Espaço e Economia, 3 - 2013
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Edição electrónica
URL: http://journals.openedition.org/espacoeconomia/445
DOI: 10.4000/espacoeconomia.445
ISSN: 2317-7837
Editora
Núcleo de Pesquisa Espaço & Economia
Refêrencia eletrónica
Letícia de Carvalho Giannella, « A produção histórica do espaço portuário da cidade do Rio de Janeiro
e o projeto Porto Maravilha », Espaço e Economia [Online], 3 | 2013, posto online no dia 19 dezembro
2013, consultado o 30 abril 2019. URL : http://journals.openedition.org/espacoeconomia/445 ; DOI :
10.4000/espacoeconomia.445
© NuPEE
A produção histórica do espaço portuário da cidade do Rio de Janeiro e o proj... 1
Introdução
1 O presente artigo procura trazer à luz os processos que vêm engendrando o espaço
portuário do Rio de Janeiro ao longo de sua história, com base na correspondência entre
os ciclos seculares de acumulação capitalista analisados por Arrighi (1996) e as
morfologias urbanas observadas na área. Com isto, estamos traçando um paralelo com o
artigo de Fernandes (2008) a respeito da evolução da morfologia urbana da cidade do Rio
de Janeiro como um todo, a partir de um olhar mais específico para os bairros que
configuram sua zona portuária (em especial, Saúde, Gamboa e Santo Cristo). Sendo assim,
abordaremos as mudanças sofridas pela área em questão ao longo dos “quatro grandes
8 Esse movimento, contudo, acabou por consistir, na maior parte dos casos, em
transformações de porções do espaço restritas das cidades tanto europeias como
coloniais, ainda que seus reflexos fossem visíveis por toda a cidade. “Nem sempre era
possível planejar toda uma cidade nova ao estilo barroco, mas, no traçado de meia dúzia
de novas avenidas ou de um bairro novo, seu caráter podia ser redefinido” (Munford,
1982, p. 399).
9 O Rio de Janeiro pode ser tomado como um exemplo dessa constatação, uma vez que as
reformas barrocas realizadas em localidades específicas do centro da cidade foram
acompanhadas por transformações que refletiram na cidade como um todo.
10 É interessante notar que o próprio mercado de escravos foi transferido, naquele
momento, da Rua Direita, no centro da cidade, para o Valongo, enseada situada no atual
bairro da Saúde, em nome da higienização e da ordem pública que o urbanismo barroco
demandava e “sob a alegação de preservar o espaço urbano do contágio das doenças e
epidemias” (Honorato, 2008).
A transferência do mercado de escravos para a região do Valongo foi um
importante fator que contribuiu para a dinamização das atividades comerciais e
portuárias da região. Significou também um importante marco no processo de
especialização espacial da cidade, pois, ao mesmo tempo em que confiava ao
Valongo o exercício do comércio negreiro, retirava da Rua Direita uma atividade
que não condizia com as atribuições daquela que desde sempre era a principal
artéria comercial da cidade (Honorato, op. cit., não paginado).
11 Com base nisso, podemos inferir que a atual zona portuária do Rio de Janeiro era tida, no
século XVIII, como uma área isolada e, de certa forma, “não importante” para a cidade, a
não ser para o recebimento de uma das atividades mais indesejadas pelas elites que
viviam no centro da cidade. As classes hegemônicas eram favoráveis a esse tipo de
comércio desde que se realizasse longe de suas vistas.
12 O século XVIII, para o Rio de Janeiro, de acordo com Bernardes (1992), caracterizou-se
pelo espraiamento da cidade em três direções: “na planície, para oeste, entre o maciço
montanhoso e o alinhamento Conceição-Providência. Ao norte, na faixa de marinha entre
esses morros e o mar, e para o sul, a estreita faixa entre as encostas da serra da Carioca e a
praia” (p. 43), o que configurou, em linhas gerais, uma luta da cidade contra os brejos e
lagoas que dificultavam sua urbanização.
13 Não obstante, tal espraiamento em direção ao norte deu-se de maneira mais espontânea e
menos dirigida pelo Estado policial. Poucas foram as ruas abertas naquela área ao longo
do século XVIII que fossem retilíneas e amplas, como é o caso da Rua do Livramento, que
ligava a enseada do Valongo à enseada da Gamboa. O que se observou foi mais uma
relativamente rápida expansão das construções urbanas naquela faixa costeira. Inclusive,
muito daquele traçado pode ser visto ainda hoje em visitas à área.
14 Assim sendo, produziu-se o espaço portuário em questão de maneira mais espontânea e
deixada de lado pela gestão policial do Estado, que teria centrado seus esforços nas
transformações do centro da cidade em si. Essa produção espacial espontânea iria
intensificar-se no século seguinte, mas desta vez tendo como sustentação a “mão invisível
do mercado” do período liberal.
22 Após a elaboração de sete projetos de reformas que não se concretizaram, vem à tona a
reforma de Pereira Passos, realizada no início do século XX. O porto do Rio de Janeiro, tal
como o conhecemos hoje, foi inaugurado oficialmente em 1910, depois de sete anos de
obras que retilinizaram a costa aterrando uma área de 175.000m2 com entulho
proveniente do arrasamento do morro do Senado. “As palavras de ordem passaram a ser
modernizar, higienizar, civilizar. Era preciso renovar, reformar, regenerar a cidade”
(Cardoso et. al.,, 1987, p. 100).
23 Como resultado da reforma, podemos hoje verificar “duas” zonas portuárias da cidade
que praticamente não se comunicam: a primeira delas é a “parte alta” dos morros, que
sempre esteve ali e que começou a ser ocupada ainda nos séculos XVII e XVIII, composta
por diversas territorialidades; a segunda é a “parte baixa”, ou seja, o aterro realizado a
partir do arrasamento do Morro do Senado para expansão do porto em si. Esta última
acabou sendo ocupada – principalmente após o deslocamento das atividades portuárias
para a ponta do Caju, construída na década de 1920 – por atividades e instalações as mais
diversas, indo de galpões de escolas de samba até oficinas de automóvel, passando por
algumas fábricas expressivas, como o Moinho Fluminense.
24 A reforma urbana levada a cabo por Pereira Passos ainda pode ser contextualizada no
período de gestão do território e produção do espaço relacionado ao Estado liberal porque
teria estado a cargo prioritariamente das estratégias do capital, ainda que fosse
possibilitada pela intervenção estatal: “Seu agente seria o grande capital, cabendo ao
Estado apenas a tarefa de conceder os privilégios jurídicos e fiscais para que fosse viável e
lucrativo cada componente da operação” (Benchimol, 2002, p. 131). Parece-nos, como
veremos adiante, que tal mecanismo se repete hoje.
25 Segundo Fernandes (2008, não paginado), a reforma Passos seria considerada o marco de
uma espécie de transição entre um período fortemente liberal, marcado pelo recuo quase
total do Estado no processo de produção do espaço urbano, e um período fordista,
caracterizado pela retomada do controle da produção espacial pelo Estado através da
intervenção e regulação do espaço urbano.
intensificado pela suburbanização não somente das classes médias que se dirigiam cada
vez mais para a Zona Sul da cidade, mas também das indústrias e do proletariado que se
espraiavam em direção à Zona Norte e à Zona Oeste, inclusive estimulados pela produção
estatal de conjuntos habitacionais em bairros como Realengo, Bangu e Marechal Hermes
(Fernandes, 2008, não paginado). Sendo assim,
os bairros portuários ficaram, de certa maneira, à margem da cidade, no tempo e no
espaço. [...]. Esse isolamento seria acentuado a partir de meados do século, devido a
importantes intervenções urbanísticas promovidas pelo poder público. À margem
até do porto, uma vez que o grande aterro afastou definitivamente os antigos
bairros marítimos do mar, e as áreas aterradas nunca chegaram a se integrar
realmente com as áreas antigas. Os elos que promoviam a ligação com a cidade iam
sendo rompidos lentamente, isolando aos poucos os três antigos bairros portuários
(Cardoso et. al., 1987, p. 128).
28 Entretanto, temos algum receio quanto à utilização dos termos isolamento e estagnação
para nos referirmos à zona portuária da cidade no século XX. Acreditamos que tais
denominações legitimem ações que concebem a área como se nela não existisse nem
mesmo a própria história e vida do espaço e das pessoas que moram por lá. O consenso
sobre a obsolescência torna-se parte essencial da chamada construção da
29 “consciência de crise” sobre a qual nos fala Vainer (2009, p. 92) e o perigo da utilização
desse discurso está no fato de que através dele esvai-se o sentido da cidade como lócus da
prática política, dos embates e disputas pelo território, impedindo-se o exercício da
cidadania aos seus moradores. Barbosa (2006) relaciona a ideia da degradação e crise da
cidade com a perigosa construção da imagem da cidade desordenada.
30 É com base nessas representações, inclusive, e percebendo o potencial econômico
esvaziado dos centros urbanos (ou dos centros esvaziados?), que se iniciam os processos
de revitalização de áreas centrais e zonas portuárias, impulsionados pelas reformas das
docas de Londres (as docklands) e de Baltimore (Inner Harbor), que passam a servir como
modelos para reformas em todo o mundo (Hall, 2007, p. 413).
31 Aos poucos, tais processos foram se configurando à luz da “decadência” do período
fordista que, segundo Harvey (1992, p. 135), tornara-se fato entre 1965 e 1973 à medida
que se evidenciava cada vez mais a incapacidade daquele regime “de conter as
contradições inerentes ao capitalismo”. A rigidez estatal do fordismo deu passagem à
acumulação flexível do capital que, por sua vez, mais tarde teria germinado o Estado
neoliberal. Esta passagem caracteriza-se por um quase apagamento dos compromissos do
Estado com o bem-estar social, uma vez que é instalada uma cultura do
empreendedorismo que se volta para um individualismo competitivo que enfraquece as
associações de classe construídas no período fordista, bem como as lutas sociais coletivas.
32 Essa flexibilização do capital, suas consequências e condições sine qua non vêm
acompanhando desde então as mais distintas esferas da vida, inclusive a administração
municipal. É nesse contexto empreendedor que se insere a chamada “guerra dos lugares”
(Santos, 1997; Carlos, 2007) e o desenvolvimento das propostas e projetos de revitalização
de áreas centrais e zonas portuárias nas mais diversas cidades do globo. Tais propostas
vêm sendo desenhadas com base na preparação de áreas específicas das cidades para a
atração de investimentos privados que tenham a capacidade de transformá-las segundo
os interesses das classes hegemônicas próximas e distantes, bem como de movimentar o
capital financeiro transnacional e global.
33 A próxima e última sessão deste artigo apresenta brevemente como esse modelo de
planejamento urbano relacionado ao Estado neoliberal reflete-se no processo atual de
transformação da zona portuária da cidade do Rio de Janeiro.
Zona Sul da cidade na primeira metade do século XX teve continuidade, nos anos 1970,
com a expansão da malha urbana em direção à Barra da Tijuca. Entretanto, essa nova leva
de suburbanização se deu com base na elaboração de um plano urbanístico de autoria de
Lucio Costa cuja referência direta estava nos novos bairros suburbanos verticalizados que
surgiam nas cidades norte-americanas e que minavam a cidade como uma possibilidade
das coexistências e convivências sociais. Ao mesmo tempo, a área central seguia perdendo
importância perante o contexto da cidade como um todo, até o momento em que os
sujeitos públicos e privados voltaram a perceber a potencialidade econômica daquelas
áreas com base na visualização de resultados de intervenções urbanas de “sucesso” em
outras cidades semelhantes. Tal “retorno ao centro” começou a ser desenhado no final da
década de 1980.
37 Para tornar a cidade competitiva, aposta-se na formação de parcerias público-privadas
em que, segundo Harvey (2006, p. 172), “[...] a iniciativa tradicional local se integra com o
uso dos poderes governamentais locais, buscando e atraindo fontes externas de
financiamento, e novos investimentos diretos ou novas fontes de emprego”.
38 Outra característica desse direcionamento das políticas urbanas que pode ser destacada é
a “transferência de técnicas de gestão empresarial à administração urbana – como o
marketing e o planejamento estratégico [...]”, o que implica a reificação da cidade como
empresa e, simultaneamente, mercadoria (Compans, 2005, p. 26). O discurso é o
responsável por construir as representações que naturalizam esse processo.
39 Uma das experiências à qual os gestores urbanos mais se referem com reverência é a de
Barcelona, que transformou sua zona portuária degradada em um centro de atração
turística, negócios e lazer e cujo resultado seria de grande sucesso (para quem?). Sendo
assim, Barcelona segue sendo o modelo de revitalização de áreas centrais e portuárias,
principalmente para as cidades latino-americanas. Porém, segundo Claver (2006), o poder
público promoveu um tipo de centro urbano orientado para o consumo e especializado
por zonas sem se preocupar com a oferta de habitações populares, o que acaba gerando
segregação socioespacial na área (p. 163). Ao que parece, o modelo de intervenção do
Projeto Porto Maravilha segue a mesma cartilha.
40 O projeto foi criado oficialmente com o Projeto de Lei Complementar (PLC) nº25/2009, que
modifica o Plano Diretor e autoriza a instituição da Operação Urbana Consorciada (OUC)
da Região do Porto do Rio. A lei baseia-se na Área de Especial Interesse Urbanístico (AEIU)
da Região do Porto do Rio, delimitando a área de atuação da OUC, que compreenderia um
conjunto de reestruturações urbanas da região em questão. A primeira diretriz assumida
no projeto de lei quanto à OUC diz respeito ao estímulo à transformação gradativa do uso
portuário de cargas em usos residencial, comercial, de serviços, cultural e de lazer, o que
vem ao encontro dos modelos de reformas aplicados em outras cidades do mundo, como
Barcelona.
41 Chama-nos a atenção também nesse projeto de lei, afora os itens anteriormente
destacados, os instrumentos que serão utilizados para implementação da OUC:
“instituição de parcerias entre o poder público e o setor privado”, “consórcios públicos”,
“utilização de instrumentos de mercados de capitais” e “instrumentos de política urbana
previstos no Estatuto da Cidade e no Plano Diretor Decenal da Cidade do Rio de Janeiro”.
Quanto à alteração do Plano Diretor, a lei possibilita a Outorga Onerosa do Direito de
Construir e de Alteração de Uso do Solo, permitindo o estabelecimento de índices
diferenciados dentro do perímetro definido para realização da OUC, podendo determinar
índices de aproveitamento de terreno superiores aos definidos no Plano Diretor, índices
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NOTES
1. O projeto SAGAS foi elaborado a partir do Decreto nº 7.351, de 14 de fevereiro de 1988, e suas
principais atribuições são: “a manutenção das características consideradas importantes na
ambiência e identidade cultural da área; preservação dos bens culturais que apresentem
características morfológicas típicas e recorrentes na área; estabelecimento de critérios para
novos gabaritos; prévia aprovação para demolições e construções; criação de um escritório
técnico, para fiscalização e acompanhamento das intervenções” (Soares & Moreira, 2007, p. 108).
2. Não abordaremos aqui cada um dos planos e projetos desenvolvidos, devido à limitação de
espaço deste trabalho; para um aprofundamento sobre esta questão, ver Moreira (2004).
3. Cerca de 62% dos terrenos da zona portuária pertencem à União.
4. Naquele momento inicial de implantação do projeto, o IPHAN foi a instituição mais
presente nas visitas ao Morro. Atualmente é notável a ausência do órgão nas discussões
sobre o projeto
5. Processo iniciado em Londres e chamado por alguns autores de gentrificação. Arantes
(2009) aborda-a como uma estratégia oculta: “Daí a sombra de má consciência que
costuma acompanhar o emprego envergonhado da palavra, por isso mesmo escamoteada
pelo recurso constante ao eufemismo: revitalização, reabilitação, revalorização,
reciclagem, promoção, requalificação, até mesmo renascença, e por aí afora, mal
encobrindo, pelo contrário, o sentido original de invasão e reconquista, inerente ao
retorno das camadas afluentes ao coração das cidades” (p. 31).
6. Ver dissertação de Sotratti (2005).
ABSTRACTS
O espaço portuário da cidade do Rio de Janeiro vem passando por uma reestruturação urbana
intensa que pode ser analisada a partir de sua correspondência com o ideário neoliberal. Trata-se
do Projeto Porto Maravilha. Entretanto, para compreendermos o processo contemporâneo de
transformação desse espaço é importante que o tomemos como um produto histórico. Assim,
nosso objetivo é trazer à luz os processos que vêm engendrando o espaço portuário do Rio de
Janeiro ao longo de sua história, com base na correspondência entre os ciclos seculares de
acumulação capitalista analisados por Giovanni Arrighi (mercantilismo, liberalismo, fordismo/
keynesianismo e neoliberalismo) e nas morfologias urbanas visualizadas na área. Conclui-se que
tal espaço caracteriza-se por ter sido historicamente produzido sem que tenha havido, , da parte
dos seus agentes produtores hegemônicos, qualquer olhar para os espaços ocupados pelas
populações que ali vivem e viveram. Tal prática parece repetir-se no decorrer da elaboração e
implementação do Projeto Porto Maravilha.
L’espace portuaire de la ville de Rio de Janeiro connaît une restructuration urbaine intense qui
peut être analysée à travers sa correspondance avec l’idéologie néolibérale. Nous aborderons en
particulier le projet Porto Maravilha. Cependant, pour comprendre la transformation
contemporaine de cet espace, il importe considérer les processus qui ont engendré l’espace
portuaire de Rio au fil de son histoire. Pour cela, nous travaillerons sur la correspondance entre
les cycles séculaires de l’accumulation capitaliste soulignés par Giovanni Arrighi (mercantilisme,
libéralisme, fordisme/keynésianisme et néolibéralisme) et les morphologies urbaines affichées
par cette aire. Nous concluons que tel espace se caractérise par la négligence des acteurs
hégémoniques envers les espaces vécus par la population résidante. Ces pratiques semblent se
prolonger dans le déroulement du projet Porto Maravilha.
The harbor space of Rio de Janeiro knows at present an intense urban restructuration, which can
be analyzed by its correspondence with Neoliberal ideology. We’ll deal specifically with the
Project Porto Maravilha. Nevertheless, to understand the present transformation of this space, it is
important to consider the processes which constructed historically the Rio de Janeiro harbor
space. For this purpose, we’ll work on the correspondence between the secular cycles of capitalist
accumulation established by Giovanni Arrighi (Mercantilism, Liberalism, Fordism/Keynesianism
and Neoliberalism) and the urban morphologies of this area. We argue that this space is
characterized by the negligence of hegemonic actors for the needing of resident population.
These practices seem to be continued in the development of the Porto Maravilha project.
El espacio portuario de la ciudad de Río de Janeiro viene pasando por una re-estructuración
urbana intensa que puede ser analizada a partir de su vínculo con el ideario neo-liberal. Se trata
del Proyecto Puerto Maravilla. No obstante, para comprender la transformación contemporánea
de esta área es importante considerar los procesos que han construido el espacio portuario de Río
de Janeiro a lo largo de su historia. Para tal efecto, observaremos la correspondencia entre los
ciclos seculares de acumulación capitalista trabajados por Giovanni Arrighi (mercantilismo,
liberalismo, fordismo/keynesianismo y neo-liberalismo) y las morfologías urbanas que
encontramos en la región. Se concluye que tal espacio se caracteriza por la negligencia de los
agentes hegemónicos en relación a los espacios vividos por las poblaciones que allí habitan. Tal
INDEX
Mots-clés: restructuration, espace portuaire, morphologie urbaine, Rio de Janeiro, Porto
Maravilha
Keywords: restructuring, port space, urban morphology
Palabras claves: re-estructuración, espacio portuario, morfología urbana, Puerto Maravilla
Palavras-chave: reestruturação, área portuária
AUTHOR
LETÍCIA DE CARVALHO GIANNELLA
Doutoranda em Geografia, Universidade Federal Fluminense. [email protected]