Por Uma Lingustica Aplicada A Servio Da Educao Bsica

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Por uma Linguística Aplicada a serviço da Educação Básica

A construção dessa área da linguística deu-se com a busca por um método de ensino de
línguas estrangeiras. Agora, vamos estendê-la à educação como um todo.
Por Wandré de Lisbôa

Sempre que há o ensinado


não necessariamente haverá o aprendido.
Quando aparecer o aprendido,
ele não forçosamente será
o produto do ensinado.
Mas esse mesmo aprendido
poderá, em alguma ocasião,
ser sim o resultado do ensinado.
Surge então nesse cenário
a Krasheniana questão
de que aprender não é coisa
de ser uma coisa só:
há o aprender aprendido e
o aprender adquirido.
O primeiro, consciente,
e amante de regras
que nos deixam sem prévio sinal.
O segundo, adquirido,
se instala em nós despercebido
e se revela depois
na fluência
e na longa e
sustentada competência.
Daí já pensarmos,
como que por providência,
que nosso ensino
pode ter só o aprender
ou chamar o adquirido.
Mas esperar não devemos
porque quando ensinamos
para um desses dons de aprender
aquilo que foi desejado
nem sempre será o alcançado.
E também quando ensinamos
sem saber nosso endereço poderemos,
(e também poderão os alunos),
alcançar qualquer dos dois.
Se temos um dia
de esconder nosso amor pela forma,
nosso ensino
(e materiais e teses)
poderão nos revelar,
embora o aprendiz
possa nem perceber
qual dos dois aprenderes
ocorre dentro de si.
Muitas vezes dizemos
que "ensinamos assim"
(e é assim que deveras nos sentimos)
mas o que de fato ocorre
e o que dele enfim resulta
não é mesmo o que cremos,
(e o que em verdade queremos),
mas o que deveras fazemos.
Nossa prática nos trai!
Para que o aluno só possa ganhar
terá de tornar-se no jogo
nosso sócio e cúmplice leal.
Seja lá o caso que for,
mestre e aluno, igual,
podem crescer
na consciência e ação,
de tal forma
(e de não menos sentido!)
que eles possam ter , em parte,
o controle dessa arte.

José Carlos P. de A. Filho, in Linguística Aplicada, Ensino de Línguas e Comunicação, 2007


O surgimento da Linguística Aplicada
(LA) deu-se em parte pelo fato de que era
preciso transpor para sala de aula os avanços
da própria Linguística - pensamento corrente
ainda no século XX nos Estados Unidos e no
Brasil a partir da década de 60, com maior
ênfase nos idos de 70 e 80. Foi sob essa
condição que a LA veio à baila, isto é, sob a
condição de subalterna da Linguística Teórica,
ora vista como sinônimo (faces da mesma
área), ora como subárea (aquela que se
ocuparia com o ensino de Línguas
Estrangeiras), e ora como ponte entre a
Linguística e a Prática de ensino de línguas. Não é difícil ainda hoje alguns estudiosos de línguas
acreditarem nessa subserviência da Linguística Aplicada em relação à Linguística Teórica. Mas não
foi sob essa condição que ela ficou por muito tempo. Os primeiros linguistas aplicados se ocuparam,
decerto, do enfoque aplicador das teorias linguísticas. Contudo, hoje, eles redesenharam os
contornos científicos da LA e buscam defini-la como um campo próprio de pesquisa e de teorização.
Mas vejamos um pouco mais da História da LA.

Foi justamente no campo de ensino- aprendizagem de línguas, precisamente nos idos de 40


do século passado, que a Linguística Aplicada se constituiu como área de investigação, nos Estados
Unidos. E foi durante e após a Segunda Guerra Mundial que a LA tomou bojo de aplicação, daí porque
até hoje ela carrega a ideia de prática, de aplicação de uma teoria; no caso, das teorias linguísticas,
como se ela fosse a responsável pelos desdobramentos práticos das teorias linguísticas,
principalmente como se somente ela fosse a responsável pela didatização dos avanços das teorias
linguísticas para as salas de aula. Mas por que isso se deu assim?

Não se pode negar que sua construção como ciência começou realmente na área de ensino e
aprendizagem de línguas; era corrente a ideia de que as línguas serviam para a comunicação e
aproximavam ou distanciavam povos

No início da interface com a Linguística, acreditava-se, por exemplo, que o processo de


aquisição de línguas estrangeiras (LE) seria possível se houvesse emparelhamento com o processo
de aquisição da língua materna, somando-se a isso uma quantidade de vocabulário da LE e uma
grande frequência de uso de expressões dessa mesma LE, o que resultaria em condições suficientes
para que os soldados aprendessem a língua dos oponentes e, assim, descobrissem seus
estratagemas. Para fazerem isso, conhecimentos de Psicologia e de Linguística foram impelidos para
dentro dos manuais de ensino de línguas estrangeiras, ainda durante a Segunda Guerra, no afã de
ensinar aos soldados a língua do inimigo, o que historicizou, então, a Linguística Aplicada como
produtora de material de ensino de línguas estrangeiras, ideologizando até os dias de hoje o discurso
de que ela só dá conta disso.

Não se pode negar que sua construção como ciência começou realmente na área de ensino
e aprendizagem de línguas, como área de aplicação da ciência do século XX, a Linguística, detentora,
entre as ciências sociais, de um grande privilégio por conta de estudar cientificamente as línguas,
vistas como objetos de preocupação para todas as áreas; afinal, era corrente a ideia de que as línguas
serviam para a comunicação e que eram elas que aproximavam ou distanciavam povos,
conhecimentos, ideologias, políticas.

Ainda no passado, quando a LA foi considerada como o estudo científico do ensino de LE,
alçou seus aportes também para a área da tradução, para os estudos de tradução. Ambos os campos
- ensino/aprendizagem de línguas e tradução - foram os estudos precursores no campo de atuação
da Linguística Aplicada; ou melhor, no campo de atuação das aplicações da Linguística, pois foi assim
que tudo começou. Esse paradigma de compreensão da LA, como teoria de ensino de línguas e
voltada aos estudos de tradução, prolongou-se até o início dos anos 80, repercutindo em toda a
produção de material didático de ensino de línguas estrangeiras e de tradução da época. No Brasil,
não foi diferente. A acepção aplicadora voltou-se também para o ensino de LE. Por isso, não era difícil
encontrar cursos livres de ensino de inglês, os quais aplicavam esses conhecimentos ao ensino de
línguas estrangeiras, principalmente o inglês.

A INTERAÇÃO DA LINGUAGEM

Todo esse percurso aplicacionista da LA permaneceu


assim, mesmo com o advento da Linguística Transformacional.
O estruturalismo como paradigma científico influenciou também
a LA e disso decorreram duas compreensões acerca da
concepção de LA: (1) aplicava-se Linguística à descrição de
línguas maternas e (2) ao ensino de línguas estrangeiras. Os
livros acadêmicos de LA vinham divididos normalmente assim:
em uma primeira parte, tratava-se de Linguística Teórica; em
uma segunda, da aplicação primária de teorias linguísticas; e em Prática de ensino de línguas
"Antes, o foco estava no ensino de línguas
uma terceira, das técnicas para fazer LA ao ensino de línguas.
em si. Hoje, o conceito de linguística
Os estudiosos de línguas, os linguistas, começam a se aplicada, guarda-chuva do curso que
dividir entre continuar no campo de estudo da Linguística Geral ajudei a criar, é muito mais amplo. Naquele
ou irem para o campo fértil da Linguística Aplicada, pois tempo, a preocupação era o que e como
começavam a ver que a LA iniciava seu percurso como área ensinar. Hoje há outras perguntas: para
científica de pesquisa aplicada e não mais como aplicação da que crianças e jovens precisam do Inglês?
Linguística. Aliás, quanto a esse aspecto, o da Aplicação da Por que ele é necessário no currículo? [...]
Linguística, o foco encetou- se definitivamente para a construção Mais tarde, surgiu a abordagem
de uma Teoria de Ensino de Línguas ou ainda para problemas de comunicativa, por meio da qual não se
expressão como a afasia ou decorrentes do mal de Alzheimer, pode usar a primeira língua, só a
em que os terapeutas da fala fazem uso de conteúdos estrangeira. Essa foi a grande revolução do
linguísticos para beneficiarem-se no tratamento de pacientes; fim do século XIX. [...] Não existe um
enquanto à Linguística Aplicada coube a preocupação em método perfeito, até porque a eficácia
encaminhar soluções para questões reais de uso da linguagem depende do objetivo da pessoa ao
no contexto social. Como ciência aplicada autoconsciente, ela se aprender um idioma." Antonieta Celani,
desprende da Linguística ou mesmo de outras ciências de fundadora do Programa de Estudos Pós-
contato, o que não quer dizer que não recorra a elas quando Graduados em Linguística Aplicada.
necessária se faz a interface para solucionar um problema de
linguagem, usando conceitos e modelos dessas ciências; porém,
ao final, terá sempre um entorno paradigmático da própria LA, o que a torna uma área científica de
fato, levando universidades primeiramente dos Estados Unidos e depois do restante do mundo a
constituírem institutos voltados à LA já que havia pesquisadores com forte tendência para a área.
Mas, voltando à discussão de ser aplicação da Linguística, concorda-se, sim, que o
conhecimento das teorias linguísticas pode ser necessário; não é, no entanto, suficiente para
responder aos encaminhamentos de solução diante de problemas de interação na linguagem, sejam
eles em que contexto for/estiver. Em outras palavras, à LA interessam aqueles conceitos, aquelas
categorias da Linguística, ou de qualquer outra área do conhecimento, que contribuirão para
compreender melhor os dados que chegam aos olhos do pesquisador no que se refere à análise do
material coletado em uma dada situação. Por isso que o contorno teórico e prático da LA é outro na
atualidade. Esse contorno está bem maior e mais inclusivo do que o foi quando começou nas
tentativas de aplicação das teorias linguísticas. Vejamos isso melhor.

A Linguística Aplicada (LA), como a própria locução nominativa descreve, tem como propósito
examinar e propor, discutindo teórica e empiricamente o uso real da linguagem vista no seio social
em diferentes contextos; e não, somente, nas agências de ensino. Essa já é uma nova visão da LA
que se caracteriza por privilegiar questões em que a língua assume o papel central nas demandas
sociais nas quais o homem está como interlocutor. Ora, todos sabem que não é só na escola em que
há interações humanas e que nem é só nas aulas de línguas que usamos a linguagem. Logo, são
muitos os contextos e os usuários, o que reflete que são vastos e férteis os campos de estudo da LA.
A visão de que ela era a aplicação dos conceitos instituídos pelos linguistas teóricos já não tem mais
valia. O que se pensou sobre seus limites, fronteiras já não se pensa mais.

Se a investigação teórica e empírica de problemas reais em que a língua assume o papel


central é o ponto fulcral de estudo da LA, ela pode se desdobrar em várias outras áreas, podendo
inclusive ser aproveitada para ensino e aprendizagem de línguas, mas não somente para isso nem
mesmo privilegiadamente nessa área. Essa talvez tenha sido a sua sina, pois a LA parece ter derivado
de duas tradições: a europeia, exportada para os EUA por Roman Jakobson; e a norte-americana, de
abordagem antropológica, daí linguística antropológica, pois os usos de fala de informantes iletrados,
como se pensava naquele momento, constituiu a descrição para fazer análise cultural desses mesmos
informantes.
A cientificidade da LA não está mais atrelada à
Linguística. A LA é científica porque definiu seu arcabouço:
tem objeto de pesquisa, nomenclatura e procedimentos
explícitos e próprios de pesquisa. Mais do que na língua, os
Minorias Linguísticas
linguistas aplicados estão interessados no contexto, nos usos
São grupos linguísticos caracterizados por
da linguagem, na complexidade e multifacetagem de cada ato
utilizarem sua língua de forma diferente da
natural de linguagem, inseridos em condições sociais de uso.
tomada como padrão e oficial; por exemplo,
Esses últimos tornaram-se a própria teorização da LA,
pessoas que falam português incorretamente,
contribuindo com sua taxionomia e tradição. A própria
sendo vítimas de preconceito por não
Aplicação da Linguística, antes citada neste texto, hoje é uma
dominarem a norma culta do idioma.
modalidade de pesquisa da LA, sem ser a mais viçosa de
todas as suas metodologias.

A LA é interdisciplinar em muitos casos e busca nas várias ciências com que dialoga, inclusive
a Linguística, formas de ver diretamente o uso da linguagem na situação-problema em que se
manifestou a necessidade de investigação sistemática. De acordo com o momento em que pairam as
formas de investigação intelectual da época, a pesquisa poderá ser experimental ou mentalista,
quantitativa ou qualitativa. Os linguistas aplicados não abrem mão somente de que essa pesquisa
necessariamente precisa retratar a realidade, a organicidade complexa do problema em foco no seu
contexto de ocorrência, diretamente nos fenômenos em ação.

Voltada totalmente à pesquisa científica para evoluir no território teórico, a LA tem recorrido a
alguns temas que merecem tratamento sistemático, objetivo e explícito da parte dos linguistas
aplicados. É essa recorrência que nos faz compreender o raio de atuação na agenda da LA, que,
segundo Silva (2009), tem no ensino e aprendizagem de línguas, na aquisição de segunda língua e
nas interações orais os três primeiros lugares respectivamente mais recorrenciais nas pesquisas
internacionais na área de LA. E no Brasil, conforme Gomes (2009), tem na análise do discurso, na
metodologia de ensino de línguas estrangeiras e formação de professores e na aquisição de segunda
língua os três primeiros lugares mais reiterados nas pesquisas em LA na atualidade.

Para Davis e Elder (2004), a LA tem um "olhar


externo com o objetivo de explicar, ou até melhorar,
problemas sociais. Já a aplicação da Linguística olha
para dentro e não se preocupa em resolver problemas do
mundo real, mas explicar ou testar teorias sobre a própria Multilinguismo
O multilinguismo é a promoção ou o uso de
língua". Entre os principais campos da Linguística
Aplicada, conforme Davis e Elder, estão Minorias diversos idiomas em um falante ou em uma

Linguísticas, Prática de Linguagem para fins comunidade de falantes de uma língua. O


multilinguismo está se tornando um fenômeno
específicos, Educação Bilíngue, Formação de
social, graças à globalização e à necessidade
Professores de línguas, Comunicação Mediada por
Sistemas, o Multilinguismo, Lexicografia, cada vez mais frequente do domínio de mais um

idioma, exigência geralmente ligada ao mercado


Terminologia, Tradução, Linguística Forense,
de trabalho. A exposição a tantas línguas também
Alfabetização, Letramento etc.; todos campos que têm a
facilita o aprendizado e o interesse. Outro fator
linguagem e suas interações como foco da LA.
que explica o multilinguismo é a existência de
Analisados de perto esses campos, é possível
países com mais de uma língua oficial, ou mesmo
compreender o quão está comprometida a LA em
centenas de línguas regionais.
resolver problemas da vida cotidiana que envolvem o uso
da linguagem, analisando a própria linguagem em uso,
fugindo inclusive à ideia rasteira de que aos linguistas
aplicados só caberiam os estudos de aplicação da teoria linguística em sala de aula. A linguística
aplicada já foi usada para consultoria de empresas, quando o linguista norte-americano James
Giangola reuniu estes conceitos aos da Sociopsicologia e do senso comum para desenvolver seus
projetos para melhorar a comunicação entre a empresa e o cliente.

Isso comprova o fato de que mais do que restrito ao domínio do ensino e aprendizagem de
línguas, o campo de atuação de LA tem um raio bastante amplo, promissor e produtivo. Dados,
participantes, métodos de coleta, condições de coleta, condições dos participantes; enfim, muitas
variáveis entram na contagem geral da pesquisa em LA e vão delineando toda a metodologia a ser
aplicada naquele específico domínio de análise da Linguística Aplicada. O lugar pode ser uma sala
de aula ou mesmo um consultório, um júri ou mesmo em ambiente virtual, uma loja de vendas ou
mesmo uma salão de beleza - o que realmente importa, o que realmente interessa é quais
conhecimentos científicos são necessários para ver um fenômeno, que abordagem é mais própria
para analisar tal fenômeno, buscando ser o mais próximo possível da realidade, e a que objetivos o
pesquisador quer chegar ao final da pesquisa, numa tentativa não impossível de atar as pontas; não
as duas pontas, mas todas as pontas que porventura tenham ficado soltas, restaurando as intenções
no produto da pesquisa e mostrando como nesta estão aquelas.

A LA está intimamente ligada a problemas associados à linguagem e tem isso como orientação
metodológica. Relaciona- se a tarefas que a tornam científica e está centrada em projetos e guiada
para a demanda. Voltada para a análise da construção identitária dos participantes em contextos
institucionais variados, entre outros aspectos aqui já citados, a LA focaliza a língua sobre seu aspecto
pragmático e sociocomunicacional, apontando diretamente para o uso do código e não no código em
si como o faz a Linguística e todas as ciências linguísticas, consoante Moita Lopes.

Por tratar da linguagem da forma em que ela se dá, a LA acabou tornando-se uma abordagem
multidisciplinar, podendo reivindicar conhecimentos de várias áreas, e não só da Linguística, como já
foi explicado, para compreender fenômenos sociais que têm na língua o ponto fulcral e tentar delinear
sua própria demanda. Vê-se que a questão comunicativa é privilegiada nesse campo de estudo,
elucidando uma das quatro categorias amplas que vêm envolvendo a área de atuação da LA; no caso,
a categoria usos profissionais da linguagem, ao lado da categoria política e planejamento linguísticos,
da categoria comportamento linguístico desviante, e da categoria bilinguismo, multilinguismo e
multiculturalismo.

A Linguística Aplicada está intimamente ligada a


problemas associados à linguagem e tem isso como
orientação metodológica, centrada em objetos e guiada
para a demanda
Na história de James Giangola, citada anteriormente, a
comunicação entre empresa e cliente está sendo objeto de estudo
da LA, que por sua vez aciona conhecimentos de outras áreas,
além dos da Linguística, para compreender as necessidades do
cliente. Ao sugerir intervenções no modelo praticante de linguagem Lexicografia
da empresa com o cliente, ela também acaba por constituir novos É a técnica de redação e criação de
paradigmas que nem a Linguística nem a Psicologia tinham ainda dicionários de variados tipos: dicionários
percebido, porque ainda não tinham reunido seus aportes e bilíngues, tesauros, sinônimos, entre
aplicados em determinadas situações, friccionando essas ciências outros. Os primeiros dicionários eram
já aí postas e tirando proveito de seus conhecimentos na quase sempre bilíngues, servindo como
construção de seu próprio arcabouço teórico, assumindo para si as glossários para facilitar negociações e
descobertas dessas interfaces. dominações de culturas. Nos primeiros

dicionários monolíngues - os tesauros -,


Hoje já se sabe que a categoria afetividade é um dos o arranjo e organização não eram
elementos constituintes de qualquer produção de linguagem; no determinados pela ordem alfabética; as
entanto, por conta da supercompartimentalização do palavras eram agrupadas de acordo com
conhecimento, esse saber não saiu das amarras da Psicologia, e seu sentido ou ligação. Com as teorias
os professores de línguas sequer souberam que a motivação, a linguísticas e pesquisas, os dicionários
predisposição, a vontade, a necessidade de cada pessoa para vêm se expandindo em forma e
saber eram tão importantes quanto os tópicos de língua que tinham conteúdo.
que ensinar. Resultado: o conhecimento não se processava - aliás,
não se processa: afinal, "nada chega ao intelecto sem passar pela
emoção" (Lisbôa, 2004). É dessa complexidade que se tenta valer a Linguística Aplicada, pois os
linguistas aplicados compreendem que são vários os tecidos que envolvem todo o folheio, que
envolvem a compreensão humana; do contrário, não seria Complexus; e compreendem ainda que é
necessário não falsear essa organicidade que é real e complexa, alijando-a de seu contexto de
ocorrência, pois somente dessa forma é que os que professam o saber poderão contribuir para a
construção do conhecimento humano. E isso é válido para todas as áreas da inteligibilidade humana.
DESCENTRALIZANDO A LINGUÍSTICA

O caminho percorrido pela LA deixou-lhe signos de


maturidade. Na perspectiva da filosofia das ciências, fruto do
pensar contemplatório-reflexivo-crítico da realidade, os avanços James Giangola
da LA pretendem ser parte constitutiva do procedimento
racional do fazer aplicado, tornando o caminho do A paixão de Giangola pela língua portuguesa
conhecimento humano uma abertura permeada pelas mais é ainda mais antiga do que o trabalho de
diferentes tentativas de explicar a realidade; no caso, o uso que designer de interação. Morando em Salvador
as pessoas fazem da linguagem nos ambientes em que agem desde 2003, ele observa o uso que nós
por meio dela. fazemos da língua, "O brasileiro típico sofre
de um preconceito agudo contra a língua
Nos estudos iniciais desta específica área da LA, a falada, favorecendo um estilo rebuscado,
análise e a feitura de material didático voltado ao ensino de literário, 'chique'. O problema é que a
línguas, por exemplo, já contava com esse aspecto crítico, de linguagem formal escrita, justamente por ser
forma bastante modesta, ainda no ensino e aprendizagem de mais sofisticada e complexa, serve melhor
línguas 1 e 2, em países bilíngues. Mas não vingou. Agora, mais como leitura mesmo, para ser estudada e
para cá da Modernidade, pode- se dizer que como uma das saboreada no papel, sendo inapropriado
Ciências Sociais é fundamental investigar outras formas de para explicar por telefone por que a fatura
conhecimento num mundo cada vez mais multissemiótico e que não chegou, por exemplo", ele analisa.
colocou a linguagem como ponto fulcral. Isso se deu porque a
natureza da linguagem não é só semiótica mas também social, (fonte: Revista Conhecimento Prático Língua
histórica, antropológica, psicológica, matemática, política; ela Portuguesa, número 23)
mesma se complexificou, e os cientistas não conseguiram
perceber isso, deixando de observar acontecimentos do entorno
do objeto que eram fundamentais para a compreensão dele. E o deixaram porque a ciência sob a
qual estava a análise não via, não enxergava nada além daquilo que queria enxergar.

Assim como nas vidas humanas há diferentes perspectivas para um mesmo ponto de vista, o
linguista aplicado na Contemporaneidade precisa entender senão toda, mas parte da rede complexa
que contorna as questões fronteiriças de análise das práticas sociais da linguagem como o são, antes
de o serem linguísticas, práticas nas quais a linguagem desempenha papel central. Esse é o caminho
que se desenha para a LA na Contemporaneidade, apontando até mesmo formas relevantes de
repensar a vida social.

Porém, tudo isso não se deu e nem está se dando assim de forma tão rápida nem tão pacífica.
Uma série de fatores forçou a LA a abandonar a sua tendência inicial de utilizar as noções de língua
e de aprendizagem como fenômenos unicamente psicológicos, fechados na cabeça do
falante/aprendiz. Entre esses fatores, o surgimento da Linguística Funcional, o conceito de variações
linguísticas da Sociolinguística, o desenvolvimento dos estudos da Pragmática, o reconhecimento da
importância da Análise do Discurso, a reinserção da Semântica como ramo da Linguística, a
consolidação dos estudos culturais, os aspectos típicos do viver contemporâneo como o uso massivo
das tecnologias da comunicação, principalmente da internet e o superpoder da media, a
democratização, a urbanização, a realidade política e cultural do mundo pós-colonial, a ascensão do
inglês como língua franca internacional, as mudanças no conceito de pesquisa (porque mudou o
conceito de conhecimento) e o fortalecimento da Etnografia, as teorias desconstrutivistas de Michel
Foucault, Jacques Derrida e Gilles Deleuze, dentre outros, são elementos propulsores de
transformações da Linguística Aplicada. Nesse afã, estudiosos do mundo inteiro e não somente dos
EUA e da Inglaterra tem contribuído com a área da LA, num processo de descentralização do
poder/saber, constituindo uma tendência que se inicia no final de 1990, inclusive com linguistas
aplicados brasileiros.

Entre vários linguistas aplicados que fizeram outras


travessias até então impróprias aos linguistas aplicados estão
Pennycook e Luck, grandes contribuintes com a Linguística
Contemporânea, porque são capazes de adaptarem- se e interagir
em um mundo de rápidas transformações. Pennycook foi um dos
primeiros a defender que a LA também deveria se preocupar com
tópicos como ideologia, discurso, identidade, subjetividade,
diferença e poder. A linguística aplicada crítica de Pennycook
assume noções fundamentais das teorias transgressivas,
exercendo, concomitantemente, crítica a esses postulados.
Propõe o compromisso da linguística aplicada com um binômio: a
mudança social e a ética da diferença. Pode-se perceber no
primeiro termo do binômio a inspiração marxista e, no segundo, a
influência transgressiva.
Complexus
O que ele fez, em princípio, foi expandir o campo de Na definição de Edgar Morin: "A

interesse e apagar as fronteiras da "disciplina" (inexistindo complexidade (complexus: o que é


fronteiras delimitadas, cessa a natureza disciplinar). Pennycook tecido em conjunto) é um tecido de
pensa a Linguística Aplicada crítica interdisciplinarmente, como um constituintes heterogêneos
conhecimento circulante entre as disciplinas adjacentes, todas sob inseparavelmente associados: coloca
a perspectiva crítica: análise do discurso crítica (ou, para muitos, o paradoxo do uno e do múltiplo. [...] A
análise crítica do discurso), pedagogia crítica, pedagogia complexidade é efetivamente o tecido

antirracista, alfabetização crítica, estudos de gênero, estudos pós- de acontecimentos, ações, interações,
coloniais, política e planejamento linguístico, sociolinguística retroações, determinações, acasos,
crítica, abordagem crítica da tradução, avaliação linguística crítica, que constituem nosso mundo
a língua no ambiente de trabalho etc. fenomenal."

O australiano Allan Luke, juntamente com Peter


Freebody, desenvolveu um modelo das quatro características do leitor contemporâneo: a) quebrador
de códigos; b) criador de sentidos; c) usuário de textos; d) crítico de textos, de modo a promover uma
revisão no conceito de Alfabetização. Apesar de ser, contraditoriamente, mais uma categorização,
eles propõem um processo em que o alfabetizando não é apenas um espelho inerte diante do código
linguístico, mas um sujeito negociador, insurgente, crítico e criativo.

A Linguística Aplicada é comparada a um rio cujas margens


variam, sobem e descem, entram e saem - conforme esta área
avança e retorna, retorna e avança, de acordo com seus estudos e
raios de atuação
Não cabe, aqui, uma análise mais detalhada da
contribuição do pensamento de Allan Luke para a linguística
aplicada crítica, mas foi através dos seus estudos sobre
alfabetização e currículo na alfabetização, sob a perspectiva crítica
(a palavra "crítica" em Allan Luke está ligada ao político-ideológico,
ao econômico e à compreensão ampla das relações entre língua e
poder), que o autor atuou na aproximação (no passado, a
metodologia do ensino de línguas estrangeiras e a linguística
aplicada ao ensino de línguas estrangeiras eram rivais e não
aliadas) entre a pedagogia e a alfabetização críticas e a linguística
aplicada crítica/transgressiva. O cerne da questão é que, ao
auxiliar na transformação da pedagogia tradicional em pedagogia
crítica, Allan Luke também ajuda a demolir as fronteiras da
pedagogia, facilitando a interdisciplinaridade.

Buscamos, aqui, não só mostrar historicamente o nascer Allan Luke


e o crescer da Linguística Aplicada como também o seu
amadurecer. Daí o expediente simbólico do poema que abre este Allan Luke é educador, pesquisador e
artigo, pois, além de ele retratar o início da LA como Aplicação da teórico, estudando multiliterariedades,
Linguística (AL), quando faz referências por diversas vezes às linguística etc. Entre suas publicações
questões de ensino e iconiza o nome de Krashen - uma referência estão 14 livros por ele escritos ou
na área de ensino e aprendizagem de línguas estrangeiras - ele (o editados, além de mais de 140 artigos.
poema) também mostra semioticamente como não há fronteiras Formou-se Bacharel em Artes em
para a LA quando/porque formata o poema como se fosse um rio 1972 e obteve seu mestrado oito anos
cujas margens variam, sobem e descem, entram e saem, conforme mais tarde, na Universidade Simon
a cheia ou a seca desse rio. Ou, por outra perspectiva, conforme a Fraser, no Canadá. Juntamente com
LA avança e retorna, retorna e avança, de acordo com seus Peter Freebody, montou o Modelo de
estudos, com seus raios de atuação. Quatro Características Literárias

(tradução aproximada de Four


Resources Model, que literalmente
UMA CONTRIBUIÇÃO CRÍTICA
seria algo como "modelo de quatro
recursos"): a habilidade de decodificar
Essa forma de ver o rio não era nada diferente da forma de o texto; a capacidade de compreendê-
ver aprendizagem por Krashen, que via o ensino como algo a que lo, de apreender o significado;
o aluno deveria ser exposto gradativamente, sem subestimá-lo, habilidade pragmática, ou seja,
não muito diferente de como outro estudioso chamado Vygotsky literatura funcional, como preencher
achava. É essa interseção de campos do conhecimento de que a um questionário ou ler o jornal; e
LA na atualidade tem se valido para a construção de seus aportes competência crítica, caracterizada
na Contemporaneidade, inaugurando uma das novas áreas de pela capacidade de analisar um texto,
análise da LA, a Linguística Aplicada Crítica, Transgressiva ou como ao questionar sua veracidade
Antidisciplinar, Pennycook (2001); também chamada de (como o caso de spams).
Linguística Aplicada Indisciplinar, Moita Lopes (2006); ou ainda, de
Linguística Aplicada da Desaprendizagem, Fabrício (2006).
Sob qualquer desses nomes, a LA, agora, bem mais como Ciência Social do que como ramo
da Linguística Teórica, justamente por ver as linguagens como experimento da hipersemiotização por
que passamos como humanos, experimenta outras formas de conhecimento bem como outras formas
de pesquisa responsivas às questões sociais que envolvem todas as nossas interações simbólicas
de linguagem.

Todos esses nomes subversivos dados a essa nova forma de ver a LA não são à toa; há um
porquê. Ela é Transgressiva porque não se vê na necessidade de constituir-se como disciplina, mas
como área de interseção, de consorciação, ousando fazer diferente, buscando uma compreensão
para a complexidade com que se dão as relações humanas constituídas pela linguagem, pois os
paradigmas que aí estão na têm dado conta de análises convincentes dos acontecimentos, porque
continuam separando, analisando de forma unilateral, monológica, mostrando-se inúteis na
inteligibilidade do mundo em que vivemos, um mundo Pós-Colonial, como o diz Stuart Hall (1996),
em que as fronteiras estão diluídas e são líquidas. Enfim, fronteiras que ultrapassam os limites das
áreas, as fronteiras disciplinares, o que a constitui uma Linguística Aplicada Transdisciplinar.

Essa terceira virada da Linguística Aplicada compreende que a interseção de outros campos
de estudo contribuirá na análise das questões de linguagem que são foco da LA, sem descartar as
teorizações da Linguística Geral, mas acreditando que o entrecruzamento de outras áreas pode
também contribuir com a análise. Davis e Elder, no entanto, lamentam essa visão mais macro que vai
de encontro àquela que eles ajudaram a fundar, porque são contrários a essa natureza indisciplinar,
transgressiva da LA. A inexistência de um território fixo, ou mesmo de um campo de estudos
específico tanto a torna leve e maleável (aqui, um tanto no sentido de adaptável), característica do
conhecimento contemporâneo, quanto a expõe a uma competição sutil entre as áreas do
conhecimento por espaço e status no mundo acadêmico atual.

A LA seria, então, uma articulação não- dogmática de


conhecimentos de diversas áreas adjacentes, sob a perspectiva
crítica, para elucidar questões no campo da aplicação do
conhecimento linguístico, sempre sob a perspectiva da intervenção
social. Essa natureza espectral, na prática, reverte-se em uma
leveza que, hoje, parece ser mais valiosa do que a resistência,
Peter Freebody
qualidade perigosamente próxima da solidez, em tempos de tanta
mobilidade.
Nascido no ano de 1950, é pesquisador

da Faculdade de Educação e Serviço


O outro ponto seria reconhecer suas próprias limitações, ou
Social e membro do Centro de Pesquisa
seja, uma espécie de condenação à condição de conhecimento
CoCo, da Universidade de Sidney, na
desterritorializado. Isto implica reconhecer que a LA não pode nem
Austrália. Sua pesquisa inclui educação
deve trabalhar sozinha. Essa condição, no entanto, não significa
literária, interação em sala de aula e
timidez ou abastardamento em face das disciplinas adjacentes,
métodos qualitativos e quantitativos de
mais autônomas e definidas. A Linguística Aplicada
pesquisa. Seu doutorado foi adquirido na
Crítica (LAC) deve ter os seus tentáculos livres para intervir como
Escola de Educação da Universidade de
mobilizadora de outros saberes, na resolução de problemas no
Illinois, nos Estados Unidos.
amplo espaço das questões linguísticas. O que os linguistas
aplicados críticos não podem deixar de perseguir é sempre buscar
o comprometimento fundamental com o binômio: a mudança social e a ética da diferença. Esse ideal
é a sua ideologia mais marcante a qual deve orientá-la para transitar no mundo do conhecimento pós-
moderno.
Quanto às perspectivas futuras, nada se pode afirmar, pois, assim como a União Europeia, a
abolição de fronteiras não é uma prática histórica da humanidade, ainda mais em se tratando de
ciências. Para esse modo livre de pensar e viver é preciso fundar algo que nunca houve antes; afinal,
nem mesmo o artefato - o texto - é o mesmo, tampouco o olhar; nem poderia, pois os comportamentos
verbais mudaram sensivelmente e assim o será pela justa explicação de que as próprias relações
humanas também mudam, necessitando de novos desenhos
simbólicos para condensar a arguição.

A inexistência de um território fixo, ou mesmo de um campo


específico de estudos, torna a Linguística Aplicada maleável,
adaptável, característica do conhecimento contemporâneo

Num mundo em que convivem ideias paradoxais, a LAC


pode contribuir muito com as pessoas na medida em que pode dar-
lhes respostas às suas inquietações, às suas angústias, aos seus
desejos. A transdisciplinaridade pode ser a saída para a LA, uma
vez que, como diz Vieira: "A transdisciplinaridade diz respeito ao
estudo de um objeto de uma mesma e única disciplina por várias
disciplinas ao mesmo tempo. Dessa forma, o estudo do objeto
sairia enriquecido pelo cruzamento entre as diversas disciplinas e
o conhecimento desse objeto em sua própria área seria
aprofundado." Ficamos com esse pensamento, ao final. Mas não
Stuart Hall
só com esse.

A LA continua com aquela forte visão de ensino de línguas Stuart Hall nasceu em 1932, em

como o fora em seu início. Outras áreas de pesquisa também estão Kingston, Jamaica. Atualmente, mora no

a todo vapor, entre elas a Análise do Discurso, a Aquisição de Reino Unido. Sua contribuição para os

Segunda Língua, as questões sobre Fluência e Precisão, estudos de cultura e meios de

Letramento. A LA parece ter dado conta de ser a área que, em se comunicação é imensa, recebendo o

tratando do ensino de língua, investiga e publica muito acerca de crédito por expandir os estudos sociais

materiais, de metodologias, de atividades de ensino. O nome para abranger debates de raça e gênero.

Educação Linguística parece ter sido adotado pelos linguistas Juntamente com Richard Hoggart e

aplicados para tratar os estudos sobre ensino e aprendizagem; e Raymond Williams, Hall fundou uma

pela própria Linguística Teórica pelo mesmo motivo. Os escola de pensamento que hoje é

pesquisadores que adotam o termo e que estão afiliados a uma conhecida como Estudos Culturais

dessas duas áreas de interface fazem-no acreditando no real Britânicos, ou ainda Escola de Estudos

dessa dimensão exponencial dos estudos da linguagem em ação. Culturais de Birmingham.

A Linguística Teórica foi invadida por tópicos antes jamais


pensados por ela como temas como os estudos sobre o discurso, o texto e a própria aprendizagem
humana; daí, por exemplo, a Linguística Cognitiva; e a Linguística Aplicada se aproximou ainda mais
da área das ciências sociais, tratando também ao lado delas, de identidade, de territorialidade, de
cognição, de poder, de políticas, de ideologias. Concordamos com Beck, que diz que "As coisas
podem estar ocorrendo da mesma maneira, tanto para os pesquisados como para [...] os
pesquisadores: eles não têm alternativa. Entretanto, em seu desamparo, ajudam- se mutuamente a
permanecer com as muletas conceituais do passado, ainda que percebam claramente a fragilidade
dessas muletas antiquadas."
Os discursos das ciências, de todas as ciências, estão a
serviço das intenções humanas tanto quanto as conversas
informais, as paqueras. São-no construções sociais que também
escolhem, politizam, nesse caso, as formas de produção de
conhecimento, excluindo com isso outras formas, já que escolhem. Linguística Aplicada Crítica
Do princípio, isto é, de Aplicação da Linguística à Linguística "Quando me refiro a uma linguística
Aplicada (Primeira Virada), passando pela Linguística Aplicada em crítica, quero, antes de mais nada, me
contextos institucionais diferentes dos contextos escolares referir a uma linguística voltada para
(Segunda Virada) até chegar à Linguística Aplicada questões práticas. Não é a simples
Transdisciplinar (Terceira Virada), a LA está se expondo a riscos, aplicação da teoria para fins práticos,
porque está lidando com o Outro em sua própria perspectiva, vem mas pensar a própria teoria de forma
lidando com fronteiras, com outras e novas epistemologias. O certo diferente, nunca perdendo de vista o fato
é que todo esse Giro Linguístico só comprova o fato de que a LA de que o nosso trabalho tem que ter
está buscando adaptar-se ao mundo global e às histórias locais. alguma relevância. Relevância para as
Uma atitude muito própria daquela que dá (ou já deu) os primeiros nossas vidas, para a sociedade de modo
passos para tornar-se uma ciência autônoma, mas sem deixar de geral."
imbuir-se de outros e de novos paradigmas. Kanavillil Rajagopalan

Por tudo isso aqui defendido, estamos entre aqueles


estudiosos da linguagem que acreditam que a aproximação da
Linguística Aplicada na Educação Básica possa contribuir de fato
com as demais áreas do conhecimento agenciadas desde os
primeiros anos escolares até aos mais posteriores níveis de
escolarização. Diferentemente do que fez a Linguística Teórica, que
se enclausurou em seus estudos, a Linguística Aplicada tem em seu
veio o firme propósito de avaliar por meio da linguagem todos os
tipos de relações tecidas pelos humanos, podendo ser relações de
ensino, de aprendizagem, de amizade, de poder, de namoro, de
compra, de venda, de crença, de gênero; enfim, de todas as
múltiplas e multiplicáveis relações que nós, humanos,
estabelecemos de acordo com nossos propósitos sociodiscursivos.

Abramo-nos, Professores, para mais esta universalizante


possibilidade de abordar a ciência que abordamos em sala de aula.

Este texto foi ligeiramente modificado para a Conhecimento Prático: Lingua Portuguesa. Originalmente, ele está na tese de

doutoramento em Linguística Geral e Aplicada recentemente defendida pelo Prof. Wandré de Lisbôa, em julho de 2011, na
Espanha. Além de estar aqui dirigido a todos os professores, com inserção de vocativos plenos, outras partes do original

foram subtraídas, posto que consta de um capitulo de mais de 30 páginas da tese.

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