Digital Rights in Angola Portugese
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RESUMO DE POLÍTICA
Avanço dos direitos da Internet em Angola
Agosto 2021
Publicado por
Paradigm Initiative
Autor:
Dércio Tsandzana, Pesquisador em Direitos Digitais e Media
Apoio Editorial:
Bulanda T. Nkhowani, Oficial de Programas - África Austral, Paradigm Initiative
Design e layout:
Kenneth Oyeniyi, Assistente de comunicação, Paradigm Initiative
A anterior governação foi marcada por actos que podem ser descritos como fechamento do espaço político e
cívico, o que igualmente acabou por reflectir-se no exercício das liberdades de expressão dos Angolanos2. Com
a nova governação, Angola tem estado a transformar-se, embora ainda persistam situações de intimidação e
impedimento do exercício dos direitos fundamentais no país. Por exemplo, em 2020 o Afrobarómetro disse que
cerca de metade dos angolanos não se sentia livre de expressar as suas ideias3.
A Constituição angolana prevê a liberdade de expressão e de imprensa no artigo 404, e a Lei das Comunicações
Electrónicas e dos Serviços da Sociedade de Informação, aprovada em 2011, prevê os direitos dos cidadãos à
privacidade e segurança online, entre outras disposições que regulam as telecomunicações. No entanto, as leis
angolanas também incluem linguagem problemática que pode infringir a liberdade na Internet5. Em Janeiro de
2017, o ex-presidente promulgou um conjunto de novas leis de comunicação social6 conhecido como o Pacote
Legislativo de Comunicação Social, que incluía uma nova Lei de Imprensa, Lei de Televisão, Lei de Radiodifusão,
Código de Conduta dos Jornalistas, e estatutos para estabelecer o Organismo Regulador Angolano para a
Comunicação Social (ERCA)7. Na altura, a Human Rights Watch criticou a lei e disse que a mesma era uma
ameaça para a liberdade de expressão em Angola8.
Angola possui neste momento três operadoras de telefonia móvel, Movicel, Unitel e a empresa estatal Angola
Telecom que detinha o monopólio do serviço telefónico até 2005. Ela é uma das doze empresas participantes no
consórcio West Africa Cable System (WACS), um cabo de comunicações submarino que corre ao longo da costa
ocidental de África e em direcção a Portugal e Reino Unido.
A partir deste ano, o país terá uma nova operadora denominada Africell9. Em 2018 a operadora obteve um
empréstimo de 100 milhões de dólares, a partir da Corporação Financeira de Desenvolvimento dos E.U.A, para
financiar uma estratégia de expansão que inclui o crescimento dos pagamentos móveis e ofertas de micro-
finanças, bem como a actualização das suas redes 2G, 3G e 4G10. De acordo com Hootsuite (2021), há 10 milhões
de utilizadores da Internet em Angola. É um número que aumentou em 1,5 milhões (+16%) entre 2020 e 202111,
sendo que a penetração da Internet em Angola representa 31% da população total. O acesso aos telemóveis atinge
mais de 15 milhões de utilizadores, o que representa 46% da população total. É importante notar que o regulador
INACOM não fornece dados actualizados sobre a utilização de tecnologias e comunicações em Ang
Imagem 1: Acesso a Internet em Angola (Hootsuite, 2021) Imgem 2: Subscritores de rede móvel (Hootsuite, 2021)
Angola possui um Regulador das Comunicações (INACOM)12 que, entre outras actividades, tem a missão de
assessorar e representar o Executivo através da regulação, supervisão e fiscalização do sector das comunicações.
Contudo, importa destacar que o partido governante, MPLA, possui um controlo quase completo dos organismos
reguladores. Por exemplo, o Ministério das Telecomunicações, Tecnologias de Informação e Comunicação Social
(MINTTICS), é responsável pela supervisão do sector das tecnologias, enquanto que o INACOM, serve como o
órgão regulador do sector. O INACOM determina os regulamentos e políticas do sector, fixa os preços dos serviços
de telecomunicações, e emite licenças.
Em 2020, o tráfego gerado pelo serviço de dados (Internet) foi elevado devido à pandemia da COVID-1913. No
cumprimento dos objectivos e estratégias estabelecidos no Plano Nacional de Desenvolvimento 2018-2022, muitas
acções foram implementadas para a melhoria contínua dos serviços públicos e básicos móveis, acesso à Internet e
serviços associados, sempre com enfoque na qualidade e na resposta às necessidades dos utilizadores. No dia 17
de Maio, o Ministro das Telecomunicações, Tecnologias de Informação e Comunicação Social disse14 que Angola
tem mais de 15 milhões de assinantes de telefonia móvel, sete milhões de utilizadores da Internet e mais de dois
milhões de assinantes de televisão, um número que aumentou durante o ano de 2020.
Angola é um país que tem um registo relativamente justo de direitos digitais, dado que apresenta um ambiente em
que os usuários da Internet e das redes sociais podem se expressar com alguma liberdade, apesar de situações
pouco recorrentes em que há obstrução dos direitos fundamentais a partir do espaço digital. A constituição e
a lei prevêem a liberdade de expressão e de imprensa, no entanto, o domínio estatal da maioria dos meios de
comunicação social e a auto-censura por parte dos jornalistas limita estes direitos na prática.
Esta realidade viola claramente a Declaração sobre a Liberdade de Expressão e Acesso à Informação (Declaração
ACHPR) no seu princípio 11, no que diz respeito à ‘’diversidade e pluralismo dos meios de comunicação social’’.
De facto, devemos ter em conta que o monopólio estatal ou privado sobre a imprensa escrita, a radiodifusão e os
meios de comunicação virtual não é compatível com o direito à liberdade de expressão.
No seu relatório Liberdade da Internet 2020, a Freedom House classifica Angola como ‘’parcialmente livre’’15.
Não existem restrições governamentais ao acesso à Internet. E para além de pornografia infantil e material com
direitos de autor, o governo não bloqueia nem filtra o conteúdo da Internet e não há restrições quanto ao tipo de
informação que pode ser trocada.
Além disso, com uma população de cerca de 30 milhões de habitantes, mais de metade dos angolanos não tem
acesso à Internet no país. Apenas os principais centros urbanos como a capital Luanda têm melhores taxas de
cobertura da Internet no país. Neste contexto, considera-SE que a falta de acesso à Internet pode constituir uma
barreira ao cumprimento do Artigo 40 sobre liberdade de expressão e informação.
As aplicações das redes sociais e das comunicações, tais como YouTube, Facebook, Twitter, e serviços internacionais
de alojamento de blogues, estão todas disponíveis gratuitamente. Não há questões de responsabilidade intermédia
para os fornecedores de serviços ou conteúdos, nem há casos conhecidos de avisos de retirada emitidos para a
remoção de conteúdos online.
O relatório da Liberdade da Internet 2020 destaca que em Março de 202016, o governo emitiu um decreto17 que
ordenava aos órgãos de comunicação social estatais e privados a colaborar com agências públicas como parte
da resposta de Angola à pandemia da COVID-19, suscitando assim preocupações de manipulação dos meios de
comunicação social.
Além disso, houve a instalação de um novo centro de vigilância e integração de dados na capital Luanda, em
Dezembro de 201918 numa iniciativa apoiada por um financiamento chinês a partir da Huawei.19 Em 2020, no
contexto da privatização do sector público, o governo angolano nacionalizou várias empresas de comunicação
social, mas mais tarde transferiu-as para o sector privado20. O relatório da Freedom House21 sobre direitos digitais
em Angola faz o seguinte resumo:
O acesso à Internet continua a ser proibitivamente caro para muitas pessoas, especialmente nas zonas rurais. No
entanto, o governo e algumas empresas privadas têm feito esforços para estabelecer conexão sem fio de forma
gratuita22. Por exemplo, Angola Online23 é um projecto promovido pelo governo que estabeleceu uma série
Nota-se, porém, que o partido governante de Angola, MPLA, mantém um controlo efectivo dos organismos
reguladores. Por exemplo, o Ministério das Telecomunicações e Tecnologias de Informação é responsável pela
supervisão do sector das tecnologias, enquanto que o INACOM serve como o organismo regulador de políticas do
sector, fixando os preços dos serviços de telecomunicações e licenças. Destaca-se ainda um discurso do MPLA,
que em Dezembro de 2020 disse que havia necessidade de se fazer o “bom uso” das redes sociais no país26. Isto
pode representar um perigo, uma vez que o partido MPLA tem todo o poder para aprovar leis no parlamento, dada
a sua maioria.
O discurso do MPLA pode ser um perigo, especialmente tendo em conta que a maior empresa de comunicação e
telecomunicações, UNITEL, ainda é propriedade de personalidades com ligações a políticos angolanos do partido
no poder. É importante sublinhar que, de acordo com o princípio 38 (Não interferência) da Declaração ACHPR, os
Estados não devem interferir com o direito dos indivíduos de procurar, receber e transmitir informação através de
qualquer meio de comunicação e tecnologias digitais, através de medidas como a remoção, bloqueio ou filtragem
de conteúdos, a menos que tal interferência seja justificável e compatível com as leis e normas internacionais de
direitos humanos.
Não existem relatos de restrições substanciais à encriptação. No entanto, o registo do cartão SIM é obrigatório
e dificulta a capacidade dos utilizadores de telemóveis de comunicarem anonimamente. Os cartões SIM devem
ser registados directamente no INACOM, o regulador que opera sob supervisão governamental. O processo
requer um bilhete de identidade ou carta de condução e cartão de contribuinte para cidadãos nacionais, ou um
passaporte com um visto válido para visitantes. O acesso a tais requisitos pode não ser fácil para quem não possui
documentos oficiais (migrantes), o que significaria exclusão ao processo.
A Lei de Combate ao Crime no Domínio das Tecnologias de Informação e Comunicação e dos Serviços da Sociedade
da Informação autoriza o governo a ordenar o acesso às comunicações codificadas durante os processos sob
pena de punição, sem as devidas salvaguardas27. Embora não exista um direito explícito à encriptação, o Artigo
15 da Lei-Quadro28 prevê que os cidadãos têm o direito à protecção contra abusos e violações dos seus direitos
através da Internet e outros meios electrónicos, incluindo o direito à confidencialidade das comunicações.
Os activistas e jornalistas online são esporadicamente alvo de ameaças, embora enfrentem menos violência e
assédio do que os jornalistas que operam principalmente na esfera dos meios de comunicação tradicionais. Por
exemplo, em Novembro de 2020, um activista foi detido enquanto fazia transmissão de uma manifestação em directo
do seu Facebook29. Foi acusado de perturbar a ordem e de promover a violência pública. Não foi apresentada
nenhuma legislação para a sua detenção, o que viola o artigo 40 ‘’Liberdade de expressão e informação’’, da
Constituição da República sobre o direito de manifestação. O facto deu-se quando dois polícias aproximaram-se
de Luaty Beirão para informarem que ele estava detido.
Em 2020, o Vice-Presidente da República de Angola, Bornito de Sousa, afirmou30 que, embora ajudando a
promover os direitos humanos como o acesso à informação, educação, saúde e inclusão social, a Internet serve
de palco para práticas que minam esta categoria de direitos, tais como infracções ao bom nome, imagem e
reputação, discriminação contra as mulheres, racismo, homofobia, xenofobia, pornografia infantil e fraude
financeira que ocorrem on-line. Na altura, o Vice-Presidente disse que Angola deviam ser criar condições para
poder compreender e combater a criminalidade informática, uma vez que muitas destas práticas violam direitos e
liberdades fundamentais.
O Governo de Angola deve tomar medidas legais e eficazes para investigar, processar e punir
os perpetradores de ataques contra jornalistas:
1. Para estar de acordo com o princípio 20 da Declaração ACHPR, o governo angolano deve tomar medidas
legais e eficazes para investigar, processar e punir os autores de ataques contra jornalistas e outros profissionais
dos meios de comunicação, bem como assegurar que as vítimas tenham acesso a vias de recurso eficazes.
2. Além disso, é importante que o governo implemente medidas para aumentar a sensibilização e desenvolver
as capacidades dos jornalistas e outros profissionais dos meios de comunicação, decisores políticos e outras
partes interessadas sobre leis e normas para garantir a segurança no sector da comunicação.
Conclusão
Existe uma grande oportunidade de se promover os direitos digitais em Angola, porque diferente do anterior
executivo, o actual Presidente, João Lourenço, tem dado amostras de querer promover a liberdade de expressão.
Contudo, verifica-se que o partido MPLA tem estado a agir com tentativas de limitar a forma como os Angolanos
usam as redes sociais no país. Num ano em que poderão marcadas as eleições municipais, torna-se importante
garantir que mais vozes possam existir, dado que os principais órgãos de comunicação do país estão sob a
dominação do partido no poder.