Prospecção Geofísica E Geoquímica

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 25

PROSPECÇÃO

GEOFÍSICA E
GEOQUÍMICA
Introdução à
prospecção mineral
Cristiano Rocha Born

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

>> Descrever os estágios da prospecção mineral.


>> Reconhecer guias e critérios prospectivos nos modelos de depósitos minerais.
>> Identificar as técnicas de amostragem nas campanhas de prospecção mineral.

Introdução
A prospecção mineral visa à localização de uma jazida mineral (minerais metálicos,
industriais, gemas, petróleo, etc), que resulta de um evento geológico raro. Para que
esses eventos sejam identificados, é fundamental seguir uma série de estágios de
investigação geológica que buscam a delimitação e a quantificação de um corpo
mineralizado com vistas à sua extração econômica. É fundamental, portanto, para
realização das etapas, conhecer os guias e os critérios que identificam depósitos
minerais, a partir dos modelos metalogenéticos de sua formação.
Neste capítulo, você verá quais são os estágios da prospecção mineral, assim
como os parâmetros geológicos utilizados como guias para que os profissionais
envolvidos procedam com a investigação. Além disso, verá de que forma as téc-
nicas de prospecção são utilizadas em campo e em laboratório para efetivar a
quantificação e a delimitação dos recursos minerais exploráveis.
2 Introdução à prospecção mineral

Estágios da prospecção mineral


O ciclo de vida de uma mina é composto por prospecção e exploração, se-
guido do desenvolvimento da mina, da sua exploração e do fechamento/
recomposição ambiental (MELLO, 2012). Assim, cada estágio é impreterível e
temporalmente sucessório e podem-se passar décadas desde a prospecção,
que indica locais favoráveis à mina, até o fechamento do empreendimento
mineiro, com a recomposição ambiental.
A prospecção, em conjunto com a exploração, é o ramo da ciência geo-
lógica que estuda os recursos minerais e os mecanismos para identificar
a ocorrência de depósitos economicamente viáveis. Essa busca tem como
método principal a observação de campo, que integra conhecimento teórico
e prático de outros ramos das ciências geológicas (por exemplo, mineralogia,
paleontologia, geomorfologia, geofísica, etc) e da economia. Esse processo
precede a explotação, fornecendo subsídios para a mineração e a geologia
de mina (KUZVART; BÖHMER, 1986).
O campo da prospecção pode ser aplicado em dois contextos distintos:
os projetos brownfield, em que se procuram depósitos minerais próximos às
minas já em andamento com o intuito de estender as reservas; e os projetos
greenfield, caracterizados pela prospecção de novas jazidas em terrenos ainda
não explorados. As empresas do ramo da mineração mantêm simultaneamente
projetos brownfield e greenfield visando maximizar a estrutura logística
existente e prolongar a vida útil da mina (VEARNCOMBE; PHILLIPS, 2019).
A avaliação do potencial mineral de determinadas regiões exige uma
análise crítica da geologia regional e a formulação de hipóteses explorató-
rias, baseadas em modelos metalogenéticos, de forma que a utilização de
tais critérios é vital para o sucesso de um programa de exploração (SANTOS;
RIBEIRO FILHO, 1989). Dessa forma, podemos abordar o ciclo prospectivo a
partir de quatro etapas principais, que serão descritas a seguir.

1. Prospecção regional
A exploração mineral requer bases geológicas confiáveis e o conhecimento
consolidado sobre o elemento de interesse e sobre a região. A primeira fase
do trabalho de prospecção é caracterizada também por campanhas orien-
tadoras, durante as quais são testados os métodos passíveis de aplicação
nas etapas subsequentes. A utilização sequencial dos métodos assume uma
grande importância, especialmente na adequação do tempo disponível para
a pesquisa da área (SANTOS; RIBEIRO FILHO, 1989).
Introdução à prospecção mineral 3

Nos últimos anos, novas bases de dados geológicos e geofísicos tornaram-


-se disponíveis e novos modelos metalogenéticos passaram a ser conside-
rados a partir de uma evolução no conhecimento geológico. Esses avanços
contribuem para que áreas antes descartadas possam agora ser potenciais
zonas de exploração mineral. Nesse sentido, expedições técnicas a outras
províncias e distritos minerais auxiliam na exploração com novas ideias acerca
do comportamento dos corpos mineralizados que podem ser adaptados
para outras áreas. Além disso, novas tecnologias de exploração tornaram-se
acessíveis, assim como mudanças políticas e legislativas facilitaram o acesso
às áreas antes indisponíveis (QUADROS, 2000).
É fundamental a análise de trabalhos técnicos das instituições especia-
lizadas e seus respectivos mapas geológicos, artigos científicos, além do
estudo de minas desativadas na região e de informações de pesquisadores
e consultores, permitindo a identificação de ambientes geológicos promis-
sores, para que áreas com potencial de mineralização sejam identificadas.
Ainda nessa fase inicial, nas áreas anômalas, deve-se realizar estudos de
mercado, levantamento de custos, elaboração de orçamentos e mobilizar
pessoal especializado. Ao final, a verificação in loco de informações com
saída de campo pode levar à decisão de investir na aquisição de áreas para
pesquisa mineral.
Portanto, esta etapa realiza uma análise crítica da geologia regional e a
formulação de hipóteses exploratórias baseadas em modelos metalogenéticos
empíricos, que irão conduzir as operações. Na fase inicial, é indispensável uma
avaliação criteriosa dos objetivos e procedimentos necessários à adequada
amostragem. Os jazimentos minerais resultam de sistemas complexos que
conjugam inúmeras variáveis; portanto, uma amostragem apropriada deve ser
orientada em base de documentação científica acurada, preferencialmente
assistida por geólogos com experiência no assunto (SANTOS; RIBEIRO FILHO,
1989).

2. Prospecção semirregional
Nesta etapa, os trabalhos de campo passam a reconhecer com agilidade as
feições previamente estudadas, abrangendo diversas atividades, como a ela-
boração de secções e perfis geológicos em cadernetas de campo, eletrônicas
ou impressas, nas quais são anotadas as observações das características
dos afloramentos investigados. Realiza-se o reconhecimento das principais
estruturas geológicas, assim como visitas a jazidas e ocorrências minerais
na região. É fundamental, nesta etapa, a coleta não sistemática de amostras
4 Introdução à prospecção mineral

(sedimento de corrente, concentrado de pesados (por exemplo, concentrado


de fundo de bateia), amostras de afloramentos, solos, estudos orientativos
para prospecção geoquímica).
Ainda nesta etapa, os trabalhos de campo são auxiliados por técnicas
de fotointerpretação, sensoriamento remoto, aerogeofísica, entre outras.
Por exemplo, as diferenças na refletância das imagens de satélite, com suas
nuances de cor, podem trazer valiosas informações e afunilar a busca. Já a
magnetometria, por exemplo, auxilia na identificação de rochas magnéti-
cas que contém combinações de magnetização induzida e remanescente.
Anomalias magnéticas podem ser relacionadas ao corpo ígneo, a processos
sedimentares ou à alteração, quer seja supergênica, quer seja hidrotermal
(GSA0405..., 2020).
Esta etapa é baseada em mapas geológicos em escalas de 1:200,000 ou
1:100,000. Neste estágio, as análises estratigráfica, tectônica, petrográfica
e hidrogeológica devem ser realizadas para que os critérios de prospecção
sejam determinados precisamente, e indicações de mineralização sejam iden-
tificadas de maneira tão acurada quanto possível (KUZVART; BÖHMER, 1986).

Veja a seguir alguns exemplos de sinais que podem ser observados


na etapa da prospecção semirregional (GSA0405..., 2020; MARANHÃO,
1982; KUZVART; BÖHMER, 1986).
„„ Nomes dos locais (p. ex., córrego do ouro).
„„ Geomorfologia (cristas sustentadas por silicificação ou “chapéu de ferro”).
„„ Tipos e características da vegetação podem constituir anomalias geobotâ-
nicas. (p. ex., em regiões de depósitos de fosfato a vegetação é exuberante,
ao passo que em áreas de rochas ultramáficas a vegetação é pouco desen-
volvida, devido à deficiência de potássio).
„„ Minerais guias: uso de minerais que compõem a ganga de minérios, objeti-
vando o rastreamento e a localização de depósitos metálicos e não metálicos;
geralmente apresentam grande resistência aos processos intempéricos.
„„ Gossans: produtos do enriquecimento supergênico de rochas sulfetadas.
„„ Cores dos solos e rochas em superfície: cor vermelha ou ocre ocorre em lito-
tipos com oxidação de Fe2+; cor verde ou azul ocorre em minerais secundários
de cobre (malaquita ou azurita); branco ocorre em minerais secundários
derivados de sulfetos de zinco ou chumbo.
„„ Boxworks: são espaços vazios ou preenchidos com limonita e goethita, que
mimetizam a forma do mineral original que foi intemperizado.
Introdução à prospecção mineral 5

Como resultado da etapa, objetiva-se a delimitação das anomalias, ou


seja, áreas com maiores chance de portar o elemento químico de interesse.
Para isso, recomenda-se (GSA0405..., 2020):

„„ Integração em base GIS de todas as informações geológicas, geofí-


sicas e geoquímicas disponíveis, incluindo dados sobre ocorrências
minerais, resultados de trabalhos de exploração prévios e posição de
anomalias; todas as ocorrências devem ser cadastradas, descritas,
plotando indícios de mineralização em mapa base.
„„ Reconhecimento da estrutura regional para orientar malhas de levan-
tamentos de geofísica terrestre e prospecção geoquímica.
„„ Seleção de alvos e descarte de áreas.
„„ Requerimento de autorização para Pesquisa Mineral junto à Agência
Nacional de Mineração.

3. Prospecção follow up
Após a delimitação de anomalias, parte-se para a geração de alvos em escala
local a partir de três subetapas: a geração do alvo (target generation), a avalia-
ção do alvo (target evaluation) e a sondagem exploratória (exploration drilling).
Busca-se a geração do alvo a partir de trabalhos com mais detalhamento que
a fase de reconhecimento (prospecção regional), buscando o entendimento
da anomalia de maneira a identificá-la em campo. Procede-se, então, com
a superposição dos mapas de anomalias (gravimétricas, magnetométricas,
etc) e com as informações geológicas para que, ao analisar os multifatores,
a conclusão seja mais segura. Além disso, nesta etapa, utiliza-se a geofísica
terrestre, mapeamento, cadastramento de ocorrências minerais e garimpos, e
essas informações devem ser relacionadas com um ou mais corpos potenciais,
além de descrever afloramentos em detalhes (GSA0405..., 2020).

4. Prospecção de detalhe
Busca definir a ocorrência por meio do mapeamento de detalhe (trincheiras,
poços, mapeamento detalhado — 1:5.000 ou maior). O objetivo é gerar ocor-
rências minerais propriamente ditas, com sondagem exploratória, buscando
fatores como continuidade e extensão (configurando um potencial corpo 3D)
da mineralização e/ou alteração associada em profundidade, porém ainda de
natureza exploratória das dimensões, por meio de: poços; RAB (Rock air blast);
RC (Reverse Circulation); FD ou DDH (Diamond drill-hole) (GSA0405..., 2020).
6 Introdução à prospecção mineral

5. Prospecção exploratória
Trata-se do detalhamento das dimensões do corpo mineralizado, com aumento
do detalhamento das sondagens. O modelamento 3D do corpo mineralizado
é finalizado, partindo-se para a avaliação dos recursos (Figura 1), em que se
obtêm a quantificação da reserva, os cálculos de viabilidade e o desenvolvi-
mento da mina. Desse modo, a prospecção cumpriu seu papel.

Fluxograma geral de exploração

Prospecção
Reconhecimento
Pesquisa (s. s.)

Anomalia(s) Alvo(s)
US$ Recursos

Reserva(s)
Minério(s)

Lavra Avaliação

Figura 1. Prospecção relacionada com a etapa anterior (reconhecimento) e com a etapa


seguinte (pesquisa mineral de detalhe), visando transformar uma anomalia em um alvo.
Segue-se o fluxograma até a avaliação de recursos, em que a viabilidade econômica deve
ser assegurada até a lavra e a extração do minério.
Fonte: Adaptada de GSA0405... (2020).

Guias e critérios prospectivos


Na busca prospectiva é impossível examinar em detalhe cada quilômetro de
uma área, pois é economicamente inviável e haveria grande perda de tempo
nesse processo. Em uma vasta área, o mineral de interesse pode ter sua
região aproximada ao utilizar critérios prospectivos — a partir de caracte-
rística geológicas em que direta ou indiretamente é sugerida a presença de
determinado depósito. Esses critérios prospectivos devem ser diferenciados
de indicações de mineralização, pois mostram diretamente a presença do
minério (KUZVART; BÖHMER, 1986).
Os guias prospectivos são como “pistas” que indicam a presença de anoma-
lias, também chamados de guias do minério. Pode-se utilizar guias tectônicos,
geomorfológicos, estratigráficos e litológicos, paleogeográficos, minerais,
Introdução à prospecção mineral 7

estruturais, etc., se vinculado com o aparecimento do minério e indicado a


sua presença. Assim, a prospecção baseia-se nesses fatores para identificar
com maior precisão a localização do minério de interesse, assumindo certos
critérios prospectivos que norteiam a busca de novas jazidas (STRIEDER, 2019).
A predição dos depósitos se baseia, portanto, em relações empíricas
alicerçadas em modelos, classes ou tipos básicos de depósitos conhecidos
amplamente; cada tipo ou classe de depósito é descrito como portador de
determinadas características, feições e estruturas geológicas similares, que
são comuns a um amplo grupo de minerais estudados, sendo reconhecíveis
em diversas escalas de investigação. Esse arranjo de elementos é usualmente
tratado como modelo descritivo do depósito, servindo como guia na busca
de novos depósitos de mesmo tipo, ou classe (QUADROS, 2000).
Os principais controles prospectivos podem ser apresentados de forma
estrutural e estratigráfica. Veja detalhes a seguir.

Estrutural
O controle prospectivo é estrutural quando a localização e a geometria do
minério dependem de determinadas estruturas tectônicas, como, por exemplo,
modificações nas atitudes de camadas (direção e mergulho), discordâncias,
ordem e grau das estruturas, contatos, estruturas dobradas, estruturas cir-
culares/ovaladas, dobramento superposto, fraturas, falhas, zonas e cinturões
de cisalhamento, lineamentos de superfícies “S”, escarpas de falha, sinclinais,
anticlinais, grabens e horsts. Essas estruturas podem servir de condutos aos
magmas carregados de minerais, bem como soluções fluidas que vão gerar
as mineralizações (ARCANJO, 2011).
A Mina Bonfim-II, da Província Borborema, no Rio Grande do Norte, é um
exemplo em um escarnito rico em tungstênio e ouro, disposto seguindo a
orientação N10ºE/30ºSE, cisalhado e estruturado sob a forma de boudins em
baixo ângulo de caimento. O ouro encontra-se em fraturas de cisalhamento
tardias, com orientação N70ºW/75ºSW, que seccionam e deslocam o escarnito
(PEREIRA et al., 2019). Ouro em fraturas é um típico exemplo de um controle
estrutural de um minério e a presença de fraturas é um critério prospectivo.

Estratigráfico
O controle é estratigráfico quando o minério ocorre em uma unidade específica
do empilhamento estratigráfico, como nos depósitos de ferro alojados em
formações ferríferas (BIFs – Banded Iron Formation) no topo de basaltos su-
8 Introdução à prospecção mineral

baquosos (modelo VHMS — volcanic exhalative massive sulphide). Um exemplo


de controle estratigráfico abundante no Brasil, especialmente na região Sul,
é o Ametista da Formação Serra Geral (Figura 2).

Figura 2. Descrição da posição de geodos de ametista no final do nível central da camada


vulcânica: exemplo de controle estratigráfico.
Fonte: Juchem (1999, documento on-line).

À medida em que um minério de interesse é conhecido por ocorrer em


um horizonte paleontológico ou estratigráfico definido, uma tarefa da pros-
pecção é determinar a extensão desse horizonte estratigráfico a partir de
mapeamento detalhado. Os critérios estratigráficos são especialmente im-
portantes na busca de depósitos sedimentares e hipogênicos. Ao redor do
mundo, depósitos de carvão, cobre sedimentar, urânio, fosfatos e bauxita,
além dos já citados depósitos de ferro, além dos de manganês, carbonatos,
argilas, vanádio e sal são restritas a determinados horizontes estratigráficos
(KUZVART; BÖHMER, 1986).

Litológico
Ocorre quando o bem mineral está restrito a um tipo de litologia, por exem-
plo, cobre em granitos pórfiros (modelo Cu pórfiro) e cromita em dunitos e
peridotitos (modelo Bushvell). A ocorrência de minérios sedimentares está
intimamente conectada com a litologia, na medida em que o potencial de
Introdução à prospecção mineral 9

ocorrência pode ser inferido pelas características dos sedimentos; a pros-


pecção de manganês sedimentar, por exemplo, pode se originar de rochas
nas vizinhanças de um lago ou de um recife (KUZVART; BÖHMER, 1986).

Geomorfológico
Ocorre quando são condicionados por feições do relevo, tais como as lateritas
niquelíferas no topo de peridotitos situadas em topografias elevadas e planas.
Mesmo as feições estruturais, como movimentos relativos estabelecidos ao
longo de planos de falhas, podem impactar diretamente a geomorfologia de
um local. Por exemplo: ferro gerado em cadeias mesoceânicas.

Mineralógico
É quando está associado a minerais específicos, como pela associação do
uro nativo com os sulfetos de ferro em halos hidrotermais. Os minerais sa-
télite (rutilo, Cr-espinélio e piropo) para o diamante são outro exemplo de
controle mineralógico, pois podem indicar a ocorrência de kimberlitos na
área prospectada.

A importância do background
Identificar uma anomalia é fundamental no processo prospectivo. Mas, antes
disso, é preciso perguntar: quais são as referências das anomalias? As anoma-
lias têm de sempre ser avaliadas em relação ao seu entorno geológico: cada
situação é a síntese de um somatório de processos de movimentação dos
materiais da terra; em alguns casos, reflete pura e simplesmente a litologia
presente; em outros casos, eventos hidrotermais podem modificar a situação
esperada para uma determinada rocha. Assim, é fundamental determinar o
background da área, ou seja, o padrão esperado para aquela configuração
geológica de forma a obter um padrão para comparar. Esse background
pode variar de área para área e, por isso, deve ser tomado como uma faixa
de variação, em vez de um valor absoluto (LICHT, 1998).
Como orientação geral, a composição média das rochas pode ser bastante
útil; entretanto, a composição de muitas delas difere da média geral, tanto
para os elementos menores quanto para os elementos-traço. No caso dos
solos, a variação é ainda mais significativa, pois além da rocha original, há a
influência de vegetação, drenagem, perfil do solo e clima. A Figura 3 ilustra
a amplitude de variação dos elementos maiores e traço em solos.
10 Introdução à prospecção mineral

Figura 3. A amplitude de variação dos elementos de variação dos elementos maiores e traço
em solos. As porções brancas das barras indicam os teores menos comuns.
Fonte: Licht (1998, p. 57).

No Quadro 1, veja como Reedman (1979) descreve os teores esperados de


ouro, manganês e lítio em diferentes meios geológicos (sedimento de corrente,
solo, rocha, água) e quais teores podem ser consideradas anomalias.

Quadro 1. Teores considerados como anomalia para ouro, lítio e manganês

Elemento Meio geológico Teor

Ouro Solo <10-50 ppb — valores maiores que 100 ppb


podem indicar uma anomalia.

Água 0 – 0.002 ppb

Lítio Sedimentos de 10 - 40 ppm


corrente

Solo 5 – 200 ppm.

Água 3 ppb > 20 ppb pode ser considerada uma


anomalia.

Manganês Sedimentos de 100 – 5000 ppm


corrente

Solo 200 – 3000 ppm

Água <1 – 300 ppb

Cinzas de planta 4800 ppm

Fonte: Adaptado de Reedman (1979).


Introdução à prospecção mineral 11

Para Licht (1998), anomalias geoquímicas são teores anormalmente altos


ou baixos de um elemento ou combinação de elementos, ou uma distribuição
anormal dos teores de um elemento ou combinação de elementos, em um
tipo de amostra particular, em um ambiente específico, determinado por
uma técnica analítica específica.
Assim, deve-se buscar as anomalias geoquímicas vinculadas ao elemento
de interesse, seja ele próprio, ou dos minerais vinculados a ele. Para isso,
como já vimos, o conhecimento dos modelos metalogenéticos é fundamental
para a caracterização de uma zona-alvo na prospecção; não só a química é
um indicador, mas o ambiente geológico, as estruturas apresentadas, as alte-
rações hidrotermais, entre outros aspectos que contribuem para a formação
de um modelo conceitual do minério de interesse.
Assim, as anomalias podem ser litogeoquímicas (rocha), pedológicas
(solos), hidrogeoquímicas (águas superficiais ou subterrâneas), biogeoquí-
micas (seres vivos de qualquer natureza), atmogeoquímicas (gases), ou dos
sedimentos de fundo de drenagem (LICHT, 1998). Por exemplo, o elemento ouro
(Au) comumente vincula-se aos sulfetos. Portanto, anomalias de sulfetos são
primeiros indicadores para a delimitação de uma área alvo. Outro aspecto
que pode indicar a presença de ouro são os veios de quartzo em estruturas
como falhas e dobras. Dessa forma, os veios de quartzo sulfetado constituem
guias prospectivos utilizados na investigação do ouro (GROVES et al., 1998).
Quando nos referimos ao cobre (Cu), os guias prospectivos dos chamados
cobres pórfiros buscarão regiões próximo a centros vulcânicos, onde recursos
minerais se associam em baixas profundidades e parte desse magma não
consegue chegar na superfície, cristalizando em intrusões rasas (1 a 2 km),
fazendo parte do magma que iria a um duto vulcânico em superfície. Esses
fluidos, por não conseguirem escoar, geram brechas nas rochas ao redor;
as mineralizações estarão associadas, portanto, com as zonas brechadas
(critério prospectivo).
O progresso da mineralização e da alteração tem relação íntima com
processo de fraturamento das hospedeiras, que condiciona o fluxo de fluidos.
Os sistemas hidrotermais acompanham intrusões de baixa profundidade,
com matriz afanítica e fenocristais de quartzo ou feldspato, gerando textura
porfirítica. São comuns a alteração potássica (que envolve minerais como
biotita e muscovita, entre outros); alteração fílica (com quartzo, sericita e
piroxênio); alteração propílica, em que carbonato, epidoto, clorita, albita,
entre outros, estão presentes; e alteração argílica avançada, que forma uma
capa no topo da intrusão. Essas alterações resultam de soluções ácidas e
12 Introdução à prospecção mineral

oxidantes, caracterizadas por grandes volumes de quartzo e caolinita (TITLEY;


HICKS, 1966; GUSTAFSON; TITLEI, 1978, PIERCE; BOLM, 1995).

Técnicas de amostragem nas campanhas de


prospecção mineral
As técnicas utilizadas na prospecção dependem das características geológico-
-geomorfológicas de cada contexto em que ocorre a mineralização. As rochas
onde a ocorrência mineral se encontra — o chamado corpo mineralizado
— podem ser a fonte do solo, ou com ele interagir. Na interação com a água
subterrânea, as rochas podem deixar importantes traços químicos, assim como
no curso hídrico próximo; a vegetação que se relaciona com determinados
metais da mesma forma é catalogável e pode ser um indicativo importante
na prospecção mineral (Figura 4).

Figura 4. Modelo simplificado do processo de formação dos principais tipos de anomalias


geoquímicas no ambiente supergênico.
Fonte: Licht (1998, p. 56).

Assim, de acordo com a fase da exploração e do contexto do local, pode-se


adotar diferentes técnicas prospectivas, como a prospecção geoquímica, que
consiste na detecção de elementos químicos, denominados de farejadores,
os quais apresentam afinidade geoquímica com o elemento prospectado.
Os dados geoquímicos podem ser obtidos a partir da amostragem de rochas
Introdução à prospecção mineral 13

(litogeoquímica), solos, sedimentos de corrente, água (hidrogeoquímica),


materiais biológicos (biogeoquímica ou geobotânica).
Também é utilizada a prospecção geofísica, que compreende a utilização
de métodos indiretos de detecção de características do subsolo a partir da
emissão de impulsos elétricos, magnéticos e de diferenças de peso específicos
e demais propriedades físicas das rochas. Ainda, a prospecção geofísica pode
ser realizada em perfis terrestre ou perfis aéreos (aerogeofísica) (STRIEDER,
2019).
As amostragens podem ser de caráter pontual (1D): espécimes individuais
(point sample, lump sample), lascas (chip samples, pit samples), rochas des-
montadas (grab samples, muck sample); de caráter linear (2D), com amostras
de canal (canaletas ou channel samples), amostras de poço, de trincheira, de
túnel/galeria, sondagens; amostra volumétrica (3D), com amostra total (bulk
sample), etc. (GROSSI, 1986).

Figura 5. Densidade da malha amostral para cada fase prospecta.


Fonte: Assis ([201-?], documento on-line).

Na prospecção mineral utiliza-se várias técnicas de amostragem, tais


como as que serão descritas a seguir.
14 Introdução à prospecção mineral

Amostra de mão (chip sample)


Trata-se de uma das técnicas mais antigas na investigação das rochas, que
consiste na retirada de uma lasca de rocha, com o emprego de martelo de
mão ou marreta, de modo a observar a porção interna fresca da rocha (ou
seja, sem alterações intempéricas que impeçam a visualização da composição
mineral original). É preciso encontrar afloramentos de rocha exposta; como
cortes de estrada, lajeados, leitos de rio, paredões de antigas pedreiras, etc.
A descoberta desses pontos pode ser feita facilmente a partir de análise de
imagens de satélite.
Com o auxílio de lupa de mão, pode-se distinguir as paragêneses minerais
da rocha, assim como a identificação de minerais de interesse para o minério
prospectado. Em estudo com grau mais avançado de detalhamento, a amostra
pode ser levada ao laboratório, onde uma lâmina petrográfica, observada
em microscópio, leva à uma caracterização mineralógica mais precisa. Os
sericita xistos da Formação Paracatu (Sequência Morro do Ouro), por exemplo,
mostram-se deformados, onde é comum a ocorrência de boudins de quartzo
(Figura 6) com a presença de sulfetos mineralizados com ouro (arsenopiria)
(Figura 7).

Figura 6. Reconhecimento litológico em Paracatu-MG, com martelo de mão, onde obtêm-se


amostras de mão.
Fonte: Rugolo Filho ([201-?], documento on-line).
Introdução à prospecção mineral 15

Figura 7. A retirada das amostras pode resultar em lâminas petrográficas; à esquerda, grão
de ouro em pseudomorfo de pirita; à direita, ouro em veio de quartzo junto a pseudomorfo
de pirita.
Fonte: Lobo (2017, documento on-line).

Canaletas
Dentro da prospecção de solos, é comum a utilização desta técnica de pros-
pecção, que consiste na criação de uma escavação no solo, cuja espessura
depende do minério, mas a profundidade é centimétrica, com espaçamento
entre canaletas de aproximadamente 1 m. O espaçamento depende da va-
riabilidade do minério e existem métodos estatísticos para se obter o valor.
Em geral, enquanto o amostrador corta o canal, uma segunda pessoa coleta
os fragmentos em uma caixa limpa, em um saco plástico, ou em uma lona.
Quando há a necessidade de realizar uma amostragem mais acurada a partir
de corte de canal cuidadosamente medido, o canal é cortado perpendicu-
larmente à zona mineralizada e a locação das amostras deve ser registrada
para o centro de cada intervalo de amostragem (STRIEDER, 2019).

Trincheiras, poços e galerias


As trincheiras e poços são métodos que podem ser utilizados para sondagens
em solo ou saibro, ou seja, onde o material encontra-se não mais consoli-
dado, e onde a rocha mostra-se raramente aflorante para ser diretamente
amostrada. Trata-se de uma avaliação de caráter superficial, em escavações
lineares, a céu aberto, com comprimento maior que a largura e a profundidade.
A largura das trincheiras está em torno de 1,0 m, enquanto a profundidade
varia entre 1,0 m e 6,0 – 7,0 m, conforme a espessura do manto de intempe-
rismo e o objetivo do mapeamento (MARANHÃO, 1982).
A profundidade elevada da trincheira, ou seja, com mais de 3 m, só é
atingida em locais com elevado grau de intemperismo, costumando ser de
16 Introdução à prospecção mineral

até 2 m na maioria dos casos. Quanto chega-se a aproximadamente 10 m,


aí costuma receber a denominação de “poços”, que pode ser transversal ou
longitudinal à mineralização. A extensão pode ser de poucos metros até 500 m.
Na Figura 5, veja um exemplo de mapa de trincheira em formato de
planta, bem como uma seção geológica (levantamento vertical das paredes
da trincheira).

Figura 8. Mapa geológico de uma trincheira: A) seção vertical; B) mapa do mundo da trincheira.
Fonte: Strieder (2019, p. 19).

As trincheiras são utilizadas como instrumento de pesquisa mineral de


superfície para corpos de minérios com geometria tabular inclinada (camadas
inclinadas, zonas de veios, diques, etc). A abertura de trincheiras tem sua
razão de ser em regiões com poucos afloramentos rochosos, sendo, assim,
necessária uma complementação acerca do entendimento sobre a estrutura
do corpo de minérios e de suas encaixantes. Assim, a modelagem geológica
do corpo de minério e o planejamento sequencial da pesquisa e cubagem
podem ser realizados com maior precisão (STRIEDER, 2019).
Em geral, o espaçamento das trincheiras, na fase inicial dos trabalhos, é de
100 a 50 m, dependendo da variabilidade (geométrica e de teores) dos corpos
de minérios e dos resultados promissores das primeiras análises (geológica
e geoquímica); o espaçamento entre as trincheiras pode ser diminuído para
intervalos de 25 a 10 m, por meio da intercalação de trincheiras de segunda
etapa, entre as trincheiras abertas na etapa inicial. A densidade amostral
requerida para a confecção dos mapas geológicos de semidetalhe é de 16
afloramentos, ou 100 afloramentos por 1 km2, respectivamente (escalas
1:25.000 e 1:10.000). Entretanto, em muitas situações brasileiras, onde a co-
bertura de solos é espessa e contínua, pode ser difícil alcançar esse número
de afloramentos rochosos por km2 (STRIEDER, 2019).
Introdução à prospecção mineral 17

Os poços também são escavações a céu aberto, que permitem o acesso


direto ao(s) corpo(s) de minério em profundidade. Os poços são mais indicados
para o caso de corpos tabulares (minério estratiforme e/ou stratabound)
horizontalizados ou com pequeno mergulho e que estão localizados a uma
pequena profundidade (até 7,0 m). Tanto para o caso de poços, quanto para
as trincheiras profundas, é importante considerar a utilização de estru-
turas de contenção para o caso de rompimento de taludes. A abertura de
poços de pesquisa é justificada quando há necessidade de investigações
mais detalhadas das estruturas geológicas ligadas à mineralização do que
aquelas fornecidas por sondagens. Nesse aspecto, é importante perceber
que as sondagens constituem amostragens pontuais, em que determinadas
feições e estruturas geológicas não podem ser apropriadamente definidas
(MARANHÃO, 1982).
Ao mapear galerias, poços ou trincheiras, é possível obter excelentes
condições de visualização em 3D das feições geológicas que interferem na
mineralização à medida em que está disponível mais de um plano de obser-
vação (Figura 6); em trincheiras, duas faces paralelas e o plano horizontal do
fundo da trincheira; nos poços, duas faces ortogonais entre si, e, ainda no
caso das galerias, além dos planos paralelos há a parte superior da galeria
subterrânea.

Figura 9. Reconhecimento de um minério com mergulho (ângulo em relação à horizontal)


fraco por trincheira, poços e furos de sonda.
Fonte: Strieder (2019, p. 19).

Sondagem por furo de sonda (testemunho)


Os furos de sonda retiram amostras da rocha dura em profundidade. As
sondagens e suas respectivas amostras representam informações pontuais
18 Introdução à prospecção mineral

da subsuperfície, devendo ser catalogadas e ordenadas de maneira a ser


corretamente utilizadas no processo de modelamento da mineralização e
suas rochas adjacentes (chamadas rochas encaixantes). Essa catalogação
passa pelo correto georreferenciamento da “boca” dos furos de sondagem,
com cota topográfica e o chamado mergulho e direção do furo, assim como
seu comprimento e a taxa de recuperação do furo (o quanto da rocha original
retornou do maquinário), além do diâmetro do furo (STRIEDER, 2019).
Além dessas informações, é necessária a descrição dos testemunhos de
sondagem, contemplando os mesmos requisitos de trincheiras, poços, galerias,
inclusive podendo ser comparado com as descrições dos outros métodos,
de forma a obter uma compreensão global da geologia, na medida em que o
testemunho de sondagem representa a intersecção das feições geológicas
descritas nos outros métodos com a “linha” expressa pela sondagem. A
descrição do testemunho de sondagem deve descrever, então, as diferentes
litologias, os contatos (se gradacionais ou bruscos), as estruturas geológi-
cas e seus truncamentos (como veios) e as zonas de alteração hidrotermal
(STRIEDER, 2019).

Lembre-se de que a relação angular entre as estruturas geológicas


planares e o eixo do testemunho pode ser obtido com a utilização
de um transferidor.

Sedimentos ativos de corrente e concentrados de


bateia
Essas técnicas representam uma das etapas iniciais de uma campanha de
prospecção geoquímica regional. Para isso, é necessário definir uma bacia
hidrográfica e seus limites topográficos — que recolhem e concentram a
precipitação —, agindo como um reservatório de água e sedimento a partir
de uma seção fluvial única, que é chamada de “exutório” (SPERLING, 2007).
A composição de uma amostra de sedimento do fundo de um canal de
drenagem natural reflete o quimismo de toda uma bacia hidrográfica sendo,
por isso, um meio amostral muito utilizado e adequado para levantamentos
regionais. Para os elementos móveis (aqueles elementos facilmente retirados
da área fonte por processos de alteração/intemperismo) existe uma grande
similaridade entre médias geométricas, distribuições de frequência e padrões
Introdução à prospecção mineral 19

geoquímicos qualitativos em amostras de sedimentos de drenagem e de solo,


como já demonstrado por Appleton e Ridgway (1993) para diversas áreas.
A composição de uma amostra de sedimento de drenagem é bastante
variada e depende de fatores como a constituição geológica e pedológica da
área fonte, o vigor da topografia, as características de drenagem dos perfis de
solo, o tipo de clima predominante, o tipo e a intensidade da cobertura vegetal
da bacia e o tempo de atuação dos processos físicos, químicos e biológicos.
Sob condições climáticas em que prevalecem os processos de intemperismo
físico, a granulometria dos sedimentos de um canal de drenagem mostrará
um predomínio das frações grossas. Já em regiões de clima tropical ou sub-
tropical úmidos, sob predomínio dos processos químicos do intemperismo,
a granulometria fina será a preponderante (LICHT, 2001).
Assim, coletam-se sedimentos dentro da bacia hidrográfica onde espera-se
encontrar a mineralização com sedimentos ativos de corrente de material
fino, composição mineral variável e localizando-se nas regiões mais ativas
dos leitos das drenagens, de 1ª e 2ª ordem (GSA0405..., 2020).
Já os concentrados de fundo de bateia (termo vulgar para denominar
concentrados de minerais pesados) constituem-se de minerais densos, nor-
malmente com tamanho de grão médio a grosso, localizados nas partes em
que se verificam a quebra nas velocidades das correntes, nos leitos das
drenagens. Os sedimentos de correntes são coletados por bateia in loco
(Figura 8) ou por quarteamento e concentração, a partir de procedimentos
de laboratório, onde são então submetidos a ataques de laboratório para
separar a porção mais pesada de interesse da porção silicática menos densa.
Pode-se realizar isso submetendo as amostras ao mergulho no bromofórmio
líquido viscoso com densidade de 2.89. Também pode-se submeter o material
a separações magnéticas a partir do separador isodinâmico Frantz (SOUZA;
CASTRO, 2010, SAMPAIO et al., 2018). Após a separação, analisa-se o material
em lupa binocular ou em microscópio.
Recomenda-se cuidado na coleta de sedimentos de corrente junto a bar-
reiras geoquímicas, como lagos, barragens e açudes. Esses ambientes podem
gerar uma concentração maior ou menor de determinados elementos, o que
pode alterar a composição das drenagens, a poluição de óleos, esgotos, assim
como contaminações metálicas podem igualmente inviabilizar a coleta. Além
disso, leitos retificados, assoreamento lateral, obras, etc., podem modificar
a velocidade da corrente e reter os metais de interesse, impedido sua coleta.
Também deve-se atentar para a influência dos períodos climáticos distintos
ao longo do ano (GSA0405..., 2020).
20 Introdução à prospecção mineral

A prospecção geoquímica com sedimento de corrente foi o realizada


no Projeto Metalogenia das Províncias Minerais do Brasil, nos estados
do Acre e de Roraima, pela CPRM (Serviço Geológico do Brasil). Foram coletadas
598 amostras de concentrados de bateia, em aproximadamente 11.550 km²,
obtendo-se uma densidade média aproximada de uma amostra por 19 km². As
amostras foram coletadas nos leitos ativos das drenagens, onde foram lavados
20 litros de cascalho. Utilizou-se peneiras com 8 mm, 2 mm, 1 mm e 0,5 mm de
abertura, e coletou-se a fração retida em 0,5 mm e o concentrado de bateia foi
preparado e analisado no laboratório de preparação da Residência de Porto
Velho (REPO), pertencente à rede LAMIN de laboratórios da CPRM-Serviço Geo-
lógico do Brasil. A preparação das amostras em laboratório seguiu uma rotina
pré-estabelecida onde todas sofreram análise mineralométrica quantitativa
para partículas de ouro em lupa binocular. O melhor resultado encontrado
apresentou 125 pintas de ouro (chama-se pintas pois têm menos de 1 mm de
espessura) (OLIVEIRA NETO; CASTO, 2016).

A interferência de atividades industriais, agropecuárias e da ocupação


humana deve ser levada em consideração quando da interpretação
de dados de sedimentos de corrente. A solução comumente adotada em le-
vantamentos geoquímicos é o de analisar associação de elementos por meio
de estatística multivariada, buscando discriminar associações naturais de
elementos com as provenientes de atividade antrópica. O efeito moderador da
mistura gerada pelos processos fluviais, entretanto, é um redutor do risco de
representatividade desse tipo de amostra.

Neste capítulo, você estudou as etapas da prospecção, de forma a com-


preender quais devem ser os passos percorridos para a descoberta de uma
jazida. Também conheceu os guias prospectivos que os profissionais envol-
vidos nesse processo utilizam durante a campanha prospectiva para que a
busca seja a mais eficiente possível. Além disso, pôde conhecer algumas das
técnicas de campo que são utilizadas para a delimitação e quantificação do
corpo mineralizado.
Introdução à prospecção mineral 21

Referências
APPLETON, J. D.; RIDGWAY, J. Regional geochemical mapping in developing countries
and its application to environmental studies. Applied Geochemistry, v. 8, suppl. 2, 1993.
ARCANJO, J. B. A. Fotogeologia: conceitos, métodos e aplicações. Salvador: RIGEO, 2011.
ASSIS, R. F. Prospecção, pesquisa e avaliação de jazidas. São Paulo: GSA, [201-?]. Dispo-
nível em: https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/5248407/mod_resource/content/1/
Aula%204%20-%20Explora%C3%A7%C3%A3o%20Mineral.pdf. Acesso em: 29 mar. 2021.
GOVETT, G. J. S. (ed.). Handbook of exploration geochemistry. Amsterdan: Elsevier,
1983. v. 3.
GROSSI, J. H. S. Fundamentos sobre a variabilidade dos depósitos minerais. Rio de
Janeiro: DNPM, 1986.
GROVES, D. I. et al. Orogenic gold deposits: a proposed classification in the context of
their crustal distribution and relationship to other gold types. Ore Geology Reviews,
v. 13, 1998.
GSA0405: exploração mineral (2020). São Paulo: USP, 2020. Disponível em: https://
edisciplinas.usp.br/course/view.php?id=79293. Acesso em: 29 mar. 2021.
GUSTAFSON, L. B.; TITLEY, S. R. Porphyry copper deposits of the southwestern Pacific
islands and Australia: Preface. Economic Geology, 73, 1978.
HOFFMAN, S. J.; THOMPSON, I. Models, interpretation and follow-up. In: FLETCHER, W.
K. et al. (ed.). Exploration geochemistry: design and interpretation of soil surveys.
Chelsea: Soc. Of Econ. Geol., 1986. Disponível em: https://www.segweb.org/store_info/
REV/REV-03-Additional-Product-Info.pdf. Acesso em: 29 mar. 2021.
JUCHEM, P. L. Mineralogia, geologia e gênese dos depósitos de ametista da Região do
Alto Uruguai, Rio Grande do Sul. 1999. Tese (Doutorado) – USP, São Paulo, 1999. Disponível
em: https://teses.usp.br/teses/disponiveis/44/44135/tde-28052015-095948/pt-br.php.
Acesso em: 29 mar. 2021.
KUZVART, M.; BÖHMER, M. Prospecting and exploration of mineral deposits. 2nd. ed.
New York: Elsevier, 1986. v. 21.
LICHT, O. A. B. A geoquímica multielementar na gestão ambiental: identificação e carac-
terização de províncias geoquímicas naturais, alterações antrópicas da paisagem, áreas
favoráveis à prospecção mineral e regiões de risco para a saúde no estado do Paraná,
Brasil. 2001. 238f. Tese (Doutorado) – Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2001.
Disponível em: https://www.acervodigital.ufpr.br/bitstream/handle/1884/41646/T%20-
-%20OTAVIO%20AUGUSTO%20BONI%20LICHT.pdf?sequence=2&isAllowed=y. Acesso
em: 29 mar. 2021.
LICHT, O. A. B. Prospecção geoquímica: princípios, técnicas e métodos. Rio de Janeiro:
CPRM, 1998.
LOBO, R. L. M. Geologia e controle estrutural dos veios mineralizados em ouro dos de-
pósitos cocal e ouro fino, grupos Paranoá e Serra da Mesa, norte de Goiás. Dissertação
(Mestrado) – UNB, 2017. Disponível em: https://repositorio.unb.br/handle/10482/32124.
Acesso em: 31 mar. 2021.
MARANHÃO, R. J. L. Introdução à pesquisa mineral. Fortaleza: BZB, 1982.
MELLO, R. P. Fundamentos de prospecção mineral. 2. ed. Rio de Janeiro: Interciência, 2012.
22 Introdução à prospecção mineral

OLIVEIRA NETO, W. L.; CASTO, C. C. Prospecção geoquímica de ouro através de concentrado


de bateia no sudeste do estado de Rondônia. São Paulo: RIGEO, 2016. Disponível em:
http://rigeo.cprm.gov.br/bitstream/doc/21639/2/prospeccao_geoquimica_concen-
trado_.pdf. Acesso em: 29 mar. 2021.
PEREIRA, E. H. R. et al. Geologia, controle estrutural e mineralogia do escarnito mine-
ralizado em ouro e tungstênio da Mina Bonfim-II, Província Borborema, Rio Grande
do Norte, Brasil. Geologia USP: Série Científica, v. 19, n. 4, 2019. Disponível em: https://
www.revistas.usp.br/guspsc/article/view/151883. Acesso em: 29 mar. 2021.
PIERCE, F. W.; BOLM, J. G. Porphyry copper deposits of the American Cordillera. Arizona
Geological Society Digest, v. 20, 1995. Disponível em: https://www.rosemonteis.us/
sites/default/files/references/titley-1995.pdf. Acesso em: 29 mar. 2021.
QUADROS, T. F. P. Integração de dados em ambiente SIG para mapeamento de favora-
bilidade mineral de ouro na ilha cristalina de Rivera (Uruguai). 2000. Tese (Doutorado)
- Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Minas, Metalúrgica e de Materiais,
UFRGS, Porto Alegre, 2000. Disponível em: https://lume.ufrgs.br/handle/10183/3593.
Acesso em: 29 mar. 2021.
REEDMAN, J. H. (ed.). Techniques in mineral exploration. Dordrecht: Springer, 1979.
RUGOLO FILHO, R. A. Mineralização Aurífera da Mina Morro do Ouro Paracatu-MG. Rio de
Janeiro: UFRJ, [201-?]. Disponível em: https://pantheon.ufrj.br/bitstream/11422/4170/1/
RUGOLO%20FILHO%2c%20R.A.pdf. Acesso em: 29 mar. 2021.
SAMPAIO, J. A. et al. Separação magnética e eletrostática. In: TRATAMENTO de minérios.
6. ed. 2018. Cap. 8.
SANTOS, J. F.; RIBEIRO FILHO, E. Estratégia de prospecção e pesquisa mineral. Boletim
IG-USP, n. 2, 1989. Disponível em: http://ppegeo.igc.usp.br/index.php/bigsd/article/
view/963. Acesso em: 29 mar. 2021.
SOUZA, F. J. C.; CASTRO, J. H. W. Treinamento em análise mineralógica de minerais
pesados. Porto Alegre: CPRM, 2010.
SPERLING; M. V. Estudo e modelagem da qualidade da água de rios. Minas Gerais:
DESA, 2007.
STRIEDER, A. J. Geologia de mina e modelagem geológica. Pelotas: Universidade Federal
de Pelotas, 2019. Disponível em: https://aedmoodle.ufpa.br/pluginfile.php/412344/
mod_resource/content/1/Geologia%20de%20Minas%20e%20Modelagem%20
Geol%C3%B3gica.pdf. Acesso em: 29 mar. 2021.
TITLEY, S. R.; HICKS, C. L. (ed.). Geology of the porphyry copper deposits, southwestern
North America. Tucson: University of Arizona, 1966.

VEARNCOMBE, J. R.; PHILLIPS, G. N. The importance of brownfields gold explo-


ration. Mineralium Deposita, v. 55, n. 2, 2020.

Leituras recomendadas
ALBARÈDE, F. Geoquímica: uma introdução. São Paulo: Oficina de Textos, 2011.
BONHAM-CARTER, G. F.; AGTERBERG, F.P.; WRIGHT, D. F. Integration of geological datasets
for gold exploration in Nova Scotia. Photogram: Enginee. 1988.
Introdução à prospecção mineral 23

CASTRO, C. C. Prospecção geoquímica. In: FIGUEIREDO E. R. H.; COSTA M. A. C.; CASTRO


C. C. (wd.). Geologia e recursos minerais das Folhas Serra da Providência e Ji-Paraná
SC-20-ZA-III e SC-20-Z-A-VI, Escala 1:100.00. Porto Velho, CPRM, 2015.
CHEN, Z.; CURRAN, P. J.; HANSOM, J. D. Derivative reflectance spectroscopy to estimate
suspended sediment concentration. Remote Sensing of Environment, v. 40, n. 1, 1992.
Disponível: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/0034425792901276.
Acesso em: 29 mar. 2021.
FERNANDES, C. E. M. Fundamentos de prospecção geofísica. Rio de Janeiro: Interciência,
1984.
MCKINSTRY, H. E. Mining geology. New Jersey: Prentice-Hall, 1948.
PEREIRA, R. M. Fundamentos da prospecção mineral. 2. ed. Rio de Janeiro: Interciência,
2012.
SILVA, L. C. Morfologia e química mineral de zircão e cassiterita, em concentrados de
bateia, como guia prospectivo para mineralizações de Sn na Província Estanífera de
Rondônia. 2018. Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal do Pará, Instituto de
Geociências, Programa de Pós-Graduação em Geologia e Geoquímica, Belém, 2018.
STANTON, R. L. Ore petrology. New York: McGraw-Hill, 1972.
THE BRAZILIAN GEOPHYSICAL SOCIETY & EXPOGEF, 10., 2007. Anais [...]. Rio de Janeiro:
SBGf, 2007. CD-ROM.
UNIVERSITY OF ARIZONA. Copper mining and processing: life cycle of a mine. Superfund
Reserch Center, 2021. Disponível m: https://superfund.arizona.edu/resources/modules/
copper-mining-and-processing/life-cycle-mine. Acesso em: 29 mar. 2021.
ZACCHI, E. N. P. et al. Aplicação de técnicas de sensores remotos multiespectrais e hipe-
respectrais em dados aerogeofísicos visando a seleção de alvos para a prospecção de
minério de ferro na Serra do Espinhaço Meridional, MG. In: INTERNATIONAL CONGRESS OF

Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos


testados, e seu funcionamento foi comprovado no momento da
publicação do material. No entanto, a rede é extremamente dinâmica; suas
páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo. Assim, os editores
declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou
integralidade das informações referidas em tais links.

Você também pode gostar