Sustentabilidade Socioambiental E Impactos Na Geração Hidroelétrica Nos Pequenos Potenciais Hídricos No Rio Muatala, Nampula - Moçambique
Sustentabilidade Socioambiental E Impactos Na Geração Hidroelétrica Nos Pequenos Potenciais Hídricos No Rio Muatala, Nampula - Moçambique
Sustentabilidade Socioambiental E Impactos Na Geração Hidroelétrica Nos Pequenos Potenciais Hídricos No Rio Muatala, Nampula - Moçambique
Resumo
A geração hidrelétrica por meio de turbinas hidráulicas constitui uma alternativa para diversos
níveis de demanda nas zonas rurais e suburbanas não abrangidas pela energia da rede nacional,
pela capacidade de reduzir a pobreza energética e minimizar parte dos problemas ambientais
que o mundo enfrenta. A pesquisa teve como objetivo realizar uma investigação sobre a sus-
tentabilidade socioambiental e possíveis impactos que podem advir da construção e geração
hidroelétrica nos pequenos potenciais hídricos da cidade de Nampula, através de um sistema
com turbina do tipo Kaplan. A metodologia baseou-se no estudo bibliográfico e experimental.
Usando-se materiais alternativos, construiu-se um sistema hidroelétrico com turbina tipo Ka-
plan e instalou-se num trecho do rio Muatala – cidade de Nampula, Moçambique. A coleta de
dados foi realizada no segundo quadrimestre de 2020. O estudo foi pertinente, uma vez que
para além da geração da tensão de até 52 V e corrente de 44 mA, suficiente para uso doméstico
das comunidades rurais, buscou trazer informações sobre o meio social, dos indicadores socio-
ambientais utilizados na análise de usinas hidroelétricas e dos principais impactos causados
sobre o meio ambiente, sobretudo para a flora e fauna local. O sistema construído é sustentável
sob ponto de vista social, ambiental e económico, para além de gerar uma potência útil, nos rios
de baixo declive, capaz de atender as necessidades domésticas das comunidades rurais.
Palavras-chave: sistema hidroelétrico; turbina Kaplan, sustentabilidade, impactos.
1. Introdução
O setor energético é muito importante para o desenvolvimento econômico e social de um
País. Assim sendo, torna-se importante planejar o desenvolvimento desse setor, pois serve de
apoio na elaboração de políticas públicas e diretrizes, indicativas ou determinativas, para os
agentes públicos e privados de oferta e consumo de energia e de regulação seja no gerencia-
mento de indicadores de eficiência, de qualidade e do meio ambiente (VILA, 2014).
A contribuição do setor da energia no contexto da globalização impõe a adoção de medi-
das que conduzam à estabilidade da procura e oferta dos bens e serviços energéticos para os
diferentes estratos da sociedade. Este é o ponto de partida da Política de Desenvolvimento de
Energias Novas e Renováveis, na qual se considera que as energias renováveis (ER) assumem
um papel de destaque no mercado mundial das energias e por darem resposta a diversas impo-
sições globais, como a segurança energética, mudanças climáticas, melhorias no acesso às ener-
gias modernas no meio rural e suburbano (MOÇAMBIQUE, 2009a).
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2. Fundamentação teórica
2.1. Energia hidroelétrica e centrais hidroelétricas
A energia hidroelétrica é aquela que provém da condensação, precipitação e evaporação
das águas, fatores estes causados pela irradiação solar e atração gravitacional. As usinas hidro-
elétricas têm a capacidade de transformar a energia cinética e potencial gravitacional das águas
dos rios em energia mecânica e elétrica. Ela vem sendo utilizada a milhares de anos para o
bombeamento de água, moagem de grãos, corte de madeiras e pedras para a construção e outras
aplicações. A partir do século XVIII passou a ser utilizada para mover máquinas têxteis, e nesse
período, foram desenvolvidos os princípios para geração hidroelétrica (GIELENA et al., 2019).
Uma das formas de aproveitamento da massa de água para a geração de eletricidade é
através das turbinas hidráulicas, que proporcionaram uma grande revolução no setor industrial,
contribuindo no desenvolvido e aperfeiçoamento de diversos tipos de turbinas, porém, reque-
rem um investimento elevado para a sua aquisição e operacionalização.
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As turbinas hidráulicas são máquinas primárias que transformam a energia potencial gra-
vítica ou a energia cinética, armazenada na água que circula pelo circuito hidráulico, em energia
mecânica, a qual faz acionar um gerador elétrico (GOMES; CAMIOTO, 2016).
As turbinas hidráulicas possuem um princípio comum de funcionamento. A água entra
na turbina vinda de um reservatório e escapa para um canal de nível mais baixo. A
água que entra é conduzida por um ducto fechado até um conjunto de palhetas ou
injectores que transferem a energia mecânica (energia de pressão e cinética) do fluxo
de água em potência de eixo. A pressão e a velocidade da água na saída são menores
que na entrada. A água que sai da turbina é conduzida por um ducto até um canal
inferior (JÚNIOR, 2013, p. 9).
A turbina Kaplan (Fig. 6) foi criada pelo engenheiro austríaco Victor Kaplan (1876-1934)
que, por meio de estudos teóricos e experimentais, a partir das turbinas de Hélice com a possi-
bilidade de variar o passo das pás (JÚNIOR, 2013). As turbinas Kaplan podem ter eixo vertical
ou horizontal e são classificadas como turbinas de reação, geralmente adequadas às quedas
fracas, caudais elevados e a potência unitária na turbina aumenta quando a configuração é ver-
tical, pois permite diâmetros do rotor muito maiores.
2.2. Impactos na geração hidroelétrica em pequena escala
As microcentrais elétricas mostram-se uma alternativa interessante, visto que representam
uma forma de geração de energia limpa e renovável, de baixo custo em comparação com outras
formas, e com condições de atendimento a locais isolados. Além disso, Geller (2016) afirma
que tais desenvolvimentos energéticos não produzem nenhuma emissão atmosférica durante a
geração de eletricidade, sendo o principal benefício ambiental das pequenas centrais o desloca-
mento ou a vacância das emissões da geração de eletricidade convencional, repercutindo em
um impacto positivo de proporção global.
Mesmo sendo uma fonte de energia limpa, alguns impactos ambientais podem surgir dos
desenvolvimentos de microcentrais e tendem a afetar as comunidades e ecossistemas. Segundo
a lei do ambiente moçambicana, considera-se “impacto ambiental a qualquer mudança do am-
biente, para melhor ou para pior, especialmente com efeitos no ar, na terra, na água e na saúde
das pessoas, resultantes da atividade humana” (MOÇAMBIQUE, 1997, art. 1 ponto 16).
Assim sendo, são considerados impactos ambientais na geração de energia hídrica, o ala-
gamento de importantes áreas florestais, destruição de extensas áreas de vegetação natural, ma-
tas ciliares, o desmoronamento das margens, o assoreamento do leito dos rios, prejuízos à fauna
e à flora locais, alterações no regime hidráulico dos rios, possibilidades da transmissão de do-
enças e a emissão dos gases de efeito estufa (GEE) na atmosfera, na sua maioria são ocasiona-
dos pelo represamento da água (GELLER, 2016).
As usinas com reservatório possuem uma contribuição significativa para as emissões
de GEE, principalmente nos 10 primeiros anos da operação da usina. Usinas que estão
localizadas em clima tropical devem ser avaliadas de forma particular, e poucos estu-
dos existem considerando este contexto. O bioma que compõe a área inundada, tam-
bém contribui para maior ou menor produção dos gases metano e carbónico. Em re-
lação ao tamanho e profundidade, as emissões são maiores em reservatórios extensos
e rasos. Em relação ao tempo de operação, há um consenso das pesquisas que afirmam
que as emissões diminuem conforme o tempo (GELLER, 2016, p. 36).
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Para além dos impactos ambientais, há também os impactos sociais que não devem ser
deixadas de lado, como é o caso de alagamento de propriedades, casas e áreas produtivas
(GELLER, 2016). Ou seja, a inundação de áreas para a construção de barragens gera problemas
de realocação das populações ribeirinhas, comunidades indígenas e pequenos agricultores.
De forma geral, segundo Barreto et al. (2008) os impactos são classificados em negativos
ou positivos e podem afetar três dimensões: meio físico, meio biótico e o meio antrópico. Com-
preende-se como meio físico afetado o curso de água, o solo e a atmosfera, como meio biótico
a fauna e a flora e como meio antrópico as comunidades locais.
Portanto, cada rio apresenta características únicas, por esse motivo, efeitos variam de
acordo com cada rio e cada vez mais é importante que se faça a avaliação integrada do rio e da
bacia, para que se tenha a noção dos efeitos cumulativos levando em conta a conservação am-
biental e a manutenção da qualidade de vida da população.
2.3. Sustentabilidade e energias renováveis
A discussão mais concreta e prática sobre o “desenvolvimento sustentável”, emerge na
Conferência sobre o Meio Ambiente de 1972, realizada em Estocolmo, na Suécia pela Organi-
zação das Nações Unidas (ONU). O debate central da conferência foi a questão do desenvolvi-
mento econômico a partir da observância dos conceitos de sustentabilidade, como “aquele que
atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras
atenderem às suas próprias necessidades”. Em seguida, na Conferência Mundial da ONU so-
bre Meio Ambiente e Desenvolvimento realizada no Rio de Janeiro em 1992, houve a criação
da agenda 21, que estabelecia a obrigatoriedade da regulação ambiental “proteção ambiental,
desenvolvimento econômico e justiça social” através da cooperação entre países e da transmis-
são de informação às populações. Desde então, vêm se propondo diversos indicadores e índices
para avaliar o progresso dos países em direção ao desenvolvimento sustentável, estabelecendo
relações de causalidade e medidas necessárias (DUTRA; MARQUES, 2014; ONU, 2015).
Uma sociedade moderna só opera com o uso de uma ou mais formas de energia. A
racionalização do seu uso possibilita melhor qualidade de vida, gerando consequente-
mente, crescimento económico, emprego, autoemprego e competitividade. Uma polí-
tica de ação referente à eficiência energética tem como meta o emprego de técnicas e
práticas capazes de promover o uso inteligente da energia, reduzindo custos e produ-
zindo ganhos na perspectiva do desenvolvimento sustentável (EDENR, 2011, p: 27).
Dutra e Marques (2014, p. 4) consideram que “o desafio do desenvolvimento sustentável
não tem como ser enfrentado a partir da perspectiva teórica que desconsidera as dimensões
culturais e éticas no processo de tomada de decisão”. Heinberg (2007) identificou os axiomas
(Tabela 1) que facultam a compreensão do conceito.
Tabela 1. Os cinco axiomas da sustentabilidade, segundo Heinberg (2007).
Axioma Argumentos
Axioma de Tainter: qualquer sociedade que persista no uso insustentável de recurso crítico
1 colapsará. Excepção: uma sociedade pode evitar o colapso se encontrar recursos de substi-
tuição. Limite à excepção: num mundo finito o número de substituições possíveis é finito.
2 Axioma de Barlett: o crescimento da população e/ou o crescimento nas taxas de consumo
de recursos não podem ser sustentados.
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3 Para ser sustentável, o uso de recursos renováveis deve decorrer a uma taxa menor ou igual
à taxa de reposição natural do recurso.
Para ser sustentável, o uso de recursos não renováveis deve decorrer a uma taxa decrescente,
e a taxa de decréscimo deve ser maior ou igual à taxa de esgotamento dos recursos. A taxa
4 de esgotamento consiste na quantidade que é extraída e usada durante um intervalo de tempo
especificado expressa em percentagem do total que resta do recurso (para extração).
A sustentabilidade exige que as substâncias introduzidas no ambiente pelas atividades hu-
manas sejam minimizadas e tornadas inofensivas para as funções da biosfera. Nos casos em
5 que a poluição e o consumo de recursos não renováveis tenham ocorrido, a taxas crescentes
e ponham em causa a viabilidade dos ecossistemas, a redução nas taxas de extração e con-
sumo desses recursos pode ter de ocorrer a uma taxa maior do que a taxa de esgotamento.
No setor energético, o conceito de sustentabilidade foca-se na busca de ferramentas e
desenvolvimento das chamadas “energias sustentáveis”, que visam minimizar os impactos am-
bientais e criação de mecanismos de produção de modelos alternativos baseados na sustentabi-
lidade. O conceito de energias “sustentáveis”, “limpas” ou renováveis baseia-se na utilização
direta ou indireta de energia solar na geração das fontes de energia hídrica, solar, eólica e bio-
massa, com exceção da energia das marés, nuclear e geotérmica (DUTRA; MARQUES, 2014).
O termo “energia sustentável” é usado para denotar sistemas, tecnologias e recursos
energéticos que sejam capazes de não apenas suprir, no longo prazo, as necessidades
humanas – econômicas e de desenvolvimento – mas também o façam de forma com-
patível com (i) a preservação da integridade subjacente dos sistemas naturais essenci-
ais, evitando, inclusive, mudanças climáticas catastróficas; (2) a extensão de serviços
básicos de energia a mais de 2 bilhões de pessoas no mundo todo que atualmente não
têm acesso a formas modernas de energia; e (3) a redução de riscos para a segurança
e do potencial para conflitos geopolíticos que poderiam advir da disputa crescente por
reservas de petróleo e gás natural distribuídas desigualmente. O termo sustentável
neste contexto abrange uma gama de objetivos programáticos que vai além da mera
adequação de suprimentos (BORBA; GASPAR, 2010, p. 58).
O desenvolvimento tecnológico tem permitido que, aos poucos, elas possam ser aprovei-
tadas quer como energia alternativa, quer na produção de calor e de eletricidade, como a energia
eólica, solar, da biomassa, e de pequenas centrais hidrelétricas, constituindo-se em fonte con-
vencional de geração de eletricidade (BIZAWU; AGUIAR, 2016). Por isso, a tecnologia, o
planeamento e a gestão dos sistemas energéticos são ferramentas que permitem o uso eficiente
das formas finitas e alternativas de energia pela atividade humana, de uma forma equitativa.
2.4. Políticas energéticas nacionais
A Lei de Eletricidade, Lei nº 21/97 de 1 de outubro, estabelece as regras relativas à pro-
dução, transporte, distribuição, comercialização, incluindo importação e exportação, de energia
elétrica. Esta lei constitui a política geral da organização do setor e gestão do fornecimento de
energia elétrica no território moçambicano (MOÇAMBIQUE, 2009b).
A Resolução nº 5/98 de 3 de março, que define as orientações estratégicas para o desen-
volvimento do setor, segundo às convenções regionais e mundiais (MOÇAMBIQUE, 1998).
O Decreto nº 8/2000 de 20 de abril, estabelece as competências e os procedimentos rela-
tivos à atribuição de concessões de produção, transporte, distribuição e comercialização de
energia elétrica. Este Decreto foi definido com vista a regulamentar a Lei de Eletricidade nº
21/97, de 1 de outubro (MOÇAMBIQUE, 2000).
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3. Metodologia
A pesquisa é classificada como aplicada e exploratória, de abordagem quantitativa, base-
ada na combinação dos métodos bibliográfico, experimental e o trabalho de campo.
Usou-se o método bibliográfico na coleta de dados existentes, sem delimitação espacial
e temporal, em diversas obras literárias, manuais, artigos científicos, dissertações e teses. A
pesquisa experimental foi usada na construção, testagem e coleta dos dados primários e os pa-
râmetros técnicos da pesquisa. E o trabalho de campo utilizou-se para implantar o sistema hi-
droelétrico construído no curso do rio Muatala e na coleta/registo dos dados in situ.
Para a coleta de dados fez-se o uso da técnica de observação participante, que através de
um protocolo de observação, verificou-se as características do local e análise dos impactos dele.
Para a construção do sistema e sua implantação, usou-se os seguintes materiais (tabela 2):
Tabela 2: Materiais usados para a construção do sistema hidroelétrico
1. Construção da Turbina 2. Construção do gerador
▪ Chapa metálica de 3 mm; ▪ Uma base de madeira de forma circular;
▪ 1 Rolamentos; ▪ Bobinas e magneto extraído da motorizada;
▪ 4 parafusos; ▪ 1 rolamento;
▪ 20 Parafusos com porca; ▪ 1 eixo e 6 porcas;
▪ 1 Eixo de 25 cm e 5 porcas; ▪ 2 parafusos com porca.
▪ Uma caixa espiral de 25 cm de altura 45 cm de 5. Coleta de dados
diâmetro; ▪ 1 voltímetro;
▪ 2 anilhas e 10 cm de tubo ½. ▪ O sistema construído;
3. Construção de multiplicador de velocidade ▪ Fita métrica;
▪ 2 cubos de bicicleta; ▪ 1 balde de 20 litros;
▪ Madeira 50x30 cm; ▪ 1 cronómetro;
▪ 4 parafusos; ▪ Um celular e seu carregador;
▪ 1 eixo de 25 cm e 5 porcas. ▪ Duas lâmpadas Led, 7w e 20 W;
4. Represamento e montagem do sistema ▪ Uma bactéria chumbo/ácido de 3 W e sistema de
▪ Sacos; carregamento.
▪ 1 base de ferro.
Os procedimentos experimentais foram divididos em seguintes fases:
Para a Construção da turbina, (i) fez-se os moldes de chapa de zinco e cortou-se as pás
(fig. 1A); (ii) soldou-se as chapas na lateral do tubo de 5 cm e montou-se o eixo; (iii) pintou-se
com tinta anticorrosiva para evitar corrosão durante a operação (fig. 1B); (iv) fixou-se o rola-
mento e o rotor no interior da caixa (fig. 1C); (v) com quatro pedaços de varão de 8 mm com
60 cm de comprimento e um varão de 6 mm e 125,6 cm de comprimento, fez-se uma base.
Para construção do gerador: (i) com a base de madeira de diâmetro 6 cm, fez-se um ori-
fício no centro e fixou-se um rolamento; (ii) centralizou-se as bobinas e furou-se nas laterais do
rolamento de modo a transpassar os parafusos (fig. 1D); (iii) montou-se o estator, fixou-se um
eixo no magneto e conectou-se ao estator passando o eixo no centro do rolamento (fig. 1E).
Para construção do multiplicador de velocidade: (i) fez-se duas circunferências na ma-
deira com raios de 12 e 4 cm; (ii) com a marcação de 1 cm para dentro, fez-se 16 dentes na
engrenagem maior e 8 na menor (fig. 1F); (iii) fez-se furos de acordo com as dimensões do
eixo; (iv) finalizada as engrenagens, montou-se no sistema.
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Para represamento e montagem do sistema no rio: (i) fez-se a limpeza no local, encheu-
se e montou-se os sacos de areia, de modo a barrar a água e canalizar diretamente para a turbina;
(ii) instalou-se o sistema no rio, após terminar as fases de represamento (fig. 4G).
Para a coleta de dados: (i) através do ducto que sai da represa encheu-se o balde de 10 l e
registou-se o tempo que levou a encher o balde; (ii) mediu-se a altura bruta do rio, o diâmetro
e o comprimento do ducto; (iii) registou-se a rotação do eixo da turbina, a tensão e a intensidade
da corrente; (iv) registou-se os impactos causados durante a instalação, operação e desinstalação
do sistema.
Figura 1: Construção e instalação do sistema. A: Molde das pás; B: rotor pintado; C: turbina pronta; D:
estator com as bobinas; E: gerador finalizado; F: engrenagem de madeira; G: sistema instalado no rio.
4. Resultados
4.1. Viabilidade técnica ou de eficiência
Inicialmente, instalou-se o sistema no trecho do rio, sem as engrenagens e permaneceu
em funcionamento por cerca de 10 h/dia, com uma vazão média de 10 l/s e a altura de queda de
0,75 m. O sistema funcionou a 168 rotações por minuto, fornecendo uma tensão de 24,5 V e
corrente de 31 mA (tabela 3). Com esses parâmetros e nas condições experimentais, testou-se o
sistema, carregando uma bateria de chumbo/ácido de 3W.
Tabela 3: Dados colhidos com eixo do gerador ligado direto com eixo da Turbina.
Vazão Altura Tensão média (V) Corrente média Velocidade de
Data média (m) (mA) rotação (rpm)
(m3/s) Min Max Med Min Max Med Min Max Med
1/07 0,01 0,75 21,6 24,8 23,20 27,4 31,5 29,45 161 165 163
3/07 0,01 0,75 24,4 24,7 24,55 28 29,8 28,90 166 168 167
6/07 0,01 0,75 23,3 24,1 23,7 27,6 31,3 29,45 162 168 165
Média 0,01 0,75 - 24 - 29,30 - 165
A seguir, adicionou-se ao sistema, multiplicadores de velocidade (tabela 4) e duas engre-
nagens (tabela 5), mantendo-se constante a vazão e a altura de queda. Conseguiu-se aumentar
a produção, para uma tensão de 52 V e a corrente de 44 mA.
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PG 2136,4 mW
𝜂𝑇 = = 70,00 𝑊 ∙ 100 = 3, 05%
Pd
Isso significa que, o sistema extraiu cerca de 3% da energia disponível, considerando as
perdas na turbina hidráulica (por fricção, hidráulicas, volumétricas e mecânicas), as perdas por
transmissão (ao adicionar as engrenagens) e as perdas no gerador (por atrito).
A tabela 6 apresenta o resumo da avaliação do sistema antes e depois de serem adiciona-
das as engrenagens, mantendo-se constante a vazão média e altura de queda.
Tabela 6: Parâmetros técnicos no sistema hidroelétrico estudado.
Grandezas Rio Turbina Gerador Engrenagem Sistema
Tensão Média - - 24 V 49 V 49 V
Corrente Média - - 29,30 mA 43,60 mA 43,60 mA
Potência Média 73.50 W 64,30W 703,2 mW 49,10 W 2,14 W
Rendimento 100% 92% 1,1% 76,4% 3%
Frequência linear - 2,75 Hz 2,75 Hz 2,1 Hz 4,2 Hz
Velocidade de rotação Média - 165 rpm 165 rpm 126 rpm 252 rpm
No geral, as perdas no sistema hidroelétrico são inevitáveis. Segundo Caus e Michels
(2017, p. 3) “em turbinas hidráulicas, o rendimento representa as perdas verificadas nas dife-
rentes condições de operação, considerando que uma parte da potência disponível nos eixos
da turbina é dissipada em perdas internas e externas na própria turbina”. Assim sendo, a figura
6 apresenta a relação das perdas do sistema construído:
1 1 dólar norte americano (USD) equivale a 73,1 meticais (MTn). Fonte: Banco de Moçambique “http://www.banco-
moc.mz/fm_mercadosmmi.aspx?id=10” acesso em 31/10/2020
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5. Conclusões
A construção de um sistema hidroelétrico com turbina Kaplan usando material alternativo
e de baixo custo é sustentável, nas dimensões social, ambiental e económica, constituindo uma
forma viável para eletrificação rural e em comunidades isoladas.
O sistema construído apresenta condições para a geração de eletricidade nos pequenos
potenciais hídricos para acionar aparelhos de baixa potência, de uso comum e diário das popu-
lações, como rádio, televisão, carregadores de celular, lâmpadas e outros. O sistema pode ser
ainda usado para bombeamento de água, para uso doméstico, para irrigação e para piscicultura.
As principais perdas do sistema hidroelétrico estudado foram no gerador e as engrena-
gens. Pode-se obter maior rendimento na potência do gerador se adequar as rotações da turbina
e do eixo do gerador por meio do uso de engrenagens multiplicadoras de velocidade.
Não se verificou nenhum impacto negativo significativo durante a instalação, teste e des-
monte do sistema. Porém, para sistemas permanentes deve-se realizar estudos de impacto am-
biental detalhado para controle de possíveis desmoronamento das margens, prejuízos à fauna e
à flora locais, e alterações no regime hidráulico do rio.
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