PDF - Live

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 7

Na aula de hoje, você aprendeu como contar história no sermão a ponto de

não apenas tocar os corações, mas gerar transformação. Aprendeu a colocar


uma narrativa na medida certa na pregação, prender atenção dos ouvintes e
tocar profundamente os seus corações.

Eu sei que todos nós queremos alcançar não apenas a mente dos ouvintes,
como também seus corações. Acontece que nem todos conseguem fazer
narrativas eficientes. Ou enchem o sermão com muita história ou dão muitos
detalhes que acabam desviando a atenção dos ouvintes. Mas, depois de hoje,
você já tem condições de colocar em prática tudo que aprendeu na aula.

A Bíblia em sua totalidade é quase 50% narrativa. No Antigo Testamento, 40% é


de material narrativo e no novo quase 60% podemos dizer que a Bíblia é uma
grande história (FEE, 2011, p. 109). Há muitas narrativas nela. Mas, a história
central é sobre Deus e sobre seu relacionamento com o homem. Como
pregadores, temos que explorar os recursos literários que ela tem.

Jonathan Culler (1999), diz que toda história tem 4 grandes atos:

Apresentação: situar as pessoas sobre os personagens, local e tempo.

Conflito: tensão gerada entre duas forças, momento em que se parte em busca
da resolução do problema.

Clímax: momento de maior tensão, é quando o conflito é resolvido.

Desfecho: quando acontece a estabilidade inicial acontece.


O GRANDE ENREDO BÍBLICO

AULA 11
Na Bíblia, há várias histórias. Mas tem uma narrativa maior. Um grande enredo que
conta a história de Deus e da humanidade. Ele é composto por quatro grandes atos:
a criação, a queda, a redenção e a consumação. Esses quatro capítulos são chama-
dos de METANARRATIVA (FEE, 2011). Conforme a imagem abaixo, é possível ver a
distribuição desses grandes momentos da história bíblica na estrutura do enredo.

No primeiro ato, temos a criação, que começa com Deus como criador de todas
as coisas. Apesar da criação ser retomada ao longo da Bíblia, é nos dois primeiros
capítulos de Gênesis que se tem uma concentração maior dos detalhes da criação. E
nela aparece então a imagem de Deus como soberano.
Já o segundo grande ato da história bíblica, no caso - o conflito - começa no
capítulo 3 de Gênesis, mas se estende de forma trágica e sombria na Bíblia. Nesse
conflito, aparece a cobiça humana em ser semelhante a Deus. A decisão por inde-
pendência levou a queda e empurra então a humanidade numa jornada com conse-
quências e experiências terríveis. Mas também, aparecem as tentativas divinas em
reatar a comunhão com o homem, por meio do relacionamento com os patriarcas,
reis e profetas. Nesse vai e volta, é possível ver a imagem de um Deus que apesar de
santo e justo é também misericordioso.
E é por meio de Cristo Jesus que o ápice da narrativa bíblica chega. O momento
de maior tensão e decisão tem como cenário a cruz do calvário, em que nela Jesus
se entrega como o último sacrifício e por consequência o véu é rasgado e a comu-
nhão passa a ser uma realidade para todo aquele que crer. Mas podemos dizer que
as cenas que antecedem esse clímax acontecem no Getsêmani, em que Jesus ora,
sofre e decide ir adiante.
O quarto grande capítulo o da consumação ainda não terminou, está em anda-
mento. Seu episódio final está em Apocalipse. Em que há registro da segunda de
vinda de Cristo e a da batalha final. Nela, o bem vencerá o mal e haverá a restauração
da criação e ganharemos um novo céu e uma nova terra.
Essa teoria narrativa dá uma visão sistematizada dos acontecimentos. Pode-
se dizer que a genialidade da história bíblica está no fato de que ela conta a
história do próprio Deus (de amor, perdão e graça), o que acaba tornando a
história do homem também.

94 JORNADA DA PREGAÇÃO - PERCURSO INICIAL - AULA 11


APLICANDO A TEORIA

AULA 11
Qualquer história pode ser analisada por meio desse gráfico. Toda narrativa bíblica
se encaixa nele, seja grande ou pequena. A parábola do Filho Pródigo (LUCAS, 15:
11-32) foi escolhida por ser bem conhecida e pequena. Nela, há o seguinte enredo,
conforme imagem abaixo:

1- APRESENTAÇÃO/SITUAÇÃO INICIAL:
v.11 “Um certo homem tinha dois filhos”.

Aqui, está sendo apresentada a família que compõe nossa história. Um pai e dois
filhos. Ele não cita nomes, apenas diz a hierarquia que eles têm na família. Esse é um
recurso de neutralidade, tornando assim a parábola mais universal. Qualquer pessoa
em qualquer lugar do mundo pode se identificar.

2- CONFLITO /INÍCIO DA TENSÃO


v. 12 “o mais moço deles disse ao pai: Pai, dá-me parte da fazenda que
me pertence”.

Esse trecho provoca toda a organização das cenas e do que será apresentado.
Muita coisa acontece depois desse pedido, por exemplo: o pai reparte a fazenda; o
filho parte para uma terra distante e ali desperdiça tudo; passa a viver uma vida dis-
soluta; gasta tudo o que tem e passa por grandes necessidades (se já estava ruim,
fica pior, o nível de tensão vai subindo).

3- CLÍMAX
v. 16, 17, 18, 19 “E desejava encher o seu estômago com as bolotas que os
porcos comiam, e ninguém lhe dava nada. E caindo em si, disse: Quan-
tos trabalhadores de meu pai tem abundância de pão, e eu aqui pereço
de fome! Levantar-me-ei e irei ter com meu pai e dir-lhe-ei: Pai, pequei
contra o céu e perante ti. Já não sou digno de ser chamado teu filho,
faze-me como um dos teus trabalhadores”.

Aqui, ele se obriga a tomar uma decisão, ele chega no fundo do poço, a situação
provocada lá quando ele decidiu ir embora ganha maior intensidade.
Obs.: Só uma curiosidade do ponto de vista cultural. Utilizando a teoria, qualquer
pessoa (mesmo sem domínio do contexto histórico e cultural da época de Jesus),
sabe identificar esse momento como o clímax da narrativa, porque percebe que o

96 JORNADA DA PREGAÇÃO - PERCURSO INICIAL - AULA 11


personagem se obriga a tomar uma decisão para resolver o conflito. E quando olha-
do esse trecho numa perspectiva histórica e cultural, esse também é o auge da his-
tória, uma vez que para um judeu tocar em porcos já era imundo que dirá cuidar de
um ou comer sua comida. Para a cultura da época esse era o “fundo do poço” e para
a estrutura narrativa é o ápice de tensão.

4- DESFECHO
v. 20- 23 “E, levantando-se, foi para seu pai; e, quando ainda estava lon-
ge, viu-o seu pai, e se moveu de íntima compaixão, e, correndo, lançou-
-se lhe ao pescoço e o beijou. E o filho disse: Pai, pequei contra o céu e
perante ti e já não sou digno de ser chamado teu filho. Mas o Pai disse
aos seus servos: Trazei depressa a melhor roupa, e vesti-lho, e ponde-lhe
um anel na mão e sandálias nos pés, e trazei o bezerro cevado, e matai-o
e comamos e alegremo-nos, porque este meu filho estava morto e revi-
veu; tinha se perdido e foi achado. E começaram a alegrar-se”.

Chegamos então no desfecho que é quando o conflito se resolve. O filho se dá


conta e volta. E o pai o ama e o perdoa. E nisso aparece o tema central. Mas a história
não estava concluída. Ainda havia o irmão mais velho que era a personificação do
público-alvo de Jesus na parábola. Há um diálogo do pai com esse filho, em que ele
desabafa dizendo:

v. 29 “Eis que te sirvo há tantos anos, sem nunca transgredir o teu man-
damento, e nunca me deste um cabrito para alegrar-me com meus ami-
gos. Vindo, porém, este teu filho, que desperdiçou a tua fazenda com as
meretrizes, mataste-lhe o bezerro cevado”.

Então, o pai explica a razão de ter dado perdão ao filho mais novo:

v. 31 “Filho, tu sempre estás comigo, e todas as minhas coisas são tuas.


Mas era justo alegrarmo-nos e regozijarmo-nos, porque este teu irmão
estava morto e reviveu; tinha se perdido e foi achado”.

A história parece não ter um final feliz para o filho mais velho, não sabemos se
ele aceita ou não a justificativa do pai. Mas isso faz parte da estratégia literária que
Jesus utiliza. As parábolas costumavam provocar uma reflexão por parte dos ouvin-
tes e uma resposta frente ao que foi desenvolvido na trama. Logo, o final feliz seria
construído com base numa resposta favorável a esse amor. Dando espaço para os
ouvintes decidirem se aceitariam ou não esse amor do Pai.

EXERCITANDO

01 Leia a narrativa bíblica sobre a mulher adúltera que está em


João, 8: 1- 11 e distribua seus quatro grandes momentos no
gráfico narrativo abaixo.
AULA 11

JORNADA DA PREGAÇÃO - PERCURSO INICIAL - AULA 11 97


AULA 11

98 JORNADA DA PREGAÇÃO - PERCURSO INICIAL - AULA 11


Quem é Alexandra Trintin?
Alexandra Trintin largou o funcionalismo público, para se dedicar ao
ensino bíblico. Tornou-se uma das grandes especialistas em pregação no Brasil
quando o assunto é formação de pregadores bíblicos e relevantes. Doutoranda
em Teologia com ênfase em Homilética, está entre as quatro pessoas no país
com essa formação. Além de mestrado em análise de discurso religioso
(estrutura) e duas especializações em Hermenêutica e uma em Liderança
religiosa.
Seu diferencial não está apenas no currículo, mas na sua experiência
enquanto pregadora. Há 25 anos prega a Palavra de Deus e como ninguém
sabe os desafios que todo aquele que toma uma posição enfrenta.
Para Alexandra, homilética não é apenas técnica ou ciência, mas um
meio para alcançar vidas, já que por meio dela é possível comunicar a Palavra
de Deus com clareza, sabedoria e autoridade.
É com essa certeza que nasceu a maior comunidade de pregadores do
país: o Batalhão da Jornada, que já conta com muitos soldados que estão
dispostos a entregar tudo que tem de melhor pela causa de Cristo, é
exatamente assim, que ela define seus alunos – soldados.

Não fique de fora desse exército!

Você também pode gostar