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Eu não conseguia parar de tremer.
Don saiu e eu sentei no meu carro, com o motor
desligado, as mãos no volante, meu coração batendo tão rápido no meu peito que eu comecei a me preocupar com um ataque cardíaco. Até o dia brilhante ao meu redor parecia opressivo, como se estivesse me sufocando para que eu não pudesse respirar. Não me lembro de voltar para a mansão ou chegar ao meu quarto. Lembro-me de pegar minha pequena caixa de suprimentos e sentar na frente da lareira com ela. Lembro-me de encarar meu reflexo distorcido na minúscula lâmina de barbear. Lembro de pressioná-lo na minha coxa e sentir todo o estresse, dor e ansiedade indo embora. Lembro-me do prazer. Então, a vergonha e a culpa. Tinha que haver uma maneira melhor de lidar com minha alma torturada. Mas eu ainda tinha que encontrar uma, e honestamente, minha vida estava tão ruim, sera que isso realmente importa? Acredito que esta nesse momento é a menor das minhas preocupações. Depois que me limpei me arrastei para a cama e tentei dormir, mas o arrependimento me inpediu. Eu odiava trair o conde, quando ele não tinha sido nada além de gentil comigo. Sem mencionar generoso. Eu odiava ajudar Don, mas de que outra forma eu poderia sair do seu dominio opressivo que se transformava em um punho perigoso ao primeiro sinal de desafio? No final, a culpa foi minha por me aprofundar nas drogas, e por lhe dever tanto dinheiro. Isso e o fato de que ele era o único que eu sabia que poderia conseguir para meu irmão e eu identidades falsas para que possamos começar uma nova vida longe desse buraco do inferno... eu não tinha escolha. Teria? Sim, Don era um mestre em balançar o que você precisava na sua frente e, se isso não funcionasse, conseguia que o que você mais temia se cumprisse se não fosse obedecido à risca. Eu precisava que Jeremy estivesse seguro. E foi exatamente com isso que Don me amava. Eu faria qualquer coisa pelo meu irmão. Joguei e me virei, e quando o sol se levantou alto o suficiente no céu, tive que usar minhas cortinas de proteção solar para dormir. Depois de tudo o que tinha acontecido, pensei que teria pesadelos, mas, em vez disso, sonhei com o conde, com seus lábios nos meus, suas mãos correndo sobre meu corpo, com ele fazendo comigo o que fazia com todas aquelas outras mulheres que saíram parecendo tão satisfeitas. Eu acordei com tanto tesão que já estava na metade do orgasmo, então fechei os olhos e fingi que meus dedos eram do conde e usei minha imaginação para gozar. Nada como começar o dia desesperada para transar com seu chefe. Eu me encolhi ao pensar em encontrá-lo novamente, considerando a última vez que estivemos juntos, ele me beijou me fazendo chegar a um orgasmo. Como você olha nos olhos de seu chefe depois disso? No final, só consegui dormir cerca de quatro horas antes de desistir completamente. Afinal, havia muita luz do dia antes que eu precisasse iniciar meu turno. Decidi surpreender Jeremy com um sorvete. Eu precisava ter certeza de que ele estava bem e que tinha um lugar seguro para ficar. Por mais difícil que tudo isso fosse para mim, era muito pior para ele. Ele esteve mais perto de nossa mãe e ela o protegeu da melhor maneira possível do temperamento de nosso pai. Sem ela, a vida de Jeremy havia desmoronado. Peguei minhas chaves e fui para a porta da frente. O som de meus passos na ponta dos pés soou tão alto no silêncio antinatural. Como poderia o Conde dormir como os mortos durante o dia? Mas então, combinava. Ele mantinha sua casa tão fria e silenciosa quanto uma tumba. Meu carro era a única coisa que não se encaixava nesse glamour primitivo de riqueza que me cercava. Estava no canto da entrada como uma verruga no rosto de uma modelo - totalmente fora de lugar. Foram necessárias algumas tentativas até a velha fera tossir, parecendo um fumante de longa data em seu último suspiro. Eu parei na escola de Jeremy pouco antes da campainha final, e seu rosto se iluminou quando viu meu Subaru surrado na fila de recolhimento. Ele subiu no banco da frente, enchendo o carro com o cheiro de adolescente suado. — Eu não sabia que você viria hoje, disse ele, sorrindo de orelha a orelha. — Eu queria te surpreender. Sorvete ou Yorgute? Eu perguntei, embora eu já soubesse a resposta. — Sorvete! Chegamos à sorveteria em menos de três minutos e, depois de nos sentarmos em uma cadeira de ferro forjado em forma de coração no fundo com nossos doces decadentes, Jeremy me contou sobre seu dia. — Obtive a nota mais alta da minha classe no nosso teste de biológia esta semana, disse ele com orgulho. —Meu professor quer que eu participe da feira de ciências este ano. Então, seu rosto caiu. — Há uma taxa para entrar, e os materiais custam dinheiro, então eu disse a ela que não podia. — Eu posso pegar, eu disse. Ele encolheu os ombros. — Onde eu trabalharia no projeto? Onde eu guardaria? Todas boas perguntas. Nossa casa estava fora de questão. — Onde você está ficando? Eu perguntei. — Ainda estou na casa de Rick, mas não posso ficar muito mais tempo. Os pais dele estão começando a fazer perguntas. Tentei alugar um quarto em um motel, mas preciso de um adulto para entrar, disse ele. — Eu vou com você para cuidar disso hoje, eu disse. — E veja, meu plano está quase acontecendo. Vou nos tirar daqui. Juro. Ele assentiu, os olhos brilhando de emoção. — Eu acredito em você, ele sussurrou. Depois que terminamos o sorvete, levei-o à loja para pegar suprimentos, ensopado de carne enlatada e bananas, e depois aluguei um quarto de motel por uma semana no Windmill Hotel. Obviamente, o lugar já vira dias melhores, mas pelo menos não era um daqueles pulgueiros pagos por hora. — Não é ruim, repeti pela terceira vez, olhando para o chão sujo e irregular, o papel de parede descascado e o edredom desbotado. A TV funcionou todos os três canais. Por mais pobre que fosse eu sabia que não podia funcionar a longo prazo. — Não conte a ninguém que você vai ficar aqui, eu lembrei a ele. Jeremy revirou os olhos. — Eu não sou idiota. Eu bagunçei seu cabelo. — Eu sei que você não é, mas não podemos deixar de ter muito cuidado agora. Além disso, quando você for para a escola ou a qualquer outro lugar, certifique-se de não ser seguido, ok? Você se lembra do que eu te ensinei sobre isso? Ele assentiu. — Nunca siga a mesma rota. Verifique atrás de você com frequência. Siga caminhos que os carros não podem descer. Entre nas lojas se precisar abandonar alguém. — Você é um garoto esperto, eu disse, depois o beijei na testa. — Eu tenho que ir. Faça sua lição de casa e fique dentro desta noite. Ele parecia tão triste quando saí que senti meu coração partir. O sol tinha acabado de cair no horizonte quando eu cheguei de volta à mansão. Enquanto eu corria para começar meu turno, avistei o Conde vagando pelo segundo andar, parecendo perdido e frágil e muito diferente de seu eu normal. Quaisquer pensamentos assustadores que eu tivesse fugiram pela janela novamente, meu coração derreteu. Primeiro Jeremy, agora o conde? Na verdade, dei um passo na direção do conde antes de ouvir seu tom profundo tocando em minha mente: — Amanhã à noite, desejo não ser incomodado por nada. Bem, 'qualquer coisa ' me incluía, não é? Decidindo jogar pelo seguro, deixei-o perambular à sua maneira desamparada e me joguei no meu trabalho. Em meu curto período como empregada doméstica, achei a limpeza terapêutica, um bom exercício físico que geralmente me deixava me perder na tarefa em questão por algumas horas. Mas não hoje. Com Jeremy são e salvo, por enquanto, minha mente ricocheteou de volta para Don e sua escalada na linha do tempo. Sete dias. Inferno. Com apenas uma semana para descobrir o código do cofre, eu teria que me mover rapidamente. Caminhei pela casa, limpando o chão, limpando as cortinas e espanando as estantes de livros - cara, eu nunca tinha visto tantos livros, e livros tão antigos, amontoados em todos os cômodos - o tempo todo, meditando sobre como eu poderia conseguir o bendito código para Don. Não me permiti pensar exatamente no que aconteceria depois que ele conseguisse. Se fizesse isso, talvez não conseguisse, e não podia arriscar. Jeremy estava contando comigo. Várias horas no meu turno, uma batida forte na porta da frente quebrou meus pensamentos. Corri para uma janela e estiquei o pescoço para ver, mas os ângulos estavam errados e as sombras envolviam o pouco que eu podia ver. Então, ouvi o meu nome, mesmo através do vidro. — Cassandra. Kassssandra! Meu estômago caiu. Merda. Merda dupla. E hoje à noite de todas as noites? Na noite em que o conde deixou bem claro que não queria nenhum tipo de perturbação? Preparando-me para um confronto desagradável, fui direto para a porta da frente e a abri. Meu pai bêbado perdeu o equilíbrio e recuou alguns passos. — Aí está você, sua putinha. Ele olhou para mim de olhos turvos e vermelhos. — Fugindo novamente, não é? Ele agarrou meu braço, me puxou em sua direção e depois me bateu em uma das roseiras. — O que diabos você está fazendo aqui? Eu assobiei quando me endireitei e comecei a puxar espinhos da minha pele. — Vindo buscar o que é meu. Onde está aquele pirralho do seu irmão? — Não aqui, eu bati. — E não onde você pode encontrá-lo. Agora saia daqui antes que eu chame a polícia. Ele riu, um som distorcido e sem humor banhado em bebida e ódio. — Vá em frente, ligue para eles. Acho que Jerry está de plantão hoje à noite. Tivemos uma conversa durante uma bebida na semana passada. Vou contar a ele tudo sobre como você sequestrou meu filho. Um garoto de menor. Eu tenho direito ao meu filho. Eu o empurrei para longe, mas sua altura e volume lhe deram uma vantagem e ele levantou o punho e bateu com força no meu rosto antes que eu pudesse evitá-lo. Caí de novo nos arbustos, esmagando as flores e sentindo a picada dos espinhos mais uma vez. O sangue cobriu minha boca e eu joguei minha língua contra a fenda no meu lábio. Levantei-me, minha cabeça girando, minha raiva fervendo. — Nos deixe em paz! Ele me bateu no corpo, prendendo-me contra a parede, seu braço carnudo dobrado sob meu queixo e esmagando minha garganta até que eu não conseguia respirar. — Você trará meu garoto de volta ou eles não encontrarão seu corpo, não que alguém se incomode em procurar! Eu podia sentir minha consciência desaparecendo, mas antes disso consegui levantar minha perna e enfiar o joelho em sua virilha. Ele me soltou e recuou, gritando de dor quando eu caí no chão sufocando e segurando minha garganta. Foi quando o conde entrou pela porta da frente. — Eu pedi silêncio! ele começou imperiosamente. Então, vendo meu pai, ele levantou uma sobrancelha lentamente para ele. — Quem é você e por que você está na minha propriedade?— — Esse é o meu pai, eu sussurrei, minha garganta já inchada. — Eu disse para ele sair. Me desculpe. Sempre. Pedindo desculpas. Pela minha merda de família. Então o conde marchou para meu pai, se inclinou e levantou-o pela gola da camisa, direto no ar. Eu fiquei boquiaberta. Enquanto o conde era mais alto que meu pai, ele não era mais volumoso. No entanto, ele levantou meu pai como se não pesasse mais do que uma pena. — Saia da minha propriedade e mantenha suas mãos para si ou será o seu corpo que não será encontrado, disse o conde, falando cada palavra com uma calma lenta e deliberada que me arrepiou a espinha. Meu pai se encolheu e depois voltou correndo para o carro. No minuto seguinte, ele se afastou pela estrada particular e provavelmente até o bar mais próximo. Sem ele, tentei me levantar, mas uma onda de tontura me atingiu e quase caí. Mãos fortes pegaram e me firmaram. Então, o conde me levantou em seus braços como se eu não pesasse mais do que uma criança e me carregou para sua casa. Enquanto ele subia as escadas em direção a sua suíte privada, deixei minha cabeça cair em seu peito. Eu me senti entorpecida. Sobrecarregada. Eu não queria mais pensar, não queria. Eu apenas descansei minha cabeça, querendo nada mais do que ouvir a batida sólida do peito sob a minha orelha. Só... não havia nada. Nem um único batimento cardíaco, por mais que eu tentasse ouvir. Talvez tenha sido a pancada na minha cabeça mexendo com todo o resto? O conde me colocou em sua cama, acendeu o fogo e saiu, apenas para voltar um momento depois com um copo de algo escuro e vermelho. — Isso vai ajudar você a se curar, disse ele, entregando-me a xícara. — É uma receita antiga de família. Ele estava em cima de mim, tão frio e distante, mas o braço que ele deslizou atrás das minhas costas foi o mais gentil que eu já senti quando ele me ajudou a sentar para beber. O gosto metálico e amargo combinado com a dor na minha garganta quase me fez vomitar, mas me forcei a beber toda a mistura e, em seguida, devolvi a xícara. — O que havia nisso? Eu perguntei quando ele cuidadosamente me colocou de volta nos travesseiros. — Uma bebida especial, ele respondeu. — Ervas da minha terra natal e algumas outras coisas que você não conseguiria encontrar aqui. Um calor começou a se espalhar através de mim, fazendo-me sentir quase bêbada. O pensamento me deixou em pânico. Eu acabei de acidentalmente explodir minha sobriedade depois de trabalhar tanto por mais de um ano? Eu sentei na cama, meu coração batendo forte, mas o movimento repentino me fez agarrar minha cabeça com arrependimento instantâneo. — Descanse, insistiu o barítono profundo do conde . — Eu estou bêbada? Eu gemi. — Havia álcool nisso? — Não. Você tem uma concussão e pequeno sangramento. A bebida vai ajudar e você pode sentir meio tonta por um tempo, mas eu não te droguei. Nisto, eu dou minha palavra. Agora descanse. Suas palavras tinham tal ordem que eu não pude resistir a elas, e quase imediatamente caí na cama e dormi profundamente. Quando acordei, foi para encontrar o conde sentado em frente a uma fogueira crepitante, bebendo o que parecia um copo de uísque. Ele se mexeu de uma vez, aparentemente sentindo no instante em que abri meus olhos. — Por que seu pai estava aqui? ele perguntou, olhando as chamas dançando nos troncos. Meu pai. Eu realmente não queria falar sobre ele. Engolindo um suspiro, saí da cama, me preparando para estremecer de dor, mas, para minha surpresa, senti apenas uma pequena pontada. Eu flexionei minha mandíbula maravilhada com a minha rápida recuperação. Eu esperava sentir isso doendo por semanas. Então, lembrei-me da pergunta do conde e me juntei a ele junto à lareira. — Ele estava procurando pelo meu irmão. eu disse. O conde me acenou para a cadeira de couro adornada à sua frente e, depois de me sentar, me olhou com olhos escuros e penetrantes. — E onde está seu irmão? — Seguro, eu disse defensivamente. — Bem, seguro o suficiente, eu espero. E isso era tudo que ele descobriria sobre Jeremy. — Sinto muito por incomodá-lo esta noite, eu disse, mudando de assunto. — Muito obrigada por sua ajuda. Ele me agraciou com um breve aceno de cabeça e voltou o olhar para o fogo. — Não deixe sua vida pessoal atrapalhar novamente, disse ele. Atordoada por sua súbita dureza, levantei-me. — Eu não vou. respondi, virando-me para sair. Mas ele começou a falar antes que eu pudesse ir longe. — Hoje é meu aniversário de casamento. Isso me fez parar. — Você é casado? Com aquele longo desfile de mulheres? — Eu era, ele murmurou, seu olhar mais uma vez preso no fogo. — Ela morreu. Eu hesitei. Ele estava se abrindo? Quando ele não continuou, voltei para a cadeira de couro, sentei e esperei. — Ela foi assassinada, ele disse finalmente, seu rosto uma máscara endurecida. — Ela estava grávida na época. — Merda, Engoli. Isso tinha que ser difícil. — Eu sinto muito. Ele tomou um gole. — O bebê não era meu. Porém, eu achava que ele era até depois da morte dela. Eu sempre quis um filho meu. — Ele respirou fundo e acrescentou: — Não consigo imaginar a depravação de alguém que abusaria de um presente desse tamanho. Eu desviei o olhar dele, sua dor e minha própria dor se misturando em minha alma para criar um coquetel de desespero que eu não podia suportar. Não tinha palavras de conforto para dar a ele. Também não tinha nenhuma para mim. Nós dois estávamos desanimados, tentando tirar o melhor partido das cartas que recebemos. — Minha mãe morreu em um 'acidente’ infeliz, eu digo quando o silêncio se arrasta por muito tempo. — Mas eu sei que meu pai a matou em uma de seus acessos de raiva. O conde deu um aceno solene. — As autoridades não investigaram? Eu debocho. — Meu pai era policial. Ele era a 'autoridade' nesta cidade. É por isso que, embora eu tenha ameaçado chamar a polícia muitas vezes, ele e eu sabíamos que era uma ameaça ociosa. Ele não queria que seus amigos vissem o que ele havia se tornado, mas sabia que eles não fariam nada com ele. O conde olhou para mim então, seu rosto impassível. — Às vezes, devemos fazer nossa própria justiça nesta vida. Eu não podia dizer a ele o quão certo ele estava, mas eu gostaria de ter me desculpado. Pelo que aconteceu com ele por causa de sua esposa ... e o que estava prestes a acontecer com ele por minha causa. Por insistência do conde para que eu descansasse, voltei ao meu quarto e me joguei na cama. Normalmente, eu me preocuparia sobre meu pai voltar, mas depois de encontrar alguém capaz de suspendê-lo no ar como uma boneca de pano, imaginei que ele não estaria tão interessado em repetir a experiência. Ele não gostava de parecer um tolo, e ser pendurado no ar havia escrito tolo por toda sua testa. Com meu pai fora do caminho - por enquanto - eu só tinha que me preocupar com Don... mas no instante em que pensei no nome dele, senti o peso dos meus próprios pecados agarrando meus ombros. — Por Jeremy, eu sussurrei, forçando meus pensamentos para o futuro brilhante do meu irmão . Eu teria certeza que ele conseguisse. Ele entraria naquela feira de ciências e mostraria a eles tudo do que ele era feito, exatamente o que ele poderia se tornar. Eu não deixaria nosso nome de família ou minhas fraquezas arruinarem suas chances. Eu rolei e enterrei meu rosto no travesseiro, lutando para que a escuridão se acumulasse em minha alma como uma tempestade imunda não vinhesse à tona. Merda. Nesse ritmo, eu nunca seria capaz de dormir novamente. Mas, como em todas as coisas, o tempo venceu e meu corpo cedeu à sua própria exaustão. Acordei com as mortalhas de um pesadelo agarrando-me à mente como uma teia de aranha. Só que eu não era a aranha nesso cenário, eu era o inceto preso prestes a se tornar o jantar. O pânico tomou conta de mim com a lembrança de meu pai aparecendo e com a bomba relógio em que eu estava vivendo. Seis dias. Seis dias ou ele machucaria, talvez matasse Jeremy. Seis dias para salvá-lo. Cerro os dentes e tiro as pernas da cama. O ângulo do sol atravessando as cortinas me disse que eu dormi a manhã toda. Tinha que ser o começo da tarde. Depois de um banho rápido e uma muda de roupa, fui até a cozinha para fazer meu café da manhã. Não havia muita comida, mas eu não estava exatamente com fome. Optei por um simples shake de frutas misturadas com mirtilos, leite e gelo. Enquanto bebia a bebida, não pude deixar de lembrar que o conde não parecia ser um grande comedor. De fato, ele parecia beber muito líquido, especialmente seu vinho tinto, extraordinariamente espesso. — Foco, Kass, eu murmurei para mim mesma. Eu só tinha seis dias para obter o código. Eu desperdicei um dia ontem. Eu não poderia me permitir desperdiçar outro hoje. E agora, com o conde dormindo, eu tinha algumas horas para implementar meu plano... o que quer que fosse. Sentei-me para bater os dedos na mesa da cozinha. Hora de começar. O código. Como eu poderia conseguir isso? Como eu realmente não podia pairar sobre o ombro do conde e tomar notas sem levantar suspeitas, de qualquer maneira, a única opção que me restava seria gravá-lo quando estivesse no cofre. Eu ouvi um dos professores de Jeremy reclamando por ter sua identidade roubada durante um cruzeiro no México. Ela deu usou seu cartão no navio apenas para comprar rum e quando não tinha dinheiro vivo, usou um caixa eletrônico nas proximidades para sacar o dinheiro. Ela voltou para casa e começou a receber ligações do banco, perguntando se ela estava fazendo compras em outro pais. Ela tinha sido vítima de um 'skimmer.' Foi como chamaram o ladrão de identidades. Precisando do meu telefone e de um pouco de ar fresco, peguei-o na mesa de entrada onde o conde havia saído e saí para passear pelos jardins e pesquisar. O sol do final da tarde estava quente no meu rosto enquanto eu digitava, skimmer. Depois de clicar nos primeiros links, eu já sabia que estava pensando demais. Eu não conseguiria sequer começar a instalar algo assim no cofre do conde. Sim, eu tomei muitas decisões ruins na vida, mas eu não era a criminosa necessária para realizar essa façanha. Pelo menos ainda não. Não, eu estava mais no nível da câmera Teddy Bear... O pensamento do enigmático e imperioso conde abrindo a porta para ver um ursinho de pelúcia olhando para ele me fez sorrir. Ainda assim, quanto mais eu pensava sobre isso, mais a idéia me agradava. Não a parte do urso de pelúcia, é claro, mas a câmera. Encostada em um imponente carvalho alto nos fundos do jardim, digitei uma pesquisa rápida de mini câmeras espiãs e segundos depois, estava planejando o negócio. Eles as vendiam na Best Buy. Ainda era cedo. Eu poderia pegar uma, voltar e depois entrar e instalar antes mesmo que o conde se levantasse da cama. Então, quando ele abrisse o cofre em algum momentos nos próximos seis dias, eu teria o código. Sim... ele iria abrir o cofre nos próximos seis dias. Ele tinha que abrir. Eu estremeci. Era um plano frágil, na melhor das hipóteses... Sim, eu definitivamente não era uma criminosa desse tipo... Oh, merda. Merda. Don tinha a chave. Abaixei minha cabeça para bater ritmicamente contra o tronco da árvore. Eu não tinha escolha. Eu teria que pedir de volta. Muito mais querendo arrancar meus próprios dentes, engoli a bile subindo na minha garganta e mandei uma mensagem para Don. PRECISO DA CHAVE. ME ENCONTRE NO BEST BUY. Três pontinhos apareceram, em seguida uma mensagens de texto com uma resposta. Eu esperei. E esperei. Merda. Ele estava digitando um romance. Isso tinha que ser ruim. Por que eu já me envolvi com um idiota assim? Finalmente, sua resposta apareceu na minha tela. Eu olhei. Ele PODE IR pular de um penhasco. EM UMA PISCINA CHEIA DE PIIRANHAS DE PREFERENCIA. Ignorando meu telefone, fui para o meu carro e saí da propriedade. Não me permiti pensar enquanto dirigia para a cidade. Na verdade, eu estava ficando muito boa em não pensar. Eu apenas me concentrei na estrada, no céu azul, nas árvores balançando na brisa leve. Enquanto eu navegava pelo estacionamento e voltei para o meu lugar, deixei meus pensamentos vagarem de volta para o conde. De uma maneira secreta e decadente. Como quando você se entrega a um verdadeiro mimo, rastejando até a geladeira à noite para beliscar um pedaço daquele bolo de chocolate. Você fecha os olhos, come e geme enquanto lambe a cobertura dos dedos. Eu poderia pensar em muitos cenários com o Conde que envolviam gemidos e lambidas... Pegando a natureza dos meus pensamentos, pisei nos freios e liguei o motor. — Controle-se, Kass, murmurei baixinho. O conde ia me odiar em breve. Não haveriam lambedas ou gemidos no nosso futuro. Eu corri para a loja. Eles tinham alguns mini-modelos diferentes, um em uma caneta, um em um pequeno cubo e um que parecia estar preso em um pedaço de velcro. Eu comprei os três. Um deles teria que funcionar. Acabei de fechar a porta do carro e peguei o telefone para ver onde Don estava quando uma mão bateu na janela e eu quase pulei da minha pele. — Seis, Don murmurou enquanto me olhava através do vidro. Como eu gostaria de não ter que abaixar a janela e falar com ele. Se eu pudesse apenas pisar no acelerador e fugir dali, de preferência correndo ao longo do caminho. Mas eu não poderia. Apertando minha mandíbula, abaixei a janela algumas polegadas. — A chave? Eu exigi. — Seis, ele disse enquanto largava a chave no meu colo. — Sim, entendi a mensagem. Alto e claro. Seis. Agora, tenho que voltar. — Você não está me ouvindo, Kass. Ele agarrou a borda da janela com os dedos e se inclinou para sorrir para mim através da fenda. Não foi um sorriso bonito. — Eu acho que você precisa de um lembrete. — Na verdade não, eu discordei. Eu liguei o motor. Eu precisava voltar. Agora. Pronto. Não havia muito tempo antes do Conde acordar, e eu tinha que instalar as câmeras hoje se quisesse usar a minha janela de tempo que já estava muito apertada para cumprir o prazo. — Tenho que ir, Don. Estou perdendo tempo. — Quem não escuta paga um preço, disse ele. Ele se endireitou, se espreguiçou e depois foi para a traseira do meu carro, dizendo: — Não gostaríamos que Jeremy pagasse agora, não é? Abri a janela e me inclinei. — Mantenha Jeremy fora disso. Você conhece o negócio. Ele se inclinou como se estivesse inspecionando minha roda traseira. Eu vi o piscar, mas eu não entendi até ele se virar e vi a faca na sua mão. — O que você... Saí do carro, chocada. Meu pneu, meu pneu maldito. Ele cortou. Ele agarrou meu braço e me puxou para perto. — Não queremos que o próximo seja Jeremy, queremos? Eu realmente não precisava ouvir isso. Eu já sabia o que estava em jogo. Eu não precisava das imagens mentais que ele estava colocando na minha cabeça. As substituí por visões próprias, da cabeça de Don em uma bandeja de prata. Então, ele me soltou e foi embora. No começo, eu não conseguia me mexer. Apenas me encostei no carro para impedir que meus joelhos dobrassem. Então, a visão do pneu furado me trouxe de volta à realidade e a raiva expulsou o medo. Não tenho tempo para isso. Ou dinheiro. Ou um maldito estepe. Por quê? Por quê? Apenas o que eu fiz ao universo para merecer isso? Quero dizer, depois que você decide seguir em frente, é aí que todos os problemas e obstáculos reais surgem no seu caminho. Por que tinha que ser tão difícil? Eu só estava tentando dar uma vida melhor a Jeremy. Certamente, o universo poderia respeitar isso e apenas ajudar um pouco, em vez de colocar Don constantemente no meu caminho? Com fúria crescente, eu dirigi meu carro dois quarteirões até a borracharia. Sim, eu sei que você não deveria dirigir com um pneu rasgado mas que escolha eu tinha? — Eu preciso consertar o meu pneu, eu disse ao cara que me abordou com um sorriso de atendimento ao cliente bem praticado em seu rosto sardento. Ele deu uma olhada no meu pneu e o sorriso desapareceu. - Desculpe senhora, mas isso não é um trabalho de correção. Você precisa de um pneu novo. O que significa quatro novos se você deseja que o pneu seja usado corretamente. Minha irritação cresceu para níveis épicos. Eu estava perdendo um tempo precioso. Por assim dizer, eu teria sorte em apertar alguns minutos para esconder a câmera antes que o Conde levantasse. — Bem. Enquanto esperava, me preparei para a minha missão, removendo a embalagem da câmera e jogando-a no lixo para não deixar acidentalmente nenhuma evidência por perto. Finalmente, quatro pneus novos depois, eu estava correndo de volta para a casa do conde, os dedos cruzados para que a minha velocidade não atraisse os policiais. Dessa vez, o universo mostrou um pouco de pena, e eu voltei para a mansão sem nenhum policial na cola. Chave e câmeras na mão, eu corri para a mansão. De acordo com meus cálculos, eu tinha cerca de quinze minutos para montar e ocultar meu sistema de vigilância. Não corria o risco de esperar outro dia. Eu já estava muito atrasada. A chave se encaixou perfeitamente na fechadura e com um clique, eu estava dentro. O quarto estava escuro e, como ele não tinha nenhuma iluminação convencional ou até mesmo uma janela, eu tive que deixar meus olhos se ajustarem até que eu pudesse ver o suficiente para colocar as câmeras. Era apenas uma questão de escolher quais estantes de livros ofereciam os melhores ângulos do cofre. Enfiei a chave no meu sapato para não deixá-la acidentalmente em algum lugar óbvio e, em seguida, encontrei esconderijos para as duas primeiras câmeras com bastante facilidade. Lamento minha compra da versão em caneta. Ela se destacou como um polegar dolorido e chamou a atenção, praticamente anunciando olhe aqui. Resolvi removêla quando a porta do escritório abriu. Era o conde. O conde estava parado na porta com os olhos escuros presos nos meus. — O que você esta fazendo aqui? — Oh, apenas começando cedo a limpeza, chiei e lambi meus lábios secos. Seus olhos voaram para a minha boca. Um músculo ficou tenso em sua mandíbula magra. — Esta sala está fora dos limites. Ah? Eu fingi surpresa. — A porta estava aberta. Tecnicamente, não é mentira. Estava aberta ... depois que eu o destranquei. Ele se aproximou de mim lentamente, como uma presa de caça predadora. — Você se lembra das regras? Ele sussurrou, elevando-se sobre mim. — Não minta? — Sim. Regra número um, não é? Eu sorri. Ele se aproximou mais e mais ainda, até que eu pude sentir sua respiração no meu rosto e apesar do que eu estava fazendo, tudo que eu conseguia pensar era em seu beijo. Deus, ele poderia me beijar de novo? — Eu poderia ordenar que você me dissesse a verdade, disse ele, sua voz tão convincente e seus olhos me puxando para dentro, convidando-me a me afogar na escuridão de sua alma. Eu o queria. Eu não queria nada além dele. Eu diria a ele qualquer coisa que ele pedisse, desde que eu pudesse tê-lo. No entanto, assim como eu abri minha boca para derramar meus pensamentos mais íntimos, ele deu um passo atrás. — Mas eu ganhei isso, ele disse, soando novamente distante. A vontade de contar meus segredos desapareceu. Engoli em seco, chocada com a proximidade. O que diabos aconteceu comigo? Como eu poderia estar tão disposta a desistir do futuro de Jeremy tão fácil? Eu pisquei, tentando encontrar minha voz. — Você quer que eu termine de limpar aqui? Eu perguntei, guardando a caneta. As outras câmeras teriam que funcionar. Rezei para quaisquer deuses que ainda estivessem me ouvindo para que ele não os encontrasse e seguisse meus planos. Eu estaria morta. Mentira. — Seus serviços não são necessários aqui. disse ele, claramente me dispensando com seu tom. Com nervosismo estremecido que eu temi que ele pudesse ouvir, eu andei até a porta e, quando saí para o corredor, sua voz me parou. — Como você está se sentindo? Não era a pergunta que eu estava esperando. Eu me virei para encará-lo. — Melhor do que eu mereço, eu disse honestamente. Ele se aproximou, seu rosto ilegível e não parou até que ele chegou a poucos centímetros de mim. — Você merece muito mais do que imagina, ele disse suavemente, seus olhos perfurando minha alma enquanto ele tirava uma mecha de cabelo do meu rosto. — Certamente, mais do que você recebeu. Respirei fundo, não confiando em mim mesma para falar. Ele não me conhecia. Não sabia o que eu tinha feito. O que eu tinha vivido. O que eu estava fazendo com ele. Na verdade, eu estava cansada demais para julgar quem merecia o quê. Mas então, como alguém poderia saber o peso da alma de uma pessoa? Meu ou de mais alguém? — Que escuridão sombreia seu coração? ele perguntou, e eu não sabia dizer se era retórico ou não, mas de qualquer maneira eu não saberia responder. — Eu poderia perguntar o mesmo sobre você, eu disse minha voz pegando emoção crua. — Eu já compartilhei com vocês meus demônios, disse ele, seus lábios a centímetros dos meus. — Eu não acho que esses são todos os demônios que você abriga, eu respondi, desesperada para que a distância entre nós desaparecesse, mas com muito medo de fazer isso acontecer. Ele se aproximou mais, até nossa respiração se misturar. — Levaria uma vida inteira para confessar todos os meus demônios, ele sussurrou, e eu senti a natureza afim de sua alma. Eu não conseguia entender seus demônios, mas sabia que os meus eram terríveis o suficiente e sabia que estava olhando nos olhos de alguém que tinha visto coisas piores. Alguém que tinha feito ainda pior. Isso deveria ter me aterrorizado, mas, em vez disso, me confortou. Aqui estava um homem que não se assustaria com as profundezas da minha própria escuridão. E eu estava prestes a traí-lo. Merda. Recuei, recuperando o fôlego. — Eu devo terminar o resto da casa antes que seja tarde demais. Eu saí rapidamente, sentindo seus olhos queimando buracos através de mim como eu fiz. Naquela noite, o conde acompanhou outra mulher para o quarto dele, e o ciúme cru e irrestrito me envenenou a cada minuto. Mas em uma reviravolta na trama que eu não esperava, ela saiu logo depois de chegar, parecendo mais do que um pouco decepcionada. Ela obviamente não viu isso acontecer também, e pela sua carranca, eu diria que ela também não estava feliz. Pobre garota. Realmente, eu me senti tão mal por ela. Quando o conde desceu à cozinha, assim que terminei meu turno, parei e olhei para ele. Noite difícil? Eu perguntei. Ele me estudou um momento antes de responder: — Meus apetites parecem estar mudando. Meu corpo vibrou com energia ao ouvir isso. Poderia o nosso beijo tê-lo afetado tanto quanto a mim? Ousadamente espero ter tocado tanto na mente dele quanto ele na minha? Mas com que finalidade? Então eu poderia traí-lo em apenas alguns dias? Ainda assim, eu não conseguia me afastar do seu olhar quando ele se levantou e caminhou até mim, parando apenas com o contato total do corpo. Ele segurou meu rosto e inclinou a cabeça. — Diga-me, Kassandra, você pensa sobre esse beijo? Eu pisquei, depois assenti brevemente. Não adianta nem tentar mentir, não sobre isso. A verdade estava escrita em todo o meu rosto. Tentei conter minhas emoções e me manter unida, mas minhas pernas já estavam se tornando gelatina, então minha coragem não duraria muito. O conde abaixou a cabeça e cobriu minha boca com a dele enquanto uma mão segurava minha cabeça e a outra puxava meus quadris para me puxar para perto dele. Com um gemido, eu abri meus lábios, permitindo que sua língua para dentro dançando em círculos com a minha. Ele tinha gosto de fogo, de mistério e poder. Estremeci quando ele me devorou com um domínio sombrio que cantava em uma parte profunda de mim, e quando seus dentes roçaram meu lábio inferior, arqueei contra ele. Eu precisava de mais dessa vez, muito mais. Seus dedos percorreram minha bochecha, meu pescoço e ainda mais, criando um caminho de necessidade ardente até que ele alcançou meu peito. Ofeguei em sua boca quando seu polegar roçou meu mamilo através da minha camisa. Sim. Mais. Eu me inclinei para ele, meu corpo sedento tão desesperado para sentir o dele. Muito cedo, ele se afastou, deixando meus lábios frios e meu corpo derretendo. Com uma expressão resignada, ele se virou. — Vou passar a noite em meus aposentos. Descanse um pouco. Minha boca se abriu quando ele desapareceu pela porta da cozinha. O que. O. Inferno? Oh, este homem era tão malditamente irritante. Provocando-me, levando-me à beira de tudo e depois me deixando lá sozinha? Que tipo de jogo distorcido era esse? Não, droga. Ele havia satisfeito um desfile inteiro de mulheres diante de mim. Por que me deixar pendurada? O que elas tinham que eu não tinha ? Bem, provavelmente muito, mas eu me recusei a pensar nisso agora. Independentemente de quem tivesse o quê, ele não poderia me tratar assim. Eu não percebi que o segui pelas escadas até que eu estava no topo e o vi no final do corredor escuro, a mão na maçaneta da porta do quarto. Eu não disse nada. Deus, eu queria. Eu queria gritar com ele, exigir uma explicação, exigir que ele terminasse o que havia começado, mas antes que eu pudesse começar a organizar os pensamentos em minha cabeça, ele estava diante de mim. Como se ele estivesse lá, a meros centímetros de distância. Ele estava na beira do corredor, literalmente, há um piscar de olhos. Que? Claro, estava escuro, mas... — Por que você está aqui? Ele perguntou, seus olhos brilhando apesar da luz fraca. — Você não pode simplesmente ... você não pode simplesmente me deixar assim, eu soltei. Um brilho de diversão iluminou seus olhos. — Por favor, diga, o que eu deveria ter feito? Me foder na mesa da cozinha teria sido legal. Ou contra a geladeira. Ou - Ele deu um passo em minha direção e me apoiou contra a parede. Minha respiração engatou. — Talvez... ele murmurou, arrastando a palavra por tanto tempo que eu pude sentir seu peito vibrar. —Talvez eu devesse ter em tocado você mais? Inferno, sim. Era cruel deixar uma garota no limite assim. Especialmente com os presentes que ele obviamente possuía. Ainda assim, sob o feitiço de seu olhar, me vi muda. Isso não importava. Suas mãos deslizaram sobre mim mais uma vez, delineando o contorno dos meus quadris quando levantei minha boca para encontrar a dele. Seu beijo foi diferente desta vez. Mais selvagem. Mais escuro. Um beijo que compartilhava não apenas prazer, mas volumes de dor não dita. Senti sua necessidade, seu desejo de pertencer, seu desespero, sua solidão. Eu já tinha visto vislumbres da escuridão nele antes, mas desta vez, seu beijo não deixou dúvidas. Nele vivia um vazio que combinava com o meu. Eu o beijei de volta, deixando seus lábios me puxarem, pela primeira vez na minha vida, minha própria marca de dor prazerosa. Meu verdadeiro eu nu de tudo. O calor acendeu, anunciando o prazer, mas desta vez, nos conectamos em um nível diferente. Dessa vez, eu precisava mais do que o beijo dele. Seus lábios me atormentaram. Eu tinha que tê-lo dentro de mim. Como se ele tivesse lido meus pensamentos, sua mão deslizou sobre meu quadril e para cima. Magicamente, meu jeans estava desabotoado, eu mesma fiz isso? e então, quem se importava, suas mãos estavam sob a cintura e quentes contra a minha carne. Quando seus dedos deslizaram lentamente, ele deixou cair à boca no meu pescoço para sugar a carne macia. Eu estremeci. Eu estava muito molhada. Tão pronta. Querendo que ele renunciasse às provocações e realmente me tocasse, eu empurrei contra ele. Mais uma vez, ele leu meus pensamentos, mas então, com a maneira como meu corpo se contorcia em necessidade, não era um pensamento particularmente difícil de ler. Ainda assim, consegui o que queria. Finalmente. Seus dedos me provocaram, circulando, me apertando em um frenesi até que, finalmente, Oh Deus Abençoado, ele finalmente os levou para dentro de mim. Cheguei ao clímax de uma vez e, quando a intensa tempestade de ondas percorreu meu corpo, desabei contra ele. E justo quando eu pensei que tinha acabado, ele beliscou meu pescoço e empurrou seus dedos mais profundamente dentro de mim e eu gozei novamente. Eu mal podia suportar quando ondas de prazeres colidiram comigo. Era como se todos os ossos do meu corpo tivessem se transformado em líquido. Eu olhei para cima para vê-lo me olhando intensamente. — Como um instrumento, ele sussurrou, seus dedos ainda me provocando. Engoli. Se ele continuasse brincando comigo assim, eu enlouqueceria. Eu não tinha certeza se conseguiria gozar tão rápido, sem uma enxaqueca, de qualquer maneira. Como antes, ele parecia incomumente sintonizado com meus pensamentos interiores, e com um último movimento provocador de seus dedos, ele se afastou, mas me deixou sentindo marcada por seu toque, no entanto. Ele mudou. Eu podia sentir sua dureza pressionada contra mim, mas quando o alcancei, ele se afastou. No instante seguinte, ele se foi e, no mesmo momento, a porta do quarto se fechou. O que diabos... Como alguém poderia se mover tão rápido? Mas então, talvez fosse tudo um truque da escuridão. Eu me apoiei contra a parede, respirando pesadamente e incapaz de acreditar que tinha acabado de deixar o Conde me tocar. O que eu estava fazendo? Ele era meu chefe, não um cara que conheci em um bar e que poderia esquecer mais tarde. Definitivamente tínhamos confundido as linhas. E eu ainda nem sabia o nome dele. Eu estremeci. Eu pensei que olhá-lo nos olhos depois mas como eu poderia. Amanhã seria muito pior. Voltei para o meu quarto, um pouco confusa sobre o porquê de ele não me deixar tocá-lo. Ele me queria. Eu senti a evidência, dura e real. Com outra pessoa, eu posso ter até me sentido um pouco rejeitada com a velocidade com que ele se afastou, mas ele era didiferente. Eu não me senti tão machucada pela rejeição quanto perplexa por sua resistência ao que estava crescendo entre nós. Foi meu status como funcionária dele que o manteve à distância... na maior parte do tempo, pelo menos? Ou havia algo mais acontecendo? Meu corpo vibrou com a energia do nosso encontro, mas não me senti satisfeito com isso. Não da maneira que eu esperava. Eu pensei que isso iria me aliviar, mas agora eu queria a coisa real. Não é de admirar que o desfile de mulheres tenha rolado com ele na cama a noite toda. Como seria isso? Eu andei para o meu espelho e olhei para o meu reflexo enquanto corria meus dedos sobre a trilha que ele criou com a boca. Eu vi então. Uma pequena marca. Um chupão? Eu olhei mais perto. Não era o chupão clássico, mas apenas duas pequenas marcas, tão pequenas que mal romperam a pele e se posicionavam distantes, como uma picada de cobra. Ou vampiro. Ha! Querendo aliviar cada momento do encontro, caí na minha cama, rezando para sonhar com ele a noite toda. Eu sonhei a noite toda, MAS NÃO COM ELE. Tive pesadelos com Don e câmeras de ursinho de pelúcia que me seguiam com olhos brilhantes registrando e julgando todos os meus crimes. Acordei com um gosto amargo na boca, como se, mesmo nos meus sonhos, quisesse vomitar. Tirei minhas pernas da cama, me sentindo uma merda por muitas razões. Quem eu era? O tipo de garota que poderia se relacionar com o conde e depois montar o palco para que Don o roubasse? E isso não faz de mim a prostituta meu pai me acusou de ser? Fiquei no chuveiro por um longo tempo, querendo que a água quente lavasse meus problemas pelo ralo, mas a pele enrugada e empolada foi à única coisa que consegui. Depois de me vestir, decidi verificar Jeremy, então tirei meu telefone da gaveta e fui para o que estava se tornando meu lugar favorito no jardim do lado de fora. Eu me perguntei o que aconteceria se eu usasse meu telefone em casa. Como o conde saberia? Eu tinha um pressentimento que ele faria. De alguma forma, ele saberia. Quando meu telefone finalmente ligou, vi três chamadas perdidas piscando e mensagens de voz da escola de Jeremy. Meu coração pulou na minha garganta e meus joelhos tremeram quando eu apertei o botão de retorno de chamada. Eles nunca ligavam a menos que houvesse um problema. E eu já tive o suficiente deles para saber. — Sr. Prichard? — Estou ligando sobre Jeremy, Sou Kassandra, sua irmã. — Oh, certo. Houve uma pausa. — Ele está na enfermaria da escola. — Enfermaria? O que aconteceu? Eu interrompi. Eu já estava tirando minhas chaves do bolso e indo para o meu carro. Mal ouvi a resposta dela: — Houve um... conflito, um... incidente. Ele... A voz tagarelou, mas eu não precisava mais ouvir. Eu sabia o que 'incidente ' significava. Era o código para 'Espancado por valentões. Eles pegaram Jeremy. Novamente. Um olho inchado. Nariz ensanguentado. Talvez até uma costela quebrada. Na emergência nos deram alta com Advil, uma receita médica e instruções para descansar. Ajudei Jeremy a entrar no carro, não porque ele não podesse andar. Ele podia, devagar. Mas porque parecia que eu estava protegendo ele, mesmo que eu tivesse chegado muito tarde. Ainda assim, ele precisava de sua mãe e, embora eu fosse uma pobre substituta, eu tinha que fazer tudo o que pudesse. — Eu tentei ignorá-los, ele disse novamente enquanto eu deslizava no banco do motorista. — Sim, às vezes ignorar não funciona, Eu disse sombriamente. Ignorar Don não produziu nenhum resultado mágico para mim. Como eu poderia ter pensado que funcionaria para Jeremy? Afastei as lágrimas e virei às chaves. Eu não poderia simplesmente abandonar Jeremy no motel. E eu certamente não poderia levá-lo para casa, não nessas condições. Além disso, o médico da emergência deixou claro que ele precisava ser supervisionado em caso de concussão. Então, não voltaria para a escola por alguns dias. Saí do estacionamento, entrei na estrada e dirigi enquanto pesava minhas opções. Bem... sinceramente, havia apenas uma opção e seria uma tonelada de merda. Eu tinha que manter Jeremy seguro. E eu tinha que trabalhar. — Aonde estamos indo? Jeremy perguntou. O conde havia dito para manter minha vida pessoal longe dos negócios dele. E aparecer com meu irmão ensanguentado a reboque não era nada senão pessoal. No entanto, que outra escolha eu tinha? Não respondi a Jeremy e continuei dirigindo. Quando finalmente entrei na garagem particular e segui pela estrada longa e sinuosa, ele perguntou novamente: — Para onde estamos indo? — Estamos aqui, eu disse quando a mansão apareceu. Jeremy olhou com os olhos arregalados. — É aqui que você esteve vivendo? Meu estômago caiu quando percebi como isso deveria parecer para ele. Eu estava vivendo a vida de uma pessoa rica enquanto ele se escondia em motéis de merda. Que miserável irmã ele deve ter pensado que eu era. Estacionei o carro e respondi: — Sim. Sou a governanta e tenho que morar aqui. Não acho que você possa ficar sem que eu perca meu emprego, mas vai ter que ser assim até que eu descubra outra forma. — OK. Sua pequena voz partiu meu coração. Minhas juntas ficaram brancas quando eu apertei o volante. Eu estava tão cansada do meu coração quebrando o tempo todo. Respirando fundo, saí do carro e o ajudei a sair. Ele me seguiu para dentro, mancando de dor e tentando escondê-lo. Eu fiz o meu melhor para não pairar sobre ele, mas foi difícil. Eu queria dar uma vida melhor a ele, mas não estava conseguindo. Deprimida e nervosa, eu o levei para o meu quarto. Demorou um pouco para chegar lá, e eu me senti mal por fazê-lo subir as escadas, mas eu me senti confortável em tê-lo descansando na minha cama. Eu não poderia instalar Jeremy em um dos quartos de hóspedes sem permissão... mesmo que ele provavelmente nunca notasse... mas ainda assim. — Quarto agradável, disse Jeremy enquanto mancava para a cama. —Tire uma soneca, pedi enquanto deixava seu Advil de lado. — Eu vou te acordar daqui a pouco. Assim que eu descobrisse o que fazer com ele. Ele estava dormindo antes mesmo de eu chegasse à porta. Nesse tempo fui ao escritório na primeira hora do dia. Eu não podia arriscar revistá-lo à noite nunca mais. E enquanto eu tinha noventa e nove por cento de certeza de que ele não estava acordado, meu coração ainda batia forte ao baixar rapidamente os arquivos de cada câmera em um pen drive e reconectá-las. Inicialmente, eu planejava ir ao motel de Jeremy para usar o laptop da escola para reproduzir os videos da câmera, mas com a mochila dele convenientemente no meu carro, não tinha que perder todo esse tempo. Eu me acomodei no banco de trás, vasculhei sua mochila e liguei a máquina. Dez minutos depois, eu estava fechando a tampa com decepção. O conde nem sequer entrou lá, muito menos abriu o cofre. Ah bem. Eu ainda tinha cinco dias, não tinha? Eu teria sucesso. Eu faria. E agora, eu não podia perder tempo me preocupando com o futuro, não quando eu tinha Jeremy escondido no andar de cima. Meu turno durou mais algumas horas, então fui à cozinha e fiz um pouco de macarrão com pão de alho, os favoritos de Jeremy. Pelo menos ele acordaria para uma boa refeição, pela primeira vez. Levei tudo para cima em uma bandeja que deixei ao lado da cama dele, depois comi minha porção em silêncio em frente à lareira, obcecada com o que eu deveria contar ao conde. Talvez eu pudesse esconder Jeremy por uma noite e arrumar a situação pela manhã? Certamente, o conde nem saberia que ele esteve aqui. Este lugar era tão grande e Jeremy parecia tão pálido, com hematomas roxos profundos sob os olhos. Ele precisava descansar. Ele precisava se sentir seguro. E a escola estava ficando desconfiada. Seu professor disse que estava dormindo na sala de aula e parecia mais ansioso do que o normal. Eles queriam conversar com nosso pai, mas eu os convenci a não chamá-lo. Por agora. Depois que terminei de comer, chequei Jeremy uma última vez, puxando as cobertas até o queixo e o aconchegando mais confortavelmente. Ele sorriu durante o sono e se aninhou nos travesseiros, sem dúvida, em algum nível profundo lembrando da nossa mãe, então eu cantarolei uma música que ela costumava cantar para ele quando ele era bebê. Dormindo, ele parecia ainda mais jovem que o normal, tão inocente e frágil. E isso resolveu as coisas para mim. Eu me decidi ali mesmo sabendo que tinha acabado de convidar o universo para me morder na bunda, como tantas vezes gostava de fazer. Isso não importava. Eu aceitaria o que vinhesse para cuidar desse garoto qualquer dia. Eu beijei sua testa, depois fechei a porta suavemente atrás de mim enquanto descia as escadas para começar o meu turno. Quando vi o conde, eu tinha a minha opinião, e ele escutou. Eu não mentiria ou quebraria suas regras, pelo menos não nisso. Mas eu também não recuaria. Eu estava fazendo tudo isso por Jeremy, e agora o que meu irmão mais precisava era de mim e um lugar seguro para morar até que eu pudesse nos tirar daqui. Então, eu ia dar isso a ele. Eu estava limpando o chão da cozinha quando eu senti sua presença antes dele falar. — Quem é a criança que está sangrando no seu quarto? Olhei para cima, apoiando o punho no quadril e segurando o rodo na outra mão. O pensamento de que ele visitou meu quarto agradou o lado escuro e excitado de mim, enquanto o resto de mim estava chateado - e um pouco assustado. Eu não poderia perder este emprego. Agora não. Eu tinha uma coisa toda planejada na minha cabeça, não esperando que ele me vencesse e estragasse minha liderança. — Bem? Ele não esperou. — Meu irmão. Coloquei o rodo de volta no balde com tanta força que a água caiu no chão. — Ele precisa ficar aqui por um tempo. E antes de me jogar fora, pense por um segundo, sim? Como posso mandá-lo para casa para meu pai? Você viu como ele é. Jeremy é fraco e inocente não acha? O conde olhou para mim sob as sobrancelhas franzidas. Droga. Que cara de pôquer. Você acha que, depois da nossa recente intimidade, eu o entenderia um pouco mais, mas não vi nada naquele rosto. Então, ele girou e me deixou lá. Larguei o rodo e corri para o meu quarto. Parando sem fôlego, girei a maçaneta da porta, apenas para ouvir a voz do conde já por dentro. Empurrei a porta com tanta força que ricocheteou na parede. O conde estava sentado na beira da cama, apoiando Jeremy enquanto bebia de um cálice. Os dois olharam para mim, surpresos. Eu apenas olhei, a boca aberta. Como diabos o conde chegou aqui tão rápido? Ele deve ter preparado a bebida antes mesmo de me perguntar sobre Jeremy, mas então... por que ele se preocupou em perguntar? Jeremy sorriu e acenou para eu me juntar a eles. — O conde está me dando um remédio da família dele. Diz que vai ajudar e é tudo natural. Se foi a mesma mistura que ele me deu, então eu sabia que Jeremy estaria se recuperando rapidamente. Fui até a cama, sentei-me no lado oposto do conde e tirei uma mecha do cabelo de Jeremy dos olhos dele. Ele precisava de um corte de cabelo. Quando meu irmão terminou o cálice, o conde gentilmente o colocou de volta no travesseiro. — Você dormirá profundamente e acordará revigorado, Jeremy, assegurou. Com a maneira como os olhos de Jeremy caíram, duvido que ele tenha ouvido. Eu sabia que ele estaria dormindo em minutos. Quando o conde pegou seu cálice e saiu da sala silenciosamente, eu o segui. No corredor, agarrei seu braço. — Obrigada, eu disse, acenando com a cabeça na porta do quarto. — Ele não viu muita bondade em sua vida. — Ele é um garoto especial, murmurou o conde, e quando olhou para mim, vi a empatia por trás de sua expressão. Então, ele acrescentou: — Mas ele não pode ficar aqui. Mesmo sabendo que não tinha o direito de reclamar - regras e tudo -, abri minha boca para protestar. O conde levantou a mão para me silenciar. — Minha vida ... esta casa ... não é adequada para crianças. Eu bufei com isso. — Você acha que minha casa é? Pelo menos aqui, ele não será espancado. Ele terá comida. Ele terá amor. Engoli o nó na garganta. — Ele vai me ter. O conde não disse nada. Ele apenas se elevou sobre mim, seu rosto uma máscara mais uma vez. Eu não deixei isso me parar. — O problema é que não posso morar aqui se não posso manter Jeremy comigo. Eu ainda poderia trabalhar para você. Fazer todas as coisas que você precisa. Mas preciso cuidar do meu irmão, e isso significa que preciso ter acesso ao meu telefone o tempo todo. Ele ficou preso na enfermaria por horas, porque eles não podiam me encontrar. Eu não posso fazer isso com ele. Não depois de tudo o que ele passou. No final do meu discurso apaixonado, eu estava de pé na ponta dos dedos dos pés, as mãos fechadas em punho. Sim, arrisquei tudo tentando mudar as regras, mas eu tinha uma escolha? Eu só podia esperar que o conde tivesse um coração em algum lugar naquele peito largo e esculpido - apesar do fato de eu não ter ouvido bater. — Você desistiria deste trabalho para ficar com ele? O conde levantou uma sobrancelha escura. Meu coração afundou na direção da pergunta, mas nisso não tive problemas em dizer a verdade. — Sim. — Ele tem sorte de ter você. Uma lágrima escorreu pela minha bochecha. O conde franziu o cenho e passou a ponta do polegar na minha pele para pegá-lo. — Então você deseja renegociar os termos do seu emprego? Isso não parecia uma porta totalmente fechada. — Sim. Acho que sim. eu disse. — E o que você propõe? Minha mente correu para encontrar uma resposta com a qual eu pudesse viver. — Vamos ficar aqui, com acesso total aos nossos telefones e computadores. Podemos dividir meu quarto se você não quiser abrir mão de um quarto de hóspedes.— Eu poderia viver com isso. Fácil. Mas quanto ao lado dele do acordo, eu tinha apenas um cartão: — Você pode descontar meu salário para compensar. Eu poderia dizer que ele não estava impressionado. — O dinheiro é uma trivialidade para mim, disse ele. Quando ele não continuou, meu coração começou a bater forte. Eu não tinha mais nada para barganhar. Merda. — Contudo. Seu olhar mudou para algo atrás de mim, e o jeito que ele olhou me fez querer me virar para ver o que ele estava olhando. — Vou exigir outros serviços seus em troca.— Minhas costas enrigeceram. Ele estava me colocando nesse nível, então? — Que tipo de serviços, eu rangi, dentes cerrados. Seus olhos imediatamente voltaram para os meus. — Não é o que você está pensando. Ele se aproximou de mim, afastando o corpo dele uma polegada do meu. — Eu tinha a impressão de que essa parte do nosso relacionamento era de comum acordo? Minha respiração fica rasa quando o cheiro dele me domina. — Foi, eu sussurrei. Como ele - sem sequer me tocar - me deixou tão fraca com a necessidade? Lambi meus lábios secos e perguntei novamente: — Então, quais serviços? Mais uma vez, seu olhar ficou cego quando ele se concentrou no meu ombro. — Isso se tornará aparente conforme a necessidade, respondeu ele, sem responder à pergunta. Eu estava prestes a insistir que ele não pedisse nada ilegal, mas com quem diabos eu estava brincando? Eu já tinha passado de me preocupar com o que era legal e o que não era. E de qualquer maneira, por Jeremy, eu faria tudo. — Então, nós temos um acordo? Eu perguntei, levantando minha mão para um aperto de mão, mas havia muito pouco espaço entre nós, minha mão roçou seu quadril. Ele pegou meus dedos nos dele e passou a ponta do polegar sobre a palma da minha mão, e elegantemente trouxe minha mão aos seus lábios. Deus, o gesto foi tão praticado, tão suave. E seus lábios, me beijando tão gentilmente, parecia uma borboleta pousando na minha pele. Sem dúvida, ele deve ter beijado inúmeras mulheres dessa maneira, mas ainda assim, me senti especial. Única. Meus joelhos tremiam. —Temos um acordo, Kassandra, sua voz profunda retumbou sob a minha pele. Jeremy fica longe da minha suíte privada e ele segue as regras estabelecidas. Se algum de vocês as quebrar, vocês dois estão fora. Não haverá mais negociações. Estamos entendidos? Eu assenti. — Claro como cristal. Ele me soltou, arrastando o polegar novamente de uma maneira que aumentou a intimidade do simples gesto de soltar minha mão. Eu o observei, meu pulso acelerado, enquanto ele andava pelo corredor com passos largos e desaparecia na escuridão. Jeremy poderia ficar. Se apenas essa situação pudesse durar. Se eu não tivesse que estragar tudo isso em menos de uma semana. Mas o relógio estava correndo. E se Don chegasse a Jeremy, nenhuma quantidade de poção mágica da família o curaria. Eu não tive escolha. Eu tinha que seguir as instruções de Don à risca. Quando eu acordei na tarde seguinte, foi para ouvir Jeremy assobiando baixinho. Eu adormeci no sofá. Apoiei-me em um cotovelo e olhei para cima e vi meu irmão descansando de bruços em uma cama totalmente feita, lendo um livro, o rosto relaxado e assobiando suavemente, como sempre fazia quando se concentrava em algo interessante. Ele obviamente estava acordado há um tempo. Eu realmente fiz isso. Eu garanti a ele um lugar seguro para ficar - comigo. E depois... depois do que Don tivesse acesso ao cofre, Jeremy e eu íriamos para o Canadá com nossas identidades falsas e ninguém mais nos ameaçaria. — Se sentindo melhor? Eu perguntei quando me sentei. Jeremy rolou sobre si mesmo na cama, um gesto que deveria ser impossível com uma costela quebrada. — Eu estou incrível. Ele sorriu, pulando de pé. O conde deveria vender essa poção. Ele faria milhões. Mas então... olhei em volta para o luxo do meu quarto, e esse era apenas um quarto individual em uma mansão de muitos. Bem, talvez fosse daí que a riqueza dele veio? Eu me virei para meu irmão. Deus, foi tão bom vê-lo feliz. — O conde disse que você pode ficar aqui um pouco, eu disse. — Mas existem regras. — Regras? Levei Jeremy até a cozinha, recitando as regras ao longo do caminho. Então, eu o fiz café da manhã. Um leve tremor me acometeu, mas eu me fiz. Agora que sabia que ele estaria aqui um pouco, teria que ir ao supermercado para comprar coisas que ele gostava de comer. Ele não era um comedor exigente, mas preferia ficar no reino do familiar. Coisas comuns como ovos, pão branco e macarrão com queijo. — E a escola? Jeremy perguntou quando eu desligueio liquidificador. Sua expressão se tornou cautelosa. Sim, eu não o enviaria de volta para aqueles valentões tão cedo. — Os cuidados urgentes disseram que você ficaria fora da escola por pelo menos uma semana. eu disse. — E mesmo que eu tenha certeza que você pode correr uma maratona agora, você está fora por uma semana. Uau. Dois sorrisos largos em um único dia, e nós apenas começamos o dia. Eu me vi sorrindo, apesar de toda a merda que estava acontecendo. Meus pensamentos escureceram por um momento. Don. O assalto. Que diabos eu estava fazendo? Mas eu escovei a preocupação, pelo menos por enquanto. Ver aquele sorriso no rosto de Jeremy fez tudo valer a pena. Eu escolho aproveitar isso o máximo que puder. Enquanto eu lavava o liquidificador e nossos copos, meus olhos pegaram um pedaço de papel apoiado na bancada. Ovos. Queijo Gruyère. Alecrim. A lista continuou, cada item escrito em caligrafia elegante, completo com floreios. Eu pisquei. Então, uma lista de compras, estilo Count? Eu acho que ele estava cansado de comer qualquer comida etérea que ele estivesse comendo além de seu vinho estranho. Em algum lugar, no fundo, parte de mim soltou um suspiro de alívio. Foi uma reação estranha. Acho que fiquei incomodado com seus estranhos hábitos de jantar - ou com a falta deles. — Eu tenho que sair, eu disse a Jeremy enquanto pegava a lista. — Você fica aqui e estuda. Você tem um projeto de ciências para fazer, ok? Ele não se importava de ficar no meu quarto. Eu larguei sua mochila escolar na cama e, antes de eu sair, o fez recitar as regras e prometer que não exploraria. Apenas tinha colocado a última das sacolas no porta-malas do meu carro quando mãos agarraram meus ombros por trás. Eu girei, chicoteando, ao ouvir a palavra: — Quatro. Don agarrou meu pulso antes que meu punho pudesse se conectar com seu rosto. — Whoa, garota. Seus olhos assumiram aquela mistura doentia de raiva e interesse. A violência sempre o excitava. —Talvez você deva desviar para a minha casa, hein? — Só tenho quatro dias, Don, eu bati, me libertando. Eu odiava sua pele tocando a minha. —Tenho que ir. Ele bloqueou o meu caminho. — Então, você tem Jeremy morando com você agora, hein? Como diabos ele sabia disso? Ele estava me perseguindo? — Apenas não tenha nenhuma ideia nessa sua cabeça, ele avisou, sacudindo-me no lado da cabeça. — Siga o plano. Se não... Ele se afastou com sua arrogância e eu corri para dentro do meu carro e tranquei a porta, minhas mãos escorregadias de suor e meu coração batendo contra o peito. Como ele sabia tanto sobre a minha vida cotidiana e a de Jeremy? E os negócios do conde também? Me atingiu quando eu peguei a estrada na longa entrada da mansão. Don deve ter grampeado o lugar. E ele estava ouvindo tudo o que fizemos e dissemos. Eu verifiquei as câmeras, mas não havia nada para ver. Nada do código do cofre, de qualquer maneira. Eu ainda estava tentando descobrir como Don estava nos espionando. Ele montou a vigilância antes que eu chegasse à mansão para a minha entrevista, ou então ele botou alguma escuta na noite em que esqueci de trancar a porta. Em ambos os casos, um trabalho completo de limpeza estava nos livros hoje à noite. Desde que eu não pude achar mais dispositivos, fiz uma pequena pesquisa sobre como localizar escutas baratas. Força bruta e usar seu celular eram minhas únicas duas opções. Pelo menos eu tinha recuperado meu telefone e não precisaria me esconder para usá-lo. Inspecionei a entrada primeiro, 'espanando' cuidadosamente todas as lâmpadas, desaparafusando todas as lâmpadas e espiando sob cada móvel. A armadura no canto foi particularmente demorada. Minha busca não deu em nada e, antes de passar para a próxima sala, liguei para o banco. Por que o banco? Bem, de acordo com a internet, câmeras sem fio e microfones emitiam frequências de rádio específicas que interferiam nos sinais do celular. Aparentemente, você só tinha que fazer uma ligação e ficar andando, se ouvisse cliques em uma área específica... pronto, foi encontrado um grampo. E como eu não tinha ninguém com quem realmente queria conversar por muito tempo, decidi pelo número que sempre me colocava em espera. Eu andei pela entrada lentamente, ouvindo música de elevador ruim e em alerta para ouvir sons. — Sem grampos, murmurei quando completei o círculo. Um andar. Pelo menos mais cinquenta comodos. Eu estremeci, peguei meus matériais de limpeza e chutei o balde rolante para a próxima sala. Priorizei verificar os quartos que ficavam entre a porta da frente para a cozinha onde eu encontrei Don naquela noite. No momento em que refiz esse caminho, minhas costas doíam e eu tinha todas às musicas bregas de piano do ciclo de espera do banco memorizadas. O delicioso aroma de alecrim recebeu minhas narinas quando entrei na cozinha, mas ao ver Jeremy parado no fogão, um chapéu de chef empoleirado de lado na cabeça e uma colher de pau na mão, meu coração pulou na garganta. . Deus. Ele fez uma bagunça. Havia pelo menos uma dúzia de cascas de ovos na ilha, misturadas com caules de brócolis e as raízes das cebolas verdes. Isto. Estava. Uma. Fodida. Bagunça. E ele estava sorrindo? Sim, o sorriso derreteu minha raiva, um pouco. Quero dizer, fiquei feliz em ver Jeremy tão feliz, mas não posso correr o risco de irritar o conde. Regras são regras. E enquanto o Conde não dissera explicitamente 'Não permito Jeremy na cozinha.' eu tinha certeza de que pelo menos uma de suas regras cobria Jeremy invadindo a geladeira e fazendo uma bagunça. De alguma forma. — O que é isso? Jeremy perguntou, lendo meu rosto e ficou tenso. Olhei por cima do ombro, nervosamente. — Talvez seja melhor não usar o fogão, hein? Não faz sentido testar o quão amigável o Conde era para crianças. — Se você estiver com fome, farei algo para você. Eu olhei para os restos dos caules das ervas misturados em todas as cascas de ovos. Então os sinos de alarme dispararam. Merda. Merda. Merda. Merda. Jeremy não tinha acabado de invadir a geladeira. Ele usou os ingredientes sofisticados do conde . Ele até abriu o pacote de Brie e o deixou em uma pilha de lixo na ilha. A loja estaria fechada antes que eu pudesse chegar lá para comprar mais. — Jeremy, o que você fez? Eu engasguei. Corri para o queijo, rezando para poder recuperar um pouco, apesar do ovo pingando na embalagem. Merda. Você poderia lavar esse queijo? Jeremy riu. Eu olhei de volta para ele, surpresa ao vê-lo sorrindo de orelha a orelha. — Cheirava tão mal, Kass. O queijo de cabra é muuuuito melhor. — Você... não pode fazer isso, Jeremy, eu assobiei. — Pegue o chapéu e me passe essa colher. — Por quê? Jeremy franziu a testa. Porque eu já irritei bastante o meu chefe esta semana? Faça isso mês? E quando ele descobrir... — Sim, diga o porquê? Demorou um segundo para registrar que a voz profunda vinda de trás de mim pertencia ao próprio conde. Merda. O que eu poderia dizer? Meu cérebro ficou entorpecido. Eu apenas fiquei lá, tentando o meu melhor para inventar uma desculpa quando o conde entrou no meu campo de visão. O que o... Ele estava do outro lado da ilha com um saco de farinha na mão e um avental branco amarrado sobre os quadris magros. Ele desabotoou os dois primeiros botões de sua camisa branca, e a maneira como o tecido se estendia sobre seus ombros largos me fez querer desabotoar o resto. Deus, ele realmente balançou o avental. De alguma forma, isso apenas atraiu meu olhar para suas coxas, tão definidas, esculpidas. Eu podia imaginar aqueles músculos ondulando embaixo de mim tão sensualmente enquanto eu o montava. Eu recuperei o fôlego e com diculpas, arrastei meus olhos de volta para o rosto dele. Ele ficou lá, me olhando com uma sobrancelha arqueada e perversa, uma sobrancelha que me dizia que ele seguiu a essência dos meus pensamentos, pelo menos, se não os detalhes, também. — Você gostaria de se juntar a nós? ele perguntou, olhando para mim sob os olhos semicerrados. Meu interior derreteu. — Eu... uh...— Sim, resposta brilhante lá, Kass. — O conde está me ensinando a preparar um soue. Jeremy disse do fogão. O fogão. Eu me virei para o meu irmão, principalmente para escapar do olhar do conde. Afinal, eu não poderia arriscar exatamente o que eu poderia fazer se eu continuasse parada sob esse feitiço por muito tempo. Então, a visão do rosto feliz de Jeremy limpou todos os outros pensamentos da minha mente. Uau. Eu não via meu irmão tão feliz desde... bem, não me lembro quando. — Um soue? Eu repeti tardiamente. — O queijo Brie estava... bem, cheirava a podre - continuou Jeremy, acenando com a colher de pau na panela borbulhando no fogão. — Então, estamos mudando a receita. — De fato, concordou o conde. Ele passou a mão sobre a base da minha coluna quando passou. Eu estremeci. E eu sei que ele viu, porque eu podia ver sua bochecha se mover em um sorriso, mesmo no ângulo em que eu estava. Eu não me mexi. Como eu poderia? A visão de Jeremy e o conde discutindo a receita puxou meu coração e me fez sentir todo quente por dentro. — Creme tártaro, Jeremy bateu a colher de pau em uma revista — Comida e vinho, apoiada em uma caixa vazia de casca de ovo. — Deve estar na despensa, O conde assentiu e depois estava voltando para mim. Eu abaixei meu olhar. Ele diminuiu a velocidade atrás de mim, tempo suficiente para rastrear meus dedos pela minha espinha antes de parar para respirar no meu ouvido. — Como um instrumento. Deus, eu o queria. Então, ele se afastou. Foi tão bom. Com Jeremy na sala, não haveria como amarrar o conde até a ilha e seguir o meu caminho. Eu respirei fundo. Hora de se comportar, Kass. — Você também pode ajudar.— Jeremy oered. — Eu não posso, disse ao meu irmão. — Eu tenho que trabalhar. Eu tinha grampos para encontrar. Então, olhei para a cozinha bagunçada e acrescentei: — E não se esqueça de limpar sua bagunça. Ele riu. Eu pulei antes que o conde pudesse emergir da despensa mais uma vez para me tocar como qualquer instrumento que ele estivesse imaginando. — Nós ligaremos para você quando terminar, Jeremy gritou atrás de mim. Eu sorri e voltei para o meu trabalho. Várias vezes, passei do lado de fora da porta da cozinha para ouvir Jeremy e o conde conversando sobre várias coisas enquanto eles brincavam, tocando panelas e frigideiras. Os tópicos variaram do Astronomia, à aerodinâmica e à falcoaria. Falcoaria? Eu escutei um pouco sobre isso e ouvi que uma vez, há muito tempo, o conde gostava de andar a cavalo e caçar com sua peregrina favorita, Ecaterina. Quando o prato estava pronto, fui chamada de volta à cozinha por um telefonema. Fiquei feliz pelo intervalo. Meus joelhos doíam de rastejar pelo chão, olhando sob todos os móveis. — Perfeição, dizia o conde quando entrei. Eles limparam a cozinha, acenderam algumas velas e colocaram o soues em um prato no centro da ilha. Pareciam algo saído de uma revista. — Têm um sabor tão bom quanto parece? Eu perguntei a Jeremy. Ele encolheu os ombros e disse: — Prove. Havia apenas dois pratos. — Estou trabalhando. comecei. — Bobagem, o conde interrompeu, me olhando. — Eu não sou dono de um escravo. E eu convidei você para desfrutar de uma refeição com seu irmão. O soue cheirava tentador e eles pareciam tão chiques. — Mas e o senhor? Eu perguntei, intrigada. — Ele diz que vai comer mais tarde. Jeremy entrou na conversa enquanto se aproximava da ilha. — Não sei sobre vocês dois, mas tenho certeza de que vou comer agora. Eu assisti o Conde atravessar a cozinha até a geladeira e tirar uma de suas garrafas de vinho escuro. Estranho. Eu ainda não o vi comer, mas talvez ele tivesse um problema de saúde. Talvez. Eu olhei seu corpo musculoso enquanto ele derramava o vinho tinto em seu cálice. Nah, ele era a imagem da saúde. E ele era forte. Ele balançou meu pai como se fosse uma pena, e ele me carregou sem nem precisar respirar forte. Sem dúvida, ele tinha uma daquelas dietas puras e rigorosas, do tipo que não permitia coisas como ovos, manteiga e queijo. Mas de alguma forma permitido vinho? A luz das velas brincava em seu rosto bonito quando ele apenas se inclinou contra o balcão, tomando um gole ocasional de sua bebida enquanto Jeremy e eu bebíamos e comiamos. A conversa foi louca com Jeremy envolvido, e passamos quase uma hora rindo, incluindo o conde até que finalmente ele se despediu. — Merda, olhei para o meu relógio. Eu tinha muito trabalho a fazer. Deixei Jeremy guardando a comida e voltei ao trabalho para procurar obstinadamente as escutas de Don. Se ao menos eu tivesse uma saída. Se eu não tivesse que ajudar Don e trair o conde. Eu nunca conheci alguém como ele. Abrupto e imponente, mas gentil e surpreendentemente terno. Sexy. Deus, sim, sexy. E misteriosamente escuro... Merda. Eu estava me apaixonando totalmente pelo meu chefe/alvo. Isso não terminaria bem. Os próximos dias passaram voando. Inspecionei cada centímetro da casa e ouvi a música irritante do banco tantas vezes que me peguei cantando as músicas idiotas no chuveiro. Ainda assim, depois de tudo isso não encontrei nada, não tive tempo para encomendar nenhum desses dispositivos. Já era tarde quando voltei para o meu quarto. Jeremy adormeceu no sofá enquanto lia um livro. Eu tinha energia suficiente apenas para jogar um cobertor sobre ele antes de cair na cama, exausta. Meu celular vibrou no momento em que o sono tomava conta de mim. Eu gemia e olhei para a tela. —1 — Eu estava ficando sem tempo. Sentei-me, de repente bem acordada. De jeito nenhum o sono estava vindo para mim agora. Em vez disso, fui visitada pelos fantasmas das más escolhas da vida. O primeiro fantasma repreendeu-me por trair o conde. O segundo me mostrou o que aconteceria se eu falhasse, e Don cravou suas garras de vingança em meu irmão. Não importava o que acontecesse, eu ficaria infeliz, mas não era apenas uma beleza o curso que minha vida estava tomando? Obrigada universo. Obrigada por toda a ajuda. Cansada de revirar saí da cama e caminhei silenciosamente para a cozinha. Depois de pegar uma banheira de massa de biscoito crua na geladeira, sentei-me na ilha e comi meus sentimentos. Parte de mim se perguntou o que aconteceria se eu me aproximasse do conde e lhe contasse tudo. Eu quase fiz, mas no fundo, eu simplesmente não podia me arriscar. Sim, ele passou muito tempo com Jeremy, e eu me deixei cair mais profundamente no feitiço da atração, mas isso não significava que eu pudesse confiar nele. Quanto mais chegava perto dele, mais meus instintos gritavam que ele era um homem de muitos segredos. Muitos. E, na minha experiência, esses tipos de segredos não eram bons. Para encurtar a história, finalmente cheguei à conclusão de que não podia arriscar a vida e o futuro de Jeremy em um desconhecido. E isso significava que eu tinha que seguir o plano de Don. Meu coração doeu, mas eu tive que escolher. Era Jeremy ou o conde. Não foi muita batalha. Jeremy sempre venceria. E com isso, eu tinha apenas um caminho. Eu tinha que ajudar Don. Eu tinha que forçar o Conde a entrar no escritório. Bati meus dedos no recipiente de massa de biscoito como um tambor. Como conseguir que o conde abrisse seu cofre? Tentei elaborar um plano, mas minha mente queria mergulhar em autopiedade por trair o conde ou queria que eu esquecesse tudo. Finalmente, uma tijela de massa de bicoito depois, eu tinha meu plano. Não foi o melhor, mas foi o melhor que pude fazer. — EU PRECISO DE DINHEIRO. O conde arqueou uma sobrancelha elegante e esperou onde estava em sua biblioteca particular, livro na mão. Inferno, ele não estava facilitando as coisas. Ele gostava de ver as pessoas se contorcerem? Por mais sombrio e pensativo que ele fosse, ele não parecia do tipo que domina os outros. Na verdade, ele parecia bem oposto. Engoli. Eu não poderia falhar. Isso tinha que funcionar. Eu não tinha um plano de backup. — É o Jeremy. — Jeremy? — Ele é talentoso. Brilhante, na verdade. Você viu isso. Ele precisa de suprimentos para a feira de ciências. Desta vez não economizarei dinheiro. Ele apenas esperou, maldito seja. E por que ele tinha que parecer tão fumegante, seus músculos delineados de forma tentadora à luz fraca? Eu respirei fundo. Então, ele queria a verdade, não é? Bem, nisso, eu poderia lhe dar a verdade. Muitos disso. — A verdade é que entrei em uma montanha de problemas e dívidas. Pura estupidez da minha parte. Mas estou pagando de volta, e o cara é um idiota. Usei praticamente todo o meu último salário no primeiro pagamento e o restante em Jeremy. Não tenho mais nada e a feira de ciências de Jeremy me atingiu do nada. Não preciso de muito, apenas um pouco. Acho que ele ouviu a autenticidade na minha voz, porque saiu da biblioteca e no corredor, levantou a mão. — Me siga, disse ele. Eu fiz, coração batendo. Ele me levou para o seu escritório destrancou a porta e desapareceu dentro. Eu quase chamei ele de volta. Quase. Tenho vergonha de dizer o quão perto isso cheguei. Eu me senti o pior tipo de idiota. Jeremy deveria sempre vir em primeiro. Como poderia ser um diferente? — Entre, Kassandra, o conde me chamou de dentro. Hora de começar. Entrei no escritório para descobrir que ele acendeu uma vela na borda da mesa. Ele estava diante da grande pintura a óleo do dragão e da bela mulher segurando espadas. Por favor, deixe as câmeras estarem em ângulo certo. Por favor. A pintura deslizou para o lado, revelando o cofre. Eu mal podia olhar. Este foi a minha primeira e única chance. Eu fiquei sem sorte e sem tempo. Então, seus dedos dançaram sobre o teclado enquanto ele inseria o código de segurança e tudo o que eu pude fazer foi rezar. Isso soa ruim? Eu tenho sido uma boa pessoa... bem, ultimamente. E o fato de eu ter orado por sucesso para poder cancelar toda a oração? Tornando tudo nulo e sem efeito? Eu não fui criada como religiosa, então não tinha certeza de como tudo isso funcionava. Eu ouvi o barulho das travas abrindo. Eu não olhei. Eu não pude. A bile subiu na minha garganta e eu a engoli com uma careta. Somente quando ouvi o conde se mover para a mesa dele, finalmente levantei os olhos. Ele ficou lá, contando suas notas de cem dólares. — Aqui.Quinhentos devem ser suficientes? Ele levantou uma sobrancelha interrogativa. Que tipo de feira de ciências em que ele já participou precisou de quinhentos dólares? — Bastante, eu sussurrei com voz rouca. — Obrigada. Deus, eu me senti como o pior tipo de humano. — O prazer foi meu, Cassandra. Agora, me senti ainda pior. Eu saí, segurando o dinheiro firmemente nos meus dedos e sentindo-os queimar na minha própria versão do inferno. No dia seguinte , eu me forcei a esperar até o meio dia para olhar as câmeras, espiei do lado de fora de seu quarto, e como este era meu último dia, eu não poderia perder qualquer tipo de chance. Era sábado e, como Jeremy não estava na escola, ele estava sentado na cozinha, escrevendo os prós e contras de cada idéia do projeto da Feira de Ciências. Ele reduziu suas escolhas para três. — Volto já, murmurei enquanto tirava o laptop da mochila e corria para o quarto de hóspede mais próximo. Meus dedos tremiam quando baixei o arquivo da primeira câmera para a unidade USB. — Por favor, eu sussurrei uma oração. — Por favor, deixe-me ver o código. Cuidadosamente, inseri a unidade USB no computador e comecei a reproduzir o arquivo. Desde que eu estava na sala, eu já sabia o momento exato, então pulei as horas de escuridão, vazio, até que um raio de luz atravessou a tela. Eu fiquei tensa. Deve ter sido quando o conde abriu a porta. Uma chama dançou contra a parede quando a vela foi acesa. Prendi a respiração. Eu me vi parada. Sim. Era isso. E havia o conde, movendo-se em direção ao - Que diabos? Apertei o botão de pausa e olhei para a tela do computador. O que diabos eu estava olhando? Roupas? Apenas... roupas? Pude ver a camisa e a calça do conde... mas sem cabeça ... ou mãos. A câmera estava com defeito? Apertei o botão play. As roupas foram até a pintura e a pintura deslizou para o lado. Eu avancei rapidamente através da filmagem. Sem cabeça. Sem mãos. Apenas as roupas dele, movendo-se pela sala, junto com a pilha flutuante de dinheiro. —Tem que ser a câmera, murmurei baixinho, enquanto pegava a próxima câmera, a de velcro, e baixava o arquivo. Nervosamente, cliquei no botão play. — Nada. Nada. Nada, eu murmurei enquanto acelerava através do arquivo mostrando o vazio. — Lá, a luz. A vela estava acesa e o conde se aproximou do cofre, desta vez de um diângulo diferente. E... desta vez... merda. Foi o mesmo. Eu me vi entrar. Eu tinha cabeça E mãos. Como esperado. Mas... o conde? Onde diabos estavam às partes do corpo dele? Rebobinei e reproduzi o arquivo novamente, provavelmente uma dúzia de vezes ou mais, tentando entender. Não foi até a última vez que reparei nas imagens que vi o teclado seguro e as pequenas luzes piscando em torno de cada número quando os dedos invisíveis do conde pressionaram as teclas. O código. Eu capturei o código. Aturdida, eu voltei para jeremy na cozinha. Eu acho que ele me perguntou alguma coisa, mas eu realmente não me lembro. Eu apenas fiquei lá, encostada na ilha da cozinha enquanto massageava a parte de trás do meu pescoço. — Boa tarde, uma voz falou atrás de mim. Gritei e girei, apenas para ver Leonard entrando na cozinha, com a mala na mão. — Perdoe-me, Srta. Kassandra, disse ele com um sorriso caloroso no rosto magro. — Eu não quis te assustar. Engoli. — Você voltou. — Sim, voltei, reconheceu Leonard. Ele desapareceu pela porta e voltou com um grande baú antigo, amarrado com ferro e bem preso com um cadeado. Depois de pousar ao lado da mala, ele se endireitou e espanou as mãos. — Você gostou das suas férias? Eu perguntei. Ele parecia ainda mais magro do que quando saiu e ele era muito magro para começar. As pessoas não costumam ganhar peso nas férias? Os olhos de Leonard voaram para o peito e depois de volta para mim. — Um sucesso. Obrigado. Sucesso. Eu perdi o interesse pelo conteúdo do baú . Realmente, eu não gostaria de saber. E se fosse algo estranho? Como um par de roupas que anda só? — E estou feliz por estar de volta. continuou Leonard, e depois se virou para Jeremy. — E presumo que este seja seu irmão? Eu assenti. Era estranho, não era, o quanto essas pessoas pareciam saber. Primeiro Don, e agora Leonard... mas, para ser justa, quem mais poderia ser o garoto na cozinha além do meu irmão? E eu provavelmente disse a Leonard sobre ele... não foi? Ou provavelmente o conde havia se comunicado com Leonard em sua ausência. Isso fazia mais sentido. — Eu sou Jeremy, Jeremy se apresentou, aparentemente ficando impaciente por eu fazer as honras. — Prazer em conhecê-lo. Leonard fez uma mesura. — Pode me chamar de Leonard, por favor. Enquanto eles trocavam gentilezas, minha mente voltou para as estranhas imagens de vídeo. Não. Roupas. Tinha que haver uma explicação. Peguei meu telefone, procurei na internet falhas na câmera e comecei a digitalizar os vários artigos. — Kassandra? Eu pisquei e olhei para cima. Jeremy havia desaparecido da cozinha. Leonard não tinha. Ele ficou de lado, seus olhos se fixaram em mim com uma curiosidade aberta. — Kassandra? ele repetiu. Percebi então que devia parecer um pouco estranha, segurando meu telefone e ignorando todos enquanto folheava freneticamente os resultados da pesquisa. — Aconteceu alguma coisa? Leonard pressionou. Como um vídeo de apenas as roupas do conde andando em seu escritórioce? Sem o conde dentro delas? Claro, eu nunca poderia mostrar isso a ele. — Não. Eu balancei minha cabeça. Eu tive que jogar coisas legais, seguras. E de qualquer maneira, talvez Leonard também não aparecesse nas câmeras. Ele parecia estranho, tão alto e magro. — Está tudo bem aqui, mas feliz por tê-lo de volta. Ele assentiu e não disse nada. Sentindo a necessidade de preencher o silêncio, eu disse: — O conde está deixando Jeremy ficar aqui um pouco, e ele mudou as regras. Ele me permitiu meu telefone. Eu segurei meu telefone como se isso provasse que eu não estava violando as regras. Revirei os olhos para mim e continuei balbuciando: — Foi interessante enquanto você estava fora. Aprendi algumas coisas. Você sabe, sobre soues e falcoaria. — Falcoaria? A cabeça de Leonard inclinou-se para o lado com interesse. — Você não é um falconista? Como eles se chamavam? — Falcoeiro? Ele educadamente forneceu a palavra. — Bom Deus, não. Esse esporte saiu de moda há uns bons duzentos anos atrás, talvez mais. Bem, o conde não recebeu o aviso. O carinho em sua voz não podia ser desperdiçado quando ele falou de Ecaterina. — Falcoaria. Leonard murmurou enquanto voltava ao presente. Respirei fundo e voltei para o meu próprio negócio. Por que eu estava surtando? Tinha que haver uma explicação racional para as falhas de vídeo, certo? Como a câmera brilhando na cor da pele. Eu me senti bem por cerca de dois segundos antes de lembrar que não tinha me apagado. Mas então, talvez apenas essa seção da câmera não estivesse funcionando... nas duas câmeras. Bem... isso poderia acontecer. Não podia? Ou talvez fosse algum tipo de proteção a laser sobre o cofre que interferisse nas gravações de vídeo. Isso era uma resposta, não é? —Tem certeza de que nada aconteceu, senhorita Kassandra? Leonard estava parado, apenas me observando, as sobrancelhas franzidas em uma linha perplexa. — Estou bem. Realmente. insisti, estampando um grande sorriso falso no meu rosto. Meu telefone escolheu esse momento para fazer ping, anunciando a chegada de uma mensagem. Eu não precisava olhar. Eu já sabia quem era. Mas eu olhei de qualquer maneira. —TINTA MINUTOS. Eu prendo a respiração. Tecnicamente , eu tinha mais de trinta minutos restantes. Eu tinha cerca de quatro horas, mas isso realmente não importava. Eu tinha o código. Eu daria a maldita coisa para Don, pegaria Jeremy e iriamos embora. O telefone tocou novamente. — OUTROS... Certo. Outro PING . — ME encontre AQUI. Um local apareceu na tela. Agora, não havia saída. Eu parei atrás do supermercado e estacionei meu carro ao lado de um grupo de lixeiras verdes transbordando. Moscas zumbiam em torno das frutas e vegetais podres que caíam na calçada. Um perigo para a saúde. E apenas Don escolheria um local tão nojento... mas então, combina com ele. Agarrei a chave do cofre na minha mão com tanta força que as ranhuras de metal deixaram marcas vermelhas na minha pele. O pequeno pedaço de papel com o código do cofre queimou um buraco no bolso da minha calça jeans. Peguei e olhei para os números novamente, embora os tivesse memorizado duas vezes. Eu verifiquei a localização no meu telefone. Eu estava no lugar certo, mas onde estava... O carro preto de Don com vidros fumês rugiu ao virar da esquina do prédio, desviando um pouco quando ele foi direto na minha direção. Ele esperou até eu perder a coragem e mergulhar no banco do passageiro antes de parar de repente, a menos de um metro de distância. — Merda de galinha, ele bufou enquanto pulava da caminhonete. — Você não passa de uma merda de galinha. É um milagre que você ainda está viva.— Dez minutos, Kass. Em dez minutos, tudo estará acabado. Você tem aqueles quinhentos dólares escondidos no porta-malas. É o suficiente para abastecer e levar você e Jeremy ao Canadá. Tudo o que você precisa fazer é buscá-lo na escola e apenas dirigir. Esqueça as IDs, esqueça o... A porta do passageiro se abriu e Don enfiou a mão dentro. — O código? A chave? Engoli em seco e me forcei a não pensar enquanto batia com os dois na palma da mão suada. Ele me estudou como se eles pudessem me enxergar por dentro. — É melhor que sejam reais , disse ele. — Eu sei como chegar até você e o garoto, se não estiverem corretos. Eu assenti. — Estão. Não pense. Não pense como você está traíndo o conde. Droga. Não pense. — Deslize por lá. Don latiu. Merda. Eu não o queria no meu carro, mas não tinha como detê-lo. Ele já tinha a porta aberta. Voltei para o banco do motorista . — Você conseguiu o que queria, eu disse. — Negócio feito. Don riu quando enfiou as pernas longas no meu carro e fechou a porta. — Chave, ele disse, segurando a chave em uma mão e depois o papel na outra. — Código. — Sim. — Bom, agora use-os. — O que? — Você não achou que eu iria invadir quando você já estiver lá? Ele olhou para mim com uma expressão incrédula. — Abra esse maldito cofre e me traga o conteúdo. Ele bateu a chave e o código no painel com tanta força que eu me encolhi. Sim, eu recebi a mensagem. Ele estava me avisando que eu seria o painel se eu recusasse. — Esse não foi o combinado, eu resmunguei, minha garganta seca como um deserto. O desespero se agitou dentro de mim. Eu deveria saber. Eu deveria saber. Isso não ia acabar. Ele nunca iria cumprir sua parte na barganha. Ele iria me chantageando para sempre. Por que, por que eu já confiei nele? Por que diabos os criminosos confiam em outros criminosos? — Eu estou no comando aqui, Kass. ele reclamou. — E o que eu digo você vai cumprir. Essa é a maneira que vai ser. — Há algo novo. interrompi quando um plano meio se formou, bem, meio que na melhor das hipóteses - começou a se formar. Ele queria jogar desonesto? Eu aperfeiçoei essas habilidades quando estava nas ruas, implorando por dinheiro para comprar minhas drogas. Quem sabia que eu me beneficiaria disso agora? — O que? Don olhou para mim, incrédulo, por eu o ter interrompido. — O mordomo. eu falei rapidamente, sabendo que tinha cerca de dez segundos antes que aquele punho viesse esmagando meu caminho. — Ele trouxe um baú. Enorme. É importante. Ele ficou parado. Eu exalei um suspiro silencioso de alívio. Ele estava ligado. Eu pude notar pela dilatação dos olhos dele quando a ganância lentamente substituiu a raiva. Agora, eu só tinha que puxar as cordas com inteligência. Muito devagar eu o perderia. Muito rápido e ele poderia suspeitar. Eu tinha que jogar isso da maneira certa. — O que há nele? ele perguntou. — Lembra daquele pequeno baú de jóias? Eu esperei até ele assentir. — Bem, esse baú é maior. Vinte vezes maior. Tecnicamente, eu não disse que esse baú estava cheio de jóias, mas isso realmente não importava. Eu não me importei de mentir para Don. Eu diria qualquer coisa para tirá-lo do meu carro para que eu pudesse pegar Jeremy e correr. Don abriu a porta do carro e saiu enquanto acendia um cigarro. Ele não falou, apenas andou de um lado para o outro, chupando o bastão de câncer, me fazendo vê-lo dar uma tragada após outra. Ele sabia que era uma forma de tortura para mim, que eu odiava as coisas. Funcionou. Quando ele finalmente jogou o cigarro na calçada, meus nervos estavam esgotados. — Eu vou querer esse baú também. E se você não entregar tudo... Ele pisou no cigarro e lentamente o moeu com o calcanhar. — Esta será a cabeça de Jeremy. Engoli. Tanto faz, Kass. Não o deixe chegar até você. Você só precisa sair daqui, pegar Jeremy e fugir. — Vou precisar de tempo, eu disse. Eu precisava da nossa trilha o mais frio possível antes que ele pensasse que eu estava fugindo. — Eu não sou irracional. Ele sorriu. — Uma semana? Uma semana? Nos meus sonhos eu não poderia imaginá-lo tão generoso. Eu desviei meu rosto para não me entregar. — Não é muito tempo. Este baú é maior que o cofre Don. Ele bateu no capô do meu carro com o punho. — Uma semana. Não seja gananciosa. —Tudo bem, eu bati, pegando minhas chaves. Mas Don não se retirou para o carro. Em vez disso, num instante, ele estava de volta ao banco do passageiro. — Que diabos? Eu olhei. — Dirija. — Dirigir? Merda. Don apontou para a esquerda. — Eu não tenho o dia todo. Dirija. Que escolha eu tinha? Eu dirigi para a saída do estacionamento. — Para onde você vai... — Minha casa, disse ele. Meu coração afundou. Muitas coisas ruins aconteceram comigo na casa de Don . — O que há de errado com seu carro? Falar sobre não ter sorte. Don agarrou a parte de trás do meu pescoço e apertou. — Minha casa. Não há como seus dedos não deixarem uma marca. Lágrimas queimaram, mas não por causa da dor. O pensamento de eu ter que carregar suas contusões novamente trouxe a tona muito do passado, a depressão, a raiva... o medo. — Dirija. Eu fiz. Mesmo não querendo lembrar o caminho que eu tomei. Só sei que, dez minutos depois, me vi estacionado na entrada do Don, uma casa de dois andares, um pouco afastada da rua. Antes que eu pudesse reagir, ele pegou as chaves da ignição. — Fora, ele latiu quando saiu do carro. Merda. Eu deveria ter previsto isso. Acorde, Kass. Você não é quem você era. Você é forte agora. Eu apertei minha mandíbula. E se havia uma coisa que eu sabia sobre Don era que ele alimentava o medo das pessoas, como um tubarão cheirando o sangue na água. Fortalei meus nervos, chutei minha porta e segui atrás dele. — Devolva minhas chaves, exigi, navegando pelo quintal cheio de várias motocicletas em estágios de reparo e decadência e quase tropeçando em um banheiro com ervas daninhas que cresciam. Como os banheiros acabam no quintal das pessoas? Eu nunca entendi isso. — Oh, você as receberá, prometeu. Ele abriu a porta de tela e deu três passos para dentro antes de virar para balançar as chaves sobre a cabeça. — Venha, entre. Todos os meus instintos gritavam que entrar naquela casa era um erro. Fiquei na varanda e coloquei as mãos nos quadris. — Estou cansada de jogar. Me dê as malditas chaves para que eu possa terminar o trabalho. Ele inclinou a cabeça para um lado. — Você não quer ver Jeremy então? Meu coração caiu em meus pés. Eu estava dentro de casa antes dele terminasse a última palavra. Deus. Ele levou Jeremy. A porta se fechou atrás de mim e, enquanto eu girava, Don agarrou meu pulso, esmagando meus ossos em um aperto vicioso. — Eu pensei que você poderia fazer essa merda, sua puta, então eu peguei uma apólice de seguro. — O que você fez com Jeremy? Eu chorei. — Nada... ainda. Ele me arrastou pela sala e pelo corredor estreito e escuro. Seu tapete cheirava a mijo. — Mas eu não confio em você. O jogo que estamos jogando será com minhas regras e nenhuma das suas besteiras. Ele abriu a porta do quarto à direita e me empurrou para dentro. Eu lutei de volta, como se minha vida dependesse disso, mas Don era maior e, em uma batalha de puro músculo, ele sempre ganhava. Nosso confronto terminou rapidamente, com um soco na minha mandíbula e um chute que me jogou em uma pilha de roupa suja no meio da sala. A dor dividiu minha cabeça e o mundo ao meu redor girou. Levei quase um minuto para me empurrar para os cotovelos, ofegando. — Jeremy? Eu suspirei. — Oh, Jeremy? Don riu, cruzando os braços. — Ele não está aqui. Eu menti. Merda. Merda. Tanta coisa para sua apólice de seguro, imbecil. Era difícil falar. Meu queixo latejava. Don riu, uma verdadeira e profunda risada na barriga. — Essa não é a apólice de seguro. Acredite, você está pronta para um verdadeiro deleite. Recuperei meus pés e cambaleei em direção à porta, mas ele apenas balançou a cabeça, me olhando e sorrindo. Então, quando eu estava a alguns metros de distância, ele deu um passo para trás, bateu a porta e girou a chave na fechadura. — Não! Eu gritei, sacudindo a maçaneta, mas ela não se mexeu. — Você volta aqui, seu miserável pedaço de merda! Eu gritei, batendo a porta com o punho até sentir os hematomas se formando. Don nunca respondeu. Corri para a janela do quarto e puxei as cortinas manchadas para o lado, esperando ver uma janela que eu pudesse abrir ou quebrar. Em vez disso, fui recebida por um conjunto robusto de grossas barras de ferro. — Não há saída, uma voz baixa e desanimada sussurrou atrás de mim. Eu congelei. Eu não estava sozinha. — Quem está aí? Eu ofeguei, girando em círculo enquanto procurava na sala. Caixas, roupas e lixo bagunçavam quase todos os centímetros quadrados do lugar. Qualquer coisa ou qualquer um - poderia estar escondido aqui. — Jeremy? Eu me senti tola assim que disse o nome dele. A voz não soava como a dele, e Jeremy correria direto para mim ou chamaria meu nome. Quando ninguém respondeu, levantei minha voz um pouco mais alto: — Quem é? Mais uma vez, nada além de silêncio. Ótimo. Agora eu estava ouvindo coisas. Fiquei perto da janela, me sentindo mais segura com uma parede atrás das costas enquanto visualmente vasculhava o quarto. De repente, a porta voou de volta pelas dobradiças e Don entrou, uma pequena bolsa preta em uma mão e uma garrafa de Jack Daniels na outra. Eu assisti enquanto ele chutava uma caixa de papelão uma cadeira de plástico branca e sentou-se. — Quer isso?— ele perguntou, equilibrando a garrafa de Jack Daniels no joelho. — Não estou interessada. Eu não estava. O pensamento de voltar aquele viciado me deixou doente. Eu só queria sair – e... Don trancado em uma prisão em algum lugar distante ou talvez jogado no meio do deserto do Saara. Ele balançou a pequena bolsa preta e acrescentou: — Navalhas. Para voce. Ele jogou a bolsa e ela pousou aos meus pés. Eu me sinto doente. — O que está rolando? Você não pode me seqüestrar. Eles vai sentir minha falta e... — Relaxa, ele me interrompeu. — Eu não vou mantê-la aqui por muito tempo. Digamos que estou detendo você até que algumas coisas aconteçam. Parte da apólice de seguro. — Se você prejudicar Jeremy de qualquer forma, você ... — E por que eu machucaria Jeremy agora? ele perguntou, me interrompendo novamente. — Ele é minha garantia, vadia. Você irá para o inferno e voltará por ele. Fechei a boca com força. Don revirou os olhos, se levantou da cadeira e seguiu em frente. Ele foi rápido, mas acho que não tinha mais nenhuma briga em mim. Eu estava muito preocupada. Eu empurrei para trás, mas ele agarrou meu cabelo e forçou a garrafa de uísque na minha boca. Deus, eu não queria, mas meu corpo queria. Um arrepio percorreu meu corpo quando o licor correu pela minha garganta. Tentei empurrar a garrafa de volta, virar a cabeça. Eu tentei lutar, mas estava engasgando com o veneno vil. — Engula. ordenou Don. — Sim, essa é minha garota. Eu engasguei. Eu nunca seria dele. Então, quando o calor do uísque percorreu meu sangue, eu não estava mais pensando em Don. Eu não bebia há tanto tempo. Parte de mim sentiu-se doente. A outra parte queria pegar a garrafa dele e terminá-la. — Não, eu ofeguei, finalmente conseguindo me afastar. — Jeremy. O que você fez com ele? — Nada, ele riu. Don rir nunca foi um bom sinal. Então, algo picou meu braço e eu olhei para baixo para ver Don segurando uma seringa. — Que diabos? Eu suspirei. Eu nunca usei agulhas. Nunca. — A Boa e velha Oxicodona, ele respondeu quando me soltou. Você vai se sentir realmente bem em cerca de vinte minutos, então é melhor você voltar. Eu seguirei. Apenas para garantir que você chegue lá inteira. Você não pode perder toda a emoção agora, pode? E de qualquer maneira, você tem um trabalho a fazer. Eu olhei para ele. — Excitação? Eu repeti com voz rouca. — Vou pegar suas chaves e você está livre para ir. Ele parou na porta e olhou para trás. — E não pense em desviar para outro lugar. Você quer Jeremy? Ele está na mansão. Por enquanto, de qualquer maneira. Suas palavras rasgaram através de mim. — O que você fez? — É melhor trotar de volta ao conde e descobrir, hein? Ele desafiou. Então, ele estava lá fora e ouvi o clique da fechadura. Eu me arrastei para frente. Eu tinha que pegar o meu telefone. Eu devo ter deixado no carro. Eu tinha que ligar para Jeremy, avisá-lo para ficar escondido até que eu pudesse voltar. — Deixe-me ir. uma voz sibilou da montanha de roupas à minha esquerda. Eu parei. Deus, o que havia comigo e roupas? Eu ia vê-los todos começando a subir do chão para dançar pela sala agora? Eu balancei minha cabeça para limpá-la, os efeitos das bebida e drogas já estão deixando minha mente enlameada. — Aqui. Estou aqui. Acompanhada pelo tilintar de correntes, uma pequena criatura enrugada, com cerca de um metro de altura, emergiu do monte de material. Ele parecia velho, grisalho, com um pescoço magro e um tufo de cabelos brancos que me lembrava aqueles bonecos de troll de olhos grandes. Seus olhos eram enormes também, grandes demais para seu rosto. — Me deixar ir, A criatura levantou as mãos e, a princípio, a única coisa que pude ver foi o quão desproporcionalmente grandes, suas mãos eram comparadas ao resto do corpo. Então, ele sacudiu os pulsos e vi as algemas, grandes e de ferro, que mordiam sua carne. — O que você é? Eu sussurrei, incapaz de acreditar nos meus olhos e bastante convencida de que Don usou na seringa algo alucinógeno. — Um Bog Troll, ele respondeu. — E eu lhe concederei um desejo, qualquer coisa que você queira, se você me ajudar. — Um troll? Trolls não concedem desejos. — Cara, vinte minutos? Eu já estava tropeçando. — E quantos trolls você conheceu? A criatura enrugada me desafiou. Eu bufei, apontei para ele e depois soprei fumaça imaginária do meu dedo como se fosse uma arma. — Você me pegou. Eu ri. Eu me senti estranhamente relaxada. — Por favor, o troll do pântano sussurrou. — Claro, eu vou deixar você ir. Eu falei no meio do caminho, esperando que ele desaparecesse, mas ele não o fez. Ele com certeza era sólido, assim como suas algemas. — Sim, elas não estão se mexendo, eu disse, dando-lhes um puxão. — Você precisa de uma chave. O troll de pântano murchou. — Está tudo bem, eu dei um tapinha na cabeça dele. — Você desaparecerá em breve e estará livre. Sorri para minha própria inteligência e depois fiz uma careta. Deus, eu estava perdendo o controle. Jeremy. Eu tinha que me concentrar, mas era... Então. Difícil. A maçaneta da porta balançou, sinalizando o retorno de Don. — Diga ao conde que estou aqui, o troll sibilou e depois correu de volta para a pilha de roupas. — Claro que sim. eu concordei. Eu estava me sentindo muito bem. Relaxada. Eu ainda poderia superar Don. Eu só tinha que ir para casa, pegar Jeremy e andar de skate para o Canadá. Mole-mole. Don apareceu do nada. — Aqui estão suas chaves. Eu estremeci. — Não há necessidade de gritar, eu resmunguei quando as agarrei. Então, eu estava no banco do motorista , me perguntando como eu tinha me transportado para lá de repente. — Isso importa? Eu me perguntei e depois ri. Eu tinha que chegar em casa. Por algum motivo. Oh sim. Jeremy. — Certo, eu disse, carrancuda em determinação, mas então, eu avistei meu reflexo no espelho retrovisor. Minhas pupilas pareciam estranhas. Tão grande. É como aquele troll. — Melhor começar a dirigir, a voz de Don ecoou pela janela. — Merda, Kass. Não desmaie. Eu saudei, com um dedo do meio e depois saí da garagem. Não lembro muito do caminho de volta para a mansão. Estava escuro e os faróis que se aproximavam balançavam como bolas de praia. Várias vezes, desviei da estrada. Cada vez, Don apareceu na minha janela, gritando para eu me concentrar e voltar. Ele continuou gritando números para mim. Pisei no acelerador, apenas para me afastar dele. Então, eu estava entrando na garagem do Conde, ou quase, de qualquer maneira. Vi o carro que se aproximava no último segundo e virei para a direita, direto para a vala. Minha cabeça bateu com força no volante quando o carro parou abruptamente. A dor limpou a névoa da minha mente e me deu um momento de clareza. Jeremy. Eu tinha que encontrá-lo. O gosto acobreado do sangue encheu minha boca quando eu abri a porta e caí do meu carro. — Merda, vadia. Don estava gritando comigo. — Você não pode fazer nada certo? Meu nariz latejava em conjunto com o soco que Don tinha dado no meu queixo. Eu era uma bagunça. — Jeremy, eu choraminguei. — Bem, você perdeu a diversão. Don cuspiu. Ele passou o polegar por cima do ombro. — Era ele. No carro do seu pai. Agora, eles estão na metade do caminho de volta para casa. — Não! Eu suspirei. O terror na minha voz fez Don sorrir. — Oh, vai ficar muito pior para você, boneca. Fechei a boca com força. Ele era puro mal. E o mal tinha muitos truques. — Então, eu tenho sua atenção agora? ele perguntou. Ele tinha, mas não demorou muito. Eu senti uma escuridão surgindo dentro de mim. Estava com frio, como eu imaginei que a morte seria. Ele cruzou os braços e olhou para mim, obviamente ficando fora de controle. — Estou guardando Jeremy por último, para quando eu realmente precisar punir você. Enquanto isso, você fará o que eu digo. Você vê, eu levei seu precioso irmão embora. Legalmente. Ele acenou com o telefone na minha cara. — Estou autuando sua bunda por dirigir sob a influência de drogas. Temos os vídeos para provar isso. Quando eles chegarem, eles vão te prender no local. Seu pai ficará muito feliz em apresentar uma ordem de restrição contra você, e ele não terá nenhum problema em obter uma, não com o álcool no sangue que você irá registrar. Sem mencionar as drogas e o seqüestro. — Não. eu engasguei. — Eles nunca lhe darão custódia depois disso. Você o perdeu agora. E se você não conseguir me trazer o baú e o conteúdo desse cofre, você o perderá de verdade. Permanentemente. Ele continuou falando, mas a escuridão surgiu para me engolir e eu não pude lutar contra os dois. Tudo o que eu conseguia pensar era em Jeremy e no fato de ele ter sumido. Corri pela calçada, gritando o nome dele. Não sei como, mas de repente, eu estava na mansão. Eu não conseguia ficar ereta. O chão rolou em um movimento constante sob o meu pés. — Kassandra? O rosto comprido e estreito de Leonard flutuou diante de mim e, enquanto eu observava, seu nariz ficou mais e mais longo, até que tivesse pelo menos um metro e oitenta. Eu fiz uma careta. Algo estava errado. Muito errado. Mas eu não conseguia lembrar o que ou como. Na verdade, eu não conseguia lembrar de nada. Então, de repente, o conde parou diante de mim, parecendo um deus grego esculpido em uma camisa meio desabotoada. — Por que apenas meio desnudo? Eu ri, caminhando em direção a ele. — Apenas tire tudo. Não há nada tão bonito como você. Eu disse, cutucando meu dedo em seu peito musculoso para enfatizar. Os olhos escuros do conde se prenderam aos meus, e quanto mais eu os olhava, mais eu começava a sentir a dor, o gosto do sangue. — O que aconteceu? ele perguntou, sua voz profunda soando tão estranhamente distante. O que aconteceu? Uma confusão de pensamentos se amontoou no meu cérebro com isso. Imagens de Don. Um troll? Meu carro em uma vala. Não me dê um soco na mandíbula. Todo esse álcool... Então, a escuridão correndo por baixo de tudo me levou mais uma vez a escuridão, e de repente eu estava cansada. Só então. Droga. Cansada. Eu estava lutando contra algo, mas estava exausta demais para descobrir mais. Era hora de fechar meus olhos. — Kass, a voz do conde vibrou debaixo dos meus seios. Hummm. Eu devo ter caído? Eu não me importei. Não mais. — Não vá dormir. Desta vez, foi Leonard pedindo. Eu gostava dele, mas ele não era convincente o suficiente para me manter acordada. E de qualquer maneira, eu não conseguia abrir meus olhos. Eles estavam muito pesados. Assim como era muito pesado para meus pulmões respirarem. Comecei a flutuar, então. Ou era o conde correndo comigo? Eu decidi ir com isso. Foi muito mais emocionante. A próxima coisa que soube foi que estava deitada em uma cama. Velas me cercavam em uma bela sinfonia de luz bruxuleante. Os lençóis de seda eram tão suaves contra a minha pele. Um corpo estava atrás de mim, duro e forte. Lábios quentes chuparam meu pescoço, lábios que puxavam minha carne a tempo de meu coração bater. Lábios que, a cada segundo que passava, me puxavam de volta da escuridão para o reino à luz de velas que me cercava. Um tipo diferente de obscuridade tomou conta de mim, sensual, e eu gemi, arqueando contra o peito esculpido e as coxas poderosas que me embalavam. Os lábios subiram pela coluna da minha garganta e depois para beliscar o lóbulo da minha orelha. — Como um instrumento, o conde sussurrou. Eu não pensei. Eu apenas reagi. Recostei-me, pressionando-me contra ele, querendo sentir cada centímetro do seu corpo conectando com o meu. Segurança. Luxúria. Compreensão. Eu senti tudo em sua pele enquanto fundia contra a minha. Eu não sabia como tinha chegado lá, mas não me importei. Eu estava lá, onde eu pertencia, e isso era tudo o que importava. Ele enterrou o nariz na minha pele e respirou profundamente o meu perfume. — Ainda há mais, ele sussurrou. Quando a palma da mão delineou a curva do meu quadril, sua boca voltou ao meu pescoço. Senti seus dentes roçando minha carne, e um beliscão, como duas agulhas, quebrando a pele, e quando ele começou a chupar, ofeguei de prazer. Nunca senti tanto calor correndo por mim, pulsando com a necessidade crescendo em meu âmago. Eu precisava dele. Todo ele. No entanto, mesmo quando comecei a me contorcer, me pressionando contra sua carne endurecida, imagens passavam pela minha cabeça. Uma criatura onírica com cabelos trolls. Meu carro em uma vala. Don. Inferno, por que eu iria querer pensar em Don agora? Eu fiz uma careta e o empurrei de volta para os recantos da minha mente. Mas ele não ficaria lá. A estranha imprecisão em meus pensamentos começou a clarear. Abri meus olhos novamente. Desta vez, reconheci o meu entorno. Eu estava no quarto do conde . Nua. Na cama dele. Deus, ele também se estava nu. Como eu acabei aqui? Quão injusto é ter esquecido uma coisa dessas? Mas sério, isso não importava com a maneira como sua boca quente puxava a carne macia ao lado do meu pescoço? Estremeci de prazer com cada varredura de sua língua. Eu me mexi embaixo dele, virando um pouco, o suficiente para ver seus cabelos escuros contra a minha pele e a maneira como a luz das velas tocava sobre seus músculos ondulantes. Que erótico. Eu tinha que tocá-lo. Sentí-lo. Deslizei minha mão para baixo, mas no momento em que toquei sua carne, ele levantou a cabeça, surpreso. Eu congelei, encarando sua boca. Seus dentes eram afiados em uma ponta de navalha e manchados com algo vermelho. Peguei no meu pescoço, sentindo o rastro pegajoso de sangue, e de repente todas as peças finalmente se juntaram, completando o quebra-cabeça que tinha sido o conde. Ele não come. Ele bebe apenas aquele vinho tinto estranho. Ele dorme durante o dia e evita a luz do dia em sua casa. Ele não tem batimentos cardíacos e não aparece no filme. E ele tem presas e bebe sangue. Resisti à palavra que me veio à mente, sabendo o quão insana parecia, até para mim. Mas não podia negar o que estava vendo com meus próprios olhos, sentindo com meu próprio corpo. Eu poderia culpar o licor e as drogas... isso faria mais sentido. Mas eu podia sentir as toxinas saindo do meu corpo. Minha cabeça estava limpando. Não era assim que as alucinações funcionavam para mim. Isso me deixou com uma conclusão. O conde era... um vampiro? E eu fui à refeição dele.