
paração para uma velhice ativa e saudável deve estar ao alcance de todos, em
todas as idades e carece, também, do protagonismo do Estado e dos gestores
das universidades para o fortalecimento das atividades que são propiciadas
pelas UnATIs.
Pensar as UnATIs como política pública que atendem, preferencialmente,
pessoas idosas que por não dispor das condições sociais necessárias deixam
de buscar os referidos programas e ficam a depender dos cuidados e opor-
tunidades que as famílias dependendo das condições econômicas e culturais
lhes possam ofertar.
Compreende-se ser imprescindível a inserção para além das atividades
extensionistas, o debate sobre longevidade e envelhecimento integrado ao
currículo de cursos da graduação de forma que as universidades sejam lócus
irradiadores da defesa de políticas públicas por melhor qualidade de vida e da
proteção às pessoas idosas.
122

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123

Além dos trilhos: convivência virtual e


educação financeira para o envelhecimento
ativo
Cássia do Carmo Pires Fernandes1, Eder Pereira Giardini Bonfim2, Edson
Batista de Sena3, Pedro Henrique Pereira4

Resumo
Situado na antiga estação ferroviária da cidade Ponte Nova, o Instituto Federal de
Educação Ciência e Tecnologia de Minas Gerais possui um papel estratégico na ex-
pansão e interiorização da Rede Federal. Buscando ir além dos trilhos da oferta de
educação profissional e tecnológica, o presente texto resulta de um projeto de ex-
tensão que teve o propósito de promover a convivência virtual e a socialização de
conhecimentos sobre educação financeira com pessoas idosas. Diante da pandemia,
as atividades ocorreram por meio do grupo de WhatsApp “Ativa Idade”, conduzido
como ambiente virtual de aprendizagem e de convivência. As expectativas das pes-
soas idosas eram aprender sobre o cuidado com o dinheiro, o não endividamento e
o consumo mais consciente. Como avaliação, o projeto teve retornos positivos, com
relatos de mudanças de comportamento em função do que foi compartilhado e a
satisfação das pessoas idosas em integrar o grupo, corroborando a premissa de que
a convivência, mesmo que virtual, contribui para minimizar o isolamento e o senti-
mento de solidão.
Palavras-chave: educação financeira, consumo consciente, envelhecimento.

1. Palavras iniciais: educação para o envelhecimento


ativo
O Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia de Minas Gerais Cam-
pus Ponte Nova é a única instituição pública federal da microrregião que ofer-
ta educação técnica, tecnológica e de formação profissional à população local
e do entorno. Portanto, possui um papel estratégico na expansão e interiori-
zação da Rede Federal, com potencial para se consolidar nos processos edu-
cativos, de inovação e de desenvolvimento econômico, social, cultural, tecno-
lógico e ambiental.

1
Professora no Ensino Básico, Técnico e Tecnológico do Instituto Federal de Minas Gerais/
Campus Ponte Nova. E-mail: [email protected]
2
Egresso do curso de Tecnologia em Processos Gerenciais - IFMG campus Ponte Nova
3
Professor no Ensino Básico, Técnico e Tecnológico do Instituto Federal de Minas Gerais/
Campus Ponte Nova. E-mail: [email protected]
4
Professor no Ensino Básico, Técnico e Tecnológico no Instituto Federal de Minas Gerais/
Campus Ponte Nova. E-mail: [email protected]
124

Somando a essa demanda territorial por formação, evidencia-se o quase


silenciamento das pessoas idosas como público-alvo de cursos que abordam
a temática de educação financeira. Por outro lado, a descoberta pelo mercado
e pelas instituições financeiras dos aposentados de camadas populares como
“novos consumidores” têm levado muitas pessoas idosas ao endividamento,
especialmente via crédito consignado (Buaes, 2015).
Em um contexto socioeconômico marcado nos últimos anos pelo aumento
da oferta de crédito e pela diversificação de condições de pagamento, evi-
dencia-se a movimentação da economia com o acesso das classes menos
favorecidas a produtos e serviços e, ao mesmo tempo, o endividamento e a
inadimplência do consumidor (Confederação Nacional do Comércio de Bens,
Serviços e Turismo, 2012). Acumular dívidas se torna um problema de ordem
social, da chamada “sociedade do consumo”, que além de problemas finan-
ceiros ocasiona o adoecimento mental e emocional das famílias (Vieira et al.,
2014), atingindo especialmente as pessoas idosas aposentados que por cir-
cunstâncias diversas se tornam “um seguro” contra a pobreza ou extrema
pobreza do grupo doméstico (Buaes, 2015).
Tal cenário demonstra a falta de conhecimento para o consumo consciente
e para uma relação saudável com o dinheiro; situações que se tornam ainda
mais complexas em camadas populares. Embora o meio não seja exclusiva-
mente determinante, historicamente, os mais pobres possuem menor acesso
ao conhecimento de como alcançar determinados bens e de como gerar ri-
quezas, perpetuando, assim, um círculo vicioso.
Somos campeões em desigualdade social: segundo pesquisa da FGV (2019),
existe um abismo entre os poucos que ganham muito e os muitos que ga-
nham muito pouco. Então, o que oferecer à população acima de 60 anos que
trabalhou por décadas e precisa continuar trabalhando, mesmo após a apo-
sentadoria, para ter uma vida digna? Além de conhecimentos para melhora-
rem suas relações com o dinheiro, que garanta minimamente a sobrevivência,
várias pessoas idosas almejam se sentir “úteis”, querem ser ativos na socieda-
de e funcionalmente independentes (Abreu et al, 2018).
A Organização Mundial de Saúde (OMS), no texto Envelhecimento Ativo:
uma política de saúde, enfatiza a necessidade de analisar o crescimento da
população idosa com vistas a pensar em políticas públicas direcionadas a ela
(WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2005, p. 7). No documento, são apresen-
tados os pilares da estrutura política para o envelhecimento ativo, visando
orientar a elaboração e a implementação de ações de políticas públicas: par-
ticipação (como em atividades socioeconômicas, culturais e espirituais, de
acordo com os direitos humanos, as capacidades e as preferências das pes-
soas idosas); segurança (social, física e financeira, para proteção, dignidade
e assistência às pessoas idosas); saúde (serviços diversos de saúde que aten-
125

dam às necessidades e aos direitos das pessoas idosas); e aprendizagem ao


longo da vida - este incluído em 2015.
Para fins de conceituação, segundo a Organização para a Cooperação e De-
senvolvimento Econômico (2005), educação financeira é

o processo mediante o qual os indivíduos e as sociedades


melhoram a sua compreensão em relação aos conceitos
e produtos financeiros, de maneira que, com informação,
formação e orientação, possam desenvolver os valores
e as competências necessários para se tornarem mais
conscientes das oportunidades e riscos neles envolvi-
dos e, então, poderem fazer escolhas bem informadas,
saber onde procurar ajuda e adotar outras ações que
melhorem o seu bem-estar. Assim, podem contribuir de
modo mais consistente para a formação de indivíduos e
sociedades responsáveis, comprometidos com o futuro
(2005, p.13).

Destaca-se que o crescimento da população idosa é uma das mais signifi-


cativas tendências do século XXI. Segundo o relatório sobre o envelhecimen-
to, publicado pelo Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) em 2012,
uma em cada nove pessoas no mundo tem entre 60 anos de idade ou mais, e
estima-se um crescimento para um em cada cinco por volta de 2050.
Na obra Envelhecimento ativo: das ações às políticas, organizada por Martins
e Ribeiro (2018), é abordada a questão do envelhecimento em Minas Gerais e
no Brasil e os caminhos para a promoção do envelhecimento ativo em Ponte
Nova. As autoras enfatizam a convivência como fundamento e oportunidade
de prosseguimento da vida em coletividade, reduzindo vulnerabilidades para
as pessoas idosas, contribuindo assim para a manutenção da autonomia, da
independência e da melhoria de vida durante a velhice. A convivência aparece
como a chave para a qualidade de vida nesta etapa, apesar de o envelheci-
mento trazer consigo o risco de isolamento social.
Em “Inovação e criatividade após a aposentadoria: o direito de empreen-
der do idoso”, capítulo parte da obra anterior, Barros Júnior, Barreto e Assis
(2018) evidenciam que a população mundial está vivendo, cada vez mais, por
fatores como qualidade de vida, melhores condições de saúde, aliados a uma
baixa taxa de fecundidade. Sempre ligada a uma imagem de descanso, toda-
via, a aposentadoria e a velhice têm se tornado uma fase de atividade intensa,
seja física ou intelectual, o que por sua vez gera uma nova e complexa forma
de interação entre as diferentes faixas etárias.
126

Cerbasi (2014), no livro Adeus aposentadoria, resume bem os inúmeros de-


safios para o envelhecimento ativo ao afirmar que aposentar-se é mais do que
encerrar uma carreira profissional. Com a aposentadoria, nasce uma nova
etapa na vida, acompanhada de transformações que afetam as pessoas sob
diversos aspectos. Mudam os relacionamentos, a saúde, as finanças e outras
áreas da vida.
Apresentados os conceitos, cabe situar que o presente texto resulta do
projeto de extensão Além dos trilhos: educação financeira para o envelheci-
mento ativo, desenvolvido nos anos de 2020 e 2021 com pessoas idosas do
município de Ponte Nova, Minas Gerais. Importante evidenciar que em 2017,
Ponte Nova tornou-se a primeira cidade do Brasil “Amiga da pessoa idosa”,
com os objetivos de promover o envelhecimento ativo e melhorar a qualidade
de vida da população idosa da cidade.
Diante da pandemia de Covid-19, as atividades ocorreram por meio do gru-
po de WhatsApp “Ativa Idade”, conduzido como ambiente virtual de apren-
dizagem e de convivência. O propósito foi conectar as pessoas idosas com
outras gerações em uma troca de conhecimentos e diálogos, entendendo
como é a velhice na pós-aposentadoria. A premissa era de que as convivên-
cias, mesmo que virtuais, entre as diferentes gerações - bolsistas, docentes e
as pessoas idosas – seriam carregadas de significados para todos.

2. O projeto de extensão Além dos trilhos: educação


financeira para o envelhecimento ativo
2.1 Perfil das pessoas idosas
Após as inscrições das pessoas idosas e a criação do grupo virtual, foi apli-
cado um questionário – intitulado “Ativa Idade: Conversando sobre Educa-
ção Financeira” - pela equipe do projeto, através de ligação telefônica. Nesse
contato, foi esclarecido aos respondentes: (a) os objetivos da pesquisa, (b) a
participação voluntária e anônima e (c) a exclusividade de interesse acadêmi-
co a respeito dos dados coletados. A pesquisa se iniciou com 15 inscritos; no
entanto, na disponibilização do formulário, houve uma desistência, totalizan-
do 14 inscritos. Entre esses participantes, 13 responderam à pesquisa.
A faixa etária do grupo ficou entre 60 e 77 anos e obtivemos uma maior
participação de pessoas idosas, totalizando 13 mulheres e um homem. Em re-
lação à localização geográfica, a distribuição do grupo foi de cinco pessoas de
Ponte Nova, duas de Oratórios, duas de Urucânia, uma de Dom Silvério, uma
de Piedade de Ponte Nova, uma de Mariana e uma de Belo Horizonte. Quanto
127

à situação profissional, a maioria (92%) respondeu ser aposentada e ocupar


a posição de dona de casa. Por fim, a respeito da escolaridade, 50% possuem
ensino fundamental, 16,7% ensino médio e 33,3% ensino superior.

2.2 Conhecimentos iniciais/avaliação diagnóstica


Entre os inscritos, a maioria (91,7%) nunca havia participado de debates
acerca de educação financeira; apesar disso, o mesmo percentual considera
importante que a família tenha o hábito de poupar, corroborando a pertinên-
cia do projeto. Embora tenham respondido que não participam de atividades
formativas sobre educação financeira, os integrantes do grupo afirmaram ter
atitudes conscientes em relação a suas finanças pessoais.
Ao final do questionário, também indagamos sobre as expectativas das
pessoas idosas a respeito da proposta de formação em educação financeira e
as respostas, transcritas a seguir, representaram uma motivação a mais para
a concretização do trabalho:

Aprender a controlar melhor meus gastos/Aprender a


não endividar./Adquirir conhecimentos para melhorar a
minha educação financeira/Consumo consciente./Espe-
ro aprender dicas para aplicar na minha casa/Aumentar
a eficiência em gastar menos e mantendo um padrão de
vida sustentável./Aprender a cuidar melhor do meu di-
nheiro/Aprender a poupar e evitar gastos desnecessários
e somar os conhecimentos adquiridos até hoje, pois temos
muito que aprender na vida./Adquirir conhecimentos téc-
nicos para controlar meus gastos da melhor forma possí-
vel./Espero que possa ajudar no conhecimento financeiro
e ajudar outras pessoas com a experiência adquirida do
curso.

2.3 Perfis em redes sociais como estratégia para conectar pessoas


Como primeira estratégia de marketing do projeto, foram criados perfis
nas redes sociais Instagram (@ativaidade.pontenova) e Facebook (Ativa Ida-
de Ponte Nova), conforme a imagem 1. Após um mês de divulgação, período
no qual foram realizados levantamentos de temas, de recursos didáticos e
discussões da equipe quanto ao formato remoto das oficinas para o público
do projeto, as inscrições foram abertas e não conseguimos alcançar a adesão
esperada de 30 pessoas.
128

Imagem 1
Perfil do projeto em rede social

Fonte: https://www.instagram.com/ativaidade.pontenova/

Imagem 2
Evento Café virtual

Fonte: https://www.instagram.com/p/CEsQ84mH5KV/?utm_source=ig_web_copy_link

2.4 Aplicativo de mensagem como espaço de aprendizagem e trocas de


saberes
A criação do grupo de WhatsApp foi essencial para o contato entre pes-
quisadores e participantes. Neste espaço, que concluímos ser o principal
ambiente de aprendizagem e trocas do projeto, foi possível dialogar, quase
diariamente, com as pessoas idosas e compartilhar diversos conteúdos re-
lacionados ao bem-estar e ao envelhecimento. Para isso, a equipe do proje-
to se reunia semanalmente para planejar a sequência de assuntos, pesquisar
129

materiais adequados ao grupo e estipular estratégias de mediação. O quadro


a seguir (Quadro 1) traz a relação dos conteúdos e alguns comentários dos
participantes. A fim de mantermos o anonimato, os comentários estão identi-
ficados apenas pela letra “I” quando for pessoa idosa, seguida de um número.
Áudios, emojis e a íntegra das interações estão arquivados no drive do projeto.

Quadro 1
Resumo das interações
Dia Conteúdo
Apresentação por áudio e mensagem de texto de todos os membros do
22/06 grupo.
Podcast Qualidade do Sono - https://serdh.mg.gov.br/grupo-tematico/
idoso/biblioteca-videoteca/audios;i=qualidade-do-sono
Vídeos: Meditação em 5 minutos (https://www.youtube.com/watch?v=k-
23/06 cl87gRy07w) e Yoga para a terceira idade (https://www.youtube.com/
watch?v=N2ZeYhdEFcc )
Questão: Como está seu sono? O que te ajuda a dormir bem? Conte pra
nós!
Só durmo a poder de remédio. Alprazolan 2 ml, e ainda acordo uma ou
duas vezes à noite. Mais uma das coisas que falaram neste áudio eu faço
Comentá- muito, toda noite: Celular. Existe um horário melhor para essa prática
rios (meditar)?(I1)
Resposta do bolsista: É bom separar o horário da meditação e criar uma
rotina, mas não existe a melhor hora e sim a sua melhor hora. Muitas
pessoas preferem fazer pela manhã antes de iniciar o dia.
Podcast Atividade física - https://serdh.mg.gov.br/grupo-tematico/ido-
so/biblioteca-videoteca/audios;i=atividade-fisica
24/06 Vídeo Exercícios para idosos em casa: https://www.youtube.com/wat-
ch?v=xcM3aaBl-8U
Questão: Vocês têm praticado alguma atividade nesse período de isola-
mento? Conte pra nós!
Tenho feito caminhada no hall do prédio. (I3)
Faxina conta como exercício físico? Limpo casa o dia inteiro. Os serviços
Comentá- domésticos ficaram pesados com esta pandemia. Tenho mais uma per-
rios gunta. Pular corda é recomendado para maiores de 60? (I5)
Resposta Profa. Cássia: Teremos na próxima semana um profissional da
área de educação física para esclarecer dúvidas como essa. Aguardem!
Imobilismo - https://serdh.mg.gov.br/orientacoes/covid19/biblioteca-vi-
25/06 deoteca/audios;i=imobilismo
Levantamento de dúvidas. Sugestão cultural Mostra de artes CEFET:
26/06 https://youtu.be/TsReR_a5Vzk
Muito bom! Amei. (I3)
Gostei muito bom, eu prefiro rock anos 70 mais gosto de música (...)nessa
época só quem sabia tocar fez sucesso, sem recursos acústicos e tecno-
Comentá- logia, eram pessoas virtuosas, sem recursos mais o dom da música, isto é
rios importante, como vcs o dom de ensinar (I6)
Resposta do Prof Edson: Eu também adoro rock, principalmente as ban-
das dos anos 70 e 80.
130

Dia Conteúdo
Saúde Mental - https://serdh.mg.gov.br/grupo-tematico/idoso/bibliote-
ca-videoteca/audios;i=saude-mental
29/06
Boa tarde! Diante desses novos e desafiadores tempos que estamos
vivendo, preservarmos a saúde física, mental e emocional é de grande im-
portância para obtermos mais leveza e confiança de que tudo vai passar.
Comentá- E os temas aqui abordados estão sendo satisfatórios. (I5)
rios Resposta de Rafael: Ficamos felizes em ajudar vocês, isto nos motiva a
procurar mais conteúdo de qualidade para compartilhar aqui. Muito
obrigado!
30/06 Automedicação - https://serdh.mg.gov.br/orientacoes/covid19/bibliote-
ca-videoteca/audios;i=automedicacao
Complementar: http://www.blog.saude.gov.br/promocao-da-saude/
32252-dia-do-uso-racional-de-medicamentos-lembra-dos-perigos-da-
-automedicacao
Comentá- Temos que nos conscientizar, não devemos fazer isso. Pois as consequên-
rios cias podem ser desastrosas, como diz a médica(I1)
Isolamento social - https://serdh.mg.gov.br/orientacoes/covid19/biblio-
01/07 teca-videoteca/audios;i=isolamento-social
Vídeo: Questões respondidas pelo especialista em educação física Darlan
(https://www.instagram.com/tv/CCHIL9QnXBf/?utm_source=ig_web_
copy_link)
Comentá- Bora exercitar pessoal. (I7)
rios Também gostei muito das explicações. E vamos pular corda, minha gen-
te! Sem exagero (I5)
Saúde Mental Durante a Pandemia - https://serdh.mg.gov.br/grupo-te-
02/07 matico/idoso/biblioteca-videoteca/audios;i=saude-mental-durante-a-
-quarentena
Temos que nos cuidar, se não iremos pirar. E foco nas coisas boas, pois
Comentá- estamos bem, por isso vamos pedir a proteção de Deus. (I1)
rios Ontem fiquei muito feliz com as respostas sobre exercício físico e hoje seu
podcast veio pra somar. (I5)
Sugestão cultural Live O Grande Encontro: https://youtu.be/PYE4QsZ-
03/07 T7Ro
Esquecimento - https://serdh.mg.gov.br/orientacoes/covid19/biblioteca-
07/07 -videoteca/audios;i=esquecimento
Legal. Gostei muito. Eu, às vezes, esqueço onde guardei alguma coisa.
Comentá- Mas paro de procurar naquele momento. E depois eu encontro. Muito
rios boa as dicas. (I1)
Nossa! Valeu a pena este podcast. Ando bem esquecida ultimamente. (I5)
Boa tarde! Excelente! (I9)
08/07 Uso de máscara - https://serdh.mg.gov.br/orientacoes/covid19/bibliote-
ca-videoteca/audios;i=uso-de-mascara
Bom dia. Um mal necessário, temos que usar. (I7)
Comentário
131

Dia Conteúdo
Hidratação - https://serdh.mg.gov.br/orientacoes/covid19/biblioteca-vi-
09/07 deoteca/audios;i=hidratacao
Eu faço o possível para tomar pelo menos 1 litro e meio de água por dia.
Comentá- (I1)
rios Excelente informação. Temos que criar este hábito, pois é importantíssi-
mo para nossa saúde. (I9)
Dúvidas da semana.
Estão comentando que o medicamento ivermectina é bom para prevenir
contra a covid 19, sabemos que cientificamente não tem nada comprova-
do. Se vocês puderem e tiverem alguém que tire esta dúvida, seria muito
bom. Obrigada. (I1) Eu também fiquei sabendo, ia até tomar, mas vou
aguardar a resposta. (I12) Bom dia!!! Tem muitas pessoas tomando estes
10/07 medicamentos. (I14)
Resposta da equipe em Vídeo e a mensagem: Boa tarde! As pesquisas são
Comentá- recentes e indicam que a dose da ivermectina que seria necessária para
rios “destruir” o coronavírus no nosso organismo atuaria como veneno. Ou
seja, nos mataria. Precisamos ter muito cuidado para não acreditarmos
em “soluções milagrosas “. O problema é mundial e a vacina sim, será o
que precisamos!
Enquanto isso, vamos ficar em casa e seguir as regras de limpeza! E não
esquecer que a máscara, lavar as mãos e o isolamento é o nosso maior
aliado. Mais uma vez obrigada por esclarecer, pois ficam mandando
vídeos dizendo que é muito bom. (I1)
13/07 Limpeza - https://serdh.mg.gov.br/orientacoes/covid19/biblioteca-video-
teca/audios;i=limpeza
Comentá- Vamos limpar minha gente! (I5)
rios
Acidentes Domésticos - https://serdh.mg.gov.br/orientacoes/covid19/
14/07 biblioteca-videoteca/audios;i=acidentes-domesticos
Bom dia! Ótimas informações. Sempre tomo alguns cuidados... Princi-
palmente em subir em cadeiras ou bancos, estes fico atenta, pois já vi
Comentá- pessoas caírem e o resultado foi muito grave. (I9)
rios Aqui em casa evito subir em qualquer lugar. Nem banco, nem cadeira e
muito menos escada. (I5)
17/07 Dúvidas da semana.
Nenhuma dúvida. Mas realmente a atividade física é um problema para a
dona de casa. Mas sigamos em frente. Quando dá pra fazer. Essa sema-
na só fiz dois dias de bicicleta. (I1)
20/07 Direito do Consumidor - https://serdh.mg.gov.br/orientacoes/covid19/
biblioteca-videoteca/audios;i=direitos-do-consumidor
Boa tarde! É muito importante sabermos dos nossos direitos como con-
Comentá- sumidores para evitarmos, como você disse, aquela dor de cabeça. (I5)
rios
21/07 Violência contra a pessoa idosa
https://serdh.mg.gov.br/orientacoes/covid19/biblioteca-videoteca/au-
dios;i=violencia-contra-a-pessoa-idosa
Bom dia a todos! Muito importante e sério. Cuidar de um idoso é um ato
Comentá- de amor. Porém requer paciência e responsabilidade. (I5)
rios Boa tarde. Verdade, mas exige muita calma e jeito e paciência (I15)
132

Dia Conteúdo
Fake news
https://serdh.mg.gov.br/orientacoes/covid19/biblioteca-videoteca/audios;i=fake-news
22/07
Isso mesmo Eder, como foi o caso da ivermectina. Todo mundo tá toman-
do, é já está faltando nas farmácias. Valeu pelas informações. (I1)
Mercado de trabalho
https://serdh.mg.gov.br/grupo-tematico/idoso/biblioteca-videoteca/au-
dios;i=mercado-de-trabalho
28/07 Eder, procuro me manter ativa, fui vereadora depois que aposentei e ago-
ra ajudo meu marido. Ele tem uma parceria com um advogado e ajuda-
mos algumas pessoas, no caso de aposentadoria, auxílio doença, BPC e
outros. Apesar de ficar muito em casa, me sinto muito útil. (I1)
Boa tarde! Sim. Faço crochê, docinhos e comprei uma máquina de cos-
Comentá- tura para fazer alguns pequenos serviços, só para passar o tempo. Mas
rios o que gosto mesmo de fazer é passear. Ainda trabalhei 11 anos após a
minha aposentadoria no mesmo trabalho em que me aposentei. (I9)
Também faço crochê. Adoro. Amo muito o que faço. Só que trabalho de
graça, pois não consigo dar preço e acho que não é valorizado. (I5)
Áudio da coordenadora explicando sobre o início da temática “Educa-
ção Financeira”.
29/07 Bom dia! A educação financeira é hoje considerada muito importante na
família. (I9)
Bom dia! Vamos em frente, sabemos da importância do tema. Espero
Comentá- poder aprender mais, pois o saber é e sempre foi importante em nossas
rios vidas. (I1) Estou precisando dessas orientações (I11)
Boa tarde, Cássia! A educação financeira é um tema muito importante,
pois sabemos que viveremos, já esperado, uma crise. Saber como vencer
esta difícil face vai ajudar muito. (I5)
Vídeo. Questão: Vamos começar a pensar nas nossas compras no super-
30/07 mercado?
Amei o vídeo, sempre fazemos isso. Pego o carrinho e acabo trazendo pra
casa coisas desnecessárias. (I1) Ultimamente faço uma lista e compro
Comentá- somente o necessário. (I9) Eu mesmo com a lista, descobri que trago pra
rios casa coisas desnecessárias. (I5) Eu também quero aprender fazer isso às
vezes trago e vence! (I15)
Questão: Alguém aí gosta de assistir novela? (Vida e Dinheiro) - https://
04/08 www.youtube.com/watch?time_continue=8&v=3w9L6boLb9k&featu-
re=emb_logo
Aviso: A partir desta semana teremos conteúdos às terças e quintas-fei-
ras! Vamos conversar sobre consumo consciente, orçamento familiar e
outros temas relacionados à educação financeira.
Vídeo “Pare, pense e decida” da ENEF - https://youtu.be/B90kgwLWd-
11/08 vg
Boa tarde! Sou muito Dona Graça. Dinheiro é coisa séria! (I5) Boa tarde
Comentá- Cassia, realmente temos que nos planejar. Já caí em muito nesse tipo de
rios empréstimo. Custei para me conscientizar. Infelizmente, existem ainda
algumas dívidas de consignado. Valeu as dicas. Gostei muito (I1)
13/08 Vídeo 10 dicas para economizar no supermercado: https://youtu.be/oMW-
v91vGe2I
CONTA DE LUZ: 7 DICAS PARA economizar https://www.youtube.com/
17/08 watch?v=-Em9L669hv8
133

Dia Conteúdo
18/08 Vídeo E agora, Seu Arlindo? Educação financeira! [MERCANTIL DO
BRASIL] https://www.youtube.com/watch?v=dLOLd43tMjA&featu-
re=youtu.be
Comentá- Nossa! Este vídeo tem tudo de bom. O casal que faz contas juntos sonha
rios juntos. Amei! (I5) Legal adorei as dicas (I14)
21/08 Vídeo: Dicas para sobrar dinheiro - https://youtu.be/CNCCKjxUM3I
Videoclipe “Está cansado de receber ligações de bancos?” https://
25/08 www.youtube.com/watch?v=wdI0JKriKZ4&feature=youtu.be
Adorei Semana passada cheguei até ser um pouco grosseria com uma
Comentá- moça. Depois pedi desculpas, pois esse é o serviço dela. Mas pedi que não
rios ligasse mais. Não estou interessada. (I1) Muito bom me ligam umas 8
vezes por dia, até domingo (I10)
27/08 Site para bloqueio chamadas de Telemarketing ,Telecomunicações
e Bancos Consignado: https://www.naomeperturbe.com.br/ e tutorial:
https://youtu.be/LzzFon2gcxc
Comentá- Boa noite! Vou usá-lo agora. Haja paciência para tantas ligações (I5).
rios
31/08 Vídeo sobre dívidas - https://www.youtube.com/watch?v=iwacYbvH-KI
Vídeo 20 Dicas de Economia doméstica em tempos de crise https://
02/09 www.youtube.com/watch?v=zwHAthsPEcI
I Café Virtual – Convite: https://www.instagram.com/p/CEpTqSJnJ-
03/09 gA/?utm_source=ig_web_copy_link
Fotos: https://www.instagram.com/p/CEsQ84mH5KV/?utm_source=ig_web_copy_link
Vídeo Como fazer um orçamento familiar: https://www.youtube.com/
10/09 watch?v=-U_Xpki6ms4&feature=youtu.be
11/09 Vídeo 1“Ser Idoso” – alunos do 1*Ano ADM https://www.instagram.com/tv/
CFA9_4Znvx6/?utm_source=ig_web_copy_link

14/09 Vídeo 2: “Poema Curar” – alunos do 1*Ano ADM https://www.instagram.


com/tv/CFQEE5LHuUK/?utm_source=ig_web_copy_link
Mensagens de encerramento das atividades do grupo: https://www.
youtube.com/watch?v=6fbZ52_VLAY
Boa noite! Agradeço a todos por momentos tão agradáveis e também
pelos aprendizados. Grande abraço! (I9)
29/09 Boa tarde a todos! Meus agradecimentos pelos ensinamentos. Vou levar
sempre o que aprendi aqui. Abraços a todos. (I5)
Obrigado a todos vcs, valeu (I11). Obrigada por mais esta oportunidade
Comentá- (I1).
rios Valeu, foi um prazer ter vcs no dia a dia! Que Deus abençoe todos vcs, um
abraço e fiquem em paz, valeu muito as dicas e ensinamentos. (I10)
Valeu professor Édson! Conhecimento é muito bom em qualquer idade.
Obrigada pela atenção e pelo apoio e carinho. Espero podermos nos en-
contrar. Um grande abraço(I7)
II Luau da Federal – Vídeo de uma participante do grupo: https://youtu.
be/eae8chhrxPk
26/10 Boa tarde! Hoje vamos nos despedir com arte! Agradecemos pela presen-
ça de todos durante esses quatro meses. (Professora Cássia)
Fonte: Os autores, 2022.
134

Durante o primeiro mês do grupo, como uma maneira de aproximar das


pessoas idosas contextualizando o atual cenário da pandemia, conversamos
sobre temas relacionados à prevenção contra a Covid-19, à necessidade do
distanciamento social e à manutenção saudável da mente e do corpo. Entre
os conteúdos, compartilhamos podcasts do programa “Minuto da Pessoa
Idosa – Juntos somos mais fortes contra o coronavírus”, produzidos em uma
parceria do Governo de Minas com a Universidade Federal de Viçosa (UFV),
por meio do Sistema Estadual de Redes em Direitos Humanos (SER-DH) e da
Coordenadoria dos Direitos da Pessoa Idosa (Cepid), da Secretaria de Estado
de Desenvolvimento Social (Sedese).
Em um mês, contabilizamos 20 podcasts, além de vídeos complementares
e mediações da equipe que engajaram às 14 pessoas idosas a conversarem so-
bre os seguintes temas: Isolamento Social, Automedicação, Imobilismo, Ativi-
dade Física, Saúde Mental, Saúde Mental Durante a Pandemia, Esquecimento,
Uso de máscara, Hidratação, Limpeza, Acidentes Domésticos, Cuidado com o
Álcool, Vacinas, Violência contra a pessoa idosa, Direito do Consumidor, Fake
News, Lavar as mãos, Novas relações com a tecnologia e Mercado de trabalho.
Como surgiram mais dúvidas a respeito do tema “atividade física”, convida-
mos um profissional da área para responder às perguntas do grupo. O educa-
dor físico Darlan Moreira gravou um vídeo com orientações que foi enviado no
Whatsapp do grupo e postado nas redes sociais.
A inserção do projeto nas redes sociais buscou dar publicidade a essas
ações. Como a maior parte do público atendido não possuía perfil em tais
espaços, a expectativa foi de que os usuários alcançados pudessem ajudar a
disseminar os conteúdos postados para outras pessoas idosas, o que amplia a
escala do público-alvo.

2.5 Ampliando a rede de conexões: UFV, RAPI e SER-DH


Tendo em vista o desenvolvimento do projeto, o Campus foi convidado a
integrar a Rede de Proteção à Pessoa Idosa (RAPI) que reúne atores da so-
ciedade civil e do estado na articulação do bem coletivo. Com isso, o IFMG
Campus Ponte Nova é uma das primeiras instituições a integrar a RAPI em
Minas Gerais.
Colaborando com a RAPI, surgiu o convite da coordenação do Programa
Minuto da Pessoa Idosa para que o nosso Projeto gravasse um podcast sobre
Educação Financeira. Assim, de entusiastas e disseminadores dos conteúdos
do Programa como recursos de aprendizagem, passamos a integrá-lo. O ar-
quivo produzido pode ser acessado em: https://serdh.mg.gov.br/orientacoes/
covid19/biblioteca-videoteca/audios;i=educacao-financeira.
135

2.6 Produtos decorrentes do projeto: E-book e episódio de podcast


A partir da experiência com o grupo “Ativa Idade”, foi produzido um episó-
dio de podcast (https://open.spotify.com/episode/0rTuNnt7JCQekb96k6kBr-
S?si=316ede1dfec94bc80 e organizado o e-book “Educação Financeira para
o Envelhecimento Ativo”, em que o leitor entrará em contato com conteúdos
gerais que levam ao reconhecimento da importância de cuidar do próprio di-
nheiro, possibilitando a compreensão sobre os riscos do endividamento e so-
bre o planejamento financeiro pessoal, aprendendo a como poupar e investir.
Esse produto educacional possui linguagem adequada para que a população
idosa possa aprender boas práticas de gestão das finanças pessoais e assim
envelhecer com mais qualidade de vida e ativamente. A imagem a seguir ilus-
tra algumas páginas desse documento.
Imagem 3
E-book “Educação financeira para o envelhecimento ativo”

Fonte: Os autores, 2022

Considerações finais
A equipe do projeto avalia que iniciar a aproximação com o grupo de pes-
soas idosas, a partir de temas que se relacionam ao cotidiano e ao contexto
imposto pela pandemia, mostrou-se uma estratégia assertiva por explorar o
suporte digital, através de podcasts e vídeos, de maneira acessível às diferen-
ças de escolarização e contextos de vida.
Na abordagem do tema educação financeira, buscamos selecionar e com-
partilhar conteúdos, conscientizando sobre o endividamento, modalidades
de empréstimos, dívidas no cartão de crédito, crédito consignado, consumo
136

consciente, investimentos e a importância de poupar. Nas pesquisas de re-


cursos audiovisuais, identificamos poucos resultados alinhados às caracte-
rísticas das pessoas idosas, o que revela uma demanda para a produção de
material para fins didáticos em programas sobre educação financeira.
Por fim, recebemos retornos positivos, com relatos de mudanças de com-
portamento de algumas pessoas idosas em função do que foi compartilhado
e dialogado, além da satisfação em integrar o grupo, corroborando a teoria
de que a convivência (Ribeiro e Martins, 2018), mesmo que virtual, contribui
para minimizar ou reduzir o isolamento e o sentimento de solidão.
137

Referências
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Administração, Contabilidade e Economia da FUN- DACE –RACEF, Ribeirão Preto.
138

A atuação das
universidades
na governança
pública voltada à
população idosa
139

Funções básicas da governança pública e


a atuação de universidades voltada para a
população idosa
Ivan Beck Ckagnazaroff1

Resumo
Este capítulo parte da perspectiva de que as universidades ou instituições de ensino
superior possuem um papel relevante na questão da defesa, garantia e implemen-
tação dos direitos das pessoas idosas. Ele considera que a realização de tal papel
implica não apenas em ações realizadas por elas mesmas, mas principalmente em
iniciativas compartilhadas com outros atores da sociedade e do Estado, que podem
tomar a forma de pesquisa, ensino ou extensão. Nesse sentido, se faz necessário uma
atenção para a governança pública. Este capítulo apresenta funções consideradas
relevantes para o funcionamento de arranjos de governança pública. A governança
pública se refere à capacidade governativa de gestão em articulação com outros
atores, sejam da sociedade civil, sejam do mercado, em processos voltados para
objetivos comuns. Os arranjos podem assumir diferentes modos de articulação: a
hierarquia, o mercado e as redes. Para que se consiga a eficácia de um projeto em
um processo que se pretende democratizar, são apresentadas as seguintes funções
e discutida sumariamente a atuação das universidades/IFEs nestas funções: estabe-
lecimento de metas, coordenação, implementação e responsabilização e avaliação.
Ao longo desta apresentação é discutida sumariamente a atuação das universida-
des/IFEs nestas funções. Conclui-se que essas funções podem auxiliar na obtenção
de um resultado eficaz e legítimo em relação às demandas dos cidadãos, à medida
em que se faça uso adequado de capacidades técnica-administrativas e política-re-
lacionais dos atores envolvidos em um determinado projeto.
Palavras-chave: governança pública, direitos da pessoa idosa, universidades.

Introdução
Este capítulo busca apresentar funções importantes para o funcionamento
de arranjos de governança pública que podem ser úteis para a atuação de uni-
versidades em projetos voltados para as pessoas idosas e que contem com o
envolvimento de atores da sociedade e do Estado. O tema da governança pú-
blica ganhou espaço nas últimas décadas na discussão sobre administração
pública, tanto em processos de reforma do aparelho de Estado em diversos
países, quanto em pesquisas acadêmicas que buscavam estabelecer uma re-
flexão crítica sobre este conceito. Dentre os vários entendimentos que o ter-
mo tem, uma ideia que interessa aqui é a de que governança se refere à capa-
cidade governativa de gestão (Diniz, 1997). Ela é tratada tanto por governos
Prof. Titular do departamento de Ciências Administrativas, Faculdade de Ciências Econô-
1

micas - UFMG, Membro do GEGOP. E-mail: [email protected].


140

de direita quanto de esquerda. Pela direita, a preocupação primeira é com a


eficiência e a accountability de caráter corporativo. Pela esquerda, a preocu-
pação é com a democratização e a legitimação da administração pública. Em
termos práticos, as experiências indicam uma conjugação de objetivos, que
buscam tanto a eficiência quanto a democratização.
Para realizar o objetivo pretendido a parte seguinte apresentará uma con-
cepção de governança pública e dimensões relevantes para a atuação de or-
ganismos públicos, como as universidades, que promovem ações voltadas
para os direitos das pessoas idosas. Na terceira parte se apresenta a conclu-
são.

1. Governança pública
O termo “governança” é de origem grega e está relacionada à ideia de con-
dutor (kybernêtes) dos navios de guerra gregos. Esta expressão também era
utilizada para tratar o aparato político-administrativo à época. No latim se
tem as palavras “gubernare” e “regere” aplicados para a condução tanto “de
um navio quanto do Estado”. Em inglês se tem a expressão “to govern”. O
conceito de governança seria um substantivo relacionado ao verbo governar
(Schneider, 2005, p. 34). Na perspectiva de Peters (2013), o termo grego
original estaria relacionado a direção. Neste sentido, a governança implica
na direção da sociedade e da economia para o atingimento de objetivos co-
letivos. Objetivo é entendido, neste trabalho, como a situação que se deseja
alcançar ao fim de uma determinada iniciativa (projeto, política pública) pla-
nejada anteriormente (Cohen & Franco, 1994, p. 88).
Como afirma Bevir (2013), governança é um termo amplo como também é
sua literatura. O termo se refere a todos processos de governar/administrar/
reger, seja por meio de um governo, mercado, ou rede, seja sobre uma famí-
lia, tribo, corporação ou território; e seja por meio de leis, normas, poder ou
linguagem. Ela é mais ampla que o termo governo, já que não focaliza apenas
o Estado e suas instituições, mas também lida também com a criação de re-
gras e ordem em práticas sociais. Estes processos possuem caráter interor-
ganizacional, já que envolvem a articulação de atores de Estado com atores
de mercado e da sociedade civil.
De acordo com Schneider (2005, p.34), que reforça os argumentos já apre-
sentados, a noção contemporânea de governança não se reduz à administra-
ção do Estado, “mas se aplica também ao governo, regulação e condução da
sociedade por meio de instituições e atores sociais. Governança transcende
com isso o conceito tradicional estatal e remete a formas adicionais de con-
dução social”. Assim, governança se refere a arranjos institucionais constituí-
141

dos por diversos atores sociais, de diferentes níveis de governo, de diferentes


setores, com diferentes interesses e objetivos, que por determinado objetivo
comum, se reúnem para concretizar, pois é relevante para a coletividade.
O entendimento de arranjos institucionais aqui adotado se baseia na abor-
dagem de Pires & Gomide (2014), que os consideram como conjunto de re-
gras, mecanismos e processos pelos quais se articulam diferentes atores na
elaboração e/ou implementação de uma iniciativa pública. Esses arranjos po-
dem adotar três modos de coordenação: a hierarquia, o mercado e a rede
(Pires & Gomide, 2016, p. 124). A hierarquia implica em um modo vertical e
centralizado de processo decisório, de coordenação e integração. As estru-
turas são rígidas e o seu funcionamento é orientado por normas e regras,
indicando alto grau de formalismo e rotina, sem muito espaço para criação
e flexibilização. Já o mercado, se baseia em trocas auto-interessadas, orien-
tadas por contratos entre atores, que podem ser adotadas pelos governos,
por meio de incentivos e avaliação de custo-benefício, proporcionando mais
flexibilidade e competição (Pires & Gomide, 2016, 124). Finalmente, as redes
implicam na definição de um objetivo em comum, em relações de interdepen-
dência entre os envolvidos devido a complementaridade de recursos, certa
horizontalidade no processo, confiança, e compartilhamento de valores e de
perspectivas, muita flexibilidade e solidariedade, mas de baixa sustentabili-
dade (Pires & Gomide, 2016, p.124). Tais modos de coordenação podem ser
adotados não apenas em processos interorganizacionais como também den-
tro de uma mesma organização. Eles não se excluem na prática, mas a adoção
simultânea de mais de um modo de coordenação pode gerar tensão entre os
atores envolvidos no processo.
A noção adotada de governança pública, é aquela que considera que o Es-
tado tem um papel relevante em processos de prestação de serviços públicos
e na gestão de políticas públicas. Outras abordagens jogam menos peso para
o Estado e o transferem para atores de mercado ou do terceiro setor. O Es-
tado teria um papel de formulador e regulador, mas não necessariamente de
executor.
Aqui, ao contrário, se reconhece que a complementaridade de recursos e
competências é relevante, mas o Estado é o principal ator neste contexto já
que ele também é um executor. Ele possui capilaridade, é governado por um
governo eleito, ou seja, carrega legitimidade, e funciona com recursos públi-
cos extraídos da sociedade e do mercado. Assim, aqui se utiliza a proposta de
Diniz (1999, p.196), de caráter interacionista, que preocupada com a melho-
ria da eficácia do Estado, salienta na sua argumentação a atuação do gover-
no ao definir governança como “capacidade governativa no sentido amplo,
envolvendo a capacidade de ação estatal na implementação de políticas e na
142

consecução de metas”. O papel do governo também aparece em outros au-


tores como em Frederickson (2007, p.298) que considera que “o governo é
uma precondição essencial para a governança”. Em relação à capacidade, se-
gundo Wilson (2000, p. 57) “se o governo não possui a capacidade de atuar,
a questão da governança é discutível”.
Diniz (1997) contrapõe a adoção de arranjos de governança, caracterizada
por espaços para diálogo com outros atores envolvidos nos arranjos, com as
ações dos governos federais, logo após a ditadura (de 1985 até meados de
1996), de governar por meio de medida provisórias, o que poderia ser consi-
derado como um traço de insulamento burocrático. Para Diniz (1997, p.89),
a governança trata do “conjunto de mecanismos e procedimentos para lidar
com a dimensão participativa e plural da sociedade”, o que demanda uma am-
pliação e aperfeiçoamento dos meios de interlocução e de administração dos
interesses presentes no processo, ou seja, engloba questões relacionadas “à
padrões de coordenação e cooperação entre atores sociais e políticos”. Isso
requer que o Estado se torne mais flexível, descentralize suas funções, trans-
fira responsabilidades e amplie o leque de atores participantes, sem descui-
dar dos meios de controle e supervisão.
Por outro lado, outros autores ressaltam o caráter híbrido desses arran-
jos, ou seja, o envolvimento de atores de diferentes setores da sociedade, ou
seja, do mercado e do terceiro setor, além do estatal. Segundo Peters (2013),
tal mistura de organizações pode levar a mais eficiência. Esse pressuposto
repousa sobre a ideia de que o trabalho em conjunto por diferentes organi-
zações interessadas na realização de certo objetivo comum, pode gerar com-
plementaridades de competências, de recursos e aprendizagem organizacio-
nal, o que geraria um resultado mais eficiente.
Em suma, a governança pública tem três aspectos marcantes. O primeiro
traço é que ela “combina arranjos administrativos estabelecidos com aspec-
tos do mercado... e de organizações não-lucrativas” (Bevir, 2011, p. 2). Esses
arranjos combinam funcionamentos de sistemas administrativos com meca-
nismos de mercado e de organizações do terceiro setor. Daí podem derivar
novos meios de articular atores públicos com privados e novas formas de re-
gulação.
O segundo ponto marcante, de acordo com Bevir (2011, p.2) é que ela é
multijurisdicional e, às vezes, transnacional. Alguns arranjos combinam ato-
res de diferentes setores da administração pública e de diferentes níveis de
governo (como o SUS), indo do municipal até ao nível internacional (como a
ONU, por exemplo).
O terceiro aspecto é que ela engloba uma grande variedade e pluralidade
143

de atores interessados em questões públicas. Diversos grupos de interesse e


organizações não governamentais passam a fazer parte de iniciativas gover-
namentais, como por exemplo, grupos de defesa de direitos em processos
de políticas públicas ou organizações privadas não-lucrativas em processos
de prestação de serviços públicos. Daí, a crescente utilização de arranjos de
governança colaborativa e de parcerias público-privadas (Bevir, 2011, p. 2).
O que se pode observar é que a universidade, muitas vezes, realiza ações ou
projetos ou participa de tais iniciativas, que envolvem diferentes atores, em
torno de objetivos em comum. Seja por meio de pesquisa, da extensão ou do
ensino. Na questão da pessoa idosa, projetos de pesquisa ou redes de pesqui-
sa, podem envolver professores/pesquisadores e técnicos da administração
pública de diferentes níveis de governo e organizações do terceiro setor.
Um exemplo é a RAPI, rede criada a partir da noção de governança colabo-
rativa, coordenada pela Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social de
Minas Gerais com intuito de prover suporte técnico na proteção e provimen-
to de informações relacionadas às pessoas idosas e ao combate da COVID-19.
A RAPI (Rede de Apoio à Pessoa Idosa) é constituída por diversos organis-
mos públicos e privados, com destaque para as universidades e IFES, que con-
tribuem com pesquisa, assessoramento e cursos de extensão voltados para
questões relevantes da população idosa e para as instituições de longa per-
manência para idosos (ILPIs).
Este é apenas um exemplo de como as universidades/IFEs podem atuar com
outras organizações em um arranjo de governança. A adoção de relações de
colaboração entre diferentes atores, seja por parte de órgãos governamen-
tais, seja por parte das universidades/IFEs, permite uma complementaridade
de recursos e competências, que podem facilitar a realização de objetivos co-
muns.
As universidades, com sua expertise em diversas áreas do conhecimento, se
apresentam como um ator relevante para a elaboração e implementação de
políticas públicas. A rede é considerada um modo de coordenação que per-
mite a utilização de recursos e competências oriundas dos diferentes atores
envolvidos em uma iniciativa pública.
Considerando este contexto e com o intuito de contribuir para a atuação de
universidades/IFEs, tais organizações necessitam estabelecer laços que con-
tribuem para uma atuação eficaz nas iniciativas em que estejam envolvidas,
sejam eficazes na sua atuação.
Diante disso, serão consideradas funções relevantes para o funcionamen-
to adequado de arranjos de governança pública, seguindo a perspectiva de
144

que os órgãos públicos estatais são elementos centrais no seu funcionamen-


to. Deve-se chamar a atenção de que mesmo em ações isoladas, as universi-
dades/IFEs devem atuar de modo próximo com aqueles que elas pretendem
atender. Assim, as funções a serem apresentadas podem ser de grande utili-
dade nesses casos também.

2. Funções relevantes em arranjos de governança e


as universidades/ifes
Antes de falar das funções, é importante considerar as capacidades esta-
tais necessárias para que o Estado, ou seja, o órgão público atue com certa
efetividade. Segundo Pires e Gomide (2016, p. 4), à medida que a noção de
governança pública foi ganhando espaço em diferentes países e na academia,
a preocupação com capacidades de Estado foram também objeto de maior
atenção. A literatura sobre capacidades estatais se preocupa com “as habili-
dades e competências do Estado de estabelecer seus objetivos e realizá-los”
(Pires & Gomide, 2016, p. 124).
Considerar as capacidades e as respectivas funções é um modo de se atentar
para a gestão de arranjos de governança para garantir que atuem com certa
efetividade. Pires e Gomide (2016, p. 127) apresentam duas capacidades. As
capacidades técnico-administrativas se referem a presença de burocracias
com competência e profissionais com recursos organizacionais, financeiros,
tecnológicos, que permitam uma atuação minimamente organizada de tais
organizações. As capacidades político-relacionais se referem “às habilidades
e procedimentos de inclusão de múltiplos atores (sociais, econômicos e polí-
ticos) de forma articulada nos processos de políticas públicas” com o intuito
de se obter um consenso possível e alianças de apoio a iniciativas governa-
mentais (Pires & Gomide, 2016, p. 124).
Como salientado anteriormente, as universidades/IFEs possuem tanto ca-
pacidades técnico-administrativas quanto às político-relacionais. Obviamen-
te, a melhor utilização de tais capacidades depende da interação entre os
atores envolvidos, seja dentro das próprias instituições de ensino, seja entre
eles e os outros atores, sejam de governo ou da sociedade civil. Isto significa,
que tais relações podem ser permeadas por diferenças de visão, de posicio-
namento político e de recursos, diferenças em ritmos de funcionamento.
Deve-se ter claro que órgãos públicos possuem especificidades legais que
os diferenciam de organizações privadas, sejam lucrativas ou não. Por exem-
plo, uma universidade pública é caracterizada por seus processos burocráti-
145

cos, a despeito de se ter espaços decisórios representativos em termos de-


mocráticos. Por sua vez, uma ONG pode ter um processo decisório e uma
capacidade de respostas rápidas. Tais diferenças devem ser observadas e
consideradas em projetos públicos em arranjos de rede.
As capacidades técnico-administrativas e político-relacionais são opera-
cionalizáveis por meio do exercício de certas funções necessárias para que
um arranjo de governança pública possa gerar resultados satisfatórios para
os beneficiários de uma política ou projeto público. São funções básicas e que
podem ser adotadas por meio mecanismos participativo-deliberativos.
Para Peters (2013, pp. 29-30), a primeira função é o estabelecimento de
metas. Meta, seguindo Cohen e Franco (1994, p. 90), pode ser compreendida
como como a corporificação de um objetivo, em termos espaciais, temporais
e quantitativos. Em suma, é a quantificação de um objetivo pretendido.
Mas a definição de metas supõe a existência de um plano ou de um progra-
ma com determinados objetivos, em relação aos quais as metas são coletiva-
mente estabelecidas. Ressalta-se aqui a necessidade de que os objetivos te-
nham foco. Isto facilita o estabelecimento de metas e a avaliação das mesmas.
Em termos políticos, além das metas refletirem o que é pretendido pelo
projeto/programa, é necessário que se tenha estabelecido um mínimo de co-
nexão com aqueles que implementarão o programa/projeto e os considera-
dos beneficiários da iniciativa pública. Em suma, a elaboração, além da imple-
mentação, de um programa/projeto tem que envolver os diferentes públicos
que têm alguma relação com o conteúdo de tal iniciativa, isso visa garantir
legitimação ao processo, além de poder aprimorar a leitura da realidade e dos
problemas a serem trabalhados.
Por parte das universidades/IFEs, isto significa que os responsáveis pelos
projetos têm que estabelecer canais de diálogo que funcionem de início ao
fim, para evitar erros de diagnóstico, ruídos de comunicação, conflitos entre
os envolvidos, e falhas de avaliação, pelo menos.
Ressalta-se a atenção dada a diferentes grupos profissionais e burocratas
existentes dentro de uma organização pública, que detém diferentes pers-
pectivas em relação aos problemas selecionados para determinada iniciativa.
Tanto tais diferenças, quanto o envolvimento de atores da sociedade no pro-
cesso de uma iniciativa pública, implicam para o gestor público o gerencia-
mento de conflitos e a manutenção de certo modus operandi que seja efetivo.
Esta observação abre espaço para a função da coordenação.
De acordo com Diniz (1997), a coordenação está relacionada à integração
entre diferentes áreas de governo e entre elas e os atores privados (lucrativos
146

ou não). A preocupação aqui é obter coerência e consistência das políticas de


governo. Refere-se, de um lado, a capacidade de ajustes entre programas fo-
calizados e setoriais e, de outro, ao ajuste entre programas de maior alcance
e abrangência. Além desses aspectos, a coordenação implica, também, admi-
nistrar conflitos de interesses de tal modo que os compatibilize com a racio-
nalidade governativa baseada em função de um projeto coletivo. Esse projeto
coletivo corporifica o que a autora denomina de interesse público, decorrente
do esforço de compatibilizar as diversas e contraditórias demandas sociais.
Isto significa que os responsáveis pelo programa/projeto são capazes de lidar
com o dissenso e o conflito, através da negociação e o compromisso (Diniz,
1997, pp.40-41).
Em programas/projetos que lidam com temas, como por exemplo, enve-
lhecimento ativo, é comum e necessário a contribuição de diferentes cam-
pos do saber. Tais campos possuem suas abordagens específicas que em um
trabalho que envolve diferentes organizações, têm que ser compatibilizadas
para se obter coerência na ação. Por outro lado, a presença de diferentes or-
ganizações, ou de diferentes órgãos de uma mesma organização, como os
diferentes departamentos de uma universidade, pode ser caracterizada pela
reprodução de conflitos de origem profissional, por disputas por recursos ou
por espaço político. Isto só ressalta a relevância da coordenação e da coerên-
cia em arranjos de governança.
Uma outra função é a implementação. Para Peters (2013, p. 13) e Hill e
Hupe (2009) a implementação é o elemento crucial da governança. Ou seja,
o estabelecimento de arranjos para projetos é inútil se nada é implementado,
ou se o que é implementado não resolve os problemas enfrentados pelos gru-
pos beneficiários. Aqui ela é entendida, segundo Diniz (1997, p. 42), como as
condições do Estado ou de um órgão público de mobilização de recursos téc-
nicos, institucionais, financeiros e políticos que são exigidos para a execução
de suas decisões. Para tal é necessário que os recursos estejam disponíveis.
Se não, deve-se criá-los e, também, levar em conta os recursos decorrentes
da competência técnica e excelência do quadro administrativo.
Além desses aspectos, é importante garantir as condições de sustentação
política das decisões. Considera-se que a implementação possua um caráter
eminentemente político. Desse modo, ela exige uma estratégia de manuten-
ção de canais abertos tanto com a sociedade quanto com o sistema repre-
sentativo como, por exemplo, os partidos políticos, grupos de interesse, mo-
vimentos sociais e o poder legislativo, além dos beneficiários, para verificar
a percepção dos mesmos sobre o andamento da implementação. Deve-se
agregar que a dependência das universidades/IFEs de recursos provenientes
do poder executivo as coloca em situação delicada, à medida em que a pres-
147

tação de tais recursos podem ser sujeitos a descontinuidade administrativa


ou a remanejamentos orçamentários por motivos outros, podendo interrom-
per projetos de prestação de serviços para pessoas idosas, por exemplo.
A implementação implica em relacionamentos entre quem decide o que vai
ser implementado e quem vai implementar. Isto demanda um relacionamen-
to próximo entre esses atores para que se evite resultados ruins em termos
de eficiência e de eficácia. Pressupõe que o que está sendo implementado,
reflita as demandas do público a ser atendido. Daí a necessidade, ressaltada
anteriormente, de um lado, de dialogar com os beneficiários, na definição de
objetivos; de outro, dialogar também com os responsáveis pela implementa-
ção das ações, já que eles podem contribuir na elaboração de projetos, com
intuito de evitar equívocos no andamento do processo. Ou seja, a implemen-
tação pode ser entendida como um processo horizontal de negociação, ao
invés de ser um processo hierárquico (de cima para baixo, top-down) de de-
cisão, onde um decide e o outro implementa, orientado pelas noções de co-
mando e controle.
Em geral, a implementação top-down (de cima para baixo, de caráter hie-
rárquico onde se tem uma separação entre quem decide como será feito e
quem realiza o que foi planejado) leva a problemas de erros de planejamen-
to e de execução. Como diz Peters (2013, p. 31), o distanciamento de meios
de controle e comando, típicos da burocracia pública, em direção a meios de
negociação pode facilitar a implementação já que gera uma conformidade
maior, entre os atores envolvidos, sem levar a uma alienação decorrente de
posturas mais hierarquizadas. A posteriori, tal negociação pode gerar apren-
dizado para aqueles responsáveis pela elaboração e implementação da inicia-
tiva.
Esta postura dialógica não exclui a necessidade controle, já que as univer-
sidades públicas devem prestar contas dos seus gastos, garantindo assim
transparência. Este conceito é uma característica importante de arranjos de
governança pública
Finalmente, se apresenta a função de responsabilização e avaliação (Pe-
ters, 2013, p. 31). Em democracias, a responsabilização é fundamental diante
da necessidade de controle e monitoramento na utilização de recursos públi-
cos. Ela demanda que os órgãos envolvidos na governança, adotem mecanis-
mos de transparência para informar a sociedade sobre decisões e iniciativas
tomadas em relação ao programa/projeto. Além de apresentar justificativas
por tais ações. A responsabilização engloba instrumentos de prestação de
contas para verificar o que ocorreu de errado e o motivo para tal, além de
informar sobre os pontos de conformidade na execução em relação ao que foi
148

planejado. Como as universidades já são controladas por órgãos de controle,


elas já possuem uma larga experiência nesse tipo de questão.
Já a avaliação é entendida como meio de aprendizagem pelos e para os res-
ponsáveis de programa/projeto, incluindo os próprios políticos, com o intui-
to de aprimorar a performance de suas iniciativas. De acordo com Cohen &
Franco (1994, p. 77) avaliação seria uma função busca “maximizar a eficácia
dos programas na obtenção de seus fins e a eficiência na alocação de recursos
para a consecução dos mesmos”. No entanto, Worthen, Sanders & Fitzprati-
ck (2004, p. 35), em uma definição mais ampla e profunda, consideram que
“avaliação é identificação, esclarecimento e aplicação de critérios defensáveis
para determinar o valor (valor ou mérito), a qualidade, a eficácia ou a impor-
tância do objeto em relação a esses critérios.” Esta última definição, engloba
a preocupação com eficiência e eficácia, mas para refletir uma preocupação
com o valor daquilo que se pretende realizar. Isto significa que aqueles que se
pretendem que sejam atendidos, tem que ter voz ao longo do processo (para
auxiliar na identificação do(s) problema(s), na elaboração e implementação
de um projeto/programa), já que o diálogo com esse grupo de atores pode
auxiliar na definição dos objetivos a serem alcançados (que servem como cri-
térios para se alcançar a eficácia) e do valor e do mérito da iniciativa.
Existem várias universidades que possuem núcleos de pesquisa em avalia-
ção e elas podem contribuir muito para avaliações de projetos de organiza-
ções governamentais e/ou de fomento, além de avaliarem seus próprios pro-
jetos.
Considerando processos de elaboração de políticas públicas como contí-
nuos, onde os problemas não são bem resolvidos, ou seja, eles continuam a
existir e a se modificar em certa extensão, a avaliação é um meio de aprimo-
ramento de políticas públicas em relação àquelas anteriormente adotadas.
Mesmo quando se tem uma mudança de governo, ela permite ao novo gover-
nante a adoção de uma iniciativa melhorada em relação às ações do governo
anterior (Peters, 2013, p. 31-32), além do aprendizado decorrente das aná-
lises empreendidas para tal avaliação. Ou seja, por outro lado, a inserção das
universidades nesses processos pode auxiliar na formação de estudantes em
geral.
Levando em conta, o aspecto democratizante que um arranjo de governan-
ça pode ter, o processo avaliativo pode ser encarado como mais um momento
de diálogo, por meio de reuniões por exemplo, seja com os funcionários que
atuam na ponta, na realização da iniciativa, já que eles podem indicar o que
deu certo ou errado e alguns motivos para tais resultados; como também os
beneficiários sobre a percepção que eles possuem sobre aquilo que eles re-
ceberam. Em suma, a realização de avaliação pode significar um ganho téc-
149

nico e político fundamental para a sustentação de uma iniciativa pública que


pretenda atender demandas dos beneficiários de modo eficaz e modificar as
vidas dessas pessoas.

3. Conclusão
O capítulo buscou apresentar uma noção de governança pública, que res-
salta um modo de governo onde se tem a articulação de uma organização
pública estatal com outras de outros setores como o mercado e/ou a socie-
dade civil. Os arranjos de governança podem ter três modos de coordenação:
o hierárquico, o de mercado e o de redes. Tais modos podem ser utilizados
simultaneamente. De toda forma, o intuito é garantir que a iniciativa a ser
realizada tenha eficácia e seja democrática. As funções comentadas servem
de orientação tanto para gestores quanto para acadêmicos. Em termos práti-
cos, a realização das funções citadas demanda tanto capacidades técnica-ad-
ministrativas quanto capacidades político-relacionais. A atuação de um órgão
público, como uma universidade, exige uma busca por eficácia e por demo-
cratização da sua gestão simultaneamente, de tal maneira que as demandas
daqueles para os quais as iniciativas sejam dirigidas possam ser minimamente
atendidas, com efeitos sociais e políticos que garantam os direitos do público
atendido pela organização pública.
150

Referências
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Handbook of Governance (pp. 1-16). London: SAGE.

Bevir, M. (2013). A Theory of Governance. Berkeley and Los Angeles: University of California
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Worthen, B. R., Sanders, J. R., & Fitzpatrick, J. L. (2004). Avaliação de Programas. São Paulo:
Editora Gente, Edusp.
151

Histórias da Pandemia: a alegria do


encontro
Stefania Becattini Vaccaro1, Andréia Queiroz Ribeiro2, Thaís dos Santos
Gomes3

Resumo
O convite à escrita de um capítulo sobre as políticas e os direitos da pessoa idosa
nas universidades trouxe a possibilidade de realizarmos um brinde à esperança. Um
brinde à alegria do encontro entre pessoas, Conselhos de Direito da Pessoa Idosa e
universidades, o qual tem sido capaz de rearticular a construção da cidadania nos
territórios e a transformação social. Mas, que história é essa?
Palavras-chave: governança colaborativa, direitos da pessoa idosa, gestão social.

Cena I: A luz no escuro


Em fevereiro de 2020, o Brasil recolhia as fantasias de carnaval. Era ainda
tempo de euforia, de serpentina e de amores foliões. Mas, de repente, a pre-
sença da morte se instalou de forma absoluta entre nós.
Não, não era apenas uma quarta-feira de cinzas a anunciar o início da qua-
resma; era a COVID-19 que estampava em nossos rostos a vulnerabilidade da
vida e o milagre da existência. Era a COVID-19 que revelava a fratura social de
um Brasil estruturado sob profundas desigualdades socioeconômicas. Era a
COVID-19 que desvelava a nossa interdependência social e a impossibilidade
de viver em isolamento.
Das ruas em multidões, como num passe de mágica, passamos a viver em
ilhas e, muitas vezes, distanciados daqueles que amamos. As mortes, todos
os dias, eram anunciadas aos milhares, assombrando-nos. Cada um de nós
precisava se encontrar com o melhor e o pior de si mesmo e, no escuro de

1
Professora do Departamento de Direito da Faculdade de Ciências Sociais Aplicadas da Uni-
versidade Federal de Lavras. E-mail: [email protected]
2
Professora do Departamento de Nutrição e Saúde da Universidade Federal de Viçosa.
E-mail: [email protected]
3
Secretaria de Planejamento e Gestão do Estado de Minas Gerais. E-mail: go.thaissantos@
gmail.com
152

cada noite, precisava sozinho reaprender a viver. Foram tempos duros que a
todos desafiava.
Àquele momento nada sabíamos da doença propriamente; apenas sobre
a vida. Sabíamos ser necessário alimentar, exercitar fisicamente, trabalhar,
estudar, encantar com as artes, amar; sem o que morreríamos ainda que
a doença não nos acometesse. Atos cotidianos que, de repente, ganharam
enorme complexidade e, para alguns, muito mais que para outros. Pobres e
velhos morriam em maior número e revelavam a nossa cegueira social.
Foi nesse cenário desconhecido e assustador que decidimos nos mover. De
forma voluntária, reunimos várias pessoas para realizar apoio técnico aos mu-
nicípios mineiros no cuidado à população mais vulnerável e às pessoas idosas.
A ação foi capitaneada pela Universidade Federal de Viçosa (UFV) e pelo Go-
verno de Minas Gerais, mas reuniu pesquisadores dos mais diferentes rincões
do país.
A capacidade de articulação rápida só foi possível porque vários professo-
res-pesquisadores estavam vinculados ao GEGOP - grupo de trabalho Clacso:
espaços deliberativos e governança pública – e já vinham desenvolvendo pes-
quisas e ações extensionistas voltadas à população idosa para implementar a
Estratégia Brasil Amigo da Pessoa Idosa4.
Esse grupo de pesquisadores, conhecendo a realidade do interior do Brasil,
detectou rapidamente a ausência de planos emergenciais e elaborou docu-
mentos orientadores para apoiar os municípios em suas ações. Mas, os anos
de vivência e de pesquisa junto às municipalidades também revelavam de
pronto a insuficiência dessa iniciativa. Sabíamos que sem a presença de uma
rede de apoio aos municípios os planos emergenciais se resumiriam a papéis.
Além disso, sabíamos de várias ações voluntárias adotadas individualmente
ou em pequenos grupos.
A pergunta era: como rearticular e fortalecer essas ações para alcançar
todo o território de Minas Gerais? A luz veio com a ideia de formar uma Rede
de Apoio à Pessoa Idosa (RAPI) coordenada pelo governo estadual; único ente
capaz de ver e acessar a integralidade do território.
Assim, surgiu a rede de governança colaborativa entre governo, regionais
da secretaria de estado e desenvolvimento social (SEDESE), sociedade civil e
universidades para apoiar os municípios e permitir que cuidassem do maior

4
Estratégia Brasil Amigo da Pessoa Idosa é um programa de integração de políticas públi-
cas para que comunidades e cidades promovam o envelhecimento ativo, saudável e sus-
tentável. O programa foi criado no ano de 2017 sob a coordenação do antigo Ministério do
Desenvolvimento Social (MDS) em parceria com o Ministério da Saúde, com o Ministério
de Direitos Humanos, com a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) e com o Fundo
Nacional de Direitos da Pessoa Idosa (FNDPI).
153

número de pessoas em vulnerabilidade. A Coordenadoria Estadual de Políti-


cas para as Pessoas Idosas (CEPID) fez com que as informações circulassem
pelos 853 municípios mineiros.
A partir dessa rede e com a atuação do SERVAS – Serviço Social Autônomo
- foram distribuídos alimentos, água, produtos de limpeza e equipamentos de
proteção individual em várias comunidades. Mas também, foram ofertados
atendimentos virtuais de apoio técnico nas mais diferentes áreas do conhe-
cimento: contábeis, enfermagem, psicologia, direito, administração pública,
nutrição, entre tantas outras.
É verdade, naquele momento os ares da morte nos rondavam. Mas, a vida
lentamente ganhou novos movimentos e ressurgiu entramada pelos atos de
trabalho diário de cada uma das pessoas envolvidas na construção do ama-
nhã.

Cena II: Uma moeda por um Conselho


Você quer um conselho?
Escute seus avós. Eles já viveram muito e sabem das belezas e das dificulda-
des do viver. Sabem que cada idade carrega em si sonhos e que construí-los
exige esforço, paciência, resiliência e amor pelo processo de conquista diária.
Sabem que toda casa se constrói tijolo a tijolo, com o suor do trabalho diário.
Sabem que nada se constrói sozinho, que precisamos uns dos outros, mas o
acolhimento de todos depende de uma casa acessível, de portas abertas e de
fácil trânsito. Oxalá, que possamos construir nossas cidades nesse modelo.
Afinal, uma cidade acessível e adaptada às pessoas idosas é uma cidade para
todos; capaz de incluir diferentes idades e necessidades individuais como de
uma gestante, de uma criança ou de uma pessoa com deficiência. É um tra-
balho diário de transformação do espaço e que será mais eficiente se todos
envolver.
Para orientar esse processo, a Organização Mundial de Saúde (OMS) ela-
borou o Guia Global Cidade amiga do Idoso e estruturou a Rede de Cidades e
Comunidades Amigas das Pessoas Idosas5 indicando oito dimensões que in-
fluenciam diretamente a saúde e a qualidade de vida das pessoas: espaços
ao ar livre e edifícios, transporte, habitação, participação social, respeito e
integração social, participação cívica e trabalho, comunicação e informação,
e apoio da comunidade e serviço à saúde. Os mais velhos, no entanto, nos
dizem que se tentarmos avançar em todas essas direções ao mesmo tempo
5
Para saber mais informações consulte https://bit.ly/3u4S8Sg
154

e sem um planejamento é receita certa para o insucesso. Como, então, deve-


mos fazer?
Dizem que o segredo da receita está em conhecer seu próprio território
e nele identificar as parcerias estratégicas e as áreas específicas prioritárias
para receber atenção e recursos financeiros. Se o segredo é simples, a execu-
ção é um pouco mais complicada e deve ser feita por etapas.
A primeira etapa é criar um Conselho de Direitos da Pessoa Idosa (CDPI).
Este será o espaço de reunião de pessoas da sociedade civil de diferentes ida-
des – incluindo, fundamentalmente, pessoas idosas (nada de nós sem nós)
- e de representantes da administração pública para, em diálogo, busca-
rem construir soluções para os problemas locais. Também será um espaço
de aprendizado sobre as políticas nacional e estadual voltadas à promoção e
proteção das pessoas idosas, para que possam ser implementadas e avaliadas
continuamente. Mas, não é só isso!
O Conselho ainda irá funcionar como o espaço de referência da cidade para
proteção de direitos e da cidadania. Ele pode promover cursos e ações de
fiscalização sobre os equipamentos destinados ao atendimento das pessoas
idosas; pode promover festas de congregação das pessoas idosas e de suas
famílias, como também deliberar sobre todas as ações, programas e políticas
locais voltadas à pessoa idosa. Mas, sabemos, que de nada adianta deliberar
sobre políticas e programas que queremos sem recursos. Este é o segundo
passo!
Uma vez constituído e ativo o Conselho de Direitos da Pessoa Idosa (CDPI),
é preciso instituir os Fundos de Direito das Pessoas Idosas (FDPI)6 para reunir
recursos destinados especificamente à promoção de políticas e de ações para
essa camada populacional.
Os Fundos de Direito são instrumentos legais que permitem exceção ao
princípio da unidade orçamentária, o que significa dizer que os recursos
eventualmente destinados a esse fundo somente podem ser aplicados em
prol da população idosa e ficam impedidos de serem destinados a outros fins.
De modo diferente, significa dizer que a partir da criação dos Fundos no ter-
ritório local existe a possibilidade concreta de ter recursos disponíveis para
executar as ações e projetos deliberados no âmbito do Conselho.
Mas, você pode estar pensando que esses Fundos irão trazer novos encar-
gos financeiros ao município ou que irão competir com recursos destinados a
outras áreas. Se este for o seu caso, nós advertimos que você está enganado.
Os Fundos de Direito da Pessoa Idosa funcionam como unidades orçamen-
tárias de captação de recursos independentes, à espécie de uma conta ban-

6
Para maiores informações consultar http://bit.ly/2QOIJ0P
155

cária. Aliás, para ter o Fundo ativo em sua cidade é preciso justamente abrir
uma conta em um banco público e validar esse dado junto à Receita Federal
do Brasil. A partir daí cada indivíduo ou cada empresa, residente ou não na
cidade, poderá destinar para o Fundo de Direito da Pessoa Idosa parte do Im-
posto de Renda devido anualmente à União.
Observe que a quantia a ser destinada ao FDPI é um valor devido ao Im-
posto de Renda, de modo que não há a criação de novo encargo ao contri-
buinte e nem ao município. A diferença é que a Lei nº 12.213/2010 e a Lei nº
13.797/2019 autorizaram ao contribuinte reservar uma parcela do imposto
devido para ser aplicado em um setor específico de sua escolha, in casu as
políticas e os programas voltados à pessoa idosa.
Essa destinação de parte do imposto de renda é, pois, uma autorização le-
gal que pode ser utilizada tanto pelas pessoas físicas (PF) quanto pelas pes-
soas jurídicas (PJ) e, atualmente, não compete com igual valor7 que pode ser
destinado ao Fundo da Infância e da Adolescência (FIA). Trata-se, portanto,
de uma enorme oportunidade para os Conselhos trabalharem em seus ter-
ritórios com a cidadania tributária. Simples ações adotadas aqui podem ter
grande repercussão.
Mas, lembrem-se do conselho: é preciso conhecer o território de sua cida-
de para realizar campanhas de arrecadação de receitas para o Fundo. Ima-
gine que na sua cidade existe uma universidade pública ou uma comarca do
Poder Judiciário. Se o Conselho conseguir que cada servidor público destine
a parcela de seu IR devido ao Fundo da cidade, serão muitos os recursos arre-
cadados e, para isso, basta um simples convênio com a fonte pagadora dos sa-
lários e uma campanha de conscientização sobre a importância do Fundo nas
políticas locais. De quebra, o Conselho conseguirá comunicar-se com toda a
sociedade e ganhar visibilidade para suas causas.
A próxima etapa é realizar o plano de ação para aplicação dos recursos.
Esse plano de ação se refere ao planejamento de ações políticas voltadas a
aprimorar a rede de atendimento à pessoa idosa no município e o ideal é que
seja desenvolvido com base em diagnóstico qualificado, capaz de identificar
lacunas e fragilidades da rede de atenção à pessoa idosa, bem como na distri-
buição territorial da rede de serviços.
Essa pode ser aparentemente uma etapa difícil porque requer a investiga-
ção sobre os equipamentos e os serviços já existentes no território em com-
7
As pessoas jurídicas optantes pelo lucro real podem destinar até 1% do imposto devido,
enquanto as pessoas físicas podem destinar de 6% a 3% a depender do momento de efeti-
vação da entrega (se dentro do próprio ano base da declaração de imposto de renda ou se
no momento de realização da declaração de imposto de renda).
156

paração com as políticas nacionais e estaduais dentro das oito dimensões in-
dicadas pelo Guia Global Cidade Amiga do Idoso. Mas, não se assuste! Aqui
o conselho é contar com a experiência da universidade que congrega em si
diferentes campos do saber e tem dentro de sua finalidade última a realização
de pesquisas.
Além disso, na elaboração desse plano, o Conselho deve envolver toda so-
ciedade local por meio da realização de fóruns, encontros setoriais e de Con-
ferências municipais voltadas a discutir as políticas públicas de promoção da
pessoa idosa. Deve também promover o diálogo entre Conselho e Adminis-
tração Pública para decidir as prioridades do município e eleger objetivos co-
muns a serem perseguidos pelas partes. Viu, como é fácil!
Em sequência, o Conselho deve elaborar o Plano de Aplicação para indicar
o montante de recurso do Fundo da Pessoa Idosa destinado ao atendimen-
to dos respectivos programas, ações e projetos a serem executados naquele
ano, os quais devem estar intimamente relacionados às prioridades definidas
no Plano de Ação.
Já para realizar a escolha dos programas, ações e projetos em específico,
o Conselho deverá realizar um chamamento público8 e, então, selecionar as
entidades públicas ou privadas sem fins lucrativos que estejam mais aptas a
executar o projeto ou ação. Assim, o Conselho vai estimular que toda a socie-
dade se envolva na construção da cidade amiga da pessoa idosa.
Mas, lembre-se: os editais de chamamento público devem indicar uma co-
missão de seleção (órgão colegiado composto por pelo menos um servidor
público efetivo) para processamento e julgamento das propostas apresen-
tadas. Aqui a peça-chave para o sucesso das parcerias entre a administração
pública e as organizações da sociedade civil é a atuação efetiva do Conselho
de Direitos da Pessoa Idosa no planejamento do edital.
Essa receita trará novos recursos financeiros ao município e irá alimentar a
dinâmica de participação social e de descentralização das políticas públicas.
Também irá se constituir como um importante mecanismo de fortalecimento
da cidadania e de desenvolvimento local. Você quer experimentar?

8
Embora haja obrigatoriedade de chamamento público para uso das verbas de natureza
pública, a Lei nº 13.019/2014 prevê três exceções: a parceria dispensada, a parceria dispen-
sável e a parceria inexigível (arts. 30 e seguintes).
157

Cena III: Aprender todos os dias


Havia um tempo em que ir à escola era coisa dos pequenos e dos jovens.
Havia um tempo em que ensinar era coisa de adultos e dos mais velhos. Esse
tempo acabou. Agora, o tempo é de aprender todos os dias e com todas as
pessoas. O tempo é de trocar experiências e de compreender que cada indiví-
duo é um universo de potencialidades mergulhados em uma realidade social,
uma trajetória individual, detentores de conhecimentos, habilidades e atitu-
des. A tarefa longe do trivial é um desafio.
Permanecer ativo, dizer sobre si, seguir adiante em cenários incertos, pedir
ajuda, manter a autonomia, parar, ouvir o outro, acolher, compreender uma
perspectiva diferente, desconstruir certezas. São movimentos que podem
gerar desconforto ou podem traduzir a magia de estarmos vivos e reinven-
tarmos diariamente nossos lugares. Qual lado você vai escolher?
A universidade escolheu abrir as portas para as pessoas idosas e realizar
estudos sobre a velhice, o envelhecimento e a longevidade, enquanto apren-
de sobre mudanças evolutivas no curso da vida, novos papéis sociais, desafios
para a inclusão tecnológica entre tantos outros temas.
As UNAPIs (Universidades Aberta para Pessoas Idosas) são um programa
de extensão que utilizam dos espaços da universidade e de suas competên-
cias para desenvolver cursos, palestras, oficinas regulares, teatro e cinema
destinados a promover integração social e educacional das pessoas idosas,
mas que recebem a oportunidade de interagir com essa camada populacional
para aprender sobre o envelhecimento, a partir da perspectiva das próprias
pessoas idosas. Além disso, promovem um contato intrageracional com jo-
vens que compartilham essas vivências, a partir de iniciações científicas, es-
tagiários e bolsistas de extensão e de ensino. Essa ação, de natureza inter-
disciplinar e transversal, tem feito das UNAPIs um espaço privilegiado para
pesquisa e para a construção do conhecimento nas mais diferentes áreas. Um
espaço privilegiado para promover a educação para a longevidade para di-
ferentes públicos, desde as pessoas idosas, a academia, a governança e os
profissionais envolvidos com o cuidado desse grupo etário.
Se pensado de forma integrada, esse espaço pode também ser direcionado
à busca de soluções para questões locais do envelhecimento. Pode permitir
que cada uma das pessoas envolvidas nas ações e, a cidade no seu conjunto9,
“modifique a forma como pensamos, agimos com relação à idade e ao enve-
lhecimento”, “promova a capacidade das pessoas idosas”, “entregue serviços
de cuidados integrados e de atenção primária à saúde centrados na pessoa e
9
A lista diz respeito aos 4 eixos de atuação dos objetivos da Década do Envelhecimento
Saudável.
158

adequados à pessoa idosa”, e “propicie o acesso ao cuidado de longo prazo


às pessoas que necessitem”. As UNAPIs podem, portanto, ser o espaço para a
cidade trabalhar na promoção da Década do Envelhecimento Saudável 2021-
2030.
Esse plano foi desenvolvido com base na estratégia global da Organização
Mundial de Saúde (OMS) sobre envelhecimento e saúde, no Plano de Ação
Internacional sobre o Envelhecimento e nos Objetivos de Desenvolvimento
Sustentável da Agenda das Nações Unidas de 2030 e é capaz de garantir que
o envelhecimento saudável e ativo seja uma realidade para muitos. Fomentar
essa transformação é o papel que as universidades têm buscado assumir e
que as municipalidades podem se utilizar para, de imediato, dar início à cons-
trução de uma cidade amigável e acolhedora de todas as idades.
Novamente, a tarefa não é trivial e pode parecer mais difícil a alguns mu-
nicípios localizados no interior do Brasil, com pequenas estruturas de admi-
nistração pública e sem a presença física das universidades em seu território.
Mas, também para esses, há possibilidade de seguir adiante na transforma-
ção social. Com a pandemia aprendemos a trabalhar à distância, ofertamos
treinamentos e suporte técnico de forma remota, nos associamos à rede de
universidades para permitir atuar em todo território nacional, a partir das
especificidades locais.
Utilizando do GEGOP - grupo de trabalho Clacso: espaços deliberativos e
governança pública – como um sistema de integração já reunimos a Univer-
sidade Federal de Viçosa, a Universidade Federal de Lavras, a Universidade
Federal de Minas Gerais, a Universidade Federal de Santa Catarina, a Univer-
sidade Federal de São Carlos, a Universidade Federal do Paraná, a Universida-
de Federal de Rondônia para, em conjunto, ofertar10 capacitações em EAD aos
Conselhos de Direitos das Pessoas Idosas, às Instituições de longa permanên-
cia para pessoas idosas (ILPIs) e às pessoas em geral nos temas de educação
financeira e em empreendedorismo.
Em cada uma dessas pequenas ações temos unido esforços para alcançar
o território nacional na amplitude de sua diversidade. Em cada uma dessas
pequenas ações temos aprendido sobre as diferenças locais, a potência do
fazer em rede, e as possibilidades concretas de esperançar sobre o amanhã.
A pergunta é: você vem conosco?

10
O curso ConFoco SC, Foco MG, AGE ILPIs, GERAR foram alguns dos cursos ofertados no
ano de 2021 e 2022.
159

Governança Colaborativa nas Políticas da


Pessoa Idosa no Estado de Minas Gerais: o
Caso da Rapi/MG
Simone Martins1 , Andréia Queiroz Ribeiro2 , Roseany Gloriane Mendes3,
Sabrina Olímpio Caldas de Castro4, Ivan Beck Ckagnazaroff 5, Ricardo
Duarte Gomes 6

Resumo
O capítulo apresenta parte dos resultados de uma pesquisa-ação, realizada no ano
de 2021, com o qual se buscou analisar o processo de criação e implementação da
Rede de Apoio à Pessoa Idosa no Estado de Minas Gerais (Rapi/MG). Esta Rede é uma
inovação na gestão pública, à medida em que sua coordenação se baseia na noção
de governança colaborativa. Para a análise foram abordadas as seguintes dimen-
sões da Rede: atores sociais (colaboradores, financiadores), tipos de colaboração
e formas de organização. Verificou-se que a criação e implementação da Rapi/MG
contou com o apoio de universidades. Foi estruturada inicialmente em macro ações
que colaboraram para a resolução de problemas coletivos emergenciais, principal-
mente relativos à pandemia da Covid-19, os quais desafiavam a atuação isolada da
administração pública. A Rede é financiada pelos próprios entes públicos e demais
parceiros e continua ativa com o objetivo de fortalecer as políticas para a população
idosa. Se verificou que tanto a criação quanto a implementação reproduzem traços
de governança colaborativa.
Palavras-chave: cooperação, governança colaborativa, população idosa, rede de
apoio à pessoa idosa em minas gerais.

1. Introdução
As críticas ao modo hierárquico de governar, adotado pela administração
pública ao longo do século XX, e a emergência dos denominados wicked pro-
blems7 desafiavam a capacidade da administração pública de, a partir de uma
1
Professora do Departamento de Administração e Contabilidade da Universidade Federal
de Viçosa. E-mail: [email protected].
2
Professora do Departamento de Nutrição e Saúde da Universidade Federal de Viçosa.
E-mail: [email protected].
3
Doutoranda em Administração no programa de Pós-Graduação em Administração da Uni-
versidade Federal de Viçosa. E-mail: [email protected].
4
Professora do Instituto Federal Fluminense. E-mail: [email protected].
5
Professor do Departamento de Ciências Administrativas da Faculdade de Ciências Econô-
micas da Universidade Federal de Minas Gerais. E-mail: [email protected].
6
Professor do Departamento de Comunicação Social da Universidade Federal de Viçosa.
E-mail: [email protected].
7
De acordo com Alvesko (2012), trata-se de problemas sociais ou culturais de difícil ou im-
possível solução por quatro razões: conhecimento incompleto ou contraditório dos proble-
160

única entidade governamental hierárquica, solucionar problemas coletivos


cada vez mais complexos.
Tais desafios se intensificam em contextos de emergências, que afetam em
grande escala a população, criam um ambiente consideravelmente distinto
da normalidade e demandam rápida mobilização pelos entes públicos (Alves
& Costa, 2020), como é o caso da pandemia da Covid-19.
Em cenários de calamidade que desafiam a administração pública, estudos
têm evidenciado a colaboração entre diferentes atores como um caminho
plausível para resolver as demandas da sociedade e viabilizar a superação das
crises.
Comfort e Kapucu (2006) analisaram as interações entre entidades públi-
cas, privadas e sem fins lucrativos para lidar com os ataques terroristas de 11
de setembro de 2001, tendo considerado os relacionamentos em termos de
apoio e acesso às informações. Como resultados, indicaram a relevância do
apoio mútuo e do compartilhamento de informações adequadas como aspec-
tos fundamentais à adaptação e ao aprendizado para antecipar e responder a
eventos extremos.
Simo e Bies (2007) analisaram o envolvimento de organizações sem fins
lucrativos em setores transversais para a recuperação e reconstrução de ci-
dades após furacões. Como conclusões, apontaram a relevância de esforços
colaborativos para o gerenciamento de emergências.
Em 2020, diante do cenário de pandemia da Covid-19, Andion (2020) des-
tacou a necessidade de realização de estudos dedicados à análise e discussão
das redes colaborativas locais. Ainda, identificou a escassez de estudos que
focalizam a colaboração como mecanismo de lidar com as demandas de gru-
pos populacionais mais vulneráveis ao vírus. Dentre esses grupos, a popula-
ção idosa.
Neste sentido, cabe indagar: Como se estrutura a governança colaborativa
para fortalecer as políticas da pessoa idosa no Estado de Minas Gerais? Qual
o papel das universidades?
Para responder às questões apresentadas, foi realizada uma pesquisa ação8,
com participação dos autores no planejamento, na implementação, no apoio
e na análise das ações empreendidas pela Rapi/MG. No processo de análise
descritiva foram utilizadas notas observacionais e de documentos que regis-
mas, número de pessoas e opiniões envolvidas, grande carga econômica para os envolvidos
e natureza interconectada de um problema com outros com a mesma característica (por
exemplo, a pobreza está ligada à educação, mas também a nutrição e assim por diante).
8
Este capítulo é parte da pesquisa intitulada: Governança Colaborativa em Defesa da Pes-
soa Idosa: em análise a Rede de Apoio à Pessoa Idosa em Minas Gerais, registrado no SIS-
PPG/UFV sob o número 60213275437.
161

traram as ações.
Este capítulo, além desta breve introdução, está estruturado nas seguintes
seções: Governança Colaborativa, uma breve contextualização do processo
de criação da Rapi/MG, o papel das universidades na Rapi/MG e se encerra
com as considerações finais.

2. Governança colaborativa
Tanto a abordagem top-down de políticas públicas quanto o modelo bu-
rocrático de administração pública se caracterizam pela hierarquia e cen-
tralização decisória. No caso das políticas públicas, na perspectiva top-down
considerava-se que uma única entidade pública detinha jurisdição legal sobre
determinada área de política pública, de acordo com uma delegação de auto-
ridade definida (Bingham, 2011, p. 386).
Estas estratégias de gestão de comando e controle hierárquicos, adotadas
pela entidade responsável, falhavam em lidar com problemas que não pode-
riam ser enfrentados por uma única entidade (Kissler & Heidemann, 2006).
Degradação ambiental, ineficácia em processos de desenvolvimento econô-
mico urbano e problemas de saúde pública eram, e ainda são, exemplos des-
ses problemas que a administração pública e os governos enfrentavam e en-
frentam a partir dos anos 70.
No contexto supracitado, o conceito de governança foi crescentemente
adotado em diversos países. A noção de governança adotada aqui segue as
concepções de Frederickson (2007) e Bingham (2011), pelas quais a gover-
nança implica em atividades entre vários atores e com potencial justaposição
jurisdicional. Isto significa que o Estado deixa de atuar sozinho para trabalhar
com outros órgãos públicos de uma mesma jurisdição (seja ela federal, esta-
dual ou municipal, no caso brasileiro), ou de jurisdições diferentes, ou, ainda,
entre órgãos de setores distintos, e, finalmente, com organizações privadas e,
ou, da sociedade civil. Este processo engloba interações não-hierarquizadas
(Kohler-Koch & Rittberger, 2006). Cabe agregar que tais processos ganham
corpo por meio de estruturas, constituindo assim arranjos de governança.
Segundo Bingham (2011) a literatura que se refere à colaboração em go-
vernança pode ser alocada em duas categorias gerais. A primeira trata da co-
laboração entre organizações, que também pode ser denominada de gestão
pública colaborativa ou governança de rede. A noção de rede implica em rela-
ções entre mais atores do que simplesmente dois em uma relação de contrato
bilateral. De qualquer modo, a noção de contrato como metáfora pode ser
162

apropriada, na medida em que governança implica na mistura entre privado


e público por meio de acordos consensuais entre os componentes da rede. Já
a noção de colaboração implica em um relacionamento próximo entre atores,
tal como um grupo de indivíduos que trabalha em conjunto para atingir de-
terminado fim (Bingham, 2011). Dessa forma, emerge uma nova estrutura, há
compartilhamento de recursos, relacionamentos definidos e comunicação.
Como afirma Bingham (2011), a colaboração implica também na utilização de
capital social, se não na criação de capital social para o alcance de objetivos
comuns.
A governança colaborativa é definida por Ansell & Gash (2008, p. 544)
como:
um arranjo de governo onde uma agência pública, ou
mais, diretamente se engaja com stakeholders não-es-
tatais em um processo decisório coletivo que é formal,
orientado para o consenso deliberativo e que objetiva
realizar ou implementar política pública ou gerenciar
programas ou ativos públicos (traduzido pelos autores).
Para caracterizar e analisar a formação da Rede de Apoio à Pessoa Idosa no
estado de Minas Gerais (Rapi/MG), optou-se por seguir a proposta apresen-
tada por Ansell (2012), segundo a qual a governança colaborativa pode variar
ao longo de algumas dimensões, tais como as apresentadas no Quadro 1.

Quadro 1
Dimensões empregadas na análise dos dados
Dimensão Descrição
Quem colabora Analisa quais atores estão envolvidos na ação colabo-
rativa, podendo incluir os da administração pública, de
diferentes setores e jurisdições; do Legislativo e do Judi-
ciário, atores do setor privado lucrativo e da sociedade
civil.
Quem financia a colabo- Analisa a fonte dos recursos que financia a governança
ração colaborativa. Geralmente, são os organismos públicos.
Forma de organização da Analisa o modo pelo qual a rede está organizada e confi-
colaboração gurada.
Fonte: Elaboração própria dos autores a partir de Ansell (2012).

Antes da apresentação dos resultados referentes a cada dimensão de aná-


lise, seguimos com uma breve contextualização sobre o processo de criação
da Rapi/MG.
163

3. Breve Contextualização do Processo de Criação da


Rapi/MG
Em 2019, o governo de Minas Gerais aderiu à Estratégia Brasil Amiga da
Pessoa Idosa (Ebapi)9 com o objetivo de proporcionar aos municípios minei-
ros melhores condições de atenção à população idosa. Para tanto, estabeleceu
parceria com a Universidade Federal de Viçosa (UFV), por meio da Coordena-
doria de Políticas Públicas para Pessoa Idosa (Cepid), componente da Secre-
taria de Estado de Desenvolvimento Social (Sedese). Pela UFV, a efetivação da
parceria se deu pela atuação do Grupo de Pesquisa Espaços Deliberativos e
Governança Pública (Gegop), inserido no Instituto de Políticas Públicas e De-
senvolvimento Sustentável (IPPDS). No decorrer das ações da parceria, teve
início a pandemia da doença Covid-19, causada pelo novo coronavírus.
No cenário da pandemia da Covid-19, em abril de 2020, o governo de Mi-
nas Gerais e o Conselho Estadual dos Direitos da Pessoa Idosa (CEI/MG), en-
comendaram à UFV um diagnóstico das Instituições de Longa Permanência
para Pessoas Idosas (ILPIs). Esse diagnóstico se justificava pela vulnerabilida-
de da população idosa naquela situação, considerando-se o elevado núme-
ro de mortes de pessoas institucionalizadas que estava ocorrendo em países
europeus naquele momento. A partir do diagnóstico, Estado e universidade
começaram a trabalhar para atender as ILPIs, bem como para atender outras
demandas emergentes de diferentes segmentos que atuavam com a popu-
lação idosa mineira, tais como secretarias municipais de assistência social e
saúde. Nesse processo, outros colaboradores foram se somando à iniciativa,
como instituições públicas e privadas e pessoas da sociedade civil, e assim
teve origem a Rede de Apoio à Pessoa Idosa (Rapi/MG), que passamos a com-
preender nos próximos tópicos.

3.1. Dimensão 1: Quem colabora com a Rapi/MG


Na perspectiva da governança colaborativa, a primeira dimensão diz res-
peito aos atores que colaboram ou “quem colabora” com a rede. Essa rede
de colaboradores pode incluir atores da administração pública de diferentes
setores e jurisdições, de instituições de ensino e pesquisa públicas e privadas,
do setor privado lucrativo e da sociedade civil. Também podem ser incluídos
organismos do Legislativo e do Judiciário.
Como já mencionado, a Rapi/MG foi criada em 2020, quando os problemas
complexos exigiam respostas que ultrapassam as possibilidades de ações da
administração pública. Imediatamente após declarada a pandemia da Co-
9
A Estratégia foi criada em abril de 2018 por meio do Decreto nº 9.328, revogado pelo
Decreto nº 9.921 de 18/07/2019, consolidando atos normativos editados pelo Executivo Fe-
deral que dispõem sobre a temática da pessoa idosa.
164

vid-19 pela Organização Mundial da Saúde, em março de 2020, a Cepid/Se-


dese e o CEI/MG solicitaram apoio técnico da UFV para a realização de um
diagnóstico junto às ILPIs filantrópicas mineiras, com o objetivo de identificar
as fragilidades e as potencialidades dessas instituições no enfrentamento da
pandemia. No âmbito da UFV, além dos pesquisadores do Gegop/UFV, coor-
denaram o diagnóstico os pesquisadores do Grupo de Estudos e Práticas so-
bre Envelhecimento, Nutrição e Saúde (Greens/UFV). Elaborado em tempo
recorde, o diagnóstico10 foi entregue no final do mês de abril de 2020, com o
panorama da situação das ILPIs e o apontamento da necessidade de um con-
junto de ações públicas emergenciais.
Para viabilizar a implementação de parte das ações identificadas como
emergenciais, a Cepid/Sedese e o Sistema Estadual de Redes em Direitos
(SER-DH) formalizaram parceria com a UFV, por meio de um Termo de Coo-
peração que previa as ações e as responsabilidades de cada uma das enti-
dades envolvidas. Tal formalização cumpre um dos requisitos apontados por
Kellas (2010) para que a governança seja efetivamente colaborativa, uma vez
que estabelece processos claros de responsabilização e tomada de decisão,
registrados em um acordo.
Devido à natureza diversa das ações apontadas pelo diagnóstico (como
apoio gerencial, fiscal, jurídico e de manejo e cuidados no contexto da Co-
vid-19), outros parceiros foram contatados. A partir de então, a rede passou
a contar com diferentes atores em âmbito federal, estadual e municipal, além
de instituições não governamentais.
Inicialmente houve o protagonismo da UFV, na qual os grupos de pesquisa
Gegop e Greens estão acolhidos. A universidade participou dos processos de
tomada de decisão, de orientação e de implementação de medidas e ações
frente à pandemia. Essas ações incluíam: distribuição de Equipamentos de
Proteção Individual (EPI); apoio técnico às ILPIs em assuntos de regulamenta-
ção jurídica e fiscal para viabilizar sua participação em editais de apoio mate-
rial e financeiro; orientação dos profissionais das ILPIs na prevenção e manejo
de casos de Covid-19; apoio técnico na elaboração de planos de contingência
para enfrentamento da Covid-19 em ILPIs; disseminação de conhecimentos
sobre a pandemia para a população idosa em geral (por meio de vídeos e po-
dcasts); produção e distribuição de materiais de estimulação cognitiva para
pessoas idosas residentes nas ILPIs e outras em geral. A UFV, por meio do
10
O diagnóstico acerca da realidade das ILPIs filantrópicas mineiras frente à Covid=19 pode
ser acessado na íntegra aqui: MARTINS, S. et al. Instituições de Longa Permanência para
Idosos em Minas Gerais diante da Pandemia da Covid-19. 12 p. Trabalho técnico. Rede de
Apoio à Pessoa Idosa. Disponível em: https://serdh.mg.gov.br/serdh-start/ser-dh/serdh-
-backend/public/storage/uploads/2020/08/08/tNzfy3c4u8vWBioRXNDfyNVXCgk36Rdi-
3XdRlU4T.pdf
165

Gegop, também colaborou para identificar novos parceiros, um conjunto de


instituições das diferentes regiões de Minas Gerais, que se somaram ao go-
verno de Minas para lidar com a situação de crise sanitária, o que foi essencial
para a criação e implementação da Rapi/MG.
Muitas instituições de ensino e pesquisa se tornaram participantes da rede,
sendo elas: Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Universidade Fe-
deral de Lavras (UFLA), Universidade Federal de Outro Preto (UFOP), Uni-
versidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), a Pontifícia Universidade Católica
de Minas Gerais (PUC Minas)e o Instituto Federal de Minas Gerais (IFMG) de
Ponte Nova. Além destas, o Greens e outros grupos de pesquisa vinculados ao
Instituto de Políticas Públicas e Desenvolvimento Sustentável também passa-
ram a colaborar. A inserção destes atores na rede, fornecendo adequadas e
válidas informações e colocando o conhecimento científico no planejamento
das ações reduz a incerteza e dissipa o déficit científico, apontado por Koe-
bele (2019) como fator relevante para o alcance de resultados colaborativos.
Em âmbito estadual, a Cepid/Sedese passou a contar com o apoio das re-
gionais da Sedese e de outras secretarias de governo, como a da Saúde. So-
mou-se também o apoio das instituições privadas, como o Instituto Ânima e
Itaú Viver Mais (Projeto Longeviver); a Organização da Sociedade Civil (OSC)
CeMAIS; a Agência Nexo, voltada às OSCs; e os movimentos sociais Frente
Nacional de Fortalecimento das ILPIs (FN-ILPIs) e Frente Nacional de Forta-
lecimento dos Conselhos de Direitos das Pessoas Idosas (FFC), ampliando as
possibilidades de cooperação. A adesão dessas entidades se deu em função
de atendimento a convites realizados pelas instituições fundadoras da Rede, a
partir de parcerias anteriores e do interesse comum pela temática na pessoa
idosa.
O Quadro 2 apresenta o rol de participantes da Rapi/MG no momento de
realização da pesquisa, em agosto de 2021.
A partir das parcerias formalizadas, no segundo semestre de 2020, a rede
colaborativa se consolidou, sob a coordenação da Cepid/Sedese. Instituiu-se
um calendário de reuniões virtuais quinzenais para a definição da agenda, a
atribuição das responsabilidades e coordenação das ações, assim como para
a articulação entre os parceiros na condução das atividades. Em poucos me-
ses a rede já se mostrava fortalecida, e o processo de colaboração seguiu o
seu curso com a elaboração de documentos, estudos e assessorias, além da
preparação de equipes de especialistas para o desenvolvimento de ações em
prol dos municípios e da população idosa do estado de Minas Gerais.
166
Quadro 2
Participantes Rapi/MG
Parceiros Vinculação institucional Projeto/ação*
Conselho Estadual dos Governo de Minas Gerais e representa-
Direitos da Pessoa Idosa ções sociais vinculadas aos direitos das Articulação e projetos.
(CEI/MG) pessoas idosas.
Coordenadoria de Políti- Coordenação, articulação
cas Públicas para Pessoa Governo de Minas Gerais e suporte técnico-admi-
Idosa (Cepid) nistrativo.
Secretaria de Estado de Coordenação e suporte
Desenvolvimento Social Governo de Minas Gerais técnico-administrativo.
(Sedese)
Sistema Estadual de Re- Suporte técnico-adminis-
Governo de Minas Gerais
des em Direitos (SER-DH) trativo.
Universidade Federal de Viçosa (UFV);
Universidade Federal de Minas Gerais
(UFMG);
Grupo de Pesquisa Espa- Universidade Federal de Lavras (UFLA);
Universidade Federal de Ouro Preto
ços Deliberativos e Gover- Articulação e projetos.
(UFOP);
nança Pública (Gegop) Universidade Federal de Juiz de Fora
(UFJF);
Pontifícia Universidade Católica de Mi-
nas Gerais (PUC Minas).
Grupo de Estudos e Práti- Universidade Federal de Viçosa (UFV);
cas sobre Envelhecimento, Articulação e projetos.
Nutrição e Saúde (Greens)
Além dos trilhos (educa-
IFMG Ponte Nova IFMG Ponte Nova ção financeira e empreen-
dedorismo)
Plenitude 60+ (Univer-
Instituto Ânima Instituto Ânima sidade Aberta à Pessoa
Idosa)
Longeviver (apoio às
Itaú Viver Mais Grupo Itaú ILPIs)
Rede CeMAIS 3i MG
Centro Mineiro de Alian- Centro Mineiro de Alianças Interseto- (geração de informações
ças Intersetoriais (Ce- riais (CeMAIS) para ILPIs)
MAIS)
Captação de recursos via
Agência Nexo Nexo Investimento Social projetos.
Associação Mineira dos Associação Mineira dos Contadores Apoio técnico e projetos.
Contadores Públicos Públicos
Frente Nacional de Forta- Frente Nacional de Fortalecimento das
lecimento das ILPIs (FN- Projetos.
ILPIs (FN-ILPIs)
-ILPIs)
Frente Nacional de Forta- Frente Nacional de Fortalecimento dos
lecimento dos Conselhos Conselhos de Direitos das Pessoas Ido- Projetos.
de Direitos das Pessoas sas (FFC)
Idosas (FFC)
* As ações da Rapi/MG podem ser consultadas em https://sites.google.com/view/rapimg;
Facebook: https://www.facebook.com/Rapimg e Instagram: @rapi.mg
Fonte: Elaboração própria.
167

Após um ano de existência, em 2021, as três instituições que deram início


ao processo, Cepid/Sedese, CEI/MG e UFV permaneceram unidas e constituí-
ram uma comissão de articulação, visando representar a rede em seus rela-
cionamentos externos e, principalmente, buscando firmar novas parcerias,
por entenderem a importância de agregar outras pessoas e instituições ao
processo de governança.
A liderança da Cepid/Sedese foi importante para atrair novos colaborado-
res e manter a rede com o menor nível de hierarquia possível, inclusive com-
partilhando a coordenação com o Conselho Estadual da Pessoa Idosa. Como
afirmam Kellas (2010) e Koebele (2019), uma vez mantida a capacidade de
unir os diferentes atores em uma atuação colaborativa, por meio de laços vo-
luntários, têm-se elementos essenciais para que a governança estabelecida
seja, de fato, colaborativa, tais como compartilhamento de responsabilida-
des, complementariedade de recursos e competências, processo decisório
horizontal e participativo.
Apesar da diversidade de atores que se somaram à Rapi/MG, não houve a
redução da responsabilidade e do papel do Estado em lidar com as questões
emergentes, o que seria esperado conforme elucidado por Dallabrida et al.
(2020). As instituições que participaram do processo de criação se mantive-
ram atuantes e outras foram somadas.

3.2 Dimensão 2: Quem financia a colaboração


A segunda dimensão se refere aos atores financiadores ou “quem financia”
a colaboração. Em geral, organismos públicos iniciam e patrocinam a gover-
nança colaborativa. Neste caso da Rapi/MG, o poder público e os próprios
membros da Rede patrocinam as ações. Nos documentos de formalização do
acordo de cooperação não estão previstos repasses de recursos financeiros.
Assim, cada participante disponibiliza a força de trabalho necessária para o
desenvolvimento das ações às quais se encontra vinculado ou responsável.
Essa é, também, a realidade da Rapi/MG.
O comprometimento dos atores envolvidos com o processo colaborativo
consiste em fator relevante para a experiência colaborativa, sendo influente
no sucesso ou fracasso da proposta (Ansell & Gash, 2008).

3.3. Dimensão 3: Forma de organização da colaboração


A terceira e última dimensão questiona a forma de organização da colabo-
ração. Nela são abordados instrumentos de planejamento, regulação, políti-
cas públicas e gestão pública utilizados com o intuito de coordenar, julgar e
integrar os objetivos e interesses de vários stakeholders.
168

Ansell (2012), ao compreender a colaboração como técnica, relata que ela


pode ser utilizada para a resolução de conflitos e como facilitadora da coope-
ração entre agências públicas, grupos de interesse e cidadãos. Muitas vezes é
utilizada para situações de grandes conflitos ou para colocar juntos cidadãos
e stakeholders para trabalhar em projetos ou agendas comuns, como melho-
rias da saúde de comunidades, reforma educacional ou em defesa da popula-
ção idosa, como é o caso da Rapi/MG. E é nesta perspectiva que a governança
colaborativa é aplicada nesta análise.
A organização do processo colaborativo ocorre desde o início no formato
de parceria formalizada entre os colaboradores, a Cepid/Sedese e o CEI/MG.
A parceria legitima características de governança colaborativa, pelo caráter
de atuação formal, conjunta e consensual (Ansell & Gash, 2008).
As primeiras iniciativas da Rapi/MG encontravam-se estruturadas em três
macro ações: a) apoio técnico aos municípios; b) produção de podcasts; e c)
suporte às instituições de longa permanência para idosos.
• a) apoio técnico aos municípios - para a criação de redes locais de soli-
dariedade e de apoio à pessoa idosa no contexto da Covid-19;
• b) produção de podcasts – com temáticas de interesse da população
idosa, tendo o início focalizado medidas de prevenção e proteção con-
tra a Covid-19 e posteriormente abordando estratégias de promoção da
saúde física e mental no contexto da Covid-19 e outras temáticas; e
• c) suporte às instituições de longa permanência para pessoas idosas –
para distribuição de equipamentos e insumos necessários ao enfrenta-
mento da Covid-19; orientação e capacitação dos profissionais dessas
instituições; apoio técnico para torná-las aptas à participação em edi-
tais de financiamento/apoio de ações no contexto da pandemia.
Nesse sentido, ainda que uma rede por si já contemple diversidade de
ações e de colaboradores, o estabelecimento das três macros ações iniciais
permitiram o fortalecimento da Rapi/MG. Isso porque o desenvolvimento das
ações demandou articulação dos atores da Rapi/MG entre si e com diversos
segmentos da sociedade. Além disso, potencializou o surgimento de novos
planos de ação para fortalecimento das políticas locais da pessoa idosa, que
mais adiante seriam incluídos no planejamento da Rapi/MG. Esse contexto
contribuiu para a visibilidade da Rede não só no estado de Minas Gerais, mas
no nível nacional.
Na Rapi/MG, o significado de colaboração está em consonância com a des-
crição apresentada por Bingham (2011), sendo a que resulta da atuação con-
junta de atores de diferentes jurisdições, que se unem para desenvolver ações
169

voltadas especificamente para a resolução comunitária de um problema pú-


blico. Além disso, as iniciativas são desenvolvidas pelos diferentes atores sem
haver uma autoridade marcada, ainda que haja uma coordenação definida,
que fica a cargo do Estado de Minas Gerais, por meio da Cepid/Sedese. Ou
seja, a Rapi/MG apresenta condições para ser reconhecida como governança
colaborativa, pois extrapola o modo hierárquico e centralizado de políticas
públicas, contando com a participação e o envolvimento público (Bingham,
2011; Kholer-Koch & Rittberger, 2006).

4. O papel das universidades na RAPI/MG


Conforme mencionado nas seções anteriores, além da concepção da Rapi/
MG ter contado com o protagonismo da Universidade Federal de Viçosa, o
trabalho da Rede agregou outras universidades ao longo do processo. Im-
portante destacar que no contexto da pandemia, a UFV exerceu papel tanto
orientador quanto norteador de tomada de decisão pelo Estado, nomeada-
mente pela Cepid. Além disso, contribuiu para formar uma rede de universi-
dades mineiras apoiadoras da Rapi/MG. As universidades mineiras colaboram
com a geração de conhecimento e ações da rede.
No âmbito internacional, mas especialmente na realidade brasileira, o
contexto de pandemia revelou a importância da reflexão sobre a contribui-
ção científica das universidades aos órgãos governamentais (Almeida et al.,
2020). O conhecimento produzido pelas universidades deve ser útil para
criar, avaliar e fortalecer a colaboração das instituições de governança (Boo-
throid, 2010). Isso se confirma na literatura, que aponta que as universidades
federais brasileiras conseguiram apresentar soluções efetivas para diminuir
os efeitos da crise gerada pela pandemia da Covid-19 nas distintas áreas do
conhecimento, seja na pesquisa ou na extensão (Almeida et al., 2020).
Particularmente em relação à Rapi/MG, a contribuição das universidades
pode ser destacada nas seguintes ações:
• suporte teórico-científico na estruturação da governança colaborativa;
• realização de diagnósticos situacionais (perfil das ILPIs mineiras frente à
Covid-19; levantamento do número de conselhos municipais de direitos
da pessoa idosa ativos e com fundos da pessoa idosa ativos no estado de
Minas Gerais);
• suporte técnico às ILPIs em questões de regularização jurídica e finan-
ceira;
170

• capacitação dos profissionais das ILPIs para prevenção e manejo dos ca-
sos de Covid-19 nas instituições, via produção de informativos ou realiza-
ção de lives para orientação;
• produção e disseminação de material informativo (podcasts, vídeos,
cartilhas) para diferentes públicos, com a temática do envelhecimento,
Covid-19, políticas públicas;
• projetos de extensão de escuta solidária a pessoas idosas em isolamento
social e de apoio psicológico a cuidadores e demais profissionais das ILPI
mineiras;
• articulação com os demais atores da Rede para implementação de ações.

As ações supracitadas contaram com a participação ativa das universidades


e essas contribuíram para a proposição das estratégias de ação da Rapi/MG
de forma coordenada, participativa e integrada, no intuito de fortalecer o tra-
balho em Rede e a governança colaborativa.

Considerações finais
A descrição e interpretação do caso da Rapi/MG MG contribui para eluci-
dar a utilidade da noção de governança colaborativa no cenário de crise oca-
sionado pela pandemia, assim como para o fortalecimento das políticas para
pessoas idosas de forma constante. Além disso, percebe-se o relevante papel
das universidades no fomento a formas alternativas de gestão e qualificar os
resultados da gestão pública.
Verificou-se que, financiada pelos próprios entes públicos e parceiros, a
Rapi/MG se caracteriza como uma governança colaborativa que conta com
um conjunto de atores de diferentes jurisdições, que se unem para desenvol-
ver ações em prol de amenizar as implicações da pandemia, em especial para
a população idosa.
As primeiras iniciativas da Rede, estruturadas em macro ações, colaboram
para a resolução de problemas coletivos, os quais desafiam a atuação isolada
da administração pública, uma vez que os atores envolvidos possuem com-
plementaridade de recursos e de capacidades.
Conclui-se que a diversidade de atores proporciona importantes contribui-
ções no atendimento a demandas sociais e que a atuação conjunta de univer-
sidades, instituições privadas, instituições participativas e do terceiro setor
171

com o Estado pode auxiliar neste sentido. Sobretudo, que as universidades


podem ser a mola precursora para gerar inovações e soluções para a gestão
de crises e resolução de problemas coletivos. Dentre essas contribuições po-
dem-se destacar o alcance nas ações (a exemplo dos podcasts), a abrangên-
cia das ações (a exemplo do apoio jurídico, fiscal e de suporte psicológico às
ILPIs), o aprendizado de práticas colaborativas e a troca de conhecimentos
entre os diferentes atores.
Ainda, o estudo indica que uma situação complexa pode produzir novas re-
lações entre administração pública e sociedade civil. Almeida et al. (2020) e
Andion (2020) também compartilham desta expectativa, de que as parce-
rias estabelecidas para a cooperação no contexto de pandemia consolidem os
vínculos constituídos entre a sociedade e o poder público.
É importante ressaltar que as proposições apresentadas aqui são um ponto
de partida. Pesquisas posteriores serão realizadas com o intuito de monito-
rar as ações empreendidas. A análise de casos municipais cruzados, usando
uma variedade de métodos qualitativos e quantitativos é sugerida para o refi-
namento dos resultados. Além dessas necessidades gerais, sugerem-se pes-
quisas futuras para acompanhar outras ações desenvolvidas nesse cenário,
envolvendo o poder público e atores de outras esferas.
172

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173

Considerações finais
Tainá Gomide Rodrigues de Souza Pinto

Este livro inicia com um convite para (re)pensarmos a relação entre a uni-
versidade e o envelhecimento, reflexão essa assaz necessária e que foi reali-
zada ao longo de cada capítulo desenvolvido. O grupo Espaços Deliberativos
e Governança Pública (Gegop) e a Frente Nacional dos Conselhos de Direitos
da Pessoa Idosa (FFC), ao entender a importância da universidade e o seu
grande potencial de contribuição para o debate, que subsidia e fortalece as
políticas públicas comprometidas com a defesa, a garantia e a ampliação dos
direitos das pessoas idosas e a consequente promoção da qualidade de vida
desta população em nosso país, organizaram várias amostras de ações que
são realizadas tendo as universidades como promotoras ou parceiras.
As universidades possuem como pilares as atividades de ensino, de pes-
quisa e de extensão. E, a partir da leitura do livro, podemos verificar que, em
cada um desses pilares, encontramos possibilidades de ações universitárias
que buscam transformar a situação atual e proporcionar melhores condições
de vida às pessoas idosas.
Já na primeira seção, podemos conhecer e refletir sobre ações de ensino
e de pesquisa dedicadas à temática do envelhecimento. Quanto ao ensino, é
sabido que o percentual de analfabetismo das pessoas idosas chama atenção
e é reflexo de um processo educacional complexo no Brasil ao longo dos anos.
Ocorre que, considerando a alta taxa de analfabetismo da população idosa,
fica ainda mais difícil encaixar as pessoas idosas no contexto da universidade.
Entretanto, a dificuldade não pode ser transformar em um empecilho confor-
mado.
É importante que o conformismo e o preconceito em relação às pessoas
idosas sejam rompidos, permitindo que esta população tenha acesso à edu-
cação, inclusive a pública, do fundamental ao ensino superior, e fazer valer
o Estatuto da Pessoa Idosa. Para tanto, além das políticas de inclusão e de
acesso à educação, é necessário que as universidades se adaptem e desen-
volvam metodologias e materiais didáticos adequados para essas pessoas,
ou seja, que sejam respeitadas as suas peculiaridades, proporcionando a sua
permanência no ensino universitário. É preciso considerar que para a popu-
lação idosa é muito difícil acessar a universidade e, também, para se manter
nela quando conseguem acessar; dessa forma, é preciso que sejam realizadas
ações afirmativas não só para garantir o seu acesso, mas, também, a sua per-
manência no ensino superior. Tais ações devem envolver o Estado, a socieda-
de em geral, as famílias e toda comunidade acadêmica.
174

As contribuições do ensino superior na vida das pessoas idosas permitem


a sua integração e sua participação na sociedade e dão-lhes a oportunidade
de manutenção das funcionalidades, flexibilidades, ganhos evolutivos e senti-
mento de pertencimento e de colaboração.
A pesquisa, outro pilar das universidades, também possui um grande po-
tencial de contribuição para esta temática, principalmente no que diz respei-
to ao desenvolvimento de estratégias para o envelhecimento com qualidade
de vida. Quando nos referimos a este tema, estamos problematizando várias
abordagens científicas que podem ser dadas, tais como saúde, psicologia,
atividade física e lazer, saúde, educação, políticas públicas, gestão financei-
ra, educação financeira, inclusão digital, dentre outras. Vale ressaltar que as
pesquisas nessa temática são, em sua grande maioria, voltadas para a saúde,
sendo poucos os trabalhos de outras áreas que estudam o envelhecimento.
Ou seja, esta temática é interdisciplinar e o desenvolvimento de pesquisas
científicas pode gerar contribuições em diversas áreas do conhecimento, co-
laborando com o avanço em políticas públicas.
A importância das universidades, no que se refere à pesquisa voltada para
o envelhecimento, reside no fato de que nelas se encontram pesquisadores
capacitados, professores e alunos dispostos a desenvolverem estudos em di-
versas áreas do conhecimento, o que reforça a posição estratégica das uni-
versidades como centros importantes no desenvolvimento de políticas públi-
cas. Os projetos de pesquisa universitária podem auxiliar no diagnóstico, na
proposição e formação de agendas, na implementação e no monitoramento e
avaliação das políticas públicas voltadas para população idosa.
Como podemos perceber, a pauta da pessoa idosa no ensino e pesquisa
universitária ainda tem muito a evoluir. A inserção dessas pessoas na univer-
sidade, pelas atividades formais de ensino, ainda esbarram nos empecilhos
do analfabetismo, na pouca escolaridade, no preconceito, na falta de preparo
das universidades; entretanto, as atividades não formais podem ser uma boa
porta de entrada da população idosa nas instituições de educação superior,
conforme prevê o artigo 25 do Estatuto da Pessoa Idosa. Os programas de
extensão se apresentam nesse contexto das atividades não formais, sendo
possível desenvolver cursos e ações, presenciais ou à distância, voltados para
a população idosa. Por meio deles, as pessoas idosas possuem oportunida-
de de acessar a universidade, cumprindo, em certa medida, a perspectiva da
educação ao longo da vida.
A partir dos projetos de pesquisa e de extensão é possível identificar as de-
mandas locais da população idosa e traçar um plano de ações para o atendi-
mento dessas demandas. A ação extensionista, outro componente do tripé
universitário, tem um papel importante na melhoria da qualidade de vida da
175

população idosa local, mas, também, uma importante contribuição para a


formação técnica e social dos estudantes universitários, que possuem a opor-
tunidade de construir uma visão positiva da velhice, a partir da perspectiva de
desenvolvimento humano. Vale destacar que esse encontro de gerações en-
tre os estudantes e pessoas idosas participantes dos projetos tem o potencial
de proporcionar a diminuição do preconceito em relação ao envelhecimento
e a troca de saberes.
A Universidade Aberta para as Pessoas Idosas (UNAPI), prevista no Estatuto
da Pessoa Idosa, é um projeto de extensão que se apresenta como uma forma
de atuação das universidades para com a esta população, sem necessaria-
mente ser na realização de cursos do ensino superior, ou seja, nas atividades
formais. A criação das UNAPIs precisa ser incentivada e fortalecida por parte
do poder público e dos dirigentes universitários, considerando o seu poten-
cial de inserir as pessoas idosas no contexto universitário.
Além das Universidades Abertas para as Pessoas Idosas, os programas e
projetos de extensão universitária oferecem atividades e possibilidades de
aprendizagem, convívio social e participação às pessoas idosas, cumprindo
com a missão transformadora junto à sociedade. No estado brasileiro, mar-
cado por profunda desigualdade e falta de serviços e equipamentos básicos,
a extensão universitária se apresenta como alternativa para a promoção de
saúde e inserção social da população idosa, bem como para o fortalecimento
de vínculos e oportunidades de aprendizagem e aperfeiçoamento.
Ao longo do livro foram apresentados exemplos de projetos de extensão
que demonstraram as possibilidades de alcance das ações extensionistas,
sendo projetos educativos, culturais, científicos, sociais, esportivos e de la-
zer; e, em comum, em todos eles ficou clara a intenção de (re)significar a
velhice, de construção conjunta com as pessoas idosas e de influenciar, em
alguma medida, a agenda de políticas públicas. Os projetos de extensão que
possuem o papel de apoiar o poder público na implementação de políticas
públicas foram também destacados no livro, cabendo aqui uma menção ao
significativo apoio das universidades no momento da Pandemia do Covid-19,
em que universidades se juntaram ao Estado para diminuir as desastrosas
consequências para a vulnerável população idosa, nas distintas áreas do co-
nhecimento, seja na pesquisa e na extensão.
Até mesmo a agenda da universidade pode ser influenciada pelas práticas
extensionistas voltadas para as pessoas idosas, sendo uma forma de pautar o
envelhecimento no contexto universitário. Nesse momento, pode-se sugerir
que seja criada a concepção de Universidade Amiga da Pessoa Idosa, tal como
já existe a de Cidade Amiga da Pessoa Idosa.
A experiência no desenvolvimento de projetos de extensão nos revela a ne-
176

cessidade de que eles sejam construídos com a efetiva participação das pes-
soas idosas, o que significa ir além da ideia de apenas apresentar projetos
para esta população. A construção conjunta de projetos e ações é de fato um
desafio, pois envolve instigar a participação, fortalecer o momento da escuta,
compreender as realidades em que as pessoas idosas estão inseridas, mas
proporciona ações efetivas, em que se percebe o engajamento e comprome-
timento das pessoas idosas participantes dos projetos.
A partir do tripé universitário – ensino, pesquisa e extensão – percebemos
as várias possibilidades de atuação e contribuição das universidades para o
envelhecimento com qualidade de vida; ocorre que é necessário destacar que
as parcerias entre entidades/instituições é de grande valia. O caso da Rede
de Apoio à Pessoa Idosa no Estado de Minas Gerais (RAPI-MG), tratada nesse
livro, revela o quão importante é o estabelecimento de uma rede de atores em
que a política pública voltada para o envelhecimento seja efetiva.
As universidades possuem a possibilidade de apoiar os Estado e as famílias
no desenvolvimento de ações voltadas para as pessoas idosas, como podem
até serem indutoras, norteadoras e orientadoras de ações e de tomadas de
decisão. A governança em rede se demonstra necessária nesse contexto em
que são imprescindíveis que o Estado, a família e o mercado, terceiro setor e
sociedade precisam se juntar em prol da qualidade de vida das pessoas ido-
sas. O que se percebe é que a diversidade de atores proporciona importan-
tes contribuições no atendimento das demandas da população idosa e que
as universidades podem colaborar na geração de inovações e soluções para a
gestão de crises e resolução de problemas coletivos.
Esse potencial de colaboração das universidades pode ser atribuído à sua
estrutura física, ao seu conhecimento técnico e recurso humano qualificado,
além da pesquisa, extensão e disposição geográfica, o que proporciona o re-
conhecimento de sua região e suas demandas específicas. Ocorre que não
podemos deixar de observar que as universidades enfrentam falta de recurso
orçamentário para garantir o desenvolvimento dos projetos, o que dificulta
sobremaneira a sua atuação, fazendo com que as atividades voluntárias de
pesquisadores, professores, estudantes e técnicos sejam uma constate. Nes-
se sentido, o Estado necessita estar atento ao potencial das universidades e
ao fomento das ações de pesquisa e de extensão.
Precisamos reconhecer que a população brasileira está envelhecendo, esse
reconhecimento se dá além dos dados demográficos censitários, mas, tam-
bém, a partir da percepção de um maior número de pessoas idosas em nosso
convívio. Entretanto, além do reconhecimento do processo de envelhecimen-
to é precisar observar que as pessoas idosas tendem a exercer um novo papel
na sociedade brasileira, e as universidades devem se preparar para esse novo
177

cenário. Os avanços da medicina, as reivindicações sociais, o maior acesso


informações vem proporcionando a busca por uma velhice mais ativa.
Na mesma medida, é importante reconhecer que os desafios são grandes
no que se refere à visão positiva da velhice, à valorização da pessoa idosa, à
promoção do envelhecimento ativo, ao preconceito e ao fortalecimento das
políticas públicas de envelhecimento. Mas e inegável a importância do pa-
pel estratégico das universidades para a contribuição de uma modificação da
realidade no que refere à população idosa e ao envelhecimento.
178
Os autores
Aline Maino Pergola Marconato
Pós-Doutora pelo Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universida-
de Federal do Rio Grande do Norte. Graduada, Mestre e Doutora em Enferma-
gem pela Universidade da Faculdade de Enfermagem da Unicamp. Atualmente
é Professora Doutora do Centro Universitário Hermínio Ometto no curso de
Enfermagem e vice-coordenadora do curso. Líder do Grupo de Estudos e Pes-
quisa em Enfermagem (FHO) e do Grupo de Estudo e Pesquisa em Longevidade
e Envelhecimento e integrante da Rede Internacional de Pesquisa Sobre Vulne-
rabilidade, Saúde, Segurança e Qualidade de Vida do Idoso: Brasil, Portugal e
Espanha (UFRN). Experiência profissional na assistência à saúde e na docência. Ênfase em estudos
de simulação realística, saúde do idoso, o que resultou em publicações de trabalhos e premiações.
Revisora de periódicos e orientadora de alunos de iniciação científica. Currículo: http://lattes.cnpq.
br/9331321658094402. E-mail: [email protected].

Amauri Carlos Ferreira


Professor de Filosofia (PUC Minas e ISTA). Doutor em Ciências da Religião
(UMESP, 2002). Com estágio de Pós doutorado em Educação pela UFMG (1989).
http://lattes.cnpq.br/1038910628183279

Ana Maria de Albuquerque Vasconcellos


Profa da Universidade da Amazônia - UNAMA. Doutora em Estudos do Desen-
volvimento na University of Wales Swansea. Pesquisadora do Grupo de Estudos
Gestão Social e Desenvolvimento Local - GESDEL. Lattes: http://lattes.cnpq.
br/2302064518568291

Andréia Queiroz Ribeiro


Doutora em Ciências Farmacêuticas, ênfase em Saúde Coletiva (UFMG). Es-
pecialista em Gerontologia (SBGG). Professora Dpto. Nutrição e Saúde da
Universidade Federal de Viçosa (UFV). Orientadora no Programa de Pós-Gra-
duação em Ciência da Nutrição/UFV. Pesquisadora do IPPDS/UFV e coorde-
nadora do GREENS/UFV. Coordenadora da UNAPI -Programa de Extensão
Universidade Aberta à Pessoa Idosa da UFV. Currículo lattes: http://lattes.cnpq.
br/4483205664444000 E-mail: [email protected]

Bárbara Carbogim
Profa da Educação Básica Pública do Estado de Minas Gerais ( Juiz de Fora - MG).
Doutoranda na área de Pedagogia das Artes Cênicas pelo PPGAC-UDESC (Flo-
rianópolis - SC). Mestra em Artes Cênicas pelo PPGAC-UFOP (Ouro Preto - MG).
Integrante do Coletivo Anticorpos - Investigações em Dança (Ouro Preto - MG).
Currículo: http://lattes.cnpq.br/3515212967424661. E-mail: barbaracarbogim@
hotmail.com.
179

Beltrina Côrte
Profa. da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Doutora e
pós-doutora em Ciências da Comunicação pela USP. Pesquisadora do Núcleo de
Estudo e Pesquisa do Envelhecimento (NEPE/PUCSP). Membro da REDIP - Red
Latinoamericana Interdisciplinaria de Psicogerontologia. Currículo: http://lattes.
cnpq.br/2236463664195609. E-mail: [email protected]

Bruno Vasconcelos de Almeida


Professor da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG), creden-
ciado junto ao Programa de Pós-graduação em Educação Tecnológica do Centro
Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (PPGET-CEFET-MG). Pós-dou-
tor em Filosofia (UFMG). Doutor em Psicologia Clínica (PUC-SP). Integrante do
GEGOP, do GT Filosofia da Técnica e da Tecnologia (ANPOF) e do Núcleo de Estu-
dos do Pensamento Contemporâneo (NEPC-FAFICH-UFMG). Currículo: https://
lattes.cnpq.br/8613658334369276. E-mail: [email protected]

Carmem Pineda Nebot


Licenciada em Derecho y en Ciencia Política y de la Administración. Investi-
gadora de GEGOP, GESDEL, EDUQ y APGS. Currículo: htpp://lattes cnpq.br/
0200014196446151 E-mail: [email protected]

Cássia do Carmos Pires Fernandes


Atualmente é Professora no Ensino Básico, Técnico e Tecnológico do IFMG/Cam-
pus Ponte Nova. Doutorado em Educação (UFJF), graduação em Pedagogia e em
Processos Gerenciais, especialização em Educação e mestrado em Administra-
ção (UFV). Possui experiência em coordenação de projetos multidisciplinares de
ensino, pesquisa e extensão envolvendo os temas: ensino médio, políticas públi-
cas, empreendedorismo, educação financeira e avaliação. Currículo: http://lattes.
cnpq.br/8131523053494428. E-mail: [email protected]

Dalyanna Mildred de Oliveira Viana Pereira


Enfermeira, Mestre em ciências da saúde. Especialista em dermatologia em en-
fermagem. Pedagoga e especialista em gestão e organização escolar. Currículo:
http://lattes.cnpq.br/4701603626327652. E-mail: [email protected].

Eder Pereira Giardini Bonfim


Graduado em Tecnologia em Processos Gerencias pelo Instituto Federal de Edu-
cação Ciência e Tecnologia de Minas Gerais Campus Ponte Nova (2022). Atuou
em projetos de extensão envolvendo educação financeira para o envelhecimento
ativo, desenvolvimento de produtos digitais como e-book, podcast e conteúdos
para rede social do projeto @ativaidadepontenova. Currículo: http://lattes.cnpq.
br/0753688243275987. E-mail: [email protected]
180

Edson Batista de Sena


Bacharel em Sistemas de Informação pela Pontifícia Universidade Católica de
Minas Gerais. Possui especialização em Práticas Pedagógicas pela Universidade
Federal de Ouro Preto. Mestre em Educação pela Universidade Federal dos Vales
Jequitinhonha e Mucuri. Foi membro do grupo de pesquisas Laboratório de Oti-
mização e Inteligência Artificial, atuando em pesquisas relacionadas à Inteligên-
cia Artificial, ao processo de detecção automática de estilos de aprendizagem,
modelagem probabilística e matemática, cadeias de Markov e complexidade de
algoritmos na Universidade Federal dos Vales Jequitinhonha e Mucuri. Atualmen-
te é Professor do IFMG Campus Avançado Ponte Nova.

Eliete Cibele Cipriano Vaz


Profa. da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Doutora em Serviço
Social. Pesquisadora do Grupo de Estudos e Pesquisas em Serviço Social (GEPSS).
Currículo lattes: http://lattes.cnpq.br/6454794011122064. Email: ecibele@gmail.
com

Emerson de Paula
Prof. Adjunto do Curso de Teatro da Universidade Federal do Amapá (UNIFAP).
Pós-doutorando em Artes da Cena na UNICAMP. Líder do Grupo de Pesquisa NE-
CID – Núcleo de Estudos em Espaços Culturais, Inclusivos e Deliberativos (CNPq).
Currículo: https://lattes.cnpq.br/6072084944115357. Email: emersondepaula@
unifap.br

Fábio Marcelo Matos


Fisioterapeuta. Professor Universitário Efetivo vinculado ao Departamento de
Fisioterapia da Universidade Regional de Blumenau. Mestre e Doutor em Desen-
volvimento Regional. Linha de pesquisa em população e territórios. Temática:
políticas públicas, envelhecimento ativo e territorialidades. Membro do Conselho
Estadual do Idoso de Santa Catarina. Coordenador da Universidade da Maturida-
de da Universidade Regional de Blumenau. Currículo lattes: CV: http://lattes.cnpq.
br/8685700684871286.

Felipe Bueno a Silva Márcia


Enfermeiro. Mestrando no Programa de Pós-graduação em Enfermagem da Uni-
versidade Federal de São Carlos. Pesquisador do GEPLE e LAIG. Currículo: https://
lattes.cnpq.br/4741491261640650. E-mail: [email protected].
181

Gilson de Vasconcelos Torres


Pós-Doutor em Enfermagem em Évora/Portugal (2011), Doutorado em Enfer-
magem / EERP-USP (2000). Professor Titular da Universidade Federal do Rio
Grande do Norte (UFRN), Bolsista de Produtividade em Pesquisa CNPq (PQ2
- 2009/2021; PQ1D - 2021/2025), Coordenador da Rede Rede internacional de
pesquisa sobre vulnerabilidade, saúde, segurança e qualidade de vida do idoso:
Brasil, Portugal e Espanha, Coordenador do Curso de Especialização em Der-
matologia em Enfermagem - UFRN (Turma1- 2019-2021, Turma 2 -2021-Atual),
Coordenador do Grupo de Pesquisa Incubadora de Procedimentos de Enferma-
gem (2010- atual) /UFRN. Lattes: http://lattes.cnpq.br/1944547152815226

Higor Matheus de Oliveira Bueno


Discente do curso de Graduação em Enfermagem do Centro Universitário da
Fundação Hermínio Ometto - FHO. Aluno bolsista do projeto de iniciação cien-
tífica PIC sustentabilidade em 2021, 2022 e 2023, Membro e Pesquisador dos
Grupos de Pesquisa CNPq: Grupo de Estudo e Pesquisa sobre Longevidade e
Envelhecimento (GEPLE), Rede Internacional de Pesquisa sobre Vulnerabilida-
de, Saúde, Segurança e Qualidade de Vida do Idoso: Brasil, Portugal e Espanha
(UFRN). Curriculo: http://lattes.cnpq.br/0052662648496565. E-mail: higorma-
[email protected].

Ivan Beck Ckagnazaroff


Doutor em Administração pela Aston Business School, Aston University, profes-
sor titular do Departamento de Ciências Administrativas (CAD), da Faculdade
de Ciências Econômicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e do
PPGA-CEPEAD (Centro de Pós-graduação e Pesquisa) do CAD/FACE/UFMG. Tem
como principal interesse de pesquisa o tema da governança pública e gestão
de políticas públicas.. Outros temas se referem a modernização organizacional,
participação cidadã na administração pública, parcerias entre Estado e Terceiro
Setor e descentralização. Lattes: http://lattes.cnpq.br/6536172803067886

Jones Nogueira Barros


Mestre em Gestão e Desenvolvimento, tem doutorado em Administração pela
UNAMA - Universidade da Amazônia, onde atua como docente no Programa de
Pós-Graduação em Administração – PPAD/UNAMA, com ênfase em Gestão do
Desenvolvimento. Suas pesquisas têm foco na análise de espaços de ação públi-
ca, políticas públicas e gestão Social e longevidade. Lattes: http://lattes.cnpq.
br/0651589545083115

Jordelina Schier
Enfermeira Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Doutora em Enfer-
magem UFSC. Especialista em Gerontologia Sociedade Brasileira de Geriatria e
Gerontologia (SBGG). Currículo: http://lattes.cnpq.br/5517912617374606. E-mail:
[email protected]

Juliana Balbinot Reis Girondi


Prof.ª da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Doutora em Enferma-
gem. Estomaterapeuta. Pesquisadora do Laboratório de Pesquisa e Tecnologias
em Enfermagem, Cuidados em Saúde da Pessoa Idosa (GESPI/UFSC) desde
2002 e do Laboratório de pesquisa e Tecnologias para o cuidado de saúde no
ambiente médico-cirúrgico (LAPETAC/UFSC). Currículo: http://lattes.cnpq.
br/4293198625231827. E-mail: [email protected]
182

Karla Lisboa Ramos


Doutora em Nutrição Humana. Especialista em Gestão e Assistência em Geronto-
logia. Lattes: http://lattes.cnpq.br/3707829150741284

Leonardo Milhomem Rezende


Servidor efetivo do Ministério da Educação, especialista e mestre em gestão de
políticas públicas educacionais com ênfase em monitoramento e avaliação. Foi
Diretor de Atenção ao Idoso no Ministério da Cidadania (atual ministério do De-
senvolvimento Social e Combate à Fome) e atuou como um dos coordenadores
nacionais da Estratégia Brasil Amigo da Pessoa Idosa - EBAPI. Além disto é um
pesquisador de políticas públicas para pessoas idosas com publicações sobre o
tema.

Marcela Giovanna
Diretoria Presidente do CeMAIS. Psicóloga Especialista em Elaboração, Gestão e
Avaliação de Projetos Sociais em Áreas Urbanas. Profissional com experiência em
gestão organizacional e coordenação de projetos sociais e de desenvolvimento
comunitário. Entre os projetos sobre sua responsabilidade destaca-se a Revista
Valor Compartilhado, Rede Cemais 3i e Caleidoscópio 60+. É Conselheira titular e
1º conselheira do Confoco - Conselho de fomento e colaboração de Belo Hori-
zonte e coordenadora da Frente Nacional de Fortalecimento dos Conselhos de
direitos Da Pessoa idosa. Lattes http://lattes.cnpq.br/9564719232950408 email:
[email protected]

Márcia Thais de Souza


Graduanda em Enfermagem pelo Centro Universitário Fundação Hermínio
Ometto FHO e bolsista pelo Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Cien-
tífica PIBIC/CNPQ 2022-2023. Membro e pesquisadora do GEPLE e do Grupo de
Estudo e Pesquisa em Trauma e Emergência (FHO). Currículo: http://lattes.cnpq.
br/3568623150067923. E-mail: [email protected].

Márcio José Pinto Ribeiro


Auditor Fiscal da Receita Federal do Brasil , Mestrando PPAD UNAMA, possui gra-
duação em Engenharia Civil pela Universidade Federal do Ceará(1987) e Pós- gra-
duação em Direito Tributário pela Universidade Federal do Pará (2006). Curriculo
Lattes: http://lattes.cnpq.br/9199351832999175. E-mail : marciojosepintoribeiro@
gmail.com.

Maria Fernanda Baeta Neves Alonso da Costa


Docente da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Doutora e Pós-Dou-
tora em Ciências da Saúde pela Universidade de São Paulo (USP). Docente do
Programa de Pós-Graduação em Enfermagem (PEN), da UFSC. Especialista em
Gerontologia pela Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia. Pesquisado-
ra do Laboratório de Pesquisa, Tecnologia e Inovação em Políticas e Gestão do
Cuidado e da Educação de Enfermagem e Saúde – GEPADES e Pesquisadora do
GEGOP, do IPPDS/UFV. Currículo: http://lattes.cnpq.br/1219951595746213 E-mail:
[email protected]/[email protected]
183

Paulo Adão de Medeiros


Fisioterapeuta, Licenciado em Formação de Professores para Educação Profis-
sional, Doutor em Saúde Coletiva na linha de Epidemiologia do Envelhecimento
(UFSC). Membro da ANG SC, do GEGOP. Atua como consultor em gerontologia e
já participou de projetos junto a UNESCO, PNUD e EBAPI. Currículo: http://lattes.
cnpq.br/5769891533463056 E-mail: [email protected]

Pedro Henrique Perera


Professor de Língua Portuguesa e suas Literaturas no Instituto Federal de Minas
Gerais (IFMG - Campus Ponte Nova). Mestre em Inglês (UFSC) e Especialista em
Inovação na Educação Mediada por Tecnologias (UFABC). Analista do discurso em
contínua formação e apaixonado pelos livros.

Ricardo Duarte Gomes


Doutor em Comunicação Social (UFMG) e Professor Associado do Departamen-
to de Comunicação Social da UFV; Coordena o Grupo de Pesquisas “Interações
Midiáticas Textualidades e Processos de Comunicação” (IntexCom/CNPq); Parti-
cipou da criação do Gegop/UFV e da Rapi/MG; Coordenou a produção dos Gibis
Educativos “Geração Prateada” (SNDPI/MMFDH); Elaborou o Guia de Orientação
da Comunicação para os Conselhos Municipais dos Direitos da Pessoa Idosa (CM-
DPI/FocoMG/PNDPI). Lattes: http://lattes.cnpq.br/9700388431331181

Roseany Gloriane Mendes


Graduada em Secretariado Executivo, com 15 anos de experiência na área.
Mestra em Administração Pública e doutoranda em Administração Pública pela
Universidade Federal de Viçosa. Interessada em projetos relacionados à equidade
social. Lattes: http://lattes.cnpq.br/4587981402145303

Sabrina Olímpio Caldas de Castro Braga


Profa do Instituto Federal Fluminense (IFF) Campus Itaperuna. Doutora em
Administração. Desenvolve pesquisas na Área de Administração, com ênfase
em Administração Pública e Políticas Públicas. Currículo: http://lattes.cnpq.
br/0587948411174108. E-mail: [email protected]

Silvia M. M Costa
Pesquisadora do Instituto de Políticas Públicas e Desenvolvimento Sustentável
(IPPDS), da Universidade Federal de Viçosa (UFV) e dos Grupos do CNPq - Ge-
gop/Universidade Federal de Viçosa (UFV) e Gesdel/Universidade da Amazônia
(UNAMA). Conselheira do Observatório Paraense da Longevidade. Ex-diretora do
Departamento de Atenção do Idoso, do Ministério da Cidadania, responsável pela
concepção da Estratégia Brasil Amigo da Pessoa Idosa – uma política para municí-
pios. Mestre em Ensino de Biociências e Saúde (Fiocruz), com especializações em
comunicação e em educação. ORCID no 0000-0002-7737-6722. Currículo Lattes:
http://lattes.cnpq.br/3157505879151283
184

Simone Martins
Profa da Universidade Federal de Viçosa (UFV). Doutora e pós-doutora em Admi-
nistração. Pesquisadora do GEGOP, do IPPDS/UFV e do GESDEL. Membro da FFC
- Brasil e da Rapi MG. Currículo: http://lattes.cnpq.br/5311862771207808. E-mail:
[email protected]

Stefania Becattini Vaccaro


Profa. da Universidade Federal de Lavras (UFLA). Doutora em Ciências Sociais e
Jurídicas. Pesquisadora do GEGOP e coordenadora do grupo de pesquisa Traba-
lho e Política Social. Currículo http://lattes.cnpq.br/5837401267565300 E-mail:
[email protected]

Tainá Rodrigues Gomide Souza Pinto


Doutora e Mestre em Administração, graduada em Ciências Contábeis e Direito.
Professora do Departamento de Administração e Contabilidade da Universidade
de Viçosa. Lattes: http://lattes.cnpq.br/3044173302138094

Thaís dos Santos Gomes


Mestre em Saúde Pública (UFMG). Especialista em Gestão Pública (UEMG) e
em Micropolítica da Gestão e Saúde do Trabalhador (UFF). Enfermeira (UFMG).
Administradora Pública (Fundação João Pinheiro). Especialista em Políticas Públi-
cas e Gestão Governamental do Estado de Minas Gerais, atualmente na Funda-
ção Hospitalar do Estado de Minas Gerais (FHEMIG). Pesquisadora em Saúde,
Gestão Pública e Direitos da Pessoa Idosa. Currículo lattes: http://lattes.cnpq.
br/1734072213512011 E-mail: [email protected]

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