Direito Ideias Praticas Instituicoes e Agentes Juridicos
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Direito: ideias, práticas, instituições e agentes jurídicos
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Em DIREITO: IDEIAS, PRÁTICAS, INSTITUIÇÕES E AGENTES
JURÍDICOS, coletânea de dezessete capítulos que une pesquisadores de
diversas instituições, congregamos discussões e temáticas que circundam
a grande área do Direito a partir de uma ótica que contempla as mais vastas
questões da sociedade.
Temos, no presente volume, reflexões que explicitam essas interações.
Neles estão debates que circundam direito de ir e vir, saúde, direitos
reprodutivos, crime de estupro de vulnerável, homotransfobia, racismo, justiça,
vingança privada, violência contra a mulher, drogas ilícitas, consumo pessoal,
maioridade penal, segurança pública, piso salarial da enfermagem, usucapião
urbana coletiva, função social da propriedade, unidade de conservação, filiação,
relações afetivas, relação sugar, democracia, literatura e direito.
Assim sendo, convidamos todos os leitores para exercitar diálogos com
os estudos aqui contemplados.
Tenham proveitosas leituras!
APRESENTAÇÃO
CAPÍTULO 2............................................................................ 10
A SAÚDE ÚNICA COMO VALOR CONSTITUCIONAL
Roberto Santos da Silva
Maria Fernanda Tóffoli
Lucy Souza Faccioli
Patricia Gorisch
https://doi.org/10.22533/at.ed.1992316032
CAPÍTULO 3............................................................................ 15
RAÇA, GÊNERO E CONDIÇÃO DE CLASSE: OS DESAFIOS DO FEMINISMO
NEGRO NO ACESSO AOS DIREITOS REPRODUTIVOS
Laura Beatriz Pires
SUMÁRIO
CAPÍTULO 4............................................................................ 31
A DESNECESSIDADE DO CONTATO FÍSICO PARA CONFIGURAÇÃO DE
AÇÃO PENAL POR CRIME DE ESTUPRO DE VULNERÁVEL
Pedro Daniel Lopes Vieira
Bernardino Cosobeck da Costa
https://doi.org/10.22533/at.ed.1992316034
CAPÍTULO 5............................................................................ 41
EQUIPARAÇÃO DA HOMOTRANSFOBIA AO CRIME DE RACISMO:
DESRESPEITO AOS PRINCÍPIOS DO DIREITO PENAL OU INTERPRETAÇÃO
CONFORME A CONSTITUIÇÃO?
Elisangela Maximiano
https://doi.org/10.22533/at.ed.1992316035
CAPÍTULO 6............................................................................56
JUSTIÇA, VINGANÇA PRIVADA E O IMAGINÁRIO POPULAR PUNITIVISTA
Bruno Gabriel Lisboa Lima
Mauro Vinícius Brito dos Santos Filho
Paulo Sérgio de Almeida Corrêa
https://doi.org/10.22533/at.ed.1992316036
CAPÍTULO 7............................................................................72
ESTUPRO UMA VIOLÊNCIA SEXUAL CONTRA A MULHER: MUDANÇAS DE
PENALIDADES COM A LEI 12.015/2009
Jéssyca da Silva Garcia
Luciane Santos Coelho
https://doi.org/10.22533/at.ed.1992316037
CAPÍTULO 8............................................................................85
POSSE DE DROGAS ILÍCITAS PARA CONSUMO PESSOAL:
DESCRIMINALIZAÇÃO OU DESPENALIZAÇÃO?
Matheus Nascimento Pinheiro de Miranda
João Victor Oliveira Brito
https://doi.org/10.22533/at.ed.1992316038
CAPÍTULO 9............................................................................98
REDUÇÃO DA MAIORIDADE PENAL
Luís César da Silva Gonçalves
https://doi.org/10.22533/at.ed.1992316039
https://doi.org/10.22533/at.ed.19923160310
CAPÍTULO 11..........................................................................117
PISO DA ENFERMAGEM NA VISÃO DO DIREITO ADMINISTRATIVO
Matheus Martins Sant’Anna
https://doi.org/10.22533/at.ed.19923160311
CAPÍTULO 16.........................................................................202
ESSÊNCIA OU APARÊNCIA DE DEMOCRACIA À LUZ DA CÁTEDRA
ARISTOTÉLICA
Mário Luiz Silva
https://doi.org/10.22533/at.ed.19923160316
CAPÍTULO 17.........................................................................207
DUELO DE OLHARES: O ESTRANHAMENTO AOS OLHOS DE MADEIRA SOB
AS LENTES DE TOLSTÓI E DE DOSTOIÉVSKI
SUMÁRIO
ÍNDICE REMISSIVO.................................................................222
CAPÍTULO 1
1 | INTRODUÇÃO
A partir de dezembro de 2019, a pandemia COVID-19 comprometeu a saúde
mundial, com a aparição do vírus “Wuhan” na China, e a partir de 20 de fevereiro de 2020
foi diagnosticado o primeiro caso no Brasil.
Um dos motivos evidenciados para o contágio com rapidez foi a facilidade
de deslocamento das pessoas de um local para outro em um curto período de tempo,
facilitando que o agente infeccioso causador do COVID-19 possa ser transportado de um
local para outro, infectando demais pessoas com mais rapidez.
Ainda no ano de 2020, enquanto eram estudados tratamentos e imunizantes, o Brasil
adotava medidas de prevenção para melhor proteger os indivíduos, utilizando de medidas
como quarentena, “lockdown”, isolamento social, decretos adotados pelos governos
federal, estadual e municipal em todos os Estados da Federação Brasileira.
No Brasil, os entes federados tiveram a liberdade de decidir sobre o funcionamento
de comércio, que por muitas vezes precisaram fechar suas portas. Além disso, também era
proibido que os cidadãos transitassem em locais públicos e comércio local, onde poderia
haver aglomeração de pessoas.
Em decorrência disso, acabou ocasionando o fechamento definitivo de diversos
mercados, lojas, devido a não circulação de clientes e baixa consumação de seus produtos,
a) Conceito
Os direitos fundamentais são aqueles direitos humanos reconhecidos na constituição
escrita de um determinado país (caráter nacional)
Os direitos fundamentais são baseados na liberdade, igualdade e dignidade da
pessoa humana e, portanto, permitem que a pessoa se desenvolva livremente e com
dignidade.
Vale a pena notar que os direitos fundamentais diferem dos direitos humanos, isto
porque os direitos humanos buscam validade universal, ou seja, são inerentes a cada
indivíduo e a todos os povos em todos os tempos.
Reconhecida pelo Direito Internacional por tratado e, portanto, válida
Como se vê com a pandemia gerada pela COVID 19, o direito de ir e vir foi
restringido, ou seja, apesar de total liberdade assegurada pela Constituição Federal/88,
esse direito pode ser analisado sob outros prismas de igual tutela, podendo, pois, resultar
numa limitação pontual/transitória.
Esse novo cenário, decorrente da COVID 19, coloca em discussão a supremacia da
saúde pública, expresso no art. 6º, da Constituição Federal/88, sobre os demais direitos,
tais como o da liberdade de locomoção (art. 5º, inciso II e XV), de reunião (art. 5º, inciso
XVI), inviolabilidade da intimidade (art. 5º, inciso X e XII), dentre outros.
Importante se faz salientar em relação ao elucidado acima que, o princípio da
proporcionalidade pode ser aplicado, pois o mesmo deixa explícito que um direito deve
ceder ao outro desde que atenda aos requisitos da adequação e da necessidade.
5 | CONCLUSÃO
O Direito de ir e vir do cidadão Brasileiro está previsto no art. 5º, inciso XV, da
Constituição Federal de 1988. Conforme o preceituado, subentende-se que todo indivíduo
brasileiro tem direito de se locomover de forma livre nas ruas, praças, nos lugares públicos.
Porém, esse direito fundamental não é absoluto, pois a própria Constituição
estabelece situações em que esse direito pode vir a ser limitado.
Com a pandemia, observa-se que algumas normas foram editadas aqui no Brasil
restringindo o direito de locomoção, tais como, o isolamento social, quarentena, bem como,
outros decretos editados pelos governadores em seus respectivos Estados.
Na pandemia gerada pela COVID 19, o direito de ir e vir foi restringido, ou seja,
apesar de total liberdade assegurada pela Constituição Federal/88, esse direito pode
ser analisado sob outros prismas de igual tutela, podendo, pois, resultar numa limitação
pontual/transitória.
Assim, esse novo cenário, decorrente da COVID 19, coloca em discussão a
supremacia da saúde pública, expresso no art. 6º, da Constituição Federal/88, sobre os
demais direitos, tais como o da liberdade de locomoção (art. 5º, inciso II e XV), de reunião
(art. 5º, inciso XVI), inviolabilidade da intimidade (art. 5º, inciso X e XII), dentre outros.
Portanto, importante se faz salientar em relação ao elucidado acima que, o princípio
da proporcionalidade pode ser aplicado, pois o mesmo deixa explícito que um direito deve
ceder ao outro desde que atenda aos requisitos da adequação e da necessidade.
BRASIL. Decreto nº 10.282, de 20 de março de 2020. Regulamenta a Lei nº 13.979, para definir os
serviços públicos e as atividades essenciais. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_
Ato20192022/2020/Decreto/D10282. htm Acesso em: 26 nov. 2022.
BRASIL. Ministério da Saúde (BR). Portaria nº 454, de 20 de março de 2020: declara, em todo o
território nacional, o estado de transmissão comunitária do coronavírus (Covid-19). Diário Oficial
da União. Disponível em: http://www.in.gov.br/en/web/dou/-/portaria-n-454-de-20-de- marco-de-2020-
249091587. Acesso em: 27 nov. 2022.
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Ministro assegura que estados, DF e municípios podem
adotar medidas contra pandemia. Disponível em: http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.
asp?idConteudo=441075. A Acesso em 27 nov. 2022
Direção Geral da Saúde. Plano Nacional de Preparação e Resposta à Doença por Novo
Coronavírus (COVID-19). 2020. Disponível em: https://www.dgs.pt/documentos-e-publicacoes/plano--
nacional-de-preparacao-eresposta-para--a-doenca-por-novo-coronavirus-covid-19. Acesso em: 28 nov.
2022
G1. Bolsonaro pede na TV volta à normalidade e fim do confinamento em massa e diz que
meios de comunicação espalharam pavor. O Globo, Rio de Janeiro. 24.03.2020Disponível em:
https://g1.globo.com/politica/noticia/2020/03/24/bolsonaropede-na-tv-volta-a-normalidade-e-fim-do-
confinamento-em-massa.ghtml. Acesso em: 02 dez. 2022
FILHO, Corrêa. A utopia do debate democrático na vigilância em saúde. Saúde debate 2020.
Disponível em: https://doi.org/10.1590/0103- 1104201912300. Acesso em: 20 maio 2020. Acesso em:
04 dez. 2022
FIRPO, Sergio. Por que salvar vidas ou a economia na crise do coronavírus é um falso dilema.
Folha de São Paulo, 2020.
MELLO Cecilia; GERVITZ Luiza; FERREIRA Maria. Direito à saúde prevalece sobre direito de ir e
vir em tempos de Covid-19. In: Revista Consultor Jurídico. Disponível em: https://www.conjur.com.
br/2020-abr- 22/opiniao-direito-saudeprevalece-ir-vir. Acesso em: 20 dezembro 2022.
SILVA, AAM. Sobre a importância da ampliação da capacidade de testagem dos sintomáticos para a
contenção da epidemia pela COVID-19 no Brasil. Agência Bori. Disponível em: https://abori.com.
br/artigos/sobre-a-importancia-da-ampliacao- dacapacidade-de-testagem-dos-sintomaticos-para-a-
contencao-da- epidemia-pela-covid-19- no-brasil/. Acesso em: 27 dezembro 2022.
INTRODUÇÃO
O direito à saúde vem sendo ampliado em seu conteúdo. Se no início de sua
compreensão a saúde era conceituada como a ausência de doenças, denotando uma
preocupação meramente biologicista, focada no indivíduo, em seu aspecto médico, aos
poucos o conceito de saúde foi sendo ampliado, pois, percebeu-se que o ser humano, ainda
que individualmente considerado, vive em coletividade, portanto, a saúde deveria alcançar
esse aspecto coletivo, sem deixar de lado a individualidade. Ainda, o ser humano, individual
ou coletivamente considerado, tem interações não só com outros seres humanos, mas, com
o meio ambiente. Desse modo o conceito de saúde evoluiu para compreender o entorno do
ser humano, a ausência de doenças, a fruição de direitos coletivos sanitários, alimentação,
trabalho e modo de vida. Mas, eis que, observa-se que a saúde também tem implicações
com os animais que convivem com o ser humano, seja no ambiente doméstico, no ambiente
do trabalho e no nicho ecológico no qual o ser humano vive. Essa teia complexa entre o
indivíduo, suas interações sociais com outros seres humanos (sociedade), sua interação
com animais não-humanos e, por fim, com o meio ambiente no qual está inserido e do qual
faz parte, apresente um novo quadro para atualizar o conceito de saúde. Surge, dessa nova
compreensão, o conceito de saúde única, saúde integral ou saúde ambiental, abrangendo
num mesmo valor (saúde) e num mesmo direito (direito à saúde) todas as interações,
diretas e indiretas, que refletem na saúde do ser humano em seu âmbito individual, social e
ambiental. Sobre o conceito de saúde única que este trabalho pretende refletir, bem como
suas parcelaridades, ou seja, a saúde humana, a saúde não-humana, compreendendo a
saúde animal e a saúde ambiental. As implicações no dever prestacional do Estado, posto
que, ao ampliar o conceito de saúde para além da saúde humana, alcançando a saúde
dos animais (veterinária, pecuária e zoonoses) e a saúde ecológica (saúde ambiental), do
ponto de vista orçamentário.
OBJETIVOS
A presente pesquisa tem como objetivo geral refletir sobre o conceito de saúde única
com a finalidade de atualizar o valor “saúde” expresso na Constituição Federal.
Os objetivos específicos, entre outros, se destinam a conceituar saúde única;
analisar as implicações do conceito de saúde única em relação aos aspectos individuais
e coletivos do direito à saúde; compreender as mudanças nas obrigações positivas do
Estado em relação à saúde única e, por fim, conhecer as diversas terminologias pelas quais
a saúde única pode ser designada.
DISCUSSÃO
O artigo 196 da Constituição Federal dá ao direito à saúde natureza de direito
fundamental ao registrar que “A saúde é direito de todos e dever do Estado”. Ao lado da
saúde, individualmente considerada, existe a dimensão coletiva, isto é, a saúde enquanto
direito difuso, social, nos termos do artigo 6º da CF/88. O fato do direito à saúde ter também
a dimensão de direito fundamental social, implica em um fazer, ou seja, prestações positivas
por parte do Estado. Neste sentido Carvalho (2003)[1]:
Os direitos sociais caracterizam-se por serem direitos a prestações
materiais (direitos a prestação em sentido estrito), isto é, exigem
que o Estado aja prestando serviços ou atividades, para melhorar as
condições de vida e o desenvolvimento da população, tentando atenuar
desigualdades e moldar o país para um futuro melhor.
Ocorre que, ao contrário da visão médica e individual, a saúde não deve ser encarada
somente como a ausência de doenças do indivíduo, mas, como um direito fundamental de
natureza difusa. A esse respeito vale citar Garcia (2021) [2]
O Pacto Internacional sobre Direitos Econômicos, Sociais e Culturais,
de 1966, aprovado no Brasil pelo Congresso Nacional pelo Decreto
Legislativo 226/1991 e promulgado pelo Decreto 591/1992, assegura que
os Estados Partes reconhecem o direito de toda pessoa de desfrutar o
mais elevado nível possível de saúde física e mental (art. 12). As medidas
que os Estados-Partes devem adotar com o fim de assegurar o pleno
exercício do direito à saúde devem incluir as medidas que se façam
necessárias para assegurar: a diminuição da “mortinatalidade” (ou seja,
mortes quando do nascimento) e da mortalidade infantil, bem como o
desenvolvimento das crianças; a melhoria de todos os aspectos de
higiene do trabalho e do meio ambiente; a prevenção e o tratamento das
doenças epidêmicas, endêmicas, profissionais e outras, bem como a luta
contra essas doenças; a criação de condições que assegurem a todos
assistência médica e serviços médicos em caso de enfermidade.
O aspecto coletivo da saúde, como direito social, decorre não só do fato de que o ser
humano vive coletivamente em sociedade, mas, também, que existe um entrelaçamento
entre as relações sociais, os serviços públicos ofertados e a produção ou não de saúde.
Tome-se como ilustração a COVID-19, em que percebe-se a dimensão social e biológica no
mesmo contexto. Tome-se as regras de distanciamento “social”, a quarentena, a suspensão
dos abraços e apertos de mãos, o uso de máscaras e, além do antigo costume de lavar as
mãos, o reforço com álcool em gel. De fato, biologicamente a doença existe, todavia, é a
CONCLUSÕES
Conclui-se que o direito à saúde, previsto na Constituição Federal, deve ser
atualizado para compreender a saúde em seu aspecto individual, coletivo e ambiental, este
último como resultado das interações entre os seres humanos, individual ou coletivamente
considerado, com os animais e o meio ambiente, devendo o Estado buscar a realização
dos comandos constitucionais sob esse novo prisma.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem as orientações da Professora Doutora Patricia Gorisch
durante o desenvolvimento deste estudo.
3. Limongi, Jean Ezequiel; OLIVEIRA, Stefan Vilges de COVID-19 e a abordagem One Health (Saúde
Única): uma revisão sistemática Vigilância Sanitária em Debate, vol. 8, núm. 3, 2020, Julho-Setembro,
pp. 139-149.
1 | INTRODUÇÃO
A discriminação é o fundamento base no estabelecimento da estrutura de poder.
Dominar o outro pelas características que são inerentes a sua pessoa é fulcral para fincar
o preconceito e desconstruir a autonomia feminina negra. O controle da vida e do corpo
das mulheres negras, emerge do “nada social” que considera suas carnes e suas almas.
Conforme canta Elza Soares 1:
[...]
E o cabelo esticado
Se liga aí
[...]
1 Música: A carne. Compositores: Seu Jorge / Ulises Capelleti / Marcelo Fontes Do Nascimento.
Essa citação de Jurema Werneck (2009) sintetiza com maestria como as mulheres
negras são construídas através de um processo histórico-social de inexistência. A autora,
ao parametrizar as heterogeneidades, dimensiona a longa e árdua batalha com preceitos
raciais, sexuais, políticos e desiguais vivida pelas mulheres negras e a influência destes
entraves sociais ao “aceite” jurídico, político e social destas mulheres como sujeitas de
Assim, Sueli Carneiro (2003) pontua que tal premissa protetiva advém da luta das
mulheres para terem autonomia sobre os seus próprios corpos, pelo exercício prazeroso
da sexualidade, para poderem decidir sobre quando ter ou não filhos, resultou na conquista
de novos direitos para toda a humanidade.
A partir de tal ótica, é mister salientar que as mulheres negras enfrentam os mais
elevados índices de violações aos seus direitos reprodutivos. Um exemplo claro destas
nuances violadoras está na política de controle da natalidade desenvolvida nos Estados
2 Traduzido do título original: Demarginalizing the Intersection of Race and Sex: a Black Feminist Critique of Antidiscri-
mination Doctrine, Feminist Theory and Antiracist Politics.
5 | CONSIDERAÇÕES FINAIS
Considerando o objetivo deste ensaio, as discussões foram realizadas a partir da
temática dos direitos humanos das mulheres negras com ênfase no aspecto interseccional
de raça, gênero e condição de classe. Procuramos estabelecer relações entre a
inaplicabilidade dos direitos reprodutivos com base em um resgate histórico colonial,
opressor do corpo feminino negro.
Nesse sentido, foi possível observar que os aspectos raciais, de gênero e de
condição de classe ensejam no engendramento prático sobre a ausência de efetividade
dos direitos reprodutivos das mulheres negras. Como consequência, os cativeiros em que
estas mulheres são subestabelecidas acarretam estereótipos culturais enraizados à sua
imagem, visto que remetem a naturalização da exclusão e a coisificação do corpo negro
como um corpo de direitos.
Sendo assim, almeja-se com este ensaio dar continuidade a uma reflexão
que privilegie a mudança das conjecturas opressivas que permeiam as violações
reprodutivas que circundam a realidade feminina negra, com a busca pela conscientização
antidiscriminatória e a desconstrução da imagem existente de naturalização racista,
classista e sexista, trazendo à baila a implementação efetiva de políticas públicas, com
ênfase na saúde reprodutiva destas mulheres, por meio do arcabouço sociológico inovador
advindo do recorte Interseccional sobre a Justiça Reprodutiva.
Por este motivo, o presente trabalho foi idealizado com o intuito de buscar embasar
políticas públicas de favorecimento a este grupo extremamente vulnerável que necessita
de reflexões como a presente para intensificar uma mudança positiva e eficaz das suas
realidades pessoais, evitando que o cunho protecionista jurídico somente expresse um teor
positivista em detrimento do essencial caráter humanitário.
REFERÊNCIAS
ANJOS, Simony dos. Justiça reprodutiva: quantas mais terão que ver seus filhos morrerem?
2020. Disponível em: <https://catarinas.info/justica-reprodutiva-quantas-mais-terao-que-ver-seus-filhos-
morrerem/>. Acesso em: 23/06/2021.
BRAH, Avtar. Diferença, diversidade, diferenciação. Cadernos Pagu, nº26,p.329-365, 2006 [1996].
BRASIL. Lei nº 7.716/ 1989. Define os crimes resultantes de preconceito de raça ou de cor. Brasília,
DF, 1989.
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de janeiro de 1989, 9.029, de 13 de abril de 1995, 7.347, de 24 de julho de 1985, e 10.778, de 24 de
novembro de 2003. Brasília, DF, 2010.
BRASIL. Portaria nº 992/2009. Institui a Política Nacional de Saúde Integral da População Negra.
Brasília, DF, 2009.
CAPELO, Rodrigo. Por que o negro tem menos acesso à saúde do que o branco no Brasil?
Disponível em: https://epoca.globo.com/tempo/noticia/2015/06/por-que-o-negro-tem-menos-acesso-
saude-do-que-o-branco-no-brasil.html. Acesso em: 26/06/2021.
CARNEIRO, Sueli. Mulheres em movimento. Estudos Avançados, v. 17, n. 49, p. 117-132, set./dez.
2003. Disponível em: <https://bit.ly/3sSnLMD>.
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24/07/2021.
Pedro Daniel Lopes Vieira com a lei vieram as determinações para que
Faculdade de Colinas do Tocantins S.A. tenha sido efetivado o referido delito.
Bacharelado em Direito Essa perspectiva a ser apresentada à
Colinas do Tocantins - TO sociedade irá trazer um novo olhar para
aproximar o direito de seu fim, tornando
Bernardino Cosobeck da Costa
assim as decisões mais justas, limitando-
Faculdade de Colinas do Tocantins S.A.
se aos crimes sexuais, e se desprendendo
Colinas do Tocantins - TO
da tipicidade, mostrando que, apesar da
previsão legal, determinadas condutas, não
são consideradas crimes.
Este Artigo será apresentado à disciplina de PALAVRAS-CHAVE: Estupro, Código
Trabalho de Conclusão de Curso. da Faculdade
de Colinas do Tocantins – FIESC/UNIESP exigido
Penal, Desconfiguração, Crimes Sexuais,
como parte dos requisitos para conclusão do Interpretação.
Curso Bacharel em Direito sob a orientação do
Professor Me. Bernardino Cosobeck da Costa.
THE NEED FOR PHYSICAL
CONTACT FOR THE
CONFIGURATION OF CRIMINAL
RESUMO: O objetivo do presente ACTION FOR CRIME OF RAPE OF
trabalho é mostrar uma nova perspectiva VULNERABLE
para o intérprete de Direito sobre a realidade ABSTRACT: The objective of this work is to
social no momento de aplicar a norma penal show a new perspective for the interpreter
incriminadora, presente no artigo 217-A, do of Law on the social reality when applying
Código Penal Brasileiro. A intenção é the incriminating criminal norm, present in
que deixe de ser apenas uma forma de article 217-A, of the Brazilian Penal Code.
entendimento puramente gramatical, e passe The intention is that it ceases to be just a
a se adequar à maneira de interpretação purely grammatical form of understanding,
presente no caput do presente artigo. and starts to adapt to the way of
A Lei 12.015/2009 trouxe para a sociedade interpretation present in the caput of this
a determinação com relação à ter havido article. Law 12.015/2009 brought to society
ou não o crime de estupro de vulnerável, e the determination regarding whether or not
1 | INTRODUÇÃO
O presente artigo possui como tema: “A desnecessidade do contato físico para
configuração de Ação Penal por crime de estupro de vulnerável”. A partir do advento da Lei
nº 12.015/2009, o critério passou a ser objetivo (idade da vítima), e não mera presunção que
por natureza é subjetiva. Pela redação atual do artigo 217-A do Código Penal Brasileiro, ter
conjunção carnal ou praticar ato libidinoso com menor de 14 (quatorze) anos, caracteriza
estupro de vulnerável.
O estupro é um crime previsto em todos os ordenamentos jurídicos dos povos
civilizados. Entre os crimes sexuais é a infração de natureza mais grave. E na criminalidade
comum, o estupro se qualifica como uma das condutas penais onde se pode perceber a
maior periculosidade do agente.
N século XX, quando teve início a palavra “Pedofilia”, o estuprador, antes visto
como pessoa fora do círculo, passou a também poder ser o pai, o padre, o pastor, o
professor, o tio, dentre outros tão próximos quanto. No século atual, as vítimas passaram
a ser vistas de forma mais atenciosa pela sociedade e o pós-estupro é mais perscrutado
pelos profissionais. Ainda assim, alguns Códigos Penais buscam renovar o sentido do
crime, desassociando o assédio do atentado ao pudor e do estupro.
A lei mais recente unificou o estupro e o tentado violento ao pudor como sendo um
único crime, previsto no Código Penal, de forma a evitar diversos litígios a respeito do tipo
penal. De acordo com a redação atual, caso haja o constrangimento do tipo penal previsto
no artigo, não havendo diferença se o sujeito passivo for do sexo feminino ou masculino,
estaremos diante do crime de Estupro.
A lei tutela sobre o direito de qualquer pessoa quanto a disposição de seu corpo
se e quando desejar, em se tratando se ato sexual. O estupro consegue agredir tanto
a liberdade sexual quanto a dignidade do indivíduo, que logo, se sente humilhado pela
prática sexual.
O Título VI do Código Penal traz em seu rol os crimes contra a liberdade e
desenvolvimento sexual. O desenvolvimento sexual, neste título, pode ser visualizado
como bem juridicamente protegido.
Portanto, são considerados bens juridicamente protegidos: a dignidade, a liberdade
e o desenvolvimento sexual. E ainda, o objeto material do crime de estupro pode ser tanto
na mulher quanto no homem, ou seja, qualquer pessoa, que é a vítima deste delito.
Art. 223. Quando houver simples offensa pessoal para fim libidinoso, causando
dôr, ou algum mal corporeo a alguma mulher, sem que se verifique a copula
carnal.
Art. 224. Seduzir mulher honesta, menor dezasete annos, e ter com ella copula
carnal.
Art. 225. Não haverão as penas dos tres artigos antecedentes os réos, que
casarem com as offendidas.
Art. 221. Se o estupro fôr commettido por parente da deflorada em gráo, que
não admitta dispensa para casamento.
Penas - de degredo por dous a seis annos para a provincia mais remota da
em que residir a deflorada, e de dotar a esta.
Pode-se ver que ele não previu que uma mulher pudesse se envolver na conduta
envolvida no delito em questão. Assim, esse pensamento levou à forma como a padronização
do tempo foi implementada, pois os legisladores entenderam apenas para protegê-lo da
influência humana.
A dignidade sexual é um direito fundamental que diz respeito à intimidade, à vida
privada e à honra. Este é um direito da personalidade e, portanto, inviolável. Assim, a
intimidade e a vida privada são interpretadas na carta constitucional como valores humanos,
no plano dos direitos individuais e na defesa desses direitos.
Antes dessa alteração legislativa, para qualificar o estupro como crime, era
necessária a união física, entendida como a relação sexual entre um homem e uma mulher.
No entanto, com as alterações legislativas acima referidas, as infracções passaram a incluir
qualquer ato obsceno ou sexual praticado contra o sujeito passivo (ou seja, homem ou
mulher).
7 | CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir do artigo apresentado, foi possível concluir que dá pouco respaldo acerca
do assunto, porém não podemos deixar de ressaltar que é necessária uma adequação à
REFERÊNCIAS
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del2848.htm Acesso em: 30/12/2022.
1 | INTRODUÇÃO
A homotransfobia é um mal vivenciado por pessoas no mundo todo. A violência
exercida contra o público LGBTQIA+ e a falta de tipificação penal para coibir a conduta
deixa vulnerável esse público, que necessita de ações protetivas exercidas pelos três
poderes.
Nesse sentido, aportaram no Supremo Tribunal Federal – STF, ações
constitucionais com o intuito de proteger as pessoas LGBTQIA+, tais como a Ação Direta
de Inconstitucionalidade por Omissão – ADO nº 26 e o Mandado de Injunção – MI nº 4.733,
e após longo julgamento, os ministros do STF reconheceram a homotransfobia como crime
de Racismo, com fulcro na Lei nº 7.716/89, causando grande debate dentre os estudiosos
do direito.
A doutrina se divide, já que o tema é controverso, parte discordando do
posicionamento do STF, sob a alegação de desrespeito ao Princípio da Legalidade, não
adoção de Analogia em Direito Penal e Violação do Princípio da Separação dos Poderes,
e outra parcela defendendo o reconhecimento, com fundamento na interpretação conforme
a Constituição.
O presente artigo cientifico tem como objetivo o estudo da decisão do STF, bem como
das diferentes correntes doutrinárias, para analisar se o reconhecimento da homotransfobia
como crime de racismo foi a decisão mais correta para solucionar a problemática.
A omissão legislativa, não apenas deixa vulnerável esse público, mas também lhes
1 Definição dada pelo site EDUCA + BRASIL. Disponível em: < https://www.educamaisbrasil.com.br/educacao/dicas/
qual-o-significado-da-sigla- lgbtqia?gclid=cj0kcq jw1dgjbhd4arisanb 6odn4wpk4iabq3hpvtdtmrgxjqdsrpav5b_0umerao-
6zqqkyqoyrrr3qaalaa ealw_wcb>. Acesso em 05 de setembro de 2021.
2 Definição dada pelo Dicionário Online de Português. Disponível em: https://www.dicio.com.br/fobia/. Acesso em 05
de setembro de 2021.
3 OLIVEIRA, Frederico. HOMOTRANSFOBIA E O ESTADO. Disponível em: https://www.aredacao.com.br/arti-
gos/40547/homotransfobia-e-o-estado>. Acesso em 05 de setembro de 2021.
4 Dados divulgados pelo Observatório de Mortes Violentas de LBTI no Brasil – 2020. Disponível em: < https://observa-
toriomortesviolentaslgbtibrasil.org/2020>. Acesso em 05 de setembro de 2021.
5 DIAS. Maria Berenice. A HOMOFOBIA E A OMISSÃO DO LEGISLADOR. Disponível em: < http://www.berenice-
dias.com.br/manager/arq/(cod2_612)a_homofobia_e_a_omissao_do_legislador__rlatorio_azul.pdf. Acesso em 05 de
setembro de 2021.
Dessa forma, é necessário que haja lei em sentido formal que defina um
comportamento como criminoso, sendo que tal lei deve ser anterior a esse comportamento
para que ele seja punido, e esta lei deve estabelecer os limites da pena a ser aplicada.
Nesse sentido, para que haja crime deve existir uma lei em sentido estrito, que
determine que uma conduta descrita com clareza seja considerada incriminadora, sendo
que para tal conduta deve haver um limite de pena, e tanto a lei como a pena devem ser
anteriores ao comportamento do agente.
Logo, se a competência de legislar sobre direito penal, como estabelecido no Art.
22, I, da Constituição Federal, é do poder legislativo federal, que até o presente momento
se quietou inerte em relação à criminalização da homotransfobia, esta não pode ser punida
como crime na ótica dos princípios da legalidade e da taxatividade. Mas, frisa-se que além
dos abordados princípios gerais do direito, são fontes mediatas os costumes e a analogia.
8 CAPEZ, Fernando. CURSO DE DIREITO PENAL. Parte Geral 1. 19º Edição. São Paulo. Editora Saraiva. 2015. P. 54.
9 MELO, Paulo César da Silva. PRINCIPIO DA TAXATIVIDADE E A CONSEQUENTE FRAGMENTARIEDADE ÀS
AVESSAS. Disponível em: https://jus.com.br/artigos/88270/principio-da-taxatividade-e-a-consequente- fragmentarieda-
de-as-avessas. Acesso em 06 de setembro de 2021.
10 CASTELLO, Rodrigo. ANALOGIA EM DIREITO PENAL. Disponível em: https://rodrigocastello.jusbrasil.com.br/arti-
gos/121936756/analogia-em-direito-penal. Acesso em 06 de setembro de 2021.
5 | OMISSÃO LEGISLATIVA
Há insegurança jurídica quando um indivíduo é punido por uma conduta não
tipificada como infração penal, entretanto, também há insegurança jurídica quando um
comportamento causa grande mal à população e nada se faz para coibi-lo, ademais, a
insegurança não é somente jurídica, é concreta dos pontos de vista físico, emocional e
psicológico, gerando consequências negativas à toda sociedade.
Como bem aborda Maria Berenice Dias:
Pontes de Miranda, o nosso juiz maior, diz que a lei carimba um fato, atribuindo-
lhe uma consequência. Grosso modo esta é a função do legislador: apreender
um fato social, transformá-lo numa norma jurídica e prever uma sanção em
caso de descumprimento.
11 CUNHA, Rogério Sanches. A ANALOGIA NO DIREITO PENAL E A JURISPRUDÊNCIA DO STJ. Disponível em:
<https://meusitejuridico.editorajuspodivm.com.br/2017/08/08/analogia-no-direito-penal-e-jurisprudencia-stj/>. Acesso
em 06 de setembro de 2021.
12 CAPEZ, Fernando. CURSO DE PENAL. Parte Geral 1. 19º Edição. São Paulo. Editora Saraiva. 2015. P. 53.
13 DIAS, Maria Berenice. A HOMOFOBIA E A OMISSÃO DO LEGISLADOR. Disponível em: <http://www.berenice-
dias.com.br/manager/arq/(cod2_612)a_homofobia_e_a_omissao_do_legislador rlator io_azul.pdf>. Acesso em 11 de
setembro de 2021.
Dessa maneira, a decisão do poder judiciário deverá estabelecer um prazo para que
o poder legislativo edite lei para tratar da matéria discutida no mandado de injunção e dar
ao impetrante as condições para que este exerça seus direitos enquanto a lei não entre
em vigor.
A omissão legislativa pode ser parcial ou total, sendo que o mandado de injunção
constitui controle difuso de constitucionalidade e pode ser impetrado por qualquer pessoa
natural ou jurídica, inclusive em primeira instância, cuja decisão do poder judiciário tem
aplicação inter partes.
Para discutir a omissão legislativa em relação à discriminação dos direitos do público
LBTQIA+ foi impetrado o Mandado de Injunção nº 4.733.
14 AMARAL, Robson Santos. A OMISSÃO LEGISLATIVA E O MANDADO DE INJUNÇÃO. Disponível em: <https://
www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/141087/RUBSON%20SANTOS%20AMARAL.pdf>. Acesso em 11 de se-
tembro de 2021.
15 FONTENELE, Vivian. AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE POR OMISSÃO: SAIBA MAIS. Disponível
em: < https://masterjuris.com.br/acao-direta-de-inconstitucionalidade-por-omissao-saiba-mais/>. Acesso em 11 de se-
tembro de 2021.
16 MASSON, Cleber. Apud em ORTEGA, Flavia Teixeira. O QUE SÃO OS MANDADOS DE CRIMINALIZAÇÃO. Dis-
ponível em: < https://draflaviaortega.jusbrasil.com.br/noticias/388280706/o-que-sao-os-mandados-de- criminalizacao>.
Acesso em 11 de setembro de 2021.
Ademais, além das funções típicas, os Poderes possuem funções atípicas, sendo
certo que o Poder Judiciário possui função atípica administrativa e legislativa. “Além da
função típica de julgar, é também do Judiciário a função classificada como função atípica,
de natureza legislativa, a edição de normas regimentais e preenchimento de lacunas das
leis mediante intepretação do caso concreto”.20
Os argumentos favoráveis aos pedidos das supracitadas ações estão embasados
na interpretação conforme a Constituição Federal, ressaltando que a carta magna rege o
ordenamento jurídico pátrio e seus princípios devem nortear a intepretação da legislação
infraconstitucional.
A hermenêutica jurídica possibilita diversas formas de interpretação: literal,
histórica, teleológica, extensiva, restritiva, dentre outras. Dessa forma, entende-se que a
interpretação se dá não apenas pela decodificação gramatical do texto legal, mas deve
levar em consideração o momento histórico da produção da norma e sua finalidade.
“A interpretação conforme a Constituição é aquela em que o intérprete adota a
interpretação mais favorável à Constituição Federal, considerando-se seus princípios e
jurisprudência, sem, contudo, se afastar da finalidade da lei.”21
Nesse sentido, Claudio de Oliveira Santos Colnago ensina:
19 PISKE, Oriana e SARACHO, Antonio Benites. CONSIDERAÇÕES SOBRE A TEOORIA DOS FREIOS E CON-
TRAPESOS (CHECKS AND BALANCES SYSTEM). Disponível em: <https://www.tjdft.jus.br/institucional/imprensa/
campanhas-e-produtos/artigos-discursos-e- entrevistas/artigos/2018/consideracoes-sobre-a-teoria-dos-freios-e-contra-
pesos-checks-and-balances-system- juiza-oriana-piske>. Acesso em 11 de outubro de 2021.
20 MALAQUIAS, Felipe Coli. DA FUNÇÃO ATÍPICA ATRIBUÍDA AO PODER JUDICIÁRIO. Disponível em: <https://
domtotal.com/direito/pagina/detalhe/38383/da-funcao-atipica-atribuida-ao-poder- judiciario#:~:text=Al%C3%A9m%20
da%20fun%C3%A7%C3%A3o%20t%C3%ADpica%20de,mediante%20interpre ta%C3%A7%C3%A3o%20do%20
caso%20concreto.. Acesso em 11 de outubro de 2021.
21 LIMA, Caroline Silva EM QUE CONSISTE O MÉTODO DE INTERPRETAÇÃO CONFORME A CONSTITUIÇÃO?
Disponível em: https://lfg.jusbrasil.com.br/noticias/2235579/em-que-consiste-o-metodo-de-interpretacao- conforme-a-
-constituicao-caroline-silva-lima. Acesso em 11 de outubro de 2021.
8 | CONSIDERAÇÕES FINAIS
O julgamento do Mandado de Injunção nº 4.733 e da Ação Direta de
Inconstitucionalidade por Omissão – ADO nº 26, foi longo e polêmico, dividindo a doutrina
e a opinião pública, de um lado os defensores da criminalização da homotransfobia, de
outro os contrários à criminalização, seja por considerar correta a conduta e incorreta a
manifestação da sexualidade diversa ao gênero hetero cis- normativo, seja por acreditar
contrariar o ordenamento jurídico, sob a tese de desrespeito ao Princípio da Separação dos
Poderes e aos princípios penais.
Os argumentos contrários à criminalização se fundaram na ideia de que o Poder
Judiciário não pode usurpar a função típica de legislar do Poder Legislativo, além de
considerar desrespeitar os princípios penais que determinam que apenas a lei em sentido
estrito pode criminalizar uma conduta, lei esta que deve emanar do Congresso Nacional,
sendo inadmissível também, a utilização de analogia em direito penal.
Em contrapartida, os favoráveis à criminalização suscitaram a mora legislativa, sob
a alegação de que há um mandado de criminalização da conduta, expresso nos incisos XLI
e XLII da Constituição Federal.
23 Retirado da Decisão do Supremo Tribunal Federal acerca da ADO nº 26, disponível em: http://portal.stf.jus.br/proces-
sos/detalhe.asp?incidente=4515053. Acesso em 11 de outubro de 2021.
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CAPEZ, Fernando. CURSO DE DIREITO PENAL – Parte Geral 1. São Paulo. Editora Saraiva. 2015;
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www.berenicedias.com.br/manager/arq/(cod2_612)a_homofobia_e_a_omissao_do_legislador
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RIBEIRO, Djamila. Pequeno Manual Antirracista. São Paulo. Editora Companhia das Letras. 2019;
ABSTRACT: This article aimed to analyze the presence of revenge in the popular conception
of justice over time and the disproportionate punishments caused by this imagination. How did
the punitive imaginary evolve from the popular conception of what justice is? How was the idea
of justice and punishment addressed by legal thinkers? What are the reverberations of this
vengeful imagination in the contemporary moment? Readings and analyzes of bibliographic
sources and contemporary case studies were carried out that show the relationship between
revenge and justice. Its main conclusion is that human nature, with its collective thinking
supported by common sense and taking into account only its emotions and not a morality
created with tests over generations, still tends to raise revenge to the level of justice, an effect
which is not purposefully originated but rather derived from the combination of the State’s
failure to fulfill its duty to apply and execute laws and a moral misalignment of written laws,
and criminal public policy, with those that would meet the ethical and moral appeal of the
people.
KEYWORDS: Criminal Law; Justice, Revenge; Society.
INTRODUÇÃO
No decorrer dos séculos houve inúmeras tentativas de criar uma concepção de
justiça a qual de fato fosse justa, no entanto, durante muito tempo o que se conseguiu
foi apenas criar conceitos de justiça imbuídos, em sua essência, de vingança, pois,
primeiramente criou-se a concepção popular de justiça que associava dois elementos
distintos, a justiça e a religião, criando-se uma concepção ligada às divindades da época,
o que acabou desembocando em um punitivismo desenfreado, pois toda violação cometida
contra a sociedade era tida como uma ofensa a um deus, portanto, era punida com a morte.
Superada essa ideia de justiça divina, iniciou-se uma época de justiça privada,
na qual, os próprios cidadãos - os quais possuíam seus direitos infligidos - buscavam a
justiça com as próprias mãos e essas ações reativas, muitas vezes, eram desmedidas e
imbuídas de um sentimento de vingança extrema. Ainda, mais adiante no tempo, foi cedido
ao Estado o ius puniendi, o direito de punir os cidadãos, e, com isso, acreditou-se fielmente
termos conseguido criar uma forma de justiça a qual de fato fosse justa, no entanto, logo
se percebeu o quão cruel também pode ser o Estado por meio das medidas de coerção
e consenso que busca efetivar a justiça social (AZEVEDO, 2013, p. 129) junto aos seus
jurisdicionados.
Atualmente, vivemos uma época em que o Estado punitivo foi parcialmente freado,
principalmente, pelo advento das constituições e do direito internacional. Apesar disso,
percebe-se que entre a população, permanece vivo um extremo clamor, possuído por um
sentimento de vingança, de volta à justiça privada. Por isso, a vingança tem sido um tema
extremamente recorrente nas sociedades contemporâneas, sendo retratada em inúmeros
1 Lançado no ano de 2009, seu personagem principal tenta revelar as incoerências existentes no sistema judicial,
uma vez que certos assassinos são absolvidos e retomam a liberdade, ou, obtêm o benefício da redução das penas
aplicadas.
2 Teve sua estreia no ano de 2006. Retrata uma perspectiva futurista na qual a Inglaterra se rege por um Estado tota-
litário, mas um de seus personagens exorta os ingleses a se rebelar contra a situação e unificar forças em defesa da
libertação e da justiça.
3 Aborda a vida de jovem preso injustamente, porém, elabora estratégias vingativas contra quem o traiu.
O ápice dessa fase se deu com o advento dos estados absolutistas que se utilizavam
da religiosidade, por meio da crença no direito divino dos reis (O monarca era um enviado
A VINGANÇA NA LITERATURA
Na literatura em geral, há dois casos que chamam bastante atenção no que diz
respeito à vingança. O primeiro, trata-se do caso de Ródion Românovitch Raskólnikov
personagem principal do romance Crime e Castigo, que desenvolve uma peculiar teoria
que prega que o mundo se divide entre homens ordinários e extraordinários e afirma que
os ordinários são sempre submissos à lei e os extraordinários, como Napoleão, são dignos
das maiores atrocidades em nome de um bem maior sem que com isso devam sofrer os
rigores da justiça legal (DOSTOIÉVSKI, 2019, p. 254-273).
Embora na trama dostoiévskiana o protagonista, após pôr em prática sua teoria
se deparar com falhas morais grosseiras em suas atitudes que o levam a uma grave
desestabilização psicológica, revertida apenas após a conquista da redenção outorgada
pela sua punição devida dentro dos trâmites legais, ainda hoje vemos um fenômeno
semelhante na sociedade moderna.
Tal fenômeno é observável após a união de dois fatores que são a inefetividade
do Estado no cumprimento de leis e/ou leis não condizentes com a moral geral da
população. Com essa combinação no mínimo “explosiva” vêm à tona indivíduos à imagem
e semelhança de Raskólnikov, crentes de que são dignos de estabelecer a justiça por si
mesmos, praticando a vingança privada, em nome de uma suposta sociedade melhor.
Vários são os problemas disso que nomeamos aqui de “raskolnificação”. O principal,
que é do que trataremos, refere-se à vulnerabilidade e corruptividade de pessoas que
outrora seriam inclinadas à lei, como é o caso do aumento do surgimento de milícias4,
entidades formadas por policiais e agentes da lei em atividade ou aposentados atuando
dentro de um próprio código moral deturpado na execução e aplicação de vinganças em
nome de um suposto “bem da população”.
4 Matéria recente destaca que “Milícias se alastram por pelo menos 11 estados”. Entre os milicianos estão “ações de
grupos paramilitares armados e chefiados por agentes públicos da área de segurança”. Além disso, eles expandem
suas atuações por “territórios urbanos e rurais, onde impõem lei própria e serviços econômicos, além de se envolverem
em assassinatos”. Disponível em: https://oab-rj.jusbrasil.com.br/noticias/2907553/milicias-se-alastram-por-pelo-menos-
-11-estados. Acesso em: 01 fev. 2023.
É possível inferir, com base nessa proposta, que essencialmente o que vem a diferir
a justiça da vingança é o agente que põe em prática a ação. Uma vez que o contrato social
estabeleceria a delegação desse direito do povo ao Estado. Obviamente, não levaremos
em consideração integralmente a ideia oferecida pelo autor, mas devemos conservar a
ideia central do que justificaria o Estado agir em nome do indivíduo, afastando, tanto quanto
possível, a emotividade humana inerente no momento de aplicação da pena.
Obviamente, é esperado que a vítima não deve julgar e tampouco executar uma
punição de uma situação que figure como parte, a fim de evitar arbitrariedade, desproporção
e insegurança jurídica, devendo, por isso, o Estado tomar naturalmente o seu lugar,
fazendo prevalecer o princípio do contraditório e da ampla defesa, inscrito no art. 5º, LV
da Constituição do Brasil (BRASIL, 1988), consequentemente que os homens fiquem mais
inclinados à obediência.
Quando isso ocorre, pode-se ter dois problemas possíveis interpretáveis pela visão
de Hobbes e de Frédéric Bastiat. De acordo com o primeiro, isso tem seu desencadeamento
5- Condições socioeconômicas.
Ademais, visa salientar que o tipo penal desses linchamentos públicos foi instituído
pelo Decreto-Lei n° 2.848/40, pelo artigo 345 o qual preleciona em seu caput “Art. 345 -
Fazer justiça pelas próprias mãos, para satisfazer pretensão, embora legítima, salvo quando
a lei o permite:”. Assim, mesmo essa conduta sendo tipificada pelo Código Penal brasileiro,
ainda é uma conduta extremamente comum e seus agentes quase nunca são punidos,
com exceção de raros exemplos, como se observará nos casos estudados mais adiante,
pois, essa é uma conduta que apesar de tipificada é tida como normal pelas camadas mais
populares da sociedade. Com isso, tendo demonstrado o por que a vingança privada ainda
ocupa tanto espaço na sociedade brasileira, passa-se agora para a análise de alguns casos
de linchamento os quais ficaram famosos no Brasil no ano de 2022.
O primeiro exemplo de linchamento ocorreu no Estado do Rio de Janeiro. A CNN
NEWS BRASIL em cobertura jornalística publicou no dia 4 de fevereiro de 2022: Caso
Moïse: os fatores que levam a tantos casos de linchamento no Brasil.
Moïse se mudou do Congo em 2011 com a mãe e os irmãos, como refugiado
político, para fugir da guerra e da fome.O rapaz de 24 anos foi espancado
até a morte no dia 24 de janeiro, depois de, segundo sua família, cobrar o
pagamento de duas diárias atrasadas no quiosque onde trabalhava na praia
da Barra da Tijuca, zona oeste do Rio.
Com isso, é evidente que esse princípio é extremamente aviltado por esses
linchamentos públicos visto que, ao linchar as pessoas as quais cometeram um crime,
cria-se um tribunal de exceção, no qual o juiz é a opinião pública, e esses, os quais são
Por fim, fica evidente que o Estado brasileiro precisa tomar uma atitude para frear
essa problemática dos linchamentos públicos, visto que, caso contrário, estaremos cada
vez mais próximos de voltar a uma justiça privada como preleciona o doutrinador Cezar
Bitencourt, ou caminharemos para um estado de violência de todos contra todos, como
prelecionou o filósofo Thomas Hobbes.
CONCLUSÃO
O presente artigo possuiu como pressuposto a análise de como se desenvolveu
o conceito de justiça na mente da população e como que se chegou a essa ideia vulgar
de mistura conceitual entre a justiça e a vingança. Assim, as finalidades e os problemas
da pesquisa foram esclarecidos visto que, após minuciosa análise, iniciando-se com a
contextualização histórica, passando por uma análise desse ideal em umas das principais
literaturas do mundo, e até mesmo nas ideias dos maiores pensadores da história, chegou-
se à comprovação dessa teoria de confusão conceitual por intermédio dos inúmeros casos
de linchamento relatados.
Além disso, o método utilizado foi extremamente promissor, visto que, devido
à finalidade da pesquisa, somente por intermédio da análise bibliográfica e documental
poderia ser feito o seu estudo da melhor forma possível e apenas com a análise de casos
reais relatados pela mídia brasileira se conseguiria, de fato, comprovar a problemática ora
apresentada dentro da realidade do país.
Após as análises sobre a linha tênue entre vingança e justiça, permeando dúvidas
e sendo discutida ao longo da história, na literatura, para os pensadores mais diversos e,
ainda, na sociedade moderna, através mesmo da cultura popular, ainda é difícil identificar
uma concepção ideológica sobre justiça que, definitivamente, determine e delimite onde
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em: 31 dez. 2022.
1 | INTRODUÇÃO
A presente pesquisa tem como tema “Estupro uma Violência Sexual contra a
Mulher: Mudanças de Penalidades com a Lei 12.015/2009”, discute as mudanças da
legislação brasileira para punir os agressores sexuais que violentam crianças e adultos
independentemente do sexo, mas aqui o foco é o estupro praticado contra a mulher, a qual
tem uma trajetória de luta na sociedade brasileira e no mundo.
Destarte, o estudo bibliográfico faz uma retrospectiva da história da mulher dando
ênfase às suas conquistas adquiridas por meio dos movimentos feministas, os quais se
tornaram poder constituinte por se tornarem textos constitucionais de direitos e deveres da
mulher perante a sociedade, tornando o direito de isonomia uma realidade entre homens
e mulheres, mas é claro que a excelência deste direito ainda está na teoria porque na
prática ainda se encontra no processo de construção, já que diversas mulheres sofrem
com várias tipologias de violências na sociedade e em seus próprios lares, inclusive com o
estupro cometido por agressores desconhecidos, conhecidos, parentes e até pelos próprios
cônjuges.
Assim, o objetivo deste artigo é de evidenciar a Lei nº 12.015/2009 na defesa da
dignidade sexual da mulher, inovando com penalidades e unificando as tipologias penais,
estupro e atentado ao pudor, como um único crime, “estupro”. E tem como questão
problema a seguinte: Quais foram as mudanças de melhorias das penalidades para o crime
de estupro, trazida pela Lei nº 12.015/2009?
A hipótese inicial é a de que Lei nº 12.015/2009 inovou a legislação brasileira
contra o crime do estupro, punindo aqueles que agridem a dignidade sexual das pessoas
e consequentemente a dignidade humana, porque impedem os sujeitos de usufruírem a
liberdade de praticar o sexo como desejam sem atingir terceiros.
Neste viés, os textos elaborados em seções deste artigo cumprem com o dever
de direcionar o leitor a uma sequência de raciocínio para melhor compreensão, então
primeiramente foram apresentados os direitos e a identidade da mulher no Brasil, abordagem
sobre a sociedade machista que impedia e impede a plenitude da mulher no seu contexto
social, cultural, político e econômico. E ainda, descreve a trajetória das legislações sobre
o crime do estupro.
• Constituição de 1946 descreve diversos direitos, tais como: igualdade dos cida-
dãos diante da lei, liberdade para opinar, de consciência, de crença, extinguiu a
censura e pena de morte e estabeleceu a eleição direta.
Relevante, destacar que a prática do sexo pela mulher se tornou uma obrigatoriedade
no casamento, devido à cultura da sociedade patriarcal, onde a mulher ocupa uma posição
de subordinação, tanto que Simone de Beauvoir (1967), afirma que o casamento está para
a mulher por meio da manutenção da vida sexual ativa, atendendo sempre as vontades
do marido assim como a realização profissional está para o homem em obter sucesso.
Em outras palavras, o sexo no casamento é considerado pela ideologia machista uma
imposição ou um serviço de obrigatoriedade da mulher.
Nestes viés é que se aglomera a violência de gênero que age como resultado do
reflexo da ideologia patriarcal, mostrando com clareza as relações de poder existentes
entre homens e mulheres. Então, segundo Cerqueira e Coelho (2014, p.2):
[...] subproduto do patriarcalismo, a cultura do machismo, disseminada muitas
vezes de forma implícita ou sub-reptícia, coloca a mulher como objeto de
desejo e de propriedade do homem, o que termina legitimando e alimentando
diversos tipos de violência, entre os quais o estupro. (CERQUEIRA e COELHO,
2014, p.2)
Nesta Citação Nucci aponta as mudanças trazidas pela Lei 12.015/2009 aos crimes
de estupro ou contra a dignidade sexual, apontamentos que trouxeram maior segurança e
harmonia para a vida em coletividade ou no meio social. Uma vez que a pessoa é livre até
na vida sexual, por isso a dignidade sexual compreende a pratica do sexo de acordo com
o desejo dos cidadãos, desde que não afete os direitos de outras pessoas ou terceiros.
Na concepção de Capez (2015), a Lei nº 12.015/20009 mudou o Título VI do Código
Penal Brasileiro tratando dos delitos contra a dignidade sexual, suprimindo a expressão
“Dos crimes contra os costumes”. Destarte, muda o foco da assistência jurídica, deixando
a questão do resguardo da moral e dos bons costumes e focando agora na tutela da
dignidade do sujeito, especificamente a dignidade sexual.
Nesta perspectiva, a legislação traz como reflexão que a dignidade sexual tão
relevante quanto à dignidade humana, visto que as pessoas tem o direito de liberdade para
utilizar o corpo da forma que desejar, sem atingir os direitos ou a integridade de outros
sujeitos.
O advento da Lei nº 12.015/2009, alterou o Código Penal também na substituição
de outro termo, “mulher”, onde foi colocado o termo “alguém”, o que mostra que esta
legislação não protege somente a mulher, mas todos os sujeitos que são vítimas ou que
sofrerem violência de estupro.
Diante do exposto, é imprescindível frisar que quem pratica o crime de estupro sofre
consequências ou penalidades que pode ser de 6 (seis) a 10 anos de reclusão. Mas, esta
quantidade pode variar quando a conduta traz lesão corporal grave ou quando a vítima é
menor de 18 anos, a pena é reclusão de 8 (oito) a 12 (doze) anos. E se a conduta do crime
de estupro levar à morte, a pena de reclusão é de 12 (doze) a 30 (trinta) anos.
Em complemento a estas penalidades que protegem à espécie humana é importante
evidenciar que foi criada também a Lei nº 12.845/2013 que impõe um dever aos hospitais
do Sistema Único de Saúde que é de atender as emergências constituídas pelas vítimas
de violência sexual, além disso, fazer diagnóstico e tratamento de lesões e ainda exames
para identificar gravidez e doenças sexualmente transmissíveis.
4 | CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este estudo aqui apresentado buscou de uma forma clara e objetiva mostrar a
REFERÊNCIAS
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1 | INTRODUÇÃO
Nos dias atuais, muito tem se falado sobre a legalização, liberação, descriminalização,
despenalização do uso de drogas, isto que muitos países vizinhos tem tomado medidas
significativas quanto ao assunto em questão. O Uruguai, por exemplo, em 2013 legalizou
o uso da maconha e também reprovou a comercialização e produção da droga em todo
o país, sendo assim, usuários da maconha além de não serem mais punidos pelo uso,
também poderão encontrar lugares onde a venda é legal e poderão usar em qualquer local,
sem medo, vergonha ou constrangimento, visto que a droga passou a ser legalizada.
No presente artigo, iremos tratar acerca de 2 (dois) institutos, são eles:
descriminalização e despenalização do uso de drogas.
A descriminalização é fazer com que o fato em si não seja crime. A despenalização é
fazer com que o crime não seja mais punido com pena privativa de liberdade, ou seja, será
punido com uma advertência, mas ainda sim continuará sendo crime.
(BRASIL, 2006)
Para que uma substância ou produto seja classificado como droga, apenas a
dependência daquele produto não é suficiente, sendo necessário, ainda, que, esteja em lei
ou em lista elaborada pelo Poder Executivo da União.
Olhando atentamente para o artigo supramencionado, percebemos o motivo de o
cigarro ou a bebida alcóolica não serem proibidos no Brasil, pois, muito embora causem
dependência aos seus usuários e, por vezes, consequências severas à saúde, as
substâncias que os compõem não são tidas como entorpecentes, para fins de aplicação do
elencado no art. 28 da Lei de Drogas.
É sabido que as drogas, independente de seu tipo, trazem severas consequências,
não apenas psíquicas e físicas, mas também dependências física e psicológica, podendo
leva-los à morte devido ao uso excessivo da droga, o que chamamos de Overdose.
a) Papel do Operador de Direito quanto a Análise da Legislação Antidrogas
A análise acerca do consumo de drogas é muito importante, de tal forma que,
reduzi-la a uma explicação de causalidade linear seria negar-lhe toda sua complexidade.
O fenômeno está inserido no âmbito de diversas problemáticas impostas à sociedade,
comunidades locais e desafiam as autoridades e pesquisadores a apresentar soluções.
Ainda que o consumo de drogas seja uma das práticas mais antigas da humanidade, o
homem ainda busca alternativas para conseguir lidar com a questão, variando de maneiras
políticas e culturais, de acordo com cada localidade.
O conhecimento acerca de consumo de drogas nas diversas sociedades humanas
tem nos mostrado que o consumo atualmente tem se mostrado cada vez mais amplo e
distribuído em diferentes grupos sociais, culturais, profissionais, etários, ao mesmo tempo
em que consegue adquirir novos e diferentes significados. O uso de drogas é, num primeiro
momento, identificado como a busca pelo prazer imediato. Mas há também, diversos outros
significados, tais como: estratégia de socialização; aquisição de uma identidade de algum
grupo específico; ocupação do tempo livre. De qualquer forma, a compreensão acerca
do motivo do consumo de drogas pelo usuário necessita da adoção de uma perspectiva
sistêmica.
b) O uso abusivo de drogas
As consequências do uso abusivo de drogas afetam sociedades ao redor do
mundo, envolvendo homens e mulheres de diversos grupos étnicos, socioeconômicos e
etários. O consumo de drogas no Brasil mostra que as mais consumidas e causam maior
dependência são as drogas lícitas (álcool e cigarro). A presença de drogas no país não se
deve apenas aos traficantes internacionais, mas obedece a lógica de funcionamento da
sociedade, caracterizada por interesses econômicos e norteada pelo consumo em geral.
(BRASIL, 2001)
I - admoestação verbal;
II - multa.
(BRASIL, 2006)
7 | DESCRIMINALIZAÇÃO OU DESPENALIZAÇÃO?
Quando se fala sobre descriminalizar, falamos sobre abolir a criminalização
(tipificação), tornando a ação jurídico-penal irrelevante. Já quando se trata acerca da
despenalização falamos sobre a substituição (legislativa ou judicial) da pena de prisão
por penas de outra natureza (por exemplo: restritiva de direito). Portanto, se com a
descriminalização o fato deixa de ser infração penal (seja crime ou contravenção). Com a
despenalização a conduta permanece sendo criminosa.
A partir da vigência da nova Lei de Drogas (nº 11.343/2006), a letra de lei sofreu
revogação expressa da Lei nº 6.368/1976 que trazia tipificada e apenada a conduta de
“adquirir, guardar consigo, para uso próprio, substância entorpecente [...]” a qual era
atribuído uma pena ao infrator de detenção de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos cumulada
com a pena de multa. Portanto, pela revogada lei era crime, punido com pena de restrição
(BRASIL,2006)
I - admoestação verbal;
II – multa
(BRASIL, 2006)
Dessa forma, resta percebido que, em nenhum momento ficou disposto na nova
lei que o usuário que adquire, armazena, transporta consigo, para uso pessoal drogas ou
substâncias ilícitas será submetido à pena privativa de liberdade, como era então prevista
na antiga Lei nº 6.638/76, estando disposto somente penas restritivas de direitos.
O que realmente interessa, para a definição legal de crime, não é propriamente a
espécie de pena cominada, mas os seus pressupostos legais formais. Além do mais, as
espécies e possibilidades de cominação de penas pelo legislador não provém de um rol
taxativo, mas somente imprescritível que tantas penas quanto forem criadas pelo legislador
sejam compatíveis com a dignidade da pessoa humana e o princípio da humanidade das
penas, proibitivo de penas cruéis.
a) Porte para consumo X Tráfico
Como saber se o indivíduo está portando droga para uso ou tráfico? Esta decisão
será discricionária do juiz que julgará o caso, porém com alguns critérios estabelecidos no
parágrafo 2º do art. 28:
Art. 28 [...]
(BRASIL, 2006)
8 | CONCLUSÃO
Pode ser concluído, quando se fala em Lei de Drogas, que a descriminalização
e a despenalização são faladas de forma equivocada, pois é necessário que se tenha
atenção a cada significado diferenciado. Em relação ao usuário, que é tratado de maneira
diferenciada nesta Lei em relação à anterior, pode-se dizer que foi despenalizado, não
sofrendo mais penas de detenção e reclusão, mas sim penas alternativas a estas, que
punem pelo perigo que o agente apresenta e não pelo delito cometido, visando reeducar o
sujeito ao invés de retribuir o mal feito.
Conforme visto desde as legislações anteriores até os dias atuais a criminalização
do porte de drogas mostra a necessidade de proteger em primeiro ponto a saúde pública
e depois a saúde do usuário, de forma que seu uso incontrolável acaba gerando danos a
saúde e se tornando dependente, ao modo que precise de tratamento com dificuldades de
ser custeados pelo SUS.
Outra consequência derivada pelo usuário eventual por simples vontade de se
drogar e acaba com essa atitude financiar o tráfico e a criminalidade gerada pelo tráfico,
pois dele advêm outros crimes como homicídio, tráfico de armas entre outros, lesando
assim de forma indireta a coletividade, como também lesa de forma direta a sociedade
quando pratica crimes sob a influência do entorpecente, neste caso, se faz necessária à
sanção punitiva para quem faz o uso eventual das drogas, para intimidar o agente a não
cometer novamente o crime. Assim, entende-se que não há outro ramo do direito para
intervir do que o Direito Penal, já que o delito de porte de entorpecentes põe em risco a
vida, a saúde, a integridade física e a segurança de toda a coletividade.
Pelo ordenamento jurídico vigente, para ser considerada droga a substância deve
estar inserida na portaria 344 do Ministério da Saúde, portanto só será unida se estiver lá
descrita, não podendo aumentar este rol sem uma atualização do próprio Ministério.
É necessário que haja uma maior atenção voltada ao tratamento dado ao usuário de
drogas, pois crime de perigo abstrato não é conveniente a todo e qualquer tipo de droga e a
sociedade não é atingida e colocada em risco pelo uso de qualquer das substâncias ilícitas,
seria mais conveniente um tratamento de crime de perigo concreto, sendo necessário avaliar
o mal que a determinada droga pode ter feito ao caso mais específico a ser analisado por
autoridade competente.
Nos dias atuais, o Brasil busca adotar o princípio da insignificância para o usuário
de drogas com base em três critérios: I – mínima ofensividade da conduta do agente;
II – Nenhuma periculosidade social da ação; III – Reduzido grau de reprovabilidade do
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social de usuários e dependentes de drogas; estabelece normas para repressão à produção não
autorizada e ao tráfico ilícito de drogas, define crimes e dá outras providências. Disponível em: https://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11343.htm Acesso em: 26/11/2022
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meio eletrônico. Disponível em: http://www.normaslegais.com.br/legislacao/portaria-mtp-334-2022.
htm#:~:text=Estabelece%20diretrizes%20sobre%20a%20emiss%C3%A3o%20do%20PPP%20em%20
meio%20eletr%C3%B4nico.&text=Considerando%20a%20necessidade%20de%20garantir,Art. Acesso
em: 27/11/2022
1 | INTRODUÇÃO
A redução da maioridade penal é um tema muito discutido, posto que há vários
posicionamentos diferentes, pessoas as quais são a favor a essa redução e pessoas as
quais são contra, cada pessoa tem um posicionamento diferente, contudo o importante é
frisar nas consequências, que poderão trazer caso essa redução fosse discutida e aprovada
pelo Congresso Nacional.
A redução da maioridade penal quer dizer, que, se ela viesse a ser aprovada, os
menores entre 16 anos e de 18 anos não responderiam mais por lei especial, no caso a ECA
(Estatuto da Criança e do adolescente), mas sim pelo Código Penal, no caso, responderiam
igualmente os maiores de idade, sofrendo as mesmas penalizações e encarceramento nas
cadeias públicas e nas penitenciárias.
A redução não seria a solução, esse é o posicionamento que grande parte dos
doutrinadores do direito penal e processual penal, pois com a redução não resolveria
o problema da sociedade, muito pelo contrário com a redução da maioridade penal os
problemas de segurança, violência e criminalidade tenderiam a se agravar, visto que os
menores infratores responderiam pelos seus crimes com pena privativa de liberdade e não
com pena de internação que é a pena adotada hoje pelo ECA, pena essa limitada a 3 anos.
Com base na coleta de dados, sabe-se que existem outros meios, outras soluções
para a redução dos atos infracionais cometidos por menores, sem precisar reduzir a
maioridade penal, alguns desses métodos seriam o investimento na educação continuada
e incentivos a cursos profissionalizantes como extensão do ensino médio para o ingresso
na vida profissional.
Ainda, este trabalho foi desenvolvido com base em pesquisas, sendo utilizados
o Código Penal, a Constituição Federal de 1988 (CF/88), o Estatuto da Criança e do
Adolescente comentada, do Autor Guilherme de Souza Nucci, a Execução das Medidas
Socioeducativas Comentada lei n° 12.594/2012, o Autor José Alberto Cavagnini, somos
inimputáveis: O Problema Da Redução Da Maioridade Penal No Brasil.
2 | INIMPUTABILIDADE
O Código Penal Brasileiro traz em diversas modalidades de pessoas que são
consideradas inimputáveis, dentre esses estão:
3 | MAIORIDADE PENAL
No que diz respeito à maioridade penal, a legislação brasileira adotou um limite de
idade para a imputabilidade penal, no caso, 18 (dezoito) anos. A CF/88 traz a proteção à
criança e ao adolescente assegurando a inimputabilidade ao menor de 18 (dezoito) anos.
• Artigo 2º Considera-se criança para efeito dessa Lei a pessoa até 12 anos de
idade incompletos e adolescentes, aquela entre 12 e 18 anos de idade.
• Artigo 6º Na interpretação desta lei leva-se em conta os fins sociais a que ela
se dirige, as exigências do bem comum, os direitos e deveres individuais e
coletivos, e a condição peculiar da criança e do adolescente como pessoas em
desenvolvimento.
Um dos principais pilares do ECA é a proteção e o direito à vida e à saúde, direito
à vida é assegurado no artigo 5º da CF/88, e dessa mesma maneira o ECA também
assegura esse direito a todas as crianças e adolescentes, sendo dever do Estado proteger,
assegurar todos os direitos cabíveis aos mesmos. O ECA também assegura esse direito
a todas as crianças e adolescentes, o direito à liberdade quer dizer que todas as crianças
e adolescentes são livres tendo o direito de ir e vir, de brincar, de escolher e ter uma
determinada religião, sempre respeitando a sua dignidade humana.
O ECA traz ainda as medidas que serão tomadas quando um adolescente comete
algum fato análogo a crime, medidas essas que sempre serão aplicadas todas as vezes
que os adolescentes cometerem atos infracionais, visto que o mesmo por terem essa
condição de serem inimputável não irá responder pelo Código Penal, mas sim pelas
medidas socioeducativas.
6 | CONCLUSÃO
Realizada as análises do assunto como um todo, chega-se à conclusão que
o posicionamento da CF/88 em relação à maioridade penal, está em consonância com
doutrinadores do direito e com as leis especiais como o ECA. A redução da maioridade
penal não seria a solução para a redução da criminalidade, trata-se de um problema social
que começa muito antes das crianças e dos adolescentes cometerem os atos infracionais.
Há uma grande omissão por parte do Estado que não investe devidamente como
deveria na educação das crianças e dos adolescentes, há também uma grande omissão
por parte da família dos pais ou do representante legal do menor que não dá o devido
suporte, o devido cuidado, o afeto, isso é muito importante e todos precisam de muito amor
e carinho, principalmente na infância quando a criança começa a desenvolver o seu caráter
intelectual.
Ainda, fazer com que os menores infratores respondem como adultos pelo Código
penal seria a mesma coisa que desistir da recuperação desse menor e entregá-lo de vez
a criminalidade, isso só agravaria muito mais a situação da violência e da criminalidade,
aumentando a população carcerária que já se encontra em estado de superlotação.
O menor de 18 anos é inimputável, fazendo a alteração e reduzindo essa maioridade
penal para os 16 anos, seria uma medida totalmente inconstitucional, ferindo os ditames da
CF/88. A sociedade clama pela redução da maioridade penal, a fim de que consiga reduzir
a criminalidade, porém a redução da maioridade penal não seria a solução para que o
índice de criminalidade diminuísse.
Há uma grande omissão do Estado em investir na educação e a negligência da
família que muitas das vezes não tem estrutura para contribuir na formação desses
adolescentes. A redução da maioridade penal não é a saída que a sociedade encontra para
a diminuição da criminalidade, existem outros meios mais eficazes do que punir.
Outrossim, colocando os menores infratores em regimes mais gravosos, juntos com
os adultos, não contribuiria nenhum pouco para que esse menor não se torne mais um
reincidente, como encontra-se hoje a população carcerária - a maioria reincidente. Logo,
se o sistema prisional não está dando conta dos criminosos adultos, pior ainda com os
menores infratores.
Portanto, com a redução da maioridade penal, aumentaria ainda mais a população
carcerária que já se encontra em estado se superlotação, sendo assim aumentaria ainda
DECLARAÇÃO DO AUTOR
Declaro que o trabalho apresentado é de minha autoria, não contendo plágios
ou citações não referenciadas. Informo que, caso o trabalho seja reprovado duas vezes
por conter plágio pagarei uma taxa no valor de R$ 250,00 para terceira correção. Caso o
trabalho seja reprovado não poderei pedir dispensa, conforme Cláusula 2.6 do Contrato de
Prestação de Serviços (referente aos cursos de pós-graduação lato sensu, com exceção
à Engenharia de Segurança do Trabalho. Em cursos de Complementação Pedagógica e
Segunda Licenciatura a apresentação do Trabalho de Conclusão de Curso é obrigatória).
REFERÊNCIAS
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Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decretolei/Del2848.htm Constituição
Federal da República Federativa do Brasil, Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
Constituicao/Constituicao.htm.
JESUS, Damásio de. Direito Penal. 25. Ed. São Paulo: Saraiva 2002.
CRONER, Antônio Carlos. “A Redução da Maioridade Penal”, artigo apresentado como requisito
parcial à obtenção do título de Especialista em Direito Penal e Direito Processual Penal, no
curso de Pós-Graduação, do Instituto Brasiliense de Direito público, Brasília/DF. 2011
CAPEZ, Fernando. Curso de direito Penal. Parte Penal.21ª. Ed. São Paulo: Saraiva 2012.
Art. 206. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios:
Art. 4º. O dever do Estado com a educação escolar pública será efetivado
mediante a garantia de:
(BRASIL, 1996).
Com base em Foucault, ela explica que o gênero nasce a partir das relações de
poder entre subordinação e dominação, entre quem obedece e quem manda. Essas
relações são construídas no meio social, no convívio com outras pessoas, portanto, sempre
relativas e relacionais. Gênero em consonância com Scott (1990) é a organização social
da diferença sexual, um saber que dá significados para as diferenças corporais, o modo
Esse reconhecimento não é tarefa fácil, pois diversas vezes nos deparamos com
esse desafio, fazendo-nos olhar para a nossa própria história, fazendo com que pensemos
as nossas ações, opções e valores. O reconhecimento das diferenças incide em romper
preconceitos, superar velhos paradigmas.
3 | CONSIDERAÇÕES FINAIS
As conquistas e desafios em manter uma sociedade longe da violência infelizmente
continua distante, pois não depende apenas de um orgão, mas de todo um conjunto,
começando pela educação de qualidade, moradia digna, direito as principais refeições do
dia, segurança pública, empresas que geram emprego para sociedade, com isso um ponto
irá completar o outro, para enfim, diminuir drásticamente os índices criminais.
A educação básica de qualidade irá preparar jovens e crianças para construção de
uma sociedade melhor, por isso o combate a violência pode ser visto como uma pirâmide,
a qual possui vários degraus , onde um complementa o outro.
Não podemos dar valor excessivo á apenas um deles, pois a educação e respeito
nos lares também é um ponto muito importante que não depende das escolas e professores.
Contudo, o ensino propicia uma imensa riqueza no processo de criatividade, e
apresenta o papel principal de construtor do conhecimento como um todo. Entretanto o
ensino também é essencial para a aquisição de outros conhecimentos, habilitando, portanto
o sujeito nas práticas que envolvem um quantitativo da realidade.
A segurança pública por sua vez, tem o papel não somente de reprimir o crime e a
violência, mas também na sua prevenção, e ela se dá desde a base da pirâmide, juntamente
com a educação básica, pois as crianças serão o futuro. O papel da polícia comunitária e
preventiva é de suma importância na vida dos jovens, realizando esse trabalho preventivo
e de mãos dadas com a educação básica, formando não somente jovens , mas cidadãos
com futuro promissor, o qual consequentemente irá diminuir os índices de violência a longo
prazo.
REFERÊNCIAS
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Caso: Escola Secundária de Achada Grande. Universidade Jean Piaget de Cabo Verde, 2009.
LA TAILLE, Yves de. A indisciplina e o sentimento de vergonha. Indisciplina na escola. São Paulo:
Summus, 1996.
SIMILI, Ivana Guilherme (Org.) Corpo, gênero e sexualidade. Maringá: EDUEM, 2011. (Formação de
Professores - EaD, n. 50).
“Art. 15-B. O piso salarial nacional dos Enfermeiros contratados sob o regime
dos servidores públicos civis da União, das autarquias e das fundações
públicas federais, nos termos da Lei nº 8.112, de 11 de dezembro de 1990,
será de R$ 4.750,00 (quatro mil setecentos e cinquenta reais) mensais.
Parágrafo único. O piso salarial dos servidores de que tratam os arts. 7º, 8º
e 9º desta Lei é fixado com base no piso estabelecido no caput deste artigo,
para o Enfermeiro, na razão de:
Parágrafo único. O piso salarial dos servidores de que tratam os arts. 7º, 8º
e 9º desta Lei é fixado com base no piso estabelecido no caput deste artigo,
para o Enfermeiro, na razão de:
• Fato do príncipe: situação na qual o próprio estado, mediante ato lícito, modifica
as condições do contrato, provocando prejuízo ao contratado. São exemplos:
Covid-19, oneração ou desoneração da folha de pagamento.
Com efeito, como os custos do contratado sofre variação de preço ao longo do tempo
sem que nada de anormal ou extraordinário aconteça, a lei prescreve que a administração
deve dispor de critério de reajuste no edital e no contrato para fazer frente a variação de
preço decorrente do processo inflacionário.
Em outras palavras, há necessidade de indexação de índice anual de reajuste no
corpo editalício e contratual, que preservará o equilíbrio da relação jurídica e econômica
firmada quando da homologação da licitação ou do orçamento a que essa se referir.
Entretanto, a jurisprudência diverge quando da utilização da revisão como
mecanismo de reequilíbrio financeiro em virtude de dissidio salarial anual.
ADMINISTRATIVO. AGRAVO REGIMENTAL. CONTRATO ADMINISTRATIVO.
DISSÍDIO COLETIVO QUE PROVOCA AUMENTO SALARIAL. REVISÃO
CONTRATUAL. EQUILÍBRIO ECONÔMICO-FINANCEIRO. FATO PREVISÍVEL.
NÃO-INCIDÊNCIA DO ART. 65, INC. II, ALÍNEA “D”, DA LEI N. 8.666/93. ÁLEA
ECONÔMICA QUE NÃO SE DESCARACTERIZA PELA RETROATIVIDADE. 1.
É pacífico o entendimento desta Corte Superior no sentido de que eventual
aumento de salário proveniente de dissídio coletivo não autoriza a revisão o
contrato administrativo para fins de reequilíbrio econômico-financeiro, uma
vez que não se trata de fato imprevisível - o que afasta, portanto, a incidência
do art. 65, inc. II, “d”, da Lei n. 8.666/93. Precedentes.
• A repactuação é uma espécie de reajuste e, assim como ele, serve para corrigir
a desvalorização da moeda em virtude da inflação. No entanto, a repactuação
é utilizada apenas quando se trata de serviços contínuos com dedicação exclu-
siva de mão-de-obra.
REFERÊNCIAS
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Revista de Administração Pública.
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IPEA/ENAP/IBAM, 1994. v.4
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PEREIRA. Kylce Anne de Araujo. A aplicabilidade da Teoria da Imprevisão no âmbito dos contratos
administrativos . 2001.
1 | INTRODUÇÃO
É certo que a propriedade cumpre funções em favor do proprietário, mas certo é que
ela atua também em prol da sociedade. Muitas modalidades de bens não têm nenhuma
função senão a de satisfazer o dono, como no exemplo dos sapatos e dos objetos de uso
pessoal. Ninguém exigirá que bens dessa natureza cumpram funções para a sociedade. No
entanto, os bens imóveis sempre irão desempenhar funções que extrapolam o proprietário.
Os imóveis rurais têm função econômica, função ambiental, função trabalhista e
função humano-social.
No âmbito urbano o mesmo raciocínio é aplicado. Prédios particulares cumprem
uma função cultural e histórica, pois simbolizam a cultura de determinada época.
As várias funções desempenhadas pela propriedade, e que se projetam para além
dos interesses do titular, reúnem-se sob o rótulo “função social”. Emprega-se o adjetivo
“social” quando o bem traz uma utilidade que não tem natureza pública no sentido estrito,
mas uma natureza especial e em torno do qual estão unidos todos os membros da
sociedade.
Sabe-se que com o crescimento desordenado dos grandes núcleos urbanos,
a população mais empobrecida das grandes cidades passou a se agrupar em grandes
aglomerados, antes chamados de favelas e, atualmente, com maior recorrência de
comunidades. As pessoas que habitam essas comunidades sofrem com a falta de
infraestrutura básica, a exemplo do acesso a água potável, além de viverem em habitações
precárias e não regularizadas. A usucapião especial urbana foi pensada para ajudar a
legalizar a propriedade das moradias nesses locais, assegurando sua função humano
social.
Feitas estas pontuações iniciais, este artigo estabeleceu como problema a ser
investigado: quais as razões que tornam possível afirmar que a usucapião coletiva urbana
serve como instrumento de efetivação da função social da propriedade?
Visando responder ao problema de pesquisa delineado, o presente artigo objetiva
abordar o instituto da usucapião especial urbana coletiva como um instrumento de política
pública cuja finalidade é assegurar a efetivação do direito constitucional a uma moradia
digna às populações carentes.
Sabe-se que a usucapião, por ser um modo originário de aquisição do direito de
propriedade após posse prolongada e inconteste, é um instituto pertencente ao direito
privado que já é previsto no Brasil desde a Consolidação das Leis Civis, que datam de
1858. O Código Civil Brasileiro de 1916 (CC/1916) previa existir somente a usucapião
extraordinária e a usucapião ordinária. Atualmente, o CC/2002 recepcionou novas
modalidades deste instituto, além de ter reduzido os prazos para que o domínio por meio
1 Novo Dicionário Aurélio consigna o substantivo “usucapião” no feminino, enquanto o Michaelis, Moderno Dicionário
da Língua Portuguesa consigna os dois gêneros, masculino + feminino; e o Dicionário Priberam da Língua Portuguesa
consigna apenas o masculino. Portanto, se os próprios gramáticos não se entendem, vou preferir usar o vocábulo “usu-
capião” no masculino, embora reconheça que o Código Civil optou pelo feminino.
Por todo o exposto, constata-se ser a usucapião um modo originário para aquisição
do direito de propriedade, o que ocorre em virtude da inércia do proprietário e da posse
prolongada exercida pelo possuidor, desde que respeitados seus requisitos legais, o
que pode variar de acordo com cada modalidade de usucapião prevista no ordenamento
jurídico, consoante será demonstrado em tópico específico.
2.1 Requisitos
Os requisitos da usucapião se dividem em requisitos pessoais, reais e formais.
Os requisitos pessoais podem ser definidos como exigências relacionadas à pessoa
do usucapiente que almeja adquirir a coisa através da usucapião. Também, envolve o
proprietário, que, em razão da aquisição da propriedade pelo possuidor (usucapiente),
perde a sua (FARIAS; ROSENVALD, 2021).
Também, é necessário que o adquirente da propriedade, pela usucapião, seja
considerado capaz e seja detentor da qualidade para adquiri-la de tal maneira (MARQUESI,
2019). Neste ponto, importa ressaltar que os relativamente e absolutamente incapazes
podem sofrer os efeitos da usucapião, tendo em vista que são seus assistentes e
representantes que devem impedir que a usucapião ocorra.
Os requisitos reais dizem respeito às coisas e direitos suscetíveis de serem
usucapidos, sabendo-se que há direitos e coisas sobre as quais a prescrição aquisitiva
3 Segundo o artigo 1.198 do Código Civil de 2002, “considera-se detentor aquele que, achando-se em relação de de-
pendência para com outro, conserva a posse em nome deste e em cumprimento de ordens ou instruções suas”.
3 | ESPÉCIES DE USUCAPIÃO
São espécies de usucapião: a usucapião extraordinária; a ordinária; a especial rural;
a indígena; e a especial urbana familiar.
4 Tal vedação encontra-se expressa nos artigos 183, § 3º e 191, parágrafo único da CRFB/1988, que dispõem, textual-
mente: “os imóveis públicos não serão adquiridos por usucapião”.
5 Para que seja reconhecida a usucapião extraordinária, é necessária a existência da posse, que perdure, ininterrup-
tamente, por determinado período de tempo, de forma mansa e pacífica, com a intenção do possuidor de tê-la como
sua, consoante se extrai do art. 1238 do CC brasileiro de 2002. Cabe ao autor, portanto, produzir a prova de sua posse
prolongada, ininterrupta, mansa e pacífica, como também do animus domini, nos termos do art. 333, I, do CPC, sob
pena de não se lhe declarar o domínio da terra a que pretende. A prova testemunhal não comprovou a posse alegada.
Ausência prova exercício da posse do terreno. Restando ausente alguns desses requisitos, rejeita-se a pretensão por-
tal” (RIO GRANDE DO SUL. Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul - TJRS – 19ª. Câm. Cív. Ap. 70051791135. Rel.
Des. Mylene Maria Michel. Julgado em: 21.05.2013).
6 Art. 1.242 do CC/2002. “Adquire também a propriedade do imóvel aquele que, contínua e incontestadamente, com
justo título e boa-fé, o possuir por dez anos. Parágrafo único. Será de cinco anos o prazo previsto neste artigo se o
imóvel houver sido adquirido, onerosamente, com base no registro constante do respectivo cartório, cancelada poste-
riormente, desde que os possuidores nele tiverem estabelecido a sua moradia, ou realizado investimentos de interesse
social e econômico”.
Assim, verifica-se que os novos requisitos para a usucapião coletiva, após a vigência
da Lei 13.465/2017, são os seguintes: existência de um núcleo urbano informal; posse
de mais de 5 anos; fracionamento total da área de modo que atribua a cada possuidor
até 250 m2; finalidade de moradia e ausência de qualquer outra propriedade por parte
dos possuidores (PEDROSA, 2018). A alteração legislativa, como se observa, alcançou
apenas o caput do art. 10 do Estatuto da Cidade, mantendo-se inalterados os §§ 1º a 5º
do dispositivo.
A primeira alteração significativa diz respeito à expressão “núcleos urbanos informais”,
em substituição à antiga expressão “áreas urbanas”. A Lei nº 13.465/2017, na tentativa de
desburocratizar, simplificar, agilizar e destravar os procedimentos da regularização fundiária
urbana, bem como aumentar as possibilidades de acesso a terrenos urbanizados, resulta
na ampliação do alcance da regularização de terrenos ocupados, quando se considera
todos os núcleos informais com usos e características urbanas, mesmo quando situados
em zonas rurais.
São considerados “núcleos urbanos informais” aqueles conglomerados habitacionais
Entende-se que o requisito do “abandono de lar” deve ser interpretado com muita
cautela, uma vez que não é qualquer abandono que levará à fluência do prazo para
aquisição do bem imóvel, especialmente quando esse ato decorre de um consenso entre
os cônjuges ou companheiros, ou mesmo quando a continuidade da vida em comum se
torna insuportável.
Ademais, com o divórcio ou dissolução de união estável cessa a posse mansa e
pacífica apta a gerar o domínio do bem, já que, nesses casos, haverá a resolução das
questões familiares e patrimoniais, desde que ajuizada a ação dentro do prazo de dois anos
após o fim da relação conjugal (SILVA, 2-18).
Ressalta-se que o art. 1240-A pode ser também aplicado às uniões homoafetivas. Tal
entendimento foi consagrado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) após o julgamento da
[...] Impende consignar que não há estipulação do quantum da área que será
no final atribuída a cada possuidor, que à evidência, atendendo à política
urbana traçada pelo legislador constitucional, não poderá ser superior a
250 m². Isso, contudo, não está na lei, podendo dar margem a discussões
intermináveis (RIBEIRO, 2012, p. 1034-1035).
5 | CONCLUSÃO
O presente estudo objetivou discutir a prescrição aquisitiva na usucapião especial
urbana coletiva com o intuito de demonstrar se esta modalidade de licitação serve como
instrumento para de fato efetivar a função social da propriedade.
A partir do momento em que o direito de propriedade deixou de servir tão somente
à satisfação das necessidades isoladas do proprietário, a usucapião especial urbana,
notadamente a coletiva, inovadora modalidade de usucapião prevista no Estatuto da
Cidade (Lei nº 10.257/01, com a redação dada pela Lei 13.465/2017), tornou-se mais um
instrumento de fundamental importância para a viabilização dos ideais de justiça social.
Nesta pesquisa abordou-se a evolução do conceito e da estrutura do direito de
propriedade no ordenamento jurídico brasileiro, de modo a demonstrar a nítida mudança
em seu eixo de proteção, que passa a ter foco na pessoa humana e no contexto social em
que vive. Como consequência desse novo enfoque do direito de propriedade, evidencia-se
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2 | MATERIAL E MÉTODOS
A presente pesquisa trata-se de um estudo de caso sobre o uso do Termo de
Compromisso como um instrumento de gestão de conflitos pela ESEC Serra Geral do
Tocantins. A metodologia relacionada ao estudo de caso foi baseada no protocolo de
Yin (2001) e o conjunto de etapas baseadas em Gil (2002), que inclui a formulação do
problema, a definição da unidade-caso, a determinação do número de casos, a elaboração
do protocolo, coleta de dados, avaliação e análise dos dados, e a preparação do relatório.
Além da Revisão Bibliográfica, onde foram levantados um total de 60 trabalhos
científicos selecionados aqueles indexados em revista, artigos publicados em anais de
congresso e por fim teses e dissertações que não possuíam artigo publicado em revista,
e que tivessem relação com o tema proposto. Foram escolhidos um total de 15 trabalhos
científicos.
A coleta de dados documentais foi realizada no ICMBio e Ministério Público Federal
(MPF). Para isso, foram solicitados o acesso ao Processo Administrativo ICMBio n°
02123.010472/2016-85 através do Sistema de Autorização e Informação em Biodiversidade
(SISBio) do ICMBio e ao Processo Administrativo MPF/TO n° 1.36.000.000947/2018-40 foi
realizada a solicitação pela Sala de Atendimento ao Cidadão do MPF direcionada a unidade
de Palmas/TO, Núcleo de Tutela Coletiva.
Também foram aplicados questionários com servidores do ICMBio que participaram
da implementação dos Termos de Compromisso na ESEC Serra Geral do Tocantins. Como
se trata de uma pesquisa que envolve a participação de seres humanos, para realização
da pesquisa, foi necessário o parecer favorável do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP)
da universidade, assim, a solicitação foi protocolada através da Plataforma Brasil com o
3 | RESULTADOS E DISCUSSÃO
A pesquisa foi trabalhada em quatro tópicos: “Gestão de Conflitos em Unidade
De Conservação”, “O Termo de Compromisso em Unidades de Conservação”, “Estação
Ecológica Serra Geral Do Tocantins”, e “A Implementação do Termo de Compromisso na
ESEC Serra Geral Do Tocantins”.
Contudo, existem dificuldades que devam ser elencadas a este assunto, conforme
abordam os autores Vivacqua e Vieira (2005, p. 159) abaixo:
1 Clube Roma, em 1968, e I Conferência da Organização das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, em
1972.
Figura 01. Localização da Estação Ecológica Serra Geral do Tocantins, contendo o limite estadual e os
municípios que abrangem a sua Região (entorno).
Fonte: Plano de Manejo (2014).
Além desta, a cláusula sétima, que trata “das permissões”, trouxe em seu novo
texto, nos incisos II e III sobre o uso de maquinários e criação extensiva de gado:
II - Uso de máquinas de pequeno e médio porte, até 180 CV, para preparo do
solo (aração e gradagem) no estabelecimento de pequenas roças – até dois
hectares – em áreas de Cerrado já antropizadas, vedado seu uso em veredas,
incluindo brejos, pantames, terras de esgoto e vargens;
O uso do fogo foi tratado nos incisos XII, XIII, XIV e XV, contemplando desde a
utilização para as atividades tradicionais de roça e manutenção de pastos nativos para
a atividades de criação de gado, bem como para manejo do capim dourado, segundo
A visitação turística com fins educacionais foi tratada no inciso XVII, contudo, carece
ainda da elaboração de projeto específico que seja compatível com o Plano de Manejo
da ESEC Serra Geral do Tocantins, a ser apresentado e pactuado com a Comissão de
Acompanhamento do TC e aprovado pela Coordenação Geral de Uso Público e Negócios
do ICMBio.
Além disso, a cláusula oitava aborda sobre as restrições, como a introdução de
espécies e variedades de plantas exóticas ao Cerrado, salvo aquelas costumeiramente
usadas pela comunidade para pastagem e que não têm apresentado capacidade de
expandir suas áreas de ocorrência na região do Jalapão, inserção de animais exóticos ao
Cerrado, exceto aqueles necessários à subsistência das famílias conforme previsto no TC,
arrendamento de pastos plantados ou de refrigério para gado de não-compromissários,
e repasse a terceiros de qualquer direito de uso antevido apenas para os quilombolas
compromissários.
Posteriormente, a Minuta do Termo de Compromisso passou pela análise técnica,
emitido o Parecer 00023/2018/COMAF/PFE-ICMBIO/PGF/AGU (SEI 2657640), o qual
analisou a sua regularidade. Assim, de modo a apresentar justificativas técnicas, a
NOTA n° 00026/2018/COMAF/PFE-ICMBIO/PGF/AGU (SEI 3325458), tratou sobre os
questionamentos levantados pelo Parecer anteriormente citado, o qual analisou a minuta
de Termo de Compromisso.
De modo a identificar a localização exata da incidência dos efeitos do termo de
compromisso, objeto de recomendação do Parecer 00023/2018/COMAF/PFE-ICMBIO/
PGF/AGU (SEI 2657640), foi editado o Mapa da Área de Incidência do TC no interior
da ESEC Serra Geral do Tocantins (Figura 02), evidenciando que não houve supressão
de áreas de terceiros, assim como, há áreas sob posse mansa e pacífica de alguns dos
compromissários há mais de trinta anos.
4 | CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com base no exposto nesta pesquisa foi possível verificar o histórico de
implementação dos Termos de Compromisso (TC) firmados na Estação Ecológica Serra
Geral do Tocantins (ESEC Serra Geral do Tocantins), considerando-o como instrumento
na gestão dos conflitos existentes oriundos da sua criação sobre os territórios tradicionais
existentes.
Conforme demostrado, os principais conflitos descritos na literatura relacionam-se
ao uso do fogo, seja para fins produtivos ou de manejo do capim dourado e da paisagem,
além do conflito gerado a partir da sobreposição da área da Unidade de Conservação (UC)
com o território quilombola, reconhecido posteriormente a criação da UC pela Fundação
Palmares.
Contudo, verificou-se que apesar dos conflitos existentes entre as comunidades e
AGRADECIMENTOS
À Unitins, ICMBio/ESEC Serra Geral do Tocantins, MPF/TO e a ASCOLOMBOLAS-
Rios.
REFERÊNCIAS
BARRADAS, Ana Carolina Sena. A Gestão do fogo na Estação Ecológica Serra Geral do
Tocantins, Brasil. Trabalho de conclusão de Mestrado Profissional em Biodiversidade em Unidades de
Conservação. Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro - Escola Nacional de Botânica
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Bookman, 2001.
Marília de Lourdes Lima dos Santos protection bias of family law was gradually
replaced by criteria of mutual affection. In this
sense, the Federal Constitution of 1988 was
decisive for, even before the edition of the
RESUMO: O presente trabalho visa analisar Civil Code of 2002, prohibiting the distinction
o conceito de filiação, que, conjuntamente ao between children due to origin. Still on the
conceito de família, passou por alterações subject of affiliation, new techniques of
relevantes. O viés da proteção patrimonial assisted reproduction constitute a source
do direito de família, paulatinamente foi of bonds that need regulation by law. In all
substituído por critérios de afeto mútuo. the context currently observed, the family
Neste sentido, a Constituição Federal de appears as an instrument, the environment
1988 foi determinante para, antes mesmo for the person to develop his existential
da edição do Código Civil de 2002, proibir a condition, in accordance with the prevalence
distinção entre filhos decorrente da origem. of the dignity of the human person.
Ainda sobre o tema filiação, novas técnicas KEYWORDS: Filiation; Family; Affection;
de reprodução assistida, constituem fonte and Dignity.
de vínculos que necessitam de regulação
pelo direito. Em todo o contexto observado
na atualidade, a família mostra-se como 1 | CONSIDERAÇÕES INICIAIS
instrumento, o ambiente para que a pessoa
desenvolva sua condição existencial, A noção tradicional de filiação
em conformidade com a prevalência da assenta-se na ideia de união entre uma
dignidade da pessoa humana. pessoa e aqueles que a geraram. Neste
PALAVRAS-CHAVE: Filiação; Família; sentido, Miranda conceitua a filiação
Afetividade; e Dignidade. como “a relação que o fato da procriação
estabelece entre duas pessoas, uma
ABSTRACT: The present work aims to
das quais nascidas da outra, chama-se
analyze the concept of affiliation, which,
together with the concept of family, has paternidade, ou maternidade, quando
undergone relevant changes. The heritage considerada com respeito ao pai, ou à
Neste contexto, ressalta-se a importância da Lei n.º 7.841, de 1989, a qual tornou
possível o reconhecimento de filhos ilegítimos mesmo na constância do matrimonio, assim
como a realização da investigação de paternidade ou maternidade. Da mesma forma, o
Estatuto da Criança e do Adolescente destaca a importância da tutela da formação da
personalidade do menor, prevalecendo, até mesmo sobre a vontade dos pais, com o
controle direto sobre a educação do menor.
III - havidos por fecundação artificial homóloga, mesmo que falecido o marido;
Art. 1.598. Salvo prova em contrário, se, antes de decorrido o prazo previsto
no inciso II do art. 1.523, a mulher contrair novas núpcias e lhe nascer algum
filho, este se presume do primeiro marido, se nascido dentro dos trezentos
dias a contar da data do falecimento deste e, do segundo, se o nascimento
ocorrer após esse período e já decorrido o prazo a que se refere o inciso I do
art. 1597.”
Da breve análise realizada acerca do tema, conclui-se que ele é de suma importância
e merece maior atenção da doutrina, e principalmente do legislador, a fim de suprir a lacuna
existente no ordenamento jurídico pátrio.
REFERÊNCIAS
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1 | INTRODUÇÃO
O presente artigo cientifico aborda a relação sugar em especial quanto a
possibilidade da configuração da união estável a partir desse relacionamento. A relação
sugar já existe há vários anos, entretanto, passou a ser mais conhecida a partir do ano
de 2015, principalmente em razão da sociedade viver agora em um mundo extremamente
imediatista e solitário, motivo pelo qual esse relacionamento se tornou tão popular, uma
vez que os desejos, esses não necessariamente sexuais, são satisfeitos em pouquíssimo
tempo.
É sabido que desde os primórdios da humanidade, os homens passaram a
estabelecer relações afetivas, sendo essa uma das principais razões pela qual a espécie
se desenvolveu tão esplendorosamente, ocorre que, nesse tempo, as relações eram em
sua maioria, senão em sua totalidade, apenas para reprodução, porém, com o desenvolver
humano, as pessoas começaram a possuir interesse romântico umas às outras,
transformando as relações puramente estratégicas em relações de afeto mais profundo.
Durante muitos anos, foram vistas sociedades que enxergavam as relações,
especialmente o casamento, como uma forma de negócio, onde o matrimonio era arranjado
com o intuito financeiro e até mesmo tático, nos casos das antigas monarquias, que uniam
seus sucessores com a finalidade de firmarem uma aliança.
Conforme o avanço da raça humana foi ficando mais promissor e futuroso, os
indivíduos foram cada vez mais se impondo e não mais aceitando uniões ajeitadas, agora
unindo-se aos seus parceiros por vontade própria e em decorrência do afeto e da vontade
de permanecerem juntos com a finalidade de constituírem família, sendo que com esse
avanço e com a evolução do corpo social, diversos institutos familiares foram surgindo.
Uma vez que o Direito de Família passou a aceitar diversas modalidades de família,
a presente pesquisa visa desvendar se esse novo modelo de relacionamento será aceito
como uma nova entidade e quais os efeitos que dela decorrerão, dado que tal prática vem
sendo cada vez mais adotada, podendo vir a ser uma nova alternativa, assim como a união
estável foi para o casamento.
2 | FAMÍLIA
A família, no entendimento mais primitivo, é aquele grupo de indivíduos que são
ligados pelo sangue e que normalmente residem na mesma casa. De imediato, ao ser
mencionada a palavra família, essa é a imagem visualizada, entretanto, após o decorrer de
A Constituição Federal de 1988 traz em seu artigo 226, §4º a sua própria definição
de família “Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado. § 4º
Entende- se, também, como entidade familiar a comunidade formada por qualquer dos pais
e seus descendentes” (BRASIL, 1988).
Conforme Carlos Alberto Maluf e Adriana Caldas Maluf (2018) mencionam em sua
obra, o conceito de família possui um viés mais abrangente, sendo que para esses autores,
para uma definição mais próxima do que é família é necessário analisar
[...] o momento histórico e cultural que as relações se encontram inseridas,
pois a face da família mudou, no decorrer do tempo histórico, “avançando e
retrocedendo, conservando-se e alterando-se, reinventando-se, enfim, para
buscar, na atualidade, a recepção incondicional do ser humano, tendo em vista
suas necessidades, possibilidades e preferencias valorativas, contemplando
como objetivo maior o pleno desenvolvimento de sua personalidade,
potencialidades, em face de sua intrínseca dignidade, visando o alcance da
Portanto, a maior parte das definições de família desenvolvidas pelos mais diversos
autores serão baseadas, em primeira instância, no artigo da Carta Magna, que desenvolveu
tal conceito com base na realidade vivida até o momento de sua promulgação, há trinta
anos atrás, ficando, por óbvio, defasada, tendo em vista que esse instituto acompanha
as frequentes transformações sofridas pela sociedade, porém, alguns outros autores já
demonstram um olhar mais límpido para a influência social, cultural e histórica dentro do
instituto da família.
A família romana, portanto, era entendida basicamente como um todo unitário, onde
nela se bem satisfaziam todas as necessidades, como por exemplo a economia, religião, e
política. Tudo o que os integrantes um dia precisariam, poderiam encontrar em sua própria
família, que era sempre regida pelo homem provedor, por assim dizer.
Após os gloriosos tempos romanos, foi a época de o direito canônico entrar em
ascensão, direito esse que tem como premissa os regulamentos consumidos pela Igreja,
ou seja, passou a legislar sobre a vida dos cristãos, tendo em vista que o cristianismo
Portanto, a família agora passa a ter essa modernidade fomentada pelos códigos
atualmente vigentes.
4 | UNIÃO ESTÁVEL
Os vínculos afetivos, como já aludido, eram formados, preliminarmente, apenas com
o instituto do casamento, porém, com as sucessivas e ininterruptas transfigurações pelas
quais a sociedade passou, esse entendimento também sofreu atualizações.
Surgiu então o conceito de união estável, que como bem expressa seu nome, é a união
de duas pessoas como se casal fossem, mas sem o nexo contratual do casamento. Essas
duas pessoas possuem a vontade de permanecerem juntas, mas não necessariamente
com o regimento do matrimônio.
Esse tipo de união surgiu para regulamentar o chamado concubinato, que era a
Ainda, para Francisco José Cahali (1996) a definição pode ser a seguinte “o vínculo
afetivo entre homem e a mulher, como se casados fossem, com as características inerentes
ao casamento, e com a intenção de permanência da vida em comum” (CAHALI, 1996, p.
49-50).
Dessa forma, fica consubstanciado que a união estável é nada mais do que uma
relação não burocrática onde as pessoas buscam a segurança de viver como se casadas
fossem, sendo também reconhecidos seus direitos perante essa escolha.
Assim, fica resolvido que a união estável é sim uma nova forma de relacionamento,
mas não basta os nubentes decidirem por isso que magicamente sua relação será
convertida, como visto, é inescusável a superação de alguns requisitos, sendo o mais
importante de todos os mencionados aquele que visa demonstrar que o casal realmente se
porta como casados e que possuem o objetivo de constituir uma família, vivendo já como
uma.
A satisfação desses requisitos ocorre, entre outras palavras, para a comprovação
de que aquelas pessoas não estão apenas valendo-se da facilidade da constituição dessa
união para obter os direitos advindos dela, esses direitos são única e exclusivamente para
os que contraem esse tipo de relacionamento na boa-fé
5 | RELAÇÃO SUGAR
O relacionamento sugar vem adquirindo cada vez mais popularidade no âmbito
amoroso, por assim dizer, isso porque esse tipo de relacionamento não tem início com
base no afeto, carinho e amor, mas sim no interesse mútuo das partes em satisfazer suas
necessidades e interesses, que não necessariamente são sexuais, mas não há impedimento
para que, se ambas as partes quiserem, possa vir a ocorrer.
Conceituando de forma mais pragmática, o relacionamento sugar é o relacionamento
no qual uma pessoa de idade mais avançada, podendo ser um homem ou uma mulher
(sugar daddy ou sugar mommy), e de grande aporte financeiro, busca pessoas mais
novas, também podendo ser um homem ou uma mulher (sugar baby), para iniciar um
relacionamento e em troca oferece vantagem financeira, como o pagamento em dinheiro,
viagens ou presentes.
Essa contraprestação não precisa ser apenas o pagamento de coisas consideradas
Mesmo que o relacionamento sugar seja muito falado, muitas pessoas ainda
o enxergam com uma má reputação e de forma pejorativa, pois acreditam se tratar de
prostituição, o que não é bem verdade, uma vez que o próprio dicionário caracteriza a
prostituição como a prestação de serviços sexuais com a intenção de obter lucro.
Urge salientar, que, embora na relação sugar haja o propósito de se obter vantagem
econômica de uma das partes e que também possa haver relação sexual, uma coisa não se
mistura com a outra, uma vez que o ganho monetário pode ser apenas por uma companhia,
se assim ficar acordado.
Entre as pessoas mais jovens esse tipo de relacionamento vem sendo bem comum
e não causa estranheza aos ouvidos, inclusive, a prática vem sendo tão comum que em
redes sociais como o Tik tok, que a passou a ser utilizada com fervor durante a pandemia
do Corona vírus –19, sugar babies mostram sua rotina e também os presentes que recebem
do sugar daddy, porém, aos mais velhos, tal desempenho acaba sendo um absurdo, pois
Quase que a totalidade dos participantes possui acesso frequente às redes sociais,
sendo que os que não possuem não chega nem a 1% dos que responderam.
Gráfico 07. Sendo caracterizada como um relacionamento, acredita que ocupará um novo espaço
como entidade familiar?
Desses, mais da metade não acha que o relacionamento se enquadrará, algum dia,
como uma forma de família.
Por fim, a maior parte dos participantes não acredita que esse tipo de relação deva
ocupar um espaço no ordenamento jurídico.
Tal tema tem ficado tão popular que no ano de 2019, a emissora de televisão Globo,
uma das maiores do país, exibiu em horário nobre a novela chamada “A dona do pedaço”
retratou de forma clara o relacionamento sugar com os personagens Otávio Guedes,
interpretado por José de Abreu, que foi o sugar daddy, e Sabrina, interpretada por Carol
Garcia, atuando no papel de sugar baby.
Fica evidente que as pessoas vêm buscando cada vez mais formas de inserirem
essa relação na sociedade, tentando explicar de forma lúdica, na medida do possível, o
que significa esse relacionamento. No caso da novela, muitas pessoas continuaram vendo
a relação como uma prostituição ou algum outro tipo de relação ilegal, isso porque o sugar
daddy possuía um matrimonio e encontrava a sugar baby de forma extraconjugal, não
passando nenhum tipo de credibilidade.
6 | CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir das alegações e fundamentos sobre o tema, fica depurado que a relação
sugar é um tipo de relacionamento baseado em trocas mútuas para melhor beneficiação de
ambos os contraentes, sendo que uma ponta da relação é a patrocinadora financeira e a
outra é a companhia e também os tipos de serviços a serem combinados.
Diante disso, tendo em vista que o alicerce desse relacionamento é econômico e não
romântico, não há a possibilidade dele se enquadrar nos moldes da união estável descritos
no artigo 1.723 do Código Civil de 2002, pois poderia ser visto como uma desvalorização
dos relacionamentos amorosos, uma vez que as pessoas passariam a se unir, em grande
maioria, apenas pela nova facilidade e não mais como uma família.
Além disso, a chance de uniões serem firmadas apenas com o interesse de
adquirirem direitos, sejam esses sucessórios, partilha de bens, alimentos, entre outros
possíveis entre cônjuges e companheiros aumentariam exorbitantemente, abarrotando o
Poder Judiciário de ações infundadas e com resquícios de má-fé, podendo vir a ocorrer
diversas trapaças, principalmente com relação aos reais detentores dos direitos.
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1 Expressão proferida pelo presidente norte-americano Abraham Lincoln no Discurso de Gettysburg em 19 de novem-
bro de 1863.
2 Ágora era a praça pública onde ocorriam as reuniões dos cidadãos das cidades-estados da Grécia Antiga.
Seguindo na alegoria, Boron (2007, p. 50) ilustra que um dos presentes iria ficar
intrigado com a resposta de Aristóteles e iria confrontá-lo questionando se as eleições
periódicas e o sufrágio universal não são símbolos inequívocos de que se está em
uma democracia. Aristóteles, então responderia que há uma distinção entre essência e
aparência de democracia. A essência da democracia é o governo da maioria em prol dos
mais necessitados, os quais, em todas as sociedades, são sempre a maioria. A aparência
de democracia se mostra quando há eleições diretas, sufrágio universal, estado de direito,
entre outros, porém não correspondem à essência democrática.
Pela dicção de Boron, só há democracia verdadeiramente (essência da democracia)
quando há efetiva representação da vontade popular. Os instrumentos constitucionais
que materializam a soberania popular, a saber, eleições diretas e periódicas e sufrágio
universal, por si só, não dão azo a verdadeira democracia.
Assim, por essa perspectiva proposta, vê-se que a democracia aristotélica, firmada
no princípio da igualdade e da representatividade popular efetiva, desnaturou-se com a
evolução da sociedade perdendo a sua principal característica, qual seja, de ser o governo
que retrata os anseios do povo (leia-se: da maioria) e não de uma minoria privilegiada. Em
larga medida, a essência da democracia quedou-se subsistindo a aparência de democracia.
REFERÊNCIAS
ARISTÓTELES. Política. São Paulo, SP: Martin Claret, 2007.
SILVA, José Afonso. Curso de direito constitucional positivo. 37 ed. São Paulo: Malheiros, 2014.
BONAVIDES, Paulo. Do Estado Liberal ao Estado Social. 8 ed. São Paulo: Malheiros, 2007.
BORON, Atilio. Aristóteles en Macondo: notas sobre el fetichismo democrático en América Latina. In:
Filosofía y teorías políticas entre la crítica y la utopía.
Consejo Latinoamericano de Ciencias Sociales: Buenos Aires. 2007, p. 49 – 67.. Disponível em: http://
biblioteca.clacso.edu.ar/clacso/gt/20101012123413/04Boron.pdf. Acesso em: 07 set 2021.
1 | INTRODUÇÃO
Ao se deparar com o título deste trabalho, é bastante provável que, no leitor, haja
um despertar de curiosidade seguido pelo questionamento: “olhos de madeira” refere-se
a quê?
A expressão primeira aparece em As aventuras de Pinocchio, quando Geppetto, ao
observar o boneco, questiona-lhe: “Grandes olhos de madeira, por que olham para mim?”
Viajando no tempo, mas não no espaço, os olhos de madeira bordados por Carlo
Collodi dão nome à obra do historiador italiano Carlo Ginzburg Olhos de madeira: nove
reflexões sobre a distância, cujo primeiro ensaio evoca o estranhamento como pré-história
de um procedimento literário capaz de operar uma ressurreição; nele, Ginzburg rememora
um apontamento tecido por Viktor Chklóvski (apud GINZBURG, 2001, p. 16) acerca da
psicologia humana: “todos os nossos hábitos provém da esfera do inconsciente e do
automatismo”. Sob essa ótica, para o crítico literário russo, o peso dos hábitos inconscientes
seria tamanho que, diante dele, a vida se anula, pois a automatização a tudo contempla
com sua aura mórbida.
Todavia, a percepção já automatizada é passível de renascimento: o retorno da
sensibilidade das coisas adviria daquilo que se denomina arte.
O propósito da arte é nos dar uma sensação da coisa, uma sensação que
deve ser visão e não apenas reconhecimento. Para obter tal resultado, a arte
se serve de dois procedimentos: o estranhamento das coisas e a complicação
da forma, com a qual tende a tornar mais difícil a percepção e prolongar sua
duração. (CHKLÓVSKI apud GINZBURG, 2001, p. 16)
Ao penetrar, cada vez mais, nessa engrenagem, Nehliúdov deduz que ali
Não observavam a regra de perdoar dez culpados para não culpar um
inocente, ao contrário, pois, para extirpar a planta podre terminavam por
cortar a viçosa – por meio do castigo, eliminavam-se dez pessoas inofensivas,
a fim de eliminar uma verdadeiramente perigosa. (TOLSTÓI, 2020, p. 301)
Mais uma vez, o estranhamento insurge contra os olhos de madeira. Tolstói procura
desmistificar o condenado enquanto figura quimérica; procura elucidar a ausência de uma
Essa unidade pretendida pode ser captada a partir da construção (ou da repetição)
do personagem Nekhliúdov na obra tolstoiana:
Quando Tolstói chegou a escrever Ressurreição [último romance de sua
produção], o professor e o profeta violentaram o artista. O sentido de
arquitetura e equilíbrio que até então controlara sua invenção foi sacrificado
pelas urgências da retórica. Nesse romance, a justaposição de dois modos
de vida e o tema da peregrinação da falsidade à salvação são expostos
com o despojamento de um panfleto. E, ainda assim, Ressurreição marca
a concepção definitiva dos temas que Tolstói já havia anunciado em suas
histórias iniciais. Nekhliúdov é o Príncipe Nekhliúdov do romance inacabado
de juventude A Manhã de um Proprietário de Terras. Há, entre as duas obras,
trinta e sete anos de reflexão e criação; mas o fragmento já contém, em
contornos reconhecíveis, muitos dos elementos do último romance [...] De
fato, esse personagem parece ter servido ao romancista como uma espécie
de autorretrato, cujos traços ele podia alterar na medida em que sua própria
experiência se aprofundava. (STEINER, 2006, p. 67)
Ainda que haja vislumbrado a facilidade com que o homem renuncia à tênue película
da civilização – a facilidade, em condições tão brutais quanto à dos galés, com que o
homem esquece-se de que é homem –, Dostoiévski revela a essência humana posta à
prova, escamoteando qualquer tentativa de reduzi-la. Empreende uma escalada rumo à
espoliação da alma, mergulha no fundo da dimensão humana. Retira do indivíduo todo o
– E nem olha para trás! – acrescentou outro. – Não olhou nenhuma vez,
maninhos, está indo embora [...]
De fato, a experiência “ensinou-lhe a saber ver não apenas um irmão até no homem
mais desprovido de importância, como no filantropismo socializante, mas sobretudo um
infeliz no criminoso; a experiência da condenação ensinou-lhe o caráter revelador da morte,
da dor, do crime”. (PAREYSON, 2012, p. 24)
A restituição da marca humana ao condenado constitui a tônica de todo o romance.
Dostoiévski escancara a desumanização à qual o prisioneiro é submetido, desvela o
automatismo circundante da redução do eu múltiplo ao eu prisioneiro. Tenta ressurgir a
madeira, a resignação para a consciência de que, ainda que criminoso, ainda que facínora,
não se lhe pode negar ser rebento humano. A reafirmação de si e dos outros prisioneiros
como gente assume essa tonalidade quando exprime:
Os presidiários [...] todo dia levavam à igreja seu mísero copeque para
comprarem uma vela ou depositarem no cofrinho. “Ora, eu também sou
gente”, talvez pensasse ou sentisse na hora de fazer o depósito, “perante
Deus somos todos iguais” [...] Quando o sacerdote [...] dizia as palavras
4 | CONSIDERAÇÕES FINAIS
George Steiner (2006, p. 255) enumera diferenças entre ambos os autores:
Tolstói, a mente intoxicada de razão e fato; Dostoiévski, o que desprezou
o racionalismo, o grande amante do paradoxo; Tolstói, o poeta da terra, do
À parte as distinções de estilo e de vivência, é certo que ambos são mestres na arte
de estranhar o conhecido, o já familiarizado. A seu modo, ambos (re)constroem um terreno
adventício no lugar comum tornado familiar pelo hábito. A lente penetrante de ambos
restitui ao objeto investigado sua unicidade, capta suas singularidades, ocultadas pelo véu
do automatismo. Assim são capazes de decodificar a lógica que enlaça o aparato jurídico
ao imaginário social mediante a familiaridade de suas práticas.
Se a prisão, enquanto aparelho administrativo, constitui-se como uma “máquina
para modificar os espíritos” (FOUCAULT, 2014, p. 124), se se torna uma “espécie de
observatório permanente que permite distribuir as variedades do vício ou da fraqueza”
(FOUCAULT, 2014, p. 125), “organiza-se todo um saber individualizante que toma como
campo de referência não tanto o crime cometido, mas a virtualidade de perigos contida num
indivíduo e que se manifesta no comportamento observado cotidianamente”. (FOUCAULT,
2014, p. 125)
O transgressor do pacto, já então metamorfoseado em inimigo do povo, adquire
uma feição quimérica, monstruosa, que beira o demoníaco. Daí a perda, ante os olhos de
madeira do coletivo, de sua condição humana.
Ressurreição e Escritos da casa morta intervêm nesse entendimento automático,
isento de deliberação, e apontam para a multiplicidade do homem e para a impossibilidade
de se lhe negar a condição que lhe é inata:
Uma das superstições mais costumeiras e difundidas é a de que cada pessoa
tem determinadas qualidades só suas [...] As pessoas são como rios: a água
é a mesma para todos e é igual em toda parte, mas cada rio é ora estreito, ora
rápido, ora largo, ora calmo, ora limpo, ora frio, ora turvo, ora morno. Assim
também são as pessoas. Cada um traz em si o germe de todas as qualidades.
(TOLSTÓI, 2020, p. 199)
REFERÊNCIAS
DOSTOIÉVSKI, Fiódor. Escritos da casa morta. Trad. Paulo Bezerra. São Paulo: Editora 34, 2020.
FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir: nascimento da prisão. Trad. Raquel Ramalhete. 42. ed. Petrópolis:
Vozes, 2014.
LISPECTOR, Clarice. Mineirinho. In: LISPECTOR, Clarice. Todos os contos. Org. Benjamin Moser.
Rio de Janeiro: Rocco, 2016. p. 386-390.
MIRANDOLA, Pico della. Discurso sobre a dignidade do homem. Trad. Elaine Cristine Sartorelli.
Belo Horizonte, Veneza: Âniyé, 2021.
PAREYSON, Luigi. Dostoiévski: Filosofia, Romance e Experiência Religiosa. Trad. Maria Helena Nery
Garcez e Sylvia Mendes Carneiro. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2012.
STEINER, George. Tolstói ou Dostoiévski: um ensaio sobre o Velho Criticismo. Trad. Isa Kopelman.
São Paulo: Perspectiva, 2006.
TOLSTÓI, Liev. Ressurreição. Trad. Rubens Figueiredo. São Paulo: Companhia das Letras, 2020.
ZWEIG, Stefan. Montaigne e a liberdade espiritual. In: ZWEIG, Stefan. O mundo insone e outros
ensaios. Trad. Kristina Michahelles. Rio de Janeiro: Zahar, 2013. p. 54-57.
D
Democracia 2, 5, 77, 202, 203, 204, 205
Direito 1, 2, 1, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10, 11, 12, 13, 14, 15, 16, 18, 19, 22, 25, 26,
27, 31, 32, 34, 36, 39, 40, 41, 42, 44, 45, 46, 47, 49, 51, 53, 54, 55, 56, 57, 58,
59, 62, 63, 65, 67, 68, 69, 72, 73, 74, 76, 79, 81, 83, 85, 87, 89, 94, 96, 99, 100,
101, 102, 103, 105, 106, 108, 109, 110, 111, 114, 115, 116, 117, 118, 120, 121,
122, 125, 126, 127, 128, 129, 130, 132, 133, 134, 137, 138, 139, 140, 142, 145,
147, 148, 149, 151, 152, 153, 166, 168, 174, 175, 176, 177, 178, 179, 180, 181,
ÍNDICE REMISSIVO
182, 183, 184, 185, 186, 187, 188, 189, 190, 193, 200, 201, 202, 205, 207, 209,
210, 216, 220, 221
Direito de ir e vir 2, 1, 3, 6, 7, 8, 9, 102
Direitos reprodutivos 2, 15, 17, 19, 20, 22, 23, 25, 26, 27, 28, 29, 30
Drogas ilícitas 2, 88
E
Enfermagem 2, 117, 118, 119, 122, 124, 125, 128
F
Filiação 2, 174, 175, 176, 177, 178, 179, 180, 181, 201
Função social da propriedade 2, 129, 130, 143, 145, 147, 148, 149, 151
H
Homotransfobia 2, 41, 42, 43, 44, 45, 49, 50, 52, 53, 54
I
Ideias 1, 2, 68, 78, 109, 113, 187, 215
Instituições 1, 2, 21, 23, 26, 29, 64, 76, 109, 113, 151, 162, 163, 171, 181, 210,
215
J
Justiça 2, 15, 16, 20, 25, 26, 27, 56, 57, 58, 59, 60, 61, 62, 63, 65, 66, 67, 68, 69,
70, 76, 91, 135, 147, 148, 151, 175, 193, 200, 201, 214
R
Racismo 2, 15, 16, 17, 18, 21, 22, 23, 24, 26, 27, 28, 29, 41, 42, 48, 49, 50, 52,
53, 54, 55, 114
Relação sugar 2, 182, 183, 192, 193, 194, 196, 197, 198, 199
ÍNDICE REMISSIVO
U
Unidade de conservação 2, 153, 155, 162, 164, 169
Usucapião urbana coletiva 2, 129
V
Vingança privada 2, 56, 59, 60, 61, 64, 65, 66
Violência contra a mulher 2, 82