Apostila Carreiras Militares II

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Geografia

Sumário
Capítulos
1. Noções de Cartografia..................................................................................................................................................205
2. Movimentos da Terra......................................................................................................................................................209
3. Representação cartográfica......................................................................................................................................... 214
4. Representação do relevo terrestre............................................................................................................................ 221
5. Dinâmica física terrestre .............................................................................................................................................. 225
6. Tipos de rochas................................................................................................................................................................ 236
7. Agentes exógenos........................................................................................................................................................... 242
8. Relevo................................................................................................................................................................................... 248
9. Pedologia............................................................................................................................................................................ 256
10. Hidrografia..........................................................................................................................................................................264
11. Biomas mundiais.............................................................................................................................................................. 276
12. Biomas brasileiros........................................................................................................................................................... 282
13. Estudo das populações................................................................................................................................................. 288
14. Teorias demográficas e estrutura populacional................................................................................................... 293
15. Distribuição da população segundo os setores da economia.......................................................................299
16. Indicadores sociais e migrações............................................................................................................................... 304
17. Urbanização........................................................................................................................................................................314
18. Conceitos urbanos, hierarquia e rede urbana........................................................................................................ 318
19. Problemas sociais e ambientais urbanos............................................................................................................... 323
20. Revoluções industriais................................................................................................................................................... 329
21. Globalização e comércio exterior.............................................................................................................................. 333
22. Introdução à climatologia............................................................................................................................................346
23. Classificação climática................................................................................................................................................... 355
24. Questões ambientais...................................................................................................................................................... 362
25. Classificação e fatores de localização industrial.................................................................................................368
26. Evolução e modelos de industrialização................................................................................................................. 371
27. Regionalização................................................................................................................................................................. 378
28. Recursos naturais e energéticos................................................................................................................................386
29. Redes de circulação: transportes e vias..................................................................................................................401
30. Agropecuária...................................................................................................................................................................... 412
Capítulo 01

Noções de Cartografia
Origem da Cartografia
Em termos gerais, a Cartografia consiste na representa-
ção gráfica de dados analíticos relacionados aos fenômenos
associados à superfície terrestre. Essa representação pode
estar em mapas, cartas, plantas etc.
Desde os primórdios da civilização, o homem sempre
teve a necessidade de registrar o espaço ao seu redor para
demarcar o território e os locais significativos para a sua
sobrevivência, como: as fontes de alimento, fontes e cursos
de água, locais perigosos e a existência de outros grupos
humanos.
O mapa mais antigo encontrado por pesquisadores é
datado de mais de 6.000 a.C. Ele contém o mapeamento
Mapa T-O (T representa os mares e O, o grande oceano).
da cidade de Çatalhöyük, na Anatólia, numa região da atual
Turquia. Outro registro importante vem da Mesopotâmia: o Um avanço significativo veio durante as grandes navega-
mapa da cidade de Ga-Sur, de 3.800 a.C a 2.500 a.C. ções, entre os séculos XV e XVI. A necessidade de mapear
as novas áreas conquistadas pelos europeus na América
Evolução da Cartografia colocou em evidência os trabalhos do cartógrafo Gerardus
Mercator (1512-1594).
A sistematização da ciência cartográfica veio com os gregos,
impulsionada pelos estudos e registros de Ptolomeu (100-170,
era Cristã). Naquele tempo, foram criadas bases importan-
tes para a sistematização da ciência cartográfica, como a
concepção de esfericidade da Terra, as noções de polos,
equador e trópicos. A partir disso, Ptolomeu criou um sistema
de projeção e introduziu o conceito de latitudes e longitudes
e realizou os traçados dos primeiros paralelos e meridianos.

Mapa do mundo de Rumold Mercator, filho


de Gerardus Mercator, 1587.

Conceito atual da Cartografia


O conceito de Cartografia mais utilizado atualmente foi
desenvolvido pela Associação Cartográfica Internacional
(ACI), em 1966, e determina que a Cartografia se apresenta
“como o conjunto de estudos e operações científicas, técnicas
Mapa de Ptolomeu. e artísticas que se voltam para a elaboração de mapas, cartas
Já na Idade Média, os mapas T-O constituíram a base do e outras formas de expressão ou representação de objetos,
que se conhecia naquela época (África, Ásia e Europa). A elementos, fenômenos e ambientes físicos e socioeconômi-
representação do século XIII se aproxima das representações cos, bem como a sua utilização.”
atuais e apresenta referências cristãs.
Pontos de referência e localização
Para se deslocar de um local qualquer da superfície terres-
tre, é necessário o entendimento dos pontos de referência.
Nas áreas urbanas, existem, normalmente, endereços que
são atrelados ao Código de Endereçamento Postal (CEP), o
que facilita a orientação e a localização.

205
Geografia

Contudo, isso não se aplica aos espaços naturais, o que


leva à necessidade de se utilizar outros instrumentos, como
N
os astros, a bússola e as coordenadas geográficas, para
alcançar a área pretendida. NW NE
Sistema de orientação
O sistema de orientação consiste em recursos de localiza-
ção, como os astros – Sol e estrelas – e os equipamentos – bús-
solas e GPS – que permitem a orientação de uma pessoa ou W E
localidade em relação a um referencial na superfície terrestre.
Normalmente, devido ao movimento aparente do Sol, o
referencial considerado é o Oriente. O termo “Oriente” vem
do latim oriens, que significa “o Sol nascente”. Por sua vez, o
termo “Ocidente” vem do latim occidens, que tem a ver com SW SE
“o Sol poente”.
O sistema de orientação não permite a localização precisa S
de um elemento ou indivíduo. Ele apenas indica uma direção Rosa dos Ventos.
a seguir ou oferece uma noção da localização de um objeto.
Observe as maneiras de orientação a seguir: Pontos cardeais Pontos colaterais
Orientação pelo Sol • N = Norte • NW ou NO = Noroeste

Essa orientação é possibilitada pela observação do mo- • S = Sul • NE = Nordeste


vimento aparente do Sol. Como o movimento de rotação • E ou L = Leste • SE = Sudeste
da Terra ocorre de oeste para leste, tem-se a impressão de • W ou O = Oeste • SW ou SO = Sudoeste
que o Sol se move de leste para oeste. Dessa forma, para Pontos subcolaterais
encontrar-se a direção leste, basta estender a mão direita • NNW ou NNO = Nor-no-
para a região onde nasce o Sol. A partir disso, são identifica- roeste
• ENE = Es-sordeste
das as demais direções – mão esquerda: oeste; frente: norte; • ESE = Es-sudeste
• NNE = Nor-nordeste
e costas do indivíduo: sul. • WSW ou OSO = Oes-sudoeste
• SSE = Su-sudeste
• WNW ou ONO = Oes-noroeste
• SSW ou SSO = Su-sudoeste
Sinônimos de cada orientação

• Norte: Setentrional – Boreal


• Sul: Meridional – Austral
• Leste: Oriente – Nascente
• Oeste: Ocidente – Poente

Orientação pela bússola


O funcionamento da bússola baseia-se no magnetismo ter-
restre. A bússola apresenta uma agulha imantada que aponta
sempre na direção aproximada do polo norte geográfico (sul
magnético) e permite a determinação das demais direções –
sul, leste e oeste.
Declinação magnética

Direção Norte-Sul Direção Norte-Sul


magnética geográfica
Orientação pelo Sol.
Disponível em: http://www.eb23-cmdt-conceica -silva.rcts.pt. Acesso em: 28 jul. 2009.

A partir da observação do movimento aparente do Sol,


foi desenvolvida a Rosa dos Ventos, que possui as quatro
direções principais – Leste, Oeste, Norte e Sul – indicadas
pelos pontos cardeais, bem como pontos de orientação mais
específicos, como os pontos colaterais e subcolaterais.

Bússola.
Disponível em: http://nautilus.fis.uc.pt. Acesso em: 28 jul. 2009.

206
Noções de cartografia

Coordenadas geográficas O Meridiano de Greenwich é o principal por convenção


política e, por isso, considera-se a partir dele a divisão da Terra
As coordenadas geográficas é um sistema utilizado para em dois hemisférios iguais, Leste e Oeste. O Meridiano de
localizar qualquer ponto da superfície terrestre, em um globo Greenwich também determina as outras longitudes, que são a
ou mapa, a partir de referenciais como o Equador e o Meridia- distância em graus de qualquer ponto da Terra até ele. Outro
no de Greenwich. As coordenadas geográficas resultam do meridiano importante é o que determina a longitude de 180°,
desenvolvimento das técnicas para a elaboração de mapas por ser o limite dos Hemisférios Leste e Oeste e por conter a
que se utilizam de linhas imaginárias traçadas na Terra, com Linha Internacional de Mudança de Data, localizada no Oceano
o objetivo de determinar a posição absoluta dos lugares. Os Pacífico. Dessa forma, não existem as coordenadas 0° L /0° O
valores de latitude e longitude definem, conjuntamente, a e 180° L/180° O, apenas 0° e 180° de longitude.
posição exata de um ponto qualquer na superfície terrestre.
Longitude Antimeridiano de
Para a definição dos valores de latitude e longitude, Greenwich
utiliza-se o sistema de paralelos e meridianos, uma rede de 150º 180º 150º
linhas imaginárias que cortam o planeta de norte a sul e de 120º 120º
leste a oeste.

Paralelos 90º 90º


Os paralelos são círculos imaginários horizontais que
oeste leste
partem do Equador e se distribuem até os polos sem se cruza-
(–) (+)
rem. O Equador é o paralelo de referência, por ser o de maior
circunferência, e divide a Terra em dois hemisférios iguais, 60º 60º
norte e sul. Ele possui latitude 0°, e o último paralelo polar
é demonstrado por apenas um ponto de latitude 90°. Não 30º 30º
existem as coordenadas 0° N e 0 °S, apenas 0° de latitude. 0º
O ângulo que determina a latitude é medido a partir do Longitude Oeste Meridiano de Longitude Leste
Equador e varia de 0° a 90°, tanto no Hemisfério Norte (+) Greenwich
quanto no Hemisfério Sul (–). Outros quatro paralelos tam- Linhas imaginárias: meridianos.
bém são considerados principais por delimitarem as zonas
climáticas planetárias. A escolha desses paralelos teve como Disponível em: http://www.geographyallthe-
way.com. Acesso em: 28 jul. 2009.
base a inclinação do eixo terrestre em relação à incidência
dos raios solares na superfície da Terra. Os Trópicos de Exemplo:
Câncer e de Capricórnio delimitam as áreas em que os raios Determine a localização precisa dos pontos A, B e C no
solares incidem perpendicularmente na superfície, as quais estado de Mato Grosso do Sul, tendo como base o sistema
conjuntamente são chamadas de Zona Intertropical ou Zona de coordenadas geográficas.
Megatérmica.
A área compreendida entre o Trópico de Câncer e o Cír- Localização do estado de Mato Grosso do Sul
culo Polar Ártico e a área entre o Trópico de Capricórnio e o
Círculo Polar Antártico recebem os raios solares de maneira
oblíqua. Essas áreas são chamadas de Zonas Temperadas
ou Zona Mesotérmica. Já os Círculos Polares, Ártico e An- C
tártico, delimitam as áreas em que os raios solares apenas
tangenciam a superfície terrestre em um determinado período
do ano. Tais áreas são chamadas de Zonas Polares ou Zona
Microtérmica.
Latitude A
Polo Norte
Norte
90º
(+) 90º
Latitude Norte
60º 60º
B
30º 30 º
Latitude Norte Tropico de Câncer

Equador 0º

Latitude Norte
LatitudeNorte
Latitude Sul
30º 30º
• Ponto a: Latitude –20° Sul
Latitude Sul 60º 60 º Longitude –52° Oeste
90º 90º
SulSul
Polo • Ponto B: Latitude –22° Sul
(-) Longitude –54° Oeste
Meridianos • Ponto c: Latitude –18° Sul
Polo Sul Longitude –56° Oeste
Os meridianos são semicírculos imaginários verticais que
partem de um polo a outro e lá se cruzam, variando de 0° a
180° para leste (+) e para oeste (–).

207
Geografia

Ponto antípoda B) O meridiano de Greenwich divide a Terra em hemis-


fério setentrional e hemisfério meridional.
A antípoda de um determinado ponto na superfície ter-
C) Os paralelos definem os graus de longitude a partir
restre é definida por estar localizada exatamente na posição
do Equador, variando de 0° a 90° para o Norte e
diametralmente oposta a deste mesmo ponto, determinado a
para o Sul.
partir dos valores de latitude e longitude. Para se encontrar o
ponto antípoda, calcula-se a diferença dos valores de latitude D) Os meridianos são semicircunferências imaginárias
na superfície da Terra, cujos extremos coincidem
e longitude separadamente:
com os polos Norte e Sul.
Nota: quando o ponto se referir à latitude, mante-
nha o valor da coordenada geográfica e inverta o 4. (UNB – 2012) Quando estou alegre, uso os meridianos
hemisfério: de norte para sul ou de sul para norte. da longitude e os paralelos da latitude para trançar uma
Exemplo: rede e vou em busca das baleias do Oceano Atlântico.
• 30° Norte ® 30° Sul Mark Twain. Life on the Mississipi. In: DavaSobel.
Longitude. Rio de Janeiro: Ediouro, 1996, p. 11.
• 15° Sul ® 15° Norte
• Para se referir à longitude, é necessário determinar o Com base no trecho de Mark Twain e nos conheci-
suplemento da coordenada geográfica fornecida pelo mentos necessários à localização e ao deslocamento
exercício e inverter o hemisfério: de leste para oeste na superfície terrestre, assinale a opção CORRETA.
ou de oeste para leste. A) Mark Twain faz alusão ao sistema de coordenadas
Exemplo: geográficas, o qual é referência para a localização
• 135° Leste ® 180° – 135° ® 45° Oeste de quaisquer pontos na superfície da Terra.
• 30° Oeste ® 180° – 30° ® 150° Leste B) A longitude é definida a partir de meridianos, que,
estabelecidos paralelamente entre si, determinam
Exercícios a localização dos hemisférios oriental e ocidental.

1. (Espcex (Aman) – 2018) Os jogos da próxima Copa C) A latitude é medida, em graus, a partir da linha do
do Mundo, na Rússia, que se iniciarem às 20 horas Equador (0°) em direção tanto ao hemisfério Norte
na cidade de Moscou, situada três horas adiantadas quanto ao hemisfério Sul.
em relação à hora de Greenwich, iniciar-se-ão a que D) Para a localização no espaço terrestre, o GPS (glo-
horas na cidade de Los Angeles, nos Estados Unidos bal position system) tem-se revelado mais eficiente
da América, situada no fuso 118º de longitude oeste? que a determinação da latitude e da longitude.
A) 7 horas.
B) 9 horas. 5. (Unesp – 2018)
C) 10 horas. 1. É o valor angular do arco de meridiano compreendido
D) 12 horas. entre o equador e o paralelo do lugar de referência. Será
E) 13 horas. sempre norte ou sul.
2. É o valor angular, junto ao eixo da Terra, do plano
2. (EsPCex – 2015) Em um exercício militar, ao planejar
formado pelo prolongamento das extremidades do arco
um deslocamento, o comandante responsável identi-
ficou dois pontos para os quais deverá deslocar sua compreendido entre o meridiano de Greenwich e o arco
tropa. Estes pontos apresentam as seguintes coorde- do lugar de referência, considerando-se este plano sempre
nadas geográficas: paralelo ao plano do equador. Será sempre leste ou oeste.
Ponto “A” - Latitude: 29° 49’ 30” S - Longitude: 54° 54’ 00” W (Paulo A. Duarte. Fundamentos de cartografia, 2008. Adaptado.)

Ponto “B” - Latitude: 29° 45’ 00” S - Longitude: 54° 55’ 30” W No excerto, 1 e 2 correspondem, respectivamente, a
A) longitude e latitude.
Após a chegada ao ponto “A”, um grupo de militares
B) latitude e longitude.
dessa tropa será deslocado para o ponto “B”, tendo
que seguir em que direção? C) longitude e meridiano.
A) leste D) trópico e paralelo.
B) oeste E) latitude e paralelo.
C) nordeste
Gabarito
D) sudeste
E) noroeste 1. B
2. E
3. (Uern) Para melhor localizar um ponto na Terra, foi
3. D
criado um sistema de coordenadas que são linhas
4. A
imaginárias traçadas sobre a superfície do planeta.
Considerando o sistema de coordenadas geográficas, 5. B
assinale a alternativa correta.
A) Plano equatorial é um plano paralelo ao eixo da
Terra, equidistante dos polos Norte e Sul.

208
Capítulo 02

Movimentos da Terra
A Terra realiza pelo menos 14 movimentos do ponto de datas, em todos os pontos do planeta, a noite e o dia têm
vista astronômico. Entretanto, destacam-se a rotação e a mesma duração – 12 horas. Os raios solares incidem
a translação, por influenciarem diretamente no cotidiano diretamente sobre o Equador, formando um ângulo de 90o com
planetário e servirem como referenciais para o desenvolvimento a superfície, e o calor vai diminuindo em direção aos polos,
da Cartografia. mas por igual. Em tais ocasiões, a Terra está nos equinócios.

Rotação No dia 21 de março, começa o outono no Hemisfério Sul e


a primavera no Norte. Já nas posições 1 (21/06) e 3 (21/12),
Rotação é o movimento que a Terra realiza ao redor do um Hemisfério – Norte ou Sul – recebe o máximo de energia
seu eixo, no sentido oeste-leste. Para uma rotação de 360°, solar, o que ocasiona, nesse hemisfério, o início do solstício
ela leva precisamente 23 horas, 56 minutos e 4,09 segun-
de verão e, no outro hemisfério (de menor iluminação), o
dos, o que normalmente arredonda-se para 24 horas. Esse
solstício de inverno.
movimento determina a sucessão das horas, dos dias e das
noites e influencia o mecanismo da circulação atmosférica. Equinócio de de
Equinócio outono
outono
(23 dede
(21-22 março)
março)
4
Eixo de rotação
Oeste
Outono Solstício de verão
Solstício de inverno
Leste (21 de dezembro)
(21 de junho) Verão

1 3
Dia
Polo Norte Noite
Dia
Noite

Equador
Inverno
Primavera
Equinócio de primavera
2 Equinócio de primavera
(23(22-23
de setembro)
de setembro)

Movimento de translação e estações do ano no Hemisfério Sul.


Disponível em: http://www.alunosonlinecom.br. Acesso em: 28 jul. 2009.

1. Solstício de verão para o Hemisfério Norte.


2. Equinócio de outono para o Hemisfério Norte.
3. Solstício de inverno para o Hemisfério Norte.
4. Equinócio de primavera para o Hemisfério Norte.
Quanto maior for a latitude, maior será a variação da
Polo Sul incidência da energia solar. Desse modo, nas proximidades
Movimento de rotação da Terra. da Linha do Equador, a variação será mínima, havendo,
constantemente, uma grande disponibilidade de energia
Disponível em: http://nautilus.fis.uc.pt. Acesso em: 27 jan. 2010.
solar.
Translação Já nas áreas polares, a variação de incidência da energia
solar é máxima, havendo noites de 24 horas em certos perío-
Translação é o movimento que a Terra realiza em torno do
dos anuais e dias de 24 horas em outros períodos.
Sol, descrevendo uma elipse. A principal consequência desse
movimento é a determinação das estações do ano. Há de se N

frisar que a translação por si só não explica esse fenômeno, ALTAS LATITUDES
pois a inclinação do eixo da Terra também determina a RAIOS SOLARES OBLÍQUOS

alternância das estações do ano. O movimento de translado


da Terra em torno do Sol é realizado em 365 dias, 5 horas e
48 minutos, o que leva ao estabelecimento do ano bissexto
a cada quatro anos, devido ao arredondamento que se faz,
considerando como 365 dias o período correspondente a um
BAIXAS LATITUDES
ano, e às sobras anuais de seis horas aproximadamente. RAIOS SOLARES VERTICAIS
Observe a figura que demonstra o movimento de
translação. Note que, nas posições 2 (22-23/09) e 4 (21- ALTAS LATITUDES
RAIOS SOLARES OBLÍQUOS
22/03), o círculo que separa a zona iluminada da zona
noturna da Terra passa exatamente pelos polos. Nessas S

209
Geografia

Polo Norte
Em latitudes mais elevadas, os raios
Dia 21 de dezembro
solares incidem sobre a superfície da
Escuro o dia todo
Terra com uma angulação maior.
90º N latitude

INVERNO
RAIOS SOLARES
Perto da Linha do Equador,
os raios solares incidem quase
que diretamente sobre
a superfície da Terra.
VERÃO

Polo Sul
Dia 21 de dezembro 90º S latitude
Claro o dia todo

Incidência dos raios solares no globo terrestre.


Disponível em: https://www.sistemanovi.com.br/basenovi/image/ConteudosDisciplinas/28/100/512/300924/estacoes-do-ano.png. Acesso em: 28 julh.2009.

Fuso Horário Civil - 2015


Fusos horários
-12 -11 -10 -9 -8 -7 -6 -5 -4 -3 -2 -1 0 +1 +2 +3 +4 +5 +6 +7 +8 +9 +10 +11 +12
90°

Reykjavik
60°
Moscou
Is.Aleutas
Vancouver Londres
Berlim
Ottawa Paris Astana

Madrid Bucareste
Nova Iorque Beijing Seul
Açores Argel
Washington
Los Angeles Is. Madeira Trípole Teerã Tóquio
Cairo 30°
Is. Canárias Riad Nova
Délhi
Hong Kong
Is.Havaí Cidade do
México Cabo Verde Dacar Manila
Niamei
Georgetown Adis Abeba
Bogotá

Nairóbi
Meridiano de Greenwich (GMT)

Is.Galápagos
Luanda Jacarta

Lima Is.Fiji
Brasília

Is.Tonga
Is.Pitcairn Maputo
30°
Cidade Sydney
Buenos Aires do Cabo
Melbourne

Is. Malvinas

60°

90° 70 0 140km

180° 120° 60° 0° 60° 120° 180° PROJEÇÃO DE ROBINSON

Horário f racionado Linha internacional de data

Fuso horário mundial.


Fonte: 1. World map of time zones. Taunton: United Kingdom Hydrographic Office, HM Nautical Almanac Office - HMNAO, 2015.
Disponível em: <http://astro.ukho.gov.uk/nao/miscellanea/WMTZ/Wmtz150409.pdf>. Acesso em: abr. 2016. 2. Atlas geográfico. 3. ed.
www.ibge.gov.br
Disponível em: https://atlasescolar.ibge.gov.br/images/atlas/mapas_mundo/mundo_fuso_hor%C3%A1rio_civil.pdf.
Rio de Janeiro: IBGE, 1986. Acesso0800
em: 721
abr.8181
2016. 2.

Pode-se dizer que o desejo humano de mensurar o tempo é tão antigo quanto o próprio homem. Observando os ciclos da
natureza, as mudanças das estações, as migrações de animais e o aumento e a diminuição do nível dos mares, o ser humano
adquiriu consciência da ação do tempo e da necessidade de medi-lo. Com o advento das primeiras civilizações, surgiram os
primeiros relógios, como o relógio solar (gnômon), o relógio de areia (ampulheta) e o relógio de água (clepsidra).

O homem sempre criou instrumentos para medir o tempo. Gnômon, ampulheta e clepsidra são exemplos de instrumentos antigos.

210
Movimentos da Terra

Ao longo dos séculos, a noção de tempo esteve relacio- Supondo que o Sol nasça às 6h na capital chinesa, algu-
nada às especificidades dos cenários históricos. Durante a mas cidades localizadas no extremo oeste do país só verão
Idade Média, o pensamento cristão delimitou a medição do o nascer do dia até quatro horas depois, ou seja, às 10h da
tempo com base em eventos bíblicos e no trabalho realizado manhã.
de acordo com as estações do ano. A partir do século XI,
com o desenvolvimento das cidades ocidentais, surgiu a ne- Cálculo de fuso horário
cessidade de se determinar o tempo em função da atividade
Para calcular a diferença de horas entre duas localidades,
comercial, resultando, assim, na criação do relógio mecânico,
deve-se considerar suas longitudes. Se as localidades
no século XIV, em Nuremberg. No século XIX, durante o longo
processo de industrialização das nações, o ritmo acelerado estiverem em hemisférios diferentes – Leste e Oeste – deve-
de produção demandava formas aperfeiçoadas de mensurar se somar as longitudes. O resultado da soma será a diferença
o tempo. Com o desenvolvimento tecnológico e capitalista, o em graus entre dois locais. Se as localidades estiverem
mundo diminuíra. As especificidades do mundo industrializado no mesmo hemisfério – Leste/Leste, Oeste/Oeste – para
contribuíram para o estabelecimento de parâmetros interna- obter-se a diferença em graus dos locais, deve-se subtrair
cionais para se pensar as horas. Nesse sentido, nasceram as longitudes.
os primeiros fusos horários. De posse da distância em graus entre as localidades,
deve-se calcular a diferença entre elas em fusos horários.
Divisão dos fusos horários Como cada fuso equivale a 15º, a diferença de longitudes
Para o estabelecimento dos fusos horários, considerou- encontrada deve ser dividida por 15. O resultado será a
-se ter o círculo terrestre 360° graus e o movimento de diferença em horas entre duas localidades.
rotação ser realizado em 24 horas. Dividiu-se, então, 360°
por 24, chegando a 24 faixas de 15° de longitude, ou seja, Se for necessário calcular o horário em uma localidade
24 fusos horários. Define-se fuso horário como a hora legal a leste de sua referência, deve-se somar a diferença em
determinada em uma faixa de 15° de longitude. Em função horas ao horário da localidade inicial. Se for preciso calcular
do movimento de rotação, as horas aumentam para leste e o horário em uma localidade a oeste de sua referência, deve-
diminuem para oeste. se subtrair a diferença em horas do horário da localidade
inicial, uma vez que quanto mais a leste um local estiver,
mais adiantado será seu horário.
obs: Se for preciso calcular a hora de chegada de uma
Movimento
viagem, lembre-se de somar o tempo do percurso.
diário
aparente
do Sol 12 13
Exemplo:
11
10 Numa determinada cidade A, localizada a 150° O, são 13
horas. Que horas serão na cidade B, que se localiza a 30° O?
• 1º passo: estabelecer a diferença em graus.
150° – 30° = 120°
PS
Hora legal • 2º passo: estabelecer a diferença em horas.
120° ÷ 15° = 8 horas de diferença entre as cidades A e B.
24 • 3º passo: observar se as horas serão somadas ou
Movimento de rotação e os fusos horários.
subtraídas.
Disponível em: http://1.bp.blogspot.com. Acesso em: 28 jul. 2009. Como a cidade B se encontra a leste da cidade A, as horas
deverão ser somadas. Logo,13 horas + 8 horas = 21 horas
360° / 24 horas = 15° de longitude = 1 hora na cidade B.

Como a Terra apresenta dias com duração de 24 horas, A Linha Internacional de Mudança de
convencionou-se determinar 24 fusos, tendo cada um deles Data (LID)
uma hora diferenciada. Muitos países estabeleceram a sua
A partir do estabelecimento da convenção dos fusos
própria divisão de horários, a chamada hora legal. Com o
horários, foi normatizada a questão da mudança de datas.
intuito de padronizar serviços, as nações aproveitam limites Normalmente, a mudança da data é realizada pela passagem
de regiões ou províncias para delimitar o fuso de determi- das horas, sendo realizada a partir da hora zero. Mas a
nado local. mudança também ocorre ao se ultrapassar a chamada Linha
Dentro da hora legal, os países definem ainda se adotam Internacional de Mudança da Data (LID), que se localiza no
ou não o horário de verão. O intuito é o de aproveitar a maior fuso de 180° (antimeridiano de Greenwich). Imagine que você
luminosidade do dia nessa época do ano e reduzir o consumo esteja sobre a LID, virado para o Polo Norte. Seu pé direito
estará no Hemisfério Oeste, e seu pé esquerdo estará no
de energia elétrica.
Hemisfério Leste, tendo como base o Meridiano de Greenwich.
Países com grande extensão longitudinal têm muitos Desse modo, seu pé direito estará localizado em um hemisfério
fusos, como Rússia (11 fusos), Estados Unidos (9 fusos) e que apresenta horas e data mais atrasadas em relação ao
Canadá (6 fusos). A China possui 5 fusos, mas o governo Hemisfério Leste, e seu pé esquerdo estará no Hemisfério
utiliza como horário oficial a hora de Pequim, localizada na Leste, que apresenta horas e data mais adiantadas em relação
região leste do país. ao hemisfério oeste. Imagine que seu pé direito esteja na terça-

211
Geografia

feira e seu pé esquerdo, na quarta-feira. Para atravessar a LID Observe o mapa abaixo.
no sentido Sibéria-Alasca, você deverá subtrair um dia e, no Brasil - Fusos horários
sentido inverso, somar um dia em seu calendário.
BRASIL - F USOS HORÁRIOS
75º W 60º 45º 30º

- 5 h GMT - 4 h GMT - 3 h GMT - 2 h GMT


- 2 h de Brasília - 1 h de Brasília - Hora de Brasília + 1 h de Brasília
Penedos de
São Pedro e
RR AP São Paulo
Atol
das Rocas
Fernando de
Noronha
AM PA MA CE RN
PB
PI PE
AL
AC TO SE
RO BA
MT
DF
GO

MG ES Trindade
MS Martin
SP RJ Vaz

PR

SC

RS
4º Fuso 3º Fuso 2º Fuso 1º Fuso

75º W 60º 45º 30º

GMT (Greenwhich Meridian Time)


(Hora de Londres)
Limite Teórico
Limite Prático

MCT/Observatório Nacional Divisão Serviço de Hora.

O terceiro fuso brasileiro tem quatro horas atrasadas em


relação ao fuso do Meridiano de Greenwich e uma hora
atrasada em relação ao fuso horário de Brasília. Abrangendo
os estados de Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Rondônia,
Roraima e parte do Amazonas, normalmente, ele é chamado
de fuso horário de Manaus. O quarto fuso brasileiro abarca
o Acre e a porção oeste do Amazonas e tem cinco horas
atrasadas em relação a Londres.

Exercícios
1. (Puc rj – 2017)
Fusos Horários

Alguns países estão 13 ou 14 horas à fren-


te em relação ao Meridiano de Greenwich.
Disponível em: https://upload.wikimedia.org/wikipe-
dia/commons/6/61/International_Date_Line.png.
Acesso em: 01 dez. 2018.

Fusos horários do Brasil


O território brasileiro se localiza inteiramente no Hemisfério
Oeste e, por isso, apresenta horas atrasadas em relação Disponível em: <http://geoemsaladeaula.blogspot.com.br/2011/11/ma-
ao Meridiano de Greenwich. Como o Brasil possui grande pa-fusos-horarios-mundo.html>. Acesso em: 15 set. 2016. Adaptado.
extensão longitudinal, há quatro fusos no país.
A imagem demonstra a distribuição dos fusos horários Conhecendo-se a lógica dos fusos horários na definição
brasileiros, sendo o primeiro deles atrasado duas horas em das horas oficiais dos países do globo (sem as condi-
relação ao fuso horário de Greenwich e adiantado uma hora ções temporárias dos horários de verão), sabe-se que,
em relação à Brasília. O fuso abrange as ilhas de Fernando de quando for meio-dia (12 h) em Brasília (Brasil), serão:
Noronha, Trindade, Martin Vaz e os Penedos de São Pedro e
São Paulo. A) 07 h em Los Angeles (EUA), 15 h em Argel (Argélia),
O segundo fuso horário abrange mais de 50% do território 18 h em Moscou (Rússia), 01h do dia seguinte em
brasileiro, sendo o de maior importância por corresponder Sidney (Austrália).
ao horário de Brasília. Brasília tem três horas atrasadas em B) 01h do dia seguinte em Los Angeles (EUA), 16 h
relação ao fuso de Greenwich e sua hora é determinada em Argel (Argélia), 13 h em Moscou (Rússia), 06 h
como a oficial do país. em Sidney (Austrália).

212
Movimentos da Terra

C) 17 h em Los Angeles (EUA), 09 h em Argel (Argélia), 4. (Mackenzie – 2017) Assunção, capital do Paraguai, fica
06 h em Moscou (Rússia), 23 h do dia anterior em a aproximadamente 1.150 quilômetros de distância, em
Sidney (Austrália). linha reta, da cidade de São Paulo - Brasil. Suponha
D) 12 h em Los Angeles (EUA), 09 h em Argel (Argélia), que um piloto da FAB, utilizando um avião supersônico,
06 h em Moscou (Rússia), 01h do dia anterior em com a capacidade de alcançar até 1.700 km/h, faça
Sidney (Austrália). um voo partindo às 9 horas da capital paulista, com
destino a Assunção, com uma velocidade média de
E) 19 h em Los Angeles (EUA), 13 h em Argel (Argélia),
1.150 km/h. Considere, para avaliação das assertivas
09 h em Moscou (Rússia), 02 h do dia seguinte em
a seguir, que o fuso horário em São Paulo é UTC−3; e
Sydney (Austrália).
em Assunção, é UTC−4.
2. (UCS) A Lua, corpo celeste mais próximo de nós, é o Com base nas informações fornecidas, é correto
satélite natural da Terra. Ela executa três movimentos afirmar que
e apresenta quatro fases diferentes. A) no momento em que estiver sobrevoando a capital
paraguaia, o horário local será de 10 horas.
B) no momento em que estiver sobrevoando a capital
paraguaia o horário local será de 11 horas.
C) no momento em que estiver sobrevoando a capital
paraguaia o horário local será de 9 horas.
D) no momento em que estiver sobrevoando a capital
O intervalo de tempo entre duas luas novas consecuti- paraguaia o horário local será de 8 horas.
vas dura cerca de 29 dias e meio e recebe o nome de E) não é possível estimar, com base nos dados forne-
A) perigeu. cidos, a hora em que o avião irá sobrevoar a cidade
de Assunção.
B) lunação.
C) equinócio. 5. (UEG – 2017) Durante a trajetória da Terra em torno do
D) eclipse. Sol, só há duas ocasiões em que os dois hemisférios
são igualmente iluminados pela energia solar. Esse
E) fase.
período do ano é conhecido como
3. (Fuvest) Uma das primeiras estimativas do raio da Terra é A) equinócio
atribuída a Eratóstenes, estudioso grego que viveu, apro- B) solstício
ximadamente, entre 275 a.C. e 195 a.C. Sabendo que em
C) afélio
Assuã, cidade localizada no sul do Egito, ao meio dia do
solstício de verão, um bastão vertical não apresentava D) periélio
sombra, Eratóstenes decidiu investigar o que ocorreria, E) veranico
nas mesmas condições, em Alexandria, cidade no norte
do Egito. O estudioso observou que, em Alexandria, ao Gabarito
meio dia do solstício de verão, um bastão vertical apresen- 1. A
tava sombra e determinou o ângulo θ entre as direções 2. B
do bastão e de incidência dos raios de sol. O valor do
3. A
raio da Terra, obtido a partir de θ e da distância entre
Alexandria e Assuã foi de, aproximadamente, 7500 km. 4. C
5. A

O mês em que foram realizadas as observações e o


valor aproximado de θ são
(Note e adote: distância estimada por Eratóstenes entre
Assuã e Alexandria ≈ 900 km; π = 3. )
A) junho; 7°.
B) dezembro; 7°.
C) junho; 23°.
D) dezembro; 23°.
E) junho; 0,3°.

213
Capítulo 03

Representação cartográfica
Escala Escala grande
A necessidade de representar áreas muito grandes da A escala grande representa uma área pequena, tendo,
consequentemente, grande riqueza de detalhes. Geralmente,
superfície terrestre em equipamentos que nos permitam a
ela é utilizada para a confecção de plantas e mapas de bairros
análise do espaço geográfico condicionou o desenvolvimento
e compreende um valor entre 1: 5.000 e 1: 25.000.
da escala. A definição de escala é a relação espacial entre
as dimensões da superfície terrestre e as dimensões repre- Ampliação e redução de mapas
sentadas no mapa. Elas podem ser: gráficas, numéricas ou
de equivalência. Escala média
Gráfica A escala média possui um grau de detalhamento interme-
diário entre as escalas grande e pequena. Ela está compreen-
A escala gráfica é representada por um segmento de reta
dida num valor entre 1: 25.000 e 1: 250.000.
graduado que permite determinar uma distância do mundo
real correlacionando-a com outra distância no mapa, seguindo
Escala pequena
o princípio matemático de proporcionalidade.
A escala pequena representa uma área grande, tendo,
0 20 40 60 80 100 km consequentemente, uma pequena riqueza de detalhes. Ela
compreende valores menores que 1: 250.000.

Exemplo:
0 20 40 60 80 100 km
Comparando as duas escalas a seguir, teremos:
Escala A ® 1 : 1.000.000
Escala B ® 1 : 100.000
Numérica ou fracionária
Podemos dizer que a escala A é dez vezes menor que a
A escala numérica é representada por uma fração, em que
escala B. Dessa forma, a área representada pela escala A é
o numerador corresponde à distância no mapa, ou distância
maior que a área representada pela escala B e, por isso, o
gráfica, e o denominador, à distância real. A representação
mapa produzido, considerando a escala B, apresenta uma
numérica do um do segundo exemplo anterior pode ser das
riqueza maior de detalhes geográficos. Observe os mapas
seguintes formas:
a seguir, que demonstram a mesma área representada em
E = 1: 200.000 ou = 1 / 200.000 escalas diferenciadas e, por isso, com diferenças quanto ao
grau de detalhamento. Do mapa A para o mapa D, observa-
Assim, 1 cm no mapa equivale a 2.000.000 cm no mundo -se que a escala aumenta, a área representada aumenta e
real. Para se saber qual a distância real representada pela os detalhes diminuem.
escala, basta converter o denominador, que está represen-
tado em centímetro (cm), para metro (m) ou quilômetro (km),
Antônio
de acordo com o objetivo do mapa. S. Antônio
Rancho
Lica Torre Igr. de S. Francisco de Assis
(rádio) Jardim Panorama
Esta. Nóbrega
Equivalência Monumento do Cristo Rei
Vila Moreira
Torre
(rádio)
Tiro de
Guerra
Jardim Panorama
Seminário Congr. Cristã no Brasil x 639
linha da Paz Cba. de São Faz.
Colégio Cristo Rei
A escala de equivalência indica a distância do terreno e a Estádio x
665
Fac. de
Filosofia
Miguel
Jardim Pérola
São João

sua correspondência direta no mapa. Com base nos exemplos Esc. Dr. Gentil
da Rocha Loures Est. de tra.
Dis. ind. 369
Rodoviária
anteriores, podemos demonstrar que: órdia
RN 1587
Posto de 879
Câmara Municipal
Frig. Esperança Faz. São João
saúde Matriz Cristo Rei (FRIESP)
Cem André Seugling RN 1587 N
1 cm = 20 km ou 2 cm = 40 km ou 5 cm = 100 km Jardim Estádio TELEPAR
Bandeirantes Colég. Barão
567 Ret. da Faz.
São João
do Rio Branco Corpo de Bombeiros Cpa. de S. Jose
RN 1587 dos Operários
587 Esc. Nilson Batista Ribas
Grandeza escalar u t o
Ad ubt.
ra
Coop. de
cafricultores
Distrito Santano
CORNÉLIO PROCÓPIO
s
o

(COPEL)
quinh

A grandeza (ou tamanho) da escala é medida em função Parque industrial


x 597
Macu

369
do grau de detalhamento apresentado pelo mapa. Quanto Armazéns do IBC
N.S.
Sít.
São José
Torre (TV)
Esc. Osvaldo
ecida 600 Bosque Manuel
maior for o denominador da fração, menor será a escala e, Pe. Manuel da
Jardim Progresso
Júlio de Almeida

inversamente, quanto menor for o denominador, maior será a) escala 1:50.000


a escala. 645 x

x 650 CORNÉLIO
PROCÓPIO
Independência RN
x x 594
URAÍ
214 673

RN 22
x
Congonhas

678.448 CORNÉLIO PROCÓPIO

Faz. Água Quente Faz. Macuco

RN 37
x 671.226 c) escala 1:250.000
Coop. de Distrito Santano
ra
uto
Ad ubt.
cafricultores CORNÉLIO PROCÓPIO
s

inho
(COPEL)
Parque industrial

qu
x 597

Macu
369 Sít.
Armazéns do IBC Torre (TV)
N.S. São José Esc. Osvaldo
600
ecida
Pe. Manuel da
Jardim Progresso Bosque Manuel
Júlio de Almeida Representação cartográfica
a) escala 1:50.000
645 x Representações cartográficas
x 650 CORNÉLIO Existem várias maneiras de representar o planeta Terra.
PROCÓPIO
Dentre elas, consideram:
Independência RN
x x 594
URAÍ
O globo terrestre
673 Congonhas
x
RN 22
678.448 CORNÉLIO PROCÓPIO

Faz. Água Quente Faz. Macuco O globo terrestre é o método de representação que mais
RN 37
x 671.226 c) escala 1:250.000
se aproxima da realidade, porque:
x 598
Diamantina
Sertaneja
• sua forma é muito semelhante à da Terra;
• traz as coordenadas geográficas (paralelos e meridianos);

ruç
Quinzopolis

ua
b) escala 1:100.000
Leópolis
Rio

Taq
do
Rancho Bandeirantes

• possibilita a simulação dos movimentos de rotação e

Rio

Rio
Alegre

Co

PR -
ng
S. Mariana

on
translação.

430
ha
Frei Timóteo CORNÉLIO PROCÓPIO

s
Uraí Congonhas

Por outro lado, o globo terrestre possui alguns inconve-


Cruzeiro do Norte
Jataizinho 369 Santa Amelia
BR - Rio

nientes, como:
Antônio Brandão Gr
PR de Oliveira an
de
-0
90 Nova América 600 500

• pequena quantidade de informações e de detalhes;


da Colina
Açaí Ribeirão

d) escala 1:1.000.000 • não permitir a comparação de pontos antípodas no


Disponível em: http://www.geografia.fflch. planeta;
usp.br. Acesso em: 27 jan. 2010.
• dificuldade de transporte por ocupar muito espaço.
Cálculo de escala
Os diferentes tipos de mapas
D=dxE Os mapas são elaborados para diversas finalidades e po-
D dem ser de diversos tipos. Geralmente, são construídos em es-
calas pequenas e têm fins ilustrativos. Eles se classificam em:
d= D
d E E • Mapas físicos: são mapas que representam elementos
do quadro natural, por exemplo, um mapa hidrográfico
D = Distância real
E = d/D ou um mapa vegetacional.
d = Distância gráfica
E = Escala • Mapas políticos: representam as divisões políticas do
espaço, como países, estados ou províncias e muni-
cípios, com seus limites bem definidos, suas capitais
LEMBRETE federais e estaduais, suas cidades mais importantes
(ex: mapa-múndi).
• Os mapas podem ser ampliados ou reduzidos de
acordo com as necessidades de quem os utiliza. • Mapas econômicos: representam as riquezas e os
produtos comercializáveis de uma região.
• Para ampliar o mapa, ou seja, aumentar a riqueza de
detalhes, deve-se diminuir o denominador. • Mapas demográficos: indicam as concentrações po-
pulacionais em determinada área. Registram dados de
Ex: amplie quatro vezes um mapa de escala 1:200.000. população (distribuição da população no espaço, cres-
cimento demográfico, migração, qualidade de vida etc.).
Resolução: Para ampliar quatro vezes o mapa, deve-se
reduzir quatro vezes o denominador, ou seja, a nova escala • Mapas temáticos: como o nome diz, os mapas temá-
ticos abordam diversos temas. Eles podem retratar a
será 1 : 50.000.
1 4 1 economia e as fontes de riquezas de determinada região,
x4= = temas da demografia, como distribuição populacional
200.000 200.000 50.000
e migrações, além de infraestrutura, como a malha
Para reduzir o mapa, ou seja, o detalhamento, deve-se rodoviária de determinado estado ou país, por exemplo.
aumentar o denominador.
As cartas, por sua vez, são elaboradas em escalas médias
Ex: reduza três vezes um mapa de escala 1:100.000 e grandes. Elas são ideais para indicar direções e represen-
tam maior quantidade de detalhes.
Resolução: para reduzir três vezes o mapa, deve-se au-
mentar em três vezes o denominador, ou seja, a nova escala Elementos de um mapa
será 1 : 300.000.
A confecção de um mapa exige padrões cartográficos
1 1 1 que devem ser atendidos de maneira que ele possa ser
÷3= x =
100.000 100.000 3 300.000 compreendido universalmente.
Exemplo: Dessa forma, um mapa necessita, como elemento de
representação, de:
Em um mapa do Brasil produzido na escala de 1: 5.000.000, a
distância entre a cidade de São Paulo e Brasília, em linha reta, é • Título: permite a identificação da temática abordada.
de 16 cm. Qual é a distância real entre as duas cidades em Km? • Coordenadas geográficas: permite a localização da
Fórmula ® D = d x E área de análise.
D = 16 cm x 5.000.000 • Sistema de orientação: possibilita a análise mais apro-
fundada da área em questão (normalmente utiliza-se a
D = 80.000.000 cm Rosa dos Ventos).
D = 800 Km • Sistema de projeção: indica a representação utiliza-
da para planificar os paralelos e os meridianos no mapa.

215
Geografia

• escala: possibilita a identificação do tamanho da área 1. conforme: preserva os ângulos (na esfera e no plano),
em questão. mas deforma as áreas (em sua representação carto-
gráfica).
• Fonte de confecção: é uma maneira de se creditar o
órgão responsável pela sua produção. 2. equivalente: deforma os ângulos, mas conserva as
• legenda: permite a interpretação das informações áreas.
trazidas pelo mapa. 3. equidistante: deforma os ângulos e as áreas, mas
preserva as distâncias.
Os símbolos e convenções
4. Afilática: deforma os ângulos, as áreas e as distâncias.
Os mapas são recursos de comunicação, ou seja, eles
dizem algo. Para isso, eles possuem uma linguagem gráfica, Quanto à sua origem construtiva, as projeções podem ser
representada por cores, tamanhos e figuras, que facilita a lei- classificadas em três principais categorias – cilíndrica, cônica
tura e a interpretação das informações de quem os elaborou. ou plana –, em função da figura geométrica adotada como
base de sua transformação em mapas.
Essa linguagem é universal e independe até mesmo do
idioma em que o mapa foi elaborado. Os símbolos cartográ-
ficos corresponderão à finalidade dos mapas.
Esses símbolos podem ser representados na forma de
pontos, de linhas ou em áreas conforme o esquema a seguir.

Neste mapa é possível observar ao mesmo tempo os símbolos e as


convenções cartográficas. As linhas representam estradas e rodo- Principais figuras geométricas gerado-
vias, os pontos representam locais de referência e a serem visitados. ras de projeções cartográficas.
A área do Parque Nacional da Chapada Diamantina está em verde.
Disponível em: https://www.atlasandboots.com/wp-content/
Disponível em: http://www.brasil-turismo.com. Acesso em: 28 jul. 2009. uploads/2017/05/map-projections-types.jpg. Acesso em: 08 dez. 2018.

Projeções cartográficas Projeção cilíndrica


As limitações do modelo do globo terrestre impôs a ne- Os paralelos e os meridianos são linhas retas que se cor-
cessidade de planificar as informações do nosso planeta. tam perpendicularmente e têm enorme importância na proje-
As representações planas são possíveis por meio de proje- ção cilíndrica. Nesse método de representação cartográfica,
ções cartográficas e consistem em projetar os paralelos e os as superfícies próximas ao Equador são representadas com
meridianos da Terra em um plano. As representações assim pequenas distorções.
obtidas sempre apresentam algumas deformações. Para
minimizar esses efeitos, os cartógrafos utilizam diferentes Destacam-se aqui algumas das principais características:
métodos de projeção. • a linha do Equador é a única que se encontra na escala
real da representação;

216
Representação cartográfica

• as deformações dessa projeção são tanto maiores Já o estudioso Peters desenvolveu sua projeção em 1973
quanto mais elevadas as latitudes norte e sul; com fortes implicações políticas. Seu objetivo era contrapor
as ideias disseminadas pela projeção de Mercator, que
• os paralelos são dispostos em linhas paralelas ao
Equador e têm intervalos desiguais, aumentando em valorizava as áreas dos países que se encontram ao norte
direção aos polos; do mapa – predominantemente ricos. A Projeção de Peters
é considerada a “terceiro-mundista”, por realçar as nações
• os meridianos distribuem-se por intervalos iguais ao que historicamente compõem a parte mais pobre do mundo.
longo dos 360° graus de circunferência da Terra, com
linhas paralelas entre si e perpendiculares ao Equador; A maior diferença da projeção de Peters para a de Mercator
é a redução do tamanho do continente europeu e o aumento
• o excesso de deformação (ampliação das áreas) veri- considerável do continente africano.
ficado nas latitudes superiores a 80° norte e sul torna
inviável a representação cartográfica, e os polos norte A Projeção de Gall-Peters é um tipo de projeção carto-
e sul não são representados nessa projeção. gráfica cilíndrica e equivalente. As retas perpendiculares aos
paralelos e as linhas meridianas têm intervalos menores, o
que resulta numa reprodução fiel das áreas dos continentes
à custa de uma maior deformação do formato dos mesmos.

Projeção de Mercator

Note como a Projeção de Mercator distorce as áreas de re-


giões desenvolvidas à medida que a latitude aumenta.
Disponível em: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/f/
f4/Mercator_projection_SW.jpg. Acesso em: 28 jul. 2009.

Projeção de Peters

A projeção cilíndrica valoriza as áreas próximas ao Equador.


Disponível em: https://gistbok.ucgis.org/sites/default/files/styles/blog_ima-
ge/public/figure%202.png?itok=d-i9zR0W. Acesso em: 08 dez. 2018.

Projeções de Mercator e de Peters


O cartógrafo Mercator criou, em 1569, uma projeção cilíndri-
ca, que até hoje é uma das mais utilizadas. Ela é uma projeção
do tipo conforme, ou seja, mantém a configuração das áreas
representadas, porém, à medida que aumenta a latitude, apre-
senta grandes deformações no que tange à área das superfícies.
Até hoje, para as cartas náuticas, essa projeção é muito utili- A Projeção de Peters mantém uma equivalência entre as áreas
zada devido à facilidade de se traçarem as rotas marítimas, em dos continentes para valorizar as áreas subdesenvolvidas.
função das coordenadas geográficas formarem ângulos retos.
Disponível em: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/3/34/
A carta náutica surgiu no contexto das Grandes Navegações e Gall%E2%80%93Peters_projection_SW.jpg. Acesso em: 28 jul. 2009.
refletia o domínio europeu daquela época.
217
Geografia

Projeção cônica
A projeção cônica representa apenas um hemisfério, norte ou sul, e as imagens do globo são projetadas nas paredes de
um cone. As imagens retratam melhor a zona temperada, enquanto as áreas equatoriais e polares aparecem deformadas. Os
meridianos se mostram como linhas retas que se convergem e os paralelos são representados como círculos concêntricos.
Essa projeção é mais apropriada à representação cartográfica das latitudes mais elevadas. A Europa e a Ásia
utilizam-na com frequência.

As projeções cônicas representam algumas partes do planeta.


Disponível em: https://gistbok.ucgis.org/sites/default/files/styles/blog_image/public/figure%202.png?itok=d-i9zR0W. Acesso em: 08 dez. 2018.

Projeção plana (azimutais, zenitais ou polares)


A projeção plana é ideal para as pequenas regiões, pois as deformações aumentam à medida que as regiões representadas
se afastam do ponto central da projeção. As projeções azimutais representam a superfície da Terra num plano, localizando me-
lhor as regiões polares. Dessa maneira, as deformações são pequenas nas proximidades dos polos. Principais características:
• as áreas próximas do centro ficam muito bem representadas e bem detalhadas;
• as áreas distantes vão ficando cada vez mais distorcidas;
• os paralelos se mostram como círculos concêntricos, ao passo que os meridianos são linhas divergentes.

A projeção plana foi utilizada para a criação da logomarca da ONU.


Disponível em: https://gistbok.ucgis.org/sites/default/files/styles/blog_image/public/figure%202.png?itok=d-i9zR0W. Acesso em: 08 dez. 2018.

Anamorfoses
A anamorfose, também conhecida como cartograma, é um instrumento cartográfico que permite a comparação de dados
quantitativos – natalidade, mortalidade, trocas comerciais, desenvolvimento humano – de uma determinada área de análise.
As anamorfoses não têm escala, mas cada distorção representa um valor numérico, provocando um estranhamento numa
primeira observação devido ao fato de os limites políticos aparecerem bastante deformados em relação ao que se é conhecido
de determinada área, como podemos observar no exemplo a seguir.
218
Representação cartográfica

O Brasil em cartogramas: taxa de homicídios por 100 mil habitantes.

55
HOMI 1999

50
45
40
35
30
25
20
15
10
5
0

Rio Grande do Sul


Minas Gerais
Amazonas

Distrito Federal

Santa Catarina
Pernambuco
Espírito Santo

Rio de Janeiro
Pará

São Paulo
Paraná

Paraíba
Amapá

Roraima
Rondônia

Tocantins
Rio Grande di Norte
Bahia

Mato Grosso
Maranhão

Sergipe
Ceará

Goiás
Acre

Alagoas

Mato Grosso doSul

Piaui

Disponível em: https://florencioq.github.io/cartogram-brazil/#homicidios/2016. Acesso em: 28 jul. 2009.

Exercícios
1. (Espcex (Aman) – 2017) Sobre a projeção cartográfica utilizada na produção do mapa abaixo, é correto afirmar que se
refere a uma projeção

A) cilíndrica conforme, muito útil à navegação marítima, pois não deforma os ângulos, que permanecem com seus
valores reais.
B) plana azimutal, que já foi muito utilizada na geopolítica, como instrumento de análise estratégica dos Estados.
C) azimutal equidistante, que produz um tipo de mapa cujas distâncias e direções não são deformadas, propriedades
estas muito úteis ao planejamento estratégico-militar.
D) cilíndrica equivalente, que destaca as áreas situadas nas latitudes intertropicais e preserva as dimensões relativas
entre os continentes e países.
E) cilíndrica interrompida, que conserva a proporção das áreas representadas, e é muito utilizada nos atlas escolares
americanos.
219
Geografia

2. (Espcex (Aman) – 2017) A escala indica a proporção 5. (EsPCex – 2015) Em uma cidade, a distância entre as
em que um mapa foi traçado, em relação ao objeto localidades X e Y é de 16 Km e entre as localidades X
real, e varia de acordo com as finalidades desse mapa. e Z é de 28 Km. A distância no mapa entre X e Y é de 4
Sobre as escalas utilizadas nos mais diferentes tipos cm e entre X e Z é de 7 cm. A escala desse mapa é de:
de mapas, podemos afirmar que
A) 1:280.000
I. em um mapa com escala de 1: 25.000.000 a dis-
tância de 8 cm no mapa corresponde à distância B) 1:160.000
real de 2,500 km. C) 1:40.000
II. uma escala de 1:1.000.000 é considerada uma D) 1:16.000
escala grande e é muito utilizada para obter, em E) 1:400.000
um mapa, informações bem detalhadas de um
dado lugar. 6. (EsPCex (AMAN) –2011) A escala cartográfica que se
III. quanto maior a escala de um mapa, menor será a apresenta sob a forma de um segmento de reta gradu-
área que ele representa, e menos evidente será a ado é denominada Escala
projeção cartográfica utilizada na confecção do mapa. A) Numérica.
IV. a escala gráfica pode ser apresentada em diferentes B) Gráfica.
unidades de medida e a escala numérica, quando C) Equivalente.
estiver com a unidade de medida omitida, estará
D) Temática.
em centímetros.
E) Topográfica.
Assinale a alternativa que apresenta todas as afirma-
tivas corretas.
Gabarito
A) I e II. D) II e IV.
1. D
B) I e III. E) III e IV.
2. E
C) II e III.
3. E
3. (EsPCex – 2012) Sobre escala cartográfica, leia as 4. D
afirmativas abaixo:
5. E
I. existem dois tipos de escala cartográfica: a numérica
6. B
e a geográfica;
II. na escala 1:5.000, podemos visualizar mais detalhes
do que na escala 1:500.000, portanto a primeira é
mais adequada para representar grandes super-
fícies terrestres, como, por exemplo, uma região
ou país;
III. em um mapa de escala 1:2.000.000, a distância
gráfica de 3 cm entre dois pontos, em linha reta,
corresponde a uma distância real de 60 km;
IV. a escala 1:500, muito utilizada na construção
de plantas urbanas, é maior do que a escala
1:1.000.000, que é utilizada, por exemplo, para
representar um continente ou mesmo o Mundo.
Assinale a alternativa que apresenta todas as afirma-
tivas corretas.
A) I e II D) II e III
B) I, II e III E) III e IV
C) I, II e IV

4. (EsPCex – 2014) Sobre um mapa com escala de


1:500.000, o comandante de uma tropa demarca uma
área a ser conquistada em solo inimigo. Essa área
demarcada apresenta o formato de um quadrado com
8 cm de lado.
A área demarcada, a ser conquistada, mede na rea-
lidade
A) 40 km2.
B) 160 km2.
C) 400 km2.
D) 1.600 km2.
E) 3.200 km2.

220
Capítulo 04

Representação do relevo terrestre


Curvas de nível
As curvas de nível são linhas que ligam pontos de mesma altitude em intervalos iguais, sendo também chamadas de isoípsas.
A escolha do espaçamento ou equidistância das linhas depende de vários fatores, como a escala do mapa, o tipo de relevo etc.
Principais características das curvas de nível:
• as curvas de nível tendem a ser quase paralelas entre si;
• todos os pontos de uma curva de nível se encontram na mesma elevação;
• a equidistância entre as curvas pode ser, de acordo com o caso, de 10 m, 25 m, 50 m, 100 m etc.;
• as curvas de nível mostram tanto a altitude como o formato do relevo;
• as curvas de nível nunca se cruzam;
• quanto mais íngreme for o relevo, mais próximas estarão as curvas de nível;
• quanto mais plano for o relevo, mais separadas estarão as curvas de nível.
O que são isolinhas?
São as linhas que unem os pontos de igual valor, relativos ao fenômeno que se está representando. Elas podem ser, entre
outras:
• isoterma: linha que une os locais de igual temperatura;
• isoieta: linha que une pontos de igual precipitação;
• isóbata: linha que une pontos de igual umidade atmosférica;
• isóbara: linha que une pontos de igual pressão atmosférica;
• isoípsa: linha que une pontos de igual altitude.
Pão
de Praia
Açúcar Vermelha
Morro
50 50 da
100 0 100 Urca
0 25 150 0
12500 20
3500
0
3

Praia
do
Forte
CA
UR

Cão
ra de
o Ca
Morr

400

300

200

100

As isotermas mostram, em forma de áreas, os lo-


As isoípas indicam pontos de igual altitude.
cais onde as temperaturas são próximas.
Disponível em: http://teleformacion.edu.aytolacoruna.es/AYC/document/ Disponível em: http://geographicae.files.wor-
atmosfera_y_clima/temperatura/images/tempMediaanualesMundo.jpg. dpress.com. Acesso em: 28 jul. 2009

Perfil topográfico
Os perfis topográficos dão uma ideia mais nítida da inclinação do relevo ao longo de uma linha do horizonte determinada
pelo observador ou leitor do mapa. Para a elaboração de um perfil topográfico, parte-se das curvas de nível do terreno em
estudo. Na figura a seguir, pode-se ver, na parte superior, um mapa com curvas de nível que indica a elevação do terreno
(dois morros). O perfil gerado está na parte de baixo da figura (corte).

221
Geografia

Link Entre Satélites (ISL)


50 50
TV
100
B Terminais Pessoais
Estação Fixa

200 Terrestre

323
A 300 150
250 Rede
Terrestre
Terminais Pessoais

200
150 100
Rede
0 500 km Estações Móveis Estações Portáteis
Terrestre

350 Disponível em: http://www.electronica-pt.com. Acesso em: 28 jul. 2009.


300 É difícil determinar que tipo de sensor é mais eficaz, sabendo
250 que cada um tem a sua característica. A vantagem de fotos
200 Rio aéreas é a riqueza de detalhes e a estereoscopia, permitindo
150
100 medidas de altitudes e menores deformações cartográficas.
50 Quanto ao radar, a sua vantagem é a independência em relação
0 aos fatores atmosféricos, podendo também ser utilizado durante
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 1011121314151617 o dia e a noite. As imagens de satélite, por sua vez, apresentam
(Distância em km x 100) como vantagem a periodicidade e o custo baixo.
Disponível em: http://es.encarta.msn.com.
Acesso em: 16 fev. 2009

Sensoriamento remoto
“É um conjunto de tecnologias que permitem adquirir
informações sobre objetos que estão presentes na
superfície terrestre, sem entrar em contato com eles, ou
seja, é um conjunto de atividades relacionadas com a
aquisição, o registro e a análise dos dados de sensores
remotos, sendo que o fundamento principal é a
detecção das alterações eletromagnéticas, quando esta
interage com os componentes da superfície terrestre.”
Helder Lages Jardim e Valéria Amorim do Carmo
Imagem de satélite.
O sensoriamento nada mais é do que um recurso técnico
para ampliar os sentidos naturais do homem, ou seja, é um
dispositivo ou equipamento (câmara fotográfica, radar etc.)
que capta e registra, sob forma de imagens, principalmente,
a energia refletida ou emitida pelas áreas, acidentes, objetos
e acontecimentos do meio ambiente.
Quanto à fonte de radiação, os sensores podem ser:
• Passivos: dependem de uma fonte externa ou natural
de radiação como o sol e a Terra, captada por radares ou
satélites artificiais e fotos aéreas. Os sensores passivos
mais usados e conhecidos são as fotos aéreas, que,
apesar do amplo campo de aplicação, têm seu uso
menor que o desejável por terem custo alto e por se
desatualizarem rapidamente.
Exemplo: retina humana, a câmera fotográfica (sem
flash) e os satélites. Fotografia aérea da cidade de São Paulo.

• Ativos: possuem sua própria fonte de energia, a qual


incide num alvo para, em seguida, captar o seu retorno;
Por exemplo, o radar. Ele emite a sua própria energia
e grava o retorno da energia refletida em um filme
fotográfico. O radar pode efetuar os levantamentos
em qualquer tempo e hora, dispondo de excelente
penetração em nuvens. Por isso é que esse sensor
é particularmente utilizado no mapeamento de áreas
cobertas por florestas tropicais.
Exemplo: radares, câmeras fotográfica (com flash). Fotografia aérea de estrada.

222
Representação do relevo terrestre

Aerofotogrametria O GPS possui várias aplicações, como a realização de


levantamentos topográficos e geodésicos; demarcação de
Desde a segunda metade do século XX, o emprego de fronteiras, unidades de conservação, implantação de eixos
fotografias aéreas adquiridas de aviões equipados para o
rodoviários e monitoramento de veículos de transporte.
conhecimento do terreno e confecções de mapas é bastante
generalizado. O sistema GPS foi desenvolvido pelos Estados Unidos na
Para analisarmos imagens aéreas, temos que levar em década de 1960, derivado do projeto NAVSTAR. Por outro
conta as seguintes observações: lado, a Rússia, ainda como União Soviética, criou o sistema
Glonass, em 1976. Contudo, esse sistema só cobriu todo o
• tamanho do objeto: saber a escala; planeta a partir de 2011.
• forma: geométrica (criada pelo homem);
China, União Europeia e Japão também realizam constan-
• tonalidades: espelhadas (água), branca (areia), cinza tes aprimoramentos dos seus sistemas de posicionamento
escuro (estrada asfaltada) e cinza muito escuro (solo
úmido ou vegetação densa); global para concorrer com o sistema GPS e o Glonass, por
meio do BeiDou, o Galileo e o Michibiki, respectivamente.
• linhas: rios ou estradas.

Drones Exercícios
Conhecidos também como VANTs (Veículos Aéreos Não- 1. (UERJ – 2016) Na imagem abaixo, foi utilizada a téc-
-Tripulados), os drones passaram do uso militar para as nica de curvas de nível para representar a topografia
mãos das pessoas que desejam realizar voos panorâmicos de uma região na qual há um vale, entre outras formas
ou registros audiovisuais. A popularização dos drones per- de relevo.
mitiu que esse equipamento passasse a ser utilizado em
geoprocessamento.
Os custos para a obtenção de imagens aéreas reduziram
00
muito com a chegada desses equipamentos, quando com- 40
parados a outras plataformas de sensoriamento remoto.
Quando câmeras de alta resolução e alta qualidade são
B C
acopladas ao aparelho, o mapeamento ganha um nível de A 5000
detalhe ainda maior. 5000
Contudo, vale lembrar que os drones continuarão a dividir D
espaço com outras tecnologias de representação do relevo.

3000
GPS 1 km
O GPS – Global Positioning System (Sistema de Phil Gersmeh
Posicionamento Global) – é um aparelho de bolso, apoiado Adaptado de Teaching geography, Nova York: Guilford, 2008.
atualmente por 24 satélites que refletem os sinais de rádio
para o local onde o aparelho está operando. O satélite envia ao O ponto localizado no fundo desse vale é o identificado
GPS dados sobre a localização de qualquer lugar, por meio de pela seguinte letra:
coordenadas geográficas. Além da posição geográfica (latitude, A) A
longitude, altitude), o aparelho pode indicar velocidade, tempo
B) B
de deslocamento e distância em relação a qualquer outro ponto
de referência da Terra. Ademais, o aparelho pode memorizar C) C
o percurso realizado, orientar o retorno e indicar a direção a D) D
ser seguida para um determinado destino.
2. (Cefet – 2018) O uso das geotecnologias é corrente
na sociedade contemporânea. É fácil perceber como
os aparelhos eletrônicos que disponibilizam sistema de
posicionamento global – conhecido como GPS – ultra-
passaram a fronteira do meio acadêmico e empresarial
para alcançarem e influenciarem as atividades cotidia-
nas do cidadão.
Disponível em: <https://www.embrapa.br/tema-geotecnologias/
sobre-o-tema>. Acesso em: 16 set. 2017 (adaptado).

A atividade que NÃO se relaciona diretamente ao uso


das geotecnologias é a
A) integração de dados espaciais.
B) gestão da agricultura de precisão.
C) automação da atividade industrial.
D) orientação de rotas de transporte.

223
Geografia

3. (Unicamp – 2016) A imagem abaixo corresponde a 5. (FGV SP – 2018) Observe o gráfico a seguir.
um fragmento de uma carta topográfica em escala 1:
50.000. Considere que a distância entre A e B é de
3,5 cm.

Os eixos X e Y que compõem a construção do perfil


topográfico dizem respeito, respectivamente,
A) à altitude e à distância.
B) à longitude e à latitude.
C) à distância e à altitude.
D) à altitude e à latitude.
E) à distância e à longitude.
A partir dessas informações, é correto afirmar que:
A) O rio corre em direção sudeste, sendo sua margem Gabarito
esquerda a de maior declividade. Apresenta um
1. B
comprimento total de 17.500 metros.
2. C
B) O rio corre em direção sudoeste, sendo a margem
3. C
direita a de maior declividade. Apresenta um com-
primento total de 1.750 quilômetros. 4. B

C) O rio corre em direção sudeste, sendo sua margem 5. C


esquerda a de maior declividade. Apresenta um
comprimento total de 1.750 metros.
D) O rio corre em direção sudoeste, sendo sua margem
esquerda a de maior declividade. Apresenta um
comprimento total de 175 metros.

4. (UEMG – 2018) O GPS (Global Positioning System)


desenvolvido pelo Departamento de Defesa dos Es-
tados Unidos causou uma enorme transformação no
que tem sido a busca da humanidade por localização
instantânea, medição dos terrenos em tempo real e
visualização de dados métricos do planeta terra com
imensa acurácia. A exemplo de muitos outros artefatos
desenvolvidos com fins militares, o GPS penetrou a
vida cotidiana em todos os lugares do mundo onde
seja possível o uso dessa ferramenta, como se tem
tornado comum nos diversos aplicativos para celula-
res. O problema é que dados estratégicos não são
liberados para civis e, em tempos de guerra ou con-
flito, os Estados Unidos podem restringir ou mesmo
cortar o fornecimento das informações, já que é o
detentor da tecnologia. Em vista disso, outros países
têm buscado desenvolver seus próprios sistemas de
posicionamento, mas, até o momento, há um único
sistema concorrente em pleno funcionamento, desen-
volvido pela Rússia.
Como esse sistema é nomeado?
A) COMPASS.
B) GLONASS.
C) GALILEO.
D) NAVSTAR.

224
Capítulo 05

Dinâmica física terrestre


Estrutura interna do planeta Terra
A estrutura interna da Terra é representada em modelos baseados em dois critérios diferentes: a composição química
de suas camadas (modelo estático) e as suas propriedades físicas (modelo dinâmico).
Modelo Estático
(baseado na composição
química das camadas) Modelo Dinâmico
(baseado no comportamento
mecânico dos materiais)
Crosta
Crosta Continental Litosfera
Oceânica (25 a 70 km)
(6 a 12 km)

Litosfera Litosfera
Descontinuidade Oceânica Continental
de Mohorovicic 75 km a
100 km
350 km
670 km

Descontinuidade
de Wlechert Gutenberg
2 900 km 2 900 km

Descontinuidade
Zona de de Lehmanh Endosfera
transição 4 980 km
5 120 km 5 120 km

6 378 km

Composição química da Terra


De acordo com a composição química, a estrutura interna da Terra é dividida em três camadas: crosta, manto e núcleo
terrestre.

Crosta terrestre
A crosta terrestre é a parte superficial e sólida que envolve a Terra. A crosta pode ser subdividida em duas porções bastante
diferentes, a crosta continental e a crosta oceânica. A crosta continental é mais espessa; ela mede cerca de 75 km, é composta
por rochas “graníticas” menos densas, é fortemente deformada e inclui as rochas mais antigas do planeta (com bilhões de
anos de idade). Já a crosta oceânica é menos espessa ela mede cerca de 8 km e é constituída por rochas vulcânicas mais
densas como o basalto.

Manto
O manto está localizado entre a crosta e o núcleo, onde o magma se encontra em estado pastoso. Ele é formado pelos
materiais de densidade intermediária, deixados na porção mediana da Terra, após os materiais mais pesados terem mergu-
lhado para o centro do planeta, e os materiais mais leves terem ascendido para a superfície. O manto é composto por rochas
formadas por compostos de oxigênio com ferro, magnésio e sílica.

Núcleo
O núcleo é a porção mais interna da Terra. O núcleo terrestre, composto basicamente por ferro, possui aproximadamente,
7.000 km de diâmetro. A sua densidade aumenta com a profundidade. O núcleo compõe somente 16% do volume da Terra,
mas, devido à sua elevada densidade, ele constitui 32% da massa do planeta.

Composição física da Terra


De acordo com as propriedades físicas, a estrutura interna da Terra é dividida em quatro camadas: litosfera, astenosfera,
mesosfera e endosfera.

Litosfera

225
Geografia

A litosfera é a camada externa rígida, resistente e sólida da Terra. Essa camada inclui a crosta e a porção mais externa
do manto superior.

Astenosfera
A astenosfera é a camada situada abaixo da litosfera. Como sua temperatura é muito elevada, a astenosfera tem menor caráter
rígido, ou seja, ela apresenta comportamento plástico e, por isso, está mais sujeita a deformações. A parte inferior da astenos-
fera é mais quente que a parte superior e, por causa dessa característica, os materiais de menor densidade ascendem para as
áreas mais superficiais e os mais densos descem. Esse movimento é responsável pela formação das correntes de convecção.

Mesosfera
A mesosfera é a camada da estrutura interna da Terra, que se situa entre a astenosfera e o núcleo. Com cerca de 2.900
km de profundidade, a mesosfera é constituída por materiais rígidos. Essa área é caracterizada pela enorme rigidez de seus
materiais e, por isso, a propagação das ondas sísmicas na região ocorre com enorme velocidade .

Endosfera
A endosfera subdivide-se em núcleo externo (ou endosfera externa) e núcleo interno (ou endosfera interna). O núcleo
terrestre é subdividido em duas porções distintas, com base no comportamento mecânico: um núcleo externo líquido e um
núcleo interno sólido. O núcleo externo é constituído de materiais líquidos, já o núcleo interno é constituído de materiais sólidos
e rígidos, fato explicado pela enorme pressão (a temperatura de fusão dos metais aumenta muito rápido com o aumento da
pressão). Cerca de 90% da Terra consiste em apenas quatro elementos: ferro, oxigênio, silício e magnésio.
As informações que se têm a respeito do interior da Terra foram todas obtidas por vias indiretas, pois as perfura-
ções mais profundas normalmente não ultrapassam os 5.000 ou 6.000 metros. A divisão da estrutura da Terra foi ba-
seada, principalmente, nos estudos sobre os abalos sísmicos. O comportamento das ondas sísmicas altera-se na pas-
sagem de uma camada da Terra para outra, em decorrência da natureza dos materiais. Além disso, também são ob-
servados os vulcões, que trazem material de profundidade, permitindo a análise da constituição química dos minerais.

Teoria da Deriva Continental


A origem da teoria da Tectônica de Placas ocorreu no início do século XX, com os pensamentos de Alfred Wegener. O
cientista se dedicava à comprovação de uma ideia – baseada na observação de um mapa-múndi no qual as linhas da costa
atlântica atuais da América do Sul e da África se encaixariam como num quebra-cabeça gigante – e que todos os continentes
poderiam se aglutinar formando um único megacontinente. Para explicar essa suposição, Wegener imaginou que os continentes
poderiam, um dia, ter estado juntos e, posteriormente, se separado.
Wegener denominou esse supercontinente de Pangea e considerou que sua fragmentação teria iniciado há cerca de 220
milhões de anos, durante o Triássico, quando a Terra era habitada por dinossauros, e prosseguindo até os dias atuais. O
Pangea teria iniciado a sua fragmentação, dividindo-se em dois continentes: o setentrional, chamado de Laurásia, e o austral,
de Gondwana.

Eurásia
Laurásia
América
do Norte
P A N G E A
América África
do Sul
Índia
Gondwana Austrália
Antártica
Pangea e sua divisão em dois continentes, Laurásia
ao norte e Gondwana ao sul, pelo Mar de Thetys.

Wegener procurou outras evidências para sua teoria, como:


• presença de fósseis de Glossopteris (gimnosperma primitiva) em regiões da África e do Brasil;
• evidências de glaciação, há 300 milhões de anos na região Sudeste do Brasil, Sul da África, Índia, Oeste da Austrália
e Antártica. Essas evidências sugeririam que, naquela época, grandes porções da Terra, situadas no Hemisfério Sul,
estariam cobertas por camadas de gelo, como as que ocorrem hoje nas regiões polares e, portanto, o planeta estaria
submetido a um clima glacial.
Em 1915, Wegener reuniu as evidências que encontrou para justificar a teoria da Deriva Continental em um livro denomina-
do A origem dos continentes e oceanos. Entretanto, ele não conseguiu responder a questões fundamentais, por exemplo: que
forças seriam capazes de mover os imensos blocos continentais? Como uma crosta rígida como a continental deslizaria sobre
outra crosta rígida como a oceânica, sem que fossem quebradas pelo atrito? Por isso, sua teoria perdeu credibilidade frente à
comunidade científica. Após sua morte, sua teoria ficou durante algum tempo esquecida.

226
Dinâmica física terrestre

América Eurásia
do Norte
Equador África Índia

América
do Sul Austrália

a Antártica

Eurásia

América
Equador do Norte

América África
do Sul
Índia
Austrália
b Antártica
a) Distribuição atual das evidências geológicas que atestam a existência de geleiras há 300 mi-
lhões de ano. As setas indicam a direção de movimento das geleiras.
b) Simulação de como seria a distribuição das geleiras com os continentes juntos, mos-
trando que estariam restritas a uma calota polar no Hemisfério Sul.

Teoria da Tectônica de Placas


Na década de 1940, com o desenvolvimento tecnológico militar, em função da Segunda Grande Guerra, foram desenvolvidos
equipamentos que permitiram traçar mapas do relevo do fundo oceânico. Foram descobertas cadeias de montanhas, fendas e
fossas, ou trincheiras muito profundas, mostrando um ambiente geologicamente muito mais ativo do que se pensava.
Esses trabalhos permitiram cartografar uma enorme cadeia de montanhas submarinas, denominadas dorsal ou cadeia
mesoceânica, que constituía um sistema contínuo ao longo de toda a Terra. Posteriormente, foi constatado que, ao longo da
cadeia mesoceânica, o fluxo térmico era mais elevado que nas áreas próximas da crosta oceânica, e que essa era uma zona
de forte atividade sísmica e vulcânica. O mais importante, porém, era que a dorsal mesoceânica dividia a crosta submarina
em duas partes, podendo representar a ruptura ou a cicatriz produzida durante a separação dos continentes. Se assim fosse,
a teoria da Deriva Continental poderia ser aceita.
Por outro lado, no final dos anos 50, foram descobertas importantes informações sobre a idade das rochas do fundo
oceânico. A crosta oceânica era composta por rochas que apresentavam idades bastante jovens, não ultrapassando 200
milhões de anos. Estabeleceu-se o padrão de idades da crosta oceânica, no qual faixas de rochas de mesma idade situam-
-se simetricamente dos dois lados da dorsal mesoceânica, com as mais jovens próximas da dorsal e as mais velhas ficando
mais próximas dos continentes.

5
13
No a
do éric
rte
Am

0
81

Bermuda
18

Placa
53 3
6
0

38
18

Africana
9

38
9

63 3
5

Placa
15

81
5
13

Norte-
5
155

a
13

Americana
ric

Fratura
Áf

Cuba

Porto Rico

Distribuição das idades geocronológicas do fundo oceânico do Atlântico Norte, em que se observam
as idades (em milhões de ano) mais jovens próximas à dorsal mesoceânica.

No início de 1960, Harry Hess e Robert Dietz sugeriram que a crosta era separada ao longo das fendas ou riftes nas dor-
sais e que um novo fundo de mar era formado a partir da ascensão do magma, proveniente do interior da Terra, ou seja, o
processo estaria associado a correntes de convecção do interior da Terra. A Deriva Continental e a expansão do fundo dos
oceanos seriam uma consequência das correntes de convecção.
Assim, em função da expansão dos fundos oceânicos, os continentes viajariam como passageiros, fixos em uma placa,
como se estivessem em uma esteira rolante. Com o processo de geração de crosta oceânica, em algum outro local, deveria
haver um consumo ou destruição desta crosta, caso contrário a Terra expandiria. A destruição da crosta oceânica mais antiga
ocorreria nas chamadas zonas de subducção, que seriam locais onde a crosta oceânica mais densa mergulharia para o interior

227
Geografia

da Terra até atingir condições de pressão e temperatura suficientes para sofrer fusão e ser incorporada novamente ao manto.
A partir das confirmações científicas que respondiam a questões e lacunas deixadas pela teoria da Deriva Continental, surge a
teoria da tectônica de Placas. De acordo com essa teoria, a litosfera não é contínua e apresenta-se fragmentada por falhas e fraturas
profundas. Esses fragmentos constituem as placas tectônicas (consideram-se doze grandes placas e diversas placas menores).

Placa Placa
Norte-americana Euro-asiática

Placa
Pacífica
Placa
Placa Placa
Placa Africana
Árabe Filipina
do Caribe
Placa Placa
de Cocos
Pacífica
Placa Placa
de Nazca Indo-australiana

Placa
Sul-americana
Placa
Antártica

Representação das placas tectônicas.


Disponível em: http://www.geocities.com.br. Acesso em: 27 jul. 2009.

Cada placa se move de forma independente e desliza em razão da movimentação das correntes de convecção existentes
no manto. Com base na comprovação da movimentação dos continentes assentados nas placas tectônicas, foram apontados
três tipos de movimentos tectônicos que serão vistos ao longo do capítulo.

O que movimenta as placas tectônicas?


A dinamicidade da crosta terrestre está diretamente relacionada com as temperaturas elevadas da parte mais interna do
planeta. Com o aumento da profundidade, ocorre um aumento da temperatura. Dessa forma, o magma que se encontra pró-
ximo ao núcleo recebe calor e, por consequência, apresenta sua densidade diminuída. Diante disso, o magma menos denso
se movimenta em direção à superfície, formando as chamadas correntes convectivas de magma.

2 ...onde ela se esfria,


1 A convecção move a água move-se lateralmente, 4 A matéria quente do 5 ...levando as placas
quente do fundo para o topo... afunda... manto ascende... a se formar e divergir

(a) (b)
6 Onde as placas
convergem, uma placa
resfriada é arrastada
Placa Placa sob a placa vizinha...

3 ...aquece-se,
e, novamente,
sobe. 7 ...mergulha, aquece-se
e, novamente, sobe.

(a) A água fervendo é um exemplo familiar da convecção.


(b) Uma visão simplificada das correntes de convecção no interior da Terra.
PRESS; SIEVER; GROTZINGER; JORDAN. Para entender a Terra. 4a ed. São Paulo: Artmed, 2009. p.39.

Quando a corrente magmática atinge a região de crosta, sua movimentação é alterada, devido à presença dessa camada
mais rígida, e ocorre a movimentação das placas tectônicas. Como essa camada mais aquecida se encontra agora em uma
região menos profunda, logo, em uma área de menor temperatura, ela perde calor para o meio e sua densidade aumenta,
implicando a movimentação em direção ao núcleo da corrente convectiva de magma.

228
Dinâmica física terrestre

Movimentação tectônica
Tectonismo
As placas tectônicas apresentam dois grandes tipos de movimentos:
• orogenético: movimento horizontal da crosta terrestre que se subdivide em convergente, divergente e tangencial.
• epirogenético: movimento vertical de algumas porções continentais que se subdivide em epirogênese positiva e epi-
rogênese negativa.
As placas cobrem todo o globo, de modo que, se elas se separam em certo lugar, deverão convergir em outro, conservando,
assim, a área da superfície terrestre.

Movimentos orogenéticos
Limites convergentes
Correspondem aos movimentos de colisão entre as placas. As áreas onde ocorrem esses movimentos são denominadas
como zonas de contato destrutivo. Existem três tipos de contato dessa natureza:
convergência oceano-continente: área de choque entre uma placa continental e uma placa oceânica – mais densa –, em
que esta passa por debaixo da placa continental. Dessa forma, a placa continental é dobrada pela pressão e força de colisão,
e a placa oceânica adentra no manto. Essa região é denominada zona de subducção.
Como consequência direta do processo de colisão entre as placas continental e oceânica, é possível perceber a formação
de fossa oceânica, no contato direto entre elas, de dobramentos modernos, vulcanismo, terremotos e tsunamis.

Quando uma placa oceânica encontra uma placa continental,


a placa oceânica entra em subducção e um cinturão de
Cordilheira dos Andes
montanhas vulcânico é formado na margem da placa continental.

Fossa do Peru-Chile

Placa Sul-Americana
Placa de Nazca

PRESS; SIEVER; GROTZINGER; JORDAN. Para entender a Terra. 4a ed. São Paulo: Artmed, 2009. p.57.

convergência oceano-oceano: área de choque entre duas placas oceânicas, sendo que a placa oceânica mais antiga – de
maior densidade – mergulha sob a placa oceânica mais recente – de menor densidade –, formando uma zona de subducção.
A convergência entre placas oceânicas leva à formação de fossas oceânicas, dos Arcos de Ilhas, terremotos e tsunamis. Es-
ses são formados pelo intenso processo de vulcanismo desencadeado pela fusão da placa oceânica que penetrou no manto.
Exemplo: Contato da placa Eurasiana com a placa do Pacífico.

Quando duas placas


oceânicas convergem,
formam uma fossa de
mar profundo e um arco
de ilhas vulcânico. Ilhas Japonesas
(arco de ilha)

Fossa do Japão

Placa Eurasiana
Placa Pacífica

Subducção de uma placa oceânica em outra placa oceânica, formando uma fossa profunda e um arco de ilha vulcânico.
PRESS; SIEVER; GROTZINGER; JORDAN. Para entender a Terra. 4a ed. São Paulo: Artmed, 2009. p.57.

229
Geografia

convergência continente-continente: área de convergência entre duas placas continentais, sendo que as duas placas são
dobradas, levando à formação de uma zona de obducção. Como a diferença de densidade entre as duas placas continentais é
inexpressiva, não há condições de formação de uma zona de subducção. O dobramento das duas placas continentais promove
a formação de dobramentos modernos e também a formação de uma área extremamente instável por abalos sísmicos (abalos
violentos em razão da natureza quebradiça das placas continentais). Nessas áreas, a ocorrência de vulcanismo é dificultada
pela não fusão de nenhuma das placas. Exemplo: a convergência da placa Euroasiática com a placa Indo-australiana.

Quando duas placas


continentais colidem, a
crosta é amassada e
espessada, formando
altas montanhas e um
Himalaia amplo planalto.
Planalto do Tibete

Placa Indo-Australiana
Placa Eurasiana

Uma colisão de placa contintente-continente, amassa e engrossa a crosta continental, formando altas montanhas e um amplo planalto.
PRESS; SIEVER; GROTZINGER; JORDAN. Para entender a Terra. 4a ed. São Paulo: Artmed, 2009. p.57.

Atualmente, é possível destacar cinco áreas de formação de cadeias de montanhas (observe o mapa abaixo):
• Himalaia: convergência entre a Placa Euroasiática e a Placa Indo-australiana.
• Andes: convergência entre as Placas Sul-Americana e Nazca.
• Rochosas: convergência entre a Placa Norte-Americana e Pacífica.
• Alpes: convergência entre a Placa Euroasiática e a placa Africana.
• Atlas: convergência entre a Placa Euroasiática e a placa Africana.

OCEANO GLACIAL ÁRTICO


MTE GUNNBJORN
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3 780 m pe av hoian M. Kolym


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MTE MCKINLEY
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6 187 m Mtes. Stanovoi


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c he 4 810 m Balcãs as Altai


ala
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o Pamir
Ap s Himalaia
Atla OCEANO
MTE EVEREST
MTE CITLALTÉPETL 8 848 m PACÍFICO
MTE TIBESTI
5 700 m
P. DA NEBLINA
2 993 m
MTE QUILIMANJARO
Cor

OCEANO OCEANO 5 895 m


dilh

PACÍFICO ATLÂNTICO
eira

OCEANO s
ira
ÍNDICO he as
dil lian
dos

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MTE ACONCÁGUA Co straMTE KOSCIUSZKO
Au 2 228 m
And

6 960 m
es

OCEANO GLACIAL ANTÁRTICO


MTE VINSON
5 140 m

Grandes Montanhas Fossas Abissais


Legenda 1 CHILE-PERU: 8 064 m
Alpes
Rochosas 2 PORTO RICO: 9 219 m 3
Altitudes (em metros) 2
Himalaia 46
3 JAPÃO: 10 540 m
2000 Picos
Andes 500 4 FILIPINAS: 10 830 m 1 5
200 0 1540 5 TONGA: 10 882 m
0 6 MARIANAS: 11 033 m
km
SIMIELLI. Geoatlas. São Paulo: Ática, 2012. p.20.

230
Dinâmica física terrestre

Limites divergentes
Correspondem aos movimentos de separação das placas. Trata-se de um movimento construtivo, em função da formação
de uma nova crosta.
Separação de placas oceânicas: áreas de afastamento de duas placas oceânicas, o que promove o extravasamento
de magma no assoalho oceânico. O derramamento de magma leva à formação de uma “Cadeia de Montanha” submarina,
denominada dorsal mesoceânica, que apresenta grande atividade sísmica.

O rifteamento e a expansão ao longo de uma


zona estreita criaram a Dorsal Mesoatlântica,
uma cadeia de montanhas mesoceânicas onde
vulcões e terremotos estão concentrados.

Dorsal Mesoatlântica

Pla
a
Plac ricana Eur ca
asia
me na
Norte-A

PRESS; SIEVER; GROTZINGER; JORDAN. Para entender a Terra. 4a ed. São Paulo: Artmed, 2009. p.54.

As dorsais mesoceânicas estão presentes nos oceanos Atlântico, Pacífico e Índico e estão diretamente interligadas, for-
mando um sistema de dorsais que circunda o planeta Terra.

Relevo submarino

Fossa das Fossa do


Aleutas Fo Japão
Fossa de OCEANO
ssa

Porto Rico PACÍFICO


das Filip

Fossa das
OCEANO Fo Marianas
ss
PACÍFICO ad
inas
ndico

a
Pacífico

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tica

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Dorsal Atlân

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al d Oc
Fos
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OCEANO
o

rs eano Índi
co
Do
ÍNDICO
s s

OCEANO
Fo

ATLÂNTICO

Organização: SIMIELLI, 2006, com dados do Atlas da Rand McNally, 1994. Disponível em: http://serreta-creminer.fc.ul.pt. Acesso em: 31 jan. 2010.

Os limites divergentes oceânicos apresentam-se como áreas de expansão do assoalho oceânico, ou seja, áreas em que
material magmático e rochoso é acrescentado à crosta terrestre. Em algumas áreas, as dorsais cresceram tanto em espessura
como em tamanho e formaram ilhas. Esse é o caso da Ilha da Islândia, que expôs a dorsal mesoatlântica, possibilitando aos
geólogos observar diretamente o processo de separação de placas.
Separação de placas continentais: área de separação entre duas placas continentais. Nessa região, ocorre a formação
dos chamados Rift Valleys, com intensa atividade sísmica e vulcânica. Esse processo, ilustrado na próxima figura, inicia-se
com o aumento pontual do fluxo térmico no manto, que causará o soerguimento do magma nesse ponto e a consequente
pressão sobre a crosta, provocando o fraturamento e a extrusão de magma (a). Com a instalação de correntes de convecção
no manto subjacente a essa região, inicia-se o processo distensivo, gerando falhamentos (falhas com movimentação vertical)
e desenvolvimento do Rift Valley (b). Com a continuidade do movimento distensivo, ocorre o afinamento da crosta continen-
tal até que ocorra a ruptura dessa crosta e o desenvolvimento de uma crosta oceânica (c). Um novo oceano começa a se
formar. À medida que o processo de separação continua, a crosta oceânica e o oceano vão aumentando (d), promovendo a
separação de placas oceânicas.

231
Geografia

a fusão parcial

b injeção de magmas básicos

crosta oceânica

plataforma continental
dorsal mesoceânica

crosta oceânica crosta oceânica


d

Atualmente o Rift Valley em formação no leste do continente africano é o de maior expressividade, sendo que o Mar Ver-
melho apresenta-se como um estágio avançado do processo.
Ri
oN
ilo

Península
Ma

Arábica
rV
erm
elh
o

Áden
Golfo de
ÁFRICA
Depressão
OCEANO
de Afar
ÍNDICO
Rift Valleys
Monte
Quênia

Lago Monte Kilimanjaro


Vitória
Lago
Tanganyika

Lago
Nyasa

Disponível em: http://www.tulane.edu. Acesso em: 31 jan. 2010.

No leste da África, um estágio inicial de


rifteamento criou vales paralelos em uma
zona com vulcões e terremotos.

Vale
e
Leste m rifte do
Afric
ano
Subpla
ca So
maliana
na
Africa
Placa

PRESS; SIEVER; GROTZINGER; JORDAN. Para entender a Terra. 4a ed. São Paulo: Artmed, 2009. p.57.

232
Dinâmica física terrestre

Limite tangencial
1 Uma carga de gelo glacial flexiona 2 ... que retorna à sua posição
a litosfera oceânica para baixo... quando o gelo é removido.
Geleira
continental

O movimento lateral entre as placas tectônicas é aquele em Crosta continental

que uma placa desliza em relação à outra, não ocorrendo nem Litosfera continental

criação e nem destruição de crosta. Os limites de movimentos Astenosfera

tangenciais normalmente não apresentam vulcanismo, mas


Alguns mecanismos propostos para os movimen-
uma atividade sísmica intensa. Esse movimento pode ocorrer tos crustais verticais (epirogenia) (fora de escala).
entre duas placas oceânicas, duas placas continentais ou entre
PRESS; SIEVER; GROTZINGER; JORDAN. Para enten-
uma placa continental e uma placa oceânica. der a Terra. 4a ed. São Paulo: Artmed, 2009. p.518.
Exemplo: a Falha de Santo André, na Califórnia, onde a
O movimento epirogenético pode causar o soerguimento e/
Placa Pacífica desliza em relação à Placa Norte-Americana.
ou o rebaixamento de blocos de rochas da crosta, formando os
Pelo fato de as placas terem se deslocado umas em relação
horsts – blocos soerguidos – e os grabens – blocos rebaixados.
às outras durante milhões de anos, as rochas contíguas nos
dois lados da falha são de tipos e de idades diferentes. Horst

Graben
1 À medida que as placas
Pacífica e Norte-Americana
movem-se uma em relação à
outra em direções opostas... C
al
Fa

San Francisco
ifó
lh

rn
a

ia
de

2 ... o canal de um riacho que


Sa

atravessa a falha vai sendo


nt
o
An

deslocado.
dr
é

Los Angeles
Disponível em: http://2.bp.blogspot.com. Acesso em: 31 jan. 2010

PRESS; SIEVER; GROTZINGER; JORDAN. Para enten-


Agentes endógenos ou internos
der a Terra. 4 ed. São Paulo: Artmed, 2009. p.58. O relevo terrestre é constantemente construído e mode-
lado. As forças internas são as principais responsáveis por
Movimentos epirogenéticos gerar o relevo, ou seja, elas se comportam como forças cons-
trutoras, tais como o tectonismo, o vulcanismo e os abalos
Os movimentos verticais da crosta se relacionam com o
sísmicos. As forças externas, por sua vez, pela modelagem
conceito de isostasia, que se baseia no princípio do equilíbrio
do relevo. Ao longo deste capítulo foi trabalhado o conceito
hidrostático de Arquimedes, no qual um corpo, ao flutuar,
de tectonismo ou diastrofismo (distorção), que corresponde
desloca uma massa de água equivalente à sua própria. Nesse
a um movimento prolongado ou não, que ocorre na crosta
caso, uma cadeia montanhosa poderia comportar-se como
terrestre, podendo gerar deformações das rochas e que pode
uma rolha flutuando na água. De acordo com esse princípio,
se manifestar por meio da epirogênese e da orogênese. Ten-
a camada superficial da Terra, relativamente rígida, flutua
do visto o primeiro dos agentes, agora, vamos entender um
sobre um substrato mais denso. Sabemos hoje que essa
pouco mais de vulcanismo e abalos sísmicos.
camada corresponde à crosta e à parte do manto superior,
que integram a litosfera. O substrato denso é denominado Vulcanismo
astenosfera, comportando--se como um fluido viscoso, no
qual ocorrem deformações plásticas na escala do tempo Vulcanismo corresponde a um fenômeno marcado pelo
geológico. O equilíbrio isostático é atingido quando um extravasamento de magma proveniente do interior da Terra
acúmulo de carga ou perda de massa existente na parte na superfície terrestre. Cerca de 80% do vulcanismo encon-
emersa é contrabalançada, respectivamente, por uma perda tra-se em limites de placas convergentes, 15% em zonas
de massa ou acúmulo de carga na parte submersa. Para divergentes e o restante, em pontos quentes intraplacas. Dos
exemplificar, mesmo após ter sofrido intemperismo e erosão vulcões ativos, a maior parte está localizada em uma zona
intensos no decorrer do tempo geológico, a crosta continental denominada como Círculo de Fogo do Pacífico.
situa-se acima do nível do mar devido à isostasia, pois à
medida que a erosão remove as camadas mais superficiais,
ocorre lento soerguimento. ÁSIA

Em geral, a litosfera suporta grandes esforços sem sofrer


AMÉRICA
DO NORTE

deformação. Entretanto, em algumas situações geológicas, O “Círculo de Fogo do Pacífico”


mostra as atividades vulcânicas e
OCEANO
ATLÂNTICO
uma carga muito elevada pode ser adicionada à litosfera ou sísmicas que agora sabemos estarem
associadas com a convergência e a

removida dela, deformando-a. Podemos citar como exemplo destruição de placas litosféricas.

a adição de massa causada pelo extravasamento de grandes AMÉRICA


DO SUL

quantidades de basaltos em províncias ígneas. Essa massa


adicional faz com que a litosfera entre em subsidência, para AUSTRÁLIA
OCEANO
que o equilíbrio isostático seja atingido. PACÍFICO

O processo oposto, soerguimento, resulta da remoção de


uma carga existente na superfície da crosta, como nos casos
do degelo de calotas glaciais ou da erosão intensa de áreas Círculo de Fogo do Pacífico: área de intensa atividade sísmica
montanhosas. A Escandinávia, por exemplo, encontra-se (círculos grandes) e intenso vulcanismo (círculos pequenos).
em fase de soerguimento (de até 1 cm/ ano), retomando o PRESS; SIEVER; GROTZINGER; JORDAN. Para enten-
equilíbrio isostático, devido ao desaparecimento do gelo que der a Terra. 4a ed. São Paulo: Artmed, 2009. p.51.
existia há cerca de 10.000 anos. Esse movimento persistirá
Em menor número estão os vulcões que se situam
até que o equilíbrio isostático seja totalmente atingido.
em regiões intraplaca em zonas denominadas hot
TEIXEIRA; TOLEDO; FAIRCHILD; TAIOLI. Decifrando a Terra,. 2a ed. São
spots ou “pontos quentes”. Estes, por sua vez, não
Paulo: Companhia Editora Nacional, 2009. p.70-71 (Adaptado).
apresentam uma relação direta com as áreas de subducção.

233
Geografia

Acredita-se que eles estão associados à presença de enormes “plumas do manto” originadas da interface manto e núcleo,
as quais atravessam todo o manto e atingem a superfície. O deslocamento da placa tectônica sobre os referidos pontos gera
uma cadeia linear de ilhas vulcânicas. São exemplos de hot spots o Arquipélago do Havaí, as ilhas Cabo Verde, o Parque do
Yellowstone e as ilhas Galápagos. Observe os exemplos na imagem a seguir.

Em limites convergentes do tipo oceano-oceano, Os magmas formados em limite convergente do tipo oceano-
os magmas originados de fusões parciais do manto continente são misturas de basaltos do manto da crosta
formam arcos de ilhas vulcânicas com erupção de Vulcão ativo continental félsica refundida e dos materiais do todo da placa
lavas predominantemente basálticas. acima de em subducção que foram fundidos. Esses magmas formam
ponto quente vulcões que emitem lavas andesíticas.
Arco de ilhas
Cinturão vulcânico continental

Vulcão extinto

Dorsal mesoceânica
B
C
Pla
ca o D
ceâ A
As nica
ten
osf
era

A separação das placas na dorsal


mesoceânica e a retirada de magmas
de uma ampla região da astenosfera
geram vulcanismo basáltico e uma M
em agm
nova crosta e litosfera oceânicas. asc a Po
en nto
são qu
en Crosta
te
continental
Pluma
A movimentação das placas sobre os do manto Manto
pontos quentes origina as cadeias de litosférico
ilhas vulcânicas basálticas intraplacas. continental

As áreas litorâneas formadas sobre o contato de duas placas tectônicas são instáveis tectonicamen-
te, ou seja, elas podem apresentar a qualquer momento abalos sísmicos e vulcanismo.
PRESS; SIEVER; GROTZINGER; JORDAN. Para entender a Terra. 4a ed. São Paulo: Artmed, 2009. p.159.

Abalos sísmicos ou terremotos


Com o lento movimento das placas litosféricas, tensões vão se acumulando em vários pontos, principalmente perto
de suas bordas. As tensões acumuladas podem ser compressivas ou distensivas, dependendo da direção de movimen-
tação relativa entre as placas. Quando essas tensões atingem o limite de resistência das rochas, ocorre uma ruptura; o
movimento repentino entre os blocos de cada lado da ruptura gera vibrações que se propagam em todas as direções.
O plano de ruptura forma o que se chama de falha geológica.
Os terremotos podem ocorrer no contato entre duas placas litosféricas (caso mais frequente) ou no interior delas, como indicado
na figura abaixo, sem que a ruptura atinja a superfície. O ponto onde se inicia a ruptura e a liberação das tensões acumuladas é
chamado de hipocentro ou foco. Sua projeção na superfície é o epicentro, e a distância do foco à superfície é a profundidade focal.
epicentro

A B C

ruptura hipocentro ou foco


Geração de um sismo por acúmulo e liberação de esforços em uma ruptura. A crosta terrestre está sujeita a tensões (A) com-
pressivas neste exemplo, que se acumulam lentamente, deformando as rochas (B); quando o limite de resistência das rochas é
atingido, ocorre uma ruptura com um deslocamento abrupto, gerando vibrações que se propagam em todas as direções (C).
TEIXEIRA, Wilson; TOLEDO, M. Cristina Motta; FAIRCHILD, Thomas Rich; TAIOLI, Fabio. Deci-
frando a Terra, 2a edição. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2009, p. 45.

É necessário entender a distinção entre os termos intensidade e magnitude, pois muitas vezes são termos utilizados como sinônimos
quando se aborda o tema. A primeira se refere ao grau de destruição (perdas humanas e materiais) provocado por um terremoto. Já
a segunda se refere à quantidade de energia liberada por um sismo. Para se medir os danos provocados por um abalo sísmico, é
utilizada a escala Mercali e, para a determinação da magnitude, a escala Ricther. Esses fenômenos são comuns em regiões de limites
de placas, porém podem ocorrer no interior delas, em razão da acomodação de camadas ou da reativação de falhas geológicas.

Exercícios
1. (UFRGS – 2018) Assinale a alternativa que preenche corretaMeNte as lacunas do enunciado abaixo, na ordem
em que aparecem.
A formação de arcos de ilhas oceânicas está relacionada à __________, assim como a formação de fossas submarinas
está relacionada à __________.
A) colisão de placas tectônicas continentais – colisão de placas tectônicas.
B) colisão de placas tectônicas continentais – separação de placas oceânicas.
C) colisão de placas tectônicas oceânicas – separação de placas continentais.
D) colisão de placas tectônicas oceânicas – colisão de placas tectônicas.
E) colisão de placas tectônicas oceânicas com a margem continental de outra placa – separação entre uma placa oce-
ânica e a margem continental de outra placa.

234
Dinâmica física terrestre

2. (EsPCex (AMAN) –2017) “Em 1540 a.C., o filósofo gre- 4. (Unisc – 2017) Assinale a alternativa INCORRETA no
go Xenófanes encontrou conchas marinhas nos cumes que se refere à dinâmica de placas tectônicas.
de montanhas e pensou que elas poderiam ter estado A) As dorsais oceânicas, também conhecidas como
no fundo do mar em algum momento, sendo posterior- cordilheiras oceânicas, apresentam grandes eleva-
mente soerguidas. Ele tinha razão: forças do interior ções de altitude em relação às áreas circundantes.
da Terra movimentam a crosta terrestre, criam novos Elas são formadas em função de fendas ocasiona-
relevos ou modificam sua estrutura e fisionomia [...].” das pelo afastamento de placas divergentes.
Terra, Lygia; Araújo, Regina; Guimarães, Raul. Conexões: es- B) No que se refere aos movimentos transformantes,
tudos de Geografia Geral e do Brasil, 2015, p. 313. não há choque direto, contudo, podem ocorrer tre-
mores de terra em função do atrito causado pelo
Essas novas formas de relevo criadas são constan- deslocamento das placas.
temente modificadas sob a ação da água e do ar, por C) A convergência entre placas oceânicas e placas con-
exemplo. Assim, sobre a dinâmica do relevo terrestre tinentais faz com que as primeiras, por serem menos
e a atuação dos agentes internos e externos do relevo, densas, provoquem o afundamento das segundas.
pode-se afirmar que D) A subducção, relacionada aos movimentos conver-
I. a presença da Dorsal Mesoatlântica, grande cadeia gentes, ocorre nos casos em que uma placa afunda
de montanhas submersa no Oceano Atlântico, aju- sob a outra. Ela dá origem a fossas oceânicas e
da a explicar a pouca probabilidade de ocorrerem cadeias montanhosas.
tsunamis na costa brasileira, uma vez que esta é E) Placas convergentes, com densidades iguais, se
fruto não da colisão, mas do afastamento entre comprimem de modo a ocasionar orogênese. O
placas tectônicas. Himalaia, por exemplo, é formado em função deste
II. no terremoto ocorrido no Japão, em 2011, a porção tipo de dinâmica.
nordeste do País foi a mais atingida, por ser a mais
próxima ao epicentro do maremoto, isto é, por estar 5. (UECE – 2016) Os oceanos correspondem à maior
mais próxima ao local da superfície onde se mani- área superficial do planeta. Possuem uma profundida-
festou o maremoto. de média de aproximadamente 3.700 metros, e suas
III. os movimentos orogenéticos, ao atingirem as rochas margens continentais representam cerca de 20% do
com maior plasticidade, da crosta terrestre, são os total da área por eles ocupada.
responsáveis, por exemplo, pela formação de grandes Considerando essas feições, analise as afirmações a
dobramentos modernos, como os Alpes e os Andes. seguir, e escreva (1) se a afirmação fizer referência a
IV. a formação de grandes deltas como o do rio Nilo e uma Margem Continental do Tipo Pacífico, e (2) se fizer
a formação de grandes planícies aluviais, favoráveis referência a uma Margem Continental do Tipo Atlântico.
à atividade agrícola, como a do rio Ganges, estão ( ) Plataforma, talude e elevação continental são al-
associadas, principalmente, à erosão pluvial. gumas das feições típicas deste tipo de margem,
V. a presença de solos pedregosos nas regiões de- que são definidas a partir do gradiente batimétrico.
sérticas está relacionada, principalmente, à ação ( ) As fossas oceânicas são as feições mais ca-
predominante do intemperismo químico nas rochas racterísticas deste tipo de margem. Pelo fato
dessa região. de não receberem quantidades significativas de
Assinale a alternativa que apresenta todas as afirma- sedimentos, normalmente não desenvolvem um
tivas corretas. sopé continental.
A) I, II e III C) II, IV e V E) I, III e V ( ) Esta margem se desenvolveu a partir do riftea-
B) I, III e IV D) I, II e IV mento e separação de um continente, dando
origem a um novo oceano e dois blocos con-
3. (EsPCex – 2011) Em 27 de fevereiro de 2010, o Chile tinentais. A margem leste da América do Sul e
sofreu um terremoto de 8.8 graus na Escala Richter. América do Norte, e as margens leste e oeste
Esse país encontra-se em uma extensa faixa da Costa da África são exemplos deste tipo de margem.
Oeste da América do Sul. A causa desse e de outros ( ) A margem do tipo ativa localiza-se nas regiões
terremotos deve-se ao fato do Chile estar situado de convergência das placas litosféricas, onde
A) na porção central da Placa Tectônica Sul-America- ocorre a subducção de uma placa sob a outra.
na, zona de constantes acomodações da litosfera. ( ) Nesta margem concentram-se as principais ati-
B) na borda ocidental da Placa Tectônica Sul-Ameri- vidades vulcânicas e sísmicas da Terra.
cana, junto à Cordilheira dos Andes, dobramento A sequência CORRETA de cima para baixo, é:
moderno formado por movimentos orogenéticos. A) 2, 1, 2, 1, 1. C) 2, 2, 1, 1, 2.
C) no limite ocidental da Placa Tectônica do Pacífico, B) 1, 2, 1, 2, 1. D) 1, 1, 2, 2, 2.
zona de grande intensidade de movimentos oro-
genéticos.
Gabarito
D) no limite oriental da Placa Tectônica Sul-Americana,
1. E 3. B 5. A
que se afasta da Placa de Nazca, formando grande
falha geológica. 2. A 4. C

E) no limite ocidental da Placa Tectônica de Nazca, que


se movimenta em sentido contrário ao da Placa do
Pacífico, provocando epirogênese.

235
Capítulo 06

Tipos de rochas
A crosta terrestre é formada por uma associação de mate- perismo, origina um solo de grande fertilidade, conhecido por
riais solidificados denominados rochas, que, por sua vez, são Terra Roxa. O basalto é utilizado para calçamento sob a forma
formadas a partir da agregação de minerais ou por apenas um de paralelepípedos.
mineral. Como exemplo, pode-se citar o granito, que é utilizado
como revestimento para paredes, pisos e bancadas.
Quanto à sua origem, as rochas são divididas em três gru-
pos: magmáticas ou ígneas, sedimentares ou estratificadas e
metamórficas.

Rochas magmáticas ou ígneas


As rochas magmáticas ou ígneas resultam da solidificação
do magma. São as rochas mais antigas e resistentes da crosta,
das quais se destacam o granito e o diabásio. Associadas às
rochas metamórficas, formam o embasamento rochoso dos
continentes e oceanos. As rochas magmáticas podem se divi-
dir em: rochas intrusivas ou platônicas, rochas extrusivas ou Basalto
vulcânicas e rochas hipoabissal. Disponível em: http://www.kiviopas.fi. Acesso em: 19 abr. 2010.

Rocha intrusiva ou plutônica Rocha hipoabissal


A rocha intrusiva ou plutônica é formada pela solidificação A rocha hipoabissal é formada pela solidificação do magma
do magma no interior da crosta, através da perda de calor para no interior da crosta, porém em baixa profundidade. Suas
as rochas do entorno da câmara magmática – local de armaze- características são intermediárias às das rochas intrusivas e
nagem do magma que não conseguiu extravasar na superfície extrusivas, e ela é parcialmente heterogênea e de resistência
terrestre. Como o resfriamento do magma é extremamente mediana aos processos de desgaste erosivo.
lento, ocorre a formação de rochas magmáticas heterogêneas,
que apresentam grandes cristais de minerais, visíveis a olho
nu. Um exemplo é o granito, que apresenta textura granular
formada pelos cristais de minerais de quartzo, feldspato e mica.

Disponível em: http://magm.com.sapo.pt. Acesso em: 19 abr. 2010.

Rochas sedimentares ou estratificadas


Existem três tipos de rochas sedimentares, que variam de
acordo com sua origem: rochas detríticas ou clástica, rochas
Granito de origem orgânica e rochas de origem química.
Original Granite background de Antpkr.
Disponível em: http://www.freedigitalphotos.net. Acesso em: 06 ago. 2013. Rocha sedimentar detrítica ou clástica
A rocha sedimentar detrítica ou clástica é formada pelo
Rocha extrusiva ou vulcânica
acúmulo de fragmentos ou detritos (sedimentos) de rochas
A rocha extrusiva ou vulcânica é formada pela solidificação preexistentes, que sofreram o processo de intemperismo e
do magma extravasado na superfície terrestre. O resfriamento erosão prévios. Exemplos: arenito – formado pela junção dos
desse material magmático é rápido, devido à grande diferença sedimentos de areia; argilito – formado pela junção dos sedi-
de temperatura entre a atmosfera e o magma, o que promove mentos de argila e conglomerado – formado por cascalho e
a formação de rochas magmáticas homogêneas. A velocidade seixos rolados e agrupados por cimentação natural.
do processo de solidificação não permite a formação de cristais
macroscópicos, não sendo perceptível a olho nu a diferença
mineralógica da rocha. Um exemplo é o basalto, que, uma vez
desagregado e decomposto pela ação dos agentes de intem-

236
Tipos de rochas

Disponível em: http://www.ulbra.br. Acesso em: 19 abr. 2010.


Gnaisse

Rocha sedimentar de origem orgânica


A rocha sedimentar de origem orgânica é formada pelo
soterramento de detritos orgânicos (áreas florestais) e por
sedimentos de outras rochas. Esse soterramento promove a
transformação de matéria orgânica em rochas. Um exemplo de
importância econômica é o carvão mineral, resultante da sedi-
mentação de vegetais, pois tem grande utilização na indústria
siderúrgica para aquecer os altos-fornos.

Mármore

As rochas mais antigas da crosta são as magmáticas e as


metamórficas, que se formaram nas eras Pré-Cambriana e
Paleozoica. Quando associadas em uma mesma região, elas
são denominadas rochas cristalinas, por se formarem a partir
Disponível em: http://www.ulbra.br. Acesso em: 19 abr. 2010.
da cristalização dos minerais. Mais recentes, ficam as rochas
sedimentares, que datam das eras Paleozoica, Mesozoica e Ce-
Rocha sedimentar de origem química nozoica, promovendo um encobrimento das rochas magmáticas
e metamórficas, quando essas não estão afloradas na superfície
A rocha sedimentar de origem química é formada pelo acú- terrestre. Considerando a distribuição litológica, cerca de 95%
mulo de precipitados químicos, como carbonato de cálcio. Um da estrutura rochosa da crosta terrestre é formada por rochas
exemplo desse tipo de rocha é o calcário, que se forma em áreas cristalinas – magmáticas e metamórficas –, e apenas cerca de
lacustres e indica a presença anterior de áreas oceânicas. As 5%, de rochas sedimentares. Porém, quanto à exposição das
estalactites e as estalagmites das grutas calcárias são formadas rochas na superfície, cerca de 75% são de rochas sedimentares
a partir desse processo. e 25%, de rochas cristalinas.

Ciclo das rochas


No processo contínuo de formação e destruição da crosta
terrestre, as rochas se modificam a todo instante, podendo
qualquer tipo de rocha se transformar em outro tipo de rocha.
Dessa forma, qualquer rocha exposta na superfície terrestre
– sedimentar, magmática ou metamórfica – sofrerá a atuação
dos agentes de intemperismo e erosão, podendo se transformar
em sedimentos, que podem se acumular em altitudes menores
e sofrer o processo de cimentação, levando à formação de
Disponível em: http://www.moinhosaurora.com.br. Acesso em: 19 abr. 2010.
uma rocha sedimentar. Por outro lado, qualquer rocha pode
sofrer um aumento de pressão e temperatura que promova a
Rochas metamórficas reorganização da sua estrutura mineralógica, transformando-a
então em rocha metamórfica. É possível também que qualquer
As rochas metamórficas são formadas em rochas preexis-
tipo de rocha possa ser arrastada em uma zona de subducção
tentes quando submetidas a certas condições de temperatura e
para profundidades maiores, o que promoverá a fusão rochosa
pressão. As rochas preexistentes promovem a reorganização dos
e, posteriormente, com o resfriamento do magma, originará
minerais, apesar de não sofrer processo de fusão. O processo
rochas magmáticas.
de metamorfismo (transformação) pode ocorrer em qualquer tipo
de rocha que sofreu um aumento de pressão e de temperatura,
desde que as condições sejam favoráveis. Um exemplo é o
gnaisse, que se forma pelo metamorfismo do granito. Podemos
também mencionar outras rochas metamórficas, como o már-
more, que se forma pelo metamorfismo do calcário, e a ardósia,
que se forma pelo metamorfismo do argilito.

237
Geografia

Ciclo das rochas


O SISTEMA TERRA

Atmosfera SISTEMA
Biosfera
DO
Hidrosfera CLIMA

Litosfera 1 A subducção de uma placa oceânica


SISTEMA DA em uma placa continental soergue
Astenosfera TECTÔNICA uma cadeia de montanhas vulcânicas.
DE PLACAS
Manto profundo (a)
Crosta oceânica
Núcleo externo SISTEMA DO
GEODÍNAMO
Núcleo interno 2 A placa que subducta funde-se à medida
que mergulha. O magma ascende da placa
Crosta continental a fundida e do manto e extravasa-se como
nic
Litosfera continental lava ou intrude-se na crosta.

oc
ra 3 O magma esfria para formar as rochas
sfe
10 Fusões subsequentes ou a subducção ito
ígneas: as rochas vulcânicas cristalizam
de outra placa oceânica recomeçam L do magma ou da lava extrudida e as
o ciclo. rochas plutônicas cristalizam das intrusões
subterrâneas.

9 À medida que uma rocha sedimentar é


soterrada em maiores profundidades
na crosta, ela torna-se mais quente e
metamorfiza-se. As rochas ígneas (b)
também podem metamorfizar-se.
Rocha ígnea
(e) Magma

Rocha metamórfica

4 As montanhas soerguidas forçam o ar


carregado de umidade a ascender,
esfriar, condensar e precipitar.

8 Ao longo das margens tectonicamente (c)


ativas, por exemplo, onde os continen- Sedimento
tes colidem, as rochas são soterradas
ou comprimidas por pressão extrema,
em um processo chamado orogenia. Rocha sedimentar

5 A precipitação, o congelamento e o
degelo criam material solto — sedimento —
que é carregado pela erosão...
(d)
7 O soterramento é
acompanhado de
subsidência, que é o
afundamento da crosta
da Terra.
6 ...e é transportado para o oceano por rios, onde
é depositado como camadas de areia e silte. As
camadas de sedimentos são soterradas e sofrem
Subsidência litificação, tornando-se rochas sedimentares.

Autores: PRESS, SIEVER, GROTZINGER E JORDAN. Para entender a Terra. 4a ed. São Paulo: Artmed, 2009. p-112.

238
Tipos de rochas

Estruturas geológicas
A estrutura geológica corresponde ao embasamento rochoso que sustenta as grandes formas de relevo na superfície terrestre
ou, ainda, à maneira como as rochas estão dispostas na crosta, influenciadas pela ação dos agentes endógenos e exógenos. Ela
é classificada de acordo com o tipo de rocha predominante em sua composição, bem como com o tempo de sua formação – se
foram formadas em eras passadas ou na era atual. Dessa forma, pode-se dividir a estrutura geológica em três tipos:

Escudo cristalino
O escudo cristalino é formado por rochas cristalinas – magmáticas e metamórficas – datadas das eras Pré-Cambriana e Pa-
leozoica. Essas áreas são bastante desgastadas pela ação dos agentes exógenos, porém de extrema resistência, o que explica,
em algumas regiões, altitudes relativamente elevadas. Os escudos cristalinos associam-se à ocorrência de recursos minerais
metálicos, importantes para o desenvolvimento industrial e econômico da área de extração. No Brasil, é interessante destacar o
Escudo das Guianas, o Escudo Brasileiro e o Escudo Sul-Rio-Grandense, que, associados, correspondem a aproximadamente
36% da estrutura geológica nacional.

Bacia sedimentar
A bacia sedimentar é formada pelo acúmulo, em áreas de altitudes mais baixas, de sedimentos produzidos pelo intemperismo
e pela erosão das áreas adjacentes, de altitudes mais elevadas. As bacias sedimentares associam-se à ocorrência de recursos
energéticos de combustíveis fósseis, como petróleo, carvão mineral, gás natural e xisto betuminoso. No Brasil, sua formação se
associa às eras Paleozoica, Mesozoica e Cenozoica, que correspondem à: Bacia Amazônica, Bacia do Paraná, Bacia do Meio-
-Norte ou do Parnaíba ou do Maranhão e Bacias Litorâneas. As bacias sedimentares em formação – na era Cenozoica – são:
Bacia do Pantanal Mato-Grossense, Bacia Litorânea e Bacia da Planície Amazônica.

Representação de escudo e plataforma coberta

Bacia sedimentar Escudos das Bacia intracratônica Escudo


N Guianas do Amazonas Sul-Amazônico
Escudo
(rochas magmáticas S
e metamórficas)

Direção da
representação

Cráton
N

S
Plataforma coberta
ou embasamento cristalino

Dobramento moderno
O dobramento moderno é formado por rochas cristalinas – magmáticas e metamórficas –, datadas da era Cenozoica, e está
associado às áreas de convergência de placas tectônicas, constituindo-se como a base de formação das atuais cadeias de mon-
tanhas – áreas de maiores altitudes da superfície terrestre. A superfície terrestre possui áreas de dobramentos antigos que estão
associados a antigas áreas de convergência de placas tectônicas, mas que atualmente apresentam relativa estabilidade. O Brasil
não possui dobramentos modernos, pois eles não se encontram em áreas de convergência de placas tectônicas.

239
Geografia

Estrutura geológica: América do Sul

Oceano Atlântico

Plataforma
sul-americana
Cordilheira dos Andes e
sistema montanhoso do Caribe

Plataforma patagônica

Coberturas fanerozoicas
0 1000 km
Embasamento cristalino

ROSS, Jurandyr L. S. Geografia do Brasil, p. 46 (Adaptado de Almeida et al, 1976).

Eras geológicas: resumo dos eventos gerais e do Brasil


Geral no Brasil
• Aparecimento do homem (Homo sapiens). • Formação de Bacias Sedimentares (ex.: Bacia
Terciário terná-
Qua-

• Atuais contornos dos continentes e oceanos. Sedimentar do Pantanal e ao longo do vale ama-
rio

Cenozoica • Ocorrência de grandes glaciações. zônico).


(ceno = recente, • Dobramentos Modernos (Andes, Alpes, Atlas,
zoica = vida) Himalaia e Rochosas). • Formação de bacias sedimentares (ex.: Bacia
• Desenvolvimento dos mamíferos e fanerógamas. Sedimentar Amazônica).
• Extinção dos grandes répteis.
• Formação de bacias sedimentares (ex.: Bacia
• Grande atividade vulcânica. Paranaica, Sanfranciscana, do Meio-Norte etc).
Mesozoica • Formação de bacias sedimentares. • Formação das ilhas Trindade, Martin Vaz, Arquipélago
(meso = intermediária, • Primeiros mamíferos e aves. Fernando de Noronha e Penedos de S. Pedro e S.
zoica = vida) • Répteis gigantescos como o dinossauro e outros. Paulo.
• Início da fragmentação do Pangeia. • Derrames basálticos na Região Sul e formação
do planalto arenito-basáltico.
• Glaciações e diastrofismos.
• Rochas sedimentares e metamórficas.
• Cinco continentes, entre eles o de Gondwana, • Formação de bacias sedimentares antigas, do
Paleozoica
formando o Pangeia. carvão mineral no Sul do Brasil.
(paleo = antiga,
• Desenvolvimento dos peixes e grande desenvol- • Início da formação da Bacia Sedimentar, Para-
zoica = vida)
vimento da vegetação. naica e Sanfranciscana.
• Início do processo de formação do carvão mineral.
• Invertebrados.
(vida (vida ele-
arcaica) mentar)
rozoica
Arqueo- Prote-

• Formação das primeiras rochas sedimentares. • Formação dos escudos cristalinos (brasileiro e
• Maior desenvolvimento da vida. guiano).
Pré-Cambriana
(vida primitiva) • Aparecimento da vida nos oceanos (seres unice-
lulares). • Formação dos dobramentos antigos que deram
zoica

• Formação de rochas magmáticas e metamórficas. origem às Serras do Mar e da Mantiqueira.


• Formação dos escudos cristalinos.
• Resfriamento da Terra. Solidificação de minerais e formação das primeiras rochas (magmáticas) e
Azoica (sem vida)
metamórficas. Ausência de vida.

240
Tipos de rochas

C) cadeias de montanha localizadas em limites de


Exercícios placas litosféricas, que, em razão de seu posiciona-
mento latitudinal, quebram a zonalidade climática.
1. (IFGO – 2016) A natureza é uma realidade dinâmica. D) derrames vulcânicos atualmente modelados em pla-
Está em constante movimento e transformação. As naltos de topografia pouco acidentada e revestidos
mudanças naturais ocorridas nas paisagens, sobretudo por solos de fertilidade elevada.
as de caráter geológico, levam geralmente milhares e/
ou milhões de anos. Um exemplo disso é o fenômeno 3. (UFRS – 2017) Considere as afirmações abaixo, sobre
identificado como “ciclo das rochas”, tal qual ilustrado os tipos de rochas encontrados na crosta terrestre.
na figura abaixo: I. Rochas ígneas, formadas pela solidificação do mag-
ma em profundidade, são chamadas de vulcânicas.
II. Rochas sedimentares são formadas a partir da depo-
sição e da litificação de fragmentos de outras rochas
da superfície terrestre que sofreram intemperismo e
erosão.
III. Rochas metamórficas são formadas a partir da
!

transformação de rochas preexistentes, submetidas


a grandes pressões e a grandes temperaturas.
Quais estão corretas?
A) Apenas I. D) Apenas II e III.
B) Apenas II. E) I, II e III.
C) Apenas III.
Disponível em: <http://www.infopedia.pt/$ciclo-das-
-rochas>. Acesso em: 19 nov. 2015 [Adaptado]. 4. (FGV) Cerca de uma dezena de bacias sedimentares
estão situadas na Amazônia Legal Brasileira, perfazendo
Os processos associados à transformação de um tipo
quase 2/3 dessa área territorial. Três delas – bacias do
de rocha em outro, indicados nos números I, II e III são:
Solimões, Amazonas e Paranaíba – são as mais impor-
A) I – vulcanismo; II – metamorfismo; III – erosão. tantes, não só pelo tamanho (juntas ocupam aproxima-
B) I – metamorfismo; II – erosão; III – sedimentação. damente 1,5 milhão de km2), mas principalmente pelo
C) I – vulcanismo; II – metamorfismo; III – orogênese. seu potencial.
Fonte: “Amazônia Legal”, 2003.
D) I – diagênese; II – erosão; III – sedimentação.
E) I – metamorfismo; II – erosão; III – sedimentação. O texto refere-se à existência, nessas bacias sedimen-
tares, de expressivos depósitos de:
2. (UFMG) Analise este mapa, em que está representada A) Níquel e minério de ferro.
a distribuição de uma das grandes unidades geológicas B) Ouro e diamantes.
da América do Sul: C) Manganês e estanho.

OCEANO N
D) Petróleo e gás natural.
ATLÂNTICO E) Urânio e tório.

5. (UEL-PR) Sobre os distintos tipos de rochas que formam


os continentes, é CORRETO afirmar:
A) O calcário é uma rocha sedimentar. Sob a ação
do intemperismo, origina, entre outras formas, as
cavernas, cuja ocorrência é comum no Brasil.
OCEANO B) O granito é uma rocha metamórfica muito antiga e
PACÍFICO desgastada que constitui as planícies costeiras de
OCEANO
ATLÂNTICO todos os continentes.
C) A rocha predominante no continente sul-americano e
0 1000 km
particularmente no Brasil é o basalto, que determina,
em conjunto com o clima tropical, as depressões
periféricas da costa oeste.
SCHOBBENHAUS, Carlos et al. (Coords.). Geologia do Brasil. Brasília: D) No Brasil, os arenitos não apresentam valor comer-
Departamento Nacional da Produção Mineral, 1984. Cap. I, p. 10. cial porque são do período Pré-Cambriano.
A partir da análise feita, é CORRETO afirmar que, nas E) No atual momento geológico não se registram
áreas rachuradas nesse mapa, predominam: rochas magmáticas intrusivas na superfície dos
A) bacias sedimentares paleozoicas e mesozoicas, que continentes.
abrigam importantes jazidas de petróleo e gás, o que
as torna áreas alvo de interesse para a exploração Gabarito
econômica.
B) escudos e maciços antigos submetidos a intensa
1. A 2. B 3. D 4. D 5. A
e prolongada ação erosiva ao longo do tempo
geológico.

241
Capítulo 07

Agentes exógenos
O estudo do relevo consiste na análise do formato da su- rochoso. Já durante o período da noite, a não incidência da
perfície terrestre, compreendendo as diferentes feições apre- energia solar promove um resfriamento das rochas, o que
sentadas por ela, bem como os fatores responsáveis pela sua leva à redução do volume. Dessa forma, a variação de volume
formação. A compreensão das diferentes formas de relevo é entre o dia e a noite, promovida pela variação de temperatura,
importante para o ser humano, pois ele depende do solo para leva à fragmentação das rochas e à consequente produção de
sobreviver. Além disso, as atividades antrópicas dependem sedimentos.
desse modelado, já que a diferenciação das formas tende a
determinar diferentes modos de ocupações espaciais. Quando Vento
não bem compreendidas ou ocupadas de maneira irregular e A movimentação do ar contribui para a ocorrência do intem-
indevida, as formas de relevo podem contribuir para a ocorrência perismo físico, pois ela transporta partículas em suspensão,
de desastres naturais que se relacionam, muitas vezes, com que, quando impactadas com rochas, contribuem para quebrá-
catástrofes antrópicas. -las em micropartículas. Esse processo também é denominado
O relevo terrestre é resultado da ação de agentes endóge- intemperismo eólico.
nos, (como tectonismo e vulcanismo e abalos sísmicos) que
constroem o relevo, e dos agentes exógenos, responsáveis Chuva
pelo modelamento do relevo. A água também pode contribuir para o intemperismo físico no
momento da precipitação do vapor d’água presente na atmosfera.
O deslocamento da gota de água em direção à superfície apre-
Agentes exógenos senta certa velocidade, o que promove a liberação de sedimentos
Os agentes exógenos são responsáveis pela modelação pelo impacto com a rocha. Esse processo é também denominado
do relevo ao interagirem com o substrato rochoso e o solo que Efeito Splash, que também funciona como agente erosivo, ou
compõem a superfície planetária. Essa força externa é repre- seja, ele promove a movimentação de sedimentos quando a gota
sentada por dois agentes principais, o intemperismo e a erosão. da chuva impacta diretamente o solo.

Intemperismo
O intemperismo corresponde ao processo de desgaste da rocha
quando ela se encontra exposta continuamente à atuação dos agen-
tes atmosféricos e biológicos. A destruição da estrutura rochosa
pelos agentes de intemperismo pode se diferenciar em intem-
perismo físico, intemperismo químico e intemperismo biológico,
que produzem como resultado a formação de sedimentos ou
fragmentos de rocha.

Intemperismo químico
O intemperismo químico promove a decomposição química
da rocha através da atuação dos ácidos orgânicos, produzidos
pelos seres vivos, e, principalmente, pela água. Sendo assim,
os sedimentos resultantes não possuem as mesmas caracterís-
ticas químicas da rocha que lhes deu origem. Em superfícies de
atuação prévia do intemperismo físico, a ação do intemperismo
químico se torna mais facilitada, devido à ampliação da área de Impacto da chuva no solo.
contato entre solução aquosa e rocha. Disponível em: http://sidklein.vilabol.uol.com.br.
Acesso em: 26 mar. 2010.
Intemperismo físico
O intemperismo físico promove a desagregação física da
Gelo
rocha, através da atuação do vento, da temperatura, do gelo e Áreas que apresentam temperaturas abaixo de zero estão
da chuva. Sendo assim, os sedimentos resultantes possuem sujeitas à ação do gelo como fator de intemperismo. Rochas
as mesmas características químicas da rocha que deu origem que apresentam fraturas, normalmente, têm água, que se in-
a eles, apresentando apenas fragmentação do estrato rochoso. filtra quando precipitada. No momento de redução das médias
Atuação dos agentes de intemperismo físico: térmicas, essa água presente nas fissuras de rochas congela
e apresenta aumento de volume. Durante esse período, o gelo
Temperatura no estado sólido pressiona as paredes da rocha. No momento
A variação da temperatura na superfície terrestre entre o de aumento das médias térmicas, ocorre descongelamento da
dia e a noite, promovida pela energia solar, contribui para o água e, consequentemente, redução do seu volume, diminuindo
intemperismo físico por promover variação de volume das a pressão sobre as paredes da rocha. Dessa forma, à medida
rochas – processo denominado termoclastia. Durante o dia, a que a rocha sofre a variação de pressão entre períodos de
energia solar incidente na rocha, promovendo um aumento de menor aquecimento e maior aquecimento, a fragmentação
sua temperatura, o que contribui para o aumento do volume ocorre, promovendo a formação de sedimentos. Esse processo

242
Agentes exógenos

é também denominado crioclastia. VENTO

Forma de relevo
denominada
“marmita”,
produzida pela Disponível em: http://www.mundoeducacao.com/geografia agen-
ação química e tes-modificadores-relevo.htm. Acesso em: 13 out. 2014.
física da água.

Intemperismo biológico
O intemperismo biológico é o processo desencadeado
pela ação dos seres vivos, animais e vegetais. Esse processo
altera a rocha de maneira física – através da ação da raiz do
vegetal sobre fraturas da rocha, promovendo a liberação de
sedimentos – e de maneira química – por meio da ação dos
ácidos orgânicos, geralmente em soluções aquosas, sobre a
rocha, propiciando a sua decomposição.
Erosão marinha
Tronco de árvore abrindo O impacto das ondas formadas no oceano com áreas litorâneas
Intemperismo biológico
espaço na rocha
promovido pela promove o deslocamento de sedimentos e, consequentemente, o
ação física da raiz processo de erosão. Como resultado desse processo, ocorre a for-
do vegetal. mação de falésias, que são relevos escarpados em áreas oceânicas.

água

Intemperismo biológico
promovido por
ácidos orgânicos –
formação de tafonis.

O processo de intemperismo, cujo resultado é a destruição da


rocha e a formação de sedimentos, promove o desenvolvimento
dos solos. Esses, por sua vez, são camadas de sedimentos que
recobrem a crosta. Tais camadas são denominadas mantos
de intemperismo, as quais apresentam uma dinâmica de vida
animal e vegetal. Os processos erosivos, que serão analisados Maré alta
em seguida, normalmente ocorrem em locais que apresentam
o manto de intemperismo. Maré
baixa

Erosão
A erosão é o processo de transporte ou deslocamento dos se-
dimentos para áreas diferenciadas da sua área de produção. A LEMBRETE
movimentação dos sedimentos pode ocorrer de diversas formas: Falésia é uma escarpa costeira abrupta, não coberta
por vegetação, que se localiza na linha de contato
Erosão eólica entre a terra e o mar. Ela se origina devido ao trabalho
O deslocamento do ar promove o transporte de sedimentos. erosivo do mar.
Essa erosão pode desencadear dois processos na superfície
– abrasão e deflação. A abrasão corresponde ao impacto dos
sedimentos transportados com as rochas, levando à formação de
esculturas na superfície – os chamados cálices ou cogumelos –,
e a deflação corresponde à retirada da camada de sedimentos
de menor granulometria, o que pode promover o afloramento do
lençol freático em áreas com acúmulo de água na subsuperfície.
Em áreas desérticas, o afloramento do lençol freático, provocado
pelo processo de deflação, gera os chamados oásis.

243
Geografia

Erosão fluvial
A erosão fluvial é o processo de transporte de sedimentos LEMBRETE
promovido pela movimentação das águas fluviais. A movi- delta é uma forma deposicional sedimentar ou depósito
mentação da água em redes hidrográficas propicia, ao longo aluvial, que se apresenta em forma de leque (ou lembrando
do percurso, erosão e deposição de sedimentos, processos a letra grega delta) na foz de alguns rios. Ele se forma sem-
influenciados diretamente pelas condições do relevo local. Em pre que o meio receptor for incapaz de remover totalmente
áreas de relevo mais íngreme, a energia para o transporte de a carga sedimentar trazida pelo rio. Podemos citar como
sedimentos é maior, devido à maior velocidade de desloca- exemplos de deltas o delta do Rio Jacuí, no Rio Grande
mento das águas e, consequentemente, o processo de erosão do Sul, e o delta do Mississipi, nos Estados Unidos.
é predominante em relação ao processo de sedimentação. Já
em áreas de relevo mais aplainado, a energia para o trans-
porte de sedimentos é menor, devido à menor velocidade de
Erosão glacial
deslocamento da água, o que favorece uma maior deposição A erosão glacial é o transporte de sedimentos promovido
de sedimentos em detrimento da erosão. pela movimentação de geleiras que se formam pelo acúmulo
de neve em áreas com variação significativa da temperatura
A manutenção da cobertura vegetal em áreas próximas ao
e com desnível do relevo. Esse transporte coloca as grandes
curso da rede hidrográfica é importante para o controle do volu- massas de gelo em movimentação.
me de sedimentos que chegam nesses locais. Se o volume de
sedimentos aumentar de maneira significativa, a capacidade de
transportar sedimentos, por parte do rio, diminui e intensifica-se
o processo natural de assoreamento.

Leito original

Com o acúmulo de neve em áreas de desnível significativo,


quando o peso dela aumenta, a geleira se coloca em movimento
LEMBRETE e transporta sedimentos em sua base. Como consequência do
processo erosivo, são formados os chamados Vales em U, que,
assoreamento consiste no processo de acumulação quando preenchidos pelas águas oceânicas, formam os Fiordes.
de material detrítico, oriundo de processos erosivos,
quando o curso d’água não tem condições de trans-
portar a carga sedimentar.

Normalmente, parte dos sedimentos que chegam à rede


hidrográfica alcança a área de foz – área de deságue do rio –,
contribuindo para o assoreamento dessa região. A foz se divide
em estuário e delta, sendo que, na primeira, ocorre a deposição
de sedimentos, porém de maneira submersa. Já na segunda,
a deposição de sedimentos é tão significativa que ultrapassa
o limite do oceano, ocorrendo a formação de bancos de se-
dimentos no contato oceano-rede hidrográfica. Esses bancos
de sedimentação são denominados deltas de deposição e, em
muitos lugares, formam-se arquipélagos fluviais.

r
o ma
ld
ve

Delta
O
N
A
E
C

Os sedimentos transportados pela geleira, normalmente, se


O

depositam no próprio caminho de deslocamento dela, formando


o que chamamos de Morainas ou Morenas.
Moraina é o acúmulo de sedimentos rochosos arrastados por
uma geleira e depositados ao longo da sua trajetória.

244
Agentes exógenos

Erosão pluvial da vertente, e também em áreas de menor concentração da


cobertura vegetal. Nessas áreas, o processo de erosão é
A erosão pluvial é o transporte de sedimentos promovido intenso, concentrando a retirada do sedimento em um deter-
pelo deslocamento das águas pluviais sobre uma vertente. O minado local da vertente que inviabiliza sua utilização para as
escoamento da água da chuva no solo promove a formação do atividades antrópicas, como agricultura, pecuária, expansão
chamado escoamento superficial, que pode se dividir em três urbana, entre outras.
tipos: difuso, laminar e concentrado.
Para entender melhor o processo de deslizamento de en-
Escoamento difuso costas, é necessário compreender a dinâmica do escoamento
superficial. A vegetação em uma vertente – área compreendida
entre o interflúvio ou divisor de águas e o talvegue, incluindo
o manto de intemperismo – é essencial para a manutenção de
baixas taxas de erosão, devido ao fato de as plantas e árvores
fixarem o sedimento em suas raízes, formando agregados e
dificultando seu transporte. Além disso, os vegetais funcionam
como um entreposto à passagem da água, promovendo a dimi-
nuição da velocidade do escoamento superficial e facilitando a
infiltração da água. Essa infiltração é importante, pois possibilita
o processo de percolação – transporte da água em profundidade
–, que reabastece o lençol freático (o qual possui uma ligação
direta com a rede hidrográfica) e diminui a quantidade de água
O escoamento difuso caracteriza-se pelo deslocamento da escoada superficialmente. Dessa forma, o escoamento super-
água no solo de maneira dispersa, ou seja, sem um local de ficial, que apresenta menor velocidade e menor volume, tem
escoamento preferencial. A formação de filetes de água na sua capacidade erosiva (capacidade de transportar sedimentos)
superfície ocorre, normalmente, pela presença da vegetação, diminuída consideravelmente, e a vertente se mantém estável.
que dificulta a existência de um canal de escoamento único.
Em áreas de escoamento difuso, o processo de erosão não é Precipitação pluviométrica
nulo, porém sua eficiência é menor. 1

Escoamento laminar
Escoamento superficial Infiltração da água
da água da chuva no solo
2 3

Percolação subterrânea
da água
4

Escoamento da água em
córregos e rios
5
O escoamento laminar caracteriza-se pelo deslocamento da
água no solo como uma lâmina que recobre toda a vertente. Ele
ocorre em áreas com ausência de vegetação ou em áreas em
que a vegetação predominante é do porte herbáceo, de maneira
que, no momento de uma precipitação mais intensa, o volume 1
de água escoado se torna mais significativo que a presença da
vegetação. Em áreas de escoamento laminar, o processo erosivo
é intenso e de difícil percepção, em função da retirada homogênea 2
de sedimentos da vertente, o que não forma, em muitas áreas,
locais de escoamento preferencial. 3 5

Escoamento concentrado 4

Rede hidrográfica

Solo

Em locais onde a retirada da cobertura vegetal é excessiva,


o processo descrito é alterado e as taxas de transporte de
sedimentos são intensificadas. Sem a presença da cobertura
vegetal, a velocidade do escoamento superficial aumenta, e a
taxa de infiltração diminui consideravelmente. Sendo assim, a
recarga do lençol freático diminui e o volume de água escoado
aumenta.
Caracteriza-se pelo deslocamento da água no solo em um Com uma maior velocidade do escoamento superficial e um
canal de escoamento preferencial. A formação das áreas de maior volume de água escoado, associados à perda de pro-
escoamento preferencial pode ocorrer pelo próprio formato do teção natural do solo, as taxas de erosão aumentam. O maior
relevo, que tende a concentrar água em determinadas áreas transporte de sedimentos pode levar à formação de voçorocas

245
Geografia

– áreas de intensa erosão com a formação de grandes sulcos O desmatamento, o uso agrícola da terra, o superpastoreio
no solo –, à intensificação do processo natural de assoreamento e as queimadas, quase sempre, são responsáveis diretos
e à diminuição do volume de água do lençol freático. pelo surgimento de voçorocas, associados também ao tipo
A intensificação da erosão ocorre pela diminuição do aden- de chuva e às propriedades do solo. Parte desse material é
samento vegetacional, o que sugere menor proteção do solo, transportado e depositado em áreas mais baixas ou em algum
maior ação do escoamento superficial e aumento da quantidade canal fluvial próximo.
de sedimentos arenosos no leito do rio, indicando intensificação
do processo de assoreamento. Erosão antrópica
Evolução do uso do solo no noroeste do estado Processo de transporte de sedimentos promovido pela ação
do Paraná e suas consequências ambientais do ser humano. A ocupação do espaço natural ou mesmo a
reprodução do espaço geográfico, em sua maior parte, é acom-
panhada da necessidade de alteração do solo, para facilitar
o erguimento das construções humanas, o desenvolvimento
de atividades agropecuárias, a retirada de minérios de subsu-
perfície, entre outras atividades. Dessa forma, o homem vem
I Rio se constituindo, em uma escala de tempo pequena, o maior
agente de erosão do solo.

Exercícios
II Rio Legenda: 2. (UFV MG) No esquema a seguir, aparecem lacunas a
serem preenchidas em 1, 2, 3 e 4.
Mata primitiva

Café Formas de Relevo


Gramíneas
Rio
III Sedimentos Processos
arenosos
1 ................... 2 ...................

Para que se tenha a ocupação humana de uma determinada


área, é necessária, inicialmente, a retirada da cobertura vegetal, Erosão Terremotos
fato que contribui para o aumento da erosão nas vertentes. A 3 ................... 4 ..................
fixação de construções nessas áreas favorece o deslizamento
de terras em época de chuva, período de intensificação do Assinale a alternativa que preenche CORRETAMENTE
escoamento superficial. essas lacunas:
O escoamento superficial pode levar à formação de dois A) 1-Externos, 2-Internos, 3-Vulcanismo, 4-Intempe-
processos erosivos no solo, que são as ravinas e as voçorocas. rismo.
• Ravina: incisão vertical superficial promovida no solo B) 1-Internos, 2-Intemperismo, 3-Externos, 4-Vulca-
pela passagem do escoamento superficial concentrado. nismo.
O canal formado é pouco profundo, devido à presença da
vegetação, característica no processo de ravinamento. C) 1-Terremotos, 2-Erosão, 3-Vulcanismo, 4-Tecto-
nismo.
• Voçoroca: Incisão vertical profunda promovida no solo
pela passagem do escoamento superficial concentrado. D) 1-Internos, 2-Externos, 3-Vulcanismo, 4-Intempe-
O canal formado é de grande profundidade, apresentando rismo.
paredes altas, a partir da base da voçoroca, e íngremes, E) 1-Externos, 2-Internos, 3-Intemperismo, 4-Vulca-
devido à ausência da vegetação em seu processo de nismo.
formação. O desenvolvimento da cobertura vegetal só é
percebido quando o processo de voçorocamento começa 3. (Fuvest) Existem processos geomorfológicos que
a se estabilizar. A retirada intensa de sedimentos dessas ocorrem naturalmente em áreas tropicais de chuvas in-
áreas promove, na maior parte das vezes, o afloramento tensas e topografia íngreme. São mais comuns quando
do lençol freático, tornando a voçoroca parte constante associados a uma urbanização densa e irregular. Em
da rede hidrográfica da região. cidades brasileiras como São Paulo, Rio de Janeiro e
Salvador, esses processos são frequentes e envolvem
perdas de vidas humanas e de habitações.
Os comentários anteriores referem-se ao processo de:
A) intemperismo físico.
B) erosão laminar.
C) assoreamento.
D) laterização.
E) escorregamento.
Paisagem montanhosa no Vietnã: voçoroca.
Disponível em: http://www.freedigitalphotos.net. Acesso em: 07 ago. 2013.

246
Agentes exógenos

4. (UFMG) Analise estes fluxogramas, em que está re- 6. (Unesp) Analise a figura.
presentado o ciclo hidrológico de uma mesma bacia
hidrográfica, antes (I) e depois (II) de sua urbanização:

Superfície Superfície

Solo Solo
Rio

Rio
Legenda:
Nível Nível Fluxo de água
freático freático
Armazenagem

I II

DREW, D. Processos interativos Homem-Meio ambiente.


Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1998, p. 91-95. (Adaptado)

A partir dessa análise e considerando-se outros co- De acordo com o esquema, é VerdadeIro afirmar
que
nhecimentos sobre o assunto, é INcorreto afirmar
que, depois da urbanização dessa bacia hidrográfica,
ocorreu: A) quanto menores os valores de temperatura e plu-
A) alteração do volume de água armazenada em viosidade, maior é a profundidade de alteração da
subsuperfície, o que pode dificultar sua obtenção rocha.
a partir de poços. B) quanto maiores os valores de temperatura e plu-
viosidade, menor é a profundidade de alteração
B) aumento considerável da vazão de córregos e
da rocha.
rios durante o período das chuvas, o que pode
contribuir para maior frequência e volume de C) quanto maiores os valores de temperatura e plu-
inundações. viosidade, maior é a profundidade de alteração da
rocha.
C) diminuição no nível das águas dos córregos e
D) é no cruzamento das linhas de temperatura e plu-
rios durante os períodos de menor pluviosidade,
viosidade que a profundidade de alteração da rocha
o que pode comprometer tradicionais formas de
é maior.
uso da água.
E) a profundidade de alteração da rocha não se corre-
D) redução generalizada na velocidade de circulação
laciona com temperatura e pluviosidade.
da água em superfície, o que pode aumentar, em
termos relativos, o volume de água disponível ao Gabarito
homem.
1. E
5. (Mackenzie) Os processos exógenos são responsá- 2. D
veis pelo modelado do relevo terrestre e sua atuação
3. A
varia de acordo com o clima. Portanto, é correto
afirmar que: 4. C

A) é muito comum, em áreas de clima tropical, a pre- 5.


sença de solos profundos, em virtude da intensa 6. E
ação de intemperismo químico.
B) em áreas desérticas, a grande amplitude térmica
entre o dia e a noite dificulta a meteorização física.
C) em área de clima equatorial, o processo de intem-
perismo químico é mais lento, por não existirem
grandes oscilações térmicas diárias.
D) a má infiltração e a má drenagem da água em áre-
as de clima de altas montanhas favorecem tanto o
intemperismo químico como a erosão.
E) em áreas de clima polar, a ação do intemperismo
químico se faz mais presente em virtude do conge-
lamento da água que se expande em seu volume.

247
Capítulo 08

Relevo
A superfície terrestre apresenta diversos modelos que nunca se mostram iguais entre si. Eles são agrupados por quatro ma-
croformas predominantes, sendo elas: montanha, planalto, planície e depressão.
É preciso ressaltar que as formas de relevo e a estrutura geológica são classificações distintas, apesar de haver uma relação
entre a constituição rochosa de um local e a forma como as rochas estão dispostas na superfície do relevo.

Montanha
A montanha é uma grande elevação da superfície terrestre, em que as altitudes, normalmente, ultrapassam os 3.000 metros. As
montanhas apresentam picos agudos e vales encaixados que ainda não foram preenchidos pelos sedimentos, por serem áreas de
pequena atuação dos agentes exógenos – a temperatura baixa em altitudes elevadas retarda a atuação dos agentes exógenos,
intemperismo e erosão, como a ação da temperatura, da precipitação, dos ventos, entre outros. A montanha é formada em áreas
de contato de placas tectônicas e, sendo assim, apresenta como forças predominantes de formação as promovidas pelos agentes
endógenos – tectonismo, vulcanismo e abalo sísmico. As forças tectônicas, sentidas de maneira mais significativa em áreas de
contatos de placas tectônicas, são responsáveis por produzirem dobras de falhas que originam feições complexas na superfície.

Cordilheira ou cadeia de montanha

Disponível em: http://www.imagebase.net/Nature/P5221407. Acesso em: 14 ago. 2013.

A montanha é a forma de relevo dos dobramentos modernos que se formam em áreas de contato de placas tectônicas. Dessa
forma, o dobramento moderno é a rocha em formação atual – o termo “moderno” é utilizado para diferenciar o processo atual
daquele que ocorreu no período Pré-Cambriano, momento de formação dos dobramentos antigos –, e a montanha é a forma que
essa rocha possui na superfície. Os principais dobramentos modernos são: Andes, Rochosas, Atlas, Alpes e Himalaia.

Planalto
Área de altitude mais elevada em relação às áreas do entorno, em que predomina o processo de erosão. Normalmente, o
planalto possui escarpas que o delimitam, podendo apresentar topos aplainados ou irregulares. Considerando-se a classificação
das grandes formas de relevo brasileiras, constata-se que, normalmente, os grandes planaltos brasileiros se situam acima de
300 metros de altitude, não sendo esta uma característica que define a área de planalto.
A diferenciação em topos regulares e irregulares dos planaltos ocorre pela ação de dois fatores sobre a superfície terrestre:

Erosão diferencial
A erosão diferencial consiste no processo de desgaste seletivo ou diferencial dos agentes de intemperismo e erosão sobre a
superfície terrestre, promovendo maior desgaste em algumas áreas e menor desgaste em outras. Isso é possível em virtude das
distintas resistências que as rochas podem apresentar, pela concentração da ação erosiva em alguns pontos da superfície – áreas
de drenagem da rede hidrográfica – e ainda por fatores tectônicos, como fraturamentos e falhamentos, que ampliam as áreas de
atuação dos agentes exógenos, contribuindo para a intensificação da destruição nesses locais e para a irregularidade do relevo.

248
Relevo

Estrutura geológica
Além da diferenciação de resistência das rochas, é inte-
ressante destacar a constituição rochosa como fator de mo-
delação dos topos dos planaltos. Sendo assim, os planaltos
podem ser esculpidos em estrutura geológica sedimentar e
cristalina e as características de cada uma dessas classifi-
cações contribuem para a modelação do relevo.
Planaltos esculpidos em rocha sedimentar tendem a apre-
sentar topos aplainados, devido à maneira de organização
das camadas de rochas que compõem a bacia sedimentar.
Normalmente, uma mesma camada rochosa tende a apresen-
tar o mesmo tipo de rocha sedimentar, possuindo a mesma
resistência aos processos exógenos e, consequentemente,
Mares de morros
um desgaste mais regular, levando à formação de topos mais Os mares de morros são regiões onde dominam as colinas
aplainados. Já planaltos esculpidos em escudo cristalino dissecadas de forma côncavo-convexa (forma de meias-laran-
tendem a apresentar topos irregulares, pela presença das jas). Esse é um relevo típico de rochas cristalinas sob climas
rochas cristalinas que compõem essa estrutura geológica. tropicais úmidos, a exemplo de áreas próximas das regiões
Como as rochas cristalinas são compostas por rochas mag- serranas do sudeste brasileiro.
máticas e metamórficas, sendo as primeiras mais resistentes
que as segundas, a ação dos agentes exógenos tende a ser
diferenciada pela maior ou menor facilidade de desgaste da
estrutura geológica.
A modelação do relevo não é promovida por apenas um
fator. A associação de todos os agentes endógenos e exó-
genos, considerando a diferenciação entre cada um deles,
leva à configuração do relevo.
Os principais planaltos cristalinos são:

Serras
As serras são planaltos irregulares, com a presença de
escarpas que as delimitam, formadas a partir da destruição de
antigas cadeias de montanhas.

Mar de morros.
Disponível em: www.imagebase.net/. Acesso em: 14 ago. 2013.

Inselbergs
Os inselbergs são relevos residuais – resíduos da erosão –
em áreas de clima árido e semiárido. A erosão predominante é
a eólica, devido aos baixos índices pluviométricos desses tipos
climáticos. Sua presença é bem demarcada pela formação de
uma área plana no entorno do inselberg, denominada pediplano,
e sua resistência aos processos erosivos se deve a uma rocha
mais resistente à destruição.
Sedimento
Montanhas
Inselberg
Parque Nacional Denali, no Alaska. Placa
Disponível em: freedigitalphotos.net/. Acesso em 14 ago. 2013. Eros Erosão paralela
ão
Escarpas para
lela
São vertentes com significativa declividade em bordas de pla-
nalto, serras, relevo testemunho etc. Sua morfologia assemelha-
-se à de um paredão abrupto que separa trechos de topografia
suave existentes acima e abaixo de áreas escarpadas. Pediplano

249
Geografia

Disponível em: http://www.freedigitalphotos.net. Acesso em: 16 ago. 2013.

Monadnock ou Pão de açúcar


O monadnock ou Pão de açúcar são relevos residuais – re-
síduos da erosão – em áreas de clima úmido e subúmido. As
erosões predominantes são as pluviais e fluviais, devido aos
elevados índices pluviométricos desses tipos climáticos. A pre- Os principais planaltos sedimentares são:
sença do Pão de açúcar é bem demarcada pela formação de
uma área plana no seu entorno, denominada peneplano, e sua Chapadas
resistência aos processos erosivos deve-se a uma rocha mais As chapadas são planaltos regulares, esculpidos em bacias
resistente à destruição.
sedimentares, com camadas horizontais ou sub-horizontais
estratificadas e escarpas que as delimitam da área adjacente.
Monadnock
Chapada

Disponível em: sxc.hu. Acesso em: 16 ago. 2013.


Disponível em: http://img.mundi.com.br/. Acesso em: 16 ago. 2013.

Coxilhas Cuestas
As coxilhas são planaltos formados por colinas suavizadas,
As cuestas são o planalto assimétrico, esculpido em bacias
presentes em regiões de clima úmido. Normalmente, as coxilhas
sedimentares que apresentam inclinação das camadas em
associam-se à presença de cobertura vegetal de pastagem.
um determinado sentido. Elas se desenvolvem em rochas
Elas são encontradas principalmente no estado brasileiro do
estratificadas de diferentes resistências e caracterizam-se pela
Rio Grande do Sul, em uma região de campos denominados
associação de duas vertentes denominadas reverso e front.
pampas, e no Uruguai, onde recebem o nome de cuchillas.

250
Relevo

Rio Consequente
Front

Reverso

Disponível em: http://www.uwgb.edu. Acesso em: 16 ago. 2013.

Tabuleiro
O tabuleiro é o planalto de topografia aplainada, com altitudes relativamente baixas e limitado por escarpas. Quando formado
em áreas oceânicas, formam-se as falésias.

Disponível em: http://ube-164.pop.com.br. Acesso em: 16 ago. 2013.

Planície
A planície é uma área de altitude mais rebaixada que as áreas do entorno, em que predomina o processo de sedimentação. A
planície apresenta formas regulares constituídas pela deposição de sedimentos e, no Brasil, normalmente, sua ocorrência se rela-
ciona com a presença de água. Da mesma maneira que os sedimentos, a água busca os pontos de menor altitude. As planícies que
se formam em áreas lacustres são denominadas planícies aluviais ou de inundação. A planície é diferenciada da rede hidrográfica.
Ela é a área de deposição de sedimentos, e a rede hidrográfica se concentra e desloca por essas áreas. Sendo assim, a presença
da planície não está condicionada à presença de água.
Planície de inundação

Canal
Terraço

Depósitos fluviais

Nas planícies de inundação, a região considerada margem do rio é também denominada área de várzea, caracteriza-
da pelo alagamento periódico, ocasionado pelo aumento dos índices pluviométricos em períodos chuvosos.

Depressão
Depressão
A depressão é uma área de altitude mais rebaixada que os
planaltos e mais elevada que as planícies, em que predomina o
processo de erosão. Sua formação ocorre em regiões de contato
entre escudos cristalinos e bacias sedimentares, por serem áreas de
maior facilidade de atuação dos agentes exógenos – maior contato
entre a rocha e os agentes de intemperismo e erosão. A depressão
apresenta formas aplainadas e pode ser esculpida em rochas cris-
talinas e sedimentares.

251
Geografia

Classificações do relevo brasileiro


Segundo o professor Aroldo de Azevedo
Em 1949, Aroldo de Azevedo demonstrou preocupação em caracterizar as unidades do relevo, utilizando-se de uma terminologia
geomorfológica e, secundariamente, geológica, quando se fez necessário um maior detalhamento.
O professor Aroldo de Azevedo dividiu o território brasileiro em sete grandes unidades de relevo: quatro planaltos (das Guianas,
Central, Atlântico e Meridional e suas respectivas subunidades) e três planícies (Amazônica, do Pantanal e Costeira), como se
vê na figura 1.

Segundo o professor Aziz Ab’Sáber


O professor Aziz Nacib Ab’Sáber, no sentido de aperfeiçoar o estudo do relevo brasileiro, incorporou, em 1962, novos conheci-
mentos à classificação do relevo brasileiro elaborada pelo professor Aroldo de Azevedo. Ele dividiu o Planalto Atlântico em duas
porções: Planalto Nordestino e Serras e Planaltos do Leste e Sudeste (veja a figura 2) e acrescentou dois outros planaltos: o do
Maranhão-Piauí e o Uruguaio-Sul-Rio-Grandense. Sua classificação elevou para dez o total das grandes unidades de relevo do
território brasileiro. Tanto esta classificação quanto a anterior se inserem no processo natural do desenvolvimento da geomorfo-
logia no Brasil.

Figura 1

PLANALTO DAS GUIANAS EQUADOR


PLANÍCIE AMAZÔNICA

P.N.

NT LTO
IRA ICO
P.S.A. PLANALTO CENTRAL
LÂ A
CH
AT LAN

AP
AD
P

AS P.B.
TE

SE
DIM
OS

EN
TA
IE C

RES P.S.G.
PAN

NÍC

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TAN

PLA

PLANALTO N
P.S.M. ALI
ARENITO-
A

T
L

BASÁLTICO IS
R
C
AS
L

TRÓP
NA

R ICO D
R EC
IO

Planaltos cristalinos APRIC


SE ÓRNIO
ID

P.S.A. Sul-Amazônico
ER
M

P.S.G. Sul de Goiás


TO

P.N. Nordestino
AL
AN

P.B. Baiano (Chap.Diamantina)


PL

P.S.M. Sul de Minas P.P.


P.P. Pampa N
0 600 km

Divisões do relevo brasileiro segundo Aroldo de Azevedo.

Figura 2

PLANALTO DAS GUIANAS EQUADOR


PLANÍCIES E TERRAS BAIXAS AMAZÔNICAS


PLANALTO
DO
MARANHÃO-PIAUÍ
S
IRA

PLANALTO
TE

NORDESTINO
S
CO

PLANALTO CENTRAL
AS
AIX
SB

PLANÍCIE
RA

DO
AL

ER

PANTANAL SERRAS E
ON

ET

PLANALTOS DO
IDI

LESTE E
ES
ER

SUDESTE
ÍCI
M

ICÓRNIO
AN
LTO

DE CAPR
TRÓPICO
PL
NA
PLA

PLANALTO
URUGUAIO-
RIO-GRANDENSE
0 600 km N

Divisões do relevo brasileiro segundo Aziz Nacib Ab’Sáber.

252
Relevo

Segundo o professor Jurandyr Ross


Apoiando-se nos estudos anteriores, principalmente nas pesquisas do professor Ab’Sáber e nos relatórios e mapas elaborados
pelo Projeto Radambrasil, do qual fez parte como pesquisador, o professor Jurandyr L. S. Ross propôs em 1989, uma nova
divisão do relevo brasileiro. Para tanto, utilizou-se de novos procedimentos de análise geomorfológica. Esses procedimentos
se assentam nas noções de morfoestrutura, morfoclimática e morfoescultura.
A noção de morfoestrutura está diretamente relacionada à influência que a estrutura geológica exerce na gênese das for-
mas de relevo. A morfoclimática compreende a influência dos tipos de climas atuais no modelato. A morfoescultura abrange
tanto os climas atuais quanto os do passado, que exerceram influência na esculturação do relevo e que “sobreviveram” até
os dias atuais. Além das classes de relevo “planalto” e “planície”, Ross introduziu em sua classificação a classe depressão.
Jurandyr L. S. Ross criou três níveis hierárquicos de classificação. O primeiro diz respeito predominantemente à geomor-
fologia, ou seja, à forma de relevo que se destaca numa certa porção de superfície terrestre, distinguindo os planaltos, as
planícies e as depressões. O segundo refere-se à estrutura geológica, ou seja, à composição litológica. O terceiro é aquele
que dá nome a cada uma das unidades morfoestruturais, apoiando-se nas denominações locais e regionais, abrangendo três
formas, ou seja, os planaltos, as planícies e as depressões. É o caso dos Planaltos da Amazônia Oriental, Planície do Rio
Araguaia e outros, conforme pode ser observado na figura 3.

Figura 3

5
5
5
0° 13 EQUADOR

23
1 28
12

23 1

15
12 6 6 2
14 2
10
6
2 19
25 24
20
4
28

17 9 16

8
26
7

18 3
9

21

22
27
11

0 300 km N

Planaltos Depressões Planícies


1 Planalto da Amazônia Oriental 12 Depressão da Amazônia Ocidental 23 Planície do Rio Amazonas
2 Planaltos e Chapadas da Bacia do Parnaíba 13 Depressão Marginal Norte-Amazônica 24 Planície do Rio Araguaia
3 Planaltos e Chapadas da Bacia do Paraná 14 Depressão Marginal Sul-Amazônica 25 Planície e Pantanal do Rio Guaporé
4 Planaltos e Chapadas dos Parecis 15 Depressão do Araguaia 26 Planície e Pantanal Mato-Grossense
5 Planaltos Residuais Norte-Amazônicos 16 Depressão Cuiabana 27 Planície da Lagoa dos Patos e Mirim
6 Planaltos Residuais Sul-Amazônicos 17 Depressão do Alto Paraguai-Guaporé 28 Planície e Tabuleiros Litorâneos
7 Planaltos e Serras do Atlântico 18 Depressão do Miranda
Leste-Sudeste 19 Depressão Sertaneja e do São Francisco
8 Planaltos e Serras de Goiás-Minas 20 Depressão do Tocantins
9 Serras Residuais do Alto Paraguai 21 Depressão Periférica da Borda Leste da Bacia
10 Planalto da Borborema do Paraná
11 Planalto Sul-Rio-Grandense 22 Depressão Periférica Sul-Rio-Grandense

Unidades do relevo brasileiro segundo o professor Jurandyr L. S. Ross. (Unidades Morfoesculturais, 1989).
A classificação do professor Ross é complexa e detalhada, com 28 unidades geomorfológicas, e nela, inclusive, foi intro-
duzida mais uma compartimentação do relevo – a depressão –, que não constava das classificações anteriores.

253
Geografia

O estudo de Ross constitui um grande avanço no estudo geomorfológico do território brasileiro, servindo de forma particular
para o planejamento da ocupação das terras, de proteção ao meio ambiente, de construção de estradas etc.

Figura 4
1

1.REGIÃO NORTE

3.000
Planaltos Residuais Planalto da
Norte-Amazônicos Amazônia Oriental
2.000

Depressão Marginal Depressão Marginal Planaltos Residuais


1.000 Planície do
Norte-Amazônica Sul-Amazônica Sul-Amazônicos
Rio Amazonas

0m

O corte 1 (perfil noroeste-sudeste) aborda desde as altíssimas serras do norte de Roraima, fronteira com Venezuela, Co-
lômbia e Guiana, até o norte do estado do Mato Grosso. Esse perfil mostra claramente as estreitas faixas de planícies situadas
às margens do Rio Amazonas, a partir das quais se seguem amplas extensões de terras altas: planaltos e depressões.
2.REGIÃO NORDESTE

3.000

2.000 Planalto da Borborema


Planaltos e Chapadas Tabuleiros
Escarpa (ex-Serra) do
1.000 da Bacia do Rio Parnaíba Litorâneos
Ibiapaba
Rio Parnaíba Depressão Sertaneja Oceano
0m

O corte 2 aborda desde o interior do Maranhão até o litoral de Pernambuco. Ele apresenta dois planaltos (o da Bacia do
Parnaíba e o da Borborema), cercando a Depressão Sertaneja (ex-Planalto Nordestino). As regiões altas são cobertas por
mata. As baixas, por caatinga.
3.REGIÕES CENTRO-OESTE E SUDESTE

3.000
Planaltos e Serras
Depressão Periférica do Atlântico
2.000 Planaltos e Chapadas da Borda Leste Leste-Sudeste
Planície da Bacia do Paraná da Bacia
do Pantanal do Paraná
1.000 Mato-Grossense Rio Paraná Oceano
Atlântico

0m

Três grandes perfis que resumem o relevo brasileiro.


O corte 3 envolve o estado do Mato Grosso do Sul até o litoral paulista. Com altitude entre 80 m e 150 m, a Planície do
Pantanal está quase no mesmo nível do Oceano Atlântico. A Bacia do Paraná, formada por rios e planaltos, concentra as
maiores usinas hidrelétricas brasileiras.
Revista Nova Escola, ano X, n° 88, out. 1995, p. 14. (Adaptado).

Bibliografia
ADAS, Melhem; ADAS, Sergio. Panorama geográfico do Brasil: contradições, impasses e desafios socioespaciais. São Pau-
lo: Editora Moderna, 2004. p. 324. Farndon, John. Dicionário escolar da Terra. Porto, Civilização, 1996, p. 326-328.

254
Relevo

B) por sua grande extensão territorial, especialmente


Exercícios em sua porção setentrional, o país não consegue
criar uma legislação ambiental severa, a qual geraria
1. (Espcex (Aman) – 2017) “Em 1540 a.C., o filósofo grego sérias punições para aqueles que cometem crimes
Xenófanes encontrou conchas marinhas nos cumes de ambientais.
montanhas e pensou que elas poderiam ter estado no
C) a sua variância latitudinal lhe confere uma grande
fundo do mar em algum momento, sendo posteriormen- diversidade de paisagens vegetais, onde o Cerrado,
te soerguidas. Ele tinha razão: forças do interior da Terra na Região Centro-Oeste, se destaca por possuir um
movimentam a crosta terrestre, criam novos relevos ou solo fértil, chuvas bem distribuídas durante todo o
modificam sua estrutura e fisionomia [...].” ano e grande produção de oleaginosas.
Terra, Lygia; Araújo, Regina; Guimarães, Raul. Conexões: es- D) a Região Sudeste, maior força econômica do país,
tudos de Geografia Geral e do Brasil, 2015, p. 313.
em sua evolução econômica se beneficiou de seu
Essas novas formas de relevo criadas são constan- território com predomínio de planícies, solos férteis,
temente modificadas sob a ação da água e do ar, por grande mercado consumidor e incentivos fiscais.
exemplo. Assim, sobre a dinâmica do relevo terrestre E) o planalto Meridional se destaca junto ao relevo da
e a atuação dos agentes internos e externos do relevo, Região Sul e, na campanha gaúcha, são encontra-
pode-se afirmar que das excelentes pastagens naturais, tornando a pe-
I. a presença da Dorsal Mesoatlântica, grande cadeia cuária a principal atividade econômica dessa área.
de montanhas submersa no Oceano Atlântico, aju-
da a explicar a pouca probabilidade de ocorrerem 3. (EsPCex – 2015) O relevo é o resultado da atuação de
tsunamis na costa brasileira, uma vez que esta é forças de origem interna e externa, as quais determi-
fruto não da colisão, mas do afastamento entre nam as reentrâncias e as saliências da crosta terrestre.
placas tectônicas. Sobre esse assunto, podemos afirmar que
II. no terremoto ocorrido no Japão, em 2011, a porção I. o surgimento das grandes cadeias montanhosas,
como os Andes, os Alpes e o Himalaia, resulta dos
nordeste do País foi a mais atingida, por ser a mais
movimentos orogenéticos, caracterizados pelos
próxima ao epicentro do maremoto, isto é, por estar
choques entre placas tectônicas.
mais próxima ao local da superfície onde se mani-
II. o intemperismo químico é um agente esculpidor do
festou o maremoto.
relevo muito característico das regiões desérticas,
III. os movimentos orogenéticos, ao atingirem as rochas em virtude da intensa variação de temperatura
com maior plasticidade, da crosta terrestre, são nessas áreas.
os responsáveis, por exemplo, pela formação de III. extensas planícies, como as dos rios Ganges, na
grandes dobramentos modernos, como os Alpes Índia, e Mekong, no Vietnã, são resultantes do tra-
e os Andes. balho de deposição de sedimentos feito pelos rios,
IV. a formação de grandes deltas como o do rio Nilo e formando as planícies aluviais.
a formação de grandes planícies aluviais, favoráveis IV. os planaltos brasileiros caracterizam-se como rele-
à atividade agrícola, como a do rio Ganges, estão vos residuais, pois permaneceram mais altos que
associadas, principalmente, à erosão pluvial. o relevo circundante, por apresentarem estrutura
rochosa mais resistente ao trabalho erosivo.
V. presença de solos pedregosos nas regiões de-
V. por situar-se em área de estabilidade tectônica, o
sérticas está relacionada, principalmente, à ação
Brasil não possui formas de relevo resultantes da
predominante do intemperismo químico nas rochas
ação do vulcanismo.
dessa região.
Assinale a alternativa que apresenta todas as afirma-
Assinale a alternativa que apresenta todas as afirma- tivas corretas.
tivas corretas.
A) I, II e III
A) I, II e III
B) I, III e IV
B) I, III e IV C) II, IV e V
C) II, IV e V D) I, II e V
D) I, II e IV E) III, IV e V
E) I, III e V
Gabarito
2. (G1 - Col. Naval – 2016) O conhecimento do território
brasileiro e de suas bases físicas é importante para 1. A
compreender que o país possui potencialidades econô- 2. E
micas e sociais, mas também vulnerabilidades ambien- 3. B
tais. Com relação às bases físicas do território brasileiro
e suas correlações com o contexto econômico, social
e ambiental, é correto afirmar que
A) a sua gênese geológica, majoritariamente antiga,
gerou a supremacia de uma estrutura com predo-
mínio de Escudos Cristalinos, ricos em minerais
fósseis, o que contribuiu para a autossuficiência
brasileira em combustíveis dessa natureza.

255
Capítulo 09

Pedologia
O conceito de solo é variável de acordo com a área de trabalho. No esquema 1, ainda é possível perceber a presença da
Para a Geologia, solo é a parte terrestre que recobre a estrutura Camada ou Horizonte C, que também pode ser denominado
rochosa. Já para a Agronomia, ele é a parte da crosta em que Regolito ou “Rocha Podre”, caracterizado pela atuação dos
ocorre o desenvolvimento agrícola. Para a Geografia, solo é a parte agentes de intemperismo, ou seja, por já ser inconsolidado,
inconsolidada da crosta, ou seja, que já sofreu intemperismo e, por mas por ainda possuir as mesmas características químicas da
isso, é formada por sedimentos – essa camada também pode ser rocha que lhe deu origem. De maneira simplificada: o Horizonte
denominada manto de intemperismo. Além disso, a presença de C não apresenta mais a dureza típica da rocha matriz, mas ainda
vida, animal ou vegetal, se faz necessária para a sua definição. não há nele a presença de matéria orgânica, demonstrando a
A evolução do solo se faz a partir da atuação dos fatores de composição química da rocha que o originou. Nesse horizonte,
formação que, em conjunto, levam à fragmentação da rocha e o lençol freático é armazenado, quando o clima local é úmido o
à caracterização química, necessária à sua classificação. Os suficiente para o acúmulo de água em subsuperfície.
fatores de formação do solo são: o clima, o relevo, o material Os solos que apresentam até o estágio 1 de evolução são
de origem, os organismos vivos e o tempo. denominados “Litossolos” ou “Solos Rasos” ou “Solos Jovens”,
característicos de áreas com menores índices pluviométricos,
Evolução do solo o que desfavorece o intemperismo da rocha matriz em pro-
fundidade.
O processo de formação do solo ocorre de maneira gradual,
No esquema 2, é possível perceber a presença da Camada
desde que a atuação conjunta dos fatores de evolução seja
ou Horizonte B, último estágio de formação das camadas do
favorável. O aprofundamento ocorre por meio da formação
solo. Esse horizonte é caracterizado pela presença de matéria
de camadas ou horizontes que apresentam características mineral e material lixiviado do Horizonte A. O processo de lixi-
próprias, contribuindo para a classificação do solo. Observe: viação é definido como o transporte químico de macronutrientes
do Horizonte A para o Horizonte B do solo, promovido pela
infiltração da água, que transporta os nutrientes para camadas
mais profundas do solo.
Solos que apresentam uma elevada taxa de lixiviação são
1 2
classificados
3
como4
“Evoluídos” ou “Profundos” ou “Latossolos”,
por apresentarem todas as camadas de formação do solo – A, B
e C –,Tempo
mas não são considerados férteis. Dessa forma, a água
geológico
Legenda: que infiltra no solo promove a sua evolução, pois ela entra em
Horizonte A contato com a rocha matriz e promove seu intemperismo em
Horizonte B
profundidade. Por outro lado, ela também promove o empobreci-
mento em macronutrientes do Horizonte A, por ser responsável
1 2 3 4 Horizonte C
pelo processo de lixiviação.
Rocha
Tempo geológico É interessante destacar a diferença de solo fértil e solo
Legenda: Fonte: Vestibular UFMG 2007. produtivo:

A formação
Horizonte do
A solo se inicia a partir da exposição da rocha • Solo fértil: apresenta, no Horizonte A, uma grande
concentração de macronutrientes, essenciais para o de-
matriz ao intemperismo. Nesse momento, a presença da ve-
Horizonte B senvolvimento vegetal. Essa característica é percebida
getação pioneira, a incidência da energia solar, a precipitação em Litossolos – formados em áreas com baixos índices
Horizonte
e a força C e da água contribuem para a desagregação
do vento pluviométricos –, ou em solos originados a partir da de-
e a decomposição
Rocha da rocha, formando uma pequena camada composição de rocha magmática basalto – que promove
de sedimentos, denominada Camada ou Horizonte A, confor- a liberação de um grande volume de macronutrientes a
me ilustra o esquema 1. Esse horizonte é caracterizado pela partir de sua meteorização.
presença de matéria mineral – proveniente da rocha matriz – e
• Solo produtivo: apresenta aproximadamente 45% de
matéria orgânica – proveniente dos seres vivos. Nessa parte matéria mineral – proveniente da rocha matriz –, 5% de
superficial do solo, a vida animal e vegetal se fixa de maneira matéria orgânica – para a renovação dos macronutrientes
predominante, sendo que quanto mais espessa ela for, maior no solo – e 50% de água e ar, sendo que a proporção de
será sua capacidade de comportar seres vivos de maior cada um varia a partir das condições climáticas locais. Se
complexidade. Alguns autores consideram a formação de um um solo não apresentar características naturais favorá-
“Horizonte O” sobre o “Horizonte A”, composto por matéria veis à sua produtividade, técnicas antrópicas podem ser
orgânica proveniente dos seres vivos, principalmente vegetais. utilizadas, como irrigação, adubação e aragem. Dessa
Em áreas de Florestas Tropicais, normalmente, a camada de maneira, um Latossolo, apesar de não ser fértil, devido
matéria orgânica é denominada Serrapilheira. à intensa lixiviação promovida pela infiltração da água,
pode se tornar um solo produtivo.

256
Pedologia

A observação dos estágios 3 e 4 de formação do solo Observe o esquema a seguir:


permite perceber que, com o passar do tempo geológico, os
horizontes A, B e C se aprofundam, levando a uma evolução queda das folhas e
galhos das árvores
ou aprofundamento do solo, processo favorável à sucessão no solo
ecológica da vegetação. 1
decomposição dos restos
crescimento das
Caracterização dos solos brasileiros espécies vegetais
4 2 vegetais e liberação dos
nutrientes minerais

Os solos brasileiros são predominantemente profundos ou 3


evoluídos – Latossolos – devido ao predomínio de climas úmi- absorção dos
nutrientes pelas
dos que atuam no território nacional e contribuem para a infil- raízes das árvores
tração da água e a evolução do solo em profundidade. Porém,
solos evoluídos ou profundos são pobres em macronutrientes
e, por isso, inférteis. Sua análise permite constatar um ciclo de renovação dos
macronutrientes na parte superficial do solo, devido à decom-
O Latossolo da região Centro-Oeste foi formado em con-
posição intensa de matéria orgânica liberada, principalmente,
dições climáticas de alternação dos períodos de precipitação
pela vegetação.
– Clima Tropical. Sendo assim, a determinação do solo se
relaciona diretamente à dinâmica climática. Esses solos são No momento 1, ocorre o crescimento das espécies vegetais,
caracterizados por serem inférteis, devido ao intenso processo influenciado pela disponibilidade de macronutrientes na parte
de lixiviação e, em muitas áreas, pela presença de lateritas superficial do solo. No momento 2, destaca-se a decomposição
ou cangas, formadas a partir do processo de laterização. Em dos restos vegetais e animais pelos organismos decomposito-
locais em que a laterização não se mostra presente, o solo res, processo fundamental para a liberação dos macronutrientes
que anteriormente foram absorvidos pelos vegetais e repas-
se caracteriza pela grande concentração de micronutrientes,
sados aos animais ao longo da cadeia alimentar. A putrefação
principalmente o alumínio, denominado aluminotóxico.
da matéria orgânica disponibiliza os macronutrientes para o
A laterização do solo ocorre pela associação de estações solo, que são absorvidos novamente pelos vegetais, como
alternadas quanto à pluviosidade – período seco e período demonstrado no estágio 3. Sendo assim, a renovação dos
chuvoso –, que determina ora a lixiviação do solo, ora a união macronutrientes no solo, por meio da decomposição dos seres
química dos micronutrientes presentes no Horizonte A. Durante vivos, é de extrema importância para a manutenção da Floresta
o período chuvoso, a infiltração da água no solo promove o Amazônica, como demonstrado no estágio 4.
transporte químico dos macronutrientes para camadas mais
O desmatamento intenso da Floresta Amazônica impossibi-
profundas do solo, permitindo a concentração superficial de
lita o processo de renovação dos macronutrientes, o que deixa
micronutrientes. Associada ao processo de lixiviação, a con- exposto um solo amazônico infértil. A retirada da cobertura
centração de rochas com alto teor de alumínio e ferro em sua vegetal com a finalidade de plantio dificulta o desenvolvimento
composição, na região Centro-Oeste, favorece a maior disponi- agrícola. Sendo assim, muitas áreas que foram desmatadas
bilidade de micronutrientes superficialmente. Quando a região para esse fim são abandonadas por produtores, devido aos
passa pelo período de estiagem, os micronutrientes se unem elevados gastos de fertilização do solo exigidos pela região.
quimicamente – processo favorecido pela baixa concentração
O único Latossolo brasileiro considerado fértil é o solo de
de água –, formando as chamadas lateritas ou cangas. A pre-
Terra Roxa, presente principalmente na região do estado do
sença das lateritas forma no solo uma camada metálica que
Paraná, com pequenas extensões no estado de São Paulo e
promove sua impermeabilização.
Mato Grosso do Sul. Apesar de ser um solo profundo – por
As áreas com solo aluminotóxico necessitam de correção se localizar em clima com elevados índices pluviométricos –,
para o plantio, devido ao seu caráter ácido. Dessa forma, o a quantidade de macronutrientes ainda é significativa, uma
melhoramento químico do solo ocorre, primeiramente, pelo vez que esse solo foi originado pela decomposição da rocha
processo de neutralização do pH, com o incremento da cal magmática extrusiva basalto, o que disponibilizou um grande
– processo conhecido como calagem – e, finalmente, com a volume de nutrientes.
correção química que tem o objetivo de devolver ao solo os A região que apresenta Terra Roxa é marcada pela presen-
macronutrientes perdidos no processo de lixiviação. ça intensiva de atividades agrícolas, que podem empobrecer
Sendo assim, a intensa produção agrícola na região Centro- o solo, caso ele não seja corrigido de maneira adequada.
-Oeste baseia-se no melhoramento químico do solo e no relevo Sendo assim, mesmo o solo sendo considerado naturalmente
predominante aplainado da região. fértil, ele pode perder suas características naturais caso o uso
O Latossolo da Região Amazônica também caracteriza-se não seja feito com técnicas antrópicas adequadas para a sua
pela pobreza de macronutrientes – índices elevados de pluvio- manutenção.
sidade anual –, porém, sem o processo de laterização. Como a As áreas brasileiras de clima predominantemente semiárido
precipitação é considerável em todos os meses do ano, não há apresentam solos denominados Litossolos. Eles são pouco
tempo hábil para a formação das cangas ou lateritas na Região profundos, jovens ou rasos, apresentam baixa taxa de lixiviação
Amazônica. Entretanto, o solo amazônico, mesmo possuindo e, consequentemente, são férteis. Essas áreas compreendem
elevados índices de lixiviação, apresenta uma disponibilidade o Nordeste brasileiro e as regiões Norte e Nordeste do estado
de macronutrientes superficiais, devido à presença da Floresta de Minas Gerais.
Amazônica. O Litossolo é um solo de baixa profundidade e baixa taxa de
lixiviação, devido aos baixos índices pluviométricos do clima
em que ele está inserido.
257
Geografia

A baixa precipitação promove a infiltração de um pequeno volume de água no solo, o que contribui para o menor desgaste da
rocha em profundidade e seu aprofundamento. Como consequência da baixa taxa de infiltração, a lixiviação é desfavorecida, o
que promove a maior concentração de macronutrientes no Horizonte A do solo, sendo considerado fértil. Porém, esse solo não é
caracterizado naturalmente como produtivo devido à pequena concentração de água. Dessa forma, para que a região de Litossolo
possa ser produtiva, é necessária a técnica da irrigação, que implica o incremento de água no solo.

Problemas relacionados ao uso dos solos


Contaminação do solo por rejeitos industriais
A poluição do solo em áreas industriais pode estar relacionada ao depósito de resíduos tóxicos, ao vazamento de tubos enterrados
e de tanques e à contaminação de rios pelo lançamento de substâncias tóxicas. Essas práticas promovem não apenas a contami-
nação do solo, mas também a contaminação do lençol freático, que, normalmente, localiza-se no Horizonte C do solo.

Infiltração
Depósito de de chuvas
resíduos Vazamentos Infiltração contaminadas
tóxicos de tubos de rios
enterrados contaminados
e tanques

Além da contaminação direta, é possível perceber a contaminação indireta por parte da atividade industrial. A liberação de
gases na atmosfera, como SO2 e NOX, favorece a intensificação da acidez das águas da chuva que, quando em contato com o
solo, promovem a sua acidificação e a destruição da vegetação.

Erosão
O processo de erosão do solo é natural, mas intensificado pelas atividades antrópicas. A ampliação das áreas ocupadas pelos
seres humanos, associada ao crescimento populacional, implica a intensificação dos processos erosivos. Sendo assim, a perda
de solo em escala planetária é significativa.
O transporte de sedimentos da camada superficial do solo promovido pela ação dos agentes erosivos, como a água e o vento,
diminui a espessura da parte agricultável e a capacidade agrícola do solo.
Nas áreas rurais, o processo de erosão é intensificado por técnicas agrícolas inadequadas, como a distribuição do vegetal
cultivado em linhas que acompanham o declive do relevo, a retirada da vegetação de topo e de áreas mais íngremes, a completa
exposição do solo no período entressafras e as queimadas que destroem a cobertura vegetal superficial.
O processo erosivo pode ocorrer de maneiras distintas. Inicialmente, ele pode acontecer de forma branda e, caso não seja
freado por alguma intervenção, o processo erosivo pode se agravar ao longo do tempo. A ação das águas da chuva em um solo
desprotegido, por exemplo, pode provocar sérios danos, tais como:
erosão laminar: ocorre pelo contato da água sobre o solo. Apesar de ser uma forma mais amena de erosão, a erosão laminar
causa prejuízos na atividade agrícola, além de transportar sedimentos que podem assorear rios.
erosão de ravinamento: é causada pela intensificação da concentração do escoamento superficial da água, processo que
intensifica a degradação do solo, iniciada pela erosão laminar, o que gera as ravinas.
Voçoroca: corresponde a um estágio avançado e irreversível de degradação dos solos, formada pela evolução do processo erosivo
em áreas de encostas ou de topografia mais plana. A voçoroca constitui um canal profundo formado pela intensificação do fluxo de
escoamento superficial de água no solo. A cavidade formada pode ser tão profunda que comumente atinge o nível freático.

258
Pedologia

Observe a seguir: Movimentos de massa

I Taxa de infiltração maior que a de


escoamento superficial - área florestada.

Imagem do deslizamento em Angra dos Reis em 2010.


II Desmatamento, início da formação de
ravinas na encosta - taxa de escoamento
Disponível em: http://www.radiosantafe.com. Acesso em: 17 maio 2010.

superficial maior que a taxa de infiltração. A vegetação em uma vertente é essencial para a manuten-
ção de baixas taxas de erosão – transporte de sedimentos –,
pelo fato de ela fixar o sedimento em suas raízes, formando
agregados e dificultando seu transporte. Além disso, os vegetais
funcionam como um entreposto à passagem da água, promo-
vendo a diminuição da velocidade do escoamento superficial e
facilitando a infiltração da água. A cobertura vegetal é extrema-
mente importante, pois promove a diminuição da quantidade de
água escoada superficialmente. Dessa forma, o escoamento
superficial apresenta menor velocidade e menor volume, com
redução significativa de sua capacidade erosiva, o que promove
a estabilidade da vertente.

III Evolução do processo erosivo;


formação de voçorocas.
Em locais onde a retirada da cobertura vegetal é excessiva,
o processo descrito é alterado e as taxas de transporte de
sedimentos são intensificadas. Sem a presença da cobertura
vegetal, a velocidade do escoamento superficial aumenta e a
taxa de infiltração diminui consideravelmente. Sendo assim, a
recarga do lençol freático diminui e o volume de água escoado
aumenta, intensificando a erosão. O maior transporte de sedi-
mentos pode levar à formação de voçorocas – áreas de intensa
erosão, com a formação de grandes sulcos no solo –, intensi-
ficação do processo natural de assoreamento e diminuição do
volume de água do lençol freático.
Para que se realize a ocupação humana de uma determinada
área, é necessária, inicialmente, a retirada da cobertura vegetal,
Perda de solo em função do
IV voçorocamento.
fato que contribui para o aumento da erosão nas vertentes.
A fixação de construções nessas áreas favorece o deslizamento
de terras em épocas de chuva e, consequentemente, as perdas
humanas e materiais.

Monocultura
A perda da qualidade química do solo se relaciona à perda
de nutrientes em áreas de plantio, principalmente de monocul-
turas – cultivo de apenas um vegetal – e à contaminação pelo
uso excessivo de agrotóxicos.
O desenvolvimento de monoculturas, principalmente em
larga escala, favorece a diminuição de alguns nutrientes e a
concentração de outros nutrientes. Sendo assim, a correção do
solo com incremento de nutrientes é de extrema importância
para a manutenção da sua capacidade produtiva.

259
Geografia

Agrotóxicos Desertificação e arenização: correspondem a dois proces-


sos naturais associados a solos arenosos (pobres em argila,
O lançamento excessivo de insumos químicos no solo elemento responsável pela retenção da água no solo). Os dois
pode promover o “envenenamento” da lavoura, bem como a processos desencadeiam a formação de imensos areais que
poluição da camada superficial do manto de intemperismo, conduzem os terrenos à perda de produtividade. O homem
do lençol freático e da rede hidrográfica próxima às áreas de pode acelerar esses problemas em razão da adoção de práti-
plantio. A infiltração da água no solo e o escoamento superfi- cas inadequadas de manejo de solos, como desmatamentos,
cial transportam os agrotóxicos para o lençol freático e para a queimadas e sobrepastoreiro. Embora, muitas vezes, tratados
rede hidrográfica, respectivamente, o que inviabiliza o uso da como sinônimos, esses processos são distintos e identificados
água. Sendo assim, a prática inadequada de plantio, no que em áreas diferentes.
diz respeito às condições químicas do solo, produz problemas
A principal distinção entre eles reside no fato de que a
relacionados tanto ao desenvolvimento da lavoura em si, quanto
desertificação ocorre em áreas de clima árido, semiárido e su-
aos recursos que são utilizados para a atividade.
búmido seco e é responsável por uma diminuição dos índices
pluviométricos; já a arenização ocorre em áreas subtropicais
Lixiviação e não interfere no volume das chuvas.
A lixiviação corresponde a um processo natural de lavagem de
Um exemplo grave de desertificação está localizado ao sul
minerais hidrossolúveis do solo mediante a infiltração de água,
do Saara, em uma área denominada Sahel africano. Nela, o
o que desencadeia um processo de empobrecimento do solo.
problema avança de forma bastante significativa e já tem sido
Esse é um processo comum nas áreas equatoriais e tropicais
responsável pela migração de milhares de pessoas em busca
em razão dos elevados índices pluviométricos e da presença de
de terras férteis e de novos mananciais, já que a degradação
densa vegetação, o que favorece a percolação da água no solo.
sofrida na região tem sido também responsável pelo assorea-
mento de diversos cursos de água. No Brasil, as áreas mais
Laterização suscetíveis a esse processo estão localizadas na região Nor-
A laterização corresponde a um processo natural que consiste deste e no norte de Minas Gerais. No Nordeste, estão as áreas
na formação de uma crosta ferruginosa, formada pela presença, consideradas em estágio mais avançado. Os principais núcleos
junto à superfície, de óxidos e hidróxidos de alumínio e de ferro de desertificação estão situados nas localidades de Gilbués-PI,
mediante à percolação inversa da água no solo em áreas de clima Irauçuba-CE, Seridó-RN e Cabrobó-PE, abrangendo uma área
tropical. A formação da laterita ou canga pode dificultar a pene- de aproximadamente 18.743,5 km .
2

tração das raízes no solo, tornando-o deficiente para o cultivo. No Brasil, o principal foco de arenização está situado no
Sudoeste do Rio Grande do Sul. A exploração agropecuária,
Desertificação e arenização marcada pelo sobrepastoreiro, desmatamento e queima de
A perda de produtividade do solo pode estar relacionada a grandes extensões de cobertura vegetal nativa, foi responsável
vários fatores como: pela intensificação dos processos erosivos, tornando-os vulne-
ráveis e provocando a transformação de expressivas porções
de terra em imensos bancos de areia.

ÁREAS VULNERÁVEIS À ÁREAS VULNERÁVEIS À ARENIZAÇÃO NO


DESERTIFICAÇÃO NO NORDESTE SUDESTE DO RIO GRANDE DO SUL

Muito grave: 98.595 Km2


Grave: 81.870 Km2
ARGENTINA SANTA CATARINA
Moderada: 393.897 Km2
Núcleos de desertificação: 21.733 Km2 São Borja
2,77 Km2
Maçambará 4,62 Km2
Itaqui Unistalda 0,24 Km2
0,18 Km2
Pará
Rio Grande São Francisco de Assis 5,88 Km2
Maranhão Ceará do Norte
Cacequi 0,14 Km2
Porto
Paraíba Alegre
Rosário do Sul
Pernambuco Alegrete 1,12 Km2
13,21 Km2
Alagoas RIO GRANDE
Tocantins
Sergipe
Guaraí
DO SUL
2,99 Km2
Bahia
DF Manuel Viana
Oceano 5,48 Km2
Oceano
Goiás Atlântico
Minas Gerais Atlântico

260
Pedologia

Compactação dos solos prejudicando a cadeia alimentar local. Um exemplo conhe-


cido de poluição e contaminação é o garimpo do ouro, que
A compactação do solo é o processo de preenchimento dos utiliza mercúrio para separar o ouro do cascalho do rio.
espaços vazios da camada superficial do manto de intempe- No aquecimento, 55% do mercúrio evapora-se, podendo causar
rismo, o que praticamente impede o desenvolvimento vegetal intoxicação ao garimpeiro. Os restantes 45% são jogados no rio
pela carência, em quantidades suficientes, de ar e água. Esse e se misturam com a matéria orgânica que serve de alimento
processo é desencadeado por atividades antrópicas, como agri- para os peixes, que se contaminam e, por sua vez, acabam
cultura mecanizada e pecuária com pisoteio intenso do gado. contaminando as pessoas que os consomem.
A pecuária promove compactação e a consequente imper-
meabilização da parte superficial do solo, o que desfavorece
a infiltração de água e ar e o desenvolvimento vegetal. A
diminuição dos índices de infiltração promove o aumento das
taxas de escoamento superficial, o que contribui também para
o aumento das taxas erosivas.

= zona de compactação do solo

Degradação do solo provocada pela mineração.


http://mastergeoengenharia.net/entendendo-mais-sobre-mineracao-
-e-degradacao-de-areas/. Acesso em: 17 maio 2010.

Técnicas de conservação dos solos


no meio rural
curvas de nível: técnica em que o plantio é feito sobre linhas
que ligam pontos de mesma altimetria, estabelecendo-se, assim,
fileiras de cultivos. Essa técnica permite que a água escoe de
forma mais lenta, amenizando, desse modo, a erosão do solo.

Mineração
A mineração compreende a exploração de recursos minerais
que, de maneira predominante, localizam-se na rocha matriz –
base de sustentação para o solo. Dessa maneira, a exploração
do solo em profundidade favorece a destruição das camadas
do solo e impacta todas as relações, físicas e humanas, esta-
belecidas sobre esse solo.
Para o geográfo Adas, o desenvolvimento da atividade mi-
neradora pode promover os seguintes impactos:
• retirada da cobertura vegetal;
• destruição do relevo;
• produção de rejeitos (sedimentos de restos minerais), que O plantio em curva de nível faz com que a
são largados, muitas vezes, de maneira caótica, promo- água escoe de forma mais lenta.
vendo uma fonte de detritos que promove o assoreamento Disponível em: https://www.embrapa.br/busca-de-ima-
dos rios e altera as características físicas e químicas dos gens/-/midia/189001. Acesso em: 17 maio de 2017.
cursos fluviais;
terraceamento: técnica em que são construídos terraços ou
• dano às populações ribeirinhas, que dependem dos degraus na encosta. Dessa forma, a infiltração da água no solo
rios para sobreviver, seja como fonte de alimento, como é favorecida e o escoamento superficial amenizado.
meio de transporte ou, ainda, para o desenvolvimento
da agricultura em suas margens ou várzeas, que contêm
depósitos de sedimentos.
Sendo assim, é possível perceber uma alteração total do solo
em que a atividade é desenvolvida, bem como de áreas que
se encontram próximas às áreas de mineração. Essas áreas
sofrem com o aumento da erosão e com comprometimento das
atividades econômicas nelas desenvolvidas, principalmente
quando se considera o uso da rede hidrográfica.
Além dos problemas analisados, a mineração também
desencadeia a contaminação do solo e das águas pelos
metais pesados, como mercúrio, estanho, cobre, cádmio
e chumbo. Esse impacto dificulta o uso da região para
atividades agrícolas, bem como polui a rede hidrográfica,

261
Geografia

rotação de culturas: técnica que visa à reposição dos C) A decomposição química exerce pouca influência na
nutrientes do solo, por meio do plantio alternado de espécies formação dos solos ricos em material orgânico, por isso
vegetais, no decorrer do tempo, em uma mesma área agrícola. se observa no Sertão nordestino o domínio de solos
A rotação de culturas proporciona um desgaste menor do solo, ricos em materiais dessa natureza, onde a ação das
elevadas temperaturas comprovam essa realidade.
pois alterna cultivos com áreas de repouso ao longo de um
período, de modo que nutrientes distintos sejam demandados D) O solo descende diretamente da “rocha mãe”, o que
a cada fase de plantio. Desse modo, nota-se uma melhoria das implica dizer que o mesmo tipo de rocha dá origem
sempre ao mesmo tipo de solo, pois as condições
condições físicas, químicas e biológicas do solo, desde que a
físicas, químicas e biológicas, apesar de serem im-
área em descanso esteja recoberta por uma vegetação rasteira
portantes, são secundárias nessa formação.
para que a água da chuva não prejudique o solo desnudo.
E) O conjunto de sedimentos que surge de uma rocha
decomposta torna-se solo mesmo antes da ação dos
ditos agentes externo (ar, vento e água), pois o solo,
para se formalizar, depende somente da junção de
vida microbiana em sua composição.

2. (Mackenzie – 2015) Observe a imagem para responder


a questão.

Exemplos de rotação de cultura.

adubação orgânica: técnica em que os resíduos orgânicos,


como o esterco, são revertidos em fornecedores de nutrientes
e contribuem, assim, para a melhoria das condições do solo.
calagem: técnica em que se adiciona calcário a solos
considerados ácidos como forma de torná-los propensos à
agricultura. O desenvolvimento dessa técnica foi decisivo para
a expansão da fronteira agrícola em direção ao Centro-Oeste
(área de domínio dos Cerrados). A imagem retrata um tipo de ocupação muito comum no
Brasil, relacionada muitas vezes a um grave problema
consórcio de culturas: técnica que corresponde ao plantio socioambiental. A esse respeito, considere as afirmativas
de diversas espécies vegetais ao mesmo tempo em um terre- a seguir:
no. Tal variedade de cultivos diminui o risco de pragas ou de I. A ocupação irregular das encostas tende a elevar
doenças e mantém o ambiente em maior equilíbrio. a exposição dos solos às enxurradas, contribuindo
Plantio direto: técnica que consiste em plantar novas para deslizamentos que trazem perdas humanas e
sementes diretamente sobre os restos da colheita anterior. materiais.
Essa cobertura tem por finalidade proteger o solo do impacto II. Os escorregamentos de solos ocorrem por ocasiões
direto das gotas de chuva, do escorrimento superficial e das das chuvas mais fortes, evidenciando o caráter aciden-
erosões hídrica e eólica. tal desse fenômeno. O processo erosivo provocado
pelas chuvas de menor intensidade não é um fator de
Exercícios maior importância neste caso.
III. A ocupação das encostas é uma decorrência da ex-
1. (G1 - Col. Naval – 2015) Chamamos de solo a camada clusão social que dificulta o acesso de muitas pessoas
superficial que recobre a litosfera. Essa camada é for- à moradia. Portanto, esse fenômeno nunca atinge
mada de materiais decompostos de rochas sob a ação pessoas com melhores condições socioeconômicas,
pois suas moradias estão sempre localizadas em
combinada das outras três esferas da Terra: atmosfera,
áreas fora de risco.
hidrosfera e biosfera. Com relação à realidade que en-
volve a formação e os tipos de solos existentes, assinale IV. A irregular ocupação das encostas envolve problemas
diferentes que, combinados, resultam nos deslizamen-
a opção correta.
tos de solos. Entre esses problemas estão: ineficiência
A) À transformação que a porção superficial da crosta da fiscalização dos agentes públicos na ocupação
terrestre sofre, resultante da interação com elementos de áreas de risco; dificuldade de acesso a habitação
climáticos – água e seres vivos, tanto física (desa- entre os mais pobres; monitoramento inexistente ou
gregação) como química (decomposição) -, damos insuficiente para minimizar o problema.
o nome de intemperismo. Estão corretaS apenas as afirmativas
B) As formações dos solos resultam de combinações A) I e II. E) I e IV.
independentes das condições geológicas, geomorfo- B) I e III.
lógicas, climáticas e biológicas. Tais fatores implicam
C) II e IV.
o predomínio de solos arenosos no país.
D) II e III.

262
Pedologia

3. (G1 - col. naval 2011) Uma rocha submetida à ação da 5. (Unicamp – 2016) A imagem abaixo mostra a prática
água, às oscilações de temperatura e à atuação de seres de plantio direto na palhada.
vivos irá, com o tempo, desintegrar-se e decompor-se.
Os minerais que a compõem irão se fragmentar e se
separar em pedaços cada vez menores, até dar origem
ao solo. No caso brasileiro, em função da sua localização
geográfica e de suas características físicas, encontramos
uma gama de solos, cada um com suas especificidades.
Nesse sentido, analise as afirmativas abaixo, referentes
aos diversos tipos de solos existentes no Brasil.
I. O solo de várzea, argiloso e tipicamente das áre-
as meridionais do país, possui grande riqueza de
materiais orgânicos, os quais são utilizados pelas
populações ribeirinhas para cultivos de gêneros
agrícolas de subsistência.
II. O solo de massapé, arenoso e encontrado em todo
o litoral brasileiro, concentra grandes quantidades
de nitrogênio e potássio, o que acabou favorecendo Sobre esta prática, é correto afirmar:
o desenvolvimento de cultivos agrícolas destinados A) É uma prática conservacionista, em que há a in-
majoritariamente para exportações. corporação dos restos vegetais de uma cultura no
III. O solo de terra roxa, argiloso e comum no norte do próximo plantio, procurando melhorar as caracte-
Paraná e oeste de São Paulo, em função da de- rísticas químicas e físicas do solo.
composição de rochas magmáticas, resultaram em B) É uma prática conservacionista, em que há a in-
nutrientes importantes, favorecendo a sua utilização corporação dos restos vegetais de uma cultura no
no plantio de culturas como o café. próximo plantio, procurando melhorar unicamente
IV. O solo conhecido como salmourão, arenoso e com as características químicas do solo.
grande gradiente de fertilidade, especialmente por C) É uma prática conservacionista, em que há a in-
sua decomposição química e riqueza em materiais corporação dos restos vegetais de uma cultura no
orgânicos, contribuiu para que a região Nordeste próximo plantio, procurando melhorar unicamente
se tornasse grande produtora e exportadora de as características físicas do solo.
cana-de-açúcar. D) Apesar de diminuir os processos erosivos provoca-
Assinale a opção correta. dos pelo escoamento superficial da água, a prática
A) Apenas as afirmativas I e. II são verdadeiras. não evita o uso de queimadas esporádicas e não
aumenta a fertilidade química do solo.
B) Apenas as afirmativas I e IV são verdadeiras.
C) Apenas as afirmativas II e III são verdadeiras.
D) Apenas a afirmativa III é verdadeira.
E) As afirmativas I, ll, III e IV são verdadeiras. Gabarito
1. A
4. (UECE – 2017) Erosão é um processo natural presente
nos mais diversos ambientes do planeta. Relacione 2. E
corretamente os tipos de erosão com os respectivos 3. D
locais de ocorrência, numerando a Coluna II de acordo 4. A
com a Coluna I.
5. A
Coluna I
1. Erosão fluvial 3. Erosão em splash
2. Voçorocas 4. Erosão laminar
Coluna II
( ) Processo decorrente do efeito gerado pela queda
das gotas de chuva sobre o solo ou estruturas de
relevo.
( ) Processo que ocorre pela ação dos rios quando
estes se excedem e avançam sobre as margens.
( ) Formação de grandes crateras que ocasional-
mente atingem o lençol freático ou estruturas
internas dos solos.
( ) Ocorre quando o escoamento superficial da
precipitação carreia o solo, retirando a sua co-
bertura superficial.
A sequência correta, de cima para baixo, é:
A) 3, 1, 2, 4. C) 1, 2, 3, 4.
B) 3, 2, 4, 1. D) 2, 1, 4, 3.

263
Capítulo 10

Hidrografia
O ciclo hidrológico
A água existente no globo terrestre pode ser encontrada em três estados: sólido, líquido e gasoso.

Ciclo da Água

Armazenamento
de água no gelo Armazenamento
de água na Condensação
Precipitação atmosfera
Evapotranspiração

Evaporação
Escoamento
Escoamento superficial superficial
proveniente do gelo Caudal no
Infiltração rio
Armazenamento
Nascente de água
De doce
sc Armazenamento
arg
an de água nos oceanos
oa
quíf
ero

USGS Armazenamento de água


subterrânea

ga.water.usgs.gov/edu/watercycle.html

Os vários reservatórios de água do planeta – oceanos, rios, lagos, geleiras e atmosfera – estão permanentemente interligados
por meio dos processos de evaporação, precipitação, infiltração e escoamento, criando uma constante de transformação e circu-
lação da água. O ciclo hidrológico, acontece, então, por meio desses movimentos, dessas mudanças de estado da água. Essas
transformações acontecem pelo efeito da irradiação solar.
O ciclo hidrológico é vital para a existência de todos os tipos de vida no planeta. Qualquer desequilíbrio nesse ciclo pode pro-
vocar profundas alterações nas paisagens da superfície terrestre e na atmosfera, tendo até, como consequência, a extinção de
diversas espécies. ”
sólido que é levado pelos rios. Calcula-se que 14 bilhões de
Mares e oceanos
toneladas de lixo e esgoto chegam aos oceanos todos os anos.
Os mares e oceanos têm uma importância essencial para a Assim, a grande quantidade de material orgânico depositada
vida em nosso planeta, pois são eles reguladores dos meca- em áreas litorâneas acaba provocando uma alteração no am-
nismos climáticos devido à sua capacidade de reter calor por biente, propiciando o aparecimento de uma quantidade maior
muito mais tempo do que as áreas continentais. Além disso,
de microrganismos que agridem a fauna marinha, dificultando
exercem um papel muito importante em termos estratégicos e
sua reprodução, assim como contaminam diferentes seres
econômicos para os mais diversos países.
aquáticos, impossibilitando seu consumo como alimento.
A presença ou não de litoral em um país é questão de impor-
tância capital na história da humanidade. Nações com áreas A poluição pode comprometer áreas costeiras – como estuá-
costeiras são favorecidas nas trocas comerciais. Territórios rios e bancos de areia –, locais privilegiados para a alimentação
sem litoral são obrigados a contar com a ‘boa vontade’ de e a reprodução de muitas espécies.
seus vizinhos para ter acesso ao mar. Países como Bolívia,
Paraguai, Suíça, Áustria e Afeganistão são alguns que sofrem Águas continentais
com essa privação.
A pesca industrial, que é fonte de riquezas para diversos países Uma porção de toda a água que existe no globo terrestre
(como Peru, Portugal e Japão, entre outros) e a exploração de está localizada em áreas continentais. São os rios, fontes,
petróleo em bacias da plataforma continental são exemplos de im- minas, lagos e lagoas.
portantes atividades econômicas de países com áreas litorâneas. A presença de rios é fator preponderante para o surgimento
ou criação das cidades. Muitas pessoas que vivem em áreas
Poluição marinha bastante urbanizadas, não sabem qual seja a origem do rio (ou
Os mares e oceanos são os grandes receptores de esgotos rios) que corta(m) sua cidade.
e de resíduos de poluentes químicos e minerais, além do lixo

264
Hidrografia

Rios perenes e rios temporários Delta


Para saber a origem dos rios, precisamos entender o que acon- O delta tem origem quando a sedimentação é intensa junto
tece com as águas que correm nas superfícies terrestres. Parte das à foz: há um grande acúmulo de detritos, dando origem a ilhas
águas das chuvas escorre, e parte se infiltra nos solos. A água que muito próximas umas das outras, resultando numa série de
se infiltra, ao encontrar camadas impermeáveis, forma o chamado ramais por onde a água é escoada. Essa denominação tem
lençol freático ou lençol d’água subterrâneo. Quando esses lençóis origem na antiguidade: o delta do rio Nilo, no Egito, com seus
atingem a superfície, dão origem às nascentes dos rios. braços e formato triangular (com 160 km de comprimento e
250 km de largura), lembra muito a letra grega delta maiúscula.”
Porém, nem todos os rios têm essa origem. Alguns deles
surgem em decorrência do degelo da neve de regiões monta-
nhosas, quando há a elevação das temperaturas; outros nascem
em regiões lacustres.
Os rios podem ser perenes – que nunca secam e mantêm
seu curso d’água durante o ano inteiro, mesmo sob forte estia-
gem –, ou temporários, também denominados intermitentes,
que são aqueles que desaparecem nas épocas de seca. A boa
utilização de rios perenes em ambientes áridos e semiáridos
Delta
vem mudando a feição de várias paisagens ao redor do mundo,

O
N
a partir da implementação do sistema de irrigação e do uso

A
E
de implementos agrícolas. Um bom exemplo disso pode ser

C
O
observado no sertão nordestino, onde o uso da irrigação e de
implementos está contribuindo para um melhor aproveitamento
das lavouras e da pecuária. A produtividade tem aumentado
bastante nessas duas atividades.

Regime fluvial Geografia Geral e do Brasil. Paulo Roberto Moraes, pág. 91/105.

Regime fluvial é o termo usado para designar a variação


do volume da água dos rios durante o ano. Essa variação está Bacias hidrográficas do Brasil
relacionada à origem de suas águas: se as enchentes e vazantes
são consequência das águas das chuvas, dizemos que ele é de- Bacia hidrográfica corresponde à área drenada por um rio
terminado pelo seu regime pluvial; se o volume de água varia em principal, seus afluentes e subafluentes, que formam, dessa
função do degelo da neve nas altas montanhas, o seu regime é maneira, uma rede hidrográfica. Os limites entre as bacias
nival. Algumas vezes podemos ter um regime misto, em que os rios hidrográficas encontram-se nas partes mais altas do relevo e
têm seu volume de água aumentado pela ação das chuvas e da são denominados divisores de água, pois separam e definem as
neve derretida, com é o caso do rio Amazonas em sua cabeceira. correntes de águas de cada bacia. O declive entre o rio principal
Existem outros fatores que interferem no comportamento de e o divisor de água, por onde correm as águas dos afluentes,
um rio, como o relevo, a existência ou não de cobertura vegetal chama-se vertente. As águas são depositadas no leito do rio
ao longo de sua bacia hidrográfica e a natureza do solo. O relevo que, em época de cheias, pode transbordar para as margens
acidentado de um terreno, com fortes declives e solos pouco per- baixas e a várzea.
meáveis, influem de forma evidente para que o regime dos rios O Brasil dispõe de uma das mais densas redes hidrográficas
seja irregular, aumentando, assim, as possibilidades de violentas da Terra, representando cerca de 14% das reservas mundiais
cheias e grandes vazantes. de água doce. O abastecimento das regiões mais desenvolvidas
Os rios podem desaguar em outros rios. Esses são chamados economicamente e das mais populosas, no entanto, muitas ve-
afluentes, uma vez que afluem para outros cursos de água. Tam- zes fica comprometido, em razão do constante aumento não só
bém podem despejar suas águas em lagos, mares e oceanos. do consumo de água, provocado pelo crescimento populacional
O ponto onde termina o curso de um rio recebe o nome de foz. e urbano, como o de energia elétrica. Quando os níveis dos
reservatórios estão baixos, em decorrência da falta de chuvas,
Estuário as hidrelétricas limitam o fornecimento de água.
Designamos estuário quando a foz do rio se abre largamente Esses grandes centros urbanos ficam distantes dos rios de
sem acumulação de sedimentos e existe apenas um canal de maior navegabilidade, nos quais o transporte fluvial poderia
escoamento. A desembocadura do Amazonas é um exemplo constituir uma excelente alternativa. Na bacia do Paraná, no
de estuário Sudeste – que cobre boa parte dessa região –, estão sendo
feitas obras para viabilizar a navegação nos rios que cortam
áreas economicamente importantes.
De acordo com a divisão de relevo elaborada por Jurandyr
Ross, os principais divisores de água das maiores bacias hi-
drográficas brasileiras são:
• Cordilheira dos Andes, onde nascem os formadores do
rio Amazonas;
• Planaltos norte-amazônicos, a origem dos rios da margem
esquerda do rio Amazonas;
• Planalto e chapada dos Parecis, que separa a bacia Ama-
zônica de rios da bacia Platina (rio Paraguai);
• Planaltos e serras de Goiás-Minas e planaltos e chapadas
da bacia do Parnaíba, que limitam as bacias do Tocantins
e do São Francisco;

265
Geografia

• Planaltos e serras do Atlântico-Leste-Sudeste, onde O São Francisco nasce na serra da Canastra (Minas
nascem o rio São Francisco, os rios formadores do rio Gerais) e deságua no Atlântico, na divisa entre Alagoas e
Paraná (Paranaíba e Grande) e os seus afluentes da Sergipe, depois de percorrer longo trecho do sertão da Bahia
margem esquerda. e de Pernambuco. Seu curso segue no sentido sul-norte, e foi
De modo geral, os rios brasileiros recebem águas das chuvas. por longo tempo meio de ligação entre as regiões Nordeste e
Sudeste, onde se instalaram os núcleos de povoamento mais
Por isso, em sua maioria, são caracterizados pelo regime pluvial.
antigos do Brasil.
As principais bacias hidrográficas brasileiras são:
Possui declives acentuados em trechos próximos à nas-
Bacia Amazônica cente e à foz, o que lhe confere a posição de segunda bacia
em produção energética do Brasil. Abastece tanto a região
A mais extensa bacia hidrográfica do mundo, a bacia
Sudeste, com a usina de Três Marias (MG), como o Nordeste,
Amazônica abrange uma área superior à metade do território
através das usinas de Sobradinho (PE/BA), Paulo Afonso (AL/
brasileiro (6,5 milhões de km2), alcançando outros seis países
BA), Xingó (AL/SE), Itaparica (PE/BA) e Moxotó (AL/BA). O
sul-americanos. De toda a água fluvial lançada nos oceanos,
São Francisco também apresenta longo trecho navegável em
20% sai da foz do rio Amazonas.
seu curso médio.
O maior do mundo em extensão e volume de água, o rio
Amazonas atravessa uma área plana e de baixa altitude, sobre- O garimpo, o uso excessivo de suas águas para irrigação,
tudo no território brasileiro. Essas também são características a poluição por causa do uso de defensivos agrícolas e a
dos trechos de seus afluentes, o que torna a navegação fluvial destruição da mata ciliar na cabeceira, são alguns problemas
o principal meio de transporte da região. que provocam forte impacto ambiental. A poluição das águas
O rio Amazonas é utilizado tanto para transporte de pessoas afeta diretamente os recursos da pesca e a vida da população
quanto de produtos, alimentos e máquinas. A safra de soja do ribeirinha do São Francisco.
norte do Mato Grosso, por exemplo, é transportada por um um
afluente do Amazonas, o rio Madeira. Como o frete do transporte Bacia Platina
fluvial custa menos que o do transporte rodoviário e ferroviário A bacia Platina reúne as bacias dos rios Paraná, Paraguai e
(mais utilizados nas regiões do centro e do sul do país), o custo Uruguai, que nascem em território brasileiro e banham também
final do produto acaba sendo também menor. os países platinos (Paraguai, Uruguai e Argentina). Na fronteira
Além de sua importância como rota de navegação e trans- da Argentina com o Uruguai, todas as águas se juntam no es-
porte, essa rede hidrográfica é também um meio de vida para tuário do Prata e deságuam no oceano Atlântico. É a segunda
a população ribeirinha e diversos povos indígenas. Os rios da maior bacia da América do Sul em área.
Amazônia possuem a maior fauna fluvial do mundo, e o número
de espécies é muito variada. Bacia do Paraná
A bacia Amazônica possui o maior potencial para geração de
A bacia do Paraná é essencialmente planáltica, ocupando o
energia hidrelétrica do país, mas a produção de energia ainda é
primeiro lugar em produção hidrelétrica no país. No rio Paraná
pequena. Situação justificada pela distância que a separa dos
estão as usinas de Ilha Solteira e Jupiá (complexo de Urubu-
grandes centros econômicos e populacionais, situados no Sul
pungá), Engenheiro Sérgio Motta (Porto Primavera) e Itaipu
e Sudeste do país.
(usina binacional brasileira e paraguaia).

Bacia do Tocantins-Araguaia Bacia do Paraguai


A bacia do Tocantins-Araguaia está ligada ao mesmo A bacia do Paraguai é típica de planície. Sua maior extensão
ecossistema da bacia Amazônica, e os seus rios também têm no Brasil está situada no complexo do pantanal, destacando-se
grande importância na ocupação do espaço regional da Amazô- pelo seu aproveitamento como hidrovia interligada a outras bacias
nia oriental. A sua maior extensão percorre terrenos elevados, (especialmente à do Paraná), através dos rios Pardo e Coxim.
o que garante boas possibilidades de geração de energia. Nela A navegação nessa bacia é internacional, pois o rio Paraguai
está situada a usina de Tucuruí, no rio Tocantins, no Pará – a banha terras do Brasil, da Bolívia, do Paraguai e da Argentina.
maior hidrelétrica totalmente brasileira. Destaca-se a importância do porto fluvial de Corumbá (MS).
Essa usina alimenta os projetos minerais implantados no Bacia do Uruguai
Pará, como o Grande Carajás, e, principalmente, as grandes A bacia do Uruguai abrange grande trecho de relevo planál-
indústrias de alumínio, como a Alcoa, a Albrás, pertencente à tico. O rio Uruguai, que nasce da confluência dos rios Canoas e
Vale, e a Nippon, entre outros. Pelotas, é utilizado como limite em boa parte da divisa entre os
Essas indústrias, que pelo enorme consumo energético que estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, bem como
apresentam são chamadas de eletrointensivas, consomem mais em parte do trecho da fronteira entre o Brasil e a Argentina e
de 60% da hidreletricidade gerada por Tucuruí. A construção em toda a fronteira entre a Argentina e o Uruguai.
da hidrelétrica, por sua vez, exigiu vultosos investimentos do
governo brasileiro no final dos anos 1970 e início dos anos 1980, Bacias Secundárias
que favoreceram grandes grupos empresariais estrangeiros e As bacias secundárias reúnem um conjunto de bacias
nacionais. localizadas nas proximidades do litoral e apresentam rios de
pequena extensão, geralmente com poucos afluentes. São
Bacia do São Francisco consideradas bacias secundárias:

A bacia do São Francisco é alongada e situa-se quase Bacias do Nordeste


totalmente numa área de depressão, conforme classificação Destacam-se os rios permanentes Mearim, Turiaçu e Itape-
do geógrafo Jurandyr Ross. Extenso, o São Francisco tem curu (no Maranhão); Parnaíba (Maranhão/Piauí); e Beberibe e
afluentes de pequena expansão, sendo boa parte deles descon- Capibaribe (em Pernambuco). Contudo, a maior parte dos rios
tínuos ou temporários, ou seja, secam no período da estiagem situa-se no sertão; eles são temporários (intermitentes), como o
(escassez de chuvas). Jaguaribe (Ceará), considerado o maior rio temporário do mundo.

266
Hidrografia

Bacias do Leste Volume disponível


Destacam-se o rio Jequitinhonha, que corta uma região ex- Apesar de a Terra ter três quartos de sua superfície submer-
tremamente pobre do nordeste de Minas Gerais; o Doce, que sos, a parcela de água facilmente alcançável pela humanidade
abrange tradicional área de mineração nesse estado; e o Paraíba é, por comparação, muito pequena.
do Sul, que atravessa importante região industrial do Brasil e Do total de cerca de 1,39 bilhão de quilômetros cúbicos de
de grande concentração urbana (São Paulo e Rio de Janeiro). água que revestem o globo, apenas 2,5% são de água doce
(35 milhões de quilômetros cúbicos). Além disso, a maior
Bacias do Sudeste-Sul parte da água doce não está disponível ao homem – ou está
BACIAS HIDROGRÁFICAS BRASILEIRAS congelada nas geleiras e calotas polares ou se encontra es-
condida em depósitos subterrâneos. A real proporção da água
a que o homem tem acesso fácil – a superficial, de rios, lagos
Atlântico
NE Ocidental e pântanos – é de, no máximo, 0,4% da água doce existente
Atlântico no mundo. Contamos com pouco mais de 100 mil quilômetros
NE Oriental cúbicos para matar a sede, cuidar da higiene, gerar energia e
Amazônica
íba produzir alimentos e bens industriais.
rna
Pa Não é exatamente pouca água. Se pudesse ser dividida
Ara antins
ia

co
fraternalmente por todos os 7 bilhões de habitantes do planeta,
gua

cis
Toc

an

Atlântico cada terráqueo teria direito a mais de 570 bilhões de litros por
Fr

Leste
dia, durante 75 anos. Ainda assim, segundo o Programa para
o

Paraguai o Meio Ambiente da Organização das Nações Unidas (Unep),


Paraná algo em torno de 1,1 bilhão de pessoas – ou seja, um a cada
Atlântico
Sudeste seis indivíduos, praticamente – não têm acesso a água limpa
e em quantidade suficiente para garantir a saúde e o desen-
Uruguai
volvimento social e econômico.
Atlântico Sul
www.geografiaparatodos.com.br Fonte: WWF Escassez natural
Texto retirado do livro Território e Sociedade no Mundo Globalizado. A natureza não distribui a água de maneira equilibrada pelo
Autores: Elian Alabi Lucci, Anselmo Larazo Branco e Cláudio Mendonça. mundo. Enquanto há regiões com recursos hídricos em abun-
dância, outras não dispõem do mínimo diário de 20 a 50 litros
São importantes rios dessa bacia o Ribeira de Iguape (São
por pessoa recomendado pela Organização das Nações Unidas
Paulo, próximo à fronteira do Paraná), a região mais empobre-
(ONU), apenas para as necessidades básicas. A escassez de
cida econômica e socialmente do estado paulista; o Itajaí (prin- água em algumas zonas do globo – particularmente na África
cipal região industrial de Santa Catarina) e o Tubarão (região e no Oriente Médio – é tão grande que acaba sendo uma das
carbonífera e industrial, também situada em Santa Catarina). causas de conflitos armados.
No Rio Grande do Sul, destacam-se os rios Guaíba (Porto Ale-
gre) e Jacuí, além das lagoas dos Patos, Mirim e Mangueira.” Onde falta água A escassez física está muito
Os tons no mapa-múndi associada a extensas áreas
indicam a disponibilidade de AGRICULTURA IRRIGADA 2
Fontes cada vez mais escassas hídrica nas diferentes como o sul da Índia, o norte
da China e as planícies da
regiões do planeta
América do Norte
O esgotamento das reservas hídricas do planeta não
é causado por fatores naturais, mas pelo mau geren-
ciamento que fazemos das fontes e de seus usos
Sim, o planeta já enfrenta uma crise de água. Isso não signi- +
60
fica que a água da Terra esteja chegando ao fim. O volume que
circula por mares, rios e lagos, que é guardado nos depósitos
subterrâneos, como gelo nas calotas polares ou em umidade da
atmosfera, jamais diminui ou aumenta. Está em eterno processo
de reciclagem natural. Por isso, a água é considerada um recurso + de 7

renovável. No entanto, um recurso renovável não se mantém,


necessariamente, inesgotável e de boa qualidade todo o tempo.
Tudo depende do equilíbrio entre a renovação e o consumo. Em algumas regiões, a A falta d’água
carência de água leva acontece também
É claro que fatores naturais limitam o volume de água a CONFLITOS em AGLOMERADOS
ARMADOS, como em POPULACIONAIS,
disponível. Muitos povos vivem em zonas áridas, e mesmo alguns países da África em áreas áridas e
e do Oriente Médio semiáridas e em
regiões com fartos recursos hídricos passam esporadicamente centros urbanos em
rápida extensão
por secas que afetam os mananciais. Isso sempre foi assim, Fontes: New Scientist e WRI

no decorrer da história. A diferença, na situação atual, é que


enfrentamos uma ameaça de escassez crônica de proporções Mesmo nações abastecidas por caudalosos cursos de
globais, cuja grande causa são as atividades humanas. O con- água podem apresentar grandes discrepâncias internas. É o
sumo crescente e o desperdício, a contaminação dos manan- caso do Brasil. O país é riquíssimo em recursos hídricos, mas
ciais e as alterações climáticas desequilibram a relação entre o maior volume está na bacia Amazônica, a região de menor
a oferta e a demanda de água potável no planeta. A crise da densidade populacional. No outro extremo, capitais e regiões
água é menos uma questão de escassez real e mais de mau metropolitanas do Sudeste, como Rio de Janeiro, Belo Horizonte
gerenciamento do uso desse recurso. E a falta de água põe em e São Paulo, de expressiva concentração demográfica, já estão
risco não só a saúde humana como também o desenvolvimento ameaçadas de escassez hídrica e são obrigadas a buscar água
socioeconômico e a paz de toda a sociedade. em bacias cada vez mais distantes.

267
Geografia

Pressões humanas Há especialistas que afirmam que o principal motivo para


as guerras no século XXI não serão mais o ouro, o petróleo ou
Ao contrário do volume de água do planeta, que jamais se altera
qualquer outra riqueza mineral, mas a água. Além dos aquíferos,
, a população mundial cresce aceleradamente. Assim, para uma
existem 163 bacias hidrográficas transnacionais, que abrangem
mesma quantidade de água existem mais e mais bocas sedentas.
145 países com mais de 40% da população mundial. Em regiões
Apenas entre 1950 e 2008, a população mundial subiu de 2,5
como Oriente Médio, Ásia Central e África, o domínio sobre
bilhões para 6,7 bilhões. Em 2050 poderemos ter ultrapassado os
essas fontes é uma questão estratégica de segurança nacional
9 bilhões. Os efeitos desse inchaço populacional já são sentidos
e de fronteiras que, se não for bem equacionada, pode criar um
em várias regiões. Nos últimos 60 anos, a população do planeta
contingente de 100 milhões de refugiados nos próximos 20 anos.
mais que duplicou, e o consumo de água aumentou sete vezes.
O crescimento demográfico não significa apenas mais tornei- Ameaças e acordos sobre grandes fontes
ras, descargas sanitárias e chuveiros nas residências. Significa, Aquíferos cuja recarga é lenta demais em comparação à exploração
Aquíferos não recarregáveis
também, que as sociedades precisam gerar mais energia e
produzir cada vez mais, tanto no campo quanto nas fábricas. 1 MEIO-OESTE DOS EUA 2 NORTE DA ÁFRICA 3 ORIENTE MÉDIO
O aquífero Ogallala, que se Israel e os territórios
É fato: o desenvolvimento industrial tem grande peso na queda estende sob oito estados dos
O aquífero Núbio,
compartilhado por Chade, palestinos dividem quatro
EUA, teve uma queda de 35 aquíferos. Desde os Acordos
do nível dos rios e aquíferos. Por isso, quanto mais rica for uma metros no nível da água em 50
Egito, Líbia e Sudão, é um
reservatório de água fóssil, de Oslo II (1995), os
anos. A água nele contida é israelenses têm acesso a
população, maior será o consumo de água por cabeça. “fóssil” e não pode ser reposta
que não se recarrega
naturalmente pela chuva quatro vezes mais água do
naturalmente que os palestinos.
A disparidade entre o consumo de água por ricos e pobres
constrói uma perversa lógica de mercado. À população carente
sem acesso ao serviço de fornecimento de água restam duas
tristes opções: ou longas caminhadas diárias até poços e re-
servatórios ou a compra de água de fornecedores particulares
– agueiros ou caminhões-pipa. Nas duas situações, os prejuízos
4 FRONTEIRA ENTRE
econômicos e sociais são imensos: estima-se que os africanos EUA E MÉXICO
O aquífero Hueco
gastem 40 bilhões de horas a cada ano só no trabalho de coleta Bolsón é compartilhado
pelas cidades de El 7
ÍNDIA

de água em pontos distantes e transportando-a para o uso. É Paso, nos EUA, e


6 ÁFRICA Bangladesh
Ciudad Juarez, no 5 AMÉRICA DO SUL
um tempo precioso, mais bem aproveitado se fosse destinado México. A exploração
O aquífero Guarani, sob o
OCIDENTAL
Níger, Nigéria
reclamou que a
barragem indiana de
descontrolada
à produção de riquezas econômicas. O resultado final é trágico: ameaçava a cidade Brasil, Argentina,
Paraguai e Uruguai, é um
e Mali
negociam o
Farakka desvia parte
da vazão do rio
mexicana de
as populações mais pobres do planeta apresentam altos índices desabastecimento em dos maiores do mundo.
Mas já está contaminado
gerenciamento
conjunto do
Ganges para longe
de seu território. A
cinco anos. Os EUA
de mortalidade e de incidência de doenças relacionadas às passaram a recarregar por produtos agrícolas e
esgotos em alguns
aquífero Índia concordou em
reduzir o volume
o aquífero com água Lulolemeden.
condições de acesso à água, que é escassa ou contaminada. usada e retratada. pontos. desviado.

Fatores como o crescimento demográfico, o desenvolvimento


econômico, a urbanização e as alterações climáticas consti-
tuem o que os especialistas chamam de pressões do homem Abundância debaixo da terra
sobre a água. São atividades humanas que provocam grandes Os aquíferos são grandes bolsões subterrâneos de rocha
alterações no ciclo hidrológico: a natureza acaba não dispondo que guardam uma imensa carga de água limpa e protegida da
do tempo necessário para reciclar a água dos mares para a poluição. Atualmente, eles fornecem cerca de 50% da água
atmosfera e desta para os rios que abastecem os reservatórios. potável do planeta, 40% da água destinada à indústria e 30% da
E as perspectivas não são animadoras: estima-se que, em que é usada pelos sistemas de irrigação. Estima-se que essas
2025, 1,8 bilhão de pessoas viverão em zonas absolutamente talhas naturais guardem volume 100 vezes maior do que toda
secas e dois terços da humanidade estarão sujeitos a alguma
a água que corre pelos rios e córregos do planeta. Ou seja, a
restrição no acesso à água. Com tanta pressão, a água, con-
água escondida pode ser uma salvação para a crise hídrica. No
siderada direito universal de todo ser humano, transforma-se
entanto, como grande parte das águas superficiais, os depó-
rapidamente em mercadoria.
sitos subterrâneos também estão ameaçados pela exploração
Recursos hídricos são focos de disputas e desmesurada dos minerais e pela poluição.
guerras Alguns aquíferos conservam água fóssil, que existe há
milhões de anos. Essa água não é reposta naturalmente pela
A disputa por água motiva conflitos e revoltas em países ca- chuva porque o aquífero é selado. Trata-se, então, de um re-
rentes de recursos hídricos, pois rios e lagos não respeitam curso não renovável. Alguns aquíferos desse tipo, como o de
limites geopolíticos. Em outubro de 2008, a Organização das Ogallala, nos Estados Unidos, já sofrem grande baixa em seu
Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) nível por causa da exploração humana. No caso dos aquíferos
divulgou a localização exata de 273 aquíferos que ficam sob permeáveis à água da chuva, o problema aparece quando
fronteiras internacionais. Aquíferos são depósitos subterrâneos o ritmo de extração supera o de reposição. Esses aquíferos
que guardam reservas de água. O trabalho da Unesco soou, estão também mais sujeitos à poluição. É o que ocorre com o
para alguns, como a revelação de um tesouro e um mapa, que aquífero Guarani, que corre sob os territórios de Brasil, Argen-
prometem facilitar os acordos internacionais para a partilha da tina, Paraguai e Uruguai. Há poços perfurados na região do
água. Para outros, ao contrário, suscitou o receio de acirramento Rio Grande do Sul e no interior paulista que deixam escorrer
dos conflitos armados pela disputa por água potável. esgoto e agrotóxicos para o bolsão subterrâneo.
Historicamente, os recursos hídricos são focos potenciais de O Guarani é apenas um dos 27 aquíferos em território brasi-
guerras, revoltas e atentados terroristas, principalmente quando leiro. É considerado o segundo maior do mundo, com extensão
estão no subsolo de dois ou mais países e em áreas em que a de 1.200.000 km2. (O maior está também localizado em solo
escassez hídrica é natural. A falta de água impacta as relações brasileiro: Aquífero Alter do Chão, que abrange os estados do
entre as nações e a dinâmica das migrações internacionais. Pará, Amazonas e Amapá).

268
Hidrografia

Use, mas não abuse Cadê a água?


A demanda cada vez maior por recursos hídricos para a Considere o seguinte café da manhã reforçado: uma xícara
produção de alimentos e bens industriais ameaça as fontes de café, um copo de leite, uma fatia de pão, outra de queijo, um
de superexploração e leva à cobrança pelo uso da água ovo quente e um copo de suco de laranja. Quem ingerir essa
refeição consumirá indiretamente mais de 600 litros de água – o
Bastam 50 litros por dia para uma pessoa manter a higiene,
volume utilizado para irrigar as plantações de café, de laranja e
matar a sede e preparar as refeições. Mas, quando se inclui no
de trigo, para matar a sede do gado que deu o leite e alimentar
cálculo a água necessária para produzir os alimentos básicos
com ração a ave que botou o ovo.
que chegam à nossa mesa, cada cidadão precisa de muito
mais – algo em torno de 2,7 mil litros por dia – cerca de dois Se nosso convidado para o café da manhã estiver usando uma
quintos do volume de uma piscina olímpica. Isso significa que, camiseta de algodão e um tênis de couro, a dívida para com as
no decorrer de um ano, cada cidadão deve ter garantido no fontes hídricas mundiais subirá mais 10 mil litros. Isso sem con-
mínimo 1 milhão de litros . As populações que têm acesso a tar a água empregada na fabricação da mesa e das cadeiras da
menos do que isso vivem em regime de escassez hídrica ou sala, a eletricidade consumida pela geladeira na qual os alimen-
estresse hídrico. tos foram conservados, o combustível utilizado no transporte dos
alimentos do campo para as prateleiras do supermercado etc.
Mais de 1 bilhão de pessoas – a maioria no Oriente Médio e
Enfim, tudo o que a sociedade moderna consome – de alimentos
no norte da África – vivem essa situação. E a tendência é que a
e ligas metálicas a eletricidade e petróleo – só existe porque
carência aumente – não só porque a população mundial cresce
a água foi utilizada, como matéria-prima ou como insumo, na
e o clima se altera, mas também porque os países ficam cada
produção do bem ou do serviço. É o que se chama água virtual.
vez mais ricos. Parece ironia, mas, quanto mais próspera é a
economia global, maior é a sede do planeta. O total de água consumida direta ou indiretamente por um
indivíduo ou por toda uma população no decorrer de certo perío-
Disparidade no consumo do recebe o nome de “pegada hídrica”. Esta leva em conta não
Utilização diária média de água
por pessoa, 1998-2002 (litros) apenas a água agregada aos produtos, mas também o volume
poluído na cadeia produtiva. É possível calcular a pegada hídri-
ca de um produto, de um grupo de consumidores ou produtores
e de uma nação. Com o conceito de água virtual e o de pegada
600 hídrica fica fácil entender por que quanto mais industrializada
Estados Unidos for uma nação, maior será sua demanda por água.
550
Compare o consumo
1 29 Água virtual 32 litros 140 litros 10 litros 2.000 litros
Microchip Xícara de café Folha de papel A4 Camiseta de algodão
norte- angolanos É a quantidade de água (2 g) (125 ml) (80 g/m²) (250 g)
americano usada direta ou indireta-

500 = mente, na produçao de algo.


Veja quantos litros de água
virtual existe em alguns
produtos:
Austrália
450 Em produtos 200 litros 135 litros 2.325 litros 720 litros 8.000 litros
de origem Copo de leite Ovo Carne bovina Carne Suína Par de sapatos
animal, a maior (200 ml) (40 g) (150 g) (150 g) de couro
parte da água
virtual tem
400 origem na
produção da
Itália ração que
alimenta a
Japão criação.
México
350 Fontes: R. L. Carmo, A. L. R. O. Ojima, R. Ojima e T. T. Nascimento; Hoekstra e Chapagain e Water Footprint Network

Espanha
Globalização
300 Noruega
França Nem todos os países deixam uma pegada hídrica equiva-
lente à disponibilidade de água em seu território. A razão desse
250 Áustria descompasso nas contas é a importação de bens: as nações
pobres em água compram do estrangeiro alimentos e produtos
Dinamarca industriais e, com eles, importam – na forma de água virtual – o
200 Alemanha
BRASIL
recurso coletado de bacias hidrográficas de outras regiões do
Peru globo. A Jordânia, por exemplo, retira a cada ano apenas 1
Filipinas
150 Reino Unido
bilhão de metros cúbicos de água de seus rios e aquíferos, que
Índia se encontram em franco processo de exaustão. Mas consome
de cinco a sete vezes mais água (na forma virtual) contida nos
100 produtos que importa. É por esse mecanismo que os chineses
China
afetam indiretamente as bacias hidrográficas brasileiras quando
50
compram nosso frango. A globalização, que tornou interdepen-
Bangladesh, Quênia
Gana, Nigéria, dentes os mercados espalhados pelo planeta, reforçou, também,
Burkina Fasso, Niger
Angola, Camboja, Etiópia, um comércio internacional paralelo e invisível de água virtual.
Haiti, Ruanda, Uganda
Moçambique
Convencionou-se chamar água virtual a água utilizada na
produção de uma substância, como a soja, por exemplo, ou
LIMIAR DA POBREZA
A OMS e o Unicef sugerem que cada
objeto, e que será consumido em outro lugar. Em apenas quatro
pessoa tenha acesso a um volume mínimo anos - de 1997 a 2001 -, o comércio internacional transferiu de
entre 20 e 50 litros de água limpa para
beber, cozinhar e manter a higiene mínima. um país a outro algo em torno de 1 trilhão de metros cúbicos de
Duas descargar de válvulas sanitárias de
modelo antigo despejam no esgoto mais do água virtual por ano, isso somente em produtos agropecuários.
que isso.

269
Geografia

Se incluirmos aí os produtos industriais, o fluxo anual de É bom lembrar que o plantio da soja é o segundo fator mais
água virtual superaria 1,6 trilhão de metros cúbicos. Desse pernicioso ao meio ambiente brasileiro, perdendo apenas para
total, 61% do volume viajam invisivelmente em grãos e outros a pecuária de corte.
produtos vegetais. Animais e derivados representam 7% desse
O valor da conta mensal refere-se aos custos de capta-
montante. Os produtos industriais utilizam 22%.
ção, tratamento e distribuição. A água, em si, não tem preço.
O Brasil está entre os maiores exportadores de água virtual “Mas à medida que avançam as mudanças climáticas e o
do mundo, em companhia dos Estados Unidos, do Canadá e da crescimento demográfico, a noção de água como mercadoria
França. Mas, como todas as demais nações, também importa- cresce”, diz Penteado.
mos água virtual. No início do século XXI, a soja colhida no estado
do Mato Grosso, o maior produtor brasileiro, era destinada aos
Em vários países, como Alemanha, França e Reino Unido, já
países europeus. Hoje, a China é o maior país importador, uma se cobra pela água. No Brasil, a ideia data de 1934 e foi retomada
vez que necessita de milhares de toneladas desse grão para ali- como ferramenta de gestão dos mananciais na Política Nacional
mentar seus milhões de animais. Essa é uma das razões porque de Recursos Hídricos, no fim dos anos 1990. O princípio é que
os chineses preferem importar esses grãos a plantá-los: agindo empresas de abastecimento e saneamento paguem pela água
captada e repassem esse custo aos milhões de usuários aos
assim eles não precisam gastar sua própria água,
quais ela é distribuída. Outros tipos de empresa, dos setores
Direito da população ou mercadoria? industrial, agrícola e de energia, também devem pagar pela
água – mas poderiam pagar menos, desde que devolvessem
Pensar em cobrar pelo uso da água soa estranho. Afinal, esse a água limpa aos rios. O dinheiro coletado deve ser aplicado na
é, por princípio, um recurso natural a que todos os homens devem
manutenção da própria bacia.
ter acesso em quantidade e qualidade adequadas. No entanto,
nesses tempos modernos, tempos de economia globalizada, em Poucos estados aprovaram a lei da cobrança pelo uso da
que os mercados se entrelaçam, misturam-se e ditam as regras, água. O primeiro foi o Ceará, constantemente assolado pelas
a crescente escassez é um argumento para transformar o bem secas que castigam os estados do Nordeste. A primeira ini-
natural em bem acessível apenas a quem possa pagar. A água ciativa de cobrança pelo uso da água num rio federal deu-se
passaria de direito universal a commodity – uma matéria-prima na bacia do Paraíba do Sul, que banha os estados de São
básica, como o petróleo ou a soja, com padrão de qualidade e Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro.
preço estabelecidos pelo mercado. Isso já ocorre em nações com
fontes hídricas escassas e até em países com fontes fartas, entre E o mar Aral, na Ásia Central, virou areal
a população carente, que não tem acesso aos serviços públicos Encravado entre o Uzbequistão e o Cazaquistão, na Ásia
de água e é forçada a comprá-Ia de particulares. Central, o Aral era o quarto maior mar interno do mundo até
1960. Naquela época, os 50 quilômetros cúbicos de água
Balança comercial despejados a cada ano pelos rios que o alimentavam manti-
de água virtual nham baixa a concentração de minerais na água, tornando-a
Em bilhões de m³/ano (1997-2001) própria para a existência de um rico ecossistema aquático. A
grande variedade de peixes garantia o sustento de mais de
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SALDO 60 mil pescadores. Hoje, isso é história. O Aral está resumido


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po
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a três corpos de água muito menores, poluídos e ultrassalga-


Im
Ex

EUA 229 176 -53 dos, que recobrem uma área equivalente a 10% da original.
Canadá 95 35 -60
A culpa pelo desastre foi o desvio dos rios Amu e Syr para
França 78 72 -6
irrigar as lavouras da União Soviética (URSS), nos anos 1960.
Austrália 73 9 -64
Atualmente, além de supersaturada, a água que resta é extre-
China 73 63 -10
mamente poluída pelos agrotóxicos que escorrem das lavouras.
Alemanha 70 105 35
BRASIL 68 23 -45 Disponível em: http://doczz.com.br/doc/416077/resu-
Holanda 58 69 11 mo---cursinho-triu. Acesso em: 26 jul 2018.
Argentina 51 6 -45
Fonte: IWSA Muitos rios, acesso desigual
SALDO LÍQUIDO A lista mostra os nove O Brasil é privilegiado em recursos hídricos. Mas
maiores exportadores de água virtual entre
1997 e 2001. Repare que todas as nações
falta muito para que toda a população tenha aces-
também importaram água virtual nesse período. so à água limpa e a tratamento de esgoto
Na coluna SALDO, ao contrário do que se
costuma usar na balança comercial de produtos
As cidades sugam cada vez mais água do planeta. A
e serviços tradicionais, o sinal de negativo (–) acelerada urbanização, que colocou em 2008 mais da me-
indica que o país exportou mais que importou – tade da população mundial em centros urbanos, faz com
ou seja, transferiu mais água de suas reservas
do que recebeu do estrangeiro. que aumente cada vez mais o volume retirado dos rios
para abastecer residências e indústrias. O crescimento das
“É uma questão da economia, uma ciência que lida com cidades causa também outras pressões sobre as reservas
a escassez”, diz Hugo Penteado, autor de Ecoeconomia: hídricas: o aumento do volume de resíduos sólidos (lixo) e o
uma Nova Abordagem. “A água abundante é considerada despejo de resíduos industriais e domésticos sem tratamen-
um bem natural e, portanto, não tem valor econômico”. Dife- to, que contribui para poluir córregos e rios e entupir as vias
rentemente do petróleo, cujo preço do barril sobe por pres- de drenagem das cidades, e a ocupação irregular do solo,
são dos produtores ou pelo aumento da demanda, a água que compromete os mananciais. Como resultado, além de
não custa mais porque a cidade cresceu ou choveu pouco. sobrecarregar as reservas, as populações das cidades estão
No Brasil, por exemplo, as autoridades apenas fazem campanhas sujeitas a consumir água de baixa qualidade, responsável
para que a população poupe água voluntariamente, em tempos potencial por doenças como cólera e diarreia.
de estiagem. Na verdade, o brasileiro não paga nada pela água.
O problema fica no Brasil. Brasil urbano

270
Hidrografia

Com grande número de rios e abundância de chuvas, o Bra- Em Belém (PA), Manaus (AM) e Rio Branco (AC), menos
sil detém cerca de 13% de toda a água superficial do planeta. de 3% da população tem esgoto tratado. Mesmo nas regiões
Somando-se a isso os depósitos subterrâneos, o país oferece metropolitanas mais ricas, a situação é precária. Na Grande São
a cada habitante 34 mil metros cúbicos (34 milhões de litros) Paulo, menos de 25% do total de 56 metros cúbicos de esgoto
por ano. Mas toda essa água não é distribuída de maneira produzidos a cada segundo recebe tratamento. Os restantes 42
equilibrada: há escassez de água na região do semiárido e metros cúbicos são despejados diretamente nos mesmos rios
nas grandes capitais do Sudeste. Cerca de 70% das reservas que abastecem os reservatórios de abastecimento.
brasileiras estão na região Norte, onde vivem menos de 10% da A situação, de novo, é perversa: enquanto a população de
população. A situação é pior nas áreas de maior concentração maior renda, concentrada nos bairros centrais das grandes
demográfica, nas quais o consumo é acompanhado de perto cidades, é atendida por serviços de saneamento básico, a
pela contaminação por esgoto industrial e doméstico, que reduz parcela mais pobre distribui-se informalmente pela periferia,
o volume de água disponível por pessoa. onde a infraestrutura é precária. Em alguns centros urbanos,
O Brasil é um país essencialmente urbano – 83% dos bra- 50% da população ocupa áreas irregulares e não tem acesso
sileiros vivem em cidades. E segundo o Instituto Brasileiro de a serviços de água, coleta e tratamento de esgoto e coleta de
Geografia e Estatística (IBGE), 92,6% dessa população urbana lixo. Assim, a questão do acesso à água limpa torna-se um fator
é atendida por rede geral de abastecimento de água. É uma de exclusão social.
taxa alta, se comparada à da zona rural, que não supera os
28%. Os 7,4% dos brasileiros urbanos que não têm acesso aos Problemas letais
serviços de abastecimento são obrigados a recorrer a poços, Número de mortes por doenças relacionadas
bicas, água das chuvas ou compra de água de caminhões pipa . à falta de água, saneamento e higiene,
em milhares de pessoas (2002)
O desperdício contribui para a escassez de água nas ci-
dades. Segundo estudo do Instituto Socioambiental, a água 2.389
Países desenvolvidos
perdida diariamente nas capitais brasileiras seria suficiente para
abastecer 38 milhões de pessoas. A cidade do Rio de Janeiro Países não
desenvolvidos
joga fora, sozinha, mais de 1,5 milhão de litros a cada dia – o
equivalente a quase 620 piscinas olímpicas.
Nos grandes aglomerados urbanos das regiões Sul e Su-
deste, o acesso à água começa a se tornar um problema que
557
extrapola os limites metropolitanos. Para abastecer os quase 312
20 milhões de habitantes da Grande São Paulo, a bacia do
24 0 15
Alto Tietê e as represas Billings e Guarapiranga não são mais Falta de Malária, dengue Outras
suficientes. A solução é importar água de outras bacias: mais da saneamento e outras doenças doenças
básico e transmitidas por infecciosas
metade da água consumida na região vem da bacia do rio Pira- higiene insetos
cicaba, a mais de 70 quilômetros da capital. Essa transferência
DOIS MUNDOS, DUAS REALIDADES
de recursos hídricos, é claro, exerce pressão sobre a oferta de O gráfico mostra que a cada ano cerca
água para as cidades, as indústrias e a agricultura do interior de 3,3 milhões de pessoas morrem por
paulista. Além disso, os 5,6 bilhões de litros de água lançados problemas associados à escassez ou à
qualidade da água – a imensa maioria
diariamente nas tubulações da Grande São Paulo colocam os nos países subdesenvolvidos. Do total
mananciais próximos de seu limite de disponibilidade. Basta de 2,4 milhões de mortes relacionadas à
um breve período de falta de chuvas para a população se ver falta de saneamento básico e higiene,
1,5 milhão tem como causa a
forçada a limitar o consumo, sob ameaça de torneiras secas e desidratação e 854 mil, a desnutrição
racionamento de água. por doenças diarreicas e parasitárias.
As doenças transmitidas por insetos que
Saneamento se reproduzem na água matam outras
870 mil pessoas.
Pesquisa realizada pelo Sistema Nacional de Informação sobre Fontes: OMS, Prud, British Medical Journal

Saneamento (SNIS) em 4,5 mil municípios brasileiros (cerca de


84% do total do país) mostra que, em 2006, o índice médio nacional Ocupação do solo
de coleta de esgoto por rede geral era de pouco mais de 48%,
A ocupação irregular do solo agrava a escassez de água. A
mas apenas 32% do total de esgoto gerado recebia tratamento
carência habitacional leva parte da população da periferia a se
instalar às margens de represas, nascentes e rios, destruindo
Saneamento e água a mata ciliar, que protege os mananciais, e poluindo as fontes,
encanada no Brasil
que deveriam se manter intactas para abastecer a cidade. Os
População urbana com acesso
a serviços de água e esgosto,
números são alarmantes: a prefeitura de São Paulo estima que
em % (2006) 2 milhões de pessoas vivam em ocupações ilegais em áreas
de manancial na região. Como resultado, grandes represas,
como Billings e Guarapiranga, apresentam altíssimos índices de
Com água Com rede
contaminação. Outra consequência da poluição é o aumento do
encanada de esgoto gasto com a preparação da água para consumo humano. En-
quanto o tratamento da água de reservatórios bem preservados
91
97 95
89
93 custa entre 25 e 50 centavos de real por metro cúbico, o valor
69
81
do mesmo processo em represas poluídas pode superar 5 reais.
55 O mau gerenciamento das fontes leva as grandes cidades a
36
31
38 um paradoxo: de um lado, a constante ameaça de falta de água
6 nas torneiras e, de outro, as enchentes periódicas. A ocupação
de áreas de várzea – os terrenos às margens dos rios natural-
mente tomados pelas águas em tempos de cheia – é apenas
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uma das causas de inundações.


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Fonte: IBGE

271
Geografia

Outras são a falta de coleta de lixo – que entope os bueiros – e a impermeabilização: calçadas cimentadas, ruas asfaltadas e
construções de concreto reduzem a área de solo capaz de absorver a água da chuva. Como consequência, o sistema de drenagem
das grandes cidades não dá conta de levar para os rios todo o volume despejado dos céus.
O aumento na cobertura de concreto produz outro efeito: cria nas cidades o que os meteorologistas chamam de ilhas de calor
– uma área de temperatura mais alta que a das redondezas, recobertas de vegetação, que sequestra a umidade do ar e aumenta
a intensidade das chuvas, provocando temporais. Em algumas cidades, como São Paulo, esse efeito rouba a chuva que deveria
cair sobre a cabeceira dos rios, realimentando os mananciais.
Disponível em: http://ecologiatocolando.blogspot.com/2012/01/uma-questao-de-higiene-e-limpeza.html Acesso em: 26 jul 2018.

Uma questão de higiene e limpeza


Sem água limpa, a população adoece e não consegue trabalhar. A falta de água afe-
ta diretamente a capacidade de uma sociedade enriquecer
As consequências da escassez de recursos hídricos aparecem imediatamente nas estatísticas de saúde de uma população.
Para ser própria ao consumo, a água deve apresentar a cada litro menos de mil coliformes fecais e menos de dez microrganismos
patogênicos – os que causam doenças, como cólera, esquistossomose, febre tifoide, hepatite e leptospirose. Consumir água im-
própria para beber e cozinhar é uma grande causa de mortes, principalmente nos países menos desenvolvidos, onde a população
carece de serviços de tratamento de água e de esgoto. Estima-se que, no mundo todo, 1,1 bilhão de pessoas não tenham acesso
à água potável e 2,6 bilhões careçam de esgoto tratado.
A falta de água em quantidade e qualidade adequadas leva ao aumento de doenças infecciosas, como cólera, diarreia e hepatite
B. Mais da metade das internações hospitalares registradas no planeta resulta desses problemas, que custam aos sistemas de saúde
mais de 12 bilhões de dólares anuais. As maiores vítimas são as crianças de países pobres e em desenvolvimento.
De fato, doenças relacionadas a problemas com a água constituem endemias nos países mais pobres. Do total de mortes
anuais causadas por males diarreicos, 700 mil estão no Sudeste Asiático e 608 mil, no continente africano.

A FALTA DE ÁGUA AMEAÇA


A VIDA E A DIGNIDADE
População com acesso à água limpa, em % (2004) População sem acesso a saneamento básico, em % (2004)*

UMA A CADA CINCO


PESSOAS no mundo
não tem acesso à
água limpa e a
tratamento de esgoto.
Quem vive nessa
situação tem de
caminhar vários
quilômetros por dia,
levando latas e
baldes de rios, lagos
e poços muitas vezes
Menos água limpa contaminados por Menos saneamento
organismos
+ de 95% 83% a 95% 65% a 83% – de 65% patogênicos. – de 5% 5% a 30% 30% a 50% + de 50%

População sem acesso a água e saneamento, em milhares

715 Sem água limpa Ásia Sem saneamento 2080


297 África 338
NO MUNDO
66 América Latina
e Caribe
130 NO MUNDO

1,1 bilhão 22 Europa


52 2,6 bilhões
de pessoas não têm acesso à água limpa de pessoas não têm esgoto tratado
Fonte: Pnuma (*) Os dados do Pnuma consideram a proporção da população total sem acesso a esgotamento sanitário ou fossa séptica, coleta de lixo e banheiros adequados. Os levantamentos do IBGE seguem outros critérios.

ROCHA, Luiz Antonio Batista da. Disponível em: http://www.outorga.com.br/pdf/Artigo%20


293%20-%20%C3%81gua%20virtual.pdf Acesso em: 26 jul. 2018.

Briga pelas águas do Velho Chico


A obra de transposição do rio São Francisco começou, mas divide opiniões: os esta-
dos favorecidos são a favor, os banhados pelo rio fazem campanha contra
Por Sérgio Adeodato

Após ações da Justiça, protestos e muita polêmica, a transposição das águas do rio São Francisco começa a sair do papel.
O objetivo do projeto é desviar uma parte das águas do rio por meio de dutos e canais para alimentar rios menores e açudes
em regiões do semiárido nordestino que sofrem com a seca. As obras foram iniciadas pelo Exército brasileiro em junho de 2007.
O atual projeto, orçado em 4,5 bilhões de reais, é foco de conflitos e disputa entre os diferentes usuários do rio. São a favor da
obra os estados beneficiados pelo desvio do São Francisco – Ceará, Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte. Eles esperam
que sejam abastecidos cerca de 12 milhões de pessoas no semiárido, onde rios e açudes secam em parte do ano, e planejam
criar polos de agricultura irrigada, para produzir renda e reduzir o êxodo rural.

272
Hidrografia

Quem apoia a ideia lembra que ela pode diminuir a desigual- Rio castigado
dade: a bacia do São Francisco tem 70% da água e apenas
21% da população do semiárido – ou seja, a maior parte dos Estima-se que o São Francisco tenha perdido 40% do vo-
habitantes da região mais seca do Nordeste está distante do rio. lume de água nos últimos 40 anos. Está mais raso e estreito.
Perto de 75% da vegetação de suas margens foi derrubada.
Prós e contras Como resultado, os resíduos da erosão invadem o leito do
O principal argumento dos defensores do projeto é que 95% rio e causam danos à navegação e às espécies de peixe que
da água que ultrapassa a barragem de Sobradinho é despejada sustentam a população. Além disso, em toda a bacia existem
na foz sem nenhum uso – ou seja, só 5% são consumidos ao 450 cidades sem saneamento básico que lançam detritos
longo do rio. Pelo projeto, 1% dessa água será captada pelos diretamente nas águas, espalhando poluição. Preocupados,
canais da transposição – uma quantidade pequena que não ambientalistas e pesquisadores dizem que a solução contra
causa estragos ambientais, dizem os especialistas que apoiam a seca deve passar por uma visão mais ampla do problema.
o desvio. Eles argumentam que o volume previsto na transposi- Para eles, antes de realizar a transposição, o mais urgente é
ção para abastecer os estados vizinhos é apenas um terço da “revitalizar” o rio São Francisco, com projetos que recuperem
quantidade de água que será captada no São Francisco nos a mata ciliar e limpem o rio.
próximos anos por polos de irrigação da Bahia que já funcionam Após os primeiros protestos contra a transposição, o go-
ou estão em fase de instalação. verno federal lançou um programa para recuperar o rio São
Esse é exatamente um dos pontos que mais preocupam os Francisco. O plano é implantar esgotamento sanitário em 81
opositores da transposição – os governos de Minas Gerais, municípios da bacia, medir periodicamente a qualidade da
Bahia, Alagoas e Sergipe. Eles temem que a obra reduza a água e reflorestar nascentes e margens de rios, com plantas
água para irrigar seus municípios e prejudique a geração de de viveiros que produzirão 1,5 milhão de mudas por ano. Estão
energia hidrelétrica. O São Francisco produz 90% da eletrici- previstos 25 projetos para tornar potável a água dos poços
dade nordestina, abastece projetos de piscicultura e mantém subterrâneos em Pernambuco e na Bahia, que hoje tem baixa
produtivas importantes zonas agrícolas. Na região de Juazeiro qualidade em decorrência do alto teor de sal. E ainda estão
(BA) e Petrolina (PE), a fruticultura irrigada ocupa mais de 100 planejadas obras para controlar a erosão e melhorar as con-
mil hectares, sendo responsável por 70% das exportações dições fluviais e a navegação do rio, permitindo o transporte
brasileiras de manga e 90% de uva.
de grãos entre os polos de irrigação do oeste da Bahia e o
Em vez de investir em uma obra grande e cara, o grupo con- porto de Juazeiro, de onde a carga seguirá por ferrovias até
trário à transposição defende medidas mais simples, baratas e os principais portos marítimos nordestinos.
eficientes, como a construção maciça de poços e cisternas para o
armazenamento da água da chuva. Recente relatório da Agência Como é a obra
Nacional de Águas (ANA), do governo federal, propôs a execução O Projeto de Integração do Rio São Francisco às Bacias
de 530 obras de menor porte para solucionar os problemas de do Nordeste Setentrional – nome oficial da obra de transpo-
abastecimento hídrico do Nordeste até 2015, ao custo de 3,6 sição – está dividido em dois níveis de captação de água.
bilhões de reais, valor inferior ao da transposição. No primeiro, que ocorrerá de maneira permanente, serão
Os críticos chamam atenção para os prejuízos ao abaste- retirados do rio 26 metros cúbicos de água por segundo. Esse
cimento das torneiras ao longo do rio e levantam suspeitas volume, correspondente a cerca de 1% da vazão total depois
sobre o verdadeiro uso que se dará à água desviada para o da barragem de Sobradinho, será destinado ao consumo hu-
semiárido. No sertão, há problemas fundiários, e a construção mano e animal. No segundo nível, quando o rio estiver mais
das adutoras para abastecer as cidades depende muitas vezes volumoso, a quantidade transposta será maior, chegando
de brigas políticas que não levam em conta os problemas da até 127 metros cúbicos por segundo. Nesse caso, o volume
população. No açude do Castanhão, no Ceará, o maior do país, extra poderá ser usado em atividades econômicas, como
há canais que foram construídos a um custo alto para levar água a agricultura irrigada – incluindo as grandes propriedades,
aos sertanejos, mas parte da população que vive ao lado dos como as de cultivo de grãos, frutas e flores para exportação.
canais não tem acesso à água ou precisa pagar caro por ela.
O projeto prevê a construção de dois eixos principais. O
Assim, vários moradores continuam caminhando muitas horas
Eixo Norte captará a água do São Francisco em Cabrobró
por dia para conseguir água. Além dessa dúvida, quem se opõe
(PE) para levá-Ia ao sertão de Pernambuco, Ceará, Paraíba
à transposição enfatiza que o projeto atingirá apenas 5% do
e Rio Grande do Norte. O Eixo Leste vai colher as águas em
território do semiárido brasileiro. Passará longe de lugares que
um ponto mais baixo do rio, em Petrolândia (PE), beneficiando
têm muita necessidade, beneficiando grandes cidades fora das
regiões secas, como Recife e Fortaleza.
parte do sertão e do agreste de Pernambuco e da Paraíba. A
água retirada do São Francisco será bombeada até chegar
A corrente da oposição reúne também ambientalistas e lide-
a seu destino por meio de canais artificiais que permitirão a
ranças sociais que temem eventuais estragos ambientais da
interligação de açudes, mantendo-os sempre cheios, mesmo
transposição, e prometem continuar os protestos mesmo com
durante a estiagem.
as obras em andamento. Entre tantos motivos, preocupam-se
com os impactos danosos, como ocorreu no mar de Aral, na
Ásia Central. O Aral é um enorme lago, rico em peixes. Suas
águas recuaram muito porque os rios que o abasteciam foram
desviados para irrigar plantações. Resultado: o lago ficou
salgado e reduzido a menos da metade do tamanho original,
tornando a região um deserto improdutivo.

273
Geografia

3. (G1 - col. naval – 2011) O Brasil possui um grande


Exercícios potencial hidrográfico, destacando-se, nesse contexto,
a porção setentrional do país. Em função das condições
1. (G1 - col. naval – 2014) Em quase todo o Brasil, não é
naturais que o território nacional apresenta, a Região
preciso se preocupar muito com o clima. Em alguns meses
Norte contribui com uma parcela singular junto a esse
chove mais, em outros chove menos, mas, em geral, o
potencial, o qual pode ser utilizado de diversas formas.
tempo é quente em qualquer época do ano. A exceção é
Sobre a bacia hidrográfica amazônica e suas potenciali-
a Região Sul. Em relação a essa Região, é correto
dades, assinale a opção correta.
afirmar que:
A) É tipicamente planáltica e possui um grande poder
A) apresenta as menores amplitudes térmicas anuais do
hidroenergético, destacando-se neste contexto o
país, especialmente no interior da região.
Rio Amazonas, no entanto, ainda é pouco explora-
B) a área dos pampas é marcada por elevadas altitudes, da, visto as grandes distâncias dos grandes centros
destacando as serras do Mar e Geral. consumidores do país.
C) a hidrografia regional converge para a Planície Platina, B) Por possuir afluentes tanto no hemisfério norte quanto
que abrange os territórios do Brasil, da Argentina e no hemisfério sul, durante o ano o rio Amazonas apre-
do Paraguai. senta grandes vazões, visto as estações chuvosas se
D) a maior parte da cobertura vegetal nativa foi destruída, alternarem em ambos os hemisférios, contribuindo
restando poucas áreas arbóreo-arbustivas, como as assim para o seu grande potencial hídrico.
pradarias. C) O Rio Amazonas, com regime tipicamente pluvio ni-
E) a sua maior pluviosidade se concentra no inverno, val, durante o ano possui sua vazão comprometida,
ficando o restante do ano em plena estiagem. uma vez que os afluentes da margem direita perdem
suas capacidades de vazões durante o verão no
2. (EsPCex – 2014) “Relatórios da ONU alertam que se hemisfério sul.
o padrão de consumo não mudar, em 2025, 1.8 bilhão
de pessoas estarão vivendo em regiões com absoluta D) A construção da Hidrelétrica de Balbina, no Rio To-
escassez de água, e dois terços da população do mundo cantins, em especial para atender o complexo mineral
poderá estar vivendo sob condições de estresse hídrico”. de Carajás, conjugou o fato desse rio possuir grandes
(redeglobo.globo.com/ globoecologia/noticia/2013/05/
vazões durante o ano com a proximidade da capital
mundoenfrenta.crise-de-agua-doce) paraense, a qual demanda grandes quantidades
energéticas.
Sobre os fatores relacionados à crise de abastecimento
de água potável no mundo, podemos afirmar que E) As elevadas pluviosidades sobre esta região, decor-
rentes das evapotranspirações excessivas, dotaram o
I. embora a água doce disponível no mundo ultrapasse
Rio Amazonas com o maior potencial hidroenergético
largamente as necessidades de consumo atuais, a
crise da água é uma realidade no planeta. instalado do país, especialmente após a construção
da Hidrelétrica de Tucuruí.
II. em muitos países, as reservas de água subterrâneas
renovam-se em velocidade menor que a retirada de 4. (UFPE) “O Rio São Francisco tem sido uma presença
água, provocando a secagem de poços e um efeito de
constante na vida nacional. Inicialmente, ele foi a grande
subsidência (rebaixamento) bastante pronunciado em
via fluvial que ligava áreas do centro do Brasil à porção
suas áreas urbanas, que compromete a estrutura das
litorânea do Nordeste, tendo sido palco de lutas entre
construções e dos monumentos históricos.
indígenas e colonizadores pela conquista e posse da
III. a construção de barragens em rios compartilhados por terra, onde se traçaram os caminhos de gado”.
diferentes países, viabilizando projetos de irrigação e
Manuel Correia de Andrade. Jornal do Comércio, 10 set. 2000
beneficiando as atividades agrícolas, tem contribuído
para a redução do estresse hídrico entre esses países. Sobre o referido no texto, não podemos dizer que:
IV. o Aquífero Guarani é uma importante reserva estraté- A) o principal rio da bacia do São Francisco, embora esta
gica de recursos hídricos para o Centro- Sul do Brasil, se situe inteiramente no domínio morfoclimático do
a qual ainda não está sendo explorada, haja vista as semiárido, tem um regime fluvial permanente.
abundantes chuvas que alimentam os rios, os quais, B) o Projeto de Transferência de águas do São Fran-
por si só, garantem o abastecimento da região mais cisco visa beneficiar bacias de rios intermitentes dos
dinâmica do País. estados da Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará e
V. entre os diversos usos da água, o uso industrial é o Pernambuco.
que apresenta as maiores taxas de desperdício em C) o rio São Francisco serviu como caminho de bandei-
termos globais. rantes e pioneiros que se deslocaram de São Paulo
Assinale a alternativa em que todas as afirmativas estão para combater os índios na “Guerra dos Bárbaros”.
corretas: D) o São Francisco, em face das características geo-
A) I e II morfológicas dominantes ao longo da maior parte do
B) II e III seu percurso, pode ser tido como um “rio de planalto”.
C) II e IV E) o Projeto de Transferência do São Francisco está lo-
D) I, IV e V calizado em trecho não navegável do rio, não afetando
a navegabilidade da área entre Pirapora e Petrolina.
E) II, III e V

274
Hidrografia

5. (Unesp – 2017) A Pegada Hídrica é uma ferramenta de 7. (EsPCex – 2011) Sobre as reservas e a utilização
gestão de recursos hídricos que indica o consumo de dos recursos hídricos no Brasil e no Mundo, podemos
água doce com base em seus usos direto e indireto. afirmar que:
“Precisamos desconstruir a percepção de que a água I. a água doce dos rios e dos lagos de todo o planeta é
vem apenas da torneira [um uso direto] e que simples- responsável pela maior parte da água doce da Terra.
mente consertar um pequeno vazamento é o bastante
II. no mundo inteiro, mais de 1,5 bilhão de pessoas
para assumir uma atitude sustentável”, ressalta Albano
dependem principalmente da água de reservas sub-
Araujo, coordenador da Estratégia de Água Doce da
terrâneas para suprir suas necessidades básicas.
Nature Conservancy.
(www.wwf.org.br. Adaptado.)
III. apesar de grande parte do Estado de São Paulo
situar-se sobre o Aquífero Guarani, o sistema de
Considerando o excerto e os conhecimentos acerca do abastecimento do Estado não utiliza fontes sub-
consumo de água no planeta, é correto afirmar que o terrâneas.
uso indireto de água doce corresponde
IV. as calotas polares e as geleiras são as mais impor-
A) à comercialização de água sob a forma de produto
tantes, em termos quantitativos, reservas de água
final.
doce de nosso planeta.
B) ao emprego de água extraída de reservas subter-
râneas para o abastecimento público. Assinale a alternativa que apresenta todas as afirma-
tivas corretas:
C) à quantidade de água utilizada para a fabricação de
bens de consumo. A) I e II
D) ao aproveitamento doméstico da água resultante B) I, II e III
de processos de despoluição. C) I, III e IV
E) à distribuição de água oriunda de represas distantes
D) II e IV
do consumidor final.
E) III e IV
6. (G1 - Col. Naval – 2015) Analise as informações a
seguir. Gabarito
Por suas condições físicas, o Brasil possui inúmeras 1. C
bacias hidrográficas, muitas das quais aproveitadas 2. A
como fonte de produção energética, fator imprescindível
3. B
ao incremento socioeconômico nacional.
4. A
Sobre as principais bacias hidrográficas brasileiras, são
feitas as afirmativas a seguir. 5. C

I. Localizada integralmente no território nacional, a Ba- 6. D


cia Amazônica, cujo potencial hidroelétrico é pouco 7. D
explorado em função da sua natureza tipicamente
de planície, acaba por dificultar o desenvolvimento
regional.
II. A Bacia do Tocantins-Araguaia, considerada a maior
bacia genuinamente brasileira, ocupando quase 9%
das terras do país, possui grande importância na
geração de energia, destacando-se a usina hidre-
létrica de Tucuruí.
III. Inserida totalmente em território nacional, a Bacia
do São Francisco, tipicamente planáltica, pouco
contribui para a produção energética regional, uma
vez que atravessa o semiárido, sendo suas águas
destinadas à irrigação de lavouras de subsistência.
IV. Com grande participação junto à produção hidro-
energética nacional, a Bacia do Paraná também
se destaca por possuir uma importante hidrovia,
a Tietê-Paraná, que é uma importante via de es-
coamento de uma das mais produtivas regiões
agrícolas do país.
Assinale a opção correta.
A) Apenas as afirmativas I e II são verdadeiras.
B) Apenas as afirmativas II e III são verdadeiras.
C) Apenas as afirmativas I e IV são verdadeiras.
D) Apenas as afirmativas II e IV são verdadeiras.
E) Apenas as afirmativas III e IV são verdadeiras.

275
Capítulo 11
Biomas mundiais

As formações vegetais presentes na superfície terrestre são Folhas grandes e largas, que favorecem a transpiração
caracterizadas pela combinação de fatores naturais, bióticos e vegetal, adaptadas a ambientes com grande disponibilidade
abióticos, que atuam em um determinado local. A troca cons- de água e temperaturas elevadas.
tante de matéria e energia entre esses elementos favorece a
associação de indivíduos, de uma mesma espécie ou não, que Aciculifoliada
se articulam na formação de um bioma. Folhas em forma de agulha, o que desfavorece a perda de
O bioma, por sua vez, é um conjunto de diferentes ecossis- água pelo vegetal através da transpiração. Além disso, sua
temas que possuem certo grau de homogeneidade. Trata-se forma inibe o acúmulo de neve sobre o vegetal, dificultando
das comunidades biológicas, ou seja, das populações de orga- a sua quebra.
nismos da fauna e da flora interagindo entre si e também com
o ambiente físico, chamado biótopo. Dessa forma, a caracteri- Coriácea
zação de um bioma passa pela influência direta dos elementos Folhas pequenas e grossas, com a presença de micrope-
naturais como clima, solo, relevo e hidrografia. los, que desfavorecem a perda de água pelo vegetal através
Para o melhor entendimento das formações vegetais, é da transpiração, em ambientes que apresentam períodos de
necessário conhecer algumas características que a vegetação longa estiagem.
pode apresentar.
Espinhos
Características vegetais Folhas modificadas para a adaptação vegetal a climas secos.

Quanto ao porte ou tamanho do vegetal Quanto ao comportamento sazonal do


Herbáceo vegetal
Vegetação rasteira, com altura máxima de um metro. Perenifólio
Arbustivo Manutenção das folhas durante todo o ano, mesmo nos
períodos de menor estiagem, embora a formação vegetal
Vegetais que possuem altura de um a três metros.
promova a renovação delas durante o ano.
Arbóreo
Caducifólio ou decíduo
Vegetais de grande porte – árvores, com altura acima de
três metros. Perda das folhas no período desfavorável, que pode ser
o período de menor umidade ou o período de menor tem-
Quanto à adaptação à umidade peratura.
Hidrófito Semidecíduo ou Semicaducifólio
Vegetal que vive com uma porção de sua parte vegetativa Perda parcial das folhas por parte da formação vegetal
permanentemente imersa em água. ao longo do ano.
Higrófito
Vegetal que vive em ambientes com elevada umidade at- Classificação dos biomas
mosférica.
A catalogação dos biomas está relacionada com a loca-
Mesófito lização das zonas climáticas terrestres, fator que interfere
Vegetal que vive em ambientes mais ou menos úmidos. diretamente nas características de temperatura e umidade.
Tropófito Observe o mapa na página seguinte.

Vegetal que vive em ambientes com grandes variações de


umidade.
Xerófito
Vegetal que vive em ambientes com baixos índices de
precipitação.

Quanto ao tipo de folha


Latifoliada

276
Biomas mundiais

90°
OCEANO GLACIAL ÁRTICO
OCEANO
I. Terra do Norte
GLACIAL ÁRTICO Is. Nova Zembla
Groenlândia
TERRA
CÍRCULO POLAR ÁRTICO DE
BAFFIN Islândia
60° MAR
DO MAR MAR
NORTE BÁLTICO DE BERING
Ilhas
eutas Britânicas
Ilhas Al
Grandes
Lagos MAR MAR
I. Hokkaido
NEGRO CÁSPICO MAR
DO
MAR
JAPÃO

30°
OCEANO MEDITE
RRÂNEO
I. de Honshu

OCEANO

MA
TRÓPICO DE CÂNCER

R
Grandes Antilhas

VE
Is. Havaí I. de Formosa

RM
MAR

EL
MAR ARÁBICO

PACÍFICO

HO

A
DAS ANTILHAS

HIN
AC
OCEANO
I. Mindanao

RD
MA
0° EQUADOR I. Borneo
I. Sumatra

PACÍFICO
I. Nova Guiné
I. Java

OCEANO
TRÓPICO DE CAPRICÓRNIO
ATLÂNTICO I. de Madagascar

30°

ÍNDICO lân
dia
Tasmânia Ze
va
No
Is. Fakland
(Malvinas)

TERRA DO FOGO
60°
CÍRCULO POLAR ANTÁRTICO OCEANO GLACIAL ANTÁRTICO
TERRRA
DE
VITÓRIA
180°
90°
150° 120° 90° 60° 30° 0° 30° 60° 90° 120° 150° 180°
CAPTAÇÃO
DÉFICIT HÍDRICO DE ÁGUAS PROFUNDAS
LEGENDA
FLORESTA EQUATORIAL SAVANAS (Brasil - cerrado
VEGETAÇÃO DE ALTITUDE
E TROPICAL e caatinga)
FLORESTA SUBTROPICAL
ESTEPES E PRADARIAS TUNDRA
E TEMPERADA

FLORESTA BOREAL (Taiga) VEGETAÇÃO MEDITERRÂNEA DESERTO (Quente ou frio)

ESCALA 1: 154 000 000


0 1 540 3 080 4 620

Autora: SIMIELLI, Maria Elena. Geoatlas.


Em cada zona climática, podem-se destacar as seguintes formações vegetais:

Zona megatérmica
Florestas tropicais e equatoriais
Localizadas nas baixas latitudes do planeta, essas florestas
podem ser encontradas no Sudeste Asiático, nas áreas tropicais
da América do Sul, na América Central, na zona equatorial da
África e do Subcontinente Indiano. Essas formações vegetais
estão adaptadas às elevadas médias térmicas e aos elevados
índices pluviométricos, característicos da maior parte da zona
intertropical. As elevadas temperaturas dessa área contribuem
para a formação de florestas com elevada biodiversidade, já que
a temperatura funciona como catalisadora química das reações
e, com isso, produz um meio favorável a um número maior de
espécies. As florestas se caracterizam pela presença de ve- Florestas tropicais: acondicionadas a altas temperaturas e chuvas
getais hidrófitos e higrófitos, com folhas latifoliadas, propícias geographicae.wordpress.com.
a trocas gasosas e absorção de energia, de comportamento
perenifólio, já que não existe um período desfavorável quanto Savana
à umidade e à temperatura.
Predominam vegetais de porte arbóreo, sendo que algumas Localizadas em latitudes tropicais, nos hemisférios norte
árvores alcançam até 60 metros de altura, com uma grande e sul, em áreas próximas às regiões florestais, a savana
densidade vegetal, ou seja, muitos indivíduos por área. A relação apresenta-se com maior destaque no continente africano e no
entre alta densidade e alta biodiversidade sugere a presença de Centro-Oeste brasileiro. Seu desenvolvimento ocorre em climas
muitas espécimes por área, mas um número reduzido de indiví- tropicais caracterizados pela presença de vegetação tropófita –
duos por espécie, devido à elevada competição por luz, nutrientes adaptada à alternância de estações chuvosas e secas.
e espaço. A grande densidade vegetal dificulta a presença de Apresenta elevada biodiversidade (considerando as eleva-
animais de grande porte, apresentando assim uma diversidade das médias térmicas locais), predomínio de vegetação de porte
significativa de animais pequenos. herbáceo e arbustivo, com folhas coriáceas de comportamento
O solo caracteriza-se por ser pobre em nutrientes, devido decíduo. A densidade das savanas não é significativa, devido
à alta taxa de lixiviação, porém rico em serrapilheira, camada ao maior desenvolvimento de suas raízes, que captam água em
de vegetais e matéria orgânica, que, ao ser decomposta, libera distâncias maiores para se manterem vivas durante a estiagem.
nutrientes para a manutenção da floresta tropical ou equatorial. Nas regiões semiáridas, que se localizam próxima aos trópicos

277
Geografia

de Câncer e Capricórnio, a vegetação de savana apresenta Desértica


aspectos de xeromorfismo, ou seja, adaptações fisionômicas
a períodos de seca, devido à redução gradativa dos índices Encontrada em regiões de climas desérticos, essa vegeta-
pluviométricos. Dependendo do período de estiagem, esse ção se desenvolve de maneira esparsa, muitas das vezes em
mesmo comportamento pode ser percebido também em regiões oásis, áreas de afloramento do lençol freático que produzem
tropicais. Nas savanas africanas, vivem animais de grande porte um meio que não chega a ser inóspito para a condição vital.
como leões, elefantes, girafas e búfalos, favorecidos pela menor Sua área de ocorrência pode ser percebida no sudoeste dos
densidade vegetal. Estados Unidos, no norte do México, no norte da África – onde
está localizado o maior deserto quente do mundo, o Saara –, na
Os solos dessas áreas também são pobres em nutrientes,
Península Arábica, no continente asiático (em parte da Mongó-
sendo possível perceber, em alguns pontos, o processo de la-
lia, da China e da Índia), no Chile – deserto do Atacama –, na
terização, propiciado pela intensa taxa de lixiviação associada
Argentina (Patagônia), no sudoeste do continente africano – o
ao período de estiagem, o que determina a ligação química dos
Kalahari – e em grande parte do continente australiano.
micronutrientes em excesso no horizonte A.
A vegetação desértica apresenta baixa biodiversidade, com
adaptação xeromórfica, o que implica em espécies de plantas
com raízes profundas, de maneira a facilitar a retirada de água
da subsuperfície, e folhas adaptadas em espinhos e caules
cobertos por ceras, de maneira a dificultar a perda de água
por transpiração.
O solo dessa região é extremamente raso, devido, sobretudo,
à atuação do intemperismo físico, caracterizando-se como solo
pedregoso ou rochoso. Também apresenta, em algumas áreas,
grande concentração de sais, o que dificulta sobremaneira a
utilização dessas áreas para a produção agrícola. A utilização
desse solo, considerando a elevada taxa de evaporação e os
As zebras têm como habitat as regiões das savanas africanas baixos índices pluviométricos, requer a técnica da irrigação, que
http://commons.wikimedia.org.
supre a carência de água na terra.

Regiões áridas e semiáridas


Estepes
Localizadas em climas com menores índices pluviométricos,
as estepes recebem denominações diferenciadas de acordo
com a região de ocorrência: campo, no Brasil; pampas, na
Argentina; e pradaria, nos Estados Unidos e no Canadá. Ela
também pode ser encontrada nas áreas de clima semiárido do
continente africano e australiano. A nomenclatura estepe está
relacionada com climas semiáridos, afigurando assim vegetação
xerófita. As estepes apresentam baixa biodiversidade, com pre-
domínio de vegetação herbácea, e possuem baixa densidade.
As estepes encontradas no interior do continente europeu e
asiático se distribuem pelo clima temperado continental, que, O Saara (Norte da África) é o maior e mais quente deserto do mundo
mesmo não sendo caracterizado como clima semiárido, possui
baixos índices de precipitação anual. Zonas temperadas
Floresta temperada

Na estepe (Europa) ou pradaria (EUA), há pouca incidência de chuva Floresta encontrada em climas temperados oceânicos

http://inatingivel.wordpress.com. www.newton360.com/tag.aspx?tag=Nature

278
Biomas mundiais

Sua esfera de ocorrência é predominantemente em climas Presente nas latitudes menores da zona temperada, essa
temperados oceânicos, com precipitação regular durante todo o formação vegetal está sob a influência direta do clima temperado
ano e definição das estações: no leste asiático, dos Estados Uni- mediterrâneo, que se caracteriza por verões secos e invernos
dos, da Europa e no sudeste da Austrália e na Nova Zelândia. A chuvowsos. Sua área de ocorrência compreende o sul da Euro-
floresta temperada apresenta baixa biodiversidade, predomínio pa, o norte da África – áreas de influência do Mar Mediterrâneo
de espécies de porte arbóreo, com comportamento caduci- –, a Califórnia, nos Estados Unidos, a Austrália e a África do
fólio no outono, momento de redução das médias térmicas. Sul. A vegetação mediterrânea caracteriza-se pela presença de
A vegetação se distribui de modo esparso, favorecendo espécies adaptadas a períodos secos, como os garrigues, os
o crescimento de parques e bosques, devido à incidên- maquis – arbustos, moitas e árvores pequenas, como oliveiras
cia da energia solar diretamente no solo. Os compo- – e o Chaparral, similar ao maqui, mas menos denso.
nentes da fauna são lobos, raposas, esquilos e ursos.
As áreas de floresta temperada foram sensivelmente alteradas, Zonas polares
dando lugar a polos industriais e concentrações urbanas. Na
Europa, por exemplo, a destruição estende-se de 70% a 80% Tundra
da cobertura vegetal original, enquanto que na China chega à
ordem de 80% a 90%.

Floresta de coníferas ou floresta boreal


ou taiga

A tundra é caracterizada pela ocorrência de musgos e liquens


Fonte: http://www.infoescola.com.

Vegetação típica de áreas de altas latitudes, a vegetação de


tundra se encontra sob a influência do clima polar. Sua área de
ocorrência pode ser percebida ao longo do Círculo Polar Ártico,
Florestas típicas dos climas frios do hemisfério norte porém, somente durante dois meses do ano, período deno-
artepura.byethost16.com.
minado verão do polo, em que as médias térmicas alcançam
aproximadamente 4 °C. Nesse momento, o solo de permafrost
Esse tipo de vegetação é encontrada em latitudes elevadas se descongela, permitindo o desenvolvimento de musgos e
da zona temperada, aproximadamente 50° norte, em climas liquens, que caracterizam a vegetação de tundra.
com severidade das médias térmicas, ou seja, temperaturas
muito frias. Possui área de ocorrência no norte do Canadá, Altas montanhas
norte da Europa e da Ásia, não sendo observada no hemisfério
sul, devido à inexistência de áreas continentais em latitudes
acima de 50° sul. A floresta de coníferas é caracterizada pela
sua homogeneidade, determinada pela baixa média térmica,
com presença de pinheiros, folhas aciculifoliadas e de compor-
tamento perenifólio. A densidade vegetal é pouco expressiva,
com germinação de musgos, liquens e arbustos e raras plantas
rasteiras. Constitui a maior extensão florestal do globo. Sua
exploração vem se mostrando equilibrada, com a prática do
reflorestamento nas áreas exploradas.
Vegetação mediterrânea

Localizada nas áreas de Dobramentos Modernos, a vegeta-


ção de montanha está condicionada à variação de altitudes nas
altas montanhas. O aumento da altitude implica em redução das
médias térmicas, o que favorece a variação vegetal da seguinte
forma, segundo Moraes (2003):
• Baixas altitudes (0 a 300 metros): não há grande diferença
Vegetação mediterrânea: verões secos e invernos chuvosos em relação àquelas que predominam em áreas planas
www.mundogeografico.uol.com.br. adjacentes;

279
Geografia

• Médias altitudes (300 a 2.400 metros): a umidade relativa


do ar é menor do que nas áreas de sopé. Aparecem flo- Exercícios
restas que perdem as folhas no inverno, recobrando-as na
1. (EsPCEx – 2011) Sobre as florestas pluviais tropicais
primavera, conhecidas como florestas de folhas caducas,
podemos afirmar que
e também grandes formações de pinheiros, árvores que
A) possuem amplitude térmica anual menor do que a
conservam as folhas mesmo sob temperaturas negativas;
amplitude térmica diária e, em consequência, são
• Grandes altitudes (de 2.400 metros a 3.000 metros): caracterizadas por uma grande diversidade biológica.
há pouca umidade na atmosfera e os solos são raros, B) ocorrem em áreas de alta latitude e em domínios de
condicionando a presença de cobertura vegetal orófila, elevada temperatura e umidade.
ou seja, adaptada ao ambiente de montanhas, formada C) se caracterizam por serem latifoliadas, decíduas e
por vegetação rasteira e, em alguns locais, arbustiva, os bastante estratificadas.
chamados campos alpinos;
D) ocorrem em áreas marcadas pela alternância sazonal
• Acima dos 3.000 metros: encontram-se as formações entre uma estação chuvosa e uma estação seca.
rochosas sem nenhum tipo de cobertura vegetal. E) por conta da elevada insolação, a vida animal nos
estratos mais superiores da floresta é muito escassa.
Distribuição da vegetação
nas zonas montanhosas gelo eterno
2. (EsPCEx – 2012) Sobre domínios naturais e clima, leia
as afirmativas abaixo:
rocha nua
I. a vegetação mediterrânea apresenta espécies xeró-
3 000 m filas e se adapta ao clima caracterizado por verões
campos alpinos quentes e secos, sendo típica do norte da Europa e
da África;
2 400 m
II. a tundra é uma vegetação típica das áreas polares,
onde as temperaturas podem chegar a –35°C. A
reprodução rápida se limita aos meses da primavera
pinheirais e do verão;
III. as florestas equatoriais possuem vegetação perene e
1 000 m latifoliada adaptada ao clima de elevadas temperatu-
ras e umidade e com pouca amplitude térmica anual;
IV. a vegetação desértica, caracterizada pela grande
florestas de folhas caducas
quantidade de herbáceas e de arbustos, como nas
savanas, é adaptada ao clima desértico, que possui
baixa amplitude térmica diária.
300 m
Assinale a alternativa que apresenta todas as afirmativas
corretas.
A) I e II
matas e pastos B) I e III
C) II e III
0m
D) II e IV
O ritmo das
O ritmo dasextinções se acelera
extinções se acelera E) III e IV
Número de extinção por milhão de espécies por milênio
100 000
3. (UEM PR - 2017) Sobre as características das formações
Passado geológico Passado recente Futuro vegetais identificáveis na paisagem de vários países,
(vestígios fósseis) (espécies conhecidas) (projeções)
Todas as
assinale o correto.
10 000 espécies
A taxa de extinção atual é mais misturadas 01. As plantas latifoliadas são caracterizadas por apre-
Nota: A escala das
alturas é logarítmica.
de mil vezes superior à
observada nos vestígios
Os modelos sentarem folhas largas, sendo encontradas em várias
1 000
preveem uma taxa
de extinção no mínimo partes do globo, tal como na Floresta Amazônica.
dez vezes superior
à de hoje 02. As plantas tropófilas ocorrem em regiões de altitudes
Anfíbios
100
Mamíferos elevadas, tal como nas regiões subpolares.
Aves
Menos de uma espécie de 04. As plantas xerófitas, ou xerófilas, apresentam estrutu-
mamíferos por 1 milhão
desaparecia a cada milênio. ras próprias para o armazenamento de água, sendo
10
encontradas em locais como o Arizona, nos Estados
Espécies Unidos.
marinhas
1
Margem
Mamíferos 08. As plantas aciculifoliadas apresentam folhagens no
de erro
formato de agulhas, características da Mata de Arau-
0,1
cária, que ocorre no território paranaense.
16. As plantas caducifólias apresentam folhas duras
durante todo o ano, sendo típicas da Mata Atlântica
0,01
brasileira.
Soma: ______
Fonte: Milennium Ecosystem Assessment, 2005.

280
Biomas mundiais

4. (UNESP - 2018) Leia o fragmento do romance O orfanato da srta. Peregrine para crianças peculiares, de Ranson Riggs,
e analise o mapa.
Apesar dos avisos e até das ameaças do conselho, no verão de 1908 meus irmãos e centenas de outros membros
dessa facção renegada, todos traidores, viajaram para a tundra siberiana para levar a cabo seu experimento odioso.
Escolheram uma velha fenda sem nome, que estava havia séculos sem uso.
(O orfanato da srta. Peregrine para crianças peculiares, 2015. Adaptado.)

(IBGE. Atlas geográfico escolar, 2012. Adaptado.)

O bioma mencionado no fragmento está representado no mapa pelo número


A) 1.
B) 4.
C) 2.
D) 5.
E) 3.

5. (UEFS-BA - 2017) Esse ecossistema está sendo destruído até quatro vezes mais rápido do que as florestas. O estudo
encomendado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente e pelo The Nature Conservancy indicou que
um quinto desta formação foi destruída desde 1980 e continua a ser destruída a uma taxa de cerca de 0,7% por ano por
atividades tais como a construção civil e a criação de camarões. Preservado, fornece um enorme conjunto de serviços
econômicos, agindo como berçário de peixes, armazenando carbono e proporcionando defesas poderosas contra en-
chentes e ciclones numa época de elevação do nível dos oceanos.
(http://br.reuters.com. Adaptado.)

O ecossistema em risco analisado no excerto é


A) o mangue.
B) a taiga.
C) a restinga.
D) a pradaria.
E) o igarapé.

Gabarito
1. A
2. C
3. 13
4. E
5. A

281
Capítulo 12

Biomas brasileiros
A análise das formações vegetais brasileiras nos permite Possui grande biodiversidade, com vegetação de caracte-
constatar a diversidade de paisagens em nosso país. Essa rísticas hidrófita e higrófita e folhas latifoliadas, de maneira a
variedade de ambientes se deve à grande extensão latitudinal e facilitar a transpiração vegetal e a absorção de energia para
longitudinal do território brasileiro, o que determina uma singular a realização da fotossíntese. A vegetação é perenifólia, já que
linhagem climática e, consequentemente, uma extraordinária não existe nenhuma estação desfavorável quanto à umidade e
diversificação vegetal. Observe o mapa: à temperatura, e a densidade vegetal é muito significativa, com
elevado número de indivíduos por área e um número reduzido
de indivíduos de cada espécie. Essa relação amplia o problema
OCEANO
ATLÂNTICO do desmatamento, devido à perda de espécies que, em muitas
Equador
das vezes, não foram catalogadas.
MANGUES
FLORESTA MATA LITORÂNEOS
Esse tipo de floresta pode ser dividido em três estratos de
AMAZÔNICA DE
COCAIS
vegetais:
CAATINGA • Mata de Igapó ou Caiapó: situada junto ao rio, permanece
CERRADO alagada o ano inteiro.
• Mata de Várzea: situada na área de várzea do rio, está
sujeita a alagamentos periódicos.
PANTANAL

MATA • Mata de Terra Firme: situada fora do alcance do rio, essa


Trópico de
ATLÂNTICA vegetação não sofre alagamentos durante o ano e ocupa
Capricórnio
MATA DE a maior parte da floresta.
ARAUCÁRIA
N S
Planalto Mata de terrra
firme Mata de igapó Depressão Marginal
das Guianas
CAMPOS Mata de várzea Nível das águas altas Sul-amazônica e Planaltos
ESCALA Serras (enchentes) Residuais Sul-amazônicos
GERAIS
65° 45° 0 590 KM
Rio Amazonas

Fonte: http://aulaspaulangelica.blogspot.com.

A vegetação no território brasileiro é classificada em oito com-


postos principais. São eles Floresta Amazônica, Cerrado, Caatinga, Solo sedimentar
Mata de Cocais, Pantanal, Mata Atlântica, Mata de Araucária e Depósitos sedimentares
terciários de terra firme
Sedimentos
recente de várzea

Campos Gerais.

Floresta Amazônica ou equatorial Mata atlântica ou floresta tropical

A Floresta Amazônica se estende por nove países


www.riosvoadores.com.br.
A Mata Atlântica apresenta predomínio do porte arbóreo
Situada principalmente em território brasileiro, a Floresta
http://cidadedearraialdocabo.blogspot.com.
Amazônica distribui-se por mais oito países: Equador, Colôm-
bia, Bolívia, Venezuela, Peru, Suriname, Guiana Francesa e Localizada na faixa litorânea brasileira, sob atuação dos
Guiana. O clima atuante na região é o equatorial, com elevados climas tropical úmido, subtropical e tropical típico, a mata
índices pluviométricos e médias térmicas. Sua vegetação tem atlântica é influenciada diretamente pela umidade oceânica.
predominância de espécies de porte arbóreo, com árvores que Originalmente, uma parte da floresta estendia-se para o inte-
podem atingir até 60 metros, formando um emaranhado de rior do estado de São Paulo, onde era influenciada pelo clima
galhos que dificultam a chegada da energia solar à superfície. tropical e tropical de altitude, com estações alternadas quanto
Observa-se também a presença de lianas (cipós) e epífitas à precipitação. A mata atlântica apresenta predomínio de porte
(orquídeas e bromélias). arbóreo, com árvores que podem atingir 40 metros de altura –
com a presença em menor expressividade dos portes herbáceos

282
Biomas brasileiros

e arbustivos, elevada biodiversidade, vegetação higrófita, folhas latifoliadas e comportamento semidecíduo e decíduo. Esta última
característica está relacionada com o afastamento de parte da floresta das áreas litorâneas, fator que diminui a disponibilidade
de umidade para a vegetação, e a ocorrência da mata em áreas de altitudes mais elevadas, o que reduz consideravelmente a
temperatura no período do inverno.
A densidade vegetal também é significativa, porém, menor, se comparada à da Floresta Amazônica, com a presença de orquídeas,
bromélias e cipós, contribuindo diretamente para a alta biodiversidade local. A mata atlântica ocupava, originalmente, mais de 1 mi-
lhão de quilômetros quadrados, cerca de 13% do território nacional. (Sua origem está associada à separação da África da América do
Sul – que formavam um único continente, chamado Gondwana –, ocorrida há 80 milhões de anos). No entanto, restam apenas 91 mil
quilômetros quadrados de mata – menos de 7% do volume original. A vegetação remanescente guarda ainda cerca de 20 mil espécies
de planta – 8 mil endêmicas. Apresenta, em alguns locais, mais de 450 espécies de árvore num único hectare – o que representa uma
biodiversidade por hectare superior à da Amazônia. A região reúne, ainda, centenas de espécies de mamíferos, aves, répteis e anfíbios.

Mata de cocais
Situada na parte da região Nordeste conhecida como Meio Norte, que compreende os estados do Maranhão e do Piauí, sofre a
atuação direta do clima tropical típico. Essa vegetação é considerada de transição, por ter sido formada na área de contato com a floresta
amazônica, o cerrado e a caatinga. A região apresenta elevada biodiversidade, mas com predomínio de algumas espécies palmáceas,
que surgiram pela combinação das três formações vegetais, como a carnaúba, o babaçu, o buriti e a oiticica. Essas espécies produ-
zem matéria-prima para a indústria de cosméticos, fator que indica a principal atividade econômica da região: o extrativismo vegetal.

A Mata de Cocais é uma vegetação do Nordeste brasileiro


profsushi.blogspot.com

Cerrado
Presente na região central do Brasil, envolve parte da região Centro-Oeste, Sudeste e Nordeste, sendo classificado como o
segundo maior bioma brasileiro, ocupando uma área de 2 milhões de quilômetros quadrados. É influenciado principalmente pelo
clima tropical típico, com alternância de estações secas e chuvosas, o que favorece o desenvolvimento de espécies tropófitas,
adaptadas à variação de umidade anual. Predominam os portes arbustivos e herbáceos, com galhos retorcidos, folhas cobertas
por pelos e com raízes profundas, que ajudam a suportar os períodos de seca e mesmo os incêndios comuns nas épocas sem
chuva. A biodiversidade é elevada, com cerca de 10 mil espécies vegetais – 44% delas endêmicas. A fauna também é riquíssima,
com centenas de espécies de mamíferos, aves, répteis e anfíbios. A densidade vegetal varia de acordo com características do
solo e índices pluviométricos e, segundo Moraes (2003), ele pode ser dividido em:
• Cerradão: com predomínio do porte arbóreo;
• Cerrado senso estrito ou cerrados típicos: com árvores espaçadas, arbustos e vegetação rasteira;
• Campos de cerrado: com predomínio de arbustos e vegetação rasteira.
Metros
15
Campo limpo Campo sujo Campo cerrado Cerrado senso Cerradão
estrito
10

Formação de campo Zona de transição Formação florestal

Os solos das áreas de cerrado são pobres em macronutrientes e considerados ácidos, pela grande concentração de micro-
nutrientes, o que dificultou o uso da área até a década de 1970. Somente após a criação da Embrapa, em 1975, novas técnicas
foram desenvolvidas no sentido de melhorar as condições químicas do solo, promovendo neutralização do pH e adubação com
reposição de sais minerais. O desenvolvimento de técnicas contribui para a intensificação da degradação da vegetação de cerrado,
com a substituição da cobertura vegetal original por lavouras agrícolas.

283
Geografia

Caatinga
Encontrada principalmente na região Nordeste, a vegeta-
ção se desenvolve em áreas de atuação de clima semiárido.
A caatinga apresenta predomínio de porte herbáceo, sendo que,
em algumas áreas, o porte arbustivo se concentra de maneira
significativa, formando o chamado caatingão. Caracteriza-se
por predomínio de vegetação xerófita – adaptada a regiões de
baixos índices pluviométricos –, tem baixa densidade vegetal,
folhas coriáceas com comportamento decíduo e algumas vege-
tações com folhas em forma de espinhos, de maneira a reduzir
a perda de água pelo vegetal.
Apresenta grande biodiversidade, favorecida pelas elevadas
O cerrado é o segundo maior bioma do território brasileiro médias térmicas, o que possibilita o desenvolvimento de meios
babisantiago.blogspot.com. favoráveis a um número maior de espécies. Apesar disso,
Nas áreas de cerrado verificam-se as vegetações de mata o desenvolvimento vegetal é limitado pelos baixos índices
galeria ou mata ciliar e, também, a vegetação de veredas. As pluviométricos da região. A vegetação da região apresenta
matas ciliares e matas galerias acompanham as redes hidrográ- certa adaptação às condições de baixa precipitação, criando
ficas, promovendo a proteção delas, através da interceptação condições para a manutenção do vegetal durante os períodos
dos sedimentos que promovem o processo de assoreamento. mais críticos. Dessa forma, o aspecto físico dos vegetais é
Esses vegetais apresentam diferenças de densidade, sendo a muito parecido, o que sugere aparente baixa biodiversidade,
mata galeria mais densa e fechada que a mata ciliar. As áreas porém a diversidade dos vegetais é de fato significativa. Vivem
próximas da rede hidrográfica favorecem o desenvolvimento nesse bioma cerca de 1,2 mil espécies de plantas, sendo 360
das duas formações vegetais devido à maior umidade do delas endêmicas, e outras tantas de mamíferos, aves, répteis
solo e à fertilização natural promovida pelo alagamento pe- e anfíbios.
riódico das áreas de várzea. Dessa forma, disponibilizam-se Os maiores problemas enfrentados pela região são a salini-
para a formação vegetal os elementos necessários para o seu zação do solo e a desertificação de grandes áreas. Estima-se
desenvolvimento – água e macronutrientes. que, no decorrer dos últimos 15 anos do século passado, 40 mil
quilômetros quadrados de caatinga tenham se transformado em
áreas de desertificação. Alguns dos responsáveis por isso são a
exploração da vegetação para a produção de lenha e carvão, a
contaminação do solo por agrotóxicos e o emprego de técnicas
de irrigação inadequadas para o tipo de solo existente ali – raso
e sujeito a grande índice de evaporação. Estima-se que cerca
de 50% do bioma já tenha sofrido algum tipo de deterioração
e que 20% esteja completamente degradado.

A vegetação no cerrado varia de acordo com o tipo de solo e clima

A vegetação de veredas se forma em áreas de afloramento


do lençol freático, o que promove a umidificação do solo, fator
de favorecimento para o desenvolvimento vegetal. A espécie
predominante é o buriti, um determinado tipo de palmácea.

Buriti é uma árvore palmácea encontrada no cerrado Caatinga, vegetação encontrada no sertão nordestino
mildias.com. www.zoologiarn.hpg.ig.com.br

284
Biomas brasileiros

Esse bioma foi fortemente impactado pela atividade da agro-


Mata de pinhais ou mata de araucária pecuária: as técnicas inadequadas de uso do solo acabaram
formando áreas acometidas pelo fenômeno da arenização.

Campos ou pradarias: vegetação da Campanha Gaúcha


br.olhares.com.
Araucária: a maior taxa de degradação vegetal no país
www.ra-bugio.org.br. Pantanal
Integra a paisagem da região sul do Brasil, sob a atuação Localizado na região Centro-Oeste, sob a atuação do clima
do clima subtropical. A floresta possui predomínio de porte tropical típico, o Pantanal é considerado uma área de ecótone,
arbóreo – espécie araucária, folhas aciculifoliadas e o compor- ou seja, área de transição vegetacional – entre a Floresta Equa-
tamento perenifólio. As folhas em forma de agulha constituem torial, o Cerrado e as Estepes da região do Chaco na Bolívia.
uma adaptação à caracterização climática de precipitação em Apresenta elevada biodiversidade, com grande variação de
forma de neve, de maneira que o vegetal não se quebre com o portes vegetais, sendo caracterizada como vegetação comple-
peso da neve. Essa característica confere à mata de araucária a xa, por ser difícil a determinação de espécies ou características
definição de vegetação fóssil, uma vez que, atualmente, o clima predominantes. Quanto mais próxima da rede hidrográfica,
subtropical não apresenta precipitação em forma de neve. A pre-
mais a vegetação precisa ser adaptável aos períodos de ala-
sença das folhas em forma de agulha é um resquício de antigos
gamento – primavera e verão –, e quanto mais afastada da
paleoclimas, em que as médias térmicas eram menores. Du-
rede hidrográfica, mais a vegetação precisa ser adaptável aos
rante o momento de médias térmicas menores – Era Glacial –,
as características dos climas brasileiros favoreciam a distribui- períodos de estiagem prolongada. O alagamento vivenciado
ção da mata de araucária, que se estendia da região sul da pela região é essencial para a manutenção da configuração
Bahia até a região Sul do Brasil. Após a elevação das médias vegetal, já que, nesses momentos, ocorre a fertilização natural
térmicas, os climas brasileiros desfavoreceram a manutenção do solo com a deposição de macronutrientes e matéria orgâ-
da mata de araucária e ela passou a se restringir apenas à re- nica transportados pela rede hidrográfica. Com características
gião Sul, área em que as médias térmicas são menores. Apesar próprias, o Pantanal é uma formação vegetal única no planeta
de o clima subtropical não apresentar neve, as médias térmicas e, por isso, é considerado patrimônio natural da humanidade.
menores, em comparação às médias brasileiras, possibilitaram
a adaptação da mata de araucária a essa região. Dessa manei-
ra, a araucária não pode ser considerada equivalente ecológico
da vegetação de coníferas, devido ao não desenvolvimento
dessas espécies em latitudes equivalentes: a mata de araucária
se encontra na faixa da latitude de 30ºS, enquanto a vegeta-
ção de coníferas, na latitude de 50º N. A densidade vegetal e
a biodiversidade são baixas, devido à severidade do clima de
formação da vegetação.
Essa formação vegetal apresenta a maior taxa de degra-
dação entre as vegetações brasileiras (mais de 99%), fator
determinado pela expansão de atividades antrópicas, como
agropecuária, urbanização e industrialização, na região.

Campos ou pradarias O pantanal brasileiro é patrimônio natural da humanidade


www.ecodebate.com.br.
São vegetações típicas de uma área denominada Campa-
nha Gaúcha, sob a atuação do clima subtropical. Nos Campos Essa formação vegetal também sofre de maneira implacável
predominam as espécies de porte herbáceo. Na região a bio- com as alterações antrópicas. A degradação ambiental agravou-
diversidade é diminuta e há pouca densidade vegetal – devido, -se nas últimas duas décadas com o crescimento das cidades
entre outros fatores, à circulação de pessoas e animais e às e a ocupação da cabeceira de importantes rios que cortam a
baixas médias térmicas da região. região. A navegação nos rios Paraguai e Paraná coloca em
risco as frágeis matas ciliares.

285
Geografia

Mas a maior ameaça sobre esse bioma parte, mais uma vez, A) de mata Atlântica, além de possuir uma grande varie-
da agropecuária: as queimadas para renovação das pastagens, dade de vegetações latifoliadas, possui solos muito
a contaminação das águas e do solo por pesticidas e a introdu- férteis e profundos, resultado das fortes oscilações
ção de espécies exóticas de capim. O turismo desorganizado, térmicas diurnas.
bem como a caça e a pesca predatórias, completam o arsenal B) das Araucárias, ainda preservado na Região Sul,
agressor. Apesar desse quadro ameaçador, ainda é o bioma especialmente na chamada Campanha Gaúcha,
mais preservado do Brasil. encontra-se consorciado com várias espécies, visto
a abundância de solos ricos em húmus.
Vegetação litorânea C) da mata dos Cocais, que separa o domínio amazônico
Encontrada por toda o litoral brasileiro, essa vegetação utili- do domínio da caatinga, possui nas palmeiras como
za-se da umidade produzida pelo oceano como fonte vital. Por a carnaúba e o babaçu seus grandes representantes.
ser composta de restinga, que se desenvolve nas areias litorâ- D) do Pantanal Mato-grossense, extensa planície drena-
neas, e pela vegetação de Mangues, essa formação é também da pelo rio Paraná, possui uma grande heterogenei-
chamada de vegetação complexa. O Mangue caracteriza-se dade de vegetais, mesclando características de todos
pelo predomínio de porte arbustivo e arbóreo e vegetação os domínios naturais brasileiros.
halófita – adaptada à condições de extrema salinidade. São E) dos manguezais apresentam uma pequena varieda-
áreas propícias à de reprodução de peixes marinhos e fluviais. de de espécies vegetais, em virtude dos seus solos
salinos e pobres em oxigênio, fatores que acarretam
pouca importância desses domínios para o ecossis-
tema marinho e costeiro.

2. (EsPCex – 2015) Observe o mapa a seguir, que mostra


a distribuição dos domínios morfoclimáticos brasileiros,
e considere as afirmativas abaixo:

Plantas encontradas nas areias litorâneas


www.infoescola.com.

I. no domínio “A” encontramos a maior parte do chamado


“arco do desmatamento”, onde a vegetação vem per-
dendo espaço para as atividades agrícolas, causando
significativos prejuízos à biodiversidade.
II. o domínio “B” caracteriza-se por solos pobres em
matéria orgânica e pedregosos, porém projetos de
irrigação têm viabilizado a produção de frutas, como
a uva para exportação, nessa área.
III. os domínios “C” e “F” são considerados hotspots, pois
Mangues: ambiente de reprodução de peixes são áreas prioritárias para conservação e de alta biodi-
http://www2.uol.com.br. versidade, as quais, por se constituírem em fronteiras
agrícolas, vêm tendo sua vegetação suprimida para
Exercícios dar lugar às atividades pecuárias.
IV. os domínios “B” e “E” são caracterizados por vege-
1. (G1 - Col. Naval – 2011) O geógrafo brasileiro Aziz tação herbácea associada a climas que apresentam
Ab’Saber utilizou o conceito de dominio morfoclimático grande período de estiagem e solos em processo de
para identificar os domínios paisagísticos brasileiros. desertificação, dificultando a atividade agrícola.
Domínio morfoclimático refere-se a um conjunto espacial V. o domínio “D” apresenta clima tropical úmido e relevo
de grandes dimensões caracterizado por uma interação de morros arredondados, revelando intenso trabalho
coerente entre as feições do relevo, os tipos de solo, as erosivo em estrutura cristalina.
condições de clima e hidrologia e as formas de vegetação. Assinale a alternativa em que todas as afirmativas estão
corretas.
Em função da sua extensão territorial e de suas caracte-
rísticas físicas, o Brasil possui vários domínios morfocli- A) I, III e IV D) I, II e IV
máticos. Nesse sentido, destacando-se alguns, é correto B) I, II e V E) II, III e V
afirmar que o domínio C) III, IV e V

286
Biomas brasileiros

3. (Unifor - 2014) Se a exploração descontrolada e predató- 5. (Fuvest – 2018) Observe os mapas referentes à de-
ria de madeira verificada atualmente continuar por mais limitação da bacia hidrográfica do rio Xingu, com o
alguns anos, pode-se antecipar a extinção de diversas detalhamento da parte sul, onde fica o Parque Indígena
espécies de árvores nativas da floresta amazônica. do Xingu (PIX).
Tal espécie de vegetação já desapareceu de extensas
áreas do Pará, de Mato Grosso, de Rondônia, e há
indícios de que a diversidade e o número de indivíduos
existentes podem não ser suficientes para garantir a
sustentabilidade de trechos da floresta. A diversidade
é um elemento fundamental na sobrevivência de qual-
quer ecossistema. Com relação ao problema descrito
no texto, assinale a alternativa correta.
A) O desinteresse do mercado madeireiro internacional
pela madeira contribuiu para a redução da explora-
ção predatória de diversas espécies de árvores da
floresta amazônica.
B) O surgimento de áreas destinadas à pastagem
de animais contribuiu para a redução do ritmo de
desmatamento da floresta amazônica.
C) As causas naturais decorrentes das mudanças cli-
máticas globais contribuem mais para a extinção das
árvores da floresta do que a interferência humana.
D) A extração predatória de madeira pode reduzir o
Com relação às áreas delimitadas nos mapas, está
número de espécies de árvores nativas da floresta
correto o que se afirma em:
amazônica e prejudicar sua diversidade genética.
E) A redução do número de árvores ocorre na mesma A) Devido ao avanço do desmatamento nessa bacia
medida em que aumenta a diversidade biológica da hidrográfica nas últimas quatro décadas, processo
floresta região amazônica. iniciado pela atividade pecuária ao longo dos rios e
seguido pelo avanço da monocultura de eucalipto,
4. (UEFS BA – 2017) A natureza é uma totalidade onde inviabilizam-se quaisquer ações de recuperação e
todos, dependem de todos. Essa totalidade é o re- de conservação do bioma Amazônico.
sultado de combinações das condições necessárias
para que as espécies obtenham energia e participem B) O Parque Indígena do Xingu, criado principalmente
das interações biológicas em seus nichos. (CONTI; para proteger diversas etnias indígenas, atua hoje
FURIAM. 2011. p. 21). como inibidor do avanço do desmatamento, função
esperada para as diversas unidades de conservação
Considerando o excerto e os conhecimentos sobre
as formações fitogeográficas do Brasil, marque V nas previstas pelo Sistema Nacional de Unidades de
afirmativas verdadeiras e F, nas falsas. Conservação.
( ) A Mata Atlântica também recebe o nome, nas C) Dentre as grandes bacias hidrográficas amazônicas,
áreas mais úmidas, de floresta latifoliada úmida a bacia hidrográfica do rio Xingu, na disposição
de encosta, devido à umidade que recebe da leste-oeste, é uma das bacias da margem esquer-
Massa Tropical Atlântica ou dos ventos alísio da do rio Amazonas com importante conectividade
de sudeste. entre dois biomas brasileiros: a Caatinga e o bioma
( ) O Cerrado é um domínio vegetal nativo do Brasil Amazônico, ambos biológica e geologicamente
Central, apresentando vegetais tropófilos e vários diversos.
aspectos ou fisionomias. D) O desmatamento, observado no mapa, é resultado
( ) O domínio da vegetação herbácea ou campo é da monocultura de babaçu, praticada pelos indí-
encontrado em várias porções do país, sempre genas que extraem seu óleo e vendem-no para
associado às elevadas altitudes e à degradação indústrias de cosméticos.
dos solos, formando areais. E) O avanço do desmatamento nessa área deve-se às
( ) A vegetação do Pantanal é considerada com- monoculturas de cana-de-açúcar e laranja, ambas
plexa, porque apresenta espécies das florestas, cultivadas com variedades transgênicas adaptadas
dos campos e dos cerrados, estando localizada ao bioma Amazônico.
em uma área de planície sedimentar drenada
pelo rio Paraguai. Gabarito
( ) A Mata de Araucária, das florestas brasileiras, é a
1. C
única localizada em clima temperado, razão pela
qual apresenta vegetais higrófilos, latifoliados e 2. B
caducifólios. 3. D
A alternativa que apresenta a sequência correta, 4. C
de cima para baixo, é a
5. B
A) F V F F V D) V F V V F
B) F V V F V E) F F V F V
C) V V F V F

287
Capítulo 13

Estudo das populações


cessariamente é superpovoada, já que este conceito
Introdução
possui como base as condições socioeconômicas
A Geografia possui diversas áreas de estudo, entre elas, a deficitárias locais.
demografia, que analisa a dinâmica populacional humana.
• Taxa de natalidade: número de nascidos vivos no ano,
Seu objetivo é perceber as dimensões numéricas ou estatísti- multiplicado por 1.000 e dividido pela população total.
cas, conceituais ou estruturais e de distribuição das diversas Ex.: População absoluta = 20.000.000 hab.
populações pela superfície terrestre.
Taxa de nat.: (650.000 x 1.000) / 20.000.000 = 32,5‰
O termo “população”, para o estudo geográfico, é um ou 3,25%.
conjunto de pessoas que reside em determinado território, • Taxa de mortalidade: número de óbitos no ano, multi-
que pode ser uma cidade, um estado, um país ou mesmo o plicado por 1.000 e dividido pela população total.
Planeta. Essa população pode ser classificada segundo vá- Ex.: População absoluta = 20.000.000 hab.
rios critérios, como o religioso, o nacional, o local de moradia Taxa de mort.: (400.000 x 1.000) / 20.000.000 = 20‰
(urbana ou rural), a atividade econômica (ativa ou inativa) e ou 2,0 %.
a sua estruturação por sexo e idade.
• Crescimento vegetativo ou crescimento natural: taxa
de natalidade – taxa de mortalidade.
Conceitos populacionais Ex.: 32,5 – 20 = 12,5 ‰ ou 1,25%.
Os conceitos populacionais se dividem em indicadores
demográficos e indicadores sociais.
• Crescimento demográfico: crescimento vegetativo +
taxa de migração.
Os indicadores demográficos são utilizados para a
compreensão do comportamento do crescimento po-
• Taxa de emigração: quantidade de pessoas que saíram
de um determinado local em um determinado período
pulacional, permitindo a visualização de padrões po- de tempo.
pulacionais de diferentes locais. A seguir, fornecemos
uma listagem dos principais indicadores demográficos: • Taxa de imigração: quantidade de pessoas que che-
garam em um determinado local em um determinado
Países mais populosos do mundo – 2018 período de tempo.
1 República Popular da China* 1.415.045.928 • Taxa de migração: taxa de imigração – Taxa de
2 Índia 1.354.051.854 emigração.
3 Estados Unidos 326.766.748 • Taxa de mortalidade infantil: número de óbitos de
4 Indonésia 266.794.980 crianças de 0 a 1 ano de idade no ano multiplicado por
1.000 e dividido pela população total de nascidos vivos
5 Brasil 210.867.954
do mesmo ano.
6 Paquistão 200.813.818
• Taxa de fecundidade: número médio de filhos por
7 Nigéria 195.875.237 mulher ao longo de seu período reprodutivo, que ge-
8 Bangladesh 166.368.149 ralmente é considerado de 15 a 49 anos.
9 Rússia 143.964.709 • Taxa de fertilidade: número de mulheres em idade de
10 México 131.515.803 reproduzir (entre 15 a 49 anos) em relação à população
* Exclui Hong Kong feminina total de uma região.
Fonte: http://www.mundodageografia.com.br/os-10-paises- Os indicadores sociais representam a qualidade de vida de
-mais-populosos-mundo/. Acesso em 26 jan 2017. uma população, trazendo informações sobre suas condições
• População absoluta: população total de um determi- socioeconômicas.
nado local. Exemplo: 142 milhões de habitantes. Como exemplos de indicadores sociais, pode-se citar a
• População relativa ou densidade demográfica: relação expectativa de vida, o analfabetismo, a concentração de
entre o número de habitantes de um determinado local e renda, a fome, a mortalidade infantil, o trabalho infantil, o
a área ocupada. Exemplo: 142 milhoes de habitantes por saneamento básico, o IDH, entre outros.
17 milhoes de km². Densidade demográfica de 8 hab/km².
Transição demográfica
• País populoso: país que possui elevada população
absoluta. A transição demográfica é o modelo que explica o processo
de crescimento populacional em diferentes áreas do plane-
• País povoado: país que possui elevada população ta – desde as áreas de maior desenvolvimento econômico,
relativa, com alta densidade demográfica.
passando pelos países subdesenvolvidos industrializados e,
• Superpovoamento: áreas que possuem uma elevada por fim, os países subdesenvolvidos. Esses três grupos de
densidade demográfica, associada a baixas condições países vivenciam a transição demográfica, porém em fases
socioeconômicas e baixo desenvolvimento tecnológico. distintas, devido aos diferentes graus de desenvolvimento
Dessa forma, uma área densamente povoada não ne- econômico.

288
Estudo das populações

O processo da transição demográfica é composto de Segunda fase


três fases, primeira, segunda e terceira fases, sendo que a
A principal característica dessa fase é o alto crescimento
segunda fase pode ser subdivida em dois períodos. Alguns
vegetativo da população, porém ela se divide em dois perío-
autores já discutem a possibilidade de os países desenvol-
vidos (e alguns países em desenvolvimento) já vivenciarem dos distintos. Em ambos, a taxa de mortalidade se mostra em
a 4ª fase da transição demográfica. declínio, porém, no primeiro período, a taxa de natalidade se
mantém constante e, no segundo, apresenta queda.
Transição demográfica em países Essa fase inicia-se simultaneamente à urbanização, esti-
mulada pelo êxodo rural. Dessa forma, a segunda fase se ca-
desenvolvidos racteriza como uma fase urbana, influenciada pelas relações
A evolução do processo de transição demográfica nos sociais e econômicas características desse meio geográfico.
países desenvolvidos acontece, principalmente, a partir de Quanto ao comportamento da taxa de natalidade, pode-se
1750. Nesse contexto, inicia-se a segunda fase da transição
explicá-lo da seguinte forma:
demográfica, estimulada pela Revolução Industrial inglesa.
Até então, a população era predominante rural e se encontra- Primeiro Período
va na primeira fase. Porém, a necessidade de mão de obra O primeiro período da segunda fase se caracteriza pela
nas nascentes áreas industriais estimulou o êxodo rural da manutenção das elevadas taxas de natalidade que eram
população, impulsionando o processo de urbanização.
observadas no meio rural:
Observe o gráfico abaixo:
Taxa por mil habitantes
• não havia métodos contraceptivos eficazes no controle
da natalidade;
40
Natalidade
• os filhos continuavam a ser considerados mão de obra,
Mortali
dad
e agora utilizados na indústria nascente;
30
• os hábitos vividos na zona rural mantiveram-se inal-
20
terados, não havendo, inicialmente, incorporação dos
tiv
o valores urbanos.
ta
10 e ge
to v Segundo Período
Crescimen

0
etapas O segundo período da segunda fase caracteriza-se pela
1ª fase
1750 1º período 1870 2º período 1950 3ª fase diminuição gradativa da taxa de natalidade:
da 2ª fase da 2ª fase
• com a evolução do processo de industrialização, o
Fonte: LUCCI, Elian Alabi; BRANCO, Anselmo Lazaro; MENDON- trabalho infantil foi proibido e os filhos deixaram de ser
ÇA, Cláudio. Território e Sociedade no mundo globalizado. Geo-
grafia geral e do Brasil. São Paulo: Saraiva, 2005, pág. 317.
vantajosos para o rendimento da família;
• elevado custo econômico de criação dos filhos no meio
Primeira fase urbano;
A principal característica dessa fase é o baixo crescimento
vegetativo da população, determinado pelas elevadas taxas
• maior inserção da mulher no mercado de trabalho, o
que gera a necessidade de que as mães deixem os
de natalidade e mortalidade.
filhos em creches ou com empregadas, dificultando a
As elevadas taxas de natalidade desse contexto devem-se
existência de um número elevado de filhos por família.
aos seguintes fatores:
Nesse período, os principais meios contraceptivos utili-
• não existiam métodos contraceptivos eficazes no con-
trole da natalidade; zados atualmente – camisinha e pílula – ainda não haviam
sido desenvolvidos. O que se pode destacar como método
• os filhos eram considerados mão de obra. Sendo assim,
quanto maior o número de filhos, maior seria a dispo- utilizado no contexto é a tabelinha, que se desenvolveu a partir
nibilidade de trabalhadores futuramente. da evolução da medicina, já que esta compreendia melhor o
Já as elevadas taxas de mortalidade desse contexto funcionamento do corpo humano.
explicam-se por: A queda da taxa de mortalidade desse contexto deve-se
• baixo desenvolvimento da medicina; aos seguintes fatores:
• dificuldades de acesso aos médicos, já que a maior • maior desenvolvimento da medicina;
parte da população habitava a zona rural; • maior acesso aos médicos pela maior proximidade dos
• ausência de saneamento básico (composto por água centros de saúde, já que a população é significativa-
encanada, escoamento sanitário, coleta de lixo e limpeza mente urbana nesse contexto;
urbana) e de higiene pessoal e familiar, permitindo a pro-
pagação de doenças como diarreia, cólera, entre outras. • melhoria das condições de saneamento básico.
É interessante ressaltar que as elevadas taxas de morta- Terceira fase
lidade incidiam, principalmente, sobre as crianças, por terem
A principal característica dessa fase é o baixo crescimento
uma defesa imunológica mais restrita. Como a morte das
vegetativo, determinado pelas baixas taxas de natalidade e
crianças acabava gerando o sentimento de necessidade de re-
mortalidade.
posição da mão de obra, a taxa de natalidade era estimulada.
A baixa expectativa de vida – em torno de aproximada- Nessa fase, verifica-se a continuação da redução da na-
mente 40 anos – determinava a não participação da popu- talidade, processo iniciado na segunda fase, e o aumento da
lação idosa, concentrando as altas taxas de mortalidade na taxa de mortalidade, devido ao envelhecimento da população.
população jovem.

289
Geografia

Os países desenvolvidos e países que foram socialistas, em grande maioria, possuem uma terceira fase avançada, indican-
do a configuração de uma quarta fase do processo de transição demográfica. Esse novo período da evolução populacional é
caracterizado pela implosão demográfica, ou seja, fase em que o crescimento vegetativo é negativo, levando a uma diminuição
da população total em números absolutos. Observe na tabela (a seguir) os países que vivenciam tal processo.
A diminuição absoluta da população de alguns desses países ocorre devido a uma baixa taxa de natalidade, que não
alcança a taxa de fecundidade de 2,1 filhos por mulher, denominada taxa de reposição. Reforçando esse comportamento da
população em idade de reproduzir, a proporção elevada de idosos contribui ainda mais para a redução da taxa de natalidade,
considerando que geralmente o idoso não se reproduz. Como os idosos estão mais propícios ao falecimento, elevam-se as
taxas de mortalidade.

Taxa de fecundidade total


Número de filhos por mulher
de 1,0 a 1,9
de 2,0 a 2,9
de 3,0 a 3,9
de 4,0 a 5,9
de 6,0 a 7,1

NÚMERO DE 8 Níger
Uganda América Latina
7 Mali Serra Leoa
FILHOS POR Angola África Subsaariana
6 Chade Benin Zâmbia
MULHER 5 Senegal
Togo
Guatemala
Oriente Médio e
Gana África do Norte
4 Nepal
Paquistão
Egito
ARS Bolívia
Omã Ásia e Pacífico
3 Índia
Nigéria Turquia
Peru BRASIL Argentina

2 Marrocos Argélia RAS México Cuba TAXA DE


Irã China
1
Líbia
CIN COS ALFABETIZAÇÃO
(das mulheres de
0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100% 15 anos ou mais)

Menores crescimentos popu-


lacionais - 2017 – %
Porto Rico -2,1
Lituânia -1,4
Croácia -1,2
Letônia -1,0
Síria -0,9
Bulgária -0,7
Romênia -0,6
Sériva -0,5
Andorra -0,4
Ucrânia -0,4
Fonte: Banco Mundial, 2017.

A implosão demográfica se torna um problema para os países que a vivenciam, pois a população é fundamental para a
manutenção de uma economia fortalecida. Para os países que apresentam esse processo, a dificuldade de reposição da mão
de obra é significativa e, em alguns momentos, é necessário incentivar a entrada de imigrantes para a realização de tarefas
que a população local não se interessa em realizar, favorecendo a manutenção do ritmo de crescimento econômico.
Além da dificuldade de reposição da mão de obra, outro problema é o processo de perda de identidade da população, já
que elementos culturais e linguísticos são repassados a um número menor de indivíduos. Esse problema se torna maior com
a chegada do imigrante, que geralmente traz consigo uma língua, uma religião e hábitos diferenciados dos da população local.
Um exemplo de implosão demográfica avançada é a Rússia, que perde uma parcela significativa da população a cada ano.

290
Estudo das populações

Faixas
Homens etárias Mulheres
+ de 100
95 - 99
90 - 94
85 - 89
80 - 84
75 - 79
70 - 74
65 - 69
60 - 64
55 - 59
50 - 54
45 - 49
40 - 44
35 - 39
30 - 34
25 - 29
20 - 24
15 - 19
10 - 14
5-9
0-4
7 6 5 4 3 2 1 0 0 1 2 3 4 5 6 7
Milhões de pessoas Milhões de pessoas

Por mil (%)


30

25

20
Taxa de mortalidade
15 (média anual)
Crescimento natural Decréscimo
10 Taxa de natalidade
(média anual)
5
5 0 5 0 5 0 0 5 0 5 0 5 0
95 6 6 70 75 8 8 9 95 00 05 1 1 20 25 3 3 4 4 5
0 -1 -19 -19 -19 -19 -19 0-19 -19 -19 -20 -20 -20 -20 -20 -20 -20 -20 5-20 0-20 5-20
5 5 6 5 0 5 0 5
7 8 8 5 0 5 0 5
0 1 0 5 0 5 0
2 3 3 4 4
19 19 19 196 197 19 19 19 199 199 200 20 20 201 202 20 20 20 20 20

TERRA, Lygia; ARAUJO, Regina; GUIMARÃES, Raul Borges. Conexões: Estudos de Geo-
grafia Geral e do Brasil. São Paulo: Moderna, 2008, pág. 311.

Transição demográfica nos países O crescimento populacional nos países em desenvolvi-


mento durante a segunda fase foi intenso, levando a um
em desenvolvimento grande crescimento da população mundial. A população
Países subdesenvolvidos industrializados ou emergentes cresceu cerca de 3 bilhões em um período de apenas 31
(países em desenvolvimento) também vivenciam a transição anos. Esse rápido crescimento populacional fez surgir a ideia
demográfica, porém estão em fases distintas de evolução. Os de explosão demográfica, pela qual são responsabilizados
países subdesenvolvidos industrializados estão em conclusão os países em desenvolvimento.
da segunda fase da transição ou entrando na terceira fase, en-
quanto os países subdesenvolvidos estão no início dessa fase. Porém, é necessário ter cautela no uso dessa expressão,
já que a segunda fase da transição demográfica, período de
O processo de transição nos países em desenvolvimento
segue as mesmas etapas vivenciadas pelos países desen- grande crescimento vegetativo, faz parte de um processo
volvidos. Porém, existem fatores que diferenciam o processo mais amplo, que evolui para a diminuição no ritmo de cres-
ocorrido nos países desenvolvidos e o ocorrido nos países cimento populacional.
em desenvolvimento: A redução do ritmo de crescimento populacional mundial
• o período de passagem da primeira para a segunda fase: pode ser percebida nos dados a seguir:
nos países desenvolvidos, a segunda fase da transição
inicia-se em 1750; nos países subdesenvolvidos industriali- Estimativa de crescimento da população mundial
zados, em 1950; e, nos países subdesenvolvidos, em 1990; Estima-se que a população mundial
• a velocidade de conclusão da segunda fase da transição de- ficará estável a partir de 2050,
mas até lá seremos quase 2050
mográfica: os países desenvolvidos demoraram cerca de 3 bilhões a mais 2030
9,2 bilhões
200 anos para concluir essa fase, ao passo que os do que hoje 2008 8,3 bilhões
países em desenvolvimento possuem uma expectativa 1990 6,7 bilhões
de conclusão de 70 anos, com início observado em 1970 5,3 bilhões
1950 e a conclusão prevista para 2020. A segunda 3,7 bilhões
1950
fase se desenvolve conjuntamente ao processo de
2,5 bilhões
urbanização. Sendo assim, quanto maior a velocidade
de conclusão da segunda fase, maior a tendência de
ocorrência de uma urbanização desordenada, sem
planejamento urbano;
• as melhorias médico-sanitárias: tais práticas foram de-
senvolvidas pelos países desenvolvidos, enquanto os Disponível em: www.geografiaparatodos.
países em desenvolvimento importaram a maioria delas. com.br. Acesso em: 15 jan. 2011.

291
Geografia

D) Está ocorrendo uma maior feminização do processo


Exercícios migratório. Em 2005, as mulheres já representavam
quase a metade dos migrantes internacionais.
1. (EspcEx (Aman) – 2018) No Brasil observa-se nítido
processo de transição demográfica, especialmente E) A maioria dos migrantes internacionais reside de
nas duas últimas décadas, cujos censos demográficos forma ilegal no exterior. Esses clandestinos repre-
realizados pelo IBGE revelam sentavam mais de 180 milhões de pessoas em todo
o Mundo no ano de 2000, segundo a ONU.
I. aumento da taxa de mortalidade infantil associado à
carência dos serviços públicos essenciais no País. 4. (EsPCEx – 2012) Assinale a alternativa que apresenta
II. estreitamento do corpo da pirâmide etária como características da dinâmica populacional de um país
resultado da significativa redução do número de quando este conclui a sua transição demográfica.
jovens. A) Alta taxa de fecundidade e de mortalidade.
III. o ingresso do Brasil no período de passagem da B) Alta taxa de natalidade e baixa taxa de mortalidade.
chamada “janela demográfica” devido ao signifi-
C) Alta taxa de fecundidade e baixa taxa de mortalidade.
cativo aumento percentual da população em idade
ativa no País. D) Baixa taxa de fecundidade e alta taxa de mortalidade.
IV. aumento do número de óbitos associado ao cresci- E) Baixa taxa de natalidade e de mortalidade.
mento absoluto da população e ao aumento da parti-
5. (EsPCEx – 2014) “Em 1989, o coeficiente de Gini atingiu
cipação percentual de idosos no conjunto total dela.
no Brasil um pico de 0,636. Depois disso, apresentou re-
V. redução da fecundidade, para nível inferior ao duções quase constantes, registrando 0,543 em 2009.”
preconizado pela Organização das Nações Unidas
O coeficiente de Gini é um importante indicador socio-
como taxa de reposição da população, e aumento
econômico que revela em um país o grau de
da esperança de vida da população.
A) escolaridade de sua população.
Assinale a alternativa que apresenta todas as afirma-
tivas corretas. B) desigualdade de renda.
A) I, II e IV C) desenvolvimento humano da população.
B) I, III e IV D) qualificação de sua mão de obra.
C) I, II e V E) pobreza de sua população.
D) II, III e V 6. (EsPCEx – 2011) Sobre os indicadores socioeconômi-
E) III, IV e V cos podemos afirmar que:
2. (EsPCEx – 2011) “(...) uma população jovem e nume- I. o IDH do Brasil não reflete as condições de vida
rosa, em virtude de elevadas taxas de natalidade, não vigentes no País como um todo, em virtude de este
é causa, mas consequência do subdesenvolvimento. apresentar fortes desigualdades regionais.
(...) Foi constatado que quanto maior a escolaridade II. o PIB percapta é, por si só, um dado suficiente
da mulher, menor é o número de filhos e a taxa de para se avaliar as condições socioeconômicas de
mortalidade infantil.”
um país.
http://www.brasilescola.com consulta em 05/04/2010
III. tanto a taxa de analfabetismo como o nível de ins-
O trecho acima reflete aspectos defendidos pela teoria trução possuem estreita relação com o rendimento
A) Reformista. (renda) da população.
B) Malthusiana. IV. o cálculo do IDH baseia-se em três indicadores
C) Neomalthusiana. socioeconômicos: a expectativa de vida, o nível de
D) Ecomalthusiana. instrução e a taxa de mortalidade infantil.
E) da Explosão Demográfica. Assinale a alternativa que apresenta todas as afirma-
tivas corretas:
3. (EsPCEx – 2012) Com relação à demografia e suas mi-
grações internacionais no final do século XX e no início A) I e II
do século XXI, assinale a única alternativa correta. B) I e III
A) A população estrangeira em países desenvolvidos C) I, II e IV
diminuiu na década de 1990 em função da estagna- D) II, III e IV
ção econômica e das políticas migratórias adotadas
por esses países. E) III e IV
B) Há uma tendência de as migrações de africanos
para a Europa terem como origem uma antiga Gabarito
colônia e como destino o país que a dominou. Isso 1. E
explica o fato de mais de 90% dos argelinos que 2. A
vivem na Europa residirem na Alemanha.
3. D
C) Os Estados Unidos compõem o maior polo de atra-
ção de migrantes no Mundo. Em função disso, é o 4. E
país que possui o maior percentual de imigrantes, 5. B
que compõem mais de 50% de sua população total. 6. B

292
Capítulo 14

Teorias demográficas e estrutura populacional


ideia de que viveríamos uma crise de abastecimento
As teorias sobre o crescimento po- alimentício também caiu por terra. Porém, mesmo
pulacional havendo uma produção de alimentos suficiente para
A partir da evolução do processo de transição demográfica, a alimentação da população planetária, a fome não
com o aumento do crescimento vegetativo na segunda deixou de existir. Cerca de 40% desse alimento é
destinado para a alimentação dos rebanhos, o que
fase, surgiram teorias que tentam explicar as causas e
cria um deficit alimentício em algumas áreas. Além
consequências dessa elevação do crescimento populacional
disso, a falta de recursos financeiros de boa parte
para o planeta.
da população impossibilita a obtenção do alimento;
Teoria malthusiana • A população não era vista, por Malthus, como um
recurso significativo para o desenvolvimento da
A primeira estimativa a respeito, conhecida como teoria Revolução Industrial vivida no contexto. Porém,
malthusiana, foi desenvolvida na segunda fase da transição a população foi de extrema importância para a
demográfica da Inglaterra. Ao constatar, em 1798, um aumento consolidação do processo industrial, que necessitou
sem precedentes no número da população da Inglaterra, o de uma grande quantidade de mão de obra, uma vez
economista Thomas Robert Malthus (1776–1834), tentou que máquinas e tecnologia eram ainda rudimentares;
explicar as consequências desse crescimento populacional
para o planeta. É evidente que o nosso planeta possui um limite,
e o crescimento populacional não poderá ser elevado
Malthus fundou sua teoria com base em dois postulados: eternamente. Todavia, esse limite não depende tão somente
1. A população cresceria em progressão geométrica (2, do número de pessoas. Ele depende principalmente do que é
4, 8, 16, 32,...) e sem parar. Dessa forma, a população produzido e da forma mais ou menos racional como se produz.
mundial duplicaria a cada 25 anos.
2. O alimento cresceria em progressão aritmética (2, Teoria neomalthusiana
4, 6, 8, 10,...) e possuiria um limite de produção, por A teoria neomalthusiana surgiu na segunda fase da
depender do limite territorial dos continentes. transição demográfica dos países subdesenvolvidos
Dessa forma, o crescimento populacional ultrapassaria industrializados. Em meados do século XX, quando as nações
a produção de alimentos e, por isso, uma crise de desenvolvidas haviam concluído a segunda fase da transição
abastecimento alimentar se configuraria. demográfica, aconteceu um rápido crescimento populacional
Para Mathus, desastres naturais, epidemias e guerras nos países subdesenvolvidos industrializados..
eram necessários para o controle populacional. Além disso, Segundo os neomalthusianos, uma população jovem
o economista era defensor do casamento tardio, de maneira numerosa, resultante das elevadas taxas de natalidade
que a população se casasse somente quando tivesse verificadas em quase todos os países subdesenvolvidos,
condições financeiras de sustentar seus filhos. Se não necessita de grandes investimentos sociais em educação
houvesse possibilidade de sustento econômico da família, e saúde. Com isso, diminuem os investimentos produtivos
o indivíduo deveria evitar relações sexuais.
nos setores agrícola e industrial, o que impede o pleno
A teoria malthusiana, apesar de ter sido utilizada até desenvolvimento das atividades econômicas e, portanto, a
meados do século XIX, foi suplantada pelo seguintes fatores: melhoria das condições de vida da população.
• Mathus não contava com a diminuição do ritmo de Pode-se concluir que, para os neomalthusianos, quanto
crescimento populacional. Como a humanidade maior for o crescimento populacional, maior será a pobreza
ainda não havia concluído nenhum processo de e a miséria de um determinado país.
transição demográfica, Malthus desconhecia a
segunda fase da transição como um processo Porém, ao analisar algumas situações, é possível perceber
dividido em dois períodos – 1° período, com a incoerências nessa teoria. O que se verifica de maneira
manutenção da elevada taxa de natalidade, e 2° predominante é o investimento no setor econômico em detrimento
período, com a queda da taxa de natalidade. Sendo do social. O Brasil é um grande exemplo dessa situação. De
assim, a ideia de que a população sempre cresceria acordo com dados do Fundo Monetário Internacional (FMI), o
em progressão geométrica se torna equivocada; país era a 9ª economia do mundo em 2016, mas os problemas
sociais e a desigualdade são profundos e alarmantes.
• a Revolução Verde, desenvolvida por especialistas
com a produção de tecnologias envolvidas nas Já os EUA são o terceiro país com maior população
atividades agropecuárias, elevou a produção de absoluta do planeta e a maior economia mundial. Dessa
alimentos, de maneira que, atualmente, existe forma, a população não necessariamente é um problema
em quantidade maior que a necessária para o para o governo. Se houver investimentos na formação
abastecimento da população global. Dessa forma, a científica e técnica dessa população, ela contribuirá para a

293
Geografia

modernização do país. Teoria reformista


Se realmente o investimento social fosse privilegiado em
detrimento do econômico, não se veriam tantas áreas de A teoria reformista surgiu no mesmo contexto da teoria
miséria e pobreza. neomalthusiana, com o objetivo de confrontar as ideias
neomalthusianas.
Fundamentados nas ideias neomalthusianas, várias
instituições colocaram em prática, nas décadas de 1960 a 1990, Contrariamente aos neomalthusianos, os reformistas
o planejamento familiar, visando à diminuição dos índices de admitem que a situação de pobreza e exploração a que foram
natalidade nas nações e regiões mais pobres do globo. submetidos os países subdesenvolvidos é a responsável pelo
O planejamento familiar consiste em limitar o número excessivo crescimento demográfico e consequente estado
de membros das famílias, especialmente entre as mais de miséria. Ou seja, não é o crescimento populacional que
carentes, com a adoção dos seguintes métodos: distribuição é responsável pela pobreza e miséria, mas sim o estado de
em massa de pílulas anticoncepcionais e de preservativos, pobreza e miséria que determina o crescimento populacional.
especialmente para as famílias de baixa renda; abortos em
O cotidiano demonstra que, na maioria das vezes, quanto
massa, ligadura das tubas uterinas (ou até a retirada do útero)
e vasectomia, entre outros. . maior é o grau de instrução da população, menor é o número
de filhos por família. Se o governo destina um investimento
Os exemplos mais conhecidos desse tipo de política
maior para a formação educacional da população, a tendência
antinatalista foram os da Índia e da China, desde a década
de 1960 até os dias de hoje. Nesses dois países asiáticos, é, naturalmente, a diminuição do número de filhos por mulher.
foram esterilizados milhões de homens, através da vasectomia. Brasil: taxa de fecundidade, por
Chegou-se mesmo a estabelecer multas e penas de prisão, em anos de estudo das mulheres
certos casos, que incidiram sobre os chefes de família com mais
de três filhos vivos. Foram políticas de controle da natalidade Sem instrução e fundamental incompleto 3,09

extremamente rígidas e autoritárias. É possível perceber, pelas Fundamental completo e médio incompleto 2,54
imagens a seguir, propagandas governamentais de incentivo Médio completo e superior incompleto 1,34
à redução da taxa de fecundidade.
Superior completo 1,14

IBGE, Censo 2010.

Para os reformistas a superação dos graves problemas


sociais dos países subdesenvolvidos somente acontecerá
com a adoção de profundas reformas sociais e econômicas,
de maneira a diminuir a exclusão de grande parte da
população.

Estrutura populacional
A população é dividida de acordo com faixas etárias e
sexos. Essa distribuição é de extrema importância para
Campanha pelo controle da natalidade na Índia. o governo, pois possibilita a visualização da participação
de cada faixa etária na população total, o que possibilita
determinar também qual política pública – educação infantil,
previdência social, criação de novos empregos – necessita
de maiores investimentos para atender às demandas
populacionais.
A distribuição das faixas etárias geralmente se faz da
seguinte forma:
• População jovem: até 19 anos.
• População adulta ou madura: de 20 a 59 anos.
• População idosa ou senil: acima de 60 anos.
De acordo com a distribuição etária da população, o país
Cartaz na China apregoando o controle da nata- pode ser classificado em:
lidade e o ideal de uma família pequena.
• Jovem: quando possui mais de 50% da população total
VESENTINI, J. Willian. Sociedade e Espaço: Geografia ge-
na faixa etária dos jovens.
ral e do Brasil. São Paulo: Ática, 2003, pág. 217.
• Maduro: quando possui mais de 50% da população
O Brasil não adotou a política de planejamento familiar de total na faixa etária dos adultos.
maneira explícita. Apesar de medidas antinatalistas serem
• Em transição: quando não possui nem 50% de jovens
desenvolvidas a partir de 1970, o governo não se denominava e nem 50% de adultos.
antinatalista por pressão da Igreja Católica. Como a religião
A tabela a seguir exemplifica a classificação de alguns
não apoiava o uso de métodos contraceptivos, o governo
países:
brasileiro preferiu evitar um confronto ideológico direto, o que
dificultou o controle do crescimento populacional.

294
Teorias demográficas e estrutura populacional

Distribuição etária da população em alguns países (em%) – 2005

Países Em Países
“Maduros” Transição “Jovens”

EUA Japão Itália México Paquistão Zâmbia Nigéria


Jovens
28,4 20,5 24,4 43,2 52,6 59,0 54,2
(até 19 anos)
Adultos (de 20
54,8 56,8 52,3 49,8 41,6 37,2 41,2
até 59 anos)
Idosos (60 anos
16,8 22,7 23,3 7,0 5,8 4,6 4,6
ou mais)
VESENTINI, J. Willian. Sociedade e Espaço: Geografia geral e do Brasil. São Paulo: Ática, 2008, pág. 275. (Ta-
bela elaborada com base em dados de: US Bureau of census, World Population Profile, 2005.)

Para analisar de maneira mais facilitada a distribuição da população, por faixas etárias e por sexo, utiliza-se um gráfico
denominado pirâmide etária. Esse gráfico nos mostra a proporção a que cada faixa etária, masculina ou feminina, corresponde
em relação à população total.
Na pirâmide a seguir, é possível perceber, à direita, a distribuição das mulheres e, à esquerda, a distribuição dos homens.
Cada barra corresponde a uma faixa etária específica e, no eixo horizontal, encontra-se a proporção que cada uma representa
em relação ao todo das populações masculina e feminina.
A pirâmide etária é um gráfico que normalmente trabalha com proporção. Sendo assim, se não for fornecido o dado, o
gráfico demonstrará apenas proporção, e não a população absoluta.
A base da pirâmide demonstra a população jovem de um determinado local, sendo que, quanto maior for sua proporção
de jovens, mais larga será a base da pirâmide.
A população adulta, que geralmente representa a população economicamente ativa, é demonstrada pelo corpo da pirâmide.
Pirâmide etária do Brasil (2010)
Razão do sexo (Homens/Mulheres): 0,959
100 anos e mais N° médio de moradores por domicílios: 3,3
95 a 99 anos
90 a 94 anos
85 a 89 anos
80 a 84 anos
75 a 79 anos
70 a 74 anos
65 a 69 anos
60 a 64 anos
55 a 59 anos
50 a 54 anos
45 a 49 anos
40 a 44 anos
35 a 39 anos
30 a 35 anos
25 a 29 anos
20 a 24 anos
15 a 19 anos
10 a 14 anos
5 a 9 anos
0 a 4 anos
Homens Mulheres
Disponível em: http://www.censo2010.ibge.gov.br. Acesso em: 19 dez. 2018.

Já a população idosa é demonstrada pelo topo ou ápice da pirâmide. Quanto maior for a população idosa de um determinado
local, mais largo será o topo de pirâmide.

295
Geografia

Países em desenvolvimento

Argélia México
Homens Mulheres Homens Mulheres
70 ou +
70 ou +
65-69 65-69

60-64 60-64

55-59 55-59

50-54 50-54
45-49 45-49
40-44 40-44
35-39 35-39
30-34 30-34
25-29 25-29
20-24 20-24
15-19 15-19
10-14 10-14
5-9 5-9
% 0-4 % % 0-4
%
14 12 10 8 6 4 2 0 0 2 4 6 8 10 12 14 12 10 8 6 4 2 0 0 2 4 6 8 10 12

Países desenvolvidos
Estados Unidos França
Homens Mulheres Homens Mulheres
70 ou + 70 ou +
65-69 65-69
60-64 60-64
55-59 55-59
50-54 50-54
45-49 45-49
40-44 40-44
35-39 35-39
30-34 30-34
25-29 25-29
20-24 20-24
15-19 15-19
10-14 10-14
5-9 5-9
% 0-4 % % 0-4
%

10 8 6 4 2 0 0 2 4 6 8 10 12 10 8 6 4 2 0 0 2 4 6 8 10 12 14 16

VESENTINI, J. Willian. Sociedade e Espaço: Geografia Ge-


ral e do Brasil. São Paulo: Ática, 2003, pág. 225

Ao compararmos as pirâmides de países em desenvolvi- Porém, é interessante ressaltar que, no Brasil, a segunda
mento e de países desenvolvidos, podemos perceber clara- fase da transição demográfica foi desencadeada pelo seu
mente a diferença entre elas. Como os países desenvolvidos desenvolvimento industrial e urbano, o que só ocorreu a
já alcançaram a terceira fase da transição demográfica, as partir de 1950. Nesse contexto, as taxas de crescimento
taxas de natalidade são extremamente baixas, demonstradas vegetativo eram altíssimas, sendo a população jovem a mais
pela base estreita da pirâmide. Contrariamente, os países representativa.
em desenvolvimento ainda vivenciam a segunda fase da A partir da década de 1970, as taxas de crescimento ve-
transição demográfica, o que já implica uma queda na taxa getativo começam a declinar, principalmente, em função do
de natalidade, porém as taxas ainda são elevadas, como é desenvolvimento da pílula contraceptiva, das mudanças de
demonstrado pela base da pirâmide. valores decorrentes da urbanização brasileira e da ampliação
O grande problema das elevadas taxas de natalidade, em da participação feminina no mercado de trabalho.
uma visão neomalthusiana, é o fato de a população jovem Analise as pirâmides a seguir:
representar um encargo econômico-social para os adultos. Brasil: pirâmide etária (1970)
A população economicamente ativa, geralmente represen-
tada pela população adulta, é responsável pelo sustento
da população jovem, que teoricamente não trabalha. Dessa
forma, quanto maior for a população de jovens, maior será
o gasto com essa faixa etária realizado pela população eco-
nomicamente ativa.
Países desenvolvidos proporcionam serviços médico-
-sanitários de melhor qualidade à população. Sendo assim,
conseguem alcançar elevadas taxas de expectativa de vida,
possuindo uma grande proporção de idosos. Essa infor-
mação pode ser visualizada na pirâmide etária através do Brasil: pirâmide etária (2010)
alargamento do seu topo. Nos países em desenvolvimento,
é possível perceber um início de alargamento do topo da
pirâmide, principalmente pela importação e pela implantação
de políticas médico-sanitárias, que elevam a expectativa de
vida da população.

Pirâmide brasileira
O Brasil vive atualmente o final da segunda fase da
transição demográfica, o que implica uma redução do ritmo
do crescimento populacional, com a diminuição da taxa de
natalidade e um aumento da expectativa de vida. Fonte: IBGE

296
Teorias demográficas e estrutura populacional

É possível perceber a redução da base da pirâmide – o que demonstra a diminuição proporcional da população jovem, em
função da redução da taxa de natalidade – e o alargamento do topo da pirâmide, que demonstra o aumento proporcional da
população idosa decorrente do aumento da expectativa de vida.
O gráfico seguinte demonstra a evolução populacional descrita acima:

Projeção de crescimento da participação relativa da população por grupos de idade – Brasil 2005-2030
%
50

45

40

35
30

25

20

15

10

0
0 a 4 anos 5 a 9 anos 10 a 14 anos 15 a 29 anos 30 a 59 anos 60 a 69 anos 70 anos
e mais

2005 2010 2015 2020 2025 2030


IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de População e Indicadores Sociais.
Projeção da População do Brasil por Sexo e Idade do Período 1980-2050 – Revisão 2004.

O aumento do número de idosos, por um lado, é positivo, Expectativa de vida (comparação entre países por
pois é indício de melhorias nas condições médico-sanitárias, média de idade) – 2016
porém, por outro lado, apresenta-se como um problema para
País Homens Mulheres
o sistema capitalista. Os idosos necessitam de serviços e
Japão 81,1 87,1
atendimentos específicos, que precisam ser ampliados.
Suécia 80,6 84,1
A análise das pirâmides, com destaque para a de 2006,
Itália 80,5 84,9
permite constatar que a expectativa de vida feminina é maior
que a expectativa de vida masculina. Essa variação permite Alemanha 78,7 83,3
ser compreendida pelos seguintes fatores: Estados Unidos 76 81
México 74 79,2
• o trabalho masculino tende a ser mais desgastante
fisicamente, apesar de atualmente as mulheres parti- China 75 77,9
ciparem mais do mercado de trabalho; Arábia Saudita 73,5 76,5
• os hábitos de bebida e fumo são mais comuns entre Turquia 73,3 79,4
os homens, o que tende a torná-los mais vulneráveis a Brasil 71,4 78,9
doenças cardíacas e respiratórias; Egito 68,2 73
• os homens se envolvem mais em acidentes de carro Nepal 68,8 71,6
do que as mulheres; Índia 67,4 70,3
• o aumento de mortes por causas violentas relacionadas Rússia 66,4 77,2
com o aumento do crime organizado incidiu principal- Haiti 61,3 65,7
mente sobre a população masculina;
Sudão 63,4 66,9
• a mulher possui maior preocupação com a saúde, o África do Sul 60,2 67
que tende a facilitar a descoberta precoce de doenças.
Costa do Marfim 53,6 55,7
Serra Leoa 52,5 53,8
Organização Mundial de Saúde, 2018.

297
Geografia

4. (G1 - Col. Naval – 2017) Observe a imagem a seguir.


Exercícios
1. (EsPCEx (AMAN) – 2017) Observe a tabela abaixo, que
mostra a evolução das taxas de fecundidade no Brasil:

aNo taXa de FecUNdIdade


1940 6,16
1950 6,21
1960 6,28
1970 5,76
1980 4,35
1990 2,85
2000 2,38 A dinâmica do crescimento da população brasileira se
2010 1,90 alterou substancialmente ao longo do século XX.
Sobre a transição demográfica brasileira, assinale a
Fonte: IBGE – Censo Demográfico 2010
opção correta.
Dentre os reflexos dessa realidade, na demografia
brasileira, pode-se destacar a redução A) A queda na taxa de fecundidade brasileira está
relacionada à crise econômica e às altas taxas de
I. da população brasileira, em termos absolutos, a
desemprego que atingiram o país durante as déca-
partir de 2010.
das de 1980 e 1990.
II. da proporção de jovens no conjunto da população
brasileira. B) A população brasileira aumentou significativamente
durante o século XX em virtude da entrada maciça
III. da taxa de natalidade e o aumento da mortalidade
infantil. de imigrantes que vieram atender à expansão da
demanda de mão de obra industrial.
IV. do crescimento vegetativo.
C) O incremento populacional no país durante o século
V. das taxas de reposição populacional, que, atualmen-
te, já se apresentam abaixo do nível de reposição. XX pode ser explicado pelo predomínio de políticas
de controle de natalidade por parte do governo fe-
Assinale a alternativa que apresenta todas as afirma-
deram, reconhecidamente neomalthusiano.
tivas corretas.
A) I, II e V D) A redução do número de filhos é uma mudança
demográfica característica dos países em processo
B) I, III e IV
de industrialização devido, essencialmente, aos
C) II, III e IV
movimentos nacionais de emancipação feminina.
D) I, III e V
E) A vida urbana apresenta maior custo, um número
E) II, IV e V crescente de mulheres no mercado de trabalho,
2. (EsPCEx – 2011) “(...) uma população jovem e nume- além da disponibilidade de métodos contraceptivos,
rosa, em virtude de elevadas taxas de natalidade, não o que resulta na redução da taxa de fecundidade.
é causa, mas consequência do subdesenvolvimento.
(...) Foi constatado que quanto maior a escolaridade Gabarito
da mulher, menor é o número de filhos e a taxa de 1. E
mortalidade infantil.”
2. A
http://www.brasilescola.com consulta em 05/04/2010
3. E
O trecho acima reflete aspectos defendidos pela teoria
4. E
A) Reformista.
B) Malthusiana.
C) Neomalthusiana.
D) Ecomalthusiana.
E) da Explosão Demográfica.

3. (EsPCEx – 2012) Assinale a alternativa que apresenta


características da dinâmica populacional de um país
quando este conclui a sua transição demográfica.
A) Alta taxa de fecundidade e de mortalidade.
B) Alta taxa de natalidade e baixa taxa de mortalidade.
C) Alta taxa de fecundidade e baixa taxa de mortalidade.
D) Baixa taxa de fecundidade e alta taxa de mortalidade.
E) Baixa taxa de natalidade e de mortalidade.

298
Capítulo 15
Distribuição da população segundo os setores
da economia
O estudo da distribuição populacional segundo os setores seja, que possuem mais de 50% da população na faixa etária
da economia é importante para avaliar a conjuntura econômi- dos adultos, a percentagem atinge cerca de 60% do total.
ca de um país e fornecer informações para um planejamento Em uma visão neomalthusiana, o país jovem terá uma
econômico e social adequado. maior dificuldade de desenvolvimento, já que a população
Entende-se como população economicamente ativa (PEA) economicamente ativa é menos significativa, logo haverá
as pessoas que trabalham em atividades remuneradas, bem uma tendência à menor produção de renda e ainda a neces-
como a população que não possui trabalho no momento, sidade de sustentar os jovens, que representam um encargo
porém que está empenhada na conquista de uma atividade econômico e social para os adultos.
remunerada. Dessa forma, a população economicamente
ativa é o mesmo que força de trabalho, ou seja, a população Os setores de atividades econômicas
disponível para o mercado de trabalho. A população economicamente ativa distribui-se em quatro
Entende-se como população economicamente ativa (PEA), setores de atividades:
pessoas que trabalham em atividades remuneradas, bem • Setor Primário: inclui a agricultura, a pecuária e o
como a população que não possui trabalho no momento, mas extrativismo, que, por sua vez, divide-se em mineral
que está empenhada na conquista de uma atividade remune- (Ex.: minério de ferro), vegetal (Ex.: carnaúba) e animal
rada. Dessa forma, a população economicamente ativa é o (Ex.: pesca).
mesmo que força de trabalho, ou seja, a população disponível • Setor Secundário: inclui a atividade que abrange as
para o mercado de trabalho. Denomina-se população não indústrias, responsável pela transformação da matéria
economicamente ativa (PNEA), pessoas que não trabalham e prima através do uso de maquinário.
não estão empenhadas em encontrar um emprego (crianças, • Setor Terciário: inclui as atividades de prestação de
estudantes que não trabalham, donas de casa, aposentados, serviços (Ex.: bancos, transportes, etc.) e comércio.
pessoas impossibilitadas de trabalhar etc). • Setor Quaternário: inclui o desenvolvimento da tecnolo-
No Brasil a população economicamente ativa representa gia que será utilizada por todos os setores da economia.
aproximadamente 50% do total, como pode ser percebido Apesar de classificado como setor da economia, o quater-
no gráfico a seguir. nário é mais expressivo em países desenvolvidos, que reúnem,
de maneira mais significativa, os fatores que contribuem para a
produção da tecnologia: mão de obra especializada e capital.
As modificações de uma economia contribuem para a
redistribuição da população economicamente ativa pelos
setores de atividades.
Entre os fatores que causam alterações na estrutura da po-
pulação segundo os setores de produção, podem-se destacar:
• Industrialização: a oferta de trabalho nas indús-
trias impulsiona o êxodo rural (migração definitiva
do campo para a cidade) e, consequentemente, a
urbanização. Dessa forma, aumenta a participação
da população nos setores secundário, relacionada
com o crescimento industrial, e terciário, relacionado
com o crescimento urbano.
• Urbanização: o crescimento das cidades, que nem
sempre se relaciona com o processo de industrializa-
ção, promove uma maior participação da população
Fonte: IPEA/IBGE
no setor terciário.
A população economicamente ativa de um país é geral- • Modernização do setor primário: a maior utilização
mente composta pela população adulta. Porém, existem de tecnologia nas atividades do campo, por exemplo
exceções, já que o trabalho infantil ainda é uma realidade a mecanização da agricultura, promove o desempre-
em diversas partes do mundo, da mesma maneira que a go estrutural rural e a consequente liberação de mão
população idosa participa, parcialmente, da geração de renda. de obra para as cidades.
Em países considerados jovens, ou seja, que possuem Para a melhor compreensão da distribuição populacional
mais de 50% da sua população composta por jovens, a por setores da economia, segundo os grupos de países,
porcentagem de população ativa sobre o total de habitantes analise a tabela a seguir.
varia de 30% a 40%. Já nos países considerados maduros, ou

299
Geografia

Distribuição da população economicamente ativa de alguns países por setores de produção (2000)
Setores
Países
Primário Secundário Terciário
Países Subdesenvolvidos
Etiópia (2013) 72,7% 7,4% 19,9%
Camboja (2013) 48,7% 19,9% 31,6%
Afeganistão (2017) 44,3% 18,1% 37,6%
Moçambique (2015) 74,4% 3,9% 21,7%
Países Desenvolvidos
Alemanha (2016) 1,4% 24,2% 74,4%
EUA (2009) 0,6% 20,3% 79,1%
Japão (2015) 2,9% 26,2% 70,9%
França (2016) 2,8% 20,0% 77,2%
Países em desenvolvimento
Brasil (2017) 9,4% 32,1% 58,5%
Argentina (2017) 5,3% 28,6% 66,1%
Rússia (2016) 9,4% 27,6% 63,0%
Coreia do Sul (2017) 4,8% 24,6% 70,6%
África do Sul (2014) 4,6% 23,5% 71,9%
Fonte: CIA/The World Factbook

Esses dados nos permitem identificar que nos países XX – e recebeu indústrias consideradas obsoletas nos países
desenvolvidos a participação da população economicamente desenvolvidos.
ativa no setor primário é extremamente reduzida, uma vez O parque industrial dos países em desenvolvimento é
que esse setor utiliza grande volume de maquinário e, por menor se comparado ao dos países desenvolvidos, mas
isso, dispensa a população dessa atividade – desemprego necessita de mais trabalhadores, em função do menor uso
estrutural. Ainda em relação a esses países, é possível de tecnologia. Isso explica uma distribuição de população
perceber parte significativa da população atuando no setor economicamente ativa semelhante entre os dois grupos de
secundário, que é bastante industrializado, Mas também com países.
tendências à redução, devido à automatização crescente das
Nos países em desenvolvimento, o setor terciário absorve
indústrias e à concentração da maior parte da população no
a maior quantidade de mão de obra. Essa distribuição ocorre
setor terciário.
pelo fato de a população não ter oportunidades de emprego
Mesmo apresentando um parque industrial com alto grau significativas nos demais setores da economia e pela urba-
de modernização, composto principalmente por indústrias de nização acelerada vivida nesses países.
ponta, o grande número de indústrias garante o emprego de
No Brasil, o setor primário apresenta uma diminuição do
uma parcela significativa da população.
emprego de mão de obra braçal, mas um aumento na quali-
Em relação ao setor terciário, pode-se observar que a ficação dos trabalhadores. O setor secundário, que tem dimi-
maior parte da população se concentra nessas atividades nuído sua participação no país, não oferece vagas de maneira
em razão do grande desenvolvimento econômico do país. significativa desde o final da década de 1970. Dessa forma,
Como os setores primário e secundário são fortemente de- a população se concentra nas atividades do setor terciário.
senvolvidos, o setor terciário foi impulsionado positivamente
Não havendo empregos formais suficientes, ocorre uma
a crescer. Os produtos do primário e do secundário são
hipertrofia do setor terciário, ou seja, o setor cresce desme-
comercializados no terciário. É interessante ressaltar ainda
didamente. Dessa forma, cria-se uma economia informal,
que os países que possuem o setor terciário desenvolvido
representada pelo vendedor ambulante, pelo camelô, pelo
são fortemente urbanizados.
guardador de carro. É o exemplo típico da situação de de-
O índice de distribuição da população economicamente semprego e de subemprego.
ativa dos países em desenvolvimento, como o Brasil, tem
Nos países subdesenvolvidos a participação da mão de
se distanciado da condição dos países subdesenvolvidos e
obra se concentra nas atividades do setor primário, principal-
se aproximado da distribuição de mão de obra nos países
mente na agropecuária. Nesse caso, a agricultura apresenta
desenvolvidos. A modernização na agricultura, com a meca-
baixa produtividade por trabalhador e exige uma mão de obra
nização de boa parte da produção, faz diminuir a participação
numerosa. A industrialização é reduzida e conta com menor
dos trabalhadores neste setor.
quantidade de trabalhadores, limitando-se às indústrias de
Os dados de distribuição do setor secundário para os bens de consumo não duráveis, como alimentos, calçados,
países em desenvolvimento também se assemelham com a tecidos, confecções etc. O setor terciário conta com partici-
distribuição dos países desenvolvidos. Os dados semelhantes pação reduzida da população, por contarem com índices de
desses dois grupos de países sugerem uma mesma expli- urbanização menores do que em relação aos países desen-
cação, mas os motivos são distintos. O grupo de países em volvidos e em desenvolvimento.
desenvolvimento viveu uma industrialização tardia – século

300
Distribuição da população segundo os setores da economia

Empregos vulneráveis e trabalhadores pobres – 2010 e 2012

Emprego vulneráveis Trabalhadores pobres


(% do emprego total) (% do emprego total)
2010 2012 2010 2012
Mundo 53,1 49,2 26,6 12,3
Economias desenvolvidas e União Europeia 11,2 10,1 – –
Outros Estados da Europa e Comunidade de Estados
c
23,8 19,7 5,0 1,7
Independentes (CEI)
Ásia Oriental 58,4 48,9 31,2 5,6
Sudeste Asiático e Pacífico 65,2 61,1 33,7 11,7
Ásia do Sul 81,3 76,9 43,9 24,4
América Latina e Caribe 35,8 31,5 7,8 3,5
Oriente Médio 33,5 27,0 1,4 1,8
Norte da África 42,1 41,4 9,5 6,4
África Subsariana 81,8 77,2 56,7 40,1
Os países subdesenvolvidos concentram a maioria de suas populações em situa-
ções de grande vulnerabilidade em todos os setores da economia.
PNUD, 2014.

Trabalho informal
Nos países em desenvolvimento, parte das atividades econômicas, com o destaque para o setor terciário, é composta pela
economia informal ou subterrânea. Entende-se por economia informal o conjunto de atividades não registradas legalmente
– ignoradas nos números oficiais que indicam o desempenho da economia, como o PIB (Produto Interno Bruto) – e que não
sofrem qualquer espécie de tributação.
O problema da informalidade na economia se relaciona diretamente com o desemprego, aumentando, praticamente na
mesma proporção. A grande concentração de renda reforça a informalidade, já que a tendência é que se tenha um investi-
mento significativo no capital especulativo, desfavorecendo a criação de empregos. Segundo a Organização Internacional do
Trabalho, existem no mundo mais de 300 milhões de trabalhadores informais, dos quais mais de 37 milhões são brasileiros.
A renda gerada pelo circuito informal influencia diretamente a economia formal, na medida em que boa parte desses rendimentos
é gasta com o consumo de produtos fabricados por empresas que funcionam legalmente. Mas parte do dinheiro arrecadado dessa
forma é transformada em dólares e enviada para o exterior, por exemplo, como pagamento de produtos falsificados.
Além disso, o setor informal constitui uma saída para a fragilidade econômica de vários países, incapazes de gerar renda
ou empregos suficientes para o atendimento de toda a população disponível para o trabalho. Alguns economistas sustentam
que, sem a economia informal, o número de pessoas sem nenhuma renda seria ainda maior. No Brasil, a economia informal
envolve boa parte da população.

Brasil – nível de informalidade, em % da população ocupada


ÁREAS METROPOLITANAS

43,8

40,9 40,8

1993 2007 2017

IBGE.

A mulher no mercado de trabalho


Por muito tempo, a estrutura social predominante era a de o homem ser responsável pela renda familiar, e a mulher, pelos
cuidados da casa e dos filhos. Porém, a algumas décadas, essa situação se transformou em vários países, devido às novas
organizações da sociedade capitalista, como o predomínio de pessoas habitando o meio urbano, e a longa luta da mulher.
A participação da mulher no mercado de trabalho foi um dos acontecimentos mais importantes das últimas décadas, mas
foi a partir de 1960 que as conquistas femininas se tornaram mais evidentes. No entanto, elas não aconteceram da mesma
forma em todos os países.
Ao analisar o mercado de trabalho, é possível constatar que a porcentagem de mulheres sobre o total da população eco-
nomicamente ativa é, quase sempre, menor que a masculina e, ainda, com médias salariais inferiores.
A mulher ainda possui uma dupla jornada de trabalho, já que ela continua responsável pela maior parte das atividades
domésticas.

301
Geografia

A participação da mulher no mercado de trabalho aumenta a cada ano, mas ainda está longe de igualar-se à masculina,
especialmente em rendimentos. Essa desigualdade, que é histórica, é reforçada por estereótipos que inferiorizam a mulher
ou, até mesmo, por questões biológicas, como a menstruação, a gravidez e a amamentação.

Porcentagem do rendimento feminino em relação ao masculino

Parte do rendimento
feminino em relação
ao masculino (%)
menos de 30
de 30 a 50
de 51 a 60
de 61 a 70
de 71 a 90
sem dados

PNUD, 2009.

Mesmo com a crescente absorção da mão de obra feminina no mercado de trabalho, é possível perceber uma participação
marginal da mulher. O trabalho feminino tornou-se dominante nas atividades que, de modo geral, apresentam menor exigência
de qualificação e que, por isso, oferecem menor remuneração, como os serviços domésticos, de educação e de saúde.
Essa desigualdade está sujeita a inúmeras exceções e se encontra em mudança. Há uma nítida tendência de redução do
desnível educacional entre homens e mulheres e, cada vez mais, a mão de obra feminina ingressa em ocupações que exigem
qualificação intermediária ou elevada.
Índice de participação feminina

Índice de participação das


mulheres Ordem
de 0,909 a 0,744 (1º ao 20º)

de 0,741 a 0,628 (21º ao 40º)


de 0,622 a 0,556 (41º ao 60º)

de 0,554 a 0,508 (61º ao 80º)

de 0,507 a 0,135 (81º ao 109º) O índice de participação feminina (IPF) mede as desigualdades entre os gêneros masculino
e feminino no que diz respeito a três dimensões essenciais à autonomia: poder de decisão e
sem dados participação na economia, na política e controle sobre os recursos econômicos.

PNUD, 2009.

Exercícios
1. (EsPCEx – 2014) Segundo Melhem Adas (2004), com a venda de produtos a preços mais baixos que o custo de pro-
dução, a União Europeia foi uma das responsáveis pela regressão da agricultura de produtos alimentares básicos da
África Subsaariana, conduzindo esses países a uma situação crítica de insegurança alimentar ou de dependência de
importação.
A essa prática econômica chamamos especificamente de
A) protecionismo econômico
B) dumping
C) política de subsídios
D) desregulamentação econômica
E) neoliberalismo

302
Distribuição da população segundo os setores da economia

2. (EsPCex – 2012) Nos últimos anos, o Brasil tem rea- A perda sistêmica de competitividade da indústria
lizado um enorme esforço no sentido de ampliar sua nacional e a consequente queda de sua participação
participação no comércio internacional, buscando supe- na formação da riqueza nacional estão associadas,
rar os elevados custos de deslocamento que dificultam dentre outros:
a chegada dos seus produtos aos mercados externos. I. aos elevados custos de deslocamento dos produ-
Dentre as principais propostas de ação da atual política tos de exportação, em virtude do predomínio das
de transporte no País, pode-se destacar rodovias e da precária integração entre os modais
A) a completa substituição do sistema rodoviário, que de transporte.
é mais dispendioso, pelos sistemas hidroviário e II. à grande dispersão espacial da indústria brasileira
ferroviário. em regiões historicamente periféricas.
B) a construção de estações intermodais a fim de per- III. à baixa taxa de inovação da indústria brasileira, alia-
mitir a integração dos diferentes meios de transporte da ao fato de essa inovação estar mais relacionada
do País. à aquisição de máquinas e equipamentos do que
C) a construção de novas infraestruturas de circulação ao desenvolvimento de novos produtos.
urbana (pistas expressas, viadutos) com o propósito IV. aos inúmeros acordos bilaterais assinados pelo
de reduzir congestionamentos e valorizar a paisa- País, restringindo o número de seus parceiros co-
gem urbana das grandes cidades. merciais no mercado externo.
D) a eliminação do transporte de cabotagem com V. à fraca mecanização das operações portuárias de
vistas a reduzir os custos portuários e a intrincada embarque e desembarque e à intricada burocracia
burocracia administrativa. nos portos, provocando atrasos e congestionamen-
E) a redução da participação dos investimentos e do tos nas exportações.
controle do setor privado sobre o transporte rodovi- Assinale a alternativa que apresenta todas as afirma-
ário e sobre o setor portuário a fim de eliminar, por tivas corretas.
exemplo, os custos com pedágio. A) I, II e IV C) I, III e V E) III, IV e V
3. (EsPCex – 2014) Sobre o comércio exterior brasileiro, B) II, IV e V D) I, II e III
podemos afirmar que
5. (G1 - Col. Naval – 2014) Sabe-se que o número
I. no comércio mundial, o Brasil possui hoje a condição de pessoas vivendo fora de seu estado de origem
de Global Trader, estando, portanto, comprometido é crescente no Brasil e que o principal objetivo do
com os princípios do multilateralismo e do liberalis- deslocamento dessas pessoas é a busca de trabalho
mo no comércio mundial. e, consequentemente, melhores condições de vida.
II. a partir da metade da década de 1990, com o au- Sendo assim, sobre os principais fluxos migratórios
mento da participação de produtos básicos e semi- inter-regionais brasileiros ocorridos, pode-se afirmar
manufaturados na pauta de exportações brasileira, a que, entre os anos de
participação do Brasil nos fluxos comerciais globais A) 1930 e 1940, deram-se do Nordeste para o Sudes-
deu um salto para mais de 3% do total mundial. te, em função da decadência econômica daquela
III. enquanto na pauta de exportações brasileiras para região, agravada pela falta de projetos que atendes-
a União Europeia e Ásia predominam produtos pri- sem as populações oriundas de áreas mais pobres,
mários e semimanufaturados, os países do NAFTA como as do semiárido.
(Acordo de Livre Comércio da América do Norte) B) 1950 a 1970, ocorreram grandes deslocamentos de
e da América do Sul absorvem, principalmente, trabalhadores das regiões metropolitanas de São
produtos manufaturados do Brasil. Paulo e Rio de Janeiro para a Amazônia Ocidental,
IV. a redução das metas de crescimento da economia atraídos pelo garimpo de ouro e diAMANte, ampla-
chinesa é fato positivo para a economia brasileira, mente subsidiados pelo governo federal.
pois tende a abrir um espaço ainda maior para C) 1970 a 1990, verificou-se um crescimento popula-
nossas exportações de produtos básicos. cional expressivo no Sul, especialmente por parte
daquela população proveniente do Nordeste, a
V. o Mercosul responde por cerca de 40% das expor-
qual passou a se fixar em pequenas propriedades,
tações brasileiras, o que revela a forte dependência
produzindo gêneros de subsistência.
comercial do País em relação ao bloco e justifica o
aumento dos investimentos privados brasileiros nos D) 1900 a 1920, presenciou-se no Centro-Oeste forte
países do Mercosul. participação de grupos provenientes do Norte, os
quais se dedicaram às atividades ligadas à pecuária
Assinale a alternativa em que todas as afirmativas estão
intensiva e ao cultivo da soja, cuja produção estaria
corretas.
voltada para o consumo interno do país.
A) I e III C) II e V E) I, II e IV E) 1990 a 2000, deu-se do Sul para o Sudeste, espe-
B) III e V D) I, III e IV cialmente para as atividades ligadas ao cultivo de
cana-de-açúcar, uma vez que essa cultura agrícola
4. (EsPCex – 2015) “Desde 2007, o saldo comercial necessita de grande número de trabalhadores espe-
brasileiro vem apresentando tendência de queda, cializados para a execução do seu plantio.
puxada pelo mau comportamento do setor industrial,
e em consequência da perda da competitividade da Gabarito
economia brasileira”
1. B 3. A 5. A
(Fonte: oglobo.globo.com/opniao/comercioex-
terior – Consulta em 26/03/ 2015). 2. B 4. C

303
Capítulo 16

Indicadores sociais e migrações


Indicadores sociais
Os indicadores sociais são utilizados para expressar a qualidade de vida da população de um determinado local. O de-
senvolvimento social pode ser percebido pela análise de vários indicadores, como concentração de renda, IDH (Índice de
Desenvolvimento Humano), analfabetismo, saneamento básico, mortalidade infantil, entre outros. Apesar de cada indicador
retratar um segmento da qualidade de vida populacional, eles se influenciam diretamente.

Coeficiente de Gini: concentração de renda


Entende-se por renda qualquer ganho monetário proveniente de atividades econômicas. O estudo sobre a renda de um
determinado local precisa ser realizado de acordo com dois conceitos distintos: a renda per capita ou renda média e a renda
real. A renda per capita é calculada a partir do somatório de toda a renda produzida, divida pela população absoluta de um
determinado local. Já a renda real se relaciona com o poder aquisitivo ou poder de compra de uma determinada população.
Quando o crescimento da população é maior que a produção de riqueza, a renda média da população tende a diminuir. No
entanto, a questão da renda deve ser relacionada também à forma como os lucros e os bens produzidos são distribuídos pelos
diversos grupos sociais e entre os países.
Dessa forma, é possível se observar em um determinado país uma renda per capita elevada, porém uma renda real média
ou baixa. O coeficiente de Gini é um parâmetro que serve de referência para medir a desigualdade de renda. Esse coeficiente
varia entre 0 (situação teórica de inexistência de desigualdade, na qual todos os indivíduos têm a mesma renda) e 1 (situação
teórica de desigualdade absoluta, na qual um único indivíduo tem toda a renda). O indicador evidencia que o Brasil está entre
os países mais desiguais do mundo – mas também revela que a desigualdade apresenta nítida tendência à redução.

Índice de Gini – Mundo (2014)

Os países classificados entre os tons rosa e vermelho possuem elevada desigualdade de renda.
Fonte: Banco Mundial.

Em 1989, o coeficiente de Gini atingiu um pico de 0,636. Depois disso, ele apresentou reduções quase constantes e chegou
a um valor mínimo de 0,414 em 2014. Em 2016 e 2017, o índice voltou a subir, alcançando 0,549, retomando ao patamar de
desigualdade obtido antes de 2005.

304
Indicadores sociais e migrações

por uma péssima qualidade de ensino, que não representa


acesso a melhores salários ou melhora das questões sociais.

Índice de Desenvolvimento Humano 2014 - PNUD


(1 = perfeitoHUMANO
ÍNDICE DE DESENVOLVIMENTO / 0 = ruim)
(1 = perfeito / 0 = ruim)

Há vários anos, o ranking de desenvolvimento humano


divulgado pela ONU mostra o país com IDH de 0,754, con-
siderado alto, o que representa uma grande incoerência
quando os dois indicativos são cruzados e, principalmente
como o país seria prejudicado por esse desequilíbrio, caso
as disparidades fossem consideradas para calcular o IDH. < 0.48
0.48 ; 0.58

Segundo o relatório divulgado pelas Nações Unidas, em


0.58 ; 0.67
0.67 ; 0.73

2016, o Brasil perderia posições no ranking e entraria na ca-


0.73 ; 0.77
0.77 ; 0.82
0.82 ; 0.88

tegoria de países com IDH médio, com os cálculos ajustados


> 0.88

Fonte : UNDP - 2014


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de acordo com a disparidade de renda, educação e saúde.


Desenvolvimento Humano no Brasil
IDH ajustado pela desigualdade

Contudo, os conceitos de desigualdade e pobreza não


devem ser confundidos. A desigualdade tem por referência
a distribuição da renda, enquanto a pobreza refere-se à ca-
rência de renda e de acesso a bens e serviços de primeira
necessidade. Há países nos quais a pobreza absoluta é a FERREIRA, Graça. M. Lemos. p.36.
regra, mas as desigualdades não são especialmente mar- Fonte: PNUD.
cantes. Inversamente, há países marcados por fortes desi-
Ao analisarmos o mapa-múndi, podemos perceber que o
gualdades, mas com incidência baixa de pobreza absoluta.
Brasil é classificado atualmente como país de alto grau de
No Brasil, além de fortes desigualdades, quase um terço da desenvolvimento social, mesmo apresentando problemas
população ainda vivia, em 2005, abaixo da linha da pobreza, significativos nesse setor. O mapa do país demonstra os ín-
situação em que a renda não é suficiente para cobrir gastos dices de desenvolvimento do Brasil por estado, evidenciando
com alimentação, moradia, transporte e vestuário. a grande desigualdade de desenvolvimento no país.
IDH
Migrações
O IDH, ou Índice de Desenvolvimento Humano, é um índice
O deslocamento populacional sobre o território – que pode
que visa retratar a qualidade de vida de uma determinada po-
ser uma cidade, um estado, uma região – e entre países se
pulação através da relação do indicador saúde (expectativa de
relaciona a vários fatores. Entre eles, destacam-se:
vida), educacional (expectativa de anos de estudo e anos de
estudo de um adulto) e econômico (renda nacional bruta per • Naturais: características do clima, relevo, solo, vege-
tação e da hidrografia exercem um papel de grande
capita) da população. Para a compreensão do desenvolvimento
importância para a mobilidade populacional. No entanto,
de um país, considera-se o IDH:
a partir do momento em que o homem desenvolve suas
Baixo: entre 0 e 0,499 / Médio: en- forças produtivas, a influência dos fatores naturais na
tre 0,5 e 0,799 / Alto: entre 0,8 e 1 mobilidade populacional diminui.
Apesar de o IDH ser largamente utilizado por governos e • Históricos: locais que possuem uma história de ocupa-
organismos internacionais, o seu cálculo possui problemas. ção inicial que determina o desenvolvimento de espaços
Como já discutido, a renda per capita não demonstra a dis- econômicos são de extrema importância na orientação
tribuição da renda. Da mesma forma, índices satisfatórios do deslocamento populacional. A história das imigra-
de nível educacional da população podem ser maquiados ções para o Brasil, os movimentos internos e a marcha

305
Geografia

de povoamento do território brasileiro são exemplos de como esse fator foi essencial na produção do espaço geográfico.
• Econômicos: atualmente é o de maior importância na orientação do deslocamento populacional sobre o território. As
pessoas tendem a sair de locais em que as oportunidades de desenvolvimento econômico não são satisfatórias e se-
guirem para locais em que a oferta de serviços seja adequada.
• Guerras: áreas instáveis militarmente são áreas de repulsão populacional, forçando a migração para locais onde não
se tenha ameaça.
• Político-ideológico: a incoerência de ideias políticas entre alguns governos e seu povo impulsiona a migração da po-
pulação, que segue em busca de ideias semelhantes.
• Religiosos: a intolerância religiosa em alguns locais do globo força a população a migrar.
A associação principal entre os fatores econômicos e históricos favoreceu a seguinte distribuição populacional no território
brasileiro:

Belém

Manaus Fortaleza

Recife

Salvador

Rio de Janeiro
São Paulo

Porto Alegre
12.000 habitantes

É possível perceber a maior concentração populacional na região litorânea, o que evidencia uma desigual distribuição
espacial da população. O processo de colonização brasileira, que promoveu uma ocupação inicial do litoral, favoreceu o
desenvolvimento das principais atividades econômicas brasileiras nessa mesma faixa territorial. Atualmente, o Brasil vive uma
expansão dos seus espaços econômicos, principalmente para as regiões Centro-Oeste e Norte, mas ainda é evidenciada a
maior importância do litoral em relação às demais regiões brasileiras.
As migrações agrupam duas direções do movimento populacional, que se divide em:
• Emigração: ato de sair de um determinado local, que pode ser uma cidade, um estado, uma região ou um país.
• Imigração: ato de chegar a um determinado local, que pode ser uma cidade, um estado, uma região ou um país.
Também é possível dividir as migrações quanto ao espaço, elas podem ser internas ou nacionais e, ainda, externas ou
internacionais. Quanto ao tempo, dividem-se em definitivas, quando a pessoa fixa-se definitivamente no local de chegada, ou
temporárias, quando a pessoa fixa-se temporariamente no local de destino e, posteriormente, retorna para o local de origem.

Classificação das migrações


• Migração inter-regional: refere-se à migração de pessoas realizada entre as regiões.
• Migração intrarregional: corresponde à migração de pessoas dentro de uma mesma região.
• Transumância: são deslocamentos populacionais temporários relacionados às estações do ano ou às atividades
econômicas. Esse movimento é observado em várias partes do mundo, como entre pastores da Europa, Ásia e África.
No Brasil, é possível verificar o movimento de transumância em alguns lugares do país:

306
Indicadores sociais e migrações

• Nordeste: ocorre entre o Sertão e o Agreste e a Zona • Êxodo rural: é o movimento de migração da população
da Mata. Após a colheita de produtos de subsistência, do campo para as grandes cidades. Esse deslocamento
como o feijão e o milho, em suas pequenas proprieda- foi fortemente vivenciado pela população dos países
des, trabalhadores deslocam-se para a Zona da Mata, subdesenvolvidos, principalmente, a partir da década
onde vão se empregar no trabalho sazonal do corte da de 1950, devido às grandes mudanças nas economias
cana-de-açúcar, retornando para suas propriedades ao
nacional e mundial.
término da safra.
• Sul/Sudeste: trabalhadores rurais paulistas se deslo-
cam para o estado do Paraná, entre fevereiro e maio,
para colher algodão. Chegando a época do corte da
cana-de-açúcar, em final de maio e junho, retornam
para o estado de São Paulo.
• Sudeste/Nordeste: trabalhadores rurais da Bahia,
de Minas Gerais, do Piauí e do Maranhão em direção
ao estado de São Paulo, na época do corte da cana-
-de-açúcar, onde, muitas vezes, são submetidos a
precárias condições de moradia.
Ainda podemos destacar:
• Migração temporária do campo para a cidade (onde o
migrante busca trabalho na indústria, na construção
civil ou no setor terciário) e, depois de algum tempo, o
retorno para a área de origem. São exemplos os des- Disponível em: http://www.flickr.com. Acesso em 15 jan. 2011.
locamentos de pessoas da Bahia e de outros estados O movimento de êxodo rural foi de extrema importância
do Nordeste e de Minas Gerais em direção às cidades
para a urbanização. Mas, considerando o caso brasileiro,
de São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte.
pode-se destacar outros fatores, como:
• Indígenas que, já aculturados, migram para ganhar
algum dinheiro para ajudar a sobrevivência da tribo. • a estrutura fundiária desigual, em que os grandes
Depois de algum tempo, retornam para sua comuni- latifúndios, muitas vezes improdutivos, dificultam a
dade indígena. fixação do homem na terra;
• Trabalhadores rurais e urbanos que se deslocam para
se empregarem nas construções de usinas hidrelé- • a dificuldade dos minifúndios em atender às neces-
tricas. sidades mínimas de um grupo familiar. As terras
pequenas e a falta de técnicas adequadas para o
• Trabalhadores que, na entressafra agrícola da região plantio promovem uma baixa produtividade e a difi-
onde moram, deslocam-se para os lugares de garimpo
(ouro, cassiterita etc.). culdade de comercialização da produção, já que os
produtos não possuem uma qualidade tão elevada
• Movimento pendular: movimento realizado diariamente
por trabalhadores urbanos que se deslocam de sua e nem um preço comercial;
moradia, geralmente localizada nas cidades da Região • o Estatuto do Trabalhador Rural, que foi promulgado
Metropolitana de grandes cidades, para a empresa em em 1964, com o objetivo de levar as leis trabalhistas
que trabalham ou para o exercício de atividade ligada
ao campo. Apesar de ser uma medida de melhoria
ao trabalho informal.
das condições de trabalho da população rural, o
Esse movimento se relaciona diretamente com o processo
Estatuto contribui para a migração campo-cidade,
de periferização dos grandes centros urbanos, como Belo
a partir do momento em que os grandes proprietá-
Horizonte, São Paulo e Rio de Janeiro, em que a população
mais carente se vê forçada a buscar a periferia dessas cida- rios de terras não aceitaram a efetivação das leis
des, devido ao preço elevado dos terrenos. trabalhistas e optaram pelo trabalho temporário,
personificado na figura do boia-fria. A maioria dos tra-
balhadores não se submeteu às péssimas condições
de trabalho e optou por buscar novas oportunidades
de trabalho nos centros urbanos;

• a mecanização agrícola estimulada pela Revolução


Verde (segunda metade do séc. XX), que favoreceu
o aumento do desemprego estrutural no campo e a
concentração de terras;

• o próprio crescimento natural da população urbana;


• a inserção das imagens de televisão no campo, a
partir da década de 1950, levando à ideia de um meio
urbano repleto de possibilidades de desenvolvimento
Disponível em: http://ctb-am.blogspot.com. Acesso em: 15 jan. 2011. econômico e social.

307
Geografia

Analise o gráfico que retrata a evolução das populações rural e urbana, para o Brasil, no período de 1940 a 2010 em %:

%
100
90 83,6 84,4
75,5
80 67,0 População
70 68,8 63,8 urbana
54,9 56,0
60
50 45,1 44,0
40 31,2 36,2 33,0
30 24,5 16,4 15,6
20 População
10 rural
0
1940 1950 1960 1970 1980 1990 2000 2010
ADAS, Melhem, ADAS, Sergio. Panorama geográfico do Brasil: contradições, impasses e desafios socioespaciais. São Paulo:
Moderna, 2004. p. 305. Censo IBGE 2010. Disponível em: http://www.ibge.gov.br. Acesso em: 22 nov. 2012.

É possível perceber que o Brasil passa a ser considerado um país urbano, ou seja, a possuir mais de 50% da população
vivendo nas cidades já na década de 1960. É interessante ressaltar que o processo principal que levou o Brasil à transfor-
mação de país agrário-exportador em país urbano-industrial foi o de industrialização, mesmo com a influência dos demais
fatores analisados acima.
Como a Região Sudeste foi a área principal de ocorrência do processo de industrialização, podemos perceber, a partir da
análise do gráfico a seguir, que ela se torna urbana ainda na década de 1950, com uma contribuição principal de São Paulo.

%
100
93,1 92,9 População
90 88,0
80 82,7 urbana
72,8
70
60 60,6 57,3
52,5
50
40 42,7
47,5
30 39,4 27,2
20 17,3 12,0
6,9 7,1 População
10
0 rural
1940 1950 1960 1970 1980 1990 2000 2010
ADAS, Melhem, ADAS, Sergio. Panorama Geográfico do Brasil: contradições, impasses e desafios socioespaciais. São Paulo:
Moderna, 2004. p. 305. Censo IBGE 2010. Disponível em: http://www.ibge.gov.br. Acesso em: 22 nov. 2012.

Imigração para o Brasil


Do período compreendido entre 1808 até 1980, o Brasil foi considerado um país de imigração, com a atração de vários
grupos de pessoas, vindos da Itália, Alemanha, Espanha, Portugal, Japão, entre outros.
A história de imigração brasileira, após 1808, pode ser divida em três períodos: de 1808 a 1850, de 1850 a 1930 e de 1930
até os dias atuais.
Fluxo de imigrantes para o Brasil – 1808 a 1973
Primeira Guerra Mundial

Milhares
220
Crise econômica mundial

200
Abolição da
escravidão

Lei de cotas da imigração

180
Industrialização

160
Segunda Guerra Mundial

140
120
Regime militar

100
80
60
40
20
0
1808

1850

1884

1890
1895
1900

1905
1910

1930
1935
1940
1945
1950
1955
1960
1965

1970
1973
1915
1920

1925

Obs.: de 1974 até o ano 2000, entraram no Brasil 105.000 imigrantes, o que corresponde a uma média anual de 4.038.
Hugon, Paul. Demografia brasileira: ensaio de demoeconomia brasileira. São Paulo: Editora Atlas, 1973. p. 56; IBGE, Anuá-
rio estatístico do Brasil 1970, 1980 e 1990. Sinopse estatística do Brasil, 1975, p. 56. (ADAS, Melhem, ADAS, Sergio. Pano-
rama geográfico do Brasil: contradições, impasses e desafios socioespaciais. São Paulo: Moderna, 2004. p. 282.

308
Indicadores sociais e migrações

Período: 1808 a 1850


Esse período possui como início o marco da abertura dos portos nacionais às nações amigas, realizada por D. João, e finaliza-se
com a promulgação da Lei Eusébio de Queirós, que proibia o tráfico negreiro para o Brasil.
Apesar de ter sido permitido ao estrangeiro possuir terras no Brasil, o fluxo migratório foi pouco intenso. Isso se deve ao
fato de, nesse contexto, a mão de obra escrava ser obtida com maior facilidade e ao medo de o imigrante ser tratado como
escravo. Além disso, é interessante destacar que o Brasil vivia um período regencial de grande instabilidade política.

Período: 1850 a 1930


A partir desse período, o saldo imigratório brasileiro aumenta significativamente, como pode ser percebido pelo gráfico.
Porém, é possível perceber fatores favoráveis e desfavoráveis que balancearam o fluxo migratório para o Brasil.
Pontos favoráveis:
• o desenvolvimento da Lei Eusébio de Queirós, que cria a necessidade de utilização de outro tipo de mão de obra;
• a abolição da escravatura em 1888;
• o desenvolvimento da atividade cafeeira, demandando maior contingente de mão de obra;
• o pagamento dos custos de transporte dos imigrantes até 1889;
• o pagamento das despesas do imigrante, no primeiro ano de trabalho, por parte do fazendeiro, e a permissão de plantio
dos produtos de subsistência, em parcelas de sua propriedade.
Pontos desfavoráveis:
• a permanência da escravidão até 1888;
• até 1870, o imigrante deveria pagar os custos de sua viagem com o seu trabalho no cafezal, assinando um contrato pelo
qual não podia abandonar a fazenda antes de saldar a dívida;
• a Primeira Guerra Mundial (1914-1918);
• a crise econômica mundial iniciada em Nova York em 1929.

Período: 1930 até os dias atuais


Esse período é marcado pelo decrescimento do saldo imigratório para o Brasil, com exceção das décadas de 1950 a 1970,
que atraíram imigrantes devido ao desenvolvimento do processo de industrialização e ao milagre econômico.
Vários foram os fatores que dificultavam a vinda do imigrante para o Brasil, como as revoluções vividas na década de 1930,
que trouxeram instabilidades políticas e econômicas, bem como a implantação da Lei de Cotas da Imigração, estabelecida na
Constituição de 1934, que fixava em 2% o total de imigrantes que poderiam entrar no Brasil, em cada ano, com exceção de
portugueses. Além desses fatores, é interessante destacar a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), o próprio desenvolvimento
dos países europeus no pós-guerra, com o auxílio direto dos Estados Unidos e o estabelecimento da ditadura militar, a partir
de 1964, que trouxe várias tensões internas.

Imigração para o Brasil


(Estatísticas da entrada de imigrantes no Brasil de 1870 a 1953)
1.565.835
1.470.687
TOTAL
4.875.040

674.318 644.469

210.825 190.282
118.624

Italianos Portugueses Diversos Espanhóis Alemães Japoneses Russos


Fonte: Memorial do imigrante
Disponível em: http://www.geografiaparatodos.com.br. Acesso: 15 mar. 2009.

309
Geografia

A emigração brasileira
A partir da década de 1980, o Brasil se torna um país de emigração, ou seja, saíam mais pessoas do que entravam. Essa mu-
dança na mobilidade populacional brasileira está diretamente relacionada com o contexto econômico vivido pelo país, denominado
década perdida.
Essa década foi marcada por uma forte crise econômica, estimulada pelas duas crises do petróleo da década de 1970
(1973 e 1979) e pelo grande endividamento brasileiro de períodos anteriores.
A década perdida caracteriza-se pelo desemprego, pela perda do valor real do salário, pela inflação alta e pela queda do
crescimento do PIB ou da atividade econômica. Essa associação de problemas econômicos tornou o Brasil um local pouco
atrativo para a imigração e, até mesmo, para a manutenção dos brasileiros. As péssimas condições de vida, econômicas e
sociais estimularam a busca por oportunidades melhores de futuro, geralmente em países desenvolvidos.

Migrações internas
Ao relacionarmos os grandes fluxos de migração brasileiros, é possível perceber uma mudança quanto à destinação das
pessoas. Se antes a população possuía uma tendência de migração entre as regiões, atualmente, esse movimento é muito
mais percebido dentro das próprias regiões. Essa nova destinação se relaciona diretamente com o desenvolvimento de novos
espaços econômicos e a saturação da principal área receptora de migrantes – a região Sudeste.
A tabela a seguir sintetiza os principais fluxos migratórios internos.

Breve histórico das migrações internas no Brasil


Século Características
XVI e XVII Saída de nordestinos da Zona da Mata rumo ao Sertão, atraídos pela expansão da pecuária. .
XVIII Saída de nordestinos e paulistas rumo à região mineradora (Minas Gerais).
XIX Saída de mineiros rumo ao interior paulista atraídos pela expansão do café.
XIX Saída de nordestinos rumo à Amazônia para trabalhar na extração da borracha.
Saída de nordestinos rumo ao Centro-Oeste (Goiás) para trabalhar na construção de Brasília. Esse
XX - Década
período ficou conhecido como a “Marcha para o Oeste”, e os migrantes foram chamados pejorativamente
de 1950
de “candangos”.
Décadas de Saída de nordestinos (principalmente) rumo ao Sudeste, motivada pela industrialização. As cidades de
1950 e 1960 São Paulo e do Rio de Janeiro receberam o maior fluxo de imigrantes.
Saída de nordestinos que continuaram migrando para o Sudeste, o Centro-Oeste (Mato Grosso) e o
Décadas de Sul (Paraná). A partir de 1967, com a criação da Zona Franca de Manaus, ocorreu intensa migração de
1960 e 1970 nordestinos rumo à Amazônia (principalmente Manaus). Em grande parte foi uma migração orientada
pelo governo federal.
Saída de sulistas rumo ao Centro-Oeste (agropecuária) e de nordestinos rumo à Amazônia (agropecuária
Décadas de
e garimpo). Em consequência, o Norte e o Centro-Oeste foram, respectivamente, as regiões que
1970 a 1990
apresentaram o maior crescimento populacional do Brasil nas últimas décadas.
IBGE. Atlas nacional do Brasil, 2000. p. 76. Marina; RIGOLIN. Fronteiras da globaliza-
ção: geografia geral e do Brasil. São Paulo: Editora Ática, 2005. p. 241.

A migração inter-regional
A Região Nordeste é considerada uma área de repulsão populacional, desde um contexto de Brasil Colônia, que inicial-
mente perdeu população para a Região Sudeste e, atualmente, para as Regiões Norte e Centro-Oeste, devido à expansão
de novas fronteiras agrícolas. Essa região nunca recuperou a importância econômica após o declínio da economia açucareira
(nos séculos XVI e XVII) e se mostrou não atrativa.
Já a Região Sudeste configura-se como uma área de atração populacional pelo seu desenvolvimento histórico. Essa região
vivenciou grandes atividades econômicas que dinamizaram a economia brasileira. Desde um período de mineração essa região
possui um destaque no cenário nacional, que foi reforçado pelas atividades posteriores como a cafeicultura e a industrialização.
Observe a tabela a seguir.
Regiões brasileiras e o movimento migratório (1940/1980)
Região Imigração Emigração Saldo
Norte 2.090.935 1.066.826 1.024.109
Nordeste 7.088.796 20.006.388 –12.917.592
Sudeste 24.885.809 20.550.563 4.335.246
Sul 8.754.227 5.674.785 3.079.442
Centro-Oeste 5.749.489 1.315.694 4.478.795
IBGE. Anuário Estatístico do Brasil 1988. Marina; RIGOLIN. Fronteiras da globaliza-
ção: geografia geral e do Brasil. São Paulo: Editora Ática, 2005. p. 243.

310
Indicadores sociais e migrações

A partir da década de 1960, os fluxos migratórios começam a diversificar quanto aos locais de destino. As Regiões Norte
e Centro-Oeste passaram a receber contínuos fluxos migratórios e apresentaram um expressivo crescimento populacional.
O aumento do fluxo migratório para as Regiões Centro-Oeste e Norte se relaciona diretamente com o incentivo governamental,
visando à ocupação territorial e à expansão de grandes projetos agropecuários e mineradores. Nesse contexto, o governo militar
dava ênfase a grandes obras como as rodovias Transamazônica (Região Norte) e Cuiabá-Santarém (Regiões Centro-Oeste e
Norte, respectivamente), que atraíam população para o seu desenvolvimento. Além disso, é possível destacar o Grande Projeto
Carajás (Região Norte), com a construção da hidrelétrica Tucuruí. A saída de população para essas áreas diminuía o fluxo mi-
gratório para a Região Sudeste, que já se mostrava saturada quanto ao atendimento das necessidades da população urbana.
A implantação dos projetos agropecuários atraiu vários sulistas, principalmente, para a Região Centro-Oeste. Esse movi-
mento favoreceu a expansão da fronteira agrícola, aumentando a importância dessa região no cenário econômico nacional e
na participação percentual da população brasileira.
Sendo assim, é possível perceber atualmente uma diminuição da migração interna rumo ao Sudeste, e uma maior valori-
zação de regiões como o Norte e o Centro-Oeste.
A volta de nordestinos aos seus estados de origem também foi significativa e, principalmente, a busca pelas capitais da
região, como Fortaleza, Salvador e Recife, começa a mudar o seu perfil de área de expulsão populacional, embora parado-
xalmente isso não signifique uma diminuição da pobreza de sua população.

1940/1950 1950/1960

MA
PI CE
RN
PB
PE
AL
SE
BA
MT

MG
MS
SP

PR

Direção das migrações Direção das migrações

1960/1970 a partir de 1970


Boa Vista

Caracaraí

Manaus Santarém
Fortaleza
Altamira
BACIA
São Félix do Xingu Alta Floresta DO
Ji-Paraná ARAGUAIA
Rio Branco
Vilhena
DF
Cáceres

Londrina
OCEANO
ATLÂNTICO
Passo Fundo
0 600km

Direção das migrações Direção predominante

ADAS, Melhem; ADAS, Sérgio. Panorama geográfico do Brasil: contradições, impasses e desafios socioespaciais. São Paulo: Editora Ática, 2005.

A migração intrarregional
A mobilidade populacional dentro de uma mesma região se mostra, atualmente, como o movimento de maior circulação de
pessoas no território. A saturação de grandes centros urbanos, principalmente na Região Sudeste, tem favorecido movimentos
que sejam dentro da mesma região, em que a população busca, muitas das vezes, uma mobilidade temporária.
Como exemplos desse tipo de deslocamento, podemos destacar a saída de pessoas das pequenas cidades nordestinas rumo às
respectivas capitais de seus estados, onde a possibilidade de novas oportunidades é maior do que em suas cidades de origem. E,
ainda, a saída de pessoas das metrópoles nacionais, localizadas no Sudeste, isto é, São Paulo e Rio de Janeiro, rumo às cidades
médias do próprio Sudeste, em busca de maiores oportunidades de trabalho e melhor qualidade de vida (menos violência etc.).

311
Geografia

Migrações internacionais
Os fluxos migratórios internacionais são aqueles que ocorrem entre países. Embora sempre tenham ocorrido, Eles apresentaram
um aumento significativo a partir do desenvolvimento dos meios de transporte e também das telecomunicações. Até o século XX,
as migrações entre países, sobretudo entre continentes, eram pouco expressivas devido às dificuldades de se locomover entre
grandes distâncias. Segundo dados da Organização das Nações Unidas (ONU), o número de migrantes internacionais alcan-
çou a marca de 244 milhões em 2015. Essas migrações podem ser desencadeadas por diversos fatores, tais como: desastres
ambientais, guerras, perseguições políticas, étnicas ou culturais, busca de trabalho e melhores condições de vida.

Fluxo migratório internacional

Procedentes
da China
Corea
Europa do Sul
América Ocidental Turquia
Procedentes Anglo-saxônica Japão
do Sudoeste China
Asiático
América Central
e Caribe Países Península
México do Golfo Indostânica
África do Norte Sudeste
Sudão Asiático
Somália

Colômbia
Equador África Central e Austral
Peru Brasil

Bolívia
Austrália

África do Sul
Argentina

Principais regiões Principais regiões de Principais fluxos


destino de imigrantes saída de imigrantes

Conforme relatório da Organização das Nações Unidas de 2016, o número de migrantes internacionais aumentou mais rá-
pido do que o crescimento da população. Desse modo, a quantidade de migrantes totaliza 3,3% da população global em 2015,
enquanto, em 2000, somava 2,8%. No entanto, em razão da estagnação econômica pela qual alguns países desenvolvidos
passaram e que ainda passam, estima-se, que em 2010, 60% das migrações tenham ocorrido entre países em desenvolvimento.
São as chamadas migrações Sul-Sul.
As migrações internacionais muitas vezes são responsabilizadas por gerar problemas socioeconômicos nos países receptores.
Por essa razão, muitas medidas são tomadas no intuito de restringir a entrada de imigrantes e, por isso, o tráfico de pessoas
tem se intensificado bastante. Estima-se que no Norte da África, o faturamento em 2016 tenha atingido a cifra de 500 milhões
de euros. Se antes não passavam de “atravessadores ocasionais”, hoje o negócio tem se profissionalizado com quadrilhas
cada vez mais organizadas e violentas. Os acontecimentos como o 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos, os conflitos
no Oriente Médio e a proliferação de ataques terroristas em diversos países europeus reforçam também as dimensões do
medo, racismo e xenofobia.
Diferente dos migrantes, que saem dos seus locais de origem de forma espontânea para melhorar de vida, os refugiados são
forçados a deixar os lugares onde vivem por conta de questões que possam interferir diretamente na sua sobrevivência, por
causa de guerras, perseguições étnico-religiosas, políticas, dentre outras circunstâncias.
O número de indivíduos que buscam asilo em outros países e o status de refugiado cresceu de forma vertiginosa no começo
deste século. Segundo dados da Agência das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR), foram mais de 68 milhões de pessoas,
sendo mais da metade, menores de idade. Mais de 85% dos refugiados são de países subdesenvolvidos e em desenvolvimento.

Exercícios
1. (G1 - col. naval – 2014) Sabe-se que o número de pessoas vivendo fora de seu estado de origem é crescente no Brasil
e que o principal objetivo do deslocamento dessas pessoas é a busca de trabalho e, consequentemente, melhores
condições de vida. Sendo assim, sobre os principais fluxos migratórios inter-regionais brasileiros ocorridos, pode-se
afirmar que, entre os anos de
A) 1930 e 1940, deram-se do Nordeste para o Sudeste, em função da decadência econômica daquela região, agravada
pela falta de projetos que atendessem as populações oriundas de áreas mais pobres, como as do semiárido.
B) 1950 a 1970, ocorreram grandes deslocamentos de trabalhadores das regiões metropolitanas de São Paulo e Rio
de Janeiro para a Amazônia Ocidental, atraídos pelo garimpo de ouro e diAMANte, amplamente subsidiados pelo
governo federal.
C) 1970 a 1990, verificou-se um crescimento populacional expressivo no Sul, especialmente por parte daquela população
proveniente do Nordeste, a qual passou a se fixar em pequenas propriedades, produzindo gêneros de subsistência.
D) 1900 a 1920, presenciou-se no Centro-Oeste forte participação de grupos provenientes do Norte, os quais se dedi-
caram às atividades ligadas à pecuária intensiva e ao cultivo da soja, cuja produção estaria voltada para o consumo
interno do país.
E) 1990 a 2000, deu-se do Sul para o Sudeste, especialmente para as atividades ligadas ao cultivo de cana-de-açúcar,
uma vez que essa cultura agrícola necessita de grande número de trabalhadores especializados para a execução
do seu plantio.

312
Indicadores sociais e migrações

2. (EsPCex (AMAN) – 2017) Embora a maioria dos bra- 4. (EsPCex (AMAN) – 2011) “As migrações internacio-
sileiros viva na cidade em que nasceu, o volume de nais são um fenômeno diretamente associado à ‘era
migrantes internos é enorme, especialmente entre a industrial’.”
população economicamente ativa (PEA). (Magnoli, p.464, 2005)
Sobre as migrações internas brasileiras, pode-se afir- Considerando a frase acima, leia as afirmativas a seguir:
mar que I. Durante o século XIX, a Europa foi a mais importante
I. a maior dinâmica industrial da Região Sudeste, em zona de repulsão demográfica do globo.
relação às demais, provocou, segundo os últimos II. Atualmente, a União Europeia, em sua totalidade,
censos demográficos, o aumento das migrações configura a maior zona de atração de fluxos migra-
inter-regionais e uma significativa redução dos tórios do mundo.
movimentos intrarregionais.
III. Grande parte das migrações internacionais da atu-
II. na década de 2000, as chamadas cidades médias, alidade tem causas econômicas.
com até 500 mil habitantes, especialmente as da
IV. No atual período de globalização, assim como o
Região Centro-Oeste, apresentaram crescimento
capital, os fluxos migratórios fluem sem empecilhos
populacional muito mais vigoroso do que as gran-
através das fronteiras nacionais.
des cidades, tornando-se grande polo de atração
populacional. V. A África do Sul, importante economia industrial da
África, é um país que recebe significativos fluxos
III. a partir da década de 1990, a Região Metropolitana
migratórios de fundo econômico do continente.
de São Paulo registrou êxodo migratório por conta
das chamadas migrações de retorno, contudo o Assinale a alternativa que apresenta todas as afirma-
Estado de São Paulo ainda apresenta saldo migra- tivas corretas.
tório positivo. A) II e IV
IV. a expansão da fronteira agrícola e do agronegócio B) IV e V
na Região Sul faz desta a região com o maior per- C) I, II e III
centual de residentes não nascidos em seu interior.
D) I, III e V
V. as migrações pendulares diárias nas metrópoles
E) II, III e V
ocorrem entre o núcleo urbano central e os núcleos
situados no seu entorno, fisicamente integrados 5. (EsPCex – 2014) “Em 1989, o coeficiente de Gini atingiu
entre si, o que não é possível ocorrer entre núcleos no Brasil um pico de 0,636. Depois disso, apresentou re-
que estão apenas funcionalmente integrados. duções quase constantes, registrando 0,543 em 2009.”
Assinale a alternativa que apresenta todas as afirma- O coeficiente de Gini é um importante indicador socio-
tivas corretas. econômico que revela em um país o grau de
A) II e III A) escolaridade de sua população.
B) II e IV B) desigualdade de renda.
C) I, III e IV C) desenvolvimento humano da população.
D) I, III e V D) qualificação de sua mão de obra.
E) I, II e V E) pobreza de sua população.

3. (EsPCex (AMAN) –2011) Os países desenvolvidos, de


uma maneira geral, apresentam baixas taxas de cresci-
mento demográfico, sobretudo em função do reduzido Gabarito
crescimento natural que desconsidera o saldo migrató- 1. A
rio. Com relação a esses países, é possível afirmar que
2. A
A) apresentam taxas de fecundidade similares à da
3. E
maioria dos países subdesenvolvidos.
4. D
B) permanecem na primeira fase da transição de-
5. B
mográfica, com baixas taxas de mortalidade e de
natalidade.
C) apresentam taxas de fecundidade acima da taxa
de reposição, ou seja, acima de 2 filhos por mulher.
D) vivem o auge da transição demográfica, com ele-
vadas taxas de mortalidade e de natalidade que
justificam o baixo crescimento.
E) a maior parte deles apresenta taxas de crescimento
populacional muito baixas (geralmente inferior a
1%), nulas ou até negativas.

313
Capítulo 17

Urbanização
Ao analisar a história de desenvolvimento da humanidade, matérias-primas para suas indústrias e recebe dela os produtos
é possível constatar que a zona rural precedeu a zona urbana, manufaturados e os serviços urbanos (comerciais, educativos,
e as primeiras aglomerações urbanas dependiam diretamente administrativos, bancários, religiosos, médico-hospitalares etc.).
do meio rural. A zona rural concentrava a maior parte da po- Dessa forma, é possível perceber que as duas áreas, rural e
pulação, além de ser o centro de produção das riquezas da urbana, são interdependentes.
sociedade. Atualmente, a situação se inverteu, sendo as zonas Mesmo países que possuem um território maior tendem
urbanas as áreas de produção da maior parte das riquezas e a viver uma diminuição da população residente no campo e
de maior concentração populacional. Sendo assim, elas são um crescimento da população residente em áreas urbanas.
consideradas mais importantes que as áreas rurais. Os países desenvolvidos e emergentes já possuem, em sua
grande maioria, uma população predominantemente urbana, e
A Revolução Industrial foi o grande fator de modificação,
os países subdesenvolvidos estão vivendo um processo intenso
social e econômica, do eixo rural para o urbano. O êxodo rural
de urbanização.
para as novas áreas industrializadas promoveu um crescimento
É necessário compreender e diferenciar os seguintes termos:
das áreas urbanas e a mudança do eixo econômico para o ca-
pitalismo. As economias, anteriormente rural e agrária, passam • Urbanização: processo determinado pelo maior cres-
a ser urbanas e industrializadas, sendo agora as cidades as cimento populacional nas áreas urbanas em relação às
regiões mais importantes para a manutenção do capitalismo. áreas rurais, que traz como consequência a formação e
O avanço do sistema capitalista conduziu as áreas urbanas a a expansão de espaço urbanizados.
se sobreporem às rurais, estabelecendo, por conseguinte, a • Crescimento urbano: processo de expansão física de
subordinação destas às cidades. áreas urbanas.
Segundo o geógrafo Adas (2004), É possível se ter, em um determinado local, crescimento
Com a expansão do capitalismo e a modernização do urbano, sem que necessariamente haja urbanização. O cres-
Brasil, a cidade assumiu uma importância muito grande. cimento das cidades não tem limites e pode continuar indefini-
Tornou-se o centro das decisões políticas e econômicas, damente. A urbanização, no entanto, tem limites: alguns países
sede dos movimentos culturais, incluindo a produção de (aqueles cuja população urbana ultrapassa os 95% do total) já
valores sociais e de ideais, e centro de mobilizações de
estão urbanizados.
massa sociais e reivindicatórias. (...)
Desde 2008, o mundo tornou-se predominantemente urbano,
A cidade passou a ser, então, o centro de uma região,
exercendo aí a função de centro polarizador das ativi-
e, de acordo com estimativas realizadas pela ONU, até 2030,
dades socioeconômicas espaciais. É nela, por exemplo, a população urbana deverá chegar a quase 5 bilhões, ou seja,
que o agricultor e o pecuarista realizam suas compras, ela concentrará 60% da população mundial. O preocupante é
depositam dinheiro nos bancos, obtêm lazer e escola que, entre 2005 e 2030, cerca de 80% do crescimento urbano
para os filhos, buscam ajuda médica, odontológica e mundial deverá estar concentrado nos continentes asiático e
geralmente moram. africano. Calcula-se que, nas primeiras três décadas do século
XXI, a população urbana da Ásia crescerá de 1,4 bilhão para
População rural e urbana 2,6 bilhões e a da África, de quase 300 milhões para cerca de
no mundo (1950-2060)
740 milhões de pessoas.
7000
Esse processo rápido e desordenado que ocorre nas partes
População em Milhões

6000 pobres do globo é responsável por uma série de problemas


5000
ambientais e sociais urbanos, já que o poder público se mostra
incapaz de desenvolver infraestrutura na mesma velocidade
4000
que as pessoas chegam até as cidades.
3000
Taxa de urbanização por continentes
2000
População urbana (em %)
1000 Região
2000 2030
0
1960 1970 1980 1990 2000 2010 2020 2030 2040 2050 2060
África 38 55
Ásia 37 55
População Urbana População Rural América Latina e Caribe 75 83
Fonte: ONU.
América do Norte 77 84
Europa 75 83
Porém, as trocas realizadas entre zona rural e zona urbana
são intensas e necessárias para a consolidação do sistema eco- Oceania 70 74
nômico. Existe uma divisão de trabalho entre o meio urbano e o MORAES, Paulo Roberto. Geografia Ge-
ral e do Brasil. São Paulo: Harbra, 2003.
meio rural, sendo que o meio rural fornece à cidade alimentos e

314
Urbanização

A partir da segunda metade do século XVIII, o desenvolvi- vidos, o crescimento econômico foi capaz de acompanhar
mento industrial, que ocorreu de forma predominante nas áreas o crescimento populacional, o que não ocorreu no mundo
urbanas de alguns países europeus e norte-americanos, alterou subdesenvolvido.
a distribuição espacial da população. Nesse período, as cidades
Os países em desenvolvimento se dividem em dois
representavam um espaço propício para o desenvolvimento da
grupos distintos: subdesenvolvidos e subdesenvolvidos in-
indústria, em função da concentração tanto do capital quanto
dustrializados. Nos dois grupos, o processo de urbanização
do mercado consumidor. O desenvolvimento econômico dessas
ocorreu a partir do século XX, porém em períodos distintos.
áreas começou a estimular gradativamente o êxodo rural, fato
Os países subdesenvolvidos industrializados iniciaram seu
que desencadeou o crescimento cada vez mais expressivo
processo, de maneira significativa, a partir de 1950, o que
da população dos países que passavam pelo processo de
coincidiu com o processo de industrialização. Já nos países
industrialização e, com isso, em algumas décadas, o número
subdesenvolvidos, o processo de urbanização ocorreu, de
de pessoas vivendo nas cidades ficou maior que a quantidade
de pessoas vivendo no campo. maneira significativa, a partir de 1990, e veio acompanhado
da intensificação da violência e da pobreza da sociedade.
Devido ao processo antigo de urbanização, essas áreas
apresentam, atualmente, apenas um crescimento urbano. Como Apesar das diferenças, nos dois casos, o processo de
a grande maioria da população já vive em áreas urbanas, o urbanização ocorreu de maneira rápida e desordenada. Ao
processo de urbanização já foi concluído. contrário do que ocorreu nos países desenvolvidos, nos
As principais causas da urbanização nos países capitalistas países em desenvolvimento, o processo de industrialização
desenvolvidos foram: não acompanhou, quanto à geração de empregos, o ritmo
intenso da urbanização.
• Industrialização: a oferta de empregos em áreas indus-
triais foi um forte motivo de êxodo rural, contribuindo, de É preciso ter em mente que, nessas áreas, os fatores mo-
maneira significativa, para o processo de urbanização; tivadores do intenso fluxo de pessoas do campo em direção
às cidades não estão tão associados à indústria, pois alguns
• Mecanização do campo: a utilização de maquinário
promoveu o desemprego estrutural no campo, liberando países pertencentes a esse grupo não são industrializados ou
mão de obra para as áreas urbanas. possuem um baixo nível de industrialização. Nesse sentido,
podem ser consideradas como razão para o êxodo rural a mi-
Uma importante característica da urbanização nos países
séria que abate grande quantidade de pessoas que vivem no
desenvolvidos corresponde à forma lenta como ela ocorreu,
acompanhando as revoluções tecnológicas e gerando em- campo, a concentração de terras, os conflitos etnorreligiosos,
pregos. Esse tipo de expansão lenta favoreceu, sem dúvida, a escassez de terras e de água, entre outros. Associado a
o desenvolvimento das infraestruturas urbanas e, por conse- isso, as cidades, especialmente as grandes metrópoles, exer-
guinte, uma melhor organização do meio urbano. Assim, não cem um fascínio muito grande sobre a população rural, pois
são comuns, nos países pertencentes a esse grupo, problemas transmitem a ideia de que oferecem uma vida mais fácil, mais
relacionados a favelas e mendicância. Além disso, nesse mes- moderna e com maiores possibilidades de progresso social.
mo aspecto, é importante salientar que, nos países desenvol-

Urbanização Mundial

Porcentagem urbana População da cidade


0 - 20% 1 - 5 milhões
20 - 40% 5 - 10 milhões
40 - 60%
10 milhões ou mais
60 - 80%
80 - 100%

Fonte: ONU, 2014.

315
Geografia

No Brasil, o processo de urbanização foi intensificado a partir de 1950. No final da década de 1960, o Brasil já alcançava o posto
de país urbano, sendo que a maior
Brasilproporção
– evoluçãode
da população urbana
população rural se encontrava
e urbana na Região Sudeste.
(1940-2000)
Brasil: evolução da população rural e urbana (1940-2000)
População rural
População urbana
Em 1955 60 55 50 44 39 34 29
De cada DEZ brasileiros... 61 66 71
45 50 56
40
1955 1960 1965 1970 1975 1980 1985
...QUATRO estavam nas cidades

Em 2030
PREVISÃO De cada DEZ brasileiros...
25 22 19 16 13 12 10 9 9
78 81 84 87 88 90 91 91
75
1990 1995 2000 2005 2010 2015 2020 2025 2030 ...NOVE estarão nas cidades

Disponível em: Disponível em: http://www.geografi aparatodos.com.br.


Acesso em: 05 abr. 2009. Acesso em: 05 abr. 2009.

Ao observarmos a tabela a seguir, podemos perceber a proporção da população brasileira urbana por regiões:
taxa de urbanização segundo as grandes regiões – 1960-2010
Grandes regiões
1960 1970 1980 1991 2000 2010
Norte 37,38 45,13 50,32 59,04 69,83 73,53
Nordeste 33,89 41,81 50,46 60,65 69,04 73,13
Sudeste 57,00 72,68 82,81 88,02 90,52 92,95
Sul 37,10 44,27 62,41 74,12 80,94 84,93
Centro-Oeste 34,22 48,04 70,84 81,28 86,73 88,80
Brasil 44,67 55,92 67,59 75,59 81,23 84,36
IBGE, Anuário estatístico do Brasil 1996, p. 2-46 e IBGE, Censo Demográfico 2000, vol. 7, p. 127. (ADAS, Melhem; ADAS, Sérgio.
Panorama Geográfico do Brasil: contradições, impasses e desafios socioespaciais. São Paulo: Moderna, 2004. pág. 218.).

Em ordem decrescente, da mais urbanizada para a menos A) Megalópole – local, no sentido topográfico, onde
urbanizada, temos: Região Sudeste, Região Centro-Oeste, nasceu a cidade.
Região Sul, Região Norte e Região Nordeste. A Região Su- B) Rede urbana – posição que uma cidade ocupa em rela-
deste possui a maior proporção de população urbana, devido ção aos fatores naturais ou geográficos da sua região.
a fatores históricos de ocupação que favoreceram maior de- C) Megacidade – conjunto de área contíguas e integra-
senvolvimento econômico e urbano. Já a Região Centro-Oeste das socioeconomicamente a uma cidade principal.
possui a segunda maior taxa de urbanização, devido, princi- D) Conurbação –superposição ou encontro de duas ou
palmente, à expansão da fronteira agrícola e da revolução mais cidades em razão de seu crescimento.
verde sobre suas áreas. Sendo assim, a urbanização dessa E) Região metropolitana – “cidade-mãe”, dotada dos
região é desvinculada do processo de industrialização, sendo melhores equipamentos urbanos de uma país ou
o principal motivo de migração o desemprego estrutural nas de uma região.
zonas rurais. Dessa forma, a população migra para as áreas
urbanas sem a perspectiva de emprego no setor secundário, 2. (EsPCex (AMAN) – 2011) “O Mundo passa por um
promovendo o crescimento da população envolvida nas processo de rápida urbanização. Em 1950, menos
atividades terciárias, principalmente as informais. A Região de 30% da população global vivia em cidades. (...)
Nordeste possui a menor proporção de população vivendo Enquanto cerca de 730 milhões de pessoas viviam em
em áreas urbanas, com taxas próximas às da Região Norte, zonas urbanas em 1950, agora são mais de 3,3 bilhões.
pela grande presença de população na Sub-região Agreste. Como podemos explicar essas cifras dramáticas? (...)”
Nesta área, a população desenvolve, principalmente, ativida- Fonte: António Guterres. Deslocamentos urbanos: um fe-
des de subsistência em minifúndios para o próprio sustento, nômeno global. Folha de S. Paulo, 21/03/2010
principalmente no Agreste e na Zona da Mata nordestina. Considerando o texto acima e as características do
processo de urbanização no mundo subdesenvolvido,
Exercícios podemos afirmar que
A) na América Latina, esse processo iniciou-se na
1. (Colégio Naval – 2017) “A urbanização é um dos traços última década, acompanhando a modernização
fundamentais da modernidade. Há urbanização quando econômica da região.
o crescimento da população urbana supera o da po- B) na África subsaariana, a população é predominan-
pulação rural – um fenômeno que se verifica há mais temente urbana em virtude do grande número de
de dois séculos na Europa e que adquiriu contornos refugiados que vão em direção às cidades.
mundiais ao longo do século XX.” C) a América Latina abriga países que estão entre os
MAGNOLI, Demétrio. Geografia para o ensino mé- mais urbanizados do mundo subdesenvolvido, fato
dio. São Paulo: Atual. 2008, p. 225. explicado, dentre outros motivos,43
pela repulsão da
O Brasil inicia sua caminhada rumo à modernidade indus- força de trabalho do campo.
trial notadamente a partir da década de 1930. O crescente D) o grande número de imigrantes estrangeiros no
êxodo rural, além de uma drástica aceleração no ritmo do Brasil tem sido o principal fator responsável pelo
crescimento vegetativo, resultaram, inevitavelmente, em crescimento urbano registrado nas últimas décadas.
uma rápida e, por vezes, desorganizada urbanização. E) a urbanização avança lentamente no mundo subde-
Sobre esse processo, assinale a opção que apresenta senvolvido, pois a imensa maioria de sua população
corretamente o conceito e sua respectiva definição. já vive em cidades.

316
Urbanização

3. (G1 - Col. Naval – 2015) As cidades brasileiras têm 5. (EsPCex – 2011) “O processo de urbanização é geral
tAMANhos e números de habitantes muito diferentes e mas não é regionalmente uniforme. Do ponto de vista
também desempenham variadas funções urbanas. Para regional, registram-se fortes diferenças no ritmo da
um agrupamento ser considerado cidade é necessário transferência da população do meio rural para o meio
que se observem os seguintes aspectos: população, urbano”.
densidade demográfica, infraestrutura e equipamen- (Magnoli & Araujo, 2005, p.184).
tos urbanos, como rede de transportes e assistência
médico-hospitalar, escolas, comércio, bancos, áreas Sobre a urbanização brasileira podemos afirmar que:
de lazer, etc. I. graças a sua grande dinâmica industrial, a Região
Sobre a dinâmica urbana brasileira é correto afirmar que Sul é a segunda mais urbanizada do País.
A) as primeiras cidades brasileiras surgiram somente II. as regiões que apresentam os menores níveis de
na década de 1930, quando o desenvolvimento urbanização são a Centro-Oeste e a Norte.
do setor secundário possibilitou a formação de III. a urbanização do Centro-Oeste acentuou-se na
pequenos núcleos urbanos e de uma economia segunda metade do século passado, com a elevada
compatível para tal. concentração fundiária e com a mecanização da
B) até os anos 1950 ocorreu no país um forte fluxo agricultura da soja.
imigratório, especialmente para São Paulo, visto IV. as desigualdades no ritmo da urbanização entre as
que este estado reúne condições de infraestrutura regiões brasileiras refletem as disparidades econô-
para receber grande contingente populacional, fa-
micas regionais e a inserção diferenciada de cada
zendo essa unidade da federação se tornar a mais
região na economia nacional.
urbanizada do país.
Assinale a alternativa que apresenta todas as afirma-
C) a partir dos anos 1940, com o avanço do setor se-
tivas corretas:
cundário, da queda na produção cafeeira, da gera-
ção de infraestrutura urbana e da migração campo A) I e II
cidade, especialmente de nordestinos, ocorreu um B) I, II e III
notável crescimento urbano do Sudeste.
C) I e IV
D) a partir do início dos anos 1960 ocorreu no país
D) II e IV
a chamada desconcentração industrial, ou seja,
estados como o de São Paulo deixaram de ser E) III e IV
atrativos para a fixação industrial, estimulando
uma reordenação do crescimento das cidades em Gabarito
direção ao interior do país. 1. D
E) a urbanização brasileira deu-se de forma muito 2. C
lenta, consequência do tardio processo de desenvol- 3. C
vimento dos setores secundário e terciário, fato que
4. D
desencadearia nos seus grandes centros urbanos
inúmeros problemas socioeconômicos. 5. E

4. (EsPCex – 2012) Sobre a urbanização mundial no final


do século XX e início do século XXI, leia as afirmativas
abaixo:
I. o Canadá e o Brasil, em função da grande extensão
territorial, possuem baixos níveis de urbanização;
II. a maior parte dos países do continente africano
apresenta níveis de urbanização abaixo de 60%;
III. por apresentar um número elevado de grandes
cidades, a maioria dos países do sul e do sudeste
asiático apresenta níveis de urbanização também
elevados, acima de 80%;
IV. a maioria dos países sul-americanos possui níveis
de urbanização acima de 50%.
Assinale a alternativa que apresenta todas as afirma-
tivas corretas.
A) I e II
B) I e III
C) II e III
D) II e IV
E) III e IV

317
Capítulo 18

Conceitos urbanos, hierarquia e rede urbana


Nos países desenvolvidos, a urbanização, de modo geral, ocorreu de forma lenta e gradual. Esse processo contribuiu para
que as infraestruturas urbanas fossem sendo desenvolvidas no mesmo ritmo, o que acabou gerando uma melhor organização do
meio urbano. No mundo subdesenvolvido, esse processo ocorreu e ainda está ocorrendo de forma bastante acelerada, fato que
tem sido responsável por uma série de problemas que se prolongam, em função de o poder público não se mostrar competente,
eficiente e capaz de desenvolver e investir em infraestrutura na mesma velocidade em que se ocorre o êxodo rural e o crescimento
populacional nas cidades.
Hoje, cerca de 54% da população mundial vive em áreas urbanas, uma proporção que, de acordo com a ONU (2016), vai subir
para 66% em 2050, com quase 90% do crescimento centrado na Ásia e África. Nos últimos 20 anos, houve um forte aumento
do número de grandes cidades e megacidades no mundo — sendo as cidades grandes aquelas com 5 milhões a 10 milhões de
habitantes, e as megacidades aquelas com mais de 10 milhões de habitantes. Enquanto em 1995 havia 22 grandes cidades e
14 megacidades no mundo, em 2015, esse número era de 44 e 29, respectivamente. Atualmente, das 28 megacidades, 16 estão
localizadas na Ásia, 4 na América Latina, 3 na África e na Europa, e 2 na América do Norte.
No mundo subdesenvolvido, a grande concentração de terras e a dificuldade dos pequenos produtores em produzir e se manter
no campo acabam estimulando o êxodo rural. E como esses fluxos não se distribuem igualmente pelo território dos países, algumas
cidades recebem muito mais pessoas provenientes do meio rural do que outras. Assim, como nem todos conseguem arrumar em-
prego ao chegarem aos centros urbanos, problemas como o surgimento de moradias precárias, violência, desemprego, proliferação
de cortiços e de aglomerados, decorrentes, entre outros, da grande exclusão social, se tornam problemas comuns no meio urbano.

Megacidades
São as cidades que possuem um contingente populacional de mais de 10 milhões de habitantes, independente da sua área de
extensão e do grau de desenvolvimento econômico da aglomeração urbana. Geralmente, são áreas que apresentam um rápido
processo de urbanização. As megacidades, no contexto atual, concentram mais de 10% da população urbana mundial. No caso
brasileiro, apenas São Paulo e Rio de Janeiro, com aproximadamente 21,3 milhões de pessoas (2016) e 14,5 milhões de pessoas,
respectivamente, contando com suas regiões metropolitanas, podem ser consideradas megacidades.
Atualmente, o crescimento das megacidades vem acontecendo, de maneira intensa, principalmente, em países subdesenvolvidos
e subdesenvolvidos industrializados. Em muitos deles, o processo intenso de urbanização é desacompanhado do processo de indus-
trialização, o que promove a formação de problemas sérios, como a falta de saneamento básico, a poluição do solo, dos mananciais
aquíferos e da atmosfera, além de problemas sociais, como a violência urbana, o surgimento ou o aumento de submoradias em favelas
e periferias, a falta de emprego a uma parcela significativa da população disponível para o trabalho, os congestionamentos, entre
outros. Lagos é um exemplo clássico de processo de urbanização rápido e desordenado, que promove a falta de vários elementos
urbanos necessários à sobrevivência da população, como o saneamento básico. Apenas 2% da população de Lagos possui acesso
a esse serviço, o que potencializa, sobremaneira, a disseminação de doenças, como cólera, diarreia, entre outras.
A tabela a seguir demonstra a estimativa, população, das maiores cidades do mundo.
1900 População* 2001 População* 2015 População*
Londres 6,6 Tóquio 29 Tóquio 38,8
Nova York 3,4 Cidade do México 18 Bombaim 21
Paris 2,7 São Paulo 17 Lagos, Nigéria 10,5
Berlim 1,9 Bombaim 17 São Paulo 21,3
Chicago 1,7 Nova York 16 Karachi, Paquistão 24,3
Viena 1,7 Xangai 14 Daca, Bangladesh 18,3
Tóquio 1,5 Los Angeles 13 Cidade do México 22,2
Wuhan, China 1,5 Lagos, Nigéria 13 Xangai 24,2
Filadélfia 1,3 Calcutá 13 Nova York 23,2
São Petersburgo 1,3 Buenos Aires 12 Calcutá 17
*em milhões de habitantes.ONU, 2015

Metrópole
A metrópole é considerada uma cidade principal, também conhecida como “cidade-mãe”, que concentra os melhores e mais
diversificados recursos médico-sanitários, econômicos e sociais, estabelecendo uma grande extensão de sua área de influência.
As metrópoles podem ser divididas em:
• Metrópole global: é a metrópole que, além de possuir as características de uma metrópole convencional, possui um grande

318
Conceitos urbanos, hierarquia e rede urbana

desenvolvimento do setor informacional, estabelecendo ZONA DE FRONTEIRA


contato direto com as principais cidades globais, ou seja,
as que possuem maior destaque econômico, em um
contexto mundial. Exemplo: Nova York, Londres, Tóquio,
Interação
entre outras. No caso brasileiro, a cidade que mais possui transfronteiriça entre
expressividade nacional e mundial é São Paulo, sendo grupos locais e entre
países
caracterizada como cidade ou metrópole global.
• Metrópole nacional: é a metrópole convencional e que,
além disso, consegue promover uma influência em escala

País B
País A
nacional. Geralmente, as metrópoles nacionais possuem Cidades Gêmeas
um raio de atuação de acordo com o seu grau de desen-
volvimento econômico e social. As metrópoles nacionais
brasileiras são: Porto Alegre, Curitiba, Belo Horizonte, Rio Interação dos
grupos de fronteira
de Janeiro, Brasília, Salvador, Recife e Fortaleza. com sua sub-região
• Metrópole regional: é a cidade que possui as características FAIXA DE

Limite Internacional
FAIXA DE
de uma metrópole convencional, mas que apresenta menor FRONTEIRA FRONTEIRA
grau de desenvolvimento que as metrópoles nacionais,
quanto aos serviços e comércio. Sendo assim, a área de
influência dessas cidades é menos expressiva. As metró-
poles regionais brasileiras são: Goiânia, Belém e Fortaleza.
Outros dois grupos de cidades merecem destaque, mesmo Esquema conceito de cidade-gêmea. Exemplo:
não apresentando o mesmo nível de desenvolvimento das Foz do Iguaçu (PR) e Ciudad del Este (PAR).
metrópoles:
• Centro regional: é uma cidade que ainda não possui ca- Região Metropolitana
racterísticas que permitam classificá-la como metrópole, É a região formada pelas relações estabelecidas entre uma
mas que, pelo destaque no setor de comércio e serviços, metrópole e as cidades menores localizadas em seu entorno.
exerce influência sobre as demais cidades da região em Segundo Adas (2004), Região Metropolitana
que se encontra. Os centros regionais brasileiros são: (...) é uma região estabelecida por legislação estadual, e
Florianópolis (SC), Londrina (PR), Ribeirão Preto (SP), que corresponde a um conjunto de municípios contíguos
Campo Grande (MS), Cuiabá (MT), Vitória (ES), Aracaju e integrados socioeconomicamente a uma cidade central,
(SE), Maceió (AL), João Pessoa (PB), Natal (RN), Teresina com serviços públicos e de infraestrutura comuns, ou
(PI), São Luís (MA), Porto Velho (RO), Rio Branco (AC), necessidade de seu estabelecimento, em função de um
Macapá (AP) e Boa Vista (RR). sistema de conexão existente entre as unidades que a
• Centro sub-regional: é uma cidade que influencia apenas compõem.
sua zona rural e cidades menores do seu entorno. O maior Para se estabelecer uma região metropolitana, é necessário
número de cidades classifica-se como centros sub-regionais. observar alguns fatores importantes:
A ligação e a interação entre essas cidades presentes em • O contingente populacional: para o IBGE, a formação de
um determinado território é chamada de rede urbana. Já a uma região metropolitana necessita da presença mínima
diferenciação quanto ao desenvolvimento social e econômico, de 800.000 habitantes na metrópole de orientação da
que promove uma ordenação dos fluxos populacionais e infor- região metropolitana. Com esse contingente populacional,
macionais, é denominada hierarquia urbana. acredita-se que uma cidade desse porte possua funções
urbanas diversificadas e especializadas, o que, de fato,
Conurbação caracteriza uma metrópole.
É o contato físico entre duas cidades próximas, devido ao • A integração das cidades menores com a metrópo-
crescimento de ambas ou de apenas uma delas. O crescimento le: em uma região metropolitana, as cidades menores
horizontal das cidades cria extensas áreas urbanas em que, mui- possuem uma ligação intensa com as atividades da
tas vezes, não se consegue separar fisicamente cidades distintas, metrópole. Por mais que não exista conurbação entre as
a não ser com a ajuda de indicativos e placas informacionais. cidades, a economia das cidades menores depende da
Apesar de estarem unidas fisicamente, duas cidades conurbadas economia da metrópole.
continuam possuindo origem e administração diferenciadas.
• Planejamento urbano comum: mesmo com a separação
das administrações, desde 1973, o Congresso Nacional
Cidades-gêmeas determinou zonas metropolitanas com planejamento ur-
As cidades-gêmeas correspondem a núcleos urbanos situados bano integrado de desenvolvimento social e econômico,
em países distintos, mas que fazem fronteira entre si. Podem ou além de projetos de saneamento básico, uso do solo
não apresentar uma conurbação ou semi-conurbação com uma metropolitano, sistema viário e de transporte, entre outros.
localidade do país vizinho. Normalmente, a interdependência Atualmente existem no Brasil 22 regiões metropolitanas,
entre esses núcleos é, muitas vezes, maior do que a de cada incluindo-se a RIDE – Região Integrada de Desenvolvimento
cidade com sua própria região ou seu próprio território nacional. do Distrito Federal e Entorno. Das 22 regiões metropolitanas,
Esses adensamentos populacionais cortados pela linha de 15 localizam-se na região geoeconômica do Centro-Sul, cinco
fronteira – seja esta seca ou fluvial, articulada ou não por obra na Região Nordeste e uma na Amazônia. A maior concentra-
de infraestrutura – apresentam grande potencial de integração ção de regiões metropolitanas encontra-se nas áreas iniciais
econômica e cultural assim como manifestações “condensadas” de desenvolvimento econômico, sendo São Paulo a região
dos problemas característicos da fronteira, que, nesse espaço, metropolitana que mais concentra população.
adquirem maior densidade, com efeitos diretos sobre o desen- Os mapas a seguir demonstram a região metropolitana de
volvimento regional e a cidadania. Observe a imagem a seguir: Belo Horizonte e a distribuição das regiões metropolitanas
nacionais.

319
Geografia

Região Metropolitana de Belo Horizonte Megalópole


Entende-se pelo termo megalópole a formação de uma
grande área urbanizada, com a presença de duas metrópoles
ou mais, e várias cidades menores organizadas no entorno
Baldim
das metrópoles. Na área da megalópole, as cidades podem
s
Jaboticatubas estar conurbadas ou não. Porém, é intensa a circulação de
nho bens, serviços, pessoas e ideias, o que exige uma infraes-
m at ozi
pi o M u
Ca ranc Taquaraç trutura de transportes, comunicação, saneamento básico,
B d ro ldo onfins Lagoa de Minas Nova
o C
Pe op Santa
União equipamentos de serviços bem complexos e desenvolvidos.
L e S.J. da Lapa
Esmeraldas Vespasiano Santa
Ribeirão
das Neves Luzia Como exemplos de megalópoles podemos citar:
Sabará Caeté
Florestal
Contagem Belo
Horizonte
• Boswash: possui em seus extremos Boston e Wa-
Juatuba
Betim Raposos
shington. Nova York constitui a metrópole central dessa
Mateus Sa
Ibi
rité imensa megalópole, que tem mais de 50 milhões de
LemeIgarapé S.J de rzedo Nova
Bicas
Mário
Lima Rio Acima
habitantes, o que representa quase 20% da população
Campos
total do país, e se estende, em linha reta, por aproxi-
Brumadinho
Itatiaiuçu madamente 700 quilômetros.
Rio Manso
Itaguara
Canadá
Canadá
Grandes
Grandes lagos
Lagos
Disponível em: http://www.granbel.com.br. Acesso em: 05 abr. 2009.

Regiões Metropolitanas

Chipitts

h
EQUADOR

as
Oceano

sw
BELÉM GRANDE SÃO LUÍS

Atlântico

Bo
FORTALEZA

NATAL
Estados Unidos
RECIFE

MACEIÓ

MORAES, Paulo Roberto. Geografia Geral e do Bra-


SALVADOR

GOIÂNIA
DF
sil. São Paulo: Harbra, 2003. p. 434.

• No Japão: Tóquio – Nagoya – Osaka; na Inglaterra:


BELO HORIZONTE E
COLAR METROPOLITANO VALE DO AÇO E
COLAR METROPOLITANO

GRANDE VITÓRIA
Londres – Birmingham – Manchester; na Itália: Milão –
Turim – Gênova; entre a França, a Alemanha, a Bélgica
CAMPINAS
MARINGÁ RIO DE JANEIRO
SÃO PAULO TRÓP
LONDRINA BAIXADA SANTISTA ICO DE

e a Holanda forma-se uma megalópole envolvendo


CAPR
ICÓR
NIO
CURITIBA
NORTE/NORDESTES CATARINENSE
E ÁREA DE EXPANSÃO

cidades desses países, Paris – Bruxelas – Amsterdã –


VALE DO ITAJAÍ E
ÁREA DE EXPANSÃO FOZ DO RIO ITAJAÍ E ÁREA DE EXPANSÃO
CARBONÍFERAS FLORIANÓPOLIS E ÁREA DE EXPANSÃO
E ÁREA DE EXPANSÃO

Hamburgo – Frankfurt – Colônia – Estrasburgo.


TUBARÃO E ÁREA DE EXPANSÃO

PORTO ALEGRE

Região metropolitana
Colar metropolitano
No Brasil observamos a formação de uma megalópole
e área de expansão
Região integrada de
entre São Paulo e Rio de Janeiro. A sua formação se estende
desenvolvimento do
Distrito Federal pelo eixo da Rodovia Anhanguera, em que várias cidades
FERREIRA, Graça M. L. Atlas geográfico: espaço mun-
médias também se encontram em formação.
dial. São Paulo: Moderna, 2012. p. 140.

EIXO SÃO PAULO-RIO DE JANEIRO


Araras Mogi Guaçu Resende Teresópolis
Itajubá Volta Redonda
Mogi Mirim MINAS GERAIS Petrópolis
6

Cruzeiro Barra Mansa


-11

BR-116
Limeira Barra do Piraí
RIO DE JANEIRO
BR

Cachoeira Magé
Campos
1

16
-38

Paulista -1
do Jordão Lorena BR Nova Iguaçu Duque de Itaboraí
BR

Americana Caxias São


Guaratinguetá Itaguaí Nilópolis
Aparecida 1 S.João de Meriti Gonçalo
-10 Niterói
Campinas Bragança Paulista Pindamonhangaba BR
Valinhos RIO DE JANEIRO
Indaiatuba Atibaia
SÃO PAULO
Atibaia
Taubaté Angra dos Reis
Caçapava
Jundiaí São José dos Campos Parati
Salto Várzea Paulista I. Grande
Itu Francisco Morato
Jacareí
Ubatuba
Guarulhos TRÓPICO DE CAPRICÓRNIO
Sorocaba SÃO PAULO Mogi das Cruzes
Osasco
São Roque São Caetano do Sul
Caraguatatuba OCEANO
Cotia Diadema Santo André
Mauá BR-101 ATLÂNTICO
Itapecerica da Serra São Bernardo do Campo Ilhabela Ocupação do espaço
Cubatão
Bertioga São Sebastião I. de São Sebastião
Até 1980
São Vicente Santos 36 km Após 1980
-11
6 Praia Grande Guarujá
BR

FERREIRA, Graça M. L. Atlas geográfico: espaço mundial. São Paulo: Moderna, 2012.

320
Conceitos urbanos, hierarquia e rede urbana

Macrocefalia sub-centros, até as cidades gigantescas, ou cidades globais.


Nesse intuito, Vesentini (2003) elucida que uma rede urbana
A macrocefalia urbana é a concentração de população em um “(...) é um espaço hierarquizado a partir da influência (econô-
determinado local que pode ser uma cidade ou um país inteiro, mica, política, cultural) ou da polarização que uma (ou mais)
favorecendo a influência dessa área pela importância populacional.
metrópole(s) exerce(m) sobre as demais e mesmo sobre o
Geralmente esse processo é observado em países subdesenvolvi-
meio rural. E essa hierarquia, ou relações de comando e de
dos, que vivem uma urbanização rápida. A macrocefalia promove
influência, prossegue das cidades médias para as menores,
a formação de cidades com problemas significativos de infraes-
e assim por diante.”
trutura e planejamento: falta de saneamento básico, desemprego,
criminalidade etc. Esse fenômeno é visível em várias cidades de O grau de integração entre as cidades que constituem uma
países subdesenvolvidos, como São Paulo (Brasil), Montevidéu rede urbana varia de acordo com o grau de desenvolvimento
(Uruguai), Atenas (Grécia), Buenos Aires (Argentina), entre outras. econômico dos grupos de países. Os países desenvolvidos,
por apresentarem um maior desenvolvimento do transporte
Tecnopolos e da comunicação, possuem redes urbanas completas (com
todas as categorias hierárquicas) e interligadas. Já os países
Os tecnopolos são cidades que se destacam pela produção
em desenvolvimento, por possuírem um menor desenvolvi-
de tecnologia, concentrando uma grande quantidade de mão de
mento do transporte e da comunicação, usufruem de redes
obra qualificada. Essas áreas têm como objetivo a criação e o me-
urbanas incompletas, não interligadas e em que, muitas
lhoramento de produtos e técnicas, que são absorvidos por todos
os setores da econômica, mas, principalmente, pelas indústrias.
vezes, não existem metrópoles nacionais e globais. Dessa
forma, uma verdadeira rede urbana pressupõe não apenas
Para que uma cidade seja considerada tecnopolo, é ne-
cessária a associação entre indústrias e universidade, local um grande número de cidades e de população urbana, mas
de produção da tecnologia. Os centros de ensino recebem também bons transportes e um intrincado sistema de fluxo
subsídios do governo e de companhias privadas, de maneira a (movimento) de mercadorias e pessoas.
estimular e a viabilizar a criação de técnicas mais avançadas. Os esquemas a seguir demonstram a rede urbana brasi-
Os principais tecnopolos se concentram em países de- leira, até aproximadamente 1970, e sua modificação a partir
senvolvidos, porém podem aparecer em alguns locais de desse contexto:
subdesenvolvimento, como é o caso de Campinas, devido à
Rede urbana em meados Rede urbana no final
presença da Universidade de Campinas (Unicamp). Segundo do século XX do século XX
Moraes (2003), é interessante destacar ainda, em São Paulo,
“São José dos Campos que, graças ao CTA (Centro Técnico Metrópole Nacional

Metrópole Nacional
de Aeronáutica) e ao Instituto de Tecnologia Aeronáutica (ITA),
Metrópole Regional Metrópole Regional
dois centros de excelência na área de Engenharia Aeronáutica,
atraíram atividades ligadas à aviação (Embraer) e às atividades Centro Regional Centro Regional
aeroespaciais, como por exemplo, o INPE (Instituto Nacional Cidade Local Cidade Local
de Pesquisas Espaciais).”
Vila Vila

Rede urbana e hierarquia urbana I II

A hierarquia urbana relaciona-se ao grau de desenvolvimento


O esquema I demonstra uma rígida organização da rede
das cidades, que determina uma ordem de importância entre
urbana, ou seja, ela possui uma menor integração entre as ci-
elas. Para o IBGE, alguns fatores precisam ser levados em
dades que compunham a hierarquia urbana. Nesse processo,
consideração para o estabelecimento da hierarquia urbana,
as cidades menores têm uma ligação direta com as cidades
tais como: a rede viária presente no local; mobilidade popula-
que se encontram logo acima do seu nível hierárquico. Pelo
cional, com a movimentação de passageiros; movimentação de
bens de qualquer espécie e principalmente o setor de serviços esquema, a vila relaciona-se diretamente com a cidade local,
(saúde, educação, comércio varejista e atacadista, bancos e que, por sua vez, relaciona-se diretamente com o centro
profissões raras) existente nas cidades. À medida que uma regional, que se relaciona com a metrópole regional, que se
cidade desenvolve e amplia a oferta de bens e serviços para relaciona com a metrópole nacional. Sendo assim, as trocas
atender às necessidades da população, cresce sua importância sociais e econômicas estabeleciam-se somente entre as ci-
e influência sobre a região. dades que se relacionavam diretamente na hierarquia urbana.
Para perceber a diferença de poder entre as cidades, é Essa organização se dava pelo precário desenvolvimento do
interessante destacar que nas cidades pequenas (com menos transporte e da comunicação, o que não favorecia a ligação
de 50 mil habitantes) os bens e serviços são básicos, visando das cidades em escala nacional.
ao atendimento imediato da população. Já em cidades mé- A partir de 1970, a rede urbana se torna mais flexível
dias, os bens e serviços são mais frequentes, indicando maior e integrada, promovendo uma ligação maior das cidades
especialização deles. E, em cidades grandes, a diversificação menores com as cidades maiores, como demonstrado no
dos bens e serviços é bem significativa, apresentando maior esquema II. A relação direta de hierarquia foi quebrada, e
especialização. uma cidade local passa a se comunicar e a promover trocas
Como explicado no tópico “metrópole”, a hierarquia urbana sociais e econômicas, de maneira mais intensa, com cida-
é dada pela: Metrópole global, Metrópole nacional, Metrópole des maiores. Essa mudança nas relações se deu devido
regional, Centro regional e Centros sub-regionais. Cada uma à Revolução Técnico-Científica, que promoveu um grande
das categorias hierárquicas citadas está subordinada ao centro desenvolvimento do transporte e da comunicação.
(cidade) imediatamente superior, que exerce uma polarização – Mesmo com essa mudança de ordenação das relações
chamada de efeito drenagem –, já que “drena” para si recursos urbanas, o Brasil ainda não possui uma rede urbana comple-
financeiros e mão de obra que circulam entre elas. tamente interligada. O precário desenvolvimento do transporte
A ligação entre as cidades que formam uma hierarquia ur- em algumas áreas, principalmente nas regiões Centro-Oeste,
bana constitui o que caracterizamos de rede urbana, que é um Norte e Nordeste, dificulta a ligação entre várias localidades
sistema integrado de cidades que vai desde as menores, ou e as trocas que podem ser estabelecidas entre elas.

321
Geografia

3. (G1 - Col. Naval – 2015) As cidades brasileiras têm ta-


Exercícios manhos e números de habitantes muito diferentes e tam-
bém desempenham variadas funções urbanas. Para um
1. (EsPCEx – 2014) “Sob o impacto da modernização eco-
agrupamento ser considerado cidade é necessário que
nômica e da integração nacional, o Brasil passou de um
se observem os seguintes aspectos: população, densi-
país agroexportador e rural a um país urbano e industrial.
dade demográfica, infraestrutura e equipamentos urba-
Um processo vertiginoso de urbanização revolucionou [...]
nos, como rede de transportes e assistência médico-hos-
a sociedade brasileira em apenas meio século. Mas esse
é um processo regionalmente desigual […].” (MAGNOLI, pitalar, escolas, comércio, bancos, áreas de lazer, etc.
Demétrio. Geografia para o Ensino Médio. 2 ed. São Sobre a dinâmica urbana brasileira é correto afir-
Paulo: Atual, 2012, p. 264) mar que
As desigualdades no ritmo da urbanização regional do A) as primeiras cidades brasileiras surgiram somente
Brasil evidenciam-se na década de 1930, quando o desenvolvimento
I. na configuração geral das redes de transporte, a qual do setor secundário possibilitou a formação de
se apresenta mais densa e articulada nas regiões mais pequenos núcleos urbanos e de uma economia
povoadas e economicamente mais dinâmicas, como compatível para tal.
as do Sudeste e do Sul do País. B) até os anos 1950 ocorreu no país um forte fluxo
II. na configuração de suas redes urbanas, as quais se imigratório, especialmente para São Paulo, visto
apresentam menos integradas nas regiões Norte e que este estado reúne condições de infraestrutura
Centro-Oeste, e são caracterizadas por um peque- para receber grande contingente populacional, fa-
no número de metrópoles e um grande número de zendo essa unidade da federação se tornar a mais
cidades médias com a função de capitais regionais. urbanizada do país.
III. Inas fortes diferenças no ritmo de transferência da C) a partir dos anos 1940, com o avanço do setor se-
população do meio rural para o meio urbano, desta- cundário, da queda na produção cafeeira, da gera-
cando-se a região Nordeste que, devido ao intenso ção de infraestrutura urbana e da migração campo
êxodo rural sofrido, conheceu uma rápida trajetória cidade, especialmente de nordestinos, ocorreu um
de urbanização. notável crescimento urbano do Sudeste.
IV. nos diferentes níveis de investimentos de capital rea- D) a partir do início dos anos 1960 ocorreu no país
lizados tanto pelo Estado como por empresas nacio- a chamada desconcentração industrial, ou seja,
nais e transnacionais, que, selecionando um número estados como o de São Paulo deixaram de ser
reduzido de cidades no País, acabaram determinando atrativos para a fixação industrial, estimulando
um processo de metropolização mais acentuado na uma reordenação do crescimento das cidades em
região Centro-Sul. direção ao interior do país.
Assinale a alternativa em que todas as afirmativas estão E) a urbanização brasileira deu-se de forma muito
corretas. lenta, consequência do tardio processo de desenvol-
A) I e III C) III e IV E) I, III e IV vimento dos setores secundário e terciário, fato que
desencadearia nos seus grandes centros urbanos
B) II e III D) I e IV
inúmeros problemas socioeconômicos.
2. (G1 - Col. Naval – 2016) Somente na segunda metade do 4. (UERJ – 2018) Em uma cidade contemporânea, desen-
século XX, o Brasil tornou-se um país urbano, realidade rolam-se, há muitas décadas, os processos paralelos de
que se materializou em função da sua dinâmica política
atomização e massificação. Na esteira deles, a cidade
e socioeconômica. Com relação à desenvoltura urbana
foi deixando de ser um mosaico de bairros coerentes,
nacional, é correto afirmar que
cada um polarizado por sua própria centralidade, até se
A) o crescimento da população urbana em relação à chegar à cidade como um todo, nitidamente polarizada
rural coincidiu com o período de consolidação da por seu Central Business District (CBD – Distrito Central
industrialização do país, sendo, em 1980, a primeira de Negócios), para se tornar, hoje, uma estrutura muito
vez em que houve mais habitantes nas cidades do
mais complexa e difícil de resumir. Muitos bairros viram
que no campo.
seus centros de comércio e serviços desaparecerem
B) a rede urbana de uma região envolve as relações entre ou serem reduzidos à irrelevância e, não raro, o próprio
o campo e a cidade e as relações entre os diferentes
CBD perder prestígio e decair.
tipos de cidades, onde a existência de uma rede de
transportes e de comunicação é fundamental para Adaptado de SOUZA, M. L. Os conceitos fundamentais da pes-
quisa socioespacial. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2015.
sua integração.
C) a primeira cidade tecnológica ou tecnopolo surgiu no A transformação para a atual estrutura interna das me-
início dos anos 1940, em Campinas, no interior de São trópoles, descrita no texto, é evidenciada pelo seguinte
Paulo, e foi concebida a partir da iniciativa privada e tinha processo:
suas atividades concentradas na chamada química fina. A) expansão dos shopping centers
D) a megalópole que se formou no eixo Rio de Janeiro B) redução dos movimentos pendulares
– São Paulo – Belo Horizonte demonstra o rápido
crescimento urbano ocorrido no país a partir dos anos C) modernização dos transportes de massa
1930, resultante do acelerado processo industrial da D) retração dos mecanismos de segregação
região Sudeste.
E) o conceito de Região Metropolitana, surgido em 1973, Gabarito
ocorreu para designar o conjunto de municípios contí-
1. D 3. C
guos, porém desintegrados socioeconomicamente a
uma cidade central, os quais passaram a competir en- 2. B 4. A
tre si por melhores ofertas de infraestrutura e serviços.
322
Capítulo 19

Problemas sociais e ambientais urbanos


O processo acelerado de urbanização promove o crescimen- na atualidade, há muito descarte de lixo eletrônico (e-waste), e
to e a consolidação de problemas urbanos de difícil controle, isso constitui um enorme problema, pois quando eliminado de
como as questões de moradia, coleta e tratamento do lixo, forma inadequada, ele é responsável por causar sérios danos ao
transporte, saneamento básico, emprego, entre outras. ambiente em razão da natureza tóxica de muitos componentes.
O gargalo do transporte é potencializado pelo processo
característico dos centros urbanos – a periferização. A maior
parte da população não consegue ocupar áreas de urbaniza-
ção consolidada, ou seja, de maior oferta e disponibilidade
dos elementos urbanos, como rede de distribuição de energia
elétrica, asfalto, saneamento básico, transporte entre outros.
Isso se dá devido ao baixo poder aquisitivo da maior parte da
população e à especulação imobiliária, em que imóveis são
deixados sem utilização, de maneira a diminuir a oferta pe-
rante a demanda, promovendo aumento do valor dos imóveis
para aluguel e venda. Diante disso, a população carente se vê
obrigada a ocupar as áreas de favela ou a migrar para áreas Muitos lixões são fonte de consumo alimentar e de renda de
diversas pessoas, sobretudo nos países mais pobres.
periféricas, e junto aos principais centros urbanos. Essas áreas,
geralmente, se concentram em cidades próximas às metrópoles Disponível em: http://www.ambientelegal.com.br/experientes-
ou em bairros afastados dos centros de serviços e comércio. -depoimentos-tiao-santos/. Acesso em 05 abr. 2009.
Sendo assim, cada vez mais a população aumenta a demanda
Os países ricos são grandes produtores desse tipo de lixo e,
sobre o transporte coletivo, intensificando sua utilização e os
ao invés de arcarem com as “despesas” (econômicas, sociais
problemas relacionados a ele.
e ambientais) do descarte desses resíduos, acabam enviando-
O processo de formação dos enclaves fortificados – condo- -os para os países pobres. Embora essa seja uma atividade
mínios fechados – não pode ser encarado como único fator de ilegal, todos os anos, milhares de monitores, placas-mãe, entre
periferização. A população que opta por residir em enclaves outros componentes são enviados em contêineres para esses
fortificados segue em busca de características que não são países. Além disso, lixos domésticos, hospitalares e industriais
comuns aos principais centros urbanos. A grande poluição também são exportados pelos países ricos para os pobres,
sonora, atmosférica, do solo e da água, associada ao aumen- como o plástico reciclável.
to crescente da violência e dos congestionamentos, gera na
Em Acra, a capital de Gana, está localizado um dos maiores
população com maior poder aquisitivo a vontade de residir em
lixões de eletrônicos à céu aberto do mundo, e o mais triste é
áreas em que esses problemas não sejam representativos.
perceber que esse não é um problema africano, mas um pro-
Atualmente, o problema do transporte, potencializado pelo blema que o excesso de consumismo dos países desenvolvidos
aumento da facilidade do crédito pessoal, favorece a aquisição leva para a África, tratando o continente como um verdadeiro
do carro próprio, o que sobrecarrega diariamente um sistema lixão. Além disso, é preciso ter em mente que elementos como
de transporte que já se mostra catastrófico. mercúrio, chumbo, cádmio, arsênico – as quatro substâncias
A aceleração do processo de urbanização trouxe também mais tóxicas no mundo – são encontradas em abundância em
problemas relacionados ao saneamento básico, que em muitos lixões de eletrônicos, o que expõe as pessoas que buscam
locais ainda não foi implantado de maneira satisfatória, o que sustento nesses ambientes a uma série de riscos.
favorece a propagação de doenças que são mais comuns entre
a população de baixa renda. Destinação do lixo
As áreas urbanas são grandes produtoras de resíduos,
Lixo urbano devido ao consumo de produtos industrializados. A destinação
Um problema urbano bastante comum na paisagem das do lixo é um problema extremamente sério por ser esse um vei-
cidades refere-se ao lixo, em função do grande potencial de culador de doenças e, também, por produzir um rebaixamento
se tornar fonte de doenças e de contaminação dos solos e da do valor dos terrenos e imóveis, quando concentrado em um
água, além de provocar o entupimento de redes de drenagem determinado local.
urbana, contribuindo para as enchentes e para a degradação A sua destinação final pode acontecer de diversas formas:
da paisagem. • Lixão: local de despejo do lixo, feito sem nenhuma preo-
A problemática se agrava a cada dia em razão do contínuo cupação com o solo, a atmosfera, o lençol freático e a
crescimento do consumismo, da população mundial, e de sua sociedade do entorno. A decomposição do lixo orgânico
concentração nos centros urbanos. Embora estejamos em pleno libera um líquido chamado chorume, que possui grande
século XXI, são poucas as localidades que dispõem de aterros capacidade de poluição do solo e do lençol freático. Como
sanitários adequados e usinas de tratamento. Por isso o lixo não existe impermeabilização do solo nos lixões, o chorume
acaba sendo descartado em áreas a céu aberto chamdos de infiltra-se nele, provocando sua contaminação e, posterior-
‘‘lixões’’. Nesses ambientes se acumulam resíduos de diferentes mente, a contaminação do lençol freático. Além disso, os
origens, inclusive hospitalar, fato que oferece risco aos coleto- gases liberados na decomposição do lixo orgânico entram
res que frequentam esses locais diariamente. Além disso, no em contato direto com a atmosfera, promovendo sua polui-
contexto de grande desenvolvimento tecnológico que se vive ção. Além dos problemas ambientais, os lixões, em muitos

323
Geografia

dos casos, geram em problemas sociais, com a presença de catadores de lixo, que fazem desses locais centros de seleção
de matérias-primas para serem vendidas e de alimentos para a sobrevivência. A imagem seguinte demonstra esse problema.
• aterro sanitário: local de despejo do lixo urbano, porém com preocupação para não contaminar o solo e a atmosfera. Para o
desenvolvimento do aterro, promove-se a impermeabilização do solo, com concreto e argila, impedindo a contaminação dele
e do lençol freático pelo chorume. Apesar de o aterro ser construído para a permitir a captação do biogás, que é formado a
partir da decomposição do lixo orgânico, em vários locais, esse gás é lançado diretamente na atmosfera, promovendo a sua
poluição. Existem rigorosas normas para a instalação e o funcionamento desses aterros, para evitar que se tornem um foco
de proliferação de organismos patogênicos. Mesmo assim, alguns aterros se tornam centros de proliferação de doenças e
necessitam de áreas extensas para a sua implementação.
• Incineração: técnica de queima do lixo. Na incineração, é preciso desenvolver técnicas para evitar a contaminação da at-
mosfera pela fumaça liberada na queima. Por isso, o tratamento dos gases que são liberados dos incineradores é primordial,
uma vez que eles podem ser fontes de produção de energia.
• compostagem: decomposição do lixo orgânico, que pode ser realizada de maneira natural ou industrial. Na compostagem
industrial, o lixo orgânico é recolhido num lugar fechado, mantendo-se constantes a umidade e a temperatura. O resultado
dessa técnica é a produção de adubo – que pode ser usado como fonte de renda em áreas agrícolas – e a produção de
gases utilizados como fontes de energia.
• reciclagem: processo que promove a coleta seletiva do lixo (separação de papel, plástico, metal, vidro e matéria-orgânica),
visando a um reaproveitamento da matéria-prima para o abastecimento industrial, o que diminui a demanda sobre os recur-
sos naturais. Sua utilização é cada vez mais expressiva, pela ampliação crescente da consciência ecológica mundial e pela
possibilidade de geração de renda, por meio da coleta da matéria-prima e sua posterior revenda.
O ideal de destinação do lixo não compreende uma técnica isolada, mas sim a associação de várias técnicas, para aproveitar,
da melhor maneira possível, a matéria-prima descartada todos os dias pela população mundial e diminuir esse problema urbano,
que se mostra tão urgente atualmente.

Depósito de Vazamentos Lagoa de


rejeito sanitário de esgotos água servida
e lixo

Destinação do lixo.

Maior receptor mundial, a cidade de


Guiyu é o destino de 60% a 70% do
lixo eletrônico, que, quando lá chega, é
desmantelado manualmente. A água
da região já está completamente
contaminada. A população vive dessa
Sem espaço para processar o reciclagem e tem níveis de chumbo e
e-waste em seu próprio território e de outros metais tóxicos em altas
As empresas são mais vigiado por ambientalistas, o concentrações no sangue
eficazes que o governo no continente estuda a implantação de
combate ao e-waste. Apple, leis para diminuir o volume de
Dell e HP, por exemplo, se dejetos. Uma delas limita a posse Rússia
comprometem a abolir de de eletrônicos a 4 Kg por pessoa
O volume vem
seus produtos itens nocivos
diminuindo, mas o lixo
ao ambiente Ucrânia
Europa eletrônico que sobra vai
Nas cidades de Lagos e Acra são para Guiyu, na China
A cidade de Karachi é
despejados 15% do total do lixo para onde vai cerca de Coréia
Estados Unidos eletrônico mundial. O porto de 10% de lixo eletrônico do Sul
Lagos recebe mensalmente 400 Japão
China
mil máquinas usadas. Desse total, Em conjunto com a chinesa
75% não têm conserto e acabam Paquistão
Egito Taiwan Guiyu, Taiwan, Indonésia e
México sendo enviadas para aterros ou Malásia são o destino de
lixões a céu aberto Índia
Emirados Vietnã oito em cada dez PCs
Árabes Tailândia descartados nos EUA
Uma agência do governo da Nigéria
Califórnia disse que em 2006, o Venezuela Malásia Filipinas
Brasil recebeu mais de mil Gana
Quênia Cingapura
toneladas de eletrônicos descarta-
dos nos EUA. O Ministério do Meio Tanzânia Indonésia
Ambiente não reconhece que o
país seja receptor desse tipo de lixo
Brasil Nova Délhi recebe cerca de
15% do e-lixo. Os equipamen-
Chile tos são desmontados em ruas Austrália
secundárias das regiões que
comercializam eletrônicos. O
Exportadores
trabalho é feito por homens, De janeiro de 2008 a maio de
Argentina mulheres e crianças sem 2017, 12 navios carregados
Receptores reconhecidos proteção de lixo eletrônico descarrega-
ram em território chinês; a
Receptores não reconhecidos Austrália recicla apenas 4%
do seu lixo eletrônico

Enchentes

324
Problemas sociais e ambientais urbanos

A enchente é um processo natural potencializado pelas • Ausência de infraestrutura em muitas cidades, faz com
intervenções antrópicas no solo. Em períodos de cheias da o que as dragas de captação pluvial não suportem o
rede hidrográfica – aumento do seu volume de água devido volume de água precipitado durante o período de maior
ao aumento da pluviosidade –, o volume de água se inten- pluviosidade. Dessa forma, o volume de chuva precipitado
sifica, promovendo o alagamento das áreas do entorno – não é comportado por essas dragas e acaba escoando,
região denominada como várzea ou planície de inundação.
de maneira concentrada, sobre o asfalto.
Nos períodos de estiagem, denominados vazantes do rio, o
volume de água diminui. Esse processo se torna um problema • O acúmulo de detritos e o grande lançamento de lixo nas
quando o homem constrói edificações nas áreas de várzeas, ruas dificultam a captação da água da chuva, provocando
sujeitas a alagamento natural periódico. entupimento dos bueiros. Isso potencializa o impacto das
enchentes, disseminando doenças.
Tempo I: condições naturais
planície de inundação

B
Gentrificação
A
rio Corresponde a um processo de mudança imobiliária, nos
A. Altura normal das águas
B. Altura máxima atual das perfis residenciais e padrões culturais, seja de um bairro, região
águas durante as cheias
ou cidade. Diversas vezes, as áreas periféricas de um centro
Tempo II: urbanização urbano formam-se de maneira não planejada, seja por meio
de invasões, ou pela expansão descontrolada de loteamentos
D
imobiliários em áreas afastadas. Esses locais, quase sempre
C
sem infraestrutura básica (como saneamento, asfalto e trans-
rio C. Altura máxima pretérita das porte público de qualidade), são afetados pela distância que se
águas durante as cheias
D. Altura máxima atual das localizam dos principais centros urbanos da cidade
águas durante as cheias
Quando esse processo ocorre, o espaço geográfico desses
Fonte: Vestibular UFMG 2003 – retirado de: COATES, Donald Robert.
Enviromental Geology. New York: John Wiley & Sons, 1981 (adaptado).
ambientes antes “esquecidos” pela especulação imobiliária
transformam-se e ganham um novo significado, sobretudo
A figura anterior demonstra, no Tempo I, o processo natural
em função da valorização acentuada promovida pela criação
e, no Tempo II, um contexto urbanizado que favorece o acon-
de novos pontos comerciais ou edifícios. Por esse motivo, a
tecimento das enchentes.
paisagem modifica-se, e as zonas, que antes eram só guetos
Alguns fatores contribuem para a ocorrência das enchentes:
e barracos, transformam-se em condomínios, prédios e casas
• Ocupação humana inadequada das áreas de várzeas, de médio e alto padrão.
local favorável à presença de água periódica, que possi-
bilita a ocorrência das enchentes. O custo para se viver nessas regiões se torna muito alto,
dificultando a permanência da população de baixa renda no
• Diminuição das áreas com cobertura vegetal nos grandes
centros urbanos, as quais são substituídas por concreto local. Dessa maneira, a população residente é gradativamente
e asfalto – processo denominado impermeabilização do substituída por grupos sociais mais abastados. São exemplos
solo –, favorecendo o escoamento superficial da água, de áreas que passaram pelo processo de gentrificação: La
em detrimento da infiltração. Na figura a seguir, é possível Barceloneta (Barcelona, Espanha); Puerto Madero (Buenos
perceber a relação existente entre escoamento superfi- Aires, Argentina), Malasaña (Madrid, Espanha), Lapa e Vidigal
cial e infiltração da água, no momento I, em áreas com (Rio de Janeiro), e Vila Madalena (São Paulo).
grande presença de cobertura vegetal, e, no momento II,
em áreas urbanizadas. Inversão térmica
Em áreas urbanas, devido à excessiva impermeabilização
A inversão térmica é um processo natural, verificado princi-
do solo, associada à diminuição da cobertura vegetal, o volume
palmente no inverno, em que se tem a inversão dos padrões
de água escoada é muito maior, favorecendo a ocorrência das
normais de aquecimento da atmosfera: em altitudes menores,
enchentes.
a temperatura é maior – maior concentração de gases estufa
e maior proximidade da superfície terrestre, fonte doadora de
Superfície Superfície energia para o aquecimento – e em altitudes maiores, a tempe-
ratura é menor. Quando ocorre a inversão térmica, o ar menos
aquecido fica próximo da superfície e o ar mais aquecido, em
altitudes mais elevadas. Esse processo pode ser verificado em
Solo Solo
qualquer ambiente terrestre, áreas urbanas ou rurais, mas é mais
comum a sua ocorrência em centros urbanos.
Rio
Rio

O processo de inversão térmica só se torna um problema


Nível Nível para o ser humano quando verificado em áreas urbanas, local
freático freático
de concentração de poluentes liberados pelos automóveis e
pelas indústrias. A inversão do padrão de aquecimento impede
a convecção do ar, que ocorre quando o ar próximo da superfí-
cie absorve calor. Como consequência, sua densidade diminui
I II
e, por isso, ele ascende, transportando para altitudes mais
Legenda: elevadas parte dos poluentes liberados pelas atividades antró-
Fluxo de água picas. Com a presença do ar mais frio próximo da superfície, a
convecção do ar é impedida e os poluentes ficam em contato
Armazenagem
direto com a população, o que intensifica o desenvolvimento
Fonte: Vestibular UFMG 2007 – retirado de DREW, D. Pro- de doenças respiratórias.
cessos interativos Homem-Meio ambiente. Rio de Ja-
neiro: Bertrand Brasil, 1998. p. 91-95 (adaptado).

325
Geografia

Fluxo Normal Inversão Térmica


+

AR MAIS FRIO AR FRIO zona


urbana
zona
AR FRIO AR QUENTE rural

-
AR QUENTE AR FRIO

MORAES, Paulo Roberto. Geografia Ge-


Disponível em: http://3.bp.blogspot.com. Acesso em: 06 ago. 2010. ral e do Brasil. São Paulo: Harbra, 2003.

A formação das ilhas de calor relaciona-se com os seguin-


A formação de uma camada de ar menos aquecida próxima
tes fatores, segundo Adas (2005):
da superfície pode ser causada pela presença de nuvens ou de
partículas em suspensão na atmosfera, que podem ter origem • elevada capacidade de absorção de calor das super-
fícies urbanas, como o asfalto, os paralelepípedos, as
natural – aerossóis – ou origem antrópica – particulados. Em
paredes de tijolo ou concreto, as telhas de barro e de
ambos os casos, a energia solar é amplamente refletida antes
amianto etc.;
de chegar à superfície, fator que impede o seu aquecimento
e, consequentemente, impede o aquecimento da atmosfera. • escassez de áreas revestidas de vegetação, prejudi-
cando o que os climatologistas chamam de albedo,
Em áreas urbanas com grande interferência do ser humano é
ou seja, o poder refletor de determinada superfície, e,
comum, principalmente no inverno, a formação de uma camada
portanto, permitindo maior absorção do calor recebido;
de poluentes denominada smog, que dificulta a chegada da
energia solar à superfície terrestre. • impermeabilização dos solos pelo calçamento e pelas
edificações, provocando o escoamento rápido da água
da chuva para bueiros, galerias e rios, o que reduz o
Smog processo de evaporação e o consumo de calor;
Por vezes, nos dias de céu aberto e de ar seco, é possível
• concentração de edifícios que interferem na circulação
observar sobre uma grande cidade, uma mancha mais escura dos ventos;
na linha do horizonte. Essa cobertura, formada por micropar-
tículas sólidas, deixa turva a atmosfera. O smog (smoke =
• poluição atmosférica que retém a radiação do calor, cau-
sando o efeito estufa ou o aquecimento da atmosfera;
fumaça + fog = neblina), corresponde a uma neblina composta
pelas emissões gasosas provenientes dos escapamentos • utilização de energia pelos veículos de combustão in-
terna, pelas residências e pelas indústrias, contribuindo
dos veículos e das chaminés das fábricas. Esse fenômeno
para o aquecimento da atmosfera.
acontece quando ocorre uma mistura de poluentes, tais como
Devido à maior liberação de poluentes e particulados nas
monóxido de carbono e dióxidos de enxofre, nitrogênio e ozônio,
áreas centrais, essa região apresenta-se como uma área de
podendo causar irritações alérgicas e problemas respiratórios
maior concentração de poluentes, o que dificulta a dispersão
na população. do calor, mesmo no período da noite. Dessa forma, a manu-
tenção de temperaturas mais elevadas em relação às áreas do
entorno é potencializada, mesmo no período sem incidência
da energia solar. A diferença de temperatura do ar atmosférico
entre o hipercentro e sua região do entorno pode atingir de 6o
a 8o C, o que é muito significativo. A maior temperatura central
promove a formação de centros de baixa pressão atmosférica,
atraindo, para essas áreas, ventos do entorno, que podem tra-
zer poluentes das áreas de periferia, intensificando a poluição
central e dificultando a dispersão da ilha de calor. As ilhas de
calor também atraem ventos carregados de umidade, oriunda
da vegetação e das lâminas de água, o que contribui para a
formação de chuvas torrenciais no período do verão.
As ilhas de calor contribuem para o desconforto e estres-
se da população urbana, bem como promove o aumento
dos gastos energéticos pela necessidade do uso intenso
de equipamentos de refrigeração, como ar-condicionado e
ventiladores.
Smog sobre a Cidade Proibida, Pequim. A redução das médias térmicas nas áreas centrais pode
ser alcançada com a implantação de medidas como:

Ilha de calor • repavimentação de ruas, avenidas e tetos com subs-


tâncias que tenham cores claras, para aumentar a taxa
Ilha de calor é o nome dado ao processo de elevação da de reflexão da energia solar – albedo. Essa medida
temperatura nos hipercentros de áreas urbanas se compara- promove a diminuição da taxa de energia absorvida
dos com as áreas do entorno – periferias e áreas rurais. Esse pela superfície e, dessa forma, a diminuição da energia
processo apresenta causas apenas antrópicas. liberada para o aquecimento da atmosfera;
326
Problemas sociais e ambientais urbanos

• ampliação da cobertura vegetal, para promover o aumento


da taxa de absorção da energia solar para a realização Exercícios
da fotossíntese e a diminuição da velocidade do escoa-
mento superficial. Tudo isso possibilita a evaporação com 1. (EsPCex – 2015) Observe o mapa a seguir, que mostra
a retirada de energia da superfície urbana; a distribuição dos domínios morfoclimáticos brasileiros,
e considere as afirmativas abaixo:
• diminuição da liberação de partículas e gases que possam
dificultar a dispersão do calor para camadas superiores
da atmosfera.

Chuva ácida
As atividades antrópicas que apresentam grande queima de
combustíveis fósseis também contribuem para a intensificação
da acidez natural das chuvas. A expressão ‘‘chuva ácida’’ se
refere à maximização da acidez, mas é importante ressaltar
que a chuva naturalmente é ácida. Esse fenômeno é causado
principalmente pelas emissões gasosas resultantes da queima
de combustíveis fósseis. O dióxido de enxofre (SO2), lançado no
ar atmosférico pelas indústrias, e o óxido de nitrogênio (NOx),
proveniente de diversos combustíveis fósseis e dos veículos mo-
torizados, combinam-se com o hidrogênio presente na atmosfera
e transformam-se em ácido sulfúrico (H2SO4) e em ácido nítrico
(HNO3). No momento da precipitação do vapor de água presente
na atmosfera, esses compostos ácidos são trazidos à superfície, I. no domínio “A” encontramos a maior parte do chamado
promovendo impactos tanto em áreas rurais como em áreas “arco do desmatamento”, onde a vegetação vem per-
urbanas. Por ação dos ventos, as nuvens e o ar contaminado de dendo espaço para as atividades agrícolas, causando
ácidos podem se deslocar por muitos quilômetros e se precipitar significativos prejuízos à biodiversidade.
em lugares bem distantes do local de origem da poluição. II. o domínio “B” caracteriza-se por solos pobres em
matéria orgânica e pedregosos, porém projetos de
Óxidos de enxofre
irrigação têm viabilizado a produção de frutas, como
e nitrogênio
a uva para exportação, nessa área.
III. os domínios “C” e “F” são considerados hotspots, pois
são áreas prioritárias para conservação e de alta biodi-
Os óxidos se
combinam com a
água e dão origem
versidade, as quais, por se constituírem em fronteiras
à chuva ácida
(ácido sulfúrico e
agrícolas, vêm tendo sua vegetação suprimida para
ácido nítrico).
dar lugar às atividades pecuárias.
IV. os domínios “B” e “E” são caracterizados por vege-
A água de escoamento,
encontrando o solo desnudado,
tação herbácea associada a climas que apresentam
provoca intensa erosão e
deposição de materiais nos rios
grande período de estiagem e solos em processo de
Alguns musgos se
desenvolvem com a
e lagos: estes são
contaminados pela acidez da desertificação, dificultando a atividade agrícola.
acidez alta, chegando a água, comprometendo a vida
fechar o leito do lago. animal e vegetal nele existente.
V. o domínio “D” apresenta clima tropical úmido e relevo
ADAS, Melhem; ADAS, Sérgio Panorama geográfico do Brasil: contradi- de morros arredondados, revelando intenso trabalho
ções, impasse e desafios socioespaciais. São Paulo: Moderna, 2004. erosivo em estrutura cristalina.
Como consequências da intensificação da acidez das águas Assinale a alternativa em que todas as afirmativasestão
das chuvas, destacam-se: corretaS.
A) I, III e IV C) III, IV e V E) II, III e V
• deterioração de monumentos, edificações e equipamen-
tos, visíveis principalmente nos ambientes urbanos; B) I, II e V D) I, II e IV
• destruição da vegetação e, assim, exposição do solo aos 2. (EsPCex – 2011) “Nas áreas urbanas, em média, a preci-
processos de erosão, podendo gerar deslizamentos de
pitação anual é 5% superior e o número de dias de chuva
encostas nas áreas de maior inclinação do terreno;
é 10% maior do que nas áreas rurais adjacentes. Além
• acidificação de ambientes aquáticos com alteração das disso, as chuvas torrenciais são mais comuns nas cidades”.
condições naturais, o que dificulta a manutenção da vida (Magnoli & Araujo, 2004, p.176).
e a manutenção das atividades antrópicas desenvolvidas
O fenômeno descrito acima deve-se a alguns fatores co-
nesses locais, como a produção de energia em hidrelétri-
muns às grandes cidades, dentre os quais pode ser citado:
cas – corrosão dos equipamentos promovida pelo ácido
sulfúrico e nítrico; A) o acúmulo de praças e grandes áreas verdes na por-
ção central das grandes cidades.
• prejuízos à saúde do homem, quando em contato com a B) o excesso de concreto, que transfere calor para o
chuva ácida ou em caso de ingestão de água acidificada.
ambiente e diminui a temperatura das áreas centrais.
Os países desenvolvidos são os principais em níveis de
C) a elevada presença de material particulado em sus-
acidificação das águas pluviais, devido ao processo de indus-
pensão, contribuindo para a condensação da água na
trialização mais antigo e, por isso, maior parque industrial. As
atmosfera e precipitação de chuva.
áreas de maior destaque são: o nordeste dos EUA, o sudeste
D) a elevada evapotranspiração nas cidades, especial-
do Canadá, a Europa Ocidental e o Japão. Porém, esse pro-
mente em áreas de canais e esgotos.
cesso pode ser observado nos países emergentes – sudeste
asiático, China, Índia, Rússia e Brasil –, sendo necessário um E) a presença de massas de ar frias nas áres centrais
planejamento maior na ocupação e utilização do espaço. e consequente aumento da precipitação de chuva.

327
Geografia

3. (EsPCex – 2015) “Foi no contexto da Primeira Conferên- A) as políticas públicas, voltadas para melhoria na ocu-
cia das Nações Unidas sobre Meio Ambiente, realizada pação do espaço urbano, não encontram obstáculo
em 1972, em Estocolmo, que nasceu a ideia do desen- no contingenciamento de verbas destinadas para
volvimento [...] sustentável [...], isto é, de se adotar um este fim, pois com as ações afirmativas, tomadas
modelo de desenvolvimento econômico voltado à explo- por todas as estâncias governamentais, elas têm
ração nacional dos recursos naturais, à preservação do total prioridade.
meio ambiente ou ao equilíbrio ecológico e ao combate B) os recentes deslizamentos de terras, em todo o
às disparidades sociais entre os seres humanos e entre estado do Rio de Janeiro, soterrando centenas de
as nações.” (ADAS, M. Panorama Geográfico do Brasil. pessoas e descobrindo uma realidade mórbida de
4. ed. São Paulo: Moderna, 2004, p. 117). desinteresse pela vida dos mais desvalidos, são
Apesar da importância da temática acima apresentada, lembrados nas políticas públicas apenas em pe-
observa-se, mundialmente, que a aplicabilidade do concei- ríodos pré-eleitorais e em políticas antinatalistas,
to de desenvolvimento sustentável tem sido muito difícil. como as reformistas.
Assinale a alternativa que explica a problemática apon- C) o confronto entre as classes mais abastadas das
tada no texto acima. zonas urbanas com aquelas menos favorecidas se
A) Os agentes econômicos, em escala planetária, faz presente na apropriação dos espaços de mo-
travam uma acirrada competição, buscando obter radia, onde os mais ricos, além de se apoderarem
menores custos de produção para assegurar seu dos melhores lugares, apoiam políticas de controle
domínio de mercado, o que, muitas vezes, é confli- de natalidade implementadas no país.
tante com as políticas ambientais de utilização dos D) a charge sintetiza algo incomum nas cidades bra-
recursos naturais. sileiras, ou seja, o deficit habitacional, que é a dife-
B) Do ponto de vista teórico, a ideia do desenvolvimen- rença entre as moradias de pessoas de baixa renda
to sustentável não encontra aceitação em nenhum e aquelas que estão situadas em áreas nobres,
país do mundo, tampouco seus princípios são apli- as quais não possuem legalização por parte dos
cados pelos governos dos países desenvolvidos, departamentos municipais de ocupação fundiária.
pois estes argumentam que tal ideia é prejudicial E) a ocupação desordenada dos espaços urbanos é
ao desenvolvimento de suas economias. oriunda de políticas de combate à pobreza pouco
C) Nos diferentes países do mundo, não existe uma eficazes. Nunca no Brasil se privilegiou o ordena-
comunidade organizada no espaço local em torno mento urbano, apesar de se manifestar no espaço
das mais diversas questões ambientais que afetam das grandes cidades uma integração, bastante
a qualidade de vida de sua população. significativa, nas relações de produção e distribui-
ção da renda.
D) Por não existir um consenso entre a comunidade
científica mundial acerca das verdadeiras causas 5. (EsPCex – 2015) A metropolização resulta de uma
do aquecimento global, as políticas relacionadas ao intervenção humana extensa e profunda sobre a
desenvolvimento sustentável têm sido fortemente superfície da Terra, uma vez que implica alterações
contestadas pelo governo brasileiro. significativas da paisagem e da qualidade de vida da
E) As discussões acerca do desenvolvimento susten- população urbana.
tável só encontram respaldo no âmbito das ONGs, Entre os impactos ambientais causados pela interven-
uma vez que nem governos, nem entidades civis, ção humana no ambiente urbano, podese destacar
tampouco empresários, participam da elaboração
I. a formação das ilhas de calor na periferia das gran-
de projetos relacionados a essa questão.
des cidades, associada à escassez de áreas reves-
4. (G1 - col. naval – 2011) Observe a charge abaixo. tidas de vegetação, com consequente aumento do
poder refletor da luz solar que incide no solo urbano.
II. a maior ocorrência de chuvas torrenciais nas metró-
poles, em relação às áreas rurais adjacentes, devido
à grande quantidade de material particulado em
suspensão, favorecendo a condensação da água
na atmosfera.
III. a grande poluição do ar e a consequente intensifi-
cação de problemas respiratórios, agravados pelo
fenômeno climático da inversão térmica que ocorre,
em geral, no inverno.
IV. o aumento do efeito estufa gerado pelo movimento
do ar das zonas rurais para as zonas urbanas,
elevando a temperatura nas cidades.
Assinale a alternativa que apresenta todas as afirma-
tivas corretas
A) I e II C) II e III E) I, III e IV
A charge expressa um drama histórico na formação do B) I e III D) I, II e IV
espaço urbano no Brasil: o processo de ocupação irre-
gular, provocado pela distribuição desigual da riqueza Gabarito
e pela não priorização da melhoria nas condições de
habitação das populações mais pobres. Com base na 1. B 3. A 5. C
análise da charge, é correto afirmar: 2. C 4. C

328
Capítulo 20

Revolução industrial
Introdução Maquinofatura
O processo de industrialização vivenciado pela humanidade Esse estágio de transformação da matéria-prima é, atual-
a partir de 1750, século XVIII, consolidou as bases do sistema mente, a forma principal de produção. Caracteriza-se pela larga
capitalista, por aumentar o ritmo de produção e o volume de utilização de maquinário, que não depende mais da energia
produtos produzidos. Dessa forma, o consumismo, característi- humana, e pela intensa divisão do trabalho, levando à espe-
co desse sistema, ganha repercussão nas sociedades urbanas cialização da mão de obra, sem o conhecimento de todas as
e se mostra como uma necessidade da sociedade moderna. etapas de produção para a confecção do produto, na maioria
das vezes. Como a produção independe da força humana, seu
A industrialização criou as principais bases da sociedade
ritmo é determinado pela necessidade de venda da indústria
moderna, que se caracteriza por um ritmo acelerado de mudan-
e da capacidade do maquinário, imprimindo uma velocidade
ças, pela produção em massa e pela intensa divisão do trabalho
de trabalho que é maior que o tempo humano. Dessa forma, a
entre as pessoas e entre as regiões e nações.
habilidade humana torna-se apenas um apêndice da máquina,
resumindo-se apenas em saber fazê-la funcionar. Funcionando
Estágios de transformação da em uma escala muito maior que os estágios do artesanato e da
matéria-prima manufatura, a maquinofatura possui uma produção em série
e padronizada, isto é, fabrica um número imenso de produtos
A forma de produção industrial é verificada apenas no século exatamente iguais. Sendo assim, sua produção visa ao abaste-
XVIII, pois a matéria-prima é transformada pela humanidade cimento em escala nacional e, em muitas das vezes, mundial.
bem antes do surgimento das indústrias. Para que esse estágio de transformação da matéria-prima se
É possível classificar três estágios de transformação da mostre rentável, é necessária a produção contínua e em gran-
matéria-prima, que estão ordenados de acordo com a evolução: des quantidades. Quanto maior for o seu volume de produção,
maior rentabilidade a indústria terá, cobrindo mais rapidamente
Artesanato os investimentos realizados na compra de maquinário e pos-
sibilitando a realização de novos investimentos na produção.
Desenvolvido há milhares de anos, não apresenta divisão
do trabalho. O artesão é responsável por todas as fases de As etapas do desenvolvimento
produção, desde a seleção da matéria-prima até o acabamento
final do produto. A produção é realizada sem a utilização de industrial
maquinário, observando-se apenas o uso de ferramentas, e
é destinada apenas ao uso do artesão ou de seus familiares. Os países desenvolvidos foram os pioneiros no crescimento
É interessante destacar que o artesanato atualmente não é da indústria e apresentaram três fases distintas de evolução
a principal forma de produção e, sendo raro, é valorizado no do modelo industrial. Os países subdesenvolvidos industria-
mercado. O produto artesanal apresenta-se como um produto lizados não necessariamente apresentam todos os estágios
único, concebido pela inspiração do artesão, diferente dos de evolução industrial dos países desenvolvidos, até porque
produtos industrializados, que são produzidos em série. o desenvolvimento do parque industrial desses países se
relaciona, diretamente, com a evolução dos países desenvol-
Manufatura vidos, através do processo de deseconomia de aglomeração
ou desconcentração industrial.
É o estágio intermediário de transformação da matéria-prima,
As etapas de desenvolvimento industrial são:
entre artesanato e maquinofatura, e foi largamente utilizado na
Europa Ocidental nos séculos XVI, XVII e XVIII. Ainda é obser-
vado em alguns países subdesenvolvidos que não viveram o
Primeira Revolução Industrial
processo de industrialização de maneira efetiva. Esse estágio Processo industrial desencadeado entre meados do século
é caracterizado por um início da utilização de maquinário ar- XVIII até o século XIX, aproximadamente 1750-1870, ocorrido
caico, que trabalhava à base de energia humana e por uma inicialmente na Inglaterra e posteriormente em outros países
rudimentar divisão do trabalho. Os trabalhadores envolvidos da Europa Ocidental. Com uma precária base tecnológica utili-
na produção conhecem todas as suas fases, porém dividem zada na produção, a indústria necessitava de significativa mão
o trabalho entre eles de maneira a tornar a produção mais rá-
de obra para seu funcionamento, inclusive infantil. A indústria
pida. Mas a quantidade produzida se relaciona, diretamente,
predominante desse contexto foi a têxtil, sendo que o parque
com a habilidade dos artesãos. A produção nesse estágio, por
apresentar-se mais significativa que a produção artesanal, industrial era movido a máquinas a vapor, com larga utilização
tem como objetivo o abastecimento local, e não mais apenas do carvão mineral. A produtividade dos estabelecimentos in-
o familiar. Na manufatura, já percebe-se uma divisão entre os dustriais era extremamente baixa, já que a tecnologia utilizada
detentores dos meios de produção e os artesãos, que possuíam era rudimentar, e ainda não existia um padrão de trabalho a
apenas a mão de obra como forma de trabalho. ser seguido pelo trabalhador, de maneira a otimizar o tempo de
No estágio de artesanato, as ferramentas eram, geralmente, trabalho industrial, o que era compensado pelas longas jornadas
do artesão que desenvolvia o trabalho. de trabalho enfrentadas pelos trabalhadores.

329
Geografia

Nesse contexto, as indústrias e empresas eram pequenas e Quanto à organização do trabalho, a Segunda Revolução
médias, o que marcou o sistema econômico desempenhado – o Industrial se mostra mais equipada, devido ao desenvolvimento
capitalismo concorrencial. Essa fase do capitalismo foi marcada de sistemas de produção denominados taylorismo e fordismo,
pela presença mínima do Estado na economia e as empresas que possuem o objetivo de otimizar o tempo de produção, au-
disputavam o mercado de maneira concorrencial, o que é mais mentando a produtividade e o volume total produzido.
justo para o consumidor.
O desenvolvimento dos parques industriais estimulou, de
Taylorismo e fordismo
maneira significativa, o processo de urbanização, principal- “O taylorismo, organização do trabalho sistematizada pelo
mente, no entorno das indústrias, que necessitavam se fixar engenheiro norte-americano Frederich W. Taylor por volta de
próximas às áreas fornecedoras de matéria-prima e energia. 1900, consiste na rígida separação do trabalho por tarefas e
Sendo assim, a população migrava para as áreas industriais e níveis hierárquicos (executivos e operários). Existe um controle
desencadeava a formação de áreas urbanas. Em um primeiro sobre o tempo gasto em cada tarefa e um constante esforço de
momento, a ocupação urbana foi extremamente desordenada, racionalização, para que a tarefa seja executada num tempo
pois a população ocupava os espaços sem nenhum planeja- mínimo. O tempo de cada trabalhador passa a ser vigiado e
mento. Posteriormente, essas áreas foram sendo remodeladas cronometrado, e aqueles que produzem mais em menos tempo
e, atualmente, são consideradas ordenadas. A imagem a seguir recebem prêmios como incentivo. O taylorismo aumentou a pro-
sugere a fixação populacional próxima às áreas industriais. dutividade de fábrica, mas também a exploração do trabalhador,
que passa a produzir mais em menos tempo.
Como um complemento do taylorismo, surgiu na década de
1920 o fordismo, termo que vem do nome do industrial norte-
-americano Henry Ford, um pioneiro da indústria automobilística
no início do século. Esse processo consiste num conjunto de
métodos voltados para produzir em massa, em quantidades
nunca vistas anteriormente. Ele absorve algumas técnicas do
taylorismo, mas vai além: trata de organizar a linha de monta-
gem de cada fábrica para produzir mais, controlando melhor
as fontes de matérias-primas e de energia, a formação da mão
de obra, os transportes, o aperfeiçoamento das máquinas para
ampliar a produção etc. O fordismo buscava ampliar a produção
e o consumo.
A cidade industrial de Sheffield (Inglaterra), em 1858. O grande lema do fordismo era “produção em massa e con-
MORAES, Paulo Roberto. Geografia Ge- sumo em massa”. O fordismo marcou a supremacia industrial
ral e do Brasil. Editora Harbra, p. 466.
dos Estados Unidos no século XX e foi adotado em praticamente
Segunda Revolução Industrial todos os países desenvolvidos. Nos demais países havia um
fordismo parcial, localizado apenas em algumas áreas especí-
Processo industrial desencadeado entre meados do século ficas ou sem parcelas da população: em regiões da Coreia do
XIX e meados do século XX, aproximadamente 1870-1970, Sul, ou até, em menor proporção, no Brasil, por exemplo. Mas,
percebido agora em vários países da Europa Ocidental, Estados nesses casos, nunca houve a generalização do fordismo por
Unidos e Japão. Entre suas características, citam-se: maior toda a sociedade, pois isso significaria que esses países não
grau de tecnologia envolvida na produção; maior produtividade, seriam mais subdesenvolvidos.
favorecendo a redução da jornada de trabalho e a não utilização
A lógica do fordismo consiste na seguinte ideia: para se
da mão de obra infantil; e aumento da produção total.
produzir em massa, é necessário que existam consumidores
As principais indústrias desse contexto são: siderúrgica, para comprar toda essa produção (de automóveis, por exem-
metalúrgica, petroquímica e automobilística. Entre as quatro, plo, o grande símbolo do fordismo). Ora, para isso, torna-se
a mais importante é a indústria automobilística, que favorece o necessário um imenso mercado consumidor, e a maioria da
desenvolvimento das demais citadas. O carvão mineral continua população de qualquer país é constituída pelos trabalhadores;
a ser uma fonte energética importante, porém gradativamente logo, é preciso pagar bem aos trabalhadores para que eles
é substituído, como principal fonte energética, pelo petróleo, possam comprar, possam consumir em grandes quantidades,
que é utilizado largamente pela indústria automobilística, como o que aumenta a produção e os lucros.
combustível e como matéria-prima. Além disso, as máquinas Ao contrário do taylorismo, que se preocupava mais com a
manuais são substituídas por máquinas elétricas, graças à máxima utilização do tempo de trabalho do operário, o fordismo
descoberta de motores que passam a necessitar de energia se preocupa também com o tempo livre e, principalmente, com o
elétrica e não mais de vapor. consumo. Não se trata apenas de trabalhar mais intensamente,
Nessa fase de industrialização percebe-se o crescimento como no taylorismo, e sim de trabalhar menos, com maior es-
das grandes empresas, estimuladas pela fusão das pequenas e pecialização e produtividade, e consumir mais. A generalização
médias, o que promove a substituição gradativa do capitalismo do fordismo, dessa forma, foi um dos fatores que ajudaram na
competitivo pelo capitalismo monopolista. Essa fase do sistema melhoria dos padrões de vida dos países desenvolvidos no
fere as bases de concorrência do capitalismo, pois as grandes século XX.”
empresas possuem a capacidade de dominação do mercado, Vesentini, J. William. Sociedade e Espaço: Geo-
grafia Geral e do Brasil. (Adaptado).
estipulando o preço que julgarem corretos. Nesse contexto, o
Estado se mostra presente na regulação econômica, bem como
na determinação dos investimentos.

330
Revolução Industrial

Terceira Revolução Industrial • Just in time (na hora certa) – sem espaço para armazenar
matéria-prima e mesmo a produção, criou-se um sistema
Processo industrial desencadeado nas últimas décadas do para detectar a demanda e produzir os bens, que só são
século XX, especialmente a partir da década de 1970, devido à produzidos após a venda.
Revolução Técnico-Científica Informacional, que leva a uma gran-
de produção de tecnologia para todos os setores da economia. • Team work (equipe de trabalho) – os trabalhadores pas-
saram a trabalhar em grupos, orientados por um líder. O
Essa fase industrial é característica de países desenvolvidos, sen-
objetivo é de ganhar tempo.
do que apenas algumas exceções se encontram entre os países
emergentes. Nesse contexto, são formados parques industriais • Controle de qualidade total – todos os trabalhadores, em
marcados pelo uso intenso da tecnologia envolvida na produção todas as etapas da produção, são responsáveis pela qualida-
– indústria de ponta, favorecendo o desemprego estrutural e, em de do produto e a mercadoria só é liberada para o mercado
contrapartida, o aumento intenso da produtividade e da produção. após uma inspeção minuciosa de qualidade. A ideia de
Dessa forma, as indústrias produzem mercadorias com alto grau qualidade total também atinge diretamente os trabalhado-
de modificação da matéria-prima, possuindo alto valor agregado. res, que devem ser “qualificados” para serem contratados.
As indústrias que marcam essa fase são: informática, Dessa lógica nasceram os certificados de qualidade, ou ISO.
robotização, telecomunicações, química fina, biotecnologia, Embora possa parecer que o modelo toyotista de produção
entre outras. valorize mais o trabalhador do que os modelos anteriores
A Terceira Revolução Industrial promove a modificação do (fordista e taylorista), tal impressão é uma ilusão. Na realidade
sistema de produção, que busca uma nova lógica, em que se da fábrica, o que ocorre é o aumento da concorrência entre
tem por objetivo a qualidade total dos produtos produzidos, em os trabalhadores, que disputam entre si melhores índices
um menor tempo possível de produção. Esse novo sistema é de produtividade. Tais disputas sacrificam cada vez mais o
denominado toyotismo. trabalhador e têm como consequência, além do aumento da
produtividade, o aumento do desemprego. Em suma, a lógica
do mercado continua sendo a mesma: aumentar a exploração
de mais-valia do trabalhador.
PACIEVITCH, Thais. Disponível em: http://www.in-
foescola.com. Acesso em: 08 jun. 2009.

Exercícios
1. (FGV – 2017) Analise a tirinha a seguir.

Frank & Ernest

A terceira revolução industrial: produção automatizada.

Just in time/toyotismo
Toyotismo é o modelo japonês de produção, criado pelo
japonês Taiichi Ohno e implantado nas fábricas de automóveis
Toyota, após o fim da Segunda Guerra Mundial. Nessa época,
o novo modelo era ideal para o cenário japonês, ou seja, um A partir da tirinha, é correto afirmar que a linha de mon-
mercado menor, bem diferente dos mercados americano e tagem fordista
europeu, que utilizavam os modelos de produção fordista e
A) estabelece tarefas específicas para cada operário,
taylorista.
o que restringe sua percepção sobre o bem final
Na década de 70, em meio a uma crise de capital, o modelo produzido.
toyotista espalhou-se pelo mundo. A ideia principal era produzir
B) permite que o operário realize funções variadas, o que
somente o necessário, reduzindo os estoques (flexibilização
elimina o sobretrabalho e garante um salário justo.
da produção), produzindo em pequenos lotes, com a máxima
qualidade, trocando a padronização por diversificação e produ- C) exige uma qualificação diversificada do operário, o
tividade. As relações de trabalho também foram modificadas, que permite sua participação nas várias etapas do
pois agora o trabalhador deveria ser mais qualificado, partici- processo produtivo.
pativo e polivalente, ou seja, deveria estar apto a trabalhar em D) aumenta a velocidade do processo produtivo, o que
mais de uma função. estimula a produtividade e a cogestão dos operários.
Os desperdícios detectados nas fábricas montadoras E) intensifica a participação do fator trabalho, o que ga-
foram classificados em sete tipos: produção antes do tempo rante a inclusão dos trabalhadores nas decisões do
necessário, produção maior do que a necessária, movimento processo produtivo.
humano (por isso o trabalho passou a ser feito em grupos),
espera, transporte, estoque e operações desnecessárias no 2. (UFRN) A Terceira Revolução Industrial, que se iniciou
processo de manufatura. desde a década de 1970, vem impulsionando alterações
no que se refere à espacialização de áreas fabris. No atual
As principais características do modelo toyotista são:
ciclo de inovações, configuram-se novas regiões industriais
• Flexibilização da produção – produzir apenas o neces- que primam pela localização nas proximidades de
sário, reduzindo os estoques ao mínimo.
A) grandes aglomerações de força de trabalho.
• Automatização – utilizando máquinas que desligavam B) áreas com recursos naturais abundantes.
automaticamente caso ocorresse qualquer problema, um
funcionário poderia manusear várias máquinas ao mesmo C) amplos mercados consumidores.
tempo, diminuindo os gastos com pessoal. D) universidades e institutos de pesquisa.

331
Geografia

3. (Unesp – 2017) Dentre as características do atual modelo de produção


industrial, a que MELHOR se relaciona às informações
do trecho anterior é:
A) mercado de trabalho que exige qualificação da
mão de obra.
B) estratégias de produção que transpõem as fron-
teiras nacionais.
C) pesquisa científica que promove o desenvolvimento
de novas tecnologias.
D) ramos industriais novos que constituem elementos
dinâmicos da economia.

5. (ESPM – 2017) O empresário Henry Ford (1863-1947)


foi um gênio e também um homem cheio de contradi-
ções: abriu as portas de suas fábricas para homens
de diversas partes do mundo. Foi capaz de dobrar o
salário mínimo na sua fábrica, atraindo a fúria de seus
rivais, mas colocou um capanga para liderar, na base
do medo, sua indústria; contratou um navio para levar
pacifistas à Europa para tentar acabar com a Primeira
Guerra, mas apresentava um antissemitismo que lhe
rendeu elogios de Adolf Hitler.
(Richard Snow. Ford – O homem que transfor-
mou o consumo e inventou a Era Moderna)

(Caulos. Só dói quando eu respiro, 2012.)


O texto trata de Henry Ford, empresário responsável
pelo fordismo, termo este que pode ser definido como:
O processo ironizado na charge, em que cada parti-
cipante da reunião acrescenta um item à imagem do A) sistema produtivo que consiste na divisão do traba-
operário, refere-se lho e especialização do operário em uma só tarefa;
A) à tomada de decisões no âmbito coletivo, que inte- B) um processo industrial em que há produção em
gra os operários no planejamento fabril e valoriza série, linhas de montagem, produção em massa;
o trabalho. C) um processo industrial que adota a utilização de
B) à alienação do trabalho, que fragmenta as etapas pequenos e altos índices de terceirização;
produtivas e controla os movimentos dos traba- D) um processo de produção caracterizado pelo al-
lhadores. tíssimo grau de informatização e automação, forte
C) ao aumento das exigências contratuais, que elevam presença dos sindicatos trabalhistas e mão de obra
o desemprego estrutural e alimentam as instituições altamente qualificada;
de qualificação profissional. E) sistema de administração da produção que deter-
D) à substituição do trabalhador na linha de montagem, mina que nada deve ser produzido, transportado
que mecaniza as fábricas e evita a especialização ou comprado antes da hora certa.
produtiva.
E) ao desenvolvimento de novas técnicas, que com- Gabarito
plexificam a produção e selecionam os profissionais
1. A
com domínio global sobre o produto.
2. D
4. (UERJ) “O filme publicitário começa com meninos 3. B
jogando futebol na rua. Logo essas cenas passam a
4. B
ser intercaladas, de forma simétrica, com imagens de
Ronaldinho jogando pela seleção brasileira. (...) Uma 5. B
típica cena brasileira usada para vender uma marca
americana, a Nike? (...)
Com faturamento de US$ 9,2 bilhões no ano fiscal
terminado em maio de 1997, a fabricante de roupas
e calçados esportivos Nike acabou se tornando, nos
últimos anos, um dos melhores exemplos de uma
empresa global (...).
A Nike não é dona de nem sequer uma fábrica, não
emprega nenhum operário, não tem nenhuma máquina
(...).
Atualmente, cerca de 80% dos calçados da Nike são
feitos em fábricas de cinco países asiáticos (...)”
Folha de São Paulo, 02 nov. 1997. (Adaptado)

332
Capítulo 21

Globalização e comércio exterior


1823). No final do século XIX, ocorreu a Segunda Revolução
As fases do capitalismo e Industrial, quando o capitalismo entrou em sua fase financeira e
a crise sistêmica atual monopolista, marcada pela origem de muitas das atuais grandes
corporações e pela expansão imperialista.
A história do capitalismo pode ser dividida em algumas fases
conforme suas características. Para endendê-la, entretanto, é
preciso considerar seus antecedentes: o pré-capitalismo e o Capitalismo financeiro
mercantilismo. Fase atual. Começou a se delinear em fins do século XIX,
mas cristalizou no século XX: o sistema bancário e as grandes
Pré-capitalismo corporações financeiras tornaram dominantes e passaram a
controlar as demais atividades – indústria, comércio, agricul-
Período de emergência da economia mercantil, na qual o
tura e pecuária. As empresas concentram diversas atividades
comércio e a produção artesanal começam a ganhar força. Na-
e assumiriam dimensão internacional: são as multinacionais.
quela época, do século XI ao XV, não se generalizou o trabalho Devido à concentração do capital, com a formação de empre-
assalariado. Predominavam os trabalhadores independentes sas gigantescas que dominam grandes setores da produção,
(artesãos), que vendiam o produto de seu trabalho, mas não a sua podemos também chamar essa fase de capitalismo monopo-
força de trabalho. Os artesãos eram os donos de suas oficinas lista. Sobretudo,a partir da década de 1980, assistimos a uma
e ferramentas, assim como das matérias-primas. Trabalhadores vertiginosa aceleração da mobilidade do capital, facilitada pela
assalariados (jornaleiros, que recebiam pela jornada de trabalho) informática, num processo de globalização no qual o capital
só existiam em pequena escala nos centros urbanos. financeiro tornou-se cada vez mais desvinculado das atividades
produtivas, buscando o máximo de lucro no menor tempo pos-
Mercantilismo sível. A acirrada concorrência favoreceu as grandes empresas,
levando a fusões e incorporações que resultaram na formação
Estendeu-se do século XVI ao XVIII e foi marcado pela
de monopólios e oligopólios em muitos setores da economia,
expansão marítima europeia em busca de novas rotas de
processo que continua acontecendo.
comércio e pela produção artesanal. Apesar de predominar
o produtor independente, expande-se o trabalho assalariado. Os bancos assumiram um papel mais importante como
A denominação comercial relaciona-se ao fato de existir pre- financiadores da produção, incorporando indústrias.
ponderância do capital mercantil sobre a produção. A maior As empresas foram deixando de ser familiares e se trans-
parte do lucro concentrava-se nas mãos dos comerciantes, formaram em sociedades anônimas de capital aberto, ou seja,
intermediários entre o produtor e o consumidor. Lucrava mais que negociam suas ações em bolsas de valores.
quem comprava e vendia a mercadoria, por isso, o capital se O liberalismo permaneceu apenas como ideologia capi-
acumulava na circulação, no comércio, não na produção. Essa talista, pois o mercado passou a ser dominado por grandes
fase permitiria mais tarde a Revolução Industrial. A economia corporações em substituição à livre-concorrência e ao livre-
funcionava segundo a doutrina mercantilista, que pregava a -mercado, característicos da fase industrial. O Estado intervém
intervenção governamental nas relações comerciais. na economia sobretudo como agente planejador, produtor ou
empresário. Essa atuação intensificou-se após a Crise de 1929,
Capitalismo industrial que provocou acentuada queda da produção industrial e do
comércio no mundo e aumento do desemprego. Essa política
O capitalismo industrial se consolidou na segunda metade do de intervenção estatal ficou conhecida como keynesianismo.
século XVIII na Inglaterra, quando o capital acumulado na circula-
Nesse momento do capitalismo, em cada setor da economia
ção de mercadorias foi investido na produção. O capital industrial
– petrolífero, elétrico, têxtil, naval etc. – passaram a predominar
passou então a dominar o conjunto da produção, distribuição e
alguns grandes grupos – os trustes – que resultam das fusões
circulação de riquezas. Por conseguinte, o trabalho assalariado
e incorporações de empresas de uma mesma cadeia produtiva
instalou definitivamente, separando claramente os possuidores
em determinado setor de atividade. Quando os trustes ou em-
de meios de produção (a burguesia) e a massa de trabalhadores
presas de menor porte fazem acordos entre si, estabelecendo
(o proletariado). A consolidação dessa nova força produtiva se
um preço comum, dividindo os mercados potenciais e, portanto,
deve ao fato de o trabalhador assalariado, além de apresentar
inviabilizando a livre-concorrência em um determinado setor da
maior produtividade que o escravo, ter renda disponível para o
economia, criam um cartel. A prática do dumping – vender com
consumo. O processo se espalhou, inicialmente, pela Europa,
um preço abaixo do preço de custo – é outra estratégia para
América do Norte e Ásia. Nas últimas décadas do século XIX e
eliminar os concorrentes.
início do século XX, predominou em quase todas as regiões do
mundo. Numerosas nações, então, passaram a lutar para atingir Muitos trustes, constituídos no final do século XIX e início do XX,
a condição de país industrializado. Nessa etapa, o Estado não transformaram-se em conglomerados ou corporações – resultantes
mais intervinha na economia, que passou a funcionar guiada de um amplo processo de concentração e centralização de capi-
pela livre-concorrência. Consolidava-se, assim, uma nova dou- tais, de uma crescente ampliação e diversificação dos negócios,
trina econômica: o liberalismo, sintetizada por dois economistas com o intuito de dominar a oferta de determinados produtos ou
britânicos: Adam Smith (1723 -1790) e David Ricardo (1772- serviços no mercado. São controlados por uma holding – conjunto

333
Geografia

de empresas dominadas por uma empresa central que detém Na política, o principal fator de mudança foi o fim da bipolari-
a maioria ou parte significativa das ações de suas subsidiárias. zação Estados Unidos X União Soviética. Emergiram conflitos
localizados, antes abafados pela polarização. Muitos deles
Capitalismo informacional têm caráter étnico ou religioso. O racismo e o extremismo de
direita ganham novo fôlego e o crescimento do fundamentalismo
Com o advento da Terceira Revolução Industrial, também
islâmico assusta o Ocidente.
conhecida como Revolução Técnico-­Científica, o capitalismo
atinge sua fase informacional-global. Isso ocorre no pós- Na economia, novos blocos são formados. Os Tigres Asiáti-
-Segunda Guerra, sobretudo a partir dos anos 1970, quando cos aceleram seu desenvolvimento, os Estados Unidos enfren-
disseminam-se empresas, instituições e diversas tecnologias tam dura concorrência do Japão em seu próprio território e a
responsáveis pelo crescente aumento da produtividade econô- velha ideia da unificação da Europa é mais uma vez retomada
mica e pela aceleração dos fluxos de capitais, de mercadorias, com a criação da União Europeia.
de informações – robôs, computadores, satélites, cabos de O quadro político mundial assumiu novos contornos. Os
fibras óticas, Internet etc. – e de pessoas. conflitos regionais, até então fortemente influenciados pelas
Nessa etapa de seu desenvolvimento, o capitalismo continua intervenções das superpotências, sofreram crescente influência
industrial e financeiro. Industrial porque novas tecnologias do alargamento do fosso entre ricos e pobres, consubstanciado
empregadas no processo produtivo, a exemplo da robótica, no Confronto Norte-Sul. A posição de caráter político-ideológico-
permitiram grande aumento de produtividade e diversificação -militar entre o Bloco Ocidental e o Oriental foi substituída pela
dos produtos; e financeiro por causa da desmaterialização do confrontação entre forças predominantemente econômicas,
dinheiro que, em vez de circular fisicamente, cada vez mais financeiras e científico-técnicas.
se transforma em bits de computador. Mas a característica A multipolaridade do poder global substituiu a rígida geo-
fundamental dessa etapa do desenvolvimento capitalista é a metria bipolar do mundo do pós-guerra. A internacionalização
crescente importância do conhecimento. dos fluxos de capitais e a integração das economias nacionais
Atualmente as instituições típicas da revolução informacional atingiram um patamar inédito. Delinearam-se megablocos
estão próximas a universidades e centros de pesquisas, onde se econômicos organizados em torno das grandes potências do
desenvolvem os tecnopolos. Nesses centros industriais, típicos da fim do século.
Terceira Revolução Industrial, há grande concentração de indústrias Na América do Norte, constituiu-se a Nafta, polarizada pelos
de alta tecnologia: informática, robótica e biotecnologia, entre outras. Estados Unidos; na Europa, a Alemanha unificada funcionou
O capitalismo é cada vez mais informacional e global. Ne- como eixo de ligação entre o leste e o oeste do continente e
nhum país está imune aos interesses das grandes corporações no Pacífico, o Japão centralizou uma vasta área de influência.
e aos fluxos de capitais, mercadorias, informações e pessoas, As reformas econômicas chinesas, apoiadas sobre o alicerce
características importantes do processo de globalização, atual do poder monolítico comunista, representaram uma reorga-
momento da expansão capitalista. Trata-se de uma expansão nização radical do espaço do leste asiático. Os crescentes
que visa a aumentar os mercados e, portanto, o lucro, o que de investimentos dos chineses de Formosa, dos coreanos do sul e
fato move os capitais. Esta é a razão de haver se disseminado, dos japoneses no território continental da China assinalaram a
com base no governo norte-americano e em instituições por ele integração de Beijing à esfera econômica polarizada por Tóquio.
controladas, como o FMI e o Banco Mundial, o neoliberalismo, Os indícios de retomada das relações políticas e diplomáticas
que se contrapõe ao Keynesianismo. entre Japão e China abrem a possibilidade da emergência de
O neoliberalismo tem o objetivo de reduzir as barreiras um poderoso bloco supranacional asiático.
aos fluxos globais, o que beneficia notadamente os países A nova ordem mundial assinala a fragmentação do Terceiro
desenvolvidos e suas corporações multinacionais, embora Mundo em espaços periféricos, que tendem a se integrar mar-
alguns países emergentes, como a China, os Tigres Asiáticos, ginalmente aos megablocos econômicos.
o México e o Brasil, tenham recebido investimentos produtivos Os “Dragões Asiáticos” e os países pobres da Ásia Meridional
e ampliado seu comércio. funcionam como áreas de transbordamento dos capitais japo-
Fonte: Texto adaptado de ARRUDA, José Jobson; PILETTI, Nelson. neses e estadunidenses. A Europa do leste e do sul, bem como
Toda a história: história geral e do Brasil. São Paulo Editora Ática,
a África do norte, associam-se ao núcleo próspero da Europa
2001. MOREIRA, João Carlos; SENE, Eustáquio. Geografia Geral e do
Brasil: espaço geográfico e globalização. São Paulo: Scipione, 2007.
centro-ocidental. A América Latina entrelaça seu destino ao da
América do Norte.
A nova ordem mundial ergueu-se sobre uma revolução
Globalização tecno-científica que reorganizou o alocamento dos capitais no
O final da década de 1980 apresentou grandes transforma- espaço geográfico. Nesse movimento, a pobreza disseminou-se
ções político-sociais que resultaram em mudanças de fronteiras por toda a superfície do globo, avançando sobre as fronteiras
no começo dos anos de 1990. Exemplo disso foi a desintegração do Primeiro Mundo e instalando-se no coração dos Estados
da estrutura socialista no Leste Europeu em 1989. Na década Unidos e da Europa Ocidental. No mundo todo, microespaços de
de 1980, ocorreram importantes mudanças político-econômicas prosperidade convivem com cinturões envolventes de pobreza
na URSS, iniciadas durante o governo de Mikhail Gorbachev, e desemprego. A Nova Ordem Mundial não é mais estável ou
conhecidas como Perestroika (reestruturação na economia) segura que a ordem da Guerra Fria. A emergência dos naciona-
e Glasnost (transparência na política). Essas transformações lismos e da hostilidade étnica, o ressurgimento do racismo e da
possibilitaram o fim da URSS, em 1991, ano em que todas as xenofobia e a multiplicação dos conflitos localizados evidenciam
repúblicas que a formavam declararam independência. o componente de instabilidade introduzido pela decadência das
velhas superpotências.
Os últimos anos foram marcados por uma rápida e intensa
reordenação da política e da economia em todo o mundo.

334
Globalização e comércio exterior I

A organização do espaço que predomina na atualidade é Durante a Segunda Guerra Mundial, o dirigismo econômico
formada pelo recobrimento do planeta em Estados-nações, foi reforçado, mas a democracia restabeleceu-se como o
seus territórios, fluxos de relações, principalmente comerciais grande símbolo de luta contra o nazismo. Essa combinação
e geopolíticas, entre os mesmos; e por um sistema associativo de democracia política liberal e dirigismo estatal na economia
de organizações voltadas a questões de direito internacional, tornou-se responsável, entre os anos 50 e 80, pela afluência
fundamentalmente. Há, não obstante, a formação de cam- das sociedades de consumo e bem-estar social (welfare states).
pos e redes informais de relacionamento, que ultrapassam a Nos anos 80, porém, a crise econômica e os novos parâmetros
mediação dos Estados nacionais. Rupturas na estrutura do de produtividade e rentabilidade estabelecidos pela revolução
ordenamento político, como a “inutilidade” das fronteiras e a tecnológica colocaram em questão o Estado de bem-estar e as
desestruturação dos poderes territoriais tradicionais, são indi- políticas de benefício social nos Estados Unidos e na Inglater-
cadores de mudanças na ordem e na organização do espaço ra. Reagan e Thatcher lideraram a implantação de uma nova
mundial. Como decorrência, elas também se manifestam em política econômica, baseada em conceitos liberais extremados:
suas comunidades territoriais e econômicas e em suas respec- Estado mínimo, desregulamentação do trabalho, privatizações,
tivas instituições. funcionamento do mercado sem interferência estatal e cortes
Os espaços estão ocupados, completamente modificados e nos benefícios sociais: o neoliberalismo.
configurados como expressão econômica e instituição política
da sociedade. Essa situação tende à formação de um mundo BRICS e o retorno do capitalismo de Estado
completamente integrado cujo germes se encontram no período
O fato mais importante dessa primeira década do século
moderno de nossa história.
XXI é a emergência, no cenário mundial, de cinco grandes
Tal integração, entretanto, pode ser diferenciada em três países de economia diversificada: Brasil, Rússia, Índia, China
modalidades. São: (1) a integração sob a gestão do Estado, e África do Sul, que são vistos como novos polos do capita-
que implica o estabelecimento formal das relações entre es- lismo mundial, não só por serem grandes polos exportadores
tados; (2) sob a influência e domínio de ações transnacionais de mercadorias, mas, principalmente, por serem dotados de
que começam a se sobrepor à modalidade anterior; e (3), por grandes mercados internos de consumidores.
fim, como tem ocorrido mais recentemente, o aparecimento de
BRIC é um termo criado em novembro de 2001, pelo
formas globais de integração.
economista Jim O´Neill, para designar os 4 principais países
A primeira corresponde à situação demarcada pelas relações
emergentes do mundo, a saber: Brasil, Rússia, Índia e China.
entre nações, em que o Estado assume o papel primordial, seja
Especula-se que esses países poderão se tornar a maior força
por meio da diplomacia, do comércio externo ou, até mesmo,
na economia mundial até 2050 e que as economias BRIC juntas
da guerra. Compreende a colonização, a descolonização, o
poderão ser maiores que as dos Estados Unidos da América,
nacionalismo e a criação de organizações internacionais, dentre
Japão, Alemanha, Reino Unido, França e Itália. A partir do ano
as quais a ONU constitui a expressão máxima como organismo
de 2011, a África do Sul também foi oficialmente incorporada
de direito internacional.
ao BRIC, que passou então a se chamar BRICS.
A transnacionalização, por sua vez, refere-se à transferência
O estudo ressalta que cada um dos cinco países enfrentam
de investimentos de um Estado-Nação a outro, por conta de em-
desafios diferentes para manter o crescimento na faixa dese-
presas privadas, as quais possuem estabelecimentos em mais
jável. Por isso, existe uma boa chance de as previsões não se
de uma nação. Esse quadro impulsionou, desde a Segundo
concretizarem.
Guerra Mundial, a criação de mecanismos de ordenamento do
comércio e do sistema financeiro no plano mundial. A transna- Atualmente, os BRICS são detentores de mais de 21% do
cionalização é, assim, resultado direto da ampliação do poder PIB mundial, formando o grupo de países que mais crescem
econômico de grandes conglomerados empresariais oriundos no planeta. Além disso, representam 42% da população mun-
da união dos capitais financeiro e industrial. dial, 45% da força de trabalho e o maior poder de consumo
A globalização é um fenômeno que tende à unificação do do mundo. Destacam-se também pela abundância de suas
mercado mundial, sem barreiras alfandegárias. No âmbito da riquezas nacionais e as condições favoráveis que atualmente
empresa, corresponde ao seu espalhamento em escala mun- apresentam para explorá-las.
dial. Compreendem essa realidade o crescimento descomunal As consequências que são apontadas dessa nova configu-
e generalizado do desemprego estrutural, a tendência de ração da economia capitalista restringem-se, normalmente, à
terceirização da produção e dos serviços, o estímulo à forma- afirmação de um mundo mais multipolar. Algo desse mundo
ção de pequenas empresas e o fortalecimento das posições multipolar já poderia ser sentido na maneira com que as nego-
propugnadoras da reforma do Estado. Tais argumentos visam ciações na OMC são marcadas pelos confrontos entre EUA, UE
a reduzir o volume da tributação, criar ambientes favoráveis e o G-20. Outra consequência seria a relativização a respeito
ao livre-mercado e assim favorecer os capitais locais na con- da centralidade da riqueza imaterial (inteligência, tecnologia),
corrência mundial. pois, excluindo a florescente indústria indiana da informática,
Nesse momento, desponta um ambiente global de relações a base econômica desses países é eminentemente “clássica”,
no qual as modalidades da integração funcionam como campos ou seja, energia (petróleo, gás, biodiesel) e produção industrial.
de atuação, num espaço global não integrado. No entanto, há mais um dado: esses países afastaram-se
de reformas classicamente liberais, marcadas pela abertura
Liberalismo e neoliberalismo global de mercados e pelo desmantelamento do papel regulador
O liberalismo como doutrina econômica e política do do Estado na economia. Contrariamente aos Tigres Asiáticos,
capitalismo se enfraqueceu após a crise mundial dos nenhum desses países adotou ou permaneceu no “Consenso
anos 30, sendo substituído pelo dirigismo econômico de de Washington”.
Keynes e, em parte, pelas doutrinas fascista e nazista.

335
Geografia

O G4 é uma aliança entre Alemanha, Brasil, Índia e Japão


Terceira revolução industrial e meio
com a proposta de apoiar as propostas uns dos outros para
técnico-científico-informacional
ingressar em lugares permanentes no Conselho de Segurança
das Nações Unidas. Essa nova fase de desenvolvimento tecnológico passou a
ser classificada por muitos pesquisadores como Terceira
O G20 financeiro é um grupo que consiste nas 19 maiores
Revolução Industrial, em razão do aumento da capacidade
potências do mundo, junto com a União Europeia (África do de produção nas empresas, das redes de infraestrutura
Sul, Alemanha, Arábia Saudita, Argentina, Austrália, Brasil, (energia e telecomunicações em particular) e da presença
Canadá, China, Coreia do Sul, Estados Unidos, França, Índia, de sistemas informatizados nas mais variadas atividades
Indonésia, Itália, Japão, México, Reino Unido, Rússia, Turquia, econômicas e no cotidiano das pessoas. Ela se manifesta no
União Europeia). O G20 foi dado como um novo fórum para espaço geográfico, que incorpora, além de objetos técnicos
cooperação e consulta nas matérias pertencentes ao sistema como edificações, os avanços da ciência e dos sistemas
financeiro internacional. Promove a discussão entre os princi- de informação. É visível, por exemplo, na proliferação de
pais países industriais e emergentes do mercado das edições caixas eletrônicos, telefones celulares, computadores,
de política que pertencem à promoção da estabilidade financeira mercadorias com códigos de barra, centros de pesquisas
internacional, e procura dirigir-se às edições que vão além das universitários, sistemas de produção robotizados etc. É pre-
responsabilidades de toda uma organização. ciso ressaltar que o desenvolvimento da técnica, da ciência
e da informação está desigualmente distribuído pelo espaço
O G20 é um grupo de países em desenvolvimento criado geográfico mundial: há lugares em que sua presença é
em 2003. O Grupo concentra sua atuação na agricultura, é atual- grande, notadamente nos países desenvolvidos; outros em
mente integrado por 23 membros: África do Sul, Egito, Nigéria, que é bastante irregular, como nos países subdesenvolvidos
Tanzânia, Zimbábue, China, Filipinas, Índia, Indonésia, Paquis- industrializados; e outros, ainda, nos quais é muito escasso,
tão, Tailândia, Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Cuba, Equador, como nos países subdesenvolvidos de economia primária.
Guatemala, México, Paraguai, Peru, Uruguai e Venezuela.
Seus países-membros respondem por 60 % da população As Multinacionais
mundial, 70 % da população rural do mundo e 26% das expor-
tações agrícolas mundiais. No contexto da economia globalizada, a disputa econômica
entre as empresas tem como palco o mercado mundial. Vivemos
G22 é um bloco econômico liderado por Brasil, China, Índia
rodeados por produtos das mais diversas origens.
e África do Sul, que luta pelo fim ou pela redução dos subsí-
dios agrícolas dados pelos governos dos países ricos a seus As empresas multinacionais ampliaram seus mercados, ven-
agricultores e por mais participação no mercado internacional. dem produtos em praticamente todos os países, aumentaram
o número de filiais em todo o globo, principalmente nos países
G77 – Apesar do nome, conta atualmente com 132 membros,
subdesenvolvidos.
que estão entre os mais pobres do mundo e reúnem 80% da
população mundial. A corrupção, nacional e internacional, o Cerca de 90% das maiores corporações industriais, financei-
aumento do tráfico de armas e de entorpecentes, a exploração ras e comerciais estão situadas em três regiões geográficas: Es-
de mulheres, a imigração, a aids, a malária e a tuberculose, tados Unidos (responsáveis por mais de 40%), Europa e Japão.
os problemas de desigualdade entre homens e mulheres, a Multinacionais de vários setores ampliaram a sua presença
violência doméstica, a participação das crianças em conflitos no mundo inteiro, mas o destino dos lucros transferidos pelas
armados e a autodeterminação são alguns dos pontos que filiais, as grandes decisões sobre investimentos, marketing e
preocupam esses países. Além, certamente, do terrorismo e localização dos centros de pesquisas para desenvolvimento
de conflitos como o do Iraque e o palestino-israelense, e da de tecnologia permanecem concentrados nas sedes dessas
economia, principalmente a dívida que oprime esses países, empresas, situadas nos países desenvolvidos.
os desequilíbrios causados pela globalização e as regras de Assim, sobretudo nas décadas de 1980 e 1990, o processo
comércio que todos eles consideram injustas. Apesar de re- de concentração do capital, por meio de fusões e aquisições,
presentarem quatro quintos da humanidade, o Produto Interno intensificou-se, levando à formação de oligopólios mundiais.
Bruto (PIB) dos países do G77 é de 40% do PIB mundial. Um No momento, um pequeno número de grandes corporações
bilhão de pessoas do Sul vivem abaixo do nível de pobreza. transnacionais domina mercados importantes, como os de co-
Os 50 países mais pobres do mundo, dos quais 34 estão na mercialização de produtos de alta tecnologia, de automóveis,
África, pertencem ao G77. de produtos farmacêuticos, e os setores ligados aos serviços.
IBAS – Índia-Brasil-África do Sul – O Fórum IBAS é uma Algumas empresas movimentam anualmente um capital
iniciativa trilateral entre Índia, Brasil e África do Sul, desenvol- superior à economia de vários países reunidos. Em conjunto,
vida com os seguintes objetivos: são responsáveis por cerca de 70% do comércio mundial de
• promover o diálogo Sul-Sul, a cooperação e posições mercadorias. Os países escolhidos para os investimentos des-
comuns em assuntos de importância internacional; sas empresas são aqueles que oferecem maiores vantagens:
mão de obra barata e qualificada, matéria-prima abundante,
• promover oportunidades de comércio e investimento entre
as três regiões das quais os países fazem parte; mercado consumidor, baixo custo para a instalação das em-
presas e incentivos fiscais (isenção ou redução de impostos).
• promover a redução internacional da pobreza e o desen-
volvimento social;
O Estado na Economia
• promover a troca de informação trilateral;
No sistema capitalista, o Estado sempre desempenhou
• promover a cooperação em diversas áreas, como agri-
várias funções, tais como: manter a lei e a ordem, preservar a
cultura, mudança do clima, cultura, defesa, educação,
energia, saúde, sociedade de informação, ciência e tec- propriedade privada, resolver conflitos entre grupos sociais e
nologia, desenvolvimento social, comércio e investimento, econômicos, defender as fronteiras do país, estabelecer rela-
turismo e transporte. ções políticas e comerciais com outros Estados. Com algumas

336
Globalização e comércio exterior I

variações de país para país, o Estado foi agregando uma série


de outras funções, como veremos a seguir:
• instalação de empresas estatais, ligadas principalmente ao
setor de infraestrutura, como o siderúrgico e o petroquímico;
• construção e manutenção de equipamentos de infraes-
trutura (rodovias, ferrovias, portos e redes de distribuição
de energia elétrica etc.);
• participação acionária em empresas dos mais variados
setores;
• investimento em educação, saúde, moradia e pesquisa;
• criação do sistema de aposentadorias, pensões e seguro-
-desemprego;
• controle da circulação da moeda;
DIAS, Ronaldo Cunha. O cartum no I Fórum Social Mundial.
• realização de empréstimos a juros baixos e isenção de Porto Alegre: Corag, 2001. p.62.
impostos para determinados grupos econômicos ou so-
ciais (subsídios);
No comércio internacional, as operações de importação
• estabelecimento da taxa de juros, que serve de base para e exportação dependem de autorização e controle de cada
as atividades financeiras.
Estado. Os exportadores e importadores pagam impostos no
Na década de 1980, abriu-se uma nova discussão sobre o momento em que as mercadorias saem e entram nos países.
papel do Estado, por causa das crises econômico-financeiras São as taxas alfandegárias ou aduaneiras.
existentes em vários países subdesenvolvidos e dos elevados
No entanto, existem normas que organizam o comércio
deficits públicos de muitos países. A crise e a nova econo-
mundial de mercadorias e de serviços. Estas são definidas e
mia globalizada exigiam um Estado que não interferisse no
controladas pela OMC, que, teoricamente, tem poder de decisão
livre-comércio, facilitasse a atuação das grandes empresas,
sobre todo o comércio mundial, envolvendo seus 148 países
cobrasse menos impostos e reduzisse seus gastos, inclusive
associados, embora prevaleçam, na aplicação dessas normas,
nos setores sociais. Essas ideias e propostas foram chamadas
os interesses das grandes potências mundiais.
de neoliberais.
As regras da OMC têm por objetivo promover maior fluxo
O Estado, na concepção neoliberal, deve intervir pouco na
de mercadorias e serviços entre os países que dela fazem
economia, procurando eliminar barreiras ao comércio interna- parte, principalmente pela redução das barreiras tarifárias, já
cional, atrair investimentos estrangeiros, privatizar as empresas que a globalização exige mercados mais abertos à circulação
públicas, manter o equilíbrio fiscal (diferença entre arrecadação de bens e serviços.
de impostos e gastos) e controlar a inflação. Para os neoliberais,
não é papel do Estado extrair petróleo ou minérios, adminis-
Por outra globalização
trar refinarias e siderúrgicas nem participar de qualquer outro
tipo de atividade econômica. Cabe a ele estimular a pesquisa Diversos movimentos surgiram em todo o mundo em razão
tecnológica para apoiar a iniciativa privada, assegurar a estabi- das consequências negativas ocasionadas pela globalização,
lidade econômica e facilitar o livre funcionamento do mercado. as quais atingiram todos os países. Tais movimentos partem do
A produção de mercadorias é o papel das empresas particulares. princípio de que as multinacionais conquistaram tanto poder que
estão moldando o mundo segundo seus interesses econômicos.
Os direitos trabalhistas e o sistema de proteção social (por
exemplo, pagamento de aposentadorias e pensões) devem ser Quando defendem seus interesses econômicos, os países
restringidos, porque, para os neoliberais, eles são os principais desenvolvidos estão garantindo, sobretudo, espaço para a
responsáveis pelos deficits públicos. Além disso, os gastos das expansão das corporações multinacionais. Já os países sub-
empresas com mão de obra acabam sendo repassados para o desenvolvidos disputam seus investimentos, abrindo seus mer-
preço dos produtos, que perdem competitividade no mercado cados para atrair a instalação de filiais desses conglomerados.
internacional. Da mesma forma, os gastos do Estado em setores Diversas organizações da sociedade civil, como ONGs (Or-
que amparam a sociedade não devem ser muito altos, para não ganizações Não Governamentais), sindicatos, ambientalistas
acarretar impostos também elevados sobre as empresas e a e estudantes, promoveram uma grande manifestação contra o
sociedade como um todo. evento, mas o protesto foi reprimido. A partir de então, qualquer
A adoção das práticas neoliberais levou vários Estados a enfra- encontro da OMC ou dos países ricos se tornou ponto de en-
quecer os mecanismos de controle da economia e das fronteiras contro dos movimentos contrários aos rumos que o processo
comerciais, tornando os países subdesenvolvidos vulneráveis à de globalização tem tomado.
atuação das grandes corporações multinacionais, originárias, em Esses movimentos têm propostas e preocupações muito dife-
sua maioria, dos países desenvolvidos. Com isso, ampliaram-se as rentes e até divergentes. Agrupam ambientalistas, reformistas que
desigualdades entre os países, visto que o neoliberalismo atende lutam por uma globalização mais humana, sindicalistas preocupa-
melhor os que têm grande capacidade de investimento, tecnolo- dos com os direitos dos trabalhadores, nacionalistas que querem
gia mais avançada e maior capacidade de atuação no mercado maior defesa do mercado nacional, minorias negras, indígenas que
mundial, como é o caso dos países desenvolvidos. combatem a discriminação, o MST, que defende a reforma agrária,
enfim, uma lista interminável de grupos que se posicionam a favor
de uma globalização solidária e não excludente.

337
Geografia

Glossário
• Multinacionais ou transnacionais: empresas que distribuem suas atividades em filiais por todo o planeta, além de serem
responsáveis por boa parte da exportação de produtos e serviços. A coordenação dessas atividades é feita por meio de
uma ampla rede de comunicações e informações.
• Telemática: conjunto de serviços informáticos que possibilitam o fluxo de dados, textos, imagens e sons, através de uma
rede de telecomunicações.
• A taxa de câmbio pode ser determinada, sobretudo, de dois modos: institucionalmente, por meio de decisão das au-
toridades econômicas com fixação das taxas (taxas fixas) ou por meio dos mecanismos de mercado, em que as taxas
modificam-se ao longo do dia, em função das pressões de oferta e demanda por divisas estrangeiras (taxas flutuantes).
Atualmente, o Brasil pratica a taxa flutuante.
• Divisas: letras, cheques e ordens de pagamento, convertíveis em moedas estrangeiras, ou as próprias moedas, usadas
por entidades públicas e privadas em transações comerciais.
• Reserva cambial: quantidade de moedas estrangeiras e ouro existente num país para viabilizar transações econômicas
internacionais.
• Países emergentes: expressão utilizada por diversos organismos da ONU para se referir aos países subdesenvolvidos
que se industrializaram ou estão em processo de industrialização. São exemplos Brasil, México, Argentina, Índia, China,
África do Sul, Taiwan, Indonésia e Malásia, que apresentam uma razoável infraestrutura energética, de comunicações e
de transportes, além de um mercado consumidor em crescimento.
• Balança comercial: relação entre as exportações e as importações realizadas por um país, medida em dólares. O deficit
na balança comercial ocorre quando o valor das importações supera o valor das exportações. Ocorrendo o contrário, a
balança comercial registra superavit.

O desenvolvimento do mecanismo do comércio exterior fica, em maior parte, a cargo do governo, cabendo a este fornecer
subsídios para que novos campos de produção cresçam e evoluam. Também faz parte de suas atribuições o estabelecimento de
normas e diretrizes intranacionais a serem seguidas pelas empresas que desejam manter relações comerciais com estrangeiros.
Às empresas cabe acatar e observar as normas impostas pelo governo nacional, assim como as exigências do parceiro comercial
com quem se está negociando. Toda essa sistemática é estabelecida, na maioria das vezes, por acordos de âmbito internacional
firmados entre diversos países. Uma das mais importantes convenções estabelecidas para reger o fluxo de produtos e serviços
no mundo foi a Organização Mundial do Comércio (OMC), criada em 1995, e que serve de tribunal para assuntos referentes a
exportação e importação entre os países-membros, do qual faz parte também o Brasil.
Consideramos circulação a movimentação de matérias-primas, de produtos industrializados e agrícolas, de valores, de pessoas
etc., através das mais diferentes modalidades de transporte, capaz de promover e intensificar as relações comerciais. Sendo assim,
a circulação é um dos mais importantes fenômenos na dinâmica geral da economia global. As sociedades mais desenvolvidas
vêm experimentando atualmente um crescente avanço neste setor.
A especialização do trabalho foi um dos fatores desse crescimento, levando ao aparecimento de regiões diferenciadas quanto
à produção. Esse fato favoreceu a intensificação das trocas entre os países, provocando uma maior interdependência entre as
economias. O nível de desenvolvimento de uma região ou país pode ser verificado pelos índices de participação das atividades
comerciais, ocorrendo uma forte relação entre valor/volume comercializado e desenvolvimento econômico.
O comércio internacional é caracterizado pelo Balanço de Pagamentos. Por exemplo: quando determinado país exporta
mais do que importa, sua balança comercial apresenta-se positiva ou com superavit; quando ocorre o oposto, ela apresenta-se
negativa ou deficitária, ou, ainda, com deficit. Quando o deficit do balanço de pagamentos se mantém em crescimento, os gover-
nos buscam empréstimos externos, prorrogam o pagamento de dívidas e adotam a elevação da taxa cambial, desvalorizando a
moeda nacional com o intuito de reduzir o volume das importações e aumentar o das exportações. A livre negociação da oferta, da
demanda e dos preços caracteriza o comércio internacional (Livre Concorrência), podendo ocorrer situações em que se estabe-
lecem relações de monopólio de determinadas mercadorias ou serviços, ou seja, concentração da oferta para demanda elevada.
Nas últimas cinco décadas houve um vertiginoso crescimento do comércio mundial. O aumento das transações comerciais
entre os países tem como principal causa a expansão das multinacionais pelo mundo e, consequentemente, a fragmentação e a
terceirização do processo produtivo.
Outros fatores têm influenciado diretamente a intensificação do comércio mundial: a queda das barreiras fiscais em diversos
países e a formação de alianças e de blocos econômicos regionais.
Os governos de várias nações vêm diminuindo a incidência e o valor das tarifas alfandegárias sobre mercadorias importadas
e exportadas com base, sobretudo, em acordos formalizados por meio da OMC. Com a OMC, o comércio internacional ingressou
em uma nova fase, com maiores direitos e deveres para praticamente todos os países.
Os países em desenvolvimento, particularmente o Brasil, e aqueles ainda em transição tiveram uma participação mais ativa
nessas negociações do que em qualquer uma das outras já realizadas. Esses países assumiram quase tantos compromissos
quanto os desenvolvidos, mas contam, em geral, com um período de adaptação maior às novas regras.
Os compromissos e as obrigações assumidos pelos membros da OMC tornaram o intercâmbio mundial mais previsível, mas
também reduziram o grau de liberdade dos governos nacionais na definição de suas práticas comerciais.

338
Globalização e comércio exterior I

A OMC foi a instituição proeminente da virada para o século XXI, mercado realmente comum entre os integrantes.
em que as questões econômicas voltaram a ocupar o espaço • União ou integração econômica e monetária: Além de
que perderam durante a Guerra Fria. Os acordos sob sua todas as características do Mercado Comum e da adoção
responsabilidade ainda não dão conta de um mundo cada vez de uma moeda única, neste estágio ocorre a criação de
mais globalizado, em que muitos mercados são disputados um Banco Central e a institucionalização de uma política
milimetricamente por empresas transnacionais e seus produtos monetária comum para todos os países-membros.
globais são de múltiplas nacionalidades.
• Integração política e institucional: Integração total
A OMC deve garantir acesso aos mercados, condições entre os países-membros. Ocorre quando há unificação
justas de competição e previsibilidade no âmbito do comércio de diversas instituições sociais, políticas, econômicas
internacional. e militares. Ainda não há nenhum bloco nesse estágio.
Em 1994, demandas de inclusão de novos temas nas discus- Veremos, a seguir, alguns dos principais blocos econômicos
sões sobre comércio multilateral foram colocadas sobre a mesa: da atualidade e suas características.
políticas ambientais, condições e normas de trabalho, políticas
de investimentos, de concorrência e de imigração, questões mo- A União Europeia
netárias, de comércio e de desenvolvimento. Estes, chamados
temas emergentes, já estão sendo discutidos regionalmente. Origens da União Europeia
Nas relações entre os países, acordos comerciais são
Em março de 1948, num clima de competição político-
firmados, estabelecendo os valores dos tributos ou tarifas
ideológica contra a expansão socialista, Bélgica, Holanda e Lu-
alfandegárias. Estas funcionam como mecanismo de proteção
xemburgo, componentes do Benelux (acordo entre os governos
ao produto nacional, sendo a manutenção de tarifas elevadas
desses países para acabar com as barreiras alfandegárias, logo
sobre a importação de determinado produto uma estratégia para
após o término da Segunda Guerra) aliaram-se à Grã-Bretanha,
proteger da concorrência o similar produzido no país. Exemplo
Itália e França, tendo como objetivo a segurança militar e a
de protecionismo: cobrança de elevadas taxas (200%) para a
construção da União Europeia Ocidental.
entrada de automóveis no Brasil até 1990, favorecendo a pro-
dução interna em relação à concorrência estrangeira. Na década de 1950, a Comunidade Europeia do Carvão e
do Aço (CECA), constituída pelos países do Benelux e seus
Com a expansão do comércio internacional, foram criadas
aliados, eliminou as discriminações de preços e de transpor-
várias associações de países, visando à derrubada das tarifas
tes. Esse fato facilitou a definição de uma política industrial e
aduaneiras com o intuito de intensificar as relações comerciais
a formação de empresas concentradas em âmbito europeu.
entre os países pertencentes ao mesmo bloco econômico.
A CECA evoluiu para a formação da Comunidade Econômica
Como exemplos temos a União Europeia (UE), o Nafta, a
Europeia (CEE), inicialmente com seis países-membros, e
APEC e o Mercosul.
para a Comunidade Europeia de Energia Atômica (Euratom),
As importações brasileiras são principalmente bens de capital, em 1957.
matérias-primas e combustíveis. Das importações de
Em 1968, com prazos determinados para cumprir etapas, foi
manufaturados, destacam-se produtos químicos e farma-
definida uma união alfandegária entre os primeiros participan-
cêuticos, bens de informática, maquinário, equipamentos
tes da Comunidade Europeia (CE), que formaram o Mercado
eletroeletrônicos, equipamentos de transporte, petróleo e
Comum Europeu. Em 1973, Grã-Bretanha, Dinamarca e Irlanda
seus derivados.
passaram a fazer parte da Comunidade Econômica Europeia,
Os principais países fornecedores das importações brasilei- que, cada vez mais, se aperfeiçoava nas suas relações econô-
ras são: Estados Unidos, Argentina, Alemanha, Japão, Arábia micas. O Conselho Europeu, órgão da CE, passou a analisar
Saudita e Itália. os meios para a obtenção de um sistema monetário comum, a
formação de um parlamento e o aumento do número de repre-
O comércio regionalizado - Os blocos sentantes de cada país-membro.
econômicos O encaminhamento para a moeda única aconteceu em 1991,
A principal tendência do mundo globalizado é a formação na Conferência Intergovernamental de Maastricht (Holanda),
dos blocos regionais, criados com o objetivo de intensificar o quando definiram-se os termos para uma progressiva união
comércio entre os países-membros por meio da redução ou financeira, por meio da adoção de uma moeda única para toda a
eliminação das tarifas alfandegárias. Os blocos econômicos Comunidade. Em 1992 é lançada a União Europeia, eliminando
apresentam alguns estágios de integração e podem ser clas- totalmente as fronteiras entre os 12 países-membros.
sificados da seguinte maneira: A UE foi criada pelo Tratado de Maastricht em 1992. Desde
• Zona de Livre Comércio (ZLC): Ocorre a redução ou sua implementação, vem ocorrendo, entre os países integran-
eliminação de tarifas e barreiras não tarifárias e das res- tes, maior cooperação em questões como o combate ao crime
trições quantitativas. Não há livre circulação de pessoas, organizado e ao narcotráfico, além de decisões comuns rela-
apenas de capital. cionadas a meio ambiente, imigração, educação, proteção do
consumidor, saúde pública e defesa do território, entre outras
• União Aduaneira: Além de todas as características da
ZLC, é adotada uma mesma tarifa externa comum (TEC) áreas.
para trocas com países que não pertencem ao bloco. Em 1º de janeiro de 2002, entrou em circulação o euro, a
• Mercado Comum: Além de todas as características da moeda única (união monetária), em doze países que pertencem
união aduaneira, permite-se o livre trânsito dos meios de à UE. Os países que o adotaram foram: Áustria, Bélgica, Fin-
produção (capital, serviços e mão de obra) entre a maioria lândia, França, Alemanha, Irlanda, Itália, Luxemburgo, Holanda
dos países-membros. Assim, há o estabelecimento de um (países Baixos), Portugal, Grécia e Espanha. Reino Unido,

339
Geografia

Dinamarca e Suécia optaram por não adotar a moeda única. são, mas também dos países integrantes do restante do bloco.
A implantação do euro representou a criação de uma moe- Turquia - Eterna candidata
da forte no sistema financeiro internacional e um elemento
Com território em dois continentes, Europa e Ásia, a Turquia
facilitador do comércio e dos investimentos dentro do próprio
estabeleceu uma rígida separação entre Estado e religião, ao
continente. Os negócios internacionais, antes feitos em dólar,
contrário do que ocorre na maioria dos países que, como ela,
passaram a ser realizados também em euro, reduzindo a su-
tem população muçulmana. O governo turco, entusiasta da
premacia da moeda norte-americana.
adesão ao bloco, já propôs mais de 800 leis para adaptar o país
A partir de maio de 2004, a União Europeia contou com a sua às condições exigidas – incluindo desde reformas econômicas
maior expansão de uma única vez – dez novos membros foram e privatizações até a abolição da pena de morte.
oficialmente admitidos, como se pode ver no mapa a seguir. Es- Mas essa adesão à União Europeia esbarra em vários
ses novos membros representaram um acréscimo de 80 milhões problemas.
de habitantes aos cerca de 370 milhões já existentes. A maior
parte desses países pertenceu ao bloco socialista, sendo que
• Os países europeus temem o ingresso de uma nação com
74 milhões de habitantes, em sua maioria muçulmana.
três deles – Lituânia, Estônia e Letônia – integravam a extinta A entrada da Turquia levaria as fronteiras do bloco até
URSS. Trata-se também de países com PIB per capita bem o Oriente Médio. O governo turco argumenta, quanto
inferior à média da União Europeia – cerca de 40%. No entanto, à questão religiosa, que a entrada da nação seria uma
os benefícios oferecidos aos novos membros, como subsídios oportunidade de mostrar que a UE não é formada apenas
agrícolas e ajuda econômica para promover o desenvolvimento por povos cristãos.
e diminuir as diferenças econômicas existentes em relação aos • Outro fator que pesa contra a Turquia é a situação de
demais países da União Europeia, são limitados. Esses países Chipre, já membro da UE. Esse país, uma ilha no mar
passaram a ter acesso a todos os benefícios em 2014, dez anos Mediterrâneo, está há três décadas dividido em um setor
após o processo de integração ao bloco. grego, ao sul, mais desenvolvido, e outro, ao norte, sob
o controle do Exército turco. O fato de a Turquia ocupar
Em 2013, a União Europeia completou 28 membros o norte da ilha e não reconhecer o governo de Chipre
com a entrada da Croácia. dificulta sua aceitação.
União Europeia • Há ainda a questão dos curdos, 18% dos habitantes
Membros desde 2004 da Turquia. Mais numerosa população sem Estado no
Membros desde 2007
Países candidatos mundo, os curdos vivem espalhados na parte oriental do
Zona do Euro
território turco e nas nações vizinhas. Querem criar seu
país, o Curdistão, na região em que vivem. A integração da
*Previsto para 2007 Finlândia

Suécia
Estônia Turquia à UE levaria esse conflito – que envolve também
Letônia Iraque, Síria e Irã – para dentro da UE. .
Países Lituânia
Irlanda
Reino
Unido
Baixos
Polônia
O Nafta
Alemanha
Bélgica
Rep. Tcheca
Em 1994, EUA, Canadá e México deram os primeiros pas-
Luxemburgo Eslováquia
Hungria sos rumo à formação de uma economia supranacional, com
Áustria

França
Eslovênia Romênia a criação do Nafta. Juntos, formam um mercado de aproxi-
Croácia
Bulgária
madamente 424 milhões de habitantes e respondem por um
via
Portugal Espanha
Itália
Macedônia
Sér PIB de aproximadamente 13,4 trilhões de dólares, em 2004.
Grécia
Turquia O acordo previa a instalação de uma zona de livre-comércio,
na qual a abolição total das tarifas aduaneiras seria colocada
Chipre
Malta
Finlândia
em prática até 2015. Uma grande quantidade de produtos já
*A partir de 2019 o Reino Unido formalmente não fará mais parte da U.E. circula livremente entre os três países, sem nenhuma taxação.

Em 2016, um plebiscito realizado em todos os países que Como não existe a perspectiva de formação de um mercado
fazem parte do Reino Unido (Inglaterra, País de Gales, Irlanda único nos moldes da União Europeia, a grande diferença socioe-
do Norte e Escócia), indicou a preferencia pela saída da UE. conômica entre o México e os outros dois países do Nafta trouxe
vários problemas para a sociedade e a economia mexicanas, e
A saída do Reino Unido do bloco econômico é uma espécie
também para trabalhadores norte-americanos e canadenses.
de vitória da direita dentro dos países. Isso porque a campanha
para o Brexit – junção de Britain (Bretanha) com exit (saída) – A questão da disparidade em termos socioeconômicos na UE
foi liderada por uma série de políticos conservadores. Após o foi resolvida gradativamente, à medida que foram direcionados
resultado da votação de 2016, em março de 2017 teve início investimentos das economias mais vigorosas da UE (Alemanha,
processo de saída do Reino Unido da União Europeia, espera- França e Reino Unido) para os países menos desenvolvidos do
-se que em 2019 todo o processo esteja concluído e assim, o bloco. Isso não ocorreu com o Nafta em relação ao México. No
país estará formalmente fora do bloco. Nafta, vigora apenas o objetivo da livre-circulação de merca-
Acredita-se que os motivos dessa decisão estão relacionados dorias, e desde a sua implantação, muitas empresas dos EUA
com o desejo de ser mais seletivo com relação aos imigrantes instalaram-se no México, atraídas pela mão de obra bem mais
que entram no país, inclusive os imigrantes vindos dos próprios barata e pela legislação trabalhista mais flexível. Em razão
países da Europa, além do desejo de ter uma política econômica disso, no setor industrial norte-americano, milhares de postos
que seja independente das decisões que são tomadas pelo de trabalho foram fechados.
bloco econômico europeu. Apesar de ter ocorrido uma ampliação das exportações
Ainda não se sabe as consequências da saída do Reino mexicanas, a dependência da economia mexicana em relação
Unido na economia não só dos países que votaram pela exclu- à dos EUA é muito grande – cerca de 85% das exportações

340
Globalização e comércio exterior I

do México vão para os Estados Unidos e 8% das importações outros países. Essa “união aduaneira imperfeita” ocorre porque
são provenientes desse país. Além disso, houve um significa- as economias dos países-membros são bastante assimétricas.
tivo processo de desnacionalização da economia mexicana: Dessa forma, o Mercosul acaba estabelecendo algumas bre-
por exemplo, três quartos das empresas têxteis que atuam no chas, com mecanismos para não prejudicar as economias de
México são de procedência norte-americana. menor dinamismo e os setores econômicos mais sensíveis à
O Nafta não trouxe avanços tecnológicos significativos para concorrência externa.
o México, pois muitas das novas indústrias que se instalaram Além disso, o bloco passa por outros problemas de cunho
são apenas montadoras, chamadas de maquiladoras, e boa político. Em 2012, o Paraguai foi suspenso em razão do proces-
parte dos componentes que integram os produtos vem de fora, so de impeachment controverso de Fernando Lugo, retornando
principalmente dos EUA. apenas em 2013. Há ainda a questão referente à Venezuela,
Na agricultura mexicana, os impactos sociais foram negati- já que desde a morte de Hugo Chávez em 2013 o país mergu-
vos. Os cultivadores de trigo, batata e arroz passaram a sofrer lhou em uma severa crise política e econômica marcada por
a forte concorrência dos norte-americanos, tecnologicamente um enorme problema de abastecimento interno, provocando a
mais bem preparados e fortemente amparados pelos subsídios migração de milhares de venezuelanos. Justamente por esses
do governo dos EUA. Como consequência, especialmente fatores, acredita-se que o bloco vive seu maior impasse.
pequenos e médios agricultores mexicanos enfrentam sérias Os membros plenos formam uma união aduaneira, ou seja,
dificuldades para levar adiante suas atividades. Além disso, o adotam uma Tarifa Externa Comum (TEC), o que significa que
desemprego rural vem aumentando. muitos produtos importados pelos países do bloco são subme-
É inegável que a economia mexicana cresceu. A integração tidos às mesmas taxas aduaneiras.
do México ao Nafta impulsionou a sua economia, aumentou o
A Alca
valor da produção anual (PIB), e o país foi o que mais recebeu
investimentos dos Estados Unidos na América. No entanto, Em 1994, na cidade de Miami, EUA, iniciaram-se as nego-
essas conquistas podem não ser duradouras. A economia me- ciações para a criação da Alca (Área de Livre-Comércio das
xicana tomou-se ainda mais sujeita às decisões das grandes Américas), que reuniria 34 países, ou seja, todos os países do
empresas e do governo dos Estados Unidos. Além disso, os continente americano, exceto Cuba. Desde então, reuniões,
ganhos sociais não foram proporcionais aos econômicos. Desde denominadas Encontros ou Cúpulas das Américas, passaram
a posse de Trump no início de 2017 muitas incertezas pairam a ser realizadas anualmente.
sobre o NAFTA, já que o presidente estadunidense contra a A participação do Brasil na Alca é polêmica. O continente
participação dos EUA em blocos econômicos, alegando que americano reúne, de um lado, dois países desenvolvidos e
essas parcerias prejudicam a geração de emprego nos EUA. com alto índice de avanço tecnológico – os Estados Unidos e
Além disso, a sua insistência em ampliar o muro que separa o Canadá – e, do outro, países subdesenvolvidos, alguns muito
o México do país com objetivo de dificultar a entradas de imi- pobres, com economia baseada na agricultura e/ou na extração
grantes ilegais e drogas, tem gerado tensão entre os países. mineral, como Haiti, Guiana, Guatemala, Bolívia, Equador.
Nesse contexto, o Brasil fica numa situação inter-
O Mercosul
mediária, do ponto de vista de desenvolvimento eco-
O Mercosul foi criado em 1991 quando Brasil,Argentina, Paraguai nômico. Por um lado, nosso país e os demais países
e Uruguai assinaram o Tratado de Assunção, um acordo de livre- latino-americanos não têm condições de concorrer em
comércio. No entanto, somente em 1995 foi formada oficial- pé de igualdade com as empresas dos Estados Unidos.
mente a União Aduaneira. Por outro lado, o país que se negar a participar da Alca pode
Ao longo da década passada, as relações comerciais entre sofrer represálias comerciais dos norte-americanos, que certa-
os países-membros tiveram avanços expressivos, com a criação mente o colocariam numa difícil situação econômica. O Brasil,
de vários projetos de infraestrutura. Estradas, hidrovias e hidre- por exemplo, destina cerca de 25% de suas exportações para
létricas, foram desenvolvidos, levando em conta o crescimento os Estados Unidos.
desse mercado. Mas é preciso considerar também que o Brasil é um país
Os países-membros do Mercosul representam 42% da importante para os Estados Unidos, pois, excetuando o Mé-
população latino-americana e mais da metade de todo o valor xico, representa sozinho quase metade da economia latino-
produzido pela economia dessa parte do continente. -americana e responde por cerca de 70% da economia de toda
Bolívia, Chile, Peru, Colômbia e Equador participam do a América do Sul.
Mercosul como membros associados, ou seja, suas relações O Mercosul, junto com a CAN (Comunidade Andina) ou Pacto
com os demais países restringem-se ao âmbito da zona de Andino, tem buscado maior integração comercial e propostas
livre-comércio, não participando da união aduaneira nem das comuns a serem discutidas com os demais membros da Alca,
negociações que envolvem aspectos relacionados à criação do para fortalecer a sua capacidade de negociação frente aos
mercado comum. Na verdade, o Mercosul é considerado uma Estados Unidos, que lideram o G-14.
união aduaneira que não funciona como deveria. Isso porque Muitos países em desenvolvimento da América Central e do
não existe uma zona de livre circulação de mercadorias plena Sul precisariam de investimentos bilionários em infraestrutura
entre os seus membros. Ainda que tenha havido reduções sig- para que suas economias suportem a entrada num mercado
nificativas das tarifas comerciais em diversos setores, muitos econômico do porte da Alca. Setores como o de transportes,
produtos uruguaios, paraguaios, argentinos e venezuelanos telecomunicações, energia, água, portos e aviação devem ser
não estão livres de barreiras para ingressar no Brasil – e vice- reestruturados.
-versa. Da mesma forma, há uma extensa lista de exceções para
Também existem barreiras internas nos Estados Unidos,
a aplicação da Tarifa Externa Comum nas negociações com
pois, em 1997, o então presidente Bill Clinton, não conseguiu

341
Geografia

aprovar no Congresso o chamado fast track, que seria a via rápida para a implementação da Alca. Muitos sindicatos patronais e
de trabalhadores, resistem à ideia da Alca por temerem a concorrência de produtos estrangeiros e o desemprego.
Alca: divergências entre Brasil e EUA

Investimentos Antidumping Serviços Propriedade Intelectual


• Negociar regras para investimentos. • Conciliar o direito de
• Negociar antidumping na • Promover uma liberação pro-
• Não admitir arbitragens internacio- propriedade intelectual
Alca. gressiva do setor.
nais em disputas entre o Estado e com a transferência da
• Tornar mais difícil medidas • Não incluir na negociação
as empresas. tecnologia.
antidumping contra países concessões significativas em
Brasil

• Estabelecer exceções à livre trans- • Flexibilizar o direito de


em desenvolvimento. setores estratégicos, como
ferência de capitais, para proteger propriedade em rela-
• Estabelecer regras mais telecomunicações, energia e
a economia de eventuais ataques ção às necessidades
claras e rigorosas na OMC serviços financeiros.
especulativos. da saúde pública.
sobre a aplicação de medi- • Reproduzir na Alca os compri-
• Admitir critérios de desempenho • Negociar preponderan-
das antidumping. missos assumidos na OMC.
para os investimentos. temente na OMC.
• Preservar a capacidade de
• Estabelecer que disputas entre
aplicar suas normas comer- • Eliminar regulamentações do-
empresas estrangeiras e o Estado
ciais e negociar apenas na mésticas restritivas à atuação • Assegurar que os acor-
sejam decididas por árbitros inter-
OMC. dos prestadores de serviços dos comerciais incluam
nacionais e não pela justiça local.
• Acordos que possam afetar dos EUA no país. regras de propriedade
• Reduzir ou eliminar critérios de
EUA

as normas internas de defesa • Pressionar pela liberação de intelectual similares à


desempenho dos instrumentos
comercial devem ser subme- todos os serviços, inclusive da legislação norte-
estrangeiros.
tidos à Comissão de Finanças financeiros, de energia, de -americana, que é ex-
• Impedir a transferência forçada de
do Senado e à comissão que entrega rápida, jurídicos e de tremamente rigorosa.
tecnologia, que é usada, por exem-
trata de assuntos da área de informática.
plo, na fabricação dos genéricos.
Orçamento e Finanças.

Principais blocos econômicos nos cinco continentes


A partir da metade do século passado, os países iniciaram um processo de organização em blocos
regionais, o que ganhou maior impulso nas décadas de 1980 e 1990.

União Europeia (UE) Comunidade dos Estados


Acordo de Livre-Comércio constituída em 1993, a partir do Mercado Comum Europeu Independentes (CEI)
da América do Norte (Nafta) (criado em 1957), reúne 25 países (Alemanha, Áustria, Bélgica,
Dinamarca, Espanha, Finlândia, França, Grécia, Irlanda, Itália, criada em 1991, tem como
Luxemburgo, Holanda, Portugal, Reino Unido, Suécia, Chipre, participantes atuais Armênia,
criado em 1988, reúne
Malta, Estônia, Letônia, Lituânia, Polônia, República Tcheca, Belarus, Casaquistão,
Estados Unidos, Canadá e México
Eslováquia, Hungria, Eslovênia). C. POLAR Federação Russa, Moldávia,
ÁRTICO Quirguistão, Tadjiquistão,
Turcomenistão, Ucrânia,
Uzbequistão, Geórgia e
EUROPA Azerbaijão.
AMÉRICA
ÁSIA Associação das Nações do
Mercado Comum e Comunidade Sudeste Asiático (Asean)
TRÓPICO DE CÂNCER
do Caribe (Caricom) OCEANO
PACÍFICO formada em 1967, atualmente
OCEANO
formado por Suriname, Guiana, compreende Indonésia, Malásia,
OCEANO ATLÂNTICO
Honduras, Belize e as ilhas do Caribe, Filipinas, Cingapura, Tailândia,
em 1973. PACÍFICO Brunei, Vietnã, Mianmar, Laos e
EQUADOR
Camboja.

AMÉRICA OCEANO
ÁFRICA
Comunidade Andina (CAN) ou ÍNDICO OCEANIA
TRÓPICO DE CAPRICÓRNIO
Pacto Andino
primeiro bloco criado nas Américas,
em 1969, conta com a participação de Cooperação Econômica da
Venezuela, Colômbia, Equador, Peru e Comunidade da África Meridional Ásia do Pacífico (Apec)
Bolívia. para o Desenvolvimento (SADC)
formada em 1989, reúne atualmente
N criada em 1992, compreende Angola, Austrália, Brunei, Canadá, Indonésia,
CÍRCULO POLAR ANTÁRTICO
África do sul, Botsuana, Lesoto, Japão, Malásia, Nova Zelândia,
Malauí, Maurício, Moçambique, Filipinas, Cingapura, Coreia do Sul,
Mercado Comum do Cone Sul Tailândia, Estados Unidos, China,
Namíbia, República Democrática do
(Mercosul) Congo, Seychelles, Suazilândia, Hong Kong, Taiwan, México,
0 2900 5800 Tanzânia, Zâmbia e Zimbábue. Papua-Nova Guiné, Chile, Peru,
formado em 1991 por Brasil,
Federação Russa e Vietnã.
km Argentina, Paraguai e Uruguai.

Ciência Hoje. Rio de Janeiro: SBPC, v. 30, n. 180, março de 2002. p.26-27, e http://www.europa.eu.int - (02?03?2005)

Existem outras associações e acordos, além dos citados, mas de menor importância ou ainda em processo de formação: a Apec
(Cooperação Econômica da Ásia e do Pacífico), que reúne países da Ásia, Oceania e América; a Asean (Associação das Nações
do Sudeste Asiático); o Caricom (Mercado Comum e Comunidade do Caribe); a CAN (Comunidade Andina) ou Pacto Andino e a
CEI (Comunidade dos Estados Independentes), que reúne os países da extinta URSS, exceto Letônia, Lituânia e Estônia.

342
Globalização e comércio exterior I

E) a maior eficiência no setor de serviços essenciais


Exercícios à indústria, como rodovias, energia elétrica, tele-
fonia móvel e internet, elevando o crescimento do
1. (EsPCex – 2014) “Nas últimas décadas do século XX, Produto Interno Bruto (PIB) em 10% ao ano entre
o número de migrantes internacionais aumentou de 1997 e 2002, sendo este período conhecido como
forma significativa […] por causa das disparidades “o espetáculo do crescimento“.
econômicas entre os países”
(TERRA, L; ARAÚJO, R; GUIMARÃES, R. Conexões- Estudos 3. (G1 - col. naval 2015) O MERCOSUL – Mercado Co-
de Geografia Geral. 1.ed. São Paulo: Moderna, 2009, p. 327)
mum do Sul – é um bloco econômico criado pelo Tratado
Sobre as migrações no contexto da globalização po- de Assunção, em 1991, tendo como países-membros o
demos afirmar que Brasil, a Argentina, o Uruguai, o Paraguai e, mais recen-
I. a globalização tem facilitado as migrações, devido temente, a inclusão da Venezuela. Posteriormente, há
tanto à redução do custo dos transportes quanto à promessas de adesão de outros países sul-americanos
expansão dos meios de comunicação. como Colômbia, Peru, Bolívia, Equador e Chile. Com
II. embora os EUA e o núcleo mais próspero da União relação aos objetivos e aos dilemas desse bloco eco-
Europeia sejam as duas maiores zonas de atração nômico, assinale a opção correta.
de fluxos migratórios do mundo, países situados no A) A redução das assimetrias econômicas entre seus
Oriente Médio são os que possuem maior percen- membros possibilitou a unificação dos mercados
tagem de imigrantes na população. na década de 1990 e a expansão da economia re-
III. a crescente necessidade de mão de obra imigrante gional. Esse cenário elevou o intercâmbio de trocas
por parte da Austrália tem levado esse País a esti- intrarregional e a participação da América do Sul na
mular a imigração através de políticas imigratórias Organização Mundial do Comércio (OMC).
menos seletivas. B) Os acordos estabelecidos entre os países-membros
IV. no México, o recebimento de remessas financeiras permitiram a livre circulação de bens e serviços, além
de seus milhares de emigrados constitui uma das do estabelecimento de uma Tarifa Externa Comum
maiores fontes de divisas do País. (TEC), no entanto, as liberalizações não foram esten-
V. as restrições cada vez mais rígidas impostas pelos didas às pessoas que são impedidas de circularem e
países desenvolvidos à imigração clandestina, trabalharem em qualquer outro país do MERCOSUL.
aliada à constante vigilância de suas fronteiras, têm C) O MERCOSUL vem enfrentando dificuldades nas
impedido o crescimento do número de imigrantes relações comerciais entre as economias maiores.
ilegais no mundo. A Argentina viu diminuir suas exportações porque o
Assinale a alternativa em que todas as afirmativas estão Brasil implementou barreiras sobre o setor automo-
corretas. bilístico e o de linha branca (geladeiras, micro-on-
das, fogões), provenientes do mercado argentino.
A) I e III C) I, II e IV E) I, IV e V
D) A entrada da Venezuela no MERCOSUL contribuiu
B) III e IV D) II, III e V
para a superação das dificuldades de integração
2. (G1 - col. naval – 2017) O governo do presidente regional, já que o país, além de apresentar os
Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) buscou dar maiores índices de crescimento sul-americano,
continuidade à estabilização econômica iniciada com o também funciona como porta-voz de interação com
Plano real (1994), baseada na redução do deficit público outros blocos econômicos, como o NAFTA (Acordo
por meio da reforma constitucional visando reduzir a de Livre Comércio da América do Norte) e a CAN
participação do Estado na economia, e de um progra- (Comunidade Andina de Nações).
ma de privatização das estatais, sobretudo no setor de E) O MERCOSUL representou para o Brasil a opor-
telecomunicações, energia e siderurgia. É correto tunidade de diversificar seu comércio exterior,
afirmar que tais medidas tiveram como consequência adotar estratégias de enfrentamento à concorrência
A) a desvalorização da moeda nacional devido às externa, ser instrumento de atração de investimen-
privatizações e a consequente inflação que afetou tos internacionais e funcionar como contraponto à
diretamente a população mais pobre, acentuando dependência da região à influência norte-americana.
as desigualdades sociais que colocaram o país com
4. (EsPCex (AMAN) –2011) O Conselho de Segurança
uma das concentrações de renda mais acentuada
é o órgão que decide sobre temas de paz e segurança
do mundo.
discutidos na Organização das Nações Unidas (ONU).
B) o controle da inflação e a redução da concentração É composto por cinco países, que são membros per-
de renda, contudo a concorrência dos produtos manentes, e por mais dez países que são membros
internacionais acabou gerando um grande número temporários e escolhidos bienalmente.
de falências de empresas nacionais, além do de-
Assinale a opção que apresenta os cinco membros
semprego, principalmente no setor industrial.
permanentes do Conselho de Segurança da ONU.
C) o aumento da capacidade de investimento do país
A) Brasil, Índia, Estados Unidos, Alemanha e Japão
em grandes projetos de infraestrutura como as
usinas hidrelétricas de Itaipu e Tucuruí, além de B) Reino Unido, França, China, Rússia e Estados
renovar a malha rodoviária brasileira por meio de Unidos
obras de duplicação das principais vias. C) Estados Unidos, Alemanha, Japão, Reino Unido
D) a depreciação do valor de mercado das empresas e França
de telefonia, energia e siderurgia que precarizaram D) Rússia, China, Alemanha, Japão e França
seus serviços e perderam a competitividade quando E) China, Brasil, Reino Unido, Índia e Rússia
comparadas aos seus antigos modelos estatais.

343
Geografia

5. (EsPCex (AMAN) –2017) A China tem se tornado uma O fracasso atribuído por Celso Amorim e Mike Froman
das maiores potências mundiais. É considerada uma às sucessivas negociações acerca do comércio inter-
economia emergente, tanto pelo peso de sua econo- nacional de commodities e de bens industrializados
mia quanto pela forte influência que exerce no cenário deveu-se, principalmente, ao fato de que
regional e global. A expansão da indústria tem sido A) não houve consenso, entre países desenvolvidos
um dos principais fatores do crescimento da economia e subdesenvolvidos, acerca do comércio de bens e
desse país. serviços ambientalmente sustentáveis.
Sobre a economia chinesa, podemos afirmar que B) os países desenvolvidos exigiram que os países em
I. a indústria pesada ainda permanece sob o controle desenvolvimento eliminassem os subsídios ofereci-
estatal chinês e concentra-se, predominantemente, dos pelos governos destes países às suas produções
nas províncias da Manchúria, no nordeste do País, agrícolas, a fim de ampliar a participação de seus pró-
a qual dispõe de vastas reservas de carvão mineral prios produtos agrícolas no comércio internacional.
e minério de ferro. C) o tema da liberalização do comércio agrícola e
II. a indústria de alta tecnologia expandiu-se rapida- de bens não agrícolas continuou a figurar como
mente no País, o que o tornou um dos maiores principal entrave político nas relações de comércio
exportadores do mundo de produtos ligados à entre os países desenvolvidos e os países em
tecnologia da informação. Entretanto, a China não desenvolvimento.
controla a maior parte das tecnologias mais valiosas D) não houve consenso entre países desenvolvidos e
dos produtos que fabrica, pois tais componentes são em desenvolvimento acerca da redução das emis-
fabricados no exterior. sões de gases de estufa e do comércio mundial
III. o dinamismo econômico da região litorânea da dos créditos de carbono, a fim de desacelerar o
China vem se difundindo em direção ao cinturão aquecimento global.
agrícola do interior. Tal fato tem propiciado um maior E) ocorreu, por parte da OMC, a imposição de medidas
equilíbrio do PIB per capita entre a “China marítima” impopulares para o equilíbrio das contas públicas
e a “China interior”. dos países subdesenvolvidos, com vistas a atenuar
IV. atualmente, com o envelhecimento da população os efeitos da crise financeira sobre os fluxos globais
e com o desenvolvimento tecnológico do setor de comércio.
industrial, a mão de obra tem encarecido e levado
indústrias a se transferirem para o interior do País, 7. (EsPCex (AMAN) –2018) “‘Exterior próximo’ - é assim
em busca de mão de obra mais barata. que o governo russo encara os demais Estados da CEI
(Comunidade de Estados Independentes).”
V. a China não foi autorizada a participar da Organiza-
ção Mundial do Comércio (OMC), pelo tratamento Adaptado de: MAGNOLI, D. Geografia para o Ensi-
no Médio. 1. ed. São Paulo: Atual, 2012, p.562.
dado aos direitos individuais e liberdades civis de
sua população; dessa forma, o País não obedece às Ao utilizar tal expressão, a Rússia caracteriza bem
regras do comércio internacional, mantendo elevados sua esfera de influência política no continente asiático.
subsídios à agricultura e altas taxas de importação. Dentre os fatores que explicam a influência russa sobre
Assinale a alternativa que apresenta todas as afirma- o seu “Exterior Próximo”, podemos destacar o(a)
tivas corretas. I. grande dependência das economias dos países
A) I, II e III da CEI em relação ao mercado russo, destino de
B) I, II e IV grande parte das exportações desses países.
C) II, III e V II. tratado de segurança coletiva assinado pelos países
D) I, IV e V da CEI, que, em vigor desde 1994, proíbe seus
integrantes de participarem de alianças militares
E) III, IV e V
externas.
6. (EsPCex (AMAN) –2018) Leia os relatos a seguir: III. controle sobre a soberania política e econômica
“Ao final da reunião ministerial da Organização Mundial desses países e de suas reservas energéticas situa-
do Comércio (OMC), em julho de 2008, a sensação foi das em pontos estratégicos para a economia russa.
de desalento, como fica evidente nas palavras do Mi- IV. identidade cultural e religiosa entre a Rússia e os
nistro das Relações Exteriores, Celso Amorim: ‘É uma demais Estados da CEI, aliada ao fato de ser a lín-
pena, pois para qualquer observador externo [...] seria gua russa o idioma mais falado em todo o “Exterior
inacreditável que, depois do progresso alcançado, nós Próximo”.
não conseguimos chegar a uma conclusão.’”
V. considerável dependência de praticamente todas as
Adaptado de: Sene, E.; Moreira, J.C. - Geografia Ge-
ex-repúblicas soviéticas da importação de produtos
ral e do Brasil: espaço geográfico e globalização. 2ª
ed. 2v. São Paulo: Scipione, 2012, p. 230.
da indústria russa.
Assinale a alternativa que apresenta todas as afirma-
“Mike Froman, o representante do governo dos Estados
tivas corretas.
Unidos para assuntos de comércio internacional, escre-
veu um artigo publicado ontem pelo jornal ‘Financial A) I, II e III
Times’ que a agenda do desenvolvimento da Rodada B) I, II e V
de Doha, iniciada 14 anos atrás, deveria ser substituída,
C) I, III e IV
porque ela simplesmente não produziu resultados.”
www1.folhauol.com.br/mercado/2015/12/1719245_
D) II, IV e V
negociações.da.rodadadoha. E) III, IV e V

344
Globalização e comércio exterior I

8. (EsPCex (AMAN) – 2018) Sabe-se que o poder global 10. (EsPCex – 2014) Em 2003 foi criado o termo BRIC, uma
dos Estados Unidos da América (EUA) é multidimen- sigla indicando o Brasil, a Rússia, a Índia e a China,
sional, expressando-se, por exemplo, nos campos respectivamente, como países que estariam destinados
econômico, financeiro e cultural. Contudo, de todas as a ingressar no seleto grupo das principais economias
dimensões do poder, merecem especial destaque os mundiais, devido à força de seus recursos naturais,
campos geopolítico e militar. Quanto a estes últimos, no humanos e estratégicos. Sobre os parceiros do Brasil
que diz respeito à distribuição e ação do poder militar nesse bloco, é correto afirmar que
norte-americano pelo globo, no início do século XXI, I. embora a Rússia tenha perdido importância econô-
podemos afirmar que mica no cenário mundial, apresenta-se como uma
I. em países europeus da Organização do Tratado do estratégica fornecedora de petróleo e gás natural
Atlântico Norte (Otan), como é o caso da Alemanha, para os países europeus.
da Grã-Bretanha e da Itália, situam-se grandes II. enquanto na China o setor secundário responde por
bases do Exército, da Marinha e da Força Aérea quase metade do PIB do País; na Índia é o setor
norte-americana. terciário que se destaca, respondendo por mais da
II. na Europa e na Ásia/Pacífico, como reflexo da Guer- metade do seu PIB.
ra Fria, estão as duas principais concentrações de III. a competitividade da economia chinesa está for-
forças dos Estados Unidos no exterior. temente relacionada à vasta reserva de mão de
III. o Japão e o Vietnã se destacam como principais obra barata, ao seu enorme mercado consumidor
aliados da orla oriental asiática, onde se situam potencial e às reformas políticas democráticas
grandes bases do Exército, da Marinha, da Força promovidas pelo Partido Comunista, sem as quais
Aérea e dos fuzileiros navais dos EUA. seria inviável a atuação do grande capital.
IV. a “guerra ao terror”, proposta no governo George IV. enquanto o “milagre chinês” articulou-se em torno da
W. Bush, traduziu-se, para o Oriente Médio, no produção manufatureira intensiva em mão de obra, a
envolvimento dos EUA em dois grandes conflitos Índia se destaca na globalização através dos setores
regionais, um no Iraque e outro na Síria. de biotecnologia e de tecnologias da informação, os
V. o Hawaí, estado norte-americano de além-mar, e a quais demandam quantidade relativamente peque-
ilha de Diego Garcia funcionam como importantes na de trabalhadores de alta qualificação.
centros de operações, respectivamente, nos ocea- V. em virtude das rígidas políticas de controle de na-
nos Pacífico e Índico. talidade, tanto a China como a Índia já apresentam
Assinale a alternativa que apresenta todas as afirma- taxas de crescimento natural próximas a zero, o que
tivas corretas. implicará necessariamente um rápido processo de
expansão da população idosa em ambos os países.
A) I, II e III
Assinale a alternativa em que todas as afirmativas estão
B) I, II e V
corretas.
C) I, III e IV
A) II, III e V D) I, III e IV
D) III, IV e V
B) II, III e IV E) I, II e IV
E) II, IV e V
C) I, IV e V
9. (EsPCex – 2011) Com relação ao Mercado Comum do
11. (EsPCex – 2011) As bases das seguintes instituições
Sul (Mercosul), podemos afirmar que: econômicas multilaterais: o Fundo Monetário Interna-
I. a aproximação geopolítica entre Brasil e Argentina, cional (FMI), que surgiu como fonte de empréstimos de
que representou uma ruptura com a tradição de curto prazo para países em crise financeira, e o Banco
rivalidade das relações entre esses dois países, foi Internacional para a Reconstrução e Desenvolvimento
fator determinante para o seu surgimento. (BIRD), que tinha como função original financiar os
II. o Tratado de Assunção, em 1991, o constituiu formal programas de reconstrução da Europa Ocidental e do
e juridicamente e contou, além do Brasil e da Ar- Japão, foram lançadas na Conferência
gentina, com a participação do Paraguai e do Chile A) das Nações Unidas Sobre o Comércio e o Desen-
como países-membros do novo Bloco. volvimento (Unctad).
III. a Zona de Livre Comércio estabelecida entre os B) das Nações Unidas Sobre o Desenvolvimento
países-membros implica na adoção de uma Tarifa Sustentável.
Externa Comum (TEC) pelos seus integrantes. C) de Estocolmo.
IV. não há soberania compartilhada, de modo que cada D) de Bretton Woods.
Estado conserva a prerrogativa de impedir a adoção E) de Kyoto.
de decisões com as quais não concorda.
Assinale a alternativa que apresenta todas as afirma- Gabarito
tivas corretas: 1. C 7. B
A) I e II 2. B 8. B
B) I, II e III 3. E 9. C
C) I e IV 4. B 10. E
D) II, III e IV 5. B 11. D
E) III e IV 6. C

345
Capítulo 22

Introdução à climatologia
O estudo das condições climáticas é essencial para com- A mesosfera inicia-se por volta de 60 km e vai até, aproxima-
preender a distribuição dos grandes biomas e dos seres vivos damente, 100 km de altitude. Ela caracteriza-se pela intensa ra-
e a distribuição da população humana sobre a superfície refação do ar, ou seja, praticamente não apresenta mais gases.
terrestre. Com poucas exceções, a maior parte da população
concentra-se em locais que apresentam condições climáticas 800 km
que favorecem a sua sobrevivência, como temperaturas e
índices pluviométricos adequados. Exosfera

Tempo e clima
É necessário diferenciar dois conceitos básicos: tempo e 500 km
clima.
Aurora polar
O tempo é a condição momentânea da atmosfera no que con-
cerne às características de temperatura, precipitação, pressão
atmosférica, umidade relativa do ar, entre outros fatores. Sendo
assim, as características que determinam o tempo podem variar Termosfera
em um curto período de tempo, mostrando uma nova interação
desses elementos e uma nova condição atmosférica. A obser-
vação do tempo é de extrema importância para o ser humano.
O clima, por sua vez, é a caracterização das condições at-
mosféricas de um determinado local, porém, em um intervalo 100 km
de tempo maior, que deve compreender cerca de 30 anos. Mesosfera
60 km
Sendo assim, os aspectos de um clima são determinados pelas Estratosfera
repetições dos elementos atmosféricos no período analisado, 12 km
mesmo que, ao longo da observação, outras características
se apresentem.
Troposfera
Dessa forma, é correto dizer que o tempo do verão de um
determinado local foi diferenciado das características climáticas
normais para a mesma área, sendo o tempo uma combinação
Fonte: http://www.sobiologia.com.br. Acesso em: 05 ago. 2010.
aleatória, e o clima, uma combinação habitual observada no
período de análise. A ionofera ou termosfera, iniciada por volta de 100 km e
terminada a cerca de 500 km, apresenta poeiras cósmicas que
Camadas da atmosfera são produzidas pela pulverização de meteoros de pequeno ta-
manho que chegam constantemente ao planeta Terra. O calor
A atmosfera é a camada gasosa que envolve o planeta Ter-
gerado pelo atrito do meteoro e os poucos gases atmosféricos
ra, “presa” a ele pela ação da força de gravidade. É nela que
promovem a destruição de grande parte deles, produzindo,
ocorrem os fenômenos climáticos que serão estudados a seguir.
assim, poeira cósmica. É nessa camada também que ocorre
A atmosfera é composta por 78% de nitrogênio, 21% de a maior parte das transmissões de ondas de rádio e televisão.
oxigênio e 1% de outros gases, como hidrogênio, gases nobres,
A última camada, que promove a ligação do espaço sideral
gás carbônico, metano, vapor de água, óxidos nitrosos, ozônio,
com a atmosfera, é denominada exosfera e se concentra de
entre outros, distribuídos de maneira irregular em cinco cama-
500 km até, aproximadamente, 800 km de altitude. Ela também
das: troposfera, estratosfera, mesosfera, ionosfera ou termos-
se caracteriza pela presença de poeira cósmica.
fera e exosfera. Cada camada apresenta suas características
quanto à distribuição dos gases e ao padrão de aquecimento. Cada uma dessas camadas, por apresentarem diferentes
composições gasosas, possui um padrão de aquecimento.
A troposfera inicia-se no contato com a superfície terrestre
e se eleva, em média, até 12 km de altitude. É nessa camada Na troposfera, o aumento da altitude implica a redução da tem-
que se encontram 80% da massa gasosa atmosférica e onde peratura, devido à diminuição da concentração gasosa em níveis
elevados. Assim, quanto maior for a altitude, menor é a quantidade
ocorrem os fenômenos climáticos como precipitações, furacões,
de gases que promovem a absorção de calor e, também, maior é
geadas, entre outros.
a distância da fonte liberadora de energia – a superfície terrestre.
A estratosfera é a camada que começa a, aproximadamente,
O aquecimento da atmosfera é realizado, principalmente,
12 km de altitude e se estende até cerca de 60 km de altitude.
pela energia liberada pela superfície terrestre. Isso ocorre
É nela que se encontra a camada de ozônio, formada por gás
porque a maioria dos gases atmosféricos não consegue ab-
homônimo. sorver a energia solar diretamente, visto que esta possui um
comprimento de onda curto.

346
Introdução à climatologia

Dessa maneira, a energia solar passa praticamente Isso ocorre devido à redução da concentração de gases,
transparente pela atmosfera e incide sobre a superfície fator essencial para o aquecimento da atmosfera.
terrestre. Parte dessa energia é absorvida pela superfí- As camadas ionosfera e exosfera apresentam o mesmo
cie, que se aquece, uma vez que consegue trabalhar de padrão de aquecimento: quanto maior for a altitude, maior é a
maneira satisfatória com o comprimento de onda curta.
temperatura. Esse comportamento ocorre devido à presença de
O aquecimento da superfície promove a liberação de calor para
poeira cósmica que, pelo fato de se constituir de fragmentos de
a atmosfera – energia em ondas longas – o que, consequente-
meteoros, ou seja, fragmentos de rochas, consegue absorver
mente, aquece a camada gasosa. Dessa forma, para ocorrer o
de maneira eficiente a energia solar e promover o aquecimento
aquecimento da atmosfera, é necessária a presença de calor
da camada em que se encontra. Observe:
liberado pela superfície terrestre e de gases atmosféricos que
promovam a absorção dessa energia. Camadas da Atmosfera
960 km

Balanço energético Exosfera


A radiação solar é a principal fonte de energia e a base
da vida vegetal e animal na Terra. De toda a radiação pro- 190 km
veniente do sol, cerca de 30% é imediatamente refletida
para o espaço, sem aquecer o planeta – a energia refletida
Termosfera
é chamada de Albedo. Essa porcentagem é constituída por
ondas curtas (luz visível, raios ultravioleta, raios X e raios
80 km
gama). A porcentagem restante é absorvida pela atmosfera,
pelas terras emersas, pelos oceanos e pelos organismos Mesosfera
fotossintetizantes. Com o tempo, a Terra dissipa essa 50 km
energia, emitindo-a de volta para o espaço sob a forma
Estratosfera
de ondas longas (infravermelho, micro-ondas e ondas de
rádio e TV). Essa é a radiação terrestre. 10 km
Troposfera
0
Radiação solar recebida. 100%
Radiação solar refletida
ESPAÇO -100 -80 -60 -40 -20 0 20 40 oC
6 20 4
Temperatura em oC
ATMOSFERA
Fonte: http://www.mundofisico.joinville.udesc.br. Acesso em: 05 ago. 2010.
Retrodifundida
pelo ar
Fatores e elementos climáticos
16
Absorvida por
H2O, poeiras, O3 Refletida
pelas nuvens
Temperatura
A temperatura atmosférica é determinada pela quantidade de
energia armazenada pelos gases atmosféricos – principalmente
3
Absorvida por Refletida os gases estufa. O sol é a principal fonte doadora de energia
nuvens pela superfície para o planeta Terra, porém, é necessário o aquecimento da
51
OCEANO - TERRA superfície para que, em seguida, haja o aquecimento principal
da atmosfera.
Fonte: http://4.bp.blogspot.com. Acesso em: 05 ago. 2010.
A sua variação é determinada, principalmente, pelos se-
Os gases que compõem a troposfera comportam-se dife- guintes fatores:
renciadamente diante da radiação em diversos comprimentos
de onda. Eles são transparentes à maior parte da radiação Altitude
solar e é por isso que a luz atinge a superfície. Mas são Em áreas de altitudes mais elevadas, a temperatura é menor,
opacos à radiação terrestre, absorvendo-a e aquecendo-se. ao passo que, em áreas de altitudes mais baixas, a temperatura
As trocas de calor entre a troposfera, de um lado, e os é maior. Essa variação ocorre em função da variação da con-
oceanos e continentes, de outro, reduzem o resfriamento centração de gases e da distância da fonte doadora de energia.
do planeta. Esse mecanismo natural é conhecido como Sendo assim, quanto maior for a altitude, menor é a quantidade
efeito estufa. de gases que promovem a absorção de calor e, também, maior
Fonte: MAGNOLI, Demétrio. Geografia para o ensino médio. é a distância da fonte liberadora de energia para o aquecimento
da atmosfera – a superfície terrestre.

Na estratosfera, o aumento da altitude representa aumento Latitude


de temperatura, devido à presença da camada de ozônio. Este Em áreas de latitudes mais baixas – próximas do Equador –,
é um dos poucos gases que conseguem absorver a energia as temperaturas são mais elevadas, ao passo que em áreas
solar diretamente, ou seja, em comprimento de ondas curta, de latitudes mais elevadas – próximas da latitude de 90° Norte
e, por isso, promove o aquecimento da camada atmosférica e Sul – as temperaturas são mais baixas. Isso se deve à forma
em que se concentra. Ao analisar a mesosfera, é possível per- esférica da Terra, que faz com que a intensidade da radiação
ceber que o aumento da altitude é acompanhado da redução solar recebida seja desigual nas diferentes latitudes.
da temperatura.

347
Geografia

Dois feixes paralelos de luz com o mesmo diâmetro, ao inci- Em regiões de temperaturas maiores, a densidade dos gases
direm sobre a área situada em baixa latitude, aquecem uma su- é menor, devido à absorção de calor e ao aumento do volume ,
perfície mais extensa do que a área situada em alta latitude. Em promovendo o movimento ascensional dos gases. Nessa região,
consequência, a intensidade de insolação (energia por unidade forma-se um centro de baixa pressão atmosférica, já que o ar
de área) é maior nas porções da superfície próximas ao Equador. ascendeu e pressiona menos a superfície. Como em altitudes
As diferenças de insolação explicam tanto as elevadas médias mais elevadas a temperatura é menor, o ar aquecido perde
térmicas anuais das áreas que circundam a linha do Equador calor para o meio, que promove a redução do seu volume e o
como as baixas temperaturas das áreas próximas aos polos. aumento da sua densidade.
Dessa forma, o ar mais denso sofre o processo de subsi-
altas
latitudes dência – descida do ar – e promove a formação de um centro
N
de alta pressão. À medida que o ar desce, além de pressionar
Tró
mais a superfície terrestre, ele promove a expulsão do ar que
baixas pico
de se encontra sobre a superfície, que sai para dar lugar ao ar que
latitudes Cân
cer está em movimento de descida. Sendo assim, essa região se
radiação torna uma área dispersora de ar, favorecendo a formação de
altas Tró
p
solar ventos. Estes são denominados ventos alísios e se dirigem para
ico
latitudes de
Cap os centros de baixa pressão, para ocuparem o lugar do ar que
ricó
rnio subiu, favorecendo, assim, o equilíbrio atmosférico. Os ventos
que se deslocam em altitudes elevadas, dos centros de baixa
para alta pressão, são denominados contra-alísios.
S
Fonte: LUCCI, Elian Alabi.
Território e sociedade no mundo globalizado. p. 517.

Pressão atmosférica Movimento Movimento de


subsidência
A pressão atmosférica é definida como a pressão exercida ascensional
pelo peso da coluna de ar sobre determinado ponto da su-
perfície terrestre. Sendo assim, quanto maior for a coluna de
ar e quanto maior for a concentração de gases, maior será a
pressão atmosférica.
Essa pressão pode variar de acordo com os seguintes
fatores:

Altitude
Áreas que se localizam em altitudes maiores, se comparadas
com as que se localizam em altitudes menores, apresentam
pressão atmosférica menor. Essa característica é explicada
pelo tamanho da coluna de gases e pela concentração destes, centro de baixa centro de alta pressão
que serão maiores nas áreas de menor altitude. Sendo assim, pressão ciclonal ou anticiclonal ou
em altitudes menores, existe a soma entre a maior coluna de receptora de ventos dispersora de ventos
gases e a associação destes que se concentram em altitudes Fonte: http://1.bp.blogspot.com. Acesso em: 27 jul. 2010.
menores – ação da gravidade mais o peso dos próprios gases.
A associação entre os centros de baixa e os de alta pressão
formam as células de convecção do ar, que serão analisadas
Coluna de Coluna de Coluna de ar
ar exercendo ar exercendo exercendo menor pressão
de maneira mais aprofundada mais adiante.
maior pressão maior pressão que
que na montanha na montanha
e menor do que e no morro Montanha Maritimidade e continentalidade
no vale
A continentalidade e a maritimidade são determinadas pela
Morro menor e maior proximidade das áreas oceânicas, respectiva-
mente. A variação do calor específico entre o oceano e o con-
tinente, bem como a dinâmica do vapor de água na atmosfera,
contribuem de maneira decisiva para a caracterização das
Vale
temperaturas locais.
Áreas próximas dos oceanos sofrem a ação da maritimidade
e, por isso, apresentam uma menor amplitude térmica anual,
Temperatura
se comparadas com áreas continentais que se encontram na
Em áreas de temperaturas maiores, a pressão atmosférica é mesma latitude.
mais baixa, ao passo que em regiões de temperaturas menores,
a pressão atmosférica é mais elevada. Essa variação ocorre
pela atuação da temperatura na camada gasosa, alterando a
densidade dos gases e, com isso, a pressão que eles exercem
sobre a superfície terrestre.

348
Introdução à climatologia

Como o calor específico da água é maior, o oceano demora na manutenção da energia e no aquecimento da atmosfera – o
mais para se aquecer, mas também demora mais para se resfriar. vapor de água é o principal gás estufa –, e também para a pre-
Dessa forma, a variação da temperatura ao longo do ano não é cipitação a partir da sua condensação ou sublimação.
tão significativa. Além da dinâmica de aquecimento determinada A análise da umidade do ar baseia-se nos seguintes conceitos:
pelo calor específico, também é importante considerar a maior
concentração de vapor de água que, normalmente, a atmosfera
• umidade absoluta: é a quantidade total de vapor de água
presente em uma porção da atmosfera.
próxima dos oceanos apresenta – essa situação não ocorre se
houver a passagem de uma corrente fria, que torna a atmosfera • ponto de saturação: é a quantidade total de vapor de
sobre ela mais seca. Esse vapor de água armazena energia na água que a atmosfera consegue suportar. Ao ser atingido,
atmosfera tanto no período do dia como no período do verão, ocorrerá precipitação.
liberando-o gradativamente para a atmosfera, com a redução • umidade relativa: a relação entre a quantidade de vapor
da temperatura local. Sendo assim, o vapor de água também de água e a capacidade que a atmosfera possui de
contribui para a regulação da temperatura nas áreas litorâneas. armazená-la.
Já as áreas mais afastadas dos oceanos sofrem uma influên- A umidade relativa do ar pode ser alterada pela variação do
cia maior das características continentais – continentalidade – e, ponto de saturação. Essa variação é determinada pela quantida-
por isso, apresentam uma maior amplitude térmica anual. Como de de energia presente na atmosfera, sendo, que quanto maior
o calor específico do continente é menor, ele se aquece e resfria for a temperatura atmosférica, maior será sua capacidade de
mais rapidamente, promovendo uma variação significativa da armazenar vapor de água. A maior disponibilidade de energia
temperatura. Além da dinâmica do calor específico, é interes- na atmosfera garante ao vapor de água a condição necessária
sante destacar a menor concentração de vapor de água que, para a sua manutenção no estado vapor, considerando seu ele-
normalmente, as áreas continentais apresentam e que dificulta vado calor específico. Dessa forma, a precipitação é alcançada
a regulação térmica dessas áreas. quando a atmosfera não tem mais condições de reter vapor de
Os mapas seguintes demonstram as médias térmicas de água. A relação contrária também é verdadeira: quanto menor
parte do hemisfério norte, tanto no período do inverno (janeiro), for a temperatura, menor é a capacidade da atmosfera de reter
como no período de verão (julho). As médias térmicas são re- vapor de água. A redução brusca da temperatura pode promover
presentadas pela distribuição das isotermas. Se considerarmos a precipitação mesmo sem atingir 100% de saturação.
a mesma latitude nos dois mapas, é possível perceber que as
áreas continentais apresentam maior amplitude térmica, e as Precipitação
áreas oceânicas, menor amplitude térmica. É o processo de condensação e/ou sublimação do vapor
Janeiro de água presente na atmosfera, que pode ocorrer em forma
de chuva, granizo, geada, neve ou orvalho. O processo de
precipitação ocorre quando há saturação de vapor de água na
-30o -50o o atmosfera ou quando acontece redução brusca da temperatura.
0o -20 o -40
Considerando a precipitação em forma de chuvas, pode-se
-1
0
o

o
10
destacar três tipos:

20o Convectiva
EQ
UA Forma-se pela evaporação, seguida de ascensão do ar car-
30 o

DO
R TÉRMI C O
0o
regado de vapor de água e condensação deste quando atinge
altitudes mais elevadas – área de temperatura menor. É mais
comum de ser observada na zona intertropical ou megatérmica
30 o

30o

20o e caracteriza-se por grandes pancadas de chuvas em um curto


Julho espaço de tempo – chuvas torrenciais.
0o

10
o

20
o

o
30

EQUADOR TÉRM
ICO

0o

20
o

Vestibular UFMG/2006

Umidade do ar Fonte: ADAS, Melhem.Panorama geográfico do Brasil. p. 350.

A umidade do ar é determinada pela presença de vapor de


água na atmosfera. A presença da água é de extrema impor-
tância para a caracterização climática, devido à sua importância

349
Geografia

Orográfica ou de relevo 10o


Forma-se quando uma massa de ar úmida, ao se deslocar em direção a um
centro de baixa pressão atmosférica, necessita ultrapassar uma região de relevo
com altitudes mais elevadas. À medida que a massa de ar ascende, encontra
temperaturas menores, o que diminui a capacidade da atmosfera em reter vapor
de água. Sendo assim, o vapor precipita e forma uma região mais úmida na ver-
tente, denominada região de barlavento. Quando a massa de ar, já com pouca 20o
concentração de vapor de água, ultrapassa as altitudes mais elevadas, forma
uma região mais seca na vertente, denominada sotavento.

Fonte: ADAS, Melhem.


Panorama geográfico do Brasil..

Frontal
É formada pelo encontro de duas massas de ar, normalmente uma mais
aquecida e úmida, e outra mais fria e seca. A massa fria, por originar-se em uma
região de menores médias térmicas, desloca-se em direção aos centros de baixa
Condensação pressão, localizados na zona equatorial. Massas frias possuem maior densidade.
nível
nte Quando a massa fria encontra uma massa quente, devido à sua maior densida-
fre de, ela funciona como rampa de subida para a massa quente – menos densa
ar quente ar frio devido à sua maior temperatura –, o que promove a ascensão de vapor de água
e, posteriormente, a condensação do mesmo. Essas chuvas são caracterizadas
pela precipitação, normalmente, de baixa intensidade e de longa duração – de
dois a três dias. Ela é mais característica nos períodos de outono e inverno,
momento em que as massas frias apresentam suas características realçadas.
Fonte: MORAES, Paulo Roberto.
Geografia Geral e do Brasil.

Correntes marítimas
São porções da água oceânica que se diferenciam quanto às características de temperatura, densidade e salinidade e que
apresentam uma movimentação significativa. Essas correntes podem se diferenciar em quentes – formadas na zona megatérmica
– e frias – formadas na zona microtérmica. Sua movimentação em áreas próximas às áreas continentais influencia diretamente
as condições atmosféricas locais.
Observe o mapa a seguir.
OCEANO GLACIAL ARTICO OCEANO GLACIAL ARTICO
I. Terra do Norte
Baía de Is. Nova Zembla
TERRA Baffin GROENLÂNDIA
CÍRCULO POLAR ÁRTICO DE Rio
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o BAFFIN o na
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60° Ber ke
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CÍRCULO POLAR ANTÁRTICO C. D r.
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ZONAS TORMENTAS E
CLIMÁTICAS INUNDAÇÕES
LEGENDA
GLACIAL Ocorrências: agosto
e setembro
EQUATORIAL DESÉRTICO (Árido) CORRENTE QUENTE
TEMPERADA TROPICAL SEMIÁRIDO
CORRENTE FRIA
FRIO Tufão
SUBTROPICAL Tornado
Tufão
TROPICAL TEMPERADO FRIO DE MONTANHA
Furacão
Ciclone Furacão
MEDITERRÂNEO POLAR

TEMPERADA ESCALA 1: 154 000 000


0 1 540 3 080 4 620 Ocorrências: janeiro
GLACIAL e março
QUILÔMETROS

Fonte: SIMIELLI, Maria Elena. Geoatlas.

350
Introdução à climatologia

As correntes quentes apresentam a água mais aquecida e, por isso, criam uma atmosfera sobre ela também mais aquecida e
úmida, devido aos elevados índices de evaporação. Dessa forma, elas contribuem para o aumento da umidade do ar nas áreas
litorâneas e para a amenização dos rigores climáticos, em regiões localizadas em elevadas latitudes. Um exemplo dessa atuação é a
passagem da Corrente do Golfo, depois denominada Corrente do Atlântico Norte, a qual eleva as temperaturas da Europa Ocidental,
evitando o congelamento do oceano e contribuindo para índices pluviométricos mais elevados na região litorânea.
A passagem de uma corrente fria, que cria sobre ela uma atmosfera também mais fria e menos úmida, devido aos baixos índices
de evaporação, promove o processo da ressurgência e a formação de desertos litorâneos.
A ressurgência é o processo de convecção das águas oceânicas, determinado pela movimentação de uma água superficial mais
fria – e por isso mais densa –, que entra em subsidência e promove a ascensão de águas mais profundas. Essa convecção acaba
por trazer para a parte mais superficial do oceano nutrientes que se encontravam em profundidade, atraindo grandes cardumes
para essa área e favorecendo, assim, a pesca litorânea.
A formação dos desertos litorâneos ocorre devido à redução da umidade, já que a evaporação não é favorecida, associada à
formação de centros de alta pressão atmosférica na região sobre a corrente. Sendo assim, o processo de formação de nuvens
que levariam à precipitação é desfavorecido. Nem os índices de evaporação são significativos e nem ocorre ascensão do ar, de
maneira a encontrar altitudes mais elevadas para a condensação do vapor de água.
É interessante destacar que a formação dos desertos pode estar associada a outros dois processos:
• Áreas tropicais com predomínio dos centros de alta pressão. Nessas áreas, ocorre a chegada dos ventos contra-alísios,
provenientes das áreas de baixa pressão equatorial, fator que intensifica a baixa umidade, devido ao fato de serem ventos
secos, pois perderam sua umidade nas áreas de movimento ascensional, por meio das chuvas convectivas. Além disso, nos
centros de alta pressão, o processo de subsidência do ar predomina, o que desfavorece a formação de nuvens, processo
este vinculado ao movimento ascensional do ar. A maior parte dos desertos terrestres, entre eles o maior de todos, o deserto
do saara, é formada por esse fenômeno.
• Áreas de sotavento de grandes cadeias de montanhas que recebem as massas de ar secas, pois essas perderam sua
umidade na área de barlavento – área de chegada das massas de ar úmidas. Como exemplo desse deserto, destaca-se o
deserto de Gobi, formado na área de sotavento da Cordilheira do Himalaia.

Massas de ar
São grandes bolsões de ar que se diferenciam do todo e que possuem características de temperatura, densidade e umidade
próprias, de acordo com a superfície acima na qual se encontram. Quando formada na região equatorial, a massa de ar apresenta
temperaturas maiores, e quando formada na região polar, a massa de ar apresenta temperaturas menores. Massas formadas
sobre superfícies continentais tendem a ser secas, ao passo que massas formadas sobre superfícies oceânicas, úmidas.
As massas de ar normalmente se encontram em movimento, sempre direcionadas para os centros de baixa pressão e, por isso,
é comum ocorrerem mudanças nas suas características de temperatura, densidade e umidade, além da sua própria extensão.
Como exemplo, podemos analisar o deslocamento de uma massa polar que, ao seguir em direção à região equatorial, encontra
áreas cada vez mais aquecidas e, por isso, sofre elevação da sua temperatura e redução da sua densidade, descaracteriza-se
e desaparece.
O Brasil apresenta a atuação de cinco massas de ar:
• mEc: massa Equatorial continental • mTc: massa Tropical continental
• mEa: massa Equatorial atlântica • mPa: massa Polar atlântica
• mTa: massa Tropical atlântica
Atuação das massas de ar no verão

Atuação das massas Atuação das massas


de ar no verão de ar no inverno
mEa
mEa

mEc mEc

mTc mTa

mTa
mPa

mEa - Massa Equatorial Atlântica mEa - Massa Equatorial Atlântica


mEc - Massa Equatorial Continental mEc - Massa Equatorial Continental
mTa - Massa Tropical Atlântica mTa - Massa Tropical Atlântica
mTc - Massa Tropical Continental mTc - Massa Tropical Continental
mPa - Massa Polar Atlântica mPa - Massa Polar Atlântica

351
Geografia

De maneira ampla, podem-se classificar as massas de ar da seguinte maneira:


Características das massas de ar

Equatoriais Formam-se ao longo da linha equatorial, portanto, em baixas latitudes, e são quentes e úmidas.

Formam-se sobre os mares tropicais e subtropicais (baixas e médias latitudes); são


Marítimas
quentes e úmidas; provocam chuvas por onde passam.
Tipos de Tropicais
massas de Formam-se sobre os planaltos subtropicais e desertos; são quentes e secas; levam
Continentais
ar e suas tempo quente e “limpo” para onde se deslocam.
qualidades Formam-se em altas latitudes, próximas aos polos; são frias e úmidas; provocam
Marítimas
chuvas e neves no inverno.
Polares
Formam-se sobre o Oceano Glacial Ártico, na sua porção norte, no hemisfério
Continentais
setentrional ou nas médias latitudes; são frias e secas.

Ventos
Os ventos são originados pela movimentação do ar, influenciada diretamente pela diferença de pressão atmosférica entre áreas
da superfície terrestre. A variação em centros de maior e de menor pressão atmosférica, por sua vez, relaciona-se diretamente à
diferença de intensidade da energia solar entre as zonas climáticas, à diferença de comportamento da superfície terrestre – dividida
em partes oceânicas e partes terrestres, ação de continentalidade e maritimidade – e à movimentação das correntes marinhas, que
redistribuem o calor em escala planetária. A associação desses fatores promove a formação de centros de alta e baixa pressão
atmosférica – que variam de localidade de acordo com a estação do ano – e, consequentemente, a formação dos ventos planetários,
também denominados de circulação primária. A passagem do equador térmico na zona intertropical promove a movimentação da
zona de convergência intertropical e, assim, a localização dos centros de alta e de baixa pressão atmosférica planetária.

Circulação geral da atmosfera tropicais – provenientes dos centros de alta pressão atmos-
férica. A localização desse centro varia ao longo do ano, de
Além das distintas temperaturas da superfície terrestre,
acordo com a variação das estações. No período de solstício
outros fatores contribuem para os padrões da movimentação
do ar observados na atmosfera. São eles os movimentos de de verão para o hemisfério norte e para o hemisfério sul, o
translação e a inclinação do eixo da Terra, responsáveis pelo centro de baixa pressão desloca-se em direção ao Trópico de
aquecimento desigual entre as diversas estações do ano, e Câncer e de Capricórnio, respectivamente, tornando essas
a rotação da Terra, a qual promove o aquecimento desigual áreas, temporariamente, receptoras de ventos alísios.
da superfície terrestre ao longo do dia. Além desta, existem É nessas regiões que ocorre a formação dos ciclones
outras causas secundárias que interferem nas variações de tropicais – furacões ou tufões. Também é possível perceber
temperatura e de movimentação de ar ao longo do planeta,
centros de baixa pressão próximos da latitude de 60o, tanto no
como as forças de viscosidade e de atrito, a turbulência, o
hemisfério sul quanto no hemisfério norte. A explicação para a
relevo, e, principalmente, o caráter extremamente variável da
natureza da superfície da Terra. Todas essas variações são formação desses centros não pode se relacionar com tempe-
responsáveis pela constituição de uma dinâmica que resulta raturas elevadas, pois a latitude é muito elevada. A formação
em um padrão constante de movimento que, por sua vez, está relacionada à chegada de ventos alísios nessa região,
provoca uma circulação global do ar em todo o planeta. Essa provenientes tanto das áreas polares como das tropicais.
movimentação é denominada circulação geral da atmosfera. Os alísios polares apresentam maior densidade dos gases,
Observe a imagem: devido às menores temperaturas da sua área de origem e,
por isso, servem como rampa de subida para os ventos dos
Ventos Polares trópicos. A ascensão do ar promove redução da pressão at-
60o L de leste
L mosférica nessa localidade, o que caracteriza a região como
en
t e P ol centro de baixa pressão atmosférica. É nessas regiões que
Fr

ar

30o
Ventos de Oeste
Altas Subtropicais
ocorre a formação dos ciclones extra tropicais. Já os ciclones
H H
chamados de tornados são formados em áreas continentais e
Alísios de NE
não apresentam uma latitude definida para a sua atuação. Os
Zona Intertropical de Convergência
0
Alísios de SE
centros de baixa pressão favorecem a formação de chuvas
por apresentarem ascensão do ar, fator favorável à formação
H H
de nuvens, promovendo sua condensação e precipitação.
Altas Subtropicais
30o Nas regiões tropicais e polares, concentram-se os
Fr
ente Polar
Ventos de Oeste
centros de alta pressão atmosférica, determinados pelas
menores médias térmicas, se comparadas com as médias
60o L L
térmicas equatoriais. Assim, essas áreas são dispersoras
Ventos Polares
de leste

de ar, distribuem ventos alísios em todas as direções, sendo


denominadas centros anticiclonais, devido ao movimento
A análise da figura anterior permite perceber que na contrário ao de formação dos ciclones (recepção dos ven-
região equatorial forma-se um centro de baixa pressão, já tos). Os centros de alta pressão não favorecem a formação
que tal região apresenta médias térmicas anuais elevadas. de nuvens e, consequentemente, a precipitação, devido ao
Sendo assim, essa área é caracterizada como região recep- predomínio da subsidência do ar, processo contrário ao de
tora de ventos, ou seja, área de chegada dos ventos alísios formação de nuvens.

352
Introdução à climatologia

Circulação primária Monções


A associação entre os centros de alta e de baixa pressão Os ventos de monções obedecem à mesma relação de
atmosférica, em escala planetária, forma um sistema de movi- formação das brisas, porém em um período de tempo maior –
mentação dos ventos em células de convecção, divididas em: primavera/verão e outono/inverno – e uma área maior de abran-
• Célula de Hadley: formada pela ascensão do ar nas áreas gência – Ásia Meridional,
verão - hemisfério Sudeste
norte Asiático e Leste Africano.
equatoriais e pela subsidência nas áreas próximas aos Durante o período de primavera/verão, continente e oceano
Trópicos de Câncer e de Capricórnio. recebem uma grande quantidade de energia, porém, devido
• Célula Intermediária ou de Ferrel: formada pela ascen- ao menor calor específico do continente, ele
oceano
se aquece mais
continente
verão - hemisfério norte
são do ar nas áreas próximas às latitudes de 60o norte e rapidamente e forma-se um centro de baixa pressão em rela-
sul e pela subsidência nas áreas próximas aos Trópicos ção ao oceano. Nesse momento, ventos aquecidos e úmidos
de Câncer e de Capricórnio. provenientes dos oceanos Pacífico e Índico se deslocam para
oceano continente
o continente, promovendo um período de intensa precipitação,
• Célula Polar: formada pela ascensão do ar nas áreas verão - hemisfério norte
em que os índices pluviométricos se aproximam dos 5.000 mm.
próximas às latitudes de 60o norte e sul e pela subsidência
nas áreas polares. Durante o período
B de outono/inverno, o continente perde calor
Ásia
mais rapidamente que o oceano, formando um centro de alta pres-
O deslocamento dos ventos planetários sofre desvios, por oceano continente
são em relação à área oceânica. Nesse momento, a direção dos
causa da influência da força de aceleração chamada Força de
ventos de monçõesBse inverte,
Ásia soprando do continente para o ocea-
Coriolis, gerada pelo movimento de rotação terrestre. Essa força
no, em que se inicia um período de baixos índices pluviométricos.
desloca os ventos alísios que se direcionam para o Equador
em direção ao oeste, gerando no hemisfério norte os ventos de Verão - Hemisfério Norte
nordeste e, no hemisfério sul, os ventos de sudeste. Oceano
A
Índico B
Ásia
Circulação Secundária Oceano
inverno - hemisférioAnorte
Índico
Brisas
inverno - hemisfério norte
Ventos formados em áreas litorâneas, divididos em brisas
oceânicas e brisas continentais. São classificadas como circu- oceano continente
lação secundária por serem ventos periódicos, determinados
Oceano
oceano continente
pela variação de calor específico entre o continente e o oceano. Índico
A

Durante o dia, a energia solar incide de maneira igual sobre


inverno - hemisfério norte
o continente e o oceano. Porém, como o calor específico do Inverno - Hemisfério Norte
continente é menor, ou seja, ele necessita de menos energia
para elevar em 1 o C um grama, ele se aquece mais rapidamente, A Ásia
formando sobre ele um centro de baixa pressão atmosférica, oceanoA Ásia continente
em relação à área oceânica. Dessa forma, os ventos no período
do dia sopram do oceano para o continente – brisas oceânicas.
Durante a noite, sem a energia solar para o aquecimento da
superfície planetária, o continente perde calor mais rapidamente
que o oceano, formando um centro de alta pressão atmosférica Oceano
Oceano B
em relação à área oceânica. Dessa forma, os ventos no período Índico A
Índico Ásia B

da noite sopram do continente para o oceano – brisas continentais.


Dia AA centro
centrode
dealta
alta pressão
pressão

BB centrode
centro debaixa
baixa pressão
pressão

Oceano B
Autor: MORAES, Paulo
Índico Roberto. Geografia Geral e do Brasil.

Climogramas
A centro de alta pressão
São gráficos utilizados para a representação das carac-
frio quente baixa pressão terísticas queB determinam o clima de um determinado local:
centro de baixa pressão
alta pressão temperatura e pluviosidade. Nas abscissas, estão assinalados
os meses do ano; nas ordenadas, as temperaturas médias
mensais (à direita), indicadas pela linha, e o total de pluviosidade
em cada mês (à esquerda), indicado pelas barras.
Noite Cáceres – Espanha

140 70
Temperatura (média 16,1o C)

120 60
Precipitação (total 523 mm)

100 50

80 40

60 30

40 20
quente frio alta pressão
baixa pressão 20 10

0 0
J F M A M J J A S O N D

Fonte: MORAES, Paulo Roberto. Geografia Geral e do Brasil. Fonte: <http://1.bp.blogspot.com>.

353
Geografia

4. (EsPCex (AMAN) –2018) Na Serra do Mar, na região Su-


Exercícios deste do Brasil, durante o verão, ocorrem deslizamentos
de terra, causando prejuízos e perdas humanas. Esses
1. (EsPCex (AMAN) –2018) Observe os climogramas a deslizamentos, em grande medida, são desencadeados
seguir: por intensas chuvas __________, que decorrem do movi-
mento ascensional forçado da umidade oceânica, oriunda
da massa de ar __________, pelas escarpas litorâneas.
Ao atingir elevadas altitudes, essa massa de ar perde
temperatura, provocando condensação do vapor e con-
sequente precipitação.
Assinale a alternativa cujos termos completam correta e
respectivamente as lacunas acima:
A) orográficas - Tropical atlântica
B) frontais - Polar atlântica
C) convectivas - Equatorial atlântica
Considerando as características climáticas evidenciadas D) orográficas - Polar atlântica
em cada climograma, podemos afirmar que
E) frontais - Tropical atlântica
I. o climograma 1 refere-se a uma cidade situada no
hemisfério Sul. 5. (EsPCex – 2012) Sobre os principais efeitos do fenôme-
II. a amplitude térmica registrada no climograma 2 é no “El Niño” nas diferentes regiões do Brasil, pode-se
maior que a registrada no climograma 1. afirmar que
III. o verão é mais chuvoso do que o inverno nos dois A) na Região Sul, o volume de chuva se reduz signifi-
climogramas. cativamente, sobretudo no fim do outono e começo
do inverno.
IV. o climograma 1 refere-se a uma cidade com caracte-
rísticas de clima tropical típico e climograma 2 a uma B) prejudica a pecuária e compromete o abastecimento
cidade de clima tropical litorâneo. de água no Sertão, podendo atingir também o Agreste
e a Zona da Mata Nordestina.
Assinale a alternativa que apresenta todas as afirmativas
C) provoca grandes inundações na porção leste da Ama-
corretas.
zônia, prejudicando a atividade agrícola na região.
A) I e II C) I e IV E) II e IV
D) traz mais benefícios do que prejuízos à agricultura
B) I e III D) II e III
no Sul do País, uma vez que interrompe os longos
2. (EsPCex (AMAN) –2011) As consequências do fenômeno períodos de estiagem característicos do clima sub-
El Niño ocorrem de forma diferenciada sobre o espaço tropical litorâneo.
brasileiro. E) ao contrário da “La Niña”, intensifica o volume de
Em algumas áreas, ocorrem chuvas acima da média chuvas e aumenta a temperatura média em todas as
histórica, enquanto em outras a quantidade de chuvas regiões do País.
diminui. Há outras áreas, entretanto, que não sofrem os
6. (EsPCex – 2015) As chuvas torrenciais de verão, de-
efeitos desse fenômeno, mantendo as mesmas médias
nominadas chuvas ________________________ ,
históricas.
são caracterizadas por serem precipitações breves,
Sobre os efeitos do El Niño nas chuvas sobre o território mas violentas, que ocorrem na maior parte do território
brasileiro, podemos afirmar que esse fenômeno brasileiro. Essas chuvas estão associadas ao desloca-
A) intensifica as chuvas na Amazônia e provoca estiagem mento da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT)
prolongada na Região Sul. para a porção central da América do Sul entre os me-
B) mantém as chuvas com as mesmas médias históricas ses de setembro e março, fazendo com que a massa
nas Regiões Sul e Sudeste. _____________________________ expanda-se para
a Bolívia e Brasil central, chegando a atuar sobre São
C) provoca precipitações acima da média na Região Paulo, provocando os chamados aguaceiros de verão.
Sul, com enchentes e inundações anormais durante
o verão. Assinale a alternativa que completa corretamente as
lacunas acima.
D) acarreta chuvas abaixo da média no Sertão nordestino
e chuvas acima da média em toda a Amazônia. A) convectivas / Equatorial continental (mEc)

E) provoca grande estiagem na Região Sul e eleva as B) orográficas / Tropical continental (mTc)
médias pluviométricas na Região Nordeste. C) convectivas / Equatorial atlântica (mEa)
D) orográficas / Equatorial continental (mEc)
3. (EsPCex (AMAN) –2011) Na configuração do deserto do
E) frontais / Equatorial atlântica (mEa)
Atacama, na costa do Chile e do Peru, é crucial a ação
do seguinte fator climático:
Gabarito
A) corrente marítima fria.
1. A 4. A
B) elevada temperatura.
2. C 5. x
C) baixa amplitude térmica.
3. A 6. a
D) efeitos da continentalidade.
E) baixa latitude.

354
Capítulo 23

Classificação climática
A diferenciação climática das diversas áreas planetárias está relacionada diretamente com a atuação dos fatores e elementos
climáticos, analisados no capítulo anterior. As características predominantes de cada clima – temperatura e precipitação – sofrem
alterações anuais, muitas vezes por fatores naturais. Sendo assim, a classificação de um clima ocorre baseada na maior repetição
de determinadas características.
A caracterização de cada clima é facilitada em função do zoneamento climático da região – Zona Intertropical: Zona Megatérmica;
Zona Temperada: Zona Mesotérmica; e Zona Polar: Zona Microtérmica –, bem como da atuação das massas de ar. Os bolsões de
ar que se diferenciam na atmosfera, quanto às características de temperatura, umidade e densidade do ar, influenciam as áreas por
onde se deslocam, promovendo a determinação de algumas características locais que serão consideradas na classificação climática.

OCEANO GLACIAL ARTICO OCEANO GLACIAL ARTICO


I. Terra do Norte
Baía de Is. Nova Zembla
TERRA Baffin GROENLÂNDIA
CÍRCULO POLAR ÁRTICO DE Rio
Ri Ri Le
o BAFFIN o na
M Ie
ing ac T E nis
60° Ber ke
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30°
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Rio Amazonas da Guiné L. Vitória I. Sumatra ui
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TRÓPICO DE CAPRICÓRNIO

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CÍRCULO POLAR ANTÁRTICO C. D r.
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ZONAS TORMENTAS E
CLIMÁTICAS INUNDAÇÕES
LEGENDA
GLACIAL Ocorrências: agosto
e setembro
EQUATORIAL DESÉRTICO (Árido) CORRENTE QUENTE
TEMPERADA TROPICAL SEMIÁRIDO
CORRENTE FRIA
FRIO Tufão
SUBTROPICAL Tornado
Tufão
TROPICAL TEMPERADO FRIO DE MONTANHA
Furacão
Ciclone Furacão
MEDITERRÂNEO POLAR

TEMPERADA ESCALA 1: 154 000 000


0 1 540 3 080 4 620 Ocorrências: janeiro
GLACIAL e março
QUILÔMETROS
Autora: SIMIELLI, Maria Elena. Geoatlas.

Para facilitar a análise das características de cada tipo climático, a Geografia faz uso do climograma, que é o gráfico de re-
presentação das características de precipitação e temperatura de um determinado local. Nas abscissas estão assinalados os
meses do ano; nas ordenadas, as temperaturas médias mensais, indicadas por uma linha, e o total de pluviosidade em cada mês,
indicado por barras.
Os climas presentes na Zona Megatérmica apresentam como característica principal elevada média térmica e, por isso, são
denominados climas quentes. A definição dos índices pluviométricos vai variar de acordo com a atuação da maritimidade e con-
tinentalidade e com a atuação das massas de ar locais, geralmente quentes. Nessa zona climática estão presentes os climas
equatorial e tropical, definidos da seguinte maneira:

Clima equatorial
Possui elevada média térmica, acima de ou igual a 25°C, e baixa amplitude térmica anual, aproximadamen-
te 3°C. Sendo assim, a definição das estações do ano inexiste nas áreas equatoriais, que apresentam características
de verão o ano todo. Os índices pluviométricos são elevados, com média de precipitação anual acima de 2.000 mm,
distribuídos ao longo de todo o ano, sem apresentar, portanto, estação seca. Sua ocorrência é percebida nas áreas de baixas
latitudes, como a América Central, a Indonésia, a região central da África e o norte do Brasil.

355
Geografia

Exemplo: Manaus, Amazonas – Brasil. Na área de transição entre a zona megatérmica e a zona meso-
térmica, outros climas se desenvolvem, influenciados pela variação
°c mm de características entre essas duas regiões: clima subtropical,
40 600 clima semiárido e clima árido. Vale lembrar que os climas árido
30 500 e semiárido podem se desenvolver dentro de uma determinada
zona climática que não é a localização típica dos mesmos. Todos
20 400
esses climas são definidos da seguinte maneira:
10 300
0 200 Climas de transição
-10 100
-20 0 Clima desértico ou árido
J F M A M J J A S O N D
Possui elevada amplitude térmica diária, sendo que durante
Autor: MORAES, Paulo Roberto. Geografia Geral e do Brasil. o período do dia as médias podem ultrapassar 40° C e, no pe-
ríodo da noite, pode alcançar médias negativas. A variação da
Clima tropical temperatura anual é inferior à variação diária, alternando entre
Possui elevada média térmica anual, superior a 20°C, porém 30° e 40° C. Os índices pluviométricos são escassos e irregula-
inferior à do clima equatorial. A amplitude térmica anual varia de 3 a res, não ultrapassando 250 mm anuais, valor que corresponde
8°C, ainda considerada uma variação baixa. Os índices pluviomé- ao índice pluviométrico de um mês do clima equatorial. Além
tricos são elevados, variando entre 1.000 e 2.000 mm, distribuídos disso, a umidade relativa do ar é extremamente baixa, não
de maneira irregular – primavera e verão chuvosos e outono e ultrapassando 40%. Sua área de ocorrência é percebida ao
inverno secos – produzindo duas estações bem definidas. Sua norte e sul do continente africano – Saara e Kalahari, respec-
ocorrência é percebida próxima das áreas dos Trópicos de Câncer tivamente – no centro da Austrália, norte do México e sul dos
e de Capricórnio, cobrindo grande parte do território brasileiro e do Estados Unidos. Algumas áreas desérticas se diferenciam pelas
continente africano, Índia, península da Indochina e norte da Aus- baixas médias térmicas anuais e, por isso, classifica-se esse
trália. O clima tropical se diferencia nas regiões de sul e sudeste clima como continental árido. Nessas áreas a precipitação é
asiáticos em tropical de monções. Nessa região o comportamen- tão baixa como no clima desértico, inferior a 250 mm anuais,
to da temperatura é o mesmo do clima tropical, porém, os índices mas com médias térmicas que alcançam no período do verão
pluviométricos são mais elevados, podendo alcançar até 5.000 mm uma média de 17° C e, no período do inverno, –20° C. Sua
anuais. Essa variação da precipitação é determinada pela atua- área de ocorrência é a Ásia Central – Cazaquistão, no interior
ção dos ventos de monções. As precipitações são torrenciais, da China, Mongólia, Patagônia e planalto oeste das Montanhas
produzidas por chuvas convectivas, e promovem alagamento Rochosas nos Estados Unidos.
significativo nas áreas de ocorrência, fator que contribui para Exemplo: Assuã – Egito.
o desenvolvimento da rizicultura – plantio de arroz – nas áreas
°c mm
alagadas. As elevadas altitudes da parte norte do território indiano
e do sudoeste do território chinês potencializam as precipitações 40 600
através da formação de chuvas orográficas.
30 500
Exemplo: Cuiabá, Mato Grosso – Brasil.
20 400
°c mm
10 300
40 600 0 200
30 500 -10 100
20 400
-20 0
10 300 J F M A M J J A S O N D
0 200 Autor: MORAES, Paulo Roberto. Geografia Geral e do Brasil.
-10 100
-20 0 Clima semiárido
J F MA M J J A S O N D É caracterizado como clima de transição para o clima de-
sértico, que pode ser de temperado para desértico ou de tro-
Autor: MORAES, Paulo Roberto. Geografia Geral e do Brasil.
pical para desértico. Dessa forma, as médias térmicas anuais
Os climas presentes na Zona Mesotérmica apresentam como variam de acordo com a localização do clima semiárido: mais
característica principal uma média térmica mediana, por isso são elevadas – transição do tropical para o desértico – e mais re-
denominados climas temperados ou mesotérmicos. A definição duzidas – transição do temperado para o desértico. Os índices
dos índices pluviométricos varia de acordo com a atuação da pluviométricos são baixos e irregulares, não ultrapassando
maritimidade e da continentalidade, bem como de acordo com a 600 mm anuais. A localização das áreas de clima semiárido
atuação das massas de ar, que podem ser quentes ou frias, de- ocorre próxima de áreas desérticas, com exceção da região de
vido à localização intermediária dessa região, em relação à zona clima semiárido brasileira, que está relacionada com a dinâmica
megatérmica e à zona microtérmica. Nessa zona climática estão das massas de ar que atuam na região Nordeste.
presentes os climas temperados, que se dividem em: continental,
oceânico e mediterrâneo.

356
Classificação climática mundial

Exemplo: Juazeiro, Bahia Temperado oceânico


°c mm As características de temperatura e precipitação são determi-
40 600 nadas pela ação da maritimidade, o que determina menores am-
30
plitudes térmicas, anuais e diárias, e elevados índices pluviomé-
500
tricos. O inverno é frio, com médias térmicas próximas de 0 oC,
20 400
e o verão apresenta médias térmicas próximas de 20°C. Os
10 300
índices pluviométricos variam entre 1.000 e 2.000 mm anuais
0 200 e são bem distribuídos ao longo do ano, não apresentando um
-10 100 período de seca pronunciada. Sua ocorrência é percebida nas
-20 0 regiões litorâneas das latitudes médias, como oeste e noroeste
J F M A M J J A S O N D
da Europa.
Autor: MORAES, Paulo Roberto. Geografia Geral e do Brasil.
Exemplo: Brest – França.

Clima subtropical
°c mm
Possui temperaturas médias de verão variando entre 15°
80 160
e 20° C e, no inverno, entre 0° e 10° C, apresentando, dessa
70 140
forma, elevada amplitude térmica anual. Essa caracterização da
60 120
temperatura produz na região clara definição das estações do
50 100
ano. Os índices de precipitação variam entre 1.000 e 1.500 mm
40 80
anuais, bem distribuídos ao longo do ano, não apresentando,
30 60
portanto, estação seca.
20 40
Exemplo: Blumenau, Santa Catarina – Brasil. 20
10
°c mm 0 0
J F M A M J J A S O N D
40 600
Autor: MORAES, Paulo Roberto. Geografia Geral e do Brasil.
30 500
20 400 Temperado mediterrâneo
10 300
Possui verões quentes, com médias que ultrapassam 30°
0 200 C, e invernos frescos, que podem atingir 0 oC, o que define
-10 100 bem as estações do ano. Os índices pluviométricos variam
-20 0 entre 500 e 700 mm anuais e são concentrados no período
J F M A M J J A S O N D
do inverno. Sua ocorrência é percebida nas regiões sul da
Autor: MORAES, Paulo Roberto. Geografia Geral e do Brasil Europa, norte do continente africano, oeste dos Estados
Unidos – região da Califórnia, sul do continente africano e
Climas temperados australiano.

Temperado continental Exemplo: Lisboa – Portugal.

As características de temperatura e precipitação são de- °c mm


terminadas pela ação da continentalidade, o que determina
maiores amplitudes térmicas, anuais e diárias, e baixos índices 80 160
pluviométricos anuais. O inverno é marcado pela rigorosidade 70 140
térmica, com médias térmicas de aproximadamente –5° C, e o 60 120
verão é aquecido, com médias de aproximadamente 24° C. Os 50 100
índices pluviométricos variam entre 500 e 1.000 mm anuais e 40 80
são concentrados no período do verão. Sua ocorrência é perce- 30 60
bida nas áreas continentais das latitudes médias, como áreas 20 40
interiores da América do Norte, da Europa e do leste da Ásia. 10 20
Exemplo: Minneapolis – Estados Unidos. 0 0
J F M A M J J A S O N D
°c mm
Autor: MORAES, Paulo Roberto. Geografia Geral e do Brasil.
40 600 Os climas presentes na Zona Microtérmica apresentam
30 500 como característica principal baixa média térmica e, por
20 400 isso, são denominados climas frios. A precipitação local
300 normalmente ocorre em forma de neve, o que produz na
10
região a chamada seca fisiológica, ou seja, existe a pre-
0 200
sença de água, porém no estado sólido, não disponível
-10 100
para a absorção vegetal. Dessa forma, a vegetação local
-20 0 necessita ser adaptada para a sua sobrevivência. Nessa
J F M A M J J A S O N D
zona climática estão presentes os climas frio e polar, defi-
Autor: MORAES, Paulo Roberto. Geografia Geral e do Brasil. nidos da seguinte maneira:

357
Geografia

Frio (subpolar) Climas brasileiros


Possui invernos rigorosos e prolongados, com médias de
temperaturas de aproximadamente –15° C, e verões curtos e Tropical
brandos, com médias que não ultrapassam 10° C. Os índices 0° EQUADOR
pluviométricos variam de acordo com a localidade, sendo que
áreas próximas ao oceano podem alcançar de 500 a 1.000
Equatorial
mm anuais, e áreas mais distantes do oceano alcançam entre
200 e 500 mm anuais. Sua ocorrência é percebida ao norte do 10° Semiárido
Canadá e da Sibéria e na Rússia.
Tropical
Exemplo: Nurmansk – Rússia.
Tropical Tropical
°c mm 20° de
Altitude Atlântico

40 120 TRÓPICO DE
CAPRICÓRNIO
30 100 Subtropical
30°
20 80 0 400 km

10 60 70° 60° 50° 40°

0 40 http://planetageo.sites.uol.com.br/brclimas.htm

A caracterização dos climas brasileiros é condicionada à


-10 20
localização predominante do território nacional na zona inter-
-20 0 tropical, área também conhecida como zona megatérmica, o
J F M A M J J A S O N D
que mantém as médias térmicas elevadas na maior parte do
Autor: MORAES, Paulo Roberto. Geografia Geral e do Brasil. país. Dessa forma, os climas quentes caracterizam a maior
parte do território nacional, com exceção da região sul, que
Polar apresenta clima mesotérmico, e das áreas serranas da região
sudeste, com médias térmicas inferiores, devido à influência
Possui as menores médias térmicas planetárias, sendo que
no inverno elas alcançam –30°C e, no verão, não ultrapassam das elevadas altitudes. Também influencia na caracterização
4°C. Os índices de precipitação são bastante reduzidos, ocor- dos climas brasileiros a atuação de cinco massas de ar, di-
rendo apenas em forma de neve, o que corresponde aproxima- vididas em massas quentes – massa Equatorial continental,
damente a 100 mm de neve acumulados ao ano. Sua ocorrência massa Equatorial atlântica, massa Tropical continental e mas-
é percebida no extremo norte do Canadá, da Rússia e do Alasca, sa Tropical oceânica – e massas frias – massa Polar atlântica.
em parte da península da Escandinávia e na Antártida. A atuação dessas massas influencia principalmente nos índi-
Exemplo: Borrow Point – Alaska. ces de precipitações locais, contribuindo para a definição das
°c mm estações do ano quanto a meses secos e meses chuvosos.
A distribuição das precipitações é condicionada pela circu-
7,5 15 lação geral atmosférica e por fenômenos ligados à circulação
regional e local. Genericamente, os totais pluviométricos
2,5 5
permitem identificar três conjuntos climáticos no Brasil: úmido,
-2,5 -5 semiúmido e semiárido.
-7,5 -15 Os climas úmidos encontram-se sob a influência
principal da mEc, apresentam precipitações superio-
-12,5 -25
res a 1.800 mm anuais e seu domínio principal abran-
-17,5 -35 ge a maior parte da Amazônia. Os climas subúmi-
-22,5 -45 dos caracterizam-se por precipitações entre 900 mm
e 1.800 mm anuais e se encontram sob a influência alternada
-27,5 -55
da mEc, que provoca chuvas abundantes no verão, e da mTa,
-32,5 -65 responsável por longas estiagens de inverno. O seu domínio
J F M A M J J A S O N D
abrange o Brasil meridional, o Sudeste, o Centro-Oeste e a
Autor: MORAES, Paulo Roberto. Geografia Geral e do Brasil. faixa litorânea nordestina.
O clima semiárido apresenta precipitações superiores a
Montanhoso 900 mm anuais. A mancha semiárida reflete condições espe-
A variação das médias térmicas é determinada pelo au- ciais de circulação atmosférica, que dificultam a ocorrência
mento da altitude, sendo que, a cada mil metros de altitude, a de chuvas convectivas. Seu domínio corresponde à maior
temperatura é reduzida em 6°C. Acima dos dois mil metros a parte do sertão nordestino.
presença de neve é constante. A umidade relativa do ar varia A partir do entendimento dos fatores que contribuem para
conforme o lado da cadeia: a média é de 90% na vertente de a definição de temperatura e pluviosidade das diferentes
barlavento –, caindo para até 30% na vertente de sotavento. O áreas do Brasil, é possível classificar os climas brasileiros
valor precipitado varia de acordo com a localidade da cadeia de da seguinte maneira:
montanha, chegando a 2.000 mm anuais nas regiões tropicais.

358
Classificação climática mundial

Clima equatorial O clima tropical úmido estende-se pela faixa litorânea tro-
pical e é influenciado diretamente pela ação da maritimidade,
Possui elevadas médias térmicas, sempre superiores a 24 que confere a esse clima uma maior umidade do ar e maiores
ºC, e baixa amplitude térmica anual, aproximadamente 3 ºC. A índices pluviométricos e menores amplitudes térmicas. Na
definição das estações do ano inexiste nas áreas equatoriais, faixa litorânea, os índices de precipitação variam entre 1.250
apresentando características de verão o ano todo. A amplitude e 2.000 mm, concentrados no outono-inverno, e a média de
térmica anual é menor que a amplitude térmica diária, porém, temperatura é superior ou igual a 25oC. Já o tropical de altitude
não se registram meses tórridos ou temperaturas diárias exces- se forma nas áreas serranas da região Sudeste, apresentando
sivamente elevadas, em consequência da alta umidade relativa médias térmicas mais reduzidas pela ação direta da altitude.
do ar e da forte nebulosidade. Os índices pluviométricos são Em comparação com o clima tropical, o tropical de altitude
elevados, com média de precipitação anual acima de 2.000 mm, tem o mesmo comportamento pluviométrico, mas as médias
distribuídos ao longo de todo o ano, sendo que em algumas anuais de temperatura são menores, ficando em torno dos
áreas os totais de chuva chegam a um mínimo de 1.800 mm e 20oC. Sua ocorrência pode ser percebida nas áreas acima
de 800 metros do estado de Minas Gerais, Espírito Santo,
a um máximo que se aproxima de 3.500 mm, perto da fronteira
com a Colômbia. Rio de Janeiro e São Paulo.
Assim, não há uma estação seca pronunciada, em que não Exemplos: tropical (Cuiabá), tropical úmido (Salvador) e
se registrem meses com precipitações inferiores a 60 mm. Sua tropical de altitude (Ouro Preto).
ocorrência é percebida nas proximidades da linha do Equador,
°c mm
abarcando a Amazônia, o norte de Mato Grosso e o oeste do
Maranhão. 40 600
Porém, o clima equatorial apresenta subtipos, como explica
30 500
Demétrio Magnoli:
20 400
Como as precipitações estão basicamente vinculadas ao
fenômeno da convecção das massas de ar, os máximos sazo- 15 300
nais de chuvas acompanham o deslocamento da ZCIT. Durante 0 200
o verão do hemisfério sul, quando o sol, no seu movimento
-10 100
aparente, move-se entre o Trópico de Capricórnio e o Equador,
-20 0
as maiores precipitações atingem a Amazônia meridional. No J F M A M J J A S O N D
outono, o sol está sobre a linha do Equador e as chuvas mais
abundantes caem sobre o norte do Amazonas e do Pará e sobre °c mm
o Amapá. No inverno austral, o sol move-se para o Trópico de
Câncer, arrastando com ele a ZCIT. Então, as grandes chuvas 40 600
ocorrem fora do Brasil, na porção setentrional da América do 30 500
Sul. Nessa época, apenas o extremo norte de Roraima e do
20 400
Amazonas, localizados no hemisfério norte, recebem elevadas
precipitações. 10 300
Exemplo: Manaus, Amazonas. 0 200
-10 100
°c mm
-20 0
J F M A M J J A S O N D
40 600
30 500
°c mm
20 400
40 600
15 300
30 500
0 200
20 400
-10 100
10 300
-20 0 0 200
J F M A M J J A S O N D
Autor: MORAES, Paulo Roberto. Geografia Geral e do Brasil. -10 100
-20 0
J F M A M J J A S O N D
Clima tropical
Possui elevada média térmica anual, sendo que, nas áreas Autor: MORAES, Paulo Roberto. Geografia Geral e do Brasil.

de serras, as médias podem alcançar 18oC e, no restante do


território sob sua atuação, 28oC. Os índices pluviométricos Clima semiárido
são elevados, variando entre 1.000 e 1.500 mm, distribuídos Localizado no interior da região Nordeste, o clima semiá-
de maneira irregular – primavera e verão chuvosos e outono e rido apresenta elevadas médias térmicas anuais que variam
inverno secos – de modo a produzir duas estações bem defini- entre 26°C e 28°C, com amplitude térmica anual baixa, menor
das. A maior parte do Brasil está sob seu domínio, abrangendo que a amplitude térmica diária. Essa característica é determi-
toda a faixa do centro do país, o leste do Maranhão, o Piauí e nada pela baixa umidade do ar, que dificulta a armazenagem
o oeste da Bahia e Minas Gerais. O clima tropical se subdivide de energia pela atmosfera durante o dia, contribuindo assim
em dois outros climas: tropical úmido e tropical de altitude.
para a redução significativa da temperatura durante o período
da noite.

359
Geografia

As elevadas temperaturas são explicadas pela associação Clima subtropical


das baixas latitudes com reduzida cobertura de nuvens no
Porção leste e no centro da região sul, com médias anuais
céu, fator que amplia a quantidade de energia solar que atinge
inferiores a 17°C e médias de janeiro em torno de 22°C; clima
a superfície e, consequentemente, promove o aquecimento
subtropical com verões quentes, que domina as áreas mais
da atmosfera. Em consequência, a evaporação é intensa, baixas, na porção oeste e nas planícies litorâneas, em que se
impedindo que as escassas águas de chuvas penetrem profun- registram médias de temperaturas anuais superiores a 18°C e
damente os solos, provocando um déficit hídrico significativo. médias de janeiro superiores a 24°C. De maneira generalizada,
As chuvas são escassas e irregulares, sendo que o índice de o clima subtropical apresenta elevadas amplitudes térmicas,
precipitação anual normalmente não ultrapassa 750 mm. Sua que giram em torno de 10°C e, em geral, superam as amplitu-
concentração ocorre no período do verão e início do outono, des diárias. Dessa forma, é possível concluir que esse clima
quando podem ser torrenciais e provocar inundações. Porém, apresenta definição das estações do ano, o que o aproxima,
quando as chuvas de janeiro ou fevereiro não caem – ou são em característica, dos climas temperados típicos das médias
pouco intensas, instala-se um ano de seca. Periodicamente, latitudes. Nas áreas serranas do sul de Santa Catarina e no
norte do Rio Grande do Sul, latitude e altitude combinam-se para
registram-se temporadas de seca nas quais as precipitações
produzir as menores temperaturas de todo país. Além disso, a
ficam bastante abaixo do normal.
influência da mPa nos meses de inverno provoca períodos de
A explicação para a ocorrência do clima semiárido brasileiro frio prolongados, com redução das temperaturas diárias para
ainda não é completa. É interessante destacar que os climas menos de 0°C, que estão associadas às geadas e nevadas. Os
semiáridos se formam em locais de transição para áreas desér- índices pluviométricos variam entre 1.250 e 2.000 mm anuais,
ticas, fator que não é verificado no Brasil. A climatologia busca distribuídos durante todo o ano, não apresentando assim uma
uma explicação coerente, como explicita Demétrio Magnoli. estação de seca pronunciada. Sua ocorrência pode ser perce-
bida nas regiões ao sul do Trópico de Capricórnio: sul de São
A climatologia não tem uma explicação completa para a Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
formação da extensa mancha semiárida, mas sabe-se que o fe-
nômeno está relacionado à circulação global das massas de ar. Exemplo: Blumenau, Santa Catarina.
A atmosfera sobre o sertão nordestino apresenta altas pressões °c mm
prolongadas, que bloqueiam a atividade da mEc e reduzem a
convecção. No seu deslocamento sazonal, a ZCIT raramente 40 600
aproxima-se do semiárido. O resultado é que as massas de ar 30 500
úmidas percorrem a mancha semiárida sem ascender e gerar 20 400
condensação, a não ser nas áreas de escarpas, onde ocorrem 10 300
chuvas orográficas locais. 0 200
Dessa forma, vale lembrar que, para a climatologia, o Pla- -10 100
nalto da Borborema influencia e demarca as áreas semiáridas -20 0
do sertão nordestino, mas ele não é causa da semiaridez local. J F M A M J J A S O N D
Nesse sentido, Demétrio Magnoli elucida que: Autor: MORAES, Paulo Roberto. Geografia Geral e do Brasil.
O Planalto da Borborema, entre o Rio Grande do Norte
e Pernambuco, assinala o início da mancha semiárida. Sua
vertente ocidental, voltada para o interior, abriga algumas das
Exercícios
áreas mais secas do país. A cidade paraibana de Soledade, 1. (G1 - Col. Naval – 2016) Em função de sua localização
por exemplo, convive com estiagens de onze meses e recebe geográfica e particularidades físicas, diversos fatores
pouco mais de 300 mm de chuvas por ano. A vertente oriental podem modificar o comportamento dos elementos que
do Planalto da Borborema, voltada para o mar, encontra-se no caracterizam o clima brasileiro. Sendo assim, é cor-
limiar da mancha semiárida. Ela recebe entre 750 mm e 1.000 reto afirmar que
mm anuais de chuvas, concentradas principalmente no outono. A) apesar da altitude ser um importante fator climático,
Assim como ocorre em outros planaltos e chapadas nordesti- somente sua influência não é um fator muito marcante
nos, o efeito do relevo ameniza a escassez das precipitações. no Brasil, porque mais de 95% do relevo nacional está
a menos de 1.200 m de altitude.
Exemplo: Juazeiro, Bahia.
B) a variação latitudinal brasileira é inexpressiva, influen-
°c mm ciando pouco na diversificação climática do território
nacional, fato que torna o clima tropical o mais abran-
40 600 gente no país.
30 500 C) a extensão leste-oeste do território nacional lhe confe-
20 re pouca influência da continentalidade e maritimida-
400
de, fato que explica as grandes amplitudes térmicas
10 300 das áreas situadas próximas aos litorais.
0 200 D) as temperaturas, ao longo da faixa litorânea setentrio-
nal nacional, sofrem influência direta de duas correntes
-10 100
marinhas durante o ano: a corrente quente do Brasil
-20 0 e a corrente frio das Malvinas.
J F MA M J J A S ON D
Autor: MORAES, Paulo Roberto. Geografia Geral e do Brasil. E) a Região Sul, por apresentar as maiores altitudes do
país, somadas à sua localização latitudinal, apresenta
as menores amplitudes térmicas anuais, proporcionan-
do a essa área do país invernos muito frios e verões
muito quentes.

360
Classificação climática mundial

2. (G1 - Col. Naval – 2011) O território brasileiro sofre a 4. (EsPCEx (AMAN) –2011) Assinale a alternativa que
influência de cinco massas de ar, as quais contribuem apresenta o clima que ocorre em latitudes de 45° a
decisivamente para que o país possua uma oscilação 55°, aproximadamente, e que se caracteriza por apre-
térmica e pluviométrica muito singular durante o ano. sentar elevadas amplitudes térmicas anuais, invernos
Sobre as referidas massas de ar que atuam no Brasil, rigorosos e precipitações anuais que variam de 500 a
é correto afirmar que, 1.200 milímetros.
A) a mEc (massa Equatorial continental), quente e A) Temperado Continental
seca, além de possuir o seu centro de origem no
B) Temperado Marítimo/Oceânico
noroeste da Amazônia, provoca grande estabilidade
térmica no chamado Brasil central durante o período C) Subtropical Úmido
primavera-verão. D) Temperado Mediterrâneo
B) a mPa (massa Polar atlântica), fria e muito úmida, E) Temperado Semiárido
além de se formar na Antártica, durante o período
primavera-verão é a grande responsável por provo- 5. (EsPCex – 2014)
car chuvas convectivas no litoral nordestino.
C) a mTa (massa Tropical atlântica) , quente e úmida,
que possui seu centro de formação próximo ao
Trópico de Capricórnio, além de atuar em exten-
sas faixas do litoral brasileiro, na Região Sudeste
contribui para a formação de chuvas orográficas
durante o verão.
D) a mEa (massa Equatorial atlântica), quente e úmida,
cujo centro de origem é o Atlântico Sul, contribui na
formação dos alísios de sudeste, os quais propiciam
chuvas frontais nos litorais das Regiões Nordeste
e Sudeste.
E) a mTc (massa Tropical continental), quente e su-
perúmida, forma-se na região do pantanal mato-
-grossense e influência decisivamente os elevados Observe o climograma de uma cidade brasileira e con-
índices pluviométricos no centro sul do país. sidere as afirmativas relacionadas a este.
3. (EsPCEx (AMAN) –2018) Observe os climogramas I. O clima representado é denominado equatorial,
a seguir: em cuja área está presente uma vegetação do
tipo hidrófila e latifoliada, característica da Floresta
Equatorial.
II. Refere-se a um clima sob forte influência da massa
Polar atlântica (mPa) e que apresenta uma signifi-
cativa amplitude térmica anual.
III. Trata-se de um clima subtropical úmido, com pre-
cipitações ao longo de todo o ano, sem ocorrência
de estação seca.
IV. Nas áreas em que esse clima predomina, observam-
-se precipitações que ultrapassam os 2.200 mm,
Considerando as características climáticas evidencia- o que, aliado às altas temperaturas, favorece o
das em cada climograma, podemos afirmar que processo de lixiviação e a consequente laterização
I. o climograma 1 refere-se a uma cidade situada no do solo.
hemisfério Sul. Assinale a alternativa em que todas as afirmativas estão
II. a amplitude térmica registrada no climograma 2 é corretaS:
maior que a registrada no climograma 1. A) I e II
III. o verão é mais chuvoso do que o inverno nos dois B) III e IV
climogramas. C) I e IV
IV. o climograma 1 refere-se a uma cidade com carac- D) II e III
terísticas de clima tropical típico e climograma 2 a
uma cidade de clima tropical litorâneo. E) II e IV

Assinale a alternativa que apresenta todas as afirma-


tivas corretaS.
Gabarito
A) I e II 1. A

B) I e III 2. C

C) I e IV 3. A
D) II e III 4. A
E) II e IV 5. D

361
Capítulo 24

Questões ambientais
Há milhões de anos a Terra vem passando por uma série Industrial, é responsável pelo aumento do lançamento de gases
de mudanças climáticas. Elas resultam de fatores naturais, estufa na atmosfera, o que tem contribuído para intensificação
que vão ocorrendo ao longo da história geológica do planeta. do efeito estufa.
Houve períodos mais quentes e outros mais frios, que refletiam Como forma de tentar frear a degradação ambiental os
as características específicas de distribuição de energia e de especialistas têm feito importantes recomendações, como o
composição da atmosfera, que, por sua vez, foram responsáveis investimento em fontes energéticas renováveis (energia solar,
por padrões de fauna e de flora e por processos físicos distin- eólica, maremotriz, geotérmica, utilização de biocombustíveis,
tos dos atuais, tanto em seus tipos como em sua distribuição etc.), a redução na emissão de gases estufa, programas de
espacial. Entretanto, a história da sociedade humana sempre conscientização e de educação ambiental, incentivo à recicla-
esteve ligada à apropriação da natureza. A princípio de ma- gem e reutilização de diversos materiais, adoção de consumo
neira moderada, com o objetivo de obter recursos para a sua sustentável, entre outras.
sobrevivência. Com a evolução da ciência, essa relação do foi
sendo transformada, tornando-se cada vez mais intensa e nem
sempre favorável em se tratando do meio ambiente. Camada de ozônio
A consciência ecológica e o reconhecimento de que os O ozônio, presente na estratosfera, protege a superfície
recursos naturais não são inesgotáveis começaram a ganhar terrestre de vários tipos de importantes, sendo que a principal
evidência na década de 1960. As profundas transformações delas é a ultravioleta, uma das causadoras do câncer de pele
sociais e culturais dessa década deram início a mudanças no e uma das responsáveis nas alterações do ciclo vegetativo das
pensamento sobre meio ambiente e qualidade de vida, o que plantas. O ozônio é uma forma natural de associação de átomos
motivou a ocorrência das primeiras ações no sentido de discutir de oxigênio. Sua alta reatividade o torna uma substância tóxica
a questão ambiental e a degradação a que o mundo estava capaz de destruir e de prejudicar o crescimento de plantas. A
sendo sujeito. Em 1968, o governo da Suécia propôs à Orga- decomposição do ozônio absorve a radiação solar ultravioleta,
nização das Nações Unidas a realização de uma conferência que ajuda a proteger a Terra de danos produzidos pela radiação.
internacional para se discutir a questão tangente à degradação Por isso, o ozônio é muito importante na atmosfera superior,
e propor iniciativas para preservação do meio ambiente. Foi a devido à sua habilidade de absorver luz ultravioleta, radiação
partir desse momento que as conferências ambientais começa- prejudicial a quase toda forma de vida, pois rompe as ligações
ram a ocorrer na tentativa de buscar soluções a um daqueles C–H nos compostos orgânicos. Os CFCs (clorofluorcarbonetos),
que constitui o grande desafio atual do planeta: conciliar cres- usados em aerossóis, em líquidos de refrigeração de geladeiras
cimento econômico e preservação ambiental. e de condicionadores de ar, são gases nocivos ao ozônio. Os
Os cientistas se mostram divergentes quando tratam do CFCs não se dissolvem na água e sobem para a estratosfera,
clima atual e das mudanças que vêm ocorrendo, dividindo-se onde se dissociam e formam átomos de cloro.
em duas correntes de pensamento: a do aquecimento global,
atrelado, sobretudo, às ações humanas (uso demasiado de Intensificação da rarefação da cama-
combustíveis fósseis, gás natural e carvão); e a do resfriamento da de ozônio
global gradativo. Segundo os defensores desta hipótese, o
planeta sofrerá um resfriamento nas próximas duas décadas, “Na estratosfera terrestre ocorre uma concentração de ozônio
pois o clima independe da ação antrópica. Para eles, o clima (O3), conhecida como camada de ozônio. Essa camada é de
sofre influência de elementos, como o Sol e seus ciclos, e ainda fundamental importância para a existência da vida no planeta,
dos oceanos, que cobrem 71% da superfície terrestre e são os pois ela desempenha o papel de filtro natural da Terra, na medi-
grandes reservatórios de calor. Ainda seguindo essa ideia, as da em que retém parte dos raios ultravioleta (UV), impedindo-os
mudanças climáticas são de ordem natural, pois a interferência de chegar à superfície terrestre.
humana é insignificante e apenas traz mudanças em uma escala Por volta de 1930, foi criado o gás CFC (clorofluorcarbono)
que se restringe ao local. para fins industriais. Nas décadas seguintes, seu uso ampliou-
O principal representante da vertente que defende as mu- -se, principalmente nos países industrializados, nos produtos
danças climáticas motivadas, sobretudo, pela ação antrópica é de bens de consumo, como aparelhos de ar-condicionado,
o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas – IPCC geladeiras, sprays etc.
(Intergovernmental Panel on Climate Change) –, um órgão com- No final dos anos de 1970, através de imagens e informa-
posto por delegações de 130 governos para prover avaliações ções fornecidas por satélites, os cientistas descobriram uma
regulares sobre as mudanças climáticas. Ele corresponde a significativa alteração na camada de ozônio sobre a Antártica:
uma organização científico-política criada em 1988 no âmbito uma redução de 60% de ozônio nessa área. Estudos mais
das Nações Unidas (ONU) pela iniciativa do Programa das Na- apurados apontaram a relação direta entre a devastação da
ções Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e da Organização camada de ozônio e o lançamento de CFC na atmosfera. O
Meteorológica Mundial (OMM).[1] CFC liberado na superfície desloca-se para as camadas mais
Embora o motivador das mudanças climáticas seja algo altas da atmosfera, onde passa a sofrer a ação intensa dos
envolto em muita polêmica é um consenso que o consumismo, raios ultravioleta. A partir dessa ação, o CFC rompe-se e o cloro
uma das características marcantes da sociedade moderna, tem reage com o ozônio, provocando a quebra dessa molécula e a
sido responsável por uma agressiva degradação ambiental. A destruição da camada de ozônio.
queima de combustíveis fósseis, com vistas a atender às trans- O decréscimo da concentração do ozônio permite uma maior
formações do modo de vida da sociedade desde a Revolução passagem de raios ultravioleta, que provocam câncer de pele,

362
Questões ambientais

catarata e deficiência imunológica nas pessoas, além de danos promove o aquecimento da superfície terrestre e a liberação
que pode causar ao planeta. de calor para a atmosfera – e a presença de gases estufa, que
Diante do agravamento do problema, em 1987, os principais captam essa energia e mantêm a atmosfera com níveis ideais à
países industrializados reuniram-se na cidade de Montreal, Ca- manutenção da vida. Se o armazenamento de energia na baixa
nadá, e assinaram um documento conhecido como Protocolo atmosfera não existisse, as médias térmicas planetárias seriam,
de Montreal, no qual se comprometem a reduzir a utilização do 33 ºC, em relação às verificadas atualmente. Os gases de maior
gás CFC e, numa segunda etapa, substituí-lo completamente. importância na produção do efeito estufa são o vapor d’água,
O Protocolo de Montreal vem sendo cumprido de forma satis- o metano e o gás carbônico. Uma alteração na concentração
fatória, além de ter recebido a adesão de praticamente todas desses gases ou na intensidade de energia solar recebida pelo
as nações do mundo.” planeta promove mudanças nas médias térmicas planetárias.
Fonte: MORAES, Paulo Roberto. Geografia Geral e do Brasil. A alteração do efeito estufa ocorre por causas naturais – su-
cessão de eras glaciais e interglaciais – e por causas antrópicas
que vêm, gradativamente, aumentando os índices de gases
Intensificação do Efeito Estufa estufa na atmosfera, disponíveis para a retenção de mais calor
O Efeito Estufa é um fenômeno natural, essencial para a vida e, consequentemente, para o aumento das médias térmicas
na terra, e esta relacionado com a retenção de radiação solar planetárias. Sem a presença do ser humano, as médias térmicas
que atinge a superfície terrestre por meio de gases atmosfé- se elevariam, porém, em uma velocidade menor em relação ao
ricos (gases do efeito estufa (GEE) – o vapor de água (H2O), que se observa atualmente.
o dióxido de carbono (CO2), o metano (CH4) e o óxido nitroso As atividades antrópicas, principalmente as desenvolvidas
(N2O)-). Parte da radiação é reemitida e volta para o Espaço a partir da Revolução Industrial, promoveram uma grande
enquanto que o restante é absorvido pela atmosfera pelos GEE liberação de gases estufa na atmosfera, que aumentaram a
e pode ser reemitida para a superfície terrestre, o que permite retenção de calor na baixa atmosfera e intensificaram a atuação
o aquecimento do planeta. Este efeito impede o resfriamento do efeito estufa. A elevação das médias térmicas planetárias, em
do planeta mantendo a temperatura terrestre, sendo este um um nível acima do natural, promove mudanças nos processos
dos fatores que permite a sobrevivência da biodiversidade no naturais, que podem prejudicar a vida no planeta. Entre essas
planeta. modificações, podemos citar:
Embora muitas pessoas atribuam ao efeito estufa a res- • derretimento acelerado das calotas polares, o que altera
ponsabilidade do aquecimento do planeta, tal efeito físico é a taxa de albedo dos polos e o aumento da temperatura
indispensável para a via humana na Terra, pois, em condições local;
normais, ele equilibra a temperatura planetária. O problema, • aumento das inundações costeiras, devido a elevação do
atualmente, é a intensificação desse efeito. É importante nível dos oceanos;
atentar a dois conceitos que, são, por engano, utilizados como
sinônimos: o de efeito estufa e o de aquecimento global. O • alterações dos índices de precipitação, levando à am-
pliação dos períodos de secas e, consequentemente,
efeito estufa é um fenômeno natural necessário à nossa so-
escassez de água em alguns lugares e enchentes severas
brevivência, como já foi comentado no parágrafo acima. Já o
em outros, devido ao aumento das tempestades;
aquecimento global deriva de um aumento da temperatura da
Terra em decorrência da intensificação do efeito estufa. • alteração da produtividade agrícola, o que pode promover
aumento no preço dos alimentos;

Impactos atmosféricos • alteração na distribuição das formações vegetais, com


a necessidade de readaptação quanto à pluviosidade e
temperatura;
Aquecimento global • acelerada extinção de espécies, devido às mudanças
O aquecimento global é um processo natural, intensificado abruptas das condições de sobrevivência;
pelas ações antrópicas, em que se observa a intensificação • aumento do número de furacões e ciclones, principalmen-
do efeito estufa natural verificado no planeta. O efeito estufa te , os extra tropicais, devido à elevação da temperatura
é proporcionado pela interação entre a energia solar – que das águas oceânicas.

Quatrocentos mil anos de variações


Variações de temperatura em relação ao nível de 1950, em ºC

6 Cenário B1: redução sensível do consumo de bens e energia fósseis. A janela das temperaturas previstas pelo GIEC para o decênio 6
Cenário A1FL: crescimento econômico sempre baseado no consumo 2090-2100 é de +1,1 ºC (cenário B1) a +6,4 ºC (cenário A1FL)
4 intensivo de energias fósseis. em relação à temperatura média entre 1980 e 2000. 4
Limiar crítico das altas de temperatura
2 2

Nível da temperatura média em 1950


0 0

-2 Era glacial Era glacial Era glacial Era glacial -2

-4 -4

-6 -6

-8 -8

-10 -10
400 000 350 000 300 000 250 000 200 000 150 000 100 000 50 000 0 Anos atrás

Fontes: Jean-Robert Petit e Jean Jouzel (coord), “Climate and atmospheric history of the past 420.000 years from the Vostok ice core in Antarcti-
ca”, Nature, nº 399, maio-junho de 1999; Grupo Intergovernamental sobre a Evolução do Clima (GIEC), 2001 e 2007; UNEP/GRID-Arendal, 1998.

363
Geografia

560
540
2050
520
500

480
460
2030
Limiar 440
crítico de 420
concentração
400 a 450 ppm 400
2007
Concentração em CO2 , partes por milhão (ppm) 380

360 360
As projeções para o período de 2030 a 2100 são as que o GIEC calculou para um
340 de seus principais cenários (A1B), o qual é definido por um crescimento 340
econômico muito rápido (sem repousar sobre a utilização excessiva de energia) Nível máximo de concentração em CO2
320 e a população em crescimento regular até 2050 (e declinando na segunda ao longo dos últimos 420 mil anos 320
metade do século).
300 300

280 280
260 260

240 Era glacial Era glacial Era glacial Era glacial 240

220 220
200 200

180 180

160 160
400 000 350 000 300 000 250 000 200 000 150 000 100 000 50 000 0

Fonte: Atlas do Meio Ambiente – Le Monde Diplomatique Brasil, p. 34.

Histórico da discussão sobre mudanças climáticas


Veja as principais etapas das negociações sobre o clima:
• 1972: A Conferência Mundial de Estocolmo considera, pela primeira vez, que a produção industrial e o alto consumo dos
países ricos são uma das causas da degradação da natureza.
Essa perspectiva marca uma nova etapa da preocupação ambiental no planeta.
• 1987: O Relatório Nosso Futuro Comum, da Comissão Mundial de Meio Ambiente e Desenvolvimento, traz o conceito de
desenvolvimento sustentável. Sua proposta é compatibilizar o crescimento econômico com o equilíbrio ambiental, de maneira
a garantir a satisfação das necessidades das gerações presentes e futuras.
• 1992: Eco 92 - Rio de Janeiro.. A conferência mundial lança documentos que abordam a defesa da questão ambiental em
várias frentes. A Convenção-Quadro da ONU sobre Mudança do Clima estabelece as bases para os documentos de controle
de emissões de gases do efeito estufa.
• 1997: COP3, em Kyoto, no Japão. Culminou com a adoção do Protocolo de Kyoto, que estabelece as metas de redução para
as nações ricas, chamadas países do Anexo 1.
• 2005: COP11, em Montreal, Canadá. O Protocolo de Kyoto entra em vigor com a adesão da Rússia, com a qual se atinge
a soma de nações responsáveis por 55% do total de emissões mundiais de gases do efeito estufa. Os Estados Unidos não
aceitam fixar metas e ficam fora da aplicação do protocolo.
• 2009: A COP15, realizada em Copenhague, Dinamarca, não chega a estabelecer os rumos de um acordo internacional que
substituiria, em 2012, o Protocolo de Kyoto.
• 2010: Na conferência em Cancún (México), COP 16), criou-se o Fundo Verde do Clima, que administraria todo o dinheiro
que os países desenvolvidos estão aplicando para auxiliar nas mudanças climáticas - US$ 30 bilhões (2012-2012) e US$
100 bilhões anuais (após 2020).
Os líderes e participantes deixaram para decidir o futuro do Protocolo de Kyoto em Durban (África do Sul, 2011).
• 2011: Conferência em Durban (África do Sul). Na COP17, alguns países aceitaram a criação de um novo acordo ou protocolo
com força legal no sentido de preservação do clima e suas alterações naturais e também para que futuramente mais países
participassem do controle da emissão de gases. Neste texto, foram observados os seguintes pontos:
– existência de uma lacuna entre a proposta de redução dos gases estufa e a contenção do aquecimento médio do planeta
em 2ºC;
– formação de um grupo para criar um novo instrumento internacional legal até 2015, com implementação a partir de 2020
(processo chamado de Plataforma Durban para Ação Aumentada);
– o relatório do IPCC deverá ser levado em consideração, para que sejam tomadas medidas mais severas para conter o
aquecimento global; surgimento de uma nova etapa para o Protocolo de Kyoto, estendido até 2017;
– O funcionamento do Fundo Verde Climático, a aprovação da criação de um Centro de Tecnologia do Clima.

364
Questões ambientais

• 2012: Conferência no Brasil (Rio de Janeiro, 2012) Rio +20


– Aconteceu na cidade do Rio de Janeiro, após vinte anos Exercícios
de realização das conferências sobre meio ambiente e 1. (EsPCex – 2011) “Nas áreas urbanas, em média, a preci-
desenvolvimento sustentável, o Rio-92. O objetivo dessa pitação anual é 5% superior e o número de dias de chuva
conferência foi garantir e renovar o compromisso entre os é 10% maior do que nas áreas rurais adjacentes. Além
políticos para o desenvolvimento sustentável. disso, as chuvas torrenciais são mais comuns nas cidades”.
• 2014: Conferência de Lima (Peru) COP 20 - O objetivo (Magnoli & Araujo, 2004, p.176).
da conferência foi de análise e proposição de diversas
O fenômeno descrito acima deve-se a alguns fatores co-
ações para conter o aumento da temperatura global e,
muns às grandes cidades, dentre os quais pode ser citado:
consequentemente, mitigar os impactos da mudança
global do clima. A) o acúmulo de praças e grandes áreas verdes na por-
ção central das grandes cidades.
• 2016: Conferência de Paris (Paris, 2016)- Os países parti-
cipantes da 22ª Conferência das Partes sobre Mudança do B) o excesso de concreto, que transfere calor para o
ambiente e diminui a temperatura das áreas centrais.
Clima (COP 22) reafirmaram o compromisso de reduzir o
aquecimento global e de construir uma agenda de trabalho C) a elevada presença de material particulado em sus-
para chegar a esse objetivo em dois anos. pensão, contribuindo para a condensação da água na
atmosfera e precipitação de chuva.
http://www.wwf.org.br/natureza_brasileira/reducao_
de_impactos2/clima/mudancas_climaticas2/ D) a elevada evapotranspiração nas cidades, especial-
mente em áreas de canais e esgotos.
O Protocolo de Kyoto E) a presença de massas de ar frias nas áres centrais
e consequente aumento da precipitação de chuva.
O Protocolo de Kyoto, registrado em 11 de dezembro de
1997, estabeleceu “responsabilidades comuns, porém diferen- 2. (G1 - Col. Naval – 2017) “Uma das alterações produzidas
ciadas” entre as nações. Os países ricos deveriam reduzir, entre recentemente, causada pela incorporação do elemento
2008 e 2012, a emissão de gases poluentes para 5% abaixo dos ambiental no discurso de desenvolvimento, foi o esta-
níveis registrados em 1990. As nações em desenvolvimento, belecimento de novas diretrizes para o uso da terra. A
entre as quais Brasil, China e Índia, que tiveram uma industria- Amazônia, um dos principais objetos de preocupação
lização tardia, comprometiam-se a adotar medidas de combate dos ambientalistas, voltou à cena e tornou-se objeto de
ao aquecimento global, mas não teriam de cumprir metas e disputa pela sua significação.”
receberiam recursos financeiros e tecnologia dos países ricos. RABELLO, Antônio Cláudio. 2013. Amazônia: uma frontei-
ra volátil. Estudos Avançados. 27(78), 213-235. <https://
O fato é que nem todos concordaram com essa proposta e,
dx.doi.org/10.1590/S0103-401420130002000014>
para os Estados Unidos, o segundo maior emissor mundial de
gases do efeito estufa, os países em desenvolvimento – em Sobre os problemas ligados à ocupação do espaço ama-
especial os que crescem rapidamente, como a China e a Índia zônico que vêm preocupando os ambientalistas, assinale
– deveriam também se comprometer com essas reduções. a opção correta.
Os norte-americanos não ratificaram o Protocolo de Kyoto, A) O avanço chamado “arco de devastação” teve seu
mas, ficando entre os que apoiaram o documento, o que reduziu período mais intenso durante o governo de Getúlio
sua força no controle de emissão de poluentes. Vargas, fase de grande expansão da indústria regional,
principalmente depois da criação da Superintendência do
Ficou evidente que o controle deveria ser ainda maior: a Plano de Valorização Econômica da Amazônia (SPVEA).
média de emissão de gases do efeito estufa no século XXI
B) Para além da dimensão aparente do desmatamento,
não pode superar 18 bilhões de toneladas de CO2/ano. Caso o “arco de devastação” amazônico dá conta de um
a situação atual permaneça, estima-se que em 2020 o mundo processo mais amplo e menos visível, como uma
terá lançado na atmosfera cerca da metade do gás carbônico intrincada e oculta teia de tráfego clandestino de
que poderia emitir no decorrer de todo o século, para que a animais, de biopirataria, de garimpo e de madeira
temperatura fique 2°C acima da média. acontecendo sob as copas das árvores.
Da elaboração do Protocolo até hoje é evidente a ampliação C) Os modos de vida tradicionais dos chamados “povos
de uma consciência ambiental ao redor do mundo. Ainda que o da floresta” têm sido determinantes na configuração
balanço de sua aplicação seja bastante modesto, o Protocolo da catástrofe ambiental amazônica devido, princi-
de Kyoto representa um avanço decisivo de objetivos. Seus palmente, à ligação indissociável entre o baixo nível
mecanismos financeiros vão aos poucos se ajustando: licenças tecnológico das atividades que desenvolvem e a
de emissão de cotas de CO2 comercializadas após 2005 no degradação ambiental.
mercado europeu; transferência de tecnologias para os países D) A província mineral da serra dos Carajás, no sudoeste
pobres e emergentes. Em matéria de iniciativas, os progressos do Pará, é a maior reserva de minério de ferro do
mais importantes devem ser creditados à Alemanha e ao Reino mundo, tendo sido administrada, desde o início de
Unido, países com maiores condições e determinação para sua operação, pela hoje privatizada Companhia Vale
do Rio Doce, e é considerada modelo de extração
conseguir cumprir suas metas acordadas no protocolo.
mineral sustentável.
Segundo os cientistas, é absolutamente necessário manter o
E) Em 2006, foi aprovada a Lei de Gestão das Florestas
aquecimento já desencadeado em no máximo 2 °C. Evitar hoje Nacionais (Flonas), que estabelece critérios para o
uma elevação da temperatura exigirá reduzir pela metade as manejo da floresta, como limites para a derrubada de
emissões mundiais de gás de efeito estufa até 2050. Enquanto árvores e estímulo ao manejo múltiplo, associando a
isso, a população crescerá 50% e os países em desenvolvimen- proteção da floresta ao uso econômico sustentável,
to assistirão não só à ampliação do consumo energético como o que impedirá, definitivamente, o avanço do desma-
também de suas emissões. tamento.

365
Geografia

3. (G1 - Col. Naval – 2014) Na tentativa de contribuir 5. (EsPCex – 2015) “Foi no contexto da Primeira Conferên-
para a sustentabilidade ambiental, hoje está sendo cia das Nações Unidas sobre Meio Ambiente, realizada
difundida a chamada agricultura orgânica, cuja maior em 1972, em Estocolmo, que nasceu a ideia do desen-
preocupação é não utilizar produtos químicos durante volvimento [...] sustentável [...], isto é, de se adotar um
o cultivo. Assinale a opção que apresenta corretamente modelo de desenvolvimento econômico voltado à explo-
as características desse tipo de agricultura. ração nacional dos recursos naturais, à preservação do
meio ambiente ou ao equilíbrio ecológico e ao combate
A) Pouca mão de obra, muita tecnologia, cultivos
às disparidades sociais entre os seres humanos e entre
voltados para o mercado interno e uso de adubos
as nações.” (ADAS, M. Panorama Geográfico do Brasil.
oriundos da compostagem.
4. ed. São Paulo: Moderna, 2004, p. 117).
B) Muita mão de obra, pouca tecnologia, cultivos volta-
Apesar da importância da temática acima apresenta-
dos para a exportação e uso de herbicidas.
da, observa-se, mundialmente, que a aplicabilidade
C) Muita mão de obra, pouca tecnologia, cultivos do conceito de desenvolvimento sustentável tem sido
voltados para o mercado interno e uso de adubos muito difícil.
oriundos da compostagem.
Assinale a alternativa que explica a problemática apon-
D) Pouca mão de obra, pouca tecnologia, cultivos vol- tada no texto acima.
tados para exportação e uso de herbicidas. A) Os agentes econômicos, em escala planetária,
E) Muita mão de obra, muita tecnologia, cultivos volta- travam uma acirrada competição, buscando obter
dos para a exportação e uso de adubos inorgânicos. menores custos de produção para assegurar seu
domínio de mercado, o que, muitas vezes, é confli-
4. (EsPCex (AMAN) –2017) Considere as seguintes afir- tante com as políticas ambientais de utilização dos
mativas sobre impactos ambientais em três grandes recursos naturais.
domínios morfoclimáticos brasileiros: B) Do ponto de vista teórico, a ideia do desenvolvimen-
I. Possui uma formação vegetal muito densa, com to sustentável não encontra aceitação em nenhum
grande biodiversidade. Possui o maior número de país do mundo, tampouco seus princípios são apli-
cados pelos governos dos países desenvolvidos,
espécies ameaçadas do Brasil devido, dentre ou-
pois estes argumentam que tal ideia é prejudicial
tros, à exploração madeireira, às monoculturas de
ao desenvolvimento de suas economias.
exportação e à expansão urbana. Devido ao intenso
C) Nos diferentes países do mundo, não existe uma
desmatamento de suas encostas, são intensos os
comunidade organizada no espaço local em torno
processos erosivos e frequentes os deslizamentos
das mais diversas questões ambientais que afetam
de terra nesse domínio morfoclimático. a qualidade de vida de sua população.
II. Nas bordas desse domínio, caracterizado pelo D) Por não existir um consenso entre a comunidade
relevo de planícies, depressões e baixos planaltos, científica mundial acerca das verdadeiras causas
localiza-se a maior parte do chamado arco do des- do aquecimento global, as políticas relacionadas ao
matamento, uma área cujas atividades econômicas, desenvolvimento sustentável têm sido fortemente
ligadas à extração madeireira e à abertura de novas contestadas pelo governo brasileiro.
áreas para a agricultura e pecuária, vêm acarretan- E) As discussões acerca do desenvolvimento susten-
do intenso processo de queimada, desflorestamento tável só encontram respaldo no âmbito das ONGs,
e intensificação dos processos erosivos. uma vez que nem governos, nem entidades civis,
tampouco empresários, participam da elaboração
III. Esse domínio tem sofrido o maior dos impactos
de projetos relacionados a essa questão.
ambientais no contexto brasileiro com a expansão
da monocultura canavieira e da soja. Embora tenha
Gabarito
sido declarado como um dos principais hotspots bra-
sileiros, de sua área original já estão desmatados, 1. C
e se o ritmo do desmatamento de sua vegetação 2. B
não diminuir, até 2030 essa formação poderá ter 3. C
desaparecido. 4. C
As afirmativas acima referem-se, respectivamente, aos 5. A
domínios morfoclimáticos
A) Amazônico – Cerrado – Pantanal.
B) Mata Atlântica – Cerrado – Amazônico.
C) Mares de Morro – Amazônico – Cerrado.
D) Amazônico – Cerrado – Mata Atlântica.
E) Araucária – Amazônico – Pantanal.

366
Capítulo 25

Classificação e fatores de localização industrial


Classificação das indústrias Indústrias pesadas
As indústrias podem ser classificadas de acordo com vários São indústrias que utilizam maior quantidade de matéria-
-prima e energia na produção de matéria-prima para outras
critérios.
indústrias, ou seja, a matéria-prima trabalhada é bruta ou in
natura. Porém, não são apenas indústrias de produção de
Quanto ao histórico matéria-prima consideradas como indústrias pesadas. Outras
indústrias, como a automobilística, a de navios e a de fabricação
Originais ou clássicas de maquinário, também são consideradas indústrias pesadas.
São as indústrias que surgiram durante a Primeira e a Segunda As que se relacionam com a produção de matéria-prima são
Revoluções Industriais, originadas nos países desenvolvidos, denominadas siderúrgicas, especializadas na produção de aço,
no contexto dos séculos XVIII e XIX. e metalúrgicas, especializadas na extração, fabricação, fundição
e tratamento dos metais e suas ligas de maneira geral.
Planificadas É interessante destacar que a distribuição das indústrias
leves pelo espaço geográfico é mais facilitada por elas depen-
São indústrias desenvolvidas nos países socialistas e que,
derem menos de matéria-prima e energia que geralmente pode
por isso, são de propriedade do governo. Esse grupo de indús-
são transportado de longas distâncias. As indústrias pesadas
tria surgiu durante o século XX, a princípio na União Soviética.
até possuem, atualmente, maior mobilidade espacial, devido
ao desenvolvimento do transporte e da comunicação, mas
Tardias ou retardatárias
ainda precisam se preocupar com a localização dos centros de
São indústrias que se desenvolveram nos países emergen- extração mineral ou produção da matéria-prima e das usinas
tes – subdesenvolvidos industrializados – durante o século XX, produtoras de energia elétrica.
principalmente em sua segunda metade.
Quanto à destinação e objetivação
Quanto à evolução tecnológica
dos produtos
Indústrias tradicionais
Indústrias de base ou de bens de produção
São indústrias que possuem baixo grau de tecnologia envol-
vida no processo produtivo e que, por isso, necessitam de muita São indústrias que produzem artigos necessários à produção
mão de obra e, por isso geram pouca rentabilidade. Como os de outras indústrias – matéria-prima e energia. Também são
produtos apresentam baixa e precária modificação da matéria- classificadas como indústrias pesadas, devido à grande utili-
-prima, possuem menor valor agregado de comercialização, zação de matéria-prima e energia. Como exemplos, temos as
sendo necessário um grande volume de produtos para uma indústrias petroquímica, metalúrgica, siderúrgica e de cimento,
arrecadação mais significativa. Geralmente são representadas entre outras
pelas indústrias de móveis, alimentos, vestuário, entre outras.
Indústrias de bens de capital ou interme-
Indústrias modernas ou dinâmicas diárias
São indústrias que possuem um elevado grau de tecnologia São indústrias que produzem maquinário, equipamentos,
envolvida no processo produtivo e que, por isso, necessitam ferramentas ou autopeças para outras indústrias, como, por
de pouca mão de obra em relação ao que se produz, e geram exemplo, a indústria de componentes eletrônicos e a de moto-
alta rentabilidade. Os produtos são de alta e qualificada modi- res para carros ou aviões. O nome bens de capital deve-se à
ficação da matéria-prima, possuem maior valor agregado de grande transformação da matéria-prima que essas indústrias
comercialização, e um pequeno volume de vendas já promove promovem, elevando o valor agregado dos produtos produzidos
uma arrecadação significativa de capital. Geralmente são repre- por elas. A presença delas em determinado país indica menor
sentadas pelas indústrias de informática e de eletroeletrônicos, dependência quanto à importação de maquinários de outros
entre outras. países e um aumento da arrecadação, já que o ganho obtido
por essas indústrias é elevado pela venda do maquinário.
Quanto à quantidade de matéria-pri-
Indústrias de bens de consumo
ma e energia consumidas
São indústrias que desenvolvem produtos que já estão
prontos para o consumo da população, ou seja, que possuem
Indústrias leves acabamento para utilização. Esse grupo de indústrias pode
São indústrias que utilizam menor quantidade de matéria- ser dividido em:
-prima e energia em relação ao que está sendo produzido.
Geralmente fabricam produtos que utilizam matérias-primas já Indústrias de bens de consumo duráveis
trabalhadas por outras indústrias. A produção é voltada para
São indústrias de produtos que não se esgotam apenas com
mercadorias que serão consumidas pela população, como
a utilização populacional, mas sim com a depreciação consecuti-
vestuário, calçados, alimentos, bebidas e remédios.
va do produto, como automóveis, eletroeletrônicos, entre outros.

367
Geografia

Indústrias de bens de consumo não duráveis


São indústrias cujos produtos se esgotam na sua utilização pela população, como vestuário, calçado, bebidas, alimentos,
entre outros. Geralmente, aparecem em maior número, se comparadas com as indústrias duráveis, devido à maior facilidade de
instalação, decorrente da necessidade de menores investimentos.

INDÚSTRIA DE BENS DE PRODUÇÃO, INDÚSTRIA


DE BASE OU INDÚSTRIA PESADA
Fabricam produtos semiacabados utilizados como matérias
primas por outros setores industriais. Ex.: Chapas de aço,
alumínio. Denominadas indústrias pesadas por transformarem
grandes quantidades de energia e matérias prima.

Redes de transportes e comunicações

INDÚSTRIA DE BENS DE CAPITAL OU DE


BENS INTERMEDIÁRIOS
São responsáveis por produzir máquinas, equipamentos e
ferramentas para as indústrias em geral. Normalmente se local-
izam em locais que dispõem de boa infraestrutura industrial,
nas proximidades das empresas que compram seus produtos.

Redes de transportes e comunicações

INDÚSTRIAS DE BENS DE CONSUMO (DURÁVEIS


E NÃO DURÁVEIS) OU INDÚSTRIAS LEVES
Dispersas espacialmente, porém tendem a se concentrar em
áreas onde há maior disponibilidade de mão de obra e mercado
consumidor. Ex.: Vestuário, alimentos, bebidas, móveis, eletro-
domésticos e automóveis.

Redes de transportes e comunicações

MERCADO CONSUMIDOR
Com os avanços tecnológicos nos meios de transportes e nas
telecomunicações, o mercado consumidor se globalizou e está
em toda parte. Porém, é maior onde a população possui mais
renda.

Redes de transportes e comunicações

Fatores locacionais
A fixação industrial acontece com a observação antecipada de alguns fatores que são essenciais para a produção e para o
funcionamento do parque industrial, porque algumas áreas se mostram mais favoráveis que outras. O grau de importância de cada
fator locacional depende do estágio de desenvolvimento industrial, já que cada fase caracteriza-se quanto ao tipo de indústria e
às necessidades.
Como fatores locacionais temos: matéria-prima, fontes de energia, transportes, incentivos fiscais, disponibilidade de água,
mercado consumidor, rede de comunicações, mão de obra e capital.
A matéria-prima é necessária para que se tenha produção. Esse fator se fez mais interessante durante a Primeira e a Segunda
Revoluções Industriais, devido ao menor desenvolvimento dos transportes, quando exigia-se a fixação industrial próxima às áreas
fornecedoras. Atualmente, a matéria-prima continua a ter importância, mas é possível deslocá-la de maneira facilitada pelo espa-
ço, devido ao maior desenvolvimento dos transportes. Dessa forma, não é mais um fator determinante para a fixação industrial.
Quanto às fontes energéticas, é impossível o funcionamento industrial sem sua disponibilidade. Durante a Primeira e a Segunda
Revoluções Industriais, a fixação da indústria só era possível mediante proximidade com as fontes energéticas, devido ao menor
desenvolvimento das linhas de transmissão. Com o desenvolvimento tecnológico do setor energético, as indústrias, atualmente,
possuem maior mobilidade espacial, podendo seguir para áreas que sejam mais interessantes financeiramente.
A água, como fator locacional faz-se importante por ser responsável, na maioria das vezes, pelo sistema de resfriamento do
maquinário. Além disso, entra como elemento significativo para a confecção de alguns produtos. A fixação industrial próxima às
áreas com disponibilidade de água mostra-se mais importante, da mesma maneira que a energia, na Primeira e na Segunda Re-
voluções Industriais, devido ao menor desenvolvimento do sistema de abastecimento hídrico. Atualmente, não é o fator de maior
relevância para a fixação industrial.

368
Classificação e fatores de localização industrial

No contexto atual, principalmente a partir de 1970, com a 2. (G1 - Col. naval – 2016) Uma das características da
Revolução Técnico-Científica, pode-se destacar quatro fatores indústria brasileira é ter grande parte do seu parque
primordiais para a fixação industrial: o transporte, a rede de industrial concentrada na Região Sudeste. No entanto,
comunicações, o incentivo fiscal e o capital. nas últimas décadas, teve início uma nova tendência: a
O desenvolvimento dos transportes e da comunicação – fa- desconcentração industrial. Sendo assim, com relação
tores primordiais para a instalação das indústrias – favoreceu ao Modelo Econômico Brasileiro, assinale a opção
correta.
a movimentação industrial pelo espaço geográfico.
A) Até os anos 1930, a economia brasileira possuía uma
Dessa forma, uma indústria pode buscar se fixar em áreas
forte integração nacional, uma vez que o parque in-
que ofereçam melhores incentivos fiscais, como redução do
dustrial se encontrava concentrado no estado de São
preço dos impostos pagos, diminuição dos custos com energia Paulo, que comandava o eixo econômico do país.
e água e mão de obra mais barata, pois o transporte desenvol-
B) Em relação ao modelo de industrialização clássi-
vido leva até ela a matéria-prima necessária para a produção
ca, tal qual ocorreu na Europa, a industrialização
industrial, bem como promove a distribuição dos produtos no
brasileira aconteceu de forma tardia, tendo como
mercado consumidor. A presença do mercado consumidor
ponto de partida o desenvolvimento das indústrias
próximo à indústria não se faz mais necessária, mesmo sendo de bens de produção.
este o motivo da produção industrial, pois o transporte leva
C) Nas décadas de 1930 e 1940, várias montadoras
esse produto aonde for necessário.
multinacionais de automóveis se instalaram no ABC
O desenvolvimento do transporte e da comunicação também Paulista, cuja ampla malha ferroviária ofereceu o
favorece a aquisição de mão de obra por parte da indústria. principal suporte para o recebimento de matérias-
A captação dos trabalhadores, bem como a sua mobilidade -primas e escoamento da produção.
tornam-se facilitadas com a ligação promovida pelos meios D) A partir da década de 1950, seguindo as imposições
de comunicação e transporte entre as indústrias e os centros neoliberais, e na tentativa de reduzir custos, as
urbanos fornecedores de mão de obra. indústrias que antes se concentravam no entorno
Quanto ao capital, este sempre foi um fator de extrema im- das cidades menores, estão se deslocando para os
portância para a instalação industrial, pois sem ele é impossível centros metropolitanos.
o desenvolvimento da indústria. E) O neoliberalismo, a partir dos anos 1990, associado
à expansão da rede de transportes do país, possi-
Exercícios bilitou a várias cidades de médio porte se tornarem
mais atrativas aos interesses de complexos indus-
1. (EsPCex – 2011) “ ... Os países emergentes hoje pro- triais cada vez mais ávidos por lucros.
duzem 44% das manufaturas do planeta, ante 66% nos
3. (EsPCex (AMAN) – 2011) “A guerra da concorrência
países ricos. Mas o Brasil vem perdendo espaço. O País
tem início quando os empresários industriais tomam
representava 10% de toda a produção industrial das as decisões relativas à localização das suas fábricas”.
economias em desenvolvimento há 15 anos, em 1995.
(Magnoli & Araújo, p.142, 2005)
Dez anos depois, caiu para 7,2%.”
Sobre a localização industrial, ao longo dos últimos
(Jornal o Estado de São Paulo, 20/04/2010)
séculos, leia as alternativas a seguir:
Dentre as razões que têm limitado um maior crescimento I. Nas últimas décadas do século XX, estabeleceu-se
da participação dos produtos industrializados brasileiros uma nova lógica mundial de localização industrial: a
no comércio mundial, podemos destacar: produção em larga escala, com elevada automação,
I. O elevado custo de deslocamento dos produtos para é realizada nos países desenvolvidos e as indústrias
exportação, por conta de carências nas áreas de de tecnologia de ponta concentram-se nos países
infraestrutura e logística. subdesenvolvidos, onde a mão de obra é mais barata.
II. Com exceção de alguns produtos industriais, o compo- II. Com a Revolução Tecnológica ou Informacional,
nente tecnológico das exportações brasileiras é muito as grandes indústrias deixaram de ter o espaço
baixo, acarretando contínua queda no valor médio da local e regional como principal base de produção,
tonelada exportada. ultrapassando as fronteiras nacionais.
III. A cotação da moeda brasileira, fortemente desvalo- III. Ao longo do século XX, acentuou-se o processo
rizada em relação ao dólar, torna nossos produtos de concentração industrial, em consequência da
pouco competitivos no comércio mundial. crescente elevação dos custos de transferência de
IV. O fato de o Brasil concentrar seu intercâmbio externo matéria-prima e de produtos industrializados.
majoritariamente com os EUA, seu maior parceiro co- IV. Nos países desenvolvidos, as antigas concentrações
mercial na atualidade, limita, em muito, a participação industriais vêm perdendo terreno para as novas regi-
de seus produtos em outros mercados. ões produtivas, as quais são marcadas pela presença
Assinale a alternativa que apresenta todas as afirmativas de centros de pesquisa e de universidades.
corretas: V. As economias de aglomeração presentes nas gran-
A) I e II
des metrópoles mundiais reforçam a tendência, cada
vez maior, de concentração espacial da indústria.
B) I e III
Assinale a alternativa que apresenta todas as afirma-
C) I, III e IV tivas corretas.
D) II, III e IV A) I e II C) II e IV E) III, IV e V.
E) II e IV B) I e V D) II, III e IV

369
Geografia

4. (EsPCex (AMAN) – 2018) “A indústria aparece na Ama- D) A desconcentração industrial brasileira atingiu, de
zônia sob a forma de enclaves, estabelecidos a partir de forma mais contundente, o estado de São Paulo, que
incentivos federais ou para explorar recursos minerais.” perdeu sua posição de liderança no parque industrial
MAGNOLI, D. Geografia para o Ensino Mé- brasileiro no início do século XXI.
dio. 1ed. São Paulo: Atual, 2012, p. 310. E) Entre 1964 e 1985 foram criados pelo Estado órgãos
Entre os enclaves industriais na Amazônia, destaca-se de planejamento e desenvolvimento regional cujo
a Zona Franca de Manaus (ZFM), criada em 1967, sob propósito único era fomentar o aproveitamento ape-
a supervisão da Superintendência da Zona Franca de nas das potencialidades naturais das macrorregiões.
Manaus (Suframa). Sobre a ZFM, pode-se afirmar que
6. (G1 - Col. naval – 2015) A indústria brasileira ocorreu
I. a implantação da ZFM consistiu numa estratégia tardiamente se comparada aos Estados Unidos, Europa
geopolítica, cuja principal meta era reforçar o poder Ocidental e Japão. De acordo com as mudanças estru-
nacional na considerada região “de fronteira”. turais das dinâmicas econômica, social e política, o país
II. os capitais dominantes são transnacionais e pratica- teve que se adequar à competitividade internacional.
mente não se utilizam matérias-primas ou insumos Sendo assim, coloque F (falso) ou V (verdadeiro) nas
regionais na produção industrial nessa área. afirmativas abaixo, com relação à trajetória da indústria
III. a balança comercial da ZFM é positiva no intercâmbio brasileira, assinalando a seguir a opção correta.
com o mercado externo, haja vista que, com a isen- ( ) O período marcado entre 1930 e 1950, não mais
ção de impostos sobre a exportação, suas mercado- recebeu investimentos provenientes do setor
rias destinam-se, prioritariamente, a esse mercado. cafeeiro no desenvolvimento da logística do país.
IV. na década de 1990, a política de abertura da econo- O financiamento das ferrovias e rodovias foi pro-
mia nacional, com a redução das tarifas de impor- veniente do capital internacional que promoveu
tação, foi muito positiva para a ZFM, pois ampliou também a criação da Companhia Siderúrgica
as vendas para o mercado interno e propiciou o Nacional (CSN) e da Petrobras.
aumento do número de empregos diretos e indiretos ( ) O governo de Getúlio Vargas financiou a cons-
no polo industrial amazônico. trução da indústria de base, com destaque para
Assinale a alternativa que apresenta todas as afirma- os setores de energia e de transportes; enquanto
tivas corretas. que, no governo de Juscelino Kubitschek, a
A) I e II C) I e IV E) II e IV prioridade foi o setor automobilístico apoiado no
capital estrangeiro.
B) I e III D) II e III
( ) O capital internacional foi o principal responsável
5. (G1 - Col. naval – 2017) Observe o fragmento de texto pela industrialização brasileira, já que canalizou
em destaque e a tabela abaixo. recursos por todas as regiões do país com o ob-
A nova divisão do trabalho industrial [no Brasil] é acom- jetivo de desenvolver os sistemas de transporte,
panhada de uma nova repartição geográfica. de comunicação e de energia necessários ao
“salto qualitativo” nacional.
Adaptado de SANTOS, M. e Silveira, M. L. O Brasil, Ter-
ritório e Sociedade no início do século XXI. ( ) No período neoliberal, o Brasil passou pelo
processo de desconcentração industrial. Assim,
Brasil – Pessoal Ocupado na Atividade Industrial
muitas indústrias procuraram outros espaços
Região Sul Estado de São Paulo geográficos, onde os custos de produção eram
1970 14,79 50,97 menores, como por exemplo, os incentivos fis-
1990 36,49 35,35 cais, a mão de obra barata e a atuação sindical
Adaptado de SANTOS, M. e Silveira, M. L. O Brasil, Ter- pouco organizada.
ritório e Sociedade no início do século XXI. ( ) O fim das políticas neoliberais no Brasil possi-
O texto e a tabela acima tratam do reordenamento bilitou o retorno do modelo de substituição de
espacial da indústria brasileira a partir da segunda importações. Por conseguinte, a adoção de
metade do século XX. medidas protecionistas do Estado sobre impor-
tações de bens industriais tem protegido a pro-
Sobre o espaço industrial brasileiro e suas recentes
dução nacional da concorrência internacional.
transformações, assinale a opção correta.
A) V - F - V - F - F.
A) O reordenamento do espaço produtivo no Brasil é
resultado da combinação entre novas formas de B) V - V - F - F - V.
produção e de organização social surgidas a partir C) F - F - V - V - V.
dos anos 1970, somadas ao planejamento estatal. D) F - V - F - V - F.
B) O processo de desconcentração das atividades pro- E) F - V - V - F - F.
dutivas para fora da região Sudeste culminou com
uma indiscutível perda de comando dessa região Gabarito
sobre o sistema industrial nacional.
1. A 4. A
C) Seguindo a tendência percebida nos países
centrais, a desconcentração industrial brasileira 2. E 5. A
produziu espaços que se destacam como a van- 3. C 6. D
guarda tecnológica do país, como é o caso da
região Nordeste.

370
Capítulo 26

Evolução e modelos de industrialização


Industrialização clássica: países desenvolvidos
São classificados como países que possuem uma industrialização clássica os países desenvolvidos, em contraposição aos
países em desenvolvimento. A Primeira Revolução Industrial iniciou-se na Inglaterra, na segunda metade do século XVIII. No século
XIX, expandiu-se para os outros países europeus – especialmente para a Alemanha, a França, os Países Baixos (Holanda) e a
Bélgica – e para os Estados Unidos. No final do século XIX, atingiu a Rússia, o Japão, a Austrália e a Nova Zelândia.
Esses países viveram esse processo, primeiramente, por fatores históricos que favoreceram a concentração de condições
necessárias ao desenvolvimento industrial. Durante o período mercantilista, transição de feudalismo para sociedade industrial, o
desenvolvimento do comércio e das cidades, e os efeitos da crise do Feudalismo, ocorrida ao longo do século XIV, estimularam
a busca de novos produtos capazes de incrementar a atividade comercial (ouro, prata, açúcar, tabaco, algodão, certos tipos de
madeira, frutos diversos etc.) e de novas áreas a serem incorporadas ao raio de ação dos comerciantes europeus. É essa a origem
da expansão marítimo-comercial da Europa e da colonização do continente americano. Assim, a Revolução industrial foi resultado
da conjunção de vários, entre os quais:
• o aparecimento do trabalho assalariado;
• a concentração de uma grande massa de desempregados nas cidades, em parte devido ao grande crescimento demográfico,
que seriam utilizados como operários pela indústria nascente;
• o desenvolvimento do comércio colonial, com a divisão internacional do trabalho entre as metrópoles e as colônias.
Dessa forma, os países desenvolvidos que iniciaram o processo de industrialização possuíam as condições ideais para a
evolução do processo de transformação da matéria-prima, bem como a necessidade de desenvolvimento de outras formas, mais
eficazes, de produção. Os países de industrialização original ou clássica, em grande parte, vivem atualmente a Terceira Revolução
Industrial, devido ao desenvolvimento verificado ao longo do século XX e à necessidade de maior eficiência e menor poluição nas
linhas de produção. Possuem a maior concentração industrial do globo, pela consolidação do processo desde o século XVIII e
pela evolução do desenvolvimento industrial.

RUS
URAIS
CAN Moscou
RUN Novosibirsk
Londres ALE
Paris Rhur DONBASS
Chicago FRA
Nova York
ITA Pequim Seul JAP
Los Angeles EUA CHINA Tóquio
Houston ÍNDIA Taipé
Cidade do México Mumbai Calcutá Hong Kong

Cingapura

BRASIL COPPERBELT

São Paulo
Johanesburgo
Santiago Buenos Aires Sidnei

Centro industrial
Região industrial
Países mais
industrializados
Novos países
industrializados (NPI)
Fonte: DE AGOSTINI, 2007. 3.000 km
Ísola, Leda; CALDINI, Vera. Atlas Geográfico Saraiva.

Industrialização Planificada
O processo de industrialização planificada é característico de países com políticas socialistas. Dessa forma, as indústrias são
propriedade do Estado, cabendo a ele decidir o que é prioridade, o que vai ser produzido, a quantidade produzida e como vai ser
produzido. Em economias planificadas, com destaque para a União Soviética (URSS), a prioridade concentrava-se em indústrias

371
Geografia

de base e indústrias de bens de capital, destacam-se: as siderúrgicas, petroquímicas, mecânicas, de cimento, de caminhões, tra-
tores, entre outras. Dessa forma, as indústrias de bens de consumo não eram valorizadas e a população vivenciava uma carência
de vários produtos de manutenção básica, como papel higiênico e escovas de dentes, entre outros.
É interessante destacar que o governo buscava uma dependência entre todas as indústrias de seu parque industrial não só
quanto à matéria-prima e à energia produzidas, mas, também, quanto à espacialização dessas indústrias. As áreas industriais
eram dispersas pelo espaço, buscando uma dependência entre as regiões industriais e a possibilidade de fragmentação do Estado.
Essa situação é percebida no mapa a seguir.

RECURSOS NATURAIS MAR DE

Á RT I C O
BERING
OCEANO GLACIAL ÁRTICO
Li

Anadyr
m
ite

Is. Terra 180oL

LA R
TAIGA
su

exploração florestal do Norte


ld

OCEANO

PO
TCHERNOZION
o

cereais PACÍFICO
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O
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Murmansk

UL
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Dikson
st

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São Petersburgo
Petropavlovski-

Len
Kaliningrado Arkhangelsk Norilsk Magadan
RUSSIA -Kamtchatski

a
Ienissei
ra

Iakutsk MAR DE
MOSCOU
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tc

Ob

20oL na
Pe

Khanty-Mansi Le
Nijni-Novgorod Kazan Perm
Ufa O M
b
Saratov Ekaterinburgo Angara BA NA
Rostov-Na-Donu lga Samara RIAA
Chelyabinsk
NS IBE
MAR NEGRO Vo Krasnoiarsk TRA
m
ur Khabarovsk
Novorossiisk Volgrado Bratsk
Omsk Irkutsk
Novosibirsk
Astrakhan
MAR Vladivostok
CÁSPIO

Moscou: Periferias integradas ao centro Periferias afastadas do centro


o centro Porto principal Recursos energéticos em exploração
Região central:
urbanizada, Centro industrial Recursos energéticos em reserva
indústrias Região povoada, muito integrada ao centro
diversificadas Periferia muito isolada
Eixo principal Região de indústrias especializadas Litoral bloqueado pela
de comunicação Região militar-industrial em reconversão banquisa de inverno
BAM (ferrovia Baikal-Anur-Magistral)
VESENTINI, J. Willian. Sociedade e Espaço: Geografia Geral e do Brasil. pág.141.

As indústrias planificadas apresentam diversos problemas, agora bem menos significativos, já que as áreas socialistas são
pouco expressivas, e aquelas que eram socialistas modernizaram sua produção pela inserção no sistema capitalista, devido a
diversos fatores:
• Parte das indústrias são obsoletas pela falta de concorrência, já que todas elas são de propriedade do Estado. As áreas
que possuíam concorrência direta, como a aeroespacial, com os Estados Unidos, apresentam um grande desenvolvimento,
mostrando ser a concorrência fator favorável para o melhoramento produtivo.
• Priorização do setor militar, desfavorecendo o desenvolvimento de outros setores de indústrias, como o de abastecimento
dos bens de consumo por parte da população.
• Dificuldade de progresso técnico, devido à falta de investimentos em vários setores industriais, bem como a falta de concor-
rência que gera crescimento.
• Estabelecimento pelos Planos Quinquenais, na URSS, quanto à variedade de bens e serviços a ofertar e quanto à ordem
de importância do que vai ser produzido.

Industrialização tardia e periférica


Apesar de os Estados subdesenvolvidos serem, tradicionalmente, nações voltadas para a produção de matérias-primas, esses
vêm experimentando, desde a Segunda Guerra Mundial, um processo de industrialização. Alguns desses países já são conside-
rados industrializados, como Brasil, Coreia do Sul, México, Taiwan (ou Formosa), entre outros. Essa industrialização é chamada
de retardatária, tardia ou periférica, porque tais países se industrializaram muito tempo depois da Primeira Revolução Industrial,
que se iniciou na Inglaterra, em meados do século XVIII.
A industrialização do mundo subdesenvolvido foi do tipo substitutivo – com exceção dos Tigres Asiáticos e da China –, ou seja,
um processo de criação de indústrias destinado a produzir internamente certos bens que antes eram importados. Isso é chamado
de processo de substituição de importações.
Nas épocas de crise internacional (Primeira Guerra Mundial, crise de 1929 e Segunda Guerra Mundial) ou nos períodos em
que ocorreram grandes aumentos nos preços dos produtos industrializados, avolumaram-se as dificuldades para importar tais
produtos. Em consequência, criaram-se condições favoráveis para fabricá-los internamente. Isso ocorria, sobretudo, com os bens

372
Evolução e modelos de industrialização

de consumo mais leves, que exigem tecnologia menos avan- impondo restrições ao funcionamento dos sindicatos, canali-
çada e menores investimentos: tecidos, vestuário e calçados, zando grandes investimentos para a educação, além de realizar
bebidas, impressos, móveis, ferramentas e máquinas mais investimentos em infraestrutura.
simples, alguns produtos químicos etc. O alto nível de poupança interna, aliado à ajuda financeira
Devido a isso, vários países subdesenvolvidos apresentam norte-americana, mais empréstimos contraídos em bancos
deficiências em suas indústrias de base e de bens de capital, no exterior possibilitaram a arrancada da industrialização. A
necessitando importar elementos-chave para o desenvolvimen- mão de obra muito barata, mas relativamente qualificada e
to da industrialização – maquinário. produtiva por causa do bom nível educacional, associada às
Até a década de 1940 o processo de industrialização medidas governamentais, tornava seus produtos muito baratos.
Isso garantiu aos Tigres grande competitividade no mercado
concentrou-se nas mãos do capital nacional, seja estatal ou
mundial e, portanto, elevados saldos comerciais, os quais eram
privado. As indústrias, na maioria das vezes, se dividiam em:
reinvestidos a fim de se alcançar maior capacitação tecnológica.
indústrias de bens de consumo – propriedade privada e na-
cional – e indústrias de base – propriedade estatal e nacional. Os Tigres Asiáticos seguiram de maneira quase integral os
passos do Japão. Além disso, beneficiaram-se de uma con-
Porém, a partir de 1950, os países desenvolvidos começam
juntura mundial liberal, dispondo, assim, de amplos mercados
a vivenciar o processo de deseconomia de aglomeração, ou
para colocar seus produtos. Converteram-se, desse modo, em
desconcentração industrial, promovendo a abertura de filiais
verdadeiras plataformas de exportação. Mais recentemente, no
em países subdesenvolvidos. Essas empresas passam a ser
entanto, a elevação da renda per capita, resultante do aumento
chamadas de multinacionais.
de produtividade da economia como um todo, ocasionou uma
No contexto atual, um número significativo das indústrias de expansão dos mercados internos, sobretudo na Coreia do Sul
bens de consumo dos países subdesenvolvidos, principalmente e em Taiwan, tinham as maiores populações.
as mais modernas, é de filiais de empresas estrangeiras. Já
A elevação dos custos da mão de obra e a valorização de
as indústrias de base, pouco desenvolvidas em alguns países
suas moedas têm levado esses países, novamente seguindo
subdesenvolvidos e concentradas, inicialmente, nas mãos do
os passos do Japão, a aprimorar suas indústrias. Os Tigres
Estado, começam a viver a partir da década de 1980 o processo têm investido em novos ramos industriais, mais avançados
de privatização, passando várias indústrias a serem controladas tecnologicamente, transferindo os setores tradicionais para
pelo interesse estrangeiro. outros países da região, onde o custo da força de trabalho é
Nos países da América Latina, o processo de industrialização menor. Somando-se aos investimentos japoneses, majoritários,
é mais antigo: veio desde o fim do século XIX e se intensificou empresários dos Tigres também têm construído filiais na Tailân-
na Primeira Guerra Mundial. Na África do Sul e na Índia, intensi- dia, na Malásia e na Indonésia, que cresceram aceleradamente
ficou-se depois de 1945 – início da descolonização afro-asiática. de 1990 a 2005. Por isso, esses três países são conhecidos
E nas economias asiáticas – Tigres asiáticos, com exceção da como os novos Tigres. Há também muitos investimentos sendo
Índia –, ocorreu, a partir da década de 1960, embora tenha canalizados para a China.
sido uma industrialização mais rápida que nos outros casos. Esses países, que durante muito tempo foram conhecidos
A influência norte-americana foi preponderante nos países como exportadores de bugigangas de baixa qualidade e de
latino-americanos; já na África do Sul, a influência maior foi tecnologia banal, hoje estão colocando nos mercados produtos
europeia (especialmente inglesa); na Ásia, os Estados Unidos sofisticados, como navios, automóveis, computadores, apare-
também tiveram inicialmente a prioridade nos investimentos de lhos de som e de vídeo, televisores, fornos de micro-ondas,
capitais, mas, desde os anos 1980, o Japão quase equiparou bicicletas etc. Agora, os produtos de qualidade inferior provêm
os seus investimentos na região aos investimentos norte- cada vez mais dos “novos Tigres” e, principalmente, das zonas
-americanos. econômicas especiais – a face “Tigre” da China.
Contudo, comparando essas três regiões ou continentes Os Tigres têm um parque industrial consolidado e moder-
distintos, podemos afirmar que nos países asiáticos (especial- no, mão de obra qualificada e uma boa infraestrutura. Além
mente na Índia, na Coreia do Sul e em Taiwan) e também na do aumento da produtividade de sua indústria, seus produtos
África do Sul, existem mais capitais nacionais que nos países ficaram mais competitivos no mercado internacional graças à
latino-americanos. É claro que essa é uma diferença relativa, desvalorização de suas moedas durante a crise asiática de
pois também na África do Sul e nos países asiáticos existem 1997. Com a superação dessa crise financeira, suas econo-
inúmeras filiais de multinacionais estrangeiras, as quais pos- mias voltaram a crescer rapidamente, permitindo a elevação
suem um poderio bem maior nas economias latino-americanas. da renda da população.
MOREIRA, João Carlos; SENE; Eustáquio de. Geografia Geral e do
A industrialização dos Tigres Asiáticos Brasil: Espaço Geográfico e Globalização, p. 350-354 (adaptado).

Os Tigres Asiáticos constituíram, após a Segunda Guerra


Mundial, regimes políticos centralistas. Os dois mais importan- Diferenças entre o modelo asiático e
tes – Coreia e Taiwan – eram governados por ditaduras militares; o latino-americano
em Cingapura e Hong Kong havia uma democracia formal, mas
“A diferença entre o modelo asiático, se se pode chamar
esta sofria limitações. Sob esses governos, o Estado teve um
assim, e o modelo latino-americano, é que o modelo asiático
papel fundamental de planejamento estratégico, estimulando
é construído sobre poupança interna e mercado externo, en-
a industrialização, concedendo subsídios às exportações,
quanto o modelo latino-americano é construído sobre poupança
mantendo uma política de desvalorização cambial, tomando
externa e mercado interno.” Essa frase de Celso Amorim sinte-
medidas protecionistas (tarifárias) contra os concorrentes
tiza bem as diferenças estruturais entre o modelo econômico
estrangeiros, concedendo bolsas de treinamento no exterior,
baseado em substituição de importações e o modelo que se
apoia em exportações. Entretanto, ela não expressa que o

373
Geografia

modelo asiático, ao investir em educação e garantir melhor distribuição de renda, permitiu muito mais do que o modelo latino-
-americano, supostamente voltado para dentro, a constituição de um amplo mercado interno. A exclusão social foi uma das piores
decorrências do modelo econômico implantado na América Latina.
Outra diferença importante é que o modelo asiático, ao apoiar o desenvolvimento em poupança interna e ao implantar um
Estado eficiente, que tem sob controle as contas públicas, permitiu controlar a inflação e obter maior autonomia diante das crises
financeiras internacionais. A crise asiática praticamente não atingiu Cingapura e Taiwan; seu impacto em Hong Kong foi um fenô-
meno mais concentrado na bolsa de valores, e a Coreia do Sul sofreu mais por causa do elevado endividamento de seus chaebols,
porém já se reequilibrou e voltou a crescer a taxas elevadas. Todavia, os países latino-americanos, com a honrosa exceção do
Chile, sofreram fortemente os impactos da crise da dívida dos anos 1980 e das crises financeiras dos anos 1990. Assim, para
os países da América Latina, a década de 1990, sobretudo sua segunda metade, do ponto de vista econômico e social, foi tão
“perdida” quanto a de 1980.
Os números da tabela a seguir permitem concluir que, mesmo com a crise que os atingiu em 1997, os países asiáticos apre-
sentaram um crescimento bem maior que os latino-americanos. Se considerarmos a distribuição de renda e a elevação do padrão
de vida da população, fica evidente o melhor desempenho do modelo asiático do ponto de vista social.
WORLD development indicators 2003. Washington, D.C.: The World Bank, 2003; WORLD development report 2002. Washington, D.C.:
The World Bank/Oxford University Press, 2002; WORLD development report 2007. Washington, D. C.: The World Bank, 2006.

Taxa de crescimento do PIB (%)


País 1980-1990 (média anual) 1990-2000 (média anual) 2000-2005 (média anual)
Brasil 2,7 2,9 2,2
México 1,1 3,1 1,9
Argentina –0,7 4,3 2,2
Chile 4,2 6,8 3,0
Coreia do Sul 8,9 5,7 4,6
Cingapura 6,7 7,8 4,2
Hong Kong 6,9 4,0 4,3

Industrialização brasileira
Milagre Abertura
Lei Eusébio CSN Vargas Econômica
econômico
de Queiroz Brasileira
Tarifa Substituição Vale do Juscelino Década
Alves de
Branco importação Rio Doce Kubitschek Perdida

1844 1850 1914 1941 1942 1951-54 1956-61 1968-73 1980 1990

1840 1889 1930 1945 1964 1985 —

SEGUNDO REPÚBLICA REPÚBLICA DITADURA REDEMOCRA-


A ERA VARGAS
REINADO VELHA POPULISTA MILITAR TIZAÇÃO

O processo de industrialização brasileiro, apesar de consolidar-se a partir da década de 1930 com as políticas varguistas,
começa a se organizar desde o contexto do Segundo Reinado (1840-1889), passando por vários outros momentos que foram de
extrema importância para a formação do parque industrial recente.
No período do Segundo Reinado, a atividade industrial desenvolvida no Brasil era extremamente rudimentar, com alguns postos
industriais trabalhando em esquema de manufatura, mas importante para a formação inicial de um parque industrial. Apesar de
não se ter consolidado o processo de industrialização nesse contexto, formado por apenas alguns postos industriais, é importante
destacar dois fatos que contribuíram para esse desenvolvimento inicial:
• Tarifa Alves Branco (1844): tarifa alfandegária que elevava o preço dos produtos importados, de maneira a valorizar o produto
nacional. Como os produtos internacionais eram muito mais caros em relação aos nacionais, a indústria brasileira nascente
era estimulada.
• Lei Eusébio de Queiroz (1850): proibia o tráfico negreiro, estimulando a formação de um contingente de mão de obra livre
– consumidores –, além de promover a sobra de capital, que seria gasto com o tráfico negreiro, para outros setores econô-
micos, como o industrial.
O favorecimento trazido pelas duas leis ao desenvolvimento industrial promoveu a liberalização de capital, por parte do governo,
para obras de infraestrutura, bem como o melhoramento de vários setores que contribuem para o desenvolvimento da economia,
como transporte, comunicação e serviços.
Já no período da República Velha (1889-1930), a atividade industrial continua a ser estimulada, principalmente a indústria
têxtil, pelo fim da escravidão e a chegada de vários imigrantes. Com a inexistência da mão de obra escrava, teoricamente, todas
as pessoas passam a ter possibilidades de consumo. Além disso o imigrante, principalmente o europeu, já conhece o trabalho
industrial, pois a Europa vive seu processo de industrialização desde 1750, e possui hábitos de consumo favoráveis ao desenvol-
374
Evolução e modelos de industrialização

vimento industrial. como base agora o capital estrangeiro. JK fundamentou seu


Concentradas no Rio de Janeiro e em São Paulo, principal- processo de desenvolvimento na indústria de bens de consumo
mente, as indústrias presentes no Brasil vivem um período de duráveis, principalmente na indústria automobilística. A ação de
grande crescimento durante a Primeira Guerra Mundial. Apesar JK de abrir as portas brasileiras às multinacionais promoveu
de ser considerado apenas um surto industrial, não consolidando um rápido crescimento industrial, mas com grandes dívidas
de fato o parque industrial brasileiro, esse período viveu um au- externas. A necessidade de melhoramento da infraestrutura
mento expressivo no número de indústrias, processo denominado brasileira para a implantação do parque industrial, bem como
de substituição de importação. Como nesse contexto a Divisão o fortalecimento da indústria de base foram realizados à base
Internacional do Trabalho (DIT) – Função ou atividade econômica de grandes empréstimos, o que resultou em uma enorme dívida
desenvolvida por cada grupo de países no mercado internacional, externa para o país. Além disso, tendo como base o modelo
países desenvolvidos: produção de produtos industrializados e industrial de Getúlio Vargas, o próximo passo de desenvolvimen-
Países subdesenvolvidos: produção de matéria-prima e alimento to industrial do Brasil seria estimular as indústrias de bens de
– era considerada simples, os países subdesenvolvidos tiveram capital ou de maquinário, que promovem um grande aumento
a necessidade de começar a produzir parte do que antes era no valor agregado do produto produzido, já que a modificação
importado, já que os países desenvolvidos estavam produzindo da matéria-prima é significativa. Porém, JK, quando opta por
para o abastecimento da guerra. desenvolver a indústria de bens de consumo duráveis, salta
essa fase de industrialização, colocando o Brasil na posição
Durante a República Velha a formação de sindicatos e vilas
de grande importador de máquinas, o que dificulta, considera-
operárias contribuiu para a formação de movimentos sindica-
velmente, a nossa autonomia industrial.
listas que culminaram em grandes greves trabalhistas. Mesmo
diante de toda uma movimentação sindical, as leis trabalhistas Mesmo diante dessa situação, não se pode deixar de consta-
que protegem os trabalhadores só surgem na década de 1930, tar a grande transformação vivenciada pela economia brasileira,
com o governo Vargas, mas algumas melhoras foram atendidas. diante do modelo adotado por JK. O Brasil saiu, a partir de
1960, da situação de país agrário exportador para a situação
A Era Vargas é marcada pelo início da consolidação do
de urbano industrial. A atividade do setor primário ainda é muito
processo de industrialização brasileiro, com a iniciativa de
importante para a economia brasileira, mas não compõe mais
fortalecer a indústria de base nacional. Para Getúlio Vargas o
de 50% do PIB – Produto Interno Bruto.
parque industrial brasileiro deveria ser consolidado de maneira
gradativa, promovendo inicialmente o desenvolvimento da in-
dústria de base, em seguida da indústria de bens de capital e,
finalmente, da indústria de bens de consumo duráveis.

Fábrica de carros da Volkswagen durante o governo JK


O processo de industrialização vivenciado pelo Brasil e por
vários outros países emergentes acontece a partir de 1950,
Getulio Varguns durante a inauguração da Petrobras devido a um contexto internacional. Com o fim da Segunda
Para Vargas o crescimento da indústria deveria ser financia- Guerra Mundial, a economia europeia e japonesa são esti-
do pelo governo nacional, privado ou estatal. Sendo assim, o muladas, diretamente, pela ajuda financeira promovida pelos
parque industrial seria fortalecido, com pouca necessidade de Estados Unidos, com o Plano Marshall e o Plano Colombo,
importação, com a não dependência do capital internacional e respectivamente. Além do grande desenvolvimento tecnológico
com o financiamento nacional. ocorrido durante a Segunda Guerra Mundial, as economias dos
Estados Unidos, da Europa ocidental e do Japão vivem um
Vargas impulsiona a indústria de base brasileira, destaca-
grande crescimento econômico e o início do desenvolvimento
da, nesse contexto, pela criação da Companhia Siderúrgica
das indústrias de ponta. Essas indústrias são interessantes para
Nacional ou CSN (1941) e da Companhia Vale do Rio Doce
a economia desses países, pois produzem produtos com maior
(1942). Concentradas na Região Sudeste, devido à presença
valor agregado e, além da alta qualidade, necessitam de uma
do Quadrilátero Ferrífero, essas duas empresas representam
menor quantidade de energia, matéria-prima e mão de obra, e
a política de desenvolvimento varguista desse período.
poluem muito menos que as indústrias tradicionais da Segunda
A República Populista é marcada por fases distintas de de- Revolução Industrial. Dessa forma, à medida que as indústrias
senvolvimento industrial, sendo que no primeiro momento as de ponta ganham espaço nas economias das áreas destacadas
ações de desenvolvimento industrial se mostram ainda nacio- acima, as indústrias tradicionais se mostram desinteressantes
nalistas e, no segundo momento, com a entrada de Juscelino e são transferidas para os países subdesenvolvidos, em que
Kubitschek na presidência brasileira, se torna internacional. os fatores de produção, como a mão de obra, energia, matéria-
Vargas retorna ao poder, de 1951 a 1954. Nesse mandato, -prima, ausência de leis ambientalistas, entre outros se tornam
Vargas coloca em prática novamente seu ideário de desenvol- mais acessíveis e baratos. É possível então concluir que o
vimento industrial nacionalista, com a construção da Petrobras desenvolvimento industrial dos países subdesenvolvidos – que
em 1953. Como ele objetivava, inicialmente, a consolidação da a partir disso passam a ser denominados países subdesenvol-
indústria de base, a criação da Petrobras era indispensável para vidos industrializados ou países emergentes, incluindo o Brasil
o desenvolvimento do setor. – se faz por uma demanda externa e não tão somente pelas
Em 1956, Juscelino Kubitschek assume o poder brasileiro demandas internas.
e reorienta a política de desenvolvimento industrial, tendo

375
Geografia

O período militar foi marcado pela continuação das ações de produzido no Brasil e as áreas modernizadas produziam, em
desenvolvimento industrial. Com a manutenção dos investimen- sua grande maioria, para a exportação, a década perdida não
tos nas indústrias de bens de consumo duráveis, os militares prejudicou o desenvolvimento do setor primário. Primeiramen-
aumentaram o endividamento brasileiro para esse fim e para te, a Revolução Verde concentrou-se nas regiões Sudeste e
a realização das obras faraônicas observadas no contexto. Em Sul, sendo que a partir da década de 1980 seguiu em direção
uma visão militar de ocupação dos espaços, eles acreditam que à região Centro-Oeste, promovendo um aumento das áreas
a proteção das fronteiras nacionais só aconteceria mediante de plantio, que já se desenvolviam como áreas melhoradas,
a presença da população brasileira. Sendo assim, muitos além de ampliar as melhorias para áreas que já possuíam
investimentos foram feitos nesse sentido, como a construção produção. Convém não esquecer que o uso intenso de tecno-
da Rodovia Transamazônica, da Rodovia Cuiabá-Santarém, logia se concentra entre os produtos que serão exportados,
da Usina de Itaipu, entre outros. normalmente desenvolvidos em grandes propriedades. A
O período de maior importância do governo militar, com- produção destinada ao abastecimento nacional, geralmente,
preendido entre 1968 e 1973, o chamado de Milagre Econômico. se faz em pequenas e médias propriedades, não possuindo
Marcado pelo forte crescimento econômico, no qual o Brasil as mesmas tecnologias utilizadas para o desenvolvimento
crescia a um ritmo de 10% ao ano, e pela posição brasileira da agricultura de exportação.
entre as dez primeiras economias mundiais. Porém, foi um
A década perdida vivenciou diversas tentativas de melho-
período de grande concentração da renda brasileira, bem como
ria com os planos econômicos desenvolvidos, como Plano
do reforço da concentração industrial na região Sudeste. Des-
de o governo de Getúlio Vargas, o parque industrial brasileiro
Cruzado (1986), Bresser (1987) e o Plano Verão (1989),
tendeu a se concentrar na região Sudeste, devido aos atrativos não apresentando grande êxito na estabilização econômica
industriais que a região possuía por ter sido palco, ou participar brasileira.
ativamente, dos grandes ciclos econômicos brasileiros. Quanto A década de 1990 é marcada pela abertura econômica bra-
aos atrativos industriais, é possível perceber: a concentração da sileira com a implantação da política neoliberal. Essa política,
população, que participa como mão de obra e mercado consu- proposta pelo Consenso de Washington para melhoramento
midor; a presença de matéria-prima, devido à fixação das indús- da economia da América Latina, trouxe a abertura econô-
trias de base e ao quadrilátero ferrífero; maior desenvolvimento mica do Brasil e a chegada de várias multinacionais. Essas
da infraestrutura de logística e energia, estimulada no Segundo indústrias promoveram maior diversificação e melhoramento
Reinado pela chegada da Família Real e a disponibilidade de do parque industrial brasileiro, bem como o fechamento de
capital, com a queda da atividade cafeeira. Dessa forma, o que várias empresas brasileiras.
o governo militar promovia durante o Milagre Econômico era o
reforço da concentração, que já existia, do parque industrial.
O fim do Milagre Econômico deveu-se à Primeira Crise do
Exercícios
Petróleo, desencadeada pela Guerra do Yom Kippur em 1973, 1. (G1 - col. naval – 2014) Embora o processo de indus-
no Oriente Médio. A Síria e o Egito resolveram atacar o Estado trialização brasileira tenha sido iniciado na segunda
de Israel, buscando reaver as áreas perdidas na Guerra dos metade do século XIX, o país passou a diversificar o
Seis Dias em 1967, Colinas de Golã e Península do Sinai, res- seu parque fabril a partir da década de 1930. Com re-
pectivamente. O Estado de Israel reagiu ao ataque e acabou lação ao desenvolvimento industrial brasileiro, assinale
ganhando a guerra árabe-israelense por mais uma vez. Diante a opção correta.
disso, os países da Liga Árabe, formada em 1945 por Egito, Ira-
que, Jordânia, Líbano, Síria e Arábia Saudita, com o objetivo de A) A adoção de medidas fiscais e cambiais pelo go-
evitar a construção do Estado de Israel e, posteriormente, lutar verno do General Eurico Gaspar Dutra possibilitou
contra a sua presença, por terem influência sobre a extração a planificação da política econômica estatal, a qual
do petróleo, já que se localizam na maior área de reserva de privilegiou os setores de bens de consumo produ-
petróleo do mundo, resolvem aumentar o preço do petróleo de zidos pela indústria nacional.
$ 2,70 para $ 11,00 dólares. Essa medida foi tomada diante da B) A política nacional-desenvolvimentista do governo
visão da incapacidade de vencer o Estado de Israel via militar do Getúlio Vargas procurou estimular os investimen-
e por ser uma forma de atacar os países que defendiam a tos em transportes, comunicações, energia e bens
presença do Estado de Israel na região da Palestina. de produção, apoiando a criação da Petrobras e do
O fato é que, para o Brasil e para as demais nações que Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e
possuíam o petróleo como base energética, o aumento do seu Social (BNDES).
preço representou um grande empecilho à manutenção do de- C) O Plano de Metas do governo de Juscelino Kubits-
senvolvimento econômico. No Brasil, inicialmente representou chek inaugurou a política de substituição de impor-
o fim do Milagre Econômico e, posteriormente, com a Segunda tações com forte aporte de capital estrangeiro, que
Crise do Petróleo, em 1979, a configuração de um longo período se voltava, preferencialmente, para os setores de
de crise econômica, denominado década perdida. bens de produção e de bens de capital.
Essa crise vivenciada pela economia brasileira na década
D) A política industrial do governo de João Goulart
de 1980 caracterizou-se pelo baixo crescimento econômico,
procurou aprofundar a produção de bens de consu-
concentrado nos setores secundário e terciário, e pelas eleva-
mo duráveis, para isso, atraiu o capital estrangeiro
das taxas de inflação.
através de amplas reformas do sistema tributário e
A década perdida atingiu, de maneira significativa, apenas bancário, que permitiram àquele capital, remessas
os setores secundário e terciário. O setor primário praticamente de lucros ao exterior.
não sentiu o momento de crise, apresentando, inclusive, um
grande crescimento das áreas produtoras e um melhoramento E) Os governos militares favoreceram os investimentos
da produção. Essa incoerência se deu pelo fato de o setor pri- externos nos setores de mineração, agricultura, quí-
mário brasileiro vivenciar a Revolução Verde – implantação de mica e farmacêutica. Essas medidas aumentaram a
tecnologias relacionadas ao setor primário – desde a década competitividade da indústria brasileira e permitiram
de 1970. Como o maquinário utilizado pelas lavouras não era que se elevasse o padrão tecnológico do país.

376
Evolução e modelos de industrialização

2. (UEM - PR - 2017) A respeito das atividades produtivas A) ambos se utilizaram do endividamento externo como
econômicas e da organização do espaço mundial, assi- fonte básica para desenvolver o processo, fortemen-
nale o que for correto. te concentrado no eixo São Paulo-Rio de Janeiro
01. Por intermédio do trabalho, a sociedade estabelece no período Vargas, mas desconcentrado com JK.
relações entre si e com a natureza. Desse modo, ao B) ambos privilegiaram as indústrias de bens de con-
produzir o necessário para viver (moradias, fábricas, sumo; no entanto, Vargas encarava as importações
plantações), asociedade também produz o que se de produtos industriais como necessárias, fato que
chama de “espaço geográfico”. JK combatia com políticas protecionistas.
02. “Industrialização planificada” é o termo que designa C) enquanto Vargas adotou como prioridades os capi-
um conjunto específico de atividades do setor secun- tais nacionais, os estatais e as indústrias de base,
dário nos países capitalistas. JK promoveu a organização do espaço industrial à
04. “Industrialização periférica” é o termo que define uma custa da internacionalização da economia.
industrialização historicamente atrasada em relação D) tanto Vargas como JK apoiaram-se no empresa-
ao surgimento desse tipo de atividade, tendo ocorrido riado nacional que defendia a substituição das
em muitos países do Terceiro Mundo. importações; no entanto, JK, com seu Plano de
08. Durante a Primeira Revolução Industrial, a procura Metas, atrelou a industrialização à redução das
por mão de obra qualificada era elevada, ao passo desigualdades regionais.
que as matérias-primas tinham menor importância no E) enquanto Vargas se utilizou de uma tripla base de
processo de produção. capitais estatais, nacionais e internacionais, JK,
16. O acréscimo de ciência e tecnologia às bases da pro- refletindo o momento mundial de expansão das
dução tem conferido à educação um papel primordial multinacionais, apoiou-se somente nos capitais
no cenário econômico mundial, na atualidade, muito internacionais.
embora investimentos em educação não sejam prio-
5. (EsPCex – 2011) “ ... Os países emergentes hoje pro-
ridade em vários países do globo.
duzem 44% das manufaturas do planeta, ante 66%
Soma: ______________ nos países ricos. Mas o Brasil vem perdendo espaço.
O País representava 10% de toda a produção industrial
3. (Fuvest - 2017) O período que vai de 1956 a 1967 é
das economias em desenvolvimento há 15 anos, em
considerado como a primeira fase da industrialização
1995. Dez anos depois, caiu para 7,2%.”
pesada no Brasil.
(Jornal o Estado de São Paulo, 20/04/2010)
Barjas Negri. Concentração e desconcentração industrial em
São Paulo – 1880-1990. Campinas: Unicamp, 1996. Dentre as razões que têm limitado um maior cresci-
mento da participação dos produtos industrializados
Sobre as características da industrialização brasileira no
brasileiros no comércio mundial, podemos destacar:
período de 1956 a 1967, é correto afirmar que
I. O elevado custo de deslocamento dos produtos
A) houve uma associação entre investimentos no setor para exportação, por conta de carências nas áreas
estatal e a entrada de capital estrangeiro, que propi- de infraestrutura e logística.
ciaram a instalação de plantas produtoras de bens
II. Com exceção de alguns produtos industriais, o
de capital.
componente tecnológico das exportações brasileiras
B) a instituição do Plano de Metas, que teve como princi- é muito baixo, acarretando contínua queda no valor
pal finalidade incrementar a incipiente industrialização médio da tonelada exportada.
do Rio de Janeiro e de São Paulo, marcou politica-
III. A cotação da moeda brasileira, fortemente desvalo-
mente esse momento do processo.
rizada em relação ao dólar, torna nossos produtos
C) partiu do Estado Brasileiro, de caráter fortemente cen- pouco competitivos no comércio mundial.
tralizador e nacionalista, a criação das condições para
a nascente indústria têxtil que se instalava no país, IV. O fato de o Brasil concentrar seu intercâmbio
por meio de diversos incentivos e isenções fiscais. externo majoritariamente com os EUA, seu maior
parceiro comercial na atualidade, limita, em muito, a
D) ocorreu a implantação de multinacionais do setor
participação de seus produtos em outros mercados.
automobilístico, que se concentraram em São Paulo,
principalmente ao longo do eixo da Estrada de Ferro Assinale a alternativa que apresenta todas as afirma-
Santos-Jundiaí, em direção a Ribeirão Preto. tivas corretas:
E) se trata de uma fase marcada pela política de “subs- A) I e II D) II, III e IV
tituição de importações”, uma vez que se deu um B) I e III E) II e IV
incremento da indústria nacional, pela abundância
C) I, III e IV
de mão de obra.

4. (PUC - Campinas - 2017) É principalmente a partir de Gabarito


Getúlio Vargas (1930-45 e 1950-54) que o fenômeno 1. B
entendido como industrialização passa a ser uma preo-
2. 01+04+16=21
cupação incentivada e sistematizada pelo Estado. Num
segundo momento é Juscelino Kubitschek − JK (1956-61) 3. A
que retoma e acelera o processo. 4. C
Estabelecendo uma comparação entre os processos de 5. A
industrialização desenvolvidos por Vargas e JK é cor-
reto afirmar que

377
Capítulo 27
Regionalização

Regionalizar o espaço geográfico é dividi-lo em regiões,


TERRIT[ORIO DE
levando-se em conta suas diferenças paisagísticas e sua or- RORAIMA REPÚBLICA FEDERATIVA
ganizações socioeconômicas. É possível regionalizar espaços DO BRASIL 1970
geográficos grandes e pequenos. Pode-se regionalizar um bair-
ro, dividindo-o em áreas residenciais, industriais e comerciais.
Pode-se também dividir o mundo inteiro de vários modos, como, NORTE
por exemplo, em regiões desenvolvidas e subdesenvolvidas.
NORDESTE
O território do Brasil já passou por diversas divisões regio-
nais. A primeira proposta, apresentada em 1913, com finalidade
preponderantemente didática, dividia o território brasileiro essa CENTRO-OESTE
proposta dividia o país em cinco áreas: Setentrional, Norte
Oriental, Oriental, Central e Meridional. Observe o mapa abaixo
com essa divisão. SUDESTE

PA SUL
AM
Setentrional MA
Norte Oriental
CE RN
PR
PI
PE
AL
SE Regionalização de 1970
BA
MT
GO
As cinco macrorregiões segun-
Central Oriental do a divisão regional do IBGE
Em 1990, a regionalização de 1970, em razão das alterações
MG
ES

RJ
da Constituição de 1988, passou a ser denominada “As cinco
macrorregiões “. Veja algumas dessas mudanças:
SP

PR

Meridional • Emancipação de Roraima e Amapá da condição de terri-


SC tórios federais para Estados;
RS • Divisão de Goiás e criação do Estado de Tocantins;
• O território de Fernando de Noronha torna-se município
de Pernambuco;
• O Brasil divide-se, agora, em 26 Estados e um Distrito
A proposta de divisão do Brasil que foi apresentada em 1913, Federal; não há mais territórios;
era baseada em aspectos físicos - clima, relevo e vegetação
• É criado o Estado de Tocantins (capital, Palmas) e integrado
Depois dela, outras propostas surgiram, na tentativa de à Região Norte.
adaptar a divisão regional às características físicas, econômi- A divisão em cinco macrorregiões (Norte, Nordeste, Centro-
cas, culturais e sociais dos Estados. Apenas em 1970, o mapa -Oeste, Sudeste e Sul) baseia-se principalmente nas caracte-
da regionalização se aproxima do modelo mais utilizado pelo rísticas humanas e econômicas do território nacional. Os limites
IBGE. Nela, a região Norte agrupa os estados do Acre, Ama- de todas elas acompanham as fronteiras político-administrativas
zonas e Pará, os territórios de Rondônia, Roraima e Amapá. dos estados que formam o país. Cada uma das macrorregiões
A região Nordeste engloba os estados do Maranhão, Piauí, do IBGE apresenta características particulares. São “sinais” que
Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, ajudam a identificá-las, como as impressões digitais distinguem
Sergipe e Bahia, além de território de Fernando de Noronha. A as pessoas. Alguns desses sinais são muito antigos, como se a
região já tivesse nascido com eles: trata-se das características
região Leste foi substituída pela região Sudeste, ficando esta
naturais impressas na paisagem. Outros são recentes: foram,
com Minas Gerais, Espírito Santo, Rio de Janeiro, Guanabara
e continuam sendo, produzidos pela atividade social de cons-
e São Paulo. Na região Sul, Paraná, Santa Catarina e Rio trução do espaço geográfico.
Grande do Sul. Na região Centro-Oeste, Goiás, Mato Grosso e
A região Sudeste é a mais industrializada do país e também a
Distrito Federal. Em 1975, os estados fluminense e guanabarino
mais populosa, urbanizada e onde há uma maior concentração
(localizado na cidade do Rio de Janeiro, fundiram-se num só de renda por região As maiores empresas instaladas no país
estado. Observe têm as suas sedes no Sudeste. Nesta região estão as duas
principais metrópoles brasileiras: São Paulo e Rio de Janeiro.

378
Regionalização

O domínio natural mais importante é o dos mares de morros, Diferentemente da divisão oficial, esta regionalização não
antigamente recobertos por verdes matas tropicais. foi feita pelo IBGE. Ela foi sugerida pelo geógrafo brasileiro
A região Sul caracteriza-se pela numerosa presença de Pedro Pinchas, no final da década de 60. Nesta divisão, o
descendentes de europeus: alemães, italianos e eslavos. Essa autor levou em consideração o processo histórico de forma-
ção do território brasileiro e, em especial a industrialização,
região apresenta também os melhores indicadores sociais do
associado aos aspectos naturais. A divisão em complexos
país. A sua agropecuária, moderna e produtiva, transformou-
regionais não respeita o limite entre os estados. O Norte de
-a em fornecedora de alimentos para todo o país. É o único
Minas Gerais encontra-se no Nordeste, enquanto o restante
ambiente do Brasil com clima subtropical.
do território mineiro está localizado no Centro-Sul. O leste do
A região Nordeste já foi a mais rica do país, na época colonial. Maranhão encontra-se no Nordeste; o oeste, na Amazônia.
Depois, sua economia declinou e ela se transformou na mais O sul de Tocantins e do Grosso encontrm-se no Centro-Sul,
pobre região brasileira. Por isso, tornou-se objeto de rejeição e mas a maior parte desses estados pertence ao complexo da
zombaria do resto da população. Os migrantes nordestinos, ao Amazônia. Como as estatísticas econômicas e populacionais
longo do século XX, espalharam-se por todo o país. Recente- são produzidas por estados, essa forma de regionalizar não
mente, o rápido crescimento econômico de algumas áreas do é conveniente sob certos aspectos, mas é muito útil para a
Nordeste está mudando essa situação. geografia, porque ajuda a contar a história da produção do
espaço brasileiro.
As regiões Centro-Oeste e Norte são os espaços geográficos
de povoamento mais recente, que continuam a sofrer um pro-
cesso de ocupação. Por isso, a paisagem natural encontrava-
-se, até pouco tempo, preservada. A região Norte, espaço da
floresta equatorial, é de ocupação ainda mais recente. Mas essa
ocupação vem crescendo rapidamente. A derrubada das matas,
as queimadas, a poluição dos cursos de água por garimpos e
os conflitos pela posse da terra são consequências ambientais
e sociais da colonização da Amazônia.
A região Centro-Oeste, espaço dos cerrados, começou a
ser ocupada mais rapidamente após a construção de Brasí-
lia, inaugurada em 1960. De lá para cá aumentou bastante a
população regional. Cresceram também a criação de gado e
a produção agrícola. Mesmo assim, existem áreas com densi-
dades demográficas muito baixas, como o Pantanal.

OCEANO ATLÂNTICO

AMAPÁ

Equador RORAIMA

AMAZONAS
IBGE
PARÁ

NORTE MARANHÃO CEARÁ RIO GRANDE


DO NORTE Os três grandes complexos regionais
PARAÍBA
PIAUÍ
ACRE PERNAMBUCO

TOCANTINS
ALAGOAS
SERGIPE
Os quatro Brasis
RONDÔNIA MATO GROSSO NORDESTE
DISTRITO BAHIA
Essa proposta de regionalização foi feita por Milton Santos
CENTRO-OESTE
FEDERAL
em 1999. Ela utiliza como critérios a difusão desigual dos
GOIÁS
MINAS GERAIS meios técnicos, científicos, informacionais e econômicos entre
MATO GROSSO
DO SUL SUDESTE ESPÍRITO SANTO
os estados brasileiros. Assim, o país é dividido em quatro
SÃO PAULO
RIO DE JANEIRO regiões, os quatro Brasis.
Trópico de Capricórnio PARANÁ

SUL
SANTA CATARINA

RIO GRANDE
DO SUL OCEANO ATLÂNTICO

Regionalização de 1990, com os recentes esta-


dos de Mato Grosso do Sul e Tocantins

Os complexos regionais
Existe outra forma de regionalizar o Brasil, uma maneira
que sublinha melhor a situação socioeconômica e as relações
entre a sociedade e o espaço natural. Trata-se da divisão em
três grandes complexos regionais: o Centro-Sul, o Nordeste e
a Amazônia.
Fonte: IBGE

379
Geografia

Características de cada uma das áreas: Na década de 90, a soja ocupou o lugar de principal pro-
duto agrícola, apesar de ocasionalmente ocorrer quedas no
• Concentrada: região na qual estão agregados os principais
meios técnicos, científicos e informacionais do país. Nela são seu valor de venda, mas isso não tem impedido os produtores
encontradas áreas intensamente industrializadas, comércio de cultivá-la.
variado, meios de transportes diversificados e um intenso fluxo Atualmente o cultivo da soja foi expandida até o sul do
de informações e capitais Maranhão e do Pará, mostrando, com isso, que a produção
• Centro-Oeste: região de ocupação recente, que apresenta monocultora da soja saiu do sul e sudeste, migrou para o
uma atividade agropecuária mecanizada e globalizada, isto é, centro-oeste e agora inicia um novo ciclo em outras áreas.
voltada para o mercado externo. É inegável que a soja seja geradora de riqueza, mas essa
• Nordeste: nessa região, os meios técnicos e informacio- riqueza atualmente encontra-se concentrada nas mãos de
nais se desenvolveram de modo pontual, contribuindo para as poucos latifundiários. Deve-se levar em consideração que
grandes disparidades internas. esse tipo de produção provoca sérios problemas ambientais,
• Amazônia: marcada pela diversidade natural, baixa como retirada da vegetação original, poluição dos solos e das
densidade demográfica e menor concentração de tecnologias águas, extinção das nascentes e morte de animais silvestres
aplicadas à agropecuária e à indústria, se comparada às de- que consomem cereais com substâncias químicas.
mais regiões. A vocação econômica da região Centro-Oeste histori-
camente foi a pecuária (bovinos, equinos, bufalinos entre
As grandes regiões brasileiras outros), mas a partir da década de 1990, a soja passou a
desempenhar um papel de grande importância no mercado
Centro- Oeste internacional, o que motivou muitos produtores rurais a mu-
darem de ramo ou aumentarem suas áreas de cultivo. Hoje
Região Centro-Oeste a nova área de expansão da soja extrapolou os limites do
AM
PA Centro-Oeste e avançou em direção a outras regiões do Norte
e Nordeste. Mas não se pode perder de vista que o Centro-
TO
RO -Oeste está entre as regiões brasileiras que concentram os
BA maiores rebanhos do país.
MATO GROSSO
É importante não perder de vista que esse grão gera bas-
Cuiabá Brasília tante riqueza para o país, mas que ele está concentrado nas
BOLÍVIA
Goiânia
mãos de uma pequena parcela de pessoas. Esses cultivos
GOIÁS
estão atrelados a grandes latifúndios, que utilizam grandes
MATO GROSSO MG
DO SUL quantidades de agrotóxicos, adubos químicos e sementes
Campo Grande
transgênicas, elementos potencialmente danosos ao meio
SP
0 125 250 500 Km
N ambiente e à saúde humana.
PARAGUAI
PR A questão dos defensivos, inclusive, está na atualidade,
sendo alvo de discussões em função das tentativas da banca-
As paisagens mais associadas ao Centro-Oeste, em geral, da ruralista de afrouxar ainda mais as leis que regulamentam
são associadas às planícies alagadas do Complexo do Pantanal o uso dos agrotóxicos no país por meio de um Projeto de Lei
Mato-Grossense. A região, no entanto, apresenta características que vem sendo denominado por ativistas e organizações
bastante diversificadas, com planaltos, chapadas, serras e de- contrárias de PL do Veneno.
pressões. O Pantanal é caracterizado por uma riqueza de fauna É importante saber que diversas substâncias que com-
e flora, e a vegetação predominante nessa região é o Cerrado.
batem pragas utilizadas no Brasil são proibidas nos Estados
O Centro-Oeste surgiu como uma nova opção produtiva a Unidos e em diversos países europeus em razão de estarem
soja, a partir da década de 70, quando houve uma mecanização associadas ao câncer e a uma série de doenças genéticas.
na agricultura. O cerrado, visto antes como um solo pobre,
ganhou uma nova concepção como a chegada de insumos Com o aumento da mecanização agrícola, com a cons-
que corrigiram as alterações e as deficiências de substâncias, trução e implantação de Brasília (1954-1960) e a criação de
tornando o solo apto à prática da agricultura. Outro motivo diversas rodovias que integravam a região à porção oriental
favorável para a expansão de plantações como a da soja foi do território brasileiro, a região vivenciou o processo de urba-
o relevo mais plano. Ocupando uma condição geopolítica que nização, ou seja, ao contrário da região Sudeste, é possível
favorece a produção, o Centro-Oeste é hoje a segundo maior perceber que a urbanização nessa área não é associada ao
produtor de soja do país. processo de industrialização. Apesar de apresentar um con-
O meio ambiente na região do Centro-Oeste tem sido
tínuo crescimento populacional, o Centro-Oeste está entre as
ameaçado principalmente pela expansão da lavoura de soja, regiões de menor número de habitantes do país (4.058.094
que tem alcançado a cada ano índices de produção cada vez milhões – IBGE 2017) e de menor densidade demográfica.
mais elevados. A EMBRAPA (Empresa Brasileira de Pesqui- O agronegócio é a principal atividade econômica da região
sas Agropecuária) foi a responsável pelo desenvolvimento da Centro-Oeste. Ele engloba as agroindústrias e a produção
técnica da calagem, processo que forneceu condições para agropecuária. Esta última tem se destacado no fornecimento
que os solos do Cerrado se tornassem produtivos. Hoje as de matéria-prima para indústrias de alimentos e de outros
pesquisas prosseguem no sentido de desenvolver sementes setores do Brasil e do exterior, principalmente carne, soja,
mais resistentes a pragas e, ao tempo, mais bem adaptadas algodão, milho, cana-de-açúcar e arroz.
ao clima e de melhor valor nutricional.

380
Regionalização

A região tem uma participação significativa no cenário nacio- os serviços públicos básicos. Com isso, a população passou
nal quanto à produção agropecuária, uma vez que a cada ano a enfrentar uma série de problemas de infraestrutura, como
os índices de produtividade se elevam. Isso tem ocorrido em a falta de saneamento, escolas, iluminação, pavimentação,
razão de investimentos em tecnologias, especialmente em pro- policiamento entre outros.
priedades de produção tradicional. Os recursos são aplicados O crescimento de bairros marginalizados nas grandes
na compra de maquinários, insumos agrícolas e na utilização
cidades da Região Centro-Oeste vem acontecendo porque
de mão de obra especializada (técnicos) no desenvolvimento
a oferta de emprego é insuficiente em relação à quantidade
das atividades. Em suma, o que tem ocorrido é um processo
da mão de obra derivada do campo.
maciço de modernização do campo na região.
O Centro-Oeste ocupa a segunda posição (após a região
Historicamente, o Centro-Oeste sempre se destacou na pe-
Sudeste) quando se trata de urbanização, devido, princi-
cuária, atividade que ainda hoje possui uma grande relevância
palmente, à expansão da fronteira agrícola e da Revolução
para a economia da região, respondendo pela maioria da renda
proveniente do setor agropecuário. A pecuária desenvolvida na
Verde. A urbanização nessa área, portanto, é desvinculada do
região é dedicada, principalmente, à criação de bovinos, mas processo de industrialização, além de figurar como o motivo
também existem criadores de bubalinos e equinos. principal das migrações em direção às cidades, em razão do
desemprego que se seguiu à mecanização do campo.
O processo de urbanização e povoamento dessa região
ocorreu, principalmente, após a implantação da capital federal
(Brasília). O desenvolvimento da agropecuária, a construção Norte
de rodovias, entre outros fatores, foram determinante para a REGIÃO NORTE
consolidação da povoação no Centro-Oeste. O aumento da
migração, entre os anos de 1960 e 1970, e do índice de na-
talidade, nas décadas seguintes, colocaram a região como a Roraima
Amapá
maior em crescimento populacional no Brasil.
Apesar de um contínuo crescimento populacional, o Centro-
-Oeste está entre as regiões de menor número de habitantes Amazonas

14.058.094 milhões (IBGE 2017). No entanto, gradativamente, Pará

a povoação vai se constituindo sem sobressaltos. No ano de


1960 os habitantes da Região Centro-Oeste representavam Acre

somente 4% do total da população nacional, hoje já respondem Tocantins


por aproximadamente 7%. Rondônia

Esse aumento é proveniente da inserção de migrantes oriun-


dos de diversos pontos do país, principalmente do sudeste e
N
0 200 400 800 Km

nordeste do Brasil. O crescimento e o aumento do fluxo migratório


ocorrido na região não resultaram num processo homogêneo de Associar a Floresta Amazônia com a região Norte é algo
distribuição da população no território. Ou seja, o povoamento bastante comum, porém é preciso destacar que a área de
do Centro-Oeste foi irregular. A abertura das fronteiras econô- abrangência da floresta extrapola os limites dos estados que
micas na região facilitou a entrada de uma grande quantidade compõem a região. Portanto, é necessário apontar dois con-
de migrantes, trabalhadores rurais que tinham como objetivo ceitos, que são:
conseguir trabalho nas novas áreas de agricultura e pecuária. • Amazônia Legal: constitui a área de abrangência da
Nesse contexto, houve tanto compra de terras quanto inva- bacia e da Floresta Amazônica no interior do território
são e posse, dando origem a diversas propriedades rurais de
brasileiro, e compreende, aproximadamente, 5 217
423 km². Fazem parte dessa área os estados da região
pequeno e médio porte, geralmente com poucas tecnologias.
Norte, parte do Centro-Oeste (o estado de Mato Grosso)
Isso significa que desenvolvia-se lá a agropecuária tradicional,
e parte do Maranhão (no Nordeste).
com mão-de-obra praticada pela própria família, que cultivava
produtos da base alimentar como arroz, milho e feijão. Algum • Amazônia Internacional: com área de aproximadamen-
tempo depois ocorreu o processo de expropriação dos peque- te 7,5 milhões de km², abrange a Bacia Amazônica
nos e médios proprietários, com os grandes latifundiários e considerando sua extensão para outros sete países
grupos empresariais comprando grandes extensões de terra da América do Sul: Bolívia, Peru, Equador, Colômbia,
e instituindo a concentração fundiária. Como consequência, Venezuela, Guiana e Suriname. Inclui, ainda, a Guiana
a região hoje é uma das que apresenta grande incidência de Francesa, área que pertence à França
concentração de terras em mãos de poucos proprietários. Outro Em função de uma série de obstáculos naturais, tais como
resultado desse processo foi a falta de trabalho no campo, uma a grande quantidade de rios e a densa floresta, há uma
vez que esses grandes proprietários desenvolveram a pecuária grande carên¬cia de vias terrestres. Com isso, o transporte
extensiva, enquanto que outros, a produção agrícola mecani- fluvial figura como um dos principais meio de deslocamento
zada. A escassez de emprego levou milhares de pessoas às de pessoas e mercadorias na região. Os barcos exercem,
cidades próximas, promovendo assim o fenômeno do êxodo rural. em grande parte das vezes, a função de transportar gêne-
O processo do êxodo rural ocorrido na Região Centro-Oeste ros alimentícios, eletrodomésticos, materiais de construção,
medicamentos e muitas outras coisas.
resultou em um rápido crescimento da população que ocupou
os centros urbanos e até mesmo fez surgir novas cidades. A Como dito a pouco, além das mercadorias, há diariamente
chegada intensa da população do campo às cidades fez com um grande fluxo de pessoas que utilizam os rios como forma
que estas ficassem superpovoadas, desestabilizando a estru- de deslocamento. E, em função de problemas como excesso
tura urbana. Com essa a ocupação de forma rápida áreas que de passageiros, imprudência de condutores, ausência de ma-
até então eram desabitadas, Ou seja, com essa ocupação teriais de salvamento e manutenção dos barcos, são comuns
desordenadas, o governo não conseguiu disponibilizar a todos acidentes com barcos e balsas na região.

381
Geografia

Nessa região, estão localizados os dois maiores estados do onde está o maior rebanho bovino do país (IBGE, 2016), e a
Brasil, respectivamente, o Amazonas e o Pará, além do Acre, mineração na região do Complexo de Carajás.
Ama¬pá, Rondônia, Roraima e Tocantins. A região Norte é Apesar de sua grande importância ambiental em escala
marcada por uma grande disparidade quanto à concentração
mundial, devido à sua enorme biodiversidade e recursos
populacional e ainda possui grandes vazios populacionais. De
naturais e minerais, a Amazônia tem sido constantemente
acordo com dados do IBGE de 2017 a população na região é de
ameaçada por inúmeras atividades predatórias, entre elas a
17 936 201 hab. e a densidade demográfica é de 4,65 hab./km²
extração de madeira, a mineração, a construção de inúmeras
Como no Nordeste, a industrialização da região Norte foi hidrelétricas, em decorrência do enorme potencial hídrico
decorrente do planejamento do governo, que buscava encon- da região ( o que conferiu à área o título de última fronteira
trar atrativos de modo a interiorizar a população em direção à energética do país), o tráfico de drogas e a biopirataria e a
região. Para isso, criou a Zona Franca de Manaus em 1967, conversão da floresta em áreas para pasto e agricultura.
como forma de fomentar a economia e com isso atrair migran-
tes em direção à área. Entretanto, as grandes distâncias dos Inclusive, há uma área que se estende do Maranhão até o
centros consumidores e a deficiência da rede de trans¬portes Acre, denominada arco do desmatamento ou do desfloresta-
da região acabaram por criar áreas industriais desarticuladas mento, que coincide com a região de expansão da fronteira
e pouco representativas no mercado nacional. agrícola. A área de avanço agrícola em direção à região
norte tem substituído a Floresta Amazônica por campos de
O estado do Amazonas, onde está situada na Zona Franca de
soja e rebanhos, fato que gera preocupação, em face do
Manaus, e o Pará, com o parque industrial da área metropolitana
desmatamento exagerado e perda da biodiversidade. Além do
de Belém, são praticamente os únicos polos industrializados
desmatamento, essa faixa é marcada por conflitos e tensões
da porção norte do país. Entre os estados da região Norte, o
Pará é o que possui a economia mais dinâmica e diversificada, entre diversos atores, tais como Índios, fazendeiros, grileiros,
destacando-se a criação de gado bovino em São Félix do Xingu, posseiros, madeireiros, ambientalistas, carvoeiros, seringuei-
ros, entre outros, o que gera uma série de mortes e violência.

Arco do desmatamento
Arco de Desflorestamento da
Amazônia Legal

Legenda
Sistema de Coordenadas Georáficas
ARCO DE DESFLORESTAMENTO South American Datum 1969
UNIDADES DE CONSERVAÇÃO
AMAZONIA LEGAL
Escala Gráfica
TERRAS INDÍGENAS 1:14.000.000
LIMITES ESTADUAIS Escala numérica
RIOS MARGEM DUPLA Fonte: IBAMA, 2007

Região onde a fronteira agrícola avança em direção à floresta e também onde encontram-se os maiores índices de desmatamento da
Amazônia. São 500 mil km² de terras que vão do leste e sul do Pará em direção oeste, passando por Mato Grosso, Rondônia e Acre.
Fonte: IBAMA

Região Nordeste

382
Regionalização

O Nordeste, terceira região mais extensa do Brasil, com uma Sertão – Corresponde à maior das sub-regiões nor-
área de 1 554 257 km2 correspondendo a mais de 18% do terri- destinas, compreendendo mais da metade do território do
tório nacional, está dividido em nove estados: Maranhão, Piauí, nordeste e está inserida na área denominada Polígono das
Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Ala¬goas, Secas. É a área marcada pelo predomínio do clima semiárido
Sergipe, Bahia – além dos arquipélagos de Fernando de No- com temperaturas elevadas, chuvas escassas e irregulares.
ronha e de São Pedro e São Paulo, que administrativamente Corresponde ao domínio da vegetação de caatinga, dos lati-
fazem parte de Pernambuco. fúndios, da desigualdade social, das migrações sazonais e da
Os espaços geográficos são bastante distintos no Nor¬deste. pobreza. A agricultura de subsistência e a pecuária extensiva
De acordo com dados do IBGE, a região Nordeste é a que tem são praticadas na maior parte dessa sub-região, ao lado de
o maior percentual de população rural no Brasil, com cerca grandes lavouras intensivas voltadas para o mercado externo.
de 27% residindo na zona rural e 73% nas áreas urbanas. A Meio-norte – assim como o Agreste, é considerado uma
organização geográfica das atividades econômicas ajuda a área de transição entre o Sertão semiárido e a região equa-
compreender essas diferenças. Desse modo, a área é dividida
torial amazônica. Abrange o estado do Maranhão e o oeste
de acordo com aspectos naturais e humanos em sub-regiões,
do Piauí. Assim, à medida que o clima vai se tornando mais
ou seja, áreas menores que possuem características mais
úmido a oeste o domínio da caatinga vai sendo, aos poucos,
semelhantes. São quatro as sub-regiões nordestinas: a Zona
substituído pela paisagem da Mata de Cocais. A economia
da Mata, o Agreste, o Sertão e o Meio Norte.
dessa se baseia na pecuária extensiva, no cultivo de algodão
e arroz, no extrativismo vegetal do babaçu e da carnaúba
– espécies vegetais típicas da Mata de Cocais, bastante
utilizadas na indústria de cosméticos, na fabricação de ceras
e outros produtos artesanais. Na atualidade, como já vimos
anteriormente, o o cultivo de soja vem crescendo na região em
razão de essa área estar inserida na região do MATOPIBA,
fato que vem ameaçando o bioma da Mata de Cocais e a fonte
de renda de milhares de família que vivem do extrativismo(
essa é uma atividade essencialmente feminina na região).

Região Sul
Região Sul MT
SP

Paraguai
Paraná Curituba

Santa Catarina
Florianópolis

Argentina
Rio Grande
do Sul Porto Alegre
OCEANO
ATLÂNTICO

Zona da Mata – Corresponde à faixa litorânea de planícies Uruguai 0 100 200 400 Km

que se estende do Rio Grande do Norte até o sul da Bahia.


Essa é a sub-região mais urbanizada, populosa e de maior
dinamismo econômico entre as atividades desenvolvidas nessa
Fonte: IBGE
faixa estão: a Indústria – petroquímica, têxtil, de fertilizantes,
alimentos – o turismo e a agricultura – cana, cacau e tabaco. A região Sul ocupa cerca de 7% do território brasileiro,
Nessa área estão localizadas as mais importantes capitais sendo a menor entre as regiões brasileiras. Possui cerca de
nordestinas: Aracaju, Maceió, Salvador, Recife, João Pessoa 576 409,6 km², e é composta pelos estados do Rio Grande
e Natal. É uma área marcada pela ocorrência do clima tropical do Sul, Santa Catarina e Paraná. Marcada pelo domínio do
úmido, com duas estações bem definidas: o verão seco e o clima subtropical, pela presença da Mata de Araucária e do
inverno chuvoso. Foi uma área de grande importância durante bioma das Pradarias, a região apresenta uma forte influência
o período colonial em razão da atividade canavieira, já que os europeia (que se manifesta fortemente na arquitetura e na
solos férteis e escuros conhecidos como massapê foram muito cultura), em razão da chegada de muitos imigrantes no século
favoráveis a esse tipo de cultivo. XIX e início do XX, sobretudo alemães, italianos, poloneses,
Agreste – Corresponde a um faixa de transição entre a Zona ucranianos, entre outros.
da Mata e o Sertão nordestino. Essa sub-região é responsável Embora tenha uma pequena extensão territorial, é a se-
pelo abastecimento do mercado interno de outras sub-regiões. gunda região mais povoada do País, perdendo apenas para
Historicamente, as principais atividades econômicas da região o Sudeste. Pos¬sui os melhores indicadores referentes à
historicamente foram desenvolvidas voltadas para o abasteci- mortalidade infantil e educação e saúde do país, além de ter
mento do mercado, ou seja, eram assentadas na policultura, umas das maiores rendas per capita do Brasil. As maiores
em pequenas e médias propriedades, e na pecuária extensiva. densidades demográ¬ficas coincidem com as áreas de maior
Na atualidade, com a expansão das atividades agropecuárias dinamismo econômico (as áreas metropolitanas), em razão
no Agreste e com o processo de desconcentração industrial de as atividades econômicas absorverem muita mão de obra.
vivenciado no Brasil, cidades como Campina Grande (Paraíba),
Caruaru (Pernambuco) e Feira de Santana (Bahia) acabaram Apresenta uma economia dinâmica e bastante diversifica-
sendo favorecidas e se tornaram áreas de grande crescimento da, inicialmente baseada na agropecuária, mas hoje também
econômico. Com o incremento dos setores primário e secun- assentada na atividade industrial: dispõe do segundo maior
dário, houve também um grande crescimento do setor de parque do país, o que deriva da extensa e funcional rede de
prestação de serviços. transportes, da disponibilidade de matéria-prima, da grande

383
Geografia

disponibilidade de energia – sobretudo hidrelétrica, já que a serras do Espinhaço, da Mantiqueira e do Mar. A paisagem ca-
Hidrelétrica de Itaipu está localizada na região – e do mercado racterística é constituída por “pães de açúcar” e pelos “mares
consumidor com elevado poder de compra). Apesar do dina- de morros” modelados pela ação do intemperismo químico e
mismo e importância das atividades industriais, é no setor de pela erosão predominantemente pluvial. Em razão do relevo
prestação de serviços que a região mais se destaca. predominantemente planáltico, a região Sudeste dispõe de
A atividade agroindustrial cresceu nas últimas décadas e um enorme potencial hidrelétrico instalado.
pode ser encontrada nas áreas metropolitanas da cidade de
Porto Alegre (RS), Curitiba (PR) e no nordeste de Santa Ca- Região Sudeste
tarina. Grande parte das atividades agrícolas é realizada em
pequenas propriedades, porém a monocultura da soja, do arroz
e do trigo é bastante significativa. Na pecuária as principais Minas Gerais

criações são de bovinos, suínos e ovinos. No oeste de Santa Belo Horizonte


Espírito Santo

Catarina e Paraná, a criação de suínos, além do extrativismo


Vitória

do pinho, são atividades importantes. Ainda no sul do estado São Paulo

de Santa Catarina, ocorre a exploração de carvão mineral e Rio de Janeiro


Rio de Janeiro

é também nessa área onde está localizada grande parte dos


São Paulo

frigoríficos com produção voltado para os mercados internos


0 100 200 400 Km

e externos. Já no sudoeste do Rio Grande do Sul, na área de-


nominada Campanha Gaúcha ou Pampa, o relevo suave e as Possui a maior proporção de população urbana em decor-
pastagens naturais fizeram com que historicamente a pecuária rência de fatores que remontam ao período de ocupação do
extensiva se desenvolvesse na região. A presença de solos território e que acabaram contribuindo para um maior desen-
arenosos associada ao intenso sobrepastoreiro e à monocultura volvimento econômico e urbano da região. Assim como na
do arroz e da soja tem provocado a aceleração de um processo região Sul no Sudeste, a rede urbana foi melhor elaborada,
natural denominado arenização e levado muitas áreas à perda refletindo o maior dinamismo e desenvolvimento industrial.
de solos. Além dessa ameaça ao Pampa, há ainda a silvicultura Mesmo diminuindo a importância da indústria no conjunto de
do eucalipto, que vem se expandindo na região. suas atividades econômicas, em virtude de incentivos fiscais
oferecidos principalmente pelas regiões Sul e Nordeste, o
Pampa: Um bioma ameaçado pela silvi- Sudeste permanece como a região mais industrializada do
cultura Brasil, tendo como destaque o triângulo formado pelas cida-
des de São Paulo, Belo Horizonte e Rio de Janeiro
A palavra Pampa provém do dialeto indígena quéchua, e de-
signa a região pastoril composta pelas planícies e coxilhas. Esta O fato de a maior concentração industrial estar no Su-
área se estende por 750 mil quilômetros quadrados e abrange deste, é resultado da acumulação de capitais provenientes
a Argentina, nas províncias de Buenos Aires, La Pampa, Santa do ciclo do café que, mais tarde, foram investidos no início
Fé, Entre Rios e Corrientes; todo o território Uruguaio; e, por do processo de industrialização. Além disso, a infraestrutura
fim, a região sudoeste do Rio Grande do Sul. antes usada para o escoamento dos produtos da atividade
As principais características do bioma são as vastas planícies cafeeira foi utilizada para a chegada de matérias-primas e
cobertas por ervas e arbustos. A bela paisagem dos campos o escoamento da produção. A mão de obra europeia, antes
sulinos, porém, está sob grande ameaça. Segundo estudo empregada nos cafezais, também serviu como um impor-
realizado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, a tante suporte no início da atividade. Esses fatores somados
pedido do Ministério do Meio Ambiente, atualmente, dos 40% à grande disponibilidade de recursos energéticos e minerais
da área de vegetação original restante, menos de 1% está acabaram fazendo com que a região fosse a pioneira no
localizado em reservas. processo de industrialização no país.
O método mais recente de agressão mais discutido é a silvi- Não se pode perder de vista que embora o Sudeste seja
cultura do eucalipto. O plantio de árvores exóticas causa grande uma região muito industrializada e urbanizada, o setor agro-
impacto na biodiversidade pampeana. Os animais perdem seu pecuário apresenta-se muito desenvolvido, modernizado, ex-
habitat, que é o campo aberto com suas peculiaridades. Há tremamente diversificado e com produção voltada sobretudo
ainda o problema das pragas que surgem com a implantação para o mercado externo.
de elementos não originais do bioma.
A área de maior concentração e diversidade industrial do
Disponível em: http://www.ecoagencia.com.br/?open=noticias&id
=VZlSXRFWWNlUspFWOdVMXJ1aKVVVB1TP (Adaptado). Sudeste está situada na capital paulista e nas suas imedia-
ções, estendendo-se pela região do ABCD (Santo André,
A partir da década de 1960, a mecanização do campo intensi- São Bernardo do Campo, São Caetano do Sul e Diadema),
ficou o êxodo rural e esse fato, associado à criação e construção
além de Osasco e Guarulhos, Baixada Santista e região
de Brasília e o desenvolvimento, por parte da Embrapa, da
metropolitana de Campinas.
técnica de calagem por volta de 1970, estimulou a migração de
muitos sulistas em direção à região Centro-Oeste. Além disso, O Rio de Janeiro é o segundo estado mais industrializado
os projetos de colonização da Amazônia, fomentados pelo go- do Brasil, concentrando suas atividades nos ramos petrolífero
verno militar, também foram responsáveis pelo deslocamento (bacia de Campos na plataforma continental), siderúrgico
de muitos sulistas em direção, principalmente, à Região Norte. (Volta Redonda), químico e farmacêutico (Grande Rio). A re-
Hoje esses fluxos reduziram-se. gião metropolitana do Rio de Janeiro, que envolve a Baixada
Fluminense (Nova Iguaçu, Duque de Caxias, entre outras
Região Sudeste cidades), é a mais dinâmica.
A região Sudeste corresponde à porção mais dinâmica e Minas Gerais ocupa o terceiro lugar entre os mais indus-
desenvolvida economicamente do país, composta pelos estados trializados do país. Seus principais ramos industriais são o
de Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo. metalúrgico, o petroquímico e o de mineração. As reservas
A maior parte do seu território está assentada sobre a parte minerais da região do Quadrilátero Ferrífero favoreceram a
mais elevada do Planalto Atlântico, no qual estão localizadas as instalação de um complexo siderúrgico no Vale do Rio Doce,
denominado Vale do Aço.

384
Regionalização

O Espírito Santo é o estado menos industrializado e dinâmico IV. a Constituição de 1988 delegou aos municípios o
do Sudeste. Os principais ramos industriais são o metalúrgico, poder de legislar sobre a criação de RM, por isso, na
o petroquímico e o alimentício. A atividade industrial está con- década de 1990, foram criadas diversas novas RM.
centrada na região metropolitana de Vitória. Assinale a alternativa que apresenta todas as afirmativas
Embora nos últimos anos, as regiões Sudeste e Sul tenham corretas:
apresentado uma pequena queda na participação no PIB A) I e II
nacional e representarem cerca de 70% do PIB, as demais
B) I, II e IV
regiões brasileiras mostraram um tímido aumento. Isso resulta
da desconcentração industrial em direção ao Norte, Nordeste C) I e III
e Centro-Oeste do país. D) II, III e IV
E) III e IV
Exercícios
3. (EsPCex – 2011) Sobre o mercado de trabalho e a estru-
1. (EsPCex (AMAN) –2018) Na década de 1990, a abertura tura ocupacional no Brasil, podemos afirmar que:
da economia brasileira à concorrência internacional trouxe I. na distribuição setorial da População Economicamente
uma nova configuração à economia nordestina, buscando Ativa por regiões, o Sudeste e o Centro-Oeste apre-
conectar a Região Nordeste aos fluxos de investimentos sentam os maiores percentuais no setor primário. A
globalizados e ao mercado mundial. Nessa nova confi- importância regional da agropecuária ajuda a explicar
guração, observa-se que ocorreu esse fato.
I. um redirecionamento dos investimentos para o setor II. o setor secundário é o mais heterogêneo de todos
de indústrias de base, com produção destinada à em função da grande diversidade de suas atividades.
exportação, incentivados pelos baixos custos da força Nele, a construção civil é a atividade que apresenta
de trabalho da Região. níveis gerais de qualificação da mão-de-obra mais
elevados.
II. um engajamento dos governos estaduais nordestinos
em diversificar os focos de incentivo ao capital para III. entre as principais atividades do setor terciário, pode-
os mais diferentes setores da economia, contudo não mos destacar os serviços, o comércio e a administra-
mais com a finalidade de atender às necessidades do ção pública. Este setor reúne trabalhadores de níveis
mercado do Sudeste, mas ao mercado externo. de qualificação e salário muito diversos.

III. o surgimento de enclaves econômicos modernos na IV. de uma maneira geral, os setores de trabalho urbano
pagam salários mais elevados. A maior qualificação
agropecuária no oeste baiano e no sul do Maranhão e
da força de trabalho empregada na indústria, no
do Piauí, onde é forte a presença das culturas meca-
comércio e nos serviços é um importante fator para
nizadas de soja, milho, arroz e feijão, associadas ao
que isto ocorra.
fluxo migratório de agricultores do sul do País.
Assinale a alternativa que apresenta todas as afirmativas
IV. a execução de reformas estruturais no meio rural, corretas:
como a reforma agrária, a qual suprimiu a hegemonia
A) I e II
dos grandes proprietários de terra no Sertão e contri-
buiu para a redução da pobreza na Região. B) I, II e III
V. a diversificação dos focos dos incentivos econômicos, C) I e IV
direcionados também para o setor de serviços no qual D) II e III
o turismo recebeu prioridade através da implementa- E) III e IV
ção de empreendimentos hoteleiros.
Assinale a alternativa que apresenta todas as afirmativas Gabarito
corretas. 1. D
A) I, II e III 2. C
B) I, III e IV
3. E
C) I, III e V
D) II, III e V
E) II, IV e V

2. (EsPCex – 2012) Com relação às regiões metropolitanas


(RM) no Brasil, leia as afirmativas abaixo:
I. de acordo com o estudo “Regiões de Influência das
Cidades 2007”, publicado pelo IBGE, São Paulo é a
única RM a receber a denominação de Grande Me-
trópole Nacional;
II. a criação de uma região metropolitana é caracterizada
pela conurbação de, no mínimo, duas metrópoles entre si;
III. a região metropolitana é resultante da necessidade da
elaboração de soluções integradas para os serviços
públicos que escapam à competência política das
prefeituras municipais que a compõem;

385
Capítulo 28

Recursos naturais e energéticos


Recursos Naturais Hematita (ferro)
O Brasil possui uma das maiores reservas mundiais de
Extrativismo mineral minério de ferro e situa-se entre os maiores produtores e ex-
Os recursos minerais têm diversas aplicações e todos de- portadores. As principais áreas produtoras são:
pendemos deles. No entanto, eles não são renováveis e sua
extração tem ocorrido em uma velocidade e quantidade cada Quadrilátero ferrífero (MG)
vez maiores em busca do bem-estar que eles proporcionam. Situado na porção central do estado de Minas Gerais, essa
Esses minerais não são encontrados em todo o mundo e os região destaca-se pelos ricos depósitos de ferro, manganês,
países industrializados são os que mais os consomem. ouro, topázio-imperial e bauxita, além de minerais radioativos,
Muitos países ricos em recursos naturais experimentaram de uma variedade de gemas.
fato o lado negativo da exploração de minérios. Grupos armados A grande riqueza dos minérios e sua exploração por empre-
têm muitas vezes enriquecido através da extração de minério, sas mineradoras e siderúrgicas fazem de Minas Gerais o maior
fazendo negócios com companhias multinacionais e usando os parque siderúrgico do Brasil, com cerca de 35% do aço nacional.
rendimentos para alimentar guerras civis – um fenômeno de- Geologicamente, a região apresenta rochas muito antigas,
nominado a “maldição dos recursos”. Os recursos naturais são pré-cambrianas, do tipo granito, gnaisse, quartzito, xisto, filito,
explorados para além de um nível sustentável, destruindo habitats
entre outras.
naturais, deslocando comunidades locais e afetando o cotidiano
das pessoas. No passado e no presente, em muitos países subde- A rocha metamórfica do tipo itabirito destaca-se por sua rica
senvolvidos, a presença de minérios com muita procura e de outros composição em ferro, amplamente explorado na região.
recursos tem estado na origem de conflitos armados e violência. Principal área produtora e exportadora. A produção é escoa-
A extração ilegal dos designados “minerais de conflito”, como da pelos portos de Tubarão (ES) e Sepetiba (RJ).
o ouro, o cobalto e o coltan, tântalo, o tungstênio e o estanho
usados no fabrico de equipamentos de eletrônica de consumo,
como computadores portáteis e celulares é uma constante na
região oriental da República Democrática do Congo e na Região
dos Grandes Lagos (Burundi, Ruanda, Uganda, etc.). Os lucros
obtidos são utilizados no financiamento de conflitos locais, si-
nônimo de violações de direitos humanos, coerção e trabalho
infantil. Alguns grupos de ativistas já apelaram aos fabricantes
de produtos eletrônicos para que não comprem estes minerais
sem determinar a origem, na tentativa de assegurarem que não
contribuam de forma alguma para o financiamento da guerra.
O fato de muitos recursos serem finitos em relação à explo-
ração econômica gerou a necessidade de pensá-los como es-
tratégicos para o desenvolvimento econômico de um país, mas
também como matérias-primas para a indústria armamentista.
Para um país que possui em abundância determinado recur-
so natural, manter o controle de suas próprias reservas naturais
significa também manter sua soberania.
O território brasileiro apresenta grande quantidade e varie-
dade de recursos minerais. A primeira grande riqueza mineral
extraída no Brasil foi o ouro. Serra dos Carajás (PA)
O ciclo do ouro e das pedras preciosas representou a prin- É a maior jazida ferrífera do Brasil e uma das maiores do
cipal atividade econômica do país durante a maior parte do mundo. O escoamento da produção é feito pela E. F. dos Carajás
século XVIII. Essa atividade trouxe importantes consequências até o Porto de ltaqui, em São Luís (MA).
para o Brasil: aumento populacional; povoamento do interior; O Projeto Grande Carajás foi lançado na década de 1970,
desenvolvimento do comércio, dos transportes, da urbanização, pelo Governo Federal e implantado entre 1980 e 1986, com o
da arquitetura, das artes, etc. objetivo de integrar a Amazônia Oriental e explorar ferro, man-
Apesar de toda a quantidade de ouro extraída naquela época, ganês, cobre, ouro, estanho e bauxita na Serra dos Carajás. A
a produção brasileira continua intensa, sendo ainda uma das mineração é feita entre São Félix do Xingu e Marabá, e entre
os rios Tocantins e Xingu.
maiores do mundo. Atualmente o Brasil explora cerca de 60
minerais diferentes.
Quanto aos principais minerais metálicos, temos:

386
Recursos naturais e energéticos

Maciço do Urucum (MS)


Em virtude da concorrência do quadrilátero ferrífero, do pequeno consumo local e das dificuldades de escoamento, a produção
é muito pequena.
Maiores produtores
Estados: MG, PA e MS
Países: Rússia, China e Brasil

Pirolusita (manganês)
O minério de manganês destina-se principalmente à fabricação do aço. O Brasil possui grandes reservas desse minério e situa-
-se entre os maiores produtores e exportadores. As principais áreas produtoras são:
Serra do Navio (AP)
É a maior área produtora e exportadora do país. A exportação é feita pelo Porto de Santana (AP).
Quadrilátero Ferrífero (MG)
A produção destina-se ao consumo interno.
Maciço do Urucum (MS)
Pequena produção.
Marabá-Itupiranga (PA)
A produção sofreu grande crescimento recentemente.
Maiores produtores
Estados: AP, MG, PA
Países: Rússia, África do Sul, Brasil

Cassiterita (estanho)
O estanho é um metal de múltiplas utilidades: entra na composição de diversas ligas (bronze, latão etc.), na produção de chapas
finas de aço e na produção das folhas de flandres. A produção brasileira sofreu grande incremento recentemente (década de 80)
e já se coloca entre as maiores do mundo.

Maiores produtores
Estados: RO, AM, PA
Países: Malásia, Indonésia, Brasil

Bauxita (alumínio)
O alumínio é um dos metais mais importantes da atualidade. É um metal leve, durável, não oxidável e de larga utilização em
inúmeros setores como construção civil, indústria elétrica, eletrônica, automobilística, aeronáutica, de utensílios domésticos, etc.
O Brasil possui grandes reservas de bauxita e sua produção tem aumentado muito ultimamente.

387
Geografia

Maiores produtores
Estados: PA (Oriximiná) e MG (Quadrilátero Ferrífero)
Países: Austrália, Guiné, Jamaica

Outros minerais (metálicos e não metálicos)


Mineral Informações Maiores produtores
O Brasil é grande produtor, mas a produção é muito variável e mal No mundo: África do Sul, Rússia, EUA
Ouro
controlada. No Brasil: PA, MG, MT
O principal mineral é a galena. O chumbo possui várias aplicações:
No Brasil: BA, SP, PR
Chumbo tubos de cabos elétricos, placas de baterias, munições, isolante de
No mundo: EUA, Rússia, Austrália, Canadá
raios X etc. A Bahia produz 91% do total.
Seu principal mineral é a calcopirita. O cobre é usado como liga
No Brasil: BA e RS
Cobre (bronze e latão) em condutores elétricos (fios) etc. A principal área
No mundo: Chile, EUA, Rússia
produtora é Caraíba (BA), mas o Brasil não é autossuficiente.
Seu principal mineral é a garnierita. O níquel é usado como liga em
No Brasil: GO, MG,
Níquel aços especiais e na niquelagem. Niquelândia (GO) é a principal área
No mundo: Canadá, Rússia, Austrália
produtora, com 78% do total.
É mais utilizado como revestimento (galvanização) e como liga e No Brasil: MG, BA
Zinco
chapas. No mundo: Canadá, Rússia, Austrália
O Brasil possui grandes jazidas em Poços de Caldas (MG), ltataia No Brasil: MG, BA
Urânio
(CE), Goiás, Paraná e Roraima. No mundo: Canadá, EUA, África do Sul
O Brasil dispõe de boas condições naturais para a produção.
Sal
Áreas produtoras: Macau, Mossoró e Areia Branca (RN), Cabo Frio No Brasil: RN (77%), RJ, CE.
marinho
e Araruama (RJ) e Ceará.
Muito importante na siderurgia, na construção civil (cimento) e na
Calcário No Brasil: BA, MG, SP
agricultura (corretivo do solo).

Terras-Raras – O novo ouro do século XXI


Estratégicos, com nome enigmático e nas mãos dos chineses. Os elementos de terras-raras constituem matéria-prima para
tecnologia de ponta e, depois de separados em óxidos, têm mais aplicações relacionadas inclusive à chamada economia verde.
É estimado que cerca de 97% das terras-raras estejam localizadas na Ásia, especialmente na China, que detém 2/3 das re-
servas globais e 87% do total comercializado no mundo. Com praticamente o monopólio chinês das terras-raras, o preço desses
commodities se valorizou muito no mercado mundial.

Lantânio, cério, neodímio, európio, térbio, túlio, lutécio, samário. Você pode até não conhecer esses elementos químicos, mas,
muito provavelmente, depende deles no seu dia a dia. Conhecidos como terras raras, eles integram um grupo de 17 elementos
indispensáveis na atual indústria de alta tecnologia. Motores elétricos, turbinas eólicas, superímãs, telefones inteligentes, com-
putadores, tablets, lâmpadas de LED e fluorescentes, mísseis e muitos outros produtos levam terras raras em sua fabricação.

388
Recursos naturais e energéticos

Esses elementos são alvo de uma competição internacional. Hoje, a China detém as maiores reservas conhecidas de terras
raras, cerca de 36 milhões de toneladas, e controla 95% da produção mundial – um verdadeiro monopólio. Estados Unidos e
Austrália vêm logo atrás, com 6,4% e 3,6% da produção mundial, respectivamente. O Brasil nem entra nessa lista. Apesar de ter
reservas conhecidas desde o final da década de 1940, não há produção industrial de terras raras por aqui.
Mas esse cenário pode estar prestes a mudar. Somada à pressão econômica mundial, está a recente descoberta de enormes
reservas de terras raras em Araxá (MG).
Além de Minas Gerais, há terras raras em vários estados brasileiros, em especial Goiás e Amazonas. Mas essas reservas ainda
não foram medidas e seu tamanho pode estar subestimado.
A exorbitância das reservas internacionais e nacionais põe em xeque o próprio nome dado a esses elementos. As terras raras
não são terras, nem são tão raras: sua abundância é maior que a de minerais de prestígio, como o ouro. No entanto, não há jazidas
exclusivas desses elementos. Eles sempre ocorrem com outros de seu grupo, em geral em baixas concentrações, e associados
a outros minérios (como monazita, bastnasita e xenotima), o que torna sua extração complexa.

O monopólio da China não é sobre os recursos, é um monopólio dos processos de produção

Somente a China tem o domínio completo das várias etapas da cadeia produtiva de terras raras – da mineração até a obten-
ção de um produto que possa ser utilizado pela indústria. Lavrados os minérios, é preciso separar os elementos de terras raras.
Disponível em: http://www.senado.gov.br/noticias/Jornal/emdiscussao/terras-raras/contexto/terras-
-raras-o-minerio-da-vez.aspx (Texto adaptado; outras fontes foram utilizadas)

As fontes de energia
Energia é a capacidade de realizar trabalho. Assim, fontes de energia são determinados elementos que podem produzir ou
multiplicar o trabalho (músculos, o sol, a força das águas, o vento, a eletricidade, etc). Desde que o homem passou a usar outros
tipos de energia, que não a dos animais e da força humana, os combustíveis fósseis e outras fontes mais modernas tornaram-se
imprescindíveis, sendo responsáveis pelo progresso da economia e do bem-estar da humanidade. A ameaça de corte de energia
pode causar transtornos enormes à economia de um país: é enorme o prejuízo da indústria, do comércio e de todos os setores
da economia, sem falar nos aeroportos, no trânsito das metrópoles, nos hospitais, nas escolas, etc. Isso demonstra a nossa total
dependência da eletricidade e do uso das fontes de energia em geral.
Classificamos as fontes de energia naturais, ou fontes primárias, em dois tipos:

Renováveis

389
Geografia

Que não se esgotam, como a energia solar, a muscular (esforço humano ou animal), a energia dos vegetais (biomassa), das
águas (hidráulica), dos ventos (eólica), do calor interno da Terra (geotérmica), entre outras. As fontes de energia renováveis são
também alternativas porque contribuem para diminuir a dependência de fontes não renováveis, como o petróleo.

Não renováveis
Que se esgotarão e não serão repostas, como o petróleo, o gás natural, o urânio, o carvão mineral, entre outras.
Os recursos energéticos podem ser classificados em:

Fontes de
Fontes de ener-
Não renováveis Renováveis energia con-
gia alternativas
vencionais
Álcool Petróleo
Lenha
Petróleo Xisto betuminoso Carvão mineral
Carvão vegetal
Carvão mineral Energia solar Lenha
Álcool
Gás natural Energia eólica Carvão vegetal
Energia solar
Xisto betuminoso Marés Gás natural
Energia eólica
Energia nuclear Biomassa Hidreletricidade
Marés
Hidrogênio Energia nuclear

Principais Fontes
O Brasil tem investido, ao longo dos anos, na diversificação da nossa matiz energética, ampliando a participação das fontes
renováveis de energia.
Comparando a matriz energética do mundo com a brasileira, percebemos que ainda há uma dependência enorme dos com-
bustíveis fósseis, não renováveis.

A energia hidráulica reduzirá sua participação na matriz energética nacional de 74,8 por cento para 70,5 por cento no período
de 2013 a 2018. Segundo projeções do operador, no mesmo período a energia eólica terá forte alta, com participação passando
de 1,9 para 8,6 por cento, enquanto as térmicas a óleo passarão de 3,8 para 3 por cento. A energia de biomassa também será
reduzida, de 5,4 por cento para 4,9 por cento.
As térmicas a gás cairão de 9,2 para 8,1 por cento, enquanto as térmicas a carvão terão baixa de 2,6 para 2 por cento. A energia
nuclear, por sua vez, deve subir de 1,6 para 2,1 por cento com a entrada em operação de Angra 3.
A intensificação do uso de fontes renováveis não convencionais intermitentes (eólicas e solares) também é um objetivo.

Carvão mineral
Foi a principal fonte de energia utilizada na Revolução Industrial e durante os séculos XVIII e XIX. A partir de 1870 começaram
a ser utilizadas novas formas de energia como o petróleo e a eletricidade. Segunda fonte mais empregada no mundo, possui três
utilizações principais:
• como matéria-prima para a produção de aço nas usinas siderúrgicas (carvão siderúrgico);
• na geração de energia elétrica a partir do aquecimento das caldeiras em usinas termelétricas (carvão energético);
• como matéria-prima do setor carboquímico na produção de inseticidas, tintas, corantes, entre outros.
Mais de 80% das jazidas de carvão mineral estão no hemisfério norte (Canadá, EUA, China, Rússia, Cazaquistão, etc.). Em
1880, 97% da energia consumida no mundo vinham do carvão, mas, em 1970, somente 12% desse total provinham dele. Depois
dos choques do petróleo (1973 e 1979), a elevação dos preços do óleo fez com que o carvão novamente se valorizasse e seu
consumo voltou a subir um pouco, representando cerca de 22% da energia total consumida no globo em 2007.
Apesar de sua concentração geográfica, o carvão é um combustível relativamente abundante, mas existem graves restrições
ao seu uso, pois a sua combustão causa o acúmulo de gás carbônico (CO2) na atmosfera e outros problemas ambientais.
Diante da carência de petróleo, poderíamos imaginar que o Brasil, há muito tempo, estivesse aproveitando intensamente suas
reservas carboníferas, as quais, embora insuficientes, constituem a principal fonte de energia térmica do país. Entretanto, a preo-
cupação com o aproveitamento do carvão é recente.

390
Recursos naturais e energéticos

As reservas estão depositadas em terrenos sedimentares Embora a maior parte do território brasileiro seja formada por
antigos, na borda oriental da Bacia do Paraná, no baixo Ama- bacias sedimentares, que outrora foram depressões favoráveis
zonas e na Bacia do Parnaíba, mas apenas o carvão do Sul é ao depósito de matéria orgânica, as nossas reservas conheci-
explorado. Em Santa Catarina, o carvão aparece a pequena das de petróleo eram modestas, até a recente descoberta do
profundidade, mas no Rio Grande do Sul está a mais de 30 óleo do Pré-sal.
metros, e a exploração é feita por meio de poços e galerias. A produção comercial no Brasil começou efetivamente 1953,
A produção é insuficiente para atender à demanda interna, com a criação da Petrobras, empresa estatal que exerceu,
razão pela qual a indústria siderúrgica do Sudeste importa até 1997, o monopólio da pesquisa, lavra, extração, refino e
coque, resíduo da destilação do carvão, usado na indústria transporte do óleo e seus derivados e que representou um
metalúrgica. Além disso, o carvão é do tipo betuminoso e sub- dos principais projetos de infraestrutura do Estado brasileiro.
-betuminoso, que tem baixo teor calorífico. Até a década de 1970, a limitada produção nacional era obti-
Apenas parte do carvão catarinense é coqueificada e remeti- da de poços terrestres, a maior parte localizada no Recôncavo
da para a Companhia Siderúrgica Nacional, em Volta Redonda, Baiano. Hoje, a principal fonte são os poços submarinos da pla-
no estado do Rio de Janeiro. E só tem uso siderúrgico depois de taforma continental, principalmente na região vizinha ao estado
lavado e misturado a carvões estrangeiros, pois, mesmo após do Rio de Janeiro. Do total produzido no país, mais de 70%
o beneficiamento, continua com 18% de cinzas, contra 4 a 5% são originários da plataforma continental da Bacia de Campos.
dos carvões norte-americanos de alta qualidade. A produção dos demais estados é muito inferior à do Rio de
No Rio Grande do Sul, cerca de 50% da produção é aprovei- Janeiro, vindo em seguida a do Rio Grande do Norte.
tada, em parte para a fabricação de aço, que é feita com o uso Quanto aos derivados de petróleo, já em 2000, a produção
de moderna tecnologia e para a queima em usinas termelétricas. nacional satisfazia integralmente as necessidades internas.
Um dos maiores problemas da utilização do carvão como A matéria-prima fornecida pelas refinarias abastece a indús-
combustível é a agressão ao ambiente. A fuligem polui o ar, e tria petroquímica brasileira, que se concentra em três polos:
os resíduos desprezados são levados pelas chuvas e poluem os Cubatão, em São Paulo; Camaçari, na Bahia e Triunfo, no Rio
rios. Apesar disso, o carvão mineral tem sido adotado por algu- Grande do Sul.
mas indústrias como alternativa para o elevado preço do petróleo.
Gás natural
Petróleo
É a terceira principal fonte de energia utilizada no mundo e
É a fonte de energia mais importante e a mais utilizada no a que apresenta o maior crescimento de consumo. Os setores
mundo. A Segunda Revolução Industrial (século XIX) marca o termelétricos domésticos (fogões e chuveiros) são os que mais
início do seu crescente consumo e dos seus derivados: gasolina, utilizam gás natural. Combustível fóssil encontrado em estrutu-
plástico, tinta, adubo, asfalto, borracha sintética, óleo, roupa, ras geológicas sedimentares, o gás natural está associado ao
sapato, resina, etc. Em 1971, representava cerca de 68% da petróleo e, portanto, é esgotável e não renovável.
energia consumida no mundo, mas em 2007 essa proporção tinha
Se comparado aos demais combustíveis fósseis, é mais
baixado para cerca de 34%, uma porcentagem ainda significativa
barato, é facilmente transportável em dutos e sua queima, que
e maior que a de qualquer outra fonte de energia isoladamente.
libera boa quantidade de energia, polui menos a atmosfera. Por
O Oriente Médio possui as maiores reservas conhecidas esses motivos, seu consumo é estimulado pelo governo e vem
(mais de 60%); seis dos onze países que compõem a OPEP aumentando; é usado em altos-fornos de indústrias e nos trans-
(Organização dos Países Exportadores de Petróleo) estão portes e, brevemente, será utilizado em aparelhos domésticos.
nessa área (Arábia Saudita – 25,6% –, Irã, Iraque, Kuwait, etc.). Na atual matriz energética do país, o gás natural representa
O petróleo vem alcançando valores jamais imaginados, por cau- menos de 3%, mas o governo pretende que essa percentagem
sa de vários fatores combinados. O primeiro é a sua ainda enorme chegue a 12% em 2010. Para isso, a Petrobras tem investido
importância para a nossa época, juntamente com as possibilida- nessa fonte energética, em parceria com a iniciativa privada, e,
des de esse recurso se esgotar em um futuro não muito distante. consequentemente, a produção nacional tem aumentado. Os
O segundo é que a OPEP estabelece cotas de produção para grandes produtores são Rio de Janeiro e Bahia, seguidos de
os países-membros, evitando a concorrência entre eles e que longe por Sergipe, Rio Grande do Norte e Amazonas.
a oferta seja abundante. Além disso, o petróleo também é Paralelamente, o Brasil importa gás natural da Bolívia,
usado como instrumento político de pressão contra as grandes através de um extenso gasoduto, que vai de Santa Cruz de
potências mundiais. Na guerra árabe-israelense de 1973 (Yom La Sierra, na Bolívia, a Guararema, em São Paulo, e daí à
Kippur), os EUA e a Europa Ocidental permaneceram passivos região industrial de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. Nesse
diante da atitude de Israel não devolver os territórios sírios, estado, outro gasoduto permite a importação de gás natural
libaneses, jordanianos e egípcios ocupados na Guerra dos Seis da Argentina.
Dias (1967). Eles também venderam armamentos e prestaram
Recentes descobertas de novas jazidas de gás natural con-
auxílio financeiro a Israel. Tal atitude irritou os países árabes
tribuirão para aumentar a participação dessa fonte de energia
exportadores de petróleo, levando-os a utilizá-lo como arma
na nossa matriz energética e para diminuir a dependência do
política, reduzindo a oferta, elevando os preços e ameaçando
gás boliviano.
a nacionalização dos investimentos das empresas de petróleo
americanas e europeias em subsolo árabe. Em 2008 o barril de Energia elétrica
petróleo ficou acima dos 100 dólares. Isso se deveu principal- A eletricidade pode ser obtida pela força da água (hidráulica),
mente ao grande aumento da procura, em especial por parte pelo vapor da queima de combustíveis fósseis (termelétricas)
dos países que estão crescendo a um ritmo muito intenso como e pelo calor produzido pela fissão do urânio em um reator (ter-
a Índia e a China. monuclear ou atômica).

391
Geografia

Energia nuclear
Em meados da década de 60, várias usinas nucleares estavam funcionando, ou em construção, especialmente na Europa e nos
EUA. Acreditava-se então que a energia nuclear seria a energia do futuro. Isso ficou ainda mais evidente quando veio o primeiro
choque do petróleo.
Apesar do crescimento da participação da energia nuclear na oferta total de energia no mundo e apesar de ser uma fonte ener-
gética altamente concentrada, essa fonte de energia apresenta uma série de problemas de ordem econômica, política e ambiental.
Os problemas de ordem econômica estão ligados aos elevados custos para a construção de centrais e para o desenvolvimento
de tecnologia.
As questões de ordem política estão relacionadas ao desenvolvimento tecnológico para construção de armas nucleares. É
preocupante a proliferação de bombas atômicas, que colocam em risco toda a humanidade. Parte considerável dos investimentos
em pesquisa nuclear tem origem em interesses militares.
Os problemas ambientais estão relacionados com os acidentes que ocorrem nas usinas e com o destino do chamado lixo atô-
mico, ou seja, os resíduos que ficam no reator, local onde ocorre a queima do urânio para a fissão do átomo. Por conter elevada
quantidade de radiação, o lixo atômico tem que ser armazenado em recipientes metálicos protegidos por caixas de concreto, que
posteriormente são lançados ao mar. A radioatividade aí permanece por milhares de anos.
Os acidentes se devem à liberação de material radioativo de dentro do reator, ocasionando a contaminação do meio ambien-
te, provocando doenças, como o câncer, mortes de seres humanos, de animais, de vegetais. Isso não só das áreas próximas à
usina, mas também de áreas distantes, pois ventos e nuvens radioativas carregam parte da radiação para áreas bem longínquas,
situadas a centenas de quilômetros de distância.
Dois acidentes em usinas nucleares bastante conhecidos foram: o de Fukushima no Japão, em 2011, e o de Chernobyl, na
Ucrânia, em abril de 1986, quando esta era uma república da URSS. Suas consequências, até hoje, não puderam ser avaliadas,
pois a radiação causa danos genéticos, afetando gerações futuras. Sabe-se, com certeza, que os casos de câncer aumentaram
na Ucrânia, na Rússia, em outras ex-repúblicas soviéticas e também no Leste europeu. O de Fukushima foi consequência de um
tsunami e um terremoto no Japão.
No Brasil, o programa nuclear não “decolou”. O Brasil tem duas usinas em funcionamento, Angra I e Angra II. Angra II está em
construção.
O Programa Nuclear Brasileiro, desde seu início, sempre foi objeto de inúmeras críticas de cientistas e da produção em geral,
por vários motivos:
• a área escolhida para a implantação das usinas – Angra dos Reis, Rio de Janeiro –, por apresentar terrenos geologicamente
pouco firmes, exigindo grandes obras de estaqueamento;
• a alegação do esgotamento dos recursos hídricos no Brasil a curto prazo é falsa;
• o alto custo do programa, que envolve bilhões de dólares captados no exterior a juros altos, o que implica tarifas elevadas
em função dos custos financeiros;
• posicionamento contrário da sociedade civil tanto pela falta de segurança quanto pelo custo alto, que eleva a dívida externa. A
Usina de Angra I, que tinha como objetivo fornecer 25% a 40% da energia do estado do Rio de Janeiro, apresenta dificuldades.
• 1999/2000: é inaugurada a usina Angra II, com um custo exageradamente alto. O Brasil passa para a contramão do mundo,
pois apenas a França inaugura usina nuclear nesse período. Os EUA e os países europeus discutem o fechamento de suas
usinas nucleares.

Depois de mais de duas décadas, a construção de Angra III saiu do papel


Angra 3 é apenas o primeiro passo de um ambicioso programa energético em torno do urânio nacional. Depois da conclusão
da terceira usina em Angra dos Reis, no litoral fluminense, o governo federal pretende instalar de seis a oito novas geradoras até

2030. Por isso, as atenções estão voltadas para o desafio de concluir Angra 3, que foi interrompida em 1986 com 30% das
obras realizadas. Ameaçado pelo fornecimento incerto do gás boliviano e as dificuldades para se conseguir licenças ambientais
para as novas hidrelétricas, o governo decidiu resgatar Angra 3, que nasce com um potencial de energia de 1.400 megawatts.

Angra 3 vai operar só em maio de 2018, dois anos depois do previsto


A usina de Angra 3, em construção ao lado das usinas de Angra 1 e Angra 2, no litoral Sul Fluminense, entrará em operação
em maio de 2018. Inicialmente projetada para ficar pronta em 2015, a última previsão era junho de 2016. Os investimentos
para as obras foram estimados em R$ 12,9 bilhões, o equivalente a mais de dez vezes o valor gasto para a reforma do Ma-

392
Recursos naturais e energéticos

Petrobras, através de sua subsidiária Petrosix, desenvolve pes-


racanã para a Copa. quisas na área, com sucesso. Mas não se justifica ainda o seu
A usina foi projetada para gerar mais de 12 milhões de uso, pelo alto preço da exploração do óleo de xisto. No futuro,
megawatts-hora anuais, energia suficiente para abastecer provavelmente, será uma importante alternativa energética.
as cidades de Belo Horizonte e de Brasília durante um ano. Embora tenha potencial de ser abundante e barato, o gás
As obras de Angra 3 tiveram início em 2010. de xisto tem extração polêmica. Teme-se que o processo de
A necessidade de adaptações tecnológicas e de segu- faturamento hidráulico da rocha, necessário para a retirada
rança contribuíram para o adiamento. Angra 3 é feita com do gás, possa provocar contaminação dos lençóis freáticos,
as mais modernas exigências de segurança. Ela foi toda chegando às torneiras das casas das pessoas.
recalculada para receber as tecnologias mais modernas e
a parte de instrumentação e controle é o estado da arte Brasil possui reservas de gás de xisto maiores que o
disponível no mundo. pré-sal

Energia hidráulica
A rede hidrográfica do Brasil é a mais densa do mundo,
com enorme potencial hidráulico e hidrelétrico. Isso explica
por que mais de 90% da potência instalada nas usinas
provêm de geradores hidráulicos, cabendo aos geradores
térmicos apenas 8%. Somente no Sul a termeletricidade
é significativa, contribuindo com cerca de 15% do total da

região. No entanto, as maiores usinas termelétricas são as de


Piratininga, em São Paulo, e de Santa Cruz, no Rio de Janeiro.
Desde a década de 1950 até 1995, a energia elétrica no
Brasil foi quase totalmente gerada e distribuída por empresas
públicas, tanto estaduais quanto da União. Nos anos 1960,
criou-se a Eletrobras, encarregada do planejamento e da exe-
cução de uma política de energia elétrica para todo o país. A
partir dessa época e sobretudo na década de 1970, condicio-
nado pela crise do petróleo, o governo federal pôs em prática
um plano de construção de grandes usinas hidrelétricas, como
infraestrutura básica para a industrialização.
Todavia, o ritmo de investimentos e a geração de energia
diminuíram já no final dos anos 1980, deixando de acompanhar
o ritmo de expansão das necessidades de consumo nacionais.
Em 1995, teve início a privatização do setor elétrico no Brasil,
após a promulgação da chamada Lei de Concessões, com base
na qual foram sucessivamente vendidas inúmeras empresas
até então estatais.
Isso, no entanto, não foi suficiente para a retomada dos inves-
timentos no montante que se esperava, tendo em vista garantir o Principais fontes de energia alternativa
suprimento da demanda em expansão. Assim, em 2001, quando
A busca de fontes de energia menos poluidoras, renováveis e
baixou o nível da água dos reservatórios de grandes hidrelé-
que possam substituir os combustíveis fósseis tem incentivado
tricas, em consequência de chuvas aquém do normal, o Brasil
inúmeras pesquisas.
viu-se obrigado a racionar o consumo de energia elétrica. Para
escapar do racionamento e de suas desastrosas consequên- A preocupação ambiental e a crise que atinge as fontes de
cias, bem como para haver menor dependência da pluviosidade energia convencionais dão grande destaque a alternativas,
que enche os lagos das usinas, impõe-se a necessidade de como a biomassa, a energia eólica e a solar.
acelerar a construção de termelétricas. No entanto, apesar do Solar
menor tempo e custo para se construir uma termelétrica, ela
Abundante, barata e limpa. É a energia mais desperdiçada
não representa a melhor alternativa para diversificar as fontes
do mundo atual, apesar de ser a fonte mais segura e eterna.
de obtenção de energia elétrica, pois implica na queima de com-
Deverá ser a principal fonte do futuro. O grande obstáculo a
bustíveis fósseis, setor em que o Brasil não é autossuficiente
uma maior utilização é a dificuldade de armazená-la.
e libera CO2, que contribui para o efeito estufa. A perspectiva
era abastecer essas termelétricas com o gás natural boliviano, Eólica
mas o gás é importado em dólar e tem custado mais caro para Renovável, barata e limpa, é muito utilizada na Espanha e
a Petrobras do que o produzido internamente. na Dinamarca. Enfrenta problemas com a descontinuidade dos
Xisto Betuminoso ventos. Dentro do esquema da circulação geral da atmosfera,
as áreas que apresentam ventos contínuos (no Brasil, os ventos
É uma fonte não renovável, poluente e cara. Os Estados
alísios) são especialmente indicadas para desenvolver este tipo
Unidos apresentam as maiores reservas, seguidos do Brasil
de usina. O Nordeste brasileiro tem se empenhado nesta área.
(no estado do Paraná, no município de São Mateus do Sul). A

393
Geografia

Biomassa Álcool e óleos vegetais


Aproveita o lixo e os detritos orgânicos produzidos pela O álcool pode ser produzido a partir de inúmeras plantas:
humanidade, porém ainda apresenta baixo aproveitamento. A cana-de-açúcar, beterraba, cevada, batata, mandioca, girassol,
China e a Índia são pioneiras neste setor. O bagaço da cana eucalipto, etc.
tem sido largamente utilizado no Brasil. Ele serve de fonte de energia e pode ser empregado como
combustível em veículos automotores e também para produzir
Hidrogênio
eletricidade. O primeiro uso já vem ocorrendo desde os anos
O seu uso como combustível vem avançando muito. Nos 1970; o segundo, no entanto, ainda não foi experimentado em
países desenvolvidos, há vários protótipos de carros movidos a grande escala.
hidrogênio. Esses carros têm um mecanismo que converte hidro-
Atualmente, existem dois principais produtores do álcool
gênio e oxigênio em água e, enquanto faz isso, gera eletricidade.
como fonte de energia (o etanol): o Brasil, com a cana-de-
Geotérmica -açúcar, e os Estados Unidos, com o milho. Considera-se que
a obtenção do álcool pela cana-de-açúcar é bem mais eficiente
Aproveita o calor do interior da Terra (vulcões, gêiseres, fon-
que a extração por milho. Em todo caso, o uso do álcool como
tes termais). Enfrenta ainda problemas técnicos nas usinas. Os
carburante em automóveis obteve muito sucesso, pois, além
países que têm se destacado nesta área são a Itália e a Islândia.
de eliminar parte da necessidade de petróleo, polui menos a
Maremotriz atmosfera e costuma ser misturado à gasolina. Por isso, desde
Renovável, limpa, barata e não provoca impactos. Para sua o início do século XXI, vários países se interessaram em pro-
utilização é necessário um litoral que apresente elevada am- duzir o álcool para usar e exportar (caso de vários países da
plitude de marés (diferença entre a preamar e a baixa mar). A América Central, que também usam a cana-de-açúcar como
única usina em funcionamento no mundo, atualmente, é a usina matéria-prima), enquanto outros estão começando a importar
construída na desembocadura do rio La Rance, na França. No o etanol (caso de alguns países europeus).
Brasil, a área que permitiria esse tipo de usina seria no litoral Existe, portanto, um futuro promissor para o etanol. O seu
setentrional, especialmente nas costas do Maranhão. consumo como combustível de veículos (e talvez também
em usinas que gerem eletricidade a partir da queima desse
Energias Biológicas produto) sem dúvida deverá crescer nos próximos anos (e
As fontes de energia biológica são aquelas produzidas a também o número de países produtores e exportadores). Mas
partir da biomassa ou de microrganismos aperfeiçoados. Bio- ele nunca chegará a ser uma das mais importantes fontes
massa é o conjunto de organismos que podem ser aproveitados de energia, porque é necessário muito espaço para plantar
como fonte de energia: plantas das quais se extrai álcool (por cana-de-açúcar ou outros gêneros agrícolas dos quais se
exemplo, cana-de-açúcar e eucalipto), lenha e carvão vegetal, extraia o álcool. Um país como a Alemanha precisaria ocupar
alguns óleos vegetais (mamona, amendoim, soja, dendê), o todo o seu território com canaviais para poder suprir com
plâncton (minúsculos animais e algas que vivem em suspensão álcool apenas metade de suas necessidades de energia
nas águas dos rios e marés), etc. (combustíveis e eletricidade).

Provavelmente as principais fontes de energia do século Assim, tendo em vista a necessidade sempre crescente de
XXI serão de origem orgânica, produzidas com base na bio- alimentos e de matérias-primas provenientes da agricultura,
tecnologia. não será possível um crescimento futuro muito grande do álcool
como fonte de energia.
Em geral, salvo algumas exceções, elas são energias
“limpas” e renováveis, isto é, não produzem poluição nem se Talvez mais promissora que a do álcool seja a produção
esgotam; pelo contrário, em alguns casos até podem contribuir de óleos vegetais, que podem ser extraídos da mamona, do
para eliminar parte da poluição pelo uso produtivo que fazem babaçu, do dendê, da soja, do algodão, do girassol, do amen-
do lixo e de outros detritos. doim, etc.
A tecnologia para a produção do chamado biodiesel vem se
Biogás desenvolvendo em ritmo acelerado, e as potencialidades são
Chama-se biogás o gás liberado na decomposição feita por enormes, pois em geral o biodiesel tem maior poder calorífero
certas bactérias de esterco, palha, bagaço de vegetais e mesmo que o álcool e poderá substituir o óleo diesel, o querosene e a
lixo, depois de uma separação dos elementos inutilizáveis para gasolina especial dos aviões. Por enquanto ele é misturado ao
esse fim, como vidro e plástico. óleo diesel em veículos que usam esse carburante.
O gás assim produzido pode ser usado como combustível Em 2008 ocorreu uma grave crise alimentar no mundo por
para fogões, motores ou até mesmo turbinas que produzem causa da subida dos preços dos alimentos em geral.
eletricidade. Uma autoridade da ONU chegou a pedir uma “moratória”
Esses equipamentos podem vir a constituir excelente alter- (suspensão temporária) na produção de biocombustíveis –
nativa para as fontes principais de energia da atualidade, todas isto é, álcool a partir do milho, da cana-de-açúcar e de outros
poluidoras, em maior ou menor grau. Em vez de aumentarem cultivos – e também de biodiesel, alegando que a expansão
a poluição, eles ajudam a resolver o problema ocasionado dos cultivos do milho e da cana, além de outros voltados para
pela existência do lixo. E por suas pequenas dimensões (em a obtenção do álcool ou outros combustíveis, teria sido a causa
comparação ao gigantismo das usinas nucleares, hidrelétricas principal dessa menor oferta de alimentos.
ou termelétricas) as usinas de biogás causam menor impacto
Na verdade, essa menor produção de alimentos, em particu-
ambiental, isto é, não alteram radicalmente o meio ambiente
onde são construídas e não oferecem grandes riscos em caso
de acidentes.

394
Recursos naturais e energéticos

lar do arroz, não foi ocasionada, a não ser muito parcialmente (e


em especial nos Estados Unidos), pela expansão dos cultivos
voltados para os biocombustíveis.
Mesmo no Brasil, maior produtor e exportador de álcool, essa
expansão do cultivo da cana não ocorreu com o sacrifício da
produção de alimentos, que em geral também cresceu. O Brasil
passou a produzir e exportar muito mais carne, soja e derivados,
frangos e outros alimentos nos últimos anos.
Quanto aos Estados Unidos, de fato a expansão do cultivo
do milho vem se dando em detrimento da produção de certos
alimentos. E os Estados Unidos são um grande exportador
mundial de alimentos, provavelmente ainda o maior de todos.
Mas a menor produção de alimentos ocorreu mesmo na
Fonte: Ministério de Minas e Energia, Balanço energético nacional, 2017.
China, que há várias décadas tem sido o maior produtor mundial
de arroz. Com a rápida industrialização desse país asiático e a Álcool
migração de milhões de camponeses para as cidades, a produ-
ção agrícola chinesa vem diminuindo, ou está estagnada, desde No momento, é uma das fontes energéticas que oferece
1990. As verdadeiras causas dessa crise alimentar, com uma melhores perspectivas. Renovável e menos poluente que os
produção insuficiente de alimentos, são outras. O que pesou de combustíveis fósseis (carvão e petróleo). Apresenta-se em
fato foram, em primeiro lugar, os rápidos e enormes aumentos declínio no Brasil, mas os Estados Unidos vêm desenvolvendo
nos preços do petróleo, que é um elemento importantíssimo na pesquisas importantes no setor.
produção agrícola: boa parte dos defensivos agrícolas e dos Biocombustíveis
adubos químicos usam-no como matéria-prima, além de ele
Após o sucesso da utilização em larga escala do etanol da
ser o combustível que movimenta os tratores, as colhedeiras,
cana-de-açúcar, o Brasil ainda não encontrou um modelo para o
os caminhões que transportam os alimentos até as cidades (ou
biodiesel. Hoje fabricado principalmente a partir da soja, o biodiesel
até os portos), etc. Em segundo lugar, o rápido crescimento
brasileiro é caro e não atende à função social a que se propôs ao
econômico da China, principalmente, e também da Índia e de
tentar incentivar a agricultura familiar. “Já vimos que esse tipo de
outros países fez com que eles passassem a importar muito
agricultura não dá conta da demanda”, diz Furtado, da Unicamp.
mais alimentos, e, em particular, o arroz, o que contribuiu para
a elevação dos preços desses produtos. Além de aliviar a quantidade consumida de diesel de petróleo no
setor de transportes, o biodiesel também pode gerar energia elé-
Além disso, ocorreram em 2007 e 2008 algumas secas em
trica em pequenas usinas de regiões remotas como na Amazônia.
áreas agrícolas da África, o que prejudicou a sua produção
agrícola.
Pesquisa sobre agrocombustíveis cresce
Brasil: consumo de energia segundo a fonte 2015 no Brasil
Ronaldo Decicino*
Especial para a Página 3 Pedagogia e Comunicação

A demanda anual de biodiesel no Brasil é estimada em 1,2


bilhões de litros. O país se prepara para ocupar posição de
pioneirismo na produção e no comércio mundial desse com-
bustível, apesar das dúvidas existentes no mercado externo
quanto à possibilidade de o biodiesel servir, realmente, como
alternativa ao petróleo.
O Brasil apresenta uma grande variedade de matérias-primas
disponíveis para o avanço da tecnologia que produz o biodiesel,
a chamada “revolução verde”.
O pioneirismo brasileiro só se confirmará, no entanto, se
forem vencidas duas barreiras: 1) convencer os mercados de
que o biodiesel brasileiro é solução e não nova fonte de pro-
blemas (o que acontecerá somente se houver efetivo combate
à devastação ambiental, à concentração fundiária e ao desres-
peito à legislação trabalhista); 2) realizar a integração efetiva
Fonte: Empresa de Pesquisa - EPE, 2016 Energética.
dos pequenos produtores, por meio do Programa Nacional de
Produção e Uso de Biodiesel (PNPB), lançado no final de 2004.
Brasil: consumo de energia por setor (2017) O avanço dos agrocombustíveis no Brasil pode ser explicado
por uma série de projetos das áreas pública e privada. Além de
eleger o setor como uma de suas prioridades, o governo tem
procurado estimular as usinas a comprarem matéria-prima de
agricultores familiares, em troca da redução de alguns impostos.

395
Geografia

Principais culturas voltadas ao biodiesel Entenda o que é a camada de pré-sal


Soja
O que é o pré-sal e onde ele está situado?
Importante produto brasileiro, a soja tem posição de des-
taque também no segmento de biodiesel. Estima-se que pelo
É uma porção do subsolo oceânico que se encontra sob uma
menos 80% do biodiesel fabricado no país provenha da soja.
cama¬da de sal situada entre 5.000 a 7.000m abaixo do lei-
A fatia restante do mercado é suprida, basicamente, por sebo
to do mar. Acredita-se que a camada do pré-sal, formada há
bovino; e menos de 1% é produzido a partir de outros óleos
150 milhões de anos, possui grandes reservatórios de óleo
vegetais. A predominância do uso da soja na obtenção de
leve (de melhor qualidade e que produz petróleo mais fino).
biodiesel tem uma série de explicações, mas a principal é a
O petróleo e o gás estão armazenados em rochas porosas,
abundância: foram produzidos 60 milhões de toneladas na
sob o efeito de elevada pressão. De acordo com os resultados
safra 2007/08.
obtidos através de perfurações de poços, as rochas do pré-sal
Com 61 usinas produzindo esse combustível, a expansão se estendem por 800 quilômetros do litoral brasileiro, desde
da área de soja no Brasil deve garantir o atendimento da Santa Catarina até o Espírito Santo, e chegam a atingir até
demanda de óleo para a fabricação de biodiesel. Além disso, 200 quilômetros de largura, distanciando do litoral em torno
há previsão de instalação de outras 50 usinas, o que poderá de 400km.
resultar num salto dos atuais 2,5 bilhões de litros por ano para Estado de Minas, 08/09/2009 (adaptado).
mais de quatro bilhões.

Mamona
Depois da soja, a mamona é, provavelmente, a cultura que
mais atraiu investimentos por parte das usinas de biodiesel, prin-
cipalmente pelo fato de existirem incentivos fiscais às indústrias
que compram a produção da agricultura familiar.

Dendê
O dendê é uma das oleaginosas mais produtivas entre
as culturas comerciais. Em âmbito mundial, seu óleo é o
segundo mais consumido, ficando atrás apenas do prove-
niente da soja.
Como matéria-prima para biodiesel, entretanto, o dendê
ainda não tem importância comercial. Atualmente, apenas duas
indústrias – Agropalma, no Pará, e Biobrax, na Bahia – produ-
zem combustível de dendê. A produção se destina a suprir a
demanda das frotas internas dessas empresas, e apenas o
excedente é comercializado.

Algodão
Assim como a soja, o algodão é uma cultura dominada pelo
agronegócio, que tem no óleo um produto secundário. Em vista
da crescente demanda por agroenergia, porém, as fábricas
de biodiesel também vêm mostrando interesse em utilizá-lo.
Atualmente, há pelo menos 24 usinas (prontas ou em constru-
ção) capazes de transformar o óleo de algodão em biodiesel.

Pinhão-manso
Alguns países da Ásia e da África apostam no pinhão-manso
como matéria-prima para a produção de agrocombustíveis. No
Brasil, essa ideia também conquistou adeptos, embora muitos
especialistas recomendem cautela, uma vez que o cultivo da
planta exige mais pesquisas. Mesmo assim, cerca de trinta
usinas estudam a possibilidade de utilizar o pinhão-manso na Fonte: Site da Petrobras
produção de biodiesel.
De maneira geral, acredita-se que – oferecendo uma Origem do Petróleo do Pré-Sal
alternativa ao petróleo e colaborando para a geração de Há mais de 100 milhões de anos, África e América do Sul
emprego e renda no campo – os agrocombustíveis poderão eram unidos e formavam um supercontinente. Ao longo do
ajudar a atenuar os efeitos das crises climáticas e financeiras tempo, este supercontinente, Gondwana, foi se separando.
mundiais. O óleo do pré-sal se formou a partir das algas e outras
matérias orgânicas que se acumularam nos espaços deixados
*ronaldo decicino é professor de Geografia do Ensi-
entre os continentes africano e sul-americano quando eles se
no Fundamental e Médio da rede privada (Adaptado).
separaram.

396
Recursos naturais e energéticos

Sequência
166 milhões de anos atrás

América Europa Ásia


do Norte

África
América
do Sul

Índia

Antártica
Austrália

Fonte: National Geographic

95 milhões de anos atrás

América
do Norte Europa Ásia

África
América
do Sul
Índia
Austrália

Fonte: National Geographic

Atualmente

América
Europa
do Norte Ásia

África

América
do Sul
Austrália

Fonte: National Geographic

397
Geografia

Qual é o potencial de exploração de pré- Conhecendo o perfil da camada Pré-Sal e


-sal no Brasil? seus desafios
Estima-se que a camada do pré-sal contenha reservas
equivalentes a cerca de 1,6 trilhão de metros cúbicos de gás
e óleo. O número supera em mais de cinco vezes as reservas
atuais do país. Somente no campo de Tupi (Porção fluminense
da Bacia de Santos), ha¬veria aproximadamente 10 bilhões
de barris de petróleo, o suficiente para elevar as reservas de
petróleo e gás da Petrobras em até 60%. Soma-se ao polígono
do pré-sal, nos dias de hoje, aproximadamente 52 poços perfu-
rados para extração desses recursos. Atualmente, a produção
diária da camada pré-sal gira em torno de 90.000 barris/dia,
representando 1/3 da produção nacional.

Quanto representa esse potencial em âm-


bito mundial?
De acordo com os estudos realizados, com o potencial com-
provado, o Brasil ficaria entre os dez países que possuem as
maiores reservas petrolíferas mundiais, ou seja, juntamente a
vários países do Oriente Médio, onde as maiores jazidas desse Exploração do Pré-Sal
recurso são encontradas, como também, Venezuela, Canadá,
entre outros. Quanto deverá custar o projeto?
Hoje sua representatividade no cenário global é de aproxi- O valor do projeto para cada módulo de produção de pe-
madamente 1% e o país ocupa a 15% posição das grandes tróleo e gás na camada pré-sal se situa entre 7,5 a 9 bilhões
reservas de petróleo no mundo. de dólares. As estimativas giram em torno de 600 bilhões de
dólares para as áreas já licitadas em que já é a operadora. São
Como o Brasil vai explorar essa riqueza? elas Tupi (hoje Campo de Lula) e Iara, Bem-Te-Vi, Carioca e
Um dos maiores desafios enfrentados pelo Brasil na explora- Guará, Parati, Júpiter e Carambá. Essa perspectiva está aliada
ção dessa riqueza está relacionado aos elevados custos para a aos custos de exploração, produção, operação, entre outros,
extração do petróleo e gás no pré-sal. Por tratar-se de reservas englobando os recursos tecnológicos envolvidos no projeto.
em grandes profundidades, entre 5 a 7 mil metros abaixo da
superfície do mar, é necessário a utilização de alta tecnologia Há alguma garantia que justifique o in-
na perfuração das rochas que possuem propriedades elásticas, vestimento?
muitas vezes ficando moles, dificultando o acesso ao recurso. A Petrobras se mostra bastante otimista quanto ao investi-
Além disso, é desafiador atravessar a camada de sal, que mede mento no desenvolvimento do projeto Pré-Sal. Na divulgação
aproximadamente 2 mil metros, enfrentando a elevada pressão de dados recentes pela própria empresa, a produção média
exercida nessa profundidade, ondas sísmicas, correntes maríti- foi de 1 milhão de BPD (barris por dia) em 2016, comprovan-
mas e também a corrosão provocada pelo dióxido de enxofre. do a alta produtividade dos poços em operação no pré-sal e
Com isso, é necessário um elevado investimento em tecnolo- representando um resultado significativo para a indústria do
gia capaz de superar os obstáculos presentes no subsolo oceâ- petróleo, principalmente porque os campos de exploração e
nico. A Petrobras é uma empresa que se destaca mundialmente produção situam-se em águas ultra-profundas. A expectativa
na perfuração de poços em águas profundas e ultra-profundas, é que a produção se eleve a medida que novos poços sejam
sendo uma das pioneiras a desenvolver diversas tecnologias para perfurados e as tecnologias sejam aperfeiçoadas para a redução
a exploração do petróleo e gás na camada pré-sal. Contudo, o de custos na exploração. Muitos testes ainda são desenvolvidos
elevado investimento para desenvolver essas tecnologias leva pela Petrobras para que os custos sejam cada vez menores
alguns a questionar se o projeto realmente é viável para o país. garantindo a maior eficiência na produção.

398
Recursos naturais e energéticos

Quais são os riscos desse investimento? Como a empresa é uma das pioneiras em tecnologias de
extração desses recursos em águas profundas, desenvolvida
Ainda há muitos riscos para o desafio do pré-sal, principal-
antes mesmo da descoberta da existência de petróleo em águas
mente em aumentar a produção diária de modo a justificar o
ultraprofundas, grandes esforços não foram medidos para que
alto investimento no projeto. Além desse entrave, no mundo
atualmente, a demanda por petróleo vem reduzindo signifi- se executasse um estudo mais preciso na camada pré-sal, ou
cativamente, e isso pode ser atribuído a maior eficiência dos seja, aquela abaixo da camada de sal existente no subsolo
processos industriais e dos meios de transportes que possuem oceânico, conforme mostrado na Figura.
tecnologias que não utilizam mais esse recurso. Vale destacar O que não se esperava é que o petróleo existente ali fosse
o surgimento de novas fontes de geração de energia, sejam de maior qualidade e produtividade que o da camada pós-sal,
elas limpas ou não, substituindo o petróleo como recurso ener- já que o fato dessa fonte de energia estar sob elevadas pressão
gético principal, e as restrições ambientais, dificultando assim, e temperatura, entre 80º e 100ºC, conservou sua pureza. Esse
a utilização dele como fonte primária de energia. tipo de combustível é denominado óleo leve, que o Brasil até
Somado a esses fatores, o preço do barril do petróleo vem então importava de outros países. Com a produção desse tipo
sofrendo oscilações nos últimos anos. Desde a Guerra do Yom de óleo, o Brasil substituiria a importação e esse produto teria
Kippur em 1973, quando houve uma séria crise do petróleo, maior valor no mercado, dado a sua alta qualidade.
não acontece uma grande alta no no valor do barril. Dentre as principais características do óleo leve, destacam-se:
I. é mais fácil de ser refinado, produzindo uma porcentagem
Onde será usado o dinheiro obtido com
maior de derivados finos;
a exploração? II. tem menos enxofre, poluindo menos quando é refinado;
Parte dos recursos provenientes da exploração do pré-sal,
III. portanto, é comercializado por um valor maior no mercado
ou seja, os royalties do petróleo extraído nessa camada, deverá
internacional.
ser direcionado para o Novo Fundo Social (NFS), principalmente
para as áreas de Educação e Saúde, combate à pobreza e Os produtos derivados de petróleo com maior valor agregado
questões sócioambientais, de acordo com a Lei sancionada não são necessariamente os combustíveis, mas sim os outros
pela então Presidente do país, Dilma Rousseff, em 2013. Os produtos duráveis e semiduráveis resultantes do refino de
recursos serão aplicados progressivamente e a previsão é que petróleo. Os subprodutos do petróleo incluem desde produtos
até 2022 os valores que serão repassados ao Fundo Social inflamáveis, fertilizantes, agrotóxicos, produtos farmacêuticos,
superem a casa dos R$100 bilhões. materiais sintéticos, tintas, solventes, detergentes, vernizes, bor-
racha sintética e plásticos (polímeros), dos quais se desta¬cam
A lei do pré-sal: propostas do governo os policarbonatos, poliuretanos, polipropileno, PVC e PET.
para a exploração de gás e petróleo em
Geopolítica do pré-sal
águas profundas do litoral brasileiro
Para o governo federal, a exploração do petróleo da camada
Sistema de partilha prA grande expectativa por parte do governo federal em torno da
Como os lucros advindos da exploração do pré-sal ainda exploração da camada pré-sal vai proporcionar ao Brasil uma
são em parte desconhecidos, a Petrobras criou em 2010 um forte segurança energética contra possíveis crises mundiais
Regime de Partilha da Produção, através de duas Leis nº no ramo de energia.
(12.304 e 12.351), aplicável às áreas não concedidas e não A exploração e produção do recurso vai aumentar a impor-
cedidas onerosamente pelo Polígono do Pré-Sal das Bacias tância econômica e geopolítica do país no mercado mundial,
de Santos e Campos, com o objetivo de partilhar a exploração fortalecendo assim a economia brasileira, equiparando-a a
para a produção em novos campos. Elas representam cerca grandes impérios econômicos da atualidade, como Estados
de 1% desses campos, medindo 1.548Km², na área de Libra. Unidos, China, União Europeia e Japão. A balança comercial do
Esse sistema é caracterizado pelo compartilhamento do que é país vai aquecer, assim como novos empregos serão gerados.
produzido entre as empresas que são contratadas pelo Estado. Em contrapartida, a exploração do pré-sal gera certa inse-
Foi criada a PPSA (Pré-Sal Petróleo S.A) com o objetivo de
gurança, já que o país também investe e oferta outras fontes
representar a União e gerir novos contratos que envolvem a
de energia que ganham cada vez mais espaço no mercado
exploração do recurso por outras concessionárias.
energético.
Como fica a Petrobras?
A estatal será a operadora de 100% dos blocos a serem explo- Reflexos para o Brasil
rados. Cabe também a União contratar diretamente a Petrobras Além do fortalecimento econômico do país e geração de
ou empresas privadas por meio de licitações. Mesmo assim, a empregos, o Brasil manteria o petróleo e seus derivados como
empresa terá participação de 30% dos lucros de cada bloco. principal fonte de energia para as próximas décadas. Essa de-
pendência energética tardaria o processo de renovação para
Onde está a riqueza do pré-sal brasi- fontes de energias mais sustentáveis no mundo.
leiro e suas vantagens Somado a isso, o país poderia entrar para o grupo dos gran-
des poluidores mundiais, juntamente com os Estados Unidos,
De acordo com os resultados obtidos através de perfurações China e União Europeia.
deA camada pré-sal se localiza sob o leito marinho, entre os esta- Todos esses fatores refletem o uso do petróleo da camada
dos do Espírito Santo a Santa Catarina, e se estende por aproxi- pré-sal, porém vale ressaltar que se trata de uma previsão para
madamente 800 km, podendo atingir também 200 km de largura.
as próximas décadas em meio a grandes transformações e ino-
Através de pesquisas realizadas por geólogos da Petrobras vações tecnológicas recorrentes. Permanece assim a questão
especializados na camada pós-sal, foi questionada a existência da respeito da viabilidade da exploração a médio e longo prazo
de petróleo e gás em regiões mais profundas. dessa camada.

399
Geografia

E) O projeto do Proálcool, ao privilegiar os usineiros,


Exercícios produziu alterações na organização espacial do
campo, agravando os problemas relacionados à
1. (G1 - col. naval – 2016) Entende-se por energia a concentração de terras e ao êxodo rural, além do
propriedade que possuem certos corpos de produzir tra- incentivo à monocultura.
balho ou gerar força. Com relação às fontes de energia
brasileiras, assinale a opção INCORRETA. 3. (EsPCex (AMAN) – 2017) A queima do petróleo, do
A) A nossa procura por fontes energéticas renováveis carvão e, em menor escala, do gás natural, libera gases
surge como alternativa importante para superar poluentes na atmosfera, entre eles o dióxido de carbono
dois problemas sérios: a escassez de fontes de que intensifica a ação do efeito estufa. Diante desse
energia não renováveis, principalmente o petróleo, fato, a busca de alternativas energéticas renováveis e
e a poluição ambiental causada por essas fontes, de padrões de consumo compatíveis com o desenvol-
sobretudo pelos combustíveis fósseis. vimento sustentável tem feito parte do rol dos grandes
desafios do nosso tempo.
B) Em 1975, o programa de substituição da gasolina
pelo álcool etílico – o chamado Proálcool – e o in- Sobre as fontes renováveis na matriz energética brasi-
cremento da utilização de energia elétrica em certos leira, podemos afirmar que
setores industriais que antes utilizavam o óleo diesel I. o Brasil apresenta um setor de energia mais susten-
reforçaram essas mudança no perfil das fontes de tável, do ponto de vista ambiental, do que a maioria
produção e consumo de energia. dos países do mundo, considerando a significativa
C) O carvão mineral, que ocupa papel destacado em participação das fontes renováveis em sua matriz
nossa matriz energética, possui suas maiores jazi- energética.
das no Estado do Paraná, São Paulo e Minas Ge- II. a política energética do País, definida no Plano De-
rais, o que acabou beneficiando a Região Sudeste cenal de Energia (2011), prevê a ampliação do uso
em seu desenvolvimento industrial, especialmente do potencial elétrico dos rios da Região Norte, espe-
a partir dos anos 1940. cialmente os da Bacia Amazônica, não obstante os
D) O aproveitamento do potencial hidrelétrico (inventa- diversos problemas socioambientais relacionados
riado e estimado) é pequeno no país, evidenciando à implantação de uma grande usina hidrelétrica.
um subaproveitamento no setor; no entanto, repre- III. a crescente utilização de biocombustíveis na matriz
senta uma garantia para a sustentação de nosso energética brasileira, além de reduzir a emissão de
desenvolvimento econômico, ainda que o impacto gases que geram o efeito estufa, tem a vantagem de
ambiental gerado por essa modalidade energética contribuir para o controle do desmatamento.
gere muita polêmica entre os ambientalistas. IV. apesar de o etanol apresentar vantagens em relação
E) Datam do ano de 1956 as primeiras intenções de aos combustíveis fósseis, nas últimas décadas a
implantar centrais nucleares de pequeno porte para produção de cana-de-açúcar e de álcool vem dimi-
a produção de energia elétrica no Brasil; no entanto, nuindo no País, em função da queda do consumo
foi somente a partir de 1967 que o programa nuclear desse combustível e dos fortes impactos ambientais
brasileiro começou a ser definido, exatamente pelas provocados no plantio e colheita da cana.
particularidades políticas e econômicas da época. V. a energia eólica é uma fonte renovável em expansão
no Brasil, mas possui elevado custo de instalação.
2. (G1 - col. naval – 2014) Leia o trecho a seguir.
Embora o Nordeste seja a região que apresenta
Um dos graves problemas que o Brasil vem enfrentan- um dos maiores potenciais eólicos do País, é em
do desde 2001 é a crise de energia com ameaças dos Osório, no Rio Grande do Sul, que se localiza o
“apagões”. Para minimizar tal preocupação, muito se maior parque eólico nacional.
fala na necessidade de diversificar a matriz energética
Assinale a alternativa que apresenta todas as afirma-
brasileira. Assim, com relação aos biocombustíveis,
tivas corretas.
assinale a opção correta.
A) I, III e IV D) I, III e V
A) A limitada disponibilidade de espécies de plantas no
uso da produção de bioenergia torna o país refém B) II, III e IV E) II, IV e V
da cana de açúcar, que possui custos elevados na C) I, II e V
produção do etanol.
4. (EsPCex (AMAN) –2011) Assinale a alternativa que
B) Embora o Brasil apresente condições naturais
ordena, de forma decrescente, a participação de cada
favoráveis para a produção da cana-de-açúcar, a
uma das fontes de energia em relação ao total consu-
deficiência tecnológica para a produção do bio-
mido no mundo.
combustível coloca o país entre os menores índices
mundiais de produtividade. A) Nuclear e Carvão
C) A expansão de áreas agricultáveis para o cultivo da B) Hidrelétrica e Gás Natural
cana-de-açúcar e de oleaginosas com fins energéti- C) Gás Natural e Petróleo
cos ocorre em áreas de pastagens abandonadas, por D) Hidrelétrica e Petróleo
isso, não causam diminuição no cultivo de alimentos.
E) Petróleo e Carvão
D) A produção de biodiesel realizada com matéria pri-
ma cultivada em pequenas propriedades familiares
Gabarito
foi responsável por abastecer o mercado interno e
favorecer parte da exportação do produto ao mer- 1. C 3. C
cado norte-americano. 2. E 4. E

400
Capítulo 29

Redes de circulação: transportes e vias


mercados e aliviando pressões inflacionárias. O país deixaria
Os transportes no Brasil de consumir cerca de 600 bilhões de reais em óleo diesel,
A política brasileira de transporte é baseada no rodoviarismo energia equivalente a dez vezes a geração anual de Itaipu,
desde a década de 1960, o que tem provocado uma série de evitando a emissão de 800 milhões de toneladas de dióxido
consequências adversas para a economia do país, uma vez de carbono, uma significativa contribuição à mitigação do
que durante todo esse tempo os outros meios foram, de alguma aquecimento global.
forma, negligenciados. As ligações ferroviárias e hidroviárias entre a vasta região
Recentemente, houve uma tentativa de modernizar o sistema central e a faixa litorânea do país, reduzindo os elevados fretes
de transportes, através do Programa de Aceleração do Cresci- atuais, induziriam uma onda de desenvolvimento no interior,
mento (PAC), um plano de infraestrutura que asseguraria inves- gerando mais de 30 milhões de empregos distribuídos por
timentos em energia e, sobretudo, no setor de transporte. Ainda centenas de novas cidades. Tal ocorrência poderia absorver
hoje é preciso modernizar os portos, rodovias, criar hidrovias, a sobrecarga dos grandes fluxos migratórios dos municípios
portos secos e investir em ferrovias e no sistema intermodal. costeiros. Por sua vez, as próprias cidades litorâneas, substi-
O Brasil, que chegou a arrancar os seus trilhos nos últimos 30 tuindo o caminhão pela navegação de cabotagem, estimulariam
anos, precisa investir na ampliação do sistema ferroviário e fortemente o comércio entre si, que é feito atualmente por
viabilizar a implantação de trens de alta velocidade. estradas em condições precárias, sobretudo. Seriam inúmeras
Somos o quarto maior país em área contínua do planeta: oportunidades de desenvolvimento, inclusive integrando os
a distância entre o Rio de Janeiro e o Acre, ou entre o Rio grandes centros litorâneos do País com as dos países vizinhos,
Grande do Sul e o Ceará, equivale à de Lisboa a Moscou. desde a Patagônia até a Venezuela.
São dimensões continentais que exigem grande esforço para Ao contrário do que parece, para este resultado não seria
serem vencidas, o que torna o nosso sistema de transportes necessária uma quantia muito alta de investimentos. O cál-
fundamental para nossa integração e desenvolvimento. culo aponta para uma injeção entre 40 e 60 bilhões de reais,
Assim, os grandes países, como Canadá, China, Rússia, aplicados ao longo de dez anos na construção de troncos
Estados Unidos, e países da União Europeia, se esforçam con- ferroviários, aquavias e portos. É uma quantia irrisória em face
tinuamente para reduzir os custos de transporte, investindo na dos benefícios auferidos. E, como importante consequência do
modernização da infraestrutura e tornando as distâncias cada processo, planejando com inteligência e focando os interesses
vez menos importantes na equação econômica. Porém, no do País, poderíamos criar uma poderosa indústria ferroviária,
Brasil, os longos trajetos são vencidos predominantemente por portuária e de navegação próprias, como ocorre com nossa
caminhões e ônibus. Esta distorção nos impõe extraordinários indústria aeronáutica.
prejuízos, dentre os quais uma ocupação territorial desequilibra- A agricultura, uma das grandes vítimas do gargalo do trans-
da, onde se destaca uma vasta região interior de acesso caro porte atual, seria grandemente beneficiada.
e difícil, pouco povoada, contrastando com uma faixa costeira O país se manteve muito tempo indiferente a ferrovias, hi-
que abriga quase 80% da população e da economia. drovias, navegação, portos, estaleiros, laboratórios, centros de
Para ilustrar essa escala, imaginemos o Brasil possuindo pesquisa e cursos de engenharia. Um período ao longo do qual
um sistema de transporte semelhante ao do Canadá, com sua órgãos públicos foram corrompidos e desestruturados, cargos
participação racional de rodovias, ferrovias e navegação, cada técnicos ocupados por leigos, portos tratados como feudos
qual atuando em sua faixa própria: caminhões em distâncias políticos, ferrovias privatizadas sem obrigação de redução de
curtas e médias, ferrovias e navegação nos trajetos maiores fretes, pulverização de usuários, ampliação da malha, desen-
e nos troncos de grande densidade de tráfego). E calculemos volvimento de novas regiões e eletrificação. A navegação de
os benefícios resultantes. cabotagem permanece embrionária, e as rodovias, castigadas
As contas foram efetuadas à luz da experiência que acumu- por excesso de trafego, pesos e manutenção precária.
lamos no desenvolvimento dos grandes corredores ferroviários
de Carajás, Norte - Sul, Ferronorte e Centroleste. Os resultados Sobre o modal rodoviário
obtidos foram extraordinários: ao longo dos próximos 25 anos,
O transporte rodoviário é utilizado para o transporte de
o PIB brasileiro cresceria cerca de 3,8 trilhões de reais, o que
mercadorias e pessoas por veículos automotores (ônibus, ca-
equivale ao PIB atual. Seriam arrecadados 660 bilhões de reais
minhões, veículos de passeio, etc.). Como possui, na maioria
adicionais em impostos, economizaríamos 130 bilhões em ma-
dos casos, preço de frete superior ao hidroviário e ao ferroviá-
nutenção rodoviária e 30 bilhões em acidentes. Além do fator
rio, é adequado para mercadorias de alto valor ou perecíveis,
financeiro, cerca de 360 mil mortes nas rodovias seriam evitadas.
produtos acabados ou semiacabados.
As empresas também se beneficiariam muito. Elas fariam
uma economia de por volta de 800 bilhões de reais em frete,
uma fantástica quantia que seria reinvestida em suas atividades,
aumentando a competitividade, reduzindo preços, ampliando

401
Geografia

Matriz de Transporte no Brasil Matrizes de Transportes – Comparativo Internacional


60,5% Rússia 81% 8% 11 %

Canadá 46% 43% 11 %

Austrália 43% 53% 4%


20,8%
13,9% EUA 43% 32% 25%
4,5%
0,3% China 37% 50% 13%

Rodoviário F e r r o v i ári o Du to vi á ri o Aq u a vi á ri o Aéreo


Brasil 24% 62% 14%
Fonte: Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT)

Ferroviário Rodoviário Hidroviário


Comparando com outros países:

Comparação entre as capacidades de carregamento dos modais

Navegação interior Ferroviário Rodoviário

1 Comboio - 6.000 t 2,9 Comboios Hopper 172 carretas de 35 t


(4 chatas e empurrador) 86 viações de 70 t

Transportes: “sem o caminhão o Brasil para”

Protesto dos caminhoneiros contra o aumento no preço dos combustíveis - 12 de Fevereiro de 2015
Disponível em: http://www.eshoje.jor.br/_conteudo/2015/02/noticias/26772-caminhoneiros-planejam-protestos-nas-brs-101-e-262-durante-o-carnaval.html.

Os transportes são fundamentais para as relações econômicas do mundo. O setor desempenhou papel fundamental no processo
de desenvolvimento econômico e de integração nacional do território brasileiro.
A integração do território brasileiro é um fato muito recente. Até poucas décadas, as regiões Norte e Centro-Oeste encontravam-
-se quase isoladas do restante do país. A integração nacional dessas regiões só ocorreu na década de 70.
Até a primeira metade do século XIX, os meios de transportes utilizados no Brasil eram o marítimo (navegação costeira), o
fluvial (pequenas embarcações) e o terrestre (carruagens e lombo de animal). Os transportes modernos (ferroviário, rodoviário,
etc.) foram implantados no Brasil a partir da segunda metade do século XIX.
Da segunda metade do século XIX até a década de 30 do século XX, predominaram no Brasil os transportes hidroviário (marítimo,
fluvial) e ferroviário. A partir da década de 40 o transporte rodoviário passou a predominar sobre os demais meios de transporte.
No início da década de 50, o predomínio do transporte rodoviário já era bastante acentuado. Desde então, e principalmente após
a implantação da indústria automobilística (1956), o rodoviarismo tomou conta do país.
Atualmente, o transporte rodoviário é responsável por cerca de 90% dos passageiros transportados e mais de 60% do trans-
porte de mercadorias.

402
Redes de circulação: transportes e vias

O Brasil é um dos poucos países de grande extensão territorial onde o transporte rodoviário é preponderante. Comparado a
outros meios de transporte, como, por exemplo, o ferroviário e o hidroviário, o transporte rodoviário é bastante desvantajoso ou
antieconômico. Isso porque oferece pequena capacidade de carga, apresenta maior consumo proporcional de combustível e
dependência do petróleo (o Brasil não é autossuficiente em diesel), os riscos de acidentes são maiores e o custo de manutenção
do asfalto é mais elevado.
Nos países desenvolvidos, tanto os de grande extensão como os de pequena extensão territorial, as cargas e os passageiros
são, predominantemente, transportados pelos setores ferroviário e hidroviário.

O transporte ferroviário no Brasil

OCEANO ATLÂNTICO

Santarém
Belém/V. Conde

12 Itaqui
Manaus Pecém
Ferrovias
Açailândia
Hidrovias Estruturantes
Estreito Parnamirim
Malha Explorada
Porto Velho
Malha - PAC Eliseu Martins Salgueiro Suape

Malha - PIL 8
Figueirópolis Barreiras
Em Estudo 7
Lucas do Rio Verde 4 Salvador
Uruaçu
1 Ferroanel SP – Tramo Norte Aratu
Rondonópolis
2 Ferroanel SP – Tramo Sul 5
Ilhéus

3 Acesso ao Porto de Santos Belo Horizonte


Estrela
4 Lucas do Rio Verde – Uruaçu d’Oeste
Maracaju 9 Vitória
5 Uruaçu – Corinto – Campos 6
1
6 Rio de Janeiro – Campos – Vitória
3 Rio de Janeiro
10 2 Itaguai
7 Belo Horizonte – Salvador Santos
Paranaguá
8 Salvador – Recife
São Francisco do Sul
9 Estrela d’Oeste – Panorama – Maracaju Itajaí/Navegantes
11
10 Maracaju – Mafra OCEANO ATLÂNTICO

11 São Paulo – Mafra – Rio Grande


Rio Grande
12 Açailândia – Vila do Conde

O desenvolvimento do transporte ferroviário no Brasil está diretamente ligado à expansão da cafeicultura, primeiro no estado
do Rio de Janeiro (Vale do Paraíba) e a seguir no estado de São Paulo (interior).
As mercadorias transportadas neste modal são de baixo valor agregado e em grandes quantidades como: minério, produtos
agrícolas, fertilizantes, carvão, derivados de petróleo, etc.
Uma característica importante da linha férrea é a bitola que tem como definição a distância entre os trilhos de uma ferrovia. No
Brasil, existem 3 tipos de bitola: larga (1,60m), métrica (1,00m) e a mista. Esse fato reduz as possibilidades de integração da malha
ferroviária brasileira. Destaca-se que grande parte da malha ferroviária do Brasil está concentrada nas regiões sul e sudeste com
predominância para o transporte de cargas.
No Rio de Janeiro, as ferrovias escoavam a produção cafeeira do Vale do Paraíba até o Porto do Rio de Janeiro. Em São
Paulo, elas escoavam a produção cafeeira do interior até o Porto de Santos. O período de maior expansão ferroviária situou-se
entre 1870 e 1920 (“era das ferrovias”).
A partir de então, e principalmente após a crise da cafeicultura, o ritmo de expansão das ferrovias diminuiu acentuadamente.
Enquanto no período de 1870-1920 foram construídos quase 28.000 km de ferrovias, no período 1920-1960 foram construídos
menos de 10.000 km.

403
Geografia

A partir de 1960, a eliminação de vários ramais antieconômicos


fez com que a extensão férrea diminuísse de 38.280 km (1960)
para 30.177 km (1991). Enquanto isso, no mesmo período, a
extensão rodoviária passou de 476.938 km (1960) para 1.658.677
km (1997). A decadência do transporte ferroviário decorreu dos
problemas inerentes ao próprio setor ferroviário e, principalmente,
da concorrência do transporte rodoviário. Isso porque:
• orientadas no sentido interior-litoral para escoar a pro-
dução agrícola, as ferrovias não integraram as regiões
do país entre si;
• a partir da década de 30, quando a economia brasileira
começa a se transformar de agroexportadora em indus-
trial, alterando com isso os tipos de carga, as ferrovias
não estavam estruturadas para atender com rapidez e
eficiência a nova realidade do país;
• a existência de bitolas diferentes (bitola: espaço entre os O transporte rodoviário no Brasil
trilhos) não permitiu a integração das ferrovias;
Malha Rodoviária
• os traçados caóticos ou sinuosos resultavam em grande
morosidade no transporte de pessoas e mercadorias;
• os elevados custos de implantação das ferrovias, com OCEANO ATLÂNTICO
retorno muito demorado do capital investido, desestimu-
laram os investidores particulares;
• com a presença de montadoras de veículos (carros,
caminhões e ônibus), a partir de 1950, houve uma pres-
são das multinacionais para aumentar os investimentos
públicos em rodovias.
O setor ferroviário apresenta graves problemas, tais como:
excesso de funcionários, elevados deficits, material rodante
obsoleto, administração ineficiente, morosidade no transporte,
etc. Após o período de grande expansão ferroviária, poucos
quilômetros foram acrescentados à malha ferroviária existen-
te, podendo ser citadas como exemplo a Ferrovia do Aço e a 72 mil km de rodovias federais
Estrada de Ferro de Carajás. com 58 mil km pavimentos

Características do transporte ferroviário OCEANO ATLÂNTICO

de carga
• Grande capacidade de carga; Fonte: Ministério dos Transportes

• Adequado para grandes distâncias; O desenvolvimento do transporte rodoviário no Brasil teve


• Elevada eficiência energética; início no final da década de 20, no governo Washington Luís.
Autor do lema “Governar é abrir estradas”, foi Washington Luís
• Alto custo de implantação;
quem determinou a construção da Rodovia Rio-São Paulo,
• Baixo custo de transporte; a única pavimentada até 1940. A atual rodovia que liga os
• Baixo custo de manutenção; estados do Rio de Janeiro e São Paulo, a Via Dutra, só foi
• Possui maior segurança em relação ao modal rodoviário visto concluída em 1950, no governo Dutra.
que ocorrem poucos acidentes, furtos e roubos. A partir da década de 50, com a implantação da indústria
• Transporte lento devido às suas operações de carga e automobilística, o transporte rodoviário se transformou no
descarga; principal meio de locomoção do país, pois as rodovias ofe-
reciam traçados mais racionais, menor burocracia e maior
• Baixa flexibilidade com pequena extensão da malha;
rapidez e eficiência.
• Baixa integração entre os estados;
A partir do governo Juscelino Kubitschek (1956-1961),
• Pouco poluente. todos os demais governos investiram maciçamente no setor
No Brasil de transportes, principalmente no rodoviário.
• Cargas típicas do modal ferroviário e principais mercadorias O apogeu do rodoviarismo ocorreu no governo Médici
transportadas (TU) até setembro de 2014: minério de ferro, (1969-1974), período que coincide com a implantação dos
soja, açúcar, carvão mineral, grãos, milho, farelo de soja, óleo grandes projetos rodoviários (Transamazônica, Perimetral
diesel, celulose, produtos siderúrgicos, ferro gusa. Norte, pavimentação da Belém-Brasília, etc.) voltados para a
• O sistema ferroviário nacional é o maior da América Latina integração nacional. Coincide, também, com a implantação de
em termos de carga transportada atingido 166,2 bilhões de grandes projetos agropecuários e agrominerais (Polamazônia,
tku (tonelada quilômetro útil) em 2001. etc.) e a penetração maciça de capital estrangeiro.

404
Redes de circulação: transportes e vias

Juscelino Kubitschek e o rodoviarismo As duas crises mundiais do petróleo (1973 e 1979) pratica-
mente decretaram a falência dos grandes projetos rodoviários
O governo Juscelino Kubitschek (1956-1961) é o principal (Transamazônica, Perimetral Norte, etc.). Ainda assim, o Brasil
marco de referência da atual organização do sistema de trans- construiu, em pouco mais de duas décadas, a segunda maior
portes no Brasil, já que foi fundamentado no predomínio do malha rodoviária do mundo (1.662.000 km), inferior apenas à
rodoviarismo. O Plano de Metas priorizou os setores de energia dos Estados Unidos (6.233.000 km).
e transportes. Beneficiado com 30% do total de investimentos do
Plano de Metas, o setor de transportes investiu principalmente A década de 80, marcada por forte crise econômica, se
na construção e na pavimentação das rodovias. caracterizou pela implantação dos corredores de exportação
(integração de transportes para facilitar o escoamento da pro-
No período 1955-1960, enquanto a extensão rodoviária
dução até os portos marítimos) e das vias (rodovias e ferrovias)
total do país passou de 76.178 km para 108.355 km (42% de
especializadas no escoamento de determinados produtos.
aumento), a extensão das rodovias pavimentadas passou de
3.133 km para 12.703 km (305% de aumento). Até 1994 todas as vias de transporte eram administradas
pelos governos estaduais e federal. A partir de 1995, realiza-
Foi no governo Juscelino Kubitschek que se iniciou o proces-
ram-se privatizações de rodovias, por meio de concessões,
so de interconexão entre as regiões Nordeste, Sudeste e Sul.
ou seja, exploraram-se determinados trechos, por um período,
Essa interconexão visava transferir mão de obra do Nordeste
mediante o pagamento ao governo e o compromisso de manu-
para o Sudeste e o Sul do país, e produtos industrializados
tenção e de melhorias. A iniciativa privada já controla 10.000
dessas regiões para o Nordeste. No final do governo Médi-
Km de estradas federais e estaduais. As concessionárias co-
ci, todas as regiões brasileiras já estavam interconectadas,
bram pedágios dos usuários pela utilização das rodovias. Se,
completando-se a integração nacional.
de um lado, a conservação das estradas resulta em economia
Nos países desenvolvidos (como os países da Europa, os na manutenção de veículos e na redução de acidentes, de
Estados Unidos e o Canadá), as ferrovias tiveram importância outro lado encarece as viagens e os custos do transporte de
histórica na integração nacional, na dinamização econômica e carga, tendo influência direta no custo de vida.
comercial. Os investimentos feitos em ferrovias (trens modernos
e velozes, metrô) devem-se, entre outros fatores, às crises do O sistema de transporte rodoviário apresenta sérios proble-
petróleo e à expansão de transportes de massa. mas, como alto índice de acidentes e elevado número de roubo
de cargas de caminhões. A frota de veículos automotores tem
No Brasil, desde 1996 grande parte da malha ferroviária,
aumentado muito, e a maior parte desses veículos encontra-se
principalmente relacionada com o transporte de cargas, foi
nas áreas urbanas, principalmente nas regiões metropolitanas
privatizada. Observe a tabela:
do Rio de Janeiro e de São Paulo.
Carga deslocada de acordo com o tipo de transporte, Existe um descompasso entre a demanda e a oferta de
em alguns países desenvolvidos e no Brasil (em %) coletivos urbanos, devido aos baixos investimentos públicos.
Entre as consequências dessa situação estão o aumento do
Estados
Transporte Alemanha Japão França Brasil transporte informal ou clandestino (peruas, ônibus), a excessi-
Unidos
va utilização de veículos particulares, os congestionamentos,
Rodoviário 18 20 25 28 70 o aumento da poluição sonora e atmosférica nas cidades.
Ferroviário 53 38 50 55 20 Alguns projetos visaram a integração latino-americana,
como a instalação da rodovia do Mercosul, melhorando as
Hidroviário 29 42 25 17 10
condições de segurança e reduzindo os custos de transporte
entre São Paulo e o Rio Grande do Sul. O término da pavi-
O rodoviarismo e a integração nacional mentação da BR-174, que liga Manaus à Venezuela, abriu
uma saída para o Caribe.
A integração nacional por meio de grandes rodovias iniciou-
-se na década de 60 com a construção das rodovias Rio-Bahia
Características do transporte rodoviário
(1963) e Régis Bittencourt (BR-116), que interligaram as regiões
Nordeste, Sudeste e Sul. de carga no Brasil:
Entretanto, foi a partir da construção de Brasília que o
• Possui a maior representatividade entre os modais exis-
plano integracionista ganhou maior impulso e consistência. tentes;
A necessidade de ligar a nova capital federal ao restante do
país possibilitou a complementação e a construção de várias • Adequado para curtas e médias distâncias;
rodovias, tais como: • Baixo custo inicial de implantação;
• Rio-Belo Horizonte-Brasília (BR-40); • Alto custo de manutenção;
• São Paulo-Belo Horizonte-Brasília (Rodovia Fernão Dias, • Muito poluente com forte impacto ambiental;
BR-50);
• Maior flexibilidade com grande extensão da malha;
• Brasília-Belém (BR-10);
• Transporte com velocidade moderada;
• Brasília-Cuiabá (BR-70);
• Brasília-Fortaleza (BR-20) e outras. • Os custos se tornam altos para grandes distâncias;

Após a Revolução de 1964 surgiram os grandes projetos • Baixa capacidade de carga com limitação de volume e peso;
rodoviários (rodovias da integração nacional), responsáveis • Integra todos os estados brasileiros.
pela recente ocupação humana e econômica da Amazônia, e
por sua integração ao restante do país.

405
Geografia

Novos investimentos em Rodovias

OCEANO ATLÂNTICO

Itaqui
Santarém
Pecém

Suape

Salvador

Rodovias Vitória
Rio de Janeiro
BR-101 BA BR-060 DF/GO, Itaguai
BR-153 GO/MG, Santos
BR-262 ES/MG BR-262 MG
Paranaguá
BR-153 TO/GO BR-116 MG
BR-050 GO/MG BR-040 DF/GO/MG
BR-163 MT PAC em execução OCEANO ATLÂNTICO

BR-163 MS, Malha atual


BR-262 MS, Rio Grande
BR-267 MS Portos

Carga Pesada
o transporte pesa - e muito - no chamado custo Brasil

406
Redes de circulação: transportes e vias

O transporte hidroviário no Brasil operações de serviços. Desde 1991 tem sido transferida para
a iniciativa privada a exploração de terminais de contêineres.
As concessões para a operação de terminais e prestação de
serviços específicos acentuaram-se a partir de 1997.
Devido ao tradicional controle desse setor por empresas
estrangeiras, o Brasil sempre teve pequena participação no
transporte marítimo externo. Até 1967, a participação do Brasil
nesse setor de transporte era inferior a 10%.
Esforços governamentais realizados a partir de 1967 resul-
taram em substancial aumento da participação do Brasil no
transporte marítimo externo (cerca de 65% a partir de 1985).
Apesar disso, a navegação de longo curso continua apre-
sentando vários problemas, tais como:
• frota mercante insuficiente e falta de investimentos no
A política rodoviarista brasileira reduziu a participação hidro- setor;
viária no transporte de mercadorias de 32,4% em 1950 para • fraca organização governamental e empresarial;
12,75% em 2000. O transporte hidroviário classifica-se em
• pequena capacidade de competitividade com as empre-
marítimo e fluvial. O marítimo compreende duas modalidades sas estrangeiras;
de navegação: a costeira ou de cabotagem (ao longo do litoral)
e a internacional ou de longo curso. • graves deficiências no setor portuário (instalações ob-
soletas, morosidade, elevada incidência de furtos de
Transporte hidroviário é o tipo de transporte aquaviário mercadorias, etc.)
realizado nas hidrovias (são percursos pré-determinados para
Mesmo com as privatizações, o sistema portuário está longe
o tráfego sobre águas) para transporte de pessoas e merca-
de ser um exemplo de eficiência em tecnologia e informatização.
dorias. As hidrovias de interior podem ser rios, lagos e lagoas
Os custos portuários continuam altos e pouco competitivos se
navegáveis que receberam algum tipo de melhoria/sinalização/
comparados com os padrões internacionais.
balizamento para que um determinado tipo de embarcação
possa trafegar com segurança por esta via. Em 1999 existiam 44 portos no território nacional: 6 na região
Norte, 13 na Nordeste, 13 na Sudeste, 10 na Sul e 2 na Centro-
As hidrovias são de grande importância para este tipo de
-Oeste. Entre os mais importantes estão o de Santos, do Rio
modal, visto que, através dela consegue-se transportar gran-
de Janeiro, de Itaqui (MA), de Tubarão, de Sepetiba, de Porto
des quantidades de mercadoria a grandes distâncias. Nelas
Alegre, de Paranaguá e de Vitória.
são transportados produtos como: minérios, cascalhos, areia,
carvão, ferro, grãos e outros produtos não perecíveis. Apesar de subaproveitadas, duas hidrovias estão impul-
sionando o transporte fluvial no interior do Brasil e na ligação
Desde os primeiros tempos da colonização até o surgimento
com países vizinhos do Sul e Sudeste: a hidrovia do Paraná-
dos modernos meios de transporte (ferroviário, rodoviário, etc.),
-Paraguai e a do Tietê-Paraná, esta última também chamada
a navegação costeira ocupou lugar de destaque no transporte
de Hidrovia do Mercosul. Os obstáculos ao relevo, encontrados
de pessoas e mercadorias ao longo da extensa costa marítima
na construção de canais artificiais, são superados através da
do Brasil.
construção de eclusas e comportas, o que permite também a
A partir do início da Segunda Guerra Mundial a navegação utilização de rios de planalto.
costeira entrou em declínio. As principais razões disso foram
a impossibilidade de importar equipamentos e peças de repo- Hidrovias:
sição, o envelhecimento da frota mercante, a deterioração da
O Brasil possui uma rede hidroviária economicamente na-
infraestrutura portuária (instalações, equipamentos, armazena-
vegável de aproximadamente 22.037 km.
gem, etc.), a implantação de rodovias no sentido longitudinal do
país (norte-sul) e os altos custos da movimentação de cargas, Segundo o PNLT (2012), a participação do modal aquaviário,
o que afasta do padrão internacional os terminais portuários considerando hidrovias e cabotagem, é de 13% do total, sendo
nacionais, arruinando de vez a navegação costeira. Sua parti- que as hidrovias respondem por 5%.
cipação no transporte de mercadorias reduziu-se de 32,4% em Segundo o levantamento das vias economicamente nave-
1950 para 10% em 1991. gadas, realizado pela ANTAQ (2014), as principais hidrovias do
país são: Amazônica (17.651 quilômetros), Tocantins-Araguaia
A melhoria da navegação costeira depende de várias me-
(1.360 quilômetros), Paraná-Tietê (1.359 quilômetros), Paraguai
didas, tais como:
(591 quilômetros), São Francisco (576 quilômetros), Sul (500
• fusão das inúmeras pequenas empresas (que operam quilômetros).
com autorização do governo), gerando empresas maiores 52% do potencial navegável do país é utilizado para o trans-
e mais sólidas; porte de cargas ou passageiros, considerando o total previsto
• renovação da frota mercante e maior regularidade dos no PVN de 1973 e atualizações.
navios nos portos para melhor atendimento dos usuários; 80 % das hidrovias estão na região amazônica, especifica-
• maior eficiência empresarial e maior estímulo à iniciativa mente no complexo Solimões-Amazonas.
privada;
Características do transporte hidroviário
• modernização dos principais portos.
A partir de agosto de 1995 a navegação costeira ou de cabo-
de carga no Brasil:
tagem deixou de ser monopólio do governo federal. É permitida • Grande capacidade de carga;
a participação de empresas estrangeiras na navegação costeira • Baixo custo de transporte;
e na do interior (rios, lagos). • Baixo custo de manutenção;
A privatização do setor de navegação vem se processando • Baixa flexibilidade;
paulatinamente por meio do arrendamento das instalações e das • Transporte lento;

407
Geografia

• Influenciado pelas condições climáticas.


• Baixo custo de implantação quando se analisa uma via de leito natural, mas pode ser elevado se existir necessidade de cons-
trução de infraestruturas especiais como: eclusas, barragens, canais, etc.
HYPERLINK “http://www.portosdobrasil.gov.br/”

O transporte marítimo
Transporte marítimo é o tipo de transporte aquaviário realizado por meio de embarcações para deslocamentos de passageiros
e mercadorias utilizando o mar aberto como via. Pode ser de cabotagem/costeira (cuja navegação marítima é realizada entre
pontos da costa ou entre um ponto costeiro e um ponto fluvial) ou de navegação de longo curso/internacional (navegação entre
portos brasileiros e estrangeiros).
Destaca-se que o transporte marítimo é o principal tipo de transporte nas comercializações internacionais e pode transportar
diversos tipos de produtos como veículos, cereais, petróleo, alimentos, minérios, combustíveis, etc.

Portos:
O Brasil possui 8,5 mil quilômetros de costa navegáveis.
O complexo portuário brasileiro movimentou 931 milhões de toneladas de carga bruta em 2013, um crescimento de 2,9% em
relação a 2012.
Exportações: o setor portuário é responsável por mais de 90% das exportações do país.
Dos 34 portos públicos, 16 são delegados a estados ou municípios e 18 marítimos são administrados diretamente pelas Compa-
nhias Docas, sociedades de economia mista, que têm como acionista majoritário o Governo Federal e, portanto, estão diretamente
vinculadas à Secretaria de Portos.

Características do transporte marítimo de carga no Brasil:


• Grande capacidade de carga;
• Pode transportar cargas de grandes tamanhos;
• Baixo custo de transporte para grandes distâncias;
• Transporta diversos tipos de cargas;
• Flexibilidade superior ao transporte hidroviário;
• Transporte lento; e
• Necessidade de portos/alfândegas.
Hidrovias

Porto de Manaus Investimentos em Hidrovias (R$ 2.076 Milhões)


Corredores Hidroviários (R$ 1.591,5,8 milhões)
Hidrovia do rio Madeira
Hidrovia do rio Amazonas Terminais Hidroviários (R$ 341,8 milhões)
Estudos Hidroviários (R$ 23 milhões)
Ações Sociais - Tucuruí (R$ 31 milhões)
Hidrovia do rio Tapajos Porto de Manaus (R$ 89,1 milhões)
Estudos Hidroviários

Hidrovia do rio Parnaíba

Terminais Hidroviários
Amazonas
16 terminais
11 terminais
Hidrovia do rio São Francisco
Pará
3 terminais Hidrovia do rio Paraguai
11 terminais Dragagem – Passo do Jacaré

Randônia Hidrovia do rio Tieté


1 terminal
Obras
Hidrovia do rio Paraná
Projetos Estudos e Projetos
9 terminais nos estados Ação Preparatória
do PA, AC e RO Hidrovia do Mercosul Execução

Fonte: Ministério dos transportes.

O transporte aéreo no Brasil


A aviação comercial se iniciou no Brasil em 1927, com a criação da Varig (Viação Aérea Sul-Rio-Grandense). A primeira linha
aérea ligou as cidades gaúchas de Porto Alegre e Rio Grande.
Atualmente, todo o território brasileiro acha-se integrado pelo transporte aéreo e ligado a todos os continentes. Apesar disso,
se levarmos em conta o tamanho da população brasileira, veremos que o transporte aéreo é muito pouco utilizado no país. O
elevado preço desse transporte e o baixo poder aquisitivo da população explicam o caráter elitista do transporte aéreo. Existem
dez modernos aeroportos internacionais em funcionamento.

408
Redes de circulação: transportes e vias

A quantidade de passageiros pagos transportados em 2013 Os dutos também foram desenvolvidos devido ao avanço
atingiu o maior número da história da aviação brasileira. No total, tecnológico, permitindo a remessa de produtos a longas distân-
mais de 109,2 milhões de passageiros foram transportados em cias, como petróleo bruto (oleodutos), gás (gasodutos), minérios
2013, nos últimos dez anos, o crescimento foi de 165%. (minerodutos). Os dutos são tubos subterrâneos impulsionados
por bombeamento para superação dos obstáculos do relevo.
Transporte internacional de cargas Esse sistema de transporte diminui consideravelmente o
congestionamento das rodovias e ferrovias. Um exemplo é o
A quantidade de carga paga transportada em 2013 no trans- gasoduto Brasil-Bolívia.
porte aéreo internacional com origem ou destino no Brasil foi
recorde em relação aos últimos dez anos, com 777,6 mil tone- A hidrovia do Mercosul
ladas e crescimento de 69% em relação a 2004. O crescimento É claro que o centro industrial brasileiro não se concentra no
em relação a 2012 foi de 7,2%. Sul e sim no Sudeste – particularmente em São Paulo. Acontece
que os estados do Sul passam a ser um “corredor” obrigatório
Corredores de exportação
para o escoamento da produção do Sudeste. Inversamente, é
Etapa avançada da integração entre os transportes e a também o caminho para que Argentina, Paraguai, Uruguai e
economia, os corredores de exportação são áreas dotadas de Bolívia exportem seus produtos. Um caminho “natural” para a
uma infraestrutura que envolve o transporte, a armazenagem integração econômica será uma hidrovia de 5.800 quilômetros
e a comercialização de produtos, desde as áreas produtoras
que ligará os quatro países do Mercosul e a Bolívia, atravessan-
até os portos de exportação.
do os rios Tietê, Paraná, Uruguai e Paraguai. A construção da
A modernização e a eficiência dos corredores de exportação hidrovia gerou pelo menos 10 mil empregos diretos e significou
apresentam enormes vantagens: evitam prejuízos (demora no
uma economia anual de 800 milhões de dólares em termos de
escoamento da produção, deterioração dos produtos), reduzem
custos de transporte.
o preço final dos produtos e aumentam o poder de competitivi-
dade em relação aos países concorrentes. A implantação dos Nesse sistema hidroviário navegam comboios de até cinco
corredores de exportação decorreu da necessidade de o Brasil mil toneladas de carga, levando de 8 a 10 dias de Buenos
escoar sua produção com maior rapidez e eficiência, reduzir Aires até São Paulo. A hidrovia tornou muito mais econômico
custos e competir melhor no mercado externo. o transporte de mercadorias em geral. Por exemplo, o frete de
Num mundo cada vez mais internacionalizado, o aumento da uma tonelada de soja, embarcada em Santa Cruz de la Sierra,
eficiência, da velocidade e da agilidade na entrega de mercado- na Bolívia, para o Porto de Santos, deverá cair de 120 para 20
rias, assim como o barateamento dos custos e a modernização dólares. Desde 1996, um gasoduto passando pela região da
operacional e tecnológica são medidas necessárias aos meios hidrovia começou o transporte de gás natural da Bolívia para
de transporte e às vias de circulação de um país. São Paulo. A parte brasileira da hidrovia até Itaipu foi comple-
Com o avanço tecnológico, surgiram outros meios de trans- tada em 1984 e permitiu intensificar o movimento de grãos, do
porte, principalmente de valores, efetuados através de redes de Centro-Oeste brasileiro rumo a Santos, e o transporte de ferro,
informação computadorizadas, possibilitando a transferência de combustível e material de construção para o interior de São
recursos monetários de uma praça à outra, de imediato. Essa Paulo, norte do Paraná, sul do Mato Grosso e Goiás.
rapidez e essa eficiência são responsáveis pelo movimento das A hidrovia também abriu grandes possibilidades de turismo.
bolsas de valores mundiais e as oscilações que provocam as
especulações econômicas, trazendo prejuízos para as econo- É incalculável o impacto social e cultural da hidrovia nas
mias mais frágeis do mundo. regiões envolvidas. Uma região imensa terá os ritmos de vida
modificados pela passagem permanente de grandes embarca-
Corredores de exportação ções e por uma promissora indústria turística.
Belém
Castanha O TRAÇADO DA TIETÊ-PARANÁ
Madeira
Borracha Hidrovia tem 1.040
Bauxita etc.

São Simão Rio Grande


Recife
Açúcar Ri
MATO GROSSO Nova o Pardo
DO SUL Avanhandava
Promissão
Porto Ibitinga
Primavera SÃO PAULO Bariri
Vitória - Tubarão Barra Bonita
Minérios, café e
madeira Rosana Rio Tietê
Rio
á

Rio de Janeiro Paranapanema São Paulo


an

Paranaguá Manufaturados ilha Grande


ar
oP

Café, soja, milho e café


e madeira Paraná
Ri

Santos
Manufaturados,
Rio Grande café e carnes Trecho navegável
Soja, arroz, Itaipu Trecho a concluir
carne, calçados, Escala 1 : 220.000
Corredores de exportação e óleos vegetais

Apesar de todos os benefícios, o projeto inclui um conjunto


Para viabilizar uma maior relação custo/benefício foram de intervenções humanas que afetou diretamente o Pantanal
desenvolvidos sistemas de empacotamento em grandes caixas mato-grossense e provocou inúmeros impactos ambientais,
denominadas contêineres, que possibilitam melhor aproveita- como por exemplo:
mento do espaço, pois permitem o empilhamento.

409
Geografia

• perda da biodiversidade local, regional, global; Intermodalidade


• diminuição da pesca;
• alteração do regime hídrico;
• contaminação da água pelo óleo diesel das embarcações;
• alteração nas cadeias alimentares;
• maior povoamento ao longo do traçado da hidrovia;
• maior utilização dos recursos naturais regionais;
• erosão dos solos, assoreamento de rios, contaminação
do solo por agrotóxicos, em decorrência da expansão da
agricultura, etc.

Transporte intermodal
O transporte intermodal pode ser considerado como um sis-
tema constituído pelas infraestruturas, pelos veículos e pela
respectiva exploração. Existem vários modos de transporte
como seja o marítimo, o rodoviário, o ferroviário e o aéreo. Todos
possuem uma rede que, no caso da rodovia, é constituída pelas
autoestradas e estradas convencionais, enquanto a ferrovia é
servida pela rede convencional, suburbanos e Alta velocidade. Esquema de funcionamento do sistema intermodal
Cada uma destas redes é organizada por nós que, na ferro- 1. “rodovia rolante” ou “autoestrada ferroviária”:
via, são as estações, no marítimo são os portos e no aéreo são
Transporte de caminhões e seus motoristas (em um vagão-lei-
os aeroportos. Os nós podem ser considerados como pontos
to). Desvantagem: limite de altura. Depois de 2003, a companhia
onde é possível mudar de rede. Modalhor desenvolveu um vagão rebaixado e articulado que
Os diferentes sistemas de transporte devem promover ao pivota a 45º e permite descarregamentos rápidos. A “rodovia
máximo, a coordenação dos seus modos e respectivas redes. rolante” é apropriada para médias distâncias ou travessias de
Para que tal seja melhorado, é necessário interligar todos os áreas delicadas (urbana, e montanhosas, etc.).
seus nós. 2. transporte combinado: apenas as caçambas, encaixadas
em vagões chatos, seguem viagem, não os motoristas. Um
As empresas procuram novas soluções que lhes reduzam os
reboque (o caminhão) vem e retira as caçambas. A operação
custos, combinando as possibilidades: caminhão-trem, barco-
é executada com uma máquina de transbordo.
-trem, avião-trem-caminhão etc.
3. transporte de contêineres: a operação é feita com um
O transporte combinado permite coordenar os meios de guindaste; o contêiner é içado sobre um caminhão com ca-
transporte por estrada, ferrovia, mar e, recentemente, aéreo, çamba. Essa solução tem a vantagem de deslocar apenas a
facilitando a sua intermodalidade. Os meios que utiliza são mercadoria, ou seja, o contêiner.
contentores, caixas móveis, caminhões e semi-reboques sobre 4. técnica de semitrem: caçamba repousa sobre truques
carruagens e barco. Já se utiliza o transporte de caminhões ferroviários (sem vagão). Essa técnica oferece a vantagem de
sobre vagões. baixa altura do trem.
Fonte: Le Monde Diplomatique. Atlas do meio ambiente. São Paulo. Pólis. 2008, p.27.
logística é um termo de origem militar que estava associado
à técnica de deslocamento e transporte das tropas e seu abas-
tecimento. É uma atividade ligada ao processo de planejamento Exercícios
e gestão de uma cadeia de abastecimento.
1. (EsPCex – 2012) Nos últimos anos, o Brasil tem realizado
Porto seco é um terminal intermodal de mercadorias, rodo- um enorme esforço no sentido de ampliar sua participação
-ferroviário, situado no interior de um país e que possui uma no comércio internacional, buscando superar os elevados
ligação direta a um porto marítimo. custos de deslocamento que dificultam a chegada dos
A principal vantagem do transporte intermodal consiste em seus produtos aos mercados externos. Dentre as princi-
pais propostas de ação da atual política de transporte no
combinar as potencialidades dos diferentes modos de transpor-
País, pode-se destacar
te. Desta combinação podem resultar importantes reduções dos
custos econômicos, segurança rodoviária, poluição, consumo A) a completa substituição do sistema rodoviário, que
é mais dispendioso, pelos sistemas hidroviário e
de energia, redução do tráfego rodoviário. Permite, caso seja
ferroviário.
utilizado o modo ferroviário ou marítimo, que o transporte seja
B) a construção de estações intermodais a fim de permitir
efetuado ao fim de semana ou de noite, com segurança.
a integração dos diferentes meios de transporte do País.
O transporte intermodal só poderá ser uma realidade se for C) a construção de novas infraestruturas de circulação
competitivo perante o transporte rodoviário (unimodal) e, para urbana (pistas expressas, viadutos) com o propósito
que tal aconteça, será decisivo que, no processo de mudança de reduzir congestionamentos e valorizar a paisagem
de modo de transporte, este seja eficaz e de baixo custo; caso urbana das grandes cidades.
contrário, este sistema poderá ser um falhanço. D) a eliminação do transporte de cabotagem com vistas a
reduzir os custos portuários e a intrincada burocracia
Para que tudo seja um sucesso é necessário possuir uma
administrativa.
rede de infraestruturas, novas tecnologias, simplificação de
E) a redução da participação dos investimentos e do con-
processos administrativos e redução dos custos na mudança
trole do setor privado sobre o transporte rodoviário e
de modo de transporte. sobre o setor portuário a fim de eliminar, por exemplo,
os custos com pedágio.

410
Redes de circulação: transportes e vias

2. (G1 - col. naval – 2017) “Hoje não basta produzir. É IV. a implantação e a expansão das redes intermodais,
indispensável pôr a produção em movimento, pois agora principalmente no que diz respeito à conexão de
é a circulação que preside a produção.” infraestruturas entre os diferentes modais de trans-
SANTOS, M. & SILVEIRA, M. L. O Brasil: território e socieda-
porte, ampliarão a fluidez dos fluxos de bens e de
pessoas, ao mesmo tempo que contribuirão para a
de no início do século XXI. São Paulo: Editora Record, 2001.
desconcentração das atividades econômicas no País.
Em tempos de economia globalizada e alta compe-
V. o transporte aéreo de carga suplanta o transporte de
titividade internacional, o crescimento econômico passageiro em termos de importância para a aviação
brasileiro vem esbarrando em dificuldades impostas comercial no Brasil e no mundo, haja vista o signifi-
pela inadequação de seu sistema de transportem ainda cativo valor monetário das mercadorias que circulam
predominantemente rodoviário. pelas vias aéreas.
A respeito das políticas de transporte de cargas no Assinale a alternativa que apresenta todas as afirmativas
Brasil, assinale a opção correta. corretas.
A) As dimensões continentais do país, associadas a A) I, II e III
algumas condições naturais, como um relevo for- B) I, III e IV
temente acidentado, impediram a implantação de C) II, III e V
uma matriz de transportes multimodal. D) I, IV e V
B) O transporte ferroviário é pouco utilizado no território E) II, IV e V
brasileiro por se tratar de um sistema caro e com-
plexo, incompatível com o nível de desenvolvimento Gabarito
econômico contemporâneo do país. 1. B
C) O transporte de carga por caminhões tem um 2. C
custo mais elevado do que o realizado por outros 3. B
meios, como trens e navios, visto que o volume de
mercadorias transportando por litro de combustível
é menor.
D) O transporte ferroviário tem se apresentado como o
principal substituto do sistema rodoviário em função
dos maciços investimentos estatais na expansão
desse modal no fim do século XX.
E) A opção pelo transporte rodoviário ainda predomina
no Brasil devido à queda do preço dos combustíveis
no país, em especial após a descoberta de grandes
reservas de petróleo conhecidas como pré-sal.

3. (EsPCex (AMAN) – 2017) O sistema de transporte é um


elemento determinante da competitividade das merca-
dorias produzidas por um país nos mercados internos e
externos, uma vez que os custos de transporte incidem
sobre os custos das matérias-primas e dos produtos
finais.
Sobre os diferentes modais de transporte no Brasil,
pode-se afirmar que
I. o modal hidroviário é o que apresenta o menor
consumo de combustível por tonelada transpor-
tada, contudo a implantação de hidrovias no País
envolve obras civis de forte impacto ambiental e de
elevado custo.
II. em virtude do predomínio do modal rodoviário no
transporte de carga e da sua maior flexibilidade
nos percursos, a política de transporte brasileira
continua, quase que exclusivamente, baseada na
expansão e modernização das rodovias.
III. no que se refere ao modal ferroviário, a Ferronorte é
um empreendimento que visa facilitar o escoamento
da produção agrícola do Mato Grosso e Rondônia,
tanto pelos portos de São Paulo como pelos da
Região Norte do País.

411
Capítulo 30

Agropecuária
Geografia econômica o meio rural • o aumento da produção acarretou queda dos preços dos
produtos agrícolas;
O meio rural organiza-se em propriedades classificadas
segundo o tamanho (em hectares) do imóvel rural – pequenas, • a produção e a distribuição mundial de alimentos são
controladas por companhias transnacionais que, além de
médias e grandes propriedades –, o que chamamos de estru-
controlar a produção, impõem os preços.
tura fundiária. Em cada região, tal estrutura será influenciada
por um conjunto de fatores correlacionados, como as condições COELHO, M. de A. Geografia geral: o espaço natural e so-
cioeconômico. 4. ed. São Paulo: Ed. Moderna. p. 401.
naturais (solo, clima), os sistemas de uso da terra, os tipos de
atividades agrícolas, as distâncias entre as áreas produtoras e A atividade agrícola sofreu grandes modificações a partir
os mercados consumidores, mais as modalidades de transporte de meados do século XVIII, com a introdução de maquinários.
disponíveis. Assim, os interesses do mercado vão condicionar O espaço de produção agrícola, que até então comandava a
os investimentos de capital e trabalho no uso da terra, pois os economia dos países, passou a desenvolver uma relação de
custos da produção têm que ser compatíveis com a rentabili- interdependência com o espaço industrial. A terra, o trabalho
dade programada. e o capital são os fatores econômicos que determinam a pro-
Historicamente, o Brasil vem se caracterizando pelo predo- dução agrícola, e a intensidade do seu emprego caracteriza os
mínio das grandes propriedades (latifúndios), desde o período sistemas agrícolas.
colonial, quando foram concedidas as sesmarias. Em 1850,
a Lei de Terras instituiu a posse por meio da compra, possi-
Agricultura
bilitando o acesso à terra apenas a quem tinha dinheiro. Com Conceito: atividade produtiva integrante do setor primário
a modernização da economia, o emprego cada vez maior da da economia. Caracteriza-se pela produção de alimentos e
tecnologia, o progresso dos transportes e a intensificação dos matérias-primas decorrentes do cultivo de plantas e do uso
intercâmbios, são os mercados de consumo local, regional, da terra.
nacional e internacional que vêm dominando todo o sistema
Tabela 1 – População e área cultivada
de produção, impondo a diminuição dos custos e o aumento
Área cultivada
dos lucros. População PEA na
Continente (% sobre
Nesse contexto, os pequenos agricultores vêm enfrentando rural (%)* agricultura (%)*
o total)**
dificuldades devido à falta de capital para os investimentos África 62,3 57,6 6,5
necessários. O cooperativismo apresenta-se como uma alter- América
nativa para competir com as grandes empresas agrícolas que 22,8 2,1 11,7
do Norte
dominam o setor. Podemos citar como exemplo o grande afluxo América
32,5 24,0 22,1
de investimentos com incorporação de avanços tecnológicos, Central
América
que permitiram ao setor agrário, a partir da década de 1960, 20,2 17,8 6,6
do Sul
obter aumentos acumulados de produtividade, – a chamada Ásia 62,4 56,3 17,5
Revolução Verde. Contudo, esses avanços ocorreram apenas
Europa 25,0 8,6 13,8
em determinadas regiões de alguns países, contribuindo muito
Oceania 29,8 19,0 6,4
pouco para reduzir as desigualdades entre as camadas sociais
ao redor do mundo. Fonte: * FAO em 2000. ** Dados de 1997.
Dessa forma, é possível fazer algumas considerações:
Sistemas agrícolas
• a produção de alimentos é suficiente para nutrir toda a
humanidade, mas milhões de pessoas passam fome; Sistema agrícola “é a combinação de técnicas e tradições,
adaptadas às condições naturais, à organização da economia
• o Brasil é um dos maiores produtores mundiais de alimen-
tos, mas milhões de brasileiros são subnutridos; e à densidade de povoamento.” (NOGUEIRA. Síntese Geoe-
conômica do Brasil). Os variados sistemas agrícolas resultam
• a maior parte dos países subdesenvolvidos tem população
dos fatores terra, trabalho e capital. De um modo geral, são
rural e economia baseada na produção de alimentos e
classificados como intensivos e extensivos.
matérias-primas, mas eles não são os maiores produtores,
tampouco os maiores consumidores de alimentos; A noção de sistema intensivo ou extensivo está ligada ao
grau de capitalização e ao índice de produtividade, indepen-
• no Terceiro Mundo, nos últimos 25 anos, a agricultura passou
dentemente do tamanho da área de cultivo ou de criação. As
por um significativo processo de modernização (variedade
propriedades que, por meio da utilização de modernas técnicas
híbrida de sementes, mecanização da agricultura, uso de
de preparo do solo, de cultivo e de colheita, apresentam eleva-
fertilizantes químicos e de transgênicos) e de aumento da
dos índices de produtividade e cujas terras são exploradas por
produção, entretanto, o número de famintos aumentou;
um longo período de tempo, praticam agricultura intensiva.
• a modernização da agricultura provocou o desemprego
Já as propriedades que se utilizam da agricultura tradicional
em massa, a elevação do preço da terra e da produção,
– aplicação de técnicas rudimentares, apresentando baixos
desalojando os pequenos produtores;
índices de produtividade – praticam agricultura extensiva.

412
Agropecuária

Agricultura de subsistência: nesse sistema agrícola, o Nesse processo, a presença do capital estrangeiro no
fator capital é pouco presente. Desenvolve-se em pequenas Brasil, mediante a instalação de transnacionais do setor, foi
e médias propriedades ou em parcerias com grandes latifun- grande entre 1965 e 1975. Seguia-se, assim, a tendência da
diários. A mão-de-obra é familiar e as técnicas utilizadas são expansão capitalista e da maior inserção do Brasil no capi-
rudimentares. Refere-se ao sistema que ainda emprega a talismo mundial. Abandonava-se a produção de máquinas,
rotação de terras, com a prática das queimadas. Há uma baixa equipamentos e insumos em bases artesanais, que era reali-
produtividade e um rápido esgotamento dos solos, e o cultivo zada na própria fazenda, que era, paulatinamente, substituída
pelos produtos industriais, cujas novas tecnologias prometiam
passa a ser praticado em novas áreas; daí o nome itinerante.
aumento de produtividade. O que de fato ocorreu, mas sem
Ocorre, ainda, na América Latina e na África. No Brasil, recebe
que houvesse preocupação com a possibilidade de acesso
também a denominação de “sistema de roças”. Destina-se
às inovações tecnológicas por parte, principalmente, dos
apenas ao consumo do grupo produtor, seja mediante o cultivo pequenos produtores, nem com a questão ambiental (uso de
ou a venda da colheita, não havendo excedente de capital para inseticidas, pesticidas, adubos e mecanização, que acabam
ser investido em melhorias técnicas. causando compactação do solo).
Agricultura de jardinagem: típica da região da Ásia das Nesse sistema, predomina o capital, que, largamente inves-
Monções. Caracteriza-se por uma altíssima produtividade em tido, possibilita o mais avançado grau de tecnologia aplicado
pequenas propriedades, com uso intensivo de-mão-de obra e à agropecuária. Esse sistema originou-se nos países ricos do
ausência de mecanização. Intensa adubação, terraceamento e norte, mas já está implantado nas regiões mais adiantadas dos
irrigação (quando necessário, o que raramente acontece, pois países subdesenvolvidos industrializados.
essa área recebe ventos úmidos: as monções de verão). Cultiva- A produtividade é muito alta, em decorrência da seleção de
-se principalmente o arroz, alimento básico da população local. sementes, do uso intensivo de fertilizantes, do elevado grau de
Agricultura de plantation: foi introduzida nos países tropi- mecanização no preparo do solo, no plantio e na colheita, do
cais da Ásia, América e África, pelos colonizadores europeus, sistemático acompanhamento de todas as etapas de produção
com o objetivo de abastecer a Europa com produtos tropicais. A e comercialização por técnicos, engenheiros e administradores.
introdução desse tipo de propriedade ocorreu no século XVI, e Funciona como uma empresa, e sua produção é voltada ao
ainda se mantém em muitos países, principalmente na América abastecimento tanto do mercado interno quanto do externo.
Central, no Caribe e na África. Caracteriza-se pelas grandes Nas regiões onde se implantou esse sistema agrícola,
propriedades (latifúndios), pela monocultura, e objetiva atender verifica-se uma tendência à concentração de terras, na me-
ao mercado externo. dida em que os produtores que não conseguem acompanhar
Cinturões verdes e bacias leiteiras: ao redor dos grandes a elevação dos níveis de produtividade perdem condições de
centros urbanos, onde a terra é valorizada, pratica-se agricultura concorrer no mercado e acabam por vender suas proprieda-
e pecuária intensivas para atender às necessidades de consumo des. É o sistema agrícola predominante nos Estados Unidos,
da população local. Nessas áreas, produz-se hortifrutigranjeiros no Canadá, na Austrália, na União Europeia (com exceção da
e cria-se gado para a produção de leite e laticínios em peque- região mediterrânea) e em porções da Argentina e do Brasil
nas e médias propriedades, com predomínio da utilização de (regiões onde se cultivam soja e laranja, por exemplo).
mão-de-obra familiar. Após a comercialização da produção, o
São também características das agroindústrias:
excedente obtido é aplicado na modernização das técnicas.
São exemplos o green belt e o dairy belt americanos. • a agressão ao meio ambiente (agrotóxicos, desmatamen-
to) e a destruição das lavouras de subsistência;
A empresa agropecuária capitalista: o • o aumento do trabalho assalariado, dos boias-frias e do
êxodo rural;
complexo agroindustrial
Com o desenvolvimento do capitalismo no Brasil e sua • a conquista e a ocupação de novas terras, os conflitos
sociais pela posse da terra;
expansão em direção ao campo, a partir, principalmente, da
década de 1950, são constantes as mudanças na organização • o aperfeiçoamento dos mecanismos de comercialização
e de escoamento da produção;
da produção agropecuária e, em consequência disso, alterações
nas relações de trabalho. Estas estão se transformando, cada • o crescente aumento do número de produtores especia-
vez mais, em relações assalariadas de trabalho ou de produção. lizados e da produtividade agrícola;

Após a década de 1960, com o processo de industrialização, • a elevada interferência e o domínio das grandes empre-
sas e multinacionais na produção, na comercialização e
a agricultura deixou de ser um obstáculo ao desenvolvimento
na industrialização dos produtos agropecuários.
industrial do país, na medida em que se modernizou, ou seja,
passou a ser compradora e consumidora de máquinas agrícolas Nos Estados Unidos, as grandes propriedades se orga-
(plantadeiras, colheitadeiras, grades aradoras), de tratores, fer- nizaram em cinturões (belts), em função das características
do clima e do solo. O alto nível de capitalização exigiu uma
tilizantes, defensivos agrícolas. Em decorrência disso, passou
especialização produtiva em grandes propriedades.
a existir maior integração e dependência entre a agricultura e
a indústria. Agrobusiness: o mesmo que “negócios agrícolas”; conjunto
de atividades que se desenvolvem a partir da agricultura como
Em seu processo de modernização, a atividade agrícola
alimentos industrializados, máquinas agrícolas, fertilizantes, de-
passou a depender de insumos industriais fornecidos pelas
fensivos, financiamentos, pesquisas nas áreas da biogenética,
empresas denominadas indústrias para a agricultura. Estas,
transgênicos, alimentos funcionais, econegócios, transportes.
por sua vez, passaram a depender das compras e do consumo
realizados pela agricultura. Estabeleceu-se, assim, uma inter- Biotecnologia: atividade que usa recursos da Biologia e da
dependência entre as duas atividades. Esse momento marca Engenharia Genética para desenvolver novas características
a passagem do predomínio do complexo agrocomercial para em animais e vegetais, no sentido de criar espécies resisten-
o complexo agroindustrial. Entretanto, isso só foi possível no tes às doenças e que sejam mais produtivas e adaptáveis a
Brasil com a implantação da indústria para a agricultura. condições climáticas adversas.

413
Geografia

O panorama agropecuário dos países A ocupação do espaço brasileiro pelas atividades agrárias
apresenta-se diversificada, refletindo as diferenças regionais,
desenvolvidos e dos subdesenvolvidos físicas, históricas, socioeconômicas e a política agrária do país.
Nos países desenvolvidos, de modo geral, a agricultura O mito de que a terra brasileira seria uma “terra em que se
e a pecuária são praticadas de forma intensiva, com grande plantando tudo dá” poderia se tornar verdade se houvesse uma
aplicação de capital, responsável pelo alto índice de utilização política agrária global para o país, partindo de uma iniciativa do
governo federal. Cerca de 70% dos solos brasileiros são consti-
de agrotóxicos, fertilizantes, técnicas aprimoradas de conserva-
tuídos por terras agricultáveis, porém, apenas 10% dessa área
ção e correção de solos, seleção e cruzamento de espécies e
está ocupada por lavoura ou pecuária. De cada sete hectares
mecanização. É pequena a utilização de mão de obra no setor bons para o plantio, apenas uma está produzindo. Ocorre aqui
primário da economia. uma subutilização da terra.
Como resultado, obtém-se um enorme volume de produção Mesmo aproveitando mal seus recursos, o Brasil apresenta
que abastece o mercado interno e o mercado mundial. Qualquer resultados significativos:
quebra da safra norte-americana ou europeia tem reflexos no • é o 4º produtor mundial de grãos;
comércio mundial e na cotação de preços dos produtos agrí- • é o 1º exportador mundial de café, suco de laranja, farelo
colas (commodities). Mesmo com esse desempenho, esse de soja e açúcar;
setor tem pequena expressão na economia dos países ricos. • a produção agrícola representa 7,8% do PIB nacional;
Nos países subdesenvolvidos, o quadro da atividade • caso fossem agregados à produtividade os outros ne-
agropecuária não apresenta homogeneidade, já que existem gócios que complementam a agricultura – armazéns,
enormes contrastes entre os países, e entre as regiões de um tratores, insumos –, chegaria-se a 35% do PIB.
mesmo país. Para melhorar o desempenho dessa atividade, são neces-
Convivem, lado a lado, sistemas agrários mais avançados sárias medidas como:
com sistemas arcaicos de cultivo e criação. A plantation de- • avaliação técnica para determinar o melhor uso da terra;
sempenha papel importante, e as agroindústrias já se fazem • substituição de cultivos pouco rentáveis por outros de
presentes e tendem a aumentar seu campo de ação. maior valor no mercado;
Com esse panorama, o sistema agrário tem papel importante • utilização de tecnologia correta para melhorar a produ-
tividade;
na economia dos países subdesenvolvidos, sendo responsável
por significativa parcela do Produto Interno Bruto (PIB) e da • ampliação do crédito agrícola aos pequenos e médios
proprietários, com dilatação do prazo de pagamento e
ocupação da População Economicamente Ativa (PEA).
redução das taxas de juros;
Agricultura dos países desenvolvidos: • ampliação do número de cooperativas agrícolas;
características principais • treinamento e especialização de mão de obra;
• promoção de uma real Reforma Agrária no país, redimen-
• Emprego maciço de mecanização; sionando o atual panorama agrícola brasileiro.
• mão de obra muito reduzida, mas muito qualificada;
“Em número de propriedades, o Brasil é um país de mini-
• grandes investimentos de capitais; fúndios. Em área ocupada, o Brasil é um país de latifúndios”.
• apoio governamental com subsídios;
Dimensão das propriedades em HA Categoria
• alta produtividade; De 0 a 10 Minifúndio
• altos rendimentos. De 10 a 100 Pequena
Na Europa, existem pequenas propriedades com exploração De 100 a 500 Média
familiar, com a rotação trienal de culturas (“culturas dos três De 500 a 1000 Grande
campos”). Acima de 1.000 Latifúndio

Tabela 2 – A rotação trienal na Europa O governo Militar, a questão da terra e a


Trigo e Centeio e expansão do capitalismo no campo
1° ano Forrageiras
beterraba batata
Centeio e Trigo e Quanto à condução da questão da terra pelos governos
2° ano Forrageiras
girassol beterraba militares, quatro fatos nos interessam mais particularmente:
Trigo e Centeio e
3° ano Forrageiras • a criação do Estatuto da Terra no final de 1964;
beterraba batata
• a expansão do capitalismo no campo;
Atividades agrárias no Brasil • a expansão da fronteira agrícola em direção à Amazônia;
Apesar de o nosso país apresentar evidente melhoria no
• a militarização da questão agrária.
setor agrícola, é importante ressaltar que esse avanço ocorre O Estatuto da Terra: um instrumento legal
em áreas de cultivos para exportação, que recebem os maiores
incentivos do governo. São as chamadas “culturas de rico”.
que poderia viabilizar a reforma agrária
Os cultivos para atender ao mercado interno ainda lutam com Em vista da turbulência que marcava a questão agrária no
sérios problemas: são as “culturas do pobre” (feijão, milho, Brasil, o governo lançou, após o golpe de 1964, o Estatuto da
mandioca etc.). Enquanto os cultivos para exportação ocupam Terra, acreditando que ele seria uma alternativa para superar
grandes áreas, o cultivo para subsistência é realizado em pro- várias questões, como: a “solução socialista da terra”; as
priedades muito pequenas (53% em número de propriedades, tensões sociais no campo; a modernização da agricultura via
ocupando apenas 2,7% das terras agrícolas). expansão do capitalismo agrário, com a consequente transfor-

414
Agropecuária

mação do campo em grande mercado comprador de produtos Os conflitos continuam intensos desde a década de 1960.
industriais (tratores, implementos agrícolas, defensivos quími- Entre 1964 e 1994, foram assassinados 1.937 trabalhadores
cos, adubos, rações, produtos veterinários, etc.), rompendo, rurais no Brasil.
assim, os obstáculos que a agricultura representava para uma
maior industrialização do Brasil; a redistribuição da terra por Modos de exploração da terra
meio de uma reforma agrária (conservadora); e a fixação de Exploração direta: quando as terras são exploradas direta-
uma política agrícola. mente pelo proprietário ou herdeiros. É a predominante no Brasil.
O Estatuto da Terra procurou, teoricamente, regular os direi- Exploração indireta: quando as terras não são exploradas
tos e as obrigações relativos aos bens imóveis rurais. Para atin- pelo proprietário, mas por terceiros, como por exemplo,
gir seus objetivos, o Estatuto estabeleceu que o cadastramento arrendatários, parceiros ou ocupantes.
dos imóveis rurais seria realizado tendo por base um “módulo
rural” fixado para cada região, que seria uma área de terra que Relações de trabalho no meio rural
representava idealmente o tamanho da propriedade suficiente Trabalhadores sazonais: conhecidos como volantes, co-
para dar sustento adequado a uma família que nela trabalhas- rumbas, peão de trecho ou boias-frias.
se. A área do módulo rural variava entre 2 e 120 hectares. Seu
Arrendatários: trabalhadores que pagam uma renda fixa
tamanho dependia da região geográfica na qual se encontrava.
pela utilização da terra.
Classificação das propriedades agrope- Parceiros, Terça, Meeiros: pessoas que pagam pelo uso
cuárias da terra com uma parte do lucro ou da produção.
Posseiro: indivíduo que tem a posse da terra e nela trabalha,
O módulo rural fixado para cada região foi base, por sua vez,
sem possuir o título de propriedade.
para classificar os imóveis rurais em quatro tipos ou categorias:
Grilagem: forma utilizada por pessoas ou grupos interessa-
Minifúndio: é todo imóvel com área agricultável inferior ao
dos em expulsar os posseiros de terra. Grandes proprietários
módulo rural de determinada região geográfica.
ou empresas, com o apoio ou a omissão do poder público, e
Empresa rural: imóvel explorado racionalmente, com um com títulos falsos de propriedade, obtidos por meios fraudu-
mínimo de 50% de sua área agricultável utilizada e que não lentos, utilizam a violência para desapropriar os posseiros, ora
exceda a 600 vezes o módulo rural da região geográfica na destruindo seus ranchos e suas plantações, ora prendendo os
qual está localizado. que resistem em cárceres privados, ora eliminando-os fisica-
Latifúndio por exploração: imóvel que, não excedendo os mente, como aconteceu com Chico Mendes, líder sindicalista
mesmos limites da empresa rural, é mantido inexplorado em dos seringueiros do Acre.
relação às possibilidades físicas, econômicas e sociais do meio.
Latifúndio por dimensão: imóvel rural com área superior Pecuária
a 600 vezes o módulo rural médio da região.
A atividade pecuária no mundo
• Apesar da revogação do dispositivo constitucional citado,
muito pouco se fez em direção à reforma agrária. Para se A atividade pecuária foi bastante beneficiada introdução
ter uma ideia, entre 1965 e 1981, portanto, no decorrer de de tecnologias modernas, que vão desde uma adequação
alimentar, que faz o gado alcançar o peso necessário para o
16 anos, foram baixados apenas 124 decretos de desa-
abate, até a manipulação genética, que aprimora e seleciona
propriação de terras para fins de reforma agrária. Nesse
espécies, tornando-as adequadas ao propósito final da criação.
período, alastraram-se os conflitos no campo. A omissão do
Dessa forma, vários setores da pecuária tornaram-se eficientes
governo federal foi muito grande em decorrência das pres-
para o mercado internacional. Logicamente, essas melhorias
sões dos interessados na manutenção do status quo, ou
são praticadas nos países ricos do norte. Nos países do sul
seja, os latifundiários e as empresas rurais (já a esse tempo ainda acontece a permanência de práticas pecuárias arcaicas.
integradas por comerciantes, industriais e banqueiros).
• Os governos militares adaptaram a questão agrária ao mo- A pecuária bovina
delo político-econômico implantado, ou seja, do capitalismo Divide-se em extensiva e intensiva.
associado, dependente e excludente. O modelo seguido
privilegiou a instalação de grandes empresas rurais nacio- Extensiva Intensiva
nais e estrangeiras e de grandes latifúndios. Para executar • utilização de áreas menores;
essa política, escancarou o crédito rural subsidiado e os • utilização de extensas
• o gado é criado estabulado;
áreas;
incentivos fiscais. Boa parte do dinheiro originário do crédito • as pastagens são mais selecio-
rural não foi aplicado na agropecuária, mas para outros fins: • o gado é criado solto
nadas;
compra de imóveis urbanos, de imóveis rurais com fins ou no pasto;
• o gado recebe alimentação com-
não de especulação, de veículos de passeio, iates, abertura • os rebanhos são mais
plementar;
de estabelecimentos de comércio, etc. numerosos;
• os rebanhos são menores;
O Estatuto da Terra serviu de instrumento de controle • os rebanhos recebem
menos cuidados; • o gado recebe mais cuidados
das tensões sociais no campo, ou seja, foi utilizado pe- técnicos;
los governos como “tábua de salvação” nos momentos • geralmente destinam-
-se ao abate. • geralmente destinam-se à pro-
em que essas ameaçavam atingir níveis insustentáveis. dução leiteira.
Nesses instantes, realizaram-se alguns assentamentos e tam-
bém reassentamentos de pequenos proprietários que tinham
sido vítimas de grileiros ou de grandes fazendeiros.

415
Geografia

Pecuária brasileira O Espaço agrário em transformação


A pecuária brasileira coloca-se entre as maiores do mundo, As recentes transformações do espaço agrário brasileiro são
apesar dos inúmeros problemas concernentes à criação do representadas principalmente pela modernização das atividades
gado. O baixo nível cultural, as práticas irregulares e ineficien- (intensificação da produção) e pela ampliação das fronteiras
tes, a inadequação da estrutura fundiária, as grandes distân- agrícolas (extensificação da produção).
cias, o baixo nível tecnológico, o alto preço dos medicamentos
Como resultado, a produção agrícola vem apresentando,
são fatores que pesam no rendimento da pecuária.
nas últimas décadas, um crescimento significativo, caracteri-
Os principais problemas enfrentados são:
zando-se mais pela incorporação de novas áreas ao processo
• baixa qualidade da maior parte do rebanho nacional; produtivo do que pela intensificação dos sistemas de cultivo.
• baixa fertilidade dos rebanhos, decorrente da alimenta- Apesar da ampliação crescente da área ocupada por estabe-
ção e do manejo deficientes e da grande ocorrência de lecimentos rurais, pode-se dizer que o território brasileiro ainda
doenças; é subaproveitado, pois praticamente a metade dele não está
• alta incidência de mortalidade, principalmente de animais devidamente incorporada à economia nacional.
jovens;
A expansão intensiva da agropecuária
• crescimento retardado, devido à perda de peso nas es-
tiagens e à alimentação incompleta; A modernização dos instrumentos de trabalho possibilita a
intensificação da produção por meio do emprego de máquinas,
• perdas de peso ou morte nos deslocamentos entre as fertilizantes e defensivos agrícolas.
áreas produtoras, de engorda e de abate do gado;
Durante a década de 1970, quando houve o primeiro grande
• baixa rentabilidade financeira, impedindo a introdução de processo de desenvolvimento tecnológico, as regiões Sudeste
métodos zootécnicos modernos;
e Sul caracterizaram-se por um grande aproveitamento da
Características do rebanho brasileiro superfície agrícola, apresentando elevados índices de mecani-
zação: utilização de tratores, arados mecânicos, colheitadeiras,
Pecuária de corte etc. Os pioneiros da modernização agrícola foram São Paulo
Há uma concentração acentuada nos seguintes estados: e Rio Grande do Sul. A partir do fim daquela década, com o
Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, São Paulo, Rio Grande processo de desconcentração econômica, a mecanização foi
do Sul. Considerando-se a distribuição da pecuária de corte, ampliando-se para outras regiões, chegando ao Centro-Oeste
podem ser citados: e, no fim da década de 1980, ao Nordeste.
São Paulo: Alta Sorocaba (Presidente Prudente), Alta No Centro-Oeste, a agricultura brasileira incorporou extensas
Nordeste (Araçatuba e Barretos); áreas de cerrado do Planalto Central, onde a topografia plana
Minas Gerais: Triângulo Mineiro, Médio Jequitinhonha, favorece à mecanização, embora deficiências do solo exijam
Região de Montes Claros; o emprego maciço de corretivos e fertilizantes. O problema
Mato Grosso do Sul: Campos de Vacaria, Pantanal; do uso desses insumos, que contêm substâncias tóxicas, é
a ameaça que eles podem representar ao equilíbrio do meio
Rio Grande do Sul: Campanha Gaúcha.
ambiente, quando usados em excesso e sem as devidas pre-
Pecuária leiteira cauções. Essas mesmas substâncias podem, ainda, causar o
É no Sudeste que se encontram as principais bacias leiteiras envenenamento das pessoas que com elas trabalham e, mais
do Brasil (em São Paulo, Minas Gerais e no Rio de Janeiro) , além, comprometer a própria saúde dos consumidores. Por
e cuja produção visa ao abastecimento dos maiores centros isso, convém promover a difusão de técnicas que envolvem
consumidores brasileiros. As áreas mais importantes, quanto uso de adubos orgânicos e estabelecer uma maior fiscalização
à pecuária leiteira, são: do uso de fertilizantes e agrotóxicos. Este tem sido um dos
São Paulo: Vale do Paraíba, Região de São João da Boa mais debatidos assuntos nos parlamentos, na impressa e pela
Vista, Região de São José do Rio Pardo-Mococa, Região sociedade de um modo geral.
de Araras-Araraquara;
A expansão extensiva da agropecuária –
Rio de Janeiro: Vale do Paraíba, Norte fluminense;
as fronteiras agrícolas
Minas Gerais: Sul de Minas Gerais, Zona da Mata Mi-
neira, Bacia leiteira de Belo Horizonte, Alto Paranaíba. Quanto à extensificação do cultivo, ou seja, a ampliação do
As áreas de pecuária leiteira geralmente estão próximas a espaço destinado à agropecuária, percebe-se que, no Sul e no
um grande centro urbano. Sudeste, a expansão foi mais modesta, pois, nessas regiões,
as poucas áreas desocupadas são, geralmente, de difícil apro-
Aves veitamento agrícola.
A partir da década de 1960, a criação de aves para abate A partir da década de 1970, porém, grandes parcelas do
e postura teve grande desenvolvimento em alguns estados, Centro-Oeste, do Norte e do Nordeste foram incorporadas ao
notadamente São Paulo, Minas Gerais e na região Sul. espaço agrário nacional.
Progressivamente, a criação deixou de ser uma atividade No período de 1960-1970, partindo do Sudeste e do Sul, a
familiar, de “fundo de quintal”, e assumiu um caráter comercial, fronteira agrícola atingiu de forma mais significativa os estados
praticada em estabelecimentos equipados com tecnologias mo- de Goiás, do Mato Grosso do Sul e do Mato Grosso, que, até
dernas. Com isso, a produção de carnes e ovos cresceu subs- hoje, apresentam áreas de ocupação extensiva. A procura de
tancialmente, acompanhando o aumento do consumo nacional. novas terras continuou na direção Norte e Nordeste, chegando
Há algum tempo, o Brasil tornou-se grande exportador de carne aos estados da Bahia, de Tocantins, do Piauí e do Maranhão.
de frango.

416
Agropecuária

Já na década de 1980, os estados de Rondônia e Pará pas- faz-se necessária, enfim, uma reforma agrária que implique,
saram a integrar o espaço agropecuário, e ainda hoje observa- portanto, assistência técnica ao produtor rural, crédito bancário
-se que tanto as ocupações extensivas quanto as intensivas para aquisição de insumos agrícolas, facilidade de estocagem
seguem em direção aos cerrados do Meio-Norte e à Floresta e transporte do produto, ensino rural e assistência médica ao
Equatorial Amazônica. Nos dois casos, a incorporação é feita agricultor, entre outras ações. Isso implica também em uma
principalmente com a ampliação dos cultivos de arroz e soja, de redistribuição fundiária que tenha em vista diminuir a ociosida-
alto valor comercial. A soja é responsável por grandes alterações de de grandes propriedades e, fundamentalmente, permitir o
no espaço agrário. Dominou antigas áreas coloniais do Rio acesso à terra a quem nela trabalha.
Grande do Sul e do Paraná, onde se praticavam a policultura O agravamento dos problemas do campo, sobretudo o au-
e a criação de animais em pequenas e médias propriedades. mento dos trabalhadores rurais sem-terra, organizados em um
Como se dava preferência ao cultivo da soja, alguns produtos movimento cada vez mais atuante – o MST –, fez aumentar as
alimentares, como o feijão e a batata-inglesa, ficaram escassos reivindicações pela reforma agrária. A política governamental
de impor pesada taxação às terras improdutivas e desesti-
no mercado interno, e o latifúndio tomou conta do espaço rural.
mular, com isso, a especulação imobiliária tem dado poucos
No Sul de Mato Grosso do Sul e de Goiás, que também resultados, pois elas continuam a representar uma elevada
eram áreas de policultura, ocorreu fenômeno semelhante. As porcentagem: 62,4%.
áreas de tradicional criação bovina desses dois estados foram Diante dessa realidade, aumentam as pressões pela distribui-
invadidas por culturas comerciais, como o arroz, o milho e, ção fundiária, a ser feita à custa de desapropriações de terras,
sobretudo, a soja. juntamente com a ocupação de áreas devolutas.
Atualmente, a expansão da lavoura de soja, tendendo à Pela Constituição promulgada em 1988, só podem ser
monocultura em algumas áreas, coloca em risco a economia desapropriados pela União, para fins de reforma agrária, os
das regiões produtoras, por depender diretamente do mercado imóveis que não cumprirem sua função social. A função social
externo. da propriedade é cumprida quando ela é aproveitada de modo
racional e adequado, os recursos naturais são devidamente
A acentuada distorção fundiária do Brasil ocasiona sérios utilizados, o meio ambiente é preservado, as leis trabalhistas
problemas. Por mais que se esforcem, os pequenos produto- são cumpridas e a terra é utilizada de modo que sua exploração
res não conseguem rendimentos significativos, pois carecem favoreça o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores.
de mais terra. Além de não disporem de área suficiente para a Além disso, um imóvel só pode ser desapropriado se estiver
produção em escala, eles não têm recursos para adquirir má- classificado como grande propriedade e não seja produtivo.
quinas e outros insumos modernos, que lhes permitiriam maior A classificação de uma propriedade em produtiva ou não
produtividade e, consequentemente, mais renda. Considerando produtiva, excluindo-a ou tornando-a legalmente passível de
que grande parte da mão de obra rural está ocupada nas peque- desapropriação, dá origem a discussões, até mesmo na Justiça.
nas propriedades, podemos entender alguns fatos, tais como: A possibilidade de questionar em juízo a classificação feita pelo
Incra permite que muitos latifundiários evitem ou retardem a
• as precárias condições de vida de parte da população desapropriação de suas terras.
rural, cuja pobreza foi fator destacado para o forte êxodo
rural, principalmente nas décadas de 1970 e 1980; Área de estabelecimentos

• a venda de terras por parte dos pequenos proprietários 3,10%


Menos de 10 ha
para os produtores maiores ou para as grandes empresas, 15,78%
o que significa maior concentração fundiária. 27,70% 10 a 100 ha

A reaglutinação de pequenas propriedades é responsável


100 a 1000 ha
pelo advento e pela multiplicação do agricultor sem terra.
Ao lado da mecanização das propriedades maiores, com a
1000 a 10000 ha
consequente liberação de mão de obra, também inerente à 18,30% 35,12%
modernização agrícola e alimentadora do êxodo rural, a rea-
Mais de 10000 ha
glutinação dá origem a uma crescente legião de desocupados
rurais, proporcionando, com isso, o surgimento do Movimento Número de estabelecimentos rurais
dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra.
Menos de 10 ha
De outra parte, a forte concentração de terras nas mãos de 1,02% 0,40%
9,00%
poucos proprietários indica a existência de grandes extensões 10 a 100 ha
inaproveitadas do espaço agrário do país.
100 a 1000 ha
Há forte concentração de terras na região Norte, particu-
larmente no Amazonas e no Pará, na região Centro-Oeste, 36,53%
53,05% 1000 a 10000 ha
especialmente no Mato Grosso e no Mato Grosso do Sul,
estados que, juntamente com a Bahia, possuem índices de Mais de 10000 ha
concentração fundiária superiores à média do país. Por outro Estrutura fundiária do Brasil
lado, a concentração de terras na região Sul é a menor do Brasil,
embora seja expressiva no Rio Grande do Sul. Apesar disso e das resistências políticas da chamada classe
ruralista, a reforma agrária tem avançado, embora timidamente,
A acentuada distorção fundiária e a problemática ligada a ganhando alguma celeridade quando aumentam as pressões
ela estão, há muito tempo, exigindo mudanças que possam reivindicatórias do MST, principalmente por meio da ocupação
estimular o crescimento da produtividade e da produção primá- de terras desapropriáveis. Mas isso tem sido insuficiente, como
ria, facilitar o aumento da renda da população rural e propiciar indicam os conflitos no campo, cada vez mais agudos.
o bem-estar social no campo. Para combater essa distorção,

417
Geografia

Se... Quanto aos principais produtos extrativos da região Sul,


• existem grandes propriedades ociosas no país e muitos temos:
trabalhadores sem-terra; • Madeira: especialmente do pinheiro (araucária), planta
• uma massa de desempregados rurais e urbanos; nativa destinada à produção de papel, fabricação de
móveis, etc.
• o preço da terra caiu muito;
• Erva-mate
• o imposto rural para terras improdutivas é muito elevado;
• já não existe mais a grande demanda pelo espaço rural,
O comércio mundial de produtos
pois a maioria da população é urbana;
• os conflitos fundiários e as invasões aumentam cada
agrícolas
vez mais; O comércio internacional de produtos agrícolas, em especial
Por que a reforma agrária não acontece? o comércio entre países desenvolvidos e em desenvolvimento,
é marcado por distorções associadas à proteção tarifária e ao
• Muitos latifundiários querem vender a terra para o Estado,
pagamento de subsídios aos agricultores dos países indus-
só que eles querem preços acima do valor de mercado,
trializados.
pois adquiriram essas terras quando elas tinham um valor
muito alto e não querem perder dinheiro; Entre outros fatores, as desigualdades no comércio Sul-Norte
de produtos agrícolas podem ser creditadas a: imposição por
• a maioria dos latifundiários brasileiros pertence ao Con-
parte dos países desenvolvidos de tarifas e quotas de impor-
gresso Nacional.
tações a produtos agrícolas dos países em desenvolvimento;
Esclarecimentos: vultosos dispêndios na forma de subsídios aos produtores
• Quando um proprietário tem sua terra desapropriada, ele agrícolas.
é indenizado pelo Estado. Entre os países desenvolvidos a proteção tarifária a produ-
• Os sem-terra não ganham a terra, eles compram a terra tos industrializados é sensivelmente menor do que a proteção
em condições de financiamento especiais. imposta aos produtos agrícolas.
Por fim, a questão dos subsídios. O volume total de apoio
Agropecuária e meio ambiente
aos agricultores dos países da OCDE (Organização para a
A modernização agrícola elevou muito a produção de alimen- Cooperação e Desenvolvimento econômico) chegou a US$
tos e matérias-primas, mas, por não se encontrar inserida em 311 bilhões em 2001, 1,3% do PIB da OCDE. Parte desses
um modelo de desenvolvimento sustentável (exploração de recursos toma a forma de recursos transferidos diretamente aos
recursos de forma racional e limitada, respeitando a capacida- produtores agrícolas, ou seja, subsídios. Na União Europeia,
de da natureza de se recompor), acarretou graves problemas de cada Euro ganho por um agricultor em 2001, 37 centavos
ambientais. Um desses problemas refere-se à devastação da referiam-se a subsídios.
vegetação natural.
Nas regiões onde a modernização chegou primeiro ou de Participação da agricultura no PIB e participação dos
subsídios nas receitas totais agrícolas em 2001. Paí-
forma intensa (caso das regiões Sul e Sudeste), a vegetação
ses selecionados da OCDE – (%)
original desapareceu quase por completo. Nas regiões de
ocupação agropecuária mais recente (caso das regiões Norte Participação dos
e Centro-Oeste), a devastação alcança parte considerável da Participação
Subsídios na
vegetação original. da Agricultura
Receita dos Agri-
no PIB (%)
cultores (%)
Extrativismo vegetal Austrália 1,3 4
O extrativismo vegetal foi a primeira atividade econômica
Canadá 2,2 17
do Brasil. A existência de uma densa e rica vegetação (mata
atlântica), próxima do litoral, atraiu o colonizador português, que EUA 1,4 21
imediatamente após a descoberta iniciou a sua exploração. A Japão 1,1 59
extração madeireira nunca deixou de ser praticada no país, ao
contrário, tem aumentado intensamente nas últimas décadas, Nova Zelândia 7,2 1
sobretudo na Floresta Amazônica. Suíça 1,2 69
Quanto aos principais produtos extrativos da Amazônia,
temos: União Europeia 2,1 35

• Borracha: Média OCDE n.d. 31


• Castanha-do-pará
OMC. Elaboração: SOBEET
• Madeira
Esses valores são medidas inequívocas das perdas de
• Açaí
bem-estar geradas pelas distorções no comércio internacional
Os principais produtos extrativos do Nordeste são: de produtos agrícolas. Os países da OCDE perdem porque
• Babaçu: A maior concentração de babaçuais ocorre no poderiam estar trocando produtos – cuja fabricação em suas
Meio-Norte brasileiro (MA-PI); economias não demandaria tamanha perda de recursos es-
cassos (1,3% do PIB) – por produtos agrícolas produzidos nos
• Carnaúba
países com menores custos de oportunidade, justamente a
maior parte dos países em desenvolvimento.

418
Agropecuária

Os países em desenvolvimento, por sua vez, perdem por- Transgênicos – Por meio da Engenharia Genética, genes de
que enfrentam restrições ao acesso aos mercados dos países outras formas de vida (fungos, bactérias, vegetais) são introdu-
desenvolvidos, o que restringe a possibilidade de se ampliar o zidos em determinada espécie animal ou vegetal, criando assim
volume de mercadorias. Ou seja, menos exportações agrícolas uma “nova espécie” não encontrada na natureza e resistente
geram menos importações de produtos manufaturados, dimi- à ação destrutiva de um inseto, a uma doença ou a um tipo de
nuindo o bem-estar e deprimindo o comércio mundial. herbicida considerado necessário ao cultivo desse produto, o
que contribui para o aumento da produtividade. A soja é hoje o
Entendendo o protecionismo produto transgênico mais disseminado pelo mundo. A reação
O protecionismo americano surgiu da necessidade de ao uso de OTMS vem se espalhando pelo mundo todo devido
conferir competitividade aos seus agricultores. Hoje, o prote- ao desconhecimento dos riscos que podem representar para a
cionismo se sustenta por razões político-eleitorais, ancorado saúde dos consumidores e para o meio ambiente.
em um poderoso lobby, que busca não apenas perenizar como Commodities agrícolas – Commodities (commodity: mer-
expandir essa iniciativa. cadoria, em inglês) são produtos in natura, cultivados ou de
Na Europa e no Japão a agricultura tem sido subsidiada por- extração mineral, que podem ser estocados por certo tempo
que a história desses dois mundos foi permeada pela guerra e sem perda sensível de suas qualidades, como suco de laranja
pela fome, e a sociedade decidiu não mais passar necessidade, congelado, soja, trigo, bauxita, prata ou ouro. Atualmente, no
não interessava a que preço. A visão predominante induz que é mundo globalizado, também é considerado commodity produ-
mais barato pagar para o agricultor ficar no campo do que forçá-lo tos de uso comum como lote de camisetas brancas básicas
a migrar para a periferia das cidades. Existem também razões ou lote de calças jeans. Commoditiy é também uma forma de
econômicas, devido à discrepância de vantagens comparativas investimento, como uma aplicação na poupança ou em fundo
(custos de produção) com os países essencialmente agrícolas. de Investimento, mas são produtos com pouco valor agregado,
Porém, existem razões sociais, como o suporte aos produtores de uma vez que seus preços oscilam muito no mercado.
açúcar de beterraba, cujo custo de produção atinge os US$750 O Brasil e os agronegócios – Em curto e médio prazos, o
por tonelada, tendo que competir com o açúcar brasileiro, que agronegócio continuará sendo uma grande alavanca do Brasil,
pode colocar seu produto no mercado a US$250 mil. Nesse caso, seja para gerar emprego e renda, desenvolvimento interiorizado
estão envolvidos 250.000 produtores que perderiam sua fonte ou saldo na balança comercial.
de renda na ausência do suporte governamental. O protecionismo no Primeiro Mundo é um potente adversário
O Brasil, sendo o maior produtor mundial de café, detém ao comércio agrícola externo do Brasil, que luta ainda com suas
apenas 1% do comércio de café torrado. Já a Alemanha, que dificuldades no mercado interno. Faz-se necessário, antes mes-
não possui um pé de café, domina 25% desse mercado. mo de cuidar apenas do ambiente externo, “arrumar” a casa.
Para isso, precisamos de: a) uma política agrícola permanente
Globalização e tecnologia e de incentivo efetivo aos agronegócios; b) uma política fiscal
A globalização e a liberalização do comércio deveriam consentânea com os interesses da nação; c) uma política
favorecer países que dispõem de competitividade natural. Na tributária que não signifique apenas arrecadar mais, porém
prática, os países ricos impõem suas regras comerciais, pre- que concilie justiça, racionalidade tributária e competitividade
judicando especialmente os países de vocação agrícola. Os dos agronegócios; d) investimentos estruturais em transporte,
avanços em biologia molecular, química fina, energia, comuni- energia, comunicação, armazenagem, portos, aeroportos.
cação e informações aprofunda o fosso entre ricos e pobres. Turismo rural – No âmbito do lazer pessoal e familiar, os
As pesquisas têm um traço comum: elas sinalizam o futuro, um hotéis fazendas e as fazendas hotéis já estão integrados na
cruzamento entre biodiversidade e biotecnologia (conjunto de realidade brasileira. Esses novas modalidade de turismo podem
técnicas que permite implantar processos na indústria farmacêu- ser tanto ambientes sofisticados aliados à natureza ou espaços
tica, no cultivo de mudas, no tratamento de despejos sanitários que conservam a rusticidade e a simplicidade da roça. Caminhar
através da ação de micro-organismos em fossas sépticas, etc.). pelos campos, cavalgar, pescar e praticar esporte ao ar livre
estão entre as atividades oferecidas nesses ambientes. Muitos
Bioenergia – Esse setor representa uma oportunidade para
hotéis oferecem estrutura também para reuniões de empresas,
a agricultura nacional. O Governo Federal pretende implementar
convenções e treinamento.
um programa de incentivo à produção de bioenergia, o que
resultará na expansão da área de cana-de-açúcar e de olea-
ginosas. O Brasil possui mais de 40 espécies de oleaginosas Exercícios
(mamona, dendê, buriti, babaçu etc.) com potencial para produ- 1. (EsPCex – 2011) Uma das principais dificuldades que al-
zir biodiesel. O biogás, produzido a partir da biomassa, como o guns países periféricos ou semi-periféricos, como o Brasil,
bagaço de cana, é também uma ótima alternativa. encontram no mercado mundial de produtos agrícolas é
Agricultura orgânica – O mercado representado pelos ali- A) a concessão de subsídios agrícolas que países como
mentos obtidos através de agricultura orgânica (que não utiliza os Estados Unidos e os da União Europeia cedem aos
produtos químicos sintéticos prejudiciais à saúde), embora seus respectivos produtores.
ainda restrito a nichos geográficos e de consumidores, é o que
B) a política anti-protecionista que os países desenvolvi-
mais cresce. Essa tendência configura uma das exigências con-
dos adotam em relação à importação desses produtos.
temporâneas dos consumidores de alimentos, no que concerne
à sua inocuidade e ao respeito à natureza. C) o alto custo de produção de todos os seus produtos
agrícolas em relação aos custos desses produtos nos
Há preocupação com o ambiente, com a sustentabilidade
países desenvolvidos.
do processo agrícola e com a inocuidade dos alimentos. Via de
regra, propugna-se a diversificação e a integração de cultivos D) o reduzido interesse de mercados fortes como o asiá-
e criações, objetivando a agrobiodiversidade e a alternância tico, que apresenta baixa importação desses produtos.
de ciclos biológicos, e a utilização de insumos ou técnicas não E) a baixa produtividade agrícola apresentada por esses
convencionais, em substituição a fertilizantes e agrotóxicos países, não sendo suficiente para que haja excedente
comerciais. para ser exportado.

419
Geografia

2. (EsPCex – 2012) “A agricultura é hoje o maior negócio Assinale a alternativa em que todas as afirmativas
do país. (...) Apenas [em 2005], a cadeia do agronegócio estão corretas.
gerou um Produto Interno Bruto de 534 bilhões de reais.”
A) I e III
(Faria, 2006 in: Terra, Araújo e Guimarães, 2009). A atual
expansão da agricultura e do agronegócio no Brasil deve- B) II e III
-se, entre outros fatores ao (à) C) I e II
A) forte vinculação da agricultura à indústria, ampliando D) I, IV e V
a participação de produtos com maior valor agregado E) II, IV e V
no valor das exportações brasileiras, como os dos
complexos de soja e do setor sucroalcooleiro. 5. (G1 - col. naval – 2017) “As precárias condições de
B) expansão da fronteira agrícola no Centro-Oeste e na trabalho ainda são uma realidade marcante no campo
Amazônia e ao emprego intensivo de mão de obra brasileiro. Atualmente, estima-se em 12 anos a vida
no campo, nessas áreas, determinando o aumento útil de um trabalhador rural, ou seja, o período no qual
da produtividade agrícola. é produtivo; e o salário, muitas vezes, não é suficiente
C) difusão de modernas tecnologias e técnicas de plantio para sustentar sua família.”
na maioria dos estabelecimentos rurais do País, contri- SAMPAIO, Fernando dos Santos; MEDEIROS, Marlon Clovis.
buindo para a expansão das exportações brasileiras. GEOGRAFIA: Para viver juntos. São Paulo: Edições SM, 2012.
D) modelo agrícola brasileiro, pautado na policultura de
Sabendo que as condições acima descritas são pro-
exportação e na concentração da propriedade rural.
duzidas pela forma como a produção e o trabalho
E) Revolução Verde, que, disseminada em larga escala estão organizados nas agricultura brasileira, analise
nas pequenas e médias propriedades do País, incen-
as afirmativas abaixo.
tivou a agricultura voltada para os mercados interno
e externo. I. O latifúndio, ou seja, as grandes propriedades dedi-
cadas a uma produção exclusivamente voltada para
3. (EsPCex – 2012) Sobre a agricultura familiar no Brasil, o mercado externo, absorve a imensa maioria da
pode-se afirmar que população empregada no campo brasileiro.
A) por falta de acesso ao crédito rural, não participa das II. O trabalhador assalariado no campo brasileiro,
cadeias agroindustriais. assim como na cidade, é aquele que recebe um
B) é responsável pelo fornecimento da maior parte da pagamento mensal por seu trabalho, tendo ou não
alimentação básica dos brasileiros, e, por isso, con- registro formal.
centra a maior parte da área cultivada com lavouras
e pastagens do País. III. As unidades familiares da subsistência são peque-
nas propriedades nas quais, por meio do trabalho
C) concentra a maioria do pessoal ocupado nos estabe-
familiar, busca-se garantir a total autossuficiência e
lecimentos rurais brasileiros.
independência do grupo diante do mercado.
D) por não ser competitiva frente à agricultura patronal,
não participa da produção de gêneros de exportação. IV. O trabalho temporário, apresentado sob a forma
do boia-fria ou do trabalhador volante, tem ainda
E) embora os membros da família participem da pro-
dução, a maior parte da mão de obra é contratada e
hoje, presença marcante no campo brasileiro, re-
quem comanda a produção não trabalha diretamente presentando importante fator de deterioração das
na terra. condições de trabalho.
Assinale a opção correta.
4. (EsPCex – 2014) Sobre o comércio agrícola mundial,
A) Apenas as afirmativas I e II são corretas.
podemos afirmar que,
B) Apenas as afirmativas I e III são corretas.
I. atualmente, o Japão e o Egito estão entre os maiores
importadores mundiais de cereais. C) Apenas as afirmativas II e III são corretas.
II. ao contrário da União Europeia, dos Estados Unidos D) Apenas as afirmativas II e IV são corretas.
e da China, o Brasil exibe elevado saldo positivo na E) Apenas as afirmativas III e IV são corretas.
sua balança comercial de produtos agrícolas.
III. na última década, o aumento dos investimentos no Gabarito
agronegócio e a difusão dos organismos geneticamen- 1. A
te modificados (OGM) na agricultura fizeram com que
2. A
o comércio mundial de produtos agrícolas superasse
em valor o comércio mundial de manufaturados. 3. C
IV. graças à Organização Mundial do Comércio (OMC), 4. C
que em 2002 pôs fim à política de subsídios agríco- 5. D
las concedida pelos países desenvolvidos aos seus
agricultores, países como o Brasil e a Argentina têm
obtido maior destaque no comércio mundial de pro-
dutos agrícolas.
V. devido aos elevados custos do transporte de carga no
Brasil, a soja brasileira vem perdendo paulatinamente
posição de destaque dentre os grandes exportadores
mundiais desse produto.

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