Abordagem Fisioterapeutica Ao Portador D

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RELATO Revista Brasileira de Ciências da Saúde

Report DOI:10.4034/RBCS.2012.16.s2.15 Volume 16 Suplemento 2 Páginas 109-114 2012


ISSN 1415-2177

Abordagem Fisioterapêutica ao Portador de


Lúpus Eritematoso Sistêmico: Relato de Caso
Physiotherapeutic Approach to Patients with Systemic Lupus
Erythematosus: A Case Report

THAMYLES CANDEIA ALVES1


MARIA DE FÁTIMA ALCÂNTARA BARROS2
ELIANE ARAÚJO DE OLIVEIRA3
MARIA CLAUDIA GATTO CARDIA4
NEIDE MARIA GOMES DE LUCENA5
STENIO MELO LINS DA COSTA6
ANTONIO GERALDO CIDRÃO DE CARVALHO2

RESUMO ABSTRACT
Objetivo: Analisar o efeito do tratamento fisioterapêutico e Objective: To analyze the effect of physiotherapy and its
os seus benefícios na evolução clínica do lúpus eritematoso benefits on the clinical outcome of lupus erythematosus.
sistêmico. Material e Métodos: Trata-se de um relato de caso Material and Methods: This is a case report of a patient with
de uma paciente com diagnóstico de lúpus eritematoso systemic lupus erythematosus. The patient was followed at
sistêmico. A paciente foi atendida nas dependências da Clínica the premises of the Department of Clinical Physiotherapy,
Escola de Fisioterapia da Universidade Federal da Paraíba, Federal University of Paraíba, from August to December 2011,
no período de agosto a dezembro de 2011, em sessões com in sessions lasting approximately one hour, twice a week.
duração de aproximadamente uma hora, duas vezes por Results: The patient treated showed considerable
semana. Resultados: A paciente acompanhada apresentou improvement in the range of joint movement, edema, pain
considerável melhora da amplitude de movimento articular, symptoms, and hence in quality of life. Conclusion: The
do edema, da sintomatologia dolorosa e, consequentemente, physiotherapy resources used in this case report, such as
da qualidade de vida. Conclusão: Os recursos general and respiratory kinesiotherapy, TENS, hydrotherapy,
fisioterapêuticos empregados neste relato de caso, como a lymphatic drainage, gait coordination and balance exercises,
cinesioterapia geral e respiratória, a TENS, a hidroterapia, a among others, provided the patient with a favorable clinical
drenagem linfática, os exercícios de coordenação da marcha evolution.
e do equilíbrio, dentre outros, propiciaram uma evolução
favorável do quadro clínico da paciente.

DESCRITORES DESCRIPTORS
Lúpus. Lúpus eritematoso sistêmico. Fisioterapia. Lupus. Systemic Lupus Erythematosus. Physiotherapy.

1 1
Aluna do Curso de Fisioterapia da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), pesquisadora do Laboratório de Fisioterapia em Saúde Coletiva –
LabFISC do Núcleo de Estudos e Pesquisas Epidemiológicas em Fisioterapia e Saúde – NEPEFIS do Centro de Ciências da Saúde (UFPB), João
Pessoa/PB, Brasil.
2 2
Professora Ph.D. do Departamento de Fisioterapia da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), pesquisadora Laboratório de Fisioterapia em Saúde
Coletiva (LabFISC)/NEPEFIS (UFPB), João Pessoa/PB, Brasil.
3 3
Professora Doutora do Departamento de Fisioterapia da UFPB, pesquisadora do Laboratório de Estudos do Envelhecimento Humano (CCS/UFPB),
João Pessoa/PB, Brasil.
4 4
Professora Mestre do Departamento de Fisioterapia da UFPB, pesquisadora do Laboratório de Ergonomia e Saúde (LABES)/NEPEFIS, doutoranda
da Universidade de Granada (UGR) e membro do grupo CTS-545 (plano Andaluz de investigação – Espanha), João Pessoa/PB, Brasil.
5 5
Professora Pós-Doutora do Departamento de Fisioterapia da UFPB e pesquisadora LABES/NEPEFIS (UFPB), João Pessoa/PB, Brasil.
6 6
Professor Doutor do Departamento de Fisioterapia da UFPB, pesquisador do Laboratório de Gestão e Serviços de Saúde (LAGESS)/NEPEFIS,
(UFPB), João Pessoa/PB, Brasil.
7 7
Professor Ph.D. do Departamento de Fisioterapia da UFPB, pesquisador Laboratório de Fisioterapia em Saúde Coletiva (LabFISC)/NEPEFIS
(UFPB), João Pessoa/PB, Brasil.

http://periodicos.ufpb.br/ojs2/index.php/rbcs
ALVES et al.

O
Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES) é uma o caso de uma paciente com LES e analisar o efeito do
doença autoimune, multissistêmica, tratamento fisioterapêutico e os seus benefícios na
caracterizada por hiperatividade do sistema evolução clínica e física da doença.
imunológico e pela produção de autoanticorpos
(PÓVOA, 2010). Em estudos norte-americanos, a
proporção de pessoas com LES é de 5,7 a 7,6 casos/100 RELATO DE CASO
mil habitantes (SANTO ANTONIO, YAZIGI, SATO,
2004). No Brasil, existem poucos estudos epidemio- Paciente do gênero feminino, com 51 anos de
lógicos realizados nesta área, no entanto, de acordo idade, casada, natural do Rio de Janeiro-RJ, compareceu
com VILAR, RODRIGUES, SATO (2003) a incidência na Clínica Escola de Fisioterapia da Universidade Federal
encontrada na Cidade de Natal (RN) foi de 8,7 casos/ da Paraíba (UFPB) com encaminhamento para tratamento
100 mil habitantes. A doença incide diferentemente entre fisioterapêutico, tendo como diagnóstico lúpus erite-
os sexos, sendo mais frequente nas mulheres jovens em matoso sistêmico associado com hipertensão arterial e
fase reprodutiva, numa proporção de nove a dez cardiomegalia, queixando-se de dor no quadril, nos
mulheres para cada homem (BORBA et al., 2008). joelhos e nos tornozelos, sendo de maior intensi-dade
De etiologia não totalmente esclarecida, o no dimidio direito.
desenvolvimento da doença está relacionado a fatores Sinais vitais: PA de 150x100 mmHg; FC de 90
genéticos, hormonais, ambientais e estresse psicoló- bpm; FR de 16 rpm, com temperatura corporal aumentada
gico, sendo que este último fator é considerado pelos (37°C) e IMC de 32,4, classificado como obesidade grau
pesquisadores, como importante desencadeador da I, fazendo uso de Reuquinol 400 mg e Losartana
patologia e de suas agudizações (BORBA et al., 2008). potássica 50 mg.
O LES pode afetar vários órgãos, sendo que as Exame físico: Paciente com expansibilidade
articulações, a pele e os rins são os mais comprometidos. torácica normal e com padrão respiratório misto, tendo
Pode atingir ainda o sistema cardíaco, o pulmonar, o apresentado na ausculta murmúrio vesicular em ambos
neuropsiquiátrico, o gastrointestinal e o hematológico os hemitórax, sem ruídos adventícios. Na inspeção
(PÓVOA, 2010). O tratamento deve ser individualizado estática, ausência de (Figura 1), pele ressecada e
para cada paciente, dependendo dos órgãos ou dos presença de alterações vasculares (Figura 2), pilificação
sistemas comprometidos e da gravidade dos sintomas diminuída, cifose torácica, hiperlordose lombar,
(BORBA et al., 2008). escápulas abduzidas, ombros em rotação interna, pés
Os pacientes que realizam tratamento fisiote- planos e em pronação. À palpação, referiu dor na face
rapêutico associado ao farmacológico, além de medial dos tornozelos (com maior intensidade no
orientações sobre medidas preventivas e reabilitadoras, tornozelo direito), presença de edema nos joelhos
apresentam quadro mais estável da doença, minimizando (Figura 3) e nos tornozelos, com o sinal de cacifo positivo
os sintomas, diminuindo os riscos de crises e mantendo (Figura 4). Foi constatada diminuição na amplitude de
as funções corporais normais e uma boa qualidade de movimento dos membros inferiores, na força muscular
vida. dos membros superiores e inferiores, além de alterações
Em face da pequena representatividade de na marcha e no equilíbrio corporal.
estudos fisioterapêuticos em portadores de LES e das A avaliação da fadiga muscular e da dor foi reali-
diversas complicações advindas da patologia e de sua zada utilizando-se os instrumentos Fatigue Severity Scale
evolução, o presente trabalho tem como objetivo relatar (FSS) e a Escala visual analógica (EVA), respectivamente.

Figura 4. Sinal de cacifo positivo


Figura 3. Presença
Figura 2. Alterações Figura 1. Lesão de edema
vasculares eritematosa em asa de
borboleta ou vespertílio

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Foram utilizados a Escala SLEDAI (Systemic Lupus para os membros inferiores – MMII, especialmente para
Erythematosus Disease Activity Index) e o Questionário a articulação dos tornozelos (15 minutos), estimulação
SF-36 para a avaliação da qualidade de vida. elétrica nervosa transcutânea (TENS) (15 minutos),
Os atendimentos fisioterapêuticos foram exercícios de alongamento (10 minutos), cinesioterapia
realizados na Clínica Escola de Fisioterapia da UFPB, respiratória (10 minutos), cinesioterapia ativa livre e
duas vezes por semana, no período de 18/08 a 13/12/ resistida para os segmentos apendiculares superiores e
2011, totalizando 18 sessões. Utilizou-se a seguinte inferiores (10 minutos), exercícios de coordenação da
conduta: turbilhão para membros inferiores com duração marcha e do equilíbrio corporal (10 minutos) e exercícios
de 15 minutos (temperatura de 32°C), drenagem linfática gerais de relaxamento (10 minutos).

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ALVES et al.

DISCUSSÃO

Este relato de caso analisa o efeito do tratamento diferentes condições climáticas, o que pode influenciar
fisioterapêutico e os seus benefícios em uma portadora no aparecimento da doença e de suas complicações
de LES, cuja doença é de origem inflamatória crônica do (NAKASHIMA et al., 2011).
tecido conjuntivo, multissistêmica, de natureza Quanto ao sexo da paciente do estudo, GOMES
autoimune. Estudos com portadores de LES são et al., (2007) relataram que a doença é mais prevalente
escassos no Brasil, cuja população apresenta grande no gênero feminino em idade fértil, na proporção de
miscigenação racial e cultural, além de regiões com 10:1 em relação ao gênero masculino.

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No tocante à amplitude de movimento articular, atingiu o escore 56, correspondendo a um quadro de


a paciente apresentou os parâmetros dos membros fadiga grave. No entanto, ao final da intervenção
superiores (MMSS) dentro da normalidade. Por outro verificou-se uma melhora considerável do quadro, tendo
lado, o comprometimento verificado inicialmente nas a fadiga alcançada o escore 44, equivalendo a uma
articulações dos MMII foi amenizado ou restabelecido fadiga moderada. PERES, TEDDE, LAMARI (2006)
no decorrer da intervenção, como mostra a Tabela 1. No realizaram um estudo de revisão bibliográfica sobre a
estudo de VALIM (2006) foi demonstrado que os fadiga nos portadores de LES. Os autores concluíram
portadores de LES apresentam limitações para realizar que o tratamento fisioterapêutico, por meio da
exercícios físicos, em decorrência do acometimento das cinesioterapia aeróbica e de técnicas de relaxamento,
articulações, gerando dor, fadiga e diminuição da foi um recurso relevante para os portadores de LES. Por
amplitude articular. outro lado, a artrite que acomete os membros inferiores
Pelos dados da perimetria (Tabela 2), constatou- dos pacientes com LES é um fator impeditivo para a
se que o edema nos MMII apresentou uma redução tolerância ao exercício, ocasionando hipotrofia e
importante com a terapêutica empregada. De acordo com fraqueza muscular (DALTROY et al., 1995). GOMES
estudo realizado por OLIVEIRA, CÉSAR (2008) o (2007) relata que nos usuários com LES existe uma
método de drenagem linfática manual diminuiu o volume tendência à diminuição da atividade física em resposta
dos MMII tratados, drenando os líquidos excedentes a dor, acarretando perda de força e de resistência
que banham as células e mantendo o equilíbrio hídrico muscular, debilitando as articulações e potencializando
dos espaços intersticiais, a fim de conter o edema em a doença.
um nível confortável, após a aferição da perimetria. No que diz respeito à qualidade de vida, os
Os portadores de LES, geralmente, apresentam domínios que expressaram maior diferença na pontuação,
rigidez matinal, acompanhada de dor e de compro- entre o início e o final da intervenção fisioterapêutica,
metimento nos quadris e tornozelos, semelhantemente foram os aspectos físicos, a sintomatologia dolorosa e
a artrite reumatóide. A estimulação elétrica nervosa a capacidade funcional com diferença de 50, 47 e 30
transcutânea (TENS) é um recurso fisioterapêutico pontos respectivamente. Dentre outras manifestações
amplamente utilizada no controle da dor crônica para clínicas, as lesões hiperemiadas e dolorosas na região
estimular as fibras nervosas que transmitem sinais ao plantar, a mialgia, o acometimento articular (CARVALHO
encéfalo. Os impulsos transmitidos de forma transcu- et al., 2005) podem interferir na qualidade de vida nos
tânea estimulam as fibras A, mielinizadas, transmissoras períodos de atividade do LES, como foi observado neste
de informações ascendentes proprioceptivas estudo. NOGUEIRA et al., (2009) verificaram que no
(TONELLA, ARAÚJO, SILVA, 2006). Os exercícios ativos contexto geral, os domínios mensurados pelo SF-36,
proporcionam potência muscular, promovendo aumento tiveram um impacto positivo na qualidade de vida de
do fluxo sanguíneo (hiperemia), conferindo uma maior suas pacientes, com a utilização da cinesioterapia.
amplitude de movimento articular. Os nervos periféricos CARVALHO et al., (2005) avaliaram o efeito dos
estimulam o funcionamento da transmissão de impulsos exercícios físicos na qualidade de vida de pacientes com
nervosos nas placas motoras, proporcionando melhora LES e constataram mudanças benéficas na capacidade
no equilíbrio, na coordenação dos movimentos e na funcional, no estado geral de saúde, na vitalidade e nos
diminuição da dor (NOGUEIRA et al., 2009). No caso aspectos social e mental.
acompanhado, observou-se que a cinesioterapia e o A Escala SLEDAI (Systemic Lupus
recurso eletroterapêutico tiveram um impacto positivo Erythematosus Disease Activity Index) tem sido
na evolução da paciente. amplamente utilizada em pesquisas científicas e descrita
Em relação à sintomatologia dolorosa aferida pela como instrumento útil e apropriado para avaliação e
Escala EVA, verificou-se, inicialmente, que a dor complementação da coleta de dados em pacientes com
referente ao estado geral e da articulação do tornozelo LES. Em relação à Escala SLEDAI, resultados não expres-
foi classificada como intensa, enquanto a do quadril e a sados, a paciente do estudo apresentou pontuação em
do joelho foi referida como moderada. Após a relação à cefaleia lúpica, a artrite, a miosite, a alopecia e
intervenção fisioterapêutica, a dor foi avaliada como a síndrome orgânica cerebral, pontuada no subitem
moderada para o estado geral e para todas as articulações insônia e diminuição da capacidade psicomotora,
analisadas, evidenciando que a sintomatologia dolorosa indicando atividade severa da doença, de acordo com o
foi reduzida por meio dos recursos terapêuticos que recomenda COOK et al., (2000). No decorrer do
empregados. tratamento verificou-se uma melhora nos escores da
No que concerne à fadiga muscular, aferida pela paciente, especialmente para a cefaleia lúpica, os sinais
Fatigue Severity Scale, na avaliação inicial, a paciente de inflamação e dor na articulação, a dor e fraqueza

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ALVES et al.

muscular e o aumento da capacidade psicomotora, linfática, os exercícios de coordenação e do equilíbrio e


indicando uma atividade moderada da doença. reeducação da marcha, dentre outros meios, foram de
fundamental importância para a manutenção ou aumento
da força muscular e da amplitude de movimento articular,
CONSIDERAÇÕES FINAIS da redução de edemas, do desenvolvimento da marcha
e da manutenção do equilíbrio, da redução da dor e,
Pelos resultados deste relato de caso, os recur- consequentemente, da qualidade de vida da paciente
sos fisioterapêuticos utilizados, como a cinesioterapia do caso analisado.
geral e respiratória, a hidroterapia, a TENS, a drenagem

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