Apontamentos Sobre Integracao Da Lei

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1.

A Integração da Lei
1.1. Lacunas da Lei e a sua Integração

Existe uma lacuna jurídica (caso omisso), quando uma determinada situação merecedora de
tutela jurídica não se encontra prevista na lei. Torna-se então necessário perante estas situações
não previstas na lei, mas carecidas de regulamentação jurídica, fazer aquilo que se chama a
integração de lacunas, actividade que visa precisamente encontrar solução jurídica para os
casos omissos.

Para haver integração, há que averiguar primeiramente que não há nenhuma regra aplicável,
isto é, que o caso não está especificamente regulado, o que pressupõe, obviamente, uma tarefa
prévia de interpretação.

Visando esta actividade, conforme já estudamos, a fixação do sentido e alcance da lei, só depois
de efectuada se pode concluir que dada situação não esta abrangida nem no espirito de nenhum
dos preceitos vigentes. Deste modo, “ a integração supõe a interpretação (em sentido técnico)
mas não ‘e ela própria a interpretação”.

Poderá parecer estranho que a ordem jurídica contenha lacunas, mas por mais competente que
seja o legislador, nunca consegue prever todas as relações da vida social com relevância jurídica.
Várias razões estão na origem do problema das lacunas, muito resumidamente indicaremos
algumas:

Certas situações são imprevisíveis no momento da elaboração da lei, enquanto que outras,
embora previsíveis escapam à previsão do legislador em cace da enorme complexidade de
formas da vida social.

Exemplo: Se com o avanço da técnica se começarem a processar transportes regulares no espaço,


é evidente que essa actividade precisara de disciplina, mas de início provocara uma lacuna
porque não há ainda leis que se lhe apliquem.

Por vezes o próprio legislador, intencionalmente, sobretudo em matérias novas ou complexas,


abstêm-se de regulá-las directamente, pelas dificuldades que sente em o fazer convenientemente.
Ainda que se verifique uma lacuna o caso concreto tem de ser resolvido, pois de outro modo
violar-se-ia o disposto nos art. 8 n. 1 do Código Civil.
Posto isto, e pra dar cumprimento a estes preceitos há que recorrer à integração da lei, actividade
que, repetimos, consiste no preenchimento das lacunas da lei e que está regulada
fundamentalmente no art. 10 do código civil.

2. Analogia

Sempre que seja possível, recorre-se à analogia, que consiste em aplicar ao caso omisso, a
norma reguladora de qualquer caso análogo. Assim por exemplo, a circulação aérea quando
surgiu provocou uma lacuna da lei durante algum tempo, mas as normas que existiam sobre a
navegação e transporte marítimos puderam em grande parte aplicar-se por analogia, pelas muitas
semelhanças que havia entre os dois tipos de transporte.

O recurso à analogia como primeiro meio de preenchimento de lacunas justifica-se por uma
questão de coerência normativa do próprio sistema jurídico. De facto, tal circunstância exige que
casos semelhantes devem merecer do Direito o mesmo tratamento, favorecendo assim em larga
medida a certeza e segurança jurídica.

A aplicação analógica distingue-se da interpretação extensiva porque esta pressupõe que


determinada situação, não estando compreendida na letra da lei, o está no seu espirito, enquanto
que a analogia leva a uma aplicação da lei a situações não abrangidas, nem na letra, nem no seu
espirito.

2.1. Proibições do uso de analogia

Apesar das razoes apontadas para o recurso à analogia, verifica-se que em certos casos a lei a
proíbe:

 Nas normas excepcionais – artigo 11 do Código Civil


 Nas normas penais incriminadoras
 Em direito Fiscal relativamente às normas de incidência do imposto.

3. APLICAÇÃO DA LEI NO ESPAÇO E NO TEMPO

Para Consciência, uma relação jurídica pode estabelecer conexões com varias leis sucessivas ou
com leis de diferentes países.
No primeiro caso, segundo o mesmo autor, põe-se a questão da aplicação das leis no tempo,
impondo-se fixar o domínio temporal de cada lei; no segundo caso, gera-se um problema de
aplicação da lei no espaço – que se resolve pela aplicação de normas de conflito.

3.1. APLICAÇÃO DA LEI NO ESPAÇO

Qual seria, em tese, o âmbito espacial de uma lei? Resposta – o território do Estado. O é
território do Estado? Resposta – O território do Estado, elemento material deste, pode ser
definido como o âmbito geográfico da jurisdição do Estado ou a base física que delimita a
jurisdição do Estado, ou ainda a área física ideal em que o Estado exerce jurisdição sobre pessoas
e Coisas.

A lei nacional aplica-se à todo o território nacional.

São cada vez mais numerosas as situações de confluência de várias ordens jurídicas. Se uma
empresa Americana contrata uma empresa Sueca a compra de mercadoria situada na Colômbia
para ser entregue na Itália, temos já quatro ordens jurídicas, potencialmente aplicáveis, uma vez
que a situação está em conexão com todas elas. Cabe a regra de direito internacional privado
determinar qual é a conexão juridicamente decisiva.

Nas situações em que seus elementos estão em conexão com diversas ordens nacionais ( ou
internacionais locais) verifica-se um conflito de leis e tem de procurar-se à ordem jurídica
aplicável a situação. Para isso servem as normas de Direito Internacional Privado, como por
exemplo, as contidas no artigo 14ss do Código Civil.

A determinação da norma aplicável em caso de conflitos da lei traduzem-se na questão dita “


aplicação das leis no espaço”. Assim, a lei Moçambicana pode aplicar-se ou não a um acidente
na França e que envolva Moçambicanos (artigo 45 CC).

As regras do Direito Internacional Privado típicas são regras formais, que caiem na categoria das
regras de remissão. Não se diz como se regula aquela situação, mas antes, qual a lei que será
competente para regular, seja qual for o seu conteúdo.
Estas regras caracterizam-se como regras de conflito, por visarem resolver conflitos de leis
potencialmente aplicáveis. A estatuição destas regras conte portanto apenas a remissão para a
regra que será aplicável em concreto.

Pesquisar o princípio da bandeira/ pavilhão.

3.2. APLICAÇÃO DA LEI NO TEMPO

3.2.1. ENTRADA EM VIGOR / INICIO DA VIGENCIA

A vigência da lei não depende do seu conhecimento efectivo, pois é necessário que a mesma seja
objecto de publicação.

Os actos normativos, em Moçambique são publicados em Boletim da Republica (BR). A falta de


publicação oficial implica a ineficácia jurídica do acto (artigo 145, n⁰ 1 da CRM). Uma vez
publicadas, as regras jurídicas reúnem as condições necessárias para a sua entrada em vigor.
Todavia, tal não significa que a sua entrada em vigor seja imediata.

Depois de a lei ser publicada no Boletim da Republica para a sua entrada em vigor, existe um
espaço de tempo. “ entre a publicação e a vigência da lei decorrera o tempo que a própria lei
fixar ou na falta de fixação, o que for determinado em legislação especial”. (artigo 5 do Código
Civil).

À este tempo que media entre a publicação e a entrada em vigor da lei, chama-se “ Vacaccatio
legis”.

A lei só se torna obrigatória depois de publicada no jornal oficial.

4. A VACATIO LEGIS

Vaccatio legis é o intervalo que decorre entre a publicação e a entrada em vigor da lei.

4.1. Prazos de vaccatio legis

 As leis entram em vigor no dia nelas fixado, podendo verificar-se duas situações.

Encurtar o prazo, impondo-se a imediata entrada em vigor do diploma – carácter urgente;


Dilatar-se o prazo, por necessidade de adaptação ou pela complexidade da matéria.
 Na falta de fixação do dia, as leis entram em vigor no 15⁰ dia depois. É o que dispõe a
Lei n⁰ 6/2003, de 18 de Abril.

5. O PRINCIPIO DA IRRECTROACTIVIDADE DAS LEIS/ NÃO


RETROACTIVIDADE

A lei é expedida para disciplinar factos futuros. O passado escapa ao seu império. Sua vigência
estende-se, desde o inicio de sua obrigatoriedade ate o inicio da obrigatoriedade de outra lei que
a derrogue. Sua eficácia, em regra, restringe-se exclusivamente aos actos verificados durante o
período de sua existência. É o sistema ideal, que melhor resguarda a segurança dos negócios
jurídicos.

Há casos, porem, em que determinados actos, ocorridos ou realizados sob o domínio de uma lei,
só vão produzir efeitos na vigência de lei nova, sem que esta nova lei sobre eles possa ter
qualquer influência. Por outro lado, casos existem ainda em que a lei nova retroage ao passado,
alcançando consequências jurídicas de factos efectuados sob a égide de lei anterior.

Essa actuação da lei no tempo dá origem à teoria da retroactividade das leis. É a projecção da lei
no passado, ou sobre factos anteriores. Denomina-se também direito intertemporal.

Em regra, deve prevalecer o princípio da irretroactividade, as leis não tem efeitos pretéritos, elas
só valem para o futuro. Este princípio assenta a estabilidade dos direitos adquiridos, a
intangibilidade dos negócios jurídicos perfeitos e a invulnerabilidade da coisa julgada, o
principio da segurança jurídica bem como constitui garantia constitucional.

Desde que o legislador manda aplicar a lei a casos pretéritos, existe retroactividade, pouco
importando que a palavra seja usada ou não, vale com efeito retroactivo. Refira-se, todavia, que a
retroactividade é excepção e não se presume, deve ocorrer de determinação legal, expressa e
inequívoca.

Mas entre a retroactividade e a irretroactividade existe situação intermediaria, a da aplicabilidade


imediata da lei nova as relações que, nascidas embora sob a vigência da lei antiga, ainda não se
aperfeiçoaram, não se consumaram. O requisito sine qua nom, para imediata e geral aplicação, é
também o respeito pelos direitos adquiridos, ao acto jurídico perfeito e a coisa julgada.

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