Sustentabilidade Socioambiental E Impactos Na Geração Hidroelétrica Nos Pequenos Potenciais Hídricos No Rio Muatala, Nampula - Moçambique

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II Sustentare – Seminário de Sustentabilidade da PUC-Campinas

V WIPIS – Workshop Internacional de Pesquisa em Indicadores de Sustentabilidade


17 a 19 de novembro de 2020

SUSTENTABILIDADE SOCIOAMBIENTAL E IMPACTOS NA GERAÇÃO


HIDROELÉTRICA NOS PEQUENOS POTENCIAIS HÍDRICOS NO RIO
MUATALA, NAMPULA – MOÇAMBIQUE
Alcido Alberto João, [email protected], UniRovuma-Nampula
António Gonçalves Fortes, [email protected], UniRovuma-Nampula
Claudino Pita Richade, [email protected], UniRovuma-Nampula
Paulo Baptista Alface, [email protected], UniRovuma-Nampula
Ernesto Taperero Fernando, [email protected], UniRovuma-Nampula
Momade Jaime Chau, [email protected], UniRovuma-Nampula

Resumo
A geração hidrelétrica por meio de turbinas hidráulicas constitui uma alternativa para diversos
níveis de demanda nas zonas rurais e suburbanas não abrangidas pela energia da rede nacional,
pela capacidade de reduzir a pobreza energética e minimizar parte dos problemas ambientais
que o mundo enfrenta. A pesquisa teve como objetivo realizar uma investigação sobre a sus-
tentabilidade socioambiental e possíveis impactos que podem advir da construção e geração
hidroelétrica nos pequenos potenciais hídricos da cidade de Nampula, através de um sistema
com turbina do tipo Kaplan. A metodologia baseou-se no estudo bibliográfico e experimental.
Usando-se materiais alternativos, construiu-se um sistema hidroelétrico com turbina tipo Ka-
plan e instalou-se num trecho do rio Muatala – cidade de Nampula, Moçambique. A coleta de
dados foi realizada no segundo quadrimestre de 2020. O estudo foi pertinente, uma vez que
para além da geração da tensão de até 52 V e corrente de 44 mA, suficiente para uso doméstico
das comunidades rurais, buscou trazer informações sobre o meio social, dos indicadores socio-
ambientais utilizados na análise de usinas hidroelétricas e dos principais impactos causados
sobre o meio ambiente, sobretudo para a flora e fauna local. O sistema construído é sustentável
sob ponto de vista social, ambiental e económico, para além de gerar uma potência útil, nos rios
de baixo declive, capaz de atender as necessidades domésticas das comunidades rurais.
Palavras-chave: sistema hidroelétrico; turbina Kaplan, sustentabilidade, impactos.

1. Introdução
O setor energético é muito importante para o desenvolvimento econômico e social de um
País. Assim sendo, torna-se importante planejar o desenvolvimento desse setor, pois serve de
apoio na elaboração de políticas públicas e diretrizes, indicativas ou determinativas, para os
agentes públicos e privados de oferta e consumo de energia e de regulação seja no gerencia-
mento de indicadores de eficiência, de qualidade e do meio ambiente (VILA, 2014).
A contribuição do setor da energia no contexto da globalização impõe a adoção de medi-
das que conduzam à estabilidade da procura e oferta dos bens e serviços energéticos para os
diferentes estratos da sociedade. Este é o ponto de partida da Política de Desenvolvimento de
Energias Novas e Renováveis, na qual se considera que as energias renováveis (ER) assumem
um papel de destaque no mercado mundial das energias e por darem resposta a diversas impo-
sições globais, como a segurança energética, mudanças climáticas, melhorias no acesso às ener-
gias modernas no meio rural e suburbano (MOÇAMBIQUE, 2009a).
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Diversos autores pesquisaram sobre o desenvolvimento sustentável, preservação do meio


ambiente, geração de emprego e renda e o crescimento econômico. Todas essas questões diver-
gem na geração e uso de ER. Porém, os desafios socioambientais e econômicos levam a socie-
dade a desenvolver técnicas e tecnologias de geração de eletricidade a partir de fontes de ER,
que não comprometem o meio ambiente, sendo de baixo custo, eficiente e eficaz.
Em 2015, o Fundo de Energia (FUNAE) de Moçambique realizou estudos para apurar o
potencial hídrico do País e foram identificados um total de 1.446 novos possíveis projetos hi-
droelétricos, com potencial total de 18,6 Giga Watt (GW), sendo Tete, Manica e Nampula as
províncias que apresentam maiores potenciais. Destes projetos, apenas 351 locais foram prio-
rizados economicamente, com potencial estimado de 5,6 GW (GUEIFÃO et al., 2013).
Segundo Nhamire e Mosca (2014, p. 9), Moçambique é o segundo maior produtor da
eletricidade da região austral de África, com geração média de 2,279 GW. Apesar disso, o País
é o quarto da região, com menos acesso à eletricidade pelos cidadãos. Apenas 22 % da popula-
ção moçambicana usa energia da rede nacional (ERN). Estes dados mostram a fraca mobiliza-
ção de recursos e investimentos para produção de energia e a fraca disseminação das tecnolo-
gias acessíveis e sustentáveis aos mais necessitados.
É neste âmbito que surge a presente pesquisa, para responder questões relacionadas com
práticas sustentáveis e a demanda da eletricidade nas zonas rurais e suburbanas não abrangidas
pela ERN, com objetivo de realizar uma investigação sobre a sustentabilidade socioambiental
e possíveis impactos que podem advir da construção e geração hidroelétrica nos pequenos po-
tenciais hídricos da cidade de Nampula, através de um sistema com turbina do tipo Kaplan
Analisou-se a relevância da utilização deste sistema nos seguintes domínios: (i) segurança
– uso de materiais atóxicos; (ii) economia – utilização de materiais alternativos, de fácil acesso,
recicláveis e de baixo custo, para geração de eletricidade; (iii) reprodução – fácil manuseio do
protótipo em diversos ambientes; (iv) didática – os resultados da presente pesquisa podem ser
utilizados na abordagem de conteúdos de eletricidade e ER no ensino secundário geral, técnico
profissional e superior; (v) tecnológica e ambiental – desenvolvimento de tecnologias locais de
ER para geração de eletricidade com baixíssimos impactos ambientais.

2. Fundamentação teórica
2.1. Energia hidroelétrica e centrais hidroelétricas
A energia hidroelétrica é aquela que provém da condensação, precipitação e evaporação
das águas, fatores estes causados pela irradiação solar e atração gravitacional. As usinas hidro-
elétricas têm a capacidade de transformar a energia cinética e potencial gravitacional das águas
dos rios em energia mecânica e elétrica. Ela vem sendo utilizada a milhares de anos para o
bombeamento de água, moagem de grãos, corte de madeiras e pedras para a construção e outras
aplicações. A partir do século XVIII passou a ser utilizada para mover máquinas têxteis, e nesse
período, foram desenvolvidos os princípios para geração hidroelétrica (GIELENA et al., 2019).
Uma das formas de aproveitamento da massa de água para a geração de eletricidade é
através das turbinas hidráulicas, que proporcionaram uma grande revolução no setor industrial,
contribuindo no desenvolvido e aperfeiçoamento de diversos tipos de turbinas, porém, reque-
rem um investimento elevado para a sua aquisição e operacionalização.
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As turbinas hidráulicas são máquinas primárias que transformam a energia potencial gra-
vítica ou a energia cinética, armazenada na água que circula pelo circuito hidráulico, em energia
mecânica, a qual faz acionar um gerador elétrico (GOMES; CAMIOTO, 2016).
As turbinas hidráulicas possuem um princípio comum de funcionamento. A água entra
na turbina vinda de um reservatório e escapa para um canal de nível mais baixo. A
água que entra é conduzida por um ducto fechado até um conjunto de palhetas ou
injectores que transferem a energia mecânica (energia de pressão e cinética) do fluxo
de água em potência de eixo. A pressão e a velocidade da água na saída são menores
que na entrada. A água que sai da turbina é conduzida por um ducto até um canal
inferior (JÚNIOR, 2013, p. 9).
A turbina Kaplan (Fig. 6) foi criada pelo engenheiro austríaco Victor Kaplan (1876-1934)
que, por meio de estudos teóricos e experimentais, a partir das turbinas de Hélice com a possi-
bilidade de variar o passo das pás (JÚNIOR, 2013). As turbinas Kaplan podem ter eixo vertical
ou horizontal e são classificadas como turbinas de reação, geralmente adequadas às quedas
fracas, caudais elevados e a potência unitária na turbina aumenta quando a configuração é ver-
tical, pois permite diâmetros do rotor muito maiores.
2.2. Impactos na geração hidroelétrica em pequena escala
As microcentrais elétricas mostram-se uma alternativa interessante, visto que representam
uma forma de geração de energia limpa e renovável, de baixo custo em comparação com outras
formas, e com condições de atendimento a locais isolados. Além disso, Geller (2016) afirma
que tais desenvolvimentos energéticos não produzem nenhuma emissão atmosférica durante a
geração de eletricidade, sendo o principal benefício ambiental das pequenas centrais o desloca-
mento ou a vacância das emissões da geração de eletricidade convencional, repercutindo em
um impacto positivo de proporção global.
Mesmo sendo uma fonte de energia limpa, alguns impactos ambientais podem surgir dos
desenvolvimentos de microcentrais e tendem a afetar as comunidades e ecossistemas. Segundo
a lei do ambiente moçambicana, considera-se “impacto ambiental a qualquer mudança do am-
biente, para melhor ou para pior, especialmente com efeitos no ar, na terra, na água e na saúde
das pessoas, resultantes da atividade humana” (MOÇAMBIQUE, 1997, art. 1 ponto 16).
Assim sendo, são considerados impactos ambientais na geração de energia hídrica, o ala-
gamento de importantes áreas florestais, destruição de extensas áreas de vegetação natural, ma-
tas ciliares, o desmoronamento das margens, o assoreamento do leito dos rios, prejuízos à fauna
e à flora locais, alterações no regime hidráulico dos rios, possibilidades da transmissão de do-
enças e a emissão dos gases de efeito estufa (GEE) na atmosfera, na sua maioria são ocasiona-
dos pelo represamento da água (GELLER, 2016).
As usinas com reservatório possuem uma contribuição significativa para as emissões
de GEE, principalmente nos 10 primeiros anos da operação da usina. Usinas que estão
localizadas em clima tropical devem ser avaliadas de forma particular, e poucos estu-
dos existem considerando este contexto. O bioma que compõe a área inundada, tam-
bém contribui para maior ou menor produção dos gases metano e carbónico. Em re-
lação ao tamanho e profundidade, as emissões são maiores em reservatórios extensos
e rasos. Em relação ao tempo de operação, há um consenso das pesquisas que afirmam
que as emissões diminuem conforme o tempo (GELLER, 2016, p. 36).

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Para além dos impactos ambientais, há também os impactos sociais que não devem ser
deixadas de lado, como é o caso de alagamento de propriedades, casas e áreas produtivas
(GELLER, 2016). Ou seja, a inundação de áreas para a construção de barragens gera problemas
de realocação das populações ribeirinhas, comunidades indígenas e pequenos agricultores.
De forma geral, segundo Barreto et al. (2008) os impactos são classificados em negativos
ou positivos e podem afetar três dimensões: meio físico, meio biótico e o meio antrópico. Com-
preende-se como meio físico afetado o curso de água, o solo e a atmosfera, como meio biótico
a fauna e a flora e como meio antrópico as comunidades locais.
Portanto, cada rio apresenta características únicas, por esse motivo, efeitos variam de
acordo com cada rio e cada vez mais é importante que se faça a avaliação integrada do rio e da
bacia, para que se tenha a noção dos efeitos cumulativos levando em conta a conservação am-
biental e a manutenção da qualidade de vida da população.
2.3. Sustentabilidade e energias renováveis
A discussão mais concreta e prática sobre o “desenvolvimento sustentável”, emerge na
Conferência sobre o Meio Ambiente de 1972, realizada em Estocolmo, na Suécia pela Organi-
zação das Nações Unidas (ONU). O debate central da conferência foi a questão do desenvolvi-
mento econômico a partir da observância dos conceitos de sustentabilidade, como “aquele que
atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras
atenderem às suas próprias necessidades”. Em seguida, na Conferência Mundial da ONU so-
bre Meio Ambiente e Desenvolvimento realizada no Rio de Janeiro em 1992, houve a criação
da agenda 21, que estabelecia a obrigatoriedade da regulação ambiental “proteção ambiental,
desenvolvimento econômico e justiça social” através da cooperação entre países e da transmis-
são de informação às populações. Desde então, vêm se propondo diversos indicadores e índices
para avaliar o progresso dos países em direção ao desenvolvimento sustentável, estabelecendo
relações de causalidade e medidas necessárias (DUTRA; MARQUES, 2014; ONU, 2015).
Uma sociedade moderna só opera com o uso de uma ou mais formas de energia. A
racionalização do seu uso possibilita melhor qualidade de vida, gerando consequente-
mente, crescimento económico, emprego, autoemprego e competitividade. Uma polí-
tica de ação referente à eficiência energética tem como meta o emprego de técnicas e
práticas capazes de promover o uso inteligente da energia, reduzindo custos e produ-
zindo ganhos na perspectiva do desenvolvimento sustentável (EDENR, 2011, p: 27).
Dutra e Marques (2014, p. 4) consideram que “o desafio do desenvolvimento sustentável
não tem como ser enfrentado a partir da perspectiva teórica que desconsidera as dimensões
culturais e éticas no processo de tomada de decisão”. Heinberg (2007) identificou os axiomas
(Tabela 1) que facultam a compreensão do conceito.
Tabela 1. Os cinco axiomas da sustentabilidade, segundo Heinberg (2007).
Axioma Argumentos
Axioma de Tainter: qualquer sociedade que persista no uso insustentável de recurso crítico
1 colapsará. Excepção: uma sociedade pode evitar o colapso se encontrar recursos de substi-
tuição. Limite à excepção: num mundo finito o número de substituições possíveis é finito.
2 Axioma de Barlett: o crescimento da população e/ou o crescimento nas taxas de consumo
de recursos não podem ser sustentados.

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3 Para ser sustentável, o uso de recursos renováveis deve decorrer a uma taxa menor ou igual
à taxa de reposição natural do recurso.
Para ser sustentável, o uso de recursos não renováveis deve decorrer a uma taxa decrescente,
e a taxa de decréscimo deve ser maior ou igual à taxa de esgotamento dos recursos. A taxa
4 de esgotamento consiste na quantidade que é extraída e usada durante um intervalo de tempo
especificado expressa em percentagem do total que resta do recurso (para extração).
A sustentabilidade exige que as substâncias introduzidas no ambiente pelas atividades hu-
manas sejam minimizadas e tornadas inofensivas para as funções da biosfera. Nos casos em
5 que a poluição e o consumo de recursos não renováveis tenham ocorrido, a taxas crescentes
e ponham em causa a viabilidade dos ecossistemas, a redução nas taxas de extração e con-
sumo desses recursos pode ter de ocorrer a uma taxa maior do que a taxa de esgotamento.
No setor energético, o conceito de sustentabilidade foca-se na busca de ferramentas e
desenvolvimento das chamadas “energias sustentáveis”, que visam minimizar os impactos am-
bientais e criação de mecanismos de produção de modelos alternativos baseados na sustentabi-
lidade. O conceito de energias “sustentáveis”, “limpas” ou renováveis baseia-se na utilização
direta ou indireta de energia solar na geração das fontes de energia hídrica, solar, eólica e bio-
massa, com exceção da energia das marés, nuclear e geotérmica (DUTRA; MARQUES, 2014).
O termo “energia sustentável” é usado para denotar sistemas, tecnologias e recursos
energéticos que sejam capazes de não apenas suprir, no longo prazo, as necessidades
humanas – econômicas e de desenvolvimento – mas também o façam de forma com-
patível com (i) a preservação da integridade subjacente dos sistemas naturais essenci-
ais, evitando, inclusive, mudanças climáticas catastróficas; (2) a extensão de serviços
básicos de energia a mais de 2 bilhões de pessoas no mundo todo que atualmente não
têm acesso a formas modernas de energia; e (3) a redução de riscos para a segurança
e do potencial para conflitos geopolíticos que poderiam advir da disputa crescente por
reservas de petróleo e gás natural distribuídas desigualmente. O termo sustentável
neste contexto abrange uma gama de objetivos programáticos que vai além da mera
adequação de suprimentos (BORBA; GASPAR, 2010, p. 58).
O desenvolvimento tecnológico tem permitido que, aos poucos, elas possam ser aprovei-
tadas quer como energia alternativa, quer na produção de calor e de eletricidade, como a energia
eólica, solar, da biomassa, e de pequenas centrais hidrelétricas, constituindo-se em fonte con-
vencional de geração de eletricidade (BIZAWU; AGUIAR, 2016). Por isso, a tecnologia, o
planeamento e a gestão dos sistemas energéticos são ferramentas que permitem o uso eficiente
das formas finitas e alternativas de energia pela atividade humana, de uma forma equitativa.
2.4. Políticas energéticas nacionais
A Lei de Eletricidade, Lei nº 21/97 de 1 de outubro, estabelece as regras relativas à pro-
dução, transporte, distribuição, comercialização, incluindo importação e exportação, de energia
elétrica. Esta lei constitui a política geral da organização do setor e gestão do fornecimento de
energia elétrica no território moçambicano (MOÇAMBIQUE, 2009b).
A Resolução nº 5/98 de 3 de março, que define as orientações estratégicas para o desen-
volvimento do setor, segundo às convenções regionais e mundiais (MOÇAMBIQUE, 1998).
O Decreto nº 8/2000 de 20 de abril, estabelece as competências e os procedimentos rela-
tivos à atribuição de concessões de produção, transporte, distribuição e comercialização de
energia elétrica. Este Decreto foi definido com vista a regulamentar a Lei de Eletricidade nº
21/97, de 1 de outubro (MOÇAMBIQUE, 2000).
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O Decreto nº 45/2004 de 29 de setembro, regula o processo de avaliação do impacto am-


biental e revoga o Decreto nº78/98 de 29 de dezembro (MOÇAMBIQUE, 2004),
O Decreto nº 42/2005 de 29 de Novembro, regula as normas referentes à planificação,
financiamento, construção, posse, manutenção e operação de instalações de produção, trans-
porte, distribuição e comercialização de eletricidade (MOÇAMBIQUE, 2005).
A Resolução 10/2009 aprova a estratégia de energia e revoga a Resolução n.º 24/2000,
de 3 de Outubro (MOÇAMBIQUE, 2009c). Esta estratégia,
...visa preparar o país, para a transição para um futuro energético sustentável, ampli-
ando a matriz de oferta energética, privilegiando as fontes energéticas endógenas e
garantindo simultaneamente o crescimento do acesso por maiores camadas populaci-
onais aos benefícios da energia moderna, em particular da eletricidade a qual pode ser
produzida com fontes de energia primária diversificada, comprovada relação entre o
acesso à eletricidade e o desenvolvimento humano (MOÇAMBIQUE, 2009c, p. 3-4).
O Decreto nº 58/2014, regulamento que define o regime tarifário para as energias novas
e renováveis (REFIT), define as tarifas a serem praticadas para comercialização de eletricidade
gerada pelas seguintes fontes: biomassa, eólica, hídrica e solar, em função da capacidade insta-
lada (MOÇAMBIQUE, 2014a). “A Eletricidade de Moçambique é autorizada a transferir os
custos de ligação à rede de transporte, associada aos projetos devidamente licenciados pela
autoridade competentes e elegíveis ao programa REFIT” (MOÇAMBIQUE, 2014ª, art. 15).
O Código de ERN, aprovado pelo Diploma Ministerial n.º 184/2014 de 12 de novembro,
estabelece as condições técnicas de ligação das instalações à ERN e as condições técnicas de
planeamento e exploração da mesma, ficando abrangidos pela sua aplicação o gestor da rede
nacional de transporte e de energia elétrica, os concessionários de transporte e de distribuição
e os utilizadores ligados à ERN (MOÇAMBIQUE, 2014b).
Relativamente ao procedimento a adotar para o licenciamento dos projetos importa ob-
servar o Decreto n.º 48/2007, de 22 de outubro, alterado pelo Decreto n.º 10/2016, de 25 de
abril, que estabelece o regulamento de licenças para instalações elétricas (RLIE), o qual “tem
por fim fixar as normas a seguir nas concessões de licenças para o estabelecimento e explora-
ção de instalações destinadas à produção, transporte, transformação, distribuição e utilização
de energia elétrica para qualquer fim ou serviço”(MOÇAMBIQUE, 2016, art. 2).
O RLIE divide em dez categorias as instalações destinadas à produção, transporte, trans-
formação, distribuição e utilização de energia elétrica para qualquer fim ou serviço, de forma a
diferenciar o tratamento dado a cada tipo de instalação ao nível de procedimento de licencia-
mento. No que respeita à produção de energia elétrica com base nas fontes renováveis, o RLIE
classifica as mesmas como instalações de 1.ª categoria (art. 3, alínea a). Deste modo a produção
de energia elétrica de fontes renováveis carecem de licença e vistoria prévias para o seu esta-
belecimento e exploração (art. 4 e 5) e todas as instalações elétricas, ficam sujeitas à fiscalização
técnica permanente do Ministério de Recursos Minerais e Energia (MOÇAMBIQUE, 2016).
Através da Lei nº 11/2017, de 8 de setembro, cria-se a autoridade reguladora de energia
com vista a promover tecnologias e uso eficiente dos recursos energéticos e a segurança ener-
gética, visando o desenvolvimento equilibrado e sustentável do País (MOÇAMBIQUE, 2017).

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3. Metodologia
A pesquisa é classificada como aplicada e exploratória, de abordagem quantitativa, base-
ada na combinação dos métodos bibliográfico, experimental e o trabalho de campo.
Usou-se o método bibliográfico na coleta de dados existentes, sem delimitação espacial
e temporal, em diversas obras literárias, manuais, artigos científicos, dissertações e teses. A
pesquisa experimental foi usada na construção, testagem e coleta dos dados primários e os pa-
râmetros técnicos da pesquisa. E o trabalho de campo utilizou-se para implantar o sistema hi-
droelétrico construído no curso do rio Muatala e na coleta/registo dos dados in situ.
Para a coleta de dados fez-se o uso da técnica de observação participante, que através de
um protocolo de observação, verificou-se as características do local e análise dos impactos dele.
Para a construção do sistema e sua implantação, usou-se os seguintes materiais (tabela 2):
Tabela 2: Materiais usados para a construção do sistema hidroelétrico
1. Construção da Turbina 2. Construção do gerador
▪ Chapa metálica de 3 mm; ▪ Uma base de madeira de forma circular;
▪ 1 Rolamentos; ▪ Bobinas e magneto extraído da motorizada;
▪ 4 parafusos; ▪ 1 rolamento;
▪ 20 Parafusos com porca; ▪ 1 eixo e 6 porcas;
▪ 1 Eixo de 25 cm e 5 porcas; ▪ 2 parafusos com porca.
▪ Uma caixa espiral de 25 cm de altura 45 cm de 5. Coleta de dados
diâmetro; ▪ 1 voltímetro;
▪ 2 anilhas e 10 cm de tubo ½. ▪ O sistema construído;
3. Construção de multiplicador de velocidade ▪ Fita métrica;
▪ 2 cubos de bicicleta; ▪ 1 balde de 20 litros;
▪ Madeira 50x30 cm; ▪ 1 cronómetro;
▪ 4 parafusos; ▪ Um celular e seu carregador;
▪ 1 eixo de 25 cm e 5 porcas. ▪ Duas lâmpadas Led, 7w e 20 W;
4. Represamento e montagem do sistema ▪ Uma bactéria chumbo/ácido de 3 W e sistema de
▪ Sacos; carregamento.
▪ 1 base de ferro.
Os procedimentos experimentais foram divididos em seguintes fases:
Para a Construção da turbina, (i) fez-se os moldes de chapa de zinco e cortou-se as pás
(fig. 1A); (ii) soldou-se as chapas na lateral do tubo de 5 cm e montou-se o eixo; (iii) pintou-se
com tinta anticorrosiva para evitar corrosão durante a operação (fig. 1B); (iv) fixou-se o rola-
mento e o rotor no interior da caixa (fig. 1C); (v) com quatro pedaços de varão de 8 mm com
60 cm de comprimento e um varão de 6 mm e 125,6 cm de comprimento, fez-se uma base.
Para construção do gerador: (i) com a base de madeira de diâmetro 6 cm, fez-se um ori-
fício no centro e fixou-se um rolamento; (ii) centralizou-se as bobinas e furou-se nas laterais do
rolamento de modo a transpassar os parafusos (fig. 1D); (iii) montou-se o estator, fixou-se um
eixo no magneto e conectou-se ao estator passando o eixo no centro do rolamento (fig. 1E).
Para construção do multiplicador de velocidade: (i) fez-se duas circunferências na ma-
deira com raios de 12 e 4 cm; (ii) com a marcação de 1 cm para dentro, fez-se 16 dentes na
engrenagem maior e 8 na menor (fig. 1F); (iii) fez-se furos de acordo com as dimensões do
eixo; (iv) finalizada as engrenagens, montou-se no sistema.

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Para represamento e montagem do sistema no rio: (i) fez-se a limpeza no local, encheu-
se e montou-se os sacos de areia, de modo a barrar a água e canalizar diretamente para a turbina;
(ii) instalou-se o sistema no rio, após terminar as fases de represamento (fig. 4G).
Para a coleta de dados: (i) através do ducto que sai da represa encheu-se o balde de 10 l e
registou-se o tempo que levou a encher o balde; (ii) mediu-se a altura bruta do rio, o diâmetro
e o comprimento do ducto; (iii) registou-se a rotação do eixo da turbina, a tensão e a intensidade
da corrente; (iv) registou-se os impactos causados durante a instalação, operação e desinstalação
do sistema.

Figura 1: Construção e instalação do sistema. A: Molde das pás; B: rotor pintado; C: turbina pronta; D:
estator com as bobinas; E: gerador finalizado; F: engrenagem de madeira; G: sistema instalado no rio.

4. Resultados
4.1. Viabilidade técnica ou de eficiência
Inicialmente, instalou-se o sistema no trecho do rio, sem as engrenagens e permaneceu
em funcionamento por cerca de 10 h/dia, com uma vazão média de 10 l/s e a altura de queda de
0,75 m. O sistema funcionou a 168 rotações por minuto, fornecendo uma tensão de 24,5 V e
corrente de 31 mA (tabela 3). Com esses parâmetros e nas condições experimentais, testou-se o
sistema, carregando uma bateria de chumbo/ácido de 3W.
Tabela 3: Dados colhidos com eixo do gerador ligado direto com eixo da Turbina.
Vazão Altura Tensão média (V) Corrente média Velocidade de
Data média (m) (mA) rotação (rpm)
(m3/s) Min Max Med Min Max Med Min Max Med
1/07 0,01 0,75 21,6 24,8 23,20 27,4 31,5 29,45 161 165 163
3/07 0,01 0,75 24,4 24,7 24,55 28 29,8 28,90 166 168 167
6/07 0,01 0,75 23,3 24,1 23,7 27,6 31,3 29,45 162 168 165
Média 0,01 0,75 - 24 - 29,30 - 165
A seguir, adicionou-se ao sistema, multiplicadores de velocidade (tabela 4) e duas engre-
nagens (tabela 5), mantendo-se constante a vazão e a altura de queda. Conseguiu-se aumentar
a produção, para uma tensão de 52 V e a corrente de 44 mA.

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Tabela 4: Dados colhidos com multiplicador de velocidade.


Vazão Altura Tensão média engre- Corrente média en- Velocidade de rota-
Data média (m) nada (V) grenada (mA) ção engrenada (rpm)
(m3/s)
Min Max Med Min Max Med Min Max Med
11/07 0,01 0,75 47,3 50,4 48,85 43,3 44,6 43,95 110 118 114
12/07 0,01 0,75 45,1 51,3 48,20 42,4 43,16 42,75 109 120 114
13/07 0,01 0,75 48 52,4 50,20 43,9 44,3 44,10 113 121 117
Media 0,01 0,75 - 49 - 43,60 - 126

Tabela 5: Dados da turbina, tubo PVC e as engrenagens.


Engrenagens Turbina Tubo
Grandezas
Maior Menor Seção de Rotor Seção PVC
entrada de saída
Diâmetro (cm) 24 8 11 32 40 11
Raio (cm) 12 4 5.5 16 20 5.5
Comprimento (cm) - - - - - 700
Área (cm )
2
452,16 50,25 94,99 19,63 267,94 126 94,99
A potência bruta (Pb) contida no desnível topográfico do rio (H) é dado pelo produto da
densidade da água, aceleração de gravidade local (g), a vazão (Q) e o desnível,
𝑃𝑏 = 𝜌. 𝑔. 𝑄. 𝐻 = 1000 ∙ 9,8 ∙ 0,01 ∙ 0,75 = 73,5 𝑊
Ou seja, a potência do rio no local testado foi de 73,5 W. Uma parte desta energia foi
dissipada na tubulação até chegar na turbina. Enquanto, a potência hidráulica na entrada da
turbina considerando as perdas na tubulação, em função do desnível topográfico (Hd),
𝑃𝑑 = 𝜌. 𝑔. 𝑄. 𝐻𝑑 = 1000 ∙ 9,8 ∙ 0,01 ∙ 0,714 = 70,00 𝑊
Para determinação da potência mecânica da turbina (Pm), usou-se a área (A) do tubo (ta-
bela 5). A velocidade (v) das pás (tabela 3) foi de 165 rpm ou 2,7632 m/s. A Pm foi de:
𝑃𝑚 = ρgh ∙ A ∙ v = 1000 ∙ 9,8 ∙ 0,25 ∙ 0,0094985 ∙ 2,7632 = 64,3 𝑊
A Pm no eixo da turbina antes e depois de inserir as engrenagens foi de 64,3 W e 49,10
W, respectivamente. Isso se deve ao aumento das perdas mecânicas na engrenagem de madeira.
Para determinar a potência extraída pelo gerador, mediu-se a tensão e a corrente média
nos terminais do gerador, obtendo-se 49 V e 43,60 mA respectivamente (tabela 4). Então:
𝑃𝐺 = 𝑈 ∙ 𝐼 = 49𝑉 ∙ 43,60 𝑚𝐴 = 2136,4 mW = 2, 14 𝑊
Antes e depois de inserir as engrenagens, as potências extraídas pelo gerador foram de
0,7 W e de 2,14 W respectivamente. Esse aumento mostra que a introdução das engrenagens
tem impacto na potência extraída pelo gerador de energia. O rendimento da turbina (ηt) foi de:
Pm 64,30 𝑊
𝜂𝑡 = = ∙ 100 = 92 %
Pd 70,00 𝑊
A turbina construída extraiu cerca de 92 % da energia disponível, considerando-se as
perdas hidráulicas, volumétricas e mecânicas. O rendimento do sistema em geral (ηT) foi:
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PG 2136,4 mW
𝜂𝑇 = = 70,00 𝑊 ∙ 100 = 3, 05%
Pd
Isso significa que, o sistema extraiu cerca de 3% da energia disponível, considerando as
perdas na turbina hidráulica (por fricção, hidráulicas, volumétricas e mecânicas), as perdas por
transmissão (ao adicionar as engrenagens) e as perdas no gerador (por atrito).
A tabela 6 apresenta o resumo da avaliação do sistema antes e depois de serem adiciona-
das as engrenagens, mantendo-se constante a vazão média e altura de queda.
Tabela 6: Parâmetros técnicos no sistema hidroelétrico estudado.
Grandezas Rio Turbina Gerador Engrenagem Sistema
Tensão Média - - 24 V 49 V 49 V
Corrente Média - - 29,30 mA 43,60 mA 43,60 mA
Potência Média 73.50 W 64,30W 703,2 mW 49,10 W 2,14 W
Rendimento 100% 92% 1,1% 76,4% 3%
Frequência linear - 2,75 Hz 2,75 Hz 2,1 Hz 4,2 Hz
Velocidade de rotação Média - 165 rpm 165 rpm 126 rpm 252 rpm
No geral, as perdas no sistema hidroelétrico são inevitáveis. Segundo Caus e Michels
(2017, p. 3) “em turbinas hidráulicas, o rendimento representa as perdas verificadas nas dife-
rentes condições de operação, considerando que uma parte da potência disponível nos eixos
da turbina é dissipada em perdas internas e externas na própria turbina”. Assim sendo, a figura
6 apresenta a relação das perdas do sistema construído:

Figura 2: Perdas no sistema hidroelétrico construído.


As principais causas da baixa eficiência na turbina construída foram provenientes das
perdas hidráulicas ou volumétricas da água dentro da turbina e das perdas mecânicas, causado
pelo atrito nos rolamentos que converte parte da energia extraída da água em calor (efeito
Joule). Além disso, Yamachita (2013) indica como principais causas da baixa eficiência nos
geradores, as perdas por histerese magnética, por corrente de Foucault, por efeito Joule no es-
tator e no rotor e por atrito nos rolamentos, que converte parte de energia mecânica em calor.
4.2. Viabilidade económica do protótipo
O método usado na análise da viabilidade econômica foi o Levelized Cost of Electricity,
que consiste na avaliação económica do valor real do custo de produção de uma unidade gera-
dora de energia. Na tabela 7, estão apresentados os gastos de materiais e serviços, realizados na
projeção, construção, instalação e desinstalação do sistema.
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Tabela 7: Relação entre materiais e os gastos realizados durante a pesquisa.


Materiais Quantidade Preço/unidade Preço total Observação
(Meticais-MTn1) (MTn)
Estator rotor Magnético, 6 1 - - Reciclável
bobinas
Chapa 3mm (aço) 1 - - Reciclável
Tubo cilíndrico 5mm 1 50 50 -
Chapa 1mm (Zinco) 1 - - Reciclável
Eixo 2 100 200 -
Tubo Pvc 110 mm 6m 150 900 -
Madeira 40x30 cm 1 - - Reciclável
Porcas 11 10 110 -
Varrão 2 - - Reciclável
Rolamento 2 50 100 -
Parafuso de chapa 1 kg 100 100 -
Parafuso com porca 2 20 40 -
Pregos 2 polegadas ¼ kg 100 25 -
Fio de ligação 2x2.5mm 5m 10 50 -
Lâmpada Led 2 - - Reutilizado
Interruptor 1 - - Reutilizado
Distribuidor 1 - - Reutilizado
Bocal 2 - - Reutilizado
Tomada 1 - - Reutilizado
Tinta anticorrosivo 1 L 1 300 300 -
Sacos 5 - - Recicláveis
Total material 1,875 MTn
Serviços Função Pagamento Observação
Carpinteiro Engrenagens e base do gerador 150 MTn -
Ratoneiro (bate chapa) Tubo espiral 300 MTn -
Serralheiro Cortar e soldar pás e fazer a base 300 MTn -
Diversos Transporte, Material de limpeza 310 MTn -
Total Serviços 1 060
Total gasto 2 935 MTn
Pelas condições dos materiais usados, o sistema construído possui todas as condições
técnicas para permanecer em operação num período acima de 10 anos. Foram utilizados ferros,
chapas de aço e de zinco revestidas de tinta anticorrosiva que pode dificultar a corrosão, perda
de resistência, e consequentemente, aumentar o tempo de vida do sistema.
Comparativamente as pilhas alcalinas (fonte mais usada pela população rural), o sistema
é viável economicamente devido a vida útil das pilhas e a poluição que tem causado ao meio
ambiente, principalmente quando descartado de forma incorreta, podem contaminar o solo, as
águas superficiais e o lençol freático, visto que elas são altamente tóxicas por conterem altos
teores de metais como zinco, chumbo e manganês.

1 1 dólar norte americano (USD) equivale a 73,1 meticais (MTn). Fonte: Banco de Moçambique “http://www.banco-
moc.mz/fm_mercadosmmi.aspx?id=10” acesso em 31/10/2020
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4.3. Análise dos impactos causados na operação do sistema


Na implantação do sistema contruído não houve mudanças em termos paisagísticos e flo-
rísticos para dar lugar o sistema devido as dimensões do mesmo (fig. 3a). Não havendo neces-
sidade de procurar grande espaço para a sua instalação.
Por não afetar de forma significativa nos parâmetros físico-químicos da água, como o
cheiro, turbidez, pH, condutividade, temperatura e total de sólidos dissolvidos, a água pode ser
reutilizada, para as mesmas aplicações de tempos antes do contacto com o sistema.
Quanto a morte dos seres vivos existentes no rio é inevitável. Notou-se que existem ha-
bitat no rio, então de certa forma pode haver uma atração pela pressão da água na tubulação
acabando por serem esmagados pelas pás da turbina, constituindo o impacto ambiental mais
significativo. Assim sendo, para sistemas permanentes ou de grande porte, a solução é colocar
uma rede de cobertura para diminuição deste tipo de impacto.
Segundo as condições do sistema em termos de dimensões e a forma do rio não houve
nenhum impacto negativo para a sociedade. Nenhuma machamba está próxima do local de ins-
talação do sistema, por isso não houve necessidade de deslocar a população para dar espaço a
instalação da minicentral (Fig. 3a e 3b).

Figura 3: características do local. A: o sistema instalado; B: após a desinstalação do sistema.

5. Conclusões
A construção de um sistema hidroelétrico com turbina Kaplan usando material alternativo
e de baixo custo é sustentável, nas dimensões social, ambiental e económica, constituindo uma
forma viável para eletrificação rural e em comunidades isoladas.
O sistema construído apresenta condições para a geração de eletricidade nos pequenos
potenciais hídricos para acionar aparelhos de baixa potência, de uso comum e diário das popu-
lações, como rádio, televisão, carregadores de celular, lâmpadas e outros. O sistema pode ser
ainda usado para bombeamento de água, para uso doméstico, para irrigação e para piscicultura.
As principais perdas do sistema hidroelétrico estudado foram no gerador e as engrena-
gens. Pode-se obter maior rendimento na potência do gerador se adequar as rotações da turbina
e do eixo do gerador por meio do uso de engrenagens multiplicadoras de velocidade.
Não se verificou nenhum impacto negativo significativo durante a instalação, teste e des-
monte do sistema. Porém, para sistemas permanentes deve-se realizar estudos de impacto am-
biental detalhado para controle de possíveis desmoronamento das margens, prejuízos à fauna e
à flora locais, e alterações no regime hidráulico do rio.
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