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Eu sei que todos nós queremos alcançar não apenas a mente dos ouvintes,
como também seus corações. Acontece que nem todos conseguem fazer
narrativas eficientes. Ou enchem o sermão com muita história ou dão muitos
detalhes que acabam desviando a atenção dos ouvintes. Mas, depois de hoje,
você já tem condições de colocar em prática tudo que aprendeu na aula.
Jonathan Culler (1999), diz que toda história tem 4 grandes atos:
Conflito: tensão gerada entre duas forças, momento em que se parte em busca
da resolução do problema.
AULA 11
Na Bíblia, há várias histórias. Mas tem uma narrativa maior. Um grande enredo que
conta a história de Deus e da humanidade. Ele é composto por quatro grandes atos:
a criação, a queda, a redenção e a consumação. Esses quatro capítulos são chama-
dos de METANARRATIVA (FEE, 2011). Conforme a imagem abaixo, é possível ver a
distribuição desses grandes momentos da história bíblica na estrutura do enredo.
No primeiro ato, temos a criação, que começa com Deus como criador de todas
as coisas. Apesar da criação ser retomada ao longo da Bíblia, é nos dois primeiros
capítulos de Gênesis que se tem uma concentração maior dos detalhes da criação. E
nela aparece então a imagem de Deus como soberano.
Já o segundo grande ato da história bíblica, no caso - o conflito - começa no
capítulo 3 de Gênesis, mas se estende de forma trágica e sombria na Bíblia. Nesse
conflito, aparece a cobiça humana em ser semelhante a Deus. A decisão por inde-
pendência levou a queda e empurra então a humanidade numa jornada com conse-
quências e experiências terríveis. Mas também, aparecem as tentativas divinas em
reatar a comunhão com o homem, por meio do relacionamento com os patriarcas,
reis e profetas. Nesse vai e volta, é possível ver a imagem de um Deus que apesar de
santo e justo é também misericordioso.
E é por meio de Cristo Jesus que o ápice da narrativa bíblica chega. O momento
de maior tensão e decisão tem como cenário a cruz do calvário, em que nela Jesus
se entrega como o último sacrifício e por consequência o véu é rasgado e a comu-
nhão passa a ser uma realidade para todo aquele que crer. Mas podemos dizer que
as cenas que antecedem esse clímax acontecem no Getsêmani, em que Jesus ora,
sofre e decide ir adiante.
O quarto grande capítulo o da consumação ainda não terminou, está em anda-
mento. Seu episódio final está em Apocalipse. Em que há registro da segunda de
vinda de Cristo e a da batalha final. Nela, o bem vencerá o mal e haverá a restauração
da criação e ganharemos um novo céu e uma nova terra.
Essa teoria narrativa dá uma visão sistematizada dos acontecimentos. Pode-
se dizer que a genialidade da história bíblica está no fato de que ela conta a
história do próprio Deus (de amor, perdão e graça), o que acaba tornando a
história do homem também.
AULA 11
Qualquer história pode ser analisada por meio desse gráfico. Toda narrativa bíblica
se encaixa nele, seja grande ou pequena. A parábola do Filho Pródigo (LUCAS, 15:
11-32) foi escolhida por ser bem conhecida e pequena. Nela, há o seguinte enredo,
conforme imagem abaixo:
1- APRESENTAÇÃO/SITUAÇÃO INICIAL:
v.11 “Um certo homem tinha dois filhos”.
Aqui, está sendo apresentada a família que compõe nossa história. Um pai e dois
filhos. Ele não cita nomes, apenas diz a hierarquia que eles têm na família. Esse é um
recurso de neutralidade, tornando assim a parábola mais universal. Qualquer pessoa
em qualquer lugar do mundo pode se identificar.
Esse trecho provoca toda a organização das cenas e do que será apresentado.
Muita coisa acontece depois desse pedido, por exemplo: o pai reparte a fazenda; o
filho parte para uma terra distante e ali desperdiça tudo; passa a viver uma vida dis-
soluta; gasta tudo o que tem e passa por grandes necessidades (se já estava ruim,
fica pior, o nível de tensão vai subindo).
3- CLÍMAX
v. 16, 17, 18, 19 “E desejava encher o seu estômago com as bolotas que os
porcos comiam, e ninguém lhe dava nada. E caindo em si, disse: Quan-
tos trabalhadores de meu pai tem abundância de pão, e eu aqui pereço
de fome! Levantar-me-ei e irei ter com meu pai e dir-lhe-ei: Pai, pequei
contra o céu e perante ti. Já não sou digno de ser chamado teu filho,
faze-me como um dos teus trabalhadores”.
Aqui, ele se obriga a tomar uma decisão, ele chega no fundo do poço, a situação
provocada lá quando ele decidiu ir embora ganha maior intensidade.
Obs.: Só uma curiosidade do ponto de vista cultural. Utilizando a teoria, qualquer
pessoa (mesmo sem domínio do contexto histórico e cultural da época de Jesus),
sabe identificar esse momento como o clímax da narrativa, porque percebe que o
4- DESFECHO
v. 20- 23 “E, levantando-se, foi para seu pai; e, quando ainda estava lon-
ge, viu-o seu pai, e se moveu de íntima compaixão, e, correndo, lançou-
-se lhe ao pescoço e o beijou. E o filho disse: Pai, pequei contra o céu e
perante ti e já não sou digno de ser chamado teu filho. Mas o Pai disse
aos seus servos: Trazei depressa a melhor roupa, e vesti-lho, e ponde-lhe
um anel na mão e sandálias nos pés, e trazei o bezerro cevado, e matai-o
e comamos e alegremo-nos, porque este meu filho estava morto e revi-
veu; tinha se perdido e foi achado. E começaram a alegrar-se”.
v. 29 “Eis que te sirvo há tantos anos, sem nunca transgredir o teu man-
damento, e nunca me deste um cabrito para alegrar-me com meus ami-
gos. Vindo, porém, este teu filho, que desperdiçou a tua fazenda com as
meretrizes, mataste-lhe o bezerro cevado”.
Então, o pai explica a razão de ter dado perdão ao filho mais novo:
A história parece não ter um final feliz para o filho mais velho, não sabemos se
ele aceita ou não a justificativa do pai. Mas isso faz parte da estratégia literária que
Jesus utiliza. As parábolas costumavam provocar uma reflexão por parte dos ouvin-
tes e uma resposta frente ao que foi desenvolvido na trama. Logo, o final feliz seria
construído com base numa resposta favorável a esse amor. Dando espaço para os
ouvintes decidirem se aceitariam ou não esse amor do Pai.
EXERCITANDO