Relacionamentos Segundo A Psicologia e Psicanalise

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Relacionamentos segundo a

Psicologia e Psicanálise
Os relacionamentos amorosos são desafios que todos
querem enfrentar
Para o pesquisador Robert Sternberg da Universidade de Wyoming (EUA), existem três
dimensões principais sobre o amor:

 intimidade – tem como características a proximidade, o vínculo e a conexão;

 paixão – é formada por atração, romance e sexualidade;

 compromisso – é a decisão de manter o relacionamento.

O amor para a psicologia comportamental –


Reforço Positivo
Como a psicologia comportamental explica o amor? Neste texto,
vamos explicar o conceito de reforço positivo através da
psicologia comportamental de Skinner e entender a frase “O que
é o amor exceto outro nome para o uso do reforçamento
positivo?”
A frase de B. F. Skinner, na qual ele utiliza um conceito da psicologia comportamental criada
por ele para definir o amor. Skinner diz: “O que é o Amor se não outro nome para
reforçamento positivo?”

Se formos na fonte original, em inglês, no livro Walden Two, leremos: “What is love except
another name for the use of positive reinforcement? Or vice versa”. Portanto, uma tradução
mais adequada seria: “O que é o amor exceto outro nome para o uso do reforçamento
positivo? Ou vice-versa”. A diferença entre a frase que lemos normalmente em português e
esta segunda tradução é pequena e sutil, porém, ela será significativa para entendermos
melhor a relação entre o amor e o reforçamento positivo. Para fazê-lo, nós temos que começar
pelo entendimento do que é reforçamento positivo, para podermos então, compreender o que
é o amor para a psicologia comportamental a partir de Skinner.

O que é reforçamento positivo?

Em 1938, Skinner cunhou o termo condicionamento operante (operant conditioning), que


podemos entender como a mudança comportamental de um organismo pelas consequências
inseridas após o seu comportamento.

Assim, quando vamos estudar a história comportamental de um organismo (não só do


homem), podemos avaliar o aumento ou a diminuição de um dado comportamento como
consequência do que ocorreu após o comportamento ser emitido. Se após o comportamento

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ser emitido nós introduzimos um estímulo que fará o comportamento aumentar de frequência,
nós temos um reforço. Se nós introduzimos um estímulo que fará o comportamento diminuir,
nós temos uma punição.

Temos, portanto, 4 tipos de consequências que podem ocorrer após um comportamento e


fazê-lo aumentar ou diminuir:

1) Reforçamento positivo

2) Reforçamento negativo

3) Punição positiva

4) Punição negativa

Para memorizar a distinção entre estes 4 tipos, é simples: Reforçamento é o que faz o
comportamento aumentar de frequência (a pessoa ou organismo faz mais) e punição é o que
faz com que o comportamento diminua (a pessoa ou organismo faz menos). O positivo ou
negativo diz respeito apenas a se há a introdução de um estímulo no meio ou se há a retirada
de um estímulo.

Por exemplo, quando um pai quer aumentar o comportamento do filho de estudar, pode dar
um presente se ele tira um boa nota. O presente provavelmente vai aumentar o
comportamento de estudar. Então temos a introdução de um estímulo que fará com que o filho
estude mais, ou seja, um reforço positivo.

No reforçamento negativo, nós temos o aumento do comportamento com a retirada de um


estímulo aversivo. Por exemplo, se eu estou com dor de cabeça (estímulo aversivo), eu posso
tomar um remédio para que a dor cesse. Com a retirada da dor, nós temos o provável aumento
do comportamento em uma situação futura – o aumento de tomar um remédio para passar a
dor de cabeça.

No livro Ciência e Comportamento Humano, Skinner explica do seguinte modo:

“Os eventos que se verifica serem reforçadores são de dois tipos. Alguns reforços consistem
na apresentação de estímulos, no acréscimo de alguma coisa, por exemplo, alimento, água ou
contato sexual – à situação. Estes são denominados reforços positivos. Outros consistem
na remoção de alguma coisa, por exemplo, de muito barulho, de uma luz muito brilhante, de
calor ou de frios extremos ou de um choque elétrico – da situação. Estes se denominam
reforços negativos. Em ambos os casos o efeito do reforço é o mesmo: a probabilidade da
resposta será aumentada” (SKINNER, 2003, p. 81).

Na punição positiva, nós temos a introdução de um estímulo que fará com que o
comportamento diminua. É punição porque faz o comportamento diminuir e é positiva porque
há a introdução de um estímulo. Se a cada vez que um sujeito disser um cacoete como né, tá
ou ok ele receber um tapa na cara, a tendência é que o comportamento de falar o cacoete
diminua (punição) com a introdução (positivo) de um estímulo.

E, por fim, na punição negativa, nós temos a retirada de um estímulo que faz com que o
comportamento diminua em sua frequência. Se o filho tirar uma nota ruim na escola, o pai
pode retirar um estímulo como o celular, o que fará com que o comportamento de tirar notas
ruins diminua.

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O amor como uso do reforçamento positivo
Sabemos como é difícil definir o amor. Se formos estudar historicamente, veremos tentativas
de definição já no Banquete, de Platão. Este, aliás, seria um excelente livro para começarmos a
estudar os diversos tipos de amor. O amor romântico, idealizado, o amor erótico, sexual, o
amor entre amigos. Mas passando da filosofia grega para a psicologia comportamental, nós
podemos dizer que o amor acontece e permanece como resultado do uso do reforçamento
positivo.

Para começarmos a análise da frase de Skinner “O que é o amor exceto outro nome para o uso
do reforçamento positivo? Ou vice-versa” e, tendo em vista o que aprendemos no tópico
acima, vamos utilizar alguns exemplos.

Qualquer observador atento, verá que uma criança pequena, de 4, 5 anos é bastante
interesseira. Como o mundo ainda “gira ao redor do seu umbigo”, ela avalia quem ela gosta
mais pelo que ela recebe. Se perguntarmos se ela gosta mais da avó materna ou avó paterna,
ela poderá dizer: “Gosto mais da minha avó paterna porque ela me dá mais presentes”. E é até
interessante notar como muitos adultos continuam mantendo este padrão egoísta. De toda
forma, na formulação de Skinner, nós temos que o amor faz uso do reforço positivo. E esta é
uma afirmação simples de entender e simples de observar:

Quando um casal está começando um relacionamento, tudo o que há, praticamente, é reforço
positivo. Eles se dão presentes, elogios, carícias. Trocam todo tipo de contatos que são
prazersos. E quando começa uma briga?

Uma briga começa quando não há o reforço positivo, seja quando há uma punição positiva (a
introdução de um estímulo aversivo) ou a punição negativa (a retirada de um estímulo
agradável). Por exemplo, quando há uma crítica (punição positiva) ao invés do elogio (reforço
positivo), quando não há resposta no whatsapp (punição negativa) ao invés da resposta
imediata (reforço positivo).

Eu peguei o exemplo de um começo de um relacionamento porque fica mais claro que quase
tudo gira em volta do reforçamento positivo. Além dos comportamentos observáveis, temos
que levar em conta o que a neurociência vem descrevendo sobre as substâncias do amor.
Quando uma pessoa se apaixona, há a liberação de “substâncias do amor”, que, é claro, vão
influenciar também o comportamento.

Com a gradual diminuição destas substâncias, a paixão diminui. Mas o reforçamento positivo,
seja em que razão for, não precisa diminuir. Se não diminui, encontramos os relacionamentos
duradouros que, apesar do tempo, continuam tão estimulantes quanto no início.

10 dicas para um bom relacionamento amoroso

1 – Não idealize o seu cônjuge e o seu relacionamento

A nossa primeira dica é bem difícil, pois todos nós já temos a mania de imaginar a perfeição
para tudo na nossa vida. E, com certeza, com o relacionamento amoroso não seria diferente.
Por isso, é importante observar as qualidades do outro sempre que possível.

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Além disso, não compare seu relacionamento com o das outras pessoas, pois, conhece aquele
velho ditado “a grama do vizinho quase sempre parecerá mais verde, menos para o próprio
vizinho”? Ele se encaixa perfeitamente aqui.

Então, não critique as imperfeições. Em vez disso, tente procurar beleza nas atitudes do seu
parceiro. Pois, ao longo do relacionamento os defeitos serão descobertos, porém as qualidades
irão ganhar mais espaço também. Aliás, isso só depende de você dar atenção às coisas certas
da relação.

2 – Tenha um tempo a sós

É muito comum num relacionamento que o casal mude as suas prioridades. Isso porque a
chegada dos filhos e a rotina acabam culminando nessa situação. Então, separe um dia ou um
final de semana no mês para que vocês voltem aos “tempos de namoro”.

Vocês podem ir ao cinema ou ao parque. Aliás, faça uma atividade que vocês dois gostam de
fazer. Esse tempo junto ajudará no seu relacionamento.

3 – Sempre converse com seu parceiro

Uma relação desgastada pode ser fruto de muitas mágoas do passado que não foram
conversadas. Então, sempre dialogue com o seu parceiro, pois colocar as coisas que você está
sentindo pode ser um caminho para encontrar uma solução.

Por isso, se ele ou ela fez algo que você não gostou, fale! Pequenas chateações do dia a dia
podem virar grandes desentendimentos no futuro.

4 – Releve sempre que possível

O segredo do relacionamento amoroso feliz é relevar algumas situações do dia a dia. Até
porque ninguém é perfeito! Então, ele ou ela tem o hábito de deixar a toalha na cama? Isso
não é motivo para uma briga.

Muitos relacionamentos podem acabar por conflitos que não eram necessários. Além disso, em
algumas situações você está estressado e desconta isso no seu cônjuge. Então, antes de querer
discutir, pense muito bem.

Vale ressaltar que se tem algo que você não goste, você deve falar sobre a sua insatisfação.
Mas faça isso com cuidado e carinho, sem usar uma voz dura. Por isso, um simples “amor, eu
não gosto que você faça isso, pois me deixa magoado(a)” já basta.

5 – Diga as “palavrinhas mágicas”

Quando somos crianças aprendemos as “palavrinhas mágicas”. Elas são: “obrigado(a), “por
favor” e “’desculpa”. Mas, ao longo do relacionamento perdemos esse hábito. Seja pela rotina
ou estar acostumada com a presença da pessoa, deixamos de lado essa gentileza.

Por isso, se o seu companheiro fez algo que você gosta, não tenha vergonha de agradecê-
lo. Aliás, uma atitude que cai muito bem numa relação amorosa é elogiar a pessoa amada.
Então, sempre que possível diga a ela o quão especial ela é e como você a admira.

6 – Admita seus erros

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Nós sabemos que é muito difícil passar por cima do orgulho e admitir que está errado. Mas,
numa relação é importante ter essa atitude para construir um relacionamento baseado na
honestidade.

Então, se você fez algo errado ou que magoou a outra pessoa, peça desculpe. Procurar o
perdão do seu companheiro, faz com que um momento conflituoso possa ser superado.

7 – Não fiquem irritados ao mesmo tempo

Em qualquer relação é muito comum se irritar com o outro, pois começamos a ver os seus
defeitos. Mas, se ambos perderem o controle ao mesmo tempo, a situação pode ficar muito
ruim.

Então, a nossa dica é respirar fundo e acalmar a pessoa amada, aliás evite usar ironias. Quando
os ânimos estiverem mais calmos, sentem e conversem sobre o assunto. Por fim, não vão
dormir ressentidos um com o outro.

8 – Dê atenção

Com a rotina é comum ter atitudes mecânicas e diálogos vazios. Então, evite a falta de atenção
com a pessoa amada. Quando falarem sobre o seu dia, tenham interesse no assunto. Lembre-
se: o relacionamento amoroso é uma troca que exige interação e cumplicidade.

9 – Faça surpresas no dia a dia

Você já se perguntou sobre como inovar o relacionamento amoroso? Então, essa dica é para
você. Um dos grandes vilões de um casal é a rotina. Então, quando o beijo de despedida vira
apenas um “tem que ser feito”, é um grande sinal de alerta.

Por isso, inove! Dê um beijo digno de cinema para surpreender o seu companheiro. Além disso,
faça algumas mudanças pequenas na sua relação. Por exemplo, fazer um jantar à luz de velas
ou iniciar uma série para assistir juntinhos.

O mais importante dessa dica é fugir da rotina e fazer as coisas juntos, deixando as
preocupações de lado. Então, use a sua imaginação para realizar uma surpresa para a sua
pessoa amada.

10 – Procure ajuda

As dicas que listamos até aqui são muito simples para serem colocadas em prática e seus
efeitos são sentidos quase imediatamente. Porém, nem todos os casais irão conseguir ter esse
resultado por conta da relação está mais desgastada.

Por isso, é importante que procure um psicólogo do relacionamento para ajudar nesse
processo. Esse profissional irá auxiliar o casal a entender melhor o problema e que juntos eles
possam procurar uma solução.

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Psicanálise nos relacionamentos amorosos

Os relacionamentos amorosos têm estado no coração da psicanálise desde a sua concepção.


Contudo, o que distingue sua abordagem psicanalítica da abordagem psicológica clássica é a
consciência da ligação entre o amor adulto e o amor na infância. Assim sendo, a maioria das
abordagens psicanalíticas contemporâneas são expansões das teorias do amor de Freud.

Neste artigo, vamos explicar com base em algumas teorias quais os estágios e efeitos
dos relacionamentos amorosos. Confira!

Primeira Teoria Freudiana sobre o amor

Para começo de conversa, Freud desenvolveu duas teorias psicanalíticas sobre o amor. Nesta
parte do artigo, falaremos sobre a primeira.

Nela, o psicanalista discute que o amor e a sexualidade são inicialmente combinados quando a
criança está sugando o seio de sua mãe. Assim sendo, a descoberta do objeto de amor é, na
verdade, uma afirmação. Esta fase também é conhecida como a “fase oral”
do desenvolvimento psicossexual da criança (0-1 anos de idade).

A relação entre o desenvolvimento Psicossexual e os relacionamentos amorosos

Esta fase é seguida pela fase anal (1-3 anos de idade), que por sua vez é seguida pela fase fálica
ou edipiana (3 a 6 anos). Não nos deteremos muito nesses conceitos, mas você pode consultar
este outro artigo sobre as 5 fases do desenvolvimento psicossexual segundo Freud.

Durante a latência (6-12 anos de idade), a criança aprende a reprimir o componente sexual de
seu amor por seus pais. Contudo, durante a adolescência (ou a fase genital, 12+ anos de idade),
os impulsos sexuais ressurgem. Dessa forma, se os outros estágios tiverem sido resolvidos com
sucesso, um indivíduo pode passar a ter relacionamentos amorosos naturalmente.

Assim, a capacidade do indivíduo de amar (também conhecido como “amor genital”) e engajar-
se em um relacionamento amoroso saudável depende de sua capacidade de recombinar a
capacidade de ter amor terno com a sexualidade reemergente.

No entanto, isso exige que o indivíduo tenha se separado completamente dos pais. Caso
contrário, o indivíduo experimentará o amado apenas como uma versão corrigida de um dos
pais. Obviamente, esse espelhamento não terá consequências positivas para um
relacionamento.

Segunda teoria do amor

A segunda teoria de Freud seguiu sua descoberta do narcisismo. Dessa forma, nesta teoria
posterior, a separação do pai é necessária para que possamos experimentar o amor. No
entanto, não é suficiente.

De acordo com Freud, nós nos apaixonamos por pessoas que são imagens espelhadas de nosso
eu ideal. Nesse contexto, o amor completa nossos eus narcisistas deficientes. Contudo, quando
o amor é recíproco, a tensão entre o eu e o outro é eliminada, de modo que o amante
experimenta um alívio da liberdade de inveja das qualidades e habilidades do outro.

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Isso, por sua vez, leva ao sentimento característico de recompensa na presença do amado, bem
como uma idealização do amado. Esta segunda teoria compartilha elementos centrais em
comum com a teoria da autoexpansão de Aron. Ela também prevê que nos apaixonemos por
pessoas que nos complementam e que podem desencadear um sentimento de nosso próprio
eu sendo expandido.

Ponto de vista atuais

As mais recentes abordagens psicanalíticas dos relacionamentos amorosos tornaram-se cada


vez mais dessexualizadas. Dessa forma, aproximaram o campo da teoria do apego. Assim, as
frases sexuais inerentes à teoria psicanalítica são agora primeiramente consideradas como
metáforas para a dinâmica entre o indivíduo e seus pais ou, mais tarde, um parceiro.

Contudo, destacamos que assim como a teoria do apego, a psicanálise moderna também prevê
duas formas fundamentais de estar inseguramente ligado a outras pessoas.

Uma polaridade fundamental na teoria psicanalítica é aquela entre unidade e agência, ou


relacionamento e auto-suficiência.

Nesse contexto, o indivíduo ansiosamente ligado procura preservar a unidade e prevenir a


solidão e a alienação. Isso ao passo que a pessoa evasivamente ligada procura preservar a
agência, a individualidade e a autonomia pessoal.

Assim sendo, o amor saudável requer que se mantenha um equilíbrio saudável entre unidade e
agência, ou relacionamento e auto-suficiência.

Aprofundamento no relacionamento ao longo da vivência e conflitos

No começo, estágios obsessivos de relacionamentos amorosos nos quais o amor é mútuo, os


amantes buscam um nível de unidade. No entanto, a princípio essa unidade não é sadia. Assim,
é somente quando o amor amadurece e os neuroquímicos e hormônios voltam ao normal que
os amantes esperam recuperar um equilíbrio entre unidade e agência.

No entanto, este é também o ponto em que os amantes podem ir longe demais na direção
oposta e procurar ser auto-suficientes. Dessa forma, expressam sua própria agência sem se
preocupar com o outro.

Reações Cerebrais

Levando em consideração o que dissemos mais acima, é importante mencionar algumas coisas
sobre os relacionamentos. Em primeiro lugar, muitos confundem a mudança de hormônios e
neuroquímicos que são naturais em relacionamentos amorosos saudáveis e duradouros com
uma súbita ausência de amor.

Assim, se uma pessoa está acostumada aos sentimentos obsessivos de estar apaixonada e, de
repente, não sente nada além de proximidade ocasional e atração sexual, ele ou ela está
fadado a pensar que algo está errado com o relacionamento.

Uma reação natural a esse sentimento é buscar a auto-expansão em outro lugar. Assim, essa
busca ocorre seja através de um novo amante, ou de uma nova atividade auto-expansiva, ou
de uma dedicação renovada ao trabalho.

Esse tipo de comportamento é, de fato, previsível em indivíduos esquivos. Isso significa que são
mais propensos a nunca se apaixonar ou a experimentar apenas o amor de baixa intensidade.

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Problemas pelo apego

Quando o apego se torna muito inseguro, especialmente na infância, esse fator pode gerar
uma patopsicologia. Dessa forma, um estilo ansioso de apego na primeira infância é um
preditor de transtornos de personalidade dramáticos. Nesse contexto, são exemplos o
transtorno de personalidade histriônica, borderline e dependência.

Por outro lado, um estilo de apego evitativo na primeira infância é um preditor de transtorno
de personalidade esquizotípico. Além disso, pode ser esquizoide, narcisista, antissocial e
demonstrar esquiva.

Ademais, estar inseguro com um ou mais parceiros na idade adulta também pode dar origem a
marcadores da patopsicologia. Ser abandonado por vários parceiros consecutivos, por
exemplo, pode levar um indivíduo a um estilo de ligação mais inseguro. Juntamente com
disposições genéticas, é um preditor de psicopatologia também.

Como agem os inseguros

Os amantes ligados com segurança, que conseguem encontrar o equilíbrio certo entre
parentesco e auto-suficiência, têm a capacidade de estabelecer relacionamentos interpessoais
maduros e mutuamente satisfatórios. Assim, podem explorar novas atividades e desenvolver
seu próprio senso de identidade.

Nesse contexto, o amante apegado com segurança respeita a necessidade de tempo sozinho da
outra pessoa, reservando tempo para se conectar. Isso, por sua vez, dá a ambas as partes a
oportunidade de experimentar independência e união.

As 5 fases do desenvolvimento psicossexual


segundo Freud

O que é desenvolvimento psicossexual para Freud?

A teoria do desenvolvimento psicossexual foi proposta pelo famoso psicanalista Sigmund


Freud e descreveu como a personalidade era desenvolvida ao longo da infância. Embora a
teoria seja bem conhecida na psicanálise e na psicologia, é também uma das mais
controversas.

Então como é que esta teoria psicossexual funciona? Freud acreditava que a personalidade
era desenvolvida através de uma série de estágios de infância em que as energias da busca do
prazer do ID tornam-se focadas em determinadas áreas erógenas. Esta energia psicossexual,
ou libido , foi descrita como a força motriz por trás do comportamento.

Vídeos explicando o Desenvolvimento da Personalidade na Teoria Freudiana:

https://www.youtube.com/playlist?list=PLllyz3kKBHNLYQtog9NOTg0LNLaCcjpl_

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A teoria psicanalítica sugeriu que a personalidade é mais estabelecida aos cinco anos de idade.
As primeiras experiências desempenham um grande papel no desenvolvimento da
personalidade e continuam a influenciar o comportamento mais tarde na vida.

Então o que acontece durante cada estágio de desenvolvimento psicossexual? E se uma


pessoa não consegue progredir através de um estágio completamente ou favoravelmente? Se
essas etapas psicossexuais são concluídas com êxito, uma personalidade saudável é o
resultado. Se certas questões não são resolvidas na fase adequada, fixações podem ocorrer. A
fixação é um foco persistente em um estágio psicossexual. Até que este conflito seja resolvido,
o indivíduo mantém-se “preso” nesta fase. Por exemplo, uma pessoa que está fixada na fase
oral pode ser mais dependente dos outros e pode buscar estimulação oral através de fumar,
beber ou comer.

As 5 fases do desenvolvimento psicossexual para Freud

1 – O Estágio Oral

 Faixa etária: Nascimento – 1 Ano

 Zona erógena: Boca

Durante o estágio oral, a fonte primária de interação do lactente ocorre através da boca, de
modo que o enraizamento e reflexo de sucção é especialmente importante. A boca é vital para
comer e a criança obtém prazer da estimulação oral por meio de atividades gratificantes, como
degustar e chupar. A criança é totalmente dependente de cuidadores (que são responsáveis
pela alimentação dela), e também desenvolve um sentimento de confiança e conforto através
desta estimulação oral.

O conflito principal nesta fase é o processo de desmame – a criança deve tornar-se menos
dependente de cuidadores. Se ocorrer a fixação nesta fase, Freud acreditava que o indivíduo
teria problemas com dependência ou agressão. Fixação oral pode resultar em problemas com
a bebida, comer, fumar ou roer as unhas.

2 – Estágio Anal

 Faixa Etária: 1 a 3 anos

 Zona erógena: Entranhas e controle da bexiga

Durante a fase anal, Freud acreditava que o foco principal da libido estava no controle da
bexiga e evacuações. O grande conflito nesta fase é o treinamento do toalete – a criança tem
de aprender a controlar suas necessidades corporais. Desenvolver esse controle leva a um
sentimento de realização e independência.

De acordo com Freud, o sucesso nesta fase é dependente da maneira com que os pais se
aproximam no treinamento do toalete. Os pais que utilizam elogios e recompensas para usar o
banheiro no momento oportuno incentivam resultados positivos e ajudam as crianças a se
sentir capazes e produtivas. Freud acreditava que experiências positivas durante este estágio
servem de base para que as pessoas tornem-se adultos competentes, produtivos e criativos.

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No entanto, nem todos os pais fornecem o apoio e encorajamento que as crianças precisam
durante este estágio. Alguns pais vão punir com ridicularização ou vergonha os acidentes
das crianças.

De acordo com Freud, as respostas parentais inadequadas podem resultar em resultados


negativos. Se os pais levam uma abordagem que é muito branda, Freud sugeriu que poderia se
desenvolver uma personalidade anal-expulsiva, em que o indivíduo tem uma personalidade
confusa ou destrutiva. Se os pais são muito rigorosos ou começam o treinamento do toalete
muito cedo, Freud acreditava que uma personalidade anal-retentiva se desenvolveria, na qual
o indivíduo é rigoroso, ordenado, rígido e obsessivo.

3 – A fase fálica

1. Faixa etária: 3 a 6 anos

2. Zona erógena: Genitais

Durante a fase fálica, o foco principal da libido é sobre os órgãos genitais. Nessa idade, as
crianças também começam a descobrir as diferenças entre machos e fêmeas.

Freud também acreditava que os meninos começam a ver seus pais como rivais pelo afeto da
mãe. O complexo de Édipo descreve esses sentimentos de querer possuir a mãe e o desejo de
substituir o pai. No entanto, a criança também teme ser punida pelo pai por estes sentimentos,
um medo que Freud denominou de angústia de castração.

O termo complexo de Electra tem sido usado para descrever um conjunto semelhante de
sentimentos vivenciados pelas jovens. Freud, no entanto, acredita que as meninas, em vez
disso experimentam a inveja do pênis.

Eventualmente, a criança começa a se identificar com o genitor do mesmo sexo como um meio
de vicariamente possuir o outro progenitor. Para as meninas, no entanto, Freud acreditava que
a inveja do pênis não foi totalmente resolvida e que todas as mulheres continuam a ser um
pouco fixadas neste estágio. Psicólogos como Karen Horney contestam esta teoria, chamando-a
de um tanto imprecisa e degradante para as mulheres. Em vez disso, Horney propôs que os
homens experimentam sentimentos de inferioridade porque eles não podem dar a luz à filhos,
um conceito à que ela se referiu como inveja do útero.

4 – O período de latência

 Faixa etária: 6 anos – puberdade

 Zona erógena: sentimentos sexuais são inativos

Durante o período de latência, os interesses da libido são suprimidos. O desenvolvimento


do ego e superego contribuem para este período de calma. O estágio começa na época em que
as crianças entram na escola e tornam-se mais preocupadas com as relações entre colegas,
hobbies e outros interesses.

O período de latência é um tempo de exploração em que a energia sexual ainda está presente,
mas é direcionada para outras áreas, como atividades intelectuais e interações sociais. Esta
etapa é importante para o desenvolvimento de habilidades sociais e de comunicação e
autoconfiança.

5 – O Estágio Genital

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 Faixa etária: Puberdade à Morte

 Zona erógena: Amadurecendo de Interesses Sexuais

Durante a fase final de desenvolvimento psicossexual, o indivíduo desenvolve um forte


interesse sexual no sexo oposto. Esta fase começa durante a puberdade, mas passa por todo o
resto da vida de uma pessoa.

Em fases anteriores, o foco foi exclusivamente nas necessidades individuais, porém o interesse
pelo bem estar dos outros cresce durante esta fase. Se as outras etapas foram concluídas com
êxito, o indivíduo deve agora ser bem equilibrado, tenro e carinhoso. O objetivo desta etapa é
estabelecer um equilíbrio entre as diversas áreas da vida.

Avaliando a Teoria dos estágios de


desenvolvimento psicossexual de Freud
A teoria de Freud ainda é considerada controversa hoje, mas imagine quão audaciosa parecia
durante o final dos anos 1800 e início dos anos 1900. Tem havido um grande número de
observações e críticas da teoria psicossexual de Freud sobre uma série de motivos, incluindo
críticas científicas e feministas:

 A teoria é focada quase exclusivamente no desenvolvimento do sexo masculino com


pouca menção do desenvolvimento psicossexual feminino.

 Suas teorias são difíceis de testar cientificamente. Conceitos como a libido são
impossíveis de medir, e, portanto, não podem ser testados.

 Previsões futuras são demasiado vagas. Como podemos saber que um comportamento
atual foi causado especificamente por uma experiência de infância? O período de
tempo entre a causa e o efeito é demasiado longo para assumir que existe uma relação
entre as duas variáveis.

 A teoria de Freud é baseada em estudos de caso e pesquisa não empírica. Além disso,
Freud baseou sua teoria sobre as lembranças de seus pacientes adultos, não em
observação real e estudo dos filhos.

Revisão e resumo rápido dos estágios de


desenvolvimento psicossexual de Freud

Fase oral (nascimento até 1 ano)

Interação primária de uma criança com o mundo é através da boca. A boca é vital para comer, e
a criança obtém prazer da estimulação oral por meio de atividades gratificantes, como degustar
e chupar. Se esta necessidade não é satisfeita, a criança pode desenvolver uma fixação oral
mais tarde na vida, cujos exemplos incluem chupar o dedo, tabagismo, roer unha e comer
demais.

Fase Anal (1 a 3 anos)

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Freud acreditava que o foco principal da libido estava no controle da bexiga e evacuações. O
aprendizado do uso do banheiro é uma questão primordial com as crianças e os
pais. Demasiada pressão pode resultar em uma necessidade excessiva para a ordem ou a
limpeza mais tarde na vida, enquanto que muito pouca pressão dos pais pode levar a um
comportamento confuso ou destrutivo mais tarde.

Fase fálica (3 a 6 anos)

Freud sugeriu que o foco principal da energia do id é sobre os órgãos genitais. De acordo com
Freud, a experiência do menino é uma experiência de Complexo de Édipo e da menina
é Complexo de Electra, ou uma atração para o pai do sexo oposto. Para lidar com este conflito,
as crianças adotam os valores e as características do pai do mesmo sexo, formando assim o
superego.

Fase latente (6 a 11 anos)

Durante esta fase, o superego continua a se desenvolver, enquanto as energias do id são


suprimidas. As crianças desenvolvem habilidades sociais, valores e relacionamentos com
colegas e adultos fora da família.

Estágio Genital (11 a 18 anos)

O início da puberdade faz com que a libido se torne ativa novamente. Durante esta fase, as
pessoas desenvolvem um forte interesse no sexo oposto. Se o desenvolvimento é bem
sucedido neste ponto, o indivíduo irá continuar a evoluir para uma pessoa bem equilibrada.

Referências:

Fadiman, James & Frager, Robert (1976), Teorias da Personalidade, São Paulo, HARBRA, 1986

Freud, S. (1905). Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade (no original em alemão, Drei
Abhandlungen zur Sexualtheorie).

SCHULTZ, Duane P; SCHULTZ, Sidney Ellen. Teorias da personalidade. 4ª Edição. São Paulo:
Cengage Learning, 2002.

[Data] 12
O Amor para a Psicanálise
Jacques-Alain Miller é um importante psicanalista francês. Ele
trabalhou muitos anos ao lado do psicanalista Jacques Lacan –
um dos mais influentes psicanalistas de todos os tempos.
Além das relações profissionais, Alain Miller casou-se com a filha de Lacan. Abaixo, reproduzo
uma importante entrevista de Jacques-Alain Miller sobre o amor. Achei interessantíssima a
definição que ele dá de amor: “Amar verdadeiramente alguém é acreditar que, ao amá-lo, se
alcançará a uma verdade sobre si”.

Em outras palavras, amamos alguém porque (no fundo, inconscientemente) esperamos


encontrar alguma resposta sobre nós mesmos, sobre quem nós somos.

A entrevista foi publicada na Psychologies Magazine em outubro 2008. A entrevistadora


é Hanna Waar.

Psychologies: A psicanálise ensina alguma coisa sobre o amor?

Jacques-Alain Miller: Muito, pois é uma experiência cuja fonte é o amor. Trata-se desse amor
automático, e freqüentemente inconsciente, que o analisando dirige ao analista e que se
chama transferência. É um amor fictício, mas é do mesmo estofo que o amor verdadeiro. Ele
atualiza sua mecânica: o amor se dirige àquele que a senhora pensa que conhece sua verdade
verdadeira. Porém, o amor permite imaginar que essa verdade será amável, agradável,
enquanto ela é, de fato, difícil de suportar.

P.: Então, o que é amar verdadeiramente?

J-A Miller: Amar verdadeiramente alguém é acreditar que, ao amá-lo, se alcançará a uma
verdade sobre si. Ama-se aquele ou aquela que conserva a resposta, ou uma resposta, à nossa
questão “Quem sou eu?”.

P.: Por que alguns sabem amar e outros não?

J-A Miller: Alguns sabem provocar o amor no outro, os serial lovers – se posso dizer – homens e
mulheres. Eles sabem quais botões apertar para se fazer amar. Porém, não necessariamente
amam, mais brincam de gato e rato com suas presas. Para amar, é necessário confessar sua
falta e reconhecer que se tem necessidade do outro, que ele lhe falta. Os que crêem ser
completos sozinhos, ou querem ser, não sabem amar. E, às vezes, o constatam dolorosamente.
Manipulam, mexem os pauzinhos, mas do amor não conhecem nem o risco, nem as delícias.

P.: “Ser completo sozinho”: só um homem pode acreditar nisso…

J-A Miller: Acertou! “Amar, dizia Lacan, é dar o que não se tem”. O que quer dizer: amar é
reconhecer sua falta e doá-la ao outro, colocá-la no outro. Não é dar o que se possui, os bens,
os presentes: é dar algo que não se possui, que vai além de si mesmo. Para isso, é preciso se
assegurar de sua falta, de sua “castração”, como dizia Freud. E isso é essencialmente feminino.
Só se ama verdadeiramente a partir de uma posição feminina. Amar feminiza. É por isso que o
amor é sempre um pouco cômico em um homem. Porém, se ele se deixa intimidar pelo
ridículo, é que, na realidade, não está seguro de sua virilidade.

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P.: Amar seria mais difícil para os homens?

J-A Miller: Ah, sim! Mesmo um homem enamorado tem retornos de orgulho, assaltos de
agressividade contra o objeto de seu amor, porque esse amor o coloca na posição de
incompletude, de dependência. É por isso que pode desejar as mulheres que não ama, a fim de
reencontrar a posição viril que coloca em suspensão quando ama. Esse princípio Freud
denominou a “degradação da vida amorosa” no homem: a cisão do amor e do desejo sexual.

P.: E nas mulheres?

J-A Miller: É menos habitual. No caso mais freqüente há desdobramento do parceiro


masculino. De um lado, está o amante que as faz gozar e que elas desejam, porém, há também
o homem do amor, feminizado, funcionalmente castrado. Entretanto, não é a anatomia que
comanda: existem as mulheres que adotam uma posição masculina. E cada vez mais. Um
homem para o amor, em casa; e homens para o gozo, encontrados na Internet, na rua, no
trem…

P.: Por que “cada vez mais”?

J-A Miller: Os estereótipos socioculturais da feminilidade e da virilidade estão em plena


mutação. Os homens são convidados a acolher suas emoções, a amar, a se feminizar; as
mulheres, elas, conhecem ao contrário um certo “empuxo-ao-homem”: em nome da igualdade
jurídica são conduzidas a repetir “eu também”. Ao mesmo tempo, os homossexuais reivindicam
os direitos e os símbolos dos héteros, como casamento e filiação. Donde uma grande
instabilidade dos papéis, uma fluidez generalizada do teatro do amor, que contrasta com a
fixidez de antigamente. O amor se torna “líquido”, constata o sociólogo Zygmunt Bauman (1).
Cada um é levado a inventar seu próprio “estilo de vida” e a assumir seu modo de gozar e de
amar. Os cenários tradicionais caem em lento desuso. A pressão social para neles se conformar
não desapareceu, mas está em baixa.

P.: “O amor é sempre recíproco”, dizia Lacan. Isso ainda é verdade no contexto atual? O que
significa?

J-A Miller: Repete-se esta frase sem compreendê-la ou compreendendo-a mal. Ela não quer
dizer que é suficiente amar alguém para que ele vos ame. Isso seria absurdo. Quer dizer: “Se eu
te amo é que tu és amável. Sou eu que amo, mas tu, tu também estás envolvido, porque há em
ti alguma coisa que me faz te amar. É recíproco porque existe um vai-e-vem: o amor que tenho
por ti é efeito do retorno da causa do amor que tu és para mim. Portanto, tu não estás aí à toa.
Meu amor por ti não é só assunto meu, mas teu também. Meu amor diz alguma coisa de ti que
talvez tu mesmo não conheças”. Isso não assegura, de forma alguma, que ao amor de um
responderá o amor do outro: isso, quando isso se produz, é sempre da ordem do milagre, não
é calculável por antecipação.

P.: Não se encontra seu ‘cada um’, sua ‘cada uma’ por acaso. Por que ele? Por que ela?

J-A Miller: Existe o que Freud chamou de Liebesbedingung, a condição do amor, a causa do
desejo. É um traço particular – ou um conjunto de traços – que tem para cada um função
determinante na escolha amorosa. Isto escapa totalmente às neurociências, porque é próprio
de cada um, tem a ver com sua história singular e íntima. Traços às vezes ínfimos estão em
jogo. Freud, por exemplo, assinalou como causa do desejo em um de seus pacientes um brilho
de luz no nariz de uma mulher!

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P.: É difícil acreditar em um amor fundado nesses elementos sem valor, nessas baboseiras!

J-A Miller: A realidade do inconsciente ultrapassa a ficção. A senhora não tem idéia de tudo o
que está fundado, na vida humana, e especialmente no amor, em bagatelas, em cabeças de
alfinete, os “divinos detalhes”. É verdade que, sobretudo no macho, se encontram tais causas
do desejo, que são como fetiches cuja presença é indispensável para desencadear o processo
amoroso. As particularidades miúdas, que relembram o pai, a mãe, o irmão, a irmã, tal
personagem da infância, também têm seu papel na escolha amorosa das mulheres. Porém, a
forma feminina do amor é, de preferência, mais erotômana que fetichista : elas querem ser
amadas, e o interesse, o amor que alguém lhes manifesta, ou que elas supõem no outro, é
sempre uma condição sine qua non para desencadear seu amor, ou, pelo menos, seu
consentimento. O fenômeno é a base da corte masculina.

P.: O senhor atribui algum papel às fantasias?

J-A Miller: Nas mulheres, quer sejam conscientes ou inconscientes, são mais determinantes
para a posição de gozo do que para a escolha amorosa. E é o inverso para os homens. Por
exemplo, acontece de uma mulher só conseguir obter o gozo – o orgasmo, digamos – com a
condição de se imaginar, durante o próprio ato, sendo batida, violada, ou de ser uma outra
mulher, ou ainda de estar ausente, em outro lugar.

P.: E a fantasia masculina?

J-A Miller: Está bem evidente no amor à primeira vista. O exemplo clássico, comentado por
Lacan, é, no romance de Goethe (2), a súbita paixão do jovem Werther por Charlotte, no
momento em que a vê pela primeira vez, alimentando ao numeroso grupo de crianças que a
rodeiam. Há aqui a qualidade maternal da mulher que desencadeia o amor. Outro exemplo,
retirado de minha prática, é este: um patrão qüinquagenário recebe candidatas a um posto de
secretária. Uma jovem mulher de 20 anos se apresenta; ele lhe declara de imediato seu fogo.
Pergunta-se o que o tomou, entra em análise. Lá, descobre o desencadeante: ele havia nela
reencontrado os traços que evocavam o que ele próprio era quando tinha 20 anos, quando se
apresentou ao seu primeiro emprego. Ele estava, de alguma forma, caído de amores por ele
mesmo. Reencontra-se nesses dois exemplos, as duas vertentes distinguidas por Freud: ama-se
ou a pessoa que protege, aqui a mãe, ou a uma imagem narcísica de si mesmo.

P.: Tem-se a impressão de que somos marionetes!

J-A Miller: Não, entre tal homem e tal mulher, nada está escrito por antecipação, não há
bússola, nem proporção pré-estabelecida. Seu encontro não é programado como o do
espermatozóide e do óvulo; nada a ver também com os genes. Os homens e as mulheres
falam, vivem num mundo de discurso, e isso é determinante. As modalidades do amor são
ultra-sensíveis à cultura ambiente. Cada civilização se distingue pela maneira como estrutura a
relação entre os sexos. Ora, acontece que no Ocidente, em nossas sociedades ao mesmo
tempo liberais, mercadológicas e jurídicas, o “múltiplo” está passando a destronar o “um”. O
modelo ideal do “grande amor de toda a vida” cede, pouco a pouco, terreno para o speed
dating, o speed loving e toda floração de cenários amorosos alternativos, sucessivos, inclusive
simultâneos.

P.: E o amor no tempo, em sua duração? Na eternidade?

J-A Miller: Dizia Balzac: “Toda paixão que não se acredita eterna é repugnante” (3). Entretanto,
pode o laço se manter por toda a vida no registro da paixão? Quanto mais um homem se

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consagra a uma só mulher, mais ela tende a ter para ele uma significação maternal: quanto
mais sublime e intocada, mais amada. São os homossexuais casados que melhor desenvolvem
esse culto à mulher: Aragão canta seu amor por Elsa; assim que ela morre, bom dia rapazes! E
quando uma mulher se agarra a um só homem, ela o castra. Portanto, o caminho é estreito. O
melhor caminho do amor conjugal é a amizade, dizia, de fato, Aristóteles.

P.: O problema é que os homens dizem não compreender o que querem as mulheres; e as
mulheres, o que os homens esperam delas…

J-A Miller: Sim. O que faz objeção à solução aristotélica é que o diálogo de um sexo ao outro é
impossível, suspirava Lacan. Os amantes estão, de fato, condenados a aprender
indefinidamente a língua do outro, tateando, buscando as chaves, sempre revogáveis. O amor
é um labirinto de mal entendidos onde a saída não existe.

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(1) Zygmunt Bauman, L’amour liquide, de la fragilité des liens entre les hommes (Hachette
Littératures, « Pluriel », 2008)

(2) Les souffrances du jeune Werther de Goethe (LGF, « le livre de poche », 2008).

(3) Honoré de Balzac in La comédie humaine, vol. VI, « Études de mœurs : scènes de la vie
parisienne » (Gallimard, 1978).

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