Para o Lobo - Hannah Whitten

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Sumário

Capa
Folha de rosto
Sumário
1
2
3
4
5
6
Interlúdio Valleydiano I
7
8
Interlúdio Valleydiano II
9
10
Interlúdio Valleydiano III
11
12
13
14
Interlúdio Valleydiano IV
15
16
Interlúdio Valleydiano V
17
18
Interlúdio Valleydiano VI
19
20
21
22
23
24
Interlúdio Valleydiano VII
25
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29
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35

Epílogo
A história continua em...

Agradecimentos
Sobre a autora
Créditos
Créditos
Parada, Red observava e esperava enquanto o medo incendiava seu
peito.

O sangue tocou o tronco branco e ali parou. Então a árvore o absorveu


engolindo-o como solo árido sorvendo água.
Tropeçando em amontoados de folhas, Red recuou, tomando distância da
árvore até colidir com outra, esta também afilada e esbranquiçada, também
coberta por fungos escuros. O saiote do vestido se enroscou nos arbustos
mais baixos e Red rasgou o tecido para se libertar, o ruído soando
sobrenaturalmente alto na floresta silenciosa.
Aquele som outra vez, reverberando do chão da mata enquanto folhas se
agitavam e trepadeiras se esticavam e gravetos estalavam e se fundiam em
algo parecido com uma voz — algo que ela não podia ouvir, mas que podia
sentir. Movia-se com violência vindo de seu peito, proveniente do fragmento
de magia que ela mantinha sufocado sob extraordinário esforço.
Finalmente.
Houve apenas uma por tempo demais.
Parada, Red observava e esperava enquanto o medo incendiava seu
peito.

O sangue tocou o tronco branco e ali parou. Então a árvore o absorveu,


engolindo-o como solo árido sorvendo água.
Tropeçando em amontoados de folhas, Red recuou, tomando distância da
árvore até colidir com outra, esta também afilada e esbranquiçada, também
coberta por fungos escuros. O saiote do vestido se enroscou nos arbustos
mais baixos e Red rasgou o tecido para se libertar, o ruído soando
sobrenaturalmente alto na floresta silenciosa.
Aquele som outra vez, reverberando do chão da mata enquanto folhas se
agitavam e trepadeiras se esticavam e gravetos estalavam e se fundiam em
algo parecido com uma voz — algo que ela não podia ouvir, mas que podia
sentir. Movia-se com violência vindo de seu peito, proveniente do fragmento
de magia que ela mantinha sufocado sob extraordinário esforço.
Finalmente.
Houve apenas uma por tempo demais.
Para aqueles que reprimem a raiva tão fundo que ela é
incapaz de sair, para os que se sentem afiados demais para
tocar em algo delicado, para aqueles que estão cansados de
carregar mundos nas costas.
Para aqueles que reprimem a raiva tão fundo que ela é
incapaz de sair, para os que se sentem afiados demais para
tocar em algo delicado, para aqueles que estão cansados de
carregar mundos nas costas.
Você corre como uma manada de veados reluzentes, e eu sou escuridão e
sou floresta.

Rainer Maria Rilke


Você corre como uma manada de veados reluzentes, e eu sou escuridão e
sou floresta.

Rainer Maria Rilke


Para escapar da sentença dos Reis, eles fugiram para as longínquas regiões de
Wilderwood. Juraram que, se a floresta lhes oferecesse abrigo, a ela dariam
tudo o que tinham enquanto suas linhagens continuassem, que a deixariam
crescer dentro de seus ossos e lhe ofereceriam socorro. Foi um juramento de
sangue dado de bom grado, símbolo de sacrifício e conexão.
Wilderwood aceitou o pacto, e eles permaneceram dentro de seus limites a
fim de defendê-la e protegê-la das coisas que sob ela existiam. E toda
Segunda Filha e todo Lobo que viessem depois deveriam aderir ao pacto e ao
chamado e à Marca.
Na árvore onde fizeram o juramento, as palavras apareceram, e guardei a
casca onde está escrito:

A Primeira Filha é para o Trono.


A Segunda Filha é para o Lobo.
E os Lobos são para Wilderwood.

Tiernan Niryea Andraline, da Casa Andraline,


Primeira Filha de Valleyda, Ano Um do Pacto
Para escapar da sentença dos Reis, eles fugiram para as longínquas regiões de
Wilderwood. Juraram que, se a floresta lhes oferecesse abrigo, a ela dariam
tudo o que tinham enquanto suas linhagens continuassem, que a deixariam
crescer dentro de seus ossos e lhe ofereceriam socorro. Foi um juramento de
sangue dado de bom grado, símbolo de sacrifício e conexão.
Wilderwood aceitou o pacto, e eles permaneceram dentro de seus limites a
fim de defendê-la e protegê-la das coisas que sob ela existiam. E toda
Segunda Filha e todo Lobo que viessem depois deveriam aderir ao pacto e ao
chamado e à Marca.
Na árvore onde fizeram o juramento, as palavras apareceram, e guardei a
casca onde está escrito:

A Primeira Filha é para o Trono.


A Segunda Filha é para o Lobo.
E os Lobos são para Wilderwood.

Tiernan Niryea Andraline, da Casa Andraline,


Primeira Filha de Valleyda, Ano Um do Pacto
1

Duas noites antes de ser mandada para o Lobo, Red usava um vestido cor de
sangue.
Ele tingia o rosto de Neve de escarlate enquanto ela, atrás de Red,
arrumava a roupa da irmã gêmea. O sorriso que ela exibia era tênue e
hesitante.
— Você está linda, Red.
Red machucara os lábios de tanto os mordiscar. Quando tentou retribuir o
sorriso, sua pele se repuxou. Ela sentiu um forte gosto metálico na língua.
Neve não notou o sangue. Estava de branco, como todos os outros estariam
naquela noite, e uma faixa prateada no cabelo preto a identificava como a
Primeira Filha. Um misto de emoções cruzou seu semblante claro enquanto
ela se ocupava com as dobras do vestido de Red — apreensão, raiva, tristeza
profunda. Red conseguiu perceber cada uma delas. Sempre percebia, quando
se tratava de Neve. Ela fora um enigma fácil desde o útero que haviam
dividido.
Por fim, Neve se aquietou com uma expressão apática e plácida que visava
não revelar coisa alguma. Apanhou do chão a garrafa de vinho pela metade e
a inclinou em direção a Red.
— Melhor terminar logo.
Red bebeu direto da garrafa. Secou a boca com as costas da mão, que
ficaram manchadas de vermelho.
— Gostoso? — Neve pegou a garrafa de volta. Sua voz estava alegre
mesmo enquanto girava nervosamente o objeto nas mãos. — É meduciano.
Foi presente do pai do Raffe para o Templo, um pequeno bônus além do
tributo em orações pelos tempos prósperos. Raffe surrupiou o vinho, disse
que acha que o tributo por si só é mais do que suficiente para garantir um mar
calmo.
estido cor de Ela riu, cabisbaixa. Um riso abatido e breve.
— Ele disse que se algo pode te ajudar hoje à noite, é isso.
trás de Red, O saiote do vestido de Red ficou todo amarrotado quando ela se jogou em
era tênue e uma das cadeiras próximas à janela, apoiando a cabeça na mão.
— Nem todo o vinho do mundo seria suficiente para isso.
A falsa máscara otimista de Neve vacilou, depois se desfez. Elas ficaram
ou retribuir oem silêncio.
— Você ainda pode fugir — sussurrou Neve, mal movendo os lábios, sem
utros estariamtirar os olhos da garrafa vazia. — Nós podemos te dar cobertura, eu e Raffe.
cava como aHoje, enquanto todos…
aro enquanto — Não posso — disse Red, ríspida e breve, soltando a mão no braço da
raiva, tristeza cadeira. A repetição contínua desgastara toda a cordialidade de sua voz.
ebia, quando — É claro que pode. — Neve apertou a garrafa com mais força. — Você
que haviam ainda sequer tem a Marca, e seu aniversário é depois de amanhã.
Red levou a mão até a manga escarlate, que escondia uma pele branca e
da que visava imaculada. Todos os dias, desde que completara dezenove anos, ela
pela metade e inspecionava os braços em busca da Marca. A de Kaldenore aparecera
imediatamente depois de seu aniversário, a de Sayetha em seu primeiro
semestre com dezenove anos, a de Merra poucos dias antes de completar
da mão, quevinte anos. A de Red ainda estava por aparecer, mas ela era uma Segunda
Filha — destinada a Wilderwood, destinada ao Lobo, fadada a cumprir um
antigo pacto. Com ou sem Marca, ela partiria em dois dias.
estava alegre — O problema são as histórias sobre monstros? Por favor, Red, são contos
É meduciano.de fadas para assustar crianças, não importa o que a Ordem diga. — A voz de
nus além doNeve ficou mais tensa, indo de um tom bajulador para outro mais rígido. — É
vinho, disse tudo faz de conta. Ninguém os vê há quase duzentos anos. Não apareceram
antir um marantes de Sayetha. Ou antes de Merra.
— Mas apareceram antes de Kaldenore.
Não havia calor na voz de Red, tampouco frieza. Neutra e inexpressiva.
Ela estava muito cansada daquela discussão.
se jogou em — Sim, há dois malditos séculos uma manada de monstros saiu de
Wilderwood e aterrorizou os territórios nortenhos por dez anos, até que
Kaldenore surgiu e eles desapareceram. Monstros dos quais não temos
Elas ficaram nenhum registro histórico real, monstros que pareciam tomar a forma que
mais agradasse a pessoa contando a história. — Se o tom de voz de Red era
s lábios, sem como um outono sereno, o de Neve lembrava um inverno devastador, gelado
a, eu e Raffe. e cortante. — Mas, ainda que fossem reais, não aconteceu nada desde então,
Red. Nem sinal de algo vindo da floresta, não atrás de alguma das Segundas
no braço da Filhas e não atrás de você. — Depois de uma pausa, palavras surgiram de um
local profundo que nenhuma das duas tocava. — Se houvesse monstros na
rça. — Vocêfloresta, nós os teríamos visto quando…
— Neve. — Red permaneceu imóvel, fitando o borrão de batom de cor
pele branca esangrenta nos nós dos dedos, mas sua voz rasgou o silêncio do cômodo.
ve anos, ela O pedido de silêncio foi ignorado.
re aparecera — Quando você for até ele, acabou. Ele não vai permitir que volte. Nunca
seu primeiro mais vai poder sair da floresta, não vai ser como… não vai ser como da
de completarúltima vez.
uma Segunda — Não quero falar disso. — A neutralidade se perdeu, transformando-se
cumprir umem algo rouco e aflito. — Por favor, Neve.
d, são contos Por um momento ela pensou que Neve estivesse prestes a ignorá-la outra
— A voz de vez, prestes a arrastar a conversa para além dos limites cuidadosos que Red
s rígido. — Éestabelecera para o assunto. Em vez disso, ela suspirou. Seus olhos brilhavam
o apareceramtanto quanto os cabelos prateados.
— Você poderia ao menos fingir… — murmurou ela, virando-se para a
janela. — Poderia ao menos fingir que se importa.
inexpressiva. — Eu me importo. — Os dedos de Red se tensionaram sobre os joelhos. —
Só não faz diferença.
tros saiu de Ela já havia gritado, protestado, se rebelado. Já fizera tudo aquilo, tudo o
nos, até que que Neve esperava dela agora, antes de completar dezesseis anos. Quatro
s não temos anos antes, quando tudo mudara, quando compreendera que Wilderwood era
a forma queo único lugar para ela.
z de Red era O sentimento crescia dentro dela de novo. Algo desabrochando, algo
tador, geladotomando seus ossos. Algo crescendo.
desde então, Havia uma samambaia no parapeito da janela, absurdamente verdejante
das Segundas contra a neve que servia como pano de fundo. As folhas se mexiam, gavinhas
rgiram de umse esticando com delicadeza em direção ao ombro de Red em um movimento
monstros na determinado e deliberado demais para ser causado por uma brisa passageira.
Sob a manga das vestes, a rede de veias em seu pulso aflorava em um tom
batom de coresverdeado, fazendo com que elas se destacassem contra a pele pálida como
se fossem galhos. Ela sentia gosto de terra na boca.
Não. Red cerrou os punhos até o sangue sumir dos nós dos dedos. Aos
volte. Nuncapoucos, a sensação de algo crescendo se esvaiu como uma gavinha
ser como da interceptada voltando a se encolher em seu esconderijo. O gosto de terra
desapareceu da língua, mas mesmo assim ela pegou a garrafa de vinho outra
sformando-sevez e sorveu o que restava no fundo.
— Não tem só a ver com os monstros — disse ela quando o vinho acabou.
— Há também a questão de eu ser suficiente para convencer o Lobo a libertar
norá-la outraos Reis.
osos que Red O álcool a deixava ousada, ousada o suficiente para que não tentasse
os brilhavamesconder o sarcasmo na voz. Se um dia houvesse um sacrifício valioso o
suficiente para apaziguar o Lobo e o fazer libertar os Cinco Reis de onde quer
ndo-se para aque os tivesse escondido por séculos, não seria ela.
Não que ela acreditasse nisso, de qualquer forma.
os joelhos. — — Os Reis não vão voltar — disse Neve, dando voz à descrença que
ambas sentiam. — A Ordem enviou três Segundas Filhas para o Lobo e ele
quilo, tudo onão os libertou. Não irá libertá-los agora.
anos. Quatro Ela cruzou os braços com firmeza sobre as vestes brancas, olhando pela
lderwood erajanela como se seus olhos pudessem abrir um buraco no vidro.
— Não acho que os Reis possam voltar.
chando, algo Red também não achava. Ela acreditava ser provável que seus deuses
estivessem mortos. Sua dedicação ao próprio destino na floresta não estava
te verdejante relacionada à convicção de que Reis ou monstros ou qualquer coisa pudessem
am, gavinhas resultar dela.
m movimento — Não importa.
a passageira. Elas já haviam tido a mesma conversa várias vezes àquela altura. Red
a em um tomflexionou os dedos, agora repletos de veias azuladas, mal vendo a hora de
pálida comoencerrar aquela conversa infinita e repetitiva.
— Vou para Wilderwood, Neve. Está decidido. Apenas… se conforme
s dedos. Aoscom isso.
uma gavinha Com os lábios comprimidos em uma linha resoluta, Neve deu um passo
osto de terraadiante, diminuindo a distância entre as duas com um farfalhar de seda contra
e vinho outra mármore. Red não levantou o olhar, deixando a cabeça pender de maneira
que os cabelos cor de mel caíssem sobre o rosto.
inho acabou. — Red — sussurrou Neve. Red estremeceu diante do tom de voz da irmã,
obo a libertaro mesmo que usaria com um animal assustado. — Eu quis ir com você.
Naquele dia em que fomos a Wilderwood. Não foi sua culpa que…
não tentasse A porta se abriu com um rangido. Pela primeira vez em muito tempo Red
cio valioso o se sentiu feliz em ver a mãe.
de onde quer O branco e o prateado caíam bem em Neve, mas faziam com que a Rainha
Isla parecesse congelada, gélida como a neve do lado de fora da janela.
Sobrancelhas escuras encimavam olhos ainda mais escuros, a única
escrença quecaracterística em comum com as filhas. Nenhum criado a acompanhava
o Lobo e elequando ela entrou na sala e fechou a porta de madeira atrás de si.
— Neverah.
olhando pela Ela fez um gesto com a cabeça em direção a Neve antes de voltar os olhos
escuros e indecifráveis a Red.
— Redarys.
seus deuses Nenhuma delas retribuiu a saudação. Por um instante que pareceu horas, as
a não estava três permaneceram imersas em um silêncio incômodo.
isa pudessem Isla se voltou para Neve.
— Os convidados estão chegando. Vá cumprimentá-los, por favor.
Neve segurou o tecido da saia do vestido, cerrando os punhos. Encarou Isla
a altura. Red com um ar circunspecto, os olhos pretos ardentes e abrasadores. Mas brigar
do a hora deseria inútil naquele momento, e todas no cômodo sabiam disso. Enquanto se
dirigia à porta, Neve olhou de relance para Red sobre o ombro, um comando
se conformeno olhar: Coragem.
A última coisa que Red sentia quando estava diante da mãe era coragem.
eu um passo Ela não se deu ao trabalho de se levantar enquanto Isla a examinava, atenta
e seda contra e minuciosa. Os cachos de Red, modelados com cuidado, já estavam se
r de maneira desmanchando, e seu vestido estava amarrotado. Isla se deteve por um
instante na mancha vermelha nas costas da mão da filha, mas nem aquilo foi
voz da irmã, suficiente para provocar uma reação. A ocasião era mais uma prova de
ir com você. sacrifício do que um baile, um evento ao qual dignitários de todo o continente
compareciam para ver a mulher fadada ao Lobo. Talvez fosse adequado que
o tempo Red ostentasse uma aparência feral.
— Esse tom combina com você — disse a Rainha, apontando com a
que a Rainhacabeça para o saiote do vestido de Red. — Vermelho para Redarys.
ra da janela. A observação foi irônica, mas fez com que Red cerrasse os dentes com
os, a única força suficiente para quase rachá-los. Neve costumava dizer aquilo quando
acompanhavaeram jovens, antes de ambas perceberem o que realmente significava. Àquela
altura, o vermelho já era a cor favorita de Red, sua marca registrada. Havia
uma energia fervorosa no matiz, uma afirmação de quem e do que ela era.
oltar os olhos — Não ouvia isso desde que era criança — disse ela.
Os lábios de Isla se crisparam. A menção à infância de Red — ao fato de
que ela fora uma criança um dia, filha de Isla, e de que ela mandaria a própria
ceu horas, as prole para a floresta — sempre parecia inquietar a mãe.
Red apontou para o saiote.
— Escarlate para um sacrifício.
Um instante se passou. Isla enfim pigarreou.
Encarou Isla — A delegação floriana chegou à tarde, assim como o mensageiro de
s. Mas brigarKarseckan Re. A primeira conselheira meduciana lamenta por não poder
Enquanto se comparecer, mas diversos outros conselheiros estarão presentes. Sacerdotisas
um comandoda Ordem de todo o continente chegaram ao longo do dia e estão se
revezando para rezar no santuário. — Todas as palavras foram ditas em tom
sereno e afetado, como se ela recitasse uma lista enfadonha. — Os Três
minava, atentaDuques de Alpera e seus séquitos devem chegar antes da procissão…
á estavam se — Ah, que bom — disse Red, fitando as próprias mãos, ainda pálidas
teve por umcomo as de um cadáver. — Seria uma pena se perdessem isso.
em aquilo foi Os dedos de Isla se moveram em um espasmo. Seu tom de voz, no entanto,
ma prova de permaneceu altivo.
o continente
dequado que — A Suma Sacerdotisa está otimista — disse ela, olhando para todos os
cantos da sala, exceto para a filha. — Por haver um longo intervalo entre
tando com avocê e… e as outras. Ela acredita que o Lobo pode finalmente libertar os
Reis.
s dentes com — Aposto que acredita. Vai ser muito constrangedor para ela quando eu
quilo quandofor para a floresta e absolutamente nada acontecer.
cava. Àquela — Guarde suas blasfêmias para si — censurou Isla, embora de maneira
strada. Haviabranda.
Red nunca descobrira como arrancar emoções da mãe. Tentara quando era
mais nova — com presentes, com flores. Já mais velha, puxava e derrubava
— ao fato decortinas e arruinava jantares com sua embriaguez, tentando provocar fúria, já
aria a própriaque não tivera sucesso em obter algo mais terno. E, mesmo assim, nunca
recebera nada além de um suspiro ou revirar de olhos.
Era preciso ser uma pessoa inteira para ser digna de lágrimas. Algo que ela
jamais fora para a mãe. Para Isla, Red nunca passara de um bem a ser
ostentado.
ensageiro de — Você acredita que eles vão voltar? — Uma indagação atrevida que não
or não poderousaria fazer se já não estivesse com um pé em Wilderwood. Ainda assim,
SacerdotisasRed não conseguiu se fazer soar sincera, não conseguiu suavizar as farpas na
a e estão se voz. — Acha que se o Lobo me considerar aceitável, devolverá os Reis?
ditas em tom O silêncio pairou na sala, mais frio do que o ar do lado de fora. Red não
— Os Trêssentia nada parecido com fé, mas desejava a resposta como absolvição. Para a
mãe. Para ela.
ainda pálidas Isla sustentou o olhar da filha por um instante longo, um instante que se
arrastou em dimensões inusitadas. O momento durou uma vida e carregava o
z, no entanto, peso de anos de coisas não ditas. No entanto, ao se manifestar, Isla desviou os
olhos.
— Não vejo como isso pode ser relevante.
para todos os E foi isso.
tervalo entre Red se pôs de pé, afastando a pesada cortina formada por seu cabelo e
te libertar oslimpando a mancha vermelha da mão no saiote do vestido.
— Então, por favor, Sua Majestade, vamos mostrar a todos que o sacrifício
la quando euestá pronto.

a de maneiraRed raciocinava rápido enquanto caminhava até o salão de baile. Sua

presença precisava ser notável — todos os dignatários convidados não


a quando eraestavam ali apenas pela dança e pelo vinho. Estavam ali para vê-la, a prova
a e derrubavaescarlate de que Valleyda estava preparada para enviar a Segunda Filha em
ocar fúria, já sacrifício.
assim, nunca As sacerdotisas da Ordem se revezavam no Santuário, rezando para os
tocos das árvores brancas supostamente retiradas de Wilderwood. Para quem
Algo que elavinha de fora do país, aquela era uma peregrinação religiosa, uma chance
m bem a ser única na vida de não apenas rezar no famoso Santuário de Valleyda, mas
também de testemunhar a oferta de uma Segunda Filha ao Lobo.
vida que não Poderiam até estar rezando, mas teriam olhos à espreita ali. Olhos a
Ainda assim, examinando, verificando se concordavam com a Suma Sacerdotisa de
r as farpas naValleyda. Se também a consideravam aceitável.
Uma ou duas canções, umas três ou quatro taças de vinho. Red poderia
ora. Red não permanecer o suficiente para que todos pudessem julgar a idoneidade do
lvição. Para asacrifício que fariam, e depois iria embora.
Em teoria, estavam bem no início do verão, mas as temperaturas em
stante que se Valleyda nunca passavam muito de congelantes em qualquer que fosse a
e carregava o estação. Havia lareiras nas paredes do salão, brilhando em laranja e amarelo.
la desviou osCortesãos flanavam vestidos em um arsenal de diferentes cortes e estilos
vindos de reinos de todo o continente, cada centímetro de tecido de um tom
branco-lunar. Quando Red adentrou o salão, uma abundância de olhares
seu cabelo erecaiu sobre ela, uma gota de sangue em meio à nevasca.
Ficou imóvel como um coelho sob o olhar de um predador. Por um
e o sacrifício instante, todos se entreolharam. Os fiéis ali reunidos e sua oferenda.
Cerrando a mandíbula, Red se curvou em uma reverência vigorosa e
teatral.
e baile. Sua Houve um breve soluço no ritmo da música. Em seguida, os cortesãos se
vidados nãopuseram em movimento de novo, passando por ela sem fazer contato visual.
a prova Pequenas alegrias.
nda Filha em Uma silhueta familiar estava no canto do salão, ao lado de uma profusão
de rosas e barris de vinho. Raffe passou a mão pelo cabelo preto, cortado
ando para osrente à cabeça; os dedos cor de mogno em contraste com o dourado do cálice
d. Para quem que tinha em mãos. Naquele momento estava desacompanhado, mas não
uma chancepermaneceria assim por muito tempo. Filho do Conselheiro meduciano e
alleyda, mas exímio dançarino, Raffe nunca ficava longe das atenções nos bailes.
Red se aproximou, tirou o cálice da mão dele e bebeu o líquido até o fim
ali. Olhos a com eficiência experiente. Raffe curvou os lábios.
cerdotisa de — Olá para você também.
— Tem muito mais de onde veio isso. — Ela devolveu o cálice e cruzou os
Red poderiabraços, encarando a parede de maneira resoluta, de costas para o aglomerado
doneidade dode pessoas. Olhares fuzilavam sua nuca.
— Isso é bem verdade. — Raffe voltou a encher a taça. — Francamente,
peraturas emme surpreende que você ainda esteja aqui. As pessoas que precisavam ver
que fosse avocê com certeza já a viram.
ja e amarelo. Ela mordeu o lábio.
rtes e estilos — Eu quero ver alguém — admitiu ela, tanto para si mesma quanto para
o de um tom Raffe.
a de olhares Ela não deveria querer ver Arick. Deveria facilitar a ruptura, deixá-lo ir
naturalmente…
dor. Por um Mas, em seu âmago, Red era uma criatura egoísta.
Raffe assentiu em um movimento conciso, demonstrando compreensão
a vigorosa ecom um mero erguer de sobrancelhas. Entregou o cálice cheio para ela antes
de servir outro para si.
cortesãos se Ela conhecia Raffe desde os catorze anos — quando o pai dele assumira a
posição de Conselheiro, tivera que repassar ao filho seu próspero negócio no
ramo de vinhos, e não havia lugar melhor para se aprender sobre rotas
uma profusão comerciais do que com os tutores de Valleyda. Não havia muita coisa sendo
reto, cortadocultivada ali, um país pequeno e frio bem no topo do continente, notável
ado do cálice apenas pela fronteira com Wilderwood ao norte e a eventual oferenda de
do, mas não Segundas Filhas. Valleyda dependia quase unicamente das importações para
meduciano ealimentar seu povo e das importações e tributos para manter o Templo, onde
as súplicas mais potentes aos Reis poderiam ser feitas.
ido até o fim Todos eles haviam crescido juntos ao longo dos seis anos anteriores —
anos percebendo quão diferente Red era dos demais, assimilando o fato de
que seu tempo se esgotava depressa. Mas, desde que o conhecera, Raffe
e e cruzou osnunca a tratara como qualquer coisa que não fosse uma amiga — não uma
o aglomeradomártir ou uma efígie a ser queimada.
O rosto de Raffe foi tomado por ternura e Red seguiu o olhar dele,
Francamente,encontrando Neve. Sozinha e com os olhos ligeiramente avermelhados, ela
ecisavam verocupava seu lugar em um tablado alto na extremidade do salão. O lugar de
Isla ainda estava vazio. Não havia trono algum para Red.
Red gesticulou com o cálice em direção à irmã gêmea.
quanto para — Convide-a para dançar, Raffe.
— Não posso.
a, deixá-lo ir A resposta foi imediata e soou abafada de dentro do cálice. Ele sorveu tudo
em um único gole.
Red não insistiu.
compreensão Um toque em seu ombro fez com que ela se virasse. O jovem lorde às suas
para ela antes costas recuou depressa, de olhos arregalados e amedrontados.
— Hum, minha… minha senhora… Não, princesa…
le assumira a Ele claramente esperava rispidez; de repente, porém, Red se viu cansada
o negócio nodemais para corresponder à expectativa. Era exaustivo sustentar um
sobre rotas temperamento tão mordaz.
a coisa sendo — Redarys.
ente, notável — Redarys — repetiu ele, nervoso. Um rubor tomou seu pescoço e subiu
oferenda de até o rosto, deixando as sardas em evidência. — Aceitaria dançar comigo?
ortações para Red deu de ombros; o vinho meduciano enevoava seu raciocínio, tornando
Templo, onde seus pensamentos indistintamente amigáveis. Não era quem ela esperava ver,
mas por que não dançar com alguém corajoso o suficiente para fazer o
anteriores — convite? Ela ainda não estava morta.
do o fato de O fidalgote a conduziu em uma valsa, mal tocando na curva de sua cintura.
hecera, Raffe Red teria rido se sua garganta não parecesse estar em carne viva. Todos
— não umatinham muito medo de tocar algo que pertencia ao Lobo.
— Você deve encontrá-lo na alcova — sussurrou ele, a voz trêmula como
o olhar dele,se estivesse prestes a falhar. — Foi o que a Primeira Filha disse.
melhados, ela Red despertou do torpor causado pelo vinho e cerrou os olhos, fitando o
o. O lugar de jovem fidalgo. Seu estômago se revirava, uma mistura de álcool e esperança
radiante.
— Encontrar quem?
— O Consorte Eleito — gaguejou o garoto. — Lorde Arick.
Ele estava ali. Ele fora até lá.
e sorveu tudo A valsa terminou com ela e seu parceiro improvável perto da alcova
mencionada, o saiote do vestido de Red quase tocando a cortina decorada.
— Obrigada.
lorde às suas Red fez uma reverência para o jovem, que agora ruborizava da testa à
nuca. Ele gaguejou algo incompreensível e partiu com passos ligeiros,
parecendo prestes a correr.
viu cansada Ela parou um momento para aquietar as mãos agitadas. Aquilo havia sido
ustentar um ideia de Neve, e Red conhecia a irmã bem o suficiente para saber quais eram
suas intenções. Neve não conseguira convencê-la a fugir e imaginava que
talvez Arick tivesse êxito.
coço e subiu Red permitiria que ele tentasse.
Assim que passou pela cortina, sua cintura foi envolvida pelos braços dele
nio, tornandoantes que o salão de baile estivesse fora de seu campo de visão.
esperava ver, — Red — murmurou ele contra o cabelo da garota. Os lábios do rapaz
para fazer oencontraram os dela, os dedos apertando seus quadris e a puxando para mais
perto. — Red, senti sua falta.
e sua cintura. A boca de Red estava ocupada demais para responder, embora deixasse
viva. Todos claro que compartilhava do sentimento. As responsabilidades de Arick como
Consorte Eleito e duque de Floriane o mantinham fora da corte com
rêmula como frequência. Ele só estava ali naquele momento por causa de Neve.
A irmã tinha ficado tão chocada quanto Red quando Arick fora anunciado
os, fitando ocomo o futuro marido de Neve, a fim de cimentar o frágil tratado que tornava
l e esperança Floriane uma província de Valleyda. Ela sabia o que havia entre Arick e Red,
mas elas nunca falavam sobre isso, incapazes de encontrar as palavras certas
para mais uma pequena tragédia. Arick era uma lâmina que feria em todas as
direções, e as feridas deixadas se curavam melhor sozinhas.
Red interrompeu o beijo, apoiando a testa no ombro de Arick. Ele tinha o
mesmo cheiro de sempre, menta e tabaco caro. Ela inspirou até o peito doer.
to da alcova Arick a segurou por um momento, as mãos em seu cabelo.
— Amo você — sussurrou no ouvido de Red.
Ele sempre falava aquilo. Ela nunca correspondia. Já chegara a pensar que
va da testa àassim fazia um favor a ele, mantendo certa distância entre eles para que fosse
sos ligeiros, mais fácil quando completasse vinte anos e tivesse que pagar a dívida com a
floresta. Mas não era bem assim. Red nunca dissera aquilo de volta porque
lo havia sidonão sentia a mesma coisa. De certa forma ela amava Arick, mas não de um
er quais eramjeito recíproco ao amor que ele sentia. Era mais fácil deixar as palavras sem
maginava queresposta.
Até então, ele não parecera magoado com isso, mas naquela noite ela pôde
sentir os músculos tensos sob a bochecha, pôde ouvir os dentes dele
s braços dele rangerem.
— Nem hoje, Red? — Sua voz saiu baixa. Era como se ele já soubesse a
ios do rapaz resposta.
do para mais Ela continuou em silêncio.
Um momento se passou até ele erguer o queixo de Red para examinar seu
bora deixasserosto. Não havia velas na alcova, mas a luz da lua se refletia nos olhos dele,
e Arick como verdes como as plantas no peitoril da janela.
a corte com — Você sabe por que estou aqui.
— E você sabe o que vou dizer.
ra anunciado — Neve estava fazendo a pergunta errada — disse ele, com um suspiro
o que tornavalevemente exasperado. — Apenas sugerindo que você fugisse, sem pensar no
Arick e Red,que viria depois. Eu pensei. É tudo no que tenho pensado. — Ele parou,
alavras certassegurando o cabelo dela com mais força. — Fuja comigo, Red.
a em todas as Os olhos dela, parcialmente fechados após o beijo, arregalaram-se em um
sobressalto. Red se afastou, tão depressa que alguns fios dourados ficaram
k. Ele tinha onos dedos dele.
— O quê?
Arick tomou as mãos dela e a puxou para mais perto outra vez.
— Fuja comigo — repetiu ele, acariciando as costas das mãos da garota
a pensar quecom os polegares. — Vamos para o sul, para Karsecka ou Elkyrath, encontrar
ara que fosse uma cidade pacata onde ninguém se importe com religião ou com o retorno
dívida com a dos Reis, uma cidade que seja longe demais da floresta para que as pessoas se
volta porquepreocupem com monstros. Posso trabalhar fazendo… fazendo alguma coisa
as não de ume…
palavras sem — Não podemos fazer isso. — Red se desvencilhou das mãos de Arick. O
torpor agradável do vinho estava rapidamente dando lugar a uma dor
oite ela pôde incômoda. Ela pressionou os dedos contra as têmporas, virando-se de costas
dentes dele para ele. — Você tem deveres a cumprir. Com Floriane, com Neve…
— Nada disso importa. — Ele envolveu a cintura dela com as mãos. —
já soubesse a Red, não posso deixar que vá para Wilderwood.
A sensação tomou conta dela outra vez, o despertar em suas veias. A
samambaia se agitou no peitoril.
examinar seu Por um momento ela pensou em contar a ele.
os olhos dele, Pensou em contar sobre o fragmento peculiar de magia que Wilderwood
deixara nela na noite em que correra com Neve até os limites da floresta.
Pensou em contar sobre a destruição que ela causara, sobre o sangue e a
violência. Pensou em contar sobre como era um exercício diário reprimi-la,
m um suspiro mantê-la sob controle, tomando cuidado para que não voltasse a ferir
em pensar noninguém.
— Ele parou, Mas as palavras não vinham.
Red não estava indo para Wilderwood para trazer deuses de volta. Não
am-se em umestava indo para servir como salvaguarda contra monstros. Aquela era uma
ados ficaram teia antiga e esotérica na qual estivera emaranhada desde o nascimento, mas
seus motivos para não lutar contra ela nada tinham a ver com compaixão,
nada tinham a ver com uma religião na qual ela nunca realmente acreditara.
Ela iria para Wilderwood para proteger dela mesma as pessoas que amava.
ãos da garota — As coisas não precisam ser assim. — Arick a segurou pelos ombros. —
ath, encontrar Podemos ter uma vida juntos, Red. Podemos ser só nós dois.
om o retorno — Eu sou a Segunda Filha. Você é o Consorte Eleito. — Red balançou a
as pessoas secabeça. — Isso é o que nós somos.
alguma coisa Silêncio.
— Eu poderia obrigar você a ir.
s de Arick. O Red cerrou os olhos, desconfiada e confusa em igual medida.
a uma dor As mãos de Arick escorregaram dos ombros de Red até seus pulsos, onde
-se de costasse fecharam.
— Eu poderia levar você para um lugar onde ele não pudesse te encontrar.
as mãos. — — Houve uma pausa carregada de mágoa. — Onde você não pudesse
encontrá-lo.
uas veias. A Arick a segurava com tanta força que quase a machucava e, em um
rompante de fúria que lembrava folhas rodopiando em um ciclone, o
fragmento de magia de Red ganhou vida.
Wilderwood A magia galgou seus ossos, desenrolando-se dos vãos entre suas costelas
s da floresta.como hera subindo por paredes em ruínas. As folhagens do peitoril se
o sangue e a curvaram na direção dela, atraídas por um magnetismo extraordinário, e ela
io reprimi-la,sentiu a pulsação da terra mesmo com camadas de mármore sob seus pés,
tasse a ferir raízes se movendo como correntezas, estendendo-se na direção dela…
Red lutou contra seus poderes e os reprimiu pouco antes de as samambaias
roçarem o ombro de Arick, as frondes crescendo em tamanho e volume em
e volta. Não segundos. Em vez disso, ela o empurrou para longe com mais força do que
uela era uma pretendia. Arick cambaleou enquanto as samambaias se retraiam e se
cimento, masencolhiam, voltando à forma original.
m compaixão, — Você não pode me obrigar a fazer nada, Arick. — As mãos dela
tremiam, a voz soando estridente. — Não posso ficar aqui.
— Por quê? — Seu tom era inflamado, furioso e grave.
s ombros. — Red se virou e tocou a borda da cortina brocada com a mão que torcia para
não estar tremendo. Não havia nada de errado com sua boca, mas nenhuma
d balançou a palavra pareceu adequada, por isso o silêncio se adensou e preencheu o lugar
de sua resposta.
— Tem a ver com o que aconteceu com Neve, não tem? — Era uma
acusação, e ele a proferiu como tal. — Quando vocês estiveram em
Wilderwood?
pulsos, onde O coração de Red parecia prestes a sair pela boca. Ela passou pelas
cortinas e as fechou atrás de si, abafando as palavras de Arick e ocultando seu
te encontrar. rosto. As vestes da garota farfalhavam sobre o mármore enquanto ela
não pudesse percorria o corredor em direção às portas da varanda que davam para o norte.
Friamente, ela se perguntava o que os informantes das sacerdotisas diriam de
a e, em umseu cabelo desgrenhado e dos lábios corados.
m ciclone, o Bem. Se queriam um sacrifício intocado, era tarde demais.
O frio castigava em contraste com o calor do salão, mas Red era de
suas costelasValleyda, e mesmo a pele arrepiada ainda lembrava o verão. Suor secava em
o peitoril seseu cabelo, agora irremediavelmente liso, uma vez que os cachos definidos
dinário, e elahaviam sido desmanchados pelo toque e pelo calor.
sob seus pés, Inspirou, expirou, tentou estabilizar os ombros trêmulos, piscou para
aliviar a ardência nos olhos. Ela podia contar nos dedos de uma mão o
samambaiasnúmero de pessoas que a amavam, e todas continuavam implorando pela
e volume em única coisa que ela não podia lhes dar.
força do que O ar noturno congelou as lágrimas em seus cílios antes que caíssem. Ela
etraiam e sefora amaldiçoada no instante em que nascera — era uma Segunda Filha,
destinada ao Lobo e a Wilderwood, conforme gravado no tronco do
s mãos dela Santuário. Ainda assim, a dúvida pairava no ar. Ela se perguntava se a
maldição não seria culpa dela mesma pelo que fizera quatro anos antes.
Elas haviam sido tomadas por uma coragem imprudente depois daquele
ue torcia paraoutro baile desastroso, por uma coragem imprudente e muito vinho. Tinham
mas nenhumaroubado cavalos e cavalgado na direção norte, duas garotas contra um
ncheu o lugarmonstro e uma floresta sem fim munidas apenas de pedras e fósforos e um
amor inabalável uma pela outra.
— Era uma Um amor que ardia tão intensamente que fazia parecer que o poder que se
stiveram emenraizara em Red era uma troça deliberada. Wilderwood, provando ser mais
forte. Provando que os laços de Red com a floresta e o Lobo que a aguardava
passou pelassempre seriam mais fortes.
ocultando seu Red engoliu em seco, a garganta apertada. Era uma ironia cruel o fato de
enquanto elaque, não fosse por aquela noite e o que ela causara, ela talvez fizesse o que
para o norte.Neve queria. Talvez fugisse.
sas diriam de Virou-se para o norte, cerrando os olhos contra o vento gelado. Em algum
lugar além do nevoeiro e das luzes baças da capital estava Wilderwood. O
Lobo. A longa espera estava prestes a terminar.
Red era de — Estou indo — murmurou ela. — Vocês venceram. Estou indo.
or secava em Ela se virou em um esvoaçar de tecidos carmesim e voltou para dentro.
hos definidos

piscou para
uma mão o
lorando pela

caíssem. Ela
gunda Filha,
o tronco do
guntava se a
Elas haviam sido tomadas por uma coragem imprudente depois daquele
outro baile desastroso, por uma coragem imprudente e muito vinho. Tinham
roubado cavalos e cavalgado na direção norte, duas garotas contra um
monstro e uma floresta sem fim munidas apenas de pedras e fósforos e um
amor inabalável uma pela outra.
Um amor que ardia tão intensamente que fazia parecer que o poder que se
enraizara em Red era uma troça deliberada. Wilderwood, provando ser mais
forte. Provando que os laços de Red com a floresta e o Lobo que a aguardava
sempre seriam mais fortes.
Red engoliu em seco, a garganta apertada. Era uma ironia cruel o fato de
que, não fosse por aquela noite e o que ela causara, ela talvez fizesse o que
Neve queria. Talvez fugisse.
Virou-se para o norte, cerrando os olhos contra o vento gelado. Em algum
lugar além do nevoeiro e das luzes baças da capital estava Wilderwood. O
Lobo. A longa espera estava prestes a terminar.
— Estou indo — murmurou ela. — Vocês venceram. Estou indo.
Ela se virou em um esvoaçar de tecidos carmesim e voltou para dentro.
2

O sono foi fragmentário. Quando o nascer do sol invadiu o céu, Red já estava
de pé próxima à janela, os dedos entrelaçados enquanto olhava na direção do
Santuário.
A vista do quarto dela dava para os jardins internos, um espaço repleto de
árvores e flores cultivadas com esmero, cuidadosamente selecionadas para
resistir ao frio. O Santuário ficava escondido nos fundos, mal era visível
debaixo de um frondoso arvoredo. O sol nascente iluminava a beira da arcada
de pedra e a tingia de um leve tom dourado.
Os membros da Ordem estavam espalhados pelo jardim verde,
aglomerados perto das flores, um mar de vestes brancas e devoção. Ali
estavam todas as sacerdotisas que tinham Valleyda como lar, além de todas
as que tinham viajado até lá vindas de Rylt, do outro lado do mar, de
Karsecka, na extremidade norte do continente, e de todos os lugares que
ficavam entre os dois pontos. Todos os Templos possuíam um pedaço da
árvore branca, uma pequena lasca de Wilderwood para a qual se rezava, mas
era uma honra especial fazer a difícil jornada até o Templo de Valleyda, onde
havia um verdadeiro bosque delas. Era um privilégio rezar entre os galhos
brancos como ossos que constituíam a prisão dos Reis e suplicar pelo seu
retorno.
No entanto, naquela manhã, nenhuma das sacerdotisas entrou no Santuário.
A única pessoa que tinha permissão para rezar em meio aos galhos brancos
naquele dia era Red.
Distraída, Red passou o dedo pela área embaçada que sua respiração
deixara no vidro. Suas amas costumavam fazer isso no passado, desenhando
histórias nas vidraças. Histórias de como Wilderwood era antes da criação
das Terras Sombrias, quando toda a magia existente no mundo estava ali
encerrada para aprisionar as criaturas divinas que reinavam em terror.
Antigamente, a floresta fora um lugar de verão interminável, um local de
Red já estavaconforto em um mundo movido por violência. As amas contavam que ela
na direção dofora capaz até mesmo de conceder dádivas àqueles que deixavam sacrifícios
dentro de seus limites — mechas de cabelo, dentes de leite, papéis salpicados
ço repleto decom sangue. A magia existia livremente naquele mundo, acessível a todos
ionadas paraque aprendessem a utilizá-la.
al era visível No entanto, quando os Cinco Reis fizeram um pacto com a floresta para
ira da arcada que esta confinasse os deuses monstruosos — para que criasse as Terras
Sombrias como uma prisão para eles —, toda a magia se foi, absorvida por
rdim verde, Wilderwood para assim realizar a monumental tarefa.
devoção. Ali Mas mesmo naquela época a floresta ainda podia barganhar — e
lém de todasbarganhou com Ciaran e Gaya, o primeiro Lobo e a primeira Segunda Filha.
do mar, deNo Ano Um do Pacto, o mesmo ano em que os monstros foram aprisionados,
lugares queeles buscaram refúgio em Wilderwood para fugir do pai de Gaya, Valchior, e
m pedaço da seu prometido, Solmir — dois dos lendários Cinco Reis. Wilderwood atendeu
e rezava, masao pedido de Gaya e Ciaran, dando a eles um lugar para que se escondessem,
alleyda, ondeum lugar onde poderiam ficar juntos para sempre. Ela os encerrou dentro de
tre os galhossuas fronteiras e os transformou em algo sobre-humano.
icar pelo seu A história das amas parava ali. Elas não contavam que os Reis tinham
voltado a entrar em Wilderwood cinquenta anos depois do Pacto, e que de lá
no Santuário.nunca mais tinham saído. Não contavam que Ciaran levara o corpo sem vida
alhos brancosde Gaya até a fronteira do bosque um século e meio depois do
desaparecimento dos Reis.
ua respiração Red ainda se lembrava da história. Ela a lera centenas de vezes — tanto em
, desenhandolivros vistos como sagrados quanto naqueles considerados de menor
es da criaçãoimportância —, todas as versões que encontrara. Embora alguns detalhes
do estava alifossem diferentes, a história era a mesma de maneira geral. Ciaran levava
Gaya até a fronteira de Wilderwood. Seu corpo, em processo de
um local dedecomposição, perfurado e atravessado por vinhas e raízes e trepadeiras
vam que elacomo se ela tivesse estado emaranhada no próprio cerne da floresta. As
m sacrifíciospalavras dele para aqueles que o viram, alguns aldeões anônimos que de
éis salpicadosrepente acabaram fazendo parte da história religiosa: Mandem a próxima.
sível a todos E assim uma história de amor se transformou em tragédia, assim como o
verão interminável se desbotou e se transformou em outono sem vida.
floresta para Red afastou a mão quando as bordas da tela embaçada começaram a
se as Terrasdesaparecer. Os traços deixados por seus dedos pareciam arranhões deixados
bsorvida por por uma garra.
Houve uma batida hesitante à porta. Red encostou a testa na janela.
ganhar — e — Só um segundo.
egunda Filha. Respirou profundamente o ar gelado e se pôs de pé. Sua camisola ficou
aprisionados, grudada ao suor gelado em suas omoplatas e ela puxou o tecido para soltá-lo.
a, Valchior, e De maneira quase inconsciente, seus olhos pousaram sobre a pele na região
wood atendeu acima do cotovelo. Ainda sem Marca, e ela precisava se esforçar para impedir
escondessem, a esperança de cravar garras em seu peito.
rou dentro de Não havia relato algum sobre a aparência das Marcas, apenas diziam que
elas surgiam no braço da Segunda Filha em algum momento aos dezenove
Reis tinham anos, exercendo uma atração implacável em direção ao norte, em direção a
o, e que de láWilderwood. Depois de seu último aniversário, ela passara a inspecionar
rpo sem vida cuidadosamente a pele toda manhã, examinando cada pinta e cada sarda.
depois do Outra batida. Red encarou a porta fechada como se a força de sua ira
pudesse transpassar a madeira.
s — tanto em — A menos que queiram que eu reze nua, terão que esperar um segundo.
s de menor As batidas cessaram.
uns detalhes Um roupão amarrotado estava embolado a seus pés. Red o puxou e o
Ciaran levavavestiu, depois abriu a porta sem se dar ao trabalho de pentear os cabelos.
processo de Três sacerdotisas esperavam em silêncio no corredor. Todas eram um tanto
e trepadeiras familiares, então talvez fossem do Templo de Valleyda e não visitantes.
floresta. AsTalvez a intenção fosse que isso servisse de consolo.
imos que de Se sua aparência desgrenhada surpreendeu as sacerdotisas, elas não
deixaram transparecer. Apenas inclinaram a cabeça, as mãos escondidas
ssim como o dentro de longas mangas brancas, e a conduziram pelo corredor rumo ao dia
claro e gelado.
começaram a A multidão sacra nos jardins permanecia imóvel como se fosse feita de
ões deixados pedra, as cabeças baixas, ladeando o caminho adornado com flores que
levava até a entrada do Santuário. O coração de Red batia cada vez mais alto
na garganta a cada sacerdotisa pela qual passava. Red não olhou para
nenhuma delas; manteve o olhar sempre em frente ao cruzar sozinha as
amisola ficou sombras sob o arco.
para soltá-lo. O primeiro aposento do Santuário era simples e quadrado. Perto da porta
ele na regiãohavia uma pequena mesa repleta de velas para as orações, e no centro da sala
para impedirse erguia uma estátua de Gaya, alta e imponente. Aos pés da estátua jazia a
lasca branca na qual sua sentença fora escrita, o pedaço da árvore onde Gaya
s diziam que e Ciaran tinham feito a primeira barganha. A irmã de Gaya, Tiernan, ajudara-
aos dezenoveos a escapar e retornara trazendo o tronco consigo como prova de que o
em direção acompromisso de Gaya com Solmir já não era mais válido.
a inspecionar Red franziu o cenho diante da predecessora. Fora um trabalho delicado, o
que fizera Gaya ser venerada e o Lobo blasfemado, um cuidadoso processo
a de sua irade completar uma história desconhecida. Os Cinco Reis haviam desaparecido
no território do Lobo, e por isso a culpa caía sobre ele. Ninguém nunca
soubera ao certo as razões pelas quais o Lobo teria prendido os Reis — para
obter mais poder, talvez. Ou, depois de virar um monstro conforme a floresta
o puxou e o à qual estava conectado se tornava tortuosa e obscura, ele apenas estivesse
fazendo o que monstros faziam. A Ordem dizia que Gaya fora morta tentando
ram um tanto resgatar os Reis de onde quer que Ciaran os tivesse escondido, mas não havia
ão visitantes. uma maneira de realmente saber, havia? Tudo o que se sabia era que os Reis
tinham desaparecido e que Gaya estava morta.
as, elas não Velas escarlates e bruxuleantes — escarlate para um sacrifício; acho que
s escondidas orações também contam — eram a única fonte de luz, insuficiente para
rumo ao dia permitir a leitura. Mas Red sabia as palavras de cor.
A Primeira Filha é para o Trono. A Segunda Filha é para o Lobo. E os
osse feita deLobos são para Wilderwood.
m flores que A luz das velas bruxuleava sobre as gravuras nas paredes. Eram cinco
vez mais alto figuras à direita, vagamente masculinas — os Cinco Reis. Valchior, Byriand,
o olhou paraMalchrosite, Calryes e Solmir. Três na parede do lado esquerdo, gravadas em
r sozinha as estilo mais delicado. As Segundas Filhas — Kaldenore, Sayetha, Merra.
Red correu os dedos pelo espaço livre ao lado dos contornos grosseiros de
erto da portaMerra. Um dia, quando já não passasse de ossos na floresta, sua imagem
centro da salatambém seria gravada ali.
státua jazia a Uma brisa entrou pela porta de pedra que estava aberta, agitando a cortina
re onde Gayaleve na parede às costas da estátua de Gaya. O segundo aposento do
nan, ajudara-Santuário. Red estivera ali apenas uma vez além daquela — um ano antes, em
va de que oseu aniversário de dezenove anos, ajoelhada no chão enquanto as sacerdotisas
da Ordem rezavam para que sua Marca aparecesse logo. Ela não via sentido
o delicado, oem se demorar em locais de devoção.
oso processo Ainda assim, um ano não fora suficiente para esmorecer a lembrança dos
desaparecidogalhos brancos ao longo das paredes, partes das árvores de Wilderwood
nguém nuncafundidas na pedra para continuarem de pé. Os membros pálidos e sem vida
Reis — parajamais se moviam, mas Red se recordava da estranha sensação de que se
me a florestaestendiam na direção dela, como as samambaias e coisas orgânicas faziam
nas estivesse quando ela não era capaz de manter seu fragmento de magia reprimido e
orta tentando rigidamente controlado. Ela sentiu gosto de terra na boca durante toda a
mas não haviaoração das sacerdotisas.
a que os Reis Nervosa, Red brincava com o tecido amassado da saia. Ela deveria entrar
no segundo aposento, deveria aproveitar esse tempo se preparando para
io; acho queadentrar Wilderwood, mas a perspectiva de estar em meio àqueles galhos
ficiente paraoutra vez fazia seu sangue gelar.
— Red?
o Lobo. E os Um vulto familiar estava na porta que dava para o jardim, os contornos
iluminados pelo brilho da manhã em contraste com a penumbra do Santuário.
Eram cincoNeve caminhou depressa até ela, segurando uma vela trêmula recém-acesa.
ior, Byriand, Um sentimento de confusão desabrochou no peito de Red, embora
gravadas emacompanhado de uma quantidade razoável de alívio.
— Como entrou aqui? — Ela olhou por cima do ombro de Neve. — As
grosseiros de sacerdotisas…
sua imagem — Eu disse a elas que não entraria no segundo aposento. Não ficaram
muito contentes, mas me deixaram passar. — Uma lágrima se soltou dos
ndo a cortina cílios de Neve. Ela a enxugou, irritada. — Red, você não pode fazer isso. Não
aposento dohá razão alguma além de palavras em um pedaço velho de casca de árvore.
ano antes, em Red se lembrou de estar cavalgando destemida pela noite, cabelos ao
s sacerdotisas vento, com a irmã ao lado. Ela se lembrou de pedras arremessadas e uma
o via sentidointrepidez que fez o peito arder.
Depois, ela se lembrou de sangue. De violência. Do que se retorcia sob sua
mbrança dos pele, uma semente aguardando o momento de germinar.
Wilderwood Aquela era a razão. Não monstros, não palavras em cascas de árvores. A
s e sem vida única forma de garantir que a irmã estaria a salvo era a deixando para trás.
se Nenhuma palavra servia de consolo. Red puxou a irmã gêmea para perto
nicas faziamde si, encaixando a testa de Neve no vão de sua clavícula. Nenhuma das duas
reprimido echorou, mas o silêncio foi quase pior, interrompido apenas pelo som de
rante toda a respirações entrecortadas.
— Você precisa confiar em mim — murmurou Red com o rosto no cabelo
deveria entrarda irmã. — Sei o que estou fazendo. As coisas precisam ser assim.
parando para — Não. — Neve balançou a cabeça, o cabelo preto roçando as bochechas
queles galhosda irmã. — Red, eu sei que… Eu sei que você se culpa pelo que aconteceu
naquela noite. Mas você não tinha como saber que estávamos sendo
seguidas…
os contornos — Não. — Red fechou os olhos. — Por favor, não.
do Santuário. Os ombros de Neve se retesaram sob os braços de Red, mas ela parou de
falar. Por fim, afastou-se.
Red, embora — Você vai morrer. Se for para o Lobo, você vai morrer.
— Você não sabe. — Red engoliu em seco, tentando em vão desmanchar o
Neve. — As nó na garganta. — Não sabemos o que aconteceu com as outras.
— Sabemos o que aconteceu com Gaya.
Não ficaram Red não tinha resposta para aquilo.
e soltou dos — Você claramente está determinada a ir. — Neve tentou erguer a cabeça,
zer isso. Nãomas seu queixo tremia. — E eu claramente não posso impedir.
Ela deu meia-volta e marchou em direção à porta, passando pelos entalhes
, cabelos ao dos Cinco Reis e das Segundas Filhas e pelas velas tremeluzentes de orações
sadas e umainúteis. Mais de uma se apagou com os movimentos de Neve.
Entorpecida, Red pegou uma vela e um fósforo da pequena mesa. Precisou
orcia sob suapraguejar algumas vezes até o pavio se acender, queimando seus dedos. A
dor era quase bem-vinda, um fio de sensação atravessando a couraça que ela
de árvores. Aconstruíra.
ea para perto Red colocou com força a vela sobre a base da estátua de Gaya. Uma poça
uma das duasde cera se acumulou e escorreu pela borda da casca de árvore gravada.
pelo som de — Que as sombras te carreguem — sussurrou. Era a única oração que faria
ali. — Que as sombras carreguem todos nós.
sto no cabelo
Horas mais tarde, de banho tomado, perfumada e vestindo vermelho, Red foi
as bochechasoficialmente abençoada como sacrifício para o Lobo em Wilderwood.
ue aconteceu Os cortesãos estavam enfileirados ao longo do corredor cavernoso, todos
vamos sendovestidos de preto. Havia mais pessoas aglomeradas do lado de fora, cidadãos
da capital misturados aos aldeões vindos de todo lugar pela oportunidade de
ver uma Segunda Filha consagrada pela Ordem.
ela parou de Do ponto de vista de Red, que estava sobre o tablado na frente do salão, o
público parecia apenas uma massa disforme, algo feito de membros inertes e
olhos atentos.
desmanchar o O tablado era circular e Red estava sentada de pernas cruzadas em um altar
de pedra escura bem ao centro, rodeada por sacerdotisas de diferentes
Templos de todo o continente, escolhidas a dedo para a situação de honra.
Todas usavam as vestes brancas tradicionais com o complemento de um
uer a cabeça, manto, também branco, e um grande capuz que escondia o rosto. Estavam de
costas para Red. As sacerdotisas que não tinham sido escolhidas para
elos entalhes participar também usavam mantos, e estavam sentadas em uma fileira solene
es de orações bem em frente ao tablado.
Em contraste, as vestes de Red eram escarlates como as que usara para o
esa. Precisoubaile, mas dessa vez de um modelo solto e sem corte — em qualquer outra
eus dedos. Acircunstância, seria um traje confortável. Seu cabelo estava solto sob um véu
uraça que ela igualmente cor de sangue, amplo o suficiente para cobrir o corpo todo e cair
pela borda do altar.
Branco para a devoção. Preto para a ausência. Escarlate para o sacrifício.
ya. Uma poça Na fileira atrás das sacerdotisas, Neve estava sentada entre Arick e Raffe,
tensa na beira do assento. O véu de Red fazia com que todos eles parecessem
ção que fariaensanguentados.
A Suma Sacerdotisa de Valleyda, o nível mais alto de autoridade religiosa
no continente, estava diretamente na frente de Red. Seu manto era mais longo
elho, Red foi do que o de todas as outras sacerdotisas e, para Red, quase parecia ser de um
tom mais claro de branco. Ela estava de frente para o altar e de costas para a

ernoso, todoscorte; a barra do saiote escorria pela borda do tablado e formava uma poça de
ora, cidadãostecido branco no chão.
ortunidade de Devoção transbordante. Uma gargalhada alta e estridente ficou presa na
garganta de Red; ela reprimiu o riso.
e do salão, o Com os olhos ocultos nas sombras profundas do capuz, a Suma
bros inertes eSacerdotisa se aproximou. Zophia ocupava o cargo desde que Red conseguia
se lembrar. O cabelo já não tinha cor alguma, e o rosto era marcado por sinais
s em um altar sugerindo uma idade que só poderia ser descrita como anciã. Ela segurava
de diferentesum galho branco nos braços com uma gentileza que se assemelhava à de uma
ão de honra.mãe que segura o filho recém-nascido, e o entregou à sacerdotisa ao lado com
mento de umo mesmo cuidado.
. Estavam de Embora estoicas, a maioria das outras sacerdotisas ao menos exibia algum
olhidas paratipo de emoção — alegria, na maioria dos casos. Sutil, mas ainda presente.
fileira soleneNão era possível dizer o mesmo da sacerdotisa que recebera o pedaço de
galho. Olhos azuis e impassíveis sob uma madeixa de cabelos cor de fogo
usara para ofitavam Red com uma expressão parecida com a de alguém que observa um
ualquer outrainseto. Seu olhar não esmoreceu quando Zophia estendeu o braço e retirou o
o sob um véuvéu de Red, dobrando o tecido nas mãos.
o todo e cair O medo do qual Red se blindara a atingiu em cheio quando o véu foi
retirado, como se este fosse uma espécie de armadura. Ela agarrou as
Arick e Raffe,extremidades do altar com força, as unhas a ponto de se quebrar contra a
s parecessempedra.
— Honramos seu sacrifício, Segunda Filha — sussurrou Zophia.
dade religiosa Ela se afastou e levantou os braços em direção ao teto. Ao seu redor, a
ra mais longoOrdem imitou o gesto em uma onda, começando diante do tablado e se
cia ser de umespalhando para trás em um mar de mãos erguidas.
costas para a Por um breve e esperançoso momento, Red pensou em fugir, em esquecer
uma poça deo fragmento de magia que vivia em seu peito e tentar salvar a si mesma em
vez de todos os outros. Quão longe conseguiria chegar se pulasse do altar,
cou presa naenrolada em véu vermelho? Eles a trariam de volta à força? A nocauteariam?
O Lobo se importaria se ela chegasse ferida?
uz, a Suma Ela pressionou as unhas contra a pedra outra vez. Uma delas se quebrou.
ed conseguia — Kaldenore, da Casa Andraline — anunciou a Suma Sacerdotisa em
ado por sinais direção ao teto, iniciando a litania das Segundas Filhas. — Enviada no Ano
Ela segurava Duzentos e Dez do Pacto.
ava à de uma Kaldenore, sem laços sanguíneos, nascida na mesma Casa que Gaya. Ela
ao lado comera criança quando o Lobo levara o corpo de Gaya até os limites da floresta,
quando os monstros irromperam de Wilderwood um ano mais tarde — uma
exibia algumtormenta de coisas indistintas, de acordo com testemunhas, vultos sombrios e
nda presente. transmorfos capazes de tomar a forma que bem entendessem. Quando a
o pedaço deMarca de Kaldenore apareceu, os monstros já caçavam os aldeões nortenhos
cor de fogo havia quase dez anos; segundo relatos, algumas vezes tinham alcançado até
e observa um mesmo Floriane e Meducia.
ço e retirou o Ninguém sabia o que a Marca significava, não inicialmente. Mas, certa
noite, Kaldenore foi encontrada sonambulando descalça em direção a
do o véu foiWilderwood, como que em transe.
a agarrou as Depois disso as peças se encaixaram, as palavras na casca da árvore no
santuário e o significado da morte de Gaya fizeram sentido. Kaldenore fora
brar contra aenviada a Wilderwood e os monstros tinham desaparecido.
— Sayetha, da Casa Thoriden. Enviada no Ano Duzentos e Quarenta do
Pacto.
seu redor, a Mais um nome, mais uma tragédia. A família de Sayetha era nova na
tablado e segovernança e acreditava que a oferenda da Segunda Filha se aplicava apenas
à linhagem de Gaya. Estavam enganados. Valleyda estava presa em seu
em esquecer acordo independentemente de quem estivesse no trono.
si mesma em — Merra, da Casa Valedren. Enviada no Ano Trezentos do Pacto.
asse do altar, Ao menos ela era uma ancestral de sangue. Os Valedren haviam assumido
ocauteariam? o trono depois que a última Rainha Thoriden não teve um herdeiro. Merra
nasceu quarenta anos depois de Sayetha ter sido enviada a Wilderwood, e o
nascimento de Sayetha aconteceu apenas dez anos depois da partida de
cerdotisa em Kaldenore.
viada no Ano — Redarys, da Casa Valedren. Enviada no ano Quatrocentos do Pacto. —
A Suma Sacerdotisa pareceu erguer as mãos ainda mais alto; o galho que
ue Gaya. Elaempunhava emitia sombras irregulares. Seus olhos se desviaram dos dedos e
s da floresta,pousaram no rosto de Red. — Quatrocentos anos desde que nossos deuses
tarde — umaafastaram os monstros. Trezentos e cinquenta anos desde que desapareceram,
os sombrios eafastados eles mesmos pela perfídia do Lobo. Amanhã, quando o sacrifício
m. Quando aatingir a idade de vinte anos, a mesma idade de Gaya quando vinculada ao
ões nortenhos Lobo e à Floresta, nós a enviaremos consagrada, vestida em branco, preto e
alcançado atéescarlate. Oramos para que seja suficiente para o retorno de nossos deuses.
Oramos para que seja suficiente para manter a escuridão longe de nossas
e. Mas, certaportas.
m direção a O coração de Red tamborilava seco em seus ouvidos. Ela permaneceu tão
imóvel quanto o próprio altar de pedra, tão imóvel quanto a estátua no
da árvore noSantuário. A efígie que esperavam que ela fosse.
aldenore fora
— Que você não se esquive de seu dever. — A voz nítida de Zophia era
Quarenta doum chamado retumbando com doçura. — Que encare seu destino com
dignidade.
era nova na Red tentou engolir, mas a boca estava seca.
icava apenas Zophia tinha um olhar frio.
resa em seu — Que seu sacrifício seja considerado suficiente.
Houve silêncio na câmara.
A Suma Sacerdotisa baixou os braços, pegando de volta o galho branco
am assumido que a mulher de cabelos ruivos segurava. Outra sacerdotisa se aproximou,
deiro. Merra segurando um pequeno recipiente com cinzas escuras. Com gentileza, Zophia
derwood, e omergulhou uma das pontas do galho nas cinzas e depois a passou pela testa
a partida de de Red, traçando um risco preto de têmpora a têmpora.
A casca de árvore estava morna. Red retesou cada um dos músculos para
do Pacto. —reprimir um arrepio.
o galho que — Marcamos você como vinculada — disse ela em tom sereno. — O Lobo
m dos dedos ee Wilderwood receberão aquilo a que têm direito.
ossos deuses
sapareceram,
o o sacrifício
vinculada ao
anco, preto e
ossos deuses.
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— Que você não se esquive de seu dever. — A voz nítida de Zophia era
um chamado retumbando com doçura. — Que encare seu destino com
dignidade.
Red tentou engolir, mas a boca estava seca.
Zophia tinha um olhar frio.
— Que seu sacrifício seja considerado suficiente.
Houve silêncio na câmara.
A Suma Sacerdotisa baixou os braços, pegando de volta o galho branco
que a mulher de cabelos ruivos segurava. Outra sacerdotisa se aproximou,
segurando um pequeno recipiente com cinzas escuras. Com gentileza, Zophia
mergulhou uma das pontas do galho nas cinzas e depois a passou pela testa
de Red, traçando um risco preto de têmpora a têmpora.
A casca de árvore estava morna. Red retesou cada um dos músculos para
reprimir um arrepio.
— Marcamos você como vinculada — disse ela em tom sereno. — O Lobo
e Wilderwood receberão aquilo a que têm direito.
3

Ao amanhecer, a corte partiu em grupos de carruagens envernizadas rumo ao


pequeno trajeto até Wilderwood. A carruagem de Red era a primeira da fila.
A não ser pelo cocheiro, ela viajava sozinha.
Uma bolsa de couro gasto ia a seus pés, cheia até a boca com livros. Red
não sabia dizer ao certo por que os trouxera, mas pesavam contra seu corpo
como uma âncora, mantendo-a conectada aos músculos doloridos e ao
coração pulsante. Além das roupas do corpo, a bolsa era a única coisa que ela
levava para Wilderwood. Ao menos estaria preparada para a possibilidade
remota de sobreviver tempo suficiente para ler.
Ela se esgueirara até a biblioteca logo depois do nascer do sol e retirara
seus romances e livros de poesia favoritos da estante. Ao erguer o braço para
alcançar uma prateleira mais alta, a manga da camisola escorregara pelo
antebraço.
A Marca era pequena. Um risco discreto sob a pele, uma raiz
delicadamente enrolada feito uma gavinha dando a volta logo abaixo do
cotovelo. Quando Red a tocou, as veias de seu dedo ficaram esverdeadas e as
sebes do lado de fora da janela da biblioteca se esticaram em direção ao
vidro.
A atração era sutil e começou apenas quando seus olhos perceberam a
Marca serpenteante no braço. Era suave, mas implacável — como se
houvesse um gancho preso às suas costas, puxando-a gentilmente em direção
ao norte, rebocando-a em direção às árvores.
Red fechou os olhos com força e cerrou os punhos, respirando com
dificuldade. Cada inspiração tinha gosto de terra fresca, e foi isso o que
finalmente a fez chorar. Encolhida, deitada no chão cercada pelo que parecia
uma fortaleza de livros, Red soluçou até o gosto de terra dar lugar ao de sal.
Agora o rosto estava limpo, e a Marca, escondida sob a manga das vestes
brancas que usava sob o manto.
adas rumo ao Vestes brancas, cinta preta, manto escarlate. Um grupo de sacerdotisas
meira da fila. silenciosas tinha deixado tudo em sua porta na noite anterior. Ela jogara a
pilha de roupas no canto do quarto; ao acordar naquela manhã, porém, Neve
m livros. Red estava lá, acomodando cada item no assento sob a janela. Desamarrotando os
tra seu corpovincos com a palma da mão.
loridos e ao Em silêncio, Neve ajudou Red a se vestir, segurando as vestes brancas para
coisa que elaque Red as colocasse pela cabeça e amarrando a faixa preta na cintura da
possibilidadeirmã. O manto foi a última peça, pesado, quente e da cor de sangue. Quando
terminaram, as gêmeas ficaram imóveis, caladas, encarando o reflexo de
sol e retirara ambas no espelho de Red.
o braço para Neve foi embora sem dizer uma palavra.
orregara pelo Na carruagem, Red fechou o manto ao redor do corpo. Não poderia manter
a irmã por perto, mas poderia manter aquela peça.
e, uma raiz O mundo corria além da janela. No norte de Valleyda havia apenas morros,
o abaixo do vales e paisagens abertas, como se Wilderwood não permitisse que houvesse
erdeadas e asquaisquer árvores além de suas próprias. Quando ela e Neve roubaram os
m direção aocavalos e cavalgaram na direção norte na noite do aniversário de dezesseis
anos das duas, ela se lembrava de ter ficado impressionada com o vazio. Ela
perceberam a se sentira como uma estrela cadente em uma noite de céu limpo, cortando a
— como seescuridão fria.
e em direção Alguns aldeões apareciam na beira da estrada aqui e ali, observando,
taciturnos, a procissão que passava. Red provavelmente deveria acenar, mas
pirando comela olhava para a frente e o que via do mundo terminava onde a aba do capuz
i isso o quevermelho começava. A Marca latejava no braço, e a sensação de puxar que
o que parecia causava fazia com que ela se sentisse trêmula e frágil.
A estrada acabava bem antes de chegar a Wilderwood — ninguém além da
ga das vestesSegunda Filha poderia entrar, e ninguém mais tentaria, então não havia razão
para tornar o caminho acessível. A carruagem deu um solavanco quando as
sacerdotisas rodas encontraram a grama congelada, entrando em uma zona de fronteira
Ela jogara a que não pertencia nem a Red nem ao Lobo.
porém, Neve Os membros de Red se movimentaram como se por vontade própria. Ela
marrotando ossegurou o saiote das vestes e pendurou a bolsa de livros no ombro. Desceu da
carruagem com cuidado. Não chorou.
brancas para Sem olhar para trás, o cocheiro deu meia volta com os cavalos assim que
na cintura daRed se afastou da carruagem. Um estranho e grave zumbido vinha da
gue. Quandofronteira da floresta, cativante e repulsivo ao mesmo tempo. Puxando-a para
o reflexo demais perto, alertando os demais para que mantivessem distância.
A comitiva de carruagens atrás dela preenchia a estrada como contas em
um colar. A fila estava quase alcançando a vila. Eram os que tinham viajado
oderia manterpara ver a oferenda sendo entregue, agora esperando silenciosamente que o
trabalho fosse concluído.
penas morros, Wilderwood se erguia diante de Red, projetando sombras no chão
que houvessecongelado. Galhos secos se elevavam névoa adentro, subindo alto até se
roubaram os perderem de vista. Troncos retorcidos se dobravam e curvavam como
de dezesseisdançarinos congelados, e os pedaços de céu visíveis por entre as árvores
o vazio. Ela pareciam mais escuros do que deveriam ser, como se lá em cima já fosse fim
o, cortando ade tarde. As árvores se estendiam em uma linha reta e nítida de demarcação,
de um lado ao outro, a perder de vista, um limite claro entre lá e aqui.
observando, Ela não recebera instruções sobre o que fazer a seguir, mas parecia
acenar, masbastante simples. Entrar no meio das árvores. Desaparecer.
aba do capuz Red deu um passo à frente em um movimento inconsciente, levada pela
de puxar quefloresta como uma folha ao sabor do vento. Respirava ofegante a cada passo.
Wilderwood a reivindicaria em questão de momentos — mas que as sombras
uém além daa carregassem, ela decidiria como se entregaria.
o havia razão — Red!
co quando as A voz de Neve rasgou o silêncio. Ela saltou da carruagem em que estava,
de fronteira quase tropeçando na barra das vestes pretas. O diadema preso no cabelo
refletiu a luz do sol enquanto ela marchava pela estrada, com determinação
própria. Elaestampada no rosto.
o. Desceu da Pela primeira vez desde que tinha lembrança, Red rezou, rezou para Gaya
ou os Cinco Reis ou qualquer um que pudesse ouvi-la.
os assim que — Ajudem Neve — murmurou ela entredentes. — Ajudem Neve a seguir
do vinha da em frente.
xando-a para O que quer que ainda restasse da vida de Red estava esperando por ela
além das árvores, mas Neve estava ali. O pensamento era pungente e
mo contas emdisforme, a ideia de que, pela primeira vez desde que tinham sido concebidas,
nham viajado ela e a irmã gêmea estariam separadas.
amente que o Mais alguém saiu da carruagem que vinha atrás da de Neve. Red sentiu um
frio na barriga pensando se tratar de Arick ou Raffe, pensando que aquela
ras no chão poderia ser uma última tentativa dos três de mudar o que já era definitivo.
o alto até se Mas quando a terceira pessoa se aproximou devagar, dando a volta ao redor
vavam como do veículo, de cabeça erguida, ela viu que não era Arick.
e as árvores Mãe.
a já fosse fim Fisicamente, Red puxara à mãe. Tinha o mesmo cabelo dourado, as
demarcação, mesmas maçãs do rosto definidas, o torso e o quadril largo que a esguia Neve
não possuía. Ver a mãe atravessando o campo coberto de neve era quase
mas parecia como olhar em um espelho, quase como assistir ao próprio sacrifício.
Talvez aquele pensamento significasse alguma coisa.
, levada pela Neve a alcançou antes da mãe, respirando como se estivesse reprimindo
a cada passo. um soluço. Puxou Red para si, segurando os ombros da irmã com as mãos
e as sombrasmagras.
— Vamos nos ver outra vez — sussurrou ela. — Vou encontrar um jeito.
Eu prometo.
m que estava, Seu tom era o de alguém que aguardava uma resposta, mas Red não queria
so no cabelo mentir.
determinação A sombra da mãe se projetou sobre elas, mais escura que a das árvores.
— Neverah. Por favor, volte para a carruagem.
ou para Gaya Neve não olhou para Isla.
— Não.
Neve a seguir Houve uma pausa. Depois Isla inclinou a cabeça, como se cedesse.
— Então nos despediremos juntas.
ando por ela Aquele deveria ser um momento importante, Red sabia disso. A mãe de
pungente e Merra ficara tão desesperada quando a filha fora enviada para Wilderwood
o concebidas, que ela quase desistira. A mãe de Sayetha precisara ser sedada por dias a fio
depois da partida da filha. A mãe de Kaldenore fora sedada antes, e quase
Red sentiu umenlouquecera quando a Marca aparecera no braço da filha, quando enfim
o que aquela descobriram que toda Segunda Filha das rainhas de Valleyda estava
ra definitivo.vinculada ao pacto de Gaya com a floresta.
olta ao redor Mas despedidas só tinham significado para pessoas que se conheciam, e
Isla nunca se dera ao trabalho de conhecer Red.
A Rainha contraiu os braços sob o manto.
dourado, as — Sei que me acham cruel. — O sussurro escapou de seus lábios como um
esguia Neve fantasma. — Vocês duas.
ve era quase Neve continuou em silêncio. Seus olhos pousaram em Red.
Havia anos de silêncio reprimidos na garganta de Red, anos de anseio por
emoções que ela nunca tivera de verdade.
e reprimindo — Gostaria que você tivesse sido cruel — respondeu a Segunda Filha,
com as mãossabendo que as palavras significavam que agora a crueldade era dela. — Ao
menos cruel teria sido alguma coisa.
trar um jeito. Isla continuou imóvel como um cadáver.
— Você nunca pertenceu a mim, Redarys. — Uma madeixa dourada
ed não queriaescapou da rede dourada que prendia o cabelo da Rainha, longa o suficiente
para chegar perto da bochecha de Red. — Desde que nasceu, seu lugar era
aqui. E nunca permitiram que eu me esquecesse disso.
A Rainha deu meia-volta, caminhando em direção à carruagem. Não olhou
para trás.
Devagar, Red se voltou para as árvores, deixando-se levar pelo leve e
insistente puxão da Marca. Ouvia um farfalhar de folhas em sua audição
periférica, embora, na teoria, estivesse longe demais para que o som chegasse
o. A mãe deaté ela. Em suas entranhas, seu fragmento de magia, o presente sombrio de
WilderwoodWilderwood, abria-se como uma flor sob o sol.
por dias a fio Neve se virou com ela, olhando para a floresta com medo e ódio
e quase escancarados.
uando enfim — Não é justo.
leyda estava Red não respondeu. Apertou a mão de Neve. Depois deu o primeiro passo
em direção a Wilderwood.
conheciam, e — Eu prometo, Red — bradou Neve enquanto ela se afastava. — Vamos
nos encontrar de novo.
Red olhou para Neve por cima dos ombros. Não alimentaria falsas
ios como umesperanças, mas havia uma verdade irrefutável que poderia dizer.
— Eu amo você.
A resposta, a despedida. As lágrimas nos olhos de Neve escorreram pelo
de anseio por rosto.
— Amo você.
gunda Filha, Depois de olhar para a irmã uma última vez, Red cobriu a cabeça com o
a dela. — Aocapuz escarlate, abafando todo e qualquer som exceto a pulsação do coração
em seus ouvidos. Ela avançou, e as árvores a engoliram.

eixa douradaEstava mais frio em Wilderwood.


a o suficiente A temperatura caiu depressa e o ar ficou tão gelado que Red se sentiu grata
seu lugar erapor estar vestindo o manto. Quando ela cruzou o limite das árvores,

avançando em direção ao zumbido ensurdecedor, uma pressão dolorosa


m. Não olhoutomou conta da atmosfera a seu redor. Era tão intensa que ela quase foi ao
chão, quase gritou…
pelo leve e Mas a pressão e o zumbido desapareceram no momento em que colocou
sua audiçãoambos os pés dentro dos limites da floresta, onde havia apenas as folhas e um
som chegassesilêncio profundo e imaculado. A névoa era a única coisa que se movia,
e sombrio derastejando sinuosa logo acima do chão.
Debaixo da manga das vestes e do tecido escarlate do manto, Red sentiu
medo e ódiouma última pontada na Marca. Em seguida a sensação tênue de que algo a
puxava desapareceu. Distraída, ela massageou o sinal.
As árvores eram esquisitas. Algumas eram baixas e nodosas, enquanto
rimeiro passooutras erguiam-se altas, eretas, com a casca de um branco estranho que descia
pelo tronco até encontrar o chão da floresta. Na base, as árvores ficavam mais
a. — Vamos retorcidas e curvas, as faixas de mofo se destacando como veias corroídas.
Algumas das árvores tinham o fungo escurecido apenas em volta das raízes,
ntaria falsas enquanto em outras a corrosão se espalhava até quase a altura de Red.
As árvores brancas tinham galhos apenas na copa, leques de ramos com
casca branca que se pareciam com ossos. Como os pedaços de casca que
orreram pelo havia no Santuário.
Uma das árvores brancas ficava bem no limite da floresta. Os fungos
escuros haviam tomado metade de seu tronco. Até mesmo o chão em volta
abeça com odela parecia escurecido, e tinha um cheiro de certa forma gelado. As árvores
o do coraçãopróximas, de casca marrom e repletas de galhos irregulares, estavam
intocadas.
Além das árvores, Red estava sozinha.
Trêmula e respirando fundo, Red tentou desatar o nó na garganta. Sua
e sentiu gratamagia indesejada desenrolava-se em seu peito, um desabrochar lânguido, um
das árvores, leve resquício de verde colorindo suas veias. Ela esperava que a magia se
são dolorosarebelasse, irrompesse em busca de liberdade. Cerrou os dentes na expectativa
quase foi ao de que todas as árvores em toda a porcaria da floresta tentassem tocá-la.
Mas seus poderes se mantiveram dóceis. Quase como se estivessem
que colocouesperando por alguma coisa.
s folhas e um Ainda assim, havia uma sensação de alerta ali. Red fora vista, Red estava
ue se movia,marcada. As árvores a conheciam, elas se lembravam — seu sangue no chão
da floresta, um desespero apressado, o dom de um poder que ela não queria e
o, Red sentiunão sabia controlar.
e que algo a Por um breve momento cegante, Red desejou ter um fósforo, embora
aquilo não fosse lhe trazer nenhuma vantagem. A mãe de Sayetha tentara
as, enquantoincendiar Wilderwood, assim como Neve. E nada acontecera.
ho que descia Ela pressionou as costas da mão contra os dentes, expirando ruidosamente
ficavam mais pelo nariz. Não queria que Wilderwood a visse chorar.
as corroídas. Quando a ameaça das lágrimas passou, Red segurou com mais força a alça
ta das raízes,da bolsa em que carregava os livros e tentou enxergar no breu. Não fazia
sentido prolongar o inevitável.
e ramos com — Estou aqui! — O grito reverberou, ecoando e se distorcendo, cada vez
de casca que mais agudo conforme avançava pelo espaço e pelo silêncio. Veio seguido de
uma risada doentia, escapando de sua garganta. — Eu sou aceitável?
a. Os fungos Nada aconteceu. A névoa pairava no ar, muda, enroscando-se e se
hão em voltaenrolando nos galhos e sobre folhas secas.
o. As árvores Cerrou os dentes, frustrada, o desespero de segundos antes se
res, estavamtransformando em uma fúria incontrolável. Sentiu raízes se arqueando na
direção dela sob os pés, sentiu ramos cor de osso se esticando sobre sua
cabeça. Seu instinto lhe dizia para reprimir a magia, mas aquela era
arganta. Sua Wilderwood, o lugar ao qual a magia pertencia. O lugar onde nascera.
lânguido, um — Estou aqui, maldição! — gritou para a floresta sombria. — Venha
e a magia sebuscar seu sacrifício, Lobo!
a expectativa Wilderwood pareceu se curvar em direção a ela. Aguardando, ansiando.
Como se Red tivesse algo que ela desejava.
e estivessem A bravura desapareceu tão rápido quanto surgiu. De repente, manchas
começaram a dançar diante dos olhos de Red enquanto ela ofegava, cerrando
, Red estavaos punhos, ou ao menos tentando — o solo da floresta mantinha seus dedos
ngue no chão esticados para baixo.
não queria e Ela franziu a testa ao ver as mãos espalmadas no chão. Não se lembrava de
ter se ajoelhado, não se lembrava de pressionar as palmas contra a terra.
foro, embora Antes que tivesse oportunidade de se pôr de pé, suas mãos começaram a
yetha tentara afundar.
Num piscar de olhos, o solo engoliu seus braços até a altura dos pulsos, os
ruidosamentededos descendo fundo, encontrando raízes fibrosas e nelas se enroscando. As
raízes roçaram as mãos de Red como se dotadas de consciência, arrastando-se
s força a alçae cutucando o nó de seus dedos e as palmas de suas mãos como se em busca
u. Não faziade alguma coisa. Ela sentiu uma pontada, uma sensação sinuosa na carne sob
as unhas enquanto uma raiz fina tentava se introduzir em seu corpo.
do, cada vez O coração de Red disparou e sua garganta se comprimiu em uma sensação
o seguido dede pânico enquanto, desesperada, ela tentava se soltar, arrancar as mãos da
terra com puxões violentos para escapar da raiz que invadia sua pele. Ramos
ndo-se e sedelgados roçavam seu couro cabeludo, enroscando-se no cabelo.
Reivindicando seu corpo.
os antes se A magia em seu âmago avançava, de maneira lenta porém implacável,
rqueando na como vinhas desabrochando num verão que se tornava mais intenso a cada
do sobre sua batida acelerada do coração. Era como se a magia tentasse escapar por sua
s aquela erapele para se reunir com a floresta responsável por criá-la.
Não.
a. — Venha Red cerrou os dentes. Sufocou a magia, engolindo o gosto de terra na boca,
comprimindo-a até sentir que estava prestes a desmaiar com o esforço de
do, ansiando. conter uma parte dela mesma para assim silenciá-la. A testa de Red estava
molhada de suor quando sua magia finalmente foi contida, recolhendo-se
nte, manchas para o lugar que Red reservara para ela. Seus pulsos ardiam, esverdeados
ava, cerrando com o poder que ela se recusava a libertar.
a seus dedos Com um puxão, Red desenterrou as mãos do solo da floresta. Raízes
partidas serpentearam pelo chão enquanto ela limpava as mãos nos joelhos,
lembrava de como cobras voltando para a toca.
Três árvores brancas se curvaram em direção a Red, todas parecendo mais
começaram apróximas do que estavam um momento antes. Delicados e ágeis, os galhos se
inclinaram para baixo como uma mão congelada no ar, prestes a acariciá-la.
os pulsos, os Um som suave ressoou como água fervente borbulhando e transbordando
roscando. As — por um momento, pareceu uma voz, uma palavra. Mas se dissipou antes
arrastando-seque Red pudesse compreender, deixando em seu lugar apenas o som da brisa
se em buscae do farfalhar das folhas.
na carne sob No silêncio que se seguiu, três flores se desprenderam e caíram do mesmo
ramo de um arbusto florido, um dos vários que se espalhavam pela floresta.
uma sensação As pequenas flores brancas murcharam e escureceram antes de tocar o chão.
r as mãos da Aquilo deu a Red a inquietante impressão de um preço sendo pago.
pele. Ramos Engolindo em seco, ela se pôs de pé e jogou a bolsa no ombro.
no cabelo. — Pois bem. Parece que eu mesma vou ter que encontrar você.
Embrenhou-se por entre as árvores.
m implacável, Red não sabia dizer por quanto tempo tinha caminhado quando o
ntenso a cadaaglomerado de moitas se ergueu diante dela, crescido em torno de uma das
apar por suaárvores brancas. Arbustos baixos e secos envolviam o tronco, exibindo
espinhos protuberantes que despontavam em ângulos ameaçadores. Atrás da
folhagem, Red mal podia enxergar o fungo escuro que escalava a árvore,
erra na boca,subindo em direção aos grupos de galhos no topo.
o esforço de Seu capuz se enroscou em um espinho quando ela tentou contornar a
e Red estavavegetação. Red podia jurar que ele não estivera lá um segundo antes. O tecido
ecolhendo-se vermelho escorregou para revelar seu rosto. Outro espinho afiado como uma
esverdeadoslâmina traçou um risco de sangue em sua bochecha.
Red levou a mão ao corte, mas era tarde demais. Uma gota de sangue
resta. Raízes escorreu lentamente pelo espinho, atingindo a base e pingando no espinho
nos joelhos, seguinte, seguindo na direção do tronco escurecido da árvore branca.
Se tentasse esticar a mão pelo emaranhado para limpar o sangue, ela se
recendo maisarranharia em mais espinhos e derramaria mais sangue. Então ficou parada,
os galhos seobservando e esperando enquanto o medo incendiava seu peito.
O sangue tocou o tronco branco e ali parou. Então a árvore o absorveu
ransbordandoengolindo-o como solo árido sorvendo água.
issipou antes Tropeçando em amontoados de folhas, Red recuou, tomando distância da
som da brisaárvore até colidir com outra, esta também afilada e esbranquiçada, também
coberta por fungos escuros. O saiote do vestido se enroscou nos arbustos
m do mesmomais baixos e Red rasgou o tecido para se libertar, o ruído soando
pela floresta. sobrenaturalmente alto na floresta silenciosa.
Aquele som outra vez, reverberando do chão da mata enquanto folhas se
agitavam e trepadeiras se esticavam e gravetos estalavam e se fundiam em
algo parecido com uma voz — algo que ela não podia ouvir, mas que podia
sentir. Movia-se com violência vindo de seu peito, proveniente do fragmento
de magia que ela mantinha sufocado sob extraordinário esforço.
o quando o Finalmente.
o de uma das Houve apenas uma por tempo demais.
co, exibindo Um galho comprido se desprendeu de uma árvore e caiu ao chão da
res. Atrás da floresta. Secou em um piscar de olhos, anos de decomposição condensados
ava a árvore, em segundos, deixando para trás apenas uma casca sem vida.
Rangendo os dentes, Red sentiu os pelos dos braços se eriçarem. Galhos se
contornar a arqueavam em sua direção, raízes deslizavam sob seus pés e ela permanecia
ntes. O tecidoimóvel como uma gazela na mira de uma flecha.
do como uma Era para isso que ela vinha se preparando, nas profundezas de sua mente,
em lugares que ela não precisava olhar de perto. Ela omitira aquilo de Neve,
ta de sanguedizendo que ninguém sabia o que havia acontecido com as Segundas Filhas
o no espinhoque cruzaram a fronteira. Mas ela sempre soubera que não poderia haver nada
ali além de morte, e achava estar preparada.
angue, ela se Agora que estava diante dela, na forma de galhos que se pareciam com
ficou parada,garras e raízes retorcidas, ela se deu conta de que preparação não significava
resignação. Toda a submissão que engolira ao longo de vinte anos entrou em
o absorveu, erupção e transbordou; fez com que ela cerrasse os dentes não de medo, mas
de fúria. Ela queria ficar viva. Que fossem para o inferno as coisas que
distância daconspiravam para o contrário.
ada, também Então Red correu.
nos arbustos Ramos verdes se lançaram na direção dela, e as folhas que cobriam o chão
uído soandose entrelaçavam para tentar fazer com que ela tropeçasse. As árvores brancas
se dobravam e se curvavam como se lutassem contra amarras invisíveis,
nto folhas sebradando por liberdade.
fundiam em Como se a floresta fosse um animal faminto por seu sangue, e algo a
as que podiaestivesse contendo.
do fragmento Red finalmente chegou a uma clareira. O espaço aberto era rodeado por
árvores brancas, mas ela correu para o centro, onde o chão era coberto apenas
por musgo e terra. Caiu de joelhos no chão, ofegante. Seu vestido estava em
frangalhos, o cabelo coberto de gravetos.
ao chão da O instante de calma foi interrompido por um som de madeira se
condensadosdespedaçando. Um dos troncos brancos se partia em dois devagar, como um
sorriso rasgando uma boca de ponta a ponta.
m. Galhos se O tronco se abriu, amplo, exibindo presas que gotejavam seiva. Um por
a permanecia um, os outros troncos também se rasgaram em sorrisos, sorrisos cheios de
dentes, dentes que ansiavam por sangue.
e sua mente, Com as pernas trêmulas, Red se levantou com um salto e voltou a correr.
uilo de Neve, Os pés estavam dormentes e ela sentia pontadas na lateral do corpo, mas
gundas Filhascontinuou correndo sem parar.
ia haver nada Em um dado momento, seus joelhos cederam e a visão escureceu. Red
desabou sobre um monte de folhas, a testa pressionada contra o chão.
areciam com Talvez aquele fosse o cumprimento do pacto. As histórias a respeito do
o significava corpo de Gaya, coberto por raízes e fungos — talvez o Lobo não fosse decidir
os entrou emse ela era ou não um sacrifício aceitável até que sua Wilderwood a devorasse
de medo, mascomo havia devorado Gaya em seu fim, aguardando na esperança de que ela
s coisas quefosse cuspir os Reis em retribuição. Talvez ele tivesse sido o responsável por
conter a floresta enquanto a Segunda Filha corria, atiçando seu apetite com a
perseguição para soltá-la quando Red tivesse se exaurido.
briam o chão Os olhos de Red se fecharam à espera da dentada no pescoço.
vores brancas Um minuto. Dois. Nada aconteceu. Com o cabelo grudado no suor do
as invisíveis,rosto, ela olhou para cima.
Um portão de ferro irrompia do chão. Com o dobro da altura dela, ele ia de
ue, e algo auma extremidade a outra, fazendo uma curva antes de desaparecer na
penumbra. Por entre os vãos do metal, era possível ver partes de um castelo
rodeado por— uma torre, um torreão. Estava em ruínas, metade engolido pela floresta
oberto apenas que o cercava, mas era alguma coisa.
do estava em Red se levantou. Suas pernas bambeavam. Devagar, empurrou o portão
com as duas mãos.
madeira se
ar, como um

eiva. Um por
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Red se levantou. Suas pernas bambeavam. Devagar, empurrou o portão
com as duas mãos.
4

O portão não se abriu.


Red correu o olhar pelo ferro enquanto limpava a mão no vestido rasgado.
Se havia um ferrolho, era pequeno demais para se enxergar. Também não
havia dobradiças — o portão era uma placa contínua de ferro. Havia um
trecho que ficava entre dois pilares em espiral, como se marcando uma
entrada, mas a barra que cortava o meio era tão sólida quanto as demais.
— Pelo amor de todos os Reis!
Dentes à mostra, Red bateu com as mãos contra o metal. Tinha acabado de
atravessar uma floresta dentada; era capaz de encontrar uma forma de abrir a
droga de um portão.
Um farfalhar. Red olhou para trás sobre o ombro. Apenas duas das árvores
brancas eram visíveis na escuridão, mas ambas pareciam mais próximas do
que estavam antes.
Red tentou erguer as mãos para bater no portão outra vez, mas elas não
obedeceram. Suas palmas se recusaram a se mover, como se elas e o ferro
fossem um. Red tentava se soltar, os pés escorregando nas folhas, mas o
portão a segurava. Sua respiração ofegante ecoava alto em meio à névoa
silenciosa.
Tinha a sensação de estar sendo observada pelas árvores; era uma sensação
que pesava sobre seus ombros e a deixava com os cabelos da nuca arrepiados.
Observando. Aguardando. Ainda famintas.
Algo se moveu sob sua mão, quebrando o ciclo de pânico bruto, que agora
dava lugar a um medo focado e apurado.
A superfície do portão se mexia, deslizando como se ela estivesse com a
mão apoiada sobre um formigueiro. O metal rústico se encrespava sob sua
pele, traçando as linhas das palmas de suas mãos e suas impressões digitais.
De maneira tão repentina quanto começou, a sensação de comichão cessou.
A barra de metal sólido se abriu ao meio, devagar e de baixo para cima, como
tido rasgado.uma árvore brotando do chão. Com um puxão silencioso, o portão se abriu.
Também não Red se deteve por um instante e cambaleou portão adentro. Assim que
o. Havia umpassou, ele se fechou atrás dela. Não precisou verificar para saber que se
arcando uma tornara sólido outra vez. Quando olhou para as mãos, viu que elas estavam
intactas a não ser por alguns resquícios de ferrugem.
O castelo em ruínas se erguia em meio à névoa e às sombras, quase tão alto
a acabado dequanto as árvores que o cercavam. Provavelmente fora imponente um dia,
ma de abrir amas agora as paredes pareciam ter mais musgo do que pedras. Um longo
corredor se estendia à esquerda e terminava em um amontoado de pedras
s das árvoresquebradas. Adiante, uma torre alta perfurava o céu; havia uma porta de
próximas do madeira desgastada pelo tempo bem no meio da parede principal. Do lado
direito, havia uma estrutura que parecia ser de um amplo salão, em condições
mas elas nãoconsideravelmente melhores do que o corredor. Pilhas de pedras
las e o ferro despedaçadas permeavam o lugar — escombros de muralhas desmoronadas e
olhas, mas otorreões derrubados.
meio à névoa Não havia árvores brancas do lado de dentro do portão.
O tremor nas pernas se estabilizou. Red não sabia qual era o significado de
uma sensação segurança naquele lugar; naquele momento, porém, estar longe das árvores
ca arrepiados.bastava.
O corte na bochecha ainda ardia. Com um silvo, Red tocou o machucado.
Seu dedo voltou manchado de sangue aquoso. Diante dela, a porta
to, que agoraenvelhecida aguardava.
Ele estava em algum lugar lá dentro. Ela quase podia sentir. Era uma
ivesse com acerteza que pinicava sua nuca e fazia pulsar a Marca no braço. O Lobo, o
pava sob sua guardião de Wilderwood e suposto carcereiro de deuses. Red não fazia ideia
do que ele faria com ela agora que estava ali. Talvez ela tivesse escapado da
ichão cessou.floresta apenas para ser atirada de volta; talvez o Lobo quisesse se certificar
a cima, como de que as árvores terminariam o que tinham começado.
Mas a única alternativa era ficar ali fora, sob um crepúsculo frio e
o. Assim quesobrenatural, esperando para ver se o portão de ferro seria suficiente para
saber que semanter Wilderwood longe.
elas estavam Não adiantava ficar pensando em mitos. Ela fazia parte daquelas histórias
tanto quanto ele; já que sua destruição era iminente, preferia ser parte ativa
quase tão altoem vez de observadora. Colocando a bolsa no ombro, Red marchou em frente
ente um dia,e empurrou a porta.
s. Um longo Ela esperava se deparar com escuridão e ruínas, imaginava que o interior
do de pedrasdo castelo parecesse tão abandonado quanto o lado de fora. E esse teria sido o
ma porta decaso, não fossem os candeeiros.
pal. Do lado Não, não eram bem candeeiros — o que ela pensou ser um candeeiro era,
em condiçõesna verdade, uma trepadeira lenhosa, sinuosamente disposta ao longo das
de pedrasparedes quase circulares. Chamas queimavam equidistantes ao longo de seu
smoronadas e comprimento, mas a trepadeira em si não pegava fogo e as chamas não se
espalhavam. Red também não via marcas do fogo, como se as chamas
simplesmente estivessem ali, suspensas, presas à madeira por um elo
ignificado deinvisível.
e das árvores Por mais estranha que fosse a luz, ela iluminava os arredores. Red estava
em um saguão cavernoso com um teto alto e abobadado. Uma claraboia com
o machucado.o vidro trincado filtrava a luz crepuscular sobre seus pés. Cobrindo todo o
ela, a portachão, havia um tapete de musgo cor de esmeralda repleto de cogumelos
agáricos. Logo em frente havia uma escada cujos primeiros degraus também
tir. Era umaestavam cobertos de musgo. Ela levava para um mezanino no alto da torre
o. O Lobo, o que circundava as paredes. Red mal conseguia ver o traço das trepadeiras nas
ão fazia ideiasombras, entrelaçando-se aos corrimãos, pendendo em direção ao chão. O
escapado dacorredor que ela avistara do lado de fora se estendia à esquerda da escada; à
e se certificar direita ficava a sala encovada, com a entrada arqueada quebrada no topo.
Tudo estava vazio.
úsculo frio e As botas de Red emitiam sons úmidos contra o musgo enquanto ela
ficiente para caminhava pelo salão. Ao observar com mais atenção, encontrou sinais de
vida: um manto escuro pendurado no corrimão da escada e três pares de botas
elas históriassurradas próximos ao arco que levava ao outro cômodo. Mas nada se
er parte ativamovimentava nas ruínas, e tudo estava assustadoramente silencioso. Red
hou em frentefranziu o cenho.
Atrás dela, uma luz se apagou. Devagar, Red olhou para trás.
que o interior Outra chama ao longo da estranha trepadeira se apagou.
e teria sido o Ela quase tropeçou na pressa para chegar à escada; ao pousar o pé sobre o
primeiro degrau, porém, percebeu que não havia luz alguma lá em cima. Red
andeeiro era,recuou e deu meia-volta, contornando as escadas. Uma luz fraca iluminava
ao longo dasseu caminho, vinda de chamas que margeavam outra escada, esta levando
longo de seu para baixo e não para cima. Red correu em direção a ela enquanto o saguão
hamas não seao redor mergulhava rápido em luz crepuscular.
e as chamas A última chama se apagou assim que Red chegou à escadaria. Ela se
por um elo deteve, respirando ofegante, na intenção de verificar se as luzes diante dela
fariam o mesmo. Mas as chamas continuaram firmes e brilhantes, acesas ao
s. Red estavalongo de outra trepadeira, intacta e peculiar.
laraboia com O tapete de musgo também cobria os primeiros degraus da segunda escada,
rindo todo o mas logo depois era substituído por uma cama de raízes finas que se
e cogumelos
raus também entrelaçavam sobre a pedra como veias. Red desceu olhando para os pés para
alto da torrenão tropeçar. Contava os passos como distração para não entrar em pânico.
epadeiras nas Os degraus terminavam em um pequeno patamar onde havia uma porta de
o ao chão. Omadeira. Nada mais. Red empurrou a porta e a abriu antes que pudesse pensar
da escada; à em motivos para não o fazer.
A porta não rangeu. Uma luz alaranjada e acolhedora vazava pelas frestas
do batente e enchia o patamar como um sol nascente. Red entrou tão
enquanto ela silenciosamente quanto pôde, depois estacou. De início, a familiaridade do
rou sinais delugar a atingiu como uma lâmina; em seguida, como um bálsamo.
ares de botas Uma biblioteca.
Mas nada se Quando ainda estava em — ela se deteve antes de ter a chance de pensar na
encioso. Redpalavra casa; doeria demais e não seria inteiramente verdade, de qualquer
forma — Valleyda, a biblioteca fora um dos lugares onde passara a maior
parte do tempo. Neve tinha aulas quase todos os dias, aulas sobre coisas mais
complexas do que a leitura e a matemática que eram ensinadas a Red, então
o pé sobre oRed acabava ficando sozinha. Ela lera quase tudo que havia na biblioteca do
m cima. Redpalácio; algumas coisas, duas vezes. Era uma das maneiras de acalmar a
ca iluminavamente quando ela começava a ruminar e transbordar, conectando temores em
esta levandoteias que ela não conseguia desembaraçar. O cheiro de papel, a ordem e a
nto o saguão constância das palavras impressas, a sensação das bordas das páginas em seus
dedos eram coisas que acalmavam a tempestade mental, transformando-a em
daria. Ela secalmaria.
s diante dela Na maioria das vezes, ao menos.
es, acesas ao Mas os livros eram a única coisa que aquela biblioteca tinha em comum
com a do palácio. Estantes abarrotadas estavam dispostas em fileiras retas.
gunda escada,Havia livros espalhados por mesas pequenas; uma pilha deles se equilibrava
finas que se perto da porta, sobre a qual jazia uma caneca cheia pela metade do que, pelo
cheiro, parecia ser café. O ambiente tinha uma iluminação dourada de velas
a os pés paracom chamas sinistras que não se mexiam — não, não eram velas. Eram lascas
de madeira, curiosamente intactas mesmo com as chamas, como as
uma porta detrepadeiras do andar de cima.
udesse pensar A bolsa da Segunda Filha caiu ao chão com um baque abafado. Red
prendeu a respiração por um segundo, mas nada se mexeu. Ela soltou o que
pelas frestaspoderia ser considerado uma risada se houvesse mais energia e menos medo
d entrou tãopor trás dela. Uma biblioteca? No meio de Wilderwood?
iliaridade do Com cuidado, ela deu alguns passos adiante, roçando os dedos nas
lombadas dos livros nas estantes. O cheiro de pó e papel velho fazia cócegas
em seu nariz, mas não havia sinal de mofo e todos os livros pareciam bem-
de pensar nacuidados, até mesmo os que aparentavam ser muito velhos. Então havia
de qualquer alguém tomando conta daquela biblioteca. Muito melhor do que pareciam
sara a maior estar cuidando do resto do castelo.
e coisas mais Red reconheceu a maioria dos títulos. A biblioteca do palácio tinha um
a Red, então acervo famoso que ficava atrás apenas do da Grande Biblioteca de Karsecka,
biblioteca do no extremo sul do continente. Monumentos da era perdida da magia,
de acalmar aHistória das rotas comerciais de Rylt, Tratados sobre a democracia
o temores emmeduciana.
a ordem e a Vagou por entre as prateleiras, permitindo que o ambiente e os cheiros
ginas em seusfamiliares de uma biblioteca a tranquilizassem. Estava quase calma quando
rmando-a em chegou ao fim da quinta estante.
Então, ela o viu.
Red deixou escapar uma arfada de surpresa que despedaçou o silêncio da
a em comum biblioteca, depois cobriu a boca com a mão como se pudesse forçar o som a
fileiras retas. entrar novamente.
e equilibrava O vulto à mesa não pareceu notar. Estava debruçado sobre um livro aberto,
do que, peloa mão se mexendo enquanto escrevia num papel com uma caneta-tinteiro. A
rada de velaslargura de seus ombros trazia uma imagem de força — mas a força de um
. Eram lascashomem, não de um monstro; os dedos que seguravam a caneta eram longos e
s, como aselegantes, nada parecidos com garras. Ainda assim, havia algo de
sobrenatural em suas feições, algo que tinha um toque humano, mas não
abafado. Redapenas isso.
soltou o que — Eu não tenho chifres, se é o que está se perguntando.
menos medo Tinha se virado para Red enquanto ela encarava as mãos dele. O Lobo
semicerrou os olhos.
s dedos nas — Você deve ser a Segunda Filha.
fazia cócegas
reciam bem-
Então havia
que pareciam

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de Karsecka,
a da magia,
democracia

e os cheiros
alma quando

o silêncio da
orçar o som a

livro aberto,
ta-tinteiro. A
força de um
homem, não de um monstro; os dedos que seguravam a caneta eram longos e
elegantes, nada parecidos com garras. Ainda assim, havia algo de
sobrenatural em suas feições, algo que tinha um toque humano, mas não
apenas isso.
— Eu não tenho chifres, se é o que está se perguntando.
Tinha se virado para Red enquanto ela encarava as mãos dele. O Lobo
semicerrou os olhos.
— Você deve ser a Segunda Filha.
5

Ele permaneceu sentado, limitando-se a encará-la por cima de um nariz


adunco que parecia ter sido fraturado e remendado de maneira amadora,
provavelmente mais de uma vez. Sua mão, grande e coberta por cicatrizes
finas em contraste com a pele clara, soltou a caneta e correu pelo cabelo, que
era preto e muito longo e caia bagunçado até a altura dos ombros. Ele tinha se
virado ligeiramente na cadeira para encará-la, fazendo com que os contornos
de seu rosto fossem destacados pela luz dourada — a mandíbula era angular e
havia linhas de expressão ao redor dos olhos, mas ele não parecia ser muito
mais velho do que ela. Tinha mais de vinte, mas com certeza não passava dos
trinta anos.
Não havia nada de monstruoso em sua constituição física, mas pairava
sobre ele uma sensação intangível de… de desconhecido, de um porte
humano que não encerrava algo inteiramente humano. Suas proporções por
pouco escapavam do que poderia ser considerado comum — era alto demais,
robusto demais, e as sombras que ele projetava eram mais escuras do que
deveriam. Ele poderia ser confundido com um humano em um primeiro
olhar, mas era um equívoco que se cometeria uma única vez. A Marca no
braço de Red latejou quando o olhar dela encontrou o dele.
Red engoliu. Sua garganta estava seca como um deserto. Não havia nada
de errado com sua boca, mas ela não emitiu som algum.
O Lobo ergueu uma sobrancelha. Havia olheiras escuras sob os estreitos
olhos cor de âmbar.
— Vou considerar seu silêncio como um sim.
A mão com as cicatrizes apoiada no joelho estremeceu levemente quando
ele voltou a dar as costas para ela, pegou de novo a caneta e continuou a
escrever.
Red não percebeu que estava de queixo caído até fechar a boca, batendo os
dentes. A lenda sobre o Lobo levando o corpo de Gaya até os limites da
de um nariz floresta descrevia apenas como ela era, e em nenhum momento mencionava a
ira amadora,aparência dele. Todos sabiam que Wilderwood o tornara diferente, algo que
por cicatrizes não era exatamente humano, embora ninguém soubesse detalhes específicos.
o cabelo, que Mas a história do Lobo era como a de feras mitológicas; depois de ter sido
. Ele tinha secontada através dos séculos, ele se tornara uma também.
os contornos As mãos cobertas por cicatrizes, o cabelo comprido demais, o rosto
era angular e quadrado demais para ser belo — ela pensou estar preparada para qualquer
cia ser muitocoisa, mas não estava para aquilo. O Lobo era um homem antes de ser um
o passava dosmonstro, e a criatura diante dela não se encaixava em nenhuma das
categorias.
mas pairava — Sua presença é bem-vinda na biblioteca — disse o Lobo, virando-se de
de um porte novo na cadeira com um tom que em nada lembrava boas-vindas —, mas
oporções porprefiro que não fique me encarando enquanto trabalho.
alto demais, A atmosfera surreal de estar diante do Lobo e de o Lobo ser mais homem
curas do quedo que lobo deixou a língua de Red dormente, fazendo com que ela se
um primeiroagarrasse à única parte daquilo que ainda correspondia às histórias que
A Marca noouvira.
— Vai libertar os Reis agora?
o havia nada Aquilo fez com que ele olhasse para ela. Seus olhos correram dos cabelos
cheios de folhas para o vestido em farrapos de Red. Ele pausou por um
b os estreitosmomento ao notar o corte na bochecha dela, e pareceu mais atento.
Red quase se esquecera do machucado. Levou a mão ao rosto e o tocou.
mente quandoSeus dedos ficaram pegajosos — ainda estava sangrando, então.
continuou a A avaliação do Lobo terminou e ele voltou a atenção ao trabalho.
— Os Reis não estão aqui.
a, batendo os Do auge de sua descrença, aquela era a resposta que Red esperava. Ainda
os limites daassim, foi atingida como que por um golpe, e deixou escapar um suspiro
mencionava atrêmulo.
nte, algo que Os ombros dele se retesaram. Ele ouvira. O Lobo a olhou por cima do
s específicos. ombro, o rosto angular parcialmente oculto pelas sombras.
is de ter sido — Então ainda falam nisso? A… a Ordem, é isso?
— A Ordem dos Cinco Reis. — A resposta veio automaticamente. Red se
mais, o rostosentiu um pião que alguém tinha soltado e agora rodava pelo chão sem rumo
para qualquer certo. — E sim.
es de ser um — Muito perspicaz. — Ele passou a mão pelo rosto. — Sinto muito por
enhuma das desapontá-la, Segunda Filha, mas os Reis não existem mais. Não são algo que
vocês gostariam de ter de volta, de qualquer forma.
virando-se de — Ah. — Ela não conseguiu dizer mais nada.
ndas —, mas O Lobo suspirou.
— Bom, você veio. Cumpriu sua parte. — Ele fez um gesto em direção à
mais homem porta. — Estamos quites. Vou pedir para que alguém te acompanhe de volta,
m que ela see você pode retornar por onde…
histórias que — Não, não posso. — Ela poderia rir de quão ridícula era a cena se sua
garganta não parecesse cheia de espinhos. — Eu vim até você, e não
podemos voltar quando somos mandadas para cá. É assim que as coisas
m dos cabelosfuncionam. Tenho que ficar.
usou por um A mão dele parou no lugar e surpresa tomou conta de suas feições
grosseiras.
to e o tocou. — Você não tem que ficar — disse ele em voz baixa, com uma veemência
que a assustaria se ela ainda sentisse que tinha a capacidade de ficar
assustada. — Realmente não tem.
— As regras são essas. — Sua boca parecia estar operando
erava. Ainda involuntariamente; a mente estava nebulosa, embora as palavras soassem
r um suspiroresolutas. — Ao virmos ao seu encontro, não podemos ir embora. A floresta
não permite.
por cima do O Lobo segurou o espaldar da cadeira com força suficiente para que Red
tivesse a impressão de que o material se partiria em dois.
— A floresta vai permitir que você vá embora se eu assim ordenar —
mente. Red serosnou ele.
ão sem rumo Red segurou com força as pontas do manto esfarrapado.
— Vou ficar.
to muito por Um brilho quase assustado tomou os olhos dele.
são algo que — Tudo bem, então. — Ele deu as costas para ela, resmungando. — Que
as sombras me carreguem.
— Isso não faz sentido. — Red engoliu de novo, como se exercitar a
garganta pudesse ajudá-la a encontrar palavras no redemoinho de sua mente.
em direção à— Se não me quer aqui, se ia apenas me mandar de volta, por que exige que
nhe de volta,venhamos para começo de…
— Melhor parar por aí. — O Lobo se pôs de pé, erguendo-se da cadeira
a cena se sua com a caneta-tinteiro na mão como se fosse uma adaga. Ele era alguns
você, e nãocentímetros mais alto do que ela, a compleição ampla e o olhar cortante. —
ue as coisas Eu não exigi nada.
— Exigiu, sim. Você levou Gaya até os limites da floresta, disse a eles para
suas feiçõestrazerem a próxima, você…
— Nada disso fui eu. — Ele deu um passo adiante, a voz se igualando à
dela em intensidade. — O que quer que você acredite saber está claramente
ma veemênciaerrado.
ade de ficar Ele vociferava as palavras enquanto avançava na direção dela, e a sombra
escura do Lobo e o vislumbre de seus dentes foram suficientes para enfim
ar operando fazer o medo invadir a névoa que a mente de Red havia se tornado. Ela
vras soassemcruzou os braços sobre o peito, encurvada sobre eles como se isso pudesse
ra. A floresta fazê-la diminuir de tamanho.
O Lobo parou, recuando com a mão erguida em um gesto que lembrava
para que Redrendição. A expressão de raiva evaporou de seu rosto, dando lugar a outra
emoção. Culpa.
m ordenar — — Eu… — Ele desviou os olhos e esfregou o rosto, parecendo cansado. O
Lobo suspirou. — Eu tive tanto a ver com esse acordo quanto você, Segunda
Filha.
A confusão deu um nó nos pensamentos de Red, emaranhados como raízes
na terra. Mais uma vez, ela se apegou às partes mais simples, coisas que ela
ando. — Queconseguia entender e consertar em contraste com tudo o que não conseguia.
— Meu nome não é Segunda Filha. É Redarys.
e exercitar a — Redarys. — Soou estranho sendo dito por ele. Suave e frágil, de certa
de sua mente. forma.
ue exige que — E o seu é Ci…
— Eammon. — Ele se virou e largou o corpo na cadeira.
se da cadeira Red franziu o cenho.
e era alguns — Eammon?
cortante. — Ele pegou a caneta entre aqueles dedos com cicatrizes. Seu tom voltou a
ser sucinto e circunspecto, toda a vulnerabilidade desaparecendo em questão
se a eles parade instantes.
— Ciaran e Gaya eram meus pais.
e igualando à Silêncio. Red sacudiu a cabeça. Balbuciou palavras que morriam em sua
á claramenteboca antes de se tornarem frases completas.
— Então você… você não…
a, e a sombra — Não. — Sua voz era inexpressiva, embora os ombros estivessem tensos
s para enfimsob o tecido escuro da camisa. — Não, eu não levei o corpo sem vida de
tornado. Elaminha mãe até os limites de Wilderwood. Não, eu não mandei ninguém trazer
isso pudessea próxima Segunda Filha. — Ele inspirou, enchendo os pulmões, depois
soltou o ar sonoramente. — Nenhum de nós dois teve escolha nessa situação.
que lembravaEmbora você esteja, com muito afinco, escolhendo ficar.
lugar a outra Ele parecia esperar uma explicação para isso, mas Red não tinha uma. Ela
não respondeu.
o cansado. O O Lobo mudou de posição, esticando as pernas por baixo da mesa e se
ocê, Segundaacomodando contra o encosto da cadeira. Seus braços estavam cruzados, e ele
continuava de costas para ela.
s como raízes — Estou vendo que foi enviada com a pompa costumeira — disse ele,
oisas que elamudando de assunto com habilidade. — Com o bendito manto vermelho.
Ela mexeu no tecido, agora rasgado e sujo de lama.
— Escarlate para o sacrifício.
ágil, de certa O lembrete fez com que o ar parecesse pesado. Um segundo depois, o
Lobo acenou com a mão.
— Deixe-o lá fora e um de nós vai queimá-lo…
— Não.
Red foi brusca. Uma palavra transformada em lâmina.
Ele olhou para ela por cima dos ombros, franzindo as sobrancelhas escuras
tom voltou ae espessas.
o em questão Red enrolou o manto ao redor do corpo, como se de alguma forma ainda
pudesse sentir Neve no tecido. Neve ajudando-a a se vestir, Neve finalmente
a deixando partir.
rriam em sua — Quero ficar com ele.
A expressão do Lobo se tornou mais séria, mas ele assentiu com a cabeça.
essem tensosQuando voltou a falar, sua voz era cuidadosa e serena.
sem vida de — Quanto tempo faz desde a última… desde que a última veio?
nguém trazer — Um século. — Ela cruzou os braços ao sentir um calafrio repentino. —
mões, depoisJá faz um século desde Merra.
essa situação. Um músculo se retesou nas costas do Lobo. Ele olhou para as mãos, as
cicatrizes se sobressaindo na pele, e finalmente as fechou em punhos.
nha uma. Ela — Puxa.
Red queria responder, mas não conseguiu pensar em nada. O ânimo de
da mesa e se ambos havia se acalmado. Agora restava apenas uma estranha e mútua
uzados, e eleexaustão.
O Lobo — Eammon — balançou a cabeça, resoluto.
— disse ele, — Se insiste em ficar, não passe pelo portão. A floresta não é segura para
você.
E voltou a trabalhar, ignorando-a completamente. Red entendeu que sua
presença havia sido dispensada.
do depois, o Sem saber o que fazer, ela voltou a caminhar por entre as estantes de
livros.
Seus pensamentos estavam confusos demais para serem assimilados. Em
todas as suas fantasias mais sombrias sobre o que poderia acontecer quando
entrasse em Wilderwood, ela jamais esperara por… aquilo. Um Lobo que não
elhas escurasera o personagem das lendas, e sim o filho dele. Um Lobo que não
reivindicava seu sacrifício, que tentou mandá-la de volta. Que infeliz ironia o
forma aindafato de ele e Neve pensarem da mesma forma.
ve finalmente Mas o lugar de Red era ali. A magia que fazia com que ela sentisse gosto
de terra e tingia suas veias de verde deixava isso bem claro, a magia que
poderia ser muito destrutiva se não fosse mantida sob controle, e a garota
estava exausta de sentir medo.
om a cabeça. Não foi sua culpa. Essas tinham sido as palavras de Neve durante o baile e
incontáveis vezes antes. Mas fora ideia de Red, estando um pouco
embriagada e um pouco zangada, roubar os cavalos e cavalgar até
repentino. —Wilderwood para gritar para as árvores e ver se elas respondiam. E quando os
ladrões chegaram com suas facas e seus sorrisos maldosos, quando as mãos
as mãos, asdela ainda estavam sujas de sangue e uma parte do poder de Wilderwood
recém-acomodado em seus ossos, Red tinha…
Ela cerrou os punhos com força e enterrou as unhas nas palmas das mãos
O ânimo deaté a dor abafar as memórias, transformá-las em espectros. Ela era uma
nha e mútuaameaça. Ainda que Neve não se lembrasse disso.
E, se quisesse continuar mantendo a irmã a salvo, Red precisava ficar ali.
Quer o Lobo a quisesse ou não.
é segura para A familiaridade acolhedora das estantes manteve seus pés no chão, fez
com que ela retornasse a si enquanto vagava por entre os livros. Ela torceu
ndeu que suapara que ali houvesse romances, algo diferente das opções monótonas que
vira ao chegar. Um livro pareceu interessante: na lombada, a palavra Lendas
s estantes deestava escrita em dourado. Red não se lembrou do corte que ainda sangrava
no rosto quando esticou a mão para puxar o tomo, e seus dedos sujos de
milados. Emsangue mancharam a capa.
tecer quando — Ah, pelos Reis.
Lobo que não Eammon apareceu no fim do corredor com uma pilha de livros nos braços.
obo que nãoSeu olhar pousou primeiro no livro sujo de sangue e depois no corte na maçã
feliz ironia odo rosto de Red. Seus olhos a analisaram da mesma maneira atenta como
fizera antes, e ele colocou a pilha de livros no chão.
entisse gosto — Como isso aconteceu? — Havia certa desconfiança em sua voz, como
a magia quese houvesse uma resposta certa e uma errada para a pergunta.
e, e a garota — Foi um espinho — explicou ela. — Não é fundo, eu só… Eles estavam
em volta de uma daquelas árvores brancas…
ante o baile e Ele ainda estava agachado ao lado dos livros que pusera no chão. Suas
um poucomãos se curvaram como garras. Ela teria ficado assustada não fosse o
cavalgar atévislumbre de apreensão em seus olhos.
E quando os — Árvores brancas? — Ele parecia calmo, mas havia urgência na
ndo as mãos pergunta. — Você sangrou sobre elas?
Wilderwood — Mais ou menos, mas não foi de propósito, e não tinha muito…
— Preciso que me diga exatamente o que aconteceu, Redarys.
mas das mãos — Foi só um arranhão. — Red limpou o sangue da capa, desconcertada
Ela era umacom a preocupação e a severidade dele. — Um espinho arranhou minha
bochecha, e a árvore branca… o absorveu, de alguma forma…
sava ficar ali. O corpo inteiro do Lobo pareceu se contrair.
— E ela me perseguiu até aqui. Wilderwood, quero dizer.
no chão, fez Dizer aquilo em voz alta soava insano. As bochechas de Red ficaram
s. Ela torceu quentes, e o corte voltou a sangrar.
onótonas que O Lobo se pôs de pé lentamente, retomando sua altura normal e assomando
Lendas diante dela. Quando voltou a falar, sua voz estava moderada, contrariando a
nda sangravaexpressão apreensiva.
dos sujos de — Foi só isso?
— Sim. Tudo o que ela fez foi correr atrás de mim. — A incredulidade de
Red tornou a resposta ríspida. — Se isso não devia ter acontecido, talvez
s nos braços.você devesse controlar melhor suas malditas árvores.
orte na maçã Eammon arqueou as sobrancelhas, mas relaxou os ombros em um gesto
atenta comorepentino de alívio.
— Peço desculpas. — Ele esticou a mão em direção a Red, gesticulando
ua voz, como hesitante em direção à bochecha dela. — Me deixe ajudar.
Red olhou para a mão dele, mordendo o lábio. Algo nela parecia… quase
Eles estavamfamiliar. A ideia fazia cócegas em sua mente, mas não teve força suficiente
para tomar a forma de uma lembrança.
o chão. Suas Ela assentiu.
não fosse o A pele dele era quente. As cicatrizes entrecruzadas em seus dedos eram
ásperas ao toque. Cauteloso, o Lobo correu o dedo indicador pelo corte na
urgência nabochecha de Red. Ele fechou os olhos.
Algo se agitou no ar entre eles, uma lufada de calor com cheiro de argila e
folhas. Um brilho dourado tomou a visão de Red, e a Marca em seu braço
voltou a latejar. Em seu peito, o fragmento de magia desabrochou como uma
esconcertada flor pressentindo a primavera à beira íngreme do inverno.
anhou minha Em uma fração de segundo, a ardência no corte desapareceu. Red não
percebeu que tinha fechado os olhos até abri-los outra vez.
Ao fazê-lo, ela se deparou com o ferimento espelhado na bochecha do
Lobo. Sem acreditar, levou os dedos ao próprio rosto. Sua pele ainda estava
Red ficaramgrudenta de sangue, mas o corte estava fechado.
O Lobo abaixou a cabeça e se ajoelhou depressa para pegar os livros, mas
e assomandonão depressa o suficiente para esconder os olhos. A parte branca estava
ontrariando a entremeada de verde, como uma coroa verdejante florescendo ao redor das
íris cor de âmbar.
— Não são muitos os benefícios de nascer vinculado a Wilderwood. —
edulidade de Com os livros em mãos, Eammon se levantou e deu meia-volta entre as
ecido, talvezestantes. Ele parecia mais alto do que antes, o que era um feito e tanto, visto
que a altura anterior já era considerável. Também havia algo de estranho em
em um gestosua voz; um leve eco, algo que lembrava folhas ao vento. — Este é um deles.
Por um momento, Red continuou com a mão sobre a pele curada, imóvel.
gesticulandoDepois disparou atrás dele. Um “obrigada” estava preso em sua garganta,
mas algo na postura do Lobo deixava claro que ele não queria nem precisava
ecia… quase daquilo.
rça suficiente — As regras aqui são simples. — Eammon empurrou um livro de volta ao
lugar na prateleira. — A primeira é: não saia pelo portão.
A reverberação inusitada deixara sua voz — o Lobo soava apenas hostil e
s dedos eramcansado; já não havia um eco que lembrava folhas secas.
pelo corte na — Isso vai ser fácil — resmungou Red. — Sua floresta está longe de ser
hospitaleira.
ro de argila e Como resposta, a expressão dele ficou ainda mais sisuda.
em seu braço — Segunda regra. — Outro livro devolvido com força demais à prateleira.
ou como uma — Wilderwood tem fome de sangue, especialmente do seu. Não derrame
sangue onde as árvores puderem experimentá-lo, ou elas vão pegar você.
eu. Red não Red curvou os dedos, ainda sentindo o cheiro metálico do próprio sangue.
— Foi o que aconteceu com Gaya e as outras Segundas Filhas?
bochecha do O Lobo parou antes de guardar outro tomo na estante; sua expressão era de
ainda estavapesar. Red levou um instante para perceber o que tinha dito e, quando
percebeu, desejou poder cavar um buraco e entrar no chão. Fazer com que ele
os livros, masse lembrasse da morte da mãe. Uma excelente maneira de estrear uma
ranca estavacoabitação.
ao redor das Mas Eammon se recompôs sem fazer comentário algum, embora talvez
tenha empurrado o livro sobre a prateleira com mais força do que era
lderwood. —necessário.
olta entre as — Sim. Mais ou menos.
e tanto, visto Depois de guardar o último livro, Eammon se dirigiu à porta da biblioteca.
estranho em Ao alcançá-la, virou-se e olhou para Red sobre o nariz torto.
— Terceira regra. — O sangue que escorria do novo corte no rosto do
rada, imóvel.Lobo era mais escuro do que o normal, de um carmesim arroxeado com um
sua garganta, fio de verde que quase se parecia com uma gavinha. Os olhos haviam voltado
em precisavaao normal, porém, livres da auréola esmeralda. — Não me perturbe.
Red cruzou os braços com força sobre o peito, como se assim estivesse se
o de volta ao protegendo com um escudo.
— Entendido.
penas hostil e — Seguindo pelo corredor, há um quarto que pode ser seu. — Eammon
abriu a porta e fez um gesto para que ela saísse. — Bem-vinda à Fortaleza
longe de ser Negra, Redarys.
A porta se fechou às costas de Red, e então ela estava sozinha.
Apenas quando chegou ao último degrau Red percebeu onde havia visto as
s à prateleira.mãos dele, por que o formato dela e suas cicatrizes pareciam tão familiares.
Não derrame Na noite de seu aniversário de dezesseis anos, quando Red cortara a mão
em uma pedra e acidentalmente sangrara na floresta — o momento em que
Wilderwood fragmentara sua magia amaldiçoada, transferindo-a para a
corrente sanguínea de Red através do corte na palma —, ela vira alguma
ressão era de coisa, algo como que impresso nas pálpebras fechadas. Uma visão. Mãos que
o e, quandonão eram as dela, grandes e cheias de cicatrizes e enterradas na terra como as
r com que ele dela haviam estado. Um sentimento de urgência, um medo cego que
estrear umaespelhava o seu, mas que não era o dela.
Fora apenas um vislumbre em meio ao pânico, turvo e indistinto,
mbora talvezdificultado pelas sombras projetadas pelos galhos. Até então, ela quase se
do que eraconformara com a ideia de que fora sua imaginação. Mas agora…
Agora ela as vira em carne e osso. Agora ela sabia a quem pertenciam
aquelas mãos, e estava certa de que nada naquela noite tinha sido sua
da biblioteca. imaginação.
Ela vira as mãos do Lobo.
no rosto do
eado com um
viam voltado

m estivesse se
— Seguindo pelo corredor, há um quarto que pode ser seu. — Eammon
abriu a porta e fez um gesto para que ela saísse. — Bem-vinda à Fortaleza
Negra, Redarys.
A porta se fechou às costas de Red, e então ela estava sozinha.
Apenas quando chegou ao último degrau Red percebeu onde havia visto as
mãos dele, por que o formato dela e suas cicatrizes pareciam tão familiares.
Na noite de seu aniversário de dezesseis anos, quando Red cortara a mão
em uma pedra e acidentalmente sangrara na floresta — o momento em que
Wilderwood fragmentara sua magia amaldiçoada, transferindo-a para a
corrente sanguínea de Red através do corte na palma —, ela vira alguma
coisa, algo como que impresso nas pálpebras fechadas. Uma visão. Mãos que
não eram as dela, grandes e cheias de cicatrizes e enterradas na terra como as
dela haviam estado. Um sentimento de urgência, um medo cego que
espelhava o seu, mas que não era o dela.
Fora apenas um vislumbre em meio ao pânico, turvo e indistinto,
dificultado pelas sombras projetadas pelos galhos. Até então, ela quase se
conformara com a ideia de que fora sua imaginação. Mas agora…
Agora ela as vira em carne e osso. Agora ela sabia a quem pertenciam
aquelas mãos, e estava certa de que nada naquela noite tinha sido sua
imaginação.
Ela vira as mãos do Lobo.
6

Com os dedos rentes ao couro cabeludo e a testa pressionada contra a palma


da mão, Red segurou tufos de cabelo até os dedos ficarem dormentes. Aquela
noite ainda estava gravada em sua mente com perfeita clareza, ao menos até
certo ponto. Ela reprimira as partes depois do momento em que os ladrões
que as tinham seguido atacaram e o banho de sangue começara.
Mas o vislumbre sob suas pálpebras de algo que acontecia em outro lugar,
de mãos cobertas por cicatrizes e pânico incontrolável… Ela se lembrava
disso agora, se lembrava com tanta precisão que não podia acreditar que um
dia pensara ter sido sua imaginação. Foi um momento de conexão com outra
pessoa que não ela, e a pessoa fora o Lobo.
Ele estivera lá, de alguma forma — ele estivera lá quando a magia se
rebelara e se libertara de Wilderwood, rastejando pela ferida na palma de Red
e fazendo morada em seu peito. Teria sido culpa dele? Teria a floresta
fragmentado sua magia nela obedecendo a uma ordem dele?
Com cuidado, ela tocou o rosto com a ponta dos dedos, ainda sujos com o
sangue do corte que ele tirara dela. Se aquele maldito poder havia sido
imposto a ela pelo Lobo de propósito, será que ele teria tentado mandá-la de
volta? Será que teria estabelecido regras que supostamente deveriam mantê-la
a salvo da floresta?
Red grunhiu com o rosto escondido nas mãos.
Sentiu vontade de ficar sentada nos degraus até que Eammon saísse da
biblioteca no intuito de arrancar mais respostas dele. Mas Red estava
cansada, o chão estava frio e a ideia de esperar por alguém que abertamente
desejava evitá-la era exaustiva.
Ele a instruíra a não deixar a Fortaleza — então, logicamente, a Fortaleza
era segura. E era seu novo lar. Por mais incômodo que fosse o pensamento,
ela poderia muito bem explorar o lugar.
Com o corpo pesado, Red se levantou e se pôs a subir os degraus tomados
ontra a palma por raízes da longa escada.
entes. Aquela Havia luz no andar de cima, como se alguém tivesse aparecido e
ao menos atéreacendido o fogo que ornamentava as trepadeiras imunes às chamas do
ue os ladrõessaguão. Red se deteve no topo da escada, observando o candeeiro incomum e
improvisado.
outro lugar, As chamas estavam ligadas à trepadeira, que deveria estar queimando. Mas
se lembrava além do cerne amarelo e brilhante do fogo, ela podia ver que a trepadeira em
ditar que umsi estava completamente intacta.
ão com outra Pensou nas lascas de madeira na biblioteca que, em um primeiro momento,
pensara se tratar de velas, e em como elas também sustentavam o fogo sem
o a magia sequeimar. Madeira e trepadeiras, ambas coisas orgânicas, presas em algum
palma de Red tipo inexplicável de relação simbiótica. O fragmento de magia em seu peito
ia a floresta pareceu se agitar.
Red se afastou, seguindo até o centro do saguão em ruínas. Acima dela, o
sujos com océu cor de lavanda resplandecia pelo vidro rachado da claraboia, nem mais
r havia sidoclaro nem mais escuro do que quando ela correra escada abaixo. Não havia
mandá-la delua e não havia estrelas, nada que sugerisse passagem de tempo. Apenas um
iam mantê-la crepúsculo infinito.
Embora fraca, a luz proveniente da trepadeira em chamas e da claraboia
era estável, e Red conseguia enxergar o que restava do carpete no chão
mon saísse damusgoso, restos do que um dia fora majestoso. Havia farrapos de peças de
Red estava tapeçaria praticamente podres pendurados na parede, entrelaçados por
abertamente trepadeiras e raízes finas. A maior parte delas estava enlameada demais para
que fosse possível enxergar as imagens, mas Red conseguiu discernir a forma
e, a Fortaleza geral de um rosto em uma delas.
pensamento, Ela franziu o cenho, apertando os olhos para conseguir compreender a
imagem. Um homem e uma mulher, ao que parecia. Talvez de mãos dadas. A
raus tomadosmulher tinha cabelos longos. Ele tinha olhos escuros.
Gaya e Ciaran. Os pais de Eammon. Se ela precisasse de mais provas de
aparecido e que ele era quem dizia ser, aquilo devia bastar. Embora as tapeçarias
s chamas do estivessem quase completamente deterioradas, ela conseguia perceber que o
o incomum erosto retratado ali não era o do homem que conhecera na biblioteca. Este
tinha traços mais suaves, e sua beleza era mais clássica. O ângulo em que seu
imando. Masqueixo estava posicionado fazia parecer que ele desafiava o observador a
repadeira emprovocá-lo; apenas olhando para aquela expressão, Red soube que ela não
cairia de forma natural no rosto de Eammon.
ro momento, Quanto a Gaya… Ela estava mais coberta de lama do que Ciaran, e era
m o fogo semmais difícil distinguir seus contornos. Era bonita, a altivez potencializada pela
as em algumsujeira da tapeçaria em vez de encoberta.
em seu peito Red se sentiu profundamente frustrada; uma emoção complexa que não
conseguia desvendar. Todas as Segundas Filhas, mais ícones do que
Acima dela, oindivíduos. Definidas pelo que eram em vez de quem.
ia, nem mais Manteve o olhar aborrecido sobre as tapeçarias por mais alguns minutos
o. Não havia antes de partir em direção ao arco quebrado do outro lado das escadas
. Apenas umprincipais do saguão.
Ele levava para o que parecia ser uma sala de jantar nivelada abaixo do
da claraboia piso, logo após um degrau de pedra lascado. Do lado direito, uma janela
pete no chãogrande emoldurava a paisagem do pátio lá fora; o vidro tinha pequenas
de peças de rachaduras finas como teias de aranha e fora coberto pela vegetação. No
elaçados porcentro da sala havia uma mesa maltratada de madeira com três cadeiras
demais paraamontoadas de qualquer jeito em uma das pontas. Na parede dos fundos via-
ernir a formase uma porta menor com dobradiças enferrujadas que Red deduziu levar até a
cozinha. Fora isso, a sala estava vazia.
mpreender a Três cadeiras. Ela franziu o cenho. A lenda não mencionava ninguém além
mãos dadas. A do Lobo, mas também não dizia que havia mais de um Lobo nem que o Lobo
atual era um jovem alto com mãos machucadas e péssimo temperamento.
ais provas deAparentemente, as lendas não eram muito confiáveis. A verdade era que ela
as tapeçariasnão fazia ideia de quem mais — do que mais — poderia ocupar a Fortaleza.
erceber que o Um de nós vai queimá-lo, dissera o Lobo ao ver seu manto. Dando a
blioteca. Este entender que havia mais de um habitante naquelas ruínas.
o em que seu Como se em resposta a suas dúvidas, houve um alarido repentino, como o
observador a de panelas caindo no chão. Do outro lado da porta na outra extremidade da
que ela não sala, Red pôde ouvir alguém resmungando e xingando, depois outra voz
dando uma risada, descontraída e musical.
Ciaran, e era Red ainda não se sentia corajosa o suficiente para ir até lá investigar. Sua
cializada pelamente foi tomada por uma imagem na qual marionetes feitas de gravetos e
espinhos de Wilderwood desempenhavam o papel de servos, enfeitiçados
exa que não pela mesma magia misteriosa que impedia o fogo de carbonizar as
nes do quetrepadeiras. Depois das árvores com presas, nada parecia estar fora do terrível
campo de possibilidades.
guns minutos Ela recuou de costas para longe do arco quebrado e não parou até esbarrar
das escadasa lombar no corrimão da escada no saguão principal. Seu ombro chacoalhou
o casaco pendurado nele, enchendo o ar com um cheiro suave de folhas secas
da abaixo doe café.
, uma janela Red olhou para o andar superior. O patamar no topo das escadas ainda
ha pequenasestava escondido na escuridão que a amedrontara pouco antes. Agora, um
egetação. No pouco menos assustadiça, o andar de cima parecia mais intrigante do que
três cadeiras sinistro.
s fundos via- Apesar de estarem parcialmente cobertas por musgo, as escadas pareciam
iu levar até afirmes o suficiente. Ela pisou no primeiro degrau com a bota enlameada.
O musgo se mexeu sob seus pés como se ela tivesse pisado em uma cobra,
inguém alémdeslizando escada acima e levando consigo seus cogumelos e raízes. A
m que o Lobovegetação se uniu em uma massa, um exército amontoado, e se tornou uma
mperamento.parede de coisas vivas bloqueando o caminho.
e era que ela Red recuou aos tropeços, sacudindo a perna para se desvencilhar das ervas
que se enroscavam em seu tornozelo.
nto. Dando a — Pelo amor dos Cinco Reis — xingou ela, exasperada. — Já entendi.
Levou uma mão suja ao rosto para afastar dos olhos o cabelo suado e cheio
ntino, como ode folhas. Ela precisava de um banho, precisava desesperadamente. Teria que
tremidade davestir as roupas sujas outra vez, porém. Não levara trocas. Não imaginou que
is outra voz precisaria delas.
O pensamento se agarrou a ela como se tivesse garras. A bravura com a
vestigar. Sua qual ela correra para se salvar em Wilderwood fora obra do instinto, de uma
de gravetos e força primitiva. E aquela era a consequência: ela ainda estava viva. Já era
enfeitiçadoshoras mais velha do que jamais imaginara.
arbonizar as Não sabia como começar a assimilar a ideia.
ra do terrível Red pressionou os dedos contra os olhos até que a sensação incômoda atrás
deles desaparecesse. Quando se acalmou, sacudiu a cabeça e endireitou a
u até esbarrar coluna. O Lobo dissera que o quarto dela ficava no corredor e havia apenas
o chacoalhouum corredor à vista, embora ele terminasse em uma montanha de escombros.
e folhas secas As trepadeiras acesas iluminavam aquele trecho também, mas as chamas
eram menores e mais espaçadas. O musgo, além de cobrir o chão, escalava as
scadas aindaparedes até a altura da cintura de Red. Algo que ela não reconhecia florescia
s. Agora, umem meio aos destroços no fim do corredor, um emaranhado de folhas e flores
gante do que e pedras quebradas.
das pareciam Aparentemente, Wilderwood invadira a Fortaleza Negra mais de uma vez,
deixando a maior parte dela em ruínas. Não era um pensamento muito
m uma cobra,reconfortante.
e raízes. A Havia várias portas ao longo do corredor, mas apenas uma parecia ter sido
e tornou umausada recentemente. Um rastro de terra e uma mancha verde no chão
marcavam o lugar onde a vegetação havia sido deslocada quando a porta fora
har das ervas aberta, deixando à mostra um semicírculo do chão do madeira bem diante da
entrada. Já havia musgo crescendo sobre ele, reivindicando o espaço cedido.
Pisando com cuidado sobre o musgo, Red abriu a porta com um empurrão.
suado e cheio O quarto diante dela era pequeno e pouco mobiliado. Ainda empoeirado,
nte. Teria que mas ao menos livre de vegetação. Não havia nada nas paredes. Uma janela
maginou quegrande com trepadeiras escalando o vidro do lado de fora dava para outro
pátio, onde um muro de pedra se estendia do fim do corredor até uma descida
ravura com asuave, terminando no portão de ferro. Havia outra torre diretamente atrás
tinto, de umadaquela pela qual ela entrara, baixa o suficiente para não ser vista olhando da
viva. Já era entrada. Pequenas árvores cresciam ao redor da base, e o coração de Red
sentiu uma onda de adrenalina na fração de segundo que levou para perceber
que não eram esbranquiçadas. Levando em conta as árvores envolvendo a
cômoda atrás estrutura e as trepadeiras que floresciam entre elas, a impressão era que a
endireitou a torre mais crescera do que fora construída.
havia apenas No canto do quarto, perto da janela, havia uma cama feita com lençóis
desbotados, mas limpos. Aos pés da cama, Red encontrou uma lareira
as as chamasembutida na parede com pedaços de lenha organizados no interior. À
o, escalava asesquerda da porta, via-se uma pequena alcova que acomodava um penico e
ecia floresciauma grande banheira de ferro já cheia de água. Na outra extremidade havia
olhas e floresum guarda-roupa e, ao lado, um espelho com pequenas manchas circulares de
ferrugem. Alguém tinha deixado grandes marcas de mão sobre a camada de
de uma vez,pó que cobria a lateral do guarda-roupa. Pelo tamanho, pareciam ser de
mento muitoEammon.
Ele dissera que ela poderia ir embora, mas havia um quarto preparado para
recia ter sidoque ficasse. A ideia fez com que se perguntasse quanto a insistência dele para
rde no chãoque ela retornasse para casa fora planejada e quanto fora um impulso, uma
o a porta forareação automática proveniente de alguma emoção que ela não era capaz de
em diante daidentificar.
Ressabiada, Red caminhou até a cama e, prendendo a respiração, agachou-
se em um movimento ágil para olhar debaixo dela. Não sabia dizer ao certo o
empoeirado,que procurava, mas tinha certeza de que não conseguiria relaxar até que
. Uma janela tivesse feito isso.
va para outro Não havia nada além de resquícios de musgo. Ela se levantou
uma descida comprimindo os lábios e foi em direção ao guarda-roupa.
amente atrás Abriu a porta depressa, preparada para encarar o que quer que surgisse de
a olhando da lá de dentro, mas sua postura defensiva aos poucos se transformou em
ação de Redespanto.
para perceber Vestidos. Uma fileira de vestidos. Modelos simples em cores discretas,
envolvendo a tons terrosos que poderiam se camuflar em uma floresta. Red puxou um
ão era que adeles, verde escuro, tomando cuidado para não o encostar no manto sujo.
Parecia ser do tamanho certo.
com lençóis Pôs o vestido sobre a cama e fechou o guarda-roupa. Em seguida, recuou
uma lareira alguns passos e, pressionando os nós dos dedos contra os dentes, soltou um
interior. Àsuspiro em partes apavorado, em partes aliviado e inteiramente confuso.
um penico e Era isso que ela queria, não? Trancafiar sua magia nefasta e também a si
midade havia mesma em Wilderwood para garantir que nunca mais colocaria Neve ou
circulares de qualquer outra pessoa em perigo; que a destruição que ela provocara com
a camada de seus poderes não se repetisse.
Era exatamente o que queria.
eciam ser de O contentamento era, no máximo, oco.
Respirou fundo, inspirando o máximo que conseguia, até sentir os pulmões
eparado paraqueimarem mais que os olhos. Em movimentos delicados, Red tirou o manto.
ncia dele paraA fuga por Wilderwood o danificara, deixando-o cheio de rasgos e sujeira,
mpulso, umamas a Segunda Filha o manuseava como se fosse a mais elegante e
era capaz deinestimável das peças.
Era ridículo. Sua mente estava lúcida o suficiente para que soubesse disso.
ção, agachou-Era ridículo querer guardar a coisa que a marcava como um sacrifício. Mas as
zer ao certo olembranças que o manto carregava eram de Neve ajudando Red a se vestir,
axar até quedesamarrotando o tecido como fizera tantas vezes antes. A não ser pelas mãos
de Red, as de Neve tinham sido as últimas a tocar o tecido escarlate.
se levantou Havia outras razões, razões mais intensas. Razões que vinham das mesmas
partes profundas de Red que a faziam se sentir indomitamente contente com a
e surgisse de coincidência do nome que lhe fora dado. A parte dela que sorria quando ela
nsformou emtomava para si uma herança farpada e a sentia fazê-la sangrar.
Red segurou o manto por um momento, sentindo a trama do tecido com a
res discretas,ponta dos dedos. Em seguida, com o mesmo cuidado que tivera ao tirá-lo,
d puxou um dobrou-o com as partes não rasgadas para cima e o guardou no armário.
manto sujo.

guida, recuou
es, soltou um

também a si
ria Neve ou
ovocara com
O contentamento era, no máximo, oco.
Respirou fundo, inspirando o máximo que conseguia, até sentir os pulmões
queimarem mais que os olhos. Em movimentos delicados, Red tirou o manto.
A fuga por Wilderwood o danificara, deixando-o cheio de rasgos e sujeira,
mas a Segunda Filha o manuseava como se fosse a mais elegante e
inestimável das peças.
Era ridículo. Sua mente estava lúcida o suficiente para que soubesse disso.
Era ridículo querer guardar a coisa que a marcava como um sacrifício. Mas as
lembranças que o manto carregava eram de Neve ajudando Red a se vestir,
desamarrotando o tecido como fizera tantas vezes antes. A não ser pelas mãos
de Red, as de Neve tinham sido as últimas a tocar o tecido escarlate.
Havia outras razões, razões mais intensas. Razões que vinham das mesmas
partes profundas de Red que a faziam se sentir indomitamente contente com a
coincidência do nome que lhe fora dado. A parte dela que sorria quando ela
tomava para si uma herança farpada e a sentia fazê-la sangrar.
Red segurou o manto por um momento, sentindo a trama do tecido com a
ponta dos dedos. Em seguida, com o mesmo cuidado que tivera ao tirá-lo,
dobrou-o com as partes não rasgadas para cima e o guardou no armário.
INTERLÚDIO
VALLEYDIANO I

Não havia sacerdotisas nos jardins quando Neve caminhou até o Santuário.
Ela estava preparada para abrir passagem em meio a uma turba delas,
dissimuladas e vestidas de branco, aguardando para ver se o sacrifício
finalmente traria seus deuses de volta. As vigílias oficiais para o retorno dos
Cinco Reis começavam à meia-noite, ela sabia, então tinha algum tempo;
mesmo assim, ficou surpresa com o vazio dos jardins.
Curvou os dedos em garras e mordeu o lábio com tanta força que quase o
cortou. Era melhor que nenhuma das sacerdotisas estivesse ali. Era possível
que ela tivesse uma atitude pouco digna de uma Primeira Filha.
Seus pés mal faziam barulho sobre o cascalho, o luar absorvido pelo tecido
da túnica. Era diferente da que usara para a procissão, menos ornamentada,
mas ainda era o preto da ausência. Ela não sabia quando seria capaz de usar
outra cor.
Na verdade, Neve não sabia por que tinha se dado ao trabalho de ir até lá.
Nunca tinha sido do tipo que encontrava conforto em orações, embora já
tivesse tentado. Quando tinha dezesseis anos, depois… depois do que
acontecera com Red, ela experimentara a religião por uma semana ou duas,
tentando descobrir se aquilo suavizaria as arestas de seus pensamentos,
tornando-os menos cortantes e nocivos. Sua irmã era um peão, uma peça a ser
usada — enviem-na para Wilderwood e talvez, desta vez, os Cinco Reis
retornem. Na pior das hipóteses, ela manteria longe os monstros das lendas.
Não havia nada que uma das duas pudesse fazer para mudar isso, e talvez ela
conseguisse encontrar conforto na religião se pudesse simular devoção. Um
bálsamo para a dor.
Mas não encontrou. O Santuário não passava de um salão de madeira cheio
de velas e galhos. Não havia conforto. Não havia absolvição.
E a maneira como Red olhava para ela naquelas duas semanas em que ela
estava experimentando a religião… Era como se ela estivesse observando a
o Santuário. preparação de seu próprio túmulo.
turba delas, Então agora, enquanto se esgueirava até o Santuário em suas vestes pretas
o sacrifício de luto, sabia que não fazia sentido. Quaisquer palavras que pudesse dizer,
o retorno dos quaisquer velas que pudesse acender não seriam capazes de preencher a
lgum tempo; devastadora lacuna deixada pela irmã gêmea. Mas o luto era como uma pedra
sob as solas dos pés: ela o sentia com mais intensidade quando estava imóvel.
que quase o O Santuário ao menos seria um lugar com privacidade para chorar.
Era possível Neve passou pelo arco florido e adentrou as sombras do aposento de pedra.
Estacou, os olhos arregalados e marejados. O choro que esperava liberar
o pelo tecido ficou preso na garganta.
ornamentada, O local não estava vazio. Três sacerdotisas estavam de pé em volta da
capaz de usarestátua de Gaya, velas vermelhas de oração nas mãos. Ainda usavam a
habitual veste branca, mas não o manto, reservado apenas para a cerimônia
o de ir até lá.que abençoara Red como sacrifício. A sacerdotisa mais próxima à parede
s, embora jáonde as Segundas Filhas tinham sido esculpidas foi a primeira a vê-la. Houve
pois do queo vislumbre de uma emoção contida em seu semblante — pena, mas do tipo
ana ou duas, apático, como o que se sentiria por uma criança que perdeu o animal de
pensamentos,estimação.
ma peça a ser Neve cerrou os punhos ao lado do corpo.
s Cinco Reis De maneira delicada, a sacerdotisa posicionou a vela aos pés de Gaya,
s das lendas. fixando-a na cera derretida que era resultado de suas orações. Fechou as mãos
o, e talvez eladiante do corpo enquanto se aproximava.
devoção. Um — Primeira Filha.
Um sotaque suave, os erres soando ásperos. De Rylt, provavelmente; uma
madeira cheiodaquelas que enfrentara uma jornada e cruzara o mar pelo privilégio de rezar
ali, de ver o sacrifício histórico de uma Segunda Filha. Neve não disse nada,
s em que ela as unhas enterradas na palma das mãos.
observando a As outras duas sacerdotisas se entreolharam antes de voltarem a atenção
para as velas. Sensatas. Podiam identificar no rosto de Neve a expectativa de
vestes pretasque dissessem algo que poderia jogar lenha na fogueira que ardia em seu
udesse dizer, peito.
preencher a Se a sacerdotisa de Rylt percebera o erro que estava cometendo ao se
mo uma pedra aproximar, não deixou transparecer. A pena em seu olhar se acentuou e os
stava imóvel. cantos de sua boca se retorceram para baixo.
— É uma honra, Alteza — disse ela em voz baixa. Havia uma brasa de
nto de pedra. fervor em seus olhos verdes. — É uma honra que sua irmã vá para os bosques
erava liberarsagrados para aplacar o Lobo e assim nos manter a salvo dos monstros.
Estamos otimistas de que ela será a que o fará libertar os Reis. E será uma
em volta da honra para você, também, poder um dia governar o reino onde fica a fronteira
da usavam ados bosques sagrados. A Rainha de Valleyda é a rainha mais amada por
a cerimônia nossos deuses.
ma à parede Neve não conseguiu conter um riso sarcástico, sonoro e inadequado para o
vê-la. Houve ambiente de pedra e chamas silenciosas.
, mas do tipo — Uma honra — repetiu ela, as sobrancelhas arqueadas em uma expressão
o animal deincrédula. — Sim, é uma grande honra minha irmã ser assassinada em prol do
possível retorno dos Reis que vocês decidiram ser deuses. — A risada se
tornou uma gargalhada cortante e ligeiramente exagerada, escapando por
pés de Gaya, entre os dentes e tornando a respiração de Neve entrecortada. — Como sou
chou as mãos
abençoada por reinar em um território congelado e árido que faz divisa com
uma floresta mal-assombrada.
elmente; uma A sacerdotisa de Rylt pareceu enfim perceber seu erro. Arregalou os olhos,
égio de rezaro rosto angelical pálido e paralisado em uma expressão de espanto. Atrás
o disse nada,dela, as outras duas sacerdotisas continuavam tão imóveis quanto a estátua
para a qual rezavam; cera pingava nas mãos inertes.
em a atenção Neve não percebeu que avançara um passo até a sacerdotisa recuar,
xpectativa deaumentando a distância entre elas. A boca de Neve se retorceu em um sorriso.
ardia em seu — É muito fácil para vocês — murmurou. — Todas vocês, sacerdotisas da
Ordem vindas de longe. Em segurança dentro de suas fronteiras, a
etendo ao sequilômetros de distância de seus bosques sagrados.
centuou e os A sacerdotisa de Rylt quase perdeu o equilíbrio quando a panturrilha se
chocou contra os pés de pedra de Gaya. Eles estavam cobertos por cera
uma brasa devermelha. Mesmo assim, não tirou os olhos de Neve. Seu rosto estava
ra os bosques praticamente da cor das vestes.
os monstros. — É quase patético — continuou Neve, inclinando a cabeça. Havia uma
. E será umainsinuação de sorriso cruel em seus lábios, mas os olhos continuavam
ca a fronteira impassíveis. — A religião que seguem não exige nada de vocês. De séculos
s amada porem séculos, quando nasce uma Segunda Filha, vocês mandam uma garota
vestida de branco, preto e vermelho para Wilderwood, mas nada que vocês
quado para o fazem é suficiente para trazer os Reis de volta. Talvez eles não queiram
retornar para penitentes tão covardes, que nunca fazem nada além de oferecer
ma expressãosacrifícios inúteis e acender velas inúteis.
da em prol do As três sacerdotisas a observavam em silêncio. Três pares de olhos
A risada se arregalados atentos a seu rosto. A cera que escorria pelos dedos delas
capando porprovavelmente estava fervendo, mas não bastava para que se mexessem, não
— Como sou bastava para despertá-las do terrível torpor de tristeza de Neve e de como ele
a tornava cruel.
z divisa com Neve estendeu os dedos, abrindo as mãos em um gesto frustrado.
— Saiam.
lou os olhos, Elas obedeceram sem proferir uma palavra, levando as velas consigo.
spanto. Atrás Enfim sozinha, Neve desmoronou como se sua raiva tivesse sido a única
nto a estátuacoisa a mantê-la de pé. Conteve o ímpeto de se apoiar na estátua de Gaya. Ela
se recusava a buscar qualquer tipo de conforto ali.
otisa recuar, Em vez disso, atravessou a cortina escura e leve atrás da efígie de pedra e
m um sorriso.entrou no segundo aposento do Santuário.
cerdotisas da Estivera ali apenas uma vez, quando fora oficialmente nomeada herdeira
fronteiras, ado trono em seu décimo aniversário. Prenderam nos ombros dela o manto de
coroação todo bordado com os nomes das Rainhas anteriores de Valleyda e a
panturrilha se levaram até ali para as orações por ela. Em seu olhar infantil, os galhos
tos por cera brancos pareciam tão altos quanto as próprias árvores, projetando sombras
rosto estavapontudas nas paredes de pedra.
Era o que esperava ver quando passou pela cortina — uma floresta como
a. Havia umaaquela que havia devorado a irmã. Mas era apenas uma sala. Uma sala cheia
continuavamde galhos em bases de mármore, a maioria alcançando no máximo a altura de
s. De séculos seu ombro. Uma Wilderwood em miniatura. Nada como o que vira quando
m uma garotaela e Red cavalgaram até a fronteira quatro anos antes. Nada como a floresta
vocêsdentro da qual Red acabara de desaparecer.
não queiram O peito de Neve queimava, pesado e vazio demais ao mesmo tempo. Ela
m de oferecernão podia ferir aquela Wilderwood.
Mas podia ferir a do Templo.
es de olhos Um galho estava em sua mão antes que pudesse se dar conta do que fazia,
dedos delas antes que sua mente tivesse tempo de assimilar o movimento do corpo. Ela
exessem, nãobaixou o braço em um movimento brusco e o galho se partiu com um estalo
de como elesonoro, como o de um osso se quebrando.
Neve ficou imóvel por apenas um momento. Depois, cerrando os dentes,
com um grunhido enraivecido, arrancou outro, saboreando o ruído seco ao
ouvi-lo se quebrar e ao sentir a madeira cedendo em suas mãos.
sido a única Perdeu a conta de quantos galhos havia quebrado até sentir uma presença
de Gaya. Ela às suas costas. Neve se virou segurando pedaços de madeira quebrados como
se fossem punhais. A força de sua respiração balançava os cabelos escuros
ie de pedra eque lhe cobriam o rosto.
Uma sacerdotisa de cabelos vermelhos e pele clara estava parada à porta.
eada herdeiraSua expressão era implacável. Era um pouco familiar — do templo
a o manto deValleydiano, então. Neve se perguntou se isso importaria. Não conhecia
Valleyda e a detalhes do conceito de heresia, mas destruir o Santuário provavelmente se
il, os galhosencaixaria com facilidade na definição. Qual seria a punição para uma
ndo sombras Primeira Filha, aquela que era herdeira do trono? Neve tentou se importar,
mas não conseguiu encontrar forças.
loresta como No entanto, a sacerdotisa não fez nada. Permaneceu em silêncio. Seus
ma sala cheia olhos azuis e inexpressivos analisaram o dano antes de se focarem em Neve.
mo a altura de A respiração voltou ao normal aos poucos. Neve relaxou os pulsos e abriu
vira quando as mãos, deixando que os dois pedaços de madeira que estava segurando
mo a florestacaíssem no chão de pedra.
Neve e a sacerdotisa se encaravam. Havia certo arrojo em ambos os
o tempo. Elaolhares, um ímpeto de medir algo, embora Neve não soubesse identificar o
quê.
Por fim, a sacerdotisa entrou no aposento, recolhendo pedaços de madeira
do que fazia, branca em movimentos ágeis.
do corpo. Ela — Venha — disse de forma brusca, mas não grosseira. — Nunca vão
om um estalo perceber se limparmos tudo.
Neve levou um momento para entender o que ela dizia, tão diferente era a
mensagem do que ela esperava. Mas a sacerdotisa se abaixou, juntando lascas
do os dentes, brancas nas mãos; depois de um momento, Neve se juntou a ela.
uído seco ao Um pequeno berloque pendia do pescoço da mulher, girando em círculos
como um pêndulo. Parecia uma lasca de madeira como as que se espalhavam
uma presençapelo chão depois do ataque de fúria de Neve. A única diferença era a cor;
brados comoenquanto os galhos eram de um branco puro e brilhante, o pingente da
belos escuros sacerdotisa era coberto por listras pretas.
Uma expressão confusa tomou conta do rosto de Neve. Era estranho que
rada à porta.uma sacerdotisa usasse acessórios — não era exatamente proibido, mas
do templonenhuma fazia isso. Todas trajavam apenas as vestes brancas sem nenhum
Não conhecia adorno.
avelmente se A mulher percebeu o olhar de Neve. Deu um sorriso discreto e segurou o
ão para uma pingente entre os dedos.
se importar, — Outro pedaço de Wilderwood — disse ela, como se estivesse se
explicando. — Ela se quebra mais fácil do que imagina, com a pressão certa.
ilêncio. Seus Com as ferramentas certas.
Neve franziu a testa. A sacerdotisa a observava como se pudesse adivinhar
ulsos e abriusuas perguntas e as quisesse extrair. Neve as trancou na garganta.
va segurando Apesar de toda a destruição, a sujeira que fizera coube facilmente em
quatro mãos. A sacerdotisa esticou os saiotes brancos das vestes e envolveu
m ambos ostodos os pedaços de madeira neles, segurando-os como uma bolsa de pano.
identificar o — Vou dar um fim nisso.
— Quer dizer que vai fazer mais pingentes? — Neve não conseguiu evitar
s de madeirao tom agressivo.
Ela estava cansada, extremamente cansada de manter a compostura. De
— Nunca vão fingir que tudo aquilo não perfurava sua pele e expulsava aquele tipo de
reação.
iferente era a — Ah, não. — Apesar da resposta desaforada de Neve, os olhos azuis da
ntando lascas mulher continuaram a observando com atenção. — Estes não servem para
isso. Não ainda.
o em círculos Neve sentiu o peito se inquietar.
e espalhavam A sacerdotisa permaneceu imóvel. Conseguia manter o ar altivo apesar da
ça era a cor;maneira como segurava a saia para carregar os pedaços de árvore.
pingente da — Está aqui por causa de sua irmã?
— Por que mais estaria? — Neve quis soar grosseira, mas sua voz saíra
estranho quebaixa e frágil. Já tinha gastado toda sua ferocidade. — Rezar não me
roibido, masinteressa.
sem nenhum A sacerdotisa assentiu, relevando a blasfêmia.
— Gostaria de saber o que aconteceu com ela ao entrar em Wilderwood?
o e segurou o Em um primeiro momento, Neve não soube como reagir diante de uma
pergunta tão importante feita de maneira tão casual.
estivesse se — Você… Você sabe?
pressão certa. — Você também. — A sacerdotisa deu de ombros como se estivessem
discutindo algo trivial como o clima. — Sua irmã está emaranhada à floresta.
sse adivinhar Como Gaya esteve, como todas as outras estiveram. Ela foi para o Lobo e ele
a vinculou ao local, assim como ele mesmo está vinculado.
acilmente em Neve conhecia a história: o Lobo arrastara o corpo de Gaya, tomado pela
s e envolveu floresta, até o limite do bosque, um símbolo macabro da oferenda que ele
passaria a exigir. Fazia sentido que as outras Segundas Filhas tivessem o
mesmo destino. Fazia sentido que o Lobo tecesse Wilderwood nos ossos
seguiu evitar delas, fundisse a floresta em seus alicerces, garantindo assim que elas não
pudessem escapar.
mpostura. De — Mas ela está viva. — Neve emitiu um som débil e prendeu a respiração,
quele tipo de aguardando a resposta.
A sacerdotisa assentiu, virando-se em direção à porta.
lhos azuis da — Mas ela está viva.
servem para
Sobre pernas cambaleantes, Neve seguiu a mulher de cabelos vermelhos
quando ela saiu do Santuário em direção aos jardins escuros. Avançou alguns
vo apesar da passos, ultrapassando a sacerdotisa para inalar o ar gelado e revigorante.
A meia-noite se aproximava. Em breve, todas as sacerdotisas que haviam
viajado para assistir ao sacrifício de Red se reuniriam ali. Rezariam noite
sua voz saíraadentro para que ela fosse considerada aceitável pelo Lobo, para que ele
ezar não mefinalmente libertasse os Cinco Reis do aprisionamento injusto.
Fechando os olhos, Neve ainda conseguia ver o manto escarlate
desaparecendo no escuro, entre as árvores.
Ela está viva.
ante de uma — Você não vai falar sobre isso com ninguém. — Neve pretendia dar uma
ordem, mas soou como se fizesse uma pergunta.
— Mas é claro. — Uma pausa. O silêncio era denso. — Seu raciocínio está
e estivessem correto, Primeira Filha.
da à floresta. Foi suficiente para que ela abrisse os olhos, para que fitasse a mulher por
o Lobo e elesobre os ombros em um movimento abrupto. A sacerdotisa estava imóvel e
serena; sua expressão era indecifrável.
tomado pela — Wilderwood não permitirá que ela vá embora. — Uma madeixa de
enda que ele cabelos vermelhos caiu sobre seus ombros quando ela inclinou a cabeça,
s tivessem ocomo em respeito ao luto de Neve. — A floresta se tornou mais fraca no
od nos ossos último século, mas não o suficiente. Ela não conseguiria escapar mesmo se
que elas não tentasse. — Seus olhos brilharam ao refletir a luz da lua. — Não agora, ao
menos.
a respiração, Algo febril e esperançoso despontou no peito de Neve.
— O que quer dizer?
A sacerdotisa tocou delicadamente o colar com a enigmática lasca de
árvore.
— A floresta é tão forte quanto permitimos que seja.
os vermelhos De sobrancelhas franzidas, Neve não movia um músculo no ar gelado da
ançou algunsnoite.
— Seus segredos estão a salvo comigo, Neverah.
s que haviam Depois de uma breve reverência, a sacerdotisa foi embora a passos ágeis e
zariam noitedesapareceu no jardim escuro com suas vestes alvas.
para que ele A brisa fria tocava os braços de Neve, e o cheiro das primeiras flores do
verão era inebriante. Ela se concentrou naquelas coisas, buscando firmeza
nto escarlatenelas. Na sua mente, um manto escarlate aparecia e desaparecia em meio a
uma floresta mergulhada na escuridão.

ndia dar uma

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mais fraca no
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Não agora, ao

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De sobrancelhas franzidas, Neve não movia um músculo no ar gelado da
noite.
— Seus segredos estão a salvo comigo, Neverah.
Depois de uma breve reverência, a sacerdotisa foi embora a passos ágeis e
desapareceu no jardim escuro com suas vestes alvas.
A brisa fria tocava os braços de Neve, e o cheiro das primeiras flores do
verão era inebriante. Ela se concentrou naquelas coisas, buscando firmeza
nelas. Na sua mente, um manto escarlate aparecia e desaparecia em meio a
uma floresta mergulhada na escuridão.
7

Red estremeceu ao mergulhar a mão na água gelada da banheira, mas estava


suja demais para se importar. Tirou o vestido branco rasgado e a faixa preta e
os jogou em uma pilha no chão — aquelas peças, sim, poderiam ser
queimadas. Tremendo, ela entrou depressa na água antes que o frio a fizesse
desistir e esfregou os cabelos até as pontas dos dedos ficarem arroxeadas,
tirando graveto por graveto dos fios e os jogando no chão.
Também havia folhas em seu cabelo. Ao retirá-las, Red notou que todas
tinham um tom esverdeado nas nervuras.
Franziu o cenho examinando uma delas, correndo o dedo pelas linhas.
Estava desorientada devido ao medo e ao caos, portanto suas lembranças de
Wilderwood provavelmente passavam longe de ser confiáveis. No entanto,
podia jurar que todas as folhas que encontrara fora da área de proteção do
portão do Lobo eram cinzentas e secas, as cores de um outono que minguava
rápido para dar lugar ao inverno.
Com um movimento dos dedos molhados, Red jogou a folha no chão com
mais força do que o necessário.
Quando já não havia resquício de sujeira nas unhas ou de floresta nos
cabelos, Red saiu da banheira tiritando os dentes de frio. Nua, foi até a cama
na ponta dos pés, sentindo-se estranhamente exposta diante das trepadeiras na
janela. Pegou o vestido verde-escuro. Vestiu-o sem se dar ao trabalho de se
secar, e o tecido ficou grudado em sua pele molhada.
Tentando desembaraçar o cabelo diante do espelho manchado, Red sentiu
o estômago roncar.
O desjejum fora servido antes de a procissão partir de Valleyda, mas ela
não conseguira comer muito, nem sequer se lembrava do que comera. Desde
então: uma floresta com sede de sangue, um Lobo ranzinza, quilômetros
percorridos com a adrenalina como único combustível.
a, mas estava Red retesou a mandíbula. O quarto era limpo, seguro e isolado; a última
faixa preta ecoisa que desejava era vagar pela Fortaleza em ruínas movida pela
poderiam serpossibilidade remota de encontrar um pedaço de pão. Mas seu estômago
frio a fizesseroncou de novo, insistente.
m arroxeadas, Em suas explorações anteriores, vira uma porta de dobradiças enferrujadas
nos fundos de uma sala de jantar; a porta de onde ouvira risos e xingamento.
ou que todasRed ainda não se sentia corajosa o bastante para encarar quem ou o que
estivesse fazendo aqueles sons, mas estava convencida de que o local era uma
pelas linhas.cozinha. E talvez o que ouvira lá estivesse em outro lugar àquela altura.
embranças de Sorrateira, saiu do quarto. Estava frio demais para não usar sapatos; as
No entanto,paredes meio feitas de floresta não conseguiam conter o invasivo gelo no ar.
proteção do No entanto, a crosta de lama seca em suas botas era tão grossa que
ue minguava atrapalhava seu passo. Queria poder correr se precisasse.
Do lado de fora da claraboia abobadada, o céu continuava igual. Talvez um
no chão compouco mais escuro se ela olhasse com atenção, mas ainda crepuscular.
Wilderwood parecia estar presa em um lusco-fusco perpétuo, encurralada
floresta nos entre dia e anoitecer.
oi até a cama Um murmúrio veio da direção do arco quebrado do outro lado do corredor;
repadeiras na era abafado demais para ser compreensível, mas a cadência e o tom grave
rabalho de seeram familiares. Era o Lobo.
Red manteve as costas contra a parede enquanto se aproximava lentamente
do arco. Sentir a pedra atrás dela era, de alguma forma, reconfortante, algo
o, Red sentiusólido onde podia se ancorar, ainda que estivesse coberta de musgo felpudo.
— Ela está aqui? — Uma voz diferente respondeu ao murmurar
yda, mas elaincompreensível de Eammon. — Ao menos soava humana, com leve sotaque
omera. Desde melodioso que lembrava o de Raffe. Seria a dona da risada que Red ouvira
quilômetrosmais cedo? — Por isso Wilderwood estava tão agitada.
— Agitada não é exatamente a palavra.
ado; a última — Eu diria desesperada. — Um novo interlocutor. A voz era masculina e
movida pelagrave, mas não tão áspera quanto a de Eammon. Era quem Red ouvira xingar
eu estômagodepois do estardalhaço. — Wilderwood precisa de dois, e agora sabe que ela
está aqui. Você a manteve sozinha por tempo demais.
enferrujadas Silêncio.
xingamento. — Já tivemos essa conversa — respondeu Eammon, conciso e austero.
em ou o que Ninguém respondeu, embora Red tenha ouvido um suspiro. Um momento
local era umase passou, e a voz musical falou novamente.
— Bom, ela encontrou você?
r sapatos; as — Na biblioteca — respondeu Eammon. — Como diabos ela foi parar na
o gelo no ar. biblioteca?
grossa que — Não é como se houvesse outro lugar para ir. Você não pode se esconder
dela, Eammon, da mesma forma que não pôde se esconder das outras. O que
al. Talvez umesperava?
crepuscular. Em resposta, Eammon praguejou longa e ininteligivelmente, algo sobre os
, encurraladaCinco Reis e onde deveriam enfiar alguma coisa.
— Onde ela está neste momento? — perguntou a outra voz, a masculina.
do corredor;— Você sabe? Ou só a enxotou da biblioteca e torceu para que tudo corresse
o tom gravebem?
— Disse que ela deveria ficar dentro dos portões e longe das árvores —
va lentamenterespondeu Eammon. Red notou que ele deixou de mencionar a terceira regra,
fortante, algo a que dizia que ela não devia perturbá-lo. A omissão pareceu intencional.
— Acha que isso muda alguma coisa? — perguntou a voz masculina, em
o murmurartom de censura.
leve sotaque Houve um silêncio. A tensão era palpável. Red prendeu a respiração.
e Red ouvira — Há uma brecha ao leste. — A voz melodiosa mudou gentilmente de
assunto. — Nada veio das Terras Sombrias ainda, mas com certeza não deve
demorar. A árvore-sentinela estava metade escurecida quando a vi mais cedo,
a masculina ee aumentando depressa. Despejei um pouco de sangue nela, mas não fez
ouvira xingarmuita diferença.
sabe que ela Ela deu um leve suspiro antes de continuar:
— Tem havido mais brechas do que o normal ultimamente.
Terras Sombrias. Outro conto de fadas que de repente se concretizava. As
Terras Sombrias eram a prisão criada por Wilderwood, um lugar para
Um momentoconfinar os monstros. Os cabelos da nuca de Red se eriçaram.
— Muito mais brechas — concordou a voz grave. — Não vejo uma
árvore-sentinela livre do fungo-de-sombra há dias. Algumas não estão
a foi parar nacompletamente perdidas, mas não vai demorar muito até que apareçam aqui.
São muitas brechas em potencial pelas quais algo pode passar.
se esconder Não havia monstros na floresta quando Red estivera lá. Ao menos, não os
outras. O quemonstros que supostamente vinham de Wilderwood antes que Kaldenore
fosse até o Lobo — coisas metamorfas feitas de sombras, nascidas a partir de
algo sobre osossos e dos refugos da floresta. Red não pensara muito nisso, já que estivera
preocupada em fugir de árvores predatórias que ansiavam por seu sangue.
a masculina.Mas a menção às Terras Sombrias, a uma brecha, a algo entrando…
tudo corresse — Wilderwood está fraca — Eammon soava cansado. — Mas posso
consertar isso.
as árvores — — Não sem usar uma faca — sugeriu a voz musical em um tom sombrio.
erceira regra,— Não sem usar uma faca, ou sem se tornar…
— Não importa como farei, contanto que eu faça.
masculina, em — Se ela está aqui, é porque é necessária, Eammon. — A segunda voz foi
brusca. — Quer você queira, quer não.
— Envolver outra pessoa nesta bagunça nunca ajudou. Ao menos não de
entilmente deforma duradoura. — Alguém arrastou uma cadeira. — Você sabe disso, Fife.
eza não deveNunca ajudou e nunca vai ajudar.
vi mais cedo, Red tinha a sensação de estar com o coração entalado na garganta.
mas não fez O Lobo apareceu vindo do corredor; seus olhos cor de âmbar estavam em
brasa, a mandíbula tensa. Red se afastou da parede e foi em direção a ele com
as mãos fechadas em punhos ao lado do corpo. Atrás de Eammon, viu duas
pessoas de relance — uma mulher baixa, com traços delicados e pele escura
cretizava. As de tom dourado, e uma figura pálida e magricela com uma massa de cabelos
m lugar paraloiro-avermelhados; a atenção dela estava no Lobo, porém, nas terríveis
possibilidades do que ela ouvira e no que poderiam significar.
ão vejo uma — O que são essas brechas?
s não estão Ele se sobressaltou quando a viu. Suas mãos novamente se ergueram e
areçam aqui.assumiram certa postura, como se ela fosse algo a ser mantido à distância.
Uma expressão sisuda tomou conta de suas feições.
menos, não os — Não é educado ouvir a conversa alheia.
e Kaldenore — Você não é a pessoa mais indicada para falar sobre educação. — Ela
as a partir de retribuiu o olhar carrancudo. — Vou perguntar de novo: o que são essas
que estivera brechas?
seu sangue. As mãos do Lobo, ainda defensivas entre eles, desceram devagar. Eammon
a encarou por um minuto, como se ponderasse uma decisão. Depois se
— Mas posso desviou de Red e seguiu adiante.
— Não é da sua conta.
tom sombrio. Red o seguiu.
— Não concordo.
— Claro que não.
gunda voz foi — São os monstros?
Ele parou onde estava, a mão suspensa no ar a caminho do casaco
menos não dependurado no corrimão cheio de musgo.
e disso, Fife. — O que sabe sobre os monstros?
— Sei que saíram da floresta antes da vinda de Kaldenore e depois
desapareceram.
r estavam em Era esquisito falar sobre o que ela sabia depois de tantos anos acreditando
ção a ele com que tudo não passava de uma história para assustar crianças. No entanto, no
mon, viu duas intervalo de tempo que passara ali, antigas dúvidas tinham sido respondidas
e pele escurana mesma velocidade em que novas surgiram.
sa de cabelos — Eu sei que você supostamente os liberaria de novo pelo mundo caso eu
nas terríveisnão chegasse.
Ele empalideceu diante da menção do nome de Kaldenore. Suas mãos
machucadas e de dedos longos penderam ao lado do corpo quando ele se
e ergueram e virou para olhá-la.
o à distância. — Eu não libertei os monstros. — Ele engoliu em seco. — Não foi… Não
foi de propósito.
Aquela era mais uma coisa que ela não conseguia compreender — aquele
— Ela homem grande e cheio de cicatrizes que parecia tão aterrorizado com a
ue são essasfloresta quanto ela.
— Então a história é verdadeira?
gar. Eammon — A história é verdadeira. — Ele se virou e correu a mão pelo cabelo
o. Depois secomprido. — Mas garanto que não vai se repetir. Quer você viesse ou não, eu
não libertaria nada desta maldita floresta de propósito. E, para falar a
verdade, me esforço bastante para mantê-la contida.
Não era de grande consolo, principalmente levando em conta o de
propósito.
— Para onde você vai?
— Fazer coisas de Lobo.
o do casaco Eammon puxou o casaco e o jogou sobre os ombros em um só movimento,
depois seguiu em direção à porta.
Red tomou a decisão em uma fração de segundo e a comunicou a Eammon
ore e depois antes que pudesse refletir muito sobre a ideia.
— Vou com você.
s acreditando O Lobo a interceptou, brusco. Seus dentes cintilaram contra a luz das
o entanto, no chamas da trepadeira.
o respondidas — Sob hipótese alguma.
— Então preciso de uma resposta melhor do que coisas de Lobo.
undo caso eu Eammon cerrou os punhos. Sua boca se retorcia como se buscasse a
resposta certa; ele engoliu em seco, parecendo desistir.
. Suas mãos — Não é seguro para você — disse, por fim. — Você sabe disso.
uando ele se — Segurança aqui me parece um conceito relativo, para dizer o mínimo. E
eu gostaria de verificar com meus próprios olhos se você está cumprindo sua
ão foi… Não parte do pacto. Que nenhum monstro deixará os limites de sua floresta.
Os olhos refletiam a luz fraca, que evidenciava tanto a cor de suas íris
der — aquelequanto suas olheiras escuras.
izado com a — Você poderia simplesmente confiar em mim.
Ela ergueu o queixo em um gesto obstinado.
— Me dê uma razão para isso.
pelo cabelo Os dois se encararam, Red e o Lobo. Aquele poderia ser um embate de
se ou não, eu vontades se fosse algo que um dos dois pudesse vencer.
para falar a — Prometo não sangrar — disse Red devagar. — É a única coisa que faz
com que ela ataque. Não é? Derramar sangue?
de Ele não respondeu, analisando-a com o olhar. Sua expressão era
indecifrável. De repente, Eammon fez um gesto com a cabeça em direção ao
corredor.
— Vá calçar seus sapatos. Não pode perambular por Wilderwood descalça.
ó movimento, As botas endurecidas de lama estavam logo do lado de dentro da porta do
quarto de Red. Ela limpou parte do barro e as vestiu depressa, suspeitando
ou a Eammon que o Lobo mudaria de ideia se ela se demorasse demais. Pensou em pegar a
capa vermelha no guarda-roupa, mas ela já sofrera demais por um dia.
Quando retornou ao saguão, Eammon tinha tirado o casaco. Ele o segurava
ra a luz dasestendido como se o oferecesse, mas não olhou para ela.
— Está frio.
Depois de hesitar por um momento, ela aceitou o casaco e o jogou por
cima dos ombros. Chegava até seus joelhos e tinha cheiro de livros velhos e
e buscasse a café, além de um aroma amadeirado de folhas secas. O agasalho ainda
conservava a temperatura do corpo de Eammon.
Com cara de poucos amigos, Eammon abriu a porta e marchou em direção
o mínimo. Eà neblina.
umprindo sua

de suas íris

m embate de

coisa que faz

xpressão era
m direção ao
— Vá calçar seus sapatos. Não pode perambular por Wilderwood descalça.
As botas endurecidas de lama estavam logo do lado de dentro da porta do
quarto de Red. Ela limpou parte do barro e as vestiu depressa, suspeitando
que o Lobo mudaria de ideia se ela se demorasse demais. Pensou em pegar a
capa vermelha no guarda-roupa, mas ela já sofrera demais por um dia.
Quando retornou ao saguão, Eammon tinha tirado o casaco. Ele o segurava
estendido como se o oferecesse, mas não olhou para ela.
— Está frio.
Depois de hesitar por um momento, ela aceitou o casaco e o jogou por
cima dos ombros. Chegava até seus joelhos e tinha cheiro de livros velhos e
café, além de um aroma amadeirado de folhas secas. O agasalho ainda
conservava a temperatura do corpo de Eammon.
Com cara de poucos amigos, Eammon abriu a porta e marchou em direção
à neblina.
8

O céu estava quase violeta, projetando tons de preto e azul-escuro na floresta


ao redor deles. A luz amarelada que vinha da Fortaleza iluminava apenas
alguns centímetros além das paredes antes de ser engolida pela escuridão,
como se Wilderwood não tolerasse iluminação demais.
— Ande rápido. — Cada passo de Eammon correspondia a dois dos dela, e
ele não parecia ter a intenção de ir mais devagar.
A luz violeta iluminou o cabo de uma adaga na cintura dele.
No encalço de Eammon, Red caminhava depressa. As mangas do casaco
dele eram longas e passavam de suas mãos. Ela segurava o tecido excedente
nas palmas, fechando o casaco ao redor do corpo. Estava extremamente frio
naquilo que era chamado de noite ali; se estava incomodado com a
temperatura, porém, Eammon não deixava transparecer. Ela deduziu que,
àquela altura, ele já estava acostumado.
— Não encoste em nada. — A neblina cobria o portão diante deles e
intensificava as sombras ao redor dos ombros de Eammon. — Permaneça ao
meu alcance a todo momento.
Ele se virou apenas o suficiente para lançar um olhar enérgico a Red.
— E lembre-se, nada de sangrar.
— Não pretendo.
— Ótimo.
Eammon tocou o portão. Como acontecera na chegada de Red, a divisão
no metal cresceu do chão, escalando o ferro até se abrir. O Lobo avançou pela
névoa densa que pairava acima do chão, fazendo-a se agitar ao redor de seus
pés.
As árvores pareciam estreitar a distância entre eles enquanto Red seguia
Eammon floresta adentro. Galhos brancos pairavam na penumbra acima dos
dois como foices esperando por uma ordem. Red os observou com atenção ao
apertar o passo para ficar mais perto de Eammon, perto o suficiente para
ro na florestasentir ondas do calor de seu corpo e conseguir enxergar o movimento de seus
inava apenasmúsculos sob a camisa.
la escuridão, — Estamos procurando por uma brecha nas Terras Sombrias, certo?
Um grunhido afirmativo ressoou em resposta.
is dos dela, e — E como é uma brecha, exatamente?
— Escura. — Eammon afastou um galho; pela visão periférica, Red teve a
impressão de ver os gravetos se curvando para dentro, como dedos se
as do casacofechando em uma mão. — Parece com poças de lama escura, isoladas ou
do excedente rodeando árvores brancas se a encontrarmos a tempo. Um lugar onde
mamente frioWilderwood não estava forte o suficiente e as Terras Sombrias conseguiram
dado com aabrir passagem.
deduziu que, — Acho que vi uma dessas.
O anel escuro em volta de uma árvore branca apodrecida que ela vira ao
iante deles ecruzar a fronteira, bem nos limites de Wilderwood. Parecia ser compatível
Permaneça aocom a descrição de Eammon.
— Provavelmente. — A resposta dele foi sucinta. — Elas não são raras
hoje em dia.
Red pisava com cuidado sobre raízes nodosas, desviando de flores não
identificadas e espinhos longos enquanto seguia Eammon pelas sombras de
Wilderwood. Quase podia ouvir a floresta respirar no agitar de galhos e no
ed, a divisão resvalar das trepadeiras. Red sentiu a pele formigar. A floresta era viva. Era
avançou pelaviva e senciente.
redor de seus Chegou mais perto de Eammon outra vez.
Seu braço esticado era quase invisível na penumbra; Red colidiu
o Red seguia diretamente com ele, uma coluna sólida de calor contra seu peito. Seus pés
ra acima dospatinaram sobre as folhas e ela agarrou a mão de Eammon para se equilibrar.
m atenção ao Red sentiu as cicatrizes dele ásperas sob seu toque antes de ele se
ficiente paradesvencilhar com uma expressão carrancuda e insondável.
mento de seus Diante deles, uma árvore pálida se erguia em direção ao céu violeta, ampla
e coroada com galhos de um branco perolado. As raízes rasgavam a terra,
rajadas pelo fungo escurecido. A infecção escalava o tronco como águas de
enchente. Em um círculo perfeito em torno das raízes, a terra estava escura e
fofa, esponjosa, como carne putrefata.
a, Red teve a — É um caso perdido — disse Eammon em voz baixa, — mas ao menos a
mo dedos se encontramos antes de a sentinela ir parar na Fortaleza. — Ele se aproximou
, isoladas oudo círculo de solo infectado e seus dedos se contraíram em direção à adaga
lugar ondepresa no cinto, como se para se certificar de que ela ainda estava lá. —
conseguiramMantenha distância — ordenou, agachando-se perto da extremidade do
fungo. — Não se mexa.
Red assentiu. Ela podia até não confiar nele, não ainda, mas isso não
e ela vira aoqueria dizer que ela teria coragem de se aventurar sozinha por Wilderwood.
r compatível O Lobo buscou a adaga novamente, mas seus dedos vacilaram.
— Já houve sangue demais para um dia só — murmurou ele para si
não são rarasmesmo, afastando a mão do punhal com um suspiro. Tombou a cabeça para a
frente e fechou os olhos. — Tudo bem. Vai ter que ser mágica então.
de flores nãoMaldição.
s sombras de Eammon puxou as mangas da camisa e, no escuro, Red teve a impressão
e galhos e no de ver uma nuance de verde em seu antebraço, mais intensa quando ele
era viva. Erainspirava e mais fraca quando expirava. A tensão em seus ombros cedeu aos
poucos.
Ela não tinha percebido quão apreensivo ele parecia estar até que o viu
Red colidiurelaxado — era como se ele viesse carregando algo pesado sobre os ombros e
ito. Seus pés agora tivesse se livrado do peso.
se equilibrar. Nada se mexeu, mas Red sentiu a floresta chegar mais perto. Cruzou os
s de ele sebraços, observando as árvores com desconfiança. Mais cedo, quando
disparara pela floresta, ensanguentada e cega de medo, a sensação era que
ioleta, ampla Wilderwood era algo acorrentado, algo contido.
avam a terra, Agora, ela sentia as correntes sendo soltas.
mo águas de Eammon posicionou a mão próxima à borda da brecha, os dedos a um fio
tava escura e de cabelo de distância do solo podre e esponjoso. Inclinou a cabeça para a
frente, toda a concentração dedicada à tarefa diante de si. Houve outro clarão
s ao menos a verde em suas veias, desta vez também no pescoço além de no antebraço.
se aproximouSurgiram realces escuros na pele dos pulsos, logo acima do osso. Lembrava
eção à adaga muito uma casca de árvore.
estava lá. — Red ficou tão distraída pelas transformações que só percebeu a raiz
remidade do serpenteando sob a vegetação rasteira quando ela se enrolou em seu
tornozelo.
mas isso não Aterrorizada, foi ao chão com um grito breve e sufocado, batendo as
canelas contra pedras e raízes protuberantes. Trepadeiras cobertas de
espinhos a envolveram tão depressa quanto uma víbora, prendendo-a contra o
u ele para si chão da floresta. No fundo do peito de Red, o fragmento de magia que a
cabeça para a floresta deixara nela começou a desabrochar de dentro para fora, firme e
mágica então.implacável.
Wilderwood hesitou por um momento. Todas as árvores brancas
a impressãochacoalhavam de leve, aguardando. Em seguida, atacaram.
a quando ele Os espinhos rasgando a pele de Red cortavam fundo, arrancando sangue.
os cedeu aos Raízes brancas brotaram do chão em torno dela, arqueando-se em direção aos
té que o viu cortes que os espinhos haviam aberto em sua pele. Ela gritou, e a dor e o
os ombros e medo rasgaram o silêncio da floresta.
— Redarys!
o. Cruzou os Eammon se levantou, as pernas pareciam vacilantes, como se o que quer
edo, quando que estivesse fazendo à beira do precipício de sombras o tivesse exaurido.
ação era que Havia pânico em seu rosto e a parte branca dos olhos estava esverdeada outra
vez. As veias em seus dedos reluziam em esmeralda enquanto ele tateava o
quadril em busca da adaga.
dos a um fio — Espere, eu…
abeça para a Wilderwood abafou sua fala, guinchando triunfante com uma voz de
outro clarão galhos que se partiam. Novos brotos desabrocharam nas trepadeiras que
no antebraço. imobilizavam Red, grandes e pálidos no assombroso crepúsculo; as folhas
so. Lembravasob a Segunda Filha ganharam cor, como se um outono desbotado desse lugar
ao verão ensolarado conforme suas veias se tornaram verdes e o gosto de
cebeu a raiz terra encheu sua boca. O fragmento de magia em seu peito crescia e se
lou em seuesticava, estendendo-se, ávido, em direção às árvores brancas e famintas.
Pensou em Gaya, atravessada por raízes, devorada. Kaldenore, Sayetha,
, batendo asMerra, mais três que aquela floresta havia esvaído. Wilderwood tomaria o
cobertas de que procurava e condenaria o que restasse, a não ser que Red encontrasse um
do-a contra o jeito de impedi-la, de contê-la, de vetá-la…
magia que a Com uma força interna proveniente do pânico absoluto, Red se apoderou
fora, firme e da magia que fluía de seu peito e forçou.
A floresta explodiu com um estampido estremecedor. Raízes, galhos e
ores brancasespinhos se espalhavam enquanto Red continha a magia. Negá-la era
doloroso, assim como fazer de si mesma uma prisão para algo selvagem;
ando sangue. ainda assim Red a reprimiu, escondendo-a no fundo de seu ser. Atada,
m direção aosbanida, podada como se sua determinação fosse uma lâmina.
e a dor e o O gosto de terra desapareceu da língua; o verde-vivo nas veias do pulso
deu lugar ao azul. Wilderwood chiou, um último lamento fúnebre, e depois
tudo ficou quieto.
e o que quer Esperava se deparar com ruínas ao abrir os olhos, mas não foi o que
sse exaurido.encontrou. Não havia membros dilacerados ou árvores tombadas.
erdeada outra Wilderwood estava imóvel como um animal atordoado. Red se levantou, as
ele tateava o pernas trêmulas. Havia terra em seu vestido rasgado e no casaco que pegara
emprestado de Eammon.
Ele estava de olhos arregalados, a adaga pendurada e esquecida na mão
uma voz deinerte.
padeiras que — O que foi aquilo?
lo; as folhas — Não aja como se não soubesse, não quando acabei de ver você tentando
o desse lugarfazer a mesma coisa — respondeu Red. A maneira como as veias do Lobo se
e o gosto de esverdeavam era quase idêntica ao que acontecia com ela. — Poder. Poder
crescia e se dessa maldita floresta. Você estava lá quando ele me foi dado. Você estava lá
quando… quando isso tomou conta de mim, naquela noite. Eu vi você.
ore, Sayetha, O pânico no olhar de Eammon foi substituído aos poucos pelo horror.
od tomaria o — Não — sussurrou ele, balançando a cabeça. — Eu… Eu tentei impedir,
contrasse umeu achei que tivesse conseguido…
Um ruído grave o interrompeu vindo das raízes brancas que irrompiam do
se apoderousolo apodrecido. Um silêncio repentino pairou entre os dois, que olhavam
fixamente para a árvore.
zes, galhos e — Merda. — Eammon girou a adaga com uma mão e empurrou Red para
Negá-la eratrás dele com a outra. — Merda.
go selvagem; Ele não voltou a se aproximar da brecha, não tentou conjurar qualquer que
u ser. Atada,fosse a magia arcana que usara antes. Em vez disso, abriu um corte na palma
da própria mão em um rompante de violência tão cru e inesperado que fez
Red recuar.
eias do pulso Mas ele não foi rápido o bastante.
bre, e depois As bordas do fosso de sombras retrocederam em velocidade assustadora,
como água descendo pelo ralo. As raízes da árvore ficaram escuras como
ão foi o que breu ao absorver a podridão, que subiu pelo tronco branco, tomando-o
s tombadas.completamente em um processo de deterioração turbulenta.
levantou, as Eammon avançou em direção à árvore com o pulso que sangrava esticado
o que pegaraà frente. No entanto, antes que pudesse alcançá-la, o que restava da escuridão
foi absorvido pelas raízes e o chão em torno deles entrou em erupção.
ecida na mãoGravetos finos e folhas foram arremessados ao ar, atirando Eammon para trás
e para longe do tronco enquanto a mancha escura o escalava até quase chegar
aos galhos.
você tentando Red se abaixou, protegendo a cabeça com os braços. A árvore, agora
s do Lobo secompletamente podre, começou a afundar devagar.
Poder Ao redor deles, o resto de Wilderwood observava, imóvel, silenciosa e, de
ocê estava lá alguma forma, desolada.
Com a mesma velocidade aterradora e inexplicável, os detritos da floresta
tocados pelas sombras se apinharam e se fundiram em uma massa,
ntei impedir,concebendo um corpo a partir das ruínas. Ossos arcaicos emergiram do chão
da mata — alguns de origem animal, outros de origem humana, outros de
rrompiam doformatos estranhos demais para ser qualquer um dos dois, todos corrompidos
que olhavampor filetes de sombra que fluíam das raízes da árvore que afundava.
Era isso, Red soube na parte silenciosa da mente que parecia flutuar acima
rou Red parade seu medo. Aquele era o monstro de sombras dos contos de fada,
enfrentado por um homem transformado por uma floresta. Era verdade. Tudo
qualquer queaquilo era verdade.
orte na palma Quando o frenesi de ossos e escuridão e coisas vivas cessou, uma mulher
rado que fez surgiu diante deles.
Tinha cabelos pretos e longos e olhos que ardiam em um verde-esmeralda.
assustadora,Ela sorriu, e pequenos cogumelos brotaram entre seus dentes.
scuras como — Acha que desta vez será diferente? — A voz não soava humana. Era
o, tomando-ograve e arrepiante, e oscilava no ar como se a corda mais grave de uma harpa
desafinada tivesse sido tocada. — Essa história já se repetiu diversas vezes. É
rava esticado divertido assistir de lá de baixo, mas o desfecho é sempre o mesmo. Você não
da escuridãoé forte o suficiente, filhote de Lobo. Assim como seu pai não foi.
em erupção. Eammon dobrou o corpo para a frente, a mão ferida pressionada contra o
mon para tráspeito dolorido e a outra empunhando a adaga ainda suja de sangue na direção
quase chegarda criatura. Sua respiração chiava, os dentes cintilando sob o crepúsculo
infindável.
árvore, agora A mulher de floresta e sombras afastou a lâmina com o dedo, quase com
gentileza, tomando cuidado para não tocar o sangue dele. Líquens brotavam
enciosa e, deda ponta de seus dedos.
— Fica cada vez mais difícil dar conta de si mesmo, não fica? A magia o
os da floresta repele, então você abre uma veia. Mas não há sangue suficiente para contê-la
uma massa, para sempre. Não há sangue suficiente para manter as Terras Sombrias
iram do chãotrancadas, não há sangue suficiente para manter tudo trancado. — A coisa
na, outros deolhou para Red. Havia terra escorrendo como lágrimas por suas bochechas
corrompidosmusgosas. — Isso termina em raízes e ossos. Para todos vocês. Sempre
termina em raízes e ossos.
flutuar acima De repente, o espectro da mulher se transformou. Em um instante, os
tos de fada,pedaços assombrosos que a concebiam desapareceram e ela caiu prostrada no
erdade. Tudochão. Parecia um cadáver, o corpo sem vida de uma jovem.
Red a reconheceu, embora tenha demorado um pouco. Havia visto um
uma mulherretrato da mulher em um dos livros na biblioteca.
Merra.
de-esmeralda. A barriga de Merra se rasgou se súbito, emitindo um som visceral que fez
o estômago de Red se revirar. Raízes se derramaram do buraco, vazando em
humana. Eraum caos de fluidos e entranhas.
de uma harpa O corpo de Merra permaneceu imóvel por um instante. Depois, emitiu um
rsas vezes. Ésom que poderia ser tanto um riso quanto um berro e se levantou outra vez,
mo. Você nãoos braços estendidos na direção de Eammon em um gesto parecido com
rendição. A pele se decompôs em floresta; o musgo devorou os dedos
nada contra oconstituídos por ossos errados.
ue na direção Aquilo pareceu despertar Eammon de qualquer que tenha sido o torpor que
o crepúsculo o mantivera inerte. Ele avançou em direção à criatura, tentando golpeá-la não
com a adaga, mas com a mão que sangrava. A coisa em formato de garota riu
o, quase comde novo, um riso fino e esganiçado desta vez, e se despedaçou ao receber o
ens brotavam golpe. Eammon correu de volta até a árvore, pisando sobre raízes
protuberantes como pedras em um rio, e fez um novo corte na palma da mão.
a? A magia o Mas a criatura não tinha perecido, não ainda — como se pudesse se
para contê-la regenerar enquanto a brecha continuasse disponível. A silhueta de Merra se
as Sombriasderreteu, os ossos e as folhas se agitando novamente para criar uma nova
. — A coisa fusão de rostos, meio formados e se desfazendo. Um feminino, em formato
as bochechasde coração, a doçura transformada em horror. O outro de queixo estreito e
ocês. Semprelábios fartos. Uma mulher com os olhos cor de âmbar de Eammon e um
homem de mandíbula quadrada.
instante, os — Por que sequer tentar? — A coisa observava Eammon, tentando garantir
prostrada noque ele visse cada uma das facetas de seu rosto mutável. — Uma floresta em
seus ossos, um cemitério sob seus pés. Não há heróis aqui.
via visto um Eammon grunhiu, exibindo os dentes enquanto a palma gotejava o mesmo
sangue escuro e esverdeado que Red vira quando ele curara o rosto dela na
biblioteca. Ele pressionou a mão contra o tronco da árvore, mantendo-a ali até
ceral que fezo sangue escorrer por entre os nós dos dedos. A árvore já estava enterrada
vazando empela metade, os galhos quase na altura da cabeça dele.
Devagar, o fungo escuro recuou, perdendo força no tronco da árvore e se
is, emitiu umrecolhendo de volta às raízes como se o sangue de Eammon fosse algo de que
ou outra vez, desejasse escapar. Por fim, abandonou também as raízes e foi absorvido de
arecido comvolta pelo chão. Conforme o fungo desaparecia, o processo se reverteu e a
ou os dedosárvore deixou de afundar, endireitando-se aos poucos. Eammon sangrava
muito. Seus olhos começaram a se fechar e seus joelhos a ceder.
o torpor que A criatura se contorcia, desfazendo-se conforme a árvore se recompunha e
golpeá-la nãoretornando à origem de floresta e sombras.
de garota riu — Sabe o que acontece com heróis, filhote de Lobo? — Eriçada, a coisa
ao receber onão mais tomava formas humanas, mostrando-se apenas como um rastro de
sobre raízessombras sustentado por ossos e gravetos. — Eles morrem.
Eammon abriu os olhos no instante em que a criatura avançou contra ele.
e pudesse se Girou no lugar e a golpeou com a palma da mão coberta de sangue.
de Merra se A coisa se reduziu a uma poça sobre a terra podre e esponjosa. Eammon
ar uma novamanteve a mão pressionada contra ela enquanto ela se encolhia sobre si
, em formatomesma, cerrando a mandíbula como se o gesto exigisse a ele um esforço
xo estreito emonumental. As sombras no solo desapareciam à medida que a árvore branca
mmon e um crescia atrás do Lobo. Por fim, a criatura desapareceu no solo e a mão de
Eammon tocou o chão da floresta. Os cortes em sua palma não sangravam
ando garantirquando ele tirou a mão da brecha recém-fechada.
a floresta em Ainda de joelhos, Eammon ergueu o rosto e encontrou os olhos de Red.
Por um momento que pareceu durar anos, eles olharam um para o outro
ava o mesmoatravés do abismo que havia entre eles, mas nenhum dos dois sabia o que
rosto dela nadizer para preenchê-lo.
endo-a ali até As pernas de Eammon estavam trêmulas quando ele se pôs de pé. Ele
passou por ela com cuidado para não tocá-la e entrou em Wilderwood.
ava enterrada Red permaneceu imóvel e boquiaberta, olhando fixamente para a árvore
que agora era sadia. O fungo desaparecera, dizimado pelo sangue de
a árvore e seEammon; quando Red olhou com atenção para as raízes pelo chão, porém,
e algo de queteve a impressão de que já conseguia enxergar minúsculos fios sombrios se
absorvido de esgueirando pela madeira branca. As Terras Sombrias se manifestavam de
reverteu e anovo.
mon sangrava Ela deu meia-volta e seguiu o Lobo pela penumbra.
Ele não dizia nada, o silêncio entre os dois mais denso à medida que se
ecompunha eprolongava. Red fechou o casaco dele sobre o corpo novamente, sentindo o
aroma de livros, café e folhas.
çada, a coisa — Quem era aquela?
um rastro de — Uma criatura de sombras. A brecha se tornou grande o bastante para
que ela pudesse escapar. Mais dez minutos e aquela árvore-sentinela teria
ou contra ele.aparecido como um broto na Fortaleza, e seria necessário muito mais sangue
para mandá-la de volta para o lugar onde deveria estar. Curá-las antes que
osa. Eammonelas mudem de lugar é muito mais fácil quando consigo encontrá-las.
lhia sobre si Ele divagava, tentando fugir da pergunta de Red ao distraí-la com outras
e um esforço respostas.
árvore branca — Você entendeu o que eu quis dizer — insistiu Red, segurando os punhos
o e a mão dedo casaco. — Reconheci Merra. Quem eram os outros?
o sangravam Um longo silêncio se seguiu e Red se perguntou se Eammon responderia
no fim das contas. Quando ele o fez, sua voz soou firme e moderada.
lhos de Red. — Kaldenore — disse ele, finalmente. — Depois Sayetha. Depois Gaya. E
para o outrodepois Ciaran.
sabia o que Um desfile da morte. Red mordeu o lábio.
— As Segundas Filhas, e… e Gaya… Wilderwood as consumiu.
s de pé. Ele Ele respondeu com um aceno breve de cabeça.
— E Ciaran?
para a árvore Ela fez questão de se ater aos nomes, não aos vínculos. Se Eammon
o sangue de evitava dizer pai e mãe, ela deduziu que era melhor fazer o mesmo.
chão, porém, O Lobo empurrou um galho, com tanta força que quase o quebrou.
sombrios se — Wilderwood o consumiu também.
ifestavam de O portão apareceu em meio ao nevoeiro; Eammon segurou as barras,
praticamente se apoiando nelas enquanto o portão se abria. Deteve-se por um
momento quando o ferro abriu passagem, como se tivesse que reunir forças
edida que separa dar um passo adiante. Sangue demais, ele dissera antes, e se comportava
e, sentindo ocomo se de fato tivesse sido.
Com o portão já muito bem fechado atrás deles, Eammon se voltou para
Red. Seus olhos brilhavam.
bastante para — Lá atrás — disse ele, cauteloso. — Quando Wilderwood… atacou você.
entinela teriaComo fez com que ela parasse?
mais sangue — Do mesmo jeito que tenho feito há quatro anos.
las antes que Ela queria que seu tom tivesse sido acusatório, mas sua voz soou oca e
frágil no ar gelado. Red evitava o olhar de Eammon, encarando um buraco na
a com outrasmanga do casaco causado por um espinho.
— Você estava nas mãos de Wilderwood. Eu não cheguei até você a tempo
do os punhos — murmurou ele. Ela não sabia dizer se aquilo era uma confissão ou uma
acusação. — Já é bem assustador ela não ter drenado você em minutos. Isso
n responderianão aconteceu porque você a impediu. Vai ter que me explicar em detalhes,
Redarys.
pois Gaya. E — Eu não sei os detalhes! Desde meu aniversário de dezesseis anos,
quando estive aqui e cortei a mão e derramei sangue na floresta, tenho essa…
essa coisa dentro de mim, como um pedaço de poder que eu não deveria ter,
algo que faz com que plantas e coisas vivas se comportem de maneira
estranha perto de mim. Algumas vezes consigo controlar esse poder, mas
outras não. Quando não consigo coisas ruins acontecem!
Se Eammon — Plantas e coisas vivas. Coisas com raízes sob a influência de
Wilderwood. — O rosto de Eammon estava pálido e contraído. Sua voz tinha
um tom de reflexão, como se ele estivesse tentando solucionar uma equação
complicada em voz alta. Ele levou a mão à mandíbula em um gesto
ou as barras, pensativo; depois ergueu o olhar, fitando Red novamente. — Hoje, quando
ve-se por um entrou na floresta pela primeira vez — disse ele, parecendo calcular as
reunir forçaspalavras com cuidado —, você disse que um espinho cortou sua bochecha.
e comportavaVocê quis dizer…
— Quando atravessei a fronteira, acabei com as mãos enterradas na terra.
e voltou paraNão sei como, não me lembro de ter feito isso, mas claramente tinha algo a
ver com este poder. — Red sentia calafrios só de falar sobre o assunto, pensar
atacou você.em movimentos que ela não escolhera fazer. — Mas eu interrompi o que quer
que a floresta estivesse tentando realizar. Eu não libertei a magia; a mantive
sob controle e ela parou. Foi o que fiz dessa vez também. A mantive sob
z soou oca e controle.
um buraco na Um pesar inesperado passou pelos olhos de Eammon, um arrependimento
que ela não conseguiu decifrar.
você a tempo — Não estou entendendo — murmurou ele. — Achei que…
ssão ou uma — Você não está entendendo? Vi você na noite em que isso aconteceu!
minutos. IssoVocê fez parte disso! Eu vi suas mãos quando tudo se alastrou, pouco antes
em detalhes,de parar!
A tensão na mandíbula da Segunda Filha se desmanchou e o pesar
zesseis anos,desapareceu de seus olhos.
tenho essa… — Mas parou. — Como se essas as palavras fossem o andaime que até
o deveria ter,então os sustentava, os ombros do Lobo penderam para a frente em alívio. —
de maneiraEu impedi que acontecesse.
e poder, mas — Impediu que o que acontecesse?
Eammon não respondeu, encarando o chão. Depois inspirou fundo.
nfluência de — Eu não conseguiria proteger você por completo. Mas consegui impedir
Sua voz tinhao que era importante. Não deixei que… — Ele se interrompeu e ficou em
uma equaçãosilêncio, passando a mão pelo rosto e deixando rastros de sangue vermelho-
m um gesto esverdeado em uma das bochechas. — Pode ser diferente dessa vez.
Hoje, quando Red cerrou os dentes.
o calcular as — Como assim?
ua bochecha. — Seu poder. Ele é uma parte de Wilderwood. É parte dela fazendo
morada em você.
adas na terra. — Eu suspeitava.
tinha algo a — Entendo que queira controlá-lo, reprimi-lo. Mas se aprendesse a usá-lo,
sunto, pensartalvez Wilderwood não precisasse… tomar mais nada. — A esperança era
pi o que quercomo uma lâmina afiada em sua voz. Uma lâmina afiada e cortante. —
ia; a mantiveTalvez fosse suficiente você usar o que já tem.
mantive sob — Eu não estou entendendo. Wilderwood quer tomar alguma coisa? —
Ela engoliu em seco com um nó na garganta. — Já não tomou o suficiente?
ependimento — Não precisa se preocupar com isso. — Aquilo era o mais firme que sua
voz soava desde a batalha com o monstro na árvore. Quase firme o bastante
para que ela acreditasse nele. — Só precisa se preocupar em aprender a usar a
o aconteceu!magia que Wilderwood já concedeu a você.
pouco antes — Não posso usá-la — respondeu Red com uma risada sarcástica, soltando
uma nuvem de vapor no ar crepuscular. — Talvez você possa, mas eu não.
u e o pesar — Se consegue controlar o poder a ponto de reprimi-lo, pode controlá-lo
bem o bastante para dobrá-lo às suas vontades. — O Lobo massageou a
aime que até mandíbula, contemplativo. — Vou precisar entender as particularidades…
em alívio. — — Entender as particularidades? Você nem sequer sabe como isso
funciona? Mas você acabou…
— É diferente. Você é diferente. As outras… elas tinham uma conexão
com Wilderwood também, mas não assim. — Lá estava a esperança cortante
egui impedir de novo, tão afiada que até mesmo ouvi-la provocava dor. — Isso pode
u e ficou em consertar tudo.
ue vermelho- Devia servir de conforto o fato de Red ser diferente das Segundas Filhas
que tinham vindo antes dela. Diferente das três mulheres que Wilderwood
levara. Mas ela só conseguia pensar em sangue e galhos e no corpo caído da
irmã, uma lembrança de quatro anos antes que ainda estava tão nítida quanto
dela fazendono dia em que acontecera.
Ainda sentia gosto de terra na boca, não importava quantas vezes
engolisse. Red negou com a cabeça.
esse a usá-lo, — É perigoso — murmurou ela. — Não é algo que pode ser usado.
sperança era — Não temos escolha. — As mãos de Eammon finalmente se aquietaram.
cortante. — Ele olhava para Red por trás do nariz remendado. — Farei tudo o que estiver
ao meu alcance para manter você a salvo de Wilderwood, Redarys, mas
ma coisa? —precisarei de sua ajuda. Não consigo fazer isso sozinho. Já tentei.
Red pensou na terrível voz ecoando no nevoeiro. Não há sangue suficiente
irme que suapara contê-la para sempre.
me o bastante Ali, no pátio silencioso, ele a fitou sob um céu sem estrelas. Ela precisou
ender a usar a desviar o olhar. O sofrimento era pungente demais, uma dor e um peso que
não conseguia nomear. Suspeitava que ele também não conseguisse.
tica, soltando No momento seguinte, o Lobo se pôs a caminhar em direção à Fortaleza.
Sem dizer uma palavra, Red o seguiu.
e controlá-lo Eammon parou assim que passaram pela porta. Sua expressão era neutra,
massageou amas seus olhos ainda brilhavam.
— E aí? Está satisfeita? — As mãos dele se mexeram em um espasmo. —
e como isso Dei provas suficientes de que pode confiar em mim?
Red assentiu com a cabeça.
uma conexão O Lobo subiu as escadas de pedra. Atrás dele, o musgo e os gravetos se
ança cortanteergueram, bloqueando a passagem, fechando-o ali dentro.
— Isso pode

undas Filhas
Wilderwood
orpo caído da
nítida quanto

uantas vezes

e aquietaram.
o que estiver
Redarys, mas

gue suficiente

Ela precisou
um peso que

o à Fortaleza.

o era neutra,

espasmo. —

s gravetos se
INTERLÚDIO
VALLEYDIANO II

O livro não estava onde deveria estar.


De cara feia, Neve olhava para o papel que segurava, no qual estavam
anotados o nome do autor e o número da prateleira. Procurava um livro de
poesia escrito por um comerciante que tinha um esquema de rimas para
navegar os rios Ciani. Não era exatamente um tomo popular. De qualquer
forma, era proibido tirar exemplares da biblioteca, embora Red fizesse isso o
tempo todo…
Parou, pressionando a mão contra a barriga ao sentir a dor súbita. Pelos
Reis, ela tinha que parar de fazer isso. Pensar em Red como se ainda estivesse
ali. Só fazia um dia que ela partira, mas cada hora era como uma punhalada.
Lágrimas ferroaram seus olhos, dolorosas demais para que as deixasse
rolar.
— E se nós não visitássemos o venerável mestre Matheus hoje?
Atrás dela, Raffe virou ao contrário a cadeira da qual Neve tinha se
levantado, sentando-se nela e apoiando os braços musculosos sobre o encosto
de madeira.
— E se, em vez disso, fizéssemos… literalmente qualquer outra coisa?
Se aquela fosse qualquer outra pessoa que não Raffe, Neve teria retrucado,
irritada, que queria ser deixada em paz. Naquela situação, no entanto, o
sorriso dela foi parcialmente genuíno, embora a exaustão puxasse as laterais
de sua boca para baixo. Não tinha dormido muito depois da desaventurada
visita ao Santuário.
— Estou deduzindo que com “não visitar” você quer dizer que deveríamos
faltar à aula sobre padrões climáticos do sul e seus impactos nas importações,
certo?
Valleyda ficava bem no topo do continente, sem acesso ao mar, com
Wilderwood ao norte, os desertos alperanos ao leste e Floriane bloqueando o
caminho até o litoral oeste. Isso fazia com que o comércio fosse um pesadelo,
qual estavammas também era a razão pela qual Valleyda era o melhor lugar para se
um livro de aprender sobre isso — eles haviam solucionado todos os problemas de
e rimas para comércio possíveis, já que já tinham sofrido com todos eles.
De qualquer A única força de Valleyda era a religião, a fronteira que dividiam com
fizesse isso oWilderwood e o fato de estar atrelada à dívida da Segunda Filha que protegia
o mundo dos monstros — mas isso ao menos fazia com que grande parte dos
Pelospaíses estivessem dispostos a oferecer preços justos. Ninguém queria
nda estivesseenfurecer os Reis passando a perna no reino que poderia um dia fornecer o
sacrifício que os libertaria, ou avinagrar as orações pelas quais pagavam no
as deixasseTemplo.
Ainda assim, a escassez de safras sempre seria motivo de apreensão, ainda
mais quando as passagens que bloqueavam Valleyda de Meducia e Alpera
eve tinha seficavam congeladas tão precocemente no ano. A intenção do casamento de
bre o encosto Neve e Arick era, acima de tudo, garantir uma rota marítima, fazendo com
que Floriane se tornasse uma província, assegurando o acesso irrestrito de
Valleyda ao litoral.
ria retrucado, O sorriso cansado no rosto de Neve se tornou um pouco mais difícil de
o entanto, o manter.
se as laterais — Exatamente o que quero dizer — respondeu Raffe. — Percebi que não
tenho nem mesmo o menor dos resquícios de entusiasmo por assuntos
esaventurada relacionados a comércio neste momento.
A luz de fim de tarde que entrava pela janela criava um brilho dourado ao
e deveríamoslongo de seus dedos longos e elegantes.
importações, Neve comprimiu os lábios. Passava tempo demais observando as mãos de
Raffe.
ao mar, com — Estamos no verão — continuou ele —, ou na coisa mais parecida com o
bloqueando o verão que temos por aqui. Minha ausência em uma palestra monótona não vai
um pesadelo, arruinar os negócios de meu pai. E, se arruinar… bom. — Ele deu de ombros.
ugar para se — Não é nada que vá me fazer perder o sono.
roblemas de Neve soltou o corpo na cadeira diante dele.
— E se você não tivesse que se preocupar com isso? — Ela rasgou o papel
ividiam com com a referência de livro, os pedacinhos se amontoando como um punhado
que protegiade neve. — Se você não tivesse um negócio para administrar, rotas de
nde parte dos comércio para estudar… E se você pudesse fazer qualquer coisa?
guém queria O sorriso brincalhão de Raffe esmoreceu ligeiramente, e uma expressão
ia fornecer ointrospectiva tomou conta do rosto bonito.
pagavam no — Boa pergunta.
Seu olhar pousou sobre as mãos de Neve na mesa.
eensão, ainda As bochechas de Neve ficaram quentes. Não conseguia negar sua atração
cia e Alpera por Raffe — achava que ninguém conseguiria; aquele homem era
casamento dedeslumbrante como um príncipe de contos de fada e ainda tinha o charme e a
fazendo combondade que completavam o pacote. Mas nada poderia acontecer entre eles,
irrestrito de não com o noivado dela já consolidado. Ainda assim, isso não impedia o
querer, e não era obstáculo para o prazer de saber que seu querer era
ais difícil derecíproco.
Raffe apoiou o queixo sobre os braços, os olhos escuros curiosos ao se
cebi que nãoalternarem entre as mãos e o rosto de Neve.
por assuntos — E você? Se pudesse ir para qualquer lugar, para onde iria?
A resposta dela veio no mesmo instante. Afastou todo o calor que os olhos
o dourado aodele haviam trazido, substituindo-o por uma dor inexpressível.
— Iria atrás da minha irmã.
o as mãos de — Você fez tudo o que podia por ela, Neve.
Tinha feito tudo o que podia e não fora suficiente.
recida com o — Não é sua culpa.
ótona não vai Então de quem era? O destino se deturpou certo dia e Neve nasceu
u de ombros.primeiro. Nada daquilo era justo, nada daquilo era certo, e ela deveria ter se
esforçado mais para mudar tudo. Deveria ter feito algo além de implorar a
Red para que fugisse, muito depois de ter ficado claro que a irmã não faria
asgou o papelisso.
um punhado Raffe esticou a mão e a deixou pairar sobre a de Neve, depois hesitou por
rar, rotas deum momento antes de envolver o pulso dela com os dedos. Ele era quente,
muito quente, quase o bastante para trazê-la de volta do lugar frio em que se
ma expressão recolhera dentro de si mesma, onde podia se tornar dormente e distante.
Vinha passando muito tempo ali nos últimos tempos. Ficar dormente e oca
era melhor do que em carne viva e sofrendo.
— Precisa parar de se culpar, Neve. Ela fez uma escolha. O mínimo que
r sua atraçãopodemos fazer é honrá-la. — Ele pausou para engolir. — Honrar a memória
homem eradela.
o charme e a A memória. A palavra a feriu como uma facada.
er entre eles, — Ela não está morta, Raffe.
ão impedia o Pensou no que a sacerdotisa de cabelos ruivos havia dito no Santuário,
u querer erasobre o que acontecera com Red quando cruzara o limite de Wilderwood.
Emaranhada na floresta, vinculada a ela. Aquilo estivera na cabeça de Neve o
uriosos ao sedia todo — a irmã enroscada em trepadeiras, forragem para uma mata voraz.
Mas viva.
que os olhos E será que uma parte dela não sabia daquilo? Ela sentiria se Red morresse.
Haveria algo, alguma espécie de ausência, e Neve ainda se sentia
terrivelmente inteira.
Raffe não discutiu. Ainda assim, não havia nada parecido com fé em seus
olhos, e a ideia de explicar tudo para ele, de colocar o sentimento em
palavras, era exaustiva.
Neve nasceu Então Neve respirou fundo, com cautela para não estremecer.
deveria ter se — Os jardins — disse ela, forçando um sorriso. — Não é muito
de implorar a empolgante, mas já é algum lugar.
mã não faria — Melhor do que as aulas. — Raffe se pôs de pé e estendeu o braço,
galante. — Arick virá também?
s hesitou por Ele perguntou de maneira casual, mas havia preocupação em seu tom. O
e era quente,sorriso de Neve se desfez.
io em que se — Não — disse ela, entrelaçando o braço no dele. — Para falar a verdade,
e e distante.não sei muito bem onde Arick está.
rmente e oca Ela não o via desde que haviam voltado de Wilderwood, os três apinhados
na mesma carruagem preta, cada um perdido no próprio silêncio. Neve se
mínimo que lembrava de pensar que aquela era a única coisa que salvava o dia, talvez o
ar a memóriaano inteiro. Se tinham que perder Red, ao menos podiam processar a perda
juntos, encontrar uma maneira de segurar as pontas.
Depois Arick sumiu para lamber as feridas sozinho.
Raffe suspirou.
no Santuário, — Eu também não.
Wilderwood. Ela apertou o braço dele em um ato de conforto silencioso. Em seguida os
ça de Neve odois passaram pelas portas da biblioteca em direção ao saguão ensolarado.
Neve não sabia dizer por que tinha sugerido os jardins. Ela e a sacerdotisa
ruiva tinham limpado a bagunça que ela fizera, e a mulher garantira a Neve
que ninguém perceberia. Ainda assim, provavelmente era de bom tom que
Red morresse. Neve mantivesse certa distância do Santuário, ao menos por alguns dias. Mas
a se sentiaera como se fosse atraída para lá, como quem cutuca um hematoma para ver
até onde vai a dor.
m fé em seus Quando eles viraram uma esquina, as portas de vidro do jardim se abriram
ntimento em e despejaram uma procissão de sacerdotisas da Ordem em suas vestes
brancas.
A maioria delas já tinha ido embora àquela altura. Depois das vigílias da
Não é muitomeia-noite, quando ficou claro que os Reis não voltariam, as sacerdotisas que
haviam viajado até lá para ver o sacrifício de Red foram embora, de volta
deu o braço, para seus próprios Templos menos prestigiados. Neve viu quando saíram do
Santuário naquela manhã, uma atrás da outra, logo após acordar de suas
m seu tom. O poucas horas de sono inquieto; o sol começava a tingir o céu e elas
seguravam o que restava das velas vermelhas.
ar a verdade, A vigília tinha se encerrado ao nascer do sol e agora já passava do meio-
dia, mas aquele grupo de sacerdotisas tinha olheiras características de quem
ês apinhadosacabou de ser liberado de uma sessão de oração. Não havia muitas delas;
cio. Neve seeram menos de vinte, organizadas em fila dupla. Liderando o grupo, vinha
o uma mulher alta e magra com cabelos cor de fogo.
essar a perda A sacerdotisa da noite anterior. Ela não usava o peculiar colar de madeira.
Neve não reconheceu todos os rostos que a acompanhavam — algumas
delas não eram de Valleyda, deviam ter ficado depois da partida das irmãs.
Isso causou um mal-estar vago e disforme no peito da Primeira Filha.
Os olhos da sacerdotisa ruiva passaram por Neve, mas ela não demonstrou
m seguida osreconhecê-la. Em vez disso, virou-se e falou com uma das irmãs atrás dela,
em voz baixa demais para que Neve pudesse ouvir, antes de seguir caminho
a sacerdotisapor outro corredor.
antira a Neve O estômago de Neve se contraiu de alívio, embora não soubesse explicar o
bom tom que porquê. Ainda assim, olhava intrigada para a sacerdotisa. Naquele corredor só
uns dias. Mas havia outra porta que dava para os jardins — ela não tinha acabado de vir de
oma para verlá?
O resto das sacerdotisas passou por eles devagar, e Neve agiu por instinto.
m se abriramAgarrou o braço de uma delas, a que estava mais próxima, com força
suas vestessuficiente para deixar um hematoma.
— Neve — sussurrou Raffe.
as vigílias da Em sua defesa, a sacerdotisa não demonstrou nenhuma emoção além de
erdotisas que arregalar os olhos.
ora, de volta — Alteza?
do saíram do — O que estavam fazendo lá? — Neve não estava com paciência para
rdar de suasformalidades. Não naquele dia. — As vigílias acabaram. Os Reis claramente
céu e elasnão vão voltar.
Ela flertava com a blasfêmia, mas, ainda assim, a única resposta que
ava do meio-recebeu foi outro arregalar de olhos.
icas de quem — As vigílias oficiais terminaram, sim — admitiu a sacerdotisa —, mas
muitas delas;algumas de nós continuamos com nossas orações.
grupo, vinha — Por quê? — Ela quase rosnou. — Por que continuar rezando para algo
que não ouve vocês? Seus deuses não vão voltar.
Ah, àquela altura ela já havia mergulhado na heresia, mas não conseguia se
— algumasimportar. A seu lado, Raffe estava imóvel como uma estátua.
da das irmãs. A sacerdotisa exibiu um sorriso brando, como se a Primeira Filha de
Valleyda não estivesse prestes a pular em seu pescoço.
o demonstrou — Talvez não. Wilderwood os prende de maneira implacável. — Uma
ãs atrás dela, pausa. — Talvez seja necessário ajuda para que ela os liberte.
guir caminho Palavras da noite anterior serpentearam pela mente de Neve como
fragmentos de um sonho. A floresta é tão forte quanto permitimos que seja.
sse explicar o Sua raiva foi aplacada pela confusão, que também fez com que relaxasse
e corredor sóos punhos cerrados. Inabalável, a sacerdotisa inclinou a cabeça; seu
ado de vir de movimento foi copiado pelas outras atrás dela. Em seguida, foram embora.
— Bom, isso com certeza vai acabar mal — Raffe esfregou a mão na boca,
por instinto. nervoso. — Ela vai contar para a Suma Sacerdotisa…
a, com força — Não vai.
Neve sabia. Da mesma maneira que sabia que a sacerdotisa não contaria a
ninguém que ela destruíra o Santuário. Algo no colar, na maneira como
oção além detinham falado de Wilderwood quase como se fosse um inimigo em vez de um
lugar sagrado, dizia a ela que nada daquela conversa chegaria aos ouvidos de
Zophia.
aciência para Raffe olhou para ela de olhos semicerrados, mas permaneceu em silêncio.
is claramente Com delicadeza, Neve desenlaçou o braço do dele e caminhou até as portas
de vidro do jardim. Não olhou para trás para verificar se Raffe a
resposta que acompanhava, mas ouviu o som de suas botas no chão e ouviu quando ele
fechou as portas depois de passarem.
otisa —, mas Quando já estavam lá fora, Raffe respirou fundo, correndo a mão pelo
cabelo curto.
ndo para algo — Olha, sei que está magoada…
— Sacrificaram ela. — Neve se virou de queixo erguido. Raffe estava mais
conseguia seperto do que ela esperava, os lábios grossos a meros centímetros de distância.
A respiração dela parecia uma lâmina. — Sacrificaram em vão.
eira Filha de — Talvez não tenha sido em vão, ainda que os Reis não tenham voltado.
— Ele falava com cuidado, como um cinzel tentando esculpir um lado
vel. — Uma positivo. — A lenda dos monstros, antes de Kaldenore…
— É balela, Raffe. Se os monstros fossem reais, nós os teríamos visto
Neve comonaquela noite.
Não era necessário esclarecer a noite a que ela se referia. A noite das
que relaxassepedras e das chamas e de uma Wilderwood inatingível por ambos. A noite em
cabeça; seu
que os homens as tinham seguido e tinham sido barbaramente massacrados
mão na boca,por… por alguma coisa.
Neve não se lembrava de muita coisa depois da chegada dos ladrões. Havia
desmaiado depois de ser atingida na têmpora por um deles com o cabo de um
ão contaria a punhal e só acordara quando já estavam de volta à capital, sob rigorosa
aneira como proteção.
m vez de um Mas Red se lembrava. E achava que era culpa dela.
os ouvidos de Neve sentiu uma onda gelada de remorso percorrer a coluna, uma onda
implacável de remorso e de certeza. O que quer que tivesse acontecido, o que
quer que não conseguisse lembrar, era parte do que levara a irmã a
até as portasWilderwood.
se Raffe a — Foi em vão — repetiu ela, débil.
u quando ele Dessa vez, Raffe não teve resposta.
Neve seguiu pelo caminho, tocando com os dedos as sebes viçosas,
a mão pelo permitindo que a ponta afiada das folhas arranhasse sua pele. Uma das
picadas foi funda o suficiente para fazer uma gota de sangue brotar no dedo.
Atrás dela, um suspiro. Os passos de Raffe ecoaram sobre as pedras
e estava maisquando ele se afastou.
de distância. Ela fechou os olhos contra o sol de início de verão; a luz iluminava as
veias e os vasos capilares de suas pálpebras, e sua visão parecia estar coberta
ham voltado. por um véu de sangue.
pir um lado — Que tal um pacto?
A voz soava abafada e rouca, como se o interlocutor não tivesse tido uma
eríamos visto noite decente de sono havia dias. Havia algo familiar nela, mas era baixa
demais para se ter certeza.
A noite das O som vinha de um ponto ao lado dela, oculto por um caramanchão de
s. A noite emgrandes flores cor-de-rosa — aquela conversa claramente não poderia ser
ouvida por outras pessoas.
massacrados Mas Neve não se mexeu.
— Impossível. — A segunda voz era brusca, as vogais diretas e precisas.
adrões. Havia Também era familiar. — Wilderwood se deturpou, seu poder ficou mais
o cabo de umfraco. Ela já não aceita coisas irrisórias como dentes e unhas. Nem mesmo
sob rigorosasangue, a menos que seja de uma ferida recente.
Havia algo proeminente naquele tom. Como se o significado pairasse por
trás das palavras, subtendidas em vez de proferidas.
a, uma onda Aquele tom de voz esclareceu a familiaridade. Era a sacerdotisa de cabelos
tecido, o queruivos.
ra a irmã a — Não — continuou ela. — Um sacrifício morto não é mais suficiente.
Algo maior seria necessário, se é que é possível. Um preço mais alto tanto no
pacto quanto nas consequências. Nossas preces nos avisaram.
Houve uma pausa. Depois, de maneira cadenciada como uma ladainha:
ebes viçosas, — O sangue que foi usado para pactos com coisas do além é um sangue
le. Uma das que pode abrir portas.
Neve franziu o cenho, mas a outra voz pareceu consternada demais para
re as pedrastentar desvendar o enigma sem sentido.
— Precisa haver um jeito.
iluminava as — Se houver, querido rapaz — murmurou a sacerdotisa —, você precisa
estar coberta estar preparado para ceder e continuar cedendo. — Uma pausa. — Os Reis
exigem muito, mas também dão muito em troca. Servi-los faz com que as
oportunidades batam à sua porta. Eu sei disso.
sse tido uma Houve um farfalhar quando alguém se levantou do banco oculto pelas
mas era baixaflores. Xingando baixinho, Neve se afastou depressa, fingindo que estava
distraída com um arbusto de flores do outro lado da passagem.
amanchão de De canto de olho, viu um vulto branco.
o poderia ser — Me procure caso tenha mais perguntas — disse a sacerdotisa. — Nossas
preces nesta manhã, depois que nossas irmãs menos dedicadas foram embora,
se provaram bastante… esclarecedoras.
as e precisas. Um garoto desgrenhado surgiu de trás dela.
r ficou mais — Procurarei. Obrigado, Kiri.
Nem mesmo Neve ficou paralisada onde estava, segurando uma flor grande e amarela.
Arick.
pairasse por A sacerdotisa — Kiri. Neve finalmente descobrira seu nome — olhou para
Neve. Deu um sorriso impessoal ao acenar com a cabeça e voltar, deslizante,
sa de cabelospara o castelo.
Se Arick estava surpreso com a presença de Neve, não deixou transparecer.
is suficiente.Correu a mão pelo cabelo, que parecia não ter sido penteado na última
alto tanto nosemana.
— Neve.
— Arick. — Houve um segundo de silêncio denso. — Estávamos
é um sangue preocupados com você.
A preocupação tinha fundamento, ao que parecia. O rosto dele estava
demais para pálido e magro, os olhos verdes fundos. Ele gesticulou com a cabeça em
direção às árvores em flor e desapareceu.
Neve deu uma olhada ao redor antes de se enfiar por entre os galhos,
você precisa embora o medo de ser vista fosse ridículo — ele seria cônjuge dela, afinal.
. — Os ReisGarantindo a rota marítima para o comércio Valleydiano através de Floriane.
com que as Uma dor baça despontou nas têmporas de Neve.
Ela afastou flores avermelhadas e viu Arick, já sentado no banco debaixo
oculto pelasda pérgula. A aparência abatida, com a pele macilenta e os olhos sombrios,
o que estava parecia absurda em contraste com o pano de fundo florido.
Ele não disse nada quando ela se sentou a seu lado. O banco era tão
pequeno que ela não conseguiu evitar encostar na perna dele. Tinham
sa. — Nossas mantido uma amizade agradável até os dezesseis anos e o contrato de
oram embora,
casamento — até mesmo depois, quando Red ainda estava lá, uma
intermediária entre eles e o futuro inevitável. Agora, ela não sabia como agir.
Neve se ajeitou no banco.
— Como você está?
— Não estou bem.
— olhou para — Eu também não.
ar, deslizante, O silêncio cresceu entre os dois. Nenhuma palavra parecia adequada. Tudo
o que ela e Arick tinham em comum era o luto, e como se construía uma
transparecer.conversa baseada nisso? Que dirá uma vida?
do na última — Eu tentei. — Arick se inclinou para a frente, enfiando os dedos no
cabelo emaranhado. — Na noite do baile. Eu tentei fazer com que ela fugisse.
— Todos nós tentamos. Ela não quis ouvir.
— Estávamos — Precisa haver uma maneira de trazê-la de volta.
Neve mordeu o lábio. Ela pensava na conversa que acabara de ouvir.
dele estava Pensava na pessoa com quem ele conversava, em Santuários destruídos e
a cabeça emlascas de tronco.
— Arick — disse ela, com cuidado. — Não quero que faça nenhuma
re os galhos,besteira.
dela, afinal. — Besteira maior do que correr até Wilderwood para arremessar pedras
nas árvores? — Havia um resquício de leveza na voz dele.
Ela sorriu ao perceber, embora tenha sido um sorriso cansado e
anco debaixo desanimado.
os sombrios, — Acho que não tenho moral para falar nada.
De mais formas do que ele sabia.
anco era tão Os ombros de Arick penderam para a frente; a leveza momentânea
dele. Tinhamdesapareceu tão rápido quanto surgiu.
contrato de — Vou descobrir um jeito de trazê-la de volta.
ava lá, uma Neve olhou para ele de canto de olho. Sabia que ele amava Red. Mas
a como agir. também sabia que Red não o amava e nunca tinha amado. Red decerto se
importava com ele, mas não queria arruinar mais vidas do que o necessário
quando entrasse na mata. E, embora os sentimentos de Arick fossem mais
profundos, ele parecia ter entendido. Neve já esperava seu luto, mas também
esperava que passasse depressa. Arick era resiliente.
equada. Tudo — Eu sei que você pensou que eu superaria isso — disse Arick, como se
onstruía umaos pensamentos de Neve fossem algo que pudesse ser lido no ar sobre sua
cabeça.
os dedos no — Isso faz com que eu pareça cruel — murmurou ela.
e ela fugisse. — Não é o que quero dizer. O que quero dizer é que… — Suspirou. — As
coisas são fáceis para mim, Neve. Principalmente porque deixo que sejam.
Eu nunca lutei por nada, nunca tomei nenhum caminho que oferecesse grande
ara de ouvir. resistência, porque quero que as coisas sejam fáceis. — Ele pronunciou a
destruídos eúltima palavra com um ranger de dentes. — Mas não posso simplesmente
deixar isso pra lá. Se existe algo pelo que vale a pena lutar, é ela. E não só
aça nenhumaporque a amo… mas porque não é certo. Ela também merece ter uma vida.
O caco de esperança no peito de Neve era como uma farpa, pequeno e
messar pedras doloroso e pungente, deixando seu luto afiado como lâmina. Não sabia como
articulá-lo, não com todas as complicações adicionais relacionadas a ela e
cansado eArick e Raffe e todos os fios emaranhados que os conectavam, sacerdotisas
com colares misteriosos e árvores decrépitas em um aposento de pedra.
— Que bom — respondeu ela, porque era a única forma que conseguia dar
àquela esperança farpada.
momentânea Ele olhou para ela um pouco surpreso, depois o alívio pareceu suavizar a
tensão nos tendões de seu pescoço. Era como se ele esperasse pela benção
dela.
va Red. Mas — Vou partir por um tempo — explicou Arick. — Não queria que se
ed decerto se preocupasse.
o necessário — Vai voltar para Floriane?
fossem mais Não houve resposta. Depois de um momento, Arick ficou de pé. Ele
mas tambémestendeu a mão.
Neve a segurou e deixou que ele a ajudasse a se levantar, ainda que sem
ick, como se liberar a tensão na expressão. Os olhos verdes de Arick procuraram pelos
ar sobre sua dela; seus lábios estavam comprimidos. Ele deu um beijo rápido na testa de
Neve.
— Eu volto logo — disse ele, em um sussurro. — Vou encontrar uma
spirou. — Asmaneira de salvá-la, Neve.
o que sejam. Ele foi embora passando pelas árvores floridas.
ecesse grande Neve permaneceu debaixo das árvores por um bom tempo. A pele
pronunciou aformigava onde os lábios dele haviam tocado. Uma culpa lenta e vaga se
simplesmentefechou ao redor de seu pescoço, como se, sem querer, ela tivesse passado
ela. E não sóadiante uma espécie de condenação.
Mas Red estava viva. E precisavam encontrar uma maneira de salvá-la.
a, pequeno e
o sabia como
nadas a ela e
sacerdotisas

conseguia dar

eu suavizar a
pela benção
— Vou partir por um tempo — explicou Arick. — Não queria que se
preocupasse.
— Vai voltar para Floriane?
Não houve resposta. Depois de um momento, Arick ficou de pé. Ele
estendeu a mão.
Neve a segurou e deixou que ele a ajudasse a se levantar, ainda que sem
liberar a tensão na expressão. Os olhos verdes de Arick procuraram pelos
dela; seus lábios estavam comprimidos. Ele deu um beijo rápido na testa de
Neve.
— Eu volto logo — disse ele, em um sussurro. — Vou encontrar uma
maneira de salvá-la, Neve.
Ele foi embora passando pelas árvores floridas.
Neve permaneceu debaixo das árvores por um bom tempo. A pele
formigava onde os lábios dele haviam tocado. Uma culpa lenta e vaga se
fechou ao redor de seu pescoço, como se, sem querer, ela tivesse passado
adiante uma espécie de condenação.
Mas Red estava viva. E precisavam encontrar uma maneira de salvá-la.
9

Devido à iluminação sempre igual, Red não sabia quanto tempo havia
passado quando acordou com a cabeça zonza e dolorida. Por um momento,
não se lembrou de onde estava. E, ao se lembrar, a dor que sentia piorou.
Ela se sentou. A barriga doía. No caos da noite anterior, tinha se esquecido
completamente de pedir um pouco de comida. Agora, o estômago vazio
parecia se contorcer contra as costas.
O casaco de Eammon estava pendurado no gancho da porta, rasgado por
espinhos e sujo de lama. Red o fitou, mordendo o lábio inferior. Em seguida,
lançou um olhar desconfiado para as trepadeiras que cresciam sobre o vidro
da janela. Naquele momento, ao menos, estavam imóveis.
A água na banheira estava limpa, mas congelante mesmo assim. Ela se
lavou depressa, vestiu-se — de azul marinho desta vez — e parou no meio do
quarto, um tanto incerta sobre o que fazer a seguir.
Aquela era sua nova vida, tão vasta e sombria e indefinível quanto a
floresta que a cercava.
Não. Red sacudiu a cabeça. Não podia se deixar abater naquele momento,
não quando tinha sobrevivido contrariando todas as expectativas. Aquela
nova vida podia ser estranha, mas ela estava viva, e isso por si só era um
milagre.
Não fugira, apesar de todas as súplicas de Neve. Mas sobrevivera mesmo
assim. E precisava tirar proveito da situação; devia isso à irmã.
Outro ronco do estômago trouxe sua mente de volta da extensão do dia que
jamais achara que viveria para ver.
— Comida — enunciou.
Determinada, escancarou a porta.
Havia uma bandeja no chão musgoso do lado de fora do quarto. A torrada,
queimada e coberta por uma generosa camada de manteiga, vinha
tempo havia acompanhada de uma caneca de café puro. Ambos estavam quentes, mas
m momento, quem quer — ou o que quer — que a tivesse deixado ali tinha ido embora
havia muito tempo. Nada se mexia no saguão além de grãos de poeira contra
se esquecidoa luz, e as folhas no fim do corredor estavam inertes.
ômago vazio Red estava com muita fome para se importar com a origem do café da
manhã. Sentou-se encostada na parede cheia de musgo e comeu a torrada em
rasgado portrês bocadas. A crosta quase carbonizada era mais gostosa do que qualquer
Em seguida,outra coisa que já comera em Valleyda.
sobre o vidro O café estava forte. Red o bebericou devagar, perguntando-se se o
responsável por entregar a comida retornaria. Provavelmente era uma das
assim. Ela sevozes que ouvira falando com Eammon na noite anterior; não conseguia
u no meio do imaginar o Lobo cozinhando.
Os destroços no fim do corredor pareciam diferentes. Um dia antes havia
vel quanto aapenas arbustos viçosos, musgo, pedras quebradas e raízes. Agora, havia uma
rosa brotando ereta e aprumada do meio da desordem, erguendo-se quase até
ele momento,o teto.
ivas. Aquela O café respingou da caneca de Red quanto ela se levantou, queimando os
si só era um dedos. O broto de flor era comprido e hirto; não havia sinal de degradação
sombria em seu caule — diferente da árvore da noite anterior, apodrecida e
ivera mesmocercada por uma poça de solo escuro e esponjoso.
O que Eammon tinha dito mesmo? Algo sobre as árvores brancas —
árvores-sentinela, agora ela se lembrava, ele as chamara de árvores-sentinela
ão do dia que — saírem da floresta e aparecerem na Fortaleza depois de um certo ponto da
infecção?
A sentinela não se mexia, silenciosa, magra e pálida como um espectro na
escuridão. Não estava onde deveria estar, mas também não era uma ameaça
to. A torrada,imediata. Mesmo assim, a imagem dos troncos se abrindo para revelar dentes
teiga, vinha afiados de madeira ainda estava fresca na mente de Red; ela encarou
quentes, masdesconfiada a árvore enquanto voltava pelo corredor, girando a caneca agora
a ido embora vazia entre as mãos.
poeira contra Os sons ecoavam no saguão vazio; havia nuvens finas de poeira flutuando
nos feixes de luz crepuscular que entravam pela janela rachada. A não ser
m do café da pela poeira, Red não tinha companhia.
a torrada em De repente, a porta se abriu.
que qualquer Ela se agachou como se pudesse se esconder sob os restos do tapete cheio
de musgo quando a velha porta de madeira se escancarou; uma luz suave cor
ndo-se se ode lavanda delineava os contornos de uma forma feminina e esguia que tinha
era uma das uma coroa de cabelos cacheados e trazia uma lâmina curva na mão. Algo
ão conseguiaescorria do objeto afiado, uma mistura de seiva e o que parecia ser sangue.
A mulher tinha pele escura e um rosto de traços delicados. Ela parou,
a antes havia estreitando os olhos pretos.
ra, havia uma — Redarys?
-se quase até Era a voz musical da noite anterior, aquela que ela ouvira falando com
Eammon. Aparentemente vinha de uma garganta humana. Constrangida, Red
ueimando osse levantou, ruborizando.
e degradação — Eu… hum… — gaguejou, gesticulando atrapalhada como se estivesse
apodrecida e prestes a fazer uma reverência e detendo-se ao perceber que seria absurdo. —
Isso. Sou eu.
s brancas — A mulher soltou uma risadinha zombeteira, mas abriu um sorriso brilhante
ores-sentinelade canto.
erto ponto da — Bem que desconfiei. Sou a Lyra.
Ela se aproximou, puxando um pano de uma pequena bolsa de couro que
m espectro natrazia na cintura e esfregando-o na lâmina ensanguentada. A porta se fechou
uma ameaçaatrás dela. Sem o clarão do outro cômodo, o sangue em sua roupa era óbvio.
evelar dentesA camisa branca e as calças escuras quase completamente cobertas pelo
ela encaroulíquido cor de cobre ainda úmido, por gavinhas de fungo escuro e seiva
caneca agoraescura como alcatrão.
Red emitiu um som gorgolejante involuntário.
ira flutuando — Você está bem? Pelos Reis, como sequer está de pé?
a. A não ser Lyra pareceu confusa por um momento, depois acompanhou o olhar de
Red.
— Ah, isso. Não se preocupe, Eammon é o único que se corta lá, na hora;
tapete cheio ele é o Lobo, tem uma conexão complexa com Wilderwood, por isso a
luz suave corfloresta gosta do sangue dele direto da veia. Mas ela não é tão exigente com o
uia que tinha resto de nós. — Lyra tirou um pequeno frasco do bolso. Um líquido escarlate
a mão. Algose agitou quando ela sacudiu o vidro no ar. — Usei pelo menos cinco destes
— disse ela, como se aquilo explicasse algo. — Várias criaturas de sombras
s. Ela parou, por aí hoje. Precisei voltar para reabastecer. Com uma careta, ela foi em
direção ao arco quebrado e ao cômodo depois dele. — Talvez para trocar de
roupa também.
falando com O espanto de Red deu lugar à confusão; ela franziu as sobrancelhas e foi
trangida, Redatrás de Lyra.
— Esse sangue é seu?
o se estivesse — Claro que é. — Lyra encolheu os ombros. — Pode ser de Fife, na
a absurdo. — verdade. Nós dois temos a Marca, então o sangue de ambos funciona com as
criaturas de sombras. — Ela empurrou a pequena porta nos fundos da sala,
riso brilhanteque levava a uma cozinha apertada. — Nosso sangue consegue segurar as
mudas por um dia, mais ou menos, e ajuda um pouco com as sentinelas
de couro quetomadas pelas sombras, mas não adianta merda nenhuma para as brechas.
rta se fechou A parede dos fundos estava repleta de armários que pareciam muito
pa era óbvio. velhos; no canto, havia um fogão à lenha e uma mesa arranhada. Lyra foi até
cobertas pelo o armário perto do fogão e o abriu. Dentro dele havia frascos e mais frascos,
curo e seiva todos cheios de sangue. Era de um vermelho vivo, não havia verde algum —
diferente do de Eammon.
Red se jogou em uma das cadeiras diante da mesa. Os pensamentos se
enroscavam, embaraçados. Na noite anterior, quando Eammon lutara contra o
u o olhar de cadáver, a criatura de ossos da floresta — a criatura de sombras, o monstro
da lenda, pelos Reis, é tudo verdade —, o sangue dele fora o que enfim a
a lá, na hora; detivera. Pelo jeito, Lyra — e Fife, quem quer ele que fosse, possivelmente a
d, por isso a outra voz que ela ouvira — também usava o próprio sangue para deter as
igente com ocriaturas de sombras.
uido escarlate No entanto, quando Red sangrou em Wilderwood, a floresta a atacou. As
cinco destes árvores brancas se transformaram em predadoras. Teria sido porque ela era
s de sombrasuma Segunda Filha? Será que algo em seu sangue e o pacto ao qual estava
a, ela foi ematrelado fazia com que a floresta a tratasse de maneira diferente?
para trocar de E quem eram Fife e Lyra, afinal? As lendas não faziam menção a mais
ninguém habitando Wilderwood.
ncelhas e foi — Você disse que tem a Marca?
A pergunta interrompeu o tilintar dos frascos que Lyra guardava na bolsa.
— Todos que fazem um pacto com Wilderwood têm. — Lyra puxou a
r de Fife, na manga para cima. Ali estava, no mesmo lugar que a de Red: uma pequena
ciona com asraiz circular, logo abaixo da primeira camada da pele. Era menor que a da
ndos da sala,Segunda Filha, e as ramificações não chegavam tão longe, mas era a mesma,
ue segurar assem dúvida. Lyra desceu a manga. — Um pequeno pedaço de Wilderwood.
as sentinelas Por isso meu sangue e o de Fife funcionam contra as criaturas de sombras. O
poder da floresta fala mais alto do que o poder das Terras Sombrias.
eciam muito — O sangue do Lobo também?
. Lyra foi até — Ah, com certeza. — Lyra riu, taciturna, depois pegou mais um frasco e
mais frascos,fechou o armário. Em seguida, prendeu a bolsa ao cinto e dirigiu-se à porta.
rde algum —— Mas o pedaço que ele tem de Wilderwood jamais poderia ser chamado de
pequeno.
nsamentos se Por mais estranha que fosse a ideia de armazenar sangue em frascos,
utara contra otambém trazia certo alívio. Eammon queria que ela aprendesse a usar a magia
as, o monstroque a floresta colocara sob seus ombros; aparentemente, ele acreditava que
que enfim a isso manteria as árvores-sentinela sob controle. Mas aquela decerto não seria
ssivelmente aa única solução, já que magia e sangue corriam ali de forma tão congruente.
para deter asNão sangrar nas árvores era a primeira regra que ele estabelecera, mas talvez
fosse diferente se o sangue viesse de um frasco em vez de uma veia.
a atacou. As E Red preferiria encher cálices e mais cálices com seu sangue a usar a
orque ela era maldita magia.
o qual estava — Tem uma faca por aí? — perguntou ela. — Algo que eu possa usar
para…
enção a mais — Não. — Lyra girou, dando as costas para porta. Seus olhos escuros se
estreitaram e ela suspirou. — Digo, eu não… Eu não sou… Pergunte a
Eammon. Ele vai saber. — Puxou a camisa para vê-la melhor e fez uma
careta. — Preciso mesmo trocar de roupa. Nos vemos depois.
Lyra puxou a Lyra se foi e Red continuou largada na cadeira. Mais uma vez, aquela
uma pequena sensação de deslocamento, de irrealidade, de não saber o que fazer ou como
nor que a da se mexer.
era a mesma, Livros. O pensamento veio como a luz de um farol, algo para manter os
Wilderwood. pés no chão. Eu trouxe livros.
e sombras. O Mas infelizmente deixara-os na biblioteca. Red não sabia quais eram os
horários de Eammon — o crepúsculo contínuo fazia com que fosse difícil
distinguir noite e dia —, mas ele devia estar lá.
s um frasco e Pergunte a Eammon, dissera Lyra. Mas Eammon só falaria de novo sobre
iu-se à porta. usar magia, sobre fazer com que aquele pedaço da floresta aninhado nos
chamado deossos dela trabalhasse de acordo com sua vontade.
Ela respirou fundo e endireitou os ombros. Se ele perguntasse, responderia
em frascos,que ainda não havia decidido. Pegaria os livros, voltaria para o quarto e
usar a magia tentaria se distrair por algumas horas antes de ter que pensar nisso outra vez.
creditava que As velas de madeira na biblioteca estavam todas acesas com as estranhas e
erto não seriaimóveis chamas, banhando os livros com uma luz bruxuleante. Red fechou a
o congruente.porta o mais silenciosamente que pôde. Perto dela, viu a mesma caneca
a, mas talvezequilibrada sobre a mesma pilha de livros, desta vez vazia. Analisou o objeto
por um momento antes de afastar as mãos da saia, decidida, e se pôr a
gue a usar a percorrer o corredor entre as prateleiras.
Não havia sinal do Lobo, mas a bagunça dele ainda estava lá: um livro
u possa usar aberto em meio a um amontoado de papéis e canetas, outra pilha junto à
escrivaninha deixada à sombra pelas velas.
os escuros se Red se aproximou da mesa, discreta e cautelosa. Eammon não ficaria
… Pergunte a muito feliz em vê-la bisbilhotando suas anotações, mas ela foi dominada pela
or e fez umacuriosidade. Espiou o papel rabiscado.
Parecia… uma lista de compras? Palavras como pão e queijo tinham sido
vez, aquela rabiscadas em um garrancho meio torto; algumas estavam riscadas.
azer ou como Perguntar à Asheyla sobre as botas estava escrito no fim da página e, em
tinta fresca, casaco novo.
ra manter os Ela fez uma careta. Deixou a lista para lá e focou no livro.
A página em que estava aberto exibia uma tabela. Não havia título, mas ela
reconheceu os nomes de alguns capítulos — “A peste terrível”, “Taxonomia
uais eram os de pequenos monstros”, “Ritos dos antigos”. Sentiu-se tentada a se sentar e
fosse difícil folhear as demais páginas, mas a disposição dos pertences de Eammon fazia
parecer que ele tinha saído às pressas; poderia voltar a qualquer momento.
e novo sobre Red fez menção de continuar a busca, mas a pilha de livros perto da
aninhado nos escrivaninha chamou sua atenção. Algo neles era estranho, como se as
proporções estivessem erradas. Chegou mais perto, depois recuou.
, responderia Lendas, o livro que havia sujado de sangue no dia anterior, estava no topo,
a o quarto emetade consumido por Wilderwood.
Raízes finas e rasteiras se esgueiravam pelas rachaduras na parede de
as estranhas e pedra, esticando-se e grudando na mancha de sangue na capa. Alastravam-se
Red fechou ae penetravam nas páginas, infiltrando-se no resto da pilha abaixo como se os
esma caneca livros fossem o solo no qual estavam plantadas.
isou o objeto Red xingou, atônita, e recuou aos tropeços. As raízes ficaram imóveis,
, e se pôr acomo se momentaneamente satisfeitas, e o coração dela se agitou dentro do
peito.
lá: um livro Eram os livros dela. Por isso Red estava ali. Eram os livros dela, não
pilha junto à aquele que ela tinha sujado de sangue sem querer, outra coisa perdida para
aquela maldita floresta intrusa.
n não ficaria A bolsa de couro estava do lado oposto da mesa, quase fora do círculo de
ominada pelaluz das velas estáticas. Red passou a alça pelo ombro e se apressou em
direção à porta.
tinham sido Antes de sair, ela se agachou para inspecionar a bolsa. Depois de toda a
am riscadas.correria no dia de seu vigésimo aniversário, ela não sabia se todos os livros
página e, emtinham saído ilesos. Havia um em particular que ela queria ter certeza de que
ainda estava inteiro.
Red deu um suspiro de alívio quando seus dedos se fecharam em torno da
ítulo, mas ela encadernação familiar de couro. Puxou o livro da bolsa, passando a mão
“Taxonomia
a se sentar e pelas letras douradas que descascavam. Era um livro de poemas. O único
ammon faziapresente que lembrava ter ganhado da mãe.
Tinha dez anos e já era uma leitora voraz. Dias depois de seu aniversário,
ros perto daIsla entrara em seu quarto, sem companhia.
como se as — Pegue. — Não havia embrulho e Isla mal olhara para ela. — Achei que
seria de seu agrado.
tava no topo, Não fora. Ao menos, não no começo. Mas quando Isla saiu, praticamente
assim que Red colocara as mãos no livro, a Segunda Filha se sentara perto da
na parede dejanela e o lera inteiro duas vezes.
Alastravam-se Os poemas eram infantis e, àquela altura, ela os sabia de cor. Não abria o
o como se oslivro para lê-lo de verdade havia anos, mas gostava de tê-lo por perto. Era a
prova de um momento de afeto.
ram imóveis, Red guardou os livros de volta na bolsa e partiu para as escadas, mas parou
ou dentro dode repente ao se deparar com o sujeito no corredor.
Um emaranhado de cabelos ruivos era sua principal característica,
, nãoligeiramente familiar. Estava ajoelhado diante da muda que Red vira naquela
perdida paramanhã, inspecionando as raízes. Sua pele era branca; mantinha uma das
mãos, coberta por cicatrizes feias, junto à barriga.
do círculo de Então aquele devia ser Fife.
apressou em Ele xingou baixinho, vasculhando o bolso à procura de alguma coisa —
outro frasco de sangue —, e se aproximou da árvore.
ois de toda a — Cuidado!
dos os livros Ver alguém tão próximo de algo que ela presenciara arreganhar os dentes
erteza de que em ameaça fez com que ela gritasse em advertência antes que se desse conta.
Ele morava em Wilderwood; é claro que sabia que precisava ter cuidado.
em torno da Ele se deteve em meio ao movimento antes de virar a cabeça, o braço ainda
sando a mãoestendido. Erguia uma das sobrancelhas alaranjadas.
Red trocou o peso de perna.
mas. O único — Desculpe, é que… às vezes elas atacam.
Ele ergueu a sobrancelha ainda mais.
u aniversário, — Elas só atacam você, Segunda Filha.
Se a intenção era que aquilo servisse de consolo, ele falhara tragicamente.
— Achei que Os detritos da floresta já tinham crescido ao redor da árvore, das
trepadeiras e dos arbustos floridos. Com cuidado, Fife os afastou, expondo a
praticamentebase do broto que havia por baixo.
ntara perto da — Pelos Reis… — Ele se sentou sobre os calcanhares. — Esta é a segunda
a aparecer na Fortaleza nos últimos dias. Com um movimento preciso, Fife
. Não abria oabriu o frasco com uma mão, mantendo a outra, a com as cicatrizes, ainda
r perto. Era a junto à barriga, e derramou o sangue sobre as raízes. Nada mudou, ao menos
nada que Red tenha percebido, mas ele não fez mais nada. Olhou para Red.
as, mas parou — Fez alguma coisa com ela hoje de manhã?
— Com ela, quem? Com a árvore?
característica, — Sim, com a árvore. Eammon te disse para fazer alguma coisa?
vira naquela —Não. — A incredulidade dela tornou a resposta mais afiada do que
nha uma das pretendia. — Ele me disse para ficar longe dela. De todas elas, na verdade.
Todas as árvores brancas.
Fife pressionou os lábios, observando Red com uma expressão
uma coisa — indecifrável, e no instante seguinte voltou a fitar a muda.
— Bom, isso deve ser suficiente até que Eammon possa vir dar uma
olhada. — Ele se levantou. — Já que ele aparentemente ainda está decidido a
har os denteslidar com isso por conta própria.
desse conta. Red franziu as sobrancelhas, alternando o olhar entre Fife, que se afastava,
e a muda de sentinela. Franziu os lábios e se apressou para segui-lo pelo
o braço aindacorredor.
— Meu nome é Redarys. Mas você sabia disso.
— Correto.
— E você é Fife.
— Nota dez.
— Quer dizer então que seu sangue não só mata as criaturas de sombras,
mas também faz algo com as árvores?
árvore, das Lyra havia mencionado algo do gênero na cozinha, algo sobre manter as
u, expondo amudas sob controle. Ao ouvir a pergunta, ele finalmente parou e, olhando-a
de esguelha, respondeu depois de um momento:
a é a segunda — Estabiliza as árvores. Retarda o progresso do fungo-de-sombra até que
preciso, Fife Eammon possa mandá-las para onde elas devem ir.
atrizes, ainda Ele voltou a avançar a passos largos na direção do saguão.
ou, ao menos Red o seguiu, apesar do rápido olhar de Fife deixando claro que ele
ou para Red.gostaria que ela não o fizesse.
— Obrigada pelo café da manhã — tentou ela, soltando a bolsa de livros
no chão.
— Cortesia do melhor cozinheiro da Fortaleza. — Fife foi até uma porta
fiada do queatrás da escada. — Não que isso signifique muita coisa. Eammon acha que é
, na verdade.aceitável comer pão e queijo em todas as refeições, e as habilidades culinárias
de Lyra se resumem a fazer chá.
a expressão Ele estendeu o braço para empurrar a porta. Quando o fez, sua manga
escorregou. Lá estava: outra Marca, um reflexo da de Lyra.
vir dar uma Fife percebeu o olhar de Red.
tá decidido a — Todo mundo aqui tem uma. Gaya e Ciaran não foram os únicos tolos o
suficiente para fazer pactos.
e se afastava, Red tocou a própria Marca escondida sob a manga azul-escura.
segui-lo pelo — Eu não fiz pacto algum.
— Eammon também não. — Ele escancarou a passagem. — Mas o Lobo e
a Segunda Filha originais se foram, então Wilderwood aceita o que mais se
aproxima disso.
A porta os levou até o pátio dos fundos, onde havia o muro de pedra
desmoronado e a estranha torre tomada pela floresta. Fife foi para a esquerda,
de sombras,seguindo o caminho do corredor quebrado onde ficavam os aposentos de
Red. Havia mais três mudas brancas brotando dos escombros, estendendo-se
bre manter asna direção do nevoeiro.
e, olhando-a Ela tomou certa distância enquanto Fife se aproximava delas.
— Estou deduzindo que essas também não deveriam estar aqui?
mbra até que — Que espertinha.
Fife examinou as raízes das mudas de perto. A escuridão as consumia,
embora o solo ao redor ainda parecesse firme, nada parecido com a textura
laro que ele esponjosa que ela vira na noite anterior. — Ele vai precisar curar estas
primeiro — murmurou, destampando outro frasco de sangue e despejando o
olsa de livrosconteúdo no solo. A escuridão recuou gradualmente, uma diferença tão sutil
que Red não teria notado se não estivesse prestando atenção. — Já estão
té uma porta enfraquecendo. A que está lá dentro pode esperar, ainda não está tomada pelo
on acha que é fungo-de-sombra.
des culinárias — Fungo-de-sombra?
Outro olhar mordaz, como se as perguntas dela o irritassem. Mas Fife
, sua manga apontou para a floresta além do portão, escondida atrás da neblina.
— Consegue ver?
Bem no limite onde as árvores começavam havia uma mancha preta no
nicos tolos o chão da floresta — o mesmo chão escurecido e úmido de onde a criatura
surgira. Red assentiu.
— Aquele é o lugar vazio onde uma dessas sentinelas deveria estar. As
Terras Sombrias tentaram abrir caminho, então ela se desprendeu e cresceu
Mas o Lobo eaqui, mais perto de Eammon, para que ele pudesse curá-la. Só as mais fortes
que mais se conseguem fazer isso. As outras apodrecem onde estão, deixando brechas que
precisamos encontrar e fechar.
uro de pedra — A que vimos estava assim. Estava apodrecendo quando a encontramos,
a a esquerda,e Eammon disse que ela teria aparecido na Fortaleza em questão de dez
aposentos deminutos.
stendendo-se Os olhos acastanhados de Fife se voltaram depressa para Red.
— Eammon permitiu que fosse com ele?
Ele soou cismado a ponto de Red pensar que talvez não devesse ter dito
nada. Ela encolheu os ombros.
— Ele não gostou da ideia, mas deixou.
as consumia, — Hummm. — Fife manteve os olhos nela por mais um momento,
om a texturafranzindo o cenho, depois se virou outra vez para a floresta. — Parece que ele
r curar estas está muito disposto a convencer você de que pode confiar nele, então.
despejando o Red mudou o peso de perna.
ença tão sutil Fife apontou para as estrias escuras no tronco da muda.
— Já estão — Quanto mais o fungo-de-sombra as devora quando estão aqui, mais
tomada pelodifícil é mandá-las de volta. As sentinelas são como tijolos em uma parede,
cada uma é posicionada estrategicamente. Mexer em uma enfraquece todo o
resto.
m. Mas Fife — O que é o resto?
— Wilderwood inteira.
Red cruzou os braços sobre o peito, olhando apreensiva para as árvores
cha preta no brancas. As sentinelas. Elas pareciam lascas de osso fincadas na terra.
de a criatura — Então elas são… do bem.
— As sentinelas não são do bem. — Disse Fife, como se a ideia fosse
eria estar. Asridícula. — Mas também não são do mal. Wilderwood tem um trabalho a
deu e cresceu fazer, e ela toma o que for preciso para que isso seja possível.
s mais fortes — E, neste momento, o que ela exige é sangue.
o brechas que Um olhar sério.
— Neste momento, sim — respondeu Fife, cauteloso.
encontramos, — E por que o sangue de todos? O do Lobo parece ser o único a fazer uma
estão de dezdiferença real.
Mais uma pausa, mais um olhar indecifrável.
— A conexão de Eammon com a floresta é a mais forte — disse ele após
um momento, ponderando as palavras. — Apenas o sangue dele é capaz de
vesse ter ditocurar as brechas. O sangue ou a magia. O que quer que ele se sinta mais
seguro para usar no momento.
Ela pensou na noite anterior, em como Eammon pusera as mãos no chão
m momento,antes de recorrer ao punhal, na casca aparecendo em sua pele, nas veias
arece que elepulsando esverdeadas. Ele usara a magia e isso o transformara, fizera com
que o equilíbrio de seu corpo pendesse mais para floresta do que para
homem.
Red sentiu uma onda de pânico no estômago, embora não soubesse bem o
o aqui, maisporquê.
uma parede, — Lyra e eu estamos conectados com a floresta por causa dessa porcaria.
quece todo o— Fife apontou para a Marca com o queixo. — Mas a conexão é fraca.
Podemos retardar as criaturas de sombras, matá-las se forem fracas,
estabilizar as sentinelas até que Eammon possa lidar com elas. Mas ele é o
único que pode consertar as coisas de verdade. — Fife fez uma pausa. Seus
ra as árvoresolhos pareceram cintilar. — Ele e você.
Red engoliu em seco. Havia uma tensão densa no ar, palpável como a
neblina que pairava sobre o chão.
a ideia fosse Ela se virou, ficando de frente para a torre e para a Fortaleza.
m trabalho a — E onde está Eammon, afinal?
Esperava vê-lo mais cedo ou mais tarde; não havia muitos lugares onde ele
pudesse se esconder. O fato de ainda não o ter encontrado provocou uma
comichão em Red, especialmente depois do que vira na noite anterior.
o a fazer uma — Ele saiu para curar outra brecha que Lyra encontrou hoje de manhã.
Deve voltar logo.
Eammon devia estar bem, se já estava curando mais brechas. A
isse ele apóspreocupação de Red se dissipou, ainda que não por completo.
e é capaz de Chegaram à porta da Fortaleza no topo da colina, que rangeu quando Fife a
se sinta maisabriu com um empurrão.
— Vou arranjar algo para comer.
mãos no chão Quase contra a vontade, ele acrescentou:
le, nas veias — Quer vir?
a, fizera com Foi uma decisão de uma fração de segundo. Red negou com a cabeça.
do que para Ele a encarou por um segundo, austero.
— Não saia para além dos portões — avisou ele, por fim, antes de fechar a
ubesse bem o porta com um estrondo.
Red provavelmente deveria ter ido. Mas, agora que estava lá fora, a ideia
essa porcaria.de se ver do lado de dentro das paredes em escombros outra vez era
exão é fraca.sufocante. Deu as costas para a passagem e caminhou pátio adentro.
orem fracas, O ar de Wilderwood estava gelado e a neblina rodopiava perto do chão,
Mas ele é o esvoaçando sob a saia de Red.
a pausa. Seus O céu tinha vários tons de lavanda; não havia lua, estrelas ou nuvens. Era
bonito de uma forma estranha e sinistra. Olhando ressabiada para as mudas
ável como ana base da colina mais uma vez, Red se pôs a caminhar na direção oposta,
pulando o muro baixo de pedra para dar a volta na Fortaleza. Pilhas de pedra
despontavam em meio ao nevoeiro como gigantes adormecidos.
Algo chamou a atenção dela do outro lado do portão. Uma silhueta
ares onde eleirrompendo da névoa e desaparecendo de novo antes que ela pudesse
rovocou umadistinguir o que era. Red parou, estreitando os olhos.
O vulto se ergueu de novo, como alguém tropeçando e tentando recobrar o
equilíbrio. Com cautela, Red deu um passo à frente, os passos silenciosos no
je de manhã.chão coberto de musgo.
O vulto se ergueu outra vez, agora perto o suficiente para que Red pudesse
brechas. A enxergar a face. Maçãs do rosto definidas, nariz adunco. Olhos verdes como a
primavera.
quando Fife a A respiração dela congelou nos pulmões e o coração parou no peito. Não
era possível. Ninguém além da Segunda Filha podia entrar em Wilderwood,
ninguém além dela podia atravessar a floresta. Era impossível, mas…
A neblina moldou contornos que ela reconhecia.
Red se controlou o suficiente para não correr, mas por pouco. Atravessou a
névoa e passou pelas pedras quebradas da Fortaleza decaída como se
estivesse em transe, mal ousando respirar até estar a menos de um metro de
es de fechar adistância. Olhando para baixo, para uma cabeça familiar de cabelos escuros,
para ombros e olhos verdes que ela reconhecia, para um rosto arranhado e
fora, a ideiasujo de sangue. Ele parecia cansado e machucado, os olhos fundos e escuros
utra vez era e as roupas rasgadas do confronto com a floresta hostil.
— Red — arfou Arick.
erto do chão,

u nuvens. Era
ara as mudas
reção oposta,
lhas de pedra

Uma silhueta
ela pudesse

do recobrar o
ilenciosos no
chão coberto de musgo.
O vulto se ergueu outra vez, agora perto o suficiente para que Red pudesse
enxergar a face. Maçãs do rosto definidas, nariz adunco. Olhos verdes como a
primavera.
A respiração dela congelou nos pulmões e o coração parou no peito. Não
era possível. Ninguém além da Segunda Filha podia entrar em Wilderwood,
ninguém além dela podia atravessar a floresta. Era impossível, mas…
A neblina moldou contornos que ela reconhecia.
Red se controlou o suficiente para não correr, mas por pouco. Atravessou a
névoa e passou pelas pedras quebradas da Fortaleza decaída como se
estivesse em transe, mal ousando respirar até estar a menos de um metro de
distância. Olhando para baixo, para uma cabeça familiar de cabelos escuros,
para ombros e olhos verdes que ela reconhecia, para um rosto arranhado e
sujo de sangue. Ele parecia cansado e machucado, os olhos fundos e escuros
e as roupas rasgadas do confronto com a floresta hostil.
— Red — arfou Arick.
10

— Arick? — Abalada pelo choque, Red tinha a voz trêmula. — Como


você… Por que você…
— Abra o portão — Lágrimas deixavam rastros na sujeira do rosto dele. —
Me deixe entrar e eu explico tudo.
— Você não deveria estar aqui. Arick, não sei como passou pela fronteira,
mas…
Ele a interrompeu com um grunhido, grave e gutural. Arick apertava a
lateral do corpo; sua camisa estava molhada de sangue.
— Vim salvar você. — Ele ergueu o olhar. Seus olhos verdes estavam
estranhamente sorrateiros, e sua voz parecia mais grossa. — Me deixe entrar,
Redarys Valedren.
— Não sei como fazer isso. O portão é encantado, não sei se vai abrir…
— Eu sei como abrir. — Arick estava de cócoras, mas paralisado no lugar,
como se seu corpo fosse algo vulnerável que poderia se partir caso ele se
movesse. — Venha até nós, Segunda Filha, e mostraremos a você. — Ele
abriu um sorriso brilhante e exagerado e estendeu a mão. Havia algo de
esquisito no gesto; havia sombras correndo pelas linhas na palma da mão de
Arick. — Se vai ser parte de um deles, as sombras podem garantir um fim
misericordioso para você.
Red ficou paralisada onde estava, como uma presa no momento
interminável que antecede a ativação de uma armadilha. Algo estava errado.
Algo ali estava terrivelmente errado.
Exibindo os dentes em um rosnado de frustração, Arick se atirou contra o
portão.
Passou a golpear a entrada com mãos que se transformaram em garras com
unhas cada vez mais longas e escuras. As veias em seu pescoço ficaram
pretas em vez de azuis; a escuridão preencheu o branco de seus olhos,
expandindo-se e transbordando.
a. — Como — Você não quer? — rosnou Arick em uma voz que não era a dele, uma
voz que soava como urros em corredores abandonados, clamores sobrepostos
rosto dele. —e intrincados. — De um jeito ou de outro, haverá um fim. Resta saber que
lado vai escolher, Segunda Filha.
ela fronteira, O fragmento de magia no peito de Red foi despertado pelo pânico. Sentiu
gosto de terra, os pulsos lampejando em verde enquanto tentava conter as
k apertava a forças e recuar ao mesmo tempo.
Aquilo que vestia o rosto de Arick investiu contra o portão outra vez. Uma
rdes estavamgarra preta passou pelas grades e agarrou-a pelo tornozelo.
deixe entrar, — Wilderwood está debilitada e abalada, e os deuses que ela aprisiona
estão ficando mais fortes. A floresta não vai parar de tentar entrar, Redarys
Valedren. Quando conseguir, vai drenar você feito um odre e não vai restar
ado no lugar,nada além de seus preciosos ossos.
r caso ele se O terror enfim estilhaçou seu frágil controle. Red gritou quando as veias
você. — Eleverdes nos pulsos escalaram seus antebraços e alcançaram seu coração. Sua
avia algo de magia entrou em erupção e vinhas brotaram da terra, atracando-se à mão
ma da mão decheia de garras da criatura.
antir um fim O ser rugiu e saltou para longe do portão, mas o grito de dor se
transformou em uma gargalhada extravagante.
no momento — A magia é débil — zombou o monstro. — Ela queima, mas não vai
stava errado.servir para muita coisa, Segunda Filha, não até que você a deixe rasgar sua
pele e a dominar, raiz e galho e osso e sangue.
irou contra o — Vai encontrar o sangue que está procurando — soou uma voz áspera.
A mão do Lobo pousou no ombro de Red, empurrando-a para longe do
m garras comportão enquanto corria para abri-lo com um toque. Havia talhos recém-feitos
coço ficaramnas palmas de suas mãos, sem sangue, como se já tivessem sangrado tudo o
seus olhos, que tinham para sangrar. Ainda assim, Eammon sacou o punhal enquanto
corria. Sua boca se retorcia, à expectativa da dor.
a a dele, uma A criatura de sombra se ergueu, abandonando a forma humana. Agora sua
s sobrepostosaparência era exatamente como a daquela que emergira da brecha na noite
sta saber que anterior, nada além de escuridão e restos mortais.
— Você ainda tem sangue, Lobinho? — A criatura soltou uma gargalhada,
ânico. Sentiucortante aos ouvidos de Red. — O que vai acontecer quando sangrar até
ava conter assecar? Quando se deixar exaurir pela floresta e for consumido por ela,
exatamente como seu pai?
tra vez. Uma A última palavra paralisou o Lobo no meio do movimento, como se tivesse
ficado preso em uma rede. Eammon congelou no lugar por um instante, o
ela aprisiona punhal em riste. Em seguida, rangendo os dentes, ele girou o punho e abriu
trar, Redarysum corte nas costas da mão.
não vai restar Silvou de dor, pressionando a lâmina até o sangue verde verter pelo
punhal. De onde Red estava, ainda atordoada, as extremidades do corte
ando as veiaspareciam crivadas de pequenas folhas.
coração. Sua Eammon afastou a lâmina da pele. O sangue escorria pelos nós dos dedos e
do-se à mãocoloria as cicatrizes antigas. Com um grunhido, ele golpeou a criatura de
sombras com as costas da mão.
o de dor se Ela se despedaçou, explodindo em ossos; os pedaços se transformaram em
fumaça antes de tocar o chão da floresta. Mesmo então, a risada ainda
mas não vai reverberava, fazendo com que as árvores estremecessem. A criatura voltou a
xe rasgar suase manifestar em voz baixa e sibilante à medida que os pedaços se
dissolviam.
— É apenas uma questão de tempo.
ara longe do E desapareceu, deixando para trás apenas uma marca chamuscada na terra.
recém-feitos O Lobo ficou imóvel por um instante, olhando para o chão. Mechas de
grado tudo ocabelo preto e úmido de suor haviam escapado da trança na qual os fios
hal enquantoestavam presos, grudando ao pescoço dele. Os cortes nas mãos pareciam
inflamados; ele as deixou pender com cuidado ao lado do corpo enquanto
a. Agora suacambaleava em direção ao portão, que se abriu assim que ele tocou o metal.
echa na noite — A única forma de matar as criaturas é sangrando? — A pergunta foi
trêmula, assim como os membros de Red. — Lyra disse que… O que você
a gargalhada, está fazendo?
o sangrar até Eammon se ajoelhara e inspecionava o tornozelo de Red, girando-o de um
mido por ela,lado para o outro como se procurasse por machucados.
— Eu poderia perguntar a mesma coisa.
mo se tivesse Parecendo satisfeito, ele a soltou; era como se tocar Red fosse tão
m instante, odesagradável quanto cortar a própria mão, um desconforto necessário.
unho e abriu — O que na noite passada fez você pensar que chegar perto de qualquer
coisa do outro lado do portão seria uma boa ideia?
e verter pelo — Pensei que fosse diferente. Não percebi a brecha…
des do corte — Só teria percebido se tivesse estado lá quando ela se abriu. — Eammon
apontou o portão por sobre o ombro com o polegar em riste. Sangue escorria
s dos dedos edevagar pelo pulso. — Nada nesta floresta é seguro, principalmente para
a criatura de você. Pensei que isso estivesse muitíssimo claro.
Red massageou o tornozelo, tentando afastar o fantasma do toque do Lobo.
formaram em — Parecia… Parecia alguém que conheço. — Agora soava ridículo, mas
risada aindaela não tinha planos de admitir isso ao Lobo.
tura voltou a — Achou que alguém que você conhece atravessaria Wilderwood e
pedaços sechegaria até meu portão? Me impressiona que você…
— Parecia humano. Mais humano do que a coisa na noite passada. — Red
se pôs de pé e olhou para ele, furiosa. Os cabelos pretos de Eammon agora
. Mechas de caíam pelos ombros e cobriam seus olhos irritados. — Eu sei que foi bobo ter
qual os fiosacreditado. Mas parecia que era ele.
ãos pareciam — Ele. — A palavra saiu baixa, em tom sério.
rpo enquanto Red engoliu em seco antes de responder.
— Ele.
pergunta foi Ambos ficaram em silêncio. Por fim, em meio a um suspiro, Eammon
O que vocêlevou as mãos ao quadril e baixou o queixo contra o peito.
— Foi convincente — admitiu. — A criatura teve tempo de elaborar uma
ndo-o de um máscara crível antes de chegar à Fortaleza. Eu não… não te culpo por ter
acreditado.
Bom. Por essa ela não esperava. Red cruzou os braços e fingiu se ocupar
ed fosse tão com um fio solto na manga da roupa.
— Ela teria ido embora se eu tivesse usado meu sangue? Como você, Lyra
qualquere Fife?
— Achei que eu tivesse sido claro quanto a isso.
— Responda.
— Eammon A mandíbula dele se retesou. O Lobo esfregou a boca com uma mão e
ngue escorriadesviou o olhar.
almente para — Não.
Não era verdade. Não era toda a verdade, ao menos, com base no que Fife
que do Lobo. dissera e na forma como Eammon desviara o olhar. Ela o conhecia havia
ridículo, masapenas dois dias, mas o Lobo não sabia mentir.
— Wilderwood não vai durar muito mais tempo assim. — Eammon ergueu
Wilderwood e os braços para amarrar o cabelo. — As sentinelas estão vindo para a Fortaleza
em massa, e depressa demais para que eu as cure antes que o fungo se alastre.
sada. — RedAs brechas ficam abertas por dias. Eu conseguia mantê-las sob controle antes,
mmon agora mas não consigo mais. Não sozinho.
e foi bobo ter Red sentiu o estômago se retorcer.
De cabelos presos, Eammon soltou os braços na lateral do corpo.
Continuou olhando para o outro lado, em direção ao portão.
— Se usar sua magia…
— Eu não posso usá-la. — Toda vez que pensava naquilo, as lembranças
ro, Eammonressurgiam. Galhos, sangue, Neve. Uma violência que quase matara a irmã, e
tudo por culpa dela. — Eu prefiro sangrar. Tem que existir um jeito…
elaborar uma — Não existe. — O calor e o cheiro da biblioteca de Eammon atingiram
culpo por terRed quando ele avançou até ela. Seu tom era estranhamente suplicante, e seus
olhos fitavam os dela em nítido esforço. — Acredite no que estou dizendo,
giu se ocupar Redarys. A magia é o caminho mais fácil — acrescentou. Os olhos de Red se
fecharam e ela sacudiu a cabeça. — Por que está tão empenhada em acreditar
mo você, Lyrana própria impotência? — A voz dele vacilou. — Não pode se dar ao luxo
de…
— Me dar ao luxo? Acha que isso é um capricho?
— É um capricho ignorar sua magia — rebateu ele, exaltado. — Decidir
m uma mão eque prefere fingir que ela não existe enquanto o resto de nós padece.
— Me parece que todos nós vamos padecer de qualquer jeito!
A expressão de Eammon se alterou, abstrusa, exibindo emoções demais
e no que Fife para que Red conseguisse compreender. Uma veia pulsava no pescoço dela.
nhecia havia Os dois ficaram daquela forma, tensos como cordões distendidos de um arco,
nenhum disposto a ser o primeiro a desviar o olhar.
mmon ergueu Eammon enfim cedeu, fechando os olhos e virando o rosto.
ra a Fortaleza — De fato é o que parece. — Ele partiu em direção ao portão, quieto e
go se alastre. estoico. — Preciso fechar a brecha antes que a coisa volte a se erguer.
ontrole antes, Um toque e o ferro se abriu. O portão se escancarou para fora, agitando a
névoa, e o Lobo seguiu para Wilderwood.
Red franziu o cenho quando Eammon desapareceu entre as árvores. Seus
l do corpo.membros pareciam travados, detidos pelo medo e pelo arrependimento.
O que Eammon desejava não era possível. Mesmo que o poder de Red
fosse algo que ela pudesse usar, sua mente era refém demais do medo para
s lembranças que conseguisse fazer isso. Toda vez que tocavam no assunto, ela era
tara a irmã, e invadida por lembranças da carnificina; isso a paralisava e a sufocava.
Mas Wilderwood estava ficando mais obscura. Se deteriorando. Red
on atingiramconhecera apenas um resquício das coisas que a floresta detinha, e aquilo
icante, e seustinha sido suficiente para que se sentisse aterrorizada ao pensar no que mais
stou dizendo,os aguardava.
hos de Red se Se Wilderwood falhasse — se as Terras Sombrias emergissem por
em acreditar completo, se monstros andassem pelo mundo como antigamente —, o que
e dar ao luxoaconteceria com eles?
O que aconteceria com Neve?
— Pelos Reis e pelas sombras. Essa me escapou.
o. — Decidir Lyra emergiu do nevoeiro. Franziu a sobrancelha, olhando para a marca
que a criatura de sombras deixara no chão com um frasco de sangue em
mãos.
oções demais — Há uma brecha na direção sul, bem na fronteira de Valleyda. Fiquei
pescoço dela. longe o suficiente para ficar a salvo, mas ainda consegui usar meu sangue
s de um arco,nela. Percebi que algo tinha escapado, mas pensei que conseguiria chegar
antes.
— Eammon já cuidou disso. — O tornozelo de Red formigou com a
tão, quieto elembrança do toque de Eammon, surpreendentemente delicado em contraste
com sua raiva. Ela apontou para além do portão. — Ele foi fechar a brecha.
Por ali.
a, agitando a — Humm. — Ela deu de ombros e começou a se dirigir à Fortaleza. —
Bem, então ele não precisa de mim.
árvores. Seus A espada curva nas costas de Lyra brilhava como uma meia-lua. Antes,
Red tinha estado muito nervosa para perceber, mas agora notava que ela era
oder de Redfamiliar. A Segunda Filha examinou a espada enquanto seguia Lyra de volta
o medo para ao castelo, principalmente para não pensar no rosto de Arick no corpo errado,
unto, ela eraem Eammon entrando na floresta com a mão dilacerada e quase sem sangue.
Depois de mais um momento de ponderação, a palavra que Red procurava
orando. Redveio à mente.
nha, e aquilo — Isso é uma tor?
no que mais Raffe tinha uma tor que levava presa às costas em situações oficiais. Como
mandava a tradição, os filhos mais velhos dos conselheiros meducianos
ergissem por treinavam com elas durante um ano depois de os pais assumirem o cargo,
te —, o que simbolizando que era dever dos conselheiros servir o país com tudo o que
tinham.
— Exato. — Ela soou quase divertida.
— Pensei que fossem cerimoniais.
para a marca — Tecnicamente. — Lyra não sacou a arma, mas seus dedos se fecharam
e sangue emsuavemente ao redor do punho como se aquilo lhe desse conforto. — Mas são
tão afiadas quanto qualquer adaga.
leyda. Fiquei Elas deram a volta na Fortaleza, aproximando-se do corredor em ruínas
meu sangue onde ficava o quarto de Red. Lyra percorreu a descida inclinada em direção
guiria chegar às mudas brancas em meio aos escombros. Red retardou o passo.
Raízes e trepadeiras se enveredavam por entre as rochas no fim do salão, e
migou com ahavia um amontoado de flores de um branco-lunar crescendo em direção ao
em contrastemisterioso céu crepuscular. Havia uma beleza peculiar naquilo, na forma
har a brecha. como a Fortaleza e a floresta se entrelaçavam, como se uma alimentasse a
Fortaleza. —outra. Uma beleza que fazia Red estremecer, selvagem e primitiva e
apavorante.
a-lua. Antes, Ela de fato tinha visto folhas no corte de Eammon, pequenas folhas em seu
a que ela erasangue rajado de verde. Pensou nas mudanças que ele sofria quando usava
Lyra de voltaaquela magia tão estranha, nas cascas de árvore nos antebraços e no som de
corpo errado,galhos ao vento que ecoavam na sua voz. O Lobo e Wilderwood, unidos de
maneira que ela não conseguia entender, separados por um limite que
ed procurava constantemente se tornava borrado.
Agachando-se para analisar as mudas, Lyra balançou a cabeça.
— Fife tinha razão — disse ela, voltando a ficar de pé. — Tem mais delas.
ficiais. Como Pelos Reis… Eammon vai ter que sangrar por dias.
meducianos Ela suspirou com intensidade, agitando um cacho que pendia sobre a testa.
rem o cargo, Red comprimiu os lábios.
m tudo o que Atrás delas, a porta da Fortaleza se abriu. Os cabelos de Fife brilhavam
como o sol que eles não conseguiam ver. Ele olhou para Lyra, a boca torcida
em um sorriso. Era a primeira vez que Red via o rosto dele contente.
— Voltou mais cedo.
se fecharam — Fiquei com fome. — Os dois pareceram relaxar, como se ver um ao
o. — Mas são outro acalmasse ambos. — Eammon trouxe as coisas? Ele disse que ia para lá
depois de curar a primeira brecha desta manhã.
or em ruínas — Sim, embora o gosto dele por queijo ainda seja suspeito. Da próxima
a em direçãovez, eu vou, já que ele parece incapaz de seguir uma lista de compras. — Fife
franziu o cenho, olhando para as mudas. — Eu disse a ele para cuidar dessas
m do salão, e primeiro, antes de mexer na outra.
m direção ao Lyra levantou a sobrancelha.
lo, na forma — Outra?
alimentasse a — Tem uma no corredor — respondeu Fife com ar mal-humorado. —
Apareceu hoje de manhã.
primitiva e Um silêncio breve. Os olhos de Lyra se voltaram para Red. Havia algo
ilegível no retorcer ansioso de seus lábios.
olhas em seu — Você viu?
quando usava O tom dela não era exatamente acusador, mas trazia uma estranha surpresa,
e no som de como se Red devesse ter feito alguma coisa ao ver a muda. A mesma
od, unidos desuposição de Fife naquela manhã.
m limite que — Vi — disse Red com cautela. — Eu deveria ter ido avisar Eammon?
Lyra pareceu confusa.
— Acho que até poderia, mas por que você não…
m mais delas. — Ele a proibiu de fazer isso — interrompeu Fife.
Lyra olhou para ele com uma expressão de piedade e resignação ao mesmo
tempo. Fife sacudiu ligeiramente a cabeça. Havia uma conversa inteira
acontecendo entre os dois sem que dissessem uma palavra sequer.
fe brilhavam Red se mexeu no lugar, desconfortável.
boca torcida Um momento se passou. Em seguida, Lyra olhou para Red e se forçou a
dar um sorriso.
— Eammon tem algo em mente, tenho certeza. — Os olhos escuros dela se
se ver um aovoltaram para Fife, quase como se estivesse tentando tranquilizá-lo. — Ele
que ia para lásempre tem.
— Sempre — ecoou Fife, baixinho.
Da próxima Red tentou retribuir o sorriso hesitante de Lyra, mas suas lembranças
mpras. — Fifeestavam em polvorosa — Wilderwood a atacando, árvores com presas, fossos
cuidar dessasde sombra e as mãos de Eammon sangrando.
Fechou os olhos e chacoalhou a cabeça. Fife e Lyra conversavam,
tranquilos e à vontade; isso de alguma forma era relaxante, ainda que sua
mente estivesse inquieta. Prestando atenção na cadência das vozes dos dois
umorado. —em vez de pensar na floresta e no nevoeiro, Red os acompanhou até a
Fortaleza.
. Havia algo

nha surpresa,
a. A mesma

ão ao mesmo
versa inteira

e se forçou a

curos dela se
zá-lo. — Ele

s lembranças
presas, fossos

conversavam,
inda que sua
ozes dos dois
panhou até a
INTERLÚDIO
VALLEYDIANO III

A cadeira vazia do outro lado da mesa era barulhenta como uma sirene.
Fora mais fácil ignorá-la quando Arick fazia as refeições com elas, nas
poucas vezes em que isso acontecera antes da partida de Red. Por mais
desconfortáveis que fossem os jantares com apenas Arick e a Rainha Isla, ele
sempre amenizava o clima agindo como o consorte perfeito, uma barreira de
contenção entre a terra de Neve e o mar gelado de sua mãe. Mas agora ele se
fora, partira com sua dor e um repentino arroubo de heroísmo, e a sala de
jantar se tornara um túmulo com apenas duas ocupantes.
Na verdade, jantares com a Rainha jamais tinham sido confortáveis. Neve
e Red não jantavam com a mãe com frequência; quando o faziam, porém,
sentavam-se uma de frente para a outra. Isla ficava na cadeira da cabeceira.
Embora os jantares fossem quase silenciosos, Neve ao menos não ficava
completamente à deriva. Red sempre fora sua âncora.
Agora Neve olhava fixamente para o prato vazio, sabendo que cada
garfada desceria como chumbo, sabendo que uma hora ali pareceria um dia
inteiro. Desde que Red se fora — desde que Red fora sacrificada —, o tempo
com a mãe tinha ares de penitência. Principalmente porque Isla não parecia
nem um pouco abalada. Se sentia a mesma dor que Neve, nem sequer
chegava perto de demonstrar.
A porta se abriu e os criados entraram, trazendo um único carrinho com
pratos empilhados. O mero cheiro da comida fez Neve torcer o nariz.
Reverente, um deles acendeu as três velas no centro da mesa — uma
branca, uma vermelha e uma preta. Isla curvou a cabeça. Depois de um
momento, Neve a imitou, aborrecida.
A Rainha olhou em expectativa para Neve, que rangeu os dentes.
Com um suspiro, Isla fechou os olhos.
— Aos Cinco Reis damos graças — entoou ela — por nossa segurança e
por nosso sustento. Na santidade e no sacrifício e na ausência.
As velas foram apagadas. Os criados serviram a comida e o vinho e depois
om elas, nas foram embora, ágeis e silenciosos. Neve não tocou o garfo, mas agarrou a
ed. Por maistaça de vinho e tomou um longo gole.
ainha Isla, ele — O rito de agradecimento tem duas frases, Neverah. — Isla levou o garfo
ma barreira deà boca delicadamente. — Tenho certeza de que não doeria para você
s agora ele sedemonstrar fé de vez em quando.
, e a sala de — Prefiro não fazer isso, muito obrigada.
E esvaziou a taça. Em sua visão periférica, viu a mão da mãe se tensionar
rtáveis. Nevesobre a mesa.
ziam, porém, Isla tomou um gole de vinho. Depois pousou a taça na mesa, com mais
da cabeceira.força do que o necessário, fazendo ecoar um estalido suave e cristalino.
s não ficava — Permiti que vocês duas se aproximassem demais — disse ela, tão
silenciosamente que a boca mal se mexia. — Deveria ter impedido isso
do que cada quando vocês eram crianças, deveria ter protegido vocês…
eceria um dia — Não era eu quem precisava de proteção.
—, o tempo A Rainha estremeceu.
a não parecia A parte de Neve que desejava ser uma filha obediente sentiu uma pontada
nem sequer de dor. Era a mesma parte dela que desejava algo a que se agarrar, que
desejava um porto seguro em meio ao mar de culpa e incerteza. Era o que
carrinho comuma mãe deveria ser, não era? Um porto seguro, ainda que Neve já não fosse
uma criança? Mas o papel de Isla naquilo tudo era inegável. Ela aceitara
mesa — uma tamanha violência em silêncio, como se não passasse de um dano colateral;
epois de um sua conivência tinha a forma de uma filha perdida coberta por uma capa
vermelha.
Neve amava a mãe, mas ela merecia se encolher.
A garganta da Primeira Filha doía como se tentasse engolir lâminas, os
a segurança e dedos arqueados como garras nos joelhos sob a mesa. O silêncio crescia, e
Neve desejou que a mãe o preenchesse com alguma coisa. Qualquer coisa.
inho e depois Quando Isla finalmente se mexeu, foi um movimento discreto, um sutil
mas agarrou a subir de ombros ao suspirar. Por um momento, sua máscara se desfez e a
Rainha de gelo de repente pareceu cansada e vazia. Mas depois olhou para
levou o garfo Neve, recompondo-se.
a para você — Me lembrei de uma coisa — disse ela, como se aquela fosse uma
conversa normal. — Precisamos começar os preparativos para o casamento.
Neve ficou boquiaberta; a mudança de assunto havia sido abrupta, e sua
e se tensionar mente demorou para acompanhar. Quando enfim se situou, a resposta veio
direta e sem polidez, em um rompante de nítida fúria.
sa, com mais — Não quero me casar com Arick. Você sabe disso.
— E você sabe que isso não importa. — Isla endireitou a postura; seus
isse ela, tão olhos refletiam as chamas das velas. — Acha que eu queria me casar com seu
mpedido issopai? Um homem com o dobro de minha idade que ficou na corte apenas
tempo suficiente para gerar um herdeiro e morreu antes de saber que tinha
gerado duas? O casamento da Primeira Filha é sempre político. Sempre foi
assim. Você não é a exceção. — Isla sorveu o resto do vinho. — Nenhuma de
uma pontadavocês poderia ser a exceção.
agarrar, que — Arick está apaixonado por Red. — Neve queria soltar a informação
a. Era o que como uma bomba, mas sua voz estava frágil demais para soar como um
e já não fosse ataque.
Ela aceitara
ano colateral; Ainda assim aquilo pareceu afetar a mãe, transpondo seu verniz de
or uma capa indiferença. Isla fechou os olhos e suas mãos se afrouxaram sobre a toalha.
Ela inspirou fundo.
Então seus olhos se abriram, olhando para nada em específico.
r lâminas, os — Então ele é mais ingênuo do que eu pensava. — Isla ficou de pé
cio crescia, e devagar, como se cada movimento exigisse esforço. — Pode ser bom para
você, Neverah. Homens tolos são os mais fáceis de controlar.
eto, um sutil Com os saiotes azul-gelo, a rainha saiu pela porta, andando pelo chão de
se desfez e amármore como se deslizasse. Seus movimentos eram rijos, mas ninguém
is olhou paraalém de Neve notaria. Ela havia sido treinada para aquele mesmo caminhar,
aquele que exibia poder e graça, por isso conseguia enxergar as rachaduras.
a fosse uma A garrafa de vinho no centro da mesa estava cheia, já aberta e pronta para
ser servida. Neve não se deu ao trabalho e bebeu direto do gargalo.
brupta, e sua Quando não restava nada além da borra, ela se pôs de pé sobre pernas
resposta veio molengas. A sala girava, mas não havia ninguém para oferecer um braço no
qual ela pudesse se apoiar — a sala de jantar estava vazia, e nenhum criado
havia esperado do lado de fora para atender a suas necessidades reais. Ela
postura; seus provavelmente os assustara com seus modos nada nobres, com sua fala
asar com seu descortês.
corte apenas No estado embriagado em que se encontrava, isso era quase engraçado.
ber que tinha Seguiu devagar até o salão, a mão preparada para se firmar em uma parede
. Sempre foicaso fosse preciso. Ela não sabia que horas eram, apenas que já era tarde; as
Nenhuma dejanelas eram de vidro escuro e dava para ver as estrelas lá fora.
As janelas davam para o norte, na direção de Wilderwood. Com um
a informação movimento desajeitado devido ao excesso de vinho, Neve cuspiu no chão.
ar como um Algo chamou sua atenção, desaparecendo em um corredor. Foi um
vislumbre de vermelho e branco, familiar de uma maneira que provavelmente
teria sido óbvia se ela não estivesse bêbada. Franzindo as sobrancelhas, ela
u verniz deavançou, virando na mesma direção onde o que quer que fosse havia acabado
obre a toalha.de desaparecer.
Sacerdotisas. Cerca de duas dúzias, um pouco mais do que vira quando
discutira com Raffe no dia anterior. Cada uma segurava uma vela — fato que,
ficou de pépor si só, não era estranho, já que sacerdotisas da Ordem costumavam levar
ser bom paravelas vermelhas de oração por aí. No começo, achou que as velas fossem
pretas, como se tivesse topado com uma procissão funerária ou rito de
pelo chão dedespedida fora de hora.
mas ninguém Mas cerrou os olhos. Não, não eram pretas. Eram cinzentas, do mesmo tom
mo caminhar,de uma sombra.
O grupo deslizava em silêncio pelo corredor em direção aos jardins,
e pronta para liderado pela sacerdotisa de cabelos ruivos. Kiri.
É claro.
sobre pernas — Você!
um braço no Neve mal reconheceu a própria voz. Mesmo aquela única palavra soou
enhum criado arrastada, o que provavelmente teria sido vergonhoso se ela tivesse forças
des reais. Ela para sentir qualquer coisa.
om sua fala Os ombros das sacerdotisas se enrijeceram, uma por uma, como crianças
flagradas roubando doces. Em busca de instruções, olharam para Kiri, que
continuava serena. Ela se virou devagar; na percepção de Neve, o movimento
m uma paredefoi vagaroso demais. O pequeno pingente de galho pendia do pescoço da
era tarde; as mulher. As estrias de escuridão na casca branca eram quase invisíveis devido
à pouca luz.
od. Com um Elas se encararam por um instante. Então Kiri olhou para uma das
sacerdotisas e acenou com a cabeça. Torceu o canto do lábio em um
dor. Foi umsorrisinho.
rovavelmente Seus olhos frios e azuis piscaram de volta para Neve enquanto o grupo de
ancelhas, ela sacerdotisas seguia em silêncio pelo corredor.
avia acabado — Posso ajudá-la, Vossa Alteza?
A ira momentânea de Neve tinha esfriado, ofuscada pela estranheza das
vira quando sacerdotisas no escuro, seu silêncio e suas velas de cor sombria.
a — fato que, — Eu vi você ontem — murmurou Neve, agora mais curiosa do que
mavam levar zangada. — Você estava falando com Arick.
velas fossem — Estava. — A luz bruxuleante distorcia as feições de Kiri.
a ou rito de — O que ele queria?
O rosto dela permaneceu implacável enquanto a chama da vela dançava em
o mesmo tomseus olhos.
— A mesma coisa que você, naquela noite no Santuário.
aos jardins, Um calafrio percorreu os ombros de Neve.
— Você disse a ele como salvá-la.
Não houve resposta. Apenas silêncio, apenas sombras trêmulas projetadas
na parede pela vela cinzenta de Kiri.
palavra soou —Mas como você sabe? — A voz da Primeira Filha soou vulnerável no
ivesse forças escuro. — Como sabe o que aconteceu com Red, como sabe como trazê-la de
volta? — Engoliu em seco, trêmula. — Por que não me disse primeiro?
omo crianças Kiri segurou o pingente com certa reverência.
ara Kiri, que — Desde criança, muito antes de entrar para a Ordem, eu sirvo aos Reis.
o movimento Fui guiada por eles ao buscar esclarecimento, ao conhecer os verdadeiros
o pescoço dacaminhos. Não é possível confiar a verdade a todos, Alteza. Ela é volátil,
síveis devido assustadora. — Ela apertou o pingente com mais força. — A cautela é a
chave, assim como agir em segredo para abrir espaço para a luz.
ara uma das — Eu sou digna de confiança. — Neve assentiu brevemente, o que serviu
ábio em umapenas para desencadear o início de uma dor de cabeça. — Quero saber a
verdade, Kiri.
o o grupo de Nada além de silêncio, a luz dançante vinda da vela e olhos azuis e
impassíveis que a observavam, analisavam. Kiri mexeu no pingente outra
vez.
stranheza das Havia uma mancha escura com cheiro ferroso em um de seus dedos. Os
olhos da mulher se fecharam ao pressioná-lo contra a madeira, quase como se
riosa do queestivesse ouvindo alguma coisa.
Kiri abriu os olhos ao soltar o pingente.
— Venha. — A sacerdotisa retomou o passo lento pelo corredor, levando a
única fonte de luz e deixando Neve no escuro. Quão tarde será que era? Por
a dançava emque nenhuma das arandelas estava acesa?
Neve olhava para ela.
— Para onde está indo? — Seu tom não era acusatório. Era curiosidade
genuína.
A chama deixou entrever um sorriso sutil e sugestivo quando Kiri olhou
as projetadaspor cima do ombro.
— Venha — repetiu, virando em direção à porta que levava até os jardins.
vulnerável no Até o Santuário.
mo trazê-la de As sacerdotisas estavam agrupadas do lado de fora, com as mãos em
concha em volta das chamas para protegê-las da brisa noturna. Neve trocou o
peso de perna, inquieta.
rvo aos Reis. — Pelo amor dos Reis. — Em silêncio, ela as seguiu escuridão adentro.
s verdadeiros Nenhuma delas olhou para Neve enquanto atravessavam o jardim,
Ela é volátil, deslizando como um mar de fantasmas. Era lua nova, e a noite profunda
A cautela é atransformava o vulto das sebes em sombras bestiais, cada arco um monstro à
espreita.
o que serviu Entraram no Santuário, depois seguiram até a esvoaçante cortina escura ao
uero saber a fundo. Kiri foi a primeira a entrar, mas não a manteve aberta; cada
sacerdotisa entrou sozinha, impossibilitando qualquer vislumbre da sala do
lhos azuis e outro lado.
ngente outra
A Primeira Filha sabia o que havia lá, mas sentiu um calafrio mesmo
us dedos. Osassim.
uase como se A última sacerdotisa desapareceu pela cortina. Neve respirou fundo e
depois a seguiu.
A miniatura de Wilderwood. Segurando as misteriosas velas cinzentas, as
or, levando asacerdotisas formavam um círculo em torno dela. Mas havia algo diferente.
que era? PorOs pedaços de tronco estavam marcados, manchados com algo escuro.
Sangue? Mas não podia ser, a cor era estranha, escarlate repleto de veias
escuras. Pelos Reis, a cabeça dela doía.
a curiosidade — Neve?
Ela girou sobre os calcanhares. Arick estava atrás dela. Sua mão estava
do Kiri olhouenrolada em um curativo sujo de vermelho. Bem no meio da palma, uma
mancha escura irradiava pelo tecido branco como um pequeno sol.
O rosto cansado do rapaz se iluminou com um sorriso franco.
— Encontrei um jeito.
as mãos em
Neve trocou o

m o jardim,
oite profunda
um monstro à

ina escura ao
aberta; cada
e da sala do
A Primeira Filha sabia o que havia lá, mas sentiu um calafrio mesmo
assim.
A última sacerdotisa desapareceu pela cortina. Neve respirou fundo e
depois a seguiu.
A miniatura de Wilderwood. Segurando as misteriosas velas cinzentas, as
sacerdotisas formavam um círculo em torno dela. Mas havia algo diferente.
Os pedaços de tronco estavam marcados, manchados com algo escuro.
Sangue? Mas não podia ser, a cor era estranha, escarlate repleto de veias
escuras. Pelos Reis, a cabeça dela doía.
— Neve?
Ela girou sobre os calcanhares. Arick estava atrás dela. Sua mão estava
enrolada em um curativo sujo de vermelho. Bem no meio da palma, uma
mancha escura irradiava pelo tecido branco como um pequeno sol.
O rosto cansado do rapaz se iluminou com um sorriso franco.
— Encontrei um jeito.
11

Ela demorou quase quatro dias, ao menos até onde conseguia se situar no
crepúsculo perpétuo de Wilderwood, para elaborar um plano. Red passava a
maior parte do tempo no quarto, rodeada por seus livros, encontrando uma
fuga nos trechos familiares. E era boa em fugir.
Por mais estranhos e nebulosos que fossem seus dias, ao menos seguiam
certo ritmo. Três refeições na pequena cozinha contígua à sala de jantar que
raramente era utilizada, às vezes com Fife ou Lyra, às vezes sozinha. O
armário farto era abastecido com comidas simples e, embora suas habilidades
culinárias fossem quase inexistentes, ela não corria o risco de morrer de
fome. Fife não dizia nada na maior parte do tempo; Lyra era educada, mas
distante.
E, se estivesse por perto do saguão quando o céu escurecia e ganhava um
tom violeta, ela via Eammon.
A primeira vez foi um acidente, um dia depois de ele a salvar da criatura de
sombras que parecia Arick. Depois de terminar de ler boa parte dos livros que
levara, Red foi até a biblioteca para procurar outros. Teve êxito na missão —
havia uma prateleira nos fundos repleta de romances e livros de poesia, todos
com capas desgastadas e orelhas nas páginas que denunciavam manuseio
frequente.
Estava subindo as escadas com cautela, segurando a pilha que escolhera,
quando o viu.
Eammon estava parado diante da porta ainda aberta, delineado contra a luz
fraca. Sua cabeça pendia sobre o peito e havia exaustão em seus ombros; os
cabelos soltos escondiam os olhos. Uma das mãos segurava um punhal; a
outra estava coberta de cortes que sangravam devagar, expelindo também
uma seiva fina e esverdeada que escorria em maior quantidade. Sua pele tinha
aparência de casca de árvore na altura do pulso. Embora Eammon estivesse
se situar noencolhido, ainda era nítido como era alto. A magia se enroscava em torno
ed passava adele como uma guirlanda.
ntrando uma Red permaneceu em silêncio, mas ainda assim ele a percebeu e olhou para
ela, como se a atmosfera tivesse mudado com a presença da Segunda Filha.
enos seguiamEammon se endireitou, apertando a barriga com a mão ferida. Seu rosto foi
de jantar quetomado por uma expressão de dor quando ele guardou o punhal. Havia
s sozinha. O círculos escuros sob seus olhos brilhantes, cuja parte branca tinha um tom de
s habilidades esmeralda. Era como se estivesse prestes a desmoronar a qualquer momento,
de morrer de como se apenas a recusa em parecer fraco diante dela o mantivesse de pé.
educada, mas Talvez ela devesse ter dito algo, mas Red não tinha ideia do que seria
apropriado. O que poderia fazer? Perguntar se ele estava tendo uma noite
ganhava um agradável?
Olhares cruzados, sentimentos indecifráveis cintilando nos dois rostos.
da criatura deEntão Eammon ergueu o queixo em um cumprimento de olá e despedida ao
dos livros quemesmo tempo e subiu as escadas devagar até o segundo andar da Fortaleza.
na missão — Na manhã seguinte, havia três novas mudas de sentinelas no corredor. Era
poesia, todossinal de três novas brechas surgindo em Wilderwood, três novas
am manuseiooportunidades para que monstros escapassem. Três novos lugares onde
Eammon precisaria sangrar na tentativa de manter fechados todos os limites
ue escolhera,frágeis da floresta.
Naquele exato instante, o plano de Red começou a tomar forma.
o contra a luz Naquele momento, no que parecia ser de manhã bem cedo, ela estava na
s ombros; os porta do pátio com a mão contra a madeira, mas não exatamente a
um punhal; a empurrando. Tinha pensado em fazer um experimento com uma das mudas
ndo tambémdentro da Fortaleza, mas corria o risco de ser vista.
Sua pele tinha E Eammon fora muito insistente ao dizer que ela não deveria sangrar.
mon estivesse Sentiu o estômago embrulhar quando enfim entrou no redemoinho de
ava em tornoneblina, em direção ao canto desmoronado do corredor onde as mudas
erguiam os ramos pálidos rumo ao céu cor de lavanda. O frasco de vidro que
e olhou parasurrupiara do armário na cozinha era escorregadio. Dentro dele, escarlate
egunda Filha.como o manto em seu armário, havia três gotas de sangue.
Seu rosto foi Não era muito. Não havia nada no quarto que pudesse usar, então Red
unhal. Havia cutucara uma cutícula até se ferir e apertara o dedo, deixando o sangue
ha um tom deescasso pingar dentro do frasco.
uer momento, Era apenas o suficiente para entender se fazia diferença. Apenas o
suficiente para descobrir se havia outra forma além de usar a magia que quase
do que seria matara a irmã.
do uma noite A lembrança de Wilderwood a perseguindo depois do corte na bochecha
ainda a preocupava. No entanto, pensava ela, aquele sangue tinha saído direto
dois rostos.da veia — que era a única maneira de Wilderwood aceitar o sangue do Lobo,
despedida ao segundo Lyra. E Eammon era parte da floresta, estava conectado a ela…
Talvez sangrar da mesma forma que ele tivesse sido a razão para que
corredor. EraWilderwood a atacasse, a razão pela qual a floresta tentara se enfiar sob sua
três novas pele. Se ela sangrasse apenas no frasco, não haveria ferida aberta por onde a
ugares onde floresta pudesse tentar entrar.
os os limites E ela precisava fazer alguma coisa. Era evidente que Eammon estava por
um fio; a ideia de criaturas de sombras se libertando da floresta era
inconcebível.
ela estava na Ela não podia usar magia, disso estava certa. O medo a sufocava, tinha as
xatamente agarras cravadas fundo em seu coração. A magia era um beco sem saída, mas
ma das mudas com certeza havia algo que ela pudesse fazer. Tinha que haver.
Red parou diante da sentinela mais distante do portão. Havia pedras
cobertas de lodo em volta das raízes e bruma enrolada como um laço na base
demoinho dedos galhos. Não a tocou, mas se aproximou como jamais fizera com qualquer
de as mudasoutra sentinela, e algo no gesto fez a atmosfera mudar. O ar parecia vibrar
de vidro quecontra sua pele de maneira inédita, mas não desagradável; ao piscar, Red
ele, escarlateenxergou uma luz dourada atrás das pálpebras.
Respirou fundo. Endireitou a coluna. Foram necessárias algumas tentativas
r, então Redaté conseguir abrir o frasco; quando o fez, o cheiro ferroso de sangue pareceu
do o sanguemais forte do que era possível. Com a mão firme, Red suspendeu o recipiente
acima das raízes da muda.
a. Apenas o — O que está fazendo?
gia que quase A voz dele era suave. Red olhou para trás.
Eammon estava logo atrás dela. A neblina esvoaçava ao redor de suas
na bochechabotas e das gavinhas em seus cabelos soltos e compridos demais. Seu rosto
a saído diretoera inexpressivo, com os olhos escuros e impenetráveis e os lábios cheios
gue do Lobo,ligeiramente entreabertos.
tado a ela… Ela continuou segurando o frasco com firmeza, mas não derramou o
ão para queconteúdo.
nfiar sob sua — Acho que você está mentindo para mim — disse Red. — Acho que meu
ta por onde asangue pode matar as criaturas de sombras e curar as sentinelas. Se o de Fife
e o de Lyra e o seu podem por causa da Marca, então o meu também pode,
on estava por não importa o quanto… o quanto eu seja diferente das outras Segundas
floresta era Filhas.
Ela esperava que ele a refutasse outra vez, que mantivesse a mentira. Mas
o único movimento de Eammon foi o da garganta enquanto engolia.
cava, tinha as — Não é tão simples assim, mas você está certa. Seu sangue pode fazer
m saída, mas isso. — Ele ainda falava com suavidade, calmo e estoico como as árvores ao
redor. — Mas o preço é maior do que eu estou disposto a deixar você pagar,
Havia pedrasRedarys. Se der seu sangue a Wilderwood, ela não vai parar aí. Não vai
laço na base conseguir.
com qualquer A criatura de sombras se transformando no cadáver de Merra, raízes
arecia vibrar caindo de seu ventre aberto. Gaya, morta e invadida pela floresta. As outras
piscar, Red Segundas Filhas desaparecendo entre árvores, atraídas pela escuridão. Presas
a Wilderwood, mas de um modo diferente de Red. Modo este que Eammon
mas tentativasnão explicava com clareza e dizia apenas ter a ver com o poder terrível e
ngue pareceudestrutivo que crescia em seu sangue como erva daninha.
u o recipiente Isso termina em raízes e ossos.
Red olhou para ele. A mão que segurava o frasco começou a tremer de
leve.
— Pode ser que eu esteja disposta a pagar o preço. Pode ser que eu prefira
edor de suassangrar em suas árvores e enfrentar quaisquer que sejam as consequências do
is. Seu rosto que tentar usar a maldita magia.
lábios cheios — Teme a si mesma tanto assim?
A voz dele adquirira um tom incrédulo, mas também uma tristeza que a
derramou oatingiu em cheio e agravou o tremor em sua mão.
— Você estava lá. — Foi quase um sussurro. — Você viu como ela me
cho que meu transformou em algo horrível.
Se o de Fife — Eu só vi partes. Estava concentrado em… em outras coisas. Mas sei que
ambém pode,o poder é volátil, principalmente no começo. Tenho certeza de que o que quer
as Segundas que tenha acontecido não foi tão terrível quanto se lembra. — Um passo
hesitante em frente, uma mão tomada por cicatrizes se estendendo na direção
mentira. Masdela. — Você não é horrível.
e pode fazer Eles se entreolharam acima do chão cheio de musgo e névoa. Por fim,
as árvores ao muito devagar, Red baixou a mão que segurava o frasco, deixando-a pender
r você pagar, ao lado do corpo. Em seguida, estendeu-a e pousou o frasco na palma de
aí. Não vaiEammon. Seus olhos ardiam, e sua respiração emitiu um som agudo, mas o
Lobo foi gentil e fingiu não notar.
Merra, raízes Os dedos dele roçaram os dela ao pegar o frasco; suas cicatrizes eram
ta. As outrasásperas ao toque.
ridão. Presas — Por isso insistiu tanto em ficar? Por causa do que aconteceu naquela
que Eammonnoite?
der terrível e Ela assentiu, com medo de preencher o espaço entre eles com palavras.
Eammon suspirou, guardando o frasco de sangue e passando uma mão pelo
cabelo.
a tremer de — Estou tentando pensar em alternativas. Algo mais que pudéssemos
fazer, algo que…
ue eu prefira Pacto.
equências do Um ruído abafado de vegetação, um barulho de galhos formando uma
palavra. Em uma das pedras próximas ao pé de Red, o musgo verde ficou
marrom e murchou.
risteza que a O Pacto. Devem ser dois. Como antes.
Mais musgo morria, contorcendo-se em espirais frágeis. O preço da fala
como ela mepara Wilderwood.
Dois. Gaya e Ciaran. Um Lobo e uma Segunda Filha, juntos.
. Mas sei que A magia é mais forte quando há dois.
ue o que quer A última frase foi mais silenciosa, como se a floresta estivesse cansada. A
— Um passograma morreu sob os pés de Red, quebradiça. Alarmada, ela recuou e quase
do na direção colidiu contra Eammon.
A mão dele pousou sobre o ombro de Red, firme e quente, coberta por
cortes que ainda não estavam cicatrizados. Red se atrapalhou com os próprios
voa. Por fim,pés ao dar um passo atrás, cruzando os braços para conter um calafrio.
ndo-a pender Eammon olhou para ela, olhos escondidos na sombra do cabelo, os lábios
na palma de comprimidos. Sua mão pairou no ar por um breve instante, ainda onde o
agudo, mas oombro dela estivera segundos antes, e depois caiu, agitando a névoa ao redor
deles. Os olhos do Lobo inspecionaram o rosto de Red com cuidado, como se
catrizes eram a resposta de um enigma estivesse impressa nele.
Depois, deu as costas para a Segunda Filha e desapareceu na névoa,
eceu naqueladeixando-a sozinha.

O conceito de noite era quando o corpo de Red se sentia cansado e quando o


ma mão pelo céu escurecia de cor de lavanda para cor de ameixa — embora,
aparentemente, Red fosse a única na Fortaleza que tentava se situar no tempo
pudéssemos mesmo com a ausência do sol. Lyra estava patrulhando os arredores outra
vez, com a tor nas costas e o bolso cheio de frascos de vidro. Fife estava na
cozinha, responsável pelas louças do jantar.
rmando uma Ela não sabia onde Eammon estava, mas iria procurá-lo em breve, assim
o verde ficouque criasse coragem.
Em frente à lareira, Red andava de um lado para o outro mordendo a unha
do dedão. Ainda usava o vestido que havia colocado para comer com Fife e
preço da fala Lyra, que era bordô e estava, até o momento, sem resquícios de sujeira ou
sangue. Fife continuava pouco amistoso, mas Lyra os unia em uma
camaradagem agradável, ainda que frágil. Era nítido que ela e Fife se
conheciam havia muitos anos e que, ao longo do tempo e das circunstâncias,
e cansada. Atinham desenvolvido uma forte conexão. Red se sentia deslocada perto deles,
cuou e quaseuma intrusa, e se perguntava se as outras Segundas Filhas antes dela haviam
sentido o mesmo.
, coberta por Não que alguém mencionasse as outras Segundas Filhas, ou as sentinelas,
m os própriosou a magia de sangue. Ninguém falava disso. Ainda assim, elas corroíam a
mente de Red mesmo quando Fife e Lyra falavam sobre amenidades.
elo, os lábios Teme a si mesma tanto assim?
ainda onde o Ela temia. Tinham sido quatro anos de ansiedade constante e silenciosa se
évoa ao redor agitando no fundo da mente de Red, que revivia flashes daquela noite quando
ado, como se ela se descuidava. A maneira como sua magia, recém-adquirida de
Wilderwood, havia dilacerado pessoas, deixando para trás um mar de sangue
u na névoa,sobre as folhas. A maneira como ela não fora capaz de controlá-la.
A maneira como quase matara Neve.
Mas talvez… talvez não tivesse que ser assim. Eammon havia dito que a
o e quando o magia era volátil, especialmente no início. Talvez, depois de ficar reprimida
— embora, dentro dela por anos, fosse mais fácil usá-la. Controlá-la. Ela teria Eammon
uar no tempopara ajudar, que era o mais próximo possível de um especialista em magia de
redores outraWilderwood.
Fife estava na E a imagem de Eammon entrando na Fortaleza, curvado e ensanguentado,
a floresta entremeada a ele — a cena não saía da mente de Red. Ele
breve, assim continuava se derramando sobre Wilderwood e permitindo que Wilderwood
se derramasse para dentro dele. Fazia tudo o que podia para sustentá-la por
dendo a unha conta própria. Ele não a pressionava. Dera tempo a ela, mesmo que a espera o
er com Fife e exaurisse. Havia uma semana que a Segunda Filha estava lá, e sua presença
de sujeira ounão havia ajudado Eammon nem tampouco a floresta.
nia em uma Ela precisava ao menos tentar. Devia isso a ele. Devia isso à Neve. Afinal,
la e Fife senão seria aquilo apenas mais uma medida para manter a irmã a salvo?
rcunstâncias,Certificar-se de que os monstros que ela agora sabia que eram reais não
a perto deles, escapariam das Sombras? O leite já estava derramado.
dela haviam Ela parou onde estava e respirou fundo. Depois deu as costas para a lareira
e se dirigiu determinada até a porta.
as sentinelas, Uma batida a interrompeu. Red congelou no lugar.
s corroíam a
Alguém xingou baixinho do outro lado antes de bater na porta novamente,
dessa vez mais forte.
silenciosa se Red buscou a voz no fundo da garganta.
noite quando — Pois não?
adquirida de — Posso entrar?
mar de sangue Ele tinha ajustado a voz grave para tentar soar acolhedor, mas não deu
muito certo.
— A Fortaleza é sua.
ia dito que a — Mas o quarto é seu.
car reprimida Depois de um momento de hesitação e surpresa, Red abriu a porta.
eria Eammon O Lobo precisava se curvar um pouco para enxergar sob a viga da porta.
em magia de Prendera o cabelo em um rabo baixo e desleixado, mas ainda havia mechas
escuras caindo sobre as clavículas. Ansioso, ele puxava as mangas da camisa
sanguentado,com os dedos manchados de tinta, mas não havia indício algum de nervoso
de Red. Eleno rosto, angular e sério como sempre. Suas mãos estavam envolvidas em
Wilderwoodataduras brancas.
ustentá-la por Red fez um gesto para que ele entrasse. Eammon se abaixou e, ao entrar,
ue a espera o parou diante da porta. O quarto parecia menor com ele ali.
sua presença O silêncio se tornava mais denso a cada segundo.
— Vai sarar? — Red apontou para as mãos dele.
Neve. Afinal, Ele franziu o cenho como se não tivesse entendido, depois olhou para
mã a salvo? baixo. Então emitiu um som melancólico e gutural.
am reais não — Até certo ponto.
— Que bom que você apareceu, na verdade. — Red engoliu em seco. —
para a lareira Eu estava indo…
A mão de Eammon se ergueu e a luz da lareira refletiu um objeto prateado
que ele segurava. Punhal.
a novamente, Red recuou depressa, confusa e com os olhos arregalados. Talvez ele
finalmente tivesse se cansado dela, talvez tivesse decidido que drenar o
sangue dela seria de mais ajuda do que qualquer magia. Quantos seriam os
frascos que todo o sangue de seu corpo encheria…
Eammon olhava para Red como se ela tivesse enlouquecido. Só então
mas não deu seguiu o olhar dela até a lâmina. Ele ergueu as mãos em um gesto de
rendição.
— Não vou esfaquear você.
— Para que mais serve um punhal?
Ele ruborizou.
iga da porta. — Era sobre isso que eu queria conversar.
havia mechas A tensão que antecede a violência se dissipou. A pulsação de Red voltou
gas da camisaao ritmo normal, embora algo no olhar dele fizesse seu coração martelar no
m de nervoso peito.
nvolvidas em Eammon correu a mão enfaixada pelo cabelo, olhando para o fogo em vez
de olhar para ela.
e, ao entrar, — Eu… — Ele pausou, suspirou e voltou a falar misturando todas as
palavras. — Já ouviu falar em laços do matrimônio?
Ela demorou um instante para processar as palavras, de tão inesperada que
foi a pergunta.
s olhou para — Acho que sim. É uma cerimônia de união, não é? Um casamento
popular, que não precisa de testemunha ou bençãos.
—Sim. — A resposta foi breve, e os olhos dele não se desviaram do fogo.
em seco. —— Os dois doam uma parte de si, cabelo geralmente, e a amarram em torno
de um pedaço do novo lar compartilhado.
jeto prateado A outra mão de Eammon vasculhou o bolso e tirou dele um pedaço de
madeira branca. Casca de sentinela.
Dois, Wilderwood dissera. Devem ser dois.
. Talvez ele O calor da compreensão se desabrochou lentamente no peito dela.
que drenar o — Isso é um pedido de casamento?
os seriam os Eammon não respondeu, afastando o cabelo para trás de novo. As pontas
das orelhas ficaram vermelhas.
do. Só então — Wilderwood está tentando recriar o que tinha antes, com Gaya e Ciaran.
um gesto de Não podemos oferecer isso, não exatamente, mas podemos chegar o mais
perto possível. — Ele virou o punhal entre os dedos, nervoso. — Um
casamento como o deles seria um bom começo. E acho que isso poderia fazer
com que… fosse mais fácil para você lidar com sua magia.
Red não sabia como transformar o nó no estômago em palavras.
— Ah. — Foi tudo o que conseguiu dizer.
e Red voltou Outro silêncio, desta vez mais pesado, pairou entre os dois. Naqueles
o martelar no poucos segundos, Red viu passar diante de seus olhos tudo o que vivera até
aquele ponto. Quando Neve sangrou pela primeira vez e sua mãe desatou a
fogo em vezfalar sobre noivados e alianças. Quando Red sangrou algumas semanas
depois e não houve conversa parecida — ela estava comprometida desde o
ndo todas asprimeiro suspiro, não teria nenhum pretendente. As primeiras vezes
desesperadas com Arick, quando acreditava que aquele seria o máximo de
esperada que carinho que receberia. Sua vida tinha sido um castelo de cartas, uma carta
empilhada com delicadeza sobre a outra, mais pela facilidade de construção
m casamentodo que por uma escolha real — afinal, a situação já não era difícil o suficiente
sem que ela a complicasse mais ainda?
ram do fogo. Mas lá estava Eammon. Longe do monstro que ela fora ensinada a esperar,
am em tornolonge de qualquer coisa que jamais havia imaginado. Eammon, oferecendo a
ela uma escolha.
m pedaço de Ele precisava dela. Ela duvidava que um dia ouviria aquilo da boca dele,
mas era evidente depois de tudo o que havia acontecido desde que atravessara
a fronteira da floresta, depois das palavras de Wilderwood mais cedo,
enquanto se entreolhavam no nevoeiro. Tinha que haver dois, mas ele não a
forçaria a ficar com ele. Não a obrigaria a fazer nada que ela não escolhesse
o. As pontasfazer, com todo o seu coração.
Red sentia o coração pulsar na garganta.
aya e Ciaran. Eammon estava atento às emoções incompreensíveis no rosto dela. Depois,
hegar o maisbalançou a cabeça.
oso. — Um — Deixe para lá. Eu nem sei se…
poderia fazer — É uma boa ideia.
Ele fechou a boca com um estalar de dentes.
— Vale a pena tentar, pelo menos.
Red deu um passo hesitante à frente, puxando a trança emaranhada sobre o
is. Naquelesombro e desatando o pedaço de barbante que a mantinha presa. Seu cabelo
ue vivera atéainda estava úmido, e ficou com marcas onduladas da trança feita quando ele
mãe desatou a ainda estava molhado. Ela sacudiu a cabeça, chacoalhando as madeixas agora
mas semanassoltas, e olhou para o Lobo.
etida desde o — Se for um pedido de casamento, minha resposta é sim — disse Red,
meiras vezescalma.
o máximo de Ele engoliu em seco. Havia um brilho indecifrável em seus olhos. Então,
as, uma cartaassentiu.
de construção O espaço entre eles parecia imenso. Eammon se moveu primeiro,
l o suficientecauteloso, segurando o punhal.
— Primeiro você. — O canto de sua boca se torceu. — Podemos chamar
ada a esperar,isso de voto de confiança.
oferecendo a — Você vai ter que se sentar. — Red gesticulou em direção à cabeça dele.
A altura de Eammon era absurda. — Eu não consigo alcançar.
da boca dele, Uma pausa. O único lugar em que ele podia se acomodar era a cama, e
ue atravessaraambos pareceram perceber isso ao mesmo tempo, dado o arregalar de olhos
mais cedo, de ambos. Então, Eammon se ajoelhou.
mas ele não a — Que tal?
ão escolhesse Ela concordou com a cabeça. Algo na postura dele, ajoelhado como em
penitência, a fez sentir um frio na barriga.
O cabelo dele era mais sedoso do que ela imaginava, e tinha cheiro de café
dela. Depois,e livros antigos.
— Você fez isso com as outras? — Red forçou uma risada que soou tão
nervosa quanto ela se sentia. Seu estômago se revirou. — Quantas esposas já
teve?
Ele continuava sob a mão dela. A voz soou baixa.
— Só você.
nhada sobre o Ele não tinha se casado com as outras Segundas Filhas. Inexplicavelmente,
a. Seu cabeloisso fez com que o estômago de Red parecesse despencar de um precipício.
ta quando ele — Por que não, se Wilderwood está tentando recriar o que teve um dia?
adeixas agora — Não foi preciso. — Ele se ajeitou sobre os joelhos. — Wilderwood
recriou tudo de outras formas.
— disse Red, Isso não interrompeu a queda livre do estômago de Red, mas fez com que
suas bochechas ficassem quentes, resultado de uma onda de constrangimento
olhos. Então,irracional. Ela se sentiu grata por ele não estar vendo.
— Que sorte a nossa.
eu primeiro, Um grunhido grave.
Red separou uma mecha de cabelo atrás da orelha de Eammon e conseguiu
emos chamarcortá-la sem derramar sangue.
— Pronto.
cabeça dele. Eammon ficou de pé, desajeitado. Os cabelos soltos caíram sobre seu rosto
enquanto ele estendia a mão para pegar a lâmina de volta.
ra a cama, e Red se virou de costas, a respiração irregular enquanto os dedos nodosos
alar de olhos do Lobo, quentes e ásperos, tocavam levemente seu pescoço. Ele separou
uma mecha do mesmo lugar que ela, colocando o resto do cabelo de Red
sobre o outro ombro. Depois, ela ouviu um ruído suave e um feixe de cabelo
do como em dourado ficou nas mãos de Eammon.
— Faz diferença como amarramos?
heiro de café — Temos que fazer isso juntos, mas é só isso, até onde sei. — Ele olhou
para ela com um sorriso sutil e hesitante. — É meu primeiro casamento,
que soou tão lembra?
as esposas já O estômago dela se agitou outra vez.
Após um momento de hesitação, Eammon tirou a casca branca do bolso.
Atrapalhados, os dois enrolaram os fios ao redor do pedaço da sentinela,
esbarrando as mãos.
licavelmente, Outra coisa aconteceu quando terminaram de enrolar os cabelos ao redor
do pedaço de árvore. Red… se sentiu desatar. Era como se seu peito fosse
um nó, sua caixa torácica feita de corda emaranhada, e o nó tivesse se soltado
Wilderwoodem uma ação inversa ao que ela e Eammon haviam feito com os cabelos. A
magia encolhida em seu peito parecia mais leve de certa forma. Menos como
fez com quealgo prestes a causar destruição e mais como uma ferramenta de que ela
strangimento poderia fazer uso se necessário.
Eammon dissera que um casamento poderia tornar o poder dela mais
controlável. Aparentemente, ele estava certo. Prender-se a ele — a
Wilderwood, que ele governava — fez com que a magia que Red trazia
n e conseguiuconsigo parecesse uma parte dela em vez de algo que tinha que aprisionar.
Quando terminaram, a casca branca estava quase completamente coberta
por dourado e preto. Red olhou pela janela para a floresta, sem saber ao certo
bre seu rosto o que esperava ver.
— Então isso vai ajudar Wilderwood?
edos nodosos — É provável. — Eammon guardou o pedaço de madeira no bolso.
Ele separouFlexionou as mãos como se tateasse o ar em busca de alguma mudança na
abelo de Redatmosfera. — As sentinelas querem você… mais perto.
ixe de cabelo — Me casar com você certamente me aproxima.
Ele ruborizou ligeiramente outra vez.
— É a intenção.
— Ele olhou — E são elas que detêm as criaturas de sombras — disse Red, optando por
o casamento, não mencionar as bochechas ruborizadas dele. — As sentinelas.
— Alguém andou estudando.
— Fife me explicou. Não sem relutância.
nca do bolso. Mais silêncio. Red não sabia o que dizer ou como dizer. Um longo
da sentinela, discurso não parecia fazer sentido, não agora que seus cabelos estavam nas
mãos de Eammon. Não agora que ele passara a ser seu marido.
elos ao redor Então, quando ela finalmente falou, foi direta:
u peito fosse — Ainda quer que eu tente usar a magia?
sse se soltado Ele se virou para ela com um movimento abrupto.
os cabelos. A — Porque eu vou — continuou Red. Ela encarava as sombras projetadas
Menos comona parede em vez de olhar para Eammon. — Eu tenho medo, e ela nunca me
a de que ela trouxe nada de bom. Mas acho que nós… O que nós acabamos de fazer vai
tornar as coisas mais fáceis. E se isso pode ajudar você, ajudar a floresta… eu
er dela maisvou tentar.
a ele — a Eammon não disse nada, mas sua mão se moveu na direção do pedaço de
e Red trazia madeira no bolso, o símbolo da união dos dois.
— Não precisa — murmurou ele. — Não quero que faça algo que não
mente coberta queira. Não quero que faça nada que não queira fazer. A escolha é sua.
aber ao certo — Se a escolha é minha, já está feita. — Ela já tinha ido longe demais para
voltar atrás agora. — Se pode me ensinar a usar a magia de Wilderwood, eu
gostaria de aprender.
ra no bolso. A luz do fogo iluminava o rosto angular de Eammon, cintilando nos olhos
mudança nacor de mel. Não havia traço de verde neles, o que causava mais alívio em Red
do que ela conseguia entender.
— Me encontre na torre do pátio quando acordar.
Ele fez uma pausa, depois continuou com voz serena:
— Vou me certificar de que a magia não machuque você ou qualquer outra
, optando porpessoa. Eu prometo. Não precisa ter medo.
Ela assentiu. O ar entre eles parecia sólido, algo que podia ser empurrado
para fora do caminho.
Eammon abriu a porta que dava para o corredor pintado pela luz
. Um longo crepuscular. Ao sair, apontou para o fogo.
estavam nas — Não se preocupe em apagar o fogo antes de dormir. A madeira não vai
se queimar nem deixar que as chamas se alastrem para qualquer outro lugar.
— Como consegue fazer isso?
Ele respondeu com um sorriso irônico.
— Talvez essa seja a lição de amanhã. — Seu novo marido se virou e
as projetadasadentrou a escuridão do corredor, deixando-a sozinha no quarto. — Boa
ela nunca me noite, Redarys.
de fazer vai
floresta… eu

do pedaço de

algo que não

e demais para
lderwood, eu

do nos olhos
lívio em Red
— Me encontre na torre do pátio quando acordar.
Ele fez uma pausa, depois continuou com voz serena:
— Vou me certificar de que a magia não machuque você ou qualquer outra
pessoa. Eu prometo. Não precisa ter medo.
Ela assentiu. O ar entre eles parecia sólido, algo que podia ser empurrado
para fora do caminho.
Eammon abriu a porta que dava para o corredor pintado pela luz
crepuscular. Ao sair, apontou para o fogo.
— Não se preocupe em apagar o fogo antes de dormir. A madeira não vai
se queimar nem deixar que as chamas se alastrem para qualquer outro lugar.
— Como consegue fazer isso?
Ele respondeu com um sorriso irônico.
— Talvez essa seja a lição de amanhã. — Seu novo marido se virou e
adentrou a escuridão do corredor, deixando-a sozinha no quarto. — Boa
noite, Redarys.
12

A respiração de Red era só mais uma nuvem de vapor no pátio tomado por
neblina, espiralando de seus lábios no ar frio. Ela olhou para cima enquanto
seguia até a torre. Daquele ângulo, as janelas no topo se alinhavam
perfeitamente, abrindo lacunas de céu na pedra.
A porta cheia de musgo rangeu levemente quando ela a abriu, quebrando o
silêncio de Wilderwood. Diante dela, uma escadaria subia escuridão acima.
Havia vegetação forrando as paredes, folhas e flores claras colorindo a rocha
cinza em tons de branco e verde. Diferente da Fortaleza, a natureza não
parecia sinistra ali — parecia ser parte da estrutura em vez de uma invasora.
Mesmo assim, Red teve o cuidado de não a tocar.
A escadas eram longas e deixaram Red cansada antes de enfim terminarem
no centro de uma sala circular. Ali não havia vegetação, e sim quatro janelas
equidistantes abertas na parede curva, com flores e trepadeiras esculpidas em
madeira nos peitoris. Entre duas delas havia uma lareira crepitante abastecida
de madeira intocada e uma pequena mesa, também de madeira, com duas
cadeiras. O teto, de um azul intenso e escuro, erguia-se até um ponto acima
da escada, onde havia um sol de papel pendurado, trabalhado em camadas de
dourado e amarelo.
Constelações pintadas em prata rodeavam o sol de papel, primorosamente
detalhadas — as Irmãs, mãos partindo do norte e do sul e se encontrando no
centro; o Leviatã, rasgando o céu ocidental; as Estrelas da Peste, amontoadas
sobre o esboço de um navio. A lenda dizia que as Estrelas da Peste tinham
aparecido para guiar o navio que transportava comerciantes infectados com a
Grande Peste de volta ao continente. As estrelas tinham desaparecido quando
os afligidos foram súbita e miraculosamente curados.
— Que lindo — murmurou Red, girando no lugar com os olhos ainda no
teto.
Um riso anasalado despertou sua atenção. Eammon estava encostado no
o tomado porparapeito da janela com uma mão no bolso e a outra segurando uma caneca
ma enquanto fumegante. Seu cabelo estava amarrado; atrás de sua orelha, havia um tufo
e alinhavamcurto e espetado de onde ela cortara a mecha para o enlace dos dois.
— Obra de Wilderwood. A torre e a Fortaleza surgiram quando Gaya e
quebrando oCiaran selaram o pacto, totalmente mobiliada. — Ele deu um gole no líquido
uridão acima.da caneca. — Um presentinho para o casal. Ciaran construiu o restante.
rindo a rocha Ciaran. Gaya. Ele nunca se referia a eles como seus pais, apenas usava os
natureza nãonomes ou títulos, transformando-os em pessoas distantes e sem afeto.
ma invasora. O sentimento era familiar.
Red se aproximou da lareira e aqueceu as mãos. As janelas não tinham
m terminarem vidros, e a sala estava tão gelada quanto a floresta lá fora.
uatro janelas — Então Wilderwood fez isso? — Ela gesticulou para as pinturas no teto.
sculpidas em — Não. — Eammon foi até a mesa no centro da sala e se serviu de mais
te abastecidacafé de uma garrafa. Havia outra caneca; ele olhou para Red como se fizesse
ra, com duasuma pergunta. Quando ela assentiu, ele serviu a segunda caneca. — Foi Gaya
ponto acimaquem pintou.
m camadas de Os olhos de Red se voltaram para as constelações outra vez. Uma sensação
estranha e pesada tomava seu peito.
morosamente — Alguma razão específica para nos encontrarmos aqui? — Ela pegou a
contrando no caneca que ele havia servido, segurando-a com as duas mãos para sentir o
, amontoadascalor. — Desculpe pelo comentário, mas você não parece gostar muito daqui.
Peste tinham
ctados com a Eammon emitiu um ruído rouco que podia ter sido uma risada. Soltou o
ecido quandopeso sobre uma das cadeiras e depois a inclinou, gangorreando sobre as duas
pernas traseiras.
hos ainda no — Porque este lugar foi feito por Wilderwood, então a magia é mais forte
aqui.
encostado no O nó da magia em Red ainda parecia mais leve naquela manhã,
o uma caneca desembaraçado e solto. Ela sabia que era resultado do rápido enlace;
avia um tufopensando bem, porém, um pouco daquilo provavelmente se devia à torre,
também. Brotando junto às flores nas paredes enquanto ela subia as escadas.
ando Gaya e Ainda assim, a ideia de usar a magia fazia crescer um buraco no estômago
le no líquido dela.
O café estava forte e amargo. Red fez uma careta.
nas usava os — Será que a magia de Wilderwood conseguiria arranjar um pouco de
leite?
— Sinto dizer que não. Vou colocar na lista de compras. — Eammon
s não tinhamsorveu um longo gole. — Mesmo com toda a força, o poder de Wilderwood é
bastante limitado. Ele age sobre seres vivos ou ligados à floresta, mas só.
— Também pode curar feridas.
erviu de mais — Só se a pessoa ferida estiver ligada a Wilderwood.
mo se fizesse Ela apertou a caneca para conter o impulso de tocar o próprio rosto, a
— Foi Gaya região na bochecha onde o espinho a machucara uma semana antes.
— Na verdade, você não me curou — disse ela. — Você simplesmente…
Uma sensação pegou o corte para você. Ele apareceu no seu corpo.
— A dor tem que ir para algum lugar. — As pernas da cadeira rangiam
Ela pegou a quando Eammon as inclinava para trás. — É uma questão de equilíbrio. A
para sentir o trepadeira que ilumina a Fortaleza segura as chamas sem se queimar, mas ela
muito daqui. não cresce. Nem os lugares de onde a madeira foi cortada. Ferimentos não
podem só desaparecer. Eles são transferidos.
ada. Soltou o Não estavam virados um para o outro, mas a atmosfera entre eles era sólida
sobre as duascomo um olhar fixo. Red tomou outro gole do café forte.
— Seu poder deve funcionar de forma semelhante ao meu — disse
a é mais forteEammon, olhando para o teto. — Já que são mais ou menos a mesma coisa.
Ela franziu o cenho.
uela manhã, — Mas quando não consigo controlar, eu não… Quero dizer… Não é
pido enlace;como acontece com você, quando… — Ela deixou a frase incompleta, sem
devia à torre,saber como dizer aquilo.
— Você não se transforma como eu — disse ele, em voz baixa e de
no estômago maneira direta.
— Não — murmurou ela. — Não me transformo.
A garganta de Eammon se mexeu quando ele engoliu a saliva.
um pouco de — Minha conexão com Wilderwood é mais forte do que a sua — explicou
ele. — E quando uso o poder da floresta, ela… ela toma parte de mim. As
— Eammon transformações costumam desaparecer, mas ainda assim não é agradável. E
Wilderwood éalgumas permanecem. — Ele deu de ombros e se endireitou. — Por isso às
vezes uso sangue. Funciona da mesma maneira sem me deixar vulnerável a
tantas alterações.
A última palavra soou ressentida. Ainda olhando para o teto, Eammon
prio rosto, a esfregou a região acima do pulso, onde Red vira a pele transformada em
casca de árvore.
mplesmente… Red assentiu, desviando o olhar da silhueta dele para o reflexo ondulante
em sua caneca de café.
eira rangiam — Então eu não vou me transformar porque minha magia não é tão forte
equilíbrio. Aquanto a sua.
mar, mas ela — Exatamente. Não tão forte, e mais caótica.
rimentos não — Para dizer o mínimo.
les era sólida — Então vamos focar em controlá-la. Em canalizar apenas uma pequena
quantidade de cada vez, e direcionada a um propósito específico.
meu — disse Red ficou nervosa e se pôs a procurar alguma distração para adiar o
inevitável. Sentou-se na cadeira de frente para ele, segurando a caneca com
firmeza.
zer… Não é — Por que a magia afeta seres vivos?
ompleta, sem — Quando Ciaran e Gaya fizeram o pacto, as sentinelas se enraizaram
neles. Se tornaram parte deles. — As pernas da cadeira rangeram quando
z baixa e de Eammon se inclinou para trás, olhando para cima como se contasse a história
ao sol de papel, como se dando a Red a oportunidade de adiar aquilo, caso ter
todas as respostas fosse deixá-la confortável. — Assim, o Lobo e a Segunda
Filha podem controlar seres da terra, seres com raízes. Eles estão sob
a — explicouinfluência das sentinelas, e, portanto, sob a nossa.
de mim. As A mente de Red se agitou ao lembrar de todas as vezes em que precisara
agradável. E reprimir seu grão de magia, a quilômetros e quilômetros de distância de
— Por isso às Wilderwood.
vulnerável a — Para algo com um alcance tão limitado, a influência das sentinelas
parece se estender bastante longe.
eto, Eammon — Não sei dizer. Faz séculos que saí desta maldita floresta pela última vez.
sformada em— As quatro pernas da cadeira bateram no chão. — Ela aprisiona os
Guardiões muito melhor do que aprisiona as sombras.
xo ondulante — Guardiões?
— Guardiões e Lobos têm propósitos muito semelhantes.
ão é tão forte — Precisa existir uma explicação melhor do que essa.
— Ciaran era caçador. — Eammon ficou de pé e cruzou a sala, indo em
direção a uma das janelas de peitoril esculpido. Ali havia um pequeno vaso
de cerâmica; era possível ver alguns ramos verdes caindo pela borda. Ele o
pegou e levou-o de volta para a mesa, segurando-o com as duas mãos. —
uma pequena Antes de fugir com Gaya, sua maior conquista tinha sido matar um lobo
gigante e monstruoso que rondava a aldeia onde morava. Um filhote de um
para adiar odos seres das Terras Sombrias, antes de todos morrerem. Eles o chamavam de
caneca com Lobo muito antes de ele vir para cá, e a palavra para “Guardião” não pegou
com a mesma força. — Com um sorriso largo, ele deslizou o vaso sobre a
mesa em direção a Red. — Para ser sincero, prefiro Lobo.
e enraizaram — Talvez as pessoas não pensassem que você é um monstro se fosse
eram quandochamado de Guardião.
sse a história — Talvez eu não me importe que pensem que sou um monstro.
uilo, caso ter A intenção era soar impetuoso — e, superficialmente, de fato soou. Mas
e a Segundahavia algo em como ele disse aquilo que fez Red sentir uma pontada no peito.
es estão sob Com os dedos, ela torceu uma das gavinhas com delicadeza.
Eammon se sentou na cadeira — da forma correta desta vez, sem incliná-la
que precisarapara trás.
distância de — Vamos começar do começo. — Ele fez um gesto na direção da
plantinha. — Faça-a crescer.
as sentinelas Red deslizou a caneca para o lado, torcendo para que ele não percebesse
como tremia quando segurou o vaso com as duas mãos.
a última vez. — Como faço isso sem causar uma catástrofe? O que fizemos deixou a
aprisiona osmagia mais fácil de controlar, mas não me sinto confiante.
A menção ao casamento, por mais indireta que fosse, fez com que ambos
desviassem o olhar.
— Precisa focar na intenção — disse Eammon, depois de um momento
tenso. — Quando enxergar o poder da floresta com clareza na mente, abra-se
ala, indo em a ele. É meio… intuitivo. Ele levantou o olhar das cicatrizes dos dedos e
pequeno vaso olhou para o rosto de Red. — É parte de você.
borda. Ele o Parte de você. Ela pensou nas mudanças que a magia causara nele, na
uas mãos. —casca e nos olhos verdes, na altura e na voz sobreposta. Uma balança
atar um lobopendendo para a frente e para trás, do homem para a floresta, do osso para o
ilhote de um galho.
chamavam de A magia em seu peito buscou sair. Era algo que ela poderia dominar se
o” não pegou fosse corajosa o bastante. Se pudesse engolir as lembranças do passado antes
vaso sobre aque…
Red fechou os olhos e sacudiu a cabeça levemente, como se os
stro se fossepensamentos pudessem ser dissipados com o gesto.
— Estou pronta.
— Estou aqui.
to soou. Mas A tranquilidade que ele transmitiu acalmou um pouco a tensão em seus
ada no peito. membros. Respirando fundo bem devagar, ela tentou acalmar os pensamentos
acelerados e se concentrar na intenção. Crescimento, raízes escavando o solo
em incliná-la à medida que as folhas cresciam.
Quando isso ficou claro em sua mente, canalizou o poder. Foi hesitante, o
a direção damais leve dos toques, mas a magia desabrochou como uma flor.
E, por um breve momento, Red pensou que conseguiria.
o percebesse Mas a memória era como uma correnteza, e o toque deliberado em seu
poder a puxou para as profundezas, afogando-a em pânico. Tudo aquilo
mos deixou apassou por seus olhos como se estivesse acontecendo novamente: uma
erupção de galhos e raízes e espinhos, sangue jorrando, costelas rasgadas por
m que ambos troncos afiados, Neve caindo no chão…
— Red!
um momento Ela ouviu o chamado do outro lado de seu torpor, distante como um grito
mente, abra-se em meio a um ciclone. Tudo que enxergava era floresta escura, céu escuro, e
dos dedos e na boca predominava o sabor de terra e sangue. Longe, ela sentiu a coluna
travar, a garganta puxar o ar que não vinha, o corpo se fechando em uma
sara nele, naúltima tentativa de manter a magia sob controle.
Uma balança
o osso para o Então, com um forte aperto nos ombros, ela foi girada de frente para um
par de olhos âmbar, depois sentiu as mãos quentes e feridas do Lobo em suas
a dominar sebochechas.
passado antes — Red, volte!
A voz e os olhos dele arrancaram-na das garras da memória. Red ofegava,
como se ospuxando ar para dentro dos pulmões, que de repente voltaram a funcionar.
Eammon a soltou quase no mesmo instante, como se sua pele queimasse.
— Pelas sombras, o que foi isso?
Ela pressionava as costas contra a borda da mesa, um contraponto à
nsão em seus pulsação desenfreada.
pensamentos — Não consigo. Pensei que poderia depois que nos casamos, mas não
vando o solo consigo.
— Você já fez isso. Fez isso há uma semana!
i hesitante, o — Aquilo não era controle! Eu mal consegui me conter! — Red esticou a
mão em direção à janela. — Quer tentar me jogar para Wilderwood outra
vez? Para ver se isso desperta algum tipo de controle?
rado em seu Eammon recuou, mãos erguidas em rendição. A luz do fogo iluminou as
Tudo aquilo cicatrizes nas palmas.
amente: uma A porta no andar inferior se abriu e rasgou o silêncio. Em seguida, os dois
rasgadas porouviram passos subindo depressa. Os cabelos vermelhos de Fife apareceram
no topo da escada, colados na testa pelo suor.
— Notícias da Fronteira — informou ele, ofegante. — Há uma brecha na
omo um grito direção oeste. Com complicações.
céu escuro, e — Que complicações? — Eammon ainda olhava para Red. Sua expressão
ntiu a colunaera um misto de zanga e mágoa.
ndo em uma A mandíbula de Fife se retesou.
— Estavam procurando por uma abertura na fronteira, como sempre. Em
vez disso, encontraram uma brecha total. E alguém… caiu.
ente para um Isso bastou para atrair a atenção de Eammon. Ele assentiu em um
Lobo em suasmovimento brusco.
— Tranque a Fortaleza, depois volte aqui. É mais seguro.
— Eu deveria ir com você.
Red ofegava, — É perigoso demais. Se alguém caiu em uma brecha total, vão tentar
puxar outros. Você será mais útil aqui.
Quase imperceptivelmente, o olhar de Eammon foi de Fife para Red,
voltando para Fife logo em seguida.
ontraponto à O outro homem franziu o cenho e concordou com a cabeça.
Fife desceu as escadas e Eammon se dirigiu à lareira. Uma faca longa
mos, mas não cintilava sobre ela, bem como o punhal curto que ele usava para abrir cortes
na mão. Eammon pegou as duas armas.
— Fique aqui. — Ele olhou para ela por cima do ombro, muito sério. —
Red esticou aNão saia da torre.
erwood outra Mil perguntas e sugestões invadiram a cabeça de Red. Quando ela abriu a
boca, porém, tudo o que saiu foi:
iluminou as — Tome cuidado.

guida, os dois
e apareceram

ma brecha na

ua expressão

sempre. Em
Isso bastou para atrair a atenção de Eammon. Ele assentiu em um
movimento brusco.
— Tranque a Fortaleza, depois volte aqui. É mais seguro.
— Eu deveria ir com você.
— É perigoso demais. Se alguém caiu em uma brecha total, vão tentar
puxar outros. Você será mais útil aqui.
Quase imperceptivelmente, o olhar de Eammon foi de Fife para Red,
voltando para Fife logo em seguida.
O outro homem franziu o cenho e concordou com a cabeça.
Fife desceu as escadas e Eammon se dirigiu à lareira. Uma faca longa
cintilava sobre ela, bem como o punhal curto que ele usava para abrir cortes
na mão. Eammon pegou as duas armas.
— Fique aqui. — Ele olhou para ela por cima do ombro, muito sério. —
Não saia da torre.
Mil perguntas e sugestões invadiram a cabeça de Red. Quando ela abriu a
boca, porém, tudo o que saiu foi:
— Tome cuidado.
13

Red estava sentada perto da janela, roendo a unha do polegar. Fife trouxera
um cesto com algumas maçãs meio murchas para o almoço, mas a
preocupação fazia com que ela sentisse um nó no estômago, e não fome.
Ridículo. Preocupar-se com o Lobo, indo fazer coisas de Lobo. Estava sendo
realmente ridícula.
Ainda assim…
Não considerava Eammon um amigo propriamente dito. Nem sabia ao
certo se gostava dele, apesar da estranha afinidade que tinham desenvolvido
naquela armadilha em que ambos se encontravam. Mas ele a salvara, duas
vezes; mesmo que fosse mais por precisar dela do que por qualquer motivo
pessoal, aquilo ainda contava. Ele ainda não tinha conquistado a amizade
dela, mas ganhara seu respeito, e o fato de que só aquilo os unia tornava o
laço ainda mais forte.
E se acontecesse algo com Eammon, o que significaria para Wilderwood?
Todo aquele fardo, as sentinelas enfraquecidas e os fungos-de-sombra e os
monstros que clamavam por liberdade — será que tudo cairia sobre os
ombros dela? Red não sabia se conseguiria fazer aquilo sozinha, não por
muito tempo. Eammon não tinha conseguido. O que aconteceria com Neve, e
com todo o mundo além de Wilderwood, quando ela certamente fracassasse?
Daí toda a preocupação. Queimação no estômago, mãos formigando e o
olhar fixo na floresta, aguardando o retorno dele.
Fife a observava, sentado na cadeira que Eammon tinha deixado vaga,
virada ao contrário para apoiar a mão boa no encosto. Não tinha falado nada
desde que voltara da torre. O silêncio estranho talvez tivesse incomodado
Red em outra situação, mas ela estava nervosa demais para notar — até que
ele falou.
— Ele vai ficar bem, sabe? — Fife bateu com os nós dos dedos no encosto
Fife trouxerada cadeira. — Isso é normal por aqui. Bem, a menos que alguém caia na
moço, mas abrecha, mas mesmo assim, Eammon tem mais facilidade para cuidar disso do
e não fome.que o resto de nós. Os aldeões estão sempre desafiando as divisas.
Estava sendo A voz dele a sobressaltou, mas a interação não foi indesejável. Red franziu
as sobrancelhas.
— O que isso significa? Desafiar as divisas? E a que aldeões você se
em sabia aorefere?
desenvolvido — Na Fronteira, além da divisa de Wilderwood ao norte. Descendentes de
salvara, duas exploradores que tentaram ver o que tinha além dela, há muito tempo.
lquer motivoQuando as divisas da floresta se fecharam, eles ainda estavam lá e ficaram
o a amizade presos. Wilderwood não permite que saiam, mas isso não impede que
nia tornava o continuem procurando pontos fracos, achando que podem encontrar um lugar
que permitirá a saída. — Fife deu de ombros. — Não adianta. Se você está
Wilderwood? preso aqui, vai ficar preso aqui para sempre.
-sombra e os Red nunca tinha ouvido falar da Fronteira nem de nada além de
ria sobre osWilderwood, mas Fife não parecia ser a pessoa certa para quem pedir mais
nha, não porinformações. Não quando o ressentimento na voz dele era quase palpável.
com Neve, e De qualquer forma, estava ansiosa demais para dar vazão à própria
curiosidade.
migando e o — Ele só parece… — Ela parou de falar sem saber como descrever as
olheiras profundas de Eammon e a contratura constante do maxilar. —
Cansado.
eixado vaga, — Todos nós estamos cansados.
a falado nada Fife pegou uma maçã com a mão boa e os olhos de Red foram atraídos
incomodadooutra vez para a bandagem fina de raízes em torno do braço dele. A pele sob
ar — até que a manga formigava — a Segunda Filha mantivera sua Marca coberta desde
que aparecera, exceto quando a tinha mostrado para Eammon naquele
os no encostoprimeiro dia na biblioteca.
guém caia na — Você acha que ele levou alguns frascos com ele? — perguntou ela,
idar disso dopensando nos ferimentos nas mãos dele e em como ele parecia verter mais
seiva do que sangue. Em como o sangue era para evitar que a floresta o
. Red franziumodificasse. — Para o caso de ficar sem… e precisar de mais?
— Ele não vai. O meu sangue e o de Lyra são praticamente inúteis em
eões você secomparação ao dele.
— Então por que vocês dois continuam sangrando?
cendentes de — Termos do pacto. — Ele bateu na própria Marca. — Quando você faz
muito tempo. um pacto por uma vida, a sua parte não é concluída até gastar certa
lá e ficaramquantidade de sangue a serviço de Wilderwood. Parece que eu ainda não
impede que sangrei o suficiente.
trar um lugar De novo, ressentimento, transparecendo na voz dele como uma corrente
Se você estámortífera. Red pegou uma maçã, mais para ter algo a fazer com as mãos.
— E qual foi o seu pacto, Fife?
da além de O ar ficou carregado entre eles, e Red achou que ele não responderia. Mas
m pedir maisele olhou para ela com expressão defensiva e perguntou:
— Quanto você sabe sobre pactos com Wilderwood?
ão à própria — Não tanto quanto eu deveria, pelo jeito.
Fife levantou uma das sobrancelhas com ar de incredulidade e, depois,
descrever as encolheu os ombros.
maxilar. — — Todo pacto tem um preço. Os menores você paga com dentes e tufos de
cabelo, sabe? Mas um pacto para salvar uma vida é diferente. Wilderwood
marca você e pode te chamar. Ninguém sabia para quê. Eu fiz o meu pacto,
oram atraídos ganhei minha Marca e não sabia o que ela faria até a floresta me chamar de
e. A pele sobvolta, me puxando como um peixe em um anzol, para depois me sangrar
oberta desde como um também. — Ele atirou o talo da maçã na lareira. A madeira sibilou.
mon naquele— Lyra e eu fomos os únicos dois a fazer um pacto por uma vida. Que tolos
nós fomos.
erguntou ela, — Ou corajosos — sugeriu Red, baixinho.
a verter mais — Ela, talvez. Eu, não.
a floresta o Fife se recostou, em silêncio, pressionando a mão contra o corpo.
— Havia uma garota — começou ele depois de um momento, quase como
e inúteis em se estivesse falando consigo mesmo. — Ela sofreu um acidente. A perna foi
esmagada por um moinho. A ferida supurou, ela ardeu em febre. A morte era
inevitável. Então, fiz o pacto. Minha vida pela dela. — O cabelo ruivo roçou
ndo você faza tez sardenta enquanto ele se ajeitava na cadeira. — Ela se casou com outra
gastar certa pessoa, mas talvez tenha sido melhor assim. Wilderwood se fechou dois anos
eu ainda nãodepois, e nos chamou, Lyra e eu, antes disso, os tolos com a Marca do Pacto
com uma dívida com a floresta. Ela teria ficado viúva.
uma corrente Red revirava o talinho da maçã não comida.
— Foi isso que aconteceu com a sua mão também? Parte do pacto?
Ele contraiu o rosto, e a mão estremeceu como se talvez ele fosse tentar
onderia. Masescondê-la. Mas Fife suspirou, olhando para a confusão de cicatrizes. Linhas
lúgubres que marcavam dos nós dos dedos até o punho, a maioria
concentrada em torno das veias do pulso.
— Não. Isso aconteceu quando tentei cumprir a minha parte do pacto de
de e, depois, uma vez só… Derramar todo o sangue que a floresta quisesse. Não
funcionou, é claro. Tudo que consegui foi romper alguns tendões e ficar
tes e tufos de desmaiado por dois dias. — Ele encolheu os ombros. — Nunca vi Lyra tão
Wilderwood
o meu pacto, zangada. Nem Eammon tão quieto. Demorou um pouco para tudo voltar ao
me chamar de normal depois daquilo.
s me sangrar Aquela cicatriz grossa em volta do pulso dele… Red sentiu um aperto de
deira sibilou.pena no coração, mas não demonstrou por saber que era a última coisa que
da. Que tolos ele iria querer.
— Sinto muito, Fife.
— Não precisa. — Brusco, mas não zangado. — Se eu não tivesse feito o
pacto, não teria conhecido Lyra.
Red arrancou o talinho da maçã.
, quase como — Vocês dois…
. A perna foi — Não. — A resposta foi bem rápida. — Quer dizer… Não desse jeito.
. A morte era Não assim. É complicado. — Fife tamborilou no encosto da cadeira,
o ruivo roçou procurando palavras. — Lyra não é mulher para romance. Nunca foi. Mas é a
ou com outra pessoa mais importante da minha vida, já há alguns séculos agora. E isso
hou dois anosbasta.
arca do Pacto Red assentiu, sentindo que não deveria insistir mais. Ele já tinha falado
mais com ela nos últimos cinco minutos do que durante todo o tempo em que
ela estivera na Fortaleza.
— E por que Lyra fez um pacto?
e fosse tentar — Não é a minha história para que eu te conte. — Fife pegou outra maçã.
rizes. Linhas— É bem mais longa e mais nobre que a minha.
, a maioria Ficaram em silêncio — um pouco frio ainda, mas mais confortável do que
antes. Red levou a maçã à boca; antes de chegar a mordê-la, porém, algo…
do pacto deestremeceu no seu campo de visão. Um lampejo de sombras verdes, na forma
uisesse. Não de folhas e galhos.
ndões e ficar Aquilo a fez se lembrar daquela noite. Quando Wilderwood correu para
a vi Lyra tão ela, como se a palma da mão cortada fosse um portal. Quando viu a mão de
udo voltar ao Eammon pela primeira vez, a conexão entre eles foi forjada em galho e
sangue.
um aperto de Franziu as sobrancelhas e balançou a cabeça. Não tinha uma visão daquele
ma coisa quetipo havia uns quatro anos; não havia motivo para achar que teria outra. Do
outro lado da mesa, Fife não percebeu nada enquanto mastigava a maçã e
encarava o vazio, perdido em pensamentos.
vesse feito o Ela contraiu os lábios.
Quando o tremeluzir estranho voltou, não foi tão sutil quanto as sombras
da floresta. Foi como um raio caindo bem atrás dos olhos, encobrindo a torre
por completo para mostrar uma cena totalmente diferente. A hera no vaso
jeito.sobre a mesa estendeu os dedos verdes em direção a ela, e as maçãs murchas
da cadeira,ficaram roliças e mais vermelhas.
a foi. Mas é a Fife praguejou e se levantou depressa, mas Red não o ouviu. Red não via
agora. E issomais a torre nem nada lá dentro. Em vez disso, assim como na noite do seu
aniversário de dezesseis anos, viu mãos.
tinha falado Mãos cobertas de cicatrizes, segurando uma adaga, e um filete de sangue
empo em queverde correndo pelas palmas.
Além das mãos, uma criatura, um monstro. Com uma forma vaga de
homem, mas como se estivesse envolto em cordões de sombras, a forma
u outra maçã. curvada nos ângulos errados e coberta por uma tinta preta que parecia
escorrer dela. Olhos leitosos e boca que parecia gritar. Atrás dele, a névoa
rtável do queenvolvia uma árvore branca com fungos pretos subindo pelo tronco. A
orém, algo…criatura deu uma risada baixa em um tom discordante e desafinado, erguendo
des, na formaas garras para atacar.
Outro lampejo escuro de folhas e galhos. Os olhos dela voltaram a ver
d correu paraapenas a torre. Red abriu e fechou a boca, emitindo um som abafado
viu a mão deenquanto levava a mão à barriga, certa de que tinha sentido as entranhas
quentes e viscosas saindo dali.
em galho e Mas não era ela que estava enfrentando o monstro. Era Eammon. Eammon,
a visão dele ainda mais forte do que tinha sido antes.
visão daquele O enlace fazia com que fosse mais fácil controlar a magia — pelo menos
ria outra. Dona teoria, quando ela não ficava paralisada pelas lembranças. Parecia que a
va a maçã eunião lhes dera outras habilidades também, criando uma conexão tão forte
que ela conseguia ver através dos olhos dele.
Ver que havia algo horrivelmente errado.
o as sombras — Tudo bem? — Fife levantou uma das sobrancelhas.
brindo a torre — Eu… — Ela não sabia como descrever o que tinha visto. Era passado ou
hera no vasopresente? Futuro? Os parâmetros daquela nova união entre eles eram
açãs murchasdesconhecidos. — Eu vi Eammon… Eammon sendo ferido, ferido por
alguma coisa… alguma coisa sombria…
Red não via Fife arregalou os olhos e pareceu preocupado.
noite do seu — Você o viu?
— Já aconteceu antes. — Ela não sabia bem como explicar, então nem
ete de sanguetentou. Red se levantou rápido, fazendo a cadeira cair atrás dela. — Eu tenho
que ir.
rma vaga de — Isso está fora de cogitação. — Fife balançou a cabeça com tanta
ras, a forma veemência que o cabelo ficou em pé. — Eammon disse…
que parecia — Eu não posso simplesmente deixá-lo. — Ela ainda podia ver as formas
dele, a névoa sombrias da floresta no canto do campo de visão, galhos afiados e vinhas
lo tronco. Atrepadeiras. No peito, o poder girava e crescia, subindo e se expandido,
do, erguendofazendo a hera já enorme sobre a mesa estremecer. — Foi real, Fife,
exatamente como da última vez. Eu tenho que fazer alguma coisa.
ltaram a ver Ele franziu as sobrancelhas com uma emoção que ela não soube identificar.
som abafadoPor fim, Fife suspirou e se levantou.
as entranhas — Tudo bem. — Ele se virou para seguir para a escada. — Mas quando
Eammon perguntar quem teve essa brilhante ideia, não espere que eu vá
on. Eammon,salvar sua pele.

— pelo menosWilderwood estava assustadoramente silenciosa enquanto Red e Fife seguiam


Parecia que apor entre as árvores, a atenção da floresta focada em outro lugar. A névoa
xão tão forteestendia os dedos sinuosos para o céu cor de lavanda, entrelaçando-se entre
os galhos secos.
— Noroeste, já que vieram da Fronteira — murmurou Fife, seguindo uma
bússola mental. — E provavelmente bem perto daqui. — Os dentes dele
ra passado oubrilharam. — Meus Reis amados! É o idiota do Valdrek.
e eles eram Red mal o escutou. Passou por entre a vegetação rasteira, evitando
, ferido porespinhos e folhas, mantendo todo o foco em encontrar Eammon.
O que faria quando o encontrasse… não sabia ao certo.
Árvores-sentinelas se espalhavam pelo caminho, altas e pálidas. Fungos
escuros subiam por todas, às vezes apenas na raiz, às vezes até a altura dos
r, então nem joelhos de Red. Ela conseguia sentir o cheiro à medida que se aproximavam
— Eu tenho — vazio, frio, de ozônio. O terreno em volta das árvores estava firme por ora,
mas ela não sabia por quanto tempo continuaria assim. Quando as sentinelas
a com tantase soltariam de qualquer que fosse a magia que as mantinha firmes e

apareceriam na Fortaleza, um sinal silencioso para Eammon derramar mais


ver as formas sangue, ou então arriscar ainda mais seu equilíbrio interno ao avançar mais
dos e vinhasfloresta adentro.
e expandido, Um som quebrou o silêncio. Um rugido.
oi real, Fife, Fife olhou para ela. Os dois começaram a correr.
Os galhos começaram a açoitar Red, que mal conseguia se desviar das
be identificar.extremidades afiadas enquanto se lembrava da regra de Eammon, a única que
ele parecia querer que ela cumprisse: Não derrame sangue onde as árvores
Mas quando puderem experimentá-lo. Estava com a respiração ofegante e entrecortada; o
e que eu vá
som dos pés de Fife passando pela vegetação rasteira formava um
metrônomo. Não sangre. Não sangre. Não sangre.
Fife seguiam Vozes à frente, xingamentos que pareciam etéreos através de camadas de
gar. A névoa névoa. A mente de Red era um turbilhão de possibilidades que serviam como
ando-se entrecombustível para ela correr ainda mais rápido: Eammon ferido, Eammon
eviscerado, Eammon morrendo em uma poça de sangue salpicada com
eguindo uma folhas.
dentes dele Mas, quando chegaram, Eammon estava inteiro. Inteiro e rosnando.
Estava de costas para eles, com os braços estendidos; tinha cortes precisos
ira, evitandonas palmas das duas mãos, dos quais escorria um líquido vermelho com
manchas esverdeadas. Diante dele, uma sentinela envergada, coberta de
fungos escuros, parecia prestes a desmoronar. As raízes rompiam o terreno
idas. Fungos podre, o anel de escuridão se espalhando devagar como uma ferida aberta.
a altura dos Havia marcas sangrentas de mãos pelo chão, e naquele ponto o limiar da
aproximavaminfecção recuava um pouco. O trecho de floresta que Eammon tinha
irme por ora,conseguido limpar já estava começando a ser tomado por fungos de novo.
as sentinelas Por instinto, Red deu um passo para trás, chocando-se com alguém. No
nha firmes einício, achou que fosse Fife. Mas viu uma braçadeira de couro cinza acima da
erramar maismão que cobriu sua boca.
avançar mais — Quieta — sibilou uma voz desconhecida no seu ouvido.
Red não precisava do conselho. A criatura andando de um lado para o
outro na frente das raízes da sentinela, como se a estivesse protegendo,
roubou qualquer som que pudesse sair da garganta.
e desviar das — Lobo rosna, rosna baixo, rosna nas árvores — disse a criatura. Talvez
n, a única quetivesse sido um homem um dia, o que piorava tudo.
de as árvores O jeito como se movia era errado, agachado e oscilante, os joelhos
ntrecortada; odobrados para trás. Tinha a camisa aberta no braço, um corte grande e escuro
marcando o bíceps inchado. Sombras saíam da ferida e pairavam sobre a
formava um pele, com certeza infectando-a com fungos, exatamente como faziam com a
terra.
e camadas de — Vi as sombras — continuou cantarolando ele, andando de um lado para
erviam comoo outro. — Vi as sombras e o que havia nas sombras, e o que havia nas
do, Eammonsombras tem dentes.
lpicada com Os dedos ensanguentados de Eammon estremeceram, tentando chamar um
galho ou um espinho. A parte branca dos olhos ficou de um tom mais
esverdeado, enquanto as veias do pescoço verdejavam; a não ser por um
ortes precisos tremor de um arbusto baixo, porém, Wilderwood não respondeu.
ermelho com Sangue e magia, os dois enfraquecendo.
, coberta de Por uma fração de segundo, ele pareceu se sentir impotente. Então,
am o terrenorosnando, Eammon fez um novo corte na palma da mão.
ferida aberta. — Por que não está ajudando ele? — Red tentou avançar, o sussurro
o limiar da cortando o ar. Mas a pessoa que a segurava, quem quer que fosse, tinha
mmon tinhapunhos de aço. — Você tem que ajudar!
— E o que quer que a gente faça, garota? — sibilou a voz atrás dela. —
alguém. NoNosso sangue não interessa a Wilderwood, e não precisamos de mais
nza acima da ninguém infectado pelas sombras.
Ela olhou de um lado para o outro, procurando Fife. Estava um pouco atrás
dela, entre outras pessoas vestidas de verde e cinza, mesclando-se às cores da
lado para o floresta moribunda. Aqueles deviam ser os aldeões que ele mencionara mais
protegendo,cedo.
O olhar de Red se encontrou com o de Fife, e ela apontou com o queixo a
atura. Talvez sentinela que desabava na poça de fungos cada vez maior. Mas Fife balançou
a cabeça, um brilho de medo nos olhos, e Red se lembrou do que Eammon
, os joelhosdissera na torre — que era perigoso demais que Fife fosse com ele.
ande e escuro Que alguém que já tinha caído estava procurando atrair outros.
vam sobre a
aziam com a — Quanto tempo você vai durar? — Com as pernas invertidas, o ser
avançou na direção de Eammon. Um estalo, enfraquecido pela sombra que se
um lado paracalcificava. Caiu de joelhos e continuou avançando, engatinhando pela terra
ue havia nasapodrecida. — Não muito, não sozinho. Principalmente não agora, agora que
Wilderwood sente o cheiro de algo fresco.
o chamar um As olheiras de Eammon ficaram mais escuras quando ele se ajoelhou e
m tom mais pressionou a mão sangrenta na terra. Daquela vez, o fungo-de-sombra não
ser por umregrediu nem um pouco. Na verdade, continuou avançando, e as folhas em
que tocava no terreno da floresta se enrugavam e secavam.
Ele não conseguiria impedir aquilo sozinho. O corpo dela entrou em ação
tente. Então,antes que a mente tivesse tempo de impedi-la. Red se agitou em um
movimento brusco e, em um rompante, conseguiu se soltar da pessoa que a
r, o sussurro segurava. Esta ficou surpresa o suficiente para que ela escapasse, e a Segunda
fosse, tinhaFilha escorregou nas folhas enquanto recuava para se afastar da maré de terra
podre que avançava.
atrás dela. — Eammon olhou para ela, a frustração nos olhos se transformando em medo.
mos de maisBalançou a cabeça com veemência, mas Red o ignorou. Ela se esgueirou ao
longo da borda do fosso de sombras, abrindo e fechando as mãos, sentindo a
m pouco atrás magia da floresta crescer dentro dela. A magia a atraía para o Lobo, a união
e às cores daentre eles tornava mais fácil usá-la e direcioná-la. O espectro de lembranças
cionara mais sombrias começou a surgir, mas o medo que sentia por Eammon o
sobrepujava, não deixava espaço para mais nada. O poder corria por suas
m o queixo aveias, banhando-as de verde.
Fife balançou Wilderwood ainda parecia exaurida, já no limite. Quando Red mexeu os
que Eammon dedos, porém, os galhos estremeceram.
Eammon arreganhou os dentes. Ergueu o braço e acenou — volte —, mas
Red negou com a cabeça. Deu mais um passo, o poder crescendo…
E pisou em um galho.
ertidas, o ser O estalo foi alto. Red congelou, a mão estendida na direção de Eammon.
ombra que se Pela primeira vez desde que o conhecera, o Lobo parecia aterrorizado.
do pela terra A criatura levantou o nariz, farejando.
ra, agora que — Ah, aqui está. — A cabeça envolvida em sombras se virou para olhar
para Red. — Sangue fresco.
e ajoelhou e A palavra foi como um impulso. Os segundos pareceram se estender por
e-sombra nãomuito tempo, as batidas do coração marcando o compasso: tum, a criatura se
as folhas em lançou na direção dela; tum, a criatura levantou a mão apodrecida e escura
para Red, tum, as unhas outrora humanas se estenderam como garras.
trou em ação Tum, Eammon se colocou entre ela e a criatura. As garras o atingiram,
itou em um rasgando roupa e pele.
pessoa que a A magia girava dentro dela, a visão do sangue de Eammon enfim abrindo
, e a Segundaespaço para as lembranças de todas as formas que aquilo poderia dar errado.
maré de terraA magia estremeceu dentro dela, a facilidade que o casamento trouxera
escapando por entre os dedos enquanto Eammon caía no chão bem à sua
do em medo.frente. A magia não era a única forma de curar a brecha, porém, e o brilho da
esgueirou ao faca que ele deixou cair foi um lembrete claro e nítido mesmo enquanto sua
os, sentindo amagia deslizava para o caos.
Lobo, a união Malditas regras. Red agarrou a adaga e cortou a palma da própria mão.
e lembranças Levou-a à terra, deixando o próprio sangue regar a floresta. Sua vontade
Eammon ofoi um grito que passou arranhando a garganta e reverberando em todas as
rria por suaspartes do seu ser, concentrado demais para ser ignorado.
— Pare!
ed mexeu os O fosso de sombras obedeceu.
Não foi devagar. Não daquela vez. As beiradas da terra apodrecida
—, masretrocederam, passando por entre as raízes da sentinela, desaparecendo por
baixo delas. A árvore se reergueu com um bum, mandando ondas de choque
por todo o terreno da floresta. De forma vaga, Red percebeu que outras
de Eammon. pessoas no limiar do fosso caíam no chão, sem conseguir manter o equilíbrio
na terra que estremecia.
Um momento de silêncio, de quietude. A criatura a fitou com olhos
ou para olhararregalados, ainda boiando nas sombras. Eammon olhou da adaga suja de
sangue para a mão de Red na terra com uma expressão horrorizada.
estender por E algo em Red… mudou. A onda de magia se inverteu, não mais saindo,
a criatura semas entrando.
cida e escura Entrando e trazendo Wilderwood com ela.
Algo começou a deslizar contra sua mão na terra. Uma gavinha de uma
o atingiram, raiz, tentando encontrar uma abertura na pele dela. A floresta reivindicando
sua posse. Tinha experimentado o gosto de Red e agora queria mais.
nfim abrindo Se der seu sangue a Wilderwood, ela não vai parar por aí.
a dar errado. A dor a fez contrair a boca, mas o som que estrondou pela clareira não veio
nto trouxera dela, e sim de Eammon.
o bem à sua Ele se levantou e envolveu os ombros dela com as mãos ensanguentadas e
e o brilho dacobertas de cicatrizes, fazendo com que ela se levantasse também. A
enquanto suasensação das raízes tentando entrar pelo corte ficou mais aguda, depois cedeu
assim que ela tirou as mãos do chão.
Eammon se agachou e colocou as próprias palmas na terra, ainda
Sua vontademanchada com o sangue de Red. Não havia novos cortes na pele dele. Em
em todas as vez disso, mudanças como naquele dia na biblioteca, quando ele curara o
corte no rosto dela: cascas de árvore se fecharam em volta dos braços dele
como braçadeiras, as veias do pescoço e sob os olhos ficaram verdes. Um
brilho esmeralda cintilou nos olhos cor de âmbar até que não restasse nenhum
a apodrecida ponto branco.
arecendo por — Deixe-a — rosnou Eammon para a sentinela agora curada e para o resto
as de choquede Wilderwood que os cercava. A voz dele ressoava, cheia de camadas, como
u que outrasse ecoasse por entre as folhas. — Esta aqui não é sua.
r o equilíbrio Wilderwood estremeceu. Soltou um ruído, quase um suspiro.
A respiração de Eammon estava ofegante quando ele caiu de joelhos ao
u com olhos lado de Red. No peito dele brotaram três listras em escarlate e verde, mais
daga suja desangue fluindo enquanto ele rasgava um pedaço da barra da camisa para fazer
uma atadura desajeitada na mão da Segunda Filha.
mais saindo, Em seguida ele se sentou imóvel, os olhos buscando os dela enquanto o
verde ia se apagando, arregalados e aterrorizados e muito, muito cansados.
Um gemido dividiu aquele instante. Eammon se retesou.
inha de uma A criatura nas raízes da sentinela se debateu. Partes dela encolheram — as
eivindicandogarras que tinham cortado o peito de Eammon se contraíram de volta à forma
de mão humana, os olhos leitosos que estavam arregalados e grandes
diminuíram e ficaram azuis. A altura monstruosa caiu pela metade e as pernas
eira não veiose endireitaram, os ossos quebrados se curando enquanto um grito rasgava
sua garganta. Sombras chiaram, escapando do corte do braço dele.
nguentadas e A criatura metade homem, metade monstro caiu sobre as raízes enquanto
também. Ase debatia e chorava. Red tinha curado a brecha, mas não ele — não
depois cedeucompletamente.
Ela se virou.
terra, ainda — Nós assumimos a partir daqui. — O homem que a segurara logo que ela
ele dele. Eme Fife chegaram à clareira saiu da sombra das árvores.
ele curara o O cabelo dele era louro claro, com uma trança elaborada que caía sobre o
s braços deleombro até a longa barba, ainda mais clara que a pele branca. Anéis prateados
verdes. Umbrilhavam ao longo do comprimento dela, um estilo que Red só tinha visto
tasse nenhumnos livros de histórias. Os outros saíram das sombras, todos vestidos com os
mesmos tons de cinza e verde.
e para o resto O homem olhou para Red com uma expressão inescrutável.
madas, como — Obrigado.
Red conseguiu assentir. Sem a distração da floresta agitada e a missão de
de joelhos ao salvar Eammon, a visão de outros seres humanos em Wilderwood foi
e verde, mais chocante o suficiente para deixá-la sem palavras.
isa para fazer Agora que a brecha tinha sido fechada com segurança, Fife finalmente se
juntou a eles enquanto catavam galhos entre as árvores, reunindo-os para
a enquanto oimprovisar uma maca. Um deles puxou um rolo de esparadrapo da mochila.
— Cuidado para não tocar no corte — orientou Fife. — Ele precisa ser
coberto.
lheram — as Eammon se levantou, cambaleante.
volta à forma — Eu faço.
s e grandes Fife levantou uma sobrancelha enquanto olhava para os ferimentos de
de e as pernasEammon, mas entregou o esparadrapo mesmo assim. Devagar, parecendo
grito rasgavasentir dor a cada passo, Eammon se aproximou do homem nas raízes. Engoliu
em seco antes de envolver o braço dele, infectado por sombras.
zes enquanto Com a tipoia feita, Fife foi até Red, que ainda estava sentada no chão. O
ele — nãosangue escorria pelo corte na sua mão, enrolada em uma faixa de tecido da
camisa de Eammon. Eu vivo estragando as roupas dele, pensou ela, distraída.
— Esses são os aldeões? — A voz soou rouca enquanto ela se levantava,
logo que ela sentindo as pernas bambas. — Da Fronteira?
Fife assentiu, cruzou os braços e estreitou o olhar.
caía sobre o — E são descendentes dos exploradores que adentraram Wilderwood.
éis prateadosAntes que ela se fechasse e não deixasse mais ninguém passar, a não ser uma
ó tinha vistoSegunda Filha. — Ela meneou a cabeça. — Os registros oficiais dizem que
tidos com ostodos os exploradores morreram. Nenhum deles nunca mandou notícias.
“Eles não tinham como. — Fife deu de ombros. — Quando Wilderwood se
fechou, eles ficaram para trás, sem ter como voltar ou contatar o mundo
exterior. Eles envelheceram e tiveram filhos, que, por sua vez, envelheceram
a missão dee tiveram filhos também. Agora ocupam uma grande área aqui, provendo o
derwood foipróprio sustento.”
Ela olhou para as pessoas reunidas na clareira, todas observando Eammon
finalmente se com expressões ansiosas, todas vestidas como se tivessem saído de um túnel
indo-os parado tempo.
— E você me disse que estavam procurando um ponto fraco? O que isso
e precisa ser significa?
— Um lugar pelo qual Wilderwood permitiria a passagem deles.
Red deu uma risada fraca.
— Parece que encontraram um.
erimentos de — Geralmente encontram — disse Fife. — Wilderwood é mais fraca perto
r, parecendo dos limites ao norte. Precisa se proteger menos, eu acho. Eammon, Lyra e eu
ízes. Engoliuconseguimos até sair da floresta por lá, embora nunca consigamos nos afastar
muito e a sensação não seja muito agradável. — Ele contraiu o maxilar. —
a no chão. OMas os limites valleydianos são bem fortificados, e são eles que importam.
de tecido da Os aldeões colocaram o homem na maca improvisada. Ele gemeu
ela, distraída. baixinho, ainda preso entre humano e monstro. O olhar de Eammon se
se levantava, demorou nele por um tempo antes de se virar para o homem com os anéis no
cabelo, supostamente o líder.
— Mande notícias quando puder. — Apesar do ferimento no torso, a voz
Wilderwood. era firme. — Vocês têm um lugar onde mantê-lo?
não ser uma — O porão da taverna já foi usado para isso. É uma construção forte. — O
is dizem quehomem balançou a cabeça, fazendo os anéis prateados tilintarem. — Bormain
ajudou a construí-lo. Droga, Bormain estava bebendo lá dois dias atrás.
Wilderwood se — Essa expedição foi planejada? — A voz de Eammon soou fria.
tar o mundo O homem esfregou a boca, desviando o olhar do Lobo. Com um suspiro,
envelheceramassentiu uma vez.
, provendo o — Não adianta, Valdrek. — O tom de Eammon era de raiva controlada,
como se não tivesse muita energia para aquilo. — Mesmo que vocês
ndo Eammonconsigam passar pelo norte, não vão conseguir atravessar totalmente.
o de um túnel — Por que é que a floresta ainda está tão fraca? Ela deveria estar se
fortalecendo, começando a abrir as fronteiras novamente, e não as fechando
? O que isso para o caso de os monstros se libertarem da prisão. — Valdrek fez um gesto
com a cabeça em direção a Red. — Não é para isso serve sua sangue novo?
— É Lady Lobo. — O olhar de Eammon era cortante. — Não sangue
novo.
Mais absoluto silêncio.
is fraca perto — Entendi. — Valdrek olhou de Eammon para Red. — Bem, isso é
on, Lyra e eunovidade. Meus parabéns, Lobo.
os nos afastar Ao lado dele, Fife franziu as sobrancelhas e se levantou.
o maxilar. — — Ah.
Red sentiu o rosto queimar. Não tinha se dado conta de que receberia um
Ele gemeu título com o casamento.
Eammon se Eammon caminhou na direção deles, reto e empertigado, mas Red
m os anéis nopercebeu o esforço que isso exigia pelos lábios sem cor e por como a mão se
contorcia junto ao corpo.
torso, a voz — Não parece muito bom — comentou Fife.
— Parece mais grave do que é.
o forte. — O Provavelmente era mentira, mas o tom de Eammon não dava abertura para
. — Bormainqualquer discussão. Quando Red olhou para Fife, ele meneou a cabeça de
leve. Perguntas não adiantariam de nada.
— Vou na frente, então. Para dizer a Lyra que resolvemos tudo.
m um suspiro, Fife foi correndo em direção à linha de árvores, resmungando baixinho,
mas Red ouviu a expressão filho da mãe sempre se martirizando.
a controlada, A dor transparecia na expressão de Eammon. A bainha rasgada da camisa
o que vocêsdeixava antever os lanhos sangrentos e sujos de lama. Ele abriu a boca e a
fechou de novo, engolindo em seco. Red não sabia como quebrar o silêncio e
eria estar secontraiu os lábios.
as fechando Atrás dele, o homem infectado pelas sombras resmungava coisas sem
fez um gestosentido. Red olhou por sobre os ombros e viu que os olhos cegos e leitosos do
sujeito estavam pousados sobre eles.
sangue — Solmir mandou dar um oi, Lobo — murmurou Bormain.

Bem, isso é

receberia um

o, mas Red
mo a mão se

abertura para
a cabeça de

do baixinho,
A dor transparecia na expressão de Eammon. A bainha rasgada da camisa
deixava antever os lanhos sangrentos e sujos de lama. Ele abriu a boca e a
fechou de novo, engolindo em seco. Red não sabia como quebrar o silêncio e
contraiu os lábios.
Atrás dele, o homem infectado pelas sombras resmungava coisas sem
sentido. Red olhou por sobre os ombros e viu que os olhos cegos e leitosos do
sujeito estavam pousados sobre eles.
— Solmir mandou dar um oi, Lobo — murmurou Bormain.
14

Eammon ficou congelado no lugar, encarando com os olhos arregalados e


uma expressão que era um misto de terror e raiva a terra e os escombros da
floresta que a clareira tinha se tornado. Depois, agarrou o cotovelo de Red
com força e a levou até as árvores, tão rápido que ela quase caiu.
Solmir. Red tentou se lembrar de onde conhecia o nome, encontrar seu
significado entre as imagens mentais de velas e pedras que ele evocava.
Quando conseguiu, quase tropeçou.
Valchior, Byriand, Malchrosite, Calryes, Solmir. Os Cinco Reis.
Abriu a boca para perguntar a Eammon por que Bormain teria mencionado
o nome de um dos Cinco Reis, mas o som abafado de dor que emitiu eclipsou
a pergunta. A mão dela ardeu como se estivesse pegando fogo sob o curativo
improvisado que tinham feito com a camisa do Lobo, e Red sentiu os joelhos
fracos enquanto levava a mão ao peito.
Sons calmantes, mãos cálidas tirando as bandagens. O corte que ela fizera
era uma linha vívida escarlate parecendo já estar infeccionada por um mês em
questão de instantes. A dor latejava no ritmo de sua pulsação, um eco dela
mesma martelando um pouco abaixo do cotovelo, em volta do anel da Marca
do Pacto.
Um pensamento fugaz, mas claro: Wilderwood não está feliz comigo
Tinha impedido que algo acontecesse, algo que a floresta queria. O mesmo
que quisera quatro anos antes, na primeira vez que experimentara seu sangue.
Eammon a impedira naquela época e agora impedira de novo, e
Wilderwood estava ficando cada vez mais impaciente com os dois.
Aquelas mãos cálidas cobriram as dela. Um sopro e a dor pulsante
desapareceu, tanto da mão quanto da Marca. Outro corte se abriu na palma da
mão já lacerada de Eammon, um corte exatamente igual ao que ela fizera em
si mesma, transformando as linhas da vida e do coração em encruzilhadas
arregalados e confusas. Ele praguejou entredentes, a mão ilesa segurava o antebraço, onde
escombros da a Marca do Pacto estava oculta sob a manga rasgada da camisa.
ovelo de Red Absorvendo a dor dela, de novo. Sofrendo por ela, de novo.
— Você não precisava fazer isso — sussurrou Red, sentindo-se
encontrar seuconstrangida de repente.
ele evocava. Forçou-se a se levantar, apesar das pernas bambas, e viu a pele imaculada e
sem cicatrizes ao virar a mão. Havia manchas de sangue seco nos pulsos.
— Era exatamente o que eu ia dizer.
mencionado Eammon se afastou dela, parecendo aguentar bem a dor que absorvera.
mitiu eclipsouPassou uma das mãos trêmulas pelo cabelo e manteve a outra no quadril. As
ob o curativo madeixas presas se soltaram e escorreram pelas costas como uma mancha de
tiu os joelhos tinta.
— Pelo amor de todos os Cinco Reis, Redarys! Que parte de ficar na torre
que ela fizera você não entendeu?
r um mês em Red cruzou os braços. A pele que ele curara estava macia e um tanto
um eco delasensível.
nel da Marca — Eu vi você.
— Você me viu?
feliz comigo. — Eu tive uma… visão, eu acho.
ia. O mesmo Ele arqueou as sobrancelhas, incrédulo.
a seu sangue. — Uma visão.
de novo, e — Foi exatamente como da primeira vez. Na noite em que cortei a mão e
sangrei na floresta, só que mais forte. Mais vívida. Como se a nossa ligação
dor pulsantefosse… — Ela parou de falar e virou o rosto, sentindo as bochechas
u na palma da queimarem de repente. Levou os dedos até o tecido que cobria a Marca. —
ela fizera emComo se fosse mais profunda agora, depois do enlace.
encruzilhadas Ela usou a palavra enlace em vez de casamento em uma tentativa de tornar
ebraço, onde a situação menos constrangedora, ainda que o significado fosse o mesmo.
Mesmo assim, ainda tinha dificuldades de se referir ao laço, àquela coisa
frágil que jamais deveria ter.
sentindo-se O silêncio pesou no ar frio. Eammon enfim suspirou, esfregando o rosto.
— Bem — sussurrou ele. — Isso já é alguma coisa.
e imaculada e Red contraiu os lábios.
— Então isso… — Ele fez um gesto com a mão entre eles. — Isso faz com
que a gente consiga ver um ao outro. — Ele deu uma risada seca. — Em
ue absorvera. momentos de perigo.
o quadril. As — É o que parece.
ma mancha de — Que maravilha. — Eammon esfregou os olhos de novo. — O que foi
que você viu?
ficar na torre — Suas mãos. — Red tirou uma folha do cabelo, grata por poder olhar
para algo que não fosse o Lobo. — Como da última vez. Mas também vi
a e um tantoBormain e a sentinela. — Ela fez uma pausa. — Foi assim que soube que
você precisava de ajuda. Eu vi você se cortar, e vi que não estava funcionado.
A folha que Red desembaraçou do cabelo caiu no chão, amarronzada e
com as pontas verdes. Ao tocar na terra da floresta, aos poucos foi perdendo a
cor.
— Acho que, de agora em diante, devemos evitar o perigo ao máximo.
— Isso é bem difícil por aqui — retrucou ela.
— É o melhor que consigo no momento.
ortei a mão e Eammon se virou e o movimento repuxou os ferimentos no torso. Ele
nossa ligação praguejou entredentes, o sangue voltando a molhar o tecido da camisa.
s bochechasRecostou-se em uma árvore, como se, de repente, não conseguisse ficar de
a Marca. — pé.
— Esses cortes parecem sérios, Eammon.
tiva de tornar Olhou para ela ao ouvir o próprio nome — com o rosto ruborizado, Red
se o mesmo.percebeu que era a primeira vez que tinha se dirigido ao Lobo usando o nome
àquela coisa dele em toda aquela semana depois de se conhecerem.
Bem, ele era marido dela agora. Não poderia chamá-lo de Lobo para
sempre.
— Você consegue se curar? — perguntou apressada, tentando espantar o
eco do nome dele. — Como fez com a minha mão?
Isso faz com — Não é possível curar a si mesmo. — Ele fechou os olhos e apoiou a
seca. — Em cabeça no tronco. — Equilíbrio, lembra? A dor precisa ir para algum lugar.
Ela deu um passo hesitante e estendeu a mão.
— Eu poderia…
— O que foi — Não. — Ele abriu os olhos. — Não poderia. Você já fez mais que
suficiente por um dia, Redarys. Não vamos acrescentar mais mutilações ao
r poder olharmeu corpo à lista.
s também vi Aquilo a magoou mais do que estava disposta a admitir. Red afastou a
ue soube que mão.
a funcionado. — Você prefere ser mutilado em paz, então?
marronzada e — Já passou pela sua cabeça que eu sequer teria sido mutilado se não
oi perdendo ativesse sido obrigado a te proteger?
— Você precisava de mim.
As palavras soaram pesadas como o machado de um carrasco. O Lobo
desviou o olhar.
— Acho que precisava.
no torso. Ele Red levantou umas das sobrancelhas em uma expressão irônica, embora o
o da camisa. coração tivesse começado a bater um pouco mais rápido.
uisse ficar de — Não foi tão difícil de admitir, não é?
A risada amarga virou uma careta, a mão pressionada com mais força
contra a barriga. Red olhou preocupada para o sangue nos dedos dele.
orizado, Red — Você…
ando o nome — Está tudo bem.
Com os lábios contraídos numa linha fina, ela voltou a atenção ao próprio
paraferimento, já que ele parecia determinado a ignorar os dele.
— Não doeu quando me cortei — comentou, flexionando os dedos. — Só
do espantar odepois. — Ela fez uma pausa. — Isso também já aconteceu antes.
A noite em que tentara desafiar Wilderwood, aquela noite com Neve,
s e apoiou a sangue e uma visão que não entendia. Depois de terem sido salvas da
carnificina, a mão dela parecia pegar fogo, uma dor latejante e forte que não
poderia vir do corte fino da palma. Os médicos ficaram desnorteados, sem
saber o que fazer além de lhe dar vinho aguado até a dor passar. Passou, no
ez mais que fim das contas, mas só depois de dois dias.
mutilações ao Eammon se virou, ainda apoiado na árvore.
— É Wilderwood — disse, por fim. — Tem algo a ver com a ligação com
ed afastou a ela pelo sangue.
A resposta pareceu truncada, como se ele tivesse se detido antes de
terminar. O Lobo não disse mais nada, porém, apenas virou um pouco o rosto
ilado se nãode modo que ela pudesse ver somente o perfil dele.
Red franziu as sobrancelhas, limpando o sangue seco que manchava o
pulso.
sco. O Lobo — Acho que também tem algo a ver com o fato de estar irritada. — Disse
aquilo para ver se ele continuava, mas o único sinal de que ele talvez tivesse
mordido a isca foi a forma como ele engoliu em seco. — Wilderwood não
ca, embora o pareceu muito feliz por não a termos deixado fazer… seja lá o que ela queira
fazer.
O Lobo não olhou para ela.
m mais força — Tem isso também.
Com as mãos quase limpas, Red cruzou os braços e arqueou uma das
sobrancelhas.
— Também dói assim em você? Todas as vezes?
ão ao próprio — Antes doía. — Com uma careta, Eammon se desencostou do tronco da
árvore e deu um passo à frente. — Vamos.
dedos. — Só Red o seguiu e, por um minuto, o único som em Wilderwood foi o das
botas dele na terra.
e com Neve, — Ele mencionou um dos Cinco Reis — disse Red, por fim, porque não
do salvas daconseguiu formular uma pergunta delicada que incluísse todas as suas
forte que nãodúvidas. — Solmir. Era ele que deveria ter se casado com Gaya. Por quê?
rteados, sem À frente dela, Eammon se virou ligeiramente para fixar um dos olhos cor
r. Passou, no de âmbar nela. Depois de um longo suspiro, virou-se e continuou caminhando
entre a vegetação rasteira.
— O que você sabe sobre o que existe na Terra das Sombras?
ligação com — Nada. Mais ou menos como todo o resto. Não sei nada além de mitos e,
até agora, parece que eles são um monte de baboseira.
ido antes de — Eles têm um fundo de verdade, sim, mas em sua maioria são bobagens
pouco o rostomesmo. A Terra das Sombras aprisiona as criaturas de sombras, os monstros
místicos e os Antigos; aqueles que pareciam mais deuses do que monstros. —
manchava o O Lobo falava sobre os monstros com leveza, empurrando os galhos para que
pudessem atravessar a floresta escura. — Mas os Cinco Reis também estão
ada. — Disselá.
alvez tivesse Ela parou de caminhar, boquiaberta.
derwood não — Mas você disse que os Reis não estão aqui.
ue ela queira — Eles não estão aqui. Estão na Terra das Sombras. E, ao contrário
daquilo em que a atual religião acredita, eu não tenho como libertá-los. Não
sem libertar todos os seres que habitam a Terra das Sombras junto com eles,
destruindo toda Wilderwood. E garanto que ninguém quer isso. — Eammon
eou uma dasafastou um galho e o ficou segurando para que pudessem passar. —
Wilderwood e eu podemos não concordar em relação aos métodos, mas
estamos de acordo quanto a isso.
do tronco da Ela pensou naquele pedaço de floresta dentro dela, no pedaço maior dentro
dele, a briga de empurra-empurra contra algo que, ao mesmo tempo, fazia
od foi o das parte dela e era alheia a ela.
— Como foram parar lá?
, porque não — Fizeram um pacto. Você conhece essa parte. Eles fizeram um pacto para
odas as suas construir a Terra das Sombras, para construir um lugar onde pudessem
aprisionar os monstros. Wilderwood aceitou, mas, para conseguir aquilo,
dos olhos corprecisava de uma quantidade imensa de poder.
caminhando Ele contava tudo com a voz só um pouco tensa, embora os ombros
estivessem rígidos e ele mantivesse uma das mãos pressionando a barriga
enquanto andava, como se algo pudesse cair caso não segurasse tudo junto.
m de mitos e, — Antes, a magia fazia parte do mundo — continuou ele. —
Simplesmente… existia para ser usada por qualquer pessoa que conseguisse
são bobagens aprender. Para construir a Terra das Sombras, Wilderwood precisou sugar
os monstrostoda a magia e aprisioná-la. Ela criou as sentinelas e a Terra das Sombras
monstros. —logo abaixo.
lhos para que — E os Guardiões.
ambém estão — Também. Wilderwood precisava de ajuda para manter aquela nova
prisão. Ciaran e Gaya tinham um senso de momento muito ruim. — Eammon
fechou a mão que não segurava a barriga. — Cinquenta anos depois do Pacto,
os Reis decidiram que queriam a magia de volta. Tentaram desfazer tudo
ao contrário aquilo ao cortar a sentinela na qual tinham feito o acordo. Mas aquilo só
ertá-los. Não serviu para abrir um buraco para a Terra das Sombras que sugou os Reis e os
nto com eles,prendeu lá dentro, junto com os monstros que eles mesmos tinham banido.
— EammonWilderwood leva os pactos muito a sério. Foi quando fechou os limites da
m passar. —floresta também… Não queria mais ninguém tentando voltar atrás nos pactos
métodos, masou fazendo novos. — Ele deu de ombros de forma artificial e dolorida. —
Tem uma lição de moral aí em algum lugar. Pessoas com poder se ressentem
maior dentroao perdê-lo e ter muito poder por tempo demais pode transformar qualquer
tempo, faziaum em vilão.
Red sentiu nas têmporas o início de uma dor de cabeça.
— Isso ainda não explica por que Bormain mencionou Solmir, já que todos
m pacto paraos Reis estão lá. Por que ele especificamente?
de pudessem Ao ouvir o nome, Eammon contraiu os músculos das costas, mas manteve
eguir aquilo,a voz neutra.
— Vai saber. Bormain caiu por uma brecha direto na Terra das Sombras.
a os ombrosNão temos como saber as coisas horríveis que ele deve ter visto. — Logo à
do a barrigafrente, o portão da Fortaleza se sobressaía por entre a névoa. — Não pense
muito nisso. A infecção por sombras afeta tanto a mente quanto o corpo.
uou ele. — Red estreitou os olhos, mas não retrucou.
e conseguisse Eammon tocou no portão.
ecisou sugar — Fique dentro dos muros da Fortaleza pelo resto do dia — disse ele,
das Sombras enquanto o abria. Lançou um olhar sério por sobre o ombro. — Estou falando
sério, Red. Wilderwood está agitada desde a sua chegada e, toda vez que
prova o seu sangue, tudo piora. — Abriu um sorriso cansado. — Eu salvei
aquela novavocê, você me salvou. Estamos quites agora. Não se meta em outra situação
— Eammonda qual precisará ser salva, pelo menos por um ou dois dias.
ois do Pacto, — O mesmo vale para você.
desfazer tudo
Mas aquilo só — Vou fazer o possível. — Eammon passou cambaleando pelo portão e
u os Reis e ostropeçou em uma pedra solta. Ele cambaleou de leve, apertando os ferimentos
nham banido.na barriga. — Pelo amor de todos os Reis.
os limites da — Tem certeza de que não quer que eu…
ás nos pactos — Absoluta.
dolorida. — A porta da Fortaleza se abriu, mostrando a silhueta esbelta de Lyra com
se ressentem seu cabelo encaracolado.
mar qualquer — E quando é que vocês planejavam nos contar que se casaram?
Red parou no meio do pátio.
— Eu…
, já que todos — Que ótimo — resmungou Eammon, cambaleando pela colina com a
camisa ensanguentada grudando na pele. — Eu vou matar Fife.
mas manteve

das Sombras.
o. — Logo à
— Não pense

— disse ele,
Estou falando
oda vez que
— Eu salvei
utra situação
— Vou fazer o possível. — Eammon passou cambaleando pelo portão e
tropeçou em uma pedra solta. Ele cambaleou de leve, apertando os ferimentos
na barriga. — Pelo amor de todos os Reis.
— Tem certeza de que não quer que eu…
— Absoluta.
A porta da Fortaleza se abriu, mostrando a silhueta esbelta de Lyra com
seu cabelo encaracolado.
— E quando é que vocês planejavam nos contar que se casaram?
Red parou no meio do pátio.
— Eu…
— Que ótimo — resmungou Eammon, cambaleando pela colina com a
camisa ensanguentada grudando na pele. — Eu vou matar Fife.
INTERLÚDIO
VALLEYDIANO IV

— Dinheiro nenhum será capaz de fazer aquela caravana avançar.


Belvedere, o Conselheiro do Comércio, era um homem arrumado e
ascético, com cabelo escuro cortado bem rente à cabeça e apenas alguns fios
grisalhos nas têmporas. O nariz era forte e proeminente, o que lhe conferia
uma beleza admirada tanto por homens quanto por mulheres. A aparência,
porém, era apenas parte do encanto. Também tinha uma voz aveludada e
macia, do tipo que era fácil de ouvir, mesmo quando trazia péssimas notícias.
Como Conselheiro do Comércio, costumava fazer isso com certa
frequência.
— Tem muito mais neve no estreito alperano do que o esperado para esta
época do ano — continuou Belvedere. — Ainda é possível passar, mas não
por muito mais tempo. A caravana não quer se arriscar a ficar presa e sem ter
para onde sair.
— Inaceitável.
A palavra era dura, mas a voz de Isla, não — de onde Neve estava sentada,
na outra extremidade da mesa, a mãe parecia mais pálida do que o feixe de
luz do sol que passava pela janela. Raios dourados envolviam a cabeça e
olheiras profundas marcavam o rosto da Rainha. Já fazia quatro dias que não
parecia nada bem, desde a noite que ela e Neve tinham jantado juntas;
embora ninguém tivesse feito comentários diretos a respeito do assunto, as
pessoas estavam começando a notar.
Isso deixava Neve nervosa.
Ao seu lado, Kiri permanecia sentada, ao lado da Suma Sacerdotisa, com a
expressão inescrutável. Tealia, outra sacerdotisa da Ordem, estava sentada do
outro lado. Sua demonstração ostensiva de que estava ouvindo era um grande
contraste com a calma de Kiri. De acordo com Kiri, o que Tealia mais queria
era ser nomeada herdeira de Zophia, e sabia que a melhor forma de fazer isso
era se fazer ser notada como uma opção atraente para Isla. Talvez houvesse
uma cerimônia de votação, mas a posição de herdeira seria decidida quase
arrumado eque exclusivamente com base em uma reunião entre a Suma Sacerdotisa e a
as alguns fios Rainha, e todos sabiam disso.
lhe conferia Como se estivesse ouvindo os pensamentos de Neve, os olhos frios e azuis
A aparência, de Kiri pousaram nela, mas se desviaram logo depois.
aveludada e — O carregamento de grãos alperanos é o maior que recebemos no ano.
mas notícias. Ele alimenta mais pessoas do que todas as outras importações juntas. — Isla
com certa mexeu a cabeça, mas de leve, como se o movimento a deixasse enjoada. —
Você acha que podemos distribuir cargas de azeite e chá para o povo no
ado para estapróximo outono? Vai haver uma revolta.
sar, mas não Belvedere ergueu as mãos.
esa e sem ter — Eu já disse isso para eles. Nós oferecemos muito dinheiro para os
Duques. O Segundo ia aceitar, mas o Primeiro e o Terceiro ganharam dele no
voto. Propus cruzarem por Meducia e mandarem a carga por lá, mas a
tava sentada,cordilheira Cevelden está na temporada de deslizamentos de pedras, o que
ue o feixe deexige uma viagem marítima, então essa alternativa também encontrou
m a cabeça e resistência.
dias que não Neve poderia ter dito isso para ele. As cargas de Meducia para o norte
ntado juntas; eram sempre feitas pelo mar ao longo de todo o ano, exceto na primavera,
o assunto, asquando as árvores que cresciam na cordilheira Cevelden fortaleciam o chão o
suficiente para evitar deslizamentos. A cordilheira era o único caminho por
terra de Meducia para Valleyda — assim, naquele verão, usar transporte
dotisa, com amarítimo seria necessário e representaria um grande custo tanto em termos de
va sentada dotempo quanto de dinheiro. Valleyda era isolada do mar, e os grãos teriam de
ra um grandevir de Alpera, atravessando toda Meducia para chegar até a costa, passando
a mais queria pela costa florianesa para finalmente atravessar o território de Floriane até
de fazer issochegar a Valleyda. E, com a atual agitação em Floriane, era improvável que a
vez houvesse carga conseguisse chegar a Valleyda.
ecidida quase Ao que parecia, Belvedere precisava de uma ou duas lições com mestre
cerdotisa e a Matheus.
— A costa florianesa, então. — As palavras foram proferidas por Zophia, e
frios e azuistodos se empertigaram quando ela começou a falar. Até mesmo Neve, que se
odiou um pouco por causa disso. — Parece ser a nossa única opção, quer os
emos no ano.Duques gostem disso ou não. Proponha o mesmo preço exorbitante que
untas. — Isla propôs antes e diga para usarem o dinheiro para enviar o carregamento por
e enjoada. —Meducia até o mar, de onde poderá seguir para o Porto de Floriane.
a o povo no — Mas e quanto aos insurgentes, Vossa Santidade? — A seu favor,
Belvedere não permitiu que a voz aveludada soasse irritada, mesmo que o
brilho de irritação tenha cintilado nos seus olhos. Talvez Neve devesse lhe
eiro para os dar mais créditos. — Qualquer coisa que enviarmos para o Porto de Floriane
aram dele no será roubada por aqueles que se opõem à nossa anexação.
or lá, mas a — Mate-os, então. — Tealia assentiu, como se concordando com a própria
pedras, o quesugestão, aquela expressão de olhos arregalados em falso interesse ainda no
m encontrourosto. — É um crime sagrado roubar de Valleyda. Eles já deveriam saber
disso, ainda mais agora que acabamos de enviar a Segunda Filha. Ninguém
para o nortenos condenaria por ensinar essa lição.
a primavera, Terrível, e mais terrível ainda por ser verdade. Todo o poder de Valleyda
iam o chão ose sustentava na religião. As sacerdotisas valleydianas, por causa da
caminho por proximidade com Wilderwood, tinham mais poder de oração do que as de
ar transporte qualquer outro país. As pessoas vinham de todo o mundo para fazer súplicas
em termos de no Santuário de Valleyda, e os outros reinos enviavam riquezas na forma de
ãos teriam de tributos de orações por tudo, de prosperidade ao nascimento de herdeiros.
sta, passando Aquilo por si só já era suficiente para fazer todo o continente respeitar as leis
Floriane atévalleydianas, e o tributo recente de uma Segunda Filha só aumentava a
rovável que adevoção. Todos ainda se lembravam muito bem das histórias de monstros que
fugiram de Wilderwood um ano depois da morte de Gaya e que não
com mestredesapareceram até que Kaldenore entrasse na floresta. O sacrifício de Red
não trouxera o retorno dos Reis, mas os monstros também não tinham
por Zophia, e voltado. Mesmo para aqueles que não acreditavam totalmente nas histórias
Neve, que se antigas, a vida de uma jovem era um preço pequeno a se pagar pela garantia
pção, quer os total de que aquilo não se repetiria. Até onde o poder político ia, Valleyda
orbitante queestava na melhor posição.
gamento por Neve cerrou os dentes e os dedos, cravando as unhas na palma das mãos
sob a mesa.
A seu favor, — Não permitirei o uso de força contra os florianeses.
mesmo que o Cinco pares de olhos se voltaram de súbito para ela, todos surpresos,
e devesse lhe menos os de Kiri. Isla, do outro lado da mesa, ficou olhando, com olhos
o de Floriane arregalados, para a filha que lhe restava.
Belvedere pigarreou, recuperando-se primeiro.
om a própria — A Primeira Filha está certa. — Ele concedeu. — Queremos que os
esse ainda noflorianeses trabalhem conosco. Mesmo que não estejam satisfeitos por serem
veriam saber parte de Valleyda, que pelos menos aceitem. O assassinato de civis só servirá
ha. Ninguém para fazer com que a opinião pública azede ainda mais.
Tealia pareceu intimidada, mas Zophia apenas fez um aceno com a mão,
de Valleydacomo se matar insurgentes florianeses não tivesse a menor importância para
or causa daela. O homem continuou:
do que as de
azer súplicas — Por isso, vamos casar Neverah com Arick. Oficializaremos o status
na forma deprovincial de Floriane, de modo que o porto se torne nosso. O povo amava os
de herdeiros.pais dele antes de morrerem, então é possível que a união com alguém da
speitar as leis linhagem Valedren faça com que mudem de ideia ou que pelo menos se
aumentava a distraiam com um espetáculo. — Os olhos reumosos da Suma Sacerdotisa se
monstros quevoltaram para Neve. — Dentro de uma semana.
a e que não Neve sentiu a boca seca demais para responder, aceitando ou recusando ou
fício de Red o que quer que fosse. O casamento era algo que tinha conseguido adiar por
não tinhamquatro anos, bem mais do que deveria; com o imenso sacrifício da irmã para
nas históriasWilderwood, ninguém prestou muita atenção aos preparativos. Parecia algo
pela garantiadistante e abstrato com que teria de lidar depois, sempre depois.
ia, Valleyda Depois tinha acabado de virar agora, e Neve só queria se levantar e fugir
daquela sala e continuar correndo.
ma das mãos — Não vamos nos apressar. — A voz de Kiri era tranquila, mas ecoou nas
paredes. Estava sentada com as mãos cruzadas dentro das amplas mangas
brancas, a cabeça inclinada respeitosamente em direção à Suma Sacerdotisa.
os surpresos, — Eu entendo o seu raciocínio, Vossa Santidade, e, em outras circunstâncias,
o, com olhosaté concordaria. Mas Tealia está correta, pelo menos em uma coisa.
A outra sacerdotisa enrubesceu.
— A devoção realmente está maior do que nunca — continuou Kiri. —
emos que os Depois do nascimento de uma Segunda Filha, depois de mandá-la para
os por serem Wilderwood conforme planejado. E veja! — Ela abriu as mãos pálidas. —
vis só serviráNão há monstros. Uma vez mais, cumprimos o nosso dever e mantivemos o
continente seguro. — Ela cruzou as mãos novamente, com os olhos
com a mão, brilhando. — Talvez o sacrifício não tenha trazido os Reis de volta…
ortância para Neve pensou no Santuário, nos galhos e no sangue, e no pingente feito com
o fragmento da casca de árvore escondido na gaveta da sua escrivaninha.
mos o status — … ainda assim, o nascimento dela foi um sinal de que estão ouvindo.
ovo amava osDe que eles desejam liberdade, de que nos mandam sacrifícios na esperança
m alguém da de que um seja o suficiente para aplacar o Lobo. E confiam a Valleyda,
lo menos se confiam a nós, essa missão sagrada. — Palavras fervorosas, mas ditas em tom
acerdotisa se neutro. Os olhos frios de Kiri pousaram em Neve de novo. — Se nós
lembrarmos Alpera disso, de forma eficaz, eles farão tudo que pedirmos.
recusando ouAssim como todos os outros.
ido adiar por O silêncio pairou na sala enquanto todos avaliavam as palavras de Kiri. A
da irmã paraSuma Sacerdotisa se virou para Kiri.
Parecia algo — Verdade, Kiri — concedeu ela. — Mas como propõe que os façamos se
lembrar disso?
vantar e fugir Por um minuto longo e horrível, Neve imaginou as possibilidades, o que
sabia que poderia ser feito com as estranhas recompensas do tempo que
mas ecoou nas passavam no Santuário. Magia. Magia que Kiri afirmava que tinham tirado
mplas mangasda própria Terra das Sombras.
Sacerdotisa. Ainda era difícil para Neve engolir aquilo — mesmo com a prova diante
rcunstâncias, dos olhos, anos de agnosticismo eram difíceis de superar. Mas realmente não
havia outra explicação, e os resultados eram inegáveis. Os pequenos
experimentos que vira tinham sido bastante convincentes. Com aquele poder,
uou Kiri. — podiam fazer as árvores secarem, os campos morrerem, terras férteis ficarem
andá-la paraescuras e frias.
s pálidas. — Kiri abriu um sorriso.
mantivemos o — Com oração, é claro.
m os olhos O aperto no peito de Neve cedeu, mas só um pouco.
— Desde o seu retorno, Arick tem se mostrado muito mais devoto —
nte feito comcontinuou Kiri. — Ele passa muitas noites em oração no Santuário,
meditando para saber como ajudar melhor nossos países. Acho que ele ficaria
feliz em nos ajudar, mesmo antes do casamento com Neverah.
stão ouvindo. Neve sentiu outro aperto no coração.
na esperança — Proponho que Arick acompanhe a mim e a um grupo selecionado até a
a Valleyda, costa florianesa — continuou Kiri. — Vamos fazer uma oração para liberar o
ditas em tomporto.
. — Se nós Todos arregalaram os olhos. O Porto de Floriane ficava em uma baía
ue pedirmos. pitoresca e sua boca costumava ficar repleta de algas no verão, às vezes em
um volume tal que bloqueava o tráfego de barcos. Quando aquilo acontecia,
as de Kiri. A era necessário que trabalhadores mergulhassem para removê-las
manualmente. A Ordem rezava para que as águas continuassem claras no
os façamos se início do verão, para que os Reis, de alguma forma, impedissem que as algas
crescessem em excesso, bloqueando a passagem dos navios. Em alguns anos
dades, o que as algas eram um problema, em outros, não. Neve achava que a oração tinha
o tempo quemuito pouco a ver com aquilo.
inham tirado Zophia ergueu uma das sobrancelhas grisalhas.
— As orações são mais eficazes em Santuários, Kiri, não em portos. E as
prova dianteorações para a temporada de navegação já foram feitas semanas atrás, quando
ealmente nãoos florianeses pagaram os impostos.
Os pequenos Kiri baixou a cabeça.
aquele poder, — Verdade, mas acredito que os Reis verão a necessidade de um milagre
érteis ficaremnesses tempos de tanta agitação e farão um. Acredite quando eu digo: quando
fizermos nossas orações no porto, a boca da baía vai ficar totalmente limpa, e
não haverá dúvidas de que aquilo é resultado direto das súplicas.
Outra longa pausa. A boca de Zophia pareceu ainda mais enrugada; o
rosto, inescrutável.
is devoto — — Tanta fé… — sussurrou ela.
o Santuário, — Uma ideia bonita, mas irreal. — Tealia não mostrou a língua, mas, pelo
ue ele ficariatom, era exatamente o que queria fazer. Os olhos se alternaram entre a Suma
Sacerdotisa e Kiri. — Mesmo que os Reis atendam ao seu pedido, quem pode
afirmar que os insurgentes florianeses não vão matar vocês antes de
cionado até a conseguirem fazer suas orações? Você está colocando muita fé na devoção
para liberar odeles.
— Ao contrário. — O sorriso de Kiri era afiado. — Estou colocando toda a
m uma baíaminha fé nos Cinco Reis. Ou você não acha que eles são capazes de nos
às vezes emproteger contra alguns rebeldes insatisfeitos, Tealia?
ilo acontecia, A outra sacerdotisa calou a boca, ruborizando. Zophia olhou de uma para a
removê-lasoutra, franzindo o cenho, depois olhou para a Rainha.
em claras no Na extremidade da mesa, Isla estava imóvel e silenciosa, o olhar distante.
que as algas Neve sentiu o punho do medo apertar ainda mais o seu coração.
m alguns anos — Sua fé é admirável — disse a Suma Sacerdotisa, por fim, quando ficou
oração tinhaclaro que Isla não responderia. Ela se virou para Kiri. — E acho que vale a
pena tentar, embora eu tenha certeza de que a Rainha e eu estamos de acordo
quando digo que vocês precisarão de uma escolta.
portos. E as — Só um ou dois guardas serão suficientes. — O sorriso não chegou aos
atrás, quandoolhos de Kiri. — Eu sinceramente acho que não será necessário mais que
isso.
Zophia não parecia convencida, mas não insistiu.
e um milagre — Vou aprovar, mas precisamos agir bem rápido. Enviar a carga por
digo: quando Floriane significa mais dias de viagem até a chegada dos grãos. Se depois da
ente limpa, esua vigília a situação continuar instável, podemos voltar a falar em
casamento.
enrugada; o — Não sei por que não continuamos com o assunto assim mesmo. —
Belvedere entrou na conversa depois de alguns minutos apenas ouvindo. —
Decerto não vai atrapalhar.
ua, mas, pelo Os olhos dele estavam pousados em Neve, esperando sua resposta, mas foi
entre a Suma Kiri que respondeu:
o, quem pode
ês antes de — Claro que não. Um casamento real é um evento alegre e feliz. Se for
é na devoçãopossível, Neverah deve ter tempo para planejar tudo da forma que achar mais
adequado.
ocando toda a A onda de alívio que queria inundá-la por inteiro foi impedida pela
pazes de nospreocupação. Neve contraiu a mandíbula enquanto observava a sacerdotisa.
Algo naquilo tudo parecia uma negociação. Qualquer que fosse a ajuda que
de uma para aKiri oferecesse viria com a expectativa de ser recompensada.
A única questão era qual recompensa seria essa.
lhar distante. Os detalhes foram organizados, as datas, definidas, e os guardas,
escolhidos. Kiri, Arick, e suas sacerdotisas — selecionadas pelas própria
quando ficou Kiri, para que a Suma Sacerdotisa não precisasse se extenuar com aquilo —
ho que vale apartiriam dali a dois dias, depois de um anúncio enviado para a capital
mos de acordoflorianesa. Os Três Duques de Alpera ainda estavam visitando, pois ainda não
tinham voltado para casa depois de verem a partida de Red, então Belvedere
o chegou aospoderia levar a proposta para eles antes do anoitecer.
rio mais que Neve permaneceu no lugar enquanto Belvedere e as sacerdotisas deixavam
o aposento, todos fazendo uma reverência para Isla antes de sair. Kiri
sustentou o olhar de Neve enquanto fazia sua mesura, ainda com aquele
a carga por sorriso leve e frio no rosto.
Se depois da — Talvez nos vejamos esta tarde, Primeira Filha. Planejo orar.
a falar em Com isso, ela saiu do aposento.
Neve se levantou devagar e se encaminhou para a extremidade da mesa
m mesmo. —comprida até chegar à mãe. De perto, conseguia ver a camada de suor
ouvindo. —cobrindo o cenho de Isla e o modo como as mãos retorciam o vestido.
— Mãe? — A voz saiu hesitante. — Precisa de ajuda para voltar para os
osta, mas foi seus aposentos?
Passou-se um tempo, e Neve achou que a mãe talvez não tivesse ouvido.
Mas Isla enfim negou com a cabeça e se levantou, embora as pernas não
feliz. Se forparecessem firmes.
ue achar mais — Não. Eu posso estar doente, mas não inválida.
— Talvez você pudesse descansar um pouco.
mpedida pela Neve meio que esperava uma resposta grosseira, mas, em vez disso, a mãe
a sacerdotisa. suspirou.
e a ajuda que — Sim, um descanso.
Ela abiu a porta, atravessando os corredores devagar, como se estivesse
fazendo uma caminhada leve em vez de tentando não cambalear.
os guardas, Neve a observou enquanto se afastava, mordiscando os lábios com tanta
pelas própriaforça que quase rasgou a pele. Depois, franziu as sobrancelhas e seguiu para
om aquilo —os jardins.
ara a capital Apesar do clima agradável, ao menos para os padrões de Valleyda, não
ois ainda nãohavia muita gente ali. Os poucos transeuntes deixaram Neve em paz, fazendo
ão Belvedere apenas uma reverência discreta com a cabeça enquanto ela passava com uma
determinação focada no Santuário.
sas deixavam Kiri aguardava, com as mãos enfiadas nas mangas. Algo se projetava por
de sair. Kiribaixo do tecido que cobria sua clavícula. O pingente da casca da árvore que
com aquele ela usava escondido.
Abriu aquele mesmo sorriso afiado enquanto observava a aproximação de
Neve.
— Que coincidência nos encontrarmos aqui.
ade da mesa — Pode parar com os joguinhos. — Neve falou baixo e se concentrou para
mada de suor relaxar as mãos que estavam cerradas em punho para o caso de alguém estar
observando. — Seu plano para Floriane é tolo. Os alperanos só estão
oltar para os esperando uma oferta melhor. Se Belvedere os mantiver…
— O seu primeiro erro é achar que isso tudo só tem a ver com os grãos —
vesse ouvido.interrompeu Kiri. — Sim, os alperanos são gananciosos. Sim, Belvedere, com
s pernas nãotoda a sua astúcia, poderia conseguir fechar negócio em mais um ou dois
dias. Mas essa é uma oportunidade de ouro, Neverah. Uma que nós seríamos
tolas de deixar passar.
Ela colocou um peso sutil naquele nós. Neve cruzou os braços. As batidas
disso, a mãedo seu coração marcavam o compasso contra suas costelas.
— Zophia está velha — continuou Kiri. — O tempo dela está se
esgotando. E Tealia… — Kiri contraiu os lábios. — Ela está tentando ser
se estivessenomeada sucessora. Não é exagero dizer que a escola dela seria desastrosa
par os nossos… experimentos.
os com tanta Dentro do Santuário, a poucos metros, os fragmentos de galhos
e seguiu paraensanguentados de Wilderwood esperavam. Neve se remexeu.
— A viagem que farei com Arick para Floriane serve a três objetivos,
Valleyda, não todos eles necessários para que continuemos enfraquecendo a força que
paz, fazendoWilderwood usa para prender sua irmã. — Ela tirou as mãos das mangas
ava com umalargas e começou a enumerar com os dedos. — Primeiro, reforça nosso poder
religioso, servindo como um lembrete para Floriane e para todos de que
projetava porsomos favorecidos, de que uma palavra do Templo Valleydiano é lei.
da árvore que Segundo, ela nos faz obter nossos grãos. E terceiro, quando formos bem-
sucedidos, isso pode fazer a Rainha reconsiderar a herdeira de Zophia.
oximação de Ali estava o cerne da questão. A retribuição que Kiri esperava por adiar o
casamento de Neve.
— A Rainha? Por que não a própria Zophia?
ncentrou para — Ela segue suas próprias regras. — Kiri fez um aceno com a mão. — E,
alguém estar cá entre nós, está mais preocupada com vinho do que com suas devoções na
nos só estão maior parte das noites. Ela já tomou uma decisão e nada, a não ser a opinião
da Rainha, será capaz de fazê-la mudar de ideia, simplesmente porque fazer
m os grãos —isso seria inconveniente.
lvedere, com — Então, eu tenho que tentar fazer minha mãe indicar você como herdeira
um ou dois— disse Neve, colocando os termos do acordo bem claros. — Enquanto você
nós seríamose Arick reforçam nosso poder religioso ao limpar o porto. — Neve estreitou o
olhar. — Coisa que você parece acreditar que vai conseguir fazer.
s. As batidas — Claro que vou conseguir.
Kiri levantou a mão e tocou levemente nas folhas da cerca viva perto do
dela está seSantuário. As veias do seu pulso escureceram, como se sombras corressem ali
tentando ser em vez de sangue. Um cheiro frio e de ozônio tomou o ar — como a
ia desastrosa atmosfera pouco antes de uma tempestade de raios, mas um tanto mais fria.
Como o cheiro do vazio, talvez.
de galhos A folha que Kiri tocou escureceu, secou e caiu.
Era aquilo que as modificações das árvores no Santuário traziam, a
ês objetivos,segunda peça da recompensa dupla para enfraquecer Wilderwood. A
a força quepossibilidade de debilitá-la o suficiente para que Red pudesse escapar, e
das mangas aquele poder… de morte, de deterioração.
a nosso poder Ver aquela magia funcionando seria o suficiente para que todos
odos de que cooperassem.
ydiano é lei. Neve mordeu o lábio, pois ainda não estava pronta para ceder.
formos bem- — Tornar-se a Suma Sacerdotisa é um pagamento alto demais para só
adiar um casamento que nenhuma das partes deseja.
a por adiar o — Por que apenas adiar, Neverah? Quando eu for a Suma Sacerdotisa,
terei muita influência com sua mãe. Talvez o suficiente para a convencer a
desistir desse casamento entre você e Arick. — Kiri fez uma pausa. — Talvez
a mão. — E,o suficiente para sugerir outro noivo para você.
devoções na Um sentimento de esperança brotou no coração de Neve, que engoliu em
ser a opinião seco.
porque fazer — Esse seria um resultado muito agradável.
— Bastante.
omo herdeira Kiri estendeu a mão para a cerca viva novamente, quase distraída. Outra
nquanto vocêvez, as veias sombreadas; outra vez, um cheiro frio e a morte de uma folha.
ve estreitou o Uma brisa leve empurrou a folha dissecada em direção ao pé de Neve, que
se desviou, sem querer que a planta tocasse na pele dela.
— Venha comigo, Primeira Filha. — Kiri enfiou as mãos nas mangas
viva perto donovamente. As veias já tinham clareado. — Não fique nervosa. Você também
corressem aliconsegue fazer isso se quiser. Todos que dão o sangue podem.
— como a — Não, obrigada. — A voz estava calma, mas Neve sentiu o coração
nto mais fria.disparar. — Eu não me importo com poder. Só quero enfraquecer
Wilderwood para que Red possa fugir.
Os olhos da sacerdotisa brilharam, como se o comentário fosse fazê-la
o traziam, arevirá-los em qualquer outra circunstância.
derwood. A — Sim. Bem. Fique tranquila. Wilderwood está enfraquecendo, o que será
se escapar, esuficiente para que solte as amarras que prendem sua irmã. Nós duas vamos
conseguir o que queremos.
que todos Nas pedras que pavimentavam o chão, a folha morta voou. A brisa a
levantou e a levou para mais além.
— De qualquer modo — disse Kiri — isso precisará ser convincente o
mais para só suficiente para conseguirmos nossos grãos. — Ela sorriu sob o sol fraco. —
Eu não ficaria nada surpresa se pudéssemos aumentar o imposto sobre as
Sacerdotisa,orações depois que a notícia se espalhar. Sim, todos nós vamos conseguir o
convencer aque queremos, exatamente como me disseram.
sa. — Talvez Neve sentiu um arrepio. A religião delas era feita de contrastes, de provas
materiais e crença nebulosa, Wilderwood e as Segundas Filhas, floresta e
e engoliu em sangue, tudo isso combinado com o medo dos monstros de sombra e a
convicção de que os Reis estavam presos e precisavam ser libertados. Por que
outro motivo teriam desaparecido? Que outro motivo teriam para voltar para
Wilderwood cinquenta anos depois do Pacto, além de uma armadilha que os
traída. Outramantinha longe do mundo que tinham salvo? As pessoas criavam histórias
de Neve, que para preencher as lacunas que não compreendiam, e a religião crescia em
torno delas como um fungo em uma árvore derrubada.
nas mangas Quatrocentos anos era tempo suficiente para que se misturassem fatos e fé,
Você tambémevidências concretas e mitos que acabaram se tornando verdades sagradas.
Mas aquele poder… a torção de um pilar concreto de crença, extraindo dele a
iu o coraçãomagia para provar algo… aquele poder pegava as duas forças opostas e as
enfraquecer fundia de uma maneira que deixava Neve aterrorizada e empolgada ao
mesmo tempo.
fosse fazê-la Estranho que tivesse encontrado a própria fé na blasfêmia.
Neve assentiu, baixando a cabeça.
o, o que será — Parece que temos um plano, então. — Ela se virou e voltou por onde
s duas vamostinha vindo, em direção ao palácio.
Atrás dela, o vento finalmente pegou a folha morta da cerca viva e a girou
u. A brisa a no ar.

onvincente o
sol fraco. —
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para preencher as lacunas que não compreendiam, e a religião crescia em
torno delas como um fungo em uma árvore derrubada.
Quatrocentos anos era tempo suficiente para que se misturassem fatos e fé,
evidências concretas e mitos que acabaram se tornando verdades sagradas.
Mas aquele poder… a torção de um pilar concreto de crença, extraindo dele a
magia para provar algo… aquele poder pegava as duas forças opostas e as
fundia de uma maneira que deixava Neve aterrorizada e empolgada ao
mesmo tempo.
Estranho que tivesse encontrado a própria fé na blasfêmia.
Neve assentiu, baixando a cabeça.
— Parece que temos um plano, então. — Ela se virou e voltou por onde
tinha vindo, em direção ao palácio.
Atrás dela, o vento finalmente pegou a folha morta da cerca viva e a girou
no ar.
15

O barulho na porta não parecia alguém batendo.


Red levantou os olhos do livro, franzindo as sobrancelhas. Já era tarde da
noite — pelo menos era o que imaginava. Tinha jantado horas antes com Fife
e Lyra, maçãs e fatias de queijo com pão rústico. Depois que tinham voltado
para a Fortaleza, Eammon havia subido e desaparecido, supostamente no
quarto, e ela não o vira desde então.
Contara para Lyra sobre os ferimentos dele, mas ela não demonstrara muita
preocupação.
— Eammon está acostumado a sangrar — dissera ela, enquanto fatiava
uma maçã. — Ele sabe se cuidar.
— Você poderia curá-lo? Se ele precisasse?
— Não do jeito que imagina. A conexão que Fife e eu temos com a floresta
não é tão forte quanto a dele. — Ela arqueou uma das sobrancelhas delicadas.
— A cura só acontece com vocês dois.
Isso deixara Red em silêncio pelo restante da refeição. Não tinha comido
muito e voltara para o próprio quarto. Ficava o tempo todo levando a mão ao
rosto para tocar o lugar em que o Lobo a curara.
Agora, horas depois do jantar, havia outro som na porta. Não era bem uma
batida — parecia algo raspando na madeira, como unhas arranhando devagar
a porta.
Quando Neve e ela eram pequenas, gostavam de tentar pregar peças uma
na outra. Red se escondia atrás das cortinas e saltava na direção da gêmea
distraída, que tomava um susto. Neve era mais sutil. Uma vez, ficou
arranhando os pés da cama por uma hora, o que deixou Red com tanto medo
a ponto de chamar a ama que tomava conta delas. Aquele era o mesmo
som… O de alguém arranhando.
Pensar em Neve a fez sentir um aperto no coração. Red marcou a página
do livro com o dedo e perguntou:
— Olá?
era tarde da Nenhuma resposta. Imaginou Eammon por um instante, curvado contra a
ntes com Fifeporta com a camisa rasgada e manchada de sangue, finalmente disposto a
nham voltado aceitar que ela o curasse.
ostamente no Improvável. Mesmo assim, praguejou e foi até a porta.
O corredor estava vazio, e a luz que passava pela janela distante do solário
nstrara muitailuminava apenas o contorno das folhas e as pontas afiadas dos espinhos.
Mesmo quando o céu estava em um tom de lavanda, era perturbador; no
uanto fatiavavioleta profundo da noite da floresta, parecia assustador.
Red engoliu em seco, dando um passo para trás para voltar ao quarto.
Levou as mãos atrás do corpo, mas, em vez do espaço vazio da porta, tocou
om a florestaem uma superfície lisa e desconhecida. Devagar, Red olhou por sobre o
has delicadas. ombro.
Tronco branco, estendendo os dedos compridos e finos na escuridão. Uma
tinha comidosentinela.
ndo a mão ao Havia mais delas espalhadas pelo corredor em ruínas, fáceis de distinguir
agora que ela havia identificado a primeira, magras e pálidas como ossos
era bem uma expostos. Não estavam ali quando voltara do jantar. Eram mudas jovens,
ando devagarprecursoras de novas brechas para a Terra das Sombras. Quantas haviam se
aberto, em tão pouco tempo?
ar peças uma Tinham lhe assegurado que não eram ruins, nem perigosas por si só, mas
ão da gêmeadesejosas do sangue dela com consequências das quais Eammon estava
a vez, ficoudeterminado a protegê-la. Inumanas e selvagens, nem boas nem más,
m tanto medo existindo fora das dicotomias que Red entendia. O aviso de antes ecoou na
era o mesmo sua mente: Wilderwood está agitada desde a sua chegada e, toda vez que
prova o seu sangue, as coisas pioram.
cou a página A floresta tinha experimentado o sangue dela naquele dia, tomando um
longo e profundo gole. Tentara fazer ainda mais antes que o Lobo a
impedisse. O que a Segunda Filha dissera para ele depois, que a floresta
vado contra aestava chateada com eles, parecia ainda mais verdadeiro na presença das
te disposto a jovens mudas no corredor.
Red se afastou da árvore branca como se fosse um animal selvagem, com
delicadeza e cautela. Mas as sentinelas não eram a única novidade na
nte do solário Fortaleza. Deu dois passos e seu calcanhar se prendeu em um emaranhado de
dos espinhos. espinhos que surgiram de repente. Sentiu uma fisgada de dor que a fez cerrar
rturbador; noos dentes enquanto um deles perfurava seu tornozelo, deixando um rastro de
sangue.
ar ao quarto. Meio segundo de quietude, um silêncio cheio de expectativas.
porta, tocou — Oh, Reis!
por sobre o A floresta entrou em erupção.
A janela do quarto dela rachou até se quebrar com um estalo. Vinhas
curidão. Uma entraram pela vidraça quebrada, cobrindo todas as paredes em segundos,
derrubando as colunas da cama e se enrolando em volta do guarda-roupa.
de distinguirEspinhos afiados brotavam do chão enquanto as folhas se alongavam como
como ossosdedos esticados. Os sons de crescimento e destruição se acumularam e
udas jovens, viraram um grito enquanto Wilderwood mergulhava para dentro da
as haviam seconstrução.
Musgo brotava do chão em uma tentativa de derrubá-la, vinhas tentavam
or si só, mas se enrolar nos pés dela. Arbustos irromperam do assoalho, repletos de galhos
mmon estava
s nem más,afiados; um deles cortou o braço dela, fazendo o sangue espirrar e ser
tes ecoou naabsorvido rapidamente pela floresta como água na terra seca.
toda vez que O primeiro instinto de Red foi fugir pelo corredor, mas ela se lembrou do
manto vermelho, ainda no guarda-roupa agora todo envolto por vinhas. O
tomando um manto rasgado e surrado, com o qual Neve envolvera seus ombros. Um
e o Lobo a símbolo de um sacrifício ao qual sobrevivera de alguma forma.
ue a floresta Maldita Wilderwood por lhe tirar aquilo também.
presença das Arreganhando os dentes, Red entrou correndo pela porta aberta, desviando
dos galhos e das folhas que se alongavam. Arrancou vinhas com as próprias
lvagem, commãos — em resposta, Wilderwood emitiu um som agudo e sibilante,
novidade naterrivelmente parecido com um grito. Abrindo a porta do armário retorcido e
maranhado dequebrado, Red agarrou o tecido escarlate do manto ainda sujo e o embolou
e a fez cerrar contra o peito, saltando em direção à porta um pouco antes de a verga ruir e
um rastro dedestruir o quarto atrás dela.
Wilderwood uivou quando Red virou no corredor. Sentia a floresta nos
ossos e nos ouvidos, o som preso e amplificado pela magia presa dentro dela.
Você está sempre começando, mas nunca termina!
Um dos arbustos no canto secou instantaneamente, as folhas caindo todas
stalo. Vinhas de uma vez enquanto os galhos se dobravam num espasmo de morte.
m segundos, Wilderwood estava pagando por ter falado.
guarda-roupa. Uma chuva de pedras irrompeu do teto do corredor, cobrindo todo o piso
gavam comoenquanto as raízes e as vinhas passavam por entre as tábuas e as
cumularam earrebentavam. Red cobriu a cabeça com os braços e saltou para a área
a dentro dailuminada do solário, o manto caindo ao seu lado no chão.
— Red!
has tentavam Os degraus estremeciam enquanto Eammon descia, sem camisa, de cabelos
tos de galhossoltos. Com um rosnado escapando por entre os lábios, ele olhou com raiva
spirrar e serpara a floresta que avançava, as mãos se arqueando em garras e os tendões do
pescoço contraídos.
e lembrou do O berro de Wilderwood foi ensurdecedor, uma cascata de mudas e
or vinhas. Oespinhos tentando alcançar Red no chão. Eammon saltou os últimos degraus
ombros. Um e quase perdeu o equilíbrio, pousando diante dela agachado e com o cabelo
bagunçado. Ele se apoiou em um dos joelhos, estendendo as mãos, todos os
músculos do corpo retesados.
ta, desviando O medo despertou nela um tipo estranho de clareza, e os olhos de Red
m as própriaspousaram no braço nu de Eammon, focados no que sabia que veria ali. Uma
e sibilante,Marca do Pacto, maior e mais complexa que a dela. Gavinhas entrelaçadas
o retorcido ecom uma faixa de raízes que circundavam sob a pele dele em padrões
e o emboloudelicados que se alongavam do meio do antebraço até o cotovelo.
a verga ruir e Eammon já tinha invocado a magia, e as mudanças que ela trazia vieram
rápido: as veias nas mãos ficaram verdes — não apenas as dos pulsos, mas as
floresta nos do pescoço também, descendo até a curvatura dos ombros. Pedaços de casca
dentro dela. de árvore cobriram a pele dos antebraços a partir dos punhos, subindo até a
Marca. Ele ficou mais alto, o cabelo cresceu, e Red teve um vislumbre de
caindo todas folhas de hera nas costas dele quando ele se moveu.
o de morte. O Lobo e Wilderwood, enlaçando-se, misturando-se, lutando para
dominar. Impedir o avanço da floresta era uma batalha íntima demais para
o todo o pisovencer com sangue.
tábuas e as Eammon ergueu as mãos marcadas por veias verdes na direção do
para a áreacorredor. Depois cerrou os punhos, como se estivesse agarrando alguma
coisa, e os moveu em um puxão.
Bum! Uma compressão de ar. Aquilo a fez se lembrar daquela primeira
a, de cabelos noite, quando reprimira o próprio poder e o bloqueara, só que em escala bem
ou com raiva maior. Ele puxara Wilderwood para si, fazendo oscilar o próprio equilíbrio
os tendões do interno, e depois soltara todo o poder. A floresta não teve escolha a não ser
obedecer.
de mudas e Wilderwood uivou uma vez mais e foi se encolhendo devagar até restarem
imos degraus apenas os sons da floresta — estalos de galhos e troncos se estendendo, até
com o cabelo ficar em silêncio. Eammon estremeceu, caindo de quatro. Bem aos poucos, as
ãos, todos osveias começaram a mudar de verde para azul. A casca de tronco de árvore
nos antebraços desapareceu abaixo da pele, embora um ponto áspero tenha
olhos de Redcontinuado em volta do pulso, como um bracelete. O movimento das costas
eria ali. Umadesnudas subindo e descendo com a respiração combinava perfeitamente com
entrelaçadaso balanço lento das folhas caindo.
em padrões Quando enfim olhou para ela, o cabelo estava grudado na testa suada, a
parte branca dos olhos estava marcada com teias de vasos esverdeados e um
trazia vieram halo verde contornava as íris cor de âmbar.
ulsos, mas as A floresta invasora foi dividida, como se por uma foice gigante,
aços de casca exatamente no ponto em que o corredor se ramificava. Raízes cortadas se
subindo até acontorciam em movimentos débeis sobre o musgo, parecendo besouros
vislumbre de moribundos, os movimentos em sincronia com o ritmo da respiração de
Eammon. Cinco sentinelas estavam na ponta do corredor, uma parede de
utando paraárvores cor de osso.
demais para Red e o Lobo ficaram agachados ali por um momento, dois pares de
ombros trêmulos, dois pares de olhos arregalados analisando o corredor agora
direção dotomado pela floresta. Eammon olhou para o manto embolado diante dos
ando algumajoelhos da Segunda Filha, a expressão de perplexidade no rosto enquanto
levantava o olhar para o rosto dela.
uela primeira Fife chegou da sala de jantar ainda totalmente vestido. Arregalou os olhos,
m escala bempraguejando.
rio equilíbrio — Pelos Reis! Raios de sombras!
lha a não ser Lyra passou correndo por baixo de um arco quebrado, parando e cobrindo
a boca com a mão antes de soltar um “Oh!”.
até restarem Eammon recuperou a compostura antes de Red, levantando-se apesar das
endendo, atépernas bambas. Red notou que ele não tinha perdido toda a altura que a magia
os poucos, as lhe conferira, não daquela vez, embora o resto das mudanças estivesse
co de árvorecedendo aos poucos. O tom esmeralda foi sumindo dos olhos, e a última parte
áspero tenhadas braçadeiras de casca de árvore retrocederam sob a pele enquanto ele
to das costasafastava o cabelo da testa.
tamente com — O que houve? — Fife olhou para a floresta e, depois, para Eammon,
assimilando a altura maior do Lobo com um ligeiro brilho de preocupação
esta suada, aenquanto trocava um olhar com Lyra. — Eu mesmo verifiquei este corredor
rdeados e umhoje cedo. Não havia fungos-de-sombra.
— Acho que isso não tem nada a ver com fungos-de-sombra. — Havia um
oice gigante,ligeiro eco na voz de Eammon que foi passando à medida que terminava de
s cortadas se falar. Uma nova linha de sangue esverdeado manchava o curativo que cobria
do besouros os ferimentos na barriga. Ele olhou para Red, mas logo desviou o olhar,
espiração deesfregando, com o indicador e o polegar, o ponto entre os olhos agora
ma parede detotalmente âmbares.
— Está piorando — murmurou ele. — Nunca foi desse jeito.
ois pares de Lyra olhou para Fife, a preocupação fazendo com que contraísse os lábios.
orredor agoraNenhum dos dois disse nada.
o diante dos Fife ofereceu a Red a mão sem cicatrizes e ela aceitou a ajuda para se
sto enquantolevantar.
— Você se machucou? — perguntou ele de forma brusca.
lou os olhos, Ela negou com a cabeça.
A preocupação tomou as feições delicadas de Lyra, os lábios contraídos
enquanto olhava para Eammon. Conter a magia de Wilderwood o tinha
do e cobrindodeixado ainda maior, mas a diferença de altura ainda não tinha retrocedido
totalmente, o que parecia deixá-la nervosa.
se apesar das — Sei que existe um armário com roupas de cama em algum lugar por
a que a magiaaqui — disse Lyra, por fim. — Podemos improvisar uma cama para você no
ças estivessemeu quarto…
a última parte — Nenhuma das duas vai dormir no chão. — Eammon ainda estava
enquanto eleolhando para o corredor e para toda a destruição provocada pela floresta. A
mão estremeceu, e ele cerrou os punhos.
ara Eammon, — Somos quatro e só há três camas. Alguém vai ter que dormir no chão.
preocupação — E esse alguém sou eu. — Eammon não olhou para ninguém enquanto se
este corredor virava para a escadaria. — Red pode dormir na minha cama. Vou dormir no
corredor.
— Havia um O tom dele não deixou espaço para discussões. Lyra contraiu os lábios,
terminava dealternando o olhar entre Fife e Eammon, como se estivesse havendo uma
vo que cobria discussão silenciosa entre eles.
viou o olhar, — Bem, bons sonhos, então.
olhos agora — Isso soou terrivelmente otimista — resmungou Fife, mas uma
cotovelada de Lyra o fez calar a boca.
Eammon já tinha subido metade da escada, sem olhar para trás nem uma
sse os lábios.vez. Com um suspiro profundo, Red pisou no primeiro degrau. O musgo que
crescera e formara uma parede para impedi-la de passar tinha regredido.
juda para se Com expressão determinada, Red embolou o manto e seguiu o Lobo.

os contraídos
wood o tinha
deixado ainda maior, mas a diferença de altura ainda não tinha retrocedido
totalmente, o que parecia deixá-la nervosa.
— Sei que existe um armário com roupas de cama em algum lugar por
aqui — disse Lyra, por fim. — Podemos improvisar uma cama para você no
meu quarto…
— Nenhuma das duas vai dormir no chão. — Eammon ainda estava
olhando para o corredor e para toda a destruição provocada pela floresta. A
mão estremeceu, e ele cerrou os punhos.
— Somos quatro e só há três camas. Alguém vai ter que dormir no chão.
— E esse alguém sou eu. — Eammon não olhou para ninguém enquanto se
virava para a escadaria. — Red pode dormir na minha cama. Vou dormir no
corredor.
O tom dele não deixou espaço para discussões. Lyra contraiu os lábios,
alternando o olhar entre Fife e Eammon, como se estivesse havendo uma
discussão silenciosa entre eles.
— Bem, bons sonhos, então.
— Isso soou terrivelmente otimista — resmungou Fife, mas uma
cotovelada de Lyra o fez calar a boca.
Eammon já tinha subido metade da escada, sem olhar para trás nem uma
vez. Com um suspiro profundo, Red pisou no primeiro degrau. O musgo que
crescera e formara uma parede para impedi-la de passar tinha regredido.
Com expressão determinada, Red embolou o manto e seguiu o Lobo.
16

O crescimento da floresta se dissipava no alto da escada, manchas de verde


desaparecendo para expor a pedra lisa sob os pés de Red. A sensação era
estranha depois de mais de uma semana de musgo e frio o suficiente para
deixar os dedos dos pés dormentes.
Quando chegaram ao pavimento superior, Eammon se virou para a direita
e abriu uma porta de madeira, revelando uma escada menor. A luz cálida que
vinha lá de cima iluminou as costas de Eammon enquanto ele subia, um
pouco curvado. A Marca do Pacto dele parecia mais escura do que antes, o
verde de um tom profundo brilhando como tinta em contraste com a pele.
O quarto do Lobo ficava no topo da torre, um cômodo circular com teto
abobadado entrecortado por vigas de madeira. Havia um armário aberto ao
lado da escada, mas as roupas estavam espalhadas em pilhas desordenadas
pelo chão. Eammon as chutou para baixo do armário.
— Por todos os Reis — resmungou baixinho, pressionando a mão contra a
barriga.
Do outro lado da escada havia uma lareira de pedra, a fonte do calor e da
luz bruxuleante. Ao lado, havia uma cama entre duas grandes janelas sem
vidro, os lençóis embolados e metade da colcha no chão. Livros e canecas
vazias se empilhavam em volta da cama, e a escrivaninha encostada na
parede ao lado do armário estava repleta de papéis cheios de anotações, um
tinteiro e uma caneta bico de pena borrada.
Eammon cambaleou até a escrivaninha, mantendo uma das mãos sobre o
ferimento da barriga e, com a outra, tentando organizar os papeis.
— Não precisa fazer isso.
Ele não respondeu, mas parou os esforços inúteis de arrumação e se virou
para olhar para ela com uma expressão inescrutável. Os olhos recaíram sobre
o manto, ainda embolado nos braços de Red.
has de verde — Você voltou para pegar isso?
sensação era Ela assentiu.
uficiente para Ele franziu as sobrancelhas.
— Não entendo o motivo.
para a direita — Ele é… — Mas ela não tinha muita certeza de como terminar a frase,
uz cálida quecomo traduzir tudo que sentia em palavras. — Ele é meu.
le subia, um Eammon não pediu mais explicações. Ficaram parados ali, com o olhar
que antes, ofixo um no outro, sem saber bem o que fazer.
Ele desviou os olhos primeiro, voltando a atenção para o quarto
ular com teto bagunçado. Com um suspiro, abaixou-se para pegar a colcha.
rio aberto ao — Eu vou dormir na base da escada. Se você precisar… droga.
desordenadas Deixou a colcha cair, pressionando o abdome. O sangue encharcou o
curativo, mais verde do que vermelho, escorrendo pela pele clara e
mão contra acicatrizada.
Red deu um passo na direção de Eammon, pousou as mãos nos ombros
do calor e dadele e o empurrou até que ele se sentasse rente à parede.
janelas sem — A ferida abriu.
os e canecas — Percebi.
encostada na — Você tem mais ataduras?
notações, um — Na gaveta de cima.
Ela cruzou o quarto até a escrivaninha e vasculhou a gaveta indicada,
repleta de papéis e canetas bico de pena quebradas.
mãos sobre o — As ataduras funcionam melhor quando estão limpas.
— Elas funcionaram bem até agora. — Eammon se virou e praguejou. —
Não sei se já percebeu, mas eu me corto muito.
ão e se virou Aquilo a fez se lembrar do que Lyra dissera mais cedo. Eammon está
caíram sobre acostumado a sangrar. Red contraiu os lábios e continuou procurando no
meio da bagunça com mais determinação ainda.
Finalmente encontrou os curativos embaixo de um caderno todo escrito e
uma camada de lascas de lápis. Red pegou o rolo de gaze e se ajoelhou ao
lado dele, retirando a faixa ensanguentada enquanto Eammon resmungava
entredentes. Havia três feridas profundas na pele dele, cortando a barriga e o
minar a frase,peito. Pequenas gavinhas se insinuavam pelas aberturas, quase finas demais
para perceber, salpicadas de folhas frágeis.
com o olhar Ela desviou o olhar dos cortes e olhou para o rosto dele, marcado com uma
preocupação repentina.
ra o quarto — Isso não é fungo-de-sombra, é?
— Impossível. — Eammon contraiu o maxilar. — Tem Wilderwood
demais dentro de mim para haver espaço para qualquer outra coisa.
encharcou o Wilderwood demais, de fato. A altura dele ainda não tinha voltado ao
pele clara e normal depois da magia que invocara quando o corredor desmoronou. Eram
só uns três centímetros a mais, mas ainda assim impressionantes para Red,
nos ombros que sentia os nervos à flor da pele.
Havia uma pequena cicatriz na bochecha dele que ela não notara antes,
discreta demais para ver de longe. Uma linha branca e fina bem na maçã do
rosto, no mesmo lugar onde ela se cortara naquele primeiro dia na biblioteca.
Uma cicatriz que ele ganhara por ela.
A proximidade entre os dois despertava o poder dela, exatamente como
eta indicada, antes, na clareira, fazendo com que ela ficasse bem ciente de tudo que crescia
na Fortaleza abaixo dela e no terreno lá fora. A magia rugia dentro de Red e
fluía na direção da ponta dos dedos, como se a visão do ferimento do Lobo e
praguejou. —a ligação entre eles a atraísse.
— Você tem que me deixar tentar curar você.
Eammon está Eammon apoiou a cabeça na parede.
ocurando no — Não é uma boa ideia. — As palavras saíram entrecortadas, como se
precisasse falar devagar. — É demais.
odo escrito e Dor demais, e tinha que ir para algum lugar. As mãos curvadas pairavam
e ajoelhou aosobre a pele dele, a convicção endurecendo a própria voz.
resmungava — Eu consigo — afirmou Red.
a barriga e o — Por quê?
finas demais O cabelo dele encobria os olhos, nos quais ela lia todas as dúvidas
resumidas na pergunta. Por que ela estava tão determinada a tentar curá-lo
ado com uma quando antes a simples ideia de usar o próprio poder encontrava tanta
resistência?
Red não sabia bem a resposta. A única coisa da qual tinha certeza quando
Wilderwood se tratava de Eammon era que queria mantê-lo em segurança. Ela se
importava. Era um sentimento complexo, repleto de camadas, e aquela era a
a voltado aoúnica forma de demonstração de cuidado que ela conhecia.
oronou. Eram — Porque eu tenho grande interesse em manter você vivo.
es para Red, Depois, acrescentou em tom suave:
— E tenho uma dívida com você.
notara antes, Eammon olhou nos olhos dela. Por fim, assentiu, fazendo uma careta
m na maçã doenquanto se apoiava melhor na parede e dava instruções resumidas.
— Se concentre na intenção. Se conecte ao poder da floresta dentro de
você. Toque a ferida e a absorva. — Ele contraiu os lábios com determinação
amente como e franziu a testa. Quando falou novamente, a voz saiu firme e forte. — Mas
o que crescia não toda, Redarys. Você tem que me prometer que não vai absorver tudo.
ntro de Red e
to do Lobo e Red engoliu em seco. Assentiu. Então, esforçando-se para manter as mãos
firmes, colocou-as sobre a pele dele.
Eammon sempre estava quente, mas daquela vez o calor era febril e
doentio. O sangue verde e rubro, salpicado de folhas, marcava os dedos dela.
das, como se Red precisou fechar os olhos não só para se concentrar, mas também para se
proteger do medo que sentia ao vê-lo tão ferido.
das pairavam No entanto, até o medo tinha um propósito. Havia algo no sentimento, algo
por ser relacionado a Eammon, que facilitava a manipulação e a modelação
do poder. A preocupação que sentia, ampliada pela farpa de magia que
compartilhavam e o matrimônio, transformaram o poder caótico em algo que
s as dúvidas ela podia aproveitar.
entar curá-lo Ainda era assustador perceber como tudo aquilo era inexplicável. A
ontrava tantaconexão entre os dois forjada na floresta. Antes, quando tentara fazer a hera
crescer, tinha pensado em Neve e em violência, na carnificina que não
rteza quandoconseguia controlar. Mas então tivera aquela visão, prova de que a forma
ança. Ela secomo Eammon e Red tinham se unido a fortalecera. E, naquele momento,
aquela era aquando a tarefa que tinha diante de si significava tanto — quando tudo que
queria era que ele ficasse bem, tanto por causa do afeto estranho que sentia
pelo Lobo quanto por temer o que poderia acontecer com todos eles se ele
não melhorasse —, ela poderia tratar sua magia como uma ferramenta a ser
usada em vez de algo a ser contido.
o uma careta Uma vez clara a intenção, Red controlou o próprio poder e se abriu para
ele. E não se afogou.
sta dentro de Ele fluiu, magnífico e arrebatador, profundamente verde. Uma gavinha
determinaçãofina, passando pelos músculos e ossos como uma raiz serpenteando em
orte. — Mas direção ao sol, aguardando o desejo dela.
Os ferimentos queimavam sob sua mão. Devagar e com cuidado, Red os
deixou entrar.
anter as mãos Se houve dor, não sentiu. O poder seguiu um ritmo estável e certeiro, um
fluxo que combinava com as batidas do próprio coração. Pela primeira vez,
era febril eaquilo pareceu certo, e a sensação era intoxicante. Ela pegou um pouco, e
s dedos dela. mais um pouquinho, esforçando-se…
mbém para se — Red, pare!
As mãos dela estavam vazias. Red abriu os olhos, sentiu o rosto suado e a
timento, algo respiração ofegante.
a modelação A mão de Eammon pairava sobre o rosto dela. Ele a afastou assim que ela
e magia queabriu os olhos, o ar frio substituindo o calor dele.
em algo que — Você absorveu demais. — Os olhos dele estavam mais claros desde que
tinham voltado da brecha. — Que droga, Red!
xplicável. A Ela olhou para baixo. Uma mancha avermelhada se espalhava pela barriga;
fazer a hera mal dava para vê-la através do tecido fino da camisola. Um ferimento, mas
ina que não não tão horrível quanto o dele, pois ela só pegara uma parte e não toda a
que a formaferida. Ainda assim, como se a visão tivesse religado seus nervos, os cortes
le momento,latejaram e Red sibilou entredentes.
ndo tudo que — Droga. — Ela se recostou e pressionou o abdome. — Você sentiu isso o
ho que sentiadia todo? Uma dor maior do que essa?
os eles se ele Eammon se afastou da parede, testa franzida e pernas bambas.
amenta a ser — Você absorveu demais — repetiu ele, quase que para si mesmo.
— Mas funcionou. — Depois da queimação inicial, os ferimentos não
se abriu para eram tão ruins. Era bem verdade que a dor precisava ir para algum lugar, mas
pareceu chegar como uma chama rápida e toda de uma vez. Com cuidado,
Uma gavinhaRed afastou a mão da barriga, notando que as veias estavam contornadas em
enteando em um esmeralda brilhante, não só nos pulsos, mas subindo por todo o braço.
Elas foram se apagando quase imediatamente até ficarem azuis de novo. —
dado, Red os Você está novinho… Bem, não novinho em folha. Mas está melhor. Nada de
mutilações.
certeiro, um Eammon levou as mãos ao quadril, fulminando-a com o olhar. Os três
primeira vez, lanhos no ventre e no peito estavam começando a cicatrizar no meio,
um pouco, eenquanto as laterais ainda estavam avermelhadas.
— Menos mutilado — respondeu ele.
Então acrescentou baixinho:
sto suado e a — Obrigado.
Ficaram em silêncio, a frágil camaradagem ofuscada pelo constrangimento
assim que ela que sentiam. Eammon pegou o atiçador da lareira e começou a mexer na
brasa, sem muito entusiasmo, para aumentar o fogo e espantar o frio que
os desde que entrava pelas janelas abertas.
— Você pode guardar o manto no armário se quiser — disse ele olhando
pela barriga; fixamente para o fogo.
rimento, mas O tecido esfarrapado estava caído onde ela o tinha largado, distraída pelo
e não toda asangramento de Eammon. Ela o pegou e atravessou o quarto. Havia muito
vos, os cortes espaço no armário, já que as roupas de Eammon pareciam estar sempre no
chão. As que ainda estavam no armário eram escuras e tinham cheiro de
sentiu isso ofolhas. Red guardou o manto escarlate ao lado de uma pilha das camisas de
Eammon.
Voltou para a lareira e se sentou no chão, abraçando os joelhos.
— Você ficou mais alto — disse ela baixinho depois de um momento. —
rimentos nãoDigo, você ficou mais alto, só que não voltou para o tamanho normal.
m lugar, mas Eammon se retesou, parando de atiçar o fogo. Baixou os olhos, como se
Com cuidado,estivesse olhando para si mesmo, antes de fechá-los.
ntornadas em — Verdade.
odo o braço. — Isso já aconteceu antes? — Ela continuou abraçando os joelhos,
de novo. —mantendo o tom leve na voz, mas sentia um nó de preocupação na barriga. —
hor. Nada deUma mudança feita pela magia ficar para sempre?
Ele atiçou algumas brasas até as chamas pegarem.
lhar. Os três — Não — disse ele, guardando o atiçador.
ar no meio, A preocupação ficou ainda mais afiada e profunda.
— Foi muito poder. — Ele falava baixo, dirigindo-se tanto a si mesmo
quanto a ela. — Mais do que jamais usei ao curar uma sentinela antes. Talvez
seja esse o motivo. Eu só usei mais do que o normal. Deixei mais poder
entrar. — Ele esfregou os olhos. — Eu deveria ter tentado usar sangue, mas
strangimentonão seria suficiente.
a mexer na — Acho que nenhuma das opções disponíveis era muito boa.
ar o frio que Ele resmungou, confirmando.
Red olhou para ele de esguelha, observando como os ombros estavam
e ele olhandotensos, como o cabelo escuro caía no rosto. As cicatrizes na barriga dele
espelhavam as dela, exatamente como a Marca do Pacto. Havia uma estranha
distraída pelo intimidade naquilo, aguçada pela alquimia de preocupação e culpa que ela
Havia muitosentia.
ar sempre no Seu marido. O Lobo. Ferido por ela, ferido por todo mundo, trancado em
am cheiro deuma luta constante com a floresta que era parte dele.
s camisas de — Lá embaixo. — Ela se arriscou a dizer, voltando a encarar as chamas
para que ele não percebesse que o olhava. — Você disse que nunca tinha sido
tão ruim assim.
momento. — Eammon não disse nada. Depois de um tempo, suspirou.
— Nunca foi.
hos, como se — É culpa minha?
— Não, Red. — Apesar de toda a reticência para discutir o assunto, a
refutação foi imediata. — Nada disso é culpa sua.
os joelhos, — Mas se tudo só piorou depois da minha chegada…
na barriga. — — A sua situação é singular. A sua conexão com Wilderwood… Nunca vi
nada igual a isso antes. — A sombra dele se moveu quando ele se aproximou
e ficou ao lado dela. Eammon enfim falou, com a expressão inescrutável,
como se pudesse extrair do fogo as palavras de que precisava se o encarasse
com vontade o bastante. — As outras eram ligadas à floresta, mas nunca
a si mesmo dessa forma.
antes. Talvez Red se encolheu mais.
i mais poder — Elas eram ligadas a ela de um jeito que as matou.
sangue, mas Era difícil dizer com certeza na penumbra, mas ele pareceu empalidecer.
— Sim — disse ele, baixinho. — Mas você não. Você não vai. E sim,
porque é tão diferente, tem sido… difícil de entender. Mas eu prometo que
vamos conseguir.
bros estavam Juntos. A palavra não foi dita, mas ficou pairando no ar. Vamos conseguir
barriga dele juntos.
uma estranha Eammon se virou e se abaixou, fazendo uma leve careta de dor enquanto
ulpa que elapegava o cobertor.
— Vou dormir lá embaixo. Se você precisar…
trancado em — Está congelante lá.
— Por isso peguei o cobertor.
ar as chamas — Você está sendo ridículo.
nca tinha sido Ele deu de ombros e se dirigiu para a escada.
— Sabe, compartilhar o quarto não é uma coisa rara em um casamento.
Eammon congelou e olhou para ela. Red parou de falar e mordeu o lábio
para evitar dizer mais bobagens. Os ferimentos que compartilhavam
latejavam no ritmo do seu coração.
o assunto, a Ela se levantou e cruzou os braços, sentindo-se vulnerável sob o escrutínio
dele.
— Você ronca?
d… Nunca vi — Roncava. — Eammon olhou para o cobertor que segurava. — Já faz um
se aproximoutempo desde que houve alguém que pudesse dizer se o problema continua.
inescrutável,
e o encarasse — Bem — disse Red, demonstrando uma falsa confiança. — Eu aviso se
a, mas nuncavocê roncar.
A sombra de um sorriso apareceu no rosto dele, mas logo se desvaneceu.
Depois de um tempo, Eammon foi até o outro lado do quarto, estendeu o
cobertor perto da parede e se deitou, sibilando quando o ombro bateu no
chão.
. E sim, Red se sentou com cuidado na cama e alisou os lençóis. Tinham o cheiro
prometo que dele, de papel e café. Sentiu as pálpebras pesarem de exaustão assim que se
deitou, mas a consciência da presença de Eammon do outro lado espantava o
os conseguirsono.
Não compartilhava um quarto com alguém desde que Neve e ela eram bem
dor enquanto pequenas. Ficavam acordadas até tarde, contando histórias, discutindo,
brincando de se arrumar com as roupas do armário. Red sentiu o coração
pesado.
— Quem disse que você ronca?
Ele parou de se mexer por um tempo.
— Alguém que dividia o quarto comigo — respondeu ele por fim.
Antes daquele dia, antes de ter sentido o sangue dele sob as mãos, Red
talvez tivesse deixado o assunto morrer e não insistiria. Mas naquele caso…
ordeu o lábio — Sério?
mpartilhavam Na penumbra, Red não conseguia vê-lo, mas conseguia imaginá-lo — o
curativo na barriga formando um quadrado branco no ventre dele, as mãos
b o escrutínioatrás da cabeça.
— O nome dela era Thera — disse ele, por fim, com voz suave.
Thera.
— Já faz um — Não era uma Segunda Filha?
— Não. — Uma resposta rápida. — As Segundas Filhas e eu… Não
existiu nada disso, com nenhuma delas.
— Eu aviso se Red apertou a barriga, envolvendo os novos ferimentos.
— Quem era ela, então?
desvaneceu. — Uma garota de uma das vilas além da fronteira — sussurrou Eammon.
o, estendeu o — De antes de os Reis terem ferido Wilderwood. Antes de a floresta se
bro bateu no fechar em si mesma. Gaya e Ciaran ainda estavam vivos. Eu não era o Lobo
ainda. Eu era jovem e tolo.
ham o cheiro — Você ainda parece bem jovem e, para ser bem sincera, prefiro não
assim que secomentar sobre a parte da tolice.
o espantava o — Outro benefício de Wilderwood. Eu envelheço como uma árvore.
— Mais é mais bonito que uma. Um pouco.
ela eram bem Ele deu uma risada rouca. Red deu um sorrisinho no escuro.
, discutindo, — Mas, no geral — continuou Eammon —, minha vida era bem normal
iu o coraçãoantes de me tornar o Lobo. Exceto por ter pais que eram personagens de
contos de fadas. Eu podia ir embora.
Ele já fora capaz de sair um dia. Aquilo piorava ainda mais as coisas.
— O que aconteceu?
— Eu estava morando com Thera na aldeia. Tivemos uma briga… Ela
s mãos, Redqueria se casar, eu não…
Ela sentiu um nó no estômago.
— … então eu vim para cá para passar a noite — continuou ele. Ela o
giná-lo — o ouviu se virar no chão. — E foi justamente naquela noite que os Reis feriram
ele, as mãos Wilderwood ao tentar cortar a sentinela na qual tinham feito o pacto e
acabaram sendo sugados para a Terra das Sombras. As fronteiras da floresta
se fecharam. Eu não podia sair. Ela não podia entrar. — Uma pausa. — Acho
que herdei do meu pai o péssimo senso de momento.
— Isso é horrível — murmurou Red.
e eu… Não — Foi há séculos. — Mas a sombra de tristeza transparecia na voz dele,
uma ferida antiga da qual ele se lembrava bem. — Nunca mais fiquei com
ninguém.
— Por quê?
ou Eammon. — Além da questão óbvia de estar preso dentro desta floresta? — Uma
a floresta serisada seca, e ele se virou novamente no chão. — É difícil conter
o era o LoboWilderwood. Exige uma concentração quase constante, principalmente
quando eu tenho que impedi-la de… de fazer o que eu não quero que faça. —
, prefiro nãoEle fez uma pausa e falou mais baixo. — Não resta muito mais de mim para
oferecer a outra pessoa.
Red passou a unha na costura do lençol.
— E você? — A pergunta dele foi baixa, mas em tom de curiosidade
genuína. — Com certeza você teve alguém nos seus vinte anos de vida, antes
bem normal de vir para cá.
rsonagens de Quando fechou os olhos e tentou se lembrar do rosto de Arick, tudo que
conseguiu ver foi a criatura retorcida do portão, feita de sombras e malícia.
— Um.
Silêncio absoluto.
briga… Ela — Se você não precisasse estar aqui — começou Eammon em um tom
pouco mais alto que um sussurro. — Se pudesse fazer qualquer coisa que
quisesse, o que faria?
ou ele. Ela o A pergunta parecia mais complexa do que deveria. Toda a vida de Red se
Reis ferirampassara sob a sombra de Wilderwood. Pensar em qualquer outra coisa era
o o pacto edoloroso demais, então ela simplesmente… não pensava. Agora que havia
as da florestaopções, que a vida se estendia diante dela, unida àquele homem com quem
usa. — Achoestava dividindo o quarto, não sabia muito bem o que querer significava.
— Se eu pudesse fazer qualquer coisa que eu quisesse — respondeu ela —
eu avisaria minha irmã que estou bem.
na voz dele, Eammon soltou um suspiro trêmulo.
s fiquei com — Sinto muito, Red.
Ela se apoiou no cotovelo e, sob o brilho das brasas da lareira, olhou para
onde Eammon estava deitado. Com uma das mãos ele afastava o cabelo do
sta? — Umarosto, e a outra descansava sobre o peito. A luz só revelava os contornos:
difícil conterombros largos, nariz torto. Ele se virou e os olhares se encontraram.
incipalmente — Eu também — disse ela.
que faça. — As rugas de preocupação permanente do semblante de Eammon se
de mim parasuavizaram. Sem dizer mais nada, ele assentiu.
Red se deitou e virou de lado. Depois de um tempo, ouviu Eammon fazer o
mesmo, e a respiração dele foi se aquietando até ficar completamente
e curiosidadetranquila.
de vida, antes Por fim, o mesmo aconteceu com ela.

ck, tudo que

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Ela se apoiou no cotovelo e, sob o brilho das brasas da lareira, olhou para
onde Eammon estava deitado. Com uma das mãos ele afastava o cabelo do
rosto, e a outra descansava sobre o peito. A luz só revelava os contornos:
ombros largos, nariz torto. Ele se virou e os olhares se encontraram.
— Eu também — disse ela.
As rugas de preocupação permanente do semblante de Eammon se
suavizaram. Sem dizer mais nada, ele assentiu.
Red se deitou e virou de lado. Depois de um tempo, ouviu Eammon fazer o
mesmo, e a respiração dele foi se aquietando até ficar completamente
tranquila.
Por fim, o mesmo aconteceu com ela.
INTERLÚDIO
VALLEYDIANO V

Os funerais da Ordem eram cerimônias mórbidas. E como aquele era o da


Suma Sacerdotisa, pareceu ainda mais mórbido que de costume.
O véu negro sobre o rosto de Neve fazia com que o mundo parecesse
coberto de sombras e com que a pira e as sacerdotisas e os cortesãos reunidos
ali parecessem se mover através de uma névoa densa. Estava nervosa e com
frio na barriga. Tudo acontecera rápido demais, depressa demais para que os
planos dela estivessem completos. Parecia que estava tentando segurar firme
as rédeas de um cavalo desembestado.
O corpo de Zophia jazia sobre a pira, envolvido até o queixo no manto
negro colocado nos cadáveres a serem cremados. O tecido escuro estava
coberto com símbolos de todo o continente, demonstrando a unidade da
Ordem — cada país tinha seu próprio Templo, cada Templo tinha sua própria
Suma Sacerdotisa.
O valor das oferendas que os outros Templos tinham enviado para aquela
cremação era estarrecedor. Azeite de Karsecka, quilos de botões de flores
fragrantes de Cian, garrafas de bebida escura fermentada com pó de ouro de
Rylt. Havia itens demais para serem colocados na pira. A maior parte dos
presentes fora guardada nos depósitos do Templo junto com os tributos de
orações. Uma feliz coincidência, na verdade: a quantia que Belvedere acabou
pagando a Alpera para refazer a rota de grãos foi realmente astronômica, e
algumas das riquezas enviadas para o funeral poderiam contrabalançar os
custos.
Apesar dos gastos, os grãos chegaram em segurança. A história das
orações de Kiri e Arick limpando a boca da baía não passava de burburinho,
rumores cochichados. No início, Neve ficou surpresa, mas parecia que Kiri
preferia assim. Uma história de um milagre contada pelo povo, disse ela, se
provaria muito mais útil para eles do que algo proclamado pelo Templo. Um
uele era o da apoio vindo do povo era muito mais útil do que um vindo das esferas mais
altas. Ela segurara o pingente de madeira ao dizer aquilo, a expressão
do parecessecuidadosamente neutra, como se estivesse recitando algo que ouvira em vez
sãos reunidosde explicar os próprios pensamentos. Neve ficava inquieta com aquilo e se
ervosa e comsentia aliviada por nunca ter usado o pingente que Kiri lhe dera. Mas assentiu
s para que os mesmo assim.
segurar firme Do lugar em que estava, atrás da pira junto com as outras candidatas a
Suma Sacerdotisa, Kiri olhou para ela, os olhos azuis brilhantes e gélidos.
xo no manto Depois, a leve sugestão de um sorriso frio antes de desviar o olhar.
escuro estava Uma tocha foi passada. A parte de Neve do plano estava prestes a começar.
a unidade da As possíveis sucessoras de Zophia se aproximaram e caminharam em
a sua própria círculo em volta da pira, a sétima e última volta terminando em uma fila atrás
dela. Ao mesmo tempo, todas se viraram para Neve e Isla. A Rainha e a
o para aquelaPrimeira Filha estavam na primeira fileira.
ões de flores Isla tinha piorado. Estava em declínio constante desde a semana da reunião
ó de ouro dede importação. Naquele momento, o rosto estava menos pálido por causa da
ior parte dos maquiagem, além do olhar menos perdido, mas não havia como disfarçar a
s tributos demagreza nem os ombros curvados. A saúde da mãe tinha sido um dos fatores
edere acabou que atrasaram a tentativa de Neve de fazê-la mudar de ideia em relação à
stronômica, eherdeira da Suma Sacerdotisa. Visitava a mãe quase todos os dias, mas o
abalançar ossilêncio no quarto em que ela se recuperava era opressivo, e Isla geralmente
estava dormindo.
história das Então, Zophia morreu, com Tealia ainda como escolhida para substituí-la.
e burburinho,Mas havia uma escapatória, uma que Neve exploraria assim que chegasse a
ecia que Kiri hora do inútil voto cerimonial.
disse ela, se Fez uma pequena oração silenciosa, apelando para aquele fiapo de fé que
Templo. Um encontrara tão inesperadamente dentro de toda a sua heresia. Faça com que
esferas mais ela me escute.
a expressão Neve sentiu um toque cálido no ombro, mas a mão logo desapareceu, e ela
uvira em vezquase deu um salto no lugar. Olhou para trás… Raffe. Ele abriu um sorriso e
m aquilo e se apertou o ombro dela uma vez.
Mas assentiu Deveria ser um gesto reconfortante. Em vez disso, só fez o coração de
Neve disparar.
candidatas a A pétala de rosa vermelha na mão dela estava mole e amassada, marcada
es e gélidos.de suor. Os outros cortesãos presentes faziam um grande espetáculo do ato de
olhar das próprias pétalas para as sacerdotisas reunidas, como se aquela
es a começar.votação valesse alguma coisa.
minharam em Ao lado de Raffe, Arick mantinha o olhar baixo, girando a pétala entre os
uma fila atrás dedos. Olheiras profundas marcavam o rosto dele. A reunião no Santuário na
A Rainha e anoite anterior tinha acabado tarde. Ele estava com um novo curativo na mão,
sem sangue, embora um ponto preto ainda marcasse o meio da palma. Neve
na da reuniãotinha ficado preocupada quando o vira sangrar pela primeira vez, mas
por causa daninguém mais pareceu ficar, então ela não disse nada.
o disfarçar a De acordo com Kiri, estava funcionando. Wilderwood estava
m dos fatores enfraquecendo, perdendo a força que usava para manter Red presa lá. Era
em relação à tudo que importava. Todo o resto poderia ser resolvido depois.
dias, mas o Lançou outro olhar para Raffe. O sol que passava pelas janelas fazia os
olhos dele brilharem em um tom de mel e banhava de dourado as bordas do
a geralmentelábios do rapaz. Neve não tinha contado nada para Raffe. Não por não querer
— ela precisava se esforçar para não contar tudo —, mas porque ele não
a substituí-la.entenderia. As ideias estranhas e sombrias de Kiri e seus seguidores talvez o
ue chegasse aassustassem.
Até mesmo Neve se assustava às vezes, embora tivesse certeza de que a
po de fé que maioria delas era bobagem, ficando na linha tênue entre heresia e devoção,
aça com queviabilidade e fanatismo. Uma interpretação dos Cinco Reis que fazia com que
eles parecessem, ao mesmo tempo, mais e menos humanos.
pareceu, e ela Ali estavam todos eles, parceiros em uma blasfêmia planejada, e Neve
um sorriso eestava prestes a fazer a última peça se encaixar.
Isla se levantou, e a corte a seguiu. As sacerdotisas ficaram atrás da pira
o coração decom as costas eretas e as mãos enfiadas nas mangas largas das vestes brancas,
olhando fixamente para a frente. O cabelo lustroso de Kiri tinha o mesmo
ada, marcadatom da pétala vermelha que Neve segurava.
ulo do ato de — Uma parte, e outra assume o seu lugar. — As palavras de Isla eram
mo se aquela calmas e solenes. Ela ergueu a pétala. — Tealia, em nome dos nossos cinco
Reis perdidos e da magia de outrora, peço que aceite esta tarefa.
étala entre os Tealia nem tentou parecer surpresa. Abriu um sorriso satisfeito e baixou a
Santuário nacabeça.
ativo na mão, — Como queira.
palma. Neve De acordo com a cerimônia, outras nomeações poderiam ser feitas naquele
ra vez, masmomento. Neve respirou fundo, esperando.
Mas Isla olhou para a congregação como se a questão já estivesse
wood estava resolvida.
presa lá. Era — Por nossos…
— Eu tenho uma nomeação.
elas fazia os Neve achou que a voz fosse sair baixa e fraca, combinando com os dedos
as bordas do trêmulos. Em vez disso, soou clara enquanto erguia a pétala que segurava.
or não quererEla deu um passo para a frente, os olhos fixos em Kiri, sem olhar para a mãe.
rque ele não — Kiri, peço que aceite esta tarefa.
ores talvez o Kiri não fingiu surpresa. Assentiu, mantendo o olhar fixo à frente, e
respondeu em tom solene:
eza de que a — Como queira.
a e devoção, Isla empalideceu, mas não baixou a pétala que segurava.
azia com que — O que é isto, Neverah?
Uma acusação, não uma pergunta. Neve já esperava por aquilo. Tinha
jada, e Nevepassado noites insones ao perceber que aquele era o caminho que precisaria
escolher. Uma resposta que a mãe considerasse aceitável. Algo significativo o
atrás da pirasuficiente para fazê-la refletir.
estes brancas, Red saberia o que dizer. Red sempre sabia como provocar a mãe, como
nha o mesmotransformar as palavras em adagas e atirá-las ou usar o próprio silêncio como
uma lâmina cortante.
de Isla eram Tudo que Neve tinha era sua tristeza, ingênua e dolorosa e repleta de
nossos cinco esperança compartilhada.
— As coisas podem mudar. — Neve conseguiu manter a voz firme até o
to e baixou afim, mas precisou se esforçar. — Elas não precisam sempre ser feitas da
mesma forma. Red pode…
— Basta. — Mas a voz de Isla estava vazia, os olhos distantes por algo
eitas naquelealém da doença. O luto finalmente emergindo do recanto profundo no qual a
Rainha de Valleyda o matinha escondido.
já estivesse Então, Neve insistiu:
— Mãe, nós podemos trazê-la para casa.
Silêncio absoluto. Raffe olhou para ela, boquiaberto. Arick abriu um
sorriso discreto e triste. Kiri não esboçou qualquer reação.
om os dedos A pétala entre os dedos de Isla estremeceu. Os olhos escuros se fecharam;
que segurava.o peito se encheu de ar depois de uma inspiração profunda.
r para a mãe. Neve prendeu a respiração.
O silêncio era frágil, mas, então, a Rainha se virou e continuou:
o à frente, e — Por nossos…
— Não. — A pétala de Neve caiu no chão, a resposta dura ecoando nas
paredes do salão. De acordo com a tradição, a indicação tinha de ser unânime.
Quando não era, a assembleia precisava se reunir para audiências até chegar a
uma decisão. — Se houver mais de uma…
quilo. Tinha — Neverah. — A voz de Isla cortou a da filha, soando forte apesar da
ue precisariaaparente fragilidade. — A decisão está tomada.
ignificativo o O rosto de Raffe foi tomado pelo choque, a pétala ficando frouxa na mão.
Neve lançou um olhar de súplica para ele, embora não soubesse bem pelo que
a mãe, comoestava suplicando. Agarrou a saia, sentindo-se impotente. Isla seguia
ilêncio como cegamente as tradições, decidida a fazer as coisas como sempre tinham sido
feitas… Não passou pela cabeça de Neve que a mãe não seguiria as restrições
e repleta de da Ordem. E que a Ordem permitiria.
Talvez Kiri não estivesse tão errada assim. Talvez a questão sempre tivesse
z firme até osido o poder, as definições do que era considerado sagrado se mantendo
ser feitas da intencionalmente mutáveis. Raffe deu um passo à frente, mas Arick pousou a
mão no ombro dele para impedi-lo. Neve não conseguiu interpretar a
ntes por algoexpressão no rosto de nenhum dos dois.
ndo no qual a As sacerdotisas, porém, eram a imagem da calma, mantendo o olhar fixo à
frente. Até mesmo Tealia, visivelmente abalada, manteve a expressão plácida
no rosto. Houve um farfalhar da manga branca das vestes das candidatas
levando as velas negras à pira, e todas aquelas riquezas pegaram fogo.
ck abriu um Uma emoção indecifrável apareceu no rosto pálido de Kiri. Encarou Neve
e Arick por um instante, depois desviou os olhos.
se fecharam; Quando Isla declarou a confirmação, não olhou para Neve.
— Por nossos Reis perdidos e pela magia de outrora…
As pétalas foram erguidas e a pira, acesa, enquanto os planos de Neve
caíam por terra.

ecoando nasA batida na porta soou rápida e brusca, quase furtiva. Neve parou de andar de
ser unânime.um lado para o outro e franziu a testa. A bandeja com o jantar quase intocado
s até chegar a já tinha sido retirada, e ela avisara à criada que não precisaria de ajuda para se
despir.
rte apesar da Outra batida furtiva.
— Neve, abra a porta.
ouxa na mão. Raffe.
bem pelo que Ela o puxou para dentro, sentindo o rosto enrubescer. Se pegassem Arick e
Isla seguia ela sozinhos no quarto, haveria fofocas; mas ela e Raffe causariam um
e tinham sido verdadeiro escândalo.
as restrições — Você faz ideia do problema que enfrentaria por vir aqui sem uma
acompanhante?
empre tivesse — Provavelmente o mesmo que você vai enfrentar por aquele espetáculo
se mantendo que fez na confirmação. — Ele arqueou uma das sobrancelhas. — O que foi
rick pousou aaquilo?
interpretar a Neve se sentou diante da escrivaninha. Não tinha energia para fingir.
— Você sabe o que foi aquilo.
o olhar fixo à Não tudo, com certeza. Mas Raffe a conhecia o suficiente para entender
essão plácidaque tinha a ver com Red.
as candidatas Raffe praguejou, passando a mão pelo cabelo cortado bem curto.
— Você precisa aceitar, Neverah. Isso está acabando com você, e eu…
ncarou Neve Ele parou de falar e suspirou. Em um movimento fluido, Raffe se agachou
diante dela e pegou suas mãos. Neve deveria avisar que aquilo era
inapropriado, lembrá-lo do que poderiam dizer. Mas o toque dele era tão
cálido…
nos de Neve — Neve. — Ele disse o nome dela com firmeza, como se ela sempre
pudesse contar com ele. — Red se foi.
— Ela está viva — sussurrou Neve, olhando para as mãos dela
u de andar deentrelaçadas às dele.
uase intocado — Mesmo que esteja, ela está presa a Wilderwood e perdida para nós.
ajuda para se Tão perto da verdade, mito e fato em uma dança hábil.
Raffe apertou a mão da Primeira Filha.
— Você precisa parar de tentar se perder também.
Neve já tinha se perdido. Sua mente era uma floresta, cheia de sombras
profundas e vinhas rasteiras, um labirinto de arrependimento. E agora que o
ssem Arick eplano tinha caído por terra, por culpa dela… Nem percebeu que uma lágrima
ausariam umescorria pelo rosto até sentir o gosto salgado nos lábios.
Raffe a enxugou com o polegar, envolvendo o rosto dela com delicadeza.
qui sem uma — O que você gostaria que ela fizesse? Se ela tivesse nascido primeiro, se
você fosse a destinada para o Lobo, o que gostaria que ela fizesse?
le espetáculo — Se eu tivesse sido destinada para o Lobo — cochichou Neve com
foiconvicção —, eu teria lutado. Eu teria fugido. Se eu tivesse que me entregar
para uma floresta mágica, não seria por algo inútil.
— Mas ela não fugiu. — Raffe colocou uma mecha de cabelo atrás da
orelha de Neve. — Ela escolheu ir. E você tem que encontrar uma maneira de
para entenderconviver com isso.
Neve contraiu os lábios até ficarem brancos. Fechou os olhos e encostou a
testa na dele.
— Que lindo isso — disse uma voz vinda da porta.
e se agachou Neve abriu os olhos de imediato. Raffe soltou a mão dela e se levantou,
e aquilo eraarrumando o casaco.
dele era tão Com uma sobrancelha arqueada, Arick se encostou no batente da porta,
segurando uma garrafa de vinho. Entrou cambaleando e a ofereceu para
e ela sempre Raffe, tropeçando no tapete. Com um sorriso forçado, Raffe recusou, mas
lançou um olhar apreensivo para Neve.
mãos dela — Eu não queria interromper. — Arick se sentou em uma cadeira diante
de Neve. O cabelo era uma confusão de mechas pretas na testa, os olhos
estavam vermelhos e feridos. Ele levou a mão enfaixada ao peito.
— As coisas seguiram um rumo interessante esta tarde, não foi?
— Talvez você consiga fazê-la entender — disse Raffe, cruzando os
braços. — Ela precisa esquecer isso.
a de sombras — Talvez eu consiga. — Arick tomou um longo gole da bebida. — Afinal,
agora que oeu sou o prometido dela.
uma lágrima Raffe contraiu o maxilar.
— Ou talvez — continuou Arick, girando a garrafa com o que restava do
vinho — eu possa simplesmente apoiar qualquer decisão que Neve tomar.
o primeiro, se Raffe deu outro sorriso forçado.
— Mesmo se tais decisões forem perigosas?
u Neve com — E o que é a vida sem um pouco de perigo, Raffe?
me entregar — Você está bêbado.
— Acho que vocês dois se divertiriam muito mais se seguissem meu
belo atrás daexemplo.
ma maneira de — Eu me divertiria muito mais se vocês dois parassem de falar como se eu
não estivesse aqui — retrucou Neve, levando os dedos às têmporas, tentando
e encostou acontrolar uma dor de cabeça latejante.
Desconfiara que talvez Arick fosse aparecer para discutirem um plano
alternativo. Em vez disso, ele parecia mais preocupado em afogar as mágoas
se levantou,na bebida, fazendo com que a raiva crescesse no peito dela, o tipo de raiva
tranquilo que podia ser muito perigoso.
nte da porta, O tipo que a fazia pensar em veias sombrias e convocação de poder, e em
fereceu paracomo usá-lo seria fácil.
recusou, mas Raffe suspirou.
— Neve…
adeira diante — Me deixem em paz, por favor. — Ela respirou fundo, levantando o
sta, os olhosrosto. — Estou cansada.
Raffe abriu a boca como se talvez fosse dizer mais alguma coisa, mas
pousou o olhar em Arick e decidiu ficar quieto.
cruzando os Arick se levantou com pernas vacilantes, agarrou o ombro de Raffe e disse:
— Você ouviu a dama.
da. — Afinal, Raffe se empertigou e se virou para a porta. Arick o seguiu. Mas, quando
chegou à porta, olhou para ela novamente e fez um gesto com o queixo em
direção à garrafa que deixara na escrivaninha.
ue restava do — Talvez a ajude a dormir. — O curativo na mão se destacava nas
sombras. — Já me ajudou.
Neve franziu a testa.
— Você tem tido dificuldade para dormir?
Ele não sorriu, embora a boca tenha se contraído como se estivesse
tentando.
guissem meu — Algo assim. — Arick saiu cambaleando. — Não se preocupe, Neve —
murmurou ele, arrastando as palavras. — Nem tudo está perdido.
ar como se eu Ela franziu a testa de novo, observando enquanto ele cambaleava pelo
ras, tentandocorredor, deixando a porta entreaberta.
Neve pegou a garrafa pelo gargalo e a levou aos lábios. O vinho era forte o
m um plano suficiente para que sentisse a cabeça leve depois de apenas um gole, mas
ar as mágoas aquilo era preferível a sentir o peso do fracasso. Bebeu mais um pouco e
tipo de raiva limpou a boca com as costas da mão.
Em questão de minutos, esvaziou a garrafa, o que fez seus pensamentos
e poder, e emficarem confusos e conferiu um brilho quente e embotado aos acontecimentos
daquela tarde.
Pela porta entreaberta, viu um lampejo branco no corredor. Neve se
levantou, sentindo as pernas leves e revirando os olhos. Se alguma criada
levantando o estivesse em um encontro furtivo com algum cortesão, ela não queria ouvir.
Foi até a porta e, depois de algumas tentativas de pegar a maçaneta, espiou o
a coisa, mascorredor.
Uma túnica branca conhecida desapareceu em um canto, junto a um brilho
Raffe e disse:de cabelo vermelho. Kiri?
Quem quer que fosse, já tinha desaparecido quando ela chegou ao
Mas, quando corredor. Neve fechou a porta, tirou o vestido, desajeitada, e finalmente
o queixo emmergulhou no sono.

estacava nas

se estivesse

upe, Neve —

baleava pelo

ho era forte o
m gole, mas
um pouco e

pensamentos
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Pela porta entreaberta, viu um lampejo branco no corredor. Neve se
levantou, sentindo as pernas leves e revirando os olhos. Se alguma criada
estivesse em um encontro furtivo com algum cortesão, ela não queria ouvir.
Foi até a porta e, depois de algumas tentativas de pegar a maçaneta, espiou o
corredor.
Uma túnica branca conhecida desapareceu em um canto, junto a um brilho
de cabelo vermelho. Kiri?
Quem quer que fosse, já tinha desaparecido quando ela chegou ao
corredor. Neve fechou a porta, tirou o vestido, desajeitada, e finalmente
mergulhou no sono.
17

O armário estava com cheiro de poeira, o que não era incomum na Fortaleza,
com a floresta tão perto quanto a respiração seguinte. Mas, em geral, esse
cheiro se misturava com outros: de plantas e terra. Ali, o cheiro era só de
poeira, de algo fechado por tanto tempo que acabou perdendo todas as suas
características.
Red sacudiu as mãos para evitar que o pó suspenso caísse nos olhos.
— Parece que faz uns cem anos que alguém abriu este armário.
— Pode reclamar com Fife — retrucou Lyra. — Mas, em defesa dele, a
Fortaleza ficou muito mais difícil de limpar depois que a floresta começou a
invadir.
O cinto roubado de Eammon escorregou para o quadril de Red, que
resmungou enquanto o ajeitava na cintura.
— Qualquer coisa será uma melhora, acho.
Quando o corredor ruiu, Red perdera todas as roupas. Nas semanas desde
então, tinha se virado com a camisola que estava usando naquele dia e
camisas de Eammon com ajustes: elas chegavam quase aos joelhos dela e,
com o cinto que também pegara emprestado dele, davam para o gasto. Fife
mal tinha notado, mas, na primeira vez que Eammon a vira com o vestido
improvisado, ficou com a ponta das orelhas vermelha.
Dividir o quarto a única faceta do casamento de conveniência à qual
aderiram, mesmo que fosse apenas um detalhe técnico. Red dormia sozinha e
acordava sozinha. O único sinal de que Eammon tinha estado lá eram as
roupas de cama emboladas em um canto do cômodo e o hábito dele de deixar
as portas do guarda-roupa abertas. Red sempre as fechava.
Havia dias em que ela nem mesmo o via. Ele ficava na biblioteca ou saía
para Wilderwood. Não seguia os mesmos horários que ela — ninguém
seguia, na verdade — e, às vezes, ela acordava e o ninho de cobertores dele
ainda estava imaculado.
na Fortaleza, De vez em quando, havia um bilhete na escrivaninha bagunçada, escrito na
m geral, esseletra inclinada do Lobo, pedindo que ela fosse até a torre. A magia que
iro era só detreinava com a ajuda dele era pequena, nada tão arriscado quanto curar um
todas as suas ferimento; ela conseguiu fazer com que heras crescessem e alguns botões se
abrissem com sucesso. Não era tão fácil de direcionar quanto tinha sido
naquela noite em que o curara, mas conseguia controlá-la se mantivesse as
lembranças de lado e pensasse em Eammon, deixando que a união deles pelo
efesa dele, acasamento e com a floresta transformasse a magia em algo fácil de manejar.
ta começou aA proximidade física entre os dois parecia ajudar também, mas a ideia de
mencionar aquilo a ele fazia com que Red se sentisse vulnerável de um jeito
de Red, queque não queria analisar com muita atenção, então guardava a informação para
si.
Red estremeceu e sentiu a pele da canela se arrepiar. Além de indecentes,
manas desdeas camisas de Eammon não ajudavam muito a protegê-la do frio de
aquele dia e Wilderwood. Lyra deu a ideia de procurar roupas antigas pelo castelo, e as
elhos dela e,duas tinham conferido todos os armários que ainda existiam na Fortaleza até
o gasto. Fifeencontrá-las.
om o vestido — Eu bem que poderia emprestar alguma coisa para você — disse Lyra,
encostando-se na parede. Estava limpando a unha com uma adaga, tentando
ência à qualsoar casual. — Se você quiser.
mia sozinha e Desde que Red chegara à Fortaleza, Lyra tinha sido bem mais amigável do
o lá eram asque Fife, mas ainda assim mantinha certa distância. Nas últimas semanas,
ele de deixarporém, Lyra demonstrara querer aprofundar a amizade, contando para Red
sobre as criaturas de sombras que via na floresta e histórias da estranha
oteca ou saía existência dela, de Fife e Eammon em Wilderwood. A favorita de Red até
— ninguémaquele momento era a de quando Eammon tinha decidido aprender a cozinhar
bertores delee mandara Fife para a Fronteira com uma lista de ingredientes maior do que o
braço do rapaz. Aparentemente, Eammon quase ateara fogo na cozinha, e Fife
da, escrito na passara a ser o responsável pela comida a partir de então.
A magia que Aquilo fez com que Red se perguntasse sobre as outras Segundas Filhas e
nto curar umcomo fora a vida delas ali antes de Wilderwood matá-las e drená-las. Parecia
uns botões seum bom sinal o fato de Lyra tentar se aproximar, como se acreditasse que
to tinha sidoRed ainda fosse ficar lá por um tempo.
mantivesse as Red se inclinou para ver além da porta aberta do armário, arqueando
ão deles pelodeliberadamente uma das sobrancelhas enquanto olhava para a compleição de
l de manejar.Lyra, que era muito mais magra do que ela.
as a ideia de — Tentar usar suas roupas pode acabar em um resultado ainda mais
l de um jeitoindecente do que usar as de Eammon.
ormação para Lyra encolheu os ombros.
— Você que sabe.
e indecentes, Os vestidos estavam dobrados na prateleira mais baixa. Red passou as
do frio demãos com cuidado pela seda macia e pelo brocado suntuoso, temendo que
castelo, e as fossem se desfazer sob o toque. Havia vestidos de vários tamanhos e com
Fortaleza até estilos que só tinha visto em livros de história. O peso dos séculos que tinham
passado guardados os tornava mais pesados do que deveriam.
— disse Lyra, Lyra espiou pela porta do armário, que ficava atrás da escadaria, e ergueu
aga, tentando as sobrancelhas. Sob a luz pálida da janela do solário, parecia que uma
auréola emoldurava os cachos fechados e ruivos.
amigável do — Que tal?
mas semanas,
ndo para Red O vestido que Red segurava era de um tom profundo de verde, com
da estranhabordados de vinhas douradas ao longo das mangas e da bainha.
a de Red até — Este parece promissor.
er a cozinhar Fife e Eammon não estavam por perto, então Red se trocou atrás da
aior do que oescadaria. O vestido ficou um pouco apertado no peito e no quadril, mas
ozinha, e Fifeserviu. Ela baixou o braço e perguntou:
— Ficou bom?
ndas Filhas e — Ficou.
á-las. Parecia Havia um brilho estranho de desconforto no olhar de Lyra que nem mesmo
reditasse queo sorriso conseguiu disfarçar.
Red passou os dedos pelo bordado.
o, arqueando — Você sabe de quem era?
ompleição de — Merra, eu acho.
Merra. A Segunda Filha antes de Red. O tecido parecia estranho contra a
o ainda maispele.
Lyra levou a mão à alça que mantinha seu tor preso, depois verificou a
bolsinha na cintura para conferir se tinha um bom estoque de sangue.
— Vou sair para fazer a patrulha. Torça para que eu não encontre monstros
ed passou as — disse, e saiu para o corredor banhado pela luz crepuscular.
temendo que A saia verde do vestido de Merra escorregava pelas pernas nuas de Red; a
anhos e com manga pinicava os braços. Ela se virou para descer a escadaria e seguir para a
os que tinhambiblioteca. Já que passaria o dia sozinha, pretendia aproveitar para ler.
Deu uma olhada no corredor, uma verificação rápida que se tornara parte
aria, e ergueuda rotina. As sentinelas não tinham se movido desde aquela noite em que
cia que uma Wilderwood fora atrás dela. Nos dias que praticavam magia, Eammon sempre
fazia um exame minucioso das mãos de Red para ver se havia alguma ferida
antes de permitir que ela tocasse em qualquer coisa. Uma vez, tinha chegado
ao ponto de obrigá-la a colocar um curativo em um corte feito por um papel.
verde, com Mesmo assim, Red sempre dava uma olhada nos arredores também, só para
prevenir.
Com cuidado, passou o olhar pela confusão de raízes e vinhas. Mesmo
cou atrás da assim, levou um instante para perceber o que havia de errado: o buraco no
quadril, maspatamar assombrado com o qual já tinha se acostumado.
As sentinelas tinham desaparecido.
Sentiu o sangue gelar nas veias, procurando nas sombras, certa de que as
árvores brancas tinham adentrado mais na Fortaleza, talvez se preparando
e nem mesmopara atacá-la de novo. Mas não havia nada se mexendo além da poeira.
Devagar, Red foi até a exata linha que indicava onde Eammon tinha
cortado a floresta. Folhas soltas e raízes magras se espalhavam pelo chão,
quietas e silenciosas.
Havia uma mancha de sangue em uma das folhas mortas. Escarlate
anho contra aentremeado de verde. Depois de vê-la, ficou mais fácil notar outras manchas
de sangue: no musgo, nos galhos.
s verificou a Fife verificava as sentinelas todos os dias, estabilizando-as com o próprio
sangue o máximo que podia. Até onde Red sabia, estavam livres de fungos-
ntre monstrosde-sombra, bem o suficiente até Eammon recuperar as forças para poder
movê-las. Mas se ele tinha sentido a necessidade de sangrar por elas agora
uas de Red; a todas de uma vez…
seguir para a Então, estava piorando. Ainda estava piorando, apesar de ela usar a magia
da floresta, apesar do enlace deles. Ainda estava tirando partes de Eammon,
tornara partefosse através de uma veia ou de uma mudança no seu corpo.
noite em que Red mordeu o lábio e, tomando uma decisão rápida, dirigiu-se à porta.
mmon sempre No pátio, a neblina cobria o chão, quebrada apenas por uma forma fora de
lguma ferida lugar na paisagem antes de escondê-la de novo. Era algo alto e reto além da
inha chegadotorre, perto do portão.
por um papel. Outra sentinela.
bém, só para E, ao lado dela, de joelhos, Eammon. A ponta afiada da adaga na mão dele
brilhava sob a penumbra da luz lavanda.
nhas. Mesmo — Espere! — Red levantou a saia do vestido de Merra e correu descalça
o buraco nopelo musgo, as batidas do coração um lembrete do sangue no chão. —
Eammon, espere!
Ele ergueu a cabeça, empertigando os ombros como se ela o tivesse
rta de que asflagrado fazendo alguma coisa proibida. Manteve a lâmina apontada para a
e preparandopalma da própria mão antes de afastá-la. Quando ficou de pé, foi em um
movimento lento, como se sentisse que os ossos eram pesados demais para os
ammon tinha músculos levantarem.
m pelo chão, Red parou quando o alcançou, ofegante. A jovem sentinela estava do lado
de fora do portão, tão alta quanto Eammon, com nodos indicando o começo
as. Escarlatede galhos na copa pálida.
tras manchas — Eu vi o corredor — disse ela, tentando acalmar a respiração. — Por que
você tirou todas de uma vez?
om o próprio — Foi preciso. — Eammon fechou os dedos, como se quisesse esconder os
es de fungos- cortes na palma da mão dos quais ainda escorria seiva. — Fife as verificou
s para poderhoje cedo. Fungos-de-sombra tinham tomado até quase metade dos troncos.
agora, Ele passou a mão cansada pelo rosto, deixando uma mancha de escarlate e
verde na testa, antes de continuar:
usar a magia — Se eu não as levasse agora para o lugar delas, não conseguiria mais.
de Eammon, Teriam apodrecido onde estavam. E eu não posso… Wilderwood não vai
conseguir lidar com tantos pontos fracos.
A sentinela infectada por sombras parecia delgada na penumbra anormal,
orma fora de erguendo-se na direção do céu sem estrelas como se pudesse escapar do solo.
reto além da — Eu não entendo. Estou usando a magia. Nós nos casamos. — Ela
fechou os dedos, como se fosse socar o tronco branco. — Por que isso não é
suficiente?
na mão dele Os olhos de Eammon percorreram o rosto dela, tomados por um brilho de
tristeza, mas ele não respondeu.
rreu descalça Red cerrou os dentes. Deu um passo na direção dele, tentando cobrir a
no chão. —distância entre os dois, e estendeu a mão para a adaga que ele segurava.
Eammon a afastou.
ela o tivesse — Não.
ontada para a — O que mais posso fazer? O meu sangue foi a única coisa que fez alguma
, foi em umdiferença até agora!
emais para os Os olhos dele cintilaram, e o Lobo segurou a adaga com mais força.
— Não — repetiu ele, como se a palavra fosse um escudo.
stava do lado — Tem que haver mais alguma coisa que a gente possa fazer. Alguma
do o começo coisa que não envolva sangue. — Ela mordeu o lábio, e seus olhos
encontraram os dele. — E quanto à magia?
o. — Por que Eammon desviou o olhar, quase contraindo o rosto. Curvou os ombros
como se de repente estivesse superciente dos três centímetros extras que não
e esconder oshaviam retrocedido.
as verificou Red percebeu que as mudanças o assustavam. Que Eammon parecia se
envergonhar daquilo. Só não sabia se era vergonha das modificações que
de escarlate eWilderwood provocava ou do medo que ele sentia em relação a elas.
— Talvez as mudanças não continuem por muito tempo — sussurrou Red.
eguiria mais. — Elas continuaram da última vez.
wood não vai Pelo amor de todos os Reis, como a voz dele soava cansada.
— Você estava fazendo isso sozinho — argumentou ela. — Mas não vai
bra anormal, fazer mais.
apar do solo. A resposta dela pareceu assustá-lo e o fez engolir em seco. Os olhos cor de
. — Elaâmbar passaram da sentinela para ela, como se estivesse medindo a distância
ue isso não é entre a garota e a árvore.
um brilho de — Não gosto de você tão perto delas, Red — disse ele em voz baixa. —
Mesmo quando não há nenhum corte para elas tentarem entrar, nenhum
ndo cobrir asangue. Eu sei o que elas querem fazer.
— E eu sei que você não vai permitir. — Ela cruzou os braços, passando
os dedos pelo bordado da manga. — Nós nos casamos, e isso fez a magia vir
com mais facilidade, mas fazer ervas crescerem em vasos claramente não está
ue fez algumaajudando em nada. Então, vamos tentar usá-la agora.
Cada linha do rosto de Eammon demonstrou que ele não gostava nada da
ideia, os lábios contraídos e as sobrancelhas baixas.
— Eu confio em você. — Ela tentou dizer de forma leve, mas as palavras
azer. Alguma não poderiam ter soado mais impertinentes. — Você deveria fazer o mesmo.
seus olhos Silêncio. Então, Eammon suspirou e passou a mão no rosto outra vez.
Quando voltou a olhar para ela, finalmente notou o vestido e arregalou os
u os ombros olhos.
xtras que não — Onde você pegou isto?
— Lyra e eu encontramos. Eu já estava farta de usar suas roupas.
on parecia se Ele enrubesceu.
ficações que — Justo.
Rachaduras finas de fungos-de-sombra subiam pelo tronco da jovem
sentinela, avançando mais do que instantes antes. Red olhou para aquilo
como se fosse um exército chegando para atacá-los.
— Me diga o que fazer.
Mas não vai Depois de um instante, Eammon enfim guardou a adaga.
— Me deixe ver suas mãos.
olhos cor de Ela as estendeu com a palma virada para cima. Eammon as pegou, as
do a distânciacicatrizes dele roçando a pele macia dela, analisando-as com atenção para
detectar qualquer traço de ferimento. Satisfeito, ele as soltou e o ar frio
substituiu a calidez do toque dele.
voz baixa. — — A localização de cada sentinela é deliberada.
trar, nenhum — Como tijolos em uma muralha.
— Exatamente. Como tijolos em uma muralha. — Eammon colocou a mão
ços, passandono tronco branco. — Para impedir que a Terra das Sombras consiga passar.
z a magia virPara manter a muralha forte, temos que colocar as sentinelas de volta onde
ente não estádeveriam estar. Quando elas se curam, retornam para o lugar.
— E como nós as curamos?
tava nada da — Direcionando a magia para afastar o fungo.
— Por meio do toque, imagino. — Ela não entendeu por que a voz saiu tão
s as palavras baixa e rouca.
Eammon contraiu os ombros, e a resposta dele soou irritada.
to outra vez. — Exatamente.
arregalou os As cicatrizes antigas na mão dele eram brancas, combinando com o tronco
da sentinela sob seu toque. Por instinto, Red cobriu a mão dele com a dela.
— Na árvore, Red — sussurrou Eammon.
Ela afastou a mão, sentindo o rosto afogueado. Depois de uma breve
hesitação, tocou a sentinela de leve.
Assim que a pele entrou em contato com o tronco, Red sentiu uma corrente
o da jovempassar por todos os membros e subir pela espinha. O poder se desdobrou
para aquilo dentro dela, florescendo e fluindo por todo o corpo até chegar à palma das
mãos, a agulha de uma bússola que tinha a sentinela como norte. Por um
instante, a pele parecia uma barreira indesejável que a impedia de se unir a
algo do qual estava separada havia muito tempo. Red sibilou entredentes.
— O que foi? — A voz de Eammon vacilou com ansiedade, a postura
as pegou, ascontraída de tensão.
atenção para — É uma sensação diferente da que eu esperava. — Ela tentou sorrir. — E
u e o ar frio agora?
Ele pareceu prestes a cancelar tudo no espaço entre a pergunta dela e a
resposta dele. Contraiu o maxilar, o olhar se alternando entre a mão dela e o
olocou a mão rosto. Red apertou os lábios.
nsiga passar. Por fim, ele suspirou.
de volta onde — Se as sentinelas são uma muralha de tijolos, nós somos o cimento que
os une. — Eammon olhou para a árvore branca. — Nossa magia é um pedaço
de Wilderwood. Assim como a sentinela. Para curá-la, transferimos nosso
poder para ela, canalizando-o de volta à fonte. Wilderwood vai ficar mais
a voz saiu tão forte e nos fortalecer de volta, como a chuva que alimenta um rio que evapora
e vira chuva de novo.
— Um ciclo. — Havia uma sincronicidade naquilo. Ciclos de Lobos.
Ciclos de Segundas Filhas. Ciclos de pesar.
com o tronco — Exatamente — disse Eammon com voz suave. — Só precisa deixar a
magia fluir através de você. Liberá-la.
A sentinela vibrava sob o toque dela. Havia algo atrás da casca da árvore,
e uma breve uma energia atraída por ela, empurrando. Sentiu um frio de antecipação na
barriga.
uma corrente A expressão dela talvez tenha mostrado algo, porque Eammon meneou a
se desdobrou cabeça e disse:
à palma das — Você não…
orte. Por um — Pode deixar, eu consigo.
de se unir a Red se concentrou no fluxo que corria por suas veias, no calor da casca da
árvore sob a palma da mão. Controlou a respiração, diminuindo o ritmo,
de, a posturaenquanto contava as batidas do metrônomo do próprio coração até que
estivessem em sincronia. Pensou em Eammon ao lado dela, precisando de
u sorrir. — E ajuda, e acalmou o caótico oceano do poder dela até as águas ficarem
plácidas enquanto fechava os olhos.
unta dela e a Um verde profundo tomou a mente de Red, mudando de tonalidade atrás
mão dela e o das pálpebras fechadas, pintando todos os pensamentos em tons de verde-
marinho a esmeralda, iluminado no centro por um brilho suave dourado.
Quanto mais se concentrava, mais claro ficava. O brilho era a jovem muda,
cimento que uma forma brilhante em um mar de formas brilhantes. Uma rede dourada de
é um pedaçoárvores altas e retas com raízes profundas, luzes fortes lançando sombras
erimos nossosuficientes para segurar o mundo inteiro.
ai ficar mais Algumas sentinelas brilhavam menos; as mais fracas eram como a chama
o que evaporadébil de uma vela, enquanto outras eram como as labaredas fortes de uma
fogueira. As raízes formavam um conjunto complexo de linhas douradas
os de Lobos.irregulares. Mas todas levavam a uma forma familiar, a rede vasta se unindo
em uma silhueta que ela conhecia muito bem.
cisa deixar a Eammon. Tão parte de Wilderwood como qualquer outra sentinela. As
raízes passando por ele como se ele próprio fosse o solo da floresta. O
ca da árvore,homem entrelaçado intrinsecamente com a floresta, partes iguais de galhos e
ntecipação naossos. Metade dele integrada a Wilderwood, mas não drenada por ela, não
como tinha acontecido com os pais e as outras Segundas Filhas. Mantendo
on meneou a tudo com uma força que ela nem conseguia imaginar, com uma determinação
que a maravilhava e assustava ao mesmo tempo.
Ele não era humano. Ela sabia disso, tinha visto a prova várias e várias
vezes. Eammon era diferente, um ser tão misterioso quanto a floresta que
r da casca dahabitava. A floresta que habitava nele.
ndo o ritmo, Aquela era a primeira vez que o lembrete provocava uma dor no coração
ação até que dela.
recisando de — Red? — A voz dele soou hesitante.
guas ficarem Ela pressionou os dedos contra a tronco como se o Lobo fosse capaz de
sentir, uma pressão tranquilizadora.
nalidade atrás — Eu estou bem. — Uma pausa longa enquanto ela o analisava em sua
ns de verde- mente, a semente da qual toda Wilderwood florescia. — É lindo.
Silêncio. A floresta parecia prender a respiração.
jovem muda, — Siga minhas orientações — disse Eammon por fim.
e dourada de Então, a silhueta dourada nos pensamentos dela brilhou ainda mais. Uma
ndo sombrasluz líquida escorria dele junto à rede brilhante à qual ele estava preso, mas
seguindo diretamente para a sentinela.
omo a chama Com gentileza, como uma flor se abrindo para o sol, Red deixou o poder
ortes de uma crescer, fluindo pelo seu âmago até chegar à palma das mãos, com calma e
has douradaspropósito por causa da proximidade com Eammon. A luz que emanava não
sta se unindoera tão forte como a dele, mas tão bem-vinda quanto.
O brilho da sentinela diante deles começou a aumentar aos poucos, a
sentinela. Aschama da vela ganhando força enquanto a luz deles afogava a sombra.
a floresta. O Red se manteve firme, pressionando as mãos contra a árvore branca, e
s de galhos e deixou a magia circular, a chuva alimentando o rio. À medida que a imagem
por ela, nãoturva da sentinela começava a brilhar em sua mente, sentiu um poder dourado
as. Mantendo fluindo para dentro dela também. Assustou-se no início, o medo se
determinaçãoespalhando pelas escápulas. Naquele momento, porém, Wilderwood não
tinha intenção de conquistar. Era apenas parte do ciclo, um encaixe nas
árias e váriasengrenagens. O filamento fino e cintilante de magia que adentrava o corpo
floresta quedela brilhava, circundando languidamente seus ossos.
A sensação… era boa. Ela se sentiu bem, e foi a primeira vez em que
or no coraçãorealmente acreditou naquilo, apesar da insistência de Eammon e Fife de que
as sentinelas não eram más apesar de sedentas por Red. Parecia um conceito
simples demais para uma coisa tão complexa, mas Red e Wilderwood
sse capaz de estavam enfim de acordo, ao menos no nível mais básico. Queriam as
mesmas coisas. Wilderwood estava empenhada na própria sobrevivência, na
própria necessidade.
isava em sua Red lembrou-se de estar correndo pela floresta no seu aniversário, o forte
desejo de viver dentro dela. Era exatamente o que sentia naquela sentinela e
em Wilderwood, a floresta à qual estava ligada. Uma determinação profunda
e impulsiva de viver.
a mais. Uma Quando a sentinela se foi e a palma da sua mão tocou na de Eammon em
a preso, masvez de no tronco, ela não fazia ideia de quanto tempo tinha se passado.
Abriu os olhos, deixando a rede brilhante de Wilderwood para trás para
ixou o poder olhar para o homem diante dela. Eammon a observava sob as sobrancelhas
com calma ebaixas, os lábios carnudos ligeiramente entreabertos, o cabelo preto caindo na
emanava nãotesta. A parte branca do olho ainda tinha traços de esmeralda; sua sombra no
chão, maior do que antes, exibia extremidades emplumadas como folhas.
os poucos, aTinha arregaçado as mangas, mostrando os antebraços revestidos com cascas
de árvore.
ore branca, e Eammon não tentou esconder as mudanças que a magia provocava. Ficou
ue a imagem parado ali, permitindo que ela visse.
oder dourado Os pulsos de Red estavam pressionados contra os dele, a rede das veias
o medo se dela contornada em verde. Sentiu o impulso de cobri-las, mas manteve as
derwood nãomãos onde estavam. Se ele não estava escondendo as modificações, ela
encaixe nas também não esconderia. Tinham acabado de curar Wilderwood, mesmo que
rava o corpo apenas uma pequena parte dela. Fizeram aquilo juntos e sem derramar
sangue, o que acabou por forjar uma honestidade entre eles.
vez em que Lentamente, o verde dos olhos dele retrocedeu. A casca de árvore
e Fife de que desapareceu, revelando apenas a pele cicatrizada; a altura diminuiu, as
um conceito extremidades da sombra dele ficaram mais sólidas. Nenhuma mudança
Wilderwoodpermanente, pelo menos daquela vez, embora aqueles centímetros adicionais
Queriam aspermanecessem. Apenas mais uma cicatriz, outra marca deixada pela floresta.
evivência, na Eammon ficou olhando para ela por mais um tempo, as linhas sérias do
rosto inescrutáveis enquanto as veias que subiam pelos braços dela
sário, o forte desbotavam e voltavam ao tom de azul. Então, Eammon afastou a mão da
la sentinela edela e se virou.
ção profunda Red pressionou a palma contra as coxas, banindo o calor do toque dele que
ainda sentia na pele. Aos seus pés, onde a sentinela estivera, havia apenas
Eammon emmusgo intacto.
— Parece que funcionou.
ara trás para Eammon confirmou com um resmungo baixo. Red acompanhou o olhar
sobrancelhasdele: um pouco além do portão, entre uma fileira de outras árvores, a jovem
eto caindo nasentinela crescia.
ua sombra no Só que não era mais uma muda jovem, e sim uma árvore totalmente
como folhas. crescida e com tronco forte. As folhas brotavam dos galhos brancos
s com cascas agrupados na copa vibrante e verdejante.
— Parece que sim.
ocava. Ficou A expressão dele parecia ser de surpresa, transformando as linhas duras do
semblante iluminado pela floresta e pela névoa.
ede das veias Escondida sob a manga do vestido, Red sentiu a Marca do Pacto repuxar.
s manteve asApertou-a em um movimento rápido enquanto se obrigava a desviar o olhar
ficações, eladele e voltá-lo para a sentinela.
, mesmo que Eammon sibilou. Red tinha visto a floresta entrelaçada a ele, enraizada
em derramar entre os ossos, o fracasso da floresta o ferindo.
— Você não vai mais sangrar por ela — declarou Red com veemência,
a de árvore mas em tom suave. — Essa maldita floresta não vai tirar mais pedaços de
diminuiu, as você enquanto eu estiver aqui.
ma mudança Havia negação nos olhos dele; quando olhou para ela, porém, um brilho
os adicionaistênue e indecifrável a substituiu.
pela floresta. A palma da mão de Red ainda vibrava; ela a balançou para tentar espantar
has sérias do a sensação.
braços dela — Tem outras? Nós podemos…
ou a mão da — Não vamos fazer mais nada até você calçar um par de sapatos. —
Eammon lançou um olhar expressivo para os pés descalços dela.
oque dele que Ela afundou os dedos no musgo.
havia apenas — Wilderwood comeu minhas botas, lembra? — Andar descalça tinha
funcionado até aquele momento. Se fosse apenas correr pelo pátio para
chegar à torre ou permanecer na Fortaleza, até que dava para o gasto. Além
nhou o olhar disso, tinha roubado algumas meias de Eammon para quando precisasse. —
ores, a jovemNenhuma das Segundas Filhas deixou sapatos extras.
Eammon fez um movimento com o braço e, por um instante, Red achou
e totalmenteque ele fosse pegá-la no colo para que não pisasse no chão frio.
hos brancos Mas o momento passou, e ele se virou para a torre.
— Eu procurei nas despensas e encontrei um par antigo que pode ficar para
você. Eu os deixei perto da lareira. — Ele olhou por sobre o ombro antes de
nhas duras dovoltar o olhar para a torre. — Não vão servir, mas isso não a impediu de usar
minha camisa.
acto repuxar. — Estava frio demais para andar pelada por aí.
sviar o olhar Ele não se virou, mas abriu a mão ao lado do corpo e fez um som abafado.
Atrás dele, Red sorriu.
le, enraizada Ela percebeu um ligeiro tremor nos ombros de Eammon quando abriram a
porta da torre, embora os passos subindo a escada continuassem firmes. Ele
m veemência,nunca conseguia esconder dela a exaustão que realmente sentia, e, depois de
s pedaços de ver como Wilderwood estava profundamente entranhada nele, Red entendia o
motivo.
m, um brilho Até mesmo ali, Eammon tentava esconder. Como se fosse algo
vergonhoso, algo que estava determinado a suportar sozinho. Aquilo fez Red
ntar espantar desejar incutir magia em todas as árvores daquela maldita floresta, para
fortalecê-las e puni-las em igual medida.
e sapatos. — — Tenho uma coisa para te mostrar mesmo — disse o Lobo. A lareira
brilhava nas constelações prateadas do teto quando ele olhou por sobre o
ombro. — Duas coisas, na verdade.
escalça tinha Ele foi até a única mesa, puxando o cabelo para trás em um gesto de
o pátio paranervosismo.
gasto. Além — Não estão novinhos em folha, mas pelo menos já dá para ler — disse
recisasse. — ele.
Red se aproximou devagar. Havia livros espalhados pela mesa, ao lado de
e, Red achou uma bolsa de couro que ela conhecia bem.
Os livros dela.
Ela deu uma risadinha ofegante, passando o dedo pelas lombadas
ode ficar paraempoeiradas. Havia marcas de lama nas capas e manchas verdes onde alguma
mbro antes devegetação havia crescido e escurecido a tinta.
pediu de usar — Achei que os tivesse perdido quando o corredor ruiu.
— Quase. Deu muito trabalho tirá-los do meio do musgo.
Ela ficou com os olhos marejados.
som abafado. — Obrigada.
O livro de poemas da mãe estava no topo da pilha. A terra havia tirado
do abriram atodo o dourado da capa. Red o pegou e o abraçou junto ao peito.
m firmes. Ele — Obrigada, Eammon — repetiu ela.
e, depois de — De nada.
ed entendia o Ele se remexeu como se não soubesse bem como se comportar. Abriu e
fechou as mãos ao lado do corpo.
fosse algo Depois de um momento, Eammon se afastou e apontou para a lareira.
quilo fez Red — As botas estão ali — disse ele, sem necessidade. — E tem mais uma
loresta, para coisa.
Red enfiou o pé na bota; eram grandes demais, mas quentinhas. Foi até
onde Eammon estava, perto das janelas com molduras com vinhas
bo. A lareiraentalhadas. Havia algo apoiado na parede, envolto em um tecido cinzento.
por sobre o — Talvez não funcione mais. — Ele lançou um olhar sério para ela, todo o
nervosismo de antes cuidadosamente controlado. — Mas não achei certo
um gesto deesconder de você.
— Parece sinistro.
a ler — disse Eammon afastou o tecido. Abaixo havia um espelho ou algo do tipo —
mas, em vez de refletir a imagem deles, a superfície tinha um tom fosco de
a, ao lado de cinza. A cor no meio variava, como se Red estivesse olhando em um jarro
cheio de fumaça.
— O que é?
as lombadas — Minha mãe fez isto com a magia de Wilderwood. — Eammon olhou
onde algumapara ela com olhos inescrutáveis. — Para ver a irmã dela, Tiernan.
A compreensão atingiu Red como uma onda. Ela sentiu as mãos dormentes
ao lado do corpo. Alternou o olhar entre o espelho e Eammon, a cautela
suplantada pela saudade. Tinha se acostumado a afastar os pensamentos de
Neve nas últimas semanas na floresta, mas só a menção da palavra irmã foi o
suficiente para fazer seu coração parecer querer saltar do peito.
havia tirado — Ah.
— É antigo — avisou Eammon. — Há séculos que ninguém o usa e, do
jeito que Wilderwood está agora, talvez seja completamente inútil. Mas eu…
— Ele parou de falar e respirou fundo. — Você disse que, se pudesse fazer
rtar. Abriu e qualquer coisa, diria para sua irmã que está em segurança. Você não vai
conseguir falar com ela através do espelho, mas, pelo menos, vai conseguir
vê-la.
em mais uma Gratidão era um termo que não chegava nem perto de descrever a leveza
que a Segunda Filha sentiu no peito, como se um peso enorme que estava
nhas. Foi atécarregando de repente tivesse sido retirado dali.
com vinhas
— Eammon… — Ela fez uma pausa, engolindo em seco. — Eammon, isto
ra ela, todo oé…
o achei certo — Sinto muito que seja tudo que tenho para dar para você.
— É o suficiente. — A voz dela saiu de forma imediata e instintiva. Na luz
da lareira, os olhos dele pareciam mel.
o do tipo — Red deu um passo para a frente, estendendo a mão para o espelho, mas
tom fosco desem tocá-lo.
em um jarro — Como funciona?
— Sacrifício. — Eammon deu uma risada seca. — É claro.
— Sangue?
mmon olhou — Não. — A resposta foi rápida e afiada. — Quer dizer, funcionaria, mas
talvez devêssemos dar um descanso para o sangue.
os dormentes A trança grossa de Red caia sobre o ombro; ela arrancou um fio pela raiz e
on, a cautelaergueu a mão.
nsamentos de — Que tal isto?
foi o Eammon assentiu, com os braços cruzados e o maxilar contraído.
— Vou ficar bem aqui — disse ele com voz preocupada de novo. — Se
alguma coisa parecer remotamente estranha, puxo você de volta.
m o usa e, do Red fez um som distraído de concordância, concentrando toda a atenção na
til. Mas eu… superfície fosca do espelho. Com cuidado, enrolou o longo fio de cabelo nas
pudesse fazerespirais da moldura, deu um passo para trás e olhou para a escuridão.
Você não vai Esperando.
vai conseguir Cinco batidas do coração. Seis. Nada. Sentiu o gosto amargo da decepção
no fundo da garganta. Estava preste a desistir quando viu um brilho nas
ever a levezaprofundezas do espelho.
e que estava A luz dele a arrebatou, fazendo-a girar, uma mancha prateada sobre o
cinza. Quanto mais ela olhava, maior e mais brilhante ficava, a fumaça
Eammon, isto ondulando pelo brilho, crescendo e crescendo até ocupar totalmente a visão
dela.
Houve uma explosão silenciosa de luz, como uma estrela explodindo, a
ntiva. Na luz fumaça serpenteando pelo cosmos escuro.
E quando a fumaça desapareceu, lá estava Neve.
espelho, mas

cionaria, mas

io pela raiz e

novo. — Se

a atenção na
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a escuridão.

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ondulando pelo brilho, crescendo e crescendo até ocupar totalmente a visão
dela.
Houve uma explosão silenciosa de luz, como uma estrela explodindo, a
fumaça serpenteando pelo cosmos escuro.
E quando a fumaça desapareceu, lá estava Neve.
18

Era como olhar através de uma janela. Não, não era bem assim… era mais
como estar presa em uma janela, prensada entre duas camadas de vidro.
Tentou se mexer, mas não conseguia; não conseguia sequer sentir o corpo. A
consciência parecia rala, difusa e refratada em vários feixes.
Neve estava no Santuário, atrás da estátua de Gaya. A imagem estava
borrada, mas Red conseguiu perceber que a irmã estava mais magra que
antes, com o rosto encovado. Um curativo envolvia a mão esquerda.
Red tentou chamá-la, esquecendo-se de que de nada adiantaria, de que o
espelho só tinha uma via e era só para ver. À distância, sentiu as próprias
cordas vocais em ação, mas não ouviu som algum, nada.
Mesmo assim, o grito pareceu despertar algo, como se sua vontade tivesse
fortalecido a magia do espelho. Aos poucos, a imagem de Neve foi ficando
mais nítida e sólida.
— Estamos fazendo isso há um mês e ela ainda não voltou. — A irmã
virou de lado, sobrancelhas baixas, estreitando os olhos. Mordeu o lábio, um
gesto de nervosismo que as gêmeas compartilhavam. — Por que ela ainda
não fugiu de lá?
Red não sabia com quem Neve estava falando; as imagens eram borradas e
sombreadas. O espelho tinha sido construído para mostrar apenas a Primeira
Filha, nada além disso.
— Vai levar tempo. — A voz chegou abafada, quase indistinguível. — É
isso que acontece com os grandes feitos. Você precisa ter paciência, Neverah.
— Será que não existe uma forma de acelerar o processo?
Neve cruzou os braços. Quando levantou a cabeça, a luz do fogo iluminou
o diadema prateado que enfeitava o cabelo. Mais ornamentado que o que
costumava usar. Familiar de um jeito que incomodou Red, como se aquilo
parecesse estranho de alguma forma.
— Talvez.
m… era mais — Me diga o que precisamos fazer, Kiri. — Neve não tinha problema
das de vidro.algum em usar um tom de comando, mas havia uma nova força ali. Era a voz
ir o corpo. A de alguém que sabia, sem sombra de dúvida, que seria obedecida. — Me diga
do que precisamos, e eu vou me certificar de que aconteça.
magem estava A pausa que se seguiu foi longa e pareceu desconfortável. A linha da
s magra que mandíbula de Neve estremeceu. Ela estendeu a mão e tocou o diadema que
enfeitava o cabelo, ajustando-o na testa.
ria, de que o — Suponho que possa fazer isso sem restrições agora, não é? — Havia
u as próprias algo maligno na voz abafada. Algo que provocou um calafrio na coluna de
Red. — Agora que Isla morreu. Agora que você é a Rainha.
ntade tivesse Rainha.
e foi ficando Mesmo naquele estranho estado de consciência suspensa, Red sentiu que
ficava sem ar, sentiu o meio grito rouco subir pela garganta.
u. — A irmã No espelho, Neve contraiu o rosto de leve.
u o lábio, um Red sentiu as mãos de Eammon nos ombros dela; soube que ele a tinha
que ela aindaouvido, sentido que havia alguma coisa errada. O toque dele a arrancou da
visão, enquanto fumaça e uma luz prateada apagavam a imagem de Neve,
m borradas emas não antes que Red ouvisse uma última frase daquela voz abafada.
as a Primeira — Você pode oferecer mais sangue.
E depois… O chão duro contra os joelhos, o cheiro de café e papel de
nguível. — ÉEammon pairando sobre ela.
cia, Neverah.
— Red? — A voz era calma, mas tinha um ligeiro tom de preocupação. —
ogo iluminou Red, o que houve?
o que o que — Minha mãe morreu — murmurou ela, com olhos arregalados. — Minha
mo se aquilomãe morreu.

O vapor subia da caneca de chá que esfriava rapidamente na escrivaninha.


ha problemaRed não conseguia encontrar forças para pegá-la. Estava sentada na cama
ali. Era a vozabraçando as pernas, observando o vapor. O livro de poemas estava ao lado
a. — Me digada caneca. Não tinha percebido que o trouxera com ela da torre até Eammon
tirá-lo com gentileza de suas mãos e colocá-lo de lado.
. A linha da Os cochichos na base da escada mal eram abafados pelo fogo crepitando
diadema que na lareira.
— Mas será que aconteceu mesmo? — perguntou Lyra. — Aquele espelho
é? — Havia é muito antigo.
na coluna de — Ela viu a irmã. — Era Eammon. — O espelho foi construído para isso.
— Mas todo o poder vem de Wilderwood. — O tom de Fife parecia
cauteloso. — E as coisas não estão muito boas em Wilderwood. Como pode
ed sentiu que saber que foi real?

— Eu simplesmente sei, Fife. — Ela quase conseguia ver Eammon


esfregando os olhos emoldurados por olheiras. Então, uma risada curta. — A
e ele a tinha mãe dela morreu e a irmã está sozinha, e ela está nesta floresta amaldiçoada
arrancou da por sombras mesmo sem motivo algum para estar.
em de Neve, — Motivo algum a não ser ajudar você — disse Fife.
Eammon ficou em silêncio.
Quando Lyra falou, foi em um tom baixo.
é e papel de — Eammon, você não está pensando…
— Se ela pedisse — respondeu ele — eu não negaria. — Silêncio pesado,
por apenas um momento. Depois ele voltou a falar: — Eu deveria tê-la
ocupação. — obrigado a ir embora assim que chegou. Wilderwood não tem força para
prendê-la e mantê-la aqui. Não como aconteceu com as outras.
os. — Minha Não havia surpresa na pausa que se seguiu. Fife e Lyra sabiam que tinha
alguma coisa diferente em Red, sabiam desde aquele primeiro dia.
— Então, ela estar aqui não faz muita diferença de qualquer forma —
escrivaninha.murmurou Fife.
ada na cama Eammon deu um suspiro baixo e rouco.
stava ao lado — Não.
até Eammon Red fechou os olhos com força.
Passos na escada. Eammon apareceu, cabelo solto nos ombros. Franziu a
go crepitando testa.
— Você ainda está acordada.
quele espelho — Não consegui dormir.
Red estendeu a mão e pegou a caneca morna na escrivaninha. O chá tinha
um cheiro bom, de especiarias e cravo. Quando tomou um gole, sentiu o
Fife parecia coração se aquecer.
. Como pode Eammon trazia uma taça de vinho pela metade e a colocou onde a caneca
estava antes.

ver Eammon — Caso precise de algo mais forte que chá. — Um sorriso discreto se
a curta. — A insinuou no canto dos lábios. — Lyra me disse que não é meduciano. Valdrek
amaldiçoada faz o próprio vinho na Fronteira, e eu tenho quase certeza de que o dilui com
água antes de vender para mim.
Ela tentou sorrir, mas os lábios mal se mexeram.
Hesitante, Eammon se sentou na cadeira diante da escrivaninha, com as
mãos entrelaçadas por cima dos joelhos. O silêncio pairava no ar, quebrado
apenas pelo crepitar da chama, mas era confortável.
êncio pesado, Red terminou o chá e ficou olhando para a borra.
deveria tê-la — Agora a gente sabe que o espelho funciona. Acho que isso é bom.
m força para — Sinto muito, Red — disse Eammon, olhando para o chão, como se
achasse que o olhar dele não seria bem-vindo. — Sua irmã parecia… Sua
am que tinhairmã estava…
— Ela parecia cansada. Cansada e… e triste. — Red tentou dar de ombros,
uer forma —mas o movimento foi forçado. — Não sei se Neve está pronta para ser
Rainha. Para assumir o lugar da nossa mãe.
— Acho que nunca estamos prontos para assumir o que nossos pais
deixam para nós. — Eammon olhou para as mãos calejadas. — Os espaços
que ficam raramente servem.
os. Franziu a Os nós dos dedos brancos desmentiam a indiferença do Lobo, traduzindo a
afirmação para uma linguagem que ambos conheciam. A sombra dos pais
dele, grande e escura. O legado de um Lobo e uma Segunda Filha que
nenhum dos dois tinha escolhido.
. O chá tinha — Estou mais preocupada com Neve do que triste em relação à minha
ole, sentiu o mãe. — Uma confissão cheia de vergonha. — Sou uma pessoa horrível por
isso?
nde a caneca — Não é horrível. O luto é estranho.
O relacionamento de Red com Isla sempre fora pesado e cheio de camadas,
o discreto se nada fácil de explicar. Mas sua ausência, a lacuna que tinha deixado, fez com
ano. Valdrekque Red quisesse tentar. A única absolvição que poderia dar a ela.
e o dilui com — Nós… Minha mãe e eu… Nós nunca fomos próximas.
Os nós dos dedos dele ficaram mais brancos, as mãos ainda entrelaçadas
entre os joelhos.
inha, com as — Por causa de… — Ele ergueu uma das mãos e fez um gesto no ar
ar, quebrado indicando os dois.
— Não só por isso. — Red balançou a cabeça. — Ela também não era
muito próxima de Neve, mas acho que gostaria de ter sido. — Ficou olhando
para os fios soltos da coberta, os dois evitando olhar um para o outro. — Ela
ão, como seprecisava de um herdeiro e acabou tendo duas filhas, sendo que não poderia
arecia… Suaficar com uma delas. Era mais fácil fingir que eu não existia. Principalmente
depois… — Ela parou de falar, mas não precisava terminar. O fragmento de
ar de ombros,magia de Wilderwood no seu âmago floresceu, e ela sentiu o gosto vago de
onta para serterra.
Eammon encolheu os ombros, como se a culpa fosse uma força física. Red
nossos pais sentiu um impulso de tocar neles para que voltassem a ficar retos. Passar os
— Os espaçosdedos pelo cabelo dele e fazer os dois pensarem em outras coisas.
Red apertou a caneca com mais força. Conhecia bem a culpa, e como era
traduzindo anecessário bem mais que mãos quentes e lábios cálidos para espantá-la.
bra dos pais Culpa. Tudo girava em torno da culpa.
da Filha que — Eu sei que você não viu tudo que aconteceu naquela noite — Ela se
virou na cama. — Mas você me viu?
ção à minha — Nada além das suas mãos. Eu só… senti você. — Uma mecha do cabelo
horrível porcaiu no rosto dele, escondendo os olhos. Ele a afastou com a mão cheia de
cicatrizes. — Eu senti Wilderwood perseguindo algo, mas não sabia o que
era, não no começo. Quando ela tocou em você, porém, eu senti a sua dor. O
de camadas, seu pânico. Isso afogou todo o resto.
ado, fez com Ela apertou os lábios.
— Eu tentei impedir. — Ele apoiou os antebraços nas pernas. — E
claramente fracassei. Não consegui garantir que não ficasse nada dentro de
entrelaçadasvocê. Mas, mesmo que Wilderwood tenha dado um fragmento do próprio
poder para você, achei que talvez eu conseguisse evitar que você fosse
gesto no archamada. Se eu mantivesse a floresta forte, talvez a sua Marca nunca
aparecesse. Talvez o ciclo pudesse ser quebrado. — Engoliu em seco. —
bém não eraTambém fracassei nisso.
icou olhando Eammon vinha tentando salvá-la por muito tempo, mantendo-a longe o
outro. — Ela máximo que conseguiu. Até que Wilderwood decidisse que a dívida deveria
e não poderiaser paga, não importando de quanto de si o Lobo precisasse abrir mão.
incipalmente Respirando fundo, Red se empertigou, baixando os joelhos para se sentar
fragmento decom as pernas cruzadas sobre a colcha. Nunca tinha contado para ninguém
osto vago detudo que acontecera naquela noite em que ela e Neve correram para
Wilderwood. Os atacantes tinham morrido. Neve bloqueara aquilo da
ça física. Redmemória. A lembrança era uma ferida que ela havia coberto, sem nunca
os. Passar os permitir que respirasse, que se curasse.
Nunca passara pela cabeça de Red que aquela lembrança não era só dela,
a, e como eraque partes da lembrança eram de Eammon também. Outra ferida
compartilhada, outra marca espelhada. Um fardo que talvez ficasse mais leve
se carregassem juntos.
ite — Ela se — Foi no nosso aniversário de dezesseis anos. — Red manteve o olhar
fixo no colchão, embora estivesse dolorosamente ciente dos olhos surpresos
cha do cabelo de Eammon sobre ela. Se olhasse para ele, talvez quebrasse o encanto e a
mão cheia de cadência daquela história, que a tornava mais fácil de contar. — Teve um
sabia o quebaile.
a sua dor. O Como se sentisse que ela precisava daquilo, Eammon se manteve imóvel e
em silêncio, esperando que ela continuasse. A luz da lareira lançava sombras
no rosto dele.
pernas. — E — Foi… desagradável. Foi a primeira vez que realmente notei como Neve
da dentro dee eu éramos diferentes. Como as nossas vidas seriam diferentes. — Ela fez
o do própriouma pausa. — Minha mãe mal falava comigo.
e você fosse Eammon cerrou os punhos.
Marca nunca — Depois, Neve me encontrou chorando e perguntou o que poderia fazer.
em seco. —Eu disse que nada, a menos que soubesse alguma forma de se livrar de
Wilderwood. E foi isso que tentamos fazer. — Red deu uma risada seca. —
do-a longe oTodo mundo estava bêbado, então roubar os cavalos foi bem mais fácil do
ívida deveriaque deveria. Fomos galopando até a fronteira.
Os cavalos resfolegavam rápido, a respiração ressoando no frio da noite.
ara se sentar Red se lembrava de pensar que a fuga para o norte não tinha durado o
para ninguémsuficiente. Que queria correr sob o céu estrelado ao lado da irmã para sempre.
orreram para — Os fósforos que Neve levou não funcionaram — continuou em voz
a aquilo da baixa. — Wilderwood não pega fogo, sempre ouvimos isso, mas nenhuma de
, sem nuncanós acreditava até aquela noite. Acho que Neve ficou com medo de ver a
prova de que a floresta não era apenas uma floresta, era mais. Ela
o era só dela,provavelmente teria voltado depois daquilo, colocando um ponto final na
Outra ferida aventura. Mas eu encontrei uma pedra.
sse mais leve Ela pegara a pedra e a atirara com toda a força contra as árvores. O som
resultante não tinha sido alto o suficiente para ela, só um tum abafado nos
nteve o olhararbustos. Então Red começara a berrar e, depois de começar, não tinha
hos surpresosconseguido mais parar. Tinha pegado todas as pedras que encontrava e as
encanto e aatirado cegamente contra as árvores, aproximando-se cada vez mais da
— Teve um beirada da floresta. Lembrava-se de como a pele parecia zunir, vibrando nos
ossos. A floresta a atraindo cada vez mais enquanto não permitia que
eve imóvel e ninguém mais entrasse.
çava sombras Neve encontrou uma pedra para si também a atirou contra Wilderwood,
aproximando-se o máximo que podia. Os berros dela se juntaram aos de Red,
i como Neve duas garotas perdidas na fronteira do mundo que conheciam, gritando e
s. — Ela fez atirando pedras porque não havia mais nada que pudessem fazer, e
precisavam fazer alguma coisa.
— Uma das pedras cortou a minha mão — contou Red, parecendo ver a
poderia fazer. cena atrás das pálpebras como se em um teatro de sombras. — E tropecei
se livrar de quando a atirei. Tentei parar a queda com a mão cortada e caí do outro lado
sada seca. — da fronteira.
mais fácil do — E Wilderwood foi pegar você. — A voz de Eammon soou rouca e
baixa, como se estivesse sem falar por horas, em vez de apenas minutos.
frio da noite. — E você a impediu — acrescentou Red suavemente, sem abrir os olhos,
ha durado opois sabia que perderia a coragem se os abrisse. Mas sentia que Eammon
para sempre. estava olhando para ela, sentia o peso da atenção dele como um braço
nuou em voz apoiado no ombro.
nenhuma de Ela fez uma pausa antes de continuar:
edo de ver a — Toda aquela gritaria chamou atenção, assim como duas garotas com
a mais. Eladois bons cavalos cruzando a estrada. Não sei por quanto tempo eles ficaram
onto final na à espreita, por quanto tempo ficaram nos observando. Mas pegaram Neve,
depois que ela me arrancou da floresta pela perna. Encostaram uma faca no
vores. O sompescoço dela. E eu… — Red apertou mais os olhos. — Eu soltei tudo.
abafado nos Ela se lembrava de um momento de quietude. Um momento no qual a
ar, não tinha magia fincada no âmago dela havia parado, quase surpresa, como vinhas
contrava e asalongadas e decepadas. As veias dos pulsos se acendendo em um verde
vez mais da incandescente, subindo pelos braços e pelo peito em direção ao coração de
vibrando nos Red. Uma explosão de luz dourada atrás dos olhos.
permitia que E o fragmento de magia estilhaçada entrou em erupção.
Um tronco surgira do chão e empalara um dos ladrões, saindo pela boca
Wilderwood,dele coberto de sangue e vísceras, abrindo os galhos que saíam quebrando os
m aos de Red,ossos. Vinhas surgiram rastejando pelo chão e derrubaram outro ladrão antes
m, gritando e de o estrangular até o rosto inchar, ficar roxo e estourar, como uma bolha de
em fazer, esabão.
O homem que segurava Neve cambaleara para trás, deixando-a cair
ecendo ver a desmaiada no chão. Uma raiz se ergueu atrás dele e o derrubou, enquanto
— E tropecei moitas de espinhos cresceram em um instante, perfurando a pele dele como
do outro ladopapel e saindo pela boca e pelos olhos.
Mas o pior foi Neve. Red a vira deitada lá, e os espinhos surgindo do chão
soou rouca eem volta dela, só mais um corpo preso no turbilhão que Red criara. Mais uma
coisa que sua magia caótica da floresta poderia matar.
brir os olhos, Foi a primeira vez que Red bloqueou seu poder, a dor como se a espinha
que Eammonestivesse sendo arrancada do corpo. Ela o bloqueara e caíra de joelhos,
mo um braçoberrando sem parar.
— Eu os matei. — A voz saía rápida e no mesmo tom. Red tropeçava nas
palavras na pressa de deixá-las sair. — Eu os matei. E quase matei Neve
garotas com também. Mas consegui bloquear a magia na hora.
eles ficaram — Foi por isso que você disse que precisava ficar aqui — disse Eammon,
garam Neve,encaixando as peças. — Quando tentei obrigá-la a ir embora.
uma faca no Red assentiu. Não conseguia mais falar, não conseguia pensar muito
naquilo ou a culpa faria sua garganta se fechar.
to no qual a — Depois que consegui bloquear a magia, a floresta… se retraiu. As
como vinhasvinhas, as árvores e os espinhos, tudo voltou para debaixo do chão, deixando
m um verdeapenas os corpos. — Corpos e poças de sangue, tanta carne morta… A
o coração de garganta dela ardia com um grito mesmo ali, enquanto contava a história.
Red começou a tremer e não parou mais. — Neve desmaiou antes de ver
qualquer coisa. Ela não se lembra do que eu fiz. E quando os guardas
do pela bocafinalmente chegaram, o que pareceu ser horas depois, era como… Eu disse
quebrando ospara eles que os ladrões tinham se voltado uns contra os outros. Mas fui eu.
ladrão antesFui eu que fiz aquilo.
uma bolha de A voz dela foi morrendo na garganta até não passar de um sussurro. Só
percebeu que estava chorando quando sentiu o gosto de sal nos lábios, e só
xando-a cairpercebeu que Eammon estava sentado ao lado dela quando a mão calejada
ou, enquanto dele envolveu seu rosto.
le dele como Eammon passou os polegares nas bochechas da Segunda Filha, secando as
lágrimas. Devagar, os tremores foram cedendo, até ela ficar imóvel. Quando
indo do chãoele afastou as mãos, Red precisou se controlar para não as pegar de volta.
ra. Mais uma — Você a salvou. — O tom de Eammon estava baixo e sério. — Nada do
que aconteceu foi culpa sua.
se a espinha — Eu nem penso mais em termos de culpa. — Red curvou os ombros e
a de joelhos,apoiou a testa nos braços cruzados. — Aconteceu. Tenho que conviver com
isso. — Ela olhou para ele. — E antes de você me ensinar como controlar
ropeçava nasesse poder, como usá-lo, eu era obrigada a conviver com o medo do que eu
matei Neve poderia fazer de novo.
A expressão de Eammon era indecifrável.
sse Eammon, — Mas e aí? Você vai voltar agora? — A voz dele saiu baixa, como se
tivesse medo de ouvir o que estava falando. — Agora que sabe como
pensar muitocontrolá-lo?
— Claro que não. — A resposta soou dura como se Red não acreditasse
e retraiu. As que ele estava fazendo aquela pergunta. — Você precisa de mim aqui.
ão, deixando Ele arregalou os olhos, só um pouco, e aquele segundo foi o suficiente para
e morta… A que Red desejasse que as palavras fossem algo físico que pudesse pegar,
va a história.enfiar de volta na boca e engoli-las.
antes de ver Mas Eammon não a refutou.
o os guardas Red suspirou, afastando o cabelo do rosto.
o… Eu disse — Então, eu não estou triste com a morte da minha mãe e sou uma
. Mas fui eu. assassina. — Ela tentou dar um sorriso trêmulo, mas não conseguiu. — Duas
confissões terríveis na mesma noite.
sussurro. Só — Nada em você é terrível — murmurou Eammon. — Eu já disse isso
s lábios, e sóantes. E você deveria acreditar.
mão calejada O momento pareceu se prolongar enquanto estavam ali, sentados tão
próximos e confortáveis na cama. Então, Eammon se levantou, sem graça,
a, secando aspassando a mão pelo cabelo. Pegou a taça de vinho e tomou um gole antes de
óvel. Quandooferecê-la para Red.
— Fife está tentando fazer uma sopa. Você quer?
. — Nada do — Acho que só quero dormir.
Eammon assentiu e se virou para a escada.
os ombros e — Boa noite, então.
conviver com — Você também precisa dormir.
mo controlar Ele parou, olhando para ela por sobre o ombro com uma sobrancelha
do do que euarqueada.
Red tomou um gole de vinho.
— Chega de virar a noite — disse ela com firmeza. — Você está exausto,
ixa, como se Eammon.
e sabe como — Eu prometo que vou dormir.
— Aqui. Com cobertas adequadas, ao menos. Não debruçado na mesa da
o acreditasse biblioteca.
Com a sobrancelha ainda mais arqueada e um ar de sorriso, ele perguntou:
uficiente para — Mas alguma ordem, Lady Lobo?
udesse pegar, Ela sentiu o rosto enrubescer, mas ergueu o queixo.
— Não no momento, Guardião.
Eammon inclinou a cabeça em uma deferência debochada antes de descer.
Embora não fosse meduciano e com certeza tivesse sido diluído em água,
e e sou umaRed terminou de tomar o vinho e se acomodou na cama, seus movimentos
uiu. — Duastrazendo o cheiro de livros antigos e folhas caídas.
Mas, quando fechou os olhos, foi em Arick que pensou.
já disse isso Arick, que agora era o Consorte Eleito para a Rainha, não apenas para a
Primeira Filha. Arick, passional e impetuoso, que não costumava recorrer ao
sentados tãocérebro para tomar decisões.
u, sem graça, Red não sentia ciúmes, não mais. Na verdade, nunca tinha sentido. O
gole antes derelacionamento deles era baseado na amizade, na conveniência e na solidão
dolorosa, e ela sempre soube que não duraria. Os sentimentos complexos que
sentira por ele eram como estrelas no céu do meio-dia, lembranças afogadas
por uma nova luz.
Mas se os sentimentos por Arick eram sombras apagadas, os por Eammon
eram a escuridão de um aposento que ela não ousava explorar. A porta estava
sobrancelhaentreaberta, mas se não olhasse com atenção o bastante, não precisaria pensar
no que a esperava lá dentro.
Lentamente, o crepitar da lareira embalou seu sono, enquanto pensava em
está exausto,sombras e em portas entreabertas.

o na mesa da

ído em água,
movimentos

penas para a
a recorrer ao

a sentido. O
e na solidão
omplexos que
ças afogadas
Mas se os sentimentos por Arick eram sombras apagadas, os por Eammon
eram a escuridão de um aposento que ela não ousava explorar. A porta estava
entreaberta, mas se não olhasse com atenção o bastante, não precisaria pensar
no que a esperava lá dentro.
Lentamente, o crepitar da lareira embalou seu sono, enquanto pensava em
sombras e em portas entreabertas.
INTERLÚDIO
VALLEYDIANO VI

O manto era grande demais, e Neve se sentia uma criança com ele sobre os
ombros, medindo os passos enquanto caminhava em direção ao trono de
prata. O vestido também era prateado, assim como a adaga presa ao cinto.
Tudo aquilo eram peças essenciais da cerimônia. Atrás dela, duas
sacerdotisas seguravam a ponta do manto de veludo preto de forma que os
nomes das rainhas anteriores, lavrados em fio de prata, brilhassem sob a luz.
Os pontos do nome dela estavam frouxos, bordados às pressas.
Tudo era feito com celeridade.
A coroação era apenas uma formalidade, já que, de acordo com as leis
valleydianas de sucessão matriarcal, Neve se tornava rainha no exato instante
em que a vida deixasse o corpo de Isla. Mesmo assim, toda a situação parecia
agourenta e pesada. O coração de Neve estava disparado como se ela tivesse
corrido por quilômetros, embora os pés dessem passinhos curtos e precisos
que a levavam para cada vez mais perto do trono.
Na manhã seguinte à confirmação de Tealia como a nova Suma
Sacerdotisa, a condição de saúde de Isla se deteriorara visivelmente. A
maquiagem não era mais suficiente para esconder a doença, e a Rainha ficou
de cama, se mexendo apenas para tomar um pouco de canja de vez em
quando. Depois de uma semana, ela partiu.
Uma semana, e Neve passou de Primeira Filha a Rainha.
Ela não parava de pensar naquilo, desempenhando seu papel de forma
automática. Minha mãe morreu. O pensamento ecoava na sua mente
enquanto comia, enquanto se encontrava com Kiri, Arick e os outros no
Santuário. Reverberava na sua mente naquele exato instante, mesmo
enquanto Tealia observava sua aproximação com olhos cautelosos,
flanqueada por uma vela branca e uma escarlate. Minha mãe morreu, minha
mãe morreu.
ele sobre os E havia uma camada extra de ressonância, enterrada o mais fundo que
ao trono de conseguia: Minha mãe morreu, e não estou triste.
esa ao cinto. As emoções de Neve eram um oceano de história e sentimento; a tristeza
dela, duasera apenas a espuma das ondas. Pensou pela milésima vez no último jantar
orma que os que haviam tido juntas, nas pequenas dicas no jeito com que a mãe que
em sob a luz. segurara a taça de vinho, como os olhos dela brilhavam… Isla também estava
sofrendo, de uma maneira que talvez Neve jamais fosse capaz de
compreender. Se alguma coisa pequena e indefinível tivesse saído de outra
com as leisforma, talvez elas tivessem se unido para acabar com o tributo da Segunda
exato instanteFilha e trazer Red de volta para casa.
uação parecia Neve não conseguia pensar naquilo por muito tempo. Doía demais.
se ela tivesse A sincronicidade estranha e cruel de tudo aquilo ainda a deixava tonta. A
os e precisos Suma Sacerdotisa, e logo depois a Rainha, doente e morta, abrindo caminho
para os seus planos mesmo quando achava que tinham saído dos trilhos. Neve
nova Sumaestava no olho do furacão da morte, que rodopiava ao redor dela como a
velmente. A cauda de um vestido.
Rainha ficou Sentiu a culpa subir pela garganta enquanto a coroa prateada era colocada
a de vez emna sua cabeça, os dedos de Tealia se afastando rapidamente para evitar tocar a
pele dela. Mesmo que as mortes tivessem ocorrido por causas naturais,
pesavam como pedras em volta do pescoço de Neve, esperando o mar subir.
pel de forma Tentou manter a frieza em relação a tudo porque era o que podia fazer, a
a sua menteúnica forma de conseguir carregar aquele peso.
os outros no Chorara por Isla apenas uma vez. Naquela primeira noite, sozinha no
ante, mesmo quarto, agarrando o pingente com o fragmento de madeira que Kiri lhe dera
cautelosos, até cortar a mão já ferida.
orreu, minha Um momento estranho de quietude se seguira. Uma consciência, fria sobre
seus ombros, como se alguém a estivesse observando por uma janela
is fundo queembaçada. O som de um arfar que parecia estar apenas na sua cabeça, como
uma palavra que não tinha se formado ainda.
nto; a tristeza Neve esfregara o sangue do fragmento de madeira e fizera um curativo na
último jantarmão. Uma vez limpo o pingente, a sensação estranha passou. Mesmo assim,
e a mãe quenão tinha mais encostado naquilo, e olhava para gaveta onde o guardara como
mbém estava olharia para uma cobra engaiolada.
e capaz de Agora, coberta de joias de prata em vez de madeira, sentiu o rosto corar
aído de outracom o calor de centenas de velas. Metade delas era branca, para simbolizar a
o da Segundapureza do seu propósito; a outra metade era vermelha, simbolizando os
sacrifícios que teria de fazer para reinar.
Ninguém ali sabia nem metade do que estava acontecendo.
xava tonta. A Neve se levantou e se virou para a corte. Raffe estava na primeira fileira,
ndo caminhocom braços cruzados e lábios contraídos. Tentou sorrir quando os olhares se
trilhos. Neveencontraram, e o coração frio de Neve disparou.
dela como a Tinha se mantido longe de Raffe nos últimos dias, tanto por causa do
tempo quanto por causa do terror profundo e ilógico que sentia de que, de
era colocada alguma forma, a morte tivesse se agarrado a ela, abrindo espaço onde quer
evitar tocar aque Neve precisasse. Não fazia o menor sentido, e ela sabia que não era
sas naturais, verdade. Nunca tinha matado ninguém nem mandado matar ninguém.
o mar subir. Mas não podia arriscar. Não com Raffe.
odia fazer, a Eles teriam tempo. Quando tudo aquilo acabasse, ela e Raffe teriam todo o
tempo do mundo. Ela não teria mais que se preocupar em estar de alguma
, sozinha noforma colocando o rapaz em risco, marcando-o para morrer para atender às
Kiri lhe derasuas necessidades.
— Neverah Keyoreth Valedren. — A voz de Tealia soou alta e ofegante, o
cia, fria sobresom reverberando pelo vasto salão. — A sexta Rainha da sua Casa.
uma janela Aplausos educados na plateia. O recinto não estava muito cheio; apenas os
cabeça, comopoucos nobres valleydianos e alguns de Floriane e do norte de Meducia
tinham viajado para participar da coroação apressada. Os outros países do
m curativo nacontinente haviam cumprido a obrigação ao participar da despedida de Red e
Mesmo assim, não deviam estar nada ansiosos para se aventurar no frio desagradável de
uardara comoValleyda até o vencimento dos próximos tributos.
Arick subiu ao palco, um diadema fino de prata cobrindo a testa. A mão
o rosto corarainda estava envolta por uma faixa, mas o tecido estava limpo, sem traços de
simbolizar apreto nem vermelho. Com um sorriso tranquilizador, ele ofereceu o braço e a
bolizando osacompanhou pelo corredor. Os músculos se contraíram sob o toque de Neve,
e ele cobriu a mão dela com a dele.
Raffe ficou olhando enquanto passavam, e ela manteve os olhos fixos à
meira fileira, frente.
os olhares se A relação entre ela e Arick tinha mudado desde que ele voltara. Uma
proximidade estranha e rápida surgida por guardarem os mesmos segredos
por causa dosobre o Santuário e o que faziam lá. Havia algo diferente nele agora, algo que
a de que, deela não conseguia definir. Arick, embora fosse um bom amigo, sempre tivera
ço onde quer uma tendência a ser autocentrado. Não era malicioso, nem parecia proposital;
que não eramas Arick se preocupava primeiro e principalmente com ele mesmo, e o que
não tinha a ver com ele parecia não lhe interessar.
Mas, ultimamente, a relação dos dois estava mudando. Ele vinha cobrindo
Neve de atenções desde a morte de Isla. Na manhã seguinte ao falecimento,
teriam todo o ele aparecera na porta dela, trazendo café e um prato cheio de doces.
ar de alguma — Sinto muito, Neverah — dissera.
ra atender às Aquela tinha sido a ocorrência estranha número um. Arick nunca a
chamava pelo nome completo. Em geral, Neve reclamaria, mas vindo dele,
e ofegante, osoara diferente do que dos outros cortesãos. Usado pela gravidade do
momento, para lhe dizer que estava sendo sincero.
io; apenas os Ela havia apertado os lábios em uma linha sem cor e assentido. Então,
de Meducia respirando fundo, dissera a ele o que a vinha incomodando durante toda a
os países do noite, a parte afiada de algo que não era bem luto.
dida de Red e — Isso talvez facilite as coisas.
agradável de A luz matinal na janela tinha apagado muitos detalhes da expressão do
rosto dele, como um borrão banhado de sol e sem sombras, mas Neve
testa. A mãopercebera o arquear de uma das sobrancelhas.
sem traços de Engolira em seco e se empertigara:
u o braço e a — Estamos fazendo o que é necessário.
que de Neve, Depois de uma pausa, ele assentira, entregando a ela a bandeja e a xícara:
— Estamos fazendo o que é necessário.
olhos fixos à Ela sabia o que aquela nova proximidade entre eles parecia para todo
mundo. Mas Raffe conhecia ela e Arick melhor do que a maioria das pessoas,
voltara. Uma bem o suficiente para saber que nenhum dos dois tinha se esquecido de Red
mos segredostão facilmente. Ainda assim, havia tristeza no rosto dele enquanto observava
ora, algo queArick e Neve passarem pelo corredor, e ela sentiu uma queimação no
sempre tivera estômago.
ia proposital; Neve queria contar para Raffe. Queria tanto que parecia que as palavras
smo, e o que queimavam a garganta. Mas Kiri e Arick insistiam que mantivessem o mais
absoluto segredo. Kiri porque as ideias da sua segunda e menor Ordem
nha cobrindoconstituíam tecnicamente um sacrilégio até que Neve e ela as cimentassem na
falecimento,
verdade da religião com seu poder político. Arick porque… Bem, ela não
sabia ainda.
ick nunca a As portas se fecharam atrás deles. Neve afastou a mão do braço de Arick.
s vindo dele, — Quanto tempo nós temos?
gravidade do Ele olhou para o ponto no braço onde ela o tocara, um movimento rápido
dos olhos com uma emoção que ela não conseguiu interpretar.
ntido. Então, — Não tem pressa. Vamos dar a Tealia mais alguns momentos para
urante toda aaproveitar seu papel de Suma Sacerdotisa.
Estavam sozinhos, mas Neve endireitou as costas. Virou a cabeça de um
lado para o outro para olhar para os corredores e se certificar de que ninguém
expressão doestava ouvindo.
s, mas Neve — Calma, Neverah — murmurou Arick. — Tudo vai dar certo.
Ela cruzou os braços, mas a confiança dele de alguma forma a tranquilizou.
— Tealia vai levar pelo menos dez minutos para voltar para o templo. —
Arick apoiou o pé na parede atrás dele sem se importar com as marcas que a
bota deixaria. — Kiri já deve estar esperando com os outros.
Neve ficou andando de um lado para o outro.
ia para todo — E você providenciou a posição para ela? No Templo em Rylt?
das pessoas, — Estão esperando a chegada dela no final da semana. O clima em Rylt é
ecido de Redainda menos agradável do que em Valleyda, e não há muitas irmãs dispostas
to observavaa morar lá. Estão muito felizes por recebê-la, assim como qualquer uma que
ueimação no se recuse a entrar na Ordem das Cinco Sombras. — Arick contraiu o maxilar.
— Ainda acho esse nome ridículo.
e as palavras Aquilo a tranquilizou mais um pouco. As sacerdotisas que não quisessem
essem o mais entrar para a ordem delas iriam embora de Valleyda pelo mar. Sua estranha
menor Ordemonda de mortes não precisaria atingir mais ninguém.
mentassem na Arick ficou observando enquanto ela andava de um lado para o outro com
um brilho apreensivo nos olhos, mas não falou nada; nada mais na postura
Bem, ela nãodele demonstrava nervosismo. Na verdade, Arick parecia quase tranquilo,
encostado na parede, com os braços cruzados, um cacho escuro e insolente
caindo na testa.
Passaram-se dez minutos. Arick tocou de leve o braço dela, fazendo com
mento rápido que parasse de andar. Um sorriso apareceu no canto da boca enquanto fazia
um gesto para ela avançar:
omentos para — Minha Rainha.
Aquilo fez Neve parar por um instante. Ela logo se recuperou, porém,
abeça de um abrindo um meio sorriso trêmulo enquanto ele a acompanhava até o Templo.
que ninguém O Templo tinha a forma de um anfiteatro, com apenas dois corredores
levando à câmara principal inferior: um vindo dos jardins do palácio e outro,
muito mais longo e bem protegido, vindo das ruas. Os dois estavam
tranquilizou.completamente vazios. Sussurros criavam um burburinho atrás da porta à
o templo. — medida que se aproximavam, e Arick fez uma leve e tranquilizadora pressão
marcas que a no ombro dela antes de soltá-la.
Neve fechou os olhos e acalmou as mãos. Então, abriu a porta.
O rosto de Tealia parecia calmo. Ela estava parada na plataforma na parte
inferior do anfiteatro, as mãos cruzadas sob as mangas, mas havia um brilho
ma em Rylt é quase de pânico nos olhos dela. Kiri e as seguidoras da Ordem das Cinco
mãs dispostas Sombras se espalhavam atrás da Suma Sacerdotisa. As outras sacerdotisas
quer uma que estavam em silêncio em suas fileiras separadas por graduação, e o pavor
iu o maxilar. pairava denso no ar como a fumaça de uma vela.
A Suma Sacerdotisa fez uma referência rápida enquanto Neve descia até a
ão quisessemplataforma.
Sua estranha — Vossa Majestade, a que devemos a honra? Se eu soubesse que desejava
uma audiência, poderíamos ter marcado. — O medo a deixava ousada, os
o outro comolhos brilhando de raiva mesmo enquanto a voz se mantinha solícita. —
is na postura
se tranquilo, Existem protocolos para essas coisas. Se bem me lembro, nenhum deles
o e insolenteenvolve uma reunião marcada por uma sacerdotisa que não seja eu.
Atrás de Tealia, Kiri continuava com a expressão neutra, mas a malícia
fazendo comiluminava seus olhos. Neve não disse nada, ainda deslizando com cuidado
nquanto faziapelos degraus, canalizando aquela postura gelada que aprendera com a mãe.
No peito, o coração batia disparado como o de um beija-flor.
Tealia soltou uma risada aguda.
erou, porém, — Decerto nada que temos a discutir envolve todas as sacerdotisas da
capital.
is corredores — Envolve — respondeu Neve.
lácio e outro, Tealia se calou.
dois estavam Neve finalmente chegou à plataforma. Não havia nenhum roteiro para
s da porta à aquilo, e ela não tinha energias para prolongar o assunto. Ergueu uma das
adora pressãomãos e a pousou no ombro de Tealia.
— Agradeço pelos serviços prestados. Você está dispensada agora.
A Suma Sacerdotisa estremeceu sob o toque de Neve, e a Rainha teve que
orma na partecontrolar o impulso de esfregar a mão na saia para limpá-la.
via um brilho — Há uma posição aguardando por você em Rylt — disse ela, quase
m das Cinco tropeçando nas palavras tamanho o desejo de pôr logo um fim naquilo. —
sacerdotisasVocê parte em uma hora. O Consorte Eleito vai acompanhá-la.
o, e o pavor Arick entrou pela porta no alto da escada, com as mãos atrás das costas e
uma expressão pétrea no rosto.
e descia até a Lágrimas de fúria brilharam nos olhos de Tealia, a boca contraída de raiva.
— É verdade, então — disse ela. — Você se tornou uma herege. Acha que
que desejavaeu não sabia o que estavam fazendo no Santuário? Que você, Kiri e o
a ousada, osprostituto floriano que dividia com sua irmã tinham um plano em andamento?
a solícita. — — Ela ergueu a voz, voltando-se para as sacerdotisas reunidas ali. — Vocês
enhum deles vão seguir aqueles que ousam profanar a floresta sagrada? Rainha ou não, tal
sacrilégio só merece a ira…
mas a malícia A adaga era cerimonial. Na verdade, Neve nem sabia se era afiada — tinha
com cuidado sido amarrada à cintura dela enquanto as criadas a vestiam às pressas, de
a com a mãe. forma tão apressada quanto todo o resto naquela maldita coroação, junto
apenas de palavras sucintas sobre força nacional. Mas ela a desembainhou,
sem pensar, e a apontou para o pescoço da antiga Suma Sacerdotisa.
cerdotisas da — A floresta sagrada — disse a Rainha em tom neutro — é o motivo de
os Reis não terem voltado.
Silêncio. Os lábios de Kiri se curvaram em um sorriso frio. No alto do
anfiteatro, os olhos de Arick brilharam, algo quase raivoso neles.
roteiro para Tealia olhou para Neve através de lágrimas honestas, o sangue pulsando na
ueu uma dasartéria contra a ponta da adaga.
— Blasfema — sibilou ela. — Esses pecados voltarão para você
multiplicados por dez, Neverah Keyoreth. Ninguém fere Wilderwood e sai
nha teve queileso.
Neve manteve a adaga firme e deu de ombros.
se ela, quase A Suma Sacerdotisa deposta respirou fundo e fechou os olhos. Quando os
m naquilo. — abriu, estavam calmos, e Neve afastou a adaga. Era obrigada a dar crédito
para Tealia: ao sair do anfiteatro, ela o fez com o queixo erguido e sem tentar
das costas eesconder as lágrimas.
Neve olhou para todas as outras sacerdotisas, um mar de túnicas brancas e
aída de raiva. olhos assustados. Os dedos pareciam dormentes em volta do cabo da adaga;
ge. Acha quequando a colocou na bainha, a lâmina pegou seu polegar, deixando uma linha
cê, Kiri e o de sangue.
m andamento? Afiada, então. Sentiu as pernas bambas, mas manteve a pose. Depois de
ali. — Vocês tudo que tinha acontecido para que pudesse chegar até ali, ameaçar alguém
com uma adaga afiada não deveria ser um choque.
ha ou não, tal — Há espaço no navio para qualquer uma de vocês que queria seguir
Tealia. — Neve fez um gesto na direção da porta. — Vocês a ouviram.
iada — tinha Sabem no que acreditamos. Sabem o que estamos fazendo.
s pressas, de A voz dela soava sincera, embora um fio de dúvida ainda envolvesse seu
oação, junto coração. Estou fazendo isso por Red. Tudo isso é por Red.
esembainhou, Ela se virou para as sacerdotisas atrás dela.
— Kiri. Pelos nossos Reis perdidos e pela magia de outrora, peço que
o motivo deassuma a tarefa de liderar suas irmãs.
O arfar coletivo não emitiu som algum, mas estava presente. Cintilava nos
. No alto do olhos de Kiri e pesava no ar que pareceu mais espesso.
Kiri inclinou a cabeça.
e pulsando na — Como queira.
Neve prendeu a respiração ao olhar para a plateia reunida ali. As outras
o para vocêsacerdotisas estavam espantadas, mas nenhuma delas se levantou em
erwood e saidiscordância. Sentiu uma onda de coragem.
— O sacrifício da Segunda Filha é uma prática inútil — declarou ela, a voz
se elevando no salão silencioso. — Enviá-las para aplacar a sede de sangue
s. Quando osdo Lobo não adianta nada. Os monstros que o serviam já morreram, isso se
a dar crédito não forem apenas mito. E ele não vai libertar os Reis, não importa a
e sem tentar qualidade do sacrifício que mandemos.
Os lábios dela se contraíram ao dizer aquilo. Tinha de usar com as
cas brancas esacerdotisas os mesmos termos que elas usariam — mas, maldição, como as
bo da adaga; palavras tinham um gosto amargo. Ela continuou:
do uma linha — Os Reis estão detidos na prisão que ajudaram a criar, mantidos cativos
por Wilderwood. Enfraquecer a floresta nos trará poder. Quando os Reis
e. Depois deforem libertados, haverá uma recompensa ainda maior.
eaçar alguém A Ordem ouviu em silêncio, as túnicas claras se borrando como se
formassem uma única criatura. Arick estava atrás delas, depois de ter
queria seguir entregado Tealia para os guardas. A mandíbula estava contraída, os olhos,
s a ouviram. inescrutáveis.
— O processo já começou. Se conseguirmos desenraizar Wilderwood o
nvolvesse seusuficiente, os Reis poderão voltar para casa. — Neve engoliu em seco. —
Redarys poderá voltar para casa.
Kiri se virou para ela, com os olhos chispando, mas a nova Suma
ra, peço queSacerdotisa nada disse.
— O navio para Rylt parte em meia hora. — Neve se virou para a escada
Cintilava nosque a levaria até a porta. As últimas palavras foram ditas por sobre o ombro,
ricocheteando no mármore. — Vocês podem se juntar a nós ou podem partir.

li. As outras
levantou em

rou ela, a voz


de de sangue
eram, isso se
o importa a

usar com as
ção, como as

ntidos cativos
ando os Reis

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epois de ter
entregado Tealia para os guardas. A mandíbula estava contraída, os olhos,
inescrutáveis.
— O processo já começou. Se conseguirmos desenraizar Wilderwood o
suficiente, os Reis poderão voltar para casa. — Neve engoliu em seco. —
Redarys poderá voltar para casa.
Kiri se virou para ela, com os olhos chispando, mas a nova Suma
Sacerdotisa nada disse.
— O navio para Rylt parte em meia hora. — Neve se virou para a escada
que a levaria até a porta. As últimas palavras foram ditas por sobre o ombro,
ricocheteando no mármore. — Vocês podem se juntar a nós ou podem partir.
19

Red acordou com um farfalhar de tecido arrastando na madeira. Abriu os


olhos na penumbra cor de lavanda. Do outro lado do quarto, Eammon se
sentou, esfregando o rosto. Os músculos das costas se contraíam enquanto ele
puxava o cabelo para a nuca e o amarrava em um coque bagunçado.
Fazia quase duas semanas que ela o via acordar, desde que tinha dito que
ele precisava começar a dormir mais. E todas as manhãs sentia o rosto
enrubescer quando a luz da lareira iluminava a pele nua de Eammon.
Ele se levantou e girou a cabeça e os ombros, tensos por passar mais uma
noite no chão. Red conhecia aquela rotina. Ele ficava parado perto do fogo
por um momento, permitindo que o corpo despertasse, antes de escolher uma
camisa em uma pilha de roupas que nunca chegava a voltar para o guarda-
roupa. Olhava para a cama com expressão inescrutável e depois descia sem
fazer barulho em uma tentativa de não a acordar.
Naquele dia, porém, parecia que seria diferente. Eammon enfiou os pés nas
botas já a caminho do guarda-roupa, pegando uma camisa preta e um casaco.
A gaveta de cima rangeu quando a abriu e ele praguejou baixinho, lançando
um olhar para a cama.
Red parou de fingir que estava dormindo, embora continuasse abraçando o
travesseiro.
— Aonde você vai?
Ele abriu a gaveta de uma vez.
— Eu não queria acordar você.
— Gavetas que rangem fazem isso.
Eammon deu uma risada seca, tirando de dentro da gaveta barulhenta uma
adaga embainhada, a qual amarrou na cintura.
— Precisamos de suprimentos. Eu vou até a Fronteira.
Red não saía da Fortaleza desde a morte de Isla. Vagava entre o quarto
deles e a biblioteca e, às vezes, a torre, esperando convocações de Eammon
ra. Abriu os que nunca chegavam. Estava se sentindo perdida e insubstancial, e aquela
seoportunidade de fazer alguma coisa, qualquer coisa, fazia o desejo apertar sua
enquanto ele garganta.
— Me leve com você.
inha dito que Ele fez uma pausa. A intenção de negar o pedido estava bem clara no olhar
entia o rosto e no menear da cabeça do Lobo.
Ela se sentou, fazendo os lençóis caírem em volta da cintura.
sar mais uma — Por favor, Eammon.
perto do fogo O desespero deve ter transparecido na voz. Eammon suspirou e olhou para
escolher umao teto.
ara o guarda- — Está bem. — Ele apontou o guarda-roupa com o queixo. — Se vista e
s descia semme encontre lá embaixo.
Red foi até o guarda-roupa. Pegou uma das camisas de Eammon e uma
ou os pés nascalça que, contra todas as possibilidades, encontrara no fundo do mesmo
e um casaco. armário onde estava o vestido de Merra. Eammon tinha conseguido recuperar
ho, lançandoas botas dela no antigo quarto, já que as que ele lhe dera eram grandes demais
— o couro estava todo marcado, mas dava para o gasto. Ela tirou o manto da
abraçando ogaveta.
Eammon contraiu os lábios quando o viu.
— Tem uma costureira na Fronteira — disse ele com cuidado, como se
esperasse que ela o interrompesse. — Se você… Se você quiser remendar o
manto, ela pode fazer isso.
Red tinha finalmente lavado a peça, tirando toda a sujeira da sua primeira
rulhenta uma fuga por Wilderwood. Mas o tecido ainda estava todo rasgado, a bainha
desfiando. Red passou os dedos pelo tecido.
— Eu gostaria muito.
ntre o quarto Ele assentiu.
de Eammon — Escolha uma adaga que sirva para você — disse Eammon, já descendo
ial, e aquelaa escada. — E uma bainha também.
apertar sua
A bainha que Red escolheu para a adaga era do tipo usado na coxa, preso em
volta da perna como uma correia de couro. Escolher adagas e bainhas não era
clara no olhar algo com que estivesse acostumada; a peça a incomodava enquanto
atravessavam Wilderwood, o silêncio quebrado apenas pelo som das botas
pisando nas folhas.
— Pode prender no seu braço se preferir. — Eammon era uma silhueta
e olhou para contra a névoa à frente dela. — Vai ser um pouco mais difícil desembainhar a
adaga, mas você não vai precisar andar com as pernas arqueadas.
— Se vista e — Será que vou precisar desembainhá-la?
— Duvido, mas é melhor prevenir do que remediar.
mmon e uma Ela segurou o cabo pouco familiar da adaga.
o do mesmo — Estou surpresa por você permitir que eu carregue uma — disse ela. —
ido recuperar Com todo o risco de eu sangrar e tudo mais.
andes demais Eammon parou e olhou por sobre o ombro.
u o manto da — Estou confiando que você terá cuidado — disse ele sem qualquer leveza
no tom de voz.
Red soltou o cabo.
ado, como se O silêncio durante a caminhada pela floresta era quase confortável. Ainda
r remendar ohavia um pouco de tensão, forjada pela distância dos últimos dias: Eammon
estivera bem sumido desde a morte da mãe dela, mal dando as caras. Ele e
sua primeiraRed trocavam algumas palavras quando se encontravam, mas nada como a
do, a bainhaverdade nua e crua que tinham compartilhado no dia em que haviam curado a
sentinela, no dia que ele lhe mostrara o espelho. O terreno entre eles tinha
mudado, montanhas se nivelando em vales, e a ausência dele significava que
ela ainda não tivera a chance de aprender a se localizar.
, já descendo Talvez não devesse doer tanto, mas doía. E a cautela dele ao se portar,
como se medisse a distância que queria entre os dois, era como uma farpa
afiada e incômoda.
xa, preso em — É por isso que você desaparece todos os dias? — perguntou ela. —
inhas não eraVocê tem ido à Fronteira?
va enquanto O modo como Eammon se movia era uma forma de comunicação por si só.
om das botas A tensão nos ombros, a preocupação. O modo como ele se voltava para
dentro, a resignação.
uma silhueta — Eu sei que vocês não eram próximas, mas ela era sua mãe. — A
sembainhar a suavidade dele era uma refutação à pergunta direta. — Eu já compliquei as
coisas para você o suficiente aqui. Achei que você precisava de um tempo
sozinha.
— Um tempo sozinha? — Ela falou baixo, mas o silêncio de Wilderwood
fez as palavras pairarem no ar.
disse ela. — Ele baixou a cabeça, a respiração formando uma nuvem de vapor diante de
si.
— Eu não sabia se você me queria por perto — murmurou ele. — Já que
alquer levezaeu fui o motivo da… da distância entre vocês.
Ela pegou os dedos dele antes que pudesse pensar melhor, e o contato o
sobressaltou quase tanto quanto a ela. Eammon olhou para as mãos unidas e,
rtável. Ainda em seguida, para o rosto da Segunda Filha, a surpresa aparecendo nos lábios
ias: Eammon entreabertos.
caras. Ele e Red falou com voz baixa e firme:
nada como a — Isso é ridículo. O que aconteceu entre mim e minha mãe… Foi confuso,
iam curado a complicado. E sim, tinha a ver com Wilderwood. Mas não foi culpa sua. —
tre eles tinha Ela baixou os olhos, porque os dele demonstravam espanto. Era mais fácil
gnificava queficar olhando para as mãos do Lobo, interpretando as cicatrizes. — Nem tudo
é culpa sua.
ao se portar, Eammon engoliu em seco.
mo uma farpa — Já disseram que achar isso é uma das minhas falhas de caráter.
Ela olhou para ele, curvando os lábios em um sorriso, o qual Eammon
untou ela. —retribuiu. Quando voltaram a caminhar, ele permitiu que continuassem de
mãos dadas.
ção por si só. A conversa sobre luto mexeu com os sentimentos de Red, reacendendo
voltava parauma dor que ainda não tinha passado. Seu luto pelo falecimento de Isla era
estranho e distante. A morte não a tinha feito achar que a mãe era uma pessoa
a mãe. — A melhor, mas servira para fixá-la nas lembranças de Red, uma linha com início
ompliquei ase fim definidos e sem chances de ser mais do que tinha sido.
de um tempo — Acho que nunca vou conseguir lamentar a morte dela — murmurou
Red. Eammon olhou para ela, com as sobrancelhas franzidas. — Eu talvez
Wilderwood lamente a morte da idealização dela. A lacuna entre o que uma mãe deveria
ser e o que ela foi. — Ela piscou rapidamente para controlar a ardência nos
por diante de olhos e meneou a cabeça. — Isso provavelmente nem faz sentido.
— Faz muito sentido. Às vezes, o luto é tanto pelo que a pessoa foi quanto
le. — Já quepelo que ela poderia ter sido. — Ele segurou a mão dela com mais firmeza.
Red retribuiu a pressão, grata por outra opinião. Ele fingiu não notar quando
e o contato o ela esfregou os olhos com as costas da outra mão.
ãos unidas e, Havia um galho pendurado no caminho, e Eammon soltou a mão dela para
do nos lábiosafastá-lo para passarem. Ele irradiava calor como um farol no frio. Uma
mecha de cabelo se soltou do coque e caiu no rosto dele, a cabeça tão baixa
que os fios quase tocaram no rosto de Red.
Foi confuso, Ela ficou ali mais tempo que o necessário, presa pelo brilho dos olhos dele
culpa sua. —e pelo cheiro de biblioteca.
ra mais fácil Eammon baixou o braço, e o galho baixo raspou na terra da floresta. Ele se
— Nem tudoapressou, com passadas que davam duas das dela, e não pegou a mão de Red
de novo.
Ela sentiu o rosto queimar.
O galho que Eammon soltara balançou no canto do campo de visão de
ual EammonRed, galhos espinhosos se curvando em direção ao tornozelo dela. Foi o
inuassem de suficiente para deixar de lado todo o orgulho e se apressar até quase encostar
nas costas dele de novo.
reacendendo Um pouco à frente, uma sentinela irrompia da névoa. A escuridão cobria as
o de Isla era raízes, e fiapos de sombras se estendiam pelo tronco branco quase até a altura
a uma pessoade Red.
ha com início Eammon parou, os olhos se alternando entre Red e a árvore. Ela tocou a
mão dele, hesitante, em uma comunicação sem palavras.
— murmurou Ele ficou rígido no início. Mas aquele toque tinha um propósito, não era
— Eu talvez apenas conforto, e os músculos foram relaxando aos poucos. Eammon deu
mãe deveria um passo em direção à árvore como se tivesse algo a provar, e quase socou o
ardência nos tronco com a mão que não segurava a de Red.
A vibração do tronco sob o toque de Red era quase agradável. Não tinha
oa foi quantofeito aquilo desde o dia que o espelho lhe mostrara Neve, mas seu corpo se
mais firmeza.lembrava do ciclo de poder, da rede dourada de sentinelas e do modo como
notar quandotodas se aglutinavam em Eammon.
Mas alguma coisa estava diferente. Poços de escuridão marcavam o brilho
mão dela paraem sua mente, buracos onde deveria haver sentinelas. Não eram chamas
no frio. Umafracas de velas, não como se tivessem se soltado do seu ancoradouro para
eça tão baixaaparecer na Fortaleza — era como se tivessem desaparecido.
os olhos dele Os dedos dela ficaram tensos, mas Eammon passou o polegar pelo pulso
dela, um pedido silencioso para esperar para fazer perguntas.
oresta. Ele se Depois que o brilho da sentinela diante deles ficou forte e os fungos-de-
mão de Red sombra desapareceram, Red abriu os olhos.
— O que aconteceu? — Ainda conseguia ver a imagem do mapa dourado
na mente, os buracos onde as sentinelas deveriam estar. — Estão faltando
de visão devárias sentinelas. Elas estão em algum lugar na Fortaleza?
dela. Foi o — Não. — A voz de Eammon ecoava no silêncio, repleta da ressonância
uase encostarestranha e cheia de camadas que era resultado da magia da floresta. Ele
esfregou os olhos, que ainda tinham traços esverdeados e olheiras profundas.
dão cobria as— Não, elas não estão na Fortaleza.
se até a altura — Então onde estão?
— Não sei. — Ele fez uma careta discreta, como se tentasse esconder algo.
. Ela tocou a— Só há três faltando. Desde que as outras continuem onde estão, dá para
gerenciar.
ósito, não era — Quando foi que isso aconteceu? Como?
Eammon deu — Alguns dias atrás, mas não tenho certeza de como foi. — A magia
uase socou o estranha que vivia nele foi vazando pelos cantos em pequenos graus: os olhos
voltaram a brilhar apenas em âmbar, a voz foi perdendo o eco. Red ficou
el. Não tinhaobservando atentamente para se certificar de que tudo tinha desaparecido, de
seu corpo se que Wilderwood tinha saído dele tanto quanto possível sem deixar nenhuma
modo comomarca permanente. — Nunca aconteceu nada assim antes.
— E como podemos resolver isso? Como fazemos para curá-las se não
vam o brilhoestão aqui?
eram chamas — Nós não as curamos.
radouro para Eammon soltou a mão dela, virando-se para continuar caminhando por
entre as árvores. A ênfase foi bem clara: o que quer que ele planejasse fazer
não envolvia Red.
ar pelo pulso — Mas e se…
— Nós curamos as que podemos curar. Nós as mandamos de volta para
os fungos-de- onde deveriam estar. — A voz dele se encaixou no silêncio como o primeiro
tijolo em um muro. — Isso é tudo que você pode fazer, Red. Não temos
mapa douradocomo consertar os buracos em Wilderwood apenas tocando o tronco das
stão faltando sentinelas.
— Então, me diga o que mais posso fazer.
a ressonância — Nada. — Ele se virou, fazendo enfunar o manto atrás de si, e a fitou
floresta. Ele com ardor. — Por todos os Reis, mulher, não há nada que você possa fazer
as profundas. quanto a isso. Confie em mim.
Era um eco daquela primeira noite, quando ele pedira que confiasse nele, e
ela pedira um motivo. Ele os dera, várias e várias vezes.
sconder algo. Ainda assim, aquilo parecia diferente. Mas a expressão no rosto do Lobo, a
stão, dá para força que quase beirava o medo, dizia a ela que não adiantaria insistir.
Red retribuiu o olhar acalorado.
— Tudo bem.
— A magia Ele assentiu.
aus: os olhos — Tudo bem.
o. Red ficou Os galhos estalaram sob as botas de Eammon quando ele se virou para
aparecido, decontinuarem o caminho através da névoa.
xar nenhuma — Você devia ter me contado — murmurou ela. — Mesmo que eu não
pudesse fazer nada. Você devia ter me contado.
rá-las se não Eammon tensionou os ombros, mas não respondeu.
Não passaram por mais sentinela alguma. A névoa foi se dissipando, e as
árvores começaram a ficar mais espalhadas, curvadas e tortas. Um pouco à
minhando por frente, raios de luz passavam através dos galhos.
nejasse fazer Luz do sol. Quanto tempo havia se passado desde a última vez em que Red
tinha visto a luz de um dia e não aquele crepúsculo constante?
Eammon olhou para ela como se conseguisse ler o pensamento no rosto da
de volta paraSegunda Filha. O ar de um sorriso apareceu nos lábios dele, mas alguma
mo o primeirotristeza rapidamente o apagou.
. Não temos — A floresta acaba ali na frente.
o tronco das Ainda parecia estranho a Red que Wilderwood fosse uma coisa que
acabava. Era uma anomalia geográfica. Ninguém tinha conseguido catalogar
exatamente seus limites, então todos simplesmente presumiam que eles não
si, e a fitouexistiam. Exploradores haviam tentado mapear a floresta — contornando a
ê possa fazer fronteira leste, onde Valleyda se encontrava com a parte congelada do deserto
alperano, e navegando pelo lado oeste, onde se encontrava com o mar.
fiasse nele, eNenhum deles jamais voltou.
Agora Red sabia o motivo. Os Reis desapareceram e Wilderwood se
to do Lobo, a fechou, e os que conseguiram entrar nela, por mar ou pelo deserto, ficaram
presos lá dentro. Pensou em Bormain e em Valdrek e nas pessoas vestidas de
verde e cinza. Os descendentes daqueles aventureiros perdidos, separados do
mundo por gerações.
— Eles têm um céu — disse ela suavemente, olhando para cima. — Um
céu normal, quero dizer. Com o sol.
se virou para Outro meio sorriso, outro olhar com um brilho magoado.
— Eles têm. — Eammon deu um passo adiante, feixes finos de raios
o que eu nãodourados cortando a névoa e fazendo brilhar seu cabelo. A luz do sol
combinava com ele. — O crepúsculo eterno só aflige Wilderwood.
Red seguiu Eammon até a linha de árvores, passando entre os troncos e
sipando, e as saindo para a luz logo além delas. Não tinha percebido que estava prendendo
Um pouco àa respiração na expectativa de sentir uma dor que não veio. Sentiu uma ligeira
mudança de pressão, como uma bolha se rompendo contra a pele, mas nada
z em que Red como o aperto esmagador que sentira quando entrara pela primeira vez em
Wilderwood, o estranho zumbido nos ossos. Aquilo a fez se lembrar do que
o no rosto daFife lhe contara, no dia com Bormain, sobre as fronteiras do lado norte não
mas algumaserem tão fechadas. Sobre Wilderwood parecer sentir a necessidade de
proteção só do resto do continente.
Mesmo assim, Eammon parou ao lado dela, um músculo se contraindo no
ma coisa quemaxilar enquanto engolia em seco. A dor era aparente no contorno da boca e
ido catalogar fazia os ombros dele ficarem mais tensos — as raízes em volta da espinha do
não Lobo intensificavam o aperto, puxando-o de volta para a penumbra da
ontornando a floresta. Wilderwood talvez até o deixasse passar pela fronteira norte, mas
da do desertonão permitia que ele se esquecesse de qual era seu lugar.
com o mar. Ela mordeu o lábio.
Alguns metros à frente, um grande muro de madeira se erguia do chão,
ilderwood setodo entalhado com espirais e arabescos e equipado com um enorme portão
erto, ficaramduplo. Lá de dentro, vinha o burburinho baixo de uma cidade: riso e gritos,
as vestidas de comerciantes anunciando seus produtos, animais. A quilômetros a oeste, uma
separados dolinha de névoa começava no horizonte. Lembrava uma tempestade que se
aproximava, mas não se moveu enquanto Red a observava.
cima. — Um Eammon seguiu o olhar dela.
— O mar fica para lá — disse ele. — A névoa é tão grossa que não dá para
enxergar um palmo diante do nariz. Ao que parece, qualquer um que tenta
nos de raiosnavegar se perde e acaba viajando em círculos.
A luz do sol — Alguém já tentou?
— Ninguém tenta há muito tempo. — Ele apontou para o outro lado. — A
os troncos e mesma coisa a oeste; só é longe demais para dar para ver. Névoa sem fim.
va prendendo — E você também não consegue passar?
u uma ligeira Eammon negou com a cabeça.
le, mas nada — Wilderwood foi muito criteriosa depois que os Reis a feriram. Qualquer
meira vez emum que teve o azar de ficar preso aqui não tem como sair. — Ele pressionou a
mbrar do que mão contra a lateral do corpo, contraindo os lábios enquanto se virava para
do norte não avançar a passos largos até os muros da cidade. — Vamos. Precisamos ser
cessidade de rápidos.
Red o observou, franzindo o cenho, notando como a forma rígida com que
ontraindo no ele se movia contrastava com sua graça usual. Vinhas envolviam seus ossos,
no da boca ecordas tentando puxá-lo de volta. Outro lembrete: por mais que parecesse, ele
da espinha do não era humano.
penumbra da Ainda assim, ela sentia a mão quente onde ele a havia tocado.
a norte, mas Eammon bateu nos portões de madeira. Red fez uma careta, acostumada
com a quietude de Wilderwood, mas a batida quase não foi ouvida com o
barulho do vilarejo.
uia do chão, Uma fresta da porta se abriu. Olhos azuis e perscrutadores espiaram por
norme portãoela.
riso e gritos, — Nome?
a oeste, uma — Quem você acha que é, Lear? — Eammon revirou os olhos, mas sorriu.
stade que se— Trouxe uma convidada.
O guardião do portão arregalou os olhos, abrindo também o portão. Atrás
dele, era possível ver um vilarejo animado, não muito diferente da capital de
e não dá para Valleyda.
um que tenta — Milady.
O cabelo do homem era castanho avermelhado como as folhas de outono, e
ele tinha um rosto bonito e bem barbeado. Ela o reconheceu. Estava na
ro lado. — A floresta no dia em que ela tivera a visão e fora atrás de Eammon.
Lear abriu totalmente o portão.
— Sejam bem-vindos, Lobos.

am. Qualquer
pressionou a
e virava para
avançar a passos largos até os muros da cidade. — Vamos. Precisamos ser
rápidos.
Red o observou, franzindo o cenho, notando como a forma rígida com que
ele se movia contrastava com sua graça usual. Vinhas envolviam seus ossos,
cordas tentando puxá-lo de volta. Outro lembrete: por mais que parecesse, ele
não era humano.
Ainda assim, ela sentia a mão quente onde ele a havia tocado.
Eammon bateu nos portões de madeira. Red fez uma careta, acostumada
com a quietude de Wilderwood, mas a batida quase não foi ouvida com o
barulho do vilarejo.
Uma fresta da porta se abriu. Olhos azuis e perscrutadores espiaram por
ela.
— Nome?
— Quem você acha que é, Lear? — Eammon revirou os olhos, mas sorriu.
— Trouxe uma convidada.
O guardião do portão arregalou os olhos, abrindo também o portão. Atrás
dele, era possível ver um vilarejo animado, não muito diferente da capital de
Valleyda.
— Milady.
O cabelo do homem era castanho avermelhado como as folhas de outono, e
ele tinha um rosto bonito e bem barbeado. Ela o reconheceu. Estava na
floresta no dia em que ela tivera a visão e fora atrás de Eammon.
Lear abriu totalmente o portão.
— Sejam bem-vindos, Lobos.
20

Depois de semanas no silêncio quase total de Wilderwood, a cacofonia era


ensurdecedora. Crianças corriam e gritavam, jumentos relinchavam, ovelhas
baliam. Estradas de terra saíam da via principal pavimentada com pedras e
levavam a cabanas terrosas com telhados cobertos de plantas, os lintéis de
madeira esculpidos com os mesmos lindos arabescos dos portões. Chamavam
o lugar de vilarejo, mas era uma cidade, quase tão grande quanto a capital
valleydiana. Séculos de descendentes de exploradores tentando construir o
próprio mundo, já que não conseguiam sair de Wilderwood.
Além das ruas, Red conseguia vislumbrar plantações e animais pastando ao
longe. Parecia que o solo árido e frio que dificultava o cultivo de alimentos
em Valleyda não era problema ali. Ficou imaginando se seria alguma faceta
da magia, se Wilderwood estava tornando a terra fértil já que todos estavam
presos ali, sem ter como comprar nada em outro lugar, dependendo apenas do
que podiam plantar.
Ninguém parecia incomodado com a presença de Eammon, mas Red
chamou atenção. As mulheres escondiam a boca com a mão para cochichar, e
as crianças paravam de brincar para ficar olhando para ela com expressões de
surpresa. Todos usavam roupas antiquadas em tons de cinza, verde e marrom.
— Estão olhando para mim como se eu tivesse três cabeças — cochichou
Red.
— Você é a primeira pessoa de fora de Wilderwood já vista aqui em mais
de um século — respondeu Eammon. — Acho que uma criatura de três
cabeças chamaria menos atenção.
Um século, ele dissera. E não nunca.
— Então, você trouxe as outras aqui?
Ele se empertigou um pouco.
— Merra veio uma vez.
— Só uma vez?
cacofonia era — Ela só teve tempo para isso.
vam, ovelhas Eammon acelerou o passo, e Red precisou correr para acompanhar. Mesmo
com pedras e assim, olhou para as costas dele com expressão desconfiada.
os lintéis de A trilha se abriu para uma grande praça de mercado, com bancas a céu
s. Chamavamaberto cercadas por estruturas maiores feitas de madeira e pedra. Músicos se
nto a capital reuniam em volta de uma árvore entalhada em pedra no centro de uma praça,
o construir otão realista que Red quase esperava que as folhas farfalhassem. Uma garota
bonita com cabelo louro, quase branco, que chegava aos joelhos, girava
s pastando aograciosamente no ritmo da música. Ela deu uma piscadinha para Eammon,
de alimentosmas, quando olhou para Red, quase perdeu o passo. Recuperou-se rápido e
lguma faceta piscou para Red também.
odos estavam A praça estava cheia e era muito barulhenta, vendedores anunciando suas
do apenas domercadorias que iam de animais vivos a móveis, passando por joias. Red
tentou não ficar olhando, mas não conseguiu.
on, mas Red — A Fronteira é a única cidade daqui?
a cochichar, e Eammon pegou o braço dela e a tirou do caminho de uma carroça
expressões decarregada. Continuou segurando-a mesmo despois que a carroça passou, e
de e marrom. Red não fez menção alguma de se afastar.
— cochichou — Há algumas outras, um pouco além de Wilderwood — disse ele. — Mas
não muitas. Olhou para cima, como se estivesse fazendo contas de cabeça. —
aqui em maisAcho que o território deve ter mais ou menos o tamanho de Floriane.
atura de três
Um país inteiro, escondido na névoa e congelado no tempo. Red levantou
uma das sobrancelhas.
— Como você sabe o tamanho de Floriane?
— Eu já vi mapas, Redarys.
— Nenhum tão recente, aposto. A geografia mudou nos últimos
quinhentos anos, Lobo.
— Talvez você possa me ensinar, então.
nhar. Mesmo — Talvez. Você parece estudioso.
— Uma das minhas muitas qualidades admiráveis.
bancas a céu — Bem ousado da sua parte achar que eu estava fazendo um elogio. —
a. Músicos seMas ela riu ao falar aquilo, e ele também, enquanto dava um beliscão leve no
e uma praça, braço dela.
. Uma garota Eammon a guiou pelas ruas e parou diante de uma construção de pedra
elhos, giravacom uma banca colorida montada na frente. Sinos pendiam dos cantos e
ara Eammon, faixas de tecido faziam as vezes de teto da barraca. Havia roupas dobradas
u-se rápido eem mesas e penduradas em vigas, um exército de vestidos esvoaçantes nas
cores da floresta e de modelos do passado.
nciando suas Uma mulher com cabelos grisalhos presos em uma trança elaborada em
or joias. Redvolta da cabeça sorriu ao ver Eammon. Ao lado dela havia uma jovem de
cabelos dourados, soltos e enfeitados com flores.
Eammon cumprimentou a mulher mais velha com um gesto da cabeça.
uma carroça — Asheyla.
ça passou, e — Lobo. — Os olhos azuis da mulher pousaram em Red, avaliando e
especulando ao mesmo tempo. — E essa deve ser Lady Lobo. Ouvi dizer que
e ele. — Masfinalmente você deu o título a alguém. — Ela baixou a cabeça. — Parabéns, e
de cabeça. — que seu casamento seja abençoado, Lady Lobo.
O título fez Red se empertigar.
— Pode me chamar só de Red.
Red levantou — Tem mais uma coisa para colocar na minha conta — disse Eammon,
apontando para o manto de Red. — É possível consertar isto?
— Eu consigo consertar qualquer coisa, mesmo um manto que parece ter
sido todo desfiado. — Asheyla olhou Red de cima a baixo, avaliando. —
nos últimosParece que todo o resto que encomendou para ela vai servir. Alguém — os
olhos dela se voltaram para Eammon — não me deu medidas precisas.
Com elegância, ela se virou para os fundos da construção e disse por sobre
o ombro:
— Vou lá atrás por um momento, Loreth.
m elogio. — A loja estava vazia, e as paredes de pedra abafavam o barulho do mercado
iscão leve no lá fora. Havia manequins de madeira nos cantos, exibindo vestidos ajustados
com alfinetes. Teares com peças de tecido pela metade se alinhavam na
ção de pedraparede dos fundos, e havia solas de sapato e tiras de couro no balcão.
dos cantos e De lá de dentro, Asheyla olhou outra vez para o manto de Red, franzindo
pas dobradasas sobrancelhas claras.
oaçantes nas — Tem certeza de que não prefere um manto novo? — perguntou ela. —
Este tem furos o suficiente para que eu gaste praticamente a mesma
elaborada emquantidade de tecido nos remendos.
ma jovem de — É para remendar — confirmou Eammon atrás de Red, perto o bastante
para a respiração dele fazer o cabelo dela se agitar. Uma breve pausa. — Vou
mandar Fife vir com mais instruções.
Asheyla ficou olhando, mas não discutiu. Red tirou o manto, passando as
avaliando e mãos pelo tecido arruinado antes de entregá-lo para a dona da loja. Sua
uvi dizer que relutância em se separar da peça ficou aparente, e a expressão da dona da loja
— Parabéns, e se suavizou. Quando pegou o manto, ela o fez com bastante cuidado.
— Vai ficar novinho em folha.
Red engoliu em seco.
— Obrigada.
sse Eammon, A senhora assentiu.
— As botas ainda não ficaram prontas — disse Asheyla por sobre o ombro
ue parece ter enquanto voltava para trás do balcão, sobre o qual havia uma pilha de roupas
avaliando. —amarrada com um barbante.
— os — Fife pode vir buscar — disse Eammon.
Asheyla riu.
sse por sobre — Diga a ele que vou encontrar uma garrafa de vinho que Valdrek não
tenha diluído em água. Ele…
Um rugido alto cortou o ar, fazendo os três congelarem. O rugido parecia
o do mercado uma mistura de terror, loucura e dor; ribombou uma segunda vez, dessa vez
dos ajustadosacompanhado do som de alguma coisa arranhando a pedra, reverberando em
linhavam naalgum lugar sob o piso de madeira. Red nem tinha percebido que agarrara o
braço de Eammon até ele fazer um som baixo de protesto quando ela apertou
ed, franzindocom mais força.
Mais um som de algo sendo arranhado, depois mais um rugido, que foi
untou ela. — diminuindo devagar até quase virar um choramingo no final.
te a mesma Eammon olhou para Red como se esperasse que ela fosse se afastar depois
que o silêncio voltou. Quando não fez isso, ele pousou a mão sobre a dela,
to o bastantegrande e áspera por causa das cicatrizes.
ausa. — Vou — Como ele está? — perguntou ele baixinho, como se temesse ser ouvido.
— Ele durou duas semanas na taverna. — Asheyla usou o mesmo tom
passando as cochichado que Eammon enquanto colocava as roupas em uma sacola rústica
da loja. Sua de lona, com um cordão na parte superior. — Ficou se atirando contra as
dona da loja vigas do porão sem parar até que conseguiu quebrar uma. Está aqui desde
então, mas… — Ela parou de falar, piscando para controlar as lágrimas.
Bormain. Estavam se referindo a Bormain, infectado por sombras e
chorando da última vez que ela o vira. Mas parecia estar pior agora.
Red engoliu em seco, sentindo a garganta seca. Parte da Segunda Filha
obre o ombro ainda sentia que aquilo era culpa dela, pois tinha curado apenas a brecha, não
ha de roupas o homem. Tinha feito o trabalho pela metade.
Você está sempre começando, mas nunca termina, gritara Wilderwood
para ela na noite em que o corredor ruíra. A floresta estava certa.
Eammon suspirou, soltando a mão da de Red para esfregar o rosto.
Valdrek não — Por que Valdrek não cuidou disso? — Aquilo teria soado insensível se a
voz não demonstrasse tanto sofrimento. — Se ele ainda não melhorou, Ash,
ugido parecia isso só vai…
ez, dessa vez — Ele é genro de Valdrek. — A voz de Asheyla estava séria. — É uma
erberando em pessoa da família. Valdrek não… Ele não vai cuidar disso a não ser que não
ue agarrara o exista a menor chance de recuperação. Elia jamais o perdoaria. — A mulher
o ela apertoumanteve o olhar fixo nas próprias mãos, ocupando-se dos pacotes e
barbantes, mas sua atenção estava concentrada no Lobo, e suas palavras
gido, que foiforam ponderadas. — Você já curou pessoas infectadas por sombras antes.
Há muito tempo. — Ela olhou para ele. — Você viveu muito, Lobo, mas as
afastar depois suas histórias vivem ainda mais.
sobre a dela, Eammon contraiu o maxilar.
— Se eu pudesse, eu faria — disse ele suavemente. — Mas não posso. Não
e ser ouvido. mais.
mesmo tom Os olhos de Asheyla passaram de Eammon para Red. A vendedora apertou
sacola rústicaos lábios, mas permaneceu em silêncio.
do contra as Eammon se virou para a porta.
á aqui desde — É melhor irmos. Fife me deu uma lista grande.
Ele saiu pela porta, em direção à luz do sol, seguido pelo olhar de Asheyla,
r sombras e que ainda parecia surpresa. Quando se virou para Red, estava com um sorriso
cansado no rosto. Estendeu a sacola de lona cheia de roupas novas.
— Volte se alguma coisa não servir direito.
egunda Filha Red pendurou a bolsa no ombro. Era mais pesada do que parecia. Ficou
a brecha, nãoparada ali, se remexendo, sentindo que queria fazer uma pergunta, mas não
sabia bem como formulá-la.
Wilderwood — Antes — começou ela, hesitante —, quando Eammon... curava as
pessoas. Como ele fazia?
— Eu ainda não era nascida — respondeu a velha mulher, pegando um
nsensível se arolo de barbante. — Foi minha mãe que me contou a história. De acordo com
elhorou, Ash, ela, ele curava através do toque. — Ela suspirou e balançou a cabeça. — Mas
Wilderwood não estava tão fraca na época.
ia. — É uma Red pensou em sentinelas, fungos-de-sombra e mãos em troncos, enviando
o ser que não luz para conquistar as sombras. Assentiu, sorriu para Asheyla e foi atrás do
— A mulherLobo.
s pacotes e Do lado de fora, a luz do sol a fez piscar, já que os olhos ainda não tinham
uas palavras se acostumado com tanta claridade. Eammon estava encostado em uma
mbras antes.coluna da varanda, de braços cruzados, mas, assim que ela saiu, ele se
Lobo, mas as empertigou para seguirem caminho.
— Fife disse que precisamos…
— Temos que ajudar Bormain.
o posso. Não Ele parou e soltou um suspiro inaudível, que fez os ombros se levantarem
um pouco.
edora apertou Red desceu a escadinha da loja de Asheyla e parou no degrau bem abaixo
do dele. Eammon parecia ainda maior por causa da escada, mas ela se
manteve firme.
— Eu posso ajudar a curá-lo — disse ela com firmeza. — Como fiz com a
r de Asheyla, sentinela. É o mesmo conceito, não é?
m um sorriso — É bem mais complexo que isso, Redarys. — A expressão de Eammon
era inflexível. — Expulsar os fungos-de-sombra de alguém é uma tarefa
perigosa. Precisa de muito mais poder do que tenho hoje em dia.
arecia. Ficou — Mas você não vai fazer isso sozinho. — Red meneou a cabeça. — Você
nta, mas nãonão precisa fazer tudo sozinho, Eammon.
Ele contraiu os lábios, e seus olhos ficaram sombrios. Havia algo suspenso
... curava as no espaço entre eles, algo vasto e aterrorizante, mas que se resumia ao
seguinte: um formigamento na ponta dos dedos provocado pelo desejo de
pegando um acariciar o maxilar dele. A certeza de que a sensação não passaria, a não ser
e acordo comque ela afastasse a mecha do cabelo dele que tinha caído na testa.
beça. — Mas Red baixou os olhos; de repente, encarar os dele era demais.
— Me deixe ajudar você, e poderemos ajudar Bormain. Podemos pelo
cos, enviando menos conversar com Valdrek sobre isso.
e foi atrás do Ele analisou o rosto dela, os lábios ligeiramente entreabertos, como se
estivesse procurando alguma coisa que o atraía e o aterrorizava ao mesmo
a não tinhamtempo. Depois, virou-se abruptamente e seguiu para o outro lado da praça.
ado em uma — Como queira, Lady Lobo.
saiu, ele se Havia uma construção de madeira bem em frente à árvore de pedra. Era
possível ouvir música e risadas mesmo antes de chegarem à escada e, quando
as portas se abriram, sentiram o cheiro de suor e bebida.
— Valdrek costuma estar aqui. — Eammon lançou um olhar de aviso. —
e levantarem Fique perto de mim.
Havia um bar de frente para a porta, diante do qual havia várias pessoas
u bem abaixo bebendo, rindo e jogando cartas. Não havia mesas e cadeiras ao redor da área
mas ela seda banda, e algumas pessoas dançavam ao ritmo da música, alguns com mais
elegância do que outros. O corpanzil de Eammon atravessou a multidão.
mo fiz com a O espaço nos fundos da taverna era um pouco mais calmo, ocupado por
clientes mais interessados em beber do que em dançar. Valdrek estava de
de Eammon costas para eles, com cartas na mão e uma pilha de um tamanho considerável
é uma tarefade moedas antiquadas ao seu lado. Red arregalou os olhos. Nunca vira
dinheiro como aquele, a não ser em livros de história — a cara das moedas
eça. — Vocêainda exibia o último Krahl de Elkyrath, quando o país ainda era dividido em
cidades-estado.
lgo suspenso — Lobo — disse Valdrek, escolhendo uma carta. Então, como se estivesse
e resumia aosentindo a presença de Red, ele se virou e levantou uma das sobrancelhas. —
lo desejo deLobos.
ria, a não ser Ela não reconheceu nenhum outro homem da mesa, cujas expressões
variavam de interesse a cautela. Eammon fez um sinal com a cabeça para um
canto, virando-se sem esperar para ver se Valdrek o seguiria. Red ficou no
odemos pelomeio deles, perdida naquela política que não conhecia.
O homem mais velho deu um suspiro e baixou as cartas.
tos, como se — Com licença, cavalheiros. Tenho assuntos a tratar com um Lobo.
va ao mesmo Eammon se sentou em uma mesa no canto, passando a mão no rosto em
um gesto de cansaço. Red foi até lá, e Valdrek a acompanhou.
— Parece que você o está exaurindo, Lady. — O comentário teria soado
de pedra. Eralascivo, mas Valdrek parecia apenas curioso.
da e, quando Valdrek a avaliou com o olhar enquanto passava e se sentava de frente para
Eammon. Red se sentou entre eles com o cenho franzido.
de aviso. — O homem trouxera a caneca de bebida com ele, e tomou um grande gole
antes de colocá-la em cima da mesa.
árias pessoas — Querem beber alguma coisa? — Ele olhou para Eammon. — Pode
redor da áreaajudar a melhorar seu humor.
uns com mais — Desculpe tirar você do jogo de cartas. — Eammon se inclinou para a
frente apoiando o antebraço no joelho. — Eu não sabia se seus colegas
ocupado porestavam a par da… situação.
ek estava de Não precisou esclarecer a qual situação se referia. A arrogância
considerável desapareceu imediatamente, e Valdrek curvou um pouco as costas.
Nunca vira — Fomos bem discretos em relação a isso. — Ele deu de ombros,
a das moedasdemonstrando sofrimento. — O porão precisou de reparos depois que ele
a dividido emficou… agitado, mas dissemos que os danos foram causados por uma briga
que saiu do controle. A loja de Ash é de pedra e deve aguentar mais. — Ele
o se estivessecontraiu os lábios, e um brilho de determinação apareceu nos seus olhos. —
rancelhas. —Até ele melhorar.
Eammon não fez comentários, mas as mãos apertaram os joelhos com mais
s expressõesforça.
beça para um — Nós vamos tentar curá-lo. — Red tentou passar o máximo de confiança
Red ficou no que conseguiu. — Eammon e eu.
Valdrek não escondeu a surpresa. Recostou-se na cadeira, levantando as
sobrancelhas.
— Você ainda consegue fazer isso, Lobo? — A voz dele estava cheia de
no rosto em esperança. — Eu nem ia pedir, com Wilderwood tão fraca, mas se você é
forte o suficiente com a ajuda da sua Lady…
o teria soado — Nós podemos tentar — disse Eammon de forma direta.
Eles trocaram um olhar de avaliação antes de Valdrek virar o resto da
de frente parabebida.
— Que diferença. — Ele deu uma risada. — O casamento realmente muda
grande goleos homens.
Eammon contraiu o maxilar e se levantou apressado, empurrando a cadeira
on. — Pode para trás.
— Então vamos logo resolver isso.
clinou para a
seus colegasDo lado de fora da loja, Valdrek explicou o plano para Asheyla em voz baixa.
— É melhor você esperar lá — disse ela, apontando para a taverna. — Só
A arrogânciapara prevenir. Se quiser vinho, peça para Ari, e diga a ele para não usar o
diluído em água.
de ombros, Atrás de Red, Eammon estava tão imóvel quanto a árvore de pedra. Tinha
pois que eleentregado a lista de Fife para Loreth, a ajudante de Asheyla na loja, com
or uma brigainstruções de conseguir todos os suprimentos e deixá-los com Lear perto dos
mais. — Ele portões.
eus olhos. — — Curar alguém infectado por sombras é bem diferente de curar uma
sentinela. — Ele usou o mesmo tom baixo que usava durante as aulas deles,
hos com maisembora cada músculo de seu corpo estivesse contraído. — Você vai precisar
direcionar o poder especificamente para os lugares afetados em vez de soltar
de confiançatudo.
— Seres humanos são mais complexos do que árvores — disse Red.
evantando as Ela estendeu as mãos para que ele pudesse analisá-las em busca de algum
ferimento naquela rotina que já lhes era tão familiar.
tava cheia de Eammon pegou a mão da Segunda Filha, mas não a inspecionou; em vez
as se você é disso, a olhou com uma expressão séria sob as sobrancelhas grossas e baixas.
— Não toque nele.
Red franziu o cenho.
ar o resto da — E como é que eu vou…
— Você vai tocar em mim, e eu vou tocar nele. — As cicatrizes roçaram
lmente muda nos dedos de Red enquanto ele apertava a mão dela. — Eu disse para você
que é um trabalho muito específico e pode ser perigoso. Você vai deixar seu
ndo a cadeira poder entrar em mim e eu vou transferi-lo para ele.
Ela contraiu os lábios, mas assentiu depois de um momento. Eammon
apertou a mão dela mais uma vez e a soltou, virando-se para seguir Valdrek
até a porta do porão.
m voz baixa. Havia três trancas, mais uma tábua pregada por cima para prevenir.
verna. — SóEammon e Valdrek tiraram a tábua e o homem mais velho pegou um
a não usar o chaveiro no bolso.
— Amarras? — perguntou Eammon.
pedra. Tinha — Nos dois braços e nas duas pernas. No tronco também — disse Valdrek
na loja, comcom expressão de sofrimento, um lembrete visceral de que estava falando de
ear perto dosalguém da família.
Red se lembrou do nome que Asheyla mencionara: Elia, que devia ser a
e curar umafilha de Valdrek e esposa de Bormain. Olhou para Eammon, imóvel e estoico
s aulas deles,ao lado dela, e sentiu uma onda de compreensão no peito.
ê vai precisar A última tranca se abriu. Valdrek suspirou.
vez de soltar — Não é algo bonito de ser ver. Melhor se prepararem.
O aposento estava na penumbra. Pequenas aberturas no alto da parede
eram a única fonte de iluminação; a poeira dançava no brilho que entrava.
sca de algumUm cheiro pungente atingiu as narinas de Red assim que ela passou pela
porta, logo atrás de Valdrek e Eammon; um cheiro ácido e frio, intenso o
onou; em vezsuficiente para fazê-la cobrir o nariz com o braço. O aposento era pequeno —
os três mal cabiam ali lado a lado, e o pé-direito era tão baixo que o teto
quase encostava na cabeça de Eammon.
À frente de Red, Eammon se retesou, dando um passo para o lado como se
quisesse escondê-la com a própria sombra. Red empurrou o ombro dele e,
izes roçaramdepois de uma ligeira resistência, ele se afastou o suficiente para que ela
se para vocêpudesse ver.
ai deixar seu Tinham tentado deixar o homem o mais confortável possível — o que, de
alguma forma, piorava a situação. Bormain estava deitado em uma cama,
nto. Eammoncoberto com mantas grossas e cercado de travesseiros, que ocultavam quase
guir Valdrek por completo as correntes que saíam de baixo da cama e iam até as grilhetas
presas ao chão de pedra. Uma para cada perna e cada braço e outra no peito,
ara prevenir.presa primeiro à estrutura da cama e, depois, em argolas de metal nas
o pegou umparedes. Apesar das amarras, havia marcas no chão onde ele tinha conseguido
balançar a cama de um lado para o outro. Red se lembrou dos barulhos que
ouvira lá em cima na loja de Ashleyla e estremeceu.
disse Valdrek Bormain não se mexeu. Os olhos estavam fechados; veias pretas inchadas
va falando dese estendiam como teias de aranha das pálpebras para o restante do rosto. O
braço infectado por sombras estava descoberto, com pelo menos o dobro do
e devia ser atamanho normal e a pele fina como a casca de uma fruta podre, deixando
óvel e estoicomanchas úmidas e escuras na roupa de cama. As unhas da mão estavam
alongadas e curvadas, os ossos do rosto afiados demais.
Os fungos-de-sombra não estavam só deixando Bormain doente.
Estavam… transformando-o em outra coisa.
to da parede O rangido dos dentes de Valdrek foi audível.
que entrava. — Faz uma semana que não permito que Elia venha aqui, desde que ele
passou pelacomeçou… — Ele não terminou de falar.
io, intenso o A expressão de Eammon era inescrutável. Ele estendeu a mão e
a pequeno —gentilmente colocou Red atrás dele.
o que o teto Ela permitiu daquela vez e se aproximou mais dele, como se Eammon
fosse o seu escudo.
lado como se — Ele está dormindo?
mbro dele e, — Não estou dormindo. — A voz parecia estar saindo de um corte na
para que elagarganta, rouca e fraca. — As sombras roubaram o meu sono.
Bem devagar, Bormain levantou a cabeça. O ângulo, por causa das
— o que, deamarras, parecia doloroso, mas ele não demonstrou o menor sinal de
m uma cama,desconforto. O sorriso parecia aberto demais, quase de uma orelha à outra, e
ltavam quaseele fechou os olhos leitosos antes de inspirar longa e exageradamente.
é as grilhetas — Que cheiro doce. Solo árido, solo sem raízes. — Ele abriu os olhos e os
utra no peito,pousou em Red de uma forma tão rápida que nem parecia natural. — Tem
de metal nas sangue na floresta, Segunda Filha sem raízes. Sangue para abrir e sangue para
a conseguidofechar, e coisas antigas despertadas. Éons de paciência recompensados.
barulhos que Red resistiu ao impulso de pressionar o rosto contra o ombro de Eammon
para bloquear a cena no calor e no cheiro de biblioteca que ele emanava. Em
etas inchadas vez disso, pegou a mão dele.
e do rosto. O
s o dobro do — Estamos aqui para ajudar você — disse ela. As palavras saíram claras,
dre, deixando embora em um tom baixo.
mão estavam — Me ajudar? — Bormain jogou a cabeça para trás, urrando para o teto, as
veias inchadas e escuras do pescoço pulsando. — Doces Lobos, pobres
main doente.Lobos, não sou eu que preciso ser salvo. Ele está esperando, eles estão
esperando, todos terão sua chance. — A cabeça dele ainda estava em um
ângulo que não era nada natural, balançando de um lado para o outro
esde que ele enquanto ele cantarolava. — Eles estão a esperar e a rodopiar, a rodopiar
pesadelos novos e antigos. Eles refazem as sombras e deixam as sombras
u a mão e refazê-los…
Eammon olhou para ela com expressão interrogativa, bem fácil de
se Eammoninterpretar: se ela tivesse mudado de ideia, ele a tiraria dali no instante em
que ela pedisse.
Red mordeu o lábio, sentindo aquele gosto amargo na garganta de novo.
um corte naVocê está sempre começando, mas nunca termina.
Ela assentiu com firmeza.
or causa das Com outro olhar intenso, Eammon deu um passo para a frente, quase sem
nor sinal defazer barulho no piso de pedra.
lha à outra, e Bormain começou a cantarolar sem palavras, os olhos fechados e a cabeça
balançando de um lado para o outro como se tivesse perdido o interesse. Red
os olhos e os respirou fundo, sentindo o ar fétido entrar nos pulmões, e convocou o poder
ural. — Temencolhido dentro dela. Ele logo respondeu, abrindo-se e florescendo em
e sangue paradireção aos dedos dela e à mão de Eammon que os segurava. Suas veias
foram se tingindo de verde, e ela começou a sentir o gosto de terra. Deram
de Eammonum passo para a frente com cuidado e o mais silenciosamente possível, o
emanava. Em corpo de Eammon todo retesado como se fosse uma mola prestes a se soltar.
Com os olhos fechados, Bormain parou de cantarolar.
aíram claras, — Seu nó de morte está enfraquecendo, Lobinho — disse ele com voz
clara e precisa. — Eles têm ajuda agora. Eles vão voltar para casa. Solmir e
para o teto, astodos os outros.
obos, pobres O nome os fez parar na hora, Eammon com a mão estendida. A risada de
estãoBormain era feia e fraca.
stava em um — Tantos finais possíveis, Lobinho, e você já viu todos eles…
para o outro Ele se calou quando Eammon tocou em uma das únicas partes do corpo
r, a rodopiardele intocadas pela sombra: a boca.
m as sombras Os tendões do pescoço de Eammon se contraíram enquanto Bormain se
contorcia sob o toque.
em fácil de — Faça — disse Eammon entredentes. — Red, se você vai fazer isso, tem
o instante emque ser agora.
Ela cerrou os dentes e fez a magia da floresta circular, saindo dela e
nta de novo. fluindo para Eammon.
Exatamente como antes, quando tinham trabalhado juntos para curar a
sentinela, sua mente lhe mostrava tudo que os olhos não conseguiam. Seu
e, quase sempróprio poder era fraco em comparação com o de Eammon, apenas um fio
correndo pelo corpo dela, serpenteando pelos ossos e órgãos. Mas
os e a cabeça Eammon… Uma confusão de dourado, luz na forma de raízes que se
nteresse. Red retorciam por dentro dele, florescendo e crescendo.
ocou o poder Ela quase parou ao ver como tudo estava entranhado nele. Quase cortou o
rescendo emfio fino do próprio poder quando se lembrou como aquilo o mudara e tirara
a. Suas veias partes dele. Sentiu o medo crescer — o medo de que, de alguma forma, ele
terra. Deram fosse tirado dela, e seria culpa dela por tê-lo obrigado a fazer aquilo e
e possível, oalimentar com seu poder as raízes que cresciam sob a pele do Lobo. Ela abriu
os olhos com um arquejo e se deparou com os olhos dele fixos nela, enquanto
a forma adoecida de sombras de Bormain se contorcia na cama sob a mão de
Eammon coberta de veias verdes.
ele com voz — Não pare. — Direto e concentrado, mas com um toque de surpresa,
asa. Solmir e além de uma espécie de desejo. Os olhos dele estavam completamente
esmeralda. — Red, eu vou ficar bem. Não pare.
. A risada de Ela respirou fundo; o cheiro dele, uma mistura de folhas secas, café e
papel, abafou o fedor do aposento. Ela fechou os olhos e segurou a mão dele
como se fosse um salva-vidas, deixando seu poder florescer pelos dedos
tes do corpoenquanto continuava alimentando-o.
Atrás das suas pálpebras, Bormain parecia um vazio. Uma ausência
Bormain secompleta de qualquer coisa, um buraco com uma vaga forma humanoide,
escura e perdida no meio de todo aquele brilho dourado. No início, toda a
azer isso, temmagia que emanava de Eammon parecia ser absorvida por ele, devorada.
Cada fio dourado era hábil e deliberado, como se Eammon estivesse
aindo dela ecosturando alguma coisa. Por fim, o brilho dourado começou a vencer a
sombra, consumindo-a e cancelando-a. Ela sentiu Eammon cambalear, depois
para curar aouviu o ofegar sofrido de Bormain enquanto a luz lentamente sobrepujava a
seguiam. Seu escuridão.
penas um fio Quando Eammon enfim soltou a mão dela, Red abriu os olhos.
órgãos. Mas O homem na cama parecia pálido como um cadáver, mas a pele não
aízes que seapresentava mais linhas escuras. As unhas da mão estavam curtas e claras,
não mais com aparência de garras, e os ossos do crânio tinham voltado às
uase cortou o proporções normais. A respiração era fraca, mas constante.
udara e tirara Eammon estava curvado sobre a cama. Tinha casca de árvore nos
ma forma, ele antebraços, evidente onde a manga tinha se rasgado, a altura ainda maior pela
zer aquilo e magia que convocara. As veias estavam verdes no pulso, no pescoço e abaixo
bo. Ela abriu dos olhos, mas a escuridão passava por eles como batidas do coração,
ela, enquanto sombras bruxuleantes.
sob a mão de — Eammon? — A preocupação deixou a voz dela aguda.
de surpresa, Ele balançou a cabeça. Cerrou os dentes e contraiu a mandíbula. Bem
mpletamente devagar, a escuridão parou de correr pelas veias do Lobo. Ficaram verdes e
desbotaram para azul, as mudanças e as sombras se soltando dele como se
secas, café e fossem sangue de uma ferida. Eammon estremeceu, uma careta enquanto os
u a mão deledentes retrocediam atrás dos lábios.
pelos dedos A dor precisa ser transferida. Ele pegara os fungos-de-sombra, permitira
que circulassem por ele e os afogara na magia de Wilderwood.
ma ausência Os joelhos dela perderam a força de repente, exaustão e alívio chegando
humanoide, como um soco na cara. Red cambaleou e Eammon a envolveu nos braços, as
nício, toda aveias novamente com a cor normal da dos humanos, embora o branco dos
le, devorada.olhos ainda exibisse traços esverdeados.
on estivesse — Eu estou bem — sussurrou ele contra o cabelo dela. — Eu estou bem.
u a vencer a — Vocês conseguiram. — Lágrimas escorriam pelo rosto de Valdrek, e um
balear, depois brilho de reverência iluminou sua expressão. — Em nome de todos os Reis e
obrepujava atodas as sombras! Vocês conseguiram.
Mas Red nem terminou de ouvir, porque perdeu os sentidos e desmaiou.

s a pele não
rtas e claras,
m voltado às

árvore nos
da maior pela
coço e abaixo
do coração,
Ele balançou a cabeça. Cerrou os dentes e contraiu a mandíbula. Bem
devagar, a escuridão parou de correr pelas veias do Lobo. Ficaram verdes e
desbotaram para azul, as mudanças e as sombras se soltando dele como se
fossem sangue de uma ferida. Eammon estremeceu, uma careta enquanto os
dentes retrocediam atrás dos lábios.
A dor precisa ser transferida. Ele pegara os fungos-de-sombra, permitira
que circulassem por ele e os afogara na magia de Wilderwood.
Os joelhos dela perderam a força de repente, exaustão e alívio chegando
como um soco na cara. Red cambaleou e Eammon a envolveu nos braços, as
veias novamente com a cor normal da dos humanos, embora o branco dos
olhos ainda exibisse traços esverdeados.
— Eu estou bem — sussurrou ele contra o cabelo dela. — Eu estou bem.
— Vocês conseguiram. — Lágrimas escorriam pelo rosto de Valdrek, e um
brilho de reverência iluminou sua expressão. — Em nome de todos os Reis e
todas as sombras! Vocês conseguiram.
Mas Red nem terminou de ouvir, porque perdeu os sentidos e desmaiou.
21

Ela acordou sentindo o cheiro de biblioteca e a trama rústica de um tecido


contra o rosto. Red se sobressaltou, agitando-se nos braços de Eammon, e
acabou dando uma cabeçada no queixo dele.
— Pelos Reis! — exclamou o Lobo.
Ele a colocou no chão com um dos braços, esfregando o queixo com a
outra mão. A maior parte dos vestígios de magia tinha desaparecido, a não ser
por aqueles dois centímetros de altura adicionais, além dos que ele já tinha
ganhado na noite em que Wilderwood tomara o corredor. Mas as veias em
volta das íris âmbar ainda estavam esverdeadas.
— Desculpe.
Red sentiu o rosto enrubescer enquanto tentava se equilibrar, apertando os
olhos por causa do sol forte e do atordoamento que sentia. Estavam no meio
da rua principal da Fronteira, o céu começando a escurecer.
— Cadê o Valdrek?
— Ainda está na casa de Asheyla com Bormain. Acharam melhor não
mexer nele até ele acordar.
Apesar da dor de cabeça e das pernas fracas, Red abriu um sorriso cheio de
esperança.
— Ele vai acordar, então? A gente conseguiu?
Eammon contraiu os lábios, os olhos tomados por uma sombra estranha e
iluminados com camadas de emoção que ela não conseguiu identificar.
— A gente conseguiu — confirmou ele, avançando em direção aos
portões.
Red seguiu atrás dele, com o sorriso ainda nos lábios. Ela e Eammon
tinham curado Bormain e o livrado dos fungos-de-sombra. Talvez
conseguissem curar Wilderwood inteira.
Mas o sorriso foi se apagando à medida que ela começava a se lembrar do
de um tecido que Bormain dissera quando ainda estava infestado de sombras. Um nome
e Eammon, eem particular.
Solmir.
Na primeira vez que Bormain mencionara o mais jovem dos Cinco Reis,
ueixo com aEammon dissera que era só delírio. E ela não insistira, apesar de achar que
ido, a não sertinha algo estranho naquilo.
e ele já tinha Mas duas menções ao mesmo nome a tinham deixado com a pulga atrás da
as veias emorelha.
Lear os olhou atentamente quando chegaram aos portões. Loreth estava ao
lado dele, segurando a sacola de lona lotada, a qual entregou rapidamente
apertando ospara Eammon antes de desaparecer no meio da multidão, lançando um olhar
vam no meioconspiratório para Lear.
Eammon suspirou.
— Acho que você já soube.
melhor não — Não pense mal dela. — Lear puxou a alavanca que abria os portões de
madeira. O ranger das dobradiças era suave em comparação com o som que
riso cheio de vinha da cidade. — É difícil esconder a tentativa de curar alguém infectado
por fungos-de-sombra. Qual o veredicto?
— Funcionou. — A voz de Eammon parecia rouca.
ra estranha e Lear arregalou um pouco os olhos azuis, demonstrando surpresa.
— Por todas as sombras! — Ele deu uma risada, olhando de Eammon para
Red. — Saúde aos Lobos.
direção aos Eammon não respondeu. Pendurou no ombro a bolsa de lona repleta dos
suprimentos que Fife tinha pedido.
a e Eammon — Saiba que sempre pode contar com todos nós, Lobo — disse Lear, sério.
mbra. Talvez — Se precisar de ajuda, estamos aqui.
— Obrigado — agradeceu Eammon, saindo pelo portão. — Mas a situação
se lembrar dojá passou do ponto em que qualquer um possa ajudar.
s. Um nome Lear assumiu um olhar pensativo enquanto Eammon atravessava o batente.
— Tome conta dele, Milady — sussurrou para Red. — O Lobo e
Wilderwood estão tão entrelaçados que a fraqueza de um é também é a
Cinco Reis,fraqueza do outro. Parece que ele anda exagerando um pouco.
de achar que — Ele costuma fazer isso.
Além dos portões, Eammon parou empertigado, olhando o norte, o
pulga atrás da horizonte oposto a Wilderwood. Todo o corpo dele estava inclinado para a
frente, como se quisesse fugir das árvores. Mas não podia. As raízes que
eth estava aoenvolviam os ossos dele poderiam muito bem ser correntes.
rapidamente Red deu um sorriso rápido para Lear. Este assentiu e fechou os portões,
ndo um olharabafando o barulho da Fronteira.
Ela se aproximou devagar até parar ao lado de Eammon. Ele não olhou
para ela, mantendo o olhar nas montanhas ao norte que desapareciam sob a
densa névoa e a luz do sol que morria. Depois de um momento, ele se virou
os portões depara a floresta. Acima deles, o céu assumia um tom crepuscular que equivalia
m o som queao do horizonte de Wilderwood, passando de azul para lavanda até adentrar o
ém infectado espectro do violeta.
Red o seguiu pisando no musgo, tamborilando os dedos no cabo da adaga
que ainda lhe era estranha.
— Ele mencionou Solmir de novo.
Eammon para — Eu ouvi. — Ele não parou de caminhar.
a repleta dos — Foram duas vezes agora. — Ela parou de falar, esperando uma resposta,
mas ele se manteve em silêncio. — Parece ser mais que uma coincidência.
e Lear, sério. — É mesmo?
O tom venenoso a pegou de surpresa. Red parou, ainda a alguns metros de
Mas a situação Wilderwood.
— Isso significa alguma coisa. Você sabe muito bem disso. E eu também.
va o batente. Eammon se deteve, mas permaneceu em silêncio. Uma brisa soprava o
— O Lobo ecabelo dele.
também é a — Eu não sei se você está tentando me proteger ou se simplesmente não
quer se dar ao trabalho de me dizer nada — continuou ela, abrindo e
fechando as mãos. — Mas eu só posso ajudar se você permitir, Eammon.
o norte, o Ele tinha se virado enquanto ela falava, o contorno do perfil desenhado
inado para a contra as árvores e a linha onde o crepúsculo lavanda começava. O maxilar
As raízes que estava contraído, e uma mecha de cabelo caía sobre a testa. Red queria bater
nele e abraçá-lo ao mesmo tempo, mas se contentou em cruzar os braços.
u os portões, — As histórias antigas contam que Solmir deveria ter se casado com sua
mãe — prosseguiu ela com voz suave, como se pudesse costurar os
le não olhoufragmentos da história mesmo que fosse com pontos frouxos. — Ela fugiu
reciam sob a para Wilderwood com Ciaran, e Solmir acabou preso na Terra das Sombras
, ele se viroucom os outros Reis. Mas tem mais nessa história, não tem?
que equivalia O suspiro de Eammon pareceu ecoar, rebatido pelas árvores que
até adentrar o delimitavam Wilderwood. Era evidente que estava travando uma batalha
dentro dele mesmo, falar ou manter o silêncio — mas, depois de um
abo da adaga momento, descerrou os punhos, como se mantê-los fechados fosse uma tarefa
extenuante. Respirou fundo e disse com voz cansada:
— Ele matou os meus pais.
Eles tinham conversado tanto sobre luto e pesar… E ali estavam eles de
novo. Ela levou a mão ao ombro dele antes de sequer pensar, antes de
uma resposta, perceber que tinha se mexido. Meio que esperava que ele se encolhesse e se
afastasse, mas o Lobo relaxou sob o toque.
Começou a falar rápido, como se uma barreira tivesse se rompido e o rio
uns metros detivesse urgência de fluir.
— Minha mãe sempre se sentiu culpada por Solmir ter tido o mesmo
destino que os Reis. Acreditava que ele não merecia aquilo, que havia ficado
sa soprava o preso no meio de tudo sem chance de escapar. Eles tinham sido amigos, ao
que parece, antes de serem prometidos. — Eammon arreganhou um pouco os
lesmente não dentes quando disse amigos. — Ouvi Gaya e Ciaran conversarem sobre isso
a, abrindo e algumas vezes. Quando achavam que eu não estava ouvindo. — Meneou a
cabeça. — Quase um século e meio tendo a mesma discussão de sempre.
il desenhado Tão indiferente, a maneira como ele mencionava séculos… A vida dele era
a. O maxilar muito mais longa que a dela, como as centenas de anos que uma muda levava
d queria bater para crescer totalmente. Fazia sentido, já que ele tinha nascido de pais que o
haviam concebido logo depois de se envolverem com a floresta. Red nunca
ado com suatinha pensado em imaginar Eammon como algo diferente do homem que
costurar osconhecera na biblioteca — não totalmente humano, mantido em estase pela
— Ela fugiu estranha relação com Wilderwood. Mas ali, sob o crepúsculo, conseguia ver
das Sombras uma versão mais jovem dele. Olhos não tão cansados, ombros não tão
rígidos, sem saber ainda o fardo que cairia sobre eles.
árvores que — Ciaran não queria libertar Solmir — continuou Eammon. — Gaya dizia
uma batalha que ele tinha sido envolvido pelas artimanhas do pai contra sua vontade, mas
epois de um Ciaran não acreditava naquilo. E, com os Reis juntos onde estavam, não
se uma tarefaachava possível soltar apenas um deles da Terra das Sombras.
Uma mudança sutil desde a primeira vez que Eammon decidira contar a
história dele, de meus pais para Gaya e Ciaran, uma distância artificial que
avam eles de ela não sabia se ele tinha consciência de estar criando. Como se quisesse uma
sar, antes de
colhesse e se separação, como se quisesse um abismo. Como se estar muito próximo fosse
doloroso demais.
mpido e o rio Ela entendia.
Red manteve a mão no ombro dele, mas o olhar foi atraído para a fronteira
do o mesmode Wilderwood, que se agigantava forte, escura e insondável, um lugar para
havia ficado se perder.
o amigos, ao Eammon passou a mão no rosto, demonstrando cansaço.
um pouco os — Gaya decidiu tentar mesmo assim. Abriu uma brecha, Ciaran sentiu o
m sobre issoque acontecia e foi atrás dela. — Uma pausa pesada para respirar. — Quando
— Meneou aele chegou lá, ela já estava morta. Consumida por Wilderwood em uma
tentativa de impedir que ela prejudicasse mais a floresta.
vida dele era Era fácil preencher as lacunas da história a partir dali. O Lobo, carregando
muda levava o corpo da Segunda Filha até as margens de Wilderwood. O mito os tornando
de pais que omais indefinidos e menos reais.
a. Red nunca Só que aquelas pessoas eram os pais do homem ali diante dela, e esse
homem quehomem tinha visto tudo aquilo acontecer.
m estase pela — Eu vi Ciaran carregando Gaya. — Ele falava baixo, mantendo a
onseguia verexpressão neutra, olhando para a floresta que o atraía para a escuridão de
bros não tão forma implacável. — Eu o segui até a fronteira. Ouvi o que ele disse, mas
não entendi o significado. Demorei tanto para entender o que ele queria
— Gaya dizia dizer…
vontade, mas A voz dele falhou, mas Eammon não estremeceu; em vez disso continuou
estavam, não imóvel como uma estátua, sem mover um músculo sequer, como se quisesse
se tornar menos humano para não sentir tanto. Quando voltou a falar, foi em
dira contar aum sussurro:
artificial que — Ele viveu mais um ano depois daquilo. Um ano sozinho, enquanto
quisesse umaWilderwood o consumia. Enquanto ia tirando dele tudo que o tornava
minimamente humano. Brechas se abriram. A floresta ficou cheia de criaturas
róximo fossede sombras, mas as fronteiras permaneceram fechadas sem deixá-las sair,
como… como quando alguma coisa está prestes a morrer e se agarra ainda
mais à vida.
ra a fronteira — Não foi culpa sua. — Red falou com voz tão baixa quanto a dele, um
m lugar para sussurro contra o céu que escurecia e a floresta faminta que os aguardava. —
Nada disso foi culpa sua.
Ele não respondeu, perdido na cadência da própria história de terror.
aran sentiu o — E então ele morreu — disse Eammon, como se o fim da história ainda
r. — Quando fosse surpreendente, tantos séculos depois. — Ele morreu e, naquele
ood em uma momento, as fronteiras se abriram, como se a mão da morte enfim tivesse
relaxado. As criaturas de sombras saíram. — Ele fez uma pausa para se
o, carregando acalmar. — Depois disso, eu agi por puro instinto. Cortei minha mão, toquei
o os tornandono chão. Ressuscitei Wilderwood… Eu acho. Ela cresceu em mim, e foi
doloroso. — Ele cerrou o punho e o levou ao peito como se estivesse se
dela, e esse lembrando da dor. — Sempre me perguntei se doeu mais ou menos em mim
do que nele. Mas não cheguei a uma conclusão. Ele foi definhando sob o
mantendo apeso da floresta, e eu ainda estou aqui.
escuridão de A última parte saiu em um sussurro. Eles ficaram parados ali, um homem e
le disse, mas uma mulher, na fronteira da escuridão, ambos curvados e obscurecidos pelo
ue ele queriapeso daquela história terrível.
— E foi assim que eu me tornei o Lobo — concluiu Eammon baixinho. —
so continuouE até a chegada de Fife, eu estava sozinho.
o se quisesse Red nem sabia o que dizer. Aquela história a assombrara a vida toda —
falar, foi em mas era a vida dele, a vida que fora obrigado a viver sob a sombra daquele
acontecimento e os fantasmas que ele deixara. A Segunda Filha queria
ho, enquantoconfortá-lo, mas cada músculo do corpo dele dizia que ele não queria ser
ue o tornavaconfortado.
a de criaturas
eixá-las sair, — A floresta estava tão deplorável que receber um novo Lobo não fechou
agarra ainda todas as brechas. — O tom dele estava neutro novamente, ocultando e
enterrando qualquer emoção. — Então, algumas criaturas de sombras que
o a dele, umtinham escapado durante a breve morte de Wilderwood ainda persistiam.
guardava. — — Até a chegada de Kaldenore — disse Red, encaixando as peças. —
Quando Wilderwood a drenou para se curar da melhor forma que conseguiu.
— Nem boa nem má, apenas faminta. E desesperada.
história ainda Ele soltou um suspiro.
e, naquele — Não tivemos nenhum final feliz aqui, Red.
enfim tivesse Eammon fez um leve movimento com os ombros para afastar a mão dela e
ausa para sese virou para Wilderwood. Os dedos de Red se fecharam no ar.
a mão, toquei Sozinho. Determinado, sempre, a ficar sozinho, mesmo quando ela estava
m mim, e foi bem ao lado dele.
estivesse se Depois de um instante, ela o seguiu, sentindo a pele pinicar ao passar pela
enos em mimfronteira. Atravessaram o nevoeiro em silêncio.
hando sob o Eammon estendeu a mão e a pegou pelo braço, fazendo-a gemer de
surpresa. Red tropeçou nas folhas e ela viu do que ele a tinha livrado: um
um homem e círculo perfeito de chão infectado com fungos-de-sombra, quase escondido
urecidos pelo na penumbra. Parecia um círculo de tinta preta caído na tela da floresta, sem
nenhuma árvore para marcar o centro.
baixinho. — Uma sentinela perdida. Um buraco.
Eammon contraiu os lábios. A mão no braço dela estremeceu.
vida toda — Red sentiu a magia fluir para os dedos, pronta para ser usada.
mbra daquele — O que podemos fazer?
Filha queria — Eu já disse antes. — Eammon meneou a cabeça. — Não há nada que
ão queria ser você possa fazer, Red.
— Tem que ter alguma coisa. Ou você só está determinado a me deixar
fora disso?
o não fechou Ele congelou, e aquela resposta foi suficiente para ela.
ocultando e Red desembainhou a adaga. Eammon soltou o cotovelo dela e agarrou o
sombras que pulso, rápido como um raio, puxando-a para tão perto dele que o nariz dela
quase bateu no peito dele. Ela não tentou se fastar, mas também não soltou a
as peças. —adaga, segurando-a entre o corpo dos dois.
ue conseguiu. — Não. — Ele quase rosnou. — Não o seu.
— Funcionou uma vez…
— E Wilderwood quase tomou você. — A voz dele era dura, os olhos
âmbar queimando enquanto o verde tomava o espaço branco. — Não vou
a mão dela edeixar isso acontecer de novo.
— Então eu simplesmente devo deixar você sangrar? Se entregar
do ela estava totalmente para Wilderwood mesmo quando não tem sangue suficiente para
satisfazê-la?
o passar pela As mãos unidas estremeceram. Ela não saberia dizer em qual delas o
tremor nascera.
-a gemer de — Se for preciso…
livrado: um O som foi discreto. Se não estivessem presos no próprio silêncio, talvez
se escondido não tivessem ouvido: um grito baixo, como metal sendo rasgado. Red cerrou
floresta, sem os dentes, sentindo um desconforto estranho subir pelos pés e adentrar os
ossos.
Eammon empalideceu e agarrou o cabo da adaga enquanto a outra mão
ainda segurava o pulso dela. Olhou para o fosso podre aberto no chão
enquanto dava um passo curto para se afastar dela, movendo-se como uma
presa na linha de visão do predador.
há nada que Ouviram o som novamente. Mais alto daquela vez. A superfície do fosso
ondulou, e algo parecia estar se mexendo embaixo.
a me deixar — Red. — Foi quase um sussurro, e Eammon arregalou os olhos. — Fuja.
O fosso explodiu antes que ela tivesse a chance.
Era a escuridão se solidificando e se alçando no ar. Diferente daquela
a e agarrou o primeira noite — não era mais uma coisa amorfa e remendada simulando um
o nariz dela corpo de osso e sombra. Aquilo tinha corpo. Um corpo terrível e errado, um
não soltou atubo de escamas negras e fungos-de-sombra. O som metálico vinha da
bocarra escancarada, com largura equivalente à altura de Eammon e cercada
de camadas e mais camadas de dentes cobertos de carniça. A coisa se
balançava e se elevava no ar, a mandíbula rangendo no crepúsculo.
ura, os olhos A erupção lançou Red para trás, fazendo com que ficasse tonta e com a
— Não vouvisão anuviada. Ainda não tinha voltado totalmente a si até sentir Eammon ao
lado dela, tirando a adaga da sua mão. Se era para usar nele ou para evitar que
Se entregar ela usasse nela mesma, não sabia.
uficiente para — Vá!
Ele saltou, colocando-se na frente dela com os dentes arreganhados,
qual delas oenfrentando a criatura que tinha saído da brecha. Não era uma criatura de
sombras insubstancial. Seria talvez um dos outros monstros da Terra das
Sombras?
êncio, talvez Parecia ainda maior agora que tinha saído mais do buraco. Eammon
o. Red cerrousegurou as duas adagas em uma das mãos e fez dois cortes iguais na outra.
e adentrar os — Red, vá!
Ela recuou, tentando se afastar, as botas esmagando raízes e rochas. Sentiu
a outra mão um grito preso no fundo da garganta, mas não o deixou sair. Manteve os
erto no chãoolhos fixos em Eammon. O poder começou a se abrir no seu âmago,
e como uma florescendo como uma videira, quase sólido. Quase uma arma.
Eammon bateu com a mão cortada na terra tomada de fungos-de-sombra.
ície do fossoOs dentes afiados do monstro desceram e o Lobo desviou o ataque com a
mão, o movimento desesperado fazendo gotas de sangue voarem pelo ar até
caírem no chão e curarem a escuridão por um breve momento. Mas era como
ente daquela chuva leve tentando apagar as chamas de um incêndio, fraca e insuficiente
imulando um para dar conta. A coisa rugiu.
e errado, um Red parou, o cabelo enroscado nos galhos, dentes arreganhados e peito
co vinha daqueimando. Não era medo que martelava no seu peito, não mais — era raiva
mon e cercadaraiva de ver Eammon sangrando mesmo sem poder, raiva por ele ser obrigado
A coisa sea fazer aquilo. Uma magia afiada começou a subir pelas suas veias como
hera.
onta e com a A Segunda Filha parou de pensar e começou a agir por puro instinto. Ela se
r Eammon ao levantou e curvou os dedos, e Wilderwood se curvou com ela, em sincronia
ara evitar quecom seus movimentos. Com um rosnado, ela lançou as mãos para a frente,
sentindo o gosto de terra na boca e vendo as veias se tingirem de verde,
reunindo cada fragmento de magia que conseguia do fio fino que serpenteava
rreganhados,ao redor do seu corpo.
a criatura de A floresta a obedeceu.
da Terra das O grito metálico e alto ficou mais agudo quando as vinhas envolveram
todo o corpanzil do horrível monstro, apertando-o até romper os flancos
co. Eammoncobertos de sangue coagulado. A criatura começou a se debater,
emaranhando-se nos galhos. Os espinhos grandes e afiados como espadas a
rasgavam, até que o ser enfim caiu com um estrondo alto como um trovão,
ochas. Sentiu espalhando pedaços fétidos de decomposição por todos os lados. As partes
Manteve os que caíram no fosso de sombra começaram a afundar devagar; as que
seu âmago, atingiram a área fora do anel de escuridão pareciam pedaços de carne podre.
Estas, separadas do todo, foram rapidamente tomadas pelos fungos-de-
s-de-sombra.sombra, que as consumiram como ácido.
ataque com a Mais um grito, mas um golpe e o monstro desapareceu.
m pelo ar até Devagar, Red abriu os dedos e, ao fazer isso, Wilderwood guardou suas
Mas era como armas. Os espinhos se recolheram, os galhos recuaram e as vinhas
retrocederam nos arbustos. A floresta se acalmou e ficou em silêncio.
e insuficiente O fosso de sombras ainda marcava o chão, mas não parecia haver nada se
movendo lá embaixo. Eammon estava ajoelhado perto da beirada, com uma
ados e peitoexpressão descrente no rosto. Olhou para ela e se levantou, andando pela
raiva,floresta como se ele fosse a agulha de uma bússola e Red fosse o seu norte.
ser obrigado Ela sentiu todo o corpo dormente. Quase avançou na direção de Eammon
s veias como ansiando por seu calor, mas se controlou a tempo.
— O que foi aquilo?
stinto. Ela se — Eu mandei você fugir. — Ele levantou a mão ferida, como se talvez
em sincronia fosse tocá-la, mas a deixou cair ao longo do corpo. — Você não sabe o que
para a frente,poderia ter acontecido. Você poderia…
em de verde, Red agarrou a mão cortada e o puxou para si.
e serpenteava — E deixar você sozinho? Você vive me pedindo para fazer isso, mas não
vou obedecer, Eammon.
O olhar dele se fixou nos lábios dela, a mão que não estava ferida tocando
envolveramo rosto de Red como se ele não conseguisse controlar o próprio corpo.
er os flancos — É para o seu próprio bem.
se debater, — Eu não vou fazer isso — sussurrou ela novamente, e havia tão pouco
mo espadas aespaço entre eles que ela mal teve de se mexer para pressionar os lábios
o um trovão,contra os dele.
os. As partes Um segundo de surpresa, ambos congelados. Então, eles se deixaram levar,
agar; as quefácil como água fluindo montanha abaixo ou ar para os pulmões.
carne podre. Eammon colocou uma das mãos no quadril dela e a outra na nuca. Ela
s fungos-de-mordiscou o lábio inferior dele como se fosse algo que pudesse tomar para si;
ele gemeu baixo, abraçando-a pela cintura, tão apertado que não havia espaço
entre eles. Red mergulhou os dedos no cabelo dele, soltando as mechas do
guardou suas coque, e elas roçaram nos seus pulsos. Eammon ofegou quando ela passou as
e as vinhasunhas no couro cabeludo dele.
haver nada se Red pressionou o corpo contra o dele, sentindo algo profundo e
da, com uma desesperado a atraindo cada vez mais para ele. Ela já tinha beijado e feito
andando pelamuito mais do que isso, mas nunca sentira aquela ânsia — como se fossem
duas partes se encaixando novamente, como se suas curvas tivessem sido
de Eammon feitas para ele. Eammon afundou os dedos no quadril dela, o chão
desapareceu e ela sentiu as costas pressionadas contra o tronco de uma
árvore. Seu único pensamento lúcido foi uma decepção aguda quando os
mo se talvezlábios dele se afastaram rapidamente dos dela e uma satisfação selvagem
o sabe o que quando os sentiu outra vez.
Então… Um arfar pesado contra o pescoço enquanto Eammon se afastava.
— Não.
não Ela ficou confusa, tentando organizar os pensamentos. Os pés tocaram no
chão de novo, e ela nem se lembrava de como aquilo tinha acontecido. Sentiu
erida tocando os lábios sensíveis, sangue dele sujando o cabelo dela. Em volta deles, a
floresta parecia se arquear na direção de ambos, a ponta das samambaias e
das folhas ficando mais verdejante.
via tão pouco O casaco de Eammon estava no chão. Ele se abaixou para pegar. A mão
nar os lábiossolta ao lado do corpo, a palma ainda cortada, mas os dedos abrindo e
fechando como se estivesse tentando se lembrar da sensação da pele dela.
ixaram levar, — Por quê? — A garganta dela parecia apertada, com espaço suficiente
apenas para aquela pergunta.
na nuca. Ela Ele olhou para ela, só uma vez. Os olhos cheios de culpa e alguma outra
omar para si; coisa.
havia espaço — Confie em mim.
s mechas do Eammon jogou o casaco nos ombros, passou a mão pelo cabelo bagunçado
ela passou ase se virou para caminhar por Wilderwood. Com o rosto afogueado, Red o
seguiu. Ficaram cautelosamente afastados, ambos em silêncio.
profundo eMais tarde, Red estava diante da porta da torre, franzindo o cenho para as
eijado e feito janelas altas.
mo se fossem Nem ela nem Eammon haviam falado ao chegar à Fortaleza, embora
ivessem sidotivessem ficado parados no vestíbulo por um tempo, olhando um para o outro
ela, o chãoem silêncio. Eammon desviara o olhar primeiro e seguira para a biblioteca, e
nco de umaRed ficou olhando até a sombra dele desaparecer.
a quando os Levara a sacola com as roupas novas para o quarto. Havia dois vestidos,
ão selvagemalgumas camisas e meias grossas e, enquanto guardava tudo, tinha tomado
uma decisão.
E agora estava diante da porta da torre, ainda usando a camisa de Eammon.
Alguma coisa naquela primeira vez que vira Neve no espelho a
s tocaram noincomodava; aquela estranha conversa que tinha ouvido: algo sobre fuga e
ecido. Sentiu enfraquecimento. Não conseguia tirar da cabeça que aquilo talvez tivesse
volta deles, aalguma coisa a ver com Wilderwood.
amambaias e Red se empertigou e empurrou a porta.
A escadaria estava gelada e escura, e o aposento ainda mais frio. A
pegar. A mãorespiração de Red se condensava diante do rosto enquanto seguia para o
os abrindo e espelho encostado na parede, com sua superfície fosca e cinzenta.
Arrancou um fio de cabelo da trança, o qual ainda tinha vestígios da
ço suficiente batalha anterior e das mãos de Eammon, e o entrelaçou aos orifícios
espiralados da moldura. Depois ajoelhou-se, sentou-se nos calcanhares e
alguma outraaguardou.
Por um instante, nada aconteceu. Então, aquele brilho prateado, a fumaça
serpenteando, a sensação de estar pressionada contra uma janela. O espelho
lo bagunçadomostrou uma figura bem nítida em uma paisagem borrada.
ueado, Red o Neve.
Sua gêmea estava sentada em uma praia, olhando para algo que tinha na
mão. Uma flor, grande como um prato de jantar. Neve fez um movimento e a
enho para asflor murchou, as pétalas se soltando enquanto um tom de marrom de
decadência as tingia.
leza, embora Neve deixou a flor cair e olhou para a palma da mão. Cristais de gelo
para o outro cobriam a ponta dos dedos e a mão, e um corte separava as linhas da vida e
biblioteca, edo amor. A ferida ainda não tinha cicatrizado. As veias do pulso foram
tomadas por um tom escuro e depois clarearam, rápido o suficiente para
dois vestidos,parecer um truque de luz.
tinha tomado Mesmo no estado suspenso em que o espelho a deixava, Red sentiu um frio
na barriga. Algo em relação à mão de Neve — o frio, a linha de sangue —
de Eammon. ecoava sua própria magia. Um reflexo inverso e escuro.
o espelho a — Quanto mais árvores tirarmos de Wilderwood, mais poder
sobre fuga e conseguiremos tirar da Terra das Sombras. E o poder da floresta ficará
alvez tivesse menor. — A voz era tão indistinta quanto a imagem da pessoa que falava,
mas dava para entender o que estava sendo dito. Tudo que Red conseguiu ver
foi um borrão branco e uma mancha avermelhada.
mais frio. A — E ela vai conseguir fugir? — Neve olhou para a pessoa que a
eguia para oacompanhava. — O Santuário está repleto desses experimentos, Kiri, e
mesmo assim minha irmã não está aqui.
vestígios da — Esse não é nosso único objetivo, Neverah. — O tom era exasperado,
aos orifícios como se já tivesse repetido aquilo várias vezes. — E devemos agir com
alcanhares ecautela. Se ela vier…
— Quando ela vier.
do, a fumaça Nenhuma resposta.
a. O espelho Mais fumaça, e o espelho ficou fosco e cinzento de novo.
Red sentiu a respiração ofegante, como se tivesse corrido em vez de ter
permanecido sentada. Quando se levantou, os joelhos estalaram por causa do
que tinha nafrio.
ovimento e a
marrom de Seu instinto estava certo. Neve tinha alguma coisa a ver com o
desaparecimento das sentinelas. Não sabia bem como, não tinha certeza dos
stais de gelomecanismos, mas tinha visto o suficiente para saber que era verdade.
has da vida e A irmã ainda estava tentando levá-la de volta para casa, e estava matando
pulso foram Wilderwood para atingir o objetivo.
ficiente para Red saiu cambaleando da torre, sentindo as pernas bambas. Abriu a porta
da Fortaleza, olhando direto para a frente, enquanto a mente tentava criar
entiu um frio planos que logo ruíam.
de sangue — Neve.
Lyra surgiu de debaixo do arco quebrado da sala de jantar com uma tigela
mais poder fumegante e um pedaço de pão. Ela arqueou uma das sobrancelhas finas.
oresta ficará — Parece que você viu um fantasma.
a que falava, Parecia mesmo.
onseguiu ver — Onde o Eammon está?
— No quarto de vocês, acho. — Lyra deu uma mordida no pão. — Fife
essoa que apediu para agradecer por ter trazido o pão doce em vez do de sempre. De
ntos, Kiri, eacordo com ele, tem mais gosto de comida e menos de tijolo.
— É à Loreth que ele deve agradecer.
exasperado, Red sorriu para Lyra antes de subir a escada, esforçando-se para não
mos agir com correr.
No quarto, Eammon estava debruçado sobre um livro na escrivaninha. A
testa apoiada na mão e os dedos manchados de tinta. Ele ergueu o olhar
quando ela acabou de subir, os olhos emoldurados por olheiras escuras.
Bastou vê-lo para seus pensamentos ficarem ainda mais confusos. O beijo
m vez de ter que tentara esquecer voltou à mente dela, lembranças de mãos e bocas e
por causa do respiração ofegante. Ele segurava a caneta como tinha segurado o cabelo
dela, o corpo dele curvado sobre a mesa como tinha se curvado sobre o dela.
Aquilo tornava ainda mais difícil dizer para ele que tinha de partir.
ver com o Red pigarreou.
a certeza dos — É isso que você faz quando está na biblioteca?
— Na maior parte do tempo. — Ele soltou a caneta e afastou o cabelo do
ava matandorosto, deixando uma mancha de tinta na testa. — Estou traduzindo um texto
em meduciano antigo.
Abriu a porta — Para se divertir?
tentava criar — Cada um tem suas próprias ideias de diversão, Redarys.
Ela abriu um sorrisinho ao ouvir aquilo, mas ele logo morreu.
— Por que está fazendo isso aqui?
m uma tigela Ele ficou olhando para ela.
— Você raramente vai à biblioteca quando eu estou lá.
Ela sentiu um nó no estômago.
Eammon respirou fundo e se inclinou como se fosse levantar.
— Red, eu… — Uma careta o interrompeu quando a mão dele se moveu
pão. — Fife descuidadamente sobre a mesa, deixando uma trilha de sangue ralo e com
e sempre. Deaparência de seiva.
A preocupação eclipsou a calidez, a preocupação e a lembrança do que
tinha visto no espelho. E ela falou sem pensar:
-se para não — Eu tenho que voltar.
Eammon congelou e fechou os olhos com força antes de se recostar na
crivaninha. Acadeira. A resignação o fez contrair o maxilar.
gueu o olhar — Eu entendo. Você deve…
— Não, você não entende.
usos. O beijo As palavras saíram falhadas e sem elegância. Queria dizer a ele que a
os e bocas edecisão não tinha nada a ver com o beijo, mas aquilo não era bem verdade.
ado o cabelo Tinha a ver com o beijo, mas não do jeito que ele achava. Não de uma
maneira que tivesse a ver com arrependimento.
— Você não acha que eu teria ido embora antes se fosse isso que eu
quisesse? Você acha que eu não teria tentado fugir?
u o cabelo do — Você veio para cá porque não teve escolha. — Ele olhou para a
ndo um texto escrivaninha e para o papel amassado na sua mão. — Porque foi obrigada. Eu
deveria ter convencido você a ir embora no instante em que…
— Eu vim para cá porque eu achava que precisava salvar as pessoas que
amo de mim mesma. Eu vim para cá porque achava que o poder que eu tinha
era mau. Você me mostrou que não, que não é bom nem mau, apenas é. —
Ela engoliu em seco. — Eu sempre soube que você não me impediria de ir,
Eammon. Cada momento que passei aqui foi porque escolhi ficar.
Ele não respondeu, mas cerrou os punhos, como se tivesse que se controlar
para não estender as mãos na direção dela.
Red se sentou na beirada da cama.
ele se moveu — Eu olhei no espelho. — Mudou o curso da conversa, deixando todos os
e ralo e commotivos para ficar e partir no ar. — Foi só uma intuição, queria ver se Neve
tinha algo a ver… com o que está acontecendo.
rança do que Ele baixou as sobrancelhas.
— E eu estava certa. Ela está provocando tudo. As sentinelas
desaparecidas. Não sei como, só sei que é por causa dela.
e recostar na — Mas isso é impossível.
— O espelho me mostrou a verdade antes, e está me mostrando a verdade
agora. Eu preciso descobrir o que ela está fazendo e tentar encontrar uma
forma de impedi-la de continuar. E talvez, se ela me vir, se vir que estou bem,
a ele que aela desfaça o mal que fez. — Red segurou a bainha da camisa que vestia. —
bem verdade.Eu tenho que tentar, principalmente se não puder fazer mais nada. Se você
Não de uma não me deixar fazer nada. A última coisa que quero é deixar você aqui
sozinho, mas…
isso que eu — Eu fiquei sozinho por muito tempo. — A voz era baixa e rouca. Quase
implorando.
olhou para a Ela mordeu o canto da boca como se ainda pudesse sentir o gosto dele ali.
obrigada. Eu — Mas não precisa mais ficar.
Um momento de silêncio pesado como ferro e frágil como o vidro.
pessoas que Finalmente, Eammon afastou o olhar, estilhaçando o momento em algo que
que eu tinha não brilhava tanto.
. — — Quando você vai partir?
pediria de ir, — Em alguns dias. Quero treinar um pouco mais primeiro para me
certificar de que consigo controlar o meu poder. — Ela engoliu em seco. —
e se controlarCasar com você ajudou, mas parece que só consigo controlar o poder do jeito
que quero quando… quando estou perto de você.
Um brilho estranho apareceu nos olhos de Eammon.
ando todos os — É mesmo?
ver se Neve — Pelo que percebi, sim.
Havia um desafio no olhar que compartilharam, cada um desafiando o
outro a falar sobre o assunto, a tentar dar um nome para o calor entre eles.
s sentinelas — Vamos treinar amanhã, então. — Eammon fez um gesto na direção da
cama. — Mas está na hora de dormir.
Ele afastou o olhar, virando-se para o cobertor embolado perto da parede.
do a verdadeO ar estava frio apesar do fogo na lareira, e ele estremeceu.
ncontrar uma — Você não precisa dormir aí nesse canto.
ue estou bem, Eammon contraiu todos os músculos.
ue vestia. — Red tinha falado sem pensar e piscou com força, apertando o lençol. Tarde
ada. Se você demais para retirar o que tinha dito. Eammon continuou com os ombros rijos,
ar você aquia intenção de fugir dali presente em cada gesto…
— Quero dizer… — emendou ela rapidamente. — Se você quiser colocar
o cobertor na frente da lareira, pode colocar. Está frio. Não faz sentido
rouca. Quasecongelar.
Ela se amaldiçoou em silêncio; com certeza tinha destruído tudo que
tinham construído, fosse lá o que fosse, com seu desejo irrefletido. Depois do
modo como ele interrompera o beijo, o modo como mantivera a distância
mo o vidro. cuidadosa, ela não sabia mais onde se encaixava em relação a ele.
em algo que Não resta muito mais de mim para oferecer a outra pessoa. Era o que ele
tinha dito, mas, depois do beijo, ela não sabia como falar que aceitaria o que
quer que ele ainda tivesse a oferecer. Não sabia definir quando aquilo tinha
iro para me acontecido, em algum momento entre o estranho casamento e as lições de
em seco. —magia e as vezes em que um salvara a vida do outro.
poder do jeito Talvez, se ela conseguisse chegar até Neve — se conseguisse descobrir o
que a irmã estava fazendo e como detê-la, refazendo a bainha desfiada da
relação delas —, talvez depois ela e Eammon conseguissem definir o que o
relacionamento deles era. O que poderia ser.
Eammon virou a cabeça daquele jeito dele, olhando para ela com apenas
desafiando o um olho, mas foi o suficiente para fazê-la ficar imóvel. Depois, ele pegou a
ponta do cobertor.
na direção da Arrastou o leito improvisado entre a cama e a lareira, deixando-o mais
perto do calor do fogo. Red entrou embaixo da coberta, ciente de cada
to da parede.movimento dele — como ele virava a cabeça para encontrar um ângulo mais
confortável, como cruzava os dedos cicatrizados sobre o peito.
— Eu vou voltar — disse Red olhando para o teto, porque era a única coisa
na qual conseguia encaixar as emoções confusas. — Não quero ficar em
lençol. Tarde Valleyda.
ombros rijos, Eammon não respondeu. Ela começou a cair no sono, os olhos se
fechando, enquanto o tempo passava languidamente.
uiser colocar — Talvez você devesse ficar — murmurou Eammon na escuridão.
o faz sentido
do tudo que
o. Depois do
a a distância

Era o que ele


ceitaria o que
aquilo tinha
as lições de

e descobrir o
a desfiada da
finir o que o

com apenas
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a única coisa
ero ficar em

os olhos se
22

Eammon não estava mais no quarto quando Red acordou. O cobertor estava
embolado, e havia um bilhete com a letra dele na escrivaninha: Torre.
Ela se vestiu rápido — uma calça justa e a camisa dele, porque velhos
hábitos são difíceis de perder — e passou os dedos pelo cabelo para
desembaraçar os nós, mas o deixou solto. Desceu a escada devagar, tomando
cuidado para não escorregar nas arestas desbastadas pelos musgos. A luz
lavanda banhava o emaranhado de galhos e pedras que costumava ser o
corredor, tornando-o quase bonito.
Quando ela chegou à torre, tremendo no frio matinal, Eammon estava
encostado no peitoril entalhado da janela, segurando uma caneca em uma das
mãos e um livro na outra. Não reagiu à chegada dela além de erguer os olhos
do livro, mas segurou a caneca com mais força.
Eammon tinha servido uma xícara para ela, até colocara leite. Red a levou
aos lábios enquanto se sentava em uma cadeira. Havia um único galho no
meio da mesa com ramos curvados como garras. Faixas de tinta prateada
tinham sido pintadas às pressas no ponto onde os galhos se separavam do
tronco principal.
— Projeto de arte?
Eammon fechou o livro com um movimento brusco e o colocou embaixo
do braço.
— Não.
Quando levou a xícara aos lábios, a camisa subiu um pouco, expondo uma
faixa estreita de pele pálida e cicatrizada.
Red tomou um gole de café rápido demais e queimou a garganta.
Eammon se sentou e colocou a xícara, agora vazia, ao lado do galho,
passando o polegar sobre a tinta prateada.
— Pintei essas faixas para vermos quanto o galho vai crescer. Para
bertor estava marcarmos o progresso.
— Mas isso não vai crescer. — Red tomou um gole, tomando cuidado para
orque velhosnão se queimar de novo. — Está morto.
cabelo para — Assim como o arbusto de espinhos ontem — argumentou Eammon.
gar, tomando A menção ao dia anterior fez ambos desviarem o olhar.
usgos. A luz Red achara que poderiam ignorar o que tinha acontecido. Que, se
umava ser o fingissem que nada tinha acontecido, a lembrança ia desaparecer, não
passando de um momento de fraqueza que ambos tinham superado.
mmon estava Que tolice a dela.
a em uma das — Eu vi a moita — disse Eammon com a voz neutra, embora a ponta das
guer os olhos orelhas estivesse vermelha. Ele foi até a cornija e guardou o livro, mantendo-
se de costas para ela. — Passamos por ela um pouco antes de notarmos que a
Red a levousentinela tinha desaparecido. Estava morta e seca, e obedeceu ao seu
ico galho nocomando mesmo assim. — Os músculos das costas dele se contraíram
inta prateadaquando ele cruzou os braços. — Mesmo na morte, as coisas continuam
eparavam doligadas a Wilderwood.
A voz dele estava baixa, rouca com uma emoção que ela não conseguia
distinguir sem ver o rosto dele. Hesitante, tocou no galho, quase esperando
cou embaixoque ele saísse andando como uma aranha para baixo da mesa, mas ele
permaneceu imóvel.
O silêncio se estendeu até ela estreitar o olhar para Eammon, que ainda se
mantinha de costas para ela.
expondo uma — Um pouco de orientação viria bem a calhar, Eammon.
Não tinha planejado dizer o nome dele. Mesmo irritada, ele parecia pesar
na boca, íntimo demais depois do que tinham compartilhado e da forma como
do do galho, ele tinha se afastado.
Por todos os reis, ela queria beijá-lo de novo.
crescer. Para Ele se virou, enfim, com os olhos cintilando com uma mistura de raiva e
excitação.
cuidado para — Você se saiu muito bem sozinha, ontem.
Ele precisava parar de mencionar o dia anterior, desgraçado. Estava
dizendo aquilo como se a desafiasse.
Red se recostou na cadeira e cruzou os braços.
do. Que, se — Eu já expliquei. Meu poder funciona melhor quando estamos próximos.
parecer, não — Qual seria exatamente a distância de que você precisa, Redarys?
Isso a fez parar por um instante, com os lábios entreabertos, enquanto
respostas possíveis passavam pela sua cabeça como chamas lambendo galhos
a a ponta das frescos. Ela optou por:
o, mantendo- — Mais perto que isso.
tarmos que a Ficaram se olhando, um em cada ponta do aposento, o ar entre eles quente
eceu ao seue cheio de expectativa. Com um suspiro impaciente, Eammon se aproximou
e contraíram até ficar quase ao alcance do toque dela.
as continuam — Melhor?
Red queria dizer que não. Ela se lembrava dele no dia anterior, na floresta,
ão conseguia beijando-a como se ela fosse uma fonte de calor no inverno antes de empurrá-
se esperandola — e por todos os Reis e todas as sombras, era aquela a proximidade que
esa, mas eleela desejava.
Mas assentiu e voltou a atenção para o galho da árvore.
que ainda se O poder dela não queria cooperar. Tentar tomá-lo era como tentar segurar
água nas mãos. Red não conseguia fazê-lo florescer, não conseguia fazer
nada além de persegui-lo sem conseguir alcançar. Com um gemido frustrado,
parecia pesarabriu os olhos e ficou olhando para o galho ainda morto, os dedos
a forma comopressionando a madeira da mesa.
— Não está funcionando.
— Funcionou muito bem antes.
ra de raiva e — Você estava mais perto antes.
Ela cerrou os dentes assim que as palavras escaparam da boca, mas estas
ficaram pairando no ar como um machado e não podiam ser desditas.
çado. Estava Eammon não falou nada, mas Red ouviu a respiração dele, o ar entrando e
saindo dos pulmões envolvidos pelas raízes.
— É uma questão emocional? — A tentativa de aspereza não deu certo e
os próximos. só serviu para a voz dele ficar mais rouca, fazendo-a sentir um calor no
coração. — Estou me referindo à proximidade de que você precisa. Ou… ou
os, enquantoé física?
bendo galhos — As duas coisas. — Red fechou os olhos, sabendo que estava se
rendendo, sabendo que não se importava. — As duas parecem ajudar.
Manteve os olhos fechados, mas a atmosfera mudou quando ele se
e eles quenteaproximou, quente e carregado como o ar antes de uma tempestade. Um arfar
se aproximou de hesitação antes de ele afastar o cabelo de Red e pousar a mão cálida na
nuca dela.
— Eu não vou estar lá. — O tom era de um pedido desculpas. — Nem
r, na floresta, sempre vou poder estar com você, Red.
s de empurrá- Ela bem sabia. Ele estava preso àquela maldita floresta, atolado nela até o
ximidade quepescoço. As sentinelas o prendiam tanto quanto qualquer criatura de sombras,
qualquer rei malvado, e ele não estaria lá em Valleyda para acalmar o caos
interior dela com a proximidade dele. Quanto mais Red praticasse o controle,
entar segurarmais conseguiria recriá-lo sem ele, mas não era o que estavam fazendo
nseguia fazernaquele momento, e os dois sabiam muito bem.
do frustrado, Estavam enrolando. Estavam aproveitando a proximidade enquanto
o, os dedospodiam.
— Estar aqui agora é o suficiente — sussurrou Red.
As pontas dos dedos dele se enrolaram na raiz do cabelo dela.
O poder no âmago dela se acumulou e se estabilizou, como se aquilo fosse
o que ele queria o tempo todo. Passou a ser fácil para Red pegá-lo agora,
ca, mas estas simples manipulá-lo a seu bel prazer.
ser desditas. O galho na mesa tinha um brilho dourado discreto quando Red abriu a
ar entrando emente para Wilderwood, como estrelas atrás de uma nuvem. O suficiente
para que aquele pedacinho dela que lhe pertencia, aquele fio serpenteando por
o deu certo e Red, pudesse se conectar e comandar. Quando a Segunda Filha arqueou os
um calor nodedos, viu o galho crescer, os galhos avançando além das marcações
isa. Ou… ouprateadas.
Quando abriu os olhos, ele estava um pouco maior, mas não muito. Talvez
ue estava sedois centímetros entre as faixas prateadas e o galho principal.
Eammon se afastou abruptamente, retirando os dedos da nunca dela e
ando ele se caminhando em direção à janela. Passou a mão pelo cabelo solto antes de
ade. Um arfarenfiá-la no bolso.
mão cálida na — Pronto — disse ele, quase com pressa. — Você conseguiu.
Red mordeu o lábio, a mente agitada com pensamentos sensuais. Os lábios
pas. — Nemdele no pescoço dela, as mãos dele no cabelo dela, o tronco de árvore contra
as costas dela enquanto ele pressionava o corpo contra o dela. Eammon
do nela até oachava que aquilo era um erro, mas ela não concordava e agora teria que
a de sombras,partir. Mesmo que fosse voltar. Droga, ela ia voltar, mas ouvira o tom
almar o caos determinado da voz dele. A frase que murmurara quando achou que ela já
se o controle,tinha dormido.
vam fazendo Talvez você devesse ficar.
de enquanto Ouvir aquilo a deixara com raiva, saber que ele podia ter dúvidas, que
podia pensar que ela fosse querer ficar em qualquer lugar que não perto o
suficiente para ver aquela cicatriz discreta no rosto dele. Que podia achar que
eles eram as mesmas pessoas que tinham se enfrentado em uma biblioteca no
e aquilo fosse aniversário dela de vinte anos, que parecia ter sido séculos atrás, que podia
egá-lo agora,acreditar que a distância entre eles não tinha mudado completa e
irrevogavelmente.
Red abriu a Red se levantou, a cadeira arranhando o chão.
O suficiente — Eu posso fazer mais.
enteando por Ele se empertigou.
a arqueou os — Sou capaz de fazer mais, e você sabe disso — continuou Red. Apoiou o
s marcaçõesquadril contra a beirada da mesa, os dedos segurando a madeira, e as palavras
seguintes foram um apelo, um convite e um desafio, tudo de uma vez, a voz
muito. Talvezrouca de desejo. — Me ajude a fazer mais.
Ele pareceu demorar uma eternidade para se virar para ela. Os braços do
nunca dela eLobo caíram ao lado do corpo, os dedos já curvados como se estivessem
olto antes desegurando alguma coisa. O primeiro passo foi hesitante, depois ele atravessou
o aposento como se estivesse marchando para uma batalha com uma
expressão determinada no rosto. Ele bateu com as mãos na mesa ao lado do
ais. Os lábiosquadril dela, tenso o suficiente para que ela pudesse ver claramente os
árvore contratendões.
ela. Eammon — Tem certeza? — A voz saiu controlada, tensa. Suplicando por uma
ora teria queresposta.
ouvira o tom — Funcionou ontem, não foi?
ou que ela já — Você convocou Wilderwood antes do beijo.
Os dedos dela tocaram o rosto dele, a unha traçando aquela linha fina e
branca. A primeira marca que deixara nele.
— Mas não antes de eu querer que você me beijasse.
dúvidas, que Um sorriso discreto e triste apareceu no rosto dele, mas os olhos estavam
não perto oávidos enquanto os dedos escorregavam pelas costas dela, por baixo do
dia achar quetecido da camisa dele que ela ainda vestia. Ela traçou o contorno da orelha e
biblioteca no da mandíbula do Lobo, sentindo a barba áspera por fazer. Eammon pousou a
ás, que podiaoutra mão no rosto dela, acariciando a pele com o polegar, enquanto a palma
completa e áspera e coberta de cicatrizes escorregava para o pescoço.
— Estou perto o suficiente? — O espaço entre os lábios dele e a pulsação
no pescoço dela era ínfimo.
Red puxou o cabelo dele, inclinando a cabeça para que seus lábios quase
roçassem nos dele.
ed. Apoiou o — Ainda não.
e as palavras O beijo do dia anterior tinha surgido por medo, desespero e alívio.
ma vez, a vozEsquecê-lo não seria fácil, mas seria possível — um deslize, um lapso de
julgamento, algo fácil de desconsiderar.
Os braços do Mas aquilo era diferente. Era deliberado, e deslindaria os laços que tinham
e estivessem criado por necessidade, transformando-os irrevogavelmente em outra coisa.
le atravessouOs olhos dele ardiam de desejo em busca de aprovação.
a com uma Quando Red o puxou, Eammon entreabriu os lábios com um suspiro.
sa ao lado do A língua dele invadiu os lábios úmidos dela de forma lenta e resoluta. Ela
laramente osgemeu e pressionou mais o corpo contra o dele, enterrando os dedos nas
costas do Lobo e puxando o máximo que conseguia, buscando cada espaço
ndo por uma vazio que pudesse preencher enquanto uma das mãos cheias de cicatrizes
passeava pela cintura e pelo quadril e a outra a segurava pela nuca, como se
Red fosse algo frágil demais, algo que ele tinha medo de perder.
O polegar dele pressionou o lábio inferior dela, abrindo sua boca para
linha fina eoutro beijo profundo.
— E agora?
lhos estavam — Ainda não. — Ela arqueou o corpo contra o dele enquanto as xícaras se
por baixo do espatifavam no chão, ávida por tocá-lo e ressentida pelas camadas de tecido
o da orelha eentre eles. — Mais perto.
mon pousou a Ele riu baixo contra o pescoço dela.
anto a palma — Tente primeiro.
Estavam reduzidos a poucas palavras, as bocas ávidas por fazer outras
e a pulsaçãocoisas.
Red capturou os lábios dele enquanto curvava os dedos na direção
lábios quase aproximada do galho. Uma luz dourada cintilante atrás dos olhos dela, uma
visão momentânea deles dois entrelaçados como raízes — ele como um farol
brilhante, ela como uma chama bruxuleante e fraca de uma vela alimentada
ero e alívio. pela proximidade com ele.
um lapso de Um farfalhar ao lado deles, mas nenhum dos dois olhou. Os dedos dela
mergulhados no cabelo dele, puxando-o para mais um beijo.
s que tinham O poder dela se redirecionou sozinho enquanto Eammon pressionava o
outra coisa.corpo contra o dela, enquanto e o calor crescia entre eles e a respiração de
ambos ficava cada vez mais ofegante. Red sentia Wilderwood em volta deles,
dentro deles, florescendo. A agitação das raízes sob o solo da torre, os galhos
resoluta. Elase alongando em direção às janelas, a floresta tão atraída por ela quanto ela
os dedos naspor ele. Laços se soltando, o que quer que os estivesse mantendo presos
cada espaçorelaxando e deixando Wilderwood se aproximar mais…
de cicatrizes Eammon congelou no lugar, as mãos na pele nua da cintura dela por baixo
uca, como seda camisa. Os dedos afundaram na carne dela, e ele a beijou novamente com
ferocidade antes de soltá-la como se ela fosse carvão em brasa, afastando-se
ua boca paraenquanto ofegava.
Red estendeu a mão por um segundo. Mas ele tinha se virado de costas
para ela, e a mão dela caiu no vazio.
— Eammon?
as xícaras se — Me dê um minuto, Red. — Ele passou a mão pelo cabelo, deixando
das de tecido algumas madeixas em pé. — Só… me dê um minuto.
A magia dela se recolheu devagar, recuando para suas entranhas. Enquanto
o pulso acalmava o ritmo trovejante, ela notou as janelas.
A mata do lado de fora da torre tinha florescido em uma primavera
fazer outras desordenada e anacrônica, bloqueando o crepúsculo lavanda de Wilderwood
com grandes flores brancas e folhas verdejantes. Gavinhas grossas cobriam o
s na direçãopeitoril, estendendo-se em direção à mesa na qual ela estava sentada, ornadas
os dela, umacom pequenos botões.
omo um farol Enquanto Red observava — com Eammon de costas para ela, a respiração
a alimentadaainda agitada —, todo aquele novo crescimento começou a recuar. As
gavinhas se retraíram, escorregando de volta pela janela e se afastando dela.
s dedos delaOs botões brancos se fecharam. As folhas também caíram das vinhas
enquanto estas voltavam para seus lugares adequados, abrindo espaço pelos
ressionava o quais era possível ver o céu. Os movimentos eram rítmicos e combinavam
respiração de com a respiração de Eammon.
m volta deles, Ele tinha dito que conter Wilderwood exigia toda a sua concentração. E ali,
rre, os galhosenquanto a beijava, distraído daquele propósito em particular, a magia se
la quanto elalibertara, escapando da gaiola cuidadosa na qual ele a mantinha presa.
tendo presos — Sinto muito — sussurrou ele. — Eu achei que eu conseguiria… Não
importa o que achei. Isso foi um erro.
ela por baixo Red cruzou os braços e se encolheu como se pudesse se esconder e ficar
vamente com invisível. A cicatriz na barriga, o ferimento dele que ela curara tanto tempo
afastando-seantes, repuxou pela primeira vez em semanas. De alguma forma, dizer que
sentia muito doía mais do que dizer que tinha sido um erro.
do de costas Alguma coisa roçou no braço dela. Red olhou para o outro lado da mesa. O
galho para o qual direcionara sua magia estava imenso, as faixas prateadas a
elo, deixando mais de trinta centímetros do galho principal. Folhas verdes brotavam nos
ramos verdejantes.
as. Enquanto Ela deve ter emitido algum som, porque Eammon se virou um pouco, com
uma expressão de preocupação no rosto, como se achasse que ela pudesse
ma primavera estar chorando. Arregalou os olhos ao ver o galho.
Wilderwood — Eu disse que eu conseguia fazer mais.
as cobriam o A voz dela estava vazia. As lágrimas que ele achava que ela fosse derramar
tada, ornadasqueimavam a garganta dela.
O cabelo escuro escorreu pelos ombros de Eammon quando ele baixou a
a respiraçãocabeça e passou a mão cicatrizada pelo rosto.
a recuar. As — Gostaria que as coisas fossem diferentes. Mas elas simplesmente… não
astando dela.são. Não vou conseguir mantê-la longe de você, se eu… — Ele deixou a frase
das vinhas morrer. Respirou fundo. — Manter Wilderwood longe de você exige tudo
espaço pelos que tenho — disse ele, as palavras controladas e medidas. — Toda a minha
combinavam concentração. Toda a minha força. Tudo. Não me resta mais nada. A floresta
está tão entranhada em mim, tão perto da superfície… — Um gesto curto e
ntração. E ali,bruto em direção ao crescimento em volta deles. — Quando eu me aproximo
, a magia sede você, ela também se aproxima. Não vou permitir que ela a prenda aqui,
Red. Não vou.
guiria… Não Não resta muito mais de mim para oferecer a outra pessoa.
Não me resta mais muita coisa.
onder e ficar Ele tinha pedido que ela confiasse nele no dia anterior, quando ele
tanto tempointerrompera o beijo e fora resolver as coisas dele como se aquilo nunca
ma, dizer que tivesse acontecido. Em vez disso, porém, tinham insistido, rompendo as
barreiras tênues que tinham erguido entre eles. As peças estavam muito
o da mesa. Oquebradas para serem encaixadas de novo.
s prateadas a O que tinham acabado de romper era a única coisa que poderiam ter.
Red deslizou de cima da mesa.
brotavam nos — Eu também gostaria que as coisas fossem diferentes.
Ela desceu a escada para que ele não visse as lágrimas que tinham
m pouco, com começado a escorrer pelo rosto.
e ela pudesse

osse derramar

ele baixou a

mente… não
deixou a frase
ê exige tudo
Toda a minha
da. A floresta
gesto curto e
me aproximo
prenda aqui,

quando ele
aquilo nunca
rompendo as
tavam muito
— Eu também gostaria que as coisas fossem diferentes.
Ela desceu a escada para que ele não visse as lágrimas que tinham
começado a escorrer pelo rosto.
23

Red fechou o portão da Fortaleza com mais força do que o necessário,


pressionando as costas contra ele como uma barricada. As lágrimas logo
pararam de escorrer, felizmente, um dos benefícios de ter vivido uma vida
que lhe dera poucas oportunidades para derramá-las. Ainda assim, o rosto
estava inchado, e ela sentia os olhos pesados.
A porta da frente se abriu, e Fife e Lyra entraram aos tropeços. Ela estava
rindo, com a mão na barriga, e Fife gesticulava enquanto contava alguma
história, com mais animação do que ela já o vira expressar. Red ficou parada,
observando. Fife tinha dito que a situação entre ele e Lyra era complicada,
mas o amor que sentiam um pelo outro estava bem claro. Simples assim.
O pensamento fez Red sentir um aperto no peito.
Fife estava carregando uma bolsa de lona parecida com a que tinham
trazido do estabelecimento de Asheyla no dia anterior. Estava aberta, e dava
para ver um tecido escarlate. Quando Lyra viu Red, ela se apressou para
enfiar o tecido de volta à bolsa.
— Red!
Ela colocou um sorriso forçado no rosto e esfregou os olhos, esperando
que a penumbra fosse suficiente para ocultar o vestígio das lágrimas.
— Estão vindo da Fronteira?
— Sim, fomos pegar o resto dos suprimentos. — Lyra abriu a própria
bolsa, tirou uma garrafa de vinho de dentro e a balançou. — Valdrek disse
que este não foi diluído em água. Estou inclinada a acreditar, já que você e
Eammon salvaram o genro dele.
Lyra falou de forma direta, mas uma expressão curiosa apareceu no rosto
delicado, e ela olhou para Red como se estivesse vendo tudo que a Segunda
Filha tentava esconder atrás do sorriso falso e dos olhos secos.
Red desviou o olhar.
o necessário, — O que tem na outra bolsa?
ágrimas logo Fife olhou para Lyra, em uma comunicação muda.
do uma vida — Bem, ele não está aqui para dar para ela — disse Fife, por fim,
ssim, o rostoentregando a bolsa para Red. — O seu manto.
O comportamento deles parecia estranho, visto que não passava de um
os. Ela estavamanto remendado, mas Red não tinha energia naquele momento para pensar
ntava algumamuito no assunto. Pegou a bolsa e a pendurou no ombro, sem olhar.
ficou parada, — Obrigada.
complicada, Mais uma troca de olhares e comunicação silenciosa entre Fife e Lyra.
— Eammon está por aí? — perguntou Fife, seguindo para a sala de jantar e
desaparecendo sob o arco.
que tinham — Ele deve aparecer depois. Deve estar traduzindo até ficar exausto. —
berta, e davaLyra lançou um olhar bondoso para Red, um convite para confidências, se
pressou para fossem necessárias. — Pode vir com a gente. Vou preparar um chá para Fife.
Red tentou abrir um sorriso e negou com a cabeça.
— Muito obrigada mesmo assim — acrescentou ela. Notou que havia
os, esperandorespingos de lama e sangue na calça de Lyra, e a ponta da tor parecia ter sido
limpada de qualquer jeito. — Vocês tiveram algum problema?
— Mais algumas criaturas de sombras. — Lyra deu uma risada, mas bem
riu a própria tênue. — Ainda bem que Fife estava comigo. Ele as viu antes de mim e
Valdrek disseconseguiu atirar um frasco de sangue antes que as coisas tomassem corpo.
— Não sabia que ele também fazia patrulhamento.
á que você e — Não é bem patrulhamento, eu acho. — Ela encolheu os ombros, uma
sombra de tristeza aparecendo nos olhos escuros. — Ele só quer ver se há
eceu no rosto algum ponto fraco.
ue a Segunda Como os aldeões, tentando ultrapassar a Fronteira. Tanta gente presa no
emaranhado de Wilderwood, tanta gente querendo escapar.
Red mordiscou o canto do lábio, pensando na conversa que tinha ouvido
naquele dia no espelho, o dia em que soubera da morte de Isla. Como
Eammon disse que ela poderia partir se quisesse. Como ele, Fife e Lyra
ife, por fim,estavam entranhados demais em Wilderwood para isso ser uma opção.
— Existem mesmo pontos fracos? De verdade?
ssava de um Os frascos de sangue na bolsa de Lyra tilintaram quando ela se mexeu.
o para pensar — Sinceramente, acho que não. Não do lado valleydiano, e não fracos o
suficiente para permitir nossa passagem. Os dentes de Wilderwood estão
fincados bem fundo. — Uma pausa. — Não acho que Fife realmente acredite
que vai encontrar alguma coisa. Mas é a esperança, sabe? É como uma bota
la de jantar e que não serve direito. Machuca quando a usamos, mas machuca mais andar
descalço.
r exausto. — Red conhecia a esperança e como ela queimava da mesma forma que
nfidências, seconhecia o cheiro do cabelo de Neve e o padrão de cicatrizes nas costas das
mãos de Eammon.
— Você gostaria de encontrar um ponto fraco, se houvesse um para
ou que haviaencontrar? Você iria embora?
recia ter sido Parecia uma pergunta enganosamente simples, considerando o tanto de
camadas que continha. Lyra piscou, os cílios tocando na pele do rosto
da, mas bem enquanto suspirava.
es de mim e — Não sei. O mundo… Faz muito tempo desde que estive lá, e tudo deve
estar tão diferente, e quem sabe o que poderia acontecer com a gente quando
saíssemos da floresta? Eu… Eu realmente não sei. — Ela esfregou o braço.
ombros, uma— A Marca é o que provavelmente nos prende aqui, não as fronteiras, então,
uer ver se hámesmo que encontrássemos um ponto fraco, provavelmente não adiantaria.
Mas, se encontrássemos e conseguíssemos sair… — Ela deixou a mão cair ao
nte presa no lado do corpo. — Se Fife fosse, eu iria também. Nós estamos sempre juntos,
ele e eu.
tinha ouvido O aperto no peito de Red ficou mais forte.
Isla. Como Outro sorriso forçado.
Fife e Lyra — O convite para o chá está de pé. — Lyra se virou para a sala de jantar
para se se juntar a Fife. — Se quiser, é só falar e eu convenço Fife a preparar
mais alguma coisa.
Red manteve o sorriso forçado nos lábios, mesmo sem vontade, e começou
não fracos oa subir a escada. A voz deles estava baixa enquanto ela seguia para o quarto
erwood estãode Eammon, carregando a sacola com o manto remendado.
mente acredite A cama estava bagunçada, exatamente como a tinha deixado. Red se
mo uma botasentou com um suspiro, soltando a bolsa e afundando o rosto nas mãos.
a mais andar Ela deveria partir. Aquele era o plano, não era? Voltar para Valleyda, deter
Neve e fazer o pouco que podia para tentar manter Wilderwood forte. Mesmo
a forma que assim, a ideia de deixar Eammon não lhe parecia boa. Ela poderia estar
as costas das magoada e com raiva, e triste e constrangida e sentindo mais um monte de
emoções cujos nomes nem conhecia, mas deixá-lo parecia errado, uma
sse um para sensação estranha e afiada cortando seu peito. Não só pelo que sentia por ele,
mas por causa do poder e da ligação que tinham, dos laços que os uniam
o o tanto detanto à floresta quanto um ao outro. Ela tinha sido feita para Wilderwood e
ele do rosto abandoná-la a dividia, quase fisicamente.
Eammon não impediria nenhum deles de partir. Ela sabia disso. Se ela
, e tudo devepudesse ir para Valleyda e ficar lá, se Lyra e Fife conseguissem encontrar um
gente quandoponto fraco nas defesas de Wilderwood e se libertassem, Eammon não só os
gou o braço.
teiras, então, deixaria partir como os expulsaria de lá. Ele os mandaria embora enquanto
ão adiantaria.ficava para trás para murchar nas sombras.
a mão cair ao Determinado a sofrer sozinho.
empre juntos, Meneando a cabeça, Red soltou o cordão da bolsa de Fife. Algo dourado
brilhava no meio do tecido escarlate. Franzindo a testa, tirou o manto
remendado da bolsa e arfou.
Ele estava mais do que remendado. Tinha sido refeito. Uma floresta
sala de jantarbordada em dourado no tecido escarlate do ombro — verão no esquerdo, com
ife a prepararárvores verdejantes, outono e inverno no centro, com as folhas caindo, e
primavera no direito. As árvores iam do galho à raiz, entrelaçando-se em
e, e começou voltas complexas antes de se transformar na imagem de um lobo saltando em
para o quartodireção à bainha.
Red pressionou os nós dos dedos contra os lábios até sentir os dentes atrás
ado. Red sedeles. Um manto matrimonial.
Era uma antiga tradição valleydiana de casamento. Jamais achou que um
alleyda, deter dia teria um. A noiva usava um manto bordado com imagens das terras e
forte. Mesmo propriedades do novo marido, um símbolo do novo lar que iam construir. Em
poderia estargeral, os mantos matrimoniais eram brancos e bordados em prata. Mas aquele
um monte de manto ainda era vermelho; o fio dourado, raro e suntuoso.
, uma O símbolo do sacrifício dela, transformado em uma coisa que representava
entia por ele,a nova vida que tinha feito para si. Um futuro costurado com os retalhos com
ue os uniam os quais fora deixada.
Wilderwood e Ainda conseguia sentir os lábios doloridos pelo beijo de Eammon.
Red despiu as roupas e se encolheu embaixo do manto. Sem se importar
disso. Se ela com o horário, se era tarde, dia ou noite, Red deixou que o calor do manto
encontrar ummatrimonial e o cheiro de folhas e biblioteca a embalassem até dormir.
on não só os
Acordou sozinha.
ora enquanto Grogue, Red afastou o monte de cobertas e o manto e jogou o cabelo
bagunçado para trás. Alguém acendera o fogo na lareira, que crepitava feliz,
mas o cobertor de Eammon ainda estava dobrado entre a cama e o mantel.
Algo douradoEla estreitou os olhos.
ou o manto Se ele esperava evitar a despedida, estava muito enganado. Red não ia sair
de fininho. Quaisquer que fossem os motivos dele, não podia beijá-la daquele
Uma florestajeito, duas vezes, e esperar que ela partisse sem se despedir.
squerdo, com As roupas dela estavam emboladas no chão. Ela as pegou e as vestiu,
has caindo, einclusive as botas. Depois de um momento, colocou o manto matrimonial
çando-se em sobre os ombros.
o saltando em Estava no meio da escada quando sentiu as pernas ficarem bambas.
A escuridão espinhosa e cheia de folhas de uma visão a envolveu de
s dentes atrássúbito. Daquela vez, uma invasão da floresta que a fez cair de joelhos. Red
ofegou, pressionando os dedos contra as têmporas enquanto a magia verde
chou que um profunda florescia no seu peito e se entrelaçava nas suas veias.
das terras e A conexão entre ela e Eammon ganhou vida, ainda mais forte do que
construir. Emnaquele dia com Bormain.
a. Mas aquele Mãos novamente. Cicatrizadas e ásperas, enterrando-se na terra. Veias se
tingindo de esmeralda, e casca de árvore tomando o lugar da pele. Uma
representavafloresta entre os ossos tentava alcançar a floresta fora deles, porque aquele
retalhos comcorpo já tinha dado tudo, e a barreira entre o homem e a mata havia
praticamente desaparecido.
A garganta dela — a garganta de Eammon — estava cheia de terra.
m se importarSentinelas cresciam em volta dele em um círculo perfeito, com tronco branco
lor do mantocor de osso, sem nenhum vestígio de fungos-de-sombra. Uma era mais alta
do que as outras, com uma cicatriz estranha e retangular ao longo do tronco,
como se alguma coisa tivesse sido arrancada dali. E, em volta das raízes,
havia um emaranhado brilhante…
gou o cabelo A visão se foi, e a percepção voltou para o próprio corpo enquanto o
epitava feliz,coração batia descompensado no peito.
a e o mantel. Eammon tinha feito… alguma coisa. Tinha sangrado totalmente, até só
restar a magia.
ed não ia sair E Wilderwood o estava tomando.
já-la daquele Ela correu escada abaixo sem nem pensar em procurar Fife e Lyra; não
havia tempo, não quando Eammon estava… estava se desfazendo, se
e as vestiu, desemaranhando. Red empurrou a porta da Fortaleza e correu até o portão,
matrimonialpressionando a mão contra o ferro, que se abriu ao toque como se a
reconhecesse.
O caminho era desconhecido, mas os pés pareciam levar a Segunda Filha
envolveu de diretamente para Eammon, e ela confiou no próprio instinto. Red correu por
joelhos. RedWilderwood; o ritmo que pulsava nas veias e a oração que saía da boca era
magia verdeaguente firme, aguente firme, aguente firme.
Ela o ouviu antes de vê-lo. A respiração ofegante de Eammon ecoava pela
forte do que floresta, os dois arfando em sincronia. Um círculo de árvores brancas diante
dela se abria em uma clareira com o Lobo no meio. As costas cortadas e
rra. Veias se sangrando captavam a luz violeta, uma ferida em forma de homem no
a pele. Umamundo.
orque aquele — Eammon!
mata havia O nome dele soou na língua dela como um estalo de chicote, mas ele
pareceu não ouvir. Estava com a cabeça tão baixa que o cabelo arrastava na
eia de terra.terra, os braços mergulhados no solo até a altura dos cotovelos, o suor
ronco brancobrilhando no crepúsculo. As sentinelas se curvavam diante dele, tentando
era mais alta alcançá-lo, cheias de necessidade, adoração e sacrifício, tudo de uma vez.
go do tronco, Red caiu de joelhos ao lado dele, acariciando o cabelo do Lobo com uma
a das raízes, ternura desmentida pelo coração disparado e pela respiração pesada. Não se
preocupou em pedir explicações. Havia clareza na forma como as veias dele
o enquanto obrilhavam em tom de esmeralda, os anéis de casca de árvore se fechando em
torno dos braços, a parte branca dos olhos totalmente verdes, sem sinal da íris
mente, até sóâmbar. Quaisquer vestígios de humanidade que ele tivesse conseguido
preservar em todos aqueles séculos estavam desaparecendo enquanto a
floresta fluía para dentro ele, porque ele era o único que a mantinha, e um não
e Lyra; nãoera mais o suficiente.
, se Devem ser dois. A lembrança ecoou, parecendo vir mais do fragmento de
até o portão,magia que ela carregava do que de uma memória.
como se a — O que eu posso fazer? — perguntou Red. Um rosnado foi o prenúncio
da resposta que ele sempre costumava dar, mas quando ela falou foi um
egunda Filha apelo. — E não responda “nada”.
ed correu por — É a única forma. — Sedimentos caíam do cabelo de Eammon enquanto
a da boca eraele negava com a cabeça. A voz dele ecoou, cheia de camadas e retumbante.
— Esta é a única maneira de controlá-la para que não pegue você.
n ecoava pela Red o pegou pelas têmporas e o obrigou a olhar para ela.
rancas diante — Não é. Não vou permitir que ela tire você de mim, Eammon.
as cortadas e A imagem dourada de Wilderwood explodiu na sua visão quando ela tocou
e homem nonele, duplamente exposta. Ele havia se exaurido ao máximo, doando magia e
sangue, mas a floresta precisava de mais. Estava pegando mais.
As veias verdes do pescoço de Eammon estavam saltadas, os tendões
ote, mas elelembrando sulcos de raízes.
arrastava na — É a única maneira. — Uma distorção ainda maior da voz dele, as folhas
velos, o suorfarfalhando no vento outonal, mais forte do que ela jamais tinha ouvido. —
ele, tentandoOu ela me pega, ou pega você.
— Este é um preço que não estou disposta a pagar. — Ela segurou o
obo com uma queixo dele, obrigando os olhos com halos verdes a focarem nela. — Não
sada. Não sevou deixar você assim. E você não vai me deixar também, Eammon. Não se
as veias deleatreva.
fechando em Ele contraiu os lábios. Os olhos presos nos dela enquanto folhinhas saíam
m sinal da íris pelos cantos.
conseguido Devem ser dois. A lembrança de novo. O impulso.
enquanto a Ela o pegou pelos ombros, um eco estranho do abraço deles na torre.
nha, e um nãoSentiu a magia espiralada dentro de si, mas não a conseguia controlar. Era
Wilderwood, o pequeno fragmento preso dentro dela, e Wilderwood não
fragmento dequeria obedecer.
Todas as partes que ele tinha dado, todo o sangue que deixara escorrer, e,
o prenúncio ainda assim, a floresta não estava satisfeita.
falou foi um — Não. — Ela não sabia que tinha dito a palavra em voz alta até ouvi-la
sair sibilante dos lábios. — Você não pode simplesmente continuar pegando
mon enquantopela maldição das sombras! Primeiro as Segundas Filhas, e agora ele? Elas
e retumbante.não pertenciam a você, nem ele! Nenhum de nós escolheu isso!
A voz dela tinha se elevado até um grito, que ecoou pelas árvores feroz
como um som de caça emitido por alguma coisa selvagem. E, assim que o
berro saiu da sua garganta, Wilderwood… se deteve. Algo vasto e
ndo ela tocou desconhecido, uma consciência que não se encaixava bem na definição da
ando magia e palavra e não aderia a nenhuma moralidade que ela conseguisse entender
simplesmente parou, virou-se para ela e lhe deu atenção.
, os tendões Escolha.
A voz de Wilderwood soou mais baixa do que das outras vezes, mais
ele, as folhas contemplativa. Folhas secas caíram de um galho então morto, farfalhando até
a ouvido. —o chão.
Red não tinha tempo para tentar analisar, tempo algum para discutir com a
la segurou ofloresta na esperança de que ela entendesse. A magia nela seguiu em direção
nela. — Nãoa Eammon, seu fio fino de poder querendo seguir e se encontrar com o resto
mon. Não se de Wilderwood enquanto ela fluía de volta para ele e o refazia.
hinhas saíam A floresta, revertendo-se ao seu nexo. Pegando Eammon e deixando mais
de si mesma no lugar. Polindo as fronteiras entre o homem e a floresta até
que não houvesse delineamento.
les na torre. Mas a floresta precisaria de todas as suas partes para fazer isso. Incluindo a
ontrolar. Eraparte que vivia dentro de Red.
derwood não A Segunda Filha reprimiu sua magia com todas as forças que conseguiu,
aquele pequeno fragmento de Wilderwood que se instalara dentro dela.
a escorrer, e, E ela a arrancou.
Doeu. Rasgava suas veias como espinhos, como pegar um caule e cortá-lo
ta até ouvi-laao meio. Machucava Wilderwood também — dava para ouvir, um grito em
pegando, uma voz feita de folhas e galhos, vibrando nos seus ossos. A culpa pesou no
ora ele? Elasseu estômago, a culpa de ferir aquilo que ela deveria salvar.
Pelo amor dos Reis e das sombras! Tudo sempre se voltava para a culpa.
árvores feroz Mas funcionou. Red puxou o fragmento de magia de Wilderwood como se
assim que oestivesse tentando arrancar uma erva daninha pela raiz, desviando seu fluxo,
lgo vasto eimpedindo-o de colidir com Eammon. Uma pequena quantidade, mas o
definição da suficiente para evitar que a floresta o invadisse. Para mantê-lo o mais
sse entender próximo possível de um ser humano.
O fragmento lutou com ela, a dor fazendo os olhos da Segunda Filha
ficarem marejados enquanto sentia brasas correndo pelas suas veias. Mas Red
vezes, maisaguentou firme, recusando-se a desistir, prendendo a parte da floresta dentro
rfalhando atédela como Eammon sempre tinha feito durante todos aqueles anos.
E, então, a floresta parou. Parou e ficou em silêncio por um tempo que
iscutir com apesou no ar.
u em direção A atmosfera mudou. Wilderwood mudou, uma ondulação de raízes sob
r com o resto seus pés, um brilho nas folhas.
O peso de uma consciência não humana. Alguma coisa, finalmente
compreendida.
eixando mais A pequena parte de Wilderwood que morava dentro de Red desistiu de
a floresta até tentar sair de dentro dela, aninhando-se nos lugares que a Segunda Filha tinha
feito para ela. A floresta não falou de novo, mas Red teve a estranha sensação
o. Incluindo ade que algo tinha sido decidido.
E, qualquer que fosse a decisão, significava que a floresta deveria deixar
ue conseguiu,Eammon em paz. Por ora.
Lentamente, Eammon e Wilderwood se desvencilharam, o máximo que
conseguiam. As gavinhas de raízes deixaram os braços dele e se recolheram
ule e cortá-lopara o chão, deixando manchas de sangue no caminho. Ele estremeceu,
um grito emtossindo terra nos joelhos de Red. Dois círculos de braceletes de casca de
lpa pesou noárvore em volta dos pulsos não mostravam sinais de retroceder — outra
mudança permanente que a floresta deixava, como os centímetros extra de
altura e os fios verdes na parte branca dos olhos.
wood como se Mas era o seu Eammon de novo.
do seu fluxo, Red se sentou ao lado dele, apoiando a testa na dele.
dade, mas o Um instante, e Eammon se afastou, mas o movimento pareceu pesado e
tê-lo o mais relutante.
— Como você me encontrou?
egunda Filha — Uma visão. — As mãos dela estremeceram sem a pele dele para
ias. Mas Red estabilizá-las. — Como foi que isso aconteceu?
oresta dentro Ele se levantou, mas as pernas pareciam fracas.
— Eu curei todas elas — disse o Lobo.
m tempo que Ela demorou um pouco para entender o que aquilo significava. Quando
entendeu, arregalou os olhos, olhando para o rosto pálido, para os cortes
de raízes sobesverdeados na palma das mãos, nos braços e no peito.
Cada lacuna na qual deveria haver uma sentinela tinha desaparecido. E,
, finalmentequando Eammon ficara sem sangue, convocara a floresta. Chamou a magia
de Wilderwood até a floresta quase o esmagar.
d desistiu de — Por quê? — perguntou Red com a voz rouca. — Por que faria uma
da Filha tinha coisa dessas?
nha sensação Ele não olhou para ela.
— Para que quando você voltasse para Valleyda, não tivesse motivo para
everia deixar retornar para cá.
O manto de Red pesava nos ombros dela como pedras.
máximo que — Não — disse ela, porque era a única coisa de que sua boca parecia
e recolheram capaz. — Não, isso não faz sentido. Eu tenho que voltar, você precisa…
estremeceu, — Eu não preciso de você. — Aquilo teria soado frio se a voz não
de casca deestivesse trêmula. — Eu cuido de Wilderwood sozinho há um século.
der — outraConsigo fazer isso de novo. Consigo fazer isso sem perecer. Consigo ser mais
tros extra deforte.
Mais forte que Ciaran. Mais forte que o homem que começara aquela longa
corrente de mortes, raízes e fungos, de quem a floresta sugara tudo que podia
quando ele foi deixado sozinho.
ceu pesado e — Eu dei à floresta o que ela precisava. Cortei fundo, mais fundo do que
achei que fosse possível. Eu consigo ser suficiente sozinho. — Eammon
cerrou os punhos, os cortes sem sangue, gotejando apenas seiva e com as
le dele parabordas esverdeadas. — Isso prova que eu só estava sendo fraco.
— E o que acontece quando ela precisar de novo? Eammon, ela quase
acabou com você. Ela quase o pegou e o transformou em… — Ela não sabia
em que ela quase o transformara, não de verdade. Algo que não era humano,
ava. Quando mas ele nunca tinha sido um, não é?
ara os cortes Um monstro, talvez.
— A floresta as pegou — disse ele. — Todas as Segundas Filhas. Ela só
aparecido. E,me deixou porque sabia que precisava de alguém vivo. — Ele estendeu a mão
mou a magiae flexionou os dedos cobertos de sangue e seiva. — Eu consigo viver. Não
importa no que ela me transforme.
uma — Pare com isso. Você não pode simplesmente…
— Não há nada para você aqui, Red! — Eammon pairava sobre ela, como
as árvores em volta deles, ensombrado e sério. — A sua irmã está roubando
motivo para sentinelas para que você possa fugir, não é? Então, faça isso. Fuja! — Ele fez
um gesto no ar enquanto se virava. — Fique livre de mim com a consciência
limpa.
boca parecia — Livre de você? É o que acha que eu quero? — Ela engoliu em seco e
puxou a ponta do manto, erguendo-a para que o crepúsculo iluminasse o
e a voz não bordado dourado. — É isso que você quer?
um século. Um dos músculos das costas dele estremeceu sob o sangue e a seiva.
sigo ser mais Eammon fitou o manto, algo profundo e impenetrável cintilando em seus
olhos, mas ele virou o rosto.
aquela longa — Não importa o que eu quero.
do que podia — O que você está fazendo? — A voz dela soou fraca e suplicante, mas
ela não tinha mais forças.
fundo do que Não há nada para você aqui.
— Eammon Eammon ainda estava olhando para as árvores, como se vê-las fortalecesse
va e com as sua vontade.
— Eu estou tentando — disse ele, quase como uma oração — fazer o que é
on, ela quase melhor para você.
Ela não sabia — Bobagem. — Lágrimas de frustração borravam sua visão; Red as
era humano,enxugou com raiva. — Bobagem. Você não pode decidir o que é melhor para
mim, Eammon.
Ele fez uma careta.
Filhas. Ela só — Por quê? — As palavras saíram trêmulas, o fantasma de uma pergunta
tendeu a mãoque ela vinha fazendo havia semanas. — Por que você insiste em ficar
o viver. Nãosozinho sendo que eu estou bem aqui?
Ele respondeu em voz baixa.
— Ficar sozinho é o mais seguro para nós dois.
bre ela, como — Você não pode simplesmente…
stá roubando — Eu as matei.
a! — Ele fez A declaração foi um rosnado entre dentes arreganhados e lupinos. Ele
a consciência olhou para ela como um predador. Por instinto, Red deu um passo para trás.
— Wilderwood drenou as outras porque eu não a contive. — A força
iu em seco e aparecia em cada músculo do seu corpo, mas ele não conseguia esconder os
iluminasse oolhos, que estavam perdidos e vazios, satisfeitos por ela ter se afastado. — Eu
me permiti ser fraco, não aguentei sozinho, e a floresta as matou. Que as
ue e a seiva. sombras me amaldiçoem se eu permitir que o mesmo aconteça com você.
ndo em seus Red balançou a cabeça, um movimento lento e triste.
Ele fez um gesto em direção ao brilho branco na base da sentinela mais alta
com o tronco marcado. A coisa que aparecera na visão quando ela enxergara
plicante, masatravés dos olhos dele, a coisa que ela não examinara com atenção pois
estivera assustada demais. O olhar dela seguiu a mão dele, e era impossível
não reconhecer as formas.
s fortalecesse Ossos. Ossos entranhados nas raízes e vinhas. Três caixas torácicas, três
crânios, um caos de outros ossos cujos nomes ela não conhecia.
fazer o que é Tudo que restava das Segundas Filhas.
A voz de Eammon soou rouca e áspera:
isão; Red as — Você não quer fugir agora, Red?
é melhor para

uma pergunta
ste em ficar
— Ficar sozinho é o mais seguro para nós dois.
— Você não pode simplesmente…
— Eu as matei.
A declaração foi um rosnado entre dentes arreganhados e lupinos. Ele
olhou para ela como um predador. Por instinto, Red deu um passo para trás.
— Wilderwood drenou as outras porque eu não a contive. — A força
aparecia em cada músculo do seu corpo, mas ele não conseguia esconder os
olhos, que estavam perdidos e vazios, satisfeitos por ela ter se afastado. — Eu
me permiti ser fraco, não aguentei sozinho, e a floresta as matou. Que as
sombras me amaldiçoem se eu permitir que o mesmo aconteça com você.
Red balançou a cabeça, um movimento lento e triste.
Ele fez um gesto em direção ao brilho branco na base da sentinela mais alta
com o tronco marcado. A coisa que aparecera na visão quando ela enxergara
através dos olhos dele, a coisa que ela não examinara com atenção pois
estivera assustada demais. O olhar dela seguiu a mão dele, e era impossível
não reconhecer as formas.
Ossos. Ossos entranhados nas raízes e vinhas. Três caixas torácicas, três
crânios, um caos de outros ossos cujos nomes ela não conhecia.
Tudo que restava das Segundas Filhas.
A voz de Eammon soou rouca e áspera:
— Você não quer fugir agora, Red?
24

O ar parecia escorregadio, fino demais para prender nos pulmões. Red


segurou o manto e o soltou em seguida. Eammon já tinha contado o que
acontecera com as outras, com Kaldenore, Sayetha e Merra. Mas ver com os
próprios olhos lhe provocara um calafrio de medo que começava nas
têmporas e ia descendo até a espinha.
Ele se virou, os ombros curvados.
— Vá. — Ele esfregou a mão cansada no rosto, sujando-a de sangue. —
Por favor, vá.
— Não. — Red pegou a mão do Lobo e entrelaçou os dedos nos dele,
pressionando as palmas juntas como se o desafiasse a se afastar. — Me conte
o que aconteceu com elas. Exatamente como aconteceu. Não quero mais
meias verdades. — Fincou as unhas na pele dele, pensando nos mitos e em
como estes tornavam mais fácil enfrentar coisas terríveis. — Me conte a
história, Eammon.
Aquilo o fez se retesar ainda mais, o maxilar se contrair e os olhos se
desviarem dos dela e pousarem em Wilderwood, que os aguardava além da
clareira.
— Eu já avisei antes. Nenhuma história aqui teve um final feliz.
— Eu não me importo com finais felizes. Eu me importo com você.
Eammon respirou fundo e Red achou que ele fosse se afastar. Em vez
disso, a mão dele relaxou contra a dela, como se não tivesse mais energia
para resistir. Quando voltou a falar, as palavras soaram pesadas como
neblina, ditas em voz baixa e na cadência controlada de uma história
conhecida:
— Eu já era o Lobo havia quase dez anos quando Kaldenore chegou.
Naquela época, eu já tinha descoberto como usar sangue para manter a
floresta quase inteira, quando… quando ela queria mais do que eu estava
disposto a dar. A ideia foi de Fife e Lyra. — Ele olhou para uma fileira de
ulmões. Redárvores em vez de para Red, com os ombros ainda retesados com a lembrança
ontado o que da morte horrível de Ciaran. — Eu não sabia bem o que fazer com aquilo,
com os não no início. Mas depois me lembrei do que eu tinha ouvido Ciaran dizer, e
omeçava nasKaldenore me mostrou a Marca e me contou como ela a atraíra para o norte.
— A vergonha o fez baixar o tom de voz e curvar ainda mais a cabeça, o
cabelo escuro cobrindo o rosto. — Eu deveria tê-la mandado de volta, mas
e sangue. —Wilderwood… Ela já a tinha tomado. Se entranhado em Kaldenore assim que
a Segunda Filha cruzara a fronteira.
dos nos dele, O espinho no rosto, a gota de sangue, as sentinelas e suas garras a
— Me conteperseguindo pela névoa.
o quero mais — Como tentou fazer comigo.
s mitos e em Eammon assentiu.
Me conte a — Eu não sabia como impedir. Não naquela época.
Mas ele fizera aquilo por ela. Acorrentara a floresta com o punho cerrado,
os olhos seusando toda a sua concentração para manter a coisa selvagem sob controle.
dava além da Um farfalhar de folhas ao redor deles, quase um suspiro.
— Kaldenore não durou muito tempo — continuou ele com a voz rouca,
pouco mais que um sussurro no ar frio. — Wilderwood estava desesperada e
a drenou bem rápido.
star. Em vez — E, depois disso — murmurou Red —, você ficou sozinho de novo.
mais energia — Fiquei sozinho com a floresta de novo. — A amargura marcava as
esadas como palavras. Amargura, vergonha e exaustão. — Eu ainda não tinha entendido
uma históriatotalmente o que havia acontecido. Não de verdade. Mas comecei a encaixar
as peças: o pacto, as palavras que tinham sido usadas nele para que houvesse
nore chegou. Guardiões mesmo se Ciaran e Gaya morressem. Feito para que passasse
ara manter a para…
ue eu estava A voz dele falhou ao dizer o nome deles, mas foi deliberado. Cortar era
ma fileira demelhor do que quebrar.
m a lembrança — Depois disso, comecei a fazer experimentações. Eu dava mais sangue à
com aquilo,floresta e permitia que mais magia entrasse. Em uma tentativa de manter tudo
iaran dizer, esozinho. Foi quando Sayetha chegou.
para o norte. Red sentiu os dedos pinicarem, tomada por um sentimento de empatia por
s a cabeça, o uma mulher que nunca conheceu. A irmã mais velha e doente de Kaldenore
de volta, mas só fora Rainha por um ano antes de morrer sem filhos, e Aida Thoriden, a
ore assim quefilha mais velha da Casa seguinte na linha de sucessão, já tinha uma filha
antes de assumir o trono. A Rainha Aida descobriu que estava grávida de
uas garras aSayetha semanas depois da coroação.
— Tentei evitar que ela tivesse o mesmo destino de Kaldenore. — A voz
de Eammon era pouco mais que um sussurro, audível apenas por causa do
silêncio que reinava na floresta em volta deles. — Mas eu não era forte o
suficiente. E, no fim das contas, Wilderwood acabou drenando-a também.
unho cerrado, Uma segunda caixa torácica, um segundo crânio. Red sentiu um gosto
ferroso na boca — tinha mordido o lábio com força demais.
Eammon ainda estava virado para as árvores, recusando-se a olhar para ela.
a voz rouca, A pele do braço estava suja de lama e sangue, e parecia quase delicada na
desesperada epenumbra.
— Depois de Sayetha, fiz tudo que estava ao meu alcance, estudando o que
podia para tentar evitar que a floresta convocasse as Segundas Filhas; ou,
a marcava aspelo menos, impedir que as matasse quando chegassem aqui. Certo dia,
ha entendido Merra chegou, e consegui manter a floresta longe dela. Por um tempo.
ei a encaixar O Lobo estava cercado de corpos daquelas que não conseguira salvar.
que houvesse Daquelas que o desespero de Wilderwood dilacerara, focada apenas na
que passasseprópria sobrevivência, na missão que tinha e na força de que precisava para
conseguir cumpri-la.
o. Cortar era Red queria gritar com a floresta. Queria chutar as sentinelas até que
sangrassem, queria queimá-las e destruí-las.
mais sangue à — A culpa foi minha. Eu me acomodei demais. — Ele meneou a cabeça, e
e manter tudo uma novem de terra caiu sobre os ombros nus e ainda suados. — Algum
tempo depois da chegada dela, eu parei de me concentrar. Ela vivia a vida
e empatia pordela e eu a minha, de forma amigável, mas distante. Achei que seria o
de Kaldenoresuficiente. Talvez Wilderwood se contentasse apenas com a presença dela e
a Thoriden, acom o meu sangue. Mas não foi o que aconteceu. — Um toque de desdém na
ha uma filha voz. — Ela só estava esperando que eu cometesse algum deslize.
a grávida de Quando tinham se beijado na torre, agarrando-se um ao outro com
desespero, Wilderwood vira uma abertura. Entrando pelas janelas e crescendo
re. — A voz lentamente em direção a Red. E Eammon notara e rechaçara a Segunda Filha,
por causa dosabendo que o desejo que sentiam um pelo outro jamais poderia ser
o era forte oconsumado. Porque seria uma distração, afastando-o do trabalho constante de
manter Wilderwood sob controle. Porque se aproximar dela significava
iu um gostoaproximá-la da floresta faminta.
Tudo em Eammon era para Wilderwood — tudo que ele era, até os ossos e
lhar para ela.o sangue. Tudo na vida dele girava em torno de nunca mais cometer um
e delicada nadeslize.
Em torno de mantê-la em segurança, protegida da floresta que já tinha
udando o quetirado tanto dele.
s Filhas; ou, — Ela veio pegar Merra, e ela não conseguiu aguentar. — A voz ainda
i. Certo dia, seguia a cadência de um contador de história, como se conseguisse se manter
guira salvar.afastado de tudo aquilo. — Ela tentou… arrancar a floresta, e morreu antes
a apenas na que eu pudesse impedir.
recisava para O terceiro crânio. A terceira caixa torácica. O terceiro conjunto de ossos,
que alimentara vinhas e árvores brancas.
elas até que — Arrancar? — A pergunta foi quase um suspiro baixo e trêmulo.
Aquilo o fez se virar, finalmente, os olhos âmbar esverdeados decididos no
u a cabeça, erosto sujo de terra.
s. — Algum — Não vai acontecer com você. Não vou permitir.
vivia a vida Mas não tinha como ela se contentar apenas com aquela resposta, não com
que seria oas ossadas no seu campo de visão e o sangue dele grudento entre os dedos.
esença dela eNão com o aperto no coração que vibrava em uma frequência que ela quase
de desdém naconhecia.
— Me conte o que a floresta faz com elas — pediu Red em um sussurro,
o outro com embora soubesse a resposta. Um homem moribundo e um corpo entremeado
s e crescendode raízes, o mito que pairava sobre a cabeça de ambos. — Por favor.
egunda Filha, Eammon soltou a mão dela com gentileza e a passou no rosto, desviando
poderia ser os olhos dos dela como se buscasse a resposta no céu sem estrelas.
constante de — Não é uma coisa imediata. Wilderwood não quer que vocês morram.
a significava Em volta da clareira, as sentinelas brancas estavam silenciosas e imóveis.
Ouvindo. Aquela decisão tomada por uma mente inumana e insondável se
até os ossos e solidificando.
cometer um — A floresta precisa de uma âncora. — Eammon cruzou os braços,
escondendo os braceletes de casca de árvore nos punhos. — É isso que ela
que já tinhabusca.
Uma âncora. Uma semente viva, um nexo do qual ela possa se derivar. Ele,
A voz aindamantendo tudo sozinho.
sse se manter Devem ser dois.
morreu antes Red sentiu as mãos pinicarem com a vontade de tocá-lo de novo, de
encontrar uma fricção com a pele dele.
nto de ossos, — Uma âncora — repetiu ela. — Do jeito que ela se ancora em você. Mas
ela precisa de mais que isso. Você precisa de mais que…
— Pare com isso, Red. — A voz dele cortou o ar como uma faca fria e
decididos no afiada. — Pare. Isso não é da sua conta. — Ele soltou um suspiro irritado,
passando a mão suja de sangue mais uma vez no rosto. — Nada disso deveria
ser da sua conta.
osta, não com — Por que não? — A voz dela estava trêmula de raiva, de perplexidade e
tre os dedos.mais alguma coisa. — Você quer que eu simplesmente largue você aqui? Que
que ela quaseeu volte para Valleyda e esqueça tudo sobre isso, que o deixe aqui para
sangrar por uma floresta até que não reste mais nada de você e você se
um sussurro,torne… seja lá o que Wilderwood quer que você se torne? E depois disso? E
o entremeado se você não conseguir manter a Terra das Sombras fechada mesmo depois
que a floresta tirar tudo de você? Como acha que essa história termina?
o, desviando — Eu não sei — respondeu ele em voz baixa. A suavidade dele sempre em
contraste com a irritação dela. — Eu não sei como tudo termina, e já passei
do ponto de me importar. Mas, pelo menos, eu saberia que a protegi. Saberia
as e imóveis. que dei o meu melhor para que você não terminasse como eu.
nsondável se — Você age como se isso fosse uma punição. Você não escolheu isso,
assim como eu. A culpa não é sua.
u os braços, — O fato de você estar aqui é culpa minha. A morte delas é culpa minha.
isso que ela Eu não fui forte o suficiente, então Wilderwood continuou convocando as
Segundas Filhas. Continuou drenando cada uma delas. — A voz saiu firme e
derivar. Ele, afirmativa, mas os olhos ainda ardiam. Ele cerrou os punhos, como se
quisesse esconder todas as cicatrizes nas palmas.
Ela pegou as mãos do Lobo e entrelaçou os dedos nos dele. Segurou com
força até as articulações ficarem brancas, forte até sentir as cicatrizes dele
de novo, depressionadas contra a pele dela.
— Ela não vai me drenar — disse Red em um sussurro baixo. — E não
m você. Masvou permitir que ela drene você.
A declaração quase colocou um nome no sentimento que crescia dentro
ma faca fria e deles. Mas o nome era vasto demais e frágil demais, algo que poderia destruí-
piro irritado,los caso o reconhecessem naquele momento.
disso deveria — Eu estou tentando proteger você, Red — murmurou ele. — Eu deixaria
o mundo queimar antes de machucar você.
erplexidade e — Me machucaria deixar você aqui. — Oração e confissão. — Me
cê aqui? Que machucaria deixar você aqui completamente sozinho.
xe aqui para Ele deu um suspiro trêmulo. Red apertou a mão dele, cheia de cicatrizes e
cê e você se sangue.
pois disso? E — Vamos para casa.
mesmo depois
Voltaram em silêncio, as mãos dadas com firmeza, quase seladas com seiva e
le sempre em sangue. Wilderwood se manteve tranquila, sobrenaturalmente imóvel. Red
a, e já passeiainda tinha aquela sensação de um pensamento desconhecido e lento que
otegi. Saberiaqueimava nas profundezas da floresta, revirando o que tinha ouvido e visto.

Escolha.
scolheu isso,
Red teve a impressão de ter ouvido a palavra de novo, sussurrada em
matagais e caramanchões, mas nenhuma folha caiu e nenhum musgo
culpa minha.
retrocedeu. Como se Wilderwood sussurrasse direto no fio fino de magia que
nvocando as
a Segunda Filha carregava dentro de si, para que só ela fosse capaz de ouvir.
z saiu firme e
Quando chegaram à Fortaleza, Red subiu para o quarto com o braço de
os, como se
Eammon em torno dela, dando tanto suporte quanto possível mesmo que sua
cabeça mal batesse no ombro dele. Ela o levou para a cama, apesar dos
Segurou com
protestos.
catrizes dele
— Você precisa dela mais do que eu.
Eammon olhou por entre as mechas de cabelo, franzindo a boca em uma
xo. — E nãoexpressão inescrutável.
Ela quis beijá-lo, mas não o fez.
rescia dentro O manto se espalhou ao redor dela como um cobertor quando ela se deitou
deria destruí- no chão. Red tocou o bordado, os lobos dourados emaranhados em raízes de
árvore perto da bainha.
— Eu deixaria — É lindo.
Eammon ficou em silêncio por tempo suficiente para ela achar que ele já
ssão. — Meestava dormindo.
— Espero que não se importe — disse ele por fim. — Se quiser o manto
e cicatrizes e mais simples, Asheyla pode…
— Não. — Forte e decidida. — É perfeito.
Outra pausa.
— Você merece um manto matrimonial de verdade — murmurou Eammon
s com seiva ena penumbra do quarto. — Mesmo que tenha sido só um enlace.
imóvel. Red Red sentiu um calor na ponta dos dedos e um frio na barriga.
e lento que — Você disse que aquilo foi o suficiente para consumar o casamento.
Havia uma pergunta ali, uma que relembrava bocas e mãos e outras formas
de se consumar um casamento. Coisas que ele não permitia que acontecessem
porque seriam uma distração de manter Wilderwood sob controle, o que seria
ussurrada em
o fim de ambos.
nhum musgo
Ele inspirou profundamente. Entendia o que ela estava perguntando.
de magia que
Talvez fosse cruel perguntar aquilo e deixar o próprio desejo transparecer na
voz. Mas ele tivera espaço para dúvidas antes, espaço para achar que ela
m o braço de
talvez não voltasse. Ela precisava que ele soubesse que voltaria. Cedesse ele
esmo que sua
ou não ao desejo dela, ela sempre voltaria.
a, apesar dos
— O suficiente. — A voz dele saiu controlada.
boca em uma Ela não sabia quanto tempo ficaram deitados ali, olhando para o teto e
dolorosamente cientes da presença um do outro. Quando Red enfim
adormeceu, seus sonhos foram ardentes.
ela se deitou
em raízes de

har que ele já

uiser o manto

rou Eammon

outras formas
acontecessem
e, o que seria

perguntando.
ansparecer na
char que ela
. Cedesse ele
Ela não sabia quanto tempo ficaram deitados ali, olhando para o teto e
dolorosamente cientes da presença um do outro. Quando Red enfim
adormeceu, seus sonhos foram ardentes.
INTERLÚDIO
VALLEYDIANO VII

A luz do sol nos jardins feriu os olhos de Neve depois do tempo que passara
na penumbra do Santuário. Sem pensar, ergueu a mão para proteger o rosto,
deixando uma mancha de sangue na bochecha e fazendo o novo corte repuxar
com uma pontada de dor ligeira, mas intensa.
Praguejando, limpou o sangue e olhou para a palma da mão. Sempre
tomava o cuidado de se cortar em pontos diferentes. Cortes finos e precisos
feitos com a adaga de Kiri, que pareciam nunca cicatrizar totalmente.
Roubar pedaços de Wilderwood era um trabalho sangrento.
Sangrar nos galhos e depois apertá-los contra o tronco das árvores das
quais tinham sido cortados fazia com que as árvores desaparecessem da
floresta para aparecer na caverna do Santuário. Cresciam de novo estranhas e
retorcidas, como se estivessem resistindo, mas apareciam. Havia pelo menos
uma dúzia delas agora, uma floresta não natural envolta em pedras, crescendo
da rocha e sendo regada com sangue.
E, ao oferecer sangue, a pessoa recebia em troca a magia afiada e fria como
adagas de gelo. Magia da Terra das Sombras que deixava geada na ponta dos
dedos e escurecia as veias. Parecia o inverno serpenteando em volta dos
ossos.
Magia que Neve finalmente parara de recusar.
Ela havia resistido por um tempo. Aquele poder estranho nunca tinha sido
seu objetivo, pois não ligava para nada além de enfraquecer a prisão da irmã
para que Red pudesse voltar. Mas quanto mais sangrava para conseguir seu
objetivo, mais o poder a atraía, sombrio e sedutor, prometendo controle, pelo
menos sobre aquilo.
No fim das contas, ela não tinha conseguido obrigar Red a fugir, e agora
não conseguia obrigá-la a deixar Wilderwood. Mas podia tirar o poder dela.
Ali estava algo completamente ao seu alcance e, quanto mais o tempo
passava, mas tolo parecia não usar aquele poder.
o que passara Com um simples toque, Neve conseguia fazer uma planta murchar. Com
teger o rosto,um estalar de dedos, fazia uma folha passar de verde para marrom e, às vezes,
corte repuxarparecia que as sombras ficavam ainda mais longas quando se aproximava
delas, como se estivessem esperando ordens dela. O contorno delicado de
mão. Sempre escuridão nas suas veias demorava mais tempo para desbotar do que antes.
os e precisos E Red ainda não tinha voltado.
Havia guardas no vilarejo perto da fronteira, aguardando o retorno dela.
Kiri dizia que precisavam ter cautela — mesmo que os laços que prendiam
árvores das Red a Wilderwood enfraquecessem o suficiente para permitir sua fuga, talvez
arecessem daela não ficasse totalmente livre deles, e não havia como saber como a floresta
o estranhas e a tinha modificado. Mas nada surgiu da fronteira de árvores.
a pelo menos Franzindo a testa, Neve fez um gesto em direção a um arbusto no caminho.
as, crescendo Sentiu frio na ponta dos dedos e as veias ficaram negras como tinta. As folhas
se curvaram, tingindo-se de marrom e secando antes de caírem no chão.
a e fria como Kiri surgiu das sombras do Santuário, os olhos azuis ávidos enquanto
na ponta dos cobria a palma da mão ferida. Sempre fazia cortes profundos, dando mais
em volta dos sangue do que o necessário. Neve achava que não era algo que fazia para
receber mais magia do que os outros; acreditava que Kiri simplesmente
gostava de dar mais sangue.
ca tinha sido Outras sacerdotisas entraram em silêncio no jardim atrás de Kiri,
risão da irmãenfaixando as próprias feridas. Adornando o pescoço de cada uma, o pingente
conseguir seude madeira, a casca branca da árvore adornada por uma sombra sutil.
controle, pelo A nova Suma Sacerdotisa ergueu os dedos manchados de sangue e tocou o
pingente de leve. Fechou os olhos por um breve instante como se precisasse
ugir, e agora se acalmar. Depois os abriu com um sorriso discreto no rosto, totalmente
o poder dela.relaxado, visível apenas naqueles breves instantes em que o sangue ainda era
ais o tempofresco.
Neve ainda mantinha o próprio pingente na gaveta da escrivaninha. Não
murchar. Comtocara mais nele desde o dia em que o sujara acidentalmente de sangue, o dia
m e, às vezes,em que tivera a forte sensação de estar sendo observada. Kiri parecera irritada
aproximavapor aquele pequeno ato de rebeldia no início, mas não a pressionou. Arick,
delicado deque não recebera o estranho colar por motivos que Neve desconhecia, parecia
quase… aliviado.
Mas as outras sacerdotisas ainda usavam o colar com o pingente feito por
retorno dela. Kiri depois da primeira oferta de sangue, quando cada uma delas recebera a
que prendiammagia da Terra das Sombras pela primeira vez. Neve não sabia onde Kiri
a fuga, talvez conseguia a madeira; não era de nenhuma das árvores que enchiam o
mo a florestaSantuário. Não perguntou.
Notícias de mudanças na Ordem se espalhavam lentamente pelo
no caminho. continente. Não os detalhes concretos, mas sim como elas estavam fazendo
nta. As folhascoisas mais concretas para libertar os Reis em vez de apenas enviar as
Segundas Filhas para Wilderwood, como as velas do Santuário tinham
dos enquantomudado de vermelho para cinza obscuro. Neve tinha se preparado para
dando maissofrerem retaliação, mas Kiri estava certa. O que quer que Valleyda
ue fazia para decidisse, os outros Templos seguiam, principalmente depois que a notícia do
simplesmenteque tinham feito no porto de Floriane se espalhou.
Ninguém sabia o escopo completo do que estava acontecendo ali. Neve
rás de Kiri,nem sabia como seria possível começar a explicar aquilo, aliás. Mas algumas
a, o pingentesacerdotisas de outros países eram curiosas o suficiente para irem a Valleyda
se juntar ao movimento. A Ordem ainda estava menor do que fora antes de
gue e tocou obanirem as dissidentes para Rylt, mas o crescimento era lento e constante.
se precisasse Uma das sacerdotisas que saía do Santuário carregava uma xícara
o, totalmentemanchada de sangue, a contribuição diária de Arick. Neve nunca o vira como
gue ainda era uma pessoa sensível, mas de uns tempos para lá ou ele enviava o sacrifício
por uma sacerdotisa, ou trazia a xícara em vez de oferecer o sangue direto da
vaninha. Nãoveia. Funcionava mesmo assim. Sangue era sangue, e tinha sido o de Arick
sangue, o diaque despertara os fragmentos de galhos no início, possibilitando que
ecera irritada retirassem as árvores brancas da floresta.
ionou. Arick, — O Consorte Eleito logo vai estar aqui para assistir à nova chegada —
hecia, pareciadisse Kiri para Neve. — Você planeja ficar?
Não planejava. Neve estava a caminho da guarita para perguntar a
ente feito porNoruscan, o capitão da guarda, se ele tinha recebido notícias de Wilderwood.
as recebera aKiri sabia daquilo. Mesmo assim, perguntou, como se estivesse desafiando
bia onde KiriNeve a dar uma resposta diferente.
e enchiam o — Já vou me recolher. — Neve se virou, seguindo pela trilha. — Diga para
Arick ir aos meus aposentos quando terminarem.
amente pelo Precisava conversar com ele. Arick também estava estranhamente
vam fazendocauteloso em relação a Red, alertando Neve de que a pessoa que voltasse
as enviar astalvez não fosse mais a que tinham perdido, de que os laços de Wilderwood
uário tinham talvez fossem difíceis demais de desatar. O jeito que ele falara com ela era
eparado paraquase frio. Aquilo fez Neve se perguntar por que ele estava fazendo aquilo, às
ue Valleydavezes, quando ela tinha energia para pensar no assunto, mas Red e Arick
e a notícia dosempre tinham sido uma equação complexa. Os laços que uniam todos eles
estavam embolados em nós inextricáveis.
do ali. Neve Ela já estava na metade do caminho quando Kiri voltou a falar:
Mas algumas — Nós a tornamos Rainha por muitos motivos, Neverah. E você parece
m a Valleydapensar em apenas um — disse a Suma Sacerdotisa. Neve vacilou e parou de
fora antes deandar. — Não fizemos isso apenas para trazer Redarys de volta. — A voz de
Kiri soou irritada ao dizer o nome da Segunda Filha. — Não apenas para nos
uma xícaravingarmos do Lobo. Mas pela restauração dos nossos deuses. Começo a me
a o vira comoperguntar se há chances de que vacile no seu trabalho caso sua irmã
a o sacrifícioreapareça.
gue direto da Ela vacilaria? Neve não sabia. Mas a magia fria aninhada na palma das
o o de Arick mãos restabeleceu sua confiança, como segurança e controle, e seria muito
ilitando que difícil abrir mão daquilo.
— Asseguro que isso não vai acontecer.
a chegada — — Espero realmente que não. — Uma pausa, e a voz de Kiri ficou mais
baixa. — Talvez tenhamos sido apressados demais em começar o seu reino.
perguntar a Em fazer você.
Wilderwood. As palavras despertaram uma ideia conhecida, uma forma escura em um
e desafiandocômodo escuro que Neve mantinha cuidadosamente fechado. Aquilo
assombrava sua mente quando não conseguia dormir, um pensamento em
— Diga paraforma de sombra que não a deixava em paz.
Então, Neve não parou para pensar. Simplesmente caminhou até a Suma
stranhamente Sacerdotisa e tocou o braço dela, deixando todo o poder estranho e sombrio
que voltassesair.
Wilderwood Tinha sido um acidente a primeira vez que fizera aquilo, quando tocara nas
com ela era costas de Arick para pedir que ele lhe passasse o vinho. Uma fagulha gelada
ndo aquilo, àsbrilhara entre eles, como se estivessem se reconhecendo. Tinha sido o
Red e Aricksuficiente para fazê-lo gemer.
m todos eles Neve tentara pedir desculpas, mas ele meneara a cabeça.
— Não há do que se desculpar. — Os dedos dele tinham estremecido na
haste da taça. — Você se encaixou nesse papel de um jeito que eu nem
você parecepoderia ter imaginado, Neverah.
ou e parou de
— A voz de Ela sentira o rosto corar inexplicavelmente. Voltara a atenção para a
enas para nosprópria taça, mas continuara com a impressão de ter os olhos dele focados
Começo a menela, brilhando com uma emoção que não tinha conseguido interpretar.
so sua irmã Agora, Neve queria que aquela magia fria machucasse. E a respiração
chiada que Kiri soltou entredentes lhe mostrou que conseguira o intento.
na palma das — Você não me fez. — Neve fechou os dedos como garras. Geada cobria
e seria muito as palmas das mãos, e as veias se tingiram de negro. — Seja lá o que já tenha
feito, você com certeza não me fez.
Os olhos azuis se estreitaram.
ri ficou mais — Eu lhe dei poder, Neverah. Nunca se esqueça disso.
r o seu reino. — Você me mostrou onde ele estava. Eu mesmo a tomei. — Ela apertou
mais o toque. — Não houve nada dado, apenas tomado.
scura em um Neve soltou o braço da sacerdotisa, deixando uma marca azulada na pele,
ado. Aquilocomo uma queimadura de frio.
nsamento em Kiri cobriu a marca com a outra mão.
— Não tente tomar muito para si, Vossa Majestade — murmurou ela. —
u até a SumaIsso é maior que você. Maior que sua irmã. E, mesmo que ela volte, estará
ho e sombrioligada a Wilderwood de maneiras que você não é capaz de entender. Se você
a quiser de volta, por completo, você precisa de mim.
do tocara nas Neve sentiu um calafrio, pois sabia que Kiri estava certa.
gulha gelada — Veremos. — A Rainha se virou, puxando o capuz do manto negro para
Tinha sido ocobrir a cabeça, e deixou a Suma Sacerdotisa para trás.
A guarita estava quase vazia. Metade da força de combate estava em
Floriane, de prontidão contra a ameaça eterna de um levante. Havia alguns
tremecido nahomens na fronteira de Wilderwood, atentos a qualquer sinal do retorno de
que eu nemRed. Provavelmente era tolice deixar a capital tão pouco protegida.
Neve flexionou as mãos. A grama que crescia ente as pedras do pavimento
ficou seca enquanto a geada cobria os dedos dela. Talvez não tão pouco
nção para aprotegida, afinal.
dele focados Noruscan aguardava perto da porta, como sempre. Neve olhou para ele sob
o capuz — uma tentativa tosca de disfarce, mas o suficiente para a curta
a respiraçãodistância.
— Alguma notícia?
Geada cobria — Hoje, não, Majestade.
o que já tenha O tom de alívio na voz dele fez com que ela ficasse nervosa. Eles sempre
haviam temido Red, vendo-a mais como uma relíquia do que como uma
garota, a prova de que o mundo era maior e mais aterrorizante do que
gostariam. Agora, uma centelha daquele mesmo medo surgia quando viam
— Ela apertou Neve.
Parte dela gostava daquilo.
lada na pele, — Quando ela vier — disse Neve, repetindo a resposta de sempre —,
quero que a traga diretamente para mim.
O comandante assentiu, como sempre fazia.
murou ela. — Após concluir sua tarefa, Neve seguiu para seus aposentos. Não tinha
volte, estará mudado de quarto depois de se tornar Rainha. Dormir no mesmo lugar que
nder. Se vocêIsla dormira não lhe parecia agradável. O jantar já a aguardava em um
carrinho diante da escrivaninha. Quando chegava a fazer alguma refeição, era
lá que comia.
to negro para Alguém também a aguardava no cômodo, com os antebraços apoiados no
joelho e a cabeça baixa.
e estava em Raffe.
Havia alguns O coração de Neve disparou. Não se lembrava da última vez que o tinha
do retorno devisto. Aqueles dias tinham passado em um borrão de sangue e planejamento,
pouca comida e menos sono ainda. Ela levou a mão ao cabelo e ao rosto
do pavimentoencovado; não tinha passado muito tempo se olhando no espelho, mas sabia
ão tão pouco
que sua aparência não era nada boa. Não tinha pensado em se importar com
u para ele sob isso até aquele momento.
para a curta — Peço perdão pelo incômodo — disse Raffe, ainda olhando para as mãos.
— Não é incômodo algum.
Ela pressionou o corpo contra a porta, as costas eretas contra a onda de
sentimentos despertada quando vira o rapaz. Tristeza, calor, vergonha.
Eles sempre Ficaram assim, cada um de um lado do aposento. Nenhum dos dois
e como uma sabendo como estreitar o espaço entre eles.
ante do que Raffe suspirou ao se levantar, um som profundo o suficiente para afogá-la.
quando viamOs olhos dele pousaram no corte da mão dela antes de se desviarem.
— Passando muito tempo no Santuário de novo?
Neve cerrou o punho, sentindo as beiradas do corte repuxarem.
e sempre —, — Assuntos da Ordem.
Raffe emitiu um som baixo. Hesitante, como se ela talvez fosse rejeitá-lo,
deu um passo na direção de Neve. Quando ela não objetou, aproximou-se
s. Não tinha mais e pegou a mão dela.
mo lugar que Virou a palma para cima mesmo sabendo que não conseguiria ver muita
dava em um coisa na penumbra. Aquela era apenas uma desculpa para tocá-la.
refeição, era — Estou preocupado com você — murmurou ele.
Neve não respondeu. Não podia dizer para que ele não se preocupasse,
apoiados no nem fingir que não havia razões para tal.
Em vez de dizer qualquer coisa, ela o beijou, porque, por todos os Reis e
todas as sombras, talvez aquela fosse a única coisa que podia acontecer do
z que o tinha jeito que ela queria, mesmo que apenas por um instante.
lanejamento, Raffe nunca fazia nada pela metade, e beijar não era exceção. Quando
lo e ao rostoenfim se afastou, deixando espaço para os temores e dúvidas voltarem, Neve
ho, mas sabia estava ofegante, com o cabelo bagunçado e os lábios doloridos.
Raffe apoiou a testa na dela.
mportar com — Seja lá o que tenha feito — sussurrou ele —, não é tarde demais para
desfazer.
para as mãos. — Não posso. — Ela havia pensado em desfazer? Talvez, na calada da
noite, quando a escuridão de pensamentos indesejáveis pairava sobre ela,
ra a onda de grande demais para ignorar. — Raffe, eu preciso fazer isso. Se eu conseguir
libertar Red…
um dos dois — Red não está aqui — sussurrou ele com intensidade. Neve pressionou a
testa contra a dele, como se pudesse se afogar no rapaz. — Você não pode
para afogá-la.trazê-la de volta. Ela se foi.
Ela afundou os dedos nas costas dele e o beijou de novo. Não foi um beijo
suave, mas sim um para sufocar todas as questões. Por um momento, Raffe
permitiu, mas depois se afastou e mergulhou os dedos no cabelo dela.
— Neve. — Ele se inclinou para trás o suficiente para olhar nos olhos dela.
sse rejeitá-lo,— Não existe nada neste mundo que me faça deixar de amá-la, não importa o
aproximou-se que você tenha feito nem quão terrível seja. Você sabe disso, não sabe?
As palavras foram um golpe no coração dela, pesado e leve ao mesmo
ria ver muitatempo. Era a primeira vez que ele declarava seu amor por ela e sob o peso de
tudo aquilo.
O que Kiri dissera no jardim voltou à sua mente: Talvez tenhamos sido
preocupasse,apressados demais em começar o seu reino.
A resposta mal passou de um sussurro:
dos os Reis e — E o que você acha que eu fiz, Raffe?
acontecer do — Parece que eu sempre chego na hora errada, não é?
Raffe a soltou, afastando-se como se ela fosse carvão em brasa. Neve se
ção. Quando virou, o estômago embrulhando com a culpa inexplicável que sentia.
ltarem, Neve Arick estava parado na porta, com um sorriso sem calidez alguma no rosto.
A expressão nos olhos não era exatamente de raiva, mas eles emitiam uma
luz estranha enquanto ele olhava de Neve para Raffe.
demais para — Que bom encontrar você aqui, Raffe. Eu queria mesmo falar com você.
— Já faz tempo mesmo que não nos falamos. — Raffe ergueu o queixo. —
na calada da Você anda ocupado demais.
va sobre ela, — Nós dois andamos. — Arick fez um gesto em direção a Neve, indicando
eu conseguirquem era a outra metade do nós. — Muito gentil da sua parte ajudar a Rainha
a relaxar.
pressionou a O luar refletiu nos dentes de Raffe, mas foi Neve quem deu um passo à
ocê não pode frente.
— Arick, não faça isso.
foi um beijo Ele parou no meio do caminho, um brilho momentâneo de surpresa no
mento, Raffe rosto. O luar claro conferia um tom azulado e estranho aos olhos dele.
— Queira me perdoar.
os olhos dela. Silêncio pesado. Quando as coisas tinham ficado assim entre os três?
não importa o Furtivas, secretas e duras, sendo que antes era tudo tão fácil?
Neve engoliu em seco, sentindo um nó na garganta.
e ao mesmo — Você disse que queria falar comigo — disse Raffe, por fim. — Pois
sob o peso defale.
Arick deu um sorriso lento, mas os olhos estavam alertas.
nhamos sido — O que você está fazendo aqui?
Raffe fez uma expressão de surpresa, depois suspirou e disse:
— Eu entendo que você e Neve…
— Não estou me referindo a isso. — A declaração de Arick não soou
totalmente verdadeira, como se sentisse algum tipo de emoção ligada ao beijo
asa. Neve se que tinha acabado de interromper mas não quisesse lidar com o assunto
naquele momento. — Eu quero saber o que você está fazendo em Valleyda,
uma no rosto.Raffe.
emitiam uma Raffe estreitou o olhar.
— Você já sabe há anos tudo que há para saber sobre as rotas comerciais.
o queixo. —A sua família está ansiosa para recebê-lo de volta. — Arick encolheu os
ombros. — Você não quer vê-los?
ve, indicando Raffe não respondeu de cara, alternando o olhar entre Arick e Neve.
udar a Rainha — Claro que quero — respondeu Raffe com calma. — Mas eu quero estar
aqui para dar todo meu apoio a Neve depois… depois de tudo.
u um passo à — Você com certeza já fez isso. — Arick estava muito diferente
ultimamente, mas os três já se conheciam havia tempo o bastante para que
Neve reconhecesse o sofrimento dele quando o ouvia.
surpresa no Ela olhou para ele sem compreender. O luar apagava qualquer vestígio de
sombras, e ele parecia tão tomado pelo sofrimento quanto ela.
Raffe olhou para Neve e engoliu em seco.
ntre os três? — Nos falamos depois. Lembre-se do que eu disse, Neve. — Ele lançou
um último olhar para Arick e saiu, fechando a porta.
Neve se largou na cadeira diante da escrivaninha, apoiando a testa na mão.
fim. — Pois Havia algo de quase inseguro na forma como Arick estava se
comportando, parado no meio do quarto. O constrangimento não combinava
com ele, sempre tão relaxado e casual.
— Você deveria comer — disse ele.
— Não estou com fome.
Arick não insistiu. Pelo canto dos olhos, Neve o viu cruzar os braços.
ck não soou — O que ele pediu para você lembrar?
gada ao beijo Um tom estranho na voz dele, como se ambos quisessem e, ao mesmo
m o assunto tempo, não quisessem que ela respondesse.
em Valleyda, Ela não respondeu. Em vez disso, fez outra pergunta, colocando em
palavras o pensamento sombrio que a perseguia, as suposições que a
mantinham acordada à noite.
— Arick, o que realmente aconteceu com a minha mãe?
s comerciais. Um momento de silêncio pesado.
encolheu os — Por que você está perguntando isso?
E aquilo já era a resposta.
Neve baixou a cabeça. Um som baixo e sofrido escapou por trás dos
u quero estar dentes. Devia ter desconfiado. A doença de Isla, a forma como a tomara tão
rapidamente… Ela devia ter desconfiado.
ito diferente O pior de tudo era que uma parte dela sempre soubera. Tinha reconhecido
nte para queque havia alguma coisa estranha acontecendo e simplesmente ignorara
porque assim ficaria mais perto daquilo que queria.
er vestígio de A irmã em casa. E, por todos os Reis sagrados, algum controle.
Neve ouviu os passos de Arick se aproximarem e sentiu uma mudança no
ar quando ele estendeu a mão. Desistiu de encostar nela, porém, por saber
— Ele lançou que aquilo seria ir longe demais. Mas ela sentiu que ele queria tocá-la. Um
desejo profundo e ressentido de oferecer conforto.
— E a Suma Sacerdotisa? — Ela olhou para as próprias mãos, entrelaçadas
k estava secomo vinhas, apertadas a ponto de prender a circulação. — Ela também?
o combinava — Sim.
Não tinham sido reviravoltas do destino. Nem provas de que ela estava
certa. Assassinatos.
— Quem mais sabe?
— Só Kiri. — Uma pausa. — Kiri matou as duas.
Kiri, com sua boca sempre torcida em um esgar de reprovação e sua
e, ao mesmopresunção. Lá desde o início, orquestrando a queda.
Ela o ouviu engolir em seco.
olocando em — Meu plano não envolvia nenhuma morte, mas… ambas serviram a um
ições que a objetivo. Eu não contei nada porque não faria diferença. — A mão dele
finalmente se aproximou e pousou de leve sobre a dela. Estava fria, mas ela
não rechaçou o toque. — Estamos fazendo o necessário.
Um eco da noite posterior à morte de Isla. Não a noite em que tudo
mudara, mas a noite em que tinham tomado a decisão de fazer alguma coisa.
Ela colocara as engrenagens em movimento, e agora tinha de se manter firme
por trás dosaté atingirem o objetivo.
a tomara tão Respirou fundo. Sentiu os lábios dormentes.
— Estamos fazendo o necessário.
reconhecido Toda aquela morte tinha de servir para alguma coisa.
nte ignorara — Você é uma mulher extraordinária, Neve. — Ele usou o apelido dela, o
que era raro naqueles dias. Ele só o usava quando dizia algo que parecia não
ter certeza se deveria. — Você se provou em cada desafio e aguentou todos
mudança noos fardos que ninguém deveria ser obrigado a carregar. Você é uma Rainha
m, por saber melhor do que este lugar merece. — O polegar dele estremeceu, como se
tocá-la. Umquisesse acariciar a mão dela, mas não o fez. — Você é boa demais para isso
tudo.
entrelaçadas Neve olhou para Arick, a incerteza e a confusão mantendo-a congelada no
lugar. Sob a luz prateada que entrava pela janela, os olhos dele pareciam
azuis em vez de verdes.
ue ela estava Ele apertou a mão dela uma vez antes de afastar a dele.
— Tudo isso logo vai acabar.
Em seguida, Arick fez uma reverência e desapareceu na escuridão.

ovação e sua

erviram a um
A mão dele
fria, mas ela
Um eco da noite posterior à morte de Isla. Não a noite em que tudo
mudara, mas a noite em que tinham tomado a decisão de fazer alguma coisa.
Ela colocara as engrenagens em movimento, e agora tinha de se manter firme
até atingirem o objetivo.
Respirou fundo. Sentiu os lábios dormentes.
— Estamos fazendo o necessário.
Toda aquela morte tinha de servir para alguma coisa.
— Você é uma mulher extraordinária, Neve. — Ele usou o apelido dela, o
que era raro naqueles dias. Ele só o usava quando dizia algo que parecia não
ter certeza se deveria. — Você se provou em cada desafio e aguentou todos
os fardos que ninguém deveria ser obrigado a carregar. Você é uma Rainha
melhor do que este lugar merece. — O polegar dele estremeceu, como se
quisesse acariciar a mão dela, mas não o fez. — Você é boa demais para isso
tudo.
Neve olhou para Arick, a incerteza e a confusão mantendo-a congelada no
lugar. Sob a luz prateada que entrava pela janela, os olhos dele pareciam
azuis em vez de verdes.
Ele apertou a mão dela uma vez antes de afastar a dele.
— Tudo isso logo vai acabar.
Em seguida, Arick fez uma reverência e desapareceu na escuridão.
25

Red acordou com as costas tortas e o pescoço doendo, e gemeu enquanto se


sentava e girava os ombros. Na cama, a respiração profunda e calma de
Eammon parecia quase um ronco.
Ela sorriu. Teria que contar a ele se aquilo continuasse.
A luz da lareira banhava de dourado o cabelo negro e a expressão suave do
Lobo enquanto dormia. Red ficou olhando para as feições do rosto dele,
relaxadas e sem a tensão da exaustão e de todo o controle que precisava
exercer. Havia uma cicatriz discreta em uma das sobrancelhas escuras. A
barba por fazer escurecia o maxilar, e havia um corte minúsculo de uma
navalha de barbear descuidada bem abaixo do queixo. Red se sentiu
estranhamente leve por ver uma marca que não tinha sido deixada por
Wilderwood.
E pensar que um dia ela achara que o Lobo era rígido demais para ser
bonito…
Red afastou o cabelo dele da testa. Ele suspirou, ainda dormindo, movendo
o queixo de tal forma que os lábios dele roçaram na palma da mão dela. A
gavinha da Marca dele se destacava contra a pele clara, serpenteando pelo
antebraço e ultrapassando o cotovelo. Na noite anterior, estivera preocupada
demais em salvá-lo da floresta para se concentrar no peitoral dele e na largura
dos ombros nus. Claro que já tinha notado tudo aquilo antes, seria impossível
não notar — mas não tão de perto, não desde a noite em que o curara.
O lençol estava embolado em volta da cintura do Lobo, para onde ele o
empurrara durante a noite, e ela viu a marca desbotada das três cicatrizes que
cortavam o abdômen dele. Estendeu a mão para tocá-las, mas desistiu.
Não. Ela não podia. Eles não podiam.
A sala de jantar estava vazia quando desceu, assim como a cozinha. Havia
uma chaleira velha pendurada acima do fogo, e ela a acomodou entre as
enquanto se chamas antes de procurar folhas de chá nas prateleiras. Tinha um pouco de
e calma deesperanças de não as encontrar, pois seria mais uma maneira de adiar o
inevitável.
Red tinha de partir. Tinha de voltar para Valleyda.
são suave do Tinha sido tolice protelar, mesmo que apenas por um dia. Ela devia ter
o rosto dele,partido no instante em que percebeu o que estava acontecendo. O único
ue precisavamotivo tinha sido não querer deixar Eammon. Ele tinha se permitido ser uma
s escuras. Adistração, tinha permitido que ela o usasse para procrastinar, adiando o
culo de umainevitável exatamente como ela estava fazendo. Não sabia se queria bater
ed se sentiunele ou beijá-lo por isso.
deixada por As duas coisas, provavelmente.
A chaleira apitou. Red se sobressaltou, tirou-a do gancho rápido demais e
mais para ser acabou se queimando. Ficou olhando para a queimadura enquanto pensava
em Eammon e em como ele sempre insistia em curá-la de todos os
do, movendomachucados.
mão dela. A Decidiu não permitir que ele visse aquele.
nteando pelo Red estava tomando a segunda xícara de chá quando Lyra passou pelo arco
a preocupada quebrado da sala de jantar, tirando folhas do cabelo. Colocou a tor em cima
e e na largura da mesa enquanto se sentava em frente a Red, franzindo o nariz para o chá.
ia impossível — Eu detesto isso.
— Foi tudo que consegui achar — respondeu Red. A lâmina da arma
estava escura, manchada com o sangue de Lyra e algo parecido com seiva. —
a onde ele oO que houve?
cicatrizes que — Mais sentinelas desaparecidas. — Lyra tirou um tecido do bolso e
esfregou o fio da lâmina da tor. Não fez muito mais do que espalhar a sujeira,
e ela logo desistiu, praguejando. — Cortei algumas criaturas de sombras, mas
ozinha. Havia não consegui fazer nada quanto aos buracos. Meu sangue não toca mais
dou entre asneles, e não adianta de nada.
um pouco de Mais buracos. Ele curara todos eles na noite anterior, desistindo de si
a de adiar omesmo, só para aparecerem mais alguns poucas horas depois.
— Eammon curou todas elas ontem à noite. Todas as brechas. — Red
suspirou. — Não levou muito tempo para novas se abrirem.
Ela devia ter Lyra levantou as sobrancelhas com uma expressão pensativa no rosto de
do. O únicoelfo e deixou a tor de lado.
itido ser uma — Droga de mártir. — Apesar do comentário de antes, pegou a chaleira e
r, adiando o se serviu de uma xícara. Depois se sentou, olhando para Red através do vapor
queria baterenquanto este envolvia seus cachos escuros. — Você quer ajudá-lo?
— Claro que quero.
A pergunta foi inesperada, mas a resposta saiu tão no automático que Red
ido demais enão teve tempo de ser pega desprevenida.
anto pensava Lyra se recostou, com as pernas cruzadas e a xícara aninhada entre as
de todos ospalmas das mãos, observando Red como se estivesse avaliando bem o que ia
falar. Por fim, fechou os olhos, os longos cílios tocando a pele da bochecha.
— Você sabe que ele manteve a floresta longe de você todo esse tempo,
sou pelo arconão sabe?
em cima Red sabia, e se lembrou de ossos na base de uma árvore entranhados de
vinhas.
— Ele faz isso há muito tempo, e não acho que vai parar. Principalmente
mina da armanão agora. — Lyra suspirou e tomou um gole do chá. — Não sei como isso
com seiva. — funciona. Não totalmente. O jeito que o Lobo e Wilderwood se entrelaçam e
como se separam. Mas sei que, se alguma coisa for mudar, essa mudança vai
o do bolso eter que vir de você, Red.
har a sujeira, Escolha. Uma lembrança do farfalhar de folhas e do estalar de galhos, sons
sombras, masda floresta formando uma palavra.
ão toca mais — Se eu soubesse o que você precisa fazer, eu falaria. Mesmo que
Eammon me odiasse por isso. Mas eu não sei. — Ela colocou a xícara
istindo de silascada na mesa, ao lado da tor. — Alguma coisa nessa situação é diferente,
tanto com você quanto com Wilderwood. Alguma coisa além de apenas
chas. — RedEammon a controlando. E você é a única que pode descobrir o que é isso.
Elas trocaram um olhar. Red assentiu.
a no rosto de Voltaram a ficar em silêncio até que Red empurrou a cadeira para trás e se
levantou.
u a chaleira e — Você quer pão?
vés do vapor Lyra negou com a cabeça. Red pegou duas fatias. Uma para ela e uma para
Eammon. Um tipo de presente de despedida, depois de ele ter dado a ela o
manto matrimonial e o bordado que contava a história dele. Ela subiu a
tico que Red escada como se carregasse um peso enorme sobre os ombros.
Eammon estava sentado à escrivaninha, já limpo e vestido, livre de
hada entre aspraticamente todo o sangue e a seiva, embora tivesse deixado passar um
bem o que iafiozinho vermelho com traços esverdeados atrás de uma das orelhas. Tinha
prendido o cabelo de forma descuidada e estava absorvido na leitura de um
esse tempo, livro. Red tentou ver o que ele estava lendo, mas não reconheceu o idioma.
— É rude tentar ler por cima do ombro de alguém — resmungou ele,
tranhados devirando a página.
Pensou em fazer um gracejo, mas ele estava perto o suficiente para
incipalmenteestender a mão e tocá-la, e aquele pensamento fez sua mente se anuviar. Em
ei como issovez disso, ela pegou a fatia de pão e a colocou em cima da página. Ele fez um
entrelaçam e
mudança vai som de afronta antes de pegar e dar uma mordida sem tirar os olhos da
leitura.
galhos, sons Red se sentou na beirada da cama e ficou olhando para ele, catalogando
cada movimento. Ele passeava o dedo pelo canto das folhas enquanto lia,
Mesmo quedepois passava para trás da página e a virava. Batia o pé embaixo da mesa.
cou a xícara Uma mecha de cabelo caiu na testa do Lobo e ele a afastou do rosto, só para
o é diferente,ela cair de novo.
m de apenas — Vou embora hoje — sussurrou ela.
Ele retesou os ombros na hora.
O peito dela parecia uma gaiola que aprisionava sentimentos que ela não
para trás e se conseguia verbalizar. As únicas palavras que pareciam adequadas eram vastas
ou pesadas demais, podendo provocar uma fragilidade com a qual Red não
poderia lidar naquele momento.
la e uma para Em vez disso, ela repetiu:
dado a ela o — Eu vou voltar.
Ela subiu a Ele inspirou de forma trêmula e fechou o livro.
— Pense bem, Red. Você não…
do, livre de — Pare. — Red se levantou e se colocou no exíguo espaço entre ele e a
o passar um escrivaninha. — Não vamos ter essa discussão de novo. Eu vou impedir Neve
relhas. Tinha de continuar fazendo o que quer que ela ande aprontando e reverter os danos
eitura de umque já causou. Depois, vou voltar para cá, Lobo. E é melhor que você esteja
pronto para me dizer o que eu preciso fazer para salvá-lo dessa maldita
smungou ele,floresta.
Ele finalmente olhou para ela, os olhos de ambos quase na mesma altura.
ficiente para Havia algo de acalorado no olhar verde e âmbar. Ele soltou um suspiro
anuviar. Emcansado.
a. Ele fez um — Eammon? — A voz de Fife veio da base da escadaria. — Lyra voltou.
Mais uma sentinela se foi.
os olhos da Aquilo o fez parar, transformando todo o calor dos olhos dele em algo frio
e resignado. Eammon apertou as mãos ao redor dos joelhos, desviando o
catalogandoolhar dela para fitar um ponto um pouco além. Não se mexeu ao perguntar:
enquanto lia, — Quando você parte?
ixo da mesa. — Agora.
osto, só para Não adiantava ficar adiando. Não adiantava desejar que ele a tocasse. Ele
se controlava com todo o cuidado, mesmo depois de tudo, mesmo depois de
dois beijos, três crânios e incontáveis palavras não ditas entre eles.
Eammon assentiu.
s que ela não — Não vou atrapalhar, então.
s eram vastas Ele se levantou e desceu a escada, deixando-a sozinha.
qual Red não
Lyra e Fife se mostraram tão céticos em relação ao plano dela quanto
Eammon.
— É por causa da sua irmã que as sentinelas estão desaparecendo? Ela está
disposta a matar Wilderwood para que você volte para ela? — Fife arqueou
uma das sobrancelhas. — E sou o único aqui que acha que essa é uma
entre ele e apéssima ideia?
mpedir Neve — Ela está fazendo isso por mim — argumentou Red. — E eu tenho que
rter os danos descobrir o que é e dar um jeito de acabar logo com isso. Ela está tentando
e você esteja me fazer voltar para casa.
essa maldita — E parece que está dando certo.
— Eu não vou ficar lá. — A resposta saiu quase como um sibilar,
mesma altura. surpreendendo Fife, que descruzou os braços e franziu a testa.
u um suspiro Red fechou os olhos e respirou fundo.
— Eu vou voltar, Fife.
Lyra voltou. O cabelo ruivo brilhou na penumbra quando ele desviou o olhar de Red e o
pousou em Eammon, para quem perguntou:
em algo frio — E você aceita isso?
desviando o — A decisão não é minha. — Eammon estava encostado na escadaria,
fingindo não se importar, mas os músculos das costas estavam retesados.
Fife soltou um suspiro e curvou os ombros.
— Espero que saibam o que estão fazendo. — Ele olhou de Eammon para
a tocasse. EleRed. — Vocês dois.
mo depois de — Fife. — O tom de Lyra foi de aviso, embora a linha da boca
demonstrasse a preocupação que sentia. Os olhos dela se voltaram para Red.
— Eu posso levar você até a fronteira para que não se perca no caminho.
— Espere um pouco. — Red subiu as escadas correndo. — Eu esqueci de
pegar uma coisa.
Quando chegou ao quarto, Red estava sem fôlego. Seu manto matrimonial
dela quantoestava no chão, onde ela dormira, das mesmas cores que o fogo na lareira. O
bordado brilhou quando ela o pegou.
ndo? Ela está Havia uma caneta bico de pena na escrivaninha, ao lado de uma pilha de
Fife arqueou papéis e livros em idiomas que ela desconhecia. Ela testou a ponta afiada com
essa é uma o dedo antes de a mergulhar na tinta e escrever:
Volto em três dias. E quero a cama de volta.

eu tenho que Eammon lançou um olhar de curiosidade para o manto enquanto Red
está tentando descia a escada. Seu olhar logo foi atraído para o rosto dela, mas ele
permaneceu em silêncio. Red pressionou os lábios e pendurou a bolsa no
ombro.
o um sibilar, Lyra olhou de um para o outro antes de se virar para a porta.
— Vou esperar no portão.
Fife abriu a boca, mas a fechou sem dizer nada. Apenas levantou uma das
mãos e deu um aceno constrangido, passando pelo arco quebrado e indo para
ar de Red e oa sala de jantar.
Então, Red e o Lobo ficaram sozinhos.
Eammon permaneceu em silêncio. Ainda acreditava que aquilo seria para
na escadaria,sempre — ela conseguia ver isso na forma como apertava os próprios braços
e como engolia em seco.
Tantas palavras não ditas entre eles, e um adeus era a única que ele diria.
Eammon para Ela não permitiu.
— Volto em três dias. — Red se virou, colocou o capuz vermelho e passou
nha da boca pela porta, deixando o Lobo nas sombras.
am para Red.
A lâmina da tor nas costas de Lyra parecia a lua minguante. Ela foi se
Eu esqueci de entranhando de forma hábil Wilderwood adentro, com Red a seguindo de
perto.
matrimonial Caminharam em silêncio por alguns minutos até Red ouvir um barulho; um
na lareira. O som distante, mas inconfundível, de um bum reverberando na floresta.
Outra brecha se abrindo.
uma pilha de — Droga. — Lyra desembainhou a tor e pegou um frasco de sangue na
ta afiada combolsa na cintura com um movimento bem treinado. — Vamos continuar, mas
fique atenta ao chão.
Red assentiu, cerrando os punhos. O fio de magia no seu peito se espiralou,
nquanto Redpronto para ser usado.
ela, mas ele Elas avançaram e finalmente chegaram à borda escura de um buraco no
u a bolsa no qual antes devia haver uma sentinela irrompendo de um bolsão de neblina.
Na beira do fosso, um pequeno ciclone de folhas e galhos girava. Lyra
abriu o frasco de sangue e o derramou sobre a coluna rodopiante. Ela se
desfez com um choramingo, fazendo folhas apenas um pouco marcadas por
ntou uma das sombras pousarem no chão.
o e indo para — Consegui ser bem rápida dessa vez. — Mas não voltou a embainhar a
tor. — Eammon vai ter que…
ilo seria para A criatura seguinte se formou mais rápido, como se tivesse aprendido a
óprios braçoslição com a anterior lenta demais. Um rodamoinho de galhos e folhas mortos
e ossos soltos se formou, sem se importar em tentar uma forma humanoide,
simplesmente saindo do chão e partindo para cima delas.
Ambas agiram por instinto. Red curvou os dedos, convocando sua magia e
elho e passoufazendo com que vinhas saíssem de um arbusto, chicoteando no ar. Estas
atravessaram a criatura de sombras ainda em formação, o suficiente para
desfazê-la e diminuir sua velocidade, mas a criatura de sombras voltou a se
e. Ela foi se formar logo em seguida.
seguindo de Lyra estava pronta. Pegou outro frasco de sangue, derramando-o na lâmina
da tor em um arco gracioso, e depois se lançou contra o monstro.
m barulho; um O brilho curvo da tor cortou a penumbra, espirrando sangue e seiva. A
lâmina era uma extensão de Lyra, a curva da arma parecendo o braço de um
dançarino que girava na escuridão. As vinhas de Red continuavam açoitando
de sangue naa coisa, desfazendo-a em pedacinhos; Lyra continuou, rasgando-a com a
ontinuar, maslâmina ensanguentada até fazer as partes que a formavam caírem no chão da
floresta. Em questão de segundos a criatura de sombras desapareceu, restando
se espiralou, apenas um monte de detrito podre e escuro no solo.
As duas ficaram paradas por um tempo, ofegando. Red relaxou os dedos, e
m buraco no as vinhas retrocederam para o arbusto. Engoliu o gosto de terra enquanto suas
veias passavam do verde para o azul novamente. Tinha sido a vez que usara a
girava. Lyramagia de Wilderwood com mais sucesso desde que ajudara Eammon a lutar
iante. Ela se contra o monstro que parecia um verme no caminho de volta da Fronteira,
marcadas pormas não pareceu ser um grande feito. Afinal, não tinham conseguido fechar a
brecha e, enquanto ela estivesse aberta, a vitória seria apenas temporária.
embainhar a Um instante de silêncio, as duas querendo ver se a brecha lançaria mais
alguma coisa. Então, Lyra embainhou a tor sem se preocupar em limpá-la.
aprendido a — Esta brecha é pequena. A criatura de sombras não vai ter tempo de se
olhas mortosreanimar até Eammon chegar aqui. É o que espero. — Ela se virou, seguindo
a humanoide,por entre a floresta de novo. — Eu até usaria o sangue, mas acho que seria
um desperdício do que ainda tenho. E não faria muita diferença.
o sua magia e Red ficou olhando por mais um momento para o fosso de sombras, escuro
no ar. Estase podre no chão. Praguejando baixinho, virou-se para seguir Lyra.
ficiente para As árvores começaram a ficar mais espaçadas à medida que se
s voltou a se aproximavam da fronteira. A névoa espessa era quase um muro separando
Wilderwood do mundo exterior, mas dava para ver pedaços do céu azul
o-o na lâminabrilhando através da neblina. Valleyda parecia perto o suficiente para tocar, e
as únicas emoções que Red sentia eram apreensão e uma certa nostalgia.
e e seiva. A Chegaram rápido demais à linha de árvores.
braço de um — Volto em três dias — anunciou Red, exatamente como fizera com
am açoitandoEammon, como se Wilderwood fosse capaz de ouvi-la e marcar o tempo da
ndo-a com a mesma forma que ele. — Isso não vai levar mais que três dias. E, depois, eu
m no chão davou voltar.
ceu, restando Os raios de sol que passavam por entre as árvores fizeram brilharem as
mechas acobreadas do cabelo cacheado de Lyra quando ela assentiu.
u os dedos, e — Três dias. — Ela se virou de costas e seguiu para a neblina, a caminho
nquanto suasda Fortaleza. A caminho de casa.
z que usara a — Cuide dele — murmurou Red. — Por favor.
mmon a lutar — Sempre cuidei. — Lyra olhou por sobre o ombro, os olhos escuros
da Fronteira, brilhando docemente na penumbra. — Lembre-se do que eu disse.
uido fechar a Red assentiu. A magia da floresta florescia no peito ela, esperando.
Quando Lyra se afastou, Red se virou para as árvores pelas quais passara
ançaria mais no seu vigésimo aniversário. Respirando fundo, passou por elas novamente.
A claridade do dia pareceu um peso sobre nos ombros, uma faca cintilante
perfurando os olhos. Por um momento, ela ficou parada ali, piscando, uma
tempo de se mulher de vermelho na borda da floresta. O outono tingia o céu de um tom de
ou, seguindo azul, e o vento trazia o cheiro de uma fogueira. Atrás dela, um murmúrio.
cho que seriaRed se virou, olhando por entre as sombras de Wilderwood enquanto ela
sussurrava naquela língua estranha de folhas e espinhos:
mbras, escuro Vamos esperar sua escolha.
Um galho se soltou do tronco, seco e morto ao cair no chão da floresta. Um
dida que segrupo de pequenos arbustos se encolheu, curvando-se como um besouro
ro separandomoribundo.
do céu azul Mas vamos tomá-lo, se for necessário.
para tocar, e Ela contraiu o maxilar ao sentir as palavras vibrando em seus ossos, o
fragmento afiado de Wilderwood que carregava dentro de si ecoando nos
espaços vazios.
o fizera com — Vá se danar — murmurou ela.
r o tempo da Wilderwood não respondeu.
E, depois, eu Red se apressou para descer a encosta gramada em direção à estrada e ao
vilarejo um pouco além. Sentiu os pulmões queimarem, como se o ar fora da
brilharem as floresta fosse diferente do que respirava quando estava nela. Red se sentiu um
pouco fraca.
a, a caminho Quando chegou à estrada, parou e apertou os olhos. Viu uma estrutura alta
e estreita se erguendo na extremidade do vilarejo, perto o suficiente para
perceber que era uma torre de vigia.
olhos escuros Red se permitiu apenas um instante para pensar naquilo, a mente ocupada
com preocupações de ordem mais prática. A viagem de carruagem para a
capital levava metade de um dia, e ela não tinha nem dinheiro nem cavalo.
quais passaraCaminhar seria…
Um apito alto e agudo interrompeu seus pensamentos, alto o suficiente
aca cintilantepara ela contrair o rosto. Gritos soaram ao longe, perto das montanhas, um
iscando, uma
de um tom desom trovejante como um tropel. Ela viu uma nuvem de poeira se erguer perto
m murmúrio.da torre de vigia.
enquanto ela Red sentiu uma onda de pânico, mas foi uma coisa passageira. A torre
devia ter sido construída para vigiar Wilderwood, pois não havia mais nada
para se ver naquela direção. O que significava que a comoção era por causa
floresta. Umdela, e de nada adiantaria tentar se esconder.
um besouro Em vez disso, Red parou na curva da estrada, mantendo o queixo erguido,
o manto escarlate nos ombros. Não se encolheu quando o grupo de cavaleiros
chegou até ela, sem fôlego e com as espadas desembainhadas.
seus ossos, o Um deles apontou a espada para ela, cuja lâmina cintilava sob a luz do dia,
ecoando nos com uma claridade com a qual Red não estava mais acostumada.
Red levantou as mãos em rendição.
— Entendo que estejam preocupados, mas…
— Não se aproxime mais. — A arma oscilou na mão do cavaleiro,
estrada e aodenunciando seu tremor.
e o ar fora da — Espere. — Outro guarda, com a listra prateada de comandante no
se sentiu umombro, ergueu a mão. Ele se inclinou e franziu o cenho, olhando para Red.
— Eu conheço você.
estrutura alta — Como bem deveria.
ficiente para Ele passou os olhos pelas dobras do manto, e seu rosto demonstrou todo o
espanto.
ente ocupada — Segunda Filha.
agem para a Red não estava em posição de ser exigente, mas contraiu os lábios, os
nem cavalo.dentes brilhando na caridade que não lhe era mais familiar.
— Lady Lobo — corrigiu ela.
o suficiente
ontanhas, um
som trovejante como um tropel. Ela viu uma nuvem de poeira se erguer perto
da torre de vigia.
Red sentiu uma onda de pânico, mas foi uma coisa passageira. A torre
devia ter sido construída para vigiar Wilderwood, pois não havia mais nada
para se ver naquela direção. O que significava que a comoção era por causa
dela, e de nada adiantaria tentar se esconder.
Em vez disso, Red parou na curva da estrada, mantendo o queixo erguido,
o manto escarlate nos ombros. Não se encolheu quando o grupo de cavaleiros
chegou até ela, sem fôlego e com as espadas desembainhadas.
Um deles apontou a espada para ela, cuja lâmina cintilava sob a luz do dia,
com uma claridade com a qual Red não estava mais acostumada.
Red levantou as mãos em rendição.
— Entendo que estejam preocupados, mas…
— Não se aproxime mais. — A arma oscilou na mão do cavaleiro,
denunciando seu tremor.
— Espere. — Outro guarda, com a listra prateada de comandante no
ombro, ergueu a mão. Ele se inclinou e franziu o cenho, olhando para Red.
— Eu conheço você.
— Como bem deveria.
Ele passou os olhos pelas dobras do manto, e seu rosto demonstrou todo o
espanto.
— Segunda Filha.
Red não estava em posição de ser exigente, mas contraiu os lábios, os
dentes brilhando na caridade que não lhe era mais familiar.
— Lady Lobo — corrigiu ela.
26

Red não protestou quando algemaram seus pulsos, apenas controlou a


expressão para demonstrar calma enquanto os guardas se reuniam em volta
da jovem, cochichando e olhando de esguelha para ela.
— Parece humana.
— Claro que parece. Se você acha que aquela coisa é a Segunda Filha, ou
seja lá como ela se autodenomina, você é um tolo. A Segunda Filha já morreu
há muito tempo. Só monstros habitam Wilderwood.
Um riso debochado.
— E você acredita mesmo nessas histórias?
O primeiro guarda apontou o polegar para Red.
— Acredito agora.
— Melhor se acalmar, Coleman. Você parece uma moça medrosa perto da
fogueira em um Festival da Colheita. — O comandante era um homem muito
bonito, com maçãs do rosto definidas e barba acobreada. Tinha se colocado
entre Red e os outros soldados. — A Rainha avisou que deveríamos ficar de
olho no aparecimento dela.
— A Rainha, Noruscan? Ela enlouqueceu…
O líder, Noruscan, acertou uma bofetada com o dorso da mão na boca do
soldado em um gesto quase casual.
— Basta! Você já foi longe demais!
O outro homem soltou uma exclamação surpresa enquanto sangue escorria
pela boca. Lançou um olhar venenoso para Red, como se aquilo fosse culpa
dela.
Noruscan olhou para a Segunda Filha, analisando-a com curiosidade como
se ela fosse uma estátua. Uma relíquia. Red sentiu um aperto no estômago ao
notar a expressão que conhecia bem. Era duas vezes pior depois de tanto
tempo sem ninguém olhar para ela daquela forma.
O comandante desviou o olhar para Wilderwood atrás deles, alta e escura,
controlou ae a visão pareceu resolver algum tipo de debate interno.
am em volta — Vamos levá-la à Suma Sacerdotisa.
Red franziu as sobrancelhas. A Neve que conhecia, a que vira no espelho,
desesperada pelo seu retorno, decerto ordenaria que a irmã fosse levada
nda Filha, oudiretamente para ela.
lha já morreu — Foram essas as suas ordens, Noruscan?
Ao ouvir o próprio nome, o comandante se encolheu, dando um passo para
se aproximar mais dos seus homens.
— Não fale com a coisa — avisou o guarda com o lábio cortado e a mão
trêmula segurando a espada.
O capitão olhou para ela, avaliando a ameaça, depois a agarrou pelo braço.
rosa perto daAs algemas beliscaram sua pele, mas Red não resistiu. A última coisa de que
homem muito precisava era inspirar um momento de valentia no soldado assustado.
a se colocado — Você vai comigo. — Noruscan a puxou para o cavalo. Antes de colocá-
amos ficar dela na sela, tentou soltar o manto dela.
Red se contorceu sob o toque, agindo mais com base no instinto do que na
razão.
o na boca do — Não.
— Como você acha que as pessoas na capital vão reagir se você realmente
for quem diz ser? — A expressão do rosto dele era séria, os olhos escuros
ngue escorriabrilhando com algo que não era bem medo, mas ficava bem próximo. — Eles
o fosse culpa
a mandaram para um monstro, e o monstro a devolveu. O que acha que vão
osidade comopensar, Segunda Filha?
estômago ao A pulsação dela era constante e rápida contra as algemas. Mesmo que
pois de tanto aquilo a irritasse, ele estava certo. Não podia se dar ao luxo de anunciar a
própria presença para todo o reino, e com certeza o manto matrimonial
alta e escura, escarlate chamaria uma atenção indesejada.
— Você vai me devolver o manto?
Um momento de hesitação, as sobrancelhas avermelhadas baixas. Mas ele
a no espelho, assentiu.
fosse levada Red deixou o tecido pesado escorregar pelos ombros, engolindo em seco.
Quando Noruscan montou na sela atrás da Segunda Filha, colocou o manto
com gentileza no colo dela, que enrolou os dedos nele enquanto saíam a
m passo paragalope.
Após duas horas de viagem a toda velocidade, Red viu os portões da
tado e a mãocapital brilhando no horizonte.
— Esconda isso. — disse Noruscan, puxando as rédeas para levar o cavalo
u pelo braço.na direção dos portões. Ele bateu com o punho cerrado no manto
coisa de quematrimonial.
O tom deixava o aviso bem claro. Esconda ou vamos tirá-lo de você. Red
es de colocá-embolou o manto nas mãos e o escondeu da melhor forma que conseguiu,
virando o bordado para dentro.
nto do que na Quando chegaram à guarita, Noruscan se aproximou, puxando as algemas
que prendiam os pulsos de Red para que brilhassem ao sol.
— Uma ladra das vilas externas — declarou ele.
ocê realmente A mentira fez Red contrair os lábios, mas ela manteve o silêncio. A
olhos escuros cooperação parecia ser a melhor opção ali, a forma mais certa de chegar até
ximo. — Eles Neve.
O guarda fez um aceno preguiçoso com a mão, e os portões se abriram.
acha que vão O cavalo de Noruscan seguiu em direção ao palácio. Assim que se
aproximaram do pátio, ele desmontou e a ajudou a descer com cuidado. Uma
Mesmo que das mãos dele tocou na pele nua do braço de Red, e ele a puxou de volta em
de anunciar a um gesto rápido como se tocá-la pudesse queimá-lo.
matrimonial Estavam morrendo de medo dela. Em algum momento, aquilo talvez a
fizesse sofrer, mas, agora, Red só pensava em como poderia usar a situação a
seu favor. Com as mãos ainda algemadas, ela sacudiu o manto e o prendeu
ixas. Mas ele novamente em volta do pescoço.
O batalhão a conduziu em direção ao Templo, flanqueando-a, enquanto
ndo em seco. mantinham a mão no cabo da espada e o olhar afastado. Entraram no corredor
cou o mantoque levava aos jardins do palácio, todo de mármore e vidro, mas pararam
anto saíam adiante de uma porta simples de madeira em vez de seguirem até o anfiteatro.
Noruscan fez um gesto com a mão para dispensar os outros soldados, mas
s portões da entrou junto com Red e fechou a porta atrás deles.
Havia um janelão na parede ao fundo que dava para os jardins e deixava
evar o cavaloentrar uma luz clara e etérea. Havia uma única sacerdotisa sentada a uma
o no mantoescrivaninha. Ela se levantou devagar, enfiando as mãos na manga da túnica.
Partículas de poeira pairavam no ar, girando preguiçosamente em torno do
. Red cabelo ruivo.
e conseguiu, Uma nova Suma Sacerdotisa, então. Red franziu o cenho. Não deveria ser
uma surpresa, já que a anterior já era bem idosa. Mas uma nova Suma
o as algemas Sacerdotisa combinado com o que tinha visto no espelho fez os pelos do
pescoço de Red se eriçarem.
O Santuário. O que quer que estivessem fazendo acontecia no Santuário.
o silêncio. A — Vossa Santidade. — Noruscan fez uma reverência. Red se manteve
de chegar atéereta. — Ela afirma ser a Segunda Filha.
Frios olhos azuis olharam Red de cima a baixo.
— É mesmo?
ssim que se — Ela saiu de Wilderwood. — apressou-se Noruscan a dizer. — Mas não
uidado. Uma mostrou nenhum sinal de… anomalias.
u de volta em Red endireitou a postura, tentando fazer contato visual com a Suma
Sacerdotisa, mas a luz forte que vinha da janela deixava o rosto dela nas
uilo talvez asombras.
r a situação a — Como gostaria que eu provasse a minha identidade, Vossa Santidade?
e o prendeu Red nunca tinha sido muito boa na arte da sutileza, então acrescentou:
— Se me levar ao Santuário para rezar e demonstrar meu respeito, tenho
-a, enquanto certeza de que poderei responder a qualquer pergunta que tenha.
m no corredor — Não precisa se incomodar.
mas pararam A sacerdotisa deu um passo em direção à luz, mantendo as mãos soltas ao
o anfiteatro.lado do corpo. Tinha um estranho pingente contra os seios, um pedaço de
oldados, mas madeira branca com fios de escuridão. Red estreitou o olhar para o objeto.
A sacerdotisa notou. Mãos pálidas com dedos longos pegaram o fragmento
ins e deixavae o levantaram em um raio de sol.
ntada a uma — Familiar, tenho certeza. Se entranhando em você como um fungo em
ga da túnica. um cadáver.
em torno do — Não sei o que quer dizer. — Mas a magia que morava dentro dela,
aquele fragmento de Wilderwood, retorceu-se e floresceu em volta dos ossos
o deveria serdela.
nova Suma A Suma Sacerdotisa — Kiri, Red se lembrou do nome que ouvira Neve
os pelos dousar no espelho — deu um sorriso frio, deixando o pingente descansar no
peito. Ela se aproximou devagar, chegando perto o suficiente para que Red
sentisse o impulso de dar um passo para trás. O olhar da Suma Sacerdotisa
d se manteveera avaliador, como se achasse que a fitar com intensidade suficiente a faria
enxergar dentro de Red, nos espaços vazios entre os órgãos.
— Sua chegada talvez nos atrase — disse ela, como se estivesse falando
consigo mesma. — Mas talvez você possa ser um peão útil.
. — Mas não Red franziu a testa, uma expressão genuína de confusão tomando o rosto.
— Não estou entendendo…
om a Suma Mas antes que tivesse a chance de concluir a frase, Kiri ergueu a mão,
osto dela nas contraindo-a como garras, e um frio gelado adentrou o corpo de Red.
Red levantou ambas as mãos, como se pudesse lutar contra aquela invasão,
mas não conseguiu encontrar o próprio poder que tinha aprendido a controlar.
O que quer que a Suma Sacerdotisa estivesse fazendo, injetando gelo pelas
speito, tenho veias dela, parecia fazer o poder de Red murchar e se esconder, totalmente
cancelado. Era como ser esmagada no chão sob o salto gelado de alguém;
como se a magia de Wilderwood, tomada e revertida, rastejasse por dentro
ãos soltas aodela como se estivesse procurando alguma coisa.
m pedaço de Aquilo fazia um sentido meio estranho. Libertar Red teria sido motivo
suficiente para Neve aceitar enfraquecer a floresta, mas não era o bastante
o fragmento para a Ordem. Eles deviam ter mais motivos, mais recompensas.
Aquela magia fria e horrível devia ser a razão.
um fungo em Quando o ataque gelado terminou, Red estava de joelhos, mas nem se
lembrava de ter caído. Tinha a respiração ofegante, e a garganta parecia
dentro dela, fechada com gelo. O nariz começou a sangrar, pingando até formar uma poça
lta dos ossosno piso de mármore.
Olhou de esguelha para Noruscan e viu quando ele contraiu o rosto.
ouvira Neve As veias do pulso da Suma Sacerdotisa estavam negras, e a pele, úmida
descansar nocom o gelo derretido. Kiri mergulhou o dedo no sangue e o levou à luz.
para que Red — Vermelho — sussurrou a sacerdotisa. — Apenas vermelho.
a Sacerdotisa Os raios de sol iluminaram os dentes dela. Ela olhou para o comandante e
ciente a fariadisse:
— Nos deixe a sós.
vesse falando Noruscan olhou de uma para a outra, com uma expressão quase de
arrependimento, antes de se virar e sair. O som da porta se fechando lembrou
o de um sepulcro.
Quando Red limpou a boca, a mão estava trêmula.
gueu a mão, — Eu só quero ver Neve. — O tremor na voz não era um artifício. Sentia
que tinha sido virada do avesso, cada segredo sob sua pele exposto sob uma
uela invasão, luz terrível. — Só me leve até o Santuário e me deixe ver Neve.
o a controlar. Ela precisava ver o que havia no Santuário. Precisava ver o que Neve tinha
do gelo pelasfeito e encontrar uma forma de consertar.
r, totalmente Principalmente se era uma coisa que trazia aquele tipo de poder, aquela
o de alguém; escuridão que a enfraquecia e fazia a parte de Wilderwood dentro dela se
se por dentroencolher. O que aquilo faria com Eammon, dado o que fazia com ela?
Kiri olhou para o sangue no dedo.
sido motivo — Você verá a Rainha quando eu achar que é seguro. — Ela se levantou,
ra o bastantelimpando o sangue na túnica branca. — Sei que tem alguma coisa aí dentro,
algum resquício dos seus laços com a floresta. Você só está escondendo. Mas
pode ter certeza de que será encontrado.
mas nem se — Não estou entendendo. — Red se sentou nos calcanhares. — Eu estou
ganta parecia aqui. Vocês enfraqueceram Wilderwood por mim. Não era isso que estavam
mar uma poçafazendo?
— Garota tola. Isso é muito maior que você e sua irmã idiota. — A Suma
Sacerdotisa ficou andando em volta dela como uma ave carniceira. — Você
pele, úmidaserviu apenas a um propósito. Talvez sirva a outro. Mas a decisão não é
minha.
Red engoliu em seco. Neve e Kiri pareciam ter perspectivas
omandante ecompletamente diferentes do que estava acontecendo ali. Tinha certeza disso.
Os métodos talvez estivessem alinhados, mas os objetivos, não. Pelo menos
não completamente.
ão quase de Ou era o que ela esperava.
ando lembrou
— Neverah está começando a entender — continuou Kiri, pensativa, como
se estivesse falando sozinha. — Ela sabe que precisa que eu faça um
ifício. Sentiadesenlace completo entre você e a floresta. — Uma pausa. — Algo sempre
osto sob uma pode sair errado. Ela nem ficaria sabendo.
Red sentiu um frio na espinha.
ue Neve tinha — Red?
A Suma Sacerdotisa, cujas mãos estavam curvadas em garra de novo,
poder, aquelapreparada para usar a magia fria, escondeu-as entre as dobras da manga. Red
entro dela sese levantou aos tropeços e virou para a porta.
Neve, mais magra do que Red se lembrava, o cabelo negro preso pela
coroa prateada. Neve correndo até ela, com as mãos estendidas. Neve, sólida
se levantou, e real.
isa aí dentro, — Eu consegui. — Neve vibrou com uma expressão que era um misto de
ndendo. Masalegria e maravilhamento e surpresa e quase medo. — Eu consegui!
Red se jogou nos braços da irmã como uma boneca de retalhos, sentindo o
— Eu estou cheiro de chuva e rosas, agarrando-se a ela como alguém que voltou da
que estavammorte.
— Neve — sussurrou ela, mas não conseguiu dizer mais nada. — Neve.
. — A Suma — Eu sabia. — Neve a abraçou com uma força surpreendente
eira. — Você considerando os braços finos. Lágrimas escorriam pelo rosto de Red. — Eu
ecisão não ésabia que você ia voltar. Eu sabia que conseguiria fugir.
Red sentiu um frio na barriga ao ouvir a palavra fugir, mas ignorou a
perspectivassensação, puxando a irmã para mais um abraço, curvando as costas e
certeza disso.deixando as lágrimas molharem o cabelo de Neve.
. Pelo menos Aquilo era quase suficiente para fazê-la se esquecer do verdadeiro motivo
de estar ali.
Neve se afastou, prendeu o cabelo de Red atrás da orelha e entrelaçou os
dedos com os da irmã antes de se virar para a Suma Sacerdotisa.
nsativa, como — Kiri, espero que tenha dado as boas-vindas de forma adequada para
eu faça umminha irmã.
Algo sempre Havia algo de estranho na voz dela, algo oculto. A Suma Sacerdotisa abriu
outro sorriso.
— Tão adequada quanto a ocasião exige — disse ela. — Tenho certeza de
que logo vamos nos conhecer melhor.
rra de novo, Neve apertou mais os dedos de Red.
a manga. Red — Certamente. Você avisará as outras? Informará que todo o nosso
trabalho deu frutos?
o preso pela Uma expressão inescrutável apareceu no rosto de Kiri.
Neve, sólida — Não todos os frutos — retrucou ela em voz baixa. — Nosso trabalho
ainda não acabou. Vossa Majestade.
um misto de A Suma Sacerdotisa claramente decidiu acrescentar o pronome de
tratamento depois, como uma maneira de reforçar o tom. Red arqueou as
os, sentindo o sobrancelhas.
ue voltou da — Estou ciente disso, Kiri — murmurou Neve, com um brilho escuro no
olhar. — Mas vamos comemorar uma vitória antes de irmos atrás das outras,
por favor.
urpreendente A apreensão abafou a felicidade de Red de rever a irmã, o motivo de estar
e Red. — Euali a encarando nos olhos. Neve contra Wilderwood. Neve presa em tramoias
que não entendia completamente.
as ignorou a Sentia o calor da irmã ao seu lado, e o cheiro do cabelo dela era familiar e
as costas e reconfortante. Ainda assim, Red piscou e viu o rosto de Eammon sujo de
terra, viu os olhos verdes e âmbar.
deiro motivo — Venha. — Neve a puxou em direção à porta. — Vou mandar trazerem o
jantar para os meus aposentos. Você parece exausta.
entrelaçou os Um pouco antes de a porta se fechar, Red olhou por sobre o ombro. A
expressão de Kiri era calma, mas o maxilar contraído demonstrava algo mais
dequada para profundo do que um simples desprazer. Os olhos dela se encontraram com os
de Red, azuis e frios o suficiente para queimar, e a porta se fechou.
erdotisa abriu

ho certeza de

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va algo mais
profundo do que um simples desprazer. Os olhos dela se encontraram com os
de Red, azuis e frios o suficiente para queimar, e a porta se fechou.
27

Enquanto caminhavam pelos corredores, o manto de Red chamava toda a


atenção que ela temia que chamaria e ainda mais. Criados e nobres paravam
para olhar e, depois, começavam a encarar abertamente assim que a
reconheciam. A Segunda Filha tinha voltado de Wilderwood.
Neve não dava atenção alguma a isso, puxando Red pela mão como
quando eram apenas garotas, e não a Rainha e a Lady Lobo. Ela fez um gesto
para uma criada que passava.
— Quero que o jantar seja servido nos meus aposentos. Para três.
A criada ficou boquiaberta, mas assentiu.
— Rainha Neverah… e… hum… Redarys…
— Minha irmã voltou. — A voz de Neve soou dolorosamente sincera. —
Sã e salva.
Sã e salva. Red tentou sorrir, mas a pressão daqueles corredores
conhecidos era quase um peso real nos seus ombros. A atmosfera vibrava na
sua pele em uma frequência que não combinava com as batidas do seu
coração, como se Valleyda reconhecesse que ela não pertencia mais àquele
lugar.
A criada ficou mexendo os lábios sem emitir som algum.
— Que… Que… maravilha. — Ela poderia muito bem ter trocado
maravilha por assustador sem alterar o tom.
Neve não notou.
— Diga para Arick nos encontrar lá. — Neve se virou em um farfalhar de
saias e prata.
— Não estou com muita fome — disse Red enquanto seguia a irmã. —
Será que poderíamos ir ao Santuário antes do jantar?
Aquilo fez Neve parar. Ela se virou com as sobrancelhas franzidas.
— Você quer ir ao Santuário?
mava toda a Neve sempre tinha sido a perspicaz, e Red, apenas a direta. Ela encolheu
bres paravamos ombros.
assim que a — Já faz muito tempo.
A gêmea estreitou o olhar enquanto mordiscava o canto da boca. Red se
a mão comolembrou daquela conversa estranha no templo. Kiri e Neve, unidas no que
fez um gesto quer que estivessem fazendo contra Wilderwood.
Desde o início, sabia que não seria tão simples quanto apenas mostrar para
a irmã que estava bem e pedir delicadamente que parasse de fazer o que
estava fazendo. Mas agora, que a realidade estava diante dos seus olhos, Red
se sentiu como uma muda enterrada na terra congelada.
e sincera. — Neve olhou para ela por mais um tempo.
— Agora, não — disse ela por fim, virando-se para continuarem
s corredorescaminhando pelo corredor. — Amanhã, talvez.
ra vibrava na Red não sabia como fazer aquilo. Já tinha guardado segredos da irmã, mas
tidas do seua modulação cuidadosa, as meias verdades, nada daquilo vinha naturalmente
mais àquele para ela, ainda mais naquele momento. Parte dela queria contar toda a
história, nos mínimos detalhes, dizer o que estava acontecendo e avisar que
Neve precisava parar. Mas pensou no que tinha visto no espelho e nas
ter trocado palavras de Kiri instantes antes, sobre planos e frutos e sobre como Red era
apenas uma parte daquilo. O caminho era complexo e cheio de armadilhas.
Se pisasse em falso, podia ser o fim para ambas.
m farfalhar de O melhor plano parecia ser ir ao Santuário para ver exatamente o que Red
tinha feito.
ia a irmã. — Mais cortesãos e criados passaram por elas com seus olhares assustados e
cochichos inaudíveis. Red encolheu os ombros como se pudesse ficar menor.
— Eles parecem surpresos.
Red não sabia bem que tipo de reação esperava. Nem sabia ao certo nada
Ela encolheu quanto ao que esperava. Tinha concentrado todos os pensamentos em impedir
que mais sentinelas desaparecessem e em ajudar Eammon. Agora parecia que
ela estava tateando no escuro para acompanhar tudo que acontecia a uma
boca. Red sevelocidade vertiginosa demais para absorver.
nidas no que — Claro que estão. — Neve parou diante da porta dos aposentos que
ocupava desde que tinham saído do berço. — Eles achavam que você estava
mostrar paramorta. — A voz dela ficou agitada. — Mas nós sabíamos que você estava
fazer o queviva. Arick e eu.
us olhos, Red Arick. O nome deveria ser um conforto. Em vez disso, ela sentiu um
nervosismo descendo pela espinha. Quando tentou se lembrar do rosto dele,
ainda era a coisa sombria que aparecera para ela no portão da Fortaleza, e as
continuarem lembranças do corpo dele se resumiam à forma possessiva como a segurara
pelos pulsos na noite do baile.
da irmã, mas Os raios de sol que entravam pela janela acentuavam o rosto encovado de
naturalmente Neve e o contorno da clavícula. A Rainha levou as mãos ao diadema prateado
ontar toda ae praticamente o arrancou dos cabelos. Colocou-o na penteadeira e esfregou a
e avisar que testa como se estivesse sentindo dor. Sombras se acumulavam na curva do
spelho e nas diadema, retorcendo o reflexo do quarto. Era parecido com o que ela usava
omo Red eracomo Primeira Filha, mas mais ornamentado, com filigranas delicadas e
e armadilhas. pequenos diamantes incrustrados. Red se lembrava de Isla usando-o e sentiu
um aperto no peito.
te o que Red — Sinto muito — sussurrou Red. — Neve, sinto muito que tenha sido
obrigada a passar por tudo sozinha.
assustados e O reflexo retorcido de Neve no diadema se retesou.
— Foi… — Ela mexeu os lábios como se fosse dizer alguma coisa, mas
não emitiu som algum. Prendeu uma mecha do cabelo preto atrás da orelha
nada enquanto se sentava na cadeira diante da escrivaninha. — Foi difícil.
s em impedir Os aposentos contavam com uma saleta íntima que Neve nunca usava. Red
a parecia que puxou uma das cadeiras pesadas e forradas com brocado e se sentou ao lado
ntecia a umade Neve. Por um instante, ficaram em silêncio. Duas irmãs e o fantasma da
mãe. Neve ficou olhando para o tapete em vez de para a irmã, uma marca na
posentos que pele onde o diadema pesara na cabeça.
e você estava — Estou feliz por ser a Rainha — disse ela, como se confessasse algo. —
você estava Acho que nunca vou deixar de me sentir culpada por isso. — Ela se
empertigou e ergueu o olhar. — Mas você está aqui agora. Eu a salvei. Então
la sentiu umtudo valeu a pena.
do rosto dele, Aquilo fez Red se encolher. Aquela declaração de que precisava ser salva.
ortaleza, e as Ela sabe que precisa que eu faça um desenlace completo entre você e a
mo a segurara floresta.
— Como você conseguiu? — Reis do céu, ela mal conseguia controlar a
encovado deexpressão para aparentar simples curiosidade, mal conseguia controlar o tom
ema prateadode acusação que transparecia na própria voz. Ali estava a irmã que amava
a e esfregou acom cada fibra do seu ser, mas o ar entre elas estava pesado com os segredos
na curva do e todas as coisas que não entendiam. — Como enfraqueceu Wilderwood para
que ela usavaque eu pudesse… — Não conseguiu terminar a frase, não conseguiu falar
delicadas efugir.
do-o e sentiu Neve ergueu o olhar das mãos pálidas e entrelaçadas, franzindo a testa.
Assim como Kiri antes, seu olhar parecia perscrutador. Como se estivesse
procurando alguma coisa em Red, alguma anomalia oculta.
ue tenha sido O momento passou. Neve piscou e o brilho calculista se apagou,
substituído por uma expressão de alívio.
— Não importa. — Um sorriso, mais brilhante do que a aparência pálida e
ma coisa, mas encovada. — Você está aqui agora. E faremos tudo que for necessário para
rás da orelha nos certificarmos de que você continue sã e salva.
Red se remexeu no assento, inquieta.
ca usava. Red Interpretando errado o nervosismo de Red, Neve pousou a mão
entou ao ladotranquilizadora no joelho da irmã.
fantasma da — Não precisa se preocupar, Red. O Lobo não pode pegar você aqui, e
ma marca na vamos cuidar do resto…
— Eu não vou ficar. — A declaração foi firme e dura, e Red soube que não
asse algo. —deveria ter dito nada no momento que as palavras saíram da sua boca. Mas
o. — Ela sehavia tão pouca verdade entre elas que era quase insuportável.
salvei. Então Talvez a própria sinceridade despertasse o mesmo na irmã.
Neve franziu a testa, sem compreender.
ava ser salva. — Se você preferir ser levada para outra de nossas propriedades, posso
tre você e aprovidenciar isso também. Eu entendo se não quiser permanecer na capital.
— Não é isso, Neve. — Red contraiu o rosto. — Eu… Eu vou voltar para
a controlar a Wilderwood.
ntrolar o tom A descrença caiu como uma sombra sobre elas, fazendo os olhos de Neve
ã que amavaperderem o brilho.
m os segredos — Como assim?
derwood para Red não sabia bem o que dizer, o quanto seria seguro compartilhar com a
nseguiu falarirmã, e odiava aquilo.
— Eu só vim porque eu queria ver você. Porque… queria saber o que você
zindo a testa.estava fazendo. — Ela não disse que queria impedir a irmã de continuar
se estivessefazendo o que quer que fosse, sem saber se poderia admitir aquilo ou não,
sem saber o que Neve poderia fazer. — Mas eu quero voltar. Eammon…
se apagou, — Eammon?
— O Lobo. Ele se chama Eammon. É o filho de Gaya e Ciaran. — Red fez
ência pálida euma pausa e respirou fundo. — Neve, tem tanta coisa que é diferente…
cessário para — Pare.
A ordem foi dada em voz baixa, mas com peso suficiente para que Red se
calasse. Neve ergueu a mão entre elas, e Red viu que os dedos estavam
sou a mão trêmulos. Foi a vez de a Rainha respirar fundo e soltar o ar devagar enquanto
fechava os olhos.
você aqui, e — Então você tem uma boa relação com ele. Com o Lobo. Com
Wilderwood.
oube que não A frieza na voz da irmã fez Red enrubescer, como uma reação inversa.
ua boca. MasResolveu engolir a verdade naquele momento. Ficou óbvio que Neve não
queria ouvir.
— Pode-se dizer que sim — sussurrou ela, passando os dedos pela bainha
do manto.
dades, posso O movimento chamou a atenção de Neve. Pela primeira vez, a irmã gêmea
olhou para o manto e contraiu os lábios.
u voltar para — Esse não é o manto com o qual você partiu.
O bordado contra a pele de Red lhe deu coragem.
lhos de Neve — Tecnicamente, não.
Silêncio e mais silêncio, um poço impossível de encher. Então, Neve
perguntou com voz trêmula:
rtilhar com a — O que foi que você fez, Red?
A própria Red já tinha se feito aquela pergunta mais de uma vez. Ela se
er o que você casara com o Lobo de Wilderwood. Era uma coisa importante e assustadora,
de continuare uma coisa que faria de novo em um estalar de dedos.
quilo ou não, — Nada que eu não quisesse fazer — respondeu em voz baixa.
A irmã entrelaçou os dedos das mãos, apertando com força até as
n. — Red fez articulações ficarem brancas. Do outro lado do quarto, um espelho ornado
refletia a imagem delas. Brilho dourado e escuridão, reflexos uma da outra.
Neve fechou os olhos com força.
a que Red se — Não se preocupe. — Foi um sussurro, uma afirmação para tranquilizar
edos estavamtanto Red quanto a si mesma. — Nós não esperávamos… isso, mas sabíamos
gar enquantoque haveria alguma coisa. Vamos dar um jeito.
— Como assim?
Lobo. Com Mas qualquer resposta que Neve pudesse ter dado foi interrompida pela
porta se abrindo.
ação inversa. Os criados empurravam um carrinho para a saleta íntima e pouco usada de
ue Neve nãoNeve, trazendo comida suficiente para alimentar cinco pessoas, mas
arrumando a mesa para três. Entraram e saíram em silêncio, encarando o
s pela bainha manto de Red com olhos arregalados e evitando olhar para o rosto dela.
Enquanto saíam, uma pessoa apareceu na porta.
a irmã gêmea — A boa filha à casa torna.
Ele estava mais empertigado e mais magro. O cabelo também estava mais
comprido do que ele costumava usar antes de ela partir, ultrapassando o
colarinho. Red se levantou, sentindo as pernas pesadas, enquanto forçava um
sorriso e tentava não pensar no comportamento estranho de Neve, com o qual
Então, Neve teria de lidar depois.
— Olá, Arick.
Sorrindo, ele se afastou da porta e se encontrou com Red no meio do
a vez. Ela se aposento, abraçando-a. O cumprimento foi estranhamente clínico, muito
assustadora, diferente do que trocavam antes. O cheiro dele também estava diferente.
Talvez tivesse mudado o tipo de charuto, ou talvez o valete tivesse parado de
colocar folhas de hortelã no bolso das roupas do rapaz. Não conseguia
descrever bem o novo cheiro, além de dizer que era frio.
força até as — Você está ótima, Red. — Arick pousou as mãos nos ombros dela, e a
pelho ornadoparte da Segunda Filha que se lembrava da alcova quis se afastar. A luz que
entrava pela janela ofuscava os contornos, mas Red notou a forma como os
olhos dele analisavam os dela. — Ou será que devo chamá-la de Lady Lobo?
a tranquilizarSoube que esse foi o título com o qual se apresentou para Noruscan.
mas sabíamos Neve não emitiu nenhum som atrás dela, mas Red olhou por sobre o
ombro, como se o calafrio correndo pela espinha de Neve também se
propagasse pela dela. A irmã gêmea congelou por um breve instante antes de
rompida pelaseguir para a saleta íntima e se acomodar no sofá.
— Pode me chamar só de Red — murmurou ela.
uco usada de O sorriso de Arick ficou mais acentuado. Ele soltou os ombros dela e
essoas, mas cruzou o aposento para se colocar ao lado de Neve, que finalmente relaxou na
encarando o presença dele. Um toque leve no braço da Primeira Filha, um toque leve e
o rosto dela.tranquilizador.
Hesitante, Red se acomodou diante deles.
— Raffe vai se juntar a nós?
m estava mais O nome fez Neve se retesar.
rapassando o — Raffe voltou para Meducia. — Arick levantou o cloche de um dos
o forçava umpratos e olhou para Red com um brilho nos olhos que, por um instante,
e, com o qual pareceram não ser mais ser verdes. — Faisão, Red. Seu prato favorito.
O aroma fez o estômago dela roncar. Já fazia bastante tempo desde que
tomara o desjejum na Fortaleza.
no meio do — Parece um momento estranho para ele partir.
ínico, muito Não conseguia imaginar Raffe abandonando Neve tão rápido depois da
va diferente.coroação. Não quando cada linha do corpo dela mostrava como estava
sse parado de passando por dificuldades, não quando o sentimento que tinham um pelo
ão conseguiaoutro era tão claro. Quando Raffe e Neve estavam no mesmo aposento, o
bros dela, e aúnico momento em que os olhos de um não estavam sobre o outro era quando
ar. A luz queeste estava olhando.
rma como os O fato de ele ter partido fez Red sentir um frio na barriga.
Lady Lobo? Arick fez um prato e entregou para Neve, que aceitou sem muito
entusiasmo.
por sobre o — Raffe já estava longe de casa havia muito tempo — explicou Arick com
também seuma risada breve e forçada. — Você pode culpá-lo, por querer ir para lá em
ante antes devez de congelar no frio de Valleyda?
Ele estava servindo outro prato, que entregou para Red. Ela o aceitou e o
apoiou nas pernas.
mbros dela e — Acho que não.
te relaxou na — Por pouco vocês não se encontram — disse Neve. — Ele partiu há três
toque leve e dias.
— Que pena que não pude me despedir.
Neve fechou os olhos por um instante e voltou a atenção para o prato.
Pegou o garfo, mas não o levou até a boca.
Arick fitou Neve com uma preocupação que parecia genuína; quando
e de um dosmirou Red, porém, os olhos estavam frios. Ele a fulminou com o olhar como
um instante,se sentisse a culpa dela, como se desejasse que ela se sentisse ainda mais
culpada.
po desde que Ela não sabia como agir ali, como se comportar. A estrutura daqueles
relacionamentos tinha mudado na sua ausência, uma mudança sutil que ela
não conseguia entender bem.
do depois da Red comeu rápido, sem nem saborear a comida. Tomou um gole de vinho
como estava— meduciano, é claro — e logo sentiu o efeito da bebida. Tinha se
am um peloacostumado com a versão aguada que Eammon comprava de Valdrek.
aposento, o Eammon. Só de pensar nele, sentiu uma fisgada no peito.
o era quando A noite caiu lá fora, e as velas gotejantes passaram a ser a única fonte de
luz. Elas pareciam neutralizar todos os traços do rosto de Arick, tornando-o
quase irreconhecível.
sem muito — Mas você deve ter muitas aventuras para contar, Red. — Ele tomou um
gole de vinho e se recostou na cadeira, tentando esconder o rosto nas
ou Arick com sombras. — Que coisas terríveis viu em Wilderwood?
ir para lá em Red tomou mais um grande gole de forma nada feminina.
— Nem tudo é terrível.
o aceitou e o — Achei que você jamais pensaria assim. — As palavras foram de Neve,
que ainda estava quieta e mal tinha tocado na comida.
A comida de Red também parecia ter gosto de cinzas, e ela deixou o prato
partiu há três de lado.
Arick pousou a mão tranquilizadora no joelho de Neve, apenas por um
momento.
para o prato. — Fale mais a respeito, então, já que não é tão terrível no fim das contas.
— A luz das velas fez os dentes dele cintilarem. — É menos assustador
uína; quandodepois que Wilderwood finalmente recebe você?
o olhar como É mais. Mas Red não podia dizer aquilo, não com Neve bem ali. Com
e ainda maisNeve amedrontada e tentando ajudar, mesmo que a ajuda só servisse para
afiar ainda mais a espada.
ura daqueles E havia algo de estranho na pergunta. Como se ele quisesse direcionar a
sutil que elaresposta.
— É sempre crepúsculo. — Ela deixou a voz assumir a cadência de um
gole de vinhocontador de histórias ao falar da beleza e esconder os espinhos. — As paredes
da. Tinha seda Fortaleza são cobertas de musgo. Existem árvores tão grandes quanto
casas. E a neblina. A neblina sempre encobre tudo.
Os olhos escuros de Neve estavam fixos na irmã. Uma lembrança acridoce
surgiu na mente de Red, as duas ainda pequenas ouvindo com muita atenção
nica fonte deuma história a respeito de Wilderwood, ilustrada em um vitral. Red sentiu um
k, tornando-oaperto no peito.
— E como ele é? — O olhar de Arick passou pelo manto dela, a boca
Ele tomou umcontraída. — O retorno de uma Segunda Filha é algo sem precedentes. Vocês
o rosto nas se odiaram muito?
— Não. — A resposta saiu direta e casual.
Arick não disse nada, o rosto ainda encoberto pelas sombras, mas ela
sentiu que ele sorria. Ao lado dele, Neve mordiscou o lábio.
am de Neve, O cansaço começou a pesar. Por conta do vinho e da longa e estranha
viagem, era um esforço manter os olhos abertos. Red não conseguiu ser gentil
eixou o prato ao pedir licença.
— Onde você quer que eu durma, Neve? Tenho certeza de que meu antigo
enas por um quarto está sendo usado por outra pessoa.
— Não — respondeu Neve. — Seu quarto está exatamente como você o
m das contas. deixou.
os assustador Red mordiscou o canto da boca.
Como se fosse uma deixa, Arick se levantou.
em ali. Com — Kiri pediu que você a encontre no Santuário, Neve. — Um músculo se
servisse para contraiu no maxilar dele, os olhos momentaneamente cruéis. — Eu vou com
você, é claro.
direcionar a Finalmente. Red se empertigou, na expectativa.
— Eu já vou. — Neve olhou para Red e depois virou o rosto, segurando a
dência de ummão de Arick para se levantar. — Quero levar Red para o quarto primeiro.
— As paredes — Posso ir ao Santuário com vocês. — Talvez tivesse se mostrado ansiosa
andes quanto demais. O rosto de Arick ficou sombrio. Red encolheu os ombros. — Não
importa o que tenham que fazer lá. Assim podemos passar mais tempo juntos.
ança acridoce Longe de se sentir encorajada, Neve fechou os olhos, as pálpebras
muita atenção trêmulas, enquanto curvava os ombros.
Red sentiu um — Não. Não agora. — Ela se empertigou, deixando de lado qualquer
fraqueza que pudesse ter sentido. — Além disso, tenho certeza de que você
dela, a boca deve estar exausta.
dentes. Vocês Red percebeu que aquela discussão estava perdida.
— Amanhã, então.
Um olhar rápido entre a Rainha e o Consorte Eleito.
ras, mas ela — Amanhã — concordou Neve.
Virando-se, Arick fez uma reverência para Red.
ga e estranha — Lady Lobo. — E desapareceu na penumbra do corredor.
uiu ser gentil Neve acompanhou Red pelo curto percurso até o quarto ao lado. Nada
tinha mudado desde a manhã em que Red partira. A camisola da Segunda
e meu antigo Filha ainda estava embolada em um canto.
A madeira do antigo guarda-roupas era pintada de branco e prateado,
como você o muito diferente do móvel arranhado do quarto que dividia com Eammon na
Fortaleza. Neve fez um gesto na direção do móvel.
— Todas as suas roupas estão aí. Tudo de que possa precisar. — Ela
cruzou o quarto e pegou a camisola. — Eu mandei sim trocarem a roupa de
m músculo se cama, ao menos, para que você ficasse confortável.
Eu vou com O ar dentre elas parecia pesado, como se alguma coisa estivesse prestes a
acontecer.
— Eu disse a verdade, Neve — disse Red enfim, sentindo-se constrangida
segurando a no meio do quarto que não parecia mais ser dela. — Só voltei para Valleyda
porque queria ver você.
trado ansiosa Neve fez um som discreto.
bros. — Não — Você diz isso como se fosse uma grande viagem e não um retorno para
empo juntos. casa.
as pálpebras — Essa não é mais a minha casa.
A camisola que Neve segurava tremeu, o único indício do nervosismo dela.
ado qualquer — Entendi.
de que você Havia várias camadas de significado na voz da Rainha, uma profundidade
que a palavra não revelou. Mas quando os olhos dela encontraram os de Red,
ostentava um brilho de determinação, não de lágrimas. Ela entregou a
camisola.
— Vejo você amanhã de manhã. Aí poderemos ir ao Santuário.
Neve quase saiu correndo do quarto, as saias farfalhando ao passar pela
porta. Red ficou sozinha pela primeira vez desde que voltara para Valleyda, e
até mesmo o ar lhe parecia hostil.
o lado. Nada A camisola serviu perfeitamente, mas o tecido pinicava sua pele. A cama
da Segundatinha cheiro de rosas, muito diferente do cheiro de café e folhas com o qual
tinha se acostumado. Red era uma peça retorcida de um quebra-cabeça; as
e prateado, mudanças que sofrera eram sutis demais para serem percebidas, mas
Eammon nasuficientes para que não se encaixasse mais no lugar que deixara para trás.
Mesmo assim, adormeceu quase no instante em que fechou os olhos, a
cisar. — Ela exaustão a atraindo para a escuridão.
m a roupa de

esse prestes a

constrangida
ara Valleyda

retorno para

vosismo dela.
— Entendi.
Havia várias camadas de significado na voz da Rainha, uma profundidade
que a palavra não revelou. Mas quando os olhos dela encontraram os de Red,
ostentava um brilho de determinação, não de lágrimas. Ela entregou a
camisola.
— Vejo você amanhã de manhã. Aí poderemos ir ao Santuário.
Neve quase saiu correndo do quarto, as saias farfalhando ao passar pela
porta. Red ficou sozinha pela primeira vez desde que voltara para Valleyda, e
até mesmo o ar lhe parecia hostil.
A camisola serviu perfeitamente, mas o tecido pinicava sua pele. A cama
tinha cheiro de rosas, muito diferente do cheiro de café e folhas com o qual
tinha se acostumado. Red era uma peça retorcida de um quebra-cabeça; as
mudanças que sofrera eram sutis demais para serem percebidas, mas
suficientes para que não se encaixasse mais no lugar que deixara para trás.
Mesmo assim, adormeceu quase no instante em que fechou os olhos, a
exaustão a atraindo para a escuridão.
28

Red já conhecia os movimentos de Eammon àquela altura, catalogara cada


um deles enquanto fingia dormir e o observava através das pálpebras
semicerradas.
O que quer que estivesse se movendo no quarto não era Eammon.
O cheiro era errado, como flores e chuva. O movimento parou, e alguma
coisa sussurrou, uma voz feminina e estranha.
Arreganhando os dentes, Red se levantou do leito com os dedos curvados
como garras.
Paredes brancas, brilho prateado e o rosto aterrorizado de três criadas.
Nada de floresta. Nada de Fortaleza.
Nada de Eammon.
A criada mais próxima a ela se recuperou, abrindo um sorriso conciliatório.
Fez uma pequena mesura, mas os olhos ainda carregavam o brilho
amedrontado de uma presa. Atrás dela, as outras duas seguravam o lençol
junto ao peito e observavam Red como se ela fosse uma criatura feroz de
Wilderwood prestes a atacar.
Bem, não estavam totalmente erradas.
Afastando o cabelo bagunçado dos olhos, Red tentou sorrir, mas elas
pareceram ainda mais assustadas.
A primeira tomou coragem para falar:
— Bom dia, Lady Lobo. A Rainha pediu que você a encontre no jardim
quando estiver pronta.
Certo. Aquele era o dia em que finalmente iria ao Santuário para ver com
os próprios olhos o que Neve estava fazendo e como poderia reverter a
situação.
O que restaria delas quando conseguisse? Que cacos sobrariam para serem
catados?
— O desjejum está servido — disse outra funcionária, como se a coragem
alogara cadadelas fosse algo coletivo. — E há roupas no armário.
as pálpebras — Obrigada.
Red se levantou, constrangida, cruzando os braços. As três ficaram
olhando para ela como se fosse um mito que tinha acabado de ganhar vida,
ou, e alguma como se ainda não acreditassem na existência da jovem.
Não tinha sentido falta daquela sensação.
dos curvados Seu manto estava no encosto da cadeira em volta da qual estavam reunidas,
e o movimento dos olhos confirmou que a peça era o assunto dos cochichos.
três criadas.Elas pareciam se comunicar apenas com o olhar. Então, a primeira criada que
se dirigira a Red se virou para ela.
— Ouvimos falar que a senhora voltou com um manto diferente — disse
conciliatório.com a voz calma, embora as mãos mostrassem a tensão. — Um manto
am o brilho bordado. Como um manto matrimonial.
vam o lençol É claro que tinham ouvido falar. Ela atravessara o palácio usando o manto
tura feroz dee pedira que Noruscan a chamasse de Lady Lobo. Não era difícil para os
fofoqueiros da corte somar dois mais dois. Red confirmou com a cabeça.
Elas arregalaram ainda mais os olhos, algo que Red não achava ser
rir, mas elaspossível. Trocaram um olhar, como se estivessem perdidas, até que uma das
criadas mais reticentes deu um passinho para a frente.
— Então, a senhora… a senhora se casou com o Lobo?
tre no jardim Lobo e monstro eram sinônimos no tom dela. Red se retesou, embora não
pensasse muito diferente até bem pouco tempo antes. Que injustiça a história
para ver com ter sido retorcida àquele ponto.
ia reverter a — Me casei.
Red foi até o guarda-roupa. As criadas se moveram como se fossem uma,
m para serem recusando como um cardume de peixes.
A mais corajosa perguntou:
se a coragem — Ele é perigoso?
— Não. — Red pegou o primeiro vestido em que tocou. Verde-floresta
com um bordado branco que a fazia pensar em cicatrizes. — Não mais do que
três ficaram outros homens. E bem menos do que a maioria.
ganhar vida, Silêncio. Red não olhou para elas, não queria ver se a expressão delas era
de surpresa ou de descrença ou alguma coisa no meio.
— Vocês podem ir agora. Eu sou perfeitamente capaz de me vestir
vam reunidas,sozinha.
os cochichos. Ouviu um farfalhar de saias perto da porta, mas a mais corajosa parou no
ra criada quebatente. Quando Red se virou, ela não piscou e estreitou os olhos.
— Ele contou para você por que as Segundas Filhas precisam ir para
ente — disseWilderwood? — perguntou ela. — A verdade?
— Um manto Existiam coisas difíceis demais para explicar, pesadas demais para crenças
frágeis aguentarem. E Red não tinha tempo nem para tentar.
ando o manto — Porque os monstros existem — disse ela. — E até o Lobo às vezes
ifícil para osprecisa de ajuda.
A criada arregalou os olhos, fez uma mesura e desapareceu pela porta.
o achava ser
que uma dasA estação de flores em Valleyda era sempre curta, um verão truncado pelo
frio do norte, e a vegetação costumava ser mais marrom do que verde quando
o outono chegava. Ainda assim, era estranho que o jardim quase inteiro
, embora nãoestivesse morto. As sebes não passavam de galhos secos, e canteiros de flores
iça a história
tinha virado grama seca. Até mesmo as flores mais fortes que costumavam
aguentar até os primeiros flocos de neve estavam murchas e quase sem cor.
fossem uma, Neve a aguardava embaixo de um caramanchão seco. Tinha olheiras de
cansaço no rosto, mas, ao ver Red, abriu um sorriso.
— Você parece muito bem.
Red tinha usado o lavatório do quarto de Neve, limpando as manchas de
Verde-floresta terra do rosto e desembaraçando o cabelo. Era a primeira vez em muito tempo
o mais do queque Red se olhara em um espelho com o objetivo de ver o próprio reflexo, e
as mudanças eram óbvias. Seus olhos não eram mais tão vazios, nem a boca
são delas eratão fina. O contorno dos ombros estava curvado, como se estivesse
carregando algum peso. Aquilo a fez pensar em Eammon, e ela fechou os
de me vestir olhos por um instante.
Red fez uma reverência debochada.
osa parou no — Já faz um tempo desde a última vez que usei um vestido — disse ela,
puxando o bordado da manga.
isam ir para — Só você mesmo para aparecer vestida como um caçador de um livro de
histórias. — Neve balançou a cabeça e abriu um sorriso irônico. — Estou
para crenças surpresa de os cortesãos não terem reclamado da sua falta de modéstia.
— Com modéstia ou falta de modéstia, me vestir como um caçador de uma
obo às vezeshistória é bem mais prático.
O sorriso desapareceu do rosto da irmã.
— Imagino que, para vagar por Wilderwood, esse seja o caso.
A voz dela delimitou as frentes de batalha. Red sentiu um desânimo.
runcado pelo Neve voltou a caminhar pela trilha, e Red a acompanhou, o silêncio delas
verde quandotão frio quanto o ar outonal. Os galhos das sebes arranharam o braço de Red
quase inteiro enquanto caminhavam, e ela quase conseguia ver as folhas murchando e os
iros de floresmeses de decadência destilados em segundos. Sentiu um cheiro estranho —
costumavam algo frio e, de alguma forma, familiar. Sentia que deveria reconhecê-lo, mas
não conseguiu chegar a nenhuma conclusão.
a olheiras de — O que aconteceu com elas?
Neve retesou os ombros, mas manteve a leveza na voz.
— Estamos tendo um outono rigoroso.
manchas de O outono tinha acabado de começar, mas Red não teceu comentários. Uma
muito tempofolha caiu da sebe na trilha de pedras. Ela franziu a testa, tocando-a com a
rio reflexo, eponta do sapato, e a folha virou pó, deixando apenas uma estrutura morta.
, nem a boca — Sei que os jardins não estão com boa aparência — disse Neve. —
se estivesse Talvez seja melhor chamar alguém para resolver isso. Mas ninguém passa
la fechou os por aqui, a não ser que esteja a caminho do Santuário.
A menção do Santuário pareceu exercer um efeito físico sobre o corpo de
ambas, que se empertigaram e se afastaram uma da outra. O silêncio voltou a
— disse ela,pairar sobre elas, brilhante e quebradiço como o gelo da primavera.
Quando Neve pegou a mão de Red, a palma estava pegajosa de suor.
e um livro de — Minha intenção sempre foi salvar você. — Uma sinceridade que
co. — Estoupoderia parti-la ao meio. — Tudo que fiz foi para salvar você.
— Neve, eu já disse. — A voz de Red parecia suave e falsamente gentil, e
çador de umaela odiou o próprio tom. Neve não tinha falado com ela da mesma forma
inúmeras vezes? Como um animal se debatendo em uma armadilha, fazendo
apenas com que o corte ficasse ainda mais profundo. — Eu não preciso ser
salva. Eammon é um bom homem e ele precisa de mim. Eu entendo por que
você fez isso, mas ferir Wilderwood…
silêncio delas — Fere você. — Neve fechou os olhos quando ouviu o nome de Eammon.
braço de Red — Machucar Wilderwood machuca você.
rchando e os — Sim. — Red não sabia o que mais poderia falar.
o estranho — — Eu deveria ter esperado por isso. — Neve soltou a mão de Red devagar,
como se estivesse colocando alguma coisa no túmulo. — Eles tentaram me
nhecê-lo, masavisar de que a floresta não a soltaria facilmente. Não importa se é o filho ou
se é o pai, Wilderwood criou os Lobos, os monstros, e agora ele a entrelaçou
nisso tudo também.
— Tudo que Eammon fez foi criar um laço com Wilderwood por causa de
um pacto com o qual não tinha relação alguma. — Red puxou a manga do
ntários. Uma vestido para que sua Marca brilhasse sob o sol. — Se isso o torna um
ndo-a com amonstro, o que faz de mim?
Neve não respondeu, mas o ar entre elas parecia vibrar.
sse Neve. — As olheiras pareceram ficar ainda mais profundas sob os olhos da Rainha,
nguém passa e um suspiro fez os ombros dela se curvarem.
— Você queria ver o Santuário.
re o corpo de Red quase tinha se esquecido daquilo, na onda da raiva. Assentiu, mas não
ncio voltou abaixou a manga do vestido. As gavinhas da Marca se enroscavam sob a pele,
visíveis e sólidas como tinta.
— Venha, então. — Neve retomou a caminhada pela trilha, passando por
ceridade que muitos caramanchões espinhosos que costumavam ser floridos.
Parou bem diante da entrada arcada de pedra, olhando para Red por sobre
ente gentil, eo ombro. O turbilhão de emoções que apareceu no rosto dela era difícil de
mesma formadeixar passar: tristeza e esperança, medo e alívio.
ilha, fazendo — Melhor acender uma vela — disse Neve baixinho. — E rezar.
o preciso ser — Eu não quero rezar.
endo por que Neve engoliu em seco.
— Então faça isso por mim. — E desapareceu na escuridão.
de Eammon. Red fechou os olhos e respirou fundo, sentindo-se trêmula. Poderia
acender uma vela, se era o que Neve queria. Ninguém além dela saberia que
amaldiçoaria os Reis enquanto a vela queimasse.
Red devagar, Entrou no Santuário.
tentaram me
e é o filho ou Não havia nada de diferente. Talvez tivesse sido tolice achar que seria
a entrelaçoufácil, que o que quer que precisasse encontrar e reverter apareceria em um
estalar de dedos.
por causa de No entanto, ao olhar com mais atenção, havia mudanças sutis. Velas de
a manga docera cinza-escura tremeluziam nas extremidades do altar, aos pés de Gaya.
o torna umRed franziu a testa; lembrava que eram vermelhas. A escuridão atrás da
estátua, o segundo aposento com a cortina de gaze e fragmentos de
sentinelas, parecia mais profunda do que antes. Como uma caverna que
os da Rainha,tivesse crescido.
E Neve não estava em lugar algum.
Red sentiu a garganta se fechar de apreensão. Avançou um passo entre as
ntiu, mas nãoestátuas das Segundas Filhas e dos Cinco Reis.
m sob a pele, — Neve?
— Aqui.
passando por A voz da irmã vinha de trás da estátua e saiu abafada pela cortina. Aquilo a
fez pensar no dia anterior à sua partida. Neve correndo pela arcada iluminada
Red por sobre pela manhã, velas gotejando e a voz rouca, fazendo uma última súplica para
era difícil deque Red fugisse.
Ela queria fugir naquele momento.
Com cuidado, avançou mais pelo Santuário. Puxou a cortina, a luz das
velas bruxuleantes lançando sombras na sua mão.
A caverna atrás do tecido era enorme, bem maior do que anes. Mas não foi
o tamanho que a deixou completamente chocada e boquiaberta.
mula. Poderia Foram as sentinelas.
a saberia que Galhos irrompiam do piso rochoso enquanto raízes tomadas de fungos-de-
sombra atravessavam o teto escuro, uma floresta crescendo na direção errada.
Marcas escarlates borravam o tronco branco como osso, manchas de mãos.
har que seria Ancoradas na rocha, regadas com sangue. Sentinelas, mas invertidas,
ceria em um retorcidas, para que a magia que criava a Terra das Sombras pudesse se
libertar. Wilderwood tomada e transformada em horror, o poder manchado
tis. Velas decom a escuridão que ela tentava prender, cortada e ceifada.
pés de Gaya. Enterrado bem fundo no peito de Red, seu fragmento da floresta lamentou,
dão atrás daum grito sem som que fez seus ossos vibrarem e os músculos ficarem
agmentos de dormentes.
caverna que Nem percebeu que tinha caído até os joelhos se chocarem contra as pedras,
provocando uma dor intensa, mas que nem chegava aos pés daquela que
reverberava em Wilderwood. Um som agudo e lamentoso que ecoava nos
asso entre asseus ouvidos, ela e as sentinelas em coro.
— Está vendo? — A voz de Kiri era fria e clínica. Red a viu por entre as
lágrimas que embaçavam sua visão, um vulto de pele branca e cabelo ruivo
contra as árvores doentes, as mesmas cores dos troncos e do sangue. — Eu
ina. Aquilo asabia que tudo ficaria mais evidente aqui, no nosso bosque. Wilderwood
da iluminadaainda vive nela, Neverah, e se você a quer de volta, vamos ter de arrancar à
súplica para força. — Os olhos dela brilharam, fixos em Red como predadores. — Isso vai
enfraquecer ainda mais a floresta, fazendo-a perder sua âncora. Pode ser uma
bênção.
na, a luz das O rosto de Neve estava retraído, mas a boca formava uma linha decidida, e
um amor agonizante brilhava nos seus olhos.
. Mas não foi Aquele amor tornava tudo ainda pior.
— Você não pode. — Red meneou a cabeça, embora o movimento fosse
uma agonia contra o fio de magia que se rebelava e se retorcia no seu âmago.
de fungos-de-— Neve, você não pode fazer isso.
reção errada. As sombras sibilaram, escorrendo das raízes acima delas, fungos-de-
sombra em forma líquida. Cada gota que caía no chão fazia as veias nos
pulsos de Kiri e Neve ficarem ainda mais negras.
as invertidas, E Neve não respondeu.
s pudesse se Um brilho prateado. Kiri tirou uma adaga da manga.
er manchado Deu um passo para a frente, ergueu a lâmina e a desceu na direção do
antebraço de Red, que teve a presença de espírito de se afastar, evitando que a
sta lamentou,lâmina fosse muito fundo, mas esta cortou o suficiente para que sangrasse.
ulos ficarem Ela cobriu o ferimento com a mão, enquanto a voz de Eammon ecoava nos
seus ouvidos: Não derrame sangue onde as árvores puderem experimentá-lo.
tra as pedras, Abruptamente, o lamento das sentinelas invertidas silenciou, como se todas
daquela quetivessem ouvido o corte.
e ecoava nos Como se conseguissem sentir o cheiro do sangue dela.
Kiri afastou a mão de Red do corte e o examinou.
u por entre as — Não pode ser — murmurou ela, enquanto o ritmo da fala se afastava
cabelo ruivo cada vez mais da sanidade, a voz ficando mais aguda. — Não pode ser!
angue. — Eu Todas as Segundas Filhas têm o laço!
Wilderwood Ela ergueu a adaga de novo.
de arrancar à — Kiri!
s. — Isso vai A voz de Neve estava tensa, como se a tivesse canalizado de algum lugar
Pode ser umano fundo do seu ser. A indecisão estava estampada em cada traço dela, a
mente mudando de ideia rápido demais para o corpo acompanhar. A mão
ha decidida, e estendida, os olhos arregalados, a escuridão tingindo seus pulsos.
No entanto, Red não tinha tempo para descobrir o que Neve queria ou se as
coisas tinham saído do controle dela… Estava ouvindo o silêncio das
imento fossesentinelas invertidas, e se lembrando da voz de Eammon enquanto tentava
o seu âmago. criar um plano bem rápido.
Kiri falava com raiva:
, fungos-de- — Se eu tiver que chegar até seu coração para encontrar as raízes, eu…
as veias nos Red arrancou a adaga da mão de Kiri, que não teve tempo para reagir. Com
os dentes arreganhados, a Segunda Filha passou a lâmina pela palma da mão,
abrindo um corte quase profundo o suficiente para ver o brilho dos ossos. Só
tinha feito aquilo uma vez. Não sabia de quanto sangue precisava. Então, com
a direção doo grito de um animal ferido, espalmou a mão no chão.
vitando que a — Vamos lá! — gritou ela para Wilderwood. — Não era isso que você
ue sangrasse.queria? Pode me pegar! Pegue tudo que você quiser.
n ecoava nos Um momento de hesitação, como se Wilderwood precisasse se questionar,
. como se precisasse decidir como queria usar a oferta. O fragmento que
omo se todascarregava dentro de si, a semente da sua magia, floresceu apenas para
murchar novamente, em uma demonstração clara de indecisão.
E ela soube, de alguma forma, que aquilo não era tudo de que Wilderwood
precisava. Que era mais complicado do que uma mão cortada encostando nas
a se afastavasuas raízes. Ainda havia uma parte que ela não tinha entendido, uma
ão pode ser! necessidade além da mera cura… Um novo fator na equação entrelaçada e
complexa de árvores e Segundas Filhas. Algo que a floresta não tomaria a
não ser que ela entendesse exatamente o que era, qual seria o custo da oferta,
e estivesse disposta a dar assim mesmo.
algum lugar Vamos esperar sua escolha, a floresta dissera quando ela passara por entre
traço dela, a as árvores. A decisão que a floresta tomara naquela noite na clareira.
nhar. A mão Wilderwood já tomara algo antes, tomara o que não era dela para tomar, e
nunca era o suficiente. A floresta aguardava a escolha dela, uma escolha que
ueria ou se asprecisava ser feita sabendo tudo que significava, e não em um momento de
silêncio das desespero.
uanto tentava A semente da sua magia se recolheu ainda mais, afundando-se para ficar
bem longe da floresta lá fora. Ela esperaria.
Tudo aquilo em um turbilhão, uma avalanche de conhecimento de um
fragmento de poder estranho que carregava havia quatro anos. Red não
a reagir. Comconseguia entender, não naquele momento, então apenas pressionou a mão
alma da mão,
dos ossos. Só sangrenta contra o chão com força o bastante para sentir o pó de rocha nas
a. Então, comveias.
— Blasfêmia. — Kiri não tentou pegar a adaga. Estendeu as mãos gélidas
sso que vocêenquanto o frio e a escuridão se juntavam nas suas veias. — Herege sem
deus.
e questionar, Red fechou os olhos com força, ainda pressionando a mão no chão, e
agmento que esperou ser atingida por aquela magia congelada e invertida.
apenas para Mas nada aconteceu. Só um gorgolejo.
Ela olhou para trás: Kiri estava parada, com Neve apertando o pescoço
Wilderwooddela. A mesma escuridão que ela vira Kiri usar fluía pelas mãos da irmã, frias
costando nas o suficiente para congelar.
endido, uma — Neve? — A voz de Red soou bem baixinha.
entrelaçada e O rosto da irmã não era o de um pedido de desculpas. A escuridão tinha
ão tomaria a tomado os olhos dela, engolindo a íris de cada um dos olhos até ficarem
sto da oferta, totalmente tingidos de negro; as veias abaixo das pálpebras também ficaram
pretas.
sara por entre — Eu não vou deixar você — sibilou ela mostrando os dentes. — Eu não
na clareira.vou deixar você para ele, Red, mas eu não consigo… não assim.
para tomar, e Quietude. A mão de Red pressionada no chão, o sangue escorrendo dela e
a escolha queseguindo para as sentinelas invertidas, enquanto ela e a irmã se olhavam,
momento de veias negras e veias verdes.
Então, um estrondo.
-se para ficar As raízes no teto vibraram, saindo das rochas que as prendiam e
espalhando poeira. Uma fosforescência dourada girou sob o tronco tomado de
mento de um fungos-de-sombra, sugando a escuridão como uma bandagem absorvendo
os. Red nãosangue enquanto as sentinelas se encolhiam, as árvores que nunca deviam ter
ionou a mãosido voltando a ser os galhos que eram antes. Uma gota de sombra congelou
diante do rosto de Red, tremendo em uma suspensão de movimentos antes de
de rocha nas voltar na direção contrária e mergulhar de volta nas raízes acima, a magia
invertida se autocorrigindo.
mãos gélidas Aquilo fez Neve diminuir a força com que segurava o pescoço de Kiri,
Herege semfazendo as veias escuras sob a pele dela tremerem, e ela deixou as mãos
caírem. A Suma Sacerdotisa, agora livre das mãos congelantes, virou-se e
o no chão, egritou:
— Você não vai impedir isso! — Os olhos tinham um brilho de loucura e
vazio. — Você não vai nos deixar sem um deus!
do o pescoço Ela levantou a mão para atacar, juntando os fragmentos daquele poder
da irmã, friassombrio enfraquecido, mas, então, uma pedra despencou de lá de cima,
derrubando-a e tirando-a do campo de visão. Neve desapareceu em uma
nuvem de poeira, rolando no chão e revirando os olhos.
curidão tinha As raízes se soltaram do teto, desestabilizando-o; o chão tremeu enquanto
s até ficarem os galhos que cortavam as rochas se encolhiam. Parecia um terremoto,
mbém ficaramparecia um apocalipse. A visão de Red ficou turva nos cantos, o rosto
pressionado contra uma pedra quebrada enquanto a mão espalhava sangue
es. — Eu nãopelo chão. Tudo que ela queria era descansar e ficar deitada quietinha…
Outra pedra caiu sobre a mão ilesa da Segunda Filha. Ela gritou quando os
rrendo dela eossos quebraram, mas o choque foi suficiente para fazê-la se mexer. A
se olhavam, adrenalina a ajudou a empurrar a pedra e se levantar, cambaleando. Deu um
impulso, tentando se mover para onde vira a irmã pela última vez.
— Neve!
prendiam e Não houve resposta além do chão se rompendo, nenhum outro som a não
co tomado deser o de pedras ruindo.
m absorvendo — Neve! — Um soluço subiu pela garganta, afiado como os cacos de ossos
ca deviam ter em sua mão ferida.
bra congelou O teto não aguentaria muito mais tempo. Pedaços maiores caíam,
ntos antes de explodindo no chão, e a passagem da porta foi ficando cada vez menor à
ma, a magiamedida que os escombros se acumulavam ao redor dela. Engolindo outro
soluço, Red correu em direção à passagem estreita, passando pelas estátuas
coço de Kiri,de pedra das outras Segundas Filhas e pelas velas acesas. Uma das mãos
xou as mãos sangrava e a outra estava quebrada.
s, virou-se e Caiu de joelhos nas pedras do lado de fora do Santuário. Tentou se
levantar, mas não conseguiu. Um grito passou sibilante entre os dentes
de loucura ecerrados, enquanto a dor a atingia em ondas.
— Redarys?
aquele poder As botas de Arick entraram no seu campo de visão quando o rapaz se
lá de cima,agachou sob o som outonal. A voz dele saiu rouca e entrecortada.
ceu em uma — O que foi que você fez? Onde está Neve?
Red não respondeu. Em vez disso, concentrou-se nas pedras atrás dele. No
meu enquanto que não estava lá. A dor lhe trouxe uma clareza, enquanto ela dizia a verdade
m terremoto, nua e crua:
ntos, o rosto — Você não tem sombra.
lhava sangue Ele parou. Então, uma coisa afiada atingiu a lateral da cabeça de Red, e o
mundo ficou preto.
ou quando os
se mexer. A
ndo. Deu um

ro som a não

acos de ossos

iores caíam,
vez menor à
medida que os escombros se acumulavam ao redor dela. Engolindo outro
soluço, Red correu em direção à passagem estreita, passando pelas estátuas
de pedra das outras Segundas Filhas e pelas velas acesas. Uma das mãos
sangrava e a outra estava quebrada.
Caiu de joelhos nas pedras do lado de fora do Santuário. Tentou se
levantar, mas não conseguiu. Um grito passou sibilante entre os dentes
cerrados, enquanto a dor a atingia em ondas.
— Redarys?
As botas de Arick entraram no seu campo de visão quando o rapaz se
agachou sob o som outonal. A voz dele saiu rouca e entrecortada.
— O que foi que você fez? Onde está Neve?
Red não respondeu. Em vez disso, concentrou-se nas pedras atrás dele. No
que não estava lá. A dor lhe trouxe uma clareza, enquanto ela dizia a verdade
nua e crua:
— Você não tem sombra.
Ele parou. Então, uma coisa afiada atingiu a lateral da cabeça de Red, e o
mundo ficou preto.
29

Olhos âmbar e boca suave, cabelo escuro entre os dedos. Red não queria
acordar, mesmo enquanto água fria escorria pelo pescoço e as pedras
machucavam suas costas. Mas despertou e abriu os olhos, a dor ficando mais
aguda à medida que os sonhos com Eammon se apagavam.
Paredes rochosas e úmidas, grades de metal. Um calabouço.
É claro que sabia que havia calabouços embaixo do palácio de Valleyda,
mas não se lembrava de já terem sido usados. O teto começava a poucos
centímetros da sua cabeça, e a única fonte de luz era uma arandela gotejante.
Mal conseguia ver a outra cela na penumbra do outro lado do corredor
estreito e úmido. Uma massa de sombras espreitava de trás das grades.
Red se atreveu a olhar para a mão. Uma confusão de ângulos horríveis,
tudo retorcido para o lado errado sob a pele. A outra mão, a que cortara,
estava vermelha e inchada e com crosta de sangue. A dor a deixava nauseada.
Ela teve ânsia, mas não conseguiu vomitar.
Cerrando os dentes, Red colocou a mão lacerada contra a parede. Atrás
dela, conseguia sentir as raízes profundas do que crescia na superfície, grama
e mato se entrelaçando na terra. Soltou uma expiração trêmula e baixou os
dedos devagar, tentando capturar o fio tênue da magia no peito, para ver se
conseguia atraí-la para si, apenas como um teste.
A magia despertou, mas só um pouco. O suficiente para Red senti-la, mas
não para usá-la, não para afetar o que crescia atrás da parede. Deixou a mão
cair ao lado do corpo.
Fechou os olhos, absorvendo os pensamentos estilhaçados pela dor
enquanto tentava entender o que a tinha levado até lá. Arick perguntando de
Neve. A bota dele acertando a têmpora dela. Ele a levara para aquele
calabouço onde ninguém pensaria em procurar por ela.
E ele não tinha sombra.
Red sentiu o desespero crescer, formando um nó na garganta. Dobrou os
d não queriadedos da mão que não estava quebrada em uma nova tentativa vã de ativar o
e as pedras próprio poder.
ficando mais — São as paredes.
Arick avançava pelo corredor úmido, iluminado por uma tocha gotejante,
com as mãos atrás das costas. Movia-se de forma diferente. Antes Arick
de Valleyda,caminhava como se o mundo fosse servi-lo, de forma tranquila e lânguida.
ava a poucosAgora, a postura dele era quase militar. Na penumbra, não havia como
ela gotejante. verificar sua sombra.
do corredor Red engoliu em seco, sentindo a garganta arranhar.
— O quê?
los horríveis, Arick bateu casualmente com os dedos na parede ao lado das grades.
que cortara, — Elas enfraquecem a magia. Não tenho muita certeza, para ser sincero.
va nauseada. Valchior era um rei severo, e não gostava que alguém fosse mais eficiente em
convocar o poder que ele, na época em que a magia corria livre para quem a
parede. Atrás quisesse usar. Ainda não gosta. — Outra batida na parede antes de colocar as
erfície, gramamãos de volta atrás das costas, uma postura nobre apesar da umidade. — De
e baixou osqualquer forma, ele não compartilhou segredo algum com o resto de nós.
, para ver se Ela sentiu uma pontada de dor na cabeça, e aquele falatório sem sentido só
tornava tudo pior.
senti-la, mas — Você me chutou.
Deixou a mão — Chutei. — Ele não parecia arrependido. — Você machucou Neve.
Neve. Red olhou para ele, sentindo uma esperança repentina e forte.
os pela dor — Ela está viva? Conseguiu escapar?
rguntando de Arick abriu a boca para responder, mas foi outra voz que fez isso.
para aquele — Não graças a você.
Uma figura esguia apareceu na luz fraca. Kiri. Duas marcas azuladas de
mão carimbavam a lateral do pescoço onde Neve a segurara, deixando-a
a. Dobrou os rouca.
vã de ativar o — Você já viveu bem mais do que seria útil, Segunda Filha. Agora, não
passa de um risco.
— Kiri. — Os olhos de Arick tinham um brilho sem cor. — Quieta.
ha gotejante, O corpo todo de Red era um nó de agonia. Ela analisou o rosto de Arick,
Antes Arickprocurando algum sinal de afeto, qualquer eco do homem que conhecera.
a e lânguida.Mas ele a observava como se ela fosse um animal enjaulado, assistindo à dor
havia como dela sem demonstrar nada além de uma vaga curiosidade.
Atrás dele, na cela mal iluminada, a massa de sombras se mexeu.
Red cobriu os olhos com as mãos feridas e latejantes.
— Neve está viva. — Se ela não formulasse como uma pergunta, a
resposta não podia ser não. — Ela está bem.
a ser sincero. — Neve está segura. — A voz de Arick tinha uma nota estranha de
eficiente emsuavidade. — O mais segura que conseguimos deixá-la.
para quem a Red sentiu uma onda de alívio.
de colocar as — Por que estou aqui? Que lugar é este?
idade. — De — Um lugar contra as coisas que trabalham contra os nossos deuses. —
Kiri contraiu o lábio superior. — Coisas como você.
em sentido só Arick contraiu o maxilar.
— Nós vamos salvá-los. — Kiri olhou para o teto do calabouço úmido e
mofado com o semblante de alguém olhando para algo santificado. Levou as
mãos ao peito, como se seu coração fosse algo que pudesse aninhar nos
braços. — Agora que você está aqui, agora que sabemos que está vazia e que
o Lobo está sozinho. Nós enfraquecemos Wilderwood, a hora deles está
chegando. Nossos Reis finalmente voltarão, e nossas recompensas serão
grandes. — Os olhos frios se voltaram para Arick, e ela baixou a cabeça em
azuladas deuma mesura. — Todos os nossos Reis, em carne e osso.
, deixando-a O nojo transpareceu nas linhas da boca de Arick, mas ele não disse nada.
Arick, que se esforçava para pensar em Wilderwood e nos Cinco Reis o
. Agora, não mínimo possível. Arick, que não tinha paciência para nada que fosse
considerado sagrado.
— Vocês não querem os Reis de volta. — Red balançou a cabeça que não
sto de Arick, parava de latejar. — Eammon disse…
e conhecera. — Claro que disse. — Arick revirou os olhos. — O garoto é exatamente
sistindo à dor como o pai, confundindo tolice com nobreza. Eu bem que avisei Ciaran que
as coisas acabariam mal quando ele e Gaya tramaram aquele plano idiota. Ele
nunca me ouviu também.
A informação entrou na cabeça de Red, mas a dor ocupava espaço demais
pergunta, a para que ela conseguisse entender. A menção de Ciaran entrou na sua mente
como um borrão, e ela estreitou os olhos. Arick tinha mencionado o pai de
estranha deEammon como se fosse um amigo.
Ou um rival.
— Que sorte a sua o garoto ter aprendido a controlar melhor as coisas —
continuou Arick. — Ele bem que tentou manter as raízes longe das outras
os deuses. —Segundas Filhas, mas Wilderwood conseguiu o que queria no final. Você foi
a primeira que teve escolha. — Ele estreitou os olhos. — Você poderia ter
saído a qualquer momento, salvado a sua irmã de um mundo de sofrimento.
uço úmido eAfinal de contas, nunca houve nada de Wilderwood em você, não o suficiente
do. Levou aspara fazer a diferença. Você não tem raízes, Redarys. Nada além de ossos e
aninhar nos sangue.
á vazia e que
ra deles está Arick se agachou para que o rosto de ambos ficasse na mesma altura. Com
pensas serãocerteza era um truque da penumbra ou da mente anuviada, mas os olhos dele
a cabeça em pareciam estranhos, como se fossem da cor errada.
— Você não se deixa ser salva. — Os olhos estranhos perscrutaram os
o disse nada.dela. — Foi isso que ele me contou. Não por ele, não por Neve. Determinada
Cinco Reis oa ser uma mártir.
a que fosse — Que ela seja uma mártir, então. — O fervor estava presente na voz e nas
mãos curvadas em garra de Kiri. — A única utilidade que tinha era manter a
beça que não Rainha sob controle, mas nem para isso ela serviu. — Ela apontou para as
marcas no pescoço. — Ela se revoltou, precisamos…
é exatamente — Kiri. — O nome dela foi dito como uma bofetada, e a Suma Sacerdotisa
ei Ciaran que baixou as mãos como uma criança amedrontada. Os olhos eram pedras de
no idiota. Ele gelo. — Vamos mantê-la aqui — continuou Arick. Uma pausa, e o tom dele
ficou suave. — Neve já perdeu demais. Não vou permitir que perca a própria
spaço demais irmã.
na sua mente Aquilo deveria ser reconfortante, mas o rosto dele deixou tudo bem claro:
ado o pai deRed só estava viva por causa de Neve. Havia uma ironia amarga naquilo.
— Além disso — sussurrou Arick, quase para si mesmo —, ela poderia se
provar muito útil. Eu vou precisar de uma rendição completa do Lobo para
as coisas —isso funcionar. — A luz da arandela iluminou os olhos dele, que brilharam
ge das outras com frieza. — Ele é bem familiarizado com pactos.
nal. Você foi — Arick. — Foi um sussurro, um pedido. Os lábios rachados de Red
ê poderia tersangraram. — Eu não estou entendendo.
e sofrimento. Atrás dele, a massa de sombras na outra cela se moveu. Gemeu.
o o suficiente Kiri se virou, pronta para atacar, mas Arick ergueu uma das mãos.
m de ossos e — Não. — Ele desviou o olhar da Suma Sacerdotisa e o pousou em Red,
como se estivesse pensando. Então, deu de ombros. — Deixe que ela veja.
Fico cansado de manter a ilusão.
a altura. Com Arick baixou os braços, e os traços do rosto se reorganizaram, emitindo
os olhos delefumaça de sombras.
Red piscou, certa de que o ferimento na cabeça estava afetando sua visão.
scrutaram osMas as feições dele continuaram a derreter e mudar, como água escorrendo
Determinada em um quadro com tinta ainda fresca. Um maxilar mais marcado que o de
Arick, coberto por uma barba cerrada e escura. Cabelo comprido além dos
na voz e nas ombros, em um tom entre castanho e dourado. Pele clara. Olhos azuis. Bonito
era manter a de um jeito cruel.
ontou para as A pessoa que não era Arick girou os ombros enquanto um sorriso aparecia
no canto da boca diante da expressão horrorizada de Red. Ao seu lado, os
a Sacerdotisadentes de Kiri brilharam como os de um predador.
m pedras de — Pergunte o nome dele — sussurrou ela em voz baixa e forte. —
e o tom delePergunte o nome dele e estremeça.
erca a própria O homem sorriu para Red.
— Acho que ela já sabe quem sou.
do bem claro: — Solmir. — A voz saiu rouca e certa.
O mais jovem dos Cinco Reis assentiu.
ela poderia se — Astuta. — Ele deu um passo para o lado, fazendo um gesto régio na
do Lobo paradireção das grades da cela atrás dele. — Mas outra pessoa deseja uma
ue brilharam audiência com você, Segunda Filha.
As sombras se aglutinaram, como se ele tivesse dado permissão, e se
ados de Redtornaram um corpo. Olhos familiares piscaram sob a luz das tochas. Um rosto
conhecido, embora coberto de sujeira e sangue. As mãos do verdadeiro
Arick, cobertas de cortes, seguraram as grades.
— Red?
sou em Red, Red tentou emitir algum som, tentou chamá-lo, mas tudo que conseguiu foi
que ela veja. soluçar enquanto levava a mão cortada à boca.
am, emitindo — Arick — sussurrou ela com lágrimas escorrendo pelo rosto, deixando
marcas na terra e na poeira que marcavam a pele. — Arick, o que foi que
do sua visão.você fez?
a escorrendo — O que ele tinha que fazer. — Solmir estava parado ali como um
ado que o decarcereiro, com braços cruzados e sobrancelhas baixas. — Ele viu uma
ido além doschance e a aproveitou. Todos nós fazemos idiotices por amor. Para sentir que
azuis. Bonitotemos um propósito. — Ele fez um gesto para Kiri, que pegara uma xícara
gasta no chão, com sangue coagulado nas beiradas. — Vamos lá, Arick.
rriso aparecia Conte para ela. Tenho certeza de que ela quer ouvir sua história sórdida.
seu lado, os Arick fechou os olhos e apoiou a testa nas grades.
— Eu fiz um pacto — disse ele baixinho enquanto Kiri pegava a mão do
e forte. —rapaz e fazia um corte com uma pequena adaga. — Fui até Wilderwood e
encontrei uma das árvores brancas perto da fronteira. Ela… se inclinou. Se
inclinou na minha direção, como se fosse cair, como se o chão sob ela fosse
ceder. Foi assim que eu consegui tocá-la. Só um galho. Com dificuldade. —
Ele meneou a cabeça devagar. — Doeu, o zunido, como se alguém tivesse
enfiado uma serra inteira entre minhas costelas. Mas cheguei perto o
esto régio nasuficiente.
deseja uma — Por quê? — Ela balançou a cabeça, e a dor a fez ver estrelas atrás das
pálpebras. — Como? Wilderwood não faz mais pactos. Não tem mais força o
missão, e se suficiente.
has. Um rosto — Mas as coisas nas Terra das Sombras têm. — Ele não parecia estar se
o verdadeirogabando. Parecia cansado, na verdade. Solmir se encostou na parede.
— Um sacrifício vivo. — Kiri abriu um sorriso de beata. — Um sacrifício
vivo, sangue fresco de uma veia.
conseguiu foi Escarlate e negro empoçaram na palma da mão de Arick, sombras girando
no sangue que gotejava na xícara.
sto, deixando — E depois que sangue é usado no pacto com a Terra das Sombras —
que foi quecontinuou Kiri —, ele pode ser usado para inverter Wilderwood. O sangue do
garoto, maculado pelas sombras, despertou os galhos do Santuário e deu um
ali como um propósito mais nobre a eles. E todos que ofereceram mais sangue depois
Ele viu uma puderam colher o poder, exatamente como prometido para mim nos meus
ara sentir que longos anos de oração. — Aparentemente satisfeita, Kiri soltou a mão mole e
a uma xícarasangrenta de Arick e foi até Red. — Você acha que venceu ao destruir o
os lá, Arick.nosso bosque, sua maldita? Você não sabe nada. Cinco vidas são…
— Sombras amadas, mulher, você nunca para de falar? — Solmir cobriu
os olhos com as mãos de dedos longos e Kiri calou a boca.
ava a mão do — É por isso que você não tem uma sombra. — O instinto fez Red curvar
Wilderwood e os dedos apesar dos ferimentos, e uma nova onda de dor a fez cerrar os
inclinou. Sedentes. — Você é a sombra de Arick. E ele é a sua, quando precisa ser. — Ela
sob ela fosse meneou a cabeça. — Tudo isso e você nem está aqui de verdade.
ficuldade. — — Ah, eu estou aqui. — Solmir baixou a mão com os olhos brilhando. —
guém tivesseEstou aqui o suficiente.
guei perto o — Foi fácil ver a árvore branca. — Arick falava baixo e com voz quase
arrastada, como se estivesse contando um sonho. Um exorcismo, vomitando
elas atrás das toda a história agora que tinha começado. — Muito pálida em contraste com
mais força oas outras, como osso. — A mão que Kiri havia cortado se abriu de forma
convulsiva. A ferida na palma brilhou vermelha com pontos pretos de
recia estar se fungos-de-sombra no meio, que se estendiam como gavinhas doentes pela
pele dele. — Eu sangrei nela. Um sacrifício vivo. Exatamente como Kiri me
Um sacrifíciodisse.
A Suma Sacerdotisa sorriu.
mbras girando — E ela… se abriu. — Mesmo enquanto contava, Arick parecia
horrorizado, como se não conseguisse acreditar no que tinha feito. — O galho
retrocedeu como… como uma coisa viva, como um cavalo assustado. E eu
Sombras —ouvi um som, um som horrível de algo se rasgando, e um bum. E, então, lá
O sangue doestava ele, parado diante de mim na fronteira das árvores, sombras girando
rio e deu um em volta dele como correntes. E ele me perguntou o que eu queria e o que eu
angue depoisdaria para ter o meu desejo realizado.
m nos meus — E o que você pediu? — Ela sabia, mas perguntou assim mesmo.
a mão mole e Arick não respondeu, mas baixou mais a cabeça.
ao destruir o — Ele queria uma forma de salvar você — disse Solmir, como se aquilo o
entediasse. — E disse que estava disposto a tudo.
Solmir cobriu Ah, Arick. Arick, repetindo várias e várias vezes que a amava, mesmo sem
que ela jamais correspondesse. Arick, construindo um castelo no ar no qual
z Red curvarpoderiam ter um final feliz, cimentando-o com sangue e promessas vazias.
fez cerrar os — No início, ele era apenas a minha sombra. — Arick voltou a contar a
sa ser. — Ela história, mantendo o olhar fixo no chão úmido, como se olhar para Red
doesse. — Mas, então… quando as coisas…
brilhando. — — Ele não teve estômago para fazer o que precisava ser feito. — Kiri girou
a xícara com o sangue dele sob o nariz, como se fosse uma taça de vinho, e
m voz quase inspirou fundo. — Não conseguiu lidar quando descobriu que elas
o, vomitandoprecisavam morrer, a Suma Sacerdotisa e a Rainha. Então, eles trocaram de
ontraste com lugar. A sombra e o homem.
riu de forma — Aqui sou obrigado a lembrar que você decidiu sozinha que elas
os pretos deprecisavam morrer — sussurrou Solmir. — Mas, quando isso aconteceu,
doentes pelaArick quis… distância de toda a situação.
omo Kiri me Red conseguia sentir o gosto do coração batendo. Sentiu um aperto na
barriga.
— Como você pôde? — Era um som quase sussurrado, uma ferida no ar.
rick parecia— Como pôde fazer isso com Neve?
o. — O galho — Foi para Neve. — Solmir se desencostou da parede, a boca retorcida.
ustado. E eu— Kiri talvez tenha se excedido, mas era o que Neve queria, admitindo ela
. E, então, láou não. Estava tão desesperada para salvar você quanto Arick. Ela faria
mbras girandoqualquer coisa por você, Redarys. Você não merece um décimo do amor
ia e o que eudela.
Red se atirou contra as grades, a mão que não estava quebrada se chocando
contra o metal. Ela reconheceu a calidez na voz dele, a forma das coisas que
ele não tinha dito.
o se aquilo o — Se você tocou nela — ameaçou ela com voz rouca —, eu vou matar
você.
, mesmo sem Solmir olhou para ela com olhos inescrutáveis e punhos cerrados, que
no ar no qualrelaxou em seguida.
— Não toquei — disse ele, baixo o suficiente para mascarar qualquer que
ou a contar a fosse a emoção ali.
har para Red Atrás dele, Arick respirou fundo.
— Nós só queríamos salvar você. — Ele ergueu os olhos cansados e
— Kiri girouescuros. — Principalmente quando descobrimos o que estava para acontecer.
a de vinho, eNós só queríamos salvar você.
iu que elas — Calma, não precisa se humilhar ainda mais. — Totalmente recomposto,
trocaram deSolmir apoiou o pé na parede de novo. — Redarys salvou a si mesma.
Ela cerrou os dentes.
nha que elas — Eu ainda não sei do que você está falando.
o aconteceu, — As raízes. — Solmir revirou os olhos. — Você não as aceitou, embora
esteja bem claro que você se importa com o Lobo. Você é uma mulher
um aperto naprática, ao que tudo indica. Descobriu que o amor não é motivo suficiente
para se arruinar. Escolheu se salvar.
ferida no ar. Escolha.
Red pensou naquela Wilderwood na caverna, na consciência de que a
oca retorcida. floresta precisava de mais dela, de algo que não poderia simplesmente pegar.
dmitindo ela Pensou em Eammon, desgastando-se sob o peso das sentinelas enquanto elas
ck. Ela faria iam atrás dela sem parar, tentando terminar uma coisa iniciada muito tempo
mo do amorantes. Pensou nos ossos na base de uma árvore, testemunhos de todas as
Segundas Filhas que tinham vindo antes dela, drenadas por uma floresta
se chocandodesesperada que não tinha aprendido a lição. Que ainda não tinha aprendido
as coisas queque uma coisa roubada só murcharia, ao passo que algo dado poderia crescer.
Ela pensou em raízes.
eu vou matar Os lábios de Solmir se curvaram.
— Wilderwood vai ser destruída. O Lobo vai morrer. Os Reis vão ficar
errados, que livres. — Ele encolheu os ombros, estreitou os olhos e continuou a falar com
voz cruel. — E todo mundo vai ter o que queria.
qualquer que A compreensão chegou como o florescimento repentino de uma flor
noturna se abrindo de uma vez só sob uma nova luz.
Uma escolha precisava ser feita, e ali estava a dela.
s cansados e — Eu aceito. — A voz de Red saiu em um sussurro.
ra acontecer. Três pares de olhos pousaram nela, todos com a expressão confusa, mas
Red não deu atenção. Concentrando todo o seu foco, toda a sua vontade, ela
recomposto,puxou o fio fino de poder verde profundo no âmago do seu ser e o fez
florescer apesar das paredes que enfraqueciam a magia. A impressão era a de
que aquilo a mataria; cada corrente de sangue que passava pelas veias era um
desafio, mas, mesmo assim, ela puxou.
eitou, embora Red respirou fundo e pressionou a palma da mão cortada contra o osso do
uma mulher quadril até sentir o sangue começar a escorrer pela pele. Com um arfar de
vo suficientedor, espalmou a mão ensanguentada no piso da cela.
Sangrando, e com a esperança de que as árvores sentissem o gosto.
— Eu quero as raízes — disse ela com a voz clara como o cristal. —
cia de que aEntendo o que isso significa e quero assim mesmo, porque eu fui feita para o
mente pegar.Lobo, e os Lobos foram feitos para Wilderwood.
enquanto elas
muito tempo Por um instante, os quatro ficaram congelados, suspensos em silêncio.
de todas asEntão… um estrondo, como se um milhão de pedras se revirasse de uma só
uma florestavez, como se alguma coisa corresse a toda velocidade pelo chão como uma
ha aprendido grande fera disparando sob a superfície do mar.
deria crescer. Raízes, vindas do norte em um fluxo veloz em direção à ferida aberta.
O piso se rompeu enquanto as raízes de Wilderwood subiam na direção da
mão dela, quilômetros de viagem em um instante pela convocação do sangue
eis vão ficarda Segunda Filha. Red sentiu dor logo que a floresta começou a pressionar o
u a falar comcorte da sua mão, mas, depois disso, o modo como as raízes entravam e
envolviam seus ossos parecia uma volta para casa.
de uma flor Wilderwood finalmente tinha aprendido, naquela noite em que Eammon
quase se perdera totalmente para ela. Uma Marca e palavras em uma árvore e
sangue invadido não poderiam mais sustentá-la. A floresta precisava que Red
a escolhesse.
confusa, mas Que escolhesse o Lobo.
vontade, ela E era o que vinha fazendo, bem aos poucos, desde que o conhecera.
ser e o fez Escolhendo o cacho preto do cabelo e a textura áspera das cicatrizes e o jeito
ssão era a decomo o lábio dele se levantava só um pouquinho quando ela dizia algo que
veias era umele achava engraçado. As sobrancelhas baixas quando lia e como, logo antes
de dormir, soltava um suspiro longo e suave e, Reis, a sensação dos lábios
tra o osso do dele sobre os dela e como ele se agarrava a ela como a hera subindo pelas
um arfar deparedes da Fortaleza.
No fim das contas, foi a escolha mais fácil que já fizera.
A semente dentro dela foi crescendo e crescendo, totalmente livre porque
o cristal. —era dela, tanto pela palavra quanto pelo sangue.
ui feita para o Foi uma tempestade silenciosa de raízes e espinhos e galhos, uma
enxurrada de Wilderwood enfim a inundando por inteiro — não como um
predador, mas sim como a parte que faltava, grata por finalmente se encaixar
em silêncio.nas beiradas lascadas que deixara. A fina gavinha de poder que recebera
se de uma só quatro anos antes correu para encontrar o resto de si mesma e, quando Red
o como uma respirou fundo, sentiu o gosto de argila, coisas crescendo e mel.
Arick, magro como sombras, cobriu o rosto com o braço. Solmir se afastou
da parede com os dentes arreganhados.
na direção da — Maldita seja…
ão do sangue As palavras dele se perderam em meio a tudo que estava acontecendo. O
pressionar opoder que habitava o âmago de Red encontrou o poder externo, colidiu com
s entravam eele e floresceu, enchendo-a de raízes e galhos. A floresta cresceu nos espaços
nos pulmões e subiu pela espinha, vinhas envolvendo cada órgão e semeando
que Eammonsua medula.
uma árvore e A escuridão atrás das pálpebras de Red tinha a forma de folhas. E, quando
sava que Red clareou, ela viu Eammon. Não apenas as mãos, não apenas o mundo através
dos olhos dele, mas ele, inteiro, quase uma coisa que poderia tocar se
estendesse a mão.
o conhecera. Ele se levantou da cama, como se a estivesse vendo tão claramente quanto
rizes e o jeitoela o via. Os olhos cor de âmbar demonstraram o choque e as dúvidas e
izia algo que finalmente o terror quando ele se levantou e estendeu a mão no ar vazio, os
o, logo antes lábios formando o nome dela…
ão dos lábios Então, ele desapareceu, e ela começou a emitir um brilho dourado no
ubindo pelas calabouço com as raízes de Wilderwood entre seus ossos.
Red estendeu as mãos com os dedos curvados. As pequenas raízes de
grama acima deles se alongaram em direção a ela, espalhando-se pelo teto,
livre porquecomo estilhaços de estrelas, provocando uma chuva de pedras e poeira.
Kiri tentou se proteger perto de Solmir, mas ele a empurrou e também
galhos, umacurvou os dedos em garras. As sombras começaram a se juntar, mas Red
ão como um estava repleta do poder de uma Wilderwood completa e curada, e tudo que
e se encaixar precisou fazer foi arquear uma das mãos na direção de Solmir. A luz dourada
que recebera prendeu os punhos dele, fazendo-o estender os dedos, e ele gemeu em agonia
quando Redolhando para o teto de pedra enquanto toda a sua magia fria era consumida e
cancelada.
mir se afastou — Você vai abandoná-la. — Solmir rangeu os dentes, os olhos azuis
brilhando na luz de Red. Você vai ficar presa em Wilderwood para sempre.
Você escolheu o Lobo em detrimento da própria irmã.
ontecendo. O Aquilo fez o coração dela parecer grande demais para o próprio peito, fez
, colidiu comcom que cada batida contra as vinhas e flores fosse dolorida.
u nos espaços — Se Wilderwood cair e a Terra das Sombras se libertar, eu perco os dois.
o e semeando — Então você tem pouca fé nela. — Ainda um resmungo entredentes, mas
havia um toque de tristeza ali. — Neve combina com as sombras melhor do
as. E, quandoque você imagina.
undo através Red afastou os lábios dos dentes ao detectar aquela calidez na voz dele
eria tocar senovamente. Cerrou um dos punhos e fez um movimento súbito para o lado.
A luz que envolvia as mãos de Solmir o lançou na direção do gesto de Red,
mente quantofazendo com que ele batesse com a cabeça em uma rocha caída do teto. Ele
as dúvidas e caiu ao lado de Kiri e ficou imóvel.
o ar vazio, os O brilho de Red banhava todo o calabouço, embora a dor já estivesse
começando, as raízes a arrastando em direção a Wilderwood. A floresta a
dourado no puxava como se as raízes no seu corpo fossem a linha de uma pipa. Mais
terra continuou caindo do teto, os sons de pedras se soltando em uma sinfonia
nas raízes de discordante.
-se pelo teto, Encolhido contra a parede, Arick parecia quase um cadáver. Os olhos
estavam vazios, os ossos da bochecha afiados como faca. Ele fez uma careta,
ou e também como se doesse olhar para ela.
tar, mas Red Red estendeu a mão para ele.
a, e tudo que — Venha comigo!
A luz dourada
eu em agonia Uma pedra caiu do teto e o teria atingido. Em vez disso, caiu no chão,
consumida ecomo se Arick fosse feito de fumaça, como se ele tivesse se tornado a
sombra.
olhos azuis Arick balançou a cabeça.
para sempre. — Eu não posso, Red. — Uma lágrima escorreu pelo rosto do rapaz,
limpando a sujeira. — Estou preso a ele. Não posso partir.
rio peito, fez — Por favor. — Ela estendeu a mão por entre as grades, como se pudesse
agarrar a mão ensanguentada dele. Sabia que era inútil, mas implorou assim
mesmo. — Por favor.
edentes, mas — Vá, Red. — Outra pedra caiu, outra chuva de terra. — você precisa ir.
as melhor do Chorando por causa da dor, física e emocional, Red curvou os dedos
novamente. As raízes de grama se enrolaram nas grades com a força intensa
na voz dele da magia de Wilderwood e elas se partiram, soltando-se da rocha com um
som terrível. Red escalou, espremendo-se entre a parede e as rochas já caídas,
gesto de Red,seguindo com os pés descalços e sangrando.
a do teto. Ele Neve. Precisava encontrar Neve. Red fechou os olhos, atravessando
cegamente o corredor como se o brilho dourado das raízes pudesse guiá-la
já estivesseem direção à irmã. A dor rasgava cada membro do seu corpo, mas ela cerrou
A floresta aos dentes e continuou. Uma grade à frente filtrava a luz das estrelas que
a pipa. Maisbanhava o chão de pedra; Red passou por ali, deixando uma trilha de sangue
uma sinfoniacom fios verdes que escorria da mão que não estava quebrada, a outra ainda
provocando uma onda de agonia. Saiu em um beco vazio perto dos muros do
er. Os olhos palácio e tentou avançar, procurando um portão, uma forma de entrar.
z uma careta, Um grito escapou pela garganta quando as raízes apertaram seus ossos,
puxando-a na direção oposta. Red resistiu, fazendo um apelo em voz alta:
— Por favor, eu tenho que ao menos me despedir dela, por favor…
Wilderwood não respondeu, não com palavras. Mas ela sentiu seu pedido
de desculpas, sentiu as vinhas puxarem gentilmente a sua espinha e algo
aiu no chão, florescendo no seu peito, crescendo. Algo crescendo e a puxando
se tornado ainexoravelmente para longe.
Mesmo assim, tentou avançar. A visão ficou turva, e ela caiu de joelhos no
pavimento de pedras com um soluço rouco escapando da garganta. Com o
to do rapaz, máximo de cuidado possível, as sentinelas estenderam as raízes para ela,
envolvendo cada um dos órgãos e a chamando de volta para casa.
mo se pudesse Casa.
plorou assim Neve não estava morta. Solmir dissera que ela estava segura — e, embora
Red odiasse a suavidade com que ele dizia o nome da irmã, acreditou nele.
Acreditou que ele não a machucaria, que a protegeria do seu modo
ou os dedos deformado.
força intensa E Red saberia se Neve tivesse morrido.
cha com um Ela baixou a cabeça e soltou mais um soluço sofrido. Então, virou-se e
has já caídas, correu em direção a Wilderwood.

atravessando
desse guiá-la
mas ela cerrou
estrelas que
ha de sangue
a outra ainda
dos muros do

m seus ossos,

u seu pedido
pinha e algo
florescendo no seu peito, crescendo. Algo crescendo e a puxando
inexoravelmente para longe.
Mesmo assim, tentou avançar. A visão ficou turva, e ela caiu de joelhos no
pavimento de pedras com um soluço rouco escapando da garganta. Com o
máximo de cuidado possível, as sentinelas estenderam as raízes para ela,
envolvendo cada um dos órgãos e a chamando de volta para casa.
Casa.
Neve não estava morta. Solmir dissera que ela estava segura — e, embora
Red odiasse a suavidade com que ele dizia o nome da irmã, acreditou nele.
Acreditou que ele não a machucaria, que a protegeria do seu modo
deformado.
E Red saberia se Neve tivesse morrido.
Ela baixou a cabeça e soltou mais um soluço sofrido. Então, virou-se e
correu em direção a Wilderwood.
30

Red bateu no flanco do cavalo roubado, fazendo com que ele corresse
sozinho em direção ao vilarejo. Duvidava muito que ela mesma fosse voltar
para a capital. Ele era um animal de boa qualidade, e quem quer que o
encontrasse perdido e vagando por ali talvez fizesse melhor uso dele do que
algum lorde beberrão.
A floresta nos seus ossos a tinha guiado pela cidade, invisível como uma
mendiga qualquer com os pés descalços e o vestido ensanguentado. A dor
ainda parecia rasgar o seu corpo, mas dava para aguentar, e ia diminuindo à
medida que seguia para o norte. Roubara o cavalo que estava amarrado
frouxamente na frente da taverna. Galopar sob a proteção do manto azul
escuro do céu estrelado a fez lembrar de Neve e dela quando tinham
dezesseis anos, e ela chorou na crina do animal.
Wilderwood estava diferente. Quando a deixara no dia anterior — nem
parecia que só havia se passado um dia —, ela parecia morta como o inverno,
com galhos retorcidos e sem folhas, que se espalhavam cinzentas pelo chão.
Agora as cores de outono brilhavam em tons de dourado e ocre, as estações
parecendo se mover ao contrário. No seu peito, as raízes se alongavam,
esticando-se por entre os espaços entre as costelas como se ela fosse água, ar
e sol.
Doía quando Red se virava na direção de Valleyda, fazendo repuxarem as
raízes conforme cresciam, mas ela se virou assim mesmo. Ficou parada na
colina baixa um pouco antes da fronteira da floresta, na encruzilhada dos seus
dois lares que não estavam satisfeitos em compartilhá-la.
Fechou os olhos, enquanto as lágrimas escorriam pelo rosto. Talvez, se
ficasse ali por tempo suficiente, bem na fronteira do seu mundo, Neve
pudesse senti-la. Talvez Red conseguisse instilar seu raciocínio na terra,
enviando algum tipo de compreensão no ar para que sua irmã gêmea pudesse
ele corressecaptar um dia.
a fosse voltar — Eu amo você.
quer que o Um eco da primeira vez que desaparecera por entre aquelas mesmas
o dele do que árvores. A promessa que Neve fizera naquele dia tinha se realizado: elas
realmente voltaram a se encontrar. Red não fizera uma promessa, não em voz
el como uma alta, mas sentiu que estava se tornando realidade de qualquer forma. O lugar
ntado. A dordela sempre tinha sido na floresta.
diminuindo à Respirou fundo o ar de fora uma última vez antes de entrar em
va amarradoWilderwood.
o manto azul As árvores se erguiam, altas, os galhos se abrindo com alarde. O musgo era
ando tinham um tapete para os pés descalços. As sentinelas irrompiam do chão, altas e
orgulhosas sem nenhum traço de fungo-de-sombra em volta das raízes.
erior — nem Um truque de luz fez com que parecessem se curvar para ela.
mo o inverno, A floresta dentro dela ferroava enquanto crescia, conforme se ancorava.
as pelo chão.Acima dela, o céu passou de lavanda para um tom de ameixa, e Red sentiu a
e, as estaçõesrespiração presa no peito.
alongavam, Wilderwood a acalmava com a voz do farfalhar das folhas. Uma vinha
osse água, ar arranhou seu ombro em um gesto de conforto.
— Red? — Lyra caminhava pela floresta com a habilidade de um cervo.
repuxarem as— Achei que você tivesse dito três dias.
ou parada na — Fiquei com saudade de casa — sussurrou Red.
hada dos seus Folhas douradas estalavam sob os pés de Lyra enquanto ela se aproximava
com as sobrancelhas franzidas com uma pergunta para a qual já sabia a
o. Talvez, seresposta. Hesitante, pousou a mão no braço de Red. A estática fez o ar estalar
mundo, Neve como a atmosfera antes da tempestade; Lyra sibilou, afastando a mão e
nio na terra,arregalando os olhos.
êmea pudesse — Ah… — Ela suspirou, demonstrando a compreensão com um único
som.
Red sentiu os joelhos fracos.
elas mesmas — Eu descobri.
alizado: elas Tudo corria na direção dela, tudo queria alcançá-la. Sentiu a adrenalina
, não em vozaumentar enquanto era tomada por lembranças de Arick, das sentinelas
rma. O lugarretorcidas, da adaga de Kiri e do rosto de Solmir. E de Neve. Neve, que ela
não podia salvar. A visão ficou turva.
e entrar em — Onde está Eammon?
A expressão de Lyra era inescrutável.
O musgo era — Esperando por você. — Ela olhou as mãos de Red, uma com um corte
chão, altas e aberto e a outra claramente quebrada. — Precisamos cuidar disso. Venha.
Red seguiu Lyra em silêncio por entre as árvores. A floresta parecia ter
criado uma trilha para ela, Wilderwood recolhendo as raízes e os espinhos
se ancorava.enquanto folhas caíam pelo chão.
Red sentiu a Uma delas ficou presa entre os cachos de Lyra. Ela a pegou e a virou entre
os dedos.
. Uma vinha — Por todos os Reis — murmurou ela em tom de surpresa. — Não foi
assim antes. Nem mesmo com… as outras.
de um cervo. — As outras não tiveram escolha. — Red estendeu a mão cortada e a
pousou no tronco de uma sentinela pela qual passaram. Estava quente sob seu
toque, reconfortante contra os cortes. — Eu tive. Eammon se certificou de
que eu tivesse.
e aproximava Lyra assentiu. Abriu a mão, deixando a folha cair no chão.
al já sabia a Quando chegaram ao portão, ele estava esperando. O Lobo o abriu antes
z o ar estalar que elas chegassem, correndo pela floresta com os olhos brilhando, os lábios
ndo a mão edecididos e os braços estendidos, que envolveram Red em um abraço
apertado e forte o suficiente para levantá-la do chão.
m um único Os dedos dele tremiam enquanto afastavam o cabelo do rosto dela,
acariciando seu maxilar. Red apoiou a testa no peito dele. O sentimento
floresceu, a floresta nele dando as boas-vindas para a floresta nela, o pedaço
que faltava finalmente se encaixando no lugar.
a adrenalina — O que foi que você fez, Red? — O medo transpareceu na voz dele e,
as sentinelasquando ela o olhou nos olhos, viu que também havia um brilho de terror ali.
Neve, que ela Ele pressionou a testa contra a dela, engolindo em seco. — O que foi que
você fez?

Fife trouxe comida e vinho, mas não ficou com eles, os movimentos dos
om um corte olhos curtos e os olhos inescrutáveis. A voz dele se juntou à de Lyra quando
ele desceu a escada, em cochichos baixos e indistintos.
a parecia ter Eammon colocou a bandeja na cama, as feições sombreadas por conta do
os espinhosfogo crepitando na lareira. As mãos de Red descansavam nos joelhos, uma
cortada e ralada e a outra quebrada. Depois de aceitar as raízes, tinha quase
a virou entre esquecido da dor, mas agora era difícil até de respirar.
— Eles machucaram você.
. — Não foi Eammon olhou para os ferimentos dela como se os catalogasse. Dívidas a
serem cobradas.
cortada e a A floresta no peito de Red farfalhou.
uente sob seu — Eu estou aqui agora. Vou ficar bem.
certificou de — Você não está nada bem.
Ele manteve o olhar nas mãos dela, como se pudesse intimidá-las a se
o abriu antes curar, mas a veemência na voz dele deixou claro que estava se referindo a
ndo, os lábiosmuito mais do que ossos quebrados e cortes de adagas.
um abraço Ela tocou o pulso dele, deixando uma mancha de sangue.
— Eammon, eu…
o rosto dela, Os dedos dele se fecharam em volta dos dela. Ela tentou se afastar,
O sentimento sabendo o que ele ia fazer, mas a luz quente e dourada começou a brilhar
ela, o pedaçoantes que ela tivesse chance. Eammon gemeu entredentes quando cortes se
abriram em uma das mãos, mas não parou e pegou a outra. Um estalo e os
a voz dele e,ossos dela voltaram para o lugar enquanto os dele se quebravam, o
de terror ali.movimento bem nítido contra a pele dela.
que foi que Red fez uma careta. Olhou para Eammon esperando as mudanças, uma
nova altura ou o branco dos olhos ficando completamente verde. Mas além de
um tom fraco de esmeralda nas veias de Eammon, nada aconteceu. Os
vimentos dosbraceletes de casca de árvore nos pulsos dele permaneciam, e as linhas verdes
Lyra quando em volta da íris âmbar dos olhos também, mas Wilderwood não provocou
mais nenhuma nova modificação nele.
por conta do Ela havia aceitado metade das raízes, reequilibrando a balança e deixando-
joelhos, umao mais perto do seu lado humano do que da floresta.
, tinha quase Eammon arregalou os olhos e olhou direto nos dela. Então, fechou e
contraiu o maxilar por causa da dor que assumira para si.
— Filho da mãe, sempre se martirizando — murmurou ela.
se. Dívidas a Um resmungo baixo foi a única resposta. Eammon foi até a escrivaninha
cheia de papéis espalhados, procurando uma bandagem para a mão que
sangrava. Quando a encontrou, voltou a atenção para os dedos quebrados.
Red virou o rosto e fechou os olhos, sem querer vê-lo colocar os ossos no
lugar. Ouviu outro gemido baixo e controlado e um estalo que a fez franzir o
rosto.
midá-las a se Quando olhou de novo, as duas mãos do Lobo estavam enfaixadas. Ele
e referindo afalou olhando para elas em vez de para Red:
— Você não deveria ter feito isso. Sem as raízes, Wilderwood teria
deixado você partir.
— E teria pegado você. — A imagem dele desumanizado na floresta era
u se afastar, tão fácil de se lembrar quanto um pesadelo recente. — Ela precisa de dois,
çou a brilharEammon. Você não é capaz de carregar esse peso sozinho. Eu não podia
ndo cortes sedeixá-lo…
m estalo e os — Você deveria ter me deixado aqui para apodrecer. — Eammon ergueu o
uebravam, o olhar para ela. — Você sabe o que vai acontecer.
A voz dele estava rouca; a última palavra saiu quase como um sopro. Ele
danças, uma se virou de costas como se não quisesse que ela o visse perder o controle.
Mas além de — Não vai acontecer desta vez. — Ela tinha certeza absoluta, assim como
conteceu. Os tinha certeza de que os lábios dele se encaixavam perfeitamente nos dela. —
linhas verdes Dessa vez é diferente, porque eu escolhi aceitá-las, mesmo sabendo as
não provocouconsequências.
— Não importa.
a e deixando- — Claro que importa.
Ela se levantou da cama devagar, atravessando o quarto até ficar atrás dele.
ão, fechou eEles não se tocaram, e ele não se virou, mas cada parte do corpo dele estava
em sintonia com as do corpo dela.
— Eammon, eu aceitei as raízes porque eu am…
escrivaninha — Não. — Um sussurro baixo e rouco. — Não diga.
a mão que Ela pressionou os lábios para impedir a confissão.
s quebrados. Ficaram ali em silêncio. O queixo de Eammon tremia por causa do esforço
os ossos no de mantê-lo contraído. Finalmente, ele tirou o cabelo do rosto com os dedos
fez franzir oenfaixados.
— Conte tudo que aconteceu.
faixadas. Ele Aquilo trouxe todo o turbilhão de volta, todas as emoções que a tinham
feito chorar enquanto galopava no cavalo roubado. A respiração saiu trêmula,
erwood teriae o tremor que começou na voz se estendeu até as mãos.
— Eles estão com a minha irmã. Pegaram a minha irmã, e agora não tenho
a floresta eracomo chegar até ela, e escolhi isso porque era o que eu queria, mas eles estão
ecisa de dois,com ela, e eu…
Eu não podia — Shhh. — As mãos enfaixadas aninharam o rosto dela, enquanto o Lobo
perdia todo o controle que tinha mantido ao ver as lágrimas dela. — Nós
mon ergueu ovamos pensar em alguma coisa, Red. Eu prometo. Vamos encontrar um jeito.
Bem devagar, Red foi se acalmando com o carinho no cabelo e o cheiro de
m sopro. Ele biblioteca que sentia a cada inspiração. Ela percebeu o instante em que ele se
retesou de novo, quando interrompeu a carícia e deu um passo para trás.
, assim como Mas continuou segurando a mão dela. E aquilo lhe deu estabilidade
nos dela. — suficiente para respirar fundo o ar de Wilderwood e começar a história do
sabendo asinício.
Eammon ficou imóvel e calado durante o relato, até que Red contou do
corte que Kiri fizera na mão dela. Isso o fez ranger os dentes com tanta força
que ela conseguiu ouvir por sobre o crepitar do fogo na lareira.
car atrás dele. A voz dela falhou de novo quando chegou à parte do calabouço.
o dele estava — Você consegue sentir quando uma nova brecha se abre?
Ele franziu a testa.
— Logo que virei o Lobo, eu sentia, mas não mais.
— Arick… Ele abriu uma brecha. Mais do que uma brecha. Ele sangrou
em uma sentinela e abriu a Terra das Sombras. — Uma pausa. — Ele fez um
sa do esforçopacto com Solmir.
om os dedos Silêncio. Até mesmo o crepitar do fogo pareceu mais fraco. A respiração
de Eammon ficou ofegante; ele retesou todos os músculos e o corte da mão
voltou a sangrar, manchando a bandagem na mão que segurava a dela.
que a tinham A duras penas, Red recontou tudo. Arick e o terrível pacto, o sangue dele
saiu trêmula,despertando os galhos de sentinela no Santuário e as tirando de Wilderwood.
Eammon não disse nada, o que era mais desconcertante do que se ele gritasse.
ora não tenho — Ele achou que eu não tinha aceitado as raízes porque não queria. — Red
mas eles estãolançou um olhar para Eammon, incapaz de controlar a raiva que fazia seus
lábios se contraírem. — Achou que você tivesse me contado tudo.
uanto o Lobo A raiva no rosto dele desvaneceu, substituída por uma expressão triste e
dela. — Nósmais suave.
rar um jeito. — Meu medo era contar tudo para você e, mesmo assim, você aceitar.
e o cheiro deVocê ia tentar me ajudar. — Ele deu uma risada, olhando para o chão, o
em que ele se cabelo solto cobrindo os olhos. — Eu estava certo.
— Claro que estava. — Ele a conhecia bem, o seu Lobo. — Eammon… —
estabilidade A voz dela falhou ao lembrar de como ele reagira quando ela quase tinha se
a história dodeclarado para ele. — Eu escolhi isto. Eu escolhi você.
— Mas não deveria. — A voz ele era um sussurro. — Eu não fui forte o
ed contou do suficiente para salvá-las, Red. Mesmo depois que Wilderwood as pegou,
m tanta forçatentei evitar o pior, tentei manter o peso total longe delas. E, mesmo assim, a
floresta as drenou completamente. — Uma respiração trêmula. — E se eu não
conseguir salvar você?
— É isso que você não entende. Sou eu que estou salvando você. —
Hesitante, ela levou a mão ao rosto dele. — Me deixe fazer isso.
Eammon passara o relato todo com o corpo completamente retesado, mas,
Ele sangrouquando ela tocou no rosto dele, toda a tensão se esvaiu. Ele entreabriu os
— Ele fez umlábios e os olhos âmbar brilharam.
— Reis — praguejou ele, como se fosse um pedido de misericórdia, e
A respiração fechou os olhos enquanto o polegar dela acariciava seu lábio inferior. — Reis
corte da mão e sombras, Redarys.
o sangue dele — Você não me deixou terminar antes, e é muito importante que eu diga.
Wilderwood. — Ela segurou o rosto dele com mais firmeza e usou um tom bem sério,
e ele gritasse.quase como se o desafiasse a contradizê-la de novo. — Eu amo você
ueria. — Red Eammon.
ue fazia seus Ele exalou.
— E eu gostaria muito de beijar você — continuou ela, num sussurro. —
essão triste e Mas não antes de saber como você se sente em relação ao que eu disse.
O riso dele foi mais doce por ter sido inesperado, embora baixo e triste. Ele
você aceitar. levou uma das mãos à cintura dela, puxando-a para si enquanto passava a
ra o chão, ooutra pelo cabelo de Red.
— É claro que eu também amo você. — Havia fogo no toque dele, fogo no
ammon… — olhar, enquanto ele olhava para ela. — É por isso que estou com tanto medo.
uase tinha se — Podemos deixar o medo para amanhã — murmurou Red.
E, então, as bocas se encontraram, em um beijo cálido e doce e com gosto
ão fui forte o de mel. Não havia medo nas mãos dele na pele dela, nem medo na sensação
od as pegou,do lábio dele entre os dentes dela. Ele aninhava o rosto dela como se fosse
smo assim, a algo que deveria proteger, algo sagrado. Eammon roçou a língua na dela,
— E se eu nãodepois escorregou a boca pelo pescoço de Red, acompanhando o ritmo rápido
da pulsação da Segunda Filha. Ela ofegou, gemendo baixinho, enquanto se
. —deitavam no chão, tentando desatar os laços para que não houvesse mais nada
entre eles. Ele ficou olhando para ela por um instante, deitada no piso de
etesado, mas,madeira do quarto da torre com o cabelo solto e bagunçado, o anel da Marca
entreabriu osdo Pacto nítido na pele nua e rosada.
A Marca estava maior, como uma representação da floresta que florescia
isericórdia, enos ossos de Red. Havia gavinhas saindo do anel de raízes um pouco abaixo
erior. — Reis do cotovelo; elas seguiam em todas as direções, chegando ao meio do
antebraço e subindo até a curva do ombro, criando um padrão rendado na
pele dela.
que eu diga. Eammon passou os dedos sobre o desenho, bem de leve, quase sem a tocar,
m bem sério,os olhos maravilhados enquanto absorvia toda a beleza dela.
amo você, — Que todas as sombras me carreguem… Como você é linda — sussurrou
ele antes de beijar a Marca, os lábios roçando a dobra sensível do braço e
subindo até o ombro.
sussurro. — Ela tentou arquear o corpo para beijá-lo na boca de novo, mas a mão de
Eammon encontrou o outro ombro e a empurrou de volta para o chão.
o e triste. Ele — Não. Eu desejei isso por muito tempo para apressar as coisas agora.
nto passava a — Isso é uma ordem?
Ele arqueou uma das sobrancelhas sobre o olhar âmbar ardente.
dele, fogo no — Se você quiser que seja.
— Eu quero.
Ele riu, e ela sentiu um calor crescer dentro dela.
e com gosto — Bom saber. — Ele continuou beijando os ombros, o peito e a curva dos
na sensação seios antes de subir pelo pescoço de Red, deixando-a ofegante e com o
omo se fossecoração disparado.
gua na dela, — Eu quis tudo — murmurou ela contra os lábios dele antes de beijá-lo de
ritmo rápidonovo. — As raízes, a Marca, eu quis tudo.
enquanto se — Eu acredito em você. — Outro beijo profundo que fez Red quase se
se mais nada contorcer. Um sorriso malicioso. — Mas vou deixar você provar.
a no piso de Red passou a mão na saliência do quadril dele, puxando-o para ela, os
nel da Marca lábios curvados em um sorriso tão malicioso quanto o dele. Ele gemeu baixo,
os dedos entrelaçados no cabelo dela e puxando para que ela erguesse o
que florescia queixo. Os dentes de Eammon encontraram a pele do pescoço dela em uma
pouco abaixomordida que deveria ter doído, mas não doeu, fazendo-a gemer e ondular o
ao meio doquadril em direção ao dele enquanto os lábios desciam pelo corpo dela. Ele
o rendado nasorriu contra a pele dela, acariciando-a enquanto usava o joelho para separar
suas pernas, e Red arqueava o corpo em um pedido mudo por mais. Mais
e sem a tocar, daquilo, mais de tudo de que tinham fugido por tanto tempo. Ela queria sentir
cada uma das cicatrizes que ele carregava e conhecê-las de cor.
— sussurrou Eammon parou, o fogo da lareira iluminando o tórax delineado enquanto
el do braço eos braços apoiavam a cabeça de Red. Ela se retorcia embaixo do calor dele,
tentando se colar ao Lobo o máximo possível.
mas a mão de Ele passou o polegar pela testa dela, traçando uma meia-lua.
— Tem certeza?
— Tenho. — Ela roçou a ponta dos dedos nos lábios inchados de Eammon,
que estremeceu. — Sempre tenho certeza com você.
Ele avançou, e eles se deixaram levar. As raízes de Wilderwood pulsaram,
enterrando-se cada vez mais fundo, entrelaçando-se como os Lobos no chão.

e a curva dos
nte e com o

de beijá-lo de

Red quase se

para ela, os
gemeu baixo,
a erguesse o
dela em uma
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para separar
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daquilo, mais de tudo de que tinham fugido por tanto tempo. Ela queria sentir
cada uma das cicatrizes que ele carregava e conhecê-las de cor.
Eammon parou, o fogo da lareira iluminando o tórax delineado enquanto
os braços apoiavam a cabeça de Red. Ela se retorcia embaixo do calor dele,
tentando se colar ao Lobo o máximo possível.
Ele passou o polegar pela testa dela, traçando uma meia-lua.
— Tem certeza?
— Tenho. — Ela roçou a ponta dos dedos nos lábios inchados de Eammon,
que estremeceu. — Sempre tenho certeza com você.
Ele avançou, e eles se deixaram levar. As raízes de Wilderwood pulsaram,
enterrando-se cada vez mais fundo, entrelaçando-se como os Lobos no chão.
31

A certa altura, eles se levantaram do chão e foram para a cama. Red acordou
sentindo dor em alguns pontos, mas por causa de coisas muito mais
prazerosas do que o piso duro. A pele de Eammon estava quente sob o rosto
dela, o braço em torno do pescoço e a mão apoiada na cabeça dela. A
respiração do Lobo estava profunda e tranquila, mas, quando ela se virou
para dar um beijo no ombro dele, ele gemeu baixo e a puxou mais para perto.
Red apoiou o queixo no peito cheio de cicatrizes. O cabelo comprido de
Eammon estava bagunçado e arrepiado em pontos estranhos por causa dos
dedos dela. O rosto estava relaxado durante o sono, e a linha permanente
entre as sobrancelhas tinha desaparecido. Bem devagar para não o acordar,
ela passou a ponta dos dedos ali.
Wilderwood, enrolada nos ossos dela, apertou-a um pouco mais. Red se
encolheu por causa da dor. Ancorar uma floresta inteira no corpo não tinha
nada de confortável, principalmente quando a mata começava a se sentir mais
confortável.
Outra fisgada, o suficiente para fazê-la franzir o rosto, e um som baixinho
vindo da janela aberta. Um suspiro formado pelo farfalhar das folhas e o
crescimento das flores nos galhos.
De cenho franzido, Red se soltou de Eammon com cuidado. Ele
resmungou, mas não acordou, afundando mais a cabeça no travesseiro. Ela
pegou a primeira peça de roupa que encontrou no chão, a camisa dele, e a
vestiu, cruzando os braços enquanto ia até a janela.
O vento outonal soprava por Wilderwood. Vermelho e dourado, uma faixa
de cores do entardecer mais vibrantes do que qualquer coisa que Red tivesse
visto em Valleyda. A neblina ainda cobria o chão, mas agora parecia uma
coisa etérea e suave em vez de algo sinistro. Folhas caídas forravam o solo da
floresta, mas as que ainda estavam presas aos galhos brilhavam fortes e
verdes, como se o outono estivesse se revertendo e lentamente se abrindo
Red acordoupara o verão.
muito mais Por um momento, Red ficou envolvida demais para tentar resistir ao
e sob o rosto chamado. Ela e Eammon tinham tornado Wilderwood inteira de novo,
beça dela. A finalmente tinham encontrado o equilíbrio. A beleza quase lhe roubava o ar.
ela se virou Mas ainda havia mais uma coisa para fazer, e a floresta a incitava a
s para perto. continuar.
comprido de Red contraiu os lábios. O ar gelado que entrava pela janela fez sua pele se
or causa dos arrepiar. Olhou para trás. Eammon ainda dormia.
a permanente Vou deixá-lo dormir, pensou. Eu mesma posso colocar os ossos para
ão o acordar,descansar.
E parecia ser o certo a se fazer. Parecia certo que fosse Red a responsável
mais. Red sepor tentar, mesmo que com dificuldade, dar paz às outras Segundas Filhas.
po não tinha Pegou uma calça no armário e calçou as botas. Fez menção de buscar o
se sentir maismanto vermelho antes de lembrar que tinha ficado em Valleyda. Suspirando
por tê-lo deixado lá, tentou pensar que o casamento era mais que um manto.
som baixinhoE os outros motivos para mantê-lo, a declaração de quem era e o que era,
as folhas e o também não eram mais necessários. Sabia aquilo no fundo do coração, usava
a declaração nos olhos em vez de nos ombros.
cuidado. Ele O bilhete que deixara para Eammon sobre querer a cama de volta ainda
vesseiro. Elaestava na escrivaninha dele, como se ele o tivesse devolvido cuidadosamente
misa dele, e aao lugar em que encontrara. Red o virou e escreveu outra mensagem. Estou
do, uma faixa na clareira. Depois, com um sorriso nos lábios, acrescentou: Assuntos de
e Red tivesseLobo.
parecia uma
vam o solo da O céu exibia um tom de lilás clarinho em vez de lavanda, como se quisesse
vam fortes emostrar um amanhecer, e Wilderwood permaneceu em um silêncio respeitoso
e se abrindo enquanto Red a atravessava. A trilha até a clareira onde salvara Eammon
cortava a floresta, emoldurada por folhas douradas. O único som era o estalar
ar resistir aodelas sob os pés de Red.
ra de novo, A sentinela com os ossos das Segundas Filhas presos às raízes era mais alta
do que todas as outras, os galhos já cobertos de folhas verdejantes. A cicatriz
a incitava a no tronco ainda estava lá, de onde algo tinha sido cortado. E ela descobriu o
que era: aquela era a árvore na qual Gaya e Ciaran tinham feito o pacto deles.
z sua pele se Fora ali que tinham se tornado os Lobos. Se todas as outras Segundas Filhas
tinham sido atraídas até aquela sentinela para morrer ou se os ossos haviam
s ossos para aparecido ali por causa de alguma magia estranha de Wilderwood, Red não
sabia ao certo. Mas parecia fazer sentido.
a responsável Red tinha a sensação de que aquele lugar era muito mais sagrado do que o
Santuário.
de buscar o Havia três crânios depositados em pontos equidistantes ao longo do tronco
a. Suspirandoda sentinela. Kaldenore, Sayetha, Merra. Três mulheres que Wilderwood
ue um manto.tomara e drenara por puro desespero. Três mulheres que Eammon tentara
era, salvar.
oração, usava O crescimento ao redor dos crânios parecia vagamente com ossos, como se
as Segundas Filhas tivessem se tornado floresta enquanto jaziam ali. Raízes
e volta aindase entrelaçavam às aberturas das caixas torácicas, flores cresciam por entre as
dadosamentevértebras. Red pressionou a mão na barriga, perguntando-se se também era
Estouassim por baixo da pele.
Assuntos de As folhas farfalharam, uma brisa isolada provocando um rodamoinho de
dourado que agitou seu cabelo. Não havia palavras de amor ali; elas já tinham
passado daquele ponto, ela e Wilderwood, mas Red entendia mesmo assim.
o se quisesse — O medo nos faz cometer tolices — disse ela.
cio respeitoso Ao lado da bota dela, um caule fino irrompeu do chão. Cresceu devagar até
ara Eammonflorescer e se transformar em uma flor branca e grande que tocou a palma da
era o estalarmão de Red.
Red passou os dedos pelas pétalas. Não falou nada, mas assentiu, e aquilo
era mais altapareceu ser o suficiente para a floresta.
es. A cicatriz Sentiu a presença de Eammon antes de vê-lo, o corpo dela em total
a descobriu osintonia com os movimentos dele. O Lobo avançou devagar até parar ao lado
o pacto deles.dela, olhando para os ossos arrumados em volta da árvore. Passou os dedos
gundas Filhasna flor e pegou a mão de Red.
ossos haviam — Isso nunca mais vai acontecer de novo — disse ele em voz baixa e
ood, Red nãofirme.
Mais uma chuva de folhas, outro galho se quebrando. Era Wilderwood
ado do que oconcordando com ele.
Agindo por instinto, Red deu um passo à frente. Eammon apertou a mão

go do tronco dela uma vez antes de soltá-la, uma única testemunha silenciosa assistindo à
Wilderwoodbênção dela.
mmon tentara Red pousou a mão sobre o primeiro crânio. Soube de alguma forma que
era o de Kaldenore. Tinha participado de poucos funerais na vida e nunca
ssos, como seprestara muita atenção a nenhum deles. Então, as palavras que Red
m ali. Raízesmurmurou foram bem simples:
m por entre as — Descanse em paz. Acabou.
também era Quase sem pensar, convocou a magia dourada da floresta que residia
dentro de si. Algo tão fácil de fazer agora, como flexionar os dedos ou
damoinho dearquear as costas. O poder fluiu até a palma da mão, passando para o que
elas já tinhamrestara de Kaldenore. Apagando todo o horror, inundando-a com luz.
Quando abriu os olhos, sua mão tocava a terra. O crânio tinha afundado no
chão, Wilderwood absorvendo o último vestígio da mulher que lhe servira de
u devagar até sacrifício. Obedecendo às palavras de Red para finalmente deixá-la descansar
u a palma daem paz.
Passou para as outras, dando a elas a mesma bênção. Primeiro Sayetha e
ntiu, e aquilo depois Merra. Quando o crânio de Merra desapareceu, ela voltou para
Eammon, piscando para controlar a ardência que sentia nos olhos. Ele a
ela em totalabraçou, envolvendo-a com o cheiro que era uma mistura de papel, café e
parar ao ladofolhas. Quando a respiração dela ficou trêmula, ele abraçou-a com mais força.
sou os dedos — Eammon!
Lyra vinha correndo pela floresta tomada pelas cores do outono, parando
voz baixa e de repente com as mãos apoiadas nos joelhos. Estava ofegante e sem ar, e a
expressão do rosto era de preocupação.
Wilderwood — Fife me encontrou no portão e me mandou vir procurar vocês. Tem
alguém na Fortaleza.
pertou a mão Eammon abraçou Red com mais força.
a assistindo à — A floresta deixou alguém passar?
— É o que parece. — Ela fez um gesto irônico para o brilho outonal em
ma forma quevolta deles. — Ele disse que se chama Raffe.
vida e nunca
as que Red Raffe e Fife pareciam não saber bem como agir um com outro. Quando Red
abriu a porta, estava sem fôlego por causa da corrida pela floresta. Os dois
homens aguardavam, um de cada lado da escadaria, olhando-se com cautela.
que residia Fife segurava uma colher de pau da qual escorria sopa na frente do peito,
os dedos oucomo se fosse um escudo, mas o brilho nos olhos dele fazia com que
o para o que parecesse uma arma sinistra em vez de ridícula. A mão de Raffe descansava
sobre o cabo da adaga presa no cinto.
afundado no Red arqueou as sobrancelhas.
he servira de — Raffe?
-la descansar Ele pareceu surpreso por vê-la, desviando a atenção da colher de pau de
Fife. Mas, então, Raffe a agarrou pelos ombros e a puxou em um abraço
ro Sayetha eapertado.
voltou para — Eles machucaram você?
olhos. Ele a — Não, é claro que não. — Ela deu um passo para trás, com uma
papel, café eexpressão confusa. — O que você…
m mais força. — Eu agradeço se você tirar suas mãos da minha mulher. — Eammon
apareceu na porta com os olhos faiscando.
ono, parando — Reis amados, Eammon! Eu estou bem. Muito bem. — Red afastou as
e sem ar, e amãos de Raffe dos ombros. — Eammon, este é Raffe. Um amigo de
Valleyda. Raffe, este é Eammon. — Ela fez uma pausa. — O Lobo.
vocês. Tem — Imaginei. — Raffe levou os dedos à adaga e, quando voltou a falar, foi
quase em um rosnado. — O que foi que você fez com Neve?
Ela ficou surpresa.
— Como assim?
o outonal em — Ela sumiu, Red.
Red piscou. O aposento pareceu entrar e sair de foco, enquanto as coisas
perdiam a nitidez.
Quando Red Neve. O pânico da noite anterior, a tempestade de emoções que Eammon
esta. Os doisajudara a acalmar, tudo voltou à lembrança. Ela e Eammon iam dar um jeito,
com cautela. ela precisava acreditar naquilo, o que mais poderia fazer? Mas agora, com a
nte do peito, expressão cansada e preocupada de Raffe diante dela, a vulnerabilidade no
zia com querosto…
Ela sentiu as pernas bambas.
e descansava — Você veio até Wilderwood para fazer acusações? — Eammon pousou a
mão no ombro de Red para acalmá-la, como se sentisse que ela estava a um
passo de se afogar. O maxilar dele era uma linha dura na penumbra. — A
Rainha não está aqui.
er de pau de — Foi exatamente o que eu disse para ele — disse Fife em um tom
m um abraçosombrio. Ele apontou para Raffe com a colher de pau. — Mas ele não
acreditou.
— Ela não está em Valleyda, nem em Floriane. Ela desapareceu, e a única
s, com umacoisa que falava desde a partida de Red era sobre trazê-la de volta. — Raffe
fuzilou com o olhar a mão do Lobo no ombro de Red, contraindo os lábios.
— Eammon — Será que não basta uma irmã?
— Raffe! — A própria voz de Red ajudou a clarear a névoa que estava
ed afastou as tomando seus pensamentos. Red se aconchegou mais sob a mão de Eammon.
m amigo de— Eu juro que ela não está aqui. Conte logo o que aconteceu. — A voz dela
saiu trêmula. — Por favor.
ou a falar, foi Os olhos de Raffe passaram de Red para Eammon, a desconfiança bem
clara.
— Ele talvez a tenha escondido. — A voz dele era cortante. — Ele é o
Lobo, Red, e não importa o que ele disse…
— Eu sei quem ele é, Raffe.
nto as coisas — Ele não é… — Raffe deu um passo adiante, com os lábios contraídos,
mas algo atrás de Red chamou a atenção dele. Toda a raiva desapareceu e se
que Eammontransformou em incredulidade, depois em descrença.
dar um jeito, Lyra estava parada na porta, tor desembainhada, iluminada pela luz
agora, com a outonal que formava uma coroa ao redor dos cachos escuros. Ela estreitou os
rabilidade noolhos para Raffe, com uma mistura de sorriso e careta no rosto.
— Pode continuar — disse ela, com voz educada como qualquer cortesã.
— Se eu quiser que você pare de falar, eu aviso.
mon pousou a Os olhos de Raffe estavam arregalados. Ele mexia a boca, mas parecia não
estava a umsaber o que dizer. Lentamente, levou o punho à testa, e Red demorou um
umbra. — Atempo para se lembrar de que já tinha visto o movimento, um cumprimento
tradicional de um nobre meduciano para outro.
em um tom — Aquela que acabou com a praga — murmurou Raffe. — Você… Minha
Mas ele nãonossa, você é igualzinha à estátua.
Fife e Eammon trocaram um olhar, com expressão idêntica de aceitação
, e a única controlada. O que quer que tivesse acabado de acontecer com Raffe não era
olta. — Raffesurpresa para eles. Mas havia uma nova tensão no corpo de ambos, como se
do os lábios.estivessem prontos a sair em defesa de Lyra à menor provocação.
Depois de um instante, Lyra embainhou a tor. Fechou o punho, levou-o
a que estava brevemente à testa e cruzou os braços.
de Eammon. — Não sabia que ainda contavam essa história.
— A voz dela Red franziu o senho. Aquela que acabou com a praga… Como o mito das
Estrelas da Praga, uma constelação inteira se apagando no momento da cura
onfiança bemmiraculosa. E a faixa de raízes em volta do braço de Lyra e a resposta de Fife
quando ela perguntara qual tinha sido o pacto de Lyra: A história dela é bem
e. — Ele é omais longa e mais nobre que a minha.
— Nem todo mundo conhece. — Raffe parecia meio hipnotizado. — Mas
há aqueles em Meducia que se lembram de você, que a veneram mais do que
s contraídos,aos Reis. O altar ainda existe, nos penhascos perto do porto. Eles deixam
apareceu e se moedas de ouro para você e rezam pela cura de doenças. — Ele meneou a
cabeça. — Meu pai levou algumas uma vez. Quando eu era pequeno. Eu
ada pela luz estava doente e, depois que ele rezou, eu melhorei.
a estreitou os Lyra sorriu, mas o olhar era inescrutável.
— Duvido que eu tenha tido alguma coisa a ver com isso.
quer cortesã. — Mesmo assim. — Ele deu um passo hesitante na direção dela, com a
cabeça baixa como se talvez fosse fazer uma reverência, mas pareceu mudar
s parecia não de ideia. — Como você fez aquilo? Como conseguiu acabar com a praga?
demorou um Os olhos de Lyra brilhavam como mel sob a luz de velas, os braços
cumprimentocruzados.
— Eu fiz um pacto — disse ela, com voz controlada. — Meu irmão… —
ocê… Minha A respiração pareceu ficar presa na garganta antes de ela engolir em seco e
continuar. — Meu irmão caçula foi infectado. Então, fiz o pacto. Criei um
de aceitaçãolaço com Wilderwood em troca de uma cura.
Raffe não era A expressão de Raffe era inescrutável. Ele olhou de Lyra para Eammon e,
bos, como sedepois, para a Fortaleza.
— E você mora aqui — disse ele devagar. — Com o Lobo. Em
nho, levou-oWilderwood.
— Conosco. — Fife deu um passo para a frente. A colher de pau na sua
mão não parecia mais tão tola.
mo o mito das Lyra encolheu os ombros.
mento da cura — Existem lugares piores para estar. — Ela arqueou uma das
posta de Fifesobrancelhas. — E já que você está perguntando — acrescentou ela —, a
a dela é bemRainha não está aqui.
O olhar de Raffe se alternou entre Lyra e Eammon. Ele fechou os olhos e
zado. — Mas toda a tensão dos ombros relaxou, como se a raiva fosse a única coisa a
mais do quesustentar sua espinha.
Eles deixam — Então, não faço a menor ideia de onde ela pode estar.
Ele meneou a O chão estava firme sob os pés dela, mas Red teve a sensação de estar
pequeno. Eu caindo. A mão de Eammon no seu ombro era a única coisa que a mantinha
em pé, um contraponto ao turbilhão de pensamentos na sua mente. Neve
tinha desaparecido. Red a deixara, puxada pelas raízes nos seus ossos, e agora
a irmã tinha desaparecido. Sentiu um nó fechando a garganta.
dela, com a — O que aconteceu? — perguntou Eammon.
areceu mudar Raffe se sentou no primeiro degrau, passando a unha no musgo.
— Ninguém a viu no palácio desde ontem de manhã. — A voz dele estava
s, os braçosrouca, como se as palavras fossem pesadas demais para a garganta. — Não
desde o incidente no Santuário. O rumor é que a Segunda Filha estava lá…
u irmão… — — Você achou que eu a tivesse pegado? — A voz de Red saiu dura.
lir em seco e Raffe não assentiu, mas a forma como cerrou os punhos foi a resposta.
cto. Criei um — Eu não… — Ele parou de falar. — Eu sabia que ela estava fazendo
alguma coisa que afetava Wilderwood. E eu sabia…
a Eammon e, — E por que você a deixou? — Red não percebeu que tinha avançado até o
peso da mão de Eammon desaparecer. — Se você sabia o que estava
o Lobo. Emacontecendo, como pôde deixá-la?
— Você acha que foi uma escolha minha? — As palavras soaram irritadas,
e pau na suacomo se ele estivesse tentando se controlar. — Não foi. A Ordem me mandou
embora.
— E você permitiu?
u uma das — Arick praticamente me obrigou. — Apesar do tom cortante, havia
tou ela —, a tristeza no rosto de Raffe. Arick fora amigo dele também. — Ele disse que eu
não tinha nada a ganhar ao me envolver na política valleydiana. E disse isso
ou os olhos ecomo uma clara ameaça. Aluguei um quarto na cidade e fiquei de olho nas
única coisa a coisas da melhor forma que consegui. Era tudo o que eu podia fazer. — Ele
passou a mão no cabelo curto em um gesto que mostrava toda a sua
vulnerabilidade. — Mas não foi o suficiente.
ação de estar Red pegou sua tristeza e a enterrou no fundo do seu ser, algo com o que
e a mantinhalidaria mais tarde. Por ora, seus pensamentos giravam em torno de
mente. Neve possibilidades, das soluções.
ossos, e agora Uma se encaixou.
— Já sei como podemos encontrá-la. — Ela se virou para a porta dos
fundos. — Venham comigo.
z dele estava
anta. — Não

tava fazendo

vançado até o
o que estava

ram irritadas,
m me mandou

rtante, havia
disse que eu
. E disse isso
de olho nas
fazer. — Ele
toda a sua

o com o que
m torno de

a porta dos
32

O espelho estava apoiado contra a mesma parede na qual Eammon o deixara


da última vez. Red meio que esperava que o vidro estivesse límpido, a cura
de Wilderwood refletida na relíquia. Mas a superfície ainda estava fosca e
cinzenta, repleta daquela fumaça que serpenteava de maneira sutilmente
sinistra. Talvez ele demorasse um tempo para se curar, ou talvez fosse sempre
ter aquela aparência agourenta.
Red engoliu em seco, sem saber qual das opções a deixava mais
desconcertada.
— Isto… mostra Neve?
A apreensão fez a voz de Raffe sair agitada. Ele tinha hesitado ao ver a
torre, toda envolvida em vinhas e galhos, explodindo em outono dourado
tanto quanto o resto de Wilderwood. Agora se comportava com cautela, com
os braços cruzados para não tocar em nada.
— Gaya fez esse espelho para poder ver Tiernan.
Red desfez a trança e deixou o cabelo cair solto pelo ombro. Pegou um fio,
hesitou, e decidiu pegar mais alguns. Talvez fosse mais difícil encontrar Neve
daquela vez.
— E funciona?
Os olhos de Eammon passaram de Red para o espelho, demonstrando o
mesmo nervosismo que ela sentia.
— Na maioria das vezes.
— Magia estranha — murmurou Raffe.
— Nem me fale. — Apesar do estilo casual, Fife estava apoiado no
corrimão de forma tensa. Lyra tinha ido até a Fronteira para contar a Valdrek
o que estava acontecendo, assim ele finalmente poderia cumprir a promessa
de ajudar se um dia surgisse a necessidade. Red sabia que o nervosismo de
Fife só passaria quando ela estivesse de volta.
Com um último olhar tranquilizador para Eammon, Red enrolou os fios de
mon o deixaracabelo na moldura do espelho e se sentou nos calcanhares, esperando pela
mpido, a cura fumaça e pelo brilho, esperando ver a irmã.
stava fosca e Quando a visão enfim chegou, estava bem embaçada, bem mais do que o
a sutilmenteusual. Onde quer que Neve estivesse, era um lugar escuro. Ela estava deitada
fosse semprede costas, totalmente imóvel, a não ser pelo movimento suave da respiração.
Formas indistintas se moviam ao redor dela, mas Red viu uma trança ruiva e
eixava maisuma túnica branca e alguém alto com um rosto borrado como se estivesse
manchado de tinta, mudando entre uma coisa e outra.
Kiri e Solmir.
ado ao ver a Enquanto Red se concentrava, a escuridão acima de Neve lentamente
ono dourado mostrou um céu noturno azul-escuro salpicado de estrelas. A zona rural de
cautela, comValleyda. Uma linha de violeta profundo dividia o horizonte: a fronteira com
Wilderwood.
Red voltou a si devagar, o alívio fazendo sua respiração tremer.
Pegou um fio, — Ela está viva. Em Valleyda, mas perto…
contrar Neve As palavras viraram um grito provocado por uma dor inesperada. Ele
desceu pela espinha enquanto as raízes em volta dela se reviravam, galhos
arranhando a pele. Os olhos de Eammon brilharam, e ele estendeu a mão
monstrando ocomo se estivesse tentando ir até ela, mas seus joelhos cederam antes que
conseguisse, batendo no chão com um gemido abafado.
— O que houve? — A voz de Raffe era um misto de choque e medo.
— As raízes. — Fife respirou fundo, pálido.
apoiado no Lá fora, um lamento baixo, o vento soprando e o estalo de galhos se
tar a Valdrek partindo. As cores de outono sumindo, desbotando, enquanto o inverno
r a promessachegava de novo.
ervosismo de Eammon estava de joelhos, os punhos cerrados ao lado do corpo, maxilar
contraído em uma expressão da mais pura agonia. Tentou se mover, mas
ou os fios de outra onda de dor atingiu ambos os Lobos, transformando a tentativa de
perando pelamovimento em um espasmo inútil. Alguma coisa cortada, alguma coisa
arrancada.
mais do que o Raffe se encostou na parede, com os olhos arregalados.
stava deitada — O que aconteceu?
da respiração. — Wilderwood. — Com um esforço sobre-humano, Eammon conseguiu
rança ruiva echegar até Red, puxando-a para si com uma pegada firme apesar da dor. Ele
se estivessepassou as mãos pelos braços dela, procurando ferimentos. — Eles tiraram
mais sentinelas.
A sensação era a de ser atingida por cem facas, a forma como a floresta se
e lentamente agitava dentro dela, a forma como se esforçava para se fechar em volta de um
zona rural de rasgo inimaginável: a retirada de dezenas de sentinelas de uma só vez. A
fronteira com seiva corria nas veias no ritmo acelerado do seu coração, chocando-se contra
os galhos que se estendiam em total agonia.
Ouviram uma porta se abrir ao longe e passos subindo apressados pela
escada. Valdrek apareceu, seguido por Lyra, os dois sem fôlego.
sperada. Ele — O que está acontecendo, Lobo? Wilderwood estava aberta quando
avam, galhosentramos, e então um negócio horrível…
endeu a mão Ele parou de falar e arregalou os olhos quando entendeu o que a expressão
am antes queno rosto de Red e Eammon devia significar.
— Por todos os Reis e todas as sombras!
— Exatamente. — Os lábios de Eammon estavam lívidos, mas ele apoiou
Red ao seu lado.
de galhos se — Eles estão fazendo — sussurrou ela. As palavras ditas no calabouço
o o invernoantes de aceitar as raízes voltaram à sua mente: Wilderwood vai ser
destruída. O Lobo vai morrer. Os Reis vão ficar livres. — Solmir está
orpo, maxilarlibertando os outros Reis da Terra das Sombras.
mover, mas
tentativa de Lá fora, o lamento de Wilderwood parecia ter esmorecido, mas o silêncio que
alguma coisa deixou no lugar era ainda pior. Tinham ido embora da torre, sem saber bem

como a violência perpetrada contra a floresta havia afetado a magia deles.


Red se apoiava em Eammon, sentindo-se fraca. Eammon se mantinha forte,
mas a dor que sentia ficava evidente na contração da boca.
on conseguiu Raffe abriu a porta da Fortaleza, e Red quase caiu no primeiro degrau da
ar da dor. Eleescada, com os dentes cerrados contra a dor de tantas sentinelas ausentes.
Eles tiraramEammon se apoiou no corrimão, fechando os dedos com tanta força que as
articulações ficaram brancas.
o a floresta se Lear tinha acompanhado Valdrek e Lyra e se colocara perto da muralha,
m volta de um armado até os dentes com armas que deviam ser antigas, mas brilhavam sob a
ma só vez. A luz das vinhas em chamas. Os olhos azuis estavam cansados e tristes.
ndo-se contra — Quando eu disse que você sempre poderia contar com minha ajuda,

Lobo, eu estava pensando em encontrar materiais para reconstruir a Fortaleza


essados pelaou talvez pedir a sua opinião sobre a rotação das safras. E não essa maldita
floresta inteira sendo destruída.
berta quando — Nós já estávamos na metade do caminho quando começou. — A voz de
Lyra era baixa enquanto mantinha os dedos no cabo da tor. — Tudo estava
e a expressãobem e, do nada, ela… rompeu.
— Parecia que as árvores estavam gritando. — Valdrek balançou a cabeça.
— Nunca tinha ouvido a floresta fazer esse som antes.
as ele apoiou — Precisamos ir até a fronteira — disse Raffe da sombra da escadaria. —
Temos que ir, se é lá que Neve está.
no calabouço — Wilderwood não vai nos deixar passar. Não agora que tenho as raízes
ood vai ser também. — Red se empertigou, e o esforço a fez cerrar os dentes. — Você
Solmir está tem que encontrá-la, Raffe.
Ele assentiu.
— Eammon, Fife, Lyra e eu podemos ir até a linhas das árvores —
o silêncio quecontinuou ela. — Raffe vai procurar Neve. E nós vamos curar as brechas que
m saber bempudermos até que ele a encontre.
magia deles. Eammon meneou a cabeça de leve, como se o movimento o machucasse.
antinha forte, — Solmir está lá, Red. Você não pode chegar tão perto…
— Minha irmã está lá. — Foi quase um sussurro, embora parte dela
ro degrau daquisesse gritar. — Não há tempo a perder. Temos que ir. Agora.
las ausentes. Ele não abriu a boca para fazer qualquer outro protesto, baixando o queixo
força que ascomo se o peso que carregava nos ombros tivesse aumentado umas dez vezes.
Valdrek olhou para eles.
da muralha, — Então, de vocês cinco, só um pode deixar a floresta — disse devagar,
lhavam sob adepois apontou para Raffe. — Imagino que você tenha entrado no breve
período em que Wilderwood parecia estar bem.
minha ajuda, — Ela abriu a fronteira — disse Red com suavidade. — Quando aceitei as
ir a Fortalezaraízes, quando ela se curou, a fronteira com Valleyda se abriu.
essa maldita Ela sentiu um nó na garganta ao pensar em como haviam chegado perto.
Como, por um instante, tudo estivera em equilíbrio, só para ser destruído em
— A voz deum estalar de dedos.
Tudo estava Um brilho de esperança apareceu no rosto de Valdrek por um instante.
— Pois muito bem — disse ele, olhando para Lear. — Nós vamos com
çou a cabeça. você tentar a nossa sorte.
— A floresta não vai deixar vocês saírem. — As palavras de Eammon
escadaria. —saíram controladas.
nho as raízes — Talvez não. Mas Wilderwood é sustentada por duas pessoas agora,
tes. — Vocêdiferente de antes.
— Deveria ser apenas Raffe e eu — argumentou Eammon. — Mesmo que
a floresta os deixe sair, é muito arriscado…
s árvores — — Nós devemos a todo mundo da Fronteira fazer uma tentativa. E se a
s brechas quefloresta permitir que a gente saia, e se a gente puder ajudar na cura dela, é
exatamente o que vamos fazer. — Valdrek deu de ombros. — Nós vamos
ajudar, quer você queira ou não, Lobo.
Red se levantou, cobriu a mão de Eammon com a dela e olhou para ele
a parte dela com a expressão séria.
— Chega de achar que tem que fazer tudo sozinho — sibilou ela. — Seu
ndo o queixoturrão.
as dez vezes. Um brilho de preocupação apareceu nos olhos ele, mas Eammon virou a
mão sob a dela para entrelaçar os dedos aos de Red.
isse devagar, Lear deu um risinho, mas era uma situação difícil.
do no breve — Talvez a gente até acabe matando esse tal de Solmir. Isso já seria o
suficiente para ter uma música sobre nossos feitos, não? Matar um dos Reis?
ndo aceitei as A luz do fogo iluminou os cachos de Lyra quando ela deu um passo à
frente.
hegado perto. — Nós também vamos.
destruído em Atrás dela, Fife cruzou os braços, a Marca do Pacto aparecendo claramente
contra a pele sardenta. Ele confirmou com a cabeça.
Os olhos de Eammon estavam fundos. Ele olhou para Red. Ela apertou a
s vamos com mão dele de leve.
— Vamos, então — murmurou ele.
de Eammon
Todas as árvores de Wilderwood estavam cobertas de espinhos e afiadas para
o inverno. As folhas no chão eram cinzentas e esqueléticas, destituídas dos
essoas agora,tons outonais como se tivessem se passado meses em vez de apenas minutos.
Acima deles, o céu parecia um hematoma.
— Mesmo que O cabo da adaga presa à coxa de Red roçou no punho dela. Facas
brilhavam nas sombras do casaco de Eammon. Red se perguntava se teriam a
ativa. E se a chance de usá-las. Se iam enfrentar algo contra o que era possível lutar. Kiri
cura dela, é poderia ser morta, assim como Solmir enquanto estivesse daquele lado da
— Nós vamosfloresta — pelo menos era o que imaginava, mas se o resto dos Reis
passasse…
hou para ele Cure as brechas, resgate Neve. Red ficava repetindo a litania, recitando
sem parar as duas coisas que achava que poderiam fazer.
u ela. — Seu — Nós temos um plano? — perguntou Lyra baixinho. Sua tor era uma lua
crescente na escuridão. A cada passo, os frascos de sangue que ela e Fife
mmon virou acarregavam na bolsa tilintavam.
— Detê-lo. — Eammon não diminuiu o ritmo da caminhada.
— Ele é meu — disse Raffe, caminhando atrás deles, em silêncio até
so já seria o aquele momento. Ele olhou para Lyra, os olhos tomados por um brilho
sombrio. — Se Solmir estiver lá, mesmo que esteja onde vocês possam pegá-
um passo àlo, ele é meu.
Ela assentiu uma vez.
O silêncio voltou a reinar, quebrado apenas pelo som de botas sobre as
o claramente folhas.
A agonia aguda das sentinelas arrancadas tinha se transformado em uma
Ela apertou ador constante. Ainda assim, Eammon mantinha a postura rígida enquanto
caminhava na frente da estranha procissão, como se cada movimento exigisse
um pouco mais das suas energias limitadas.
Red acelerou o passo até o dorso da mão roçar na dele. Eammon não a
e afiadas para tocara mais desde que tinham saído da floresta, quando haviam corrido para o
estituídas dos
enas minutos.andar de cima para buscar armas. Ele a puxara e a beijara como se pudesse
passar um pouco de proteção para ela através dos lábios.
dela. Facas — Seja lá o que eu tenha que fazer, vou fazer — sussurrara ele. — Vou
va se teriam afazer o que for necessário para manter você em segurança.
vel lutar. Kiri Red traçou as cicatrizes.
uele lado da — Eu amo você. — Seus lábios haviam começado a formar um sorriso,
sto dos Reis que logo morreu. — Eu sou para o Lobo.
Eammon passara o polegar no lábio dela.
nia, recitando — E eu sou para você.
Agora não havia qualquer traço de suavidade na postura dele, como se
era uma lua tivesse gastado tudo naquele breve momento. Eammon estava todo contraído
ue ela e Fife e retesado, movendo-se com uma intenção ferrenha.
— Se você pedisse para Raffe com jeitinho, tenho certeza de que ele o
traria para cá da fronteira para você ter a sua chance.
silêncio até As palavras foram ditas em um tom vazio, só porque ela não tinha nada
or um brilhopara dizer. Porque vai ficar tudo bem soava como uma mentira.
possam pegá- Não havia humor nos olhos dele quando olhou para ela.
— Não vou deixar nada acontecer com você.
Red pegou a mão dele. Ele deixou.
otas sobre as Mais adiante, as árvores começavam a ficar mais espaçadas, erguendo-se
retorcidas para o céu. O pequeno bando de guerreiros parou, todos chocados.
ado em uma A fronteira de Wilderwood era uma desolação só: árvores esparsas e
ida enquantoalquebradas, as que ainda estavam de pé retorcidas em formas torturantes.
ento exigisse Fossos de fungo-de-sombra marcavam a terra — um bem na frente deles, a
beirada de outro visível mais à esquerda. O céu se dividia com uma linha
mmon não aserrilhada, o crepúsculo arroxeado chocando-se contra o índigo salpicado de
orrido para o estrelas como cacos de vidro de uma janela estilhaçada.
o se pudesse Um pouco além, na expansão vazia da parte norte de Valleyda, um bosque
cerrado de árvores brancas crescia, a pouco menos de um quilômetro da
ele. — Voufronteira. Raízes retorcidas estendidas para o céu, entrelaçando-se e se
misturando em um anel impenetrável, enquanto os galhos mais grossos se
enfiavam terra abaixo: outro bosque de sentinelas invertidas, crescendo de
r um sorriso, cabeça para baixo. Entre os troncos brancos, nada se mexia.
Red se encolheu, assim como Wilderwood dentro dela.
— Lá. — Raffe apareceu ao lado dela com os dentes brilhando na
escuridão. — Ela deve estar lá.
ele, como se Ele correu pela terra queimada em direção ao bosque sem hesitar.
odo contraído Valdrek chegou até a fronteira fendida com Lear bem ao seu lado. Quando
tentou dar um passo adiante, Red sentiu uma fisgada no peito, como um
de que ele ogalho se partindo. A floresta permitindo a saída deles, sabendo que fechar as
fronteiras não ajudaria em nada.
ão tinha nada — Bem. — Valdrek se virou, com uma expressão surpresa e cansada no
rosto e um brilho de tristeza maculando a alegria dos olhos. — O mundo
parece igual desse lado. Boa sorte, Lobos. — Ele seguiu pela colina atrás de
Raffe, Lear o seguindo de perto.
Lyra estava parada com a tor em punho, em uma postura relaxada de
erguendo-seprontidão, como se estivesse pronta para correr.
— Nenhuma criatura de sombras até agora — disse ela, analisando com
s esparsas e atenção a fronteira desolada da floresta. — Não consigo decidir se isso é bom
s torturantes.ou ruim.
rente deles, a — A Terra das Sombras deve ter coisas mais importantes para libertar. —
m uma linha A voz de Eammon estava neutra, o maxilar contraído em uma linha de dor.
salpicado deEle olhou para Red. — Vou patrulhar a fronteira da floresta com Lyra. Você
e Fife fiquem aqui. Não se aproximem da fronteira até eu chamar.
a, um bosque — Isso é uma ordem? — A pergunta saiu em tom de brincadeira, para
uilômetro da tentar apaziguar a sensação que pesava no peito de Red.
ndo-se e se Eammon deu uma risada, apertando os dedos dela.
is grossos se — Se você quiser que seja.
crescendo de — Eammon…
Ele colocou uma mecha do cabelo dela atrás da orelha, a palma coberta de
cicatrizes roçando o rosto de Red.
brilhando na — Me deixe fazer isso.
Com gentileza, ele desentrelaçou os dedos dos dela e deu um beijo no
dorso da mão da Segunda Filha. E partiu, seguindo na direção da ruína que a
lado. Quandofloresta tinha se tornado.
o, como um Fife se colocou ao lado dela enquanto Eammon e Lyra se afastavam
que fechar asrapidamente.
— Como somos idiotas — disse ele, tentando usar o tom brusco que
e cansada nosempre usava com ela, mas fracassando.
— O mundo Red arqueou uma das sobrancelhas.
olina atrás de Ele encolheu os ombros.
— Nos apaixonando por idiotas impulsivos.
relaxada de Red pegou a mão de Fife por um instante, mas a soltou logo depois.
Um movimento discreto chamou sua atenção, na direção oposta àquela na
alisando com qual Eammon e Lyra tinham seguido. Uma coisa branca, escondida nas
se isso é bomsombras, bem na floresta valleydiana. Estreitando os olhos, Red deu um
passo à frente.
a libertar. — — Está vendo aquilo?
linha de dor. — Vendo o quê?
m Lyra. Você Outro borrão branco. Na visão dela, Neve estava de branco.
Aquilo foi o suficiente para fazê-la sair correndo.
— Red!
cadeira, para Mas ela não deu ouvidos a ele, correndo em direção ao brilho branco nas
sombras. Talvez Neve tivesse acordado daquele estranho transe e chegado à
fronteira da floresta destruída.
— Venha — disse uma voz da escuridão amorfa atrás de uma árvore. O
tom era bem baixo, tornando-a completamente indistinta.
ma coberta de — Neve? — chamou Red. Tudo dentro dela se concentrava em salvar a
irmã que tinha deixado para trás.
Sem resposta.
um beijo no — Redarys! — Um grito daquela vez, um berro alto que saiu arranhando a
a ruína que agarganta. Eammon chamando por ela.
A parte de Wilderwood no seu peito parecia se partir e queimar, um aviso
se afastavampor estar perto demais da fronteira, mas Red cerrou os dentes e continuou em
frente. As botas escorregaram na terra quando ela chegou perto da árvore, e a
m brusco queSegunda Filha estendeu a mão para se segurar nela.
Das sombras, Kiri sorriu.
Red tentou voltar, mas seus pulmões ardiam tanto, e a floresta ancorada
dentro dela doía tanto… Levou os dedos ao cabo da adaga, tomada por um
pânico tão grande que nem conseguiu pegá-la, e então as mãos de Kiri se
fecharam no pescoço dela, pressionando com força.
sta àquela na — Você dá muito mais trabalho do que vale — sibilou a Suma
scondida nasSacerdotisa, com um brilho de loucura nos olhos sob a colisão de estrelas e
Red deu umcrepúsculo. — Você não merece ver o retorno dos nossos deuses.
— Red!
Ela sentiu as raízes deslizando nas canelas, a presença de Wilderwood no
fundo do peito enquanto Eammon tentava convocar as partes alquebradas e
transformá-los em força.
— Diga adeus ao seu Lobo. — As mão de Kiri apertaram mais o pescoço
de Red. — Ele logo se juntará a você.
o branco nas Então, mãos puxaram os braços da Suma Sacerdotisa. Ela soltou Red, que
e chegado àconseguiu respirar. Solmir praguejou baixinho, pegando Red pelo braço e a
puxando na direção da árvore esfarrapada.
ma árvore. O Ainda ofegando, Red ouviu ao longe sons de passos correndo e os gritos de
Eammon.
em salvar a — Mais trabalho do que vale, realmente — resmungou Solmir, arrastando-
a pelo braço de uma forma que a fez tropeçar, caindo de joelhos no chão. —
Mas é mais útil viva do que morta.
arranhando a Red abriu a boca para xingá-lo, para chamar por Eammon. Mas Solmir a
puxou para o outro lado da fronteira, e cada fibra do seu ser, cada nervo, tudo
mar, um avisoexplodiu em uma dor ardente que a consumiu por inteiro. Qualquer
continuou em pensamento sobre qualquer outra coisa despareceu da sua mente naquele
da árvore, e amomento, enquanto seu grito reverberava por Wilderwood.
As árvores se curvaram com pesar.

esta ancorada
mada por um
os de Kiri se

lou a Suma
de estrelas e

ilderwood no
alquebradas e

ais o pescoço
Então, mãos puxaram os braços da Suma Sacerdotisa. Ela soltou Red, que
conseguiu respirar. Solmir praguejou baixinho, pegando Red pelo braço e a
puxando na direção da árvore esfarrapada.
Ainda ofegando, Red ouviu ao longe sons de passos correndo e os gritos de
Eammon.
— Mais trabalho do que vale, realmente — resmungou Solmir, arrastando-
a pelo braço de uma forma que a fez tropeçar, caindo de joelhos no chão. —
Mas é mais útil viva do que morta.
Red abriu a boca para xingá-lo, para chamar por Eammon. Mas Solmir a
puxou para o outro lado da fronteira, e cada fibra do seu ser, cada nervo, tudo
explodiu em uma dor ardente que a consumiu por inteiro. Qualquer
pensamento sobre qualquer outra coisa despareceu da sua mente naquele
momento, enquanto seu grito reverberava por Wilderwood.
As árvores se curvaram com pesar.
33

Red ralava os joelhos no mato seco do fim de outono valleydiano enquanto


Solmir a empurrava. Parecia que seu peito era uma gaiola quebrada, com as
raízes buscando seu lar. Pensou que se olhasse para baixo, com certeza veria
os galhos irrompendo da pele, sujos de vísceras, o corpo se transformando em
um sepulcro. Um lamento horrível ecoava na cabeça, e ela não tinha ideia de
onde ele vinha, sentindo tanta dor que não sabia se o som saía da própria
boca ou era emitido pelas próprias cordas vocais.
Vinhas tentavam subir pelos tornozelos dela e de Solmir, mas estavam
fracas e agitadas, frágeis por causa da floresta moribunda. Os galhos se
uniam, estendiam-se o máximo que podiam antes de quebrar como a corda
gasta de um arco.
— Red! — O berro de Eammon parecia rasgar a garganta dele. — Red!
Valdrek e Lear interromperam de súbito a ronda cuidadosa pelo campo, a
voz de Eammon chicoteando no estagnado ar noturno. Raffe saiu correndo,
desaparecendo no boque retorcido. Valdrek fez um gesto para que Lear
seguisse o rapaz. Quando Lear desapareceu entre as árvores, pessoas de
branco apareceram como se estivessem escondidas no bosque até aquele
momento.
Sacerdotisas. Red contou cinco na clareza estranha e trêmula que pairava
sobre a dor. Alguma coisa em relação ao número pareceu agourento,
horripilante de uma forma que ela ainda não conseguia entender totalmente.
Ela se debateu para se libertar de Solmir, mas ele a segurava com força.
Kiri caminhava ao lado deles, com leveza e sem pressa, as mãos enfiadas nas
mangas.
Com um rugido contido, Eammon cruzou a fronteira de Wilderwood, a dor
fazendo o rosto empalidecer e os tendões do pescoço se contraírem. Estava
com a adaga desembainhada, mas Solmir se desviou do golpe sem a menor
ano enquantodificuldade. Kiri deu um passo para o lado, emitindo um som de desdém,
rada, com as como se Eammon não passasse de uma inconveniência menor, um mosquito
certeza veriaque precisava ser esmagado.
formando em Outra investida, mas algo fez Eammon recuar com um estalo, como se ele
inha ideia detivesse se chocado contra uma parede invisível. O pescoço dobrou em direção
ía da própria ao ombro, em um ângulo tão estranho que parecia prestes a quebrar; o grito
de Red não teve nada a ver com a forma como Solmir a jogou de lado como
mas estavamum manto que não quisesse mais usar.
Os galhos se — Então, é assim que vai ser? — Ele soava quase entediado. — Heroísmo
omo a cordasem sentido?
Com os dentes arreganhados, Eammon partiu para cima dele, atingindo o
Rei com um forte soco no queixo. O ranger do maxilar de Solmir foi audível,
elo campo, a a cabeça lançada para trás. Eammon virou a adaga de lado na mão e atacou,
aiu correndo,cortando o braço de Solmir.
ara que Lear Mas o Rei só ficou parado no lugar, como se estivesse esperando algo.
, pessoas de Eammon tentou golpeá-lo de novo, mas um espasmo percorreu seu corpo.
e até aquele A espinha travou, quase dobrando-o para trás. Houve um silêncio tenso,
como se ele estivesse aguentando o máximo que conseguia, até um grito
a que pairavaagonizante explodir de sua garganta.
u agourento, As vinhas deslizaram de Wilderwood e se fecharam em volta dos braços e
tornozelos de Eammon, as botas deixando marcas na terra enquanto ele era
arrastado de volta. Gritou o nome de Red pela garganta que parecia ferida e
a com força.lutou para avançar, mas Wilderwood continuava puxando o corpo que se
enfiadas nasdebatia cada vez mais de volta para a floresta arruinada.
Algo que quase se assemelhava a pena iluminou o rosto de Solmir.
erwood, a dor — Ela está entranhada demais em você para deixá-lo partir — disse ele em
aírem. Estavavoz baixa. — Wilderwood se protege acima de tudo.
sem a menor — Como o que aconteceu com a minha mãe? — rosnou Eammon, tentando
m de desdém,resistir à força de Wilderwood. — As vinhas envolviam as pernas dele, e
um mosquito galhos semelhantes a dedos o seguravam pelo ombro. Com gentileza, mas de
forma que fosse impossível escapar. — Quando ela tentou abrir a Terra das
, como se eleSombras para você?
u em direção Os olhos de Solmir eram inescrutáveis.
ebrar; o grito — Exatamente.
de lado como Kiri estava quase chegando ao bosque retorcido, uma mancha de branco
contra as cores noturnas do campo. Algo brilhava na sua mão. Uma adaga.
— Heroísmo E outro brilho de prata, mais perto ainda: Valdrek. Devagar, ele seguia em
direção a Wilderwood, avançando agachado pela área escura entre o bosque
, atingindo o retorcido e a fronteira da floresta. A espada estava desembainhada e pronta,
r foi audível,os olhos fixos nas costas de Solmir.
mão e atacou, Satisfeito com o fato de que Eammon estava sob controle, Solmir se virou
para Red, com olhar admoestador.
— Já teríamos conseguido se não fosse por sua causa. — Solmir meneou a
eu seu corpo.cabeça. A brisa noturna agitava seu cabelo comprido, e o luar iluminava o
lêncio tenso,contorno de pequenas cicatrizes na testa, equidistantes, como se tivessem
até um gritosido feitas de forma deliberada. — Se você tivesse permanecido em Valleyda,
ele teria desistido.
dos braços e — Não teria. — Red tentou se levantar, mas o corpo não obedecia aos
uanto ele eracomandos. — Ele não desistiu antes de mim. Não desistiria depois.
recia ferida e
corpo que se Ela nunca tinha visto aquela expressão no rosto de Solmir. Não era mais de
raiva, de tédio ou de desdém. Era quase de tristeza, e ela o odiou por isso.
Algo passou rente à cabeça dele, a tor de Lyra. Ela e Fife tinham se
disse ele em juntado a Eammon na fronteira de Wilderwood, tão incapazes de sair quanto
ele. O rosto de Lyra era uma máscara de raiva enquanto olhava para ele com
mon, tentandoos dentes arreganhados.
ernas dele, e — Que tolice. — Solmir suspirou. — Quando os Reis chegarem, você vai
ileza, mas dequerer uma arma.
r a Terra das Os Reis. Cinco deles, incluindo Solmir. Cinco sacerdotisas no bosque. E
Kiri, que seguia na direção delas com uma adaga desembainhada.
— Não deixe que ela as mate! — gritou Red para qualquer um que pudesse
ouvi-la, virando o rosto bem na hora que Kiri passou pelas árvores invertidas.
ha de branco— Vocês têm que impedi-la de matá-las!
A voz, rouca por causa da dor, poderia muito bem ter sido um sussurro.
ele seguia emMesmo assim, foi o suficiente para fazer Solmir se virar e perscrutar a mata
ntre o bosquecom atenção suficiente para detectar a presença de Valdrek, agachado e
ada e pronta,esperando uma brecha.
Valdrek não hesitou quando percebeu que tinha sido visto. Os anéis
lmir se virouprateados em seu cabelo brilharam quando ele saltou, gritando e girando a
espada no ar.
mir meneou a Em um gesto quase casual, Solmir levantou a própria adaga e acertou o
iluminava opunho contra a testa de Valdrek.
se tivessem Eammon tentou se libertar de Wilderwood, gritando, mas a floresta
em Valleyda,rapidamente o conteve. Red tentou se levantar para se aproximar de Valdrek,
mas algo como um muro de gelo a derrubou de volta.
obedecia aos Lágrimas escorreram pelo rosto e molharam o cabelo da Segunda Filha, as
costas estateladas no chão. Era o mesmo frio que Kiri usara contra ela em
Valleyda, que fazia com que os órgãos parecessem congelados e a garganta
o era mais defechada com gelo, mas ainda mais forte e mais pesado, nascido de anos na
escuridão em vez de sangue em galhos — magia da Terra das Sombras, todo
fe tinham seaquele poder transformado em um prisão, entranhando-se nele enquanto
e sair quantopagava sua sentença. Aquela mesma magia que ele tentara usar contra ela no
para ele com calabouço, e agora ela não tinha luz dourada o suficiente para se defender.
A dor agonizante a atravessou, fazendo-a se contorcer enquanto
em, você vai Wilderwood ia definhando. Ela gritou, embora a boca tentasse abafar o som.
— A floresta não está tão entranhada nela quanto em você. — O tom de
no bosque. ESolmir era casual, mesmo tendo de falar mais alto para ser ouvido na
distância entre ele e Eammon, como se estivessem em uma mesa de taverna.
m que pudesse— A floresta na sua Lady Lobo é nova, fácil de arrancar. Você sabe como
es invertidas.resolver isso. Como poupá-la de mais dor.
— Não! — Red arqueou o corpo, quase se dobrando ao meio, para tentar
um sussurro.encontrar o olhar de Eammon. — Não.
crutar a mata Um estrondo, uma reverberação profunda que a fez cerrar os dentes. Red
agachado e tentou mirar os olhos embaçados na direção do bosque, o suficiente para ver
uma sacerdotisa de túnica branca cair no chão, que se tingiu de vermelho.
to. Os anéis A primeira sacerdotisa estava morta. Faltavam quatro.
o e girando a — Ela vai morrer se você não fizer isso. — Solmir gesticulou na direção
do bosque atrás deles, do horror distante acontecendo nas raízes.
a e acertou o Outra sacerdotisa caiu.
Duas mortas.
as a floresta — Trazê-los de volta, o que eles se tornaram, vai matar Wilderwood e
r de Valdrek,qualquer coisa ligada a ela. Ela já é parte de você há tempo demais, Eammon.
Não tem como escapar. — A mão de Solmir tocou o cabelo de Red com
nda Filha, as leveza, e ela se afastou o máximo que conseguiu, enquanto seu corpo era um
ontra ela emcampo de batalha entre raízes e o peso frio da magia das sombras. — Mas ela
e a gargantatem.
o de anos na Eammon ofegava. Os olhos brilhavam sobre os lábios contraídos de dor.
ombras, todoFife afastou Lyra e envolveu os ombros dela com o braço enquanto assistiam
ele enquantoa tudo em um silêncio horrorizado.
contra ela no — Por quê? — A voz de Eammon soou fraca. — Por que trazer os outros?
Foram eles que o condenaram! Eles são o motivo de tudo isso!
er enquanto Os olhos de Solmir pareciam lascas de gelo. Por um momento, ele mexeu
os lábios como se realmente fosse dar uma explicação. Mas depois balançou
— O tom dea cabeça, quase derrotado.
r ouvido na — Porque é inevitável. O retorno deles é inevitável. — Uma pausa, a voz
a de taverna.ficando mais forte. — E quanto mais tempo eles tiverem para se preparar,
ê sabe comopior será.
Outro estrondo de quebrar os ossos, fazendo a terra tremer. Depois outro,
o, para tentarmais alto.
Quatro mortas.
s dentes. Red Através da fronteira, os olhos de Eammon encontraram os de Red, uma
ente para ver promessa queimando nos olhos âmbares e verdes. Eu deixaria o mundo
queimar antes de machucar você.
Ela leu a intenção dele, assim como conseguia ler tudo em Eammon. Red
ou na direçãocerrou os dentes e rosnou para ele:
— Não…
Eammon dobrou o pescoço para o lado enquanto puxava Wilderwood dela,
arrancando a floresta do corpo dela pela raiz. A voz da Segunda Filha
Wilderwood etrovejou em agonia para o céu. Red percebeu que aquilo que ele dissera sobre
ais, Eammon. o mundo queimar não era tudo.
de Red com Ele estava disposto não só a deixar o mundo queimar, mas também a se
corpo era umdeixar queimar com ele.
s. — Mas ela Red gritou, fincando os dedos na terra.
— Devolva! Maldita! Devolva as raízes para mim!
aídos de dor. Wilderwood não ouviu. Red tossiu folhas ensanguentadas e pedaços de
nto assistiam raízes. Desesperada, pensou em enfiá-las goela abaixo, mas de nada
adiantaria. Tinha voltado a ser apenas humana de novo, nada além de carne,
er os outros? sangue e ossos.
Os galhos, as raízes e as vinhas em volta de Eammon se contraíram uma
o, ele mexeuvez como um punho cerrado e, depois, abriram-se de repente. Um espasmo o
pois balançoufez cair de joelhos, tremendo. Os tendões no pescoço e nos ombros do Lobo
mais pareciam raízes de árvore, visíveis através do tecido rasgado da camisa.
pausa, a vozEle fincou os dedos em garra no chão enquanto uma luz dourada, fraca, mas
se preparar,visível, pulsava nas suas veias.
— Desista, Eammon — murmurou Solmir, sem prestar a menor atenção
Depois outro, em Red. Aquilo era entre o Rei e o Lobo. — Desista.
Depois de um momento, o Lobo ficou imóvel.
O mundo congelou, como se estivesse no gume de uma faca. Fife e Lyra
de Red, uma pareciam estátuas, o rastro das lágrimas brilhando no rosto de Lyra.
ria o mundo Um momento de quietude.
Uma escolha feita.
ammon. Red Um ímpeto.
A floresta cresceu atrás de Eammon como uma onda feita de raízes, galhos,
vinhas e espinhos. As sentinelas se arquearam na direção dele, alongando os
erwood dela, dedos afiados e brancos. Rasgaram a pele dele e adentraram, virando luz e
egunda Filhatransformando as veias em dourado e verde. O Lobo ainda estava imóvel com
dissera sobreum cadáver, mas as coisas que tornavam Wilderwood o que ela era fluíam
para dentro ele como a chuva em um rio. Fluindo e fluindo, uma onda
também a sequebrando nas costas dele, uma floresta toda voltando para a semente.
Então, Eammon se levantou.
Empertigou-se em toda a sua altura e depois cresceu mais, passando dos
dois metros, dois metros e meio. O olhos dele mudaram enquanto sua sombra
e pedaços deficava cada vez maior no chão, e a parte branca em volta da íris âmbar se
mas de nadatingiu do mais puro e brilhante tom de esmeralda. A hera envolveu os pulsos
ém de carne,do Lobo, enquanto uma guirlanda crescia no cabelo preto e comprido demais,
cascas de árvore protegiam os braços e galhos semelhantes a chifres surgiam
ntraíram umana sua testa.
m espasmo o Todas aquelas pequenas mudanças — as lascas que Wilderwood deixava
bros do Lobo nele quando usava sua magia sozinho, as partes dele das quais ele abrira mão,
do da camisa.tudo que ele tentara evitar ao oferecer o próprio sangue — tudo aquilo era
a, fraca, mas nada perto do que estava acontecendo.
Uma floresta transformada em homem, um homem transformado em deus.
enor atenção Eammon — o que já tinha sido Eammon um dia — virou os olhos
estranhos de deus para Red, encolhida no chão, e ela entendeu. Ele
finalmente tinha desistido. Desistido de ser homem e floresta, desistido
. Fife e Lyra daquela situação binária e impossível de ossos e galhos. Ele puxara tudo para
si, toda a rede brilhante de Wilderwood tomando tudo que ele costumava ser.
Daquela vez, ele tinha permitido que a floresta o tomasse por inteiro. Tinha
desistido da própria vida para salvar a dela. Aqueles olhos inumanos não
tinham nada do homem que amava.
aízes, galhos, O soluço de Red tinha gosto de sangue.
alongando os Solmir deixou escapar um riso baixo e debochado.
virando luz e — Os Lobos e seus sacrifícios.
a imóvel com Um estalo final, como se a própria terra estivesse se fendendo. Através das
la era fluíamlágrimas, Red viu a quinta sacerdotisa cair, a adaga de Kiri tingida de
o, uma onda vermelho sob a luz antes de correr na direção do bosque. Ao mesmo tempo,
Lear se atirou para fora das árvores, caindo imóvel. Sombras explodiram do
chão em volta das sentinelas retorcidas, formando um anel de sombras que se
passando doscontorciam.
o sua sombra
íris âmbar se Solmir fez aquela estranha forma com a mão de novo. As sombras rolaram
veu os pulsospelo chão como uma onda negra, atraídas para ele como pássaros e emitindo
prido demais, sons loucos. Elas foram se aglutinando em Solmir, tornando-o maior,
ifres surgiamenvolvendo-o em escuridão.
Com um sorriso e sombras fervilhando, ele acenou.
wood deixava E Wilderwood — Eammon — disparou na direção dele com um rugido.
e abrira mão,
do aquilo era

ou os olhos
ntendeu. Ele
sta, desistido
ara tudo para

nteiro. Tinha
numanos não

. Através das
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Solmir fez aquela estranha forma com a mão de novo. As sombras rolaram
pelo chão como uma onda negra, atraídas para ele como pássaros e emitindo
sons loucos. Elas foram se aglutinando em Solmir, tornando-o maior,
envolvendo-o em escuridão.
Com um sorriso e sombras fervilhando, ele acenou.
E Wilderwood — Eammon — disparou na direção dele com um rugido.
34

Wilderwood não era mais uma floresta. Tinha se desenraizado e assumido


uma forma diferente. Suas fronteiras eram definidas pelo corpo de Eammon,
envolto em espinhos e vinhas. Eammon tinha desaparecido, e Wilderwood
assumira a forma de homem em seu lugar.
Quando ele correu em direção a Solmir, a terra tremeu.
Red se agachou, finalmente livre da magia fria, a boca seca de tristeza e
horror. O deus-floresta ainda se parecia com Eammon, ainda tinha seu rosto
anguloso e cabelo escuro. Mas a forma como se movia era estranha, névoa
passando por galhos e folhas girando ao sabor do vento. Ele era luz dourada
contra a sombra de Solmir, e ambos eram terríveis.
Eammon — ou o que ele tinha sido e não era mais, e por todos os Reis, ela
ia enlouquecer — atingiu o queixo de Solmir com um soco. Casca de árvore e
folhas explodiram a partir do contato. A cabeça de Solmir foi lançada para o
lado com força, mas ele abriu um sorriso exultante.
— Você poderia ter tido uma morte tão pacífica… — Solmir limpou o
sangue da boca com o dorso do pulso tomado de sombras. — Lobos morrem
mais fácil do que deuses.
Lyra estava parada na fronteira de Wilderwood, com os olhos arregalados
e descrentes. Então, com um rosnado, correu e pegou sua tor no chão, não
mais impedida de sair de uma floresta que não estava mais ali. Fife a seguiu
sem hesitar. As árvores ainda se alongavam atrás deles, mas estavam
diferentes — as cores mais fracas, o céu acima deles salpicado de estelas, os
tons da noite substituindo os do crepúsculo.
Apenas uma floresta, como qualquer outra. Tudo que tornava Wilderwood
o que era se concentrava em Eammon agora.
Os corpos das sacerdotisas de túnica branca manchada de vermelho jaziam
entre as sentinelas invertidas no bosque retorcido, o sangue delas fluindo para
o e assumido as extremidades das árvores. Red não sabia onde Kiri estava. Lear tinha
de Eammon,despertado, e se afastava das árvores com um corte na testa que pingava
Wilderwoodsangue nos olhos em um fluxo constante.
O redemoinho de sombras que cercava o bosque crescia cada vez mais, a
escuridão girando no ar como fumaça. A terra em volta retumbava, como
de tristeza euma porta trancada sendo chacoalhada.
nha seu rosto Uma porta que logo seria aberta à força.
ranha, névoa Eammon estendeu as mãos, e troncos afiados como lanças irromperam da
a luz douradaterra. Passaram por Solmir como se ele fosse fumaça, a escuridão
serpenteando para longe e depois voltando ao lugar. Solmir curvou os dedos e
, ela sombras envolveram o braço de Eammon como algemas, girando e fazendo-o
a de árvore ese dobrar atrás das costas. Um rugido, um som como o de galhos se
nçada para oquebrando. Quando Eammon se libertou das garras de sombras, uma
queimadura escura marcava sua pele.
mir limpou o Apesar do vazio que sentia no peito e de saber que cada fragmento de
obos morrem Wilderwood tinha sido arrancado de dentro dela, Red curvou os dedos em
garras. Levantou-se e cambaleou na direção dos deuses gladiadores.
s arregalados Não foi uma sombra que a jogou para trás, mas sim uma vinha, florescendo
no chão, nãoe a agarrando pela cintura para colocá-la no chão de forma firme, mas gentil.
Fife a seguiuOlhos inumanos que ela não conhecia a fitavam, em um rosto que ela tinha
mas estavambeijado. Não havia nenhum tipo de reconhecimento neles.
de estelas, os Ela ficou imóvel no chão, cada inspiração parecendo uma faca em suas
entranhas.
Wilderwood Uma forma leve corria rente ao chão. Lyra, com a tor em punho e os
dentes brilhando ao luar. A lâmina passou pela perna revestida de sombras de
melho jaziamSolmir, um golpe que deveria ter decepado um membro, mas o corpo dele se
s fluindo paradissipou e se recompôs. Com um sorriso de escárnio, ele bateu em Lyra,
a. Lear tinhafazendo-a sair voando. Ela caiu bem ao lado de Red e ficou imóvel.
que pingava — Lyra! — Atrás dela, Fife berrou com todas as forças. Estava com a
adaga empunhada quando se virou para Solmir, parecendo pequeno diante da
a vez mais, acriatura envolta em sombras.
mbava, como — Fife, não! — Red rastejou até Lyra e pousou o dedo contra o pescoço
dela. A pulsação estava fraca, mas constante, e a respiração curta, mas
presente. — Não adianta!
romperam da Ela viu no rosnar dele que ele sabia, e também que não se importava nem
a escuridãoum pouco. Solmir machucara Lyra, então ele ia machucar Solmir. Uma
ou os dedos eequação fácil. Mas não podia ser naquele momento. Com um rugido
o e fazendo-o estrangulado, ele embainhou a adaga e correu em direção a elas.
de galhos se Atrás dele, Eammon e Solmir continuavam lutando, ignorando todo o
ombras, uma resto, uma batalha cósmica em um microcosmo.
— Ela está viva — disse Red assim que Fife chegou, tirando a mão da
ragmento depulsação de Lyra para que ele pudesse colocar a dele. — Ela está respirando.
os dedos em Ele soltou um soluço de alívio quando sentiu as batidas do coração da
mulher, baixando tanto a cabeça que os cachos ruivos claros roçaram a testa
, florescendode Lyra. Nervoso pelo medo, Fife tirou o casaco e colocou em volta dela,
e, mas gentil.como se fosse um escudo.
que ela tinha E ficou congelado, com os olhos fixos no próprio braço despido.
No que não estava mais lá.
faca em suas — A Marca. — Ele parou e engoliu em seco antes de arregaçar a blusa de
Lyra. Pele marrom e imaculada na qual antes havia a Marca do Pacto,
punho e osiluminada pelas estrelas e intocada pelas raízes.
e sombras de Os olhos dele encontraram os de Red, arregalados de surpresa e de um
corpo dele semedo considerável.
eu em Lyra, Um peso nos ombros, um grande respeito que fez os pelos em sua nuca
arrepiarem. Red olhou por sobre o ombro, sentindo um nó na garganta por
Estava com a saber o que veria.
eno diante da Eammon — aquele que não era Eammon — olhou para ela com os olhos
verdes e âmbares por meio segundo, quase sem entender. Então, o olhar
ra o pescoço passou para Fife. Um aceno, mecânico e frio.
o curta, mas — Reis. — Fife apertou o próprio antebraço.
O deus-floresta voltou a atenção para a batalha, a pausa toda levando
mportava nemmenos de um segundo. Galhos afiados cresceram dos dedos, tentando atingir
Solmir. Uma o rosto de Solmir.
um rugido O gigante escuro que Solmir tinha se tornado não tentou nem desviar. Os
galhos passaram por ele como se ele fosse uma sombra, e ele rapidamente
ando todo ovoltou à forma anterior.
Sombra.
do a mão da O pensamento quase escapou da mente de Red, mas ela enfim capturou a
ideia. Quando ela vira Arick do lado de fora do Santuário, Arick que era
o coração daSolmir, não havia sombra no chão atrás dele. E as palavras de Kiri no
çaram a testacalabouço: a sombra e o homem.
m volta dela, Cinco sacerdotisas mortas, cinco vidas para libertar cinco reis. Solmir, já
ali pela metade, devia estar se condensando em um corpo, devia estar usando
o sacrifício para se manifestar completamente naquele mundo. Mas ainda
tinha uma conexão com Arick, mantendo-se como sombra enquanto lutava
com Eammon.
ar a blusa de Enquanto Solmir lutasse com Eammon, Arick continuaria sendo o homem.
ca do Pacto, Fife estava agachado entre Lyra e a guerra entre a sombra e floresta, com a
mão na adaga. Quando falou come ela, foi com a objetividade que lhe era
esa e de umpeculiar.
— Eu não sei o que você vai fazer agora. Mas eu vou ficar com Lyra.
em sua nuca — E eu nunca pediria que você fizesse qualquer coisa diferente disso.
garganta por Ele respondeu de forma ainda brusca, mas afetuosa:
— Eu sei.
com os olhos Red sabia o que precisava acontecer. Mas aquilo era um peso em seu peito,
ntão, o olhar um que ela não queria analisar com muita atenção. Não até que estivesse
claro que não havia outra opção.
A escolha teria de ser tomada com rapidez. Eammon não poderia continuar
toda levandolutando para sempre com uma sombra.
tando atingir Ela se levantou, com as pernas ainda bambas.
— Vou até o bosque.
m desviar. Os Fife olhou para ela e assentiu.
rapidamente Red saiu correndo.
Lear a encontrou na entrada do bosque cercado de sombras, enxugando o
sangue da testa.
m capturou a — Tentei impedir. — Ele fez um gesto com a mão suja de sangue,
Arick que eraindicando os corpos das sacerdotisas quase ocultos pela escuridão. — Eu
s de Kiri noimplorei para que fugissem. Nenhuma delas me ouviu, e a ruiva me acertou
em cheio quando tentei tirá-las de lá. — O sangue escorria para os olhos dele
is. Solmir, já e ele o limpava, como se aquilo o irritasse mais do que doesse. — Não
estar usando consegui avançar muito antes de as sombras começarem a se espalhar, mas
o. Mas ainda Raffe ainda está lá.
quanto lutava — Preciso encontrá-lo. — Mesmo que toda Wilderwood tivesse saído de
dentro dela, o bosque ainda parecia uma coisa repelente. Algo que nunca
do o homem. deveria existir sob o céu. — Preciso encontrar minha irmã.
oresta, com a Red viu um brilho de preocupação nos olhos de Lear.
e que lhe era — Se ela estiver lá, não sei exatamente o que vai encontrar.
— Eu também não. — Red engoliu em seco. — Mas é a nossa única
chance de colocar um ponto final nisso tudo.
Lear assentiu, depois inclinou a cabeça em uma reverência curta.
— Boa sorte, Lady Lobo.
Antes que perdesse a coragem, Red correu e saltou sobre o sulco de
em seu peito, sombras cada vez mais espesso, caindo sem a menor elegância ao lado do
que estivesse corpo de uma das sacerdotisas.
O bosque estava coberto de silêncio, que bloqueava o som trovejante dos
eria continuardeuses lá fora. O chão era escuro, mas sólido, embora tremesse. Mesmo
assim, ela quase conseguia sentir as falhas se formando sob seus pés,
rachaduras para que alguma coisa pudesse passar.
As sentinelas se encolheram, envergonhadas. Red pousou a mão em um
dos troncos como se pudesse oferecer algum consolo. Havia mais delas do
que supunha, crescendo bem próximas umas das outras, brancas como ossos.
enxugando o Isso fazia com que Kiri tivesse muito lugar para se esconder.
O estalo de um galho foi o único aviso que Red teve de que a Suma
a de sangue, Sacerdotisa estava saindo de trás de uma sentinela invertida, avançando
ridão. — Euloucamente em direção a ela com sua adaga manchada de sangue. Red
a me acertou conseguiu se desviar, e a lâmina só rasgou o tecido da manga.
os olhos dele — Eu deveria ter matado você antes. — A voz de Kiri estava rouca, como
esse. — Não se tivesse gritado por horas. — Não tem como me impedir agora. — Outro
espalhar, masgolpe, mas ela estava mais lenta por causa da túnica ensopada de sangue. —
Nossos deuses estão vindo, e você vai…
esse saído de Um tum oco, um cabo na testa. Kiri revirou os olhos e caiu no chão.
o que nunca Atrás dela, Raffe embainhou a adaga.
As unhas estavam quebradas e sangrando. O cabo da arma estava todo
marcado e amassado, como se o tivesse batido várias vezes contra uma pedra.
— Você demorou.
nossa única Do lado de fora do bosque, um rugido abafado. Ele se virou em direção ao
barulho com uma das sobrancelhas levantada, demonstrando um interesse
mínimo, depois gesticulou na direção do corpo da sacerdotisa perto da linha
das árvores.
e o sulco de — Quanto tempo nós temos?
a ao lado do — Não muito. Eammon… — O nome dele queimou na garganta dela,
fazendo-a engolir o nó que se formara ali. — Ele está mantendo Solmir
ovejante dos ocupado, mas não vai conseguir continuar por muito tempo.
esse. Mesmo Outro rugido, outro estremecimento no solo, como se ele fosse o dorso de
ob seus pés, uma fera voltando lentamente à consciência. Fife assentiu e seguiu por entre
as árvores brancas como ossos. Red o seguiu em silêncio.
mão em um O bosque se abria em uma clareira em cujo centro havia duas coisas.
mais delas do Arick, com uma expressão entre vergonha e resignação.
E um caixão.
Parecia feito de vidro embaçado, como sombras congeladas no gelo, mas o
que a Suma vulto lá dentro era claro. Cabelo escuro, olhos fechados, o rosto do mesmo
a, avançandotom dos troncos cor de osso. As veias do corpo estavam enegrecidas, e os fios
sangue. Redde escuridão se espalhavam para além dos limites da pele — descia pelas
laterais de pedra da lápide, escorrendo para o chão podre com suas raízes
rouca, comoretorcidas se agitando na terra.
ora. — Outro Neve, entrelaçada àquela Wilderwood invertida. O processo de levar as
de sangue. — sentinelas para a caverna tinha levado semanas, mas com um sacrifício útil —
e inconsciente — à disposição, Kiri e a Ordem tinham criado um novo
bosque em bem pouco tempo.
E a tinham ancorado dentro da irmã dela.
estava todo Red emitiu um som baixo e agudo. Ao lado do caixão, Arick fechou os
a uma pedra. olhos.
— Não consigo abrir. — A voz de Raffe estava neutra e sem emoção,
m direção ao como se todos os sentimentos estivessem trancados dentro dele. — Eu forcei,
um interesse mas fiquei com medo de machucá-la. — A voz dele não falhou, não
erto da linhaexatamente, mas tremeu em algumas sílabas.
A parte de baixo do caixão de Neve — era um caixão, e Neve estava
dentro dele, a mente de Red não conseguia lidar com aquilo — parecia
arganta dela, fundida ao chão, crescendo a partir dos troncos brancos que cortavam a terra
endo Solmir apodrecida. Devagar, com o mesmo medo de Raffe, Red deu um passo para a
frente, tomando cuidado para não pisar em nenhuma das linhas escuras que
se o dorso deligavam a irmã ao bosque. Perto assim, conseguia ver a sombra correndo por
uiu por entreeles, batendo como uma pulsação.
Tomada pela náusea, Red se ajoelhou e pousou a ponta dos dedos em uma
duas coisas. das veias negras.
Escuridão atrás dos olhos, como se sua visão lhe tivesse sido arrancada.
Um pesadelo formado por um borrão de imagens: um grande mar cinzento,
o gelo, mas o algo lá embaixo mostrando incontáveis dentes. Uma carcaça imensa e coberta
to do mesmode escamas do tamanho de uma montanha, e tão imóvel quanto uma. Crânios
das, e os fios deformados em uma pilha de cadáveres. Um vulto esquelético e ossudo, com
descia pelas uma guirlanda de flores podres na cabeça, acorrentado a uma rocha. Quatro
m suas raízeshomens monolíticos em tronos monolíticos, com mortalhas brancas e coroas
de espinhos de ferro. Ao lado deles, um quinto trono vazio.
o de levar as Red afastou a mão, ofegando, a testa encharcada de suor. Dentro do
rifício útil —caixão, Neve não se mexeu.
do um novo — Ele prometeu. — As palavras saíram entredentes, como se ela as
quisesse rasgar. As unhas se enterraram na palma das mãos enquanto ela se
ck fechou os equilibrava nas pernas bambas. — Ele prometeu que ela ficaria em
segurança.
sem emoção, — Ela está viva — disse Raffe, como se estivesse repetindo aquilo para si
— Eu forcei, mesmo sem parar. — Ela está… Ela está assim, mas está viva.
falhou, não Do lado de fora do bosque, outro rugido rompeu o silêncio. Logo Solmir se
cansaria de ser a sombra do corpo de Arick, mesmo que isso lhe desse uma
Neve estava vantagem contra Eammon. Ele logo deixaria se tornar inteiro pelo sacrifício
o — pareciadas sacerdotisas, e o resto dos Reis iria se juntar a ele.
tavam a terra E Wilderwood — Eammon — morreria.
passo para a Era hora de fazer escolhas. E ela só conseguia ver uma.
s escuras que — Arick. — A voz dela saiu rouca.
correndo por Ao ouvir o próprio nome, Arick fechou os olhos com ainda mais força.
— Sinto muito — disse ele em voz baixa. — Nós só estávamos tentando
edos em uma salvar você.
— Venha até aqui. — Ela se engasgava com as próprias lágrimas. —
do arrancada.Venha até aqui, por favor.
mar cinzento, Uma pausa. Depois um movimento súbito enquanto ele avançava pela
nsa e coberta escuridão. Red se esforçou para se manter firme mesmo diante do semblante
uma. Crânios alquebrado do seu amor de infância e da certeza de que coisas horríveis e
ossudo, comvastas despertavam sob seus pés.
ocha. Quatro Ela estendeu a mão quando ele se aproximou o suficiente para que pudesse
ncas e coroastocar o rosto sangrento com a ponta dos dedos.
— Sei que você não queria que nada disso acontecesse.
r. Dentro do — Não. Mas eu não me importava com o que ia acontecer. Não naquela
época. — Havia um ligeiro tom de vergonha na declaração. — Eu só queria
mo se ela as que você ficasse em segurança.
quanto ela se Red contraiu os lábios até ficarem brancos. Todos eles amavam como
fogo, sem pensar nas cinzas.
ficaria em — Eu estou em segurança. — Ela afastou a mão do rosto dele e a pousou
no cabo da adaga. Tentou não pensar naquilo, tentou fazer seu corpo
aquilo para sifuncionar sem o comando da mente. — Eu amo Eammon e ele me ama. E
isso é estar em segurança.
ogo Solmir se Outro rugido ecoou no bosque.
he desse uma — Você ama o que ele se tornou?
elo sacrifício — Nós dois somos monstros — sussurrou Red. — Eu amo Eammon. Não
importa o que ele seja.
— Você me amou um dia. Você nunca disse, mas sei que me amou. —
Arick engoliu em seco e fechou os olhos com força. — Não amou?
— Amei. — Foi quase um sussurro, aquela coisa gentil que existia além da
verdade e da mentira. Ela fechou os dedos em volta do cabo da adaga. — Não
mos tentandodo jeito que você queria que eu amasse. Mas amei.
Ele abriu os olhos.
lágrimas. — — Então seja rápida.
Perto do caixão de Neve, Raffe estava em silêncio. Quando Red olhou para
vançava pelaele, os olhos dele brilharam, mas a boca estava contraída em uma linha fina.
do semblante Arick baixou a cabeça e, depois de um momento, ajoelhou-se diante dela.
s horríveis eRed queria agarrá-lo pelos ombros e fazê-lo se levantar, mas ficou ali parada,
congelada com a mão na adaga, e ele como um suplicante no altar.
que pudesse — Sangue para abrir — murmurou Arick, como um último rito. — Sangue
para fechar. Foi o meu sangue que trouxe Solmir aqui. Meu sangue inverteu
Wilderwood. Um sacrifício vivo. — Ele olhou para ela e havia paz ali, alívio
Não naquelaE aquilo foi, de alguma forma, pior do que se tivesse demonstrado medo. —
Eu só queriaIsso só termina quando o sacrifício não estiver mais vivo.
Os dedos dela estremeceram, suados e escorregando do cabo. Sabia que
mavam comoaquela era a resposta. Mas agora que podia ver os olhos dele…
— Não consigo.
e e a pousou — Eu tentei fazer isso sozinho, no calabouço. Nunca funcionou. Não
er seu corpoconsigo fazer sozinho. — Com gentileza, Arick estendeu a mão e a colocou
e me ama. Esobre a dela. Juntos, desembainharam a adaga. Ele colocou a lâmina contra o
próprio pescoço. — Você tem que fazer isso, Red. Me deixe salvar você
dessa vez.
As lágrimas escorriam pelo rosto dela. A terra rugia quando se ajoelhou,
ammon. Nãocolocando-se no mesmo nível que ele.
Arick pressionou a boca contra a dela. Ela permitiu.
me amou. — — Encontre uma forma de trazê-lo de volta — murmurou ele com os
lábios quase encostados nos dela. — Você merece ser amada, Red. Sempre
xistia além da mereceu.
daga. — Não Ele deixou a mão cair ao lado do corpo, olhando para a Segunda Filha com
a expressão suplicante.
Red beijou a testa dele e fechou os olhos com força. Ergueu a adaga, mas a
manteve imóvel. Sentiu quando Arick se empurrou contra a lâmina, ouviu o
ed olhou parasuspiro suave e sentiu o sangue quente começar a escorrer. Quando ele caiu
no chão, ela caiu ao lado, obrigando-se a abrir os olhos para que pudesse ver
e diante dela.os dele.
ou ali parada, Ele ergueu uma das mãos. Prendeu uma mecha de cabelo atrás da orelha
dela como costumava fazer antes, quando ficavam deitados exatamente
o. — Sanguedaquele jeito. Então, a luz foi se apagando, a boca relaxou e ele ficou imóvel.
ngue inverteu Red soltou um soluço sofrido.
alívio. As sombras na beira do bosque pararam. O rugido lá fora silenciou.
ado medo. — No seu túmulo, sob o vidro sombreado do caixão, Neve arfou.
Red se levantou ao ouvir o som, encharcada com o sangue de Arick, e
o. Sabia que correu para o lado de Raffe. Ele usou o cabo da adaga de novo, mas Red
simplesmente socou o vidro, sem parar nem quando os nós dos dedos se
abriram, nem quando ouviu o som de alguma coisa se quebrando sob a pele.
cionou. Não Mas o vidro se manteve intacto. Neve abriu os olhos.
o e a colocou Olhou para Raffe. Depois para Red. O rosto sem expressão, alguém que
mina contra onão sabia se estava dormindo ou acordada.
salvar você — Neve. — O som escapou da garganta de Red. Ela voltou a atacar o
vidro, manchando-o de sangue. — Neve!
se ajoelhou, A irmã não respondeu. Lentamente, como se estivesse sonhando, Neve
olhou para os próprios braços, para as linhas negras que emanavam do seu
corpo como veias externas. Se aquilo a horrorizava, não demonstrou. Com
ele com osuma expressão de curiosidade, passou a mão oposta por cima de uma delas,
Red. Sempreque pulsou ao toque, e ela estremeceu como se estivesse com frio.
O momento se estendeu. Neve deixou a mão cair. Fechou os olhos. Então,
da Filha com com se rangesse os dentes, cerrou os punhos.
As veias escuras estremeceram. Com o som de um ninho de víboras,
adaga, mas a elas… retrocederam, saindo do bosque e voltando para dentro de Neve. O ar
mina, ouviu ovibrou enquanto Neve reclamava a magia que desenrolara dela, a escuridão
ando ele caiuque a tinha usado como uma semente. Tudo voltou para ela como uma onda
e pudesse verde sombras serpenteando sobre a pele. Red ouviu um som no limiar da
audição, quase como um suspiro.
rás da orelha E o bosque se rasgou.
exatamente As sentinelas invertidas tomaram, quebrando-se e derretendo enquanto o
icou imóvel. chão se abria. Red cambaleou apoiada na lateral do caixão de Neve, tentando,
em vão, empurrá-lo para fora do bosque que ruía. Raffe empurrou junto com
ela, mas nenhum dos dois conseguiu fazê-lo se mover. O caixão mergulhou
na terra escura como se ela fosse areia movediça.
de Arick, e Red berrou. Do lado de fora do bosque, ouviu um eco abaixo, de árvore,
vo, mas Red folha e espinho.
dos dedos se — Red! — Raffe agarrou a mão dela e a puxou para longe do buraco que
se abria rapidamente. — Red, nós temos que sair daqui.
— Não podemos deixá-la!
alguém que — Não temos escolha!
A terra foi carcomendo as laterais do caixão de Neve, cobrindo-o de sujeira
ou a atacar oe escuridão. Um vislumbre de um mundo em tons de cinza com um horizonte
engolido pelas sombras, e ela desapareceu.
hando, Neve Raffe a puxou para longe, além do anel de terra rodopiante, como um
avam do seufuracão se enfiando na terra. A única parte sólida que restava do bosque era
onstrou. Comonde o corpo de Arick jazia. Ele estava se transformando, revirando-se e se
e uma delas, tornando uma outra coisa.
A carne e a sombra, unindo-se de novo. Ela quase sentiu pena quando o
olhos. Então, corpo enfim assumiu a aparência de Solmir, vivo, poque aquilo significava
que ela não teria nada de Arick para enterrar.
de víboras, — Você não entende! — berrou ele com os olhos arregalados, buscando os
e Neve. O ar de Red. — Você não entende. Eles ainda…
, a escuridão Uma sombra se fechou em volta do pescoço dele e cobriu-lhe a boca, como
mo uma ondauma mordaça, devorado pelo túmulo do qual escapara.
no limiar da Um estrondo estremecedor, uma nuvem de terra e pedras, e o bosque
desapareceu. A porta tinha se fechado.
Com Neve do lado errado.
o enquanto o
ve, tentando,
ou junto com
o mergulhou

o, de árvore,

o buraco que
— Não podemos deixá-la!
— Não temos escolha!
A terra foi carcomendo as laterais do caixão de Neve, cobrindo-o de sujeira
e escuridão. Um vislumbre de um mundo em tons de cinza com um horizonte
engolido pelas sombras, e ela desapareceu.
Raffe a puxou para longe, além do anel de terra rodopiante, como um
furacão se enfiando na terra. A única parte sólida que restava do bosque era
onde o corpo de Arick jazia. Ele estava se transformando, revirando-se e se
tornando uma outra coisa.
A carne e a sombra, unindo-se de novo. Ela quase sentiu pena quando o
corpo enfim assumiu a aparência de Solmir, vivo, poque aquilo significava
que ela não teria nada de Arick para enterrar.
— Você não entende! — berrou ele com os olhos arregalados, buscando os
de Red. — Você não entende. Eles ainda…
Uma sombra se fechou em volta do pescoço dele e cobriu-lhe a boca, como
uma mordaça, devorado pelo túmulo do qual escapara.
Um estrondo estremecedor, uma nuvem de terra e pedras, e o bosque
desapareceu. A porta tinha se fechado.
Com Neve do lado errado.
35

O mato alto e moribundo pinicava a pele de Red através das roupas. Estava
em silêncio ao lado de Fife, ambos olhando para Lyra. O tempo passara em
um borrão indistinto e, sempre que piscava, tudo que ela via era a terra
cobrindo o rosto de Neve.
A respiração de Lyra estava estável, e as batidas do coração, fortes. Mesmo
assim, Fife segurava a mão dela no próprio colo, mantendo os dedos ao redor
do pulso, contando os sinais de que estava viva, ainda que inconsciente.
— Neve não está morta. — Raffe estava ajoelhado ao lado deles. Depois
que o bosque desaparecera, ele, Red e os outros tinham ido até Fife e Lyra, os
quatro unidos pela perda como se pudessem se juntar contra ela. — Sei que
não está.
— Ela está viva. — Os lábios de Red mal se mexeram, os olhos fixos no
mato que balançava ao vento. — Só está presa.
— Nós vamos trazê-la de volta. — O rosto de Raffe estava manchado de
lágrimas, e o maxilar formava uma linha decidida. Pressionou as mãos no
chão, como se pudesse cavar o próprio caminho até a Terra das Sombras. —
O que vamos fazer?
— Eu não sei — respondeu Red. — Eu não sei.
Silêncio. Então, Raffe praguejou e se levantou.
— Isso não é o suficiente, Red. — Ele se embrenhou no mato morto, e
tudo o que ela pôde fazer foi observar enquanto se afastava.
Ao desaparecer, o bosque tinha levado os corpos de todas as sacerdotisas.
Menos o de Kiri, que não tinha morrido, e ainda estava largada no mato a
alguns metros de distância. O peito se movia em uma respiração rasa, as
mãos sujas de sangue coagulado contraídas em forma de garra. Red sabia que
deveria sentir raiva e nojo. Mas tudo que conseguia sentir era pena.
— Sinto muito — disse Fife, baixinho, ainda olhando para Lyra. — Sinto
oupas. Estavamuito por sua irmã.
o passara em Red abriu a boca, mas não encontrou som algum. Deixara Neve, mais uma
a era a terravez. Deixara Neve em um caixão, e deixara o caixão ser dragado para a Terra
das Sombras. Red decepcionara a irmã, de novo.
ortes. Mesmo Mordeu o lábio trêmulo.
edos ao redor Fife engoliu em seco de forma audível. Quando ergueu o olhar, os olhos
brilharam, e ele contraiu os lábios de forma decidida. Colocou com cuidado o
deles. Depoispulso de Lyra no colo de Red.
ife e Lyra, os — Fique com ela — disse ele. — Tem uma coisa que preciso fazer.
a. — Sei que Ele se levantou e seguiu direto até o vulto alto e chifrudo na fronteira da
floresta. O instinto de Red foi de fechar os olhos só para não o ver. Mas
lhos fixos no respirou fundo, soltou o ar de forma trêmula e se obrigou a encarar aquilo em
que Eammon tinha se transformado.
manchado de O que surgira no lugar dele.
as mãos no O contorno do perfil do deus-floresta não tinha mudado. Ele se virou para
Sombras. — olhar a aproximação de Fife, com o rosto ainda anguloso e o cabelo escuro.
Fitou o outro homem por um único instante antes de fixar o novo olhar
esverdeado em Red.
Não havia o brilho do amor ali. Nem mesmo de reconhecimento. A cada
mato morto, ebatida, o coração de Red doía no peito.
Doía demais. Red baixou o olhar para Lyra. Sua manga ainda arregaçada
onde Fife tinha procurado a Marca, a pele ainda imaculada. Ao absorver toda
sacerdotisas. a floresta para se tornar Wilderwood, ele os libertara. Os libertara do pacto
da no mato aque tinham feito.
ação rasa, as Pacto. A palavra a atingiu com um raio, fazendo os pensamentos
Red sabia que rodopiarem ao redor uns dos outros.
Sua mão se fechou sobre a manga, onde sua marca estivera. Sabia que não
yra. — Sinto estava mais lá, mas não teve coragem de olhar. Em vez disso, os olhos dela
acompanharam Fife, ainda caminhando na direção do deus-floresta, e ela
ve, mais umasoube de imediato o que ele estava prestes a fazer.
o para a Terra O mesmo plano que ela estava começando a traçar, ambos com a esperança
de que aquilo fosse suficiente.
Ela se levantou, as pernas fracas e dormentes. Sentiu uma pontada de culpa
har, os olhospor deixar Lyra ali sozinha, mas estava tudo calmo agora que o bosque tinha
om cuidado odesaparecido, e não havia nada ali para incomodá-la. Com passos hesitantes,
Red atravessou o campo ainda segurando o braço vazio.
Eram dores diferentes, Neve e Eammon, dilacerando seu coração. Se
a fronteira da salvasse um, poderia salvar o outro? Ela se lembrou do brilho de Wilderwood
o o ver. Masnos seus ossos, na luz para controlar a sombra. A mesma sombra que prendia
rar aquilo em Neve agora. As duas pessoas que ela mais amava, as duas pessoas que ela
precisava salvar. Luz e sombra, presas em uma armadilha, horríveis e belas e
ambas tirando algo dela.
se virou para Se ela se tornasse algo horrível e belo, conseguiria clamar aquilo de volta?
abelo escuro. Parou a alguns metros de Fife e do que um dia tinha sido Eammon. O
o novo olharhomem mais baixo lançou um olhar ardente de determinação para o deus que
era Wilderwood, que retribuiu com uma expressão de ligeira curiosidade.
ento. A cada O nariz ainda era torto. Ainda ele, em algum lugar lá dentro, perdido no
meio de toda a magia, de toda a luz.
da arregaçada — Você tomou minha vida uma vez, para salvar a de outra pessoa. Quero
absorver toda que a aceite de volta. — Fife puxou a manga e estendeu o braço. — Me dê a
tara do pactomaldita Marca e cure Lyra. Faça com que ela… — A voz falhou, e ele
engoliu em seco. — Faça com que ela fique inteira.
pensamentos O deus inclinou a cabeça.
— Você queria sua liberdade — disse ele, em tom reflexivo e uma voz que
Sabia que nãocontinha os ecos de folhas caindo e galhos estalando ao vento.
os olhos dela — Tudo que eu quero é ela — respondeu Fife.
oresta, e ela Uma pausa.
— Eu entendo.
m a esperança Havia um tom de quase perplexidade naquela voz florestal. O deus
entendia o desejo desesperado de Fife, sua disposição a fazer qualquer coisa
tada de culpapara salvar alguém que amava, mas não sabia bem o porquê.
bosque tinha Red mordeu o lábio.
os hesitantes, O deus estendeu a mão coberta de veias esmeralda e fechou os dedos em
torno do braço de Fife, que ofegou uma vez e cerrou os dentes. Quando a
coração. Semão do deus relaxou, uma nova Marca do Pacto brilhava na pele de Fife.
Wilderwood Vindo de trás deles, do ponto no qual Lyra estava, ouviram uma respiração
a que prendiaprofunda e o som de alguém se mexendo no mato.
ssoas que ela Sem palavras, apenas um aceno brusco. Então, Fife se virou e começou a
veis e belas ecorrer em direção a Lyra. A liberdade que ele tanto ansiara finalmente tinha
sido conquistada, só para ser negociada de novo.
Wilderwood observou enquanto ele se afastava. Então, os olhos verdes
Eammon. Opousaram em Red.
ra o deus que Ela ficou se perguntando se deveria se aproximar como uma suplicante, se
deveria se ajoelhar. Fife não o fizera, mas o pacto dele envolvia uma coisa
o, perdido no muito mais direta do que o de Red.
Decidiu não fazer nada daquilo. Em vez disso, se aproximou e olhou para
essoa. Quero ele com o queixo decidido e os olhos estreitos, com a mesma determinação
. — Me dê a
falhou, e eleque mostrara na biblioteca, vestida com o manto vermelho rasgado e o rosto
sangrando.
A sombra dele caiu sobre ela, e a forma no chão era de uma floresta, com
uma voz que árvores altas e retas. Chifres de alabastro saíam da testa; a hera cobria o
cenho. Os olhos estranhos olharam para ela, âmbar cercado de verde, com um
brilho de reconhecimento. Como se ele conhecesse a forma de Red, mas não
o espaço que ela deveria ocupar.
Wilderwood a conhecera, assim como Eammon. Mas ao se unirem,
stal. O deustornando-se indistinguíveis um do outro, haviam se transformado em uma
ualquer coisacoisa nova. Uma coisa que não tinha nenhum contexto de Segundas Filhas,
nenhuma lembrança de mantos bordados e cabelo emaranhado em troncos.
Aquilo foi o suficiente para fazê-la hesitar, mas só por um momento.
os dedos em Red se empertigou. Mesmo antes, ela mal chegava à altura do ombro dele;
es. Quando a agora, precisava apertar os olhos para ver o rosto dele.
— Redarys? — Ele disse o nome dela como algo esquecido, como se
ma respiraçãoestivesse se esforçando para lembrar.
Red tentou falar alto, mas a voz saiu fraca mesmo assim.
e começou a — Vim fazer um pacto com Wilderwood.
almente tinha Silêncio. Os olhos dele pareciam anuviados com uma tristeza elevada a
proporções divinas e desconhecidas.
olhos verdes Em um movimento que poderia ser considerado hesitante, ele estendeu a
mão. Red pousou a dela sobre a palma de veias verdes. As cicatrizes ainda
suplicante, se estavam lá.
ia uma coisa — O que você deseja? — A voz ressonante, vibrando nos ossos.
Ela desejava que ele nunca tivesse tido que testemunhar a morte dos pais.
e olhou paraQue as cicatrizes nas mãos dele fossem de trabalhar na fazenda ou como
determinação ferreiro ou por causa de uma traquinagem quando era criança, em vez de
cortes feitos para alimentar uma floresta. Que eles dois talvez pudessem ter se
ado e o rosto conhecido em circunstâncias diferentes, um homem e uma mulher sem
magia, nem um destino grandioso, sem nada a não ser o amor.
floresta, com E desejava salvar Neve. Desejava que aquele homem que tanto amava e
hera cobria oque se tornara um deus que ela não sabia como alcançar arrancasse a irmã das
erde, com um sombras — as sombras que a própria Neve escolhera no final. Uma
Red, mas nãoreivindicação, uma redenção. Red não sabia bem os detalhes, mas, de alguma
forma, compreendia em um nível profundo.
se unirem, A mesma compreensão profunda de que um simples pacto não funcionaria
ado em umapara salvar a irmã. O tempo que passara entrelaçada a Wilderwood lhe dera
undas Filhas, um conhecimento instintivo de suas limitações, fazendo com que soubesse
em troncos.que não poderia simplesmente desejar tirar alguém da Terra das Sombras.
Aquela porta estava fechada, e abri-la exigiria mais que um pacto, maculando
ombro dele; seu coração de forma que nem conseguia imaginar.
Havia muito pouco que poderia fazer pela irmã. Mas poderia salvar
do, como seEammon. E juntos, talvez conseguissem encontrar uma forma de salvar Neve.
— Me devolva o Lobo — sussurrou Red.
O deus inclinou a cabeça, analisando-a através daqueles olhos que eram
tão estranhos e tão familiares ao mesmo tempo. A boca que já a beijara se
za elevada a abriu. A mão que já acariciara o corpo dela se retesou, e ela sentiu tudo, tudo,
uma corrente do que estava se passando entre eles como medula através de
le estendeu a um osso.
catrizes ainda — E o que está preparada para dar em troca? — perguntou ele, em uma
voz que ainda tinha traços da de Eammon escondidos sob as camadas de
espinhos e folhas. — Um pacto por uma vida exige um enlace.
orte dos pais. — Já estivemos enlaçados antes. Podemos nos enlaçar novamente.
nda ou como Wilderwood, dourada e brilhante, olhou para ela através dos olhos de
a, em vez de Eammon.
dessem ter se
mulher sem — Eu amo você, Eammon. — Ela pressionou a mão dele com mais força,
como se pudesse transmitir todo aquele sentimento através da pele. — Você
anto amava e se lembra?
se a irmã das E, quando as raízes começaram a sair da mão dele para a dela, Red viu que
final. Umaele se lembrava.
as, de alguma Uma onda de luz dourada irrompeu dos dedos de Eammon, encontrando
um lugar nos espaços entre as costelas dela e nos vácuos dos pulmões. A rede
o funcionaria que formava Wilderwood se dividiu igualmente em duas, raízes se alongando
wood lhe derapelas veias dela e florescendo ao longo da espinha. A floresta se doou,
que soubesse fazendo dela um receptáculo em vez de apenas uma âncora, metade de uma
das Sombras. floresta nos seus ossos.
o, maculando Ela ofegou e sentiu gosto de coisas verdejantes, o gosto de Eammon.
Ouviu o ofegar dele como um eco, enquanto sentia Wilderwood fluir dele,
oderia salvar deixando apenas Eammon no seu lugar.
salvar Neve. Quase o seu Eammon. Quase toda Wilderwood fluiu. Mas uma parte não
se foi, ficou nela. Lobos e deuses, a linha entre eles não tão nítida como
hos que eramoutrora.
á a beijara se Ela abriu os olhos, e o mundo parecia diferente. As cores mais vivas, como
iu tudo, tudo, um quadro recém-pintado. A pele dela vibrava e, quando olhou para as mãos
la através deunidas, arfou.
Uma rede delicada de raízes visível sob sua pele, começando um pouco
ele, em uma abaixo do cotovelo e descendo até o meio da mão. Elas se entrelaçavam
camadas decomo tinta, um verde profundo em contraste com a pele branca. Sua Marca,
alterada para representar o pacto que não tinha feito, assim como o que
acabara de fazer.
dos olhos de Ela ergueu os olhos para Eammon. Ainda estava mais alto do que antes. A
casca de tronco ainda cobria os antebraços, o halo fino de verde circundava a
íris âmbar, e duas protuberâncias apareciam sob o cabelo escuro. Os dois
m mais força,tinham mudado, perdendo alguns traços humanos para que pudessem
ele. — Vocêsustentar a totalidade de Wilderwood entre eles, não apenas as raízes.
Mas aqueles olhos a conheciam. E, quando os lábios encontraram os dela,
, Red viu quea reconheceram também.
Atrás deles, onde Wilderwood costumava estar, havia apenas uma floresta
encontrando normal, com as cores outonais filtradas pelas árvores, coroadas com folhas
mões. A rede vermelhas e amarelas. Todo o poder — as sentinelas, a rede que controlava as
se alongando sombras — morava nela e em Eammon.
sta se doou, Ela o beijou de novo, roçando os dedos nas fibras grossas da floresta no
etade de umapulso dele, e sentiu que estava em casa.
A voz de Lyra cortou o brilho dourado no qual estavam, uma bolha de
de Eammon. realidade que ignorava todas as outras.
od fluir dele, — A divindade combina com vocês, Lobos. Ou será que devo chamar
vocês de Wilderwood agora?
ma parte não — Por favor, não — gemeu Eammon.
nítida como Red se virou, com um sorriso tímido no rosto. Lyra abraçava a cintura de
Fife para se apoiar um pouco. O sorriso dela demonstrava cansaço, mas era
s vivas, comogenuíno, e ela estava mancando um pouco. Ao lado dela, Fife estava em
para as mãos silêncio e com a expressão defensiva.
Red notou que a manga estava baixada.
do um pouco — Você sabe tudo sobre divindade — disse Red com leveza para Lyra,
entrelaçavamafastando-se de Eammon, mas mantendo as mãos entrelaçadas. — Aquela
. Sua Marca,que acabou com a praga.
como o que Lyra fez uma careta.
— Acho que não é exatamente a mesma coisa.
que antes. A — Bem parecido, acho eu — resmungou Eammon, com a voz ainda
circundava a carregando um pouco da estranha ressonância. Os olhos se voltaram para
uro. Os doisFife. Os dois trocaram um olhar inescrutável.
ue pudessem Afastando-se de Fife, Lyra levantou a manga, arqueando uma das
sobrancelhas e olhando de Red para Eammon.
aram os dela, — A não ser que eu tenha sangrado muito enquanto fiquei inconsciente,
acho que a minha marca não deveria ter desaparecido. — Um ligeiro tremor
uma florestana voz dela. — E o que acontece agora se eu não tenho mais laços com a
s com folhas floresta?
controlava as Eammon encolheu os ombros, o movimento como o vento ondulando por
entre a copa das árvores.
a floresta no — Você viveu muito tempo dentro de Wilderwood. Viveu muito tempo
fora dela também. Os laços estabelecidos pela magia não são fáceis de se
ma bolha dedesfazer. — A voz dele ficou mais suave, como um farfalhar de folhas no
chão. — Agora você pode compensar o tempo perdido.
devo chamar Um sorriso apareceu no rosto dela, iluminando os traços delicados
enquanto ela baixava a manga da camisa.
Fife olhou para ela de esguelha, mas manteve o silêncio.
a a cintura de Na colina atrás deles, Valdrek estava acordando. Lear o ajudou a se
aço, mas eralevantar sobre as pernas trêmulas. Tinha o rosto todo sujo de sangue do
fe estava emferimento da cabeça, mas parecia estar bem-humorado. Eammon apertou a
mão de Red antes de soltá-la e ir conversar com os dois homens em tom
baixo.
za para Lyra, No mato seco, Kiri ainda estava inconsciente, sem dar sinais de acordar,
Aquela embora o peito subisse e descesse no ritmo da respiração. Raffe, de braços
cruzados, olhava para a sacerdotisa caída com expressão clara de desdém.
— Vou colocá-la no primeiro navio para Rylt — disse ele quando Red se
aproximou. — Que todas as sombras me carreguem, mas eu não vou aparecer
a voz aindaem Valleyda com uma Suma Sacerdotisa catatônica e dizer que a Rainha
oltaram paradesapareceu. Vão me matar antes do inverno.
do uma das Red pressionou os lábios. As raízes no braço dela brilharam em um tom de
dourado.
inconsciente, — Se Floriane souber da ausência dela, será um verdadeiro caos. E
igeiro tremorArick… — Raffe meneou a cabeça, sem olhar para ela quando a voz falhou
laços com aao dizer o nome. — Você claramente tem outras obrigações agora que se
tornou o receptáculo de toda uma maldita floresta…
ndulando por — Ela ainda é minha irmã, Raffe. — O tom saiu mais ríspido do que Red
queria e, em volta dos pés, as pontas do mato seco ficaram verdejantes. — Eu
muito tempovou encontrá-la — sussurrou ela. — Não sei como, mas vou encontrá-la e
fáceis de setrazê-la de volta. Essa é a minha obrigação.
de folhas no Ele estreitou os olhos, observando a Marca, o mato morto ficando verde de
novo. E assentiu devagar.
os delicados Red apontou um dedo para Kiri. A vegetação alta começou a se entrelaçar,
formando cordas que prenderam os pés e as mãos da sacerdotisa com força de
ferro. Raffe a pegou antes que Red tivesse a chance de perguntar se precisava
ajudou a se de ajuda e se virou em direção ao vilarejo, carregando-a no ombro. Não olhou
e sangue do para trás.
on apertou a Ela ficou olhando até perdê-lo de vista sob o brilho do sol e foi se juntar
mens em tom aos outros.
— Então é isso? — A voz de Valdrek estava um pouco arrastada e os olhos
s de acordar, pareciam distantes, mas, fora isso, ele não parecia muito mal. — Wilderwood
fe, de braços não pode mais nos prender aqui porque Wilderwood é… você.
Eammon deu de ombros.
uando Red se — Mais ou menos isso.
vou aparecer — Então, nós podemos voltar. — Um sorriso apareceu nos lábios de
ue a Rainha Valdrek, enquanto os olhos recobravam o foco. — Que os Reis e as sombras
me carreguem!
m um tom de — Nem todo mundo vai querer ir. — Lear passou a mão que não estava
apoiando Valdrek na testa suja de sangue. — Alguns vão ficar. Alguns não
eiro caos. Evão saber mais como viver no mundo lá fora.
a voz falhou Valdrek encolheu os ombros, afastando a mão de Lear para se manter de
agora que sepé sozinho.
— Acho que é uma coisa que pode ser aprendida. — Ele se virou para a
o do que Redfloresta. — Não há melhor momento que o presente para descobrir, depois
jantes. — Eu que compartilharmos as boas novas!
encontrá-la e Lear revirou os olhos, mas de um jeito amigável. Com um aceno, seguiu
Valdrek por entre as árvores.
ndo verde de Então, ficaram só os quatro, como tinha sido na Fortaleza. Havia certa
distância entre eles agora, um espaço entalhado pela mudança e pela
se entrelaçar, violência, e, por um momento, ficaram em silêncio.
com força de — Podemos ir para qualquer lugar — murmurou Lyra. Fife contraiu os
se precisavalábios, mas ela não notou. Arqueou uma das sobrancelhas para Red e
o. Não olhouEammon. — Vocês podem ir para qualquer lugar. Que conveniente, carregar
a floresta dentro de vocês.
foi se juntar — Conveniente talvez seja uma hipérbole — resmungou Eammon.
Lyra riu.
da e os olhos — Embora eu entenda a questão de ir para qualquer lugar, em tese —
Wilderwood disse ela —, acho que gostaria de dormir na minha própria cama esta noite.
— Ela se virou e puxou a manga de Fife. — Venha, vamos deixar os deuses a
sós.
Fife a seguiu para a floresta, ainda em silêncio, mas, quando chegaram
os lábios de perto da linha de árvores, ele pegou a mão dela e entrelaçou os dedos com os
e as sombrasdela.
E Eammon e Red ficaram sozinhos.
ue não estava Ele pegou a mão dela, e ela se encostou no ombro dele, sentindo a
. Alguns nãoexaustão pesar nos braços e nas pernas, além da preocupação com a irmã e a
confusão do que talvez ainda estivesse por vir.
se manter de Mas, por ora, por um instante, Red se permitiu aproveitar a sensação de
contentamento. Permitiu-se sentir aquilo.
virou para a Parecia que seu aniversário de vinte anos tinha sido eras antes. Os lábios
obrir, depoisdela se abriram em um sorriso irônico.
— Você se lembra de quando a gente se conheceu?
aceno, seguiu Eammon se virou e acariciou o cabelo dela com fios finos de hera
entrelaçados no louro escuro.
Havia certa — Quando você sangrou na minha floresta — disse ele — ou quando você
ança e pelaapareceu do nada na minha biblioteca?
— Eu estava pensando na segunda vez — respondeu Red. — Quando você
e contraiu osme disse que não tinha chifres. — Ela estendeu a mão e tocou nos pontinhos
para Red eque apareciam no meio do cabelo escuro, reminiscências dos galhos. —
ente, carregar Irônico.
Ele deu uma risada e o som fez o vento soprar por entre os galhos. Os
lábios se encontraram cálidos e famintos, e ele a pegou no colo e girou com
ela nos braços enquanto folhas de cores outonais voavam em volta deles.
, em tese — Ele a colocou no chão e apoiou a testa na dela. Respiraram o mesmo ar,
ma esta noite. Lady Lobo e Lorde Lobo e, por um momento, era tudo que queriam.
ar os deuses a — Vamos para casa — murmurou Eammon.
E, de mãos dadas, os Guardiões atravessaram a floresta deles.
do chegaram
dedos com os
Ele pegou a mão dela, e ela se encostou no ombro dele, sentindo a
exaustão pesar nos braços e nas pernas, além da preocupação com a irmã e a
confusão do que talvez ainda estivesse por vir.
Mas, por ora, por um instante, Red se permitiu aproveitar a sensação de
contentamento. Permitiu-se sentir aquilo.
Parecia que seu aniversário de vinte anos tinha sido eras antes. Os lábios
dela se abriram em um sorriso irônico.
— Você se lembra de quando a gente se conheceu?
Eammon se virou e acariciou o cabelo dela com fios finos de hera
entrelaçados no louro escuro.
— Quando você sangrou na minha floresta — disse ele — ou quando você
apareceu do nada na minha biblioteca?
— Eu estava pensando na segunda vez — respondeu Red. — Quando você
me disse que não tinha chifres. — Ela estendeu a mão e tocou nos pontinhos
que apareciam no meio do cabelo escuro, reminiscências dos galhos. —
Irônico.
Ele deu uma risada e o som fez o vento soprar por entre os galhos. Os
lábios se encontraram cálidos e famintos, e ele a pegou no colo e girou com
ela nos braços enquanto folhas de cores outonais voavam em volta deles.
Ele a colocou no chão e apoiou a testa na dela. Respiraram o mesmo ar,
Lady Lobo e Lorde Lobo e, por um momento, era tudo que queriam.
— Vamos para casa — murmurou Eammon.
E, de mãos dadas, os Guardiões atravessaram a floresta deles.
EPÍLOGO

Red

Fios de cabelo dourado envolviam a moldura do espelho como raios em volta


do sol. Sangue manchava a estrutura, ferrugem contra o dourado, e pedaços
de unha salpicavam o piso de madeira diante dele, as pontas serrilhadas onde
ela havia roído. Red estava de joelhos com os punhos cerrados no colo, olhos
arregalados e fixos na superfície preta, tentando obrigá-la a ficar prateada.
Mostre minha irmã. Mostre.
Mas o espelho permaneceu plano e inalterado.
Red ergueu o punho como se fosse socar o objeto e quebrar a superfície
plácida que se recusava a lhe mostrar Neve. Mas abriu e fechou os dedos,
enquanto um som sofrido escapava por entre os lábios. Red deixou a mão cair
no colo. Fechou os olhos.
— Nada?
A voz de Eammon era suave. Ele se aproximou dela, oferecendo uma taça
de vinho. Ela aceitou, e ele apertou o ombro dela de leve.
A calidez alcoólica contra a garganta aliviou o nó que tinha se formado ali.
— Nada — confirmou ela.
Ele suspirou, olhando para o espelho como se quisesse estilhaçá-lo tanto
quanto ela.
— Nós vamos encontrá-la — garantiu ele, com a mesma veemência que
usava havia uma semana. — Vamos achar um jeito.
De qualquer outra pessoa, a promessa talvez soasse vazia. De Eammon,
porém, ela sabia que não eram apenas palavras. Ele faria tudo que estivesse
ao seu alcance para ajudá-la a encontrar Neve.
Mas, à medida que os dias passavam e eles não avançavam na busca, o
conforto de saber aquilo estava se esvaindo.
Quando Eammon ofereceu a mão, ela aceitou. Ele a levantou e a puxou
contra o peito. Um sussurro como o de folhas caindo acompanhava as batidas
do coração contra o rosto dela.
aios em volta
— Venha — disse ele, roçando os lábios na testa dela. — Acho que você
do, e pedaços
está precisando sair um pouco da torre.
rilhadas onde
Com um último olhar para o espelho, Red permitiu que ele a guiasse pela
o colo, olhos
escada.
Passaram pelo portão e entraram na floresta de mãos dadas. Wilderwood
estava dentro deles agora, mas as coisas não perdiam a magia facilmente, e a
floresta brilhava nas cores outonais embora o inverno já tivesse caído no
r a superfície
restante de Valleyda. Não era exatamente o verão eterno das histórias, mas
ou os dedos,
parecia combinar mais com eles.
ou a mão cair
A floresta estava silenciosa agora, não precisava mais pagar um preço alto
para se comunicar. Mas Red conseguia senti-la dentro de si, uma segunda
consciência estranha correndo ao lado da dela. Uma parte de si que se
ndo uma taça
mantinha separada do resto por um triz, como olhar a própria mão no espelho
e perceber as formas minúsculas com que as medidas estão erradas.
formado ali.
A divindade era uma coisa estranha.
Caminharam em um silêncio confortável até ultrapassarem a linha das
haçá-lo tanto
árvores e verem os muros da Fronteira. Os sons da cidade vindos de lá de
dentro. Valdrek planejava levar um grupo de moradores para Valleyda nas
emência que
próximas semanas, mas havia muitos preparativos a serem feitos antes disso.
E Lear estava certo, nem todo mundo queria ir.
De Eammon, Red franziu a testa.
que estivesse — Valdrek precisa de ajuda com a organização de novo?
— Não é bem isso. — Eammon levou a mão dela aos lábios e beijou o
na busca, odorso. — Eu conversei com Asheyla — disse ele contra a pele dela. — Sobre
a substituição de um certo manto.
ou e a puxou Os sorrisos dela haviam sido raros nas últimas semanas, mas cada um deles
va as batidas tinha acontecido por causa de Eammon. Os lábios de Red se curvaram
quando encontraram os dele, enquanto a centelha de esperança reacendia no
cho que você seu peito.
Eles iam encontrar Neve. Iam consertar as coisas. Juntos.
guiasse pela Com os dedos entrelaçados com os do Lobo, ela o deixou conduzi-la.

Wilderwood Neve
cilmente, e a
sse caído no Cinza. Tudo que conseguia ver era cinza. Vários tons de cinza, claros e
histórias, masescuros, fumaça e carvão, mas tudo era única e exclusivamente cinza.
Só que às vezes via algo azul, olhando para ela. O azul mais límpido que já
um preço altotinha visto, cercado por algo escuro, como um cabelo comprido. Ela gostava
uma segunda de azul. Era reconfortante de alguma forma.
de si que se Lentamente, voltou a sentir os braços e as pernas. Não se lembrava de
ão no espelhomuita coisa — prata e gritos e árvores crescendo —, mas sabia que estar
deitada ali, em um mar de cinza com vislumbres de azul, não era o que
deveria estar fazendo.
a linha das Demorou um tempo para perceber que conseguia se mexer. Primeiro os
ndos de lá debraços, depois as pernas, os músculos formigando. Sem pensar muito, ergueu
Valleyda nasas mãos, pressionando-as contra o vidro que a cobria. Foi fácil erguê-lo.
s antes disso. Ao levantar os braços, notou as sombras escuras sobre a pele, como se
estivessem cobertos por mangas de renda negra. Franziu a testa por um
instante. Havia quase um pulsar nos fios de escuridão, como se fossem um
segundo conjunto de veias. Aquilo despertava uma lembrança, mas ela não
os e beijou o conseguia encaixar todas as peças.
ela. — Sobre No silêncio, parecia que a escuridão também estava na sua cabeça. Algo
agachado no canto da sua mente, algo que existia nela, mas, ao mesmo
ada um delestempo, era separado.
se curvaram Passou as pernas pela beirada de uma laje de pedra. Sentou-se.
reacendia no O aposento era circular. Quatro janelas em pontos equidistantes, o peitoril
entalhado com linhas sinuosas como fumaça. Acima dela havia um céu
noturno pintado, estrelas e constelações em todos os tons de cinza possíveis
atrás de uma lua de papel pendurada.
Além das janelas, o mundo era cinza também. Uma floresta, com os galhos
crescendo para baixo enquanto as raízes cresciam para cima, desaparecendo
em um céu espesso feito de neblina. Enquanto observava, alguma coisa se
nza, claros e moveu entre as árvores invertidas — algo imensamente grande, e deslizando
como uma cobra.
mpido que já Sentiu medo e ficou com vontade de se deitar embaixo do vidro de novo.
. Ela gostava — Olá, Neve.
Ela virou a cabeça de súbito, desviando o olhar da floresta invertida, e viu
lembrava deum homem no canto do aposento. As mãos estavam entre os joelhos, o cabelo
bia que estarcomprido escorria pelos ombros. Eram tão cinza quanto o restante do lugar,
ão era o que mas, se ela olhasse com atenção, ainda conseguia ver traços de um castanho
dourado.
Primeiro os — Você acordou. — Olhos azuis se fixaram nela. — Eu estava esperando.
muito, ergueu

ele, como se
esta por um
instante. Havia quase um pulsar nos fios de escuridão, como se fossem um
segundo conjunto de veias. Aquilo despertava uma lembrança, mas ela não
conseguia encaixar todas as peças.
No silêncio, parecia que a escuridão também estava na sua cabeça. Algo
agachado no canto da sua mente, algo que existia nela, mas, ao mesmo
tempo, era separado.
Passou as pernas pela beirada de uma laje de pedra. Sentou-se.
O aposento era circular. Quatro janelas em pontos equidistantes, o peitoril
entalhado com linhas sinuosas como fumaça. Acima dela havia um céu
noturno pintado, estrelas e constelações em todos os tons de cinza possíveis
atrás de uma lua de papel pendurada.
Além das janelas, o mundo era cinza também. Uma floresta, com os galhos
crescendo para baixo enquanto as raízes cresciam para cima, desaparecendo
em um céu espesso feito de neblina. Enquanto observava, alguma coisa se
moveu entre as árvores invertidas — algo imensamente grande, e deslizando
como uma cobra.
Sentiu medo e ficou com vontade de se deitar embaixo do vidro de novo.
— Olá, Neve.
Ela virou a cabeça de súbito, desviando o olhar da floresta invertida, e viu
um homem no canto do aposento. As mãos estavam entre os joelhos, o cabelo
comprido escorria pelos ombros. Eram tão cinza quanto o restante do lugar,
mas, se ela olhasse com atenção, ainda conseguia ver traços de um castanho
dourado.
— Você acordou. — Olhos azuis se fixaram nela. — Eu estava esperando.
1

Neve

Do lado de fora da janela, havia algo se mexendo. Aquilo em si não era


estranho: ela já tinha visto muitas coisas nos poucos minutos em que estava
acordada, tantas que sua mente nem conseguia processar direito. As palavras
ecoavam nos ouvidos, suavizadas e desbastadas por uma mente que não
conseguia parar de girar em círculos de pânico. Sentia a cabeça pesada, e o
corpo, estranho, a compreensão parecendo uma coisa fugaz e longe do
próprio alcance.
Se ela se recusasse a ouvir, a tratar aquilo como real, talvez não fosse.
A escuridão rastejava pela mente de Neve, deslizando fria nas veias.
Cerrou os punhos.
Palavras pacientes, repetidas mais uma vez, martelando seu cérebro apesar
dos seus esforços.
— Você entende por que está aqui?
A voz dele era tão aveludada, tão conciliatória… Como a de um médico
falando com um paciente que acabou de despertar. Era estranho, muito
estranho, que ela não tivesse percebido que aquele não era Arick. O que quer
que eles tivessem feito para trocar de lugar um com o outro fazia a voz dele
soar como a de Arick, mas a cadência estava totalmente errada. Arick dizia
tudo no ritmo de uma piada. Nada que saía da boca de Solmir soava assim.
Solmir. A mente de Neve tentou evitar o nome, pois era mais uma coisa
que não fazia o menor sentido.
Mas aquilo não era bem verdade. Tudo fazia sentido até demais, e aí estava
o problema.
Por todos os Reis, no que ela tinha se metido?
— Eu não queria que as coisas tivessem chegado a este ponto, Neverah. —
O nome completo de novo. Ela se lembrou de como o apelido tinha
começado a soar estranho na boca dele nos últimos meses. Uma proximidade
falsa que ele ainda não conquistara, e parte dela tinha percebido aquilo
mesmo antes de descobrir tudo. — As coisas… saíram do meu controle.
m si não era
Totalmente.
m que estava
Ele estava sentado atrás de onde ela tinha se colocado, perto da janela,
. As palavras
olhando para o mundo cinzento. A cadeira de madeira dele era um dos quatro
ente que não
móveis que compunham o quarto na torre. Duas cadeiras, uma mesa… e o
a pesada, e o
caixão dela.
e longe do
Havia uma lareira ao lado de Solmir, mas estava apagada. O aposento era
circular, marcado por quatro janelas, o peitoril de cada uma entalhado com
linhas sinuosas que lembravam fumaça. Não havia nada nas paredes, mas
a nas veias.
aquela lua de papel cinza pendia do centro do teto pintado de preto, salpicado
com constelações desenhadas que ela reconhecia. As Duas Irmãs, a
érebro apesar
Constelação da Praga.
E tudo aquilo, tudo mesmo, era cinza.
Neve não olhou para o homem — para o deus — atrás dela, concentrando
e um médico
toda a sua atenção nas coisas do lado de fora, um monstro que parecia mais
ranho, muito
fácil de compreender. Os flancos eram manchados, como o corpo de uma
k. O que quer
cobra na época da troca de pele, e o ser serpenteava por entre árvores
ia a voz dele
invertidas.
. Arick dizia
Uma fera cinza, uma floresta cinza, todo o resto também cinza, exceto os
olhos do seu captor. Eles brilhavam em azul, e ela quase conseguia senti-los
is uma coisa
fixos nas costas dela, tentando fazer com que se virasse para ele. Tentando
is, e aí estava fazer com que reconhecesse o que estava acontecendo ali, que se lembrasse
do que tinha feito.
O que ela havia feito.
Neverah. — Tanta coisa para se lembrar, tanta coisa para analisar. A escuridão
apelido tinha extravasando dela como um segundo conjunto de veias, o poder pulsando
proximidade como batidas de um coração. Um poder que ela absorvera, um poder que
ebido aquilo escolhera tornar parte dela.
meu controle. O rosto de Red. Red e Raffe a chamando aos berros de trás do vidro
esfumaçado. Neve os deixara. Neve escolhera deixá-los. O que mais podia
to da janela,merecer, ela que tinha quase provocado um apocalipse por causa do próprio
m dos quatroegoísmo? Ela tinha se resignado às sombras, e ali estavam elas, na forma de
mesa… e o um homem e uma torre e um mundo cinzento repleto de deuses e monstros.
A religião que seguiam não tinha nenhum conceito de vida após a morte,
aposento era mas ela já tinha deturpado muitas peças sagradas, tentando fazer com que se
ntalhado comencaixassem da forma que ela queria. Talvez estivesse morta, talvez aquela
paredes, masfosse uma punição criada especialmente para ela.
eto, salpicado Para ela e para ele.
as Irmãs, a — No fim, eu não tive escolha — Se Solmir notou que ela estava bem
perto de entrar em pânico, que de nada adiantava toda a paciência dele para
acalmar o coração acelerado dela, seu tom não indicou. Ele permaneceu
concentrandoneutro e calmo, fazendo com que Neve quisesse arrancar a língua dele.
parecia mais Aquele pensamento, uma violência tão inesperada, repuxou suas veias e
orpo de umaalgo na sua mente. Todas as sombras que ela absorvera giraram e
entre árvoresserpentearam sob a pele; a escuridão se esgueirando pela beirada dos
pensamentos a fez entrar em ação. Não era seu pensamento nem sua ação —
za, exceto osera uma coisa diferente, escondida dentro dela como um predador à espreita.
senti-los Neve curvou os dedos em garras e não precisou nem olhar para saber que
ele. Tentando as veias tinham se tingido de negro.
se lembrasse — Achei que eu não tivesse escolha — disse ele em voz baixa, como se
fosse uma confissão. Ainda olhando para a janela, Neve arreganhou os
dentes. Ela não seria clemente com ele. — Você estava fraca. Já tinha
A escuridão absorvido sombras demais, se doado demais, e quando enfrentou Kiri no
der pulsando Santuário… Você apagou depois daquilo. Você não acordava. Eu achei que
m poder queancorá-la à magia do bosque talvez a curasse. — Ela ainda não olhava para
ele, mas ouviu o som baixo do cabelo comprido e solto roçar nos ombros de
rás do vidroSolmir enquanto ele balançava a cabeça. — Eu não achei que você fosse…
e mais podiaabsorver tudo quando sua irmã veio salvar você.
sa do próprio Irmã. Neve fechou os olhos.
na forma de — Mas isso pode funcionar a nosso favor — continuou ele. A esperança
era algo incongruente ali. Parecia totalmente fora de lugar. — Eu achei que
após a morte,teria de tentar o mesmo plano de novo… esperar por outra oportunidade,
r com que se sendo que começávamos a ficar sem tempo. Mas, com você aqui e Red do
talvez aquelaoutro lado, talvez haja uma outra forma.
Aquilo foi o suficiente para fazê-la enfim se afastar da janela e olhar para
ele. Ele se inclinou para a frente na cadeira, apoiando os cotovelos nos
a estava bem joelhos e enfiando as mãos entre eles. Era estranho ver alguém de quem tinha
cia dele parasido bem próxima durante meses em um corpo diferente do que conhecera. O
permaneceu cabelo liso e comprido de Solmir caía sobre os ombros, obscurecendo o rosto.
Uma fileira de pequenas cicatrizes marcava o contorno do couro cabeludo,
suas veias epequenas no centro da testa e ficando maiores nas têmporas. Ele usava finos
a giraram eanéis prateados em quase todos os dedos longos e finos, e o movimento do
beirada doscabelo escuro e fluido revelou uma argola também prateada na orelha direita.
m sua ação — Ele ergueu os olhos para encontrar os dela. Azuis ardentes, mais azuis do
que qualquer céu ou mar que ela já tinha visto.
ara saber que Neve queria falar. Tinha toda a intenção de falar. Mas vê-lo ali, um deus de
conto de fadas, transformado no seu algoz pessoal, fez as cordas vocais
ixa, como setravarem.
reganhou os Mas ele conseguiu ler no rosto dela o que ela queria dizer.
aca. Já tinha — Temos de acabar com eles. — Um sussurro, como se mesmo ali ele
ntou Kiri notemesse ser ouvido, naquele grande amplo que os aprisionava e continha
Eu achei que apenas feras. — Eles estão conseguindo mais poder, Neverah. Estão fazendo
o olhava paraisso há séculos. Eles querem o mundo do qual foram expulsos e preferem
os ombros de destruí-lo a permitir que continue existindo sem eles.
você fosse… E lá estava. O motivo para tudo aquilo. A motivação por trás do que
tinham feito, ele e Kiri, usando o desespero dela e de Arick como catalisador
dos próprios planos cósmicos.
A esperança Ela queria cuspir nele. Queria chorar. Mas tudo que fez foi respirar fundo.
Eu achei que — Ligar você às sombras do bosque nunca foi parte do plano —
oportunidade,murmurou Solmir. — Dar a você… o que eu dei… nunca foi parte do plano.
qui e Red doMas eu fiz para salvar você, Neverah. Não espero que acredite em mim, mas
é verdade.
e olhar para Ela acreditava nele? Nem sim nem não pareciam respostas seguras.
otovelos nos — A outra opção parecia bizarra demais — continuou ele, mantendo o
e quem tinhaolhar nas mãos entrelaçadas e nos anéis prateados. — Mística demais. Mas
conhecera. O acho que é ridículo demais que nós, entre todas as pessoas, desconsideremos
endo o rosto.um mito. Se eu soubesse que o plano ia dar tão errado, eu teria agido de outra
uro cabeludo,forma.
e usava finos E dera muito errado, mesmo. Neve se lembrava de borrões de antes do
movimento docaixão de vidro esfumaçado, antes do bosque de sombras. O Santuário. Red
agachada como um ser selvagem, sangrando e ouvindo as árvores. A dor na
mais azuis do cabeça, a dor por todos os lados, uma dor fria girando dentro dela enquanto
pegava para si mais poder sombrio do que jamais pegara antes, um último
i, um deus deesforço para salvar a irmã da coisa inumana que ela havia se tornado.
ordas vocais
Mas, no fim das contas, a própria Neve acabara perdendo a humanidade
também. Linhas negras, poder sombrio, árvores invertidas.
mesmo ali ele Houvera dor, uma dor que parecia alguém puxando o fio que a formava até
a e continha desfiá-la por completo. Mas então… um beijo suave em sua testa. Alguma
Estão fazendocoisa se acendendo dentro ela, um bote salva-vidas atirado para que sua alma
s e preferempudesse se agarrar àquilo. E a dor se fora.
Foi quando tinha visto Solmir, Solmir que tinha sido Arick, entrando e
trás do quesaindo de foco como uma miragem. Quando ela juntara as peças do que tinha
mo catalisadoracontecido? Alguém tinha explicado tudo para ela? Achava que não. O poder
dentro dela, frio e coroado de gelo, parecia ser suficiente para explicar tudo.
A magia fria parecia saber de tudo, fios de escuridão explicando para ela o
do plano — que estava bem diante do seu nariz: que Arick não era Arick, que o que ela
arte do plano.achava que estava fazendo não era tudo que parecia, que ela havia se
em mim, masenvolvido em um plano que não se importava se Red viveria ou morreria.
Havia mais coisas ali. Tinha de haver. Mas se a história terminava com
Neve inumana em um mundo criado para deuses, será que os detalhes eram
mantendo o tão importantes assim?
demais. Mas E quanto a Red? Que as sombras a amaldiçoassem, Neve não tinha
consideremosconseguido nada do que queria, ou será que as coisas tinham saído do
gido de outracontrole a tal ponto que ela acabara perdendo tudo?
Controle. Por todos os Reis e todas as sombras, um pouco de controle era
de antes do tudo que ela queria.
antuário. Red — Redarys está viva. — Era quase como se Solmir conseguisse ler os
res. A dor na pensamentos dela, ler o medo escrito no olhar. Os olhos dele analisaram o
ela enquantorosto de Neve, azuis naquele mar cinzento. Uma lufada de vento frio entrou
s, um último pelas janelas abertas da torre, fazendo o cabelo liso e brilhante esvoaçar. —
Ela e o Lobo. Ambos saíram ilesos. — Um brilho de emoção transpareceu
humanidadenaquele rosto odiosamente lindo. — Vamos precisar deles para este novo
plano funcionar.
a formava até Red e o Lobo. O monstro que a irmã escolhera.
Alguma Toda aquela conversa sobre novos planos, sobre encontrar alguma coisa, e
que sua almaela não fazia ideia do que nada daquilo significava. Era a prisioneira de um
Rei, e um poder sombrio fluía pelas veias dela como sangue, e Neve não
k, entrando eentendia nada.
do que tinha Ela abriu a boca, sem saber direito o que diria. O que saiu foi:
não. O poder — Tem uma coisa lá fora.
explicar tudo. Ele franziu as sobrancelhas, traços escuros sobre os olhos azuis. Solmir
do para ela o olhou por sobre o ombro, fazendo os fios brilhantes do cabelo comprido
que o que elaescorrerem pelas costas. Deviam ser castanho dourado, pensou ela. No
ela havia se mundo lá em cima. Não tinha ideia de como sabia daquilo; o conhecimento
estava enterrado em algum lugar profundo de suas lembranças emaranhadas,
rminava come não se encaixava para formar uma imagem clara. Parecia um conhecimento
detalhes eramíntimo, ali onde não havia cor a não ser nos olhos dele, o fato de que ela
também soubesse a cor do cabelo dele.
ve não tinha Se não estivesse tão paralisada, se não se sentisse como um cadáver que
am saído doainda não tinha se dado conta de que estava morto, Neve talvez tivesse
vomitado.
era Solmir olhou pela janela, para aquela massa que serpenteava lentamente
pela floresta invertida. As raízes elevadas para o céu, muito, muito mais altas
guisse ler os do que Neve achava ser possível. Quase desapareciam depois de certo ponto,
analisaram oficando desbotadas quase o suficiente para que ela conseguisse se convencer
o frio entrou de que eram apenas nuvens estratificadas. Os galhos mergulhavam no chão
esvoaçar. —como pontes construídas por algum louco. Na janela atrás dela, não havia
transpareceu floresta invertida nem mais nada além de um grande ermo cinzento e um céu
igualmente cinzento. As raízes ainda eram um pouco visíveis por metros
ra este novoacima no ar, mas não formavam troncos e galhos. E, além disso, não havia
nada.
Nada além daquela torre na fronteira com lugar nenhum. Uma eternidade
guma coisa, e de cinza e monstros além da porta.
oneira de um — Um monstro inferior — disse Solmir, fazendo um gesto de pouco caso
e Neve não para a criatura deslizante, enquanto se virava para olhar para Neve. — Os
Antigos estão mais entranhados na terra, presos no próprio território. Não
chegam tão perto daqui. E os Reis estão confinados no Tabernáculo.
Ele disse aquilo como se ela devesse saber o que significava. Neve
azuis. Solmirbalançou a cabeça.
elo comprido — Territórios? — A voz dela falhou, como se a Rainha tivesse engolido
sou ela. No um monte de alfinetes. — Tabernáculo?
onhecimento — Os deuses presos aqui criaram seus lugares — disse Solmir, como se
emaranhadas,aquilo fosse uma explicação e não apenas um monte de palavras que faziam
onhecimento sentido separadas, mas não juntas. — Transformaram as terras em reinos, os
o de que ela entalharam. Não restaram muitos, mas os que ficaram ainda estão no lugar. O
Oráculo fica nas montanhas, o Leviatã no mar, a Serpente no subsolo. E os
cadáver queReis no Tabernáculo. — Ele fez outro gesto para a criatura do outro lado da
alvez tivessejanela. — Aquele é um monstro inferior. Não restam muitos deles. Os
monstros inferiores são os únicos a arriscar uma proximidade tão grande com
a lentamente a fronteira com Wilderwood, as únicas coisas idiotas o suficiente para
ito mais altasacreditarem que vão escapar. — Ele deu de ombros, assumindo totalmente o
e certo ponto,tom professoral, como se aquilo fosse distraí-la de todo o horror em que
se convencerestava presa. — Antes, conseguiam de vez em quando. Mas não agora que
vam no chão Wilderwood está curada e mantida por dois Lobos novamente.
la, não havia Se ele não parasse de mencionar Red, Neve ia perder a cabeça. Ela
nto e um céuenterrou as mãos no peitoril da janela com os entalhes sinuosos e fincou as
s por metros unhas nele, como se fossem garras que ela precisava usar para se segurar e
so, não haviasalvar a própria vida. Será que Red estava procurando por ela? Será que
estava sentindo o mesmo desespero que Neve sentira, que parecia formar um
ma eternidadenó na garganta?
Neve não sabia. Simplesmente não sabia.
e pouco caso Outra onda de raiva no peito, pensamentos de violência. Daquela vez,
Neve. — Osporém, não eram voltados contra Solmir, mas sim contra Kiri, até mesmo
rritório. Nãocontra Arick, contra tudo e todos que a levaram àquele momento. As veias
dos braços ficaram mais escuras só com aquele pensamento.
ficava. Neve O que tinha acontecido com ela?
— Não precisa se preocupar com nada.
esse engolido Solmir se levantou, por fim, e cruzou as mãos nas costas em uma postura
quase militar, como se tivesse pegado cada traço de inexperiência que ela
mir, como sesentira nele antes e os tivesse guardado com todo o cuidado. Ele era bem
s que faziam mais alto do que ela, quase uma cabeça e meia; era forte, mas esguio, o rosto
em reinos, osdotado de uma beleza aristocrática e um toque de crueldade, um nariz fino e
o no lugar. O afilado, maçãs do rosto marcadas, sobrancelhas escuras sobre aqueles olhos
subsolo. E osazuis infernais. Ele parecia frio.
outro lado da Tão diferente de Raffe.
os deles. Os Por todos os Reis, os joelhos pareciam prestes a ceder sob o peso dela.
o grande com — Se o monstro decidir morrer do lado de fora da nossa janela —
ficiente para continuou Solmir, ainda naquele tom de voz controlado que demonstrava que
totalmente o tinha percebido que ela estava perturbada, e que ele estava se esforçando
orror em quemuito para que ela não perdesse a cabeça de vez —, aí, sim, eu ficaria
ão agora quepreocupado. As criaturas de sombras que produzem são irritantes, toda aquela
magia presa liberada quando uma coisa desalmada morre e se dissolve. —
cabeça. ElaEle estreitou os olhos para Neve, como se estivesse lhe dando coragem. —
s e fincou asElas têm alguns momentos de semiconsciência logo que se soltam. A maioria
se segurar e
la? Será queapenas tenta subir para o mundo lá em cima. Mas, agora, elas provavelmente
ia formar um só serão atraídas para os Reis, para aumentar o poder deles.
Ali estava algo em que sua mente poderia se segurar, uma coisa concreta
no mar de explicações.
Daquela vez, — Você fala dos Reis como se não fosse um deles.
, até mesmo A frase saiu mais forte, e ela reconheceu a própria voz pela primeira vez
nto. As veias desde que acordara. Parecia uma Rainha falando.
Ele não tinha o direito de parecer tão chocado.
— Você me trouxe para cá — disse ela. O inverno se agregou em seus
punhos cerrados, gelo brilhante correndo pelas veias enquanto os
uma posturapensamentos letárgicos tentavam acompanhar o coração dela, emoções
ência que ela modificadas em um corpo cansado. — Você enganou Arick e quase matou
Ele era bemminha irmã depois de dizer que poderia salvá-la, e você me prendeu aqui com
sguio, o rosto você.
m nariz fino e A última palavra foi quase um grito; ela levantou as mãos e curvou os
aqueles olhosdedos em forma de garra. Linhas negras tremeram ao redor deles, as veias
parecendo cobras de sombras, o gelo se cristalizando na ponta dos dedos.
Mas ele não se afastou nem pareceu amedrontado. Parecia estar, na verdade,
pesando as opções, decidindo qual caminho seria o mais fácil de trilhar.
sa janela — Quando Solmir tomou a decisão, encolheu os olhos.
monstrava que — Foi exatamente o que eu fiz. — Ele não negou nada, não tentou mitigar
e esforçandoa magnitude do que tinha feito. — Fiz o que precisava ser feito, Neverah. Se
m, eu ficaria a sinceridade fosse uma opção, eu teria sido sincero com você. Mas não era.
s, toda aquela— Ele franziu as sobrancelhas e levantou o queixo. — Sim, eu trouxe você
dissolve. —até aqui. Sim, eu a prendi aqui. Mas faço aqui e agora uma promessa para
coragem. —você, e juro pela minha vida e pelo meu sangue: você vai sair daqui sã e salva
m. A maioriaquando o nosso trabalho terminar.
rovavelmente Juro pela minha vida e pelo meu sangue. Um juramento antigo, o qual ela
só lera em livros de história. Aquilo deveria ter deixado seus pensamentos em
oisa concreta turbilhão de novo, afastando-se do centro como uma pulseira de contas
arrebentada. Mas, na verdade, ofereceu-lhe uma espécie de apoio.
— Você e eu vamos destruir este mundo subterrâneo — murmurou Solmir.
primeira vez— Nós vamos queimá-lo até que não reste mais nada, e vamos levar os Reis
junto.

gou em seus
enquanto os
la, emoções
quase matou
deu aqui com

e curvou os
eles, as veias
a dos dedos.
, na verdade,

entou mitigar
Neverah. Se
Mas não era.
trouxe você
romessa para
qui sã e salva
Juro pela minha vida e pelo meu sangue. Um juramento antigo, o qual ela
só lera em livros de história. Aquilo deveria ter deixado seus pensamentos em
turbilhão de novo, afastando-se do centro como uma pulseira de contas
arrebentada. Mas, na verdade, ofereceu-lhe uma espécie de apoio.
— Você e eu vamos destruir este mundo subterrâneo — murmurou Solmir.
— Nós vamos queimá-lo até que não reste mais nada, e vamos levar os Reis
junto.
AGRADECIMENTOS

Se é necessária uma aldeia para criar uma criança, é necessária uma


metrópole para criar um livro. Devo muito a muita gente que tornou possível
que Red, Eammon e toda a floresta vissem a luz do dia.
Meu primeiro agradecimento vai para o meu marido, Caleb, por lidar de
forma bastante galante com meus sussurros sobre as “vibes de Red e
Eammon” sempre que ouvíamos uma música romântica por quase cinco anos,
e também por se certificar de que eu sempre tivesse tempo para trabalhar no
livro mesmo quando era apenas uma coisa casual que eu estava tentando,
porque ele sabia o quanto isso me deixava feliz. Amo você, amo você, amo
você, amo você.
O primeiro agradecimento específico para o mercado editorial vai para
minha indomável agente Whitney Ross. Você não só foi uma incrível
defensora do livro, mas uma amiga maravilhosa também. Obrigada por ver o
que a minha história poderia ser e por me estimular a chegar lá.
Para minha editora Brit Hvide: ainda estou maravilhada por ter trabalhado
com você. Sua orientação e seu entusiasmo (e paciência com minhas ligações
de “brainstorm”, nas quais eu dizia “Hum…” e um monte de palavrões)
tornaram esse processo muito mais incrível.
E como fui abençoada no que diz respeito a editoras, um enorme
agradecimento para Angelina Rodriguez! Trabalhar com você foi
simplesmente o máximo, e é muito bom poder chamá-la de amiga e colega.
Também tenho muita sorte em relação a amigas autoras (que logo viraram
melhores amigas). Erin Craig, você é minha pessoa. Obrigada por ler, quase
literalmente, todos os rascunhos deste livro, e por nunca me deixar desistir.
Bibi Cooper, eu amo tanto você, uma fonte de alegria constante. Não existe
ninguém para quem eu prefira mandar uma DM sem sentido.
Para minha turma: Anna Bright, Laura Weymouth, Jen Fulmer, Steph
Messa e Joanna Ruth Meyer. Eu não tenho palavras para expressar o que
cessária umavocês significam para mim. Eu com certeza não estaria aqui se não fossem
rnou possívelvocês.
Muito obrigada a Monica Hoffman e Stephanie Eding, as mentoras que
por lidar deescolheram este manuscrito em uma pilha de um concurso quando ele ainda
de Red eera uma grande bagunça; muito obrigada por me ensinarem como revisar e
e cinco anos,por enxergar o âmago desta história antes de ela realmente estar aparente.
trabalhar no Emily Duncan, Tori Bovalino, Emma Theriault, Claribel Ortega, Kelsey
ava tentando, Rodkey, Saint Gibson, Kit Mayquist, Gina Chen, Em Liu, Sierra Elmore,
mo você, amoEmma Warner, Meryn Lobb, Kelly Andrew, Suzie Sainwood, Paige Cober,
Sadie Blach, Tracy Deonn, Rachel Somer, Jordan Gray, Morgan Ashbaugh e
rial vai paraDiana Hurlburt: o apoio e a amizade de vocês significam muito para mim e
uma incríveltornaram o mundo suportável. Meus agradecimentos para Layne Fargo,
ada por ver oRoseanne Brown, Alexis Henderson, Shelby Mahurin e Isabel Cañas, minha
galera do PitchWars; amo muito todos vocês e tenho muito orgulho de nós. E
er trabalhadopara os Guillotines, MK, Harry e Chris: vocês são absolutamente brilhantes, e
nhas ligaçõesé uma honra ser amiga de vocês.
de palavrões) Para Sarah Gray, Liz O’Connell, Ashley Wright, Chelsea Fitzgerald,
Stephanie Sorenson, Leah Looper, Nicole Prieto e Jensie Trail: amo muito
um enormetodas vocês já há muito tempo, e sou muito grata por ter o apoio e a amizade
m você foi de vocês e todos os memes que me mandam.
E é claro, um enorme agradecimento para toda a equipe da Orbit; foi
logo viraramincrível trabalhar com vocês. Vocês são demais.
por ler, quase Por fim, obrigada a todos os leitores que se animaram com este livro desde
eixar desistir.o início. Obrigada por permitirem que eu conte histórias.
e. Não existe

ulmer, Steph
pressar o que
e não fossem

mentoras que
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Paige Cober,
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Layne Fargo,
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lho de nós. E
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todas vocês já há muito tempo, e sou muito grata por ter o apoio e a amizade
de vocês e todos os memes que me mandam.
E é claro, um enorme agradecimento para toda a equipe da Orbit; foi
incrível trabalhar com vocês. Vocês são demais.
Por fim, obrigada a todos os leitores que se animaram com este livro desde
o início. Obrigada por permitirem que eu conte histórias.
CALEB WHITTEN

HANNAH WHITTEN gosta de escrever desde que aprendeu a segurar uma caneta e,
quando estava no ensino médio, descobriu que outras pessoas também poderiam
gostar de suas histórias. Quando não está trabalhando em seus livros, ela lê,
compõe músicas ou tenta cozinhar. Mora no Tennessee com o marido e os filhos
em uma casa comandada por um gato temperamental.
CALEB WHITTEN

HANNAH WHITTEN gosta de escrever desde que aprendeu a segurar uma caneta e,
quando estava no ensino médio, descobriu que outras pessoas também poderiam
gostar de suas histórias. Quando não está trabalhando em seus livros, ela lê,
compõe músicas ou tenta cozinhar. Mora no Tennessee com o marido e os filhos
em uma casa comandada por um gato temperamental.
Copyright © 2021 by Hannah Whitten
Publicado mediante acordo com Orbit, Nova York, Nova York, EUA. Todos os direitos reservados.

Grafia atualizada segundo o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990, que entrou em vigor
no Brasil em 2009.

Título original
For the Wolf

Capa
Lisa Marie Pompilio

Ilustrações de capa
Arcangel
Shutterstock

Ilustrações de miolo
Shutterstock

Preparação
Jana Bianchi

Revisão
Bonie Santos
Thiago Passos

Versão digital
Rafael Alt

ISBN 978-65-5782-633-1

Todos os direitos desta edição reservados à


EDITORA SCHWARCZ S.A.

Praça Floriano, 19, sala 3001 — Cinelândia


20031-050 — Rio de Janeiro — RJ
Telefone: (21) 3993-7510
www.companhiadasletras.com.br
www.blogdacompanhia.com.br
facebook.com/editorasuma
instagram.com/editorasuma
twitter.com/editorasuma
e entrou em vigor
A pena mágica de Gwendy
Chizmar, Richard
9786557823743
352 páginas

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Na emocionante sequência de A pequena caixa de Gwendy, best-seller do


New York Times escrito por Stephen King e Richard Chizmar, Gwendy é
convocada de volta a Castle Rock após o misterioso reaparecimento da
caixa de botões. A pacata cidadezinha que esconde segredos obscuros e
macabros está prestes a despertar outra vez.

Algo maligno invadiu a pequena cidade de Castle Rock, no Maine, durante a


última tempestade de inverno. Agora, o xerife Norris Ridgewick e sua equipe
estão em uma busca incansável por duas garotas desaparecidas.
Aos trinta e sete anos e morando em Washington, dc, Gwendy Peterson não
se assemelha nem um pouco à adolescente insegura que costumava ser
quando passou o verão se exercitando na Escadaria Suicida de Castle Rock.
Naquele verão, ela foi incumbida — há quem diga amaldiçoada — de cuidar
de uma caixa de botões bastante peculiar, entregue a ela por um desconhecido
de terno preto.
Gwendy nunca falou para ninguém sobre a caixa — nem mesmo para o
marido —, até que, um dia, ela ressurge. Motivada pela inusitada reaparição
do objeto e pelos desaparecimentos preocupantes em sua cidade natal,
Gwendy retorna a Castle Rock, onde tentará resgatar as garotas desaparecidas
antes que algo horrível aconteça com elas.
Com uma prosa lírica de tirar o fôlego, o livro nos leva a pensar: nossas vidas
são controladas pelo destino ou pelas escolhas que fazemos?

"Eu adoro essa história! É frenética, assustadora e tristemente relevante.


Amei os personagens e essa ideia da conexão de uma garota com o mundo
todo por meio de um objeto peculiar. É pura música." — J.J. Abrams
"Completamente envolvente… É uma história arrebatadora." — Publishers
Weekly

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O cavaleiro dos Sete Reinos (Edição
especial)
Martin, George R. R.
9786557826614
264 páginas

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Décadas antes dos acontecimentos descritos em As Crônicas de Gelo e


Fogo, O cavaleiro dos Sete Reinos narra as aventuras do cavaleiro Dunk e
de seu jovem escudeiro Egg — que se revelam importantes figuras de
Westeros. Edição especial com novas ilustrações.

Sor Duncan, o Alto, ou apenas Dunk para os íntimos, não teve uma vida fácil.
Filho bastardo de uma prostituta, ele nunca pertenceu a nenhuma Casa, e suas
oportunidades de vida parecem bastante reduzidas. Mas a esperança de
alcançar a glória não está perdida, e Dunk está decidido a se tornar um grande
guerreiro em Westeros. Dentre todos os grandes, Dunk quer escrever o seu
nome na história como um verdadeiro Cavaleiro dos Sete Reinos. O único
problema é que existem muito mais pretendentes do que posições
disponíveis.
A sorte começa a mudar quando ele encontra Egg, um garoto careca e cheio
de atitude que se prontifica a ser o seu escudeiro. Quanto mais Dunk conhece
o menino, porém, mais Egg parece o oposto de ser um mero plebeu,
demonstrando uma inteligência muito além de sua idade.
Juntos, eles viajam em busca de trabalho e aventuras — sem jamais revelar a
verdadeira identidade do menino àqueles que encontram pelo caminho. Uma
grande amizade nasce entre esses dois heróis improváveis, que persiste
mesmo quando, anos mais tarde, eles assumem papéis centrais na estrutura de
poder de Westeros.
Reunindo os três primeiros contos protagonizados por Dunk e Egg — "O
cavaleiro andante", "A espada juramentada" e "O cavaleiro misterioso" —, O
cavaleiro dos Sete Reinos é o livro perfeito para quem quer se aventurar no
fantástico mundo criado por George R.R. Martin e para aqueles que anseiam
por mais histórias de Westeros, dos Targaryen e do fascinante universo de As
Crônicas de Gelo e Fogo.

"O verdadeiro motivo para ler esta coletânea é a excelente narrativa. Martin
desenvolveu um mundo vivo, cheio de detalhes, de uma maneira que poucos
autores conseguem fazer."— Tech Times

"Impressionante… Da mesma forma que Tolkien tem O Silmarillion, Martin


também tem sua trilogia de histórias de origem."— Kirkus Reviews

"Pura fantasia e aventura, com dois dos personagens mais encantadores que
George R. R. Martin já criou."— Bustle

"Uma leitura imperdível para a legião de fãs de Martin."— Publishers Weekly

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Revista Suprassuma - Edição 1
Postay, Andrezza
9786557825990
168 páginas

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Suprassuma é a revista de ficção especulativa da Editora Suma, digital e


colaborativa. Nessa edição de estreia, oito autores nacionais contam
histórias inéditas sobre suas perspectivas de uma "primeira vez".
A revista Suprassuma nasce da necessidade e do desejo de ouvir as vozes da
literatura fantástica no Brasil, criando o portal para um universo
compartilhado. Dentro dele, criaturas desconhecidas, mundos inexplorados e
histórias únicas que ninguém mais poderia contar. Essa primeira edição traz
oito dessas histórias, selecionadas dentre as mais de oitocentas que foram
submetidas no primeiro edital e editadas com muito carinho pela Suma junto
aos autores.

Em O destino não é endereço, de Jana Bianchi, uma mulher capaz de


atravessar umbrais para qualquer lugar no mundo resgata perseguidos
políticos da ditadura.
Em Não vai ser a primeira, nem a última, de Fernanda Castro, uma mulher
engravida de um demônio em um mundo onde crianças híbridas são tratadas
como aberrações.
Em Um ajuste de ponteiros, de Moacir Fio, duas irmãs em uma família de
viajantes no tempo enfrentam os desafios dessa convivência.
Em Orvalho flamejante, de Giu Yukari Murakami, uma família imigrante
portadora do dom do fogo busca um recomeço no Norte do Brasil.
Em Vertente, de Andrezza Postay, uma mulher faz um retorno à infância, à
casa dos avós e um passeio pelas vertentes da memória.
Em Ith, de Ariel Ayres, um novato recebe a missão de apertar o botão que
explodirá um planetinha.
Em Ressurreição, de Fabiane Guimarães (autora convidada), a medicina 5.0
traz promessas de imortalidade... para aqueles que podem pagar por ela.
Em Dias de pouco pão e zero sonho, de Saskia Sá, uma mulher entra em uma
loja de antiguidades mágicas e se sente atraída por um colar que mudará seu
destino.

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Árvore Inexplicável
Chiovatto, Carol
9786557826621
328 páginas

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Da autora de Porém Bruxa e Senciente nível 5, finalista do Jabuti, Árvore


Inexplicável é uma fantasia urbana repleta de mistérios, aventura,
amizades poderosas e romance. É um livro imperdível de uma das vozes
mais talentosas da literatura fantástica nacional.

Diana está terminando o curso de história na USP e mal vê a hora de deixar


para trás a rotina cansativa entre Guarulhos, a cidade onde mora, e São Paulo,
onde estuda, trabalha e encontra os amigos.
Desde jovem, a universitária testemunha fenômenos peculiares que só ela
enxerga: breves aparições de uma névoa colorida, próximas a determinadas
árvores. Certa noite, diante do quiosque de salgados da faculdade, ela vê uma
ocorrência e percebe que não foi a única a presenciar o estranho fenômeno.
Quando seus amigos mais próximos revelam segredos que jamais poderia
imaginar, Diana descobre que suas visões fazem parte de um ecossistema
complexo, alvo de conspirações e jogos de interesse. Agora, ela terá de lutar
para proteger espécies ameaçadas — e garantir a segurança daqueles que
ama.

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A guerra dos tronos
Martin, George R. R.
9788554513566
600 páginas

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A guerra dos tronos é o primeiro livro da série best-seller internacional


As Crônicas de Gelo e Fogo, que deu origem à adaptação de sucesso da
HBO, Game of Thrones.

O verão pode durar décadas. O inverno, toda uma vida. E a guerra dos tronos
começou.
Como Guardião do Norte, lorde Eddard Stark não fica feliz quando o rei
Robert o proclama a nova Mão do Rei. Sua honra o obriga a aceitar o cargo e
deixar seu posto em Winterfell para rumar para a corte, onde os homens
fazem o que lhes convém, não o que devem... e onde um inimigo morto é
algo a ser admirado.
Longe de casa e com a família dividida, Eddard se vê cada vez mais enredado
nas intrigas mortais de Porto Real, sem saber que perigos ainda maiores
espreitam a distância.
Nas florestas ao norte de Winterfell, forças sobrenaturais se espalham por trás
da Muralha que protege a região. E, nas Cidades Livres, o jovem Rei Dragão
exilado na Rebelião de Robert planeja sua vingança e deseja recuperar sua
herança de família: o Trono de Ferro de Westeros.

"A guerra dos tronos é a maior obra de fantasia desde que Bilbo encontrou o
Anel." — SF Reviews

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