Recursos no Processo Penal Brasileiro

Os recursos no processo penal brasileiro são instrumentos jurídicos que permitem às

partes insatisfeitas com uma decisão judicial buscar sua reforma, invalidação,
esclarecimento ou integração. A seguir, apresento uma descrição detalhada dos
principais recursos no processo penal brasileiro, com suas hipóteses, efeitos, prazos,
formas de interposição e pressupostos objetivos e subjetivos, conforme a legislação,
doutrina e jurisprudência, incluindo os artigos do Código de Processo Penal (CPP)
que tratam de cada um.

1. Apelação

Explicação: A apelação é o recurso destinado a impugnar sentenças proferidas por

juiz singular, seja condenatória ou absolutória, buscando a revisão da decisão pelo
tribunal de segundo grau.

Situação de Uso: Será usada quando uma das partes desejar reformar uma sentença
proferida em primeiro grau, seja para obter absolvição, diminuição da pena,
modificação das condições da pena, entre outros.

Hipóteses: Sentenças condenatórias ou absolutórias proferidas por juiz singular.

Efeitos: Devolutivo e, em alguns casos, suspensivo.

Prazos: 5 dias para interposição e 8 dias para apresentação das razões.

Forma de Interposição: Petição dirigida ao juiz que proferiu a sentença.

Pressupostos:

Objetivos:

o Interposição no prazo legal.

o Existência de decisão judicial recorrível.
 o Regularidade formal (observância das formalidades processuais como
a motivação do recurso e a correta identificação do recorrente).


Subjetivos:

o Interesse em recorrer (necessidade de que o recurso possa trazer algum

benefício à parte recorrente).
o Legitimidade da parte (só podem recorrer as partes diretamente
envolvidas no processo, como o Ministério Público, o réu e o assistente
de acusação).

Artigos Relacionados: Art. 593 a 603 do CPP.

2. Recurso em Sentido Estrito (RSE)

Explicação: O recurso em sentido estrito visa a impugnação de decisões

interlocutórias que não põem fim ao processo, mas que, por sua relevância, podem
causar prejuízos às partes.

Situação de Uso: Será usado contra decisões como rejeição de denúncia, concessão
de habeas corpus, ou decisões que trancam a ação penal.

Hipóteses: Contra decisões interlocutórias previstas taxativamente no art. 581 do CPP.

Efeitos: Devolutivo e, excepcionalmente, suspensivo.

Prazos: 5 dias para interposição e 2 dias para apresentação das razões.

Forma de Interposição: Petição dirigida ao juiz que proferiu a decisão, que poderá
reformá-la ou mantê-la, remetendo o recurso ao tribunal competente.

Pressupostos:

 Objetivos:
 o Interposição no prazo legal.
o Decisão interlocutória prevista no art. 581 do CPP.
o Regularidade formal (cumprimento dos requisitos de forma, como
assinatura do recorrente e indicação precisa do que se pretende
reformar).

 Subjetivos:

o Interesse em recorrer (o recurso deve ser capaz de beneficiar a parte

recorrente).
o Legitimidade da parte (partes diretamente afetadas pela decisão, como
o Ministério Público, o réu ou o assistente de acusação).

Artigos Relacionados: Art. 581 a 592 do CPP.

3. Embargos de Declaração

Explicação: Os embargos de declaração são usados para esclarecer aspectos da

decisão judicial que sejam obscuros, contraditórios, omissos ou que contenham erro
material.

Situação de Uso: Serão usados quando houver necessidade de esclarecer ou corrigir a

decisão judicial que possua algum vício de clareza, coerência ou completude.

Hipóteses: Contra qualquer decisão judicial que contenha obscuridade, contradição,

omissão ou erro material.

Efeitos: Interrompem o prazo para a interposição de outros recursos.

Prazos: 2 dias.

Forma de Interposição: Petição dirigida ao próprio órgão que proferiu a decisão.

Pressupostos:

Objetivos:
 

o Interposição no prazo legal.

o Existência de obscuridade, contradição, omissão ou erro material na
decisão.
o Regularidade formal (observância dos requisitos de forma e clareza na
exposição dos pontos a serem esclarecidos).

Subjetivos:

o Interesse em esclarecer ou corrigir a decisão.

o Legitimidade da parte (partes diretamente envolvidas na decisão
judicial).

Artigos Relacionados: Art. 619 a 620 do CPP.

4. Recurso Ordinário Constitucional

Explicação: O recurso ordinário constitucional é utilizado para impugnar decisões

denegatórias de habeas corpus ou mandado de segurança.

Situação de Uso: Será usado quando um tribunal regional federal ou tribunal de

justiça negar habeas corpus ou mandado de segurança.

Hipóteses: Contra decisões denegatórias de habeas corpus ou mandado de segurança

proferidas em única instância pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos Tribunais
de Justiça.

Efeitos: Devolutivo e, excepcionalmente, suspensivo.

Prazos: 5 dias.

Forma de Interposição: Petição dirigida ao presidente do tribunal que proferiu a

decisão recorrida.
Pressupostos:

Objetivos:

o Interposição no prazo legal.

o Decisão denegatória de habeas corpus ou mandado de segurança.
o Regularidade formal (observância dos requisitos formais de
interposição, como a motivação do recurso e a correta indicação dos
fundamentos jurídicos).

Subjetivos:

o Interesse em recorrer (necessidade de que o recurso possa trazer algum

benefício ao recorrente).
o Legitimidade da parte (só podem recorrer as partes diretamente
afetadas pela decisão, como o impetrante do habeas corpus ou
mandado de segurança).

Artigos Relacionados: Art. 30 da Lei nº 8.038/1990.

5. Agravo em Execução

Explicação: O agravo em execução é um recurso específico para impugnar decisões

do juiz da execução penal.

Situação de Uso: Será usado contra decisões que afetam diretamente a execução da
pena, como progressão de regime, livramento condicional, remição de pena, entre
outras.

Hipóteses: Contra decisões proferidas pelo juiz da execução penal.

Efeitos: Devolutivo, sem efeito suspensivo.

Prazos: 5 dias.

Forma de Interposição: Petição dirigida ao juiz da execução, que encaminhará o

recurso ao Tribunal de Justiça.

Pressupostos:

 Objetivos:

o Interposição no prazo legal.

o Decisão do juiz da execução penal.
o Regularidade formal (cumprimento dos requisitos de forma e clareza
na exposição dos pontos contestados).

 Subjetivos:

o Interesse em recorrer (o recurso deve ser capaz de beneficiar o

recorrente).
o Legitimidade da parte (partes diretamente afetadas pela decisão do juiz
da execução, como o condenado ou o Ministério Público).

Artigos Relacionados: Art. 197 da Lei de Execução Penal - LEP.

6. Recurso Especial e Recurso Extraordinário

Explicação:

 Recurso Especial: Visa impugnar decisões que violam tratado ou lei federal,
julgam válido ato de governo local contestado em face de lei federal, ou que
interpretam lei federal de forma divergente de outro tribunal.
 Recurso Extraordinário: Destina-se a impugnar decisões que contrariem a
Constituição, declarem inconstitucionalidade de tratado ou lei federal, ou
julguem válida lei ou ato de governo local contestado em face da Constituição.
Situação de Uso: Serão usados para impugnar decisões de tribunais superiores que
envolvam questões constitucionais (Recurso Extraordinário) ou federais (Recurso
Especial).

Hipóteses:

 Recurso Especial: Violar tratado ou lei federal, julgar válido ato de governo
local contestado em face de lei federal, ou der a lei federal interpretação
divergente da que lhe haja atribuído outro tribunal.
 Recurso Extraordinário: Contrariar dispositivo da Constituição, declarar a
inconstitucionalidade de tratado ou lei federal, ou julgar válida lei ou ato de
governo local contestado em face da Constituição.

Efeitos: Devolutivo, podendo ter efeito suspensivo em situações excepcionais.

Prazos: 15 dias.

Forma de Interposição: Petição dirigida ao presidente do tribunal que proferiu a

decisão recorrida.

Pressupostos:

Objetivos:

o Interposição no prazo legal.

o Prequestionamento da matéria (a questão constitucional ou federal
deve ter sido discutida previamente no processo).
o Existência de repercussão geral no Recurso Extraordinário (demonstrar
que a questão tem relevância social, econômica, política ou jurídica).
o Regularidade formal (cumprimento dos requisitos formais de
interposição, como a motivação do recurso e a correta indicação dos
fundamentos jurídicos).
 

Subjetivos:

o Interesse em recorrer (necessidade de que o recurso possa trazer algum

benefício ao recorrente).
o Legitimidade da parte (só podem recorrer as partes diretamente
afetadas pela decisão, como o impetrante do habeas corpus ou
mandado de segurança).

Artigos Relacionados: Art. 102, III, e art. 105, III, da Constituição Federal; arts.
1.029 a 1.041 do Código de Processo Civil (CPC), aplicáveis subsidiariamente.

7. Agravo em Recurso Especial e Extraordinário

Explicação: O agravo em recurso especial e extraordinário é usado para impugnar a

decisão que inadmitir esses recursos.

Situação de Uso: Será usado quando o tribunal de origem negar seguimento ao

recurso especial ou extraordinário.

Hipótese: Contra decisão que inadmitir o recurso especial ou extraordinário.

Efeitos: Devolutivo, sem efeito suspensivo.

Prazos: 15 dias.

Forma de Interposição: Petição dirigida ao presidente do tribunal que proferiu a

decisão de inadmissibilidade.

Pressupostos:

Objetivos:


 o Interposição no prazo legal.
o Decisão de inadmissibilidade do recurso especial ou extraordinário.
o Regularidade formal (cumprimento dos requisitos formais de
interposição, como a motivação do recurso e a correta indicação dos
fundamentos jurídicos).

Subjetivos:

o Interesse em recorrer (necessidade de que o recurso possa trazer algum

benefício ao recorrente).
o Legitimidade da parte (só podem recorrer as partes diretamente
afetadas pela decisão).

Artigos Relacionados: Art. 1.042 do CPC, aplicável subsidiariamente ao processo

penal.

8. Revisão Criminal

Explicação: A revisão criminal é um recurso especial que permite a reanálise de uma

sentença condenatória transitada em julgado quando surgirem novas provas ou
circunstâncias que demonstrem a inocência do condenado ou que a condenação foi
injusta.

Situação de Uso: Será usada quando houver novos elementos que possam alterar a
decisão condenatória final, como provas novas ou erro judicial.

Hipóteses:

 Sentença condenatória transitada em julgado.

 Novas provas que possam demonstrar a inocência do condenado.
 Decisão baseada em depoimentos ou documentos falsos.
 Provas de erro judicial.
Efeitos: Não possui efeito suspensivo, mas pode levar à absolvição, redução da pena
ou modificação do regime de cumprimento da pena.

Prazos: Pode ser interposta a qualquer tempo, após o trânsito em julgado da sentença
condenatória.

Forma de Interposição: Petição dirigida ao tribunal que proferiu a condenação,

expondo os fundamentos da revisão e as novas provas.

Pressupostos:

Objetivos:

o Existência de sentença condenatória transitada em julgado.

o Novas provas ou elementos que justifiquem a revisão.
o Regularidade formal (observância dos requisitos formais de
interposição, como a motivação do recurso e a correta indicação dos
fundamentos jurídicos).

Subjetivos:

o Interesse em revisar (necessidade de que a revisão possa trazer algum

benefício ao condenado).
o Legitimidade da parte (só podem pedir a revisão o condenado ou seu
representante legal).

Artigos Relacionados: Art. 621 a 631 do CPP.

9. Habeas Corpus
Explicação: O habeas corpus é uma garantia constitucional que protege a liberdade de
locomoção contra abusos de autoridade e ilegalidades.

Situação de Uso: Será usado quando alguém estiver sofrendo ou ameaçado de sofrer
constrangimento ilegal em sua liberdade de locomoção, seja por prisão ou outra forma
de restrição.

Hipóteses:

 Constrangimento ilegal decorrente de ato de autoridade.

 Prisão sem justa causa ou sem observância das formalidades legais.
 Ameaça de prisão ou restrição ilegal da liberdade de locomoção.

Efeitos: Pode ter efeito suspensivo imediato, determinando a soltura do paciente ou a

cessação da ameaça à liberdade.

Prazos: Pode ser impetrado a qualquer tempo.

Forma de Interposição: Petição escrita ou oral dirigida ao juiz ou tribunal

competente, podendo ser impetrado por qualquer pessoa em favor do paciente.

Pressupostos:

Objetivos:

o Existência de ameaça ou violação à liberdade de locomoção.

o Constrangimento ilegal praticado por autoridade pública ou agente que
atue em nome do Estado.
o Regularidade formal (observância dos requisitos formais de
interposição, como a motivação do pedido e a correta indicação dos
fundamentos jurídicos).


 Subjetivos:

o Interesse em impetrar (necessidade de que o habeas corpus possa trazer

algum benefício ao paciente).
o Legitimidade da parte (pode ser impetrado por qualquer pessoa em
favor do paciente, sem necessidade de procuração).

Artigos Relacionados: Art. 647 a 667 do CPP.

10. Mandado de Segurança

Explicação: O mandado de segurança é uma ação constitucional que protege direito

líquido e certo não amparado por habeas corpus ou habeas data, contra atos ilegais ou
abusivos de autoridade pública.

Situação de Uso: Será usado quando houver violação ou ameaça de violação de

direito líquido e certo por ato de autoridade pública, que não possa ser corrigido por
habeas corpus ou habeas data.

Hipóteses:

 Direito líquido e certo violado por ato de autoridade pública.

 Ato ilegal ou abusivo de autoridade pública que não pode ser corrigido por
habeas corpus ou habeas data.

Efeitos: Pode ter efeito suspensivo ou mandamental, determinando a cessação do ato

ilegal ou abusivo.

Prazos: 120 dias a partir da ciência do ato impugnado.

Forma de Interposição: Petição dirigida ao juiz ou tribunal competente, expondo os

fundamentos do pedido e os documentos comprobatórios do direito violado.

Pressupostos:


 Objetivos:

o Existência de direito líquido e certo violado ou ameaçado.

o Ato ilegal ou abusivo de autoridade pública.
o Regularidade formal (observância dos requisitos formais de
interposição, como a motivação do pedido e a correta indicação dos
fundamentos jurídicos).

Subjetivos:

o Interesse em impetrar (necessidade de que o mandado de segurança

possa trazer algum benefício ao impetrante).
o Legitimidade da parte (pode ser impetrado por qualquer pessoa física
ou jurídica que tenha seu direito líquido e certo violado ou ameaçado).

Artigos Relacionados: Art. 5º, LXIX e LXX, da Constituição Federal; Lei nº

12.016/2009.