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PRÁTICAS DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL

NA AGRICULTURA FAMILIAR: ESTUDO


DE CASO EM COOPERATIVA DE
AGRICULTORES NO BAIRRO MUCUNÃ,
MARACANAÚ (CE)
Joelma dos Santos Dias1
Janacinta Nogueira de Souza2
Rifrandreo Monteiro Barbosa3
Franklin Aragão Gondim4*

Resumo: A Educação Ambiental (EA) é precursora das questões relacionadas aos


problemas ambientais, objetivando uma relação harmônica e equilibrada entre o
homem e o meio ambiente. Tem sido utilizada como uma ferramenta para
promover conscientização ambiental, neste caso, com agricultores através de
práticas de EA. Neste estudo, partiu-se do pressuposto que a Agroecologia e a
Educação Ambiental podem ser reconhecidas como áreas fundamentais para o
desenvolvimento do cooperativismo agrícola propondo rupturas com a organização
da sociedade e com o modelo convencional de agricultura. O objetivo deste estudo
é evidenciar as contribuições da assistência técnica prestada à cooperativa de
agricultores da comunidade Mucunã (Maracanaú – CE) para o fortalecimento de
práticas sustentáveis na agricultura. Foi realizada uma pesquisa bibliográfica e
exploratória descrevendo as ações de Educação Ambiental com produtores rurais
da Cooperativa de Agricultores e Criadores de Maracanaú (COOPACRIM), no ano
de 2019. Com isso, concluiu-se que o cooperativismo aliado às práticas
agroecológicas tem se demonstrado como ferramentas importantes para a
emancipação econômica e política da população que vive nos espaços rurais.
Identificou-se também que práticas de Educação Ambiental contribuem para o
desenvolvimento sustentável.
Palavras-chave: Agroecossistema; Produção Orgânica; Quintais Produtivos;
Sustentabilidade Rural.

1 Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará, Campus Maracanaú.


E-mail: [email protected]. Link para o Lattes: http://lattes.cnpq.br/1501077737462891
2 Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará, Campus Maracanaú.

E-mail: [email protected]. Link para o Lattes: http://lattes.cnpq.br/4108992775788667


3 Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará, Campus Maracanaú.

E-mail: [email protected]. Link para o Lattes: http://lattes.cnpq.br/0725789237982397


4 Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará, Campus Maracanaú.

E-mail: [email protected]. Link para Lattes: http://lattes.cnpq.br/4207075808724945


revista brasileira *Autor correspondente
de
educação Revbea, São Paulo, V. 17, No 2: 260-277, 2022.
ambiental
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Abstract: Environmental Education (EE) is a precursor to issues about
environmental problems, it aims a harmonious and balanced relationship between
man and the environment. It has been used as a tool to promote environmental
awareness. In this case, with farmers, through EE practices. This study started
from the assumption that Agroecology and Environmental Education can be
fundamental areas for the development of agricultural cooperatives, breaking
traditional ideas about the organization of society and the conventional model of
agriculture. The aim of this study is to highlight the contributions of technical
assistance provided to the cooperative of farmers from Mucunã community
(Maracanaú – CE, Brazil) for the strengthening of sustainable practices in
agriculture. A bibliographic and exploratory research was carried out describing the
actions of environmental education with rural producers of the Cooperativa de
Agricultores e aos Criadores de Maracanaú (COOPACRIM) in 2019. The
conclusion was that cooperativism combined with agroecology based on organic
production has proved to be an important tool for the economic and political
emancipation of the population living in rural areas. It is also concluded that EE
practices contribute to sustainable development.
Keywords: Agro-ecosystem; Organic Production; Productive Yards; Rural
Sustainability.

Introdução
A atual situação epidemiológica decorrente da pandemia do COVID-19,
iniciada no primeiro semestre de 2020, ocasionou um alto pico de
contaminação no mundo, intensificando as crises sociais, econômicas e
políticas, evidenciando o cenário de desigualdade social no Brasil (SILVA;
MUNIZ, 2020). Nesse sentido, houve fortes impactos no setor agropecuário em
relação a sua estrutura produtiva, desde a extração de matérias-primas,
processamento, até o setor de distribuição e serviços que se assentam na
oferta presencial de produtos. (CLAUDINO, 2020).
Consequentemente, isso intensifica ainda mais as desigualdades já
existentes entre os agricultores. Para Claudino (2020), a longo prazo a
agroecologia pode promover mudanças sociais no sentido de repensar a
relação entre humanos e natureza, de modo, a reduzir impactos ambientais,
econômicos e sociais. Ressalta-se então importância da atuação conjunta da
agricultura familiar e da Educação Ambiental, visto que ao serem categorias
historicamente construídas, podem resultar na expansão de políticas e
programas nas áreas de agricultura familiar, bem como na transformação das
construções teórico-práticas da Educação Ambiental (SOUZA, 2015).
O modelo econômico baseado na agricultura familiar é responsável pela
sobrevivência de milhares de famílias em todas as regiões do país. A
Organização das Nações Unidas - ONU (2018), alerta para a necessidade de
considerar a importância comercial da agricultura familiar, pois esta representa
80% de toda a produção mundial de alimentos. Ademais, em escala mundial,
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aproximadamente 500 milhões de produtores rurais estão inseridos nesse
sistema, o que corresponde a 90% de todas as propriedades agrícolas
mundiais (ONU, 2018).
No Brasil, o setor agropecuário representou 76,8% e teve mais de 5
milhões de estabelecimentos, 23% foi do valor da produção e utilizou 23% da
área total. Contribuiu socialmente e economicamente, uma vez que empregou
10,1 milhões de pessoas com representatividade de 67% dos trabalhadores no
setor, assim como é essencial na produção de alimentos (IBGE, 2017). Frente
a esses dados, é importante continuar afirmando a importância da
agroecologia, como uma ciência que contribui tanto para o desenvolvimento da
agricultura familiar, quanto para a promoção de mudanças significativas no
atual modelo de sociedade baseado num sistema capitalista que tem explorado
de forma a degradar o meio ambiente em prol da manutenção do sistema
econômico (CIDREIRA-NETO; RODRIGUES, 2017).
A agroecologia é uma ciência que possibilita recuperar antigas técnicas
de povos tradicionais e das culturas sociais locais, agregando a esses saberes
os conhecimentos científicos acumulados sobre o manejo ecológico dos
recursos naturais através de formas de ação coletiva e com propostas de
desenvolvimento participativo, desde as formas de produção até a circulação
alternativa de seus produtos, isto é, a agroecologia procura integrar a esfera
científica às outras esferas do saber presentes nas localidades, além de
estabelecer relações entre as partes e o todo (FEIDEN 2005; BRASIL, 2012).
Em nível mundial, a agricultura familiar é a principal protagonista na produção
de alimentos, sendo suas atividades essenciais para a manutenção da
sociedade (SILVA PIRES, 2018).
Ressalta-se que a agricultura familiar tem como premissa base, o
respeito ao meio ambiente e suas peculiaridades locais, desenvolvendo a
cultura da sustentabilidade e uma relação das pessoas com a natureza de
forma crítica e sistêmica. Para Silva Pires (2018), na atualidade existe um
debate dicotômico em torno da ideia de desenvolvimento. Primeiro, os modelos
tradicionais de desenvolvimento, muitas vezes atrelado a uma concepção
macroeconômica, têm evidenciado a problemática da exclusão social dos
pequenos produtores rurais.
Por outro lado, o fortalecimento dos movimentos verdes que enfatizam a
Educação Ambiental e a sustentabilidade, ampliam a concepção de cidadania,
direitos humanos, espaço democrático e resistem ao capitalismo hegemônico.
De acordo com Caldart e Molina (2012, pp.3-4), “não é possível pensar um
projeto de país, de nação, sem pensar um projeto de campo, um lugar social
para seus sujeitos concretos, para seus processos produtivos, de trabalho, de
cultura, de educação”.
Atrelado a isso, as cooperativas agropecuárias contribuem para a
modernização da agricultura, através da sua estrutura de assistência técnica,
armazéns e agroindústrias. Para superar o subdesenvolvimento emprega
tecnologias no campo, passando a vigorar um ideal de incremento à produção
revista brasileira agrícola no cenário brasileiro (SILVA PIRES, 2018).
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Para além disso, conseguem reunir escala de produção para obter
melhor posição de preços nos mercados interno e externo, bem como, captar
recursos financeiros para produção e comercialização dos produtos. De acordo
com a Lei nº 5.764 de 16 de dezembro de 1971, que define a Política Nacional
de Cooperativismo e institui o regime jurídico das sociedades cooperativas,
onde no Artº 4 define: “As cooperativas são sociedades de pessoas, com forma
e natureza jurídica próprias, de natureza civil, não sujeitas a falência,
constituídas para prestar serviços aos associados”.
O cooperativismo agrícola desenvolve um papel importante na
agricultura familiar, como valores éticos baseados na honestidade,
responsabilidade social e desenvolvimento sustentável. (RIOS, 2017). Essa
organização se diferencia das demais por ser, simultaneamente, uma
associação de pessoas e um negócio cujo objetivo é satisfazer as
necessidades dos seus membros e obter desempenho econômico eficiente,
conforme o Programa de Educação Ambiental e Agricultura Familiar - PEAAF
(BRASIL, 2012).
Portanto, a proposição realizada pelo PEAAF (2012) lança um olhar
mais aprofundado acerca da elaboração de estratégias dentro de uma
perspectiva coletiva. As ações visam enfrentar as problemáticas presentes no
campo socioambiental rural. Somado a isto, o programa reúne experiências
diversas que estão postas de maneira fragmentada e são disseminadas pelo
país. Sendo assim, com a implementação do programa, observa-se um
momento salutar, na qual é possível ver o reconhecimento político de práticas
que já eram realizadas de modo informal (SOUZA, 2015).
Para Strate (2018) os agricultores familiares estão se inserindo em
sistemas cooperativos de produção e geração de renda, bem como, na difusão
de novos valores culturais, sociais e ambientais, como forma de sobrevivência
e novas maneiras de inserção nos mercados. Tal momento constitui-se como
rico para aprofundar a discussão acerca dos processos cooperativos no
contexto da agricultura brasileira. Diante desse contexto, é importante abordar
a utilização das técnicas agroecológicas para promover Educação Ambiental
no campo, pois consideram como princípios básicos o ser humano e o meio
ambiente como parte de um único organismo vivo.
Nesse sentido, partiu-se do pressuposto que a Educação Ambiental e a
Agroecologia podem ser reconhecidas como áreas fundamentais para o
desenvolvimento do cooperativismo agrícola propondo rupturas com a
organização da sociedade e com o modelo convencional de agricultura. Este
trabalho levanta o questionamento se a agroecologia como prática de
Educação Ambiental pode colaborar com o desenvolvimento da agricultura
sustentável em uma cooperativa de agricultores.
Tendo dito isto, o presente estudo tem como principal objetivo evidenciar
as contribuições da assistência técnica prestada junto à Cooperativa de
Agricultores do Bairro Mucunã, localizado em Maracanaú/CE, para o
fortalecimento de práticas sustentáveis na agricultura. revista brasileira
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Material e Métodos
A comunidade escolhida para o acompanhamento direto foi a
Cooperativa de Agricultores e Criadores de Maracanaú (COOPACRIM) 5. A qual
está localizada na zona rural do bairro Mucunã, município de Maracanaú – CE.
Criada em 2016, tendo como missão a produção de alimentos orgânicos
através da agricultura sustentável. Segundo dados do acervo, em 2019,
contava com 40 cooperados que realizavam a produção de hortaliças, frutas e
legumes tanto para o consumo quanto para comercialização.
Diante do exposto, é importante destacar que o presente estudo parte da
assistência técnica prestada por uma equipe multiprofissional da Secretaria de
Meio Ambiente e Controle Urbano de Maracanaú - SEMAM e da Secretaria de
Assistência Social de Maracanaú – SASC, equipe esta que é composta por
uma pesquisadora, dois engenheiros agrônomos e discentes de engenharia
ambiental e sanitária do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia
do Ceará (IFCE), campus Maracanaú – CE (Figura 1).

Figura 1: Equipe técnica multiprofissional da SEMAM e SASC.


Fonte: Autoria própria (2019).

O acompanhamento técnico com agricultores familiares da cooperativa


do bairro Mucunã/CE, consistiu na orientação junto aos produtores rurais
quanto às técnicas de plantio, manejo dos cultivos, beneficiamento da
produção e cuidado com o meio ambiente, visando dinamizar a produção
sustentável dos sistemas agrícolas nas unidades produtivas proporcionando
benefícios para o agricultor.
Nesse cenário, as oficinas abrangeram atividades práticas com os
agricultores familiares sobre temas de interesse levantados durante as visitas
realizadas com os cooperados na comunidade que situa a Cooperativa dos
Agricultores e Criadores de Maracanaú - COOPACRIM. O Município conta com

5 Essa experiência foi realizada ainda em 2019, concomitantemente ao processo de pesquisa


demonstrado neste estudo. O debate é atual, pois coloca mais uma vez a agricultura familiar,
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de tendo em vista a preservação de práticas saudáveis para manter o equilíbrio da natureza.
educação Revbea, São Paulo, V. 17, No 2: 260-277, 2022.
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um escritório da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Ceará –
EMATERCE, que desenvolve trabalhos com sete comunidades agrícolas,
sendo elas: Alto da Mangueira, Associação das Mulheres Indígenas, Colônia
Antônio Justa, Mucunã, Olho D'Água, Santo Antônio do Pitaguary e Pajuçara.
Dentre eles, podemos destacar O projeto Hora de Plantar, uma iniciativa
do governo do Estado do Ceará em parceria com a Prefeitura de Maracanaú,
através da Secretária de Estado do Desenvolvimento Econômico Sustentável -
SDE, que visa atender com sementes e mudas de elevado potencial genético
os agricultores familiares. O projeto tem contribuído para o aumento da
produção, produtividade e para melhoria das condições de vida,
proporcionando aumento de renda e segurança alimentar e nutricional.
À vista disso, foi possível perceber ao realizar a primeira etapa do
acompanhamento, que os pequenos agricultores enfrentam diversos desafios
diariamente. A comercialização de seus produtos, a compra de suprimentos e
insumos necessários para a produção rural estão entre os principais
problemas.

Área de Estudo
O mapa de localização da área de estudo conforme a Figura 2, foi
realizado através de imagens secundárias gratuitas obtidas pelo Google Earth
Pro, seguindo os preceitos do Sistema de Informação Geográfica – SIG,
utilizando especificamente o Software ArcGis versão 2019. O presente mapa
conta com uma área de estudo de um hectare, escala grande de 1:2.500 com
limites municipais correspondentes ao norte com Fortaleza e Caucaia; ao sul e
leste com Pacatuba e a oeste com Maranguape.

Figura 2: Mapa de Localização da área de estudo.


Fonte: Google Earth Pro (2021). revista brasileira
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Desenvolveu-se um estudo técnico na comunidade, onde as seguintes
variáveis foram analisadas: o terreno tem uma área de um hectare e abrange 3
grandes áreas para plantio; mais de 80 canteiros; 4 fontes de água (três poços
e um reservatório natural); e 4 bombas elétricas. Dessa forma, esses dados
foram considerados como variáveis a serem analisadas para determinação de
como uma área apresenta condições favoráveis à implantação de sistemas
agroecológicos.
A primeira etapa do projeto consistiu em uma capacitação sobre o
cadastramento dos agricultores junto ao Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento (MAPA), com o objetivo de demonstrar o potencial de
ampliação da margem de lucro na venda dos produtos orgânicos. Estiveram
presentes na reunião técnicos, estudantes, comunidade geral e agricultores
(Figura 3). O incentivo exige uma ação empreendedora por meio da criação de
novos produtos, processos e/ou da entrada em novos mercados.
Isto porque na agricultura familiar o agricultor necessita gerir sua
propriedade de maneira eficiente, possuindo estratégias de financiamento e
comercialização bem definidas para que possa gerar desenvolvimento da
comercialização dos seus produtos (SOLANO, 2017).
Demonstra-se assim a importância de realizar um estudo que possibilite
compreender como o agricultor familiar apreende e ressignifica sua realidade
em paralelo com a implementação de políticas públicas que recaem sobre suas
práticas agrícolas. Conforme Wanderley (2011), o agricultor ainda lida com
problemas que nunca foram resolvidos, uma vez que este grupo é bastante
fragilizado no cenário de modernização da produção brasileira, e que, em sua
grande maioria, segue embasado em suas próprias forças produtivas.

/
Figura 3: Reunião sobre cadastramento dos agricultores junto ao MAPA.
Fonte: Autoria própria (2019).

Na segunda etapa, executou-se uma oficina de compostagem para


adubação de hortas e canteiros por meio da abordagem teórica e prática, onde
os profissionais junto aos participantes puderam discutir os benefícios e a
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importância da compostagem na redução de impactos ambientais por meio do
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reaproveitamento dos resíduos sólidos orgânicos e aspectos envolvidos, como
a manutenção da temperatura, umidade e arejamento, além de uma sessão
sobre como confeccionar uma composteira caseira. Foram utilizados os
seguintes compostos (Figura 4):

Esterco Equino Minhocas Resíduos


Californianas Orgânicos
Domésticos

Figura 4: Fluxograma da produção de composto.


Fonte: Autoria própria (2019).

Segundo Resende (2005), o esterco equino apresenta valores altos de


relação carbono/nitrogênio (C/N), fósforo (P) e matéria orgânica, responsáveis
pelo aumento da atividade microbiana do composto, facilitando no seu
processo de compostagem. Em relação à vermicompostagem, consiste no
processo de degradação biológica e humificação da matéria orgânica por meio
da ação das minhocas e, sobretudo, da flora que vive em seu trato digestivo,
microrganismos estes que potencializam a geração de compostos mais ricos
em nutrientes assimiláveis pelas plantas (AMORIM, 2002; DORES-SILVA;
LANDGRAF; REZENDE, 2011).
Já os tipos de resíduos orgânicos reaproveitados na compostagem,
foram usados os restos de alimentos, além de folhas, serragem e estercos. A
produção dos insumos orgânicos consistiu numa técnica sustentável de adu-
bação e preparo do solo para a implantação das culturas agrícolas (Quadro 1).

Quadro 1: Culturas agrícolas implantadas na horta.


Nome popular Nome científico

Pimentão (Capsicum annuum Group)

Coentro (Coriandrum sativum),

Couve-Manteiga (Brassica oleracea)

Pimenta (Capsicum frutescens)

Tomate cereja (Solanum lycopersicum var. cerasiforme)

Salsa (Petroselinum crispum)

Alface Americana (Lactuca sativa)

Alho (Allium sativum)

Cebola (Allium cepa).


Fonte: Autoria própria (2021).
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Com isso, foi implementada uma horta orgânica, sendo o local
escolhido, pela própria cooperativa. Inicialmente, realizou-se o preparo do solo
com adubação e implantação das culturas agrícolas, onde foi incorporado
esterco e compostagem. Essa atividade contou com a participação de crianças
e de seus pais, possibilitando que tivessem contato com práticas de
conscientização ambiental e preservação dos recursos naturais ainda na
infância.
Na terceira etapa do projeto, implantaram-se quintais produtivos tendo
como objetivo aumentar a oferta de alimentos de elevado poder nutritivo e
melhorar as condições de vida de grupos sociais em situação de insegurança
alimentar e nutricional, por intermédio da implantação de hortas, viveiros,
lavouras e pomares comunitários em espaços disponíveis nas áreas
comunitárias (Figura 5).

Figura 5: Quintal Produtivo na Cooperativa de Agricultores Mucunã.


Fonte: Cooperativa de agricultores- Mucunã (2019).

No município existem três territórios que desenvolvem o projeto:


Mucunã, Indígena e Antônio Justa. É importante destacar que os agricultores
que participam das hortas comunitárias também podem participar do Programa
de Aquisição de Alimentos - PAA. Dentro desta perspectiva, a Secretaria de
Assistência Social e Cidadania firmaram parceria com o Governo Estadual por
meio da Secretaria de Desenvolvimento Agrário (SDA) para desenvolver o
Projeto Quintais Produtivos, com o objetivo de promover a agricultura familiar
através de equipamentos, insumos e formação técnica.

Resultados e discussão
Após o cadastramento dos agricultores e familiares da COOPACRIM
junto ao MAPA, foi possível observar que os próprios participantes tiveram a
iniciativa em organizar uma “feira orgânica”, que consiste na oferta dos
produtos cultivados de forma centralizada em local. É importante destacar que
o método anteriormente utilizado era o de venda “porta a porta”, porém,
segundo relatos dos próprios participantes, esse método não atendia às
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As Feiras Populares beneficiam especialmente agricultores familiares,
pois compõem uma importante estratégia de comercialização da produção (ou
do seu excedente), possibilitando a geração de renda e evitando desperdício e
prejuízo aos produtores (LIMA; CHAGAS, 2020). Propiciando, ainda, que a
população em geral tenha fácil acesso a alimentos orgânicos, além da
possibilidade de troca de informações diretamente com quem produz.
Ademais, é notório uma preocupação dos consumidores em relação aos
produtos orgânicos adquiridos nas feiras, sendo fatores determinantes para o
consumo: a alimentação saudável, redução de impactos ambientais e a
sustentabilidade (CRUVINEL; CORRÊA; JUNIOR; FELICIANO; ALMEIDA,
2017).
As feiras ocorriam uma vez no mês no centro administrativo da
Prefeitura de Maracanaú. A secretaria de meio ambiente disponibilizou bancas
individuais para cada agricultor interessado em participar do projeto. Os
balcões oferecidos pela prefeitura eram simples, somente com o espaço para
organizar os produtos, os quais não possuíam cobertura (Figuras 7,
respectivamente, A e B).

Figura 7: (A) Cartaz da feira orgânica de Maracanaú e (B) Realização da feira orgânica de
Maracanaú (2019).
Fonte: Prefeitura de Maracanaú (2019).

Posteriormente, realizou-se uma palestra no auditório da Secretaria de


Assistência Social (SASC) para os agricultores, familiares e crianças que fazem
parte da comunidade Mucunã sobre “Modelos de Produção Orgânica no Brasil,
com foco nas organizações de Controle Social”, ministrada pelo auditor-fiscal
do Ministério da Agricultura, Adriano Custódio (Figura 8). Foi perceptível que os
agricultores e comunidade do entorno demonstraram bastante interesse na
relação com o cuidado do meio ambiente. Foi apresentada a proposta de
implantação de uma horta orgânica (Figura 9) demonstrando como poderia ser
realizada a compostagem para adubação das hortas e dos canteiros.

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Figura 8: Palestra no auditório da Secretaria de Assistência Social (SASC) para os
agricultores.
Fonte: autoria própria (2019).

Figura 9: Participação da comunidade local na implantação da horta orgânica.


Fonte: autoria própria (2019).

Nesse sentido, foi apontado que os cultivos orgânicos para uma


alimentação saudável se constituem como uma estratégia importante para
preservação ambiental e saúde pública. Mass, Malvesti, Vergara e Gontijo
(2018) apontam que, como alternativa para superar a exploração econômica
capitalista no meio rural, os agricultores geram renda a partir da agricultura
familiar, como também, permanecem em suas áreas, não contribuindo para o
êxodo rural.
Ainda de acordo com o mesmo estudo, além dessa particularidade, a
agricultura de base agroecológica contribui tanto para a melhoria da saúde
quanto para a preservação ambiental, uma vez que se alicerça em práticas de
Educação Ambiental ecológica e ao não uso de agrotóxicos, aumentando a
qualidade de vida (MAAS; MALVESTITI; VERGARA; GONTIJO, 2018).
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Deste modo, conforme Carneiro (1997), deve-se evidenciar a pluralidade
de atividades exercidas por agricultores, de modo que sejam pensadas ações
que estejam para além das agrícolas em si, pois, é a partir dessa estrutura que
é possível manter atividades do/no campo e incentivar estas pequenas
unidades de produção.
Em continuidade, a comunidade exerce um papel importante na
formação de multiplicadores ambientais que podem atuar na disseminação dos
conhecimentos e das habilidades adquiridas ao longo do trabalho, estimulando
o desenvolvimento permanente das boas práticas.
Pelas observações de questões cotidianas, note-se que a
implementação da horta orgânica, permitiu envolver os moradores da
comunidade, bem como, estimular o debate em torno de questões, tais como, o
comprometimento de mão de obra e cuidados em relação ao surgimento de
pragas e doenças fitopatológica. O manejo e o controle alternativo de pragas
na agricultura familiar são técnicas distintas que contribuem para o bom
desenvolvimento de uma plantação (VENTURA; LIMA; MARTINS; CULIK;
COSTA, 2019).
Os defensivos naturais estimulam o metabolismo das plantas que
reagem quando pulverizadas, aumentando a resistência aos ataques (AYRES;
ALVAREZ; FERNANDES NETO; UGUEN; SENA ALFAIA, 2020). O
biofertilizante é um adubo líquido que, além de alimentar as plantas com seus
nutrientes, possui microrganismos vivos que podem proteger as plantas contra
pragas e doenças e nutrir o solo. Este é produzido de forma natural, obtido a
partir da degradação de diversas fontes de matéria orgânica (estercos animais,
aves e vegetais), em condições aeróbias e anaeróbias, para ser aplicado com
pulverização no solo ou nas folhas das plantas. (AYRES, et al., 2020).
Percebeu-se, com base em relatos e questionamentos, que a
comunidade local e os cooperados reconheceram a implantação da horta
orgânica como fundamental para adquirirem alimentos, passando a contribuir
também para o fortalecimento e a viabilidade da agricultura familiar, e para a
prática de produção de alimentos orgânicos em casa com mais segurança
alimentar (Figura 10). Com isso, a Educação Ambiental resultante da
preocupação dos impactos ambientais causados pela ação humana (JAEGER;
FREITAS, 2021), tem se mostrado como uma ferramenta educativa
fundamental na agricultura familiar (CLAUDINO, 2020), impulsionando a
concepção de desenvolvimento sustentável, segurança alimentar e
desenvolvimento local, tendo em vista os preceitos da Lei nº 9.795 de 27 de
abril de 1999, que dispõe sobre a Educação Ambiental, instituindo a Política
Nacional de Educação Ambiental. Nessa relação, a Educação Ambiental
associada à agricultura familiar, pode desempenhar um papel importante no
sentido de fortalecer o contexto social, político e econômico, pois contribui
diretamente com o desenvolvimento sustentável.

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Figura 10: Agricultor aplicando práticas sustentáveis na horta da cooperativa.
Fonte: autoria própria (2019).

Ruscheinsky (2002), demonstra a necessidade de conferir à agricultura


um caráter mais autossustentável e menos agressivo à natureza, como
atualmente é a agricultura convencional. Nesse sentido, a chamada agricultura
ecológica surge como uma alternativa que confere inúmeros benefícios aos
produtores, aos consumidores e ao meio ambiente. Tem-se de fato uma
contribuição socioambiental do consumidor consciente fundamentada por meio
da preservação dos recursos naturais, que ao procurar produtos orgânicos, se
torna resultado no contexto de transição do sistema convencional de alimentos
para um sistema de produção orgânica (CRUVINEL, et al., 2017).
A agroecologia propõe a intensificação no uso de conhecimentos,
diversificação e valorização de processos ecológicos com a utilização de
insumos internos e externos de baixo custo. Como exemplo, um agricultor que
produz para vender em feiras tem como objetivo a diversificação da produção
para ampliar as possibilidades de venda (GIORDANI; BEZERRA; ANJOS,
2017).
Assim, as cooperativas buscam de forma solidária a obtenção de
resultados econômicos que possibilitem a melhoria do nível de vida de cada
cooperado, tanto de forma individual quanto coletiva. Exercem também um
importante papel na estruturação da produção e organização de redes, desde a
captação até a comercialização e distribuição dos produtos (SILVA PIRES,
2018).
Verificou-se ainda que no quintal das residências é onde as famílias dos
agricultores adquirem grande parte dos alimentos para o consumo diário
(Figura 11). É nesse espaço que os membros da família desempenham suas
atividades, onde se destaca a presença da diversidade de plantas e espécies
que compõem a paisagem.
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Figura 11: Quintal Produtivo Agroecológico da cooperativa.
Fonte: autoria própria (2019).

O quintal produtivo oferece várias vantagens para toda a família, como


exemplos, estas possibilitam maior comodidade, menores espaço de tempo
para executar as atividades de cultivo, manejo e colheita dos produtos em suas
respectivas safras. Os quintais são importantes, pois abrange uma diversidade
de espécies que contribuem não somente para a segurança alimentar e
atividade econômica, mas para o equilíbrio agroecológico (CARNEIRO et al.,
2013). É possível, da janela ou porta de casa, observar qual planta ou fruto
está no ponto de colheita, bem como, verificar a ocorrência de algum
desequilíbrio. Assim, podendo colher o fruto adequado e maduro no período
correto sem deixar que passe do ponto ou se perca sem tomar as medidas
preventivas contra o ataque de insetos e doenças.
É local de reprodução do conhecimento tradicional onde é feito a
seleção e multiplicação de sementes de variedades crioulas que passam por
gerações. Em resumo, o quintal produtivo possibilita colheitas de várias
espécies durante todos os meses do ano devido à diversidade existente. Os
alimentos colhidos têm certificado de origem, pois quem planta e colhe sabe
exatamente a procedência do alimento cultivado (GIORDANI; BEZERRA;
ANJOS, 2017). Os idosos, por sua vez, compartilham sua sabedoria popular,
enquanto as crianças e os adultos aprendem a aplicá-la na prática do trabalho
diário. No quintal produtivo não existe uma ordem de cultivo, é como uma
floresta onde as plantas vão crescendo e conquistando o seu lugar no espaço.
É possível notar que os quintais produtivos geram qualidade de vida por
meio de uma produção de alimentos saudáveis que respeitam princípios
agroecológicos em sua produção (CARNEIRO et al., 2013). Nesse cenário,
existe a preocupação em reduzir os danos ambientais. Pois, a produção
alimentar de base agroecológica é uma perspectiva que tem ganhado destaque
para promover a transformação social e consciência ambiental.
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De acordo com Carvalho (2012 apud JAEGER; FREITAS, 2021, p.33),
“para isso, são necessárias práticas que contribuam para a mudança no modo
de pensar e agir das pessoas, passando a aderir e experimentar novas atitudes
e comportamentos ambientalmente corretos, se transformando em sujeitos
ecológicos”.
A Educação Ambiental, portanto, pode contribuir no cenário do
cooperativismo como um processo de aprendizagem permanente e
continuada, ancorada no sentimento de pertença e resgate de valores e
saberes em seus aspectos ambientais, econômicos e socioculturais, capaz de
tornar o indivíduo um agente conhecedor, crítico e transformador da realidade,
contribuindo para a construção de vivência e convivência sustentável com a
natureza, de forma sistêmica e agroecológica como legado para as gerações
futuras (STRECK et al., 2015).
Embora haja embasamento legal, ainda é falha a questão da
consciência ambiental. Isto é, práticas educativas para preservação do meio
ambiente. A esse respeito, pode-se mencionar a atual crise de saúde pública,
os conflitos culturais, políticos e a emergência dos debates em torno da
preservação ambiental, evidenciando a importância de continuar realizando
trabalhos que colaborem para a preservação ambiental e o desenvolvimento
sustentável.
Este estudo se constituiu como a primeira etapa de uma investigação
mais ampla, pois ainda é necessário se discutir o âmbito das políticas públicas
para a agricultura familiar com base em práticas de Educação Ambiental e a
visibilidade que necessitam os agricultores, identificando-os como sujeitos do
processo, responsáveis e capazes de definir suas prioridades.

Conclusões
Nas condições experimentais empregadas, observou-se que as políticas
públicas de assistência agrícola se mostraram essenciais para o
desenvolvimento econômico e social dos agricultores no Bairro de Mucunã no
município de Maracanaú/Ceará. Foi possível constatar ainda que há uma
possibilidade de melhorar a qualidade de vida dos agricultores a partir do
sistema cooperativo atrelado à Educação Ambiental.
Diante disso, este estudo mostrou-se importante para compreender a
realidade dos agricultores, assim como aprender como as políticas
implementadas no âmbito da agricultura contribuem para o fortalecimento e
expansão da agricultura familiar pautados nos princípios da Educação
Ambiental. Apesar de necessitar de maiores investimentos para tornar-se
referência na região, a feira pode ser considerada um meio para que os
agricultores tenham maior renda e autonomia perante o mercado competitivo.
Ademais, sugere-se um novo olhar para o PEAAF, no que concerne à
elaboração de novos agentes fiscalizadores e monitoramento como
revista brasileira ferramentas importantes para a ampliação desta política pública, pois tem se
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mostrado eficiente. Ressalta-se, por fim, a necessidade da não dissociação das
políticas públicas de ações que promovam a Educação Ambiental e
consolidação da agricultura familiar como agentes importantes não só de
produção alimentícia, mas, sobretudo, como um meio sustentável.
Para futuros estudos, nota-se a importância de investigar os fatores que
condicionam a falta de incentivo à inovação na agricultura familiar por parte dos
órgãos públicos municipais.

Agradecimentos
Ao Instituto Federal de Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE), pelo
apoio à pesquisa; à Cooperativa de Agricultores de Maracanaú, por terem
inspirado o presente estudo.

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