Apostila Carreiras Militares II
Apostila Carreiras Militares II
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Sumário
Capítulos
1. Noções de Cartografia..................................................................................................................................................205
2. Movimentos da Terra......................................................................................................................................................209
3. Representação cartográfica......................................................................................................................................... 214
4. Representação do relevo terrestre............................................................................................................................ 221
5. Dinâmica física terrestre .............................................................................................................................................. 225
6. Tipos de rochas................................................................................................................................................................ 236
7. Agentes exógenos........................................................................................................................................................... 242
8. Relevo................................................................................................................................................................................... 248
9. Pedologia............................................................................................................................................................................ 256
10. Hidrografia..........................................................................................................................................................................264
11. Biomas mundiais.............................................................................................................................................................. 276
12. Biomas brasileiros........................................................................................................................................................... 282
13. Estudo das populações................................................................................................................................................. 288
14. Teorias demográficas e estrutura populacional................................................................................................... 293
15. Distribuição da população segundo os setores da economia.......................................................................299
16. Indicadores sociais e migrações............................................................................................................................... 304
17. Urbanização........................................................................................................................................................................314
18. Conceitos urbanos, hierarquia e rede urbana........................................................................................................ 318
19. Problemas sociais e ambientais urbanos............................................................................................................... 323
20. Revoluções industriais................................................................................................................................................... 329
21. Globalização e comércio exterior.............................................................................................................................. 333
22. Introdução à climatologia............................................................................................................................................346
23. Classificação climática................................................................................................................................................... 355
24. Questões ambientais...................................................................................................................................................... 362
25. Classificação e fatores de localização industrial.................................................................................................368
26. Evolução e modelos de industrialização................................................................................................................. 371
27. Regionalização................................................................................................................................................................. 378
28. Recursos naturais e energéticos................................................................................................................................386
29. Redes de circulação: transportes e vias..................................................................................................................401
30. Agropecuária...................................................................................................................................................................... 412
Capítulo 01
Noções de Cartografia
Origem da Cartografia
Em termos gerais, a Cartografia consiste na representa-
ção gráfica de dados analíticos relacionados aos fenômenos
associados à superfície terrestre. Essa representação pode
estar em mapas, cartas, plantas etc.
Desde os primórdios da civilização, o homem sempre
teve a necessidade de registrar o espaço ao seu redor para
demarcar o território e os locais significativos para a sua
sobrevivência, como: as fontes de alimento, fontes e cursos
de água, locais perigosos e a existência de outros grupos
humanos.
O mapa mais antigo encontrado por pesquisadores é
datado de mais de 6.000 a.C. Ele contém o mapeamento
Mapa T-O (T representa os mares e O, o grande oceano).
da cidade de Çatalhöyük, na Anatólia, numa região da atual
Turquia. Outro registro importante vem da Mesopotâmia: o Um avanço significativo veio durante as grandes navega-
mapa da cidade de Ga-Sur, de 3.800 a.C a 2.500 a.C. ções, entre os séculos XV e XVI. A necessidade de mapear
as novas áreas conquistadas pelos europeus na América
Evolução da Cartografia colocou em evidência os trabalhos do cartógrafo Gerardus
Mercator (1512-1594).
A sistematização da ciência cartográfica veio com os gregos,
impulsionada pelos estudos e registros de Ptolomeu (100-170,
era Cristã). Naquele tempo, foram criadas bases importan-
tes para a sistematização da ciência cartográfica, como a
concepção de esfericidade da Terra, as noções de polos,
equador e trópicos. A partir disso, Ptolomeu criou um sistema
de projeção e introduziu o conceito de latitudes e longitudes
e realizou os traçados dos primeiros paralelos e meridianos.
205
Geografia
Bússola.
Disponível em: http://nautilus.fis.uc.pt. Acesso em: 28 jul. 2009.
206
Noções de cartografia
Equador 0º
Latitude Norte
LatitudeNorte
Latitude Sul
30º 30º
• Ponto a: Latitude –20° Sul
Latitude Sul 60º 60 º Longitude –52° Oeste
90º 90º
SulSul
Polo • Ponto B: Latitude –22° Sul
(-) Longitude –54° Oeste
Meridianos • Ponto c: Latitude –18° Sul
Polo Sul Longitude –56° Oeste
Os meridianos são semicírculos imaginários verticais que
partem de um polo a outro e lá se cruzam, variando de 0° a
180° para leste (+) e para oeste (–).
207
Geografia
1. (Espcex (Aman) – 2018) Os jogos da próxima Copa C) A latitude é medida, em graus, a partir da linha do
do Mundo, na Rússia, que se iniciarem às 20 horas Equador (0°) em direção tanto ao hemisfério Norte
na cidade de Moscou, situada três horas adiantadas quanto ao hemisfério Sul.
em relação à hora de Greenwich, iniciar-se-ão a que D) Para a localização no espaço terrestre, o GPS (glo-
horas na cidade de Los Angeles, nos Estados Unidos bal position system) tem-se revelado mais eficiente
da América, situada no fuso 118º de longitude oeste? que a determinação da latitude e da longitude.
A) 7 horas.
B) 9 horas. 5. (Unesp – 2018)
C) 10 horas. 1. É o valor angular do arco de meridiano compreendido
D) 12 horas. entre o equador e o paralelo do lugar de referência. Será
E) 13 horas. sempre norte ou sul.
2. É o valor angular, junto ao eixo da Terra, do plano
2. (EsPCex – 2015) Em um exercício militar, ao planejar
formado pelo prolongamento das extremidades do arco
um deslocamento, o comandante responsável identi-
ficou dois pontos para os quais deverá deslocar sua compreendido entre o meridiano de Greenwich e o arco
tropa. Estes pontos apresentam as seguintes coorde- do lugar de referência, considerando-se este plano sempre
nadas geográficas: paralelo ao plano do equador. Será sempre leste ou oeste.
Ponto “A” - Latitude: 29° 49’ 30” S - Longitude: 54° 54’ 00” W (Paulo A. Duarte. Fundamentos de cartografia, 2008. Adaptado.)
Ponto “B” - Latitude: 29° 45’ 00” S - Longitude: 54° 55’ 30” W No excerto, 1 e 2 correspondem, respectivamente, a
A) longitude e latitude.
Após a chegada ao ponto “A”, um grupo de militares
B) latitude e longitude.
dessa tropa será deslocado para o ponto “B”, tendo
que seguir em que direção? C) longitude e meridiano.
A) leste D) trópico e paralelo.
B) oeste E) latitude e paralelo.
C) nordeste
Gabarito
D) sudeste
E) noroeste 1. B
2. E
3. (Uern) Para melhor localizar um ponto na Terra, foi
3. D
criado um sistema de coordenadas que são linhas
4. A
imaginárias traçadas sobre a superfície do planeta.
Considerando o sistema de coordenadas geográficas, 5. B
assinale a alternativa correta.
A) Plano equatorial é um plano paralelo ao eixo da
Terra, equidistante dos polos Norte e Sul.
208
Capítulo 02
Movimentos da Terra
A Terra realiza pelo menos 14 movimentos do ponto de datas, em todos os pontos do planeta, a noite e o dia têm
vista astronômico. Entretanto, destacam-se a rotação e a mesma duração – 12 horas. Os raios solares incidem
a translação, por influenciarem diretamente no cotidiano diretamente sobre o Equador, formando um ângulo de 90o com
planetário e servirem como referenciais para o desenvolvimento a superfície, e o calor vai diminuindo em direção aos polos,
da Cartografia. mas por igual. Em tais ocasiões, a Terra está nos equinócios.
1 3
Dia
Polo Norte Noite
Dia
Noite
Equador
Inverno
Primavera
Equinócio de primavera
2 Equinócio de primavera
(23(22-23
de setembro)
de setembro)
frisar que a translação por si só não explica esse fenômeno, ALTAS LATITUDES
pois a inclinação do eixo da Terra também determina a RAIOS SOLARES OBLÍQUOS
209
Geografia
Polo Norte
Em latitudes mais elevadas, os raios
Dia 21 de dezembro
solares incidem sobre a superfície da
Escuro o dia todo
Terra com uma angulação maior.
90º N latitude
INVERNO
RAIOS SOLARES
Perto da Linha do Equador,
os raios solares incidem quase
que diretamente sobre
a superfície da Terra.
VERÃO
Polo Sul
Dia 21 de dezembro 90º S latitude
Claro o dia todo
Reykjavik
60°
Moscou
Is.Aleutas
Vancouver Londres
Berlim
Ottawa Paris Astana
Madrid Bucareste
Nova Iorque Beijing Seul
Açores Argel
Washington
Los Angeles Is. Madeira Trípole Teerã Tóquio
Cairo 30°
Is. Canárias Riad Nova
Délhi
Hong Kong
Is.Havaí Cidade do
México Cabo Verde Dacar Manila
Niamei
Georgetown Adis Abeba
Bogotá
0°
Nairóbi
Meridiano de Greenwich (GMT)
Is.Galápagos
Luanda Jacarta
Lima Is.Fiji
Brasília
Is.Tonga
Is.Pitcairn Maputo
30°
Cidade Sydney
Buenos Aires do Cabo
Melbourne
Is. Malvinas
60°
90° 70 0 140km
Pode-se dizer que o desejo humano de mensurar o tempo é tão antigo quanto o próprio homem. Observando os ciclos da
natureza, as mudanças das estações, as migrações de animais e o aumento e a diminuição do nível dos mares, o ser humano
adquiriu consciência da ação do tempo e da necessidade de medi-lo. Com o advento das primeiras civilizações, surgiram os
primeiros relógios, como o relógio solar (gnômon), o relógio de areia (ampulheta) e o relógio de água (clepsidra).
O homem sempre criou instrumentos para medir o tempo. Gnômon, ampulheta e clepsidra são exemplos de instrumentos antigos.
210
Movimentos da Terra
Ao longo dos séculos, a noção de tempo esteve relacio- Supondo que o Sol nasça às 6h na capital chinesa, algu-
nada às especificidades dos cenários históricos. Durante a mas cidades localizadas no extremo oeste do país só verão
Idade Média, o pensamento cristão delimitou a medição do o nascer do dia até quatro horas depois, ou seja, às 10h da
tempo com base em eventos bíblicos e no trabalho realizado manhã.
de acordo com as estações do ano. A partir do século XI,
com o desenvolvimento das cidades ocidentais, surgiu a ne- Cálculo de fuso horário
cessidade de se determinar o tempo em função da atividade
Para calcular a diferença de horas entre duas localidades,
comercial, resultando, assim, na criação do relógio mecânico,
deve-se considerar suas longitudes. Se as localidades
no século XIV, em Nuremberg. No século XIX, durante o longo
processo de industrialização das nações, o ritmo acelerado estiverem em hemisférios diferentes – Leste e Oeste – deve-
de produção demandava formas aperfeiçoadas de mensurar se somar as longitudes. O resultado da soma será a diferença
o tempo. Com o desenvolvimento tecnológico e capitalista, o em graus entre dois locais. Se as localidades estiverem
mundo diminuíra. As especificidades do mundo industrializado no mesmo hemisfério – Leste/Leste, Oeste/Oeste – para
contribuíram para o estabelecimento de parâmetros interna- obter-se a diferença em graus dos locais, deve-se subtrair
cionais para se pensar as horas. Nesse sentido, nasceram as longitudes.
os primeiros fusos horários. De posse da distância em graus entre as localidades,
deve-se calcular a diferença entre elas em fusos horários.
Divisão dos fusos horários Como cada fuso equivale a 15º, a diferença de longitudes
Para o estabelecimento dos fusos horários, considerou- encontrada deve ser dividida por 15. O resultado será a
-se ter o círculo terrestre 360° graus e o movimento de diferença em horas entre duas localidades.
rotação ser realizado em 24 horas. Dividiu-se, então, 360°
por 24, chegando a 24 faixas de 15° de longitude, ou seja, Se for necessário calcular o horário em uma localidade
24 fusos horários. Define-se fuso horário como a hora legal a leste de sua referência, deve-se somar a diferença em
determinada em uma faixa de 15° de longitude. Em função horas ao horário da localidade inicial. Se for preciso calcular
do movimento de rotação, as horas aumentam para leste e o horário em uma localidade a oeste de sua referência, deve-
diminuem para oeste. se subtrair a diferença em horas do horário da localidade
inicial, uma vez que quanto mais a leste um local estiver,
mais adiantado será seu horário.
obs: Se for preciso calcular a hora de chegada de uma
Movimento
viagem, lembre-se de somar o tempo do percurso.
diário
aparente
do Sol 12 13
Exemplo:
11
10 Numa determinada cidade A, localizada a 150° O, são 13
horas. Que horas serão na cidade B, que se localiza a 30° O?
• 1º passo: estabelecer a diferença em graus.
150° – 30° = 120°
PS
Hora legal • 2º passo: estabelecer a diferença em horas.
120° ÷ 15° = 8 horas de diferença entre as cidades A e B.
24 • 3º passo: observar se as horas serão somadas ou
Movimento de rotação e os fusos horários.
subtraídas.
Disponível em: http://1.bp.blogspot.com. Acesso em: 28 jul. 2009. Como a cidade B se encontra a leste da cidade A, as horas
deverão ser somadas. Logo,13 horas + 8 horas = 21 horas
360° / 24 horas = 15° de longitude = 1 hora na cidade B.
Como a Terra apresenta dias com duração de 24 horas, A Linha Internacional de Mudança de
convencionou-se determinar 24 fusos, tendo cada um deles Data (LID)
uma hora diferenciada. Muitos países estabeleceram a sua
A partir do estabelecimento da convenção dos fusos
própria divisão de horários, a chamada hora legal. Com o
horários, foi normatizada a questão da mudança de datas.
intuito de padronizar serviços, as nações aproveitam limites Normalmente, a mudança da data é realizada pela passagem
de regiões ou províncias para delimitar o fuso de determi- das horas, sendo realizada a partir da hora zero. Mas a
nado local. mudança também ocorre ao se ultrapassar a chamada Linha
Dentro da hora legal, os países definem ainda se adotam Internacional de Mudança da Data (LID), que se localiza no
ou não o horário de verão. O intuito é o de aproveitar a maior fuso de 180° (antimeridiano de Greenwich). Imagine que você
luminosidade do dia nessa época do ano e reduzir o consumo esteja sobre a LID, virado para o Polo Norte. Seu pé direito
estará no Hemisfério Oeste, e seu pé esquerdo estará no
de energia elétrica.
Hemisfério Leste, tendo como base o Meridiano de Greenwich.
Países com grande extensão longitudinal têm muitos Desse modo, seu pé direito estará localizado em um hemisfério
fusos, como Rússia (11 fusos), Estados Unidos (9 fusos) e que apresenta horas e data mais atrasadas em relação ao
Canadá (6 fusos). A China possui 5 fusos, mas o governo Hemisfério Leste, e seu pé esquerdo estará no Hemisfério
utiliza como horário oficial a hora de Pequim, localizada na Leste, que apresenta horas e data mais adiantadas em relação
região leste do país. ao hemisfério oeste. Imagine que seu pé direito esteja na terça-
211
Geografia
feira e seu pé esquerdo, na quarta-feira. Para atravessar a LID Observe o mapa abaixo.
no sentido Sibéria-Alasca, você deverá subtrair um dia e, no Brasil - Fusos horários
sentido inverso, somar um dia em seu calendário.
BRASIL - F USOS HORÁRIOS
75º W 60º 45º 30º
MG ES Trindade
MS Martin
SP RJ Vaz
PR
SC
RS
4º Fuso 3º Fuso 2º Fuso 1º Fuso
Exercícios
1. (Puc rj – 2017)
Fusos Horários
212
Movimentos da Terra
C) 17 h em Los Angeles (EUA), 09 h em Argel (Argélia), 4. (Mackenzie – 2017) Assunção, capital do Paraguai, fica
06 h em Moscou (Rússia), 23 h do dia anterior em a aproximadamente 1.150 quilômetros de distância, em
Sidney (Austrália). linha reta, da cidade de São Paulo - Brasil. Suponha
D) 12 h em Los Angeles (EUA), 09 h em Argel (Argélia), que um piloto da FAB, utilizando um avião supersônico,
06 h em Moscou (Rússia), 01h do dia anterior em com a capacidade de alcançar até 1.700 km/h, faça
Sidney (Austrália). um voo partindo às 9 horas da capital paulista, com
destino a Assunção, com uma velocidade média de
E) 19 h em Los Angeles (EUA), 13 h em Argel (Argélia),
1.150 km/h. Considere, para avaliação das assertivas
09 h em Moscou (Rússia), 02 h do dia seguinte em
a seguir, que o fuso horário em São Paulo é UTC−3; e
Sydney (Austrália).
em Assunção, é UTC−4.
2. (UCS) A Lua, corpo celeste mais próximo de nós, é o Com base nas informações fornecidas, é correto
satélite natural da Terra. Ela executa três movimentos afirmar que
e apresenta quatro fases diferentes. A) no momento em que estiver sobrevoando a capital
paraguaia, o horário local será de 10 horas.
B) no momento em que estiver sobrevoando a capital
paraguaia o horário local será de 11 horas.
C) no momento em que estiver sobrevoando a capital
paraguaia o horário local será de 9 horas.
D) no momento em que estiver sobrevoando a capital
O intervalo de tempo entre duas luas novas consecuti- paraguaia o horário local será de 8 horas.
vas dura cerca de 29 dias e meio e recebe o nome de E) não é possível estimar, com base nos dados forne-
A) perigeu. cidos, a hora em que o avião irá sobrevoar a cidade
de Assunção.
B) lunação.
C) equinócio. 5. (UEG – 2017) Durante a trajetória da Terra em torno do
D) eclipse. Sol, só há duas ocasiões em que os dois hemisférios
são igualmente iluminados pela energia solar. Esse
E) fase.
período do ano é conhecido como
3. (Fuvest) Uma das primeiras estimativas do raio da Terra é A) equinócio
atribuída a Eratóstenes, estudioso grego que viveu, apro- B) solstício
ximadamente, entre 275 a.C. e 195 a.C. Sabendo que em
C) afélio
Assuã, cidade localizada no sul do Egito, ao meio dia do
solstício de verão, um bastão vertical não apresentava D) periélio
sombra, Eratóstenes decidiu investigar o que ocorreria, E) veranico
nas mesmas condições, em Alexandria, cidade no norte
do Egito. O estudioso observou que, em Alexandria, ao Gabarito
meio dia do solstício de verão, um bastão vertical apresen- 1. A
tava sombra e determinou o ângulo θ entre as direções 2. B
do bastão e de incidência dos raios de sol. O valor do
3. A
raio da Terra, obtido a partir de θ e da distância entre
Alexandria e Assuã foi de, aproximadamente, 7500 km. 4. C
5. A
213
Capítulo 03
Representação cartográfica
Escala Escala grande
A necessidade de representar áreas muito grandes da A escala grande representa uma área pequena, tendo,
consequentemente, grande riqueza de detalhes. Geralmente,
superfície terrestre em equipamentos que nos permitam a
ela é utilizada para a confecção de plantas e mapas de bairros
análise do espaço geográfico condicionou o desenvolvimento
e compreende um valor entre 1: 5.000 e 1: 25.000.
da escala. A definição de escala é a relação espacial entre
as dimensões da superfície terrestre e as dimensões repre- Ampliação e redução de mapas
sentadas no mapa. Elas podem ser: gráficas, numéricas ou
de equivalência. Escala média
Gráfica A escala média possui um grau de detalhamento interme-
diário entre as escalas grande e pequena. Ela está compreen-
A escala gráfica é representada por um segmento de reta
dida num valor entre 1: 25.000 e 1: 250.000.
graduado que permite determinar uma distância do mundo
real correlacionando-a com outra distância no mapa, seguindo
Escala pequena
o princípio matemático de proporcionalidade.
A escala pequena representa uma área grande, tendo,
0 20 40 60 80 100 km consequentemente, uma pequena riqueza de detalhes. Ela
compreende valores menores que 1: 250.000.
Exemplo:
0 20 40 60 80 100 km
Comparando as duas escalas a seguir, teremos:
Escala A ® 1 : 1.000.000
Escala B ® 1 : 100.000
Numérica ou fracionária
Podemos dizer que a escala A é dez vezes menor que a
A escala numérica é representada por uma fração, em que
escala B. Dessa forma, a área representada pela escala A é
o numerador corresponde à distância no mapa, ou distância
maior que a área representada pela escala B e, por isso, o
gráfica, e o denominador, à distância real. A representação
mapa produzido, considerando a escala B, apresenta uma
numérica do um do segundo exemplo anterior pode ser das
riqueza maior de detalhes geográficos. Observe os mapas
seguintes formas:
a seguir, que demonstram a mesma área representada em
E = 1: 200.000 ou = 1 / 200.000 escalas diferenciadas e, por isso, com diferenças quanto ao
grau de detalhamento. Do mapa A para o mapa D, observa-
Assim, 1 cm no mapa equivale a 2.000.000 cm no mundo -se que a escala aumenta, a área representada aumenta e
real. Para se saber qual a distância real representada pela os detalhes diminuem.
escala, basta converter o denominador, que está represen-
tado em centímetro (cm), para metro (m) ou quilômetro (km),
Antônio
de acordo com o objetivo do mapa. S. Antônio
Rancho
Lica Torre Igr. de S. Francisco de Assis
(rádio) Jardim Panorama
Esta. Nóbrega
Equivalência Monumento do Cristo Rei
Vila Moreira
Torre
(rádio)
Tiro de
Guerra
Jardim Panorama
Seminário Congr. Cristã no Brasil x 639
linha da Paz Cba. de São Faz.
Colégio Cristo Rei
A escala de equivalência indica a distância do terreno e a Estádio x
665
Fac. de
Filosofia
Miguel
Jardim Pérola
São João
sua correspondência direta no mapa. Com base nos exemplos Esc. Dr. Gentil
da Rocha Loures Est. de tra.
Dis. ind. 369
Rodoviária
anteriores, podemos demonstrar que: órdia
RN 1587
Posto de 879
Câmara Municipal
Frig. Esperança Faz. São João
saúde Matriz Cristo Rei (FRIESP)
Cem André Seugling RN 1587 N
1 cm = 20 km ou 2 cm = 40 km ou 5 cm = 100 km Jardim Estádio TELEPAR
Bandeirantes Colég. Barão
567 Ret. da Faz.
São João
do Rio Branco Corpo de Bombeiros Cpa. de S. Jose
RN 1587 dos Operários
587 Esc. Nilson Batista Ribas
Grandeza escalar u t o
Ad ubt.
ra
Coop. de
cafricultores
Distrito Santano
CORNÉLIO PROCÓPIO
s
o
(COPEL)
quinh
369
do grau de detalhamento apresentado pelo mapa. Quanto Armazéns do IBC
N.S.
Sít.
São José
Torre (TV)
Esc. Osvaldo
ecida 600 Bosque Manuel
maior for o denominador da fração, menor será a escala e, Pe. Manuel da
Jardim Progresso
Júlio de Almeida
x 650 CORNÉLIO
PROCÓPIO
Independência RN
x x 594
URAÍ
214 673
RN 22
x
Congonhas
RN 37
x 671.226 c) escala 1:250.000
Coop. de Distrito Santano
ra
uto
Ad ubt.
cafricultores CORNÉLIO PROCÓPIO
s
inho
(COPEL)
Parque industrial
qu
x 597
Macu
369 Sít.
Armazéns do IBC Torre (TV)
N.S. São José Esc. Osvaldo
600
ecida
Pe. Manuel da
Jardim Progresso Bosque Manuel
Júlio de Almeida Representação cartográfica
a) escala 1:50.000
645 x Representações cartográficas
x 650 CORNÉLIO Existem várias maneiras de representar o planeta Terra.
PROCÓPIO
Dentre elas, consideram:
Independência RN
x x 594
URAÍ
O globo terrestre
673 Congonhas
x
RN 22
678.448 CORNÉLIO PROCÓPIO
Faz. Água Quente Faz. Macuco O globo terrestre é o método de representação que mais
RN 37
x 671.226 c) escala 1:250.000
se aproxima da realidade, porque:
x 598
Diamantina
Sertaneja
• sua forma é muito semelhante à da Terra;
• traz as coordenadas geográficas (paralelos e meridianos);
ruç
Quinzopolis
ua
b) escala 1:100.000
Leópolis
Rio
Taq
do
Rancho Bandeirantes
Rio
Rio
Alegre
Co
PR -
ng
S. Mariana
on
translação.
430
ha
Frei Timóteo CORNÉLIO PROCÓPIO
s
Uraí Congonhas
nientes, como:
Antônio Brandão Gr
PR de Oliveira an
de
-0
90 Nova América 600 500
215
Geografia
• escala: possibilita a identificação do tamanho da área 1. conforme: preserva os ângulos (na esfera e no plano),
em questão. mas deforma as áreas (em sua representação carto-
gráfica).
• Fonte de confecção: é uma maneira de se creditar o
órgão responsável pela sua produção. 2. equivalente: deforma os ângulos, mas conserva as
• legenda: permite a interpretação das informações áreas.
trazidas pelo mapa. 3. equidistante: deforma os ângulos e as áreas, mas
preserva as distâncias.
Os símbolos e convenções
4. Afilática: deforma os ângulos, as áreas e as distâncias.
Os mapas são recursos de comunicação, ou seja, eles
dizem algo. Para isso, eles possuem uma linguagem gráfica, Quanto à sua origem construtiva, as projeções podem ser
representada por cores, tamanhos e figuras, que facilita a lei- classificadas em três principais categorias – cilíndrica, cônica
tura e a interpretação das informações de quem os elaborou. ou plana –, em função da figura geométrica adotada como
base de sua transformação em mapas.
Essa linguagem é universal e independe até mesmo do
idioma em que o mapa foi elaborado. Os símbolos cartográ-
ficos corresponderão à finalidade dos mapas.
Esses símbolos podem ser representados na forma de
pontos, de linhas ou em áreas conforme o esquema a seguir.
216
Representação cartográfica
• as deformações dessa projeção são tanto maiores Já o estudioso Peters desenvolveu sua projeção em 1973
quanto mais elevadas as latitudes norte e sul; com fortes implicações políticas. Seu objetivo era contrapor
as ideias disseminadas pela projeção de Mercator, que
• os paralelos são dispostos em linhas paralelas ao
Equador e têm intervalos desiguais, aumentando em valorizava as áreas dos países que se encontram ao norte
direção aos polos; do mapa – predominantemente ricos. A Projeção de Peters
é considerada a “terceiro-mundista”, por realçar as nações
• os meridianos distribuem-se por intervalos iguais ao que historicamente compõem a parte mais pobre do mundo.
longo dos 360° graus de circunferência da Terra, com
linhas paralelas entre si e perpendiculares ao Equador; A maior diferença da projeção de Peters para a de Mercator
é a redução do tamanho do continente europeu e o aumento
• o excesso de deformação (ampliação das áreas) veri- considerável do continente africano.
ficado nas latitudes superiores a 80° norte e sul torna
inviável a representação cartográfica, e os polos norte A Projeção de Gall-Peters é um tipo de projeção carto-
e sul não são representados nessa projeção. gráfica cilíndrica e equivalente. As retas perpendiculares aos
paralelos e as linhas meridianas têm intervalos menores, o
que resulta numa reprodução fiel das áreas dos continentes
à custa de uma maior deformação do formato dos mesmos.
Projeção de Mercator
Projeção de Peters
Projeção cônica
A projeção cônica representa apenas um hemisfério, norte ou sul, e as imagens do globo são projetadas nas paredes de
um cone. As imagens retratam melhor a zona temperada, enquanto as áreas equatoriais e polares aparecem deformadas. Os
meridianos se mostram como linhas retas que se convergem e os paralelos são representados como círculos concêntricos.
Essa projeção é mais apropriada à representação cartográfica das latitudes mais elevadas. A Europa e a Ásia
utilizam-na com frequência.
Anamorfoses
A anamorfose, também conhecida como cartograma, é um instrumento cartográfico que permite a comparação de dados
quantitativos – natalidade, mortalidade, trocas comerciais, desenvolvimento humano – de uma determinada área de análise.
As anamorfoses não têm escala, mas cada distorção representa um valor numérico, provocando um estranhamento numa
primeira observação devido ao fato de os limites políticos aparecerem bastante deformados em relação ao que se é conhecido
de determinada área, como podemos observar no exemplo a seguir.
218
Representação cartográfica
55
HOMI 1999
50
45
40
35
30
25
20
15
10
5
0
Distrito Federal
Santa Catarina
Pernambuco
Espírito Santo
Rio de Janeiro
Pará
São Paulo
Paraná
Paraíba
Amapá
Roraima
Rondônia
Tocantins
Rio Grande di Norte
Bahia
Mato Grosso
Maranhão
Sergipe
Ceará
Goiás
Acre
Alagoas
Piaui
Exercícios
1. (Espcex (Aman) – 2017) Sobre a projeção cartográfica utilizada na produção do mapa abaixo, é correto afirmar que se
refere a uma projeção
A) cilíndrica conforme, muito útil à navegação marítima, pois não deforma os ângulos, que permanecem com seus
valores reais.
B) plana azimutal, que já foi muito utilizada na geopolítica, como instrumento de análise estratégica dos Estados.
C) azimutal equidistante, que produz um tipo de mapa cujas distâncias e direções não são deformadas, propriedades
estas muito úteis ao planejamento estratégico-militar.
D) cilíndrica equivalente, que destaca as áreas situadas nas latitudes intertropicais e preserva as dimensões relativas
entre os continentes e países.
E) cilíndrica interrompida, que conserva a proporção das áreas representadas, e é muito utilizada nos atlas escolares
americanos.
219
Geografia
2. (Espcex (Aman) – 2017) A escala indica a proporção 5. (EsPCex – 2015) Em uma cidade, a distância entre as
em que um mapa foi traçado, em relação ao objeto localidades X e Y é de 16 Km e entre as localidades X
real, e varia de acordo com as finalidades desse mapa. e Z é de 28 Km. A distância no mapa entre X e Y é de 4
Sobre as escalas utilizadas nos mais diferentes tipos cm e entre X e Z é de 7 cm. A escala desse mapa é de:
de mapas, podemos afirmar que
A) 1:280.000
I. em um mapa com escala de 1: 25.000.000 a dis-
tância de 8 cm no mapa corresponde à distância B) 1:160.000
real de 2,500 km. C) 1:40.000
II. uma escala de 1:1.000.000 é considerada uma D) 1:16.000
escala grande e é muito utilizada para obter, em E) 1:400.000
um mapa, informações bem detalhadas de um
dado lugar. 6. (EsPCex (AMAN) –2011) A escala cartográfica que se
III. quanto maior a escala de um mapa, menor será a apresenta sob a forma de um segmento de reta gradu-
área que ele representa, e menos evidente será a ado é denominada Escala
projeção cartográfica utilizada na confecção do mapa. A) Numérica.
IV. a escala gráfica pode ser apresentada em diferentes B) Gráfica.
unidades de medida e a escala numérica, quando C) Equivalente.
estiver com a unidade de medida omitida, estará
D) Temática.
em centímetros.
E) Topográfica.
Assinale a alternativa que apresenta todas as afirma-
tivas corretas.
Gabarito
A) I e II. D) II e IV.
1. D
B) I e III. E) III e IV.
2. E
C) II e III.
3. E
3. (EsPCex – 2012) Sobre escala cartográfica, leia as 4. D
afirmativas abaixo:
5. E
I. existem dois tipos de escala cartográfica: a numérica
6. B
e a geográfica;
II. na escala 1:5.000, podemos visualizar mais detalhes
do que na escala 1:500.000, portanto a primeira é
mais adequada para representar grandes super-
fícies terrestres, como, por exemplo, uma região
ou país;
III. em um mapa de escala 1:2.000.000, a distância
gráfica de 3 cm entre dois pontos, em linha reta,
corresponde a uma distância real de 60 km;
IV. a escala 1:500, muito utilizada na construção
de plantas urbanas, é maior do que a escala
1:1.000.000, que é utilizada, por exemplo, para
representar um continente ou mesmo o Mundo.
Assinale a alternativa que apresenta todas as afirma-
tivas corretas.
A) I e II D) II e III
B) I, II e III E) III e IV
C) I, II e IV
220
Capítulo 04
Praia
do
Forte
CA
UR
Cão
ra de
o Ca
Morr
400
300
200
100
Perfil topográfico
Os perfis topográficos dão uma ideia mais nítida da inclinação do relevo ao longo de uma linha do horizonte determinada
pelo observador ou leitor do mapa. Para a elaboração de um perfil topográfico, parte-se das curvas de nível do terreno em
estudo. Na figura a seguir, pode-se ver, na parte superior, um mapa com curvas de nível que indica a elevação do terreno
(dois morros). O perfil gerado está na parte de baixo da figura (corte).
221
Geografia
200 Terrestre
323
A 300 150
250 Rede
Terrestre
Terminais Pessoais
200
150 100
Rede
0 500 km Estações Móveis Estações Portáteis
Terrestre
Sensoriamento remoto
“É um conjunto de tecnologias que permitem adquirir
informações sobre objetos que estão presentes na
superfície terrestre, sem entrar em contato com eles, ou
seja, é um conjunto de atividades relacionadas com a
aquisição, o registro e a análise dos dados de sensores
remotos, sendo que o fundamento principal é a
detecção das alterações eletromagnéticas, quando esta
interage com os componentes da superfície terrestre.”
Helder Lages Jardim e Valéria Amorim do Carmo
Imagem de satélite.
O sensoriamento nada mais é do que um recurso técnico
para ampliar os sentidos naturais do homem, ou seja, é um
dispositivo ou equipamento (câmara fotográfica, radar etc.)
que capta e registra, sob forma de imagens, principalmente,
a energia refletida ou emitida pelas áreas, acidentes, objetos
e acontecimentos do meio ambiente.
Quanto à fonte de radiação, os sensores podem ser:
• Passivos: dependem de uma fonte externa ou natural
de radiação como o sol e a Terra, captada por radares ou
satélites artificiais e fotos aéreas. Os sensores passivos
mais usados e conhecidos são as fotos aéreas, que,
apesar do amplo campo de aplicação, têm seu uso
menor que o desejável por terem custo alto e por se
desatualizarem rapidamente.
Exemplo: retina humana, a câmera fotográfica (sem
flash) e os satélites. Fotografia aérea da cidade de São Paulo.
222
Representação do relevo terrestre
Drones Exercícios
Conhecidos também como VANTs (Veículos Aéreos Não- 1. (UERJ – 2016) Na imagem abaixo, foi utilizada a téc-
-Tripulados), os drones passaram do uso militar para as nica de curvas de nível para representar a topografia
mãos das pessoas que desejam realizar voos panorâmicos de uma região na qual há um vale, entre outras formas
ou registros audiovisuais. A popularização dos drones per- de relevo.
mitiu que esse equipamento passasse a ser utilizado em
geoprocessamento.
Os custos para a obtenção de imagens aéreas reduziram
00
muito com a chegada desses equipamentos, quando com- 40
parados a outras plataformas de sensoriamento remoto.
Quando câmeras de alta resolução e alta qualidade são
B C
acopladas ao aparelho, o mapeamento ganha um nível de A 5000
detalhe ainda maior. 5000
Contudo, vale lembrar que os drones continuarão a dividir D
espaço com outras tecnologias de representação do relevo.
3000
GPS 1 km
O GPS – Global Positioning System (Sistema de Phil Gersmeh
Posicionamento Global) – é um aparelho de bolso, apoiado Adaptado de Teaching geography, Nova York: Guilford, 2008.
atualmente por 24 satélites que refletem os sinais de rádio
para o local onde o aparelho está operando. O satélite envia ao O ponto localizado no fundo desse vale é o identificado
GPS dados sobre a localização de qualquer lugar, por meio de pela seguinte letra:
coordenadas geográficas. Além da posição geográfica (latitude, A) A
longitude, altitude), o aparelho pode indicar velocidade, tempo
B) B
de deslocamento e distância em relação a qualquer outro ponto
de referência da Terra. Ademais, o aparelho pode memorizar C) C
o percurso realizado, orientar o retorno e indicar a direção a D) D
ser seguida para um determinado destino.
2. (Cefet – 2018) O uso das geotecnologias é corrente
na sociedade contemporânea. É fácil perceber como
os aparelhos eletrônicos que disponibilizam sistema de
posicionamento global – conhecido como GPS – ultra-
passaram a fronteira do meio acadêmico e empresarial
para alcançarem e influenciarem as atividades cotidia-
nas do cidadão.
Disponível em: <https://www.embrapa.br/tema-geotecnologias/
sobre-o-tema>. Acesso em: 16 set. 2017 (adaptado).
223
Geografia
3. (Unicamp – 2016) A imagem abaixo corresponde a 5. (FGV SP – 2018) Observe o gráfico a seguir.
um fragmento de uma carta topográfica em escala 1:
50.000. Considere que a distância entre A e B é de
3,5 cm.
224
Capítulo 05
Litosfera Litosfera
Descontinuidade Oceânica Continental
de Mohorovicic 75 km a
100 km
350 km
670 km
Descontinuidade
de Wlechert Gutenberg
2 900 km 2 900 km
Descontinuidade
Zona de de Lehmanh Endosfera
transição 4 980 km
5 120 km 5 120 km
6 378 km
Crosta terrestre
A crosta terrestre é a parte superficial e sólida que envolve a Terra. A crosta pode ser subdividida em duas porções bastante
diferentes, a crosta continental e a crosta oceânica. A crosta continental é mais espessa; ela mede cerca de 75 km, é composta
por rochas “graníticas” menos densas, é fortemente deformada e inclui as rochas mais antigas do planeta (com bilhões de
anos de idade). Já a crosta oceânica é menos espessa ela mede cerca de 8 km e é constituída por rochas vulcânicas mais
densas como o basalto.
Manto
O manto está localizado entre a crosta e o núcleo, onde o magma se encontra em estado pastoso. Ele é formado pelos
materiais de densidade intermediária, deixados na porção mediana da Terra, após os materiais mais pesados terem mergu-
lhado para o centro do planeta, e os materiais mais leves terem ascendido para a superfície. O manto é composto por rochas
formadas por compostos de oxigênio com ferro, magnésio e sílica.
Núcleo
O núcleo é a porção mais interna da Terra. O núcleo terrestre, composto basicamente por ferro, possui aproximadamente,
7.000 km de diâmetro. A sua densidade aumenta com a profundidade. O núcleo compõe somente 16% do volume da Terra,
mas, devido à sua elevada densidade, ele constitui 32% da massa do planeta.
Litosfera
225
Geografia
A litosfera é a camada externa rígida, resistente e sólida da Terra. Essa camada inclui a crosta e a porção mais externa
do manto superior.
Astenosfera
A astenosfera é a camada situada abaixo da litosfera. Como sua temperatura é muito elevada, a astenosfera tem menor caráter
rígido, ou seja, ela apresenta comportamento plástico e, por isso, está mais sujeita a deformações. A parte inferior da astenos-
fera é mais quente que a parte superior e, por causa dessa característica, os materiais de menor densidade ascendem para as
áreas mais superficiais e os mais densos descem. Esse movimento é responsável pela formação das correntes de convecção.
Mesosfera
A mesosfera é a camada da estrutura interna da Terra, que se situa entre a astenosfera e o núcleo. Com cerca de 2.900
km de profundidade, a mesosfera é constituída por materiais rígidos. Essa área é caracterizada pela enorme rigidez de seus
materiais e, por isso, a propagação das ondas sísmicas na região ocorre com enorme velocidade .
Endosfera
A endosfera subdivide-se em núcleo externo (ou endosfera externa) e núcleo interno (ou endosfera interna). O núcleo
terrestre é subdividido em duas porções distintas, com base no comportamento mecânico: um núcleo externo líquido e um
núcleo interno sólido. O núcleo externo é constituído de materiais líquidos, já o núcleo interno é constituído de materiais sólidos
e rígidos, fato explicado pela enorme pressão (a temperatura de fusão dos metais aumenta muito rápido com o aumento da
pressão). Cerca de 90% da Terra consiste em apenas quatro elementos: ferro, oxigênio, silício e magnésio.
As informações que se têm a respeito do interior da Terra foram todas obtidas por vias indiretas, pois as perfura-
ções mais profundas normalmente não ultrapassam os 5.000 ou 6.000 metros. A divisão da estrutura da Terra foi ba-
seada, principalmente, nos estudos sobre os abalos sísmicos. O comportamento das ondas sísmicas altera-se na pas-
sagem de uma camada da Terra para outra, em decorrência da natureza dos materiais. Além disso, também são ob-
servados os vulcões, que trazem material de profundidade, permitindo a análise da constituição química dos minerais.
Eurásia
Laurásia
América
do Norte
P A N G E A
América África
do Sul
Índia
Gondwana Austrália
Antártica
Pangea e sua divisão em dois continentes, Laurásia
ao norte e Gondwana ao sul, pelo Mar de Thetys.
226
Dinâmica física terrestre
América Eurásia
do Norte
Equador África Índia
América
do Sul Austrália
a Antártica
Eurásia
América
Equador do Norte
América África
do Sul
Índia
Austrália
b Antártica
a) Distribuição atual das evidências geológicas que atestam a existência de geleiras há 300 mi-
lhões de ano. As setas indicam a direção de movimento das geleiras.
b) Simulação de como seria a distribuição das geleiras com os continentes juntos, mos-
trando que estariam restritas a uma calota polar no Hemisfério Sul.
5
13
No a
do éric
rte
Am
0
81
Bermuda
18
Placa
53 3
6
0
38
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Africana
9
38
9
63 3
5
Placa
15
81
5
13
Norte-
5
155
a
13
Americana
ric
Fratura
Áf
Cuba
Porto Rico
Distribuição das idades geocronológicas do fundo oceânico do Atlântico Norte, em que se observam
as idades (em milhões de ano) mais jovens próximas à dorsal mesoceânica.
No início de 1960, Harry Hess e Robert Dietz sugeriram que a crosta era separada ao longo das fendas ou riftes nas dor-
sais e que um novo fundo de mar era formado a partir da ascensão do magma, proveniente do interior da Terra, ou seja, o
processo estaria associado a correntes de convecção do interior da Terra. A Deriva Continental e a expansão do fundo dos
oceanos seriam uma consequência das correntes de convecção.
Assim, em função da expansão dos fundos oceânicos, os continentes viajariam como passageiros, fixos em uma placa,
como se estivessem em uma esteira rolante. Com o processo de geração de crosta oceânica, em algum outro local, deveria
haver um consumo ou destruição desta crosta, caso contrário a Terra expandiria. A destruição da crosta oceânica mais antiga
ocorreria nas chamadas zonas de subducção, que seriam locais onde a crosta oceânica mais densa mergulharia para o interior
227
Geografia
da Terra até atingir condições de pressão e temperatura suficientes para sofrer fusão e ser incorporada novamente ao manto.
A partir das confirmações científicas que respondiam a questões e lacunas deixadas pela teoria da Deriva Continental, surge a
teoria da tectônica de Placas. De acordo com essa teoria, a litosfera não é contínua e apresenta-se fragmentada por falhas e fraturas
profundas. Esses fragmentos constituem as placas tectônicas (consideram-se doze grandes placas e diversas placas menores).
Placa Placa
Norte-americana Euro-asiática
Placa
Pacífica
Placa
Placa Placa
Placa Africana
Árabe Filipina
do Caribe
Placa Placa
de Cocos
Pacífica
Placa Placa
de Nazca Indo-australiana
Placa
Sul-americana
Placa
Antártica
Cada placa se move de forma independente e desliza em razão da movimentação das correntes de convecção existentes
no manto. Com base na comprovação da movimentação dos continentes assentados nas placas tectônicas, foram apontados
três tipos de movimentos tectônicos que serão vistos ao longo do capítulo.
(a) (b)
6 Onde as placas
convergem, uma placa
resfriada é arrastada
Placa Placa sob a placa vizinha...
3 ...aquece-se,
e, novamente,
sobe. 7 ...mergulha, aquece-se
e, novamente, sobe.
Quando a corrente magmática atinge a região de crosta, sua movimentação é alterada, devido à presença dessa camada
mais rígida, e ocorre a movimentação das placas tectônicas. Como essa camada mais aquecida se encontra agora em uma
região menos profunda, logo, em uma área de menor temperatura, ela perde calor para o meio e sua densidade aumenta,
implicando a movimentação em direção ao núcleo da corrente convectiva de magma.
228
Dinâmica física terrestre
Movimentação tectônica
Tectonismo
As placas tectônicas apresentam dois grandes tipos de movimentos:
• orogenético: movimento horizontal da crosta terrestre que se subdivide em convergente, divergente e tangencial.
• epirogenético: movimento vertical de algumas porções continentais que se subdivide em epirogênese positiva e epi-
rogênese negativa.
As placas cobrem todo o globo, de modo que, se elas se separam em certo lugar, deverão convergir em outro, conservando,
assim, a área da superfície terrestre.
Movimentos orogenéticos
Limites convergentes
Correspondem aos movimentos de colisão entre as placas. As áreas onde ocorrem esses movimentos são denominadas
como zonas de contato destrutivo. Existem três tipos de contato dessa natureza:
convergência oceano-continente: área de choque entre uma placa continental e uma placa oceânica – mais densa –, em
que esta passa por debaixo da placa continental. Dessa forma, a placa continental é dobrada pela pressão e força de colisão,
e a placa oceânica adentra no manto. Essa região é denominada zona de subducção.
Como consequência direta do processo de colisão entre as placas continental e oceânica, é possível perceber a formação
de fossa oceânica, no contato direto entre elas, de dobramentos modernos, vulcanismo, terremotos e tsunamis.
Fossa do Peru-Chile
Placa Sul-Americana
Placa de Nazca
PRESS; SIEVER; GROTZINGER; JORDAN. Para entender a Terra. 4a ed. São Paulo: Artmed, 2009. p.57.
convergência oceano-oceano: área de choque entre duas placas oceânicas, sendo que a placa oceânica mais antiga – de
maior densidade – mergulha sob a placa oceânica mais recente – de menor densidade –, formando uma zona de subducção.
A convergência entre placas oceânicas leva à formação de fossas oceânicas, dos Arcos de Ilhas, terremotos e tsunamis. Es-
ses são formados pelo intenso processo de vulcanismo desencadeado pela fusão da placa oceânica que penetrou no manto.
Exemplo: Contato da placa Eurasiana com a placa do Pacífico.
Fossa do Japão
Placa Eurasiana
Placa Pacífica
Subducção de uma placa oceânica em outra placa oceânica, formando uma fossa profunda e um arco de ilha vulcânico.
PRESS; SIEVER; GROTZINGER; JORDAN. Para entender a Terra. 4a ed. São Paulo: Artmed, 2009. p.57.
229
Geografia
convergência continente-continente: área de convergência entre duas placas continentais, sendo que as duas placas são
dobradas, levando à formação de uma zona de obducção. Como a diferença de densidade entre as duas placas continentais é
inexpressiva, não há condições de formação de uma zona de subducção. O dobramento das duas placas continentais promove
a formação de dobramentos modernos e também a formação de uma área extremamente instável por abalos sísmicos (abalos
violentos em razão da natureza quebradiça das placas continentais). Nessas áreas, a ocorrência de vulcanismo é dificultada
pela não fusão de nenhuma das placas. Exemplo: a convergência da placa Euroasiática com a placa Indo-australiana.
Placa Indo-Australiana
Placa Eurasiana
Uma colisão de placa contintente-continente, amassa e engrossa a crosta continental, formando altas montanhas e um amplo planalto.
PRESS; SIEVER; GROTZINGER; JORDAN. Para entender a Terra. 4a ed. São Paulo: Artmed, 2009. p.57.
Atualmente, é possível destacar cinco áreas de formação de cadeias de montanhas (observe o mapa abaixo):
• Himalaia: convergência entre a Placa Euroasiática e a Placa Indo-australiana.
• Andes: convergência entre as Placas Sul-Americana e Nazca.
• Rochosas: convergência entre a Placa Norte-Americana e Pacífica.
• Alpes: convergência entre a Placa Euroasiática e a placa Africana.
• Atlas: convergência entre a Placa Euroasiática e a placa Africana.
n
ca
Mon osas
MTE MCKINLEY
Es Cá
sU
Roc
s Al uc
s
o Pamir
Ap s Himalaia
Atla OCEANO
MTE EVEREST
MTE CITLALTÉPETL 8 848 m PACÍFICO
MTE TIBESTI
5 700 m
P. DA NEBLINA
2 993 m
MTE QUILIMANJARO
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PACÍFICO ATLÂNTICO
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ira
ÍNDICO he as
dil lian
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MTE ACONCÁGUA Co straMTE KOSCIUSZKO
Au 2 228 m
And
6 960 m
es
230
Dinâmica física terrestre
Limites divergentes
Correspondem aos movimentos de separação das placas. Trata-se de um movimento construtivo, em função da formação
de uma nova crosta.
Separação de placas oceânicas: áreas de afastamento de duas placas oceânicas, o que promove o extravasamento
de magma no assoalho oceânico. O derramamento de magma leva à formação de uma “Cadeia de Montanha” submarina,
denominada dorsal mesoceânica, que apresenta grande atividade sísmica.
Dorsal Mesoatlântica
Pla
a
Plac ricana Eur ca
asia
me na
Norte-A
PRESS; SIEVER; GROTZINGER; JORDAN. Para entender a Terra. 4a ed. São Paulo: Artmed, 2009. p.54.
As dorsais mesoceânicas estão presentes nos oceanos Atlântico, Pacífico e Índico e estão diretamente interligadas, for-
mando um sistema de dorsais que circunda o planeta Terra.
Relevo submarino
Fossa das
OCEANO Fo Marianas
ss
PACÍFICO ad
inas
ndico
a
Pacífico
eJ
tica
g
hile
Ton
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Dorsal Atlân
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ce
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al d Oc
Fos
d
OCEANO
o
rs eano Índi
co
Do
ÍNDICO
s s
OCEANO
Fo
ATLÂNTICO
Organização: SIMIELLI, 2006, com dados do Atlas da Rand McNally, 1994. Disponível em: http://serreta-creminer.fc.ul.pt. Acesso em: 31 jan. 2010.
Os limites divergentes oceânicos apresentam-se como áreas de expansão do assoalho oceânico, ou seja, áreas em que
material magmático e rochoso é acrescentado à crosta terrestre. Em algumas áreas, as dorsais cresceram tanto em espessura
como em tamanho e formaram ilhas. Esse é o caso da Ilha da Islândia, que expôs a dorsal mesoatlântica, possibilitando aos
geólogos observar diretamente o processo de separação de placas.
Separação de placas continentais: área de separação entre duas placas continentais. Nessa região, ocorre a formação
dos chamados Rift Valleys, com intensa atividade sísmica e vulcânica. Esse processo, ilustrado na próxima figura, inicia-se
com o aumento pontual do fluxo térmico no manto, que causará o soerguimento do magma nesse ponto e a consequente
pressão sobre a crosta, provocando o fraturamento e a extrusão de magma (a). Com a instalação de correntes de convecção
no manto subjacente a essa região, inicia-se o processo distensivo, gerando falhamentos (falhas com movimentação vertical)
e desenvolvimento do Rift Valley (b). Com a continuidade do movimento distensivo, ocorre o afinamento da crosta continen-
tal até que ocorra a ruptura dessa crosta e o desenvolvimento de uma crosta oceânica (c). Um novo oceano começa a se
formar. À medida que o processo de separação continua, a crosta oceânica e o oceano vão aumentando (d), promovendo a
separação de placas oceânicas.
231
Geografia
a fusão parcial
crosta oceânica
plataforma continental
dorsal mesoceânica
Atualmente o Rift Valley em formação no leste do continente africano é o de maior expressividade, sendo que o Mar Ver-
melho apresenta-se como um estágio avançado do processo.
Ri
oN
ilo
Península
Ma
Arábica
rV
erm
elh
o
Áden
Golfo de
ÁFRICA
Depressão
OCEANO
de Afar
ÍNDICO
Rift Valleys
Monte
Quênia
Lago
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Vale
e
Leste m rifte do
Afric
ano
Subpla
ca So
maliana
na
Africa
Placa
PRESS; SIEVER; GROTZINGER; JORDAN. Para entender a Terra. 4a ed. São Paulo: Artmed, 2009. p.57.
232
Dinâmica física terrestre
Limite tangencial
1 Uma carga de gelo glacial flexiona 2 ... que retorna à sua posição
a litosfera oceânica para baixo... quando o gelo é removido.
Geleira
continental
que uma placa desliza em relação à outra, não ocorrendo nem Litosfera continental
Graben
1 À medida que as placas
Pacífica e Norte-Americana
movem-se uma em relação à
outra em direções opostas... C
al
Fa
San Francisco
ifó
lh
rn
a
ia
de
deslocado.
dr
é
Los Angeles
Disponível em: http://2.bp.blogspot.com. Acesso em: 31 jan. 2010
removida dela, deformando-a. Podemos citar como exemplo destruição de placas litosféricas.
233
Geografia
Acredita-se que eles estão associados à presença de enormes “plumas do manto” originadas da interface manto e núcleo,
as quais atravessam todo o manto e atingem a superfície. O deslocamento da placa tectônica sobre os referidos pontos gera
uma cadeia linear de ilhas vulcânicas. São exemplos de hot spots o Arquipélago do Havaí, as ilhas Cabo Verde, o Parque do
Yellowstone e as ilhas Galápagos. Observe os exemplos na imagem a seguir.
Em limites convergentes do tipo oceano-oceano, Os magmas formados em limite convergente do tipo oceano-
os magmas originados de fusões parciais do manto continente são misturas de basaltos do manto da crosta
formam arcos de ilhas vulcânicas com erupção de Vulcão ativo continental félsica refundida e dos materiais do todo da placa
lavas predominantemente basálticas. acima de em subducção que foram fundidos. Esses magmas formam
ponto quente vulcões que emitem lavas andesíticas.
Arco de ilhas
Cinturão vulcânico continental
Vulcão extinto
Dorsal mesoceânica
B
C
Pla
ca o D
ceâ A
As nica
ten
osf
era
As áreas litorâneas formadas sobre o contato de duas placas tectônicas são instáveis tectonicamen-
te, ou seja, elas podem apresentar a qualquer momento abalos sísmicos e vulcanismo.
PRESS; SIEVER; GROTZINGER; JORDAN. Para entender a Terra. 4a ed. São Paulo: Artmed, 2009. p.159.
A B C
É necessário entender a distinção entre os termos intensidade e magnitude, pois muitas vezes são termos utilizados como sinônimos
quando se aborda o tema. A primeira se refere ao grau de destruição (perdas humanas e materiais) provocado por um terremoto. Já
a segunda se refere à quantidade de energia liberada por um sismo. Para se medir os danos provocados por um abalo sísmico, é
utilizada a escala Mercali e, para a determinação da magnitude, a escala Ricther. Esses fenômenos são comuns em regiões de limites
de placas, porém podem ocorrer no interior delas, em razão da acomodação de camadas ou da reativação de falhas geológicas.
Exercícios
1. (UFRGS – 2018) Assinale a alternativa que preenche corretaMeNte as lacunas do enunciado abaixo, na ordem
em que aparecem.
A formação de arcos de ilhas oceânicas está relacionada à __________, assim como a formação de fossas submarinas
está relacionada à __________.
A) colisão de placas tectônicas continentais – colisão de placas tectônicas.
B) colisão de placas tectônicas continentais – separação de placas oceânicas.
C) colisão de placas tectônicas oceânicas – separação de placas continentais.
D) colisão de placas tectônicas oceânicas – colisão de placas tectônicas.
E) colisão de placas tectônicas oceânicas com a margem continental de outra placa – separação entre uma placa oce-
ânica e a margem continental de outra placa.
234
Dinâmica física terrestre
2. (EsPCex (AMAN) –2017) “Em 1540 a.C., o filósofo gre- 4. (Unisc – 2017) Assinale a alternativa INCORRETA no
go Xenófanes encontrou conchas marinhas nos cumes que se refere à dinâmica de placas tectônicas.
de montanhas e pensou que elas poderiam ter estado A) As dorsais oceânicas, também conhecidas como
no fundo do mar em algum momento, sendo posterior- cordilheiras oceânicas, apresentam grandes eleva-
mente soerguidas. Ele tinha razão: forças do interior ções de altitude em relação às áreas circundantes.
da Terra movimentam a crosta terrestre, criam novos Elas são formadas em função de fendas ocasiona-
relevos ou modificam sua estrutura e fisionomia [...].” das pelo afastamento de placas divergentes.
Terra, Lygia; Araújo, Regina; Guimarães, Raul. Conexões: es- B) No que se refere aos movimentos transformantes,
tudos de Geografia Geral e do Brasil, 2015, p. 313. não há choque direto, contudo, podem ocorrer tre-
mores de terra em função do atrito causado pelo
Essas novas formas de relevo criadas são constan- deslocamento das placas.
temente modificadas sob a ação da água e do ar, por C) A convergência entre placas oceânicas e placas con-
exemplo. Assim, sobre a dinâmica do relevo terrestre tinentais faz com que as primeiras, por serem menos
e a atuação dos agentes internos e externos do relevo, densas, provoquem o afundamento das segundas.
pode-se afirmar que D) A subducção, relacionada aos movimentos conver-
I. a presença da Dorsal Mesoatlântica, grande cadeia gentes, ocorre nos casos em que uma placa afunda
de montanhas submersa no Oceano Atlântico, aju- sob a outra. Ela dá origem a fossas oceânicas e
da a explicar a pouca probabilidade de ocorrerem cadeias montanhosas.
tsunamis na costa brasileira, uma vez que esta é E) Placas convergentes, com densidades iguais, se
fruto não da colisão, mas do afastamento entre comprimem de modo a ocasionar orogênese. O
placas tectônicas. Himalaia, por exemplo, é formado em função deste
II. no terremoto ocorrido no Japão, em 2011, a porção tipo de dinâmica.
nordeste do País foi a mais atingida, por ser a mais
próxima ao epicentro do maremoto, isto é, por estar 5. (UECE – 2016) Os oceanos correspondem à maior
mais próxima ao local da superfície onde se mani- área superficial do planeta. Possuem uma profundida-
festou o maremoto. de média de aproximadamente 3.700 metros, e suas
III. os movimentos orogenéticos, ao atingirem as rochas margens continentais representam cerca de 20% do
com maior plasticidade, da crosta terrestre, são os total da área por eles ocupada.
responsáveis, por exemplo, pela formação de grandes Considerando essas feições, analise as afirmações a
dobramentos modernos, como os Alpes e os Andes. seguir, e escreva (1) se a afirmação fizer referência a
IV. a formação de grandes deltas como o do rio Nilo e uma Margem Continental do Tipo Pacífico, e (2) se fizer
a formação de grandes planícies aluviais, favoráveis referência a uma Margem Continental do Tipo Atlântico.
à atividade agrícola, como a do rio Ganges, estão ( ) Plataforma, talude e elevação continental são al-
associadas, principalmente, à erosão pluvial. gumas das feições típicas deste tipo de margem,
V. a presença de solos pedregosos nas regiões de- que são definidas a partir do gradiente batimétrico.
sérticas está relacionada, principalmente, à ação ( ) As fossas oceânicas são as feições mais ca-
predominante do intemperismo químico nas rochas racterísticas deste tipo de margem. Pelo fato
dessa região. de não receberem quantidades significativas de
Assinale a alternativa que apresenta todas as afirma- sedimentos, normalmente não desenvolvem um
tivas corretas. sopé continental.
A) I, II e III C) II, IV e V E) I, III e V ( ) Esta margem se desenvolveu a partir do riftea-
B) I, III e IV D) I, II e IV mento e separação de um continente, dando
origem a um novo oceano e dois blocos con-
3. (EsPCex – 2011) Em 27 de fevereiro de 2010, o Chile tinentais. A margem leste da América do Sul e
sofreu um terremoto de 8.8 graus na Escala Richter. América do Norte, e as margens leste e oeste
Esse país encontra-se em uma extensa faixa da Costa da África são exemplos deste tipo de margem.
Oeste da América do Sul. A causa desse e de outros ( ) A margem do tipo ativa localiza-se nas regiões
terremotos deve-se ao fato do Chile estar situado de convergência das placas litosféricas, onde
A) na porção central da Placa Tectônica Sul-America- ocorre a subducção de uma placa sob a outra.
na, zona de constantes acomodações da litosfera. ( ) Nesta margem concentram-se as principais ati-
B) na borda ocidental da Placa Tectônica Sul-Ameri- vidades vulcânicas e sísmicas da Terra.
cana, junto à Cordilheira dos Andes, dobramento A sequência CORRETA de cima para baixo, é:
moderno formado por movimentos orogenéticos. A) 2, 1, 2, 1, 1. C) 2, 2, 1, 1, 2.
C) no limite ocidental da Placa Tectônica do Pacífico, B) 1, 2, 1, 2, 1. D) 1, 1, 2, 2, 2.
zona de grande intensidade de movimentos oro-
genéticos.
Gabarito
D) no limite oriental da Placa Tectônica Sul-Americana,
1. E 3. B 5. A
que se afasta da Placa de Nazca, formando grande
falha geológica. 2. A 4. C
235
Capítulo 06
Tipos de rochas
A crosta terrestre é formada por uma associação de mate- perismo, origina um solo de grande fertilidade, conhecido por
riais solidificados denominados rochas, que, por sua vez, são Terra Roxa. O basalto é utilizado para calçamento sob a forma
formadas a partir da agregação de minerais ou por apenas um de paralelepípedos.
mineral. Como exemplo, pode-se citar o granito, que é utilizado
como revestimento para paredes, pisos e bancadas.
Quanto à sua origem, as rochas são divididas em três gru-
pos: magmáticas ou ígneas, sedimentares ou estratificadas e
metamórficas.
236
Tipos de rochas
Mármore
237
Geografia
Atmosfera SISTEMA
Biosfera
DO
Hidrosfera CLIMA
Rocha metamórfica
5 A precipitação, o congelamento e o
degelo criam material solto — sedimento —
que é carregado pela erosão...
(d)
7 O soterramento é
acompanhado de
subsidência, que é o
afundamento da crosta
da Terra.
6 ...e é transportado para o oceano por rios, onde
é depositado como camadas de areia e silte. As
camadas de sedimentos são soterradas e sofrem
Subsidência litificação, tornando-se rochas sedimentares.
Autores: PRESS, SIEVER, GROTZINGER E JORDAN. Para entender a Terra. 4a ed. São Paulo: Artmed, 2009. p-112.
238
Tipos de rochas
Estruturas geológicas
A estrutura geológica corresponde ao embasamento rochoso que sustenta as grandes formas de relevo na superfície terrestre
ou, ainda, à maneira como as rochas estão dispostas na crosta, influenciadas pela ação dos agentes endógenos e exógenos. Ela
é classificada de acordo com o tipo de rocha predominante em sua composição, bem como com o tempo de sua formação – se
foram formadas em eras passadas ou na era atual. Dessa forma, pode-se dividir a estrutura geológica em três tipos:
Escudo cristalino
O escudo cristalino é formado por rochas cristalinas – magmáticas e metamórficas – datadas das eras Pré-Cambriana e Pa-
leozoica. Essas áreas são bastante desgastadas pela ação dos agentes exógenos, porém de extrema resistência, o que explica,
em algumas regiões, altitudes relativamente elevadas. Os escudos cristalinos associam-se à ocorrência de recursos minerais
metálicos, importantes para o desenvolvimento industrial e econômico da área de extração. No Brasil, é interessante destacar o
Escudo das Guianas, o Escudo Brasileiro e o Escudo Sul-Rio-Grandense, que, associados, correspondem a aproximadamente
36% da estrutura geológica nacional.
Bacia sedimentar
A bacia sedimentar é formada pelo acúmulo, em áreas de altitudes mais baixas, de sedimentos produzidos pelo intemperismo
e pela erosão das áreas adjacentes, de altitudes mais elevadas. As bacias sedimentares associam-se à ocorrência de recursos
energéticos de combustíveis fósseis, como petróleo, carvão mineral, gás natural e xisto betuminoso. No Brasil, sua formação se
associa às eras Paleozoica, Mesozoica e Cenozoica, que correspondem à: Bacia Amazônica, Bacia do Paraná, Bacia do Meio-
-Norte ou do Parnaíba ou do Maranhão e Bacias Litorâneas. As bacias sedimentares em formação – na era Cenozoica – são:
Bacia do Pantanal Mato-Grossense, Bacia Litorânea e Bacia da Planície Amazônica.
Direção da
representação
Cráton
N
S
Plataforma coberta
ou embasamento cristalino
Dobramento moderno
O dobramento moderno é formado por rochas cristalinas – magmáticas e metamórficas –, datadas da era Cenozoica, e está
associado às áreas de convergência de placas tectônicas, constituindo-se como a base de formação das atuais cadeias de mon-
tanhas – áreas de maiores altitudes da superfície terrestre. A superfície terrestre possui áreas de dobramentos antigos que estão
associados a antigas áreas de convergência de placas tectônicas, mas que atualmente apresentam relativa estabilidade. O Brasil
não possui dobramentos modernos, pois eles não se encontram em áreas de convergência de placas tectônicas.
239
Geografia
Oceano Atlântico
Plataforma
sul-americana
Cordilheira dos Andes e
sistema montanhoso do Caribe
Plataforma patagônica
Coberturas fanerozoicas
0 1000 km
Embasamento cristalino
• Atuais contornos dos continentes e oceanos. Sedimentar do Pantanal e ao longo do vale ama-
rio
• Formação das primeiras rochas sedimentares. • Formação dos escudos cristalinos (brasileiro e
• Maior desenvolvimento da vida. guiano).
Pré-Cambriana
(vida primitiva) • Aparecimento da vida nos oceanos (seres unice-
lulares). • Formação dos dobramentos antigos que deram
zoica
240
Tipos de rochas
OCEANO N
D) Petróleo e gás natural.
ATLÂNTICO E) Urânio e tório.
241
Capítulo 07
Agentes exógenos
O estudo do relevo consiste na análise do formato da su- rochoso. Já durante o período da noite, a não incidência da
perfície terrestre, compreendendo as diferentes feições apre- energia solar promove um resfriamento das rochas, o que
sentadas por ela, bem como os fatores responsáveis pela sua leva à redução do volume. Dessa forma, a variação de volume
formação. A compreensão das diferentes formas de relevo é entre o dia e a noite, promovida pela variação de temperatura,
importante para o ser humano, pois ele depende do solo para leva à fragmentação das rochas e à consequente produção de
sobreviver. Além disso, as atividades antrópicas dependem sedimentos.
desse modelado, já que a diferenciação das formas tende a
determinar diferentes modos de ocupações espaciais. Quando Vento
não bem compreendidas ou ocupadas de maneira irregular e A movimentação do ar contribui para a ocorrência do intem-
indevida, as formas de relevo podem contribuir para a ocorrência perismo físico, pois ela transporta partículas em suspensão,
de desastres naturais que se relacionam, muitas vezes, com que, quando impactadas com rochas, contribuem para quebrá-
catástrofes antrópicas. -las em micropartículas. Esse processo também é denominado
O relevo terrestre é resultado da ação de agentes endóge- intemperismo eólico.
nos, (como tectonismo e vulcanismo e abalos sísmicos) que
constroem o relevo, e dos agentes exógenos, responsáveis Chuva
pelo modelamento do relevo. A água também pode contribuir para o intemperismo físico no
momento da precipitação do vapor d’água presente na atmosfera.
O deslocamento da gota de água em direção à superfície apre-
Agentes exógenos senta certa velocidade, o que promove a liberação de sedimentos
Os agentes exógenos são responsáveis pela modelação pelo impacto com a rocha. Esse processo é também denominado
do relevo ao interagirem com o substrato rochoso e o solo que Efeito Splash, que também funciona como agente erosivo, ou
compõem a superfície planetária. Essa força externa é repre- seja, ele promove a movimentação de sedimentos quando a gota
sentada por dois agentes principais, o intemperismo e a erosão. da chuva impacta diretamente o solo.
Intemperismo
O intemperismo corresponde ao processo de desgaste da rocha
quando ela se encontra exposta continuamente à atuação dos agen-
tes atmosféricos e biológicos. A destruição da estrutura rochosa
pelos agentes de intemperismo pode se diferenciar em intem-
perismo físico, intemperismo químico e intemperismo biológico,
que produzem como resultado a formação de sedimentos ou
fragmentos de rocha.
Intemperismo químico
O intemperismo químico promove a decomposição química
da rocha através da atuação dos ácidos orgânicos, produzidos
pelos seres vivos, e, principalmente, pela água. Sendo assim,
os sedimentos resultantes não possuem as mesmas caracterís-
ticas químicas da rocha que lhes deu origem. Em superfícies de
atuação prévia do intemperismo físico, a ação do intemperismo
químico se torna mais facilitada, devido à ampliação da área de Impacto da chuva no solo.
contato entre solução aquosa e rocha. Disponível em: http://sidklein.vilabol.uol.com.br.
Acesso em: 26 mar. 2010.
Intemperismo físico
O intemperismo físico promove a desagregação física da
Gelo
rocha, através da atuação do vento, da temperatura, do gelo e Áreas que apresentam temperaturas abaixo de zero estão
da chuva. Sendo assim, os sedimentos resultantes possuem sujeitas à ação do gelo como fator de intemperismo. Rochas
as mesmas características químicas da rocha que deu origem que apresentam fraturas, normalmente, têm água, que se in-
a eles, apresentando apenas fragmentação do estrato rochoso. filtra quando precipitada. No momento de redução das médias
Atuação dos agentes de intemperismo físico: térmicas, essa água presente nas fissuras de rochas congela
e apresenta aumento de volume. Durante esse período, o gelo
Temperatura no estado sólido pressiona as paredes da rocha. No momento
A variação da temperatura na superfície terrestre entre o de aumento das médias térmicas, ocorre descongelamento da
dia e a noite, promovida pela energia solar, contribui para o água e, consequentemente, redução do seu volume, diminuindo
intemperismo físico por promover variação de volume das a pressão sobre as paredes da rocha. Dessa forma, à medida
rochas – processo denominado termoclastia. Durante o dia, a que a rocha sofre a variação de pressão entre períodos de
energia solar incidente na rocha, promovendo um aumento de menor aquecimento e maior aquecimento, a fragmentação
sua temperatura, o que contribui para o aumento do volume ocorre, promovendo a formação de sedimentos. Esse processo
242
Agentes exógenos
Forma de relevo
denominada
“marmita”,
produzida pela Disponível em: http://www.mundoeducacao.com/geografia agen-
ação química e tes-modificadores-relevo.htm. Acesso em: 13 out. 2014.
física da água.
Intemperismo biológico
O intemperismo biológico é o processo desencadeado
pela ação dos seres vivos, animais e vegetais. Esse processo
altera a rocha de maneira física – através da ação da raiz do
vegetal sobre fraturas da rocha, promovendo a liberação de
sedimentos – e de maneira química – por meio da ação dos
ácidos orgânicos, geralmente em soluções aquosas, sobre a
rocha, propiciando a sua decomposição.
Erosão marinha
Tronco de árvore abrindo O impacto das ondas formadas no oceano com áreas litorâneas
Intemperismo biológico
espaço na rocha
promovido pela promove o deslocamento de sedimentos e, consequentemente, o
ação física da raiz processo de erosão. Como resultado desse processo, ocorre a for-
do vegetal. mação de falésias, que são relevos escarpados em áreas oceânicas.
água
Intemperismo biológico
promovido por
ácidos orgânicos –
formação de tafonis.
Erosão
A erosão é o processo de transporte ou deslocamento dos se-
dimentos para áreas diferenciadas da sua área de produção. A LEMBRETE
movimentação dos sedimentos pode ocorrer de diversas formas: Falésia é uma escarpa costeira abrupta, não coberta
por vegetação, que se localiza na linha de contato
Erosão eólica entre a terra e o mar. Ela se origina devido ao trabalho
O deslocamento do ar promove o transporte de sedimentos. erosivo do mar.
Essa erosão pode desencadear dois processos na superfície
– abrasão e deflação. A abrasão corresponde ao impacto dos
sedimentos transportados com as rochas, levando à formação de
esculturas na superfície – os chamados cálices ou cogumelos –,
e a deflação corresponde à retirada da camada de sedimentos
de menor granulometria, o que pode promover o afloramento do
lençol freático em áreas com acúmulo de água na subsuperfície.
Em áreas desérticas, o afloramento do lençol freático, provocado
pelo processo de deflação, gera os chamados oásis.
243
Geografia
Erosão fluvial
A erosão fluvial é o processo de transporte de sedimentos LEMBRETE
promovido pela movimentação das águas fluviais. A movi- delta é uma forma deposicional sedimentar ou depósito
mentação da água em redes hidrográficas propicia, ao longo aluvial, que se apresenta em forma de leque (ou lembrando
do percurso, erosão e deposição de sedimentos, processos a letra grega delta) na foz de alguns rios. Ele se forma sem-
influenciados diretamente pelas condições do relevo local. Em pre que o meio receptor for incapaz de remover totalmente
áreas de relevo mais íngreme, a energia para o transporte de a carga sedimentar trazida pelo rio. Podemos citar como
sedimentos é maior, devido à maior velocidade de desloca- exemplos de deltas o delta do Rio Jacuí, no Rio Grande
mento das águas e, consequentemente, o processo de erosão do Sul, e o delta do Mississipi, nos Estados Unidos.
é predominante em relação ao processo de sedimentação. Já
em áreas de relevo mais aplainado, a energia para o trans-
porte de sedimentos é menor, devido à menor velocidade de
Erosão glacial
deslocamento da água, o que favorece uma maior deposição A erosão glacial é o transporte de sedimentos promovido
de sedimentos em detrimento da erosão. pela movimentação de geleiras que se formam pelo acúmulo
de neve em áreas com variação significativa da temperatura
A manutenção da cobertura vegetal em áreas próximas ao
e com desnível do relevo. Esse transporte coloca as grandes
curso da rede hidrográfica é importante para o controle do volu- massas de gelo em movimentação.
me de sedimentos que chegam nesses locais. Se o volume de
sedimentos aumentar de maneira significativa, a capacidade de
transportar sedimentos, por parte do rio, diminui e intensifica-se
o processo natural de assoreamento.
Leito original
r
o ma
ld
ve
Ní
Delta
O
N
A
E
C
244
Agentes exógenos
Escoamento laminar
Escoamento superficial Infiltração da água
da água da chuva no solo
2 3
Percolação subterrânea
da água
4
Escoamento da água em
córregos e rios
5
O escoamento laminar caracteriza-se pelo deslocamento da
água no solo como uma lâmina que recobre toda a vertente. Ele
ocorre em áreas com ausência de vegetação ou em áreas em
que a vegetação predominante é do porte herbáceo, de maneira
que, no momento de uma precipitação mais intensa, o volume 1
de água escoado se torna mais significativo que a presença da
vegetação. Em áreas de escoamento laminar, o processo erosivo
é intenso e de difícil percepção, em função da retirada homogênea 2
de sedimentos da vertente, o que não forma, em muitas áreas,
locais de escoamento preferencial. 3 5
Escoamento concentrado 4
Rede hidrográfica
Solo
245
Geografia
– áreas de intensa erosão com a formação de grandes sulcos O desmatamento, o uso agrícola da terra, o superpastoreio
no solo –, à intensificação do processo natural de assoreamento e as queimadas, quase sempre, são responsáveis diretos
e à diminuição do volume de água do lençol freático. pelo surgimento de voçorocas, associados também ao tipo
A intensificação da erosão ocorre pela diminuição do aden- de chuva e às propriedades do solo. Parte desse material é
samento vegetacional, o que sugere menor proteção do solo, transportado e depositado em áreas mais baixas ou em algum
maior ação do escoamento superficial e aumento da quantidade canal fluvial próximo.
de sedimentos arenosos no leito do rio, indicando intensificação
do processo de assoreamento. Erosão antrópica
Evolução do uso do solo no noroeste do estado Processo de transporte de sedimentos promovido pela ação
do Paraná e suas consequências ambientais do ser humano. A ocupação do espaço natural ou mesmo a
reprodução do espaço geográfico, em sua maior parte, é acom-
panhada da necessidade de alteração do solo, para facilitar
o erguimento das construções humanas, o desenvolvimento
de atividades agropecuárias, a retirada de minérios de subsu-
perfície, entre outras atividades. Dessa forma, o homem vem
I Rio se constituindo, em uma escala de tempo pequena, o maior
agente de erosão do solo.
Exercícios
II Rio Legenda: 2. (UFV MG) No esquema a seguir, aparecem lacunas a
serem preenchidas em 1, 2, 3 e 4.
Mata primitiva
246
Agentes exógenos
4. (UFMG) Analise estes fluxogramas, em que está re- 6. (Unesp) Analise a figura.
presentado o ciclo hidrológico de uma mesma bacia
hidrográfica, antes (I) e depois (II) de sua urbanização:
Superfície Superfície
Solo Solo
Rio
Rio
Legenda:
Nível Nível Fluxo de água
freático freático
Armazenagem
I II
A partir dessa análise e considerando-se outros co- De acordo com o esquema, é VerdadeIro afirmar
que
nhecimentos sobre o assunto, é INcorreto afirmar
que, depois da urbanização dessa bacia hidrográfica,
ocorreu: A) quanto menores os valores de temperatura e plu-
A) alteração do volume de água armazenada em viosidade, maior é a profundidade de alteração da
subsuperfície, o que pode dificultar sua obtenção rocha.
a partir de poços. B) quanto maiores os valores de temperatura e plu-
viosidade, menor é a profundidade de alteração
B) aumento considerável da vazão de córregos e
da rocha.
rios durante o período das chuvas, o que pode
contribuir para maior frequência e volume de C) quanto maiores os valores de temperatura e plu-
inundações. viosidade, maior é a profundidade de alteração da
rocha.
C) diminuição no nível das águas dos córregos e
D) é no cruzamento das linhas de temperatura e plu-
rios durante os períodos de menor pluviosidade,
viosidade que a profundidade de alteração da rocha
o que pode comprometer tradicionais formas de
é maior.
uso da água.
E) a profundidade de alteração da rocha não se corre-
D) redução generalizada na velocidade de circulação
laciona com temperatura e pluviosidade.
da água em superfície, o que pode aumentar, em
termos relativos, o volume de água disponível ao Gabarito
homem.
1. E
5. (Mackenzie) Os processos exógenos são responsá- 2. D
veis pelo modelado do relevo terrestre e sua atuação
3. A
varia de acordo com o clima. Portanto, é correto
afirmar que: 4. C
247
Capítulo 08
Relevo
A superfície terrestre apresenta diversos modelos que nunca se mostram iguais entre si. Eles são agrupados por quatro ma-
croformas predominantes, sendo elas: montanha, planalto, planície e depressão.
É preciso ressaltar que as formas de relevo e a estrutura geológica são classificações distintas, apesar de haver uma relação
entre a constituição rochosa de um local e a forma como as rochas estão dispostas na superfície do relevo.
Montanha
A montanha é uma grande elevação da superfície terrestre, em que as altitudes, normalmente, ultrapassam os 3.000 metros. As
montanhas apresentam picos agudos e vales encaixados que ainda não foram preenchidos pelos sedimentos, por serem áreas de
pequena atuação dos agentes exógenos – a temperatura baixa em altitudes elevadas retarda a atuação dos agentes exógenos,
intemperismo e erosão, como a ação da temperatura, da precipitação, dos ventos, entre outros. A montanha é formada em áreas
de contato de placas tectônicas e, sendo assim, apresenta como forças predominantes de formação as promovidas pelos agentes
endógenos – tectonismo, vulcanismo e abalo sísmico. As forças tectônicas, sentidas de maneira mais significativa em áreas de
contatos de placas tectônicas, são responsáveis por produzirem dobras de falhas que originam feições complexas na superfície.
A montanha é a forma de relevo dos dobramentos modernos que se formam em áreas de contato de placas tectônicas. Dessa
forma, o dobramento moderno é a rocha em formação atual – o termo “moderno” é utilizado para diferenciar o processo atual
daquele que ocorreu no período Pré-Cambriano, momento de formação dos dobramentos antigos –, e a montanha é a forma que
essa rocha possui na superfície. Os principais dobramentos modernos são: Andes, Rochosas, Atlas, Alpes e Himalaia.
Planalto
Área de altitude mais elevada em relação às áreas do entorno, em que predomina o processo de erosão. Normalmente, o
planalto possui escarpas que o delimitam, podendo apresentar topos aplainados ou irregulares. Considerando-se a classificação
das grandes formas de relevo brasileiras, constata-se que, normalmente, os grandes planaltos brasileiros se situam acima de
300 metros de altitude, não sendo esta uma característica que define a área de planalto.
A diferenciação em topos regulares e irregulares dos planaltos ocorre pela ação de dois fatores sobre a superfície terrestre:
Erosão diferencial
A erosão diferencial consiste no processo de desgaste seletivo ou diferencial dos agentes de intemperismo e erosão sobre a
superfície terrestre, promovendo maior desgaste em algumas áreas e menor desgaste em outras. Isso é possível em virtude das
distintas resistências que as rochas podem apresentar, pela concentração da ação erosiva em alguns pontos da superfície – áreas
de drenagem da rede hidrográfica – e ainda por fatores tectônicos, como fraturamentos e falhamentos, que ampliam as áreas de
atuação dos agentes exógenos, contribuindo para a intensificação da destruição nesses locais e para a irregularidade do relevo.
248
Relevo
Estrutura geológica
Além da diferenciação de resistência das rochas, é inte-
ressante destacar a constituição rochosa como fator de mo-
delação dos topos dos planaltos. Sendo assim, os planaltos
podem ser esculpidos em estrutura geológica sedimentar e
cristalina e as características de cada uma dessas classifi-
cações contribuem para a modelação do relevo.
Planaltos esculpidos em rocha sedimentar tendem a apre-
sentar topos aplainados, devido à maneira de organização
das camadas de rochas que compõem a bacia sedimentar.
Normalmente, uma mesma camada rochosa tende a apresen-
tar o mesmo tipo de rocha sedimentar, possuindo a mesma
resistência aos processos exógenos e, consequentemente,
Mares de morros
um desgaste mais regular, levando à formação de topos mais Os mares de morros são regiões onde dominam as colinas
aplainados. Já planaltos esculpidos em escudo cristalino dissecadas de forma côncavo-convexa (forma de meias-laran-
tendem a apresentar topos irregulares, pela presença das jas). Esse é um relevo típico de rochas cristalinas sob climas
rochas cristalinas que compõem essa estrutura geológica. tropicais úmidos, a exemplo de áreas próximas das regiões
Como as rochas cristalinas são compostas por rochas mag- serranas do sudeste brasileiro.
máticas e metamórficas, sendo as primeiras mais resistentes
que as segundas, a ação dos agentes exógenos tende a ser
diferenciada pela maior ou menor facilidade de desgaste da
estrutura geológica.
A modelação do relevo não é promovida por apenas um
fator. A associação de todos os agentes endógenos e exó-
genos, considerando a diferenciação entre cada um deles,
leva à configuração do relevo.
Os principais planaltos cristalinos são:
Serras
As serras são planaltos irregulares, com a presença de
escarpas que as delimitam, formadas a partir da destruição de
antigas cadeias de montanhas.
Mar de morros.
Disponível em: www.imagebase.net/. Acesso em: 14 ago. 2013.
Inselbergs
Os inselbergs são relevos residuais – resíduos da erosão –
em áreas de clima árido e semiárido. A erosão predominante é
a eólica, devido aos baixos índices pluviométricos desses tipos
climáticos. Sua presença é bem demarcada pela formação de
uma área plana no entorno do inselberg, denominada pediplano,
e sua resistência aos processos erosivos se deve a uma rocha
mais resistente à destruição.
Sedimento
Montanhas
Inselberg
Parque Nacional Denali, no Alaska. Placa
Disponível em: freedigitalphotos.net/. Acesso em 14 ago. 2013. Eros Erosão paralela
ão
Escarpas para
lela
São vertentes com significativa declividade em bordas de pla-
nalto, serras, relevo testemunho etc. Sua morfologia assemelha-
-se à de um paredão abrupto que separa trechos de topografia
suave existentes acima e abaixo de áreas escarpadas. Pediplano
249
Geografia
Coxilhas Cuestas
As coxilhas são planaltos formados por colinas suavizadas,
As cuestas são o planalto assimétrico, esculpido em bacias
presentes em regiões de clima úmido. Normalmente, as coxilhas
sedimentares que apresentam inclinação das camadas em
associam-se à presença de cobertura vegetal de pastagem.
um determinado sentido. Elas se desenvolvem em rochas
Elas são encontradas principalmente no estado brasileiro do
estratificadas de diferentes resistências e caracterizam-se pela
Rio Grande do Sul, em uma região de campos denominados
associação de duas vertentes denominadas reverso e front.
pampas, e no Uruguai, onde recebem o nome de cuchillas.
250
Relevo
Rio Consequente
Front
Reverso
Tabuleiro
O tabuleiro é o planalto de topografia aplainada, com altitudes relativamente baixas e limitado por escarpas. Quando formado
em áreas oceânicas, formam-se as falésias.
Planície
A planície é uma área de altitude mais rebaixada que as áreas do entorno, em que predomina o processo de sedimentação. A
planície apresenta formas regulares constituídas pela deposição de sedimentos e, no Brasil, normalmente, sua ocorrência se rela-
ciona com a presença de água. Da mesma maneira que os sedimentos, a água busca os pontos de menor altitude. As planícies que
se formam em áreas lacustres são denominadas planícies aluviais ou de inundação. A planície é diferenciada da rede hidrográfica.
Ela é a área de deposição de sedimentos, e a rede hidrográfica se concentra e desloca por essas áreas. Sendo assim, a presença
da planície não está condicionada à presença de água.
Planície de inundação
Canal
Terraço
Depósitos fluviais
Nas planícies de inundação, a região considerada margem do rio é também denominada área de várzea, caracteriza-
da pelo alagamento periódico, ocasionado pelo aumento dos índices pluviométricos em períodos chuvosos.
Depressão
Depressão
A depressão é uma área de altitude mais rebaixada que os
planaltos e mais elevada que as planícies, em que predomina o
processo de erosão. Sua formação ocorre em regiões de contato
entre escudos cristalinos e bacias sedimentares, por serem áreas de
maior facilidade de atuação dos agentes exógenos – maior contato
entre a rocha e os agentes de intemperismo e erosão. A depressão
apresenta formas aplainadas e pode ser esculpida em rochas cris-
talinas e sedimentares.
251
Geografia
Figura 1
PLANÍCIE AMAZÔNICA
P.N.
NT LTO
IRA ICO
P.S.A. PLANALTO CENTRAL
LÂ A
CH
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AP
AD
P
AS P.B.
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L
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NA
R ICO D
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P.S.A. Sul-Amazônico
ER
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P.N. Nordestino
AL
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Figura 2
PLANALTO
TE
NORDESTINO
S
CO
PLANALTO CENTRAL
AS
AIX
SB
PLANÍCIE
RA
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AL
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PANTANAL SERRAS E
ON
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PLANALTOS DO
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SUDESTE
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M
ICÓRNIO
AN
LTO
DE CAPR
TRÓPICO
PL
NA
PLA
PLANALTO
URUGUAIO-
RIO-GRANDENSE
0 600 km N
252
Relevo
Figura 3
5
5
5
0° 13 EQUADOR
23
1 28
12
23 1
15
12 6 6 2
14 2
10
6
2 19
25 24
20
4
28
17 9 16
8
26
7
18 3
9
21
22
27
11
0 300 km N
Unidades do relevo brasileiro segundo o professor Jurandyr L. S. Ross. (Unidades Morfoesculturais, 1989).
A classificação do professor Ross é complexa e detalhada, com 28 unidades geomorfológicas, e nela, inclusive, foi intro-
duzida mais uma compartimentação do relevo – a depressão –, que não constava das classificações anteriores.
253
Geografia
O estudo de Ross constitui um grande avanço no estudo geomorfológico do território brasileiro, servindo de forma particular
para o planejamento da ocupação das terras, de proteção ao meio ambiente, de construção de estradas etc.
Figura 4
1
1.REGIÃO NORTE
3.000
Planaltos Residuais Planalto da
Norte-Amazônicos Amazônia Oriental
2.000
0m
O corte 1 (perfil noroeste-sudeste) aborda desde as altíssimas serras do norte de Roraima, fronteira com Venezuela, Co-
lômbia e Guiana, até o norte do estado do Mato Grosso. Esse perfil mostra claramente as estreitas faixas de planícies situadas
às margens do Rio Amazonas, a partir das quais se seguem amplas extensões de terras altas: planaltos e depressões.
2.REGIÃO NORDESTE
3.000
O corte 2 aborda desde o interior do Maranhão até o litoral de Pernambuco. Ele apresenta dois planaltos (o da Bacia do
Parnaíba e o da Borborema), cercando a Depressão Sertaneja (ex-Planalto Nordestino). As regiões altas são cobertas por
mata. As baixas, por caatinga.
3.REGIÕES CENTRO-OESTE E SUDESTE
3.000
Planaltos e Serras
Depressão Periférica do Atlântico
2.000 Planaltos e Chapadas da Borda Leste Leste-Sudeste
Planície da Bacia do Paraná da Bacia
do Pantanal do Paraná
1.000 Mato-Grossense Rio Paraná Oceano
Atlântico
0m
Bibliografia
ADAS, Melhem; ADAS, Sergio. Panorama geográfico do Brasil: contradições, impasses e desafios socioespaciais. São Pau-
lo: Editora Moderna, 2004. p. 324. Farndon, John. Dicionário escolar da Terra. Porto, Civilização, 1996, p. 326-328.
254
Relevo
255
Capítulo 09
Pedologia
O conceito de solo é variável de acordo com a área de trabalho. No esquema 1, ainda é possível perceber a presença da
Para a Geologia, solo é a parte terrestre que recobre a estrutura Camada ou Horizonte C, que também pode ser denominado
rochosa. Já para a Agronomia, ele é a parte da crosta em que Regolito ou “Rocha Podre”, caracterizado pela atuação dos
ocorre o desenvolvimento agrícola. Para a Geografia, solo é a parte agentes de intemperismo, ou seja, por já ser inconsolidado,
inconsolidada da crosta, ou seja, que já sofreu intemperismo e, por mas por ainda possuir as mesmas características químicas da
isso, é formada por sedimentos – essa camada também pode ser rocha que lhe deu origem. De maneira simplificada: o Horizonte
denominada manto de intemperismo. Além disso, a presença de C não apresenta mais a dureza típica da rocha matriz, mas ainda
vida, animal ou vegetal, se faz necessária para a sua definição. não há nele a presença de matéria orgânica, demonstrando a
A evolução do solo se faz a partir da atuação dos fatores de composição química da rocha que o originou. Nesse horizonte,
formação que, em conjunto, levam à fragmentação da rocha e o lençol freático é armazenado, quando o clima local é úmido o
à caracterização química, necessária à sua classificação. Os suficiente para o acúmulo de água em subsuperfície.
fatores de formação do solo são: o clima, o relevo, o material Os solos que apresentam até o estágio 1 de evolução são
de origem, os organismos vivos e o tempo. denominados “Litossolos” ou “Solos Rasos” ou “Solos Jovens”,
característicos de áreas com menores índices pluviométricos,
Evolução do solo o que desfavorece o intemperismo da rocha matriz em pro-
fundidade.
O processo de formação do solo ocorre de maneira gradual,
No esquema 2, é possível perceber a presença da Camada
desde que a atuação conjunta dos fatores de evolução seja
ou Horizonte B, último estágio de formação das camadas do
favorável. O aprofundamento ocorre por meio da formação
solo. Esse horizonte é caracterizado pela presença de matéria
de camadas ou horizontes que apresentam características mineral e material lixiviado do Horizonte A. O processo de lixi-
próprias, contribuindo para a classificação do solo. Observe: viação é definido como o transporte químico de macronutrientes
do Horizonte A para o Horizonte B do solo, promovido pela
infiltração da água, que transporta os nutrientes para camadas
mais profundas do solo.
Solos que apresentam uma elevada taxa de lixiviação são
1 2
classificados
3
como4
“Evoluídos” ou “Profundos” ou “Latossolos”,
por apresentarem todas as camadas de formação do solo – A, B
e C –,Tempo
mas não são considerados férteis. Dessa forma, a água
geológico
Legenda: que infiltra no solo promove a sua evolução, pois ela entra em
Horizonte A contato com a rocha matriz e promove seu intemperismo em
Horizonte B
profundidade. Por outro lado, ela também promove o empobreci-
mento em macronutrientes do Horizonte A, por ser responsável
1 2 3 4 Horizonte C
pelo processo de lixiviação.
Rocha
Tempo geológico É interessante destacar a diferença de solo fértil e solo
Legenda: Fonte: Vestibular UFMG 2007. produtivo:
A formação
Horizonte do
A solo se inicia a partir da exposição da rocha • Solo fértil: apresenta, no Horizonte A, uma grande
concentração de macronutrientes, essenciais para o de-
matriz ao intemperismo. Nesse momento, a presença da ve-
Horizonte B senvolvimento vegetal. Essa característica é percebida
getação pioneira, a incidência da energia solar, a precipitação em Litossolos – formados em áreas com baixos índices
Horizonte
e a força C e da água contribuem para a desagregação
do vento pluviométricos –, ou em solos originados a partir da de-
e a decomposição
Rocha da rocha, formando uma pequena camada composição de rocha magmática basalto – que promove
de sedimentos, denominada Camada ou Horizonte A, confor- a liberação de um grande volume de macronutrientes a
me ilustra o esquema 1. Esse horizonte é caracterizado pela partir de sua meteorização.
presença de matéria mineral – proveniente da rocha matriz – e
• Solo produtivo: apresenta aproximadamente 45% de
matéria orgânica – proveniente dos seres vivos. Nessa parte matéria mineral – proveniente da rocha matriz –, 5% de
superficial do solo, a vida animal e vegetal se fixa de maneira matéria orgânica – para a renovação dos macronutrientes
predominante, sendo que quanto mais espessa ela for, maior no solo – e 50% de água e ar, sendo que a proporção de
será sua capacidade de comportar seres vivos de maior cada um varia a partir das condições climáticas locais. Se
complexidade. Alguns autores consideram a formação de um um solo não apresentar características naturais favorá-
“Horizonte O” sobre o “Horizonte A”, composto por matéria veis à sua produtividade, técnicas antrópicas podem ser
orgânica proveniente dos seres vivos, principalmente vegetais. utilizadas, como irrigação, adubação e aragem. Dessa
Em áreas de Florestas Tropicais, normalmente, a camada de maneira, um Latossolo, apesar de não ser fértil, devido
matéria orgânica é denominada Serrapilheira. à intensa lixiviação promovida pela infiltração da água,
pode se tornar um solo produtivo.
256
Pedologia
A baixa precipitação promove a infiltração de um pequeno volume de água no solo, o que contribui para o menor desgaste da
rocha em profundidade e seu aprofundamento. Como consequência da baixa taxa de infiltração, a lixiviação é desfavorecida, o
que promove a maior concentração de macronutrientes no Horizonte A do solo, sendo considerado fértil. Porém, esse solo não é
caracterizado naturalmente como produtivo devido à pequena concentração de água. Dessa forma, para que a região de Litossolo
possa ser produtiva, é necessária a técnica da irrigação, que implica o incremento de água no solo.
Infiltração
Depósito de de chuvas
resíduos Vazamentos Infiltração contaminadas
tóxicos de tubos de rios
enterrados contaminados
e tanques
Além da contaminação direta, é possível perceber a contaminação indireta por parte da atividade industrial. A liberação de
gases na atmosfera, como SO2 e NOX, favorece a intensificação da acidez das águas da chuva que, quando em contato com o
solo, promovem a sua acidificação e a destruição da vegetação.
Erosão
O processo de erosão do solo é natural, mas intensificado pelas atividades antrópicas. A ampliação das áreas ocupadas pelos
seres humanos, associada ao crescimento populacional, implica a intensificação dos processos erosivos. Sendo assim, a perda
de solo em escala planetária é significativa.
O transporte de sedimentos da camada superficial do solo promovido pela ação dos agentes erosivos, como a água e o vento,
diminui a espessura da parte agricultável e a capacidade agrícola do solo.
Nas áreas rurais, o processo de erosão é intensificado por técnicas agrícolas inadequadas, como a distribuição do vegetal
cultivado em linhas que acompanham o declive do relevo, a retirada da vegetação de topo e de áreas mais íngremes, a completa
exposição do solo no período entressafras e as queimadas que destroem a cobertura vegetal superficial.
O processo erosivo pode ocorrer de maneiras distintas. Inicialmente, ele pode acontecer de forma branda e, caso não seja
freado por alguma intervenção, o processo erosivo pode se agravar ao longo do tempo. A ação das águas da chuva em um solo
desprotegido, por exemplo, pode provocar sérios danos, tais como:
erosão laminar: ocorre pelo contato da água sobre o solo. Apesar de ser uma forma mais amena de erosão, a erosão laminar
causa prejuízos na atividade agrícola, além de transportar sedimentos que podem assorear rios.
erosão de ravinamento: é causada pela intensificação da concentração do escoamento superficial da água, processo que
intensifica a degradação do solo, iniciada pela erosão laminar, o que gera as ravinas.
Voçoroca: corresponde a um estágio avançado e irreversível de degradação dos solos, formada pela evolução do processo erosivo
em áreas de encostas ou de topografia mais plana. A voçoroca constitui um canal profundo formado pela intensificação do fluxo de
escoamento superficial de água no solo. A cavidade formada pode ser tão profunda que comumente atinge o nível freático.
258
Pedologia
superficial maior que a taxa de infiltração. A vegetação em uma vertente é essencial para a manuten-
ção de baixas taxas de erosão – transporte de sedimentos –,
pelo fato de ela fixar o sedimento em suas raízes, formando
agregados e dificultando seu transporte. Além disso, os vegetais
funcionam como um entreposto à passagem da água, promo-
vendo a diminuição da velocidade do escoamento superficial e
facilitando a infiltração da água. A cobertura vegetal é extrema-
mente importante, pois promove a diminuição da quantidade de
água escoada superficialmente. Dessa forma, o escoamento
superficial apresenta menor velocidade e menor volume, com
redução significativa de sua capacidade erosiva, o que promove
a estabilidade da vertente.
Monocultura
A perda da qualidade química do solo se relaciona à perda
de nutrientes em áreas de plantio, principalmente de monocul-
turas – cultivo de apenas um vegetal – e à contaminação pelo
uso excessivo de agrotóxicos.
O desenvolvimento de monoculturas, principalmente em
larga escala, favorece a diminuição de alguns nutrientes e a
concentração de outros nutrientes. Sendo assim, a correção do
solo com incremento de nutrientes é de extrema importância
para a manutenção da sua capacidade produtiva.
259
Geografia
tração das raízes no solo, tornando-o deficiente para o cultivo. No Brasil, o principal foco de arenização está situado no
Sudoeste do Rio Grande do Sul. A exploração agropecuária,
Desertificação e arenização marcada pelo sobrepastoreiro, desmatamento e queima de
A perda de produtividade do solo pode estar relacionada a grandes extensões de cobertura vegetal nativa, foi responsável
vários fatores como: pela intensificação dos processos erosivos, tornando-os vulne-
ráveis e provocando a transformação de expressivas porções
de terra em imensos bancos de areia.
260
Pedologia
Mineração
A mineração compreende a exploração de recursos minerais
que, de maneira predominante, localizam-se na rocha matriz –
base de sustentação para o solo. Dessa maneira, a exploração
do solo em profundidade favorece a destruição das camadas
do solo e impacta todas as relações, físicas e humanas, esta-
belecidas sobre esse solo.
Para o geográfo Adas, o desenvolvimento da atividade mi-
neradora pode promover os seguintes impactos:
• retirada da cobertura vegetal;
• destruição do relevo;
• produção de rejeitos (sedimentos de restos minerais), que O plantio em curva de nível faz com que a
são largados, muitas vezes, de maneira caótica, promo- água escoe de forma mais lenta.
vendo uma fonte de detritos que promove o assoreamento Disponível em: https://www.embrapa.br/busca-de-ima-
dos rios e altera as características físicas e químicas dos gens/-/midia/189001. Acesso em: 17 maio de 2017.
cursos fluviais;
terraceamento: técnica em que são construídos terraços ou
• dano às populações ribeirinhas, que dependem dos degraus na encosta. Dessa forma, a infiltração da água no solo
rios para sobreviver, seja como fonte de alimento, como é favorecida e o escoamento superficial amenizado.
meio de transporte ou, ainda, para o desenvolvimento
da agricultura em suas margens ou várzeas, que contêm
depósitos de sedimentos.
Sendo assim, é possível perceber uma alteração total do solo
em que a atividade é desenvolvida, bem como de áreas que
se encontram próximas às áreas de mineração. Essas áreas
sofrem com o aumento da erosão e com comprometimento das
atividades econômicas nelas desenvolvidas, principalmente
quando se considera o uso da rede hidrográfica.
Além dos problemas analisados, a mineração também
desencadeia a contaminação do solo e das águas pelos
metais pesados, como mercúrio, estanho, cobre, cádmio
e chumbo. Esse impacto dificulta o uso da região para
atividades agrícolas, bem como polui a rede hidrográfica,
261
Geografia
rotação de culturas: técnica que visa à reposição dos C) A decomposição química exerce pouca influência na
nutrientes do solo, por meio do plantio alternado de espécies formação dos solos ricos em material orgânico, por isso
vegetais, no decorrer do tempo, em uma mesma área agrícola. se observa no Sertão nordestino o domínio de solos
A rotação de culturas proporciona um desgaste menor do solo, ricos em materiais dessa natureza, onde a ação das
elevadas temperaturas comprovam essa realidade.
pois alterna cultivos com áreas de repouso ao longo de um
período, de modo que nutrientes distintos sejam demandados D) O solo descende diretamente da “rocha mãe”, o que
a cada fase de plantio. Desse modo, nota-se uma melhoria das implica dizer que o mesmo tipo de rocha dá origem
sempre ao mesmo tipo de solo, pois as condições
condições físicas, químicas e biológicas do solo, desde que a
físicas, químicas e biológicas, apesar de serem im-
área em descanso esteja recoberta por uma vegetação rasteira
portantes, são secundárias nessa formação.
para que a água da chuva não prejudique o solo desnudo.
E) O conjunto de sedimentos que surge de uma rocha
decomposta torna-se solo mesmo antes da ação dos
ditos agentes externo (ar, vento e água), pois o solo,
para se formalizar, depende somente da junção de
vida microbiana em sua composição.
262
Pedologia
3. (G1 - col. naval 2011) Uma rocha submetida à ação da 5. (Unicamp – 2016) A imagem abaixo mostra a prática
água, às oscilações de temperatura e à atuação de seres de plantio direto na palhada.
vivos irá, com o tempo, desintegrar-se e decompor-se.
Os minerais que a compõem irão se fragmentar e se
separar em pedaços cada vez menores, até dar origem
ao solo. No caso brasileiro, em função da sua localização
geográfica e de suas características físicas, encontramos
uma gama de solos, cada um com suas especificidades.
Nesse sentido, analise as afirmativas abaixo, referentes
aos diversos tipos de solos existentes no Brasil.
I. O solo de várzea, argiloso e tipicamente das áre-
as meridionais do país, possui grande riqueza de
materiais orgânicos, os quais são utilizados pelas
populações ribeirinhas para cultivos de gêneros
agrícolas de subsistência.
II. O solo de massapé, arenoso e encontrado em todo
o litoral brasileiro, concentra grandes quantidades
de nitrogênio e potássio, o que acabou favorecendo Sobre esta prática, é correto afirmar:
o desenvolvimento de cultivos agrícolas destinados A) É uma prática conservacionista, em que há a in-
majoritariamente para exportações. corporação dos restos vegetais de uma cultura no
III. O solo de terra roxa, argiloso e comum no norte do próximo plantio, procurando melhorar as caracte-
Paraná e oeste de São Paulo, em função da de- rísticas químicas e físicas do solo.
composição de rochas magmáticas, resultaram em B) É uma prática conservacionista, em que há a in-
nutrientes importantes, favorecendo a sua utilização corporação dos restos vegetais de uma cultura no
no plantio de culturas como o café. próximo plantio, procurando melhorar unicamente
IV. O solo conhecido como salmourão, arenoso e com as características químicas do solo.
grande gradiente de fertilidade, especialmente por C) É uma prática conservacionista, em que há a in-
sua decomposição química e riqueza em materiais corporação dos restos vegetais de uma cultura no
orgânicos, contribuiu para que a região Nordeste próximo plantio, procurando melhorar unicamente
se tornasse grande produtora e exportadora de as características físicas do solo.
cana-de-açúcar. D) Apesar de diminuir os processos erosivos provoca-
Assinale a opção correta. dos pelo escoamento superficial da água, a prática
A) Apenas as afirmativas I e. II são verdadeiras. não evita o uso de queimadas esporádicas e não
aumenta a fertilidade química do solo.
B) Apenas as afirmativas I e IV são verdadeiras.
C) Apenas as afirmativas II e III são verdadeiras.
D) Apenas a afirmativa III é verdadeira.
E) As afirmativas I, ll, III e IV são verdadeiras. Gabarito
1. A
4. (UECE – 2017) Erosão é um processo natural presente
nos mais diversos ambientes do planeta. Relacione 2. E
corretamente os tipos de erosão com os respectivos 3. D
locais de ocorrência, numerando a Coluna II de acordo 4. A
com a Coluna I.
5. A
Coluna I
1. Erosão fluvial 3. Erosão em splash
2. Voçorocas 4. Erosão laminar
Coluna II
( ) Processo decorrente do efeito gerado pela queda
das gotas de chuva sobre o solo ou estruturas de
relevo.
( ) Processo que ocorre pela ação dos rios quando
estes se excedem e avançam sobre as margens.
( ) Formação de grandes crateras que ocasional-
mente atingem o lençol freático ou estruturas
internas dos solos.
( ) Ocorre quando o escoamento superficial da
precipitação carreia o solo, retirando a sua co-
bertura superficial.
A sequência correta, de cima para baixo, é:
A) 3, 1, 2, 4. C) 1, 2, 3, 4.
B) 3, 2, 4, 1. D) 2, 1, 4, 3.
263
Capítulo 10
Hidrografia
O ciclo hidrológico
A água existente no globo terrestre pode ser encontrada em três estados: sólido, líquido e gasoso.
Ciclo da Água
Armazenamento
de água no gelo Armazenamento
de água na Condensação
Precipitação atmosfera
Evapotranspiração
Evaporação
Escoamento
Escoamento superficial superficial
proveniente do gelo Caudal no
Infiltração rio
Armazenamento
Nascente de água
De doce
sc Armazenamento
arg
an de água nos oceanos
oa
quíf
ero
ga.water.usgs.gov/edu/watercycle.html
Os vários reservatórios de água do planeta – oceanos, rios, lagos, geleiras e atmosfera – estão permanentemente interligados
por meio dos processos de evaporação, precipitação, infiltração e escoamento, criando uma constante de transformação e circu-
lação da água. O ciclo hidrológico, acontece, então, por meio desses movimentos, dessas mudanças de estado da água. Essas
transformações acontecem pelo efeito da irradiação solar.
O ciclo hidrológico é vital para a existência de todos os tipos de vida no planeta. Qualquer desequilíbrio nesse ciclo pode pro-
vocar profundas alterações nas paisagens da superfície terrestre e na atmosfera, tendo até, como consequência, a extinção de
diversas espécies. ”
sólido que é levado pelos rios. Calcula-se que 14 bilhões de
Mares e oceanos
toneladas de lixo e esgoto chegam aos oceanos todos os anos.
Os mares e oceanos têm uma importância essencial para a Assim, a grande quantidade de material orgânico depositada
vida em nosso planeta, pois são eles reguladores dos meca- em áreas litorâneas acaba provocando uma alteração no am-
nismos climáticos devido à sua capacidade de reter calor por biente, propiciando o aparecimento de uma quantidade maior
muito mais tempo do que as áreas continentais. Além disso,
de microrganismos que agridem a fauna marinha, dificultando
exercem um papel muito importante em termos estratégicos e
sua reprodução, assim como contaminam diferentes seres
econômicos para os mais diversos países.
aquáticos, impossibilitando seu consumo como alimento.
A presença ou não de litoral em um país é questão de impor-
tância capital na história da humanidade. Nações com áreas A poluição pode comprometer áreas costeiras – como estuá-
costeiras são favorecidas nas trocas comerciais. Territórios rios e bancos de areia –, locais privilegiados para a alimentação
sem litoral são obrigados a contar com a ‘boa vontade’ de e a reprodução de muitas espécies.
seus vizinhos para ter acesso ao mar. Países como Bolívia,
Paraguai, Suíça, Áustria e Afeganistão são alguns que sofrem Águas continentais
com essa privação.
A pesca industrial, que é fonte de riquezas para diversos países Uma porção de toda a água que existe no globo terrestre
(como Peru, Portugal e Japão, entre outros) e a exploração de está localizada em áreas continentais. São os rios, fontes,
petróleo em bacias da plataforma continental são exemplos de im- minas, lagos e lagoas.
portantes atividades econômicas de países com áreas litorâneas. A presença de rios é fator preponderante para o surgimento
ou criação das cidades. Muitas pessoas que vivem em áreas
Poluição marinha bastante urbanizadas, não sabem qual seja a origem do rio (ou
Os mares e oceanos são os grandes receptores de esgotos rios) que corta(m) sua cidade.
e de resíduos de poluentes químicos e minerais, além do lixo
264
Hidrografia
O
N
a partir da implementação do sistema de irrigação e do uso
A
E
de implementos agrícolas. Um bom exemplo disso pode ser
C
O
observado no sertão nordestino, onde o uso da irrigação e de
implementos está contribuindo para um melhor aproveitamento
das lavouras e da pecuária. A produtividade tem aumentado
bastante nessas duas atividades.
Regime fluvial Geografia Geral e do Brasil. Paulo Roberto Moraes, pág. 91/105.
265
Geografia
• Planaltos e serras do Atlântico-Leste-Sudeste, onde O São Francisco nasce na serra da Canastra (Minas
nascem o rio São Francisco, os rios formadores do rio Gerais) e deságua no Atlântico, na divisa entre Alagoas e
Paraná (Paranaíba e Grande) e os seus afluentes da Sergipe, depois de percorrer longo trecho do sertão da Bahia
margem esquerda. e de Pernambuco. Seu curso segue no sentido sul-norte, e foi
De modo geral, os rios brasileiros recebem águas das chuvas. por longo tempo meio de ligação entre as regiões Nordeste e
Sudeste, onde se instalaram os núcleos de povoamento mais
Por isso, em sua maioria, são caracterizados pelo regime pluvial.
antigos do Brasil.
As principais bacias hidrográficas brasileiras são:
Possui declives acentuados em trechos próximos à nas-
Bacia Amazônica cente e à foz, o que lhe confere a posição de segunda bacia
em produção energética do Brasil. Abastece tanto a região
A mais extensa bacia hidrográfica do mundo, a bacia
Sudeste, com a usina de Três Marias (MG), como o Nordeste,
Amazônica abrange uma área superior à metade do território
através das usinas de Sobradinho (PE/BA), Paulo Afonso (AL/
brasileiro (6,5 milhões de km2), alcançando outros seis países
BA), Xingó (AL/SE), Itaparica (PE/BA) e Moxotó (AL/BA). O
sul-americanos. De toda a água fluvial lançada nos oceanos,
São Francisco também apresenta longo trecho navegável em
20% sai da foz do rio Amazonas.
seu curso médio.
O maior do mundo em extensão e volume de água, o rio
Amazonas atravessa uma área plana e de baixa altitude, sobre- O garimpo, o uso excessivo de suas águas para irrigação,
tudo no território brasileiro. Essas também são características a poluição por causa do uso de defensivos agrícolas e a
dos trechos de seus afluentes, o que torna a navegação fluvial destruição da mata ciliar na cabeceira, são alguns problemas
o principal meio de transporte da região. que provocam forte impacto ambiental. A poluição das águas
O rio Amazonas é utilizado tanto para transporte de pessoas afeta diretamente os recursos da pesca e a vida da população
quanto de produtos, alimentos e máquinas. A safra de soja do ribeirinha do São Francisco.
norte do Mato Grosso, por exemplo, é transportada por um um
afluente do Amazonas, o rio Madeira. Como o frete do transporte Bacia Platina
fluvial custa menos que o do transporte rodoviário e ferroviário A bacia Platina reúne as bacias dos rios Paraná, Paraguai e
(mais utilizados nas regiões do centro e do sul do país), o custo Uruguai, que nascem em território brasileiro e banham também
final do produto acaba sendo também menor. os países platinos (Paraguai, Uruguai e Argentina). Na fronteira
Além de sua importância como rota de navegação e trans- da Argentina com o Uruguai, todas as águas se juntam no es-
porte, essa rede hidrográfica é também um meio de vida para tuário do Prata e deságuam no oceano Atlântico. É a segunda
a população ribeirinha e diversos povos indígenas. Os rios da maior bacia da América do Sul em área.
Amazônia possuem a maior fauna fluvial do mundo, e o número
de espécies é muito variada. Bacia do Paraná
A bacia Amazônica possui o maior potencial para geração de
A bacia do Paraná é essencialmente planáltica, ocupando o
energia hidrelétrica do país, mas a produção de energia ainda é
primeiro lugar em produção hidrelétrica no país. No rio Paraná
pequena. Situação justificada pela distância que a separa dos
estão as usinas de Ilha Solteira e Jupiá (complexo de Urubu-
grandes centros econômicos e populacionais, situados no Sul
pungá), Engenheiro Sérgio Motta (Porto Primavera) e Itaipu
e Sudeste do país.
(usina binacional brasileira e paraguaia).
266
Hidrografia
co
fraternalmente por todos os 7 bilhões de habitantes do planeta,
gua
cis
Toc
an
Atlântico cada terráqueo teria direito a mais de 570 bilhões de litros por
Fr
Leste
dia, durante 75 anos. Ainda assim, segundo o Programa para
o
Sã
267
Geografia
268
Hidrografia
Espanha
Globalização
300 Noruega
França Nem todos os países deixam uma pegada hídrica equiva-
lente à disponibilidade de água em seu território. A razão desse
250 Áustria descompasso nas contas é a importação de bens: as nações
pobres em água compram do estrangeiro alimentos e produtos
Dinamarca industriais e, com eles, importam – na forma de água virtual – o
200 Alemanha
BRASIL
recurso coletado de bacias hidrográficas de outras regiões do
Peru globo. A Jordânia, por exemplo, retira a cada ano apenas 1
Filipinas
150 Reino Unido
bilhão de metros cúbicos de água de seus rios e aquíferos, que
Índia se encontram em franco processo de exaustão. Mas consome
de cinco a sete vezes mais água (na forma virtual) contida nos
100 produtos que importa. É por esse mecanismo que os chineses
China
afetam indiretamente as bacias hidrográficas brasileiras quando
50
compram nosso frango. A globalização, que tornou interdepen-
Bangladesh, Quênia
Gana, Nigéria, dentes os mercados espalhados pelo planeta, reforçou, também,
Burkina Fasso, Niger
Angola, Camboja, Etiópia, um comércio internacional paralelo e invisível de água virtual.
Haiti, Ruanda, Uganda
Moçambique
Convencionou-se chamar água virtual a água utilizada na
produção de uma substância, como a soja, por exemplo, ou
LIMIAR DA POBREZA
A OMS e o Unicef sugerem que cada
objeto, e que será consumido em outro lugar. Em apenas quatro
pessoa tenha acesso a um volume mínimo anos - de 1997 a 2001 -, o comércio internacional transferiu de
entre 20 e 50 litros de água limpa para
beber, cozinhar e manter a higiene mínima. um país a outro algo em torno de 1 trilhão de metros cúbicos de
Duas descargar de válvulas sanitárias de
modelo antigo despejam no esgoto mais do água virtual por ano, isso somente em produtos agropecuários.
que isso.
269
Geografia
Se incluirmos aí os produtos industriais, o fluxo anual de É bom lembrar que o plantio da soja é o segundo fator mais
água virtual superaria 1,6 trilhão de metros cúbicos. Desse pernicioso ao meio ambiente brasileiro, perdendo apenas para
total, 61% do volume viajam invisivelmente em grãos e outros a pecuária de corte.
produtos vegetais. Animais e derivados representam 7% desse
O valor da conta mensal refere-se aos custos de capta-
montante. Os produtos industriais utilizam 22%.
ção, tratamento e distribuição. A água, em si, não tem preço.
O Brasil está entre os maiores exportadores de água virtual “Mas à medida que avançam as mudanças climáticas e o
do mundo, em companhia dos Estados Unidos, do Canadá e da crescimento demográfico, a noção de água como mercadoria
França. Mas, como todas as demais nações, também importa- cresce”, diz Penteado.
mos água virtual. No início do século XXI, a soja colhida no estado
do Mato Grosso, o maior produtor brasileiro, era destinada aos
Em vários países, como Alemanha, França e Reino Unido, já
países europeus. Hoje, a China é o maior país importador, uma se cobra pela água. No Brasil, a ideia data de 1934 e foi retomada
vez que necessita de milhares de toneladas desse grão para ali- como ferramenta de gestão dos mananciais na Política Nacional
mentar seus milhões de animais. Essa é uma das razões porque de Recursos Hídricos, no fim dos anos 1990. O princípio é que
os chineses preferem importar esses grãos a plantá-los: agindo empresas de abastecimento e saneamento paguem pela água
captada e repassem esse custo aos milhões de usuários aos
assim eles não precisam gastar sua própria água,
quais ela é distribuída. Outros tipos de empresa, dos setores
Direito da população ou mercadoria? industrial, agrícola e de energia, também devem pagar pela
água – mas poderiam pagar menos, desde que devolvessem
Pensar em cobrar pelo uso da água soa estranho. Afinal, esse a água limpa aos rios. O dinheiro coletado deve ser aplicado na
é, por princípio, um recurso natural a que todos os homens devem
manutenção da própria bacia.
ter acesso em quantidade e qualidade adequadas. No entanto,
nesses tempos modernos, tempos de economia globalizada, em Poucos estados aprovaram a lei da cobrança pelo uso da
que os mercados se entrelaçam, misturam-se e ditam as regras, água. O primeiro foi o Ceará, constantemente assolado pelas
a crescente escassez é um argumento para transformar o bem secas que castigam os estados do Nordeste. A primeira ini-
natural em bem acessível apenas a quem possa pagar. A água ciativa de cobrança pelo uso da água num rio federal deu-se
passaria de direito universal a commodity – uma matéria-prima na bacia do Paraíba do Sul, que banha os estados de São
básica, como o petróleo ou a soja, com padrão de qualidade e Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro.
preço estabelecidos pelo mercado. Isso já ocorre em nações com
fontes hídricas escassas e até em países com fontes fartas, entre E o mar Aral, na Ásia Central, virou areal
a população carente, que não tem acesso aos serviços públicos Encravado entre o Uzbequistão e o Cazaquistão, na Ásia
de água e é forçada a comprá-Ia de particulares. Central, o Aral era o quarto maior mar interno do mundo até
1960. Naquela época, os 50 quilômetros cúbicos de água
Balança comercial despejados a cada ano pelos rios que o alimentavam manti-
de água virtual nham baixa a concentração de minerais na água, tornando-a
Em bilhões de m³/ano (1997-2001) própria para a existência de um rico ecossistema aquático. A
grande variedade de peixes garantia o sustento de mais de
o
o
çã
çã
po
po
EUA 229 176 -53 dos, que recobrem uma área equivalente a 10% da original.
Canadá 95 35 -60
A culpa pelo desastre foi o desvio dos rios Amu e Syr para
França 78 72 -6
irrigar as lavouras da União Soviética (URSS), nos anos 1960.
Austrália 73 9 -64
Atualmente, além de supersaturada, a água que resta é extre-
China 73 63 -10
mamente poluída pelos agrotóxicos que escorrem das lavouras.
Alemanha 70 105 35
BRASIL 68 23 -45 Disponível em: http://doczz.com.br/doc/416077/resu-
Holanda 58 69 11 mo---cursinho-triu. Acesso em: 26 jul 2018.
Argentina 51 6 -45
Fonte: IWSA Muitos rios, acesso desigual
SALDO LÍQUIDO A lista mostra os nove O Brasil é privilegiado em recursos hídricos. Mas
maiores exportadores de água virtual entre
1997 e 2001. Repare que todas as nações
falta muito para que toda a população tenha aces-
também importaram água virtual nesse período. so à água limpa e a tratamento de esgoto
Na coluna SALDO, ao contrário do que se
costuma usar na balança comercial de produtos
As cidades sugam cada vez mais água do planeta. A
e serviços tradicionais, o sinal de negativo (–) acelerada urbanização, que colocou em 2008 mais da me-
indica que o país exportou mais que importou – tade da população mundial em centros urbanos, faz com
ou seja, transferiu mais água de suas reservas
do que recebeu do estrangeiro. que aumente cada vez mais o volume retirado dos rios
para abastecer residências e indústrias. O crescimento das
“É uma questão da economia, uma ciência que lida com cidades causa também outras pressões sobre as reservas
a escassez”, diz Hugo Penteado, autor de Ecoeconomia: hídricas: o aumento do volume de resíduos sólidos (lixo) e o
uma Nova Abordagem. “A água abundante é considerada despejo de resíduos industriais e domésticos sem tratamen-
um bem natural e, portanto, não tem valor econômico”. Dife- to, que contribui para poluir córregos e rios e entupir as vias
rentemente do petróleo, cujo preço do barril sobe por pres- de drenagem das cidades, e a ocupação irregular do solo,
são dos produtores ou pelo aumento da demanda, a água que compromete os mananciais. Como resultado, além de
não custa mais porque a cidade cresceu ou choveu pouco. sobrecarregar as reservas, as populações das cidades estão
No Brasil, por exemplo, as autoridades apenas fazem campanhas sujeitas a consumir água de baixa qualidade, responsável
para que a população poupe água voluntariamente, em tempos potencial por doenças como cólera e diarreia.
de estiagem. Na verdade, o brasileiro não paga nada pela água.
O problema fica no Brasil. Brasil urbano
270
Hidrografia
Com grande número de rios e abundância de chuvas, o Bra- Em Belém (PA), Manaus (AM) e Rio Branco (AC), menos
sil detém cerca de 13% de toda a água superficial do planeta. de 3% da população tem esgoto tratado. Mesmo nas regiões
Somando-se a isso os depósitos subterrâneos, o país oferece metropolitanas mais ricas, a situação é precária. Na Grande São
a cada habitante 34 mil metros cúbicos (34 milhões de litros) Paulo, menos de 25% do total de 56 metros cúbicos de esgoto
por ano. Mas toda essa água não é distribuída de maneira produzidos a cada segundo recebe tratamento. Os restantes 42
equilibrada: há escassez de água na região do semiárido e metros cúbicos são despejados diretamente nos mesmos rios
nas grandes capitais do Sudeste. Cerca de 70% das reservas que abastecem os reservatórios de abastecimento.
brasileiras estão na região Norte, onde vivem menos de 10% da A situação, de novo, é perversa: enquanto a população de
população. A situação é pior nas áreas de maior concentração maior renda, concentrada nos bairros centrais das grandes
demográfica, nas quais o consumo é acompanhado de perto cidades, é atendida por serviços de saneamento básico, a
pela contaminação por esgoto industrial e doméstico, que reduz parcela mais pobre distribui-se informalmente pela periferia,
o volume de água disponível por pessoa. onde a infraestrutura é precária. Em alguns centros urbanos,
O Brasil é um país essencialmente urbano – 83% dos bra- 50% da população ocupa áreas irregulares e não tem acesso
sileiros vivem em cidades. E segundo o Instituto Brasileiro de a serviços de água, coleta e tratamento de esgoto e coleta de
Geografia e Estatística (IBGE), 92,6% dessa população urbana lixo. Assim, a questão do acesso à água limpa torna-se um fator
é atendida por rede geral de abastecimento de água. É uma de exclusão social.
taxa alta, se comparada à da zona rural, que não supera os
28%. Os 7,4% dos brasileiros urbanos que não têm acesso aos Problemas letais
serviços de abastecimento são obrigados a recorrer a poços, Número de mortes por doenças relacionadas
bicas, água das chuvas ou compra de água de caminhões pipa . à falta de água, saneamento e higiene,
em milhares de pessoas (2002)
O desperdício contribui para a escassez de água nas ci-
dades. Segundo estudo do Instituto Socioambiental, a água 2.389
Países desenvolvidos
perdida diariamente nas capitais brasileiras seria suficiente para
abastecer 38 milhões de pessoas. A cidade do Rio de Janeiro Países não
desenvolvidos
joga fora, sozinha, mais de 1,5 milhão de litros a cada dia – o
equivalente a quase 620 piscinas olímpicas.
Nos grandes aglomerados urbanos das regiões Sul e Su-
deste, o acesso à água começa a se tornar um problema que
557
extrapola os limites metropolitanos. Para abastecer os quase 312
20 milhões de habitantes da Grande São Paulo, a bacia do
24 0 15
Alto Tietê e as represas Billings e Guarapiranga não são mais Falta de Malária, dengue Outras
suficientes. A solução é importar água de outras bacias: mais da saneamento e outras doenças doenças
básico e transmitidas por infecciosas
metade da água consumida na região vem da bacia do rio Pira- higiene insetos
cicaba, a mais de 70 quilômetros da capital. Essa transferência
DOIS MUNDOS, DUAS REALIDADES
de recursos hídricos, é claro, exerce pressão sobre a oferta de O gráfico mostra que a cada ano cerca
água para as cidades, as indústrias e a agricultura do interior de 3,3 milhões de pessoas morrem por
paulista. Além disso, os 5,6 bilhões de litros de água lançados problemas associados à escassez ou à
qualidade da água – a imensa maioria
diariamente nas tubulações da Grande São Paulo colocam os nos países subdesenvolvidos. Do total
mananciais próximos de seu limite de disponibilidade. Basta de 2,4 milhões de mortes relacionadas à
um breve período de falta de chuvas para a população se ver falta de saneamento básico e higiene,
1,5 milhão tem como causa a
forçada a limitar o consumo, sob ameaça de torneiras secas e desidratação e 854 mil, a desnutrição
racionamento de água. por doenças diarreicas e parasitárias.
As doenças transmitidas por insetos que
Saneamento se reproduzem na água matam outras
870 mil pessoas.
Pesquisa realizada pelo Sistema Nacional de Informação sobre Fontes: OMS, Prud, British Medical Journal
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B
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C
Fonte: IBGE
271
Geografia
Outras são a falta de coleta de lixo – que entope os bueiros – e a impermeabilização: calçadas cimentadas, ruas asfaltadas e
construções de concreto reduzem a área de solo capaz de absorver a água da chuva. Como consequência, o sistema de drenagem
das grandes cidades não dá conta de levar para os rios todo o volume despejado dos céus.
O aumento na cobertura de concreto produz outro efeito: cria nas cidades o que os meteorologistas chamam de ilhas de calor
– uma área de temperatura mais alta que a das redondezas, recobertas de vegetação, que sequestra a umidade do ar e aumenta
a intensidade das chuvas, provocando temporais. Em algumas cidades, como São Paulo, esse efeito rouba a chuva que deveria
cair sobre a cabeceira dos rios, realimentando os mananciais.
Disponível em: http://ecologiatocolando.blogspot.com/2012/01/uma-questao-de-higiene-e-limpeza.html Acesso em: 26 jul 2018.
Após ações da Justiça, protestos e muita polêmica, a transposição das águas do rio São Francisco começa a sair do papel.
O objetivo do projeto é desviar uma parte das águas do rio por meio de dutos e canais para alimentar rios menores e açudes
em regiões do semiárido nordestino que sofrem com a seca. As obras foram iniciadas pelo Exército brasileiro em junho de 2007.
O atual projeto, orçado em 4,5 bilhões de reais, é foco de conflitos e disputa entre os diferentes usuários do rio. São a favor da
obra os estados beneficiados pelo desvio do São Francisco – Ceará, Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte. Eles esperam
que sejam abastecidos cerca de 12 milhões de pessoas no semiárido, onde rios e açudes secam em parte do ano, e planejam
criar polos de agricultura irrigada, para produzir renda e reduzir o êxodo rural.
272
Hidrografia
Quem apoia a ideia lembra que ela pode diminuir a desigual- Rio castigado
dade: a bacia do São Francisco tem 70% da água e apenas
21% da população do semiárido – ou seja, a maior parte dos Estima-se que o São Francisco tenha perdido 40% do vo-
habitantes da região mais seca do Nordeste está distante do rio. lume de água nos últimos 40 anos. Está mais raso e estreito.
Perto de 75% da vegetação de suas margens foi derrubada.
Prós e contras Como resultado, os resíduos da erosão invadem o leito do
O principal argumento dos defensores do projeto é que 95% rio e causam danos à navegação e às espécies de peixe que
da água que ultrapassa a barragem de Sobradinho é despejada sustentam a população. Além disso, em toda a bacia existem
na foz sem nenhum uso – ou seja, só 5% são consumidos ao 450 cidades sem saneamento básico que lançam detritos
longo do rio. Pelo projeto, 1% dessa água será captada pelos diretamente nas águas, espalhando poluição. Preocupados,
canais da transposição – uma quantidade pequena que não ambientalistas e pesquisadores dizem que a solução contra
causa estragos ambientais, dizem os especialistas que apoiam a seca deve passar por uma visão mais ampla do problema.
o desvio. Eles argumentam que o volume previsto na transposi- Para eles, antes de realizar a transposição, o mais urgente é
ção para abastecer os estados vizinhos é apenas um terço da “revitalizar” o rio São Francisco, com projetos que recuperem
quantidade de água que será captada no São Francisco nos a mata ciliar e limpem o rio.
próximos anos por polos de irrigação da Bahia que já funcionam Após os primeiros protestos contra a transposição, o go-
ou estão em fase de instalação. verno federal lançou um programa para recuperar o rio São
Esse é exatamente um dos pontos que mais preocupam os Francisco. O plano é implantar esgotamento sanitário em 81
opositores da transposição – os governos de Minas Gerais, municípios da bacia, medir periodicamente a qualidade da
Bahia, Alagoas e Sergipe. Eles temem que a obra reduza a água e reflorestar nascentes e margens de rios, com plantas
água para irrigar seus municípios e prejudique a geração de de viveiros que produzirão 1,5 milhão de mudas por ano. Estão
energia hidrelétrica. O São Francisco produz 90% da eletrici- previstos 25 projetos para tornar potável a água dos poços
dade nordestina, abastece projetos de piscicultura e mantém subterrâneos em Pernambuco e na Bahia, que hoje tem baixa
produtivas importantes zonas agrícolas. Na região de Juazeiro qualidade em decorrência do alto teor de sal. E ainda estão
(BA) e Petrolina (PE), a fruticultura irrigada ocupa mais de 100 planejadas obras para controlar a erosão e melhorar as con-
mil hectares, sendo responsável por 70% das exportações dições fluviais e a navegação do rio, permitindo o transporte
brasileiras de manga e 90% de uva.
de grãos entre os polos de irrigação do oeste da Bahia e o
Em vez de investir em uma obra grande e cara, o grupo con- porto de Juazeiro, de onde a carga seguirá por ferrovias até
trário à transposição defende medidas mais simples, baratas e os principais portos marítimos nordestinos.
eficientes, como a construção maciça de poços e cisternas para o
armazenamento da água da chuva. Recente relatório da Agência Como é a obra
Nacional de Águas (ANA), do governo federal, propôs a execução O Projeto de Integração do Rio São Francisco às Bacias
de 530 obras de menor porte para solucionar os problemas de do Nordeste Setentrional – nome oficial da obra de transpo-
abastecimento hídrico do Nordeste até 2015, ao custo de 3,6 sição – está dividido em dois níveis de captação de água.
bilhões de reais, valor inferior ao da transposição. No primeiro, que ocorrerá de maneira permanente, serão
Os críticos chamam atenção para os prejuízos ao abaste- retirados do rio 26 metros cúbicos de água por segundo. Esse
cimento das torneiras ao longo do rio e levantam suspeitas volume, correspondente a cerca de 1% da vazão total depois
sobre o verdadeiro uso que se dará à água desviada para o da barragem de Sobradinho, será destinado ao consumo hu-
semiárido. No sertão, há problemas fundiários, e a construção mano e animal. No segundo nível, quando o rio estiver mais
das adutoras para abastecer as cidades depende muitas vezes volumoso, a quantidade transposta será maior, chegando
de brigas políticas que não levam em conta os problemas da até 127 metros cúbicos por segundo. Nesse caso, o volume
população. No açude do Castanhão, no Ceará, o maior do país, extra poderá ser usado em atividades econômicas, como
há canais que foram construídos a um custo alto para levar água a agricultura irrigada – incluindo as grandes propriedades,
aos sertanejos, mas parte da população que vive ao lado dos como as de cultivo de grãos, frutas e flores para exportação.
canais não tem acesso à água ou precisa pagar caro por ela.
O projeto prevê a construção de dois eixos principais. O
Assim, vários moradores continuam caminhando muitas horas
Eixo Norte captará a água do São Francisco em Cabrobró
por dia para conseguir água. Além dessa dúvida, quem se opõe
(PE) para levá-Ia ao sertão de Pernambuco, Ceará, Paraíba
à transposição enfatiza que o projeto atingirá apenas 5% do
e Rio Grande do Norte. O Eixo Leste vai colher as águas em
território do semiárido brasileiro. Passará longe de lugares que
um ponto mais baixo do rio, em Petrolândia (PE), beneficiando
têm muita necessidade, beneficiando grandes cidades fora das
regiões secas, como Recife e Fortaleza.
parte do sertão e do agreste de Pernambuco e da Paraíba. A
água retirada do São Francisco será bombeada até chegar
A corrente da oposição reúne também ambientalistas e lide-
a seu destino por meio de canais artificiais que permitirão a
ranças sociais que temem eventuais estragos ambientais da
interligação de açudes, mantendo-os sempre cheios, mesmo
transposição, e prometem continuar os protestos mesmo com
durante a estiagem.
as obras em andamento. Entre tantos motivos, preocupam-se
com os impactos danosos, como ocorreu no mar de Aral, na
Ásia Central. O Aral é um enorme lago, rico em peixes. Suas
águas recuaram muito porque os rios que o abasteciam foram
desviados para irrigar plantações. Resultado: o lago ficou
salgado e reduzido a menos da metade do tamanho original,
tornando a região um deserto improdutivo.
273
Geografia
274
Hidrografia
5. (Unesp – 2017) A Pegada Hídrica é uma ferramenta de 7. (EsPCex – 2011) Sobre as reservas e a utilização
gestão de recursos hídricos que indica o consumo de dos recursos hídricos no Brasil e no Mundo, podemos
água doce com base em seus usos direto e indireto. afirmar que:
“Precisamos desconstruir a percepção de que a água I. a água doce dos rios e dos lagos de todo o planeta é
vem apenas da torneira [um uso direto] e que simples- responsável pela maior parte da água doce da Terra.
mente consertar um pequeno vazamento é o bastante
II. no mundo inteiro, mais de 1,5 bilhão de pessoas
para assumir uma atitude sustentável”, ressalta Albano
dependem principalmente da água de reservas sub-
Araujo, coordenador da Estratégia de Água Doce da
terrâneas para suprir suas necessidades básicas.
Nature Conservancy.
(www.wwf.org.br. Adaptado.)
III. apesar de grande parte do Estado de São Paulo
situar-se sobre o Aquífero Guarani, o sistema de
Considerando o excerto e os conhecimentos acerca do abastecimento do Estado não utiliza fontes sub-
consumo de água no planeta, é correto afirmar que o terrâneas.
uso indireto de água doce corresponde
IV. as calotas polares e as geleiras são as mais impor-
A) à comercialização de água sob a forma de produto
tantes, em termos quantitativos, reservas de água
final.
doce de nosso planeta.
B) ao emprego de água extraída de reservas subter-
râneas para o abastecimento público. Assinale a alternativa que apresenta todas as afirma-
tivas corretas:
C) à quantidade de água utilizada para a fabricação de
bens de consumo. A) I e II
D) ao aproveitamento doméstico da água resultante B) I, II e III
de processos de despoluição. C) I, III e IV
E) à distribuição de água oriunda de represas distantes
D) II e IV
do consumidor final.
E) III e IV
6. (G1 - Col. Naval – 2015) Analise as informações a
seguir. Gabarito
Por suas condições físicas, o Brasil possui inúmeras 1. C
bacias hidrográficas, muitas das quais aproveitadas 2. A
como fonte de produção energética, fator imprescindível
3. B
ao incremento socioeconômico nacional.
4. A
Sobre as principais bacias hidrográficas brasileiras, são
feitas as afirmativas a seguir. 5. C
275
Capítulo 11
Biomas mundiais
As formações vegetais presentes na superfície terrestre são Folhas grandes e largas, que favorecem a transpiração
caracterizadas pela combinação de fatores naturais, bióticos e vegetal, adaptadas a ambientes com grande disponibilidade
abióticos, que atuam em um determinado local. A troca cons- de água e temperaturas elevadas.
tante de matéria e energia entre esses elementos favorece a
associação de indivíduos, de uma mesma espécie ou não, que Aciculifoliada
se articulam na formação de um bioma. Folhas em forma de agulha, o que desfavorece a perda de
O bioma, por sua vez, é um conjunto de diferentes ecossis- água pelo vegetal através da transpiração. Além disso, sua
temas que possuem certo grau de homogeneidade. Trata-se forma inibe o acúmulo de neve sobre o vegetal, dificultando
das comunidades biológicas, ou seja, das populações de orga- a sua quebra.
nismos da fauna e da flora interagindo entre si e também com
o ambiente físico, chamado biótopo. Dessa forma, a caracteri- Coriácea
zação de um bioma passa pela influência direta dos elementos Folhas pequenas e grossas, com a presença de micrope-
naturais como clima, solo, relevo e hidrografia. los, que desfavorecem a perda de água pelo vegetal através
Para o melhor entendimento das formações vegetais, é da transpiração, em ambientes que apresentam períodos de
necessário conhecer algumas características que a vegetação longa estiagem.
pode apresentar.
Espinhos
Características vegetais Folhas modificadas para a adaptação vegetal a climas secos.
276
Biomas mundiais
90°
OCEANO GLACIAL ÁRTICO
OCEANO
I. Terra do Norte
GLACIAL ÁRTICO Is. Nova Zembla
Groenlândia
TERRA
CÍRCULO POLAR ÁRTICO DE
BAFFIN Islândia
60° MAR
DO MAR MAR
NORTE BÁLTICO DE BERING
Ilhas
eutas Britânicas
Ilhas Al
Grandes
Lagos MAR MAR
I. Hokkaido
NEGRO CÁSPICO MAR
DO
MAR
JAPÃO
30°
OCEANO MEDITE
RRÂNEO
I. de Honshu
OCEANO
MA
TRÓPICO DE CÂNCER
R
Grandes Antilhas
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Is. Havaí I. de Formosa
RM
MAR
EL
MAR ARÁBICO
PACÍFICO
HO
A
DAS ANTILHAS
HIN
AC
OCEANO
I. Mindanao
RD
MA
0° EQUADOR I. Borneo
I. Sumatra
PACÍFICO
I. Nova Guiné
I. Java
OCEANO
TRÓPICO DE CAPRICÓRNIO
ATLÂNTICO I. de Madagascar
30°
ÍNDICO lân
dia
Tasmânia Ze
va
No
Is. Fakland
(Malvinas)
TERRA DO FOGO
60°
CÍRCULO POLAR ANTÁRTICO OCEANO GLACIAL ANTÁRTICO
TERRRA
DE
VITÓRIA
180°
90°
150° 120° 90° 60° 30° 0° 30° 60° 90° 120° 150° 180°
CAPTAÇÃO
DÉFICIT HÍDRICO DE ÁGUAS PROFUNDAS
LEGENDA
FLORESTA EQUATORIAL SAVANAS (Brasil - cerrado
VEGETAÇÃO DE ALTITUDE
E TROPICAL e caatinga)
FLORESTA SUBTROPICAL
ESTEPES E PRADARIAS TUNDRA
E TEMPERADA
Zona megatérmica
Florestas tropicais e equatoriais
Localizadas nas baixas latitudes do planeta, essas florestas
podem ser encontradas no Sudeste Asiático, nas áreas tropicais
da América do Sul, na América Central, na zona equatorial da
África e do Subcontinente Indiano. Essas formações vegetais
estão adaptadas às elevadas médias térmicas e aos elevados
índices pluviométricos, característicos da maior parte da zona
intertropical. As elevadas temperaturas dessa área contribuem
para a formação de florestas com elevada biodiversidade, já que
a temperatura funciona como catalisadora química das reações
e, com isso, produz um meio favorável a um número maior de
espécies. As florestas se caracterizam pela presença de ve- Florestas tropicais: acondicionadas a altas temperaturas e chuvas
getais hidrófitos e higrófitos, com folhas latifoliadas, propícias geographicae.wordpress.com.
a trocas gasosas e absorção de energia, de comportamento
perenifólio, já que não existe um período desfavorável quanto Savana
à umidade e à temperatura.
Predominam vegetais de porte arbóreo, sendo que algumas Localizadas em latitudes tropicais, nos hemisférios norte
árvores alcançam até 60 metros de altura, com uma grande e sul, em áreas próximas às regiões florestais, a savana
densidade vegetal, ou seja, muitos indivíduos por área. A relação apresenta-se com maior destaque no continente africano e no
entre alta densidade e alta biodiversidade sugere a presença de Centro-Oeste brasileiro. Seu desenvolvimento ocorre em climas
muitas espécimes por área, mas um número reduzido de indiví- tropicais caracterizados pela presença de vegetação tropófita –
duos por espécie, devido à elevada competição por luz, nutrientes adaptada à alternância de estações chuvosas e secas.
e espaço. A grande densidade vegetal dificulta a presença de Apresenta elevada biodiversidade (considerando as eleva-
animais de grande porte, apresentando assim uma diversidade das médias térmicas locais), predomínio de vegetação de porte
significativa de animais pequenos. herbáceo e arbustivo, com folhas coriáceas de comportamento
O solo caracteriza-se por ser pobre em nutrientes, devido decíduo. A densidade das savanas não é significativa, devido
à alta taxa de lixiviação, porém rico em serrapilheira, camada ao maior desenvolvimento de suas raízes, que captam água em
de vegetais e matéria orgânica, que, ao ser decomposta, libera distâncias maiores para se manterem vivas durante a estiagem.
nutrientes para a manutenção da floresta tropical ou equatorial. Nas regiões semiáridas, que se localizam próxima aos trópicos
277
Geografia
Na estepe (Europa) ou pradaria (EUA), há pouca incidência de chuva Floresta encontrada em climas temperados oceânicos
http://inatingivel.wordpress.com. www.newton360.com/tag.aspx?tag=Nature
278
Biomas mundiais
Sua esfera de ocorrência é predominantemente em climas Presente nas latitudes menores da zona temperada, essa
temperados oceânicos, com precipitação regular durante todo o formação vegetal está sob a influência direta do clima temperado
ano e definição das estações: no leste asiático, dos Estados Uni- mediterrâneo, que se caracteriza por verões secos e invernos
dos, da Europa e no sudeste da Austrália e na Nova Zelândia. A chuvowsos. Sua área de ocorrência compreende o sul da Euro-
floresta temperada apresenta baixa biodiversidade, predomínio pa, o norte da África – áreas de influência do Mar Mediterrâneo
de espécies de porte arbóreo, com comportamento caduci- –, a Califórnia, nos Estados Unidos, a Austrália e a África do
fólio no outono, momento de redução das médias térmicas. Sul. A vegetação mediterrânea caracteriza-se pela presença de
A vegetação se distribui de modo esparso, favorecendo espécies adaptadas a períodos secos, como os garrigues, os
o crescimento de parques e bosques, devido à incidên- maquis – arbustos, moitas e árvores pequenas, como oliveiras
cia da energia solar diretamente no solo. Os compo- – e o Chaparral, similar ao maqui, mas menos denso.
nentes da fauna são lobos, raposas, esquilos e ursos.
As áreas de floresta temperada foram sensivelmente alteradas, Zonas polares
dando lugar a polos industriais e concentrações urbanas. Na
Europa, por exemplo, a destruição estende-se de 70% a 80% Tundra
da cobertura vegetal original, enquanto que na China chega à
ordem de 80% a 90%.
279
Geografia
280
Biomas mundiais
4. (UNESP - 2018) Leia o fragmento do romance O orfanato da srta. Peregrine para crianças peculiares, de Ranson Riggs,
e analise o mapa.
Apesar dos avisos e até das ameaças do conselho, no verão de 1908 meus irmãos e centenas de outros membros
dessa facção renegada, todos traidores, viajaram para a tundra siberiana para levar a cabo seu experimento odioso.
Escolheram uma velha fenda sem nome, que estava havia séculos sem uso.
(O orfanato da srta. Peregrine para crianças peculiares, 2015. Adaptado.)
5. (UEFS-BA - 2017) Esse ecossistema está sendo destruído até quatro vezes mais rápido do que as florestas. O estudo
encomendado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente e pelo The Nature Conservancy indicou que
um quinto desta formação foi destruída desde 1980 e continua a ser destruída a uma taxa de cerca de 0,7% por ano por
atividades tais como a construção civil e a criação de camarões. Preservado, fornece um enorme conjunto de serviços
econômicos, agindo como berçário de peixes, armazenando carbono e proporcionando defesas poderosas contra en-
chentes e ciclones numa época de elevação do nível dos oceanos.
(http://br.reuters.com. Adaptado.)
Gabarito
1. A
2. C
3. 13
4. E
5. A
281
Capítulo 12
Biomas brasileiros
A análise das formações vegetais brasileiras nos permite Possui grande biodiversidade, com vegetação de caracte-
constatar a diversidade de paisagens em nosso país. Essa rísticas hidrófita e higrófita e folhas latifoliadas, de maneira a
variedade de ambientes se deve à grande extensão latitudinal e facilitar a transpiração vegetal e a absorção de energia para
longitudinal do território brasileiro, o que determina uma singular a realização da fotossíntese. A vegetação é perenifólia, já que
linhagem climática e, consequentemente, uma extraordinária não existe nenhuma estação desfavorável quanto à umidade e
diversificação vegetal. Observe o mapa: à temperatura, e a densidade vegetal é muito significativa, com
elevado número de indivíduos por área e um número reduzido
de indivíduos de cada espécie. Essa relação amplia o problema
OCEANO
ATLÂNTICO do desmatamento, devido à perda de espécies que, em muitas
Equador
das vezes, não foram catalogadas.
MANGUES
FLORESTA MATA LITORÂNEOS
Esse tipo de floresta pode ser dividido em três estratos de
AMAZÔNICA DE
COCAIS
vegetais:
CAATINGA • Mata de Igapó ou Caiapó: situada junto ao rio, permanece
CERRADO alagada o ano inteiro.
• Mata de Várzea: situada na área de várzea do rio, está
sujeita a alagamentos periódicos.
PANTANAL
Fonte: http://aulaspaulangelica.blogspot.com.
Campos Gerais.
282
Biomas brasileiros
e arbustivos, elevada biodiversidade, vegetação higrófita, folhas latifoliadas e comportamento semidecíduo e decíduo. Esta última
característica está relacionada com o afastamento de parte da floresta das áreas litorâneas, fator que diminui a disponibilidade
de umidade para a vegetação, e a ocorrência da mata em áreas de altitudes mais elevadas, o que reduz consideravelmente a
temperatura no período do inverno.
A densidade vegetal também é significativa, porém, menor, se comparada à da Floresta Amazônica, com a presença de orquídeas,
bromélias e cipós, contribuindo diretamente para a alta biodiversidade local. A mata atlântica ocupava, originalmente, mais de 1 mi-
lhão de quilômetros quadrados, cerca de 13% do território nacional. (Sua origem está associada à separação da África da América do
Sul – que formavam um único continente, chamado Gondwana –, ocorrida há 80 milhões de anos). No entanto, restam apenas 91 mil
quilômetros quadrados de mata – menos de 7% do volume original. A vegetação remanescente guarda ainda cerca de 20 mil espécies
de planta – 8 mil endêmicas. Apresenta, em alguns locais, mais de 450 espécies de árvore num único hectare – o que representa uma
biodiversidade por hectare superior à da Amazônia. A região reúne, ainda, centenas de espécies de mamíferos, aves, répteis e anfíbios.
Mata de cocais
Situada na parte da região Nordeste conhecida como Meio Norte, que compreende os estados do Maranhão e do Piauí, sofre a
atuação direta do clima tropical típico. Essa vegetação é considerada de transição, por ter sido formada na área de contato com a floresta
amazônica, o cerrado e a caatinga. A região apresenta elevada biodiversidade, mas com predomínio de algumas espécies palmáceas,
que surgiram pela combinação das três formações vegetais, como a carnaúba, o babaçu, o buriti e a oiticica. Essas espécies produ-
zem matéria-prima para a indústria de cosméticos, fator que indica a principal atividade econômica da região: o extrativismo vegetal.
Cerrado
Presente na região central do Brasil, envolve parte da região Centro-Oeste, Sudeste e Nordeste, sendo classificado como o
segundo maior bioma brasileiro, ocupando uma área de 2 milhões de quilômetros quadrados. É influenciado principalmente pelo
clima tropical típico, com alternância de estações secas e chuvosas, o que favorece o desenvolvimento de espécies tropófitas,
adaptadas à variação de umidade anual. Predominam os portes arbustivos e herbáceos, com galhos retorcidos, folhas cobertas
por pelos e com raízes profundas, que ajudam a suportar os períodos de seca e mesmo os incêndios comuns nas épocas sem
chuva. A biodiversidade é elevada, com cerca de 10 mil espécies vegetais – 44% delas endêmicas. A fauna também é riquíssima,
com centenas de espécies de mamíferos, aves, répteis e anfíbios. A densidade vegetal varia de acordo com características do
solo e índices pluviométricos e, segundo Moraes (2003), ele pode ser dividido em:
• Cerradão: com predomínio do porte arbóreo;
• Cerrado senso estrito ou cerrados típicos: com árvores espaçadas, arbustos e vegetação rasteira;
• Campos de cerrado: com predomínio de arbustos e vegetação rasteira.
Metros
15
Campo limpo Campo sujo Campo cerrado Cerrado senso Cerradão
estrito
10
Os solos das áreas de cerrado são pobres em macronutrientes e considerados ácidos, pela grande concentração de micro-
nutrientes, o que dificultou o uso da área até a década de 1970. Somente após a criação da Embrapa, em 1975, novas técnicas
foram desenvolvidas no sentido de melhorar as condições químicas do solo, promovendo neutralização do pH e adubação com
reposição de sais minerais. O desenvolvimento de técnicas contribui para a intensificação da degradação da vegetação de cerrado,
com a substituição da cobertura vegetal original por lavouras agrícolas.
283
Geografia
Caatinga
Encontrada principalmente na região Nordeste, a vegeta-
ção se desenvolve em áreas de atuação de clima semiárido.
A caatinga apresenta predomínio de porte herbáceo, sendo que,
em algumas áreas, o porte arbustivo se concentra de maneira
significativa, formando o chamado caatingão. Caracteriza-se
por predomínio de vegetação xerófita – adaptada a regiões de
baixos índices pluviométricos –, tem baixa densidade vegetal,
folhas coriáceas com comportamento decíduo e algumas vege-
tações com folhas em forma de espinhos, de maneira a reduzir
a perda de água pelo vegetal.
Apresenta grande biodiversidade, favorecida pelas elevadas
O cerrado é o segundo maior bioma do território brasileiro médias térmicas, o que possibilita o desenvolvimento de meios
babisantiago.blogspot.com. favoráveis a um número maior de espécies. Apesar disso,
Nas áreas de cerrado verificam-se as vegetações de mata o desenvolvimento vegetal é limitado pelos baixos índices
galeria ou mata ciliar e, também, a vegetação de veredas. As pluviométricos da região. A vegetação da região apresenta
matas ciliares e matas galerias acompanham as redes hidrográ- certa adaptação às condições de baixa precipitação, criando
ficas, promovendo a proteção delas, através da interceptação condições para a manutenção do vegetal durante os períodos
dos sedimentos que promovem o processo de assoreamento. mais críticos. Dessa forma, o aspecto físico dos vegetais é
Esses vegetais apresentam diferenças de densidade, sendo a muito parecido, o que sugere aparente baixa biodiversidade,
mata galeria mais densa e fechada que a mata ciliar. As áreas porém a diversidade dos vegetais é de fato significativa. Vivem
próximas da rede hidrográfica favorecem o desenvolvimento nesse bioma cerca de 1,2 mil espécies de plantas, sendo 360
das duas formações vegetais devido à maior umidade do delas endêmicas, e outras tantas de mamíferos, aves, répteis
solo e à fertilização natural promovida pelo alagamento pe- e anfíbios.
riódico das áreas de várzea. Dessa forma, disponibilizam-se Os maiores problemas enfrentados pela região são a salini-
para a formação vegetal os elementos necessários para o seu zação do solo e a desertificação de grandes áreas. Estima-se
desenvolvimento – água e macronutrientes. que, no decorrer dos últimos 15 anos do século passado, 40 mil
quilômetros quadrados de caatinga tenham se transformado em
áreas de desertificação. Alguns dos responsáveis por isso são a
exploração da vegetação para a produção de lenha e carvão, a
contaminação do solo por agrotóxicos e o emprego de técnicas
de irrigação inadequadas para o tipo de solo existente ali – raso
e sujeito a grande índice de evaporação. Estima-se que cerca
de 50% do bioma já tenha sofrido algum tipo de deterioração
e que 20% esteja completamente degradado.
Buriti é uma árvore palmácea encontrada no cerrado Caatinga, vegetação encontrada no sertão nordestino
mildias.com. www.zoologiarn.hpg.ig.com.br
284
Biomas brasileiros
285
Geografia
Mas a maior ameaça sobre esse bioma parte, mais uma vez, A) de mata Atlântica, além de possuir uma grande varie-
da agropecuária: as queimadas para renovação das pastagens, dade de vegetações latifoliadas, possui solos muito
a contaminação das águas e do solo por pesticidas e a introdu- férteis e profundos, resultado das fortes oscilações
ção de espécies exóticas de capim. O turismo desorganizado, térmicas diurnas.
bem como a caça e a pesca predatórias, completam o arsenal B) das Araucárias, ainda preservado na Região Sul,
agressor. Apesar desse quadro ameaçador, ainda é o bioma especialmente na chamada Campanha Gaúcha,
mais preservado do Brasil. encontra-se consorciado com várias espécies, visto
a abundância de solos ricos em húmus.
Vegetação litorânea C) da mata dos Cocais, que separa o domínio amazônico
Encontrada por toda o litoral brasileiro, essa vegetação utili- do domínio da caatinga, possui nas palmeiras como
za-se da umidade produzida pelo oceano como fonte vital. Por a carnaúba e o babaçu seus grandes representantes.
ser composta de restinga, que se desenvolve nas areias litorâ- D) do Pantanal Mato-grossense, extensa planície drena-
neas, e pela vegetação de Mangues, essa formação é também da pelo rio Paraná, possui uma grande heterogenei-
chamada de vegetação complexa. O Mangue caracteriza-se dade de vegetais, mesclando características de todos
pelo predomínio de porte arbustivo e arbóreo e vegetação os domínios naturais brasileiros.
halófita – adaptada à condições de extrema salinidade. São E) dos manguezais apresentam uma pequena varieda-
áreas propícias à de reprodução de peixes marinhos e fluviais. de de espécies vegetais, em virtude dos seus solos
salinos e pobres em oxigênio, fatores que acarretam
pouca importância desses domínios para o ecossis-
tema marinho e costeiro.
286
Biomas brasileiros
3. (Unifor - 2014) Se a exploração descontrolada e predató- 5. (Fuvest – 2018) Observe os mapas referentes à de-
ria de madeira verificada atualmente continuar por mais limitação da bacia hidrográfica do rio Xingu, com o
alguns anos, pode-se antecipar a extinção de diversas detalhamento da parte sul, onde fica o Parque Indígena
espécies de árvores nativas da floresta amazônica. do Xingu (PIX).
Tal espécie de vegetação já desapareceu de extensas
áreas do Pará, de Mato Grosso, de Rondônia, e há
indícios de que a diversidade e o número de indivíduos
existentes podem não ser suficientes para garantir a
sustentabilidade de trechos da floresta. A diversidade
é um elemento fundamental na sobrevivência de qual-
quer ecossistema. Com relação ao problema descrito
no texto, assinale a alternativa correta.
A) O desinteresse do mercado madeireiro internacional
pela madeira contribuiu para a redução da explora-
ção predatória de diversas espécies de árvores da
floresta amazônica.
B) O surgimento de áreas destinadas à pastagem
de animais contribuiu para a redução do ritmo de
desmatamento da floresta amazônica.
C) As causas naturais decorrentes das mudanças cli-
máticas globais contribuem mais para a extinção das
árvores da floresta do que a interferência humana.
D) A extração predatória de madeira pode reduzir o
Com relação às áreas delimitadas nos mapas, está
número de espécies de árvores nativas da floresta
correto o que se afirma em:
amazônica e prejudicar sua diversidade genética.
E) A redução do número de árvores ocorre na mesma A) Devido ao avanço do desmatamento nessa bacia
medida em que aumenta a diversidade biológica da hidrográfica nas últimas quatro décadas, processo
floresta região amazônica. iniciado pela atividade pecuária ao longo dos rios e
seguido pelo avanço da monocultura de eucalipto,
4. (UEFS BA – 2017) A natureza é uma totalidade onde inviabilizam-se quaisquer ações de recuperação e
todos, dependem de todos. Essa totalidade é o re- de conservação do bioma Amazônico.
sultado de combinações das condições necessárias
para que as espécies obtenham energia e participem B) O Parque Indígena do Xingu, criado principalmente
das interações biológicas em seus nichos. (CONTI; para proteger diversas etnias indígenas, atua hoje
FURIAM. 2011. p. 21). como inibidor do avanço do desmatamento, função
esperada para as diversas unidades de conservação
Considerando o excerto e os conhecimentos sobre
as formações fitogeográficas do Brasil, marque V nas previstas pelo Sistema Nacional de Unidades de
afirmativas verdadeiras e F, nas falsas. Conservação.
( ) A Mata Atlântica também recebe o nome, nas C) Dentre as grandes bacias hidrográficas amazônicas,
áreas mais úmidas, de floresta latifoliada úmida a bacia hidrográfica do rio Xingu, na disposição
de encosta, devido à umidade que recebe da leste-oeste, é uma das bacias da margem esquer-
Massa Tropical Atlântica ou dos ventos alísio da do rio Amazonas com importante conectividade
de sudeste. entre dois biomas brasileiros: a Caatinga e o bioma
( ) O Cerrado é um domínio vegetal nativo do Brasil Amazônico, ambos biológica e geologicamente
Central, apresentando vegetais tropófilos e vários diversos.
aspectos ou fisionomias. D) O desmatamento, observado no mapa, é resultado
( ) O domínio da vegetação herbácea ou campo é da monocultura de babaçu, praticada pelos indí-
encontrado em várias porções do país, sempre genas que extraem seu óleo e vendem-no para
associado às elevadas altitudes e à degradação indústrias de cosméticos.
dos solos, formando areais. E) O avanço do desmatamento nessa área deve-se às
( ) A vegetação do Pantanal é considerada com- monoculturas de cana-de-açúcar e laranja, ambas
plexa, porque apresenta espécies das florestas, cultivadas com variedades transgênicas adaptadas
dos campos e dos cerrados, estando localizada ao bioma Amazônico.
em uma área de planície sedimentar drenada
pelo rio Paraguai. Gabarito
( ) A Mata de Araucária, das florestas brasileiras, é a
1. C
única localizada em clima temperado, razão pela
qual apresenta vegetais higrófilos, latifoliados e 2. B
caducifólios. 3. D
A alternativa que apresenta a sequência correta, 4. C
de cima para baixo, é a
5. B
A) F V F F V D) V F V V F
B) F V V F V E) F F V F V
C) V V F V F
287
Capítulo 13
288
Estudo das populações
0
etapas O segundo período da segunda fase caracteriza-se pela
1ª fase
1750 1º período 1870 2º período 1950 3ª fase diminuição gradativa da taxa de natalidade:
da 2ª fase da 2ª fase
• com a evolução do processo de industrialização, o
Fonte: LUCCI, Elian Alabi; BRANCO, Anselmo Lazaro; MENDON- trabalho infantil foi proibido e os filhos deixaram de ser
ÇA, Cláudio. Território e Sociedade no mundo globalizado. Geo-
grafia geral e do Brasil. São Paulo: Saraiva, 2005, pág. 317.
vantajosos para o rendimento da família;
• elevado custo econômico de criação dos filhos no meio
Primeira fase urbano;
A principal característica dessa fase é o baixo crescimento
vegetativo da população, determinado pelas elevadas taxas
• maior inserção da mulher no mercado de trabalho, o
que gera a necessidade de que as mães deixem os
de natalidade e mortalidade.
filhos em creches ou com empregadas, dificultando a
As elevadas taxas de natalidade desse contexto devem-se
existência de um número elevado de filhos por família.
aos seguintes fatores:
Nesse período, os principais meios contraceptivos utili-
• não existiam métodos contraceptivos eficazes no con-
trole da natalidade; zados atualmente – camisinha e pílula – ainda não haviam
sido desenvolvidos. O que se pode destacar como método
• os filhos eram considerados mão de obra. Sendo assim,
quanto maior o número de filhos, maior seria a dispo- utilizado no contexto é a tabelinha, que se desenvolveu a partir
nibilidade de trabalhadores futuramente. da evolução da medicina, já que esta compreendia melhor o
Já as elevadas taxas de mortalidade desse contexto funcionamento do corpo humano.
explicam-se por: A queda da taxa de mortalidade desse contexto deve-se
• baixo desenvolvimento da medicina; aos seguintes fatores:
• dificuldades de acesso aos médicos, já que a maior • maior desenvolvimento da medicina;
parte da população habitava a zona rural; • maior acesso aos médicos pela maior proximidade dos
• ausência de saneamento básico (composto por água centros de saúde, já que a população é significativa-
encanada, escoamento sanitário, coleta de lixo e limpeza mente urbana nesse contexto;
urbana) e de higiene pessoal e familiar, permitindo a pro-
pagação de doenças como diarreia, cólera, entre outras. • melhoria das condições de saneamento básico.
É interessante ressaltar que as elevadas taxas de morta- Terceira fase
lidade incidiam, principalmente, sobre as crianças, por terem
A principal característica dessa fase é o baixo crescimento
uma defesa imunológica mais restrita. Como a morte das
vegetativo, determinado pelas baixas taxas de natalidade e
crianças acabava gerando o sentimento de necessidade de re-
mortalidade.
posição da mão de obra, a taxa de natalidade era estimulada.
A baixa expectativa de vida – em torno de aproximada- Nessa fase, verifica-se a continuação da redução da na-
mente 40 anos – determinava a não participação da popu- talidade, processo iniciado na segunda fase, e o aumento da
lação idosa, concentrando as altas taxas de mortalidade na taxa de mortalidade, devido ao envelhecimento da população.
população jovem.
289
Geografia
Os países desenvolvidos e países que foram socialistas, em grande maioria, possuem uma terceira fase avançada, indican-
do a configuração de uma quarta fase do processo de transição demográfica. Esse novo período da evolução populacional é
caracterizado pela implosão demográfica, ou seja, fase em que o crescimento vegetativo é negativo, levando a uma diminuição
da população total em números absolutos. Observe na tabela (a seguir) os países que vivenciam tal processo.
A diminuição absoluta da população de alguns desses países ocorre devido a uma baixa taxa de natalidade, que não
alcança a taxa de fecundidade de 2,1 filhos por mulher, denominada taxa de reposição. Reforçando esse comportamento da
população em idade de reproduzir, a proporção elevada de idosos contribui ainda mais para a redução da taxa de natalidade,
considerando que geralmente o idoso não se reproduz. Como os idosos estão mais propícios ao falecimento, elevam-se as
taxas de mortalidade.
NÚMERO DE 8 Níger
Uganda América Latina
7 Mali Serra Leoa
FILHOS POR Angola África Subsaariana
6 Chade Benin Zâmbia
MULHER 5 Senegal
Togo
Guatemala
Oriente Médio e
Gana África do Norte
4 Nepal
Paquistão
Egito
ARS Bolívia
Omã Ásia e Pacífico
3 Índia
Nigéria Turquia
Peru BRASIL Argentina
A implosão demográfica se torna um problema para os países que a vivenciam, pois a população é fundamental para a
manutenção de uma economia fortalecida. Para os países que apresentam esse processo, a dificuldade de reposição da mão
de obra é significativa e, em alguns momentos, é necessário incentivar a entrada de imigrantes para a realização de tarefas
que a população local não se interessa em realizar, favorecendo a manutenção do ritmo de crescimento econômico.
Além da dificuldade de reposição da mão de obra, outro problema é o processo de perda de identidade da população, já
que elementos culturais e linguísticos são repassados a um número menor de indivíduos. Esse problema se torna maior com
a chegada do imigrante, que geralmente traz consigo uma língua, uma religião e hábitos diferenciados dos da população local.
Um exemplo de implosão demográfica avançada é a Rússia, que perde uma parcela significativa da população a cada ano.
290
Estudo das populações
Faixas
Homens etárias Mulheres
+ de 100
95 - 99
90 - 94
85 - 89
80 - 84
75 - 79
70 - 74
65 - 69
60 - 64
55 - 59
50 - 54
45 - 49
40 - 44
35 - 39
30 - 34
25 - 29
20 - 24
15 - 19
10 - 14
5-9
0-4
7 6 5 4 3 2 1 0 0 1 2 3 4 5 6 7
Milhões de pessoas Milhões de pessoas
25
20
Taxa de mortalidade
15 (média anual)
Crescimento natural Decréscimo
10 Taxa de natalidade
(média anual)
5
5 0 5 0 5 0 0 5 0 5 0 5 0
95 6 6 70 75 8 8 9 95 00 05 1 1 20 25 3 3 4 4 5
0 -1 -19 -19 -19 -19 -19 0-19 -19 -19 -20 -20 -20 -20 -20 -20 -20 -20 5-20 0-20 5-20
5 5 6 5 0 5 0 5
7 8 8 5 0 5 0 5
0 1 0 5 0 5 0
2 3 3 4 4
19 19 19 196 197 19 19 19 199 199 200 20 20 201 202 20 20 20 20 20
TERRA, Lygia; ARAUJO, Regina; GUIMARÃES, Raul Borges. Conexões: Estudos de Geo-
grafia Geral e do Brasil. São Paulo: Moderna, 2008, pág. 311.
291
Geografia
292
Capítulo 14
293
Geografia
extremamente rígidas e autoritárias. É possível perceber, pelas Fundamental completo e médio incompleto 2,54
imagens a seguir, propagandas governamentais de incentivo Médio completo e superior incompleto 1,34
à redução da taxa de fecundidade.
Superior completo 1,14
Estrutura populacional
A população é dividida de acordo com faixas etárias e
sexos. Essa distribuição é de extrema importância para
Campanha pelo controle da natalidade na Índia. o governo, pois possibilita a visualização da participação
de cada faixa etária na população total, o que possibilita
determinar também qual política pública – educação infantil,
previdência social, criação de novos empregos – necessita
de maiores investimentos para atender às demandas
populacionais.
A distribuição das faixas etárias geralmente se faz da
seguinte forma:
• População jovem: até 19 anos.
• População adulta ou madura: de 20 a 59 anos.
• População idosa ou senil: acima de 60 anos.
De acordo com a distribuição etária da população, o país
Cartaz na China apregoando o controle da nata- pode ser classificado em:
lidade e o ideal de uma família pequena.
• Jovem: quando possui mais de 50% da população total
VESENTINI, J. Willian. Sociedade e Espaço: Geografia ge-
na faixa etária dos jovens.
ral e do Brasil. São Paulo: Ática, 2003, pág. 217.
• Maduro: quando possui mais de 50% da população
O Brasil não adotou a política de planejamento familiar de total na faixa etária dos adultos.
maneira explícita. Apesar de medidas antinatalistas serem
• Em transição: quando não possui nem 50% de jovens
desenvolvidas a partir de 1970, o governo não se denominava e nem 50% de adultos.
antinatalista por pressão da Igreja Católica. Como a religião
A tabela a seguir exemplifica a classificação de alguns
não apoiava o uso de métodos contraceptivos, o governo
países:
brasileiro preferiu evitar um confronto ideológico direto, o que
dificultou o controle do crescimento populacional.
294
Teorias demográficas e estrutura populacional
Países Em Países
“Maduros” Transição “Jovens”
Para analisar de maneira mais facilitada a distribuição da população, por faixas etárias e por sexo, utiliza-se um gráfico
denominado pirâmide etária. Esse gráfico nos mostra a proporção a que cada faixa etária, masculina ou feminina, corresponde
em relação à população total.
Na pirâmide a seguir, é possível perceber, à direita, a distribuição das mulheres e, à esquerda, a distribuição dos homens.
Cada barra corresponde a uma faixa etária específica e, no eixo horizontal, encontra-se a proporção que cada uma representa
em relação ao todo das populações masculina e feminina.
A pirâmide etária é um gráfico que normalmente trabalha com proporção. Sendo assim, se não for fornecido o dado, o
gráfico demonstrará apenas proporção, e não a população absoluta.
A base da pirâmide demonstra a população jovem de um determinado local, sendo que, quanto maior for sua proporção
de jovens, mais larga será a base da pirâmide.
A população adulta, que geralmente representa a população economicamente ativa, é demonstrada pelo corpo da pirâmide.
Pirâmide etária do Brasil (2010)
Razão do sexo (Homens/Mulheres): 0,959
100 anos e mais N° médio de moradores por domicílios: 3,3
95 a 99 anos
90 a 94 anos
85 a 89 anos
80 a 84 anos
75 a 79 anos
70 a 74 anos
65 a 69 anos
60 a 64 anos
55 a 59 anos
50 a 54 anos
45 a 49 anos
40 a 44 anos
35 a 39 anos
30 a 35 anos
25 a 29 anos
20 a 24 anos
15 a 19 anos
10 a 14 anos
5 a 9 anos
0 a 4 anos
Homens Mulheres
Disponível em: http://www.censo2010.ibge.gov.br. Acesso em: 19 dez. 2018.
Já a população idosa é demonstrada pelo topo ou ápice da pirâmide. Quanto maior for a população idosa de um determinado
local, mais largo será o topo de pirâmide.
295
Geografia
Países em desenvolvimento
Argélia México
Homens Mulheres Homens Mulheres
70 ou +
70 ou +
65-69 65-69
60-64 60-64
55-59 55-59
50-54 50-54
45-49 45-49
40-44 40-44
35-39 35-39
30-34 30-34
25-29 25-29
20-24 20-24
15-19 15-19
10-14 10-14
5-9 5-9
% 0-4 % % 0-4
%
14 12 10 8 6 4 2 0 0 2 4 6 8 10 12 14 12 10 8 6 4 2 0 0 2 4 6 8 10 12
Países desenvolvidos
Estados Unidos França
Homens Mulheres Homens Mulheres
70 ou + 70 ou +
65-69 65-69
60-64 60-64
55-59 55-59
50-54 50-54
45-49 45-49
40-44 40-44
35-39 35-39
30-34 30-34
25-29 25-29
20-24 20-24
15-19 15-19
10-14 10-14
5-9 5-9
% 0-4 % % 0-4
%
10 8 6 4 2 0 0 2 4 6 8 10 12 10 8 6 4 2 0 0 2 4 6 8 10 12 14 16
Ao compararmos as pirâmides de países em desenvolvi- Porém, é interessante ressaltar que, no Brasil, a segunda
mento e de países desenvolvidos, podemos perceber clara- fase da transição demográfica foi desencadeada pelo seu
mente a diferença entre elas. Como os países desenvolvidos desenvolvimento industrial e urbano, o que só ocorreu a
já alcançaram a terceira fase da transição demográfica, as partir de 1950. Nesse contexto, as taxas de crescimento
taxas de natalidade são extremamente baixas, demonstradas vegetativo eram altíssimas, sendo a população jovem a mais
pela base estreita da pirâmide. Contrariamente, os países representativa.
em desenvolvimento ainda vivenciam a segunda fase da A partir da década de 1970, as taxas de crescimento ve-
transição demográfica, o que já implica uma queda na taxa getativo começam a declinar, principalmente, em função do
de natalidade, porém as taxas ainda são elevadas, como é desenvolvimento da pílula contraceptiva, das mudanças de
demonstrado pela base da pirâmide. valores decorrentes da urbanização brasileira e da ampliação
O grande problema das elevadas taxas de natalidade, em da participação feminina no mercado de trabalho.
uma visão neomalthusiana, é o fato de a população jovem Analise as pirâmides a seguir:
representar um encargo econômico-social para os adultos. Brasil: pirâmide etária (1970)
A população economicamente ativa, geralmente represen-
tada pela população adulta, é responsável pelo sustento
da população jovem, que teoricamente não trabalha. Dessa
forma, quanto maior for a população de jovens, maior será
o gasto com essa faixa etária realizado pela população eco-
nomicamente ativa.
Países desenvolvidos proporcionam serviços médico-
-sanitários de melhor qualidade à população. Sendo assim,
conseguem alcançar elevadas taxas de expectativa de vida,
possuindo uma grande proporção de idosos. Essa infor-
mação pode ser visualizada na pirâmide etária através do Brasil: pirâmide etária (2010)
alargamento do seu topo. Nos países em desenvolvimento,
é possível perceber um início de alargamento do topo da
pirâmide, principalmente pela importação e pela implantação
de políticas médico-sanitárias, que elevam a expectativa de
vida da população.
Pirâmide brasileira
O Brasil vive atualmente o final da segunda fase da
transição demográfica, o que implica uma redução do ritmo
do crescimento populacional, com a diminuição da taxa de
natalidade e um aumento da expectativa de vida. Fonte: IBGE
296
Teorias demográficas e estrutura populacional
É possível perceber a redução da base da pirâmide – o que demonstra a diminuição proporcional da população jovem, em
função da redução da taxa de natalidade – e o alargamento do topo da pirâmide, que demonstra o aumento proporcional da
população idosa decorrente do aumento da expectativa de vida.
O gráfico seguinte demonstra a evolução populacional descrita acima:
Projeção de crescimento da participação relativa da população por grupos de idade – Brasil 2005-2030
%
50
45
40
35
30
25
20
15
10
0
0 a 4 anos 5 a 9 anos 10 a 14 anos 15 a 29 anos 30 a 59 anos 60 a 69 anos 70 anos
e mais
O aumento do número de idosos, por um lado, é positivo, Expectativa de vida (comparação entre países por
pois é indício de melhorias nas condições médico-sanitárias, média de idade) – 2016
porém, por outro lado, apresenta-se como um problema para
País Homens Mulheres
o sistema capitalista. Os idosos necessitam de serviços e
Japão 81,1 87,1
atendimentos específicos, que precisam ser ampliados.
Suécia 80,6 84,1
A análise das pirâmides, com destaque para a de 2006,
Itália 80,5 84,9
permite constatar que a expectativa de vida feminina é maior
que a expectativa de vida masculina. Essa variação permite Alemanha 78,7 83,3
ser compreendida pelos seguintes fatores: Estados Unidos 76 81
México 74 79,2
• o trabalho masculino tende a ser mais desgastante
fisicamente, apesar de atualmente as mulheres parti- China 75 77,9
ciparem mais do mercado de trabalho; Arábia Saudita 73,5 76,5
• os hábitos de bebida e fumo são mais comuns entre Turquia 73,3 79,4
os homens, o que tende a torná-los mais vulneráveis a Brasil 71,4 78,9
doenças cardíacas e respiratórias; Egito 68,2 73
• os homens se envolvem mais em acidentes de carro Nepal 68,8 71,6
do que as mulheres; Índia 67,4 70,3
• o aumento de mortes por causas violentas relacionadas Rússia 66,4 77,2
com o aumento do crime organizado incidiu principal- Haiti 61,3 65,7
mente sobre a população masculina;
Sudão 63,4 66,9
• a mulher possui maior preocupação com a saúde, o África do Sul 60,2 67
que tende a facilitar a descoberta precoce de doenças.
Costa do Marfim 53,6 55,7
Serra Leoa 52,5 53,8
Organização Mundial de Saúde, 2018.
297
Geografia
298
Capítulo 15
Distribuição da população segundo os setores
da economia
O estudo da distribuição populacional segundo os setores seja, que possuem mais de 50% da população na faixa etária
da economia é importante para avaliar a conjuntura econômi- dos adultos, a percentagem atinge cerca de 60% do total.
ca de um país e fornecer informações para um planejamento Em uma visão neomalthusiana, o país jovem terá uma
econômico e social adequado. maior dificuldade de desenvolvimento, já que a população
Entende-se como população economicamente ativa (PEA) economicamente ativa é menos significativa, logo haverá
as pessoas que trabalham em atividades remuneradas, bem uma tendência à menor produção de renda e ainda a neces-
como a população que não possui trabalho no momento, sidade de sustentar os jovens, que representam um encargo
porém que está empenhada na conquista de uma atividade econômico e social para os adultos.
remunerada. Dessa forma, a população economicamente
ativa é o mesmo que força de trabalho, ou seja, a população Os setores de atividades econômicas
disponível para o mercado de trabalho. A população economicamente ativa distribui-se em quatro
Entende-se como população economicamente ativa (PEA), setores de atividades:
pessoas que trabalham em atividades remuneradas, bem • Setor Primário: inclui a agricultura, a pecuária e o
como a população que não possui trabalho no momento, mas extrativismo, que, por sua vez, divide-se em mineral
que está empenhada na conquista de uma atividade remune- (Ex.: minério de ferro), vegetal (Ex.: carnaúba) e animal
rada. Dessa forma, a população economicamente ativa é o (Ex.: pesca).
mesmo que força de trabalho, ou seja, a população disponível • Setor Secundário: inclui a atividade que abrange as
para o mercado de trabalho. Denomina-se população não indústrias, responsável pela transformação da matéria
economicamente ativa (PNEA), pessoas que não trabalham e prima através do uso de maquinário.
não estão empenhadas em encontrar um emprego (crianças, • Setor Terciário: inclui as atividades de prestação de
estudantes que não trabalham, donas de casa, aposentados, serviços (Ex.: bancos, transportes, etc.) e comércio.
pessoas impossibilitadas de trabalhar etc). • Setor Quaternário: inclui o desenvolvimento da tecnolo-
No Brasil a população economicamente ativa representa gia que será utilizada por todos os setores da economia.
aproximadamente 50% do total, como pode ser percebido Apesar de classificado como setor da economia, o quater-
no gráfico a seguir. nário é mais expressivo em países desenvolvidos, que reúnem,
de maneira mais significativa, os fatores que contribuem para a
produção da tecnologia: mão de obra especializada e capital.
As modificações de uma economia contribuem para a
redistribuição da população economicamente ativa pelos
setores de atividades.
Entre os fatores que causam alterações na estrutura da po-
pulação segundo os setores de produção, podem-se destacar:
• Industrialização: a oferta de trabalho nas indús-
trias impulsiona o êxodo rural (migração definitiva
do campo para a cidade) e, consequentemente, a
urbanização. Dessa forma, aumenta a participação
da população nos setores secundário, relacionada
com o crescimento industrial, e terciário, relacionado
com o crescimento urbano.
• Urbanização: o crescimento das cidades, que nem
sempre se relaciona com o processo de industrializa-
ção, promove uma maior participação da população
Fonte: IPEA/IBGE
no setor terciário.
A população economicamente ativa de um país é geral- • Modernização do setor primário: a maior utilização
mente composta pela população adulta. Porém, existem de tecnologia nas atividades do campo, por exemplo
exceções, já que o trabalho infantil ainda é uma realidade a mecanização da agricultura, promove o desempre-
em diversas partes do mundo, da mesma maneira que a go estrutural rural e a consequente liberação de mão
população idosa participa, parcialmente, da geração de renda. de obra para as cidades.
Em países considerados jovens, ou seja, que possuem Para a melhor compreensão da distribuição populacional
mais de 50% da sua população composta por jovens, a por setores da economia, segundo os grupos de países,
porcentagem de população ativa sobre o total de habitantes analise a tabela a seguir.
varia de 30% a 40%. Já nos países considerados maduros, ou
299
Geografia
Distribuição da população economicamente ativa de alguns países por setores de produção (2000)
Setores
Países
Primário Secundário Terciário
Países Subdesenvolvidos
Etiópia (2013) 72,7% 7,4% 19,9%
Camboja (2013) 48,7% 19,9% 31,6%
Afeganistão (2017) 44,3% 18,1% 37,6%
Moçambique (2015) 74,4% 3,9% 21,7%
Países Desenvolvidos
Alemanha (2016) 1,4% 24,2% 74,4%
EUA (2009) 0,6% 20,3% 79,1%
Japão (2015) 2,9% 26,2% 70,9%
França (2016) 2,8% 20,0% 77,2%
Países em desenvolvimento
Brasil (2017) 9,4% 32,1% 58,5%
Argentina (2017) 5,3% 28,6% 66,1%
Rússia (2016) 9,4% 27,6% 63,0%
Coreia do Sul (2017) 4,8% 24,6% 70,6%
África do Sul (2014) 4,6% 23,5% 71,9%
Fonte: CIA/The World Factbook
Esses dados nos permitem identificar que nos países XX – e recebeu indústrias consideradas obsoletas nos países
desenvolvidos a participação da população economicamente desenvolvidos.
ativa no setor primário é extremamente reduzida, uma vez O parque industrial dos países em desenvolvimento é
que esse setor utiliza grande volume de maquinário e, por menor se comparado ao dos países desenvolvidos, mas
isso, dispensa a população dessa atividade – desemprego necessita de mais trabalhadores, em função do menor uso
estrutural. Ainda em relação a esses países, é possível de tecnologia. Isso explica uma distribuição de população
perceber parte significativa da população atuando no setor economicamente ativa semelhante entre os dois grupos de
secundário, que é bastante industrializado, Mas também com países.
tendências à redução, devido à automatização crescente das
Nos países em desenvolvimento, o setor terciário absorve
indústrias e à concentração da maior parte da população no
a maior quantidade de mão de obra. Essa distribuição ocorre
setor terciário.
pelo fato de a população não ter oportunidades de emprego
Mesmo apresentando um parque industrial com alto grau significativas nos demais setores da economia e pela urba-
de modernização, composto principalmente por indústrias de nização acelerada vivida nesses países.
ponta, o grande número de indústrias garante o emprego de
No Brasil, o setor primário apresenta uma diminuição do
uma parcela significativa da população.
emprego de mão de obra braçal, mas um aumento na quali-
Em relação ao setor terciário, pode-se observar que a ficação dos trabalhadores. O setor secundário, que tem dimi-
maior parte da população se concentra nessas atividades nuído sua participação no país, não oferece vagas de maneira
em razão do grande desenvolvimento econômico do país. significativa desde o final da década de 1970. Dessa forma,
Como os setores primário e secundário são fortemente de- a população se concentra nas atividades do setor terciário.
senvolvidos, o setor terciário foi impulsionado positivamente
Não havendo empregos formais suficientes, ocorre uma
a crescer. Os produtos do primário e do secundário são
hipertrofia do setor terciário, ou seja, o setor cresce desme-
comercializados no terciário. É interessante ressaltar ainda
didamente. Dessa forma, cria-se uma economia informal,
que os países que possuem o setor terciário desenvolvido
representada pelo vendedor ambulante, pelo camelô, pelo
são fortemente urbanizados.
guardador de carro. É o exemplo típico da situação de de-
O índice de distribuição da população economicamente semprego e de subemprego.
ativa dos países em desenvolvimento, como o Brasil, tem
Nos países subdesenvolvidos a participação da mão de
se distanciado da condição dos países subdesenvolvidos e
obra se concentra nas atividades do setor primário, principal-
se aproximado da distribuição de mão de obra nos países
mente na agropecuária. Nesse caso, a agricultura apresenta
desenvolvidos. A modernização na agricultura, com a meca-
baixa produtividade por trabalhador e exige uma mão de obra
nização de boa parte da produção, faz diminuir a participação
numerosa. A industrialização é reduzida e conta com menor
dos trabalhadores neste setor.
quantidade de trabalhadores, limitando-se às indústrias de
Os dados de distribuição do setor secundário para os bens de consumo não duráveis, como alimentos, calçados,
países em desenvolvimento também se assemelham com a tecidos, confecções etc. O setor terciário conta com partici-
distribuição dos países desenvolvidos. Os dados semelhantes pação reduzida da população, por contarem com índices de
desses dois grupos de países sugerem uma mesma expli- urbanização menores do que em relação aos países desen-
cação, mas os motivos são distintos. O grupo de países em volvidos e em desenvolvimento.
desenvolvimento viveu uma industrialização tardia – século
300
Distribuição da população segundo os setores da economia
Trabalho informal
Nos países em desenvolvimento, parte das atividades econômicas, com o destaque para o setor terciário, é composta pela
economia informal ou subterrânea. Entende-se por economia informal o conjunto de atividades não registradas legalmente
– ignoradas nos números oficiais que indicam o desempenho da economia, como o PIB (Produto Interno Bruto) – e que não
sofrem qualquer espécie de tributação.
O problema da informalidade na economia se relaciona diretamente com o desemprego, aumentando, praticamente na
mesma proporção. A grande concentração de renda reforça a informalidade, já que a tendência é que se tenha um investi-
mento significativo no capital especulativo, desfavorecendo a criação de empregos. Segundo a Organização Internacional do
Trabalho, existem no mundo mais de 300 milhões de trabalhadores informais, dos quais mais de 37 milhões são brasileiros.
A renda gerada pelo circuito informal influencia diretamente a economia formal, na medida em que boa parte desses rendimentos
é gasta com o consumo de produtos fabricados por empresas que funcionam legalmente. Mas parte do dinheiro arrecadado dessa
forma é transformada em dólares e enviada para o exterior, por exemplo, como pagamento de produtos falsificados.
Além disso, o setor informal constitui uma saída para a fragilidade econômica de vários países, incapazes de gerar renda
ou empregos suficientes para o atendimento de toda a população disponível para o trabalho. Alguns economistas sustentam
que, sem a economia informal, o número de pessoas sem nenhuma renda seria ainda maior. No Brasil, a economia informal
envolve boa parte da população.
43,8
40,9 40,8
IBGE.
301
Geografia
A participação da mulher no mercado de trabalho aumenta a cada ano, mas ainda está longe de igualar-se à masculina,
especialmente em rendimentos. Essa desigualdade, que é histórica, é reforçada por estereótipos que inferiorizam a mulher
ou, até mesmo, por questões biológicas, como a menstruação, a gravidez e a amamentação.
Parte do rendimento
feminino em relação
ao masculino (%)
menos de 30
de 30 a 50
de 51 a 60
de 61 a 70
de 71 a 90
sem dados
PNUD, 2009.
Mesmo com a crescente absorção da mão de obra feminina no mercado de trabalho, é possível perceber uma participação
marginal da mulher. O trabalho feminino tornou-se dominante nas atividades que, de modo geral, apresentam menor exigência
de qualificação e que, por isso, oferecem menor remuneração, como os serviços domésticos, de educação e de saúde.
Essa desigualdade está sujeita a inúmeras exceções e se encontra em mudança. Há uma nítida tendência de redução do
desnível educacional entre homens e mulheres e, cada vez mais, a mão de obra feminina ingressa em ocupações que exigem
qualificação intermediária ou elevada.
Índice de participação feminina
de 0,507 a 0,135 (81º ao 109º) O índice de participação feminina (IPF) mede as desigualdades entre os gêneros masculino
e feminino no que diz respeito a três dimensões essenciais à autonomia: poder de decisão e
sem dados participação na economia, na política e controle sobre os recursos econômicos.
PNUD, 2009.
Exercícios
1. (EsPCEx – 2014) Segundo Melhem Adas (2004), com a venda de produtos a preços mais baixos que o custo de pro-
dução, a União Europeia foi uma das responsáveis pela regressão da agricultura de produtos alimentares básicos da
África Subsaariana, conduzindo esses países a uma situação crítica de insegurança alimentar ou de dependência de
importação.
A essa prática econômica chamamos especificamente de
A) protecionismo econômico
B) dumping
C) política de subsídios
D) desregulamentação econômica
E) neoliberalismo
302
Distribuição da população segundo os setores da economia
2. (EsPCex – 2012) Nos últimos anos, o Brasil tem rea- A perda sistêmica de competitividade da indústria
lizado um enorme esforço no sentido de ampliar sua nacional e a consequente queda de sua participação
participação no comércio internacional, buscando supe- na formação da riqueza nacional estão associadas,
rar os elevados custos de deslocamento que dificultam dentre outros:
a chegada dos seus produtos aos mercados externos. I. aos elevados custos de deslocamento dos produ-
Dentre as principais propostas de ação da atual política tos de exportação, em virtude do predomínio das
de transporte no País, pode-se destacar rodovias e da precária integração entre os modais
A) a completa substituição do sistema rodoviário, que de transporte.
é mais dispendioso, pelos sistemas hidroviário e II. à grande dispersão espacial da indústria brasileira
ferroviário. em regiões historicamente periféricas.
B) a construção de estações intermodais a fim de per- III. à baixa taxa de inovação da indústria brasileira, alia-
mitir a integração dos diferentes meios de transporte da ao fato de essa inovação estar mais relacionada
do País. à aquisição de máquinas e equipamentos do que
C) a construção de novas infraestruturas de circulação ao desenvolvimento de novos produtos.
urbana (pistas expressas, viadutos) com o propósito IV. aos inúmeros acordos bilaterais assinados pelo
de reduzir congestionamentos e valorizar a paisa- País, restringindo o número de seus parceiros co-
gem urbana das grandes cidades. merciais no mercado externo.
D) a eliminação do transporte de cabotagem com V. à fraca mecanização das operações portuárias de
vistas a reduzir os custos portuários e a intrincada embarque e desembarque e à intricada burocracia
burocracia administrativa. nos portos, provocando atrasos e congestionamen-
E) a redução da participação dos investimentos e do tos nas exportações.
controle do setor privado sobre o transporte rodovi- Assinale a alternativa que apresenta todas as afirma-
ário e sobre o setor portuário a fim de eliminar, por tivas corretas.
exemplo, os custos com pedágio. A) I, II e IV C) I, III e V E) III, IV e V
3. (EsPCex – 2014) Sobre o comércio exterior brasileiro, B) II, IV e V D) I, II e III
podemos afirmar que
5. (G1 - Col. Naval – 2014) Sabe-se que o número
I. no comércio mundial, o Brasil possui hoje a condição de pessoas vivendo fora de seu estado de origem
de Global Trader, estando, portanto, comprometido é crescente no Brasil e que o principal objetivo do
com os princípios do multilateralismo e do liberalis- deslocamento dessas pessoas é a busca de trabalho
mo no comércio mundial. e, consequentemente, melhores condições de vida.
II. a partir da metade da década de 1990, com o au- Sendo assim, sobre os principais fluxos migratórios
mento da participação de produtos básicos e semi- inter-regionais brasileiros ocorridos, pode-se afirmar
manufaturados na pauta de exportações brasileira, a que, entre os anos de
participação do Brasil nos fluxos comerciais globais A) 1930 e 1940, deram-se do Nordeste para o Sudes-
deu um salto para mais de 3% do total mundial. te, em função da decadência econômica daquela
III. enquanto na pauta de exportações brasileiras para região, agravada pela falta de projetos que atendes-
a União Europeia e Ásia predominam produtos pri- sem as populações oriundas de áreas mais pobres,
mários e semimanufaturados, os países do NAFTA como as do semiárido.
(Acordo de Livre Comércio da América do Norte) B) 1950 a 1970, ocorreram grandes deslocamentos de
e da América do Sul absorvem, principalmente, trabalhadores das regiões metropolitanas de São
produtos manufaturados do Brasil. Paulo e Rio de Janeiro para a Amazônia Ocidental,
IV. a redução das metas de crescimento da economia atraídos pelo garimpo de ouro e diAMANte, ampla-
chinesa é fato positivo para a economia brasileira, mente subsidiados pelo governo federal.
pois tende a abrir um espaço ainda maior para C) 1970 a 1990, verificou-se um crescimento popula-
nossas exportações de produtos básicos. cional expressivo no Sul, especialmente por parte
daquela população proveniente do Nordeste, a
V. o Mercosul responde por cerca de 40% das expor-
qual passou a se fixar em pequenas propriedades,
tações brasileiras, o que revela a forte dependência
produzindo gêneros de subsistência.
comercial do País em relação ao bloco e justifica o
aumento dos investimentos privados brasileiros nos D) 1900 a 1920, presenciou-se no Centro-Oeste forte
países do Mercosul. participação de grupos provenientes do Norte, os
quais se dedicaram às atividades ligadas à pecuária
Assinale a alternativa em que todas as afirmativas estão
intensiva e ao cultivo da soja, cuja produção estaria
corretas.
voltada para o consumo interno do país.
A) I e III C) II e V E) I, II e IV E) 1990 a 2000, deu-se do Sul para o Sudeste, espe-
B) III e V D) I, III e IV cialmente para as atividades ligadas ao cultivo de
cana-de-açúcar, uma vez que essa cultura agrícola
4. (EsPCex – 2015) “Desde 2007, o saldo comercial necessita de grande número de trabalhadores espe-
brasileiro vem apresentando tendência de queda, cializados para a execução do seu plantio.
puxada pelo mau comportamento do setor industrial,
e em consequência da perda da competitividade da Gabarito
economia brasileira”
1. B 3. A 5. A
(Fonte: oglobo.globo.com/opniao/comercioex-
terior – Consulta em 26/03/ 2015). 2. B 4. C
303
Capítulo 16
Os países classificados entre os tons rosa e vermelho possuem elevada desigualdade de renda.
Fonte: Banco Mundial.
Em 1989, o coeficiente de Gini atingiu um pico de 0,636. Depois disso, ele apresentou reduções quase constantes e chegou
a um valor mínimo de 0,414 em 2014. Em 2016 e 2017, o índice voltou a subir, alcançando 0,549, retomando ao patamar de
desigualdade obtido antes de 2005.
304
Indicadores sociais e migrações
305
Geografia
de povoamento do território brasileiro são exemplos de como esse fator foi essencial na produção do espaço geográfico.
• Econômicos: atualmente é o de maior importância na orientação do deslocamento populacional sobre o território. As
pessoas tendem a sair de locais em que as oportunidades de desenvolvimento econômico não são satisfatórias e se-
guirem para locais em que a oferta de serviços seja adequada.
• Guerras: áreas instáveis militarmente são áreas de repulsão populacional, forçando a migração para locais onde não
se tenha ameaça.
• Político-ideológico: a incoerência de ideias políticas entre alguns governos e seu povo impulsiona a migração da po-
pulação, que segue em busca de ideias semelhantes.
• Religiosos: a intolerância religiosa em alguns locais do globo força a população a migrar.
A associação principal entre os fatores econômicos e históricos favoreceu a seguinte distribuição populacional no território
brasileiro:
Belém
Manaus Fortaleza
Recife
Salvador
Rio de Janeiro
São Paulo
Porto Alegre
12.000 habitantes
É possível perceber a maior concentração populacional na região litorânea, o que evidencia uma desigual distribuição
espacial da população. O processo de colonização brasileira, que promoveu uma ocupação inicial do litoral, favoreceu o
desenvolvimento das principais atividades econômicas brasileiras nessa mesma faixa territorial. Atualmente, o Brasil vive uma
expansão dos seus espaços econômicos, principalmente para as regiões Centro-Oeste e Norte, mas ainda é evidenciada a
maior importância do litoral em relação às demais regiões brasileiras.
As migrações agrupam duas direções do movimento populacional, que se divide em:
• Emigração: ato de sair de um determinado local, que pode ser uma cidade, um estado, uma região ou um país.
• Imigração: ato de chegar a um determinado local, que pode ser uma cidade, um estado, uma região ou um país.
Também é possível dividir as migrações quanto ao espaço, elas podem ser internas ou nacionais e, ainda, externas ou
internacionais. Quanto ao tempo, dividem-se em definitivas, quando a pessoa fixa-se definitivamente no local de chegada, ou
temporárias, quando a pessoa fixa-se temporariamente no local de destino e, posteriormente, retorna para o local de origem.
306
Indicadores sociais e migrações
• Nordeste: ocorre entre o Sertão e o Agreste e a Zona • Êxodo rural: é o movimento de migração da população
da Mata. Após a colheita de produtos de subsistência, do campo para as grandes cidades. Esse deslocamento
como o feijão e o milho, em suas pequenas proprieda- foi fortemente vivenciado pela população dos países
des, trabalhadores deslocam-se para a Zona da Mata, subdesenvolvidos, principalmente, a partir da década
onde vão se empregar no trabalho sazonal do corte da de 1950, devido às grandes mudanças nas economias
cana-de-açúcar, retornando para suas propriedades ao
nacional e mundial.
término da safra.
• Sul/Sudeste: trabalhadores rurais paulistas se deslo-
cam para o estado do Paraná, entre fevereiro e maio,
para colher algodão. Chegando a época do corte da
cana-de-açúcar, em final de maio e junho, retornam
para o estado de São Paulo.
• Sudeste/Nordeste: trabalhadores rurais da Bahia,
de Minas Gerais, do Piauí e do Maranhão em direção
ao estado de São Paulo, na época do corte da cana-
-de-açúcar, onde, muitas vezes, são submetidos a
precárias condições de moradia.
Ainda podemos destacar:
• Migração temporária do campo para a cidade (onde o
migrante busca trabalho na indústria, na construção
civil ou no setor terciário) e, depois de algum tempo, o
retorno para a área de origem. São exemplos os des- Disponível em: http://www.flickr.com. Acesso em 15 jan. 2011.
locamentos de pessoas da Bahia e de outros estados O movimento de êxodo rural foi de extrema importância
do Nordeste e de Minas Gerais em direção às cidades
para a urbanização. Mas, considerando o caso brasileiro,
de São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte.
pode-se destacar outros fatores, como:
• Indígenas que, já aculturados, migram para ganhar
algum dinheiro para ajudar a sobrevivência da tribo. • a estrutura fundiária desigual, em que os grandes
Depois de algum tempo, retornam para sua comuni- latifúndios, muitas vezes improdutivos, dificultam a
dade indígena. fixação do homem na terra;
• Trabalhadores rurais e urbanos que se deslocam para
se empregarem nas construções de usinas hidrelé- • a dificuldade dos minifúndios em atender às neces-
tricas. sidades mínimas de um grupo familiar. As terras
pequenas e a falta de técnicas adequadas para o
• Trabalhadores que, na entressafra agrícola da região plantio promovem uma baixa produtividade e a difi-
onde moram, deslocam-se para os lugares de garimpo
(ouro, cassiterita etc.). culdade de comercialização da produção, já que os
produtos não possuem uma qualidade tão elevada
• Movimento pendular: movimento realizado diariamente
por trabalhadores urbanos que se deslocam de sua e nem um preço comercial;
moradia, geralmente localizada nas cidades da Região • o Estatuto do Trabalhador Rural, que foi promulgado
Metropolitana de grandes cidades, para a empresa em em 1964, com o objetivo de levar as leis trabalhistas
que trabalham ou para o exercício de atividade ligada
ao campo. Apesar de ser uma medida de melhoria
ao trabalho informal.
das condições de trabalho da população rural, o
Esse movimento se relaciona diretamente com o processo
Estatuto contribui para a migração campo-cidade,
de periferização dos grandes centros urbanos, como Belo
a partir do momento em que os grandes proprietá-
Horizonte, São Paulo e Rio de Janeiro, em que a população
mais carente se vê forçada a buscar a periferia dessas cida- rios de terras não aceitaram a efetivação das leis
des, devido ao preço elevado dos terrenos. trabalhistas e optaram pelo trabalho temporário,
personificado na figura do boia-fria. A maioria dos tra-
balhadores não se submeteu às péssimas condições
de trabalho e optou por buscar novas oportunidades
de trabalho nos centros urbanos;
307
Geografia
Analise o gráfico que retrata a evolução das populações rural e urbana, para o Brasil, no período de 1940 a 2010 em %:
%
100
90 83,6 84,4
75,5
80 67,0 População
70 68,8 63,8 urbana
54,9 56,0
60
50 45,1 44,0
40 31,2 36,2 33,0
30 24,5 16,4 15,6
20 População
10 rural
0
1940 1950 1960 1970 1980 1990 2000 2010
ADAS, Melhem, ADAS, Sergio. Panorama geográfico do Brasil: contradições, impasses e desafios socioespaciais. São Paulo:
Moderna, 2004. p. 305. Censo IBGE 2010. Disponível em: http://www.ibge.gov.br. Acesso em: 22 nov. 2012.
É possível perceber que o Brasil passa a ser considerado um país urbano, ou seja, a possuir mais de 50% da população
vivendo nas cidades já na década de 1960. É interessante ressaltar que o processo principal que levou o Brasil à transfor-
mação de país agrário-exportador em país urbano-industrial foi o de industrialização, mesmo com a influência dos demais
fatores analisados acima.
Como a Região Sudeste foi a área principal de ocorrência do processo de industrialização, podemos perceber, a partir da
análise do gráfico a seguir, que ela se torna urbana ainda na década de 1950, com uma contribuição principal de São Paulo.
%
100
93,1 92,9 População
90 88,0
80 82,7 urbana
72,8
70
60 60,6 57,3
52,5
50
40 42,7
47,5
30 39,4 27,2
20 17,3 12,0
6,9 7,1 População
10
0 rural
1940 1950 1960 1970 1980 1990 2000 2010
ADAS, Melhem, ADAS, Sergio. Panorama Geográfico do Brasil: contradições, impasses e desafios socioespaciais. São Paulo:
Moderna, 2004. p. 305. Censo IBGE 2010. Disponível em: http://www.ibge.gov.br. Acesso em: 22 nov. 2012.
Milhares
220
Crise econômica mundial
200
Abolição da
escravidão
180
Industrialização
160
Segunda Guerra Mundial
140
120
Regime militar
100
80
60
40
20
0
1808
1850
1884
1890
1895
1900
1905
1910
1930
1935
1940
1945
1950
1955
1960
1965
1970
1973
1915
1920
1925
Obs.: de 1974 até o ano 2000, entraram no Brasil 105.000 imigrantes, o que corresponde a uma média anual de 4.038.
Hugon, Paul. Demografia brasileira: ensaio de demoeconomia brasileira. São Paulo: Editora Atlas, 1973. p. 56; IBGE, Anuá-
rio estatístico do Brasil 1970, 1980 e 1990. Sinopse estatística do Brasil, 1975, p. 56. (ADAS, Melhem, ADAS, Sergio. Pano-
rama geográfico do Brasil: contradições, impasses e desafios socioespaciais. São Paulo: Moderna, 2004. p. 282.
308
Indicadores sociais e migrações
674.318 644.469
210.825 190.282
118.624
309
Geografia
A emigração brasileira
A partir da década de 1980, o Brasil se torna um país de emigração, ou seja, saíam mais pessoas do que entravam. Essa mu-
dança na mobilidade populacional brasileira está diretamente relacionada com o contexto econômico vivido pelo país, denominado
década perdida.
Essa década foi marcada por uma forte crise econômica, estimulada pelas duas crises do petróleo da década de 1970
(1973 e 1979) e pelo grande endividamento brasileiro de períodos anteriores.
A década perdida caracteriza-se pelo desemprego, pela perda do valor real do salário, pela inflação alta e pela queda do
crescimento do PIB ou da atividade econômica. Essa associação de problemas econômicos tornou o Brasil um local pouco
atrativo para a imigração e, até mesmo, para a manutenção dos brasileiros. As péssimas condições de vida, econômicas e
sociais estimularam a busca por oportunidades melhores de futuro, geralmente em países desenvolvidos.
Migrações internas
Ao relacionarmos os grandes fluxos de migração brasileiros, é possível perceber uma mudança quanto à destinação das
pessoas. Se antes a população possuía uma tendência de migração entre as regiões, atualmente, esse movimento é muito
mais percebido dentro das próprias regiões. Essa nova destinação se relaciona diretamente com o desenvolvimento de novos
espaços econômicos e a saturação da principal área receptora de migrantes – a região Sudeste.
A tabela a seguir sintetiza os principais fluxos migratórios internos.
A migração inter-regional
A Região Nordeste é considerada uma área de repulsão populacional, desde um contexto de Brasil Colônia, que inicial-
mente perdeu população para a Região Sudeste e, atualmente, para as Regiões Norte e Centro-Oeste, devido à expansão
de novas fronteiras agrícolas. Essa região nunca recuperou a importância econômica após o declínio da economia açucareira
(nos séculos XVI e XVII) e se mostrou não atrativa.
Já a Região Sudeste configura-se como uma área de atração populacional pelo seu desenvolvimento histórico. Essa região
vivenciou grandes atividades econômicas que dinamizaram a economia brasileira. Desde um período de mineração essa região
possui um destaque no cenário nacional, que foi reforçado pelas atividades posteriores como a cafeicultura e a industrialização.
Observe a tabela a seguir.
Regiões brasileiras e o movimento migratório (1940/1980)
Região Imigração Emigração Saldo
Norte 2.090.935 1.066.826 1.024.109
Nordeste 7.088.796 20.006.388 –12.917.592
Sudeste 24.885.809 20.550.563 4.335.246
Sul 8.754.227 5.674.785 3.079.442
Centro-Oeste 5.749.489 1.315.694 4.478.795
IBGE. Anuário Estatístico do Brasil 1988. Marina; RIGOLIN. Fronteiras da globaliza-
ção: geografia geral e do Brasil. São Paulo: Editora Ática, 2005. p. 243.
310
Indicadores sociais e migrações
A partir da década de 1960, os fluxos migratórios começam a diversificar quanto aos locais de destino. As Regiões Norte
e Centro-Oeste passaram a receber contínuos fluxos migratórios e apresentaram um expressivo crescimento populacional.
O aumento do fluxo migratório para as Regiões Centro-Oeste e Norte se relaciona diretamente com o incentivo governamental,
visando à ocupação territorial e à expansão de grandes projetos agropecuários e mineradores. Nesse contexto, o governo militar
dava ênfase a grandes obras como as rodovias Transamazônica (Região Norte) e Cuiabá-Santarém (Regiões Centro-Oeste e
Norte, respectivamente), que atraíam população para o seu desenvolvimento. Além disso, é possível destacar o Grande Projeto
Carajás (Região Norte), com a construção da hidrelétrica Tucuruí. A saída de população para essas áreas diminuía o fluxo mi-
gratório para a Região Sudeste, que já se mostrava saturada quanto ao atendimento das necessidades da população urbana.
A implantação dos projetos agropecuários atraiu vários sulistas, principalmente, para a Região Centro-Oeste. Esse movi-
mento favoreceu a expansão da fronteira agrícola, aumentando a importância dessa região no cenário econômico nacional e
na participação percentual da população brasileira.
Sendo assim, é possível perceber atualmente uma diminuição da migração interna rumo ao Sudeste, e uma maior valori-
zação de regiões como o Norte e o Centro-Oeste.
A volta de nordestinos aos seus estados de origem também foi significativa e, principalmente, a busca pelas capitais da
região, como Fortaleza, Salvador e Recife, começa a mudar o seu perfil de área de expulsão populacional, embora parado-
xalmente isso não signifique uma diminuição da pobreza de sua população.
1940/1950 1950/1960
MA
PI CE
RN
PB
PE
AL
SE
BA
MT
MG
MS
SP
PR
Caracaraí
Manaus Santarém
Fortaleza
Altamira
BACIA
São Félix do Xingu Alta Floresta DO
Ji-Paraná ARAGUAIA
Rio Branco
Vilhena
DF
Cáceres
Londrina
OCEANO
ATLÂNTICO
Passo Fundo
0 600km
ADAS, Melhem; ADAS, Sérgio. Panorama geográfico do Brasil: contradições, impasses e desafios socioespaciais. São Paulo: Editora Ática, 2005.
A migração intrarregional
A mobilidade populacional dentro de uma mesma região se mostra, atualmente, como o movimento de maior circulação de
pessoas no território. A saturação de grandes centros urbanos, principalmente na Região Sudeste, tem favorecido movimentos
que sejam dentro da mesma região, em que a população busca, muitas das vezes, uma mobilidade temporária.
Como exemplos desse tipo de deslocamento, podemos destacar a saída de pessoas das pequenas cidades nordestinas rumo às
respectivas capitais de seus estados, onde a possibilidade de novas oportunidades é maior do que em suas cidades de origem. E,
ainda, a saída de pessoas das metrópoles nacionais, localizadas no Sudeste, isto é, São Paulo e Rio de Janeiro, rumo às cidades
médias do próprio Sudeste, em busca de maiores oportunidades de trabalho e melhor qualidade de vida (menos violência etc.).
311
Geografia
Migrações internacionais
Os fluxos migratórios internacionais são aqueles que ocorrem entre países. Embora sempre tenham ocorrido, Eles apresentaram
um aumento significativo a partir do desenvolvimento dos meios de transporte e também das telecomunicações. Até o século XX,
as migrações entre países, sobretudo entre continentes, eram pouco expressivas devido às dificuldades de se locomover entre
grandes distâncias. Segundo dados da Organização das Nações Unidas (ONU), o número de migrantes internacionais alcan-
çou a marca de 244 milhões em 2015. Essas migrações podem ser desencadeadas por diversos fatores, tais como: desastres
ambientais, guerras, perseguições políticas, étnicas ou culturais, busca de trabalho e melhores condições de vida.
Procedentes
da China
Corea
Europa do Sul
América Ocidental Turquia
Procedentes Anglo-saxônica Japão
do Sudoeste China
Asiático
América Central
e Caribe Países Península
México do Golfo Indostânica
África do Norte Sudeste
Sudão Asiático
Somália
Colômbia
Equador África Central e Austral
Peru Brasil
Bolívia
Austrália
África do Sul
Argentina
Conforme relatório da Organização das Nações Unidas de 2016, o número de migrantes internacionais aumentou mais rá-
pido do que o crescimento da população. Desse modo, a quantidade de migrantes totaliza 3,3% da população global em 2015,
enquanto, em 2000, somava 2,8%. No entanto, em razão da estagnação econômica pela qual alguns países desenvolvidos
passaram e que ainda passam, estima-se, que em 2010, 60% das migrações tenham ocorrido entre países em desenvolvimento.
São as chamadas migrações Sul-Sul.
As migrações internacionais muitas vezes são responsabilizadas por gerar problemas socioeconômicos nos países receptores.
Por essa razão, muitas medidas são tomadas no intuito de restringir a entrada de imigrantes e, por isso, o tráfico de pessoas
tem se intensificado bastante. Estima-se que no Norte da África, o faturamento em 2016 tenha atingido a cifra de 500 milhões
de euros. Se antes não passavam de “atravessadores ocasionais”, hoje o negócio tem se profissionalizado com quadrilhas
cada vez mais organizadas e violentas. Os acontecimentos como o 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos, os conflitos
no Oriente Médio e a proliferação de ataques terroristas em diversos países europeus reforçam também as dimensões do
medo, racismo e xenofobia.
Diferente dos migrantes, que saem dos seus locais de origem de forma espontânea para melhorar de vida, os refugiados são
forçados a deixar os lugares onde vivem por conta de questões que possam interferir diretamente na sua sobrevivência, por
causa de guerras, perseguições étnico-religiosas, políticas, dentre outras circunstâncias.
O número de indivíduos que buscam asilo em outros países e o status de refugiado cresceu de forma vertiginosa no começo
deste século. Segundo dados da Agência das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR), foram mais de 68 milhões de pessoas,
sendo mais da metade, menores de idade. Mais de 85% dos refugiados são de países subdesenvolvidos e em desenvolvimento.
Exercícios
1. (G1 - col. naval – 2014) Sabe-se que o número de pessoas vivendo fora de seu estado de origem é crescente no Brasil
e que o principal objetivo do deslocamento dessas pessoas é a busca de trabalho e, consequentemente, melhores
condições de vida. Sendo assim, sobre os principais fluxos migratórios inter-regionais brasileiros ocorridos, pode-se
afirmar que, entre os anos de
A) 1930 e 1940, deram-se do Nordeste para o Sudeste, em função da decadência econômica daquela região, agravada
pela falta de projetos que atendessem as populações oriundas de áreas mais pobres, como as do semiárido.
B) 1950 a 1970, ocorreram grandes deslocamentos de trabalhadores das regiões metropolitanas de São Paulo e Rio
de Janeiro para a Amazônia Ocidental, atraídos pelo garimpo de ouro e diAMANte, amplamente subsidiados pelo
governo federal.
C) 1970 a 1990, verificou-se um crescimento populacional expressivo no Sul, especialmente por parte daquela população
proveniente do Nordeste, a qual passou a se fixar em pequenas propriedades, produzindo gêneros de subsistência.
D) 1900 a 1920, presenciou-se no Centro-Oeste forte participação de grupos provenientes do Norte, os quais se dedi-
caram às atividades ligadas à pecuária intensiva e ao cultivo da soja, cuja produção estaria voltada para o consumo
interno do país.
E) 1990 a 2000, deu-se do Sul para o Sudeste, especialmente para as atividades ligadas ao cultivo de cana-de-açúcar,
uma vez que essa cultura agrícola necessita de grande número de trabalhadores especializados para a execução
do seu plantio.
312
Indicadores sociais e migrações
2. (EsPCex (AMAN) – 2017) Embora a maioria dos bra- 4. (EsPCex (AMAN) – 2011) “As migrações internacio-
sileiros viva na cidade em que nasceu, o volume de nais são um fenômeno diretamente associado à ‘era
migrantes internos é enorme, especialmente entre a industrial’.”
população economicamente ativa (PEA). (Magnoli, p.464, 2005)
Sobre as migrações internas brasileiras, pode-se afir- Considerando a frase acima, leia as afirmativas a seguir:
mar que I. Durante o século XIX, a Europa foi a mais importante
I. a maior dinâmica industrial da Região Sudeste, em zona de repulsão demográfica do globo.
relação às demais, provocou, segundo os últimos II. Atualmente, a União Europeia, em sua totalidade,
censos demográficos, o aumento das migrações configura a maior zona de atração de fluxos migra-
inter-regionais e uma significativa redução dos tórios do mundo.
movimentos intrarregionais.
III. Grande parte das migrações internacionais da atu-
II. na década de 2000, as chamadas cidades médias, alidade tem causas econômicas.
com até 500 mil habitantes, especialmente as da
IV. No atual período de globalização, assim como o
Região Centro-Oeste, apresentaram crescimento
capital, os fluxos migratórios fluem sem empecilhos
populacional muito mais vigoroso do que as gran-
através das fronteiras nacionais.
des cidades, tornando-se grande polo de atração
populacional. V. A África do Sul, importante economia industrial da
África, é um país que recebe significativos fluxos
III. a partir da década de 1990, a Região Metropolitana
migratórios de fundo econômico do continente.
de São Paulo registrou êxodo migratório por conta
das chamadas migrações de retorno, contudo o Assinale a alternativa que apresenta todas as afirma-
Estado de São Paulo ainda apresenta saldo migra- tivas corretas.
tório positivo. A) II e IV
IV. a expansão da fronteira agrícola e do agronegócio B) IV e V
na Região Sul faz desta a região com o maior per- C) I, II e III
centual de residentes não nascidos em seu interior.
D) I, III e V
V. as migrações pendulares diárias nas metrópoles
E) II, III e V
ocorrem entre o núcleo urbano central e os núcleos
situados no seu entorno, fisicamente integrados 5. (EsPCex – 2014) “Em 1989, o coeficiente de Gini atingiu
entre si, o que não é possível ocorrer entre núcleos no Brasil um pico de 0,636. Depois disso, apresentou re-
que estão apenas funcionalmente integrados. duções quase constantes, registrando 0,543 em 2009.”
Assinale a alternativa que apresenta todas as afirma- O coeficiente de Gini é um importante indicador socio-
tivas corretas. econômico que revela em um país o grau de
A) II e III A) escolaridade de sua população.
B) II e IV B) desigualdade de renda.
C) I, III e IV C) desenvolvimento humano da população.
D) I, III e V D) qualificação de sua mão de obra.
E) I, II e V E) pobreza de sua população.
313
Capítulo 17
Urbanização
Ao analisar a história de desenvolvimento da humanidade, matérias-primas para suas indústrias e recebe dela os produtos
é possível constatar que a zona rural precedeu a zona urbana, manufaturados e os serviços urbanos (comerciais, educativos,
e as primeiras aglomerações urbanas dependiam diretamente administrativos, bancários, religiosos, médico-hospitalares etc.).
do meio rural. A zona rural concentrava a maior parte da po- Dessa forma, é possível perceber que as duas áreas, rural e
pulação, além de ser o centro de produção das riquezas da urbana, são interdependentes.
sociedade. Atualmente, a situação se inverteu, sendo as zonas Mesmo países que possuem um território maior tendem
urbanas as áreas de produção da maior parte das riquezas e a viver uma diminuição da população residente no campo e
de maior concentração populacional. Sendo assim, elas são um crescimento da população residente em áreas urbanas.
consideradas mais importantes que as áreas rurais. Os países desenvolvidos e emergentes já possuem, em sua
grande maioria, uma população predominantemente urbana, e
A Revolução Industrial foi o grande fator de modificação,
os países subdesenvolvidos estão vivendo um processo intenso
social e econômica, do eixo rural para o urbano. O êxodo rural
de urbanização.
para as novas áreas industrializadas promoveu um crescimento
É necessário compreender e diferenciar os seguintes termos:
das áreas urbanas e a mudança do eixo econômico para o ca-
pitalismo. As economias, anteriormente rural e agrária, passam • Urbanização: processo determinado pelo maior cres-
a ser urbanas e industrializadas, sendo agora as cidades as cimento populacional nas áreas urbanas em relação às
regiões mais importantes para a manutenção do capitalismo. áreas rurais, que traz como consequência a formação e
O avanço do sistema capitalista conduziu as áreas urbanas a a expansão de espaço urbanizados.
se sobreporem às rurais, estabelecendo, por conseguinte, a • Crescimento urbano: processo de expansão física de
subordinação destas às cidades. áreas urbanas.
Segundo o geógrafo Adas (2004), É possível se ter, em um determinado local, crescimento
Com a expansão do capitalismo e a modernização do urbano, sem que necessariamente haja urbanização. O cres-
Brasil, a cidade assumiu uma importância muito grande. cimento das cidades não tem limites e pode continuar indefini-
Tornou-se o centro das decisões políticas e econômicas, damente. A urbanização, no entanto, tem limites: alguns países
sede dos movimentos culturais, incluindo a produção de (aqueles cuja população urbana ultrapassa os 95% do total) já
valores sociais e de ideais, e centro de mobilizações de
estão urbanizados.
massa sociais e reivindicatórias. (...)
Desde 2008, o mundo tornou-se predominantemente urbano,
A cidade passou a ser, então, o centro de uma região,
exercendo aí a função de centro polarizador das ativi-
e, de acordo com estimativas realizadas pela ONU, até 2030,
dades socioeconômicas espaciais. É nela, por exemplo, a população urbana deverá chegar a quase 5 bilhões, ou seja,
que o agricultor e o pecuarista realizam suas compras, ela concentrará 60% da população mundial. O preocupante é
depositam dinheiro nos bancos, obtêm lazer e escola que, entre 2005 e 2030, cerca de 80% do crescimento urbano
para os filhos, buscam ajuda médica, odontológica e mundial deverá estar concentrado nos continentes asiático e
geralmente moram. africano. Calcula-se que, nas primeiras três décadas do século
XXI, a população urbana da Ásia crescerá de 1,4 bilhão para
População rural e urbana 2,6 bilhões e a da África, de quase 300 milhões para cerca de
no mundo (1950-2060)
740 milhões de pessoas.
7000
Esse processo rápido e desordenado que ocorre nas partes
População em Milhões
314
Urbanização
A partir da segunda metade do século XVIII, o desenvolvi- vidos, o crescimento econômico foi capaz de acompanhar
mento industrial, que ocorreu de forma predominante nas áreas o crescimento populacional, o que não ocorreu no mundo
urbanas de alguns países europeus e norte-americanos, alterou subdesenvolvido.
a distribuição espacial da população. Nesse período, as cidades
Os países em desenvolvimento se dividem em dois
representavam um espaço propício para o desenvolvimento da
grupos distintos: subdesenvolvidos e subdesenvolvidos in-
indústria, em função da concentração tanto do capital quanto
dustrializados. Nos dois grupos, o processo de urbanização
do mercado consumidor. O desenvolvimento econômico dessas
ocorreu a partir do século XX, porém em períodos distintos.
áreas começou a estimular gradativamente o êxodo rural, fato
Os países subdesenvolvidos industrializados iniciaram seu
que desencadeou o crescimento cada vez mais expressivo
processo, de maneira significativa, a partir de 1950, o que
da população dos países que passavam pelo processo de
coincidiu com o processo de industrialização. Já nos países
industrialização e, com isso, em algumas décadas, o número
subdesenvolvidos, o processo de urbanização ocorreu, de
de pessoas vivendo nas cidades ficou maior que a quantidade
de pessoas vivendo no campo. maneira significativa, a partir de 1990, e veio acompanhado
da intensificação da violência e da pobreza da sociedade.
Devido ao processo antigo de urbanização, essas áreas
apresentam, atualmente, apenas um crescimento urbano. Como Apesar das diferenças, nos dois casos, o processo de
a grande maioria da população já vive em áreas urbanas, o urbanização ocorreu de maneira rápida e desordenada. Ao
processo de urbanização já foi concluído. contrário do que ocorreu nos países desenvolvidos, nos
As principais causas da urbanização nos países capitalistas países em desenvolvimento, o processo de industrialização
desenvolvidos foram: não acompanhou, quanto à geração de empregos, o ritmo
intenso da urbanização.
• Industrialização: a oferta de empregos em áreas indus-
triais foi um forte motivo de êxodo rural, contribuindo, de É preciso ter em mente que, nessas áreas, os fatores mo-
maneira significativa, para o processo de urbanização; tivadores do intenso fluxo de pessoas do campo em direção
às cidades não estão tão associados à indústria, pois alguns
• Mecanização do campo: a utilização de maquinário
promoveu o desemprego estrutural no campo, liberando países pertencentes a esse grupo não são industrializados ou
mão de obra para as áreas urbanas. possuem um baixo nível de industrialização. Nesse sentido,
podem ser consideradas como razão para o êxodo rural a mi-
Uma importante característica da urbanização nos países
séria que abate grande quantidade de pessoas que vivem no
desenvolvidos corresponde à forma lenta como ela ocorreu,
acompanhando as revoluções tecnológicas e gerando em- campo, a concentração de terras, os conflitos etnorreligiosos,
pregos. Esse tipo de expansão lenta favoreceu, sem dúvida, a escassez de terras e de água, entre outros. Associado a
o desenvolvimento das infraestruturas urbanas e, por conse- isso, as cidades, especialmente as grandes metrópoles, exer-
guinte, uma melhor organização do meio urbano. Assim, não cem um fascínio muito grande sobre a população rural, pois
são comuns, nos países pertencentes a esse grupo, problemas transmitem a ideia de que oferecem uma vida mais fácil, mais
relacionados a favelas e mendicância. Além disso, nesse mes- moderna e com maiores possibilidades de progresso social.
mo aspecto, é importante salientar que, nos países desenvol-
Urbanização Mundial
315
Geografia
No Brasil, o processo de urbanização foi intensificado a partir de 1950. No final da década de 1960, o Brasil já alcançava o posto
de país urbano, sendo que a maior
Brasilproporção
– evoluçãode
da população urbana
população rural se encontrava
e urbana na Região Sudeste.
(1940-2000)
Brasil: evolução da população rural e urbana (1940-2000)
População rural
População urbana
Em 1955 60 55 50 44 39 34 29
De cada DEZ brasileiros... 61 66 71
45 50 56
40
1955 1960 1965 1970 1975 1980 1985
...QUATRO estavam nas cidades
Em 2030
PREVISÃO De cada DEZ brasileiros...
25 22 19 16 13 12 10 9 9
78 81 84 87 88 90 91 91
75
1990 1995 2000 2005 2010 2015 2020 2025 2030 ...NOVE estarão nas cidades
Ao observarmos a tabela a seguir, podemos perceber a proporção da população brasileira urbana por regiões:
taxa de urbanização segundo as grandes regiões – 1960-2010
Grandes regiões
1960 1970 1980 1991 2000 2010
Norte 37,38 45,13 50,32 59,04 69,83 73,53
Nordeste 33,89 41,81 50,46 60,65 69,04 73,13
Sudeste 57,00 72,68 82,81 88,02 90,52 92,95
Sul 37,10 44,27 62,41 74,12 80,94 84,93
Centro-Oeste 34,22 48,04 70,84 81,28 86,73 88,80
Brasil 44,67 55,92 67,59 75,59 81,23 84,36
IBGE, Anuário estatístico do Brasil 1996, p. 2-46 e IBGE, Censo Demográfico 2000, vol. 7, p. 127. (ADAS, Melhem; ADAS, Sérgio.
Panorama Geográfico do Brasil: contradições, impasses e desafios socioespaciais. São Paulo: Moderna, 2004. pág. 218.).
Em ordem decrescente, da mais urbanizada para a menos A) Megalópole – local, no sentido topográfico, onde
urbanizada, temos: Região Sudeste, Região Centro-Oeste, nasceu a cidade.
Região Sul, Região Norte e Região Nordeste. A Região Su- B) Rede urbana – posição que uma cidade ocupa em rela-
deste possui a maior proporção de população urbana, devido ção aos fatores naturais ou geográficos da sua região.
a fatores históricos de ocupação que favoreceram maior de- C) Megacidade – conjunto de área contíguas e integra-
senvolvimento econômico e urbano. Já a Região Centro-Oeste das socioeconomicamente a uma cidade principal.
possui a segunda maior taxa de urbanização, devido, princi- D) Conurbação –superposição ou encontro de duas ou
palmente, à expansão da fronteira agrícola e da revolução mais cidades em razão de seu crescimento.
verde sobre suas áreas. Sendo assim, a urbanização dessa E) Região metropolitana – “cidade-mãe”, dotada dos
região é desvinculada do processo de industrialização, sendo melhores equipamentos urbanos de uma país ou
o principal motivo de migração o desemprego estrutural nas de uma região.
zonas rurais. Dessa forma, a população migra para as áreas
urbanas sem a perspectiva de emprego no setor secundário, 2. (EsPCex (AMAN) – 2011) “O Mundo passa por um
promovendo o crescimento da população envolvida nas processo de rápida urbanização. Em 1950, menos
atividades terciárias, principalmente as informais. A Região de 30% da população global vivia em cidades. (...)
Nordeste possui a menor proporção de população vivendo Enquanto cerca de 730 milhões de pessoas viviam em
em áreas urbanas, com taxas próximas às da Região Norte, zonas urbanas em 1950, agora são mais de 3,3 bilhões.
pela grande presença de população na Sub-região Agreste. Como podemos explicar essas cifras dramáticas? (...)”
Nesta área, a população desenvolve, principalmente, ativida- Fonte: António Guterres. Deslocamentos urbanos: um fe-
des de subsistência em minifúndios para o próprio sustento, nômeno global. Folha de S. Paulo, 21/03/2010
principalmente no Agreste e na Zona da Mata nordestina. Considerando o texto acima e as características do
processo de urbanização no mundo subdesenvolvido,
Exercícios podemos afirmar que
A) na América Latina, esse processo iniciou-se na
1. (Colégio Naval – 2017) “A urbanização é um dos traços última década, acompanhando a modernização
fundamentais da modernidade. Há urbanização quando econômica da região.
o crescimento da população urbana supera o da po- B) na África subsaariana, a população é predominan-
pulação rural – um fenômeno que se verifica há mais temente urbana em virtude do grande número de
de dois séculos na Europa e que adquiriu contornos refugiados que vão em direção às cidades.
mundiais ao longo do século XX.” C) a América Latina abriga países que estão entre os
MAGNOLI, Demétrio. Geografia para o ensino mé- mais urbanizados do mundo subdesenvolvido, fato
dio. São Paulo: Atual. 2008, p. 225. explicado, dentre outros motivos,43
pela repulsão da
O Brasil inicia sua caminhada rumo à modernidade indus- força de trabalho do campo.
trial notadamente a partir da década de 1930. O crescente D) o grande número de imigrantes estrangeiros no
êxodo rural, além de uma drástica aceleração no ritmo do Brasil tem sido o principal fator responsável pelo
crescimento vegetativo, resultaram, inevitavelmente, em crescimento urbano registrado nas últimas décadas.
uma rápida e, por vezes, desorganizada urbanização. E) a urbanização avança lentamente no mundo subde-
Sobre esse processo, assinale a opção que apresenta senvolvido, pois a imensa maioria de sua população
corretamente o conceito e sua respectiva definição. já vive em cidades.
316
Urbanização
3. (G1 - Col. Naval – 2015) As cidades brasileiras têm 5. (EsPCex – 2011) “O processo de urbanização é geral
tAMANhos e números de habitantes muito diferentes e mas não é regionalmente uniforme. Do ponto de vista
também desempenham variadas funções urbanas. Para regional, registram-se fortes diferenças no ritmo da
um agrupamento ser considerado cidade é necessário transferência da população do meio rural para o meio
que se observem os seguintes aspectos: população, urbano”.
densidade demográfica, infraestrutura e equipamen- (Magnoli & Araujo, 2005, p.184).
tos urbanos, como rede de transportes e assistência
médico-hospitalar, escolas, comércio, bancos, áreas Sobre a urbanização brasileira podemos afirmar que:
de lazer, etc. I. graças a sua grande dinâmica industrial, a Região
Sobre a dinâmica urbana brasileira é correto afirmar que Sul é a segunda mais urbanizada do País.
A) as primeiras cidades brasileiras surgiram somente II. as regiões que apresentam os menores níveis de
na década de 1930, quando o desenvolvimento urbanização são a Centro-Oeste e a Norte.
do setor secundário possibilitou a formação de III. a urbanização do Centro-Oeste acentuou-se na
pequenos núcleos urbanos e de uma economia segunda metade do século passado, com a elevada
compatível para tal. concentração fundiária e com a mecanização da
B) até os anos 1950 ocorreu no país um forte fluxo agricultura da soja.
imigratório, especialmente para São Paulo, visto IV. as desigualdades no ritmo da urbanização entre as
que este estado reúne condições de infraestrutura regiões brasileiras refletem as disparidades econô-
para receber grande contingente populacional, fa-
micas regionais e a inserção diferenciada de cada
zendo essa unidade da federação se tornar a mais
região na economia nacional.
urbanizada do país.
Assinale a alternativa que apresenta todas as afirma-
C) a partir dos anos 1940, com o avanço do setor se-
tivas corretas:
cundário, da queda na produção cafeeira, da gera-
ção de infraestrutura urbana e da migração campo A) I e II
cidade, especialmente de nordestinos, ocorreu um B) I, II e III
notável crescimento urbano do Sudeste.
C) I e IV
D) a partir do início dos anos 1960 ocorreu no país
D) II e IV
a chamada desconcentração industrial, ou seja,
estados como o de São Paulo deixaram de ser E) III e IV
atrativos para a fixação industrial, estimulando
uma reordenação do crescimento das cidades em Gabarito
direção ao interior do país. 1. D
E) a urbanização brasileira deu-se de forma muito 2. C
lenta, consequência do tardio processo de desenvol- 3. C
vimento dos setores secundário e terciário, fato que
4. D
desencadearia nos seus grandes centros urbanos
inúmeros problemas socioeconômicos. 5. E
317
Capítulo 18
Megacidades
São as cidades que possuem um contingente populacional de mais de 10 milhões de habitantes, independente da sua área de
extensão e do grau de desenvolvimento econômico da aglomeração urbana. Geralmente, são áreas que apresentam um rápido
processo de urbanização. As megacidades, no contexto atual, concentram mais de 10% da população urbana mundial. No caso
brasileiro, apenas São Paulo e Rio de Janeiro, com aproximadamente 21,3 milhões de pessoas (2016) e 14,5 milhões de pessoas,
respectivamente, contando com suas regiões metropolitanas, podem ser consideradas megacidades.
Atualmente, o crescimento das megacidades vem acontecendo, de maneira intensa, principalmente, em países subdesenvolvidos
e subdesenvolvidos industrializados. Em muitos deles, o processo intenso de urbanização é desacompanhado do processo de indus-
trialização, o que promove a formação de problemas sérios, como a falta de saneamento básico, a poluição do solo, dos mananciais
aquíferos e da atmosfera, além de problemas sociais, como a violência urbana, o surgimento ou o aumento de submoradias em favelas
e periferias, a falta de emprego a uma parcela significativa da população disponível para o trabalho, os congestionamentos, entre
outros. Lagos é um exemplo clássico de processo de urbanização rápido e desordenado, que promove a falta de vários elementos
urbanos necessários à sobrevivência da população, como o saneamento básico. Apenas 2% da população de Lagos possui acesso
a esse serviço, o que potencializa, sobremaneira, a disseminação de doenças, como cólera, diarreia, entre outras.
A tabela a seguir demonstra a estimativa, população, das maiores cidades do mundo.
1900 População* 2001 População* 2015 População*
Londres 6,6 Tóquio 29 Tóquio 38,8
Nova York 3,4 Cidade do México 18 Bombaim 21
Paris 2,7 São Paulo 17 Lagos, Nigéria 10,5
Berlim 1,9 Bombaim 17 São Paulo 21,3
Chicago 1,7 Nova York 16 Karachi, Paquistão 24,3
Viena 1,7 Xangai 14 Daca, Bangladesh 18,3
Tóquio 1,5 Los Angeles 13 Cidade do México 22,2
Wuhan, China 1,5 Lagos, Nigéria 13 Xangai 24,2
Filadélfia 1,3 Calcutá 13 Nova York 23,2
São Petersburgo 1,3 Buenos Aires 12 Calcutá 17
*em milhões de habitantes.ONU, 2015
Metrópole
A metrópole é considerada uma cidade principal, também conhecida como “cidade-mãe”, que concentra os melhores e mais
diversificados recursos médico-sanitários, econômicos e sociais, estabelecendo uma grande extensão de sua área de influência.
As metrópoles podem ser divididas em:
• Metrópole global: é a metrópole que, além de possuir as características de uma metrópole convencional, possui um grande
318
Conceitos urbanos, hierarquia e rede urbana
País B
País A
nacional. Geralmente, as metrópoles nacionais possuem Cidades Gêmeas
um raio de atuação de acordo com o seu grau de desen-
volvimento econômico e social. As metrópoles nacionais
brasileiras são: Porto Alegre, Curitiba, Belo Horizonte, Rio Interação dos
grupos de fronteira
de Janeiro, Brasília, Salvador, Recife e Fortaleza. com sua sub-região
• Metrópole regional: é a cidade que possui as características FAIXA DE
Limite Internacional
FAIXA DE
de uma metrópole convencional, mas que apresenta menor FRONTEIRA FRONTEIRA
grau de desenvolvimento que as metrópoles nacionais,
quanto aos serviços e comércio. Sendo assim, a área de
influência dessas cidades é menos expressiva. As metró-
poles regionais brasileiras são: Goiânia, Belém e Fortaleza.
Outros dois grupos de cidades merecem destaque, mesmo Esquema conceito de cidade-gêmea. Exemplo:
não apresentando o mesmo nível de desenvolvimento das Foz do Iguaçu (PR) e Ciudad del Este (PAR).
metrópoles:
• Centro regional: é uma cidade que ainda não possui ca- Região Metropolitana
racterísticas que permitam classificá-la como metrópole, É a região formada pelas relações estabelecidas entre uma
mas que, pelo destaque no setor de comércio e serviços, metrópole e as cidades menores localizadas em seu entorno.
exerce influência sobre as demais cidades da região em Segundo Adas (2004), Região Metropolitana
que se encontra. Os centros regionais brasileiros são: (...) é uma região estabelecida por legislação estadual, e
Florianópolis (SC), Londrina (PR), Ribeirão Preto (SP), que corresponde a um conjunto de municípios contíguos
Campo Grande (MS), Cuiabá (MT), Vitória (ES), Aracaju e integrados socioeconomicamente a uma cidade central,
(SE), Maceió (AL), João Pessoa (PB), Natal (RN), Teresina com serviços públicos e de infraestrutura comuns, ou
(PI), São Luís (MA), Porto Velho (RO), Rio Branco (AC), necessidade de seu estabelecimento, em função de um
Macapá (AP) e Boa Vista (RR). sistema de conexão existente entre as unidades que a
• Centro sub-regional: é uma cidade que influencia apenas compõem.
sua zona rural e cidades menores do seu entorno. O maior Para se estabelecer uma região metropolitana, é necessário
número de cidades classifica-se como centros sub-regionais. observar alguns fatores importantes:
A ligação e a interação entre essas cidades presentes em • O contingente populacional: para o IBGE, a formação de
um determinado território é chamada de rede urbana. Já a uma região metropolitana necessita da presença mínima
diferenciação quanto ao desenvolvimento social e econômico, de 800.000 habitantes na metrópole de orientação da
que promove uma ordenação dos fluxos populacionais e infor- região metropolitana. Com esse contingente populacional,
macionais, é denominada hierarquia urbana. acredita-se que uma cidade desse porte possua funções
urbanas diversificadas e especializadas, o que, de fato,
Conurbação caracteriza uma metrópole.
É o contato físico entre duas cidades próximas, devido ao • A integração das cidades menores com a metrópo-
crescimento de ambas ou de apenas uma delas. O crescimento le: em uma região metropolitana, as cidades menores
horizontal das cidades cria extensas áreas urbanas em que, mui- possuem uma ligação intensa com as atividades da
tas vezes, não se consegue separar fisicamente cidades distintas, metrópole. Por mais que não exista conurbação entre as
a não ser com a ajuda de indicativos e placas informacionais. cidades, a economia das cidades menores depende da
Apesar de estarem unidas fisicamente, duas cidades conurbadas economia da metrópole.
continuam possuindo origem e administração diferenciadas.
• Planejamento urbano comum: mesmo com a separação
das administrações, desde 1973, o Congresso Nacional
Cidades-gêmeas determinou zonas metropolitanas com planejamento ur-
As cidades-gêmeas correspondem a núcleos urbanos situados bano integrado de desenvolvimento social e econômico,
em países distintos, mas que fazem fronteira entre si. Podem ou além de projetos de saneamento básico, uso do solo
não apresentar uma conurbação ou semi-conurbação com uma metropolitano, sistema viário e de transporte, entre outros.
localidade do país vizinho. Normalmente, a interdependência Atualmente existem no Brasil 22 regiões metropolitanas,
entre esses núcleos é, muitas vezes, maior do que a de cada incluindo-se a RIDE – Região Integrada de Desenvolvimento
cidade com sua própria região ou seu próprio território nacional. do Distrito Federal e Entorno. Das 22 regiões metropolitanas,
Esses adensamentos populacionais cortados pela linha de 15 localizam-se na região geoeconômica do Centro-Sul, cinco
fronteira – seja esta seca ou fluvial, articulada ou não por obra na Região Nordeste e uma na Amazônia. A maior concentra-
de infraestrutura – apresentam grande potencial de integração ção de regiões metropolitanas encontra-se nas áreas iniciais
econômica e cultural assim como manifestações “condensadas” de desenvolvimento econômico, sendo São Paulo a região
dos problemas característicos da fronteira, que, nesse espaço, metropolitana que mais concentra população.
adquirem maior densidade, com efeitos diretos sobre o desen- Os mapas a seguir demonstram a região metropolitana de
volvimento regional e a cidadania. Observe a imagem a seguir: Belo Horizonte e a distribuição das regiões metropolitanas
nacionais.
319
Geografia
Regiões Metropolitanas
Chipitts
h
EQUADOR
as
Oceano
sw
BELÉM GRANDE SÃO LUÍS
Atlântico
Bo
FORTALEZA
NATAL
Estados Unidos
RECIFE
MACEIÓ
GOIÂNIA
DF
sil. São Paulo: Harbra, 2003. p. 434.
GRANDE VITÓRIA
Londres – Birmingham – Manchester; na Itália: Milão –
Turim – Gênova; entre a França, a Alemanha, a Bélgica
CAMPINAS
MARINGÁ RIO DE JANEIRO
SÃO PAULO TRÓP
LONDRINA BAIXADA SANTISTA ICO DE
PORTO ALEGRE
Região metropolitana
Colar metropolitano
No Brasil observamos a formação de uma megalópole
e área de expansão
Região integrada de
entre São Paulo e Rio de Janeiro. A sua formação se estende
desenvolvimento do
Distrito Federal pelo eixo da Rodovia Anhanguera, em que várias cidades
FERREIRA, Graça M. L. Atlas geográfico: espaço mun-
médias também se encontram em formação.
dial. São Paulo: Moderna, 2012. p. 140.
BR-116
Limeira Barra do Piraí
RIO DE JANEIRO
BR
Cachoeira Magé
Campos
1
16
-38
Paulista -1
do Jordão Lorena BR Nova Iguaçu Duque de Itaboraí
BR
FERREIRA, Graça M. L. Atlas geográfico: espaço mundial. São Paulo: Moderna, 2012.
320
Conceitos urbanos, hierarquia e rede urbana
Metrópole Nacional
de Aeronáutica) e ao Instituto de Tecnologia Aeronáutica (ITA),
Metrópole Regional Metrópole Regional
dois centros de excelência na área de Engenharia Aeronáutica,
atraíram atividades ligadas à aviação (Embraer) e às atividades Centro Regional Centro Regional
aeroespaciais, como por exemplo, o INPE (Instituto Nacional Cidade Local Cidade Local
de Pesquisas Espaciais).”
Vila Vila
321
Geografia
323
Geografia
dos casos, geram em problemas sociais, com a presença de catadores de lixo, que fazem desses locais centros de seleção
de matérias-primas para serem vendidas e de alimentos para a sobrevivência. A imagem seguinte demonstra esse problema.
• aterro sanitário: local de despejo do lixo urbano, porém com preocupação para não contaminar o solo e a atmosfera. Para o
desenvolvimento do aterro, promove-se a impermeabilização do solo, com concreto e argila, impedindo a contaminação dele
e do lençol freático pelo chorume. Apesar de o aterro ser construído para a permitir a captação do biogás, que é formado a
partir da decomposição do lixo orgânico, em vários locais, esse gás é lançado diretamente na atmosfera, promovendo a sua
poluição. Existem rigorosas normas para a instalação e o funcionamento desses aterros, para evitar que se tornem um foco
de proliferação de organismos patogênicos. Mesmo assim, alguns aterros se tornam centros de proliferação de doenças e
necessitam de áreas extensas para a sua implementação.
• Incineração: técnica de queima do lixo. Na incineração, é preciso desenvolver técnicas para evitar a contaminação da at-
mosfera pela fumaça liberada na queima. Por isso, o tratamento dos gases que são liberados dos incineradores é primordial,
uma vez que eles podem ser fontes de produção de energia.
• compostagem: decomposição do lixo orgânico, que pode ser realizada de maneira natural ou industrial. Na compostagem
industrial, o lixo orgânico é recolhido num lugar fechado, mantendo-se constantes a umidade e a temperatura. O resultado
dessa técnica é a produção de adubo – que pode ser usado como fonte de renda em áreas agrícolas – e a produção de
gases utilizados como fontes de energia.
• reciclagem: processo que promove a coleta seletiva do lixo (separação de papel, plástico, metal, vidro e matéria-orgânica),
visando a um reaproveitamento da matéria-prima para o abastecimento industrial, o que diminui a demanda sobre os recur-
sos naturais. Sua utilização é cada vez mais expressiva, pela ampliação crescente da consciência ecológica mundial e pela
possibilidade de geração de renda, por meio da coleta da matéria-prima e sua posterior revenda.
O ideal de destinação do lixo não compreende uma técnica isolada, mas sim a associação de várias técnicas, para aproveitar,
da melhor maneira possível, a matéria-prima descartada todos os dias pela população mundial e diminuir esse problema urbano,
que se mostra tão urgente atualmente.
Destinação do lixo.
Enchentes
324
Problemas sociais e ambientais urbanos
A enchente é um processo natural potencializado pelas • Ausência de infraestrutura em muitas cidades, faz com
intervenções antrópicas no solo. Em períodos de cheias da o que as dragas de captação pluvial não suportem o
rede hidrográfica – aumento do seu volume de água devido volume de água precipitado durante o período de maior
ao aumento da pluviosidade –, o volume de água se inten- pluviosidade. Dessa forma, o volume de chuva precipitado
sifica, promovendo o alagamento das áreas do entorno – não é comportado por essas dragas e acaba escoando,
região denominada como várzea ou planície de inundação.
de maneira concentrada, sobre o asfalto.
Nos períodos de estiagem, denominados vazantes do rio, o
volume de água diminui. Esse processo se torna um problema • O acúmulo de detritos e o grande lançamento de lixo nas
quando o homem constrói edificações nas áreas de várzeas, ruas dificultam a captação da água da chuva, provocando
sujeitas a alagamento natural periódico. entupimento dos bueiros. Isso potencializa o impacto das
enchentes, disseminando doenças.
Tempo I: condições naturais
planície de inundação
B
Gentrificação
A
rio Corresponde a um processo de mudança imobiliária, nos
A. Altura normal das águas
B. Altura máxima atual das perfis residenciais e padrões culturais, seja de um bairro, região
águas durante as cheias
ou cidade. Diversas vezes, as áreas periféricas de um centro
Tempo II: urbanização urbano formam-se de maneira não planejada, seja por meio
de invasões, ou pela expansão descontrolada de loteamentos
D
imobiliários em áreas afastadas. Esses locais, quase sempre
C
sem infraestrutura básica (como saneamento, asfalto e trans-
rio C. Altura máxima pretérita das porte público de qualidade), são afetados pela distância que se
águas durante as cheias
D. Altura máxima atual das localizam dos principais centros urbanos da cidade
águas durante as cheias
Quando esse processo ocorre, o espaço geográfico desses
Fonte: Vestibular UFMG 2003 – retirado de: COATES, Donald Robert.
Enviromental Geology. New York: John Wiley & Sons, 1981 (adaptado).
ambientes antes “esquecidos” pela especulação imobiliária
transformam-se e ganham um novo significado, sobretudo
A figura anterior demonstra, no Tempo I, o processo natural
em função da valorização acentuada promovida pela criação
e, no Tempo II, um contexto urbanizado que favorece o acon-
de novos pontos comerciais ou edifícios. Por esse motivo, a
tecimento das enchentes.
paisagem modifica-se, e as zonas, que antes eram só guetos
Alguns fatores contribuem para a ocorrência das enchentes:
e barracos, transformam-se em condomínios, prédios e casas
• Ocupação humana inadequada das áreas de várzeas, de médio e alto padrão.
local favorável à presença de água periódica, que possi-
bilita a ocorrência das enchentes. O custo para se viver nessas regiões se torna muito alto,
dificultando a permanência da população de baixa renda no
• Diminuição das áreas com cobertura vegetal nos grandes
centros urbanos, as quais são substituídas por concreto local. Dessa maneira, a população residente é gradativamente
e asfalto – processo denominado impermeabilização do substituída por grupos sociais mais abastados. São exemplos
solo –, favorecendo o escoamento superficial da água, de áreas que passaram pelo processo de gentrificação: La
em detrimento da infiltração. Na figura a seguir, é possível Barceloneta (Barcelona, Espanha); Puerto Madero (Buenos
perceber a relação existente entre escoamento superfi- Aires, Argentina), Malasaña (Madrid, Espanha), Lapa e Vidigal
cial e infiltração da água, no momento I, em áreas com (Rio de Janeiro), e Vila Madalena (São Paulo).
grande presença de cobertura vegetal, e, no momento II,
em áreas urbanizadas. Inversão térmica
Em áreas urbanas, devido à excessiva impermeabilização
A inversão térmica é um processo natural, verificado princi-
do solo, associada à diminuição da cobertura vegetal, o volume
palmente no inverno, em que se tem a inversão dos padrões
de água escoada é muito maior, favorecendo a ocorrência das
normais de aquecimento da atmosfera: em altitudes menores,
enchentes.
a temperatura é maior – maior concentração de gases estufa
e maior proximidade da superfície terrestre, fonte doadora de
Superfície Superfície energia para o aquecimento – e em altitudes maiores, a tempe-
ratura é menor. Quando ocorre a inversão térmica, o ar menos
aquecido fica próximo da superfície e o ar mais aquecido, em
altitudes mais elevadas. Esse processo pode ser verificado em
Solo Solo
qualquer ambiente terrestre, áreas urbanas ou rurais, mas é mais
comum a sua ocorrência em centros urbanos.
Rio
Rio
325
Geografia
-
AR QUENTE AR FRIO
Chuva ácida
As atividades antrópicas que apresentam grande queima de
combustíveis fósseis também contribuem para a intensificação
da acidez natural das chuvas. A expressão ‘‘chuva ácida’’ se
refere à maximização da acidez, mas é importante ressaltar
que a chuva naturalmente é ácida. Esse fenômeno é causado
principalmente pelas emissões gasosas resultantes da queima
de combustíveis fósseis. O dióxido de enxofre (SO2), lançado no
ar atmosférico pelas indústrias, e o óxido de nitrogênio (NOx),
proveniente de diversos combustíveis fósseis e dos veículos mo-
torizados, combinam-se com o hidrogênio presente na atmosfera
e transformam-se em ácido sulfúrico (H2SO4) e em ácido nítrico
(HNO3). No momento da precipitação do vapor de água presente
na atmosfera, esses compostos ácidos são trazidos à superfície, I. no domínio “A” encontramos a maior parte do chamado
promovendo impactos tanto em áreas rurais como em áreas “arco do desmatamento”, onde a vegetação vem per-
urbanas. Por ação dos ventos, as nuvens e o ar contaminado de dendo espaço para as atividades agrícolas, causando
ácidos podem se deslocar por muitos quilômetros e se precipitar significativos prejuízos à biodiversidade.
em lugares bem distantes do local de origem da poluição. II. o domínio “B” caracteriza-se por solos pobres em
matéria orgânica e pedregosos, porém projetos de
Óxidos de enxofre
irrigação têm viabilizado a produção de frutas, como
e nitrogênio
a uva para exportação, nessa área.
III. os domínios “C” e “F” são considerados hotspots, pois
são áreas prioritárias para conservação e de alta biodi-
Os óxidos se
combinam com a
água e dão origem
versidade, as quais, por se constituírem em fronteiras
à chuva ácida
(ácido sulfúrico e
agrícolas, vêm tendo sua vegetação suprimida para
ácido nítrico).
dar lugar às atividades pecuárias.
IV. os domínios “B” e “E” são caracterizados por vege-
A água de escoamento,
encontrando o solo desnudado,
tação herbácea associada a climas que apresentam
provoca intensa erosão e
deposição de materiais nos rios
grande período de estiagem e solos em processo de
Alguns musgos se
desenvolvem com a
e lagos: estes são
contaminados pela acidez da desertificação, dificultando a atividade agrícola.
acidez alta, chegando a água, comprometendo a vida
fechar o leito do lago. animal e vegetal nele existente.
V. o domínio “D” apresenta clima tropical úmido e relevo
ADAS, Melhem; ADAS, Sérgio Panorama geográfico do Brasil: contradi- de morros arredondados, revelando intenso trabalho
ções, impasse e desafios socioespaciais. São Paulo: Moderna, 2004. erosivo em estrutura cristalina.
Como consequências da intensificação da acidez das águas Assinale a alternativa em que todas as afirmativasestão
das chuvas, destacam-se: corretaS.
A) I, III e IV C) III, IV e V E) II, III e V
• deterioração de monumentos, edificações e equipamen-
tos, visíveis principalmente nos ambientes urbanos; B) I, II e V D) I, II e IV
• destruição da vegetação e, assim, exposição do solo aos 2. (EsPCex – 2011) “Nas áreas urbanas, em média, a preci-
processos de erosão, podendo gerar deslizamentos de
pitação anual é 5% superior e o número de dias de chuva
encostas nas áreas de maior inclinação do terreno;
é 10% maior do que nas áreas rurais adjacentes. Além
• acidificação de ambientes aquáticos com alteração das disso, as chuvas torrenciais são mais comuns nas cidades”.
condições naturais, o que dificulta a manutenção da vida (Magnoli & Araujo, 2004, p.176).
e a manutenção das atividades antrópicas desenvolvidas
O fenômeno descrito acima deve-se a alguns fatores co-
nesses locais, como a produção de energia em hidrelétri-
muns às grandes cidades, dentre os quais pode ser citado:
cas – corrosão dos equipamentos promovida pelo ácido
sulfúrico e nítrico; A) o acúmulo de praças e grandes áreas verdes na por-
ção central das grandes cidades.
• prejuízos à saúde do homem, quando em contato com a B) o excesso de concreto, que transfere calor para o
chuva ácida ou em caso de ingestão de água acidificada.
ambiente e diminui a temperatura das áreas centrais.
Os países desenvolvidos são os principais em níveis de
C) a elevada presença de material particulado em sus-
acidificação das águas pluviais, devido ao processo de indus-
pensão, contribuindo para a condensação da água na
trialização mais antigo e, por isso, maior parque industrial. As
atmosfera e precipitação de chuva.
áreas de maior destaque são: o nordeste dos EUA, o sudeste
D) a elevada evapotranspiração nas cidades, especial-
do Canadá, a Europa Ocidental e o Japão. Porém, esse pro-
mente em áreas de canais e esgotos.
cesso pode ser observado nos países emergentes – sudeste
asiático, China, Índia, Rússia e Brasil –, sendo necessário um E) a presença de massas de ar frias nas áres centrais
planejamento maior na ocupação e utilização do espaço. e consequente aumento da precipitação de chuva.
327
Geografia
3. (EsPCex – 2015) “Foi no contexto da Primeira Conferên- A) as políticas públicas, voltadas para melhoria na ocu-
cia das Nações Unidas sobre Meio Ambiente, realizada pação do espaço urbano, não encontram obstáculo
em 1972, em Estocolmo, que nasceu a ideia do desen- no contingenciamento de verbas destinadas para
volvimento [...] sustentável [...], isto é, de se adotar um este fim, pois com as ações afirmativas, tomadas
modelo de desenvolvimento econômico voltado à explo- por todas as estâncias governamentais, elas têm
ração nacional dos recursos naturais, à preservação do total prioridade.
meio ambiente ou ao equilíbrio ecológico e ao combate B) os recentes deslizamentos de terras, em todo o
às disparidades sociais entre os seres humanos e entre estado do Rio de Janeiro, soterrando centenas de
as nações.” (ADAS, M. Panorama Geográfico do Brasil. pessoas e descobrindo uma realidade mórbida de
4. ed. São Paulo: Moderna, 2004, p. 117). desinteresse pela vida dos mais desvalidos, são
Apesar da importância da temática acima apresentada, lembrados nas políticas públicas apenas em pe-
observa-se, mundialmente, que a aplicabilidade do concei- ríodos pré-eleitorais e em políticas antinatalistas,
to de desenvolvimento sustentável tem sido muito difícil. como as reformistas.
Assinale a alternativa que explica a problemática apon- C) o confronto entre as classes mais abastadas das
tada no texto acima. zonas urbanas com aquelas menos favorecidas se
A) Os agentes econômicos, em escala planetária, faz presente na apropriação dos espaços de mo-
travam uma acirrada competição, buscando obter radia, onde os mais ricos, além de se apoderarem
menores custos de produção para assegurar seu dos melhores lugares, apoiam políticas de controle
domínio de mercado, o que, muitas vezes, é confli- de natalidade implementadas no país.
tante com as políticas ambientais de utilização dos D) a charge sintetiza algo incomum nas cidades bra-
recursos naturais. sileiras, ou seja, o deficit habitacional, que é a dife-
B) Do ponto de vista teórico, a ideia do desenvolvimen- rença entre as moradias de pessoas de baixa renda
to sustentável não encontra aceitação em nenhum e aquelas que estão situadas em áreas nobres,
país do mundo, tampouco seus princípios são apli- as quais não possuem legalização por parte dos
cados pelos governos dos países desenvolvidos, departamentos municipais de ocupação fundiária.
pois estes argumentam que tal ideia é prejudicial E) a ocupação desordenada dos espaços urbanos é
ao desenvolvimento de suas economias. oriunda de políticas de combate à pobreza pouco
C) Nos diferentes países do mundo, não existe uma eficazes. Nunca no Brasil se privilegiou o ordena-
comunidade organizada no espaço local em torno mento urbano, apesar de se manifestar no espaço
das mais diversas questões ambientais que afetam das grandes cidades uma integração, bastante
a qualidade de vida de sua população. significativa, nas relações de produção e distribui-
ção da renda.
D) Por não existir um consenso entre a comunidade
científica mundial acerca das verdadeiras causas 5. (EsPCex – 2015) A metropolização resulta de uma
do aquecimento global, as políticas relacionadas ao intervenção humana extensa e profunda sobre a
desenvolvimento sustentável têm sido fortemente superfície da Terra, uma vez que implica alterações
contestadas pelo governo brasileiro. significativas da paisagem e da qualidade de vida da
E) As discussões acerca do desenvolvimento susten- população urbana.
tável só encontram respaldo no âmbito das ONGs, Entre os impactos ambientais causados pela interven-
uma vez que nem governos, nem entidades civis, ção humana no ambiente urbano, podese destacar
tampouco empresários, participam da elaboração
I. a formação das ilhas de calor na periferia das gran-
de projetos relacionados a essa questão.
des cidades, associada à escassez de áreas reves-
4. (G1 - col. naval – 2011) Observe a charge abaixo. tidas de vegetação, com consequente aumento do
poder refletor da luz solar que incide no solo urbano.
II. a maior ocorrência de chuvas torrenciais nas metró-
poles, em relação às áreas rurais adjacentes, devido
à grande quantidade de material particulado em
suspensão, favorecendo a condensação da água
na atmosfera.
III. a grande poluição do ar e a consequente intensifi-
cação de problemas respiratórios, agravados pelo
fenômeno climático da inversão térmica que ocorre,
em geral, no inverno.
IV. o aumento do efeito estufa gerado pelo movimento
do ar das zonas rurais para as zonas urbanas,
elevando a temperatura nas cidades.
Assinale a alternativa que apresenta todas as afirma-
tivas corretas
A) I e II C) II e III E) I, III e IV
A charge expressa um drama histórico na formação do B) I e III D) I, II e IV
espaço urbano no Brasil: o processo de ocupação irre-
gular, provocado pela distribuição desigual da riqueza Gabarito
e pela não priorização da melhoria nas condições de
habitação das populações mais pobres. Com base na 1. B 3. A 5. C
análise da charge, é correto afirmar: 2. C 4. C
328
Capítulo 20
Revolução industrial
Introdução Maquinofatura
O processo de industrialização vivenciado pela humanidade Esse estágio de transformação da matéria-prima é, atual-
a partir de 1750, século XVIII, consolidou as bases do sistema mente, a forma principal de produção. Caracteriza-se pela larga
capitalista, por aumentar o ritmo de produção e o volume de utilização de maquinário, que não depende mais da energia
produtos produzidos. Dessa forma, o consumismo, característi- humana, e pela intensa divisão do trabalho, levando à espe-
co desse sistema, ganha repercussão nas sociedades urbanas cialização da mão de obra, sem o conhecimento de todas as
e se mostra como uma necessidade da sociedade moderna. etapas de produção para a confecção do produto, na maioria
das vezes. Como a produção independe da força humana, seu
A industrialização criou as principais bases da sociedade
ritmo é determinado pela necessidade de venda da indústria
moderna, que se caracteriza por um ritmo acelerado de mudan-
e da capacidade do maquinário, imprimindo uma velocidade
ças, pela produção em massa e pela intensa divisão do trabalho
de trabalho que é maior que o tempo humano. Dessa forma, a
entre as pessoas e entre as regiões e nações.
habilidade humana torna-se apenas um apêndice da máquina,
resumindo-se apenas em saber fazê-la funcionar. Funcionando
Estágios de transformação da em uma escala muito maior que os estágios do artesanato e da
matéria-prima manufatura, a maquinofatura possui uma produção em série
e padronizada, isto é, fabrica um número imenso de produtos
A forma de produção industrial é verificada apenas no século exatamente iguais. Sendo assim, sua produção visa ao abaste-
XVIII, pois a matéria-prima é transformada pela humanidade cimento em escala nacional e, em muitas das vezes, mundial.
bem antes do surgimento das indústrias. Para que esse estágio de transformação da matéria-prima se
É possível classificar três estágios de transformação da mostre rentável, é necessária a produção contínua e em gran-
matéria-prima, que estão ordenados de acordo com a evolução: des quantidades. Quanto maior for o seu volume de produção,
maior rentabilidade a indústria terá, cobrindo mais rapidamente
Artesanato os investimentos realizados na compra de maquinário e pos-
sibilitando a realização de novos investimentos na produção.
Desenvolvido há milhares de anos, não apresenta divisão
do trabalho. O artesão é responsável por todas as fases de As etapas do desenvolvimento
produção, desde a seleção da matéria-prima até o acabamento
final do produto. A produção é realizada sem a utilização de industrial
maquinário, observando-se apenas o uso de ferramentas, e
é destinada apenas ao uso do artesão ou de seus familiares. Os países desenvolvidos foram os pioneiros no crescimento
É interessante destacar que o artesanato atualmente não é da indústria e apresentaram três fases distintas de evolução
a principal forma de produção e, sendo raro, é valorizado no do modelo industrial. Os países subdesenvolvidos industria-
mercado. O produto artesanal apresenta-se como um produto lizados não necessariamente apresentam todos os estágios
único, concebido pela inspiração do artesão, diferente dos de evolução industrial dos países desenvolvidos, até porque
produtos industrializados, que são produzidos em série. o desenvolvimento do parque industrial desses países se
relaciona, diretamente, com a evolução dos países desenvol-
Manufatura vidos, através do processo de deseconomia de aglomeração
ou desconcentração industrial.
É o estágio intermediário de transformação da matéria-prima,
As etapas de desenvolvimento industrial são:
entre artesanato e maquinofatura, e foi largamente utilizado na
Europa Ocidental nos séculos XVI, XVII e XVIII. Ainda é obser-
vado em alguns países subdesenvolvidos que não viveram o
Primeira Revolução Industrial
processo de industrialização de maneira efetiva. Esse estágio Processo industrial desencadeado entre meados do século
é caracterizado por um início da utilização de maquinário ar- XVIII até o século XIX, aproximadamente 1750-1870, ocorrido
caico, que trabalhava à base de energia humana e por uma inicialmente na Inglaterra e posteriormente em outros países
rudimentar divisão do trabalho. Os trabalhadores envolvidos da Europa Ocidental. Com uma precária base tecnológica utili-
na produção conhecem todas as suas fases, porém dividem zada na produção, a indústria necessitava de significativa mão
o trabalho entre eles de maneira a tornar a produção mais rá-
de obra para seu funcionamento, inclusive infantil. A indústria
pida. Mas a quantidade produzida se relaciona, diretamente,
predominante desse contexto foi a têxtil, sendo que o parque
com a habilidade dos artesãos. A produção nesse estágio, por
apresentar-se mais significativa que a produção artesanal, industrial era movido a máquinas a vapor, com larga utilização
tem como objetivo o abastecimento local, e não mais apenas do carvão mineral. A produtividade dos estabelecimentos in-
o familiar. Na manufatura, já percebe-se uma divisão entre os dustriais era extremamente baixa, já que a tecnologia utilizada
detentores dos meios de produção e os artesãos, que possuíam era rudimentar, e ainda não existia um padrão de trabalho a
apenas a mão de obra como forma de trabalho. ser seguido pelo trabalhador, de maneira a otimizar o tempo de
No estágio de artesanato, as ferramentas eram, geralmente, trabalho industrial, o que era compensado pelas longas jornadas
do artesão que desenvolvia o trabalho. de trabalho enfrentadas pelos trabalhadores.
329
Geografia
Nesse contexto, as indústrias e empresas eram pequenas e Quanto à organização do trabalho, a Segunda Revolução
médias, o que marcou o sistema econômico desempenhado – o Industrial se mostra mais equipada, devido ao desenvolvimento
capitalismo concorrencial. Essa fase do capitalismo foi marcada de sistemas de produção denominados taylorismo e fordismo,
pela presença mínima do Estado na economia e as empresas que possuem o objetivo de otimizar o tempo de produção, au-
disputavam o mercado de maneira concorrencial, o que é mais mentando a produtividade e o volume total produzido.
justo para o consumidor.
O desenvolvimento dos parques industriais estimulou, de
Taylorismo e fordismo
maneira significativa, o processo de urbanização, principal- “O taylorismo, organização do trabalho sistematizada pelo
mente, no entorno das indústrias, que necessitavam se fixar engenheiro norte-americano Frederich W. Taylor por volta de
próximas às áreas fornecedoras de matéria-prima e energia. 1900, consiste na rígida separação do trabalho por tarefas e
Sendo assim, a população migrava para as áreas industriais e níveis hierárquicos (executivos e operários). Existe um controle
desencadeava a formação de áreas urbanas. Em um primeiro sobre o tempo gasto em cada tarefa e um constante esforço de
momento, a ocupação urbana foi extremamente desordenada, racionalização, para que a tarefa seja executada num tempo
pois a população ocupava os espaços sem nenhum planeja- mínimo. O tempo de cada trabalhador passa a ser vigiado e
mento. Posteriormente, essas áreas foram sendo remodeladas cronometrado, e aqueles que produzem mais em menos tempo
e, atualmente, são consideradas ordenadas. A imagem a seguir recebem prêmios como incentivo. O taylorismo aumentou a pro-
sugere a fixação populacional próxima às áreas industriais. dutividade de fábrica, mas também a exploração do trabalhador,
que passa a produzir mais em menos tempo.
Como um complemento do taylorismo, surgiu na década de
1920 o fordismo, termo que vem do nome do industrial norte-
-americano Henry Ford, um pioneiro da indústria automobilística
no início do século. Esse processo consiste num conjunto de
métodos voltados para produzir em massa, em quantidades
nunca vistas anteriormente. Ele absorve algumas técnicas do
taylorismo, mas vai além: trata de organizar a linha de monta-
gem de cada fábrica para produzir mais, controlando melhor
as fontes de matérias-primas e de energia, a formação da mão
de obra, os transportes, o aperfeiçoamento das máquinas para
ampliar a produção etc. O fordismo buscava ampliar a produção
e o consumo.
A cidade industrial de Sheffield (Inglaterra), em 1858. O grande lema do fordismo era “produção em massa e con-
MORAES, Paulo Roberto. Geografia Ge- sumo em massa”. O fordismo marcou a supremacia industrial
ral e do Brasil. Editora Harbra, p. 466.
dos Estados Unidos no século XX e foi adotado em praticamente
Segunda Revolução Industrial todos os países desenvolvidos. Nos demais países havia um
fordismo parcial, localizado apenas em algumas áreas especí-
Processo industrial desencadeado entre meados do século ficas ou sem parcelas da população: em regiões da Coreia do
XIX e meados do século XX, aproximadamente 1870-1970, Sul, ou até, em menor proporção, no Brasil, por exemplo. Mas,
percebido agora em vários países da Europa Ocidental, Estados nesses casos, nunca houve a generalização do fordismo por
Unidos e Japão. Entre suas características, citam-se: maior toda a sociedade, pois isso significaria que esses países não
grau de tecnologia envolvida na produção; maior produtividade, seriam mais subdesenvolvidos.
favorecendo a redução da jornada de trabalho e a não utilização
A lógica do fordismo consiste na seguinte ideia: para se
da mão de obra infantil; e aumento da produção total.
produzir em massa, é necessário que existam consumidores
As principais indústrias desse contexto são: siderúrgica, para comprar toda essa produção (de automóveis, por exem-
metalúrgica, petroquímica e automobilística. Entre as quatro, plo, o grande símbolo do fordismo). Ora, para isso, torna-se
a mais importante é a indústria automobilística, que favorece o necessário um imenso mercado consumidor, e a maioria da
desenvolvimento das demais citadas. O carvão mineral continua população de qualquer país é constituída pelos trabalhadores;
a ser uma fonte energética importante, porém gradativamente logo, é preciso pagar bem aos trabalhadores para que eles
é substituído, como principal fonte energética, pelo petróleo, possam comprar, possam consumir em grandes quantidades,
que é utilizado largamente pela indústria automobilística, como o que aumenta a produção e os lucros.
combustível e como matéria-prima. Além disso, as máquinas Ao contrário do taylorismo, que se preocupava mais com a
manuais são substituídas por máquinas elétricas, graças à máxima utilização do tempo de trabalho do operário, o fordismo
descoberta de motores que passam a necessitar de energia se preocupa também com o tempo livre e, principalmente, com o
elétrica e não mais de vapor. consumo. Não se trata apenas de trabalhar mais intensamente,
Nessa fase de industrialização percebe-se o crescimento como no taylorismo, e sim de trabalhar menos, com maior es-
das grandes empresas, estimuladas pela fusão das pequenas e pecialização e produtividade, e consumir mais. A generalização
médias, o que promove a substituição gradativa do capitalismo do fordismo, dessa forma, foi um dos fatores que ajudaram na
competitivo pelo capitalismo monopolista. Essa fase do sistema melhoria dos padrões de vida dos países desenvolvidos no
fere as bases de concorrência do capitalismo, pois as grandes século XX.”
empresas possuem a capacidade de dominação do mercado, Vesentini, J. William. Sociedade e Espaço: Geo-
grafia Geral e do Brasil. (Adaptado).
estipulando o preço que julgarem corretos. Nesse contexto, o
Estado se mostra presente na regulação econômica, bem como
na determinação dos investimentos.
330
Revolução Industrial
Terceira Revolução Industrial • Just in time (na hora certa) – sem espaço para armazenar
matéria-prima e mesmo a produção, criou-se um sistema
Processo industrial desencadeado nas últimas décadas do para detectar a demanda e produzir os bens, que só são
século XX, especialmente a partir da década de 1970, devido à produzidos após a venda.
Revolução Técnico-Científica Informacional, que leva a uma gran-
de produção de tecnologia para todos os setores da economia. • Team work (equipe de trabalho) – os trabalhadores pas-
saram a trabalhar em grupos, orientados por um líder. O
Essa fase industrial é característica de países desenvolvidos, sen-
objetivo é de ganhar tempo.
do que apenas algumas exceções se encontram entre os países
emergentes. Nesse contexto, são formados parques industriais • Controle de qualidade total – todos os trabalhadores, em
marcados pelo uso intenso da tecnologia envolvida na produção todas as etapas da produção, são responsáveis pela qualida-
– indústria de ponta, favorecendo o desemprego estrutural e, em de do produto e a mercadoria só é liberada para o mercado
contrapartida, o aumento intenso da produtividade e da produção. após uma inspeção minuciosa de qualidade. A ideia de
Dessa forma, as indústrias produzem mercadorias com alto grau qualidade total também atinge diretamente os trabalhado-
de modificação da matéria-prima, possuindo alto valor agregado. res, que devem ser “qualificados” para serem contratados.
As indústrias que marcam essa fase são: informática, Dessa lógica nasceram os certificados de qualidade, ou ISO.
robotização, telecomunicações, química fina, biotecnologia, Embora possa parecer que o modelo toyotista de produção
entre outras. valorize mais o trabalhador do que os modelos anteriores
A Terceira Revolução Industrial promove a modificação do (fordista e taylorista), tal impressão é uma ilusão. Na realidade
sistema de produção, que busca uma nova lógica, em que se da fábrica, o que ocorre é o aumento da concorrência entre
tem por objetivo a qualidade total dos produtos produzidos, em os trabalhadores, que disputam entre si melhores índices
um menor tempo possível de produção. Esse novo sistema é de produtividade. Tais disputas sacrificam cada vez mais o
denominado toyotismo. trabalhador e têm como consequência, além do aumento da
produtividade, o aumento do desemprego. Em suma, a lógica
do mercado continua sendo a mesma: aumentar a exploração
de mais-valia do trabalhador.
PACIEVITCH, Thais. Disponível em: http://www.in-
foescola.com. Acesso em: 08 jun. 2009.
Exercícios
1. (FGV – 2017) Analise a tirinha a seguir.
Just in time/toyotismo
Toyotismo é o modelo japonês de produção, criado pelo
japonês Taiichi Ohno e implantado nas fábricas de automóveis
Toyota, após o fim da Segunda Guerra Mundial. Nessa época,
o novo modelo era ideal para o cenário japonês, ou seja, um A partir da tirinha, é correto afirmar que a linha de mon-
mercado menor, bem diferente dos mercados americano e tagem fordista
europeu, que utilizavam os modelos de produção fordista e
A) estabelece tarefas específicas para cada operário,
taylorista.
o que restringe sua percepção sobre o bem final
Na década de 70, em meio a uma crise de capital, o modelo produzido.
toyotista espalhou-se pelo mundo. A ideia principal era produzir
B) permite que o operário realize funções variadas, o que
somente o necessário, reduzindo os estoques (flexibilização
elimina o sobretrabalho e garante um salário justo.
da produção), produzindo em pequenos lotes, com a máxima
qualidade, trocando a padronização por diversificação e produ- C) exige uma qualificação diversificada do operário, o
tividade. As relações de trabalho também foram modificadas, que permite sua participação nas várias etapas do
pois agora o trabalhador deveria ser mais qualificado, partici- processo produtivo.
pativo e polivalente, ou seja, deveria estar apto a trabalhar em D) aumenta a velocidade do processo produtivo, o que
mais de uma função. estimula a produtividade e a cogestão dos operários.
Os desperdícios detectados nas fábricas montadoras E) intensifica a participação do fator trabalho, o que ga-
foram classificados em sete tipos: produção antes do tempo rante a inclusão dos trabalhadores nas decisões do
necessário, produção maior do que a necessária, movimento processo produtivo.
humano (por isso o trabalho passou a ser feito em grupos),
espera, transporte, estoque e operações desnecessárias no 2. (UFRN) A Terceira Revolução Industrial, que se iniciou
processo de manufatura. desde a década de 1970, vem impulsionando alterações
no que se refere à espacialização de áreas fabris. No atual
As principais características do modelo toyotista são:
ciclo de inovações, configuram-se novas regiões industriais
• Flexibilização da produção – produzir apenas o neces- que primam pela localização nas proximidades de
sário, reduzindo os estoques ao mínimo.
A) grandes aglomerações de força de trabalho.
• Automatização – utilizando máquinas que desligavam B) áreas com recursos naturais abundantes.
automaticamente caso ocorresse qualquer problema, um
funcionário poderia manusear várias máquinas ao mesmo C) amplos mercados consumidores.
tempo, diminuindo os gastos com pessoal. D) universidades e institutos de pesquisa.
331
Geografia
332
Capítulo 21
333
Geografia
de empresas dominadas por uma empresa central que detém Na política, o principal fator de mudança foi o fim da bipolari-
a maioria ou parte significativa das ações de suas subsidiárias. zação Estados Unidos X União Soviética. Emergiram conflitos
localizados, antes abafados pela polarização. Muitos deles
Capitalismo informacional têm caráter étnico ou religioso. O racismo e o extremismo de
direita ganham novo fôlego e o crescimento do fundamentalismo
Com o advento da Terceira Revolução Industrial, também
islâmico assusta o Ocidente.
conhecida como Revolução Técnico-Científica, o capitalismo
atinge sua fase informacional-global. Isso ocorre no pós- Na economia, novos blocos são formados. Os Tigres Asiáti-
-Segunda Guerra, sobretudo a partir dos anos 1970, quando cos aceleram seu desenvolvimento, os Estados Unidos enfren-
disseminam-se empresas, instituições e diversas tecnologias tam dura concorrência do Japão em seu próprio território e a
responsáveis pelo crescente aumento da produtividade econô- velha ideia da unificação da Europa é mais uma vez retomada
mica e pela aceleração dos fluxos de capitais, de mercadorias, com a criação da União Europeia.
de informações – robôs, computadores, satélites, cabos de O quadro político mundial assumiu novos contornos. Os
fibras óticas, Internet etc. – e de pessoas. conflitos regionais, até então fortemente influenciados pelas
Nessa etapa de seu desenvolvimento, o capitalismo continua intervenções das superpotências, sofreram crescente influência
industrial e financeiro. Industrial porque novas tecnologias do alargamento do fosso entre ricos e pobres, consubstanciado
empregadas no processo produtivo, a exemplo da robótica, no Confronto Norte-Sul. A posição de caráter político-ideológico-
permitiram grande aumento de produtividade e diversificação -militar entre o Bloco Ocidental e o Oriental foi substituída pela
dos produtos; e financeiro por causa da desmaterialização do confrontação entre forças predominantemente econômicas,
dinheiro que, em vez de circular fisicamente, cada vez mais financeiras e científico-técnicas.
se transforma em bits de computador. Mas a característica A multipolaridade do poder global substituiu a rígida geo-
fundamental dessa etapa do desenvolvimento capitalista é a metria bipolar do mundo do pós-guerra. A internacionalização
crescente importância do conhecimento. dos fluxos de capitais e a integração das economias nacionais
Atualmente as instituições típicas da revolução informacional atingiram um patamar inédito. Delinearam-se megablocos
estão próximas a universidades e centros de pesquisas, onde se econômicos organizados em torno das grandes potências do
desenvolvem os tecnopolos. Nesses centros industriais, típicos da fim do século.
Terceira Revolução Industrial, há grande concentração de indústrias Na América do Norte, constituiu-se a Nafta, polarizada pelos
de alta tecnologia: informática, robótica e biotecnologia, entre outras. Estados Unidos; na Europa, a Alemanha unificada funcionou
O capitalismo é cada vez mais informacional e global. Ne- como eixo de ligação entre o leste e o oeste do continente e
nhum país está imune aos interesses das grandes corporações no Pacífico, o Japão centralizou uma vasta área de influência.
e aos fluxos de capitais, mercadorias, informações e pessoas, As reformas econômicas chinesas, apoiadas sobre o alicerce
características importantes do processo de globalização, atual do poder monolítico comunista, representaram uma reorga-
momento da expansão capitalista. Trata-se de uma expansão nização radical do espaço do leste asiático. Os crescentes
que visa a aumentar os mercados e, portanto, o lucro, o que de investimentos dos chineses de Formosa, dos coreanos do sul e
fato move os capitais. Esta é a razão de haver se disseminado, dos japoneses no território continental da China assinalaram a
com base no governo norte-americano e em instituições por ele integração de Beijing à esfera econômica polarizada por Tóquio.
controladas, como o FMI e o Banco Mundial, o neoliberalismo, Os indícios de retomada das relações políticas e diplomáticas
que se contrapõe ao Keynesianismo. entre Japão e China abrem a possibilidade da emergência de
O neoliberalismo tem o objetivo de reduzir as barreiras um poderoso bloco supranacional asiático.
aos fluxos globais, o que beneficia notadamente os países A nova ordem mundial assinala a fragmentação do Terceiro
desenvolvidos e suas corporações multinacionais, embora Mundo em espaços periféricos, que tendem a se integrar mar-
alguns países emergentes, como a China, os Tigres Asiáticos, ginalmente aos megablocos econômicos.
o México e o Brasil, tenham recebido investimentos produtivos Os “Dragões Asiáticos” e os países pobres da Ásia Meridional
e ampliado seu comércio. funcionam como áreas de transbordamento dos capitais japo-
Fonte: Texto adaptado de ARRUDA, José Jobson; PILETTI, Nelson. neses e estadunidenses. A Europa do leste e do sul, bem como
Toda a história: história geral e do Brasil. São Paulo Editora Ática,
a África do norte, associam-se ao núcleo próspero da Europa
2001. MOREIRA, João Carlos; SENE, Eustáquio. Geografia Geral e do
Brasil: espaço geográfico e globalização. São Paulo: Scipione, 2007.
centro-ocidental. A América Latina entrelaça seu destino ao da
América do Norte.
A nova ordem mundial ergueu-se sobre uma revolução
Globalização tecno-científica que reorganizou o alocamento dos capitais no
O final da década de 1980 apresentou grandes transforma- espaço geográfico. Nesse movimento, a pobreza disseminou-se
ções político-sociais que resultaram em mudanças de fronteiras por toda a superfície do globo, avançando sobre as fronteiras
no começo dos anos de 1990. Exemplo disso foi a desintegração do Primeiro Mundo e instalando-se no coração dos Estados
da estrutura socialista no Leste Europeu em 1989. Na década Unidos e da Europa Ocidental. No mundo todo, microespaços de
de 1980, ocorreram importantes mudanças político-econômicas prosperidade convivem com cinturões envolventes de pobreza
na URSS, iniciadas durante o governo de Mikhail Gorbachev, e desemprego. A Nova Ordem Mundial não é mais estável ou
conhecidas como Perestroika (reestruturação na economia) segura que a ordem da Guerra Fria. A emergência dos naciona-
e Glasnost (transparência na política). Essas transformações lismos e da hostilidade étnica, o ressurgimento do racismo e da
possibilitaram o fim da URSS, em 1991, ano em que todas as xenofobia e a multiplicação dos conflitos localizados evidenciam
repúblicas que a formavam declararam independência. o componente de instabilidade introduzido pela decadência das
velhas superpotências.
Os últimos anos foram marcados por uma rápida e intensa
reordenação da política e da economia em todo o mundo.
334
Globalização e comércio exterior I
A organização do espaço que predomina na atualidade é Durante a Segunda Guerra Mundial, o dirigismo econômico
formada pelo recobrimento do planeta em Estados-nações, foi reforçado, mas a democracia restabeleceu-se como o
seus territórios, fluxos de relações, principalmente comerciais grande símbolo de luta contra o nazismo. Essa combinação
e geopolíticas, entre os mesmos; e por um sistema associativo de democracia política liberal e dirigismo estatal na economia
de organizações voltadas a questões de direito internacional, tornou-se responsável, entre os anos 50 e 80, pela afluência
fundamentalmente. Há, não obstante, a formação de cam- das sociedades de consumo e bem-estar social (welfare states).
pos e redes informais de relacionamento, que ultrapassam a Nos anos 80, porém, a crise econômica e os novos parâmetros
mediação dos Estados nacionais. Rupturas na estrutura do de produtividade e rentabilidade estabelecidos pela revolução
ordenamento político, como a “inutilidade” das fronteiras e a tecnológica colocaram em questão o Estado de bem-estar e as
desestruturação dos poderes territoriais tradicionais, são indi- políticas de benefício social nos Estados Unidos e na Inglater-
cadores de mudanças na ordem e na organização do espaço ra. Reagan e Thatcher lideraram a implantação de uma nova
mundial. Como decorrência, elas também se manifestam em política econômica, baseada em conceitos liberais extremados:
suas comunidades territoriais e econômicas e em suas respec- Estado mínimo, desregulamentação do trabalho, privatizações,
tivas instituições. funcionamento do mercado sem interferência estatal e cortes
Os espaços estão ocupados, completamente modificados e nos benefícios sociais: o neoliberalismo.
configurados como expressão econômica e instituição política
da sociedade. Essa situação tende à formação de um mundo BRICS e o retorno do capitalismo de Estado
completamente integrado cujo germes se encontram no período
O fato mais importante dessa primeira década do século
moderno de nossa história.
XXI é a emergência, no cenário mundial, de cinco grandes
Tal integração, entretanto, pode ser diferenciada em três países de economia diversificada: Brasil, Rússia, Índia, China
modalidades. São: (1) a integração sob a gestão do Estado, e África do Sul, que são vistos como novos polos do capita-
que implica o estabelecimento formal das relações entre es- lismo mundial, não só por serem grandes polos exportadores
tados; (2) sob a influência e domínio de ações transnacionais de mercadorias, mas, principalmente, por serem dotados de
que começam a se sobrepor à modalidade anterior; e (3), por grandes mercados internos de consumidores.
fim, como tem ocorrido mais recentemente, o aparecimento de
BRIC é um termo criado em novembro de 2001, pelo
formas globais de integração.
economista Jim O´Neill, para designar os 4 principais países
A primeira corresponde à situação demarcada pelas relações
emergentes do mundo, a saber: Brasil, Rússia, Índia e China.
entre nações, em que o Estado assume o papel primordial, seja
Especula-se que esses países poderão se tornar a maior força
por meio da diplomacia, do comércio externo ou, até mesmo,
na economia mundial até 2050 e que as economias BRIC juntas
da guerra. Compreende a colonização, a descolonização, o
poderão ser maiores que as dos Estados Unidos da América,
nacionalismo e a criação de organizações internacionais, dentre
Japão, Alemanha, Reino Unido, França e Itália. A partir do ano
as quais a ONU constitui a expressão máxima como organismo
de 2011, a África do Sul também foi oficialmente incorporada
de direito internacional.
ao BRIC, que passou então a se chamar BRICS.
A transnacionalização, por sua vez, refere-se à transferência
O estudo ressalta que cada um dos cinco países enfrentam
de investimentos de um Estado-Nação a outro, por conta de em-
desafios diferentes para manter o crescimento na faixa dese-
presas privadas, as quais possuem estabelecimentos em mais
jável. Por isso, existe uma boa chance de as previsões não se
de uma nação. Esse quadro impulsionou, desde a Segundo
concretizarem.
Guerra Mundial, a criação de mecanismos de ordenamento do
comércio e do sistema financeiro no plano mundial. A transna- Atualmente, os BRICS são detentores de mais de 21% do
cionalização é, assim, resultado direto da ampliação do poder PIB mundial, formando o grupo de países que mais crescem
econômico de grandes conglomerados empresariais oriundos no planeta. Além disso, representam 42% da população mun-
da união dos capitais financeiro e industrial. dial, 45% da força de trabalho e o maior poder de consumo
A globalização é um fenômeno que tende à unificação do do mundo. Destacam-se também pela abundância de suas
mercado mundial, sem barreiras alfandegárias. No âmbito da riquezas nacionais e as condições favoráveis que atualmente
empresa, corresponde ao seu espalhamento em escala mun- apresentam para explorá-las.
dial. Compreendem essa realidade o crescimento descomunal As consequências que são apontadas dessa nova configu-
e generalizado do desemprego estrutural, a tendência de ração da economia capitalista restringem-se, normalmente, à
terceirização da produção e dos serviços, o estímulo à forma- afirmação de um mundo mais multipolar. Algo desse mundo
ção de pequenas empresas e o fortalecimento das posições multipolar já poderia ser sentido na maneira com que as nego-
propugnadoras da reforma do Estado. Tais argumentos visam ciações na OMC são marcadas pelos confrontos entre EUA, UE
a reduzir o volume da tributação, criar ambientes favoráveis e o G-20. Outra consequência seria a relativização a respeito
ao livre-mercado e assim favorecer os capitais locais na con- da centralidade da riqueza imaterial (inteligência, tecnologia),
corrência mundial. pois, excluindo a florescente indústria indiana da informática,
Nesse momento, desponta um ambiente global de relações a base econômica desses países é eminentemente “clássica”,
no qual as modalidades da integração funcionam como campos ou seja, energia (petróleo, gás, biodiesel) e produção industrial.
de atuação, num espaço global não integrado. No entanto, há mais um dado: esses países afastaram-se
de reformas classicamente liberais, marcadas pela abertura
Liberalismo e neoliberalismo global de mercados e pelo desmantelamento do papel regulador
O liberalismo como doutrina econômica e política do do Estado na economia. Contrariamente aos Tigres Asiáticos,
capitalismo se enfraqueceu após a crise mundial dos nenhum desses países adotou ou permaneceu no “Consenso
anos 30, sendo substituído pelo dirigismo econômico de de Washington”.
Keynes e, em parte, pelas doutrinas fascista e nazista.
335
Geografia
336
Globalização e comércio exterior I
337
Geografia
Glossário
• Multinacionais ou transnacionais: empresas que distribuem suas atividades em filiais por todo o planeta, além de serem
responsáveis por boa parte da exportação de produtos e serviços. A coordenação dessas atividades é feita por meio de
uma ampla rede de comunicações e informações.
• Telemática: conjunto de serviços informáticos que possibilitam o fluxo de dados, textos, imagens e sons, através de uma
rede de telecomunicações.
• A taxa de câmbio pode ser determinada, sobretudo, de dois modos: institucionalmente, por meio de decisão das au-
toridades econômicas com fixação das taxas (taxas fixas) ou por meio dos mecanismos de mercado, em que as taxas
modificam-se ao longo do dia, em função das pressões de oferta e demanda por divisas estrangeiras (taxas flutuantes).
Atualmente, o Brasil pratica a taxa flutuante.
• Divisas: letras, cheques e ordens de pagamento, convertíveis em moedas estrangeiras, ou as próprias moedas, usadas
por entidades públicas e privadas em transações comerciais.
• Reserva cambial: quantidade de moedas estrangeiras e ouro existente num país para viabilizar transações econômicas
internacionais.
• Países emergentes: expressão utilizada por diversos organismos da ONU para se referir aos países subdesenvolvidos
que se industrializaram ou estão em processo de industrialização. São exemplos Brasil, México, Argentina, Índia, China,
África do Sul, Taiwan, Indonésia e Malásia, que apresentam uma razoável infraestrutura energética, de comunicações e
de transportes, além de um mercado consumidor em crescimento.
• Balança comercial: relação entre as exportações e as importações realizadas por um país, medida em dólares. O deficit
na balança comercial ocorre quando o valor das importações supera o valor das exportações. Ocorrendo o contrário, a
balança comercial registra superavit.
O desenvolvimento do mecanismo do comércio exterior fica, em maior parte, a cargo do governo, cabendo a este fornecer
subsídios para que novos campos de produção cresçam e evoluam. Também faz parte de suas atribuições o estabelecimento de
normas e diretrizes intranacionais a serem seguidas pelas empresas que desejam manter relações comerciais com estrangeiros.
Às empresas cabe acatar e observar as normas impostas pelo governo nacional, assim como as exigências do parceiro comercial
com quem se está negociando. Toda essa sistemática é estabelecida, na maioria das vezes, por acordos de âmbito internacional
firmados entre diversos países. Uma das mais importantes convenções estabelecidas para reger o fluxo de produtos e serviços
no mundo foi a Organização Mundial do Comércio (OMC), criada em 1995, e que serve de tribunal para assuntos referentes a
exportação e importação entre os países-membros, do qual faz parte também o Brasil.
Consideramos circulação a movimentação de matérias-primas, de produtos industrializados e agrícolas, de valores, de pessoas
etc., através das mais diferentes modalidades de transporte, capaz de promover e intensificar as relações comerciais. Sendo assim,
a circulação é um dos mais importantes fenômenos na dinâmica geral da economia global. As sociedades mais desenvolvidas
vêm experimentando atualmente um crescente avanço neste setor.
A especialização do trabalho foi um dos fatores desse crescimento, levando ao aparecimento de regiões diferenciadas quanto
à produção. Esse fato favoreceu a intensificação das trocas entre os países, provocando uma maior interdependência entre as
economias. O nível de desenvolvimento de uma região ou país pode ser verificado pelos índices de participação das atividades
comerciais, ocorrendo uma forte relação entre valor/volume comercializado e desenvolvimento econômico.
O comércio internacional é caracterizado pelo Balanço de Pagamentos. Por exemplo: quando determinado país exporta
mais do que importa, sua balança comercial apresenta-se positiva ou com superavit; quando ocorre o oposto, ela apresenta-se
negativa ou deficitária, ou, ainda, com deficit. Quando o deficit do balanço de pagamentos se mantém em crescimento, os gover-
nos buscam empréstimos externos, prorrogam o pagamento de dívidas e adotam a elevação da taxa cambial, desvalorizando a
moeda nacional com o intuito de reduzir o volume das importações e aumentar o das exportações. A livre negociação da oferta, da
demanda e dos preços caracteriza o comércio internacional (Livre Concorrência), podendo ocorrer situações em que se estabe-
lecem relações de monopólio de determinadas mercadorias ou serviços, ou seja, concentração da oferta para demanda elevada.
Nas últimas cinco décadas houve um vertiginoso crescimento do comércio mundial. O aumento das transações comerciais
entre os países tem como principal causa a expansão das multinacionais pelo mundo e, consequentemente, a fragmentação e a
terceirização do processo produtivo.
Outros fatores têm influenciado diretamente a intensificação do comércio mundial: a queda das barreiras fiscais em diversos
países e a formação de alianças e de blocos econômicos regionais.
Os governos de várias nações vêm diminuindo a incidência e o valor das tarifas alfandegárias sobre mercadorias importadas
e exportadas com base, sobretudo, em acordos formalizados por meio da OMC. Com a OMC, o comércio internacional ingressou
em uma nova fase, com maiores direitos e deveres para praticamente todos os países.
Os países em desenvolvimento, particularmente o Brasil, e aqueles ainda em transição tiveram uma participação mais ativa
nessas negociações do que em qualquer uma das outras já realizadas. Esses países assumiram quase tantos compromissos
quanto os desenvolvidos, mas contam, em geral, com um período de adaptação maior às novas regras.
Os compromissos e as obrigações assumidos pelos membros da OMC tornaram o intercâmbio mundial mais previsível, mas
também reduziram o grau de liberdade dos governos nacionais na definição de suas práticas comerciais.
338
Globalização e comércio exterior I
A OMC foi a instituição proeminente da virada para o século XXI, mercado realmente comum entre os integrantes.
em que as questões econômicas voltaram a ocupar o espaço • União ou integração econômica e monetária: Além de
que perderam durante a Guerra Fria. Os acordos sob sua todas as características do Mercado Comum e da adoção
responsabilidade ainda não dão conta de um mundo cada vez de uma moeda única, neste estágio ocorre a criação de
mais globalizado, em que muitos mercados são disputados um Banco Central e a institucionalização de uma política
milimetricamente por empresas transnacionais e seus produtos monetária comum para todos os países-membros.
globais são de múltiplas nacionalidades.
• Integração política e institucional: Integração total
A OMC deve garantir acesso aos mercados, condições entre os países-membros. Ocorre quando há unificação
justas de competição e previsibilidade no âmbito do comércio de diversas instituições sociais, políticas, econômicas
internacional. e militares. Ainda não há nenhum bloco nesse estágio.
Em 1994, demandas de inclusão de novos temas nas discus- Veremos, a seguir, alguns dos principais blocos econômicos
sões sobre comércio multilateral foram colocadas sobre a mesa: da atualidade e suas características.
políticas ambientais, condições e normas de trabalho, políticas
de investimentos, de concorrência e de imigração, questões mo- A União Europeia
netárias, de comércio e de desenvolvimento. Estes, chamados
temas emergentes, já estão sendo discutidos regionalmente. Origens da União Europeia
Nas relações entre os países, acordos comerciais são
Em março de 1948, num clima de competição político-
firmados, estabelecendo os valores dos tributos ou tarifas
ideológica contra a expansão socialista, Bélgica, Holanda e Lu-
alfandegárias. Estas funcionam como mecanismo de proteção
xemburgo, componentes do Benelux (acordo entre os governos
ao produto nacional, sendo a manutenção de tarifas elevadas
desses países para acabar com as barreiras alfandegárias, logo
sobre a importação de determinado produto uma estratégia para
após o término da Segunda Guerra) aliaram-se à Grã-Bretanha,
proteger da concorrência o similar produzido no país. Exemplo
Itália e França, tendo como objetivo a segurança militar e a
de protecionismo: cobrança de elevadas taxas (200%) para a
construção da União Europeia Ocidental.
entrada de automóveis no Brasil até 1990, favorecendo a pro-
dução interna em relação à concorrência estrangeira. Na década de 1950, a Comunidade Europeia do Carvão e
do Aço (CECA), constituída pelos países do Benelux e seus
Com a expansão do comércio internacional, foram criadas
aliados, eliminou as discriminações de preços e de transpor-
várias associações de países, visando à derrubada das tarifas
tes. Esse fato facilitou a definição de uma política industrial e
aduaneiras com o intuito de intensificar as relações comerciais
a formação de empresas concentradas em âmbito europeu.
entre os países pertencentes ao mesmo bloco econômico.
A CECA evoluiu para a formação da Comunidade Econômica
Como exemplos temos a União Europeia (UE), o Nafta, a
Europeia (CEE), inicialmente com seis países-membros, e
APEC e o Mercosul.
para a Comunidade Europeia de Energia Atômica (Euratom),
As importações brasileiras são principalmente bens de capital, em 1957.
matérias-primas e combustíveis. Das importações de
Em 1968, com prazos determinados para cumprir etapas, foi
manufaturados, destacam-se produtos químicos e farma-
definida uma união alfandegária entre os primeiros participan-
cêuticos, bens de informática, maquinário, equipamentos
tes da Comunidade Europeia (CE), que formaram o Mercado
eletroeletrônicos, equipamentos de transporte, petróleo e
Comum Europeu. Em 1973, Grã-Bretanha, Dinamarca e Irlanda
seus derivados.
passaram a fazer parte da Comunidade Econômica Europeia,
Os principais países fornecedores das importações brasilei- que, cada vez mais, se aperfeiçoava nas suas relações econô-
ras são: Estados Unidos, Argentina, Alemanha, Japão, Arábia micas. O Conselho Europeu, órgão da CE, passou a analisar
Saudita e Itália. os meios para a obtenção de um sistema monetário comum, a
formação de um parlamento e o aumento do número de repre-
O comércio regionalizado - Os blocos sentantes de cada país-membro.
econômicos O encaminhamento para a moeda única aconteceu em 1991,
A principal tendência do mundo globalizado é a formação na Conferência Intergovernamental de Maastricht (Holanda),
dos blocos regionais, criados com o objetivo de intensificar o quando definiram-se os termos para uma progressiva união
comércio entre os países-membros por meio da redução ou financeira, por meio da adoção de uma moeda única para toda a
eliminação das tarifas alfandegárias. Os blocos econômicos Comunidade. Em 1992 é lançada a União Europeia, eliminando
apresentam alguns estágios de integração e podem ser clas- totalmente as fronteiras entre os 12 países-membros.
sificados da seguinte maneira: A UE foi criada pelo Tratado de Maastricht em 1992. Desde
• Zona de Livre Comércio (ZLC): Ocorre a redução ou sua implementação, vem ocorrendo, entre os países integran-
eliminação de tarifas e barreiras não tarifárias e das res- tes, maior cooperação em questões como o combate ao crime
trições quantitativas. Não há livre circulação de pessoas, organizado e ao narcotráfico, além de decisões comuns rela-
apenas de capital. cionadas a meio ambiente, imigração, educação, proteção do
consumidor, saúde pública e defesa do território, entre outras
• União Aduaneira: Além de todas as características da
ZLC, é adotada uma mesma tarifa externa comum (TEC) áreas.
para trocas com países que não pertencem ao bloco. Em 1º de janeiro de 2002, entrou em circulação o euro, a
• Mercado Comum: Além de todas as características da moeda única (união monetária), em doze países que pertencem
união aduaneira, permite-se o livre trânsito dos meios de à UE. Os países que o adotaram foram: Áustria, Bélgica, Fin-
produção (capital, serviços e mão de obra) entre a maioria lândia, França, Alemanha, Irlanda, Itália, Luxemburgo, Holanda
dos países-membros. Assim, há o estabelecimento de um (países Baixos), Portugal, Grécia e Espanha. Reino Unido,
339
Geografia
Dinamarca e Suécia optaram por não adotar a moeda única. são, mas também dos países integrantes do restante do bloco.
A implantação do euro representou a criação de uma moe- Turquia - Eterna candidata
da forte no sistema financeiro internacional e um elemento
Com território em dois continentes, Europa e Ásia, a Turquia
facilitador do comércio e dos investimentos dentro do próprio
estabeleceu uma rígida separação entre Estado e religião, ao
continente. Os negócios internacionais, antes feitos em dólar,
contrário do que ocorre na maioria dos países que, como ela,
passaram a ser realizados também em euro, reduzindo a su-
tem população muçulmana. O governo turco, entusiasta da
premacia da moeda norte-americana.
adesão ao bloco, já propôs mais de 800 leis para adaptar o país
A partir de maio de 2004, a União Europeia contou com a sua às condições exigidas – incluindo desde reformas econômicas
maior expansão de uma única vez – dez novos membros foram e privatizações até a abolição da pena de morte.
oficialmente admitidos, como se pode ver no mapa a seguir. Es- Mas essa adesão à União Europeia esbarra em vários
ses novos membros representaram um acréscimo de 80 milhões problemas.
de habitantes aos cerca de 370 milhões já existentes. A maior
parte desses países pertenceu ao bloco socialista, sendo que
• Os países europeus temem o ingresso de uma nação com
74 milhões de habitantes, em sua maioria muçulmana.
três deles – Lituânia, Estônia e Letônia – integravam a extinta A entrada da Turquia levaria as fronteiras do bloco até
URSS. Trata-se também de países com PIB per capita bem o Oriente Médio. O governo turco argumenta, quanto
inferior à média da União Europeia – cerca de 40%. No entanto, à questão religiosa, que a entrada da nação seria uma
os benefícios oferecidos aos novos membros, como subsídios oportunidade de mostrar que a UE não é formada apenas
agrícolas e ajuda econômica para promover o desenvolvimento por povos cristãos.
e diminuir as diferenças econômicas existentes em relação aos • Outro fator que pesa contra a Turquia é a situação de
demais países da União Europeia, são limitados. Esses países Chipre, já membro da UE. Esse país, uma ilha no mar
passaram a ter acesso a todos os benefícios em 2014, dez anos Mediterrâneo, está há três décadas dividido em um setor
após o processo de integração ao bloco. grego, ao sul, mais desenvolvido, e outro, ao norte, sob
o controle do Exército turco. O fato de a Turquia ocupar
Em 2013, a União Europeia completou 28 membros o norte da ilha e não reconhecer o governo de Chipre
com a entrada da Croácia. dificulta sua aceitação.
União Europeia • Há ainda a questão dos curdos, 18% dos habitantes
Membros desde 2004 da Turquia. Mais numerosa população sem Estado no
Membros desde 2007
Países candidatos mundo, os curdos vivem espalhados na parte oriental do
Zona do Euro
território turco e nas nações vizinhas. Querem criar seu
país, o Curdistão, na região em que vivem. A integração da
*Previsto para 2007 Finlândia
Suécia
Estônia Turquia à UE levaria esse conflito – que envolve também
Letônia Iraque, Síria e Irã – para dentro da UE. .
Países Lituânia
Irlanda
Reino
Unido
Baixos
Polônia
O Nafta
Alemanha
Bélgica
Rep. Tcheca
Em 1994, EUA, Canadá e México deram os primeiros pas-
Luxemburgo Eslováquia
Hungria sos rumo à formação de uma economia supranacional, com
Áustria
França
Eslovênia Romênia a criação do Nafta. Juntos, formam um mercado de aproxi-
Croácia
Bulgária
madamente 424 milhões de habitantes e respondem por um
via
Portugal Espanha
Itália
Macedônia
Sér PIB de aproximadamente 13,4 trilhões de dólares, em 2004.
Grécia
Turquia O acordo previa a instalação de uma zona de livre-comércio,
na qual a abolição total das tarifas aduaneiras seria colocada
Chipre
Malta
Finlândia
em prática até 2015. Uma grande quantidade de produtos já
*A partir de 2019 o Reino Unido formalmente não fará mais parte da U.E. circula livremente entre os três países, sem nenhuma taxação.
Em 2016, um plebiscito realizado em todos os países que Como não existe a perspectiva de formação de um mercado
fazem parte do Reino Unido (Inglaterra, País de Gales, Irlanda único nos moldes da União Europeia, a grande diferença socioe-
do Norte e Escócia), indicou a preferencia pela saída da UE. conômica entre o México e os outros dois países do Nafta trouxe
vários problemas para a sociedade e a economia mexicanas, e
A saída do Reino Unido do bloco econômico é uma espécie
também para trabalhadores norte-americanos e canadenses.
de vitória da direita dentro dos países. Isso porque a campanha
para o Brexit – junção de Britain (Bretanha) com exit (saída) – A questão da disparidade em termos socioeconômicos na UE
foi liderada por uma série de políticos conservadores. Após o foi resolvida gradativamente, à medida que foram direcionados
resultado da votação de 2016, em março de 2017 teve início investimentos das economias mais vigorosas da UE (Alemanha,
processo de saída do Reino Unido da União Europeia, espera- França e Reino Unido) para os países menos desenvolvidos do
-se que em 2019 todo o processo esteja concluído e assim, o bloco. Isso não ocorreu com o Nafta em relação ao México. No
país estará formalmente fora do bloco. Nafta, vigora apenas o objetivo da livre-circulação de merca-
Acredita-se que os motivos dessa decisão estão relacionados dorias, e desde a sua implantação, muitas empresas dos EUA
com o desejo de ser mais seletivo com relação aos imigrantes instalaram-se no México, atraídas pela mão de obra bem mais
que entram no país, inclusive os imigrantes vindos dos próprios barata e pela legislação trabalhista mais flexível. Em razão
países da Europa, além do desejo de ter uma política econômica disso, no setor industrial norte-americano, milhares de postos
que seja independente das decisões que são tomadas pelo de trabalho foram fechados.
bloco econômico europeu. Apesar de ter ocorrido uma ampliação das exportações
Ainda não se sabe as consequências da saída do Reino mexicanas, a dependência da economia mexicana em relação
Unido na economia não só dos países que votaram pela exclu- à dos EUA é muito grande – cerca de 85% das exportações
340
Globalização e comércio exterior I
do México vão para os Estados Unidos e 8% das importações outros países. Essa “união aduaneira imperfeita” ocorre porque
são provenientes desse país. Além disso, houve um significa- as economias dos países-membros são bastante assimétricas.
tivo processo de desnacionalização da economia mexicana: Dessa forma, o Mercosul acaba estabelecendo algumas bre-
por exemplo, três quartos das empresas têxteis que atuam no chas, com mecanismos para não prejudicar as economias de
México são de procedência norte-americana. menor dinamismo e os setores econômicos mais sensíveis à
O Nafta não trouxe avanços tecnológicos significativos para concorrência externa.
o México, pois muitas das novas indústrias que se instalaram Além disso, o bloco passa por outros problemas de cunho
são apenas montadoras, chamadas de maquiladoras, e boa político. Em 2012, o Paraguai foi suspenso em razão do proces-
parte dos componentes que integram os produtos vem de fora, so de impeachment controverso de Fernando Lugo, retornando
principalmente dos EUA. apenas em 2013. Há ainda a questão referente à Venezuela,
Na agricultura mexicana, os impactos sociais foram negati- já que desde a morte de Hugo Chávez em 2013 o país mergu-
vos. Os cultivadores de trigo, batata e arroz passaram a sofrer lhou em uma severa crise política e econômica marcada por
a forte concorrência dos norte-americanos, tecnologicamente um enorme problema de abastecimento interno, provocando a
mais bem preparados e fortemente amparados pelos subsídios migração de milhares de venezuelanos. Justamente por esses
do governo dos EUA. Como consequência, especialmente fatores, acredita-se que o bloco vive seu maior impasse.
pequenos e médios agricultores mexicanos enfrentam sérias Os membros plenos formam uma união aduaneira, ou seja,
dificuldades para levar adiante suas atividades. Além disso, o adotam uma Tarifa Externa Comum (TEC), o que significa que
desemprego rural vem aumentando. muitos produtos importados pelos países do bloco são subme-
É inegável que a economia mexicana cresceu. A integração tidos às mesmas taxas aduaneiras.
do México ao Nafta impulsionou a sua economia, aumentou o
A Alca
valor da produção anual (PIB), e o país foi o que mais recebeu
investimentos dos Estados Unidos na América. No entanto, Em 1994, na cidade de Miami, EUA, iniciaram-se as nego-
essas conquistas podem não ser duradouras. A economia me- ciações para a criação da Alca (Área de Livre-Comércio das
xicana tomou-se ainda mais sujeita às decisões das grandes Américas), que reuniria 34 países, ou seja, todos os países do
empresas e do governo dos Estados Unidos. Além disso, os continente americano, exceto Cuba. Desde então, reuniões,
ganhos sociais não foram proporcionais aos econômicos. Desde denominadas Encontros ou Cúpulas das Américas, passaram
a posse de Trump no início de 2017 muitas incertezas pairam a ser realizadas anualmente.
sobre o NAFTA, já que o presidente estadunidense contra a A participação do Brasil na Alca é polêmica. O continente
participação dos EUA em blocos econômicos, alegando que americano reúne, de um lado, dois países desenvolvidos e
essas parcerias prejudicam a geração de emprego nos EUA. com alto índice de avanço tecnológico – os Estados Unidos e
Além disso, a sua insistência em ampliar o muro que separa o Canadá – e, do outro, países subdesenvolvidos, alguns muito
o México do país com objetivo de dificultar a entradas de imi- pobres, com economia baseada na agricultura e/ou na extração
grantes ilegais e drogas, tem gerado tensão entre os países. mineral, como Haiti, Guiana, Guatemala, Bolívia, Equador.
Nesse contexto, o Brasil fica numa situação inter-
O Mercosul
mediária, do ponto de vista de desenvolvimento eco-
O Mercosul foi criado em 1991 quando Brasil,Argentina, Paraguai nômico. Por um lado, nosso país e os demais países
e Uruguai assinaram o Tratado de Assunção, um acordo de livre- latino-americanos não têm condições de concorrer em
comércio. No entanto, somente em 1995 foi formada oficial- pé de igualdade com as empresas dos Estados Unidos.
mente a União Aduaneira. Por outro lado, o país que se negar a participar da Alca pode
Ao longo da década passada, as relações comerciais entre sofrer represálias comerciais dos norte-americanos, que certa-
os países-membros tiveram avanços expressivos, com a criação mente o colocariam numa difícil situação econômica. O Brasil,
de vários projetos de infraestrutura. Estradas, hidrovias e hidre- por exemplo, destina cerca de 25% de suas exportações para
létricas, foram desenvolvidos, levando em conta o crescimento os Estados Unidos.
desse mercado. Mas é preciso considerar também que o Brasil é um país
Os países-membros do Mercosul representam 42% da importante para os Estados Unidos, pois, excetuando o Mé-
população latino-americana e mais da metade de todo o valor xico, representa sozinho quase metade da economia latino-
produzido pela economia dessa parte do continente. -americana e responde por cerca de 70% da economia de toda
Bolívia, Chile, Peru, Colômbia e Equador participam do a América do Sul.
Mercosul como membros associados, ou seja, suas relações O Mercosul, junto com a CAN (Comunidade Andina) ou Pacto
com os demais países restringem-se ao âmbito da zona de Andino, tem buscado maior integração comercial e propostas
livre-comércio, não participando da união aduaneira nem das comuns a serem discutidas com os demais membros da Alca,
negociações que envolvem aspectos relacionados à criação do para fortalecer a sua capacidade de negociação frente aos
mercado comum. Na verdade, o Mercosul é considerado uma Estados Unidos, que lideram o G-14.
união aduaneira que não funciona como deveria. Isso porque Muitos países em desenvolvimento da América Central e do
não existe uma zona de livre circulação de mercadorias plena Sul precisariam de investimentos bilionários em infraestrutura
entre os seus membros. Ainda que tenha havido reduções sig- para que suas economias suportem a entrada num mercado
nificativas das tarifas comerciais em diversos setores, muitos econômico do porte da Alca. Setores como o de transportes,
produtos uruguaios, paraguaios, argentinos e venezuelanos telecomunicações, energia, água, portos e aviação devem ser
não estão livres de barreiras para ingressar no Brasil – e vice- reestruturados.
-versa. Da mesma forma, há uma extensa lista de exceções para
Também existem barreiras internas nos Estados Unidos,
a aplicação da Tarifa Externa Comum nas negociações com
pois, em 1997, o então presidente Bill Clinton, não conseguiu
341
Geografia
aprovar no Congresso o chamado fast track, que seria a via rápida para a implementação da Alca. Muitos sindicatos patronais e
de trabalhadores, resistem à ideia da Alca por temerem a concorrência de produtos estrangeiros e o desemprego.
Alca: divergências entre Brasil e EUA
AMÉRICA OCEANO
ÁFRICA
Comunidade Andina (CAN) ou ÍNDICO OCEANIA
TRÓPICO DE CAPRICÓRNIO
Pacto Andino
primeiro bloco criado nas Américas,
em 1969, conta com a participação de Cooperação Econômica da
Venezuela, Colômbia, Equador, Peru e Comunidade da África Meridional Ásia do Pacífico (Apec)
Bolívia. para o Desenvolvimento (SADC)
formada em 1989, reúne atualmente
N criada em 1992, compreende Angola, Austrália, Brunei, Canadá, Indonésia,
CÍRCULO POLAR ANTÁRTICO
África do sul, Botsuana, Lesoto, Japão, Malásia, Nova Zelândia,
Malauí, Maurício, Moçambique, Filipinas, Cingapura, Coreia do Sul,
Mercado Comum do Cone Sul Tailândia, Estados Unidos, China,
Namíbia, República Democrática do
(Mercosul) Congo, Seychelles, Suazilândia, Hong Kong, Taiwan, México,
0 2900 5800 Tanzânia, Zâmbia e Zimbábue. Papua-Nova Guiné, Chile, Peru,
formado em 1991 por Brasil,
Federação Russa e Vietnã.
km Argentina, Paraguai e Uruguai.
Ciência Hoje. Rio de Janeiro: SBPC, v. 30, n. 180, março de 2002. p.26-27, e http://www.europa.eu.int - (02?03?2005)
Existem outras associações e acordos, além dos citados, mas de menor importância ou ainda em processo de formação: a Apec
(Cooperação Econômica da Ásia e do Pacífico), que reúne países da Ásia, Oceania e América; a Asean (Associação das Nações
do Sudeste Asiático); o Caricom (Mercado Comum e Comunidade do Caribe); a CAN (Comunidade Andina) ou Pacto Andino e a
CEI (Comunidade dos Estados Independentes), que reúne os países da extinta URSS, exceto Letônia, Lituânia e Estônia.
342
Globalização e comércio exterior I
343
Geografia
5. (EsPCex (AMAN) –2017) A China tem se tornado uma O fracasso atribuído por Celso Amorim e Mike Froman
das maiores potências mundiais. É considerada uma às sucessivas negociações acerca do comércio inter-
economia emergente, tanto pelo peso de sua econo- nacional de commodities e de bens industrializados
mia quanto pela forte influência que exerce no cenário deveu-se, principalmente, ao fato de que
regional e global. A expansão da indústria tem sido A) não houve consenso, entre países desenvolvidos
um dos principais fatores do crescimento da economia e subdesenvolvidos, acerca do comércio de bens e
desse país. serviços ambientalmente sustentáveis.
Sobre a economia chinesa, podemos afirmar que B) os países desenvolvidos exigiram que os países em
I. a indústria pesada ainda permanece sob o controle desenvolvimento eliminassem os subsídios ofereci-
estatal chinês e concentra-se, predominantemente, dos pelos governos destes países às suas produções
nas províncias da Manchúria, no nordeste do País, agrícolas, a fim de ampliar a participação de seus pró-
a qual dispõe de vastas reservas de carvão mineral prios produtos agrícolas no comércio internacional.
e minério de ferro. C) o tema da liberalização do comércio agrícola e
II. a indústria de alta tecnologia expandiu-se rapida- de bens não agrícolas continuou a figurar como
mente no País, o que o tornou um dos maiores principal entrave político nas relações de comércio
exportadores do mundo de produtos ligados à entre os países desenvolvidos e os países em
tecnologia da informação. Entretanto, a China não desenvolvimento.
controla a maior parte das tecnologias mais valiosas D) não houve consenso entre países desenvolvidos e
dos produtos que fabrica, pois tais componentes são em desenvolvimento acerca da redução das emis-
fabricados no exterior. sões de gases de estufa e do comércio mundial
III. o dinamismo econômico da região litorânea da dos créditos de carbono, a fim de desacelerar o
China vem se difundindo em direção ao cinturão aquecimento global.
agrícola do interior. Tal fato tem propiciado um maior E) ocorreu, por parte da OMC, a imposição de medidas
equilíbrio do PIB per capita entre a “China marítima” impopulares para o equilíbrio das contas públicas
e a “China interior”. dos países subdesenvolvidos, com vistas a atenuar
IV. atualmente, com o envelhecimento da população os efeitos da crise financeira sobre os fluxos globais
e com o desenvolvimento tecnológico do setor de comércio.
industrial, a mão de obra tem encarecido e levado
indústrias a se transferirem para o interior do País, 7. (EsPCex (AMAN) –2018) “‘Exterior próximo’ - é assim
em busca de mão de obra mais barata. que o governo russo encara os demais Estados da CEI
(Comunidade de Estados Independentes).”
V. a China não foi autorizada a participar da Organiza-
ção Mundial do Comércio (OMC), pelo tratamento Adaptado de: MAGNOLI, D. Geografia para o Ensi-
no Médio. 1. ed. São Paulo: Atual, 2012, p.562.
dado aos direitos individuais e liberdades civis de
sua população; dessa forma, o País não obedece às Ao utilizar tal expressão, a Rússia caracteriza bem
regras do comércio internacional, mantendo elevados sua esfera de influência política no continente asiático.
subsídios à agricultura e altas taxas de importação. Dentre os fatores que explicam a influência russa sobre
Assinale a alternativa que apresenta todas as afirma- o seu “Exterior Próximo”, podemos destacar o(a)
tivas corretas. I. grande dependência das economias dos países
A) I, II e III da CEI em relação ao mercado russo, destino de
B) I, II e IV grande parte das exportações desses países.
C) II, III e V II. tratado de segurança coletiva assinado pelos países
D) I, IV e V da CEI, que, em vigor desde 1994, proíbe seus
integrantes de participarem de alianças militares
E) III, IV e V
externas.
6. (EsPCex (AMAN) –2018) Leia os relatos a seguir: III. controle sobre a soberania política e econômica
“Ao final da reunião ministerial da Organização Mundial desses países e de suas reservas energéticas situa-
do Comércio (OMC), em julho de 2008, a sensação foi das em pontos estratégicos para a economia russa.
de desalento, como fica evidente nas palavras do Mi- IV. identidade cultural e religiosa entre a Rússia e os
nistro das Relações Exteriores, Celso Amorim: ‘É uma demais Estados da CEI, aliada ao fato de ser a lín-
pena, pois para qualquer observador externo [...] seria gua russa o idioma mais falado em todo o “Exterior
inacreditável que, depois do progresso alcançado, nós Próximo”.
não conseguimos chegar a uma conclusão.’”
V. considerável dependência de praticamente todas as
Adaptado de: Sene, E.; Moreira, J.C. - Geografia Ge-
ex-repúblicas soviéticas da importação de produtos
ral e do Brasil: espaço geográfico e globalização. 2ª
ed. 2v. São Paulo: Scipione, 2012, p. 230.
da indústria russa.
Assinale a alternativa que apresenta todas as afirma-
“Mike Froman, o representante do governo dos Estados
tivas corretas.
Unidos para assuntos de comércio internacional, escre-
veu um artigo publicado ontem pelo jornal ‘Financial A) I, II e III
Times’ que a agenda do desenvolvimento da Rodada B) I, II e V
de Doha, iniciada 14 anos atrás, deveria ser substituída,
C) I, III e IV
porque ela simplesmente não produziu resultados.”
www1.folhauol.com.br/mercado/2015/12/1719245_
D) II, IV e V
negociações.da.rodadadoha. E) III, IV e V
344
Globalização e comércio exterior I
8. (EsPCex (AMAN) – 2018) Sabe-se que o poder global 10. (EsPCex – 2014) Em 2003 foi criado o termo BRIC, uma
dos Estados Unidos da América (EUA) é multidimen- sigla indicando o Brasil, a Rússia, a Índia e a China,
sional, expressando-se, por exemplo, nos campos respectivamente, como países que estariam destinados
econômico, financeiro e cultural. Contudo, de todas as a ingressar no seleto grupo das principais economias
dimensões do poder, merecem especial destaque os mundiais, devido à força de seus recursos naturais,
campos geopolítico e militar. Quanto a estes últimos, no humanos e estratégicos. Sobre os parceiros do Brasil
que diz respeito à distribuição e ação do poder militar nesse bloco, é correto afirmar que
norte-americano pelo globo, no início do século XXI, I. embora a Rússia tenha perdido importância econô-
podemos afirmar que mica no cenário mundial, apresenta-se como uma
I. em países europeus da Organização do Tratado do estratégica fornecedora de petróleo e gás natural
Atlântico Norte (Otan), como é o caso da Alemanha, para os países europeus.
da Grã-Bretanha e da Itália, situam-se grandes II. enquanto na China o setor secundário responde por
bases do Exército, da Marinha e da Força Aérea quase metade do PIB do País; na Índia é o setor
norte-americana. terciário que se destaca, respondendo por mais da
II. na Europa e na Ásia/Pacífico, como reflexo da Guer- metade do seu PIB.
ra Fria, estão as duas principais concentrações de III. a competitividade da economia chinesa está for-
forças dos Estados Unidos no exterior. temente relacionada à vasta reserva de mão de
III. o Japão e o Vietnã se destacam como principais obra barata, ao seu enorme mercado consumidor
aliados da orla oriental asiática, onde se situam potencial e às reformas políticas democráticas
grandes bases do Exército, da Marinha, da Força promovidas pelo Partido Comunista, sem as quais
Aérea e dos fuzileiros navais dos EUA. seria inviável a atuação do grande capital.
IV. a “guerra ao terror”, proposta no governo George IV. enquanto o “milagre chinês” articulou-se em torno da
W. Bush, traduziu-se, para o Oriente Médio, no produção manufatureira intensiva em mão de obra, a
envolvimento dos EUA em dois grandes conflitos Índia se destaca na globalização através dos setores
regionais, um no Iraque e outro na Síria. de biotecnologia e de tecnologias da informação, os
V. o Hawaí, estado norte-americano de além-mar, e a quais demandam quantidade relativamente peque-
ilha de Diego Garcia funcionam como importantes na de trabalhadores de alta qualificação.
centros de operações, respectivamente, nos ocea- V. em virtude das rígidas políticas de controle de na-
nos Pacífico e Índico. talidade, tanto a China como a Índia já apresentam
Assinale a alternativa que apresenta todas as afirma- taxas de crescimento natural próximas a zero, o que
tivas corretas. implicará necessariamente um rápido processo de
expansão da população idosa em ambos os países.
A) I, II e III
Assinale a alternativa em que todas as afirmativas estão
B) I, II e V
corretas.
C) I, III e IV
A) II, III e V D) I, III e IV
D) III, IV e V
B) II, III e IV E) I, II e IV
E) II, IV e V
C) I, IV e V
9. (EsPCex – 2011) Com relação ao Mercado Comum do
11. (EsPCex – 2011) As bases das seguintes instituições
Sul (Mercosul), podemos afirmar que: econômicas multilaterais: o Fundo Monetário Interna-
I. a aproximação geopolítica entre Brasil e Argentina, cional (FMI), que surgiu como fonte de empréstimos de
que representou uma ruptura com a tradição de curto prazo para países em crise financeira, e o Banco
rivalidade das relações entre esses dois países, foi Internacional para a Reconstrução e Desenvolvimento
fator determinante para o seu surgimento. (BIRD), que tinha como função original financiar os
II. o Tratado de Assunção, em 1991, o constituiu formal programas de reconstrução da Europa Ocidental e do
e juridicamente e contou, além do Brasil e da Ar- Japão, foram lançadas na Conferência
gentina, com a participação do Paraguai e do Chile A) das Nações Unidas Sobre o Comércio e o Desen-
como países-membros do novo Bloco. volvimento (Unctad).
III. a Zona de Livre Comércio estabelecida entre os B) das Nações Unidas Sobre o Desenvolvimento
países-membros implica na adoção de uma Tarifa Sustentável.
Externa Comum (TEC) pelos seus integrantes. C) de Estocolmo.
IV. não há soberania compartilhada, de modo que cada D) de Bretton Woods.
Estado conserva a prerrogativa de impedir a adoção E) de Kyoto.
de decisões com as quais não concorda.
Assinale a alternativa que apresenta todas as afirma- Gabarito
tivas corretas: 1. C 7. B
A) I e II 2. B 8. B
B) I, II e III 3. E 9. C
C) I e IV 4. B 10. E
D) II, III e IV 5. B 11. D
E) III e IV 6. C
345
Capítulo 22
Introdução à climatologia
O estudo das condições climáticas é essencial para com- A mesosfera inicia-se por volta de 60 km e vai até, aproxima-
preender a distribuição dos grandes biomas e dos seres vivos damente, 100 km de altitude. Ela caracteriza-se pela intensa ra-
e a distribuição da população humana sobre a superfície refação do ar, ou seja, praticamente não apresenta mais gases.
terrestre. Com poucas exceções, a maior parte da população
concentra-se em locais que apresentam condições climáticas 800 km
que favorecem a sua sobrevivência, como temperaturas e
índices pluviométricos adequados. Exosfera
Tempo e clima
É necessário diferenciar dois conceitos básicos: tempo e 500 km
clima.
Aurora polar
O tempo é a condição momentânea da atmosfera no que con-
cerne às características de temperatura, precipitação, pressão
atmosférica, umidade relativa do ar, entre outros fatores. Sendo
assim, as características que determinam o tempo podem variar Termosfera
em um curto período de tempo, mostrando uma nova interação
desses elementos e uma nova condição atmosférica. A obser-
vação do tempo é de extrema importância para o ser humano.
O clima, por sua vez, é a caracterização das condições at-
mosféricas de um determinado local, porém, em um intervalo 100 km
de tempo maior, que deve compreender cerca de 30 anos. Mesosfera
60 km
Sendo assim, os aspectos de um clima são determinados pelas Estratosfera
repetições dos elementos atmosféricos no período analisado, 12 km
mesmo que, ao longo da observação, outras características
se apresentem.
Troposfera
Dessa forma, é correto dizer que o tempo do verão de um
determinado local foi diferenciado das características climáticas
normais para a mesma área, sendo o tempo uma combinação
Fonte: http://www.sobiologia.com.br. Acesso em: 05 ago. 2010.
aleatória, e o clima, uma combinação habitual observada no
período de análise. A ionofera ou termosfera, iniciada por volta de 100 km e
terminada a cerca de 500 km, apresenta poeiras cósmicas que
Camadas da atmosfera são produzidas pela pulverização de meteoros de pequeno ta-
manho que chegam constantemente ao planeta Terra. O calor
A atmosfera é a camada gasosa que envolve o planeta Ter-
gerado pelo atrito do meteoro e os poucos gases atmosféricos
ra, “presa” a ele pela ação da força de gravidade. É nela que
promovem a destruição de grande parte deles, produzindo,
ocorrem os fenômenos climáticos que serão estudados a seguir.
assim, poeira cósmica. É nessa camada também que ocorre
A atmosfera é composta por 78% de nitrogênio, 21% de a maior parte das transmissões de ondas de rádio e televisão.
oxigênio e 1% de outros gases, como hidrogênio, gases nobres,
A última camada, que promove a ligação do espaço sideral
gás carbônico, metano, vapor de água, óxidos nitrosos, ozônio,
com a atmosfera, é denominada exosfera e se concentra de
entre outros, distribuídos de maneira irregular em cinco cama-
500 km até, aproximadamente, 800 km de altitude. Ela também
das: troposfera, estratosfera, mesosfera, ionosfera ou termos-
se caracteriza pela presença de poeira cósmica.
fera e exosfera. Cada camada apresenta suas características
quanto à distribuição dos gases e ao padrão de aquecimento. Cada uma dessas camadas, por apresentarem diferentes
composições gasosas, possui um padrão de aquecimento.
A troposfera inicia-se no contato com a superfície terrestre
e se eleva, em média, até 12 km de altitude. É nessa camada Na troposfera, o aumento da altitude implica a redução da tem-
que se encontram 80% da massa gasosa atmosférica e onde peratura, devido à diminuição da concentração gasosa em níveis
elevados. Assim, quanto maior for a altitude, menor é a quantidade
ocorrem os fenômenos climáticos como precipitações, furacões,
de gases que promovem a absorção de calor e, também, maior é
geadas, entre outros.
a distância da fonte liberadora de energia – a superfície terrestre.
A estratosfera é a camada que começa a, aproximadamente,
O aquecimento da atmosfera é realizado, principalmente,
12 km de altitude e se estende até cerca de 60 km de altitude.
pela energia liberada pela superfície terrestre. Isso ocorre
É nela que se encontra a camada de ozônio, formada por gás
porque a maioria dos gases atmosféricos não consegue ab-
homônimo. sorver a energia solar diretamente, visto que esta possui um
comprimento de onda curto.
346
Introdução à climatologia
Dessa maneira, a energia solar passa praticamente Isso ocorre devido à redução da concentração de gases,
transparente pela atmosfera e incide sobre a superfície fator essencial para o aquecimento da atmosfera.
terrestre. Parte dessa energia é absorvida pela superfí- As camadas ionosfera e exosfera apresentam o mesmo
cie, que se aquece, uma vez que consegue trabalhar de padrão de aquecimento: quanto maior for a altitude, maior é a
maneira satisfatória com o comprimento de onda curta.
temperatura. Esse comportamento ocorre devido à presença de
O aquecimento da superfície promove a liberação de calor para
poeira cósmica que, pelo fato de se constituir de fragmentos de
a atmosfera – energia em ondas longas – o que, consequente-
meteoros, ou seja, fragmentos de rochas, consegue absorver
mente, aquece a camada gasosa. Dessa forma, para ocorrer o
de maneira eficiente a energia solar e promover o aquecimento
aquecimento da atmosfera, é necessária a presença de calor
da camada em que se encontra. Observe:
liberado pela superfície terrestre e de gases atmosféricos que
promovam a absorção dessa energia. Camadas da Atmosfera
960 km
347
Geografia
Dois feixes paralelos de luz com o mesmo diâmetro, ao inci- Em regiões de temperaturas maiores, a densidade dos gases
direm sobre a área situada em baixa latitude, aquecem uma su- é menor, devido à absorção de calor e ao aumento do volume ,
perfície mais extensa do que a área situada em alta latitude. Em promovendo o movimento ascensional dos gases. Nessa região,
consequência, a intensidade de insolação (energia por unidade forma-se um centro de baixa pressão atmosférica, já que o ar
de área) é maior nas porções da superfície próximas ao Equador. ascendeu e pressiona menos a superfície. Como em altitudes
As diferenças de insolação explicam tanto as elevadas médias mais elevadas a temperatura é menor, o ar aquecido perde
térmicas anuais das áreas que circundam a linha do Equador calor para o meio, que promove a redução do seu volume e o
como as baixas temperaturas das áreas próximas aos polos. aumento da sua densidade.
Dessa forma, o ar mais denso sofre o processo de subsi-
altas
latitudes dência – descida do ar – e promove a formação de um centro
N
de alta pressão. À medida que o ar desce, além de pressionar
Tró
mais a superfície terrestre, ele promove a expulsão do ar que
baixas pico
de se encontra sobre a superfície, que sai para dar lugar ao ar que
latitudes Cân
cer está em movimento de descida. Sendo assim, essa região se
radiação torna uma área dispersora de ar, favorecendo a formação de
altas Tró
p
solar ventos. Estes são denominados ventos alísios e se dirigem para
ico
latitudes de
Cap os centros de baixa pressão, para ocuparem o lugar do ar que
ricó
rnio subiu, favorecendo, assim, o equilíbrio atmosférico. Os ventos
que se deslocam em altitudes elevadas, dos centros de baixa
para alta pressão, são denominados contra-alísios.
S
Fonte: LUCCI, Elian Alabi.
Território e sociedade no mundo globalizado. p. 517.
Altitude
Áreas que se localizam em altitudes maiores, se comparadas
com as que se localizam em altitudes menores, apresentam
pressão atmosférica menor. Essa característica é explicada
pelo tamanho da coluna de gases e pela concentração destes, centro de baixa centro de alta pressão
que serão maiores nas áreas de menor altitude. Sendo assim, pressão ciclonal ou anticiclonal ou
em altitudes menores, existe a soma entre a maior coluna de receptora de ventos dispersora de ventos
gases e a associação destes que se concentram em altitudes Fonte: http://1.bp.blogspot.com. Acesso em: 27 jul. 2010.
menores – ação da gravidade mais o peso dos próprios gases.
A associação entre os centros de baixa e os de alta pressão
formam as células de convecção do ar, que serão analisadas
Coluna de Coluna de Coluna de ar
ar exercendo ar exercendo exercendo menor pressão
de maneira mais aprofundada mais adiante.
maior pressão maior pressão que
que na montanha na montanha
e menor do que e no morro Montanha Maritimidade e continentalidade
no vale
A continentalidade e a maritimidade são determinadas pela
Morro menor e maior proximidade das áreas oceânicas, respectiva-
mente. A variação do calor específico entre o oceano e o con-
tinente, bem como a dinâmica do vapor de água na atmosfera,
contribuem de maneira decisiva para a caracterização das
Vale
temperaturas locais.
Áreas próximas dos oceanos sofrem a ação da maritimidade
e, por isso, apresentam uma menor amplitude térmica anual,
Temperatura
se comparadas com áreas continentais que se encontram na
Em áreas de temperaturas maiores, a pressão atmosférica é mesma latitude.
mais baixa, ao passo que em regiões de temperaturas menores,
a pressão atmosférica é mais elevada. Essa variação ocorre
pela atuação da temperatura na camada gasosa, alterando a
densidade dos gases e, com isso, a pressão que eles exercem
sobre a superfície terrestre.
348
Introdução à climatologia
Como o calor específico da água é maior, o oceano demora na manutenção da energia e no aquecimento da atmosfera – o
mais para se aquecer, mas também demora mais para se resfriar. vapor de água é o principal gás estufa –, e também para a pre-
Dessa forma, a variação da temperatura ao longo do ano não é cipitação a partir da sua condensação ou sublimação.
tão significativa. Além da dinâmica de aquecimento determinada A análise da umidade do ar baseia-se nos seguintes conceitos:
pelo calor específico, também é importante considerar a maior
concentração de vapor de água que, normalmente, a atmosfera
• umidade absoluta: é a quantidade total de vapor de água
presente em uma porção da atmosfera.
próxima dos oceanos apresenta – essa situação não ocorre se
houver a passagem de uma corrente fria, que torna a atmosfera • ponto de saturação: é a quantidade total de vapor de
sobre ela mais seca. Esse vapor de água armazena energia na água que a atmosfera consegue suportar. Ao ser atingido,
atmosfera tanto no período do dia como no período do verão, ocorrerá precipitação.
liberando-o gradativamente para a atmosfera, com a redução • umidade relativa: a relação entre a quantidade de vapor
da temperatura local. Sendo assim, o vapor de água também de água e a capacidade que a atmosfera possui de
contribui para a regulação da temperatura nas áreas litorâneas. armazená-la.
Já as áreas mais afastadas dos oceanos sofrem uma influên- A umidade relativa do ar pode ser alterada pela variação do
cia maior das características continentais – continentalidade – e, ponto de saturação. Essa variação é determinada pela quantida-
por isso, apresentam uma maior amplitude térmica anual. Como de de energia presente na atmosfera, sendo, que quanto maior
o calor específico do continente é menor, ele se aquece e resfria for a temperatura atmosférica, maior será sua capacidade de
mais rapidamente, promovendo uma variação significativa da armazenar vapor de água. A maior disponibilidade de energia
temperatura. Além da dinâmica do calor específico, é interes- na atmosfera garante ao vapor de água a condição necessária
sante destacar a menor concentração de vapor de água que, para a sua manutenção no estado vapor, considerando seu ele-
normalmente, as áreas continentais apresentam e que dificulta vado calor específico. Dessa forma, a precipitação é alcançada
a regulação térmica dessas áreas. quando a atmosfera não tem mais condições de reter vapor de
Os mapas seguintes demonstram as médias térmicas de água. A relação contrária também é verdadeira: quanto menor
parte do hemisfério norte, tanto no período do inverno (janeiro), for a temperatura, menor é a capacidade da atmosfera de reter
como no período de verão (julho). As médias térmicas são re- vapor de água. A redução brusca da temperatura pode promover
presentadas pela distribuição das isotermas. Se considerarmos a precipitação mesmo sem atingir 100% de saturação.
a mesma latitude nos dois mapas, é possível perceber que as
áreas continentais apresentam maior amplitude térmica, e as Precipitação
áreas oceânicas, menor amplitude térmica. É o processo de condensação e/ou sublimação do vapor
Janeiro de água presente na atmosfera, que pode ocorrer em forma
de chuva, granizo, geada, neve ou orvalho. O processo de
precipitação ocorre quando há saturação de vapor de água na
-30o -50o o atmosfera ou quando acontece redução brusca da temperatura.
0o -20 o -40
Considerando a precipitação em forma de chuvas, pode-se
-1
0
o
o
10
destacar três tipos:
20o Convectiva
EQ
UA Forma-se pela evaporação, seguida de ascensão do ar car-
30 o
DO
R TÉRMI C O
0o
regado de vapor de água e condensação deste quando atinge
altitudes mais elevadas – área de temperatura menor. É mais
comum de ser observada na zona intertropical ou megatérmica
30 o
30o
10
o
20
o
o
30
EQUADOR TÉRM
ICO
0o
20
o
Vestibular UFMG/2006
349
Geografia
Frontal
É formada pelo encontro de duas massas de ar, normalmente uma mais
aquecida e úmida, e outra mais fria e seca. A massa fria, por originar-se em uma
região de menores médias térmicas, desloca-se em direção aos centros de baixa
Condensação pressão, localizados na zona equatorial. Massas frias possuem maior densidade.
nível
nte Quando a massa fria encontra uma massa quente, devido à sua maior densida-
fre de, ela funciona como rampa de subida para a massa quente – menos densa
ar quente ar frio devido à sua maior temperatura –, o que promove a ascensão de vapor de água
e, posteriormente, a condensação do mesmo. Essas chuvas são caracterizadas
pela precipitação, normalmente, de baixa intensidade e de longa duração – de
dois a três dias. Ela é mais característica nos períodos de outono e inverno,
momento em que as massas frias apresentam suas características realçadas.
Fonte: MORAES, Paulo Roberto.
Geografia Geral e do Brasil.
Correntes marítimas
São porções da água oceânica que se diferenciam quanto às características de temperatura, densidade e salinidade e que
apresentam uma movimentação significativa. Essas correntes podem se diferenciar em quentes – formadas na zona megatérmica
– e frias – formadas na zona microtérmica. Sua movimentação em áreas próximas às áreas continentais influencia diretamente
as condições atmosféricas locais.
Observe o mapa a seguir.
OCEANO GLACIAL ARTICO OCEANO GLACIAL ARTICO
I. Terra do Norte
Baía de Is. Nova Zembla
TERRA Baffin GROENLÂNDIA
CÍRCULO POLAR ÁRTICO DE Rio
Ri Ri Le
o BAFFIN o na
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ing ac TE nis
60° Ber ke
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OCEANO
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OCEANO
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ATLÂNTICO
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ZONAS TORMENTAS E
CLIMÁTICAS INUNDAÇÕES
LEGENDA
GLACIAL Ocorrências: agosto
e setembro
EQUATORIAL DESÉRTICO (Árido) CORRENTE QUENTE
TEMPERADA TROPICAL SEMIÁRIDO
CORRENTE FRIA
FRIO Tufão
SUBTROPICAL Tornado
Tufão
TROPICAL TEMPERADO FRIO DE MONTANHA
Furacão
Ciclone Furacão
MEDITERRÂNEO POLAR
350
Introdução à climatologia
As correntes quentes apresentam a água mais aquecida e, por isso, criam uma atmosfera sobre ela também mais aquecida e
úmida, devido aos elevados índices de evaporação. Dessa forma, elas contribuem para o aumento da umidade do ar nas áreas
litorâneas e para a amenização dos rigores climáticos, em regiões localizadas em elevadas latitudes. Um exemplo dessa atuação é a
passagem da Corrente do Golfo, depois denominada Corrente do Atlântico Norte, a qual eleva as temperaturas da Europa Ocidental,
evitando o congelamento do oceano e contribuindo para índices pluviométricos mais elevados na região litorânea.
A passagem de uma corrente fria, que cria sobre ela uma atmosfera também mais fria e menos úmida, devido aos baixos índices
de evaporação, promove o processo da ressurgência e a formação de desertos litorâneos.
A ressurgência é o processo de convecção das águas oceânicas, determinado pela movimentação de uma água superficial mais
fria – e por isso mais densa –, que entra em subsidência e promove a ascensão de águas mais profundas. Essa convecção acaba
por trazer para a parte mais superficial do oceano nutrientes que se encontravam em profundidade, atraindo grandes cardumes
para essa área e favorecendo, assim, a pesca litorânea.
A formação dos desertos litorâneos ocorre devido à redução da umidade, já que a evaporação não é favorecida, associada à
formação de centros de alta pressão atmosférica na região sobre a corrente. Sendo assim, o processo de formação de nuvens
que levariam à precipitação é desfavorecido. Nem os índices de evaporação são significativos e nem ocorre ascensão do ar, de
maneira a encontrar altitudes mais elevadas para a condensação do vapor de água.
É interessante destacar que a formação dos desertos pode estar associada a outros dois processos:
• Áreas tropicais com predomínio dos centros de alta pressão. Nessas áreas, ocorre a chegada dos ventos contra-alísios,
provenientes das áreas de baixa pressão equatorial, fator que intensifica a baixa umidade, devido ao fato de serem ventos
secos, pois perderam sua umidade nas áreas de movimento ascensional, por meio das chuvas convectivas. Além disso, nos
centros de alta pressão, o processo de subsidência do ar predomina, o que desfavorece a formação de nuvens, processo
este vinculado ao movimento ascensional do ar. A maior parte dos desertos terrestres, entre eles o maior de todos, o deserto
do saara, é formada por esse fenômeno.
• Áreas de sotavento de grandes cadeias de montanhas que recebem as massas de ar secas, pois essas perderam sua
umidade na área de barlavento – área de chegada das massas de ar úmidas. Como exemplo desse deserto, destaca-se o
deserto de Gobi, formado na área de sotavento da Cordilheira do Himalaia.
Massas de ar
São grandes bolsões de ar que se diferenciam do todo e que possuem características de temperatura, densidade e umidade
próprias, de acordo com a superfície acima na qual se encontram. Quando formada na região equatorial, a massa de ar apresenta
temperaturas maiores, e quando formada na região polar, a massa de ar apresenta temperaturas menores. Massas formadas
sobre superfícies continentais tendem a ser secas, ao passo que massas formadas sobre superfícies oceânicas, úmidas.
As massas de ar normalmente se encontram em movimento, sempre direcionadas para os centros de baixa pressão e, por isso,
é comum ocorrerem mudanças nas suas características de temperatura, densidade e umidade, além da sua própria extensão.
Como exemplo, podemos analisar o deslocamento de uma massa polar que, ao seguir em direção à região equatorial, encontra
áreas cada vez mais aquecidas e, por isso, sofre elevação da sua temperatura e redução da sua densidade, descaracteriza-se
e desaparece.
O Brasil apresenta a atuação de cinco massas de ar:
• mEc: massa Equatorial continental • mTc: massa Tropical continental
• mEa: massa Equatorial atlântica • mPa: massa Polar atlântica
• mTa: massa Tropical atlântica
Atuação das massas de ar no verão
mEc mEc
mTc mTa
mTa
mPa
351
Geografia
Equatoriais Formam-se ao longo da linha equatorial, portanto, em baixas latitudes, e são quentes e úmidas.
Ventos
Os ventos são originados pela movimentação do ar, influenciada diretamente pela diferença de pressão atmosférica entre áreas
da superfície terrestre. A variação em centros de maior e de menor pressão atmosférica, por sua vez, relaciona-se diretamente à
diferença de intensidade da energia solar entre as zonas climáticas, à diferença de comportamento da superfície terrestre – dividida
em partes oceânicas e partes terrestres, ação de continentalidade e maritimidade – e à movimentação das correntes marinhas, que
redistribuem o calor em escala planetária. A associação desses fatores promove a formação de centros de alta e baixa pressão
atmosférica – que variam de localidade de acordo com a estação do ano – e, consequentemente, a formação dos ventos planetários,
também denominados de circulação primária. A passagem do equador térmico na zona intertropical promove a movimentação da
zona de convergência intertropical e, assim, a localização dos centros de alta e de baixa pressão atmosférica planetária.
Circulação geral da atmosfera tropicais – provenientes dos centros de alta pressão atmos-
férica. A localização desse centro varia ao longo do ano, de
Além das distintas temperaturas da superfície terrestre,
acordo com a variação das estações. No período de solstício
outros fatores contribuem para os padrões da movimentação
do ar observados na atmosfera. São eles os movimentos de de verão para o hemisfério norte e para o hemisfério sul, o
translação e a inclinação do eixo da Terra, responsáveis pelo centro de baixa pressão desloca-se em direção ao Trópico de
aquecimento desigual entre as diversas estações do ano, e Câncer e de Capricórnio, respectivamente, tornando essas
a rotação da Terra, a qual promove o aquecimento desigual áreas, temporariamente, receptoras de ventos alísios.
da superfície terrestre ao longo do dia. Além desta, existem É nessas regiões que ocorre a formação dos ciclones
outras causas secundárias que interferem nas variações de tropicais – furacões ou tufões. Também é possível perceber
temperatura e de movimentação de ar ao longo do planeta,
centros de baixa pressão próximos da latitude de 60o, tanto no
como as forças de viscosidade e de atrito, a turbulência, o
hemisfério sul quanto no hemisfério norte. A explicação para a
relevo, e, principalmente, o caráter extremamente variável da
natureza da superfície da Terra. Todas essas variações são formação desses centros não pode se relacionar com tempe-
responsáveis pela constituição de uma dinâmica que resulta raturas elevadas, pois a latitude é muito elevada. A formação
em um padrão constante de movimento que, por sua vez, está relacionada à chegada de ventos alísios nessa região,
provoca uma circulação global do ar em todo o planeta. Essa provenientes tanto das áreas polares como das tropicais.
movimentação é denominada circulação geral da atmosfera. Os alísios polares apresentam maior densidade dos gases,
Observe a imagem: devido às menores temperaturas da sua área de origem e,
por isso, servem como rampa de subida para os ventos dos
Ventos Polares trópicos. A ascensão do ar promove redução da pressão at-
60o L de leste
L mosférica nessa localidade, o que caracteriza a região como
en
t e P ol centro de baixa pressão atmosférica. É nessas regiões que
Fr
ar
30o
Ventos de Oeste
Altas Subtropicais
ocorre a formação dos ciclones extra tropicais. Já os ciclones
H H
chamados de tornados são formados em áreas continentais e
Alísios de NE
não apresentam uma latitude definida para a sua atuação. Os
Zona Intertropical de Convergência
0
Alísios de SE
centros de baixa pressão favorecem a formação de chuvas
por apresentarem ascensão do ar, fator favorável à formação
H H
de nuvens, promovendo sua condensação e precipitação.
Altas Subtropicais
30o Nas regiões tropicais e polares, concentram-se os
Fr
ente Polar
Ventos de Oeste
centros de alta pressão atmosférica, determinados pelas
menores médias térmicas, se comparadas com as médias
60o L L
térmicas equatoriais. Assim, essas áreas são dispersoras
Ventos Polares
de leste
352
Introdução à climatologia
BB centrode
centro debaixa
baixa pressão
pressão
Oceano B
Autor: MORAES, Paulo
Índico Roberto. Geografia Geral e do Brasil.
Climogramas
A centro de alta pressão
São gráficos utilizados para a representação das carac-
frio quente baixa pressão terísticas queB determinam o clima de um determinado local:
centro de baixa pressão
alta pressão temperatura e pluviosidade. Nas abscissas, estão assinalados
os meses do ano; nas ordenadas, as temperaturas médias
mensais (à direita), indicadas pela linha, e o total de pluviosidade
em cada mês (à esquerda), indicado pelas barras.
Noite Cáceres – Espanha
140 70
Temperatura (média 16,1o C)
120 60
Precipitação (total 523 mm)
100 50
80 40
60 30
40 20
quente frio alta pressão
baixa pressão 20 10
0 0
J F M A M J J A S O N D
353
Geografia
E) provoca grande estiagem na Região Sul e eleva as B) orográficas / Tropical continental (mTc)
médias pluviométricas na Região Nordeste. C) convectivas / Equatorial atlântica (mEa)
D) orográficas / Equatorial continental (mEc)
3. (EsPCex (AMAN) –2011) Na configuração do deserto do
E) frontais / Equatorial atlântica (mEa)
Atacama, na costa do Chile e do Peru, é crucial a ação
do seguinte fator climático:
Gabarito
A) corrente marítima fria.
1. A 4. A
B) elevada temperatura.
2. C 5. x
C) baixa amplitude térmica.
3. A 6. a
D) efeitos da continentalidade.
E) baixa latitude.
354
Capítulo 23
Classificação climática
A diferenciação climática das diversas áreas planetárias está relacionada diretamente com a atuação dos fatores e elementos
climáticos, analisados no capítulo anterior. As características predominantes de cada clima – temperatura e precipitação – sofrem
alterações anuais, muitas vezes por fatores naturais. Sendo assim, a classificação de um clima ocorre baseada na maior repetição
de determinadas características.
A caracterização de cada clima é facilitada em função do zoneamento climático da região – Zona Intertropical: Zona Megatérmica;
Zona Temperada: Zona Mesotérmica; e Zona Polar: Zona Microtérmica –, bem como da atuação das massas de ar. Os bolsões de
ar que se diferenciam na atmosfera, quanto às características de temperatura, umidade e densidade do ar, influenciam as áreas por
onde se deslocam, promovendo a determinação de algumas características locais que serão consideradas na classificação climática.
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30°
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TRÓPICO DE CÂNCER Pér nge
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TRÓPICO DE CAPRICÓRNIO
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30°
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CÍRCULO POLAR ANTÁRTICO C. D r.
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WEDDELL VITÓRIA
ZONAS TORMENTAS E
CLIMÁTICAS INUNDAÇÕES
LEGENDA
GLACIAL Ocorrências: agosto
e setembro
EQUATORIAL DESÉRTICO (Árido) CORRENTE QUENTE
TEMPERADA TROPICAL SEMIÁRIDO
CORRENTE FRIA
FRIO Tufão
SUBTROPICAL Tornado
Tufão
TROPICAL TEMPERADO FRIO DE MONTANHA
Furacão
Ciclone Furacão
MEDITERRÂNEO POLAR
Para facilitar a análise das características de cada tipo climático, a Geografia faz uso do climograma, que é o gráfico de re-
presentação das características de precipitação e temperatura de um determinado local. Nas abscissas estão assinalados os
meses do ano; nas ordenadas, as temperaturas médias mensais, indicadas por uma linha, e o total de pluviosidade em cada mês,
indicado por barras.
Os climas presentes na Zona Megatérmica apresentam como característica principal elevada média térmica e, por isso, são
denominados climas quentes. A definição dos índices pluviométricos vai variar de acordo com a atuação da maritimidade e con-
tinentalidade e com a atuação das massas de ar locais, geralmente quentes. Nessa zona climática estão presentes os climas
equatorial e tropical, definidos da seguinte maneira:
Clima equatorial
Possui elevada média térmica, acima de ou igual a 25°C, e baixa amplitude térmica anual, aproximadamen-
te 3°C. Sendo assim, a definição das estações do ano inexiste nas áreas equatoriais, que apresentam características
de verão o ano todo. Os índices pluviométricos são elevados, com média de precipitação anual acima de 2.000 mm,
distribuídos ao longo de todo o ano, sem apresentar, portanto, estação seca. Sua ocorrência é percebida nas áreas de baixas
latitudes, como a América Central, a Indonésia, a região central da África e o norte do Brasil.
355
Geografia
Exemplo: Manaus, Amazonas – Brasil. Na área de transição entre a zona megatérmica e a zona meso-
térmica, outros climas se desenvolvem, influenciados pela variação
°c mm de características entre essas duas regiões: clima subtropical,
40 600 clima semiárido e clima árido. Vale lembrar que os climas árido
30 500 e semiárido podem se desenvolver dentro de uma determinada
zona climática que não é a localização típica dos mesmos. Todos
20 400
esses climas são definidos da seguinte maneira:
10 300
0 200 Climas de transição
-10 100
-20 0 Clima desértico ou árido
J F M A M J J A S O N D
Possui elevada amplitude térmica diária, sendo que durante
Autor: MORAES, Paulo Roberto. Geografia Geral e do Brasil. o período do dia as médias podem ultrapassar 40° C e, no pe-
ríodo da noite, pode alcançar médias negativas. A variação da
Clima tropical temperatura anual é inferior à variação diária, alternando entre
Possui elevada média térmica anual, superior a 20°C, porém 30° e 40° C. Os índices pluviométricos são escassos e irregula-
inferior à do clima equatorial. A amplitude térmica anual varia de 3 a res, não ultrapassando 250 mm anuais, valor que corresponde
8°C, ainda considerada uma variação baixa. Os índices pluviomé- ao índice pluviométrico de um mês do clima equatorial. Além
tricos são elevados, variando entre 1.000 e 2.000 mm, distribuídos disso, a umidade relativa do ar é extremamente baixa, não
de maneira irregular – primavera e verão chuvosos e outono e ultrapassando 40%. Sua área de ocorrência é percebida ao
inverno secos – produzindo duas estações bem definidas. Sua norte e sul do continente africano – Saara e Kalahari, respec-
ocorrência é percebida próxima das áreas dos Trópicos de Câncer tivamente – no centro da Austrália, norte do México e sul dos
e de Capricórnio, cobrindo grande parte do território brasileiro e do Estados Unidos. Algumas áreas desérticas se diferenciam pelas
continente africano, Índia, península da Indochina e norte da Aus- baixas médias térmicas anuais e, por isso, classifica-se esse
trália. O clima tropical se diferencia nas regiões de sul e sudeste clima como continental árido. Nessas áreas a precipitação é
asiáticos em tropical de monções. Nessa região o comportamen- tão baixa como no clima desértico, inferior a 250 mm anuais,
to da temperatura é o mesmo do clima tropical, porém, os índices mas com médias térmicas que alcançam no período do verão
pluviométricos são mais elevados, podendo alcançar até 5.000 mm uma média de 17° C e, no período do inverno, –20° C. Sua
anuais. Essa variação da precipitação é determinada pela atua- área de ocorrência é a Ásia Central – Cazaquistão, no interior
ção dos ventos de monções. As precipitações são torrenciais, da China, Mongólia, Patagônia e planalto oeste das Montanhas
produzidas por chuvas convectivas, e promovem alagamento Rochosas nos Estados Unidos.
significativo nas áreas de ocorrência, fator que contribui para Exemplo: Assuã – Egito.
o desenvolvimento da rizicultura – plantio de arroz – nas áreas
°c mm
alagadas. As elevadas altitudes da parte norte do território indiano
e do sudoeste do território chinês potencializam as precipitações 40 600
através da formação de chuvas orográficas.
30 500
Exemplo: Cuiabá, Mato Grosso – Brasil.
20 400
°c mm
10 300
40 600 0 200
30 500 -10 100
20 400
-20 0
10 300 J F M A M J J A S O N D
0 200 Autor: MORAES, Paulo Roberto. Geografia Geral e do Brasil.
-10 100
-20 0 Clima semiárido
J F MA M J J A S O N D É caracterizado como clima de transição para o clima de-
sértico, que pode ser de temperado para desértico ou de tro-
Autor: MORAES, Paulo Roberto. Geografia Geral e do Brasil.
pical para desértico. Dessa forma, as médias térmicas anuais
Os climas presentes na Zona Mesotérmica apresentam como variam de acordo com a localização do clima semiárido: mais
característica principal uma média térmica mediana, por isso são elevadas – transição do tropical para o desértico – e mais re-
denominados climas temperados ou mesotérmicos. A definição duzidas – transição do temperado para o desértico. Os índices
dos índices pluviométricos varia de acordo com a atuação da pluviométricos são baixos e irregulares, não ultrapassando
maritimidade e da continentalidade, bem como de acordo com a 600 mm anuais. A localização das áreas de clima semiárido
atuação das massas de ar, que podem ser quentes ou frias, de- ocorre próxima de áreas desérticas, com exceção da região de
vido à localização intermediária dessa região, em relação à zona clima semiárido brasileira, que está relacionada com a dinâmica
megatérmica e à zona microtérmica. Nessa zona climática estão das massas de ar que atuam na região Nordeste.
presentes os climas temperados, que se dividem em: continental,
oceânico e mediterrâneo.
356
Classificação climática mundial
Clima subtropical
°c mm
Possui temperaturas médias de verão variando entre 15°
80 160
e 20° C e, no inverno, entre 0° e 10° C, apresentando, dessa
70 140
forma, elevada amplitude térmica anual. Essa caracterização da
60 120
temperatura produz na região clara definição das estações do
50 100
ano. Os índices de precipitação variam entre 1.000 e 1.500 mm
40 80
anuais, bem distribuídos ao longo do ano, não apresentando,
30 60
portanto, estação seca.
20 40
Exemplo: Blumenau, Santa Catarina – Brasil. 20
10
°c mm 0 0
J F M A M J J A S O N D
40 600
Autor: MORAES, Paulo Roberto. Geografia Geral e do Brasil.
30 500
20 400 Temperado mediterrâneo
10 300
Possui verões quentes, com médias que ultrapassam 30°
0 200 C, e invernos frescos, que podem atingir 0 oC, o que define
-10 100 bem as estações do ano. Os índices pluviométricos variam
-20 0 entre 500 e 700 mm anuais e são concentrados no período
J F M A M J J A S O N D
do inverno. Sua ocorrência é percebida nas regiões sul da
Autor: MORAES, Paulo Roberto. Geografia Geral e do Brasil Europa, norte do continente africano, oeste dos Estados
Unidos – região da Califórnia, sul do continente africano e
Climas temperados australiano.
357
Geografia
40 120 TRÓPICO DE
CAPRICÓRNIO
30 100 Subtropical
30°
20 80 0 400 km
0 40 http://planetageo.sites.uol.com.br/brclimas.htm
358
Classificação climática mundial
Clima equatorial O clima tropical úmido estende-se pela faixa litorânea tro-
pical e é influenciado diretamente pela ação da maritimidade,
Possui elevadas médias térmicas, sempre superiores a 24 que confere a esse clima uma maior umidade do ar e maiores
ºC, e baixa amplitude térmica anual, aproximadamente 3 ºC. A índices pluviométricos e menores amplitudes térmicas. Na
definição das estações do ano inexiste nas áreas equatoriais, faixa litorânea, os índices de precipitação variam entre 1.250
apresentando características de verão o ano todo. A amplitude e 2.000 mm, concentrados no outono-inverno, e a média de
térmica anual é menor que a amplitude térmica diária, porém, temperatura é superior ou igual a 25oC. Já o tropical de altitude
não se registram meses tórridos ou temperaturas diárias exces- se forma nas áreas serranas da região Sudeste, apresentando
sivamente elevadas, em consequência da alta umidade relativa médias térmicas mais reduzidas pela ação direta da altitude.
do ar e da forte nebulosidade. Os índices pluviométricos são Em comparação com o clima tropical, o tropical de altitude
elevados, com média de precipitação anual acima de 2.000 mm, tem o mesmo comportamento pluviométrico, mas as médias
distribuídos ao longo de todo o ano, sendo que em algumas anuais de temperatura são menores, ficando em torno dos
áreas os totais de chuva chegam a um mínimo de 1.800 mm e 20oC. Sua ocorrência pode ser percebida nas áreas acima
de 800 metros do estado de Minas Gerais, Espírito Santo,
a um máximo que se aproxima de 3.500 mm, perto da fronteira
com a Colômbia. Rio de Janeiro e São Paulo.
Assim, não há uma estação seca pronunciada, em que não Exemplos: tropical (Cuiabá), tropical úmido (Salvador) e
se registrem meses com precipitações inferiores a 60 mm. Sua tropical de altitude (Ouro Preto).
ocorrência é percebida nas proximidades da linha do Equador,
°c mm
abarcando a Amazônia, o norte de Mato Grosso e o oeste do
Maranhão. 40 600
Porém, o clima equatorial apresenta subtipos, como explica
30 500
Demétrio Magnoli:
20 400
Como as precipitações estão basicamente vinculadas ao
fenômeno da convecção das massas de ar, os máximos sazo- 15 300
nais de chuvas acompanham o deslocamento da ZCIT. Durante 0 200
o verão do hemisfério sul, quando o sol, no seu movimento
-10 100
aparente, move-se entre o Trópico de Capricórnio e o Equador,
-20 0
as maiores precipitações atingem a Amazônia meridional. No J F M A M J J A S O N D
outono, o sol está sobre a linha do Equador e as chuvas mais
abundantes caem sobre o norte do Amazonas e do Pará e sobre °c mm
o Amapá. No inverno austral, o sol move-se para o Trópico de
Câncer, arrastando com ele a ZCIT. Então, as grandes chuvas 40 600
ocorrem fora do Brasil, na porção setentrional da América do 30 500
Sul. Nessa época, apenas o extremo norte de Roraima e do
20 400
Amazonas, localizados no hemisfério norte, recebem elevadas
precipitações. 10 300
Exemplo: Manaus, Amazonas. 0 200
-10 100
°c mm
-20 0
J F M A M J J A S O N D
40 600
30 500
°c mm
20 400
40 600
15 300
30 500
0 200
20 400
-10 100
10 300
-20 0 0 200
J F M A M J J A S O N D
Autor: MORAES, Paulo Roberto. Geografia Geral e do Brasil. -10 100
-20 0
J F M A M J J A S O N D
Clima tropical
Possui elevada média térmica anual, sendo que, nas áreas Autor: MORAES, Paulo Roberto. Geografia Geral e do Brasil.
359
Geografia
360
Classificação climática mundial
2. (G1 - Col. Naval – 2011) O território brasileiro sofre a 4. (EsPCEx (AMAN) –2011) Assinale a alternativa que
influência de cinco massas de ar, as quais contribuem apresenta o clima que ocorre em latitudes de 45° a
decisivamente para que o país possua uma oscilação 55°, aproximadamente, e que se caracteriza por apre-
térmica e pluviométrica muito singular durante o ano. sentar elevadas amplitudes térmicas anuais, invernos
Sobre as referidas massas de ar que atuam no Brasil, rigorosos e precipitações anuais que variam de 500 a
é correto afirmar que, 1.200 milímetros.
A) a mEc (massa Equatorial continental), quente e A) Temperado Continental
seca, além de possuir o seu centro de origem no
B) Temperado Marítimo/Oceânico
noroeste da Amazônia, provoca grande estabilidade
térmica no chamado Brasil central durante o período C) Subtropical Úmido
primavera-verão. D) Temperado Mediterrâneo
B) a mPa (massa Polar atlântica), fria e muito úmida, E) Temperado Semiárido
além de se formar na Antártica, durante o período
primavera-verão é a grande responsável por provo- 5. (EsPCex – 2014)
car chuvas convectivas no litoral nordestino.
C) a mTa (massa Tropical atlântica) , quente e úmida,
que possui seu centro de formação próximo ao
Trópico de Capricórnio, além de atuar em exten-
sas faixas do litoral brasileiro, na Região Sudeste
contribui para a formação de chuvas orográficas
durante o verão.
D) a mEa (massa Equatorial atlântica), quente e úmida,
cujo centro de origem é o Atlântico Sul, contribui na
formação dos alísios de sudeste, os quais propiciam
chuvas frontais nos litorais das Regiões Nordeste
e Sudeste.
E) a mTc (massa Tropical continental), quente e su-
perúmida, forma-se na região do pantanal mato-
-grossense e influência decisivamente os elevados Observe o climograma de uma cidade brasileira e con-
índices pluviométricos no centro sul do país. sidere as afirmativas relacionadas a este.
3. (EsPCEx (AMAN) –2018) Observe os climogramas I. O clima representado é denominado equatorial,
a seguir: em cuja área está presente uma vegetação do
tipo hidrófila e latifoliada, característica da Floresta
Equatorial.
II. Refere-se a um clima sob forte influência da massa
Polar atlântica (mPa) e que apresenta uma signifi-
cativa amplitude térmica anual.
III. Trata-se de um clima subtropical úmido, com pre-
cipitações ao longo de todo o ano, sem ocorrência
de estação seca.
IV. Nas áreas em que esse clima predomina, observam-
-se precipitações que ultrapassam os 2.200 mm,
Considerando as características climáticas evidencia- o que, aliado às altas temperaturas, favorece o
das em cada climograma, podemos afirmar que processo de lixiviação e a consequente laterização
I. o climograma 1 refere-se a uma cidade situada no do solo.
hemisfério Sul. Assinale a alternativa em que todas as afirmativas estão
II. a amplitude térmica registrada no climograma 2 é corretaS:
maior que a registrada no climograma 1. A) I e II
III. o verão é mais chuvoso do que o inverno nos dois B) III e IV
climogramas. C) I e IV
IV. o climograma 1 refere-se a uma cidade com carac- D) II e III
terísticas de clima tropical típico e climograma 2 a
uma cidade de clima tropical litorâneo. E) II e IV
B) I e III 2. C
C) I e IV 3. A
D) II e III 4. A
E) II e IV 5. D
361
Capítulo 24
Questões ambientais
Há milhões de anos a Terra vem passando por uma série Industrial, é responsável pelo aumento do lançamento de gases
de mudanças climáticas. Elas resultam de fatores naturais, estufa na atmosfera, o que tem contribuído para intensificação
que vão ocorrendo ao longo da história geológica do planeta. do efeito estufa.
Houve períodos mais quentes e outros mais frios, que refletiam Como forma de tentar frear a degradação ambiental os
as características específicas de distribuição de energia e de especialistas têm feito importantes recomendações, como o
composição da atmosfera, que, por sua vez, foram responsáveis investimento em fontes energéticas renováveis (energia solar,
por padrões de fauna e de flora e por processos físicos distin- eólica, maremotriz, geotérmica, utilização de biocombustíveis,
tos dos atuais, tanto em seus tipos como em sua distribuição etc.), a redução na emissão de gases estufa, programas de
espacial. Entretanto, a história da sociedade humana sempre conscientização e de educação ambiental, incentivo à recicla-
esteve ligada à apropriação da natureza. A princípio de ma- gem e reutilização de diversos materiais, adoção de consumo
neira moderada, com o objetivo de obter recursos para a sua sustentável, entre outras.
sobrevivência. Com a evolução da ciência, essa relação do foi
sendo transformada, tornando-se cada vez mais intensa e nem
sempre favorável em se tratando do meio ambiente. Camada de ozônio
A consciência ecológica e o reconhecimento de que os O ozônio, presente na estratosfera, protege a superfície
recursos naturais não são inesgotáveis começaram a ganhar terrestre de vários tipos de importantes, sendo que a principal
evidência na década de 1960. As profundas transformações delas é a ultravioleta, uma das causadoras do câncer de pele
sociais e culturais dessa década deram início a mudanças no e uma das responsáveis nas alterações do ciclo vegetativo das
pensamento sobre meio ambiente e qualidade de vida, o que plantas. O ozônio é uma forma natural de associação de átomos
motivou a ocorrência das primeiras ações no sentido de discutir de oxigênio. Sua alta reatividade o torna uma substância tóxica
a questão ambiental e a degradação a que o mundo estava capaz de destruir e de prejudicar o crescimento de plantas. A
sendo sujeito. Em 1968, o governo da Suécia propôs à Orga- decomposição do ozônio absorve a radiação solar ultravioleta,
nização das Nações Unidas a realização de uma conferência que ajuda a proteger a Terra de danos produzidos pela radiação.
internacional para se discutir a questão tangente à degradação Por isso, o ozônio é muito importante na atmosfera superior,
e propor iniciativas para preservação do meio ambiente. Foi a devido à sua habilidade de absorver luz ultravioleta, radiação
partir desse momento que as conferências ambientais começa- prejudicial a quase toda forma de vida, pois rompe as ligações
ram a ocorrer na tentativa de buscar soluções a um daqueles C–H nos compostos orgânicos. Os CFCs (clorofluorcarbonetos),
que constitui o grande desafio atual do planeta: conciliar cres- usados em aerossóis, em líquidos de refrigeração de geladeiras
cimento econômico e preservação ambiental. e de condicionadores de ar, são gases nocivos ao ozônio. Os
Os cientistas se mostram divergentes quando tratam do CFCs não se dissolvem na água e sobem para a estratosfera,
clima atual e das mudanças que vêm ocorrendo, dividindo-se onde se dissociam e formam átomos de cloro.
em duas correntes de pensamento: a do aquecimento global,
atrelado, sobretudo, às ações humanas (uso demasiado de Intensificação da rarefação da cama-
combustíveis fósseis, gás natural e carvão); e a do resfriamento da de ozônio
global gradativo. Segundo os defensores desta hipótese, o
planeta sofrerá um resfriamento nas próximas duas décadas, “Na estratosfera terrestre ocorre uma concentração de ozônio
pois o clima independe da ação antrópica. Para eles, o clima (O3), conhecida como camada de ozônio. Essa camada é de
sofre influência de elementos, como o Sol e seus ciclos, e ainda fundamental importância para a existência da vida no planeta,
dos oceanos, que cobrem 71% da superfície terrestre e são os pois ela desempenha o papel de filtro natural da Terra, na medi-
grandes reservatórios de calor. Ainda seguindo essa ideia, as da em que retém parte dos raios ultravioleta (UV), impedindo-os
mudanças climáticas são de ordem natural, pois a interferência de chegar à superfície terrestre.
humana é insignificante e apenas traz mudanças em uma escala Por volta de 1930, foi criado o gás CFC (clorofluorcarbono)
que se restringe ao local. para fins industriais. Nas décadas seguintes, seu uso ampliou-
O principal representante da vertente que defende as mu- -se, principalmente nos países industrializados, nos produtos
danças climáticas motivadas, sobretudo, pela ação antrópica é de bens de consumo, como aparelhos de ar-condicionado,
o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas – IPCC geladeiras, sprays etc.
(Intergovernmental Panel on Climate Change) –, um órgão com- No final dos anos de 1970, através de imagens e informa-
posto por delegações de 130 governos para prover avaliações ções fornecidas por satélites, os cientistas descobriram uma
regulares sobre as mudanças climáticas. Ele corresponde a significativa alteração na camada de ozônio sobre a Antártica:
uma organização científico-política criada em 1988 no âmbito uma redução de 60% de ozônio nessa área. Estudos mais
das Nações Unidas (ONU) pela iniciativa do Programa das Na- apurados apontaram a relação direta entre a devastação da
ções Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e da Organização camada de ozônio e o lançamento de CFC na atmosfera. O
Meteorológica Mundial (OMM).[1] CFC liberado na superfície desloca-se para as camadas mais
Embora o motivador das mudanças climáticas seja algo altas da atmosfera, onde passa a sofrer a ação intensa dos
envolto em muita polêmica é um consenso que o consumismo, raios ultravioleta. A partir dessa ação, o CFC rompe-se e o cloro
uma das características marcantes da sociedade moderna, tem reage com o ozônio, provocando a quebra dessa molécula e a
sido responsável por uma agressiva degradação ambiental. A destruição da camada de ozônio.
queima de combustíveis fósseis, com vistas a atender às trans- O decréscimo da concentração do ozônio permite uma maior
formações do modo de vida da sociedade desde a Revolução passagem de raios ultravioleta, que provocam câncer de pele,
362
Questões ambientais
catarata e deficiência imunológica nas pessoas, além de danos promove o aquecimento da superfície terrestre e a liberação
que pode causar ao planeta. de calor para a atmosfera – e a presença de gases estufa, que
Diante do agravamento do problema, em 1987, os principais captam essa energia e mantêm a atmosfera com níveis ideais à
países industrializados reuniram-se na cidade de Montreal, Ca- manutenção da vida. Se o armazenamento de energia na baixa
nadá, e assinaram um documento conhecido como Protocolo atmosfera não existisse, as médias térmicas planetárias seriam,
de Montreal, no qual se comprometem a reduzir a utilização do 33 ºC, em relação às verificadas atualmente. Os gases de maior
gás CFC e, numa segunda etapa, substituí-lo completamente. importância na produção do efeito estufa são o vapor d’água,
O Protocolo de Montreal vem sendo cumprido de forma satis- o metano e o gás carbônico. Uma alteração na concentração
fatória, além de ter recebido a adesão de praticamente todas desses gases ou na intensidade de energia solar recebida pelo
as nações do mundo.” planeta promove mudanças nas médias térmicas planetárias.
Fonte: MORAES, Paulo Roberto. Geografia Geral e do Brasil. A alteração do efeito estufa ocorre por causas naturais – su-
cessão de eras glaciais e interglaciais – e por causas antrópicas
que vêm, gradativamente, aumentando os índices de gases
Intensificação do Efeito Estufa estufa na atmosfera, disponíveis para a retenção de mais calor
O Efeito Estufa é um fenômeno natural, essencial para a vida e, consequentemente, para o aumento das médias térmicas
na terra, e esta relacionado com a retenção de radiação solar planetárias. Sem a presença do ser humano, as médias térmicas
que atinge a superfície terrestre por meio de gases atmosfé- se elevariam, porém, em uma velocidade menor em relação ao
ricos (gases do efeito estufa (GEE) – o vapor de água (H2O), que se observa atualmente.
o dióxido de carbono (CO2), o metano (CH4) e o óxido nitroso As atividades antrópicas, principalmente as desenvolvidas
(N2O)-). Parte da radiação é reemitida e volta para o Espaço a partir da Revolução Industrial, promoveram uma grande
enquanto que o restante é absorvido pela atmosfera pelos GEE liberação de gases estufa na atmosfera, que aumentaram a
e pode ser reemitida para a superfície terrestre, o que permite retenção de calor na baixa atmosfera e intensificaram a atuação
o aquecimento do planeta. Este efeito impede o resfriamento do efeito estufa. A elevação das médias térmicas planetárias, em
do planeta mantendo a temperatura terrestre, sendo este um um nível acima do natural, promove mudanças nos processos
dos fatores que permite a sobrevivência da biodiversidade no naturais, que podem prejudicar a vida no planeta. Entre essas
planeta. modificações, podemos citar:
Embora muitas pessoas atribuam ao efeito estufa a res- • derretimento acelerado das calotas polares, o que altera
ponsabilidade do aquecimento do planeta, tal efeito físico é a taxa de albedo dos polos e o aumento da temperatura
indispensável para a via humana na Terra, pois, em condições local;
normais, ele equilibra a temperatura planetária. O problema, • aumento das inundações costeiras, devido a elevação do
atualmente, é a intensificação desse efeito. É importante nível dos oceanos;
atentar a dois conceitos que, são, por engano, utilizados como
sinônimos: o de efeito estufa e o de aquecimento global. O • alterações dos índices de precipitação, levando à am-
pliação dos períodos de secas e, consequentemente,
efeito estufa é um fenômeno natural necessário à nossa so-
escassez de água em alguns lugares e enchentes severas
brevivência, como já foi comentado no parágrafo acima. Já o
em outros, devido ao aumento das tempestades;
aquecimento global deriva de um aumento da temperatura da
Terra em decorrência da intensificação do efeito estufa. • alteração da produtividade agrícola, o que pode promover
aumento no preço dos alimentos;
6 Cenário B1: redução sensível do consumo de bens e energia fósseis. A janela das temperaturas previstas pelo GIEC para o decênio 6
Cenário A1FL: crescimento econômico sempre baseado no consumo 2090-2100 é de +1,1 ºC (cenário B1) a +6,4 ºC (cenário A1FL)
4 intensivo de energias fósseis. em relação à temperatura média entre 1980 e 2000. 4
Limiar crítico das altas de temperatura
2 2
-4 -4
-6 -6
-8 -8
-10 -10
400 000 350 000 300 000 250 000 200 000 150 000 100 000 50 000 0 Anos atrás
Fontes: Jean-Robert Petit e Jean Jouzel (coord), “Climate and atmospheric history of the past 420.000 years from the Vostok ice core in Antarcti-
ca”, Nature, nº 399, maio-junho de 1999; Grupo Intergovernamental sobre a Evolução do Clima (GIEC), 2001 e 2007; UNEP/GRID-Arendal, 1998.
363
Geografia
560
540
2050
520
500
480
460
2030
Limiar 440
crítico de 420
concentração
400 a 450 ppm 400
2007
Concentração em CO2 , partes por milhão (ppm) 380
360 360
As projeções para o período de 2030 a 2100 são as que o GIEC calculou para um
340 de seus principais cenários (A1B), o qual é definido por um crescimento 340
econômico muito rápido (sem repousar sobre a utilização excessiva de energia) Nível máximo de concentração em CO2
320 e a população em crescimento regular até 2050 (e declinando na segunda ao longo dos últimos 420 mil anos 320
metade do século).
300 300
280 280
260 260
240 Era glacial Era glacial Era glacial Era glacial 240
220 220
200 200
180 180
160 160
400 000 350 000 300 000 250 000 200 000 150 000 100 000 50 000 0
364
Questões ambientais
365
Geografia
3. (G1 - Col. Naval – 2014) Na tentativa de contribuir 5. (EsPCex – 2015) “Foi no contexto da Primeira Conferên-
para a sustentabilidade ambiental, hoje está sendo cia das Nações Unidas sobre Meio Ambiente, realizada
difundida a chamada agricultura orgânica, cuja maior em 1972, em Estocolmo, que nasceu a ideia do desen-
preocupação é não utilizar produtos químicos durante volvimento [...] sustentável [...], isto é, de se adotar um
o cultivo. Assinale a opção que apresenta corretamente modelo de desenvolvimento econômico voltado à explo-
as características desse tipo de agricultura. ração nacional dos recursos naturais, à preservação do
meio ambiente ou ao equilíbrio ecológico e ao combate
A) Pouca mão de obra, muita tecnologia, cultivos
às disparidades sociais entre os seres humanos e entre
voltados para o mercado interno e uso de adubos
as nações.” (ADAS, M. Panorama Geográfico do Brasil.
oriundos da compostagem.
4. ed. São Paulo: Moderna, 2004, p. 117).
B) Muita mão de obra, pouca tecnologia, cultivos volta-
Apesar da importância da temática acima apresenta-
dos para a exportação e uso de herbicidas.
da, observa-se, mundialmente, que a aplicabilidade
C) Muita mão de obra, pouca tecnologia, cultivos do conceito de desenvolvimento sustentável tem sido
voltados para o mercado interno e uso de adubos muito difícil.
oriundos da compostagem.
Assinale a alternativa que explica a problemática apon-
D) Pouca mão de obra, pouca tecnologia, cultivos vol- tada no texto acima.
tados para exportação e uso de herbicidas. A) Os agentes econômicos, em escala planetária,
E) Muita mão de obra, muita tecnologia, cultivos volta- travam uma acirrada competição, buscando obter
dos para a exportação e uso de adubos inorgânicos. menores custos de produção para assegurar seu
domínio de mercado, o que, muitas vezes, é confli-
4. (EsPCex (AMAN) –2017) Considere as seguintes afir- tante com as políticas ambientais de utilização dos
mativas sobre impactos ambientais em três grandes recursos naturais.
domínios morfoclimáticos brasileiros: B) Do ponto de vista teórico, a ideia do desenvolvimen-
I. Possui uma formação vegetal muito densa, com to sustentável não encontra aceitação em nenhum
grande biodiversidade. Possui o maior número de país do mundo, tampouco seus princípios são apli-
cados pelos governos dos países desenvolvidos,
espécies ameaçadas do Brasil devido, dentre ou-
pois estes argumentam que tal ideia é prejudicial
tros, à exploração madeireira, às monoculturas de
ao desenvolvimento de suas economias.
exportação e à expansão urbana. Devido ao intenso
C) Nos diferentes países do mundo, não existe uma
desmatamento de suas encostas, são intensos os
comunidade organizada no espaço local em torno
processos erosivos e frequentes os deslizamentos
das mais diversas questões ambientais que afetam
de terra nesse domínio morfoclimático. a qualidade de vida de sua população.
II. Nas bordas desse domínio, caracterizado pelo D) Por não existir um consenso entre a comunidade
relevo de planícies, depressões e baixos planaltos, científica mundial acerca das verdadeiras causas
localiza-se a maior parte do chamado arco do des- do aquecimento global, as políticas relacionadas ao
matamento, uma área cujas atividades econômicas, desenvolvimento sustentável têm sido fortemente
ligadas à extração madeireira e à abertura de novas contestadas pelo governo brasileiro.
áreas para a agricultura e pecuária, vêm acarretan- E) As discussões acerca do desenvolvimento susten-
do intenso processo de queimada, desflorestamento tável só encontram respaldo no âmbito das ONGs,
e intensificação dos processos erosivos. uma vez que nem governos, nem entidades civis,
tampouco empresários, participam da elaboração
III. Esse domínio tem sofrido o maior dos impactos
de projetos relacionados a essa questão.
ambientais no contexto brasileiro com a expansão
da monocultura canavieira e da soja. Embora tenha
Gabarito
sido declarado como um dos principais hotspots bra-
sileiros, de sua área original já estão desmatados, 1. C
e se o ritmo do desmatamento de sua vegetação 2. B
não diminuir, até 2030 essa formação poderá ter 3. C
desaparecido. 4. C
As afirmativas acima referem-se, respectivamente, aos 5. A
domínios morfoclimáticos
A) Amazônico – Cerrado – Pantanal.
B) Mata Atlântica – Cerrado – Amazônico.
C) Mares de Morro – Amazônico – Cerrado.
D) Amazônico – Cerrado – Mata Atlântica.
E) Araucária – Amazônico – Pantanal.
366
Capítulo 25
367
Geografia
MERCADO CONSUMIDOR
Com os avanços tecnológicos nos meios de transportes e nas
telecomunicações, o mercado consumidor se globalizou e está
em toda parte. Porém, é maior onde a população possui mais
renda.
Fatores locacionais
A fixação industrial acontece com a observação antecipada de alguns fatores que são essenciais para a produção e para o
funcionamento do parque industrial, porque algumas áreas se mostram mais favoráveis que outras. O grau de importância de cada
fator locacional depende do estágio de desenvolvimento industrial, já que cada fase caracteriza-se quanto ao tipo de indústria e
às necessidades.
Como fatores locacionais temos: matéria-prima, fontes de energia, transportes, incentivos fiscais, disponibilidade de água,
mercado consumidor, rede de comunicações, mão de obra e capital.
A matéria-prima é necessária para que se tenha produção. Esse fator se fez mais interessante durante a Primeira e a Segunda
Revoluções Industriais, devido ao menor desenvolvimento dos transportes, quando exigia-se a fixação industrial próxima às áreas
fornecedoras. Atualmente, a matéria-prima continua a ter importância, mas é possível deslocá-la de maneira facilitada pelo espa-
ço, devido ao maior desenvolvimento dos transportes. Dessa forma, não é mais um fator determinante para a fixação industrial.
Quanto às fontes energéticas, é impossível o funcionamento industrial sem sua disponibilidade. Durante a Primeira e a Segunda
Revoluções Industriais, a fixação da indústria só era possível mediante proximidade com as fontes energéticas, devido ao menor
desenvolvimento das linhas de transmissão. Com o desenvolvimento tecnológico do setor energético, as indústrias, atualmente,
possuem maior mobilidade espacial, podendo seguir para áreas que sejam mais interessantes financeiramente.
A água, como fator locacional faz-se importante por ser responsável, na maioria das vezes, pelo sistema de resfriamento do
maquinário. Além disso, entra como elemento significativo para a confecção de alguns produtos. A fixação industrial próxima às
áreas com disponibilidade de água mostra-se mais importante, da mesma maneira que a energia, na Primeira e na Segunda Re-
voluções Industriais, devido ao menor desenvolvimento do sistema de abastecimento hídrico. Atualmente, não é o fator de maior
relevância para a fixação industrial.
368
Classificação e fatores de localização industrial
No contexto atual, principalmente a partir de 1970, com a 2. (G1 - Col. naval – 2016) Uma das características da
Revolução Técnico-Científica, pode-se destacar quatro fatores indústria brasileira é ter grande parte do seu parque
primordiais para a fixação industrial: o transporte, a rede de industrial concentrada na Região Sudeste. No entanto,
comunicações, o incentivo fiscal e o capital. nas últimas décadas, teve início uma nova tendência: a
O desenvolvimento dos transportes e da comunicação – fa- desconcentração industrial. Sendo assim, com relação
tores primordiais para a instalação das indústrias – favoreceu ao Modelo Econômico Brasileiro, assinale a opção
correta.
a movimentação industrial pelo espaço geográfico.
A) Até os anos 1930, a economia brasileira possuía uma
Dessa forma, uma indústria pode buscar se fixar em áreas
forte integração nacional, uma vez que o parque in-
que ofereçam melhores incentivos fiscais, como redução do
dustrial se encontrava concentrado no estado de São
preço dos impostos pagos, diminuição dos custos com energia Paulo, que comandava o eixo econômico do país.
e água e mão de obra mais barata, pois o transporte desenvol-
B) Em relação ao modelo de industrialização clássi-
vido leva até ela a matéria-prima necessária para a produção
ca, tal qual ocorreu na Europa, a industrialização
industrial, bem como promove a distribuição dos produtos no
brasileira aconteceu de forma tardia, tendo como
mercado consumidor. A presença do mercado consumidor
ponto de partida o desenvolvimento das indústrias
próximo à indústria não se faz mais necessária, mesmo sendo de bens de produção.
este o motivo da produção industrial, pois o transporte leva
C) Nas décadas de 1930 e 1940, várias montadoras
esse produto aonde for necessário.
multinacionais de automóveis se instalaram no ABC
O desenvolvimento do transporte e da comunicação também Paulista, cuja ampla malha ferroviária ofereceu o
favorece a aquisição de mão de obra por parte da indústria. principal suporte para o recebimento de matérias-
A captação dos trabalhadores, bem como a sua mobilidade -primas e escoamento da produção.
tornam-se facilitadas com a ligação promovida pelos meios D) A partir da década de 1950, seguindo as imposições
de comunicação e transporte entre as indústrias e os centros neoliberais, e na tentativa de reduzir custos, as
urbanos fornecedores de mão de obra. indústrias que antes se concentravam no entorno
Quanto ao capital, este sempre foi um fator de extrema im- das cidades menores, estão se deslocando para os
portância para a instalação industrial, pois sem ele é impossível centros metropolitanos.
o desenvolvimento da indústria. E) O neoliberalismo, a partir dos anos 1990, associado
à expansão da rede de transportes do país, possi-
Exercícios bilitou a várias cidades de médio porte se tornarem
mais atrativas aos interesses de complexos indus-
1. (EsPCex – 2011) “ ... Os países emergentes hoje pro- triais cada vez mais ávidos por lucros.
duzem 44% das manufaturas do planeta, ante 66% nos
3. (EsPCex (AMAN) – 2011) “A guerra da concorrência
países ricos. Mas o Brasil vem perdendo espaço. O País
tem início quando os empresários industriais tomam
representava 10% de toda a produção industrial das as decisões relativas à localização das suas fábricas”.
economias em desenvolvimento há 15 anos, em 1995.
(Magnoli & Araújo, p.142, 2005)
Dez anos depois, caiu para 7,2%.”
Sobre a localização industrial, ao longo dos últimos
(Jornal o Estado de São Paulo, 20/04/2010)
séculos, leia as alternativas a seguir:
Dentre as razões que têm limitado um maior crescimento I. Nas últimas décadas do século XX, estabeleceu-se
da participação dos produtos industrializados brasileiros uma nova lógica mundial de localização industrial: a
no comércio mundial, podemos destacar: produção em larga escala, com elevada automação,
I. O elevado custo de deslocamento dos produtos para é realizada nos países desenvolvidos e as indústrias
exportação, por conta de carências nas áreas de de tecnologia de ponta concentram-se nos países
infraestrutura e logística. subdesenvolvidos, onde a mão de obra é mais barata.
II. Com exceção de alguns produtos industriais, o compo- II. Com a Revolução Tecnológica ou Informacional,
nente tecnológico das exportações brasileiras é muito as grandes indústrias deixaram de ter o espaço
baixo, acarretando contínua queda no valor médio da local e regional como principal base de produção,
tonelada exportada. ultrapassando as fronteiras nacionais.
III. A cotação da moeda brasileira, fortemente desvalo- III. Ao longo do século XX, acentuou-se o processo
rizada em relação ao dólar, torna nossos produtos de concentração industrial, em consequência da
pouco competitivos no comércio mundial. crescente elevação dos custos de transferência de
IV. O fato de o Brasil concentrar seu intercâmbio externo matéria-prima e de produtos industrializados.
majoritariamente com os EUA, seu maior parceiro co- IV. Nos países desenvolvidos, as antigas concentrações
mercial na atualidade, limita, em muito, a participação industriais vêm perdendo terreno para as novas regi-
de seus produtos em outros mercados. ões produtivas, as quais são marcadas pela presença
Assinale a alternativa que apresenta todas as afirmativas de centros de pesquisa e de universidades.
corretas: V. As economias de aglomeração presentes nas gran-
A) I e II
des metrópoles mundiais reforçam a tendência, cada
vez maior, de concentração espacial da indústria.
B) I e III
Assinale a alternativa que apresenta todas as afirma-
C) I, III e IV tivas corretas.
D) II, III e IV A) I e II C) II e IV E) III, IV e V.
E) II e IV B) I e V D) II, III e IV
369
Geografia
4. (EsPCex (AMAN) – 2018) “A indústria aparece na Ama- D) A desconcentração industrial brasileira atingiu, de
zônia sob a forma de enclaves, estabelecidos a partir de forma mais contundente, o estado de São Paulo, que
incentivos federais ou para explorar recursos minerais.” perdeu sua posição de liderança no parque industrial
MAGNOLI, D. Geografia para o Ensino Mé- brasileiro no início do século XXI.
dio. 1ed. São Paulo: Atual, 2012, p. 310. E) Entre 1964 e 1985 foram criados pelo Estado órgãos
Entre os enclaves industriais na Amazônia, destaca-se de planejamento e desenvolvimento regional cujo
a Zona Franca de Manaus (ZFM), criada em 1967, sob propósito único era fomentar o aproveitamento ape-
a supervisão da Superintendência da Zona Franca de nas das potencialidades naturais das macrorregiões.
Manaus (Suframa). Sobre a ZFM, pode-se afirmar que
6. (G1 - Col. naval – 2015) A indústria brasileira ocorreu
I. a implantação da ZFM consistiu numa estratégia tardiamente se comparada aos Estados Unidos, Europa
geopolítica, cuja principal meta era reforçar o poder Ocidental e Japão. De acordo com as mudanças estru-
nacional na considerada região “de fronteira”. turais das dinâmicas econômica, social e política, o país
II. os capitais dominantes são transnacionais e pratica- teve que se adequar à competitividade internacional.
mente não se utilizam matérias-primas ou insumos Sendo assim, coloque F (falso) ou V (verdadeiro) nas
regionais na produção industrial nessa área. afirmativas abaixo, com relação à trajetória da indústria
III. a balança comercial da ZFM é positiva no intercâmbio brasileira, assinalando a seguir a opção correta.
com o mercado externo, haja vista que, com a isen- ( ) O período marcado entre 1930 e 1950, não mais
ção de impostos sobre a exportação, suas mercado- recebeu investimentos provenientes do setor
rias destinam-se, prioritariamente, a esse mercado. cafeeiro no desenvolvimento da logística do país.
IV. na década de 1990, a política de abertura da econo- O financiamento das ferrovias e rodovias foi pro-
mia nacional, com a redução das tarifas de impor- veniente do capital internacional que promoveu
tação, foi muito positiva para a ZFM, pois ampliou também a criação da Companhia Siderúrgica
as vendas para o mercado interno e propiciou o Nacional (CSN) e da Petrobras.
aumento do número de empregos diretos e indiretos ( ) O governo de Getúlio Vargas financiou a cons-
no polo industrial amazônico. trução da indústria de base, com destaque para
Assinale a alternativa que apresenta todas as afirma- os setores de energia e de transportes; enquanto
tivas corretas. que, no governo de Juscelino Kubitschek, a
A) I e II C) I e IV E) II e IV prioridade foi o setor automobilístico apoiado no
capital estrangeiro.
B) I e III D) II e III
( ) O capital internacional foi o principal responsável
5. (G1 - Col. naval – 2017) Observe o fragmento de texto pela industrialização brasileira, já que canalizou
em destaque e a tabela abaixo. recursos por todas as regiões do país com o ob-
A nova divisão do trabalho industrial [no Brasil] é acom- jetivo de desenvolver os sistemas de transporte,
panhada de uma nova repartição geográfica. de comunicação e de energia necessários ao
“salto qualitativo” nacional.
Adaptado de SANTOS, M. e Silveira, M. L. O Brasil, Ter-
ritório e Sociedade no início do século XXI. ( ) No período neoliberal, o Brasil passou pelo
processo de desconcentração industrial. Assim,
Brasil – Pessoal Ocupado na Atividade Industrial
muitas indústrias procuraram outros espaços
Região Sul Estado de São Paulo geográficos, onde os custos de produção eram
1970 14,79 50,97 menores, como por exemplo, os incentivos fis-
1990 36,49 35,35 cais, a mão de obra barata e a atuação sindical
Adaptado de SANTOS, M. e Silveira, M. L. O Brasil, Ter- pouco organizada.
ritório e Sociedade no início do século XXI. ( ) O fim das políticas neoliberais no Brasil possi-
O texto e a tabela acima tratam do reordenamento bilitou o retorno do modelo de substituição de
espacial da indústria brasileira a partir da segunda importações. Por conseguinte, a adoção de
metade do século XX. medidas protecionistas do Estado sobre impor-
tações de bens industriais tem protegido a pro-
Sobre o espaço industrial brasileiro e suas recentes
dução nacional da concorrência internacional.
transformações, assinale a opção correta.
A) V - F - V - F - F.
A) O reordenamento do espaço produtivo no Brasil é
resultado da combinação entre novas formas de B) V - V - F - F - V.
produção e de organização social surgidas a partir C) F - F - V - V - V.
dos anos 1970, somadas ao planejamento estatal. D) F - V - F - V - F.
B) O processo de desconcentração das atividades pro- E) F - V - V - F - F.
dutivas para fora da região Sudeste culminou com
uma indiscutível perda de comando dessa região Gabarito
sobre o sistema industrial nacional.
1. A 4. A
C) Seguindo a tendência percebida nos países
centrais, a desconcentração industrial brasileira 2. E 5. A
produziu espaços que se destacam como a van- 3. C 6. D
guarda tecnológica do país, como é o caso da
região Nordeste.
370
Capítulo 26
RUS
URAIS
CAN Moscou
RUN Novosibirsk
Londres ALE
Paris Rhur DONBASS
Chicago FRA
Nova York
ITA Pequim Seul JAP
Los Angeles EUA CHINA Tóquio
Houston ÍNDIA Taipé
Cidade do México Mumbai Calcutá Hong Kong
Cingapura
BRASIL COPPERBELT
São Paulo
Johanesburgo
Santiago Buenos Aires Sidnei
Centro industrial
Região industrial
Países mais
industrializados
Novos países
industrializados (NPI)
Fonte: DE AGOSTINI, 2007. 3.000 km
Ísola, Leda; CALDINI, Vera. Atlas Geográfico Saraiva.
Industrialização Planificada
O processo de industrialização planificada é característico de países com políticas socialistas. Dessa forma, as indústrias são
propriedade do Estado, cabendo a ele decidir o que é prioridade, o que vai ser produzido, a quantidade produzida e como vai ser
produzido. Em economias planificadas, com destaque para a União Soviética (URSS), a prioridade concentrava-se em indústrias
371
Geografia
de base e indústrias de bens de capital, destacam-se: as siderúrgicas, petroquímicas, mecânicas, de cimento, de caminhões, tra-
tores, entre outras. Dessa forma, as indústrias de bens de consumo não eram valorizadas e a população vivenciava uma carência
de vários produtos de manutenção básica, como papel higiênico e escovas de dentes, entre outros.
É interessante destacar que o governo buscava uma dependência entre todas as indústrias de seu parque industrial não só
quanto à matéria-prima e à energia produzidas, mas, também, quanto à espacialização dessas indústrias. As áreas industriais
eram dispersas pelo espaço, buscando uma dependência entre as regiões industriais e a possibilidade de fragmentação do Estado.
Essa situação é percebida no mapa a seguir.
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Rostov-Na-Donu lga Samara RIAA
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Novorossiisk Volgrado Bratsk
Omsk Irkutsk
Novosibirsk
Astrakhan
MAR Vladivostok
CÁSPIO
As indústrias planificadas apresentam diversos problemas, agora bem menos significativos, já que as áreas socialistas são
pouco expressivas, e aquelas que eram socialistas modernizaram sua produção pela inserção no sistema capitalista, devido a
diversos fatores:
• Parte das indústrias são obsoletas pela falta de concorrência, já que todas elas são de propriedade do Estado. As áreas
que possuíam concorrência direta, como a aeroespacial, com os Estados Unidos, apresentam um grande desenvolvimento,
mostrando ser a concorrência fator favorável para o melhoramento produtivo.
• Priorização do setor militar, desfavorecendo o desenvolvimento de outros setores de indústrias, como o de abastecimento
dos bens de consumo por parte da população.
• Dificuldade de progresso técnico, devido à falta de investimentos em vários setores industriais, bem como a falta de concor-
rência que gera crescimento.
• Estabelecimento pelos Planos Quinquenais, na URSS, quanto à variedade de bens e serviços a ofertar e quanto à ordem
de importância do que vai ser produzido.
372
Evolução e modelos de industrialização
de consumo mais leves, que exigem tecnologia menos avan- impondo restrições ao funcionamento dos sindicatos, canali-
çada e menores investimentos: tecidos, vestuário e calçados, zando grandes investimentos para a educação, além de realizar
bebidas, impressos, móveis, ferramentas e máquinas mais investimentos em infraestrutura.
simples, alguns produtos químicos etc. O alto nível de poupança interna, aliado à ajuda financeira
Devido a isso, vários países subdesenvolvidos apresentam norte-americana, mais empréstimos contraídos em bancos
deficiências em suas indústrias de base e de bens de capital, no exterior possibilitaram a arrancada da industrialização. A
necessitando importar elementos-chave para o desenvolvimen- mão de obra muito barata, mas relativamente qualificada e
to da industrialização – maquinário. produtiva por causa do bom nível educacional, associada às
Até a década de 1940 o processo de industrialização medidas governamentais, tornava seus produtos muito baratos.
Isso garantiu aos Tigres grande competitividade no mercado
concentrou-se nas mãos do capital nacional, seja estatal ou
mundial e, portanto, elevados saldos comerciais, os quais eram
privado. As indústrias, na maioria das vezes, se dividiam em:
reinvestidos a fim de se alcançar maior capacitação tecnológica.
indústrias de bens de consumo – propriedade privada e na-
cional – e indústrias de base – propriedade estatal e nacional. Os Tigres Asiáticos seguiram de maneira quase integral os
passos do Japão. Além disso, beneficiaram-se de uma con-
Porém, a partir de 1950, os países desenvolvidos começam
juntura mundial liberal, dispondo, assim, de amplos mercados
a vivenciar o processo de deseconomia de aglomeração, ou
para colocar seus produtos. Converteram-se, desse modo, em
desconcentração industrial, promovendo a abertura de filiais
verdadeiras plataformas de exportação. Mais recentemente, no
em países subdesenvolvidos. Essas empresas passam a ser
entanto, a elevação da renda per capita, resultante do aumento
chamadas de multinacionais.
de produtividade da economia como um todo, ocasionou uma
No contexto atual, um número significativo das indústrias de expansão dos mercados internos, sobretudo na Coreia do Sul
bens de consumo dos países subdesenvolvidos, principalmente e em Taiwan, tinham as maiores populações.
as mais modernas, é de filiais de empresas estrangeiras. Já
A elevação dos custos da mão de obra e a valorização de
as indústrias de base, pouco desenvolvidas em alguns países
suas moedas têm levado esses países, novamente seguindo
subdesenvolvidos e concentradas, inicialmente, nas mãos do
os passos do Japão, a aprimorar suas indústrias. Os Tigres
Estado, começam a viver a partir da década de 1980 o processo têm investido em novos ramos industriais, mais avançados
de privatização, passando várias indústrias a serem controladas tecnologicamente, transferindo os setores tradicionais para
pelo interesse estrangeiro. outros países da região, onde o custo da força de trabalho é
Nos países da América Latina, o processo de industrialização menor. Somando-se aos investimentos japoneses, majoritários,
é mais antigo: veio desde o fim do século XIX e se intensificou empresários dos Tigres também têm construído filiais na Tailân-
na Primeira Guerra Mundial. Na África do Sul e na Índia, intensi- dia, na Malásia e na Indonésia, que cresceram aceleradamente
ficou-se depois de 1945 – início da descolonização afro-asiática. de 1990 a 2005. Por isso, esses três países são conhecidos
E nas economias asiáticas – Tigres asiáticos, com exceção da como os novos Tigres. Há também muitos investimentos sendo
Índia –, ocorreu, a partir da década de 1960, embora tenha canalizados para a China.
sido uma industrialização mais rápida que nos outros casos. Esses países, que durante muito tempo foram conhecidos
A influência norte-americana foi preponderante nos países como exportadores de bugigangas de baixa qualidade e de
latino-americanos; já na África do Sul, a influência maior foi tecnologia banal, hoje estão colocando nos mercados produtos
europeia (especialmente inglesa); na Ásia, os Estados Unidos sofisticados, como navios, automóveis, computadores, apare-
também tiveram inicialmente a prioridade nos investimentos de lhos de som e de vídeo, televisores, fornos de micro-ondas,
capitais, mas, desde os anos 1980, o Japão quase equiparou bicicletas etc. Agora, os produtos de qualidade inferior provêm
os seus investimentos na região aos investimentos norte- cada vez mais dos “novos Tigres” e, principalmente, das zonas
-americanos. econômicas especiais – a face “Tigre” da China.
Contudo, comparando essas três regiões ou continentes Os Tigres têm um parque industrial consolidado e moder-
distintos, podemos afirmar que nos países asiáticos (especial- no, mão de obra qualificada e uma boa infraestrutura. Além
mente na Índia, na Coreia do Sul e em Taiwan) e também na do aumento da produtividade de sua indústria, seus produtos
África do Sul, existem mais capitais nacionais que nos países ficaram mais competitivos no mercado internacional graças à
latino-americanos. É claro que essa é uma diferença relativa, desvalorização de suas moedas durante a crise asiática de
pois também na África do Sul e nos países asiáticos existem 1997. Com a superação dessa crise financeira, suas econo-
inúmeras filiais de multinacionais estrangeiras, as quais pos- mias voltaram a crescer rapidamente, permitindo a elevação
suem um poderio bem maior nas economias latino-americanas. da renda da população.
MOREIRA, João Carlos; SENE; Eustáquio de. Geografia Geral e do
A industrialização dos Tigres Asiáticos Brasil: Espaço Geográfico e Globalização, p. 350-354 (adaptado).
373
Geografia
modelo asiático, ao investir em educação e garantir melhor distribuição de renda, permitiu muito mais do que o modelo latino-
-americano, supostamente voltado para dentro, a constituição de um amplo mercado interno. A exclusão social foi uma das piores
decorrências do modelo econômico implantado na América Latina.
Outra diferença importante é que o modelo asiático, ao apoiar o desenvolvimento em poupança interna e ao implantar um
Estado eficiente, que tem sob controle as contas públicas, permitiu controlar a inflação e obter maior autonomia diante das crises
financeiras internacionais. A crise asiática praticamente não atingiu Cingapura e Taiwan; seu impacto em Hong Kong foi um fenô-
meno mais concentrado na bolsa de valores, e a Coreia do Sul sofreu mais por causa do elevado endividamento de seus chaebols,
porém já se reequilibrou e voltou a crescer a taxas elevadas. Todavia, os países latino-americanos, com a honrosa exceção do
Chile, sofreram fortemente os impactos da crise da dívida dos anos 1980 e das crises financeiras dos anos 1990. Assim, para
os países da América Latina, a década de 1990, sobretudo sua segunda metade, do ponto de vista econômico e social, foi tão
“perdida” quanto a de 1980.
Os números da tabela a seguir permitem concluir que, mesmo com a crise que os atingiu em 1997, os países asiáticos apre-
sentaram um crescimento bem maior que os latino-americanos. Se considerarmos a distribuição de renda e a elevação do padrão
de vida da população, fica evidente o melhor desempenho do modelo asiático do ponto de vista social.
WORLD development indicators 2003. Washington, D.C.: The World Bank, 2003; WORLD development report 2002. Washington, D.C.:
The World Bank/Oxford University Press, 2002; WORLD development report 2007. Washington, D. C.: The World Bank, 2006.
Industrialização brasileira
Milagre Abertura
Lei Eusébio CSN Vargas Econômica
econômico
de Queiroz Brasileira
Tarifa Substituição Vale do Juscelino Década
Alves de
Branco importação Rio Doce Kubitschek Perdida
1844 1850 1914 1941 1942 1951-54 1956-61 1968-73 1980 1990
O processo de industrialização brasileiro, apesar de consolidar-se a partir da década de 1930 com as políticas varguistas,
começa a se organizar desde o contexto do Segundo Reinado (1840-1889), passando por vários outros momentos que foram de
extrema importância para a formação do parque industrial recente.
No período do Segundo Reinado, a atividade industrial desenvolvida no Brasil era extremamente rudimentar, com alguns postos
industriais trabalhando em esquema de manufatura, mas importante para a formação inicial de um parque industrial. Apesar de
não se ter consolidado o processo de industrialização nesse contexto, formado por apenas alguns postos industriais, é importante
destacar dois fatos que contribuíram para esse desenvolvimento inicial:
• Tarifa Alves Branco (1844): tarifa alfandegária que elevava o preço dos produtos importados, de maneira a valorizar o produto
nacional. Como os produtos internacionais eram muito mais caros em relação aos nacionais, a indústria brasileira nascente
era estimulada.
• Lei Eusébio de Queiroz (1850): proibia o tráfico negreiro, estimulando a formação de um contingente de mão de obra livre
– consumidores –, além de promover a sobra de capital, que seria gasto com o tráfico negreiro, para outros setores econô-
micos, como o industrial.
O favorecimento trazido pelas duas leis ao desenvolvimento industrial promoveu a liberalização de capital, por parte do governo,
para obras de infraestrutura, bem como o melhoramento de vários setores que contribuem para o desenvolvimento da economia,
como transporte, comunicação e serviços.
Já no período da República Velha (1889-1930), a atividade industrial continua a ser estimulada, principalmente a indústria
têxtil, pelo fim da escravidão e a chegada de vários imigrantes. Com a inexistência da mão de obra escrava, teoricamente, todas
as pessoas passam a ter possibilidades de consumo. Além disso o imigrante, principalmente o europeu, já conhece o trabalho
industrial, pois a Europa vive seu processo de industrialização desde 1750, e possui hábitos de consumo favoráveis ao desenvol-
374
Evolução e modelos de industrialização
375
Geografia
O período militar foi marcado pela continuação das ações de produzido no Brasil e as áreas modernizadas produziam, em
desenvolvimento industrial. Com a manutenção dos investimen- sua grande maioria, para a exportação, a década perdida não
tos nas indústrias de bens de consumo duráveis, os militares prejudicou o desenvolvimento do setor primário. Primeiramen-
aumentaram o endividamento brasileiro para esse fim e para te, a Revolução Verde concentrou-se nas regiões Sudeste e
a realização das obras faraônicas observadas no contexto. Em Sul, sendo que a partir da década de 1980 seguiu em direção
uma visão militar de ocupação dos espaços, eles acreditam que à região Centro-Oeste, promovendo um aumento das áreas
a proteção das fronteiras nacionais só aconteceria mediante de plantio, que já se desenvolviam como áreas melhoradas,
a presença da população brasileira. Sendo assim, muitos além de ampliar as melhorias para áreas que já possuíam
investimentos foram feitos nesse sentido, como a construção produção. Convém não esquecer que o uso intenso de tecno-
da Rodovia Transamazônica, da Rodovia Cuiabá-Santarém, logia se concentra entre os produtos que serão exportados,
da Usina de Itaipu, entre outros. normalmente desenvolvidos em grandes propriedades. A
O período de maior importância do governo militar, com- produção destinada ao abastecimento nacional, geralmente,
preendido entre 1968 e 1973, o chamado de Milagre Econômico. se faz em pequenas e médias propriedades, não possuindo
Marcado pelo forte crescimento econômico, no qual o Brasil as mesmas tecnologias utilizadas para o desenvolvimento
crescia a um ritmo de 10% ao ano, e pela posição brasileira da agricultura de exportação.
entre as dez primeiras economias mundiais. Porém, foi um
A década perdida vivenciou diversas tentativas de melho-
período de grande concentração da renda brasileira, bem como
ria com os planos econômicos desenvolvidos, como Plano
do reforço da concentração industrial na região Sudeste. Des-
de o governo de Getúlio Vargas, o parque industrial brasileiro
Cruzado (1986), Bresser (1987) e o Plano Verão (1989),
tendeu a se concentrar na região Sudeste, devido aos atrativos não apresentando grande êxito na estabilização econômica
industriais que a região possuía por ter sido palco, ou participar brasileira.
ativamente, dos grandes ciclos econômicos brasileiros. Quanto A década de 1990 é marcada pela abertura econômica bra-
aos atrativos industriais, é possível perceber: a concentração da sileira com a implantação da política neoliberal. Essa política,
população, que participa como mão de obra e mercado consu- proposta pelo Consenso de Washington para melhoramento
midor; a presença de matéria-prima, devido à fixação das indús- da economia da América Latina, trouxe a abertura econô-
trias de base e ao quadrilátero ferrífero; maior desenvolvimento mica do Brasil e a chegada de várias multinacionais. Essas
da infraestrutura de logística e energia, estimulada no Segundo indústrias promoveram maior diversificação e melhoramento
Reinado pela chegada da Família Real e a disponibilidade de do parque industrial brasileiro, bem como o fechamento de
capital, com a queda da atividade cafeeira. Dessa forma, o que várias empresas brasileiras.
o governo militar promovia durante o Milagre Econômico era o
reforço da concentração, que já existia, do parque industrial.
O fim do Milagre Econômico deveu-se à Primeira Crise do
Exercícios
Petróleo, desencadeada pela Guerra do Yom Kippur em 1973, 1. (G1 - col. naval – 2014) Embora o processo de indus-
no Oriente Médio. A Síria e o Egito resolveram atacar o Estado trialização brasileira tenha sido iniciado na segunda
de Israel, buscando reaver as áreas perdidas na Guerra dos metade do século XIX, o país passou a diversificar o
Seis Dias em 1967, Colinas de Golã e Península do Sinai, res- seu parque fabril a partir da década de 1930. Com re-
pectivamente. O Estado de Israel reagiu ao ataque e acabou lação ao desenvolvimento industrial brasileiro, assinale
ganhando a guerra árabe-israelense por mais uma vez. Diante a opção correta.
disso, os países da Liga Árabe, formada em 1945 por Egito, Ira-
que, Jordânia, Líbano, Síria e Arábia Saudita, com o objetivo de A) A adoção de medidas fiscais e cambiais pelo go-
evitar a construção do Estado de Israel e, posteriormente, lutar verno do General Eurico Gaspar Dutra possibilitou
contra a sua presença, por terem influência sobre a extração a planificação da política econômica estatal, a qual
do petróleo, já que se localizam na maior área de reserva de privilegiou os setores de bens de consumo produ-
petróleo do mundo, resolvem aumentar o preço do petróleo de zidos pela indústria nacional.
$ 2,70 para $ 11,00 dólares. Essa medida foi tomada diante da B) A política nacional-desenvolvimentista do governo
visão da incapacidade de vencer o Estado de Israel via militar do Getúlio Vargas procurou estimular os investimen-
e por ser uma forma de atacar os países que defendiam a tos em transportes, comunicações, energia e bens
presença do Estado de Israel na região da Palestina. de produção, apoiando a criação da Petrobras e do
O fato é que, para o Brasil e para as demais nações que Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e
possuíam o petróleo como base energética, o aumento do seu Social (BNDES).
preço representou um grande empecilho à manutenção do de- C) O Plano de Metas do governo de Juscelino Kubits-
senvolvimento econômico. No Brasil, inicialmente representou chek inaugurou a política de substituição de impor-
o fim do Milagre Econômico e, posteriormente, com a Segunda tações com forte aporte de capital estrangeiro, que
Crise do Petróleo, em 1979, a configuração de um longo período se voltava, preferencialmente, para os setores de
de crise econômica, denominado década perdida. bens de produção e de bens de capital.
Essa crise vivenciada pela economia brasileira na década
D) A política industrial do governo de João Goulart
de 1980 caracterizou-se pelo baixo crescimento econômico,
procurou aprofundar a produção de bens de consu-
concentrado nos setores secundário e terciário, e pelas eleva-
mo duráveis, para isso, atraiu o capital estrangeiro
das taxas de inflação.
através de amplas reformas do sistema tributário e
A década perdida atingiu, de maneira significativa, apenas bancário, que permitiram àquele capital, remessas
os setores secundário e terciário. O setor primário praticamente de lucros ao exterior.
não sentiu o momento de crise, apresentando, inclusive, um
grande crescimento das áreas produtoras e um melhoramento E) Os governos militares favoreceram os investimentos
da produção. Essa incoerência se deu pelo fato de o setor pri- externos nos setores de mineração, agricultura, quí-
mário brasileiro vivenciar a Revolução Verde – implantação de mica e farmacêutica. Essas medidas aumentaram a
tecnologias relacionadas ao setor primário – desde a década competitividade da indústria brasileira e permitiram
de 1970. Como o maquinário utilizado pelas lavouras não era que se elevasse o padrão tecnológico do país.
376
Evolução e modelos de industrialização
2. (UEM - PR - 2017) A respeito das atividades produtivas A) ambos se utilizaram do endividamento externo como
econômicas e da organização do espaço mundial, assi- fonte básica para desenvolver o processo, fortemen-
nale o que for correto. te concentrado no eixo São Paulo-Rio de Janeiro
01. Por intermédio do trabalho, a sociedade estabelece no período Vargas, mas desconcentrado com JK.
relações entre si e com a natureza. Desse modo, ao B) ambos privilegiaram as indústrias de bens de con-
produzir o necessário para viver (moradias, fábricas, sumo; no entanto, Vargas encarava as importações
plantações), asociedade também produz o que se de produtos industriais como necessárias, fato que
chama de “espaço geográfico”. JK combatia com políticas protecionistas.
02. “Industrialização planificada” é o termo que designa C) enquanto Vargas adotou como prioridades os capi-
um conjunto específico de atividades do setor secun- tais nacionais, os estatais e as indústrias de base,
dário nos países capitalistas. JK promoveu a organização do espaço industrial à
04. “Industrialização periférica” é o termo que define uma custa da internacionalização da economia.
industrialização historicamente atrasada em relação D) tanto Vargas como JK apoiaram-se no empresa-
ao surgimento desse tipo de atividade, tendo ocorrido riado nacional que defendia a substituição das
em muitos países do Terceiro Mundo. importações; no entanto, JK, com seu Plano de
08. Durante a Primeira Revolução Industrial, a procura Metas, atrelou a industrialização à redução das
por mão de obra qualificada era elevada, ao passo desigualdades regionais.
que as matérias-primas tinham menor importância no E) enquanto Vargas se utilizou de uma tripla base de
processo de produção. capitais estatais, nacionais e internacionais, JK,
16. O acréscimo de ciência e tecnologia às bases da pro- refletindo o momento mundial de expansão das
dução tem conferido à educação um papel primordial multinacionais, apoiou-se somente nos capitais
no cenário econômico mundial, na atualidade, muito internacionais.
embora investimentos em educação não sejam prio-
5. (EsPCex – 2011) “ ... Os países emergentes hoje pro-
ridade em vários países do globo.
duzem 44% das manufaturas do planeta, ante 66%
Soma: ______________ nos países ricos. Mas o Brasil vem perdendo espaço.
O País representava 10% de toda a produção industrial
3. (Fuvest - 2017) O período que vai de 1956 a 1967 é
das economias em desenvolvimento há 15 anos, em
considerado como a primeira fase da industrialização
1995. Dez anos depois, caiu para 7,2%.”
pesada no Brasil.
(Jornal o Estado de São Paulo, 20/04/2010)
Barjas Negri. Concentração e desconcentração industrial em
São Paulo – 1880-1990. Campinas: Unicamp, 1996. Dentre as razões que têm limitado um maior cresci-
mento da participação dos produtos industrializados
Sobre as características da industrialização brasileira no
brasileiros no comércio mundial, podemos destacar:
período de 1956 a 1967, é correto afirmar que
I. O elevado custo de deslocamento dos produtos
A) houve uma associação entre investimentos no setor para exportação, por conta de carências nas áreas
estatal e a entrada de capital estrangeiro, que propi- de infraestrutura e logística.
ciaram a instalação de plantas produtoras de bens
II. Com exceção de alguns produtos industriais, o
de capital.
componente tecnológico das exportações brasileiras
B) a instituição do Plano de Metas, que teve como princi- é muito baixo, acarretando contínua queda no valor
pal finalidade incrementar a incipiente industrialização médio da tonelada exportada.
do Rio de Janeiro e de São Paulo, marcou politica-
III. A cotação da moeda brasileira, fortemente desvalo-
mente esse momento do processo.
rizada em relação ao dólar, torna nossos produtos
C) partiu do Estado Brasileiro, de caráter fortemente cen- pouco competitivos no comércio mundial.
tralizador e nacionalista, a criação das condições para
a nascente indústria têxtil que se instalava no país, IV. O fato de o Brasil concentrar seu intercâmbio
por meio de diversos incentivos e isenções fiscais. externo majoritariamente com os EUA, seu maior
parceiro comercial na atualidade, limita, em muito, a
D) ocorreu a implantação de multinacionais do setor
participação de seus produtos em outros mercados.
automobilístico, que se concentraram em São Paulo,
principalmente ao longo do eixo da Estrada de Ferro Assinale a alternativa que apresenta todas as afirma-
Santos-Jundiaí, em direção a Ribeirão Preto. tivas corretas:
E) se trata de uma fase marcada pela política de “subs- A) I e II D) II, III e IV
tituição de importações”, uma vez que se deu um B) I e III E) II e IV
incremento da indústria nacional, pela abundância
C) I, III e IV
de mão de obra.
377
Capítulo 27
Regionalização
PA SUL
AM
Setentrional MA
Norte Oriental
CE RN
PR
PI
PE
AL
SE Regionalização de 1970
BA
MT
GO
As cinco macrorregiões segun-
Central Oriental do a divisão regional do IBGE
Em 1990, a regionalização de 1970, em razão das alterações
MG
ES
RJ
da Constituição de 1988, passou a ser denominada “As cinco
macrorregiões “. Veja algumas dessas mudanças:
SP
PR
378
Regionalização
O domínio natural mais importante é o dos mares de morros, Diferentemente da divisão oficial, esta regionalização não
antigamente recobertos por verdes matas tropicais. foi feita pelo IBGE. Ela foi sugerida pelo geógrafo brasileiro
A região Sul caracteriza-se pela numerosa presença de Pedro Pinchas, no final da década de 60. Nesta divisão, o
descendentes de europeus: alemães, italianos e eslavos. Essa autor levou em consideração o processo histórico de forma-
ção do território brasileiro e, em especial a industrialização,
região apresenta também os melhores indicadores sociais do
associado aos aspectos naturais. A divisão em complexos
país. A sua agropecuária, moderna e produtiva, transformou-
regionais não respeita o limite entre os estados. O Norte de
-a em fornecedora de alimentos para todo o país. É o único
Minas Gerais encontra-se no Nordeste, enquanto o restante
ambiente do Brasil com clima subtropical.
do território mineiro está localizado no Centro-Sul. O leste do
A região Nordeste já foi a mais rica do país, na época colonial. Maranhão encontra-se no Nordeste; o oeste, na Amazônia.
Depois, sua economia declinou e ela se transformou na mais O sul de Tocantins e do Grosso encontrm-se no Centro-Sul,
pobre região brasileira. Por isso, tornou-se objeto de rejeição e mas a maior parte desses estados pertence ao complexo da
zombaria do resto da população. Os migrantes nordestinos, ao Amazônia. Como as estatísticas econômicas e populacionais
longo do século XX, espalharam-se por todo o país. Recente- são produzidas por estados, essa forma de regionalizar não
mente, o rápido crescimento econômico de algumas áreas do é conveniente sob certos aspectos, mas é muito útil para a
Nordeste está mudando essa situação. geografia, porque ajuda a contar a história da produção do
espaço brasileiro.
As regiões Centro-Oeste e Norte são os espaços geográficos
de povoamento mais recente, que continuam a sofrer um pro-
cesso de ocupação. Por isso, a paisagem natural encontrava-
-se, até pouco tempo, preservada. A região Norte, espaço da
floresta equatorial, é de ocupação ainda mais recente. Mas essa
ocupação vem crescendo rapidamente. A derrubada das matas,
as queimadas, a poluição dos cursos de água por garimpos e
os conflitos pela posse da terra são consequências ambientais
e sociais da colonização da Amazônia.
A região Centro-Oeste, espaço dos cerrados, começou a
ser ocupada mais rapidamente após a construção de Brasí-
lia, inaugurada em 1960. De lá para cá aumentou bastante a
população regional. Cresceram também a criação de gado e
a produção agrícola. Mesmo assim, existem áreas com densi-
dades demográficas muito baixas, como o Pantanal.
OCEANO ATLÂNTICO
AMAPÁ
Equador RORAIMA
AMAZONAS
IBGE
PARÁ
TOCANTINS
ALAGOAS
SERGIPE
Os quatro Brasis
RONDÔNIA MATO GROSSO NORDESTE
DISTRITO BAHIA
Essa proposta de regionalização foi feita por Milton Santos
CENTRO-OESTE
FEDERAL
em 1999. Ela utiliza como critérios a difusão desigual dos
GOIÁS
MINAS GERAIS meios técnicos, científicos, informacionais e econômicos entre
MATO GROSSO
DO SUL SUDESTE ESPÍRITO SANTO
os estados brasileiros. Assim, o país é dividido em quatro
SÃO PAULO
RIO DE JANEIRO regiões, os quatro Brasis.
Trópico de Capricórnio PARANÁ
SUL
SANTA CATARINA
RIO GRANDE
DO SUL OCEANO ATLÂNTICO
Os complexos regionais
Existe outra forma de regionalizar o Brasil, uma maneira
que sublinha melhor a situação socioeconômica e as relações
entre a sociedade e o espaço natural. Trata-se da divisão em
três grandes complexos regionais: o Centro-Sul, o Nordeste e
a Amazônia.
Fonte: IBGE
379
Geografia
Características de cada uma das áreas: Na década de 90, a soja ocupou o lugar de principal pro-
duto agrícola, apesar de ocasionalmente ocorrer quedas no
• Concentrada: região na qual estão agregados os principais
meios técnicos, científicos e informacionais do país. Nela são seu valor de venda, mas isso não tem impedido os produtores
encontradas áreas intensamente industrializadas, comércio de cultivá-la.
variado, meios de transportes diversificados e um intenso fluxo Atualmente o cultivo da soja foi expandida até o sul do
de informações e capitais Maranhão e do Pará, mostrando, com isso, que a produção
• Centro-Oeste: região de ocupação recente, que apresenta monocultora da soja saiu do sul e sudeste, migrou para o
uma atividade agropecuária mecanizada e globalizada, isto é, centro-oeste e agora inicia um novo ciclo em outras áreas.
voltada para o mercado externo. É inegável que a soja seja geradora de riqueza, mas essa
• Nordeste: nessa região, os meios técnicos e informacio- riqueza atualmente encontra-se concentrada nas mãos de
nais se desenvolveram de modo pontual, contribuindo para as poucos latifundiários. Deve-se levar em consideração que
grandes disparidades internas. esse tipo de produção provoca sérios problemas ambientais,
• Amazônia: marcada pela diversidade natural, baixa como retirada da vegetação original, poluição dos solos e das
densidade demográfica e menor concentração de tecnologias águas, extinção das nascentes e morte de animais silvestres
aplicadas à agropecuária e à indústria, se comparada às de- que consomem cereais com substâncias químicas.
mais regiões. A vocação econômica da região Centro-Oeste histori-
camente foi a pecuária (bovinos, equinos, bufalinos entre
As grandes regiões brasileiras outros), mas a partir da década de 1990, a soja passou a
desempenhar um papel de grande importância no mercado
Centro- Oeste internacional, o que motivou muitos produtores rurais a mu-
darem de ramo ou aumentarem suas áreas de cultivo. Hoje
Região Centro-Oeste a nova área de expansão da soja extrapolou os limites do
AM
PA Centro-Oeste e avançou em direção a outras regiões do Norte
e Nordeste. Mas não se pode perder de vista que o Centro-
TO
RO -Oeste está entre as regiões brasileiras que concentram os
BA maiores rebanhos do país.
MATO GROSSO
É importante não perder de vista que esse grão gera bas-
Cuiabá Brasília tante riqueza para o país, mas que ele está concentrado nas
BOLÍVIA
Goiânia
mãos de uma pequena parcela de pessoas. Esses cultivos
GOIÁS
estão atrelados a grandes latifúndios, que utilizam grandes
MATO GROSSO MG
DO SUL quantidades de agrotóxicos, adubos químicos e sementes
Campo Grande
transgênicas, elementos potencialmente danosos ao meio
SP
0 125 250 500 Km
N ambiente e à saúde humana.
PARAGUAI
PR A questão dos defensivos, inclusive, está na atualidade,
sendo alvo de discussões em função das tentativas da banca-
As paisagens mais associadas ao Centro-Oeste, em geral, da ruralista de afrouxar ainda mais as leis que regulamentam
são associadas às planícies alagadas do Complexo do Pantanal o uso dos agrotóxicos no país por meio de um Projeto de Lei
Mato-Grossense. A região, no entanto, apresenta características que vem sendo denominado por ativistas e organizações
bastante diversificadas, com planaltos, chapadas, serras e de- contrárias de PL do Veneno.
pressões. O Pantanal é caracterizado por uma riqueza de fauna É importante saber que diversas substâncias que com-
e flora, e a vegetação predominante nessa região é o Cerrado.
batem pragas utilizadas no Brasil são proibidas nos Estados
O Centro-Oeste surgiu como uma nova opção produtiva a Unidos e em diversos países europeus em razão de estarem
soja, a partir da década de 70, quando houve uma mecanização associadas ao câncer e a uma série de doenças genéticas.
na agricultura. O cerrado, visto antes como um solo pobre,
ganhou uma nova concepção como a chegada de insumos Com o aumento da mecanização agrícola, com a cons-
que corrigiram as alterações e as deficiências de substâncias, trução e implantação de Brasília (1954-1960) e a criação de
tornando o solo apto à prática da agricultura. Outro motivo diversas rodovias que integravam a região à porção oriental
favorável para a expansão de plantações como a da soja foi do território brasileiro, a região vivenciou o processo de urba-
o relevo mais plano. Ocupando uma condição geopolítica que nização, ou seja, ao contrário da região Sudeste, é possível
favorece a produção, o Centro-Oeste é hoje a segundo maior perceber que a urbanização nessa área não é associada ao
produtor de soja do país. processo de industrialização. Apesar de apresentar um con-
O meio ambiente na região do Centro-Oeste tem sido
tínuo crescimento populacional, o Centro-Oeste está entre as
ameaçado principalmente pela expansão da lavoura de soja, regiões de menor número de habitantes do país (4.058.094
que tem alcançado a cada ano índices de produção cada vez milhões – IBGE 2017) e de menor densidade demográfica.
mais elevados. A EMBRAPA (Empresa Brasileira de Pesqui- O agronegócio é a principal atividade econômica da região
sas Agropecuária) foi a responsável pelo desenvolvimento da Centro-Oeste. Ele engloba as agroindústrias e a produção
técnica da calagem, processo que forneceu condições para agropecuária. Esta última tem se destacado no fornecimento
que os solos do Cerrado se tornassem produtivos. Hoje as de matéria-prima para indústrias de alimentos e de outros
pesquisas prosseguem no sentido de desenvolver sementes setores do Brasil e do exterior, principalmente carne, soja,
mais resistentes a pragas e, ao tempo, mais bem adaptadas algodão, milho, cana-de-açúcar e arroz.
ao clima e de melhor valor nutricional.
380
Regionalização
A região tem uma participação significativa no cenário nacio- os serviços públicos básicos. Com isso, a população passou
nal quanto à produção agropecuária, uma vez que a cada ano a enfrentar uma série de problemas de infraestrutura, como
os índices de produtividade se elevam. Isso tem ocorrido em a falta de saneamento, escolas, iluminação, pavimentação,
razão de investimentos em tecnologias, especialmente em pro- policiamento entre outros.
priedades de produção tradicional. Os recursos são aplicados O crescimento de bairros marginalizados nas grandes
na compra de maquinários, insumos agrícolas e na utilização
cidades da Região Centro-Oeste vem acontecendo porque
de mão de obra especializada (técnicos) no desenvolvimento
a oferta de emprego é insuficiente em relação à quantidade
das atividades. Em suma, o que tem ocorrido é um processo
da mão de obra derivada do campo.
maciço de modernização do campo na região.
O Centro-Oeste ocupa a segunda posição (após a região
Historicamente, o Centro-Oeste sempre se destacou na pe-
Sudeste) quando se trata de urbanização, devido, princi-
cuária, atividade que ainda hoje possui uma grande relevância
palmente, à expansão da fronteira agrícola e da Revolução
para a economia da região, respondendo pela maioria da renda
proveniente do setor agropecuário. A pecuária desenvolvida na
Verde. A urbanização nessa área, portanto, é desvinculada do
região é dedicada, principalmente, à criação de bovinos, mas processo de industrialização, além de figurar como o motivo
também existem criadores de bubalinos e equinos. principal das migrações em direção às cidades, em razão do
desemprego que se seguiu à mecanização do campo.
O processo de urbanização e povoamento dessa região
ocorreu, principalmente, após a implantação da capital federal
(Brasília). O desenvolvimento da agropecuária, a construção Norte
de rodovias, entre outros fatores, foram determinante para a REGIÃO NORTE
consolidação da povoação no Centro-Oeste. O aumento da
migração, entre os anos de 1960 e 1970, e do índice de na-
talidade, nas décadas seguintes, colocaram a região como a Roraima
Amapá
maior em crescimento populacional no Brasil.
Apesar de um contínuo crescimento populacional, o Centro-
-Oeste está entre as regiões de menor número de habitantes Amazonas
381
Geografia
Nessa região, estão localizados os dois maiores estados do onde está o maior rebanho bovino do país (IBGE, 2016), e a
Brasil, respectivamente, o Amazonas e o Pará, além do Acre, mineração na região do Complexo de Carajás.
Ama¬pá, Rondônia, Roraima e Tocantins. A região Norte é Apesar de sua grande importância ambiental em escala
marcada por uma grande disparidade quanto à concentração
mundial, devido à sua enorme biodiversidade e recursos
populacional e ainda possui grandes vazios populacionais. De
naturais e minerais, a Amazônia tem sido constantemente
acordo com dados do IBGE de 2017 a população na região é de
ameaçada por inúmeras atividades predatórias, entre elas a
17 936 201 hab. e a densidade demográfica é de 4,65 hab./km²
extração de madeira, a mineração, a construção de inúmeras
Como no Nordeste, a industrialização da região Norte foi hidrelétricas, em decorrência do enorme potencial hídrico
decorrente do planejamento do governo, que buscava encon- da região ( o que conferiu à área o título de última fronteira
trar atrativos de modo a interiorizar a população em direção à energética do país), o tráfico de drogas e a biopirataria e a
região. Para isso, criou a Zona Franca de Manaus em 1967, conversão da floresta em áreas para pasto e agricultura.
como forma de fomentar a economia e com isso atrair migran-
tes em direção à área. Entretanto, as grandes distâncias dos Inclusive, há uma área que se estende do Maranhão até o
centros consumidores e a deficiência da rede de trans¬portes Acre, denominada arco do desmatamento ou do desfloresta-
da região acabaram por criar áreas industriais desarticuladas mento, que coincide com a região de expansão da fronteira
e pouco representativas no mercado nacional. agrícola. A área de avanço agrícola em direção à região
norte tem substituído a Floresta Amazônica por campos de
O estado do Amazonas, onde está situada na Zona Franca de
soja e rebanhos, fato que gera preocupação, em face do
Manaus, e o Pará, com o parque industrial da área metropolitana
desmatamento exagerado e perda da biodiversidade. Além do
de Belém, são praticamente os únicos polos industrializados
desmatamento, essa faixa é marcada por conflitos e tensões
da porção norte do país. Entre os estados da região Norte, o
Pará é o que possui a economia mais dinâmica e diversificada, entre diversos atores, tais como Índios, fazendeiros, grileiros,
destacando-se a criação de gado bovino em São Félix do Xingu, posseiros, madeireiros, ambientalistas, carvoeiros, seringuei-
ros, entre outros, o que gera uma série de mortes e violência.
Arco do desmatamento
Arco de Desflorestamento da
Amazônia Legal
Legenda
Sistema de Coordenadas Georáficas
ARCO DE DESFLORESTAMENTO South American Datum 1969
UNIDADES DE CONSERVAÇÃO
AMAZONIA LEGAL
Escala Gráfica
TERRAS INDÍGENAS 1:14.000.000
LIMITES ESTADUAIS Escala numérica
RIOS MARGEM DUPLA Fonte: IBAMA, 2007
Região onde a fronteira agrícola avança em direção à floresta e também onde encontram-se os maiores índices de desmatamento da
Amazônia. São 500 mil km² de terras que vão do leste e sul do Pará em direção oeste, passando por Mato Grosso, Rondônia e Acre.
Fonte: IBAMA
Região Nordeste
382
Regionalização
O Nordeste, terceira região mais extensa do Brasil, com uma Sertão – Corresponde à maior das sub-regiões nor-
área de 1 554 257 km2 correspondendo a mais de 18% do terri- destinas, compreendendo mais da metade do território do
tório nacional, está dividido em nove estados: Maranhão, Piauí, nordeste e está inserida na área denominada Polígono das
Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Ala¬goas, Secas. É a área marcada pelo predomínio do clima semiárido
Sergipe, Bahia – além dos arquipélagos de Fernando de No- com temperaturas elevadas, chuvas escassas e irregulares.
ronha e de São Pedro e São Paulo, que administrativamente Corresponde ao domínio da vegetação de caatinga, dos lati-
fazem parte de Pernambuco. fúndios, da desigualdade social, das migrações sazonais e da
Os espaços geográficos são bastante distintos no Nor¬deste. pobreza. A agricultura de subsistência e a pecuária extensiva
De acordo com dados do IBGE, a região Nordeste é a que tem são praticadas na maior parte dessa sub-região, ao lado de
o maior percentual de população rural no Brasil, com cerca grandes lavouras intensivas voltadas para o mercado externo.
de 27% residindo na zona rural e 73% nas áreas urbanas. A Meio-norte – assim como o Agreste, é considerado uma
organização geográfica das atividades econômicas ajuda a área de transição entre o Sertão semiárido e a região equa-
compreender essas diferenças. Desse modo, a área é dividida
torial amazônica. Abrange o estado do Maranhão e o oeste
de acordo com aspectos naturais e humanos em sub-regiões,
do Piauí. Assim, à medida que o clima vai se tornando mais
ou seja, áreas menores que possuem características mais
úmido a oeste o domínio da caatinga vai sendo, aos poucos,
semelhantes. São quatro as sub-regiões nordestinas: a Zona
substituído pela paisagem da Mata de Cocais. A economia
da Mata, o Agreste, o Sertão e o Meio Norte.
dessa se baseia na pecuária extensiva, no cultivo de algodão
e arroz, no extrativismo vegetal do babaçu e da carnaúba
– espécies vegetais típicas da Mata de Cocais, bastante
utilizadas na indústria de cosméticos, na fabricação de ceras
e outros produtos artesanais. Na atualidade, como já vimos
anteriormente, o o cultivo de soja vem crescendo na região em
razão de essa área estar inserida na região do MATOPIBA,
fato que vem ameaçando o bioma da Mata de Cocais e a fonte
de renda de milhares de família que vivem do extrativismo(
essa é uma atividade essencialmente feminina na região).
Região Sul
Região Sul MT
SP
Paraguai
Paraná Curituba
Santa Catarina
Florianópolis
Argentina
Rio Grande
do Sul Porto Alegre
OCEANO
ATLÂNTICO
Zona da Mata – Corresponde à faixa litorânea de planícies Uruguai 0 100 200 400 Km
383
Geografia
disponibilidade de energia – sobretudo hidrelétrica, já que a serras do Espinhaço, da Mantiqueira e do Mar. A paisagem ca-
Hidrelétrica de Itaipu está localizada na região – e do mercado racterística é constituída por “pães de açúcar” e pelos “mares
consumidor com elevado poder de compra). Apesar do dina- de morros” modelados pela ação do intemperismo químico e
mismo e importância das atividades industriais, é no setor de pela erosão predominantemente pluvial. Em razão do relevo
prestação de serviços que a região mais se destaca. predominantemente planáltico, a região Sudeste dispõe de
A atividade agroindustrial cresceu nas últimas décadas e um enorme potencial hidrelétrico instalado.
pode ser encontrada nas áreas metropolitanas da cidade de
Porto Alegre (RS), Curitiba (PR) e no nordeste de Santa Ca- Região Sudeste
tarina. Grande parte das atividades agrícolas é realizada em
pequenas propriedades, porém a monocultura da soja, do arroz
e do trigo é bastante significativa. Na pecuária as principais Minas Gerais
384
Regionalização
O Espírito Santo é o estado menos industrializado e dinâmico IV. a Constituição de 1988 delegou aos municípios o
do Sudeste. Os principais ramos industriais são o metalúrgico, poder de legislar sobre a criação de RM, por isso, na
o petroquímico e o alimentício. A atividade industrial está con- década de 1990, foram criadas diversas novas RM.
centrada na região metropolitana de Vitória. Assinale a alternativa que apresenta todas as afirmativas
Embora nos últimos anos, as regiões Sudeste e Sul tenham corretas:
apresentado uma pequena queda na participação no PIB A) I e II
nacional e representarem cerca de 70% do PIB, as demais
B) I, II e IV
regiões brasileiras mostraram um tímido aumento. Isso resulta
da desconcentração industrial em direção ao Norte, Nordeste C) I e III
e Centro-Oeste do país. D) II, III e IV
E) III e IV
Exercícios
3. (EsPCex – 2011) Sobre o mercado de trabalho e a estru-
1. (EsPCex (AMAN) –2018) Na década de 1990, a abertura tura ocupacional no Brasil, podemos afirmar que:
da economia brasileira à concorrência internacional trouxe I. na distribuição setorial da População Economicamente
uma nova configuração à economia nordestina, buscando Ativa por regiões, o Sudeste e o Centro-Oeste apre-
conectar a Região Nordeste aos fluxos de investimentos sentam os maiores percentuais no setor primário. A
globalizados e ao mercado mundial. Nessa nova confi- importância regional da agropecuária ajuda a explicar
guração, observa-se que ocorreu esse fato.
I. um redirecionamento dos investimentos para o setor II. o setor secundário é o mais heterogêneo de todos
de indústrias de base, com produção destinada à em função da grande diversidade de suas atividades.
exportação, incentivados pelos baixos custos da força Nele, a construção civil é a atividade que apresenta
de trabalho da Região. níveis gerais de qualificação da mão-de-obra mais
elevados.
II. um engajamento dos governos estaduais nordestinos
em diversificar os focos de incentivo ao capital para III. entre as principais atividades do setor terciário, pode-
os mais diferentes setores da economia, contudo não mos destacar os serviços, o comércio e a administra-
mais com a finalidade de atender às necessidades do ção pública. Este setor reúne trabalhadores de níveis
mercado do Sudeste, mas ao mercado externo. de qualificação e salário muito diversos.
III. o surgimento de enclaves econômicos modernos na IV. de uma maneira geral, os setores de trabalho urbano
pagam salários mais elevados. A maior qualificação
agropecuária no oeste baiano e no sul do Maranhão e
da força de trabalho empregada na indústria, no
do Piauí, onde é forte a presença das culturas meca-
comércio e nos serviços é um importante fator para
nizadas de soja, milho, arroz e feijão, associadas ao
que isto ocorra.
fluxo migratório de agricultores do sul do País.
Assinale a alternativa que apresenta todas as afirmativas
IV. a execução de reformas estruturais no meio rural, corretas:
como a reforma agrária, a qual suprimiu a hegemonia
A) I e II
dos grandes proprietários de terra no Sertão e contri-
buiu para a redução da pobreza na Região. B) I, II e III
V. a diversificação dos focos dos incentivos econômicos, C) I e IV
direcionados também para o setor de serviços no qual D) II e III
o turismo recebeu prioridade através da implementa- E) III e IV
ção de empreendimentos hoteleiros.
Assinale a alternativa que apresenta todas as afirmativas Gabarito
corretas. 1. D
A) I, II e III 2. C
B) I, III e IV
3. E
C) I, III e V
D) II, III e V
E) II, IV e V
385
Capítulo 28
386
Recursos naturais e energéticos
Pirolusita (manganês)
O minério de manganês destina-se principalmente à fabricação do aço. O Brasil possui grandes reservas desse minério e situa-
-se entre os maiores produtores e exportadores. As principais áreas produtoras são:
Serra do Navio (AP)
É a maior área produtora e exportadora do país. A exportação é feita pelo Porto de Santana (AP).
Quadrilátero Ferrífero (MG)
A produção destina-se ao consumo interno.
Maciço do Urucum (MS)
Pequena produção.
Marabá-Itupiranga (PA)
A produção sofreu grande crescimento recentemente.
Maiores produtores
Estados: AP, MG, PA
Países: Rússia, África do Sul, Brasil
Cassiterita (estanho)
O estanho é um metal de múltiplas utilidades: entra na composição de diversas ligas (bronze, latão etc.), na produção de chapas
finas de aço e na produção das folhas de flandres. A produção brasileira sofreu grande incremento recentemente (década de 80)
e já se coloca entre as maiores do mundo.
Maiores produtores
Estados: RO, AM, PA
Países: Malásia, Indonésia, Brasil
Bauxita (alumínio)
O alumínio é um dos metais mais importantes da atualidade. É um metal leve, durável, não oxidável e de larga utilização em
inúmeros setores como construção civil, indústria elétrica, eletrônica, automobilística, aeronáutica, de utensílios domésticos, etc.
O Brasil possui grandes reservas de bauxita e sua produção tem aumentado muito ultimamente.
387
Geografia
Maiores produtores
Estados: PA (Oriximiná) e MG (Quadrilátero Ferrífero)
Países: Austrália, Guiné, Jamaica
Lantânio, cério, neodímio, európio, térbio, túlio, lutécio, samário. Você pode até não conhecer esses elementos químicos, mas,
muito provavelmente, depende deles no seu dia a dia. Conhecidos como terras raras, eles integram um grupo de 17 elementos
indispensáveis na atual indústria de alta tecnologia. Motores elétricos, turbinas eólicas, superímãs, telefones inteligentes, com-
putadores, tablets, lâmpadas de LED e fluorescentes, mísseis e muitos outros produtos levam terras raras em sua fabricação.
388
Recursos naturais e energéticos
Esses elementos são alvo de uma competição internacional. Hoje, a China detém as maiores reservas conhecidas de terras
raras, cerca de 36 milhões de toneladas, e controla 95% da produção mundial – um verdadeiro monopólio. Estados Unidos e
Austrália vêm logo atrás, com 6,4% e 3,6% da produção mundial, respectivamente. O Brasil nem entra nessa lista. Apesar de ter
reservas conhecidas desde o final da década de 1940, não há produção industrial de terras raras por aqui.
Mas esse cenário pode estar prestes a mudar. Somada à pressão econômica mundial, está a recente descoberta de enormes
reservas de terras raras em Araxá (MG).
Além de Minas Gerais, há terras raras em vários estados brasileiros, em especial Goiás e Amazonas. Mas essas reservas ainda
não foram medidas e seu tamanho pode estar subestimado.
A exorbitância das reservas internacionais e nacionais põe em xeque o próprio nome dado a esses elementos. As terras raras
não são terras, nem são tão raras: sua abundância é maior que a de minerais de prestígio, como o ouro. No entanto, não há jazidas
exclusivas desses elementos. Eles sempre ocorrem com outros de seu grupo, em geral em baixas concentrações, e associados
a outros minérios (como monazita, bastnasita e xenotima), o que torna sua extração complexa.
Somente a China tem o domínio completo das várias etapas da cadeia produtiva de terras raras – da mineração até a obten-
ção de um produto que possa ser utilizado pela indústria. Lavrados os minérios, é preciso separar os elementos de terras raras.
Disponível em: http://www.senado.gov.br/noticias/Jornal/emdiscussao/terras-raras/contexto/terras-
-raras-o-minerio-da-vez.aspx (Texto adaptado; outras fontes foram utilizadas)
As fontes de energia
Energia é a capacidade de realizar trabalho. Assim, fontes de energia são determinados elementos que podem produzir ou
multiplicar o trabalho (músculos, o sol, a força das águas, o vento, a eletricidade, etc). Desde que o homem passou a usar outros
tipos de energia, que não a dos animais e da força humana, os combustíveis fósseis e outras fontes mais modernas tornaram-se
imprescindíveis, sendo responsáveis pelo progresso da economia e do bem-estar da humanidade. A ameaça de corte de energia
pode causar transtornos enormes à economia de um país: é enorme o prejuízo da indústria, do comércio e de todos os setores
da economia, sem falar nos aeroportos, no trânsito das metrópoles, nos hospitais, nas escolas, etc. Isso demonstra a nossa total
dependência da eletricidade e do uso das fontes de energia em geral.
Classificamos as fontes de energia naturais, ou fontes primárias, em dois tipos:
Renováveis
389
Geografia
Que não se esgotam, como a energia solar, a muscular (esforço humano ou animal), a energia dos vegetais (biomassa), das
águas (hidráulica), dos ventos (eólica), do calor interno da Terra (geotérmica), entre outras. As fontes de energia renováveis são
também alternativas porque contribuem para diminuir a dependência de fontes não renováveis, como o petróleo.
Não renováveis
Que se esgotarão e não serão repostas, como o petróleo, o gás natural, o urânio, o carvão mineral, entre outras.
Os recursos energéticos podem ser classificados em:
Fontes de
Fontes de ener-
Não renováveis Renováveis energia con-
gia alternativas
vencionais
Álcool Petróleo
Lenha
Petróleo Xisto betuminoso Carvão mineral
Carvão vegetal
Carvão mineral Energia solar Lenha
Álcool
Gás natural Energia eólica Carvão vegetal
Energia solar
Xisto betuminoso Marés Gás natural
Energia eólica
Energia nuclear Biomassa Hidreletricidade
Marés
Hidrogênio Energia nuclear
Principais Fontes
O Brasil tem investido, ao longo dos anos, na diversificação da nossa matiz energética, ampliando a participação das fontes
renováveis de energia.
Comparando a matriz energética do mundo com a brasileira, percebemos que ainda há uma dependência enorme dos com-
bustíveis fósseis, não renováveis.
A energia hidráulica reduzirá sua participação na matriz energética nacional de 74,8 por cento para 70,5 por cento no período
de 2013 a 2018. Segundo projeções do operador, no mesmo período a energia eólica terá forte alta, com participação passando
de 1,9 para 8,6 por cento, enquanto as térmicas a óleo passarão de 3,8 para 3 por cento. A energia de biomassa também será
reduzida, de 5,4 por cento para 4,9 por cento.
As térmicas a gás cairão de 9,2 para 8,1 por cento, enquanto as térmicas a carvão terão baixa de 2,6 para 2 por cento. A energia
nuclear, por sua vez, deve subir de 1,6 para 2,1 por cento com a entrada em operação de Angra 3.
A intensificação do uso de fontes renováveis não convencionais intermitentes (eólicas e solares) também é um objetivo.
Carvão mineral
Foi a principal fonte de energia utilizada na Revolução Industrial e durante os séculos XVIII e XIX. A partir de 1870 começaram
a ser utilizadas novas formas de energia como o petróleo e a eletricidade. Segunda fonte mais empregada no mundo, possui três
utilizações principais:
• como matéria-prima para a produção de aço nas usinas siderúrgicas (carvão siderúrgico);
• na geração de energia elétrica a partir do aquecimento das caldeiras em usinas termelétricas (carvão energético);
• como matéria-prima do setor carboquímico na produção de inseticidas, tintas, corantes, entre outros.
Mais de 80% das jazidas de carvão mineral estão no hemisfério norte (Canadá, EUA, China, Rússia, Cazaquistão, etc.). Em
1880, 97% da energia consumida no mundo vinham do carvão, mas, em 1970, somente 12% desse total provinham dele. Depois
dos choques do petróleo (1973 e 1979), a elevação dos preços do óleo fez com que o carvão novamente se valorizasse e seu
consumo voltou a subir um pouco, representando cerca de 22% da energia total consumida no globo em 2007.
Apesar de sua concentração geográfica, o carvão é um combustível relativamente abundante, mas existem graves restrições
ao seu uso, pois a sua combustão causa o acúmulo de gás carbônico (CO2) na atmosfera e outros problemas ambientais.
Diante da carência de petróleo, poderíamos imaginar que o Brasil, há muito tempo, estivesse aproveitando intensamente suas
reservas carboníferas, as quais, embora insuficientes, constituem a principal fonte de energia térmica do país. Entretanto, a preo-
cupação com o aproveitamento do carvão é recente.
390
Recursos naturais e energéticos
As reservas estão depositadas em terrenos sedimentares Embora a maior parte do território brasileiro seja formada por
antigos, na borda oriental da Bacia do Paraná, no baixo Ama- bacias sedimentares, que outrora foram depressões favoráveis
zonas e na Bacia do Parnaíba, mas apenas o carvão do Sul é ao depósito de matéria orgânica, as nossas reservas conheci-
explorado. Em Santa Catarina, o carvão aparece a pequena das de petróleo eram modestas, até a recente descoberta do
profundidade, mas no Rio Grande do Sul está a mais de 30 óleo do Pré-sal.
metros, e a exploração é feita por meio de poços e galerias. A produção comercial no Brasil começou efetivamente 1953,
A produção é insuficiente para atender à demanda interna, com a criação da Petrobras, empresa estatal que exerceu,
razão pela qual a indústria siderúrgica do Sudeste importa até 1997, o monopólio da pesquisa, lavra, extração, refino e
coque, resíduo da destilação do carvão, usado na indústria transporte do óleo e seus derivados e que representou um
metalúrgica. Além disso, o carvão é do tipo betuminoso e sub- dos principais projetos de infraestrutura do Estado brasileiro.
-betuminoso, que tem baixo teor calorífico. Até a década de 1970, a limitada produção nacional era obti-
Apenas parte do carvão catarinense é coqueificada e remeti- da de poços terrestres, a maior parte localizada no Recôncavo
da para a Companhia Siderúrgica Nacional, em Volta Redonda, Baiano. Hoje, a principal fonte são os poços submarinos da pla-
no estado do Rio de Janeiro. E só tem uso siderúrgico depois de taforma continental, principalmente na região vizinha ao estado
lavado e misturado a carvões estrangeiros, pois, mesmo após do Rio de Janeiro. Do total produzido no país, mais de 70%
o beneficiamento, continua com 18% de cinzas, contra 4 a 5% são originários da plataforma continental da Bacia de Campos.
dos carvões norte-americanos de alta qualidade. A produção dos demais estados é muito inferior à do Rio de
No Rio Grande do Sul, cerca de 50% da produção é aprovei- Janeiro, vindo em seguida a do Rio Grande do Norte.
tada, em parte para a fabricação de aço, que é feita com o uso Quanto aos derivados de petróleo, já em 2000, a produção
de moderna tecnologia e para a queima em usinas termelétricas. nacional satisfazia integralmente as necessidades internas.
Um dos maiores problemas da utilização do carvão como A matéria-prima fornecida pelas refinarias abastece a indús-
combustível é a agressão ao ambiente. A fuligem polui o ar, e tria petroquímica brasileira, que se concentra em três polos:
os resíduos desprezados são levados pelas chuvas e poluem os Cubatão, em São Paulo; Camaçari, na Bahia e Triunfo, no Rio
rios. Apesar disso, o carvão mineral tem sido adotado por algu- Grande do Sul.
mas indústrias como alternativa para o elevado preço do petróleo.
Gás natural
Petróleo
É a terceira principal fonte de energia utilizada no mundo e
É a fonte de energia mais importante e a mais utilizada no a que apresenta o maior crescimento de consumo. Os setores
mundo. A Segunda Revolução Industrial (século XIX) marca o termelétricos domésticos (fogões e chuveiros) são os que mais
início do seu crescente consumo e dos seus derivados: gasolina, utilizam gás natural. Combustível fóssil encontrado em estrutu-
plástico, tinta, adubo, asfalto, borracha sintética, óleo, roupa, ras geológicas sedimentares, o gás natural está associado ao
sapato, resina, etc. Em 1971, representava cerca de 68% da petróleo e, portanto, é esgotável e não renovável.
energia consumida no mundo, mas em 2007 essa proporção tinha
Se comparado aos demais combustíveis fósseis, é mais
baixado para cerca de 34%, uma porcentagem ainda significativa
barato, é facilmente transportável em dutos e sua queima, que
e maior que a de qualquer outra fonte de energia isoladamente.
libera boa quantidade de energia, polui menos a atmosfera. Por
O Oriente Médio possui as maiores reservas conhecidas esses motivos, seu consumo é estimulado pelo governo e vem
(mais de 60%); seis dos onze países que compõem a OPEP aumentando; é usado em altos-fornos de indústrias e nos trans-
(Organização dos Países Exportadores de Petróleo) estão portes e, brevemente, será utilizado em aparelhos domésticos.
nessa área (Arábia Saudita – 25,6% –, Irã, Iraque, Kuwait, etc.). Na atual matriz energética do país, o gás natural representa
O petróleo vem alcançando valores jamais imaginados, por cau- menos de 3%, mas o governo pretende que essa percentagem
sa de vários fatores combinados. O primeiro é a sua ainda enorme chegue a 12% em 2010. Para isso, a Petrobras tem investido
importância para a nossa época, juntamente com as possibilida- nessa fonte energética, em parceria com a iniciativa privada, e,
des de esse recurso se esgotar em um futuro não muito distante. consequentemente, a produção nacional tem aumentado. Os
O segundo é que a OPEP estabelece cotas de produção para grandes produtores são Rio de Janeiro e Bahia, seguidos de
os países-membros, evitando a concorrência entre eles e que longe por Sergipe, Rio Grande do Norte e Amazonas.
a oferta seja abundante. Além disso, o petróleo também é Paralelamente, o Brasil importa gás natural da Bolívia,
usado como instrumento político de pressão contra as grandes através de um extenso gasoduto, que vai de Santa Cruz de
potências mundiais. Na guerra árabe-israelense de 1973 (Yom La Sierra, na Bolívia, a Guararema, em São Paulo, e daí à
Kippur), os EUA e a Europa Ocidental permaneceram passivos região industrial de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. Nesse
diante da atitude de Israel não devolver os territórios sírios, estado, outro gasoduto permite a importação de gás natural
libaneses, jordanianos e egípcios ocupados na Guerra dos Seis da Argentina.
Dias (1967). Eles também venderam armamentos e prestaram
Recentes descobertas de novas jazidas de gás natural con-
auxílio financeiro a Israel. Tal atitude irritou os países árabes
tribuirão para aumentar a participação dessa fonte de energia
exportadores de petróleo, levando-os a utilizá-lo como arma
na nossa matriz energética e para diminuir a dependência do
política, reduzindo a oferta, elevando os preços e ameaçando
gás boliviano.
a nacionalização dos investimentos das empresas de petróleo
americanas e europeias em subsolo árabe. Em 2008 o barril de Energia elétrica
petróleo ficou acima dos 100 dólares. Isso se deveu principal- A eletricidade pode ser obtida pela força da água (hidráulica),
mente ao grande aumento da procura, em especial por parte pelo vapor da queima de combustíveis fósseis (termelétricas)
dos países que estão crescendo a um ritmo muito intenso como e pelo calor produzido pela fissão do urânio em um reator (ter-
a Índia e a China. monuclear ou atômica).
391
Geografia
Energia nuclear
Em meados da década de 60, várias usinas nucleares estavam funcionando, ou em construção, especialmente na Europa e nos
EUA. Acreditava-se então que a energia nuclear seria a energia do futuro. Isso ficou ainda mais evidente quando veio o primeiro
choque do petróleo.
Apesar do crescimento da participação da energia nuclear na oferta total de energia no mundo e apesar de ser uma fonte ener-
gética altamente concentrada, essa fonte de energia apresenta uma série de problemas de ordem econômica, política e ambiental.
Os problemas de ordem econômica estão ligados aos elevados custos para a construção de centrais e para o desenvolvimento
de tecnologia.
As questões de ordem política estão relacionadas ao desenvolvimento tecnológico para construção de armas nucleares. É
preocupante a proliferação de bombas atômicas, que colocam em risco toda a humanidade. Parte considerável dos investimentos
em pesquisa nuclear tem origem em interesses militares.
Os problemas ambientais estão relacionados com os acidentes que ocorrem nas usinas e com o destino do chamado lixo atô-
mico, ou seja, os resíduos que ficam no reator, local onde ocorre a queima do urânio para a fissão do átomo. Por conter elevada
quantidade de radiação, o lixo atômico tem que ser armazenado em recipientes metálicos protegidos por caixas de concreto, que
posteriormente são lançados ao mar. A radioatividade aí permanece por milhares de anos.
Os acidentes se devem à liberação de material radioativo de dentro do reator, ocasionando a contaminação do meio ambien-
te, provocando doenças, como o câncer, mortes de seres humanos, de animais, de vegetais. Isso não só das áreas próximas à
usina, mas também de áreas distantes, pois ventos e nuvens radioativas carregam parte da radiação para áreas bem longínquas,
situadas a centenas de quilômetros de distância.
Dois acidentes em usinas nucleares bastante conhecidos foram: o de Fukushima no Japão, em 2011, e o de Chernobyl, na
Ucrânia, em abril de 1986, quando esta era uma república da URSS. Suas consequências, até hoje, não puderam ser avaliadas,
pois a radiação causa danos genéticos, afetando gerações futuras. Sabe-se, com certeza, que os casos de câncer aumentaram
na Ucrânia, na Rússia, em outras ex-repúblicas soviéticas e também no Leste europeu. O de Fukushima foi consequência de um
tsunami e um terremoto no Japão.
No Brasil, o programa nuclear não “decolou”. O Brasil tem duas usinas em funcionamento, Angra I e Angra II. Angra II está em
construção.
O Programa Nuclear Brasileiro, desde seu início, sempre foi objeto de inúmeras críticas de cientistas e da produção em geral,
por vários motivos:
• a área escolhida para a implantação das usinas – Angra dos Reis, Rio de Janeiro –, por apresentar terrenos geologicamente
pouco firmes, exigindo grandes obras de estaqueamento;
• a alegação do esgotamento dos recursos hídricos no Brasil a curto prazo é falsa;
• o alto custo do programa, que envolve bilhões de dólares captados no exterior a juros altos, o que implica tarifas elevadas
em função dos custos financeiros;
• posicionamento contrário da sociedade civil tanto pela falta de segurança quanto pelo custo alto, que eleva a dívida externa. A
Usina de Angra I, que tinha como objetivo fornecer 25% a 40% da energia do estado do Rio de Janeiro, apresenta dificuldades.
• 1999/2000: é inaugurada a usina Angra II, com um custo exageradamente alto. O Brasil passa para a contramão do mundo,
pois apenas a França inaugura usina nuclear nesse período. Os EUA e os países europeus discutem o fechamento de suas
usinas nucleares.
2030. Por isso, as atenções estão voltadas para o desafio de concluir Angra 3, que foi interrompida em 1986 com 30% das
obras realizadas. Ameaçado pelo fornecimento incerto do gás boliviano e as dificuldades para se conseguir licenças ambientais
para as novas hidrelétricas, o governo decidiu resgatar Angra 3, que nasce com um potencial de energia de 1.400 megawatts.
392
Recursos naturais e energéticos
Energia hidráulica
A rede hidrográfica do Brasil é a mais densa do mundo,
com enorme potencial hidráulico e hidrelétrico. Isso explica
por que mais de 90% da potência instalada nas usinas
provêm de geradores hidráulicos, cabendo aos geradores
térmicos apenas 8%. Somente no Sul a termeletricidade
é significativa, contribuindo com cerca de 15% do total da
393
Geografia
Provavelmente as principais fontes de energia do século Assim, tendo em vista a necessidade sempre crescente de
XXI serão de origem orgânica, produzidas com base na bio- alimentos e de matérias-primas provenientes da agricultura,
tecnologia. não será possível um crescimento futuro muito grande do álcool
como fonte de energia.
Em geral, salvo algumas exceções, elas são energias
“limpas” e renováveis, isto é, não produzem poluição nem se Talvez mais promissora que a do álcool seja a produção
esgotam; pelo contrário, em alguns casos até podem contribuir de óleos vegetais, que podem ser extraídos da mamona, do
para eliminar parte da poluição pelo uso produtivo que fazem babaçu, do dendê, da soja, do algodão, do girassol, do amen-
do lixo e de outros detritos. doim, etc.
A tecnologia para a produção do chamado biodiesel vem se
Biogás desenvolvendo em ritmo acelerado, e as potencialidades são
Chama-se biogás o gás liberado na decomposição feita por enormes, pois em geral o biodiesel tem maior poder calorífero
certas bactérias de esterco, palha, bagaço de vegetais e mesmo que o álcool e poderá substituir o óleo diesel, o querosene e a
lixo, depois de uma separação dos elementos inutilizáveis para gasolina especial dos aviões. Por enquanto ele é misturado ao
esse fim, como vidro e plástico. óleo diesel em veículos que usam esse carburante.
O gás assim produzido pode ser usado como combustível Em 2008 ocorreu uma grave crise alimentar no mundo por
para fogões, motores ou até mesmo turbinas que produzem causa da subida dos preços dos alimentos em geral.
eletricidade. Uma autoridade da ONU chegou a pedir uma “moratória”
Esses equipamentos podem vir a constituir excelente alter- (suspensão temporária) na produção de biocombustíveis –
nativa para as fontes principais de energia da atualidade, todas isto é, álcool a partir do milho, da cana-de-açúcar e de outros
poluidoras, em maior ou menor grau. Em vez de aumentarem cultivos – e também de biodiesel, alegando que a expansão
a poluição, eles ajudam a resolver o problema ocasionado dos cultivos do milho e da cana, além de outros voltados para
pela existência do lixo. E por suas pequenas dimensões (em a obtenção do álcool ou outros combustíveis, teria sido a causa
comparação ao gigantismo das usinas nucleares, hidrelétricas principal dessa menor oferta de alimentos.
ou termelétricas) as usinas de biogás causam menor impacto
Na verdade, essa menor produção de alimentos, em particu-
ambiental, isto é, não alteram radicalmente o meio ambiente
onde são construídas e não oferecem grandes riscos em caso
de acidentes.
394
Recursos naturais e energéticos
395
Geografia
Mamona
Depois da soja, a mamona é, provavelmente, a cultura que
mais atraiu investimentos por parte das usinas de biodiesel, prin-
cipalmente pelo fato de existirem incentivos fiscais às indústrias
que compram a produção da agricultura familiar.
Dendê
O dendê é uma das oleaginosas mais produtivas entre
as culturas comerciais. Em âmbito mundial, seu óleo é o
segundo mais consumido, ficando atrás apenas do prove-
niente da soja.
Como matéria-prima para biodiesel, entretanto, o dendê
ainda não tem importância comercial. Atualmente, apenas duas
indústrias – Agropalma, no Pará, e Biobrax, na Bahia – produ-
zem combustível de dendê. A produção se destina a suprir a
demanda das frotas internas dessas empresas, e apenas o
excedente é comercializado.
Algodão
Assim como a soja, o algodão é uma cultura dominada pelo
agronegócio, que tem no óleo um produto secundário. Em vista
da crescente demanda por agroenergia, porém, as fábricas
de biodiesel também vêm mostrando interesse em utilizá-lo.
Atualmente, há pelo menos 24 usinas (prontas ou em constru-
ção) capazes de transformar o óleo de algodão em biodiesel.
Pinhão-manso
Alguns países da Ásia e da África apostam no pinhão-manso
como matéria-prima para a produção de agrocombustíveis. No
Brasil, essa ideia também conquistou adeptos, embora muitos
especialistas recomendem cautela, uma vez que o cultivo da
planta exige mais pesquisas. Mesmo assim, cerca de trinta
usinas estudam a possibilidade de utilizar o pinhão-manso na Fonte: Site da Petrobras
produção de biodiesel.
De maneira geral, acredita-se que – oferecendo uma Origem do Petróleo do Pré-Sal
alternativa ao petróleo e colaborando para a geração de Há mais de 100 milhões de anos, África e América do Sul
emprego e renda no campo – os agrocombustíveis poderão eram unidos e formavam um supercontinente. Ao longo do
ajudar a atenuar os efeitos das crises climáticas e financeiras tempo, este supercontinente, Gondwana, foi se separando.
mundiais. O óleo do pré-sal se formou a partir das algas e outras
matérias orgânicas que se acumularam nos espaços deixados
*ronaldo decicino é professor de Geografia do Ensi-
entre os continentes africano e sul-americano quando eles se
no Fundamental e Médio da rede privada (Adaptado).
separaram.
396
Recursos naturais e energéticos
Sequência
166 milhões de anos atrás
África
América
do Sul
Índia
Antártica
Austrália
América
do Norte Europa Ásia
África
América
do Sul
Índia
Austrália
Atualmente
América
Europa
do Norte Ásia
África
América
do Sul
Austrália
397
Geografia
398
Recursos naturais e energéticos
Quais são os riscos desse investimento? Como a empresa é uma das pioneiras em tecnologias de
extração desses recursos em águas profundas, desenvolvida
Ainda há muitos riscos para o desafio do pré-sal, principal-
antes mesmo da descoberta da existência de petróleo em águas
mente em aumentar a produção diária de modo a justificar o
ultraprofundas, grandes esforços não foram medidos para que
alto investimento no projeto. Além desse entrave, no mundo
atualmente, a demanda por petróleo vem reduzindo signifi- se executasse um estudo mais preciso na camada pré-sal, ou
cativamente, e isso pode ser atribuído a maior eficiência dos seja, aquela abaixo da camada de sal existente no subsolo
processos industriais e dos meios de transportes que possuem oceânico, conforme mostrado na Figura.
tecnologias que não utilizam mais esse recurso. Vale destacar O que não se esperava é que o petróleo existente ali fosse
o surgimento de novas fontes de geração de energia, sejam de maior qualidade e produtividade que o da camada pós-sal,
elas limpas ou não, substituindo o petróleo como recurso ener- já que o fato dessa fonte de energia estar sob elevadas pressão
gético principal, e as restrições ambientais, dificultando assim, e temperatura, entre 80º e 100ºC, conservou sua pureza. Esse
a utilização dele como fonte primária de energia. tipo de combustível é denominado óleo leve, que o Brasil até
Somado a esses fatores, o preço do barril do petróleo vem então importava de outros países. Com a produção desse tipo
sofrendo oscilações nos últimos anos. Desde a Guerra do Yom de óleo, o Brasil substituiria a importação e esse produto teria
Kippur em 1973, quando houve uma séria crise do petróleo, maior valor no mercado, dado a sua alta qualidade.
não acontece uma grande alta no no valor do barril. Dentre as principais características do óleo leve, destacam-se:
I. é mais fácil de ser refinado, produzindo uma porcentagem
Onde será usado o dinheiro obtido com
maior de derivados finos;
a exploração? II. tem menos enxofre, poluindo menos quando é refinado;
Parte dos recursos provenientes da exploração do pré-sal,
III. portanto, é comercializado por um valor maior no mercado
ou seja, os royalties do petróleo extraído nessa camada, deverá
internacional.
ser direcionado para o Novo Fundo Social (NFS), principalmente
para as áreas de Educação e Saúde, combate à pobreza e Os produtos derivados de petróleo com maior valor agregado
questões sócioambientais, de acordo com a Lei sancionada não são necessariamente os combustíveis, mas sim os outros
pela então Presidente do país, Dilma Rousseff, em 2013. Os produtos duráveis e semiduráveis resultantes do refino de
recursos serão aplicados progressivamente e a previsão é que petróleo. Os subprodutos do petróleo incluem desde produtos
até 2022 os valores que serão repassados ao Fundo Social inflamáveis, fertilizantes, agrotóxicos, produtos farmacêuticos,
superem a casa dos R$100 bilhões. materiais sintéticos, tintas, solventes, detergentes, vernizes, bor-
racha sintética e plásticos (polímeros), dos quais se desta¬cam
A lei do pré-sal: propostas do governo os policarbonatos, poliuretanos, polipropileno, PVC e PET.
para a exploração de gás e petróleo em
Geopolítica do pré-sal
águas profundas do litoral brasileiro
Para o governo federal, a exploração do petróleo da camada
Sistema de partilha prA grande expectativa por parte do governo federal em torno da
Como os lucros advindos da exploração do pré-sal ainda exploração da camada pré-sal vai proporcionar ao Brasil uma
são em parte desconhecidos, a Petrobras criou em 2010 um forte segurança energética contra possíveis crises mundiais
Regime de Partilha da Produção, através de duas Leis nº no ramo de energia.
(12.304 e 12.351), aplicável às áreas não concedidas e não A exploração e produção do recurso vai aumentar a impor-
cedidas onerosamente pelo Polígono do Pré-Sal das Bacias tância econômica e geopolítica do país no mercado mundial,
de Santos e Campos, com o objetivo de partilhar a exploração fortalecendo assim a economia brasileira, equiparando-a a
para a produção em novos campos. Elas representam cerca grandes impérios econômicos da atualidade, como Estados
de 1% desses campos, medindo 1.548Km², na área de Libra. Unidos, China, União Europeia e Japão. A balança comercial do
Esse sistema é caracterizado pelo compartilhamento do que é país vai aquecer, assim como novos empregos serão gerados.
produzido entre as empresas que são contratadas pelo Estado. Em contrapartida, a exploração do pré-sal gera certa inse-
Foi criada a PPSA (Pré-Sal Petróleo S.A) com o objetivo de
gurança, já que o país também investe e oferta outras fontes
representar a União e gerir novos contratos que envolvem a
de energia que ganham cada vez mais espaço no mercado
exploração do recurso por outras concessionárias.
energético.
Como fica a Petrobras?
A estatal será a operadora de 100% dos blocos a serem explo- Reflexos para o Brasil
rados. Cabe também a União contratar diretamente a Petrobras Além do fortalecimento econômico do país e geração de
ou empresas privadas por meio de licitações. Mesmo assim, a empregos, o Brasil manteria o petróleo e seus derivados como
empresa terá participação de 30% dos lucros de cada bloco. principal fonte de energia para as próximas décadas. Essa de-
pendência energética tardaria o processo de renovação para
Onde está a riqueza do pré-sal brasi- fontes de energias mais sustentáveis no mundo.
leiro e suas vantagens Somado a isso, o país poderia entrar para o grupo dos gran-
des poluidores mundiais, juntamente com os Estados Unidos,
De acordo com os resultados obtidos através de perfurações China e União Europeia.
deA camada pré-sal se localiza sob o leito marinho, entre os esta- Todos esses fatores refletem o uso do petróleo da camada
dos do Espírito Santo a Santa Catarina, e se estende por aproxi- pré-sal, porém vale ressaltar que se trata de uma previsão para
madamente 800 km, podendo atingir também 200 km de largura.
as próximas décadas em meio a grandes transformações e ino-
Através de pesquisas realizadas por geólogos da Petrobras vações tecnológicas recorrentes. Permanece assim a questão
especializados na camada pós-sal, foi questionada a existência da respeito da viabilidade da exploração a médio e longo prazo
de petróleo e gás em regiões mais profundas. dessa camada.
399
Geografia
400
Capítulo 29
401
Geografia
Protesto dos caminhoneiros contra o aumento no preço dos combustíveis - 12 de Fevereiro de 2015
Disponível em: http://www.eshoje.jor.br/_conteudo/2015/02/noticias/26772-caminhoneiros-planejam-protestos-nas-brs-101-e-262-durante-o-carnaval.html.
Os transportes são fundamentais para as relações econômicas do mundo. O setor desempenhou papel fundamental no processo
de desenvolvimento econômico e de integração nacional do território brasileiro.
A integração do território brasileiro é um fato muito recente. Até poucas décadas, as regiões Norte e Centro-Oeste encontravam-
-se quase isoladas do restante do país. A integração nacional dessas regiões só ocorreu na década de 70.
Até a primeira metade do século XIX, os meios de transportes utilizados no Brasil eram o marítimo (navegação costeira), o
fluvial (pequenas embarcações) e o terrestre (carruagens e lombo de animal). Os transportes modernos (ferroviário, rodoviário,
etc.) foram implantados no Brasil a partir da segunda metade do século XIX.
Da segunda metade do século XIX até a década de 30 do século XX, predominaram no Brasil os transportes hidroviário (marítimo,
fluvial) e ferroviário. A partir da década de 40 o transporte rodoviário passou a predominar sobre os demais meios de transporte.
No início da década de 50, o predomínio do transporte rodoviário já era bastante acentuado. Desde então, e principalmente após
a implantação da indústria automobilística (1956), o rodoviarismo tomou conta do país.
Atualmente, o transporte rodoviário é responsável por cerca de 90% dos passageiros transportados e mais de 60% do trans-
porte de mercadorias.
402
Redes de circulação: transportes e vias
O Brasil é um dos poucos países de grande extensão territorial onde o transporte rodoviário é preponderante. Comparado a
outros meios de transporte, como, por exemplo, o ferroviário e o hidroviário, o transporte rodoviário é bastante desvantajoso ou
antieconômico. Isso porque oferece pequena capacidade de carga, apresenta maior consumo proporcional de combustível e
dependência do petróleo (o Brasil não é autossuficiente em diesel), os riscos de acidentes são maiores e o custo de manutenção
do asfalto é mais elevado.
Nos países desenvolvidos, tanto os de grande extensão como os de pequena extensão territorial, as cargas e os passageiros
são, predominantemente, transportados pelos setores ferroviário e hidroviário.
OCEANO ATLÂNTICO
Santarém
Belém/V. Conde
12 Itaqui
Manaus Pecém
Ferrovias
Açailândia
Hidrovias Estruturantes
Estreito Parnamirim
Malha Explorada
Porto Velho
Malha - PAC Eliseu Martins Salgueiro Suape
Malha - PIL 8
Figueirópolis Barreiras
Em Estudo 7
Lucas do Rio Verde 4 Salvador
Uruaçu
1 Ferroanel SP – Tramo Norte Aratu
Rondonópolis
2 Ferroanel SP – Tramo Sul 5
Ilhéus
O desenvolvimento do transporte ferroviário no Brasil está diretamente ligado à expansão da cafeicultura, primeiro no estado
do Rio de Janeiro (Vale do Paraíba) e a seguir no estado de São Paulo (interior).
As mercadorias transportadas neste modal são de baixo valor agregado e em grandes quantidades como: minério, produtos
agrícolas, fertilizantes, carvão, derivados de petróleo, etc.
Uma característica importante da linha férrea é a bitola que tem como definição a distância entre os trilhos de uma ferrovia. No
Brasil, existem 3 tipos de bitola: larga (1,60m), métrica (1,00m) e a mista. Esse fato reduz as possibilidades de integração da malha
ferroviária brasileira. Destaca-se que grande parte da malha ferroviária do Brasil está concentrada nas regiões sul e sudeste com
predominância para o transporte de cargas.
No Rio de Janeiro, as ferrovias escoavam a produção cafeeira do Vale do Paraíba até o Porto do Rio de Janeiro. Em São
Paulo, elas escoavam a produção cafeeira do interior até o Porto de Santos. O período de maior expansão ferroviária situou-se
entre 1870 e 1920 (“era das ferrovias”).
A partir de então, e principalmente após a crise da cafeicultura, o ritmo de expansão das ferrovias diminuiu acentuadamente.
Enquanto no período de 1870-1920 foram construídos quase 28.000 km de ferrovias, no período 1920-1960 foram construídos
menos de 10.000 km.
403
Geografia
de carga
• Grande capacidade de carga; Fonte: Ministério dos Transportes
404
Redes de circulação: transportes e vias
Juscelino Kubitschek e o rodoviarismo As duas crises mundiais do petróleo (1973 e 1979) pratica-
mente decretaram a falência dos grandes projetos rodoviários
O governo Juscelino Kubitschek (1956-1961) é o principal (Transamazônica, Perimetral Norte, etc.). Ainda assim, o Brasil
marco de referência da atual organização do sistema de trans- construiu, em pouco mais de duas décadas, a segunda maior
portes no Brasil, já que foi fundamentado no predomínio do malha rodoviária do mundo (1.662.000 km), inferior apenas à
rodoviarismo. O Plano de Metas priorizou os setores de energia dos Estados Unidos (6.233.000 km).
e transportes. Beneficiado com 30% do total de investimentos do
Plano de Metas, o setor de transportes investiu principalmente A década de 80, marcada por forte crise econômica, se
na construção e na pavimentação das rodovias. caracterizou pela implantação dos corredores de exportação
(integração de transportes para facilitar o escoamento da pro-
No período 1955-1960, enquanto a extensão rodoviária
dução até os portos marítimos) e das vias (rodovias e ferrovias)
total do país passou de 76.178 km para 108.355 km (42% de
especializadas no escoamento de determinados produtos.
aumento), a extensão das rodovias pavimentadas passou de
3.133 km para 12.703 km (305% de aumento). Até 1994 todas as vias de transporte eram administradas
pelos governos estaduais e federal. A partir de 1995, realiza-
Foi no governo Juscelino Kubitschek que se iniciou o proces-
ram-se privatizações de rodovias, por meio de concessões,
so de interconexão entre as regiões Nordeste, Sudeste e Sul.
ou seja, exploraram-se determinados trechos, por um período,
Essa interconexão visava transferir mão de obra do Nordeste
mediante o pagamento ao governo e o compromisso de manu-
para o Sudeste e o Sul do país, e produtos industrializados
tenção e de melhorias. A iniciativa privada já controla 10.000
dessas regiões para o Nordeste. No final do governo Médi-
Km de estradas federais e estaduais. As concessionárias co-
ci, todas as regiões brasileiras já estavam interconectadas,
bram pedágios dos usuários pela utilização das rodovias. Se,
completando-se a integração nacional.
de um lado, a conservação das estradas resulta em economia
Nos países desenvolvidos (como os países da Europa, os na manutenção de veículos e na redução de acidentes, de
Estados Unidos e o Canadá), as ferrovias tiveram importância outro lado encarece as viagens e os custos do transporte de
histórica na integração nacional, na dinamização econômica e carga, tendo influência direta no custo de vida.
comercial. Os investimentos feitos em ferrovias (trens modernos
e velozes, metrô) devem-se, entre outros fatores, às crises do O sistema de transporte rodoviário apresenta sérios proble-
petróleo e à expansão de transportes de massa. mas, como alto índice de acidentes e elevado número de roubo
de cargas de caminhões. A frota de veículos automotores tem
No Brasil, desde 1996 grande parte da malha ferroviária,
aumentado muito, e a maior parte desses veículos encontra-se
principalmente relacionada com o transporte de cargas, foi
nas áreas urbanas, principalmente nas regiões metropolitanas
privatizada. Observe a tabela:
do Rio de Janeiro e de São Paulo.
Carga deslocada de acordo com o tipo de transporte, Existe um descompasso entre a demanda e a oferta de
em alguns países desenvolvidos e no Brasil (em %) coletivos urbanos, devido aos baixos investimentos públicos.
Entre as consequências dessa situação estão o aumento do
Estados
Transporte Alemanha Japão França Brasil transporte informal ou clandestino (peruas, ônibus), a excessi-
Unidos
va utilização de veículos particulares, os congestionamentos,
Rodoviário 18 20 25 28 70 o aumento da poluição sonora e atmosférica nas cidades.
Ferroviário 53 38 50 55 20 Alguns projetos visaram a integração latino-americana,
como a instalação da rodovia do Mercosul, melhorando as
Hidroviário 29 42 25 17 10
condições de segurança e reduzindo os custos de transporte
entre São Paulo e o Rio Grande do Sul. O término da pavi-
O rodoviarismo e a integração nacional mentação da BR-174, que liga Manaus à Venezuela, abriu
uma saída para o Caribe.
A integração nacional por meio de grandes rodovias iniciou-
-se na década de 60 com a construção das rodovias Rio-Bahia
Características do transporte rodoviário
(1963) e Régis Bittencourt (BR-116), que interligaram as regiões
Nordeste, Sudeste e Sul. de carga no Brasil:
Entretanto, foi a partir da construção de Brasília que o
• Possui a maior representatividade entre os modais exis-
plano integracionista ganhou maior impulso e consistência. tentes;
A necessidade de ligar a nova capital federal ao restante do
país possibilitou a complementação e a construção de várias • Adequado para curtas e médias distâncias;
rodovias, tais como: • Baixo custo inicial de implantação;
• Rio-Belo Horizonte-Brasília (BR-40); • Alto custo de manutenção;
• São Paulo-Belo Horizonte-Brasília (Rodovia Fernão Dias, • Muito poluente com forte impacto ambiental;
BR-50);
• Maior flexibilidade com grande extensão da malha;
• Brasília-Belém (BR-10);
• Transporte com velocidade moderada;
• Brasília-Cuiabá (BR-70);
• Brasília-Fortaleza (BR-20) e outras. • Os custos se tornam altos para grandes distâncias;
Após a Revolução de 1964 surgiram os grandes projetos • Baixa capacidade de carga com limitação de volume e peso;
rodoviários (rodovias da integração nacional), responsáveis • Integra todos os estados brasileiros.
pela recente ocupação humana e econômica da Amazônia, e
por sua integração ao restante do país.
405
Geografia
OCEANO ATLÂNTICO
Itaqui
Santarém
Pecém
Suape
Salvador
Rodovias Vitória
Rio de Janeiro
BR-101 BA BR-060 DF/GO, Itaguai
BR-153 GO/MG, Santos
BR-262 ES/MG BR-262 MG
Paranaguá
BR-153 TO/GO BR-116 MG
BR-050 GO/MG BR-040 DF/GO/MG
BR-163 MT PAC em execução OCEANO ATLÂNTICO
Carga Pesada
o transporte pesa - e muito - no chamado custo Brasil
406
Redes de circulação: transportes e vias
O transporte hidroviário no Brasil operações de serviços. Desde 1991 tem sido transferida para
a iniciativa privada a exploração de terminais de contêineres.
As concessões para a operação de terminais e prestação de
serviços específicos acentuaram-se a partir de 1997.
Devido ao tradicional controle desse setor por empresas
estrangeiras, o Brasil sempre teve pequena participação no
transporte marítimo externo. Até 1967, a participação do Brasil
nesse setor de transporte era inferior a 10%.
Esforços governamentais realizados a partir de 1967 resul-
taram em substancial aumento da participação do Brasil no
transporte marítimo externo (cerca de 65% a partir de 1985).
Apesar disso, a navegação de longo curso continua apre-
sentando vários problemas, tais como:
• frota mercante insuficiente e falta de investimentos no
A política rodoviarista brasileira reduziu a participação hidro- setor;
viária no transporte de mercadorias de 32,4% em 1950 para • fraca organização governamental e empresarial;
12,75% em 2000. O transporte hidroviário classifica-se em
• pequena capacidade de competitividade com as empre-
marítimo e fluvial. O marítimo compreende duas modalidades sas estrangeiras;
de navegação: a costeira ou de cabotagem (ao longo do litoral)
e a internacional ou de longo curso. • graves deficiências no setor portuário (instalações ob-
soletas, morosidade, elevada incidência de furtos de
Transporte hidroviário é o tipo de transporte aquaviário mercadorias, etc.)
realizado nas hidrovias (são percursos pré-determinados para
Mesmo com as privatizações, o sistema portuário está longe
o tráfego sobre águas) para transporte de pessoas e merca-
de ser um exemplo de eficiência em tecnologia e informatização.
dorias. As hidrovias de interior podem ser rios, lagos e lagoas
Os custos portuários continuam altos e pouco competitivos se
navegáveis que receberam algum tipo de melhoria/sinalização/
comparados com os padrões internacionais.
balizamento para que um determinado tipo de embarcação
possa trafegar com segurança por esta via. Em 1999 existiam 44 portos no território nacional: 6 na região
Norte, 13 na Nordeste, 13 na Sudeste, 10 na Sul e 2 na Centro-
As hidrovias são de grande importância para este tipo de
-Oeste. Entre os mais importantes estão o de Santos, do Rio
modal, visto que, através dela consegue-se transportar gran-
de Janeiro, de Itaqui (MA), de Tubarão, de Sepetiba, de Porto
des quantidades de mercadoria a grandes distâncias. Nelas
Alegre, de Paranaguá e de Vitória.
são transportados produtos como: minérios, cascalhos, areia,
carvão, ferro, grãos e outros produtos não perecíveis. Apesar de subaproveitadas, duas hidrovias estão impul-
sionando o transporte fluvial no interior do Brasil e na ligação
Desde os primeiros tempos da colonização até o surgimento
com países vizinhos do Sul e Sudeste: a hidrovia do Paraná-
dos modernos meios de transporte (ferroviário, rodoviário, etc.),
-Paraguai e a do Tietê-Paraná, esta última também chamada
a navegação costeira ocupou lugar de destaque no transporte
de Hidrovia do Mercosul. Os obstáculos ao relevo, encontrados
de pessoas e mercadorias ao longo da extensa costa marítima
na construção de canais artificiais, são superados através da
do Brasil.
construção de eclusas e comportas, o que permite também a
A partir do início da Segunda Guerra Mundial a navegação utilização de rios de planalto.
costeira entrou em declínio. As principais razões disso foram
a impossibilidade de importar equipamentos e peças de repo- Hidrovias:
sição, o envelhecimento da frota mercante, a deterioração da
O Brasil possui uma rede hidroviária economicamente na-
infraestrutura portuária (instalações, equipamentos, armazena-
vegável de aproximadamente 22.037 km.
gem, etc.), a implantação de rodovias no sentido longitudinal do
país (norte-sul) e os altos custos da movimentação de cargas, Segundo o PNLT (2012), a participação do modal aquaviário,
o que afasta do padrão internacional os terminais portuários considerando hidrovias e cabotagem, é de 13% do total, sendo
nacionais, arruinando de vez a navegação costeira. Sua parti- que as hidrovias respondem por 5%.
cipação no transporte de mercadorias reduziu-se de 32,4% em Segundo o levantamento das vias economicamente nave-
1950 para 10% em 1991. gadas, realizado pela ANTAQ (2014), as principais hidrovias do
país são: Amazônica (17.651 quilômetros), Tocantins-Araguaia
A melhoria da navegação costeira depende de várias me-
(1.360 quilômetros), Paraná-Tietê (1.359 quilômetros), Paraguai
didas, tais como:
(591 quilômetros), São Francisco (576 quilômetros), Sul (500
• fusão das inúmeras pequenas empresas (que operam quilômetros).
com autorização do governo), gerando empresas maiores 52% do potencial navegável do país é utilizado para o trans-
e mais sólidas; porte de cargas ou passageiros, considerando o total previsto
• renovação da frota mercante e maior regularidade dos no PVN de 1973 e atualizações.
navios nos portos para melhor atendimento dos usuários; 80 % das hidrovias estão na região amazônica, especifica-
• maior eficiência empresarial e maior estímulo à iniciativa mente no complexo Solimões-Amazonas.
privada;
Características do transporte hidroviário
• modernização dos principais portos.
A partir de agosto de 1995 a navegação costeira ou de cabo-
de carga no Brasil:
tagem deixou de ser monopólio do governo federal. É permitida • Grande capacidade de carga;
a participação de empresas estrangeiras na navegação costeira • Baixo custo de transporte;
e na do interior (rios, lagos). • Baixo custo de manutenção;
A privatização do setor de navegação vem se processando • Baixa flexibilidade;
paulatinamente por meio do arrendamento das instalações e das • Transporte lento;
407
Geografia
O transporte marítimo
Transporte marítimo é o tipo de transporte aquaviário realizado por meio de embarcações para deslocamentos de passageiros
e mercadorias utilizando o mar aberto como via. Pode ser de cabotagem/costeira (cuja navegação marítima é realizada entre
pontos da costa ou entre um ponto costeiro e um ponto fluvial) ou de navegação de longo curso/internacional (navegação entre
portos brasileiros e estrangeiros).
Destaca-se que o transporte marítimo é o principal tipo de transporte nas comercializações internacionais e pode transportar
diversos tipos de produtos como veículos, cereais, petróleo, alimentos, minérios, combustíveis, etc.
Portos:
O Brasil possui 8,5 mil quilômetros de costa navegáveis.
O complexo portuário brasileiro movimentou 931 milhões de toneladas de carga bruta em 2013, um crescimento de 2,9% em
relação a 2012.
Exportações: o setor portuário é responsável por mais de 90% das exportações do país.
Dos 34 portos públicos, 16 são delegados a estados ou municípios e 18 marítimos são administrados diretamente pelas Compa-
nhias Docas, sociedades de economia mista, que têm como acionista majoritário o Governo Federal e, portanto, estão diretamente
vinculadas à Secretaria de Portos.
Terminais Hidroviários
Amazonas
16 terminais
11 terminais
Hidrovia do rio São Francisco
Pará
3 terminais Hidrovia do rio Paraguai
11 terminais Dragagem – Passo do Jacaré
408
Redes de circulação: transportes e vias
A quantidade de passageiros pagos transportados em 2013 Os dutos também foram desenvolvidos devido ao avanço
atingiu o maior número da história da aviação brasileira. No total, tecnológico, permitindo a remessa de produtos a longas distân-
mais de 109,2 milhões de passageiros foram transportados em cias, como petróleo bruto (oleodutos), gás (gasodutos), minérios
2013, nos últimos dez anos, o crescimento foi de 165%. (minerodutos). Os dutos são tubos subterrâneos impulsionados
por bombeamento para superação dos obstáculos do relevo.
Transporte internacional de cargas Esse sistema de transporte diminui consideravelmente o
congestionamento das rodovias e ferrovias. Um exemplo é o
A quantidade de carga paga transportada em 2013 no trans- gasoduto Brasil-Bolívia.
porte aéreo internacional com origem ou destino no Brasil foi
recorde em relação aos últimos dez anos, com 777,6 mil tone- A hidrovia do Mercosul
ladas e crescimento de 69% em relação a 2004. O crescimento É claro que o centro industrial brasileiro não se concentra no
em relação a 2012 foi de 7,2%. Sul e sim no Sudeste – particularmente em São Paulo. Acontece
que os estados do Sul passam a ser um “corredor” obrigatório
Corredores de exportação
para o escoamento da produção do Sudeste. Inversamente, é
Etapa avançada da integração entre os transportes e a também o caminho para que Argentina, Paraguai, Uruguai e
economia, os corredores de exportação são áreas dotadas de Bolívia exportem seus produtos. Um caminho “natural” para a
uma infraestrutura que envolve o transporte, a armazenagem integração econômica será uma hidrovia de 5.800 quilômetros
e a comercialização de produtos, desde as áreas produtoras
que ligará os quatro países do Mercosul e a Bolívia, atravessan-
até os portos de exportação.
do os rios Tietê, Paraná, Uruguai e Paraguai. A construção da
A modernização e a eficiência dos corredores de exportação hidrovia gerou pelo menos 10 mil empregos diretos e significou
apresentam enormes vantagens: evitam prejuízos (demora no
uma economia anual de 800 milhões de dólares em termos de
escoamento da produção, deterioração dos produtos), reduzem
custos de transporte.
o preço final dos produtos e aumentam o poder de competitivi-
dade em relação aos países concorrentes. A implantação dos Nesse sistema hidroviário navegam comboios de até cinco
corredores de exportação decorreu da necessidade de o Brasil mil toneladas de carga, levando de 8 a 10 dias de Buenos
escoar sua produção com maior rapidez e eficiência, reduzir Aires até São Paulo. A hidrovia tornou muito mais econômico
custos e competir melhor no mercado externo. o transporte de mercadorias em geral. Por exemplo, o frete de
Num mundo cada vez mais internacionalizado, o aumento da uma tonelada de soja, embarcada em Santa Cruz de la Sierra,
eficiência, da velocidade e da agilidade na entrega de mercado- na Bolívia, para o Porto de Santos, deverá cair de 120 para 20
rias, assim como o barateamento dos custos e a modernização dólares. Desde 1996, um gasoduto passando pela região da
operacional e tecnológica são medidas necessárias aos meios hidrovia começou o transporte de gás natural da Bolívia para
de transporte e às vias de circulação de um país. São Paulo. A parte brasileira da hidrovia até Itaipu foi comple-
Com o avanço tecnológico, surgiram outros meios de trans- tada em 1984 e permitiu intensificar o movimento de grãos, do
porte, principalmente de valores, efetuados através de redes de Centro-Oeste brasileiro rumo a Santos, e o transporte de ferro,
informação computadorizadas, possibilitando a transferência de combustível e material de construção para o interior de São
recursos monetários de uma praça à outra, de imediato. Essa Paulo, norte do Paraná, sul do Mato Grosso e Goiás.
rapidez e essa eficiência são responsáveis pelo movimento das A hidrovia também abriu grandes possibilidades de turismo.
bolsas de valores mundiais e as oscilações que provocam as
especulações econômicas, trazendo prejuízos para as econo- É incalculável o impacto social e cultural da hidrovia nas
mias mais frágeis do mundo. regiões envolvidas. Uma região imensa terá os ritmos de vida
modificados pela passagem permanente de grandes embarca-
Corredores de exportação ções e por uma promissora indústria turística.
Belém
Castanha O TRAÇADO DA TIETÊ-PARANÁ
Madeira
Borracha Hidrovia tem 1.040
Bauxita etc.
Santos
Manufaturados,
Rio Grande café e carnes Trecho navegável
Soja, arroz, Itaipu Trecho a concluir
carne, calçados, Escala 1 : 220.000
Corredores de exportação e óleos vegetais
409
Geografia
Transporte intermodal
O transporte intermodal pode ser considerado como um sis-
tema constituído pelas infraestruturas, pelos veículos e pela
respectiva exploração. Existem vários modos de transporte
como seja o marítimo, o rodoviário, o ferroviário e o aéreo. Todos
possuem uma rede que, no caso da rodovia, é constituída pelas
autoestradas e estradas convencionais, enquanto a ferrovia é
servida pela rede convencional, suburbanos e Alta velocidade. Esquema de funcionamento do sistema intermodal
Cada uma destas redes é organizada por nós que, na ferro- 1. “rodovia rolante” ou “autoestrada ferroviária”:
via, são as estações, no marítimo são os portos e no aéreo são
Transporte de caminhões e seus motoristas (em um vagão-lei-
os aeroportos. Os nós podem ser considerados como pontos
to). Desvantagem: limite de altura. Depois de 2003, a companhia
onde é possível mudar de rede. Modalhor desenvolveu um vagão rebaixado e articulado que
Os diferentes sistemas de transporte devem promover ao pivota a 45º e permite descarregamentos rápidos. A “rodovia
máximo, a coordenação dos seus modos e respectivas redes. rolante” é apropriada para médias distâncias ou travessias de
Para que tal seja melhorado, é necessário interligar todos os áreas delicadas (urbana, e montanhosas, etc.).
seus nós. 2. transporte combinado: apenas as caçambas, encaixadas
em vagões chatos, seguem viagem, não os motoristas. Um
As empresas procuram novas soluções que lhes reduzam os
reboque (o caminhão) vem e retira as caçambas. A operação
custos, combinando as possibilidades: caminhão-trem, barco-
é executada com uma máquina de transbordo.
-trem, avião-trem-caminhão etc.
3. transporte de contêineres: a operação é feita com um
O transporte combinado permite coordenar os meios de guindaste; o contêiner é içado sobre um caminhão com ca-
transporte por estrada, ferrovia, mar e, recentemente, aéreo, çamba. Essa solução tem a vantagem de deslocar apenas a
facilitando a sua intermodalidade. Os meios que utiliza são mercadoria, ou seja, o contêiner.
contentores, caixas móveis, caminhões e semi-reboques sobre 4. técnica de semitrem: caçamba repousa sobre truques
carruagens e barco. Já se utiliza o transporte de caminhões ferroviários (sem vagão). Essa técnica oferece a vantagem de
sobre vagões. baixa altura do trem.
Fonte: Le Monde Diplomatique. Atlas do meio ambiente. São Paulo. Pólis. 2008, p.27.
logística é um termo de origem militar que estava associado
à técnica de deslocamento e transporte das tropas e seu abas-
tecimento. É uma atividade ligada ao processo de planejamento Exercícios
e gestão de uma cadeia de abastecimento.
1. (EsPCex – 2012) Nos últimos anos, o Brasil tem realizado
Porto seco é um terminal intermodal de mercadorias, rodo- um enorme esforço no sentido de ampliar sua participação
-ferroviário, situado no interior de um país e que possui uma no comércio internacional, buscando superar os elevados
ligação direta a um porto marítimo. custos de deslocamento que dificultam a chegada dos
A principal vantagem do transporte intermodal consiste em seus produtos aos mercados externos. Dentre as princi-
pais propostas de ação da atual política de transporte no
combinar as potencialidades dos diferentes modos de transpor-
País, pode-se destacar
te. Desta combinação podem resultar importantes reduções dos
custos econômicos, segurança rodoviária, poluição, consumo A) a completa substituição do sistema rodoviário, que
é mais dispendioso, pelos sistemas hidroviário e
de energia, redução do tráfego rodoviário. Permite, caso seja
ferroviário.
utilizado o modo ferroviário ou marítimo, que o transporte seja
B) a construção de estações intermodais a fim de permitir
efetuado ao fim de semana ou de noite, com segurança.
a integração dos diferentes meios de transporte do País.
O transporte intermodal só poderá ser uma realidade se for C) a construção de novas infraestruturas de circulação
competitivo perante o transporte rodoviário (unimodal) e, para urbana (pistas expressas, viadutos) com o propósito
que tal aconteça, será decisivo que, no processo de mudança de reduzir congestionamentos e valorizar a paisagem
de modo de transporte, este seja eficaz e de baixo custo; caso urbana das grandes cidades.
contrário, este sistema poderá ser um falhanço. D) a eliminação do transporte de cabotagem com vistas a
reduzir os custos portuários e a intrincada burocracia
Para que tudo seja um sucesso é necessário possuir uma
administrativa.
rede de infraestruturas, novas tecnologias, simplificação de
E) a redução da participação dos investimentos e do con-
processos administrativos e redução dos custos na mudança
trole do setor privado sobre o transporte rodoviário e
de modo de transporte. sobre o setor portuário a fim de eliminar, por exemplo,
os custos com pedágio.
410
Redes de circulação: transportes e vias
2. (G1 - col. naval – 2017) “Hoje não basta produzir. É IV. a implantação e a expansão das redes intermodais,
indispensável pôr a produção em movimento, pois agora principalmente no que diz respeito à conexão de
é a circulação que preside a produção.” infraestruturas entre os diferentes modais de trans-
SANTOS, M. & SILVEIRA, M. L. O Brasil: território e socieda-
porte, ampliarão a fluidez dos fluxos de bens e de
pessoas, ao mesmo tempo que contribuirão para a
de no início do século XXI. São Paulo: Editora Record, 2001.
desconcentração das atividades econômicas no País.
Em tempos de economia globalizada e alta compe-
V. o transporte aéreo de carga suplanta o transporte de
titividade internacional, o crescimento econômico passageiro em termos de importância para a aviação
brasileiro vem esbarrando em dificuldades impostas comercial no Brasil e no mundo, haja vista o signifi-
pela inadequação de seu sistema de transportem ainda cativo valor monetário das mercadorias que circulam
predominantemente rodoviário. pelas vias aéreas.
A respeito das políticas de transporte de cargas no Assinale a alternativa que apresenta todas as afirmativas
Brasil, assinale a opção correta. corretas.
A) As dimensões continentais do país, associadas a A) I, II e III
algumas condições naturais, como um relevo for- B) I, III e IV
temente acidentado, impediram a implantação de C) II, III e V
uma matriz de transportes multimodal. D) I, IV e V
B) O transporte ferroviário é pouco utilizado no território E) II, IV e V
brasileiro por se tratar de um sistema caro e com-
plexo, incompatível com o nível de desenvolvimento Gabarito
econômico contemporâneo do país. 1. B
C) O transporte de carga por caminhões tem um 2. C
custo mais elevado do que o realizado por outros 3. B
meios, como trens e navios, visto que o volume de
mercadorias transportando por litro de combustível
é menor.
D) O transporte ferroviário tem se apresentado como o
principal substituto do sistema rodoviário em função
dos maciços investimentos estatais na expansão
desse modal no fim do século XX.
E) A opção pelo transporte rodoviário ainda predomina
no Brasil devido à queda do preço dos combustíveis
no país, em especial após a descoberta de grandes
reservas de petróleo conhecidas como pré-sal.
411
Capítulo 30
Agropecuária
Geografia econômica o meio rural • o aumento da produção acarretou queda dos preços dos
produtos agrícolas;
O meio rural organiza-se em propriedades classificadas
segundo o tamanho (em hectares) do imóvel rural – pequenas, • a produção e a distribuição mundial de alimentos são
controladas por companhias transnacionais que, além de
médias e grandes propriedades –, o que chamamos de estru-
controlar a produção, impõem os preços.
tura fundiária. Em cada região, tal estrutura será influenciada
por um conjunto de fatores correlacionados, como as condições COELHO, M. de A. Geografia geral: o espaço natural e so-
cioeconômico. 4. ed. São Paulo: Ed. Moderna. p. 401.
naturais (solo, clima), os sistemas de uso da terra, os tipos de
atividades agrícolas, as distâncias entre as áreas produtoras e A atividade agrícola sofreu grandes modificações a partir
os mercados consumidores, mais as modalidades de transporte de meados do século XVIII, com a introdução de maquinários.
disponíveis. Assim, os interesses do mercado vão condicionar O espaço de produção agrícola, que até então comandava a
os investimentos de capital e trabalho no uso da terra, pois os economia dos países, passou a desenvolver uma relação de
custos da produção têm que ser compatíveis com a rentabili- interdependência com o espaço industrial. A terra, o trabalho
dade programada. e o capital são os fatores econômicos que determinam a pro-
Historicamente, o Brasil vem se caracterizando pelo predo- dução agrícola, e a intensidade do seu emprego caracteriza os
mínio das grandes propriedades (latifúndios), desde o período sistemas agrícolas.
colonial, quando foram concedidas as sesmarias. Em 1850,
a Lei de Terras instituiu a posse por meio da compra, possi-
Agricultura
bilitando o acesso à terra apenas a quem tinha dinheiro. Com Conceito: atividade produtiva integrante do setor primário
a modernização da economia, o emprego cada vez maior da da economia. Caracteriza-se pela produção de alimentos e
tecnologia, o progresso dos transportes e a intensificação dos matérias-primas decorrentes do cultivo de plantas e do uso
intercâmbios, são os mercados de consumo local, regional, da terra.
nacional e internacional que vêm dominando todo o sistema
Tabela 1 – População e área cultivada
de produção, impondo a diminuição dos custos e o aumento
Área cultivada
dos lucros. População PEA na
Continente (% sobre
Nesse contexto, os pequenos agricultores vêm enfrentando rural (%)* agricultura (%)*
o total)**
dificuldades devido à falta de capital para os investimentos África 62,3 57,6 6,5
necessários. O cooperativismo apresenta-se como uma alter- América
nativa para competir com as grandes empresas agrícolas que 22,8 2,1 11,7
do Norte
dominam o setor. Podemos citar como exemplo o grande afluxo América
32,5 24,0 22,1
de investimentos com incorporação de avanços tecnológicos, Central
América
que permitiram ao setor agrário, a partir da década de 1960, 20,2 17,8 6,6
do Sul
obter aumentos acumulados de produtividade, – a chamada Ásia 62,4 56,3 17,5
Revolução Verde. Contudo, esses avanços ocorreram apenas
Europa 25,0 8,6 13,8
em determinadas regiões de alguns países, contribuindo muito
Oceania 29,8 19,0 6,4
pouco para reduzir as desigualdades entre as camadas sociais
ao redor do mundo. Fonte: * FAO em 2000. ** Dados de 1997.
Dessa forma, é possível fazer algumas considerações:
Sistemas agrícolas
• a produção de alimentos é suficiente para nutrir toda a
humanidade, mas milhões de pessoas passam fome; Sistema agrícola “é a combinação de técnicas e tradições,
adaptadas às condições naturais, à organização da economia
• o Brasil é um dos maiores produtores mundiais de alimen-
tos, mas milhões de brasileiros são subnutridos; e à densidade de povoamento.” (NOGUEIRA. Síntese Geoe-
conômica do Brasil). Os variados sistemas agrícolas resultam
• a maior parte dos países subdesenvolvidos tem população
dos fatores terra, trabalho e capital. De um modo geral, são
rural e economia baseada na produção de alimentos e
classificados como intensivos e extensivos.
matérias-primas, mas eles não são os maiores produtores,
tampouco os maiores consumidores de alimentos; A noção de sistema intensivo ou extensivo está ligada ao
grau de capitalização e ao índice de produtividade, indepen-
• no Terceiro Mundo, nos últimos 25 anos, a agricultura passou
dentemente do tamanho da área de cultivo ou de criação. As
por um significativo processo de modernização (variedade
propriedades que, por meio da utilização de modernas técnicas
híbrida de sementes, mecanização da agricultura, uso de
de preparo do solo, de cultivo e de colheita, apresentam eleva-
fertilizantes químicos e de transgênicos) e de aumento da
dos índices de produtividade e cujas terras são exploradas por
produção, entretanto, o número de famintos aumentou;
um longo período de tempo, praticam agricultura intensiva.
• a modernização da agricultura provocou o desemprego
Já as propriedades que se utilizam da agricultura tradicional
em massa, a elevação do preço da terra e da produção,
– aplicação de técnicas rudimentares, apresentando baixos
desalojando os pequenos produtores;
índices de produtividade – praticam agricultura extensiva.
412
Agropecuária
Agricultura de subsistência: nesse sistema agrícola, o Nesse processo, a presença do capital estrangeiro no
fator capital é pouco presente. Desenvolve-se em pequenas Brasil, mediante a instalação de transnacionais do setor, foi
e médias propriedades ou em parcerias com grandes latifun- grande entre 1965 e 1975. Seguia-se, assim, a tendência da
diários. A mão-de-obra é familiar e as técnicas utilizadas são expansão capitalista e da maior inserção do Brasil no capi-
rudimentares. Refere-se ao sistema que ainda emprega a talismo mundial. Abandonava-se a produção de máquinas,
rotação de terras, com a prática das queimadas. Há uma baixa equipamentos e insumos em bases artesanais, que era reali-
produtividade e um rápido esgotamento dos solos, e o cultivo zada na própria fazenda, que era, paulatinamente, substituída
pelos produtos industriais, cujas novas tecnologias prometiam
passa a ser praticado em novas áreas; daí o nome itinerante.
aumento de produtividade. O que de fato ocorreu, mas sem
Ocorre, ainda, na América Latina e na África. No Brasil, recebe
que houvesse preocupação com a possibilidade de acesso
também a denominação de “sistema de roças”. Destina-se
às inovações tecnológicas por parte, principalmente, dos
apenas ao consumo do grupo produtor, seja mediante o cultivo pequenos produtores, nem com a questão ambiental (uso de
ou a venda da colheita, não havendo excedente de capital para inseticidas, pesticidas, adubos e mecanização, que acabam
ser investido em melhorias técnicas. causando compactação do solo).
Agricultura de jardinagem: típica da região da Ásia das Nesse sistema, predomina o capital, que, largamente inves-
Monções. Caracteriza-se por uma altíssima produtividade em tido, possibilita o mais avançado grau de tecnologia aplicado
pequenas propriedades, com uso intensivo de-mão-de obra e à agropecuária. Esse sistema originou-se nos países ricos do
ausência de mecanização. Intensa adubação, terraceamento e norte, mas já está implantado nas regiões mais adiantadas dos
irrigação (quando necessário, o que raramente acontece, pois países subdesenvolvidos industrializados.
essa área recebe ventos úmidos: as monções de verão). Cultiva- A produtividade é muito alta, em decorrência da seleção de
-se principalmente o arroz, alimento básico da população local. sementes, do uso intensivo de fertilizantes, do elevado grau de
Agricultura de plantation: foi introduzida nos países tropi- mecanização no preparo do solo, no plantio e na colheita, do
cais da Ásia, América e África, pelos colonizadores europeus, sistemático acompanhamento de todas as etapas de produção
com o objetivo de abastecer a Europa com produtos tropicais. A e comercialização por técnicos, engenheiros e administradores.
introdução desse tipo de propriedade ocorreu no século XVI, e Funciona como uma empresa, e sua produção é voltada ao
ainda se mantém em muitos países, principalmente na América abastecimento tanto do mercado interno quanto do externo.
Central, no Caribe e na África. Caracteriza-se pelas grandes Nas regiões onde se implantou esse sistema agrícola,
propriedades (latifúndios), pela monocultura, e objetiva atender verifica-se uma tendência à concentração de terras, na me-
ao mercado externo. dida em que os produtores que não conseguem acompanhar
Cinturões verdes e bacias leiteiras: ao redor dos grandes a elevação dos níveis de produtividade perdem condições de
centros urbanos, onde a terra é valorizada, pratica-se agricultura concorrer no mercado e acabam por vender suas proprieda-
e pecuária intensivas para atender às necessidades de consumo des. É o sistema agrícola predominante nos Estados Unidos,
da população local. Nessas áreas, produz-se hortifrutigranjeiros no Canadá, na Austrália, na União Europeia (com exceção da
e cria-se gado para a produção de leite e laticínios em peque- região mediterrânea) e em porções da Argentina e do Brasil
nas e médias propriedades, com predomínio da utilização de (regiões onde se cultivam soja e laranja, por exemplo).
mão-de-obra familiar. Após a comercialização da produção, o
São também características das agroindústrias:
excedente obtido é aplicado na modernização das técnicas.
São exemplos o green belt e o dairy belt americanos. • a agressão ao meio ambiente (agrotóxicos, desmatamen-
to) e a destruição das lavouras de subsistência;
A empresa agropecuária capitalista: o • o aumento do trabalho assalariado, dos boias-frias e do
êxodo rural;
complexo agroindustrial
Com o desenvolvimento do capitalismo no Brasil e sua • a conquista e a ocupação de novas terras, os conflitos
sociais pela posse da terra;
expansão em direção ao campo, a partir, principalmente, da
década de 1950, são constantes as mudanças na organização • o aperfeiçoamento dos mecanismos de comercialização
e de escoamento da produção;
da produção agropecuária e, em consequência disso, alterações
nas relações de trabalho. Estas estão se transformando, cada • o crescente aumento do número de produtores especia-
vez mais, em relações assalariadas de trabalho ou de produção. lizados e da produtividade agrícola;
Após a década de 1960, com o processo de industrialização, • a elevada interferência e o domínio das grandes empre-
sas e multinacionais na produção, na comercialização e
a agricultura deixou de ser um obstáculo ao desenvolvimento
na industrialização dos produtos agropecuários.
industrial do país, na medida em que se modernizou, ou seja,
passou a ser compradora e consumidora de máquinas agrícolas Nos Estados Unidos, as grandes propriedades se orga-
(plantadeiras, colheitadeiras, grades aradoras), de tratores, fer- nizaram em cinturões (belts), em função das características
do clima e do solo. O alto nível de capitalização exigiu uma
tilizantes, defensivos agrícolas. Em decorrência disso, passou
especialização produtiva em grandes propriedades.
a existir maior integração e dependência entre a agricultura e
a indústria. Agrobusiness: o mesmo que “negócios agrícolas”; conjunto
de atividades que se desenvolvem a partir da agricultura como
Em seu processo de modernização, a atividade agrícola
alimentos industrializados, máquinas agrícolas, fertilizantes, de-
passou a depender de insumos industriais fornecidos pelas
fensivos, financiamentos, pesquisas nas áreas da biogenética,
empresas denominadas indústrias para a agricultura. Estas,
transgênicos, alimentos funcionais, econegócios, transportes.
por sua vez, passaram a depender das compras e do consumo
realizados pela agricultura. Estabeleceu-se, assim, uma inter- Biotecnologia: atividade que usa recursos da Biologia e da
dependência entre as duas atividades. Esse momento marca Engenharia Genética para desenvolver novas características
a passagem do predomínio do complexo agrocomercial para em animais e vegetais, no sentido de criar espécies resisten-
o complexo agroindustrial. Entretanto, isso só foi possível no tes às doenças e que sejam mais produtivas e adaptáveis a
Brasil com a implantação da indústria para a agricultura. condições climáticas adversas.
413
Geografia
O panorama agropecuário dos países A ocupação do espaço brasileiro pelas atividades agrárias
apresenta-se diversificada, refletindo as diferenças regionais,
desenvolvidos e dos subdesenvolvidos físicas, históricas, socioeconômicas e a política agrária do país.
Nos países desenvolvidos, de modo geral, a agricultura O mito de que a terra brasileira seria uma “terra em que se
e a pecuária são praticadas de forma intensiva, com grande plantando tudo dá” poderia se tornar verdade se houvesse uma
aplicação de capital, responsável pelo alto índice de utilização política agrária global para o país, partindo de uma iniciativa do
governo federal. Cerca de 70% dos solos brasileiros são consti-
de agrotóxicos, fertilizantes, técnicas aprimoradas de conserva-
tuídos por terras agricultáveis, porém, apenas 10% dessa área
ção e correção de solos, seleção e cruzamento de espécies e
está ocupada por lavoura ou pecuária. De cada sete hectares
mecanização. É pequena a utilização de mão de obra no setor bons para o plantio, apenas uma está produzindo. Ocorre aqui
primário da economia. uma subutilização da terra.
Como resultado, obtém-se um enorme volume de produção Mesmo aproveitando mal seus recursos, o Brasil apresenta
que abastece o mercado interno e o mercado mundial. Qualquer resultados significativos:
quebra da safra norte-americana ou europeia tem reflexos no • é o 4º produtor mundial de grãos;
comércio mundial e na cotação de preços dos produtos agrí- • é o 1º exportador mundial de café, suco de laranja, farelo
colas (commodities). Mesmo com esse desempenho, esse de soja e açúcar;
setor tem pequena expressão na economia dos países ricos. • a produção agrícola representa 7,8% do PIB nacional;
Nos países subdesenvolvidos, o quadro da atividade • caso fossem agregados à produtividade os outros ne-
agropecuária não apresenta homogeneidade, já que existem gócios que complementam a agricultura – armazéns,
enormes contrastes entre os países, e entre as regiões de um tratores, insumos –, chegaria-se a 35% do PIB.
mesmo país. Para melhorar o desempenho dessa atividade, são neces-
Convivem, lado a lado, sistemas agrários mais avançados sárias medidas como:
com sistemas arcaicos de cultivo e criação. A plantation de- • avaliação técnica para determinar o melhor uso da terra;
sempenha papel importante, e as agroindústrias já se fazem • substituição de cultivos pouco rentáveis por outros de
presentes e tendem a aumentar seu campo de ação. maior valor no mercado;
Com esse panorama, o sistema agrário tem papel importante • utilização de tecnologia correta para melhorar a produ-
tividade;
na economia dos países subdesenvolvidos, sendo responsável
por significativa parcela do Produto Interno Bruto (PIB) e da • ampliação do crédito agrícola aos pequenos e médios
proprietários, com dilatação do prazo de pagamento e
ocupação da População Economicamente Ativa (PEA).
redução das taxas de juros;
Agricultura dos países desenvolvidos: • ampliação do número de cooperativas agrícolas;
características principais • treinamento e especialização de mão de obra;
• promoção de uma real Reforma Agrária no país, redimen-
• Emprego maciço de mecanização; sionando o atual panorama agrícola brasileiro.
• mão de obra muito reduzida, mas muito qualificada;
“Em número de propriedades, o Brasil é um país de mini-
• grandes investimentos de capitais; fúndios. Em área ocupada, o Brasil é um país de latifúndios”.
• apoio governamental com subsídios;
Dimensão das propriedades em HA Categoria
• alta produtividade; De 0 a 10 Minifúndio
• altos rendimentos. De 10 a 100 Pequena
Na Europa, existem pequenas propriedades com exploração De 100 a 500 Média
familiar, com a rotação trienal de culturas (“culturas dos três De 500 a 1000 Grande
campos”). Acima de 1.000 Latifúndio
414
Agropecuária
mação do campo em grande mercado comprador de produtos Os conflitos continuam intensos desde a década de 1960.
industriais (tratores, implementos agrícolas, defensivos quími- Entre 1964 e 1994, foram assassinados 1.937 trabalhadores
cos, adubos, rações, produtos veterinários, etc.), rompendo, rurais no Brasil.
assim, os obstáculos que a agricultura representava para uma
maior industrialização do Brasil; a redistribuição da terra por Modos de exploração da terra
meio de uma reforma agrária (conservadora); e a fixação de Exploração direta: quando as terras são exploradas direta-
uma política agrícola. mente pelo proprietário ou herdeiros. É a predominante no Brasil.
O Estatuto da Terra procurou, teoricamente, regular os direi- Exploração indireta: quando as terras não são exploradas
tos e as obrigações relativos aos bens imóveis rurais. Para atin- pelo proprietário, mas por terceiros, como por exemplo,
gir seus objetivos, o Estatuto estabeleceu que o cadastramento arrendatários, parceiros ou ocupantes.
dos imóveis rurais seria realizado tendo por base um “módulo
rural” fixado para cada região, que seria uma área de terra que Relações de trabalho no meio rural
representava idealmente o tamanho da propriedade suficiente Trabalhadores sazonais: conhecidos como volantes, co-
para dar sustento adequado a uma família que nela trabalhas- rumbas, peão de trecho ou boias-frias.
se. A área do módulo rural variava entre 2 e 120 hectares. Seu
Arrendatários: trabalhadores que pagam uma renda fixa
tamanho dependia da região geográfica na qual se encontrava.
pela utilização da terra.
Classificação das propriedades agrope- Parceiros, Terça, Meeiros: pessoas que pagam pelo uso
cuárias da terra com uma parte do lucro ou da produção.
Posseiro: indivíduo que tem a posse da terra e nela trabalha,
O módulo rural fixado para cada região foi base, por sua vez,
sem possuir o título de propriedade.
para classificar os imóveis rurais em quatro tipos ou categorias:
Grilagem: forma utilizada por pessoas ou grupos interessa-
Minifúndio: é todo imóvel com área agricultável inferior ao
dos em expulsar os posseiros de terra. Grandes proprietários
módulo rural de determinada região geográfica.
ou empresas, com o apoio ou a omissão do poder público, e
Empresa rural: imóvel explorado racionalmente, com um com títulos falsos de propriedade, obtidos por meios fraudu-
mínimo de 50% de sua área agricultável utilizada e que não lentos, utilizam a violência para desapropriar os posseiros, ora
exceda a 600 vezes o módulo rural da região geográfica na destruindo seus ranchos e suas plantações, ora prendendo os
qual está localizado. que resistem em cárceres privados, ora eliminando-os fisica-
Latifúndio por exploração: imóvel que, não excedendo os mente, como aconteceu com Chico Mendes, líder sindicalista
mesmos limites da empresa rural, é mantido inexplorado em dos seringueiros do Acre.
relação às possibilidades físicas, econômicas e sociais do meio.
Latifúndio por dimensão: imóvel rural com área superior Pecuária
a 600 vezes o módulo rural médio da região.
A atividade pecuária no mundo
• Apesar da revogação do dispositivo constitucional citado,
muito pouco se fez em direção à reforma agrária. Para se A atividade pecuária foi bastante beneficiada introdução
ter uma ideia, entre 1965 e 1981, portanto, no decorrer de de tecnologias modernas, que vão desde uma adequação
alimentar, que faz o gado alcançar o peso necessário para o
16 anos, foram baixados apenas 124 decretos de desa-
abate, até a manipulação genética, que aprimora e seleciona
propriação de terras para fins de reforma agrária. Nesse
espécies, tornando-as adequadas ao propósito final da criação.
período, alastraram-se os conflitos no campo. A omissão do
Dessa forma, vários setores da pecuária tornaram-se eficientes
governo federal foi muito grande em decorrência das pres-
para o mercado internacional. Logicamente, essas melhorias
sões dos interessados na manutenção do status quo, ou
são praticadas nos países ricos do norte. Nos países do sul
seja, os latifundiários e as empresas rurais (já a esse tempo ainda acontece a permanência de práticas pecuárias arcaicas.
integradas por comerciantes, industriais e banqueiros).
• Os governos militares adaptaram a questão agrária ao mo- A pecuária bovina
delo político-econômico implantado, ou seja, do capitalismo Divide-se em extensiva e intensiva.
associado, dependente e excludente. O modelo seguido
privilegiou a instalação de grandes empresas rurais nacio- Extensiva Intensiva
nais e estrangeiras e de grandes latifúndios. Para executar • utilização de áreas menores;
essa política, escancarou o crédito rural subsidiado e os • utilização de extensas
• o gado é criado estabulado;
áreas;
incentivos fiscais. Boa parte do dinheiro originário do crédito • as pastagens são mais selecio-
rural não foi aplicado na agropecuária, mas para outros fins: • o gado é criado solto
nadas;
compra de imóveis urbanos, de imóveis rurais com fins ou no pasto;
• o gado recebe alimentação com-
não de especulação, de veículos de passeio, iates, abertura • os rebanhos são mais
plementar;
de estabelecimentos de comércio, etc. numerosos;
• os rebanhos são menores;
O Estatuto da Terra serviu de instrumento de controle • os rebanhos recebem
menos cuidados; • o gado recebe mais cuidados
das tensões sociais no campo, ou seja, foi utilizado pe- técnicos;
los governos como “tábua de salvação” nos momentos • geralmente destinam-
-se ao abate. • geralmente destinam-se à pro-
em que essas ameaçavam atingir níveis insustentáveis. dução leiteira.
Nesses instantes, realizaram-se alguns assentamentos e tam-
bém reassentamentos de pequenos proprietários que tinham
sido vítimas de grileiros ou de grandes fazendeiros.
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Geografia
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Agropecuária
Já na década de 1980, os estados de Rondônia e Pará pas- faz-se necessária, enfim, uma reforma agrária que implique,
saram a integrar o espaço agropecuário, e ainda hoje observa- portanto, assistência técnica ao produtor rural, crédito bancário
-se que tanto as ocupações extensivas quanto as intensivas para aquisição de insumos agrícolas, facilidade de estocagem
seguem em direção aos cerrados do Meio-Norte e à Floresta e transporte do produto, ensino rural e assistência médica ao
Equatorial Amazônica. Nos dois casos, a incorporação é feita agricultor, entre outras ações. Isso implica também em uma
principalmente com a ampliação dos cultivos de arroz e soja, de redistribuição fundiária que tenha em vista diminuir a ociosida-
alto valor comercial. A soja é responsável por grandes alterações de de grandes propriedades e, fundamentalmente, permitir o
no espaço agrário. Dominou antigas áreas coloniais do Rio acesso à terra a quem nela trabalha.
Grande do Sul e do Paraná, onde se praticavam a policultura O agravamento dos problemas do campo, sobretudo o au-
e a criação de animais em pequenas e médias propriedades. mento dos trabalhadores rurais sem-terra, organizados em um
Como se dava preferência ao cultivo da soja, alguns produtos movimento cada vez mais atuante – o MST –, fez aumentar as
alimentares, como o feijão e a batata-inglesa, ficaram escassos reivindicações pela reforma agrária. A política governamental
de impor pesada taxação às terras improdutivas e desesti-
no mercado interno, e o latifúndio tomou conta do espaço rural.
mular, com isso, a especulação imobiliária tem dado poucos
No Sul de Mato Grosso do Sul e de Goiás, que também resultados, pois elas continuam a representar uma elevada
eram áreas de policultura, ocorreu fenômeno semelhante. As porcentagem: 62,4%.
áreas de tradicional criação bovina desses dois estados foram Diante dessa realidade, aumentam as pressões pela distribui-
invadidas por culturas comerciais, como o arroz, o milho e, ção fundiária, a ser feita à custa de desapropriações de terras,
sobretudo, a soja. juntamente com a ocupação de áreas devolutas.
Atualmente, a expansão da lavoura de soja, tendendo à Pela Constituição promulgada em 1988, só podem ser
monocultura em algumas áreas, coloca em risco a economia desapropriados pela União, para fins de reforma agrária, os
das regiões produtoras, por depender diretamente do mercado imóveis que não cumprirem sua função social. A função social
externo. da propriedade é cumprida quando ela é aproveitada de modo
racional e adequado, os recursos naturais são devidamente
A acentuada distorção fundiária do Brasil ocasiona sérios utilizados, o meio ambiente é preservado, as leis trabalhistas
problemas. Por mais que se esforcem, os pequenos produto- são cumpridas e a terra é utilizada de modo que sua exploração
res não conseguem rendimentos significativos, pois carecem favoreça o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores.
de mais terra. Além de não disporem de área suficiente para a Além disso, um imóvel só pode ser desapropriado se estiver
produção em escala, eles não têm recursos para adquirir má- classificado como grande propriedade e não seja produtivo.
quinas e outros insumos modernos, que lhes permitiriam maior A classificação de uma propriedade em produtiva ou não
produtividade e, consequentemente, mais renda. Considerando produtiva, excluindo-a ou tornando-a legalmente passível de
que grande parte da mão de obra rural está ocupada nas peque- desapropriação, dá origem a discussões, até mesmo na Justiça.
nas propriedades, podemos entender alguns fatos, tais como: A possibilidade de questionar em juízo a classificação feita pelo
Incra permite que muitos latifundiários evitem ou retardem a
• as precárias condições de vida de parte da população desapropriação de suas terras.
rural, cuja pobreza foi fator destacado para o forte êxodo
rural, principalmente nas décadas de 1970 e 1980; Área de estabelecimentos
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Geografia
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Agropecuária
Os países em desenvolvimento, por sua vez, perdem por- Transgênicos – Por meio da Engenharia Genética, genes de
que enfrentam restrições ao acesso aos mercados dos países outras formas de vida (fungos, bactérias, vegetais) são introdu-
desenvolvidos, o que restringe a possibilidade de se ampliar o zidos em determinada espécie animal ou vegetal, criando assim
volume de mercadorias. Ou seja, menos exportações agrícolas uma “nova espécie” não encontrada na natureza e resistente
geram menos importações de produtos manufaturados, dimi- à ação destrutiva de um inseto, a uma doença ou a um tipo de
nuindo o bem-estar e deprimindo o comércio mundial. herbicida considerado necessário ao cultivo desse produto, o
que contribui para o aumento da produtividade. A soja é hoje o
Entendendo o protecionismo produto transgênico mais disseminado pelo mundo. A reação
O protecionismo americano surgiu da necessidade de ao uso de OTMS vem se espalhando pelo mundo todo devido
conferir competitividade aos seus agricultores. Hoje, o prote- ao desconhecimento dos riscos que podem representar para a
cionismo se sustenta por razões político-eleitorais, ancorado saúde dos consumidores e para o meio ambiente.
em um poderoso lobby, que busca não apenas perenizar como Commodities agrícolas – Commodities (commodity: mer-
expandir essa iniciativa. cadoria, em inglês) são produtos in natura, cultivados ou de
Na Europa e no Japão a agricultura tem sido subsidiada por- extração mineral, que podem ser estocados por certo tempo
que a história desses dois mundos foi permeada pela guerra e sem perda sensível de suas qualidades, como suco de laranja
pela fome, e a sociedade decidiu não mais passar necessidade, congelado, soja, trigo, bauxita, prata ou ouro. Atualmente, no
não interessava a que preço. A visão predominante induz que é mundo globalizado, também é considerado commodity produ-
mais barato pagar para o agricultor ficar no campo do que forçá-lo tos de uso comum como lote de camisetas brancas básicas
a migrar para a periferia das cidades. Existem também razões ou lote de calças jeans. Commoditiy é também uma forma de
econômicas, devido à discrepância de vantagens comparativas investimento, como uma aplicação na poupança ou em fundo
(custos de produção) com os países essencialmente agrícolas. de Investimento, mas são produtos com pouco valor agregado,
Porém, existem razões sociais, como o suporte aos produtores de uma vez que seus preços oscilam muito no mercado.
açúcar de beterraba, cujo custo de produção atinge os US$750 O Brasil e os agronegócios – Em curto e médio prazos, o
por tonelada, tendo que competir com o açúcar brasileiro, que agronegócio continuará sendo uma grande alavanca do Brasil,
pode colocar seu produto no mercado a US$250 mil. Nesse caso, seja para gerar emprego e renda, desenvolvimento interiorizado
estão envolvidos 250.000 produtores que perderiam sua fonte ou saldo na balança comercial.
de renda na ausência do suporte governamental. O protecionismo no Primeiro Mundo é um potente adversário
O Brasil, sendo o maior produtor mundial de café, detém ao comércio agrícola externo do Brasil, que luta ainda com suas
apenas 1% do comércio de café torrado. Já a Alemanha, que dificuldades no mercado interno. Faz-se necessário, antes mes-
não possui um pé de café, domina 25% desse mercado. mo de cuidar apenas do ambiente externo, “arrumar” a casa.
Para isso, precisamos de: a) uma política agrícola permanente
Globalização e tecnologia e de incentivo efetivo aos agronegócios; b) uma política fiscal
A globalização e a liberalização do comércio deveriam consentânea com os interesses da nação; c) uma política
favorecer países que dispõem de competitividade natural. Na tributária que não signifique apenas arrecadar mais, porém
prática, os países ricos impõem suas regras comerciais, pre- que concilie justiça, racionalidade tributária e competitividade
judicando especialmente os países de vocação agrícola. Os dos agronegócios; d) investimentos estruturais em transporte,
avanços em biologia molecular, química fina, energia, comuni- energia, comunicação, armazenagem, portos, aeroportos.
cação e informações aprofunda o fosso entre ricos e pobres. Turismo rural – No âmbito do lazer pessoal e familiar, os
As pesquisas têm um traço comum: elas sinalizam o futuro, um hotéis fazendas e as fazendas hotéis já estão integrados na
cruzamento entre biodiversidade e biotecnologia (conjunto de realidade brasileira. Esses novas modalidade de turismo podem
técnicas que permite implantar processos na indústria farmacêu- ser tanto ambientes sofisticados aliados à natureza ou espaços
tica, no cultivo de mudas, no tratamento de despejos sanitários que conservam a rusticidade e a simplicidade da roça. Caminhar
através da ação de micro-organismos em fossas sépticas, etc.). pelos campos, cavalgar, pescar e praticar esporte ao ar livre
estão entre as atividades oferecidas nesses ambientes. Muitos
Bioenergia – Esse setor representa uma oportunidade para
hotéis oferecem estrutura também para reuniões de empresas,
a agricultura nacional. O Governo Federal pretende implementar
convenções e treinamento.
um programa de incentivo à produção de bioenergia, o que
resultará na expansão da área de cana-de-açúcar e de olea-
ginosas. O Brasil possui mais de 40 espécies de oleaginosas Exercícios
(mamona, dendê, buriti, babaçu etc.) com potencial para produ- 1. (EsPCex – 2011) Uma das principais dificuldades que al-
zir biodiesel. O biogás, produzido a partir da biomassa, como o guns países periféricos ou semi-periféricos, como o Brasil,
bagaço de cana, é também uma ótima alternativa. encontram no mercado mundial de produtos agrícolas é
Agricultura orgânica – O mercado representado pelos ali- A) a concessão de subsídios agrícolas que países como
mentos obtidos através de agricultura orgânica (que não utiliza os Estados Unidos e os da União Europeia cedem aos
produtos químicos sintéticos prejudiciais à saúde), embora seus respectivos produtores.
ainda restrito a nichos geográficos e de consumidores, é o que
B) a política anti-protecionista que os países desenvolvi-
mais cresce. Essa tendência configura uma das exigências con-
dos adotam em relação à importação desses produtos.
temporâneas dos consumidores de alimentos, no que concerne
à sua inocuidade e ao respeito à natureza. C) o alto custo de produção de todos os seus produtos
agrícolas em relação aos custos desses produtos nos
Há preocupação com o ambiente, com a sustentabilidade
países desenvolvidos.
do processo agrícola e com a inocuidade dos alimentos. Via de
regra, propugna-se a diversificação e a integração de cultivos D) o reduzido interesse de mercados fortes como o asiá-
e criações, objetivando a agrobiodiversidade e a alternância tico, que apresenta baixa importação desses produtos.
de ciclos biológicos, e a utilização de insumos ou técnicas não E) a baixa produtividade agrícola apresentada por esses
convencionais, em substituição a fertilizantes e agrotóxicos países, não sendo suficiente para que haja excedente
comerciais. para ser exportado.
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Geografia
2. (EsPCex – 2012) “A agricultura é hoje o maior negócio Assinale a alternativa em que todas as afirmativas
do país. (...) Apenas [em 2005], a cadeia do agronegócio estão corretas.
gerou um Produto Interno Bruto de 534 bilhões de reais.”
A) I e III
(Faria, 2006 in: Terra, Araújo e Guimarães, 2009). A atual
expansão da agricultura e do agronegócio no Brasil deve- B) II e III
-se, entre outros fatores ao (à) C) I e II
A) forte vinculação da agricultura à indústria, ampliando D) I, IV e V
a participação de produtos com maior valor agregado E) II, IV e V
no valor das exportações brasileiras, como os dos
complexos de soja e do setor sucroalcooleiro. 5. (G1 - col. naval – 2017) “As precárias condições de
B) expansão da fronteira agrícola no Centro-Oeste e na trabalho ainda são uma realidade marcante no campo
Amazônia e ao emprego intensivo de mão de obra brasileiro. Atualmente, estima-se em 12 anos a vida
no campo, nessas áreas, determinando o aumento útil de um trabalhador rural, ou seja, o período no qual
da produtividade agrícola. é produtivo; e o salário, muitas vezes, não é suficiente
C) difusão de modernas tecnologias e técnicas de plantio para sustentar sua família.”
na maioria dos estabelecimentos rurais do País, contri- SAMPAIO, Fernando dos Santos; MEDEIROS, Marlon Clovis.
buindo para a expansão das exportações brasileiras. GEOGRAFIA: Para viver juntos. São Paulo: Edições SM, 2012.
D) modelo agrícola brasileiro, pautado na policultura de
Sabendo que as condições acima descritas são pro-
exportação e na concentração da propriedade rural.
duzidas pela forma como a produção e o trabalho
E) Revolução Verde, que, disseminada em larga escala estão organizados nas agricultura brasileira, analise
nas pequenas e médias propriedades do País, incen-
as afirmativas abaixo.
tivou a agricultura voltada para os mercados interno
e externo. I. O latifúndio, ou seja, as grandes propriedades dedi-
cadas a uma produção exclusivamente voltada para
3. (EsPCex – 2012) Sobre a agricultura familiar no Brasil, o mercado externo, absorve a imensa maioria da
pode-se afirmar que população empregada no campo brasileiro.
A) por falta de acesso ao crédito rural, não participa das II. O trabalhador assalariado no campo brasileiro,
cadeias agroindustriais. assim como na cidade, é aquele que recebe um
B) é responsável pelo fornecimento da maior parte da pagamento mensal por seu trabalho, tendo ou não
alimentação básica dos brasileiros, e, por isso, con- registro formal.
centra a maior parte da área cultivada com lavouras
e pastagens do País. III. As unidades familiares da subsistência são peque-
nas propriedades nas quais, por meio do trabalho
C) concentra a maioria do pessoal ocupado nos estabe-
familiar, busca-se garantir a total autossuficiência e
lecimentos rurais brasileiros.
independência do grupo diante do mercado.
D) por não ser competitiva frente à agricultura patronal,
não participa da produção de gêneros de exportação. IV. O trabalho temporário, apresentado sob a forma
do boia-fria ou do trabalhador volante, tem ainda
E) embora os membros da família participem da pro-
dução, a maior parte da mão de obra é contratada e
hoje, presença marcante no campo brasileiro, re-
quem comanda a produção não trabalha diretamente presentando importante fator de deterioração das
na terra. condições de trabalho.
Assinale a opção correta.
4. (EsPCex – 2014) Sobre o comércio agrícola mundial,
A) Apenas as afirmativas I e II são corretas.
podemos afirmar que,
B) Apenas as afirmativas I e III são corretas.
I. atualmente, o Japão e o Egito estão entre os maiores
importadores mundiais de cereais. C) Apenas as afirmativas II e III são corretas.
II. ao contrário da União Europeia, dos Estados Unidos D) Apenas as afirmativas II e IV são corretas.
e da China, o Brasil exibe elevado saldo positivo na E) Apenas as afirmativas III e IV são corretas.
sua balança comercial de produtos agrícolas.
III. na última década, o aumento dos investimentos no Gabarito
agronegócio e a difusão dos organismos geneticamen- 1. A
te modificados (OGM) na agricultura fizeram com que
2. A
o comércio mundial de produtos agrícolas superasse
em valor o comércio mundial de manufaturados. 3. C
IV. graças à Organização Mundial do Comércio (OMC), 4. C
que em 2002 pôs fim à política de subsídios agríco- 5. D
las concedida pelos países desenvolvidos aos seus
agricultores, países como o Brasil e a Argentina têm
obtido maior destaque no comércio mundial de pro-
dutos agrícolas.
V. devido aos elevados custos do transporte de carga no
Brasil, a soja brasileira vem perdendo paulatinamente
posição de destaque dentre os grandes exportadores
mundiais desse produto.
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