Prospecção Geofísica E Geoquímica
Prospecção Geofísica E Geoquímica
Prospecção Geofísica E Geoquímica
GEOFÍSICA E
GEOQUÍMICA
Introdução à
prospecção mineral
Cristiano Rocha Born
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Introdução
A prospecção mineral visa à localização de uma jazida mineral (minerais metálicos,
industriais, gemas, petróleo, etc), que resulta de um evento geológico raro. Para que
esses eventos sejam identificados, é fundamental seguir uma série de estágios de
investigação geológica que buscam a delimitação e a quantificação de um corpo
mineralizado com vistas à sua extração econômica. É fundamental, portanto, para
realização das etapas, conhecer os guias e os critérios que identificam depósitos
minerais, a partir dos modelos metalogenéticos de sua formação.
Neste capítulo, você verá quais são os estágios da prospecção mineral, assim
como os parâmetros geológicos utilizados como guias para que os profissionais
envolvidos procedam com a investigação. Além disso, verá de que forma as téc-
nicas de prospecção são utilizadas em campo e em laboratório para efetivar a
quantificação e a delimitação dos recursos minerais exploráveis.
2 Introdução à prospecção mineral
1. Prospecção regional
A exploração mineral requer bases geológicas confiáveis e o conhecimento
consolidado sobre o elemento de interesse e sobre a região. A primeira fase
do trabalho de prospecção é caracterizada também por campanhas orien-
tadoras, durante as quais são testados os métodos passíveis de aplicação
nas etapas subsequentes. A utilização sequencial dos métodos assume uma
grande importância, especialmente na adequação do tempo disponível para
a pesquisa da área (SANTOS; RIBEIRO FILHO, 1989).
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2. Prospecção semirregional
Nesta etapa, os trabalhos de campo passam a reconhecer com agilidade as
feições previamente estudadas, abrangendo diversas atividades, como a ela-
boração de secções e perfis geológicos em cadernetas de campo, eletrônicas
ou impressas, nas quais são anotadas as observações das características
dos afloramentos investigados. Realiza-se o reconhecimento das principais
estruturas geológicas, assim como visitas a jazidas e ocorrências minerais
na região. É fundamental, nesta etapa, a coleta não sistemática de amostras
4 Introdução à prospecção mineral
3. Prospecção follow up
Após a delimitação de anomalias, parte-se para a geração de alvos em escala
local a partir de três subetapas: a geração do alvo (target generation), a avalia-
ção do alvo (target evaluation) e a sondagem exploratória (exploration drilling).
Busca-se a geração do alvo a partir de trabalhos com mais detalhamento que
a fase de reconhecimento (prospecção regional), buscando o entendimento
da anomalia de maneira a identificá-la em campo. Procede-se, então, com
a superposição dos mapas de anomalias (gravimétricas, magnetométricas,
etc) e com as informações geológicas para que, ao analisar os multifatores,
a conclusão seja mais segura. Além disso, nesta etapa, utiliza-se a geofísica
terrestre, mapeamento, cadastramento de ocorrências minerais e garimpos, e
essas informações devem ser relacionadas com um ou mais corpos potenciais,
além de descrever afloramentos em detalhes (GSA0405..., 2020).
4. Prospecção de detalhe
Busca definir a ocorrência por meio do mapeamento de detalhe (trincheiras,
poços, mapeamento detalhado — 1:5.000 ou maior). O objetivo é gerar ocor-
rências minerais propriamente ditas, com sondagem exploratória, buscando
fatores como continuidade e extensão (configurando um potencial corpo 3D)
da mineralização e/ou alteração associada em profundidade, porém ainda de
natureza exploratória das dimensões, por meio de: poços; RAB (Rock air blast);
RC (Reverse Circulation); FD ou DDH (Diamond drill-hole) (GSA0405..., 2020).
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5. Prospecção exploratória
Trata-se do detalhamento das dimensões do corpo mineralizado, com aumento
do detalhamento das sondagens. O modelamento 3D do corpo mineralizado
é finalizado, partindo-se para a avaliação dos recursos (Figura 1), em que se
obtêm a quantificação da reserva, os cálculos de viabilidade e o desenvolvi-
mento da mina. Desse modo, a prospecção cumpriu seu papel.
Prospecção
Reconhecimento
Pesquisa (s. s.)
Anomalia(s) Alvo(s)
US$ Recursos
Reserva(s)
Minério(s)
Lavra Avaliação
Estrutural
O controle prospectivo é estrutural quando a localização e a geometria do
minério dependem de determinadas estruturas tectônicas, como, por exemplo,
modificações nas atitudes de camadas (direção e mergulho), discordâncias,
ordem e grau das estruturas, contatos, estruturas dobradas, estruturas cir-
culares/ovaladas, dobramento superposto, fraturas, falhas, zonas e cinturões
de cisalhamento, lineamentos de superfícies “S”, escarpas de falha, sinclinais,
anticlinais, grabens e horsts. Essas estruturas podem servir de condutos aos
magmas carregados de minerais, bem como soluções fluidas que vão gerar
as mineralizações (ARCANJO, 2011).
A Mina Bonfim-II, da Província Borborema, no Rio Grande do Norte, é um
exemplo em um escarnito rico em tungstênio e ouro, disposto seguindo a
orientação N10ºE/30ºSE, cisalhado e estruturado sob a forma de boudins em
baixo ângulo de caimento. O ouro encontra-se em fraturas de cisalhamento
tardias, com orientação N70ºW/75ºSW, que seccionam e deslocam o escarnito
(PEREIRA et al., 2019). Ouro em fraturas é um típico exemplo de um controle
estrutural de um minério e a presença de fraturas é um critério prospectivo.
Estratigráfico
O controle é estratigráfico quando o minério ocorre em uma unidade específica
do empilhamento estratigráfico, como nos depósitos de ferro alojados em
formações ferríferas (BIFs – Banded Iron Formation) no topo de basaltos su-
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Litológico
Ocorre quando o bem mineral está restrito a um tipo de litologia, por exem-
plo, cobre em granitos pórfiros (modelo Cu pórfiro) e cromita em dunitos e
peridotitos (modelo Bushvell). A ocorrência de minérios sedimentares está
intimamente conectada com a litologia, na medida em que o potencial de
Introdução à prospecção mineral 9
Geomorfológico
Ocorre quando são condicionados por feições do relevo, tais como as lateritas
niquelíferas no topo de peridotitos situadas em topografias elevadas e planas.
Mesmo as feições estruturais, como movimentos relativos estabelecidos ao
longo de planos de falhas, podem impactar diretamente a geomorfologia de
um local. Por exemplo: ferro gerado em cadeias mesoceânicas.
Mineralógico
É quando está associado a minerais específicos, como pela associação do
uro nativo com os sulfetos de ferro em halos hidrotermais. Os minerais sa-
télite (rutilo, Cr-espinélio e piropo) para o diamante são outro exemplo de
controle mineralógico, pois podem indicar a ocorrência de kimberlitos na
área prospectada.
A importância do background
Identificar uma anomalia é fundamental no processo prospectivo. Mas, antes
disso, é preciso perguntar: quais são as referências das anomalias? As anoma-
lias têm de sempre ser avaliadas em relação ao seu entorno geológico: cada
situação é a síntese de um somatório de processos de movimentação dos
materiais da terra; em alguns casos, reflete pura e simplesmente a litologia
presente; em outros casos, eventos hidrotermais podem modificar a situação
esperada para uma determinada rocha. Assim, é fundamental determinar o
background da área, ou seja, o padrão esperado para aquela configuração
geológica de forma a obter um padrão para comparar. Esse background
pode variar de área para área e, por isso, deve ser tomado como uma faixa
de variação, em vez de um valor absoluto (LICHT, 1998).
Como orientação geral, a composição média das rochas pode ser bastante
útil; entretanto, a composição de muitas delas difere da média geral, tanto
para os elementos menores quanto para os elementos-traço. No caso dos
solos, a variação é ainda mais significativa, pois além da rocha original, há a
influência de vegetação, drenagem, perfil do solo e clima. A Figura 3 ilustra
a amplitude de variação dos elementos maiores e traço em solos.
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Figura 3. A amplitude de variação dos elementos de variação dos elementos maiores e traço
em solos. As porções brancas das barras indicam os teores menos comuns.
Fonte: Licht (1998, p. 57).
Figura 7. A retirada das amostras pode resultar em lâminas petrográficas; à esquerda, grão
de ouro em pseudomorfo de pirita; à direita, ouro em veio de quartzo junto a pseudomorfo
de pirita.
Fonte: Lobo (2017, documento on-line).
Canaletas
Dentro da prospecção de solos, é comum a utilização desta técnica de pros-
pecção, que consiste na criação de uma escavação no solo, cuja espessura
depende do minério, mas a profundidade é centimétrica, com espaçamento
entre canaletas de aproximadamente 1 m. O espaçamento depende da va-
riabilidade do minério e existem métodos estatísticos para se obter o valor.
Em geral, enquanto o amostrador corta o canal, uma segunda pessoa coleta
os fragmentos em uma caixa limpa, em um saco plástico, ou em uma lona.
Quando há a necessidade de realizar uma amostragem mais acurada a partir
de corte de canal cuidadosamente medido, o canal é cortado perpendicu-
larmente à zona mineralizada e a locação das amostras deve ser registrada
para o centro de cada intervalo de amostragem (STRIEDER, 2019).
Figura 8. Mapa geológico de uma trincheira: A) seção vertical; B) mapa do mundo da trincheira.
Fonte: Strieder (2019, p. 19).
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Leituras recomendadas
ALBARÈDE, F. Geoquímica: uma introdução. São Paulo: Oficina de Textos, 2011.
BONHAM-CARTER, G. F.; AGTERBERG, F.P.; WRIGHT, D. F. Integration of geological datasets
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