Arte Gótica 1

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Arte Gótica

O termo “estilo gótico” refere-se ao estilo de arquitetura européia, escultura


(e artes menores) que ligava arte românica medieval com o renascimento
adiantado.

O período é dividido em início adiantado Gótico (1150-1250), Alto Gótico


(1250-1375), e Gótico Internacional (1375-1450).

Sua principal forma de expressão era arquitetura – exemplificado pelas


grandes catedrais góticas do norte da França

Os melhores exemplos de design gótico incluem: Catedral de Chartres


(1194-1250); Catedral de Notre-Dame (1163-1345); Sainte Chapelle (1241-
1248); ea Catedral de Colónia (a partir de 1248); bem como as catedrais de
Canterbury, Winchester, Abadia de Westminster e Santiago de Compostela.

Arte Gótica – Período

GÓTICO – 1130 A 1500


É quase impossível determinar com exatidão a passagem do Românico
para o Gótico. Por volta de 1800 o gótico ainda era considerado em alguns
quadrantes como a essência do que era discrepante e de mau gosto.

O século X encontra a Europa em crise. O poder real, enfraquecido, foi


substituído pelo feudalismo.

Invasões ameaçam a França. Desprotegidos, o povo se organiza em torno


dos castelos feudais, únicas – e precárias – fortalezas.

A tensão popular contribui para que se espalhe a crença propagada


pela Igreja de que se aproxima o juízo final: o mundo vai acabar no ano
1000.
A arte românica, expressão estética do feudalismo, reflete o medo do povo.
Esculturas anunciam o apocalipse, pinturas murais apavorantes retratam o
pânico que invade não só a França mas toda a Europa Ocidental. Chega o
ano 1000 e o mundo não acaba. Alguma coisa precisa acontecer.

Em 1005, surgem as primeira Cruzadas. O feudalismo ainda permanece,


mas tudo indica que não poderá resistir por muito tempo. Novos
pensadores fazem-se ouvir, propagando suas idéias. Fundam-se as
primeiras Universidades. Subitamente, a literatura cresce em importância.
Muitos europeus, até então confinados vida nas aldeias, passam a ter uma
visão mais ampla do mundo. Profunda mudança social está a caminho.

Pressentindo a queda do feudalismo, a arte antecipa-se aos


acontecimentos e cria novo estilo, que irá conviver durante certo tempo
com o românico, mas atendendo às novas necessidades.

Verdadeiro trabalho de futuristas da época, o Estilo Gótico surge pela


primeira vez em 1127, na arquitetura da basílica de Saint-Denis, construída
na região de Ile-de-France, hoje Paris. Saint- Denis é considerada como o
edifício “fundador” do gótico.

Fins do século XII. Graças ao apoio da burguesia e da classe trabalhadora,


os reis conseguem retomar sua autoridade. Enfraquecido, o poder feudal
vai aos poucos desaparecendo. A população passa a ter maior influência na
vida pública nacional, da qual tinha sido até então mera espectadora.

Eufóricos diante da própria importância, os habitantes de cada região


sentem a necessidade de demonstrar sua emancipação.

A catedral será o símbolo de sua vitória. Aí se realizarão não apenas os


atos religiosos, mas as atividades comunitárias de todo o grupo: será a
casa do povo.
Não mais cheia de esculturas e desenhos tenebrosos, mas alta, imponente,
iluminada. Que suas torres pontiagudas tentem atingir as nuvens. Livre do
medo do fim do mundo, o povo é animado por novo sopro de fé.

As paredes de seus templos devem deixar entrar a luz do sol em múltiplas


cores que lembrem a presença divina Da necessidade de construir
catedrais que correspondessem euforia e ao misticismo do povo, surgiu a
arquitetura gótica. As primeiras foram construídas na França, ao redor de
onde se encontra hoje a cidade de Paris; foi essa uma das primeiras regiões
a eliminar o feudalismo.

Com as construções das catedrais, começaram a ser definidos os princípios


fundamentais desse estilo. O gótico teve início na França, por ser o novo
centro de poder depois da queda do Sacro Império, em meados do século
XII, e terminou aproximadamente no século XIV, embora em alguns países
do resto da Europa, como a Alemanha, se entendesse até bem depois de
iniciado o século XV.

O gótico era uma arte imbuída da volta do refinamento e da civilização na


Europa e o fim do bárbaro obscurantismo medieval. A palavra gótico, que
faz referência aos godos ou povos bárbaros do norte, foi escolhida pelos
italianos do renascimento para descrever essas descomunais construções
que, na sua opinião, escapavam aos critérios bem proporcionados da
arquitetura.

Foi nas universidades, sob o severo postulado da escolástica – Deus Como


Unidade Suprema e Matemática -, que se estabeleceram as bases dessa
arte eminentemente teológica. A verticalidade das formas, a pureza das
linhas e o recato da ornamentação na arquitetura foram transportados
também para a pintura e a escultura. O gótico implicava uma renovação
das formas e técnicas de toda a arte com o objetivo de expressar a
harmonia divina.

No forte simbolismo teológico, fruto do mais puro pensamento escolástico,


as paredes eram a base espiritual da Igreja, os pilares representavam os
santos, e os arcos e os nervos eram o caminho para Deus. Além disso, nos
vitrais pintados e decorados se ensinava ao povo, por meio da mágica
luminosidade de suas cores, as histórias e relatos contidos nas Sagradas
Escrituras.

A catedral é o local das coroações e sepulturas de reis, mas também


representa o ideário de toda a sociedade, a expressão da visão política e
teológica de todos os burgueses, pois têm a convicção de construírem, em
comum, um símbolo de sua crença, de sua cidade e de sua própria
identidade.

Na catedral o burguês é orgulhosamente exibido na rica


decoração: com retratos dos fundadores e inscrições.
Os espaços góticos já não poderiam ser fechados com as abóbadas
cruzadas de aresta. As abóbadas de ogivas (góticas), constituíram a
alternativa.

As nervuras foram usadas pela primeira vez com a função de suporte em


Saint-Denis. Foram construídas em primeiro lugar e depois, fechadas as
paredes e as abóbadas.

Assim, todo o edifício se tornou mais leve. Os pilares passaram a ser


fasciculados com colunelos, recebendo a pressão da abóbada e
descarregando-a para o chão.

O abade Suger, arquiteto de Sait Deni tinha pensado mística e


simbolicamente em cada pormenor: colunas representando os apóstolos
e os profetas e Jesus, a chave que une uma parede à outra. O fascinante é
que esta crença provocou uma revolução na arquitetura.
As abóbadas de cruzaria de ogivas e os arcobotantes permitiram uma
redução nas massas das paredes. As paredes exteriores passam a ser
cobertas com janelões. Como há dificuldades na produção de vidro, estes
são em pequenos pedaços suportados por molduras de chumbo. São cores
fortes e solenes que brilham mais quanto menos o espaço interior for
iluminado. A luz, ao passar pelas imagens sagradas, manifesta sua origem
divina.

As janelas serviam para transmitir visualmente a mensagem bíblica aos que


não sabiam ler, ou que não tinham posses para comprar bíblias. Sainte
Chapelle em Paris é onde este conceito se encontra concretizado de modo
exemplar, com o altar iluminado de luz colocado no centro visual.

Os reis franceses utilizavam a igreja como manifestação política de sí


próprios. A igreja começou a preocupar-se cada vez mais com os interesses
temporais.

As catedrais desta época exprimem, de modo penetrante, esta


consciência contraditória: nos “arranha céus de Deus” (Le Corbusier) há
novas técnicas aliadas aos novos conceitos religiosos.
A partir do final do séc XII foram fundadas novas cidades. Os reis cristãos
consideravam ser sua obrigação fundar novas cidades para, deste modo,
conduzir as pessoas até Deus.

Paris era talvez, com seus 200.000 habitantes, juntamente com Milão, a
cidade mais populosa da baixa idade média.

A obra que se tornou mais importante foi a catedral edificada no meio da


cidade. Era uma obra erigida pelo esforço comum dos habitantes, que
contribuíam com o dinheiro, ou com a própria força de trabalho. Eram
formadas lojas.

Nobreza, clero e massa popular competiam em generosidade mística.

O objetivo era um só: colaborar para a construção das dispendiosas


catedrais.
Com a autoridade monárquica cada vez mais assegurada, as antigas
zonas feudais foram-se transformando e surgiram as primeiras
cidades: Noyon, Laon, Sens, Amiens, Reims, Beauvais, onde se encontram
as catedrais góticas mais belas do mundo.
Nas catedrais, as vistas laterais e da abside eram obstruídas. Assim, só era
dada importância especial à fachada voltada à poente, com a entrada
principal, realçada geralmente pelas únicas torres do edifício. Estas eram
coroadas com pequenas torres (pináculos), novas flechas que almejavam o
céu.

O repertório da escultura em pedra do gótico é uma descrição fatual


do divino, especialmente nos pórticos reais: em Chartres, os reis e as
rainhas de França, estão vestidos com roupagens bíblicas.
LE SAINTE-CHAPELLE
Luiz IX a edificou para as relíquias adquiridas de Bizâncio (coroa de
espinhos e fragmentos da cruz).
Os 12 apóstolos estão representados por esculturas nos pilares. Esta capela
era a capela do palácio real.
REIMS
A catedral de Reims, na qual se realizava a coroação dos reis franceses, é
famosa sobretudo pela rosácea, que domina a sua fachada poente.

NOTRE DAME
Provavelmente foi lá que se utilizou pela 1. vez o sistema de contrafortes
abertos = arcos botantes.
Foi destruída na revolução francesa e restaurada no séc XIX
CHARTRES
O chamado pórtico real da catedral constitui o ponto alto da escultura do
gótico clássico francês.
Arquitetura Gótica – Chartres, uma das primeiras catedrais góticas da
França
A construção gótica, de modo geral, se diferenciou pela elevação e
desmaterialização das paredes, assim como pela especial distribuição da
luz no espaço.

Tudo isso foi possível graças a duas das inovações arquitetônicas mais
importantes desse período: o arco em ponta, responsável pela elevação
vertical do edifício, e a abóbada cruzada, que veio permitir a cobertura de
espaços quadrados, curvos ou irregulares.

Divisão da abóbada gótica. Os arcos ogivais (arcos cruzados em


diagonal) distribuem o peso da abóbada, tornando-a com isso mais
leve.
Os arcos de meia circunferência usados nas abóbadas das igrejas
românicas faziam com que todo o peso da construção fosse descarregado
sobre as paredes.

Isso obrigava a um apoio lateral resistente: pilares maciços, paredes


mais espessas, poucas aberturas para fora. O espaço para as janelas era
bem reduzido e o interior da igreja escurecia. O espírito do povo pedia luz e
grandiosidade. Então como conseguí-las?
O arco em meia circunferência foi substituído por arcos ogivais ou arcos
cruzados. Isso dividiu o peso da abóbada central, fazendo com que ele se
descarregasse sobre vários pontos, simultaneamente, podendo ser usado
material mais leve, tanto para a abóbada como para as bases de
sustentação. Em lugar dos sólidos pilares, esbeltas colunetas passaram a
receber o peso da abóbada.

O restante do peso foi distribuído por pilares externos. Estes, por sua vez,
remetem o peso aos contrafortes – torres pontiagudas e muito trabalhadas,
que substituem as maciças pilastras românicas, com a mesma função. As
torres dão mais altura e majestade à catedral.

As paredes, perdendo sua importância como base de sustentação,


passam a ser feitas com um dos materiais mais frágeis de que se
dispunha: o vidro.
Surge a desejada luminosidade. Grandes e feéricos vitrais coloridos
ilustram em desenhos cenas da vida cristã. A magia dos vitrais góticos, que
filtram a luz do sol, enche a igreja de uma claridade mística que lembra a
presença divina.

O sistema de suportes constituídos de pilares cantonados e fasciculados,


pequenas colunas cilíndricas e nervos, junto com os arcobotantes, tornou a
parede mais leve, até seu quase total desaparecimento. As janelas ogivais e
as rosetas acentuaram ainda mais a transparência da construção. A
intenção era criar no visitante a impressão de um espaço que se alçava
infinitamente até o céu.

Livros de Pedra
Os templos católicos de estilo gótico construídos na Idade Média revelam
toda a magia dos ocultistas e sociedades secretas da época.

Os sinais cabalísticos estão por toda a parte: nas altas colunas de


mármore, nos capitéis, nos arcos, nos altares. Eles contam a história da
construção das catedrais góticas – símbolos da religiosidade católica mas
também dos mais profundos mistérios da magia que imperava na Idade
Média.
Estão ali rastros dos druidas (sacerdotes celtas que reverenciavam as
florestas como divindades), visíveis na arquitetura que lembra um bosque
petrificado. Estão também nas rosáceas – um dos mais importantes
símbolos da ordem dos cavaleiros templários e dos maçons – desenhadas
nos vitrais. Estão ali ainda os signos do zodíaco – prova de que a astrologia
era admitida pelos papas da igreja da época.

Enfim, Notre Dame, Chartres, Amien, Colônia e Duomo de Milão podem ser
vistas como gigantescos livros de pedra, cuja leitura exige não só uma boa
dose de conhecimento esotérico mas a capacidade de ver além da
realidade.

Até a adoção do estilo gótico – que surgiu no início do milênio, no


norte da França, e rapidamente se espalhou pela Itália, Alemanha,
Inglaterra, Espanha e Áustria – os templos católicos eram erguidos
segundo os princípios românicos: escuros como cavernas. Todo o seu
peso se apoiava em suas largas paredes. Já as catedrais góticas são claras,
exuberantes e sua sustentação está nas abóbadas. O gótico representa a
verticalização da fé e convida a uma união com a divindade. Seus
elementos seriam o fogo e o ar, que evocam a purificação iniciática e a
elevação espiritual. Eles estão expressos em vitrais, torres e nas rosáceas
vermelhas, cujas formas lembram labaredas.
Rosáceas
A intenção dos arquitetos ao pintar as rosáceas era fazer com que a
luminosidade criasse a sensação de um fogo iniciático, durante as vésperas
e na hora mariana ( horários canônicos correspondentes a 6 e 18 horas).
Consideradas pantáculos ( espécies de talismã ) do cristianismo, as
rosáceas são a principal fonte de entrada de luz no interior das catedrais
góticas . Geralmente , há duas delas nas laterais e uma sobre a entrada
principal – para os ocultistas, esta última rosácea é a fronteira entre o
sagrado e o profano.

Na verdade, as rosáceas funcionam como um mapa das tradições que são


transmitidas há séculos aos iniciados. “Uma das chaves para sua
interpretação são as suas cores, as mesmas do arco-íris – um símbolo da
aliança de Deus com o homem, no fim do dilúvio”, diz o pesquisador Leo
Reisler.

Também os alquimistas dão grande importância a esse elemento da


arquitetura gótica. Até o final da Idade Média, a rosácea central era
chamada de A Roda, que na alquimia significa o tempo necessário para o
fogo agir sobre a matéria, transmutando-a. Essa visão é reforçada pelo
esquema de incidência de luz sobre elas. A rosácea da lateral esquerda, por
exemplo, nunca é iluminada pelo sol. É a cor negra, a matéria em seu
estado bruto, a morte. Já a da direita, irradia, ao sol do meio-dia, uma
luminosidade branca – a cor das vestes do iniciado que acaba de
abandonar as trevas. Finalmente, a rosácea central, ao receber a luz do pôr-
do-sol, parece incendiar-se, e banha o templo com um tom rubro, sinônimo
da perfeição absoluta, da predominância do espírito sobre a matéria.

Localização
De acordo com mapeamento feito pelo pensador católico Bernard
Clairveaux, fundador da Ordem Cisterciense, de monges beneditinos, as
catedrais góticas ficam próximas de antigos menires ( pedras sagradas ),
consideradas como centros de energia do mundo. Também a estrutura das
catedrais góticas não parecem resultado de simples cálculos arquitetônicos.
De acordo com Fulcanelli, o grande alquimista que nos anos vinte escreveu
O Mistério das Catedrais, o plano dessas igrejas tem a forma de uma cruz
latina estendida no solo.

Na alquimia, essa cruz é símbolo do crisol, ou seja, do ponto em que a


matéria perde suas características iniciais para se transmutar em outra
completamente diferente. Nesse caso, a igreja teria então o objetivo
iniciático de fazer com que o homem comum, ao penetrar em seus
mistérios, renascesse para uma nova forma de existência, mais
espiritualizada. Ainda segundo Fulcanelli, essa intenção é reforçada pelo
fato de a entrada desses templos estar sempre voltada para o Ocidente.

Caminhamento
Assim, ao se caminhar na direção do santuário, volta-se obrigatoriamente
para o Oriente, o lugar onde nasce o sol, ou seja, sai-se das trevas e ruma-
se para a Luz, em direção ao berço das grandes tradições espirituais. Esse
convite à iniciação está presente até mesmo no piso, em que costuma
haver a representação de um labirinto. Chamados de Labirintos de
Salomão (rei bíblico, símbolo da sabedoria) eles costumam se localizar num
ponto em que a nave (o espaço que vai da entrada do templo ao santuário)
e os transeptos ( os braços da cruz ) se unem. Seu sentido alquímico é o
mesmo do mito grego de Teseu, o herói que entra num labirinto a fim de
combater o Minotauro. Após vencer o monstro – metade homem, metade
touro – consegue voltar, graças ao fio que sua esposa Ariadne (aranha) lhe
dera.

Filosoficamente, os labirintos são os caminhos que o homem percorre


em sua vida: cedo ou tarde ele entrará em contato com seu monstro
interior, isto é, seus defeitos de caráter. Quem consegue combater e vencer
as próprias imperfeições (o Minotauro) e possuem o fio de Ariadne
(símbolo do conhecimento iniciático) conseguem efetivamente ver a
verdadeira Luz. Em Amiens, norte da França, essa alegoria torna-se clara,
graças à existência de uma grande lage na qual se esculpiu um sol em ouro
bem no centro do labirinto. Já em Chartres, havia antigamente uma pintura
que mostrava todo o mito de Teseu.
Autoria
Talvez o mais intrigante de todos os mistérios que envolvem a construção
das catedrais é que nenhuma delas possui um autor, alguém que assine o
projeto. Até hoje, o único tipo de identificação encontrado são marcas
gravadas nas pedras. Essas marcas representam geralmente instrumentos
de trabalho estilizados, como martelos e compassos, e era um tipo de
registro profissional, que o mestre-de-obras usava para controlar o
trabalho de cada um de seus obreiros.

Todo artesão possuía uma marca própria, que passava de pai para filho, de
mestre para discípulo. Em função de guerras, pestes e outros flagelos,
muitas vezes as obras das igrejas ficavam temporariamente interrompidas,
e os trabalhadores viajavam, oferecendo seus serviços em outras cidades e
países. Ganharam, assim, o nome de franc-maçons, ou pedreiros livres, cuja
associações acabaram resultando na Maçonaria. Mas esta, embora detenha
antigos conhecimentos esotéricos, se consolidou como ordem iniciática
apenas em 1792.

Busca
Se a busca dos idealizadores do gótico ainda permanece um enigma, o
estudo da origem da expressão ‘arte gótica‘ apenas reforça a idéia de que
sua inspiração é totalmente mística. Estudos etimológicos remetem às
palavras gregas goés-goéts, de bruxo, bruxaria, que sugere a idéia de uma
arte mágica.
O alquimista Fulcanelli prefere associar ‘arte gótica‘ a argot, que significa
idioma particular, oculto, uma espécie de cabala falada, cujo os praticantes
seriam os argotiers (argóticos), descendentes dos argonautas. No mito
grego de Jasão, eles dirigiam o navio Argos, viajando em busca do Tosão de
Ouro. Jasão teria sido um grande mestre, que iniciava seus discípulos nos
mistérios egípcios, inclusive na geometria sagrada, que é uma das chaves
da arquitetura gótica. Prova dessa herança egípcia está no fato de os
construtores góticos disporem os símbolos que aparecem nos entalhes, nas
estátuas, nos medalhões e vitrais de maneira que obedeçam sempre a uma
seqüência que torna inevitável a associação de uns com os outros. Trata-se
de um recurso egípcio de memorização que permite a apreensão de um
grande número de informações, pois somos, sem perceber, levados a
relacionar cada coisa ao local onde ela se encontra. Talvez seja esse o
motivo pelo qual muitas vezes o zodíaco está representado dentro das
catedrais fora de sua ordem convencional.
Longe de ser aleatório, esse desmembramento está relacionado ao
sentido mais esotérico de cada signo, como se vê a seguir:
Áries: Geralmente sua figura é a de um carneiro, que simboliza o início do
caminho na busca da elevação espiritual.
Touro: Representado pelo próprio Touro, às vezes está associado ao
evangelista Lucas; às vezes a Cristo. Simboliza a vida na matéria.
Gêmeos: Sua representação usual é de duas figuras humanas abraçadas,
que expressam a capacidade de elevar espiritualmente o próximo por meio
da transmissão de conhecimentos. Em Chartres, este signo aparece junto a
uma das portas e mostra dois cavaleiros atrás de um grande escudo.
Câncer: Na forma de um caranguejo ou de um lagostim, costuma estar
próximo da pia batismal, junto da imagem do arcanjo Gabriel. Com certeza,
trata-se de uma influência da Cabala, que associa a Lua, regente de Câncer,
a Gabriel, o emissário do nascimentos. A intenção é mostrar que, por meio
do batismo (ritual iniciático), o homem pode se religar às esferas espirituais
das quais se origina.
Leão: Com a mesma representação de hoje, é emblema do evangelista
Marcos, a quem emprestaria seus atributos de persistência e força de
vontade na busca da espiritualização.
Virgem: Algumas vezes aparece como uma jovem segurando uma espiga
de milho. Mas pode também estar representado por uma estátua da
própria Virgem Maria, com uma estrela na cabeça. É um dos signos mais
ricos de significados nas igrejas góticas, uma vez que a maioria delas foi
dedicada justamente à mãe de Cristo. Em Amiens, por exemplo, ela se
encontra em duas árvores. Na iconografia cristã, uma delas representaria a
árvore pela qual a humanidade caiu – numa referência ao mito de Eva e da
serpente tentadora enroscada numa árvore – , enquanto a outra remete à
cruz de Cristo, pela qual a humanidade foi redimida.
Libra: Quase sempre aparece como uma mulher segurando uma balança
desproporcionalmente grande, no interior da qual há uma pessoa envolta
num halo de luz. Seria um lembrete para o homem de que ele também faz
parte do divino.
Escorpião: Sua imagem pode ser traduzida por uma águia (símbolo de
elevação espiritual) e representa o evangelista João. Ou, então, aparece
como um escorpião mesmo, já com um sentido de regressão espiritual. Só
que, como não havia escorpiões na Europa, muitas das suas
representações têm pouquíssimo a ver com a realidade. Em ambas as
formas, o signo está localizado aonde a luz do sol chega por último.
Sagitário: Este signo costuma ser representado por um centauro prestes a
disparar a sua flecha. Na catedral de Amiens, porém, ele aparece na forma
de um sátiro. Mas ambos traduzem a luta que o homem precisa travar para
vencer sua natureza material, a fim de ascender a planos mais elevados.
Capricórnio: Meio cabra, meio peixe, este signo indica as posições que o
homem tem de enfrentarem busca de espiritualização.
Aquário: Representado por um homem segurando um livro ou um
pergaminho, foi adotado como emblema do próprio cristianismo e do
evangelho de Mateus. Esotericamente, seria o ar cósmico, que permeia
todas as formas de vida.
Peixes: Rico em significados esotéricos, aparece normalmente como dois
peixes unidos por um cordão, nadando em direção opostas. O cordão seria
o fio de prata que une o espírito e a alma durante a vida, mas que se rompe
na morte. Um dos peixes corresponde, portanto, ao espírito, que
permanece acima do plano físico, enquanto o outro, a alma, seria um
intermediário direto com a matéria.
Uma curiosidade do cristianismo medieval é que, com exceção do peixe, a
maioria dos outros animais eram considerados funestos, embora fosse
comum encontrá-los nas catedrais góticas. Dessa fauna maldita faziam
parte o dragão e o grifo, figura mitológica meio leão, meio pássaro
(invólucros do demônio), o cavalo (usado pelas forças das trevas), o bode
(luxúria), a loba (avareza), o tigre (arrogância), o escorpião (traição), o leão
(violência), o corvo (malícia), a raposa (heresia), a aranha (o diabo), os sapos
(pecados) e até a avestruz (impureza).

Baphomet
A figura mais temida da fauna que povoava o imaginário medieval era o
Bafomé, que aparece com destaque na porta de todas as igrejas góticas.
Metade homem, metade bode, por muito tempo foi confundido com o
demônio cristão.

Mas seu sentido é bem outro, como explica o teólogo Victor Franco: “O
Bafomé é um símbolo templário que expressa a necessidade humana de
transcender seus instintos básicos, a fim de ascender espiritualmente e
cumprir seu papel evolutivo. Ser parte de Deus, até se confundir com Ele, é
o sentido da verdadeira humanização. E este era o ensinamento maior dos
idealizadores do gótico, que criaram uma arquitetura viva. As catedrais
estão tão perfeitamente integradas ao cosmo e são praticamente forças da
natureza”.
Chartres
Teve sua construção iniciada em 1194, num local onde havia, nos tempos
pagãos, uma gruta com a estátua de uma Virgem Negra, esculpida em
madeira pelos druidas e venerada por milhares de peregrinos franceses.

Desde dos primórdios do cristianismo, a gruta fora substituída por templos


católicos. Mas a catedral com suas 178 janelas, 2500 metros quadrados de
vitrais e 700 estátuas e estatuetas no Portal Real só ficou pronta em 1260,
sob o reinado de Filipe Augusto.

Toda a cidade participou dos trabalhos, e era hábito os pescadores


assumirem o lugar dos cavalos entre as cangas dos carros que
transportavam material. Um sacrifício e tanto, pois a pedreira mais próxima
ficava a meio dia de viagem. E, diariamente, antes do expediente, todos
comungavam, para não contaminar a obra.

Duomo de Milão
Com a pedra fundamental lançada em 1386, inaugurada várias vezes e
ainda incompleta, é uma espécie de tapete de Penélope dos milaneses. A
iniciativa da construção partiu do duque Gian Galeazzo Visconti, que a
ofereceu como ex-voto à Virgem, em troca de um herdeiro. Mas toda a
cidade contribuiu, até mesmo as prostitutas, que ofereceram uma noite de
trabalho.

Com 11 mil metros quadrados de área, 145 agulhas de 180 metros de


altura, 3159 estátuas e 96 gigantes esculpidos, é um monumento que ainda
consome milhões de liras em sua finalização. E para o qual até mesmo os
sucessivos invasores de Milão ( beleguins, croatas, alemães, espanhóis e
franceses) contribuíram. Napoleão, por exemplo, construiu a fachada, e a
imperatriz austríaca Maria Teresa doou um Cravo da Cruz de Cristo como
relíquia.

Colônia
A construção começou em 1248 e só foi finalizada em 1880, por Frederico
Guilherme IV, que conseguiu recuperar o projeto original. Concebida para
abrigar os restos mortais dos três Reis Magos, saqueados da Lombardia por
Barba-Roxa e guardados num sarcófago de ouro e prata com 300 quilos de
peso, a igreja ostenta quase 7 mil metros de fachada e é um dos maiores
templos do mundo. Suas janelas têm 17 metros de altura, e as torres, que
alcançam 150 metros, abrigam sinos grandiosos com mais de trinta
toneladas de bronze. O curioso é que metade desse bronze foi obtida com
a fundição de canhões requisitados de inimigos vencidos. Durante a
Segunda Grande Guerra, quando a cidade foi praticamente destruída, a
situação se inverteu e os sinos é que foram fundidos, para se transformar
de novo em armamentos.

Notre Dame
Iniciada em 1163 e concluída em 1330, já abrigou sob seus arcos coroações
e mendigos. Também resistiu a devastações entre os séculos 18 e19,
quando teve suas pinturas e estátuas, vitrais e portas, tirados e substituídos
por ornamentos barrocos. Na Revolução Francesa, transformaram-na em
depósito de suprimentos e uma das torres foi derrubada simbolicamente,
decapitada como os membros do clero. Mais tarde, vendida ao conde de
Saint-Simon, quase foi demolida.

Durante a Comuna de Paris, tentou-se incendiá-la. Sobreviveu a tudo e


resiste, cercada por lendas, como a do ferreiro Biscornet. Dizem que,
encarregado de fazer suas fechaduras e assustado com a tarefa, Biscornet
teria pedido ajuda ao Diabo, que, aliás, deve ter aceitado o pacto, pois as
fechaduras são mesmo obras de arte.

Amiens
Construída em 1221, é uma das obras-primas do gótico na França. Um
verdadeiro feito, pois em apenas três séculos os franceses ergueram nada
menos que 80 catedrais e 500 grandes igrejas neste estilo, sem falar nos
milhares de templos paroquiais. Era uma verdadeira corrida arquitetônica,
na qual Amiens saiu vencedora, superando até mesmo Chartres e Notre
Dame. Sua abóbada atinge a altura de quase 43 metros e cria uma
sensação de suntuosidade inigualável.

Claro que a realização desse feito exigiu o empenho de toda a comunidade,


e, sempre que os fundos escasseavam, os monges e cônegos locais
ofereciam indulgências àqueles que colaborassem com a construção.
Exortavam, particularmente, os penitentes e moribundos, lembrando-os de
que já estavam “mais próximos do paraíso” do que no dia anterior.

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