Tabuas Multiplo Decremento

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Ian Gabriel Santana Favarin - 204284

Isabela Furlan de Morais - 256759

Tábuas de múltiplo decremento

Introdução

A mortalidade humana resulta da exposição constante a diversos riscos de contrair


doenças, sugerindo uma "competição" entre esses riscos. O interesse humano em
compreender a relação entre vida e morte impulsionou pesquisas sobre como prolongar a
vida, avaliando os efeitos da eliminação de determinados riscos. A teoria dos riscos
competitivos investiga dados vitais em situações onde as pessoas enfrentam múltiplas
causas de morte. Um método importante nesta teoria é a Tábua de Vida de Múltiplo
Decremento, desenvolvida por Chiang em 1968, que assume que cada morte é causada por
um único risco básico, atuando simultaneamente com outros riscos.

Chiang propôs que a eliminação de um risco de morte não afeta os outros, embora isso seja
visto como uma limitação, pois a morte muitas vezes resulta da interação de vários riscos. O
estudo em questão visa medir o impacto da eliminação total de um ou mais riscos de morte
na estrutura de mortalidade, por idade e sexo, em uma população específica. O objetivo é
construir Tábuas de Vida de Múltiplo Decremento para a população de Recife em 1979,
examinando os efeitos da eliminação de grandes grupos de causas de morte como doenças
infecciosas, neoplasias malignas, doenças circulatórias, respiratórias e causas externas.

A relevância deste estudo está em ampliar o conhecimento sobre a duração de vida dos
indivíduos em Recife, contribuindo para o entendimento da mortalidade na população
brasileira. Trabalhos anteriores, como o de Gotlieb em São Paulo, também usaram a
metodologia de Chiang, encontrando resultados semelhantes aos obtidos para Recife,
apesar das diferenças sociais e econômicas entre as duas cidades.

Material e Métodos

A população de Recife em 1º de julho de 1979 foi estimada usando o método de


interpolação geométrica com base nos censos de 1970 e 1980, resultando em 1.186.973
habitantes. O crescimento mensal foi de 0,106%. Os dados de óbitos de 1979 foram
selecionados, pois os registros em fita magnética começaram em 1977. Até 1978, os óbitos
foram codificados pela FUSAM segundo a 8ª Revisão da Classificação Internacional de
Doenças, e os óbitos de 1979 foram tratados pela 9ª Revisão, justificando a análise
exclusiva do ano de 1979. As causas de morte foram agrupadas segundo a Lista Brasileira
para Mortalidade.
A Tábua de Vida de Múltiplo Decremento requer várias probabilidades associadas aos
intervalos de idade (Xi, Xi + 1):

- \( p_i \): probabilidade de sobrevivência no intervalo.


- \( 1 - p_i \): probabilidade de morte no intervalo.
- \( q_{xi}(Rj) \): probabilidade de morte devido à causa Rj, na presença de outros riscos
(probabilidade bruta).
- \( q'_{xi}(Rj) \): probabilidade de morte se Rj for eliminada (probabilidade líquida).

Chiang estimou esses parâmetros assumindo que as forças de mortalidade \( \mu_i(t) \) são
somadas para formar a força total \( \mu(t) \), e a proporção \( \frac{\mu_i(t)}{\mu(t)} = k_i \) é
constante em cada intervalo de idade. Assim, ele derivou as probabilidades bruta e líquida
de morte através de relações matemáticas.

O estudo focou em estimar a probabilidade líquida de morte, não diretamente observável,


mas inferida a partir da probabilidade bruta, para avaliar os impactos da eliminação total de
certos riscos de morte na mortalidade da população de Recife em 1979.

Resultados e Discussão

A esperança de vida ao nascer em Recife, calculada com a Tábua de Vida de Múltiplo


Decremento para 1979, foi de 59,13 anos. A média para homens foi de 55,43 anos e para
mulheres de 62,41 anos, uma diferença de 6,98 anos a favor das mulheres, tendência que
tem aumentado ao longo das décadas. Entre 1939 e 1969, a esperança de vida aumentou
26,71 anos para homens e 28,07 anos para mulheres. Entre 1969 e 1979, esses ganhos
foram de 0,58 anos para homens e 1,87 anos para mulheres, indicando uma deterioração
nas condições de saúde de Recife na última década.

A cidade não atingiu a meta do Plano Regional de Saúde da ONU, que visava aumentar em
cinco anos a esperança de vida para regiões abaixo de 65 anos, através de melhorias em
saúde, água potável e saneamento. Com a tendência atual, é improvável que Recife
alcance a meta de 70 anos de esperança de vida ao nascer até o ano 2000, conforme a
Estratégia Internacional de Desenvolvimento da ONU.

Em 1979, 16,4% dos óbitos em Recife foram causados por doenças infecciosas e
parasitárias, com 56,7% destes óbitos ocorrendo em crianças de 0-1 ano. Este grupo foi o
segundo mais significativo em termos de mortalidade para ambos os sexos. As tabelas
apresentaram as probabilidades de morte, sobrevivência e esperança de vida antes e após
a eliminação deste grupo de causas, destacando seu impacto significativo na mortalidade
infantil e geral.

A eliminação total das doenças infecciosas e parasitárias como causas de morte é


plausível, tomando como referência países desenvolvidos onde essas doenças têm baixa
representatividade, como Suécia, Islândia e Luxemburgo. Essas doenças são evitáveis
através de medidas de saneamento básico e imunizações. Em Recife, 16,4% dos óbitos em
1979 foram devido a essas doenças, principalmente afetando crianças menores de um ano.
A principal causa de morte dentro desse grupo foram as doenças infecciosas intestinais,
responsáveis por 9,9% dos óbitos gerais. A eliminação dessas doenças poderia aumentar a
esperança de vida em 6,42 anos para homens e 6,84 anos para mulheres.

A desnutrição é um fator significativo nas mortes infantis associadas a doenças infecciosas


e parasitárias. Em 1970, 68,6% das mortes de crianças menores de 5 anos devido a
doenças infecciosas também envolviam desnutrição. A falta de serviços básicos, como água
potável e esgoto, contribui para a alta mortalidade infantil, exacerbada pela desnutrição e
baixa renda das populações menos favorecidas.

Neoplasmas malignos representaram 8,2% dos óbitos em 1979, com maior incidência entre
40 e 75 anos. A eliminação total desse grupo não é realista com a tecnologia médica atual,
mas a prevenção e tratamento podem reduzir significativamente a mortalidade. Medidas
preventivas podem evitar até um terço dos casos de câncer e curar outro terço.

As doenças do aparelho circulatório foram responsáveis por 26,6% dos óbitos, o maior
grupo de causas de morte em Recife. A eliminação dessas doenças poderia aumentar a
esperança de vida em 6,23 anos para homens e 6,57 anos para mulheres. Embora a
eliminação total seja irrealista, a redução e o retardamento dessas doenças são possíveis
com avanços médicos e medidas preventivas.

As doenças respiratórias causaram 10,2% dos óbitos, com forte impacto em crianças
menores de um ano. A pneumonia, responsável por 59% dos óbitos respiratórios, foi a
principal causa. A eliminação dessas doenças poderia aumentar a esperança de vida em 6
anos para ambos os sexos. O controle dessas doenças pode ser alcançado com tratamento
adequado, prevenção, diagnósticos padronizados e educação pública.

As causas externas representaram 8,3% dos óbitos, afetando principalmente a população


ativa entre 5 e 60 anos. Os acidentes de trânsito foram a principal causa externa,
responsáveis por 28% dos óbitos neste grupo. Embora a eliminação completa seja
improvável, medidas preventivas e programas educativos podem reduzir significativamente
essas mortes.

A análise conjunta dos cinco grupos de causas revela diferenças significativas nas
probabilidades de morte por faixa etária e sexo. As doenças respiratórias foram a principal
causa de morte para meninos de três anos, enquanto os neoplasmas malignos foram mais
significativos para mulheres entre 35-40 e 45-50 anos. As causas externas foram
predominantes nos homens, e as doenças do aparelho circulatório foram as mais
representativas em várias faixas etárias para ambos os sexos.

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