Anais - Semana de Psicologia 2023

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ANAIS

SEMANA DE PSICOLOGIA
CIÊNCIA E PROFISSÃO:
HISTÓRICO, CONCEITOS E PRÁTICAS

______________________________________________

2023
ANAIS
SEMANA DE PSICOLOGIA

Centro Universitário de Ourinhos


Curso de Psicologia

Rodovia BR 153, Km 338+420m


Bairro Água do Cateto
Ourinhos-São Paulo
CEP 19909-100

COMISSÃO ORGANIZADORA

Ana Paula de Souza Gabriely Bontempo de Oliveira


Ana Paula Moraes do Amaral Giovanna Ferreira Virgilino
Cecília Gomes Santiago Ismael Vitor Nascimento Antunes
Cristiane Pereira Marquezini Luciano Ferreira Rodrigues Filho
Damaris Bezerra de Lima Maria Eduarda Amaral
Danilo Macedo Lima Mayara Aparecida Bonora Freire
Diego Conrado Bernardo Rita Ferreira da Silva
Érica Mendes Talita leite Izidio
Felipe Ferreira Pinto Vitória Maria Rossi Giati

Os textos são de inteira responsabilidade de seus autores.

Anais da Semana de Psicologia 2023

Centro Universitário de Ourinhos, Curso de Psicologia, v. 1, n. 1, ago., 2023.

Anual

ISSN: 2446-8819

I. Anais II. Psicologia III. Ciências da Saúde IV. Ciências Humanas V. Ciências
Sociais.
APRESENTAÇÂO

Colegas da Psicologia!

Que alegria ter vocês por perto neste momento de comemoração do dia da(o)
Psicóloga(o).
Neste ano chegamos a nossa XVII edição da Semana de Psicologia da Unifio.
Trata-se de um momento mais que especial, pois comemoramos também os 17
anos do curso. Ao longo deste período, formamos mais de 1200 Psicólogas(os) e
que atuam nas diferentes áreas da nossa Ciência e Profissão: pesquisa, saúde,
educação, social, clínica, trânsito, Judiciário, organizacional e do trabalho para
dizermos, de forma breve, dos campos que mais representam a inserção da
categoria na sociedade brasileira.
Contudo, não é apenas o compartilhamento do conhecimento científico e ético
que construiu a trajetória de sucesso da formação em Psicologia na Unifio. Diante de
tantas histórias e memórias que este evento e o curso registraram e, ainda hoje
registram, em cada um de nós, preparamos uma semana com muitas atividades fora
do espaço de debate nas salas de comunicação oral e das mesas de discussão.
Sabemos que no curso sempre fizemos mais do que construir o conhecimento
acadêmico e científico, pois sempre buscamos encontros alegres e potentes e, por
este motivo, esperamos que o evento promova novos bons encontros e, quem sabe,
bons (re)encontros. Além disso, pensamos que a comemoração do dia da nossa
profissão pudesse representar, especialmente, o momento que estamos vivendo
atualmente no curso. Isto é, estamos cuidando da nossa memória e história coletiva
enquanto espaço de produção do conhecimento, mas, sem perder de vista, nossas
práticas coletivas e singulares que construíram, constroem e continuarão
construindo o fazer ético da profissão que está socialmente comprometido com as
problemáticas do seu tempo.
Neste caderno que estamos apresentando a nossa comunidade interna e
externa compartilhamos, ou melhor dizendo, registramos o incentivo à produção do
conhecimento científico voltado, principalmente, ao exercício ético e responsável da
Psicologia que no curso estão definidos em dois grandes temas: “Psicologia Social,
Trabalho e Instituições” e “Processos clínicos, Saúde e Subjetividade”.
Desejo que o curso, as práticas de incentivo a pesquisa e este evento tenham
vida longa. Que possamos apostar, no cotidiano da nossa profissão, nas ações
cientificamente consolidadas ao longo da nossa história e que apostam, sobretudo,
na relação humana construída por uma Ética que respeita as diferenças, que
enfrenta e não aceita a violação dos direitos humanos e que não é conivente com a
perpetuação de preconceitos, estigmas e estereótipos. Todas as vidas importam e
por este motivo faremos, todos os dias e em todos os lugares, uma Psicologia
Antirracista e Anticapacitista, que defende a igualdade de gênero e que não aceita a
desigualdade social como um processo natural da nossa história.

Seguimos juntas(os)!
Excelente leitura!

Prof. Felipe Ferreira Pinto


Coordenador do Curso de Psicologia
Centro Universitário de Ourinhos – UNIFIO.
SUMÁRIO
A ANSIEDADE INFANTIL E O PROCESSO DE INVESTIGAÇÃO E TRATAMENTO NA
PERSPECTIVA DA TERAPIA DE ACEITAÇÃO E COMPROMISSO (ACT) ....................................... 13

A CLÍNICA WINNICOTTIANA: UMA ANÁLISE DAS COMPETÊNCIAS DO TERAPEUTA


WINNICOTTIANO E DO CONCEITO DE SOBREVIVÊNCIA DO ANALISTA NO SETTING .............. 18

A COMPULSÃO ALIMENTAR NO PACIENTE SUBMETIDO À CIRURGIA DE GASTROPLASTIA


REDUTORA .......................................................................................................................................... 23

A INFLUÊNCIA DA TRANSMISSÃO PSÍQUICA GERACIONAL NO DESENVOLVIMENTO


EMOCIONAL DA CRIANÇA ................................................................................................................. 27

A PARANOIA E SEUS CONTORNOS NA CLÍNICA PSICANALÍTICA: UM ESTUDO DE CASO NO


SERVIÇO-ESCOLA DE PSICOLOGIA ................................................................................................ 31

A PROBLEMATIZAÇÃO DA PSEUDOCIÊNCIA E SEU IMPACTO NA VIDA DOS SUJEITOS ......... 36

A UTILIZAÇÃO DA ANÁLISE DO COMPORTAMENTO APLICADA (ABA) EM CRIANÇAS QUE


POSSUEM DIAGNÓSTICO DO TRANSTORNO ESPECTRO AUTISTA (TEA) ................................. 40

ADOLESCÊNCIA E A ANSIEDADE: REVISÃO DA LITERTURA PÓS PANDEMIA DE COVID-19 .. 46

ANSIEDADE E O MEDO DE DIRIGIR: INTERVENÇÃO ANALÍTICO-COMPORTAMENTAL ........... 50

APRENDENDO COM A CLÍNICA-ESCOLA: OS BENEFÍCIOS DA PRÁTICA SUPERVISIONADA NA


FORMAÇÃO DO PSICÓLOGO ............................................................................................................ 54

CONCEPÇÕES SOBRE O LUTO EM TEMPOS DE COVID-19: SOB O VIÉS PSICANALÍTICO ...... 59

CONTRIBUIÇÃO DA ANÁLISE DO COMPORTAMENTO APLICADA (ABA) NO TRATAMENTO DO


TRANSTORNO DE ESPECTRO AUTISTA (TEA) ............................................................................... 63

DEPRESSÃO: SOFRIMENTO FÍSICO E PSÍQUICO DOS TRABALHADORES DA MARUGADA ... 68

DIAGNÓSTICO PRECOCE DO TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA: QUAL A IMPORTÂNCIA


PARA O PROGNÓSTICO .................................................................................................................... 73

MODOS DE PRODUÇÃO DA SUBJETIVIDADE NA ATUALIDADE .......................................... 77

NARCISISMO E AUTOESTIMA: UMA VISÃO PSICANALÍTICA SOBRE AS POSSÍVEIS FALHAS


NARCÍSICAS E OS IMPACTOS NA AUTOESTIMA DO ADOLESCENTE ........................................ 82

NARCISISMO E SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA ........................................................................... 86

NOVOS MODOS DE SUBJETIVAÇÃO E A REPERCUSSÃO NO ADOLESCER .............................. 90

O DESENVOLVIMENTO DO REPERTÓRIO DE HABILIDADES SOCIAIS A PARTIR DO


PROCESSO DE PSICOTERAPIA ........................................................................................................ 94
PRÁTICAS PARENTAIS NEGATIVAS NA CLÍNICA PSICANALÍTICA DA ATUALIDADE ................ 99

PSICANÁLISE, LITERATURA E CINEMA: UM PROJETO DE EXTENSÃO PARA


ADOLESCENTES ............................................................................................................................. 104

PSICO-HISTÓRIA E A ANÁLISE DAS LETRAS DO SLIPKNOT: EXPLORANDO OS SIGNIFICADOS


SUBJACENTES NA EXPRESSÃO ARTÍSTICA ................................................................................ 108

SUBJETIVAÇÃO CONTEMPORÂNEA: O PARALELISMO ENTRE ARTE E SUBJETIVIDADE ..... 112

SUICÍDIO NA TERCEIRA IDADE NA PERSPECTIVA DA LOGOTERAPIA E ANÁLISE


EXISTENCIAL ...................................................................................................................................... 116

VIOLÊNCIA INTRAFAMILIAR E SEUS EFEITOS NO DESENVOLVIMENTO INFANTIL ................ 120

VIOLÊNCIA SEXUAL INFANTIL: CONSEQUÊNCIAS PSICOLÓGICAS NA VIDA ADULTA .......... 125

TRANSTORNOS ALIMENTARES NA CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE FEMININA ..................... 129

A EQUOTERAPIA E SUA INFLUÊNCIA NO TRATAMENTO E REABILITAÇÃO DE PESSOAS COM


DEFICIÊNCIA...................................................................................................................................... 134

A JUSTIÇA RESTAURATIVA COMO ALTERNATIVA AO SISTEMA DE JUSTIÇA CRIMINAL


TRADICIONAL: AS CONTRIBUIÇÕES DO(A) PSICÓLOGO(A) NA ÁREA .................................... 138

A MEDICALIZAÇÃO DE CRIANÇAS MATRICULADAS NOS PRIMEIROS ANOS DO ENSINO


FUNDAMENTAL I: REVISÃO DE LITERATURA ............................................................................... 142

A VIOLÊNCIA DISFARÇADA DE LIBERDADE: O MUNDO DO TRABALHO E O


SOFRIMENTO PSÍQUICO NA CONTEMPORANEIDADE .......................................................... 146

CUIDADOS PALIATIVOS: A ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO NO ACOMP ANHAMENTO DE


PACIENTES COM DOENÇAS NEURODEGENERATIVAS ........................................................ 150

DROGAS E PROIBIÇÃO NO CONTEXTO BRASILEIRO ................................................................. 155

HABILIDADES SOCIAIS DE CRIANÇAS COM TEA NO CONTEXTO DE INCLUSÃO ESCOLAR:


REVISÃO DE LITERATURA .............................................................................................................. 159

O PAPEL DA FAMÍLIA ADOTIVA NA INCLUSÃO DA CRIANÇA COM DEFICIÊNCIA


INTELECTUAL.................................................................................................................................... 165

OS DESAFIOS PARA A EFETIVAÇÃO DO CUIDADO ÀS PESSOAS QUE FAZEM USO


PREJUDICIAL DE ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS: CONTRIBUIÇÕES TEÓRICO-TÉCNICAS A
PARTIR DE EXPERIÊNCIAS EM UM CAPS AD ............................................................................... 169

PARA ALÉM DO ALTO RENDIMENTO NA PSICOLOGIA DO ESPORTE: UM GRANDE


ROMPIMENTO CONCEITUAL ........................................................................................................... 174
PRÁTICAS DE ESTÁGIO INSTITUCIONAL: INTERVENÇÕES DA PSICOLOGIA NAS
ESCOLAS .......................................................................................................................................... 178

PRÁTICAS DE ESTÁGIO INSTITUCIONAL: PSICOLOGIA, ESCOLA E


CONTEMPORANEIDADE ............................................................................................................... 182

PRÁTICAS DOS ESTAGIÁRIOS DE PSICOLOGIA HOSPITALAR: VIVÊNCIAS E INTERVENÇÕES


............................................................................................................................................................. 186

PSICOLOGIA HOSPITALAR: PRÁTICAS NA PSICO-ONCOLOGIA ...................................... 190

PSICOLOGIA INCLUSIVA: O TRABAHO NAS APAEs ............................................................. 195

PSICOLOGIA JURÍDICA E SUBÁREAS: CONSIDERAÇÕES ......................................................... 200

REFORMA PSIQUIÁTRICA, ATENÇÃO PSICOSSOCIAL E SEUS DESAFIOS ATUAIS:


CONTRIBUIÇÕES E REFLEXÕES ACERCA DE UMA EXPERIÊNCIA EM UM CAPS .................. 205

SERVIÇOS RESIDENCIAIS TERAPÊUTICOS .................................................................................. 209

SER NEGRO NO BRASIL: UMA CRÍTICA À PSICOLOGIA E AO EPISTEMICÍDIO ....................... 213

SÍNDROME DE BURNOUT: SÍNDROME DO ESGOTAMENTO PROFISSIONAL .......................... 217

TREINAMENTO DE HABILIDADES DE COMUNICAÇÃO ASSERTIVA EM ADOLESCENTES


............................................................................................................................................................. 222

VIOLÊNCIA DE GÊNERO: REFLEXÕES SOBRE A CAÇA ÀS BRUXAS ....................................... 226

VISÃO ECOLÓGICA DO FENÔMENO BULLYING: TENDO COMO PONTO DE PARTIDA O


CONTEXTO ESCOLAR ...................................................................................................................... 230

LUTOS E RUPTURAS SOFRIDOS POR CRIANÇAS E ADOLESCENTES QUE SE ENCONTRAM


EM SITUAÇÃO DE TRANSIÇÃO DO ACOLHIMENTO INSTITUCIONAL PARA A ADOÇÃO – UMA
REVISÃO DA LITERATURA .............................................................................................................. 234

A ATUAÇÃO DO PSICOLOGO NO CRAS: SOB UM OLHAR DE UMA PSICOLOGIA NÃO


DISCIPLINAR E NORMATIVA ........................................................................................................... 240

A AUTOESTIMA FEMININA EM VIRTUDE DOS PADRÕES IMPOSTOS PELA SOCIEDADE


E PELA MÍDIA .................................................................................................................................. 244

A CONTRIBUIÇÃO DA PSICOLOGIA NA CONSTRUÇÃO DE SENTIDO DO TRABALHO


PARA OS OPERÁRIOS DA CONSTRUÇÃO CIVIL NO BRASIL ............................................. 248

A PSICOLOGIA A SERVIÇO DE POLÍTICAS PÚBLICAS: UM NOVO SABER-FAZER


PSICOLÓGICO COMO CONSEQUÊNCIA DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 .................... 253

A PSICOLOGIA FRENTE ÀS VÍTIMAS DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA: UM PROBLEMA DE SAÚDE


PÚBLICA ............................................................................................................................................. 258
A PSICOLOGIA NA ASSISTÊNCIA SOCIAL: CENTRO POP .......................................................... 262

CENÁRIOS HISTÓRICOS PRESENTES: TRABALHADORAS DOMÉSTICAS NO BRASIL.......... 267

IMPLICAÇÕES DA SAÚDE MENTAL DA CRIANÇA EM RELAÇÃO AO ISOLAMENTO SOCIAL


CAUSADO PELO COVID 19 .............................................................................................................. 271

MULHERES EM SITUAÇÃO DE RUA: VIOLÊNCIA SEXUAL E VULNERABILIDADE SOCIAL .... 275

O AGRAVAMENTO DA ANSIEDADE DURANTE A PANDEMIA DA SARS-COV-2 (COVID-19) ... 278

O ATENDIMENTO PSICOSSOCIAL A CRIANÇAS E ADOLESCENTES EM SITUAÇÃO DE RUA 282

A PSICOLOGIA NA ASSISTÊNCIA SOCIAL: UMA CONTEXTUALIZAÇÃO NO PERÍODO PÓS


CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988 ................................................................................................ 287

O CÁRCERE E AS MULHERES TRANSEXUAIS: O PAPEL DA PSICOLOGIA .................... 293

O IMPACTO DO FEMINISMO NA INDÚSTRIA DA BELEZA: ESTUDO SOBRE A EVOLUÇÃO DAS


MARCAS E CAMPANHAS PUBLICITÁRIAS PARA ATENDER ÀS DEMANDAS DAS MULHERES
............................................................................................................................................................. 297

O LAÇO SOCIAL CAPITALISTA E SEUS EFEITOS PARA A POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO


DE RUA: UMA ANÁLISE A PARTIR DAS CONTRIBUIÇÕES DA PSICANÁLISE ................ 301

O TRABALHO DO PSICÓLOGO NOS CENTROS DE REFERÊNCIA DA ASSISTÊNCIA SOCIAL:


ANTES E DEPOIS DA PANDEMIA .................................................................................................... 306

O TRABALHO EM GRUPO NO CRAS: RELATOS E REFLEXÕES SOBRE A PRÁTICA DE


PSICÓLOGAS(OS) A PARTIR DA EXPERIÊNCIA DE ESTÁGIO EM PSICOLOGIA ..................... 310

OS IMPACTOS DO POSICIONAMENTO POLÍTICO DAS MULHERES E AS INIQUIDADES DE


GÊNERO: UMA ANÁLISE EM UM MUNICÍPIO NO INTERIOR DE SÃO PAULO-SP...................... 316

PANDEMIA SARS-COV-2: IMPACTOS DO ISOLAMENTO SOCIAL NO DESENVOLVIMENTO


BIOPSICOSSOCIAL EM CRIANÇAS ................................................................................................ 321

PSICOLOGIA COMUNITÁRIA EM ÁREAS AFASTADAS: PESQUISA DE CAMPO NA


COMUNIDADE RIBEIRINHA DE MARQUÊS DOS REIS .................................................................. 326

VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E O PAPEL DA ASSISTÊNCIA SOCIAL: REFLEXÃO SOBRE O


SERVIÇO DO CREAS ........................................................................................................................ 330

VISÃO COMPUTACIONAL PARA DETECÇÃO DE EMOÇÕES: EXPLORANDO A INTERFACE


ENTRE TECNOLOGIA E PSICOLOGIA ............................................................................................ 334

VIVÊNCIAS ATRAVÉS DO RAP: UM POSSÍVEL INSTRUMENTO DE ANÁLISE DA PSICOLOGIA


............................................................................................................................................................. 339
O USO DA TECNOLOGIA DIGITAL E SEUS IMPACTOS NA SAUDE MENTAL E
DESENVOLVIMENTO DOS ADOLESCENTES ................................................................................. 343
A ANSIEDADE INFANTIL E O PROCESSO DE INVESTIGAÇÃO E TRATAMENTO
NA PERSPECTIVA DA TERAPIA DE ACEITAÇÃO E COMPROMISSO (ACT)

Edilaine Fabiana Carvalho Pereira 1


Ana Elisa Vilas Boas 2

Palavras-chaves: Ansiedade; Ansiedade Infantil; Terapia de Aceitação e


Compromisso.

INTRODUÇÃO

Esta pesquisa versa sobre a ansiedade infantil e o processo de investigação e


tratamento na perspectiva da Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT). Desde
2007, Assis, Ximenes, Avanci e Pesce (2007) apontam que existe a preocupação a
respeito da ansiedade em crianças e adolescentes, porém, essa questão muitas vezes
no Brasil não recebe atenção devida.
Na atualidade, Lhullier e Serra (2018), afirmam essa preocupação quando
relatam que, para além do aumento da frequência da ansiedade no público infantil e
adolescente, houve também uma busca significativa na clínica por orientações para
lidar com essa psicopatologia. Para Teles (apud COELHO et al. 2020) é preciso
diferenciar a ansiedade e medo normal do patológico.
Contudo, essa não é uma tarefa fácil, pois, em crianças e adolescentes
algumas manifestações de medo podem fazer parte de determinada fase do
desenvolvimento emocional. Na infância, a ansiedade e o medo podem ser vistos
como uma psicopatologia quando as respostas desses conceitos são julgadas como
excessivas ou inapropriadas para o contexto, configurando em prejuízo funcional e
sofrimento para o indivíduo.
Este problema pode se apresentar em razão de vários fatores, onde as
variáveis podem estar relacionadas aos estressores familiares ou sociais (PETERSEN
et al., 2011). Neste sentido, entende-se que as principais vítimas afetadas pelos
problemas levantados são as crianças.
O objetivo geral desta pesquisa foi investigar se o transtorno de ansiedade na
infância pode ser identificado e tratado na perspectiva da Terapia de Aceitação e
Compromisso, antes que evolua para as próximas fases do desenvolvimento,
acarretando prejuízos emocionais e sociais para o indivíduo.
Em suma, essa pesquisa justifica-se pela constatação de grande
incidência de sofrimento psíquico nas crianças e adolescentes que sofrem com
transtornos de ansiedade. Entende-se, ainda que as lacunas nas pesquisas

1 Graduanda do Curso de Psicologia do Centro Universitário de Ourinhos. E-mail:


[email protected].
2 Psicóloga clínica e docente do Centro Universitário das Faculdades Integradas de Ourinhos, Brasil.

E-mail: [email protected]
13
podem contribuir para que os pais/responsáveis e profissionais da saúde e da
educação tenham um posicionamento de subestimar e subtratar os sintomas
ansiosos patológicos que se manifestam na infância

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Até o momento presente a pesquisa foi desenvolvida com o objetivo de


esclarecer a origem da Terapia de Aceitação e Compromisso. No primeiro capítulo foi
descrito um breve panorama da evolução da Terapia Comportamental classificada em
três ondas ou gerações. Em torno de 1950/1960, a primeira onda da Terapia
Comportamental se deu através de um movimento contra as práticas psicológicas que
não tinham rigor científico, cuja ênfase era o subjetivismo. Desse modo, Hans Eysenck
afirmou, em seus estudos, a falta de evidências de eficácia na psicoterapia. Diante
disso, os psicoterapeutas foram impulsionados a buscar novas alternativas (SANTOS;
GOUVEIA; OLIVEIRA 2015).
Nesse período predominou a Terapia Comportamental Clássica, a valorização
da pesquisa empírica e as habilidades de aplicar as técnicas, e não se valorizava a
relação terapêutica (Eysenck 1959). Aqui o objetivo da terapia era modificar
comportamentos ditos problemáticos através de técnicas e princípios de
condicionamento clássico e operante (HAYES, 2004).
Por volta de 1970, na segunda onda ou geração a ênfase foi para além do rigor
científico: as terapias foram direcionadas para o cognitivo e a aprendizagem social.
(HAYES,2004). Braga, Vandenberghe (2006) relata que houve a valorização do
homem racional, com o intuito de acrescentar um novo pensamento, contrariando o
pensamento mecanicista existente na Terapia Comportamental Clássica. O
tratamento seria a modificação de pensamentos ditos “sem lógica” tais como, crenças,
pensamentos, expectativas e atribuições, pois eles poderiam ser as causas dos
problemas comportamentais e emocionais.
A terceira geração se desenvolveu no período de 1990 a 2004 e isto foi possível
devido ao desenvolvimento da Análise do Comportamento, baseada no Behaviorismo
Radical de B. F. Skinner e às limitações da TCC. O Behaviorismo Radical e a Análise
do Comportamento se tornaram a base para o contextualismo funcional, e suas
contribuições para a terceira geração foram marcantes. Uma das questões propostas
era de que o problema a ser tratado está na interação do organismo com o ambiente,
ou seja, nas contingências. Nesse contexto, “a ansiedade não é a causa do
comportamento, mas um efeito colateral das contingências que determinam o
comportamento.” (VANDENBERGHE 2011, p. 35).
Desse modo, a forma de intervir é através da análise funcional, que identifica
quais contingências estão sendo mantenedoras de determinado comportamento.
Além disso, consiste, então, em manipular variáveis para buscar modificar a maneira
como a pessoa se relaciona com seu ambiente. Dessa forma, novos repertórios
podem ser construídos, ou seja, novas formas de se relacionar e afetar o mundo.
(VANDENBERGHE, 2011).
No segundo capítulo, foi feita uma descrição comparativa do modelo médico
tradicional e do modelo baseado em processos. Esse último é base para investigar e

14
tratar a ansiedade no público infantil dentro da perspectiva da ACT. No primeiro
modelo, a configuração está baseada no Manual de Classificação de Transtornos
Mentais, descreve que “o medo é a resposta emocional à ameaça iminente real ou
percebida, enquanto a ansiedade é a antecipação de ameaça futura.” (APA, 2023, p.
215), eles se sobrepõem e podem ser diferenciados. Esse modelo tem o seu foco nas
síndromes, características formais, nas topografias dos eventos públicos observáveis
de comportamentos. (WILSON et al., 2001).
O modelo baseado em processos classifica funcionalmente as psicopatologias
que advêm da Análise do Comportamento, a qual coloca o foco na função que o
comportamento possui em determinado contexto. (MATOS; FERREIRA,2016). Nesse
modelo baseado em processos, a “análise funcional da ansiedade se caracteriza
como um padrão de respostas do indivíduo que deve ser explicado a partir de suas
relações funcionais com eventos ambientais e outras respostas.” (ASSAZ;
FERREIRA, 2021 p.133). Os autores ainda descrevem que na literatura não existe
um consenso se há como separar o medo e a ansiedade. Para a ACT, embora esse
ponto seja difícil de se identificar e operacionalizar, deve ser feito o processo de
identificação das relações funcionais definidoras, das relações respondentes, e o
papel do comportamento verbal.

MATERIAS E MÉTODOS

Para a realização do trabalho, foi feita uma investigação através da pesquisa


bibliográfica exploratória e qualitativa, com o objetivo de ampliar o conhecimento sobre
o tema. No início, essa pesquisa se deu de forma aleatória, e depois por critérios de
inclusão e exclusão, em livros e bases de dados como Scielo, Pepsic, Pubmed, e
Google Acadêmico. Até o presente momento, foram desenvolvidos dois capítulos,
descrevendo um breve panorama sobre as terapias de terceira geração e
diferenciando a ansiedade infantil no contexto do modelo tradicional e no modelo
baseado em processos.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

No decorrer da pesquisa verificou-se que a Terapia Comportamental


passou por três ondas ou gerações, as quais a identificação da patologia e o
tratamento eram conduzidos de formas diferentes. Na primeira onda, o foco era
a identificação e eliminação do comportamento problema, nesse caso, a ansiedade,
que deveria ser tratada com adição de novos comportamentos mais adequados ao
ambiente. Na segunda, as prováveis causas dos problemas psicológicos seriam as
distorções cognitivas. Nesse contexto, o foco de tratamento seria a mudança dessas
distorções. Já na terceira, a identificação do patológico é feita através da interação do
organismo com o seu ambiente, a partir da análise funcional. O tratamento, nesse
caso, não é contra os sintomas, como visto nas anteriores, mas sim na identificação
e alteração das contingências.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

15
Esta pesquisa trouxe nos capítulos descritos uma contextualização sobre
o longo processo que a Terapia Comportamental passou para chegar na
terceira geração, a qual junto ao Behaviorismo Radical, torna-se uma base para
a Terapia de Aceitação e Compromisso. A ACT e o modelo transdiagnóstico
salientam a importância de que o enfoque não seja no diagnóstico ou
ansiedade, mas sim, para o que está além dele.
Desse modo, contribui para práticas onde os pais/responsáveis e
profissionais da saúde e da educação não tenham um posicionamento de subestimar
e subtratar os sintomas ansiosos patológicos que se manifestam na infância, mas sim
compreender quais são as necessidades da criança, a fim de que ela tenha um
desenvolvimento emocional, físico e social sadio.
Diante das pesquisas, verificou-se, ainda a existência de poucos estudos sobre
intervenções para o Transtorno de Ansiedade Infantil com base na Terapia de
Aceitação e Compromisso, demonstrando, portanto, a importância de que mais
estudos e pesquisas sejam desenvolvidos sobre esse tema.

REFERÊNCIAS

AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION (APA). Manual diagnóstico e


estatístico de transtornos mentais: DSM-5-TR ed. Porto Alegre: Artmed, 2023.

ASSAZ, D. A; FERREIRA, A. R. A ansiedade: análise contextual de dois casos


clínicos. In: OSHIRO, C. K. B; FERREIRA, T. A. S. Terapias Contextuais
Comportamentais: análise funcional e prática clínica. 1. ed. Santana do Parnaíba
[SP]: 2021, p. 132- 147.

ASSIS, S.G. de; XIMENES, L. F.; AVANCI, J. Q.; PESCE, Renata Pires. Ansiedade
em crianças: um olhar sobre transtornos de ansiedade e violências na infância.
Rio de Janeiro: Fio Cruz, 2007.88 p.

BRAGA, G.L.B. & VANDENBERGHE, L. (2006). Abrangência e função da relação


terapêutica na terapia comportamental. Estudos de Psicologia, Campinas, 23(3),
307-14.

COELHO, B.M.; PEREIRA, J. G.; ASSUNPÇÃO, T. M.; SANTANA JR, G. L.


Transtornos fóbicos- ansiosos na infância e na adolescência. In: TELES, L. N.
Psiquiatria da Infância e da Adolescência: guia para iniciantes 2.ed. revista e
ampliada- Novo Hamburgo: Sinopsys, 2020. cap. 17, p. 341-365.

EYSENCK, H. J. Learning theory and behavior therapy. Journal of Mental


Science, 105 (1), 1959. 61-75.

HAYES, S. (2004). Acceptance and commitment therapy, relational frame theory,


and the third wave of behavioral and cognitive therapies. Behavior Therapy, 35,639-
65.

16
LHULLIER, R. B; SERRA, R. G.Transtorno de Ansiedade. In: TISSER, L e cols.
Transtornos psicológicos na infância e na adolescência. Novo Hamburgo:
Sinopsys, 2018. cap 7, p. 127- 168.

MATOS, J. P. A; FERREIRA, T. A. S. A cultura do diagnóstico e a emergência de


subjetividades psicopatológicas Acta Comportamentalia: Revista Latina de
Análises de Comportamento, vol. 24, núm. 4, 2016, pp. 509-523.

PETERSEN, C, S. Terapia cognitivo-comportamental para transtornos de ansiedade.


In: BUNGE, E; MANDIL, J; GOMAR, M. Terapias Cognitivo-Comportamentais
para crianças e adolescentes: ciência e arte – Porto Alegre: Artmed,2011. cap.
11, p. 232-255.

SANTOS, P. L.; GOUVEIA, J. P.; OLIVEIRA, M. da S. Terapias comportamentais


de terceira geração: guia para profissionais / organizado por [et al.] – Novo
Hamburgo: Sinopsys, 2015.

VANDENBERGHE, L. (2011). Terceira Onda e Terapia Analítico-


Comportamental: Um casamento acertado ou companheiros de cama
estranhos? Boletim Contexto, 34, 33-41.

WILSON, K. G., HAYES, S. C., GREGG, J., & ZETTLE, R. D. (2001).


Psychopathology and Psychotherapy. In S. C. Hayes, D. Barnes-Holmes, & B.
Roche (Eds.), Relational frame theory: A post-skinnerian account of human
language and cognition (p211-237). New York: Kluwer Academic Publishers.

17
A CLÍNICA WINNICOTTIANA: UMA ANÁLISE DAS COMPETÊNCIAS DO
TERAPEUTA WINNICOTTIANO E DO CONCEITO DE SOBREVIVÊNCIA DO
ANALISTA NO SETTING

Kauani Tanfere1
Larissa Oliveira Castilho
Maria Amélia Nunes
Nicoli Regina Duzi Barone
Vitória Maria Rossi Giati
Ricardo da Silva Franco2

Palavras-chave: Psicologia; Clínica winnicottiana; Sobrevivência do analista;


Setting; Competências.

INTRODUÇÃO

O presente trabalho objetivou analisar as principais competências do terapeuta


winnicottiano, destacando os princípios fundamentais da abordagem de Winnicott, tem
como objetivo elucidar as diretrizes norteadoras da prática clínica por meio da
pesquisa bibliográfica, importante ressaltar que esta permitirá uma abordagem teórica
sólida e descritiva, possibilitando a identificação de elementos essenciais dentro do
setting e compreensão acerca da teoria de Winnicott.
Os estudos do autor auxiliaram na comparação da mãe suficientemente boa com o
analista, embasada em suas experiências práticas, que permitiram o manejo tanto no
setting quanto na relação mãe-bêbê. Com isso, ao assumir a responsabilidade pelo
cuidado de um paciente, é essencial desenvolver competências que auxiliem a lidar
com as influências de experiências anteriores ao nascimento e o histórico de relações
interpessoais.
A partir dos conceitos de Winnicott, é possível considerar que a presença do
terapeuta, sua atenção e disposição para o cuidado são de suma importância para o
processo terapêutico, resistir às retaliações e desafios presentes no processo, além
controlar o desejo por interpretações. É fundamental nesse momento estar presente
e entender as necessidades do sujeito, do que realizar interpretações prévias.

1 Graduandas do 10° termo, UNIFIO, Psicologia, [email protected];


[email protected]; [email protected]; [email protected];
vitó[email protected]
2 Docente do curso de Psicologia do Cento Universitário de Ourinhos, UNIFIO, Psicologia,

[email protected]

18
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

A clínica winnicottiana possui enfoque nos processos de amadurecimento e no


desenvolvimento emocional do sujeito, atentando-se a importância de um ambiente
que favoreça tais processos. As etapas iniciais de amadurecimento são um aspecto
norteador para se compreender qual clínica psicanalítica Winnicott propôs.
O primeiro estágio da teoria do amadurecimento é a dependência absoluta que
consiste em um processo de indiferenciação entre mãe e bebê, onde este não
compreende que precisa dos cuidados maternos e que suas necessidades são
satisfeitas pelo outro, é um período muito importante pois a não oferta do cuidado,
pode vir a causar um distúrbio no desenvolvimento do bebê. O segundo estágio é
chamado de dependência relativa, onde ele começa a se diferenciar da mãe, e passa
a se relacionar com objetos reais, nesse estágio, o bebê já adquiriu consciência de
que depende de sua mãe.
Por fim, temos o último estágio definido por Winnicott como rumo a
independência, onde a presença contínua da mãe junto ao bebê, mantendo um
ambiente suficientemente bom e reduzindo gradualmente a atenção materna primária,
possibilitou que esse sujeito desenvolve-se seu ego, saindo de um estado de não-
integração, para a conquista de um eu integrado, adquirindo uma personalização e
sendo apresentado as relações objetais.
Entretanto, não é o ambiente que irá determinar o crescimento do bêbê, mas
um ambiente suficientemente bom pode possibilitar o processo de maturação.
Winnicott postula outros movimentos que auxiliam o desenvolvimento do ego, onde
Dias (2003) esclarece

À medida que o unitário se constrói, com o cuidado ambiental sendo


incorporado como uma qualidade que é intrínseca, a integração [se torna
mais consistente, a dependência diminui paulatinamente, e o indivíduo] vai
se tornando capaz de cuidar de si mesmo (2003, p. 202).

Para isso, a mãe suficientemente boa deve fazer uso do gesto holding, muito
importante no período de dependência absoluta, definido como um movimento de
sustentar física e psicologicamente o bebê. Há também o conceito de handling, que
ajuda o bêbê a criar o mundo à sua volta, reconhecendo seu próprio self.
Elsa ressalta que, o que possibilita colocar em prática todas essas habilidades
dentro do setting, é a capacidade do terapeuta em sobreviver ao movimento do
paciente, se recordando que o objetivo da terapia winnicottiana é auxiliar o sujeito a
organizar e reconhecer suas necessidades, oferecendo um ambiente favorável. Em
determinado momento do desenvolvimento emocional do bebê, se faz uma fusão
entre mãe-ambiente e mãe-objeto.
A primeira como a que se adapta às necessidades do bebê, enquanto a outra
é atingida pelos ataques deste em busca de aliviar suas tensões pulsionais, criando-
se um sentimento ambivalente, a mesma dinâmica que o terapeuta winnicottiano tem
dentro do setting, mantendo-se vivo e disposto física e emocionalmente, suportando
a retaliação para que o bebê possa fortalecer seu self e transformar o sentimento de
culpa em sentimento de preocupação.

19
Se, por algum momento, a resposta for de retaliar em troca, o sentimento de
culpa fica intolerável. Por isso, como Dias (2002) destaca

No que compete àquele que cuida, sobrevier significa [...] permanecer


consistentemente a mesma pessoa, com a mesma atitude, sem retaliação;
significa não desanimar, não desistir da tarefa, não se vitimar, não se tornar
sentimental; manter, a despeito de seus próprios estados de ânimo, os
cuidados, com o bêbê ou com o paciente, orientados pelas necessidades
deles e não por suas próprias necessidades. (DIAS, p. 349, 2002).

Portanto, o terapeuta winnicottiano deve se colocar no lugar do outro e


trabalhar a confiabilidade, atentando-se a aspectos que possam prejudicar o processo
terapêutico, como: impulsividade, moralismo, juízos morais enquanto analista. A
interpretação na clínica winnicottiana também depende de diversos aspectos, como a
idade emocional do paciente.
A interpretação deve ser usada quando o sujeito possui uma realidade psíquica
com suas próprias fantasias e conflitos inconscientes, conseguindo se relacionar de
maneira interpessoal. A interpretação no caso das neuroses pode ser uma ferramenta
valiosa, mas, ainda sim, a sobrevivência dentro do setting ajudará de forma mais
significativa, estabelecendo uma cooperação inconsciente.

MATERIAIS E MÉTODOS

A metodologia utilizada no referido trabalho foi a pesquisa bibliográfica.


Segundo Lima e Mioto (2007), este tipo de pesquisa tem o intuito de realizar uma
reflexão crítica baseada no levantamento de referências teóricas existentes, as quais
foram publicadas em meios impressos e eletrônicos, tais como: livros e artigos
científicos.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A teoria winnicottiana foi uma importante ferramenta no ambiente clínico,


possibilitando observar a evolução do paciente, a construção do vínculo e a
sobrevivência dos estagiários. Sendo, portanto, um dos grandes desafios da clínica
winnicottiana, a sobrevivência diante as investidas retaliadoras dos pacientes.
Segundo Elsa (2002) é preciso mostrar em atitude que permaneceremos ao seu lado,
que estaremos ali para escutá-los e acolhê-los, mesmo quando nos provocarem
sentimentos negativos, pois a partir deles entendemos como o paciente se sente com
relação a si mesmo e ao outro.
A experiência clínica é de extremo enriquecimento pessoal para os estudantes
e uma oportunidade de se vivenciar os prazeres e dificuldades de uma clínica viva,
que se estrutura a partir da fusão entre paciente e terapeuta, colocando a teoria em
prática e adquirindo vivências introdutórias para os futuros profissionais. É importante
então tornar as vivências clínicas parte do que foi estudado na teoria.
Ao utilizar-se da teoria de Winnicott conseguimos desfrutar dentro do setting o
que chamamos de atenção materna primária, não sendo uma atuação fácil, mas com
o passar do semestre, parte das aflições que surgiram no início da prática vem da
20
expectativa criada sobre o funcionamento do setting, com o desejo de interpretar.
Porém, é importante ressaltar o conceito de crescer para menor, que consiste em
voltar nossos olhares para o que de fato é essencial, o acolhimento, a sobrevivência,
o cuidado e o estar verdadeiramente pelo outro (DIAS, 2002).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Considerando o exposto nesta pesquisa, observamos que os estudos


elaborados por Elsa estabelecem as competências necessárias para a atuação do
terapeuta winnicottiano, como a capacidade de colocar-se no lugar do outro, abster-
se de julgamentos, promover um ambiente acolhedor e estabelecer um espaço de
confiabilidade, que tornam-se fatores fundamentais para o processo e para a melhora
na qualidade de vida do sujeito.
A autora ressalta também a importância da sobrevivência do analista no setting,
enfatizando a necessidade deste sobreviver aquilo que lhe é apresentado como
demanda durante as sessões, sem retaliar ou realizar julgamentos, possibilitando ao
analisando um espaço confiável e acolhedor onde possa se expressar, concedendo à
ele sua continuidade de ser.
Dessa forma, a autora desenvolve práticas profissionais com ênfase na
psicanálise Winnicottiana, realizando análises e reflexões amplas acerca de sua
fundamentação teórico-prática.

REFERÊNCIAS

DIAS, E. O. A teoria do amadurecimento de D. W. Winnicott. Rio de Janeiro:


Imago, 2003.

DIAS, E. O. As competências do terapeuta winnicottiano. 1 ed. São Paulo:


DWWeditorial, 2021.

DIAS, E. O. Da sobrevivência do analista. Natureza Humana - Revista Internacional


de Filosofia e Psicanálise. São Paulo. v. 4, n. 2, p. 341-362, dez. 2002.
DIAS, E. O. O uso da interpretação na clínica do amadurecimento. Revista
Latinoamerica de Psicopatologia. Fundundamental, São Paulo, v. 11, n. 4, p. 588-
601, dez/ 2008.

LIMA, T. C. S.; MIOTO, R. C. T. Procedimentos metodológicos na construção do


conhecimento científico: a pesquisa bibliográfica. Revista Katál, v. 10, n. esp., p.
37-45, 2007.

MEDEIROS, C.; AIELLO-VAISBERG, T. M. J. Reflexões sobre holding e sustentação


como gestos psicoterapêuticos. Psicologia Clínica, v. 26, ed. 2, p. 49–62, 2014.
Disponível em:
<https://www.scielo.br/j/pc/a/wLtHmFGfDBWy4vR5Mwdt9Nb/?lang=pt#>.

21
VALLER, E. H.R. A teoria do desenvolvimento emocional de D. W. Winnicott.
Revista Brasileira de Psicanálise, v. 24, ed. 2, p. 155-170.

22
A COMPULSÃO ALIMENTAR NO PACIENTE SUBMETIDO À CIRURGIA DE
GASTROPLASTIA REDUTORA

Bárbara Bordinhon Mercante1


Rita Ferreira da Silva 2

Palavras-chave: compulsão alimentar 1; cirurgia bariátrica 2; acompanhamento


psicológico 3; primeira alimentação 4; reganho de peso 5.

INTRODUÇÃO
A proposta deste trabalho é estudo do comer compulsivo em pacientes
submetidos à cirurgia de gastroplastia redutora. A relevância deste tema se dá pelo
fato do Brasil ser um país com 863.086 pessoas com IMC acima de 40 kgm², ou seja,
acometidos pela doença da obesidade (SBCBM, 2023, np) e um dos meios de
tratamento da doença é a cirurgia popularmente conhecida como “redução de
estômago”.
Muitos indivíduos submetidos ao tratamento cirúrgico da obesidade possuem o
transtorno de compulsão alimentar (TCA). Ao realizarem a gastroplastia redutora
solucionam questões hormonais que influenciam na compulsão por alimento, contudo
o tratamento psicológico ainda é necessário para identificar as questões internas e
inconscientes daquele comportamento – não modificado com o procedimento cirúrgico
– mas que limita fisicamente a quantidade de alimento ingerida.
Para tanto, esta investigação acadêmica se subdivide em três eixos de estudo.
O primeiro trata do contato inicial entre o indivíduo e o alimento: amamentação. O
contato do leite quente com a mucosa oral nos levou ao estudo da zona de prazer oral
e a busca constante pela retomada do primeiro e inigualável prazer proporcionado
pela primeira mamada.
A relação do homem com o alimento foi modificada ao longo dos anos: antes
era energia para sobreviver e, atualmente, intrínseca a questões de socialização. O
segundo eixo debate a obesidade como doença, sem nenhum juízo estético. A
funcionalidade biológica da alimentação e os modelos cirúrgicos de gastroplastia
redutora foram objeto de estudo.
O terceiro eixo se comprometeu em discorrer sobre o transtorno da compulsão
alimentar e a psicologia nos enlaces do procedimento cirúrgico. Esta pesquisa se deu
por revisão bibliográfica narrativa de interesse.

1Estudante do 10º termo de psicologia, estagiária do hospital Santa Casa da Misericórdia de Ourinhos,
Centro Universitário das Faculdades Integradas de Ourinhos, Psicologia, [email protected].
⁴ Psicóloga (UNIFIO), pedagoga (FPSJ), mestra em psicologia (UNIB), professora do curso de
psicologia. Centro Universitário das Faculdades Integradas de Ourinhos, [email protected]

23
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

O prazer e a compulsão alimentar iniciam no primeiro contato com alimento:


amamentação. Logo estudar a relação mãe-bebê - ou quem faz às vezes – se faz
importante por ser a pessoa responsável por nomear sinais de fome e saciedade para
a criança.
Winnicott nos apresenta a “mãe suficientemente boa”, que, em resumo é que
possui a capacidade de se adaptar às necessidades do infante - quando
absolutamente dependente dela - mas retoma seus interesses para o mundo
gradualmente, possibilitando momentos de frustração para o bebê, fundamental para
um desenvolvimento saudável da criança (Winnicott, [1966] 2020).
A primeira mamada – o contato de leite quente na boca – é um prazer
inesquecível e inalcançável, mas que fica registrado no inconsciente e, ao longo da
vida, buscamos a retomada deste primeiro prazer (Freud [1914] 2020).
O estudo da perspectiva cultural instaurada ao longo da história foi objeto de
estudo e se faz relevante para entendermos como fomos do modo de vida que
alimentar-se por sobrevivência, para comer desenfreadamente culminando na doença
da obesidade. Em resumo, o homem foi nômade e quando pode cultivar planta e gado
se fixou em um espaço de terra, a partir de então aconteceu muita evolução até
chegarmos ao capitalismo. A lógica do consumo nos fez comprar ao plantar. A
alimentação deixou de ser única e exclusiva para nutrição e passou a ser associada
ao prazer e bem-estar, essencial em comemorações (Cascudo, 1983).
A compulsão tem o viés psicológico e o fisiológico, portanto os ensinamentos
de Guyton e Hall (2017) foram fundamentais para entendermos os hormônios
responsáveis pelo estímulo e inibição da busca por alimento.
A partir deste estudo chegamos à explicação fisiológica do comportamento
compulsivo que, após a intervenção cirúrgica, tem a parte metabólica restabelecida
devida as técnicas que podem alterar a dimensão estomacal e o trajeto do alimento
no intestino.
Contudo, ainda que paciente tenha a regulação hormonal, o esquema psíquico
da compulsão não é modificado cirurgicamente e para tanto foi preciso entender do
que se trata a compulsão alimentar.
O TCA faz com que paciente utilize o alimento como forma de lidar com seus
sentimentos (Sarubbi, 2003). Após a cirurgia o paciente perde a capacidade fisiológica
de ingerir grande quantidade de alimentos, mas não aprendeu a lidar com seus
sentimentos, portanto, se ele continuar com o mesmo recurso do “comer” para aliviar
as angústias, muito provavelmente será acometido pelo reganho de peso e suas
consequências (Sarubbi, 2003).
O paciente precisa desenvolver mecanismos para lidar com problemas e
dificuldades e elaborar o luto do antigo corpo gordo. O paciente se depara com o fato
de que emagrecer não é a resolução de todos os problemas, que podem até emergir
após a chegada do corpo ideal (Rodrigues, Faria, 2020).

24
MATERIAIS E MÉTODOS

Este trabalho foi elaborado por revisão bibliográfica narrativa de interesse.


Foram utilizados artigos, dissertações e teses atuais sobre a temática, disponíveis no
Scielo e Google Acadêmico. Este trabalho não esgotou toda literatura existente na
área, mas buscou fundamentos na abordagem psicanalítica sobre a relação entre a
mãe e o bebê utilizando ensinamentos de Donald Woods Winnicott e sobre as fases
de desenvolvimento psicossexuais, os ensinamentos deixados por Sigmund Freud.
A conceituação da doença da obesidade utilizou o Código Internacional de
Doenças na sua décima edição (CID-10) e diretrizes apresentadas pela sociedade
Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM). Para os temas que
apresentavam mais densidade médica em fisiologia humana, foram os ensinamentos
de Gyton e Hall no livro “Tratado de Fisiologia Médica” que nos socorreu. O Manual
Diagnóstico e Estatístico de Transtorno em sua quinta edição (DSM-V) foi utilizado
para definir o transtorno do comer compulsivo.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O relacionar-se com a comida começa antes mesmo da comida, na relação


com a pessoa que lhe concede o alimento, que além de comida proporciona ao bebê
a sensação de segurança e conexão, bem como a mesma pessoa lhe apresenta os
primeiros sentimentos de frustração, que também é necessário para o
desenvolvimento saudável da criança, que percebe que apesar da angústia não se
desmantela (Winnicott, 1966 [2020]).
Foi possível entender que o prazer único e inigualável que advém do primeiro
contato do leite quente com a cavidade oral fica gravado de forma inconsciente, e
desta feita busquemos de outras formas atingi-lo, por isso é possível relacionar o ato
de roer unhas, fumar, beber e comer com a fixação inconsciente pela busca da
retomada daquele prazer (Freud [1914] 2020).
Contudo, quando o indivíduo possui a fixação pela busca por alimento ele pode
chegar a um ganho de peso desproporcional e atingir a obesidade, uma doença, que
deve ser vista além das discussões estéticas, mas sobre saúde.
Sendo obeso, após investigação clínica multidisciplinar, surge a possibilidade
de submeter o paciente ao tratamento cirúrgico da doença da obesidade. Contudo,
ainda que o paciente solucione com certa rapidez o problema de acúmulo de gordura
corporal por consequência hormonal, não soluciona o comportamento compulsivo de
buscas constantes por alimento.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao final, a obesidade se trata de uma doença multifatorial que atinge questões


físicas e emocionais. A simples submissão do paciente ao tratamento cirúrgico não
significa o sucesso do procedimento a longo prazo, pois fatores psicoemocionais
podem leva-lo ao reganho de peso.
Portanto, após o procedimento cirúrgico, o acompanhamento psicológico
reforça as chances de sucesso no tratamento: não mais comer seus sentimentos e
25
angustia, mas desenvolver outros recursos para lidar com as angustias que são
percebidas após a solução da “angustia maior” – obesidade – o psicólogo é o
profissional adequado para acompanhar esta descoberta emocional.

REFERÊNCIAS

CASCUDO, L. C. História da Alimentação no Brasil. São Paulo: Companhia


Editora Nacional, 1967.

FREUD, S. Introdução ao Narcisismo: ensaios de metapsicologia e outros


textos (1914-1916); tradução e notas Paulo César de Souza – São Paulo:
Companhias das Letras, 2016.

FREUD, S. Obras completas, volume 6: três ensaios sobre a teoria da


sexualidade, análise fragmentária de uma histeria (“O caso dora”) e outros
textos (1901-1905); tradução Paulo César de Souza. 1ª ed. – São Paulo: companhia
das letras, 2016.

GUYTON, A.C. e Hall J.E.– Tratado de Fisiologia Médica. Editora Elsevier. 13ª ed.,
2017.

SARUBBI, Etefânia Bojikian. Uma abordagem de tratamento psicológico para a


compulsão alimentar. Dissertação (Mestrado) - Universidade Católica Dom Bosco,
Programa de Pós-Graduação em Psicologia, Campo Grande, 2003. Orientadora:
Regina Célia Ciriano Calil. Bibliografia: f. 135-141.CDD - 616.8526.

SOCIEDADE BRASILEIRA DE CIRURGIA BARIÁTRICA E METABÓLICA (SBCBM).


Obesidade atinge mais de 67 milhões de pessoas no Brasil em 2022.
03/03/2023. Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM).
https://www.sbcbm.org.br/obesidade-atinge-mais-de-67-milhoes-de-pessoas-no-
brasil-em-2022/. Último acesso em 04/06/2023.

WINNICOTT, D. W. Tudo começa em casa. São Paulo: Ubu Editora.

WINNICOTT, D. W. Bebês e suas mães. São Paulo: Ubu Editora.

26
A INFLUÊNCIA DA TRANSMISSÃO PSÍQUICA GERACIONAL NO
DESENVOLVIMENTO EMOCIONAL DA CRIANÇA

Amanda Machado Nobile¹


Ricardo da Silva Franco ²

Palavras-chave: Desenvolvimento psíquico; Desenvolvimento emocional;


Transmissão psíquica; Transgeracional; Intergeracional.

INTRODUÇÃO

Este trabalho traz contribuições de Donald Woods Winnicott e René Kaës, eles
são dois importantes teóricos da psicanálise e suas obras abordam diferentes
aspectos dentro desse campo. No entanto, há algumas conexões e pontos de
intersecção entre suas ideias, que iremos explorar.
O psicanalista britânico Winnicott, enfatizou a importância das relações iniciais
e do ambiente no processo de formação e desenvolvimento emocional, explorou
temas como desenvolvimento psíquico, saúde, maturidade e crescimento emocional
e escreveu sobre a “teoria do desenvolvimento emocional que demarcava a
importância do papel da família e do ambiente nesse processo” (SEI, 2011, p. 35).
Segundo Winnicott, para um crescimento saudável, o indivíduo precisa socializar e se
identificar com o meio em que vive, considerando tanto fatores pessoais quanto
ambientais e vai abordar esse tema que é primordial para o desenvolvimento
emocional, dividido em três categorias: dependência absoluta, dependência relativa e
rumo à independência.
René Kaës, psicanalista francês, concentrou seus estudos na psicanálise de
grupo e na transmissão psíquica intergeracional. Ele observou como as dinâmicas
familiares e os laços transgeracionais influenciam o funcionamento psíquico dos
indivíduos e como as experiências, fantasias e traumas não resolvidos podem ser
transmitidos entre as gerações. Para Kaës a transmissão psíquica ocorre quando
conteúdos emocionais, traumas e experiências não elaboradas são transmitidos de
uma geração para outra de forma inconsciente. Isso pode levar a padrões repetitivos
e comportamentos desconcertantes nas famílias. Para ele existem duas formas de
transmissão psíquica: a transgeracional e a intergeracional.

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

O estágio inicial do desenvolvimento emocional é marcado pela dependência


absoluta do bebê em relação à mãe e ao ambiente. A mãe ou cuidador principal
desempenham um papel crucial nesse estágio, oferecendo cuidados físicos e
emocionais para atender às necessidades do bebê. Esse estágio é o período logo
após o nascimento em que o bebê é totalmente dependente dos cuidados ambientais,
isso quer dizer que o bebê depende totalmente de um adulto para todo e qualquer
27
cuidado necessário para mantê-lo vivo, e o desenvolvimento e amadurecimento
dependem desses cuidados “Há uma dependência absoluta em relação ao ambiente
físico e emocional.” (WINNICOTT, 2023, p. 16). Nessa fase a dedicação materna é
fundamental para o crescimento emocional saudável, e a mãe fica em um estado que
Winnicott vai chamar de “preocupação materno primária” em que ela volta toda a
atenção ao bebê, se devotando totalmente para que os cuidados e necessidades
sejam supridas, e essa total entrega dura poucos meses após o nascimento.
À medida que a criança cresce, ocorre uma transição da dependência absoluta
para a dependência relativa, onde o bebê começa a perceber a mãe como necessária,
mas ainda enfrenta tensões quando separado dela. À medida que a criança se
desenvolve, ela passa pelo estágio "rumo à independência", tornando-se mais
independente da figura materna e do ambiente cuidador. Segundo Winnicott, a mãe
deve oferecer "holding" (sustento emocional) e "handling" (manejo físico) durante todo
o desenvolvimento da criança, proporcionando um ambiente seguro e permitindo que
a criança se sinta protegida e acolhida. Através desses cuidados, a mãe possibilita
experiências que ajudam a criança a aprender a lidar com o mundo e a desenvolver
uma identidade própria.
Sobre a transmissão psíquica geracional, Kaës vai dizer que a transmissão
psíquica transgeracional envolve a transmissão de conteúdos de difícil elaboração,
como segredos familiares e experiências traumáticas que a psique não deu conta de
compreender as informações, assimilar e integrar, impossibilitando a atribuição de um
significado a essas vivências. Esses conteúdos são mais densos e são transmitidos
de forma bruta por não ter tido a oportunidade de ser elaborados, não possibilitando
transformações, afetando indiretamente as vidas das gerações futuras. Já a
transmissão psíquica intergeracional de Kaës envolve a passagem de elementos
psíquicos, como ideais, mecanismos de defesa e identificações, que contribuem para
a manutenção do bem-estar emocional entre as gerações. Essa transmissão tem a
função de sustentar e garantir a continuidade dos vínculos emocionais e a
complexidade das formas de vida. São elementos transmitidos de forma consciente
e são passíveis de elaboração.

MATERIAIS E MÉTODOS

Foi realizado uma revisão bibliográfica sobre a teoria do desenvolvimento


emocional de Winnicott e a transmissão psíquica geracional de Kaës em livros e
artigos científicos, reunindo os principais conceitos que têm relação com o tema para
fazer a análise da série The Act a partir do referencial teórico.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Por mais que mãe e ambiente são fundamentais para o desenvolvimento do


bebê algumas falhas vão acontecer e Winnicott considera saudável passar por essas
experiências de frustração, pois possibilita a capacidade em lidar com a realidade e
angústia, ele vai dizer que não existe mãe perfeita e sim “mãe suficientemente boa”.
Winnicott enfatiza que a independência completa não existe; em vez disso, a saúde
emocional envolve uma relação de interdependência entre o indivíduo e o ambiente.
28
No entanto, nunca seremos completamente independentes, e é essencial ter passado
por um ambiente seguro e acolhedor para conquistar essa independência de forma
saudável.
Na teoria de Kaës, para evitar que problemas não resolvidos ou conflitos
passem adiante é essencial que os indivíduos da geração intermediária enfrentem e
processem essas questões, de modo que o material psíquico transmitido seja
transformado de maneira saudável antes de ser transmitido aos seus descendentes.
Esse processo de metabolização é fundamental para quebrar padrões negativos e
promover um melhor funcionamento psíquico nas gerações futuras.
A terapia familiar psicanalítica oferece uma oportunidade para compreender e
processar essas influências transgeracionais e intergeracionais. Através desse tipo de
terapia, busca-se ajudar as pessoas a explorar suas dinâmicas familiares e superar
obstáculos emocionais, promovendo um maior entendimento de si mesmas e de seus
relacionamentos familiares. A conscientização dessas influências é essencial para
interromper ciclos negativos e promover uma maior saúde emocional nas gerações
futuras.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O objetivo deste trabalho é fazer uma análise da série The Act, em português
O Ato, a partir das teorias apresentadas. A série é baseada em fatos reais e conta a
história de Gypsy, uma menina que acredita ter sérios problemas de saúde. A mãe,
Dee Dee, manteve a filha na condição de doente, vivia em uma cadeira de rodas, com
a cabeça raspada, era medicada diariamente e totalmente infantilizada, se vestia
como uma criança pequena e sempre carregava bichinhos de pelúcia, mesmo já
sendo uma adolescente. Com isso Dee preservava a condição de total dependência
da filha aos seus cuidados, mas tudo não passava de uma mentira que a mãe contava
e fez com que ela acreditasse ao longo de sua vida. Quando Gypsy descobre a farsa,
ela planeja e realiza o assassinato da mãe.

REFERÊNCIAS

CORREA, O.B.R. (Org). (2000). Os avatares da transmissão psíquica geracional.


São Paulo: Escuta.

FRANCO, R. S., SEI, M. B. Segredo familiar e os recursos artísticos-expressivos na


psicoterapia familiar: Um estudo teórico-clínico. Psicologia: Teoria e Prática, 21(1),
282-296. São Paulo, SP, jan.-abr. 2019.

GOMES, I. C. Transmissão psíquica transgeracional e violência conjugal: um relato


de caso. Boletim de psicologia, Vol. LV, nº 123: 177-188. 2005

GOMES, I. C., & ZANETTI, S. A. S. Transmissão psíquica transgeracional e


construção de subjetividade: relato de uma psicoterapia psicanalítica
vincular. Psicologia USP, 20, 93-108. 2009

29
HENRIQUES, M. I. G., & GOMES, I. C. Mito familiar e transmissão psíquica: uma
reflexão temática de forma lúdica. Psychê, 9(16), 183-196. 2005

KAËs, R. Transmissão da vida psíquica entre gerações. São Paulo: Casa do


Psicólogo. 2001

KAËS, R. Os Dispositivos psicanalíticos e as incidências da geração. In: A.


Eiguer (Org). A transmissão do psiquismo entre gerações. (pp. 5-19). São Paulo:
Unimarco. 1998

PRADO, M.C.A. (2000). Questões edípicas na inversão de gerações. Psicologia


Clínica, 2, 1, 147-169.

RAMOS, M. (2006). Introdução à terapia familiar. São Paulo: Claridade.

SEI, Maíra Bonafé. Arteterapia e psicanálise. São Paulo: Zagadoni, 2011.

WINNICOTT, Donald W. O ambiente e os processos de maturação: Estudos sobre


a teoria do desenvolvimento emocional. Porto Alegre: Artes Médicas, 1983.

WINNICOTT, Donald W. Tudo Começa em Casa. São Paulo: Ubu, 2021.

WINNICOTT, Donald W. Processos de amadurecimento e o ambiente facilitador:


Estudos sobre a teoria do desenvolvimento emocional. São Paulo: Ubu, 2022.

WINNICOTT, Donald W. Familia e o desenvolvimento individual. São Paulo: Ubu,


2023.

30
A PARANOIA E SEUS CONTORNOS NA CLÍNICA PSICANALÍTICA: UM ESTUDO
DE CASO NO SERVIÇO-ESCOLA DE PSICOLOGIA

Aline Quennehen Vieira1


Camila Silva Beguetto2
Luiz Eduardo Daldegan Camargo3
Mariana Coppi Martins4
Milena Dos Santos E Costa5
Rhuan Felipe Sales6
Vinicius Resende Mandolini Barone7
Mayara Aparecida Bonora Freire8

Palavras-chave: Psicoterapia, Psicose, Psicanálise, Psicologia, Paranoia.

INTRODUÇÃO
S. Freud, o fundador da teoria psicanalítica, se fundamentou em três estruturas
principais formativas da personalidade humana, sendo elas a Neurose, Psicose e
Perversão. Neste estudo de caso específico, concentramos nossa análise na psicose
na clínica psicanalítica.
O caso analisado é de uma mulher, chamada A M, nascida na zona rural
próxima de Apucarana, PR. Ela é a mais velha de 4 irmãos e viveu no sítio até os 18
anos, tendo um forte apego ao pai. A M teve episódios marcantes em sua infância,
como brincar de atirar com um revólver em latas e presenciar a morte de seu cachorro
atropelado.

1 Graduanda em psicologia pelo Centro Universitário das Faculdades Integradas de Ourinhos- UNIFIO.
Email: [email protected]
2 Graduanda em psicologia pelo Centro Universitário das Faculdades Integradas de Ourinhos- UNIFIO.

Email: [email protected]
3 Graduando em psicologia pelo Centro Universitário das Faculdades Integradas de Ourinhos- UNIFIO.

Email: [email protected]
4 Graduanda em psicologia pelo Centro Universitário das Faculdades Integradas de Ourinhos- UNIFIO.

Email: [email protected]
5 Graduanda em psicologia pelo Centro Universitário das Faculdades Integradas de Ourinhos- UNIFIO.

Email:[email protected]
6 Graduando em psicologia pelo Centro Universitário das Faculdades Integradas de Ourinhos- UNIFIO.

Email:[email protected]
7 Graduando em psicologia pelo Centro Universitário das Faculdades Integradas de Ourinhos- UNIFIO.

Email: [email protected]
8 Psicóloga clínica, docente, supervisora técnica e institucional. Doutoranda em Psicologia e Sociedade

pela UNESP/Assis. Atualmente, é coordenadora do Centro de Estudos e Práticas em Psicologia


(CEPP) do Centro Universitário de Ourinhos (UNIFIO). Tem experiência na atuação em Políticas
Públicas de Saúde Mental, em especial, os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS). Conselheira do
XVII Plenário do Conselho Regional de Psicologia de São Paulo (CRP 06).

31
Aos 18 anos, mudou-se para Apucarana, onde se casou aos 22 anos, mas
considera o casamento um "deslize". Permaneceu casada por quase 30 anos, pois
não sabia o que faria se não estivesse casada. Tem uma filha de cerca de 37 anos.
Em 1984, teve sua "pior crise" com pensamentos obsessivos, isolamento e depressão,
sendo testemunhada por sua filha. Atualmente, A M mora na casa dela com seu genro.

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Neste presente trabalho, tem-se por escopo a Psicose enquanto uma formação
de completa diferença em relação a Neurose. No artigo A construção do conceito de
psicose de Freud a Lacan e suas implicações na prática clínica (2018), se transparece
esta diferença desde seu trabalho inicial como:

Freud (1894/1996) elucida que na psicose o ego rejeita a representação


incompatível com o seu afeto e age como se essa representação nunca
tivesse existido, tudo isso graças ao seu desligamento da realidade. Por isso,
no caso da psicose, trata-se, conforme Freud (1894/1996, p. 64), de "uma
espécie de defesa muito mais perigosa e bem-sucedida", apesar de seu
retorno a partir do real (alucinatório e delirante). (Silva; Castro, 2018, p. 147)

A realidade para o neurótico está relacionada à sua vivência libidinal e às


restrições impostas pelo recalque e a castração. Na psicose, essa impossibilidade cria
uma "realidade paralela" através de formações delirantes, onde o desejo libidinal
busca satisfação fora da realidade.

Em 1924, Freud publicou dois textos em que muito se dedicou a discutir a


questão da psicose: foram os textos intitulados "Neurose e psicose"
(1924a/2011) e "A perda da realidade na neurose e psicose" (1924^2011).
Nesses textos, Freud demarca uma diferenciação entre a neurose e a psicose
já a partir da segunda tópica, em que há um esforço para atender às
necessidades do id e do superego. Para ele, tanto na neurose como na
psicose, há conflitos na relação do sujeito com o mundo externo, mas os
mecanismos e as consequências serão diferentes nos dois casos. Na
neurose, os conflitos se referem à relação entre o ego e o id e, na psicose,
há conflito entre o e o mundo externo/social. Na neurose, o ego recorre ao
mecanismo do recalque, a fim de barrar os impulsos do id, ocasionando um
distanciamento da realidade pulsional. Diferentemente da neurose, na
psicose há uma rejeição radical da realidade social. (Silva; Castro, 2018, p.
149)

Com esta concepção, dentro da segunda tópica se concebe que as pulsões do


Id ao serem refreadas pelo impedimento da realidade, na neurose, se forma a fantasia,
ou, aquilo que poderia ser, enquanto no estatuto da psicose, funda-se através do
delírio o que é (para o sujeito da psicose), mesmo não sendo (para o sujeito da
neurose).

Na psicose, há uma primazia do id em suas manifestações subjetivas devido


à fuga do ego em relação ao mundo externo/social. Por isso, Freud
(1924^2011, p. 196) enfatiza que "a neurose não repudia a realidade, apenas
a ignora; a psicose a repudia e tenta substitui-la". (Silva; Castro, 2018, p. 149)
32
Na literatura pós-freudiana, Jacques Lacan reatualiza a discussão do campo
da psicose, de forma a complementar a teoria freudiana. Lacan se apropria de um
termo jurídico foraclusão, que significa o que não foi incluído, onde a lei é abolida,
para explicar a estrutura psicótica. Em sua formulação, mais três instâncias se definem
junto à estrutura do sujeito, O Real, O simbólico e o Imaginário.
A partir da castração e instauração do significante do nome do pai, passamos
a simbolizar, a relacionar com o desejo em outro nível, porém existe uma estrutura
que passa de outra forma, e não faz a introjeção do significante do nome do pai, que
é a estrutura psicótica.
A importância do diagnóstico nas entrevistas preliminares é destacada por
Quinet (2009) como direcionador do tratamento do sujeito psicótico. O manejo desse
paciente é diferente do neurótico, pois certos pontos de sua realidade não podem ser
contestados. Lacan (1953) propõe que o analista atue como secretário do alienado,
acolhendo e auxiliando o analisando a organizar suas demandas.

MATERIAIS E MÉTODOS

Para a realização do processo diagnóstico de A M, foram realizadas 27 sessões


de análise no CEPP (Centro de Estudos e Práticas em Psicologia) que ocorreram no
período de 8 meses, durante esse período A M faltou 2 vezes. A M é acompanhada
na clínica escola desde 2014 (nove anos). Foi utilizado como recurso o método
psicanalítico e suas técnicas. O método psicanalítico é um método investigativo, que
consiste em uma investigação acerca da queixa apresentada pelo sujeito, que tem
como objetivo proporcionar a utilização dos seus recursos psíquicos para novos
efeitos de desejo (Soller, 1989)
A clínica escola é dividida por núcleos e cada núcleo tem a sua linha teórica,
que norteia o tratamento do sujeito. No caso em específico a A M é acompanhada no
núcleo de estágio “Psicanálise do Campo de Freud a Lacan”.
É importante ressaltar que, quando se apresenta um estudo de caso, a
identidade do sujeito precisa e deve ser preservada. Portanto, o nome do paciente
que está sendo discutido é fictício.
Um dos pilares do tratamento analítico é a transferência, ela é o motor da
análise, pois ela é da ordem da conexão, da articulação entre o analista e o
analisando, o analista surge como o destinatário do discurso do paciente. Para além
da conexão do paciente com o analista, a transferência também conecta o paciente
com a sua própria falta, com o seu sintoma, é ela que faz com que a análise ande, a
transferência impulsiona a análise, ela é a mola propulsora (Baratto, 2010).
O material utilizado para a realização desta pesquisa compõe-se de livros
físicos que dizem respeito à teoria psicanalítica, busca em base de dados virtuais,
como os portais ScieElo, Lilacs, PePsic e google acadêmico.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A M recorreu ao processo análitico por conta da sua dificuldade de dormir, relata


que não consegue dormir pois tem muitas “falações” (sic) em sua cabeça,
33
pensamentos, mas não só, relata que é uma pessoa muito “nervosa” (sic), ansiosa e
no percurso das sessões a partir de seus relatos foi notado uma grande paranóia com
os outros, sintoma este que é característico na psicose de submodalidade paranóica,
pois na paranóia é muito relevante, radical e latente o mecanismo da projeção, que
seria esse mecanismo de deslocar para o outro aquilo que não conseguimos
reconhecer como nosso, é sempre o mundo externo “que não deixa, que me persegue,
que me proíbe” (Quinet, 2006). A vida de A M é recheada de episódios nos quais outro
a persegue, ou que é o outro que a não deixa dormir. Esse outro, em alguns
momentos, foi o vizinho que a não deixava dormir, pois “saía passear com 9 cachorros
durante a noite” (sic), ou era o outro vizinho que “tinha uma filha esquizofrênica que
subia no muro às duas da manhã e fazia barulhos”, (sic) outras vezes foi o seu próprio
cachorro que “latia durante a noite” (sic) e atrapalhava seu sono.
Durante o percurso de análise foi possível observar a dinâmica da transferência
com o sujeito psicótico pois diferente do sujeito neurótico o sujeito psicótico pode
trazer elementos fundamentais para a estabilização dos seus sintomas, sendo assim
o que cabe ao analista é, como diz Lacan (1956), ser secretário do alienado, o analista
deve acreditar, conter, organizar a demanda do psicótico. A partir disso, a transferência
com A M se deu sempre na transferência anônima, e aos redores do discurso do
mestre, que uma hora ou outra deve intervir para secretariar, organizar a demanda do
analisando.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste estudo de caso, foi analisado o processo psicanalítico de A M, uma


mulher de estrutura psicótica. Destacam-se as principais diferenças entre psicose e
neurose, enfatizando a rejeição radical da realidade social na psicose. Jacques Lacan
complementou a teoria freudiana ao introduzir a foraclusão na estrutura psicótica,
enfatizando o papel do significante do nome do pai. O tratamento do sujeito psicótico
requer um manejo específico, permitindo questionar a própria realidade e entendendo
o delírio como uma tentativa de cura. No caso de A M, foram revelados sintomas de
paranoia, projeção de conflitos e dificuldade para dormir. Na psicose, o analista atua
como secretário do alienado, contribuindo para a estabilização de seus sintomas ao
longo da análise. Dessa maneira, conclui-se que o estudo da psicose é desafiador,
mas essencial na clínica psicanalítica, e que o tratamento analítico pode ser efetivo
para auxiliar o sujeito psicótico a se organizar, cabendo ao analista um trabalho de
secretário do analisando.

REFERÊNCIAS

BARATTO, Geselda. Genealogia do conceito de transferência na obra de Freud:


IN: Estilos da clínica: Vol 15. N° 1, p, 228-247.

HERMAN, Fábio. O método da psicanálise. IN: O que é Psicanálise. São Paulo:


Editora Brasiliense s.a, 1983. p. 17-28.

34
LACAN, J. (1956) XVI Secretário do alienado. IN: Seminário 3, as psicoses. 2° ed.
Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1988. p. 235-243

MILLER. Dominique. As três transferências. In: BARROS. Manuel. Clinica lacania:


Casos clínicos do campo Freudiano. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1994. 44 a
50.

QUINET. Antônio. Função das Entrevistas Preliminares. IN: 4 + 1 Condições de


Análise. 12° ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2009. p. 13-34

______, Antonio. O Um paranóico e a Verhaltung. IN: Psicose e Laço Social. Rio


de Janeiro: Zahar, 2006, p, 91 a 106.

______, Antonio. Psicose uma estrutura clínica. IN: Teoria e Clínica da Psicose.
Rio de Janeiro: 3° Ed. Forense Universitária, 2006, p, 3-26.

SILVA, B. S. & CASTRO, J. E. A construção do conceito de psicose de Freud a


Lacan e suas implicações na prática clínica. Analytica. São João del-Rei, v. 7, n. 13,
p. 147-149, jul-dez. 2018.

SOLER, C. "O que posso esperar"…De uma psicanálise In: SOLER, C. A


psicanálise na civilização. 1 ed. Rio de Janeiro: Contra Capa, 1998. p. 465-474.

35
A PROBLEMATIZAÇÃO DA PSEUDOCIÊNCIA E SEU IMPACTO NA VIDA DOS
SUJEITOS

Guilherme do Prado 1
Nei Vinicius Hércules Rodrigues Miranda2

Palavras-chave: Ciência; Pseudociência; Saúde; Social;

INTRODUÇÃO
O presente artigo inicia abordando as definições de ciência e a pseudociência
utilizando autores como Popper, Sagan, Hansson, Kuhr, e diversos autores que
contribuem com a filosofia da ciência. Dentre os objetivos do artigo pretende debater
assuntos como demarcações sobre a ciência e pseudociência a fim de demostrar os
impactos que a utilização de recursos que se dizem científicos causam na vida social,
física e mental dos sujeitos envolvidos.
Ao longo da monografia é discutido assuntos como os locais onde se
encontram a pseudociência como no SUS e no sistema jurídico, os motivos das
procuras por essas pseudociências, como a utilização de recursos e promessas falsas
e as consequências da utilização e o não debate dessas práticas pseudocientíficas,
onde os próprios sujeitos que acreditam estar sendo tratados permanecem em anos
de tratamentos sem evidencias de melhoras, comprometendo sua qualidade de vida
diante a métodos mais eficazes e respaldados por evidências.
Ao findar do trabalho é proposto algumas considerações sobre a possibilidade
de aumento a divulgação cientifica, principalmente nas áreas de saúde, as quais
exigem que um tratamento de fato propõe alguma intervenção.

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Iniciamos a definição de ciência com Junges (2019) dizendo para


conceitualização de uma ciência humana é preciso uma lógica de argumentação e
utilizar da retórica para que os campos comecem a ser construídos. Seguindo nessa
lógica partimos que a ciência caminha de mãos dadas com a ética, e Segundo Dias
(2021) não é possível fazer ciência sem ambas não estejam alinhadas. Nesse mesmo
artigo é colocado a responsabilidade do pesquisador em se comprometer com uma
descoberta, algo que o público leigo não preciso saber, mas quem formandos que
utilizam de recursos sem uma metodologia cientifica deixa sujeito a um prejuízo social,
físico e mental dos usuários de suas teorias.

1Graduando em Psicologia, Centro Universitário de Ourinhos, [email protected]


2Psicólogo (UNESP), mestre em saúde coletiva (UERJ), professor do curso de Psicologia, Centro
Universitário de Ourinhos, [email protected]

36
Ao longo da apresentação caminhamos para os critérios utilizados por Hansson
(1983) com uma lista de multicritérios para a definição de uma pseudociência. O qual
é complementado por Ferreira (2021) a qual acrescenta mais demarcação para o que
seria a pseudociência.
Por fim, é debatido onde encontram, as causas e a problematização das
pseudociências, onde é apresentado as terapias disponíveis no SUS, a utilização de
constelações familiar no sistema jurídico e a ausência de evidência e o prejuízo aos
sujeitos que aderem a essas práticas.

MATERIAIS E MÉTODOS

Esta pesquisa se deu por pesquisa bibliográfica sendo os materiais utilizados


retirados de sites como Scielo, Google Acadêmico, livros e revistas acadêmicas. É
utilizado diversos artigos com base nos quais falavam especificamente palavras
chaves como pseudociência, ciência e psicologia.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Diante o trabalho apresentado é possível notar a dificuldade de demarcações


com a ciência e com a pseudociência, no entanto os critérios utilizados para a
pesquisa se dizem promissores para uma prática na saúde que consiste em ética e
método cientifico.

(...), todavia, acredita que tal ética pode também ser classificada como uma
ética da responsabilidade, já que exige e pressupõe a responsabilidade do
sujeito. Exige responsabilidade, porque não deixa que esta recaia apenas
sobre uma autoridade, mas que seja compartilhada por todos. (FERRIOL,
2006, p. 180).

A ciência ao ser compartilhada, faz com que busque novos argumentos,


possibilidades, práticas que baseiam no que há de melhor naquele momento no
mundo presente, fazendo com que práticas passadas sejam refutadas ou deixadas de
lado por um novo argumento que trará maiores benefícios.

O importante é que as teorias sejam comprovadas seguindo critérios rígidos,


metodologias adequadas e publicadas em periódicos de circulação
internacional, para que outros pesquisadores possam tentar repetir os
experimentos e modelos. Se algo novo é proposto ou descoberto, o primeiro
passo do cientista é tender ao ceticismo, repetir o experimento, verificar
possíveis falhas, buscar explicações alternativas. (KNOBEL M, p.8, 2008).

Para além de neopositivismo, o trabalho apresenta críticas a diversas áreas


acadêmicas nas quais não esperam somente evidencias que partem de uma
experimentação, mas que o debate seja através de uma ciência que utilize das
melhores evidencias presentes no momento histórico presente.

Quando uma afirmação está apoiada em uma quantidade suficiente de


provas, ela está epistemicamente justificada. Provas suficientes são aquelas
37
que tornam uma crença segura, pois fornecem boas razões para se pensar
que a hipótese proposta é provavelmente verdadeira. A ciência ser a prática
que fornece as afirmações mais confiáveis significa que ela é a que apresenta
as melhores e mais robustas provas sobre seus objetos de estudos. Controles
e ajustes são constantemente feitos para se aproximar cada vez mais de uma
descrição adequada da realidade. (FERREIRA, p.6, 2021).

Como colocado pela autora, a ciência que deve ser defendida não limita a uma
ciência dura e positivista, na qual somente a base empírica deve ser reformulada, mas
para uma possibilidade de atuação em todos campos acadêmicos é preciso uma
demarcação para que teorias sejam refutadas e que pseudociências sejam
escancaradas a fim de objetivos para a melhoria da qualidade de vida dos sujeitos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao findar do trabalho, é perceptível modificações de grades de universidades e


principalmente em faculdades de saúde onde pouco se conhece de metodologia, é
preciso utilizar de como ler um artigo cientifico, identificar o que são amostras e testes
que, no caso, áreas da saúde como psicologia, enfermagem, medicina, fisioterapia
necessitam. Em campos como a filosofia o debate e a argumentação retórica, a
demonstração de argumentos que tentam chegar na realidade atual é imprescindível
para que possamos continuar evoluindo como ciência.
Os poucos debates presentes nas áreas sobre novas intervenção e
movimentos novos sem que a ciência tenha medo de mudar é preciso, refletir sobre
sistemas que permanecem ainda sendo utilizados como recursos quando atualmente
existem evidências de tratamentos melhores é antiético e anticientífico.

REFERÊNCIAS

DIAS, E. DE A. Ciência e ética em Popper: a ética da responsabilidade dos


cientistas. Trans/Form/Ação, v. 44, n. 3, p. 81–100, jul. 2021.

FERREIRA, C. de M. C. Será a psicanálise uma pseudociência? Reavaliando a


doutrina utilizando uma lista de multicritérios. Debates em Psiquiatria, Rio de
Janeiro, v. 11, p. 1–33, 2021. DOI: 10.25118/2763-9037.2021.v11.58. Disponível em:
https://revistardp.org.br/revista/article/view/58. Acesso em: 3 ago. 2023.

FERRIOL, A. M. Ética médica como ética aplicada em perspectiva popperiana. In:


CONGRÉS VALENCIA DE FILOSOFIA, XVI. Valencia, Facultat de Filosofia i
Ciéncies de l’Educación, 6,7 i 8 d’abr. 2006. Valencia: Universitat de Valencia, 2006,
p. 179-189. Disponível em http://roderic.uv.es/handle/10550/46973. Acesso em: 02
ago. 2023.

Hansson, Sven Ove. 1983. Vetenskap och ovetenskap. Stockholm: Tiden.

JUNGES, J. R. Falácia dilemática nas discussões da bioética. Revista Bioética, v.


27, n. 2, p. 196–203, abr. 2019.
38
KNOBEL M. Ciência e pseudociência. Revista física na escola, nº 1, volume 9, ano
2008. Disponível em: http://www.sbfisica.org.br/fne/Vol9/Num1/pseudociencia.pdf.
Acesso em Agosto de 2023

39
A UTILIZAÇÃO DA ANÁLISE DO COMPORTAMENTO APLICADA (ABA) EM
CRIANÇAS QUE POSSUEM DIAGNÓSTICO DO TRANSTORNO ESPECTRO
AUTISTA (TEA)

Thais Carneiro de Mello Jorge1


Ana Elisa Vilas Boas2

Palavras chaves: Espectro; Autismo; Atraso; ABA; Comportamental; Análise.

INTRODUÇÃO

Como uma abordagem cientifica, ABA é definida como um método para avaliar,
explicar e modificar comportamentos baseados nos princípios do condicionamento
operante introduzidos por B.F Skinner (SKINNER, 1953). Ou seja, ela explica e
modifica o comportamento humano. Dessa maneira, a Análise do Comportamento
Aplicada procura intervenções derivadas dos comportamentos do sujeito. Nos casos
de crianças com TEA, a Análise do Comportamento Aplicada inicia uma série de
procedimentos para desenvolver intervenções que vão auxiliar o sujeito com relação
as demandas que possui, seja ele em sua comunicação, em suas habilidades, em seu
convívio social ou no seu desenvolvimento. Sendo assim, podemos dizer que a
avaliação na Análise do Comportamento é algo para investigar e descobrir o
comportamento do sujeito, é descobrir as suas habilidades ou os déficits que possui,
é descobrir déficits comportamentais do mesmo.
Dessa maneira, irá ser apresentado, com extrema importância, os
atrasos/prejuízos no desenvolvimento do sujeito e todo o acompanhamento que é
necessário para o desenvolvimento de habilidades em que o sujeito possui esse
atraso/prejuízo.
O objetivo desse projeto será apresentar o que é o Transtorno Espectro Autista
e a eficácia da ABA em crianças com o diagnóstico do TEA. Irei discorrer sobre a
utilização da Análise do Comportamento Aplicada e o seu acompanhamento no
desenvolvimento do sujeito, auxiliam nos possíveis atrasos e prejuízos no sujeito e no
seu desenvolvimento.
É importante relembrar que, por um tempo a “causa” do autismo foi relacionada
às vacinas como a contra sarampo, caxumba e rubéola ou qualquer outra vacina que
era dada na infância do sujeito. Não há evidencias que comprovem a relação dessas
vacinas ao autismo. Afirma-se que as pesquisas realizadas anteriormente que
utilizaram esses dados, foram feitas com erros metodológicos.

1 Graduanda do Curso de Psicologia do Centro Universitário de Ourinhos. E-mail:


[email protected]
2 Psicóloga clínica e docente do Centro Universitário das Faculdades Integradas de Ourinhos, Brasil.

E-mail: [email protected]
40
Conforme o DSM-IV-TR (APA, 2002) o autismo passou a ser descrito em três
dificuldades características, sendo elas as dificuldades de interação social, déficits na
comunicação e comportamentos repetitivos, restritos e estereotipados.
O sujeito possui habilidades comunicacionais pequenas, habilidades sociais
bastantes limitadas, interesses restritos e comportamento repetitivos. Como o
Transtorno Espectro Autista não é um transtorno que possui um único déficit ou
comprometimento no desenvolvimento, o seu diagnóstico e seu acompanhamento
também não é único. Para acompanhamento do sujeito diagnosticado com TEA,
precisa-se de um acompanhamento multidisciplinar, com diversos profissionais de
diferentes áreas que visam o mesmo objetivo.
Dentre esses profissionais, temos psicólogos que utilizam a Análise do
Comportamento Aplicada (ABA). A Análise do Comportamento Aplicada elabora
diversas estratégias de ensino para desenvolver-se junto ao sujeito.

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

O Transtorno do Espectro Autista é contemplado como uma condição que pode


afetar sujeitos de diversas culturas e raças, possuindo déficits na comunicação verbal
e não verbal, na comunicação social verbal e não verbal e nas relações sociais. O
DSM-5 implantou níveis de gravidade do TEA em que são divididos em 3 níveis, sendo
o primeiro nível em que a gravidade do TEA precisar de um suporte, o segundo nível
requer um suporte grande e o terceiro nível precisa de um suporte intenso. Esses
níveis são separados de acordo com os déficits que o sujeito possui. (DSM-5; APA,
2013).
O autismo não pode ser apresentado como um transtorno que possui seus
sintomas, seus atrasos e suas especificidades de maneira igual para todos os sujeitos,
pois cada sujeito possui uma história individual, um atraso no desenvolvimento único
e dificuldades individuais, e com isso a sua intervenção acaba sendo desenvolvida de
maneira única de acordo com as necessidades que o mesmo possui.
O Transtorno Espectro Autista possui alguns sinais comuns em bebes e
crianças, os quais apresentam dificuldades ou atrasos, sendo alguns deles:
dificuldades de contato visual e interação social, atraso na fala, não atendem quando
são chamados, não imitam atitudes e comportamentos simples, dificuldade de
controle motor e movimentos estereotipados e/ou atípicos.
A Análise do Comportamento Aplicada é a aplicação das produções cientificas
da Análise do Comportamento. O seu tratamento é baseado em um período longo de
pesquisa na área da aprendizagem e as intervenções são delimitadas de acordo com
cada sujeito e a sua necessidade. Com ela podemos aumentar comportamentos que
facilitem a autonomia do sujeito, realizar intervenções que melhoram a interação
social, ações que auxiliam na redução de comportamentos indesejados, como por
exemplo comportamentos agressivos e auto lesivos
Com relação a eficiência e da função na vida do sujeito, a Análise do
Comportamento Aplicada, dentre tantas outras funções, possui como objetivo a busca
pela melhoria na vida do sujeito, aquisição de autonomia e independência,
desenvolvimento e fortalecimento de habilidades e desenvolvimento de
comportamentos funcionais.
41
MATERIAIS E MÉTODOS

Essa pesquisa será pautada em livros que citem sobre o autismo, o Transtorno
Espectro Autista, a Análise do Comportamento Aplicada, o prejuízo na comunicação,
a linguagem do sujeito, a interação social e a dificuldade no desenvolvimento social
do sujeito com autismo. Pesquisas serão feitas em artigos que dissertem sobre o
Transtorno Espectro Autista e a utilização da Análise do Comportamento Aplicada. O
projeto será norteado pela obra de Ana Carolina Sella e Daniela Mendonça Ribeiro
(2018), no que se refere a Análise do Comportamento Aplicada no Brasil e ás pessoas
com Transtorno Espectro Autista, que merecem receber tratamentos efetivos.
Portanto, para realizar o projeto de pesquisa utilizaremos dois livros: Analise do
Comportamento Aplicada ao Transtorno do Espectro Autista(2018) e Analise do
Comportamento aplicada como intervenção para o autismo: definição, características
e pressupostos filosóficos(2013) essas obras serão ligadas com o tema do projeto;
também serão utilizados artigos científicos e pesquisas em geral, a partir de 2000 até
o ano de 2023, que citem sobre o espectro autista através da visão e contribuição da
Análise do Comportamento, o prejuízo na comunicação, os déficits de habilidades e
desenvolvimentos e a utilização da Análise do Comportamento Aplicada em crianças
com autismo. Foi utilizado como critério de exclusão a abordagem teórica, pois foi
analisado e pesquisado apenas com enfoque na Análise do Comportamento.
A pesquisa será construída a partir das palavras chaves: autismo, espectro,
comportamento, intervenção, linguagem, comunicação, desenvolvimento,
habilidades. O seu referencial teórico será pautado em obras cientificas, com a
intenção de apresentar os temas discorridos no trabalho.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Com toda a pesquisa levantada através de livros e artigos que citam o tema,
pode-se analisar que é de suma importância toda a pesquisa, pois através dela
consegue-se entender melhor sobre o Transtorno Espectro Autista, desde seu
diagnostico até seus prejuízos e atrasos no desenvolvimento e sobre a Análise do
Comportamento Aplicada, desde seus estudos e objetivos até ao trabalho com
crianças que possuem o diagnóstico do TEA. Conseguiu-se estabelecer uma ligação
entre a Análise do Comportamento Aplicada e o desenvolvimento de habilidades de
crianças com o diagnóstico do Transtorno Espectro Autista adquiridos através de todo
planejamento realizado no início do acompanhamento do profissional da psicologia
com a criança diagnosticada com TEA, podendo ser elas: aquisição ou melhor
desenvolvimento de uma fala funcional, habilidades sociais, desenvolvimento de
autonomia, dentre outras já apresentadas.
Foi apresentado pontos importantes para os sujeitos que não possuem
conhecimento sobre o tema e/ou sobre cada conceito que está inserido nessas
discussões. Com isso, ressalta-se a necessidade de todos os sujeitos buscarem
conhecimento sobre o assunto, pois é através do conhecimento que se consegue um
42
diagnóstico precoce do TEA e com isso adquire-se uma intervenção precoce,
resultando em melhorias para a criança.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao longo de todo o trabalho discorrido, pode-se verificar a importância de


conhecimento sobre o transtorno e seus possíveis acompanhamentos para um
tratamento visando melhorias na vida da criança diagnostica com o TEA.
Como principal contribuição, destacamos a apresentação de possíveis atrasos
no desenvolvimento de sujeitos diagnosticados com o Transtorno Espectro Autista,
apresentando-lhes como sujeitos únicos e, portanto, seus atrasos e prejuízos também
são únicos tão como a necessidade de acompanhamento e atividades desenvolvidas
para melhoras no bem-estar do mesmo.
Portanto, é de suma importância a discussão sobre o tema e a apresentação
de possíveis acompanhamentos visando a melhoria de vida de cada criança, pois
quando esse diagnóstico é realizado de maneira precoce no início do desenvolvimento
do sujeito, maior se torna as possibilidades de intervenções realizadas visando
benefícios para o dia a dia do sujeito.

REFERÊNCIAS

AMA ORG. Diagnóstico: Diagnóstico e características clínicas. AMA ORG, [entre


2002 e 2022]. Disponível em: https://www.ama.org.br/site/autismo/diagnostico/.
Acesso em: 2 set. 2022.

AMATO, C.A.I.H; FERNANDES, F.D.M. O uso interativo da comunicação em


crianças autistas verbais e não verbais. Autismo, SCIELO, 14 jan. 2011. Disponível
em: https://www.scielo.br/j/pfono/a/8jZLkCWrwwb8KQ5FWCGKGkr/?lang=pt. Acesso
em: 2 set. 2022.

AGUIAR, VINICIUS. Definição: transtorno do espectro autista. AMA ORG, ABRIL


2017. Disponível em: https://www.ama.org.br/site/autismo/definicao/. Acesso em: 2
set. 2022.

ASSUMPÇÃO, F; PIMENTEL, A.C. Autismo Infantil, 2000. Disponível em:


https://www.scielo.br/j/rbp/a/Gv4HpMGyypXkmRMVGfRZF8G/?lang=pt. Acesso em:
29 jul. 2022.

CAMARGO, S. P. H.; RISPOLI, M. Análise do comportamento aplicada como


intervenção para o autismo: definição, características e pressupostos
filosóficos. Revista Educação Especial, [S. l.], v. 26, n. 47, p. 639–650, 2013. DOI:
10.5902/1984686X9694. Disponível em:
https://periodicos.ufsm.br/educacaoespecial/article/view/6994. Acesso em: 18 abr.
2023.

43
FERNANDES, Fernanda. CARDOSO, Carla. SASSI, Fernanda. AMATO, CIBELLE.
SOUSA-MORATO, Priscilla. Fonoaudiologia e autismo: resultado de três diferentes
modelos de terapia de linguagem. Pró-Fono R. Atual. Cient, 2008. Disponível em:
https://www.scielo.br/j/pfono/a/xthV7BntgMJjKWrXfH54XPh/?lang=pt#. Acesso em:
05 maio. 2023.
INSTITUTO NEUROSABER. DSM-5 e o diagnóstico no TEA. INSTITUO
NEUROSABER, 1 out. 2020. Disponível em: https://institutoneurosaber.com.br/dsm-
5-e-o-diagnostico-no-tea/. Acesso em: 2 set. 2022.

INSTITUTO NEUROSABER. O que é ABA e quais suas características?.


INSTITUTO NEUROSABER, 14 jul. 2016. Disponível em:
https://institutoneurosaber.com.br/o-que-e-aba-e-quais-suas-caracteristicas/. Acesso
em: 2 set. 2022.

LOPES, C. E. Uma proposta de definição de comportamento no behaviorismo


radical. Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva, [S. l.], v. 10,
n. 1, p. 1–13, 2008. DOI: 10.31505/rbtcc.v10i1.206. Disponível em:
https://rbtcc.com.br/RBTCC/article/view/206. Acesso em: 18 abr. 2023.

MALAVAZZI, Dante Marino et al. Análise do comportamento aplicada: Interface entre


ciência e prática? Perspectivas, São Paulo, v. 2, n. 2, p. 218-230, 2011. Disponível
em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2177-
35482011000200007&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em 23 abr. 2023.

MAPURUNGA, B. A. .; MENDES, A. L. R. .; SILVEIRA, V. B.; CORREIA, R. F. de O.


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https://periodicos.ufrn.br/casoseconsultoria/article/view/26291. Acesso em: 14 jul.
2023.

MATSUKURA, T. S. A aplicabilidade da terapia ocupacional no tratamento do


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https://www.cadernosdeterapiaocupacional.ufscar.br/index.php/cadernos/article/view/
309. Acesso em: 14 jul. 2023

MORAES, A.V.P.M; BIALER, M.M; LERNER, R. CLÍNICA E PESQUISA DO


AUTISMO: OLHAR ÉTICO PARA O SOFRIMENTO DA FAMÍLIA. SCIELO, 10 maio
2021. Disponível em:
https://www.scielo.br/j/pe/a/QLHxBsqgcRpn8B3M4qJMsGP/?lang=pt. Acesso em: 2
set. 2022.

ONU NEWS. OMS afirma que autismo afeta uma em cada 160 crianças no
mundo. ONU NEWS, 2 abr. 2017. Disponível em:

44
https://news.un.org/pt/story/2017/04/1581881-oms-afirma-que-autismo-afeta-uma-
em-cada-160-criancas-no-mundo. Acesso em: 2 set. 2022.

SELLA, Ana Carolina; RIBEIRO, Daniela Mendonça. Análise do comportamento


aplicada ao transtorno do espectro autista. Appris Editora e Livraria Eireli-ME,
2018.
TEA NA CID-11: O QUE MUDA? Autismo e Realidade, 2022. Disponível em:
<https://autismoerealidade.org.br/2022/01/14/tea-na-cid-11-o-que-muda/>. Acesso
em: 30 jul. 2023.

45
ADOLESCÊNCIA E A ANSIEDADE: REVISÃO DA LITERTURA PÓS PANDEMIA
DE COVID-19

Rayana Maria Hermes Coutinho1


Cristiane Marquezini2

Palavras-chave: adolescência; pandemia; ansiedade; pós-pandemia; isolamento.

INTRODUÇÃO

No ano de 2019 começaram a ser veiculadas notícias de um vírus altamente


transmissível que em 2020, ocasionou em uma pandemia em nível mundial. Tal fato
alterou significativamente cenário mundial, no que toca existência humana e suas
relações sociais. Este período levou a um afastamento das pessoas devido ao
lockdown estabelecido, ou seja, os locais públicos foram fechados e a convivência
social foi drasticamente alterada. No caso dos sujeitos desta pesquisa, os
adolescentes, deixaram de ter contato com seus pares, dado que as escolas e outras
instituições e estabelecimentos frequentados por essa população foram fechados por
período de dois anos.
O isolamento combinado com a incerteza, trouxeram mudanças estruturais na
sociedade. As alterações ocorridas em nível mundial, reverberaram no pessoal,
exacerbando fenômenos característicos à adolescência, pois de acordo com autores,
o que seria um período de passagem para a vida adulta, se tornou um período de
extrema proteção e medo por parte dos adultos.

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

É certo dizer que a adolescência se inicia aos doze anos, porém o seu término
é incerto. O Estatuto da criança e do Adolescente delimita sua consumação aos
dezoito anos. No ano de 2018, algumas matérias jornalísticas afirmaram que haveria
uma mudança nessa idade final e, consequentemente, uma mudança na Lei,
aumentando este período até os vinte e quatro anos. Uma reportagem realizada pela
British Broadcasting Corporation (BBC) News Brasil (2018), relata as discussões
sobre essa mudança na idade final da adolescência, e a justificativa para esse fato é
que os adolescentes se encontram nas Universidades até essa idade e, em
decorrência, ainda dependem dos adultos em sua vida, atrasando a “saída” de casa.
A adolescência é uma construção histórica e social, um conceito que sofreu
alterações significativas durante as décadas, assim como os direitos desses cidadãos.

1Discente UNIFIO, Psicologia, [email protected]


2Doutora em Educação, Pós-doutoranda em Psicologia – UNESP, Docente UNIFIO, Psicologia,
[email protected]

46
Outrora era comum tratar o adolescente como adulto, tendo os mesmos encargos e
responsabilidades. Estes, trabalhando desde a infância e tendo maior autonomia,
porém, com o avanço do capitalismo, bem como de suas instituições, esta idade da
vida passa a ser protegida não só pela lei, mas pelos pais e responsáveis, que
procuraram preservá-los por mais tempo dos problemas da vida adulta, o que retardou
a maturidade antes experimentada por eles (CALLIGARIS, 2009).
Portanto, com mudanças, como a Revolução Industrial, os adolescentes que
antes saíam cedo de casa, não tinham estudos, trabalhavam desde muito pequenos,
se encontravam por mais tempo dentro das escolas. (ARIÈS, 1981)
Essa frequência era exigida, ou seja, era uma obrigação dos responsáveis por
aquele indivíduo, que, antes tinha tempo para as atividades domésticas e agora passa
a ser obrigado a frequentar a instituição escolar. Essa mudança gerou conflitos no
âmbito familiar, pois ocorreu uma descontinuidade entre a adolescência vivida pelos
genitores e a adolescência experienciada por seus filhos. (ABERASTURY, KNOBEL,
1981)
Junto com essas mudanças psicológicas, ocorrem as mudanças biológicas. O
corpo da criança de ontem, hoje, passa a se desenvolver para o corpo de um adulto,
com características e desejos do mesmo. Esse período, diferente do conceito de
adolescência, é bem demarcado, já que é avaliado devido as mudanças no corpo do
indivíduo, sendo um processo biológico, marcado pelo aumento nos níveis hormonais,
como o hormônio do crescimento (GH), que amplia sua ação durante esse período e,
por isso, a puberdade não é sinônimo de adolescência (LOURENÇO, QUEIROZ,
2010).
Os autores em geral, têm consenso de que a adolescência é diferente da
puberdade, sendo uma construção do meio biopsicossocial, marcada em alguns
contextos, por sentimentos diversos como a incerteza e, muitas vezes, a rebeldia.
Sentimentos que o sujeito que está passando por essa transição utiliza para se
expressar, e mostrar sua preocupação e indignação com as mudanças que ocorrem
na sua vida, pois até aquele momento ela era um indivíduo sem responsabilidade
alguma e, passa, a partir de então a ter obrigações a cumprir, mas, ainda não tem a
autonomia desejada. (CALLIGARIS, 2000)
Como já ressaltado, o adolescente está passando por uma fase conflituosa em
que tenta entender seu lugar na sociedade, fato que pode levar à um transtorno
ansioso, devido a busca incessante de solucionar os conflitos que são inerentes a
essa fase de suas vidas.
A ansiedade pode ser confundida muito facilmente com medo, porém, o
segundo difere do primeiro por ter um objeto para esse sentimento. Por exemplo, um
indivíduo sente medo por estar cara a cara com um urso gigante, sendo o animal o
objeto dessa emoção. Fisiologicamente, medo e ansiedade desencadeiam a mesma
resposta, com liberação de noradrenalina e adrenalina, neurotransmissores
conhecidos pelo mecanismo que desencadeiam de “luta ou fuga”. Porém, no caso da
ansiedade, não há objeto real que opere o mecanismo da fuga, dito de outra forma,
não existe um urso gigante que amedronta, mas o sentimento do medo está presente.
(MENEZES, MOURA, MAFRA, 2017)

47
Além disso, os transtornos de ansiedade fazem parte das doenças psiquiátricas
mais comuns na adolescência, em torno de 10 a 30%, superado apenas pelo
Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade (FILHO, SILVA, 2013, p. 33).
Os sintomas psíquicos como a apreensão e inquietação, podem estar
acompanhados de sintomas somáticos, devido a liberação dos neurotransmissores,
causando uma ativação fisiológica, observando-se palpitações, dificuldades em
respirar, tonturas, suores, sensações de calor e frio ou tremores, etc. (BAPTISTA,
CARVALHO, LORY, 2005, p. 268)
O Transtorno de Ansiedade Generalizado (TAG) é o mais abordado entre os
jovens e, alguns dos parâmetros diagnósticos são:

Dificuldade em controlar suas ansiedades; preocupação e ansiedade


exageradas; associação da preocupação e da ansiedade com três dos seis
sintomas, tais como: perturbação do sono, fatigabilidade, problemas para
concentrar-se ou sensações de branco na memória, irritabilidade, inquietação
ou sensação de estar mais nervoso, tensão muscular. (MENEZES, MOURA,
MAFRA, 2016, p.44)

Esses critérios, segundo MAFRA, 2016, são abordados dentro do Manual


Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-IV-TR, 1994).
Postas estas questões, sobre o fenômeno da adolescência e os sentimentos
comumentemente associados à essa idade da vida, preocupamo-nos em averiguar
no presente texto, como os adolescentes vivenciaram as mudanças peculiares à essa
fase durante a pandemia de Covid-19, bem como, se tais situações aumentaram o
quadro ansioso, como vimos na literatura, dado que tal fato ocorre em função das
alterações fisiológicas e também são postas pela realidade social vivenciada pelo
sujeito.

MATERIAS E MÉTODOS

Para a construção do presente artigo será realizado um levantamento


bibliográfico de cunho exploratório e qualitativo, baseando-se em artigos científicos
alocados em bases indexadoras e livros que versem sobre a temática da ansiedade
na adolescência após a pandemia de Covid-19. Para tanto, utilizaremos os unitermos:
ansiedade, adolescência e pandemia de Covid-19. Pretende-se aprofundar o
conhecimento sobre o aumento da ansiedade em adolescentes após a pandemia
mundial, partindo de uma revisão sistemática da literatura existente sobre a questão.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Como já foi elucidado, este texto busca compreender as mudanças que


ocorreram durante a pandemia de Covid-19 e sua relação com a adolescência, no que
tange, a vivência da ansiedade.
Dessa forma, de posse do material bibliográfico existente sobre a questão
buscaremos compreender o fenômeno em questão contribuindo para o seu
entendimento.

48
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Após revisarmos e analisarmos as produções teóricas sobre nossa temática,


acreditamos que poderemos contribuir com a elucidação da questão. Visto que as
consequências da pandemia de Covid -19 são vivenciadas até os dias de hoje.
Observamos que o adolescente não deixou de passar por essa fase complexa da vida,
mas, vivenciou-a ajustando-se ao contexto pandêmico e ao novo modelo de
sociedade pós pandemia. Este fato deixou um momento complexo na citada idade da
vida ainda mais incerto para os indivíduos que acabaram de deixar o território da
infância e estão explorando um local desconhecido.

REFERÊNCIAS

ABERASTURY, A; KNOBEL, M. Adolescência normal: um enfoque psicanalítico.


Porto Alegre: Artes Médicas, 1981.

ARIÈS, Philippe. História social da criança e da família. Rio de Janeiro: LTC,


1981.
BAPTISTA, A.; CARVALHO, M.; LORY, F.; O medo, a ansiedade e as suas
perturbações. Edições Colibri. Lisboa, v. 19, 2005, p. 267-277.

CALLIGARIS, C. A adolescência. São Paulo: Publifolha, 2000.

CIRIACO, J. S.; DOS ANJOS, O, R.; RODRIGUES, P, S. Geração canguru: fatores


associados à permanência dos jovens cearenses no ambiente familiar de origem. R.
Bras. Eco. De Emp. Ceará, v. 18, n. 2, p. 65-78, 2018.

FILHO, O. C.S.; SILVA, M. P. Transtornos de ansiedade em adolescentes:


considerações para a pediatria e hebiatria. Adolescência & Saúde. Rio de Janeiro,
v. 10, n. 3, 2013, p. 31-41.

LOURENÇO, B.; QUEIROZ, L. B. Crescimento e desenvolvimento puberal na


adolescência. Rev. Med. São Paulo, v. 89, n. 2, p. 70-75, 2010.

MENEZES, A. K. S.; MOURA, L. F.; MAFRA, V. R. Transtorno de ansiedade


generalizada: uma revisão da literatura e dados epidemiológicos. Ver. Amazônia
Science & Helth. Gurupi, v. 5, n. 3, 2017, p. 42-49.

RAMOS, W. F. Transtornos de Ansiedade. TCC (Graduação em Acupuntura) –


EBRAMEC, São Paulo, p. 54, 2015.

49
ANSIEDADE E O MEDO DE DIRIGIR: INTERVENÇÃO ANALÍTICO-
COMPORTAMENTAL

Luciana de Paula Vidal1


Ana Elisa Vilas Boas2

Palavras-chave: Análise do Comportamento; Ansiedade; Intervenção Psicológica;


Medo de Dirigir; Trânsito.

INTRODUÇÃO

Dirigir um veículo pode representar uma atividade cotidiana comum, porém,


muitas pessoas experimentam graus elevados de ansiedade em relação a esta tarefa,
sendo submetidas a um estado de sofrimento e, assim, necessitam de ajuda
especializada. O sentimento de medo de dirigir trata-se de uma manifestação que
interfere na qualidade de vida de inúmeros indivíduos. A falta de prática na direção,
históricos de experiências traumáticas e/ou a presença de patologias prévias podem
estar entre as principais causas do medo relacionado à ação de dirigir.
O medo é uma emoção natural do ser humano e serve como uma espécie
desinalizador para proteção contra perigos reais. A fobia é um medo acentuado,
excessivo, desmedido, de tal forma que, na presença ou previsão de encontro como
objeto fóbico ou situação que causa o medo, surge a ansiedade, num grau
elevadíssimo (CORASSA, 2000).
A Terapia Analítico-Comportamental esta respaudada nos fundamentos da
aprendizagem. Ela explica o aparecimento, a manutenção e a eliminação de sintomas.
Dentre seus princípios, destacam-se a extinção, a habituação, o condicionamento
operante de Skinner e a aprendizagem social de Bandura, de acordo com Cordioli e
Grevet (2019). Este tipo de terapia equivale a uma psicoterapia oferecida para o
enfrentamento de dificuldades humanas e possui base experimental com direção
filosófica e conceitual do Behaviorismo Radical (BORGES; CASSAS,2012).
O objetivo desta pesquisa é discorrer sobre a ansiedade e o medo de dirigir e
de que forma a intervenção e técnicas da abordagem da Análise do Comportamento
podem contribuir na superação do medo de dirigir. Especificamente, serão
apresentados os aspectos conceituais relacionados a abordagem da Análise do
Comportamento, ansiedade e sobre o medo de dirigir.

1 Graduanda do Curso de Psicologia do Centro universitário de Ourinhos. E-mail para contato:


[email protected]
2 Psicóloga clínica e docente do Centro Universitário das Faculdades Integradas de Ourinhos, Brasil.

E-mail: [email protected]

50
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

O ato de dirigir é advindo de uma necessidade de locomoção e refere-se a


uma atividade comum de ser aprendida na idade adulta. Por envolver o
desenvolvimento de habilidades motoras, a prática é fundamental, ou seja, o
enfrentamento do trânsito faz parte do processo. É importante, nesse contexto, que
o aprendizado seja desenvolvido diante das condições reais de trânsito. É importante
reforçar que o medo de dirigir não está ligado à incapacidade de aprender e sim a
um transtorno psicológico que pode e deve ser tratado (BELLINA, 2012).
A insegurança para dirigir pode surgir por vários motivos e está totalmente
ligada a questões particulares da vida de cada pessoa, relacionado à história e
experiência de vida (PASTORE, 2008).
O medo é um sentimento útil, necessário para a sobrevivência de qualquer
ser, ele garante a conduta de autoproteção e autopreservação, sendo necessário
para a sobrevivência da espécie humana. Quando o medo é excessivo e
desproporcional é chamado de fobia (BELINNA,2012).
As pessoas que se consideram ansiosas costumam dizer que são inseguras,
porém, elas querem garantias de que tudo vai dar certo antes mesmo de fazer
alguma coisa. Essas pessoas pensam bastante e fazem tudo no nível do
pensamento, criam dificuldades e obstáculos que na prática não seriam tão grandes
como se apresentam no imaginário (CORASSA,2000).
“A análise do comportamento é uma ciência do comportamento fundamentada
na filosofia do Behaviorismo Radical e que tem como objeto de estudo a interação do
indivíduo com o ambiente”. A ciência do comportamento teve início com o trabalho
de Skinner na década de 1930 (Skinner, 1956) sobre processos básicos de
aprendizagem (RODRIGUES; RIBEIRO, 2007, p. 16).
A compreensão da análise do comportamento envolve o conhecimento de
algumas das premissas sustentadas por Skinner e associados, tais como: os homens
agem sobre o mundo, modificam-no e são modificados pelas consequências de suas
ações; a psicologia é o estudo da interação entre organismo e ambiente; através de
análise, chega-se aos conceitos de estímulo e resposta (TORODOV; HANNA, 2010).
Para a Análise do Comportamento o importante é a função que o
comportamento adquire na relação do indivíduo com seu ambiente. Enquanto a
medicina procurava a etiologia da doença em anormalidades do organismo, a Análise
do Comportamento se propunha a explicar e descrever a probabilidade, a frequência,
e a intensidade com a qual todo e qualquer comportamento se apresenta.
(DALGALARRONDO, 2019).
Atualmente a Análise Comportamental Clínica faz uso de inúmeros
procedimentos terapêuticos, porém, a atenção sempre está voltada para a relação
estabelecida entre o indivíduo e o terapeuta. Nesta relação, o cliente é considerado
produto e produtor das contingências às quais está exposto, o que lhe confere um
papel ativo na terapia (FARIAS, 2010).

MATERIAIS E METODOS

Este estudo trata-se de uma pesquisa de revisão bibliográfica de cunho


51
analítico. Para estabelecer uma discussão teórica relacionada ao tema proposto,
utilizou-se da análise de livros e de artigos científicos disponíveis em meio eletrônico,
obtidos a partir da aplicação das seguintes palavras-chave nos campos de busca:
“análise do comportamento”, “ansiedade”, “intervenção psicológica”, “medo de dirigir”
e “trânsito”. Deu-se preferência às publicações escritas ou traduzidas para língua
portuguesa e cujo conteúdo fosse relevante para o estabelecimento das discussões
do estudo.

RESULTADO E DISCUSSÃO

Segundo Lima (2011) o medo de dirigir pode afetar de forma signifcativa a


qualidade de vida dos indivíduos através da imposição de limitações e de
dependencias que geram sofrimento.
A fobia trata-se de um transtorno de ansiedade relacionado a medos
específicos. Existem, por exemplo, fobias à altura, à lugares fechados, à animais
relacionada ao ato de falar em público, de dirigir, entre outros. Por vezes, a fobia
refere-se a coisas ou atividades que são consideradas comuns para a maioria dos
indivíduos. Assim, pessoas que apresentam algum tipo de fobia sofrem inclusive pela
incompreensão social em relação ao seu problema (BELINNA,2012).
De acordo com um estudo realizado com 4000 pessoas que manifestavam o
medo de dirigir, observou-se que, dentre essa amostra, 85% era representada por
mulheres, 40% já havia vivenciado traumas relacionados a acidentes e 28% nunca
havia sofrido nenhum tipo de acidente. Ainda de acordo com essa pesquisa, as
causas do medo de dirigir podem, em muitas das vezes, não estar relacionadas ao
evento fóbico (LIMA, 2011).
Em qualquer conjunto social, tal como na família, escola ou sociedade, pode
haver a manifestação de incompreensão em relação ao medo manifesto por alguem.
Normalmente o medo é visto como algo sem importância ou patológico (PASTORE,
2008).
A compreensão do motivo que leva um indivíduo a apresentar o medo de dirigir
só se torna possível a partir da analise dos fatores que de fato controlam os
comportamentos fóbicos. Nessa perspectiva é fundamental uma investigação
complexa e ampla, que rompa os limites das análises funcionais e permita o
conhecimento da história e de reforçamento da pessoa. É importante a compreesão
dos padrões comportamentais adquiridos e do porque de sua persistencia, caso
contrário, o terapeuta dificilmente conseguirá definir estratégias terapêuticas eficazes
(LIMA,2011).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho teve por objetivo discorrer sobre o medo de dirigir e analisar as
contribuições da Psicoterapia na Abordagem da Análise Comportamental na
superação deste medo.
O medo de dirigir pode surgir por muitos motivos. Algumas pessoas, mesmo
após aprovação no processo de habilitação não se sentem aptas e confiantes para
conduzir um veículo. Outras, desejam habilitar-se, porém, não conseguem dar o
52
primeiro passo e se matricular em uma auto-escola para obtenção da Carteira
Nacional de Habilitação (CNH). Há quem conviva com a limitação e não procura
ajuda por vergonha ou por não acreditarem na própria capacidade. Tais
comportamentos de esquiva impedem a conquista da independência e autonomia, o
que afeta a qualidadede vida.
O processo de Psicoterapia da Análise do Comportamento considera que o
medo, assim como qualquer outro comportamento, é aprendido. Os comportamentos
são mantidos por contingências comportamentais, portanto é necessário olhar para
a história do indivíduo de forma abrangente, tendo a consciência de que a
manifestação do medo pode não estar ligado apenas ao objeto fóbico. Assim, através
de práticas especificas de ensino e aprendizagem torna-se viável a mudança de
comportamento para o enfrentamento do medo de dirigir.

REFERENCIAS

BELLINA, C. C. O. Dirigir sem medo. 3. ed. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2012.

BORGES, N. B.; CASSAS, F. A. Clinica analítico comportamental: aspectos


teóricos e práticos. Porto Alegre: Artmed, 2012.

CORASSA, N. Vença o medo de dirigir. 1.ed. São Paulo: Editora Gente, 2000.

CORDIOLI, A. V.; GREVET, E. H. Psicoterapias: abordagens atuais. Porto Alegre:


Artmed, 2019.
DALGALARRONDO, P. Psicopatologia e Semiologia dos Transtornos Mentais.
Porto Alegre: Artmed, 2019.

FARIAS, A. K. C. R. Análise Comportamental Clínica. aspectos teóricos e


estudo de caso. Arrmed. 2010. São Paulo.

LIMA, G. C. G. A Importância da Análise Molar para uma Intervenção Analítico-


Comportamental Eficaz em uma queixa de Medo de Dirigir. Brasília, 2011.
Disponível em: https://ibac.com.br/wp-content/uploads/2017/08/Monografia-Gisele-
Lima.pdf Acesso em: 15 mar. 2023.

PASTORE, R. Sem medo de dirigir. 1.ed. São Paulo: Alaúde Editorial,


2008.RODRIGUES, J. A.; RIBEIRO, M. R. Analise do comportamento. Pesquisa,
teoria e aplicação. Artmed, 2007. Porto Alegre.

TODOROV, J. C.; HANNA, E. S. Analise do comportamento no brasil. Psicologia:


Teoria e Pesquisa, 2010.

53
APRENDENDO COM A CLÍNICA-ESCOLA: OS BENEFÍCIOS DA PRÁTICA
SUPERVISIONADA NA FORMAÇÃO DO PSICÓLOGO

Ana Caroline Dias 1


Andreynna Rocha Rezende
Beatriz de Almeida Perini
Gabriel Nespoli
Julia Maria Viola
Nicoly Gouveia Silveira
Poliana Natacha Peixoto
Fábio Sagula de Oliveira 2

Palavras-chave: Psicologia clínica; CEPP; psicoterapia; prática


supervisionada; atendimento clínico.

INTRODUÇÃO

A Clínica Escola é um espaço fundamental na formação de um psicólogo,


já que proporciona uma oportunidade de aprendizagem prática e teórica voltada
para o atendimento clínico. Uma das principais contribuições para o
desenvolvimento profissional dos estudantes presente neste ambiente é a
supervisão, já que ela permite a integração entre a teoria e a prática e o
aprimoramento das habilidades clínicas, além do mais, é através dela que os
alunos recebem orientação e feedback, possibilitando uma análise mais
aprofundada dos casos clínicos e aprimorando suas competências (Ribeiro et
al, 2018).
Através da supervisão, é possível refletir sobre o processo terapêutico,
as técnicas utilizadas e as questões éticas envolvidas, o que contribui para o
desenvolvimento profissional dos estudantes. A qualidade da supervisão clínica
é um fator crítico para garantir a formação adequada dos futuros psicólogos.
Essa importância é reforçada por Castro e Stürmer (2009) em seu livro sobre
psicoterapia com crianças e adolescentes, que destaca a necessidade de uma

1 Discentes do 10º termo no Centro Universitário de Ourinhos - UNIFIO, curso de Psicologia,


[email protected], [email protected], [email protected],
[email protected], [email protected], [email protected], [email protected].
2 Possui graduação em Psicologia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho - UNESP

Assis/SP (2003); Mestre em Psicologia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho -
UNESP Marília/SP na área de Infância e Realidade brasileira; Experiência na área de Psicologia, com
ênfase em Ludoterapia, Psicoterapia individual de orientação psicanalítica, Psicodiagnóstico e
Orientação vocacional; Doutor em Educação pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita
Filho - UNESP Marília/SP (2016); Pós-doutorado em Filosofia da Educação pela Universidade Estadual
Paulista Júlio Mesquita Filho - UNESP Marília/SP (2018); Especialização em Psicoterapia de
Orientação Psicanalítica (2009) pelo Centro Universitário Eurípedes de Marília - UNIVEM; Docente no
Centro Universitário de Ourinhos - UNIFIO, [email protected].
54
supervisão competente e bem estruturada para garantir a eficácia da
intervenção terapêutica.
Sobre esse recurso, Silva et al. (2019) e Mendes e Ribeiro (2020),
apontam que é uma estrutura que envolve professores supervisores, psicólogos
clínicos e estudantes de psicologia. O contato com essa equipe permite que os
alunos possam aplicar suas habilidades, realizar psicodiagnósticos e
desenvolver planos de tratamento, além de vivenciar a prática clínica em um
ambiente seguro e supervisionado. Essa experiência é vista pelos estudantes
como um espaço fundamental para a sua formação, já que conseguem
desenvolver habilidades que serão importantes para a sua atuação (Silva et al,
2019).

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Segundo o estudo de Mendes e Ribeiro (2020), a organização da Clínica


Escola pode abranger diversas modalidades de atendimento. Essas
modalidades podem incluir atendimentos individuais, atendimentos em grupo,
psicodiagnóstico, orientação profissional e outras formas de intervenção. A
variedade de modalidades oferecidas possibilita aos estudantes de Psicologia
a oportunidade de vivenciar e experimentar diferentes abordagens e práticas
clínicas.
Um aspecto relevante é a seleção dos pacientes atendidos. Conforme
Rocha (2011), a Clínica geralmente recebe demandas da comunidade externa
e realiza um processo de triagem para avaliar a adequação do atendimento às
suas possibilidades. Esse processo de triagem é importante para garantir que
os pacientes sejam atendidos por estudantes capacitados e para evitar erros
no encaminhamento.
De acordo com Ribeiro e colaboradores (2018), a duração e a carga
horária dos atendimentos na Clínica Escola podem variar de acordo com as
diretrizes estabelecidas pela instituição de ensino. Alguns serviços oferecem
atendimentos de curta duração, com um número limitado de sessões, enquanto
outros oferecem acompanhamento de longo prazo.
Além dessa vivência na Clínica e na supervisão, os alunos geralmente
são incentivados a buscar atualização constante e aprimoramento técnico, por
meio da participação em cursos, seminários e em grupos de estudo. Essa busca
incessante pelo conhecimento e o compromisso com a atualização em relação
às práticas clínicas mais eficazes favorecem uma prestação de serviço cada
vez mais qualificada. (Costa et al, 2017).
Porém, os benefícios dessa ferramenta não se limitam apenas aos
alunos, mas também contribuem para a saúde mental da população. A Clínica
Escola desempenha um papel importante na comunidade, já que oferece
serviços psicológicos acessíveis a todos; isso é particularmente significativo
considerando que muitas pessoas não têm recursos financeiros para buscar
atendimento em clínicas privadas (SOUZA, 2021). De acordo com Angerami,
Vasconcellos e Gaspar (2018) o Sistema Único de Saúde (SUS), geralmente,
não é o suficiente para atender a demanda da população.
55
MATERIAIS E MÉTODOS

Para o desenvolvimento desta pesquisa, utilizamos o método de revisão


bibliográfica. Dessa forma, voltamos nosso olhar as pesquisas já publicadas as
quais, traziam em sua descrição a importância e os benefícios da prática
supervisionada na formação do psicólogo na clínica-escola.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Segundo Angerami, Vasconcellos e Gaspar (2018), é fundamental


compreender que a Clínica Escola não deve ser considerada como uma
substituição para os investimentos insuficientes do Estado na área da saúde.
Pelo contrário, ela deve ser vista como uma iniciativa complementar que pode
contribuir para a melhoria do sistema de saúde como um todo ao desempenhar
um papel relevante oferecendo atendimentos de qualidade para a população.
Rey (2012) enfatiza a importância da Clínica para a área acadêmica, de
acordo com ele é um ambiente rico e valioso para a realização de pesquisas
qualitativas, já que permite o acesso a um grande volume de informações sobre
a experiência dos pacientes e dos próprios estudantes. Essa oportunidade
permite que o estudante se aprofunde em temas de interesse e contribua para
a construção de uma psicologia mais sólida e embasada cientificamente. Além
disso, ela também fornece experiência em práticas psicoterápicas com crianças
e adolescentes, permitindo que os estudantes apliquem teorias e técnicas
específicas para essa faixa etária, sob supervisão. Todas essas atividades
contribuem para a formação de um profissional mais preparado e qualificado
para lidar com os desafios da prática clínica.
Em suma, reconhecer a importância da Clínica Escola na formação do
psicólogo e no aprimoramento dos serviços de saúde mental é fundamental
para garantir uma atuação profissional de qualidade. Valorizar a participaçã o
dos estudantes nesse contexto, investir em pesquisas e projetos são aspectos -
chave para a construção de um sistema de saúde mental cada vez mais
eficiente e voltado para as necessidades da população.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A clínica-escola é um espaço imprescindível na formação de um


psicólogo, no qual proporciona uma oportunidade de aprendizagem prática e
teórica voltada para o atendimento clínico. Outrossim, a supervisão possibilita
refletir sobre o processo terapêutico, as técnicas utilizadas e as questões éticas
envolvidas, o que contribui para o desenvolvimento profissional dos estudantes.
Esse espaço pode oferecer diversas modalidades de atendimento, como
atendimentos individuais, atendimentos em grupo, psicodiagnóstico, orientação
profissional e outras formas de intervenção. Destarte, para atender as
demandas da comunidade, é realizado um processo de triagem para avaliar a
adequação do atendimento às suas possibilidades. Esse processo é importante
56
para garantir que os clientes sejam atendidos por estudantes capacitados e
para evitar erros no encaminhamento. Tendo em vista isso, a clínica -escola é
de suma importância para a formação do psicólogo, nas quais o estudante
consegue na prática adquirir conhecimento e uma atuação profissional de
qualidade.

REFERÊNCIAS

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de Construção da Informação. Cengage Learning Brasil, 2012. E-book. ISBN
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Clínica Escola. Revista Brasileira de Psicologia, 2019, 45(2), 78-92.

58
CONCEPÇÕES SOBRE O LUTO EM TEMPOS DE COVID-19: SOB O VIÉS
PSICANALÍTICO

Gabriela Oliviera Lourenço1


Eduardo Toshio Kobori2

Palavras-chave: Luto; Rituais; Luto patológico; COVID-19; Sars-cov-2.

INTRODUÇÃO

Um dos impactos relevantes da Sars-cov-2, abreviação de Severe Acute


Respiratory Syndrome ou Síndrome Respiratória Aguda Grave, habitualmente
conhecida como COVID-19, deu-se substancialmente nas transformações das
relações sociais em um curto espaço de tempo. Diante do aumento abrupto no número
de infecções e mortes em nível global, foram propostas medidas restritivas de
distanciamento social até que surgissem medidas mais efetivas como vacinas e/ou
medicamentos. Do mesmo modo, as imposições corroboram para a acentuação ou o
desencadeamento de quadros depressivos, estresse, ansiedade, medos excessivos
e desesperanças, além da possibilidade de efeitos pós-traumáticos. Ademais, as
mortes repentinas e sequenciais, em alguns casos com mais de um membro da
mesma família, associadas ao contexto atemporal e instável, revelam-se
potencializadoras de sofrimento psíquico, o que pode favorecer o luto patológico
(CREPALDI, 2020; GIAMATTEY et al., 2021).
Consequentemente, a ausência da representação simbólica da perda devido
ao distanciamento social, habitualmente favorecida pelos rituais simbólicos de
despedidas, reverbera em incompletude mediante a vivência da perda, bem como
sentimentos de irrealidade ao inviabilizar o espaço para o compartilhamento de afetos.
Os rituais, enquanto mecanismo estruturante instituído na cultura, instaura a fase
inicial do luto, promovendo organização psíquica por meio dos atos simbólicos e
cerimonias religiosas ou culturais, ao retirarem o sujeito do silenciamento, conduzindo-
o, portanto, à elaboração do luto (DANTAS et al., 2020; CREPALDI et al., 2020;
GIAMATTEY et al., 2021)
Justifica-se essa investigação pela demanda em compreender fenômenos
provenientes do período pandêmico ainda emergentes na contemporaneidade.
Portanto, a sistematização das evidências é sustentada pela metodologia de Revisão
Sistemática de Literatura, ao proporcionar a análise crítica e interpretação dos
resultados. Além disso, a triagem dos artigos é fundamentada sob o referencial teórico
psicanalítico, o qual assegura a contemplação conceitual sobre o luto e as
ritualizações. A psicanálise, enquanto método científico que instiga o pensamento
crítico por intermédio de investigações e interpretações, conduz à atribuição de novos
significados, bem como distintas relações com as vivências (ZIMERMAN, 1999).

1 Graduanda em Psicologia, [email protected], tratamento e prevenção


2 Mestre em Psicologia, [email protected], tratamento e prevenção
59
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

A singularidade do processo do luto exige um tempo transitório, nada rígido ou


normativo, antes, exprime os modos de subjetivação de cada sujeito, bem como as
relações existentes com a perda, sendo parte integrante da análise discriminar quando
este processo deixa de ser legitimo para se tornar patológico. Nesse sentido, o
diagnostico diferencial, voltado para a compreensão do sujeito em sua totalidade,
deve atentar-se aos movimentos elaborativos que conduzem ao desinvestimento
libidinal e o reinvestimento em novos objetos, viabilizando a ressignificação da perda
com a abertura de novos vínculos (FREUD,2010). Sob essa perspectiva, percebe-se
que as impossibilidades dos rituais culturais de despedidas, no contexto da pandemia
da COVID-19, apresentam-se como complicadores no processo do luto, ao retirarem
parte desse processo estruturante o qual instaura a organização psíquica por meio da
verbalização e dos atos simbólicos constituídos nas cerimônias. Além disso, a
impossibilidade ou proibições promovem sentimento de culpa, tanto pela incapacidade
de controlar a infecção, quanto pelas idealizações de despedida do ente querido.
Tornam, assim, as tentativas de adaptações ao contexto inconcebíveis em termos
psíquicos (DANTAS et al., 2020; POLETTO, 2021; GIAMATTEY et al., 2022).

MATERIAIS E MÉTODOS

O método utilizado para o desenvolvimento do estudo que deu origem a este


recorte, pautou-se na Revisão Sistemática de Literatura que é definida por Costa e
Zoltowski (2014) como um método sintético sustentada pela reunião de evidências
científicas de forma cronológica, extração, análise reflexiva e crítica, a qual permite a
interpretação dos resultados. A partir desse pressuposto, inicialmente a triagem dos
materiais se deu predominantemente nas plataformas eletrônicas Scientific Eletronic
Library Online (SciELO) e Biblioteca Virtual em Saúde – Psicologia (BVS-PSI). Os
descritores, indexados e verificados junto ao DeCS (Descritores em Ciências da
Saúde), compõe-se de termos que contemplem o viés dessa análise: COVID-19, luto
e depressão, delimitados entre os anos de 2019 até maio de 2022. Acerca da extração
de dados, foram selecionados vinte e três artigos, sendo dezoito artigos da plataforma
ScieLo e cinco da BVS-PSI, dentre os quais cinco foram excluídos por inelegibilidade,
totalizando dezoito artigos incluídos. Constata-se com a apuração a predominância
heterogênica e qualitativa, refletindo em uma síntese narrativa.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

As sensações e sentimentos frente às perdas envolvem diversos fatores para


além da complexidade dos processos psíquicos, relacionando-se com o contexto e as
circunstâncias da morte. Nessa investigação constata-se o imperativo sob a dúvida
simbólica se de fato a morte ocorreu, já que a impossibilidade de materialização do
corpo e dos rituais culturais aparecem como entrave no processo. A negação da
morte, mecanismo de defesa primitivo, busca refrear sentimentos da situação
indesejada desse lugar de desproteção. A experiência insidiosa de perdas
60
sequenciais de membros da mesma família e amigos, transformam a dor,
intensificando o sofrimento (ALVES et al., 2021).
Nessa senda, o medo e sofrimento, associados ao cenário instável e atemporal,
irrompem de forma mais predominante nesse período, essencialmente pela maneira
como se percebe a morte e a ritualiza. Reflexo inevitavelmente sentido sob a
desestruturação da rede de afetos em relação às tentativas de inserção dos protocolos
de segurança sanitária. Embora o objetivo inicial das medidas sanitárias se destinasse
a diminuir a rápida transmissibilidade do patógeno, em contrapartida, provocou-se
pânico, medo e controle da população (SILVA; ESTELLITA-LINS, 2021).
A ansiedade e estresses surgem de forma significativa, corroboram para a
acentuação de quadros patológicos pré-existentes e desencadeiam transtornos
obsessivos compulsivos, sintomas repetitivos, hábitos ritualísticos de limpezas
excessivas e comportamentos fóbicos. Dadas manifestações emergem como tentativa
de contenção das angústias, não obstante, resultariam em mais angústia. Nesse
aspecto, as ausências das ritualizações impulsionariam tais quadros com a finalidade
de elaboração das perdas e vivências, todavia, afetam consideravelmente a qualidade
de vida. Quadros somáticos, estados depressivos, insônias e afetos de angústia
surgem em decorrência das desestabilizações socioeconômicas, como já constatado
em outras epidemias (PERES et al., 2021).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O processo quase infindável das elaborações das perdas, sendo inata aos seres
humanos, carregam simbolismos, significados culturais e refletem os modos de
subjetivação de cada sujeito, bem como as formas com que são elaboradas as perdas
atuais e futuras. Esse aspecto deixa evidente que o processo, sinuoso, requer tempo e
espaço particulares. No entanto, o contexto investigado ao promover alterações
socioculturais deixa lacunas nesse processo e desorganizam o sujeito, seja pelas perdas
simbólicas, pelas perdas de entes queridos de maneira súbita ou a associação de
diferentes fenômenos, como sentimentos de medo, estresses, culpa e negação da morte,
os quais podem favorecer um intenso sofrimento psíquico, resultando na complicação do
luto. Logo, foram verificados o desencadeamento ou acentuação de quadros depressivos,
compulsivos, e de ansiedade durante o período analisado. Portanto, o espaço para a
verbalização de afetos e/ou práticas de atos simbólicos se faz indispensável para a
estruturação da organização psíquica. Constata-se, assim, que estratégias precisam ser
traçadas para minimizar os sofrimentos no contexto pós-pandêmico.

REFERÊNCIAS

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sofrimento durante a pandemia. Cadernos de Saúde Pública [online]. v. 37, n. 9.
Disponível em: https://doi.org/10.1590/0102-311X00133221. Acesso em: 12 abr.
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sistemática. In: KOLLER, S. H.; COUTO, M. C. P.; HOHENDORFF, J. V. Manual de
Produção Científica. Porto Alegre: Grupo A, 2014.
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CREPALDI, M. A. et al. Terminalidade, morte e luto na pandemia de COVID-19:
demandas psicológicas emergentes e implicações práticas. Estudos de Psicologia
(Campinas). v. 37, 2020. Disponível em: https://doi.org/10.1590/1982-
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durante a pandemia. Revista Latino-americana de Psicopatologia Fundamental.
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FREUD, S. Luto e Melancolia. In: ______. Obras completas, volume 12: Introdução
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Tradução e notas Paulo César de Souza. São Paulo: Companhia das Letras, 2010b.

GIAMATTEY, M. E. P. et al. Rituais fúnebres na pandemia de COVID-19 e luto:


possíveis reverberações. Escola Anna Nery Revista de Enfermagem. Rio de
Janeiro-RJ, n. 26, esp., 2022. Disponível em:
https://www.scielo.br/j/ean/a/zGDv9BZ6Lc44fxJFBBz8ktC/?format=pdf&lang=pt.
Acesso em 04 abr. 2023.

PERES, R. S. et al. Evidências de validade de uma versão brasileira da Fear of


COVID-19 Scale. Ciência & Saúde Coletiva, v. 26, n. 8, p. 3255–3264 ago. 2021.
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POLETTO, A. A. A. Quando um morre e o outro sobra em vida: reflexões sobre a


morte em tempos de pandemia de covid-19. Estudos de Psicanálise. Rio de
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http://pepsic.bvsalud.org/pdf/ep/n55/n55a11.pdf. Acesso em: 05 abr. 2022.

SILVA, M. M.; ESTELLITA-LINS, C. A xawara e os mortos: os Yanomami, luto e luta


na pandemia da Covid-19. Horizontes Antropológicos, v. 27, n. 59, p. 267–285,
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Acesso em: 04 de abr. 2023.

ZIMERMAN, D. E. Fundamentos Psicanalíticos: teoria, técnica e clínica - uma


abordagem didática. Porto Alegre: Artmed,1999.

62
CONTRIBUIÇÃO DA ANÁLISE DO COMPORTAMENTO APLICADA (ABA) NO
TRATAMENTO DO TRANSTORNO DE ESPECTRO AUTISTA (TEA)

Luana Costa Rodrigues 1


Ana Elisa Vilas Boas 2

Palavras-chaves: Análise do Comportamento Aplicada - Análise do Comportamento


- Transtorno de Espectro Autista – Tratamento para TEA – Psicologia

INTRODUÇÃO

O Transtorno de Espectro Autista é uma condição crônica e incurável que traz


comprometimento em diversas áreas do desenvolvimento, principalmente no âmbito
da comunicação, socialização e comportamental. Exige cuidados da Psicologia, que
fornece um protocolo especializado e individualizado, visto que os níveis de prejuízos
variam para cada portador. De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU),
no mundo, há mais de setenta milhões de autistas. No Brasil, estudos consideram
27,2 casos para cada dez mil habitantes. As alterações no diagnóstico, o maior
conhecimento dos sintomas e o desenvolvimento de serviços especializados para
esse transtorno contribuem para o aumento (PINTO ET. AL; 2016). Os conceitos da
análise do comportamento, desenvolvidos por Skinner, têm contribuído para a
ampliação do repertório comportamental dos autistas, reduzindo comportamentos
inadequados e desenvolvendo outros mais funcionais
. Partindo desta explanação, este trabalho levanta a seguinte questão: como a
Análise do Comportamento Aplicada pode atuar no tratamento do transtorno de
espectro autista, de modo que contribua para sua aprendizagem e desenvolvimento
de habilidades, na formação de sujeitos funcionais e adaptados à vida cotidiana?
Como objetivos, busca-se compreender a contribuição e intervenção no tratamento e
desenvolvimento das crianças autistas, explicar como a Análise do Comportamento
Aplicada se desenvolveu e por que é indicada para o tratamento.

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

A Análise do Comportamento compreende o ser humano pela sua interação


com o ambiente, e entende a seleção por consequências como causalidade do
comportamento (MOREIRA; MEDEIROS; 2007). Nesse sentido, as consequências
influenciam a probabilidade de os comportamentos continuarem ou não a ocorrer. O
comportamento respondente de Skinner é a relação entre o estímulo e a resposta

1 Graduanda do Curso de Psicologia do Centro Universitário de Ourinhos. E-mail:


[email protected]
2 Psicóloga clínica e docente do Centro Universitário das Faculdades Integradas de Ourinhos, Brasil.

E-mail: [email protected]
63
(Moreira; Medeiros; 2007). Além dele, tem-se o comportamento operante, que produz
consequências (modificações no ambiente) que o afetam. Nesse sentido, é aqui que
a psicologia pode atuar manipulando consequências (reforço ou punição) do
comportamento e, com isso conseguindo modifica-lo (Moreira; Medeiros; 2007).
Portanto, a consequência da ação do sujeito influencia na repetição do
comportamento. Essa interação representa a relação de aprendizagem e todos os
indivíduos estão sujeitos e sensíveis a esse processo (MATOS; 2016).
Segundo Martins, Acosta e Machado (2016), o TEA é uma desordem do
neurodesenvolvimento e apresenta prejuízos nas áreas de comunicação, socialização
e comportamento, com padrões de comportamentos restritos e repetitivos. Os déficits
e excessos comportamentais que estão envolvidos são classificados como
comportamentos operantes (CRUZ; MOREIRA; 2021), estando, portanto, suscetíveis
à aprendizagem por consequências. No TEA, os níveis evolutivos, as necessidades
terapêuticas e educativas serão diferentes para cada portador (BARCELOS et al;
2020).). Portanto, os comportamentos, as habilidades, as preferências, as
necessidades de aprendizagem variam para cada criança (BOYD et al., 2008; LORD
et al., 2000). A Análise do Comportamento Aplicada vem comprovando sua eficácia
através da redução de sintomas em crianças autistas e promovendo o
desenvolvimento de diversas habilidades sociais, de comunicação e comportamentos
adaptativos. (HOWARD et al., 2005; LANDA, 2007; VIRUES-ORTEGA, 2010;
VISMARA; ROGERS, 2010). É aplicada de forma sistemática buscando ampliar o
repertório comportamental e as habilidades sociais, diminuir comportamentos
inadequados socialmente (BARCELOS ET AL; 2020) e auxiliar no desenvolvimento
de tolerância às frustrações e alterações em ambientes.

MATERIAS E MÉTODOS

O presente resumo é bibliográfico qualitativo, pois busca discorrer sobre as


contribuições de uma abordagem em uma temática específica, não apenas quantificar.
Utilizará como material um repertório bibliográfico através da leitura de livros e artigos
publicados de 2016 a 2023 em plataformas digitas co,mo Google Acadêmico e Scielo
que discorrerão a respeito do autismo, da Análise do Comportamento e da Análise do
Comportamento Aplicada e a suas possíveis intervenções, além de dados coletados
por instituições reconhecidas mundialmente, como a Center Of Diseases Control and
Prevention, dos Estados Unidos, e a Organização das Nações Unidas. Será norteada
pela teoria analítico-comportamental de Skinner a respeito dos conceitos básicos
como comportamento operante, reforço, aprendizagem por consequências etc.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

A intervenção baseada em ABA envolve identificar comportamentos e


habilidades que podem ser aperfeiçoadas, através do método sistemático de seleção
e descrição de objetivos, onde uma intervenção com estratégias comportamentais
sejam traçadas (CAMARGO; RISPOLI; 2013). É realizado uma coleta de dados antes,
durante e posteriormente à intervenção, para analisar o progresso individual do
paciente, auxiliar nas decisões relacionadas às intervenções e estratégias para a
64
promoção e aquisição das habilidades individuais (BAER, WOLF; RISLEY, 1968,
1987; HUNDERT, 2009). Portanto, a pergunta norteadora de como a ABA pode atuar
no tratamento do transtorno de espectro autista foi respondida, uma vez que a Análise
do Comportamento Aplicada (ABA), baseada nos princípios de Skinner, permite que o
analista do comportamento manipule as consequências e modifique os
comportamentos (Moreira; Medeiros; 2007), como os disfuncionais e operantes
envolvidos no TEA.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante das discussões aqui realizadas, entende-se que, diante dos critérios de
diagnóstico do Transtorno de Espectro Autista, isso é, os déficits, a Análise do
Comportamento (ABA), fundamentada nas concepções no Behaviorismo Radical de
Skinner, é a intervenção mais indicada para indivíduos portadores desse Transtorno.
O TEA interfere diretamente no comportamento, e a intervenção fundamentada na
ABA permite o manejo no repertório comportamental, ensinando comportamentos
adequados, as habilidades adaptativas sociais e enfraquecendo comportamentos
inadequados socialmente.

REFERÊNCIAS

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67
DEPRESSÃO: SOFRIMENTO FÍSICO E PSÍQUICO DOS TRABALHADORES DA
MARUGADA

Wátila de Araújo Brito Lopes¹


Ricardo da Silva Franco²

Palavras-chave: depressão; ansiedade; trabalhador; análise do comportamento;


comportamento.

INTRODUÇÃO

O presente trabalho objetivou compreender como a análise do comportamento


entende a depressão e todo sofrimento psíquico e físico que ela acarreta no
trabalhador. Nesse sentido, primeiro foi feito um levantamento dos conceitos básicos
da análise do comportamento. Após esta revisão, discutiu-se qual é a compreensão
da depressão pela análise do comportamento.
Para tal, a metodologia adotada foi a pesquisa bibliográfica. Nesse sentido, a
análise do comportamento entende que a depressão consiste em um aglomerado
complexo de comportamentos, para o qual torna-se necessário utilizar a análise
funcional dessa interação e relacionar ao contexto individual que ele acontece e para
seu tratamento existem controvérsias, o que vem se vem mostrado eficaz é a terapia
principalmente a cognitiva comportamental e os antidepressivos administrados juntos.
A depressão ligada ao mercado de trabalho pode ser dividida em situacional e
estrutural, onde a primeira está diretamente relacionada ao surgimento da patologia e
na outra é responsável pelo aparecimento dos sintomas da patologia já existente. A
depressão está diretamente relacionada ao estresse, ao esgotamento e a satisfação
no exercício profissional e uma das principais causa de pedido de demissão é a
ansiedade que é recorrente de estresse, falta de reconhecimento e o excesso de
tarefas. O sujeito depressivo é prejuízo para ele mesmo, para seus patrões e para as
contas públicas.

REFERENCIAL TEÓRICO

Existem dois tipos de comportamento para ajudar a compreender ocorre os


processos complexos do comportamento de todos os organismos, seja ele humano
ou não. O primeiro é o comportamento respondente que é a relação ambiente
(estímulo) e o organismo (resposta), mas que não alcança toda a complexidade do
comportamento, e este é representado pela contingência S→R. O outro é o
comportamento operante, o qual implica em uma resposta do organismo que produz
uma mudança no ambiente chamada de consequência e será controlado por elas, e
sua contingencia será R→S ou R→C. posteriormente o comportamento operante
passou a ser descrito com três termos ao invés de dois, sendo representado da
seguinte forma: A−R→S, foi acrescentado o estímulo antecedente que é o contexto
68
que o comportamento acontece é a consequência é o que vem depois, sendo assim,
todo comportamento é analisado por essa tríplice de contingencia, sendo essa a
unidade básica de análise.
O comportamento está sujeito a passar por alguns processos, sendo esses, o
reforçamento, a extinção, a modelagem e a punição. O reforçamento pode ser positivo
que é quando será acrescentado um estímulo reforçador ao comportamento ou pode
ser o reforço negativo, onde é retirado um estímulo aversivo. O reforçamento ele
aumenta a probabilidade de o comportamento acontecer novamente. A extinção é
quando acontece uma ruptura entre comportamento e consequência, devido à falta
de reforçamento, então se percebe a diminuição na frequência em que o
comportamento acontece. A modelagem é uma forma de aprender novos
comportamentos, é um procedimento de reforçamento diferencial que fará
aproximações contínua de um comportamento alvo, e quando acontece o
comportamento desejado, ocorre o reforço para que este continue acontecendo. E a
punição diminui a probabilidade de o comportamento voltar a se repetir e assim como
no reforço a punição também é positiva e negativa.
A punição positiva acontece à adição de um estímulo aversivo, na intenção de
diminuir a frequência do comportamento, enquanto na punição negativa acontece a
retirada de um reforçador na mesma intenção de diminuir o comportamento
indesejado, mas existe um risco desse comportamento retornar com a retirada da
contingência punitiva. Uma diferença entre extinção e punição é que enquanto na
extinção o comportamento vai diminuindo aos poucos, na punição eles são suprimidos
rapidamente, pois punir é mais fácil e rápido, porém não é eficaz. Quem executa a
punição pode se tornar um estimulo condicionado que irá elicia respostas emocionais,
no caso o sujeito punido pode sentir medo ou raiva daquele que o puniu mesmo em
situações onde não esteja sendo punido, isso é resultante do controle aversivo e esse
controle gera uma resposta de contracontrole na intenção de fugir ou de se esquivar
de algum aversivo que foi colocado por outro indivíduo, e a contingencia de fuga é
quando já existe um aversivo no ambiente e o comportamento vai retira-lo, enquanto
na contingencia de esquiva o comportamento vem na intenção de adiar ou mesmo de
evitar o contato com o estimulo aversivo. Outro controle aversivo é o reforço negativo.

METODOLOGIA

Trata-se de uma pesquisa bibliográfica. Conforme Lima e Mioto (2007)


ponderam, este tipo de pesquisa implica na produção de uma síntese com base numa
reflexão crítica que acontece a partir do levantamento de referências teóricas já
existentes que foram publicadas em meios impressos e eletrônicos.

DISCUSSÃO

A depressão sobre a perspectiva da análise do comportamento, iremos nos


debruçar agora sobre esse tema. A depressão é um aglomerado complexo de
comportamentos, um tipo de interação com os ambientes onde o sujeito está inserido.
Então para compreender o comportamento depressivo é necessário utilizar uma
análise funcional dessa interação e relacionar ao contexto individual que ele acontece.
69
E para o tratamento, vão existir controvérsias, mas um meio que vem se
mostrando eficaz contra a depressão mesmo ela sendo severa é a terapia
principalmente a cognitiva comportamental e os antidepressivos quando
administrados juntos.
A depressão não possui dentro da análise do comportamento uma explicação
adequada sobre ela e seu tratamento mesmo existindo pesquisas e os levantamentos
de dados que são utilizados para as intervenções, ainda assim existe essa falha. Os
focos não levam em conta as interações ambiente-comportamentos, mas estão nos
atos biológicos e cognitivos. Existem dois aspectos que são considerados problema
na perspectiva analítico-comportamental e este são a noção da motivação interna que
gera o comportamento e conseguir definição da depressão através dos sintomas. O
DSM-IV (1994), diz que o transtorno depressivo, incluir humor deprimido, falta de
animo, alteração no sono, aceleração ou ansiedade, sentir-se inútil, entre outros.
Para o Behaviorismo Radical o comportamento será definido através das
interações com o ambiente externo tendo como base os níveis de seleção que são a
filogênese, a ontogênese e o cultural e a depressão precisa ser compreendido por
meio da análise das contingências que as mantem, ela pode ser descrita como sendo
um padrão de interação do ambiente e como um produto de seleção, isso antes de
ser tida como patológica.
Na comportamental é mediante as contingências sociais que os indivíduos vão
reagir de maneira própria a suas situações corporais, entretanto, isso acontece de
maneira verbal. É necessária a interação e vivencia com o estimulo verbal, caso
contrário o sujeito não terá recursos para identificar e até descrever o que ele sente.
Automaticamente o que ele sente não passará de alterações fisiológicas que ele não
conseguirá identificar.
No transtorno depressivo pode ser encontrado o estado menor, o breve e o
maior. No menor a diferença esta no grau de severidade que será menor, no breve a
duração será menor e no maior a severidade é maior, mas ambos são definidos pelos
mesmos critérios. No caso da depressão maior encontramos três níveis, sendo o leve
é quando o comprometimento do indivíduo será pouco, já o moderado e o severo é
onde ocorrem os delírios e alucinações, estes possuem aspectos que são psicóticos.
O transtorno depressivo maior terá maior ocorrência em mulheres, mas não se sabe
a causa, existe especulações que seja pela cultura que faz os homens manterem suas
emoções reprimidas e o mesmo não é exigido ou cobrado das mulheres, isso de
acordo com o DSM-IV e o CID-10.
A pessoa que é depressiva vai ter uma alta ocorrência de irritabilidade, choro,
diminuição de interesse por algumas atividades e isso afetará seu comportamento.
Para o surgimento e a manutenção da depressão é necessário que tenha uma falta
de reforço social e este é gerado entre outros fatores por um conjunto social
inadequado. O indivíduo depressivo vai evitar e afastar daquilo que é aversivo para
ele e a interação social se torna um desses aversivos a serem evitados.
Possuir vários reforçadores que seriam bons para prevenir a depressão, pois
na falta ou perda de um reforçador o sujeito teria outro para fazer a substituição, por
mais que essa perda seja muito difícil. A depressão ela pode ser crônica, sendo
resultado de punições prolongadas e inevitáveis ligadas a abusos físicos e/ou sexuais

70
ainda na infância ou ligadas a pais extremamente exigentes e críticos, esse sujeito
poderá sofre com depressão crônica.
O transtorno depressivo influencia em todos os âmbitos da vida do sujeito, e
isso inclui a sua vida profissional, a depressão ligada ao mercado de trabalho ou
ocupacional pode ser dividida com situacional e estrutural. Na situacional o
desenvolver das atividades vão proporcionar o aparecimento, o surgimento da
patologia, nessa perspectiva a depressão é considerada leve, pois é possível que o
trabalhador desenvolva formas para supera-la. E na estrutural as atividades
desenvolvidas pelo trabalhador trarão a tona os sintomas do transtorno já existente,
nessa perspectiva a depressão é considerada grave, por que o trabalhador perde o
controle de si. A depressão está diretamente ligada ao estresse, ao esgotamento, a
satisfação no exercício profissional e outros. Uma das causas para que o trabalhador
peça demissão das suas funções é a ansiedade, sendo esta gerada por estresse,
excesso de tarefas, falta de reconhecimento etc. Os conflitos interprofissionais,
salários baixos, falta de lazer também aparecem como causadores para o aumento
de casos de ansiedade.
A ansiedade vai influenciar de forma considerável na vida do trabalhador e na
rotina das pessoas que fazem parte do seu convívio, é necessário que seja tratado
para que não se torne algo crônico. O trabalhador que esteja sofrendo de depressão
e ansiedade, o risco de ser afastado do seu trabalho é maior, lembrando que o
funcionário adoecido com esses transtornos também é ruim para o seu empregador,
essa condição de seu funcionário poderá acarretará em queda na produtividade, gerar
rotatividade, absenteísmo e outros, caso esse funcionário deixe seu emprego, isso
será ruim para o governo também, pois este indivíduo estará desempregado é
necessitará fazer uso de serviços e assistências públicas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com base na perspectiva da análise do comportamento esse trabalho foi


desenvolvido para compreender como essa abordagem compreende a depressão em
pessoas ligada ao mercado de trabalho e como essa patologia afeta a vida desses
indivíduos. Desse modo, a intenção ao desenvolver essa pesquisa é contribuir para o
tratamento e o diagnóstico desse transtorno, de modo a trazer também uma
conscientização para o próprio sujeito e para os indivíduos dos ambientes familiar e
principalmente ocupacional, sobre as causas e efeitos da patologia sobre a pessoa
que a possui.

REFERÊNCIAS

ASSOCIAÇÃO AMERICANA DE PSIQUIATRIA. Manual diagnóstico e estatístico


de transtornos mentais- DSM. 4 ed. Tradução Dayse Batista. Porto Alegre: Artes
Médicas, 1995

BAUM, William M./ Compreender o Behaviorismo: comportamento, cultura e


evolução. 2°. ed. rev. e aum. Porto Alegre: Artmed, 2006. 312 p. v. 23cm.ISBN 978-
85-363-0697-1.
71
CAVALCANTE, S. N.. Notas sobre o fenômeno depressão a partir de uma perspectiva
analítico-comportamental. Psicologia: Ciência e Profissão, v. 17, n. 2, p. 2–12, 1997.

DOUGLER, M.J.& HACKBERT, L. (1994). A behavior-analitic account of depression


and a case report using acceptance-based procedures. The Behavior Analiyst,
17,321-334.

LIMA, T. C. S.; MIOTO, R. C. T. Procedimentos metodológicos na construção do


conhecimento científico: a pesquisa bibliográfica. Revista Katál, v. 10, n. esp., p. 37-
45, 2007.

MOREIERA, M. B.; MEDEIRO, C. A.. Princípio básicos de análise do


comportamento.-2.ed.-Porto Alegre:Artmed,2019.e-PUB.

RÉGIS FILHO, G. I.. Síndrome da Má-adaptação ao trabalho em turnos: uma


abordagem ergonômica. Production, v. 11, n. 2, p. 69–87, jul. 2001.

RIBEIRO, H. K. P. et al.. Transtornos de ansiedade como causa de afastamentos


laborais. Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, v. 44, p. e1, 2019.

SKINNER, B. F.; Ciência e comportamento humano.-11° ed.- São Paulo: Martins


Fontes, p.16, 2003.

SILVA, G. G. J. et al.. Considerações sobre o transtorno depressivo no trabalho.


Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, v. 34, n. 119, p. 79–87, jan. 2009.

72
DIAGNÓSTICO PRECOCE DO TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA: QUAL
A IMPORTÂNCIA PARA O PROGNÓSTICO

Rafaela Barcelar Teixeira1


Ana Elisa Vilas Boas2

Palavras-chave: Diagnóstico precoce; TEA; autismo; autismo em adultos;


prognóstico autismo.

INTRODUÇÃO

De acordo com o DSM 5-TR (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos


Mentais) o Autismo ou Transtorno do Espectro Autista (TEA) é um transtorno do
neurodesenvolvimento, ou seja, precisa necessariamente apresentar seus sintomas
na infância, caracterizado por desenvolvimento atípico, prejuízos persistentes na
comunicação e na interação social e padrões de comportamentos repetitivos e
estereotipados, podendo apresentar um repertório restrito de interesses e atividades.
E é subdividido em níveis:
• Nível 1 – Exigindo apoio
• Nível 2 – Exigindo apoio substancial
• Nível 3 – Exigindo apoio muito substancial

No presente trabalho será utilizada a classificação do DSM 5-TR e abordado


apenas o nível 1 de apoio, que segundo o DSM 5-TR apresenta as seguintes
características:

Na ausência de apoio, déficits na comunicação social causam


prejuízos notáveis. Dificuldade para iniciar interações sociais e
exemplos claros de respostas atípicas ou sem sucesso a aberturas
sociais dos outros. Pode parecer apresentar interesse reduzido por
interações sociais. Por exemplo, uma pessoa que consegue falar
frases completas e envolver-se na comunicação, embora apresente
falhas na conversação com os outros e cujas tentativas de fazer
amizades são estranhas e comumente mal sucedidas. Inflexibilidade
de comportamento causa interferência significativa no funcionamento
em um ou mais contextos. Dificuldade em trocar de atividade.
Problemas para organização e planejamento são obstáculos à
independência. (DSM 5-TR, tabela 2, pág. 58, 2023).

1 Graduanda do curso de Psicologia do Centro Universitário das Faculdades Integradas de Ourinhos.


Email: [email protected]
2 Psicóloga clínica e docente do Centro Universitário das Faculdades Integradas de Ourinhos, Brasil.

E-mail: [email protected]
73
Schmidt (2017) salienta que em adultos há uma pobreza enorme na vida social,
independente e educacional, assim como nas relações de trabalho, isso somado ao
fato de o transtorno, por ser uma condição da infância, despertar maior interesse em
estudos nesse público, deixando de lado o público adulto, que muitas vezes passa a
vida sem ter diagnóstico, ou sem ter políticas públicas para melhora na qualidade de
vida.
Por essa perspectiva observa-se a importância de estudar sobre o prognóstico
quando acontece um diagnóstico tardio e o quanto é importante na vida da pessoa
essa descoberta.
O objetivo deste estudo é entender quais os prejuízos causados na vida do
adulto autista nível 1 por não ter recebido diagnóstico precoce, investigar o
funcionamento desse público, seus desafios e suas relações sociais.
O presente trabalho será feito a partir de um estudo bibliográfico com revisão
de literatura, utilizando as bases de dados Scielo, Google Acadêmico, Pubmed e
Cochrane Library, bem como consulta aos manuais descritores e livros relacionados
ao tema, pesquisando sobre diagnóstico precoce do TEA, o funcionamento de adultos
autistas nível 1 de suporte, quais suas dificuldades e em que implicam no seu dia a
dia.

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Os estudos sobre o autismo começaram há muitos anos e foram avançando


conforme cresceram as pesquisas na área. As primeiras publicações existentes sobre
o tema foram de Leo Kanner (1943) e Hans Asperger (1944). Rincón-Rufo et al. (2022)
comentam que possivelmente o primeiro caso descrito de uma criança com
características autísticas é datado do século XVI, por Johannes Mathesius (1504 –
1565) que escreveu a história de um menino de 12 anos com sintomas graves que se
assemelhavam ao autismo.
Em 1943, Leo Kanner publicou o primeiro estudo mais aprofundado sobre o
tema, com a obra “Distúrbios Autísticos do Contato Afetivo”, sendo pioneiro em realizar
as primeiras investigações sobre o autismo. De acordo com ele, o transtorno era uma
incapacidade de estabelecer laços sociais. Depois de Kanner, foi a vez de Hans
Asperger (1906-1980) escrever sobre o tema, em 1944, com a publicação do artigo “A
psicopatia autista na infância” estudando quatro jovens. Neste momento, Hans ainda
não havia tido acesso ao estudo de Kanner e, coincidentemente, também nomeou os
sintomas como sendo parte do autismo.
Em 2013, com o lançamento do novo DSM-5 no Brasil, todas as subcategorias
de autismo passam a agrupar em apenas um diagnóstico: Transtorno do Espectro
Autista, considerado um transtorno do neurodesenvolvimento, apresentando 3 níveis
de gravidade.
A ciência ainda não descobriu a etiologia do transtorno, mas já se sabe que
existem muitos genes envolvidos na aparição do TEA, sendo um transtorno grande
parte de origem genética: “Os estudos da herdabilidade genética do TEA variam de
40% a 90%, com as estimativas mais recentes em quase 50% de responsabilidade
genética. A contribuição genética para o TEA ocorre por meio de um grupo
diversificado de mecanismos mutacionais ao longo de muitas vias biológicas.”
74
(SANCHACK, THOMAS, 2016, p. 972), além de outros fatores de risco
biopsicossociais como a idade avançada dos pais, prematuridade, complicações no
parto, entre outros.
Os estudos demonstram que é possível obter avanços substanciais por meio
de intervenção comportamental intensiva iniciada antes dos 24 meses de idade, uma
vez que a plasticidade neural nessa fase é maior e os comportamentos desafiadores
são menos predominantes. É crucial que a intervenção precoce efetiva seja iniciada
logo após o diagnóstico, sendo individualizada, intensiva e abrangente, isso inclui a
educação dos pais e intervenção comportamental. (ZACHOR, 2012).
Sanchack e Thomas (2016) explicam que o número crescente de evidências
aponta que a intervenção comportamental intensiva precoce, utilizando a Análise do
Comportamento Aplicada (ABA), tem o potencial de melhorar a capacidade cognitiva,
a linguagem e as habilidades adaptativas. O prognóstico é significativamente
influenciado pela gravidade do diagnóstico e pela presença de deficiência intelectual.
Crianças que alcançam resultados mais positivos tendem a receber intervenções
comportamentais mais precoces e intensivas, reduzindo a necessidade de tratamento
farmacológico.
O benefício do diagnóstico precoce de TEA se deve à aplicação de
intervenções direcionadas ao TEA durante os primeiros períodos de desenvolvimento,
onde a plasticidade cerebral e a flexibilidade comportamental estão no auge. Períodos
iniciais de desenvolvimento com extensa exploração, flexibilidade comportamental e
notável capacidade de aprendizado são seguidos de maturação, que reduz a
plasticidade e a flexibilidade para solidificar o conhecimento. (GABBAY-DIZDAR et al.
2022).

MATERIAIS E MÉTODOS

Para atingir os objetivos propostos foi realizada uma pesquisa qualitativa feita
a partir de revisão bibliográfica. Utilizando para fundamentação teórica revistas
científicas, livros impressos, artigos científicos disponíveis nas bases de dados Scielo,
Pubmed, Cochrane Library. Foram utilizados materiais nas línguas portuguesa,
espanhola e inglesa. Observando em cada material qual o impacto do diagnóstico
precoce do autismo e como isso implica no prognóstico.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Com a presente pesquisa foi possível observar a importância da intervenção


precoce no tratamento do transtorno do espectro autista, uma vez que está
intrinsicamente ligada ao bom prognóstico. Os estudos apontaram que quando o
tratamento se inicia antes dos 2 anos a evolução observada no desenvolvimento da
criança é maior com relação àqueles que iniciaram mais tarde.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

No primeiro momento a proposta de pesquisa seria encontrar as implicações


do não diagnóstico precoce para a vida do adulto autista, no entanto, encontrou-se
75
grande dificuldade na pesquisa de materiais bibliográficos com o tema, de pesquisas
robustas e científicas. Por isso decidiu-se focar no diagnóstico precoce e efeitos dele
no prognóstico.
Observou-se a necessidade de mais pesquisas e estudos que abordem o
prognóstico do TEA para a vida de adultos, suas relações sociais e implicações na
sua saúde mental, uma vez que é grande a incidência de outros transtornos mentais
como comorbidades associadas ao autismo.

REFERÊNCIAS

AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Manual diagnóstico e estatístico de


transtornos mentais: DSM-5. 5.ed. rev. Porto Alegre: Artmed, 2014.

AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Manual diagnóstico e estatístico de


transtornos mentais: DSM-5-TR. 5.ed. rev. Porto Alegre: Artmed, 2023.

GABBAY-DIZDAR, N.; ILAN, M.; MEIRI, G.; FAROY, M.; MICHAELOVSKI, A.;
FLUSSER, H.; MENASHE, I.; KOLLER, J.; ZACHOR, D. A.; DINSTEIN, I. Early
diagnosis of autism in the community is associated with marked improvement
in social symptoms within 1-2 years. Autism. 2022 Aug;26(6):1353-1363. doi:
10.1177/13623613211049011. Epub 2021 Oct 8. PMID: 34623179; PMCID:
PMC9340129. Disponível em: < https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/34623179/>.

RINCÓN-RUFO, D. et al. Prediction of Communicative Disorders Linked to


Autistic Spectrum Disorder Based on Early Psychomotor Analysis. Madri:
Children, 9, 397, 2022. Disponível em: <https://doi.org/10.3390/children9030397>.

SANCHACK, K. E., THOMAS, C. A. Autism Spectrum Disorder: Primary Care


Principles. Am Fam Physician. Pág. 972-980. 2016 Dez. Disponível em:
<https://www.aafp.org/pubs/afp/issues/2016/1215/p972.html>.

SCHMIDT, C. Transtorno do Espectro Autista: Onde estamos e para onde vamos.


Psicologia em estudo, Maringá, v. 22 n. 2, pág. 221 – 230, abr./jun. 2017.

ZACHOR, D. A. Autism spectrum disorders: a syndrome on the rise: risk factors


and advances in early detection and intervention. Harefuah. 2012 Mar. Hebrew.
Disponível em: < https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/22519265/>.

76
MODOS DE PRODUÇÃO DA SUBJETIVIDADE NA ATUALIDADE

João Batista Albano 1


Eduardo Toshio Kobori 2

Palavras-chave: Propósito; Sentido de vida; Produção; Capitalismo;


Criatividade.

INTRODUÇÃO

Entender a lógica da subjetivação do sujeito na contemporaneidade é


uma maneira de auxiliar na qualidade de vida e na realização pessoal dos
indivíduos. O final do século XX e o início de século XXI se caracterizam por
doenças psíquicas como a depressão, o Transtorno de déficit de atenção e
hiperatividade (TDAH), a Síndrome de burnout e a Síndrome de personalidade
limítrofe. Qual a razão de estarmos tendo um aumento neste tipo de quadro
patológico (Han, 2017, p.1).
“A dez mil anos após o nascimento das civilizações históricas” (Morin,
2022, p. 56) a humanidade domesticou as sementes e os animais e, a partir
disso precisou proteger sua tribo, terra, ferramentas de invasores e lutar pela
sobrevivência do clã. Isso nos tornou ocupados demais tentando cumprir c om
nossas tarefas e saldar nossos compromissos. E a partir desse novo modo de
estar no mundo deixamos de lado atividades e vivencias que nos completavam
e abasteciam emocional e psiquicamente.
Diante disso, nossa pesquisa buscou, através de publicações so bre o
tema, entender os motivos que levaram os sujeitos, de maneira geral a
investirem em objetivos mais imediatos esquecendo dos propósitos coletivos
com maior sentido existencial. Buscamos entender possibilidades que abram
caminho dentro de perspectivas que não descartem as necessidades de
sobrevivência, ou seja, aponte para a possibilidade de encontrar sentido e
propósito inserido numa vida burguesa sem sentido e sendo produtivo.

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Em A sociedade do cansaço, Han traz o adoecimento psíquico devido ao


foco absoluto no trabalho e no desempenho. Isso é corroborado por Camus que
nos apresenta um homem moderno carregando o fardo do trabalho em sua obra

1 Graduando do curso de Psicologia do Centro Universitário de Ourinhos, email:


[email protected]
2 Psicólogo (Unesp), mestre e doutor em Filosofia (Unifesp), professor do curso de Psicologia do Centro

Universitário de Ourinhos, email: [email protected]


77
O Mito de Sísifo, onde sem perspectivas existenciais não lhe resta razões para
viver.
Esta construção ou se preferirmos esta desconstrução do indivíduo se
acentua a partir do advento do neoliberalismo que são relatados no livro
Neoliberalismo como gestão do sofrimento psíquico organizado por Safatle,
Dunker e Silva Junior. Em Freud foi possível utilizar o pensamento de que “se
a vida não tiver finalidade, perderá qualquer valor” (Freud, 2020, p. 19).
Em A morte é um dia que vale a pena viver a médica de cuidados
paliativos diz que “o que você viveu não é tão important e quanto pensar em
como você viveu ou para que você viveu” (Quintana, 2019, p. 176) reforçando
a importância de um propósito de vida e o reflexo disso em nossa existência.
Contardo Calligaris traz a percepção de que “a terapia acaba sendo um
trabalho quase estético, um trabalho de recriação narrativa de uma vida, que
dá atenção a uma vida de tal forma que ela se valoriza” (Calligaris, 2023, p.
71).
Por fim, o livro Tudo começa em casa de Donald W. Winnicott mostra-nos
que a criatividade precisa ser vivida, é necessário que criemos e
ressignifiquemos para dar sentido a uma vida que valha a pena.

MATERIAIS E MÉTODOS

A pesquisa foi feita a partir de Livros, artigos e publicações que


abordassem o tema, o modo de subjetivação na sociedade atualmente e toda s
as consequências que o atual modelo vem acarretando nos indivíduos. Para
tanto foram utilizados o Google acadêmico, o Scielo e livros publicados sobre
o tema.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

“O fato de não conseguirmos definir o sentido da vida (ou que não


sabemos inventá-lo) se transforma numa dolorosa aflição que nos define”
(Calligaris, 2023, p. 84). Estamos de tal maneira envolvidos no trabalho e no
desempenho que não sobra espaço na agenda para a contemplação ou tempo
para aquele ócio onde se produz e se cria. O sistema privilegia e valoriza a
produção excluindo do processo os indivíduos que não o fizerem. Parametriza -
se a realização pelo desempenho que “funciona atualmente como medida do
sucesso e do fracasso dos indivíduos em uma sociedade que se compõe, pois,
de ‘vencedores’ e de ‘perdedores’” (Corbanezi, 2018 p. 347)
Todo propósito tem a particularidade de ser pessoal. Cada indivíduo vai,
dentro de sua subjetividade, ter uma razão para seguir seu propósito. Assim
devemos pensar em uma educação que desenvolva, que não esteja direcionada
apenas para o conhecimento técnico-econômico e, para isso “é necessária uma
noção mais rica e complexa do desenvolvimento, que seja não somente
material, mas também intelectual, afetiva, moral...” (Morin, 2022, p.60)
A religião que durante muito tempo fez parte do sentido e respondeu às
muitas questões, hoje já não ocupa o espaço que auxilie nessa perspectiva. O
78
mercantilismo, fundamentalismo religioso e o sistema burguês de vida retiraram
o aspecto transcendental da fé. Isso porque não se busca conexão com a
espiritualidade, mas porque precise repetir a competitividade que vivencia no
processo de produção e consumo. “Fazemos parte de uma cultura que acredita
que tudo pode dar certo dependendo das vantagens de um determinado
comportamento religioso” (Quintana, 2019, p. 116).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O sujeito de nossos tempos se afastou de um sentido para viver. O


excesso de trabalho, a sedução do consumo, o fantasma da auto superação
como fonte de realização pessoal, o distanciamento do coletivo e a
consequente deturpação da espiritualidade uma subjetividade onde deixamos
de experimentar nossa humanidade.
É possível aliar um sentido mesmo vivendo o cotidiano, afinal “um ser
humano participa do curso evolutivo da humanidade, enquanto segue o seu
caminho de vida” (Freud, 2011, p. 88). Encontrar sentido e propósito diz
respeito a criar. É descobrir, inventar, fazer do nosso jeito, produzir algo novo
mesmo sendo inédito apenas para nós.
Se a psicologia visa dar ao indivíduo condições de responsabilizar -se
então, a assunção de um propósito materializa esta responsabilidade quando
subjetivamente o sujeito traz para si o compromisso por algo personificado em
uma pessoa, grupo, ideologia, fé ou objeto. “A especialidade do terapeuta é
buscar entender como valorizar a vida concreta, sem precisar de uma
transcendência” (Calligaris, 2023, p. 71).
Adquirir um propósito é almejar a evolução, o desenvolvimento, o
aperfeiçoamento de algo além do sujeito e, se podemos ser responsáveis por
algo fora de nós podemos também assumir a responsabilidade pelo que será
de nós.

REFERÊNCIAS

ARANTES, A. C. Q. A morte é um dia que vale a pena viver. Ed. 1. Rio de


Janeiro: Sextante, 2016.

Bíblia de Estudo Plenitude. Ed. 1. SBB: São Paulo, 2001.

CALLIGARIS, C. O sentido da vida. Ed. 1. São Paulo: Planeta, 2023.

CAMUS, A. O mito de Sísifo. Ed. 1. Rio de Janeiro: Record, 2021.

COLLODI, C. Pinóchio. Vol. 480. Porto Alegre: Ed. Newtec, 2014.

CORBANEZI, E. (2018). Transtornos depressivos e capitalismo


contemporâneo. Caderno CRH: Salvador, v. 31 n. 83, p. 335–353, mai/ago
2018. Disponível em:
79
https://www.scielo.br/j/ccrh/a/rkPjhVztHdwQ5Rp4WwcPv7x/?lang=pt# . Acesso
em: 09 mai 2023

CORREIA, B. De burnout a depressão: doenças psicológicas ligadas à vida


profissional. Revista Exame. Disponível em https://exame.com/carreira/de-
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81
NARCISISMO E AUTOESTIMA: UMA VISÃO PSICANALÍTICA SOBRE AS
POSSÍVEIS FALHAS NARCÍSICAS E OS IMPACTOS NA AUTOESTIMA DO
ADOLESCENTE

Giovana Campos Theodoro1


Eduardo Toshio Kobori2

Palavras-chave: Autoestima. Autoimagem. Narcisismo. Psicanálise. Psicologia.

INTRODUÇÃO

O termo “Narcisismo” vem, a princípio, da descrição clínica feita por P. Näcke,


em 1899, para designar a conduta em que o indivíduo trata o próprio corpo, como se
este fosse um objeto sexual (FREUD, 1914-1916/2010, p.14). Sigmund Freud utiliza
o termo narcisismo, inicialmente, para explicar a escolha do objeto dos homossexuais
e discorrer sobre estudos relacionados à esquizofrenia e psicose. Entretanto, a
descoberta do narcisismo, leva Freud a propor a existência de uma fase da evolução
sexual intermediária entre o autoerotismo e o amor de objeto (LAPLANCHE;
PONTALIS, 2022, p.287). Em psicanálise, podemos salientar que o narcisismo é a
condição necessária para a subjetividade e posteriormente, é a partir do narcisismo
que irá abranger a formação e constituição da instancia egóica do Eu. É também a
partir do narcisismo que desenvolvemos os nossos parâmetros ideais, desejos e
sonhos, e estamos a todo momento desejando, idealizando, pois, somos movidos
pelos desejos.
O presente estudo abrange uma relação entre a teoria psicanalítica do
narcisismo e a constituição da autoestima3, tem como foco contribuir para a
compreensão da construção da autoestima do adolescente na atualidade. Objetiva-se
explanar ao longo desta pesquisa, como nossas escolhas de vida são influenciadas
pelas escolhas objetais narcísicas inconscientes, movidas pelas pulsões.
Destacamos também o desenvolvimento emocional, que é parte fundamental
para a constituição da autoestima. De acordo com James (1890), a autoestima pode
ser caracterizada como uma questão que engloba as dimensões sociais, mas, além
disso, abrange múltiplos fatores, ou seja, um conjunto de características subjetivas
1 Graduada em Licenciatura em Pedagogia pelo Centro Universitário de Ourinhos UNIFIO (2018),
graduanda em Psicologia pelo Centro Universitário de Ourinhos UNIFIO (2023). Email:
[email protected].
2 Graduado em Psicologia pela Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” UNESP,

especialista em História, Arte e Cultura pela Universidade Estadual de Ponta Grossa UEPG, mestre e
doutor em Filosofia pela Universidade Federal de São Paulo UNIFESP, Professor do curso de
Psicologia do Centro Universitário de Ourinhos UNIFIO (2023). Email: [email protected].
3 Desde o início da nossa pesquisa, elucidamos que cada processo de constituição e construção da

autoestima é único, considerando os aspectos da subjetividade e as questões biológicas, psicológicas


e sociais. A nossa explanação se baseia em estudos e referenciais teóricos que podem influenciar na
constituição da autoestima, nossa intenção não é generalizar.
82
que englobam a singularidade do sujeito. Além disso, Vasco (2009) defende a ideia
de que o bem-estar dos indivíduos depende da capacidade de regulação de
polaridades dialéticas, dentre elas, a autoestima, que envolve a capacidade de estar
satisfeito consigo e se auto estimar.

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

A partir de um viés psicanalítico, quando falamos em narcisismo, estamos


falando também em investimentos libidinais, Freud (1914/2010) explica que
inicialmente os investimentos libidinais são direcionados ao Eu onipotente e
posteriormente cedido aos objetos. Green (1988) destaca o que podemos entender
com o narcisismo primário: a organização das pulsões sexuais, estendem-se em
investimento unitário ao Eu. Contudo, Laplanche e Pontalis (2022 p.290) abrangem
em sua explanação, que o narcisismo primário designa um estado precoce em que a
criança investe toda a sua libido em si mesma.
Dando prosseguimento, o processo de narcisismo secundário, se designa por
um retorno ao Eu dos investimentos da libido que agora são cedidos aos objetos
(LAPLANCHE; PONTALIS, 2022, p.287-290). O Pai da Psicanálise compreende o ego
como um grande reservatório libidinal, sendo que a libido é direcionada aos objetos e
então abre-se a possibilidade de o ego absorver tal libido que reflua (FREUD,
1914/2020). Garcia-Roza (2008, p.44) ressalta que os investimentos libidinais
direcionados ao Eu, passam a incidir sobre as representações de objetos, o retorno
desse investimento libidinal ao Eu, posteriormente passa a ser um investimento objetal
narcísico, ou seja, neste período, os investimentos sucedem do único investimento ao
Eu, para o investimento em objetos externos. Nasio (1997/2021) complementa
salientando que a criança sai do narcisismo primário, quando se vê confrontada com
um Ideal com o qual tem que se comparar, indo para o narcisismo secundário, que
agora, possui um objeto ideal para ser investido libidinalmente, de forma inconsciente.

MATERIAIS E MÉTODOS

O presente estudo propõe uma pesquisa bibliográfica de caráter exploratório e


descritivo, sendo realizado inicialmente um levantamento de dados e busca de
referenciais teóricos, posteriormente, leituras e pesquisas em estudos que
correlacionam com o tema em questão. Buscamos autores contemporâneos em
concordância com a teoria do narcisismo postulada por Freud e sua obra original
Introdução ao Narcisismo, Ensaios de Metapsicologia e outros textos (1914-
1916/2010) realizamos uma análise bibliográfica e um breve percurso cronológico
referente ao conceito de narcisismo e as possíveis relações e impactos na construção
da autoestima, especificamente na fase da adolescência na atualidade.
Para elucidar, alguns dos autores e referenciais teóricos utilizados durante
nossa indagação, foram: Aberastury e Knobel (1981) para explanar sobre o fenômeno
da adolescência; Assumpção e Reale (2002) para abordar questões relativas aos
parâmetros de autoestima em diferentes fases da vida; Castro e Sturner (2009) e
Winnicott (1975) para retratar pontos relacionados ao desenvolvimento emocional de
crianças e adolescentes; Garcia-Roza (2015) em concordância com a teoria do
83
Narcisismo de Freud (1914-1916/2020); Laplanche e Pontalis (2022) ao entendimento
dos termos psicanalíticos e vocabulário em psicanálise; e por fim, para explanar sobre
as especificidades da adolescência (Levy (2007); Vasco 2009; James (1980), entre
outros autores que embasaram o presente estudo.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A partir das pesquisas realizadas até o presente momento, analisamos que as


figuras genitoras possuem papel fundamental na constituição da autoestima e grande
parte desta, inicialmente se constitui no período da infância. Fatores sociais e
biológicos causam grandes influências no que se refere a este processo de
constituição da autoestima e salientamos que cada processo de constituição desta, é
único e individual. Para além disso, as novas formas de subjetivação sobrepostas da
atualidade permeiam a adolescência em aspectos diversos, como no individualismo
fortemente presente. Birman (2021 p.25) ressalta que os destinos dos desejos
assumem uma direção exibicionista e autocentrada, no qual o intersubjetivo se
encontra esvaziado e desinvestido das trocas inter-humanas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante de nossa pesquisa acadêmica, foram observados dados que coincidem


com a forte influência das figuras genitoras1 no processo de constituição da
autoestima dos adolescentes e as influências externas nos padrões de escolhas
particulares da vida, como nosso companheiro amoroso, profissão, nossos padrões,
limites e aceitações. Fatores diversos podem interferir nas especificidades que
englobam este processo de constituição da autoestima, como questões sociais,
valores, crenças, religião, fatores biológicos, entre outros.
Por fim, mediante aos estudos bibliográficos, esta indagação evidencia
sob um viés psicanalítico os aspectos relacionados não somente ao processo de
constituição da autoestima, mas, para além disso, as escolhas narcísicas
inconscientes que fazemos ao longo da vida que permeiam o nosso Ideal de Eu. A
presente explanação, traz contribuições para a área acadêmica, considerando que
atualmente, possuem poucos dados na literatura voltados para este viés específico.

REFERENCIAS

ABERASTURY. A. KNOBEL. M. Adolescência Normal. Porto Alegre: Artes Médicas,


1981.

ASSUMPÇÃO F.B. REALE D. Práticas Psicoterápicas na Infância e


Adolescência. São Paulo: Manoele, 2002.

1Quando mencionado durante toda a explanação o termo” figuras genitoras” estamos nos referindo a
quem faz o papel de cuidados primários com o bebê, suprindo suas necessidades básicas, não
necessariamente o genitor ou a genitora.
84
BULFINCH T. O livro de Ouro da Mitologia: histórias de deuses e heróis. 27°ed.
Rio de Janeiro: Ediouro, 2002.

BIRMAN, J. Mal-estar na atualidade: a psicanálise e as novas formas de


subjetivação. 17°ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2021.

CASTRO, M. G. K.; STURNER, A.; Et. al. Crianças e adolescentes em


psicoterapia: a abordagem psicanalítica. Porto Alegre: Artmed, 2009.

ERINKSON, E. H. Identidade, juventude e crise. Rio de Janeiro: Guanabara,1987.

FREUD. S. Introdução ao narcisismo: ensaios de metapsicologia e outros


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GARCIA-ROZA. L.A. Introdução à Metapsicologia Freudiana. 7°Ed. Rio de


Janeiro: Zahar, 2008.

GREEN. A. Narcisismo de vida, narcisismo de morte. São Paulo: Escuta, 1988.


JAMES. W. The Principles of Psychology. Volume I. New York: Henry e Holt and
Co, 1890.

LAPLANCHE, J. PONTALIS. J.B. Vocabulário da psicanálise. São Paulo: Martins


Fontes, 2022.

LEVY. R. A Adolescência no Brasil, hoje. Convegno Essere Adolescenti Oggi.


Milão, 13 de janeiro de 2007. Disponível em:
https://psicanalisedownload.files.wordpress.com/2012/08/programacao_1611.pdf
Acesso em 27 de junho de 2023.

NASIO J.D. Lições sobre os 7 conceitos cruciais de psicanálise. Rio de Janeiro:


Zahar, 1997.

VASCO. A.B. Sinto e penso, logo existo! Abordagem integrativa das emoções.
Revista do Serviço de Psiquiatria do Hospital Prof. Doutor Fernando Fonseca, EPE.
PsiLogos. Volume 11. Pág. 37-44. junho, 2013. Disponível em
http://www.psilogos.com/Revista/Vol11N1/Indice14_ficheiros/Psilogos_Antonio_Bran
co_Vasco_pag37_44.pdf Acesso em 27 de junho de 2023.

WINNICOTT. D. A criança e o seu mundo. Rio de Janeiro: LTC, 2022.

WINNICOTT. D. Bebês e suas mães. São Paulo: Ubu Editora, 2020.

WINNICOTT. D. Processos de amadurecimento e o ambiente facilitador:


estudos sobre a teoria do desenvolvimento emocional. São Paulo: Ubu Editora,
2022.

85
NARCISISMO E SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA

Aline Quennehen Vieira1


Eduardo Toshio Kobori²

Palavras-chave: Narcisismo; Sujeito; Psicanálise; Sociedade Contemporânea.

INTRODUÇÃO

A sociedade contemporânea vem apresentando cada vez mais conflitos


internos, externos, sofrimento psíquico e outros tipos de violência. Em paralelo
ocorrem as manifestações narcisistas, em especial, no que tange a aparente
narcisismo coletivo que exibe a obsessão de alguns em idolatrarem a si próprios,
negando as diferenças. Um cenário em que, diante da formação de bolhas narcísicas
que fulminam a alteridade e onde as diferenças são vivenciadas como uma ofensa ao
“eu”, o narciso contemporâneo destila ódio que, em última análise, deriva da ausência
de linguagem (Pachà, 2022, p. 12).
Freud, desenvolveu a Teoria do Narcisismo, indicando como este se perfaz,
bem como sua influência nas relações interpessoais e sociais, e respectivas
consequências no funcionamento psíquico dos indivíduos isoladamente
considerados. Permitiu assim descrever e analisar, num primeiro momento, o sujeito
que investe sua libido apenas no interno, se satisfazendo no autoerotismo. (Freud
2010, p. 17-19).
Deste modo, o objetivo desta pesquisa é demonstrar a correlação entre o
sofrimento psíquico nos dias atuais, para com as relações interpessoais da sociedade
contemporânea, a partir da teoria psicanalítica Freudiana do ‘Narcisismo’.
Para isso, examinaremos como essa forma de subjetivação tem contribuído
para o aumento do sofrimento psíquico e dos diagnósticos atuais. Da mesma forma
analisaremos as práticas de vínculos acometidos na sociedade atual, considerando
os contextos sociais, laborativos, familiares e amorosos. Bem como, considerar
acerca de eventual vulgarização da teoria/expressão narcísica.

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

O termo narcisismo vem da mitologia grega. A partir então Freud desenvolve a


Teoria do Narcisismo. Iniciou-se pelo estudo da relação entre narcisismo e perversão,
tendo adotado essa ideia que vinha de P. Nack em 1899 (Freud, 2010). O narcisismo
estaria para além da perversão. Segundo Freud (2010, p. 14) “o narcisismo não seria

1
Graduanda do curso de Psicologia do Centro Universitário de Ourinhos/SP - UNIFIO. E-mail:
[email protected]
² Psicólogo (Unesp), mestre e doutor em Filosofia (Unifesp), professor do curso de Psicologia Centro
Universitário de Ourinhos. E-mail: [email protected]
86
uma perversão, mas o complemento libidinal do egoísmo do instinto1 de
autoconservação, o qual justificadamente atribuímos uma porção a cada ser vivo”. De
forma que organiza uma reflexão teórica sobre o narcisismo, o que antes não estava
inserido nos estudos da psicanálise.
Vislumbra que o narcisismo primário é o esboço do Eu. E, que o narcisismo
primário do bebê se origina de seus pais, ou seja, o bebê é a reprodução do narcisismo
primário de seus pais. A narcisização do bebê é pelo olhar, cuidados e amor do outro
parental. A criança deve realizar os sonhos não realizados de seus pais. A projeção
que os pais fazem sobre a criança, buscando nelas a satisfação de suas necessidades
não realizadas. O investimento libidinal por parte de seus cuidadores é necessário
para a formação do Eu do sujeito em desenvolvimento. (Freud 2010, p. 36-37)
A fase do autoerotismo e a escolha de objeto, é marcada como uma etapa
importante no desenvolvimento psicossexual. A paranoia e a esquizofrenia é o retorno
deste estado. É o que leva o conceito de narcisismo secundário. Isso ocorre quando
Eu não encontra satisfação no objeto externo.(Marini; Martinez, 2019). Contudo, assim
como explicitado na citação anterior, o narcisismo secundário é etapa permanente na
vida do sujeito e, nem sempre, patológica.
Novas formas de sofrimento psíquico refletem a relação deste sujeito com o
seu meio social. De acordo com Birman a contemporaneidade se revela como uma
fonte permanente de surpresa para o sujeito e questões relacionadas à economia,
política, ciências, artes e cotidianeidade, fazem com que este se choque com o
imprevisível, trazendo desnorteamento. O mesmo autor relata sobre como a
sociedade atual produz novas formas de significação, trazendo o olhar do outro como
um fator primordial para a valorização pessoal e aprovação, algo que antes era
constituído sobre uma lógica de interioridade e autoconhecimento. Nas palavras do
psicanalista:

[...] a subjetividade construída nos primórdios da modernidade tinha seus


eixos constitutivos nas noções de interioridade e reflexão sobre si mesma.
Em contrapartida, o que agora está em pauta é uma leitura da subjetividade
em que o autocentramento se conjuga de maneira paradoxal com o valor da
exterioridade.(Birman, 2001, p.23).

De forma que a perspectiva que se tem hoje sobre a subjetividade sofre


influência do foco em si mesmo, que se conjuga de maneira paradoxal com a
importância que se dá ao que os outros pensam. Essa nova forma de subjetividade é
apreciada pela sociedade gerando o mal-estar.

MATERIAIS E MÉTODOS

3 Instinto é uma idiossincrasia do tradutor Paulo Cesar de Souza, na qual se refere à pulsão.

87
Utilizar-se-á como método o dedutivo-indutivo, lastreado em pesquisa
bibliográfica com ênfase na teoria psicanalítica, aplicada a eventos e manifestações
individuais e coletivas contemporâneas, que demonstrem verve narcísica.
O material utilizado para a realização desta pesquisa compõem-se de livros e
artigos que dizem respeito à teoria psicanalítica, em especial de autoria dos
psicanalistas Freud: Introdução ao Narcisismo, Mal estar na civilização, Green:
Narcisismo de Vida, Narcisismo de morte, Garcia-Roza : Freud e o Inconsciente,
Birman: O Sujeito na Contemporaneidade, Mezan: A trama dos Conceitos. Que serão
citados às referências bibliográficas de forma especificada, após sua utilização.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Até o momento, foram analisados livros e artigos que abordam o conceito de


narcisismo de acordo com a teoria psicanalítica descrita por Freud e a sua relação
com a sociedade contemporânea.
Diante dessas analises realizadas foi possível pensar a importância do tema
narcisismo para a clínica e também a nossa reflexão enquanto sujeitos na sociedade
contemporânea.
Permitiu-se compreender também, quando se fala de narcisismo se fala da
formação do Eu. Quando o sujeito recebe o amor de seus pais/cuidadores um
investimento libidinal do externo, que Freud vai nomear de narcisismo primário. E isso
ocorre quando o sujeito foi amado o suficiente.
Os pais atribuem no bebê tudo aquilo que eles não foram, ou seja, os filhos são
atribuídos a cumprirem o ideal de seus pais. Entendeu-se que, quando atribui esse
investimento no Eu de uma maneira muito massiva, esse Eu acaba sendo fragilizado.
Pois irá funcionar em prol desse ideal de Eu e não do Eu ideal.
É perceptível que hoje o mal-estar contemporâneo atravessa o corpo, a pulsão
acaba se ligando a valores estéticos, o uso excessivo de substâncias psicoativas, a
violência. Tentando assim dar um contorno a esse Eu.
Diante do que foi apresentado, é possível perceber nos estudos de Freud sobre
o narcisismo a sua relação com a sociedade contemporânea. É importante ressaltar
que esta pesquisa ainda esta em andamento, é necessário se aprofundar nos teóricos
contemporâneos para uma melhor compreensão e analise sobre o tema.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Levando em consideração o que foi apresentado até o momento desta


pesquisa, o sujeito precisa ser amado, para depois aprender a amar. Ou seja, o
individuo que não recebe esse amor, cria-se uma realidade de onipotência para ele
próprio e não se estabelece uma relação objetal.
Portanto, se o Eu não esta forte o suficiente, ainda que ocorra a relação com o
objeto, esta não se desenvolverá de maneira saudável como poderia ou deveria.
Por sua vez, o sofrimento psíquico revelou fatores biológicos, psicológicos e
sociais. A contemporaneidade se apresenta como uma era de constante demanda. A
sociedade vem demonstrando novas formas de significação, onde o olhar do outro é

88
primordial para a sua autoestima e bem estar. O que dificulta a formação de
identidades sólidas, autonomia e os laços sociais.

REFERÊNCIAS

BIRMAN, Joel. Mal estar na atualidade: a psicanálise e as novas formas de


subjetivação. Rio de Janeiro, ed. Civilização Brasileira: 2016 (recurso digital).

____________. O Sujeito na Contemporaneidade. 4ª ed., Rio de Janeiro, ed.


Civilização _Brasileira: 2001.

____________. A Psicanálise e a Crítica da Modernidade. Conferência realizada


na mesa-redonda de abertura “Enjeux de la modernité”, no I Congresso Internacional
de Psicanálise do Espace Analytique, cujo tema geral era “Psychanalyse et figures
de la modernité, realizado no Maison de la Chimie, de 19 a 22 de novembro de
1998, em Paris.

____________. O Sujeito na Contemporaneidade: espaço, dor e desalento na


atualidade. 4 ed. Rio de Janeiro. Civilização Brasileira, 2021.

BULFINCH, Thomas. (2006). O livro de ouro da mitologia: história de deuses e


heróis. Eco e Narciso (p. 107- 111). Rio de janeiro. Ediouro.

FREUD, Sigmund. Introdução ao narcisismo. In Obras Completas Volume 12:


Introdução ao narcisismo: ensaios de metapsicologia e outros textos. São Paulo:
Companhia das Letras. (Trabalho original publicado em 1914).

MARINI, Silvia. MARTINEZ, Viviana Carola Velasco. O Narcisismo e a relação com


a alteridade nas psicoses sob os olhares de Freud, Tausk e Federn. Revista
Latino americana de Psicopatologia Fundamental, 22 (2), 298-313.
http://dx.doi.org/1-;1590/1415-4714.2019v22n2p298.8.

PACHÁ, Andréa. A vida não é justa. Rio de Janeiro, ed. Intrínseca: 2022, p.12)

89
NOVOS MODOS DE SUBJETIVAÇÃO E A REPERCUSSÃO NO ADOLESCER

Ana Clara Consoni Mossini1


Eduardo Toshio Kobori2

Palavras-chave: Adolescência; Contemporâneo; Psicanálise; Subjetividade.

INTRODUÇÃO

Este é um estudo que busca investigar as novas formas de subjetivação na


contemporaneidade e como elas afetam o processo de desenvolvimento dos
adolescentes. O objetivo desde trabalho é compreender como as mudanças sociais,
culturais e tecnológicas têm impactado a construção da identidade dos jovens e sua
saúde mental utilizando obras de Joel Birman (2007) e Figueiredo (2018). Ao longo
deste trabalho, serão apresentados conceitos fundamentais para a compreensão da
dinâmica adolescente em Aberastury (1981), Rappaport (1993), Gueller (2017), assim
como o narcisismo e as classificações do desenvolvimento psicossexual propostas
por Sigmund Freud (2016) e revisitadas em Winnicott (2022) e Klein (1981).
Além disso, serão discutidas as novas configurações familiares perpassando
por Freud (2010) e Lacan (2003), a sociedade do espetáculo descrita por Debord
(2003) e cultura do narcisismo na sociedade contemporânea exposta por Lasch
(1983), bem como suas implicações na construção subjetiva dos adolescentes.
Também serão expostos os impactos da tecnologia no processo de construção de
identidade apoiando-se nos estudos de Geller (2017). Para alcançar esse objetivo,
utilizaremos de obras psicanalíticas e filosóficas que abordam a temática, além de
explorar artigos científicos e dissertações que investigam as novas formas de
produção de sofrimento e demandas clínicas adolescentes.

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

O presente trabalho se inicia expondo algumas fases importantes no


desenvolvimento psicossexual da infância, tais como o narcisismo primário e
secundário e a fase de latência propostas por Freud (2010). No narcisismo primário,
fase esta que antecede a formação do eu e que está presente nos primeiros meses
de vida do sujeito, as pulsões do bebê se voltam inteiramente para si e para o
descobrimento de suas zonas erógenas que, neste momento, se encontram
principalmente no paladar e no tato. O narcisismo secundário é o momento em que
ocorre uma retirada parcial da libido dos investimentos objetais, ou seja, das ligações

1 Aluna do 10º termo do Curso de Psicologia do Centro Universitário das Faculdades Integradas de
Ourinhos/SP. E-mails: [email protected]
2 Psicólogo (Unesp), mestre e doutor em Filosofia (Unifesp), Professor do curso de Psicologia do Centro

Universitário de Ourinhos. Email: [email protected]


90
afetivas com esses objetos externos, e uma possível concentração da energia
psíquica no ego. A fase de latência, que acontece geralmente entre seis a dez anos,
é um importante período da infância para se compreender a adolescência porque é o
momento em que os impulsos sexuais estão “adormecidos”. Mas, na verdade, estes
estão direcionados a outras atividades, geralmente intelectuais. Portando, assim que
a puberdade começa apontar e mudanças físicas aparecerem, juntamente com o
aparecimento das chamadas secreções (Freud, 2010), as pulsões passam a se
direcionar aos órgãos genitais. Essas mudanças repercutem no sujeito através dos
três lutos principais da adolescência (Aberastury, 1981), sendo estes o luto pelo corpo
infantil, pelos ímagos parentais e pela identidade infantil.
Nessa transição, o adolescente começa também a ocupar espaços fora do
ambiente familiar e conhecer para além do que lhe fora ensinado. Essa expansão de
mundo, para o sujeito, traz consigo diversos questionamentos sobre costumes, sobre
crenças, sobre relações. Essa inquietação do jovem é necessária para que o
adolescente possa, desta forma, construir sua própria identidade. Aberastury (1981)
ainda vai dizer que essa “crise” adolescente é algo saudável para que eles assimilem
todas essas mudanças e para que ele reconstrua seu Eu.
Para compreender algumas das angústias presentes na contemporaneidade,
utilizamos num primeiro momento estudos de três importantes pensadores e críticos
sociais; Joel Birman (2007), que se apoia em dois termos já estudados, um deles por
Lash (1983) e outro por Debord (2003). Estes são chamados, respectivamente, de
cultura do narcisismo e a sociedade do espetáculo.Ou seja, na primeira delas a
problemática circunda em torno da crescente individualização na sociedade atual,
sustentada pela sociedade de consumo, evidenciada na satisfação de desejos
efêmeros, vestindo máscaras sociais (Lasch, 1983). A sociedade do espetáculo traz à
luz reflexões sobre como os sujeitos vêm se ocupando em investimentos da própria
imagem. Isso acontece principalmente com o avanço da mídia, dos anúncios e
imagens que fazem com que as pessoas deixem de refletir sobre o sentido da vida, e
passem a viver de forma automática e vazia.
Birman (2007) une esses dois pensamentos e afirma que o narcisismo é uma
condição psíquica que busca satisfações pessoais para engrandecer o eu, em
detrimento do social. Também afirma que, na modernidade, os sujeitos se ocupavam
das autoreflexões, enquanto hoje se preocupam em como serão vistos.
Posteriormente, redirecionamos o olhar às novas configurações familiares e em
como isso repercute nas crianças e adolescentes. Freud (2010) e Lacan (2003)
chamam atenção para o declínio da função paterna nas famílias atuais. Isso se torna
um problema pessoal e social quando pensamos que é a partir do complexo de Édipo
que ocorre a castração, sendo este o processo fundamental para a criação de leis
internas e externas. Quando este não acontece, o sujeito pode enfrentar dificuldades
nas relações interpessoais e afetivas, e na apropriação das normas sociais.

MATERIAIS E MÉTODOS

Este trabalho é de natureza qualitativa, exploratória e descritiva, e foi


desenvolvido por meio de revisões bibliográficas a partir de uma revisão narrativa de
artigos científicos, dissertações e obras literárias que abordam as temáticas presentes
91
ao longo da pesquisa, a fim de obter uma compreensão mais aprofundada do tema,
através da analise de documentos (Marconi & Lakatos, 2021).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Esta pesquisa nos faz refletir sobre como a sociedade vêm nos ensinando a
nos perceber no mundo, sobre como as mídias interferem na nossa construção
subjetiva, perpetuando a redução de nossa humanidade a vitrines, nas quais
“vendemos” quem somos acentuando a superficialidade (Birman, 2007). Também nos
ajuda a compreender os processos de maturação dos sujeitos da a infância até a
adolescência construídos por Freud (2016) e Winnicott (2022).
Ao falarmos sobre as novas construções familiares, compreendemos o impacto
que isso causa na construção dos sujeitos, e ajuda entender os fenômenos sociais
através das lentes psicanalíticas. Ainda temos um longo caminho a percorrer para que
seja feita a manutenção de nossa sociedade, na tentativa de tornar o mundo um lugar
mais acolhedor e restabelecer a humanidade que nos fora tirada (Birman, 2007).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Considerando o exposto na pesquisa, reconhecemos a importância da


psicanálise para a compreensão dos fenômenos sociais e como isso repercute na
nossa subjetividade. Esta contribui também com o estabelecimento de um mundo
mais acolhedor e possível de se viver.
Até agora, pude me apoiar, principalmente, em Freud (2016), Aberastury
(2008), Birman (2012), Clerget (2004), Gueller (2017), Vannucchi (2019) e Winnicott
(2022).

REFERÊNCIAS

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SãoPaulo:Artmed,2008.

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1993. ISBN 8512604700.

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análise de adolescentes.Rev.Bras.Psicanálise.,vol. 38(2):271-284, 2004.

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WINNICOTT, Donald W.. A família e o desenvolvimento individual. São Paulo:


Martinsfontes, 2005. ISBN 9788533621442.

93
O DESENVOLVIMENTO DO REPERTÓRIO DE HABILIDADES SOCIAIS A PARTIR
DO PROCESSO DE PSICOTERAPIA

Ana Paula Giacomini Magdanelo


Giovana Regina de Souza
Jéssica de Andrade Tendresch
Jonathan Ribeiro da Costa Pereira
Luana Costa Rodrigues
Luciana de Paula Vidal
Rafaela Barcelar Teixeira
Síntique Ferreira da Silva
Thainara Aline de Azevedo
Thais Carneiro de Mello Jorge 1
Ana Elisa Vilas Boas 2

Palavras-chaves: Assertividade – Habilidades sociais – Comportamento

INTRODUÇÃO

Interações humanas são objeto de estudo da psicologia há muito tempo, e esse


assunto não interessa somente à análise do comportamento. Estabelecer e manter
relacionamentos saudáveis comumente é tido como um objetivo do processo de
psicoterapia, ainda que a queixa principal não esteja diretamente ligada a essa
demanda. Relações interpessoais fazem parte do convívio entre os seres humanos e,
portanto, podem ser consideradas fontes importantes de reforçadores.
A prática da psicoterapia visa, de forma ampla, o bem-estar do cliente. Nesse
contexto, a psicoterapia analítico-comportamental tem como objetivo ajudar os
clientes a identificarem e descreverem seus comportamentos, produzindo maior nível
de autoconhecimento. Além disso, há a busca de desenvolvimento de um repertório
comportamental que possibilite maior acesso a reforçadores (BOLSONI-SILVA, 2002).
Nesse sentido, o desenvolvimento de um repertório adequados de habilidades sociais
(HS) se faz necessário como parte importante na busca por reforçadores, uma vez
que interações sociais saudáveis podem contribuir para maior qualidade de vida
(CABALLO, 2003).
O presente estudo bibliográfico tem como objetivo descrever a importância do
desenvolvimento do repertório de habilidades sociais, bem como formas efetivas de
se conduzir esse trabalho a partir do processo de psicoterapia. Para isso,
estabelecemos como norte a abordagem da Análise do Comportamento, delimitando,

1 Graduandos do Curso de Psicologia do Centro Universitário de Ourinhos. E-mail para contato:


[email protected]
2 Psicóloga clínica e docente do Centro Universitário das Faculdades Integradas de Ourinhos, Brasil.

E-mail: [email protected]
94
portanto, o uso de materiais que sejam específicos dessa linha teórica. A pesquisa
bibliográfica foi realizada a partir de livros e artigos científicos que abordem sobre esse
tema, utilizando palavras-chave como: habilidades sociais, análise do
comportamento, assertividade.
Compreendemos que essa temática se justifica pela abrangência, importância
e aplicabilidade na vida dos seres humanos, uma vez que somos, a todo momento,
participantes de interações e conexões humanas.

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

A prática da psicoterapia visa, de forma ampla, o bem-estar do cliente. Nesse


contexto, a psicoterapia analítico-comportamental tem como objetivo ajudar os
clientes a identificarem e descreverem seus comportamentos, produzindo maior nível
de autoconhecimento. Além disso, há a busca de desenvolvimento de um repertório
comportamental que possibilite maior acesso a reforçadores (BOLSONI-SILVA, 2002).
Nesse sentido, o desenvolvimento de um repertório adequados de habilidades sociais
(HS) se faz necessário como parte importante na busca por reforçadores, uma vez
que interações sociais saudáveis podem contribuir para maior qualidade de vida
(CABALLO, 2003).
Habilidades sociais são comportamentos que expressam sentimentos, ações e
opiniões adequadas no contexto em que está inserido, permitindo a diminuição de
possíveis adversidades futuras (CABALLO, 2003). Nesse contexto, o autor afirma que
não há como falar de HS sem falar sobre contexto cultural, uma vez que esse último
deve sempre ser considerado quando se fala desse assunto. Isso porque os padrões
de comunicação podem variar de acordo com cada cultura, exigindo, portanto,
habilidades diferentes em cada contexto. Além desses aspectos, o objetivo que se
deseja alcançar em determinada situação também deve ser levado em conta, pois um
comportamento visto como apropriado em uma situação pode não ser em outra, ou
ainda, duas pessoas ou até a mesma pessoa pode se comportar de formas diferentes
em situações parecidas e, ainda assim, apresentar o mesmo grau de habilidade social.
Sendo assim, não há um critério absoluto que defina as habilidades sociais
(CABALLO, 2003).
Ainda assim, alguns autores trazem definições e categorizações importantes
acerca das HS, o que facilita o entendimento sobre essas habilidades. Del Prette e
Del Prette (2017) dividem os comportamentos sociais em dois grupos: os desejáveis
e os indesejáveis. Para os autores, comportamentos sociais desejáveis são aqueles
que são orientados para o respeito mútuo entre os sujeitos que estão em interação.
Esse critério, no entanto, também leva em consideração as consequências produzidas
pelo comportamento e os efeitos dessas consequências para os indivíduos, para o
grupo e para a comunidade (Del Prette e Del Prette, 2017). Ainda nesse contexto e
ampliando esses conceitos para a visão analítico-comportamental, entende-se que os
comportamentos, tanto os desejáveis quanto os indesejáveis, são mantidos pelas
suas consequências: comportamentos que produzem consequências reforçadoras
positivas ou negativas tendem a aumentar de frequência, enquanto que os
comportamentos que são punidos ou não geram consequências reforçadoras, tendem
a diminuir de frequência. Essa definição é relevante, pois, comumente vemos
95
comportamentos socialmente indesejáveis se repetirem de forma constante e, sem a
atenta avaliação funcional, podemos compreender esse comportamento como sendo
apenas parte do próprio indivíduo, e não parte da interação que se estabelece desse
indivíduo com seu ambiente.
Uma definição bastante objetiva e, ao mesmo tempo, completa sobre
habilidades sociais é trazida por Del Prette e Del Prette:

Habilidades Sociais referem-se a um construto descritivo dos


comportamentos sociais valorizados em determinada cultura, com alta
probabilidade de resultados favoráveis para o indivíduo, seu grupo e
comunidade, que podem contribuir para um desempenho socialmente
competente em tarefas interpessoais (Del Prette e Del , Prette, 2017, p. 24)

Habilidades Sociais, dentro da Análise do Comportamento, se refere a


comportamentos considerados adequados e que apresentam maior probabilidade de
produzir reforçadores no ambiente, desenvolvendo, portanto, um melhor desempenho
social. Uma pessoa habilidosa pode promover situações sociais satisfatórias
favorecendo o aumento de reforçadores e prevenindo e/ou reduzindo dificuldades
psicológicas. O termo HS geralmente é utilizado para indicar um conjunto de
capacidades comportamentais aprendidas que envolvem interações sociais. Uma vez
que assumimos a ideia de que as HS envolvem habilidades e, portanto, podem ser
desenvolvidas, a psicoterapia pode ser aliada a esse processo, contribuindo para o
aprendizado de novos repertórios comportamentais que podem ser essenciais para o
estabelecimento e manutenção de reforçadores importantes para o indivíduo.
Nesse sentido, a psicoterapia pode contribuir para a aquisição dessas
habilidades e, consequentemente, como o aumento da produção de reforçadores na
vida do paciente. É importante lembrar que, apenas conhecer e realizar a técnica não
garante uma boa intervenção, uma vez que qualquer técnica utilizada sem um objetivo
específico pode ser perigosa. Nesse sentido, é necessário que, antes de iniciar a
intervenção, o terapeuta avalie os excessos e déficits comportamentais do repertório
social do indivíduo, a fim de estabelecer quais habilidades serão trabalhadas.
Ressalta-se, ainda, a necessidade de uma avaliação funcional cuidadosa, para que
seja possível conhecer quais e por quais motivos determinados comportamentos
estão sendo mantidos.
No processo de psicoterapia, o próprio terapeuta pode ser modelo para
comportamentos socialmente habilidosos, bem como ser fonte de reforçador para
quando o paciente emite comportamentos desejáveis, como fazer um pedido de forma
adequada ou solicitar algo ao terapeuta. Dessa forma, através do reforçamento
positivo, novas respostas vão sendo incorporadas ao repertório comportamental do
indivíduo. Dizemos que um comportamento é reforçado quando as consequências
produzidas por ele contribuem para o aumento e manutenção da frequência desse
mesmo comportamento.
Por exemplo, imagine uma situação em que o paciente apresente dificuldades
em solicitar tarefas aos colegas de trabalho e, por isso, acabe assumindo
responsabilidades em excesso. Esse mesmo paciente, ao solicitar ao terapeuta uma
mudança de horário, por exemplo, pode ter seu pedido atendido, o que poderia
funcionar como reforçador a esse comportamento. Embora pedir algo ao terapeuta
96
pareça nada a ter a ver com os pedidos aos colegas de trabalho, entende-se que são
comportamentos diferentes que podem fazer parte da mesma classe de
comportamentos: fazer pedidos. Ao se trabalhar e desenvolver um comportamento,
trabalhamos também a classe como um todo, aumentando as chances de que o
comportamento se generalize para outros contextos.
Além disso, a modelação, ou aprendizagem por observação, também pode ser
uma forma de aprender novos comportamentos. No contexto psicoterapêutico, o
próprio terapeuta pode ensinar novos comportamentos apresentando modelos do
comportamento que se deseja ensinar (BOLSONI-SILVA, CALAIS, 2008).
O processo de desenvolvimento das HS pode, ainda, contar com a utilização
de ensaio comportamental ou role playing. Aqui, um cenário específico é criado, de
acordo com a demanda do paciente, a fim de ele possa, no ambiente da psicoterapia,
emitir comportamentos que já fazem parte de seu repertório comportamental. Nesse
contexto, o terapeuta pode se utilizar, ao mesmo tempo, de outas técnicas que podem
contribuir para a aprendizagem de comportamentos socialmente desejáveis:
reforçamento positivo, modelagem (reforçar comportamentos que se aproximam do
comportamento-alvo) e feedback para o paciente. Entende-se que, nesse contexto, o
paciente poderá emitir comportamentos que já aprendeu e refinar esse repertório, a
fim de torna-lo mais adequado às demandas que possui. Esse tipo de trabalho só é
possível se o ambiente psicoterapêutico for um ambiente livre de punições e
julgamento, onde o paciente se sente seguro para errar.

MATERIAS E MÉTODOS

O presente trabalho consiste em uma revisão bibliográfica, uma vez que busca
discorrer sobre uma temática e sua aplicabilidade a partir de materiais já produzidos
sobre o tema. O material utilizado consiste em artigos e livros publicados sobre o
assunto, delimitando a abordagem como sendo a análise do comportamento, bem
como o termo “habilidades sociais” como sendo comum entre essas publicações.
Foram utilizados materiais encontrados em bases de dados como Google Acadêmico,
Scielo, PePsic e Portal de Periódicos da CAPES. As ideias foram estruturadas em três
momentos: 1) O que são Habilidades Sociais dentro da Análise do Comportamento;
2) A importância da construção de um repertório adequado de Habilidades Sociais e
3) Como essas habilidades podem ser trabalhadas dentro do processo de
psicoterapia.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Diante desse cenário, compreende-se a relevância do treinamento e desenvolvimento


de repertório de habilidades sociais, considerando que as interações interpessoais fazem
parte do cotidiano de todos os seres humanos. É notável a importância do
desenvolvimento das HS para aumentar a produção de reforçadores, bem como
possibilitar interações mais saudáveis. Diante do exposto, é imprescindível a
contribuição da Análise do Comportamento nesse contexto, uma vez que, a partir do
entendimento de princípios básicos dessa ciência, também é possível compreender a
definição do conceito de habilidades sociais e a importância desse repertório na vida
97
dos indivíduos. Além disso, as técnicas apresentadas se mostram eficazes no
desenvolvimento das habilidades citadas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho teve como objetivo revisar materiais sobre habilidades


sociais dentro da análise do comportamento, bem como discorrer brevemente sobre
possibilidades de intervenção nessa área dentro da abordagem citada.
Compreendemos que o trabalho de desenvolvimento de habilidades sociais é
complexo e possui caminhos variados, mas sempre com o objetivo de contribuir para
o desenvolvimento de comportamentos socialmente desejáveis e, consequentemente,
possibilitar interações mais saudáveis e melhora no bem-estar e qualidade de vida
dos indivíduos.

REFERÊNCIAS

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da análise do comportamento. Interação em Psicologia, Curitiba, dez. 2002. ISSN
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Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1677-
11682010000200007&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em 05 jul. 2023.

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São Paulo: Livraria Santos, 2003.

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Comportamento – avaliação e intervenção. São Paulo: Roca, 2008

DELL PRETTE, Z. A. P.; DELL PRETTE, A. Habilidades sociais e análise do


comportamento: Proximidade histórica e atualidades. Perspectivas em Análise do
Comportamento. Revista Perspectivas 2010 vol.01 n°02 pp. 104-115.

DELL PRETTE, Z. A. P.; DELL PRETTE, A. Competência Social e Habilidades


Sociais: manual teórico-prático. Petrópolis, RJ: Editora Vozes, 2017.

LEME, V. B. R; BOLSONI-SILVA, A.T. Habilidades sociais e problemas de


comportamento: um estudo exploratório baseado no modelo
construcional. Aletheia, Canoas, n. 31, p. 149-167, abr. 2010. Disponível em
<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-
03942010000100013&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em 05 jul. 2023.
98
PRÁTICAS PARENTAIS NEGATIVAS NA CLÍNICA PSICANALÍTICA DA
ATUALIDADE

Barbara Mercante Bordingon1


Guilherme do Prado2
Giovana Campos Theodoro3
João Batista Albano4
Julia Altvater Vilas Boas5
Maria Carolina Vian da Rosa6
Rayana Maria Hermes Coutinho7
Reylane Auerswald8
Sheila Fermino9
Eduardo Toshio Kobori10

Palavras-chave: Atualidade. Clínica. Psicanálise. Práticas parentais negativas.

INTRODUÇÃO

O presente trabalho consiste em uma metodologia qualitativa e obtém suas


análises e discussões retiradas de sites de pesquisa como Scielo, Google Acadêmico,
e discussões de acordo com supervisões realizadas. Nosso escopo concentra-se na
questão das práticas parentais negativas demonstrando suas influências no infanto e
suas correlações.
Os estilos parentais se referem a um conjunto de práticas utilizadas pelas
figuras cuidadoras com o intuito de educar, socializar e monitorar os comportamentos
de seus filhos (Cassoni, 2013). É por meio das práticas parentais que os cuidadores
disseminam suas crenças, valores e cultura, dessa forma, pode-se afirmar que as
estratégias adotadas influenciam diretamente no desenvolvimento dos filhos. Tais
práticas, podem ser tanto positivas quanto negativas. Gomide (2014), afirma que
figuras cuidadoras exercem práticas positivas, quando são capazes de impor regras
adequadamente, demonstrar afeto e atenção e promover condições favoráveis para o
desenvolvimento saudável de sua prole. Em contrapartida, pais que adotam práticas

1Graduanda em Psicologia, Centro Universitário de Ourinhos, [email protected]


2 Graduando em Psicologia, Centro Universitário de Ourinhos, [email protected]
3 Graduanda em Psicologia, Centro Universitário de Ourinhos, [email protected]
4 Graduando em Psicologia, Centro Universitário de Ourinhos,[email protected]
5 Graduanda em Psicologia, Centro Universitário de Ourinhos, [email protected]
6 Graduanda em Psicologia, Centro Universitário de Ourinhos, [email protected]
7 Graduanda em Psicologia, Centro Universitário de Ourinhos, [email protected]
8 Graduanda em Psicologia, Centro Universitário de Ourinhos, [email protected]
9 Graduanda em Psicologia, Centro Universitário de Ourinhos, [email protected]
10 Psicólogo (Unesp), mestre e doutor em Filosofia (Unifesp), professor do curso de Psicologia Centro
Universitário de Ourinhos, [email protected].
99
negativas, são negligentes, não promovem relações afetuosas e não estabelecem
limites.
Levando em consideração as questões mencionadas, objetiva-se discutir a
respeito dos fatores que motivam figuras cuidadoras a adotarem práticas parentais
negativas e quais as consequências ocasionadas para seus filhos. Pretende-se utilizar
como embasamento para essa discussão, a experiência clínica no atendimento de
crianças e adolescentes no Centro de Estudos e Práticas em Psicologia - CEPP, no
decorrer do segundo semestre de 2022 e primeiro semestre de 2023.

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Conforme o aparato teórico encontrado quanto a temática aqui discutida,


autores como Jerusalinsky (2009) e Michael; Corim; Santos (2014), trabalham a
relação de parentalidade e suas respectivas consequências quanto a atuação dos
pais, essencialmente tratando-se do objeto materno e, portanto, da busca pela
completude que aparece no discurso corrente de mulheres como tentativa de realizar
“A Mulher”, entretanto, esta se revela impossível, fazendo comparecer não só a
incompletude, a falta de qualquer ser desejante, mas, além disso, revelando a divisão
experimentada pela mulher diante da condição de não-toda no gozo fálico.
Dito isso, o estudo de Schavarem e Toni (2019) quanto a relação entre as
práticas educativas parentais e a autoestima da criança, dizem respeito sobre o
desenvolvimento da criança e do adolescente, sendo este afetado por diferentes
fatores, incluindo questões de ordem orgânica, social e cultural, os quais se
manifestam a partir da família, escola e comunidade. Nesse sentido, os pais
apresentam-se como variável de destaque. Estudiosos como Rodrigues; Nogueira;
Altafim (2013) e Gomide et al (2005), ainda permanecem sob a perspectiva que
avança a relação parental, práticas educativas e consequências negativas
comumente observadas em vivências clínicas guiadas pela práxis psicanalítica.
Por fim, artigos como o de Klumpp; Barone; Andrade (2017), Chatelard e
Cerqueira (2015) e Carvalho (2009), também trazem à tona diferentes olhares que
constituem um mesmo panorama sobre a problemática em comum, destacando
decorrentes patologias advindas das relações aqui tratadas, bem como uma
necessária revisão bibliográfica a fim de elucidar conceitos e articular abordagens.

MATERIAIS E MÉTODOS

A presente investigação acadêmica se caracteriza como uma pesquisa


qualitativa, pois compreende as significações de um determinado contexto, ao invés
de apenas mensurar informações (Minayo, 2001). Assim sendo, para realizar a
pesquisa, utilizamos artigos científicos que dissertassem sobre as práticas parentais
negativas, a fim de compreender tais práticas na clínica psicanalítica da atualidade.
O que nos motivou a pesquisar sobre o tema, foram os atendimentos realizados
no estágio clínico no Centro de Estudos e Práticas em Psicologia (CEPP). Pois,
nesses atendimentos foram analisadas tais práticas parentais. Para realizar os
atendimentos psicológicos, utilizamos entrevistas iniciais. Nos atendimentos, foi

100
utilizado o método psicanalítico, neste, utilizamos atenção flutuante e associação livre,
que são técnicas fundamentais do método psicanalítico (Zimerman, 2004).
No caso dos atendimentos psicoterápicos com crianças, foi de suma
importância a utilização da ludoterapia, pois, o brincar possibilita de forma gradativa,
que a criança supere a situação traumática simbolizando, falando e representando os
conteúdos que a perturbam, que a criança nomeia e conhece melhor as situações,
ideais, pessoas e coisas (Gomes, et.al. 2015, p.40).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A demanda de atendimento psicológico infantil, por vezes, revela conflitos na


dinâmica familiar, cujos efeitos são percebidos na criança. Por este motivo, devemos
considerar o fenômeno da fragilização das funções parentais onde “os
comportamentos das crianças poderiam ter um pólo de influência considerável
advindo do comportamento dos seus pais” (Zanetti e Gomes, 2011, p. 492). E esta
influência é percebida e materializada nas relações, atitudes e comportamentos da
criança, pois entre outros fatores “foi possível perceber que as práticas educativas
parentais negativas se correlacionaram de forma negativa com a autoestima”
(Schavarem e Toni, 2005, p. 158), além de que “a criança que é negligenciada é
insegura, frágil e se comporta de forma apática ou agressiva (Schavarem e Toni apud
Gomide, 2005, p. 151). Tais asserções endossam as queixas e as demandas de
atendimento que se apresentam na clínica contemporânea, inclusive, na Clínica-
escola.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante do exposto, foi possível observar por meio dos atendimentos


psicológicos realizados com crianças e adolescentes na Clínica Escola da Unifio, que
na maioria dos casos onde há queixa de comportamento, as figuras cuidadoras estão
apresentando dificuldades na imposição de regras e limites à sua prole. Foi possível
observar que os métodos utilizados pelos responsáveis para educar seus filhos podem
ser caracterizados como práticas parentais negativas, pois são marcados
principalmente pela permissividade em demasia. Como consequência desse tipo de
atuação nas relações familiares, concluímos que o desenvolvimento de crianças e
adolescentes é afetado, principalmente no que diz respeito à aquisição de autonomia
e maturidade.

REFERÊNCIAS

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da UFRGS, 2008. Editora da UFRGS.

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ZIMERMAN, D. E. Manual de Técnica Psicanalítica: Uma Revisão. Porto Alegre:


Artmed Editora, 2004.

103
PSICANÁLISE, LITERATURA E CINEMA: UM PROJETO DE EXTENSÃO
PARA ADOLESCENTES

Bruno Gabriel Barbosa 1


Cristiane Martins de Oliveira 2
Gabriel Beleze Mourato 3
Kayky Costa da Silva 4
Eduardo Toshio Kobori 5

Palavras-chave: Psicanálise; Literatura; Cinema; Extensão; Adolescentes.

INTRODUÇÃO

O curso de Psicologia da UNIFIO iniciou um projeto de extensão em 19 de


agosto de 2022, com orientação do professor Eduardo Toshio Kobori, e atuação de 15
universitários. Este projeto, intitulado Psicanálise, Literatura e Cinema, visa atuar
articulando ensino, pesquisa e prática, como previsto na resolução do Ministério da
Educação nº 7, de 18 de dezembro de 2018. Ademais, sua ideia inicial relacionou-se
com o projeto integrador curricular aplicado anteriormente com o terceiro termo, o
“Psicoflix”, exibindo filmes e produzindo debates com temáticas associadas a
problemas contemporâneos, ampliando assim o acesso à cultura, cinema e assuntos
ligados a psicologia.
Considerando isso, a extensão acontece na escola Esmeralda Soarez Ferraz
de Ourinhos-SP, com diferentes turmas- 8º ano do fundamental até o 3º ano do ensino
médio. Consequentemente, cada turma fica sob responsabilidade de um trio mediador
de graduandos, que tem como função definir materiais e temas a serem trabalhados
com as salas.
Em suma, o projeto visa discutir questões sociais, com um público adolescente,
de modo a utilizar a psicanálise, literatura e cinema para promover reflexões. Na
sequência serão relatadas as bases teóricas do projeto, métodos e materiais, além de
destaques que apareceram durante a atuação.

1 Graduando do Curso de Psicologia do Centro Universitário de Ourinhos (UniFio). email:


[email protected]
2 Graduando do Curso de Psicologia do Centro Universitário de Ourinhos (UniFio). email:

[email protected]
3 Graduando do Curso de Psicologia do Centro Universitário de Ourinhos (UniFio). email:

[email protected]
4 Graduando do Curso de Psicologia do Centro Universitário de Ourinhos (UniFio). email:

[email protected] ou [email protected]
5 Psicólogo (Unesp), mestre e doutor em Filosofia (Unifesp), Professor do curso de Psicologia do Centro

Universitário de Ourinhos (UniFio). email: [email protected]

104
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

A Psicanálise está relacionada a uma imagem mais próxima da atuação


clínica focada na relação paciente/analista, o qual aplica o método
psicanalítico. No entanto, enquanto metodologia, sua abrangência pode
perpassar para o “além-da-clínica”, vista a possibilidade de pensar os sujeitos
envolto em outras questões, em contato com a sua história, cultura, relações
sociais e políticas (ROSA, 2004). Esse tipo de exercício da análise, nomeada
como “psicanálise extramuros” por Laplanche, em outras palavras, é a
abordagem psicanalítica em extensão para onde houver necessidade de
escuta, pois “o inconsciente está presente como determinante nas mais
variadas manifestações humanas, culturais e sociais” (ROSA, 2004, p. 34 2).
Como exemplo de tal uso, as aproximações com literatura, cinema e arte
em geral, sempre estabeleceram relação benéfica para desenvolver melhor
compreensão da realidade material, social e cultural dos sujeitos. Apesar de
nunca conseguirem chegar a uma descrição totalmente verdadeira, mostram
informações importantes que guiam o caminho em conjunto com suas
conversações. De acordo com Fábio Herrmann (2017), a ficção dá resquícios
valiosos da psique humana, traduzindo, no mundo material, desejos, memórias,
pulsões, entre outros, ou seja, por meio das artes, os sujeitos encontram formas
de expressar aspectos de sua vida, desde os mais comuns até os inconscientes.
Nessa senda, consoante às ideias de Herrmann, Regina Simões (2017, p. 160)
comenta sobre a posição da psicanálise e da literatura:

A Literatura pode ser compreendida como a arte de criar e recriar


textos. Ela preexiste à Psicanálise e pode ser tomada como expressão
do inconsciente para, mediante as palavras, apreender a experiência
do corpo com a realidade. Há um rumor em cada discurso, uma palavra
dita, uma palavra não dita, uma reticência, uma interrogação. Há uma
aposta no desejo do sujeito. Esse rumor interessa à Psicanálise.

Assim, é possível constatar o quão importante são as artes para a


comunicação do inconsciente humano. Considerando que “a característica
fundamental da pesquisa psicanalítica nos remete, mais do que ao tema, ao
modo de formular as questões” (ROSA, 2004, p.337), fica perceptível que
utilizar formas artísticas para propiciar o diálogo, a produção de conhecimento
e questionamentos no campo da psicanálise, torna-se fundamental, na medida
em que promove a materialização, ou ilustram situações complexas.
Destarte, a proposta aproxima-se das ideias em questão, pois, há uma
dinamização do processo de encontro com as próprias questões, isto é,
estabelece uma ferramenta para promoção de reflexões, baseada no método
psicanalítico, a partir da literatura/cinema que perpassam/produzem
subjetividades (COUTINHO, 2009).

105
MATERIAIS E MÉTODOS

O projeto foi realizado em encontros quinzenais de uma hora e meia com


os alunos da escola no intuito de oferecer espaços de debate e reflexão,
utilizando filmes, músicas e obras de literatura, dialogando com a psicologia e
psicanálise. Tais conversações eram guiadas por um trio mediador, os quais
antecipadamente organizam temas e pesquisam referências, a partir das
demandas manifestadas pela sala em questão. Por exemplo, os grupos
utilizaram o método psicanalítico, a fim de realizar a observação e compre ender
as diferentes demandas que se apresentavam nos encontros com os
adolescentes da escola.
Desse modo, os grupos utilizaram conteúdos diversos, como: textos de
Birman, discussões sobre sonhos com uso da série Sandman e Freud, poemas,
dinâmicas, músicas, entre outros. Assim, foram promovidas reflexões sociais e
culturais por meio de debates e com uso dos materiais citados. Por outro lado,
no âmbito da extensão para os discentes, algumas competências que
corroboram o conhecimento prático foram desenvolvidas, como a realização de
relatórios, pesquisa de artigos, promoção de debate e análise de discursos.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Durante o projeto, observou-se como cada turma apresenta diferenças


de comportamento, sendo algumas mais calmas e propostas a participar,
enquanto outras mais agitadas e resistentes. Quanto aos alunos, alguns foram
interativos e dispostos desde o início, já em contrapartida, outros iniciaram mais
em silêncio, fazendo poucos comentários e raramente interagindo. Entretanto,
decorrendo as semanas, passaram a ser mais participativos, ou seja, a partir
do bom vínculo criado entre mediadores e sala, notou-se evolução na atuação
dos alunos.
Assim, destaca-se a importância do projeto, já que se produziu maior
reflexão e expressão de ideias, a partir do incentivo gerado pelas propostas
críticas levadas, juntamente pelo apoio dos mediadores, que estimulam os
diferentes modos de expressão de cada um. Logo, também foi possível
perceber como a organização dos grupos sofre impacto das peculiaridades de
cada sujeito, no caso, os adolescentes.
Ademais, também foi observada pelos graduandos, certa dificuldade por
parte dos alunos em apresentar perspectivas, expectativas e sonhos para
futuro, uma “dificuldade ao sonhar”. Tal dificuldade surge relacionada ao
impacto- produzido pela estrutura capitalista- no pensamento dos adolescentes,
assim como aponta Martin-Baró (1986, apud CONCEIÇÃO; ZAMORA, 2015, p.
707), ela reveste-se de “caráter benéfico, ilusório, para que os dominados a
percebam como um estado natural na sociedade e não percebam sua feição
opressora”. Assim, acaba-se por naturalizar problemáticas como a
desigualdade, e impactar negativamente os pensamentos dos mais jovens, de
maneira que deixam de imaginar futuros mais concretos, ou seja, vivem de
forma alienada, com poucas expectativas e sonhos.
106
Depreende-se, portanto, que mesmo diante da dificuldade no trabalho
com alguns alunos e certos impasses durante os encontros, o projeto vem
apresentando bons resultados, pois grande maioria daqueles que participaram
apresentaram evolução, tanto na atenção às atividades, quanto no momento de
expressar e debater ideias com a turma.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em síntese, mediante a análise dos autores supracitados e dos


resultados de dois semestres de projeto, é observável que a proposta de inter-
relação entre a Psicanálise em extensão, Literatura e Cinema, ofertando
espações de reflexões em um ambiente escolar, tem se mostrado eficaz para
promoção de debates, desenvolvimento de consciência social e de
subjetividades entre os adolescentes. Assim, também pro porciona mais
conhecimentos teóricos e práticos, além de enriquecer a formação dos
universitários.
Desse modo, com a continuidade do projeto, espera-se que seja possível,
não só, conhecer a teoria e desenvolver a prática para avançar nas técnicas e
objetivos, mas também colaborar nos estudos da área e desenvolver mais
discussões.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Ministério da Educação. Diretrizes para a Extensão na Educação


Superior Brasileira. Brasília, DF, 2018. 4p. Acesso em: 14 de jul. de 2023

CONCEIÇÃO, V. L. DA.; ZAMORA, M. H. R. N. Desigualdade social na escola.


Estudos de Psicologia, Campinas, v. 32, n. 4, p. 705–714, out. 2015. Acesso em:
14 de jul. de 2023

COUTINHO, L. M. Apresentação da série: cinema e educação: um espaço em


aberto. In: Cinema e educação: um espaço em aberto. Publicação do Ministério da
Educação. Ano XIX, nº 4, maio, 2009, p. 27 – 37. Acesso em: 17 de jul. de 2023

HERRMANN, F. Sobre os fundamentos da psicanálise: quatro cursos e um


preâmbulo. São Paulo: Blücher, 2017.

ROSA, M. D. A pesquisa psicanalítica dos fenômenos sociais e políticos:


metodologia e fundamentação teórica. Revista Mal-estar e Subjetividade, v. 4, n. 2,
p. 329-348, 2004. Acesso em: 26 de jul. de 2023

SIMÕES, Regina B. S. Psicanálise e Literatura: o texto como sintoma. Revista


Analytica, v. 6, n. 11. p 159-179, 2017. Acesso em: 17 de jul. de 2023

107
PSICO-HISTÓRIA E A ANÁLISE DAS LETRAS DO SLIPKNOT: EXPLORANDO OS
SIGNIFICADOS SUBJACENTES NA EXPRESSÃO ARTÍSTICA

Luciano Ferreira Rodrigues Filho1

Palavras-chave: Análise de conteúdo; Psicologia; Slipknot; Música.

INTRODUÇÃO

Slipknot, uma banda conhecida por sua musicalidade agressiva e presença


enigmática, cativa o público em todo o mundo com sua mistura distinta de energia
bruta e expressão catártica. Por trás das máscaras e trajes intrincados, encontra-se
um coletivo de indivíduos que aproveitaram o poder da música para confrontar seus
demônios interiores e exorcizar seus traumas do passado. Nesta pesquisa,
mergulhamos nas profundezas da discografia do Slipknot, explorando a interação
entre sua agressividade artística e as narrativas emocionais subjacentes que
alimentam sua música.
Com base na análise científica e na interpretação poética, embarcamos em
uma jornada pelas paisagens sonoras criadas pelo Slipknot. Navegamos pelo labirinto
lírico, decifrando as poderosas imagens que refletem suas lutas pessoais, conflitos
internos e os ecos de traumas passados. À medida que desvendamos os fios de sua
agressividade musical, descobrimos uma profunda exploração da psique humana,
revelando a libertação catártica que está sob a superfície de sua intensidade.
Por meio de um exame meticuloso de suas canções, buscamos entender o
poder transformador da música enquanto o Slipknot canaliza seus velhos traumas em
uma experiência sonora visceral. Exploramos a interação entre as melodias
assombrosas, riffs intensos e gritos guturais, testemunhando o compromisso inflexível
da banda em expressar suas emoções mais íntimas da maneira mais autêntica e sem
remorso.
À medida que nos aprofundamos na pesquisa, convidamos você a embarcar
nessa jornada conosco, mergulhando no mundo tumultuado do Slipknot. Juntos,
navegaremos pelos corredores labirínticos de seu legado musical, abraçando a beleza

1 Possui graduação em Psicologia Clínica e Organizacional pelo Centro Universitário de


Ourinhos/UNIFIO, graduação em Pedagogia pela Faculdade União Cultural do Estado de São Paulo e
mestrado em Psicologia Social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - PUC/SP.
Atualmente édocente no Centro Universitário de Ourinhos/UNIFIO, pesquisador da Universidade
Estadual do Norte do Paraná/UENP, pesquisador da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo/
NUTAS/PUC/SP. Trabalhou no Hospital del Trabajador de Santiago, Chile, na Clinique La Borde - Cour-
Cheverny - França, no Hospital de Saúde Mental de Ourinhos, no Instituto Psicopedagógico Ciudad
Joven San Juan de Dios, Sucre, Bolívia. Com estudos e pesquisas na New School for Social Research,
New York/EUA, no East Side Institute, NewYork/USA, na Universidad de la Republica, Montevidéu,
Uruguai. na Universidade Eduardo Mondlane, Maputo, Moçambique. Tem experiência na área de
Psicologia, com ênfase em Psicologia Social, Trabalho e Jurídica, atuando principalmente nos
seguintes temas: direitos sociais, trabalho, políticas públicas, assistência social, história e cultura.
108
paradoxal que surge da união da investigação científica e da interpretação poética.
Prepare-se para uma fascinante exploração da agressividade artística da banda,
enquanto descobrimos a profunda catarse emocional que está nas profundezas de
sua música.

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

É possível a Psico-história como método para a Psicologia? A psico-história é


um conceito que foi introduzido na série de livros "Fundação", escrita por Isaac Asimov
(2009). Ela é descrita como uma ciência fictícia que combina os princípios da
psicologia e da história para prever o comportamento coletivo de grandes populações
ao longo do tempo. Embora seja um conceito fictício, a psico-história levanta questões
interessantes sobre a aplicação do método científico no estudo de eventos históricos.
Na série "Fundação", o matemático Hari Seldon desenvolve a psico-história
como uma forma de prever o futuro de maneira probabilística. Ele acredita que,
embora seja impossível prever as ações individuais das pessoas, é possível entender
e prever o comportamento de massas populacionais em um nível macroscópico.
O método científico da psico-história começa com a coleta de dados históricos
extensos e detalhados, desde eventos passados até o presente. Esses dados são
então analisados em busca de padrões e tendências significativas. A psico-história
procura identificar as leis fundamentais que governam o comportamento das massas
e os fatores que influenciam essas leis.
Após a análise dos dados históricos, os psico-historiadores aplicam modelos
matemáticos e estatísticos para extrapolar esses padrões e tendências para o futuro.
Eles criam simulações computacionais e algoritmos complexos para prever o
desenvolvimento futuro das sociedades, levando em consideração fatores como
mudanças políticas, sociais, econômicas e tecnológicas.
No entanto, é importante ressaltar que a psico-história é uma ciência ficcional
e não tem base científica real. Embora a análise estatística e a modelagem
matemática sejam ferramentas valiosas para entender e prever padrões de
comportamento humano em certos contextos, a complexidade do comportamento
humano e a imprevisibilidade dos eventos históricos dificultam a aplicação prática de
um método científico estrito nessa área.

MATERIAIS E MÉTODOS

A pesquisa científica para a análise de conteúdo consistiu em seguir uma


abordagem sistemática, dividida em diferentes etapas. Inicialmente, definiu-se o
objetivo da pesquisa, que era realizar a análise detalhada das letras de músicas
selecionadas, com foco na identificação de temas recorrentes e padrões líricos.
A análise compreendeu a totalidade das músicas da discografia do Slipknot,
lançadas entre 1996 e 2022, totalizando 142 faixas. No entanto, foram excluídas da
análise as músicas duplicadas e instrumentais, resultando em um conjunto de 102
músicas para a análise. É importante ressaltar que não houve seleção aleatória das
músicas, mas sim a inclusão de todas as faixas presentes nos álbuns lançados pela
banda ao longo desse intervalo de tempo. Para realizar a categorização das letras, foi
109
utilizado um procedimento baseado em Inteligência Artificial. Através de técnicas
avançadas de processamento de linguagem natural e aprendizado de máquina, a
Inteligência Artificial foi treinada para identificar e agrupar automaticamente as letras
com base em temas semelhantes.
O processo de categorização ocorreu da seguinte maneira: primeiro, todas as
letras foram submetidas à análise da Inteligência Artificial, que identificou palavras-
chave, padrões linguísticos e outros elementos relevantes em cada música. Em
seguida, o sistema utilizou essas informações para agrupar as letras em categorias
temáticas. É importante ressaltar que o treinamento da Inteligência Artificial envolveu
a alimentação do sistema com uma grande quantidade de dados, incluindo letras de
outras bandas e referências musicais diversas. Isso permitiu que o modelo
desenvolvesse uma compreensão abrangente da linguagem e dos temas comuns
encontrados nas letras.
Durante o processo de categorização, a Inteligência Artificial levou em
consideração não apenas palavras individuais, mas também o contexto em que elas
estavam inseridas. Isso significa que a análise considerou frases completas e até
mesmo estruturas mais complexas presentes nas letras, auxiliando na identificação
de temas e na formação dos grupos. Isso envolveu agrupar as letras que abordavam
temas semelhantes ou compartilhavam elementos temáticos comuns. Essa
categorização permitiu uma organização mais clara e estruturada do conteúdo das
músicas, facilitando a análise comparativa. Posteriormente, cada unidade de registro,
como versos ou estrofes, foi codificada nas respectivas categorias temáticas. Essa
codificação foi essencial para uma análise mais aprofundada e detalhada das letras,
permitindo a identificação de padrões líricos específicos dentro de cada tema.
Embora a categorização automática realizada pela Inteligência Artificial tenha
sido fundamental para uma análise mais abrangente e eficiente, é importante ressaltar
que houve validação humana do processo. Os resultados foram revisados por
pesquisadores, que avaliaram a precisão das categorias geradas e realizaram ajustes
quando necessário. Dessa forma, o procedimento utilizado para a categorização das
letras do Slipknot envolveu a aplicação de técnicas avançadas de Inteligência Artificial,
combinadas com a expertise e validação de pesquisadores humanos. Essa
abordagem permitiu explorar de forma sistemática e abrangente o conteúdo lírico
presente nas músicas da banda, fornecendo insights valiosos para a análise e
compreensão de suas temáticas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A análise revela uma variedade de temas e emoções ao longo dos álbuns, que
refletem aspectos da condição humana e exploram questões profundas relacionadas
à psicologia, sociologia e ética. A evolução lírica ao longo dos álbuns pode ser
observada na complexidade crescente dos temas abordados, no aprofundamento das
análises sociais e no surgimento de uma expressão mais intensa de emoções. Essas
descobertas mostram a capacidade da música em contar histórias complexas e
provocar reflexões sobre a vida e a sociedade.
Ao longo dos álbuns, é possível observar uma evolução lírica, na qual os temas
explorados se aprofundam e se tornam mais complexos. Inicialmente, podem surgir
110
temas mais introspectivos, como conflito interno e arrependimento. Conforme a
discografia avança, esses temas podem se expandir para abordar dilemas morais e
éticos mais amplos, envolvendo segredos, revelações e busca por redenção.

REFERÊNCIAS

ASIMOV, Isaac. Fundação. Trad. de Braulio Tavares. São Paulo: Aleph, 2009.

BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 1977.

BAUER, Martin W.; GASKELL, Georgs (Org.). Pesquisa qualitativa com texto,
imagem e som: um manual prático. Petrópolis, RJ: Vozes, 2012.

CHIZZOTTI, Antonio. Pesquisa em ciências humanas e sociais. São Paulo:


Cortez, 1991.

FLICK, Uwe. Uma introdução à pesquisa qualitativa. São Paulo: Bookman, 2004.

111
SUBJETIVAÇÃO CONTEMPORÂNEA: O PARALELISMO ENTRE ARTE E
SUBJETIVIDADE

Vinicius Resende Mandolini Barone1


Mayara Aparecida Bonora Freire2

Palavras-chave: Arte e Subjetividade; Subjetivação; Modos de Subjetivação

INTRODUÇÃO

A pesquisa em questão explorará a definição de subjetividade, em seguida os


processos de subjetivação, considerando o uso da arte enquanto uma de suas
ferramentas. É debatida uma perspectiva baseada na Filosofia da Diferença
colocando em discussão, primeiramente, o estatuto das coisas, de modo a
compreender como entendemos o mundo, o contato com o sensível sendo uma
aproximação a conteúdos do inconsciente como sentimentos e certa facilidade em
que os modos de subjetivação acabam por serem cooptados pelo modelo vigente de
produção na construção de padrões estéticos. Será realizada uma aproximação da
arte, mais especificamente a música, no processo de subjetivação enquanto espaço
aberto que auxilia o indivíduo a lidar com suas questões, buscando compreender uma
das ferramentas dispostas no mundo que permite o indivíduo se reconhecer como Ser.

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Todas essas experiências se remetem a algo muitas vezes bem definido, como
um simples “sou assim”, e nesse campo de certezas concretas esconde-se um debate
sobre a subjetividade. Tende-se a considerar a subjetividade como algo que diz
respeito à identidade, no entanto, a discussão é muito mais profunda.
O termo surge nas obras de Platão, trazendo com ele uma filosofia ligada à
transcendência. A subjetividade aqui estará sendo compreendida como uma tentativa
de representação de algo divino. Relação de simulacro. No entanto, Deleuze propõe
uma nova perspectiva que preza pela imanência, conteúdo já abordado pelos sofistas
mas explorado aqui de outra forma.

A primeira delas, inscrevendo-se e valorizando a altura, constitui o


platonismo. O objetivo do filósofo platônico é atingir as alturas da Ideia, da

1 Graduando em psicologia pelo Centro Universitário das Faculdades Integradas de Ourinhos- UNIFIO.
Email: [email protected]
2 Psicóloga clínica, docente, supervisora técnica e institucional. Doutoranda em Psicologia e Sociedade

pela UNESP/Assis. Atualmente, é coordenadora do Centro de Estudos e Práticas em Psicologia


(CEPP) do Centro Universitário de Ourinhos (UNIFIO). Tem experiência na atuação em Políticas
Públicas de Saúde Mental, em especial, os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS). Conselheira do
XVII Plenário do Conselho Regional de Psicologia de São Paulo (CRP 06).
112
essência, do inteligível, do Modelo. Ainda sobre o eixo vertical, porém
valorizando a profundidade, temos a segunda imagem do filósofo: a dos pré-
socráticos. Seu objetivo é a arché, a substância. E finalmente, em
contraposição à verticalidade, temos a horizontalidade da superfície. Este é
o lugar dos estoicos, dos cínicos, dos megáricos, dos sofistas. Para eles, a
verdade não reside nem no céu platônico, nem nas profundezas pré-
socráticas, mas no acontecimento, na superfície. (Garcia Roza, 1988)

Para compreender a subjetividade utiliza-se aspectos presentes em ambas


filosofias, a noção de profundidade e de superfície, elas coexistem entre si. O “eixo
conectivo”, permite então uma discussão que não fosse de caráter identitário ou de
perspectiva cartesiana.

a subjetividade não é mais do que uma coleção de dados sem ordem, sem
estrutura e sem lei, e não coincide com o sujeito porque este é apenas um
efeito das articulações às quais as ideias estão submetidas. Além disso, a
lógica identitária dos termos é substituída pela lógica dos encontros, que
substitui o verbo Ser (A é B) pela conjunção “e” (A e B). (MIRANDA; SOARES;
2009, p. 5)

A subjetividade passa a ser contemplada sob a ótica que funde o sujeito a ela,
assim, “construímos a identidade numa repetição da experiência, ou seja, no hábito
de adquirir hábitos, que forjamos isso que chamamos de espírito, alma, consciência,
subjetividade” (DELEUZE, 2001). Ela já não é mais representada por uma categoria
metafísica, mas acontece no presente, através das relações Sujeito/Mundo,
permitindo então que tudo seja potência de subjetivação.
Se torna possível admitir que mesmo objetos inanimados carregam capacidade
criadora de subjetividade. Por exemplo, instituições podem causar alterações na
maneira que o sujeito se relaciona, sente, reage etc. Assim, neste jogo de encontros
e desencontros de como Ser no mundo que se estão os modos de subjetivação.
A arte entra então como uma dessas ferramentas que tal como a instituição,
são capazes de produzir subjetividades. Permitem ao sujeito encontrar uma maneira
de se expressar através da composição, pintura, escrita, fala, entre outros modos de
produzir artístico. Para exemplificar trago o conto de Kafka “Um Artista da Fome”
(1922), denotando a relação entre o artista e sua arte, que se aproxima a uma
simbiose. Não há um sem o outro, não produzir sua arte é não Ser, quase como uma
aniquilação de parte de si.
Pode-se compreender a inspiração para construção artística advinda de um
contato com o sensível, algo que de certo modo apenas o artista compreende. Esta
aproximação que o artista realiza com o sensível, se assemelha ao processo
terapêutico, pois permite a elaboração das questões vividas pelo sujeito, produzindo
novas subjetividades.

MATERIAIS E MÉTODOS

O presente trabalho trata-se de um recorte de um Trabalho de Conclusão de


Curso (TCC) em andamento, e caracteriza-se por ser uma pesquisa bibliográfica de
caráter qualitativo, a qual tem por objetivo relacionar a interseccionalidade entre Arte
113
e Psicologia. Para a produção de dados, foram realizados levantamentos
bibliográficos a partir das bases digitais (Scielo e Pepsic), bem como por meio da
obtenção de livros físicos. Nos embasamos na Filosofia da Diferença, de Deleuze,
Guattari, Foucault, Rolnik, Manzano, Miranda, Soares e outros, enquanto instrumento
teórico-metodológico e operador teórico-conceitual.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Ao se deparar com diversas versões sobre subjetividade, foi realizada a análise


bibliográfica para distinguir suas descrições e definir o que torna alguém em um Ser.
Também foi discutido em como ocorre o processo de construção de subjetividades,
apresentando algumas perspectivas dos autores selecionados. Por fim foi levantado
a aproximação com a arte, trazendo a obra de Kafka para relacionar o produzir
artístico com o processo terapêutico.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

É possível pensar em novos paradigmas estéticos através de intervenções a


serem realizadas em ambientes diversos, sendo eles em instituições fechadas como
o Centro de Atenção Psicossocial (CAPs), Unidade de Pronto Atendimento (UPA) ou
até no Sistema Único de Assistência Social (SUAS). Quanto a algo mais próximo do
cotidiano, dentro da própria casa, tendo a liberdade de produzir ou consumir a arte,
seja através da escrita, pintura, composição musical, ou novas formas de produzir
artístico.

REFERÊNCIAS

BARROS SOARES, Leonardo; LOBO MIRANDA, Luciana. Produzir


subjetividades: o que significa?. Estudos e Pesquisas em Psicologia UERJ, 2009.
Disponível em: https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/revispsi/index. Acesso
em: 23 abr. 2023.

GUATTARI, Felix. Caosmose: Um novo paradigma estético. 1ª. ed. [S. l.]: Editora
34, 1992. 183 p.

GUATTARI, Felix; ROLNIK, Suely. Micropolítica Cartografias do Desejo. 4ª. ed. [S.
l.]: Vozes, 1996. 327 p.

MANSANO, Sonia Regina Vargas. Sujeito, subjetividade e modos de


subjetivação na contemporaneidade. Sujeito, subjetividade e modos de
subjetivação na contemporaneidade, Revista de Psicologia da UNESP, 2009.

REGINA VAGAS MANSANO, Sonia. Sujeito, subjetividade e modos de


subjetivação na contemporaneidade. Revista de Psicologia da UNESP, 2009.

114
STUBS, R.; TEIXEIRA-FILHO, F.; GALINDO, D.. Experiências e apontamentos para
a pesquisa em psicologia baseada nas artes. Psicologia & Sociedade, v. 32, p.
e172031, 2020.

115
SUICÍDIO NA TERCEIRA IDADE NA PERSPECTIVA DA LOGOTERAPIA E
ANÁLISE EXISTENCIAL

Simone de Souza1
Luciano Ferreira Rodrigues Filho2

Palavras-chave: Psicologia. Suicídio. Terceira idade. Logoterapia.


Autotranscendência.

INTRODUÇÃO
A alta incidência de suicídio na população da terceira idade tem provocado em
estudiosos de diversas áreas o debate sobre comportamentos autodestrutivos que
colocam a vida em risco, como a ideação suicida, motivação e prevenção de tal
fenômeno.
O objetivo desse estudo é a reflexão sobre o suicídio, numa perspectiva
Humanista e da Análise Existencial, tendo a Logoterapia como contribuição para a
prevenção do suicídio.
As frustações existenciais identificadas após a aposentadoria e análise da vida,
abandono, depressão, limitações funcionais entre outros, enfraquece potencialmente
o sujeito e sem condições de sobrevivência satisfatória optam pela morte.
Para o ser humano a busca por um sentido é a motivação fundamental da vida,
logo o “ser humano é capaz de viver e morrer pelos seus valores” (Frank, 2008, p.125).
O empoderamento, o autodistanciamento e a autotranscendência são
instrumentos que a Logoterapia se beneficia para auxiliar na busca e encontro do
sentido da vida e valorização da capacidade humana.
O autodistanciamento é um instrumento citada por Viktor Frankl para ajudar a
pessoa a se afastar emocionalmente da situação, distanciar de si para ir ao encontro
do outro, deixar de olhar pra si e olhar para o outro e assim ganhar perspectiva e
clareza sobre os acontecimentos, sentimentos, pensamento e emoções, dessa forma
favorecer a reflexão e posição perante os acontecimentos.
Já o empoderamento é um processo que permite ao indivíduo agir em benefício
próprio, promove sentimento de pertença, emancipação do indivíduo, desenvolve a
autonomia e fortalece-o em espaços de participação social, renunciando ao papel de
dependência e impotência, para se transformarem em pessoas ativas, protagonistas
de si, determinadas e autônomas, trás força para o enfrentamento, determinação e
superação nas incertezas na adversidade (Kleba; Wandausen, 2009).
A autotranscendência é a capacidade humana de ir além de si mesmo,
capacidade de se superar, ir ao encontro do sentido da vida através do trabalho, do

1 Graduanda do curso de Psicologia. Centro Universitário de Ourinhos - UNIFIO. Email:


[email protected]
2 Docente do Centro Universitário de Ourinhos – UNIFIO. Mestre em Psicologia (PUC/SP). Email:

[email protected]
116
amor e dos projetos, permite ir em direção a algo além de si mesmo e diferente de si,
é dispor-se a algo ou alguém no mundo que o leve a autorrealização, esquecer- se de
si mesmo indo ao encontro do mundo externo, se entregar a uma causa, realizar
trabalho que lhe traga prazer, ter uma pessoa a quem se dedique ou amar alguém
(Frankl, 2017 p. 99).
Logo, a realização da vida só é possível no movimento para fora de si, para
além de si mesmo (Frankl, 2003).

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Frente a temática do suicídio, a Logoterapia se difunde como um referencial


valioso ocasionando em seu repertorio científico inúmeras contribuições,
especialmente noogênica e no cenário de um vazio existencial.
Nem sempre a doença física ou suas restrições são a causa da ausência de
sentido para o idoso, mas sim a preocupação, o tédio, o tempo vazio, a solidão, o
desprezo familiar e social, etc. que levam o idoso a se perguntar se vale apena
continuar vivendo, é uma angustia existencial e não uma doença mental.
Frankl afirma que o sofrimento sem sentido leva a frustação e por conseguinte
ao vazio existencial, condição humana de frustação existencial, não é patogênico nem
patológica, também não é uma enfermidade mental, salvo se acompanhada por traços
neuróticos originadas pela dimensão psicofísica.
A neurose que advém do vazio existencial é chamada por Frankl de neurose
noogênica, que também está vinculada a conflitos de valores (Xausa, 2013 p. 167).
A Logoterapia utiliza-se do diálogo socrático como metodologia, para a análise
existencial, ajuda o paciente a refletir, se descobrir e descobrir sentido da vida,
resgatar seu potencial adormecido, esquecido e superar obstáculos até mesmo diante
da tríade trágica ( sofrimento, culpa e morte).
Para a superação, Frankl fala da importância dos valores de criação, valores
de vivencia e valores de atitudes, que são o caminho para o encontro do sentido da
vida e sustentáculo para o ser humano.
Nos valores de criação, o sentido está no que a pessoa faz ou proporciona para
o mundo com satisfação, possibilita a sensação de plenitude, já nos valores de
vivencia o sentido está nas experiências vividas proporcionadas pelo mundo e
valorizadas pela pessoa (Kroeff, 2014 p. 185).
O valor de atitude, o “valor supremo” é o mais importante pois nos remete a
posição que tomamos diante às adversidades, são eles que aparecem quando o ser
humano se encontra em situações irremediáveis e diante de circunstancias limites.
Ele permite que a pessoa se sobreponha ao destino, ou seja, já que não se pode
mudar o destino, pode se superar diante dele, mudar a atitude diante do “destino
inexorável” (Xausa, 2013, p.179-180).
Logo, o processo analítico em logoterapia consiste em ajudar o paciente em
suas crises existencial a encontrar sentido em sua vida através da valorização de seu
potencial existencial e sua vontade de sentido (Frankl, 2019 p. 128-130).

117
MATERIAIS E MÉTODOS

Para o desenvolvimento da presente pesquisa, foi realizado um levantamento


de documentos científicos em bibliotecas digitais e base de dados online (Google
Acadêmico, SciELO, BDTD, obras e livros).
Inicialmente foi realizada um levantamento sobre produção de conhecimento
referente a “Psicologia, Logoterapia, Suicídio, Empoderamento, Autodistanciamento,
Autotranscedência”, tendo como objetivo identificar as concepções sobre a psicologia
e Logoterapia, referidas em bases nacionais, por meio da revisão de literatura em
relação a temática.
Foram considerados os títulos, os sumários e os resumos dos trabalhos para a
seleção. Trata-se de uma pesquisa de natureza qualitativa na perspectiva da
Logoterapia e Análise Existencial.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O estudo realizado apresentou possibilidades de intervenção e prevenção


através da Logoterapia, usando a técnica do diálogo socrático, para ajuda o paciente
a desenvolver o autoconhecimento, e a realização do empoderamento e por
conseguinte conseguir praticar o autodistanciamento, a autotranscendência, e por em
prática os valores de vivencia, atitude e valor de criação, propiciando ao idoso a
capacidade de ressignificar sua vida e torna-la prazerosa mesmo diante de suas
limitações.
Com a finalidade de contribuir com a prevenção do suicido em população da
terceira idade e demais faixas etárias no Brasil foi constatado após a pesquisa que
uma pessoa idosa possui um histórico de superação em sua trajetória de vivencia, o
que denuncia seu potencial e demonstra que a ideação suicida está inserida num
contexto de tédio, de vazio existencial, de depressão e por conseguinte na desistência
pela vida.
Diante do contexto de ideação suicida, cabe segundo análise desse estudo,
mesmo diante de situações as quais não podem ser mudadas, o terapeuta através do
diálogo socrático ajudar e conduzir o paciente a uma reflexão sobre as possibilidades
perante o destino, e a liberdade que temos de não alterá-lo mas agir sobre ele e
conscientiza-lo de sua responsabilidade perante a vida e sobre as necessidades de
mudanças própria. Frankl afirma que podemos até não estar livre para mudar uma
situação mas somos livres para agir sobre ela, “não é necessário um sofrimento para
se encontrar sentido, mas sim, é possível encontrá-lo a despeito do sofrimento”
(Carvalho; Júnior, 2017).
A Logoterapia que possibilitará à consciência de um vazio existencial e da
realização do sentido que é a “motivação básica do ser humano, a qual lhe confere
força frente às adversidades da vida” (Kroeff, 2014 p. 17).
A busca de sentido na vida da pessoa é a principal força motivadora no ser
humano” logo o paciente movido por essa força encontrará caminhos para preencher
o vazio existencial e lidar com a frustação existencial e somente então essa vontade

118
de sentido assume característica de sentido da vida, permitindo ao paciente a
reativação dos valores em especial o valor de atitude (Frankl, 2019).
Mesmo em situações adversas, é possível encontrar significado na vida através
de envolvimento em atividades que tragam satisfação e conexão com os outros isso
porque o sentido da vida pode ser descoberto por meio de experiências pessoais, de
criação de laços com outras pessoas e na busca de objetivos significativos.

REFERÊNCIAS

CARVALHO, Francielle Fátima de, JUNIOR, Manoel Deusdedit. Breves


Considerações sobre Sentido da Vida e Suicídio: Reflexões à Luz da Psicologia
Fenomenológica-Existencial. Revista Criminalística e Medicinal Legal. V.1 | N.2 |
P. 20 - 26 | 2017. ISSN 2526-0596.

FRANKL, Viktor E. Em busca de sentido. 47. Ed. Petrópolis. Vozes, 2019.

FRANKL, Viktor E. (1991). A psicoterapia na prática (C. M. Caon, trad.). Campinas,


SP: Papirus.

FRANKL, Viktor E. O Sofrimento de uma Vida sem sentido: Caminhos para


encontrar a razão de viver. 1. Ed. É realizações. 2015.

LUKAS, Elezabeth. A Força desafiadora do Espirito: Métodos de Logoterapia.


Santos. Leopoldianum. 1989.

KLEBA, M. E.; WENDAUSEN, A. Empoderamento: processo de fortalecimento dos


sujeitos nos espaços de participação social e democratização política. Saúde e
Sociedade, v. 18, n. Saúde soc., 2009 18(4), out. 2009. Disponível em:
https://www.scielo.br/j/sausoc/a/pnCDbh88LDqWwDTx9pGK39h/abstract/?lang=pt
acesso em 15 de Nov. 2022.

KROEFF, Paulo. Logoterapia e Existência: A importância do Sentido da Vida. Porto


Alegre. Evangraf. 2014.

119
VIOLÊNCIA INTRAFAMILIAR E SEUS EFEITOS NO DESENVOLVIMENTO
INFANTIL

Julia Maria Viola1


Damaris Bezerra de Lima2

Palavras-chave: Desenvolvimento Infantil; Violência; Violência Intrafamiliar;


Negligência.

INTRODUÇÃO

A palavra violência vem do Latim vis, que significa força. É uma ação que surge
através das relações sociais e interpessoais e é marcada pela opressão e pela
intimidação, além de ser caracterizada por comportamentos brutais, abusivos e
desumanos, que podem envolver agressão física e/ou psicológica (CHAUI, 2017).
Por esse motivo, a violência é vista pela maior parte da sociedade como algo a
ser evitado, entretanto, foi necessário que diversos movimentos e reivindicações
acontecessem para que fosse possível chegar a essa realidade. Um desses
movimentos ocorreu em 1988, após a ditadura militar, onde acontece no Brasil a
imposição de uma nova Constituição que garantiria a proteção dos grupos minoritários
e que denunciaria o poder excessivo que os homens possuíam. A então chamada
Constituição Cidadã implantou algumas leis, como o Estatuto da Criança e do
Adolescente, o Estatuto do Idoso e a Lei Maria da Penha, que passaram a considerar
como crime todo abuso cometido contra pessoas destes grupos. (MUSZKAT;
MUSZKAT, 2016).
A denominação “violência doméstica” e “violência intrafamiliar”, provém do
surgimento dessa nova Constituição (MUSZKAT; MUSZKAT, 2016). Apesar de serem
bastante confundidas, existem pequenas diferenças entre essas duas formas de
violência. De acordo com o Ministério da Saúde (2002, p. 15) “a violência doméstica
distingue-se da violência intrafamiliar por incluir outros membros do grupo, sem função
parental, que convivam no espaço doméstico. Incluem-se aí empregados(as),
pessoas que convivem esporadicamente, agregados.”
Ao perceber que a relação e o afeto dos pais para com os seus filhos tem
influência direta com o desenvolvimento infantil, com a aprendizagem e com as

1Graduanda do 10° termo de Psicologia no Centro Universitário de Ourinhos – UNIFIO.


[email protected]
2Possui graduação em PSICOLOGIA pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho -

UNESP (2004); Especialização em Psicopedagogia (2006); Saúde Pública com Ênfase em Saúde da
Família (2010); Neuropsicologia (2011); e Especialização em Ativação de Processos de Mudança na
Formação Superior de Profissionais de Saúde (2014). Mestrado em Psicologia UNESP – Assis/SP
(2013). Atualmente é Psicóloga Judiciária no Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, docente da
UNIFIO - Centro Universitário das Faculdades Integradas de Ourinhos/Supervisora do Núcleo de
Estágio Institucional em Psicologia Jurídica no CEPP (Centro de Estudos e Práticas em Psicologia).
120
vivências da criança, surge a necessidade de se falar sobre a violência intrafamiliar e
as suas consequências.

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

A violência intrafamiliar é considerada uma forma de agressão de grande


problemática por ocorrer dentro da vida privada das famílias e por tornar todos ali
presentes em cumplices do agressor (MONTI, 2020). Geralmente, a sua presença é
marcada pela perca de autonomia das vítimas, que passam a viver de acordo com os
gostos, desejos e necessidades do violentador (FERRARI; VECINA, 2002). No caso
da violência contra crianças, quando os agressores são os pais, a justificativa dada
por eles para explicar tal ação é a necessidade de educar ou de colocar limites em
seus filhos (HABIGZANG; KOLLER, 2012).
A história que a família no geral carrega, pode ser um fator influenciador para a
presença da violência intrafamiliar, já que essa é uma construção social de grande
importância na organização da sociedade.

[...] o conceito de família, como uma construção histórica, social e cultural,


apesar de ter passado por constantes mudanças ao longo do tempo, ainda
tem predomínio de um modelo burguês, patriarcal e nuclear, no qual a
autoridade paterna predomina sobre a família. O processo de socialização e
educação desse modelo de família estabelece certos papéis e acaba por
naturalizar a submissão das crianças e mulheres ao pai ou “homem da casa”
(MONTI, 2020 p. 39).

Apesar da ideia da figura masculina como chefe da família e detentor de todo


poder ainda ser muito comum, vale ressaltar que a violência executada pela mãe
contra outros membros da família, principalmente crianças, é muito frequente. De
acordo com o Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (2021, s.p.), “a mãe
aparece como a principal violadora, com 15.285 denúncias; seguido pelo pai, com
5.861; padrasto/madrasta, com 2.664; e outros familiares, com 1.636 registros.”

MATERIAIS E MÉTODOS

Nesta pesquisa foi utilizada como método a revisão bibliográfica. Dessa forma,
foi recorrido a materiais já existentes (artigos e livros) referentes à Violência
Intrafamiliar e suas consequências.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

As problemáticas da violência infantil começaram a ser percebidas e mais


divulgadas no início dos anos 50, onde alguns profissionais da saúde notaram que
muitas crianças que chegavam para o atendimento apresentavam desnutrição sem
causa aparente e muitas possuíam diversos pontos de cicatrização óssea causada
por lesões anteriores (FERRARI e VECINA, 2002). Quando esses ferimentos
começam a ser identificados como consequências da violência executada por pais ou

121
responsáveis, acontece a desmistificação da família como centro protetor da criança
(GONÇALVES, 2009).
Winnicott (1963), pesquisador conhecido por seus estudos na área da infância,
destaca a importância da presença e dos cuidados da mãe, ou figura cuidadora, para
a construção da personalidade de uma criança. Para ele, a mãe deve ser capaz de
atender as necessidades de seu filho, sendo nomeada de suficientemente boa,
quando consegue promover o desenvolvimento físico, emocional e a independência
gradual da criança de forma saudável (TEIXEIRA, 2017). Entretanto, da mesma forma
que um ambiente saudável pode ser um exemplo, um ambiente problemático também
tem suas influências sobre a vida da criança. Viver em um ambiente familiar
conturbado pode causar diversos conflitos internos, que podem afetar de forma
negativa o seu desenvolvimento.
Apesar de possuir muitos estudos sobre a importância de um ambiente
saudável na vida e no desenvolvimento de uma criança, Winnicott também possui
algumas ideias sobre os prejuízos que podem existir em caso de negligência com um
bebê em sua fase de desenvolvimento (TEIXEIRA, 2017). Quando a criança é privada
dos cuidados maternos necessários, existem grandes chances de ocorrer uma
distorção no seu desenvolvimento. “Se a criança for constantemente forçada a reagir
às intrusões, isso impede e paralisa sua tendência natural ao amadurecimento,
ocorrendo uma interrupção ou distorção deste seu processo” (BIANCO, 2020, p. 65).
Diferente daqueles que nunca vivenciaram frustrações em sua infância, pessoas que
passaram por traumas causados por decepções do ambiente e que ainda se lembram
dos sentimentos daquele momento, possuem grandes chances de levarem uma vida
tensa e de desenvolverem algum transtorno mental (ANDRADE, REZENDE e FILHO,
2019).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em suma, quando se fala de violência intrafamiliar, apontar os prejuízos


causados na vida de suas vítimas se torna de extrema importância. Quando há
descuido dos pais para com seus filhos, acontece um sentimento de desamparo por
parte da criança e a mesma acaba perdendo a confiança nas figuras cuidadoras,
comprometendo assim, o seu desenvolvimento. As sequelas da violência intrafamiliar,
permanecem com o sujeito pelo resto da vida e, em alguns casos, pode ocorrer a
repetição destes atos por parte do indivíduo para com o outro, seja na infância com
os colegas, seja quando adulto com sua própria família.

REFERÊNCIAS

ANDRADE, Cristiano de Jesus; REZENDE, Manuel Morgado; FILHO, Carlos de


Souza. As Contribuições de Freud e Winnicott para a compreensão da psicose:
uma reflexão teórica explicativa. Revista Pandora Brasil, 2019. Disponível em:
http://revistapandorabrasil.com/revista_pandora/tematica_livre/freud_winnicott.pdf.

BIANCO, Omar Moreira Del. Trauma infantil, violência contra a mulher e


depressão na vida adulta: um olhar à luz da psicanálise winnicottiana.
122
Programa de Estudos Pós-Graduados em Psicologia: Psicologia Clínica, Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2020. Disponível em:
https://repositorio.pucsp.br/handle/handle/23107.

CHAUI, Marilena. Sobre a violência. Belo Horizonte: Grupo Autêntica, 2017. E-


book. ISBN 9788551300855. Disponível em:
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788551300855/.

FERRARI, Dalka C. A.; VECINA, Tereza C. C. O fim do silêncio na violência


intrafamiliar: teoria e prática. São Paulo: Ágora, 2002.
MUSZKAT, Malvina; MUSZKAT, Susana. Violência familiar: Série O Que Fazer?
São Paulo: Editora Blucher, 2016. E-book. ISBN 9788521210818. Disponível em:
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788521210818/.

GONÇALVES, Hebe Signorini. Violência contra a criança e o adolescente. In:


GONÇALVES, Hebe Signorini; BRANDÃO, Eduardo Ponte. Psicologia Jurídica no
Brasil. Rio de Janeiro. Ed. Nau, 2009.

HABIGZANG, Luísa F.; KOLLER, Silvia H. Violência Contra Crianças e


Adolescentes. Porto Alegre: Grupo A, 2012. E-book. ISBN 9788536327167.
Disponível em: https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788536327167/.

MINISTÉRIO DA SAÚDE. Violência intrafamiliar: orientações para prática em


serviço. Secretaria de Políticas de Saúde – Brasília: Ministério da Saúde, 2002.

MINISTÉRIO DOS DIREITOS HUMANOS E DA CIDADANIA. 81% dos casos de


violência contra crianças e adolescentes ocorrem dentro de casa. Governo
Federal, 2021. Disponível em: https://www.gov.br/mdh/pt-
br/assuntos/noticias/2021/julho/81-dos-casos-de-violencia-contra-criancas-e-
adolescentes-ocorrem-dentro-de-casa.

MONTI, Luísa Leôncio. Estudo sobre violência intrafamiliar contra a criança:


conhecimentos e atitudes de professores da Educação Infantil. Educação
Escolar – FCLAR, 20 de fev. 2020. Disponível em:
http://hdl.handle.net/11449/202213.

REIS, Deliane Martins; PRATA, Luana Cristina Gonçalves; PARRA, Cláudia Regina.
O Impacto da Violência Intrafamiliar no Desenvolvimento Psíquico Infantil. O Portal
dos Psicólogos, 2018. Disponível em:
https://www.psicologia.pt/artigos/textos/A1253.pdf.

TEIXEIRA, Priscila de Almeida. Crianças e adolescentes vitimizados e


instituições de acolhimento: uma discussão sobre a abordagem de Winnicott.
Volta Redonda, 2017. Disponível em: https://app.uff.br/riuff/handle/1/6402.

123
WINNICOTT, D. W. Da dependência à independência no desenvolvimento do
indivíduo (1963). In: WINNICOTT, D. W. O ambiente e os processos de
maturação: estudos sobre a teoria do desenvolvimento emocional. Porto
Alegre: Artmed, 1983, p. 79-87.

124
VIOLÊNCIA SEXUAL INFANTIL: CONSEQUÊNCIAS PSICOLÓGICAS NA VIDA
ADULTA

Pamila Eulália de Souza1


Damaris Bezerra de Lima2

Palavras-chave: Violência Sexual; Violência Intrafamiliar; Transtornos Psicológicos;


Psicoterapia.

INTRODUÇÃO

A violência sexual vem acontecendo desde os tempos antigos, pois


antigamente a criança não era tratada como um ser de direitos, então muitas eram
usadas para satisfazer os desejos sexuais de adultos. Mas, só foi após a Lei Federal
8.069 (Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA) que “define as crianças e
adolescentes como sujeitos de direitos, que demandam proteção integral e prioritária
por parte da família, sociedade e do Estado (Brasil,1990) que esses atos passaram a
não ser aceitos pela sociedade. Contudo, mesmo com a lei que a protege, os seus
direitos ainda são violados.
A violência sexual infantil é definida como todo ato em que o adulto usa uma
criança para satisfazer seus desejos sexuais, seja por meio de contato físico ou não
(Brasília, 2013) e acontece no meio intrafamiliar e extrafamiliar. De acordo com os
autores Margarini e Pacheco 2012, esse tipo de violência causa vários prejuízos na
infância e se não tratados podem ocasionar problemas em longo prazo.
O objetivo dessa pesquisa é conhecer a grande gama de sintomas e
psicopatologias relacionadas à violência sexual na infância e como a psicoterapia
pode amenizar e tratar esses sintomas. Trazer também a importância do adulto fazer
um tratamento psicoterápico adequado, por ser um ato que causa grande trauma os
efeitos dessa vivência podem aparecer de diversas formas, em diferentes graus de
severidade e em qualquer idade da vítima (Malgarin, Pacheco 2012).

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

A violência sexual pode ser cometida por conhecidos ou desconhecidos da


vítima, mas a que causa um dos maiores danos psicológicos é a violência sexual

1Graduanda do 10° termo de Psicologia no Centro Universitário de Ourinhos – UNIFIO.


2Possui graduação em PSICOLOGIA pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho -
UNESP (2004); Especialização em Psicopedagogia (2006); Saúde Pública com Ênfase em Saúde da
Família (2010); Neuropsicologia (2011); e Especialização em Ativação de Processos de Mudança na
Formação Superior de Profissionais de Saúde (2014). Mestrado em Psicologia UNESP – Assis/SP
(2013). Atualmente é Psicóloga Judiciária no Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, docente da
UNIFIO - Centro Universitário das Faculdades Integradas de Ourinhos/Supervisora do Núcleo de
Estágio Institucional em Psicologia Jurídica no CEPP (Centro de Estudos e Práticas em Psicologia).
125
intrafamiliar, especialmente o incesto, onde o abusador é o pai, padrasto ou genitor
da vítima. Nesses casos, a vítima não tem opção de fuga, pois o adulto responsável
por protegê-la é o mesmo que a machuca, a vítima é obrigada a conviver com seu
abusador 24 horas por dia (Habigzang, Caminha, 2008). Uma pesquisa realizada pelo
Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania mostrou que a violência sexual ocorre
em 73% dos casos dentro da casa da vítima, e em 40% dos casos, o abuso é cometido
pelo pai ou padrasto. (ODH,2020) Esses casos de abuso contínuo dentro de um
contexto familiar resultam em uma quebra de confiança e perda da segurança, o que
afeta negativamente o desenvolvimento infantil.
A experiência da violência sexual infantil pode causar traumas que variam de
pessoa para pessoa. O impacto no desenvolvimento da vítima é influenciado por
fatores como o histórico social e familiar da criança, o contexto do abuso, a idade em
que começou, a frequência, a duração e a presença ou ausência de penetração. Além
disso, a forma como as pessoas ao redor da vítima reagem à revelação do abuso
também influencia os sintomas e psicopatologias que podem surgir em longo prazo.
(Lessinger, Dell’aglio, 2008).

MATERIAIS E MÉTODOS

Para essa pesquisa foi realizada como método a revisão bibliográfica nas
plataformas do scielo, google acadêmico, pepsic, e biblioteca Unifio.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A violência sexual causada na infância conforme os autores Margarini e


Pacheco 2012, se não é tratada pode ocasionar problemas em longo prazo como, por
exemplo, no desenvolvimento cognitivo, afetivo, social e psicológico da vítima. Se for
falar de possíveis transtornos psicológicos a literatura nos traz o transtorno de
estresse pós-traumático (TEPT) que é comum se observado em casos de violência
sexual na infância. O TEPT é caracterizado por flashbacks, nos quais a vítima revive
o trauma em sua vida atual (DSM-5, 2014). De acordo com os autores Tosta. Bianco
(2019) os traumas infantis que estão associados as questões interpessoais e
intencionais como a violência sexual podem estar ligados ao desenvolvimento
crônicos de depressão, que se caracteriza por “uma tristeza suficientemente grave ou
persistente que pode interferir no funcionamento e, muitas vezes, para diminuir o
interesse ou o prazer nas atividades” (Coryhell, William, 2021). O Transtorno de
Personalidade Borderline (TPB) é caracterizado por instabilidade nas relações
interpessoais, autoimagem, afetos e impulsividade acentuada, surgindo no início da
vida adulta (DSM-5.2014). Um estudo clínico realizado por Turniansky em 2019
revelou que pacientes com TPB que sofreram violência sexual na infância
apresentaram maior número de internações psiquiátricas e taxas mais elevadas de
tentativas de suicídio. (Oliveira et al, 2021). Os transtornos alimentares são
caracterizados por padrões alimentares prejudiciais que afetam o bem-estar de uma
pessoa. Segundo a literatura, traumas na infância, especialmente relacionados à
sexualidade, são fatores desencadeantes de problemas de personalidade,
autoimagem e autoestima, causando grande sofrimento.(Attia,Timothy 2022).Estudos
126
apontam que a violência sexual na infância está relacionada a uso de álcool e drogas
na vida adulta, entre os vícios encontrados estão o tabaco, maconha e sedativos, o
uso desses tipos de drogas é a forma usada para conseguir lidar com o sofrimento
psíquico (Silvia,2022 apud Cruz.2021). Há também a gravidez indesejada e doenças
sexualmente transmissíveis.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Considerando tantos males que a violência sexual traz na infância, a


psicoterapia entra como uma grande aliada em amenizar esses efeitos, pois ela busca
compreender, influenciar, e modificar a experiência psíquica e o comportamento do
paciente (Mondardo, Mantovani, 2009) ajudando o individuo a amenizar o sofrimento
vivenciado na infância. O sujeito através da psicoterapia vai compreender o que
aconteceu com ele, se fortalecer emocionalmente, terá condições de resistir aos
impactos vividos, suportando as pressões da vida, evitando a autotortura e
encontrando saídas para o seu drama através de uma via sublimatória ( Azevedo,
2001). É através dessa pesquisa e de tanto autores que podemos concluir que o
individuo que passa por um trauma relacionado com a sexualidade na infância, precisa
de ajuda desde o inicio, e quando não pede ajuda, ou não é ajudado, muitas são as
consequências, e a psicoterapia vem como fato essencial que poderá amenizar e
ajudar o individuo a caminhar para uma vida saudável.

REFERÊNCIAS

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para a família. 2022. Disponível em: https://www.msdmanuals.com/pt-
br/casa/dist%C3%BArbios-de-sa%C3%BAde-mental/transtornos-
alimentares/bulimia-nervosa. Acesso em 05.maio.2023.

AZEVEDO. Elaine. Atendimento psicanalítico a crianças e adolescentes vítimas


de abuso sexual. .2001. Disponível em:
https://www.scielo.br/j/pcp/a/zN57XFHxwPLnjZXYwqSCLJN/?lang=pt&format=html.
Acesso em: 26 maio.2022..

BRASIL. Lei nº 13.431, de 4 de abril de 2017. Estabelece o sistema de garantia de


direitos da criança e do adolescente vítima ou testemunha de violência e altera
a Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente), a
Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), aprovada pelo Decreto-Lei nº 5.452,
de 1º de maio de 1943. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 5 abr. 2017. Seção 1, p.
1. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-
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CORYELL. William. Transtorno depressivo. Manual Msd versão para


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br/profissional/transtornos-psiqui%C3%A1tricos/transtornos-do-humor/transtornos-
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Acesso em: 01. Maio. 2023.

LANDIM, C. C., Miranda, I. C. de A., Lira, I. S. de, Fermoseli, A. F. de O., & Oliveira,
J. S. de. (2021). TRANSTORNO DE PERSONALIDADE BORDERLINE COMO
CONSEQUÊNCIA DO ABUSO SEXUAL EM CRIANÇAS. Caderno De Graduação -
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psicoterápica.Aletheia. 2009, n.30, pp. 158-171. Disponível:
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-
03942009000200013. Acesso em: 26.maio.2020

Presidência da República. "Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 - Estatuto da


Criança e do Adolescente". Disponível em:
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm. Acesso em: 16 abr. 2023.

TOSTA. Rosa. Bianco. Omar. Abuso sexual infantil, trauma e depressão na vida
adulta: um estudo de caso. Revista interinstitucional de psicologia. 14 (2), 2021.
Disponivel em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1983-
82202021000200004#:~:text=Os%20resultados%20indicam%20que%20os,a%20fut
ura%20eclos%C3%A3o%20dessa%20patologia. Acesso em: 25.maio.2023

128
TRANSTORNOS ALIMENTARES NA CONSTRUÇÃO DA IDENTIDADE FEMININA

Poliana Natacha Peixoto1


Rita Ferreira da Silva2

Palavras-chave: Mulher; saúde emocional, transtornos alimentares, psicanálise.

INTRODUÇÃO

A insatisfação com o corpo e a busca por um padrão de beleza inalcançável


têm levado pessoas a comportamentos autodestrutivos, como a adoção de dietas
excessivas e a prática de procedimentos estéticos invasivos. Especialmente entre as
mulheres, a pressão social e os ideais estéticos impostos pela sociedade têm
impactos profundos na formação da identidade, afetando a autoestima e a imagem
corporal (Brugiolo, et al, 2021).
No contexto contemporâneo, em que a mídia e as redes sociais exercem uma
influência significativa, observa-se uma intensificação desses problemas. O corpo
feminino idealizado é constantemente exibido como objeto de consumo, promovendo
um padrão estético inatingível para a maioria das mulheres. A busca incessante por
essa imagem ideal tem levado ao aumento alarmante de transtornos alimentares, tais
como anorexia, bulimia e transtorno de compulsão alimentar (Souza, et al, 2021).
Diante dessa situação, é fundamental compreender os fatores que contribuem
para o desenvolvimento dos transtornos alimentares e seu impacto na construção da
identidade feminina. A influência da mídia, dos padrões sociais, familiares, culturais e
históricos, bem como os aspectos psicológicos envolvidos, desempenham um papel
crucial nesse contexto complexo.
Assim, o objetivo deste esboço acadêmico é analisar de forma aprofundada a
relação entre transtornos alimentares e a construção da identidade feminina,
destacando as influências socioculturais e psicológicas envolvidas.

1 Graduanda do 9° termo de Psicologia pelo Centro Universitário das Faculdades Integradas de


Ourinhos.
2 Mestra em Psicologia pela Universidade Ibirapuera - UNIB (2022). Especialista em Psicopedagogia

Clínica e Institucional pela Universidade Estadual do Norte do Paraná - UENP (2013). Especialista em
Educação Especial Inclusiva pela Faculdade Corporativa Cespi - FACESPI (2014). Equoterapeuta
formada pela Associação Nacional de Equoterapia ANDE-Brasil (2014). Graduada em Pedagogia pela
Faculdade Paulista São José (2018). Graduada em Psicologia pelo Centro Universitário das
Faculdades Integradas de Ourinhos (2011). Docente no ensino superior no Centro Universitário de
Ourinhos - UniFio (2022-atual). Supervisora do Núcleo de Estágio Institucional Psicologia Hospitalar e
Inclusiva no Centro Universitário de Ourinhos - UniFio (2022-atual). Atuou como Psicóloga e
Equoterapeuta durante os anos de 2013 à 2022 no movimento APAEano paulista. Tem experiência na
área de Psicologia, atuando principalmente nos seguintes temas: Psicologia, Psicanálise, Equoterapia,
Psicossomática, Transtornos do Neurodesenvolvimento, Deficiência Intelectual e Estimulação Precoce.
129
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

No contexto de uma sociedade machista e patriarcal, as mulheres enfrentam


uma série de desafios e pressões psicossociais relacionados à sua identidade e
imagem corporal. O desenvolvimento da identidade feminina é fortemente influenciada
por padrões de beleza impostos pela cultura e pela mídia, que frequentemente
promovem um ideal inalcançável de corpo perfeito. Esses padrões estabelecem uma
norma estreita e restritiva, levando muitas mulheres a sentirem-se insatisfeitas com
seus corpos e a adotarem comportamentos alimentares disfuncionais como forma de
tentar se adequar a esses padrões (Souza, et al, 2021).
A sociedade machista e patriarcal valoriza e enaltece a aparência física das
mulheres, colocando uma pressão significativa sobre elas para corresponderem a um
ideal de beleza irrealista. Isso resulta em uma constante vigilância e auto cobrança
em relação ao corpo, levando ao surgimento de transtornos alimentares, como a
anorexia, a bulimia e o transtorno de compulsão alimentar (Sampaio; Ferreira, 2009).
As disfunções comportamentais relacionadas à alimentação são amplamente
citadas por órgãos e referências importantes na área da saúde. O CID-10
(Classificação Internacional de Doenças), o DSM-IV (Manual Diagnóstico e Estatístico
de Transtornos Mentais) e a OMS (Organização Mundial da Saúde) descrevem essas
condições de maneira específica. A anorexia nervosa é caracterizada pela restrição
alimentar extrema, levando a uma perda significativa de peso, a bulimia nervosa
envolve episódios de compulsão alimentar seguidos de comportamentos
compensatórios, como vômitos induzidos ou uso de laxantes, já o transtorno de
compulsão alimentar é caracterizado por episódios recorrentes de compulsão
alimentar sem comportamentos compensatórios (Ferreira, 2006).
A pressão social para se encaixar em um padrão estético irrealista afeta
profundamente a saúde mental das mulheres. A busca incessante por um corpo
perfeito e a autoavaliação baseada em critérios externos levam a sentimentos de
inadequação, baixa autoestima e distorção da imagem corporal. Esses transtornos
alimentares não apenas afetam a saúde física das mulheres, mas também têm um
impacto negativo em sua saúde psicológica, interferindo no desenvolvimento saudável
da identidade feminina (Sampaio; Ferreira, 2009).
Portanto, compreender as influências da sociedade na construção da
identidade feminina e a relação dessas influências com os transtornos alimentares é
essencial para promover a conscientização, a prevenção e o tratamento adequado
desses problemas. Ao abordar esse tema em um trabalho acadêmico, busca-se
ampliar o conhecimento científico sobre as implicações psicológicas e sociais dos
transtornos alimentares, contribuindo para uma abordagem mais abrangente e
empática em relação às questões relacionadas à identidade feminina e à saúde
mental das mulheres.

MATERIAIS E MÉTODOS

A metodologia utilizada neste estudo consistiu em uma revisão bibliográfica


narrativa, a qual buscou compreender a relação entre transtornos alimentares e a
construção da identidade feminina. Foram utilizados livros, artigos e publicações que
130
lançaram seu olhar sobre a temática investigada, valendo-se de autores e
pesquisadores cujas contribuições enriqueceram sobremaneira a busca. Dessa
forma, o estudo empreendido adquire um caráter narrativo de interesse.
Entre os autores utilizados, destaca-se o livro de Simone de Beauvoir, que
proporcionou uma análise crítica sobre a construção da identidade feminina e suas
relações com a sociedade patriarcal. Além disso, outros estudos e artigos científicos
foram explorados para obter uma visão abrangente das influências sociais, das
pressões estéticas e dos padrões de beleza irrealistas que impactam a relação entre
transtornos alimentares e a identidade feminina.
A análise dos dados foi realizada por meio de uma abordagem que visa
identificar padrões, relações e temas emergentes relacionados à construção da
identidade feminina e aos transtornos alimentares. A interpretação dos dados foi
conduzida com base na compreensão das experiências individuais e coletivas das
mulheres, utilizando artigos e livros que forneceram exemplos e ilustrações relevantes
para embasar essa análise, levando em consideração os aspectos psicológicos,
sociais e culturais que influenciam essa relação (Danton, 2002).
É importante ressaltar que a metodologia de pesquisa narrativa utiliza termos
como pessoal e social para tratar da interação, passado, presente e futuro para
desenvolver a noção de continuidade, e lugar para marcar a situação. O objeto de
estudo dessa abordagem são as histórias narradas, com foco na compreensão dos
indivíduos em interação e inseridos em um contexto social. Esses termos formam um
espaço tridimensional para a investigação narrativa (Sahagoff, 2015). Nesse sentido,
o uso de diferentes fontes de informação e a diversidade de materiais consultados
contribuíram para uma análise mais abrangente e embasada dos aspectos
relacionados à construção da identidade feminina e aos transtornos alimentares.
Por meio dessa abordagem, foi possível explorar as complexidades dessa
problemática e fornecer subsídios para uma compreensão mais ampla das influências
sociais, dos padrões de beleza irrealistas e da busca pelo corpo perfeito na relação
com os transtornos alimentares e a identidade feminina.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os dados obtidos destacam a influência das pressões sociais e dos padrões de


beleza irrealistas na saúde mental das mulheres, resultando em comportamentos
alimentares disfuncionais.
A análise dos resultados revela que a construção da identidade feminina está
intrinsecamente ligada às expectativas e normas impostas pela sociedade. As
mulheres são constantemente bombardeadas por mensagens que reforçam a
importância de ter um corpo magro e perfeito, levando a uma busca incansável por
alcançar esses ideais inatingíveis. Essa busca pela perfeição estética pode levar a
uma insatisfação corporal, baixa autoestima e desenvolvimento de transtornos
alimentares, como anorexia nervosa, bulimia nervosa e transtorno da compulsão
alimentar (Sampaio; Ferreira, 2009).
Além disso, os resultados evidenciam a necessidade de considerar o papel dos
fatores psicossociais na compreensão dos transtornos alimentares. Questões como
traumas, experiências de discriminação, pressões familiares e a busca por validação
131
social emergiram como influências significativas no desenvolvimento desses
transtornos. A busca por controle, perfeccionismo e a necessidade de se encaixar em
padrões estabelecidos são características comuns encontradas entre as mulheres
afetadas.
A discussão dos resultados destaca a importância de abordagens terapêuticas
abrangentes e multidisciplinares no tratamento dos transtornos alimentares. A
intervenção psicológica desempenha um papel central nesse processo, visando à
reconstrução da relação saudável com a alimentação, ao fortalecimento da autoestima
e à promoção do autocuidado (Costa; Melnik, 2016).
Além disso, podemos considerar como fundamental as abordagens que levem
em conta o contexto social e cultural no qual esses transtornos se desenvolvem. A
desconstrução dos padrões de beleza irrealistas, o empoderamento das mulheres e a
promoção de uma imagem corporal positiva são aspectos essenciais no combate aos
transtornos alimentares e na construção de uma identidade feminina saudável (Costa;
Melnik, 2016).
Em suma, os resultados da pesquisa destacam a complexidade da relação
entre transtornos alimentares e a construção da identidade feminina. Essa discussão
reforça a importância do papel do psicólogo na compreensão, no tratamento e na
prevenção desses transtornos, bem como na promoção de uma identidade feminina
saudável e livre de pressões sociais e estereótipos prejudiciais.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em suma, a análise realizada ressalta a estreita relação entre transtornos


alimentares e a construção da identidade feminina, destacando o papel significativo
das influências sociais e culturais nesse processo. A sociedade exerce uma pressão
constante sobre as mulheres, impondo padrões de beleza irrealistas e promovendo a
conformidade com ideais estereotipados. Essa influência cultural intensifica a busca
por um corpo considerado perfeito, gerando comportamentos alimentares
disfuncionais e impactando negativamente a saúde psíquica das mulheres. A
construção da identidade feminina é profundamente moldada pelas normas sociais
vigentes, que muitas vezes limitam a expressão individual e reforçam estereótipos
prejudiciais. Portanto, compreender e questionar a influência da cultura na formação
da identidade feminina é essencial para promover uma sociedade mais inclusiva, onde
as mulheres possam desenvolver uma autoimagem saudável, baseada em suas
próprias experiências, desejos e valores.

REFERÊNCIAS

BRUGIOLO, A; SANTOS, E; RIBEIRO, P; CARNAÕBA, F. Insatisfação corporal e


procedimentos estéticos em estudantes universitários. Fisioterapia e Pesquisa,
[S.L.], v. 28, n. 4, p. 449-454, out. 2021. FapUNIFESP (SciELO).
http://dx.doi.org/10.1590/1809-2950/21008128042021.

COSTA, M; MELNIK, T. Efetividade de intervenções psicossociais em transtornos


alimentares: um panorama das revisões sistemáticas. Einstein (São Paulo), [S.I], v.
132
14, n. 2, p. 235-277, jun. 2016. FapUNIFESP (SciELO).
http://dx.doi.org/10.1590/s1679-45082016rw3120.

DANTON, G. Metodologia Científica. Pará de Mina: Virtual Books Online M&M


Editores Ltda., 2002. 23 p.

SAMPAIO, R; FERREIRA, R. Beleza, identidade e Mercado. Psicologia em


Revista, Belo Horizonte, v. 15, n. 1, p. 120-140, 2015 abr. 2009.

SOUZA, K; BARROS, R; KABENGELE, D; MAXIMIANO, M; ACÁCIO, K. Influência


da mídia sobre o corpo feminino: uma revisão sistemática. Interfaces Científicas -
Humanas e Sociais, [S.L.], v. 9, n. 2, p. 385-400, 1 set. 2021. Universidade
Tiradentes. http://dx.doi.org/10.17564/2316-3801.2021v9n2p385-400.

SAHAGOFF, A. Pesquisa narrativa: uma metodologia para compreender a


experiência humana. in: 11 Semana de extensão, Pesquisa e Pós-graduação. Porto
alegre, p. 1-7, 2015.

133
A EQUOTERAPIA E SUA INFLUÊNCIA NO TRATAMENTO E REABILITAÇÃO DE
PESSOAS COM DEFICIÊNCIA

Reilane Souza S. Auerswald 1


Rita Ferreira da Silva 2

Palavras-chave: Psicologia; Equoterapia; Reabilitação; Autismo; Deficiência


Intelectual.

INTRODUÇÃO

Esta investigação nomeada “A Equoterapia e sua influência no


tratamento e reabilitação de pessoas com deficiências”. Esse tema faz -se de
suma importância, pois as deficiências podem ser habilitadas e reabilitadas,
proporcionando qualidade de vida e efetivação da inclusão social. Logo, as
atividades de equitação terapêutica são intervenções as quais proporcionam a
junção destas duas unidades tratamento e inclusão. De acordo com a
Associação Nacional de Equoterapia – ANDE Brasil, a “equoterapia” é um termo
cunhado para designar todas as técnicas que empreguem o cavalo com
metodologias de equitação e atividades equestres, as quais destinam-se ao
acompanhamento multidisciplinar terapêutico as pessoas com deficiência (ANDE,
2012).
Ao que diz respeito a legitimidade da Equoterapia no território brasileiro, e
associados a isto, a regulamentação efetiva de sua intervenção terapêutica por uma
equipe multidisciplinar em que o profissional de psicologia faz parte, em 13 de maio
de 2019 a Lei nº 13.830 entrou em vigor. A Lei em questão regulamenta a prática da
equoterapia como procedimento de reabilitação (BRASIL, 2019). Pela letra da lei trata-
se de uma intervenção assistida por cavalo, que está para além da prática clínica. É
realizada por uma equipe interdisciplinar – multiprofissional -, a qual comumente
prioriza caso a caso, intervenção por intervenção, montando para cada praticante um
protocolo de atendimento individualizado.
Cabe ainda salientarmos que apesar dos primeiros atendimentos de
equoterapia terem ocorridos no Brasil no início dos anos 90, este campo de atuação
é considerado novo. A presença de um psicólogo na equipe básica de equoterapia foi
legitimada apenas em 2019, e o profissional passou a ser considerado indispensável
assim como consta em lei. Diante de tais prerrogativas, investigar, analisar e construir
diálogos entre a psicologia e a equoterapia é de suma importância para o campo
cientifico.

1 Graduanda do 10° termo de Psicologia pelo Centro Universitário das Faculdades Integradas de
Ourinhos.
2Psicóloga (UNIFIO), pedagoga (FPSJ), mestra em psicologia (UNIB), professora do curso de

psicologia. Centro Universitário de Ourinhos, [email protected].

134
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

A prática da equoterapia é recomendada para todas as pessoas, mas em


especial para as pessoas com deficiência, vide os benefícios e ganhos no
desenvolvimento e na saúde integral de seus praticantes (Ande, 2012).
O profissional de psicologia, atuando no setor – no campo – da equoterapia
deve ter um olhar atento que lhe permita perceber quais são as habilidades do seu
praticante as quais devem ser estimuladas durante as sessões de equoterapia. Para
além única e exclusivamente da atuação direta com o praticante, o psicólogo de
realizar o acolhimento com as famílias, ter uma boa conexão com os demais membros
da equipe, prezar pelo atendimento ético e estabelecer um elo de confiança entre o
praticante e o cavalo. Ainda sobre a atuação do psicólogo na equoterapia os autores
Amorin; Bezerra; Oliveira; Silva; Vieira (2016, n.p) vão dizer:

O Psicólogo na Equoterapia contribui para a estimulação do praticante,


percebendo suas potencialidades e seus limites, bem como proporcionando
a ele, mecanismos que possibilitem a aproximação desse indivíduo com o
cavalo, bem como a conscientização corporal, autoconfiança, noção de limite,
desenvolvimento das funções cognitivas, entre outras atividades. O psicólogo
auxilia ainda na assistência familiar e na orientação da equipe, buscando
maior eficácia no atendimento das dificuldades do praticante, contribuindo
para melhorias nos aspectos físicos e psíquicos.

Por intermédio das palavras dos autores acima, podemos analisar que o
psicólogo deve exercer em sua prática em um centro de equoterapia o papel de
técnico e responsável pelas intervenções in loco, mas também o papel de mediador
das relações interpessoais e interlocutor entre o praticante – paciente – e o cavalo.
Esta mediação e confiança é que permitirá a obtenção de resultados satisfatórios
durante o processo terapêutico.
Desta forma, podemos analisar conforme Eckert (2013), a Equoterapia pode
ser definida como um protocolo terapêutico, que associado as intervenções clinicas,
busca a reabilitação e da qualidade de vida aos sujeitos com deficiência. É importante
pontuar, que a equitação terapêutica, nomeada aqui em nosso país como
Equoterapia, distinguindo-se do tratamento clínico tradicional, por ser efetivada ao ar
livre, suscitando uma conexão o praticante – paciente em ato de montaria ou atividade
com o equino –, equipe terapêutica e cavalo. Entretanto, promove muitos benefícios
aos seus cavaleiros, incluindo bem estar e inclusão social.

MATERIAIS E MÉTODOS

Para a estruturação do método de pesquisa desta investigação optamos


pela revisão bibliográfica narrativa de interesse. Assim como destaca Cordeiro
et al. (2012, p.429), “a revisão da literatura narrativa ou tradicional [...] apresenta uma
temática mais aberta; [...] não exigindo um protocolo rígido para sua confecção”. Desta
forma, optamos em ter como eixo central de nossas investigações as orientações e
135
publicações associadas a Associação Nacional de Equoterapia – ANDE – Brasil, a Lei
regulamentadora desta prática no território brasileiro e a outras publicações as quais
se fazem pertinentes a nossa discussão.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Assim como destacamos anteriormente nesta análise, a equoterapia enquanto


prática terapêutica se estrutura por intermédio de protocolos. De acordo com a
proposta de intervenção terapêutica da Associação Nacional de Equoterapia é
subdividida em quatro modalidades de práticas terapêuticas interventivas de
habilitação e reabilitação as pessoas com deficiência: hipoterapia,
educação/reeducação, pré-esportiva e hipismo. Os programas de intervenção básica
em equoterapia são utilizadas como proposta de intervenção terapêutica, assim como
estudadas cientificamente em múltiplas partes do mundo (ANDE-Brasil, 2012).
Referente à primeira modalidade a hipoterapia, podemos considerar os apontamentos
de Teixeira et al., (2016, p. 78):

O programa de Hipoterapia é fundamentalmente desenvolvido na área de


reabilitação, e é proposta ao praticante que não oferece qualidades físicas ou
mentais para se sustentar sozinho sobre o dorso do cavalo, essa fase é
fundamentalmente direcionada para a área de saúde, empregando o cavalo
como ferramenta cinismo terapêutico. Precisa do acostamento direto dos
profissionais, sobretudo dos Fisioterapeutas.

Considerando os apontamentos do autor, podemos descrever que a


Hipoterapia é um programa fundamentalmente da área de saúde, desenvolvido para
o atendimento destinado as pessoas com deficiência. Na maioria dos casos os
praticantes atendidos na modalidade acima descrita não apresentam habilidades
físicas, mentais ou/e cognitivas, para ter autonomia na atividade com o cavalo,
precisando de um auxiliar-guia para conduzir o animal. Na maior parte dos casos,
igualmente comprometidos pelos agravos da deficiência, o praticante preciso do
auxiliar lateral para mantê-lo montado, dando-lhe segurança na montaria.
É importante destacar que os laterais são um de cada lado, e estes assim como
o auxiliar-guia ou equitador caminham junto do animal e do praticante durante toda
sessão em dorso. Os profissionais da área de saúde, membros da equipe é que
conduz as sessões, dando as coordenadas interventivas dos exercícios planejados.
O cavalo é empregado, sobretudo como ferramenta cinismo terapêutica, nesta
modalidade (Teixeira et al, 2016).
A hipoterapia, em ambiente seguro do picadeiro ou redondel dos Centros
de equoterapia, acabam por ser a modalidade mais utilizada no processo de
habilitação e reabilitação das pessoas com deficiência. Em especial das
crianças com deficiência. Uma vez que estes praticantes podem iniciar seus
programas de equitação terapêutica a partir do segundo e terceiro ano de vida.
Mas, é importante ressaltar, que independente da idade do praticante, este só
poderá passar pelo processo de avalição e conduta das profissionais de
equoterapia após liberação de um médico (Teixeira et al, 2016).

136
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante dos dados encontrados nesta investigação narrativa, podemos


considerar por intermédio de Teixeira et al (2016) e da ANDE-Brasil (2012), que as
pessoas com deficiência – independente do tipo de deficiência a qual ela seja
acometida – tem benefícios em sua saúde integral e em seu processo de habilitação
e reabilitação ao ser acompanhada pelo serviço terapêutico equestre.
Outrossim, não poderíamos deixar de esclarecer que a equoterapia é uma
terapia complementar as terapias clinicas tradicionais. Ou seja, o sujeito que realiza
as sessões de equoterapia deve continuar em acompanhamento terapêutico clinico.

REFERÊNCIAS

AMORIN, B. M. O.; BEZERRA H. C. J. B; OLIVEIRA P. G.; SILVA, J. M.; VIEIRA, D.


V. M. A importância da psicologia na prática da equoterapia. In: II Congresso
Internacional de Educação Inclusiva. 2˚, Campina Grande – PB. Anais de
congresso. Campina Grande, online, 2016.

ANDE-BRASIL. Princípios e Fundamentos da Equoterapia. Revista Nacional de


Equoterapia. Brasília, v. 15, nº 20, p. 363-372, junho, 2012.

BRASIL. Lei nº13.830, de 13 de maio de 2019. Dispõe sobre a prática da


equoterapia. Diário Oficial da União: seção 1, Brasília, DF, 198o da Independência e
131o da República. Maio de 2019. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019- 2022/2019/lei/L13830.htm. Acesso
em: 10 de nov. 2023.

CORDEIRO, A. M., OLIVEIRA, G. M. de., RENTERÍA, J. M., & GUIMARÃES, C. A..


(2007). Revisão sistemática: uma revisão narrativa. Revista Do Colégio Brasileiro
De Cirurgiões, 34(6), 428–431. https://doi.org/10.1590/S0100-69912007000600012

ECKERT, D. Equoterapia como recurso terapêutico: análise eletromiográfica


dos músculos reto do abdômen e paravertebral durante a montaria. 57f.
Dissertação de Mestrado. Centro Universitário Univates, Lajeado, 2013.

TEIXEIRA, E. V; SASSÁ, P; SILVA, D. M. Equoterapia como recurso terapêutico na


espasticidade de membros inferiores em crianças com Paralisia Cerebral
Diplégica. Revista Conexão Eletrônica. Três Lagoas, v.13, nº 1, 2016.

137
A JUSTIÇA RESTAURATIVA COMO ALTERNATIVA AO SISTEMA DE JUSTIÇA
CRIMINAL TRADICIONAL: AS CONTRIBUIÇÕES DO(A) PSICÓLOGO(A) NA
ÁREA

Kauani Tanfere1
Luciano Ferreira Rodrigues Filho²

Palavras-chave: Psicologia; Psicologia Jurídica; Justiça Restaurativa; Sistema de


Justiça; Justiça Retributiva.

INTRODUÇÃO

Frente ao cenário brasileiro, torna-se perceptível a crescente intersecção entre


a Psicologia e o Direito, sendo esta, uma relação em busca por uma compreensão
aprofundada dos processos de justiça, de suas práticas e efetividade. Em seu
contexto histórico, o Sistema de Justiça Brasileiro adotou como modelo a Justiça
Retributiva/Punitiva, que caracteriza-se como uma resposta de punição ao delito
cometido, através da pena de privação de liberdade. Além disso, durante o processo
de encarceramento, os presos são submetidos à episódios de violência, discriminação
e negligência pelas instituições carcerárias, impossibilitando o processo de
reeducação e reinserção social dos apenados. Segundo Rastirolla (2021, p. 2), “o
sistema de justiça criminal, em seu modelo retributivo-punitivo, encontra-se
estrangulado e não tem conseguido cumprir a missão que supostamente seria sua,
qual seja, a de recuperação dos sujeitos privados de liberdade”. Ao decorrer dos
últimos anos, observa-se um crescimento nas discussões e questionamentos acerca
deste modelo tradicional de justiça e de sua eficácia na resolução dos conflitos e no
índice de reincidência de crimes.
Nesse contexto surge a Justiça Restaurativa, em contraposição a Justiça
Retributiva, que visa compreender o delito e os danos causados em consequência
dele nos indivíduos envolvidos. Dessa forma, a Justiça Restaurativa promove a
articulação entre o ofensor, a vítima e a comunidade, de forma com que todos
participem ativamente do processo, buscando a resolução do conflito e a redução dos
danos causados. Dentro desse contexto, o(a) psicólogo(a) contribui com seus
conhecimentos e práticas para o desenvolvimento e implementação da Justiça
Restaurativa, uma vez que seus objetivos e práticas estão em consonância com as
atividades exercidas por ambos. Segundo as autoras Martins e Dias (2022, p. 213)
“existe uma aproximação entre o saber psicológico e a base principiológica da Justiça
Restaurativa, uma vez que tem como embasamento a Declaração Universal dos
Direitos Humanos e primam pela promoção da dignidade humana”. Ademais, o(a)

1
Graduanda do curso de Psicologia do Centro Universitário de Ourinhos/SP - UNIFIO. E-mail:
[email protected]
² Docente no Centro Universitário de Ourinhos/SP – UNIFIO. E-Mail: [email protected]
138
psicólogo(a) através de sua escuta e acolhimento qualificado, poderá contribuir
significativamente nestas situações de conflito, subsidiando os envolvidos no
processo e até mesmo a equipe técnica da instituição.
Através da presente pesquisa bibliográfica exploratória, de caráter qualitativo,
visa-se analisar o Sistema de Justiça Brasileiro, observando o Sistema Prisional e sua
eficácia, em comparativo com a Justiça Restaurativa e seus métodos. Por fim,
realizaremos uma análise acerca das possibilidades de atuação do profissional de
Psicologia no âmbito da Justiça Restaurativa.

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Desde os primórdios da existência humana, diversos foram os meios de justiça


estabelecidos, contudo, a partir do surgimento do Estado, o modelo de justiça
estipulado aqueles em descumprimento com a lei passa a ser a pena de privação de
liberdade, isto é, o período em que o infrator deve permanecer sob custódia em razão
do descumprimento da lei. Todavia, é visto que esse sistema, cujo objetivo concentra-
se na reeducação e reintegração social do sujeito, mostra-se ineficaz em sua
finalidade em razão do alto índice de reincidência criminal, saúde e condições
precárias, superlotação das instituições e a falta de programas de ressocialização
eficientes.
Diante aos frequentes impasses vivenciados pela Justiça Retributiva, surge a
Justiça Restaurativa, como meio alternativo para a resolução de conflitos. Segundo
Orsini e Lara (2013) a Justiça Restaurativa é compreendida como um modelo de
Justiça onde os envolvidos buscam de forma colaborativa, caminhos para a resolução
dos danos causados em razão do delito. Segundo os autores, seu objetivo consiste
na resolução do conflito, na reparação dos danos e na promoção da reconciliação
entre os envolvidos. A Justiça Restaurativa difere-se da tradicional especialmente por
suas práticas, que consistem no acolhimento e escuta qualificada da vítima e ofensor,
bem como, na mediação entre os envolvidos, promovendo círculos restaurativos.
Segundo Orsini e Lara (2013, p. 7) “O ‘círculo restaurativo’ é uma reunião promovida
para agregar e juntar as pessoas para resolver um problema por meio de respeito
mútuo, confiança e reconhecimento”, e são geralmente utilizados quando um
facilitador capacitado em práticas restaurativas, “visualiza que agregar os envolvidos
e afetados por um incidente seria recomendável para resolver um problema” (ORSINI,
LARA, 2013, p. 7).
No âmbito da Justiça Restaurativa, a atuação do profissional da Psicologia não
detém de normativas próprias que regulamentam suas atividades. Entretanto, a
interseção entre a Psicologia e a Justiça Restaurativa faz-se presente em seus
objetivos, visto que há uma relação entre o conhecimento psicológico e os princípios
fundamentais da Justiça Restaurativa, uma vez que ambos se fundamentam na
Declaração Universal dos Direitos Humanos e têm como objetivo a promoção da
dignidade humana, conforme cita Martins e Dias (2022). Nesse contexto, o profissional
da Psicologia, através de suas práticas e estudos, irá fornecer acolhimento e escuta
aos envolvidos nos conflitos, como ofensores, vítimas, familiares e comunidade.
Dessa forma, o(a) psicólogo(a) poderá através de atendimentos individuais, realizar o
acolhimento, escuta e análise dos indivíduos, observado os danos causados e
139
identificando as reais necessidades dos envolvidos, fornecendo à eles o suporte
psicológico necessário para a resolução do conflito. Além disso, o(a) psicólogo(a)
poderá fornecer suporte técnico e supervisão aos facilitadores, a fim de auxiliar a
equipe técnica com seus conhecimentos.

MATERIAIS E MÉTODOS

A presente pesquisa caracteriza-se por uma pesquisa bibliográfica exploratória,


de caráter qualitativo, que visa compreender e realizar uma análise da atuação do
profissional da Psicologia no âmbito da Justiça Restaurativa, levando em
consideração o Sistema de Justiça Brasileiro, seu contexto histórico e o modelo de
Justiça Retributiva/Punitiva em vigor.
Para sua realização, foram utilizados artigos, livros e legislações acerca da
Psicologia, do Sistema de Justiça Brasileiro e dos modelos de Justiça Retributiva e
Restaurativa, a fim de contextualizar e fundamentar os conteúdos coletados e as
análises realizadas, contribuindo para o entendimento do tema e ampliando os
estudos e pesquisas deste campo de atuação.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Em síntese, os resultados obtidos revelam que o modelo tradicional de Justiça,


isto é, a Justiça Retributiva, que utiliza como forma de punição a pena de privação de
liberdade, apresenta inúmeras falhas em seu sistema. A falta de acesso à saúde e
condições básicas de existência vivenciadas dentro do Sistema Prisional, bem como
os altos índices reincidência criminal, a superlotação das instituições, os inúmeros
episódios de violência, discriminação e padronização vivenciados pelos apenados,
além da falta de programas ressocializadores eficazes que contribuem para a
necessidade de medidas alternativas para a resolução de conflitos e a ressocialização
dos indivíduos ofensores.
Nesse contexto, a Justiça Restaurativa atua em contraposição ao modelo de
Justiça tradicional, buscando a participação ativa dos envolvidos na resolução do
conflito, promovendo a reeducação do ofensor, fornecendo acolhimento e escuta aos
envolvidos e diminuindo o índice de reincidência criminal. Dessa forma, podemos
compreender que a Justiça Restaurativa contrapõe-se à Justiça Retributiva em suas
práticas, utilizando métodos e ferramentas que tradicionalmente não são recorridos,
abstendo-se de práticas violentas e excludentes.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Contudo, frente ao exposto ao decorrer desta pesquisa, podemos observar que


o Sistema de Justiça presente no Brasil ainda constitui-se por um modelo pautado em
práticas violentas e excludentes, impossibilitando ao ofensor a conscientização do ato
e dos danos causados em consequência dele, inoportunizando ainda, seu processo
de reinserção à sociedade.
Por sua vez, a Justiça Restaurativa surge em contraposição a esse modelo
vigente, visando práticas mais humanizadas que buscam a diminuição dos danos
140
causados em decorrência ao delito e a resolução do conflito de forma eficiente. Ainda
sim, a Justiça Restaurativa caracteriza-se por um modelo de Justiça recente e em
processo de desenvolvimento e implantação no contexto brasileiro, tal como a atuação
do(a) psicólogo(a) na área.
Ademais, por meio dessa pesquisa foi possível contribuir para um maior
entendimento da atuação do psicólogo na Justiça Restaurativa no contexto do sistema
de justiça brasileiro, oferecendo subsídios para reflexões teóricas e práticas que
possam aprimorar a atuação da Psicologia neste contexto.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

LAGO, V. M. et al. Um breve histórico da psicologia jurídica no Brasil e seus campos


de atuação. Revista Estudos de Psicologia. Campinas, v. 26, n. 4, p. 483-491,
dez. 2009.

MACHADO, N. O.; GUIMARÃES, I. S. A Realidade do Sistema Prisional Brasileiro e


o Princípio da Dignidade da Pessoa Humana. Revista Eletrônica de Iniciação
Científica. Itajaí, v. 5, n.1, p. 566-581, 2014.

MARTINS, P. M.; DIAS, M. L. O trabalho dos(as) psicólogos(as) na política de


Justiça Restaurativa no Brasil. Revista de Psicologia, 2022, v. 2, n. 1, p. 209-216.
RASTIROLLA, I. F.; COSTA, P. S. Restaurar ou punir: qual a opção mais
efetiva?. 2021, 16 f. Artigo Científico (Especialização em Gestão Pública, Sistema
de Justiça: conciliação, mediação e justiça restaurativa) Universidade do Sul de
Santa Catarina.

ZAMBIASI, V. W.; ALVES, J. J. F. Justiça Restaurativa: um modelo alternativo de


solução de conflitos. Revista Reflexão e Crítica do Direito. v. 10, n. 1, p. 61-84.
2022.

141
A MEDICALIZAÇÃO DE CRIANÇAS MATRICULADAS NOS PRIMEIROS ANOS
DO ENSINO FUNDAMENTAL I: REVISÃO DE LITERATURA

Ana Caroline Dias1


Cristiane Marquezini2

Palavras-chave: Medicalização; Patologização, Educação, Ensino Fundamental I;


Psicologia.

INTRODUÇÃO

O artigo tem por objetivo discutir o processo de medicalização na educação.


Tal fenômeno consiste na prescrição de fármacos para as chamadas doenças do “não
aprender” denunciadas como estratégias para responsabilizar a família e às crianças
escolarizadas por todas mazelas estruturais que assolam a instituição escolar.
(MOÍSES, COLLARES, 2011).
A temática da medicalização não é pauta nova dentro do cenário da psicologia em
geral e, especificamente, da psicologia escolar. No entanto é assunto extremamente
atual e relevante, dado que sua existência continua sendo a principal explicação para
as dificuldades de escolarização das crianças.
Assim, propomos no presente estudo problematizar questões relativas aos processos
de patologização e medicalização da infância. Tal intento está alinhado a uma
perspectiva psicopedagogizante, cultural, social e médica criando algumas conexões
desta temática com os conceitos de biopolítica das práticas de poder que operam na
perspectiva de controle sobre a vida e a existência humana. (BARBOSA, LEITE 2020)

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

A medicalização se dá à maneira em que questões sociais de cunho não


médicos tornam-se disfunções voltados a este termo, sendo descritos como doenças
ou transtornos, eximindo-se características socioculturais, afetivas e subjetivas dos
indivíduos, sendo estes, tornados problemas biológicos pela medicina e pela indústria
farmacêutica. Desresponsabilizando elementos contribuintes para os processos de
subjetivação dos sujeitos, são realizados diagnósticos que rotulam singularidades
tornando-as uma patologia, logo, os sujeitos recebem o tornam-se pacientes, passam
a consumir tratamentos terapêuticos e medicamentosos, a fim de, sanar seus
“problemas”. Porém, este processo ocorre sem que o sujeito tenha consciência desta
artimanha, o que resulta em mais sofrimento psíquico, pois passam a ser vistos como
1 Centro Universitário das Faculdades Integradas de Ourinhos - UNIFIO, Psicologia,
[email protected]
2 Doutora em Educação e pós-doutoranda em Psicologia, Docente em IES - Centro

Universitário das Faculdades Integradas de Ourinhos – UNIFIO, Psicologia,


[email protected]
142
doentes pela sociedade. Para Foucault (1970), a medicalização está dividida em dois
momentos, o primeiro deles visa as intervenções da medicina que ocorreram na
Europa no fim dos séculos XVII e XIX, pelo fato de algumas cidades estarem sendo
fiscalizadas sob influência da higienização social, buscando a higiene social e a
salubridade. No segundo momento, inicia-se o processo de medicalização de fato.
Esta versão se iniciou no término do século XIX, e continua existindo na
contemporaneidade. Porém naquele período, ocorre um estudo significativo sobre o
biopoder, tal fenômeno, mais tarde pode ser analisado em seus controles, tanto de
biotecnologias quanto de ameaça à saúde.
Uma particularidade importante do biopoder é o mérito que a norma tem sobre
a lei, sendo necessário delimitar e determinar aquilo que é normal, contrapondo-se ao
antagônico “anormal”. No âmbito biopolítico, “o poder de morte aparece como
complemento de um poder que se exerce positivamente sobre a vida, que procura
administrá-la, aumentá-la, exercer sobre ela controles precisos e regulações gerais”
(FOUCAULT, 1978, p. 165), ou seja esse poder de morte citado, tem o dever de ser
submisso ao controle premeditado da vida, porém com este poder ainda existindo,
segundo o Estado, este ato visa garantir a melhora da saúde e vida dos indivíduos.
Progressivamente, surgem novos diagnósticos que antes não existiam, com o
objetivo de classificar tais fenômenos que dispersam de um padrão comportamental
estimado. Sendo assim, Foucault, dá nome à “medicina do não-patológico” o que diz
respeito a várias doenças que estão de alguma forma alusivas a comportamentos.
(FOUCAULT, 1999),
O controle da sociedade sobre os indivíduos não se opera simplesmente pela
consciência ou pela ideologia, mas começa no corpo, com o corpo. Foi no biológico,
no somático, no corporal que, antes de tudo, investiu a sociedade capitalista. O corpo
é uma realidade biopolítica.” (FOUCAULT, 1989, p. 82).
Logo, Foucault, empenhou seus estudos de seu curso Collége de France, entre
os anos 1974 e 1975, para analisar a psiquiatra que surgira ao redor desses indivíduos
de condutas divergentes, essa ciência tinha como parâmetro a resistência entre
normal e não normal.
Segundo Conrad (1975,2007, apud, CAPONI, 2009), a medicalização surge
como maneira de transformar problemas que não possuem relação com a medicina
em problemas médicos, ou seja, patologizar comportamentos desviantes para assim
medicalizá-los, tendo a medicina um certo controle social sobre esses indivíduos. De
acordo com o mesmo autor, a medicalização funciona como um sistema de relações
entre os médicos, a indústria farmacêutica e seus usuários, com o objetivo de mostrar
para estas pessoas que os produtos farmacológicos destas empresas são mais
eficazes.
Para Forte (2007), o uso dissipado de psicofármacos começou por volta da
década de 1950. Com o surgimento da Fluoxetina (Prozac®) no ano de 1988, o
interesse sobre os psicofármacos aumentou consideravelmente, por ser visto com
bons efeitos sob supostos transtornos mentais.
Diversas vertentes teóricas e conceituais da psicologia, buscam considerar a
subjetividade dos sujeitos em suas complexidades dentro de momentos históricos e
culturais, porém, enfrentam limites que são determinados de forma institucional, sobre
o entendimento do que é saúde psíquica e mental. (CFP, 2023)
143
É importante pontuar que o desvio do padrão comportamental de alunos,
possuem sim determinantes psíquicos, mas que, além disso o fracasso escolar se
materializa dentro da instituição escola, porém, não deixando de lado o fato de que o
aluno, a família e a escola não são vivências singulares de forma isolada, fazendo
parte de uma sociedade que não deve ser renegada (AQUINO, 1998).
Sabe-se que a medicalização surge na escola com o objetivo de “adequar” o
desempenho escolar de crianças que se distanciam do padrão que a instituição
pressupõe que seja correto em termos de comportamento, buscando diagnosticar
doenças psíquicas que sejam a causa dessa incompatibilidade. Assim, as dificuldades
acarretas pela escolarização são transformadas em patologias e, logo, medicalizadas.
(MOYSES, COLLARES, 2011).
A patologização educacional diz respeito a um simplismo orgânico, ou seja, visa
referir-se a esse "fracasso" como se fosse de cunho individual dos sujeitos, vetando a
responsabilidade do sistema institucional escolar. De acordo com estudos da
psicologia escolar, referenciando o exemplo médico de atender os sintomas escolares,
estes buscam esclarecer a crise educacional pelo viés da patologização,
generalizando estes conceitos ao redor da instituição educacional. Diante disso, surge
então a higiene escolar, inicialmente, o discurso médico estava centrado na higiene e
na prevenção de doenças contagiosas, com ênfase na medicina preventiva e nas
políticas sanitárias (MOYSES, COLLARES, 2011).

MATERIAIS E MÉTODOS

Para a construção do nosso estudo será realizada uma revisão bibliográfica em


artigos científicos alocados nos principais indexadores nacionais nos últimos 3 anos.
Para tanto, utilizaremos os termos: intervenções psicológicas na medicalização de
crianças matriculadas nas primeiras séries do ensino fundamental I.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Após realizar a revisão e a análise do material publicado no período de tempo


estipulado pretendemos compreender como a temática vem sendo estudada e
apreendida em termos de intervenções psicológicas no fenômeno.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A análise da bibliografia científica atual sobre a temática da medicalização de


crianças, contribuíra para a elucidação de como a psicologia tem atuado na prática de
combate a medicalização indiscriminada de crianças que não performam o ideal de
criança que a escola requer.

REFERÊNCIAS

American Psychiatric Association (APA). Manual diagnóstico e estatístico de transtornos


mentais: DSM-5. Porto Alegre: Artmed, 2014.

144
AQUINO, J. G.; A indisciplina e a escola atual. Revista da Faculdade de Educação n. 24.
Jul 1998. Acesso em 28 de maio de 2023. Disponível em:
https://www.scielo.br/j/rfe/a/HcncVTNW39bFcg64tSPXfNq/?lang=pt&format=html

BARBOSA, M. de B., LEITE, C. D. P. Infância e patologização: contornos sobre a questão da


não aprendizagem. Psicol. esc. educ. 2020. Vol. 10. Disponível em:
https://www.scielo.br/j/pee/a/bR64Cw5rszyrGckvvHSxFvn/?lang=pt Acesso em 23 de abr.
2023.

CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. Caderno de orientação: atuação de


psicólogas(os) em políticas públicas de assistência social. Site do Conselho Federal de
Psicologia, 2012. Disponível em: https://site.cfp.org.br/wp-
content/uploads/2012/07/Caderno_AF.pdf. Acesso em: 18 abr. 2023.

CAPONI, S. Biopolítica e medicalização dos anormais. Revista de Saúde Coletiva. Rio de


Janeiro, 2009. Acesso em: 9 de abr. de 2023. Disponível
em:https://www.scielosp.org/pdf/physis/v19n2/v19n2a16.pdf

GALINDO, D.; LEMOS, F. C. S.; RODRIGUES, R. V. Do Poder Psiquiátrico: uma Analítica


das Práticas de Farmacologização da Vida. Mnemosine Vol. 10, n° 1, p. 98-113 (2014)
Acesso em 18 de abr. de 2023. Disponível em:https://www.e-
publicacoes.uerj.br/index.php/mnemosine/article/view/41643/28912

MOYSÉS, M.A.; COLLARES, C.A.L. Dislexia e TDAH: uma análise a partir da ciência
médica. In: Conselho Regional de Psicologia de São Paulo. Medicalização de crianças e
adolescentes: conflitos silenciados pela redução de questões sociais a doença de
indivíduos., São Paulo: Casa do Psicólogo p.71-110., 2011

RIBEIRO, P. R.M: História da educação escolar no Brasil: Notas para uma reflexão., USP,
Rib. Preto, fev/jul, 1993. Acesso em 29 de maio de 2023. Disponível em:
https://www.scielo.br/j/paideia/a/DDbsxvBrtzm66hjvnLDdfDb/?format=pdf&lang=pt

ZORZANELLI, R.T; CRUZ, M. G. A. O conceito de medicalização em Michel Foucault na


década de 1970. Interface (Botucatu) 2018. Acesso em 8 de abr. de 2023. Disponível em:
https://www.scielo.br/j/icse/a/nmQnN5Q5RpqPWrDj5vHjwCf/?format=pdf&lang=pt

145
A VIOLÊNCIA DISFARÇADA DE LIBERDADE: O MUNDO DO TRABALHO E
O SOFRIMENTO PSÍQUICO NA CONTEMPORANEIDADE

Luiz Eduardo Daldegan Camargo 1


Matheus Zanotto Pereira
Nei Vinicius Hércules Rodrigues Miranda 2

Palavras-chave: Violência; Liberdade; Neoliberalismo; Sofrimento Psíquico.

INTRODUÇÃO

Quando pensamos em violência, imediatamente nos vêm à mente as imagens


e informações dos jornais e revistas, repletas de assaltos, assassinatos, sequestros e
violências domésticas. Essa é a violência subjetiva, identificada por Slavoj Žižek como
a parte mais visível de um triunvirato que inclui também dois tipos objetivos de
violência. O primeiro é a violência simbólica, presente na linguagem e nas relações
de dominação social enraizadas em nossos discursos cotidianos. O segundo é a
violência sistêmica, decorrente das consequências catastróficas do funcionamento
regular dos sistemas econômico e político. Neste trabalho, exploraremos a definição
de Žižek sobre a violência, enfatizando as formas de violência objetiva, principalmente
a violência sistêmica, e expondo as contradições de nossa sociedade contemporânea.
Destacamos o modelo socioeconômico neoliberal como uma marca distintiva
da contemporaneidade. O termo "neoliberalismo" é formado pela junção do prefixo
"neo-" (que significa novo ou atual) com o radical "liberal". O radical "liberal" deriva do
substantivo "liberdade". Nesse sentido, a liberdade contida no termo "neoliberalismo"
é, como aponta Isaiah Berlin, uma liberdade negativa, que é caracterizada pela
ausência de coerção, pela não interferência (BERLIN, 1981). Percebemos que essa
ideia de liberdade é central no modo como o neoliberalismo opera, ou seja, como um
modelo marcado pelo laissez-faire, como um modelo que defende o mínimo de
intervenção estatal possível.
A partir da compreensão dos conceitos de violência, liberdade e neoliberalismo,
buscamos relacionar esses conceitos com a atual organização do mundo do trabalho
e quais são os impactos das políticas neoliberais na subjetividade dos trabalhadores.

1 Graduandos do 10º termo de Psicologia pelo Centro Universitário das Faculdades Integradas de
Ourinhos (UNIFIO). E-mail: [email protected] e [email protected]
2 Possui graduação em PSICOLOGIA e LETRAS pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita

Filho (UNESP). Doutorando em Psicologia pelo Programa e de Pós -graduação em Psicologia


da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho. Mestre pelo Programa de Pós -
graduação em Saúde Coletiva da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. E -mail:
[email protected]
146
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

A violência subjetiva, segundo Žižek (2014), é aquela que nos vem à mente
quando pensamos em violência, como assaltos e assassinatos, cometidos por um
agente identificável. Porém, ele destaca que há também dois outros tipos: a violência
simbólica, presente na linguagem e nas relações de dominação social; e a violência
sistêmica, resultante das consequências catastróficas do funcionamento habitual dos
sistemas econômico e político. Esses três tipos formam um triunvirato, sendo a
violência subjetiva a mais visível entre eles.
Utiliza-se a definição de violência segundo Žižek, priorizando as formas
objetivas. Examina-se as contradições sociais contemporâneas, marcadas pelo
modelo neoliberal, caracterizado pelo laissez-faire e mercado autorregulável. O
neoliberalismo não apenas é um modelo socioeconômico, mas também uma
engenharia social que produz uma nova subjetividade empresarial em detrimento da
identidade do trabalhador. Essa mudança traz consigo formas hegemônicas de
sofrimento psíquico. Os teóricos neoliberais defendem uma liberdade reduzida à
propriedade, isentando o contexto socioeconômico e político, colocando a
responsabilidade do sucesso e felicidade inteiramente no indivíduo. Essa dinâmica
discursiva isolante extingue o espírito coletivo, estimulando a competição entre os
sujeitos. O conceito de liberdade utilizado pelo neoliberalismo é usado para incentivar
a competição. Essa defesa é um ataque violento à classe trabalhadora, ocultando as
contradições sociais contemporâneas e culpando o indivíduo pelo insucesso e
infelicidade.
O trabalho contemporâneo, segundo Ricardo Antunes (2009) é marcado pela
intensificação da produção multifuncional desespecializada, redução da mão de obra
e apropriação do trabalho intelectual pelo capital. A busca incessante pela eliminação
de direitos trabalhistas prevalece na "empresa moderna" com diferentes modos de
flexibilização, iniciado pelo Toyotismo e sua "empresa enxuta". A retórica do
empresário de si impacta o trabalhador, obrigado a buscar constantemente
produtividade e felicidade absoluta. Essa busca inalcançável causa sofrimentos
psíquicos e esgotamento. O trabalho também pode gerar mal-estar quando não
permite descarregar a energia psíquica e não se articula com seu conteúdo
(DEJOURS, 2015).
Dessa forma, a liberdade neoliberal só se concretiza na competição
mercadológica, resultando em uma subjetividade precarizada e em uma competição
mortífera que afeta toda a vida social (DARDOT e LAVAL, 2016). O neoliberalismo
também influencia a gramática do sofrimento psíquico, substituindo as neuroses pela
depressão como forma hegemônica de sofrimento. Nessa sociedade, a felicidade é
imperativa, e a tristeza é vista como patologia (KEHL, 2009). Assim, a violência
disfarçada de liberdade precariza tanto o trabalho quanto as subjetividades. As
relações entre os experimentos neoliberais e a reconstrução das estruturas clínicas
são profundas (SAFATLE et al., 2020).

147
MATERIAIS E MÉTODOS

Na presente pesquisa fizemos uma revisão bibliográfica que abordou temas


como liberdade, violência, neoliberalismo, trabalho e sofrimento psíquico. Recorremos
a autores da teoria social, da filosofia, da psicanálise e da psicodinâmica do trabalho.
Entendemos que esses campos de estudo organizam o alicerce fundamental para
uma abordagem crítica da contemporaneidade. Por meio dessas abordagens teóricas
objetivamos expor os modos de socialização e suas contradições, as dinâmicas de
poder e as expressões de mal-estar do contemporâneo.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A partir da revisão bibliográfica realizada percebemos que o neoliberalismo não


apenas domina o cenário socioeconômico e político global, mas também atua como
um poderoso agente de subjetivação. Ele dissolve a subjetividade tradicional do
trabalhador taylorista-fordista, caracterizada por uma intensa especialização e divisão
do trabalho, e promove a emergência de uma subjetividade neoliberal, onde o
indivíduo é instado a se tornar um "empresário de si mesmo". Nesse contexto, a
flexibilidade se torna essencial, com os trabalhadores desempenhando múltiplas
funções ao mesmo tempo. Além disso, no neoliberalismo a responsabilidade é
transferida do Estado para o próprio indivíduo. As políticas públicas adotadas operam
corroendo os direitos trabalhistas e reformulando a organização do trabalho. Esse
novo modelo resulta em um aumento significativo de trabalhadores terceirizados, com
contratos flexíveis. Nesse sentido, a realização da liberdade neoliberal (negativa) se
dá na concorrência mercadológica, resultando em uma competição mortífera que
afeta não apenas a esfera produtiva, mas também a subjetividade. O que faz com que
o mundo do trabalho hoje seja marcado pela intensificação da produção, pela redução
da mão de obra, pela apropriação do trabalho intelectual pelo capital e pela busca
incessante pela eliminação dos direitos trabalhistas.
Nesse ponto observamos que a lógica do sistema neoliberal, em seu
funcionamento regular, perpetua violências contra os trabalhadores, como jornadas
intensas de trabalho e salários baixos. O discurso ideológico enfatizando a
responsabilidade individual faz com que os próprios trabalhadores se explorem,
muitas vezes sem perceberem as dinâmicas subjacentes que os afetam. O sujeito
trabalhador é constantemente incentivado a se manter produtivo, abdicando de lazer
e tempo livre, o que gera um esgotamento psíquico. Esse sofrimento psíquico é
amplificado pela busca incansável por uma felicidade absoluta e plena, induzida pelo
neoliberalismo.
E assim sendo, o neoliberalismo redefine a gramática do sofrimento psíquico,
onde a tristeza é “patologizada” em uma sociedade que impõe a felicidade como
imperativo. Dessa forma, a violência, disfarçada de liberdade, permeia
silenciosamente, precarizando tanto o trabalho quanto as subjetividades.

148
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Compreender a conjugação que o neoliberalismo submete o sujeito


contemporâneo, é compreender como as formas de subjetivação têm organizado
todas as dimensões da vida na sociedade neoliberal. Modelo socioeconômico, político
e produtor de subjetividade, o neoliberalismo pressupõe que todos os sujeitos são
iguais, que demandam das mesmas condições e situações para alçarem o que
apontam como ideal, assim, entende-se que universalizar um modelo de sujeito e
depositar toda realização sobre o acúmulo de capital e o gozo máximo da liberdade
são os principais elementos dessa nova fachada do capitalismo, que foi esculpida,
pintada e apresentada como salvação da crise do antigo liberalismo perante as novas
organizações e dinâmicas que o globo tem sofrido em detrimento da globalização
financeira.
Além disso, entender como a vida tem se organizado, é entender qual
sofrimento psíquico hegemônico foi eleito para representar a oposição do fim último
da realização do desejo neoliberal, a saber, o oposto da felicidade plena pela liberdade
absoluta, a depressão, incapacitante, imobilizante e negadora da subjetividade ativa,
multifuncional, inovadora, criativa e competitiva. Maneira discursiva de mascarar a
violência objetiva que esse tipo de economia nacional-subjetiva tem operado na vida
dos indivíduos, o aumento dos diagnósticos e das patologias no DSM coincide com o
avanço sistêmico do neoliberalismo pelo globo.

REFERÊNCIAS

ANTUNES, R. Os sentidos do trabalho: ensaio sobre a afirmação e a negação do


trabalho. São Paulo: Boitempo, 2009.

DARDOT, P.; LAVAL, C. A nova razão do mundo: ensaio sobre a sociedade


neoliberal. São Paulo: Boitempo, 2016.

DEJOURS, C. Psicodinâmica do trabalho, contribuições da Escola Dejouriana à


análise da relação prazer, sofrimento e trabalho. 1. ed. - 16. reimpr. - São Paulo:
Atlas, 2015.

KEHL, M. R. O tempo e o cão: a atualidade das depressões. São Paulo: Boitempo,


2009.

SAFATLE, V.; SILVA JUNIOR, N.; DUNKER, C. (Org.). Neoliberalismo como


gestão do sofrimento psíquico. Belo Horizonte: Autêntica, 2020.

ŽIŽEK, S. Violência. São Paulo: Boitempo, 2014.

149
CUIDADOS PALIATIVOS: A ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO NO
ACOMPANHAMENTO DE PACIENTES COM DOENÇAS
NEURODEGENERATIVAS

Nicoly Gouveia Silveira 1


Luciano Ferreira Rodrigues Filho 2

Palavras-chave: Cuidados paliativos; psicologia hospitalar; doenças


neurodegenerativas; luto; intervenções psicológicas.

INTRODUÇÃO

Os cuidados paliativos surgiram como forma de atenuar o sofrimento por


enfermidades progressivas e degenerativas, tendo em vista a impossibilidade
de cura de uma doença. A palavra paliação vem do latim pallium, que significa
capa, manto. A partir da origem da palavra, a definição é de proteger, cuidar e
cobrir (Dantas et al., 2016). Com base nisso, pode-se entender que o cuidado
paliativo tem como objetivo a promoção da qualidade de vida de pacientes com
doenças terminais e seus familiares, a partir de uma avaliação e do controle
dos sintomas que engloba aspectos físicos, sociais, emocionais e espirituais.
O cuidado paliativo apoia-se em princípios, e não segue protocolos. É
importante que o cuidado comece desde a descoberta do diagnóstico, para a
possibilidade de tratamento e amenização dos sintomas e efeitos causados pela
doença.
As doenças neurodegenerativas são causadas pela perda progressiva de
neurônios nas estruturas do sistema nervoso, ocasionando alterações
funcionais gradativas. Essas doenças podem ocorrer devido a vários fatores
como anormalidades proteicas, distúrbios genéticos, estresse e contato a
substâncias tóxicas. São definidas como debilitantes, incuráveis e de rápido
avanço. A faixa etária que mais são atingidos pela doença são adultos e id osos,
nas quais serão citadas o Alzheimer, doença de Parkinson e a esclerose
múltipla (Paz et al., 2021). No geral, o Alzheimer afeta a memória e funções
cognitivas. Na doença de Parkinson, afeta o movimento e controle muscular,
causando tremores, rigidez muscular, problemas no equilíbrio e coordenação.
Na esclerose múltipla ocorre a perda progressiva do controle muscular,
causando dificuldades na capacidade de respirar, falar e comer.
Os pacientes portadores de doenças neurodegenerativas perpassam
pelas fases do luto, precisando encontrar formas de elaborá -lo, além de

1 Graduanda do 10° termo no Centro Universitário de Ourinhos – UNIFIO, curso de Psicologia,


[email protected].
2 Docente Me. no Centro Universitário de Ourinhos – UNIFIO, curso de
Psicologia,[email protected].
150
ressignificar toda a dinâmica da sua vida. Segundo Kovács (1992), o sujeito
não morre apenas da doença, mas como ser humano, no qual tem sua
subjetividade, desejos e expectativas. Por conseguinte, este estudo pretende
mostrar que a atuação do psicólogo nesse âmbito é de grande relevância,
principalmente pelo fato de ser uma área muito complexa, e uma fase muito
difícil para o sujeito passar, sofrendo pelo processo de despersonalização
(perdendo momentos e memórias), além das fases e estágios do luto. Assim,
cada sujeito irá reagir de uma forma, a partir de suas vivências, ideais, estrutura
emocional e em como lida com perdas. Nesse sentido, o profissional da
Psicologia estará inserido com o objetivo de atenuar e humanizar esse
sofrimento para o sujeito, para a família e a equipe multidisciplinar, utilizando -
se de recursos terapêuticos.

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Cicely Saunders foi quem criou o conceito do que hoje se conhece como
cuidados paliativos. Ela trabalhava como enfermeira voluntária, e como tinha
problemas de coluna, acabou indo trabalhar no serviço social. No novo trabalho,
conheceu David Tasma. Os dois tinham o desejo de criar um local onde doentes
pudessem estar como em sua casa, acompanhados pela família e cuidados por
uma equipe composta de vários profissionais, com atenção a dor e aos outros
sintomas na fase final de vida. Saunders foi quem criou o termo “Dor Total”,
inserindo o conceito de que o sofrimento não é apenas físico, mas um conjunto
afetivo que implica os aspectos psíquicos, sociais e espirituais do sujeito.
Atualmente, os cuidados paliativos está presente em diversos países, e tem um
olhar voltado para o conforto de todos os pacientes incuráveis, e não apenas
os com câncer (Figueiredo, 2008).
Os cuidados paliativos têm como princípio buscar controlar a dor e outros
sintomas desconfortáveis, reconhecendo que a morte é um processo natural e
integrando os aspectos físicos, sociais, psicológicos e espirituais do paciente.
Os princípios éticos são aplicáveis desde o início da doença crônica e exigem
uma abordagem multiprofissional que respeita a autonomia do paciente e sua
família. Nas doenças neurológicas, é imprescindível a introdução dos cuidados
paliativos como forma de humanização. Esses cuidados são abrangentes e
ativos, com o objetivo de promover alívio da dor e de outros sintomas.

MATERIAIS E MÉTODOS

Para o desenvolvimento desta pesquisa, utilizamos o método de revisão


bibliográfica. Por intermédio deste viés investigativo, voltamos nosso olhar as
pesquisas já publicadas as quais, traziam em sua descrição os cuidados
paliativos e a atuação do profissional da Psicologia no acompanhamento de
pacientes com doenças neurodegenerativas.

151
RESULTADOS E DISCUSSÃO

Para Kubler-Ross (1996), o sujeito perpassa por cinco estágios no


processo do morrer: negação e isolamento; a raiva; barganha; depressão e
aceitação. Com isso, o sujeito encontra diversos mecanismos de defesa contra
o constante medo da morte e em não conseguir prevê-la ou se prevenir contra
ela. Dessa forma, a morte pode ser considerada como a maior crise que o ser
humano enfrenta. Nesse sentido, poderá ocorrer o que chamamos de luto
antecipatório, que pode ser entendido como:

É o processo que ocorre antes da morte concreta, devendo haver um


trabalho com o paciente e seus familiares concernente a essa etapa.
No caso do paciente, envolve as perdas de si, da saúde, da vida e a
separação das pessoas queridas. O luto antecipatório para os
familiares envolve as perdas relacionadas ao adoecimento , a
perspectiva da morte e a sensação de sobrecarga por parte dos
cuidadores (Kovács, 2008, p. 394).

A atuação do psicólogo no âmbito hospitalar será propiciar um espaço


para o paciente falar da doença, do medo da morte, da vida ou de quaisquer
outros assuntos que forem importantes para ele. O objetivo principal deve ser
na qualidade de vida, na facilitação da comunicação e expressão dos
sentimentos. Sobre o trabalho do psicólogo:

O psicólogo tem um trabalho relativo ao cuidado da alma, com o se r


como um todo, envolvendo escuta e acolhimento, ouvindo histórias,
reconhecendo sentimentos, utilizando os sentidos – o olhar e o toque.
Enfatizamos que a boa morte é aquela que cada um gostaria para si
(Kovács, 2008, p. 394).

Destarte, o papel do psicólogo nos cuidados paliativos é de grande


importância. Primeiramente, o trabalho em equipe é fundamental e requer que
profissionais de diferentes áreas saibam se comunicar e entender o papel de
cada um. A atuação multiprofissional se refere no entendimento d e que o
sofrimento do paciente é global e requer ações de diferentes naturezas. A
noção de "dor total" ampliada para "sintomas totais" reconhece que não é
apenas a dor, mas também outros sintomas, tais como ansiedade, depressão,
distúrbios do sono, entre outros. Ademais, outro aspecto é a atenção aos
familiares do paciente. O psicólogo desempenha um papel essencial na forma
como a família lida com a doença do ente querido e como se comunica com a
equipe. Deve-se estimular o paciente e a família a pensarem e falarem
livremente sobre sua situação, propiciando um espaço de escuta ativa e
acolhimento.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

152
Os cuidados paliativos surgiram como forma de atenuar o sofrimento por
enfermidades progressivas e degenerativas, tendo em vista a impossibilidade
de cura de uma doença. Têm como princípio buscar controlar a dor e outros
sintomas desconfortáveis, reconhecendo que a morte é um processo natural e
integrando os aspectos físicos, sociais, psicológicos e espirituais do paciente.
As doenças neurodegenerativas são causadas pela perda progressiva de
neurônios nas estruturas do sistema nervoso, ocasionando alteraçõe s
funcionais gradativas. São debilitantes, incuráveis e de rápido avanço. A faixa
etária que mais são atingidos pela doença são adultos e idosos, nos quais são
mais predominantes o Alzheimer, doença de Parkinson e a esclerose múltipla.
Os pacientes perpassam pelas fases do luto, precisando encontrar formas de
elaborá-lo, além de ressignificar toda a dinâmica da sua vida. Diante disso, o
profissional da Psicologia, juntamente com a equipe multidisciplinar, estará
inserido com o objetivo de humanizar e atenuar o sofrimento do paciente e de
seus familiares, desenvolvendo intervenções psicológicas e possibilitando um
espaço de escuta e acolhimento.

REFERÊNCIAS

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Med. UFPR, Curitiba, v. 2, n. 4, 2015.

154
DROGAS E PROIBIÇÃO NO CONTEXTO BRASILEIRO

Gabriel Nespoli Demeu1


Alexandre Exposito2

Palavras-chave: Drogas; Proibicionismo; Brasil; Colonialismo; Legislação.

INTRODUÇÃO

O presente estudo busca abordar as relações das drogas na sociedade


brasileira, considerando o indivíduo, a substância e a sociedade, bem como a
trajetória das políticas anti-drogas no Brasil, desde suas primeiras aparições até a
legislação atual, explorando a etimologia do termo "droga" e sua evolução cultural ao
longo da história, analisando suas formar de uso em diferentes contextos, desde fins
medicinais e ritualísticos, até o consumo recreativo e abusivo.
As políticas de drogas no Brasil foram moldadas a partir de fatores históricos,
sociais e políticos, como exemplo, a colonização portuguesa, o pensamento de
Lombroso, e a dominação social sofrida pelos escravos. Nesse sentido, busca-se
elucidar como esses fatores influenciaram nos fenômenos relacionados às drogas,
quais foram os significados atribuídos a elas, suas modificações desde a colonização,
e como ocorreu a implementação das políticas anti-drogas e suas consequências.

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

O tema das drogas é um fenômeno complexo que envolve três elementos


fundamentais: o indivíduo, a substância e a sociedade, conforme abordado por
Gorgulho (2012). Nesta discussão, é crucial analisar a relação do sujeito com as
drogas, bem como compreender o contexto em que as substâncias são inseridas na
sociedade e suas diversas formas de utilização.
Explorando o significado histórico da palavra "droga", conforme propõe Elias
(1994), percebemos que sua evolução ao longo do tempo pode revelar
transformações na vida de um povo. Uma hipótese sugerida por Vargas (2001) é que
o termo deriva do neerlandês "droghe vate", associado aos contatos entre povos
europeus e outras civilizações durante o período de expansão marítima.
A investigação de Escohotado (2019) nos conta que as drogas foram utilizadas
ao longo da história para diversos fins, incluindo propósitos medicinais, rituais e até
mesmo o consumo recreativo e abusivo, refletindo normas culturais e valores sociais.
Da mesma forma, Figueiredo (2018) ressalta o papel significativo das drogas na

1 Graduando em psicologia pelo Centro Universitário das Faculdades Integradas de Ourinhos- UNIFIO.
[email protected]
2 Psicólogo, mestre e doutor em psicologia pela Unesp - Assis. Professor de Psicologia no Centro

Universitário das Faculdades Integradas de Ourinhos- UNIFIO. [email protected].


155
experiência sensorial e simbólica, remetendo às suas origens associadas ao cultivo e
domesticação de plantas no período neolítico.
Outro ponto relevante é a classificação de Mintz (1986) dos chamados
"alimentos-drogas", como exemplo o açúcar e o café, que possuem propriedades
estimulantes e alteradoras de consciência semelhantes às drogas. Observamos em
povos tradicionais, como os Yekuana e os Baniwa, que não fazem uma distinção clara
entre alimento e fármacos, valorizando as plantas como propriedades nutritivas e
medicinais, inseridas em sua alimentação e saúde cotidiana, conforme descrito por
Balick e Cox (2020).
As drogas eram utilizadas de forma ritualístico e terapêutica pelas comunidades
indígenas, antes da colonização como apontado por Carneiro (2005). No entanto, com
a chegada dos portugueses, elas adquirem um novo significado como mercadorias de
luxo, vinculadas ao comércio de açúcar e café, fonte da economia da época, e também
responsável pelo tráfico negreiro. A cachaça, amplamente consumida no Brasil,
esteve diretamente ligada à escravidão e ao controle social, sendo utilizada como
moeda de troca para a aquisição de escravos e posteriormente como instrumento de
disciplina dos mesmos, como nos mostra Schwarcz (1998).
Com o aumento do consumo de drogas principalmente pelas populações de
escravos e indígenas, a proibição acontece como forma de repressão desses povos,
como mostra Labate (2008). Em 1830, é implementado a "lei do pito do pango" que
proibia a venda da maconha, porém com pena maior para a população escrava. E a
partir do século XIX, com influência do positivismo europeu e as ideias de Lombroso,
sobre a criminalidade nata, em que a raça do sujeito influenciaria a propensão ao
crime, impactaram na elaboração das políticas relacionadas às drogas no país, como
nos aponta Barros e Peres (2011).
Influenciado por acordos internacionais como as convenções do ópio em 1912
e da ONU em 1961, o Brasil construiu suas políticas antidrogas, como a lei Nº 11.343
de 2006. No entanto, a falta de diferenciação clara entre usuário e traficante nessa
legislação levou ao aumento do encarceramento de grupos vulneráveis, focando em
punições por pequenas quantidades de drogas, como argumenta Pereira (2021),
negligenciando abordagens preventivas e de tratamento para a dependência química,
resultando em superencarceramento de pessoas de baixa renda e perpetuando ciclos
de pobreza e criminalidade.

MATERIAIS E MÉTODOS

Para a realização da pesquisa foi utilizado a abordagem histórica e crítica, com


base na análise de documentos históricos, legislações, artigos acadêmicos e outras
fontes relevantes. Foram realizadas revisões bibliográficas e análises comparativas
para examinar as mudanças nas políticas de drogas e as influências ideológicas por
trás delas.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A pesquisa nos revela a complexidade do fenômeno das drogas ao longo do


tempo, incluindo sua evolução de significados e propósitos na experiência humana,
156
sendo parte integrante da jornada da humanidade, desempenhando papéis variados
em diferentes contextos culturais e sociais, compreendendo como acontece as
mudanças de paradigmas referente aos modos de uso e suas relações com sociedade
Brasileira, bem como os diversos fatores que influenciaram nessa mudança, como
exemplo a colonização, e a dominação portuguesa, que resultou na escravidão e a
dominação social, que por efeito insere no contexto cultural uma nova forma de se
relacionar com as drogas, deixando de ser algo ritualístico, para se tornar um produto
a ser vendido e consumido. Dessa maneira a proibição das drogas, representou uma
forma de repressão a diversas raças, por parte das sociedades que adoram o
proibicionismo, como exemplo a proibição da maconha no Brasil, como forma de
reprimir a população de ex-escravos, ou a proibição do ópio na conferência de Haia,
como repressão aos Chineses.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O proibicionismo e as políticas de guerra às drogas têm gerado consequências


negativas, em vez de reduzir o uso e o tráfico de substâncias, essas abordagens
resultaram em uma série de problemas, como criminalização desproporcional de
usuários por pequeno porte de drogas, e por consequência o superencarceramento,
especialmente de minorias étnicas e populações vulneráveis, alimentando o ciclo de
pobreza e criminalidade. Além disso, o mercado ilegal de drogas é fortalecido,
gerando violência, corrupção e instabilidade social. As políticas de repressão também
desviam recursos valiosos que poderiam ser investidos em programas de prevenção,
tratamento e recuperação. Diante disso, é essencial uma mudança de abordagem,
priorizando estratégias baseadas na redução de danos, saúde pública e integração
social, a fim de lidar eficazmente com os problemas relacionados às drogas.

REFERÊNCIAS:

BALICK, Michael J.; COX, Paul Alan. Plants, people, and culture: the science of
ethnobotany. Garland Science, 2020.

BARROS, A.; PERES, M. Proibição da maconha no Brasil e suas raízes


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criminalização de condutas relacionadas a substâncias psicoativas. Editora
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MINTZ, Sidney. Sweetness and Power: the place of sugar in modern history.
Nova York: Viking Penguin, 1986.

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criminal e população negra: contribuições para uma prática antirracista:
contributions to an antiracist practice. Direito. UnB-Revista de Direito da
Universidade de Brasília, v. 5, n. 2, p. 133-152, 2021.

Schwarcz, L. M. (1998). O espetáculo das raças: cientistas, instituições e


questão racial no Brasil, 1870-1930. Companhia das Letras.

VARGAS, Eduardo Viana. Entre a extensão e a intensidade: corporalidade,


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Humanas: Sociologia e Política) – Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas,
Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte.

VENÂNCIO, Renato Pinto; CARNEIRO, Henrique. Álcool e drogas na história do


Brasil. In: Álcool e drogas na história do Brasil. 2005. p. 312-312.

158
HABILIDADES SOCIAIS DE CRIANÇAS COM TEA NO CONTEXTO DE
INCLUSÃO ESCOLAR: REVISÃO DE LITERATURA

Fernanda Alcieli Marquezete André1


Ricardo da Silva Franco2

Palavras-chave: Habilidades Sociais; Autismo; Escola; Inclusão; Comportamento.

INTRODUÇÃO

Esse trabalho tem como objetivo apresentar a importância do treino de


habilidades sociais em crianças com o Transtorno do Espectro Autista em processo
de inclusão escolar, buscando compreender as especificidades do transtorno, e os
meios para que tal desenvolvimento ocorra, apontando algumas técnicas que tem
como base a abordagem comportamental e que podem ser aplicadas em contexto
escolar.
A aprendizagem das Habilidades Sociais é necessária para a sobrevivência do
indivíduo em meio a sociedade. Ela está fundada nos processos filogenéticos,
ontogenéticos e cultural, processos esses que Skinner (2003) com o Behaviorismo
Radical vai denominar de seleção por consequência, ou seleção natural. Há portanto,
um processo construído desde o início da formação do homem e que será passada
por meio da modelação a outros homens durante o processo de desenvolvimento.
Pensando dessa forma, é importante que as crianças, em especial as crianças
com o Transtorno do Espectro Autista, tenham esse aprendizado em espaços
diversificados para que suas habilidades sociais sejam refinadas conforme o seu
desenvolvimento ocorre.

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Estudos vêm sendo realizados no campo das Habilidades Sociais, colocando


em evidência sua importância para a formação e desenvolvimento das crianças como
seres sociais. É um termo que segundo Del Prette e Del Prette (2017), tem sido
distinguido de duas formas, sendo a primeira como campo teórico prático de produção
e aplicação de conhecimento psicológico, e a segunda, referente a algo mais restrito
dentro dessa área de estudo.
Habilidades Sociais são comportamentos do sujeito que o pesquisador pode
observar e assim descrever, de modo a respeitar a cultura da qual o indivíduo está
inserido, onde tal comportamento vai desempenhar tarefas interpessoais de modo
1 Graduanda do curso de Psicologia pelo Centro Universitário de Ourinhos – (UNIFIO), E-mail de
contato: [email protected]
2 Graduado do curso de Psicologia pela Universidade Estadual de Londrina (UEL) e Professor Mestre

do Centro Universitário de Ourinhos (UNIFIO), curso de Psicologia, E-mail de contato:


[email protected]
159
satisfatório. As habilidades sociais estão divididas em classes e subclasses, o que vai
dar nome a vários comportamentos sociais (DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2017).
Segundo Del Prette e Del Prette (2013), na infância são relevantes as
habilidades sociais de Autocontrole e Expressividade emocional, Civilidade, Empatia,
Assertividade, Fazer amizades, Solução de problemas e Habilidades acadêmicas.
Ao se falar em classes e subclasses das Habilidades Sociais, Del Prette e Del
Prette (2017), explicam a classe Civilidade, onde nesta se encontra os
comportamentos de cumprimentar e despedir, aguardar a vez, fazer perguntas,
responder a questionamentos, chamar alguém pelo nome, que no geral são
semelhantes dentro de determinadas culturas, mas que podem ter sentidos diferentes
dependendo da topografia, ou seja, cumprimentar uma pessoa pode ser através de
um aceno de mão ou um abraço, a forma como esse vai ocorrer vai depender da
cultura a qual o sujeito faz parte.
Nesse sentido, Santos-Carvalho, Del Prette e Verdu (2014), pontuam que o
Transtorno do Espectro Autista, possui estudos que apontam problemas em
comunicação, interação social e problemas de comportamento, sendo tais déficits
comprometedores no desenvolvimento das habilidades sociais desses indivíduos.
Tais dificuldades que a criança com TEA venha a apresentar, essa vai se diferenciar
em níveis de ajuda, podendo o sujeito necessitar de mais intervenção ou menos.
Pensando na vida escolar desses indivíduos, Del Prette e Del Prette (2013),
apontam a escola como um espaço interativo, que também vai ajudar no processo de
construção social. Sua função social é reconhecida em planos de políticas
educacionais, pois a ela, cabe formar dentro de uma ética, respeito e normas,
cidadãos críticos e produtores de uma realidade social. Três argumentos demonstram
que na escola também se deve investir na promoção de habilidades sociais, sendo
eles: a função social da escola, as evidências de relação entre habilidades sociais e
desempenho acadêmico e as políticas de inclusão. Dessa forma, a escola pode
promover com base no treino de habilidades sociais, um papel mais ativo no sujeito,
podendo contar com a atuação do psicólogo, professores, pais ou cuidadores. Valle e
Garnica (2009), explanam que ela demanda de um importante espaço, onde as
relações humanas se desenvolvem, ampliando assim tais habilidades.
Del Prette e Del Prette (2013), também pontuam que as políticas de inclusão
vê esse processo como indispensável para o desenvolvimento interpessoal, onde a
inclusão também visa uma boa relação entre os pares, promoção de atitudes,
compreensão e aceitação das diferenças por parte de todos os que pertencem ao
espaço escolar. Os autores pontuam que é preciso investir para que a mudança ocorra
não só nos alunos, mas também nos professores.
Barbosa e Cognetti (2017), descrevem que a infância e adolescência é uma
fase importante para o desenvolvimento das habilidades sociais, pois nessas fases os
indivíduos envolvidos agrupam os aprendizados advindos da família e escola para
conviver com seus pares, e assim, melhorar suas competências sociais.

METODOLOGIA

O método empregado foi a revisão de literatura, que segundo Koller, Couto e


Hohendorff (2014), busca analisar de forma crítica materiais já publicados. Moreira
160
(2004), salienta que esse pode se dar através de trabalhos completos, parte de uma
publicação, ou se organizar em áreas específicas de um determinado período. Permite
segundo o autor, situar o leitor e o próprio pesquisador das mudanças positivas ou
negativas que envolvam o assunto, assim como, apresenta o contexto do assunto e
sua dimensão, sugerindo soluções para demandas parecidas, apontando
metodologias que já foram utilizadas para determinado problema. Moreira (2004),
também frisa que a revisão de literatura tem a função de filtrar os conteúdos, onde
este pode substituir um número considerável de artigos originais, facilitando a busca
de conhecimento por parte do leitor.
A pergunta norteadora dessa pesquisa foi: Qual a importância do treino de
habilidades sociais em crianças com o Transtorno do Espectro Autista em processo
de inclusão escolar? Para tal levantamento teórico foram utilizadas obras de Del
Prette e Del Prette e publicações no Google Acadêmico de sites como, Pepsic,
Proceddings, Periódicos, Redalyc, Scielo. Para a revisão da literatura, os critérios
adotados foram os artigos dos anos de 2006 a 2022, com base na teoria
comportamental, sendo utilizado como palavras descritoras: treino de habilidades
sociais, criança, escola anos iniciais, inclusão, autismo, comportamento, todas as
consultas em português, onde se obteve 14.900 resultados aproximadamente, tendo
como escolha para verificação dos dados 10 artigos e 3 livros físicos, onde se
descartou os artigos repetidos, os que não abordavam o TEA e habilidades sociais
como eixo principal, as habilidades sociais de crianças de 6 a 10 anos de idade e a
inclusão escolar.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Com base nas pesquisas selecionadas verificou-se que um repertório de


habilidades sociais não satisfatório, pode segundo Del Prette e Del Prette (2013),
acarretar problemas emocionais como transtornos psicológicos, fazer parte de
diversos transtornos, ou trazer problemas em determinadas fases do desenvolvimento
da criança. Em concordância com os autores, Bolsoni-Silva et al. (2006b), pontuaram
que tais problemas podem ocorrer de forma internalizante ou externalizante onde o
primeiro se consolida através da ansiedade, retraimento, depressão e sintomas físicos
e o segundo se manifesta como agressividade, impulsividade, agitação e/ou
comportamentos desafiadores. Os autores pontuaram que tanto um tipo de problema
quanto o outro, irão refletir na interação da criança com o meio e na sua relação
interpessoal com o outro.
Ao trazer esse contexto para as crianças com TEA, os autores Santos-
Carvalho, Del Prette e Verdu (2014), expuseram algumas dificuldades em habilidades
sociais, como por exemplo, iniciar ou responder na interação entre pares. Diante de
tal carência, os autores afirmaram que a criança com Autismo vai demandar de treinos
de habilidades sociais específicos, que no decorrer de seu desenvolvimento irão
permitir um melhor desempenho nas suas demandas sociais. Segundos os autores
as intervenções adequadas podem aumentar comportamentos adaptativos e assim
torná-los mais independentes. Em concordância Corrêa (2008), também salientou a
necessidade de um treino de habilidades sociais, que pleiteia a aquisição de um
repertório socialmente habilidoso, promovendo mais qualidade nas relações
161
promovidas pelo sujeito.
As pesquisas realizadas por Del Prette e Del Prette (2001a), Del Prette e Del
Prette (2008), Tallamini et al. (2022) e Camargo e Bosa (2009), afirmaram que a
escola com base nas habilidades sociais educativas, pode desenvolver trabalhos com
o objetivo de melhorar o repertório em habilidades sociais, tendo como meta o
progresso do comportamento ensinado, onde terá como envolvidos toda a
comunidade escolar, psicólogo e a família. E, para finalizar, Souza, Araújo e Barbosa
(2022), também afirmaram que o treino de habilidades sociais tanto escolar quanto
doméstico, tem se mostrado eficaz na aprendizagem de crianças com autismo,
melhorando por exemplo, problemas de comportamento.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com base nas pesquisas realizadas foi possível apresentar dados positivos
relacionados ao treino de habilidades sociais em criança com o Transtorno do
Espectro Autista (TEA), devido a defasagem que esses apresentam em seu
desenvolvimento, sendo o treino uma forma de melhorar suas relações interpessoais,
com comportamentos adaptativos necessários para o âmbito social ao qual esses
fazem parte, promovendo uma qualidade de vida mais satisfatória, podendo esse
processo ser ampliando a todos os ambientes ao qual essas crianças estão inseridas,
em especial o escolar onde essas, com o processo de inclusão, passam por grandes
desafios e necessitam de ajuda para conseguir superar tais demandas, e assim ter
um papel mais ativo e dinâmico no convívio social.
Não foram detectados artigos ou livros específicos a pergunta norteadora desta
pesquisa, sendo feito recortes dos estudos encontrados que contemplaram em parte
o questionamento apontado. Apesar da abordagem de escolha para a construção
desse estudo ser a comportamental, grande parte dos artigos analisados não
apontaram abordagens terapêuticas específicas. No Brasil vem aumentando as
pesquisas em habilidades sociais nos últimos anos, porém alguns dos artigos
apontaram que ainda carece de estudos voltados para a área, principalmente quando
envolve crianças com o Transtorno do Espectro Autista em contexto de inclusão
escolar.

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Treinamento de Habilidades Sociais no Contexto Escolar: Revisão Sistemática.
Estudos e Pesquisas em Psicologia. 2022, Vol. 01. doi:10.12957/epp.2022.66484
ISSN 1808-4281 (online version). Disponível em:<https://www.e-
publicacoes.uerj.br/index.php/revispsi/article/view/66484/41780>. Acesso em: 12 jul.
2023.

VALLE, T. G. M.; GARNICA, K. R. H. Avaliação e treinamento de habilidades


sociais de crianças em idade pré-escolar. Scielo Bokks. Editora Unesp.
Disponível em: <https://books.scielo.org/id/krj5p/pdf/valle-9788598605999-04.pdf>.
Acesso em: 13 mar. 2023.

164
O PAPEL DA FAMÍLIA ADOTIVA NA INCLUSÃO DA CRIANÇA COM
DEFICIÊNCIA INTELECTUAL

Natalia Camargo Guimarães1


Damaris Bezerra de Lima2

Palavras-chave: Adoção; Família; Deficiência; Psicologia; Inclusão.

INTRODUÇÃO

A adoção é uma forma significativa de proporcionar uma família amorosa e


acolhedora para crianças que não podem ser criadas por seus pais biológicos.
Quando a criança adotada tem uma deficiência, a dinâmica familiar pode mudar e
requerer atenção especial para promover sua inclusão social e escolar. A adoção
necessária é direcionada para jovens com deficiência, transtornos ou idade avançada,
enfrentando maiores dificuldades em encontrar um lar adotivo. Neste contexto, a
família adotiva desempenha um papel crucial na inclusão dessas crianças,
enfrentando desafios específicos e buscando estratégias adequadas para promover
sua participação plena na sociedade. A psicologia inclusiva oferece suporte e
orientação especializados às famílias adotivas nessa jornada. Por meio de
intervenções psicológicas e suporte emocional, profissionais qualificados auxiliam as
famílias na adaptação às necessidades específicas da criança com deficiência,
incentivando sua inclusão social, escolar e emocional. Esta pesquisa tem como
objetivo analisar o papel da família adotiva na promoção da inclusão social de crianças
com deficiência intelectual. Almeja-se identificar as barreiras que podem surgir nesse
processo e buscar práticas eficazes que contribuam para a inclusão plena da criança.
Essa temática é relevante para promover a igualdade de oportunidades, respeitar os
direitos humanos e valorizar a diversidade, além de oferecer uma compreensão mais
profunda das dinâmicas familiares e seu impacto na adaptação da criança ao
ambiente social.
Ao desempenhar um papel fundamental na inclusão, a família adotiva promove
o desenvolvimento da autoestima e o bem-estar da criança, fortalecendo a dinâmica
familiar como um todo. Essa pesquisa busca contribuir para a promoção de práticas e
políticas que apoiem a inclusão social de crianças com deficiência intelectual,
permitindo que elas alcancem seu potencial e desfrutem de uma vida plena e
significativa.

1 Discente UniFio, [email protected].


2 Professora Universitária UniFio, [email protected]
165
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

A convenção da Organização das Nações Unidas (ONU) em 2009 trouxe uma


definição de deficiência que se baseia na presença de limitações físicas, intelectuais
ou sensoriais, as quais, quando interagem com várias barreiras, podem dificultar a
plena participação na sociedade e nas interações com outras pessoas. Tendo como
base a Convenção sobre os Direitos da Pessoa com Deficiência e seu protocolo
facultativo, a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência nos diz que:

Art. 2º Considera-se pessoa com deficiência aquela que tem impedimento de


longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em
interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua participação plena e
efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas.
(BRASIL, 2015, p 2).

Conforme Brasil (2020), embasado na Classificação Internacional de Doenças


(CID-11), a deficiência intelectual é caracterizada por uma redução das funções
intelectuais, acompanhadas de déficits no comportamento adaptativo, que se
manifestam por limitações em habilidades sociais e práticas cotidianas. Esses
sintomas têm início durante o período de desenvolvimento, ou seja, antes dos 18 anos
de idade. As pessoas com essa deficiência, podem apresentar dificuldades
significativas de aprendizado e compreensão de normas e instruções. No entanto, é
importante observar vários sinais antes de fazer um diagnóstico preciso, pois um único
aspecto isolado não é suficiente para indicar a presença da DI.
A adoção é um procedimento jurídico em que um indivíduo ou um casal assume
a responsabilidade de cuidar de uma criança ou adolescente que, por diversas razões,
não pode ser criado por seus pais biológicos. A relação amorosa e aceitação dos pais
adotivos ajudam a minimizar as fantasias de abandono da criança. De acordo com
Levinzon (2000), uma boa relação com os pais adotivos, na qual a criança se sente
amada, aceita e compreendida, proporciona-lhe a oportunidade de minimizar suas
fantasias de abandono.
O processo adotivo é complexo e requer avaliações para garantir o bem-estar
da criança. No Brasil, a Lei Nacional da Adoção e o Estatuto da Criança e do
Adolescente regem todo esse processo. Existem diferentes tipos de adoção, como
unilateral, homoparental, bilateral (ou conjunta) e tardia. De acordo com o art. 227, da
Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, nos diz que:

É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao


adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à
alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à
dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária,
além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação,
exploração, violência, crueldade e opressão (BRASIL, 2019, p.1).

O processo de adoção de crianças com deficiência intelectual segue os


mesmos passos gerais da adoção tradicional, mas com algumas considerações
extras. Os futuros pais precisam se informar e se preparar adequadamente, levando
em conta as necessidades específicas da criança. É importante estabelecer um
166
período de convivência para construir vínculos afetivos e avaliar a compatibilidade
entre pais e filho adotivo. Além disso, é fundamental fornecer cuidados médicos
regulares e apoio emocional contínuo após a adoção ser finalizada.

MATERIAIS E MÉTODOS

Este estudo adota uma abordagem de pesquisa qualitativa descritiva para


investigar detalhadamente o funcionamento do processo de adoção legal de pessoas
com deficiência intelectual no Brasil. Ao analisar e compreender esse processo,
espera-se contribuir para o aprimoramento das práticas relacionadas a essa forma de
adoção. A pesquisa proporcionará uma compreensão aprofundada dos desafios,
oportunidades e questões envolvidas na adoção de pessoas com deficiência,
permitindo a identificação de possíveis melhorias e diretrizes para promover uma
adoção mais efetiva e inclusiva nesse contexto específico.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A pesquisa em apreço, tem por objetivo analisar o papel crucial desempenhado


pela família adotiva no processo de inclusão das crianças com deficiência,
identificando as barreiras enfrentadas e buscando práticas eficazes para promover
essa inclusão.
Os resultados revelam que a dinâmica familiar passa por transformações
significativas quando uma criança é adotada. Para promover a inclusão dessa criança,
a família adotiva busca estratégias como apoio emocional, recursos e serviços
especializados, além da conscientização da sociedade sobre as necessidades das
pessoas com deficiência intelectual. A relação amorosa, aceitação e compreensão por
parte dos pais adotivos desempenham um papel fundamental na promoção do bem-
estar emocional e na autoestima da criança.
Dessa forma, os resultados desta pesquisa destacam a relevância do papel da
família adotiva na promoção da inclusão social de crianças com deficiência intelectual.
As estratégias adotadas, o suporte da psicologia inclusiva e a conscientização da
sociedade são fundamentais para superar as barreiras e garantir a participação plena
dessas crianças na sociedade. Compreender de maneira mais profunda as dinâmicas
familiares e seu impacto na adaptação da criança ao ambiente social contribui para o
desenvolvimento de práticas e políticas que apoiem a inclusão social desses jovens,
permitindo que eles alcancem seu potencial máximo e desfrutem de uma vida plena e
significativa.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente estudo ressalta o papel crucial desempenhado pela família adotiva


na promoção da inclusão social das crianças com deficiência intelectual. Os
resultados evidenciam que a dinâmica familiar passa por transformações significativas
para atender às necessidades especificas do filho adotivo, incluindo adaptação ás
barreiras e desafios encontrados. A relação amorosa, aceitação e compreensão dos

167
pais adotivos desempenham um papel central no desenvolvimento emocional e na
autoestima da criança.
Em resumo, é fundamental que políticas públicas e práticas sejam
implementadas para promover a igualdade de oportunidades, valorizar a diversidade
e garantir os direitos das pessoas com deficiência intelectual. Ao compreender de
maneira mais profunda as dinâmicas familiares e seu impacto na adaptação da
criança ao ambiente social, é possível desenvolver diretrizes e intervenções eficazes
que promovam uma adoção mais inclusiva e acolhedora.

REFERÊNCIAS

BRASIL Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Art. 227.


Brasília, DF: Presidência da República, [2019]. Disponível em:
<https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10644726/artigo-227-da-constituicao-federal-
de-1988>. Acesso em: 15 abr. 2023.

BRASIL. Lei nº 13.146, de 06 de julho de 2015. Institui a Lei Brasileira de Inclusão


da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência). Brasília.
Presidência da República. 2015. Disponível em: <
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13146.htm>. Acesso
em: 04 jun. 2023.

BRASIL. Ministério da Saúde. PORTARIA CONJUNTA Nº 21, DE 25 DE


NOVEMBRO DE 2020. Aprova o Protocolo para o Diagnóstico Etiológico da
Deficiência Intelectual. Brasília, 2020. Disponível em:
>https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/protocolos-clinicos-e-diretrizes-
terapeuticas-pcdt/arquivos/2020/deficiencia-intelectual-protocolo-para-o-diagnostico-
etiologico.pdf>. Acesso em: 21 jun. 2023.

OMS. Classificação de Transtornos Mentais e de Comportamento da CID-10:


Descrições Clínicas e Diretrizes Diagnósticas- Coord. Organiz. Mund. da Saúde;
trad. Dorgival Caetano. Porto Alegre: Artes Médicas, 1993.

LEVINZON, G. K. A criança adotiva na psicoterapia psicanalítica. São Paulo:


Escuta, 2000.

168
OS DESAFIOS PARA A EFETIVAÇÃO DO CUIDADO ÀS PESSOAS QUE FAZEM
USO PREJUDICIAL DE ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS: CONTRIBUIÇÕES
TEÓRICO-TÉCNICAS A PARTIR DE EXPERIÊNCIAS EM UM CAPS AD

Aline Quennehen Vieira1


Camila Silva Beguetto2
Gabriel Nespoli Demeu3
João Batista Albano4
Mariana Coppi Martins5
Mayara Aparecida Bonora Freire6

Palavras-chave: Álcool; Drogas; Redução de Danos; CAPS AD; Atenção


Psicossocial.

INTRODUÇÃO

Os CAPS, substitutos dos manicômios no Brasil, sofreram devido à Reforma


Psiquiátrica iniciada em 1978 pelas lutas dos movimentos sociais, incluindo MTSM,
Movimento Sanitário e associações de familiares. O objetivo era transformar o cuidado
em saúde mental, defendendo a saúde coletiva, reintegrando pacientes social e
familiarmente, e eliminando a angústia social e a violência asilar nas clínicas
psiquiátricas.
O CAPS-AD, destinado aos usuários de álcool e outras drogas, surge em 2002,
oferecendo atendimento terapêutico a partir de um planejamento individual, mantendo
o vínculo com redes de saúde parceiras aos serviços comunitários, para a assistência
ao usuário pressupondo atenção à saúde e reinserção social e comunitária, visando
a realidade econômica, social e cultural dos sujeitos.

1 Graduanda em psicologia pelo Centro Universitário das Faculdades Integradas de Ourinhos- UNIFIO.
Email: [email protected]
2 Graduanda em psicologia pelo Centro Universitário das Faculdades Integradas de Ourinhos- UNIFIO.

Email: [email protected]
3 Graduando em psicologia pelo Centro Universitário das Faculdades Integradas de Ourinhos- UNIFIO.

Email: [email protected]
4 Graduando em psicologia pelo Centro Universitário das Faculdades Integradas de Ourinhos- UNIFIO.

Email: [email protected]
5 Graduanda em psicologia pelo Centro Universitário das Faculdades Integradas de Ourinhos- UNIFIO.

Email: [email protected]
6 Psicóloga clínica, docente, supervisora técnica e institucional. Doutoranda em Psicologia e Sociedade

pela UNESP/Assis. Atualmente, é coordenadora do Centro de Estudos e Práticas em Psicologia


(CEPP) do Centro Universitário de Ourinhos (UNIFIO). Tem experiência na atuação em Políticas
Públicas de Saúde Mental, em especial, os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS). Conselheira do
XVII Plenário do Conselho Regional de Psicologia de São Paulo (CRP 06).
169
Esse trabalho tem como objetivo a compreensão das possibilidades de cuidado
do CAPS ad, bem como objetiva entender como as formas de cuidado compreendidas
se relacionam com a drogadição.

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Para os povos originários, a relação com as drogas se dava de maneira


ritualística e curativa (Balick e Cox, 2020), porém com a invasão dos Portugueses, ela
assume um papel comercial, sendo utilizada como moeda de troca para a aquisição
de escravos, e posteriormente como forma de domesticação destes (Schwarcz,1998).
Com o aumento do consumo das drogas por escravos e indígenas, surge a
proibição que pode ser entendida como uma forma de repressão dessas populações,
conforme mostra Labate (2008). A “lei do pito do pango”, de 1830, proibiria a venda
da maconha, com pena maior para ex-escravos. (Barros e Peres, 2011)
Devido a influências internacionais e as convenções antidrogas, a do ópio em
1912 e da ONU em 1961, as políticas proibicionistas no Brasil são moldadas, e
utilizadas até hoje, a exemplo da lei Nº 11.343, de 2006.
Em 2002 temos a regulamentação do CAPS “que têm a missão de dar um
atendimento diuturno às pessoas que sofrem com transtornos mentais severos e
persistentes, num dado território, oferecendo cuidados clínicos e de reabilitação
psicossocial” (Ministério da Saúde, 2004). Substitui-se então, o modelo
hospitalocêntrico e altera-se o olhar e o cuidado para o indivíduo que faz uso de
substâncias quando considera a presença das drogas nas sociedades
contemporâneas como um fenômeno complexo, com implicações sociais,
psicológicas, econômicas e políticas; e que, portanto, não pode ser objeto apenas das
intervenções psiquiátricas e jurídicas. (Machado e Miranda, 2007, p.818)
Os CAPS devem ofertar um atendimento pautado em um planejamento
terapêutico numa perspectiva de Projeto Terapêutico Singular, por meio de
atendimentos individuais, grupos, oficinas terapêuticas, visitas domiciliares e espaços
de socialização, visando à ampliação dos repertórios simbólicos e à construção de
autonomia, a partir de um olhar integral, com foco no sujeito, e não na droga.
(Ministério da Saúde, 2004)

MATERIAIS E MÉTODOS

O atual trabalho pautou-se em uma experiência em andamento por


estagiárias(os) do CAPS ad de um município do interior do estado de São Paulo. Para
seu desenvolvimento optou-se pela pesquisa bibliográfica em plataformas eletrônicas,
referências técnicas fornecidas pelo Conselho Federal de Psicologia e manuais e
normas regulamentadas pelos órgãos federais. Para mais, foram validadas as
experiências de campo proporcionadas pela inserção em um CAPS ad. Dessa forma,
a partir do que foi elaborado foram desenvolvidas propostas de intervenção a serem
aplicadas.

170
RESULTADOS E DISCUSSÃO

O CAPS ad em questão possui em sua realidade enfrentamentos cotidianos


relacionados à infraestrutura e compreensão da população em relação ao serviço que
em muitos momentos é alvo de negligência, visto que se trata de uma instituição de
acolhimento a uma população estigmatizada.
Em Henriques e Salim (2021), utilizando a perspectiva lacaniana,
compreendemos o uso de substâncias como uma modalidade de gozo, ou seja, um
modo de satisfação pulsional por meio da droga. Por essa razão, “(…) a Redução de
Danos enfoca a dimensão egóica, a qual seria capaz de gerenciar o próprio gozo a
partir de uma consciência doravante informada” (p.11). Nesse processo, busca-se
auxiliar o sujeito a domesticar seu gozo, auxiliá-lo na diminuição dos danos e instruí-
lo sobre como fazer o uso de uma forma segura. Sendo assim, a partir da análise do
cotidiano do CAPS ad e alinhadas com a lógica da Redução de Danos e o Paradigma
da Atenção Psicossocial, propusemos, enquanto intervenções, dois grupos.
O primeiro grupo denominado “Arte em movimento” consiste na confecção de
jogos, realização de brincadeiras e trabalho com arte. Possui como objetivo a redução
de danos e o desenvolvimento do laço social. Por fim, o segundo grupo é denominado
"Cidadania e Saúde Mental", este, por sua vez, busca promover a reflexão e
conscientização acerca da cidadania, esta, por sua vez, pode ser encarada como uma
forma de redução de danos ao passo que age na compreensão do serviço utilizado,
no acesso aos demais serviços da rede de saúde e acolhimento, bem como às
políticas públicas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Observou-se que o CAPS ad tem como objetivo de tratamento a compreensão


e acolhimento integral do participante, não sustentando-se apenas na extinção do uso
de substâncias. A abordagem do serviço deve buscar estratégias coletivas e
individuais, visando o bem-estar social do sujeito e de sua rede de relações. Sendo
assim, a redução de danos – em suas variadas formas, foi vista como uma abordagem
efetiva e apropriada.
Pode-se observar que as políticas antidrogas causam um encarceramento
maior das populações mais vulneráveis, como aponta Pereira (2021), perpetuando
ciclos de pobreza e criminalidade, quando deveriam direcionar esforços para
prevenção e tratamento do uso prejudicial.
Políticas públicas voltadas para o atendimento de pessoas com problemas
relacionadas ao uso prejudicial de drogas são fundamentais, oferecendo serviço
humanizado, entendendo os usuários em sua complexidade, focando na redução dos
prejuízos pelo abuso, compreendendo o papel da droga na vida desses sujeitos, e
assumindo que nem sempre a abstinência será alcançada.

REFERÊNCIAS

AMARANTE, P (Ed.). Loucos pela vida: a trajetória da reforma psiquiátrica no


Brasil. SciELO-Editora FIOCRUZ, 1998.
171
AMARANTE, P.; NUNES, M. O. A reforma psiquiátrica no SUS e a luta por uma
sociedade sem manicômios. Ciência & saúde coletiva, v. 23, p. 2067-2074, 2018.
Disponível em https://www.scielo.br/j/csc/a/tDnNtj6kYPQyvtXt4JfLvDF/. Acesso em
05 ago 2023.

BALICK, M.; COX, P. Plants, people, and culture: the science of ethnobotany.
Garland Science, 2020.

BARROS, A.; PERES, M. Proibição da maconha no Brasil e suas raízes


históricas escravocratas. Revista Periferia, v. 3, n. 2, p. 9 a 14, 2019.

BRASIL. Portaria nº 30.088, de 23 de dezembro de 2011. Institui a Rede de


Atenção Psicossocial para pessoas com sofrimento ou transtorno mental e com
necessidades decorrentes do uso de crack, álcool e outras drogas, no âmbito do
Sistema Único de Saúde (SUS). Disponível em:
https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2011/prt3088_23_12_2011_rep.html
Acessado em: 17 de junho. 2023.

Conselho Federal de Psicologia. Referências técnicas para a atuação de


psicólogas (os) no CAPS- Centro de Atenção Psicossocial. Brasília, 2022.

COVRE, M. O que é cidadania. São Paulo, Brasiliense, 1999.

HENRIQUES, R; SALIM, A. Psicanálise lacaniana e redução de danos: encontros e


desencontros. Mental, Barbacena , v. 13, n. 23, p. 4-24, jun. 2021 . Disponível
em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1679-
44272021000100002&lng=pt&nrm=iso acessos em 04 ago. 2023.

LABATE, B. Drogas e cultura: novas perspectivas. 2008.

MACHADO, A. R.; MIRANDA, P. S. C. Fragmentos da história da atenção à saúde


para usuários de álcool e outras drogas no Brasil: da Justiça à Saúde Pública.
História, Ciências, Saúde-Manguinhos, v. 14, p. 801-821, 2007. Disponível em
https://www.scielo.br/j/hcsm/a/fmMpJSxrL6wNT8B3KkcB3Bj/. Acesso em 05 ago
2023.

PEREIRA, E. F. M.; DE SOUZA, C. V. B.; TAVARES, J. S. C. Sistema de justiça


criminal e população negra: contribuições para uma prática antirracista. Direito.
Revista de Direito da Universidade de Brasília, v. 5, n. 2, p. 133-152, 2021.

MINISTÉRIO DA SAÚDE. Saúde Mental no SUS: Os Centros de Atenção


Psicossocial. Brasília. Master Publicidade S.A, 2004.

SCHWARCZ, L. M. O espetáculo das raças: cientistas, instituições e questão racial


no Brasil, 1870-1930. Companhia das Letras, 1998.
172
VENÂNCIO, R; CARNEIRO, H. Álcool e drogas na história do Brasil. In: Álcool e
drogas na história do Brasil. 2005. p. 312-312.

173
PARA ALÉM DO ALTO RENDIMENTO NA PSICOLOGIA DO ESPORTE: UM
GRANDE ROMPIMENTO CONCEITUAL

Danilo Macedo Lima1


Felipe Ferreira Pinto2

Palavras-chave: Cognição Social, Representações Sociais, Psicologia do Esporte,


Psicologia Social, Alto Rendimento.

INTRODUÇÃO

De acordo com o (CFP, 2019) constituiu-se uma aproximação necessária no


contexto brasileiro entre Esporte e Psicologia. Então, em 1958, tivemos João
Carvalhaes, que foi o autor que marcou a história da implementação da Psicologia do
Esporte como área específica de atuação da Psicologia. E, ele, atuava com testes
psicométricos junto com atletas, tendo o conceito de Cognição Social fornecido pela
Psicologia Social, como seu referencial teórico de sua prática. (DANTE, 1992).
Porém, em 1980, a Psicologia do Esporte teve que se desdobrar e se enquadrar
no seu contexto. E como isso pode ser feito? Em 1980, a Psicologia do Esporte teve
que avançar a estes olhares. Por conta que, Serge Moscovici, Psicólogo Social
Francês, desenvolveu a Teoria das Representações Sociais, que tem como livro
pioneiro desta teoria, a La psychanalyse - son image et son public de 1961, sendo
traduzido pela primeira vez no Brasil em 1978, chamado de A Representação Social
da Psicanálise.
Sendo assim, a Teoria das Representações Sociais, colaboram para este olhar
das Psicologias Sociais dos Esportes. Então, Cabecinha nos traz:

Na opinião do autor, o paradigma da sociedade pensante questiona as teorias


que consideram que os nossos cérebros são ‘caixas negras’ que processam
mecanicamente a informação em função dos condicionamentos exteriores e
questiona igualmente as teorias para as quais os grupos e os indivíduos estão

1 Graduando em Psicologia Bacharel, Centro Universitário de Ourinhos UniFio,


[email protected]
2 Graduado em Psicologia pela Universidade Estadual Paulista (UNESP) - Faculdade de Ciências e

Letras de Assis (Curso reconhecido pela Portaria CEE/GP nº 436, de 08/08/2008, publicada no D. O.
E. de 09/08/2008), Mestre em Psicologia e Sociedade pelo programa de Pós Graduação da Faculdade
de Ciências e Letras (UNESP - Campus de Assis) e Doutorando no Instituto de Psicologia da
Universidade de São Paulo (USP) no programa de Psicologia Social e do trabalho. Possui experiência
como Psicólogo no SUAS atuando na proteção social básica e especial, educação permanente e
gestão. Professor e coordenador do curso de Psicologia no Centro Universitário das Faculdades
Integradas de Ourinhos (UniFio) e supervisor de estágio no campo da Assistência Social. Está como
colaborador do Conselho Regional de Psicologia de São Paulo CRP/ 06 - Subsede de Assis na
discussão sobre a Psicologia na Assistência Social. Suas áreas de interesse são: Psicologia e Políticas
Públicas, Assistência Social, Psicologia Social e Psicanálise.. [email protected]

174
sempre sob o domínio das ideologias produzidas e impostas pela classe
social, pelo Estado, pela Igreja ou pela Escola, e que os seus pensamentos
e palavras são meros reflexos dessas ideologias. (CABECINHA, 2004, p.127)

De maneira clara, Cabecinha, neste comentário, usa o exemplo da Sociedade


Pensante, que é um paradigma da Teoria Das Representações Sociais. E este
paradigma nos conduz a ver que os grupos e sujeitos interpretam e criam formas
científicas e comportamentais diversas, tanto de maneira grupal como individual sobre
a realidade. Mas, estas ciências que ela diz que acreditavam que os comportamentos
e pensamentos dos sujeitos e grupos, são meros reflexos dessas ideologias, eram as
utilizadas por João Carvalhaes e outras(os) autoras(es) pela Psicologia Social, como
por exemplo, uma dela, a Cognição Social.
Então, os objetivos específicos, são os de, revisitar os conceitos e história da
Psicologia Social e do esporte, bem como a Cognição Social, e a Teoria Das
Representações Sociais de Serge Moscovici, e elucidar autoras como por exemplo
(MEDEIROS; LACERDA; MUNIZ, 2017) que usam a Teoria Das Representações
Sociais como referencial teórico em suas incursões metodológicas e práxis atuantes.
Tendo também por fim, como objetivo central, estudar o objeto de pesquisa
construído, nomeado como, o Alto Rendimento na Psicologia do esporte. Entretanto,
para que isto aconteça, precisamos revisitar estes movimentos históricos e
conceituais, que delimitam e constituem assim, em uma reflexão ética, e consolidação
efetiva, as características deste Objeto De Pesquisa.

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

De acordo com Dante (2002), a Psicologia do Esporte é uma área que avança
junto com a Psicologia Social. Levando em consideração que, a Psicologia do Esporte
tem a Psicologia Social desde os seus primórdios como referenciais teóricos.
Entretanto, o (CFP, 2019), notou que em 1980, os referenciais da Psicologia
Social mudaram, e consequentemente, a Psicologia do Esporte, começou a perceber,
a necessidade de olhar para os sujeitos e para o Esporte, como um fenômeno
atravessado por movimentos, socioculturais, históricos, políticos e subjetivos. E como
o Conselho Federal de Psicologia, percebeu isto? Da década de 1953 até 1979, as
referencias utilizadas eram as da Cognição Social e após este período, usa-se até
hoje, as Representações Sociais, que se articula com a Cognição Social em uma
camada teórica. Porém, de qualquer forma, em si, continua-se por avançar deste outro
conceito.
Resumidamente, o objetivo central desta pesquisa, é a de discorrer sobre o
conceito de Cognição Social e Representação Social para mostrar como a Psicologia
do Esporte nos dias de hoje se configura em sua prática e pesquisa pela teoria das
Representações Sociais. (MEDEIROS, LACERDA, MUNIZ, 2007)

MATERIAIS E MÉTODOS
O presente trabalho se utiliza da ferramenta de pesquisa, Revisão de Literatura
(ANTÔNIO, 2012), que tem como por objetivo metodológico, a construção de uma
análise qualitativa. Tendo como prioridade, as revisões literárias de periódicos
175
acadêmicos e não acadêmicos, como por exemplo, artigos e revistas publicadas por
universidades e livros de editoras não universitárias. Com a finalidade de embasar a
construção dos levantamentos de dados e especificar as características do seu Objeto
de Pesquisa.
De acordo com (PEREIRA, 1998), a construção do Objeto de Pesquisa elucida,
a caracterização do fenômeno que a(o) autora escolhe para pesquisar, ou seja,
quando organizado e decidido as características do fenômeno, passa-se de fenômeno
para Objeto de Pesquisa. Por isto, temos a percepção que este é o efeito ético da
Revisão de Literatura na pesquisa e na(o) pesquisadora(o).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O resultado mais claro e evidente elucidado pela Revisão de Literatura no


Objeto de Pesquisa do Alto Rendimento na Psicologia do Esporte. Foi a de que,
sinalizamos o efeito que a Cognição Social causa no olhar para com os indivíduos e
grupos, que é nada mais que um olhar reducionista. E que também, este conceito faz
parte de uma ciência positivista (CFP, 2019).
De acordo com o objetivo proposto, que é de olhar para além do Alto
Rendimento na Psicologia do Esporte, nota-se que, a Teoria das Representações
Sociais tem a finalidade de:

Na tentativa de responder tais questões e construir uma narrativa sobre essa


história, corroboro com a postura adotada em boa parte da Psicologia Social
contemporânea, a qual considera que todo conhecimento se constrói a partir
de sua produção social, em que os sentidos e seus significados são
construídos. (CARVALHO, 2012, p. 26)

Ou seja, a Psicologia Social contemporânea, entende que o Esporte é um


fenômeno sociocultural complexo e constituído por pessoas, instituições e histórias
representativas. Conduzindo para uma percepção de que a ciência, não deve
entender que as pessoas e os grupos são meros reflexos das preposições sociais e
cientificas, e sim que, o papel da Psicologia Social contemporânea, é a de entender
que os sujeitos e grupos interpretam e ressignificam o seu meio social, grupal e
subjetivo. Igual exemplificado pela Sociedade Pensante de Serge Moscovici.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho contribui para o olhar das ciências pro Esporte, de maneira
democrática e diversa. Suas limitações encontradas, foram a percepção de que ao
contrário de sua contribuição, este tema ainda é visto como a única e exclusiva forma
de olhar e atuação pelas(os) profissionais e pela sociedade para com a própria
Psicologia do Esporte e suas experiencias entre si na vivência humana. Por isto, a
importância deste trabalho é de caminhar a defronte destes olhares limitantes.
Para futuros trabalhos e possibilidades de pesquisa, creio que este trabalho
pincela sobre o olhar como as(os) profissionais que escolherem olhar para atletas,
possam perceber que antes de serem atletas, elas(es) são humanas(os) e

176
atravessados por processos biopsicossociais, e que a Teoria das Representações
Sociais dá subsídios para esta visão.

REFERÊNCIAS

BENTO, A. Como fazer uma revisão da literatura. Portugal: Universidade da


Madeira, 2012.

CABECINHAS, R. Representações sociais, relações intergrupais e cognição


social. 14. ed. Ribeirão Preto: Paidéia, 2004.

CARVALHO, C. Para além do tempo regulamentar: uma narrativa sobre a história


da psicologia do esporte no Brasil. Rio de Janeiro: Universidade do Estado do Rio de
Janeiro, 2012.

CFP. Referências Técnicas para atuação de Psicólogas(os) em Políticas


Públicas De Esporte. 1. ed. Brasília, 2019.

JUNIOR, D. História e evolução da psicologia do esporte. 2. ed. São Paulo: Paul.


Educ. Fis, 1992.

LACERDA, A.; MEDEIROS, C. Psicologia e esporte na atualidade reflexões


necessárias. Passavento, 2017.

MOSCOVICI, S. Representações sociais: investigações em psicologia social.


Tradução: Pedrinho A. Guareschi. Petrópolis: Vozes, 2007.

RUBIO, K. Ética e Compromisso Social na Psicologia do Esporte. 3. ed. Psicologia


ciência e profissão. São Paulo, 2007.

SÁ, C. A construção do objeto de pesquisa em representações sociais. Rio de


Janeiro: EdUERJ, 1998.

177
PRÁTICAS DE ESTÁGIO INSTITUCIONAL: INTERVENÇÕES DA
PSICOLOGIA NAS ESCOLAS

Luana Costa Rodrigues 1


Rafaela Barcelar Teixeira 2
Wátila Araújo Brito Lopes 3
Ana Paula Giacomini Magdanelo 4
Cristiane Pereira Marquezini 5

Palavras-chave: Escola – Psicologia Escolar – Intervenções grupais – Estágios


Institucionais – Psicologia Educacional

INTRODUÇÃO

Atualmente, a Psicologia Escolar vem acompanhando as mudanças sociais no


Brasil, e, nesse sentido, se expandindo através de debates e críticas sobre a antiga
abordagem clínica terapêutica que apresentava nas escolas, o qual focava
exclusivamente no aluno problema e em seu diagnóstico. Hoje podemos encontrar
práticas que superaram a avaliação, o diagnóstico, o atendimento e o
encaminhamento de alunos com dificuldades escolares, isso é, saímos de uma
abordagem centrada no aluno, baseada em testes quantitativos ou clínicos, para uma
que integra os espaços sociais e relacionais em que as dificuldades surgem, a
orientação de alunos e pais em relação às dificuldades escolares e outros assuntos
importantes para o desenvolvimento do estudante em específico, que tem se
empenhado para promover o bem-estar emocional e desenvolver recursos
psicológicos, de acordo com os objetivos da educação integral. (Martinez, 2010).
As intervenções nas escolas têm se orientado para práticas que cada vez mais
se voltam para o autoconhecimento, reflexão e elaboração de projetos profissionais
dos alunos, a atuação na elaboração e organização de estratégias de intervenção que
exigem a coordenação de diversos profissionais da escola que surgem como uma
resposta aos problemas enfrentados pela instituição. A participação na construção, no
acompanhamento e na avaliação da proposta pedagógica da escola junto à
composição do trabalho em grupo, muda as percepções inadequadas. Estas ações
definem funções coletivas e mediam conflitos, compõe disciplinas e oficinas

1 Graduanda do Curso de Psicologia do Centro Universitário de Ourinhos. [email protected]


2 Graduanda do Curso de Psicologia do Centro Universitário de Ourinhos. [email protected]
3 Graduanda do Curso de Psicologia do Centro Universitário de Ourinhos.
[email protected]
4 Graduanda do Curso de Psicologia do Centro Universitário de Ourinhos. E -mail:

[email protected]
5 Doutora em Educação e pós doutoranda em Psicologia UNESP – Docente do Curso de

Psicologia do Centro Universitário de Ourinhos. [email protected]


178
direcionadas ao desenvolvimento integral dos alunos, dentre outras atuações.
(Martinez, 2010).
Durante a prática dos estágios institucionais, especificamente, os escolares,
foram realizadas intervenções em escolas do município de uma cidade do interior do
estado de São Paulo. No presente trabalho, será relatado de forma breve, as
atividades realizadas em instituição escolar no primeiro semestre. Nela foram
atendidas, inicialmente, a população de 13 a 14 anos, do 1º ano do Ensino Médio e
como os alunos do 6° e 7° ano do ensino fundamental. Conforme visto por Martinez
(2010), a psicologia escolar pode atuar na coordenação de grupos, portanto, foram
realizados principalmente grupos terapêuticos, de elucidação e direcionamento das
demandas dos alunos e alunas participantes. com encontros semanais, onde cada
encontro foi discutido um tema diferente, o qual será mais detalhado na sessão
matérias e métodos.

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

A educação que hoje conhecemos esteve desde o seu surgimento associado


ao controle e a domesticação, onde inicialmente fazia-se o uso da palmatoria e
atualmente é a disciplina que atua como controladora e domesticadora dos corpos
(Menegotto; Foutora; 2015).
Ainda de acordo com as autoras, a Psicologia surge no contexto escolar a
partir da contribuição com avaliações e diagnostico de alunos-problemas, que era
realizado a partir das ferramentas e laudos psicológicos (Fontes e Lima; 2011; Soares
e Araújo, 2010; Yakamoto; Santos; Galafassi; Pasaqualini e Souza, 2013).
A Psicologia, portanto, contribuía, de certa forma, para a exclusão,
psicologização e patologização daqueles que não se encaixassem no sistema
educacional da época, e estava fielmente à disposição daquilo que a escola
demandasse e exigisse, sem sequer levantar questionamentos (Silva; Mendes, 2012).
Foi somente a partir da década 70 que se inaugurou um período de críticas à
orientação do modelo de fazer Psicologia na escola (Menegotto; Fontoura, 2015).
Dessa forma, novas produções discursivas subsidiaram novas formas de saber
e fazer psicologia em contextos educacionais. Inaugurando novas acepções sobre o
aluno, nesse cenário, os estudantes e suas famílias deixam o lócus de
responsabilização pelo desempenho escolar e entra em cena um entendimento da
determinação multifatorial das dificuldades de escolarização, esta envolve aspectos
de natureza histórica, social, cultural, política, econômica e pedagógica (Menegotto,
Fontoura, 2015 apud Soares e Araújo, 2010).

MATERIAIS E MÉTODOS

Iniciamos o estágio no mês de abril e concluímos o 1º semestre em junho do


presente ano. Neste primeiro momento, alinhamos o trabalho a ser feito com a
coordenação e, posteriormente, fomos nos apresentar aos alunos, colhendo os nomes
dos interessados em participar dos grupos temáticos com os assuntos demandados
pelos alunos. A partir disso, montamos uma espécie de rodízio, no qual cada grupo
continha cerca de 10 alunos e semanalmente atendíamos 5 grupos por vez. No
179
primeiro encontro com os grupos realizamos uma dinâmica do espelho, que consistia
em cada um falar um pouco de si, para que conhecêssemos um pouco mais sobre os
alunos, suas realidades e expectativas de trabalho.No próximo encontro realizamos
um trabalho sobre a cultura de paz, explicamos o que é e como podemos
operacionaliza-las na escola, também, confeccionamos cartazes sobre o tema com os
grupos. O próximo assunto trabalhado com os grupos foi a autoestima, onde ouvimos
o que cada um tinha a falar e explicamos o que entendíamos sobre autoestima a partir
do viés da Psicologia, realizamos também uma dinâmica. No último encontro
realizamos um café com os alunos para o fechamento destes, além de obtermos um
feedback sobre os grupos. Já com os alunos do 6° e 7° foram realizados grupos como
rodas de conversas com as queixas trazidas pelos alunos e assim desenvolvemos um
trabalho específico, o assunto mais levantado de forma unânime entre as turmas foi o
bullying. De acordo à essas demandas os trabalhos desenvolvidos foram para o
conhecimento sobre o que era o bullying como ele se caracteriza, sobre
conscientização dele, quais os males que essa prática pode causar no autor, na vítima
e em toda a população escolar. Nas intervenções foram confeccionados cartazes
onde os alunos puderam se expressar com pintura, colagem, frases, dentre outras
formas de manifestação.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os estudantes de ambos os grupos se mostraram participativos e engajados


com as temáticas, dessa maneira, acreditamos que as intervenções utilizadas
conseguiram alcançar o objetivo esperado de conscientização e, a partir de então,
possivelmente mudanças podem ser operadas na forma de agir diante das situações
de bullying e conceber a autoimagem de si.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A escola nesse momento priorizou o trabalho com grupos com os alunos, e, de


acordo com Junior e Reale (2002), os grupos na adolescência são recomendados pois
os sujeitos nessa faixa etária têm facilidade em se unirem grupalmente, sendo assim,
há a possibilidade de descobrimento e aprendizagem da comunicação com o outro,
desenvolvimento de habilidades sociais e resolução de conflitos. Os problemas
partilhados em grupo levam ao reconhecimento de necessidades, medos e sonhos
semelhantes, portanto, ver no outro membro a nossa questão, permite o
desenvolvimento, a modificação de conduta e o autoconhecimento. O grupo funcionou
como um lugar de apoio e escuta, criação de novos relacionamentos, visto que
pudemos observar alunos de salas diferentes conversando, isso também contribuiu
para o desejo dos alunos de não ficarem “sozinhos”, além de ser um local onde
demandas sociais também foram debatidas, tais como o racismo, o bullying, a
violência doméstica etc., em que, ao mesmo tempo que os membros eram ouvidos,
também escutavam, se identificando e vendo no outro necessidades e problemas
semelhantes.

180
REFERÊNCIAS

FONTES, D. C.; LIMA, V. A. A. (2011). A escola segundo alunos do ensino médio de


Porto Velho-RO. Psicologia Escolar e Educacional, 15(1), p. 71-79.

JUNIOR., F.B A.; REALE, D. Práticas psicoterápicas na infância e na


adolescência: Editora Manole, 2002. 9788520444184. E-book. Disponível em:
https://integrada.minhabibliote ca.com.br/#/books/978852044 4184/. Acesso em: 25
mai. 2023.

MARTÍNEZ M, A. O que pode fazer o psicólogo na escola? Em Aberto, Brasília, v.


23, n. 83, p. 39-56, mar. 2010. Disponível em:
<http://www.rbep.inep.gov.br/index.php/emaberto/article/viewFile/1634/1298>.
Acesso em: 4 de maio. 2023.

OLIVEIRA-MENEGOTTO, L. M. DE.: FONTOURA, G. P. DA. Escola e Psicologia:


Uma história de Encontros e Desencontros. Psicologia Escolar e Educacional, v.
19, n. Psicol. Esc. Educ., 2015 19 (2), maio 2015.

SILVA, A. M., MENDES, E. G. Psicologia e inclusão escolar: novas possibilidades de


intervir preventivamente sobre problemas comportamentais. Revista Brasileira de
Educação Especial, 18(1), 53-70, 2012.

SOARES, P. G., ARAUJO, C. M. M. Práticas emergentes em Psicologia Escolar: a


mediação no desenvolvimento de competências dos educadores sociais. Psicologia
Escolar e Educacional, 14(1), 45-54, 2010.

YAMAMOTO, K., SANTOS, A. A. L., GALAFASSI C., PASQUALINI, M. G., SOUZA,


M. P. R. Como atuam psicólogos na educação pública paulista? um estudo sobre
suas práticas e concepções. Psicologia: Ciência e Profissão, 33(4), 794-807,
2013.

181
PRÁTICAS DE ESTÁGIO INSTITUCIONAL: PSICOLOGIA, ESCOLA E
CONTEMPORANEIDADE

Amanda Machado Nobile1


Cibele Cristiane Guerra2
Juliana Betti de Oliveira3
Luciana de Paula Vidal4
Síntique Ferreira da Silva5
Cristiane Pereira Marquezini6

Palavras-chave: psicologia escolar; adolescente; trabalho em grupo; intervenções


psicológicas; atuação do psicólogo(a).

INTRODUÇÃO

No contexto educacional de outrora, era ainda mais evidente o propósito de


moldar um padrão de indivíduo controlável e domesticado, utilizando métodos
disciplinares violentos e punitivos para corrigir comportamentos considerados
indesejados. A psicologia entrou na educação com uma ideologia semelhante,
avaliando e diagnosticando os alunos e excluindo os considerados "não aptos" para o
sistema educacional. Essa abordagem compartilhava uma visão higienista e
moralista, segregando os alunos em "normais" e "anormais", permitindo que os
“normais” frequentassem a escola, enquanto os “anormais” eram excluídos tornando-
se objetos de estudo e práticas clínicas para serem avaliados, laudados, tratados e
"curados". (MENEGOTTO; FONTOURA, 2015)
Somente na década de 1970, começaram a surgir críticas de psicólogos e
pedagogos em relação à visão excludente e reducionista da psicologia escolar,
levando a uma nova percepção sobre a criança no ambiente escolar, condenando o
exercício autoritário da antiga psicologia escolar e passando a considerar o sujeito
como agente transformador. Além disso, o contexto social, histórico, econômico,
cultural e político passa a ser parte relevante para uma ressignificação da atuação
profissional no ambiente escolar, reconhecendo novas condutas e perspectivas
(MENEGOTTO; FONTOURA, 2015)
O novo projeto de trabalho do psicólogo é interdisciplinar, com planejamento

1 Graduanda do Curso de Psicologia do Centro Universitário de Ourinhos. Email: [email protected]


2 Graduanda do Curso de Psicologia do Centro Universitário de Ourinhos. Email:
[email protected]
3 Graduanda do Curso de Psicologia do Centro Universitário de Ourinhos. Email: [email protected]
4 Graduanda do Curso de Psicologia do Centro Universitário de Ourinhos. Email: [email protected]
5 Graduanda do Curso de Psicologia do Centro Universitário de Ourinhos. Email:
[email protected]
6 Doutora em Educação, Pós doutoranda em Psicologia – UNESP Docente do Centro Universitário das

Faculdades Integradas de Ourinhos. Email: [email protected]


182
em conjunto, nele todos os atores sociais da escola fazem uso de habilidades e
competências (MARTINEZ, 2010).
Em consonância com a construção de produções discursivas para aportar
práticas de uma nova Psicologia Escolar, neste trabalho iremos descrever nossas
vivncias e práticas do estágio institucional em uma escola estadual localizada no
interios do estado de São Paulo, onde promovemos espaços disponíveis de escuta,
acolhimento, discussões, mediações, orientação vocacional com foco no
autoconhecimento e na reflexão para a escolha de carreira e entrada no mundo do
trabalho. Realizamos, também, atendimento e orientação aos alunos com dificuldades
escolares, bem como, dos pais sobre questões inerentes à escolarização de seus
filhos. Ainda, buscando promover o bem-estar emocional, operacionalizamos recursos
de intervenção psicológica importantes para a educação integral. Por último, ocorreu
também o acolhimento e escuta de profissionais em sofrimento psíquico (MARTINEZ,
2010).

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

A psicologia escolar busca a elaboração e a coordenação de projetos


educativos específicos, com estratégicas de intervenção próprias para solucionar os
problemas que surgem no ambiente educacional. Todas as intervenções possuem
como base a proposta pedagógica que define o trabalho educativo alinhadas com a
complexidade da subjetividade humana. Desta forma o trabalho do psicólogo se
mostra fundamental nos processos de mudança (MARTINEZ, 2010).
Para o desenvolvimento de nossaas prátias na escola utilizamos, dessa forma,
do recurso das oficinas voltadas para o desenvolvimento integral dos alunos, com
temáticas tais como o autoconhecimento, habilidades interpessoais, criatividade,
valores e planejamento futuro. Outra forma de atuação está na promoção de espaços
para discussões sobre temas emergentes e que surgem através dos próprios alunos,
como saúde mental, sexualidade, bullying, autoaceitação, autoestima, história de vida,
etc. (MARTINEZ, 2010).

MATERIAIS E MÉTODOS

O período do estágio institucional relatado data de fevereiro a junho, do


presente ano. Tendo início com observação na escola, conversamos com a
coordenadora pedagógica, que nos instruiu e direcionou sobre as demandas
escolares, permitindo que as atividades fossem realizadas tanto em grupo, quanto
individual, na instituição.
Visitamos as salas de aula para apresentar e explicar sobre o Projeto
“Psicologia na Escola”, onde distribuímos autorizações de participação aos alunos
menores de 18 anos e orientamos sobre uma caixa lacrada destinada as demandas
que fora deixada na escola. Após as mesmas serem tabuladas, verificamos as
demandas dos alunos, o cenário institucional e quais as possíveis intervenções.
Segundo Gaspar e Costa (2011) o mapeamento escolar é condição básica para que
seja iniciado um trabalho interventivo nas escolas.
Isso foi realizado, simultaneamente, aos prontos atendimentos (PA), oferecidos
183
em três encontros. Ao encerrarmos os atendimentos individuais demandados,
notamos uma baixa adesão de novos alunos nesta modalidade.
Ainda, efetuamos uma atividade de roda de conversa com os alunos do
primeiro termo de enfermagem, para atendermos uma solicitação pontual da classe.
Por último, neste ssemestre leitvo, foi sugerido para a coordenadora
pedagógica uma oficina sobre saúde mental na escola, e, mediante a realização
desta, alinhamos novas ideias de trabalho e estratégias em concordância com a
gestão da insituição. Dentre elas, ilustramos, o recurso de utilizar um mural que fica
localizado no refeitório, como espaço de criações e construções coletivas dos alunos,
com o objetivo de possibilitar sua percepções, expressões e demandas que serão
analisadas, avaliadas e, se necessário, trabalhadas nas nossas próximas ações e
intervenções institucionais.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A instituição localiza-se em um bairro de classe média alta de Ourinhos e


atende alunos do ensino médio, integrado e técnico. Possui uma equipe pedagógica
que valoriza o projeto da Psicologia na escola e possibilita, colabora e incentiva para
que as atividades sejam realizadas, tanto para os atendimentos em grupo quanto para
os PA realizados individualmente.
Para que o trabalho do psicólogo na escola seja eficiente, é fundamental que
ele trabalhe em conjunto com outros profissionais da equipe pedagógica, como
coordenadores e orientadores educacionais.
A primeira atividade realizada na instituição foi o PA, em que foram oferecidos
três encontros aos alunos que nos procuraram, o que reforça a ideia da psicologia
clínica. Segundo Martinez (2010), a orientação psicológica na escola difere-se da
terapia, o que implica ações de aconselhamento para atender às necessidades
pontuais de cada aluno.
Tais ações têm se mostrado eficaz, à medida que promove o bem-estar
emocional e o desenvolvimento de recursos psicológicos. O olhar atento ao
desenvolvimento integral dos alunos, permite ao psicólogo fazer uma orientação
individual ou em grupo que contribua para o objetivo. Em vista disso, realizamos uma
oficina sobre saúde mental com três turmas no auditório, onde foram disparados
assuntos relacionados à saúde mental, e houve grande interesse dos alunos pelo
tema.
Durante as atividades em grupo, os alunos do curso de Enfermagem
apresentaram questões de relacionamento interpessoal, preconceito e racismo, e em
função dos problemas de convivência fizemos uma atividade de mediação. Nos
primeiros encontros a maioria dos alunos participou e interagiram com o grupo, já no
último eles estavam menos participativos e alegaram que as demandas iniciais já
haviam sido solucionadas.
Em uma das reuniões a Coordenadora apontou para alguns problemas que
poderiam ser trabalhados em grupo, como temas ligados ao bullying na escola,
violência, relações interpessoais e a importância do respeito às normas e regras da
Instituição. A partir disso foram desenvolvidos novos trabalhos em grupos com as
184
demais salas de aula, saímos da visão constituída do fazer clínico na instituição, e
fomos em direção ao olhar multifatorial dos fenômenos que ocorrem na escola.
O psicólogo deve estar atento a tais fenômenos, a fim de que tenha a habilidade
de se integrar com profissionalismo e humildade a uma equipe já existente na escola
em que atua. Além disso, é importante que esse profissional procure se aperfeiçoar
para estar preparado para as demandas da escola e oferecer ideias criativas que
cooperem efetivamente para a melhoria da instituição. Atuando de forma que possa
ajudar a construir e consolidar uma nova representação do papel desse profissional
na sociedade atual (MARTINEZ, 2010).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Todas as formas de trabalho praticadas no decorrer do semestre, seja no


individual ou de grupo, teve como objetivo oferecer um apoio necessário de
prevenção, intervenção e desenvolvimento das habilidades socioemocionais. O
objetivo foi o de averiguar as demandas apresentadas pela coordenação da escola,
além de observar as queixas e necessidades dos alunos, que foram percebidas pela
equipe de estágio, sendo que o principal eixo escolhido para ampliar o trabalho foi no
formato de grupo.
A adesão da modalidade em grupo contou também com o apoio da equipe
gestora e pedagógica, que deu liberdade às estagiárias para trabalharem as várias
temáticas pertinentes à Psicologia. Assim, nossa experiência de estágio na escola
está ocorrendo de forma significativa e eficaz, visto que fomos acolhidos por todos os
profissionais, que se mostraram dispostos e soidários a colaborar com nossas práticas
interventivas. Este cenário participativo colaborativo é o ideal para práticas eficazes
em psicologia escolar.

REFERÊNCIAS

GASPAR, F. D. R.; COSTA, T. A. Afetividade e atuação do psicólogo escolar.


Psicologia: ciência e profissão. Brasília, v. 31, n. 4, p. 732-745, dez. 2011.
Disponível em: <https://www.scielo.br/pdf/pcp/v31n4/07.pdf>. Acesso em: 25 mai.
2023.

MARTÍNEZ, A. M. O que pode fazer o psicólogo na escola? Em Aberto. Brasília, v.


23, n. 83, p.39-56, mar. 2010. Disponível em:
<http://www.rbep.inep.gov.br/index.php/emaberto/article/viewFile/1634/1298>.Acess
o em: 08 de junho 2023.

OLIVEIRA-MENEGOTTO, L. M. DE .; FONTOURA, G. P. DA . Escola e Psicologia:


Uma História de Encontros e Desencontros. Psicologia Escolar e Educacional, v.
19, n. 2, p. 377–386, maio 2015.

185
PRÁTICAS DOS ESTAGIÁRIOS DE PSICOLOGIA HOSPITALAR: VIVÊNCIAS E
INTERVENÇÕES

Bárbara Bordinhon Mercante1


Guilherme do Prado2
Milena dos Santos e Costa3
Rita Ferreira da Silva4

Palavras-chave: Psicologia hospitalar; Intervenção psicológica hospitalar; Psicólogo


no hospital; Breve intervenção psicológica; Estagiários de psicologia.

INTRODUÇÃO

Segundo Moretto, 1999 A Psicologia Hospitalar é existente há mais de cinco


décadas no Brasil. A autora realiza diversas contribuições de questionamentos e
reflexões sobre a prática da inserção dos profissionais no contexto de saúde.
O presente trabalho se dedica a discorrer sobre as práticas vivenciadas pelos
estagiários de psicologia no contexto de internação hospitalar. O objetivo deste
trabalho é apresentar aos profissionais de psicologia atuantes nas mais diversas áreas
sobre as possibilidades de atendimento que acontecem dentro de um contexto
médico-hospitalar. A importância de tal apresentação de tema se dá pela importância
de profissionais da psicologia nos mais diferentes contextos e apresentar aos colegas
outras possibilidades de atendimento para além da clínica convencional. A
metodologia utilizada foi a pesquisa bibliográfica qualitativa.

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Este trabalho está fundamentado nos escritos feitos por Alfredo Simonetti
(2016) em seu livro intitulado “Manual de psicologia hospitalar: o mapa da doença”.

1 Estudante do 9º termo de psicologia, estagiária do hospital Santa Casa da Misericórdia de Ourinhos,


Centro Universitário da Faculdades Integradas de Ourinhos, Psicologia,
[email protected].
2 Estudante do 9º termo de psicologia, estagiário do hospital Santa Casa da Misericórdia de Ourinhos,

Centro Universitário da Faculdades Integradas de Ourinhos, Psicologia, [email protected]


3 Estudante do 9° termo de psicologia, estagiária do hospital Santa Casa da Misericórdia de Ourinhos,

Centro Universitário da Faculdades Integradas de Ourinhos, Psicologia, [email protected]


4 Mestra em Psicologia pela Universidade Ibirapuera - UNIB (2022). Especialista em Psicopedagogia

Clínica e Institucional pela Universidade Estadual do Norte do Paraná - UENP (2013). Especialista em
Educação Especial Inclusiva pela Faculdade Corporativa Cespi - FACESPI (2014). Equoterapeuta
formada pela Associação Nacional de Equoterapia ANDE-Brasil (2014). Graduada em Pedagogia pela
Faculdade Paulista São José (2018). Graduada em Psicologia pelo Centro Universitário das
Faculdades Integradas de Ourinhos (2011). Centro Universitário da Faculdades Integradas de
Ourinhos, Psicologia, [email protected]

186
O primeiro ponto a ser retomado pelos ensinamentos de Freud (1980, vol. XII,
apud SIMONETTI) é a importância do uso das palavras para a psicologia. Neste
sentido, o psicólogo hospitalar tem como principal função auxiliar o paciente a usar as
palavras para exprimir seus sentimentos. Para tanto, o psicólogo pode se valer de
algumas técnicas para que o paciente possa se sentir confortável ao utilizar a fala para
externalizar seus sentimentos. A fala não irá excluir o sentimento, mas possibilita que
no lugar da angústia sejam colocadas palavras, dando espaço para elaboração e
ressignificação do momento vulnerável em que se encontra (SIMONETTI, 2016, p.
115-116).
Para que a magia das palavras possa acontecer, conforme colocado por Freud
em 1980 (apud SIMONETTI, 2016, p. 115), o psicólogo pode se valer de três práticas:
entrevista inicial, livre associação e o silêncio (SIMONETTI, 2016, p. 116).
A associação livre consiste em deixar claro ao paciente que ele pode dizer
sobre qualquer assunto pois não existe roteiro ou limite para tanto, em contraponto, o
psicólogo deve estar preparado para uma livre escuta também, ou seja, devemos
estar preparados para escutar ao paciente, e não “à doença”, ou sobre à doença.
(SIMONETTI, 2016, p. 116-117).
A entrevista realizada pelo psicólogo ao leito do paciente e inicia um diálogo
para saber sobre o que aconteceu até que ele chegasse ao momento da internação,
mas também o indaga sobre questões para além deste momento delicado, qualquer
assunto que estabeleça um vínculo entre o paciente e o profissional que o atende.
(SIMONETTI, 2016, p. 117).
O silêncio trata-se de uma importante técnica para que as palavras surjam
durante o atendimento, por isso o silêncio deve ser preenchido por falas do paciente.
Eventualmente podem existir falas do psicólogo, mas devem ser direcionadas para
que o paciente retome o seu discurso, neste sentido, não deve existir uma
preocupação em não falar, por parte do psicólogo, mas em permitir a fala do paciente,
lhe ofertando uma verdadeira escuta (SIMONETTI, 2016, p. 118).
Uma das principais práticas e intervenções no contexto hospitalar e nos
ambientes de saúde em geral, é o acolhimento. O acolhimento se designa como uma
prática de escuta, compaixão, compreensão e validação ao sofrimento de um outro.
O acolhimento está atrelado a uma escuta qualificada e ética, ambos baseados
no CFP (Conselho Federal de Psicologia), que em sua legislação aponta condutas de
não julgamento ao sofrimento e história de vida de outra pessoa, independentemente
de sua classe social, gênero, etnia, raça e entre outros.

MATERIAIS E MÉTODOS

Esta pesquisa se deu por pesquisa bibliográfica qualitativa. Os materiais


utilizados são de sites como Scielo, PubMed, Google Acadêmico, livros e experiências
institucionais supervisionadas. O tema abordado sobre a maternidade será envolvido
por meio de relatos de alunos do nono termo do Centro universitário das Faculdades
de Ourinhos (UNIFIO) concomitantemente a supervisões no espaço hospitalar da
Santa Casa de Misericórdia de Ourinhos e supervisões no Centro de Estudos e
Práticas em Psicologia (CEPP).

187
Iniciamos no dia 28 de março de 2023 às práticas institucionais no espaço
hospitalar da Santa Casa de Misericórdia de Ourinhos. Sendo supervisionados na
instituição por três profissionais da psicologia que trabalham no hospital como a
Amanda Tupiná Persiani de CRP 06/112648 a qual é a principal supervisora da
psicologia e assistência social. A Áurea Rodrigues Santos Coimbra de CRP
06/142452 e Paula Zucco Schneider Dias de CRP 06/111401.
Ao longo do tempo foi realizado em torno de quatro a cinco semanas
acompanhando as supervisoras para entendermos a relação e a pratica profissional
realizada, até a possibilidade de atender alguns pacientes sozinhos com base em
acompanhamentos já realizados e com a experiência clínica, assim foi possível que
as intervenções realizadas com os pacientes pudessem ser proveitosas. Diante de
dúvidas as supervisoras estavam sempre à disposição para auxiliar a condução do
caso.
Por fim, eram realizados dois atendimentos por semana na instituição Santa
Casa, em conjunto com uma supervisão semanalmente no Centro de Estudos e
Práticas em Psicologia (CEPP) a qual relatamos os casos realizados, observando
dificuldades e possibilidades para uma prática correta. A supervisora Rita Ferreira da
Silva, psicóloga CRP 06/108847 e professora do Centro Universitário das Faculdades
de Ourinhos (UNIFIO), apresentava possíveis interpretações das situações relatadas
pelos alunos, fazendo com que percebam as necessidades dos pacientes internados
para que possam amenizar seu sofrimento diante a hospitalização.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Diante da proposta deste trabalho, podemos apresentar como resultado a


vivência dos estagiários no setor de psicologia do Hospital da Santa Casa da
Misericórdia de Ourinhos, estado de São Paulo. A prática do estágio houve em
conjunto apoio com os estudos teóricos abordados em supervisão, discussões de
casos e na elaboração de relatórios institucionais, cabe ao dever de cada profissional
da psicologia estar embasado eticamente com sua teoria na vivência prática e
profissional, como nos aponta Moretto:

Dito de outro modo: cabe ao psicanalista que trabalha na Instituição de


Saúde, ao fundamentar sua prática, a tarefa de presentificar a Psicanálise no
mundo, isto é, fazer a extensão da Psicanálise, tal como propôs Lacan
(1967/2003) na “Proposição de 9 de outubro de 1967 sobre o psicanalista da
Escola” (MORETTO, 2014, 288).

A primeira fase do estágio realizado no primeiro semestre do ano de 2023 foi


dedicada à exclusiva observação do trabalho das preceptoras da referida instituição.
O segundo momento do estágio foi a possibilidade de realização de atendimentos aos
pacientes e acompanhantes daqueles submetidos ao processo de internação.
Foi possível identificar ao longo dos atendimentos que algumas pessoas
estavam mais dispostas ao diálogo e outras menos, contudo, ao entenderem que não
estávamos apenas para falarmos sobre a doença eles se mostravam menos
resistentes.

188
Retomar em palavras a sua rotina, os seus convívios sociais e também a
possibilidade de falarem sobre outras questões de cunho pessoal que afetam o
momento da hospitalização foi muito importante para aceitarem o atendimento da
equipe de psicologia e até mesmo na possibilidade de iniciaram atendimento
psicológico contínuo após o período de internação.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao final podemos concluir a importância de um bom preparo teórico para os


atendimentos realizados no contexto hospitalar. Identificar as diferenças entre o
atendimento clínico e o atendimento institucional é essencial para um bom
atendimento prático de pacientes submetidos à vulnerabilidade da internação.
Consideramos que uma significativa parte do que aprendemos e pudemos visualizar
no contexto hospitalar se diz respeito às práticas de acolhimento, escuta e compaixão
do sofrimento de outra pessoa e/ou grupos.

REFERÊNCIAS

AZEVEDO, A. V. dos S.; CREPALDI, M. A. A Psicologia no hospital geral: aspectos


históricos, conceituais e práticos. Estudos de Psicologia. Campinas, p. 580, out-
dez. 2016.

BRASIL. Ministério da Saúde. (2008). Documento base para gestores e


trabalhadores do SUS. Brasília, DF: o autor. Disponível em:
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/acolhimento_praticas_producao_saude.p
df

MORETTO, M. L. T. (1999). A problemática da inserção do psicólogo na instituição


hospitalar. Revista de Psicologia Hospitalar do Hospital das Clínicas da FMUSP,
9(2), 19-23.

SIMONETTI, Alfredo. Manual de psicologia hospitalar: o mapa da doença. 8ª ed.


São Paulo: Casa do Psicólogo, 2016. 200 p.

189
PSICOLOGIA HOSPITALAR: PRÁTICAS NA PSICO-ONCOLOGIA

Julia Maria Viola 1


Nicoly Gouveia Silveira 2
Rita Ferreira da Silva 3

Palavras-chave: Psicologia Hospitalar; psico-oncologia; câncer; quimioterapia;


intervenções psicológicas.

INTRODUÇÃO

A psicologia no contexto hospitalar trata-se de um campo de atuação o


qual tem o objetivo de minimizar o sofrimento causado pela doença que leva a
hospitalização, onde o sujeito passa por um processo de despersonalização. A
despersonalização do indivíduo hospitalizado pode ser compreendida como um
processo de perda de identidade que ocorre no momento da descoberta da
doença, visto que no hospital ele será tratado apenas como um número de leito
ou como portador de determinada patologia (Angerami, 2010). Devido esse
adoecimento, aspectos psicológicos são desencadeados, portanto, a psicologia
hospitalar trabalha com essas questões, não só com o paciente, mas também
com seus familiares e até mesmo com a equipe multidisciplinar (Simonetti,
2011).
Assim como é importante fornecer atendimento psicológico a pacientes
hospitalizados, a pacientes oncológicos acontece o apoio psicossocial e
psicoterapêutico diante do diagnostico recebido, visto que pacientes com
câncer demonstram tendências à depressão e um grande sofrimento emocional.
O câncer enquanto patologia que acomete para além do corpo físico, por
ser uma doença crônica, pode produzir diversos problemas, como dor, medos,
desconforto, baixa autoestima, incerteza quanto ao futuro, pensamento
suicidas, dificuldades no relacionamento familiar e interpessoal, ansiedade,
entre outros (Scannavino et al., 2013).
Destarte, este estudo pretende descrever brevemente a atuação do
psicólogo diante pacientes oncológicos, visto que é uma área de grande
complexidade para o paciente, para sua família e para a equipe multidisciplinar,
onde o profissional da psicologia estará inserido com o objetivo de atenuar e
humanizar o sofrimento do sujeito em processo de reestabelecimento da saúde
integral utilizando-se de recursos terapêuticos.

1 Graduanda do 10° termo no Centro Universitário de Ourinhos - UNIFIO, curso de Psicologia,


[email protected].
2 Graduanda do 10° termo no Centro Universitário de Ourinhos - UNIFIO, curso de Psicologia,

[email protected].
3 Psicóloga (UNIFIO), pedagoga (FPSJ), mestra em psicologia (UN IB), professora do curso de

Psicologia no Centro Universitário de Ourinhos - UNIFIO, [email protected].


190
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

A Psico-Oncologia refere-se a um campo específico da área da psicologia


no contexto hospitalar, a qual tem como intuito cuidar e estudar de pacientes
com câncer, seus familiares e equipes de apoio. Um dos seus objetivos está
voltado em desmistificar crenças e estigmas apontadas pelo sujeito acometido
pelo câncer, através de mecanismos de enfrentamento melhor adaptados ao
seu tratamento, utilizando grupos de autoajuda e suporte psicossocial (Campos
et al., 2021).
Os grupos de autoajuda desempenham um papel importante no cuidado
de pacientes oncológicos, visto que proporcionam a socialização entre os
participantes, reduzindo o sentimento de solidão gerada pelo diagnóstico de
câncer. Ademais, os grupos auxiliam no processo de adaptação a cada nova
fase passada pelo paciente em seu tratamento (Martins; Sanches, 2014).
O câncer é uma doença que tem sua origem coincidente com a história
da humanidade, e está relacionada aos hábitos, cultura, fatores ambientais e
biológicos. É caracterizado como uma doença multifatorial que surge a partir da
mutação no código genético de apenas uma célula, que se multiplica dando
origem a outras células anômalas que se agrupam formando a massa tumoral.
A prevalência e incidência do câncer é alta em todo o mundo, sendo a segunda
causa de morte no Brasil. É importante saber o grau de agressividade de um
tumor e suas características particulares (Campos et al., 2021).
A Psico-Oncologia é entendida como uma interface entre a psicologia e
a oncologia e é usada na assistência ao paciente oncológico, à sua família e
aos profissionais de saúde envolvidos com a prevenção, com o tratamento, com
a reabilitação e na fase terminal da doença, na pesquisa e no estudo de
variáveis psicológicas e sociais e na organização de serviços oncológicos
(Campos et al., 2021). Sobre a atuação do psicólogo, podemos entender que:

O objetivo da atuação do psicólogo(a) no âmbito ho spitalar se


caracteriza não só pelo sofrimento do paciente, mas também a dor da
família, e demandas da equipe. Desse modo, a finalidade do psicólogo
hospitalar será proporcionar um espaço de escuta para o sujeito
adoecido expressar o que pensa, o que está sentido, falar sobre si, da
doença, questões sobre a vida e a morte, seus anseios, desejos, entre
outros, dando voz à subjetividade e individualidade desse paciente
hospitalizado (Simonetti, 2011, p. 17).

Assim, no âmbito hospitalar, a psicologia tem um olhar voltado não só


para doenças psíquicas, mas para toda e qualquer doença e as reações
psíquicas a partir da patologia de cunho orgânico e seus aspectos psicológicos.
Esse aspecto psicológico pode ser entendido como uma forma do sujeito trazer
à tona sua subjetividade e/ou individualidade (desejos, sentimentos, fantasias,
pensamentos, conflitos, comportamentos, ideais, entre outros), acerca da
doença que lhe acomete.

191
MATERIAIS E MÉTODOS

Para o desenvolvimento desta pesquisa, utilizamos o método de revisão


bibliográfica narrativa de interesse. De acordo com Cordeiro, et al. (2007,
p.429), esta modalidade de investigação acadêmica “apresenta uma temática
mais aberta; dificilmente parte de uma questão específica bem definida”. Por
intermédio deste viés investigativo, voltamos nosso olhar as pesquisas já
publicadas as quais, traziam em sua descrição a Psico-Oncologia e a atuação
do profissional de psicologia no contexto hospitalar

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde), câncer é o nome dado


a um grupo de doenças que têm em comum o crescimento desordenado de
células, classificado como tumor maligno. O tumor maligno tem a capacidade
de espalhar-se para outras regiões do corpo, multiplicando-se rapidamente. Os
diferentes tipos de câncer correspondem aos vários tipos de células do corpo,
e sua cura está relacionada com a detecção precoce de suas células atípicas.
Um dos tratamentos mais utilizados é a quimioterapia. A quimioterapia tem
como foco eliminar as células cancerígenas que se espalham
desordenadamente pelo corpo, sua duração varia de acordo com cada caso e
suas aplicações não devem ser suspensas sem a indicação de um profissional.
É um tratamento composto de diversos medicamentos que se distribuem pelas
correntes sanguíneas do paciente atacando a doença, eliminando -a (Ministério
da saúde, 2022).
Os pacientes podem experienciar alguns efeitos colaterais, como
fraqueza, diarreia, mucosite, queda de cabelo e de pelos, enjoos e vômitos.
Apesar de ser um tratamento agressivo, algumas pessoas podem se queixar de
vários destes sintomas, enquanto outras não sentirão nada, entretanto, os
cuidados para ambas devem ser os mesmos, visto que, a ausência do efeito
colateral não significa que o corpo do sujeito está saudável (Ministério da
saúde, 2022).
No tratamento do câncer, o contato com o profissional da psicologia se
torna essencial. As práticas grupais têm sido frequentemente utilizadas na
assistência psicológica de sujeitos acometidos pelo câncer, visto que um grupo
composto por pessoas que enfrentam problemas ou conflitos semelhantes e
coordenado por um profissional qualificado, pode se tornar um espaço de
conversa e de reflexão benéfico (Martins; Sanches, 2014).
Ademais, é imprescindível o atendimento psicológico para pacientes que
estão em tratamento de câncer, iniciando imediatamente após o diagnóstico e
definição da conduta terapêutica oncológica. O psicólogo possibilitará o
paciente transitar pelo processo em melhores condições psicológicas,
auxiliando-o no enfrentamento deste intenso estímulo ameaçador à sua
integridade física e emocional.

192
CONSIDERAÇÕES FINAIS

A Psicologia Hospitalar é um campo de atuação no qual tem o objetivo


de minimizar o sofrimento causado pela hospitalização, no qual seu foco são
os aspectos psicológicos em torno do adoecimento. A Psico -Oncologia surgiu
a partir da premência do acompanhamento psicológico ao paciente com câncer,
à família e à equipe que o auxilia (Scannavino et al., 2013). O câncer é o nome
dado a um grupo de doenças que têm em comum o crescimento desordenado
de células. O tratamento mais utilizado é a quimioterapia, que é c omposta de
diversos medicamentos que se distribuem pelas correntes sanguíneas do
paciente atacando a doença, eliminando-a ou impedindo que se propague.
Nesse sentido, o psicólogo estará inserido nesse contexto desde a descoberta
da doença, utilizando-se da escuta, acolhimento e de outros recursos para a
amenização do sofrimento causado pela doença.

REFERÊNCIAS

ANGERAMI, V. A. et al. Psicologia Hospitalar: Teoria e Prática. São Paulo:


Cengage Learning, 2010.

BRASIL. Ministério da Saúde. Quimioterapia. Instituto Nacional de Câncer –


INCA, 2022. Disponível em: https://www.gov.br/inca/pt-br/acesso-a-
informacao/perguntas-frequentes/quimioterapia.

CAMPOS, E. M. P.; RODRIGUES, A. L.; CASTANHO, P. Intervenções


Psicológicas na Psico-Oncologia. Mudanças, São Paulo, v. 29, n. 1, p. 41-47,
jun. 2021. Disponível em < http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=
sci_arttext & pid=S0104-32692021000100005 & lng= pt\ nrm=iso>

CORDEIRO, A. M. et al. Revisão sistemática: uma revisão narrativa. Revista


do Colégio Brasileiro de Cirurgiões, v. 34, n. 6, p. 428–431, nov. 2007.

FERREIRA, Ana Paula de Queiroz; LOPES, Leany Q. Ferreira.; MELO, Mônica


C. Batista. O papel do psicólogo na equipe de cuidados paliativos junto ao
paciente com câncer. Revista da Sociedade Brasileira de Psicologia
Hospitalar, Belo Horizonte, v. 14, n. 2, p. 85–98, 2011. Disponível em:
https://revista.sbph.org.br/revista/article/view/430.

MARTINS, Michele Márice; SANCHES, Rodrigo Peres. Fatores Terapêuticos


em grupo de apoio a mulheres com câncer de mama. Psicologia saúde e
doença, 2014. Disponível em:
https://www.redalyc.org/pdf/362/36231460006.pdf.

MENDES, J. A.; LUSTOSA, M. A.; ANDRADE, M. C. M. Paciente terminal,


família e equipe de saúde. Revista SBPH, v. 12, n. 1, jun. 2009.

193
SCANNAVINO, et al. Psico-oncologia: atuação do psicólogo no hospital de
câncer de Barretos. Psicologia USP, São Paulo, p. 35-53, 2013. Disponível
em: <https://www.scielo.br/pdf/pusp/v24n1/v24n1a03.pdf>.

SIMONETTI, A. Manual de psicologia hospitalar: o mapa da doença. 6. ed.


São Paulo: Casa do Psicólogo, 2011.

194
PSICOLOGIA INCLUSIVA: O TRABAHO NAS APAEs

Edilaine Fabiana Carvalho Pereira


Giovana Regina de Souza
Karina Faustino Bernini
Larissa Oliveira Castilho
Natalia Camargo Guimarães
Reilane Souza S. Auerswald 1
Rita Ferreira da Silva 2

Palavras-chave: Psicologia Inclusiva; APAE; Pessoa com deficiência;


Inclusão; Movimento Apaeano.

INTRODUÇÃO

A APAE (Associação de Pais e Amigos Excepcionais) é uma organização


que busca promover a habilitação e reabilitação de pessoas com deficiência,
oferecendo atendimentos especializados tanto para elas quanto para suas
famílias.
O Movimento Apaeano refere-se a uma ampla rede que inclui pais,
amigos, voluntários, profissionais e instituições parceiras, todos dedicados à
causa das pessoas com deficiência. Seu principal objetivo é promover e
defender os direitos de cidadania dessas pessoas, bem como garantir sua
inclusão social. A APAE e o Movimento Apaeano são reconhecidos como o
maior movimento filantrópico em sua área de atuação (APAE OURINHOS,
2019).
A psicologia inclusiva é um campo em ascensão que visa promover
abordagens e práticas inclusivas na psicologia, garantindo que todos tenham
acesso a serviços adequados e eficazes. Nesse contexto, a APAE desempenha
um papel significativo ao fornecer suporte e serviços para pessoas com
deficiência.
A psicologia inclusiva e a APAE compartilham o objetivo de garantir a
igualdade de oportunidades. A psicologia inclusiva busca desafiar estigmas e
estereótipos associados a pessoas com deficiência, promovendo uma
compreensão mais ampla e respeitosa das suas capacidades e potencialidades.
Juntas, essas abordagens visam a inclusão plena e a valorização das
capacidades de todas as pessoas, independentemente de suas limitações.

1 Estagiárias do núcleo de Psicologia Inclusiva na APAE de Ourinhos – SP, Centro Universitário das
Faculdades Integradas de Ourinhos, Psicologia, [email protected].
2 Professora Universitária UniFio, Centro Universitário das Faculdades Integradas de Ourinhos,

Psicologia, [email protected].
195
A APAE é reconhecida como uma referência importante na área da
psicologia inclusiva, oferecendo suporte psicológico e clínico para pessoas com
deficiência intelectual e suas famílias. Por meio de abordagens terapêuticas
centradas na pessoa e na família, a APAE visa fortalecer o desenvolvimento
emocional e psicossocial das pessoas atendidas, além de apoiar as famílias no
enfrentamento dos desafios associados à deficiência. O trabalho conjunto
busca promover a inclusão, a autodeterminação e a qualidade de vida desses
indivíduos, fornecendo o suporte necessário para que possam alcançar seu
pleno potencial.
O principal objetivo da psicologia inclusiva é desenvolver estratégias e
práticas que garantam a igualdade de oportunidades e a inclusão de todas as
pessoas. Isso envolve conscientização sobre diversidade, capacitação de
profissionais, criação de ambientes terapêuticos inclusivos e promover
mudanças sociais para construir uma sociedade que valorize e respeite a
diversidade.

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

O trabalho das APAEs envolve promover e coordenar ações relacionadas


à defesa de direitos, prevenção, orientação, prestação de serviços e apoio à
família, com o objetivo de melhorar a qualidade de vida das pessoas com
deficiência. Essas ações incluem serviços de educação especial, atendimento
médico, terapias, atividades de inclusão social e outras formas de suporte
necessários para o desenvolvimento e bem-estar das pessoas com deficiência.
A visão dessa instituição é: “ser um movimento de pais, amigos e pessoas com
deficiência, de excelência e referência no país na defesa de direitos e prestação
de serviços’’ (APAE VILA VELHA, 2015, p 4).
A instituição busca ser uma referência nacional na promoção dos direitos
das pessoas com deficiência e na prestação de serviços de alta qualidade. Sua
visão demonstra o compromisso em ser um modelo de excelência no trabalho
realizado em prol das pessoas com deficiência, buscando sempre aprimorar
suas ações e oferecer apoio confiável para as famílias dos atendidos.
A APAE oferece acompanhamento individual ou em pequenos grupos
promovendo o desenvolvimento das potencialidades e inclusão social da
pessoa com deficiência. Profissionais capacitados em diversas áreas, como
fisioterapia, fonoaudiologia, nutrição, serviço social, psicologia e médicos
pediatras, estão envolvidos no atendimento. Além disso, a APAE conta com
uma área de educação especial, na qual os alunos são acompanhados por
profissionais capacitados. Nesse contexto, são realizadas atividades que visam
garantir o desenvolvimento das habilidades cognitivas, sociais e emocionais
dos alunos, adaptadas às suas necessidades específicas. Essas atividades são
planejadas para promover a inclusão e a autonomia dos alunos, respeitando
seu ritmo e potencialidades individuais (APAE OURINHOS, 2019).
Os encaminhamentos chegam para avaliação na instituição pelas escolas
de ensino regular, serviços de assistência social (CRAS e CREAS) e
instituições particulares. Uma avaliação multidisciplinar é conduzida pelos
196
profissionais para determinar se o indivíduo é elegível para receber
atendimento na instituição. Os profissionais de psicologia utilizam os testes
disponíveis na instituição para obter um diagnóstico mais preciso.
A proposta de inclusão surgiu para proporcionar uma educação de
qualidade e igualitária para todos, onde é reconhecido a importância de um
ensino especializado para os alunos, com o respeito e a aceitação da
diversidade humana, buscando uma sociedade mais justa e inclusiva para todos
os cidadãos (CRIPPA e VASCONCELLOS, 2012).
De acordo com Mendes (2003) a ideia de inclusão surgiu no sistema
educacional norte-americano, quando percebeu que a integração escolar não
funcionava e que as escolas públicas falhavam em educar a população em
situação de risco. Com uma tentativa de melhorar a qualidade da educação,
adotou-se medidas que se tornaram a base da proposta de inclusão escolar.
A luta pela inclusão social e pelo respeito à diversidade tem se fortalecido
e crescido, onde buscam uma escola que possa atender todos os alunos, sem
rótulos e sem classificações discriminatórias, não apenas na Educação
Especial (MENDES, 2003).

MATERIAIS E MÉTODOS

A APAE se empenha em garantir um ambiente de qualidade, respeitando


tanto a natureza quanto todos os envolvidos. O objetivo é permitir que cada
indivíduo leve uma vida digna e respeitosa. A organização busca criar um
ambiente inclusivo, onde o cuidado e a assistência sejam fornecidos de acordo
com as necessidades individuais de cada pessoa com deficiência. É a partir
dessa consciência, que o indivíduo interage com o mundo, influencia seus
pares, intervém no ambiente, e caminha na direção do processo de
conhecimento e do exercício (FERNANDES et al, 2003; FAGGIONATO, 2005).
A APAE é uma instituição que rompe com os paradigmas educacionais
do passado, reconhecendo que as pessoas com deficiência têm capacidades e
habilidades, desenvolvendo outras para compensar as inexistentes. Ela
promove atividades adaptadas para permitir o máximo envolvimento das
pessoas com deficiência, visando ao seu desenvolvimento pessoal e social.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A APAE tem como proposta promover a habilitação e reabilitação das


pessoas com deficiência. Os resultados obtidos através das práticas com
orientações de leituras são aplicados no manejo com os alunos, sendo
observados em grupos acompanhados por psicólogos.
Dentro da APAE, o trabalho é realizado com outros profissionais, e a
contribuição ocorre por meio das discussões que visam a autonomia do sujeito.
Para aqueles que não têm movimentos físicos, os profissionai s estimulam o
sensorial, promovendo sensações dentro da deficiência. Algumas atividades
são realizadas outras salas, com objetivos coloridos para identificar as cores,
formas diferentes, sabores (nestes casos, deve- se averiguar se este aluno
197
pode realizar esta atividade, especialmente se possuem restrições
alimentares). Também são promovidas sensações nas mãos e nos pés, sendo
a elaboração baseada na criatividade dos profissionais.
A inserção no mercado de trabalho é incentivada para promover a
autonomia dos alunos e valorizar os benefícios que essa experiência
proporciona. Aqueles que são selecionados para vagas são avaliados por sua
disposição e como lidam com diferentes situações. Alguns pais podem não
permitir a inclusão devido a certas condições, mas os que permitem são
encaminhados para um curso preparatório no SENAC antes da inserção no
trabalho. Durante esse processo, os alunos continuam a frequentar a APAE
para receber atendimento do setor de Psicologia Educacional, garantindo o
acompanhamento necessário para essa inclusão no ambiente de trabalho.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As APAES são organizações presentes em todo o Brasil, com o objetivo


de proporcionar atendimento especializado e promover a inclusão social de
pessoas com deficiência intelectual, múltipla e autismo. Elas facilitam a
integração na sociedade, garantindo acesso a serviços de saúde, educação,
cultura, lazer e esporte. O trabalho das APAES é fundamental para criar
oportunidades e melhorar a qualidade de vida dessas pessoas, promovendo
uma sociedade mais inclusiva e igualitária. Além disso, oferecem suporte e
orientação às famílias dos assistidos, fortalecendo o vínculo familiar. As APAES
contam com equipe multidisciplinar e são financiadas por doações, voluntariado
e apoio governamental. Seu trabalho é essencial para garantir os direitos e
inclusão das pessoas com deficiência.

REFERÊNCIAS

APAE Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais de Ourinhos. APAE


Ourinhos. 2019. Disponível em:
<http://www.apaeourinhos.org.br/apae/historico.php>. Acesso em: 27 de maio de
2023.

APAE Vila Velha. Relatório Anual. 2015. Disponível em:


<https://www.apaees.org.br/files/meta/b9f4a423-b282-43c3-889a-
07d394a6cb3d/057130e6-1848-474e-b3fc-117c3cccf1f8/276.pdf>. Acesso em: 01 de
jun. de 2023.

CRIPPA, Rosimeiri Merotti; VASCONCELOS, Valéria Oliveira. EDUCAÇÃO


INCLUSIVA: UMA REFLEXÃO GERAL. Cadernos da FUCAMP, Monte Carmelo,
v.11, n.15, p.155-176. 2012.

FAGGIONATO, Sandra. Percepção Ambiental. Programa Educar. USP, São Paulo,


2005.

198
FERNANDES, R. S. et al. O uso da percepção ambiental como instrumento de
gestão em aplicações ligadas às áreas educacional, social e ambiental In:
ENCONTRO DA ANPPAS, 2. Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa
em Ambiente e Sociedade, Belém, 2004.

MENDES, E. G. Educação inclusiva: uma questão de direitos humanos. Brasília:


Secretaria de Educação Especial, 2003.

199
PSICOLOGIA JURÍDICA E SUBÁREAS: CONSIDERAÇÕES

Ana Clara Consoni Mossini1


Andreynna Rocha Rezende
Bruna Barbosa da Silva
Giovana Campos Theodoro
Julia Altvater Vilas Boas
Kauani Tanfere
Rayana Maria Hermes Coutinho
Sheila Fermino
Simone de Souza
Vitória Maria Rossi Giati
Damaris Bezerra de Lima2

Palavras-chave: Psicologia. Direito. Psicologia Jurídica.

INTRODUÇÃO

Pinheiro (2019), define a Psicologia Jurídica como uma área do conhecimento


construída pelas várias intersecções possíveis entre a Psicologia e o Direito. No geral,
o termo Psicologia Jurídica e Psicologia Forense são utilizados como sinônimos.
Contudo, Pinheiro (2019), destaca que a Psicologia Jurídica é mais abrangente, visto
que se refere ao ramo da Psicologia que extrapola “as portas do Fórum”, pois, diz
respeito a conteúdos que tendem a cooperar com a elaboração de normas jurídicas,
bem como viabilizar a efetivação desses regulamentos ao colaborar com a
organização do sistema de aplicação das normas jurídicas. Mira y López (2018) afirma
que as ações da Psicologia no âmbito Jurídico, objetivam a observação, análise e
identificação de respostas para prosseguimento do processo judicial, elencando
evidências de análises subjetivas dos sujeitos envolvidos nas mais diversas situações.
Sacramento (2019), ainda destaca que a Psicologia Jurídica, tem uma atuação
prática, que possibilita uma humanização dos processos burocráticos e objetivos
pertinentes ao Direito. Dessa forma, apesar da Psicologia e Direito possuírem
perspectivas diferentes diante do comportamento humano e social, conjuntamente,
1 Alunas do 10º termo do Curso de Psicologia do Centro Universitário das Faculdades Integradas de
Ourinhos/SP. E-mails: [email protected], [email protected], [email protected],
[email protected], [email protected], [email protected],
[email protected], [email protected], [email protected]
2 Possui graduação em PSICOLOGIA pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho

(2004); Especialização em Psicopedagogia (2006); Saúde Pública com Ênfase em Saúde da Família
(2010), Neuropsicologia (2011); e Especialização em Ativação de Processos de Mudança na Formação
Superior de Profissionais de Saúde (2014). Mestrado em Psicologia UNESP - Assis (2013). Atualmente
é Psicóloga Judiciária no Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo e docente da UNIFIO - Centro
Universitário das Faculdades Integradas de Ourinhos. Supervisora do Núcleo de Estágio Institucional
em Psicologia Jurídica.
200
esses campos conseguem relacionar aspectos da racionalidade pertinente ao jurídico
ao estudo da subjetividade da psique humana (MIRA y LÓPEZ, 2018).
Sacramento (2012), afirma que a Psicologia Jurídica é uma nomenclatura
genérica, de todas as aplicações associadas às práticas jurídicas, dessa forma, pode-
se compreender que a Psicologia Criminal, Forense e Judiciária são ramificações da
mesma área. Rovinski e Cruz (2009) ainda explicam que a Psicologia do Testemunho,
Policial e Penitenciária compõem as diversas vertentes da Psicologia Jurídica. Por
meio do supracitado, percebe-se que a Psicologia Jurídica é um campo de atuação
abrangente, que no geral não é compreendido em sua totalidade. Dessa forma,
pretende-se elucidar o que é a Psicologia Jurídica, quais práticas constituem sua
atuação no contexto jurídico e quais são as ramificações dessa área do conhecimento.

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Das intersecções entre a Psicologia e o Direito, a Psicologia Forense tem sido


muito utilizada, já que é um termo frequentemente utilizado devido à conexão com o
ambiente jurídico, representado pelo “Fórum”, onde questões legais são julgadas.
Essa área da Psicologia possui várias formas de atuação, abrangendo desde atos
ilícitos e casos criminais até o estudo das vítimas, com o objetivo de analisar as
consequências psicológicas que elas sofrem após o crime. (RASKIN, 1994).
No campo da Psicologia Criminal, segundo Milano (2019), o foco está no estudo
do comportamento humano e nos processos mentais e psicológicos que levam um
indivíduo a cometer atos criminosos. A Psicologia Criminal é um subcampo da
Psicologia Forense e engloba áreas como a Psicologia do Delito, da Pessoa que
comete o crime e das Testemunhas (AFONSO, 2014).
Em relação à Psicologia Penitenciária, esse ramo da psicologia está
diretamente ligado aos locais de detenção, como presídios, onde os indivíduos
cumprem penas restritivas de liberdade ou penas alternativas com intervenção
(MILANO, 2019).
Sua função principal é voltada para a observação, classificação e tratamento
da vítima/infrator, juntamente com sua família, buscando identificar os fatores que
contribuem para sua formação. Também a intervenção em áreas educacionais, além
de funções de gestão e fiscalização de estabelecimentos. O objetivo é promover a
reeducação, reinserção social e intervir na psique e na cognição, a fim de evitar a
reincidência.
A Psicologia Policial é uma vertente recente da Psicologia Jurídica, com a
presença do cargo de Psicólogo Policial no âmbito da Polícia Civil (ROVINSKI E
CRUZ, 2009). Inicialmente, as atividades desempenhadas pelo psicólogo nessa área
estavam centradas em funções avaliativas e instrumentais, conforme apontado por
Soria-Verde (2010). No entanto, ao longo do tempo e com o surgimento de novas
demandas, houve uma ampliação das áreas de atuação, incluindo a saúde
ocupacional dos servidores, a gestão de pessoas e a implementação de projetos de
educação continuada. Também incluiu-se o trabalho em delegacias especializadas no
atendimento a crianças, adolescentes, mulheres e idosos. Essa expansão de atuação

201
reflete a necessidade de abordagens psicológicas no contexto policial. (NOBREGA et
al, 2018).
Destacamos ainda, a Psicologia do testemunho, uma área que se dedica à
compreensão e análise dos processos psicológicos relacionados ao testemunho em
contextos judiciais (ROVINSKI E CRUZ, 2009). Seu objetivo principal é investigar
como fatores psicológicos podem influenciar a precisão e a confiabilidade dos relatos
de testemunhas em situações legais, como os relacionados à memória humana.
(AMBROSIO, 2010).

MATERIAIS E MÉTODOS

Na presente pesquisa utilizamos leis, artigos, textos de autores variados. Foi


realizada uma pesquisa qualitativa, tendo uma natureza descritiva e interpretativa,
buscando entender o que é a psicologia jurídica. Visando obter uma compreensão
mais profunda do tema, analisando textos e documentos.
A pesquisa descritiva é um tipo de pesquisa que tem como objetivo descrever
características ou fenômenos em determinado contexto, sem buscar explicar relações
de causa e efeito ou realizar generalizações estatísticas.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Inicialmente, realizamos um levantamento de dados e busca de referenciais


teóricos, destacam-se as possibilidades de correlações entre as práticas da psicologia
e área jurídica. Frente a isso, utilizamos diversas plataformas de artigos científicos,
como Pepsic, Scielo e Google Acadêmico para a coleta e seleção de obras a serem
utilizadas. A partir das apresentações e estudos dos materiais coletados, destacam-
se as diferentes áreas de atuação do psicólogo no âmbito jurídico, os campos de
execução advindos dessas intersecções da Psicologia e do Direito, as contribuições
sociais provenientes das práticas da Psicologia Forense, entre outras especificidades
envoltas desta área. Para elucidar nossa explanação, foram utilizados treze artigos
que abordam pressupostos da psicologia jurídica e uma breve revisão bibliográfica
das atuações que englobam a psicologia no âmbito jurídico.
De modo geral, os estudos selecionados visam, sobretudo, elucidar o papel da
Psicologia enquanto ciência e profissão, tal como, o do Direito. Ademais, é visto que
a intersecção entre a Psicologia e o Direito contribuem significativamente para ambas
as áreas, visando o acompanhamento psicológico dos indivíduos, a promoção dos
Direitos Humanos, o acesso à justiça e a resolução de conflitos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Considerando o exposto na presente pesquisa acadêmica, podemos analisar


que, a Psicologia Jurídica foi ganhando seu espaço a partir do século XIX, onde foram
surgindo novas práticas de atuações dentro desta, e com isso, foi sendo reconhecida
a sua importância na Psicologia.
A pesquisa realizada nos trouxe diversas contribuições, entre elas, os diversos
contextos que um Psicólogo na área Jurídica pode ter, e a importância dessas
202
atuações na sociedade. Também, em como a Psicologia Jurídica foi crescendo com
o passar dos anos e se consolidando cada vez mais enquanto uma prática essencial
no meio da Psicologia e do Direito.
No que se refere a possibilidades de pesquisas futuras sobre o tema proposto,
é válido ainda, realizar pesquisas mais aprofundadas sobre as diversas ramificações
da Psicologia Jurídica e suas atuações, a fim de se compreender melhor as múltiplas
possibilidades que a Psicologia Jurídica traz, e que, ela não se limita a uma só uma
prática.

REFERÊNCIAS
AFONSO, L. A; SENRA, L. X. Panorama histórico da regulamentação da
especialização em Psicologia Jurídica no Brasil. Psicologia.pt: O Portal dos
Psicólogos. 2014. Disponível em:
<https://www.psicologia.pt/artigos/textos/A0858.pdf>. Acesso em: 15 de maio de
2023.

AMBROSIO, G. Psicologia do testemunho. Rev. Direito Econ. Socioambiental,


Curitiba, v. 1, n. 2, p. 395-407, jul./dez. 2010. Disponível em:
<file:///C:/Users/Usu%C3%A1rio/Downloads/Dialnet-PsicologiaDoTestemunho-
6172749.pdf>. Acesso em: 05 jun, 2023.

MILANO, Wily Enrique Arcia. Entre a psicologia criminal, psicologia forense e


psicologia prisional. Revista Eletrônica de Ciências Digitais, v. 3, n 1.1 p. 23-39,
2019. Disponível em:
<http://cienciadigital.org/revistacienciadigital2/index.php/CienciaDigital/article/view/35
7/775>. Acesso em: 20 maio de 2023.

MIRA Y LÓPEZ, E. Manual de Psicologia Jurídica. São Paulo: CL Edijur, 2018.

PINHEIRO, C. Psicologia Jurídica. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2017.

NOBREGA, Lucas Mentor de Albuquerque et al. Caracterizando a psicologia policial


enquanto uma psicologia social jurídica. Arq. bras. psicol. Rio de Janeiro, v. 70, n.
3, p. 148-165, 2018. Disponível em:
<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1809-
52672018000300011&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 05 jun. 2023.

PINHEIRO, C. Manual de Psicologia Jurídica. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2019.

RASKIN, D. Métodos psicológicos en la investigación y pruebas criminales.


Bilbao: DDB, 1994.

ROVINSKI, S. L. R; CRUZ, R. M. Psicologia jurídica: perspectivas teóricas e


processo de intervenção. 1. ed. São Paulo: Vetor, 2009.

203
SACRAMENTO, L. T. Pressupostos básicos da Psicologia Jurídica: delimitando
o campo. Sandro André: Esetec Editores Associados, 2012.

_____________, L. T. Psicologia jurídica: Conceito e histórico. In: ASSOCIAÇÃO


BRASILEIRA DE PSICOLOGIA JURÍDICA (Org.). Cadernos de psicologia jurídica:
Psicologia jurídica na prática jurídica. São Luís: UNICEUMA. 2019. (Cadernos de
Psicologia Jurídica, v. 1).

204
REFORMA PSIQUIÁTRICA, ATENÇÃO PSICOSSOCIAL E SEUS DESAFIOS
ATUAIS: CONTRIBUIÇÕES E REFLEXÕES ACERCA DE UMA EXPERIÊNCIA EM
UM CAPS

Beatriz de Almeida Mello Perini


Rhuan Sales
Vinicius Resende Mandolini Barone1
Mayara Aparecida Bonora Freire2

Palavras-chave: CAPS; Luta Antimanicomial; Arte e Subjetividade; Arte;


Subjetividade.

INTRODUÇÃO

A Reforma Psiquiátrica tem como objetivo superar o modelo manicomial e


promover uma convivência solidária e inclusiva para os pacientes de saúde mental.
Os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) desempenham um papel fundamental
na implementação da política de Saúde Mental do Brasil, que busca substituir os
hospitais psiquiátricos por uma rede de serviços mais adequada às necessidades das
pessoas com sofrimento psíquico (CREPOP, 2013). No entanto, o legado asilar
também se manifesta em práticas estigmatizantes.
A partir disso, o presente trabalho visa discutir sobre as ofertas de cuidado em
saúde mental, considerando uma vez que as atividades realizadas nesses espaços
desempenham um papel fundamental nas propostas de transformação institucional,
sendo estratégias importantes no processo de desinstitucionalização e na construção
de novas abordagens e olhares (Beth Lima; 1997).Considerando uma análise
institucional baseada na experiência de estágio, discutiremos sobre a possibilidade de
usar a arte como ferramenta, mais especificamente a pintura, escrita e música.

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Iniciando pela compreensão do que é loucura, há a necessidade da quebra do


primeiro paradigma que é o da razão, pois há uma visão que a contempla, garantindo
um espaço glorificado e de prestígio. Desse modo, seu contraponto, conhecido como
a desrazão, se torna menosprezado.

1 Discentes do 10º Termo no Centro Universitário de Ourinhos - UNIFIO. Curso de Psicologia,


[email protected], [email protected], [email protected].
2 Psicóloga clínica, docente, supervisora técnica e institucional. Doutoranda em Psicologia e Sociedade

pela UNESP/Assis. Atualmente, é coordenadora do Centro de Estudos e Práticas em Psicologia


(CEPP) do Centro Universitário de Ourinhos (UNIFIO). Tem experiência na atuação em Políticas
Públicas de Saúde Mental, em especial, os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS). Conselheira do
XVII Plenário do Conselho Regional de Psicologia de São Paulo (CRP 06).
[email protected].
205
Nesse viés, [...] a dimensão enigmática da loucura insiste em colocar à razão
questões que não encontram respostas na transformação do louco em objeto
como “doente mental” ou, de modo mais diluído, como portador de
“transtornos mentais” (TEIXEIRA, Antônio; CALDAS, Heloisa; 2017)

Nota-se que tal situação acaba por acontecer até mesmo em locais que, em
teoria, almejam lutar contra isso, como nos CAPS espaços quais.

têm se estabelecido como dispositivos que buscam substituir as internações


psiquiátricas, oferecendo não apenas atendimento durante crises, mas
também um espaço de convivência e a criação de redes de relacionamento
que se estendem para além das instituições, alcançando o território da vida
cotidiana dos usuários (CREPOP, 2013).

O CAPS deve proporcionar um atendimento psicológico, produção de


subjetividades, inserção social dos usuários superando o modelo manicomial, porém
o legado asilar e carcerário do antigo modelo não é fácil de ser superado. A partir
disso é possível pensarmos numa reestruturação do que está sendo ofertado,
enquanto práticas de promoção da saúde mental, mais especificamente a sujeitos
atendidos pelo CAPS. Pois as atividades exercidas dentro desses espaços são
“importantes aliados das propostas de transformação institucional, ferramentas
estratégicas no caminho da desinstitucionalização e da construção de novas
instituições em saúde mental.” (LIMA, 1997.).

MATERIAIS E MÉTODOS

Para o desenvolvimento deste trabalho utilizamos da pesquisa bibliográfica em


em bases de dados digitais (Scielo, Pepsic), bem como decretos, legislações e
manuais relacionados à Rede de Atenção Psicossocial. Ademais, nos valemos das
experiências de campo proporcionadas pela inserção em um CAPS II para a prática
do estágio curricular do curso de Psicologia, que se encontra sem andamento.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Para efetivar a Reforma, é necessário investir na qualificação dos serviços,


integração das instituições e práticas humanizadas e respeitosas. Foi possível
perceber, ao longo do primeiro semestre de estágio, que instituição analisada
apresenta desafios como ambiente precário, falta de recursos e fragmentação dos
serviços.
Além disso, apesar de a loucura ser tratada com menor estigma dentro desses
ambientes, é importante considerar que ela vai além do âmbito do CAPS, uma vez
que os usuários não vivem exclusivamente dentro da instituição. Mesmo sendo um
serviço de acesso livre, nota-se que os próprios funcionários adotam atitudes
discriminatórias em relação a certas demandas que surgem no local.
Dessa maneira, é evidente a necessidade de reflexão sobre as ofertas de
cuidado no serviço, uma vez que as atividades oferecidas muitas vezes seguem um

206
padrão rígido e acabam por negligenciar os indivíduos atendidos, tratando-os apenas
como sujeitos passivos.
A proposta de novas oficinas aparece, assim, como possibilidade de construção
de autonomia e de um senso de pertencimento, além de inclusão social, valorizando
formas individuais de expressão. A utilização da arte é proposta como uma ferramenta
essencial nesse contexto, permitindo que os indivíduos expressem as suas
experiências e sofrimentos psíquicos de forma sensível. Ao oferecer um espaço para
explorar questões profundas, a arte pode contribuir para romper o ciclo de repetição
estagnado e abrir caminho para uma abordagem mais terapêutica e menos
patologizante.
A oficina de pintura e escrita poderá construir pontes entre o que os
participantes sentem, pensam, desejam, criando assim, novos modos de simbolização
para suas angústias e desejos, novos espaços e sentidos para sentimentos ali
expressados (DIDIER 1997). Por fim, a música será utilizada como instrumento
através de uma oficina de karaokê a partir da qual se abre um espaço de expressão,
podendo produzir o alívio de sintomas, bem como a manifestação de diferentes afetos,
pois um ambiente de apoio e compreensão mútua gerado nesse contexto promove a
socialização, reduz o isolamento social e o tédio que muitos passam em alguns
horários no local.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante dessa discussão, é de grande relevância reestruturar a oferta de


práticas para a promoção da saúde mental, especialmente dirigidas a indivíduos que
enfrentam transtornos mentais graves, como os atendidos nos CAPS II. Embora esses
ambientes tenham contribuído para diminuir o estigma em relação à loucura, ainda há
desafios a serem superados, como atitudes discriminatórias adotadas por funcionários
em relação a certas demandas.
Portanto, investir na melhoria das condições das instituições de saúde mental,
na integração das redes de atendimento, na capacitação dos profissionais e na
promoção de uma cultura de respeito são medidas cruciais para avançarmos rumo a
uma sociedade mais justa, inclusiva e solidária, que respeite a diversidade e valorize
a saúde mental de todos os seus cidadãos.

REFERÊNCIAS

AMARANTE, Paulo (Ed.). Loucos pela vida: a trajetória da reforma psiquiátrica no


Brasil. SciELO-Editora FIOCRUZ, 1998

CFP. Conselho Federal de Psicologia. Referências Técnicas para Atuação de


Psicólogas(os) no CAPS - Centro de Atenção Psicossocial. Brasília: CFP, 2013.

DIDIER-WEILL, A. O artista e o psicanalista questionados um pelo


Outro. In: Nota Azul: Freud, Lacan e a Arte. Rio de Janeiro: Contra Capa, 1997.

DIDIER-WEILL, A. Invocações: Dionísio, Moisés, São Paulo e Freud. Rio de


207
Janeiro: Companhia de Freud,1999.

LIMA, E. M. F. A. Objetos-cicatriz e recepção estética. In: Cadernos de


Subjetividade,PUC-SP, São Paulo, ano 8, no13, outubro, 2011.

LIMA, C. M.; POLI, M. C. Música e um pouco de silêncio: da voz ao sujeito. Ágora:


Estudos em Teoria Psicanalítica, v. 15, n. spe, p. 371–387, dez. 2012.

MOTTA, Arnaldo Alves da. A Ponte de Madeira. [S. l.]: Casa do Psicólogo® Livraria
e Editora Ltda., 1997.

TEIXEIRA, Antônio; CALDAS, Heloisa. Psicopatologia Lacaniana. 1a. ed. [S. l.]:
Autêntica, 2017. 359 p. v. 1.

VASCONCELOS, M. F. F.; PAULON, S. M. (2014). Instituição militância em análise:


a (sobre)implicação de trabalhadores na reforma psiquiátrica brasileira. Psicologia
& Sociedade, 26(n. spe.), 222-234

208
SERVIÇOS RESIDENCIAIS TERAPÊUTICOS

Maria Amélia Nunes


Nicoli Regina Duzi Barone1
Mayara Aparecida Bonora Freire2

Palavras-chave: Residência Terapêutica; Atenção Psicossocial; Reforma


Psiquiátrica.

INTRODUÇÃO

O seguinte resumo foi produzido a partir de um conjunto de experiências


teórico-técnicas possibilitadas pelo Estágio Institucional "A Psicologia no Campo da
Atenção Psicossocial" sendo o tema deste o funcionamento dos serviços de
Residências Terapêuticas, local onde as autoras estão inseridas enquanto estagiárias
de Psicologia.
Nosso objetivo enquanto estagiárias foi a observação da rotina dos funcionários
e moradores, para a construção de intervenções que tragam melhorias e constatem o
cumprimento dos direitos dos moradores e das normas do serviço, de forma a
continuar o que buscamos em todas as visitas.
A metodologia utilizada foi a observação, conforme dito anteriormente, a
revisão bibliográfica e as intervenções através de rodas de conversa, pautadas na
escuta, inclusão e acolhimento.

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

O serviço residencial terapêutico é uma estratégia antimanicomial que tem o


intuito de diminuir os leitos em hospitais psiquiátricos, acolhendo e dando moradia a
pessoas que tiveram internações em hospitais psiquiátricos e/ou hospitais de custódia
por dois anos ou mais ininterruptos (BRASIL, 2011). Existem dois tipos que classificam
as residências, segundo o Art. 2° da portaria Nº- 3.090 do Ministério da Saúde:

§ 1º São definidos como SRTs tipo I moradias destinadas a pessoas com


transtorno mental em processo de desinstitucionalização. Esta modalidade
de moradia deve acolher até 8 (oito) moradores.
§ 2º São definidos como SRTs tipo II as modalidades de moradia destinadas

1 Estudantes do último termo, Unifio, Psicologia, [email protected] e


[email protected]
2 Psicóloga clínica, docente, supervisora técnica e institucional. Doutoranda em Psicologia e Sociedade

pela UNESP/Assis. Atualmente, é coordenadora do Centro de Estudos e Práticas em Psicologia


(CEPP) do Centro Universitário de Ourinhos (UNIFIO). Tem experiência na atuação em Políticas
Públicas de Saúde Mental, em especial, os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS). Conselheira do
XVII Plenário do Conselho Regional de Psicologia de São Paulo (CRP 06).
[email protected]
209
àquelas pessoas com transtorno mental e acentuado nível de dependência,
especialmente em função do seu comprometimento físico, que necessitam
de cuidados permanentes específicos. Este tipo de SRT deve acolher até 10
(dez) moradores e contar com equipe mínima descrita no Anexo I a esta
Portaria (Ibid.).

As residências devem ser uma maneira de reabilitação social dos moradores,


ficando próxima dos centros urbanos e trabalhando junto aos outros serviços da rede
pública de atenção psicossocial. Nas casas, são trabalhadas questões ligadas à
moradia e funções domésticas, respeitando a individualidade e singularidade de cada
um (BRASIL, 2004, p. 12).
Os Serviços Residenciais Terapêuticos onde as práticas de estágio foram
realizadas contam com uma equipe de cuidadoras(es), auxiliares de serviços gerais,
técnicas de enfermagem e um enfermeiro coordenador, seguindo as exigências do
serviço.

MATERIAIS E MÉTODOS

Como método de pesquisa utilizamos a observação e a vivência das


experiências através da inserção no Serviço Residencial Terapêutico, feita em
aproximadamente seis horas semanais, divididas em três horas diárias em cada uma
das residências, do período do dia 14/02/2023 à 23/06/2023, totalizando noventa e
oito horas de estágio.
De acordo com Fagundes:

A observação comportamental é importante para psicólogos, modificadores


do comportamento e pesquisadores, servindo-lhes como um instrumento de
trabalho para obtenção de dados que, entre outras coisas, aumentem sua
compreensão a respeito do comportamento sob investigação (1999, p. 23).

Utilizamos também da revisão bibliográfica de conteúdos a respeito da Atenção


Psicossocial, Reforma Psiquiátrica, funcionamento de serviços de saúde mental, em
específico das Residências Terapêuticas, e conteúdos críticos às cronificações que
ocorrem dentro desses serviços.
Constantemente foram realizadas rodas de conversas para proporcionar aos
moradores um espaço de escuta e pertencimento, sem temas pré-definidos, o que
nos ajudou a levantar pontos a serem trabalhados.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Após observarmos e vivenciarmos as dinâmicas das residências, pudemos


perceber que há demandas, principalmente referentes a equipe de trabalho, que
permanecem seguindo uma lógica asilar, o que não possibilita enxergar os moradores
de maneira individualizada, com suas preferências e necessidades próprias.

Faz-se necessário que a relação ali oferecida esteja comprometida com


necessárias rupturas de ordem ética, política e epistemológica,
compreendendo-se e fazendo-se compreender que o sujeito psíquico é
210
possuidor de identidade e desejos, com plena possibilidade de ser maestro
no palco da vida, devendo ser visto como pai, mãe, filho, intelectual, lavrador,
nordestino ou paulista, branco ou negro, e não como um incapaz, um peso,
um doente, que não pode responder por suas atitudes (Junior., Silveira, 2008,
p. 789).

É preciso romper com o pensamento, intrínseco à nossa sociedade, de que há


uma separação entre indivíduos com algum tipo de deficiência intelectual e transtorno
mental, do restante das pessoas, consideradas “normais” por alguns, o que foi
observado em parte dos funcionários da equipe. Esse tipo de pensamento é
acentuado dentro das residências, mesmo que em pequenas atitudes na convivência,
como se ali pudéssemos visualizar um recorte da comunidade, que discrimina e
separa os loucos. Sendo assim, devemos buscar a reestruturação e reeducação
desse olhar para com os moradores, reforçando o que é proposto pelo próprio serviço.

Cada moradia deve ser considerada única, sendo organizada segundo as


necessidades, gostos e hábitos de seus moradores, sempre levando-se em
consideração que as residências têm seu tratamento centrado no modelo
humanista, visando oferecer vivências enriquecedoras que promovam maior
capacidade para os indivíduos enfrentarem os desafios da vida (Junior,
Silveira, 2008, p. 789).

A partir da construção de uma relação respeitosa com moradores e


funcionários, pudemos utilizar da escuta qualificada na atenção às demandas e na
inclusão delas às nossas intervenções, além da própria inclusão dos moradores mais
reclusos, considerados “difíceis” por alguns funcionários, em atividades rotineiras.
Pudemos perceber também que há muita sobrecarga na equipe,
majoritariamente feminina. Levando em conta as múltiplas jornadas da mulher, e o
medo de que algo lhe possa ocorrer, devido a preconceitos e alguns episódios
agressivos de moradores, cria-se então a necessidade de proporcionar um ambiente
de escuta adequada somente para elas, onde possam partilhar seus sentimentos e
assim, possibilitar a melhora na execução de suas funções.
Durante os nossos dias de estágio foram feitas várias atividades com os
moradores, atendendo a muitas demandas particulares de cada um, como: diversos
tipos de pintura (desenhos à mão livre, para colorir, com tinta guache, etc.), rodas de
conversas com músicas pedidas por eles (gospel, rock, mpb, sertanejo, disco, rap,
etc.), caminhadas e visitas às praças próximas e academias ao ar livre, brincadeiras
na quadra localizada em frente à residência masculina (boliche, vôlei e futebol), e
também trabalhamos com o autocuidado e autoestima, através de pintura de unhas e
cabelo.
Sendo assim, proporcionamos a reinserção social e desinstitucionalização que
deve ser articulada dentro do serviço, através do resgate do olhar para si próprio
enquanto indivíduo desejante, que tem suas preferências respeitadas, da ocupação
de espaços sociais e a autonomia, que foi estimulada regularmente dentro da
residência e por meio da exploração de seu entorno.

211
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Observando ao longo do estágio as demandas a serem atendidas, planejamos


algumas intervenções que já começaram a ser aplicadas durante o primeiro semestre
e continuarão no segundo semestre de 2023.
A residência terapêutica deve ser um lar para essas pessoas que viveram anos
inseridas nos hospitais psiquiátricos, e que já passaram por muito sofrimento e
opressão durante a vida. Assim, como dito anteriormente, é preciso possibilitar sua
reinserção social e o resgate de si, o olhar e a devida importância para suas
necessidades e desejos, algo que muitos nunca tiveram a oportunidade de vivenciar.
Para isso, é preciso reforçar o diálogo com os outros serviços da rede, o fortalecimento
e reeducação da equipe e o respeito enquanto norteador da prática de todos.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº- 3.090, de 23 de dezembro de 2011.


Brasília, 2011.

BRASIL. Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de


Ações Programáticas Estratégicas. Residências terapêuticas: o que são, para
que servem. Brasília: Ministério da Saúde, 2004.

Fagundes, A. J. F. M. Definição, descrição e registro do comportamento. São


Paulo: Edicon. 1999.

Santos Junior, H. P. DE O.; Silveira, M. DE F. DE A. Práticas de cuidados


produzidas no serviço de residências terapêuticas: percorrendo os trilhos de retorno
à sociedade. Revista da Escola de Enfermagem da USP, v. 43, n. 4, p. 788–795,
dez. 2009.

212
SER NEGRO NO BRASIL: UMA CRÍTICA À PSICOLOGIA E AO EPISTEMICÍDIO

Bruna Letícia Camargo Estevo 1


Mayara Aparecida Bonora Freire2

Palavras-chave: Raça; Racismo; Epistemicídio; Psicologia; Perspectivas


Decoloniais.

INTRODUÇÃO

No Brasil, durante quase quatro séculos, utilizou-se da mão-de-obra escrava


do povo negro, sendo o último país da América Latina a abolir a escravidão, com a
reconhecida Lei Áurea, assinada em 13 de maio de 1888 (CRP, 2017). Ao estudar a
historiografia do Brasil, a maior parte dos estudiosos apresentam a Princesa Isabel
como a salvadora das pessoas escravizadas, porém a partir de produções literárias
decoloniais pode-se perceber que existiu um interesse econômico por trás dessa
decisão e uma grande luta e resistência do movimento negro (GOMES,2017).
Com o fim da escravidão no Brasil, não houve nenhuma política de inclusão
das pessoas "recém-libertas" no novo regime de trabalho brasileiro, de modo que
essas não tiveram acesso à: moradia, trabalho digno, acesso à educação, saúde e
entre outras aspectos básicos e essências para uma vida de qualidade. Essa situação
fomentou a exploração, violência, segregação racial e social.
Além da falta de políticas de inclusão, as epistemes que antecedem esse
período, contribuíram para que o negro no Brasil ocupasse uma posição desigual na
sociedade. Dessa maneira, essa pesquisa, como recorte de um Trabalho de
Conclusão de Curso (TCC), tem como objetivo analisar os efeitos do racismo no
cenário brasileiro a partir do epistemicídio e do apagamento dos conhecimentos não
coloniais, sob uma perspectiva crítica da Psicologia Sócio-histórica.

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

A ideia de raça deriva da Botânica e da Zoologia para justificar as relações de


dominação e hierarquização entre classes sociais. Para Munanga (2004, p.2), “os
conceitos e as classificações servem de ferramentas para operacionalizar o
pensamento. É neste sentido que o conceito de raça e a classificação da diversidade
humana em raças teriam servido”. Cientificamente, a raça não existe, mas é uma

1 Estudante do 10º termo de psicologia, Centro Universitário da Faculdades Integradas de Ourinhos,


Psicologia, [email protected].
2 Psicóloga clínica, docente, supervisora técnica e institucional. Doutoranda em Psicologia e Sociedade

pela UNESP/Assis. Atualmente, é coordenadora do Centro de Estudos e Práticas em Psicologia


(CEPP) do Centro Universitário de Ourinhos (UNIFIO). Tem experiência na atuação em Políticas
Públicas de Saúde Mental, em especial, os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS). Conselheira do
XVII Plenário do Conselho Regional de Psicologia de São Paulo (CRP 06).
213
construção sócio-histórica com caráter classificatório, de dominação e exclusão.
(MUNANGA, 2004)
Geralmente, a classificação acontece partir de características físicas, como a
cor da pele e o cabelo, entre outras características que podem ser hereditárias, assim
define-se grupos a partir de semelhanças fenotípicas e com base em uma perspectiva
biológica, dividindo-os, com a finalidade de subalternizar um grupo e invalidar suas
características, experiências e subjetividades, e particularidades.
Por isso, para Munanga (2004, p.9), o racismo pode ser definido como “uma
crença na existência das raças naturalmente hierarquizadas pela relação intrínseca
entre o físico e o moral, o físico e o intelecto, o físico e o cultural.” Segundo Almeida
(2021), racismo é um fenômeno social e estruturante, com base no preconceito e
discriminação racial, produzindo desigualdade, opressão, marginalização e
sofrimento. O racismo atravessa diferentes esferas, institucionais, estruturais,
políticas, econômicas e educacionais.
O Brasil é um país estruturalmente racista, devido ao processo histórico de
escravidão que ainda afeta negativamente a vida das pessoas negras. (GOMES,
2012). Segundo Sueli Carneiro (2005), em nosso país também opera o racismo
epistêmico ou epistemicídio, como a constante tentativa de apagar determinadas
epistemologias e vidas, principalmente aquelas que tem origem africana, num
processo “de produção da inferioridade intelectual ou da negação da possibilidade de
realizar as capacidades intelectuais” (CARNEIRO, 2005, p. 97).

MATERIAIS E MÉTODOS

Essa pesquisa trata-se de um recorte de um Trabalho de Conclusão de Curso


(TCC) em andamento, e caracteriza-se pelo caráter exploratório e qualitativo, cujo
objetivo é analisar os efeitos do racismo no cenário brasileiro a partir do epistemicídio
e do apagamento dos conhecimentos não coloniais, sob uma perspectiva crítica da
Psicologia Sócio-histórica.
Para o desenvolvimento desse trabalho foram realizados levantamentos
bibliográficos em base de dados digitais (Scielo, Pepsic, BVS-Psi), com as palavras-
chave raça; racismo, Psicologia; espitemicídio, bem como por meio da obtenção de
livros físicos. A análise dos dados se deu pela Psicologia sócio-histórica, enfatizando
a interação do ambiente social, cultural e processos de subjetivação. Ademais,
buscamos produções intelectuais decoloniais, com objetivo de ressaltar a importância
da construção de uma psicologia antirracista, contribuir para o processo acadêmico
de psicólogas(os) e gerar contribuições para o movimento negro.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A partir do pensamento de Nascimento (2016), podemos compreender a


importância que a ciência teve na estigmatização do negro. Segundo Gomes (2017),
as epistemes são determinadas a partir das interações sociais, e as epistemologias
têm influência dessas interações. Entende-se que epistemologia é “toda noção ou
ideia, refletida ou não, sobre as condições do que conta como conhecimento válido”
(GOMES,2017. p.28).
214
A maioria das epistemologias que foram produzidas pré e pós abolição, podem
ser considerados racistas, uma vez que, geralmente, consideram aspectos da
branquitude como orientadores, contando uma história universal e “desracializada”.
Para contextualizar o contexto pós abolição, o século XIX é um marco
importante para a pesquisa, porque foi quando ocorreu a abolição da escravização no
Brasil e emergiu o primeiro laboratório de pesquisa experimental na Alemanha,
fundado por Wundt, que se caracterizou com ênfase na razão humana, positivista,
racionalista, mecanicista e determinista, essas características são decorrentes do
período histórico, social e econômico do contexto que a psicologia emergiu,
atendendo as classes dominantes (BOCK, 2017).
No Brasil, a psicologia surge no início do século XX, no período colonial e se
desenvolve no âmbito da medicina e da educação, reproduzindo práticas da Europa
e dos Estados Unidos, contribuiu para a reprodução de epistemes apoiadas na
branquitude como universal e para a naturalização da discriminação (BOCK,2017).
Por essa razão, para analisar a discriminação étnico-racial no Brasil e os efeitos nos
processos de subjetivação da pessoa negra pelo viés da Psicologia, é necessário
romper com a ideia de um ser humano universal.
No que diz respeito a estudos sobre raça e subjetividade negra no Brasil, é
imprescindível uma perspectiva histórica, social, política e econômica compreendendo
de que maneira tais fatores influenciam a relação do sujeito com o Outro e o meio
social. Conceber o sujeito em suas múltiplas esferas permite conhecer os efeitos
negativos do racismo para a pessoa negra.
Segundo Nogueira (1998), ser negro no Brasil é um processo psicológico que
se dá, também, através do olhar do outro, a partir dos significados que são associados
a ele. Quando naturalizamos ou negamos os efeitos do racismo nos dias atuais,
embasados em epistemes eurocentradas, afirmando, por exemplo, que “o
inconsciente não tem cor”, atualizamos a violência cotidiana sobre as pessoas negras.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir de pesquisas bibliográficas foi possível evidenciar que o período pós-


abolição foi crucial para o imaginário social do negro no Brasil, que é um país
estruturalmente racista, que utiliza a raça como um elemento classificatório. O racismo
científico também reproduz este imaginário, por isso a psicologia sócio-histórica se faz
necessária para a confirmação de que a escravidão produz sofrimento psíquico e mal-
estar social para a pessoa negra, que tem inúmeros desafios que contribuem para o
seu processo de subjetivação.
O Brasil sendo o último país a abolir a escravidão e tem como elemento
estruturante o racismo, é essencial validar epistemes que contemplem a negritude.
Em conclusão, o estudo destaca brevemente a historicidade do brasil e a importância
de uma luta antirracista, para que pessoas negras tenham consciência das suas
potencialidades, que não são estimuladas pela sociedade ocidental. A contribuição
desse estudo é para colaborar para que psicólogos negros e não negros trabalhem
com perspectivas antirracistas, emancipatórias e decoloniais, a fim de combater o
racismo epistemológico.

215
REFERÊNCIAS

ALMEIDA, S. L. Racismo estrutura. Feminismos Plurais. São Paulo, 2021.

BOCK, A.M.B. a psicologia socio-historica: uma perspectiva crítica em


psicologia. In: Bock, A.M.B. et al. Psicologia sócio-histórica: uma perspectiva crítica
em psicologia. 3.ed. São Paulo: Cortez, 2007, p.15-36.

CARNEIRO, S. A construção do outro como não-ser como fundante do ser.


FEUSP, 2005.

CFP. Conselho Federal de Psicologia. Relações Raciais: Referências Técnicas para


atuação de psicólogas/os. Brasília: CFP, 2017.

GOMES, N. L. Alguns termos e conceitos presentes no debate sobre relações


raciais no Brasil, uma breve discussão. Acãoeducativa.org.br, 2012.

NASCIMENTO, A. O genocídio do negro no brasileiro: processo de um racismo


mascarado.3. ed. São Paulo: Perspectivas,2016

NOGUEIRA, I. B. Significações do corpo negro. Tese (Doutorado) – Universidade


de São Paulo, São Paulo, 1998.

MUNANGA, K. Uma abordagem conceitual das noções de raça, racismo,


identidade e etnia. Programa de educação sobre o negro na sociedade brasileira.
EDUFF, 2004. Disponível em:< *r (geledes.org.br)>. Acesso em: 05/08/2023

216
SÍNDROME DE BURNOUT: SÍNDROME DO ESGOTAMENTO PROFISSIONAL

Ana Paula Giacomini Magdanelo1


Alexandre Espósito2

Palavras-chave: Burnout; trabalho; estresse; fadiga

INTRODUÇÃO

A Síndrome de Burnout é um transtorno psicológico que se manifesta como


exaustão emocional e física, redução da realização pessoal e despersonalização em
relação ao trabalho. É um problema comum em profissionais que enfrentam altos
níveis de estresse no ambiente de trabalho, especialmente em áreas de atuação que
demandam alto envolvimento emocional.
Herbert J.Freudenberger, médico e psicanalista, foi o primeiro a descrever a
sobre a Síndrome de Burnout ou Síndrome do Esgotamento Profissional como um
sentimento de fracasso e exaustão completando seus estudos em 1975 e 1977, onde
ele acrescentou a fadiga, depressão, irritação, aborrecimento, excesso de trabalho,
rigidez e falta de flexibilidade. Em 1980 ele publicou o livro sobre o esgotamento
profissional, que tornou referência para os estudos sobre burnout, mas foi Cristina
Maslach quem criou Maslach Burnout Inventory (MBI) criado em 1981 para definir e
medir a condição desta síndrome, através de questionário onde o trabalhador vivencia
suas funções de acordo com a exaustão e realização profissional (CARLOTTO;
CÂMARA, 2004).
O objetivo geral desta pesquisa é apresentar os fatores que levam o profissional
a sofrer de Síndrome de Burnout, quais as medidas para prevenir esta doença e como
objetivo específico vamos procurar identificar quais os fatores que levam o profissional
a desenvolver esta doença, quais as estratégias que devem ser usadas para prevenir
e tratar esta síndrome e quais as formas para enfrentar e também diminuir a
possibilidade de o profissional desenvolver esta doença, mostrando como cuidar da
saúde mental.

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

O termo burnout é derivado do verbo em inglês “to burn out”, que significa
“queimar por completo ou ser consumido”, (CORBAL, 2014; BENSBERG; LAMANA,
2017). Representa uma síndrome psicológica decorrente da tensão emocional crônica
que acomete profissionais que estão envolvidos com trabalhos que exigem atenção
direta e contínua, podendo envolver qualquer profissional, mas os mais frágeis a essa
síndrome são os profissionais de serviços, tratamento ou educação. (CASTRO;

1 Minicurrículo, UNIFIO, Psicologia, [email protected].


2 Minicurrículo, UNIFIO, Psicologia,[email protected].
217
ZANELLI, 2007).
Esta síndrome apresenta atitudes e comportamentos negativos com relação ao
trabalho, acarretando prejuízo práticos e emocionais para o trabalhador e a empresa
e o quadro de estresse apresenta um esgotamento interferindo na vida do profissional.
(SILVA et al, 2020; TOMAZ et al, 2020).
O volume ou horas de trabalho, a insegurança, a falta de apoio no exercício
das funções, o assédio, a falta de clareza nas tarefas a serem realizadas e a falta de
independência no exercício do trabalho compõem as causas mais comuns
apresentadas por esta síndrome (CASTRO; ZANELLI, 2007; SILVA et al, 2020;
PEREIRA, 2002).
A OMS é estabeleceu três pontos importantes para a caracterização desta
síndrome como a falta de energia que é quando o indivíduo sente que está esgotado
e sem recursos físicos e mentais para lidar com as situações que suas funções
exigem, além da falta de reação onde o indivíduo fica insensível ao que acontece ao
seu redor e a redução de sua eficácia como quedas na sua produtividade e aumento
nos números de erros e diminuição de atenção e concentração. (SILVA et al, 2020).
As causas mais prováveis do desenvolvimento desta síndrome envolve fatores
individuais e também do ambiente em que o indivíduo exerce seu trabalho sobre
grande pressão, com excessiva carga de tarefas e falta de reconhecimento nas tarefas
realizadas e também em ambiente onde a responsabilidade é grande e o indivíduo
não tem autonomia para tomar decisões (SILVA et al, 2020).
Fatores relacionados ao estilo de vida e à personalidade também são citados
como causa provável do desenvolvimento desta síndrome, como o excesso de
trabalho e a falta de tempo para exercer atividades sociais relaxantes e esportivas,
além da ausência de suporte dos familiares e amigos e acúmulo de responsabilidade
no ambiente de trabalho também contribuem (SILVA et al, 2020).
A falta de independência na gestão do trabalho, falta de clareza das funções a
seres realizadas, ser vítima de assédio, falta de apoio nas funções, insegurança no
trabalho e volume de horas e de trabalho, associadas à sobrecarga de trabalho, a
pressão por resultados, longas jornadas, falta de autonomia, conflitos interpessoais e
desequilíbrio entre a vida pessoal e profissional e fatores individuais, como
personalidade, histórico de estresse e coping inadequado, também podem contribuir
para o desenvolvimento do transtorno e representam as principais causas desta
síndrome (SILVA et al, 2020).
Normalmente o Burnout é diagnostica em profissionais que estão relacionados
direta e de forma constante com outras pessoas, mais especificamente com
profissionais que se ocupam em cuidar dos demais como profissionais da educação,
da saúde, policiais, assistentes sociais, agentes penitenciários, bancários, advogados,
bombeiros, jornalistas, atendente de telemarketing, profissionais de RH e executivos,
sendo confundido com estresse (PÊGO et al, 2015; XAVIER, 2020).
Com relação ao tratamento, nossa pesquisa procura abordar a Psicologia
Comportamental que vem sendo muito eficaz, pois foca na compreensão e
modificação dos comportamentos problemáticos que contribuem para o
desenvolvimento e a manutenção da condição.
Análise funcional, estabelecimento de metas, técnicas de relaxamento e
gerenciamento do estresse, análise de rotinas e organização do tempo, reforçamento
218
positivo, técnicas de solução de problemas, terapia Cognitivo-Comportamental (TCC),
promoção da autonomia, são estratégias que podem ser utilizadas ao lidar com
pacientes com Síndrome de Burnout, sendo importante salientar que cada paciente é
único, e o tratamento deve ser adaptado às necessidades de cada um. A psicologia
comportamental oferece uma abordagem personalizada, baseada em evidências, que
pode ser altamente benéfica no manejo da Síndrome de Burnout e na promoção do
bem-estar do paciente (CORDIOLI et al, 2008).

MATERIAIS E MÉTODOS

Trata-se de um estudo descritivo, que parte de um eixo temático com


informações que ajudam a entender melhor sobre a Síndrome de Burnout, através de
uma revisão bibliográfica com a ajuda do Google Acadêmico e artigos publicados no
ambiente Scielo garantindo a fidelidade das informações coletadas. A pesquisa foi
feita através de palavras-chaves, como o próprio termo burnout, fadiga, trabalho,
estresse.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A Síndrome de Burnout pode afetar pessoas em várias profissões,


principalmente aquelas que lidam com altos níveis de estresse e exigências
emocionais no ambiente de trabalho.
Burnout não é excesso de trabalho, mas sim uma resposta ao ambiente de
trabalho com recursos inferiores às demandas e também a qualquer tipo de assédio
que o profissional possa sofrer. A falta de controle e autonomia no trabalho, falta de
reconhecimento e recompensa, ambiente de trabalho competitivo e de alta nível de
pressão, falta de apoio e desequilíbrio entre trabalho e vida pessoal e o excesso de
acessos as informações podem saturar nosso cérebro, causando um colapso.
Buscar equilíbrio na realização das tarefas. Estar em coerência com você, com
sua idade e com seus desejos e obtendo uma produtividade sustentável para alcançar
longevidade. Colocar o coração no trabalho, mas mesmo assim procurar descansar.
Aprender a lidar com os excessos preservando sua saúde.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A Síndrome de Burnout é um problema sério e complexo que afeta muitos


profissionais em diferentes áreas. A revisão bibliográfica é uma abordagem essencial
para compreender a condição, identificar suas causas e consequências, bem como
explorar as melhores estratégias de prevenção e intervenção. É importante estar
atento à literatura atualizada para acompanhar o desenvolvimento contínuo do
conhecimento sobre a Síndrome de Burnout.
Procure desenvolver um ambiente de trabalho saudável, com suporte social e
reconhecimento adequado, promova equilíbrio entre trabalho e vida social, tenha no
eu local de trabalho programas de bem estar e apoio psicológico para funcionários e
identifique e lide precocemente com os sinais de Burnout.
Respeite o seu cansaço. Saber dizer não para o excesso de trabalho é buscar
219
saúde mental. A vida é uma só. Diz-se vida profissional e vida pessoal, mas temos
que saber que vida é uma só! O que temos são objetivos profissionais e objetivos
pessoas e o que temos que fazer é saber equilibrar esses dois no nosso dia a dia.

REFERÊNCIAS

BENSBERG, L.G.; LAMANA, S. Estresse Profissional, a Síndrome de Burnout.


2017. Disponível em:
<https://repositorio.utfpr.edu.br/jspui/bitstream/1/23365/1/estresseprofissionalsindrom
eburnout.pdf>. Acesso em: 25 mar 2023

CARLOTTO, Mary Sandra; CÂMARA, Sheila Gonçalvez. Análise fatorial do


Maslach Burnout Inventory (MBI) em uma amostra de professores de
instituições particulares. 2004. Disponível em:
<https://www.scielo.br/j/pe/a/sqhs5pPk4QBspW3DKXrmxnP/>. Acesso em: 25 mar
2023.

CASTRO, Fernando Gastal de; ZANELLI, José Carlos. Síndrome de Burnout e


projeto de ser. 2007. Disponível em:
<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?pid=S151637 172007000200003
&script=sci_abstract>. Acesso em: 26 mar 2023.

CORDIOLI, Aristides Volpato; KNAPP, Paulo. A terapia cognitivo-comportamental


no tratamento dos transtornos mentais. 2008. Disponível em:
<https://www.scielo.br/j/rbp/a/xZ6MGPFQJfqf4CysRQYByyh/?format=pdf&lang=pt>.
Acesso em: 16 jul 2023.

ETAPECHUSK, Jessica; SILVA, Zaira Barbara da. A Síndrome de Burnout e os


profissionais da educação: algumas reflexões. 2020. Disponível em:
<https://downloads.editoracientifica.org/articles/200500280.pdf>. Acesso em: 26 mar
2023.

LIPP, Marilda Emmanuel Novaes. O Stress está dentro de você. 2ª ed. – São
Paulo: Contexto, 2000.

PÊGO, Francinara Pereira Lopes; PÊGO, Delcir Rodrigues. Síndrome de Burnout.


2016. Disponível em: <https://cdn.publisher.gn1.link/rbmt.org.br/pdf/v14n2a15.pdf>.
Acesso em: 11 mai 2023.

PEREIRA, Ana Maria T. Benevides. Burnout, por quê? Uma Introdução. 2002.
Disponível em: <https://www.livrebooks.com.br/livros/burnout-ana-maria-t-benevides-
pereira-emnnjkladqic/baixar-ebook>. Acesso em: 25 mar 2023.

SILVA, L.N.S.; MEDEIROS, G.P.A.; SILVA, M.F.; SILVA, C.M.S.; MARREIRO, J.V.S.
Guia prático sobre a Síndrome de Burnout. 2020. Disponível em:
<https://www.mppi.mp.br/internet/wp-content/uploads/2020/09/Ebook_Guia-
220
pra%CC%81tico-sobre-a-Si%CC%81ndrome-de-Burnout-2.pdf>. Acesso em: 25 mar
2023.

TOMAZ, Henrique Cisne; TAJRA, Fábio Solon; LIMA, Andrea Conceição Gomes;
SANTOS, Marize Melo dos. Síndrome de Burnout e fatores associados em
profissionais da Estratégia Saúde da Família. 2020. Disponível em:
<https://www.scielo.br/j/icse/a/dphvYH39MprDY7 LmfCP886J/?lang=pt>. Acesso em:
25 mar 2023.

VIEIRA, Isabela; RUSSO, Jane Araújo. Burnout e estresse: entre medicalização e


psicologização. 2019. Disponível em: <
https://scielosp.org/article/physis/2019.v29n2/e290206/pt/>. Acesso em: 26 mai
2023.

XAVIER, Gilvana Maria Vieira. Síndrome de Burnout. 2020. Disponível em:


<https://educapes.capes.gov.br/bitstream/capes/723017/2/SINDROME%20DE%20B
URNOUT%20SCRAPBOOKING.pdf>. Acesso em: 11 mai 2023.

221
TREINAMENTO DE HABILIDADES DE COMUNICAÇÃO ASSERTIVA EM
ADOLESCENTES

Jéssica de Andrade Tendresch 1


Ana Elisa Vilas Boas 2

Palavras-chave: Adolescentes; Comunicação assertiva; Desenvolvimento;


Habilidades sociais; Treinamento;

INTRODUÇÃO

Ao longo desta jornada acadêmica e considerando o contexto social em que


vivemos, repleta de questões relacionadas ao campo clínico, surgiu-se o interesse em
explorar o presente tema. A abordagem da pesquisa está na fase crucial do
desenvolvimento humano conhecido como adolescência. Percebeu-se, nessa fase,
que é fundamental proporcionar um melhor treinamento nas relações sociais,
estabelecendo objetivos claros e utilizando técnicas aplicadas. Essa compreensão se
tornou o ponto central do trabalho acadêmico, pois acredita-se que investir nesse
aspecto pode ter um impacto significativo no bem-estar dos jovens e na construção
de uma sociedade mais saudável.
A adolescência é uma fase de intensas mudanças e desafios, marcadas por
transformações físicas, emocionais e sociais que impactam o desenvolvimento
humano. Na fase da adolescência, é comum que os jovens busquem apoio e
orientação de outras pessoas para enfrentar os desafios do autoconhecimento e
superar obstáculos. Eles transitam entre momentos de dependência e independência,
marcando essa importante etapa de suas vidas (Aberastury & Knobel, 1981). Nesse
contexto, a habilidade de se comunicar de forma assertiva assume uma importância
fundamental para o estabelecimento de relacionamentos saudáveis e construtivos,
bem como para o enfrentamento eficaz de conflitos e desafios interpessoais.
O objetivo central deste trabalho é investigar a eficácia do treinamento de
habilidades de comunicação assertiva em adolescentes, na perspectiva analítico-
comportamental. A pesquisa tem três objetivos específicos:

• Identificar os principais métodos utilizados no treinamento de


habilidades de comunicação assertiva em adolescentes;
• Analisar os efeitos desse treinamento na redução de comportamentos
agressivos;

1 Graduanda do curso de Psicologia pelo Centro Universitário de Ourinhos – UNIFIO; E-mail:


[email protected]
2 Psicóloga clínica e docente do Centro Universitário das Faculdades Integradas de Ourinhos, Brasil.

E-mail: [email protected]
222
• Examinar a generalização das habilidades aprendidas para situações do
cotidiano dos adolescentes.

Para alcançar os objetivos propostos, será realizada uma revisão bibliográfica


da literatura. A pesquisa reunirá informações provenientes de livros, artigos científicos,
teses e dissertações, com foco na análise do comportamento e suas aplicações
específicas para o treinamento de habilidades de comunicação assertiva em
adolescentes. Essa abordagem permitirá explorar teorias, conceitos, métodos e
técnicas relevantes para a temática.

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Uma revisão bibliográfica enfoca a importância da comunicação assertiva como


habilidade social fundamental para o desenvolvimento pessoal e social,
principalmente na adolescência. A comunicação assertiva envolve expressar
pensamentos, emoções e necessidades de forma clara e respeitosa, além de ser
capaz de ouvir e considerar as perspectivas dos outros. Esse tipo de comunicação
promove relacionamentos saudáveis, resolução de conflitos e bem-estar emocional,
fatores cruciais para a adaptação social do adolescente.
“A palavra adolescência vem do latim adolescere, que significa crescer”
(SCHOEN-FERREIRA, AZNAR-FARIAS & SILVARES, 2010, p.228). Os adolescentes
geralmente enfrentam desafios para expressar suas necessidades e opiniões e
podem adotar estilos de comunicação passivos, agressivos ou passivo-agressivos ao
decorrer do seu crescimento. Para resolver isso, o treinamento de comunicação
assertiva visa fornecer aos adolescentes as ferramentas para se expressar de
maneira eficaz, aumentando sua confiança e interações interpessoais com sucesso
(Bolsoni-Silva & Carrara, 2010).
Há várias pesquisas de teorias e modelos que têm sido usados no treinamento
de comunicação assertiva para adolescentes baseado no treino de Competências
Sociais (TCS), como o Modelo do Condicionamento Operante de Skinner, Modelo de
Percepção Social de Argyle, Modelo da Assertividade de Wolpe, Modelo da
Aprendizagem Social de Bandura.
O treinamento de comunicação assertiva tem sido associado a habilidades
aprimoradas de resolução de conflitos e habilidades de negociação aprimoradas,
ambas essenciais para o desenvolvimento de relacionamentos interpessoais
saudáveis ao longo da vida adulta. Essas habilidades promovem interações positivas,
resolução construtiva de conflitos e conexões significativas, formando a base para
relacionamentos gratificantes e duradouro (Del Prette & Del Prette, 2005).
Em conclusão, o treinamento de comunicação assertiva desempenha um papel
crucial no aprimoramento das habilidades sociais, bem-estar emocional e capacidade
de navegar efetivamente nas interações interpessoais dos adolescentes. A
comunicação assertiva é um conjunto de habilidades interpessoais que envolve a
expressão clara e direta de pensamentos, sentimentos e desejos, respeitando os
direitos dos outros. Na análise do comportamento, a comunicação assertiva é vista
como uma forma de interação social adaptativa, contribuindo para relacionamentos
saudáveis e resolução de conflitos de forma construtiva. Conforme dispõe:
223
Assim, para um comportamento resultar assertivo é necessário colocar em
prática várias habilidades que se enquadram no âmbito da comunicação
verbal, não verbal e para verbal uma vez que a linguagem corporal fala mais
alto. (LOUREIRO, 2011, p. 10)

Essas habilidades sociais são essenciais para que elas possam interagir
efetivamente com os outros, estabelecer relacionamentos saudáveis e enfrentar os
desafios sociais de forma positiva. (Cia & Barham, 2009). Ao aprender a se comunicar
de forma assertiva, os adolescentes estão mais bem preparados para se expressar,
construir relacionamentos positivos e lidar com conflitos de maneira construtiva,
estabelecendo uma base para um funcionamento social adulto mais saudável.

MATERIAIS E MÉTODOS

A pesquisa consiste em uma revisão bibliográfica com o objetivo de


contextualizar e analisar informações sobre o tema "Treinamento de Habilidades de
Comunicação Assertiva em Adolescentes". Os procedimentos metodológicos
incluíram a identificação do tema e objetivos, seleção das fontes de pesquisa, critérios
de inclusão e exclusão, análise e síntese dos dados e considerações éticas.
A revisão abrangeu fontes como bases de dados acadêmicos, revistas
científicas, livros, dissertações e teses relacionadas ao tema. Foram aplicados
critérios de qualidade e fidelidade para selecionar os estudos a serem incluídos,
enfatizando os resultados e o impacto do treinamento nas habilidades de
comunicação assertiva dos adolescentes.
Como não houve coleta direta de dados de seres humanos, não foram
necessários procedimentos específicos. A pesquisa fornece uma base teórica para
compreender a importância do treinamento de habilidades de comunicação assertiva
em adolescentes e suas orientações para a prática e futuras pesquisas. Os resultados
serão apresentados na seção de revisão bibliográfica do trabalho.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Uma revisão resumida sobre o treinamento de habilidades de comunicação


assertiva em adolescentes revelou vários benefícios desse tipo de treinamento.
Espera-se que o desenvolvimento dessas habilidades promova melhorias
significativas nas relações interpessoais dos jovens, permitindo que eles expressem
seus pensamentos, desejos e sentimentos de forma adequada, sem seguir a
comportamentos agressivos ou passivos.
Os possíveis impactos nas relações interpessoais são positivos, com os
adolescentes tornando-se mais aptos a construir relacionamentos saudáveis e
empáticos com colegas, professores, familiares e outros membros da comunidade
escolar. A habilidade de comunicar-se de forma clara e respeitosa fortalece os laços
sociais e contribui para uma redução dos conflitos emocionais.
Observou-se ser considerado o treinamento dessas habilidades no contexto
escolar, pois a escola é um ambiente de intensa interação social e desenvolvimento
emocional para os adolescentes. O treinamento de comunicação assertiva pode
224
contribuir para um ambiente escolar mais positivo, com menor incidência de bullying,
melhor gerenciamento de conflitos entre os alunos e um clima de aprendizado mais
seguro e acolhedor.
Em conclusão, destaca a importância do treinamento de habilidades de
comunicação assertiva em adolescentes, evidenciando seus benefícios para o
desenvolvimento social e emocional dos jovens. A implementação desse treinamento
no contexto escolar é recomendada para promover relações interpessoais saudáveis
e um ambiente de aprendizado mais positivo. Pesquisas nesse futuro podem expandir
ainda mais a área de conhecimento, confiante para aprimorar as práticas de
treinamento e a compreensão dos efeitos dessas habilidades no bem-estar dos
adolescentes.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em suma, o trabalho abordou a importância da comunicação assertiva na


adolescência, considerando a perspectiva analítico-comportamental. O estudo buscou
identificar métodos eficazes de treinamento de habilidades de comunicação assertiva
em adolescentes, analisar seus efeitos na redução de comportamento agressivo e
controlar a generalização das habilidades aprendidas para o cotidiano dos jovens. O
objetivo final é fornecer orientações para profissionais que trabalham com
adolescentes, confiantes para o desenvolvimento saudável da comunicação
interpessoal nessa fase crucial da vida.

REFERÊNCIAS

ABERASTURY, A.; KNOBEL, M. Adolescência normal: um enfoque


‘psicanalítico.1ª ed. Porto Alegre: Artmed, 1981.

BOLSONI-SILVA, A. T.; CARRARA, K. Habilidades sociais e análise do


comportamento: compatibilidade e dimensões conceitual-metodológicas. Psicologia
em Revista, Belo Horizonte, v.16, n. 2, p. 330-350, 2010.

CIA, F., & BARHAM, E. J. Repertório de habilidades sociais, problemas de


comportamento, autoconceito e desempenho acadêmico de crianças no início da
escolarização. Estudos de Psicologia, Campinas, v.26, n.1, p. 45 – 55, 2009.

DELL PRETE, Z. A.; DELL PRETE, A. Psicologia das habilidades sociais na


infância: Teoria e Prática. 2. ed. Petrópolis: Vozes, 2005.

LOUREIRO, C. Treino de competências sociais - uma estratégia em saúde mental:


conceptualização e modelos teóricos. Revista Portuguesa de Enfermagem de
Saúde Mental, p. 7-14, 2011.

SCHOEN-FERREIRA, T. H., AZNAR-FARIAS, M.; SILVARES, E. F. M. Adolescência


através dos Séculos. Psicologia: Teoria e Pesquisa, Brasília, v. 26, n. 2, 227-234,
2010.
225
VIOLÊNCIA DE GÊNERO: REFLEXÕES SOBRE A CAÇA ÀS BRUXAS

Larissa Oliveira Castilho1


Mariana Coppi Martins
Alexandre Espósito2

Palavras-chave: Psicologia; Violência de gênero; Caça às bruxas.

INTRODUÇÃO

Para o estudo da sociedade, e análise dos fenômenos contemporâneos, existe


a necessidade de se revisitar o passado – não tão distante assim, considerando
fatores que envolvem questões sociais, culturais, políticas e econômicas e seus
reflexos e heranças na atualidade. O presente artigo aborda a importância de revisitar
o passado para compreender os fenômenos contemporâneos da sociedade,
especialmente a violência de gênero. O estudo se concentra na relação entre a Caça
às Bruxas e as diversas manifestações de violência de gênero na atualidade,
destacando o papel da Psicologia nesse contexto.
Sendo assim, a importância desse trabalho se dá devido a necessidade e
urgência de estudos atrelando o conceito de gênero as difusas possibilidades de
violência, e, busca-se trabalhar como a herança do episódio da Caça às Bruxas se
entrelaça à violência de gênero na atualidade dado que esse fato é uma violação dos
direitos humanos fundamentais, que causa sofrimento, prejuízos físicos e psicológicos
intensos às mulheres. Compreender as origens históricas da violência contra mulher
e explorar sua conexão com fenômeno da Caça às Bruxas permite entender como
práticas discriminatórias e estruturas patriarcais se perpetuaram, influenciando a
violência de gênero na contemporaneidade, essa análise é crucial para o
desenvolvimento de intervenções e estratégias de enfrentamento mais eficazes, no
campo da Psicologia.

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

A violência de gênero é um fenômeno multifacetado e estrutural que demanda


a compreensão de pilares fundamentais, como o patriarcado, que promove
desigualdade hierárquica com base no sexo e sustenta valores que subjugam o
feminino em relação ao masculino. O conceito de gênero, emergente a partir dos anos
1950, questiona os papéis tradicionais e a noção de que as diferenças entre homens
e mulheres são exclusivamente biológicas. A vulnerabilidade feminina, consequente

1 Alunas do 10º termo do Curso de Psicologia do Centro Universitário das Faculdades Integradas de
Ourinhos/SP. [email protected] e [email protected]
2 Psicólogo, mestre e doutor em psicologia pela Unesp - Assis. Professor de Psicologia no Centro

Universitário das Faculdades Integradas de Ourinhos/SP. [email protected]


226
desse contexto, abrange não apenas compreensões biológicas, mas também normas
sociais que estabelecem padrões comportamentais (BARSTED, 2007).
A teórica feminista Simone de Beauvoir (1949) destaca a construção social do
gênero em sua obra "O Segundo Sexo", ressaltando que "ninguém nasce mulher",
desafiando a ideia de que a feminilidade é um destino biológico inescapável. O
conceito de gênero ganhou reconhecimento na pós-modernidade, representando uma
construção social e cultural que vai além das características biológicas de ser homem
ou mulher (JESUS, 2012).
O feminino enfrenta diversas formas de violência e negligência nos aspectos
psicológicos, sociais e culturais. Estudos recentes têm explorado a problemática da
violência contra a mulher, com destaque para as pesquisas pioneiras de Marilena
Chauí (1985), que identificou a violência como uma ação que converte diferenças em
desigualdades hierárquicas, objetivando subjugar e oprimir mulheres. Para Heleieth
Saffioti (1987), a dominação masculina está diretamente associada ao sistema
capitalista, isso significa que o patriarcado não se limita apenas a exercer controle e
poder sobre as mulheres em termos políticos e culturais, mas também envolve a
exploração econômica.
Com relação ao exposto, a análise de Silvia Federici (2004) em "O Calibã e a
Bruxa" aborda a caça às bruxas sob a perspectiva da acumulação primitiva do sistema
capitalista e seus impactos no corpo feminino e na posição das mulheres na passagem
da sociedade feudal para o sistema capitalista. Essas abordagens interdisciplinares
permitem compreender a violência de gênero como resultado da interação complexa
de fatores culturais, sociais, políticos e econômicos.
A autora em tela analisa a relevância histórica da caça às bruxas durante a
transição da sociedade feudal para o sistema capitalista. Ela destaca a perseguição
direcionada às mulheres, especialmente aquelas que desafiavam as normas
patriarcais. O patriarcado, em conjunto com o emergente sistema capitalista, buscou
controlar o corpo e a sexualidade feminina para atender às necessidades da
acumulação primitiva do capital. A autora também denuncia a violência e opressão
enfrentadas pelas mulheres nesse contexto, ressaltando a importância de
compreender essa história para analisar as bases do capitalismo moderno e a
resistência feminina contemporânea contra a dominação patriarcal.
A partir dessas premissas, torna-se possível compreender as dimensões
sociais, históricas e culturais relacionadas à estrutura da violência de gênero. A
Psicologia como ciência e profissão necessita se posicionar no enfrentamento às
formas de violência que impactam sobre as mulheres, conforme o exercício dos
Princípios Fundamentais do Código de Ética da(o) Psicóloga(o) referente a Resolução
CFP nº 010/2005, e normas de exercício profissional da psicologia em relação às
violências de gênero na a Resolução nº CFP 08/2020. Tais reflexões presentes neste
trabalho são importantes para a construção e fortalecimento dessas ações,
ferramentas e políticas públicas para o combate à violência de gênero nos campos
jurídico, assistencial, pedagógico e psicossocial.

227
MATERIAIS E MÉTODOS

Para se obter as informações foi feita uma revisão bibliográfica sistemática. Ela
foi conduzida por meio de pesquisas em bases de dados acadêmicos, bibliotecas
digitais e plataformas de pesquisa, utilizando palavras-chave: "Psicologia", "violência
de gênero" e "caça às bruxas". Os conteúdos selecionados foram analisados e
sintetizados de forma sistemática.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Após a realização da revisão bibliográfica, foi possível perceber que o domínio


patriarcal produz um sistema de violências contra as mulheres em sociedade. No
entanto, o conceito de gênero pode ser destrinchado quando realizamos que mulheres
são socialmente construídas. Mulheres são definidas como "o outro" em relação aos
homens, ou seja, o feminino na sociedade não é determinado por um destino
biológico, psíquico ou econômico, é a cultura que constrói essa identidade, a
construção da identidade feminina requer a mediação de outras pessoas para ser
estabelecida como uma entidade distinta.
O conceito de gênero está intrinsecamente relacionado à dinâmica de poder,
uma vez que reconhece o gênero como uma construção social e histórica, a
compreensão desses elementos é fundamental para a análise da violência de gênero,
uma vez que a própria relação de poder inerente ao conceito de gênero já configura
uma reprodução de violência contra o feminino, manifestando-se como uma forma de
controle e dominação. Assim, a investigação dessa relação de poder e seu vínculo
com o conceito de gênero é crucial para a compreensão mais profunda dos
mecanismos que perpetuam a violência de gênero.
Para sua compreensão – bem como a compreensão dos diversos fenômenos
existentes, é necessário a revisitação ao passado, sendo assim, buscamos na
denominada Caça às Bruxas um marcador que norteou a pesquisa do passado que
revela diversas formas de violência direcionadas ao feminino e sua analogia com a
realidade contemporânea. A Caça às Bruxas foi uma expressão da opressão e
controle sobre o feminino a partir de estereótipos de gênero, neste sentido, as
mulheres eram estigmatizadas, marginalizadas e silenciadas por sua suposta
associação com a bruxaria. Essa mentalidade patriarcal e misógina se estendeu
durante a construção do sistema capitalista, persistindo na atualidade, oprimindo e
produzindo formas de controle ao feminino por meio das diversas faces da violência.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Observou com a pesquisa que a violência de gênero é um fenômeno complexo


relacionado à estrutura social e normas culturais patriarcais que perpetuam a
desigualdade entre homens e mulheres. A perspectiva de gênero, influenciada por
teóricas feministas, destaca a construção social do gênero e sua relação com a
violência, abordando a dominação masculina. O fenômeno da Caça às Bruxas como
parte da transição da sociedade feudal para o sistema capitalista, destaca a

228
perseguição direcionada às mulheres e a opressão enfrentada por elas nesse
contexto.
A psicologia desempenha um papel fundamental no enfrentamento da violência
de gênero, contribuindo para a compreensão das causas e consequências dessa
violência, a partir da análise de fatores individuais, relacionais e socioculturais. Em
suma, a compreensão do conceito de gênero e da violência de gênero, aliada ao papel
da psicologia no enfrentamento dessa violência, são fundamentais para promover a
igualdade de gênero e combater a violência baseada no gênero. É importante
mencionar que o trabalho requer pesquisas mais aprofundadas para minuciar
questões específicas, bem como detalhar assuntos já mencionados.

REFERÊNCIAS

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UFRJ, 2007. p. 119-1378

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SAFFIOTI, Heleieth I. B. O Poder do Macho. São Paulo: Moderna, 1987.

229
VISÃO ECOLÓGICA DO FENÔMENO BULLYING: TENDO COMO PONTO DE
PARTIDA O CONTEXTO ESCOLAR

Cibele Cristiane Guerra1


Síntique Ferreira da Silva2
Ricardo da Silva Franco3

Palavras-chave: bullying; contexto escolar, social e familiar (visão ecológica);


cyberbullying; consequências, prevenção; intervenções psicológicas.

INTRODUÇÃO

A palavra bullying é de origem inglesa e significa valentão, entretanto tal


fenômeno é anterior a esta nomenclatura, afinal este já existira, mas era visto como
brincadeiras inofensivas entre os estudantes. Os estudos referentes ao bullying deram
início na década de 1970 (Suécia e Dinamarca), e, somente na década de 1980 que
se buscou aprimorar os conhecimentos do fenômeno, por meio dos estudos feitos na
Noruega por Dan Olweus que criou a conceituação, após três meninos noruegueses
se suicidarem devido aos maus-tratos que sofriam no contexto escolar (Fante, 2018).
No Brasil o tema passou a ser abordado no início de 2000, com poucas
produções científicas. Casos extremos de bullying têm sido relacionados a homicídios
e suicídios. O Massacre do Realengo, em 2011, é um exemplo de vingança de uma
vítima de bullying, causa da na morte de 12 crianças e do autor.
O presente estudo bibliográfico tem como objetivo analisar as relações no
contexto escolar e seus impactos sociais e familiares, tendo como norteador uma
visão ecológica do fenômeno bullying. Para isso, foram utilizados alguns autores de
base como: Cléo Fante, Amaris Lopes Neto e Aloma Ribeiro Felizardo, delimitando,
portanto, o uso de materiais sobre a temática.
Estudos constataram que 39% dos estudantes brasileiros estão envolvidos em
prática de bullying, mas poucas intervenções foram realizadas (Lopes Neto, Saavedra
e Fante apud Felizardo, 2017). A pesquisa busca auxiliar na conceituação do bullying,
a fim de evitar sua naturalização no contexto escolar.

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Segundo Lopes Neto (2011), o bullying é um fenômeno sistêmico, advindo de

1 Graduanda do Curso de Psicologia do Centro Universitário de Ourinhos. Email de contato:


[email protected]
2 Graduanda do Curso de Psicologia do Centro Universitário de Ourinhos. Email de contato:

[email protected]
3 Professor de Educação Infantil e docente do Centro Universitário das Faculdades Integradas de

Ourinhos. Email de contato: [email protected]

230
atitudes individuais e coletivas, dentre um contexto social, e assim expressam seus
valores, intolerância, influências familiares, sociais e escolares. Ele se manifesta de
forma direta (apelidos, agressões físicas e verbais) e indireta (isolamento social,
difamação e exclusão) e pode variar de acordo com o gênero, com meninos mais
propensos a agressões físicas e meninas a agressões verbais sutis. As vítimas do
bullying podem sofrer mudanças de comportamento a curto e longo prazo, incluindo
baixa autoestima, isolamento e até ideação suicida. Os espectadores também temem
serem alvos futuros.
As vítimas geralmente sofrem em silêncio, temendo expor-se e enfrentar
consequências piores, o que pode levar a sentimentos de raiva, ideação suicida e
fobias sociais. Os agressores, por sua vez, sentem-se impunes e poderosos, o que os
incentiva a intimidar. (Fante, 2008)
Fante (apud Pereira, 2009) observou em suas pesquisas que a violência
doméstica é um fator importante na reprodução da violência escolar. Isso revela um
ciclo de violência que envolve família, escola e sociedade, com manifestações no
contexto escolar.
Segundo a ABRAPIA (Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção À
Infância e Adolescência), o bullying é mais prevalente entre alunos de 11 e 13 anos e
que 51,8% dos autores disseram não terem orientações ou advertências quanto aos
atos praticados (Lopes Neto, 2005).
Para lidar com esse problema recorrente, foi criada a Lei 13.185/15, conhecida
como Lei Antibullying, que visa à conscientização, prevenção e combate à intimidação
sistemática em todo o território nacional. O MEC, Secretarias Estaduais e Secretarias
Municipais estão envolvidos na capacitação de profissionais, orientação dos pais e
identificação de vítimas e agressores (Brasil, 2015).

MATERIAIS E MÉTODOS

O presente trabalho constitui em uma pesquisa bibliográfica, norteada pelas


fontes de busca de dados Scielo e PePSIC (Periódicos Eletrônicos da Psicologia),
usando as palavras chaves: “bullying, visão ecológica, contexto escolar, social e
familiar”, por meio de artigos científicos, livros, webinários, revistas científicas,
noticiários, dentre outros. As ideiais foram estruturadas em três momentos: 1) Como
se consolidam as relações no contexto escolar 2) Suas consonâncias sociais e
familiares e 3) Quais intervenções psicológicas podem ser adotadas na prevenção e
no enfrentamento do bullying no contexto escolar.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O bullying implica em atos agressivos, antissociais e repetitivos, onde o


agressor tem maior poder que seu alvo e estas ações embora ocorram geralmente no
contexto escolar é o reflexo da sociedade, da família e do aspecto econômico. Esse
comportamento abusivo abrange diversas formas de violência, incluindo física, verbal,
psicológica, sexual e social. Além disso, com o surgimento das redes sociais e mídias
eletrônicas, o bullying digital, também conhecido como “cyberbullying”, tornou-se
231
presente, sendo praticado por usuários que difamam e expõem publicamente suas
vítimas, muitas vezes de forma anônima.
Estudos mundiais apontam que o bullying envolve cerca de 6% a 40% dos
estudantes, desde os primeiros anos escolares, sendo mais prevalentes entre 11 a 15
anos, e os locais de maiores incidências são no pátio escolar (recreio) e na sala de
aula, um dado que aponta uma falta de preparo, e até mesmo omissão do corpo
docente para problemática (Fante e Prudente, 2015).
As pesquisas no âmbito Brasileiro têm caminhando vagarosamente, tanto
devido às produções acadêmicas serem restritas, quanto a resistências de muitas
escolas em reconhecer e enfrentar o fenômeno. Todavia por outro lado vemos que tal
fenômeno é complexo e assim exige que a comunidade escolar, as instituições e os
membros da sociedade se unam para desenvolver programas antibullying efetivos.
O bullying não é apenas uma questão escolar, mas de toda sociedade, e que
causa danos ao psiquismo, interferindo negativamente no desenvolvimento cognitivo,
emocional e socioeducacional das vítimas (Fante apud Carneiro, 2018).
Segundo Volari (apud Carneiro, 2018) para lidar com essa questão, é
necessário um trabalho conjunto, incluindo a conscientização sobre o respeito às
diferenças, a promoção de um ambiente escolar seguro e saudável, e o incentivo a
uma convivência pacífica e respeitosa. A educação tem papel fundamental na
formação da personalidade e no desenvolvimento social e emocional das crianças e
adolescentes, por isso, é importante priorizar uma educação de qualidade que valorize
a diversidade e promova uma consciência crítica e emancipada na sociedade.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O bullying e a violência que este traz consigo revela um fenômeno social que
se compõe e se transforma historicamente, que se desemboca, sobretudo, na escola
por ser este um espaço contínuo de encontro das diversidades, afinal a nossa
sociedade não absorve o que é diferente, quer seja no tom de pele, no tipo de cabelo,
na estrutura corporal, no gênero, na classe social, etc, pois tendemos a sermos
preconceituosos e intolerantes. Esse nocivo fenômeno que extrapola as escolas e se
torna social, necessita ser conhecido em sua essência, para que haja transformações
e ter intervenções pontuais, para que haja conscientizações e contenções.
E a família que é a principal base formadora tem expressado uma falta de
estrutura e um índice muito alto de violência, e tal violência é refletida no contexto
escolar, e assim vai se gerando um círculo de violência, e as vítimas ativas na
realidade são agressores e os que sofrem agressões, e os expectadores são vítimas
passivas do medo de ser a próxima vítima.
Portanto, ter uma educação emocional, desenvolvendo o autoconhecimento, e
o reconhecimento dos sentimentos, é muito importante e a presença de um psicólogo
no contexto escolar fará toda a diferença, afinal ele saberá como conduzir os
enfrentamentos e as prevenções necessárias, terá uma escuta de qualidade e saberá
considerar as especificidades de cada instituição, por meio de um mapeamento,
elencando as características culturais, sociais, psicológicas, mediante a realidade da
escola.

232
REFERÊNCIAS

BRASIL, Lei nº 13.185/15 - Institui o Programa de Combate à Intimidação


Sistemática(Bullying ).<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato20152018/2015/Le
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para a paz. Campinas- SP: Verus, 2018.

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2011.

PEREIRA, S. M. S. Bullying e suas implicações no ambiente escolar. São Paulo:


Paulos, 2009.

233
LUTOS E RUPTURAS SOFRIDOS POR CRIANÇAS E ADOLESCENTES QUE SE
ENCONTRAM EM SITUAÇÃO DE TRANSIÇÃO DO ACOLHIMENTO
INSTITUCIONAL PARA A ADOÇÃO – UMA REVISÃO DA LITERATURA

Sheila Fermino 1
Damaris Bezerra de Lima 2

Palavras-chave: Institucionalização; Crianças, Adolescentes; Adoção.

INTRODUÇÃO
Conforme preconiza o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), as
instituições de acolhimento são caracterizadas como uma medida protetiva utilizada
pelo Estado para assegurar a integralidade dos direitos de crianças e adolescentes
no Brasil. Essas entidades possuem como objetivo retirar o sujeito de um contexto de
vida adverso e proporcionar a essa população, pleno desenvolvimento. A
institucionalização possui caráter provisório e é utilizada como uma medida transitória,
isto é, até que haja condições adequadas para o retorno da criança ou adolescente
ao círculo familiar natural. O poder judiciário articula juntamente com outras equipes
multidisciplinares, as responsabilidades, nesses casos, de fortalecer a capacidade
protetiva da família, a fim de que esta esteja preparada para propiciar um ambiente
no qual a criança ou adolescente possam viver de forma saudável, para que o retorno
ocorra. Contudo, em muitos casos, apesar da realização desse trabalho pela rede, a
família não possui estruturas para receber novamente sua prole, logo, essas crianças
e adolescentes são encaminhados à adoção.
A adoção é uma forma de garantir que crianças e adolescentes cresçam no
seio de uma família, e, desenvolvam afetos, compreendam qual o seu lugar no mundo
e construam uma identidade. No entanto, apesar dessa medida protetiva visar uma
convivência saudável e pacífica, pode ser que a transição da institucionalização para
a adoção seja dolorosa para as crianças e adolescentes, visto que estarão cientes da
impossibilidade de seu retorno para a família nuclear, e terão que desvincular-se de
outros infantes e profissionais que estavam presentes em seu cotidiano. Diante desse
cenário, onde a adoção é uma medida de proteção que possui como finalidade atender
as necessidades e interesses da criança ou adolescente acima de tudo, mas que
também pode provocar sofrimentos em razão das rupturas que ocasiona, a pesquisa
possui como objetivo realizar uma revisão na literatura a fim de verificar por quais lutos
as pessoas institucionalizadas passam, quando vivenciam o processo de adoção. Por
meio desse estudo será possível realizar futuramente uma pesquisa de campo que
analise até que ponto as instituições de acolhimento estão equipadas para fornecer

1 Mestre, Centro Universitário das Faculdades Integradas de Ourinhos - Unifio, Psicologia,


[email protected].
2 Graduanda, Centro Universitário das Faculdades Integradas de Ourinhos - Unifio, Psicologia,

[email protected].
234
uma preparação psicológica para a criança ou adolescente que será adotado, visando
auxiliar o infante a elaborar os seus lutos e ser capaz de construir novos vínculos
afetivos com a família adotante.

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

O Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA (BRASIL, 1990) é um


instrumento que dispõe normativas sobre os direitos da criança e do adolescente no
Brasil. Essa lei determina que sujeitos de 0 a 18 anos incompletos não podem estar
submetidos à contextos de vida que ameacem ou desrespeitem os seus direitos
enquanto cidadãos. No art. 4º do ECA (BRASIL, 1990), afirma-se que a família, a
comunidade, a sociedade geral e o poder público são responsáveis por assegurar que
crianças e adolescentes gozem do direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação,
ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à
liberdade e à convivência familiar e comunitária. De acordo com Oliveira e Resende
(2016), há casos em que esses direitos previstos pela lei são violados, submetendo a
criança ou adolescente à violência, negligência, crueldade, discriminação, exploração
e opressão, seja por omissão da esfera social ou do Estado, por falha ou incapacidade
das figuras cuidadoras, ou devido à sua própria conduta. Em cenários como este, o
ECA (BRASIL, 1990) determina conforme expresso no art. 101 da lei que o sujeito
deve ser encaminhado aos programas de acolhimento institucional a fim de ser
assistido adequadamente.
Oliveira e Resende (2016) afirmam que o acolhimento institucional se
caracteriza como uma medida de proteção aplicada de forma excepcional e de
transição para reintegração familiar, ou na impossibilidade, para o encaminhamento
da criança ou adolescente para a família substituta. Mesmo o acolhimento institucional
tendo por finalidade, como apontado por Martins (2014), retirar o sujeito de uma
situação de risco e promover o seu desenvolvimento biopsicossocial, Iochpe (2015),
defende em sua pesquisa que a retirada de uma criança ou adolescente de sua
família, não soluciona todos os problemas vivenciados por ela. Oliveira e Resende
(2016), afirmam que quando ocorre o processo de destituição do poder familiar, as
crianças e adolescentes que passam a ser assistidas pelo Estado, enfrentam muita
dor, pois, não estão preparadas social e psicologicamente para deixar de residir com
seus genitores ou com as pessoas que eram responsáveis por sua tutela. Dessa
forma, chega-se à conclusão de que por mais que uma instituição de acolhimento seja
composta por profissionais eficientes e dotada de excelentes condições estruturais e
materiais, a criança ou adolescente alocado nela sofre psiquicamente em razão das
rupturas vivenciadas nesse processo de transição.A partir do momento em que uma
criança ou adolescente é encaminhado para uma instituição de acolhimento, esta
pode sofrer rupturas em outros períodos de sua vida enquanto sujeito
institucionalizado. Isso pode ocorrer, por exemplo, quando inexiste a possibilidade de
reintegração familiar ou encaminhamento a família extensa, e o sujeito é encaminhado
para a adoção. Do ponto de vista legal, a adoção deve acontecer de acordo com o
disposto na Subseção IV, do art. 39 do ECA, que diz:

235
A adoção é medida excepcional e irrevogável, à qual se deve recorrer apenas
quando esgotados os recursos de manutenção da criança ou adolescente na
família natural ou extensa, na forma do parágrafo único do art. 25 desta Lei
(Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009).

O processo de adoção envolve acima de tudo comprometimento, dedicação,


responsabilidade e amparo afetivo. Quando realizado com responsabilidade resulta
em benefícios para ambas as partes que tentam de alguma forma suprir suas
necessidades, dos adotantes, de exercerem a paternagem/ maternagem e do
adotado, de viver em um contexto seguro, estável e afetuoso, a fim de que possa ter
um desenvolvimento saudável (BARROS; RIBEIRO; SOUZA, 2021). Apesar desses
aspectos positivos, passar pelo processo de desvinculação com a instituição de
acolhimento para a posterior adoção também pode ser doloroso e complicado, pois,
conforme afirmam Barros; Ribeiro e Souza (2021), muitas crianças e adolescentes
passam longos períodos nessas entidades, logo se familiarizam com as regras do
local, estabelecem vínculos com os profissionais da Casa e constroem amizades com
os outros infantes institucionalizados. Assim, romper com esse contexto que também
fora doloroso no início, e se vincular mais uma vez com pessoas advindas de um
cenário completamente diferente, pode fazer com que o sujeito novamente tenha que
elaborar o luto por aquilo que será perdido a partir do momento em que ocorrer a
adoção.

MATERIAIS E MÉTODOS

Tratou-se de uma pesquisa do tipo Estudo da Arte que possui como objetivo
realizar uma Revisão Bibliográfica da produção acadêmica e ou científica a respeito
de determinada temática, dentro de uma área específica do conhecimento (SILVA;
CARVALHO, 2014). Nessa revisão, foram incluídos: (i) artigos publicados entre 2013
e 2022, a fim de recuperar apenas a produção mais recente acerca do tema
investigado; (ii) publicados em periódicos indexados e disponíveis na íntegra; (iii)
artigos em português; (iv) com temáticas pertinentes aos objetivos da revisão
(processos de lutos e rupturas passados por crianças e adolescentes na transição da
institucionalização para adoção). Também, foram incluídos trabalhos como teses,
monografias, dissertações, livros e capítulos de livros não tão recentes, mas de
notoriedade na área, fundamentais para entendimento da temática em questão.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Rocha, Arpini e Savenago (2015), explicam que o processo de adoção se


constitui de forma extremamente complexa, pois, nesse emaranhado de relações,
encontram-se pessoas que desejam ser pais e possuem limitações que os impedem,
figuras cuidadoras que geram o filho mas o rejeitam e genitores que amam sua prole
e não conseguem garantir sua proteção integral. (ROCHA; ARPINI; SAVEGNAGO,
2015). Conforme apontado por Carvalho et al., (2017) no Brasil, a preparação das
figuras cuidadoras para a adoção, é muito bem estruturada, mas pouco se fala sobre
a orientação de crianças e adolescentes para esse processo. Contente, Cavalcante e

236
Silva (2013) explanaram que a preparação de crianças e adolescentes que vivem em
instituições de acolhimento é vital para que a adoção tenha sucesso e para minimizar
a probabilidade de medos acerca da necessidade de se adaptar a uma nova realidade.
Gomes e Levy (2019) e Soares (2021) ressaltam a relevância de permitir que nessa
fase de preparação, a criança ou adolescente represente a futura família adotiva por
meio da inclusão de objetos, lugares e pessoas e reconte sua história de vida a fim de
poder a ressignificar. Esse processo preparatório é importante, pois, como explicam
Tinoco e Franco (2011) apud Silva e Abrão (2021), em uma instituição de acolhimento,
as criança ou os adolescentes estão propensos a vivenciar muitos rompimentos, visto
que, não estão afastados apenas de sua família, mas também de seus pertences,
hábitos e convívio social. Além disso, a transição da instituição de acolhimento para a
família adotiva alude a mudanças e despedidas, tanto da família biológica, quanto das
pessoas com as quais o infante convivia no acolhimento, podendo ser encarada como
uma nova situação de abandono (SILVA; ABRÃO, 2021). Dessa forma, é possível
constatar que esse processo de transição é ambivalente, visto que, a criança ou
adolescente possui sempre ligações positivas e negativas dos convívios (MENDES,
2006 APUD DIAS, 2017).
A integração desse sujeito em um novo âmbito familiar, implica na adaptação
dessa criança ou adolescente a uma realidade que não fazia parte de seu contexto.
Em uma pesquisa realizada por Rocha (2018), três crianças que participaram
revelaram que estavam com medo de que o processo não fosse concretizado ou que
ocorresse uma devolução. Dessa forma, é impossível negar que a adaptação a uma
nova família é marcada por um “choque natural” visto que se pressupõe que as
expectativas de ambos (adotado e adotando) se ajustem. Como o adotado necessita
se adaptar a uma série de princípios, rotinas, regras e hábitos, muitas vezes ela tem
de vivenciar o luto da idealização de uma família novelesca, a fim de que o real se
sobreponha ao ideal (HUEB, 2016). Dessa forma, os pais adotivos devem respeitar a
história de vida da criança ou adolescente adotado.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

De acordo os dados obtidos por meio da revisão da literatura, foi possível


concluir que o processo de separação da família de origem e a inserção de uma
criança ou adolescente em uma instituição de acolhimento, constitui a primeira ruptura
na vida desse sujeito, pois, apesar da institucionalização ser uma medida protetiva
que visa garantir a integralidade dos direitos dessas pessoas, o movimento de retirada
de um ambiente e colocação em outro não é esperado pela criança e adolescente.
Posteriormente a esse processo, a pessoa institucionalizada pode ainda passar por
outro luto, agora decorrente de seu encaminhamento para adoção, pois, a pessoa
saberá que perderá o convívio com sua família de origem e que os vínculos
construídos na instituição de acolhimento deixarão de existir. Para que esse sujeito
possa passar por essa transição da institucionalização para a adoção sem grandes
danos, é imprescindível que essas pessoas ressignifiquem sua relação com a família
biológica e com as pessoas que permanecerão na instituição de acolhimento, para
que ambas mantenham-se preservadas em sua psique, a fim de que essa pessoa
esteja verdadeiramente aberta para as novas possibilidades de sua vida.
237
REFERÊNCIAS

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vivência da criança nesta transição. Estilos da Clínica, v. 26, n. 1, p. 83-98, 2021.

SILVA, F. J. Costa; CARVALHO, M. E. P. O estado da arte das pesquisas


educacionais sobre gênero e educação infantil: uma introdução. 18º REDOR.
Tema: Perspectiva feminista de gênero: desafios no campo das militâncias e das
práticas. Universidade Federa Rural d Pernambuco, 2014.

SOARES, T. C. B. Preparação de crianças e adolescentes para adoção: estudo de


caso. Vínculo, v. 18, n. 3, p. 414-434, set-dez, 2021.

239
A ATUAÇÃO DO PSICOLOGO NO CRAS: SOB UM OLHAR DE UMA
PSICOLOGIA NÃO DISCIPLINAR E NORMATIVA

Rhuan Felipe Sales 1


Felipe Ferreira Pinto 2

Palavras-chave: SUAS; Assistência social; Psicologia Social; Foucault;


genealogia.

INTRODUÇÃO

Atuação das(os) psicólogas(os) no âmbito do Sistema Único de Assistência


Social (SUAS), mais precisamente no Centro de Referência da Assistência Social
(CRAS), será objeto de análise neste trabalho que propõe discussões e reflexões que
foram sendo construídas, sobretudo, na prática do estágio supervisionado em
Psicologia Social, bem como na revisão da literatura pertinente ao campo da
Assistência Social no Brasil. Considerando os fatores históricos, ideológicos, sociais
e culturais, bem como a as intervenções estatais no campo da proteção social, é
pertinente analisar o trabalho das equipes multidisciplinares composta por
trabalhadoras(es) do SUAS e, especialmente, as Psicólogas(os) inseridos na proteção
social básica, a fim de problematizar o alcance das ofertas da política de Assistência
Social no atendimento a famílias e indivíduos em situação de vulnerabilidade social.
(PINTO, 2019).
O CRAS é uma unidade pública da proteção social básica do SUAS, que tem
por objetivo o desenvolvimento de ações voltadas a famílias e indivíduos que
demandam proteção social e podem, neste sentido, acessar os serviços
socioassistenciais no seu território de abrangência (BRASIL, 2005). A proteção social
básica tem o objetivo de prevenir situações de vulnerabilidade e risco social por meio
do desenvolvimento de potencialidades e do fortalecimento de vínculos familiares e
comunitários, pois a abrange famílias que necessitam que condições básicas de

1Graduando em psicologia pelo Centro Universitário das Faculdades Integradas de Ourinhos- UNIFIO.
Email: [email protected]
2Graduado em Psicologia pela Universidade Estadual Paulista (UNESP) - Faculdade de Ciências e

Letras de Assis (Curso reconhecido pela Portaria CEE/GP n 436, de 08/08/2008, publicada no D. O. E.
de 09/08/2008) e Mestre em Psicologia e Sociedade pelo programa de Pós Graduação da Faculdade
de Ciências e Letras - UNESP Campus de Assis. Possui experiência como Psicólogo no SUAS atuando
na proteção social básica e especial, supervisão técnica, educação permanente e gestão. É professor
e coordenador do curso de Psicologia no Centro Universitário das Faculdades Integradas de Ourinhos
- UniFio e supervisor de estágio no campo da Assistência Social. Esteve como membro da Comissão
Gestora do Conselho Regional de Psicologia de São Paulo - Subsede de Assis e da Subsede de
Campinas - SP. Está como coordenador do Núcleo Sobre a Psicologia na Assistência Social do CRP/
06 - Subsede de Assis. Suas áreas de interesse são: Psicologia e Políticas Públicas, Assistência Social,
Psicologia Social e Psicanálise.
240
existência sejam garantidas, porém estão em condições de vulnerabilidade social
como dificuldades econômicas e vínculos familiares e comunitários rompidos
Diante disso, estamos interessados em discutir o modo como as intervenções
no contexto social brasileiro estão sendo construídas. Ou seja, somo levados a crer
que a possibilidade de analisar o contexto de uma política pública como a Assistência
social nos levam a construção de questionamentos acerca das condições que
produzem a desigualdade social no nosso país. Para tanto, buscamos analisar os
discursos de saber- poder que eventualmente aparecem na prática de Psicólogas(os)
nos serviços da assistência social, promovendo, neste sentido, debates que possam
contribuir para o desafio de construir uma atuação profissional que compreenda os
desafios em relação a inclusão e exclusão dos indivíduos e das famílias que
demandam proteção social por parte do Estado.
Para analisar as práticas discursivas o trabalho utiliza o método genealógico de
Foucault para debater sobre o tema proposto. A Genealogia é um método de
investigação de Foucault, a genealogia investiga os indícios nos fatos que não são
considerados, são desvalorizados e muitas vezes encobertos ou apagados da história
linear e tradicional. Foucault usa a genealogia para saber como os saberes se formam
em determinado momento histórico, qual é a origem desses saberes e dos discursos
de saber. Do ponto de vista da genealogia, as práticas de poder compõem as práticas
discursivas, sendo assim são geradoras de saberes (FOUCAULT, 1987).

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

A revisão bibliográfica apresentada neste trabalho é ampla, ela consiste em


analisar o Sistema Único de Assistência Social (SUAS) no Brasil, uma política pública
que visa ampliar o acesso aos direitos sociais através de programas e benefícios
(Caderno SUAS, 2013). No entanto, há debates sobre a efetividade do trabalho
oferecido e o papel dos trabalhadores envolvidos (PINTO, 2019). A assistência social
tem raízes históricas ligadas à caridade e filantropia, evoluindo para uma ferramenta
de controle social e dominação das classes subalternas (DANZELÔT, 1980). Autores
como Foucault discutem o poder disciplinar e o biopoder presentes nas instituições
sociais, influenciando a atuação dos psicólogos no SUAS (FOUCAULT, 1975; 1976).
Essa trama de relações de poder pauta ações e intervenções no SUAS, incluindo as
práticas dos psicólogos (BENELLI, COSTA-ROSA, 2012).

MATERIAIS E MÉTODOS

Desenvolvo uma pesquisa qualitativa, bibliográfica, utilizando como


principal norteador a Genealogia de Foucault. Essa abordagem será de grande
contribuição para analisar as práticas discursivas que instituem os serviços da
assistência social, assim como problematizar as formas de atuação do
psicólogo inseridos no CRAS.
Além disso, busco pesquisar outros autores relevantes para o tema,
ampliando o embasamento teórico da pesquisa. Para isso, utilizo fontes como
o portal SciELO (Scientific Electronic Library Online), Google Acadêmico e
livros físicos.
241
Essa abordagem metodológica permitirá uma análise aprofundada e
crítica sobre a atuação do SUAS e do psicólogo no CRAS, considerando a
construção histórica das práticas.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A pesquisa aborda e discute a atuação do psicólogo no CRAS e o trabalho


ofertado pelo SUAS, considerando fatores históricos, sociais, ideológicos e
culturais questionando a quem esse trabalho é direcionado, apontando que os
serviços do SUAS atendem majoritariamente pessoas excluídas socialmente,
especialmente as famílias de baixa renda, mães solteiras e indivíduos pretos e
pobres que são vítimas da desigualdade social.
O Método genealógico de Michel Foucault é usado para analisar a
dinâmica de poder e controle presentes na assistência social e de como os
discursos de saber e poder foram construídos e estabelecidos podem
influenciar nas práticas e nos serviços ofertados pelo psicólogo no CRAS.
Sendo assim o artigo resgata a história do assistencialismo no Brasil,
mostrando como ele evoluiu ao longo do tempo e como a filantropia e o controle
da pobreza têm sido aspectos fundamentais nessa política social.
A criminalização da pobreza também é discutida, destacando como
certos grupos são estigmatizados e excluídos com base em critérios sociais e
raciais. Para uma análise mais ampla, é utilizado o conceito de biopoder,
mostrando como o poder se exerce sobre a vida dos indivíduos, focando em
questões como a gestão da saúde e o controle das populações, e enfatizando
assim as contradições dos serviços ofertados.
Entendemos, portanto, que o Sistema Único de Assistência Social
(SUAS) pode estar contribuindo, em certas situações, para a continuação de
diversas formas de violência que fazem parte da nossa estrutura social,
reforçando, entre outros aspectos, a persistência do preconceito estrutural
relacionado a gênero, raça, origem étnica e classe social. Portanto É
fundamental desenvolver intervenções que promovam encontros, dialoguem
com o contexto social, promovendo a discussão e atuação do psicólogas (o) no
CRAS.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho analisa a atuação das(os) psicólogas(os) no SUAS, com


foco no CRAS, considerando fatores históricos e discursos de saber -poder. A
pesquisa aborda a Assistência Social no Brasil, apontando desigualdades
sociais e a criminalização da pobreza. Utilizando o método genealógico de
Foucault, busca-se compreender as práticas discursivas que influenciam a
política de assistência social. O objetivo é promover debates para uma atuação
profissional mais inclusiva e consciente dos desafios na proteção social dos
indivíduos e famílias vulneráveis.

242
REFERÊNCIAS

BRASIL. CapacitaSUAS Caderno 1 - Assistência Social: Política de Direitos à


Seguridade Social. Brasília: MDS, 2013

BRASIL. Orientações Técnicas Centro de Referencias de Assistência Social –


CRAS. Brasília: MDS, 2009

CARDOSO JR, Hélio Rebello. Foucault em voo rasante Sociologia & Educação:
Leituras e interpretações 1. Campinas Avercamp: Impresso, 2006

Cruz, Lilian R., & Guareschi, Neuza M. F. (2013). A construção da assistência


social como política pública: interrogações à psicologia. In Lilian R. Cruz & Neuza
Guareschi (Orgs.), Políticas públicas e assistência social: diálogo com as práticas
psicológicas (4a ed.) (pp. 13-40). Petrópolis, RJ: Vozes.

DANZELOT, Jaques. A Policia das Famílias. 9. Ed. Paris : Editions

FOUCAULT, M. Vigiar e Punir, Petrópolis Vozes, 2003.

FOUCAULT, Michel. Microfísica do poder. Organizaçao e tradução de Roberto


Machado. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1979.

Neoliberarismo Como Gestão de Sofrimento Psíquico. 1°. ed. Belo Horizonte:


Autêntica, 2021. cap. 1, p. 14 a 44.

O Sofrimento ético-político como categoria de análise da dialética exclusão/inclusão.


In: SAWAIA, Bader. As Artimanhas da Exclusão: Análise psicossocial e ética da
desigualdade social. 2° . ed. Petrópolis: Editora Vozes, 2001. cap. 6, p. 97 a 118.
ISBN 85.326.2261-5.

PINTO.Felipe. Narrativas sobre a práxis na assistência social: Uma análise


sobre a proteção social e processo de gestão de trabalho.Dr Silvio Yasui. 2019.
93 f. Dissertação (Mestrado) – Psicologia Área de conhecimento: Psicologia e
Sociedade, Universidade Estadual Paulista (UNESP), Faculdade de Ciências e
Letras, Assis 2019

SARAIVA, Luis. A familiarização da assistência social: promoção de direitos e


gestão da vida no encontro entre vulnerabilidades, (des)proteção e periculosidade.
Belinda Piltcher Haber Mandelbaum. 2016. 210 f. Tese (Doutorado em Psicologia) -
Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo.

243
A AUTOESTIMA FEMININA EM VIRTUDE DOS PADRÕES IMPOSTOS PELA
SOCIEDADE E PELA MÍDIA

Julia Altvater Vilas Boas 1


Rita Ferreira Da Silva 2

Palavras-chave: Autoestima; Sociedade; Padrões de beleza; Saúde; Beleza;


Psicologia.

INTRODUÇÃO

Com o aumento das mídias, tecnologias, e meios de comunicação em geral na


atualidade, aumentou-se ainda mais o padrão de beleza imposto. Padrão este que
segue o modelo de mulher branca, magra, loira, de cabelos lisos e olhos claros, que
se permeia na sociedade e na mídia, ditando para as mulheres que as mesmas só
possuem a beleza se forem assim. Logo, as mulheres que fogem deste dito padrão,
não são comumente representadas na mídia, e tampouco aclamadas como belas.
Segundo Machado (2022, p.21):

O crescimento da publicidade, a grande circulação das revistas femininas e o


surgimento das mídias e rádios e, mais tarde, da TV fazem com que cada dia
mais as mulheres sejam bombardeadas com propagandas cheias de imagem
com o corpo perfeito.

Posta a citação acima, possível analisar que, com o crescimento das


tecnologias atuais, as mulheres ficam cada vez mais vulneráveis ao padrão de beleza
posto. Com isso, a presente pesquisa visa estabelecer como o padrão de beleza
imposto tanto pela mídia- televisão, internet, novelas, séries, filmes e redes sociais-,
quanto pela sociedade, influenciam na autoestima das mulheres e as possíveis
consequências produzidas pela busca deste padrão.
Os objetivos desta investigação acadêmica se pautam em verificar o quanto o
padrão imposto interfere na autoestima da mulher, também em como as tecnologias
contribuem para este padrão se reverberar cada vez mais. Ademais, verificar que
padrão de beleza é esse imposto e as suas características. Portanto, a importância
da pesquisa se justifica pelo padrão de beleza estar cada vez mais assíduo por conta
das mídias atuais, e consequentemente, a baixa autoestima da mulher e os problemas
psicológicos que ela pode ter referente a isso, bem como a importância de entender
que padrão é este, e onde ele se faz presente.

1 Graduanda do Curso de Psicologia do Centro Universitário de Ourinhos. E-mail:


[email protected]
2 Mestrado em Psicologia pela Universidade Ibirapuera, Brasil (2022)
Docente do Centro Universitário das Faculdades Integradas de Ourinhos, Brasil. E-mail:
[email protected]
244
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Atualmente, para uma mulher ser considerada bela, essa tem que ser
extremamente magra e prover de outras características específicas. E não é de hoje
que existem padrões de beleza julgando as mulheres, todavia, nos dias de hoje isso
tem se perdurado mais e mais, fato que se justifica pelo crescimento das tecnologias
em massa, e cirurgias plásticas. Conforme destaca Amaral e Ribeiro (2020, p.6) “a
mídia apresenta um discurso de culto à beleza divulgando padrões estéticos femininos
a serem seguidos”. Posto isso, torna-se possível relatar que o avanço das tecnologias,
as redes sociais, bem como as redes televisivas impõem este padrão de beleza por
meio de mulheres fenotipicamente brancas e magras.
Além das tecnologias, com o passar do tempo, surgiram os avanços das
cirurgias estéticas. Segundo Wolf (2022, p.28) “novas tecnologias de cirurgias
estéticas invasivas e fatais, foram desenvolvidas ao longo do tempo, com o objetivo
de exercer sobre as mulheres formas de controle médico”. Dessa forma, analisamos
que, as cirurgias de risco só aumentaram e cresceram, principalmente, com a chegada
dos anos 2000.
O padrão de beleza comentado segue o de mulheres brancas, magras, corpos
esbeltos, cabelos lisos, rosto afinado, e olhos claros. Posto isso, de acordo com
Cardoso (2018, p.2):

Também temos um modelo clássico de padrão de beleza que se sintetiza


desde a infância das meninas que é a boneca Barbie ou as princesas da
Disney, como por exemplo, Cinderela que é loira, magra dos olhos claros;
Branca de neve, que tem sua pele extremamente branca e representa
magreza; Rapunzel, de cabelos loiros e longos, que também é magra.

Posta a citação acima, analisamos que, o padrão citado é o único considerado


belo e passível de admiração e isso é posto desde a infância da menina, com as
personagens citadas acima, por exemplo. Conforme Pimenta (2009, p.29) “as
princesas da Disney são vistas como referências de beleza pelas crianças, e essas
são: altas, magras, de pele e olhos claros, cabelos sedosos, nariz afinado e mãos
delicadas, e ensinam o que é a beleza para suas telespectadoras”.
Assim sendo, como a autora descreve, as princesas da Disney vem como
referência de beleza para o público feminino, colocando desde a infância que a beleza
segue aquela posta, de mulheres brancas e magras, com isso, a menina começa a ter
a ideia de que, para ser bonita precisa ter as características citadas, pois, essas
princesas da Disney são consideradas belas. Sendo assim, as mulheres que não
estão neste padrão branco e magro, se sentem insuficientes, feias e com a autoestima
baixa. Este padrão, além de permear assiduamente na mídia, e principalmente, na
atualidade, é determinado na sociedade, e traz a muitas mulheres sentimentos de
inferioridade, baixa autoestima e frustração.

245
MATERIAIS E MÉTODOS

A presente investigação acadêmica se caracteriza como uma pesquisa


qualitativa, pois, tenta compreender as significações de um determinado contexto, ao
invés de apenas mensurar informações (MIANOYO, 2001). Com isso, na presente
pesquisa, será discutido sobre os estudos realizados em livros e artigos. Portanto,
essa pesquisa será pautada em obras literárias que dissertam sobre a autoestima,
sobre o crescimento de indústrias de beleza, cirurgias plásticas, e no tanto que o
padrão de beleza se faz presente atualmente. Também serão utilizadas obras que
comentem sobre o exibicionismo da figura humana e crescimento disso nos últimos
tempos. A pesquisa será construída a partir das palavras chaves: Autoestima;
Sociedade; Padrões de beleza; Saúde; Beleza; Psicologia. Portanto, para realizar o
projeto de pesquisa utilizaremos três livros: Introdução ao narcisismo de Sigmund
Freud (1914-1916), Sociedade do Espetáculo de Joel Birman (1999-2016), e O mito
da Beleza de Naomi Wolf (2022), também serão utilizados artigos científicos.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A partir das pesquisas feitas, e das revisões bibliográficas realizadas,


analisamos que, a imposição do padrão de beleza sempre existiu na sociedade,
porém, na atualidade isso aumentou, pois, nos dias de hoje é comum o uso de redes
sociais, bem como de outras tecnologias, onde os padrões de beleza são colocados
diariamente. Ademais, também se analisou através de pesquisas em artigos
científicos que, o padrão de beleza é imposto desde a infância da menina, por
princesas da Disney e pela boneca Barbie, que seguem também o padrão da mulher
branca e magra. Assim, desde pequena a menina vai internalizando que este é o único
padrão passível de ser considerado belo. Portanto, nos resultados encontrados em
pesquisas e análises feitas a partir destas, observamos que, este padrão de beleza
esteve sempre presente na sociedade e que atualmente se faz mais presente por
conta das tecnologias.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Considerando os expostos nessa indagação acadêmica podemos relatar que,


com essa investigação percebemos que o padrão de beleza segue o ideal de mulheres
brancas e magras. Também que, tal padrão de beleza é imposto pelas princesas da
Disney e a boneca Barbie desde a infância da menina. Ainda foi possível averiguar
durante a investigação bibliográfica desta pesquisa que as redes sociais e televisivas
estão contribuindo para a imposição de um padrão de beleza único, dando foco a
mulheres magras. No que confere a possibilidades de pesquisas futuras sobre o tema
proposto, é valido ainda, realizar investigações que se refiram a cirurgias plásticas
realizadas com o intuito de alcançar este o padrão imposto – o da magreza e
branquitude -, e seus possíveis danos físicos, psicológicos e emocionais as mulheres
cisgênero, em doenças ocasionadas por conta da busca incessante pelo padrão de
beleza, como por exemplo, transtornos alimentares e em como a Psicologia pode
contribuir com a baixa autoestima e frustração nas mulheres acarretadas pelo padrão
246
de beleza, pois, tal padrão causa em muitas mulheres diversos problemas
psicológicos e físicos.

REFERÊNCIAS

AMARAL, Marina Grillo Pereira; RIBEIRO, Marislei. Imprensa feminina e


representação da mulher: uma análise de conteúdo das capas da revista Vogue
Brasil. Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação- Virtural, 43, 2020,
Pelotas- RS. Anais [...] Editora Globo: Pelotas, 2020. p. 1-15. Disponível em:
https://www.portalintercom.org.br/anais/nacional2020/resumos/R15-2507-1.pdf.
Acesso em: 09/05/2023.

CARDOSO, Jennifer. Implicações do Padrão Barbie: sentidos que meninas


adolescentes atribuem aos padrões de estética e idealização do corpo. 2018.
28 f. TCC (Graduação) - Curso de Psicologia, Universidade do Sul de Santa
Catarina, Santa Catarina- SC, 2018. Disponível em:
https://repositorio.animaeducacao.com.br/bitstream/ANIMA/10218/1/TCC%20JENNI
FER%20CARDOSO.pdf. Acesso em: 13/02/2023.

MACHADO, Ana Carolina. Magreza compulsória: a construção do padrão de


beleza e a aversão ao corpo gordo. 2022. 30 f. TCC (Graduação) - Curso de
História, Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria- RS, 2022. Disponível
em: https://repositorio.ufsm.br/handle/1/27517. Acesso em: 12/02/2023.

MIANOYO, Maria Cecília de Souza. Pesquisa Social: Teoria, Método e


Criatividade (18ª ed.). Petrópolis. Vozes, 2001.

PIMENTA, Kareen Arnhold. Estereótipo de princesas: a representação feminina


nos desenhos animados clássicos da Disney. TCC (Graduação) – Curso de
Comunicação-Habilitação em Jornalismo - Escola de Comunicação, Universidade
Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro- RJ, 2009. Disponível em:
https://pantheon.ufrj.br/bitstream/11422/2133/1/KPimenta.pdf. Acesso em:
03/03/2023.

WOLF, Naomi. O mito da beleza: como as imagens de beleza são usadas contra as
mulheres/ Naomi Wolf; tradução Waldéa Barcellos. - 19. ed. - Rio de Janeiro: Rosa
dos Tempos, 2022.

247
A CONTRIBUIÇÃO DA PSICOLOGIA NA CONSTRUÇÃO DE SENTIDO DO
TRABALHO PARA OS OPERÁRIOS DA CONSTRUÇÃO CIVIL NO BRASIL

Ana Paula de Souza 1


Rita Ferreira da Silva 2

Palavras-chave: Trabalho; Psicologia; Construção civil; Bem-estar;


Significado.

INTRODUÇÃO

A construção civil é um setor fundamental para o desenvolvimento do


Brasil, gerando milhões de empregos diretos e indiretos. No entanto, as
condições de trabalho apresentam desafios significativos, afetando a qualidade
de vida dos trabalhadores (Cardeles, 2014). A psicologia do trabalho pode
contribuir para melhorar a situação dos operários da construção civil, buscando
promover o sentido do trabalho e o desenvolvimento socioemocional, visando
aumentar a satisfação no ambiente laboral. Os trabalhadores tamb ém
enfrentam questões mais amplas como a desigualdade social e a precarização
do trabalho, afetando a saúde mental (Borges; Peixoto, 2011). A atuação da
psicologia pode oferecer soluções eficazes para esses desafios, promovendo o
bem-estar e a qualidade de vida.
A presente pesquisa se justifica, pela importância de buscar medidas
efetivas para os desafios enfrentados pelos trabalhadores da construção civil,
contribuindo para o desenvolvimento sustentável e para uma sociedade mais
justa e equitativa. A metodologia escolhida foi a pesquisa bibliográfica
descritiva, que busca analisar e descrever o estado atual do conhecimento
sobre o tema.

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

O trabalho é uma atividade humana fundamental que tem impacto direto


na vida das pessoas e na organização da sociedade. A Declaração Universal
dos Direitos Humanos (1948) reconhece o direito ao trabalho, a condições
equitativas e satisfatórias, à proteção contra o desemprego e à organização
sindical. O sociólogo Antunes (1999), destaca que o trabalho evoluiu ao longo
do tempo, com o advento do capitalismo e a industrialização, levando a
mudanças nas relações entre capital e trabalho. O trabalho passou a ser

1Aluna do 10º termo do Curso de Psicologia do Centro Universitário das Faculdades Integradas
de Ourinhos/SP. E-mail: [email protected].
2 Prof. Ms. do Curso de Psicologia do Centro Universitário das Faculdades Integradas de

Ourinhos/SP. E-mail: [email protected].


248
organizado para maximizar a produção e o lucro, muitas vezes resultando em
exploração e precarização.
Em circunstâncias adversas ou quando o trabalhador se sente
desconectado do propósito intrínseco da tarefa, o trabalho pode gerar angústia
e afastamento, levando à alienação (Albornoz, 2004). O trabalho dos operários
exemplifica os impactos da precarização e da informalidade no mundo do
trabalho contemporâneo, conforme discutido por Antunes (1999). Em
concordância, os autores Jorge (2019) e Cardeles (2014), relatam que os
trabalhadores enfrentam longas jornadas, falta de reconhecimento e condições
dignas de trabalho. A divisão do trabalho no setor também é comparável ao
conceito marxista, levando à desumanização do trabalhador.
O Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos
destaca que a construção civil no Brasil apresenta alta informalidade nos
vínculos de trabalho. A maioria dos trabalhadores são homens, com faixas
etárias entre 30 e 49 anos. Os autores Borges e Peixoto (2011) mostram que os
trabalhadores da construção civil, enfrentam discriminação social devido a
fatores como cor da pele, baixo nível socioeconômico e educação, além de
começarem a trabalhar cedo devido à desigualdade social. A terceirização
intensiva no setor contribui para a essa precarização do trabalho e para a
vulnerabilidade dos trabalhadores. Contudo, a partir dos apontamentos de
Heloani e Capitão (2003) e Lacman e Ghirardi (2011) observou-se que muitos
trabalhadores enfrentam rotatividade, desemprego e frustração, mas continuam
buscando inserção social pelo trabalho, uma vez que este assume um papel
central na constituição da identidade individual das pessoas.
Dado que o trabalho influencia a subjetividade, podemos observar como o
ambiente pode tanto elevar quanto prejudicar o indivíduo. Para prevenir a
degradação da subjetividade, é essencial um ambiente saudável que permita
expressar capacidades criativas e alcançar o potencial pleno. Encontrar
significado no trabalho é um desafio contemporâneo, mas pode ser a lcançado
ao vincular atividades a valores profundos e propósitos maiores. A valorização
da diversidade e o estímulo à autenticidade são essenciais para uma identidade
coletiva saudável no ambiente profissional (Nascimento; Muniz, 2017).

MATERIAIS E MÉTODOS

Este trabalho se baseou em uma pesquisa descritiva, que, segundo


Nunes et al. (2016) “visa à identificação, registro e análise das características,
fatores ou variáveis que se relacionam com o fenômeno ou processo”.
Utilizamos fontes como leis, artigos, revistas científicas e livros com o objetivo
de conduzir uma investigação de natureza descritiva e interpretativa, com
ênfase na compreensão do ambiente de trabalho na área da construção civil.
Buscamos, ao longo deste estudo, analisar minuciosamente as
dificuldades e os desafios enfrentados pelos profissionais desse ramo
específico. Durante essa etapa, estabelecemos relações entre as variáveis
investigadas, enriquecendo as análises e interpretações. A pesquisa descritiva,
adotada neste trabalho, permitiu realizar um estudo imparcial e objetivo dos
249
fatos relacionados ao tema, assegurando a qualidade e confiabilidade dos
resultados obtidos, sem interferência do pesquisador.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O texto aborda a importância do trabalho na vida das pessoas e os


desafios enfrentados, com foco na construção civil. A precarização das
condições de trabalho nesse setor é evidente, com alta informalidade,
terceirização intensiva, falta de reconhecimento e condições dignas de
trabalho, a construção civil é um exemplo onde a desigualdade é ainda mais
evidente. Os trabalhadores informais são particularmente vulneráveis,
enfrentando discriminação e dificuldades para acessar benefícios sociais e
oportunidades profissionais. Isso resulta em sofrimento e problemas de saúde
mental e física para os trabalhadores (Cardeles, 2014).
Observamos a influência do ambiente de trabalho na transformação da
subjetividade, identificando a importância de um ambiente suficientemente bom
para preservar a saúde mental e a qualidade de vida. O trabalho é visto como
uma experiência transformadora, capaz de enaltecer ou diminuir a subjetividade
do trabalhador. Para evitar a degradação da subjetividade, é essencial que o
ambiente laboral seja propício e saudável (Nascimento; Muniz, 2017).
O apoio emocional, um ambiente adequado e o estímulo à criatividade são
elementos essenciais para o desenvolvimento autônomo e a realização pessoal no
trabalho. Através de um ambiente que valoriza a integridade emocional e
promove o desenvolvimento de habilidades criativas, os trabalhadores são
encorajados a se expressar e encontrar significado em suas atividades laborais.
(Nascimento; Muniz, 2017).
No entanto, destacamos a possibilidade de encontrar significado no
trabalho ao vincular as atividades a valores mais profundos e propósitos
maiores, além do aspecto financeiro. A valorização da diversidade e promoção
de um ambiente de trabalho saudável e inclusivo são fatores que podem
aumentar a satisfação e a percepção de significado nas atividades diárias.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Trabalhadores informais enfrentam discriminação e dificuldades para


acessar direitos trabalhistas e previdenciários, com isso, evidencia -se que a
terceirização intensiva contribui para a vulnerabilidade e a rotatividade de
empregos, afetando negativamente a saúde física e mental. A desigualdade
social, marcada pelos baixos níveis de escolaridade e instabilidade econômica
dificultam o acesso a benefícios sociais e oportunidades de crescimento
profissional (Borges; Peixoto, 2011).
Além disso, os operários estão expostos a um ambiente estressante e
desgastante, o que pode levar a problemas de saúde mental, como ansiedade
e depressão. Para enfrentar essa realidade, são necessárias soluções que
garantam condições adequadas e respeito aos direitos dos profissionais do
setor. A valorização da mão de obra qualificada, o investimento em educação
250
e capacitação, bem como a implementação de políticas públicas que combatam
a desigualdade social.
A construção civil é apenas um exemplo, mas a precarização do trabalho
é uma questão que afeta diversos setores e países. É preciso um esforço
conjunto e contínuo para promover um ambiente de trabalho mais digno, que
respeite os direitos dos trabalhadores e proporcione oportunidades de
desenvolvimento econômico e social. Somente dessa forma, o trabalho poderá
cumprir seu papel intrínseco de proporcionar uma vida satisfatória e contribuir
para a construção de uma sociedade mais justa e inclusiva (Nascimento; Muniz,
2017).

REFERÊNCIAS

ALBORNOZ, Suzana. O Que É Trabalho. Editora Brasiliense, 6° ed, São Paulo,


2004.

ANTUNES, R. Os Sentidos Do Trabalho: Ensaio Sobre A Afirmação E A


Negação Do Trabalho. Boitempo. Coleção Mundo Do Trabalho, 3ª ed, 1999.

BORGES, L.; PEIXOTO, T. Ser Operário da Construção Civil é Viver a


Discriminação Social. Associação Brasileira de Psicologia Organizacional e do
Trabalho Revista Psicologia Organizações e Trabalho, v. 11, n. 1, Florianópolis,
2011.

CARDELES, V. A Organização do Trabalho na Indústria da Construção Como


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de Janeiro, 2014.

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251
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Correlatas. Secretaria De Editoração e Publicações. Coordenação De Edições
Técnicas. 4°ed, p. 22, 2013.

252
A PSICOLOGIA A SERVIÇO DE POLÍTICAS PÚBLICAS: UM NOVO SABER-
FAZER PSICOLÓGICO COMO CONSEQUÊNCIA DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL
DE 1988

Maria Carolina Vian da Rosa1


Mayara Aparecida Bonora Freire2

Palavras-chave: Psicologia; Políticas Públicas; Constituição Federal; atuação;


compromisso social.

INTRODUÇÃO

Percorrendo o contexto histórico de regulamentação da Psicologia perante a


realidade brasileira, faz-se necessária a compreensão dos atravessamentos do século
XX, permeado, em sua maior parte, pela obscuridade de modelos ditatoriais. Nesse
sentido, a Psicologia se desenvolve no Brasil em um cenário de suspensão de direitos
fundamentais, incluídas as liberdades de organização e de expressão (Yamamoto e
Oliveira, 2010).
Foi na construção deste processo que se tornou possível, a partir de um olhar
crítico, a confirmação de que a Psicologia se instala no Brasil em um contexto de
normalização de subjetividades. Pereira e Neto (2003) destacam que, neste contexto,
começam a ser elaborados anteprojetos para a regulamentação da Psicologia. Com
isso, a promulgação da Lei nº 4.119, do dia 27 de agosto de 1962, sobressai o
resultado de importantes lutas e organizações provenientes do contexto histórico.
Todavia, o regime autocrático burguês, também chamado de ditadura civil-
militar, instaurado no Brasil no ano de 1964, passa a ser peça chave para os seguintes
passos da Psicologia no contexto brasileiro. Este cenário teve influência direta sobre
a Psicologia, que se liga a uma atuação corporativista na década de 1970, na qual a
ênfase era o campo profissional, e não no campo político, denotando uma ausência
crítica para com a violência, a repressão e a perda de direitos humanos (Silva, 2017).
É apenas em parte dos anos 1970 e 1980, que a ideologia dominante passa a
ser questionada pelos profissionais da Psicologia, isto, pois, com o enfraquecimento
da ditadura militar e com sinais do esgotamento do modelo econômico, Spink (2010)
argumenta o início da organização de movimentos sociais configuraram um “clima”
por maior democratização das várias esferas da sociedade.
A partir deste movimento histórico, que culminou na redemocratização do país,
Oliveira e Costa (2018) discutem tal fator como um divisor de águas no tocante a
garantia de direitos no Brasil, afirmando que a Carta Constituinte apresenta as bases

1 Graduanda do 10° termo de Psicologia pelo Centro Universitário das Faculdades Integradas de
Ourinhos, [email protected].
2 Docente na UniFio. Psicóloga graduada pela Unesp, mestra e doutoranda pela mesma universidade,

[email protected].
253
de uma nova Seguridade Social composta pela Saúde, Assistência Social e
Previdência Social. Portanto, este entremeio transforma-se em um importante
contexto responsável pela criação de “uma estrutura que absorveu sistematicamente
psicólogos em seus quadros” (Oliveira e Costa, p. 34, 2018). Oliveira e Amorim (2012),
ainda reiteram que o contexto cria discussões capitaneadas pelo Conselho Federal
de Psicologia (CFP), que, sob o discurso do compromisso social, convoca a profissão
a repensar suas práticas.
A inserção do profissional de psicologia e da Psicologia propriamente dita, em
um cenário recém-inaugurado de políticas públicas advindas da Constituição Federal
de 1988, promove, até hoje, intensas discussões. Isto, pois, embora a atuação do
psicólogo deva ter como enfoque a potencialização dos sujeitos (Gesser, 2013), é
necessário que se permita um ponderamento sobre a denominação de “ajuste
neoliberal e desajuste social” (Yamamoto e Oliveira, 2010), ou seja, um avanço
neoliberal em vista de um panorama permeado pelas sequelas de problemas políticos,
sociais e econômicos postos pela emergência da classe operária.
Destarte, o objetivo presente pauta-se em expor as pegadas históricas da
Psicologia no Brasil como parte de um movimento crítico e dialético, buscando,
justamente, compreender a quem o saber psicológico respondia inicialmente, para
então demonstrar um novo compromisso e identidade da Psicologia resultante da
inserção desta em políticas públicas criadas no contexto de redemocratização do país,
destacando uma nova atuação. Todavia, a análise das demandas do trabalho do
profissional da Psicologia em espaços públicos permanece como objetivo essencial
para que se possa dar luz a importantes embates políticos que atravessam a
sociedade atual.

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

A problemática torna-se um objeto de análise compatível aos estudos de Bock


(1999), que traz à tona os princípios de uma profissão elencada em um compromisso
social, ético e político. Ainda nesse sentido, Hur (2012) constitui-se, também, com
grande aparato de referências em relação às transformações sociais vividas do
período ditatorial (1964), até a redemocratização do país (1988), ligando tal conteúdo
às importantes consequências na atuação profissional.
Sob um olhar crítico, coloca-se em destaque os estudos de Yamamoto e
Oliveira (2010), que discutem a respeito de uma agenda neoliberal iniciada nos anos
1990, mesmo em meio a um novo sistema de proteção social. O estudo destes autores
ainda permeia o âmbito de políticas públicas, o que os coloca em consonância com
os trabalhos de Oliveira e Amorim (2012), Lajús (2010) e Senra e Guzzo (2012). Como
importante guia e referência para qualificação profissional, o CREPOP verifica-se
como essencial devido a temática discutida.
Por fim, a ênfase sobre as demais dificuldades permeadas na realidade de
diferentes políticas públicas das quais os profissionais da Psicologia estão inseridos,
permanecem sobre as reflexões de estudiosos como Safatle; Júnior; Dunker (2020),
Mello (2023) e Soares (2000).

254
MATERIAIS E MÉTODOS

Diante dos objetivos do resumo, fora realizado um levantamento bibliográfico,


que, assim como afirma Lozada e Nunes (2019), consiste na busca de informações,
em fontes bibliográficas, que se relacionem ao problema de pesquisa e o
fundamentem. A pesquisa também conta com um caráter qualitativo, pois, “preocupa-
se com aspectos da realidade que não podem ser quantificados, centrando-se na
compreensão e explicação da dinâmica das relações sociais” (Gerhart e Silveira,
2009, p. 34).
Dessa forma, para alcançar tais objetivos, o resumo utiliza bases de dados que
possibilitem o auxílio das pesquisas, tais como Google Acadêmico, SciELO,
Periódicos CAPES e revistas, valendo-se de trabalhos acadêmicos, artigos e livros da
área. O estudo é fundamentado, também, em autores e psicólogos que atuam na área
de políticas públicas, visando um corpus com base sócio-histórica.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Diante do estudo realizado, fora possível compreender que a Carta Magna


tornou-se grande conquista da sociedade brasileira, já que nela estão previstos, no
artigo 6º, a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a
segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, e a assistência
aos desamparados (Bühring, 2015). Entretanto, este processo que trouxe como
consequência a consagração dos direitos sociais como direitos fundamentais (Sarlet,
1988), apresenta contradições inerentes à pressão neoliberal de redução do aparelho
estatal e dos benefícios sociais (Spink e Matta, 2007).
Tal factual pode ser observado com na atuação da Psicologia em diferentes
Políticas Públicas, isso, pois, mesmo com a politização da profissão, em meados dos
anos 1970, o desmonte destas mesmas políticas ainda é resultado do neoliberalismo
que produz um incessante montar e desmontar, uma vez que respondem a demandas
e dizem respeito a processos que não se estabilizam (Marques et al, 2019).
Diante disso, o movimento por uma profissão mais ética necessita manter-se
obstinado perante um cenário de esvaziamento de conceitos norteadores das
diferentes políticas (Marques et al, 2019). Soares (2000) comenta que o desmonte
surge no início da década de 90, sob o argumento de que a Constituição Cidadã de
1988 seria o principal empecilho ao processo de "modernização" e "abertura" do país.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Conclui-se, portanto, que é necessária uma reflexão referente ao factual de que


políticas públicas ainda são criadas por sujeitos em condições institucionalizadas, ou
seja, por aqueles que se encontram em uma rede discursiva dominada pela ordem do
biopoder, o que obriga uma maior reflexão para não se cair em um projeto da
modernidade que gere a vida calculadamente. Diante desta afirmação, e dos cenários
que se vinculam à história da Psicologia no Brasil, sendo eles: uma profissão,
inicialmente, voltada para o silenciamento de subjetividades, e uma agenda neoliberal
255
condizente com uma estruturação estatal e social; a profissão aqui referida necessita
de uma evolução inerente a um compromisso pela vida em pleno direito de existência
Em vista disso, a Psicologia deve se ramificar, adaptando referenciais teóricos, e
direcionando entidades de representação em busca da problematização dos campos
e da construção de parâmetros que guiem o trabalho dos psicólogos de forma
transformadora e não mais adaptativa (Yamamoto e Oliveira, 2010).

REFERÊNCIAS

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256
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257
A PSICOLOGIA FRENTE ÀS VÍTIMAS DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA: UM
PROBLEMA DE SAÚDE PÚBLICA

Talita Leite Izidio1


Júlia dos Santos Pereira2
Damaris Bezerra de Lima3

Palavras-chave: Violência Doméstica Contra a Mulher; Psicologia; Saúde Pública;


Direitos Humanos; Feminicídio.

INTRODUÇÃO

A presente proposta de trabalho traz como temática a atuação do psicólogo no


trabalho com mulheres que sofrem com a prática de violência doméstica. A violência
doméstica contra a mulher (VDCM) desde o início da civilização até os dias de hoje,
demonstra que é um problema social e com uma estrutura enraizada no machismo e
para se combater, são necessárias uma série de ações interdisciplinares.
De acordo com o Art. 5º Lei nº 11.340/06, conhecida como a Lei Maria da
Penha, a violência doméstica e familiar contra a mulher é definida como “qualquer
ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico,
sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial” (BRASIL, 2006). Essa lei é um dos
maiores progressos do sistema legislativo do Brasil, considerada uma das leis mais
evoluídas em relação à proteção da mulher.
A violência doméstica sofrida pelas mulheres desde o início da civilização até
os dias de hoje, manifesta um problema social com estruturada no machismo. Em uma
situação de violência, toda a dinâmica familiar se altera e em alguns casos os filhos e
demais membros da família precisam de acompanhamento psicoterápico e a
articulação da rede para que o sofrimento seja tratado e ressignificado.
O psicólogo, independente da área em que esteja atuando, é um dos
profissionais que contribui para a promoção dos Direitos Humanos, quando se trata
da atuação deste profissional na realidade das mulheres em situação de violência
conjugal, a relação com as políticas públicas é quase que obrigatória, constituindo um

1 Graduanda em Psicologia Bacharel, Centro Universitário de Ourinhos UniFio,


[email protected]
2 Graduanda em Psicologia Bacharel, Centro Universitário de Ourinhos UniFio,
[email protected] .
3 Possui graduação em PSICOLOGIA pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho -

UNESP (2004); Especialização em Psicopedagogia (2006); Saúde Pública com Ênfase em Saúde da
Família (2010); Neuropsicologia (2011); e Especialização em Ativação de Processos de Mudança na
Formação Superior de Profissionais de Saúde (2014). Mestrado em Psicologia UNESP – Assis/SP
(2013). Atualmente é Psicóloga Judiciária no Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, docente da
UNIFIO - Centro Universitário das Faculdades Integradas de Ourinhos/Supervisora do Núcleo de
Estágio Institucional em Psicologia Jurídica no CEPP (Centro de Estudos e Práticas em Psicologia).
[email protected]
258
diálogo entre o Estado e a sociedade, para atender os direitos fundamentais dos
envolvidos (HIRIGOYEN, 2006, p.185).

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Uma das heranças da desigualdade de gênero é a violência doméstica contra


mulheres, uma questão que se encontra presente em nossa sociedade há séculos. As
vítimas afetadas pela VDCM possuem culturas, faixa etárias, classes
socioeconômicas e culturais diferentes, ou seja, não há um padrão específico. Essa
forma de violência é proveniente de uma transmissão intergeracional, constituindo-se
como um problema social, enraizado e perpetuado de forma cultural na sociedade
(AMARIJO; FIGUEIRA; RAMOS; MINASI, 2020).
Nos estudos realizados por Amarijo et al. (2020), foram identificados
marcadores sociais que contribuem para a ocorrência da VDCM, nesse tipo de
violência está implícito por exemplo a relação de poder e dominação do homem sobre
a mulher, gerada pela hierarquização dos papéis de gênero decorrente de uma
construção sociocultural baseada no patriarcado.
Na rede pública, o trabalho ao atendimento das VDCM é realizado por uma
equipe multiprofissional, incluindo psicólogos. A atuação do profissional de psicologia
desempenha um papel imprescindível na atenção primária, acolhendo as vítimas e
auxilia a mulher a visualizar para além do seu sofrimento, colaborando com a sua
proteção e seu empoderamento. Ainda no que se refere a atuação, Antoni e Koller
(2001) e Silva et al. (2015) pontuam que a prática interdisciplinar e multiprofissional é
essencial para efetivação das políticas públicas, especialmente no contexto de
atuação da Psicologia nos serviços de acolhimento institucional.

MATERIAIS E MÉTODOS

De acordo com Sousa et al. (2019), a pesquisa bibliográfica deve ser realizada
buscando selecionar fontes que condizem com dados de realidade sobre o assunto
escolhido. Esta pesquisa aborda questões dentro da Psicologia que foram levantadas
por meio da coleta de informações encontradas em artigos publicados localizados em
sites de pesquisas acadêmicas e revistas eletrônicas como: Scielo, Jornal O Globo,
Revista Ciência e Psicologia, e etc, permitindo ao investigador mais informações a
respeito do tema escolhido.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A prática da violência doméstica tem um impacto significativo na qualidade de


vida das mulheres envolvidas nesse contexto. A maioria das vítimas desenvolvem
doenças como depressão, sintomas de ansiedade e insônia após as ocorrências.
Mesmo com a Lei Maria da Penha em vigor, muitas mulheres não se sentem
amparadas o suficiente para denunciar seu agressor. Um dos motivos dessa
insegurança está relacionada ao temor de sua própria segurança, considerando que
a VDCM está em muitos casos relacionada com o feminicídio, sendo considerados

259
problemas de saúde pública (LUCENA; VIANNA; NASCIMENTO; CAMPOS;
OLIVEIRA 2017).
A violência doméstica causa diversos prejuízos à saúde da mulher, afetando
seu desenvolvimento cognitivo, emocional, social, moral ou afetivo. Os sintomas
psicológicos mais relatados pelas vítimas são insônias, pesadelos, irritabilidade e falta
de apetite. Além disso, problemas mentais graves podem se manifestar em
decorrência da violência sofrida, podem surgir também comportamentos
autodestrutivos como formas de aliviar o sofrimento (FONSCECA; LUCAS, 2006).
Este problema sociocultural é um assunto de urgência que deve ser tratado
com profissionalismo e justiça, apesar de grandes e recentes avanços, muitas
mulheres infelizmente acabam mortas vítimas da VDCM, levando alguns casos a
crimes de feminicídio.

Francielle foi torturada pelo marido durante um mês na frente do filho de 1


ano antes de morrer. Camila já tinha registrado queixa por violência
doméstica na delegacia contra seu assassino. Darlene foi morta na frente dos
filhos pelo marido, que já tinha sido preso três vezes por agredi-la. Valdirene
foi assassinada com 19 facadas pelo pai do seu filho de 7 anos, que não
aceitava o fim do relacionamento. (VELASCO, PORTAL G1, 2023).

O relato da reportagem é infelizmente o retrato de muitas mulheres e famílias,


por mais que haja a medida protetiva, denúncias e uma rede de profissionais
envolvidos nos casos, ainda são episódios frequentes da sociedade, ainda há falhas
no que diz respeito à proteção dessas vítimas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Podemos concluir que a violência doméstica é um grave problema de saúde


pública com impactos significativos na vida das vítimas, considerando as diferentes
formas de violência que podem ser praticadas em um contexto de poder e submissão.
A falta de segurança muitas vezes impede que mulheres denunciem seus agressores,
por isso, o trabalho frente às vítimas de VDCM precisa ser executado por uma equipe
multidisciplinar e capacitada para lidar com a sensibilidade dos casos.
A atuação do psicólogo em diversos campos de atuação promove o
acolhimento e empoderamento das vítimas, possibilitando romper com o ciclo de
violência. Promover conscientização a respeito da defesa dos direitos humanos, o
cumprimento da Lei Maria da Penha e a capacitação de profissionais para
encaminhamento das mulheres a serviços especializados, são passos importantes
para garantir um ambiente de recuperação seguro das vítimas. Assim, podemos
seguir firmes em um compromisso ético e profissional para uma sociedade mais
igualitária.

REFERÊNCIAS

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COSTA L. F.; BRANDÃO, S. L. Abordagem clínica no contexto comunitário: uma


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<SciELO - Brasil - Abordagem clínica no contexto comunitário: uma perspectiva
integradora Abordagem clínica no contexto comunitário: uma perspectiva
integradora>.

HIRIGOYEN, M. F. A Violência no Casal: da coação psicológica à agressão


física. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2006.

LUCENA, K. D. T.; VIANNA, R. P. T.; NASCIMENTO, J. A.; CAMPOS, H. F. C.;


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feminicídios em 2022, com uma mulher morta a cada 6 horas. Portal G1, cidade, 08
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violencia/noticia/2023/03/08/brasil-bate-recorde-de-feminicidios-em-2022-com-uma-
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261
A PSICOLOGIA NA ASSISTÊNCIA SOCIAL: CENTRO POP

Poliana Natacha Peixoto1


Felipe Ferreira Pinto2

Palavras-chave: Psicologia; Assistência Social; Atuação; Políticas.

INTRODUÇÃO
O intuito deste presente trabalho trata-se sobre o entendimento da atuação do
Psicólogo dentro da Assistência Social, focando em específico no Centro de
Referência Especializado para Pessoas em Situação de Rua (Centro Pop), previsto
no Decreto nº 7.053/2009 e na Tipificação nacional de Serviços Socioassistenciais,
que constitui-se em unidade de referência da PSE de Média Complexidade, de
natureza pública e estatal.
Entendendo a Psicologia em um diálogo com a saúde coletiva, a atuação do
psicólogo visa entender a questão da vulnerabilidade demarcada por esta população.
Neste contexto, é importante ressaltar que foi em 2009 que o Conselho Nacional de
Assistência Social (CNAS) aprovou a Resolução nº 109/2009, tratando-se da
Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais, sendo uma resolução importante
para a consolidação do Sistema Único de assistência Social (SUAS), portando, a
proteção social especial de média complexidade, tipificou o Serviço Especializado
para Pessoas em Situação de Rua.
De acordo com a Resolução nº 109/2009, o Centro de ReferênciaEspecializado
para População em Situação de Rua, é o local designado para a oferta desse serviço.
Reconhecendo a necessidade de um atendimento específico e especializado para as
pessoas em situação de rua, considerando sua vulnerabilidade e complexidade de
demandas, marcando o surgimento de um novo paradigma em relação ao
atendimento às pessoas em situação de rua, rompendo com o assistencialismo e a
tutela e adquirindo status de direito (BRASIL, 2011).

Esse Serviço é voltado às pessoas que fazem das ruas seu espaço de
moradia e/ou sobrevivência, por meio de ações integralizadas, com foco na
inserção social, no acesso a direitos e à proteção social; deve oferecer
acompanhamento individual e/ou familiar e promover a articulação
intersetorial com as demais políticas públicas, como saúde, habitação,
segurança alimentar, trabalho e renda, favorecendo o convívio, a participação

1 Graduanda do 9° termo de Psicologia pelo Centro Universitário das Faculdades Integradas de


Ourinhos.
2 Graduado em Psicologia pela Universidade Estadual Paulista – Faculdade de Ciências e Letras de

Assis, Mestre em Psicologia e Sociedade pelo programa de Pós Graduação da Faculdade de Ciências
e Letras (UNESP – Campus Assis) e Doutorando no Instituto de Psicologia da Universidade de São
Paulo (USP) no Programa de Psicologia Social e do Trabalho. Atual coordenador do curso de Psicologia
do Centro Universitário das Faculdades Integradas de Ourinhos e supervisor do núcleo de estágio
Psicologia e Assistência Social.
262
social, novos projetos de vida, fortalecimento coletivo e social, bem como da
autoestima e autonomia (BRASIL, 2011).

Portanto, com base na breve explicação sobre quem é o público alvo e o


funcionamento do serviço citado, o objetivo deste resumo é retratar qual o papel do
psicólogo social, levando em consideração as questões que aflige tal público,
e como a atuação ética pode contribuir com o funcionamento das garantias de direitos
que estão previstas nas políticas públicas.

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

A defesa do compromisso ético e político dos profissionais vinculados à


Assistência Social é a diretriz central do SUAS (Brasil, 2006), o que inclui a psicologia
neste âmbito, pois postula sua ação em determinantes sociais e econômicos que
produzem sofrimento ético/político (Cordeiro, et al, 2018).
Esta concepção de sofrimento não deve ser entendido como ontológico, mas
sim um sofrimento causando a partir das interações do indivíduo com o mundo exterior
(Sawaia, 2009), sendo pautada na análise da dialética inclusão/exclusão social, como
a autora cita:

A vivência particular das questões sociais dominantes em cada época


histórica [...]. Sofrimento que surge da situação de ser tratado como inferior,
subalterno, sem valor, apêndice inútil da sociedade” (Sawaia, 2001, p. 56).

Seguindo esta cronologia, a atuação do psicólogo no campo social, deve se


embasar na compreensão da vulnerabilidade psicossocial. Consequentemente,
atuando de forma reflexiva, superando a tradição de ver e compreender os problemas
dos indivíduos de maneira subjetiva, partindo do pressuposto de que, apesar do
sofrimento ser singular para cada indivíduo, sua gênese é social, o que exige uma
clareza na forma de compreender a desigualdade social e a maneira de atuar sobre
ela (CFP, 2011/ Lima; Schneider, 2018).
Sendo assim, com base nos casos atendidos no Centro de Referência
Especializada para Pessoas em Situação de Rua, os indivíduos estão expostos a
diversas violações de direitos, e o profissional deve possuir um olhar ampliado sobre
estas questões, pois caso contrário corre o risco de invés de garantir seus direitos,
ocorrer novas violações, uma vez que a proteção social tem o dever de garantir o
acesso aos serviços necessários (Lima; Schneider, 2018).
Segundo Bock (1999), é de extrema importância a compreensão total das
situações de vulnerabilidade que afetam não só os indivíduos expostos, mas também
sua família, pois o psicólogo que trabalha com as políticas públicas deve se posicionar,
afim da direção da transformação social, para a alteração das condições de vida das
pessoas atendidas (Bock, 1999/ Lima; Schneider, 2018).
O artigo “Uma perspectiva da Clínica Ampliada: as práticas da Psicologia na
Assistência Social” (2016), das autoras Dattmann, Aragão e Margotto, segue a mesma
linha de raciocínio, articulando a discussão sobre uma clínica ampliada ser uma
intervenção política, que expõe a prática nas possibilidades de transformações do

263
sujeito e da sociedade (Dattmann; Aragão; Margotto, 2016).

MATERIAIS E MÉTODOS

O método utilizado neste resumo consistiu inicialmente em uma descrição


objetiva dos usuários do serviço, com destaque para a questão da desigualdade
social. Além disso, buscou-se descrever o objetivo do Centro de Referência
Especializado para Pessoas em Situação de Rua, a fim de estabelecer uma conexão
entre as práticas psicológicas e a assistência social.
Para esse propósito, adotou-se uma abordagem de pesquisa qualitativa,
buscando compreender a totalidade do fenômeno investigado, mas concentrando-se
em conceitos específicos. Conforme descrito por Bogdan (1982, p. 128-130), a
pesquisa qualitativa apresenta as seguintes características: 1) utiliza o ambiente
natural como fonte direta de dados, sendo o pesquisador o instrumento principal; 2)
tem natureza descritiva; 3) os pesquisadores qualitativos estão preocupados com o
processo, não apenas com os resultados e produtos; 4) tendem a analisar os dados
de forma indutiva; 5) o significado é uma preocupação fundamental na abordagem
qualitativa (Lara; Molina, 2015).
A fim de obter resultados confiáveis, foram utilizados materiais como artigos
científicos e livros que abordam a atuação do psicólogo na assistência social e o
funcionamento do Centro de Referência Especializado para Pessoas em Situação de
Rua. Esses materiais foram obtidos por meio de consultas em plataformas
acadêmicas, como o Google Acadêmico e o Scielo, reconhecidos pela sua
confiabilidade e rigor científico. Portanto, a pesquisa bibliográfica tem como objetivo
colocar o autor da nova pesquisa diante de informações sobre o assunto de seu
interesse, buscando o levantamento de livros e revistas relevantes ao assunto que
será abordado ( Lara; Molina, 2015).

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Partindo do pressuposto das questões abordadas, destaca-se o papel da


Psicologia no âmbito das políticas públicas, particularmente na esfera social.
Conforme evidenciado pelos dados apresentados, cabe ao psicólogo garantir a
efetivação das diretrizes previstas nas legislações voltadas à proteção social. No
contexto específico deste resumo, concentra-se a atenção no Centro de Referência
Especializado para População em Situação de Rua (Centro POP).
A atuação do psicólogo nesse contexto envolve uma série de
responsabilidades que visam contribuir para a promoção do bem-estar e a inclusão
social das pessoas em situação de rua. Como profissional inserido em uma política
pública, é incumbência do psicólogo aplicar seus conhecimentos teóricos e práticos
para compreender as necessidades específicas dessa população, bem como as
demandas psicossociais decorrentes de suas condições de vulnerabilidade (Traverso-
Yépez, 2001).
No Centro POP, o psicólogo desempenha um papel essencial ao oferecer
acolhimento, atendimento individual e em grupo, intervenções psicossociais e
encaminhamentos necessários para garantir o acesso aos serviçossocioassistenciais.
264
Além disso, busca-se estabelecer vínculos de confiança e promover a autonomia e
a resiliência dos usuários, por meio de abordagens que valorizam suas experiências
e perspectivas (Damásio; Andrade, 2020).
Nesse contexto, a Psicologia se encontra em constante diálogo com outras
áreas profissionais, como assistentes sociais, educadores, profissionais da saúde,
entre outros, visando a construção de uma rede de cuidado integral e a articulação de
ações intersetoriais para abordar as múltiplas dimensões das demandas
apresentadas pela população em situação de rua (Damásio; Andrade, 2020).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em síntese, a atuação do psicólogo no Centro de Referência Especializado


para População em Situação de Rua (Centro POP) representa um importante papel
na transformação social e na promoção da inclusão e dignidade dos indivíduos em
situação de rua. Por meio de abordagens teórico-práticas embasadas nas políticas
públicas de assistência social, o psicólogo busca mitigar as situações de
vulnerabilidade, promover a cidadania e estimular a autonomia dessas pessoas. O
trabalho do psicólogo, articulado com outras áreas profissionais, visa construir uma
rede integrada de cuidado e suporte social, contribuindo para uma sociedade mais
justa e igualitária, que reconheça e valorize a dignidade de todos os cidadãos (Bastos;
Gomide, 1989).
Além disso, é importante mencionar as dificuldades enfrentadas pelos
profissionais que atuam no Centro POP. A complexidade das situações vivenciadas
pelos usuários, muitas vezes marcadas por traumas, exclusão social e desafios
relacionados à saúde mental, demanda dos psicólogos uma preparação especializada
e sensibilidade para lidar com tais questões. A falta de recursos adequados, a
sobrecarga de trabalho e a necessidade de estabelecer parcerias efetivas com outros
serviços e instituições também representam desafios enfrentados no cotidiano de
trabalho (Traverso-Yépez, 2001).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BOCK, A. A Psicologia a caminho do novo século: identidade profissional e


compromisso social. Estudos de Psicologia Natal, 1999.

BASTOS, A; GOMIDE, P. O psicólogo brasileiro: sua atuação e formação


profissional, Psicologia: ciência e profissão, 1989.

CORDEIRO, M; et al. Psicologia na assistência social: um campo de saberes e


práticas. Instituto de Psicologia, 2018.

DETTMANN, A; ARAGÃO, E; MARGOTTO, L. Uma perspectiva da Clínica


Ampliada: as práticas da Psicologia na Assistência Social. Fractal: Revista de
Psicologia, 2016.

DAMÁSIO, T; ANDRADE, G. O Trabalho Do Psicólogo No Sistema Único De


265
Assistência Social: Os Desafios Da Assistência À População Em Situação De
Rua. Colóquio de Psicologia, Educação e Trabalho: construindo a inclusão em
diferentes contextos, 2020.

LARA, A; MOLINA, A. Pesquisa qualitativa: Apontamentos, Conceitos e


Tipologias,2015.

LIMA, F; SCHNEIDER, D. Características da Atuação do Psicólogo na Proteção


Social Especial em Santa Catarina, Psicologia: Ciência e Profissão, 2018.

MORAIS, J; Fonseca, H; Gonçalves, N. Atuação do psicólogo no sistema único


da assistência social, 2017.

PINHO, R; PEREIRA, A; LUSSI, I. População em situação de rua, mundo do


trabalhoe os centros de referência especializados para população em situação
de rua (centro pop): perspectivas acerca das ações para inclusão produtiva,
2019.

Orientações Técnicas: Centro de Referência Especializado para População em


Situação de Rua – Centro Pop. Secretaria Nacional de Renda e Cidadania e
Secretaria Nacional de Assistência Social Ministério do Desenvolvimento Social e
Combate à Fome – MDS, vol. 3, 2011.

Política Nacional de Assistência Social- PNAS: Norma operacional básica-


NOB. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome Secretaria Nacional
de Assistência Social, 2004.

SAWAIA, B. Psicologia e desigualdade social: Uma reflexão sobre liberdade e


transformação social. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2009.

SAWAIA, B. O sofrimento ético-político como categoria de análise da dialética


exclusão/inclusão. Petrópolis: Vozes, 2001.
Traverso-Yépez, M. A interface psicologia social e saúde: perspectivas e
desafios. Psicologia em estudo, 2011.

266
CENÁRIOS HISTÓRICOS PRESENTES: TRABALHADORAS DOMÉSTICAS NO
BRASIL

Luciano de Oliveira Marques1


Felipe Ferreira Pinto2

Palavras-chave: Escravidão; Mulheres Negras; Políticas Públicas; Trabalhadoras


Domésticas.

INTRODUÇÃO

A Psicologia Social do Trabalho surge como campo de atuação propriamente


da Psicologia, com a perspectiva de estudar e intervir no contexto do trabalho, este
campo se preocupa com os processos de transformação que ocorrem por meio de
pesquisas e atuação científicas que viabilizam críticas, compreensões e intervenções
das condições de trabalho no âmbito da saúde, bem-estar e segurança do trabalhador,
seja no contexto organizacional em que podemos encontrar trabalhadores formais,
como também no contexto da informalidade ao qual consiste em reconhecer os
trabalhadores que não dispõem do registro e direitos trabalhistas (Sato; Coutinho;
Bernardo, 2018).
No decorrer da história do Brasil temos diversos tipos de modelos de trabalho
advindos do eurocentrismo, como o Taylorismo e o Fordismo, contudo vimos também
o modelo mais triste de toda a história do homem ao qual chegou no Brasil por meio
de seus colonizadores expandidos margens para a exploração do homem com o
modelo escravista (Ferreira; Kalakun; Scheifler, 2018).
Entre 1500 a 1888 mulheres africanas foram submetidas ao regime escravista
no Brasil, tendo que exercer jornadas excessivas no trabalho braçal, doméstico e
submetidas aos maus tratos e violência sexual, essas condições de servidão,
impostas no regime escravista criou um estigma do papel da mulher negra não só no
âmbito social, bem como no contexto do trabalho (Ferreira; Kalakun; Scheifler, 2018).
Ainda de acordo com Ferreira, Kalakun e Scheifler (2018) em Trabalho e
Sociedade, após o decreto da abolição da escravidão, houve uma procura da
população branca de residências urbanas por mulheres negras que pudessem
executar o trabalho doméstico em suas residências, ainda que uma possibilidade de
trabalho longe dos maus tratos físicos dos coronéis as trabalhadoras negras
continuaram a mercê dos maus tratos da população urbana branca, que logo já tinham
como cultura naturalizada, a ideia de superioridade sobre a população negra, dessa
maneira muitos aspectos do modelo escravista não deixou de existir, ficaram em
exercicio de forma oculta.

1 Estudante do 10º termo de Psicologia, Centro Universitário de Ourinhos, Psicologia,


[email protected]
2 Mestre em Psicologia, Psicologia Social, [email protected]

267
Diante do cenário histórico em que a mulher negra foi inserida no trabalho, a
nossa pesquisa propõe-se a investigar, as trabalhadoras domésticas e as relações
históricas do período escravista existente no contexto dessas trabalhadoras
atualmente, com o intuito de compreender como essa estrutura tem contribuído para
uma exclusão da mulher negra no âmbito do trabalho e da cidadania.

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Sato, Coutinho e Bernardo (2018) no livro “Psicologia Social do Trabalho”


pontuam que, a PST têm como fundamento a intenção de questionar, ponderar e
apontar as condições e cenários de trabalho que delimitam a condição de vida do
trabalhador, assim consideram que esses fatores são importantes para compreender
o trabalhador no seu cotidiano dentro e fora do trabalho.
Tonet (2008) em “Introdução a filosofia de Marx” resgata o conceito de trabalho
definido pelo filósofo, ao qual partia da concepção de que o trabalho se configurava
enquanto uma atividade humana pelo qual os indivíduos transformam a natureza para
seu benefício e satisfação de suas necessidades materiais.
Ferreira, Kalakun e Scheifler compreendem que, a partir da lógico de Foucault
o trabalho é a formação particular e singular do indivíduo frente ao um contexto social
e cultural, essa formação se configura na interação do indivíduo com o objeto, mundo
e seu espaço de interação, possibilitando uma experiência, uma reflexão e um
reconhecer-se. Neste sentido, ainda na dialética proposta pelos autores no livro
Trabalho e Sociedade (2018) é constituída uma leitura do trabalho sobre ótica da
Psicologia que contribui na compreensão do trabalho enquanto exercício de
participação no mundo, seja essa participação individual como também coletiva,
considerando o processo de formação subjetiva.
D”Adesky (2018) traz uma noção da igualdade atrelada à gestão de afirmações
de políticas públicas que contribuem para um reconhecimento humano comum entre
os grupos sociais em que a mesma não se constitui por indivíduos inferiores ou
superiores, mas sim por uma comunidade iguais. Neste sentido seria possível uma
compreensão da igualdade como ponto de justiça com oportunidades acessíveis de
formas iguais, contudo quando levado em consideração para a narrativa que
consolidou e estruturou a escravidão logo podemos visualizar que essa garantia de
igualdade se perdeu.

MATERIAIS E MÉTODOS

A pesquisa foi se constituindo a partir da participação e discussões na disciplina


de Estágio Supervisionado do curso de Psicologia do Centro Universitário de
Ourinhos, e a partir de consultas bibliográficas em livros e plataformas científicas,
visando investigar conceitos e fundamentos concernentes às relações históricas
raciais das Trabalhadoras Domésticas, propondo o acesso desta pesquisa a todas as
pessoas interessadas na temática, principalmente as Trabalhadoras ao qual fazem
parte desta investigação.
No processo de pesquisa seguiremos em quatro etapas, sendo a primeira: o
trabalho enquanto atividade humana transgeracional: considerações históricas que
268
estruturam um modelo racista; segundo: o trabalho como instituição de vida e
cidadania, compreensões a partir do modelo escravista no brasil; terceiro: o
trabalhadoras domésticas, ontem, hoje e amanhã; quarto: a psicologia social do
trabalho: reflexões antirracistas.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

No Brasil, os modelos de trabalho vieram enviesados através das culturas


eurocêntricas, de primeiro momento podemos enfatizar a intensificação de uma
sociedade colonizadora. O cenário brasileiro recebeu a invasão portuguesa em 1.500,
os critérios para a exploração do trabalho e dos povos indígenas que habitavam o
Brasil se deram por meio da cor da pele e a relação de dominação presente no
colonizador, que não reconhecia o trabalho livre, assalariado, permitindo a colônia se
constituir enquanto polo da escravidão (Ferreira; Kalakun; Scheifler, 2018).
De fato, a abolição assim como descrito por D”Adesky não foi decretada, pois
dela surgiu um acontecimento que inferioriza a população negra em comparação a
população branca, tal abolição estruturou a desigualdade afirmou a estrutura de
ocupações que a população negra poderia exercer assim, deixados a mercê dos
trabalhos menos valorizados. Aqui resgatamos a colocação da mulher negra na
função de doméstica, enquanto o homem negro, de forma indireta passou a compor o
exercício do trabalho longe do contexto do campo, a mulher ainda ficou sujeita sobre
os moldes do poder e punição de brancos colonizadores, ficando ainda sob os riscos
do assédio e da violência sexual, tanto em seu novo contexto como ainda na casa os
senhores de engenho, pois o serviço executado por essas nas grandes casas tornou-
se naturalizado a ponto de ser associado majoritariamente as mulheres negras. A
categoria de Trabalho doméstica se reafirma sobre este cenário de servidão e
escravidão e se populariza as mulheres negras sob essa estrutura racista ao qual se
fez a distinção de raças, grupos sociais menos favorecidos.
O fato é que o trabalho doméstico sempre existiu na atividade humana,
contudo, a relação de trabalho tornou-se historicamente como uma ferramenta de
exploração. Para Leonardo Lima (2022) em sua Tese de Doutorado, o mesmo parte
da concepção que que “a base cultural das condições de exploração e desvalorização
dos serviços domésticos está na herança colonial da escravidão no Brasil”, assim
consideramos que essa percepção fica mais crítica quando relacionado só com a
condição e trabalho, bem como a figura que representava essa atividade no período
colonial e escravista.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

De primeiro momento a nossa pesquisa buscou uma retrospectiva histórica em


relação ao modelo escravista, posteriormente trouxemos apontamentos relacionados
às condições de trabalho em que as mulheres negras foram submetidas no período
escravista e como as condições do período em questão se manteve firme no pós-
abolição, configurando a imagem da mulher negra em posição de servidão e
submissão. No brasil quem deu a voz a categoria das Trabalhadoras Domésticas,
foram as mulheres negras, contudo, ainda existe uma visão colonizadora sobre essas
269
trabalhadoras. A percepção de que a mulher negra está situada sobre a condição de
uma relação colonizadora, não é mera percepção, é de fato uma realidade, mas o fato
também, é que a sua figura enquanto trabalhadora está estigmatizada nessa situação
a ponto de restringi-la na participação de outros exercícios. Cabe ressaltar que a
mesma possui o direito de escolher onde quer estar, neste sentido é que nos cabe um
olhar antirracista e descolonizado para enxergá-la na posição que desejar, dessa
maneira, nos próximos momentos dessa pesquisa direcionaremos os nossos estudos
em buscas de possibilidade de uma intervenção antirracista neste contexto das
Trabalhadoras Domésticas.

REFERÊNCIAS

D'ADESKY, Jacques Edgard. Percursos para o reconhecimento, igualdade e


respeito. Cassará, 2018.

FERREIRA, Adriana; KALAKUN, Jacqueline; SCHEIFLER, Anderson B. Trabalho e


sociabilidade: Grupo A, 2018. E-book. ISBN 9788595025578.

FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir. Leya, 2014.

GORDON, Lewis R. Prefácio; FANON, Franz; SILVEIRA, Renato da. Pele Negra,
Máscaras Brancas. 2008.

LIMA, Leonardo Araujo. Dramas do trabalho e da sobrevivência de domésticas-


diaristas: servir, reagir e devir. Tese de Doutorado. Universidade de São Paulo.

SATO, Leny; COUTINHO, Maria Chalfin; BERNARDO, Marcia Hespanhol.


Psicologia social do trabalho. Editora Vozes Limitada, 2018

TONET, Ivo; LESSA, Sérgio. Introdução à filosofia de Marx. São Paulo: Expressão
Popular, 2008.

270
IMPLICAÇÕES DA SAÚDE MENTAL DA CRIANÇA EM RELAÇÃO AO
ISOLAMENTO SOCIAL CAUSADO PELO COVID 19

Beatriz de Almeida Mello Perini


Karina Faustino Bernini 1
Fabio Sagula2

Palavras-chave: Covid; Saúde Mental; Isolamento Social; Criança; Pandemia.

INTRODUÇÃO

A pandemia de COVID-19 trouxe consigo desafios sem precedentes para a


sociedade global, impactando profundamente diversas esferas da vida humana. Um
dos aspectos mais preocupantes e que merece atenção especial é o efeito do
isolamento social nas crianças e suas implicações na saúde mental. O presente
estudo tem como objetivo explorar as implicações da saúde mental da criança em
relação ao isolamento social causado pela pandemia de COVID-19. A infância é uma
fase crucial do desenvolvimento humano, durante a qual ocorrem avanços
significativos na formação física, emocional e cognitiva. A saúde mental nessa fase é
fundamental para o bem-estar a longo prazo, e o isolamento social prolongado,
causado pelas medidas de contenção do vírus, pode ter consequências duradouras e
profundas nas crianças.
A pandemia do coronavírus atingiu toda a sociedade, afetando muitos aspectos
da vida coletiva e individual, como ramificações na esfera da saúde mental. Segundo
os estudos sobre situações da quarentena, sinaliza-se a alta prevalência de efeitos
psicológicos negativos, como raiva, medo, insônia e humor rebaixado. (CEPEDES
2020a; BROOKS et al., 2020).
Compreender as implicações da saúde mental da criança durante o isolamento
social é crucial para informar políticas públicas, intervenções e apoio adequado às
famílias e às crianças que enfrentaram essas circunstâncias adversas. Além disso, o
estudo pode fornecer insights valiosos sobre estratégias eficazes para conter os
impactos negativos do isolamento social e fortalecer a resiliência das crianças diante
de situações desafiadoras.
1 Discentes do 10º termo do Centro Universitário de Ourinhos - UNIFIO. Curso de Psicologia,
[email protected], [email protected].
2 Possui graduação em Psicologia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho - UNESP

Assis/SP (2003); Mestre em Psicologia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho -
UNESP Marília/SP na área de Infância e Realidade brasileira; Experiência na área de Psicologia, com
ênfase em Ludoterapia, Psicoterapia individual de orientação psicanalítica, Psicodiagnóstico e
Orientação vocacional; Doutor em Educação pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita
Filho - UNESP Marília/SP (2016); Pós-doutorado em Filosofia da Educação pela Universidade Estadual
Paulista Júlio Mesquita Filho - UNESP Marília/SP (2018); Especialização em Psicoterapia de
Orientação Psicanalítica (2009) pelo Centro Universitário Eurípedes de Marília - UNIVEM; Docente no
Centro Universitário de Ourinhos - UNIFIO, [email protected].
271
Diante disso, esse estudo tem como objetivo explorar as implicações da saúde
mental da criança em relação ao isolamento social causado pela pandemia de COVID-
19, bem como conscientizar a sociedade sobre a importância de proteger a saúde
mental das crianças durante crises sanitárias e períodos de isolamento social.

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

No dia 11 de março de 2020 a Organização Mundial da Saúde (OMS)


caracteriza a doença causada pelo novo coronavírus como uma pandemia. A SARS-
CoV-2, Covid 19, é uma doença infecciosa que tem como principais sintomas o
cansaço, a febre e tosse seca, podendo apresentar sintomas como perda de paladar,
congestão nasal, conjuntivite, dor de cabeça, calafrios, etc. Diante disso, quanto mais
o vírus circular através das movimentações das pessoas, mais chances do vírus sofrer
mutações (OPAS, 2021). Como forma de contenção do vírus foram aplicadas medidas
não farmacológicas, como o isolamento social, fechamento de escolas e empresas,
fazendo-se necessário que toda a população pudesse aderir ao confinamento (OPAS,
2020).
Estudos apontam que a pandemia da COVID-19 afetou significativamente a
saúde mental de crianças e adolescentes, tornando-os mais vulneráveis a
desenvolver quadros depressivos e ansiosos, resultado da solidão e isolamento
experimentados durante a quarentena (SEGRE G, et al., 2021). Isso se deve às
mudanças significativas que ocorreram na forma como elas se desenvolvem,
aprendem, crescem, se comportam e interagem, além da forma como lidam com suas
emoções e sentimentos, entre outros aspectos.
Diante do contexto pandêmico, algumas formações sintomáticas foram
desencadeadas nas pessoas, refletindo o impacto emocional e psicológico. Algumas
delas como a síndrome do pânico, a angústia por temer a morte, sintomas
hipocondríacos, mudança no registro de humores e até mesmo rituais obsessivo-
compulsivo, já que muitos sujeitos passaram a seguir normas sanitárias de limpeza
de forma radical. (BIRMAN, 2020, p. 110). Há também o aumento da procura de álcool,
drogas ilícitas e até mesmo lícitas, como os ansiolíticos e antidepressivos,
estabelecendo um crescimento significativo do vício durante a pandemia.
Birman (2020) também ressalta que durante a pandemia muitas pessoas não
conseguiram fazer nada em seus dias, ficando com a energia gasta e desperdiçada
na forma repetitiva e persistentes rituais higiênicos compulsivos. Essa conduta pode
resultar um esvaziamento de si, apresentando depressões severas, associadas a
esses comportamentos obsessivos-compulsivos.

MATERIAIS E MÉTODOS

Para o desenvolvimento desta pesquisa, utilizamos o método de revisão


bibliográfica. Dessa forma, voltamos nosso olhar as pesquisas já publicadas das quais
trazem em seus estudos a pandemia de Covid-19, a infância no contexto pandêmico
e as contribuições da psicologia para melhora da qualidade de vida das crianças.

272
RESULTADOS E DISCUSSÃO

A revisão bibliográfica mostra os efeitos da pandemia da COVID-19 com foco


especial nas crianças. Os resultados e discussões apresentados são as
consequências para a saúde mental, pois a pandemia trouxe mudanças bruscas no
modo como as pessoas se organizam socialmente, levando a manifestações de
sentimentos negativos, como confusão, raiva e estresse pós-traumático. O medo de
contrair a COVID-19 e a preocupação com a segurança dos familiares têm sido fontes
de sofrimento psicológico.
Em resumo, é ressaltado a importância de compreender os efeitos da pandemia
na vida das crianças e adolescentes, especialmente em relação ao seu
desenvolvimento físico, emocional e social, e destaca a necessidade de cuidados
adequados para reduzir os efeitos negativos a longo prazo.
Por fim, é necessário a atenção contínua à saúde mental e ao desenvolvimento
infantil, especialmente em momentos de crise como a vivência durante a pandemia
da COVID-19. Políticas públicas que visem mitigar os negativos na infância e
adolescência, bem como o fortalecimento de ações voltadas para o apoio psicossocial
e educacional das crianças, tornam-se fundamentais para promover um
desenvolvimento saudável e sustentável da população mais jovem.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As crianças foram afetadas pelo isolamento social durante a pandemia de


COVID-19. Essa situação trouxe uma série de desafios com consequências em
diversos aspectos de suas vidas. Afetou a saúde mental, levando a um aumento na
ansiedade, estresse e depressão. A falta de interações sociais presenciais com
amigos, colegas e familiares pode ter resultado em sentimentos de solidão e
desconexão. O fechamento das escolas ou a transição para o ensino remoto tiveram
implicações no aprendizado e no desenvolvimento acadêmico das crianças. A falta de
acesso a uma educação presencial pode ter afetado negativamente o progresso
acadêmico, especialmente para aqueles com dificuldades de aprendizagem. O
isolamento pode ter exacerbado desigualdades já existentes. Crianças em situação
de vulnerabilidade socioeconômica podem ter enfrentado dificuldades para acessar
recursos educacionais, tecnologia, alimentação adequada e suporte psicológico.
Com a redução de atividades ao ar livre e a adoção de estilos de vida mais
sedentários, algumas crianças podem ter experimentado um declínio na saúde física
e no bem-estar geral. A pandemia trouxe consigo uma enxurrada de informações, nem
sempre precisas, e crianças podem ter sido expostas a notícias e discussões sobre a
doença que podem ter causado ansiedade e confusão. As famílias também
enfrentaram desafios durante o isolamento, e as crianças podem ter sido afetadas
pelo estresse de seus pais ou responsáveis, que enfrentaram preocupações
financeiras, medo do contágio e adaptação a novas rotinas. É importante que pais,
educadores e profissionais de saúde estejam atentos às necessidades emocionais
das crianças e forneçam apoio adequado durante e após esse período desafiador.

273
REFERÊNCIAS

BIRMAN, Joel. O trauma na pandemia do Coronavírus. 1. ed. Rio de Janeiro:


Civilização Brasileira, 2020. Recurso eletrônico (formato: epub). ISBN 978-65-5802-
011-0.

BROOKS, S. K., WEBSTER, R. K., SMITH, L. E., WOODLAND, L., WESSELY, S.,
GREENBERG, N., & RUBIN, G. J. (2020). The psychological impact of quarantine
and how to reduce it: rapid review of the evidence. The Lancet, v. 395, n. 10227, p.
912-920, 2020.

Centro de estudos e pesquisas em emergências e desastres em saúde; Fundação


Oswaldo Cruz. Saúde mental e Atenção Psicossocial na Pandemia. COVID-19:
Recomendações gerais. Brasília, 2020 a.

Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS). OMS afirma que COVID-19 é


agora caracterizada como pandemia. 2020. Disponível em:
<https://www.paho.org/pt/news/11-3-2020-who-characterizes-covid-19-pandemic>.

Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS). Orientações para a aplicação de


medidas de saúde pública não farmacológicas a grupos populacionais em
situação de vulnerabilidade no contexto da COVID-19. Washington, DC: OPAS;
2020.

SEGRE, G., CAMPI, R., SCARPELLINIi, F. et al. Entrevistando crianças: O


impacto da quarentena do COVID-19 no sofrimento psicológico percebido pelas
crianças e mudanças na rotina. BMC Pediatr 21, 231 (2021).
https://doi.org/10.1186/s12887-021-02704-1.

274
MULHERES EM SITUAÇÃO DE RUA: VIOLÊNCIA SEXUAL E
VULNERABILIDADE SOCIAL

Vitória Maria Rossi Giati1


Luciano Ferreira Rodrigues Filho2

Palavras-chave: Mulheres; População em situação de rua; Invisibilidade;


Vulnerabilidade; Violência.

INTRODUÇÃO

O trabalho de pesquisa em questão tem o intuito de possibilitar uma análise


sobre as principais dificuldades vivenciadas por mulheres em situação de rua, quais
os desafios de não apenas estar cotidianamente nas ruas, mas também ser uma
mulher em um contexto de extrema insegurança e violência, analisar os números que
oferecem um panorama sobre essa realidade, os principais motivos que levam as
mulheres a estar em situação de rua e estratégias para se protegerem da violência
que as acomete frequentemente. O objetivo principalmente deste estudo foi
compreender o que perpetua a condição de estar em situação de rua, quais os índices
e razões para tal realidade não apenas ainda existir, mas também aumentar de forma
significativa. A justificativa da seguinte pesquisa se embasa no crescimento
significativo dessa problemática durante a pandemia do COVID-19, acometendo
questões de saúde mental e saúde pública, sendo um tema de extrema importância
para o olhar psicológico, devendo ser de interesse social e político. Por fim, a
metodologia utilizada foi baseada em uma abordagem sócio-histórica, realizando um
retorno histórico na condição de pessoas em situação de rua decorrente de pesquisas
bibliográficas em sites que auxiliassem na estruturação do estudo.

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

A construção histórica do lugar da mulher na sociedade influencia diretamente


nas dificuldades que as mulheres em situação de rua passam, levando em conta
dados do Instituto de Pesquisa Econômico Aplicada (IPEA), entre 2019 e 2022 teve
um aumento de 38%, sendo substancialmente a quantidade nacional de 281.472
pessoas vivendo em condições de vulnerabilidade, sendo essa condição favorável
para que estas sofram preconceitos e violências, uma das abordadas no trabalho
sendo a sexual traz consigo traumas profundos na psique do sujeito, sendo necessário
adquirir estratégias como sempre estar em grupos ou se relacionar com parceiros por
1 Graduanda em Psicologia, UNIFIO, Psicologia, [email protected].
2 Graduação em Psicologia Clínica e Organizacional pelo Centro Universitário de Ourinhos/UNIFIO,
graduação em Pedagogia pela Faculdade União Cultural do Estado de São Paulo e mestrado em
Psicologia Social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - PUC/SP, UNIFIO, Psicologia,
[email protected]
275
vezes violentos, mas que auxiliam na proteção destas nas ruas. Analisando dados
bibliográficos, foi observado que uma das razões que levam as mulheres a saírem de
suas casas é a violência múltipla sofrida por familiares dentro de suas casas,
causando um ciclo de inferiorização e humilhação onde é necessário achar formas de
sobreviver dia após dia.

MATERIAIS E MÉTODOS

O estudo foi estruturado a partir de uma vasta pesquisa bibliográfica para


possibilitar uma coleta de dados mais abrangente de início, foram utilizados sites de
busca como Google Acadêmico, Scielo, revistas de psicologia virtuais, usando
palavras chaves para selecionar as publicações que continham informações para a
produção da ideia da pesquisa. Foi utilizado também sites de estatísticas do governo
federal para dar uma visão quantitativa da problemática, com enfoque na situação de
rua que acometem as mulheres. A abordagem sócio-histórica foi a base principal para
direcionar tanto a escrita quanto a pesquisa, sendo o trabalho formulado a partir de
dados científicos de uma realidade que necessita ser analisada.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O objetivo principal da pesquisa foi tentar compreender de forma mais profunda


as condições que se vivem mulheres em situação de rua, o que foi constatado que,
além de os indivíduos já carregarem um estigma de preconceito e estarem
marginalizados de forma geral, no caso das mulheres, acrescenta-se o preconceito
que historicamente caminha com a figura feminina, favorecendo a violência estrutural
não só entre gêneros, mas também evidencia o preconceito entre as classes sociais,
pois a pobreza e vulnerabilidade é também uma realidade. Ademais, o campo social
é espaço fértil para a atuação da psicologia, que se faz presente na forma de buscar
entender essas implicações e trabalhar para possibilitar novos rumos e olhares para
um problema que é mais do que nunca de saúde pública.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Foi possível obter dados importantes sobre uma condição que perpassa quase
que cotidianamente à vista da sociedade, estampada em praças, ruas, viadutos, e que
se caracteriza como comum, o sofrimento e a vulnerabilidade relacionados a essa
problemática escancara uma realidade complexa e urgente principalmente no campo
de políticas públicas, de uma necessidade na continuação do diálogo entre assistência
social e psicologia, uma grande limitação social em compreender e abordar por vezes
um tema tão necessário que é a violência sexual relacionada a reflexões sobre papéis
sociais e de classe, mas que ao mesmo tempo, permanece em movimento nos
estudos e questionamentos que precisam ser feitos, pensando na magnitude que essa
situação tomou após um longo período de pandemia na saúde e na sociedade de
maneira geral. Por isso, apesar da dificuldade em dialogar sobre as implicações que
afetam essa parcela da população, ainda sim há de existir esperança e muita
discussão para impulsionar uma mudança na sociedade.
276
REFERÊNCIAS

BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Rua:


aprendendo a contar: Pesquisa Nacional sobre a População em Situação de
Rua. Brasília-DF. dez/2009. Disponível em:
<https://www.mds.gov.br/webarquivos/publicacao/assistencia_social/Livros/Rua_apr
endendo_a_contar.pdf>. Acesso em: 22 abr. 2023.

CARDOSO, R.; CHAUÍ, M.; PAOLI, M.C. Perspectivas Antropológicas da Mulher.


Zahar Editores S.A, Rio de Janeiro, 1985. Disponível em:
<https://vdocuments.mx/perspectivas-antropologicas-da-mulher-4.html?page=3>.
Acesso em: 06 jun. 2023.

ESMERALDO, A. F. L; XIMENES, V. M. Mulheres em situação de rua: implicações


psicossociais. Psicologia: Ciência e Profissão, v. 42, p. 1-15, 2022. Disponível em:
<https://www.scielo.br/j/pcp/a/KLwKD3dMyJq6g95Xz5wBvgH/?lang=pt>. Acesso em:
22 abr. 2023.

MALGARIN, B.G.; BENETTI, S.P.C. O abuso sexual no contexto psicanalítico: das


fantasias edípicas do incesto ao traumatismo. Aletheia [online], Canoas, n.33, p.
123-137, set./dez. 2010. Disponível em:
<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-
03942010000300011>. Acesso em: 06 jun. 2023.

MONTFERRE, H. População em situação de rua supera 281,4 mil pessoas no


Brasil. Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada - IPEA, fev. 2022. Disponível em:
<https://repositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/11604/4/NT_103_Disoc_Estimativa_
da_Populacao.pdf>. Acesso em: 22 abr. 2023.

ROSA, A.S.; BRÊTAS, A.C.P. A violência na vida de mulheres em situação de rua


na cidade de São Paulo, Brasil. Interface: Comunicação, Saúde, Educação
[online], Botucatu, v.19, n.53, p. 275-285, 2015. Disponível em:
<https://www.scielosp.org/pdf/icse/2015.v19n53/275-285/pt>. Acesso em: 05 jun.
2023.

277
O AGRAVAMENTO DA ANSIEDADE DURANTE A PANDEMIA DA SARS-COV-2
(COVID-19)

Emily Malvassoura Sanches1


Eduardo Toshio Kobori2

Palavras-chave: Pandemia; Sars-cov-2; Ansiedade; Freud; Psicanálise

INTRODUÇÃO
Os anos 2020 e 2021 foram marcados por um cenário caótico que se alastrou
pelo mundo todo: a chegada da doença Sars-cov-2, conhecida popularmente como
Covid-19. Com a rapidez que essa se alastrou, em 11 de março de 2020, poucos
meses após a chegada da doença no Brasil, a Organização Mundial de Saúde, UNA-
SUS, declarou com uma pandemia mundial (ASCOM SE/UNA-SUS, 2020).
De acordo com a Fundação Oswaldo Cruz, Fiocruz (julho de 2021), pandemia
é a disseminação mundial de uma nova doença, epidemia é considerada uma
pandemia quando o surto afeta uma região e se espalha por diferentes continentes,
sendo sustentada a transmissão.
A diversidade e complexidade dos sintomas: tosse, dor de garganta, cabeça e
muscular, febre, sintomas e problemas respiratórios (fadiga, desconforto ao inspirar e
expirar) torna-se preocupante, pois os sintomas não acometiam de forma igual os
indivíduos e muitas vezes estes eram assintomáticos, ou seja, não manifestavam
sintoma nenhum (ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANAS DA SAÚDE, 2020).
Devido as complicações e agravamentos dos infectados, redes e profissionais
de saúde começam a enfrentar o problema de superlotação. A disseminação da
doença aumenta cada vez mais, ninguém está imune ao vírus, então, uma medida
extrema, porém necessária é tomada pelo Governo Brasileiro em 20 de abril de 2020:
o confinamento, mais conhecido pelo termo inglês lockdown, uma abordagem bem
sucedida em Wuhan, China, que consiste em um isolamento em massa, ou seja, o
cidadão deve ficar confinado em sua residência e não sair sem ser necessário e sem
ordens (UNA-SUS, 2020).
Com as intensas mudanças em curto período de tempo, o cidadão brasileiro
encontra-se desorientado com “novo estilo de vida”, sendo obrigado a abrir mão de
sua rotina e adequar-se as normas de proteção que foram impostas, tais mudanças
além da sensação de perda (subjetiva, acadêmica, profissional) acarretam uma série
de psicopatologias, caracterizadas pelo sofrimento. Dentre elas podemos citar
ansiedade, que teve um aumento de 25% no cenário pandêmico brasileiro
(ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE, OMS).

1 Graduanda do curso de Psicologia do Centro Universitário de Ourinhos, email:


[email protected]
2 Psicólogo (Unesp), mestre e doutor em Filosofia (Unifesp), Professor do curso de Psicologia do Centro

Universitário de Ourinhos, email: [email protected]


278
Seguindo a linha psicanalítica de Freud, a temática da ansiedade é articulada
em primeiro momento, ao tratar das neuroses atuais, a partir da observação clínica,
pode-se observar que a tensão sexual, acumulada, escapava sob a forma
“transformada” de ansiedade e ao ser reprimida, acumula-se em uma espécie de
angústia que não completada transformava-se em ansiedade (FREUD, 2014).
Com o aprimoramento de seus estudos, o pai da psicanálise distingue dois tipos
de ansiedade: a realística, uma reação à percepção de um perigo externo, um reflexo
racional e inteligível e a neurótica, ambas relacionadas com eventos traumáticos
(FREUD, 2014).
O principal objetivo é investigar como o período pandêmico está ligado ao
agravamento dos quadros de ansiedade no Brasil, quais fatores externos e internos
acarretaram o acontecimento e aumento da psicopatologia, os prejuízos psíquicos
causados pela pandemia da Sars-cov-2 e o sofrimento que advém da ansiedade.
Á partir de uma ampla investigação no evento da pandemia da Covid-19
duração, sintomas, mudanças na vida social e pessoal de todos, disseminação da
doença, internações, mortes, e a relação que esta apresenta no agravamento dos
quadros de ansiedade, ou seja, quais fatores levaram à este evento, o porquê, quais
as variações e manifestações do transtorno, com intuito de possibilitar um maior
entendimento da relação do transtorno de ansiedade (TA) com a pandemia.

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Tendo início em 2020, o cenário de pandemia no Brasil obrigou uma série de


mudanças no dia a dia dos cidadãos, foi necessário adequar-se à novas regras e
padrões, como serviços em home office, ensino online e adaptações à forma de sentir
e demonstrar o luto: sem nenhum tipo de contato físico para despedidas. O toque já
não é mais uma realidade, o consolo desta forma é inviável, assim, sentimentos como
culpa, angústia, insegurança são potencializados (SANAR, 2020).
Nesse sentido, torna-se necessário o aprofundamento teórico para que
possamos compreender e lidar com este problema de saúde pública que se estende
para a saúde mental. Para isso, utilizaremos como referencial teórico a Psicanálise.
Tomando por referência a obra Inibição, sintoma e angústia de Sigmund Freud,
o pai da psicanálise, em seus primeiros estudos sobre ansiedade, esta é uma tensão
sexual acumulada em forma de angústia que ao não ser completada é transformada
e liberada sob forma de ansiedade, sendo exemplificada como realística e neurótica,
ambas advindas de experiências traumáticas (FREUD, 2014).
No ser humano, o nascimento seria a primeira vivência individual da angústia,
dando os traços característicos à tal expressão, mas esta afirmação não permite
deixar de lado o fato de uma necessidade biológica de afeto em uma situação de
perigo. Os primeiros eventos de angústia ocorrem antes da diferenciação do Supereu,
sendo assim, o nascimento não seria a causa de toda fonte da angústia humana
(FREUD, 2014).

279
MATERIAIS E MÉTODOS

Para a execução do projeto de pesquisa, será adotada uma pesquisa não


experimental qualitativa, com o enfoque nas variáveis independentes e não
manipuláveis (SAMPIERI, COLLADO e LUCIO, p.168). Consiste em uma pesquisa
teórica, cujo levantamento bibliográfico fornece dados recentes e relevantes sobre os
trabalhos já realizados sobre o tema.
Esta pesquisa é caracterizada como histórico-exploratório (MARCONI e
LAKATOS, 2009, p.12) e tem como foco a relação entre pandemia e ansiedade. Para
tanto, além da consulta aos materiais impressos, será realizada uma busca online em
portais de divulgação de trabalhos científicos (Scielo, Google Acadêmico). Com foco
na linha teórica da psicanálise de Sigmund Freud e obras como: “Inibição, sintoma e
angústia”.
As pesquisas e estudos exploratórios são realizados com o objetivo de
examinar um tema ou problema pouco estudado, deseja investigar um assunto no
qual ainda permanecem dúvidas, analisar e familiarizar com fenômenos
desconhecidos ou novos (SAMPIERI, et.al, 2013).

RSEULTADOS E DISCUSSÃO

A partir de um levantamento bibliográfico e de uma pesquisa não experimental


qualitativa que ainda será realizada, com estudos aprofundados, nota-se um nítido
aumento de ansiedade durante o período de pandemia da Sars-cov-2 (Covid-19). O
objetivo para a conclusão do trabalho é o de identificar as causas desse aumento com
a pandemia, como o medo do desconhecido, mudanças de hábitos e rotinas, mortes,
internações, fatores internos e externos, perdas, luto, cooperaram para esse
agravamento.
Eventos pandêmicos são marcados por intensas mudanças. No caso da
pandemia da Covid-19, a principal foi no convívio social e no toque, este necessitou
ser deixado de lado por tempo indeterminado, com o objetivo de reduzir a
disseminação do vírus e evitar o contágio. Mas afinal, quem somos quando já nos
perdemos do outro e de nós mesmos?! Como descobrir e redescobrir o mundo, sem
poder tocá-lo?! (POLETTO, 2021).
A chegada da pandemia acaba por extinguir reconhecimentos através do corpo,
o indivíduo torna-se desconhecido de si mesmo, como se tivesse perdido o objeto
(representado pela perda de alguém, o luto) e a referência de si mesmo, há a ausência
do outro, mas também há a própria ausência. Desamparo e angústia tornam-se os
piores inimigos da mente humana neste momento (POLETTO, 2021).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A presente pesquisa apresenta relevância para o campo da saúde mental,


seguindo pelo caminho da Psicologia e tendo como principal referencial teórico a
Psicanálise, tendo em vista de que a pandemia foi um evento recente e que seus
danos ainda não tão claros, o objetivo desta pesquisa é o de investigar e identificar

280
como tal evento contribuiu de forma tão significativa para o agravamento nos quadros
de ansiedade no Brasil, durante o período pandêmico.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Universidade Aberta do Sistema Único de Saúde (UNA-SUS).


Confinamento (lockdown) na pandemia por COVID-19: três experiências, três
interpretações, 2022. Acesso em: 17.jul.2023. Disponível em:
https://www.unasus.gov.br/especial/covid19/markdown/554

FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ (Fiocruz). O que é uma pandemia. São Paulo.2021.


Acesso em:17.jul.2023. Disponível em:
https://www.bio.fiocruz.br/index.php/br/noticias/1763-o-que-e-uma-pandemia

FREUD, S. Inibição, sintoma e angústia. In: ______. Obras completas, volume 17:
Inibição, sintoma e angústia, O futuro de uma ilusão e outros textos (1926-1929) /
Sigmund Freud; tradução Paulo César de Souza. – 1ª ed.- São Paulo: Companhia
das Letras, 2014.

KOLLER, Sílvia H.; COUTO, Maria Clara de P.; HOHENDORFF, Jean V. Manual de
Produção Científica. Porto Alegre: Grupo A, 2014. E-book.

Linha do tempo do Coronavírus no Brasil. SANAR, 2020. Acesso em: 09.mar.2023,


12.jul.2023, 03.ago.2023. Disponível em: https://www.sanarmed.com/linha-do-tempo-
do-coronavirus-no-brasil

Pandemia de COVID-19 desencadeia aumento de 25% na prevalência de ansiedade


e depressão em todo o mundo. Organização Pan-Americana de Saúde, 2022.
Acesso em: 19.jul.2023. Disponível em: https://www.paho.org/pt/noticias/2-3-2022-
pandemia-covid-19-desencadeia-aumento-25-na-prevalencia-ansiedade-e-
depressao-em

POLETTO, Adriana. Quando um morre e o outro sobra em vida: reflexões sobre a


morte em tempos de pandemia de covid-19. Estud. Psicanal. [online] n.55. Belo
Horizonte. 2021. Acesso em 03.ago.2023 e 04.ago.2023. Disponível em:
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-
34372021000100011

SAMPIERI, Roberto H.; COLLADO, Carlos F.; LUCIO, María D. P B. Metodologia


de pesquisa. São Paulo: Grupo A, 2013. E-book. Acesso em: 04 ago. 2023.

UNA-SUS. Organização Mundial de Saúde declara pandemia do novo Coronavírus,


2020. Ascom SE/UNA-SUS. Acesso em: 09.mar.2023 e 18.jul.2023. Disponível
em: https://www.unasus.gov.br/noticia/organizacao-mundial-de-saude-declara-
pandemia-de-coronavirus

281
O ATENDIMENTO PSICOSSOCIAL A CRIANÇAS E ADOLESCENTES EM
SITUAÇÃO DE RUA

Luana Caetano Hilário1


Ricardo da Silva Franco2

Palavras chaves: Rua; Psicossocial; CRAS; CREAS; Políticas Públicas.

INTRODUÇÃO

A presente pesquisa discute as garantias e os direitos das crianças e


adolescentes em situação de rua. O Consultório de Rua pode auxiliar na efetivação
desses direitos por meio da assistência social, integração com outros programas e
atenção integral a população em situação de vulnerabilidade e risco. Assim, a
colaboração entre os diferentes órgãos públicos pode combater o abuso de poder e
oferecer suporte adequado a essa população. Para enfrentar essas questões, é
necessário haver o financiamento e é preciso qualificar os profissionais, e seguir com
os objetivos dos serviços em conjunto.
O acesso ao Sistema Único de Assistência Social (SUAS) deve oferecer
serviços que atendam as necessidades do território, para ocorrer a regulamentação e
fiscalização na qualidade da segurança e garantia dos serviços. O atendimento
oferecido pelo Programa Consultório de Rua auxilia na inserção da população em
risco de forma humanizada, e abre caminho para outras redes de apoio, que podem
ser criadas por profissionais de diversas áreas, como psicólogos, médicos, assistente
social e fisioterapeutas.
Segundo a Política Nacional da Atenção Básica do SUS (2011), pela portaria
n.º122, de 5 de janeiro de 2011, e visa ampliar o acesso da população em situação
de rua aos serviços de saúde, ofertando, de maneira mais oportuna, atenção integral
à saúde para esse grupo populacional, o qual se encontra em condições de
vulnerabilidade e com os vínculos familiares interrompidos ou fragilizados.
Assim sendo, o programa Consultório de Rua, ao oferecer atendimento
humanizado, auxilia na inclusão de indivíduos em risco, como crianças e adolescentes
em situação de rua, abrindo caminho para outras redes de apoio. No entanto, a
pesquisa questiona como esse programa pode garantir de maneira efetiva os direitos
desses jovens em situação de vulnerabilidade, considerando os desafios de sua vida
em um ambiente público, além de enfatizar a importância do apoio da assistência
social para a inclusão em outros programas.

1 Discente do curso de Psicologia, do Centro Universitário de Ourinhos.


2 Docente do curso de Psicologia, do Centro Universitário de Ourinhos.
282
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Esta pesquisa aborda estudos que investigam a relação entre mães e recém-
nascidos na comunicação e na introdução familiar. Para Winnicott (2020), destaca-se
a importância da mãe primária na identificação e estímulo do vínculo para o
desenvolvimento da criança. De acordo com a teoria Winnicottiana, o período de
dependência absoluta é crucial para o crescimento emocional e social do bebê.
As trocas de sentimentos afetivos são fundamentais para a transição do estado
não integrado para a integração. Durante esse processo, o nenê começa a expressar
suas necessidades, sinalizando o que é essencial para sua sobrevivência,
aproximando-se da dependência relativa em busca da independência.
Os afetos são muito importantes para a comunicação, relações, estabilidade
emocional e desenvolvimento adequado. Winnicott argumenta que (2020), quando o
bebê se torna independente e usa a imaginação para criar sua própria identidade.
Além disso, a ausência da cuidadora pode ser suprida pelas fantasias com o objeto
transicional, contribuindo para a sensação de segurança e a criação de um mundo de
desejos e sentimentos. Dessa forma, requer ainda a necessidade de orientações dos
pais para as novas experiências e os novos modelos de relacionamento na fase de
independência.

MATERIAIS E MÉTODOS

A metodologia utilizada foi pesquisa bibliográfica, para auxiliar na organização


das informações e na compreensão do tema. A psicanálise Winnicottiana para o
público-alvo, que compreende a faixa etária de 0 a 18 anos, conforme o Estatuto da
Criança e do Adolescente, que reconhece os direitos e deveres da referência da
legislação a partir das diretrizes, que está estabelecido pela lei n.º 8.069/1990.
Portanto, para que as ações de prevenção contra a violência, cujo objetivo é
abordar os direitos fundamentais através a partir da assistência social, sejam
realizadas através das tipicações dos serviços.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

À medida que ocorre o desenvolvimento, a criança percebe sua relação com


outras pessoas e forma de relacionamentos por meio da comunicação não verbal. O
ambiente adequado e o suporte são fundamentais para que a criança se desenvolva
de forma segura e integrada na sociedade. Dessa forma, tanto o CRAS quanto o
CREAS disponibilizam serviços e apoio às famílias em situação de vulnerabilidade
social, oferecendo atendimento especializado para a proteção e o desenvolvimento
de crianças e adolescentes em risco pessoal ou social. A supervisão e controle
constantes são fundamentais para garantir a qualidade dos serviços fornecidos.
Segundo o decreto da lei nº 8.742, de dezembro de 1993, a lei Orgânica de
Assistência Social, Art. 1º, o direito do cidadão e dever do Estado, é Política de
Seguridade Social não contributiva, que provê os mínimos sociais, realizada através
de um conjunto integrado de ações de iniciativa pública e da sociedade, para garantir
o atendimento às necessidades básicas. Os mecanismos de enfrentamento devem
283
possuir uma série de medidas e recursos para garantir o mínimo necessário,
atendendo às necessidades básicas da população, fundamental para sua
sobrevivência. A produção da saúde deve ser adaptada à forma como o território em
que essa população está localizada funciona, para poder promover nesse espaço um
lugar onde se alcancem as metas e as diretrizes das leis.
Dessa forma, os direitos das pessoas em situação de rua são um desafio,
exigindo abordagem integrada e a colaboração da sociedade com as instituições. Isso
implica em diversos setores para garantir o acesso aos direitos, que devem ser
assegurados, e tomar decisões que possam ter um impacto significativo na vida de
várias pessoas. Por outro lado, o problema é estrutural e requer a análise da eficácia
das diretrizes que se aplicam à realidade do dia a dia dessas pessoas, para poderem
atender à demanda e ser acessíveis às condições do território.
Segundo Hilário (2023), a presença de uma rede de apoio, como a
proporcionada pelo Centro de Referência de Assistência Social (CRAS), é essencial
para que a mãe receba suporte emocional e prático, o que contribui para o
fortalecimento dos laços afetivos entre mãe e bebê.
O acompanhamento dos pais é essencial para facilitar a estruturação da rotina
e alcançar a fase adulta. O ambiente propício, construído em conjunto com a equipe,
proporciona sentimentos de segurança e integração social. Os vínculos construídos,
como o objeto transicional, são fundamentais para expressar conexão com o mundo
externo, para enfrentar os desafios e incluir os jovens em programas comunitários,
são iniciativas importantes para o acesso a serviços e a construção de identidade.
Segundo Hilário (2023), os profissionais dos Centros de Referência de
Assistência Social (CRAS) tem a possibilidade de utilizar as ideias de Winnicott para
trabalhar com as famílias e proporcionar um ambiente acolhedor e seguro para o
crescimento infantil. A compreensão das necessidades emocionais dos bebês e o
estímulo ao vínculo mãe-filho são aspectos fundamentais no trabalho com as pessoas
em condição de carência socioeconômica.
Desse modo, a Tipificação de Serviços Socioassistenciais através dos serviços
do PAIF, SCFV – Serviço de PSB no domicílio, permite que os técnicos que atuam no
município a instituição está localizada, possibilita a garantia da qualidade dos serviços
e trabalhar em conjunto com as outras equipes, como o CREAS.
O Centro de Referência Especializado de Assistência Social desempenha um
papel especializado no atendimento de famílias e indivíduos em situação de risco
pessoal ou social, por violação de direitos e que está instituída pela portaria MDS nº
843, 2010 (CREAS, 2011). Por esse lado, a teoria de Winnicott pode ser aplicada na
promoção de um trabalho social especifico que valorize a escuta, o acolhimento e a
criação de espaços de reflexão e diálogo. O objetivo é proporcionar às famílias e
pessoas um ambiente de cuidado e segurança, que permita a reconstrução de suas
trajetórias de vida e o desenvolvimento de habilidades pessoais e sociais para superar
as dificuldades enfrentadas.
Dessa forma, ao relacionar a teoria de Winnicott com o trabalho realizado no
CRAS e CREAS, fica claro a relevância de promover um atendimento sensível e
humanizado. O suporte oferecido nas unidades socioassistenciais e na estratégia do
Consultório de Rua, através da identificação do território, pode contribuir
significativamente para o que as dinâmicas são desenvolvidas pela equipe
284
especializada em conjunto com as instituições. A implementação no território tem
como base o gerenciamento dos resultados, o fortalecimento dos laços familiares, a
superação de desafios e a construção de um ambiente mais saudável e acolhedor.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Considerando o atendimento no CRAS e CREAS demonstra que esses


serviços têm um papel fundamental na promoção da proteção social, prevenção e
intervenção em situações de vulnerabilidade e violação de direitos, fornecendo
suporte essencial para famílias e indivíduos em risco. O trabalho desenvolvido em
conjunto com o atendimento do Consultório de Rua enfatiza o papel do cuidado, da
empatia da assistência social, que fica evidente a partir da teoria de Winnicott sobre
o desenvolvimento saudável da criança e da construção de relações afetivas e
seguras.

REFERÊNCIAS

DONALD, Winnicott Woods. Da Pediatria à Psicanálise: Obras Escolhidas. Imago:


Londres, 2000. DONALD, Winnicott Woods. Bebês e suas Mães. Ubu Editora: São
Paulo, 2020.

HILÁRIO, Luana Caetano. O Atendimento Psicossocial a Crianças e


Adolescentes em situação de rua: UniFio: Ourinhos, 2023.

GOV. Consultório na Rua. Ministério da Saúde: Brasília. Disponível


em:<https://www.gov.br/saude/pt-br/composicao/saps/consultorio-na-rua>. Acesso
em: 28 de jul, 2023.

GOV. Estatuto da criança e do adolescente: LEI No 8.069, DE 13 DE JULHO DE


1990. Presidência da República Casa Civil. Disponível em:
<https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm>.Acesso em: 26 de jul, 2023.

GOV. Lei Orgânica Da Assistência Social. Presidência da República


Casa Civil: Subchefia para Assuntos Jurídicos, 1998. Disponível
em:<https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8742compilado.htm>.Acesso em: 27
de jul, 2023.

MDS. GOV. Orientações Técnicas Centro de Referência de Assistência Social –


CRAS. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome: Brasília, 2009.
Disponívelem:<https://www.mds.gov.br/webarquivos/publicacao/assistencia_social/C
adernos/orientacoes_Cras.pdf>. Acesso em: 28 de jul, 2023.

MDS. GOV. Orientações Técnicas: Centro de Referência Especializado de


Assistência Social – CREAS. Secretaria Nacional de Assistência Social: Ministério
do Desenvolvimento Social e Combate à Fome – MDS, Brasília: 2011. Disponível

285
em:< https://aplicacoes.mds.gov.br/snas/documentos/04-caderno-creas-final-
dez..pdf>. Acesso em: 29 de jul, 2023.

286
A PSICOLOGIA NA ASSISTÊNCIA SOCIAL: UMA CONTEXTUALIZAÇÃO NO
PERÍODO PÓS CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988

Maria Carolina Vian da Rosa1


Felipe Ferreira Pinto2

Palavras-chave: Psicologia; Assistência Social; Constituição Federal; atuação;


práticas.

INTRODUÇÃO

Inaugurando o entendimento acerca da temática, o contexto aqui pretendido,


denota da chamada Constituição Cidadã, de 1988. Como destacam Cavalcante e
Ribeiro (2012), o Texto Constitucional introduziu uma nova perspectiva em relação ao
foco, os objetivos e as formas de implementação e execução da política de Assistência
social no país. Dessa forma, ao nos debruçarmos em discussões sobre o campo das
políticas públicas e, especialmente, em relação a Assistência Social que é
reconhecida, ao lado da Saúde e da Previdência como parte da Seguridade Social,
temos um novo momento. Esta ação de interesse público que antes era reconhecida
como ação de caridade passa a ser vista como direito do cidadão e dever do Estado,
implicando na “mudança de concepção da Assistência Social se organizar, retirando-
a do campo da benemerência, do dever moral e do assistencialismo para o dos direitos
sociais” (Lajús, 2022, p. 168).
Epifanio (2016) descreve, ainda que neste cenário, a Assistência Social passa
a ser abordada diretamente na Constituição Federal de 1988 no Título VIII Da Ordem
Social, Capitulo II Da Seguridade Social, Seção IV Da Assistência Social, artigos 203
e 204, tratando, respectivamente de uma política de caráter universal e
descentralizada que conta com um poder político-administrativo. Assim, diante de um
período demarcado por evoluções substanciais no contexto da proteção social devido
à efervescência dos movimentos populares, o panorama tornou-se favorável a criação
da lei n° 8.742, chamada de Lei Orgânica da Assistência Social, ou LOAS.
Com o intuito de assegurar ações diretas quanto a garantia dos pressupostos
apresentados pela Constituição Federal de 1988 e na Lei Orgânica da Assistência
Socia (LOAS), foi criada, em 2004, a Política Nacional de Assistência Social (PNAS).
Diante disso, a reflexão proposta quanto à atuação da Psicologia no âmbito da AS
(assistência social), inicia-se, formalmente neste momento, pois há registros desta
atuação anteriormente a institucionalização da Política como responsabilidade do

1 Graduanda do 10° termo de Psicologia pelo Centro Universitário das Faculdades Integradas de
Ourinhos.
2 Graduado em Psicologia e Mestre pela UNESP – Campus Assis. Doutorando pela USP. Coordenador

do curso de Psicologia do Centro Universitário das Faculdades Integradas de Ourinhos e supervisor do


núcleo de estágio Psicologia e Assistência Social.

287
Estado Brasileiro (PRIOLI, 2018). Com a criação da PNAS, ocorre que um novo
modelo voltado a pensar a questão social no Brasil ganha destaque. A nova
concepção que pensa a proteção social como ação política por parte do Estado
representa a construção coletiva do novo desenho da política que tem como finalidade
implantar o Sistema Único de Assistência Social – o SUAS, já previsto nos
delineamentos da LOAS (Lajús, 2022).
Conforme trata Couto (2009), o Sistema Único de Assistência Social introduz
uma nova concepção de sistema orgânico responsável pela criação de espaços
físicos e concepções de atenção que propõe formas de atuar que possam refletir
acerca do que é a realidade Brasileira e, neste sentido, construir proposta de
atendimento na AS. Isto é, como o Estado passa a ser o principal responsável em
articular da rede de serviços socioassistenciais, com a criação de espaços físicos
como os Centros de Referência de Assistência Social (CRAS) e Centros
Especializados de Assistência Social (CREAS), que tornaram-se imprescindíveis na
atenção ofertada pela política.
Neste sentido, os objetivos deste trabalho, como parte das reflexões que foram
sendo construídas na experiencia do estágio supervisionado em Psicologia social, são
pautados pela investigação e compreensão em relação aos desafios, as
possibilidades e os limites da atuação do profissional da Psicologia no âmbito da
Assistência Social. No mais, as reflexões apresentadas representam as discussões e
os atravessamentos que a prática neste campo produz. Ou seja, buscamos construir
uma análise crítica dessa atuação, a fim de problematizar o fazer da Psicologia
pautado no compromisso social da Ciência e Profissão, sem perder de vista as
dificuldades enfrentadas atualmente quanto ao processo de institucionalização
profissional da Psicologia nos espaços do SUAS. Dessa forma, por meio de uma
pesquisa qualitativa, baseada em uma revisão bibliográfica e no diálogo com a
experiencia em campo, o estudo justifica-se pela necessidade de uma
problematização quanto ao lugar do psicólogo nessa conjuntura, que ainda se
encontra em construção e nos mostra como o fazer no contexto da Psicologia Social
brasileira é inacabado e está em constante movimento (Senra e Guzzo, 2012),de
forma que podemos analisar a fragmentação das práticas e os desafios éticos e
políticos da atuação.

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

A inserção do profissional de psicologia e da Psicologia propriamente dita, em


um cenário recém-inaugurado de políticas públicas advindas da Constituição Federal
de 1988, promove, até os dias atuais, intensas discussões que possibilitam um olhar
crítico construído, principalmente, a partir de diferentes perspectivas e investigando a
realidade sob um um mesmo prisma: a psicologia social. Isto, pois, embora parte do
que é encontrado na teoria, diz de que a atuação do psicólogo deve estar junto às
políticas públicas e ao contexto que produz a realidade do nosso país, com enfoque
na garantia dos direitos humanos, e se preocupando, sobremaneira, em promover a
potencialização dos sujeitos, como afirma Gesser (2013), é necessário, ainda assim,
que possamos ponderar, também, sobre o que tem sido denominado como “ajuste
neoliberal e desajuste social” conforme apresentado por Yamamoto e Oliveira (2010),
288
que iniciam uma discussão a respeito de uma agenda neoliberal iniciada nos anos 90
no Brasil, mesmo em meio a um novo sistema de proteção social. Com isso, os
autores, assim como Bock (1999) e Furtado (2000) passam a embasar seus
respectivos estudos a problematizar práticas e concepções que irão guiar o
entendimento que a Psicologia e as(os) psicólogas(os) foram construindo em relação
a compreensão sobre o que é o compromisso social, ético e político da profissão.
Neste cenário, estudiosos como Yamamoto (1987), ousaram trilhar perspectivas
acerca da crise escancarada vivida por uma Psicologia que até então transitava muito
pouco pelas discussões críticas sobre à realidade brasileira, de forma que o autor
aponta a necessidade de adequações e problematizações que precisariam e precisam
ser feitas, rumo a um caminho social e ético do exercício profissional. Foi a partir
destas e outras reflexões que atualmente, a área conta com inúmeros estudos que
estão possibilitando, cada dia mais, a constante construção quanto a inserção da
Psicologia nas políticas públicas, especialmente, no âmbito da Assistência Social,
destacando os trabalhos de Oliveira e Amorim (2012), Lajús (2010), Senra e Guzzo
(2012), Cordeiro; Svartman; Souza (2018), Epifânio (2016), Pinto (2019) e do próprio
Conselho Federal de Psicologia quando analisamos o conjunto de publicações
voltadas para o exercício profissional da categoria a partir da iniciativa do Centro de
Referências Técnicas em Psicologia e Políticas Públicas (CREPOP) (2021).

MATERIAIS E MÉTODOS

Diante dos objetivos que este trabalho se dispôs em analisar, que pautam-se
pelo levantamento de informações na bibliografia pertinente ao tema e a experiencia
de estágio, buscamos refletir sobre a atuação de psicólogos na Assistência Social,
especialmente, no período pós Constituição Federal de 1988, que foi um marco
histórico e que teve uma papel importante quanto a construção do papel da
Seguridade Social no Brasil e seus efeitos para a construção da cidadania e dos
direitos sociais no Brasil,. Portanto, realizamos um levantamento bibliográfico, que,
assim como afirma Lozada e Nunes (2019, p. 158), consiste na busca de informações,
em fontes bibliográficas, que se relacionem ao problema de pesquisa e o
fundamentem. A pesquisa também conta com um caráter qualitativo, ou seja,
“preocupa-se, portanto, com aspectos da realidade que não podem ser quantificados,
centrando-se na compreensão e explicação da dinâmica das relações sociais”
(Gerhart e Silveira, 2009, p. 34). Com isso, utiliza-se a noção de ex-post-facto, que,
de acordo com Lozada e Nunes (2019), verifica as consequências de um fato sobre
um objeto depois que tal fato aconteceu, visando, justamente, compreender os efeitos
da nova Constituinte na atuação do psicólogo na Assistência Social enquanto Sistema
Único e sob responsabilidade do Estado.
Dessa forma, para alcançar tais objetivos recorremos a base de dados que
sejam confiáveis e que possam ser um ponto de apoio para que a argumentação
proposta neste recorte de pesquisa, tais como: Google Acadêmico, SciELO e
Periódicos CAPES, valendo-se de trabalhos acadêmicos, artigos e também livros. O
estudo é fundamentado, também, em autores e psicólogos que atuam na área de
políticas públicas e que estejam próximos ao campo da Psicologia Social. Além disso,
é importante destacar que o uso de diários de campo como uma ferramenta que nos
289
ajuda a pensar a descrição do campo e da experiencia do fazer pesquisa estiveram
presentes em nosso experiencia de analisar a atuação de Psicólogas(os) no SUAS.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

A partir da reflexão aqui proposta pôde-se perceber, momentaneamente, que a


Psicologia na Assistência Social lida diretamente com questões que não podem ser
deixadas de lado quando o assunto é refletir sobre a atuação no SUAS. Sendo eles:
a carência na formação por parte dos psicólogos quanto à sua inserção no SUAS, a
falta de reflexões ética e políticas, teóricas e metodológicas quanto a introdução
desses profissionais na Assistência Social, como compreendem Ribeiro e Guzzo
(2014). É sob este olhar crítico, que a inserção da Psicologia na equipe mínima de
serviços sociais mantém-se como uma discussão viva e em constante movimento.
Entretanto, mesmo em meio as análises aqui discutidas, envolvendo uma Psicologia
Social próxima a teoria sócio-histórica, pautada sobre os diversos prismas sociais que
constituem a compreensão subjetiva da realidade, outra diferente perspectiva
assombra as práticas da profissão no âmbito da AS, demonstrando um padrão de
atuação psicológico ainda muito ligado às práticas normalizantes, pedagogizantes e
que desconsideram o que há de sujeito neste campo Social.
A atuação do profissional do psicólogo no âmbito da AS, portanto, segue
parâmetros semelhantes às práticas regulamentadas no Sistema Único de Saúde,
pois, apesar de contarem com um aparato legislativo diferente, a práxis mostra-se,
ainda, estreitamente ligada a necessidade de enfrentar concepções de trabalho que
estão distantes do compromisso social da Ciência e Profissão. Logo, uma atuação
desta natureza requer profissionais conectados com o território, com a
interdisciplinaridade e com os desafios complexos que se apresentam, cabendo uma
reflexão crítica, aos psicólogos, sobre os limites desta atuação, mas também sobre as
potencialidades e possibilidades capazes de fraturar esse cotidiano excessivamente
tecnicista e tarefista, que se impõe aos trabalhadores do SUAS (Senra, 2018).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Conclui-se, portanto, que, mesmo após 35 anos da criação da Carta Magna,


que representou um grande passo em direção às mudanças na concepção quanto ao
entendimento de Seguridade Social, o campo da Assistência Social ainda permanece
imerso em uma névoa que vem dificultando, em certas ocasiões, que novas
possibilidades de atuação sejam vislumbradas e praticadas nos serviços. Nesse
sentido, mesmo a Assistência Social e, sobremaneira, o SUAS estarem assegurados
no campo das legislações que embasam a práxis das políticas públicas brasileiras, o
psicólogo, junto com o assistente social, demonstram certa dificuldade em desvincular
seu trabalho da condição assistencialista que em alguns momentos insiste em se
repetir na lógica de trabalho dos serviços. Assim, mesmo que os esforços advindos
de importantes movimentos éticos, políticos e históricos, permaneçam presentes, o
percurso a ser trilhado pela Psicologia na Assistência Social ainda denota um espectro
de maior valorização, investimento e, por fim, profissionalização, unindo tais aspectos

290
em vista de uma constante luta contra uma Psicologia a-histórica e um processo de
institucionalização comumente observados nestas instituições.

REFERÊNCIAS

BOCK, Ana Mercês Bahia. A Psicologia a caminho do novo século: identidade


profissional e compromisso social. Estudos de Psicologia (Natal), v. 4, p. 315-329,
1999.
CAVALCANTE, Pedro; RIBEIRO, Beatriz Bernardes. O Sistema Único de
Assistência Social: resultados da implementação da política nos municípios
brasileiros. Revista de Administração Pública, v. 46, p. 1459-1477, 2012.
CREPOP. Centro de Referência Técnica em Psicologia e Políticas Públicas.
Referências Técnicas para atuação de psicólogas(os) no CRAS. Brasília, DF:
Conselho Federal de Psicologia, 2021

CORDEIRO, Mariana P.; SVARTMAN, Bernardo; SOUZA, Laura V. Psicologia na


Assistência Social: Um campo de saberes e práticas. Instituto de Psicologia, 2018.

EPIFÂNIO, Alex Ferreira et al. A assistência social no Brasil à luz da


Constituição de 1988 e da Lei Orgânica de Assistência Social (LOAS). 2016.

FURTADO, Odair. Psicologia e compromisso social: base epistemológica de uma


psicologia crítica. Revista Psicologia Social e Institucional, v. 2, n. 2, p. 217-229,
2000.

GERHARDT, T. E.; SILVEIRA, D. T. (Org.). Métodos de pesquisa. Porto Alegre:


Editora da UFRGS, 2009. 120 p.

GESSER, Marivete. Políticas públicas e direitos humanos: desafios à atuação do


Psicólogo. Psicologia: ciência e profissão, v. 33, p. 66-77, 2013.

LAJÚS, Maria Luiza de Souza et al. Sistema Único de Assitência Social: um difícil
caminho rumo à conquista da cidadania. 2010.

LOZADA, Gisele; NUNES, Karina da S. Metodologia Científica. [Digite o Local da


Editora]: Grupo A, 2019. 9788595029576. Disponível em:
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788595029576/. Acesso em: 11
jun. 2023

OLIVEIRA, Isabel Fernandes de; AMORIM, Keyla Mafalda de Oliveira. Psicologia e


política social: o trato da pobreza como sujeito psicológico. Psicol. argum, p. 559-
566, 2012.

291
RIBEIRO, Maisa Elena; GUZZO, Raquel Souza Lobo. Psicologia no Sistema Único
de Assistência Social (SUAS): reflexões críticas sobre ações e dilemas
profissionais. Revista Pesquisas e Práticas Psicossociais, v. 9, n. 1, p. 83-96,
2014.

SENRA, Carmem Magda Ghetti; GUZZO, Raquel Souza Lobo. Assistência social e
psicologia: sobre as tensões e conflitos do psicólogo no cotidiano do serviço
público. Psicologia & Sociedade, v. 24, p. 293-299, 2012.

YAMAMOTO, Oswaldo Hajime. A crise e as alternativas da psicologia. Edición,


1987.

YAMAMOTO, Oswaldo Hajime; OLIVEIRA, Isabel Fernandes de. Política Social e


Psicologia: uma trajetória de 25 anos. Psicologia: teoria e pesquisa, v. 26, p. 9-24,
2010.

292
O CÁRCERE E AS MULHERES TRANSEXUAIS: O PAPEL DA PSICOLOGIA

Andreynna Rocha Rezende 1


Nei Vinicius Hércules Rodrigues Miranda 2

Palavras-chave: Cárcere. Mulheres Transexuais. Psicologia.

INTRODUÇÃO

Ao sistema prisional é atribuído por força da Constituição Federal de 1988


(CF88) a obrigatoriedade de proteção de todos os direitos e garantias não afetados
pela pena aplicada a cada sujeitos, sob o ideal de manutenção do que se denomina
por dignidade da pessoa humana. Infelizmente, muitas das mulheres encarceradas se
encontram em locais inadequados, passando por situações degradantes e difíceis,
não havendo privacidade, instalações improvisadas nos presídios para abrigar às
mulheres transexuais e ainda por cima, em alas de homens, sendo exposta a serem
estupradas e consequentemente, tendo sua saúde mental afetada.
Há inúmeras leis, em diversos dispositivos legais, como a Lei de Execução
Penal nº 7210/84, em seu artigo 41, que diz sobre os direitos assegurados aos presos,
que caso fossem de fato aplicadas diminuiria os problemas, porém não é isso que
acontece na realidade atual. Existem muitos pensamentos errôneos dentro de sistema
prisional brasileiro, como de que as condições que são aplicadas para o sexo
masculino possam ser aplicadas para às mulheres transexuais (CARVALHO et al.,
2021).
O problema da violência contra pessoas transgênero é uma realidade dentro e
fora das prisões, como Varella (2017) destaca em sua obra, sendo assim, um
problema social. Nesse atual cenário que vivenciamos das mulheres transexuais
dentro do sistema carcerário, é de extrema importância o papel do psicólogo(a), pois
sua atuação é voltada para a saúde mental das mulheres, priorizando o bem estar de
cada uma. A incidência das experiências intra cárcere produz para estas mulheres,
além de riscos iminentes contra suas vidas, dor e sofrimento psíquico, o que requer
um acolhimento direcionado a trabalhar estes aspectos subjetivos, bem como
movimentar questões multidisciplinares que possam melhorar as condições psíquicas
das mulheres transexuais sob pena de privação de liberdade no Brasil.

1 Andreynna Rocha Rezende, Graduanda do 10ª termo de Psicologia pelo Centro Universitário das
Faculdades Integradas de Ourinhos (UNIFIO). E-mail: [email protected]
2 Possui graduação em PSICOLOGIA e LETRAS pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita

Filho (UNESP). Doutorando em Psicologia pelo Programa e de Pós-graduação em Psicologia


da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho. Mestre pelo Programa de Pós -
graduação em Saúde Coletiva da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. E -mail:
[email protected]
293
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

O sistema carcerário brasileiro, mostra uma situação degradante, havendo uma


população carcerária que reflete a situação de hiperencarceramento, sendo o Brasil
como o terceiro do mundo com mais presos, qual a prisão como meio de punição para
o condenado, principalmente em casos de regime fechado (ROSA, 2018). Dentro do
sistema penal entendemos que o Estado tem o direito de combater a criminalidade,
aplicando as medidas cabíveis para cada caso. É dessa forma que o filósofo Foucault
(1999), diz que para os criminosos serem punidos por seus atos, os órgãos
competentes devem punir eles de uma melhor forma para que assim, o objetivo da
prisão possa ser cumprido. Ainda sobre as falas de Foucault, o estado tem garantias
constitucionais do preso para serem respeitadas, punindo da melhor forma. Essas
garantias são previstas em códigos tanto no nível nacional quanto internacional, como
por exemplo, a Declaração Universal de Direitos Humanos e a própria constituição
Brasileira e a Lei de Execução Penal (LEP), mostrando os direitos garantidos ao
condenado.
Portanto, por várias previsões legais citadas acima, era de se esperar o melhor
do Estado para que assim, o condenado cumprisse com uma boa garantia dentro de
presídio, bem como na Lei de Execução Penal n° 7.210/1984, que garante ao preso
e ao internado a devida assistência e outras garantias legais, mas não é isso que
acontece, principalmente com os transexuais.
Os transgêneros no âmbito carcerário são os que mais sofrem rejeição social,
confrontando as mais diversas situações de vulnerabilidade e exclusão social e isso
acaba acarretando no processo de invisibilização, ratificando o pensamento
patriarcalista arraigado na sociedade. A realidade dentro dos presídios brasileiros é
brutal, machista, opressora de gênero, reproduzindo desigualdades e a desconstrução
da personalidade, mostrando que foi criado apenas para reintegrar homens e no que
tange ao aprisionamento dos sentenciados LGBTQIA+ nada a serem discutido
fazendo com que sejam ainda mais invisibilizados (FERREIRA, 2021).
As mulheres, em específico mulheres transexuais, enfrentam diversos
problemas dentro da instituição prisional, sendo a principal questão a segurança,
estrutura dos ambientes e o entendimento da justiça diante da identidade de gênero.
Essas mulheres ficam totalmente desprotegidas e vulneráveis no presidio, pois não
existe a limitação dá diversidade e elas acabam ficando no presidio de sexo
masculino, sendo exposta a violação de seus direitos e diversos constrangimentos e
desrespeitos, como por exemplo, a proibição de seguir o tratamento de hormônios,
exposição dos seus seios durante banho de sol e até mesmo, abusos cometidos
dentro da cela pelos apenados homens (ESPINOZA; CARVALHO; BRITTO, 2022).
Ainda sim, que exista a Lei de Resolução Conjunta nº 01/2014, que estabelece
parâmetros de acolhimento para LGBTQIA+ em diversos contextos, é lamentável
constatar que por muitas vezes não é executada de forma correta.
Dessa forma, percebe-se o quão desumano é o tratamento com as mulheres
transexuais no âmbito carcerário. Dráuzio Varella (2019), comenta em entrevista como
a violência contra os transgêneros é uma realidade dentro e fora da instituição
prisional, sendo assim, um problema social.

294
Nesse atual cenário que vivenciamos das mulheres transexuais dentro de
âmbito carcerário, é de extrema importância o papel do psicólogo(a), pois sua atuação
é voltada para a saúde mental das mulheres, priorizando o bem estar de cada uma.

MATERIAIS E MÉTODOS

Este trabalho será para mostrar a realidade das mulheres transexuais no


sistema prisional brasileiro, abordando os principais problemas enfrentados por
elas e como a Psicologia deve abordar o seu papel dentro dessa demanda e
quais os maiores desafios enfrentados por elas.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Até o momento foram levantadas algumas questões de legislações citado


acima, com um objetivo de realizar um trabalho bibliográfico e documental para
que conseguíssemos entender quais sãos os desafios enfrentados por elas,
mulheres transexuais que ainda hoje, é um grupo muito vulnerável e além disso,
saber qual o papel do psicólogo e desafios encontrados por eles no contexto
prisional. Frente a isso, foram utilizadas diversas plataformas de artigos
científicos, como Scielo, Google Acadêmico, Pepsic para coleta de
informações.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao decorrer do trabalho, que fica até agora, é que realmente é as


mulheres transexuais tem um grande desafio no âmbito carcerário e ao decorrer
das pesquisas futuras para a realização do trabalho, mostraremos que mesmo
que exista leis, o Estado não cumpri, dessa forma, mostrando a verdadeira situação
delas no âmbito carcerário, os maiores problemas vivenciados por elas e também falar
sobre a importância de olhar da psicologia dentro do presídio pois é essencial para a
saúde mental das mulheres transexuais, sendo às que nasceram com o sexo biológico
masculino, mas se identifica como uma mulher.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Versa sobre as


leis constitucionais do país. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 05 jun.
2023.

BRASIL. Lei nº 7.210, de 11 de julho de 1984. Versa sobre a Lei de Execução


Penal. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7210.htm. Acesso
em: 05 jun. 2023.

BRASIL. Resolução Conjunta, nº 1, de 15 de abril de 2014. Estabelecer os


parâmetros de acolhimento de LGBT em privação de liberdade no Brasil. Disponível
295
em:<
file:///C:/Users/Usu%C3%A1rio/Downloads/Resolu%C3%A7%C3%A3o%20Conjunta
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Acesso em: 05 jun. 2023.

CARVALHO, Jéssica N. S. J. C.; SANTOS JR., Roberto E.; OLIVEIRA, Anderson E.


C. Situações de violação dos direitos humanos de mulheres trans e de
travestis encarceradas no Brasil. Ciências Jurídicas, v. 1, n. 1, p. 43 58, dez.,
2021. Disponível em:
https://periodicos.uniftc.edu.br/index.php/gdmdireito/article/view/111/19. Acesso em:
05 jun. 2023.

ESPINOZA, Fran; CARVALHO, Grasielle Borges Vieira de; BRITTO, Fernanda


Lacerda Chagas. DILEMAS CORPORAIS: A SITUAÇÃO CARCERÁRIA DE
MULHERES TRANSEXUAIS NO ESTADO DE SERGIPE - BRASIL. Quaestio iuris,
Rio de Janeiro, v. 15, n. 01, p. 397-419. Disponível em: <https://capes-
primo.ezl.periodicos.capes.gov.br/primo-
explore/fulldisplay?docid=TN_cdi_gale_infotracmisc_A704419528&context=PC&vid=
CAPES_V3&lang=pt_BR&search_scope=default_scope&adaptor=primo_central_mul
tiple_fe&tab=default_tab&query=any,contains,Mulheres%20transg%C3%AAneros%2
0encarceradas%20e%20as%20viola%C3%A7%C3%B5es%20de%20direitos%20sof
ridas%20no%20sistema%20prisional%20brasileiro.&offset=0>. Acesso em: 05 jun.
2023.

FERREIRA, Pedro. O encarceramento de mulheres transexuais e de travestis: a


efetividade dos direitos previstos na lei de execução penal frente à violência
institucional. In: UBERLÂNDIA, Universidade Federal de. Caderno Espaço
Feminino. 2. ed. Uberlândia: Maria Elizabeth Ribeiro Carneiro, 2021. p. 257-276.
Disponível em: <https://capes-primo.ezl.periodicos.capes.gov.br/primo-
explore/fulldisplay?docid=TN_cdi_crossref_primary_10_14393_CEF_v33n1_2020_1
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r=primo_central_multiple_fe&tab=default_tab&query=any,contains,mulheres%20tran
sexuais%20no%20carcere>.

FOUCAULT, Michel. 1999. Vigiar e Punir: nascimento da prisão. 20.ª ed. Tradução
de Raquel Ramalhete. Petrópolis: Editora Vozes.

ROSA, M. H. L. SISTEMA PENITENCIÁRIO BRASILEIRO: direitos humanos e o


princípio da dignidade da pessoa humana. Anápolis, 2018. p. 47.

VARELLA, Drauzio. Prisioneiras. São Paulo: Companhia das Letras, 2017.

VARELLA, Drauzio. Travestis. Folha de São Paulo. 2019. Disponível


em:<https://www1.folha.uol.com.br/colunas/drauziovarella/2019/02/travestis.shtml>.
Acesso em: 07 jun. 2023.

296
O IMPACTO DO FEMINISMO NA INDÚSTRIA DA BELEZA: ESTUDO SOBRE A
EVOLUÇÃO DAS MARCAS E CAMPANHAS PUBLICITÁRIAS PARA ATENDER
ÀS DEMANDAS DAS MULHERES

Aline Castro Nagy1


Érica Priscila Crispim Mendes2
Luciano Ferreira Rodrigues Filho3

Palavras-chave: Conquista Feminista; Inclusão da Mulher; Movimentos Feminista;


Igualdade de Gênero; Equidade; Gestão de Pessoas.

INTRODUÇÃO

Este artigo analisa a trajetória das mulheres no mercado de trabalho,


abordando temas como discriminação, preconceito, empoderamento, conquistas e
feminismo. Ao longo da história, as mulheres enfrentaram barreiras no mercado de
trabalho, mas têm lutado para superar obstáculos e conquistar posições de destaque
em diversas áreas. O movimento feminista foi fundamental para amplificar suas vozes
e defender a igualdade de gênero, enquanto a conquista de direitos trabalhistas
proporcionou igualdade de oportunidades. Apesar dos avanços, ainda há muito a ser
feito para garantir a equidade de gênero em todos os níveis hierárquicos e setores da
sociedade. É essencial continuar promovendo a inclusão, o empoderamento e a
equidade no ambiente de trabalho, valorizando o potencial das mulheres e garantindo
que suas vozes sejam ouvidas e respeitadas.

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

As culturas ocidentais ao longo dos séculos têm sido profundamente marcadas


pela construção das diferenças sexuais, em que a figura feminina foi associada ao
pecado e à corrupção do homem, conforme visto na tradição judaico-cristã. Essa
mentalidade reflete um sistema patriarcal que concentra o poder nas mãos dos
homens e subordina as mulheres, restringindo seu acesso ao espaço público e
perpetuando a dependência em relação aos homens. A partir do século XVIII, com a
chegada da modernidade, a divisão de papéis entre os gêneros se tornou ainda mais
rígida, relegando as mulheres ao espaço privado, destinadas a cuidar do lar e dos

1 Estudante do 10º termo de psicologia, Centro Universitário da Faculdades Integradas de Ourinhos,


Psicologia, [email protected]
2 Estudante do 10º termo de psicologia, Centro Universitário da Faculdades Integradas de Ourinhos,

Psicologia, [email protected]
3 Graduação em Psicologia Clínica e Organizacional pelo Centro Universitário de Ourinhos/UNIFIO,

graduação em Pedagogia pela Faculdade União Cultural do Estado de São Paulo e mestrado em
Psicologia Social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - PUC/SP, UNIFIO, Psicologia, lu-
[email protected]
297
filhos. Essa exclusão limitou suas oportunidades sociais e políticas, reforçando sua
dependência da figura masculina.
O movimento feminista contemporâneo teve origem nos EUA nos anos 1960 e
se expandiu para outros países industrializados até 1977. Sua principal luta é pela
libertação das mulheres e busca pela igualdade e respeito, com raízes históricas que
remontam desde as bruxas perseguidas na Idade Média até as sufragistas que
buscavam o direito ao voto. No Brasil, o feminismo foi influenciado pelos ideais
anarquistas e socialistas trazidos por imigrantes europeus, e as mulheres se
envolveram em lutas por melhores salários e condições de trabalho.
No século XX, o movimento feminista brasileiro se diversificou em correntes
mais conservadoras e mais incisivas, enfrentando oscilações de acordo com as
mudanças políticas no país entre as décadas de 1930 e 1960. Durante a Ditadura
Militar nos anos 1970, o movimento feminista se uniu a outros movimentos sociais de
resistência, como o dos negros e dos homossexuais.
No século XXI, as principais demandas do feminismo concentram-se no
combate à cultura do estupro, ao assédio e à violência contra as mulheres, além da
busca por políticas públicas que garantam igualdade de condições no mercado de
trabalho.
As mulheres enfrentaram lutas para conquistar direitos iguais aos dos homens
no mercado de trabalho. Por muito tempo, eram esperadas apenas para cuidar do lar,
enquanto os homens eram vistos como figuras superiores na sociedade. Durante o
século XX, especialmente durante as guerras mundiais, a participação das mulheres
no mercado de trabalho aumentou. No Brasil, a partir de 1930, houve mudanças
significativas no mercado de trabalho, mas ainda persistia discriminação, como
diferenças salariais e de cargos, justificadas pela ideia de menor força física das
mulheres.
O feminismo busca a igualdade de gênero e valorização das mulheres na
sociedade, mas historicamente a indústria da beleza explorou estereótipos e padrões
inatingíveis de beleza feminina. No entanto, algumas empresas têm adotado
estratégias de marketing mais inclusivas e empoderada, celebrando a diversidade e
valorizando a autoestima feminina. É essencial analisar de forma crítica se essas
empresas realmente apoiam o feminismo ou se estão apenas aproveitando o
movimento para aumentar as vendas. Empresas com ações consistentes e verdadeiro
apoio ao movimento feminista merecem o suporte das consumidoras. Algumas
marcas, como Avon, Dove, Fenty Beauty e Glossier, são exemplos de empresas que
valorizam a autenticidade e se comprometem genuinamente com a igualdade de
gênero em suas campanhas publicitárias. Essa tendência é valorizada pelos
consumidores que buscam marcas alinhadas com seus valores.

MATERIAIS E MÉTODOS

O estudo adotou uma metodologia de pesquisa bibliográfica abrangente,


revisando artigos científicos no Scielo e outros relacionados ao tema escolhido. A
pesquisa bibliográfica foi crucial como ponto de partida para a investigação,
identificando as principais contribuições acadêmicas e projetos existentes na área
selecionada.
298
Foram utilizadas palavras-chave estratégicas para conduzir a pesquisa
bibliográfica, garantindo a abrangência das fontes utilizadas e a inclusão de estudos
relevantes. Em seguida, os dados foram coletados a partir do site da empresa AVON,
analisando as capas das revistas de 1900 a 2022.
Uma análise crítica do conteúdo foi realizada, identificando conceitos-chave,
lacunas no conhecimento e abordagens metodológicas adotadas em pesquisas
anteriores. Essa análise permitiu uma base teórica sólida, fornecendo suporte para o
desenvolvimento das questões de pesquisa e dos objetivos do estudo.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A Avon, empresa de cosméticos fundada em 1886, é reconhecida por seu


marketing inclusivo e representação de diversos grupos em suas campanhas. Desde
o seu início, a empresa permitiu que as mulheres vendessem seus produtos,
proporcionando independência financeira em épocas em que poucas oportunidades
de trabalho estavam disponíveis para elas.
Diante disso, foi realizada uma análise das capas das campanhas desde 1900
até 2022. Observou-se que, embora a empresa tenha sido abordada para incluir
mulheres em suas campanhas, ao longo do tempo, as capas de revistas sempre
destacavam mulheres consideradas como padrões na sociedade da época. A
mudança significativa ocorreu a partir de 2016, com o lançamento da campanha "Dona
dessa beleza". A Avon percebeu a necessidade de abraçar a diversidade e
representar mulheres de diferentes origens e experiências em suas campanhas
publicitárias. Sua estratégia agora visa empoderar e fortalecer a autoestima de todas
as suas consumidoras, abordando questões de raça, etnia, orientação sexual, idade
e outras formas de diversidade.
Hoje, as capas das campanhas da Avon refletem uma visão vibrante da
diversidade, apresentando mulheres de diferentes etnias, tamanhos, idades e origens
geográficas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em resumo, a história tem sido marcada por uma mentalidade patriarcal que
oprime as mulheres, mas o movimento feminista surge como uma resposta poderosa
para buscar a igualdade de gênero, libertação e valorização das mulheres. No
contexto brasileiro, o feminismo tem enfrentado desafios ao longo do tempo, lutando
por direitos iguais no mercado de trabalho e combatendo a cultura de violência contra
as mulheres. Essa luta é contínua e essencial para construir uma sociedade mais justa
e igualitária.
Além disso, a indústria da beleza, historicamente associada à exploração de
estereótipos inatingíveis, está começando a adotar uma postura mais inclusiva e
empoderada em suas campanhas, abraçando a causa feminista e celebrando a
diversidade e autoestima das mulheres. Contudo, é fundamental que as consumidoras
avaliem de forma crítica o compromisso real das empresas com a igualdade de gênero
antes de apoiá-las. O movimento feminista é uma jornada pela emancipação das
mulheres e pela construção de uma sociedade onde homens e mulheres sejam
299
tratados com equidade e respeito. Essa luta deve ser continuamente apoiada e
fortalecida por todas as pessoas conscientes da importância da igualdade de gênero
para o progresso e a justiça social.

REFERÊNCIAS

COSTA, A. A. A; SARDENBERG, C. M. B. O feminismo no Brasil: reflexões


teóricas e perspectivas. Salvador: UFBA, 2008.

TENÓRIO, J; LEMOS, A. A Mulher no imaginário jesuíta: um olhar de gênero


sobre a produção da companhia de jesus no brasil, séculos XIV e XVII. Recife:
UFPE, 2004.

300
O LAÇO SOCIAL CAPITALISTA E SEUS EFEITOS PARA A POPULAÇÃO
EM SITUAÇÃO DE RUA: UMA ANÁLISE A PARTIR DAS CONTRIBUIÇÕES
DA PSICANÁLISE

Camila Silva Beguetto 1


Mayara Aparecida Bonora Freire 2

Palavras-chave: Pop Rua; laço social; Políticas Públicas; Psicanálise;


Capitalismo.

INTRODUÇÃO

A população em situação de rua (PSR) é definida como um grupo


populacional desigual, que possui a pobreza extrema, os vínculos familiares
fragilizados ou interrompidos e a falta de moradia como característica em
comum (Brasil, 2009). O último Censo, realizado em 2009, aponta 31.922
pessoas em situação de rua. Entretanto, em um levantamento realizado pelo
Observatório da UFMG (2021) por meio do Cadúnico, no mês de março/2021
haveria cerca de 160.097 pessoas em situação de rua. O Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada (IPEA, 2022), por sua vez, estima, atualmente, no Brasil,
existam cerca de 281.472 pessoas em situação de rua. Tais dados evidenciam
o grande aumento das pessoas em situação de rua nos últimos anos e, além
disso, da desigualdade social no cenário brasileiro.
Dessa maneira, essa pesquisa tem como objetivo analisar os efeitos do
capitalismo para a PSR. Para tanto, realizamos levantamentos bibliográficos
em base de dados digitais, e utilizamos a Psicanálise como operador teórico-
conceitual.

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

No Brasil, após a chamada "Abolição da Escravatura", as pessoas negras em


condição de “ex-escravas” não tinham empregos, habitação ou condições mínimas de
sobrevivência. A partir daí, reuniam-se em áreas mais afastadas da cidade,
conhecidas, atualmente como favelas, ou acabavam por ocupar as ruas (Cerqueira,
2011). Ademais, o êxodo rural, impulsionado pelo crescimento industrial do

1 Graduanda em psicologia pelo Centro Universitário das Faculdades Integradas de Ourinhos. Email:
[email protected]. Area de estudos: População em situação de rua, Políticas públicas e
Psicanálise.
2 Psicóloga clínica, docente, supervisora técnica e institucional. Doutoranda em Psicologia e Sociedade

pela UNESP/Assis. Atualmente, é coordenadora do Centro de Estudos e Práticas em Psicologia


(CEPP) do Centro Universitário de Ourinhos (UNIFIO). Tem experiência na atuação em Políticas
Públicas de Saúde Mental, em especial, os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS). Conselheira do
XVII Plenário do Conselho Regional de Psicologia de São Paulo (CRP 06).
301
governo Vargas no século XIX, aumentou significativamente a urbanização no
Brasil, ocasionando, dentre outros efeitos, o aumento da população em situação
de rua.
Do início do século XIX até os dias atuais, acompanhamos, então, que o
desenvolvimento industrial e tecnológico, assim como o enriquecimento de uma
pequena parte da população - beneficiadas pelo Capitalismo enquanto modelo
econômico de acúmulo de riquezas -, está intimamente ligado com a produção
de desigualdade social e o consequente aumento das pessoas em situação de
rua.

As pessoas vão para a rua porque a estrutura da nossa sociedade é


desigual. E por vivermos em uma sociedade capitalista, a
desigualdade é condição para que o capital possa se reproduzir e
aumentar sempre o seu lucro. (MNPR, 2010, p. 8 apud Tiengo, 2018.
p.139)

Para Marx, a riqueza do capitalismo vem da mercadoria que implementou


as necessidades humanas, mas não é resultado direto do trabalho. Dessa
forma, as riquezas se originam da exploração da mão de obra dos operários,
que recebem recompensas inferiores ao valor de seu trabalho. A diferença entre
o valor pago ao trabalhador e o valor que deveria receber é chamada de mais -
valia. Marx (1867, apud Lustroza, 2009) argumenta que a mais-valia não surge
do mercado, mas sim do controle das horas de trabalho do operário, exercido
em sua exploração.
Nesse sentido, ao falar do discurso do capitalista, Lacan irá trazer o termo
“mais-de-gozar” a partir da “mais-valia” em Marx (Badin; Martinho, 2017),
descrevendo que o trabalho do operário destinado ao proprietário represen ta
uma renúncia ao gozo, ou seja, a perda da possibilidade de beneficiar -se dos
produtos de sua força de trabalho. (Lustoza, 2009) Trata -se de uma espoliação
de gozo.

MATERIAIS E MÉTODOS

O presente trabalho trata-se de um recorte de um Trabalho de Conclusão


de Curso (TCC) em andamento, e caracteriza-se por ser uma pesquisa
bibliográfica de caráter qualitativo, a qual busca realizar uma análise sobre a
influência do capitalismo na população em situação de rua.
Para o desenvolvimento desse trabalho foram utilizados artigos, livros,
pesquisas quantitativas e decretos referentes a PSR e capitalismo, com o intuito
de fundamentar os conteúdos coletados, assim, contribuindo para uma análise
e compreensão do tema. A psicanálise do campo de Freud a Lacan foi nosso
operador teórico-conceitual.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Segundo Tiengo (2018), o capitalismo tem como objetivo aumentar a


produtividade com o menor número possível de trabalhadores. Dessa forma,
302
entende-se que a população em situação de rua advém da acumulação desigual
de riquezas.
Lacan compreende, então, que no discurso do capitalista não existe
relação entre o campo do agente e do outro, dessa forma não há laço social.
Nesse discurso o sujeito pode comandar, mas, o objeto a também pode
comandar o sujeito. “O que se verifica é um endereçamento dos objetos de
consumo, produzidos pela ciência e tecnologia (a) ao sujeito ($), foracluindo assim o
laço social”. (Banin e Martinho, 2017, p. 149)
Nessa lógica, constrói-se uma processa de completude e felicidade a qualquer
custo, com objetos temporários, nomeados como gadgets, para obtenção de gozo.
Entretanto, a situação de rua vem apresentar um furo nessa relação, já que aponta
para a falta, para o impossível da plenitude. (Nunes e Silva, 2019)
No laço social capitalista, a PSR é marginalizada, isolada e alvo de
exclusão. Conforme diferentes pesquisas apresentam, as dificuldades ocorrem
nos acessos a diversos espaços, inclusive, aqueles que deveriam ser de
garantia de direitos (Nunes e Silva, 2019). Ademais, tal população é
considerada como objeto, e não sujeito desejante, podendo ser manipulada ora
como mão-de-obra barata, ora como um risco ao cidadão de bem, ora como
alvo de caridade. Sobre esse último cenário, o laço social capitalista constrói
uma imagem de que quem doa sabe o que falta a quem está na rua, sendo a
caridade uma forma de suprir essas faltas. Quem recebe tal ação, como objeto,
precisa apenas agradecer. E está posta a espoliação do gozo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ainda que a pesquisa esteja em andamento, é possível levantar algumas


conclusões. A partir da discrepância entre os dados do Censo (2009), UFMG
(2021) e IPEA (2022), entende-se a grande necessidade de realização novas
pesquisas de caráter censitário para uma maior compreensão das condições
atuais da população em situação de rua no Brasil.
Ademais, mesmo que existam políticas públicas voltadas para a garantia
dos direitos da população em situação de rua, elas são escassas e muito das
vezes não os auxiliam. Dessa forma, a luta para a transformação da condição
de invisibilidade também implica em uma luta de transformação social.

REFERÊNCIAS

BADIA, B. Psicanálise a Céu Aberto: Dispositivo Clínico na Rua. Petconexoes.


Florianópolis, 2019. Disponível em:
https://petconexoes.paginas.ufsc.br/files/2019/09/Artigo-PET-Beatris-Badia-2.pdf
Acessado em: 20 março. 2023.

BADIN, R; MARTINHO, M.H. O discurso capitalista e seus gadgets. Trivium, Rio de


Janeiro, v.10, n. 2, p. 140-154, dez. 2018. Disponível em:
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2176-
48912018000200003 Acessado em: 02 jun. 2023.
303
BRASIL. Casa civil. Decreto nº 7.053, de 23 de dezembro de 2009. Institui a
Política Nacional para a População em Situação de Rua e seu Comitê Intersetorial
de Acompanhamento e Monitoramento, e dá outras providências. Disponível
em:http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2009/decreto/d7053.htm
Acessado em: 13 abril.2023.

BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Pesquisa


nacional sobre a população em situação de rua. Brasília. Dez. 2009. Disponível
em:https://www.mds.gov.br/webarquivos/publicacao/assistencia_social/Livros/Rua_a
prendendo_a_contar.pdf Acessado em: 17 abril. 2023.

CERQUEIRA, A. Evolução do Processo Social População em Situação de Rua:


um estudo sobre pobreza, necessidades humanas e mínimos sociais. 2011, 96
f. Monografia (Graduação em Serviço Social) Universidade de Brasília, Brasília.
Disponível em:
https://bdm.unb.br/bitstream/10483/2573/1/2011_AmaranthaSaTelesdeCerqueira.pdf
Acessado em: 22 abril. 2023.

DIAS, A. Dados referentes ao fenômeno da população em situação de rua no


Brasil. Belo Horizonte: Marginália Comunicação, 2021. 140 p. Disponível em:
https://drive.google.com/file/d/1g4osDpoxJqfqz0C3TtxZtGyxmyqdqde7/view?fbclid=I
wAR02APUGyVgbdZyV7neghixhsEFhdcxK8ZqyIwQFAZkmprxzYAVCV5HTH-U
Acessado em: 04 março. 2023.

NUNES, H; SILVA, T. Psicanálise e Residência na Rua: Situando Lugares


(Im)Possíveis. Psicanálise & Barroco. Rio de Janeiro, V.17, n.3, p. 132-157. Dez.
2019. Disponível em: http://seer.unirio.br/psicanalise-barroco/article/view/9624/8215
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LUSTOZA, R. Z. O discurso capitalista de Marx a Lacan: Algumas consequências


para o laço social. Ágora: Estudos em Teoria Psicanalítica. Rio de Janeiro, v.12,
n. 1, p. 41-52. Jan. 2009. Disponível em:
https://www.scielo.br/j/agora/a/Bs8QQF7CpWRtNJ36zYrpbKh/#ModalHowcite
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NATALINO, M. Estimativa da População em Situação de Rua no Brasil (2012-


2022). IPEA. Brasília, Ed. 1. 2022. Disponível em:
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_Publicacao_Preliminar.pdf Acessado em: 03 abril.2023.

SANTOS, F. P. Loucura em Ponta Grosssa/PR: uma história de desigualdades


expressas nas ruas. Pesquisas e Práticas Psicossociais. São João del-Rei, v.15,
n.2, p. 1-16, abril-jun. 2020. Disponível em:
http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1809-
89082020000200003&lng=pt&nrm=iso . Acessado em: 30 de junho. 2023
304
TIENGO, V.M. O Fenômeno População em Situação de Rua Enquanto Fruto do
Capitalismo. Textos & Contextos. Porto Alegre, v.17, n. 1 p. 138-150, jan/jul. 2018.
Disponível em:
https://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/fass/article/view/29403 Acessado
em: 19 maio. 2023.

305
O TRABALHO DO PSICÓLOGO NOS CENTROS DE REFERÊNCIA DA
ASSISTÊNCIA SOCIAL: ANTES E DEPOIS DA PANDEMIA

Myllena Maria Dos Santos Leite 1


Felipe Ferreira Pinto 2

Palavras-chave: Assistência social; CRAS; SUAS; Psicologia; Pandemia.

INTRODUÇÃO

A presença dos profissionais da psicologia nas políticas públicas da Assistência


Social passou a ser obrigatória desde o ano de 2005 com a implantação do Sistema
Único da Assistência social (Cordeiro, 2016). O SUAS apresenta, neste sentido, o
modo como a Política Nacional da Assistência Social deve ser operacionalizada nos
diferentes territórios do país. Portanto, essa nova concepção de atenção as pessoas
que estão em situação de vulnerabilidade ampliando o acesso a direitos sócias e
propondo formas de intervenção no cotidiano dos serviços dedicadas a construção da
cidadania e do protagonismo das pessoas usuárias do serviço. Assim, a Política
Nacional de Assistência Social propõe que o SUAS seja um novo modelo de
intervenção descentralizado e sob responsabilidade do Estado e que organização as
intervenções nos territórios por nível de complexidade, ou seja, a proteção social
básica e a proteção social especial de alta e média complexidade. A política define
então:

Os serviços de proteção social, básica e especial, voltados para a atenção às


famílias deverão ser prestados, preferencialmente, em unidades próprias dos
Municípios, através dos Centros de Referência da Assistência Social básico
e especializado. Os serviços, programas, projetos de atenção às famílias e
indivíduos poderão ser executados em parceria com as entidades não-
governamentais de assistência social, integrando a rede socioassistencial.
(MDS, 2004, p.43)

Na proposta do SUAS (Brasil, 2004) os psicólogos e as(os) trabalhadoras(es)


que compõem as equipes são responsáveis pela articulação dos serviços

1Estudante de psicologia, Centro Universitário de Ourinhos, Psicologia, [email protected] .


2Graduado em Psicologia, Curso reconhecido pela Portaria CEE/GP nº 436, de 08/08/2008, Mestre em
Psicologia e Sociedade pelo programa de Pós Graduação e Doutorando no Instituto de Psicologia no
programa de Psicologia Social e do trabalho. Possui experiência como Psicólogo no SUAS atuando na
proteção social básica e especial, educação permanente e gestão. Professor e coordenador do curso
de Psicologia no Centro Universitário das Faculdades Integradas de Ourinhos e supervisor de estágio
no campo da Assistência Social. colaborador do Conselho Regional de Psicologia de São Paulo CRP/
06, Subsede de Assis na discussão sobre a Psicologia na Assistência Social. Suas áreas de interesse
são: Psicologia e Políticas Públicas, Assistência Social, Psicologia Social e Psicanálise. Universidade
Estadual Paulista; Faculdade de Ciências e Letras de Assis; Faculdade de Ciências e Letras; da
Universidade de São Paulo, Psicologia, [email protected] .
306
socioassistenciais priorizando, no fazer cotidiano, o direito dos usuários do serviço
com compromisso e responsabilidade social. O CREPOP (2007) apresenta que o
trabalho dos psicólogos sociais constrói-se a partir das práticas que almejam o
enfrentamento das situações de risco e vulnerabilidade. Isto é, trata-se compreender
não apenas as fragilidades, mas também as potencialidades dos sujeitos que
demandam proteção social por parte do Estado Logo, o Centro de Referência da
Assistência Social (CRAS) oferece as famílias a possibilidade de acesso a benefícios
e programas sociais, a fim de garantir proposta protetivas que possam produzir, entre
outras questões, o fortalecimento de vínculos familiares e comunitários (MDS,2009).
A psicologia, ou melhor dizendo, as(os) psicólogas(os) na proteção social
básica trabalham com o objetivo de garantir a proteção, bem como a prevenção a
situações de risco social. Tratando-se da garantia, e promoção dos direitos sociais
priorizando, sobretudo, o fortalecimento e empoderamento familiar em territórios de
maior vulnerabilidade. O profissional da Psicologia na construção dos processos de
trabalho no campo social pode priorizar os direitos dos usuário, em detrimento de
concepções assistencialista e benemerentes que podemos acompanhar, por vezes,
no trabalho desenvolvido por este profissionais no SUAS.
O início da pandemia da COVID-19 em 2020, assim como FARO et al (2020)
apresenta o país já havia totalizado mais de trinta mil casos sendo que destes mais
de 1500 mortes foram confirmadas. Acompanhado do isolamento social veio a crise
social deixando inúmeros brasileiros desempregados, o aumento desta condição no
pais fez com que a demanda dos serviços sociais aumentassem significativamente.
Os profissionais presentes na assistência social desenvolveram novas estratégias de
atendimento que possibilitassem que os direitos dos usuários continuassem sendo
garantidos, deste modo o CRP-PR (2020) propôs aos profissionais da psicologia
fossem responsáveis pela adequação do desenvolvimento da sua atuação no período
pandêmico, utilizando métodos e técnicas na contribuição dos seus serviços.
O momento de crise exigiu dos psicólogos sociais a autonomia e
responsabilidade profissional de modo a compreender o contexto pandêmico e
identificar grupos com características de vulnerabilidade afim de reduzir os danos
acarretados pela crise social causada pela pandemia.

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Diante de um cenário assustador de crise exigiu-se dos psicólogos sociais a


autonomia e responsabilidade profissional de modo a compreender o contexto
pandêmico e identificar grupos com características de vulnerabilidade afim de reduzir
os danos acarretados pela crise social causada pela pandemia. Para que a promoção
de vida e a garantia dos direitos sociais ocorra de fato, é importante que os
profissionais conheçam a instituição em que estão inseridos e a demanda que o
território apresenta, mas assim como FARO et al 2020 apresenta a quarentena foi
fundamental para minimizar a propagação do vírus. Contudo, esse momento de
isolamento trouxe grandes desafios para as equipes que precisaram, do dia para a
noite, reinventar o modo de intervir na Assistência Social.

307
MATERIAIS E MÉTODOS

Para a realização da pesquisa foi utilizado como método a revisão bibliográfica


utilizando como fonte de pesquisa as plataformas do Scielo, Google acadêmico e
Pepsic, bem como a experiência do estágio supervisionado no campo da Psicologia
Social.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A pandemia do Covid-19 foi responsável por um grande impacto na sociedade,


afetando a população em diferentes fatores entre eles o social, o que trouxe uma maior
complexidade na atuação dos profissionais inseridos nos trabalhos sociais devido ao
aumento da demanda e as dificuldades apresentadas pelos atendimentos remotos
que foi, naquele momento, a estratégia adotada diante do cenário pandêmico. O
aumento da demanda em um momento em que toda as atividades presenciais foram
suspensas, trouxe inúmeros desafios para as forma de intervir no coletivo que antes
faziam parte do cotidiano das equipes e, especialmente, das(os) psicólogas(os). O
modo de fazer no coletivo buscava garantir a convivência social e o fortalecimento de
vínculos como uma das estratégias para pensar formas de reduzir os danos causados
pelo cenário de desigualdade social e falta de acesso a direitos sociais.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Considerando a crise sanitária ocasionada pelo COVID-19 que resultou em um


auto índice de desemprego os profissionais presentes na assistência social estiveram
na linha de frente dos atendimentos, assim como o CREPOP (2007) apresenta o
psicólogo no ambiente social deve construir praticas que possibilitem o enfrentamento
de situação de vulnerabilidade, diante da pandemia novas estratégias de atendimento
precisaram ser desenvolvidas para que toda a demanda fosse ser atendida e tivesse
seus direitos garantidos. Através dessa pesquisa pode-se analisar a reestruturação
das ações que buscam o desenvolvimento das ações técnicas de atendimentos a
pessoas usuárias do serviço, a fim de garantir modos de intervir pautados pela ética
profissional e compromisso social com a necessidade de garantir a proteção social
familiar a famílias e indivíduos no pós pandemia.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Lei n° 8.742, de 7 de dezembro de 1993 - Lei orgânica da assistência social.


Ministério do desenvolvimento social e combate à fome, 2009. Disponível em:
https://www.mds.gov.br/webarquivos/publicacao/assistencia_social/Normativas/LoasAnotada
.pdf. Acesso em: 01 jun. 2023.

BRASIL, Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Caderno de


orientações. Serviço de Proteção e Atendimento Integral à Família e Serviço de
Convivência e Fortalecimento de Vínculos. Brasília: MDS, 2016.

Brasil, Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome [MDS]. Orientações


308
Técnicas: Centro de Referência de Assistência Social - CRAS. Brasília, DF, 2009.
Disponível em:
https://www.mds.gov.br/webarquivos/publicacao/assistencia_social/Cadernos/Consolidacao_
Suas.pdf Acesso em 04 jun 2023.

BRASIL, Política Nacional da assistência social/PNAS. Ministério do Desenvolvimento e


Combate à Fome Secretaria Nacional de Assistência Social, Brasília, 2004. Disponível em
https://www.mds.gov.br/webarquivos/publicacao/assistencia_social/Normativas/PNAS2004.p
df. Acesso em 14 de Jul de 2023.

BRASIL, Ministério da saúde. Plano de contingência nacional para infecção


humana pelo novo coronavírus COVID-19, Centro de operação de emergências
em saúde Pública, Brasília, 2021. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-
br/coronavirus/publicacoes-tecnicas/guias-e-planos/livreto-plano-de-contingencia-
espin-coe-26-novembro-2020. Acesso em 31 de Jul de 2023.

BRASIL, Conselho regional de psicologia do Paraná. Nota técnica do CRP-PR nº


001/2020, Paraná, 2020. Disponível em: https://crppr.org.br/wp-
content/uploads/2020/03/Nota-T%C3%A9cnica-CRP-PR-001-2020-COVID19.pdf
Acesso em: 31 de Jul de 2023.

CORDEIRO, Mariana Prioli; SVARTMAN, Bernard; SOUZA, Laura Vilela e (org.). Psicologia
na assistência social: um campo de saberes e práticas. São Paulo: Psicologia/USP,
2018.

Caderno de Orientações do CRP-SP para atuação de psicólogas(os) na Assistência


Social. Categoria: Diversos. Publicado em: 5 de maio de 2020.

FARO, André; BAHIANO, Milena de Andrade; NAKANO, Tatiana de Cassia; REIS, Catiele;
SILVA, Brenda Fernanda Pereira da; VITTI, Laís Santos. COVID-19 e a saúde mental: a
emergência do cuidado. Estud. psicol. Campinas-SP 2020. Disponível em:
https://www.scielo.br/j/estpsi/a/dkxZ6QwHRPhZLsR3z8m7hvF/?format=pdf&lang=pt. Acesso
em: 31 de Jul de 2023.

FREIRE, Mayara Aparecida Bonara; PINTO, Felipe Ferreira; VIEIRA, Bruna Renata
Scarduelli. Os processos de Trabalho e os efeitos da pandemia no cotidiano do CRAS: Da
objetificação do sujeito à subversão da demanda. Revista Fórum UNIFIO, Ourinhos-S
2020.

309
O TRABALHO EM GRUPO NO CRAS: RELATOS E REFLEXÕES SOBRE A
PRÁTICA DE PSICÓLOGAS(OS) A PARTIR DA EXPERIÊNCIA DE ESTÁGIO EM
PSICOLOGIA

Otavio Pessoa Morales1


Felipe Ferreira Pinto2

Palavras-chave: Psicologia, Assistência Social, Política Nacional De


Assistência, Grupos Operativos, Psicanálise.

INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem por objetivo apresentar reflexões sobre a atuação de


Psicólogas(os) no SUAS e compreender suas ações dentro do CRAS.O Centro de
Referência em Assistência Social (CRAS) é um serviço público e estatal que se
encontra em regiões de vulnerabilidade social e atua através da Proteção Social
Básica e está alinhado ao que está previsto na Política Nacional de Assistência Social
(PNAS).Por Proteção Social Básica na PNAS a legislação diz:

São considerados serviços de proteção básica de assistência social aqueles


que potencializam a família como unidade de referência, fortalecendo seus
vínculos internos e externos de solidariedade, através do protagonismo de
seus membros e da oferta de um conjunto de serviços locais que visam a
convivência, a socialização e o acolhimento, em famílias cujos vínculos
familiar e comunitário não foram rompidos, bem como a promoção da
integração ao mercado de trabalho (BRASIL, 2004, p.36).

O conhecimento da política auxilia na compreensão do campo de


possibilidades que o Psicólogo (a) tem na atuação dentro do campo da Assistência
Social. As reflexões apresentadas neste relato de pesquisa foram sendo construídas,
a partir da experiência de estágio do último ano do curso de Psicologia, e que traz
consigo observações e intervenções de um CRAS de um município do interior do
Estado de São Paulo. Como previsto na Política Nacional de Assistência Social
(PNAS/2004):

1 Estudante do 10º termo de psicologia, Centro Universitário da Faculdades Integradas de Ourinhos,


Psicologia, [email protected]
2 Graduado em Psicologia pela Universidade Estadual Paulista (UNESP) - Faculdade de Ciências e

Letras de Assis (Curso reconhecido pela Portaria CEE/GP n 436, de 08/08/2008, publicada no D. O. E.
de 09/08/2008) e Mestre em Psicologia e Sociedade pelo programa de Pós Graduação da Faculdade
de Ciências e Letras - UNESP Campus de Assis e doutorando pela Universidade de São Paulo (USP).
É professor e coordenador do curso de Psicologia no Centro Universitário das Faculdades Integradas
de Ourinhos - UniFio e supervisor de estágio no campo da Assistência
Social. [email protected]
310
Tal conquista, em tão breve tempo, leva a uma rápida constatação: a
disponibilidade e o anseio dos atores sociais em efetivá-la como política
pública de Estado, definida em Lei. Muitos, às vezes e ainda, confundem a
assistência social com clientelismo, assistencialismo, caridade ou ações
pontuais, que nada têm a ver com políticas públicas e com o compromisso do
Estado com a sociedade. O MDS/SNAS e o CNAS estão muito empenhados
em estabelecer políticas permanentes e agora com a perspectiva prioritária
de implantar o SUAS, para integrar o Governo Federal com os Estados,
Distrito Federal e Municípios em uma ação conjunta. Com isso, busca-se
impedir políticas de protecionismo, garantindo aquelas estabelecidas por
meio de normas jurídicas universais (BRASIL, 2004, p. 12).

Portanto, o CRAS desde sua criação não se restringe ao acesso a benefícios,


benefícios eventuais, mas, em atuar também através do Serviço de Proteção e
Atendimento Integral à Família (PAIF) e sua ação territorial. O PAIF é definida
Conjunto de procedimentos efetuados a partir de pressupostos éticos, conhecimento
teórico-metodológico e técnico-operativo, com a finalidade de contribuir para a
convivência, reconhecimento de direitos e intervenção social (BRASIL, 2014, p. 12).
O PAIF é o documento de orientação norteador das ações possíveis que serão
executadas pela equipe dirigente dentro do serviço. No documento Orientações
Técnicas sobre o PAIF, v2 são designadas as ações:

São ações do Serviço de Proteção e Atendimento Integral à Família – PAIF:


• Acolhida;
• Oficinas com Famílias;
• Ações Comunitárias;
• Ações Particularizadas;
• Encaminhamentos. (BRASIL, 2014, p. 14).

Neste trabalho, apresentamos como a experiência do Estágio Supervisionado


e o contato com a bibliografia pertinente ao tema puderam suscitar análises em
relação as ações desenvolvidas no Programa de atendimento a Famílias e Indivíduos
(PAIF) no CRAS.

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

O trabalho enquanto estagiário dentro do CRAS inicialmente se designou no


campo do reconhecimento territorial, a fim de compreender as demandas dentro do
bairro, assim como, a compreensão de qual ação poderia ser feita para auxiliar o
serviço e investigar o alcance das ações de proteção social que estão previstas no
Sistema Único da Assistência Social e, principalmente, no CRAS.
Já nos primeiros dias de estágio observamos uma alta demanda de solicitação
de cestas básicas, pois os sujeitos que ali chegavam estavam em situação de
vulnerabilidade social e sem condições para garantir a própria necessidade de
alimentação. Ou seja, estavam em situação de insegurança familiar. Este cenário que
se apresentava como um contexto de urgência e de emergência por soluções
imediatas sobrecarregava a equipe técnica e trazia como dificuldade, alinhar as ações
do PAIF com o Serviço de Convivência. Dentro do Documento de Orientações

311
Técnicas do PAIF, v.2 é definido como responsabilidade da equipe técnica o trabalho
com as famílias.

A execução das ações do PAIF é de responsabilidade dos profissionais de


nível superior que compõem 16 a equipe técnica do CRAS, seja ela a equipe
de referência ou volante, pois conforme definição de trabalho social com
famílias, ele deve ser realizado: “a partir de pressupostos éticos,
conhecimento teórico-metodológico e técnico-operativo”, de modo a qualificá-
lo para a efetivação do alcance dos objetivos propostos pelo Serviço, sob a
supervisão do coordenador do CRAS. (BRASIL, 2014, p. 15-16).

Portanto, com a alta demanda, a equipe técnica não conseguiu acompanhar as


ações do Serviço de Convivência, ficando responsável principalmente pelos
benefícios eventuais como Cesta Básica e o cadastro do Benefício de Prestação
Continuada (BPC). A ação que mais evidenciou-se enquanto a possibilidade de
romper com o caráter imediatista das ações foi o acompanhamento em grupo nas
Oficinas com Famílias, principalmente como previsto no documento de Orientações
Técnicas acima citado “A opção de se trabalhar com um conjunto de famílias decorre
da compreensão de que as pessoas estão em contínuo processo de interação com o
outro.” (BRASIL, 2014, p. 24).
A proposta de acompanhamento nos grupos foi, neste sentido, uma grande
emergência dentro do serviço para um olhar mais atencioso. Dentro do Volume 2, a
política demonstra o enfoque benéfico que a condução de grupos em oficina pode
trazer:

As oficinas com famílias propiciam a problematização e reflexão crítica das


situações vividas em seu território, além de questões muitas vezes
cristalizadas, naturalizadas e individualizadas. Elas possibilitam o
entendimento de que os problemas vivenciados particularmente, ou por uma
família, são problemas que atingem outros indivíduos e outras famílias
reconhecendo, desta forma, nas experiências relatadas alternativas para seu
enfrentamento. Buscam, ainda, contextualizar situações de vulnerabilidade e
risco e assegurar a reflexão sobre direitos sociais, proporcionando uma nova
compreensão e interação com a realidade vivida, negando-se a condição de
passividade, além de favorecer processos de mudança e de desenvolvimento
do protagonismo e da autonomia, prevenindo a ocorrência de situações de
risco social (BRASIL, 2014, p. 24).

Já haviam grupos em andamento, Idosos, Mulheres e de Famílias, porém,


iniciou-se um projeto de Inclusão Produtiva, um grupo voltado para dialogar e ampliar
o acesso dos usuários dentro do mercado de trabalho e assim foi entregue como
possibilidade para conduzir este projeto. Neste momento vislumbrei a possibilidade
de entrecruzar a teoria de Grupos Operativos (G.O) de Pichon-Riviére adjunta a
prática prevista na política, onde busca esta compreensão dos problemas vivenciados,
a reflexão dos direitos sociais e o papel de uma ação conjunta através do vínculo, o
grande norteador dos Grupos Operativo. Por Grupo Operativo, segundo o artigo:
Grupos operativos na Atenção Primária à Saúde como prática de discussão e
educação: uma revisão de Kênia Kiefer Parreiras de Menezes e Patrick Roberto
Avelino, aponta a definição de grupo como:
312
Conjunto restrito de pessoas, ligadas entre si por constantes de tempo e
espaço, articuladas por sua mútua representação interna, que se propõem,
de forma explícita ou implícita, a uma tarefa que constitui a sua finalidade
(MENEZES; AVELINO, p. 125, 2016).

A escolha deste autor demonstrou-se importante pela relevância de se atuar


com uma tarefa através de um trabalho conjunto, este nível compreendido como
operativo. No livro: O Processo Grupal de Pichon-Rivière neste momento e a
nomeação de Grupo Operativo é caracterizado como:

O nome grupo operativo provém daí; na realidade, é uma denominação que


atribuí a esses tipos de grupos, porque nasceram num ambiente de uma
tarefa concreta (PICHON-RIVIÈRE, p. 273, 2020).

Portanto pode-se compreender operativo uma característica de atuação ativa


na realidade, compreender o grupo como um elemento que não perpassa apenas por
indivíduos singulares, mas, um conteúdo explícito que opera através da realidade e
outro implícito, latente, de uma ordem inconsciente que se vinculará com a tarefa
proposta do grupo. A técnica então é definida pelo autor como:

Pode-se dizer que consiste em dois aspectos fundamentais: o aspecto


manifesto, explícito e o aspecto implícito, ou latente. Nesse sentido,
aproximamo-nos da técnica analítica, que é na realidade tornar consciente o
inconsciente, ou seja, transformar em explícito o implícito. De um ponto de
vista técnico, parte-se em geral do explícito para descobrir o implícito com o
fim de torná-lo explícito e, assim, num contínuo movimento espiralado
(PICHON-RIVIÈRE, p. 273, 2020).

O grupo foi formado por duas mulheres e um homem e puderam ocorrer 4


encontros, onde através da mediação, cada singularidade pode ter papel relevante
para se discutir papéis de gênero, a dificuldade do acesso ao mercado de trabalho e
as aptidões que cada um possuía e demonstrava interesse para ingressar no campo
trabalhista. Apesar do pequeno número de encontros, pude observar através da fala
dos usuários o estabelecimento do vínculo quando começaram a se basear em pontos
de aptidão que cada um possuía, incluindo buscar a elaboração de situações
conflituosas dentro do grupo como a dificuldade de falar e de compreender do que era
capaz. A diferença de gênero pode trazer em pauta questões como cuidado,
cumplicidade e matrimônio, demonstrando que apesar da temática principal ser o
mercado de trabalho, o campo de demarcação dos usuários demonstrar as
problemáticas singulares e coletivas. Com isto, demonstrou-se a importância do
alinhamento teórico que norteou minha condução enquanto mediador, para possibilitar
a reflexão que ocorreu de forma grupal e ocasionou a vinculação dos usuários ao
grupo.

313
MATERIAIS E MÉTODOS

Inicialmente a metodologia proposta desta pesquisa é o relato de experiência,


com o objetivo de revisitar a literatura acerca dos trabalhos já produzidos por
Psicólogas (os) em grupo no SUAS, de forma que o campo da proteção social básica
e proposta protetiva do SUAS pudesse ser analisada.

RESULTADO E DISCUSSÃO

Esta pesquisa aponta que através do alinhamento teórico da psicologia social,


no diálogo com a teoria dos grupos, pudemos experiencia a possibilidade de propor
um espaço de atenção que estive dedicado a compreender as demandas no território
e garantir, neste sentido, o acesso a direitos socioassistenciais. Dito isso, tivemos a
preocupação de não psicologizar as ações no grupo e, tampouco, divulgar este
momento como um espaço terapêutico. No entanto, destacamos que a contribuição
acerca do manejo das técnicas do trabalho em grupo foram fundamentais para que
pudéssemos colocar a palavra para circular no serviço e almejar a construção de
novas formas de intervir que estejam preocupadas em pensar as questões sociais do
território. Portanto, o que estamos nomeando aqui de operativo nos grupos é, sem
dúvida, a possibilidade dos sujeitos reconhecerem neste espaço de acolhimento o
lugar para refletir sobre sua condição de existência, sem que sejam vitimizados e seus
comportamentos moralizados e julgados. Acompanhamos, em certas ocasiões,
discursos moralistas e culpabilizantes para com o sujeito que demanda proteção
social no CRAS, especialmente, os beneficiários dos benefícios eventuais como a
cesta básica ou viva leite. Portanto, tivemos a chance de analisar o campo da literatura
e dos documentos oficiais, de modo que as práticas cotidianas eram o momento em
que aproximávamos as discussões em sala de aula e o desafio de construir uma
intervenção teórica e técnica próxima da realidade social, bem como comprometida
eticamente com a construção de uma realidade social, mais justa e igualitária.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com a pesquisa ainda em andamento considerando sua prática supervisionada


em Psicologia social que problematiza o lugar de Psicólogas(os) na prática do CRAS,
o recorte da pesquisa aqui apresentada esteve a todo tempo articulada com a revisão
bibliográfica, de modo a construir novos questionamentos sobre os caminhos da
prática com os grupos dentro do Sistema Único de Assistência Social e,
especialmente, o trabalho de Psicólogas(os) nos grupos do CRAS.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Secretária


Nacional de Assistência Social. Política Nacional de Assistência Social. Brasília,
2005.

314
BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Secretária
Nacional de Assistência Social. Orientações Técnicas sobre o PAIF v.2. Brasília,
2012.

MENEZES, K. K. P. D.; AVELINO, P. R. Grupos operativos na Atenção Primária à


Saúde como prática de discussão e educação: uma revisão. Rio de Janeiro:
2016. 6 Disponível em: <
http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-
462X2016000100124&lng=en&nrm=iso >.

PICHON-RIVIÈRE, E. Teoria do Vínculo. MARTINS FONTES. 1988.

PICHON-RIVIÈRE, E. O Processo Grupal. MARTINS FONTES. 2020.

315
OS IMPACTOS DO POSICIONAMENTO POLÍTICO DAS MULHERES E AS
INIQUIDADES DE GÊNERO: UMA ANÁLISE EM UM MUNICÍPIO NO INTERIOR
DE SÃO PAULO-SP

Milena dos Santos e Costa1


Mayara Aparecida Bonora Freire2

Palavras-chave: Mulheres. Mulheres na Política. Brasil. Desigualdade de Gênero.


Representatividade Política.

INTRODUÇÃO

O presente estudo busca analisar quais são os impactos do posicionamento


político das mulheres no Brasil. A mulher, desde a infância, vivencia uma construção
histórica de comportamentos ideais que deve agir frente a sociedade, devendo ela
possuir hábitos que são típicos de um padrão exacerbado de adequação, e o principal:
aprende a se posicionar de maneira neutra em assuntos sociais como a política
(BEAUVOIR, 2016) (ZANELLO, 2018). O posicionamento neutro ou o não
posicionamento em relação às mulheres na política, resulta em diversas
problemáticas e faltas de representatividades nesse campo. Discutiremos nesta
pesquisa a importância desse tema, de como o conteúdo sobre mulheres na política
e a falta de representatividade feminina nesse espaço ainda é baixo (SANTOS, 2017).
A pesquisa está sendo realizada com base em uma pesquisa bibliográfica e
posteriormente com uma pesquisa de campo. A realização da pesquisa de campo será
por meio de entrevista semiestruturada com mulheres de diferentes idades, classes
sociais, raças e posicionamentos políticos, utilizando-se de perguntas que abordam
temas sobre: política, machismo, comportamento social e desigualdade de gênero.
Dessa forma, pretende-se coletar os dados e analisar a principal questão: quais são
os impactos do posicionamento político das mulheres no Brasil?

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Este trabalho fundamenta-se nos principais estudos de gênero, patriarcado,


machismo, psicanálise, violência contra as mulheres e violência política de gênero,
entre as mais diversas autoras (es), como: Simone de Beauvoir (2016), Judith Butler

1 Estudante do 10º termo de psicologia, Centro Universitário da Faculdades Integradas de Ourinhos,


Psicologia, [email protected]
2 Psicóloga clínica, docente, supervisora técnica e institucional. Doutoranda em Psicologia e Sociedade

pela UNESP/Assis. Atualmente, é coordenadora do Centro de Estudos e Práticas em Psicologia


(CEPP) do Centro Universitário de Ourinhos (UNIFIO). Tem experiência na atuação em Políticas
Públicas de Saúde Mental, em especial, os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS). Conselheira do
XVII Plenário do Conselho Regional de Psicologia de São Paulo (CRP 06),
[email protected]
316
(2021), Valeska Zanello (2018), Neuma Aguiar (2015 e 2000), Manuela d’Ávila (2022),
Pedro Ambra (2017) e entre outras (os).
O conceito de patriarcado no Brasil se adequa em um sistema de poder de
herança escravista, este um sistema de relação de poder e domínio, em uma figura
dominante e outra em que é dominada e submissa a afazeres e atividades
(HOLANDA, 2014). Nesse contexto, as mulheres são subordinadas aos homens,
sendo submissas de suas vontades, ordens, desejos e leis, sendo essas impedidas
de possibilidades de melhores condições de vida e de igualdade social (AGUIAR,
2000, p. 322).
A consequência e impacto de um sistema patriarcal vai além de um homem
estar acima sobre a decisão da vida de uma mulher e sim, imputando-lhe um lugar de
passividade e submissão, controlando cada vez mais seus desejos, sua forma de se
vestir e comportar-se, não permitindo uma vida de acesso ao trabalho e educação de
maneira igualitária e ter poder sobre suas vontades e sexualidade (AGUIAR, 2015).
A filósofa Simone de Beauvoir (2016) também reflete sobre os efeitos do
patriarcado para as mulheres, atribuindo-lhes uma posição de “segundo ser”. É
possível testemunhar tais efeitos, sobretudo, na desigualdade de cargos e
posicionamentos, conceitos, posturas e ações entre homens e mulheres.
Em nossa pesquisa, a discussão sobre a iniquidade entre os sexos debruça-se
sobre a participação desigual das mulheres na política, sendo esse campo um espaço
majoritariamente masculino, de acesso facilitado aos homens e com estruturas
machistas de resistência em relação à representatividade feminina.

MATERIAIS E MÉTODOS

A primeira fase dessa pesquisa está sendo realizada por um levantamento


bibliográfico, seguindo consecutivamente os seguintes passos: inicialmente
passamos pela escolha do tema principal o qual aqui já temos definido, levantamos
as bibliografias preliminares e assim realizando a formulação do problema, após essa
etapa realizamos a elaboração do plano provisório de assunto em apoio com a busca
de fontes embasadas cientificamente sobre o tema (como em artigos em periódicos
nas plataformas digitais Scielo e Google Acadêmico), utilizando as seguintes palavras-
chave: mulher; participação política; gênero, após a busca de palavras-chave estamos
finalizando com a leitura do material, fichamento e redação do texto (GIL, 2002).
A segunda parte da pesquisa tomará o percurso de realizar uma entrevista
semiestruturada com mulheres de diferentes idades, classes sociais, raças, religiões
e posicionamentos políticos. Essa seleção para entrevistas ocorrerá seguindo a
amostragem do tipo estratificada, selecionando ao total 12 mulheres a partir de 18
anos em um município localizado no interior do estado de São Paulo-SP, em
ambientes favoráveis e ricos para observações e discussões do tema, sendo estes
uma Unidade Básica de Saúde (UBS), uma Unidade de Saúde da Família (USF), um
Centro de Referência de Assistência Social (CRAS), a câmara municipal, e por fim, o
Centro Universitário das Faculdades Integradas de Ourinhos-SP (UNIFIO).
Desejamos realizar uma discussão com a psicanálise na análise dos dados
coletados, iremos utiliza-la como uma forma de pensar como um sujeito aqui
especificamente como uma mulher lida e constrói sua subjetividade, de como suas
317
respostas frente às perguntas da entrevistas podem ser visualizadas no meio social
em que está inserida, em sua convivência na sociedade como ser individual e coletivo,
como são seus efeitos nas modificações e mudanças em sua vida, nas identidades e
construções de sua história. Por ser uma teoria baseada nas representatividades do
inconsciente, da linguagem e da subjetividade acreditamos que seja muito rica para
se realizar a análise e interpretação dos dados coletados.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A primeira parte da pesquisa sendo a parte bibliográfica está sendo finalizada


com todos os suportes referenciais, dados e informações acerca do tema escolhido.
Não encontramos dificuldades em encontrar referências por ser um tema de atual
importância. Já a segunda parte do presente estudo está em processo inicial, estamos
agendando as entrevistas com as mulheres de cada instituição para que, assim,
consigamos concluir o cronograma das entrevistas, análise dos dados encontrados
nas entrevistas e considerações finais em correlação com a parte teórica em que
possuímos na pesquisa.
Os resultados encontrados até o presente momento, localizam-se nas
discussões aprofundadas sobre gênero, reflexões de o que é ser mulher na
sociedade, a história das mulheres em diversos campos e em nossa pesquisa focando
no campo político e social, contribuições e diálogos sobre a teoria da psicanálise
acerca dos questionamentos existenciais sobre as desigualdades entre homens e
mulheres e por fim, dados e informações históricas sobre a representatividade
feminina na política.
A entrada das mulheres no campo da política no Brasil é uma conquista recente,
tendo em vista que apenas foi conquistado o direito ao voto na Constituição das
décadas de 1920/30, promulgada pelo governo de Vargas durante todas as
manifestações e reivindicações dos movimentos e sufragistas da época (COSTA;
GONÇALVES, 2021, p. 102).
Podemos visualizar a minoria da participação das mulheres na esfera política
no Brasil, com os seguintes dados: a diferença de cargos entre vereadores e
vereadoras em uma cidade brasileira, analisando o Brasil como um todo, nos últimos
anos o percentual de votos para as mulheres diminuiu drasticamente, isso conclui que
em porcentagem abaixo de 15%, significando que há sete vereadores (homens) para
uma vereadora (mulher) (SANTOS, 2017). Um relatório nomeado como Global
Gender Gap Report 2021, do Fórum Econômico Mundial (WEF), destacou que no
Brasil existem poucas mulheres parlamentares (15,2%) e ministras (10,5%) e apenas
uma mulher esteve no papel de chefe estado, por apenas 5 anos, a ex-presidente
Dilma Rousseff (GAUDARDE, 2021).
Há um preço que se paga entre as mulheres que estão à frente dos movimentos
políticos, por mais que encontremos dados de suas participações na política, se há
consequência desse posicionamento. Um exemplo recente da consequência de um
posicionamento feminino político, encontra-se no crime de assassinato da vereadora
Marielle Franco e seu colega motorista Anderson Gomes, em 2018 no Rio de Janeiro.
Marielle era uma vereadora ativa nas questões políticas de gênero e não aceitava que
fosse silenciada pela opinião contrária de seu viés político. Marielle foi morta, foi
318
silenciada por defender causas dos povos vulnerabilizados, sua morte é um exemplo
do que uma mulher se paga de impacto quando se posiciona frente a esse modelo de
sociedade construído desde os primórdios patriarcalistas da Grécia Antiga até nos
dias atuais de nossa sociedade.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Algumas das considerações realizadas acerca do tema encontram-se em


nossa pesquisa bibliográfica. Percebemos nos dados e informações históricas, haja a
necessidade de políticas que impulsionem e valorizem a participação das mulheres
nesse espaço, bem como a construção e efetivação de ações de reflexões sobre os
papéis de gênero na sociedade.
A psicanálise pode contribuir para a crítica e para desmantelar as posições
discursivas que naturalizam a hierarquia entre os gêneros, pois, se a psicanálise, ela
própria, pôde se rever enquanto ciência que reproduzia, historicamente, esses lugares
definidos, seu dever atual é, então, enfrentar a estrutura do patriarcado, evidenciando
seus furos e apresentando nossas possibilidades para o laço social.

REFERÊNCIAS

AGUIAR, Neuma. (2015), "Patriarcado". In: FLEURY-TEIXEIRA, Elizabeth (org.)


Dicionário feminino da infâmia. Rio de Janeiro, Editora Fundação Oswaldo Cruz.

AGUIAR, Neuma. Patriarcado, sociedade e patrimonialismo. Sociedade e Estado:


Pensamento Social Brasileiro. Brasília, v. 15, n. 2, p. 303-330, jun-dez. 2000.

BEAUVOIR, S. O segundo sexo. 3. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2016.

COSTA, R. S. F. da; GONÇALVES, R. M. V. Participação da mulher na política


brasileira. Direito e Desenvolvimento. João Pessoa, v.12, n.1, p. 98-109, jan/jun.
2021.

GAUDARDE, G. Correção de desigualdades de gênero desacelera no 1º ano de


pandemia. EPBR, 2021. Disponível em: <https://epbr.com.br/correcao-de-
desigualdades-de-genero-desacelera-no-1o-ano-de-pandemia/>. Acesso em: 02 mai.
2023.

GIL, Antônio Carlos, 1946- Como elaborar projetos de pesquisa/Antônio Carlos


Gil. - 4. ed. - São Paulo : Atlas, 2002.

HOLANDA, Sérgio Buarque de. Raízes do Brasil. 27 ed. São Paulo: Companhia
das Letras, 2014.

SANTOS, B. 5 dados sobre a participação das mulheres na política brasileira.


Politize, 2017. Disponível em: <https://www.politize.com.br/participacao-das-
mulheres-na-politica-brasileira/>. Acesso em: 13 mai. 2023.
319
ZANELLO, V. Saúde mental, gênero e dispositivos: Cultura e processos de
subjetivação. Curitiba: Appris, 2018.

320
PANDEMIA SARS-COV-2: IMPACTOS DO ISOLAMENTO SOCIAL NO
DESENVOLVIMENTO BIOPSICOSSOCIAL EM CRIANÇAS

Juliana Betti de Oliveira


Tatiane Martins Souza 1
Fábio Sagula de Oliveira 2

Palavras-chave: Pandemia; COVID-19; Desenvolvimento; Crianças;


Isolamento Social.

INTRODUÇÃO

A pandemia do coronavírus afetou o mundo todo, tendo seu primeiro caso


da variante SARS-CoV2 identificado em Wuhan, na China, no final de 2019.
Nos primeiros meses de 2020, o vírus já havia se espalhado em todo o mundo,
começando pelo continente asiático e se disseminando por outros continentes
e países (FREITAS, ALVES & GAÍVA, 2020).
O COVID-19 teve um impacto devastador em todo o mundo,
contaminando um total de 37.717.062 milhões de pessoas e resultando em um
alarmante número de óbitos, que alcançou 704.659 mil pessoas somente no
Brasil (CORONAVIRUS BRASIL 28/07/2023).
As pessoas mais vulneráveis são aquelas pertencentes aos grupos de
risco, como aquelas com problemas de saúde pré-existentes e idosos, que
apresentaram maior predisposição ao vírus.
Dessa forma, a COVID-19 representou uma grave crise global de saúde
pública, com consequências sociais, econômicas e de saúde significativas para
as comunidades em todo o mundo. O combate à pandemia demandou esforços
colaborativos e contínuos da comunidade científica, governos e população em
geral para enfrentar e superar esse desafio sem precedentes.
Durante esse período desafiador, várias medidas preventivas foram
adotadas para conter a propagação do vírus, assim como o lockdown.
No entanto, essas medidas também tiveram consequências significativas
para a sociedade, especialmente para crianças e adolescentes, que
enfrentaram longos períodos de isolamento em suas casas. Esse isolamento
prolongado afetou negativamente o desempenho educacional e o
desenvolvimento psíquico, biológico e social desses jovens (AYDOGDU, 2020).
Um estudo conduzido pela University College London destacou que,
embora sejam uma minoria a apresentarem sintomas, crianças e adolescentes

1 Graduandas do curso superior de Psicologia, Centro Universitário das Faculdades Integradas de


Ourinhos (UNIFIO), Psicologia, [email protected] e [email protected]
2 Professor Universitário UNIFIO, Centro Universitário das Faculdades Integradas de Ourinhos

(UNIFIO), Psicologia, [email protected] .


321
podem enfrentar impactos graves na saúde mental (IMRAN et al., 2020). Eles
estão propensos ao desenvolvimento de ansiedade, estresse e depressão
devido às mudanças na rotina e no bem-estar (YESAMIN et al., 2020).
A escola desempenha um papel essencial na vida das crianças,
proporcionando um ambiente propício para interações sociais, discussões,
trabalho em grupo e a compreensão de seu papel na sociedade. Através dessas
experiências, as crianças passam por um processo significativo de
socialização, o que contribui para o seu desenvolvimento. No entanto, durante
o período de isolamento, a falta dessas interações sociais teve um impacto
negativo considerável nessa idade.

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Com início na cidade de Wuhan, na China, ao final de 2019, a variante


Sars-cov-2 popularmente conhecida como coronavírus e/ou covid-19 espalhou-
se rapidamente pelo mundo, já nos primeiros meses de 2020 havia tomado
conta do mundo todo (FREITAS, ALVES & GAÍVA, 2020).
Com sua rápida disseminação e contágio, fica quase impossível conter a
doença, os sintomas não são os mesmos para todos, para alguns, nem se
manifestam (os chamados assintomáticos). O público mais vulnerável são os
do grupo de risco, portadores de problemas de saúde pré-existentes e idosos,
que apresentam maior predisposição ao vírus, a disseminação do vírus ocorre
principalmente pelo ar e/ou superfícies contaminadas, tosse, espirro, levar as
mãos até os olhos, nariz e boca (PEREIRA, et al., 2020).
Com a rápida disseminação do vírus torna-se necessária a admissão de
uma série de protocolos, entre eles, o isolamento social. O cidadão deve
permanecer em sua casa, isolado do resto da sociedade, só podendo sair para
atividades essenciais, o público que sofreu mais impacto com isso foi o de
crianças e adolescentes, pois o isolamento trouxe consigo a desorganização de
rotina, diminuição de interação/contato social e aumento do tempo em telas,
tendo em vista que eram o único meio de entretenimento e contato com o resto
mundo. Estas condições afetaram de forma negativa no desempenho
educacional e no desenvolvimento psíquico, social e biológico deste público
(AYDOGDU, 2020).

MATERIAIS E MÉTODOS

Para a produção deste projeto foi realizada uma revisão integrativa e


especializada. Essa revisão abrangeu a busca por literaturas em bases de
dados relevantes, como Pvspisc e Scielo, que tivessem um referencial teórico
relacionado ao tema trabalhado.
O método utilizado para investigar e analisar a temática proposta foi o de
revisão integrativa, que permite sintetizar e realizar uma avaliação crítica das
informações encontradas. Essa abordagem possibilita a análise de diversos
estudos e fontes de conhecimento, proporcionando uma visão mais ampla e

322
embasada sobre os impactos do isolamento social durante a pandemia no
desenvolvimento biopsicossocial de crianças.
A revisão integrativa é uma abordagem importante para compreender às
consequências do isolamento social nas crianças, pois permite uma seleção de
informações relevantes de diferentes estudos, além de contribuir para o
embasamento teórico do projeto de conclusão de curso. Dessa forma, podemos
identificar padrões e evidências que auxiliem na construção de um trabalho
acadêmico mais completo e fundamentado.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A partir de uma revisão integrativa e especializada que ainda será


realizada, um levantamento e aprofundamento de dados nota -se um impacto
muito significativo de forma negativa no desenvolvimento biopsicossocial em
crianças durante o isolamento social no período pandêmico da Sars -cov-2
(Covid-19).
Desta forma, o confinamento forçado, mas necessário, impediu que as
crianças pudessem explorar, desenvolver e praticar sua infância de forma
tradicional, sem poder adquirir e aprimorar novas habilidades, o que cooperou
para dificuldades no crescimento pessoal, a falta de relações sociais
(essenciais) também ficou prejudicada (PULGATTI, 2012).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As medidas de isolamento adotadas para controlar a pandemia tiveram


impactos significativos no desenvolvimento psicossocial das crianças em idade
pré-púberes. O processo de confinamento mostrou-se prejudicial em termos
psicológicos, resultando em sentimentos de ansiedade, medo, depressão,
tristeza e culpa nas crianças. A pandemia do COVID-19 trouxe um isolamento
social sem precedentes para elas, o que afetou negativamente seu
desenvolvimento cognitivo, emocional e social, aumentando também o risco de
desenvolverem transtornos mentais (UNICEF, 2021).
A atenção à saúde mental e ao bem-estar emocional das crianças torna-
se ainda mais crucial em tempos de pandemia, e é essencial a implementação
de estratégias para apoiar seu desenvolvimento saudável durante esses
períodos desafiadores. Intervenções que promovam escuta qualificada, apoio
emocional, comunicação aberta e a busca de ajuda profissional, quando
necessário, são fundamentais para diminuir os efeitos negativos do isolamento
social nas crianças.
Os jovens enfrentaram níveis extremamente elevados de estresse e
angústia, e muitas vezes não conseguem lidar com essas demandas sozinhos,
o que pode resultar em traumas patológicos que afetam diretamente o seu
funcionamento, se não forem tratados. É necessário implementar projetos e
intervenções nas escolas, bem como desenvolver políticas públicas que
proporcionem acolhimento e apoio para esses jovens, que precisam enfrentar
desafios além da adolescência. Além de intervir diretamente com os jovens, é
323
essencial envolver os pais e professores para auxiliar na abordagem das
questões que eles estão vivenciando, a fim de reparar os danos causados pela
pandemia e pelo isolamento (SCHONARDIE; PIASON, 2022).
Por fim, concluímos que para enfrentar essas questões decorrentes do
isolamento, é fundamental que os profissionais de Psicologia estejam
capacitados para desenvolver estratégias efetivas e inovadoras no combate ao
adoecimento mental dos jovens. Conforme apontado pelas autoras
(TRINDADE; SERPA, 2013), os psicólogos devem atuar não apenas no pós -
catástrofe, mas também antes e durante o ocorrido, capacitando os pacientes
a lidar com os desafios e aumentando sua autonomia para enfrentá -los.

REFERÊNCIAS

APA. Academia Americana de Pediatria. Orientação provisória COVID-19: Retorno


aos esportes. Pediatria, n. 147(6), e2021051667, 2021.

ALMEIDA, I.; JÚNIOR, A. Os impactos biopsicossociais sofridos pela população


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325
PSICOLOGIA COMUNITÁRIA EM ÁREAS AFASTADAS: PESQUISA DE CAMPO
NA COMUNIDADE RIBEIRINHA DE MARQUÊS DOS REIS

Emanuela Lima Camilo de Oliveira1


Luciano Ferreira Rodrigues Filho2

Palavras-chave: Psicologia Comunitária; Psicologia; Comunidade; Pesquisa;


Ribeirinhos; Povos tradicionais.

INTRODUÇÃO

Entendida como um campo da Psicologia Social que visa, em sentido


humanitário, a compreensão dos problemas sociais e suas soluções, a Psicologia
Comunitária possui grande importância às questões sociais. Nesse sentido, o estudo
das comunidades, em prol do combate à marginalização e a possível integração
social, possui perseverança nesse novo campo da psicologia.
Com essa compreensão do que seria a Psicologia Comunitária, nota-se sua
eficiência em comunidades afastadas. O fato é que há ainda fatores que dificultam a
inserção social dessas comunidades, assim, possibilitando ainda mais em sua
marginalização e desigualdade. Seguindo essa análise, nota-se que o papel do
psicólogo para a possível intervenção nessas comunidades afastadas deve estar
atrelado ao profissionalismo de não denegrir a identidade e cultura local. Esse fato
pode ser destacado no seguinte trecho do artigo Desafios metodológicos ao estudo
de comunidades ribeirinhas amazônicas, de Calegare, Higuchi e Forsberg (2013, p.
574):

[...]o pesquisador deve estar munido não apenas de abordagens


teóricas e instrumentos de pesquisa, mas também deve carregar
consigo um princípio fundamental para as investigações nesta região:
o respeito à diversidade social e às práticas cotidianas da comunidade.

Nesse sentido, com o desfecho promovido pelo trecho anterior, diante do


princípio fundamental para as técnicas de observação e investigação, o projeto aqui
proposto possuirá como principal ponto de estratégia a amostragem do problema
referente à marginalização social dos moradores à margem do rio Paranapanema, na
comunidade de Marquês dos Reis, em Jacarezinho (PR). Além disso, será avaliado a
influência desses pontos na inserção social, especialmente no que diz respeito ao
apoio psicossocial. Com isso, a tentativa de intervenção do psicólogo comunitário,
nesse quesito, também será pautada como fundamental.

1 Discente do curso de Psicologia, do Centro Universitário de Ourinhos – UNIFIO.


2 Docente do curso de Psicologia, do Centro Universitário de Ourinhos – UNIFIO.
326
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Com o sentido de viabilizar e intervir de maneira responsável as dificuldades


de acesso à serviços públicos que são determinantes aos aspectos sociais, o tema
aqui proposto tem um papel importante para a tomada de decisão científica de
intervenção na comunidade em si, dialogando com a Psicologia Comunitária, com os
possíveis enquadramentos para uma solução plausível ao desfecho da situação
presente.
O precursor e antecessor desse projeto foi o levantamento bibliográfico de uma
das áreas mais afastadas do Brasil, as comunidades ribeirinhas do estado do
Amazonas (AM). Depois de um longo estudo, foi argumentado como uma proposta de
tema que vem em pauta quando se fala de invisibilidade social em quesito de
distanciamento geográfico e dificuldade de ascensão econômica, a região à margem
do rio Paranapanema, no bairro Marquês dos Reis, de Jacarezinho (PR).
Esse fator foi fundamental para a busca de pontos chaves que necessitam de
um enquadramento ético da Psicologia Comunitária, em parceria com os serviços
públicos do município, especialmente o Centro de Referência de Assistência Social
(CRAS). Diante desse fato, demonstra-se como fundamental para promoção desses
impasses presentes nessa região, a dificuldade de acesso à esse serviço, já que, de
acordo com sua localização mais próxima, o CRAS I fica a 17,9km de distância, no
bairro Aeroporto, seguindo a localização no Google Maps (Acesso em 22 fev. de
2023), deixando, assim, o papel dos profissionais dessa área se locomoverem, de
qualquer jeito, até os mais necessitados, como os moradores ribeirinhos- ponto esse
que deve ser compreendido e interpretado com ações de melhoria.
Nota-se que a pesquisa de campo, por meio da história de vida, foi, portanto, o
melhor instrumento para viabilizar esses desafios e, assim, possibilitar um novo
alavanque em propostas de intervenções comunitárias de inclusão social, com base,
principalmente, nas redes de apoio psicossocial.

MATERIAL E MÉTODOS

O método de pesquisa de história de vida é uma abordagem qualitativa que tem


como objetivo explorar a trajetória de vida de um indivíduo, suas experiências,
percepções, valores, crenças, emoções e significados atribuídos aos eventos
vivenciados. Esse método se baseia na premissa de que a história de vida é uma fonte
rica de informação sobre a pessoa e sobre o contexto social, cultural e histórico em
que ela está inserida.
Esse método geralmente envolve entrevistas abertas, semiestruturadas ou
estruturadas com o indivíduo ou com um grupo de pessoas que compartilham de uma
experiência em comum. As entrevistas podem ser conduzidas em diferentes
momentos, dependendo do objetivo da pesquisa, podendo ser realizadas antes,
durante ou após a vivência de um evento ou situação.
Para coletar dados, é comum utilizar técnicas de registro de áudio ou vídeo,
bem como anotações feitas pelo pesquisador durante as entrevistas. Além disso,
pode-se utilizar documentos pessoais e materiais que fazem parte da história de vida
do entrevistado, como fotografias, cartas, diários e outros registros.
327
A análise de dados na pesquisa de história de vida geralmente envolve uma
abordagem interpretativa, com o pesquisador buscando compreender a experiência
do indivíduo a partir de uma perspectiva holística. É comum utilizar técnicas de análise
de conteúdo e outras estratégias de análise qualitativa para identificar padrões, temas
e significados emergentes a partir dos dados coletados.
Em resumo, o método de pesquisa de história de vida é uma abordagem
qualitativa que busca compreender a experiência do indivíduo a partir de sua trajetória
de vida, utilizando entrevistas abertas e outras técnicas de coleta de dados. A análise
dos dados envolve uma abordagem interpretativa, buscando compreender os
significados atribuídos pelo entrevistado aos eventos vivenciados

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Localizada a 1km de Ourinhos (SP), Marquês dos Reis é um bairro do município
de Jacarezinho (PR) ficando a 18 km de distância desse. Ele se encontra na
convergência entre a BR-153 e a BR-369, permanecendo à margem esquerda do rio
Paranapanema, abaixo da ponte que divide os estados do Paraná e de São Paulo.
Sua divisão hidrográfica está presente ao lado do rio Paranapanema, em que há uma
enorme importância ambiental e agrícola para a região, especialmente no que tange
ao cultivo de cana-de-açúcar e às atividades agroindustriais com esse cultivo.
Salientado no Portal de Londrina (2012), o número de habitantes do bairro é em torno
de 2,1 mil indivíduos, a maioria deles trabalha na cidade de Ourinhos (SP), cuja
localização e oportunidade de emprego se tornam mais viáveis.
Com esse contexto, ademais, deve-se salientar a história por trás do
deslocamento desses sujeitos que não possuíam moradias, ou seja, os mais
marginalizados, à beira do rio Paranapanema. Esse fato foi motivado por diversos
fatores preponderantes no cotidiano de cada um, como aspectos econômicos e
sociais, e que será retomado com as entrevistas semiestruturadas.
Devido a essa circunstância, porém, outros moradores começaram a construir
assentamentos de lazer à beira do rio, sem nenhuma comprovação de proteção
ambiental e de compra/venda do terreno, como ranchos de lazer. Logo, essa situação
promoveu a ação do Ministério Público Federal (MPF) de Jacarezinho (PR), com
outros órgãos estaduais a sancionar a vistoria e, consequentemente, a ordem de
despejo e demolição dessas propriedades tidas como irregulares.
Essa ação foi sancionada de acordo com a Lei do Código Florestal, Lei nº
12.651/12, 25 de maio de 2012, Seção II: Do Regime de Proteção das Áreas de
Preservação Permanente Art. 7º “A vegetação situada em Área de Preservação
Permanente deverá ser mantida pelo proprietário da área, possuidor ou ocupante a
qualquer título, pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado”. Ou seja, os
sujeitos que se locomoveram à beira do rio, além de não possuírem a documentação
de propriedade, também alguns não cumpriram e mantiveram a vegetação da área
preservada, assim, coagindo a ação do Ministério Público Federal de Jacarezinho.
O grande impasse desse acontecimento, entretanto, está diante de alguns
moradores irregulares que não possuem moradias própria fora do Área de
Preservação Permanente (APP) e que serão ou já foram despejados. Esse fator será
analisado criticamente em prol de demonstrar a realidade de cada sujeito,
328
considerando os desafios psicossociais e econômicos, além da investigação do plano
de ação social dos órgãos regentes diante desse ato.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Lei nº 12.651/12, 25 de maio de 2012, Seção II: Do Regime de Proteção


das Áreas de Preservação Permanente Art. 7º. Brasília, DF: Presidência da
República [2012]. Disponível em: < https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-
2014/2012/lei/l12651.htm> Acesso em: 20 fev. de 2023

Calegare, M. G. A. Higuchi, M. I. G, & Forsberg, S. S. (2013). DESAFIOS


METODOLÓGICOS AO ESTUDO DE COMUNIDADES RIBEIRINHAS
AMAZÔNICAS. Revista SCIELO. Psicologia & Sociedade, 25(3), 571-580.
DOI:10.1590/S0102-71822013000300011 Disponível em:
<https://www.scielo.br/j/psoc/a/wZ5CwgnD35Gghv7hdmSc7tt/?lang=pt> Acesso em:
03 nov. de 2022.

MARQUES dos reis em Jacarezinho foi a passagem para a colonização do norte


paranaense. Folha de Londrina, 08 agost. de 2012. Disponível em:
<https://www.folhadelondrina.com.br/norte-pioneiro/marques-dos-reis-em-
jacarezinho-foi-a-passagem-para-a-colonizacao-do-norte-paranaense-
813604.html#:~:text=Atualmente%20s%C3%A3o%202.100%20habitantes%2C%20h
%C3%A1,um%20programa%20de%20habita%C3%A7%C3%A3o%20popular>
Acesso em: 12 fev. de 2023

SPINDOLA, Thelma Spindola. SANTOS, Rosângela da Silva. Trabalhando com a


história de vida: percalços de uma pesquisa(dora?). Rev Esc Enferm USP 2003;
37(2):119-26. Disponível em: <http://www.ee.usp.br/reeusp/upload/pdf/207.pdf>
Acesso em: 12 fev. de 2023

329
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E O PAPEL DA ASSISTÊNCIA SOCIAL: REFLEXÃO
SOBRE O SERVIÇO DO CREAS

Jonathan Ribeiro da Costa Pereira1


Tatiane Martins Souza
Thainara Aline de Azevedo
Felipe Ferreira Pinto2

Palavras-chave: Violência Doméstica; Assistência Social; Intervenção; reflexão;


CREAS.

INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem por objetivo discutir o campo da Assistência Social, a


partir da experiencia de Estágio Supervisionado em Psicologia Social que tem como
local de inserção institucional o Centro de Referência Especializado da Assistência
Social (CREAS) que tem como uma das funções prestar atendimentos para as
mulheres vítimas violência. Portanto, o serviço atende famílias e indivíduos que
tiveram seus direitos violados e estão em situação de risco social. As intervenções do
serviço estão dedicadas a acolher famílias e indivíduos que tiveram suas vidas
impactadas pelas situações de violência (CREAS, 2011). Diante disso, este trabalho
irá descrever o serviço do CREAS e suas propostas de atendimento para as mulheres
que estão, ou sofreram, algum tipo de violência.
A Organização das Nações Unidas (ONU) tem colocado a violência contra a
mulher como um problema de Saúde Pública e de violação dos Direitos Humanos. Em
relação à saúde pública, os dados apontam que umas das maiores causas de doença
nas mulheres, como depressão, angústia etc.
Para alcançar o objetivo da discussão que está sendo apresentada, foram
realizadas pesquisas bibliográficas sobre o tema da violência doméstica; a atuação
de psicólogas(os) na Assistência Social. As autoras colocam um dado relevante a
nossa pesquisa “violência cometida contra as mulheres é considerada um dos
principais entraves ao desenvolvimento de países do mundo inteiro.” (Lisboa;
Pinheiro, 2005, p. 2).
O Brasil está entre os países com os maiores índices de violência contra
mulher. Os dados são da Organização Mundial da Saúde (OMS) e que foram obtidos

1
Graduandos do 9° termo de Psicologia pelo Centro Universitário das Faculdades Integradas de
Ourinhos.
2
Graduado em Psicologia pela Universidade Estadual Paulista – Faculdade de Ciências e Letras de
Assis, Mestre em Psicologia e Sociedade pelo programa de Pós Graduação da Faculdade de Ciências
e Letras (UNESP – Campus Assis) e Doutorando no Instituto de Psicologia da Universidade de São
Paulo (USP) no Programa de Psicologia Social e do Trabalho. Atual coordenador do curso de Psicologia
do Centro Universitário das Faculdades Integradas de Ourinhos e supervisor do núcleo de estágio
Psicologia e Assistência Social.
330
a partir da investigação realizada em 80 países entre os anos de 2006 a 2011. Diante
disso, a legislação Brasileira que busca garantir proteção as mulheres no campo
jurídico.

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Conforme (Said et al;2022) violência doméstica e familiar é uma forma específica


de violência de gênero, caracterizada por agressões físicas, psicológicas, sexuais,
econômicas ou patrimoniais perpetradas por parceiros íntimos, familiares ou pessoas
com quem a vítima possui algum tipo de vínculo. Nesse sentido, destacam-se a
violência sexual, a violência interpessoal e a violência doméstica como formas de
violência que afetam diretamente as mulheres. Na experiencia do estágio,
acompanhamos o trabalho de Psicólogas(os) no CREAS, bem como da equipe
multidisciplinar e, por este motivo, tivemos acesso aos encaminhamentos da Rede de
Saúde e do Judiciário que chegavam ao CREAS. Assim como a bibliografia aponta,
notamos que os encaminhamentos traziam inúmeras situações de violação de Direitos
que não estavam restritas a violência física (Said et al;2022)
Durante a pandemia da COVID-19, observou-se um contexto de maior
vulnerabilidade para as mulheres, devido ao isolamento social e às restrições de
contato. Embora tenha havido uma redução na comunicação e no registro de casos
de violência sexual, lesão corporal e violência interpessoal em algumas regiões, isso
não significa que a violência tenha diminuído, mas sim que a comunicação e o acesso
aos serviços de denúncia foram dificultados. Nesse sentido, é fundamental
compreender as nuances dessa realidade para desenvolver estratégias eficazes de
enfrentamento. Muito embora essas informações não são desconhecidas das equipes
percebemos, no diálogo com as trabalhadoras(es) do serviço, o quanto a construção
de diagnósticos e informações atualizadas dificultam a construção de intervenções em
rede que sejam rápidas e eficazes.
A violência contra a mulher impacta negativamente sua segurança e cidadania,
pois as mulheres em situação de vulnerabilidade enfrentam dificuldades em garantir
seus direitos básicos, como o acesso à educação, saúde, emprego e segurança
alimentar. Além disso, a violência doméstica pode levar ao aumento do desemprego,
instabilidade social e política, insegurança alimentar, além de promover a
dependência econômica da mulher (Said et al;2022). Essas questões desafiam a
equipe do CREAS na construção de intervenções que possam, de fato, contribuir para
que mulheres superem essa condição.

MATERIAIS E MÉTODOS

Para realizar o trabalho, utilizamos como o método a pesquisa bibliográfica,


com ênfase na consulta a plataformas reconhecidas, como Scielo e Google
Acadêmico e a experiencia do estágio supervisionado em Psicologia Social. Essas
duas formas de promover uma análise sobre o lugar das Psicólogas(os) no SUAS
são estratégias utilizadas para que a discussão no espaço acadêmico e científico
possa contemplar a realidade e o campo teórico como ações que caminham juntas.

331
RESULTADOS E DISCUSSÕES

Mediante o estudo bibliográfico e a experiencia de campo que o estágio nos


oportuniza, nota-se que inúmeras pesquisas já executadas pontuam que as mulheres
destacam a importância da relação com os serviços como ponto de atenção e que
para elas, ao participarem das ações desenvolvidas pela rede, ou de algum projeto de
intervenção desenvolvido pelo CREAS elas se sentem mais seguras em denunciar
situações de violência. Destaca-se o acolhimento, o atendimento imediato,
confiabilidade e o entrosamento que acontece com as equipes. Brito e Koller (1999)
acrescentam sobre a importância da rede de apoio que, por meio dela, o indivíduo se
sente acolhido, respeitado e valorizado, o que influencia diretamente o
desenvolvimento da pessoa.
Um dos trabalhos que encontramos acerca da atuação de Psicólogas(os) no
CREAS foi “a dimensão do grupo com mulheres e que ao se realizar esta ação com
mulheres em situação de violência favorecem o desenvolvimento de projetos e de
habilidades destas mulheres” (Rosa; Regina, 2018). Segundo o Conselho Federal de
Psicologia, 2009 o grupo com mulheres tem surtido bastante efeito, com resultados
que ajudam a compreender o quanto a questão da violência precisa ser amplamente
discutida pelos serviços. Com isso, verificou-se também que a articulação com o
CREAS com outras redes de apoio favorece também as mulheres em situação de
violência, sendo que contribui para ampliação das interações com outras pessoas.
Com a revisão bibliográfica e as discussões em supervisão construímos uma
base para a chega até o campo para o contato com os grupos e frequentadoras da
rede de apoio CREAS, e todas as mulheres relataram sobre o que contribuiu para a
sua vida após a entrada no serviço, “foram: desenvolvimento da expressão de afeto
positivo, equilíbrio na saúde física, melhoria no sono, amadurecimento,
independência, autonomia nas tomadas de decisões, autoestima e autoimagem
fortalecidas” ( ROSA; REGINA, p. 661-685, dez. 2018).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Somos levados a crer, então, que a discussão sobre atuação com mulheres
vítima de violência não é algo pronto e acabado. Apontamos, a partir desta experiencia
de pesquisa e ação no campo, a necessidade da Assistência Social no âmbito da rede
de apoio (CREAS) qualificar a intervenção com essas mulheres em situação de
violência, de forma que a atuação dos profissionais e, especialmente da equipe do
CREAS, que promova intervenção por meio de grupo e atendimentos individuais
utilize a escuta como ferramenta para a construção de uma proposta de acolhimento
qualificado. Portanto, podemos apontar nesse recorte que traz o relato da experiencia
como algo que impulsiona as problematizações sobre a prática profissional a
necessidade da Assistência Social se preocupar em atender essas mulheres sem que
elas possam ser alvo de preconceito e julgamentos morais por parte das equipes.

332
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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apoio social e afetivo. In A. M. Carvalho (Org.), O mundo social da criança:
natureza e cultura em ação. (pp. 115-126). São Paulo: Casa do Psicólogo.

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theoretical models of human development. (Vol. 1, pp. 993-1028). New York: John
Wiley.

Comissão para a Cidadania e a Igualdade de gênero: Presidência do Conselho de


Ministros. Violência doméstica: Intervenção em Grupo com Mulheres Vítimas;
Manual para Profissionais.

LISBOA, Teresa; PINHEIRO, Eliane. A intervenção do Serviço Social junto à


questão da violência contra a mulher. V. 8, n. 2, julho - dezembro, 2005.

ROSA, Nailane; REGINA, Célia. O CREAS PAEFI na perspectiva de mulheres


vítimas de violência e profissionais: uma análise a partir da teoria bioecológica do
desenvolvimento humano. Psicol. rev. (Belo Horizonte), Belo Horizonte , v. 24, n. 3,
p. 661-685, dez. 2018 . Disponível em
<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1677-
11682018000300002&lng=pt&nrm=iso>. Acessos em 02 jun. 2023.
http://dx.doi.org/10.5752/P.1678-9563.2018v24n3p661-685.

SAID, Amanda; PAIVA, Karla; ARAÚJO, Neurialan; SANTOS, Juliana; MELO, Ana;
GOMES, Douglas. Intervenção com Mulheres Vítimas de Violência: Uma Abordagem
Multidisciplinar. Saúde e Transformação Social.

SILVA, Jéssica; CAVEIÃO, Cristiano. Mulheres vítimas de violência doméstica e a


intervenção do serviço social nas unidades pronto atendimento. 18º REDOR,
Universidade Federal Rural de Pernambuco, Recife-PE, 24-27 novembro, 2014.

333
VISÃO COMPUTACIONAL PARA DETECÇÃO DE EMOÇÕES: EXPLORANDO A
INTERFACE ENTRE TECNOLOGIA E PSICOLOGIA

Alan Silva Martins1


Luciano Ferreira Rodrigues Filho2

Palavras-chave: Emoção; Psicologia; Sistema de Informação; Visão Computacional.

INTRODUÇÃO

A capacidade de entender e interpretar as emoções humanas é essencial para


a interação social. No entanto, essa tarefa nem sempre é fácil, especialmente quando
a comunicação verbal é limitada ou inexistente. Nesses casos, a análise facial tem se
mostrado uma ferramenta eficaz para capturar as expressões faciais e inferir os
sentimentos subjacentes.
A inteligência artificial (IA) tem revolucionado diversos campos, e a análise
facial utilizando IA tem ganhado destaque como uma técnica promissora para a
detecção de sentimentos. Essa abordagem permite o processamento automatizado
de expressões faciais, o que pode fornecer informações valiosas em áreas como
psicologia, marketing, medicina, educação e segurança.
A compreensão adequada das expressões faciais pode ajudar a melhorar a
comunicação não verbal em diferentes contextos, sejam eles interações interpessoais
ou situações envolvendo interação humano-máquina. Ao compreender os
sentimentos expressos por meio da análise facial, é possível responder de forma mais
adequada e empática, melhorando a qualidade das interações.
Além disso, a análise facial baseada em IA pode oferecer uma análise mais
precisa e consistente das emoções humanas do que os métodos tradicionais. Por
meio do uso de algoritmos de aprendizado de máquina, é possível treinar sistemas
para reconhecer padrões sutis nas expressões faciais, aumentando assim a
sensibilidade e a precisão na detecção de diferentes emoções.
A implementação de sistemas de análise facial utilizando IA na detecção de
sentimentos tem uma ampla gama de aplicações. Na psicologia, essa tecnologia pode
auxiliar na avaliação do estado emocional de pacientes e no monitoramento de
distúrbios psicológicos. No marketing, pode ser utilizada para avaliar a receptividade
dos consumidores a campanhas publicitárias. Na educação, pode ajudar a identificar
o engajamento dos alunos em sala de aula. Na segurança, pode ser utilizada para
detecção de emoções suspeitas em aeroportos, estações de trem ou outros locais de
grande circulação.
Com o avanço da tecnologia, como o aumento da capacidade computacional e
a disponibilidade de câmeras de alta resolução, a implementação de sistemas de
análise facial em tempo real se torna cada vez mais viável. Esses avanços

1 Discente do curso de Sistemas de Informação, do Centro Universitário de Ourinhos.


2 Docente do curso de Psicologia, do Centro Universitário de Ourinhos.
334
tecnológicos abrem novas oportunidades para a aplicação prática da IA na detecção
de sentimentos, permitindo o monitoramento contínuo e em tempo real das
expressões faciais em diversos contextos.
Diante dessas justificativas, é evidente a relevância e a necessidade de
pesquisas na área de implementação de sistemas de análise facial utilizando
inteligência artificial na detecção de sentimentos. A compreensão das emoções
humanas por meio das expressões faciais pode contribuir para o desenvolvimento de
soluções mais eficientes em diversos campos, proporcionando melhorias na
comunicação, no bem-estar e na qualidade de vida das pessoas.

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

A compreensão das emoções humanas é um componente crítico da interação


social, uma vez que as emoções desempenham um papel fundamental na
comunicação e no entendimento mútuo. No entanto, a complexidade inerente à
interpretação das emoções, especialmente em situações de comunicação não verbal,
tem impulsionado a exploração de métodos inovadores para abordar essa questão. A
interseção entre tecnologia e psicologia tem proporcionado um terreno fértil para o
desenvolvimento de técnicas avançadas de análise, com destaque para a visão
computacional como uma ferramenta proeminente para a detecção de emoções
através da análise facial.
A crescente penetração da inteligência artificial (IA) em diversas áreas tem
gerado avanços notáveis, e a aplicação de técnicas de visão computacional utilizando
IA emergiu como uma abordagem promissora para a detecção de emoções humanas.
Essa abordagem utiliza algoritmos de aprendizado de máquina para analisar e
interpretar expressões faciais, fornecendo uma visão objetiva e automatizada dos
estados emocionais subjacentes. Essa capacidade tem uma ampla gama de
aplicações em campos como psicologia, marketing, medicina, educação e segurança.
Ao explorar a análise facial com IA, é possível melhorar significativamente a
compreensão da comunicação não verbal. A detecção e interpretação das emoções
expressas nas expressões faciais não apenas aprimoram a interação interpessoal,
mas também desempenham um papel crucial nas interações humano-máquina. Uma
compreensão mais profunda das emoções expressas permite respostas mais
adaptativas e empáticas, resultando em interações de maior qualidade.
A abordagem da análise facial com IA também oferece vantagens sobre os
métodos tradicionais de detecção de emoções. A capacidade dos algoritmos de
aprendizado de máquina de identificar nuances subtis nas expressões faciais leva a
uma detecção mais sensível e precisa de diferentes estados emocionais. Isso é
particularmente relevante no contexto da psicologia, onde a detecção precisa de
emoções pode auxiliar na avaliação do bem-estar emocional e no diagnóstico de
distúrbios.
A interseção da análise facial com IA e a segurança apresenta implicações
interessantes, com a capacidade de detectar emoções suspeitas em locais de grande
circulação, como aeroportos e estações de trem. Essa aplicação potencialmente
oferece melhorias na segurança pública, identificando indivíduos com comportamento
anômalo.
335
A evolução tecnológica, como o aumento da capacidade computacional e a
disponibilidade de câmeras de alta resolução, tem permitido a implementação de
sistemas de análise facial em tempo real. Isso abre novas perspectivas para o uso
prático da IA na detecção de emoções, permitindo a observação contínua das
expressões faciais em diversos contextos.

MATERIAIS E MÉTODOS

A metodologia proposta consiste em validar o algoritmo de inteligência artificial


(IA) para detecção facial das emoções, utilizando as categorias de nojo, tristeza,
medo, raiva, surpresa, felicidade e neutro. Serão capturadas as expressões faciais
dos participantes durante a exibição de vídeos direcionados a essas emoções. Após
a visualização de cada vídeo, os participantes serão solicitados a preencher um
questionário para informar o sentimento despertado pelo filme.
Com o objetivo de obter uma análise mais precisa, um índice foi construído
utilizando uma fórmula ponderada. A fórmula considera os pesos atribuídos a cada
emoção: nojo (N1), tristeza (T1), medo (M1), raiva (R1), surpresa (A2), felicidade (F2)
e neutro (N2). Os pesos variam entre 0 e 100, e o resultado é escalonado pela Escala
de Likert. Assim, os participantes informarão em uma barra de 0 a 100 o quanto se
sentem insatisfeitos (emoções negativas) ou satisfeitos (emoções positivas).
O índice será obtido pelo cálculo:

Compararemos os resultados obtidos no questionário com os resultados


obtidos pelo algoritmo de detecção facial. Isso nos permitirá avaliar a concordância
entre as respostas subjetivas dos participantes e a análise objetiva realizada pelo
algoritmo de IA.
Os resultados obtidos pelo algoritmo de detecção facial serão submetidos a
uma análise comparativa com as respostas do questionário, visando investigar a
concordância entre a análise objetiva proporcionada pelo algoritmo e a percepção
subjetiva dos participantes. Esse processo de comparação permitirá uma avaliação
sistemática da validade e confiabilidade do algoritmo em relação à detecção e
classificação das expressões faciais relacionadas às emoções investigadas.
Para realizar essa análise comparativa, serão utilizadas medidas estatísticas
adequadas, como coeficientes de correlação ou índices de concordância, que
permitirão quantificar o grau de relação entre os resultados obtidos pelo algoritmo e
as respostas dos participantes no questionário. Além disso, técnicas de análise de
concordância interjulgadores poderão ser aplicadas para avaliar a consistência entre
diferentes avaliadores humanos e o algoritmo de IA.
Essa comparação entre os resultados objetivos do algoritmo e as respostas
subjetivas dos participantes é fundamental para avaliar a acurácia e a validade do
algoritmo de detecção facial, bem como para fornecer insights valiosos sobre a
eficácia da tecnologia na interpretação das expressões faciais associadas às emoções
analisadas. Essa abordagem metodológica rigorosa e científica permite uma análise
336
robusta da concordância entre a análise objetiva e a percepção subjetiva, contribuindo
para o avanço científico e tecnológico nessa área.
Avaliação da eficácia do algoritmo: A partir da comparação dos resultados, será
possível avaliar a eficácia do algoritmo de IA na detecção facial das emoções,
considerando as diferentes categorias analisadas.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados obtidos com a aplicação da técnica de Visão Computacional para


detecção de emoções revelam uma taxa promissora de acurácia na identificação das
expressões faciais associadas a diferentes estados emocionais. A análise quantitativa
dos dados, por meio da escala de Likert, proporciona insights sobre a intensidade
relativa de cada emoção identificada. Isso não apenas valida a eficácia da técnica,
mas também enriquece a compreensão das nuances emocionais nas expressões
faciais.
A discussão dos resultados concentra-se na relação entre os achados obtidos
através da Visão Computacional e as teorias psicológicas clássicas sobre emoção.
São exploradas possíveis discrepâncias entre as emoções detectadas pela máquina
e as interpretações humanas, bem como a influência de fatores contextuais na
expressão emocional. Além disso, são discutidas as implicações práticas dessa
abordagem interdisciplinar para a prática clínica, pesquisa e outras aplicações no
campo da psicologia.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A pesquisa demonstra a promissora capacidade da Visão Computacional para


detectar e quantificar emoções humanas, oferecendo uma ferramenta valiosa para a
investigação psicológica e prática clínica. No entanto, é importante reconhecer as
limitações, como possíveis vieses algorítmicos e a necessidade de refinar a precisão
da detecção para emoções mais sutis.
As implicações das descobertas são vastas, incluindo aplicações em campos
como psicologia clínica, análise de interações sociais e design de interfaces
emocionalmente sensíveis. Esta pesquisa também abre portas para futuros estudos
que possam aprofundar a compreensão da intersecção entre tecnologia e psicologia,
explorando questões éticas, refinando algoritmos e investigando outras modalidades
sensoriais para a detecção de emoções.
Em última análise, a sinergia entre a Visão Computacional e a psicologia
oferece novas perspectivas para a análise de emoções humanas, proporcionando
insights valiosos que podem contribuir para uma compreensão mais rica e abrangente
da complexidade emocional humana.

REFERÊNCIAS

BOSTROM, Nick. Superinteligência: caminhos, perigos e estratégias para um novo


mundo. Rio de Janeiro: DarkSide Books, (2014) 2018.

337
BUOLAMWINI, Joy; GEBRU, Timnit Gebru. Gender Shades: Intersectional
Accuracy Disparities in Commercial Gender Classification. Proceedings of
Machine Learning Research 81:1–15, 2018

COELHO, Teixeira. Inteligência Artificial, ética artificial. In: COZMAN, Fabio G.;
PLONSKI, Guilherme Ary; NERI, Hugo. Inteligência artificial: avanços e tendências.
São Paulo: Instituto de Estudos Avançados, 2021.

MEAD, George Herbert. Mind, Self, and Society. Chicago: University of Chicago
Press, 1934.

RUSSELL, Stuart Jonathan; NORVIG, Peter. Inteligência artificial. Trad. Regina


Célia Simille. Rio de Janeiro: Elsevier, 2013.

338
VIVÊNCIAS ATRAVÉS DO RAP: UM POSSÍVEL INSTRUMENTO DE ANÁLISE DA
PSICOLOGIA

Maria Amélia Nunes


Nicoli Regina Duzi Barone1
Eduardo Toshio Kobori2

Palavras-chave:. Rap; Subjetividade; Capitalismo; Componentes de Subjetivação

INTRODUÇÃO

O Rap é sinônimo de representatividade para aqueles que produzem e


consomem, trazendo em suas letras relatos de vivências que intensificam o processo
de identificação com o grupo. Para além de um estilo musical, o rap é uma referência
e um componente de subjetivação, junto aos outros processos de vida, questões
sociais, biológicas e familiares.

O Hip Hop é uma estratégia de sobrevivência da cultura popular, é uma forma


de visibilidade de grupos excluídos das possibilidades. É uma ação política
que acontece a partir do corpo que dança, desenha, pensa, fala, reflete, sobre
os problemas que reverberam nas estruturas sociais em que estes corpos
coabitam. (Oliveira, 2008, p.1)

Historicamente essas produções denunciam o preconceito racial e econômico


do cotidiano periférico. Esse material é de suma importância para nós psicólogos e
pesquisadores, mas também para todos os indivíduos que demonstram interesse no
entendimento de como se dá esses fatos sociais que nos atravessam profundamente,
sendo reprodutor ou vítima.
Esta pesquisa tem como objetivo demonstrar o quanto a música pode ser usada
como instrumento de análise do sujeito e dos grupos, tendo como foco gênero Rap,
a subjetividade nas letras e o impacto do capitalismo na construção desta cultura. A
metodologia utilizada foi a revisão narrativa.

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

O Rap é a expressão musical-verbal do Hip-Hop, junto do Break (dança) e do


grafite (arte urbana). Advindo do Soul e, originário da comunidade afro americana,
“articula a tradição ancestral africana com a moderna tecnologia, produzindo um
discurso de denúncia da injustiça e da opressão a partir do seu enraizamento nos

1 Estudantes do último termo, Unifio, Psicologia, [email protected] e


[email protected]
2 Psicólogo (Unesp), mestre e doutor em Filosofia (Unifesp), Professor do curso de Psicologia do Centro

Universitário de Ourinhos, Unifio, [email protected]


339
guetos negros urbanos” (Dayrell, 2002. p. 126). Há também registros de influências
da Jamaica, ilha localizada no Caribe, com parte da população afro-caribenha, por
conta do volume de africanos levados até lá a força na condição de mão de obra
escrava. No Brasil, o Rap teve sua ascensão nos anos 80, pouco a pouco tomando
sua musicalidade própria, afinal o movimento se dá a partir da mestiçagem cultural,
uma mistura de culturas que se agregam sem anular as particularidades umas das
outras, colaborando para algo ainda maior ser criado (Cazé, Oliveira. 2008, p. 3).
Os bailes de rua eram momentos de interação entre jovens negros, de classe
baixa e vindos dos suburbios e favelas, associados aos mesmos estigmas, que
usavam dessa produção artística para desabafar a respeito das suas vivências.
Nesses espaços e a partir da cultura Hip Hop, desenvolveu-se uma identidade
individual e coletiva da juventude periférica, que perdura até os dias atuais.
Mansano (2009) discorre a respeito do conceito de subjetividade para Félix
Guattari, que se constitui a partir das interações com o outro, sendo esse outro um
indivíduo, um espaço, acontecimentos da vida, de maneira geral, tudo aquilo que nos
afeta. Ela é composta a partir da absorção de fragmentos presentes no social e “cada
um, ao mesmo tempo em que acolhe os componentes de subjetivação em circulação,
também os emite, fazendo dessas trocas uma construção coletiva viva” (Mansano,
2009, p. 111).
Através dessas trocas, a autora passa a dialogar a respeito de “componentes
de subjetivação”, que nos atravessam de diferentes maneiras, implicando nas formas
de existência e nos modos de ser. Diz também que Gilles Deleuze acreditava que o
sujeito não está dado por si só, como uma entidade pronta, e sim que se constitui a
partir dos encontros e das experiências com o outro, podendo estas passar
despercebidas ou serem tão intensas e, por vezes violentas, que ele se vê na
necessidade de se reorganizar e de buscar novos sentidos e significados para aquilo
ou para a sua existência. Este se torna um movimento vivo, temporal e ininterrupto da
própria vida, já que estará sempre sob influência de novos acontecimentos (Mansano,
2009).
A identidade grupal, como o próprio nome diz, é a presença e identificação com
um grupo específico, a partir de componentes de subjetivação semelhantes, que unem
os indivíduos através de uma mesma causa, podendo até terem vivências parecidas
relacionadas àquele objeto de identificação que os aproxima. São exemplos os grupos
religiosos, profissionais, acadêmicos, familiares, políticos, voltados a uma mesma
prática (seja ela qual for) e, conforme citado neste trabalho, grupos identitários a partir
do gosto por determinado estilo musical, intensificado pelo fato de que podem ter um
cotidiano similar ao retratado em grande parte das produções.
Maheirie (2001) revela que “o processo de construção do sujeito é realizado no
coletivo e que a identidade é construída por oposições, conflitos e negociações,
estando sempre em produção” (Apud. Silva, 2013, p. 654).
Para além de intercessora de pensamentos, a música também pode ser
considerada um dos componentes de subjetivação possíveis em nosso processo de
desenvolvimento, que “ganham importância coletiva e são atualizados de diferentes
maneiras no cotidiano de cada vivente” (Mansano, 2009, p. 111), ela tem o poder de
evocar emoções, despertar memórias e expressar experiências. A subjetividade se
manifesta na forma como cada indivíduo entende e dá significado às composições,
340
que são veículos poderosos para a expressão da identidade pessoal, pois uma
mesma música pode provocar diferentes emoções e respostas.

MATERIAIS E MÉTODOS

Para atingir nosso objetivo, fizemos uma revisão narrativa, utilizamos livros,
periódicos, artigos científicos, que se propuseram a trabalhar na mesma temática. A
primeira fase consistiu em buscar mais sobre a história do Rap, como ele surgiu no
Brasil e grandes nomes que foram de influência para sua chegada no país.
Posteriormente utilizamos letras de músicas de diversos artistas brasileiros para poder
justificar indagações e comparações com o cotidiano mais antigo e o mais atual, que
continuam a denunciar os mesmos preconceitos. Também nos debruçamos
sucintamente a respeito do conceito de subjetividade e identidade grupal, tendo em
vista, as ideias de Félix Guattari e Gilles Deleuze sobre a constituição da subjetividade
e de Pierre Bourdieu sobre os grupos.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A partir dos conceitos já citados, podemos considerar a música como um


componente da subjetivação dos sujeitos, aliada ao fato de que através dela cria-se
um grupo identitário, sendo este mais um ambiente onde haverão trocas que
contribuem para a (trans)formação do indivíduo.

A atividade musical pode ser vista historicamente como uma expressão


universal, sobre a qual o homem cria uma linguagem que representa e
transforma um determinado contexto. Dessa forma, a música pode ser
produtora de significados sociais/culturais e individuais, como também
divulgadora e reprodutora de vários significados. (MAHEIRIE, 2001, apud.
SILVA, 2013, p. 645).

Para além disso, tem-se através das produções relatos documentados a


respeito do sentir das pessoas, dentro de uma sociedade que valoriza mais algumas
vidas do que outras, a depender dos estigmas que carrega e da posição social em
que se encontra. Denúncias estas que se repetem desde o início do Rap até os dias
atuais, como podemos observar nos álbuns grupo Racionais Mc's, desde seu primeiro
álbum “Escolha seu Caminho”, de 1992, até seu último álbum “Cores e Valores”, de
2014, dentre tantos outros músicos da cena.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Sendo assim, após o período de estudos e análises no que se refere ao Rap e


todo seu movimento diante da subjetividade, tendo em vista sua tamanha importância,
devemos explicitar a necessidade de levá-lo em consideração junto ao olhar para o
grande número de pessoas que se identificam com esse gênero e cultura. Analisar as
obras, sejam elas as de maior repercussão, ou as de preferência do sujeito em
questão, é também uma maneira de entender como é o sentir através das
experiências vividas. A subjetividade se manifesta na forma como cada indivíduo
341
entende e dá significado às composições, que são veículos poderosos para a
expressão da identidade pessoal, uma mesma música pode provocar diferentes
emoções e respostas.
O Rap diz respeito à maneira como muitas pessoas enfrentam e olham para o
mundo, enquanto um movimento de denúncia e resistência, e é preciso que tenha o
devido reconhecimento, seja dentro de um espaço singular de atendimento e
tratamento psicológico, ou enquanto material de estudo de grupos em maior
proporção.

REFERÊNCIAS

CAZÉ, Clotildes Maria de Jesus Oliveira; OLIVEIRA, Adriana da Silva. Hip Hop:
Cultura, Arte e Movimento no Espaço da Sociedade Contemporânea. In: Encontro
de Estudos Multidisciplinares em Cultura, 4., 2008, Salvador. Anais Eletrônicos.
Salvador: Faculdade de Comunicação/UFBA, 2008. Disponível em:
<http://www.cult.ufba.br/enecult2008/14300.pdf>. Acesso em: 06 abr. 2023.

DAYRELL, Juarez. O rap e o funk na socialização da juventude. 2002. 136 f. TCC


(Graduação) - Curso de Psicologia, Universidade Federal de Minas Gerais, São
Paulo, 2002.

MANSANO, Sonia. Sujeito, subjetividade e modos de subjetivação na


contemporaneidade. Revista de Psicologia da UNESP, São Paulo, v. 8 n. 2, p.110-
117, 2009. Disponível em : <https://revpsico-
unesp.org/index.php/revista/article/view/78>. Acesso em: 06 abr. 2023.

VIEIRA SILVA, Marcos.; MIRANDA, Sheila Ferreira. Poder E Identidade Grupal : Um


Estudo Em Corporações Musicais Da Religiões Vertentes. Psicologia e Sociedade,
Universidade Federal de São João Del-Rei, Mato Grosso,v. 25, n. 3, p. 642–652,
2013.

342
O USO DA TECNOLOGIA DIGITAL E SEUS IMPACTOS NA SAUDE MENTAL E
DESENVOLVIMENTO DOS ADOLESCENTES

Jonathan Ribeiro da Costa Pereira1


Thainara Aline de Azevedo¹
Fábio Sagulade Oliveira2

Palavras-chave: Tecnologia Digital; Adolescência; Saúde Mental; Redes Sociais;


Educação.

INTRODUÇÃO

O foco central desta pesquisa é compreender as consequências do uso


excessivo de tecnologias digitais por adolescentes. Para isso, investigaremos quais
são os meios tecnológicos mais utilizados por essa faixa etária e avaliaremos a
gravidade dos problemas decorrentes do uso excessivo dessas tecnologias digitais.
O estudo tem como propósito obter um panorama claro sobre o impacto do uso
intensivo de dispositivos eletrônicos na saúde mental e no bem-estar emocional dos
adolescentes, buscando contribuir para a conscientização e adoção de medidas que
promovam um uso equilibrado e saudável da tecnologia na juventude.
Sendo assim importância dessa pesquisa se dá por se tratar de um tema de
extrema relevância, sendo que mais pesquisas e estudos são necessários para avaliar
o impacto na saúde física, mental e social após meses de confinamento que levaram
ao uso excessivo de mídias digitais. Outro motivo é que a adolescência é um momento
de transição dramática, e durante essa fase, esses indivíduos estão mais vulneráveis
a doenças emocionais, por isso é importante desenvolver estratégias para promover
a saúde e o desenvolvimento desses indivíduos.

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

A tecnologia se desenvolveu por séculos de evolução por meio da técnica, com


homens autores de múltiplos utensílios de acordo com as necessidades que
apareciam em distintas áreas da formação humana na procura de melhores
condições.
Na história da computação é relevante descortinar, mesmo reduzidamente,
alguns tópicos peculiares a fim de revelar sua importância na sociedade e de como

1 Graduandos do 10° termo de Psicologia pelo Centro Universitário das Faculdades Integradas de
Ourinhos.
2Possui graduação em Psicologia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho - UNESP

Assis/SP (2003). Mestre em Psicologia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho -
UNESP Marília/SP. Doutor em Educação pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho -
UNESP Marília/SP (2016); Também é docente do curso de Psicologia das Faculdades Integradas de
Ourinhos.
343
chegou à escola motivando os professores a aprenderem a utilizá-la em sala de aula.
No início da década de 1970 começa a construção dos PC (Personal Computer),
disseminado nas instituições públicas e privadas e, passaram a ser comercializados
para a população em geral. (VALENTE, 1994)
Para Moran (2001), a consideração de aprendizagem, desenvolvimento mental
está modificando e a função atualmente diante às novas metodologias educacionais
não se transforma, mas se expande. O que modifica são as considerações de
ambiente e período. Atualmente pode-se interatuar com milhares de pessoas sem
retirar-se de casa, do escritório ou da escola, pode-se trocar milhões de
conhecimentos e ainda acessá-las em segundos.
Os adolescentes lideram o ranking de uso de celular e internet. De acordo com
o último censo realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em
2010 e o Conselho Brasileiro de Governança da Internet (CGI.Br) em 2014, observou-
se que em um grupo de 34,1 100.000 pessoas de 10 a 19 anos no país Cerca de 81%
da população acessa a Internet todos os dias. Isso mostra o quão arraigada e
persuasiva a internet está nos lares brasileiros
Sob o ponto de vista de Nardon (2006), durante a adolescência, a vida social
se expande e a participação em diferentes grupos aos quais os adolescentes
pertencem, como: escola, esportes, cursinhos, lazer etc. No entanto, nem sempre é
assim e, em alguns casos, a intimidade e os encontros com grupos com os mesmos
interesses ficam à mercê das comunicações digitais.
As famílias têm o papel de ajudar a geração adolescente a resolver vários
problemas em que se encontram, por exemplo, usando tecnologias digitais para
ganhar experiências em mundos virtuais. As famílias devem estar cientes dos novos
estilos de comunicação, que mudam a forma como a comunicação dentro da família
é tratada.
De acordo com Silva e Silva (2017) o uso da tecnologia de forma indiscriminada
pelos adolescentes causa o desequilíbrio cognitivo do ser. Com isso, ela potencializa
os transtornos de atenção, transtornos obsessivos, de ansiedade e problemas com a
linguagem e a comunicação, o que afeta diretamente a aprendizagem.
De acordo com Zimerman (1999) e Calligaris (2011), pode-se afiançar que a
adolescência é caracterizada por transformações de resolução biopsicossociais,
assinalada por rupturas e aprendizados, ritos de passagens e procura por
pertencimento a determinado grupo fora do domínio familiar.
A adolescência não deve ser cenário somente como uma passagem para a
vida adulta. A criança ingressa na adolescência com muitos conflitos e inseguranças
e necessita sair dela com sua maturidade consolidada, com atitude e originalidade
adultos. (Aberastury&Knobel, 1981). É impraticável pensar em uma exclusiva
adolescência, de atitude universal. Trata-se de um fato psicológico e social, composto
histórica e culturalmente, designado como tal no século XX, sendo assinalada como
um procedimento de transição entre a infância e a vida adulta (Verza, 2008).
É necessária a união da escola com os pais orientando ao uso correto das
tecnologias para que os educandos não percam o interesse pelos estudos e entrem
em defasagem escolar. Assim, o advento da tecnologia e a ampla quantidade de
informações apresentam propiciado alterações expressivas no modo de ser e estar
no mundo, ou seja, nos valores éticos, moral, sociais e na qualidade das inter-relações
344
na contemporaneidade. O que não constitui que os jovens de tempos passados
cruzavam a adolescência sem encarar transformações, conflitos e problemas. Cada
geração defronta-se com as demandas características da realidade social na qual está
implantada (Shibuya, 2012), e, no mundo atual, a internet transcorre o
desenvolvimento de muitos adolescentes.

MATERIAIS E MÉTODOS

Para desenvolver o presente estudo, adotamos uma abordagem fundamentada


na pesquisa bibliográfica, buscando utilizar plataformas, como Scielo e Google
Acadêmico. Essas fontes nos permitirão acessar uma vasta gama de artigos
científicos que são essenciais para a coleta de informações mantidas e aprimoradas
sobre o tema em questão.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Os resultados obtidos nesta pesquisa ressaltam a estreita relação entre o uso


da tecnologia digital e a saúde mental dos adolescentes. A revolução tecnológica
trouxe inúmeras vantagens para a sociedade, incluindo o acesso rápido a
informações, facilidades na comunicação e avanços no campo educacional. No
entanto, também é evidente que o uso excessivo e deficiente dessas tecnologias pode
experimentar problemas na saúde mental dos jovens.
Um dos principais achados desta pesquisa é o impacto do uso prolongado de
dispositivos eletrônicos na saúde mental dos adolescentes. A exposição constante a
conteúdos virtuais, redes sociais e jogos eletrônicos pode levar a um estado de
alienação e desinteresse pelo mundo real, o que pode resultar em problemas de
relacionamento interpessoal e isolamento social.
Em síntese, os resultados desta pesquisa enfatizam a complexidade da relação
entre a tecnologia digital e a saúde mental dos adolescentes. É uma abordagem
multidisciplinar que visa compreender os aspectos positivos e negativos dessas
tecnologias, bem como para desenvolver estratégias de intervenção e prevenção que
garantam o desenvolvimento saudável e equilibrado da juventude na era digital.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao longo deste estudo, exploramos a interseção entre a tecnologia digital e a


saúde mental dos adolescentes, buscando compreender os impactos e desafios que
surgem nesse contexto. A revolução tecnológica e o fácil acesso aos dispositivos
digitais transformaram significativamente a forma como os jovens interagem com o
mundo e consomem informações.
Verificamos que, apesar dos benefícios proporcionados pelas tecnologias,
como a facilidade de acesso à informação e o aprimoramento da educação, há
também desafios emergentes. O uso excessivo e inadequado dessas ferramentas
pode levar a problemas na saúde mental dos adolescentes, como a alienação, o
isolamento social e o desenvolvimento de transtornos de ansiedade e depressão.

345
A adolescência é uma fase crucial do desenvolvimento, marcada por mudanças
físicas, emocionais e cognitivas, e o impacto da tecnologia nesse período requer
atenção e cuidado. Nesse sentido, é fundamental que pais, educadores e profissionais
de saúde estejam atentos ao uso consciente e equilibrado das tecnologias pelos
adolescentes, bem como à promoção de uma educação digital responsável.

REFERÊNCIAS

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https://noticias.universia.com.br/destaque/noticia/2005/01/28/490613/usa bilidade-e-
chave-aprendizado-em-ead.html. Acesso em: 18 jan. 2021

Cavalcante, Ricardo Bezerra et al. Inclusão digital e uso de tecnologias de


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Informação [online]. 2017, v. 22, n. 04 [Acessado 17 Abril 2022] , pp. 03-21.
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Nardon F. A relação interpessoal dos adolescentes no mundo virtual e no


mundo concreto [Trabalho de Conclusão de Curso]. Criciúma: Universidade do
Extremo Sul Catarinense; 2006

SILVA, Thayse de Oliveira; SILVA, LebiamTamar Gomes. Os impactos sociais,


cognitivos e afetivos sobre a geração de adolescentes conectados às tecnologias
digitais. Rev. psicopedag., São Paulo , v. 34, n. 103, p. 87-97, 2017 . Disponível
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84862017000100009&lng=pt&nrm=iso>. acessos em 10 abr. 2022.

346

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