Art I Go 20 Claudia Sergio Less A

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Clio Arqueológica 2020, v35N2, p.xx-xx, XXXXXXX; XXXXXX; XXXXXXXXXX


DOI: 10.20891/clio.V35N2pXX-XX

Recebido em XX/XX/20XX com aprovação final em XX/XX/20XX

DEPOSIÇÕES FUNERÁRIAS DO ENGENHO JAGUARIBE,


ABREU E LIMA - PE: RESULTADOS PRELIMINARES DE
ESCAVAÇÃO ARQUEOLÓGICA DA CAMPANHA DE 2018-
2019
FUNERARY DEPOSITIONS OF ENGENHO JAGUARIBE,
ABREU E LIMA - PE: PRELIMINARY RESULTS OF
ARCHAEOLOGICAL EXCAVATION OF THE 2018-2019

Claudia Alves de Oliveira1


[email protected]
Sérgio Francisco Serafim Monteiro da Silva2
[email protected] 14

RESUMO
Na região de Abreu e Lima, situado dentro das antigas extensões da sesmaria
Jaguaribe, do séc. XVI-XVII, estão alguns dos principais sítios de ocupação
colonial de Pernambuco. O Engenho Jaguaribe, escavado no âmbito do Projeto
Jaguaribe, durante as escavações de 2015 a 2019, apresentou estruturas
arquitetônicas compatíveis com a casa grande, uma engenhoca possivelmente
vinculada ao processamento da cana de açúcar, construção sacra de cantaria em
calcário e uma casa com alicerces de pedra. Dentro da área dos alicerces foram
localizadas deposições funerárias e ossos esparsos de mais de uma dezena de
indivíduos que constituem objeto deste relatório. Os esqueletos humanos, de
adultos e crianças, encontravam-se entre 20cm e 120cm de profundidade, em solo
areno-argiloso e alterações tafonômicas por fitoturbação e intensa manipulação de
ossos para novas inumações. Junto dos ossos foram localizadas contas de colar,
escapulário e pulseira de metal. Os crânios apresentam características indicadoras
1
Departamento de Arqueologia da Universidade Federal de Pernambuco - UFPE
2
Departamento de Arqueologia da Universidade Federal de Pernambuco - UFPE
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de ancestralidade biogeográfica africana. Este artigo está focado na apresentação


dos resultados preliminares da escavação dessas deposições funerárias.
Palavras-chave: Engenho Jaguaribe, deposições funerárias, diáspora africana,
escavação arqueológica

ABSTRACT
In the region of Abreu e Lima, located within the old lands of the Jaguaribe sesmaria,
from the 16th-17th centuries, are some of the main places of colonial occupation of
Pernambuco. The Jaguaribe Engenho, excavated under the Jaguaribe Project, during the
2015 -2019 excavations, featuring architectural structures compatible with the large
house, a contraption linked to the processing of sugar cane, sacred construction of
limestone masonry and a house with stone foundations. Within the foundation area, burial
depositions and sparse bones were required from more than a dozen selected as desired in
this report. The human skeletons, of adults and children, were between 20cm and 120cm 15
deep, in sandy-clay soil and taphonomic changes for phytoturbation and intense
manipulation of bones for new inhumations. Along with the bones were necklace beads, a
scapular and a metal bracelet. The skulls have characteristics indicative of African
biogeographic ancestry, corroborated by the presence of an ethnically modified anterior
tooth. This article is focused on presenting the preliminary results of the excavation of
these funerary depositions.
Keywords: Engenho Jaguaribe, funerary depositions, African diaspora, archaeological
excavation

CONTEXTUALIZAÇÃO DA ESCAVAÇÃO ARQUEOLÓGICA


Entre 2015 e 2019, no âmbito do Projeto Jaguaribe, Coordenado por Oliveira (2019),
foram desenvolvidas intervenções arqueológicas invasivas em uma área com presenças de
estruturas compatíveis com o engenho Jaguaribe, que teria funcionado na sesmaria
Jaguaribe, região da atual cidade de Abreu e Lima, durante os séculos XVI ao XIX. Em
2015 já haviam sido identificadas estruturas externas, superficiais, de uma casa colonial
modificada e adaptada para moradia pelos proprietários do terreno. No mesmo ano,
estruturas arruinadas de uma capela em alvenaria e cantaria de calcário amarelo da região
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foram escavadas e planilhadas próximo da casa grande. Outras estruturas associadas ao


engenho estavam representadas por uma alvenaria de pedras, possivelmente remanescente
de uma antiga casa colonial. Na área interna a essa estrutura, durante a sua escavação,
foram localizados remanescentes humanos de mais de uma dezena de indivíduos,
depositados em várias posições.
Em 2018 foi identifica a área do provável cemitério do Engenho Jaguaribe, situada em
frente a capela, anteriormente delimitada em 2015.
Segundo Silva (2018), a definição de cemitério histórico deve seguir alguns parâmetros
estruturais mais ou menos comuns[ Texto elaborado por Sérgio Francisco Serafim
Monteiro da Silva LABORATÓRIO DE ARQUEOLOGIA BIOLÓGICA E FORENSE -
LABFOR]. Assim,
[...] a identificação de um cemitério histórico em contexto
arqueológico demanda a identificação de traços específicos.
Conforme Heilen e Sewell (2012) os cemitérios representam um tipo
particular de espaço funerário que se distingue na localização e outros 16
atributos em relação aos tipos de espaços de enterramentos nas igrejas
e em necrópoles. Assim, segundo Rugg (2012, p.261-264 apud
Heilen e Sewell, 2012, p. 72), ‘os cemitérios estão próximos, mas não
dentro de assentamentos humanos; tem um perímetro estabelecido,
muitas vezes marcado por uma cerca, parede ou cobertura; tem uma
entrada que declara o significado do local com escrita ou
simbolicamente; estão internamente estruturados, de modo que cada
túmulo pode ser localizado e indivíduos podem ser memorializados;
serve uma comunidade inteira; e são considerados sagrados apenas na
medida em que o lugar é considerado com respeito pela
sociedade’[...] Ainda, para Heilen e Sewell (2012, p. 72), ‘os
cemitérios tendem a ser de propriedade de um município ou
propriedade privada, em vez de ser propriedade de uma Igreja em
especial. Os cemitérios também são geralmente considerados como
tendo um grau razoável de permanência e são estruturados de forma a
permitir a visitação e memorialização de cada sepultura individual’
(SILVA, 2018, p. 4).

Nessa perspectiva, o “cemitério” em questão não é público, quanto a sua legalização.


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Pode ter pertencido à Igreja e nesse caso, trata-se de uma concessão. Note-se, ainda, que,
como os africanos escravizados – e nessa condição – eram avaliados como peça ou peças,
não faziam parte da sociedade humana e das prerrogativas a ela relacionadas, na vida e na
morte. Os cemitérios de escravos são, nessa mesma linha, locais de descarte de peças,
cuja concessão dependia da vontade exclusiva dos senhores de engenho, seus
administradores e de membros da Igreja católica no período colonial. Eventualmente
enterravam-se escravos em igrejas gerenciadas por irmandades específicas ou em
cemitérios públicos, legalmente fundados. Os indivíduos inumados em Jaguaribe não
apresentavam túmulos ou estruturas aboveground para a identificação individual, como
cruzes e outros, já não mais existentes na superfície do sítio. Também, a área de
concentração das deposições funerárias estava situada nas proximidades das ruínas da
capela e junto de uma estrada de terra de uso público e dos moradores da região de Abreu
e Lima. Um muro de pedras, visível no perfil da estrada de terra, pode representar uma
das delimitações da área que continha o cemitério e que poderia incluir a capela. A
expansão da área cemiterial para a estrada não foi verificada até este momento.
Remanescentes humanos inumados em áreas de engenhos de cana de açúcar em 17
Pernambuco tem sido ignorados e escavações na perspectiva underground em cemitérios
dessa natureza são raras em Pernambuco.
Escavações arqueológicas foram empreendidas na área da Sesmaria Jaguaribe tendo sido
recuperado um esqueleto em piso da igreja de São Bento, antiga fazenda dos beneditinos
de Olinda. Entretanto, a área cemiterial em estudo não está dentro de uma igreja ou
capela, especificamente, mas poderia fazer parte de um complexo que incluiria,
intramuros, um local de inumação possivelmente utilizado por africanos, escravizados ou
libertos. Os remanescentes apresentados neste relatório provêm de um espaço reservado a
inumações sucessivas e muito próximas umas das outras, com sinais de misturas de ossos
de esqueletos de pessoas inumadas em períodos diferentes. Isso ocorre por causa do reuso
de covas e a demanda por sucessivas inumações ao longo do tempo. Foram recuperadas
informações sobre o contexto arqueológico das deposições funerárias e remanescentes
esparsos recuperados.
Os métodos e técnicas de campo obedeceram as prerrogativas definidas no Projeto de
escavação do Engenho Jaguaribe. No caso dos sepultamentos humanos foi empregado um
“stick man” (SUTHERLAND, 2007; TULLER et al, 2008) ou modelo para mapear
pontos de registro a partir de uma estação total. No esquema empregado foram incluídos
todos os pontos planialtimétricos nas seguintes regiões do esqueleto: no crânio (na
glabela, mento ou centro da circunferência dos ossos cranianos); no forame magno; no
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centro do corpo da primeira vértebra sacral; no centro da articulação da escápula com o


úmero, mais precisamente no centro da cabeça do úmero (direito e esquerdo); no centro
da articulação entre os úmeros e as ulnas/rádios (direito e esquerdo); no centro das
articulações entre os ossos do carpo e o rádio/ulna (direito e esquerdo); no centro das
articulações entre os fêmures e os ossos dos quadris, mais precisamente no centro da
cabeça do fêmur (direito e esquerdo); nos centros das articulações entre os fêmures e as
tíbias, na eminência intercondilar (direito e esquerdo); nos centros das articulações entre
as tíbias/fíbulas e os tálus, articulação eventuais intrusões de cerâmica e louça ou ossos de
fauna, ossos humanos esparsos e outros (SILVA, 2018).
As informações referentes ao número do sepultamento, quadrícula e profundidade estão
no Quadro 1.
Quadro 1. Dados de localização dos sepultamentos por quadra e profundidade, sítio
Engenho Jaguaribe, Abreu e Lima, PE. Foram incluídos dados do perfil bioantropológico,
como grupo de idade e sexo biológico provável.
No.
Sepultamento
Esqueletos Idade
Sexo
provável
Quadrícula
18
1 1 A M Setor 5, Unidade Delta, Quadrante B, Quadrículas 10-C/4C – C/4D. Apresentou estrutura de
alvenaria delimitando o corpo do lado direito do membro superior direito.
2 1 SA - quadrículas 10Cb/10Dc (parte superior do corpo) e 10Ca/10Dd (membros inferiores)
3 1 A - O esqueleto encontrava-se a cerca de 130cm de profundidade, entre as quadrículas 10Dc/10Cb
e 10Ca/10Dd, a cerca de 30cm do esqueleto da criança do sepultamento 2
4 (4 e 4A) 2 A,A M, F 10B-D / 9C-C /10Cc. Trata-se de um caso de sobreposição e intrusão de covas.

5 1 A F 8BB/ 9 BA/ 9 CD/ 9 BD/


6 1 A F 8C-A / 9 CD/ 9 BA
7 1 A M 10CA /10CA-Qb/ 9CA-QB/ 10C B/ 10 C-B/b/ 1 Ac/ 10Cb- QB. Apresentou estruturas de
alvenaria e calcário em forma de nicho funerário. Apresentou no substrato de solo da cova,
ossos dos membros inferiores do esqueleto 1 do sepultamento 8.
8 1 A F 1CA / 10C-B / 10 CD. A cova foi interceptada pela cova do sepultamento 7. O esqueleto teve
os ossos dos membros inferiores retirados e misturados no solo da cova, imediatamente sobre
o corpo no sepultamento 7.
9 2 A,A F? 8 B-C/ 8 B-C/ 9B-A/ 9BC. Sob os membros inferiores do esqueleto 1 foram localizados ossos
de um não adulto, Sobre a região torácica e ossos do membro superior esquerdo foram
localizados ossos esparsos de um adulto.
10 1 A F 10D-D . A cova encontrava-se interceptando a cova no sepultamento 12.
11 1 A M 10D-D. O esqueleto estava desarticulado e com ossos misturados.
12 1 A M 10D-D. O esqueleto estava com as tíbias, fíbulas e ossos dos pés em desconexão anatômica,
junto do esqueleto do sepultamento 10.
S/n 3 A, A, A - Barranco/estrada, ao lado da q10D-D
S/n - - - Diversos ossos esparsos em quadrículas conforme inventário geral. Quadrículas 10Ca e 10Dd,
10Cb e 10Dc
A=adulto; SA=não adulto; F=feminino provável; M=masculino provável; -=não estimado preliminarmente. Observação: idade e
sexo aqui são hipotéticos. Deverão ser estimados por métodos multicompostos após a finalização do tratamento dos ossos no
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LABIFOR.

Os dados planialtimétricos disponíveis para os esqueletos, sempre que possível, foram


obtidos com estação total em campo. Os pontos adaptados de Tuller et al (2008) e
Sutherland (2007) estão descritos no Quadro 2.

Quadro 2. Pontos de coleta de coordenadas planialtimpetricas em campo nos


remanescentes humanos - esqueletos em conexão anatômica - dos sepultamentos do
Engenho Jaguaribe, Abreu e Lima, PE (adaptado de Tuller, 2008 e Sutherland, 2007).
Código no esqueleto Região ou articulação (Tuller, 2008; Sutherland, 2007)
1.CRAN (1) Ponto no crânio (no centro do círculo formado pelo contorno do cranio)
68.SPINT (2) Na região proximal da coluna vertebral, estando o esqueleto em decúbito dorsal, lateral
ou ventral - no centro do canal vertebral do atlas
2.RSHO (8) Na articulação do ombro direito – úmero/escápula - na cabeça do úmero
3.RELB (9)
4.RWRI (10)
Na articulação do cotovelo direito – úmero/ulna
Na articulação do punho direito – rádio-ulna/carpo 19
5.LSHO (5) Na articulação do ombro esquerdo – úmero/escápula - na cabeça do úmero
6.LELB (6) Na articulação do cotovelo esquerdo – úmero/ulna
7.LWRI (7) Na articulação do punho esquerdo – rádio-ulna/carpo
69.SPINB (4) Na base da coluna vertebral – na junção com o sacro, no centro da S1
8.CPEL Ponto no centro da pelve - no canal pélvico
9.RPEL (14) Ponto no osso do quadril direito – cabeça do fêmur
10.LPEL (11) Ponto no osso do quadril esquerdo – cabeça do fêmur
11.RKNE (15) Na articulação do joelho direito – fêmur/tíbia - na eminência intercondilar
12.RANK (16) Na articulação do calcanhar direito – tíbia/tálus - na articulação tibio-talar
13.LKNE (12) Na articulação do joelho esquerdo – fêmur/tíbia - na eminência intercondilar
14.LANK (13) Na articulação do calcanhar esquerdo – tíbia/tálus - na articulação tibio-talar
15.CPOI (70.SPINI) (3) Ponto no centro do esqueleto – 6ª. vértebra torácica
16.MAND Ponto na mandíbula, quando desarticulada
Obs: os números entre ( ) e os pontos 68.SPINT, 69.SPINB e 70.SPINI indicam os códigos
acrescidos de Sutherland (2007).

Outros pontos, adicionais ou complementares (Quadro 3), foram usados em ossos


esparsos e fragmentos de ossos e dentes, quando possível (conforme Tuller et al, 2008):
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Quadro 3. Pontos de coleta de coordenadas planialtimétricas em campo de ossos esparsos


e fragmentos de ossos e dentes,Engenho Jaguaribe, Abreu e Lima, PE (adaptado de Tuller
et al, 2008):
Código no esqueleto Região adicional (Tuller et al, 2008)
17.CFRG Em fragmento de osso do cranio - centro do fragmento
18.MANDD Na mandíbula, quando desarticulada, em fragmento do lado direito
19.MANDE Na mandíbula, quando desarticulada, em fragmento do lado esquerdo
20.RHUMP Ponto na extremidade proximal do úmero direito - cabeça
21.LHUMP Ponto na extremidade proximal do úmero esquerdo - cabeça
22.RHUMFP Ponto em fratura proximal no úmero direito
23.RHUMFD Ponto em fratura distal no úmero direito
24.LHUMFP Ponto em fratura proximal no úmero esquerdo
25.LHUMFD Ponto em fratura distal no úmero esquerdo
26.RHUMD Ponto na extremidade distal do úmero direito
27.LHUMD Ponto na extremidade distal do úmero esquerdo
28.RULNP Ponto na extremidade proximal da ulna direita
29.LULNP
30.RULNFD
Ponto na extremidade proximal da ulna esquerda
Ponto em fratura distal na ulna direita
20
31.RULNFP Ponto em fratura proximal na ulna direita
32.LULNFD Ponto em fratura distal na ulna esquerda
33.LULNFP Ponto em fratura proximal na ulna esquerda
34.RRADFD Ponto em fratura distal no rádio direito
35.RRADFP Ponto em fratura proximal no rádio direito
36.LRADFD Ponto em fratura distal no rádio esquerdo
37.LRADFP Ponto em fratura proximal no rádio esquerdo
38.RULND Ponto na extremidade distal da ulna direita
39.LULND Ponto na extremidade distal da ulna esquerda
40.RRADP Ponto na extremidade proximal do rádio direito - cabeça
41.LRADP Ponto na extremidade proximal do rádio esquerdo - cabeça
42.RRADD Ponto na extremidade distal do rádio direito
43.LRADD Ponto na extremidade distal do rádio esquerdo
44.RFEMP Ponto na extremidade proximal do fêmur direito - cabeça
45.RFEMD Ponto na extremidade distal do fêmur direito - cabeça
46.LFEMP Ponto na extremidade proximal do fêmur esquerdo - cabeça
47.LFEMD Ponto na extremidade distal do fêmur esquerdo - cabeça
48.RFEMFD Ponto em fratura distal no fêmur direito
49.RFEMFP Ponto em fratura proximal no fêmur direito
50.LFEMFD Ponto em fratura distal no fêmur esquerdo
51.LFEMFP Ponto em fratura proximal no fêmur esquerdo
52.RTIBP Ponto na extremidade proximal da tíbia direita
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53.RTIBD Ponto na extremidade distal da tíbia direita


54.LTIBP Ponto na extremidade proximal da tíbia esquerda
55.LTIBD Ponto na extremidade distal da tíbia esquerda
56.RTIBFD Ponto em fratura distal na tíbia direita
57.RTIBFP Ponto em fratura proximal na tíbia direita
58.LTIBFD Ponto em fratura distal na tíbia esquerda
59.LTIBFP Ponto em fratura proximal na tíbia esquerda
60.RFIBP Ponto na extremidade proximal da fíbula direita - cabeça
61.RFIBD Ponto na extremidade distal da fíbula direita
62.LFIBP Ponto na extremidade proximal da fíbula esquerda - cabeça
63.LFIBD Ponto na extremidade distal da fíbula esquerda
64.RFIBFD Ponto em fratura distal na fíbula direita
65.RFIBFP Ponto em fratura proximal na fíbula direita
66.LFIBFD Ponto em fratura distal na fíbula esquerda
67.LFIBFP Ponto em fratura proximal na fíbula esquerda
68.SPINT Ponto no topo da coluna vertebral - Na região proximal da coluna vertebral, estando o
esqueleto em decúbito dorsal, lateral ou ventral - no centro do canal vertebral do atlas
69.SPINB
70.SPINI
Na base da coluna vertebral – na junção com o sacro, no centro da S1
Ponto de inflexão na coluna vertebral ou ponto no centro do esqueleto – 6ª. vértebra 21
torácica
FI Ponto em área de inflexão do osso por quebra, sem separação entre os seus segmentos
V Ponto virtualmente determinado. Este código pode ser acrescido após cada um dos
códigos anteriores. É usado no caso da inexistência - por decomposição óssea ou
perturbação - do remanescente ósseo na região de cada ponto.

Os códigos de inclusão foram: V = ponto virtualmente determinado; 68.SPINT = topo da


coluna vertebral; 69.SPINB = base da coluna vertebral; 70.SPINI = ponto de inflexão na
coluna vertebral; FI = ponto em área de inflexão do osso por quebra, sem separação entre
as partes. Ossos muito fragmentados demandam a situação de um número maior de
pontos planialtimétricos (coordenadas) e vetorização a posteriori. Os dados acima
referentes aos pontos para a definição da distribuição espacial preliminar das deposições
funerárias e seus conteúdos foram extraídos de Silva (2018) e empregados nas escavações
do cemitério em estudo.
O registro dos pontos das coordenadas altimétricas para o mapeamento espacial dos
sepultamentos e seus conteúdos foi efetuado com uso de estação total (Figura 1).
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Figura 1: Registro com estação total dos pontos das coordenadas planialtimétricas
definidas preliminarmente: ponto 9.RPEL sendo tomado no esqueleto do sepultamento

22

Fonte: Labifor, 2018

DESCRIÇÃO DAS DEPOSIÇÕES FUNERÁRIAS DO ENGENHO JAGUARIBE


A descrição das deposições funerárias escavadas no Engenho Jaguaribe considerou as
terminologias funerárias de Sprague (2005) e dados de situação espacial (unidade,
quadrante, quadrículas, orientação do eixo crânio-pelve). Preliminarmente (Quadro 1),
foram identificadas e escavadas 12 deposições funerárias, contendo 14 esqueletos; ossos
esparsos; e identificadas três deposições funerárias e ossos esparsos em barranco, não
removidas, de adultos. Nas quadras, de modo geral, foram localizados ossos esparsos
(fêmures, tíbias, escápulas, clavículas e outros), mapeados conforme o seu aparecimento
no contexto. Possivelmente estão associados a antigas práticas de inumação, seguidas de
exumações fortuitas, totais ou parciais.
Sepultamento 1, esqueleto 1.
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O sepultamento 1, evidenciado na área externa da capela do engenho Jaguaribe,


apresentou um único esqueleto. A deposição funerária, caracterizada pelo enterramento
ou inumação do corpo, estava no Setor 5, Unidade Delta, Quadrante B, Quadrículas 10-
C/4C – C/4D, tendo sido decapado em profundidade de 30cm da superfície do sítio em
26/08/2018.
Trata-se de uma deposição funerária simples (Figura 2), possivelmente perturbada, com a
ausência do crânio e porção de vértebras cervicais. O esqueleto 1 encontrava-se a cerca
de 30cm de profundidade, em decúbito dorsal, com membros inferiores estendidos e com
a extremidade distal da perna direita sob o terço distal da perna esquerda (pernas
cruzadas); membros superiores hiperfletidos, com ossos das mãos na região do tórax
(sobre o manúbrio). Um úmero deslocado encontrava-se sobre os ossos do braço direito.
O corpo apresentava eixo crânio-pelve orientado a WNW-ESE (oés-noroeste – lés-
sudeste). Uma estrutura de tijolos e argamassa (em alvenaria) estava disposta
longitudinalmente do lado direito do corpo, próximo dos ossos do braço direito (Figura
2). 23
Um crânio esparso, sem mandíbula (Figura 3), depositado com a base para baixo
encontrava-se a cerca de 1m de distância das vétebras cervicais deste esqueleto. Pode
pertencer ao esqueleto e ter sido deslocado durante etapas exumatórias na área do
cemitério. Verificando-se que o crânio não pertence ao mesmo esqueleto, outras hipóteses
foram pensadas: a) perda do crânio por ação antrópica para exumar; b) perda do crânio
durante abertura de valas para plantio; c) perda do crânio por outras ações de intervenção
no sítio, incluindo processos não antrópicos. Conforme a Figura 2, trata-se de uma
deposição simples ou primária, simples (contendo um único indivíduo), com evidentes
sinais de perturbação no esqueleto, caracterizados pela ausência ou dispersão de alguns
ossos (crânio, mandíbula, vértebras cervicais, ossos do braço direito).
O crânio esparso, por não pertencer a nenhum outro esqueleto dos sepultamentos no
mesmo nível de deposição, por pertencer a um adulto, possivelmente masculino, foi
atribuído ao esqueleto 1. Em laboratório, análises adequadas a partir da limpeza
investigativa, da conservação curativa com reconstituição/reintegração de fragmentos de
crânio/vértebras cervicais/mandíbula; determinação de idade, sexo e sinais de doenças,
isotopia, reconstituição de perfil genético e datação poderão confirmar ou não esta
primeira hipótese, resultante da interpretação do contexto de deposição dos
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remanescentes do esqueleto 1.
Pertence a indivíduo masculino, adulto, conforme análise preliminar dos caracteres
macroscópicos. Os ossos encontram-se extremamente friáveis e foram retirados em
blocos. Encontram-se em processo de secagem e escavação no LABIFOR - UFPE.

Figura 2: . Vista geral do sepultamento 1, em A e B, etapas da evidenciação do


esqueleto 1.

24

Fonte: Cláudia Oliveira, 2018


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Na Figura 2 A observam-se duas perfurações para a obtenção dos pontos de mensuração


das coordenadas de localização espacial do esqueleto nas áreas de conexão anatômica
entre os fêmures e tíbias. As mãos estavam posicionadas sobre o esterno. Uma
característica peculiar, presente neste único caso, foi o fato dos terços distais dos ossos
das pernas estarem cruzados (a perna direita estava disposta com o terço distal da tíbia e
fíbula e ossos do pé sob o terço distal da tíbia, fíbula e ossos do pé esquerdo. O crânio do
indivíduo 1 possivelmente é aquele encontrado a um metro de distância (Figuras 2B, 4),
deslocado da sua posição original em campo e ao lado direito do corpo. Outra
característica que indica a presença de estruturas funerárias construídas em alvenaria na
área (como divisas de túmulos de chão ou de carneiras) encontrava-se na altura do braço
ossos do tronco. Sobre os ossos do braço direito estava um úmero de outro indivíduo
(Figuras 2A-B, 4).
O material ósseo humano foi em parte transportado para o laboratório de Arqueologia
Biológica e Forense - LABIFOR. Caracterizou-se por blocos contendo ossos longos,
vértebras e costelas e ossos dos quadris. Estes ainda foram mantidos assim para 25
decapagem sistemática em laboratório durante o primeiro semestre de 2019. O crânio está
em processo de escavação e limpeza superficial, a seco. Apresenta modificações
tafonômicas causadas pela ação de raízes (fitoturbação), fatores naturais de decomposição
óssea, sinais de esmagamento e ausência de partes ósseas importantes no frontal, occipital
e mandíbula (ausente), conforme a Figura 3. Sua posição no contexto arqueológico – com
a base voltada para baixo e sem mandíbula - denota ter sido desarticulado do esqueleto
em momento posterior à inumação e anterior à escavação arqueológica.
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Figura 3: Fotografia do crânio retirado em bloco, isolado, possivelmente


pertencente ao esqueleto do sep. 1 . Acima, vista lateral direita e esquerda; abaixo, vista
frontal e superior. A escala corresponde a 5cm. O crânio foi fotografado logo após a
retirada de campo

26

Fonte: Labifor, 2018


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Na Figura 3, observa-se a ação de raízes de plantas arbustivas que romperam os tecidos


ósseos, participando da decomposição dos ossos cranianos. Os ossos da face
(viscerocrânio) encontram-se esmagados e muito decompostos, sob os ossos do
neurocrânio (frontal, parietais, temporais e occipital, no caso presente).
Os ossos do esqueleto 1 caracterizam-se pela presença de quebras post mortem e
inúmeras ausências de partes ósseas, como o crânio e mandíbula. O esqueleto 1 encontra-
se incompleto tendo sido retirado em blocos. Encontra-se em processo de limpeza
investigativa no LABIFOR e LACOR, na UFPE.
O material ósseo encontra-se em processo de limpeza investigativa a seco, com pincéis de
cerdas macias e naturais e espátulas de madeira. As regiões que haviam sofrido impacto e
quebras/danos recentes, durante o processo de desenterramento e encontro fortuito, foram
consolidadas e coladas, quando possível. O uso de consolidantes e adesivos tem sido cada
vez mais reduzido na conservação e restauro de materiais arqueológicos, especificamente
em ossos humanos (Cassman et al, 2008), sendo empregados após avaliação para fins de 27
conservação curativa ou revisão de antigas reconstituições, eventualmente. Fraturas
perimortem e quebras antigas não são tratadas com consolidantes ou adesivos, assim
como marcas ou remodelações causadas por doenças, queima, impregnação carbonática e
alterações tafonômicas ocorridas durante a formação do depósito arqueológico. No caso
da série de ossos escavados no Engenho Jaguaribe, o consolidante (Paralóide B-72 a 5% e
a 25%) foi empregado em áreas específicas dos ossos e fragmentos, não inviabilizando a
retirada de amostras ósseas a priori e a posteriori. Não foram empregadas técnicas de
imersão ou impregnação total à vácuo. A limpeza investigativa favoreceu a avaliação
preliminar e a escolha das áreas a serem consolidadas.
Ossos com traços dimórficos para sexo biológico binário (feminino, masculino),
indicadores etários, paleopatológicos e de estresse musculoesquelético, alterações de
natureza tafonômica por agentes ambientais, biológicos significativos e culturais (ocre,
cremação) não foram consolidados ou colados integralmente. A escolha de áreas para a
consolidação e para a colagem depende de vários fatores que são discutidos em equipe.
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Figura 4: Vista oblíqua do sepultamento 1. A linha ao redor do esqueleto indica


o contorno da cova. Observe-se a estrutura de alvenaria do lado direito do corpo (A) e
fragmentos de materiais construtivos. Um úmero esparso encontra-se junto dos ossos do
braço direito (B) e o crânio possivelmente é o que está deslocado (C).

A
B
28

Fonte: Cláudia Oliveira, 2018

Sepultamento 2, esqueleto 1

Constitui uma deposição primária, simples (Figuras 5, 6). O esqueleto encontrava-se a


cerca de 100cm de profundidade, situado entre as quadrículas 10Cb/10Dc (parte superior
do corpo) e 10Ca/10Dd (membros inferiores), em decúbito dorsal, com membros
inferiores estendidos; membros superiores semi-fletidos, com mãos sobre a pelve. Um
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fragmento de neurocrânio de adulto (UCR03) encontrava-se na altura do fêmur direito e


uma costela de adulto (UCR02) no nível do rádio e ulna direitos. O corpo apresentava
eixo crânio-pelve orientado a NW-SE (noroeste-sudeste).
Após a retirada do esqueleto infantil, extremamente friável, sob a região ocupada pelo
crânio da criança, foi localizado um fragmento esparso de crânio de adulto (Figura 7).
Ossos esparsos ou fragmentos de ossos estavam presentes entre, sob ou sobre os
esqueletos que estavam em conexão anatômica nos sepultamentos, indicando atividades
funerárias intensivas de exumação e inumação em uma área restrita. O uso e reuso da área
para sepultamentos pode ser indicado pela presença desses ossos esparsos e fragmentos
em vários níveis.
Figura 5: Vista vertical do sepultamento 2. Nesta etapa da decapagem, o crânio
estava visível entre as quadrículas 10Cb e 10Dc. Devido ao seu estado de decomposição,
optou-se pela sua retirada em bloco antes da evidenciação do restante do esqueleto,
considerando que a sua exposição estava ocasionando sua rápida degradação 29

Fonte: LABIFOR, 2018


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Figura 6: Vista vertical do sepultamento 2, situado entre as quadrículas 10Cb/10Dc


(parte superior do corpo) e 10Ca/10Dd (membros inferiores). Nesta etapa da decapagem, o
crânio, mandíbula e úmero direito haviam sido retirados em bloco. Observa-se o fragmento
esparso de crânio de adulto na altura dos ossos da perna direita e costela de adulto no nível dos
ossos do braço direito

30

Fonte: LABIFOR, 2018


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Figura 7: Matriz de solo após a retirada dos ossos do sepultamento 2: observa-se a


presença de ossos de crânio de adulto (no círculo) que estavam sob o crânio da criança. Sob a
criança estava o sepultamento 3, com esqueleto de jovem.

31

Fonte: LABIFOR, 2018

Pertence a indivíduo infantil, possivelmente feminino (sexo biológico). Os ossos


encontram-se extremamente friáveis e foram retirados em blocos (crânio) para tratamento
laboratorial, encontrando-se em processo de secagem e escavação sistemática, com
limpeza investigativa no Labifor-Ufpe. Sob o crânio da criança que estava no
sepultamento 2, foram evidenciadas mais duas partes de neurocrânio de adulto (Figura 7).
No nível do membro inferior direito também havia sido localizado um fragmento de
neurocrânio de outro adulto. Abaixo do sepultamento da criança foi localizado um novo
sepultamento de jovem, a aproximadamente 130cm de profundidade, com orientação do
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eixo crânio-pelve análoga a da criança e ao esqueleto do sepultamento 1.


O esqueleto encontrado no sepultamento 2 pertence a um não adulto, com estatura
aproximada de 0,87m e idade estimada entre 3 e 6 anos a partir da análise dentária
preliminar (Brothwell, 1981). Os ossos, exceto o crânio e as vértebras e costelas, foram
retirados dos blocos de sustentação. A incisura isquiática no ílio e ísquio indica provável
sexo feminino, muito embora esta estimativa para crianças ainda não seja bem aceita na
área da Bioarqueologia. Os centros secundários de ossificação encontram-se muito
friáveis. A limpeza investigativa nesse caso tem demandado mais tempo e dedicação dos
profissionais envolvidos no Labifor e no Lea. Os dentes não apresentam desgaste
acentuado das faces oclusais das coroas, indicando a mastigação de alimentos
relativamente moles. Ainda não foi verificada a presença de doenças metabólicas ou de
outra natureza pois com a pandemia da Covid-19 as atividades laboratoriais foram
suspensas.

32
Sepultamento 3, esqueleto 1

O sepultamento 3 caracteriza-se como uma deposição funerária simples, com uma cova
contendo um único indivíduo (Figuras 8, 9 e 10). O esqueleto encontrava-se a cerca de
130cm de profundidade, entre as quadrículas 10Dc/10Cb e 10Ca/10Dd, a cerca de 30cm
do esqueleto1 da criança do sepultamento 2, em decúbito dorsal, com membros inferiores
estendidos, pés paralelos e próximos entre si; membros superiores fletidos, com braços
cruzados sobre o tórax. O corpo apresentava eixo crânio-pelve orientado a NW-SE
(noroeste – sudeste). Fragmentos de neurocrânios de adultos encontravam-se junto e
sobre o crânio deste indivíduo, deslocados de outra inumação mais antiga durante a sua
inumação.
Trata-se de esqueleto de jovem, com menos de 23 anos, conforme as caractrísticas
dentárias e de desenvolvimento ósseo (Brothwell, 1981). O sexo, possivelmente
masculino, ainda deverá ser estimado por características do crânio e da pelve. Os ossos
ainda apresentam linhas epifisiais e centros secundários de ossificação não fusionados.
Sua estatura em vida será calculada pelos dados da estação total, medidas em campo e
comparação com o resultado da aplicação de equações de regressão para cálculo de
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estatura recomendadas por Brothwell (1981). Apresenta sinais de possível lesão


cariogênica entre os incisivos centrais. Os dentes, de modo geral, encontram-se inseridos
no substrato da matriz que compõe o bloco com o crânio. Os ossos, de modo geral,
encontram-se extremamente friáveis e foram retirados em bloco ou individualmente.
Encontram-se em processo de secagem e escavação no LABIFOR e no LEA-UFPE.
A limpeza investigativa detalhada deste material ósseo, incluindo a reintegração de
fragmentos de ossos específicos (ossos longos, ossos faciais, ossos da pelve) deverá
propiciar a identificação ou confirmação dos principais elementos do perfil demográfico
deste indivíduo, incluindo o sexo, idade, ancestralidade, estatura, alterações dentárias,
dieta, doenças, traumas e anomalias.
Figura 8: Detalhe do Sepultamento 3, esqueleto 1, de jovem em decúbito dorsal, com
membros superiores fletidos, ossos dos braços cruzados no seu terço distal sobre a região do
tórax/ventre, cabeça com face voltada para o lado direito.
33

Fonte: LABIFOR, 2018


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Figura 9: Detalhe de etapa de decapagem do esqueleto 1, Sepultamento 3.

Fonte: LABIFOR, 2018


34
Figura 10: Vista vertical geral do sepultamento 3, esqueleto 1, após a retirada do crânio
em bloco.

Fonte: LABIFOR, 2018


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Figura 10A: Crânio do esqueleto 1, Sepultamento 3, visto em norma lateral direita,


mantido em bloco, após primeira limpeza investigativa em laboratório.

35

Fonte: LABIFOR, 2018

Neste esqueleto foram mensurados in situ o rádio direito (24cm de comprimento máximo)
e a ulna direita (30cm de comprimento máximo). A adoção de medidas em campo
(osteométricas de ossos e estatura do esqueleto) é uma prática recorrente e é importante
para a recuperação de dados que não poderiam ser mantidos após a exumação científica
dos remanescentes (por quebras decorrentes do estado de decomposição óssea, partes
pulvurulentas ou já extremamente degradadas em campo e que não poderiam ser
recuperadas mesmo com processos de consolidação).
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Na Figura 10A observa-se a ausência antemortem do primeiro e segundo molares


inferiores direitos, o que resultou na extrusão gradativa dos molares superiores
antagonistas. Os ossos apresentam estado de decomposição que resultou em fissuras e
destacamentos superficiais que podem demandar consolidação setorizada.

Sepultamento 4 , esqueletos 1 e 2

O sepultamento 4 (Figuras 11-15), denominado assim até a sua reinterpretação em


laboratório, com dados espaciais de campo, representa duas deposições simples,
justapostas em covas distintas que se intersectaram (a primeira cova foi invadida pela
segunda e alguns ossos longos do primeiro indivíduo foram dispostos dentro da nova
cova para o segundo indivíduo) dentro do Quadrante B, Quadras 10BD/9Cc, a uma
profundidade em relação à superfície do terreno variando de 28cm a 44cm.
36
Trata-se de duas deposições simples consecutivas (Sepultamentos 4 e 4A) que resultaram
em perturbação da primeira inumação. Neste sepultamento, a priori denominado
Sepultamento 4, foram incluídos dois esqueletos. Suas presenças foram verificadas pela
exposição de ossos de pernas, articulados, indicadores de que os corpos desses dois
indivíduos foram depositados em decúbito lateral direito, com membros inferiores
parcialmente fletidos e em momentos claramente distintos. A superficialidade e
friabilidade das duas inumações e especificamente a posição dos esqueletos indicaram
uma nova variação na forma de deposição funerária no sítio.
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Figura 11: Vista oblíqua geral do sepultamento 4, esqueletos 1 e 2.

37

Fonte: LABIFOR, 2018

Conforme a análise dos dados contextuais, trata-se de duas deposições funerárias simples,
consecutivas, de pessoas depositadas em posições corporais similares (decúbito lateral
direito, com membros inferiores fletidos ou semi-fletidos. A deposição mais antiga,
inferiormente situada, apresenta claros sinais de perturbação por ação exumatória -
deslocamento de ossos sobre o novo cadáver - para a inumação do corpo que passou a
ocupar grande parte da cova inicial. O segundo esqueleto (1), que está sobre o primeiro,
também sofreu desarticulação de ossos, como o fêmur esquerdo, fora do seu contexto de
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conexão anatômica esperado. O primeiro esqueleto (2) apresenta-se incompleto, com


ossos longos desconectados e dispersos sobre a região superior do esqueleto 1. Note-se: o
esqueleto 2 foi depositado na primeira cova; o esqueleto 1 foi depositado na área da cova
do esqueleto 2, resultando na perturbação deste primeiro sepultamento primário. Há a
intersecção de covas e a perturbação do primeiro e do segundo esqueletos em momentos
diferentes (Figuras 10 e 12).
Figura 12: Vista geral do sepultamento 4, esqueletos 1 e 2. As setas indicam ossos do
esqueleto 2 e do esqueleto 1 fora de suas conexões anatômicas originais, por perturbação
antrópica.

38

Fonte: LABIFOR, 2018

Conforme a Figura 12 (setas vermelhas), ossos do braço e das pernas do esqueleto 2 e o


fêmur esquerdo do esqueleto 1 encontram-se desarticulados e depositados sobre a parte
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superior do esqueleto 1. O esqueleto 2, de adulto, possivelmente feminino ou jovem,


apresenta-se muito fragmentado e incompleto. Entretanto, os ossos ainda inseridos no seu
contexto de conexão anatômica indicam que o corpo havia sido depositado em decúbito
lateral esquerdo. Os ossos do segundo indivíduo (esqueleto 1) na ordem de deposição
funerária, conforme observa-se nas Figuras 11 e 12, indicam que estavam
predominantemente em conexão anatômica. O corpo havia sido depositado dentro de uma
cova que acabou perturbando a cova onde estava o esqueleto 2 (um processo de
atividades inumatórias do segundo indivíduo - esqueleto 1 - resultou na ação de
exumação parcial do indivíduo anteriormente inumado e na realocação de vários dos seus
ossos longos, como fêmures e úmeros).
O esqueleto 1 (do sepultamento 4A), último a ser depositado e que interferiu na estrutura
funerária do primeiro sepultamento (sepultamento 4), estava depositado em decúbito
lateral direito, com face voltada para a frente, braço esquerdo fletido e esquerdo
estendido, com ossos da mão entre os fêmures e pernas parcialmente fletidas, com o terço
distal da tíbia esquerda disposto sobre o terço distal da tíbia direita. 39
Ações inumatórias resultaram na perturbação e rearranjo de ossos longos do esqueleto 2
(sob o esqueleto 1) - em ações exumatórias - e ações possivelmente inumatórias ou de
outra natureza (mesmo não antrópicas ou para revolvimento do terreno para outros fins)
teriam resultado no deslocamento do fêmur esquerdo do esqueleto 1. Outras vistas
oblíquas das duas deposições primárias podem ser observadas nas Figuras 13 e 14.
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Figura 13: Vista oblíqua geral do sepultamento 4, esqueletos 1 e 2. As setas indicam


ossos do esqueleto 2 e do esqueleto 1 fora de suas conexões anatômicas originais, por
perturbação antrópica.

40
Fonte: LABIFOR, 2018
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Figura 14: Vista oblíqua geral do sepultamento 4, esqueletos 1 e 2. As setas indicam


ossos do esqueleto 2 e do esqueleto 1 fora de suas conexões anatômicas originais, por
perturbação antrópica.

Fonte: LABIFOR, 2018 41

A Figura 15 apresenta um detalhe da porção superior dos esqueletos 1 e 2. Observa-se a


presença do fêmur esquerdo do esqueleto 1 e a mandíbula do esqueleto 2 em realocação.
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Figura 15: Vista vertical de detalhe do sepultamento 4, esqueletos 1 e 2. As setas


indicam a situação do fêmur esquerdo do esqueleto 1 e da mandíbula do esqueleto 2.

42

Fonte: LABIFOR, 2018

A presença de materiais construtivos, como tijolos, argamassa e telhas foi registrada sob
os ossos dispersos do esqueleto 2 (Figura 15, áreas com círculos).
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Sepultamento 5, esqueleto 1

Trata-se de deposição simples ou primária, com claros sinais de perturbação e


incompletude do esqueleto. Estava localizada no Quadrante B, Quadrículas 9Cd e 8Cc ,
entre 30 e 35cm de profundidade em relação à superfície atual do terreno(Figuras 16 e
17).
O esqueleto 1 encontrava-se em decúbito dorsal, eixo crânio-pelve no sentido L-W, com
membros superiores fletidos e com ossos dos braços paralelamente dispostos, sobre a
região do tórax/ventre, mãos junto das articulações dos cotovelos. Sob o terço proximal
do úmero esquerdo foi evidenciado um artefato compatível com escapulário (ou “patuá”,
“bentinho” ou relicário), com duas plaquetas de vidro e conteúdo ainda mantido em bloco
para estudo.
Os membros inferiores encontravam-se estendidos, com ossos dos pés dispostos juntos,
lado a lado. Estavam ausentes no contexto da deposição o crânio, mandíbula, clavícula
43
esquerda e úmero direito (Figura 17). Essas ausências podem ser decorrentes de diversas
ações antrópicas e naturais que se sucederam no sítio, incluindo: a) ações inumatórias
dentro dos ciclos funerários; b) ações exumatórias parciais ou totais, de caráter fortuito; c)
ações de raízes de plantas nativas ou domesticadas e tocas de animais (mamíferos, répteis
e anfíbios) em períodos mais recentes; d) ações antrópicas de perfuração de moirões,
revolvimento da terra para plantio em épocas mais recentes; e) ações antrópicas de caráter
construtivo, para terraplanagem, abertura de estradas e vielas.
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Figura 16: Vista vertical do sepultamento 5, esqueleto 1. Esqueleto incompleto por


perturbações antrópicas e/ou naturais (fitoturbação, bioturbação).

44

Fonte: LABIFOR, 2018


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Figura 17: Vista vertical de detalhe do sepultamento 5, esqueleto 1. Esqueleto


incompleto por perturbações antrópicas e/ou naturais (fitoturbação, bioturbação). Note-se
ausência do úmero direito, clavícula esquerda, deslocamento da clavícula direita, da ulna e
rádio direitos e buraco produzido por animal na região do canal pélvico. Sob o terço proximal
do úmero esquerdo um artefato religioso (provável “escapulário”).

45

Fonte: LABIFOR, 2018

O esqueleto 1 do Sepultamento 5 apresentou características morfológicas compatíveis


com adulto, de sexo biológico feminino (caracteres da pelve - incisura isquiática maior e
superfície auricular).
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Sepultamento 6, esqueleto 1

Trata-se de uma deposição simples (sepultamento primário), contendo um esqueleto de


adulto e ossos esparsos de outros indivíduos (mandíbula, fragmento de neurocrânio e osso
longo), conforme a Figura 18. Estava situado no Quadrante B, Quadrículas
8Cb/9Ca/9Cb , entre 24cm a 35cm de profundidade em relação à superfície atual do
terreno.
Figura 18: Vista oblíqua do sepultamento 6, esqueleto 1

46

Fonte: LABIFOR, 2018


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O esqueleto estava depositado em decúbito dorsal, com leve lateralização à direita,


membros superiores estendidos com mãos sobre a região pélvica e membros inferiores
estendidos e levemente lateralizados à direita. A face estava voltada para a direita. Ossos
de outros individuos, possivelmente associados a ações exumatórias, encontravam-se
junto do crânio, vértebras cervicais e costelas (três ossos longos), junto dos ossos do
membro superior esquerdo (mandíbula e fragmento e neurocrânio infantil), conforme a
Figura 19 (setas vermelhas). A orientação do eixo crânio-pelve segue para E-W.
O esqueleto apresentava espessamento de fêmures, tíbias e fíbulas (doença de Paget, ou
outra?). Apresentava sinais indicadores de envelhecimento e sexo biológico
possivelmente feminino. O estado de decomposição óssea do crânio e da pelve
demandam reintegração de fragmentos em uma etapa complexa de conservação curativa
que está programada para desenvolvimento no LABIFOR e no LEA.
Figura 19: Vista oblíqua do sepultamento 6, esqueleto 1. O esqueleto, embora
47
em decúbito dorsal, apresenta lateralização generalizada para o lado direito.
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Fonte: LABIFOR, 2018

O esqueleto 1 deste sepultamento apresenta elevado potencial de análise de doença


crônica com expressão nos ossos longos. Esta peculiaridade no âmbito da Arqueologia da
Doença, observada no próprio contexto da escavação, perfaz objeto de pesquisa da tese
do discente André Laurentino da Silva, do Programa de Pós-Graduação da UFPE.

Sepultamento 7, esqueleto 1

Este sepultamento constitui uma deposição simples (ou primária), contendo um único
indivíduo (esqueleto 1). Estava localizado no Quadrante B, nas Quadrículas 10 C-B
(10CA /10CA-Qb/ 9CA-QB/ 10C B/ 1 Ac/ 10Cb- QB), em profundidade entre 43cm e
58cm. Apresenta contexto de deposição similar ao do Sepultamento 4, com perturbações 48
por ações exumatórias que resultaram na deposição de ossos do esqueleto 1 do
sepultamento 8 sobre o esqueleto 1 do sepultamento 7. Na Figura 20 podem ser
observadas as relações de proximidade entre o esqueleto 1 do sepultamento 8 e o
esqueleto 1 do sepultamento 7.
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DOI: 10.20891/clio.V35N2pXX-XX

Figura 20: Vista oblíqua do sepultamento 7, esqueleto 1. Encontrava-se entre


estrutura de alvenaria e bloco de calcário amarelo. Os ossos longos sobre ele pertencem
ao esqueleto 1 do sepultamento 8, a esquerda.

Fonte: LABIFOR, 2018


49
Figura 21: Vista vertical da decapagem 1 do sepultamento 7, esqueleto 1. No detalhe,
os ossos longos assinalados com setas sobre ele pertencem ao esqueleto 1 do sepultamento 8, a
esquerda.

Fonte: LABIFOR, 2018


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Figura 22: Vista vertical do sepultamento 7, esqueleto 1. Encontrava-se entre estrutura


de alvenaria e bloco de calcário amarelo. Esqueleto encontrava-se em decúbito dorsal, com
lateralização à esquerda. Note-se um acompanhamento (adorno corporal?) de ferro no braço
direito.

50
Fonte: LABIFOR, 2018
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Figura 23: Detalhe do rádio e ulna direitos, articulados, após limpeza


investigativa, esqueleto 1, sepultamento 7, Engenho Jaguaribe. Note-se um artefato
metálico em torno dos terços distais dos ossos.

51

Fonte: LABIFOR, 2018

A cova do sepultamento 8 fora perturbada no nível dos membros inferiores do esqueleto


1. Estes foram desarticulados e os ossos longos misturados ao solo que preencheria a
nova cova do sepultamento 7 (Figura 21).
O esqueleto fazia parte de uma deposição simples (sepultamento primário). Encontrava-se
em decúbito dorsal, com lateralização à esquerda, entre uma estrutura de alvenaria à
direita e um bloco de calcário amarelo à esquerda, ambos na altura da porção superior do
esqueleto. Essa estrutura compartimentou a parte superior do esqueleto. O braço direito
encontrava-se fletido, com ossos da mão junto com os ossos da mão esquerda. O braço
esquerdo estava hiperfletido à esquerda do tórax. A face estava voltada à esquerda e para
cima. A perna direita apresentava-se semifletida, com a região do joelho sobre o joelho
esquerdo. A perna esquerda estava estendida (Figura 22).
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No crânio, retirado em bloco, foi observada uma depressão óssea que ocasionou várias
quebras (ou fratura cominutiva perimortem) na fossa temporal direita. Esse aspecto ainda
deve ser analisado nos fragmentos ósseos (sinais de quebra perimortem ou quebras post
mortem). O artefato de ferro (Figura 23) está em análise e deve ser comparado com outro
similar que foi encontrado em um sepultamento da Igreja Nosso Senhor do Bomfim, de
Marechal Deodoro, Alagoas. Trata-se de estudo de caso específico de adorno férreo (idé),
com viés de temática de religião africana. O discente Jamesson dos Santos Ferreira vem
desenvolvendo estudos sobre bioarqueologia da diáspora (FERREIRA, 2018), devendo
incluir este caso.
As análises preliminares do perfil bioantropológico indicaram tratar-se de esqueleto de
adulto, provável sexo masculino, de ancestralidade biogeográfica possivelmente africana.

Sepultamento 8
52
Trata-se de uma deposição funerária simples perturbada por processos exumatórios e
inumatórios subsequentes à esqueletização do cadáver. Localizava-se nas Quadrículas
1CA / 10C-B / 10 CD, entre 35 cm a 45 cm de profundidade em relação à superficie atual
do terreno (Figura 24).
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Figura 24: Vista geral do esqueleto 1, sepultamento 8, Engenho Jaguaribe. Note-se


a incompletude do esqueleto na Quadrícula 1CA. Os ossos dos membros inferiores,
retirados quando da inumação do cadáver depositado na sepultura 7 foram espalhados nela.

53

Fonte: LABIFOR, 2018


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Figura 25: Vista de detalhe da porção remanescente do sepultamento 8. Os braços


encontravam-se com os terços distais cruzados sobre a região torácica. À esquerda, restos de
alvenaria. O crânio encontrava-se fragmentado post mortem e incompleto.

54

Fonte: LABIFOR, 2018


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Figura 26: Vista vertical dos esqueletos dos sepultamentos 8 e 7. Note-se a


intersecção da cova do sepultamento 7 na cova do sepultamento 8. Os ossos longos dos
membros inferiores do esqueleto 1 , sep. 8 , estão sobre o esqueleto 1 , sep. 7.

55

Fonte: LABIFOR, 2018

A deposição funerária simples, aqui denominada sepultamento 8, continha um esqueleto


em decúbito dorsal, com braços fletidos e cruzados nos seus terços distais sobre a região
torácica, crânio muito incompleto e membros inferiores deslocados para o interior da
cova do sepultamento 8 (Figuras 25 e 26). Possivelmente estivessem estendidos ou
parcialmente fletidos. Um processo de abertura da cova para o cadáver do sepultamento 7
teria resultado na exumação aleatória dos ossos dos membros inferiores do esqueleto 1 do
sepultamento 8. Estes ossos foram misturados ao solo que preencheria a cova no
sepultamento 7. Esse contexto de deposição indica uso efusivo ou constante da área das
deposições funerárias (cemitério) durante um período de tempo compatível com a
esqueletização dos corpos inumados anteriormente às novas deposições. Covas em
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intersecção (Figura 26), com desconexão de ossos e sua mistura aos novos esqueletos
foram observadas em todos os casos em Jaguaribe. Isso pode estar relacionado a uma área
funerária diminuta para a quantidade de mortos ao longo do tempo e o uso regular da
mesma área para as inumações consecutivas. Não foram localizadas inumações
simultâneas.
O esqueleto está em processo de conservação curativa no LABIFOR e LEA para
possibilitar análises adequadas do perfil bioantropológico. A priori, as características
morfológicas para dimorfismo sexual indicam sexo biológico feminino, adulto. Não
foram observados in situ traços de doenças, traumas ou anomalias.

Sepultamento 9

Constitui uma deposição funerária simples localizada no Setor 5, Quadrante B, nas


56
Quadrículas 8 B-C/ 8 B-C/ 9B-A/ 9BC, a 20-30cm de profundidade, escavada em
19/09/2019.
Contém um esqueleto depositado em decúbito dorsal, com braços semi-feltidos e mãos
sobre a pelve e membros inferiores parcialmente fletidos e voltados lateralmente, à
direita. Os ossos encontravam-se muito decompostos e o crânio, pelve, costelas com
coluna vertebral e ossos dos pés foram retirados em blocos. Em campo foram efetuadas
mensurações de alguns ossos e o comprimento do esqueleto. Na Figura 27 observa-se a
posição do esqueleto. A cova não apresentava diferença tonal em relação à matriz de solo.
Junto dos ossos da perna esquerda e entre os fêmures notam-se materiais construtivos (de
alvenaria de tijolos, argamassa e telhas).
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Figura 27: Vista vertical do esqueleto 1 do sepultamento 9. Os ossos


apresentavam severo estado de decomposição. Note-sea presença de materiais
construtivos no lado esquerdo da perna esquerda e entre os fêmures.

57

Fonte: LABIFOR, 2018

As características gerais de gracilidade do esqueleto indicam possível sexo feminino e o


estágio de desenvolvimento ósseo também indica indivíduo adulto ou adulto jovem. O
estado de decomposição das epífises ósseas demandou mensuração de alguns ossos em
campo para estimativa da estatura (Brothwell, 1981). A mensuração da estatura do
esqueleto com fita métrica deve ser comparada com os resultados das mensurações
individuais de ossos longos por fórmulas de regressão.
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Sepultamento 10

Trata-se de deposição funerária simples contendo ossos parcialmente articulados de um


esqueleto (1). Estava localizada na Quadrícula 10D-D, a cerca de 120-130cm de
profundidade. Na Figura 28 observa-se a posição dos membros superiores, com mãos
sobre a região do tórax. Os ossos dos braços estão parcialmente em conexão anatomica.
Pela sua disposição, os braços estaria fletidos, com terços distais cruzados ou juntos . O
crânio encontra-se esmagado por pisoteamento antigo. Os ossos dos membros inferiores,
não visíveis na Figura 28, indicavam que as pernas estavam estendidas. O corpo
depositado em decúbito dorsal, similarmente ao esqueleto do sepultamento 8. O eixo
crânio-pelve estava a E-W.
Para a abertura da cova neste sepultamento 10, foram perturbados integralmente o
sepultamento 11 e parcialmente (na região das tíbias e fíbulas) o sepultamento 12, ainda
in situ. 58
Figura 28: Vista vertical de detalhe da porção superior do esqueleto 1 do sepultamento 10.

Fonte: LABIFOR, 2018


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As características gerais de desenvolvimento do esqueleto indicam que se tratava de


adulto, possivelmente feminino ou masculino jovem.

Sepultamento 11

O sepultamento 11, uma deposição funerária simples muito perturbada, com mistura de
ossos de pelo menos um ou dois indivíduos, retirados para a inumação do corpo do
sepultamento 10 e realocados no lado esquerdo do esqueleto do sepultamento 10. A
concentração de ossos estava situada na Quadrícula 10D-D, a uma profundidade de
aproximadamente 120cm.
Na Figura 29 pode-se observar a disposição do conjunto ósseo.
59
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Figura 29: Vista vertical de detalhe da porção superior do esqueleto 1 do


sepultamento 10.

60

Fonte: LABIFOR, 2018

Possivelmente, enquanto uma primeira hipótese, este conjunto ósseo resultou do processo
de abertura de uma cova (do sepultamento 10) para inumação que acarretou a exumação
fortuita de todo o esqueleto de adulto que estava na primeira cova.
As características gerais de desenvolvimento do esqueleto e de caracteres dimórficos
indicam, a priori, ossos de um adulto possivelmente masculino. Demais análises e coletas
de amostras de laboratório implicam no desenvolvimento de ações de conservação
curativa e higienização investigativa no LABIFOR.
Sepultamento 12
O sepultamento 12 caracteriza-se como uma deposição simples, perturbada parcialmente
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na região das tíbias, fíbulas e ossos dos pés, que foram misturados na parte inferior da
cova do sepultamento 10. Na Figura 28, junto do crânio do esqueleto 1 do sepultamento
10, observam-se os terços distais dos fêmures deste esqueleto, na parte inferior esquerda
da fotografia.

OUTRAS DEPOSIÇÕES (BARRANCO E OSSOS ESPARSOS EM


QUADRÍCULAS)
Na área do barranco da estrada local, ao lado do cemitério (junto as quadrículas 10D-D),
foram identificadas outras três deposições funerárias, com esqueleto articulado e ossos
esparsos. Estes remanescentes humanos indicam que a área de deposições funerárias
(cemitério) era maior e se estendia pela estrada, a qual destruiu outras deposições
funerárias. Estes ossos encontram-se a uma profundidad relativa de 40cm a 100cm a
partir da superfície atual do terreno, na aresta do perfil do barranco. Uma das deposições
localizadas no barranco apresentam característica distinta das demais, com esqueleto
61
possivelmente fletido. Note-se que estes esqueletos e ossos estão fora da área dos
alicerces da grande estrutura, onde a maior parte dos sepultamentos e dos ossos esparsos
ocorreram.
Foram registrados ossos esparsos em toda a área funerária, documentados no inventário
geral. Esses ossos (fêmures, escápulas, fragmentos de crânios, tíbias, entre outros) são
claros indicadores de perturbações das deposições funerárias contendo corpos já
esqueletizados para fins de novas inumações. A sequência de inumações e a ausência de
delimitação das covas ocasionou intersecções entre elas (casos dos sepultamentos 4 e 4A,
7 e 8, 9, 10 e 12. Esqueletos incompletos (caso do sepultamento 5), embora sem ossos em
associação, indicam essas ações inumatórias que acabaram resultando em exumaçoes
fortuitas completas ou incompletas de esqueletos e/ou ossos.
Registraram-se ossos e/ou esqueletos com presença de possíveis estruturas de alvenaria
de uso funerário nos sepultamentos 1 e 7.
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LIMPEZA INVESTIGATIVA E CONSERVAÇÃO CURATIVA

Os ossos humanos recuperados de contextos arqueológicos apresentam marcas de


processos de decomposição e de preservação simultaneamente. Em decorrência da
natureza orgânica, os ossos e dentes são frágeis e necessitam de cuidados específicos
desde o campo ao laboratório. Podem constituir amostras para diversos tipos de análises
físicas, químicas e biológicas, devendo, portanto ser triadas preliminarmente à
higienização ou durante a mesma. Estas análises incluem: a) a datação por AMS, com
colágeno; b) análises de isótopos estáveis para vínculos de dieta e ancestralidade; c)
análises de difração de raios X (identificação de compostos químicos) e de fluorescência
de raios X (caracterização elemental); d) para a reconstrução de perfis genéticos (DNAmt
ou DNAn) para determinação do sexo (isolamento do gene amelogenina),
parentesco/filiação; e) para a identificação de patógenos relacionados a eventuais
remodelações ósseas (Mycobacterium, Treponema, outros) e presentes em vestígios de
excrementos na região abdominal e pélvica.
62
A higienização/limpeza investigativa dos ossos e fragmentos recuperados no Engenho
Jaguaribe está sendo realizada manualmente, com pincéis de cerdas naturais (vegetais), a
seco, com o apoio de pontas de madeira e sobre superfície rígida forrada com papel ou
base de espuma. O uso de água destilada limitou-se as superfícies ósseas que
apresentaram quebras recentes - para fins de consolidação e reconstituição de elementos
ósseos para mensuração e identificação óssea. Os EPIs empregados incluíram máscara
contra pós, luvas e avental. Não foi empregada escova devido ao seu potencial de erosão,
danoso aos materiais de natureza orgânica. As áreas de fraturas recentes foram limpas a
seco e com pincel de cerdas vegetais. Os dentes não foram limpos nas suas faces
interproximais. As etapas de higienização dos ossos foram registradas na Figura 30.
Figura 30: Etapas de limpeza e higienização dos ossos provenientes do Engenho
Jaguaribe: em A, crânio retirado em bloco, sepultamento 2; B, crânio em bloco, esqueleto
1, sepultamento 1.
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63

B
Fonte: LABIFOR, 2018
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Figura 31: Vistas de um crânio esparso, associado ao esqueleto do sepultamento 1,


Engenho Jaguaribe: observa-se a ausência da mandíbula e fratura no neurocrânio, com perda de
partes do frontal e ação de raízes. Em A, limpeza com algodão e água destilada. Em B, após a
higienização superficial para a limpeza do relevo ósseo superficial.

64

C
Fonte: LABIFOR, 2018

O procedimento de limpeza investigativa foi aplicado para a evidenciação de blocos


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contendo ossos ainda articulados dos esqueletos dos sepultamentos 1, 2 e 3, assim como
de ossos e crânios esparsos. Devido à presença expressiva de áreas com fraturas recentes,
ocasionadas pela ação das raízes, umidade e perda da resistência dos ossos, deverão ser
empregados consolidantes e adesivos nessas regiões ósseas para possibilitar a
reconstituição e análise de alguns ossos e crânios. As Figuras 30 e 31 apresentam etapas
de limpeza investigativa e higienização superficial de um crânio esparso associado ao
esqueleto 1 do sepultamento 1. A Figura 32 ilustra a técnica de limpeza a seco empregada
no crânio do esqueleto infantil do sepultamento 2. Note-se que nem sempre a
higienização investigativa desmonta o bloco. Dependendo do estado de decomposição e
fragilidade do material, este é mantido sem o desmonte e reintegração dos fragmentos.
O uso de consolidantes e de adesivos no caso de Jaguaribe, foi aplicado em dois
momentos: a) no bloco com ossos em conexão, quando foi identificada extrema
fragilização dos vestígios e necessidade de preservação de determinadas regiões ósseas
(por quebras recentes, esfoliamento, pulverização, esmagamentos, delaminação, entre
outros de natureza ambiental) para fins de análise dos elementos do perfil 65
bioantropológico; b) fora do bloco, em áreas muito fragilizadas por pulverização ao
menor contato com o suporte ou recipiente de acondicionamento, também com fins
específicos de análise de elementos do perfil bioantropológico. Ossos como costelas,
vértebras, em conexão anatômica, foram retirados dos blocos gradativamente, com etapas
de decapagem fina (com uso de instrumentos de dureza inferior a dos ossos, semi-úmida
ou a seco) e retirada sucessiva, com registro dos ossos e suas relações de conexão
anatômica.
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Figura 32: Em A, crânio do esqueleto infantil, sepultamento 2, em bloco; B,


procedimento técnico de limpeza a seco do mesmo crânio.

66
A

B
Fonte: LABIFOR, 2018
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Figura 33: Fragmentos e dentes da mandíbula infantil, sepultamento 2. Observar a


presença de raízes no corpo da mandíbula. Os dentes acima da mandíbula são da maxila.

67

Fonte: LABIFOR, 2018


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Figura 34: Vista oclusal de porção direita do corpo da mandíbula. Presença de


decíduos com pouco desgaste, sepultamento 2. Observe-se a presença de raízes.

68

Fonte: LABIFOR, 2018

Após a limpeza investigativa do crânio do esqueleto infantil do sepultamento 2, foram


tratados individualmente os fragmentos e ossos retirados do bloco. As figuras 33-35
apresentam os fragmentos identificados como pertencentes a mandíbula deste esqueleto.
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Figura 35: Fragmento do corpo e ramo esquerdos da mandíbula. Observe-se a presença


da coroa do primeiro molar permanente e o segundo molar ainda incluso na vista oclusal (B),
sepultamento 2.

69
A
B

B
Fonte: LABIFOR, 2018
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O crânio do esqueleto de jovem do sepultamento 3 (Figura 36) foi retirado em bloco e a


limpeza investigativa teve início no final de dezembro de 2018. Devido ao seu estado de
preservação caracterizado pela presença de esmagamentos, ação de radículas e perda de
tecido ósseo superficial ao mínimo contato, associado à sua completude, optou-se em
efetuar a limpeza detalhada das superfícies ósseas – exceto os dentes – para verificar a
viabilidade de consolidação parcial para fins de obtenção de medidas e tomografias.
Neste crânio, os dentes são importantes elementos do sistema digestório indicadores de
dieta, ancestralidade e formas de subsistência.
Figura 36: Crânio do esqueleto 1 do sepultamento 3. A, etapa de retirada em bloco; B,
aspecto do neurocrânio com fissuras e desarticulação no nível da sutura coronal por
esmagamento.

70

B
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O crânio do esqueleto 1, sepultamento 3, foi higienizado e mantido em bloco,


representando a preservação do seu estado de decomposição óssea, com linhas de quebra
por esmagamento (Figuras 37 a 41).
Outros ossos humanos encontrados estavam esparsos, como um fêmur esquerdo, um
úmero, uma escápula e partes de esqueletos em conexão anatômica, mantidos in situ. A
presença de um dente com sinais de limagem na coroa (Figuras 42 e 43) e de contas
(Figura 44) podem indicar proveniência africana dos indivíduos inumados no cemitério
do Engenho Jaguaribe.
Figura 37: Crânio do esqueleto 1, sepultamento 3: mantido em bloco pela extrema
fragilização do tecido ósseo. Em norma lateral esquerda, nota-se o prognatismo facial
moderado. As vértebras C1 a C3 foram mantidas articuladas.
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Fonte: LABIFOR, 2018

Figura 38: Crânio do esqueleto 1, sepultamento 3: mantido em bloco pela extrema


fragilização do tecido ósseo. Em norma lateral direita, nota-se o prognatismo facial moderado.

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Figura 39: Crânio do esqueleto 1, sepultamento 3: mantido em bloco pela extrema


fragilização do tecido ósseo. Em norma anterior, notam-se sinais de leve esmagamento bilateral
do crânio e face.

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Fonte: LABIFOR, 2018


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Figura 40: Crânio do esqueleto 1, sepultamento 3: mantido em bloco pela extrema


fragilização do tecido ósseo. Detalhe da maxila e mandíbula em conexão anatômica, em norma
lateral esquerda. Os molares inferiores encontram-se extruídos para a face lingual,
possivelmente pela ausência de suporte do osso alveolar em decorrência de abcessos
periapicais. Os molares superiores encontram-se em moderada extrusão (entemortem).

74

Fonte: LABIFOR, 2018


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Figura 41: Crânio do esqueleto 1, sepultamento 3: mantido em bloco pela extrema


fragilização do tecido ósseo. Detalhe da maxila e mandíbula em conexão anatômica, vistas
anteriormente. Entre os incisivos centrais a presença de cárie e quebra .

75

Fonte: LABIFOR, 2018


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Figura 42: Incisivo central com sinal de limagem. Este dente foi recuperado em
peneira, durante a escavação. Foi reconstituído a partir de 3 fragmentos. Este tipo de limagem
de caráter étnico aparece em remanescentes dentários da Ilha de Santa Helena, na costa da
África

76

Fonte: LABIFOR, 2018


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Um Incisivo central com sinal de limagem, esparso, foi reconstituído a partir de 3 fragmentos
(Figura 42). Este dente foi recuperado em peneira, durante a escavação. O tipo de limagem de
caráter étnico aparece em remanescentes dentários da Ilha de Santa Helena, na costa da África.

Figura 43: Detalhe do dente da Figura 42: A, coroa em norma bucal/labial com
limagem; B, coroa em norma lingual. Observe-se a fragmentação e ausência de uma das
extremidades formadas após a limagem

77

B
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Na Figura 43-B, a porção ausente da coroa pode ter sido perdida antemortem, por fratura
dentária ou post mortem, por quebras durante sua desarticulação da maxila e dispersão. A
câmara pulpar encontrava-se exposta em decorrência de um processo de limagem muito
intenso, possivelmente associado a uma imperícia durante o processo por perda de
referenciais técnicos de natureza étnica.
Assim como o incisivo central com limagem, uma conta perfurada (Figura 44), de
material de cor escura, também pode indicar filiação com determinada entidade/orixá de
origem africana (Omolú)ou porção de terço católico ou outro adorno.
Figura 44: Conta encontrada esparsa no contexto das inumações, peneira. Como
esta, foi encontrada outra, mantida em bloco
78

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Determinados tipos de artefatos em associação nos sepultamentos podem ser indicadores


de subsistemas religiosos específicos, como foi adotado nas escavações arqueológicas no
cemitério de Tucson, nos EUA. Assim, crucifixos e terços podem indicar uma inumação
católica; os símbolos de uma menorah ou estrela de Davi podem indicar inumações
judaicas; adornos em contas provindas de África ou modificações dentárias de natureza
étnico-identitárias podem sugerir inumações vinculadas a escravizados de África.
Portanto, antes das análises de isótopos estáveis (com vistas a identificação de afinidades
biogeográficas) ou de análise craniométrica comparada (banco de dados mundial de
Howells), esses artefatos constituem fortes idícios de vínculos étnicos, religiosos e de
ancestralidade biogeográfica.
Na área com deposições funerárias do Engenho Jaguaribe foram encontrados indícios
como um artefato metálico similar ao idé ritual (Figuras 23 e 47), contas escuras,
provavelmente associadas a cultos a entidade/orixá Omolú (Figura 44) e dente com sinal 79
de limagem (Figuras 42 e 43) que direcionam as análises para a caracterização de uma
amostra populacional possivelmente de ancestralidade biogeográfica africana.

TRIAGEM E RECONSTITUIÇÃO

Os ossos dos indivíduos inumados e os dos demais esparsos foram triados conforme a sua
origem (número do sepultamento), por região do esqueleto (esqueleto axial e
apendicular), por osso, região do osso e por acidente anatômico presente; por grupo de
idade (adulto, não adulto), por coloração e processo de degradação, por qualquer tipo de
alteração contínua (doença, lesão traumática ou anomalia genética).
O processo de reconstituição restringe-se as áreas recentemente quebradas/danificadas e
deverá ser efetuado com uso de consolidante (PVA nutro a 10%) e adesivo (PVA neutro a
70%). Áreas com assinaturas tafonômicas antigas não foram reconstituídas pois
funcionam como indicadores de eventuais traumas perimortem (patologias ambientais).
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REGISTRO E NUMERAÇÃO DIRETA

O registro e numeração direta dos ossos e dentes deverá seguir as recomendações do


protocolo operacional do Laboratório e os modelos das fichas de esqueleto empregados
no Labifor. Somente serão numerados os ossos que apresentarem boas condições de
preservação.

USO DE CONSOLIDANTES E ADESIVOS

O emprego de adesivos deverá ser adotado somente em áreas onde se verificou a presença 80
de quebra recente e após a coleta de amostras e subamostras. Nessas regiões, a serem
delimitadas nas fichas de registros de laboratório, deverá ser aplicado um consolidante a
base de PVA neutro a 15%. Posteriormente, após a secagem, será aplicado PVA neutro
puro como adesivo. Em alguns casos, torna-se recomendável a consolidação de
superfícies ósseas importantes que estavam em processo de degradação severa, com PVA,
solúvel em água.

NÚMERO MÍNIMO DE INDIVÍDUOS

As deposições funerárias 1, 2 e 3 são simples, isto é, primárias, contendo um único


indivíduo. Outros ossos indicam a presença de mais de 3 indivíduos na área das
deposições funerárias (cemitério). Nesse caso, foram evidenciados 2 partes de esqueletos
pertencentes a 2 indivíduos, com sinais de conexão anatômica entre os ossos dos
membros inferiores. Sob o crânio do esqueleto do sepultamento 2 foi evidenciado um
fragmento de neurocrânio de uma antiga inumação; ao lado da face do esqueleto do
sepultamento 3 foram encontrados 2 fragmentos de neurocrânio, possivelmente do
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mesmo indivíduo, cujo sepultamento foi revolvido para a abertura da cova do


sepultamento 3; ao lado dos ossos das pernas do esqueleto do sepultamento 2 foram
encontrados um fragmento de neurocrânio e costelas de um adulto; um fêmur e ossos de
pé isolados encontravam-se a 30cm de profundidade, pertencentes a outro indivíduo
adulto; uma escápula isolada; dentes isolados. Assim, pode-se estimar cerca de 10
indivíduos ou mais, representados pelos ossos isolados e como vestígios de antigas
inumações e 14 indivíduos representados por esqueletos completos ou parcialmente
completos (sepultamentos 1 a 12). No sítio, até a última etapa, foram identificados
remanescentes de cercade >24 indivíduos (entre esqueletos e ossos esparsos).

OSSOS HUMANOS E DENTES ESPARSOS

Nesta categoria de vestígios estão todos os ossos e dentes que estão fora de conexão 81
anatômica, em situação de dispersão, por processos naturais ou antrópicos. No cemitério
em processo de escavação, foram localizados fragmentos de ossos humanos esparsos.
Entre as quadrículas 10Ca e 10Dd foram localizados fragmentos de ossos longos e de
crânio; entre as quadrículas 10Cb e 10Dc foram localizados fragmentos de neurocrânios,
costelas e dentes. Assim, todo o material, uma vez inserido na matriz de solo foi
mapeado. Poucos fragmentos de dimensões menores que 2cm foram coletados em
peneira, com a referência somente da quadrícula. Nesse caso estavam os três fragmentos
do dente limado que foi reconstituído e que possui um traço indicador de identidade
étnica muito específico. Em sua maioria, os ossos esparsos estão associados as inumações
mais preservadas, que apresentavam esqueletos completos. Ossos que aparentemente
estavam esparsos mas que denotavam continuidade para dentro da matriz de solo não
foram escavados ou coletados, tendo sido mantidos in situ. A identificação dos ossos e
dentes esparsos deverá ampliar o número de indivíduos inumados neste cemitério.
O mapeamento desses fragmentos está em processo, considerando que foram plotados
com estação total e que a planta geral deverá contar com dados de croquis e da própria
estação. Todos os dados estão em processamento. A reconstrução das deposições
funerárias junto com os ossos esparsos oferece uma nova perspectiva para a compreensão
do processo de formação, uso e abandono do “cemitério” do Engenho Jaguaribe.
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Para o processo de uso da área com presença de deposições funerárias (“cemitério”)


podem ser observadas as seguintes ações:
A) Abertura de covas em um primeiro momento, com deposiçõe de corpos
individualmente, em decúbito dorsal ou lateral, estendidos ou parcialmente estendidos;
B) Abertura de covas em um segundo (e terceiro) momento, com exumações fortuitas
totais ou parciais de esqueletos mais antigos e a deposição de corpos individualmente, em
decúbito dorsal ou lateral, estendidos ou parcialmente estendidos. Nessa etapa, as novas
covas foram preenchidas com ossos desarticulados dos esqueletos mais antigos, sobre ou
sob os corpos recém-inumados.
C) Perturbações de natureza diversa (n-transforms) , gerando processos de bioturbação e
fitoturbação dos sepultamentos como um todo. Nessa etapa, processos antrópicos (c-
transforms) relacionados à lida com a terra para plantio em períodos mais recentes,
resultaram em algumas intrusões nos sepultamentos mais superficiais, resultando em
dispersão e fragmentação de ossos antigos, ou mesmo o desaparecimento dos mesmos,
82
expostos às intemperies na superfície do terreno. Neste contexto, está a abertura da
estrada ao lado da área funerária, que resultou na perda de sepultamentos.
A seguir, foram estabelecidos e reagrupados alguns dos principais parâmetros para a
estimativa dos elementos do perfil demográfico dos indivíduos do cemitério do Engenho
Jaguaribe.

ESTIMATIVA DA IDADE

A estimativa da idade considera momentos de modelação e de remodelação óssea pelas


quais o sistema esquelético passa durante o processo de crescimento do corpo humano. A
idade também pode estar relacionada a fatores e ditames culturais e pode estar aparente
em casos de anomalias e doenças genéticas. Para a estimativa da idade nos esqueletos do
Engenho Jaguaribe, devem ser observados os níveis de fechamento das suturas cranianas
(Buikstra e Ubelaker, 1994, quanto ao método de Maindl e Lovejoy, de 1985; Osteware,
Smithsonian Institution). Os ossos dos quadris, pelo seu estado de conservação
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geralmente muito ruim, não possibilitaram a análise da sínfise púbica e das faces
auriculares para a diagnose etária. Nos ossos longos, serão observados a presença e
desenvolvimento dos núcleos secundários de ossificação. Inicialmente, os esqueletos dos
sepultamentos 2 e 3 pertencem a indivíduos não adultos. A idade aproximada pelo
desgaste dentário nos primeiros molares (2+ a 3-), considerando que os segundos molares
estão ausentes, segundo Brothwell (1981), é de cerca de 17 a 25 anos. Entretanto, no
Engenho Jaguaribe estão presentes indivíduos menores que 17 anos e maiores que 25
anos.
Foram considerados para a estimativa da idade biológica os caracteres de
desenvolvimento e envelhecimento ósseo e desenvolvimento dentário, conjuntamente.
Após a limpeza investigativa dos ossos de todos os indivíduos, serão buscadas novas
áreas para a estimativa da idade (superfície da sínfise púbica, superfície auricular do ílio,
suturas cranianas), associadas a imaginologia (observação de linhas de crescimento ósseo
e microanálise de esmalte dentário e mensuração comparada de coroas em
desenvolvimento). 83

ESTIMATIVA DO SEXO BIOLÓGICO

Os esqueletos dos sepultamentos 1, 2 e 3 apresentaram ossos do quadril extremamente


fragmentados e incompletos. Parcelas preservadas do contorno – morfologia - da incisura
isquiática maior, servem para estimar o sexo (Buikstra e Ubelaker, 1994; Brothwell,
1981; White, Folkens e Black, 2012; Osteware/Smithsonian Institution). As inserções dos
músculos deltoides nos úmeros, quando muito marcadas, podem indicar o sexo masculino
(Brothwell, 1981). Nos crânios reconstituídos, será possível observar e classificar pelo
menos os 5 caracteres dimórficos descritos por Buikstra e Ubelaker (1994) e por White et
al (2012) e que são usados para a estimativa do sexo nos adultos. Nos indivíduos infantis,
a estimativa hipotética do sexo deve considerar a abertura da incisura isquiática maior, o
desenvolvimento do mento, desenvolvimento eventul da glabela com arco superciliar e
morfologia da clavícula em recém-nascidos e fetos.
Entre os caracteres dimórficos para o sexo biológico binário nos adultos estão o grau de
desenvolvimento da glabela e arcos superciliares, desenvolvimento da crista occipital
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externa, espessura das margens supraorbitárias (incluindo desenvolvimento do processo


zigomático do frontal), desenvolvimento e orientação das bossas frontais,
desenvolvimento da região da crista temporal, desenvolvimento do mento, extroversão ou
introversão dos ramos da mandíbula, desenvolvimento das inserções da musculatura do
ramo mandibular, altura e largura dos processos mastoideos. Outros dados, de natureza
morfométrica, podem corroborar com a estimativa do sexo, como a largura mínima do
frontal, índice do forame magno, forma da incisura mandibular, entre outros que estão
limitados ao estado de preservação dos acidentes anatômicos dimórficos para o sexo. A
análise da amelogenina tambem pode oferecer resultado mais objetivo. Todas essas
prerrogativas de análise serão empregadas em conjunto para a obtenção de um sexo
biológico binário probabilístico.

ESTIMATIVA DA ESTATURA
84
A estimativa da estatura, além da obtida no esqueleto em campo pela metida direta do
comrimento do esqueleto (bregma-calcâneo) e de ossos longos, demanda o uso de tabelas
adaptadas de Bass (2005), Brothwell (1981) e Byers (2005). Como poucos ossos
apresentaram condições de mensuração do comprimento máximo, devem ser mensurados
aqueles passíveis de reconstituição para esse fim. Devem incluir ossos longos dos
membros superiores e inferiores, pelo menos.
Ossos dos membros inferiores como fêmur e tíbia apresentam resultados mais
aproximados à estatura em vida. Entretanto, isso depende do estado de preservação desses
ossos e da técnica reconstitutiva adotada.
O cálculo final da estatura individual deverá levar em consideração a medida do
comprimento total do esqueleto em conexão anatômica no contexto arqueológico e os
resultados de aplicação de fórmulas para os ossos longos dos membros superiores e
inferiores (para populações africanas, preliminarmente)
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ESTIMATIVA DA ANCESTRALIDADE BIOGEOGRÁFICA

A ancestralidade biogeográfica, ainda de difícil estimativa para além das análises


bioquímicas, está considerando as indicações dadas por Byers (2005) e Bass (2005).
Nesta estimativa devem ser obtidos ou observados, após a reconstituição dos crânios e
fêmures: a) os índices nasais; b) conformação da base da abertura nasal anterior; c) índice
comprimento-largura do crânio; d) projeção da escama do occipital; e) prognatismo
maxilar; f) prognatismo na porção do osso alveolar na mandíbula (e retração do mento);
g) conformação dos sulcos entre as cúspides dos molares; h) torção do colo do fêmur; i)
conformação dos sulcos entre as cúspides.
A estimativa de ancestralidade deverá ser feita conforme as sugestões sobre morfologia e
morfometria de Byers (2005), Bass (2005) e Walker-Pacheco (2010), bem como pela
aplicação de dados dentários e cranianos em bancos de dados de populações
preliminarmente classificadas quanto a sua ancestralidade biogeobráfica (softwares 85
baseados na craniometria de populações de Howells, como CRANID, CranInfo,
rASUDAS-Osteomics, FORDISC). A viabilidade da aplicação conjunta de técnicas
depende da eficácia da conservação curativa adotada.

CARACTERÍSTICAS DENTÁRIAS

Os crânios dos esqueletos dos sepultamentos 2 e 3 apresentavam-se articulados e hígidos,


em uma primeira observação em campo. No laboratório, observou-se que ambos
possuiam lesões cariosas, pouco desgaste e cálculo. Em um dente esparso foi observada a
limagem da superfície oclusal, labial e lingual simultaneamente, no seu centro. Essa
modificação dentária relaciona-se com identidade étnica e tem sido encontrada, embora
com morfologias diferentes, em dentes de sítios cemitérios com presença de indivíduos
africanos escravizados no caso brasileiro. Molares esparsos apresentam sulcos com
ramificação complexa nas faces oclusais das coroas. Essa característica tem sido
indicadora de ancestralidade africana (Byers, 2005). O uso de recursos estatísticos em
uma segunda etapa do projeto, após a limpeza, reconstituição e tomografia (ou
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escaneamento) dos crânios, poderá auxiliar na estimativa da ancestralidade (rASUDAS-


Osteomics, CRANID, FORDISC, CranInfo).
De modo geral, foram observadas algumas remodelações mais significativas: perda
dentária antemortem, especialmente nos adultos mais envelhecidos; lesões cariosas
interdentais; abcessos periapicais com perda de osso alveolar; extrusão dentária parcial
(por falta de dentes antagonistas); fraturas dentárias ( de esmalte); desgaste dentário (leve
a moderado); presença de tártaro.

DOENÇAS, TRAUMAS E ANOMALIAS

Ossos retirados de contextos arqueológicos podem apresentar uma diversidade de traços e


remodelações que auxiliam na reconstrução do perfil biológico dos indivíduos enterrados
e de suas populações, tanto quanto possibilita o acesso a uma parcela dos seus modos de
86
vida e formas de adaptação ao ambiente. Nos processos de diáspora e migrações, onde
novos ambientes e patógenos são vislumbrados, são comuns as ocorrências de condições
de morbidez e óbitos decorrentes de infecções por novos microrganismos (patologias
ambientais resultantes da ação de patógenos infectantes e contagiosos).
As doenças, por patógenos ou congênitas, específicas ou inespecíficas; os traumas por
instrumentos e forças diversas e as anomalias constituem eventos que afetam os ossos de
diferentes formas e podem ser mais ou menos determinados, conforme o estado de
preservação dos remanescentes disponíveis em cada contexto arqueológico.
Os ossos (ulnas) das etiquetas 2236 e 2356 apresentaram calos ósseos resultantes de
cicatrização de fraturas nos terços distais (Figuras 45 e 46).
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Figura 45: Imagens radiográficas de ossos longos - fragmentos reintegrados


temporariamente - de membros superiores: de cima para baixo: ulna (etiqueta 2236), com calo
ósseo no terço médio-distal; ulna (etiqueta 2356), com calo ósseo (em pseudoartrose antiga) no
terço distal; e ulna (etiqueta 2252).

87

Fonte: LABIFOR/IML-SSS Recife, 2018

Um fêmur (etiqueta 2247), do esqueleto 1, sepultamento 6, apresentava espessamento da


diáfise, com formação de osso novo. Essa remodelação pode estar associada à
osteomielite, treponematose ou a doença de Paget (Figura 47). Uma tíbia e um fêmur do
mesmo indivíduo não apresentavam simultaneamente o espessamento da diáfise.
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Figura 46: Imagem radiográfica (detalhe) do terço distal de ulna (etiqueta 2356)
com calo ósseo obliterando uma pseudoartrose.

Fonte: LABIFOR/IML-PE 2018

Figura 47: Imagem radiográfica de ossos dos esqueletos dos sepultamentos 6 e 7,


Engenho Jaguaribe: de cima para baixo, rádio e ulna direitos em conexão anatômica (etiqueta
2385, sepultamento 7) com artefato metálico em associação (idé?); tíbia (etiqueta 2302,
sepultamento 6); fêmur (etiqueta 2247, sepultamento 6), com espessamento da diáfise
(osteomielite, doença de Paget, treponematose, outro).
88

Fonte: LABIFOR/IML-Recife 2018

Para a diagnose desses eventos, as recomendações de Vargová e Horácková (2010)


incluem essencialmente a recuperação do histórico do caso (nem sempre disponível); do
exame objetivo; o trabalho de diagnose; a diagnose diferencial e a diagnose final. Um
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problema específico para a construção de um caso paleopatológico é identificar o período


de tempo histórico da ocorrência de uma doença específica. Por exemplo, na Europa, a
lepra se espalhou principalmente no século XIII, a sífilis no final do século XV e no
século XVI e a tuberculose culminou no século XIX e início do século XX.
Para Vargová e Horácková (2010), o exame macroscópico detalhado do esqueleto é a
parte mais importante do diagnóstico paleopatológico, a partir do qual poderão ser
identificadas todas as alterações ósseas morfológicas. O procedimento sistemático inclui
o exame de todos os remanescentes do esqueleto – mesmo os pequenos fragmentos. Deve
ser dada atenção ao conteúdo das cavidades, de modo que nódulos linfáticos calcificados,
cálculos biliares e renais, armas e outros artefatos não sejam ocultados nesse processo. A
avaliação morfológica do osso deve considerar se a ocorrência é uma variedade do desvio
padrão ou se é um sintoma de uma determinada doença.
O diagnóstico diferencial considera todas as doenças com sintomas semelhantes
considerando as remodelações encontradas no esqueleto, esclarecendo sua real causa por 89
meio de procedimentos de exame que propiciem o diagnóstico final. Entre esses
procedimentos está o uso de raios-X, tomografia computadorizada 3D, exames
histológicos, químicos e sorológicos. A análise de DNA de microrganismos patogênicos
eventualmente presentes em uma amostra de osso pelo método PCR (Reação em Cadeia
de Polimerase) pode auxiliar no esclarecimento sobre doenças infecciosas. Entretanto,
conforme os graus de preservação dos remanescentes humanos, esses métodos tornam-se
limitados. Convém que a preservação dos remanescentes humanos seja pensada desde a
sua escavação apropriada, conservação, armazenamento e manuseio adequados a longo
prazo, limpeza e colagem dos fragmentos. Ossos expostos à umidade, consolidantes, ar e
moldagens não são adequados para exames de sorologia. A confiabilidade de uma análise
química depende da composição da matriz de solo na qual o corpo foi inumado, pois pode
resultar em descalcificações e impregnação de substâncias nocivas. Por isso, o
diagnóstico diferencial é complexo, requerendo interdisciplinaridade, conhecimento e
vasta experiência em processamento de remanescentes de esqueletos humanos (Vargová e
Horácková, 2010).
Antes mesmo do início do diagnóstico de doenças em remanescentes de esqueletos
humanos, convém observar os dados preliminares: sexo, idade, ancestralidade,
localização geográfica, periodização ou datação. Estes são somados a presença de
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esqueletos bem preservados e maximamente recuperados de campo. Trata-se de condição


ideal para a análise de doenças em arqueologia na interface com a paleopatologia.
Também é conveniente situar uma determinada doença ou lesão correspondente em uma
classificação preliminar, a saber: a) Doença congênita: como as que resultam em cistos
odontogênicos; b) Traumas: fraturas, cistos ósseos; c) Doenças infecciosas e
manifestações associadas: sífilis/treponematose, tuberculose, lepra, osteomielite crônica e
aguda, gripe; d) Doenças idiopáticas: lesões fibrosas e cementosas e lesões por células
gigantes; e) Doenças metabólicas: escorbuto, osteoporose, hiperosteose porosa,
osteomalácia; e f) Doenças neoplásticas: tumores ósseos (Roberts e Manchester, 2007;
Ortner, 2003; Brothwell, 1981; Cox e Mays, 2006; Larsen, 2002; Aufderheide e
Rodriguez-Martinz, 1998).
Para White e Folkens (2000), essa mesma classificação pode ser readequada na seguinte

distribuição: a) traumas; b) doenças infecciosas e manifestações associadas; c) distúrbios 90


circulatórios e desordens hematopoiéticas; d) desequilíbrio metabólico e hormonal; e)
tumores; f) artrites; e) patologias dentárias.
As doenças dentárias e condições mórbidas que afetam os dentes e tecidos associados
incluem: a) Cárie; b) Abcessos dentários; c) Cálculo (placas calcificadas); d) Doença
periodontal; e) Perda dentária antemortem; f) Hipoplasia de esmalte; g) Atrição dentária;
h) Alterações dentárias culturalmente induzidas. As anomalias de posição, tamanho e
forma podem ser aqui incluídas.
Entre as doenças registradas em sítios arqueológicos históricos no Brasil, a
treponematose, hanseníase e tuberculose, são de natureza infecciosa. A diagnose relativa
das mesmas demanda a presença de esqueletos completos para a obtenção de resultados
mais satisfatórios. Isso porque o processo diagnóstico é complexo e necessita cotejar
resultados de exames nos vários tecidos do corpo humano, não somente no tecido ósseo.
Portanto, sempre os resultados de diagnósticos em remanescentes de esqueletos serão
relativos e parciais, com forte caráter inferencial e hipotético.
Os remanescentes do cemitério do Engenho Jaguaribe devem ser estudados quanto aos
perfis bioantropológicos, com ênfase nas doenças (incluindo traumas), dieta e estresse
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musculoesquelético em duas dissertações de mestrado, cujos projetos foram aprovados


em 2017 e 2018.

ALTERAÇÕES TAFONÔMICAS

A preservação óssea pode ser examinada de acordo com três índices de preservação,
segundo Manifold (2013). Para a identificação do estado de preservação dos ossos dos
esqueletos recuperados do Engenho Jaguaribe, será considerado o uso do índice de
preservação anatômica (IPA), do índice de preservação qualitativa do osso (IPQ) e do
índice de representação óssea (IRO).
O primeiro índice representa a relação entre os graus de preservação, isto é, o percentual
de osso preservado para cada unidade óssea do esqueleto em relação ao número total de
ossos do esqueleto. Os ossos podem ser classificados individualmente conforme a tabela
91
de Bello et al, (2006). Nesse caso, são estabelecidas classes de preservação em % de osso
preservado (Bello et al, 2006):
Classe 1: 0% ou osso não preservado ou ausente;
Classe 2: 1% - 25% ou 1/4 do osso preservado;
Classe 3: 25% a 50% ou 1/2 do osso preservada;
Classe 4: 50% a 75% ou 3/4 do osso preservados;
Classe 5: 75% a 100% entre 3/4 e 4/4 do osso preservados;
Classe 6: 100% de preservação.
O segundo índice expressa o estado de preservação das superfícies corticais e é dado pela
relação entre as superfícies corticais hígidas e as danificadas de cada osso.
O índice de representação óssea, estabelecido por Dodson e Wexlar (1979), mede a
frequência de cada osso e tipo ósseo da amostra. É dado pela razão entre o número total
de ossos removidos durante a escavação e o número teórico de ossos que anatomicamente
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deveriam estar presentes, conforme o número mínimo de indivíduos da amostra (NMI).


Para a obtenção deste índice, cada osso deve ser pontuado quanto a sua ausência ou
presença, conforme as idades e no caso dos dentes, os decíduos e os permanentes devem
ser computados.
Considerando os índices acima, a tabela de Bello et al (2006) acrescidos à classificação
de Buikstra e Ubelaker (1994) para ossos recuperados de contextos arqueológicos,
consideramos que, os ossos recuperados na etapa inicial no engenho Jaguaribe
apresentam:
Índice de preservação anatômica (IPA) indicando que os ossos dos esqueletos
recuperados no engenho estão muito incompletos, com muitas ausências registradas;
Índice de representação óssea indicando que existe uma ausência muito significativa de
partes e ossos não recuperados em relação ao todo hipoteticamente existente no sítio
arqueológico.
92
A área do Engenho Jaguaribe destinada as deposições funerárias apresentou 5 inumações
primárias e pelo menos 5 ocorrências de ossos isolados, o que indicou um número
mínimo de 10 indivíduos até esta etapa. Esta área, denominada preliminarmente de
cemitério, contém deposições funerárias consecutivas, com intervenções em inumações
mais antigas no decorrer do uso do cemitério. Isso teria resultado em deposições
funerárias desestruturadas e dispersadas de modo a resultar na perda excessiva de
elementos esqueléticos em períodos cronológicos não determinados e por ações
antrópicas, fitoturbação, geoturbação e bioturbação ainda não mapeados no contexto
arqueológico. Assim, predominam ossos nas classes 1 a 5 de preservação sobre os da
classe 6.

AMOSTRAS PARA DNA, DATAÇÃO, ISOTOPIA E DETECÇÃO DE


PATÓGENOS

O problema de datação dos remanescentes humanos encontrados no engenho Jaguaribe


depende da busca e separação de amostras mais apropriadas e o método mais indicado.
Foram identificadas demandas importantes em relação aos esqueletos e fragmentos
ósseos esparsos: seleção de amostras para datação por AMS, considerando a presença de
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colágeno em osso ou dente. Uma forma de associar cronologias aproximadas é o estudo


microestratigráfico do local onde as concentrações de ossos e esqueletos ocorreram e a
documentação histórica que indique a inumação de escravos e ou libertos; A análise de
DNA pode auxiliar na diagnose do sexo biológico, muito embora as características
morfológicas cranianas e dos ossos longos e partes dos ossos dos quadris sejam
categóricas quanto a estimativa do sexo; Análises de isótopos estáveis nos tecidos ósseos
e dentários podem auxiliar na identificação de ancestralidade biogeográfica, tipos
predominantes de alimentos ingeridos (dieta), entre outros aspectos da vida cotidiana;
Análises morfométricas e morfoscópicas comparadas de coroas dentárias podem auxiliar
na estimativa da ancestralidade biogeográfica.
Foram selecionadas amostras preliminares para datação. Entretanto o seu processamento
não pode ser feito neste LABIFOR, sendo necessária a circulação das mesmas para outras
unidades da UFPE, UFRJ, FioCruz -RJ ou internacionais (Beta Analytic - Miami - USA).

93
CONSIDERAÇÕES FINAIS

A presença de ossos humanos depositados dentro da área do engenho Jaguaribe denota o


seu uso como “cemitério”, considerando que a distribuição dos esqueletos até agora
evidenciados indica uma preocupação com a orientação dos eixos crânio-pelve,
especificamente. Mesmo localizados em profundidades diferentes, os esqueletos
apresentam este eixo com orientação sempre análoga. Os corpos estão,
predominentemente em decúbito dorsal ou lateral (esqueletos dos sepultamentos 4 e 4A).
As disposições dos membros variam. Existe uma preferência por posicionar os membros
superiores fletidos sobre o tórax ou com mãos sobre pelve. Os membros inferiores
aparecem predominantemente estendidos ou parcialmente estendidos (esqueletos dos
sepultamentos 4, 4A, 6 e 7). Dois esqueletos situados a cerca de 20cm da superfície do
sítio apresentavam-se em decúbito lateral direito, com membros superiores fletidos. A
ausência de estruturas hígidas relacionadas aos sepultamentos não indica necessariamente
que não existissem no passado. Foram evidenciadas partes de paredes de alvenaria
direcionadas no sentido dos eixos dos corpos, podendo indicar uso de estruturas
funerárias em algum momento do uso do cemitério.
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