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QUAESTIO 1 QUESTÃO 1
PROOEMIUM PROÊMIO
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ARTICULUS 1 ARTIGO 1
Et videtur quod non, sed magis actus. E parece que não, mas antes que são
atos.
1 Outros lugares: S. Th., I-II, q. 55, a. 1; II Sent., D. 27, a. 1; III, D. 23. q.1, a.3 , q.a 1,3; II Ethic.,
lect. 5.
2 AGOSTINHO, Retractationes, I, 9, 6.
3 AGOSTINHO, De libero arbitrio, II, 19, 50.
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nec ad operationes meritorias, quia ção sem o hábito, com muito maior
has Deus in nobis operatur: Philipp. II, razão poderá isso a natureza racional.
13. Qui operatur in nobis velle et Do mesmo modo, tampouco [os neces-
perficere, pro bona voluntate. Ergo sitamos] para as operações meritórias,
nullo modo virtutes sunt habitus. porque Deus as opera em nós: Fl 2, 13:
[pois é Deus] quem opera em vós o
querer e o operar, segundo a sua von-
tade. Logo, de nenhum modo as virtu-
des são hábitos.
12. Praeterea, omne agens secundum 12. Além do mais, todo agente [que
formam, semper agit secundum exi- atua] de acordo com uma forma, sem-
gentiam illius formae, sicut calidum pre age segundo a exigência daquela
agit semper calefaciendo. Si ergo in forma, como o quente sempre age es-
mente sit aliqua habitualis forma quae quentando. Logo, se há na mente al-
virtus dicatur, oportebit quod habens guma forma habitual que seja chama-
virtutem, secundum virtutem opere- da virtude, será necessário que quem
tur; quod est falsum: quia sic quilibet possua a virtude aja segundo ela; o que
habens virtutem esset confirmatus. é falso: porque, assim, qualquer um
Ergo virtutes non sunt habitus. que possuísse a virtude estaria confir-
mado nela. Logo, as virtudes não são
hábitos.
13. Praeterea, habitus ad hoc insunt 13. Além do mais, os hábitos estão nas
potentiis, ut tribuant eis facilitatem potências para isto: para atribuir a fa-
operandi. Sed ad actus virtutum non cilidade de operar. Ora, parece que não
indigemus aliquo facilitatem faciente, necessitamos dos atos das virtudes
ut videtur. Consistunt enim para fazer algo mais facilmente. Com
principaliter in electione et voluntate: efeito, [os atos] são constituídos prin-
nihil autem est facilius eo quod est in cipalmente na eleição e na vontade:
voluntate constitutum. Ergo virtutes mas nada é mais fácil do que aquilo
non sunt habitus. que está constituído na vontade. Logo,
as virtudes não são hábitos.
14. Praeterea, effectus non potest esse 14. Além do mais, o efeito não pode
nobilior quam sua causa. Sed si virtus ser mais nobre do que a sua causa. O-
est habitus, erit causa actus, qui est ra, se a virtude é um hábito, será causa
habitu nobilior. Ergo non videtur con- do ato, que é mais nobre do que o há-
veniens quod virtus sit habitus. bito. Logo, não parece conveniente que
a virtude seja um hábito.
15. Praeterea, medium et extrema sunt 15. Além do mais, o meio e os extre-
unius generis. Sed virtus moralis est mos são de um mesmo gênero. Ora, a
medium inter passiones; passiones virtude moral é o meio [termo] entre
autem sunt de genere actuum. Ergo, et as paixões; no entanto, as paixões es-
cetera. tão nos gêneros dos atos. Logo, etc.
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RESPONDEO RESPONDO
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in eis est agere, sicut vires aliquo modo cies [impressas] na pupila. Por isso as
rationales; et hae potentiae complen- virtudes destas potências não são hábi-
tur ad agendum per aliquid superin- tos, mas antes as mesmas potências,
ductum, quod non est in eis per mo- segundo o que são afetadas pela atuali-
dum passionis tantum, sed per modum zação de seus [princípios] ativos. Con-
formae quiescentis, et manentis in su- tudo, as agentes e atuadas são aquelas
biecto; ita tamen quod per eas non de potências movidas de tal maneira pe-
necessitate potentia ad unum cogatur; los seus [princípios] ativos que, no en-
quia sic potentia non esset domina sui tanto, não são determinadas por elas
actus. Harum potentiarum virtutes mesmas a uma só coisa; mas o atuar
non sunt ipsae potentiae; neque pas- está nelas, assim como de algum modo
siones, sicut est in sensitivis potentiis; as capacidades racionais. Estas potên-
neque qualitates de necessitate agen- cias são aperfeiçoadas para atuar por
tes, sicut sunt qualitates rerum natura- algo acrescentado, que não está nelas
lium; sed sunt habitus, secundum quos só por um modo da paixão, mas pelo
potest quis agere cum voluerit ut dicit modo da forma que repousa e perma-
Commentator in III de anima. Et Au- nece no sujeito. Contudo, [são afeta-
gustinus in Lib. de bono coniugali di- das] de tal forma por essas [determi-
cit, quod habitus est quo quis agit, cum nações] que a potência não necessari-
tempus affuerit. Sic ergo patet quod amente é forçada a uma só coisa, por-
virtutes sunt habitus. Et qualiter habi- que assim a potência não seria senhora
tus distent a secunda et tertia specie do seu ato. As virtudes destas potên-
qualitatis, qualiter autem a quarta dif- cias não são as potências mesmas;
ferant, in promptu est: nam figura non nem as paixões, como ocorre nas po-
dicit ordinem ad actum quantum in se tências sensitivas; nem qualidades ne-
est. Ex his etiam potest patere quod cessariamente agentes, como são as
habitus virtutum ad tria indigemus. qualidades das coisas naturais; mas
Primo ut sit uniformitas in sua opera- são hábitos, segundo o que alguém
tione; ea enim quae ex sola operatione pode agir enquanto quer, como diz o
dependent, facile immutantur, nisi Comentador no livro III Sobre a Al-
secundum aliquam inclinationem ha- ma15. E diz Agostinho no livro Do bem
bitualem fuerint stabilita. Secundo ut conjugal16, que o hábito é o que al-
operatio perfecta in promptu habeatur. guém age, quando chega a ocasião.
Nisi enim potentia rationalis per habi- Portanto, desta forma é evidente que
tum aliquo modo inclinetur ad unum, as virtudes são hábitos. E está claro de
oportebit semper, cum necesse fuerit que maneira os hábitos se diferenciam
operari, praecedere inquisitionem de da segunda e da terceira espécie de
operatione; sicut patet de eo qui vult qualidade e, no entanto, de que modo
considerare nondum habens scientiae se diferenciam da quarta: pois a figura
habitum, et qui vult secundum virtu- não implica ordem ao ato enquanto ao
tem agere habitu virtutis carens. Unde que é em si. A partir disso também
philosophus dicit in V Ethic., quod pode ser evidente que necessitamos
repentina sunt ab habitu. Tertio ut de- dos hábitos das virtudes por três moti-
lectabiliter perfecta operatio complea- vos: Primeiro, para que haja uniformi-
tur. Quod quidem fit per habitum; qui dade em sua operação; pois aquilo que
cum sit per modum cuiusdam naturae, só depende da operação se altera fa-
operationem sibi propriam quasi natu- cilmente, a não ser que se torne estável
ralem reddit, et per consequens delec- por alguma inclinação habitual. Se-
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tabilem. Nam convenientia est delecta- gundo, para que a operação perfeita se
tionis causa; unde philosophus, in II realize facilmente. Com efeito, a não
Ethic., ponit signum habitus, delecta- ser que por algum modo a potência
tionem in opere existentem. racional se incline a uma só coisa, será
necessário, quando for preciso agir,
que preceda [à obra] um exame da o-
peração; como é evidente no caso da-
quele que quer refletir sem possuir
ainda o hábito da ciência, e quem quer
agir segundo a vontade, carecendo do
hábito da virtude. Por isso diz o Filóso-
fo no livro V da Ética17, que [os atos] se
tornam repentinos pelo hábito. Tercei-
ro, para que a operação perfeita seja
completada com deleite, o que certa-
mente se faz por hábito; o que, en-
quanto ocorre pelo modo de certa na-
tureza, faz a sua operação própria co-
mo natural e, por conseguinte, deleitá-
vel. Pois a conveniência é causa do de-
leite; por isso o Filósofo, no livro II da
Ética18, põe como sinal do hábito a
deleitação na realização do agir.
19Na edição reproduzida por Enrique Alarcón (Taurini) não há esta divisão que ora propomos:
Responsiones ad argumenta. Do mesmo modo, quando necessário, inserimos Responsiones ad
sed contra, com este intuito de orientar o leitor quanto à dinâmica da argumentação e exposição
do Aquinate.
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ARTICULUS 2 ARTIGO 2
1. Virtus enim est bonitas quaedam. Si 1. Com efeito, a virtude é certa bonda-
ergo ipsa est bona: aut ergo sua boni- de. Logo, se ela mesma é boa: ou, por-
tate, aut alia. Si alia, procedetur in in- tanto, [é] por sua bondade, ou por ou-
finitum: si seipsa, ergo virtus est boni- tra. Se por outra, se procede até o infi-
tas prima quia sola bonitas prima est nito: se por ela mesma, logo a virtude é
bona per seipsam. a bondade primeira porque só a bon-
dade primeira é boa por si mesma.
2. Praeterea, illud quod est commune 2. Além do mais, aquilo que é comum
omni enti, non debet poni in definitio- a todo ente não deve ser posto na defi-
ne alicuius. Sed bonum, quod converti- nição de alguma coisa. Ora, o bem, que
tur cum ente, est commune omni enti. se converte com o ente, é comum a
Ergo non debet poni in definitione vir- todo ente. Logo, não deve ser posto na
tutis. definição da virtude.
3. Praeterea, sicut bonum est in mora- 3. Além de mais, assim como o bem
libus, ita et in naturalibus. Sed bonum está nas coisas morais, assim também
et malum in naturalibus non diversifi- [está] nas naturais. Ora, o bem e o mal
cant speciem. Ergo nec in definitione não diversificam a espécie nas coisas
virtutis debet poni bona, quasi diffe- naturais. Logo, nem na definição da
rentia specifica ipsius virtutis. virtude deve ser posta “boa”, como a
diferença específica da própria virtude.
4. Praeterea, differentia non includitur 4. Além do mais, a diferença não se
in ratione generis. Sed bonum inclui na noção do gênero. Ora, o bem
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pertinet. Sed virtus magis respicit af- intelecto. Ora, a virtude se refere mais
fectum. Ergo male dicitur, quod virtus ao afeto. Logo, se diz mal que a virtude
sit bona qualitas mentis. seja uma boa qualidade da mente.
12. Praeterea, secundum Augustinum, 12. Além do mais, segundo Agosti-
mens nominat superiorem partem a- nho24, a mente designa a parte superi-
nimae. Sed aliquae virtutes sunt in or da alma. Ora, há algumas virtudes
inferioribus potentiis. Ergo male poni- nas potências inferiores. Logo, se afir-
tur in definitione virtutis bona quali- ma mal na definição de virtude: boa
tas mentis. qualidade da mente.
13. Praeterea, subiectum virtutis no- 13. Além do mais, o sujeito da virtude
minat potentiam, non essentiam. Sed designa a potência [da alma], não a
mens videtur nominare essentiam a- [sua] essência. Ora, a mente parece
nimae; quia dicit Augustinus, quod in designar a essência da alma; porque
mente est intelligentia, memoria et Agostinho25 diz que na mente há a in-
voluntas. Ergo non debet poni mens in teligência, a memória e a vontade. Lo-
definitione virtutis. go, não se deve pôr a mente na defini-
ção da virtude.
14. Praeterea, illud quod est proprium 14. Além do mais, aquilo que é próprio
speciei, non debet poni in definitione da espécie, não se deve pôr na defini-
generis. Sed rectitudo est proprium ção do gênero. Ora, a retidão é própria
iustitiae. Ergo non debet poni da justiça. Logo, não se deve pôr a re-
rectitudo in definitione virtutis, ut tidão na definição da virtude, quando
dicatur bona qualitas mentis, qua se diz boa qualidade da mente, pela
recte vivitur. qual se vive com retidão.
15. Praeterea, vivere viventibus est 15. Além do mais, para os viventes,
esse. Sed virtus non perficit ad esse, viver é ser. Ora, a virtude não aperfei-
sed ad opera. Ergo male dicitur, qua çoa o ser, mas as obras; Logo, se diz
recte vivitur. mal, pelo qual se vive com retidão.
16. Praeterea, quicumque superbit de 16. Além do mais, qualquer um que se
aliqua re, male utitur ea. Sed de virtu- ensoberbeça de alguma coisa, faz mau
tibus aliquis superbit. Ergo virtutibus uso dela. Ora, há quem se ensoberbeça
aliquis male utitur. pelas virtudes [que possui]. Logo, há
quem faz mau uso das virtudes.
17. Praeterea, Augustinus in libro de 17. Além do mais, Agostinho, no livro
Lib. Arbit. dicit, quod solum maximis O livre Arbítrio26, diz que só os máxi-
bonis nullus male utitur. Sed virtus mos bens em nada se usam mal. Ora, a
non est de maximis bonis; quia virtude não está entre os máximos
maxima bona sunt quae propter se bens; porque os bens máximos são
appetuntur; quod non convenit apetecidos por causa de si mesmos; o
virtutibus, cum propter aliud que não convém às virtudes, pois são
appetantur, quia propter felicitatem. apetecidas em função de outra coisa,
Ergo male ponitur qua nullus male por causa da felicidade. Logo, se afir-
utitur. ma mal que de nenhum mau se faz
uso.
18. Praeterea, ab eodem aliquid gene- 18. Além do mais, é em razão de si
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ratur et nutritur et augetur. Sed virtus mesmo que algo é gerado, conservado
per actus nostros nutritur et augetur; e aumentado. Ora, a virtude se conser-
quia diminutio cupiditatis est augmen- va e cresce por nossos atos; porque a
tum caritatis. Ergo per actus nostros diminuição da concupiscência é o au-
virtus generatur; ergo male ponitur in mento da caridade. Logo, a virtude é
definitione, quam Deus in nobis sine gerada pelos nossos atos; portanto, se
nobis operatur. afirma mal na definição: que Deus age
em nós sem nós.
19. Praeterea, removens prohibens 19. Além do mais, o que remove um
ponitur movens et causa. Sed liberum impedimento é considerado como o
arbitrium est quodammodo removens movente e a causa. Ora, o livre arbítrio
prohibens virtutis. Ergo est quodam- é de algum modo o que remove o im-
modo causa; ergo non bene ponitur, pedimento da virtude. Logo, é de al-
quod sine nobis Deus virtutem opere- gum modo causa; portanto, não se a-
tur. firma bem que Deus opera em nós a
virtude sem nós.
20. Praeterea, Augustinus dicit: qui 20. Além do mais, diz Agostinho27:
creavit te sine te, non iustificabit te quem te criou sem ti, não te salvará
sine te. Ergo et cetera. sem ti. Logo, etc.
21. Praeterea, ista definitio convenit 21. Além do mais, parece que essa de-
gratiae, ut videtur. Sed virtus et gratia finição convém à graça. Ora, a virtude
non sunt unum et idem. Ergo non bene e a graça não são a mesma coisa. Logo,
definitur per hanc definitionem virtus. a virtude não se define bem através
desta definição.
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possit esse principium contrarii actus. cípio do ato contrário. Com efeito, a-
Illud enim quod est principium boni et quilo que é princípio do ato bom e mau
mali actus, non potest esse, quantum não pode ser em si mesmo princípio
est de se, principium perfectum boni perfeito do ato bom; porque o hábito é
actus; quia habitus est perfectio poten- a perfeição da potência. Logo, é neces-
tiae. Oportet ergo quod ita sit principi- sário que [o hábito bom] seja princípio
um actus boni, quod nullo modo mali; do ato bom e, de nenhum modo, o seja
propter quod philosophus dicit in VI do [ato] mau; é por causa disso que o
Ethic., quod opinio, quae potest esse Filósofo diz no livro VI da Ética28, que
vera et falsa, non est virtus; sed scien- não há opinião acerca da virtude, pois
tia, quae non est nisi de vero. Primum [a opinião] pode ser verdadeira e falsa;
designatur in hoc quod dicitur, qua mas há ciência, que não é senão do
recte vivitur: secundum, in hoc quod verdadeiro. O primeiro se indica ao
dicitur, qua nemo male utitur. Ad hoc dizer pela qual se vive com retidão: o
vero quod virtus facit subiectum segundo, ao dizer, da virtude ninguém
bonum, tria sunt ibi consideranda. faz mau uso. Contudo, para que a vir-
Subiectum ipsum: et hoc determinatur tude torne bom o sujeito, três coisas
cum dicitur mentis; quia virtus devem ser consideradas. O próprio
humana non potest esse nisi in eo sujeito: e isto se determina quando se
quod est hominis in quantum est diz da mente; porque a virtude huma-
homo. Perfectio vero intellectus na não pode ser senão o que é do ho-
designatur in hoc quod dicitur bona; mem enquanto é homem. De fato, a
quia bonum dicitur secundum perfeição do intelecto se designa nisto
ordinem ad finem. Modus autem que se diz boa; porque o bem se diz
inhaerendi designatur in hoc quod segundo a ordem ao fim. No entanto, o
dicitur qualitas; quia virtus non inest modo de inerência se indica naquilo
per modum passionis, sed per modum que se diz qualidade, porque a virtude
habitus; ut supra dictum est. Haec au- não inere por um modo de paixão, mas
tem omnia conveniunt tam virtuti mo- pelo modo do hábito; como foi dito
rali quam intellectuali, quam theologi- acima. No entanto, todas estas consi-
cae, quam acquisitae, quam infusae. derações convêm tanto à virtude moral
Hoc vero quod Augustinus addit quam quanto à intelectual, tanto à teológica
in nobis sine nobis Deus operatur, quanto à adquirida e à infusa. Porém,
convenit solum virtuti infusae. o que acrescenta Agostinho, que Deus
age em nós sem nós, corresponde ape-
nas à virtude infusa.
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non autem sic potest dici albedo alba. unidade una sem, contudo, se poder
Cuius ratio est, quia quidquid cadit in dizer do mesmo modo a brancura e o
intellectu, oportet quod cadat sub branco. A razão disto é porque tudo o
ratione entis, et per consequens sub que cai compreendido no intelecto, é
ratione boni et unius; unde essentia et necessário que esteja sob a razão de
bonitas et unitas non possunt intelligi, ente e, por conseguinte, sob a razão de
nisi intelligantur sub ratione boni et bem e de uno; por isso que a essência,
unius et entis. Propter hoc potest dici a bondade e a unidade não podem ser
bonitas bona, et unitas una. compreendidas senão sob a razão de
bem, de uno e de ente. Por causa disso
é possível dizer bondade boa e unidade
uma29.
9. Ad nonum30 dicendum quod 9. Respondo dizendo que a diferença,
differentia, sicut et genus, praedicatur como também o gênero, se predica
essentialiter de specie, et non essencialmente da espécie e não por
denominative; et ideo si species sit derivação; e por causa disso, se a espé-
quid subsistens et compositum, non cie é algo subsistente e composto, não
praedicatur de ea differentia in se predica dela em abstrato, mas em
abstracto, sed in concreto. Nam in concreto. Pois nas substâncias com-
substantiis compositis nomina postas se diz propriamente que os no-
concreta, quae compositum mes concretos que significam o com-
significant, proprie in praedicamento posto estão em uma categoria, como as
esse dicuntur, sicut species vel genera, espécies e os gêneros, como o homem
ut homo vel animal; et ideo oportet, si ou o animal; e por isso é necessário
differentia debeat de tali specie que se a diferença deva predicar essen-
essentialiter praedicari, quod cialmente de tal espécie, que se signifi-
significetur in concreto, quia aliter non que em concreto, porque de outro mo-
diceret totum esse speciei. Sed si do não se expressaria totalmente o ser
species sit forma simplex (sicut da espécie. Mas se a espécie é uma
accidentia, in quibus nomina forma simples (como os acidentes, nos
concretive dicta non ponuntur in quais os nomes ditos de modo concre-
praedicamento sicut species vel to não se encontram em uma categori-
genera, ut album et nigrum, nisi per a, como as espécies ou os gêneros, co-
reductionem; sed solum secundum mo o branco e o negro, a não ser por
quod in abstracto significantur, ut redução; mas só segundo o que se sig-
albedo, musica, iustitia et nifica em abstrato, como a brancura, a
universaliter, virtus) praedicatur de ea música, a justiça e, universalmente, a
tam genus quam differentia in virtude), tanto o gênero como a dife-
abstracto; unde sicut virtus est rença se predicam dela em abstrato;
29 O que está compreendido na resposta à nona objeção até o final deste artigo consiste em uma
adição do venerável professor da Sagrada Teologia, Padre Frei Vicente de Castro-Novo, da Or-
dem dos Pregadores. Quem foi? Teólogo dominicano, vigário-geral da Congregação lombarda e
em seguida vigário-geral da Ordem. Nasceu em Castelnuovo em 1435 e morreu em Altomonte
em 1506. Por que acrescentou tais soluções? Em 9 de dezembro de 1503, em Veneza, Castro-
Novo publica, com a ajuda do nobre Boneto Locatello e do presbítero Ottaviano Scoto, uma lei-
tura revisada e aumentada das Questões Disputadas de Santo Tomás, respondendo a alguns
argumentos que Tomás não havia respondido, a partir da leitura e comparação com dois exem-
plares da obra então encontrados na Alemanha.
30 Desunt responsiones ad argumenta IX-XXI, quas complevit Vincentius de Castronovo.
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nitas uniuscuiusque rei consistit in hoc implica como efeito; e assim a virtude
quod convenienter se habet secundum implica certa bondade que faz bom
modum debitum suae naturae; quod quem a possui. Pois a bondade de
facit virtus, ut dictum est; et sic virtuti qualquer coisa consiste nisto: em que
opponitur malitia. Tertium est id ad tenha convenientemente disposta con-
quod virtus ordinatur, videlicet actus forme o modo devido da sua natureza;
bonus. Nam virtus ordinatur ad actum o que faz a virtude, como foi dito; e
bonum, qui est actus debitus, et assim a virtude se opõe à malícia. Ter-
ordinatus secundum rationem. Unde ceiro, é aquilo ao qual a virtude se or-
virtus est perfectio potentiae in ordine dena, quer dizer, o ato bom. Pois a vir-
ad actum, et non solum bonum facit tude se ordena ao ato bom, que é o ato
habentem, sed et opus eius reddit devido e ordenado, segundo a razão.
bonum. Et hoc modo virtuti opponitur Por isso a virtude é a perfeição da po-
peccatum, quod proprie nominat tência ordenada ao ato e não apenas
actum inordinatum. Ex quibus patet torna bom aquele que a possui, mas
quod habitus vitiosus et malitia et também torna boa a sua obra. E deste
peccatum possunt dici malum moris; modo a virtude se opõe ao pecado, o
et sic etiam omnis virtus est quoddam qual designa propriamente um ato de-
bonum moris, et non e converso. sordenado. A partir disso é evidente
que o hábito vicioso, a malícia e o pe-
cado podem ser denominados males
morais; e assim também toda virtude é
certo bem moral e não o inverso con-
trário.
11. Ad undecimum dicendum, quod 11. Respondo dizendo que a mente se
mens hic accipitur secundum quod considera aqui conforme o que implica
importat potentias rationales; unde as potências racionais; por isso com-
comprehendit sub se intellectum et preende sob si o intelecto e o afeto.
affectum. Voluntas enim est potentia Com efeito, a vontade é a potência ra-
rationalis per essentiam. Virtutes cional por essência. No entanto, as vir-
autem possunt esse non solum in tudes não só podem estar no afeto,
affectu, sed etiam in intellectu. mas também no intelecto. Com efeito,
Virtutes enim intellectuales faciunt as virtudes intelectuais fazem a facul-
facultatem bene operandi, licet non dade operar bem, ainda que não confi-
faciant bonum usum talis facultatis. ram o bom uso de tal faculdade. De
Virtutes vero morales et aliae virtutes fato, as virtudes morais e as outras
simpliciter, quae respiciunt affectum virtudes em sentido absoluto, que se
cum facultate bene operandi, faciunt referem ao afeto como a faculdade de
etiam usum bonum, in quantum operar bem, conferem também o bom
faciunt ut quis recte et bene tali uso [do princípio operativo], enquanto
facultate utatur: sicut iustitia facit non fazem que alguém use retamente e
solum quod homo sit promptus ad bem tal faculdade: como a justiça não
iusta operandum, sed etiam facit ut só faz que o homem esteja pronto para
iuste operetur; grammatica autem facit operar coisas justas, mas também faça
facultatem recte et congrue loquendi: que aja justamente; contudo, a gramá-
non tamen facit ut homo semper tica confere a faculdade de falar reta e
congrue loquatur, quia potest coerentemente: no entanto, [ela] não
grammaticus barbarizare, aut faz que um homem sempre fale coe-
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33 Erro gramatical.
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virtutis, quia virtute homo recte vivit, ção, e desta forma o viver se enuncia
in quantum per eam ipse recte na definição da virtude, porque pela
operatur. virtude o homem vive com retidão,
enquanto por ela ele atua com retidão.
16. Ad decimumsextum dicendum, 16. Respondo dizendo que o mau uso
quod male uti virtute, potest intelligi da virtude pode ser entendido de dois
dupliciter. Uno modo sicut obiecto; et modos: Um modo, como objeto; e as-
sic aliquis potest male uti virtute, puta, sim alguém pode fazer mau uso da vir-
cum male sentit de virtute, vel cum tude, por exemplo, quando tem uma
odit eam, vel superbit de ea. Alio modo má percepção da virtude, quando o-
tamquam principio elicitivo mali usus, deia ou se ensoberbece por causa dela.
ita quod sit malus actus elicitus a Outro modo, como princípio que pro-
virtute et hoc modo nullus potest male voca o mau uso, de tal maneira que
uti virtute. Est enim virtus habitus seja mau o ato resultante da virtude e,
semper inclinans ad bonum, quia deste modo, ninguém pode fazer mau
omnis virtus facit facultatem bene uso da virtude. Com efeito, a virtude é
operandi; et quaedam ulterius cum o hábito que sempre se inclina ao bem,
facultate bene operandi faciunt etiam porque toda a virtude confere a facul-
usum bonum, in quantum faciunt ut dade de agir bem; e, além disso, algu-
quis recte facultate utatur; cuiusmodi mas [virtudes], juntamente com a fa-
sunt virtutes quae respiciunt culdade de operar bem, também fazem
potentiam appetitivam; sicut iustitia o bom uso [do princípio operativo],
non solum facit quod homo sit enquanto fazem com que alguém use
promptae voluntatis ad iusta retamente a faculdade; e desta forma,
operandum, sed etiam facit ut iuste são as virtudes que se referem à potên-
operetur. cia apetitiva; como a justiça, que não
só faz que o homem tenha pronta von-
tade para realizar coisas justas, mas
também que aja por uma obra com
justiça.
17. Ad decimumseptimum dicendum, 17. Respondo dizendo que os máximos
quod solum maxima bona sunt quibus bens são os únicos dos quais nada se
nullus male utitur tamquam obiectis, faz mau uso como objetos, pois tais
cum talia sint propter se appetibilia, et [bens] são apetecíveis por causa de si e
a nullo possint odiri. Virtutibus autem, não podem ser odiados por nada. No
quae non sunt maxima bona, potest entanto, em relação às virtudes, que
quis male uti tamquam obiecto, ut não são bens máximos, alguém pode
supra dictum est; sed non potest eis fazer um mau uso enquanto objeto,
male uti tamquam principio elicitivo. como foi dito acima; mas não pode
Non autem oportet quod illud quo quis fazer um mau uso delas enquanto um
non potest male uti tamquam princípio de eleição. No entanto, não é
principio elicitivo mali usus, sit necessário que aquilo do qual alguém
maximum bonum. Potest etiam dici, não possa usar mal enquanto princípio
secundum Augustinum ibidem, quod de eleição de mal uso seja um bem
virtus inter maxima bona computatur, máximo. Com efeito, conforme tam-
in quantum per eam homo ad bém diz Agostinho no mesmo lugar37,
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summum bonum ordinatur, quod est a virtude se conta entre os bens máxi-
Deus; et propter hoc nullus virtute mos, enquanto por ela o homem se
male utitur. ordena ao sumo bem, que é Deus; e
por causa disso, ninguém usa mal a
virtude.
18. Ad decimumoctavum dicendum, 18. Respondo dizendo que assim como
quod sicut virtutes acquisitae augentur as virtudes adquiridas aumentam e se
et nutriuntur ex actibus per quos conservam pelos atos pelos quais são
causantur; ita virtutes infusae causadas; assim as virtudes infusas
augentur per actionem Dei, a quo aumentam pela ação de Deus, por
causantur. Actus autem nostri compa- Quem são causadas. No entanto, os
rantur ad augmentum caritatis et vir- nossos atos se relacionam com o au-
tutum infusarum ut disponentes; sicut mento da caridade e das virtudes infu-
ad caritatem a principio obtinendam sas como uma disposição; assim como
homo faciens quod in se est, praeparat para obter a caridade inicial, o homem
et disponit se ut a Deo recipiat carita- que faz o que está em si mesmo, se
tem: ulterius autem actus nostri pos- prepara e se dispõe para receber a ca-
sunt esse meritorii respectu augmenti ridade de Deus: mas, além disso, os
caritatis, quia praesupponunt carita- nossos atos podem ser meritórios em
tem, quae est principium merendi. Sed relação ao aumento da caridade, por-
nullus potest mereri quod principio que pressupõem a caridade, que é o
obtineat caritatem, quia meritum sine princípio do mérito. Ora, ninguém po-
caritate esse non potest. Ex quibus pa- de merecer o que obtém inicialmente
tet quod caritas et aliae virtutes infu- pela caridade, porque sem a caridade
sae non augentur active ex actibus, sed não pode haver mérito. A partir disso,
tantum dispositive et meritorie; active é evidente que a caridade e as outras
autem augentur per actionem Dei, qui virtudes infusas não são aumentas ati-
caritatem, quam prius infudit, perficit vamente pelos nossos atos, mas apenas
et conservat. ordenada e meritoriamente; enquanto
que aumentam ativamente pela ação
de Deus, Quem aperfeiçoa e conserva a
caridade que primeiro infundiu.
19. Ad decimumnonum dicendum est, 19. Respondo dizendo que o que im-
quod prohibens virtutem est pede a virtude é o pecado. No entanto,
peccatum. Liberum autem arbitrium o livre arbítrio sem a ação de Deus não
sine actione Dei non est per se é por si mesmo suficiente para remo-
sufficiens ad removendum peccatum: ver o pecado: porque só Deus é Quem
quia solus Deus est qui effective delet efetivamente tira as iniquidades e re-
iniquitates, et dimittit peccata. Quam- move os pecados. [É] o Espírito Santo
cumque etiam dispositionem vel prae- Quem move a mente do homem em
parationem seu conatum liberi arbitrii um grau maior ou menor, conforme a
praecedentem caritatem, praevenit Sua vontade, se antecipa a qualquer
spiritus sanctus movens mentem ho- disposição, ou preparação, ou o esfor-
minis vel plus vel minus secundum ço do livre arbítrio que precede a cari-
suam voluntatem. Remissio enim dade [inicial]. Com efeito, não há re-
peccati non fit sine gratia; unde ad missão do pecado sem a graça; por isso
Rom., III, 24: iustificati gratis per [se diz] em Rm 3, 24: [que] são justifi-
gratiam ipsius. cados gratuitamente por sua graça.
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20. Ad vicesimum dicendum est, quod 20. Respondo dizendo que a virtude
virtus infusa causatur in nobis a Deo infusa é causada por Deus em nós sem
sine nobis agentibus, non tamen sine nós como agentes, não, porém, sem o
nobis consentientibus; et sic Deus non nosso consentimento; e assim Deus
iustificat nos sine nobis não nos justifica sem o nosso consen-
consentientibus; quia per motum liberi timento; porque pelo movimento do
arbitrii, dum iustificamur, Dei iustitiae livre arbítrio, quando somos justifica-
consentimus. Ille tamen motus non est dos, consentimos à justiça de Deus. No
causa gratiae formaliter iustificantis, entanto, aquele movimento não é for-
sed eius effectus unde tota operatio malmente causa da graça justificante,
pertinet ad gratiam et ad Deum, qui mas o seu efeito, por isso toda a opera-
iustificando effective infundit gratiam. ção pertence à graça e a Deus, Quem
Illa vero quae per nos aguntur, ao justificar efetivamente infunde a
quorum nos sumus causa, ipse Deus graça. Na verdade, aquelas coisas que
causat in nobis non sine nobis são feitas por nós, das quais nós somos
agentibus: ipse enim operatur in omni causa, Deus mesmo as causa em nós
voluntate et in omni natura. não sem nós como agentes: pois o
mesmo opera em toda a vontade e em
toda a natureza.
21. Ad vicesimumprimum dicendum, 21. Respondo dizendo que a definição
quod definitio virtutis bene intellecta de virtude [de Agostinho] devidamente
non convenit gratiae. Nam gratia ad entendida não convém à graça. Pois a
primam speciem qualitatis reducitur; graça se reduz à primeira espécie de
nec tamen est habitus sicut virtus, quia qualidade, mas não é hábito como a
non immediate ordinatur ad virtude, porque não se ordena imedia-
operationem; sed est velut habitudo tamente à operação; mas é como um
quae dat quoddam esse spirituale et hábito a que se concede certo ser espi-
divinum ipsi animae, et ritual e divino à alma mesma e se pres-
praesupponitur virtutibus infusis sicut supõe nas virtudes infusas como o
earum principium et radix, et se habet princípio e raiz e se relaciona com a
ad essentiam animae sicut sanitas ad essência da alma como a saúde com o
corpus. Et ideo dicit Chrysostomus, corpo. E, por isso, diz Crisóstomo38que
quod gratia est sanitas mentis, nec a graça é a saúde da mente, e não se
computatur inter scientias, nec inter conta entre as ciências, nem entre as
virtutes, nec inter alias qualitates quas virtudes, nem entre outras qualidades
philosophi enumeraverunt, quia non que os filósofos enumeraram, porque
cognoverunt nisi illa accidentia animae não conheceram senão aqueles aciden-
quae ordinantur ad actus naturae tes da alma que se ordenam aos atos
humanae proportionatos. Virtus ergo proporcionados à natureza humana.
essentialiter est habitus; gratia vero Logo, a virtude essencialmente é hábi-
non est habitus, sed est quaedam su- to, porém a graça não é hábito, mas é
pernaturalis participatio divinae natu- certa participação sobrenatural da na-
rae, secundum quam divinae efficimur tureza divina, segundo a qual nos fa-
consortes naturae, ut dicitur I Petr., II, zemos consortes da natureza divina,
secundum cuius acceptionem dicimur como se diz em 1Pd 2: pela recepção da
regenerari in filios Dei. Unde sicut lu- qual nos dizemos regenerados como
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men naturale rationis est radix et prin- filhos de Deus. Por isso, assim como a
cipium virtutis acquisitae; ita ipsum luz natural da razão é a raiz e o princí-
lumen gratiae, quod est participatio pio da virtude adquirida; assim a
divinae naturae in ipsa essentia ani- mesma luz da graça, que é participação
mae per modum cuiusdam habilitatis da natureza divina na própria essência
existens, est principium et radix virtu- da alma, por um modo de certa apti-
tis infusae. Item virtus est bona quali- dão, é o princípio e a raiz da virtude
tas quae bonum facit habentem: haec infusa. Do mesmo modo, a virtude é
enim bonitas quam virtus confert ha- uma boa qualidade que torna bom
benti, est bonitas perfectionis in com- quem a possui: pois esta bondade que
paratione ad operationem, cuius est a virtude confere ao que a possui é a
immediatum principium. Sed bonitas bondade da perfeição em relação à o-
quam gratia confert animae, est boni- peração da qual é o princípio imediato.
tas perfectionis in comparatione non Ora, a bondade que a graça confere à
ad operationem immediate, sed ad alma é a bondade da perfeição, não em
quoddam spirituale et divinum esse, relação imediata com a operação, mas
secundum quod quodammodo gratiam com certo ser espiritual e divino, se-
habentes deiformes constituuntur; gundo o qual os que possuem a graça
propter quod, sicut filii, Deo grati di- são elevados, de certa forma, ao modo
cuntur. Unde bonum positum in defi- de ser de Deus; por isso que, como fi-
nitione virtutis dicitur secundum con- lhos [de Deus], se dizem gratos a Deus.
venientiam ad aliquam naturam prae- Por causa disso o “bom” posto na defi-
existentem, essentialem vel participa- nição [de Agostinho] se diz segundo a
tam. Tale autem bonum non attribui- conformidade a alguma natureza pree-
tur gratiae nisi sicut radici et principio xistente, essencial ou participada. No
talis bonitatis in homine. Mens etiam entanto, tal bem não se atribui à graça
iam in definitione virtutis posita dicit senão como à raiz e ao princípio de tal
potentiam animae, quae est subiectum bondade no homem. Também a mente
virtutis; potentia autem in definitione já enunciada na definição da virtude
gratiae importat essentiam animae, denota a potência da alma, que é o su-
quae est ipsius gratiae subiectum. Item jeito da virtude; mas a potência na de-
vivere positum in definitione virtutis finição da graça implica a essência da
importat operationem, cuius ipsa vir- alma, a qual é o sujeito da própria gra-
tus est immediatum principium; vivere ça. Do mesmo modo, o viver posto na
autem secundum quod attribuitur gra- definição da virtude implica a opera-
tiae, importat quoddam esse divinum, ção da qual a própria virtude é o prin-
cuius est immediatum principium; et cípio imediato; mas enquanto o viver
non dicit operationem, ad quam non se atribui à graça, implica certo ser
ordinatur nisi mediante virtute. Item, divino do qual é princípio imediato; e
virtus dicitur dispositio perfecti ad op- não designa uma operação, a qual não
timum, in quantum perficit potentiam se ordena senão mediante a virtude.
in ordine ad operationem, per quam Assim, a virtude se diz uma disposição
res suum finem consequitur. Sic autem do perfeito para o ótimo, enquanto
gratia non est dispositio perfecti ad aperfeiçoa a potência em ordem à ope-
optimum: tum quia non primo perficit ração, pela qual uma coisa alcança o
potentiam, sed essentiam; tum quia seu fim. No entanto, a graça não é uma
non respicit operationem sicut effec- disposição do perfeito para o ótimo
tum proximum; sed potius esse quod- dessa maneira: porque não aperfeiçoa,
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ARTICULUS 3 ARTIGO 3
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RESPONDEO RESPONDO
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modo sicut causa ad effectum; nam denomina forma. Terceiro modo, como
principia subiecta sunt principia per se a causa ao efeito; pois os princípios do
accidentis. Quantum igitur ad primum, sujeito são princípios do acidente por
unum accidens alterius subiectum esse si. Por conseguinte, enquanto ao pri-
non potest. Nam, cum nullum accidens meiro, um acidente não pode ser sujei-
per se subsistat, non potest alteri sus- to de outro. Pois, já que nenhum aci-
tentamentum praebere: nisi fortasse dente subsiste por si, não pode dar
dicatur, quod in quantum est a subiec- sustentação ao outro: a não ser que
to sustentatum, aliud accidens susten- talvez se diga que, enquanto é susten-
tat. Sed quantum ad alia duo, unum tado pelo sujeito, [um acidente] sus-
accidens se habet ad aliud per modum tente outro acidente. Ora, enquanto
subiecti: nam unum accidens est in aos outros dois modos, um acidente se
potentia ad alterum, sicut diaphanum relaciona com outro pelo modo do su-
ad lucem, et superficies ad colorem. jeito: pois um acidente está em potên-
Unum etiam accidens potest esse cau- cia em relação ao outro, como o diáfa-
sa alterius, ut humor saporis; et per no em relação à luz, e a superfície à
hunc modum dicitur unum accidens cor. Além disso, um acidente pode ser
alterius accidentis esse subiectum. causa de outro, como a umidade do
Non quod unum accidens possit alteri sabor; e por este modo se diz que um
accidenti sustentamentum praebere; acidente é sujeito de outro acidente.
sed quia subiectum est receptivum u- Não porque um acidente possa dar
nius accidentis altero mediante. Et per [por si] sustentação a outro acidente;
hunc modum dicitur potentia animae mas porque o sujeito é receptivo de um
esse habitus subiectum. Nam habitus acidente mediante outro. E por este
ad potentiam animae comparatur ut modo se diz que a potência da alma é o
actus ad potentiam; cum potentia sit sujeito do hábito. Com efeito, o hábito
indeterminata quantum est de se, et se relaciona com a potência da alma
per habitum determinetur ad hoc vel como o ato com a potência; pois a po-
illud. Ex principiis etiam potentiarum tência é indeterminada, enquanto o
habitus acquisiti causantur. Sic ergo que é por si, e se determina por hábito
dicendum est, potentias esse virtutum em relação a isto ou aquilo. Além dis-
subiecta; quia virtus animae inest, po- so, os hábitos adquiridos são causados
tentia mediante. pelos princípios das potências [da al-
ma]. Logo, assim se compreende que
as potências [da alma] são sujeitos das
virtudes: porque a virtude inere à alma
mediante a potência.
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ARTICULUS 4 ARTIGO 4
43 Outros lugares: S. Th., I-II, q. 56, aa. 4, 5 ad 1; III Sent., D. 38, q. 2, a. 4, q. 2; De Verit., q. 24,
a. 4, ad 9.
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1. Quia contraria nata sunt fieri circa 1. De fato, os contrários por natureza
idem. Virtuti autem contrarium est estão em relação ao mesmo. No entan-
peccatum mortale, quod non potest to, o contrário à virtude é o pecado
esse in sensualitate, cuius partes sunt mortal, que não pode estar na sensua-
irascibilis et concupiscibilis. Ergo iras- lidade, cujas partes são o irascível e o
cibilis et concupiscibilis subiectum concupiscível. Logo, o irascível e o
virtutis esse non possunt. concupiscível não podem ser sujeitos
da virtude.
2. Praeterea, eiusdem potentiae sunt 2. Além do mais, os hábitos e os atos
habitus et actus. Sed principalis actus são da mesma potência. Ora, o ato
virtutis est electio, secundum principal da virtude é a eleição, segun-
philosophum in Lib. Ethic., quae non do o Filósofo no livro da Ética44, que
potest esse actus irascibilis et concu- não pode ser ato do irascível e do con-
piscibilis. Ergo nec habitus virtutum cupiscível. Logo, nem os hábitos das
possunt esse in irascibili et concupis- virtudes podem estar no irascível e no
cibili. concupiscível.
3. Praeterea, nullum corruptibile est 3. Além do mais, nada corruptível é
subiectum perpetui; unde Augustinus sujeito do perpétuo; por isso Agosti-
probat animam esse perpetuam, quia nho prova que a alma é imortal, por-
est subiectum veritatis, quae est perpe- que é sujeito da verdade, que é perpé-
tua. Sed irascibilis et concupiscibilis, tua. Ora, o irascível e concupiscível,
sicut et ceterae potentiae sensitivae, como as outras potências sensitivas,
non remanent post corpus, ut quibus- não permanecem depois [da corrup-
dam videtur; virtutes autem manent. ção] do corpo, como parece a alguns;
Nam iustitia est perpetua et immorta- no entanto as virtudes permanecem.
lis, ut dicitur Sapient. I, v. 15; quod Pois a justiça é perpétua e imortal,
pari ratione de omnibus dici potest. como se diz em Sb 1, 15; que pela
Ergo irascibilis et concupiscibilis virtu- mesma razão se pode dizer em relação
tum subiectum esse non possunt. a todas [as virtudes]. Logo, o irascível
e o concupiscível não podem ser sujei-
tos das virtudes.
4. Praeterea, irascibilis et concupisci- 4. Além do mais, o irascível e o concu-
bilis habent organum corporale. Si er- piscível têm um órgão corporal. Logo,
go virtutes sunt in irascibili et concu- se as virtudes estão no irascível e no
piscibili, sunt in organo corporali. Ergo concupiscível, estão em um órgão cor-
possunt apprehendi per imaginatio- poral. Logo, podem ser apreendidas
nem vel phantasiam; et sic non sunt pela imaginação ou fantasia; e assim
sola mente perceptibiles; ut Augusti- não são só perceptíveis pela mente;
nus dicit de iustitia, quod est rectitudo como diz Agostinho sobre a justiça,
sola mente perceptibilis. que é uma retidão só perceptível pela
mente.
5. Sed dicendum, quod irascibilis et 5. Ora, mas se diz que o irascível e o
concupiscibilis possunt esse subiectum concupiscível podem ser sujeitos da
virtutis, in quantum participant ali- virtude, enquanto participam de algu-
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qualiter, ratione.- Sed contra, irascibi- ma maneira pela razão. Mas ao contrá-
lis et concupiscibilis dicuntur ratione rio, se diz que o irascível e o concupis-
participare, in quantum a ratione or- cível participam da razão, enquanto
dinantur. Sed ordo rationis non potest são ordenados pela razão. Ora, a or-
virtuti sustentamentum praebere, cum dem da razão não pode dar sustenta-
non sit quid subsistens. Ergo nec in ção à virtude, por não ser algo subsis-
quantum ratione participant, possunt tente. Logo, nem enquanto o irascível e
irascibilis et concupiscibilis esse virtu- o concupiscível participam da razão
tis subiectum. podem ser sujeito da virtude.
6. Praeterea, sicuti irascibilis et 6. Além do mais, assim como o irascí-
concupiscibilis, quae pertinent ad vel e o concupiscível, que pertencem
sensibilem appetitum, subserviunt ao apetite sensitivo, obedecem à razão;
rationi; ita et potentiae apprehensivae assim também as potências de apreen-
et sensitivae. Sed in nulla são e de sensação. Ora, em nenhuma
apprehensiva potentiarum das [potências] de apreensão entre as
sensitivarum potest esse virtus. Ergo [que pertencem] às potências sensiti-
nec in irascibili et concupiscibili. vas pode haver virtude. Logo, nem no
irascível e no concupiscível.
7. Praeterea, si ordo rationis 7. Além do mais, se a ordem da razão
participari potest in irascibili et pode participar no irascível e no con-
concupiscibili, poterit minui rebellio cupiscível, poderá diminuir a rebelião
sensualitatis, quae has duas vires pela razão da sensualidade, que com-
continet ad rationem. Sed rebellio preende estas duas capacidades. Ora, a
praedicta non est infinita, cum dita rebelião não é infinita, porque a
sensualitas sit virtus finita, et virtutis sensualidade é uma capacidade finita,
finitae non possit esse actio infinita. e de uma capacidade finita não pode
Ergo poterit totaliter tolli praedicta haver um ação infinita. Logo, a dita
rebellio; omne enim finitum rebelião poderá ser totalmente supri-
consumitur multoties ablato quodam, mida; pois todo finito muitas vezes se
ut patet per philosophum in I Physic.; reduz ao tirar algo, como mostra o Fi-
et sic sensualitas in hac vita possit lósofo no livro I da Física45; e assim a
totaliter curari. Quod est impossibile. sensualidade poderia ser totalmente
curada nesta vida. O que é impossível.
8. Sed dicendum, quod Deus, qui 8. Mas se diz que Deus, Quem infunde
virtutem infundit, posset totaliter a virtude, poderia retirar totalmente a
praedictam rebellionem auferre; sed ex dita rebelião; mas é por nossa parte
parte nostra est quod non totaliter que não deixa totalmente suprimida.
auferatur.- Sed contra, homo est id Mas ao contrário, o homem é o que é
quod est in quantum est rationalis; enquanto é racional; por causa disso se
cum ex hoc speciem sortiatur. Quanto determina a espécie. Por conseguinte,
igitur id quod est in homine, magis na medida em que o que há no homem
rationi subiicitur; tanto magis mais se submete à razão; tanto mais
competit humanae naturae. Maxime lhe compete à natureza humana. No
autem subiicerentur inferiores vires entanto, as capacidades inferiores da
animae rationi si praedicta rebellio alma se submeteriam maximamente à
totaliter tolleretur. Ergo hoc esset razão se a dita rebelião fosse totalmen-
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bona est lex, quae dum concupiscenti- sa: boa é a lei que quando proíbe a
am prohibet, omne malum prohibet. concupiscência, proíbe todo o mal.
Omnia ergo vitia ad concupiscibilem Logo, todos os vícios pertencem à con-
pertinent, cuius est concupiscentia. cupiscível, da qual a concupiscência é
Sed in eodem, sunt virtutes et vitia. própria. Ora, no mesmo estão as virtu-
Ergo virtutes non sunt in irascibili, sed des e os vícios. Logo, as virtudes não
in concupiscibili ad minus. estão no irascível, mas ao menos [es-
tão] no concupiscível.
RESPONDEO RESPONDO
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quaestionem istam partim ab omnibus essa questão todas [as posições] são
convenitur, et partim opiniones sibi convenientes, e em parte as opiniões se
invicem repugnant. Ab omnibus enim opõem entre si. Com efeito, é aceito
conceditur aliquas virtutes in irascibili por todos que há algumas virtudes no
et concupiscibili esse, sicut temperan- irascível e no concupiscível, como a
tiam in concupiscibili et fortitudinem temperança no concupiscível e a forta-
in irascibili; sed in hoc est differentia. leza no irascível; mas nisto está a dife-
Quidam enim distinguunt duplicem rença. Pois, alguns distinguem em du-
irascibilem et concupiscibilem esse; in as partes o irascível e o concupiscível:
superiori parte animae, et iterum in na parte superior da alma, e, por outro
inferiori. Dicunt enim, quod irascibilis lado, na inferior. Com efeito, dizem
et concupiscibilis quae sunt in superio- que o irascível e o concupiscível, que
ri parte animae, cum ad naturam rati- estão na parte superior da alma, en-
onalem pertineant, possunt esse subi- quanto pertencem à natureza racional,
ectum virtutis; non tamen illae quae podem ser sujeito da virtude; no en-
sunt in inferiori parte ad naturam sen- tanto, aqueles que estão na parte infe-
sualem et brutalem pertinentes. Sed rior pertencem à natureza sensitiva e
hoc quidem in alia quaestione discus- do bruto. Ora, certamente isto foi dis-
sum est; utrum scilicet in superiori cutido em outra questão, a saber, se na
parte animae possint distingui duae parte superior da alma podem se dis-
vires, quarum una sit irascibilis et alia tinguir duas capacidades, das quais
concupiscibilis, proprie loquendo. Sed, uma seja irascível e uma outra concu-
quidquid de hoc dicatur, nihilominus piscível, propriamente falando. Ora,
in irascibili et concupiscibili quae sunt [seja] qualquer coisa que se diga sobre
in inferiori appetitu, secundum philo- isto, enquanto no irascível e no concu-
sophum in III Ethic., oportet ponere piscível que estão no apetite inferior,
esse aliquas virtutes, ut etiam alii di- segundo o Filósofo no livro III da Éti-
cunt: quod quidem sic patet. Cum e- ca50, é necessário afirmar que há al-
nim virtus, ut supra dictum est, nomi- gumas virtudes, como também outros
net quoddam potentiae complemen- dizem: o que certamente é evidente
tum, potentia autem ad actum respici- desta forma. Com efeito, enquanto a
at; oportet humanam virtutem in illa virtude, como foi dito acima, designa
potentia ponere quae est principium um certo complemento da potência, e
actus humani. Actus autem humanus a potência se ordena ao ato; é necessá-
dicitur qui non quocumque modo in rio estabelecer que a virtude humana
homine vel per hominem exercetur; naquela potência é princípio do ato
cum in quibusdam etiam plantae, bru- humano. No entanto, se diz que o ato
ta et homines conveniant; sed qui ho- humano não é exercido de qualquer
minis proprius est. Inter cetera vero modo no homem ou pelo homem; por-
hoc habet homo proprium in suo actu, que também certos [atos] convêm às
quod sui actus est dominus. Quilibet plantas, aos brutos e aos homens; em-
igitur actus cuius homo dominus est, bora seja próprio do homem. De fato,
est proprie actus humanus; non autem entre os demais [viventes] o homem
illi quorum homo non est dominus, tem isto de próprio em seu ato: que é
licet in homine fiant, ut digerere, et senhor dos seus atos. Por consequên-
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actus virtutis vel principalior pars ex- como se por estas [potências] se com-
pleatur; sed in quantum, per virtutis pletasse inteiramente o ato da virtude
habitum, ultimum complementum ou sua parte principal; mas enquanto,
bonitatis actui virtutis confertur: in pelo hábito da virtude, se confere o
hoc scilicet quod irascibilis et concu- último complemento da bondade do
piscibilis absque difficultate sequantur ato da virtude: a saber, que o irascível
ordinem rationis. e o concupiscível sigam sem dificulda-
de a ordem da razão.
3. Ad tertium dicendum, quod 3. Respondo dizendo que suposto que
supposito quod irascibilis et o irascível e o concupiscível não per-
concupiscibilis non remaneant actu in maneçam no ato na alma separada,
anima separata, manent tamen in ea permanece, porém, nela como em sua
sicut in radice: nam essentia animae raiz; pois a essência da alma é a raiz
est radix potentiarum. Et similiter das potências. E de um modo seme-
virtutes quae ascribuntur irascibili et lhante, as virtudes que se atribuem ao
concupiscibili, manent in ratione sicut irascível e ao concupiscível permane-
in radice. Nam ratio est radix omnium cem na razão como em sua raiz. Pois a
virtutum, ut postea ostendetur. razão é a raiz de todas as virtudes, co-
mo depois se mostrará.
4. Ad quartum dicendum, quod in 4. Respondo dizendo que nas formas
formis invenitur quidam gradus. Sunt se encontram certos graus. Com efeito,
enim quaedam formae et virtutes tota- algumas formas e virtudes são total-
liter ad materiam depressae, quarum mente dependentes da matéria, da
omnis actio materialis est; ut patet in qual todo ato é material; como se mos-
formis elementaribus. Intellectus vero tra nas formas elementares. Contudo,
est totaliter a materia liber; unde et o intelecto é totalmente livre da maté-
eius operatio est absque corporis ria; por isso também a sua operação se
communione. Irascibilis autem et con- realiza sem uma comunhão com o cor-
cupiscibilis medio modo se habent. po. No entanto, o irascível e o concu-
Quod enim organo corporali utantur, piscível estão na parte mediana. Com
ostendit corporalis transmutatio, quae efeito, por usarem do órgão corporal,
earum actibus adiungitur; quod iterum evidencia a mutação corporal, que a-
sint aliquo modo a materia elevatae, companha os seus atos; porque, às ve-
ostenditur per hoc quod per imperium zes, de algum modo são elevados aci-
moventur et quod obediunt rationi. Et ma da matéria, o que manifesta que
sic in eis est virtus, id est in quantum são movidos pelo império [racional] e
elevatae sunt a materia, et rationi que obedecem à razão. E assim neles
obediunt. há virtude, isto é, enquanto estão aci-
ma da matéria e obedecem à razão.
5. Ad quintum dicendum, quod licet 5. Respondo dizendo que ainda que a
ordo rationis quo irascibilis et ordem da razão, da qual o irascível e o
concupiscibilis participant, non sit concupiscível participam, não seja algo
aliquid subsistens, nec per se possit subsistente, nem possa ser sujeito por
esse subiectum; potest tamen esse si; contudo pode ser a razão pela qual
ratio quare aliquid sit subiectum. algo seja sujeito.
6. Ad sextum dicendum, quod virtutes 6. Respondo dizendo que as capacida-
sensitivae cognitivae sunt naturaliter des sensitivas cognoscitivas são natu-
praeviae rationi, cum ab eis ratio ralmente prévias à razão [em exercício
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accipiat; appetitivae autem sequuntur dos seus atos], pois a razão as recebe
naturaliter ordinem rationis cum através delas; no entanto as [potên-
naturaliter appetitus inferior superiori cias] apetitivas [sensitivas] seguem
obediat; et ideo non est simile. naturalmente a ordem da razão, pois
por natureza o apetite inferior obedece
ao superior; e por isso não há seme-
lhança.
7. Ad septimum dicendum, quod tota 7. Respondo dizendo que toda rebelião
rebellio irascibilis et concupiscibilis ad do irascível e do concupiscível relativa
rationem tolli non potest per virtutem; à razão não pode ser eliminada pela
cum ex ipsa sui natura irascibilis et virtude; porque por sua própria natu-
concupiscibilis in id quod est bonum reza o irascível e o concupiscível [ten-
secundum sensum, quandoque rationi dem] ao que é bom segundo o sentido,
repugnet; licet hoc possit fieri divina e, às vezes, se opõe à razão; ainda que
virtute, quae potens est etiam naturas isto pudesse realizar-se pela virtude
immutare. Nihilominus tamen per divina, a qual tem também o poder de
virtutem minuitur illa rebellio, in mudar as naturezas. Contudo aquela
quantum praedictae vires assuefiunt ut rebelião diminui através da virtude,
rationi subdantur; ut sic ex extrinseco enquanto as ditas faculdades se habi-
habeant id quod ad virtutem pertinet, tuam a submeter-se à razão; de tal
scilicet ex dominio rationis super eas; modo que tem aquilo que pertence à
ex seipsis autem retineant aliquid de virtude por algo extrínseco, a saber, a
motibus propriis, qui quandoque sunt partir do domínio da razão sobre as
contrarii rationi. mesmas; no entanto conservam de si
mesmas algo dos movimentos próprios
que algumas vezes são contrários à
razão.
8. Ad octavum dicendum, quod licet 8. Respondo dizendo que ainda que,
quandoque in homine principium sit às vezes, no homem o principal seja o
quod est rationis; tamen ad que pertença à razão; no entanto para
integritatem humanae naturae a integridade da natureza humana não
requiritur non solum ratio, sed apenas é requerida a razão, mas as ca-
inferiores animae vires, et ipsum pacidades inferiores da alma e o pró-
corpus. Et ideo ex conditione humanae prio corpo. E por isso, pela condição
naturae sibi relictae provenit ut in da natureza humana deixada a ela
inferioribus animae viribus aliquid sit mesma, provém que nas capacidades
rationi rebellans, dum inferiores vires inferiores da alma haja algo que se re-
animae proprios motus habent. Secus bele à razão, enquanto que as faculda-
autem est in statu innocentiae et des inferiores da alma têm os seus mo-
gloriae, cum ex coniunctione ad Deum vimentos próprios. No entanto, ocorre
ratio sortitur vim totaliter sub se de forma diferente no estado de ino-
inferiores vires continendi. cência e de glória, porque pela união
com Deus, a razão obtém a força para
totalmente conter sob si as capacida-
des inferiores.
9. Ad nonum dicendum, quod 9. Respondo dizendo que detestar o
detestari malum, secundum quod ad mal, enquanto se diz que pertence ao
irascibilem pertinere dicitur, non irascível, não só implica apartar-se do
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ARTICULUS 5 ARTIGO 5
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propinqua rationi quam irascibilis et razão; enquanto que [é] mais próxima
concupiscibilis. Cum igitur irascibilis à razão que o irascível e o concupiscí-
et concupiscibilis sint subiecta virtu- vel. Portanto, como o irascível e o con-
tum, videtur quod multo fortius volun- cupiscível são objetos das virtudes,
tas. parece que com maior razão é a vonta-
de.
RESPONDEO RESPONDO
Respondeo. Dicendum, quod per habi- Respondo dizendo que, por hábito da
tum virtutis potentia quae ei subiici- virtude, a potência que está sujeita re-
tur, respectu sui actus complementum cebe o complemento do seu ato. Por
acquirit. Unde ad id ad quod potentia isso, para que alguma potência se in-
aliqua se extendit ex ipsa ratione cline a partir da mesma natureza da
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appetitivam pertineant, tamen non e a justiça. Cujo sinal é que, ainda que
circa passiones consistunt, sicut essas virtudes pertençam à [parte] a-
temperantia et fortitudo: unde patet petitiva, porém, não se referem às pai-
quod non sunt in sensibili appetitu, in xões, como a temperança e a fortaleza:
quo sunt passiones, sed in appetitu por isso é evidente que não estão no
rationali, qui est voluntas, in quo apetite sensível, onde estão as paixões,
passiones non sunt. Nam omnis passio mas no apetite racional, que é a vonta-
est in parte animae sensitiva, ut de, na qual não estão as paixões. Com
probatur in VII Physic. Illae autem efeito, toda paixão está na parte sensi-
virtutes quae circa passiones consis- tiva da alma, como se prova no livro
tunt, sicut fortitudo circa timores et VII da Física63. No entanto, é necessá-
audacias, et temperantia circa concu- rio que, por essa mesma razão, estejam
piscentias, oportet eadem ratione esse no apetite sensitivo aquelas virtudes
in appetitu sensitivo. Nec oportet quod que se referem às paixões, como a for-
ratione istarum passionum sit aliqua taleza em relação aos temores e às au-
virtus in voluntate quia bonum in istis dácias, a temperança em relação às
passionibus est quod est secundum concupiscências. Não é necessário que
rationem. Et ad hoc naturaliter se ha- por razão dessas paixões haja alguma
bet voluntas ex ratione ipsius potenti- virtude na vontade, porque o bem nes-
ae, cum sit proprium obiectum volun- sas paixões é o que é conforme a razão.
tatis. E a vontade se relaciona por natureza
com isso pela natureza da sua própria
potência, porque é o objeto próprio da
vontade.
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tus prudentiae, quo homo et se et alios dade ativa é o ato da prudência, pelo
gubernat. Aliquid autem est in qual o homem se governa a si e aos
felicitate sicut perfectivum felicitatis; outros. Contudo, na felicidade há algo
scilicet delectatio, quae perficit de certo modo perfectivo da felicidade;
felicitatem, sicut decor iuventutem, ut isto é, a deleitação, que aperfeiçoa a
dicitur in X Ethic.: et hoc pertinet ad felicidade, como a beleza à juventude,
voluntatem; et in ordine ad hoc perficit como se diz no livro X da Ética65: e
voluntatem caritas, si loquamur de isso pertence à vontade; e a caridade
felicitate caelesti, quae sanctis aperfeiçoa a vontade em relação a isso
repromittitur. Si autem loquamur de mesmo, se falamos da felicidade celes-
felicitate contemplativa, de qua philo- te, a qual é prometida aos santos. No
sophi tractaverunt, ad huiusmodi de- entanto, se falamos da felicidade con-
lectationem voluntas naturali deside- templativa, da qual trataram os filóso-
rio ordinatur. Et sic patet quod non fos, a vontade se ordena a deleitação,
oportet omnes virtutes esse in desta forma, pelo desejo natural. E
voluntate. assim é evidente que não é necessário
que todas as virtudes estejam na von-
tade.
9. Ad nonum dicendum, quod 9. Respondo dizendo que pela vontade
voluntate recte vivitur et peccatur sicut se vive com retidão e se peca, como por
imperante omnes actus virtutum et aquilo que impera todos os atos das
vitiorum; non autem sicut eliciente; virtudes e dos vícios; mas não como
unde non oportet quod voluntas sit pelo que produz; por isso não é neces-
proximum subiectum cuiuslibet sário que a vontade seja o sujeito pró-
virtutis. ximo de qualquer virtude.
10. Ad decimum dicendum, quod 10. Respondo dizendo que todo peca-
peccatum omne est in voluntate sicut do está na vontade como em sua causa,
in causa, in quantum omne peccatum enquanto todo pecado se realiza por
fit ex consensu voluntatis; non tamen consentimento da vontade; no entanto,
oportet quod omne peccatum sit in é necessário que todo pecado esteja na
voluntate sicut in subiecto; sed sicut vontade como no sujeito; mas como a
gula et luxuria sunt in concupiscibili, gula e a luxúria estão no concupiscível,
ita et superbia in irascibili. assim também a soberba no irascível.
11. Ad undecimum dicendum, quod ex 11. Respondo dizendo que pela proxi-
propinquitate voluntatis ad rationem midade da vontade com a razão ocorre
contingit quod voluntas secundum que, segundo a sua mesma natureza
ipsam rationem potentiae consonet como potência, a vontade é conforme a
rationi; et ideo non indiget ad hoc razão; e por isso não necessita para
habitu virtutis super inducto, sicut isso de um hábito da virtude acrescen-
inferiores potentiae, scilicet irascibilis tado, como [o necessitam] as potências
et concupiscibilis. inferiores, isto é, o irascível e o concu-
piscível.
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ARTICULUS 6 ARTIGO 6
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cat, quanto magis recedit a virtute. Sed peca, mais se afasta da virtude. Ora, o
recessus a perfectione practici intellec- distanciar da perfeição do intelecto
tus diminuit peccatum; ignorantia e- prático diminui o pecado; pois a igno-
nim excusat vel a tanto, vel a toto. Er- rância escusa ou uma parte ou o todo.
go perfectio practici intellectus non Logo, a perfeição do intelecto prático
potest esse virtus. não pode ser a virtude.
4. Praeterea, virtus secundum Tulli- 4. Além do mais, segundo Túlio68, a
um, agit in modum naturae. Sed mo- virtude age no modo da natureza. Ora,
dus agendi naturae opponitur contra o modo do agir da natureza se opõe ao
modum agendi rationis, sive practici modo do agir da razão, ou do intelecto
intellectus; quod patet in II Physic., prático; o que se mostra no livro II da
ubi dividitur agens a natura contra Física69, onde se distingue o agente
agens a proposito. Ergo videtur quod natural do agente [que age] por um
in practico intellectu non sit virtus. propósito. Logo, parece que no intelec-
to prático não há virtude.
5. Praeterea, bonum et verum 5. Além do mais, o bem e a verdade se
formaliter differunt secundum diferenciam formalmente segundo ra-
proprias rationes. Sed differentia zões próprias. Ora, a diferença formal
formalis obiectorum diversificat dos objetos diversifica os hábitos. Por-
habitus. Cum igitur virtutis obiectum tanto, como o objeto da virtude é o
sit bonum, practici autem intellectus bem, e a perfeição do intelecto prático
perfectio sit verum, tamen ordinatum é a verdade, mas ordenada à operação;
ad opus; videtur quod perfectio parece que a perfeição do intelecto
practici intellectus non sit virtus. prático não é a virtude.
6. Praeterea, virtus, secundum 6. Além do mais, segundo o Filósofo
philosophum in II Ethic., est habitus no livro II da Ética70, a virtude é um
voluntarius. Sed habitus intellectus hábito voluntário. Ora, os hábitos do
practici differunt ab habitibus intelecto prático diferem dos hábitos
voluntatis vel appetitivae partis. Ergo da vontade ou da parte apetitiva. Logo,
habitus qui sunt in intellectu practico, os hábitos que estão no intelecto práti-
non sunt virtutes; et sic intellectus co não são virtudes; e assim o intelecto
practicus non potest esse subiectum prático não pode ser o sujeito da virtu-
virtutis. de.
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RESPONDEO RESPONDO
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et sic est in omnibus aliis brutis versas operações; e isso por causa da
considerare. Homo autem est multa- nobreza do seu princípio ativo, a saber,
rum operationum et diversarum; et a alma, cuja capacidade se estende de
hoc propter nobilitatem sui principii certo modo ao infinito. E por isso não
activi, scilicet animae, cuius virtus ad seria suficiente para o homem o apeti-
infinita quodammodo se extendit. Et te natural do bem, nem o juízo natural
ideo non sufficeret homini naturalis para agir retamente, a não ser que se
appetitus boni, nec naturale iudicium determine e se aperfeiçoe mais am-
ad recte agendum, nisi amplius plamente. De fato, pelo apetite natural
determinetur et perficiatur. Per o homem se inclina a apetecer o pró-
naturalem siquidem appetitum homo prio bem; mas como este se diversifica
inclinatur ad appetendum proprium de muitas maneiras, e o bem do ho-
bonum; sed cum hoc multipliciter mem consiste em muitas coisas; não
varietur, et in multis bonum hominis pode se inserir no homem o apetite
consistat; non potuit homini inesse natural deste bem determinado, se-
naturalis appetitus huius boni gundo todas as condições que se re-
determinati, secundum conditiones querem para que seja o seu bem; por-
omnes quae requiruntur ad hoc quod que este varia de muitas maneiras con-
sit ei bonum; cum hoc multipliciter forme as diversas condições das pesso-
varietur secundum diversas as, dos tempos, dos lugares e de outras
conditiones personarum et temporum coisas semelhantes. E pela mesma ra-
et locorum, et huiusmodi. Et eadem zão [tampouco pode haver no homem
ratione naturale iudicium; quod est algum] juízo natural; que seja unifor-
uniforme, et ad huiusmodi bonum me, e insuficiente para procurar tal
quaerendum non sufficit; unde [classe de] bem; por isso no homem foi
oportuit in homine per rationem, cuius necessário encontrar e julgar o próprio
est inter diversa conferre, invenire et bem, determinado conforme todas as
diiudicare proprium bonum, condições, enquanto ser buscado aqui
secundum omnes conditiones e agora, através da razão pela qual lhe
determinatum, prout est nunc et hic é próprio discernir entre coisas diver-
quaerendum. Et ad hoc faciendum sas. E para realizar isto, sem um hábito
ratio absque habitu perficiente hoc que a aperfeiçoe, a razão [prática] se
modo se habet sicut et in speculativo encontra do mesmo modo como a ra-
se habet ratio absque habitu scientiae zão no [domínio] especulativo, sem o
ad diiudicandum de aliqua conclusione hábito de alguma ciência; o que certa-
alicuius scientiae; quod quidem non mente não pode realizar senão imper-
potest nisi imperfecte et cum feitamente e com dificuldade. Portan-
difficultate agere. Sicut igitur oportet to, assim como é necessário que a ra-
rationem speculativam habitu zão especulativa seja aperfeiçoada pelo
scientiae perfici ad hoc quod recte hábito da ciência para julgar retamen-
diiudicet de scibilibus ad scientiam te acerca do cognoscível relativo a al-
aliquam pertinentibus; ita oportet guma ciência; assim é necessário que a
quod ratio practica perficiatur aliquo razão prática seja aperfeiçoada por
habitu ad hoc quod recte diiudicet de algum hábito para que julgue retamen-
bono humano secundum singula te acerca do bem humano, segundo a
agenda. Et haec virtus dicitur singularidade do agir. E esta virtude se
prudentia, cuius subiectum est ratio chama prudência cujo sujeito é a razão
practica; et est perfectiva omnium prática; e é perfectiva de todas as vir-
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virtutum moralium quae sunt in parte tudes morais que estão na parte apeti-
appetitiva, quarum unaquaeque facit tiva, cada uma das quais realiza a in-
inclinationem appetitus in aliquod clinação do apetite em algum gênero
genus humani boni: sicut iustitia facit do bem humano: como a justiça causa
inclinationem in bonum quod est a inclinação ao bem que é a igualdade
aequalitas pertinentium ad relativa à comunicação [dos homens]
communicationem vitae; temperantia na vida; a temperança ao bem que é o
in bonum quod est refrenari a conter-se nas concupiscências e assim
concupiscentiis; et sic de singulis acerca da singularidade das virtudes.
virtutibus. Unumquodque autem No entanto, acontece que cada uma
horum contingit multipliciter fieri, et dessas coisas se faz de muitas manei-
non eodem modo in omnibus; unde ad ras, e não do mesmo modo em todos
hoc quod rectus modus statuatur, [os homens]; por isso, para que se es-
requiritur iudicii prudentia. Et ita ab tabeleça o modo reto, se requer a pru-
ipsa est rectitudo et complementum dência do juízo. E dessa forma, pelo
bonitatis in omnibus aliis virtutibus; mesmo [motivo] se dá a retidão e a
unde philosophus dicit quod medium consumação da bondade em todas as
in virtute morali determinatur outras virtudes; por isso diz o Filósofo
secundum rationem rectam. Et quia ex que na virtude moral o meio se deter-
hac rectitudine et bonitatis mina conforme a reta razão. E porque
complemento omnes habitus appetitivi a partir desta retidão e consumação,
virtutis rationem sortiuntur, inde est todos os hábitos apetitivos adquirem a
quod prudentia est causa omnium índole da virtude, então a prudência é
virtutum appetitivae partis, quae a causa de todas as virtudes da parte
dicuntur morales in quantum sunt apetitiva, as quais se dizem morais
virtutes; et propterea dicit Gregorius in enquanto são virtudes; e por causa
XXII Moral., quod ceterae virtutes, disso diz Gregório no livro XXII da
nisi ea quae appetunt, prudenter Moral71 que as demais virtudes, a não
agant, virtutes esse nequaquam ser que aquilo a que apeteçam o façam
possunt. prudentemente, não podem ser virtu-
des de nenhum modo.
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et appetitivae: quae quidem duo hoc tiva: estas duas [partes da alma] se
modo se habent, quod utraque ad relacionam certamente de tal modo
actum alterius operatur; sicut voluntas que ambas operam para o ato da outra;
vult intellectum intelligere, et como a vontade quer que o intelecto
intellectus intelligit voluntatem velle. entenda, e o intelecto entende o que a
Et ideo haec duo, bonum et verum, se vontade quer. E por isso estes dois ob-
invicem includunt: nam bonum est jetos, o bem e a verdade, se incluem
quoddam verum, in quantum est ab reciprocamente: pois o bem é certa
intellectu apprehensum; prout scilicet verdade, enquanto é apreendido pelo
intellectus intelligit voluntatem velle intelecto; a saber, enquanto que o inte-
bonum, vel etiam in quantum intelligit lecto entende que a vontade quer o
aliquid esse bonum; similiter etiam et bem, ou também enquanto entende
ipsum verum est quoddam bonum algo que é bom. E, além disso, de mo-
intellectus, quod etiam sub voluntate do semelhante, a própria verdade é um
cadit, in quantum homo vult certo bem do intelecto, o que também
intelligere verum. Nihilominus tamen fica [compreendido] sob a vontade,
verum intellectus practici est bonum, enquanto, o homem queira entender a
quod et finis operationis: bonum enim verdade. Mas, por outro lado, a verda-
non movet appetitum, nisi in quantum de do intelecto prático é o bem, o qual
est apprehensum. Ideo nihil prohibet [é] também o fim da operação; pois o
in intellectu practico esse virtutem. bem não move o apetite, senão en-
quanto é apreendido. Por isso nada
impede que haja virtude no intelecto
prático.
6. Ad sextum dicendum, quod 6. Respondo dizendo que o Filósofo,
philosophus in II Ethic., definit no livro II da Ética73, define a virtude
virtutem moralem: de virtute enim moral; pois sobre a virtude intelectual
intellectuali determinat in VI Ethic. expõe no livro VI da Ética74. No entan-
Virtus autem quae est in intellectu to, a virtude que está no intelecto prá-
practico, non est moralis, sed tico, não é a moral, mas a intelectual:
intellectualis: nam etiam prudentiam pois também o Filósofo coloca a pru-
inter virtutes intellectuales dência entre as virtudes intelectuais, o
philosophus ponit, ut patet in II Ethic. que se mostra no livro II da Ética75.
ARTICULUS 7 ARTIGO 7
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cum sit eius obiectum veritas prima. pois o seu sujeito é a verdade primeira.
Sed fides est virtus. Ergo intellectus Ora, a fé é uma virtude. Logo, o inte-
speculativus potest esse subiectum lecto especulativo pode ser sujeito da
virtutis. virtude.
2. Praeterea, verum et bonum sunt 2. Além do mais, o verdadeiro e o bom
aeque nobilia. Nam se invicem circu- são igualmente nobres. Com efeito, se
meunt; nam verum est quoddam bo- implicam reciprocamente; pois a ver-
num, et bonum est quoddam verum: et dade é certo bem, e o bem é certa ver-
utrumque commune omni enti. Si igi- dade: e ambos [são] comuns a todo
tur in voluntate, cuius obiectum est ente. Por consequência, se na vontade,
bonum, potest esse virtus; ergo et in cujo objeto é o bem, pode haver virtu-
intellectu speculativo, cuius obiectum de; logo, também no intelecto especu-
est verum, poterit esse virtus. lativo cujo objeto é a verdade, poderá
haver virtude.
RESPONDEO RESPONDO
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prie sicut primi habitus. Sciendum est razão de bem; pelo qual também po-
autem, quod intellectus tam speculati- dem ser chamados de algum modo de
vus quam practicus potest perfici du- virtudes, mas não de uma maneira
pliciter aliquo habitu. Uno modo abso- própria como os hábitos primeiros. No
lute et secundum se, prout praecedit entanto, deve-se saber que tanto o in-
voluntatem, quasi eam movens; alio telecto especulativo quanto o prático
modo prout sequitur voluntatem, qua- podem ser aperfeiçoados por algum
si ad imperium actum suum eliciens: hábito de dois modos. Um modo, [o
quia, ut dictum est, istae duae potenti- intelecto é aperfeiçoado] absolutamen-
ae, scilicet intellectus et voluntas, se te e segundo o mesmo, enquanto pre-
invicem circumeunt. Illi igitur habitus cede a vontade, como que a movendo;
qui sunt in intellectu practico vel spe- de outro modo, enquanto se segue à
culativo, primo modo, possunt dici vontade, como produzindo o seu ato
aliquo modo virtutes, licet non ita se- pelo o império [da vontade]; porque,
cundum perfectam rationem; et hoc como foi dito, estas duas potências, a
modo intellectus scientia et sapientia, saber, o intelecto e a vontade, se impli-
sunt in intellectu speculativo, ars vero cam reciprocamente. Portanto, aqueles
in intellectu practico. Dicitur enim ali- hábitos que estão no intelecto prático
quis intelligens vel sciens secundum ou especulativo, no primeiro modo,
quod eius intellectus perfectus est ad podem chamar-se de algum modo vir-
cognoscendum verum; quod quidem tudes, ainda que, desta forma, não se-
est bonum intellectus. Et licet istud gundo a razão perfeita da virtude; e
verum possit esse volitum, prout homo deste modo, a ciência e a sabedoria
vult intelligere verum; non tamen estão no intelecto especulativo, en-
quantum ad hoc perficiuntur habitus quanto que a arte está no intelecto prá-
praedicti. Non enim ex hoc quod homo tico. Com efeito, se diz que alguém é
habet scientiam, efficitur volens consi- inteligente ou sábio enquanto que o
derare verum, sed solummodo potens; seu intelecto está perfeito para conhe-
unde et ipsa veri consideratio non est cer o verdadeiro; o qual certamente é o
scientia in quantum est volita, sed se- bem do intelecto. E ainda que esse
cundum quod directe tendit in obiec- verdadeiro possa ser querido, na me-
tum. Et similiter est de arte respectu dida em que o homem queira entender
intellectus practici; unde ars non perfi- o verdadeiro; mas não enquanto os
cit hominem ex hoc quod bene velit ditos hábitos são aperfeiçoados. Com
operari secundum artem, sed solum- efeito, não [é] porque o homem tem a
modo ad hoc quod sciat et possit. Ha- ciência que se faz capaz de querer con-
bitus vero qui sunt in intellectu specu- siderar o verdadeiro, mas que apenas o
lativo vel practico secundum quod in- pode; por isso também a própria con-
tellectus sequitur voluntatem, habent sideração do verdadeiro não é ciência
verius rationem virtutis; in quantum enquanto é querida, mas enquanto que
per eos homo efficitur non solum po- diretamente tende ao objeto. E de mo-
tens vel sciens recte agere, sed volens. do semelhante ocorre com a arte em
Quod quidem ostenditur in fide et relação ao intelecto prático; por isso
prudentia, sed diversimode. Fides e- que a arte não aperfeiçoa o homem
nim perficit intellectum speculativum, porque o torna capaz de querer agir
secundum quod imperatur ei a volun- bem conforme a arte, mas só para que
tate; quod ex actu patet: homo enim ad conheça e possa. De fato, os hábitos
ea quae sunt supra rationem huma- que estão no intelecto especulativo ou
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nam, non assentit per intellectum nisi prático, conforme o que o intelecto
quia vult; sicut Augustinus dicit, quod segue a vontade, têm mais verdadei-
credere non potest homo nisi volens. ramente a razão da virtude; enquanto
Ita et similiter erit fides in intellectu que por eles o homem não só chega a
speculativo, secundum quod subiacet ser o que pode agir retamente, mas o
imperio voluntatis; sicut temperantia que quer. Certamente, [é] o que é ma-
est in concupiscibili secundum quod nifesto na fé e na prudência, mas de
subiacet imperio rationis. Unde volun- modos diversos. Com efeito, a fé aper-
tas imperat intellectui, credendo, non feiçoa o intelecto especulativo, con-
solum quantum ad actum exequen- forme o que é imperado pela vontade,
dum, sed quantum ad determinatio- o que é evidente por causa do ato: pois
nem obiecti: quia ex imperio voluntatis em relação ao que está sobre a razão
in determinatum creditum intellectus humana, o homem não assente por
assentit; sicut et in determinatum me- meio do intelecto a não ser porque
dium a ratione, concupiscibilis, per queira; como diz Agostinho80, que o
temperantiam tendit. Prudentia vero homem não pode crer a não ser que
est in intellectu sive ratione practica, queira. Assim também, de um modo
ut dictum est: non quidem ita quod ex semelhante, estará a fé no intelecto
voluntate determinetur obiectum pru- especulativo, enquanto que está sujeita
dentiae, sed solum finis; obiectum au- ao império da vontade; como a tempe-
tem ipsa perquirit: praesupposito enim rança está no concupiscível conforme
a voluntate fine boni, prudentia per- está sujeita ao império da razão. Por
quirit vias per quas hoc bonum et per- isso a vontade dirige o intelecto ao
ficiatur et conservetur. Sic igitur patet crer, não apenas enquanto à execução
quod habitus in intellectu existentes do ato, mas enquanto à determinação
diversimode se habent ad voluntatem. do objeto: porque pelo império da von-
Nam quidam in nullo a voluntate tade o intelecto assente a uma crença
dependent, nisi quantum ad eorum determinada; como também o concu-
usum; et hoc quidem per accidens, piscível tende ao meio determinado
cum huiusmodi usus habituum aliter a pela razão, através da temperança.
voluntate dependeat, et aliter ab Contudo, a prudência está no intelecto
habitibus praedictis, sicut sunt scientia ou na razão prática, como foi dito: não
et sapientia et ars. Non enim per hos certamente de tal modo que pela von-
habitus homo ad hoc perficitur, ut tade se determine o objeto da prudên-
homo eis bene velit uti; sed solum ut cia, mas só o fim, pois ela mesma exa-
ad hoc sit potens. Aliquis vero habitus mina o objeto: pois, pressuposto o fim
intellectus dependet a voluntate sicut a pela vontade do bem, a prudência e-
qua accipit principium suum: nam xamina as vias pelas quais este bem
finis in operativis principium est; et sic tanto é aperfeiçoado quanto é conser-
se habet prudentia. Aliquis vero vado. Portanto, é evidente que os hábi-
habitus etiam determinationem obiecti tos que estão no intelecto se relacio-
a voluntate accipit, sicut est in fide. Et nam com a vontade de um modo di-
licet omnes quoquo modo possint dici verso. Com efeito, alguns não depen-
virtutes; tamen perfectius et magis dem em nada da vontade, a não ser
proprie hi duo ultimi habent rationem enquanto pelos seus usos; e isso cer-
virtutis; licet ex hoc non sequatur quod tamente por acidente, pois que o uso
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quod secundum totum est bonus: quod ramente bom: o que certamente tem
quidem contingit per bonitatem lugar pela bondade da vontade. Com
voluntatis. Nam voluntas imperat acti- efeito, a vontade dirige os atos de to-
bus omnium potentiarum humana- das as potências humanas. O qual pro-
rum. Quod provenit ex hoc quod quili- vém que qualquer ato é o bem de sua
bet actus est bonum suae potentiae; potência; por isso só se diz que um
unde solus ille dicitur esse bonus ho- homem é bom em absoluto, aquele que
mo simpliciter qui habet bonam volun- tem boa vontade. No entanto, não é
tatem. Ille autem qui habet bonitatem pressuposta a boa vontade, aquele que
secundum aliquam potentiam, non possui a bondade conforme alguma
praesupposita bona voluntate, dicitur potência, se diz bom conforme o que
bonus secundum quod habet bonum tem boa visão ou audição, ou o que vê
visum et auditum, aut est bene videns ou ouve bem. E assim é evidente por-
et audiens. Et sic patet, quod ex eo que um homem que tem a ciência não
quod homo habet scientiam, non dici- é chamado de bom em absoluto, mas
tur bonus simpliciter, sed bonus se- bom conforme o intelecto, ou que en-
cundum intellectum, vel bene intelli- tende bem; e de modo semelhante a-
gens; et similiter est de arte, et de aliis cerca da arte e dos outros hábitos se-
huiusmodi habitibus. melhantes.
3. Ad tertium dicendum, quod scientia 3. Respondo dizendo que a ciência se
dividitur contra moralem virtutem, et distingue da virtude moral e, contudo,
tamen ipsa est virtus intellectualis; vel ela mesma é a virtude intelectual; ou
etiam dividitur contra virtutem também, se distingue em relação à vir-
propriissime dictam: sic enim ipsa non tude propriamente dita: pois assim ela
est virtus, ut supra dictum est. mesma não é virtude, como foi dito
acima.
4. Ad quartum dicendum, quod 4. Respondo dizendo que o intelecto
intellectus speculativus non ordinatur especulativo não se ordena a algo exte-
ad aliquid extra se; ordinatur autem ad rior a si; mas se ordena ao próprio ato
proprium actum sicut ad finem. como ao seu fim. No entanto, a felici-
Felicitas autem ultima, scilicet dade última, a saber, a contemplativa,
contemplativa, in eius actu consistit. é a que consiste em seu ato. Por isso os
Unde actus speculativi intellectus sunt atos do intelecto especulativo são mais
propinquiores felicitati ultimae per próximos da felicidade última pelo
modum similitudinis, quam habitus modo da semelhança, do que os hábi-
practici intellectus; licet habitus tos do intelecto prático; ainda que os
intellectus practici fortasse sint hábitos do intelecto prático estejam
propinquiores per modum ainda mais próximos por modo de
praeparationis, vel per modum meriti. preparação, ou por modo de mérito.
5. Ad quintum dicendum, quod per 5. Respondo dizendo que pelo ato da
actum scientiae, aut alicuius talis ciência ou de algum hábito semelhan-
habitus, potest homo mereri, te, o homem pode [ser digno] de méri-
secundum quod imperatur a voluntate, to, enquanto que [esse ato] é imperado
sine qua nullum est meritum. Tamen pela vontade, sem a qual não há ne-
scientia non ad hoc perficit intellectum nhum mérito. No entanto, a ciência
ut dictum est. Non enim ex eo quod não aperfeiçoa o intelecto para isso,
homo habet scientiam, efficitur bene como foi dito. Com efeito, porque um
volens considerare, sed solummodo homem tem ciência, não se faz capaz
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bene potens; et ideo mala voluntas non de querer considerar bem [uma ques-
opponitur scientiae vel arti, sicut tão], mas só de poder fazê-lo bem; e
prudentiae, vel fidei, aut temperantiae. por causa disso a má vontade não se
Et inde est quod philosophus dicit, opõe à ciência ou à arte, como a pru-
quod ille qui peccat voluntarius in dência, a fé ou a temperança. E por
agibilibus, est minus prudens; licet e isso que o Filósofo afirma que aquele
contrario sit in scientia et arte. Nam que peca voluntariamente no nas ações
grammaticus qui involuntarie soloeci- é menos prudente; ainda que ocorra o
zat, apparet esse minus sciens gram- contrário na ciência e na arte. Pois o
maticam. gramático que involuntariamente co-
mete solecismos, se mostra como me-
nos conhecedor da gramática.
ARTICULUS 8 ARTIGO 8
1. Dicit enim Damascenus, III Lib.: 1. Com efeito, diz Damasceno no livro
naturales sunt virtutes, et naturaliter III A Ortodoxia da Fé82: as virtudes
et aequaliter insunt nobis. são naturais, e também existem em
nós igualmente por natureza.
2. Praeterea, Matth., IV, 23, dicit Glos- 2. Além do mais, sobre Mt 4, 23, diz a
sa: docet naturales iustitias: scilicet Glosa: ensina os preceitos naturais: a
castitatem, iustitiam, humilitatem, saber, a castidade, a justiça, a humil-
quales naturaliter habet homo. dade, os quais o homem possui por
natureza.
3. Praeterea, Rom. II, 14, dicitur quod 3. Além do mais, em Rm 2, 14, se diz
homines non habentes legem, que os homens que não possuem lei,
naturaliter ea quae legis sunt, faciunt. fazem naturalmente aquilo que é da
Sed lex praecipit actum virtutis. Ergo lei. Ora, a lei prescreve o ato da virtu-
actum virtutis naturaliter homo facit; de. Logo, o homem realiza natural-
et ita videtur quod virtus sit a natura. mente o ato da virtude, e dessa manei-
ra parece que a virtude é por natureza.
4. Praeterea, Antonius dicit in 4. Além do mais, diz Antão83 no ser-
sermone ad monachos: si naturam mão aos monges: se a vontade mudas-
voluntas mutaverit, perversitas est. se a natureza, haveria perversidade.
Conditio servetur, et virtus est. Et in Conservada a [sua] condição, há a
eodem sermone dicitur, quod sufficit virtude. E no mesmo sermão se diz
homini naturalis ornatus. Hoc autem que é suficiente ao homem o seu orna-
non esset, si virtutes non essent natu- to natural. No entanto, isso não acon-
rales. Ergo virtutes sunt naturales. teceria se as virtudes não fossem natu-
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rais.
Logo, as virtudes são naturais.
5. Praeterea, Tullius dicit, quod 5. Além do mais, diz Túlio84, que a
celsitudo animi est nobis a natura. Sed grandeza da alma está em nós por na-
hoc videtur ad magnanimitatem tureza. Ora, isto parece ser próprio na
pertinere. Ergo magnanimitas inest magnanimidade. Logo, a magnanimi-
nobis a natura; et eadem ratione aliae dade está em nós por natureza; e pela
virtutes. mesma razão as outras virtudes.
6. Praeterea, ad faciendum opus 6. Além do mais, para fazer a obra da
virtutis non requiritur nisi posse virtude não se requer senão poder fa-
bonum, et velle, et nosse. Sed notio zer o bem, ou querê-lo ou conhecê-lo.
boni inest nobis a natura, ut dicit Ora, a noção de bem está em nós por
Augustinus in II de libero arbitrio. Vel- natureza, como diz Agostinho no livro
le etiam bonum inest homini a natura, II de O livre Arbítrio85. Assim, querer
ut idem dicit super Genes. ad litteram. o bem está no homem por natureza,
Posse etiam bonum inest homini natu- como o mesmo diz em seu Comentário
raliter, cum voluntas sit domina sui literal do Gênesis. Também, o poder
actus. Ergo ad opus virtutis sufficit de fazer o bem está no homem por na-
natura. Virtus igitur est homini natu- tureza, pois a vontade é senhora do seu
ralis, quantum ad sui inchoationem. ato. Logo para a obra da virtude é sufi-
ciente a natureza. Portanto, a virtude é
natural ao homem, quanto a sua inco-
ação86.
7. Sed diceretur, quod virtus est 7. Mas se diz que a virtude é natural ao
homini naturalis quantum ad sui homem quanto a sua incoação, mas a
inchoationem, sed perfectio virtutis perfeição da virtude não é pela nature-
non est a natura.- Sed contra est quod za. – Mas contra isso, é o que diz Da-
Damascenus dicit in III Lib.: manentes masceno no livro III [de A ortodoxia
in eo quod secundum naturam, in da Fé]87: permanecendo no que [é]
virtute sumus; declinantes autem ab conforme a natureza, dizemos que
eo quod est secundum naturam, ex está na virtude: mas apartando-se do
virtute, ad id quod est praeter que é conforme a natureza, a partir
naturam devenimus et in malitia da virtude, ao que é contrário à natu-
sumus. Ex quo patet, quod secundum reza, o chamamos de malícia. Por is-
naturam inest a malitia declinare. Sed so, é evidente que é próprio da nature-
hoc est perfectae virtutis. Ergo et za apartar-se da malícia. Ora, isso é
perfectio virtutis est a natura. próprio da virtude perfeita. Logo, tam-
bém a perfeição da virtude é por natu-
reza.
8. Praeterea, virtus, cum sit forma, est 8. Além do mais, como a virtude é
quoddam simplex, et partibus carens. uma forma, é algo simples e carente de
84 MARCO TÚLIO CÍCERO, De Inventione Rhetorica, II, 53, 159; Tusculanae Disputationes, III, 1,
2; De Republica, I, 26, 41.
85 AGOSTINHO, De libero arbitrio, II, 6.
86 A palavra ‘incoação’ tem a sua origem na palavra latina ‘inchoatio’ e significa ‘ação de come-
çar’, ‘começo’. [SANTOS SARAIVA, F.R. dos, Dicionário Latino-Português. 11 Ed. Rio de Janeiro:
Livraria Garnier, 2000, verbete ‘inchoatio’, p.590].
87 JOÃO DAMASCENO, Orthodoxia Fidei, III, PG 94, 1046, 229 A.
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Si igitur secundum aliquid sui est a partes. Portanto, se enquanto algo por
natura videtur quod totaliter sit a na- si é por natureza, parece que é total-
tura. mente por natureza.
9. Praeterea, homo dignior est et 9. Além do mais, o homem é mais dig-
perfectior aliis creaturis irrationalibus. no e mais perfeito do que as outras
Sed aliae creaturae sufficienter habent criaturas irracionais. Ora, as outras
a natura ea quae pertinent ad suam criaturas têm suficientemente por na-
perfectionem. Cum igitur virtutes sint tureza as coisas que pertencem à sua
quaedam perfectiones hominis, vide- perfeição. Portanto, como as virtudes
tur quod insint homini a natura. são certas perfeições do homem, pare-
ce que estão no homem por natureza.
10. Sed diceretur, quod hoc non potest 10. Mas se diz que isso [que se argu-
esse, quia perfectio hominis consistit menta na razão precedente] não pode
in multis et diversis; natura autem ser, porque a perfeição do homem con-
ordinatur ad unum. Sed contra est, siste em muitos e diversos [bens]; e a
quod virtutis inclinatio est etiam ad natureza se ordena ao uno. Ora, pelo
unum, sicut et naturae: dicit enim contrário, também a inclinação da vir-
Tullius, quod virtus est habitus in tude está para o uno, como também a
modum naturae, rationi consentaneus. da natureza: pois diz Túlio88 que a vir-
Ergo nihil prohibet virtutes inesse ho- tude é um hábito por um modo da na-
mini a natura. tureza conforme a razão. Logo, nada
impede que as virtudes estejam no
homem pela natureza.
11. Praeterea, virtus in medio consistit. 11. Além do mais, a virtude consiste no
Medium autem est unum meio [termo]. No entanto, o meio é
determinatum. Ergo nihil prohibet algo determinado. Logo, nada impede
inclinationem naturae esse ad id quod que a inclinação da natureza seja aqui-
est virtutis. lo que está na virtude.
12. Praeterea, peccatum est privatio 12. Além do mais, o pecado é uma pri-
modi, speciei et ordinis. Sed peccatum vação do modo, da espécie e da ordem.
est privatio virtutis. Ergo virtus Ora, o pecado é uma privação da vir-
consistit in modo, specie et ordine. Sed tude. Logo, a virtude consiste no mo-
modus, species et ordo sunt homini do, na espécie e na ordem. Ora, o mo-
naturalia. Ergo virtus est homini natu- do, a espécie e a ordem são naturais ao
ralis. homem. Portanto, a virtude é natural
ao homem.
13. Praeterea, pars appetitiva in anima 13. Além do mais, a parte apetitiva na
sequitur partem cognitivam. Sed in alma se segue à parte cognoscitiva.
parte cognitiva est aliquis habitus Ora, na parte cognoscitiva há certo
naturalis, scilicet intellectus hábito natural, a saber, o intelecto dos
principiorum. Ergo et in parte princípios. Logo, também na parte a-
appetitiva et affectiva, quae est petitiva e afetiva, que é o sujeito da
subiectum virtutis, est aliquis habitus virtude, há algum hábito natural; e,
naturalis; et ita videtur quod aliqua desta maneira, parece que alguma vir-
virtus sit naturalis. tude é natural.
14. Praeterea, naturale est cuius 14. Além do mais, é natural aquilo cu-
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principium est intra; sicut ferri sursum jo princípio é interior; como é natural
est naturale igni, quia principium ao fogo o ser levado acima, porque o
huius motus est in eo quod movetur. princípio deste movimento se dá no
Sed principium virtutis est in homine. que é movido. Ora, o princípio da vir-
Ergo virtus est homini naturalis. tude está no homem. Logo, a virtude é
natural ao homem.
15. Praeterea, cuius est semen natura- 15. Além do mais, aquilo cuja semente
le, ipsum quoque est naturale. Sed se- é natural, é também natural. Ora, a
men virtutis est naturale; dicit enim semente da virtude é natural; pois diz
quaedam Glossa, Hebr., I, quod voluit a Glosa sobre Hb 1, que Deus quis se-
Deus inseminare omni animae initia mear em toda alma os princípios da
sapientiae et intellectus. Ergo videtur sabedoria e do intelecto. Logo, parece
quod virtutes sint naturales. que as virtudes são naturais.
16. Praeterea, contraria sunt eiusdem 16. Além do mais, os contrários são do
generis. Sed virtuti contrariatur mali- mesmo gênero. Ora, a malícia é o con-
tia. Malitia autem est naturalis; dicitur trário da virtude. No entanto, a malícia
enim Sap., XII, v. 10: erat enim natu- é natural; pois se diz em Sb 12, 10: e-
ralis malitia eius; et Ephes., II, 3, dici- ram de má origem; e em Ef 2,3 se diz:
tur: eramus natura filii irae. Ergo vi- éramos, por natureza, filhos da ira.
detur quod virtus sit naturalis. Logo, parece que a virtude é natural.
17. Praeterea, naturale est quod vires 17. Além do mais, é natural que as ca-
inferiores rationi subdantur; dicit pacidades inferiores estejam subordi-
enim philosophus in III de anima, nadas à razão; pois diz o Filósofo no
quod appetitus superioris, qui est livro III Sobre a alma89 que o apetite
rationis, movet inferiorem, qui est [da parte] superior, que é da razão,
partis sensitivae; sicut sphaera move o inferior, que pertence à parte
superior movet inferiorem sphaeram. sensitiva; assim como a esfera superior
Virtus autem moralis in hoc consistit move a esfera inferior. No entanto, a
quod inferiores vires rationi virtude moral consiste nisso: que as
subdantur. Ergo huiusmodi virtutes capacidades inferiores estejam sujeitas
sunt naturales. à razão. Logo, as virtudes desse tipo
são naturais.
18. Praeterea, ad hoc quod aliquis 18. Além do mais, para que algum
motus sit naturalis, sufficit naturalis movimento seja natural, é suficiente a
aptitudo interioris principii passivi. Sic aptidão natural do princípio passivo
enim generatio simplicium corporum interior. Com efeito, assim a geração
dicitur naturalis, et etiam motus dos corpos se denomina natural e
caelestium corporum; nam principium também o movimento dos corpos ce-
activum caelestium corporum non est lestes; pois o princípio ativo dos cor-
natura, sed intellectus; principium pos celestes não é a natureza, mas o
etiam generationis simplicium intelecto; e o princípio da geração dos
corporum est extrinsecus. Sed ad vir- corpos simples é extrínseco. Ora, há
tutem inest homini aptitudo naturalis; uma aptidão natural no homem em
dicit enim philosophus in II Ethicor.: relação à virtude; como diz o Filósofo
innatis quidem nobis a natura susci- no livro II da Ética90: certamente so-
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pere, perfectis autem ab assuetudine. mos aptos por natureza para receber
Ergo videtur quod virtus est naturalis. [as virtudes], mas sua perfeição [se
dá] pelos costumes. Logo, parece que a
virtude é natural.
19. Praeterea, illud quod inest homini 19. Além do mais, aquilo que está no
a nativitate, est naturale. Sed homem por nascimento é natural. Ora,
secundum philosophum in VI Ethic., segundo o Filósofo no livro VI da Éti-
quidam confestim a nativitate videntur ca91, há alguns que rapidamente desde
esse fortes et temperati, et secundum o nascimento parecem ser fortes e
alias virtutes dispositi; et Iob, XXXI, temperados, e dispostos conforme ou-
18: ab infantia crevit mecum tras virtudes; e em Jó 31, 18: desde
miseratio, et de utero egressa est minha infância Deus criou-me como
mecum. Ergo virtutes sunt homini na- um pai, e desde o seio de minha mãe
turales. guiou-me. Logo, as virtudes são natu-
rais ao homem.
20. Praeterea, natura non deficit in 20. Além do mais, a natureza não é
necessariis. Sed virtutes sunt homini deficiente no necessário. Ora, as virtu-
necessariae ad finem ad quem natura- des são necessárias ao homem para o
liter ordinatur, scilicet ad felicitatem, fim a que naturalmente se ordena, isto
quae est actus virtutis perfectae. Ergo é, a felicidade, que é o ato da virtude
virtutes habet homo a natura. perfeita. Logo, o homem possui as vir-
tudes por natureza.
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vitiis demeremur. Ergo virtutes et vitia pelas virtudes somos meritórios, como
non sunt naturalia. também desmerecemos pelos vícios.
Logo, as virtudes e os vícios não são
naturais.
RESPONDEO RESPONDO
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et exercitium. Tertia est opinio media, estava impedida de fazer uso das ditas
quod scientiae et virtutes secundum [ciências e virtudes] devido à união
aptitudinem insunt nobis a natura; sed com o corpo; impedimento que era
earum perfectio non est nobis a natu- necessário remover por meio do estu-
ra. Et haec opinio melior est, quia sicut do das ciências, e do exercício das vir-
circa formas naturales nihil derogat tudes. Contudo, outros disseram que
virtus naturalium agentium; ita circa as ciências e as virtudes estão em nós
adeptionem scientiae et virtutis studio por influxo do intelecto agente, para
et exercitio suam efficaciam conservat. receber a influência para a qual o ho-
Sciendum tamen est, quod aptitudo mem se dispõe pelo estudo e pelo e-
perfectionis et formae in aliquo subiec- xercício. Terceiro, está a opinião in-
to potest esse dupliciter. Uno modo termediária, de que as ciências e as
secundum potentiam passivam tan- virtudes estão em nós por natureza
tum; sicut in materia aeris est aptitudo conforme a sua aptidão; mas a sua per-
ad formam ignis. Alio modo secundum feição não se dá em nós por natureza.
potentiam passivam et activam simul: E esta é a melhor opinião, porque as-
sicut in corpore sanabili est aptitudo sim como em relação às formas natu-
ad sanitatem, quia corpus est suscepti- rais, nada remove a virtude dos agen-
vum sanitatis. Et hoc modo in homine tes naturais; assim, em relação à aqui-
est aptitudo naturalis ad virtutem; par- sição da ciência e da virtude, pelo es-
tim quidem secundum naturam speci- tudo e o exercício se conserva a sua
ei, prout aptitudo ad virtutem est eficácia. No entanto, deve-se saber que
communis omnibus hominibus, et par- a aptidão para a perfeição e para uma
tim secundum naturam individui, se- forma em algum sujeito pode se dar de
cundum quod quidam prae aliis sunt dois modos. Um modo, segundo uma
apti ad virtutem. Ad cuius evidentiam só potência passiva; como na matéria
sciendum est, quod in homine triplex do ar há a aptidão para a forma do fo-
potest esse subiectum virtutis, sicut ex go. Outro modo, segundo a potência
superioribus patet; scilicet intellectus, passiva e ativa simultaneamente: como
voluntas et appetitus inferior, qui in no corpo saudável há a aptidão para a
concupiscibilem et irascibilem dividi- saúde, porque o corpo é suscetível de
tur. In unoquoque autem est conside- saúde. E desse modo, no homem há
rare aliquo modo et susceptibilitatem uma aptidão natural para a virtude;
virtutis et principium activum virtutis. em parte, certamente, segundo a natu-
Manifestum est enim quod in parte reza da espécie, enquanto a aptidão
intellectiva est intellectus possibilis, para a virtude é comum a todos os
qui est in potentia ad omnia intelligibi- homens e em parte, segundo a nature-
lia, in quorum cognitione consistit in- za do indivíduo, enquanto que alguns
tellectualis virtus; et intellectus agens, são mais aptos para a virtude do que
cuius lumine intelligibilia fiunt actu; outros. Por essa evidência, deve-se sa-
quorum quaedam statim a principio ber que o sujeito da virtude no homem
naturaliter homini innotescunt absque pode ser três, como se mostra no ex-
studio et inquisitione: et huiusmodi posto acima: a saber, o intelecto, a
sunt principia prima, non solum in vontade e o apetite inferior, que se di-
speculativis, ut: omne totum est maius vide em concupiscível e em irascível.
sua parte, et similia; sed etiam in ope- No entanto, em cada um deve-se con-
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ex appetitu ultimi finis homo deduci- por isso também são comuns a todos
tur in ea quae sunt convenientia illi [os seres humanos]. Contudo, há certa
fini. Ipsa etiam ratio imperando irasci- incoação da virtude que acompanha a
bilem et concupiscibilem facit sibi esse natureza do indivíduo, enquanto que
subiectas. Unde manifestum est quod algum homem por compleição natural
ad consummationem virtutis ou por impressão celeste se inclina ao
requiritur opus rationis; sive virtus sit ato de alguma virtude. E, de fato, esta
in intellectu, sive sit in voluntate, sive inclinação é certa incoação da virtude;
in irascibili et concupiscibili. Haec não é, porém, a virtude perfeita; por-
tamen est consummatio: quod ad que para a virtude perfeita se requer a
virtutem inferioris partis ordinatur regulação da razão: e também, por
inchoatio virtutis quae est in superiori; causa disso, se afirma na definição da
sicut ad virtutem quae est in voluntate, virtude que é a eleição do meio [virtu-
aptus redditur homo et per oso] segundo a reta razão. Com efeito,
inchoationem virtutis quae est in se alguém segue uma inclinação desta
voluntate, et per eam quae est in classe sem o discernimento da razão,
intellectu. Ad virtutem vero quae est in frequetemente peca. E assim, esta in-
irascibili et concupiscibili, per coação da virtude não tem a razão da
inchoationem virtutis quae est in eis, virtude perfeita sem a obra da razão,
et per eam quae est in superioribus; como tampouco nenhuma das men-
sed non e converso. Unde etiam mani- cionadas antes. Com efeito, dos princí-
festum est, quod ratio, quae est supe- pios universais se chega aos particula-
rior, operatur ad completionem omnis res através da indagação da razão.
virtutis. Dividitur autem principium Também mediante a razão o homem é
operativum quod est ratio, contra conduzido a partir do apetite último do
principium operativum quod est natu- fim até estas coisas que são convenien-
ra, ut patet in II Phys.; eo quod ratio- tes para [o alcance] daquele fim. Além
nalis potestas est ad opposita, natura disso, a própria razão imperando no
autem ordinatur ad unum. Unde mani- irascível e no concupiscível faz que
festum est quod perfectio virtutis non [estas partes da alma] estejam sujeitas
est a natura, sed a ratione. a si. Por isso, é evidente que para a
perfeição da virtude se requer a obra
da razão; seja que a virtude esteja no
intelecto, seja na vontade, ou no iras-
cível ou no concupiscível. No entanto,
a consumação [da virtude] é esta: a
incoação da virtude que está na [parte]
superior [da alma] se ordena à virtude
da parte inferior, assim como o ho-
mem se torna apto para a virtude que
está na vontade não só através da in-
coação da virtude que está na vontade,
mas também pela qual está no intelec-
to. Contudo, para a virtude que está no
irascível e no concupiscível, [o homem
se dispõe] por incoação da virtude que
há nele, e pela qual está nas [partes]
superiores, mas não o inverso. Por is-
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non dicitur partim a natura esse, eo que a virtude em parte é por natureza,
quod aliqua pars eius sit a natura et enquanto se tem alguma parte dela por
aliqua non, sed quia secundum natureza e outra não, mas, de algum
aliquem modum essendi imperfectum modo, diz-se que é por natureza quan-
est a natura; scilicet secundum to ao que se é imperfeito e se obtém,
potentiam et aptitudinem. segundo a potência e a aptidão.
9. Ad nonum dicendum, quod Deus 9. Respondo dizendo que Deus é por si
est per se perfectus in bonitate; unde mesmo perfeito em bondade; por isso
nullo indiget ad bonitatem não necessita de nada para alcançar a
consequendam. Substantiae autem bondade. No entanto, as substâncias
superiores et ei propinquae, paucis superiores e próximas a Ele, necessi-
indigent ad consequendam tam de poucas coisas para obter d’Ele
perfectionem bonitatis ab ipso. Homo mesmo a perfeição da bondade. Con-
autem, qui est magis remotus, pluribus tudo, o homem, que está mais distante,
indiget ad assecutionem perfectae necessita de mais coisas para a conse-
bonitatis, quia est capax beatitudinis. cução da perfeita bondade, porque é
Quae autem creaturae non sunt capaz da beatitude. No entanto, as cri-
capaces beatitudinis, paucioribus aturas que não são capazes da beatitu-
indigent quam homo. Unde homo est de, necessitam de menos coisas do que
dignior eis licet pluribus indigeat; sicut o homem. Por causa disso, o homem é
ille qui potest consequi perfectam sa- mais digno do que elas, ainda que ne-
nitatem multis exercitiis, est melius cessite de mais coisas; assim como a-
dispositus quam ille qui non potest quele que pode alcançar a saúde per-
consequi nisi parvam, sed per modica feita com muitos exercícios está me-
exercitia. lhor disposto do que aquele que não
pode alcançar senão pouca, mas por
pouco exercícios.
10. Ad decimum dicendum, quod ad 10. Respondo dizendo que em relação
ea quae sunt unius virtutis, posset esse a estas coisas que são próprias de uma
inclinatio naturalis. Sed ad ea quae só virtude, poderia haver uma inclina-
sunt omnium virtutum, non posset ção natural. Mas, em relação às que
esse inclinatio a natura; quia dispositio são de todas as virtudes, não poderia
naturalis quae inclinat ad unam haver uma inclinação pela natureza;
virtutem, inclinat ad contrarium porque a disposição natural que incli-
alterius virtutis: puta, qui est na a uma só virtude, inclina ao contrá-
dispositus secundum naturam ad rio de outra virtude: por exemplo, o
fortitudinem, quae est in prosequendo que está disposto segundo a [sua] na-
ardua, est minus dispositus ad tureza para a fortaleza, que é para al-
mansuetudinem, quae consistit in cançar coisas árduas, está menos dis-
refrenando passiones irascibilis. Unde posto à mansidão, que consiste em
videmus quod animalia quae refrear as paixões do irascível. Por isso
naturaliter inclinantur ad actum vemos que os animais que natural-
alicuius virtutis, inclinantur ad vitium mente se inclinam ao ato de alguma
contrarium alteri virtuti; sicut leo, qui virtude, se inclinam ao vício contrário
naturaliter est audax est etiam a outra virtude; como o leão, que natu-
naturaliter crudelis. Et haec quidem ralmente é audaz, também é natural-
naturalis inclinatio ad hanc vel illam mente cruel. E, certamente, esta incli-
virtutem sufficit aliis animalibus, quae nação natural em relação a esta ou a
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non possunt consequi perfectum bo- aquela virtude é suficiente para outros
num secundum virtutem, sed conse- animais, que não podem alcançar o
quuntur qualecumque determinatum bem perfeito conforme a virtude, mas
bonum. Homines autem nati sunt per- alcançar qualquer bem determinado.
venire ad perfectum bonum secundum No entanto, os homens são, por natu-
virtutem; et ideo oportet quod habeant reza, aptos para alcançar o bem perfei-
inclinationem ad omnes actus virtu- to conforme a virtude; e, por causa
tum: quod cum non possit esse a natu- disso, é necessário que seja segundo a
ra, oportet quod sit secundum ratio- razão na qual existem as sementes de
nem, in qua existunt semina omnium todas as virtudes.
virtutum.
11. Ad undecimum dicendum, quod 11. Respondo dizendo que o meio da
medium virtutis non est determinatum virtude não está determinado confor-
secundum naturam, sicut est me a natureza, como está determinado
determinatum medium mundi in quod o meio do mundo para onde tende as
tendunt gravia; sed oportet quod coisas pesadas; mas é necessário que o
medium virtutis determinetur meio da virtude esteja determinado
secundum rationem rectam, ut dicitur segundo a reta razão, como se diz no
in II Ethic. Quia quod est mediocre livro II da Ética97, porque o que é me-
uni, est parum vel multum alteri. díocre para o um é pouco ou muito
para outro.
12. Ad duodecimum dicendum, quod 12. Respondo dizendo que o modo, a
modus, species et ordo constituunt espécie e a ordem constituem qualquer
quodlibet bonum, ut dicit Augustinus bem, como diz Agostinho no livro Da
in Lib. de natura boni. Unde modus, natureza do bem98. Por isso, o modo, a
species et ordo, in quibus consistit espécie e a ordem, nos quais consiste o
bonum naturae, naturaliter adsunt bem da natureza, estão naturalmente
homini, nec per peccatum privantur; no homem, e não são retirados pelo
sed peccatum dicitur esse privatio pecado; mas se diz que o pecado é a
modi, speciei et ordinis, secundum privação do modo, da espécie e da or-
quod in his consistit bonum virtutis. dem, segundo o que neles consiste o
bem da virtude.
13. Ad decimumtertium dicendum, 13. Respondo dizendo que a vontade
quod voluntas non exit in actum suum não passa a seu ato através de algumas
per aliquas species ipsam informantes, espécies que a informam, como no ca-
sicut intellectus possibilis; et ideo non so do intelecto possível; e por causa
requiritur aliquis naturalis habitus in disso não se requer nenhum hábito
voluntate ad naturale desiderium; et natural na vontade para o desejo natu-
praecipue cum ex habitu naturali ral; e, principalmente, como a vontade
intellectus moveatur voluntas, in é movida pelo hábito natural do inte-
quantum bonum intellectum est lecto, enquanto o bem entendido é o
obiectum voluntatis. objeto da vontade.
14. Ad decimumquartum dicendum, 14. Respondo dizendo que ainda que o
quod licet principium virtutis sit intra princípio da virtude seja interior ao
hominem, scilicet ratio; tamen hoc homem, a saber, a razão; contudo, este
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principium non agit per modum princípio não age por um modo natu-
naturae; et ideo quod ab ea est, non ral; e por isso que o que se realiza por
dicitur naturale. obra da razão não se denomina natu-
ral.
15. Et similiter dicendum est ad 15. E de forma semelhante se diz para
decimumquintum. o décimo quinto argumento.
16. Ad decimumsextum dicendum, 16. Respondo dizendo que a malícia
quod malitia eorum erat naturalis, in deles era natural, como enquanto esta-
quantum erat in consuetudinem re- va reduzida ao costume, na medida em
ducta, prout consuetudo est altera na- que o costume é uma outra natureza.
tura. Nos autem eramus natura filii No entanto, nós éramos filhos da ira
irae propter peccatum originale, quod por causa do pecado original, que é o
est peccatum naturae. pecado da natureza.
17. Ad decimumseptimum dicendum, 17. Respondo dizendo que é natural
quod naturale est quod vires inferiores que as capacidades inferiores sejam
sint subiicibiles rationi, non tamen suscetíveis à razão; mas não que este-
quod sint secundum habitum subiec- jam sujeitas segundo o hábito.
tae.
18. Ad decimumoctavum dicendum, 18. Respondo dizendo que se afirma
quod motus dicitur esse naturalis que o movimento é natural por causa
propter aptitudinem naturalem da aptidão natural no móvel, quando o
mobilis, quando movens movet ad que move, move algo uno de maneira
unum determinate per modum determinada pelo modo da natureza;
naturae; sicut generans in elementis, como o princípio gerador nos elemen-
et motor corporum caelestium. Sic tos, e o motor dos corpos celestes. No
autem non est in proposito; unde ratio entanto, não está proposto deste mo-
non sequitur. do; por isso não se segue o argumento.
19. Ad decimumnonum dicendum, 19. Respondo dizendo que aquela in-
quod illa inclinatio naturalis ad clinação natural à virtude, segundo a
virtutem, secundum quam quidam qual alguns imediatamente desde o
mox a nativitate sunt fortes et momento do nascimento são fortes e
temperati, non sufficit ad perfectam temperados, não é suficiente para a
virtutem, ut dictum est. virtude perfeita, como foi dito.
20. Ad vicesimum dicendum, quod 20. Respondo dizendo que a natureza
natura non deficit homini in não é deficiente para o homem nas
necessariis; licet enim non det omnia coisas necessárias; pois, ainda que não
quae sunt ei necessaria, tamen dat ei proporcione todas as coisas que lhe
unde possit omnia necessaria são necessárias, lhe confere, porém,
acquirere secundum rationem, et quae [aquilo] a partir do qual pode adquirir,
ei deserviunt. em conformidade com a razão, todas
as coisas necessárias e que estão a seu
serviço.
ARTICULUS 9 ARTIGO 9
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1. Dicit enim Augustinus, quod virtus 1. Com efeito, diz Agostinho100 que a
est bona qualitas mentis, qua recte virtude é uma boa qualidade da mente
vivitur, qua nullus male utitur, quam pela qual se vive com retidão, em que
Deus in nobis sine nobis operatur. Sed nada se faz mau uso, e que Deus age
illud quod fit ex actibus nostris, non em nós sem nós. Ora, aquilo que é feito
operatur Deus in nobis. Ergo virtus pelos nossos atos não o opera Deus em
non causatur ex actibus nostris. nós. Logo, a virtude não é causada pe-
los nossos atos.
2. Praeterea, Augustinus dicit: 2. Além do mais, diz Agostinho: a vida
omnium infidelium vita peccatum est, de todos os infiéis é pecado, e nada é
et nihil est bonum sine summo bono, bom sem o Sumo Bem; quando falta o
ubi deest cognitio veritatis, falsa est conhecimento da verdade, a virtude é
virtus etiam in optimis moribus. Ex falsa mesmo entre os ótimos costu-
quo habetur quod virtus non potest mes. Do qual se segue que não pode
esse sine fide. Fides autem non est ex haver virtude sem a fé. No entanto, a fé
operibus nostris, sed ex gratia, ut patet não é por nossas obras, mas pela graça
Ephes. cap. II, 8: gratia estis salvati como se mostra em Ef 2,8: Porque é
per fidem, et non ex vobis: nec quis gratuitamente que fostes salvos medi-
glorietur; Dei enim donum est. Ergo ante a fé. Isto não provém de vossos
virtus non potest causari ex actibus méritos, mas é puro dom de Deus. Lo-
nostris. go, a virtude não pode ser causada por
nossos atos.
3. Praeterea, Bernardus dicit, quod 3. Além do mais, diz Bernardo que o
incassum quis ad virtutem laborat, nisi homem trabalha em vão para alcançar
a domino eam sperandam putet. Quod a virtude a não ser que creia que há de
autem speratur obtinendum a Deo, esperá-la de Deus. No entanto, o que
non causatur ex actibus nostris. Virtus se espera obter de Deus não é causado
ergo non causatur ex actibus nostris. pelos nossos atos. Logo, a virtude não
é causada por nossos atos.
4. Praeterea, continentia est minus 4. Além do mais, a continência é infe-
virtute, ut patet per philosophum in rior à virtude, como é manifesto pelo
VII Ethic. Sed continentia non est in Filósofo no livro VII da Ética84101. O-
nobis nisi ex divino munere; dicitur ra, a continência não está em nós se-
enim Sapient. cap. VIII, 21: scio quod não pelo dom divino; pois se diz em Sb
non possum esse continens, nisi Deus 8, 21: ao me dar conta de que somente
det. Ergo nec virtutes possumus acqui- a ganharia, se Deus ma concedesse.
rere ex nostris actibus, sed solum ex Logo, não podemos adquirir as virtu-
dono Dei. des por nossos atos, a não ser por dom
de Deus.
99 Outros lugares: S. Th., I-II, q. 51, a. 2; q. 63, a. 2; II Sent., D. 44, q. 1, a. 1, ad 6; III. D. 33, q. 1,
a. 2, q.a 2; II Ethic., 1. 1.
100 AGOSTINHO, Contra Lulianum, VI, 6.
101 ARISTÓTELES, Ethica Nicomachea, VII, 1, 1145 a 15 4; 1145 b 8; 9, 1151 b 32.
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perfectam.
15. Praeterea, virtus est ultimum 15. Além do mais, a virtude é o último
potentiae, ut dicitur in I caeli et da potência, como se diz no livro I Do
mundi. Sed potentia est naturalis. Ergo céu e do mundo106. Ora, a potência é
virtus est naturalis, et non ex operibus natural. Logo, a virtude é natural e não
acquisita. adquirida por obras.
16. Praeterea, ut dicitur in II Ethic., 16. Além do mais, como se diz no livro
virtus est quae bonum reddit II da Ética107, a virtude é o que faz bom
habentem. Sed homo est bonus secun- aquele que a possui. Ora, o homem é
dum suam naturam. Ergo virtus homi- bom conforme a sua natureza. Logo, a
nis est ei a natura, et non ex actibus virtude pertence ao homem por natu-
acquisita. reza, e não [é] adquirida pelos atos.
17. Praeterea, ex frequentia actus na- 17. Além do mais, pela frequência do
turalis non acquiritur novus habitus. ato natural não se adquire um novo
hábito.
18. Praeterea, omnia habent esse a sua 18. Além do mais, todas as coisas têm
forma. Sed gratia est forma virtutum: o ser pela sua forma. Ora, a graça é a
nam sine gratia virtutes dicuntur esse forma das virtudes: pois se diz que sem
informes. Ergo virtutes sunt a gratia, a graça as virtudes são informes. Logo,
et non ab actibus. as virtudes são pela graça e não pelos
atos [do homem].
19. Praeterea, secundum apostolum, II 19. Além do mais, segundo o Apóstolo
Cor. XII, 9, virtus in infirmitate perfi- em 2Cor 12, 9, é na fraqueza que a
citur. Sed infirmitas magis est passio força manifesta todo o seu poder. Ora,
quam actio. Ergo virtus magis causatur a debilidade é mais paixão do que a-
ex passione quam ex actibus. ção. Logo, a virtude é causada antes
mais pela paixão do que pelos atos.
20. Praeterea, cum virtus sit qualitas, 20. Além do mais, como a virtude é
mutatio quae est secundum virtutem, qualidade, parece que a mutação que é
videtur esse alteratio: nam alteratio est conforme a virtude é uma alteração:
motus in qualitate. Sed alteratio passio pois a alteração é o movimento na qua-
tantum est in parte animae sensitivae, lidade. Ora, a alteração só é paixão na
ut patet per philosophum in VII parte da alma sensitiva, como mostra o
Physic. Si ergo virtus acquiritur ex ac- Filósofo no livro VII da Física108. Logo,
tibus nostris per quamdam passionem se a virtude é adquirida pelos nossos
et alterationem; sequetur quod virtus atos por meio de alguma paixão e alte-
sit in parte sensitiva: quod est contra ração; segue-se que a virtude está na
Augustinum, qui dicit, quod est bona parte sensitiva: o que é contra Agosti-
qualitas mentis. nho, que diz que é uma boa qualidade
da mente.
21. Praeterea, per virtutem habet ali- 21. Além do mais, por meio da virtude
quis rectam electionem de fine, ut dici- alguém tem uma reta eleição do fim,
tur X Ethicorum. Sed habere rectam como se diz no livro X da Ética109. Ora,
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electionem de fine, non videtur esse in ter uma reta eleição do fim não parece
potestate nostra: quia qualis unus- estar no nosso poder: porque tal como
quisque est, talis finis ei videtur, ut cada um é, tal lhe parece o fim, como
dicitur III Ethic. Hoc autem contingit se diz no livro III da Ética110. No en-
nobis ex naturali complexione, vel ex tanto, isso não ocorre por compleição
impressione corporis caelestis. Ergo natural, ou por impressão do corpo
non est in potestate nostra acquirere celeste. Logo, não está em nosso poder
virtutes: non ergo causantur ex actibus adquirir as virtudes: portanto, não são
nostris. causadas por nossos atos.
22. Praeterea, ea quae sunt naturalia, 22. Além do mais, em relação àquelas
neque assuescimus neque dissuesci- coisas que são naturais, não nos habi-
mus. Sed quibusdam hominibus tuamos nem nos desabituamos. Ora,
insunt naturales inclinationes ad em alguns homens há inclinações na-
aliqua vitia, sicut et ad virtutes. Ergo turais em relação a alguns vícios, como
huiusmodi inclinationes non possunt também em relação às virtudes. Logo,
tolli per assuetudinem actuum. Eis estas formas de inclinações não podem
autem manentibus non possunt in ser removidas por meio do costume
nobis esse virtutes. Ergo virtutes non dos atos. No entanto, se elas permane-
possunt in nobis acquiri per actus. cem, não pode haver virtudes em nós.
Logo, as virtudes não podem ser ad-
quiridas por nós pelos atos.
1. Dionysius dicit, quod bonum est 1. Dionísio111 diz que o bem é mais po-
virtuosius quam malum. Sed ex malis deroso do que o mal. Ora, os hábitos
actibus causantur in nobis habitus vi- dos vícios são causados em nós por
tiorum. Ergo ex bonis actibus causan- atos maus. Logo, os hábitos das virtu-
tur in nobis habitus virtutum. des são causados em nós por atos
bons.
2. Praeterea, secundum philosophum 2. Além do mais, segundo o Filósofo
in II Ethic., operationes sunt causae no livro II da Ética112, as operações são
eius quod est nos studiosos esse. Hoc as causas daquilo a que nos dedica-
autem est per virtutem. Ergo virtus mos. No entanto, [nós nos dedicamos]
causatur in nobis ex actibus. pela virtude. Logo, a virtude é causada
em nós pelos atos.
3. Praeterea, ex contrariis sunt genera- 3. Além do mais, há as gerações e cor-
tiones et corruptiones. Sed virtus cor- rupções a partir dos contrários. Ora, a
rumpitur ex malis actibus. Ergo ex bo- virtude se corrompe pelos atos maus.
nis actibus generatur. Logo, é gerada por atos bons.
RESPONDEO RESPONDO
Respondeo. Dicendum quod cum vir- Respondo dizendo que como a virtude
tus sit ultimum potentiae, ad quod é o último da potência, e que qualquer
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per gratiam Dei. Nam manifestum est família de Deus, etc. Contudo, para
quod virtutes illae quae sunt hominis que o homem seja partícipe desta ci-
in quantum est huius civitatis dade não é suficiente a sua natureza,
particeps, non possunt ab eo acquiri mas que seja elevado pela graça de
per sua naturalia; unde non causantur Deus. Pois é evidente que aquelas vir-
ab actibus nostris, sed ex divino tudes que são próprias do homem en-
munere nobis infunduntur. Virtutes quanto é partícipe desta cidade, não
autem quae sunt hominis in eo quod podem ser adquiridas por ele mediante
est homo, vel in eo quod est terrenae as suas capacidades naturais; por isso
civitatis particeps, non excedunt não são causadas por nossos atos, mas
facultatem humanae naturae; unde eas são infundidas em nós por um dom
per sua naturalia homo potest divino. No entanto, as virtudes que são
acquirere, ex actibus propriis: quod sic próprias do homem enquanto é ho-
patet. Dum enim aliquis habet natura- mem, ou enquanto é partícipe da cida-
lem aptitudinem ad perfectionem ali- de terrena, não excedem a faculdade
quam; si haec aptitudo sit secundum da natureza humana; por isso, o ho-
principium passivum tantum, potest mem pode adquiri-las por suas capaci-
eam acquirere; sed non ex actu propri- dades naturais, a partir dos próprios
o, sed ex actione alicuius exterioris atos: o que é evidente desta maneira.
naturalis agentis; sicut aer recipit lu- Com efeito, enquanto alguém tem uma
men a sole. Si vero habeat aptitudinem aptidão natural para alguma perfeição,
naturalem ad perfectionem aliquam se esta aptidão é conforme a um prin-
secundum activum principium et pas- cípio só passivo, pode adquiri-la; po-
sivum simul; tunc per actum proprium rém não a partir do próprio ato, mas
potest ad illam pervenire; sicut corpus pela ação de algum agente natural ex-
hominis infirmi habet naturalem apti- terior; como no caso do ar que recebe a
tudinem ad sanitatem. Et quia subiec- luz do Sol. De fato, se [alguém] tem
tum est naturaliter receptivum sanita- uma aptidão natural para alguma per-
tis, propter virtutem naturalem acti- feição conforme a um princípio ativo e
vam quae inest ad sanandum, ideo passivo simultaneamente; então pode
absque actione exterioris agentis in- alcançá-la mediante o próprio ato;
firmus interdum sanatur. Ostensum como no corpo do homem enfermo há
est autem in praecedenti quaestione, uma aptidão natural para a saúde. E
quod aptitudo naturalis ad virtutem porque o sujeito é naturalmente recep-
quam habet homo, est secundum prin- tivo da saúde, por causa da virtude
cipia activa et passiva; quod quidem ex natural ativa que há nele para se curar,
ipso ordine potentiarum apparet. Nam por isso sem a ação do agente exterior,
in parte intellectiva est principium o enfermo, algumas vezes, se cura. No
quasi passivum intellectus possibilis, entanto, foi mostrado na questão pre-
qui reducitur in suam perfectionem cedente, que a aptidão natural para a
per intellectum agentem. Intellectus virtude que o homem possui, é con-
autem in actu movet voluntatem: nam forme os princípios ativos e passivos; o
bonum intellectus est finis qui movet que certamente se adverte a partir da
appetitum; voluntas autem mota a ra- própria ordem das potências. Com e-
tione, nata est movere appetitum sen- feito, na parte intelectiva, o intelecto
sitivum, scilicet irascibilem et concu- possível é um princípio de certo modo
piscibilem, quae natae sunt obedire passivo, que se reduz à sua perfeição
rationi. Unde etiam manifestum est, pelo intelecto agente. Contudo, o inte-
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quod quaelibet virtus faciens operatio- lecto em ato move a vontade: pois o
nem hominis bonam, habet proprium bem do intelecto é o fim que move o
actum in homine, qui sui actione po- apetite; e a vontade movida pela razão
test ipsam reducere in actum; sive sit é naturalmente apta para mover o ape-
in intellectu, sive in voluntate, sive in tite sensitivo, a saber, o irascível e o
irascibili et concupiscibili. concupiscível, que são naturalmente
Diversimode tamen reducitur in actum aptos a obedecer à razão. Por isso,
virtus quae est in parte intellectiva, et também é manifesto que qualquer vir-
quae est in parte appetitiva. Nam actio tude que torna boa a operação do ho-
intellectus, et cuiuslibet cognoscitivae mem tem o próprio ato no homem,
virtutis, est secundum quod aliqualiter que pode reduzi-la a ato por sua ação;
assimilatur cognoscibili; unde virtus seja no intelecto, seja na vontade, seja
intellectualis fit in parte intellectiva, no irascível e no concupiscível. No en-
secundum quod per intellectum tanto, de diversos modos se reduz a ato
agentem fiunt species intellectae in a virtude que está na parte intelectiva e
ipsa vel actu vel habitu. Actio autem a que está na parte apetitiva. Pois o ato
virtutis appetitivae consistit in quadam do intelecto, e de qualquer capacidade
inclinatione ad appetibile; unde ad hoc cognoscitiva, consiste em que de al-
quod fiat virtus in parte appetitiva, guma maneira se assimile o cognoscí-
oportet quod detur ei inclinatio ad vel; por isso a virtude intelectual se dá
aliquid determinatum. Sciendum est na parte intelectiva, conforme o que
autem, quod inclinatio rerum natura- pelo intelecto agente das espécies se
lium consequitur formam; et ideo est torna inteligível atual ou habitualmen-
ad unum, secundum exigentiam for- te na dita parte [intelectiva]. No entan-
mae: qua remanente, talis inclinatio to, a ação da virtude apetitiva consiste
tolli non potest, nec contraria induci. em certa inclinação ao apetecível; por
Et propter hoc, res naturales neque causa disso, para que haja a virtude na
assuescunt aliquid neque dissuescunt; parte apetitiva, é necessário que se lhe
quantumcumque enim lapis sursum confira uma inclinação para algo de-
feratur nunquam hoc assuescet, sed terminado. No entanto, deve-se saber
semper inclinatur ad motum deorsum. que a inclinação das coisas naturais
Sed ea quae sunt ad utrumlibet, non segue a forma e por isso é em relação a
habent aliquam formam ex qua decli- uma só coisa, conforme a exigência da
nent ad unum determinate; sed a pro- forma: permanecendo esta, tal inclina-
prio movente determinantur ad aliquid ção não pode ser removida, nem ser
unum; et hoc ipso quod determinantur conduzida a objetos contrários [daque-
ad ipsum, quodammodo disponuntur le aos quais se inclina]. E por isso, as
in idem; et cum multoties inclinantur, coisas naturais nem se habituam nem
determinantur ad idem a proprio mo- se desabituam a algo; com efeito, por
vente, et firmatur in eis inclinatio de- mais que a pedra seja levada até acima
terminata in illud, ita quod ista dispo- nunca se habituará a isso, mas sempre
sitio superinducta, est quasi quaedam se inclinará para baixo. Ora, as coisas
forma per modum naturae tendens in são em relação a um ou outro, não
unum. Et propter hoc dicitur, quod possuem alguma forma pela qual se
consuetudo est altera natura. Quia inclinam de um modo determinado a
igitur vis appetitiva se habet ad uma só coisa; mas pelo próprio mo-
utrumlibet; non tendit in unum nisi vente são determinados a uma só coi-
secundum quod a ratione sa; e porque são determinadas ao
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semper, sed ut in pluribus: quia et ea do, mas em muitos casos: porque tam-
quae naturaliter accidunt, ut in bém aquelas coisas que sucedem natu-
pluribus eveniunt. Nec propter hoc ralmente ocorrem em muitos dos ca-
sequitur, quod simul aliquis sit sos. Por causa disso não se segue que
virtuosus et vitiosus; quia unus actus alguém seja virtuoso ou vicioso simul-
potentiae neque habitum vitii neque taneamente, porque um ato da potên-
habitum virtutis acquisitae tollit; et cia não remove o hábito do vício nem o
non potest per virtutem acquisitam hábito da virtude adquirida; e não é
declinare ab omni peccato. Non enim possível remover todo o pecado pela
per eas vitatur peccatum infidelitatis; virtude adquirida. Com efeito, pelas
et alia peccata quae virtutibus infusis virtudes adquiridas não se evita o pe-
opponuntur. cado da infidelidade; nem outros pe-
cados que se opõem às virtudes infu-
sas.
6. Ad sextum dicendum, quod per 6. Respondo dizendo que através das
virtutes acquisitas non pervenitur ad virtudes adquiridas não se chega à feli-
felicitatem caelestem, sed ad cidade celeste, mas a certa felicidade
quamdam felicitatem quam homo que o homem é naturalmente apto a
natus est acquirere per propria adquirir pelas próprias capacidades
naturalia in hac vita secundum actum naturais nesta vida segundo o ato da
perfectae virtutis, de qua Aristoteles virtude perfeita, da qual Aristóteles
tractat in X Metaph. trata no livro X da Metafísica116.
7. Ad septimum dicendum, quod 7. Respondo dizendo que a virtude
virtus acquisita non est maximum adquirida não é um bem máximo em
bonum simpliciter, sed maximum in absoluto, mas máximo no gênero dos
genere humanorum bonorum; virtus bens humanos; no entanto, a virtude
autem infusa est maximum bonum infusa é um bem máximo em absoluto,
simpliciter, in quantum per eam homo enquanto que por ela o homem se or-
ad summum bonum ordinatur, quod dena ao Sumo Bem, que é Deus.
est Deus.
8. Ad octavum dicendum, quod idem 8. Respondo dizendo que uma mesma
secundum idem non potest seipsum coisa segundo ela mesma não pode
formare. Sed quando in aliquo uno est
formar a si própria. Ora, quando em
aliquod principium activum et aliud algo uno há algum princípio ativo e
passivum, seipsum formare potest se-outro passivo, pode formar-se a si
cundum partes: ita scilicet quod unamesmo conforme as suas partes: a sa-
pars eius sit formans, et alia formata;
ber, de tal modo que uma parte sua
sicut aliquid movet seipsum, ita quod
seja a que forma, e outra a formada;
una pars eius est movens, et alia mota,
assim como algo se move a si mesmo,
ut dicitur VIII Phys. Sic autem est in
de modo tal que uma parte sua é a que
generatione virtutis ut ostensum est.
move e outra a movida, como se diz no
livro VIII da Física117. E desse modo
ocorre na geração da virtude, como se
mostrou.
9. Ad nonum dicendum, quod sicut in 9. Respondo dizendo que assim como
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quod aliquid sit pulchrum simpliciter seja belo em absoluto se requer que em
requiritur quod in nulla parte sit nenhuma parte haja alguma deformi-
aliqua deformitas vel turpitudo. Sim- dade ou fealdade. No entanto, é cha-
pliciter autem et totaliter bonus dicitur mado em absoluto e totalmente bom
aliquis ex hoc quod habet voluntatem porque tem boa vontade, porque pela
bonam, quia per voluntatem homo vontade o homem faz uso de todas as
utitur omnibus aliis potentiis. Et ideo outras potências. E por causa disso a
bona voluntas facit hominem bonum boa vontade torna o homem bom em
simpliciter; et propter hoc virtus appe- absoluto; e por isso a virtude da parte
titivae partis secundum quam voluntas apetitiva, segundo a qual a vontade se
fit bona, est quae simpliciter bonum torna boa, é a que faz absolutamente
facit habentem. bom o que a possui.
17. Ad decimumseptimum dicendum, 17. Respondo dizendo que os atos que
quod actus qui sunt ante virtutem, são prévios à virtude podem certamen-
possunt quidem dici naturales, te ser chamados naturais, enquanto
secundum quod a naturali ratione procedem da razão natural, segundo
procedunt, prout naturale dividitur que o natural se distingue do adquiri-
contra acquisitum; non autem possunt do; mas não podem ser chamados na-
naturales dici, prout naturale dividitur turais, enquanto que o natural se dis-
contra id quod est ex ratione. Sic au- tingue do que procede da razão. No
tem dicitur quod naturalia non dissu- entanto, se afirma que com as coisas
escimus neque assuescimus, secun- naturais não nos desabituamos nem
dum quod natura contra rationem di- nos habituamos, conforme a natureza
viditur. se distingue da razão.
18. Ad decimumoctavum dicendum, 18. Respondo dizendo que se afirma
quod gratia dicitur esse forma virtutis que a graça é uma forma da virtude
infusae; non tamen ita quod ei det esse infusa; não, contudo, no sentido que
specificum; sed in quantum per eam lhe confere o ser específico; mas en-
informatur aliqualiter actus eius. Unde quanto que de alguma maneira o seu
non oportet quod virtus politica sit per ato é informado por ela. Por isso não é
infusionem gratiae. necessário que a virtude política seja
por infusão da graça.
19. Ad decimumnonum dicendum, 19. Respondo dizendo que a virtude se
quod virtus perficitur in infirmitate, aperfeiçoa na debilidade, não porque a
non quia infirmitas causat virtutem, debilidade cause a virtude, mas porque
sed quia dat occasionem alicui virtuti, dá ocasião para certa virtude, isto é,
scilicet humilitati. Est etiam materia para a humildade. Além disso, [a debi-
alicuius virtutis, scilicet patientiae, et lidade] é matéria de certa virtude, a
etiam caritatis, in quantum aliquis in- saber, a paciência, e também da cari-
firmitati proximi subvenit. Et naturali- dade enquanto alguém socorre a debi-
ter est signum virtutis, quia tanto ani- lidade do próximo. E é naturalmente
ma virtuosior demonstratur, quanto um sinal [da posse] da virtude, porque
infirmius corpus ad actum virtutis mo- a alma se manifesta mais virtuosa en-
vet. quanto move o ato da virtude em um
corpo mais débil.
20. Ad vicesimum dicendum, quod 20. Respondo dizendo que propria-
proprie loquendo non dicitur aliquid mente falando não se diz que algo se
alterari secundum quod adipiscitur altera segundo atinge a própria perfei-
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propriam perfectionem. Unde, cum ção. Por isso, como a virtude é a per-
virtus sit propria perfectio hominis, feição própria do homem, não se diz
non dicitur homo alterari secundum que o homem se altera conforme ad-
quod acquirit virtutem; nisi forte per quire a virtude; a não ser talvez por
accidens secundum quod immutatio acidente, enquanto que a mutação da
sensibilis partis animae in qua sunt parte sensível da alma na qual estão as
animae passiones, pertinet ad virtu- paixões da alma pertence à virtude.
tem.
21. Ad vicesimumprimum dicendum, 21. Respondo dizendo que o homem
quod homo potest dici qualis vel pode designar-se de um modo
secundum qualitatem quae est in parte conforme a sua qualidade que está na
intellectiva: et sic non dicitur qualis ex parte intelectiva: e deste modo não se
naturali complexione corporis, neque designa como tal pela compleição na-
ex impressione corporis caelestis, cum tural do corpo, nem pela impressão de
pars intellectiva sit absoluta ab omni um corpo celeste, como a parte intelec-
corpore; vel potest dici homo qualis tiva é independente em relação a todo
secundum dispositionem quae est in o corpo; ou pode designar-se tal, de
parte sensitiva: quae quidem potest outro modo, conforme a disposição
esse ex naturali complexione corporis, que está na parte sensitiva, a qual, cer-
vel ex impressione corporis caelestis. tamente, pode dar-se pela compleição
Tamen quia haec pars naturaliter do corpo, ou pela impressão de um
obedit rationi, ideo potest per corpo celeste. No entanto, porque esta
assuetudinem diminui, vel totaliter parte [da alma] naturalmente obedece
tolli. à razão, pode por ela ser atenuada [em
suas tendências] por obra do costume,
ou totalmente removida.
22. Et per hoc patet responsio ad 22. E por isso é evidente a resposta ao
vicesimumsecundum; nam secundum vigésimo segundo argumento; pois
hanc dispositionem quae est in parte conforme esta disposição que está na
sensitiva, dicuntur aliqui habere parte sensitiva, se afirma que alguém
naturalem inclinationem ad vitium vel tem uma inclinação natural ao vício ou
virtutem et cetera. à virtude etc.
ARTICULUS 10 ARTIGO 10
118 Outros lugares: S. Th., I-II, q. 51, a. 4; q. 63, a. 3, III Sent., D. 33, q. 1, a. 2, q.a 3.
119 ARISTÓTELES, Physica, VII, 3, 246 a 13.
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ternam, videtur quod sola caritas suffi- cer a vida eterna, parece que apenas
ceret; et ita non oportet habere aliquas seria suficiente a caridade; e assim não
alias virtutes infusas. seria necessário ter algumas outras
virtudes infusas.
6. Praeterea, virtutes morales 6. Além do mais, as virtudes morais
necessariae sunt ad hoc quod são necessárias para que as capacida-
inferiores vires rationi subdantur. Sed des inferiores estejam sujeitas à razão.
per virtutes acquisitas sufficienter Ora, estão suficientemente sujeitas à
rationi subduntur. Non ergo razão mediante as virtudes adquiridas.
necessarium est quod sint aliquae Logo, não é necessário que haja algu-
virtutes infusae morales ad hoc quod mas virtudes morais infusas para que a
ratio ordinetur ad aliquem specialem razão se ordene a algum fim especial;
finem; sed sufficit quod ratio hominis mas basta que a razão do homem se
in illum supernaturalem finem dirija àquele fim sobrenatural. No en-
dirigatur. Hoc autem sufficienter fit tanto, isso se realiza suficientemente
per fidem. Ergo non oportet habere pela fé. Logo, não é necessário que ha-
aliquas alias virtutes infusas. ja algumas outras virtudes infusas.
7. Praeterea, id quod fit virtute divina, 7. Além do mais, o que se faz pela vir-
non differt specie ab eo quod fit tude divina, não difere em espécie do
operatione naturae. Eadem enim spe- que se faz pela operação da natureza.
cie est sanitas quam aliquis miraculose Com efeito, é da mesma espécie a saú-
recuperat, et quam natura operatur. Si de que alguém recupera milagrosa-
igitur sit aliqua virtus infusa, quae a mente e a que é obra da natureza. Por-
Deo esset in nobis, et aliqua acquisita tanto, se houvesse alguma virtude in-
per actus nostros, non propter hoc fusa, que estivesse em nós por Deus, e
specie differrent; puta, si sit temperan- alguma [virtude] adquirida através de
tia acquisita, et temperantia infusa. nossos atos, por causa Dele não dife-
Duae autem formae quae sunt unius rem na espécie; por exemplo, se hou-
speciei, non possunt simul esse in eo- ver [em nós] a temperança adquirida e
dem subiecto. Ergo non potest esse a temperança infusa. No entanto, duas
quod ille qui habet temperantiam ac- formas que são de uma mesma espécie
quisitam, habeat temperantiam infu- não podem estar simultaneamente no
sam. mesmo sujeito. Logo, não pode ser que
aquele que possua a temperança [me-
diante os seus atos] tenha a temperan-
ça infundida por Deus.
8. Praeterea, species virtutis ex actibus 8. Além do mais, a espécie da virtude é
cognoscitur. Sed sunt idem specie conhecida a partir dos atos. Ora, os
actus temperantiae infusae et atos da temperança infusa e da adqui-
acquisitae. Ergo et virtutes specie rida [mediante os nossos atos] são da
eaedem. Probatio mediae. mesma espécie. Logo, também [são]
Quaecumque conveniunt in materia et virtudes da mesma espécie. Prova da
forma, sunt unius speciei. Sed actus [premissa] média: todas as coisas que
temperantiae infusae et acquisitae convêm na matéria e na forma são de
conveniunt in materia: uterque enim uma mesma espécie. Ora, os atos da
est circa delectabilia tactus; temperança infusa e adquirida [medi-
conveniunt etiam in forma, quia ante os nossos atos] convêm na maté-
uterque in medietate consistit. Ergo ria: com efeito, uma e outra se referem
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non consequitur speciem; et ita per [este] é imperado pela virtude que tem
hoc virtus infusa moralis non differt por objeto o fim último. Logo, por este
specie a virtute acquisita per hoc quod [último] não obtém a espécie; e dessa
ordinatur ad finem vitae aeternae. maneira a virtude moral infundida
[por Deus] não difere na espécie da
virtude adquirida [pelos nossos hábi-
tos] porque se ordena ao fim da vida
eterna.
11. Praeterea, virtus infusa est in 11. Além do mais, a virtude está na
mente sicut in subiecto: dicit enim mente como no sujeito; pois diz Agos-
Augustinus, quod virtus est bona tinho que a virtude é uma boa qualida-
qualitas mentis, quam Deus in nobis de da mente, que Deus age em nós sem
sine nobis operatur. Sed virtutes nós. Ora, as virtudes morais não estão
morales non sunt in mente sicut in na mente como no sujeito: pois a tem-
subiecto: nam temperantia et fortitudo perança e a fortaleza são [virtudes] das
sunt irrationabilium partium, ut partes irracionais [da alma], como diz
philosophus dicit III Ethic. Ergo virtu- o Filósofo no livro III da Ética120. Lo-
tes morales non sunt infusae. go, não há virtudes morais infusas.
12. Praeterea, contraria sunt unius 12. Além do mais, os contrários são de
rationis. Sed vitium quod est contrari- uma mesma natureza. Ora, o vício, que
um virtuti, nunquam infunditur, sed é contrário à virtude, nunca é infundi-
solum ex actibus nostris causatur. Er- do, mas somente causado pelos nossos
go nec virtutes infunduntur, sed solum atos. Logo, as virtudes não são infun-
ex actibus nostris causantur. didas, mas apenas são causadas pelos
nossos atos.
13. Praeterea, homo ante 13. Além do mais, antes da aquisição
acquisitionem virtutis est in potentia da virtude o homem está em potência
ad virtutes. Sed potentia et actus sunt em relação às virtudes. Ora, a potência
unius generis: omne enim genus e o ato são de um mesmo gênero: com
dividitur per potentiam et actum, ut efeito, todo gênero se divide em função
patet in III Physic. Cum ergo potentia da potência e do ato, como se mostra
ad virtutem non sit ex infusione, vide- no livro III da Física121. Logo, como a
tur quod nec virtus ex infusione sit. potência em relação à virtude não é
infundida, parece que a virtude não é
infundida.
14. Praeterea, si virtutes infunduntur, 14. Além do mais, se as virtudes são
oportet quod simul infunduntur. Cum infundidas, é necessário que sejam
gratia autem infunditur homini qui in infundidas simultaneamente. No en-
peccato fuit, in actu; tunc non tanto, como a graça é infundida em ato
infunduntur sibi habitus virtutum no homem que esteve em pecado, en-
moralium: adhuc enim post tão não lhe são infundidos os hábitos
contritionem patitur passionum das virtudes morais: com efeito, ainda
molestias; quod non est virtuosi, sed depois da contrição padece as inquie-
forte continentis: differt enim tudes das paixões; o que não é próprio
continens a temperato per hoc quod do virtuoso, mas talvez do continente:
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bene agere. Ergo omnis virtus moralis tumes; com efeito, é causada pelo fre-
causatur ex actibus, et non ex infusio- quente agir bem. Logo, toda a virtude
ne gratiae. moral é causada pelos atos, e não por
infusão da graça.
19. Praeterea, si aliquae virtutes sunt 19. Além do mais, se algumas virtudes
infusae, oportet quod earum actus sint são infusas, é necessário que os seus
efficaciores quam actus hominis non atos sejam mais eficazes do que os atos
habentis virtutes. Sed ex huiusmodi do homem que não tinha a virtude.
actibus causatur aliquis habitus Ora, por tais atos é causado certo hábi-
virtutis in nobis. Ergo et ex actibus to da virtude em nós. Logo, também
virtutum infusarum, si aliquae sunt pelos atos das virtudes infusas, se al-
tales. Sed sicut dicitur II Ethic., quales gumas são tais. Ora, como se diz no
sunt habitus, tales actus reddunt; et livro II da Ética125, quais são os hábi-
quales sunt actus, tales habitus cau- tos, tais [são] os atos que produzem; e
sant. Habitus igitur causati ex actibus quais são os atos, tais são causados
virtutum infusarum, sunt eiusdem pelos hábitos. Por consequência, os
speciei cum virtutibus infusis. Sequitur hábitos causados pelos atos das virtu-
igitur quod duae formae eiusdem spe- des infusas são da mesma espécie que
ciei sunt simul in eodem subiecto. Hoc as virtudes infusas. Portanto, se segue
est autem impossibile. Ergo impossibi- que as duas formas da mesma espécie
le videtur quod sint in nobis aliquae estão simultaneamente no mesmo su-
virtutes infusae. jeito. No entanto, isso é impossível.
Logo, parece impossível que haja em
nós algumas virtudes infusas.
RESPONDEO RESPONDO
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Respondeo. Dicendum, quod praeter Respondo dizendo que além das virtu-
virtutes acquisitas ex actibus nostris, des adquiridas pelos nossos atos, as-
sicut iam dictum est, oportet ponere sim como já foi dita, são necessárias
alias virtutes in homine a Deo infusas. [entre as virtudes que há] no homem
Cuius ratio hinc accipi potest, quod outras virtudes infundidas por Deus. E
virtus, ut dicit philosophus, est quae a razão de ser pode tomar-se do se-
bonum facit habentem, et opus eius guinte: a virtude, como diz o Filósofo,
bonum reddit. Secundum igitur quod é o que torna bom aquele que a possui,
bonum diversificatur in homine, e torna boa a sua obra. Portanto, en-
oportet etiam quod et virtus quanto que o bem se diversifica no
diversificetur; sicut patet quod aliud homem, também é necessário que se
est bonum hominis in quantum et diversifique na virtude; assim como se
homo, et aliud in quantum civis. Et mostra que um é o bem do homem
manifestum est quod aliquae operatio- enquanto é homem, e outro enquanto
nes possent esse convenientes homini é cidadão. E é manifesto que algumas
in quantum est homo, quae non essent operações poderiam ser convenientes
convenientes ei secundum quod est ao homem enquanto é homem, o que
civis. Et propter hoc philosophus dicit não lhe seriam convenientes ao ho-
in III Politic., quod alia est virtus quae mem enquanto é cidadão. E por causa
facit hominem bonum, et alia quae disso diz o Filósofo no livro III da Polí-
facit civem bonum. Considerandum est tica126, que uma é a virtude que faz o
autem, quod est duplex hominis bo- homem bom e outra a que o faz bom
num; unum quidem quod est propor- cidadão. No entanto, deve-se conside-
tionatum suae naturae; aliud autem rar que há um duplo bem do homem;
quod suae naturae facultatem excedit. um, certamente, o que é proporciona-
Cuius ratio est, quia oportet quod pas- do à sua natureza; e outro, o que exce-
sivum consequatur perfectiones ab de à capacidade de sua natureza. E a
agente diversimode secundum diversi- razão disso se encontra em que é ne-
tatem virtutis agentis; unde videmus cessário que [o princípio] passivo ad-
quod perfectiones et formae quae cau- quira as perfeições do agente de modo
santur ex actione naturalis agentis, diverso conforme a diversidade da vir-
non excedunt naturalem facultatem tude do agente; por isso, vemos que as
recipientis: potentiae enim passivae perfeições e as formas que são causa-
naturali proportionatur virtus activa das pela ação de um agente natural
naturalis. Sed perfectiones et formae não excedem a capacidade natural do
quae proveniunt ab agente supernatu- que as recebe: com efeito, a virtude
rali infinitae virtutis, quod Deus est, ativa natural é proporcionada à potên-
excedunt facultatem naturae recipien- cia passiva natural. Ora, as perfeições e
tis. Unde anima rationalis, quae im- as formas que provêm do agente so-
mediate a Deo causatur, excedit capa- brenatural da virtude infinita, que é
citatem suae materiae, ita quod mate- Deus, excedem a capacidade da natu-
ria corporalis non totaliter potest reza do que as recebe. Por isso, a alma
comprehendere et includere ipsam; racional, que é causada imediatamente
sed remanet aliqua virtus eius et ope- por Deus, excede a capacidade da sua
ratio in qua non communicat materia matéria, de tal maneira que a matéria
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corporalis; quod non contingit de ali- corporal não pode abarcá-la e incluí-la
qua aliarum formarum quae causantur totalmente; e [a alma] conserva além
ab agentibus naturalibus. Sicut autem alguma virtude própria e a operação
homo suam primam perfectionem, na qual não se comunica com a maté-
scilicet animam, acquirit ex actione ria corporal; o que não sucede a pro-
Dei; ita et ultimam suam perfectio- pósito de nenhuma das outras formas
nem, quae est perfecta hominis felici- que são causadas pelos agentes natu-
tas, immediate habet a Deo, et in ipso rais. No entanto, assim como o homem
quiescit: quod quidem ex hoc patet adquire a sua primeira perfeição, a
quod naturale hominis desiderium in saber, a alma, pela ação de Deus; as-
ullo alio quietari potest, nisi in solo sim também a sua última perfeição,
Deo. Innatum est enim homini ut ex que é a felicidade perfeita do homem, a
causatis desiderio quodam moveatur tem imediatamente por Deus, e n’Ele
ad inquirendum causas; nec quiescit mesmo descansa: o que certamente é
istud desiderium quousque perventum evidente porque o desejo natural do
fuerit ad primam causam, quae Deus homem não pode inquietar-se em ne-
est. Oportet igitur quod, sicut prima nhum outro, senão apenas em Deus.
perfectio hominis, quae est anima rati- Com efeito, é natural ao homem o que
onalis, excedit facultatem materiae a partir das coisas que procedem de
corporalis; ita ultima perfectio ad qu- uma causa seja movido por certo dese-
am homo potest pervenire, quae est jo para inquirir as causas; e que não
beatitudo vitae aeternae, excedat facul- descanse esse desejo até que seja ele-
tatem totius humanae naturae. Et quia vado à primeira causa, que é Deus.
unumquodque ordinatur ad finem per Portanto, é necessário que assim como
operationem aliquam; et ea quae sunt a primeira perfeição do homem, que é
ad finem, oportet esse aliqualiter fini a alma racional, exceda a capacidade
proportionata; necessarium est esse da matéria corporal; assim também a
aliquas hominis perfectiones quibus perfeição última a que o homem pode
ordinetur ad finem supernaturalem, chegar, que é a beatitude da vida eter-
quae excedant facultatem principio- na, exceda a capacidade de toda a na-
rum naturalium hominis. Hoc autem tureza humana. E porque cada um se
esse non posset, nisi supra principia ordena ao fim por alguma operação é
naturalia aliqua supernaturalia opera- necessário que as coisas que são em
tionum principia homini infundantur a relação ao fim sejam de algum modo
Deo. Naturalia autem operationum proporcionadas ao fim, é necessário
principia sunt essentia animae, et po- que haja algumas perfeições do ho-
tentiae eius, scilicet intellectus et vo- mem por via das quais se ordena ao
luntas, quae sunt principia operatio- fim sobrenatural e que estas excedam
num hominis, in quantum huiusmodi; a capacidade dos princípios naturais
nec hoc esse posset, nisi intellectus do homem. No entanto, isto não pode-
haberet cognitionem principiorum per ria dar-se a não ser que sejam infundi-
quae in aliis dirigeretur, et nisi volun- dos por Deus no homem alguns prin-
tas haberet naturalem inclinationem cípios sobrenaturais das operações,
ad bonum naturae sibi proportiona- além dos princípios naturais. Contudo,
tum; sicut in praecedenti quaestione os princípios naturais das operações
dictum est. Infunditur igitur divinitus são a essência da alma e as suas potên-
homini ad peragendas actiones ordina- cias, a saber, o intelecto e a vontade,
tas in finem vitae aeternae primo qui- que são os princípios das operações do
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dem gratia, per quam habet anima homem enquanto tal; e isso não pode-
quoddam spirituale esse, et deinde ria ser se o intelecto não estabelecesse
fides, spes et caritas; ut per fidem in- o conhecimento dos princípios pelos
tellectus illuminetur de aliquibus su- quais fosse conduzido em outras [ope-
pernaturalibus cognoscendis, quae se rações], e a não ser que a vontade ti-
habent in isto ordine sicut principia vesse uma inclinação natural ao bem
naturaliter cognita in ordine connatu- que é proporcionado à sua natureza;
ralium operationum; per spem autem como foi dito em uma questão prece-
et caritatem acquirit voluntas quam- dente. Portanto, para realizar acaba-
dam inclinationem in illud bonum su- damente as ações ordenadas ao fim da
pernaturale ad quod voluntas humana vida eterna é infundida por parte de
per naturalem inclinationem non suf- Deus no homem, certamente em pri-
ficienter ordinatur. Et sicut praeter meiro lugar, a graça, pela qual a alma
ista principia naturalia requiruntur tem certo ser espiritual, e logo a fé, a
habitus virtutum ad perfectionem ho- esperança e a caridade; para que pela
minis secundum modum sibi connatu- fé o intelecto seja iluminado pelo co-
ralem, ut supra dictum est; ita ex divi- nhecimento de certas verdades sobre-
na influentia consequitur homo, prae- naturais, que estão nesta ordem como
ter praemissa supernaturalia principia, os princípios naturalmente conhecidos
aliquas virtutes infusas, quibus perfici- no domínio das operações conaturais;
tur ad operationes ordinandas in fi- pela esperança e a caridade a vontade
nem vitae aeternae. adquire uma certa inclinação até aque-
le bem sobrenatural ao qual a vontade
humana não se ordena de modo ade-
quado mediante a inclinação natural. E
assim, além desses princípios naturais,
se requer os hábitos das virtudes em
relação à perfeição do homem confor-
me o modo de ser que lhe é conatural,
como foi dito acima, [e se requer tam-
bém], além dos princípios sobrenatu-
rais, que o homem adquira algumas
virtudes infusas pelas quais é aperfei-
çoado para que as suas operações se-
jam ordenadas conforme o fim da vida
eterna.
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est homo perfectus, primo autem mo- absoluto, mas do primeiro modo [o] é
do secundum quid; ita et quantum ad de forma relativa; assim também
perfectionem finis, dupliciter homo quanto à perfeição do fim o homem
potest esse perfectus: uno modo se- pode ser perfeito de dois modos: de
cundum capacitatem suae naturae, alio um modo, segundo a capacidade da
modo secundum quamdam supernatu- sua natureza, de outro modo segundo
ralem perfectionem: et sic dicitur ho- certa perfeição sobrenatural: e deste
mo perfectus esse simpliciter; primo [segundo] modo se diz que o homem é
autem modo secundum quid. Unde perfeito em absoluto, mas do primeiro
duplex competit virtus homini; una modo de forma relativa. Por isso, com-
quae respondet primae perfectioni, pete ao homem uma dupla virtude:
quae non est completa virtus; alia quae uma, que corresponde à primeira per-
respondet suae perfectioni ultimae: et feição, a qual não é a virtude completa;
haec est vera et perfecta hominis vir- outra, que corresponde à sua perfeição
tus. última, e esta é a verdadeira e perfeita
virtude do homem.
2. Ad secundum dicendum, quod na- 2. Respondo dizendo que a natureza
tura providit homini in necessariis se- proveu o homem das coisas necessá-
cundum suam virtutem; unde respectu rias conforme a sua virtude: por isso
eorum quae facultatem naturae non em relação às coisas que não excedem
excedunt, habet homo a natura non à capacidade da natureza, o homem
solum principia receptiva, sed etiam tem na natureza não só os princípios
principia activa. Respectu autem eo- receptivos, mas também os princípios
rum quae facultatem naturae exce- ativos. No entanto, em relação às coi-
dunt, habet homo a natura aptitudi- sas que excedem à capacidade da natu-
nem ad recipiendum. reza, o homem tem a aptidão para ser
receptivo.
3. Ad tertium dicendum, quod semen 3. Respondo dizendo que a semente
hominis agit secundum totam virtutem do homem age conforme toda a virtu-
hominis. Semina autem virtutum ani- de do homem. No entanto, as semen-
mae humanae naturaliter indita non tes das virtudes da alma humana que
agunt secundum totam virtutem Dei; estão naturalmente introduzidas não
unde non sequitur quod ex eis possit agem conforme toda a virtude de
causari quidquid potest causare Deus. Deus; por isso que não se segue que
por elas pode ser causado tudo o que
Deus pode causar.
4. Ad quartum dicendum, quod cum 4. Respondo dizendo que, como não
nullum meritum sit sine caritate, actus há mérito sem a caridade, o ato da vir-
virtutis acquisitae, non potest esse tude adquirida não pode ser meritório
meritorius sine caritate. Cum caritate sem a caridade. No entanto, com a ca-
autem simul infunduntur aliae ridade são infundidas simultaneamen-
virtutes; unde actus virtutis acquisitae te as outras virtudes; por isso que o ato
non potest esse meritorius nisi da virtude adquirida não pode ser me-
mediante virtute infusa. Nam virtus ritório senão mediante a virtude infu-
ordinata in finem inferiorem non facit sa. Com efeito, a virtude ordenada a
actus ordinatum ad finem superiorem, um fim inferior não torna o ato orde-
nisi mediante virtute superiori; sicut nado ao fim superior, mas mediante a
fortitudo, quae est virtus hominis qua virtude superior; assim como a fortale-
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homo, non ordinat actum suum ad za, que é a virtude do homem enquan-
bonum politicum, nisi mediante to homem, não ordena o seu ato ao
fortitudine quae est virtus hominis in bem político, senão mediante a fortale-
quantum est civis. za que é a virtude do homem enquanto
é cidadão.
5. Ad quintum dicendum, quod 5. Respondo dizendo que quando al-
quando aliqua actio procedit ex guma ação procede de muitos agentes
pluribus agentibus ad invicem reciprocamente ordenados, a sua per-
ordinatis, eius perfectio et bonitas feição e bondade pode ser impedida
impediri potest per impedimentum pelo obstáculo de um só dos agentes,
unius agentium, etiam si aliud fuerit inclusive se o outro fosse perfeito: com
perfectum: quantumcumque enim efeito, ainda que o artista seja perfeito,
artifex sit perfectus, non faciet não haverá a operação perfeita se o
operationem perfectam, si instrumento for defeituoso. No entan-
instrumentum fuerit defectivum. In to, nas operações do homem, as quais
operationibus autem hominis quas é necessário que se tornem boas medi-
oportet bonas fieri per virtutem, hoc ante a virtude, deve-se considerar que
considerandum est: quod actio superi- a ação da potência superior não de-
oris potentiae non dependet ab inferi- pende da potência inferior; mas a ação
ori potentia; sed actio inferioris de- da inferior depende da superior. E por
pendet a superiori. Et ideo ad hoc causa disso que para que os atos das
quod actus inferiorum virium sint per- forças inferiores sejam perfeitos, isto é,
fecti, scilicet irascibilis et concupiscibi- os do irascível e concupiscível, não só
lis, requiritur quod non solum intellec- se requer que o intelecto esteja orde-
tus sit ordinatus in finem ultimum per nado ao fim último através da fé e da
fidem, et voluntas per caritatem; sed vontade mediante a caridade; mas
etiam quod inferiores vires, scilicet também que as forças inferiores, isto é,
irascibilis et concupiscibilis, habeant o irascível e o concupiscível tenham as
proprias operationes, ad hoc quod ea- próprias operações para que os seus
rum actus sint boni, et ordinabiles in atos sejam bons e ordenáveis ao fim
finem ultimum. último.
6. Unde etiam patet solutio ad sextum. 6. Por isso também é evidente a solu-
ção para o sexto argumento.
7. Ad septimum dicendum, quod 7. Respondo dizendo que toda forma
omnem formam quam operatur que é produzida pela natureza Deus
natura, potest etiam eamdem specie também pode produzir por si mesmo,
Deus operari per seipsum sine sem o concurso da obra da natureza, a
operatione naturae: et secundum hoc, mesma realidade que produz a nature-
sanitas quae a Deo miraculose za: e por isso, a saúde que se obtém
perficitur, est eiusdem speciei cum milagrosamente por Deus é da mesma
sanitate quam facit natura. Unde non espécie que a saúde que causa a natu-
sequitur quod omnem formam quam reza. Por isso não se segue que toda
Deus potest facere, possit etiam natura forma que Deus possa causar possa
perficere; unde non oportet quod vir- também produzir a natureza; por cau-
tus infusa, quae est immediate a Deo, sa disso, não é necessário que a virtude
sit eiusdem speciei cum virtute acqui- infusa, que é imediatamente [causada]
sita. por Deus, seja da mesma espécie que a
virtude adquirida.
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temperantia vel fortitudo speciem sor- são atos da caridade. Por consequên-
tiantur. Non igitur temperantia et for- cia, não se seguiria disso que a tempe-
titudo infusae differunt specie ab ac- rança ou a fortaleza infusas não dife-
quisitis ex hoc quod imperantur a cari- rem especificamente das adquiridas
tate earum actus; sed ex hoc quod ea- porque os seus atos são imperados pe-
rum actus secundum eam rationem la caridade; mas porque os seus atos
sunt in medio constituti, prout ordina- constituem um meio conforme aquela
biles ad ultimum finem qui est caritatis proporção segundo a qual são ordena-
obiectum. dos ao último fim que é o objeto da
caridade.
11. Ad undecimum dicendum, quod 11. Repondo dizendo que a temperan-
temperantia infusa est in irascibili, ça infusa está no irascível, mas o iras-
irascibilis autem et concupiscibilis sic cível e o concupiscível são designados
accipiunt nomen rationis vel [potências] da razão ou racionais, en-
rationalis, in quantum participant quanto participam de algum modo da
aliqualiter ratione, in quantum razão, na medida em que a obedecem.
obediunt ei. Illa ergo secundum eum- Logo, aquelas [potências, isto é, o iras-
dem modum accipiunt nomen mentis, cível e o concupiscível] se designam
prout obediunt menti; ut verum sit como [potências] da mente da mesma
quod Augustinus dicit, quod virtus in- maneira, enquanto obedecem à mente;
fusa est bona qualitas mentis. como é verdadeiro o que diz Agosti-
nho, que a virtude infusa é uma boa
qualidade da mente.
12. Ad duodecimum dicendum, quod 12. Respondo dizendo que o vício tem
vitium hominis est per hoc quod ad lugar no homem porque se reduz ao
inferiora reducitur; sed virtus eius est inferior; mas a sua virtude porque se
per hoc quod in superiora elevatur; et eleva ao superior; e por isso o vício não
ideo vitium non potest esse ex pode ser infundido, mas apenas a vir-
infusione, sed solum virtus. tude.
13. Ad decimumtertium dicendum, 13. Respondo dizendo que quando
quod quando aliquod passivum natum algo passivo é naturalmente apto para
est consequi diversas perfectiones a alcançar diversas perfeições dos diver-
diversis agentibus ordinatis, secundum sos agentes ordenados conforme a di-
differentiam et ordinem potentiarum ferença e a ordem das potências ativas
activarum in agentibus, est differentia nos agentes, há a diferença e a ordem
et ordo potentiarum passivarum in das potências passivas no passivo,
passivo; quia potentiae passivae res- porque a potência ativa corresponde à
pondet potentia activa: sicut patet potência passiva: assim se mostra que
quod aqua vel terra habet aliquam po- a água ou a terra têm alguma potência
tentiam secundum quam nata est mo- enquanto são naturalmente aptas a
veri ab igne; et aliam secundum quam serem movidas pelo fogo; e outra, en-
nata est moveri a corpore caelesti; et quanto é naturalmente apta a ser mo-
ulterius aliam secundum quam nata vida pelo corpo celeste; e finalmente
est moveri a Deo. Sicut enim ex aqua outra, enquanto é naturalmente apta
vel terra potest aliquid fieri virtute para ser movida por Deus. Com efeito,
corporis caelestis, quod non potest assim como pela virtude do corpo ce-
fieri virtute ignis; ita ex eis potest ali- leste pode haver algo a partir da água
quid fieri virtute supernaturalis agen- ou da terra que não pode realizar-se
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tis quod non potest fieri virtute alicu- pela virtude do fogo; assim também
ius naturalis agentis; et secundum hoc pela virtude do agente sobrenatural
dicimus, quod in tota creatura est qua- pode haver algo a partir deles que não
edam obedientialis potentia, prout tota pode realizar-se pela virtude do agente
creatura obedit Deo ad suscipiendum natural; e segundo isso dizemos que
in se quidquid Deus voluerit. Sic igitur em toda criatura há certa potência da
et in anima est aliquid in potentia, obediência, uma vez que toda criatura
quod natum est reduci in actum ab obedece a Deus para receber em si tu-
agente connaturali; et hoc modo sunt do o que Deus queria. Portanto, dessa
in potentia in ipsa virtutes acquisitae. maneira também há algo na potência
Alio modo aliquid est in potentia in da alma que é naturalmente apto para
anima quod non est natum educi in ser reduzido a ato por um agente cona-
actum nisi per virtutem divinam; et sic tural; e desse modo as virtude adquiri-
sunt in potentia in anima virtutes das [mediante os nossos atos] estão na
infusae. potência na mesma [alma]. De outro
modo, há algo na potência da alma que
não é naturalmente apto para ser re-
duzido a ato a não ser pela virtude di-
vina; e dessa maneira as virtudes infu-
sas estão em potência na alma.
14. Ad decimumquartum dicendum, 14. Respondo dizendo que as paixões
quod passiones ad malum inclinantes que se inclinam para o mal não são
non totaliter tolluntur neque per totalmente suprimidas nem pela virtu-
virtutem acquisitam neque per de adquirida [mediante os nossos a-
virtutem infusam, nisi forte tos], nem pela virtude infusa, a não ser
miraculose; quia semper remanet talvez milagrosamente; porque sempre
colluctatio carnis contra spiritum, permanece o combate da carne contra
etiam post moralem virtutem; de qua o espírito, mesmo depois da virtude
dicit apostolus, Gal., V, 17, quod caro moral; conforme diz o Apóstolo em Gl
concupiscit adversus spiritum, 5, 17 que a carne tem aspirações con-
spiritus autem adversus carnem. Sed trárias ao espírito e o espírito contrá-
tam per virtutem acquisitam quam rias à carne. Ora, tais paixões são re-
infusam huiusmodi passiones modifi- guladas tanto pela virtude adquirida
cantur, ut ab his homo non effrenate [mediante os nossos atos] como pela
moveatur. Sed quantum ad aliquid infusa, para que o homem não seja
praevalet in hoc virtus acquisita, et movido por elas desenfreadamente.
quantum ad aliquid virtus infusa. Vir- Mas algo prevalece seja quanto à vir-
tus enim acquisita praevalet quantum tude adquirida, seja quanto à virtude
ad hoc quod talis impugnatio minus infusa. Com efeito, a virtude adquirida
sentitur. Et hoc habet ex causa sua: prevalece quanto a isto: que tal oposi-
quia per frequentes actus quibus homo ção [das paixões] é menos sentida. E
est assuefactus ad virtutem, homo iam por isso se dá [no homem] em razão
dissuevit talibus passionibus obedire, dela: porque mediante os atos frequen-
cum consuevit eis resistere; ex quo tes pelos quais o homem é habituado à
sequitur quod minus earum molestias virtude, [o mesmo] homem já se desa-
sentiat. Sed praevalet virtus infusa bituou a obedecer a tais paixões, pois
quantum ad hoc quod facit quod hu- se habitou a resisti-las; do que se segue
iusmodi passiones etsi sentiantur, nul- que sente menos as suas moléstias.
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ARTICULUS 11 ARTIGO 11
1. Nihil enim augetur nisi quantum. 1. Com efeito, nada aumenta senão o
Virtus autem non est quantitas, sed quantitativo. No entanto, a virtude não
qualitas. Ergo non augetur. é quantidade, mas qualidade. Logo,
não aumenta.
2. Praeterea, virtus est forma acciden- 2. Além do mais, a virtude é uma for-
talis. Sed forma est simplicissima et ma acidental. Ora, a forma é simplís-
invariabili essentia consistens. Ergo sima e consiste em uma essência inva-
virtus non variatur secundum suam riável. Logo, a virtude não varia se-
essentiam; ergo nec secundum essen- gundo a sua essência; portanto, não
129 Outros lugares: S. Th., I-II, q. 52, a. 1; q. 66, a. 1; q. 92, a. 1, ad. 1; II-II q. 24, a. 4.
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infusarum. Ergo non omnis virtus in- está a caridade, nem muitas outras
fusa augetur. virtudes infusas. Logo, nem toda vir-
tude infusa aumenta.
12. Praeterea, si virtus infusa augetur, 12. Além do mais, se a virtude infusa
oportet quod augeatur a Deo, qui eam aumenta, é necessário que aumente
causat. Si autem Deus eam auget, por Deus, Quem a causa. No entanto,
oportet quod hoc fiat per alium eius se Deus a aumenta, é necessário que
influxum. Sed novus influxus non isso seja realizado mediante outro in-
potest esse, nisi sit nova virtus infusa. fluxo seu. Ora, o novo influxo não pode
Ergo virtus infusa non potest augeri existir a não ser que haja uma nova
nisi per additionem novae virtutis. Sic virtude infusa. Logo, a virtude infusa
autem non potest augeri, ut supra os- não pode aumentar senão por adição
tensum est. Ergo virtus infusa nullo de uma nova virtude. Contudo, não
modo augetur. pode aumentar desse modo, como se
mostrou acima. Logo, a virtude infusa
não aumenta de modo algum.
13. Praeterea, habitus maxime 13. Além do mais, os hábitos aumen-
augentur ex actibus. Cum igitur virtus tam principalmente pelos atos. Portan-
sit habitus; si augetur, maxime augetur to, como a virtude é um hábito, se au-
per suum actum. Sed hoc non potest menta, aumenta principalmente pelo
esse, ut videtur; cum actus egrediatur seu ato. Ora, isto não pode ser, pelo
ab habitu. Nihil autem augetur per hoc que parece; porque o ato procede do
quod aliquid ab eo egreditur, sed per hábito. No entanto, nada aumenta
hoc quod aliquid in eo recipitur. Ergo porque algo procede dele, mas porque
virtus nullo modo augetur. é recebido nele. Logo, a virtude não
aumenta de modo algum.
14. Praeterea, omnes actus virtutis 14. Além do mais, todos os atos da
unius sunt rationis. Si igitur aliqua virtude são da mesma natureza. Por-
virtus per suum actum augetur, tanto, se alguma virtude aumenta pelo
oportet quod per quemlibet actum seu ato, é necessário que aumente me-
augeatur; quod videtur esse falsum ex diante qualquer ato; o que parece ser
experimento: non enim experimur falso pela experiência: pois não expe-
quod virtus in quolibet actu crescat. rimentamos que a virtude cresça em
relação a qualquer ato.
15. Praeterea, illud cuius ratio in 15. Além do mais, aquilo cuja natureza
superlativo consistit, non potest consiste em algo superlativo não pode
augeri: optimo enim non est aliquid aumentar: pois não há nada melhor do
melius, nec albissimo est aliquid que o ótimo, nem mais branco do que
albius. Sed ratio virtutis in o branquíssimo. Ora, a natureza da
superlatione consistit: est enim virtus virtude consiste em algo superlativo;
ultimum potentiae. Ergo virtus non pois a virtude é o último da potência.
potest augeri. Logo, a virtude não pode aumentar.
16. Praeterea, omne illud cuius ratio 16. Além do mais, tudo aquilo cuja
consistit in aliquo indivisibili, caret natureza consiste em algo indivisível
intensione et remissione; sicut forma carece de intensificação e de diminui-
substantialis, et numerus, et figura. ção: como a forma substancial, o nú-
Sed ratio virtutis consistit in quodam mero e a figura. Ora, a natureza da vir-
indivisibili: est enim in medietate con- tude consiste em algo indivisível; com
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sistens. Ergo virtus non intenditur ne- efeito, consiste em um meio [termo]133.
que remittitur. Logo, a virtude não se intensifica nem
diminui.
17. Praeterea, nullum infinitum potest 17. Além do mais, nada infinito pode
augeri; quia infinito non est aliquid aumentar; porque não há algo maior
magis. Sed virtus infusa est infinita, do que o infinito. Ora, a virtude infusa
quia per eam meretur homo infinitum é infinita, porque por ela o homem
bonum, scilicet Deum. Ergo virtus in- merece o Bem infinito, isto é, Deus.
fusa augeri non potest. Logo, a virtude infusa não pode au-
mentar.
18. Praeterea, nulla res procedit ultra 18. Além do mais, nenhuma coisa a-
suam perfectionem, quia perfectio est vança além da sua perfeição, porque a
terminus rei. Sed virtus est perfectio perfeição é o término da coisa. Ora, a
habentis eam; dicitur enim VII Physic., virtude é a perfeição do que se possui;
quod virtus est dispositio perfecti ad pois se diz, no livro VII da Física134,
optimum. Ergo virtus non augetur. que a virtude é uma disposição do per-
feito para o ótimo. Logo, a virtude não
aumenta.
RESPONDEO RESPONDO
133 Diz-se ‘meio’ enquanto significa ‘meio termo’ entre o excesso e a deficiência; portanto, se
refere ao meio termo qualitativo e não quantitativo, embora no caso da virtude da justiça se
possa falar de ‘meio termo’, indicando o meio termo qualitativo da razão, quanto ao quantitati-
vo dos bens. Por isso, “este meio consiste na proporção ou na mensuração das coisas e das pai-
xões relativas ao homem”: Tomás de Aquino, De Virt a13 ad17. Diz-se ‘meio’ enquanto significa
‘meio termo’ entre o excesso e a deficiência; portanto, se refere ao meio termo qualitativo e não
quantitativo, embora no caso da virtude da justiça se possa falar de ‘meio termo’, indicando o
meio termo qualitativo da razão, quanto ao quantitativo
dos bens. Por isso, “este meio consiste na proporção ou na mensuração das coisas e das paixões
relativas ao homem”: TOMÁS DE AQUINO, De Virt a13 ad17.
134 ARISTÓTELES, Physica, VII, 3, 246 a 11 e ss.; 246 b 3 e ss.; 247 a 3.
135 AGOSTINHO, In Joannis Evangelium, LXXIV, 1.
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non diversificantur numero nisi per ram que, desse modo, a caridade ou
subiectum. Si igitur qualitas additur qualquer outra virtude infusa aumenta
qualitati, oportet alterum duorum pela adição da caridade pela caridade,
esse: vel quod subiectum addatur ou da virtude pela virtude, ou da bran-
subiecto, ut puta quod unum album cura pela brancura; o que não pode ser
addatur alteri albo; aut quod aliquid in em absoluto. Com efeito, a adição de
subiecto fiat album, quod prius non um pelo outro não pode compreender-
fuit album, ut quidam posuerunt circa se a não ser que se pressuponha uma
qualitates corporeas; quod etiam dualidade. No entanto, a dualidade nas
improbat philosophus in IV formas de uma mesma espécie não
physicorum. Cum enim aliquid fit pode compreender-se senão pela di-
magis curvum, non curvatur aliquid versidade do sujeito. Pois as formas de
quod prius curvum non fuit, sed totum uma mesma espécie não se distinguem
fit magis curvum. Circa qualitates au- em número senão mediante o sujeito.
tem spirituales, quarum subiectum est Portanto, se a qualidade se acrescenta
anima, vel pars animae impossibile est à qualidade, é necessário que ocorra
etiam hoc fingere. Unde quidam alii uma destas duas coisas: ou que o sujei-
dixerunt caritatem, et alias virtutes to se acrescente ao sujeito, como, por
infusas, non augeri essentialiter; sed exemplo, que algo branco se acrescen-
quod dicuntur augeri, vel in quantum te a outra coisa branca, ou que no su-
radicantur fortius in subiecto, vel in jeito se faça branco algo que antes não
quantum ferventius vel intensius ope- era branco, como alguns afirmaram
rantur. Sed hoc quidem dictum aliqu- em relação às qualidade corporais; o
am rationem haberet, si caritas esset que também rejeitou o Filósofo no li-
quaedam substantia habens per se esse vro IV da Física136. Com efeito, ao fa-
absque substantia; unde et Magister zer-se algo mais curvo não se curva
sententiarum, aestimans caritatem algo que antes não fora curvo, mas tu-
esse aliquam substantiam, scilicet ip- do se faz mais curvo. No entanto, em
sum spiritum sanctum, non irrationa- relação às qualidades espirituais, cujo
biliter hunc modum augmenti posuisse sujeito é a alma, ou parte da alma,
videtur. Sed alii, aestimantes caritatem também é impossível que isso ocorra.
esse qualitatem quamdam, penitus Por isso, alguns outros disseram que a
irrationabiliter sunt locuti. Nihil enim caridade e as outras virtudes infusas
est aliud qualitatem aliquam augeri, não aumentam essencialmente; mas se
quam subiectum magis participare diz que aumentam, ou enquanto se
qualitatem; non enim est aliquod esse arraigam com mais força no objeto, ou
qualitatis nisi quod habet in subiecto. enquanto agem mais férvido ou inten-
Ex hoc autem ipso quod subiectum samente. Ora, certamente esta posição
magis participat qualitatem, vehemen- teria alguma razoabilidade, se a cari-
tius operatur; quia unumquodque agit dade fosse certa substância que tivesse
in quantum est actu; unde quod magis o ser por si sem um sujeito que a sus-
est reductum in actum, perfectius agit. tente; por isso, também o Mestre das
Ponere igitur quod aliqua qualitas non Sentenças118137, que também conside-
augeatur secundum essentiam, sed ra que a caridade é certa substância, a
augeatur secundum radicationem in saber, o próprio Espírito Santo, não
subiecto, vel secundum intensionem parece haver sustentado irracional-
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actus, est ponere contradictoria esse mente este modo de aumento. Ora, os
simul. Et ideo considerandum restat outros, os que consideram que a cari-
quomodo aliquae qualitates et formae dade é certa qualidade, falaram de um
augeri dicuntur; et quae sunt quae au- modo absolutamente irracional. Com
geri possunt. Sciendum est ergo, quod efeito, que alguma qualidade aumente
cum nomina sint signa intellectuum, não significa outra coisa senão que o
ut dicitur I Periher.; sicut ex magis sujeito participa mais da qualidade;
notis cognoscimus minus nota, ita eti- pois não é próprio da qualidade o ter
am ex magis notis minus nota nomi- outro ser senão o que tem no sujeito.
namus. Et inde est quod, quia motus No entanto, porque o sujeito participa
localis est notior inter omnes motus, mais da qualidade, age mais intensa-
ex contrarietate secundum locum deri- mente; porque toda coisa age enquan-
vatur nomen distantiae ad omnia con- to está em ato; por isso, se está mais
traria inter quae potest esse aliquis reduzido ao ato, age mais perfeitamen-
motus; ut dicit philosophus X Metaph. te. Portanto, afirmar que alguma qua-
Et similiter, quia motus substantiae lidade não aumenta segundo a sua es-
secundum quantitatem est sensibilior sência, mas que aumenta segundo a
quam motus secundum alterationem; radicação no sujeito, ou conforme a
inde est quod nomina convenientia intensidade do ato, é afirmar que as
motui secundum quantitatem derivan- coisas contraditórias são simultanea-
tur ad alterationem. Et inde est quod, mente. E por isso deve-se considerar
sicut corpus quod movetur ad quanti- de que modo se afirma que podem
tatem perfectam dicitur augeri, et ipsa aumentar certas qualidades e formas, e
quantitas perfecta dicitur magna res- quais são as que podem aumentar.
pectu imperfectae; ita illud quod mo- Portanto, deve-se saber por que os
vetur de qualitate imperfecta ad per- nomes são sinais do inteligido, como
fectam, dicitur augeri secundum quali- se diz no livro I Sobre a interpreta-
tatem; et ipsa qualitas perfecta dicitur ção138; assim como a partir das coisas
magna respectu imperfectae. Et quia mais conhecidas chegamos ao conhe-
perfectio uniuscuiusque rei est eius cimento das que são menos, assim
bonitas; ideo Augustinus dicit, quod in também a partir do mais conhecido
his quae non magna mole sunt, idem denominamos o menos. E por isso,
est esse maius quod melius. Moveri devido ao movimento local ser o mais
autem de forma imperfecta ad perfec- conhecido dentre todos os movimen-
tam, nihil est aliud quam subiectum tos, da contrariedade segundo o lugar
magis reduci in actum: nam forma ac- se deriva o nome da distância para to-
tus est; unde subiectum magis percipe- das as coisas contrárias dentre as que
re formam, nihil aliud est quam ipsum pode haver algum movimento; como
reduci magis in actum illius formae. Et diz o Filósofo no livro X da Metafísi-
sicut ab agente reducitur aliquid de ca139. E, de modo semelhante, porque
pura potentia in actum formae; ita eti- o movimento da substância conforme
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quo causantur. Actus autem nostri nas proporções, por exemplo, o dobro
comparantur ad augmentum caritatis e o triplo. De outro modo, pela relação
et virtutum infusarum, ut disponentes, da forma com o sujeito; porque inere a
sicut ad caritatem a principio obtinen- ele de modo indivisível. E por causa
dam; homo enim faciens quod in se disso, a forma substancial não admite
est, praeparat se, ut a Deo recipiat ca- intensificação ou diminuição, porque
ritatem. Ulterius autem actus nostri dá o ser substancial, que é de um só
possunt esse meritorii respectu aug- modo: com efeito, onde há outro ser
menti caritatis; quia praesupponunt substancial há outra coisa; e por causa
caritatem, quae est principium meren- disso o Filósofo, no livro VIII da Meta-
di. Sed nullus potest mereri, quin a física142, compara as definições aos
principio obtineat caritatem; quia me- números. E também por isso, nada que
ritum sine caritate esse non potest. Sic se predique substancialmente de ou-
igitur caritatem augeri per intensio- tro, inclusive se está no gênero do aci-
nem dicimus. dente, se predica segundo o mais e o
menos; pois a brancura não se diz mais
ou menos cor. E por isso as qualidades
também se designam em abstrato,
porque são designadas pelo modo da
substância, nem se intensificam nem
diminuem; com efeito, a brancura não
se diz mais ou menos, mas branco.
Contudo, nem uma nem outra dessas
causas se dá na caridade e nas demais
virtudes infusas, como para que não se
intensifiquem nem diminuam; porque
nem a natureza destas [virtudes] con-
siste em algo indivisível, como na na-
tureza do número; nem dão o ser subs-
tancial ao sujeito, como as formas
substanciais; e por causa disso se in-
tensificam e diminuem, enquanto o
sujeito é mais reduzido ao ato das
mesmas pela ação do agente que as
causa. Por isso, assim como as virtudes
adquiridas aumentam mediante os
atos pelos quais são causadas, assim as
virtude infusas aumentam pela ação de
Deus, por Quem são causadas. No en-
tanto, os nossos atos se relacionam
com o aumento da caridade e das vir-
tudes infusas como disponentes, assim
como para obter a caridade inicial;
pois o homem que faz o que está em
seu poder se prepara para receber a
caridade de Deus. Contudo, além dis-
so, os nossos atos podem ser meritó-
rios em relação ao aumento da carida-
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secundum magis et minus: non enim menos: com efeito, não se diz mais ou
dicitur magis vel minus virtus; sed menos virtude; porém se diz que uma
maior caritas dicitur magis virtus maior caridade [é] mais virtude, em
propter modum significandi, quia razão do modo de significar, porque é
significatur ut substantia. Sed quia significado como uma substância. Ora,
ipsa non praedicatur essentialiter de porque ela mesma não se predica es-
suo subiecto, subiectum secundum sencialmente do seu sujeito, o sujeito
eam recipit magis et minus: ut dicatur conforme a ela recebe [a denomina-
subiectum habens magis caritatis vel ção] mais e menos: como se diz que o
minus; et quod est habens magis cari- sujeito possui mais ou menos carida-
tatem est magis virtuosum. de; e aquele que tem mais caridade é
mais virtuoso.
5. Ad quintum dicendum, quod caritas 5. Respondo dizendo que a caridade
non diminuitur, quia non habet não diminui, porque não tem causa de
causam diminutionis, ut Ambrosius diminuição, como prova Ambrósio; no
probat; habet autem causam entanto, tem a causa do aumento, a
augmenti, scilicet Deum. saber, Deus.
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titatem quae competit eis per se, ha- lhes corresponde por si mesmas, tem
bent aliam magnitudinem vel quanti- outra magnitude ou quantidade que
tatem quae competit eis per accidens; lhe corresponde por acidente; e isso
et hoc dupliciter. Uno modo ratione por dois modos. Um modo, pela razão
subiecti; sicut albedo dicitur quanta do sujeito; assim como quando se diz
per accidens, quia subiectum eius est da brancura quantitativamente por
quantum; unde augmentato subiecto, acidente, porque o seu sujeito é quan-
augmentatur albedo per accidens. Sed titativo; por isso, aumentado o sujeito,
secundum hoc augmentum, non dici- aumenta a brancura por acidente. Ora,
tur aliquid magis album, sed maior segundo este aumento, não se diz que
albedo, sicut et dicitur aliquid maius algo [é] mais branco, mas que [é] mai-
album: non enim aliter praedicantur or a brancura, assim como quando
ea quae pertinent ad hoc augmentum, também se afirma que algo [é] de mai-
de albedine, et de subiecto ratione cu- or brancura: com efeito, não se predica
ius albedo per accidens augeri dicitur. de outro modo o que pertence a este
Sed hic modus quantitatis et augmenti aumento em relação à brancura e ao
non competit qualitatibus animae, sujeito em razão do qual se afirma que
scilicet scientiis et virtutibus. Alio mo- a brancura aumenta por acidente. Ora,
do quantitas et augmentum attribuitur este modo [de predicação do termo]
alicui qualitati per accidens, ex parte quantidade e do [termo] aumento não
obiecti in quod agit: et haec dicitur corresponde às qualidades da alma,
quantitas virtutis; quae magis dicitur isto é, às ciências e às virtudes. De ou-
propter quantitatem obiecti vel conti- tro modo, [os termos] quantidade e
nentiam; sicut dicitur magnae virtutis aumento são atribuídos a alguma qua-
qui magnum pondus potest ferre, vel lidade por acidente: por parte do obje-
qualitercumque potest magnam rem to em relação ao qual age: e este [mo-
facere, sive magnitudine dimensiva, do de atribuição do termo quantidade]
sive magnitudine perfectionis, vel se- se denomina quantidade da virtude; a
cundum quantitatem discretam; sicut qual se diz [que é] maior por causa da
dicitur aliquis magnae virtutis qui po- quantidade do objeto ou de sua capa-
test multa facere. Et hoc modo quanti- cidade de conter; assim como se diz
tas per accidens potest attribui qualita- que alguém tem grande virtude quem
tibus animae, scilicet scientiis et virtu- pode levar um grande peso ou quem
tibus. Sed tamen hoc interest inter sci- pode fazer de qualquer modo uma
entiam et virtutem: quia de ratione grande coisa, seja com magnitude di-
scientiae non est quod se extendat in mensional, seja com magnitude de
actum respectu omnium obiectorum: perfeição, ou segundo a quantidade
non enim est necesse quod sciens om- discreta; assim como se diz que tem
nia scibilia cognoscat. Sed de ratione uma grande virtude quem pode fazer
virtutis est quod in omnibus virtuose muitas coisas. E desse modo, a quanti-
se agat. Unde scientia potest augeri vel dade pode ser atribuída por acidente
secundum numerum obiectorum, vel às qualidades da alma, a saber, às ci-
secundum intensionem eius in subiec- ências e às virtudes. No entanto, há
to; virtus autem uno modo tantum. uma diferença entre a ciência e a vir-
Sed considerandum est, quod eiusdem tude: porque não é próprio da natureza
rationis est quod aliqua qualitas in ali- da ciência o que se estende em ato re-
quid magnum possit, et quod ipsa sit lativo a todos os objetos; pois não é
magna, sicut ex supradictis patet; unde necessário que o que sabe conheça to-
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tur secundum totum posse caritatis; virtude; pois não é necessário que o
usus enim habituum subiacet volunta- que possua a caridade aja sempre se-
ti. gundo todo o poder da caridade; com
efeito, o uso dos hábitos subjaz à von-
tade.
15. Ad decimumquintum dicendum, 15. Respondo dizendo que a natureza
quod ratio virtutis non consistit in da virtude não consiste em algo super-
superlatione quantum ad se, sed lativo em relação a si mesma, mas em
quantum ad suum obiectum: quia per relação ao seu objeto: porque pela vir-
virtutem ordinatur homo ad ultimum tude o homem se ordena ao último da
potentiae, quod est bene operari; unde potência, que é o agir bem; por isso diz
philosophus dicit, VII Phys., quod o Filósofo no livro VII da Física145, que
virtus est dispositio perfecti ad a virtude é uma disposição do perfeito
optimum. Tamen ad hoc optimum ali- para o ótimo. Contudo, em relação ao
quis potest esse magis, vel minus dis- ótimo alguém pode estar mais ou me-
positus; et secundum hoc, virtus reci- nos disposto; e conforme isso, a virtu-
pit magis vel minus. Vel dicendum, de é receptiva de mais ou de menos.
quod ultimum non dicitur simpliciter, Ou não se diz que [a virtude é algo]
sed ultimum specie; sicut ignis est spe- último em absoluto, mas [algo] último
cie subtilissimum corporum, et homo em relação à espécie; como o fogo é o
dignissima creaturarum; et tamen u- mais sutil na espécie dos corpos e o
nus homo est dignior altero. homem a mais digna das criaturas; e,
no entanto, um homem é mais digno
que outro.
16. Ad decimumsextum dicendum, 16. Respondo dizendo que a natureza
quod ratio virtutis non consistit in da virtude não consiste em algo indivi-
indivisibili secundum se, sed ratione sível em si mesmo, mas em razão do
sui subiecti, in quantum quaerit seu sujeito, enquanto busca o meio
medium: ad quod quaerendum potest [virtuoso]: para procurar o que alguém
aliquis diversimode se habere, vel pode ter disposto de diversos modos,
peius vel melius. Et tamen ipsum seja pior ou melhor. No entanto, o
medium non est omnino indivisibile; próprio meio [virtuoso] não é absolu-
habet enim aliquam latitudinem: tamente indivisível; pois tem certa
sufficit enim ad virtutem quod amplitude; já que para a virtude é sufi-
appropinquet ad medium, ut dicitur II ciente que se aproxime do meio, como
Ethic.; et propter hoc unus actus altero se diz no livro II da Ética146; e por cau-
virtuosior dicitur. sa disso se afirma que um ato [é] mais
virtuoso que outro.
17. Ad decimumseptimum dicendum, 17. Respondo dizendo que a virtude da
quod virtus caritatis est infinita ex caridade é infinita por parte de Deus,
parte Dei, vel finis; sed ad illum ou do fim; mas em relação a aquele
infinitum caritas finite disponit; unde infinito a caridade é disposta de uma
potest magis vel minus esse. maneira finita; por isso pode ser maior
ou menor.
18. Ad decimumoctavum dicendum, 18. Respondo dizendo que nem todo o
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ARTICULUS 12 ARTIGO 12
Et videtur quod non recte virtutes dis- E parece que as virtudes não se distin-
tinguantur. guem corretamente.
147Outros lugares: S. Th., I-II, q. 62, a. 2; III Sent., D. 23, q. 1, a. 4, q. a 3, ad 4; De Verit., q. 14, a.
3, ad 9.
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est circa singularia: sed odium est eti- Mas, ao contrário, diz Aristóteles no
am universalium; habemus enim odio livro II da Ética151, que a ira sempre é
omne latronum genus. Odium autem relativa às coisas singulares: porém o
ad appetitum pertinet. Ergo appetitus ódio também versa sobre as coisas u-
est respectu universalium. niversais; com efeito, temos ódio con-
tra todas as classes de ladrões. No en-
tanto, o ódio pertence ao apetite. Logo,
o apetite é relativo às coisas universais.
19. Praeterea, unaquaeque potentia 19. Além do mais, cada potência tem
naturaliter tendit in suum obiectum. naturalmente o seu objeto. No entanto,
Obiectum autem appetitus est bonum o objeto do apetite é o bem apreendi-
apprehensum. Ergo appetitus do. Logo, o apetite tem naturalmente o
naturaliter tendit in bonum ex quo est bem a partir do que é apreendido. Ora,
apprehensum. Sed ad a prudência nos aperfeiçoa suficiente-
apprehendendum bonum sufficienter mente para apreender o bem. Logo,
nos perficit prudentia. Ergo praeter não é necessário que tenhamos alguma
prudentiam non est necessarium nos outra virtude moral no apetite além da
habere aliquam virtutem aliam prudência, pois em relação a ele [isto
moralem in appetitu, cum ad hoc é, em relação ao bem da parte apetiti-
sufficiat inclinatio naturalis. va] é suficiente a inclinação natural.
20. Praeterea, ad virtutem sufficit 20. Além do mais, o conhecimento e a
cognitio et operatio. Sed utrumque operação são suficientes para a virtu-
horum habetur per prudentiam. Ergo de. Ora, ambos são obtidos pela pru-
praeter prudentiam non oportet pone- dência. Logo, além da prudência não é
re alias virtutes morales. necessário afirmar a existência de ou-
tras virtudes morais.
21. Praeterea, sicut appetitivi habitus 21. Além do mais, assim como os hábi-
distinguuntur penes obiecta, ita et tos apetitivos se distinguem em relação
habitus cognoscitivi. Sed de omnibus aos objetos, assim também os hábitos
moralibus est unus habitus cognoscitivos. Ora, em relação a todos
cognoscitivus, vel scientia moralis os objetos morais há um só hábito
circa omnia moralia, vel etiam cognoscitivo, ou a ciência moral em
prudentia. Ergo et una tantum est in relação a todas as coisas morais, ou
appetitu virtus moralis. também a prudência. Logo, também
há uma só virtude moral no apetite.
22. Praeterea, ea quae conveniunt in 22. Além do mais, as coisas que con-
forma, et differunt solum in materia, vêm na forma e diferem só na matéria
sunt unum specie. Sed omnes virtutes são de uma mesma espécie. Ora, todas
morales conveniunt secundum id quod as virtudes morais convêm segundo o
est formale in eis, quia in omnibus est que é formal nelas, porque em todas
medium acceptum secundum há um meio [termo] determinado con-
rationem rectam; non autem differunt forme a reta razão; no entanto, não
nisi penes materias. Ergo non differunt diferem a não ser em relação às maté-
specie, sed numero tantum. rias. Logo, não diferem na espécie a
não ser numericamente.
23. Praeterea, ea quae differunt 23. Além do mais, as coisas que dife-
151 ARISTÓTELES, Ethica Nicomachea, II, 9, 1109 b 14; Aristóteles, Retorica, II, 4, 1382 a 3.
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specie, non denominantur ad invicem. rem por sua espécie não se designam
Sed virtutes morales denominant se ad umas pelas outras. Ora, as virtudes
invicem: quia, ut Augustinus dicit, morais se designam umas pelas outras:
oportet quod iustitia sit fortis et porque, como diz Agostinho152, é ne-
temperata, et temperantia iusta et cessário que a justiça seja forte e tem-
fortis, et sic de aliis. Ergo virtutes non perada, e a temperança justa e forte, e
distinguuntur ad invicem. assim nas outras [virtudes]. Logo, as
virtudes não se distinguem entre si.
24. Praeterea, virtutes theologicae et 24. Além do mais, as virtudes teolo-
cardinales, sunt principaliores quam gais e as cardeais são mais importantes
morales. Sed virtutes intellectuales do que as morais. Ora, as virtudes inte-
non dicuntur cardinales, neque theo- lectuais não se denominam cardeais,
logicae. Ergo nec morales debent dici nem as teologais. Logo, nem as virtu-
cardinales, quasi principales. des morais devem chamar-se cardeais
como [se fossem as virtudes] princi-
pais.
25. Praeterea, tres ponuntur animae 25. Além do mais, há três partes da
partes; scilicet rationalis, irascibilis et alma; isto é, a racional, a irascível e a
concupiscibilis. Ergo si sunt aliquae concupiscível. Logo, se há certas virtu-
virtutes principales, videtur quod sint des principais, parece que são só três.
tres tantum.
26. Praeterea, aliae virtutes videntur 26. Além do mais, outras virtudes pa-
istis principaliores; sicut est magna- recem mais importantes do que estas;
nimitas, quae operatur magnum in assim como ocorre com a magnanimi-
omnibus virtutibus, ut dicitur IV E- dade, que opera o grande em todas as
thic.; et humilitas, quae est custos vir- virtudes, como se diz no livro IV da
tutum; mansuetudo etiam videtur esse Ética153; e a humildade, que é a guar-
principalior quam fortitudo, cum sit diã das virtudes; e, também, a mansi-
circa iram, a qua denominatur irascibi- dão parece ser de maior importância
lis; liberalitas et magnificentia, quae do que a fortaleza, como está em rela-
dant de suo, videntur esse principalio- ção à ira, a partir da qual se denomina
res quam iustitia quae reddit alteri de- irascível; a liberalidade e a magnifi-
bitum. Ergo istae non sunt virtutes cência, pelas quais alguém se dá a si
cardinales, sed magis aliae. mesmo, parecem ser mais importantes
do que a justiça, pela qual se restitui o
devido. Logo, estas não são as virtudes
cardeais, mas antes as outras.
27. Praeterea, pars non distinguitur a 27. Além do mais, a parte não se dis-
suo toto. Sed aliae virtutes ponuntur a tingue do seu todo. Ora, outras virtu-
Tullio, partes istarum quatuor: scilicet des são mencionadas por Túlio154, co-
prudentiae, iustitiae, fortitudinis, et mo partes destas quatro: a saber, da
temperantiae. Ergo saltem aliae virtu- prudência, da justiça, da fortaleza e da
tes morales non distinguuntur ab istis; temperança. Logo, ao menos as outras
et sic videntur virtutes non recte dis- virtudes morais não se distinguem
tingui. dessas; e assim parece que as virtudes
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se distinguem retamente.
1. Est quod I Cor. XIII, 13, dicitur: 1. É o que se diz em 1Cor 13, 13: agora,
nunc autem manent fides, spes, portanto, permanecem fé, esperança,
caritas, tria haec; et Sap. VIII, 7: caridade, estas três coisas; e em Sb
sobrietatem et prudentiam docet, et 8,7: ensina a temperança e a prudên-
iustitiam, et virtutem. cia, a justiça e a fortaleza.
RESPONDEO RESPONDO
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lem et concupiscibilem. Nam etiam hic vontade: mas também o apetite que
appetitus in homine sequitur está na parte sensitiva do homem, e se
apprehensionem rationis, in quantum divide no irascível e no concupiscível.
imperio rationis obedit; unde et Com efeito, também este apetite segue
participare dicitur aliqualiter no homem a apreensão da razão, en-
rationem. Bonum igitur hominis est et quanto obedece ao império da razão;
bonum cognitivae et bonum appetiti- por isso, também se afirma que parti-
vae partis. Non autem secundum eam- cipa de algum modo da razão. Portan-
dem rationem utrique parti bonum to, o bem do homem não só é o bem da
attribuitur. Nam bonum appetitivae [parte] cognoscitiva, mas também o
parti attribuitur formaliter, ipsum e- bem da parta apetitiva. No entanto, o
nim bonum est appetitivae partis obi- bem não é atribuído a uma e outra par-
ectum: sed intellectivae parti attribui- te segundo a mesma consideração.
tur bonum non formaliter, sed materi- Com efeito, o bem é atribuído à parte
aliter tantum. Nam cognoscere verum, apetitiva formalmente; pois o mesmo
est quoddam bonum cognitivae partis; bem é o objeto da parte apetitiva: mas
licet sub ratione boni non comparetur o bem não é atribuído à parte intelecti-
ad cognitivam, sed magis ad appetiti- va formalmente, mas só materialmen-
vam: nam ipsa cognitio veri est quod- te. Com efeito, conhecer o verdadeiro é
dam appetibile. Oportet igitur alterius um certo bem da parte cognoscitiva,
rationis esse virtutem quae perficit ainda que não se relacione com a [par-
partem cognoscitivam ad cognoscen- te] cognoscitiva sob a razão de bem,
dum verum, et quae perficit rationem porém mais propriamente com a apeti-
appetitivam ad apprehendendum bo- tiva: pois o conhecimento mesmo do
num; et propter hoc philosophus in verdadeiro é algo apetecível. Portanto,
Lib. Ethic., distinguit virtutes intellec- é necessário que seja de uma natureza
tuales a moralibus: et intellectuales distinta a virtude que aperfeiçoa a par-
dicuntur quae perficiunt partem intel- te cognoscitiva para conhecer o verda-
lectualem ad cognoscendum verum, deiro, e a que aperfeiçoa a parte apeti-
morales autem quae perficiunt partem tiva para apreender o bem; e por causa
appetitivam ad appetendum bonum. disso o Filósofo, no livro da Ética156,
Et quia bonum magis congrue compe- distingue as virtudes intelectuais das
tit parti appetitivae quam intellectivae, morais e como as intelectuais se desig-
propter hoc, nomen virtutis conveni- nam as que aperfeiçoam a parte inte-
entius et magis proprie competit virtu- lectual para conhecer o verdadeiro;
tibus appetitivae partis quam virtuti- como morais, contudo, as que aperfei-
bus intellectivae; licet virtutes intellec- çoam a parte apetitiva para desejar o
tivae sint nobiliores perfectiones quam bem. E porque o bem convém mais
virtutes morales, ut probatur VI Ethic. apropriadamente à parte apetitiva do
Cognitio autem veri non est respectu que à intelectiva, por causa disso, o
omnium unius rationis. Alia enim rati- nome da virtude corresponde mais
one cognoscitur verum necessarium, et conveniente e propriamente às virtu-
verum contingens: et iterum verum des da parte apetitiva que às virtudes
necessarium alia ratione cognoscitur si da [parte] intelectiva; ainda que as
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sit per se notum, sicut intellectu cog- virtudes intelectivas sejam perfeições
noscuntur prima principia; alia ratione mais nobres do que as virtudes morais,
si fiat notum ex alio, sicut fiunt notae como se prova no livro VI da Ética157.
conclusiones per scientiam vel sapien- No entanto, o conhecimento do verda-
tiam circa altissima: in quibus etiam deiro não é da mesma razão em rela-
est alia ratio cognoscendi, eo quod ex ção a todas as coisas. Com efeito, o
hac homo dirigitur in aliis cognoscen- verdadeiro necessário e o verdadeiro
dis. Et similiter circa contingentia ope- contingente são conhecidos de um
rabilia non est eadem ratio cognoscen- modo distinto e, às vezes, o verdadeiro
di ea quae sunt in nobis, quae dicuntur necessário é conhecido de certa manei-
agibilia, ut sunt operationes nostrae, ra, se é admitido como verdadeiro ao
circa quas frequenter contingit errare, ponto de ser conhecido, como os pri-
propter aliquam passionem; quarum meiros princípios conhecidos pelo in-
est prudentia: et ea quae sunt extra telecto, e de outro modo, se é conheci-
nos a nobis factibilia, in quibus dirigit do a partir de outro, como são conhe-
ars aliqua; quorum rectam aestimatio- cidas as conclusões pela ciência, ou
nem passiones animae non corrum- pela sabedoria em relação às coisas
punt. Et ideo philosophus ponit VI mais elevadas: nas quais também há
Ethic., virtutes intellectuales, scilicet um outro modo de conhecer, porque
sapientiam, et scientiam et por este o homem é conduzido a co-
intellectum, prudentiam et artem. Si- nhecer outras coisas. E de modo seme-
militer etiam bonum appetitivae partis lhante em relação às realidades con-
non secundum eamdem rationem se tingentes, não é da mesma natureza o
habet in omnibus rebus humanis. Hu- conhecimento das que estão em nós,
iusmodi autem bonum in tripartita que são denominadas operáveis, como
materia quaeritur; scilicet in passioni- são as nossas operações nas quais o-
bus irascibilis et in passionibus concu- corre errar frequentemente por causa
piscibilis, et in operationibus nostris de alguma paixão; sobre as quais versa
quae sunt circa res exteriores quae ve- a prudência: e aquelas coisas que são
niunt in usum nostrum, sicut est emp- exteriores a nós e feitas por nós, em
tio et venditio, locatio et conductio, et relação as quais nos dirige alguma ar-
huiusmodi alia. Bonum enim hominis te, cuja reta estima não é corrompida
in passionibus est, ut sic homo in eis se pelas paixões da alma. E por isso e-
habeat, quod per earum impetum a nuncia o Filósofo, no livro VI da Éti-
rationis iudicio non declinet; unde si ca158, como virtudes intelectuais: a sa-
aliquae passiones sunt quae bonum ber, a sabedoria, a ciência, o intelecto,
rationis natae sint impedire per mo- a prudência e a arte. Além disso, de
dum incitationis ad agendum vel pro- modo semelhante, o bem da parte ape-
sequendum, bonum virtutis praecipue titiva não se dá segundo a mesma for-
consistit in quadam refrenatione et ma em todas as coisas humanas. No
retractione; sicut patet de temperantia, entanto, este modo de bem é buscado
quae refrenat et compescit concupis- em três classes de matéria; a saber, nas
centias. Si autem passio nata sit prae- paixões do irascível, nas paixões do
cipue bonum rationis impedire in re- concupiscível, e em nossas operações
trahendo, sicut timor, bonum virtutis relativas às coisas exteriores que con-
circa huiusmodi passionem erit in sus- cernem ao nosso uso, como se dá na
tinendo; quod facit fortitudo. Circa res compra, na venda, no salário, no ar-
vero exteriores bonum rationis consis- rendamento, e outras coisas semelhan-
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tit in hoc quod debitam proportionem tes. Com efeito, o bem do homem nas
suscipiant, secundum quod pertinent paixões é de tal maneira que ao se re-
ad communicationem humanae vitae; lacionar com elas não declina do juízo
et ex hoc imponitur nomen iustitiae, da razão pelo seu ímpeto; por isso, se
cuius est dirigere, et aequalitatem in há algumas paixões que são natural-
huiusmodi invenire. Sed consideran- mente inclinadas a impedir [a realiza-
dum est, quod tam bonum intellectivae ção] do bem da razão incitando a agir
partis quam appetitivae est duplex: ou a ir em busca [de algo contrário], o
scilicet bonum quod est ultimus finis, bem da virtude consiste principalmen-
et bonum quod est propter finem; nec te em certo refrear e retrair; assim co-
est eadem ratio utriusque. Et ideo pra- mo se mostra na temperança, que re-
eter omnes virtutes praedictas, secun- freia e reprime as concupiscências. No
dum quas homo bonum consequitur in entanto, se a paixão principalmente é
his quae sunt ad finem, oportet esse por natureza inclinada a impedir o
alias virtutes secundum quas homo bem da razão retraindo [dele], como
bene se habet circa ultimum finem, qui no caso do temor, o bem da virtude em
Deus est; unde et theologicae dicuntur, relação a esse modo de paixão estará
quia Deum habent non solum pro fine, no resistir; o que faz a fortaleza.
sed etiam pro obiecto. Ad hoc autem Contudo, em relação às coisas exterio-
quod moveamur recte in finem, opor- res, o bem da razão consiste em que
tet finem esse et cognitum et desidera- recebam a proporção devida, conforme
tum. Desiderium autem finis duo exi- se referem à comunicação da vida hu-
git: scilicet fiduciam de fine obtinendo, mana; e por isso se assinala o nome da
quia nullus sapiens movetur ad id justiça, da qual é próprio regular e en-
quod consequi non potest; et amorem contrar a igualdade nessas classes de
finis, quia non desideratur nisi ama- coisas. Mas se deve considerar que
tum. Et ideo virtutes theologicae sunt tanto o bem da parte intelectiva como
tres: scilicet fides, qua Deum cognos- da parte apetitiva é duplo: a saber, o
cimus; spes, qua ipsum nos obtenturos bem que é o fim último, e o bem que é
esse speramus; et caritas, qua eum em razão do fim; [pois] a natureza de
diligimus. Sic ergo patet quod sunt tria ambos não é a mesma. E por isso, além
genera virtutum: theologicae, intellec- de todas as virtudes mencionadas,
tuales et morales et quodlibet genus conforme as quais o homem alcança o
sub se plures species habet. bem nestas coisas que são relativas ao
fim, é necessário que haja outras vir-
tudes conforme as quais o homem se
disponha retamente em relação ao úl-
timo fim, que é Deus; por isso são de-
nominadas teologais, porque não só
tem a Deus por fim, mas também por
objeto. No entanto, para que nos mo-
vamos retamente até o fim, é necessá-
rio que o fim seja conhecido e também
desejado. Contudo, o desejo do fim
exige duas coisas: a saber, a confiança
de obter o fim, porque nenhum ho-
mem prudente se move ao que não
pode conseguir, e o amor do fim por-
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24-28.
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fines et ea quae sunt ad finem. Sicut fins e o que é em razão do fim. Portan-
igitur ad perfectam cognitionem et to, assim como para o conhecimento
expeditam non sufficit quod homo perfeito e expedito não é suficiente que
bene se habeat circa principia per o homem esteja bem disposto em rela-
intellectum, sed ulterius requiritur ção aos [primeiros] princípios pelo
scientia ad conclusiones; ita in intelecto, mas que, além disso, se re-
operativis praeter virtutes theologicas, queira a ciência para as conclusões;
quibus bene nos habemus ad ultimum assim no operativo, além das virtudes
finem, sunt necessariae virtutes aliae, teologais,mediante as quais nos faze-
quibus bene ordinemur ad ea quae mos bem dispostos ao último fim, nos
sunt ad finem. são necessárias outras virtudes, pelas
quais nos fazemos bem ordenados em
relação ao que é em razão do fim.
13. Ad decimumtertium dicendum, 13. Respondo dizendo que ainda que o
quod licet bonum, in quantum bem, enquanto tal, seja objeto de uma
huiusmodi, sit obiectum appetitivae virtude apetitiva e não de uma intelec-
virtutis et non intellectivae; tamen id tiva; no entanto, aquele que é o bem
quod est bonum, potest inveniri etiam pode estar na [parte] intelectiva. Com
in intellectiva. Nam cognoscere verum, efeito, conhecer o verdadeiro é certo
quoddam bonum est; et sic habitus bem; e assim, o hábito que aperfeiçoa
perficiens intellectum ad verum cog- o intelecto para conhecer o verdadeiro
noscendum, habet virtutis rationem. tem natureza de virtude.
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20. Ad vicesimum dicendum est, quod 20. Respondo dizendo que o conheci-
cognitio ad prudentiam immediate mento pertence imediatamente à pru-
pertinet; sed operatio pertinet ad eam dência, mas a operação pertence a ela
mediante appetitiva virtute; et ideo mediante a virtude apetitiva; e por isso
debent in appetitiva etiam virtute esse também na virtude apetitiva deve ha-
aliqui habitus, qui dicuntur virtutes ver alguns hábitos, que são chamados
morales. de virtudes morais.
21. Ad vicesimumprimum dicendum, 21. Respondo dizendo que em todas as
quod in omnibus moralibus est una coisas morais há só uma razão de ver-
ratio veri: in omnibus enim moralibus dade: com efeito, em todas as coisas
est verum contingens agibile; non morais há algo verdadeiro, operável e
tamen in eis est una ratio boni, quod contingente; no entanto, não há nelas
est obiectum virtutis. Et ideo respectu uma só razão de bem, a qual constitui
omnium moralium est unus habitus o objeto da virtude. E por isso em rela-
cognoscitivus, sed non una virtus ção a toda a moral há um só hábito
moralis. cognoscitivo, mas não uma só virtude
moral.
22. Ad vicesimumsecundum 22. Respondo dizendo que o meio se
dicendum, quod medium in diversis encontra de diversos modos nas maté-
materiis diversimode invenitur; et ideo rias diversas; e por isso a diversidade
diversitas materiae in virtutibus da matéria nas virtudes morais causa a
moralibus causat diversitatem diversidade formal conforme a qual as
formalem secundum quam virtutes virtudes morais diferem especifica-
morales specie differunt. mente.
23. Ad vicesimumtertium dicendum, 23. Respondo dizendo que algumas
quod quaedam virtutes morales virtudes morais especiais, e relativas a
speciales, et circa materiam specialem uma matéria especial existente, tomam
existentes, appropriant sibi illud quod para si aquilo que é comum a toda a
est commune omni virtuti, et ab eo virtude e se denominam por isso [co-
denominantur: propterea quod illud mum], porque aquilo que é comum a
quod est omnibus commune in aliqua todas [as virtudes] em alguma matéria
speciali materia, praecipue especial tem especial dificuldade e mé-
difficultatem et laudem habet. rito. Com efeito, é manifesto que para
Manifestum est enim quod ad qualquer virtude se requeira que o seu
quamlibet virtutem requiritur quod ato seja regulado conforme as circuns-
actus eius sit modificatus secundum tâncias devidas, pelas quais se consti-
debitas circumstantias, quibus in tuem em um meio, e que [o dito ato]
medio constituitur, et quod sit directus seja dirigido em ordem ao fim, em re-
in ordine ad finem, vel ad quodcumque lação a qualquer outro objeto exterior
aliud exterius; et iterum quod habeat e que, por sua vez, possua firmeza.
firmitatem. Immobiliter enim operari Pois operar de um modo imóvel é uma
est una de conditionibus virtutis, ut das condições da virtude, como é evi-
patet III Ethic.; persistere autem dente no livro III da Ética163; no entan-
firmiter praecipue habet difficultatem to, perseverar com firmeza tem especi-
et laudem in periculis mortis, et ideo al dificuldade e mérito nos perigos da
virtus quae est circa hanc materiam, morte, e por isso a virtude relativa a
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aliquid immobile; et ideo fides dicitur sim como sobre algo imóvel; e por isso
fundamentum, I Corinth., III, 11: a fé se diz fundamento, em 1 Cor 3, 11:
fundamentum enim aliud nemo potest quanto ao fundamento, ninguém pode
ponere praeter id quod positum est; colocar outro diverso do que foi posto;
spes ancora, Heb. VI, 19: sicut anima a esperança é âncora, [como se diz] em
ancoram etc.; caritas radix, Ephes. III, Hb 6, 19: qual âncora da alma etc.; a
17: in caritate radicati et fundati. caridade é raiz, [como se diz] em Ef 3,
Similiter etiam intellectuales non 17: sejais arraigados e fundados no
dicuntur cardinales, quia perficiunt in amor. De um modo semelhante, tam-
vita contemplativa quaedam earum, bém as [virtudes] intelectuais não são
scilicet sapientia, scientia, et ditas cardeais, porque algumas delas
intellectus: vita autem contemplativa aperfeiçoam na vida contemplativa, a
est finis, unde non habet rationem saber, a sabedoria, a ciência e o inte-
ostii. Sed vita activa, in qua lecto: mas a vida contemplativa é o
perficiuntur morales, est ut ostium ad fim, por isso não tem a razão de porta.
contemplativam. Ars autem non habet Ora, a vida ativa, na qual as [virtudes]
virtutes sibi cohaerentes, ut cardinalis morais aperfeiçoam, é como uma porta
dici possit. Sed prudentia, quae dirigit para a [vida] contemplativa. No entan-
in vita activa, inter cardinales virtutes to, a arte não tem virtudes anexas a si,
computatur. para que possa chamar-se de cardeal.
Ora, a prudência, que dirige na vida
ativa, se encontra entre as virtudes
cardeais.
25. Ad vicesimumquintum dicendum, 25. Respondo dizendo que na parte
quod in parte rationali sunt duae racional há duas potências, a saber, a
virtutes, scilicet appetitiva, quae apetitiva, que se denomina vontade; e
vocatur voluntas; et apprehensiva, a apreensiva, que se denomina razão.
quae vocatur ratio. Unde in parte Por isso, na parte racional há duas vir-
rationali sunt duae virtutes cardinales: tudes cardeais: a prudência em relação
prudentia quantum ad rationem, à razão, a justiça em relação à vontade.
iustitia quantum ad voluntatem. In Na parte concupiscível, porém, a tem-
concupiscibili autem temperantia; sed perança; mas, na irascível, a fortaleza.
in irascibili fortitudo.
26. Ad vicesimumsextum dicendum, 26. Respondo dizendo que é necessá-
quod in unaquaque materia oportet rio que em cada matéria haja uma vir-
esse cardinalem virtutem circa id quod tude cardeal relativa ao que é mais im-
est principalius in materia illa. Virtutes portante naquela matéria. No entanto,
autem quae sunt circa alia quae perti- as virtudes que são relativas às outras
nent ad illam materiam, dicuntur se- coisas que pertencem àquela matéria,
cundariae vel adiectae. Sicut in passio- se denominam secundárias ou anexas.
nibus concupiscibilis, principaliores Como nas paixões do concupiscível
sunt concupiscentiae et delectationes referentes ao tato, as mais importantes
quae sunt secundum tactum, circa qu- são as concupiscências e as deleita-
as est temperantia; et ideo in materia ções, sobre as quais versa a temperan-
ista temperantia ponitur cardinalis; ça; e por isso, a temperança se diz car-
eutrapelia vero, quae est circa delecta- deal nessa matéria; mas a eutrapélia164
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tiones quae sunt in ludis, potest poni que é relativa às deleitações, que se
secundaria vel adiuncta. Similiter inter dão na diversão, e pode denominar-se
passiones irascibilis, praecipuum est secundária ou anexa. De modo seme-
quod pertinet ad timores et audacias lhante, dentre as paixões do irascível, o
circa pericula mortis, circa quae est mais importante é a que pertence aos
fortitudo: unde fortitudo ponitur vir- temores e às audácias em relação aos
tus cardinalis in irascibili; non mansu- perigos de morte, sobre as quais versa
etudo, quae est circa iras, licet ab ira a fortaleza: por isso a fortaleza se diz
denominetur, irascibilis propter hoc uma virtude cardeal no irascível; não a
quod est ultima inter passiones irasci- mansidão que é relativa à ira, ainda
bilis; nec etiam magnanimitas et hu- que [o irascível] se denomine [como
militas, quae quodammodo se habent tal] pela ira, devido a que [a ira] é a
ad spem vel fiduciam alicuius magni: última entre as paixões do irascível;
non enim ita movent hominem ira et nem também a magnanimidade e a
spes, sicut timor mortis. In actionibus humildade, que de algum modo se re-
autem quae sunt respectu exteriorum lacionam com a esperança ou com a
quae veniunt in usum vitae, primum et confiança de algo grande: pois a ira e a
praecipuum est quod unicuique quod esperança movem o homem com uma
suum est, reddatur: quod facit iustitia. intensidade tal como o temor da mor-
Hoc enim subtracto, neque liberalitas te. No entanto, nas ações que são rela-
neque magnificentia locum habet, et tivas às coisas exteriores que convêm
ideo iustitia est cardinalis virtus, et ao uso da vida, o primeiro e principal é
aliae sunt adiunctae. In actibus etiam que se restitua a cada um o seu: o que
rationis praecipuum est praecipere, faz a justiça. Com efeito, suprimida,
sive eligere, quod facit prudentia: ad não cabem nem à liberdade nem à
hoc enim ordinatur et consultiva, in magnificência, e por isso a justiça é
quo dirigit eubulia, et iudicium de con- uma virtude cardeal, e as outras são
siliatis, in quo dirigit synesis. Unde anexas. Além disso, nos atos da razão,
prudentia est cardinalis, aliae vero vir- o principal é imperar ou escolher, o
tutes sunt adiunctae. que faz a prudência: pois a isso se or-
dena tanto o que se aconselha, en-
quanto dirige o bom conselho165, como
um juízo do conselho, o qual é dirigido
pela inteligência166. Por isso, a prudên-
cia é cardeal, mas as outras virtudes
são anexas.
27. Ad vicesimumseptimum 27. Respondo dizendo que outras vir-
dicendum, quod aliae virtutes tudes anexas ou secundárias são de-
adiunctae vel secundariae ponuntur signadas partes das cardeais, não co-
partes cardinalium, non integrales vel mo [partes] integrais ou subjetivas,
subiectivae, cum habeant materiam pois tem uma matéria determinada e
determinatam et actum proprium; sed um ato próprio; mas como partes po-
quasi partes potentiales, in quantum tenciais, enquanto participam particu-
particulariter participant, et larmente e com deficiência do meio
deficienter medium quod principaliter que principalmente e com mais perfei-
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ARTICULUS 13 ARTIGO 13
167 Outros lugares: S. Th., I-II, q. 64, a. 1, 2, 3, 4; III Sent., D. 33, q. 1, a. 3, q.a 1; II Ethic., 1. 6, 7.
168 ARISTÓTELES, De caelo, I, 11, 281 a 14-15.
169 ARISTÓTELES, Praedicamenta, 10, 11 b 21.
170 ARISTÓTELES, Ethica Nicomachea, II, 5, 1106 a 14-15.
171 SÃO BERNARDO, De diligendo Deo, I, PL 182, 975 B, 984 A e B.
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quia Bernardus dicit quod modus diz que a medida da caridade é não ter
caritatis est non habere modum. medida. No entanto, a caridade é [a
Caritas autem praecipua est inter alias virtude] principal dentre as outras vir-
virtutes theologicas, et radix earum. tudes teologais, e a raiz delas. Além
Similiter etiam nec intellectualibus disso, de um modo semelhante, parece
virtutibus videtur competere ratio me- que nem às virtudes intelectuais com-
dii: quia medium est inter contraria; pete a razão de meio: porque o meio
res autem, prout sunt in intellectu non está entre os contrários; mas enquanto
sunt contrariae, nec intellectus cor- que as coisas estão no intelecto não são
rumpitur ex excellenti intelligibili, ut contrárias, e nem o intelecto se cor-
dicitur in III de anima. Similiter etiam rompe por [haver inteligido] um objeto
nec virtutes morales videntur esse in eminentemente inteligível, como se diz
medio: quia quaedam virtutes consis- no livro III Sobre a alma172. Igualmen-
tunt in maximo: sicut fortitudo est cir- te, também parece que as virtudes mo-
ca maxima pericula, quae sunt pericula rais não estão no meio: porque algu-
mortis; et magnanimitas circa mag- mas virtudes consistem em [algo] má-
num in honoribus; et magnificentia ximo: assim como a fortaleza, que é
circa magnum in sumptibus; et pietas relativa aos máximos perigos, que são
circa maximam reverentiam quae de- os perigos da morte; e a magnanimi-
betur parentibus, quibus nihil aequiva- dade que é relativa às grandes honras;
lens reddere possumus; et simile est de e a magnificência que é relativa aos
religione, quae circa magnum est in grandes dispêndios; e a piedade, rela-
cultu divino, cui non possumus suffici- tiva ao respeito máximo que se deve
enter servire. Ergo virtus non est in aos pais, aos quais nada equivalente [à
medio. vida que nos deram] podemos devol-
ver; e de modo semelhante se dá com a
religião, que é relativa à grandeza no
culto a Deus, a Quem não podemos
servir de um modo suficiente. Logo, a
virtude não está no meio [termo].
6. Praeterea, si perfectio virtutis 6. Além do mais, se a perfeição da vir-
consistit in medio, oportet quod tude consiste em um meio, é necessá-
perfectiores virtutes magis in medio rio que as virtudes mais perfeitas con-
consistant. Sed virginitas et paupertas sistam em um meio. Ora, a virgindade
sunt perfectiores virtutes, quia cadunt e a pobreza são as virtudes mais perfei-
sub consilio, quod non est nisi de tas, porque estão submetidas ao conse-
meliori bono. Ergo virginitas et pau- lho, que não é senão sobre o melhor
pertas essent in medio: quod videtur bem. Logo, parece que é falso que a
esse falsum; quia virginitas in materia virgindade e a pobreza estejam em um
venereorum abstinet ab omni venereo, bem; porque na matéria relativa às
et ita tenet extremum; et similiter in questões venéreas a virgindade se abs-
possessionibus paupertas, quia renun- tém de todo o venéreo, e assim se or-
tiat omnibus. Non ergo videtur quod dena a [algo] extremo; e de modo se-
ratio virtutis sit consistere in medio. melhante [ocorre] com a pobreza
quanto às posses, porque renuncia a
todas. Logo, não parece que a natureza
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1. Est quod omnis virtus vel est 1. É que toda a virtude ou é moral, ou
moralis, vel intellectualis, vel intelectual, ou teologal. No entanto, a
theologica. Virtus autem moralis est in virtude moral está em um meio; pois
medio; nam virtus moralis, secundum segundo o Filósofo, no livro VII da Éti-
philosophum in VII Ethic., est habitus ca178, a virtude moral é o hábito eletivo
electivus in medietate consistens. que consiste em um meio termo. Tam-
Virtus etiam intellectualis videtur esse bém a virtude intelectual parece estar
in medio, propter id quod apostolus em um meio [termo], pelo que diz o
dicit, Rom., XII, 3: non plus sapere Apóstolo, em Rm 12, 3: não tenha de si
quam oportet sapere, sed sapere ad mesmo um conceito mais elevado do
sobrietatem. Similiter etiam virtus que convém, mas uma justa medida.
theologica videtur esse in medio; nam De um modo semelhante também a
fides incedit media inter duas virtude teologal parece estar no meio
haereses, ut dicit Boetius in Lib. de [termo]; com efeito, a fé avança em
duabus naturis; spes etiam est media meio de duas heresias, como diz Boé-
inter praesumptionem et cio no livro Sobre as duas nature-
desperationem. Ergo omnis virtus est zas179; também a esperança está no
in medio. meio da presunção e do desespero.
Logo, toda virtude está no meio.
RESPONDEO RESPONDO
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intelligatur operatio boni honesti, de tal modo que, por melhor, não se
quod pertinet ad virtutem, sed boni entenda a operação do bem honesto,
delectabilis, quod pertinet ad que pertence à virtude, mas a do bem
voluptatem: voluptas enim est in fieri. deleitável que pertence ao prazer: Com
Quorum autem esse est in fieri, efeito, o prazer se encontra no fazer
quando facta sunt, non sunt; unde [algo prazeroso]. No entanto, aquelas
bonum voluptatis magis consistit in coisas cujo ser consiste em seu fazer-
fieri quam in factum esse. se, uma vez que foram feitas, já não
são; por isso que o bem do prazer con-
siste mais em fazer [algo prazeroso] do
que em havê-lo feito.
11. Ad undecimum dicendum, quod 11. Respondo dizendo que não é qual-
non quodcumque medium competit quer meio [termo] que corresponde à
virtuti, sed medium rationis: quod virtude, mas o meio [termo] da razão:
quidem medium non contingit e, certamente, não ocorre que o dito
invenire in vitiis, quia secundum meio se encontre nos vícios, porque
propriam rationem non oportet quod conforme a natureza mesma [do vício]
in vitiis sit virtus. não é razoável que nos vícios haja a
virtude.
12. Ad duodecimum dicendum, quod 12. Respondo dizendo que a justiça
iustitia non attingit medium in rebus não alcança o meio [termo] nas coisas
exterioribus, in quibus homo plus sibi exteriores, nas quais o homem toma de
accipit ex inordinatione voluntatis; mais para si por desordem da vontade;
unde vitiosum est. Sed quod de suis por isso que é vicioso. Ora, que algo de
rebus aliquid ab eo auferatur, hoc próprio lhe seja tirado, está fora do
praeter bonitatem eius est; unde alcance de sua bondade; por isso, não
inordinationem vitiosam in ipso non implica desordem viciosa nele mesmo.
importat. Sed passiones animae, circa Ora, estão em nós as paixões da alma,
quas sunt aliae virtutes, in nobis sunt; acerca das quais há as outras virtudes;
unde et earum superfluitas et por isso, também o supérfluo e a defi-
diminutio in vitium homini cedit. Et ciência fazem o homem ceder ao vício.
ideo aliae virtutes morales sunt inter E por isso, há outras virtudes morais
duo vitia; non autem iustitia, quae entre dois vícios; mas não a justiça,
tamen medium in propria materia que, todavia, tem o meio [termo] na
tenet, quod per se pertinet ad própria matéria, que por si correspon-
virtutem. de à virtude.
13. Ad decimumtertium dicendum, 13. Respondo dizendo que o meio
quod medium virtutis est medium [termo] da virtude é o meio [termo] da
rationis, et non medium rei; et ideo razão e não o meio [termo] da coisa; e
non oportet quod aequaliter distet ab por isso não é necessário que diste i-
utroque extremo, sed secundum quod gualmente de ambos os extremos, mas
ratio habet. Unde in quibus bonum conforme o que a razão estabelece. Por
rationis praecipue consistit in isso, uma vez que o bem da razão con-
refrenando passionem, virtus siste principalmente em refrear a pai-
propinquior est diminuto quam xão, a virtude está mais próxima da
superfluo; sicut patet in temperantia et deficiência do que do excesso, como é
mansuetudine. In quibus autem evidente na temperança e na mansi-
bonum est inducere ad id quod passio dão. Contudo, uma vez que o bem [da
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