Galoa Proceedings Cobeq 2016 39010 Avaliacao de Mod
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Galoa Proceedings Cobeq 2016 39010 Avaliacao de Mod
1. INTRODUÇÃO
Hidrociclones são equipamentos que têm sua separação baseada na ação de um campo
centrífugo formado em seu interior, podendo ser empregados em separações sólido-líquido, líquido-
líquido, gás-líquido ou sólido-sólido.
Em sua forma clássica, tais equipamentos consistem em uma parte cônica soldada a uma parte
cilíndrica, na qual está posicionada uma entrada tangencial. Também há duas saídas: a inferior,
underflow, concentrada na fase mais densa, e a superior, overflow, concentrada na fase menos densa.
Também há o vortex finder, projeção do overflow para o interior da parte cilíndrica, o qual tem a
função de controlar a separação no início do escoamento e prevenir a ida do material diretamente para
a saída superior. O desenho do equipamento depende de sua aplicação.
Como uma maneira relativamente rápida e barata para projeto de hidrociclones, uma alternativa
interessante é a fluidodinâmica computacional (CFD), metodologia que permite a resolução numérica
de equações de conservação para massa, quantidade de movimento, energia, etc. dentro de um volume
de controle, o qual, para tanto, precisa ser discretizado.
O presente trabalho tem o intuito de comparar perfis de velocidade tangencial e axial obtidos a
partir de três categorias de modelos de turbulência com dados experimentais de Braga (2015) a fim de
identificar regiões que originam essa dificuldade de modelagem da turbulência. As simulações foram
conduzidas no software de CFD OpenFOAM.
2. MODELOS DE TURBULÊNCIA
Inicialmente, deve ser dito que a forma mais comum de modelar o fenômeno de turbulência é
através da metodologia RANS (Reynolds Averaged Navier Stokes), em que o operador média
temporal é aplicado nas equações da continuidade e Navier Stokes para variáveis instantâneas. Tal
procedimento origina um termo extra na equação de Navier Stokes para variáveis médias, o tensor de
Reynolds, o qual é um tensor simétrico, que, portanto, gera seis novas variáveis, que por sua vez,
precisam ser modeladas.
O modelo do tipo RANS mais comumente utilizado em simulações CFD é o k-ε padrão (Jones e
Launder, 1972), o qual expressa os componentes do tensor de Reynolds através de uma expressão
algébrica, que introduz uma nova variável, dependente do escoamento, conhecida como viscosidade
turbulenta. Essa última é modelada em função de k, energia cinética turbulenta, e ε, dissipação de
energia cinética turbulenta, os quais são resolvidos através de equações de transporte. Outra
característica desse modelo é não resolver a região de parede, mas sim utilizar funções de parede,
sendo assim denominado um modelo para alto número de Reynolds (HRN), os quais devem ser
utilizados com malhas que forneçam o parâmero y+ no primeiro nó adjacente à parede entre 30 e 200.
Esse parâmetro é dado por y+=yuτ/ν, onde uτ é a velocidade de fricção, função da tensão cisalhante na
parede, e ν é a viscosidade cinemática, e caracteriza a distância à parede, y. De acordo com a
literatura, esse modelo a duas equações e HRN não apresenta bons resultados para hidrociclones,
sendo necessários outros tipos de abordagem para a correta predição física desse equipamento via
CFD.
Dessa forma, este trabalho se propõe investigar a performance de modelos de duas equações
para baixo número de Reynolds (LRN) para avaliar se estes são capazes de fornecer bons resultados
na predição do campo de velocidades em hidrociclones. Os modelos LRN, diferentemente dos HRN,
resolvem a região próxima à parede, necessitando então de uma malha muito mais refinada nessa
região, com y+ no primeiro nó adjacente à parede, idealmente, menor que 1, algo que então exige
maior esforço computacional do que simplesmente empregar as funções de parede. Um modelo
bastante utilizado dessa categoria e avaliado neste trabalho é o SST (Menter, 1974), o qual alterna,
através de uma função da distância à parede, entre os modelos k-ԑ e k-ω, sendo este último utilizado
na região próxima à parede. A variável ω é a dissipação de energia cinética turbulenta específica, que
se relaciona com ԑ através da expressão ω=ԑ/β*k. Também foram avaliadas algumas variações do
SST, como o SST com correção de curvatura (Smirnov e Menter, 2009), desenvolvido justamente
para melhorar o desempenho em escoamentos com curvatura e rotação. Também há o modelo k-ω-ν2
(Dhakal e Walters, 2011), que utiliza a estrutura do SST, mas é adicionada uma equação de transporte
extra para resolver ν2, empregada para melhorar os resultados próximos à parede, sendo ν a
velocidade turbulenta transversal.
3. METODOLOGIA
O hidrociclone simulado no presente trabalho foi o desenvolvido por Braga (2015) para a
separação de águas oleosas com baixo teor de óleo. A Figura 1 apresenta um desenho esquemático de
um hidrociclone e a Tabela 1 apresenta as dimensões do hidrociclone empregado por Braga (2015).
Quanto às condições de contorno, foi estabelecida velocidade de entrada de 6,95 m s-1 e pressão
manométrica nula nas duas saídas. Também foi especificada a condição de aderência nas paredes.
Nos modelos LRN, k foi especificado como zero na parede e ω resolvido a partir de uma solução
analítica para a região próxima à parede, onde essa variável tende ao infinito.
4. RESULTADOS
Os resultados foram analisados após o hidrociclone alcançar o regime estacionário. Nele,
compararam-se os perfis de velocidade tangencial e axial experimentais obtidos por Braga (2015)
com os resultados para as simulações CFD com os modelos de turbulência mencionados acima. Braga
(2015) obteve os perfis de velocidade tangencial nas posições de 14,8; 31,0 e 47,2 cm a partir do topo
da seção cilíndrica do equipamento. Já para a velocidade axial, os perfis foram obtidos apenas nas
posições de 31,0 e 47,2 cm a partir do topo da seção cilíndrica do hidrociclone.
A análise da Figura 2 mostra que o modelo Launder e Gibson, modelo da categoria RSM e
HRN, apresenta comportamento qualitativo semelhante ao do perfil experimental, com ponto de
máximo próximo à região central do equipamento. Este resultado era esperado, pois esse é o modelo
geralmente empregado em simulações CFD de hidrociclones. O mesmo comportamento qualitativo,
porém com erros bem superiores aos apresentados pelo modelo Launder e Gibson, é observado para
os modelos a duas equações LRN simulados com a malha 1, os quais estão praticamente superpostos,
indicando que as modificações no modelo SST introduzidas pelo SST com correção de curvatura e k-
ω-ν2 não tem efeito apreciável na caracterização do escoamento em hidrociclones. Em contrapartida,
as simulações com o modelo k-ε padrão e com o SST com a malha 2 exibiram perfis de velocidade
tangencial similares, mas diferentes do experimental, pois ambos apresentaram ponto de máximo
próximo à parede.
O fato de a malha ter influenciado significativamente o perfil da velocidade tangencial das
simulações com o modelo SST mostra que os resultados ainda são dependentes da malha e então
malhas mais refinadas devem ser testadas até que não mais interfiram nos resultados. Porém, este
resultado também indica uma tendência de os modelos de duas equações do tipo LRN fornecerem
perfis similares aos do tipo HRN, indicando que a resolução da região da parede pode não ser
importante na caracterização física desse equipamento. Porém, deve-se notar a melhor performance
do modelo SST com a malha 1, que apresenta valores de de y+ no primeiro nó adjacente à parede bem
acima de 1. Como o modelo SST migra entre o k-ԑ e k-ω de acordo com a distância à parede,
aparentemente, com a malha 2, mais refinada na parede, os efeitos do modelo k-ω foram confinados à
região mais próxima da parede e, na maior parte do escoamento, o modelo comportou-se como o k-ԑ,
fornecendo resultados muito próximos aos do mesmo. Isso indica que, talvez, apenas o modelo k-ω
possa trazer alguma melhora na predição qualitativa da velocidade tangencial.
Para avaliar melhor o desempenho dos modelos, a Figura 3 compara o perfil de velocidade axial
obtido experimentalmente por Braga (2015) com os perfis obtidos com as simulações com os modelos
k-ε padrão, Launder e Gibson e SST, este último, tanto com a malha 1 quanto com a malha 2, nas
posições de 31,0 e 47,2 cm a partir do topo da seção cilíndrica. Não são mostrados os resultados para
os para o SST com correção de curvatura e o k-ω-ν2, pois seu resultado de velocidade tangencial é
semelhante ao do modelo SST simulado com a malha 1.
A análise da Figura 3 mostra que nenhum dos modelos foi capaz de reproduzir o perfil de
velocidade axial experimental de Braga (2015). Também se observa perfis de velocidade axial
similares entre o modelo k-ԑ padrão e o SST simulado com a malha 2, corroborando a análise acima.
No entanto, vale ressaltar que, apesar de o perfil apresentando pelo modelo Launder e Gibson
na Figura 3 não ser semelhante aos dos experimentos de Braga (2015), os quais foram realizados na
presença de um air core de pequeno diâmetro na região central do equipamento, ele é
qualitativamente semelhante aos perfis de velocidade axial obtidos experimentalmente por Marins et
al. (2010), os quais são obtidos na ausência de air core, ou seja, semelhante às simulações, em que a
fase ar não é simulada e, consequentemente, não há o air core.
Por fim, vale ressaltar que os tempos de simulação com os modelos SST e suas variantes foram
maiores que com o modelo Launder e Gibson, não justificando, para fins práticos, seu emprego, que,
por sua vez, é válido a nível de investigação da modelagem.
5. CONCLUSÃO
Os modelos do tipo LRN, SST, SST com correção de curvatura e k-ω-ν2, simulados com uma
malha que apresentava y+ no nó adjacente à parede bem acima de 1 (malha 1), apresentaram
comportamento qualitativo para velocidade tangencial parecido com o experimental, porém
superestimados. Quanto à velocidade axial, essas mesmas simulações não se assemelharam aos dados
experimentais. Em contrapartida, os perfis de velocidade tangencial e axial provenientes das
simulações com o modelo SST, com uma malha que apresentava y+ no nó adjacente à parede mais
próximo de 1, porém ainda acima (malha 2), ficaram qualitativamente e quantitativamente similares
aos perfis de ambas as variáveis com o modelo k-ε padrão. Tais resultados não permitem determinar
se a resolução da região de parede é importante para a correta predição do escoamento em
hidrociclones, tampouco se os modelos LRN aqui simulados são capazes de caracterizar o
comportamento físico no interior desses equipamentos. Porém, dado que o tempo de simulação é
parecido para os modelos de duas equações do tipo LRN comparados com os RSM do tipo HRN, para
fins práticos, a melhor opção ainda é usar os modelos dos Tensores de Reynolds.
6. REFERÊNCIAS
ALMEIDA, Y. P. Simulação Fluidodinâmica de uma Válvula Ciclônica. Dissertação (Mestrado) -
Programa de Engenharia Mecânica/COPPE/Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro.
2015.
BRAGA, E. B. Desenvolvimento de um Hidrociclone para a Separação de Óleo Presente em Águas
Oleosas. Tese (Doutorado) – Tecnologia de Processos Químicos e Bioquímicos/Escola de
Química/Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro. 2015.
COSTA, S. M. Comparação de Modelos Computacionais para a Simulação de Hidrociclone
Utilizado na Separação de Células Animais. Projeto Final de Curso – Projeto Final/Escola de
Química/Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro. 2013.
DHAKAL, T. P.; WALTERS, D. K. A Three-Equation Variant of the SST k-ω Model Sensitized to
Curvature and Rotation Effects. J. Fluid. Mech., v. 133, 2011.
GIBSON, M. M.; LAUNDER, B. E. Ground Effects on Pressure Fluctuation in the Atmospheric
Boundary Layer. J. Fluid. Mech., v. 86, p. 491-511, 1978.
JONES, W. P.; LAUNDER, B. E. The Prediction of Laminarization with a Two-Equation
Turbulence Model of Turbulence. Int. J. Heat Mass Transfer, v. 15, p. 301-314, 1972.
MARINS, L. P. M.; DUARTE, D. G.; LOUREIRO, J. B. R.; MORAES, C. A. C.; SILVA FREIRE,
A. P. LDV and PIV Characterization of the Flow in a Hydrocyclone without an Air-core. J. Petrol.
Sci. Eng., v. 70, p. 168-176, 2010.
MENTER, F. R. Two-Equation Eddy-Viscosity Turbulence Models for Engineering Applications.
AIAA Journal, v.32, 1994.
SMIRNOV, P. E.; MENTER, F. R. Sensization of the SST Turbulence Model to Rotation and
Curvature by Applying the Sparlart-Shur Correct Term, ASME Journal of Turbomachinery, v. 131,
2009.