Para o Lobo - Hannah Whitten
Para o Lobo - Hannah Whitten
Para o Lobo - Hannah Whitten
Capa
Folha de rosto
Sumário
1
2
3
4
5
6
Interlúdio Valleydiano I
7
8
Interlúdio Valleydiano II
9
10
Interlúdio Valleydiano III
11
12
13
14
Interlúdio Valleydiano IV
15
16
Interlúdio Valleydiano V
17
18
Interlúdio Valleydiano VI
19
20
21
22
23
24
Interlúdio Valleydiano VII
25
26
27
28
29
30
31
32
33
34
35
Epílogo
A história continua em...
Agradecimentos
Sobre a autora
Créditos
Créditos
Parada, Red observava e esperava enquanto o medo incendiava seu
peito.
Duas noites antes de ser mandada para o Lobo, Red usava um vestido cor de
sangue.
Ele tingia o rosto de Neve de escarlate enquanto ela, atrás de Red,
arrumava a roupa da irmã gêmea. O sorriso que ela exibia era tênue e
hesitante.
— Você está linda, Red.
Red machucara os lábios de tanto os mordiscar. Quando tentou retribuir o
sorriso, sua pele se repuxou. Ela sentiu um forte gosto metálico na língua.
Neve não notou o sangue. Estava de branco, como todos os outros estariam
naquela noite, e uma faixa prateada no cabelo preto a identificava como a
Primeira Filha. Um misto de emoções cruzou seu semblante claro enquanto
ela se ocupava com as dobras do vestido de Red — apreensão, raiva, tristeza
profunda. Red conseguiu perceber cada uma delas. Sempre percebia, quando
se tratava de Neve. Ela fora um enigma fácil desde o útero que haviam
dividido.
Por fim, Neve se aquietou com uma expressão apática e plácida que visava
não revelar coisa alguma. Apanhou do chão a garrafa de vinho pela metade e
a inclinou em direção a Red.
— Melhor terminar logo.
Red bebeu direto da garrafa. Secou a boca com as costas da mão, que
ficaram manchadas de vermelho.
— Gostoso? — Neve pegou a garrafa de volta. Sua voz estava alegre
mesmo enquanto girava nervosamente o objeto nas mãos. — É meduciano.
Foi presente do pai do Raffe para o Templo, um pequeno bônus além do
tributo em orações pelos tempos prósperos. Raffe surrupiou o vinho, disse
que acha que o tributo por si só é mais do que suficiente para garantir um mar
calmo.
estido cor de Ela riu, cabisbaixa. Um riso abatido e breve.
— Ele disse que se algo pode te ajudar hoje à noite, é isso.
trás de Red, O saiote do vestido de Red ficou todo amarrotado quando ela se jogou em
era tênue e uma das cadeiras próximas à janela, apoiando a cabeça na mão.
— Nem todo o vinho do mundo seria suficiente para isso.
A falsa máscara otimista de Neve vacilou, depois se desfez. Elas ficaram
ou retribuir oem silêncio.
— Você ainda pode fugir — sussurrou Neve, mal movendo os lábios, sem
utros estariamtirar os olhos da garrafa vazia. — Nós podemos te dar cobertura, eu e Raffe.
cava como aHoje, enquanto todos…
aro enquanto — Não posso — disse Red, ríspida e breve, soltando a mão no braço da
raiva, tristeza cadeira. A repetição contínua desgastara toda a cordialidade de sua voz.
ebia, quando — É claro que pode. — Neve apertou a garrafa com mais força. — Você
que haviam ainda sequer tem a Marca, e seu aniversário é depois de amanhã.
Red levou a mão até a manga escarlate, que escondia uma pele branca e
da que visava imaculada. Todos os dias, desde que completara dezenove anos, ela
pela metade e inspecionava os braços em busca da Marca. A de Kaldenore aparecera
imediatamente depois de seu aniversário, a de Sayetha em seu primeiro
semestre com dezenove anos, a de Merra poucos dias antes de completar
da mão, quevinte anos. A de Red ainda estava por aparecer, mas ela era uma Segunda
Filha — destinada a Wilderwood, destinada ao Lobo, fadada a cumprir um
antigo pacto. Com ou sem Marca, ela partiria em dois dias.
estava alegre — O problema são as histórias sobre monstros? Por favor, Red, são contos
É meduciano.de fadas para assustar crianças, não importa o que a Ordem diga. — A voz de
nus além doNeve ficou mais tensa, indo de um tom bajulador para outro mais rígido. — É
vinho, disse tudo faz de conta. Ninguém os vê há quase duzentos anos. Não apareceram
antir um marantes de Sayetha. Ou antes de Merra.
— Mas apareceram antes de Kaldenore.
Não havia calor na voz de Red, tampouco frieza. Neutra e inexpressiva.
Ela estava muito cansada daquela discussão.
se jogou em — Sim, há dois malditos séculos uma manada de monstros saiu de
Wilderwood e aterrorizou os territórios nortenhos por dez anos, até que
Kaldenore surgiu e eles desapareceram. Monstros dos quais não temos
Elas ficaram nenhum registro histórico real, monstros que pareciam tomar a forma que
mais agradasse a pessoa contando a história. — Se o tom de voz de Red era
s lábios, sem como um outono sereno, o de Neve lembrava um inverno devastador, gelado
a, eu e Raffe. e cortante. — Mas, ainda que fossem reais, não aconteceu nada desde então,
Red. Nem sinal de algo vindo da floresta, não atrás de alguma das Segundas
no braço da Filhas e não atrás de você. — Depois de uma pausa, palavras surgiram de um
local profundo que nenhuma das duas tocava. — Se houvesse monstros na
rça. — Vocêfloresta, nós os teríamos visto quando…
— Neve. — Red permaneceu imóvel, fitando o borrão de batom de cor
pele branca esangrenta nos nós dos dedos, mas sua voz rasgou o silêncio do cômodo.
ve anos, ela O pedido de silêncio foi ignorado.
re aparecera — Quando você for até ele, acabou. Ele não vai permitir que volte. Nunca
seu primeiro mais vai poder sair da floresta, não vai ser como… não vai ser como da
de completarúltima vez.
uma Segunda — Não quero falar disso. — A neutralidade se perdeu, transformando-se
cumprir umem algo rouco e aflito. — Por favor, Neve.
d, são contos Por um momento ela pensou que Neve estivesse prestes a ignorá-la outra
— A voz de vez, prestes a arrastar a conversa para além dos limites cuidadosos que Red
s rígido. — Éestabelecera para o assunto. Em vez disso, ela suspirou. Seus olhos brilhavam
o apareceramtanto quanto os cabelos prateados.
— Você poderia ao menos fingir… — murmurou ela, virando-se para a
janela. — Poderia ao menos fingir que se importa.
inexpressiva. — Eu me importo. — Os dedos de Red se tensionaram sobre os joelhos. —
Só não faz diferença.
tros saiu de Ela já havia gritado, protestado, se rebelado. Já fizera tudo aquilo, tudo o
nos, até que que Neve esperava dela agora, antes de completar dezesseis anos. Quatro
s não temos anos antes, quando tudo mudara, quando compreendera que Wilderwood era
a forma queo único lugar para ela.
z de Red era O sentimento crescia dentro dela de novo. Algo desabrochando, algo
tador, geladotomando seus ossos. Algo crescendo.
desde então, Havia uma samambaia no parapeito da janela, absurdamente verdejante
das Segundas contra a neve que servia como pano de fundo. As folhas se mexiam, gavinhas
rgiram de umse esticando com delicadeza em direção ao ombro de Red em um movimento
monstros na determinado e deliberado demais para ser causado por uma brisa passageira.
Sob a manga das vestes, a rede de veias em seu pulso aflorava em um tom
batom de coresverdeado, fazendo com que elas se destacassem contra a pele pálida como
se fossem galhos. Ela sentia gosto de terra na boca.
Não. Red cerrou os punhos até o sangue sumir dos nós dos dedos. Aos
volte. Nuncapoucos, a sensação de algo crescendo se esvaiu como uma gavinha
ser como da interceptada voltando a se encolher em seu esconderijo. O gosto de terra
desapareceu da língua, mas mesmo assim ela pegou a garrafa de vinho outra
sformando-sevez e sorveu o que restava no fundo.
— Não tem só a ver com os monstros — disse ela quando o vinho acabou.
— Há também a questão de eu ser suficiente para convencer o Lobo a libertar
norá-la outraos Reis.
osos que Red O álcool a deixava ousada, ousada o suficiente para que não tentasse
os brilhavamesconder o sarcasmo na voz. Se um dia houvesse um sacrifício valioso o
suficiente para apaziguar o Lobo e o fazer libertar os Cinco Reis de onde quer
ndo-se para aque os tivesse escondido por séculos, não seria ela.
Não que ela acreditasse nisso, de qualquer forma.
os joelhos. — — Os Reis não vão voltar — disse Neve, dando voz à descrença que
ambas sentiam. — A Ordem enviou três Segundas Filhas para o Lobo e ele
quilo, tudo onão os libertou. Não irá libertá-los agora.
anos. Quatro Ela cruzou os braços com firmeza sobre as vestes brancas, olhando pela
lderwood erajanela como se seus olhos pudessem abrir um buraco no vidro.
— Não acho que os Reis possam voltar.
chando, algo Red também não achava. Ela acreditava ser provável que seus deuses
estivessem mortos. Sua dedicação ao próprio destino na floresta não estava
te verdejante relacionada à convicção de que Reis ou monstros ou qualquer coisa pudessem
am, gavinhas resultar dela.
m movimento — Não importa.
a passageira. Elas já haviam tido a mesma conversa várias vezes àquela altura. Red
a em um tomflexionou os dedos, agora repletos de veias azuladas, mal vendo a hora de
pálida comoencerrar aquela conversa infinita e repetitiva.
— Vou para Wilderwood, Neve. Está decidido. Apenas… se conforme
s dedos. Aoscom isso.
uma gavinha Com os lábios comprimidos em uma linha resoluta, Neve deu um passo
osto de terraadiante, diminuindo a distância entre as duas com um farfalhar de seda contra
e vinho outra mármore. Red não levantou o olhar, deixando a cabeça pender de maneira
que os cabelos cor de mel caíssem sobre o rosto.
inho acabou. — Red — sussurrou Neve. Red estremeceu diante do tom de voz da irmã,
obo a libertaro mesmo que usaria com um animal assustado. — Eu quis ir com você.
Naquele dia em que fomos a Wilderwood. Não foi sua culpa que…
não tentasse A porta se abriu com um rangido. Pela primeira vez em muito tempo Red
cio valioso o se sentiu feliz em ver a mãe.
de onde quer O branco e o prateado caíam bem em Neve, mas faziam com que a Rainha
Isla parecesse congelada, gélida como a neve do lado de fora da janela.
Sobrancelhas escuras encimavam olhos ainda mais escuros, a única
escrença quecaracterística em comum com as filhas. Nenhum criado a acompanhava
o Lobo e elequando ela entrou na sala e fechou a porta de madeira atrás de si.
— Neverah.
olhando pela Ela fez um gesto com a cabeça em direção a Neve antes de voltar os olhos
escuros e indecifráveis a Red.
— Redarys.
seus deuses Nenhuma delas retribuiu a saudação. Por um instante que pareceu horas, as
a não estava três permaneceram imersas em um silêncio incômodo.
isa pudessem Isla se voltou para Neve.
— Os convidados estão chegando. Vá cumprimentá-los, por favor.
Neve segurou o tecido da saia do vestido, cerrando os punhos. Encarou Isla
a altura. Red com um ar circunspecto, os olhos pretos ardentes e abrasadores. Mas brigar
do a hora deseria inútil naquele momento, e todas no cômodo sabiam disso. Enquanto se
dirigia à porta, Neve olhou de relance para Red sobre o ombro, um comando
se conformeno olhar: Coragem.
A última coisa que Red sentia quando estava diante da mãe era coragem.
eu um passo Ela não se deu ao trabalho de se levantar enquanto Isla a examinava, atenta
e seda contra e minuciosa. Os cachos de Red, modelados com cuidado, já estavam se
r de maneira desmanchando, e seu vestido estava amarrotado. Isla se deteve por um
instante na mancha vermelha nas costas da mão da filha, mas nem aquilo foi
voz da irmã, suficiente para provocar uma reação. A ocasião era mais uma prova de
ir com você. sacrifício do que um baile, um evento ao qual dignitários de todo o continente
compareciam para ver a mulher fadada ao Lobo. Talvez fosse adequado que
o tempo Red ostentasse uma aparência feral.
— Esse tom combina com você — disse a Rainha, apontando com a
que a Rainhacabeça para o saiote do vestido de Red. — Vermelho para Redarys.
ra da janela. A observação foi irônica, mas fez com que Red cerrasse os dentes com
os, a única força suficiente para quase rachá-los. Neve costumava dizer aquilo quando
acompanhavaeram jovens, antes de ambas perceberem o que realmente significava. Àquela
altura, o vermelho já era a cor favorita de Red, sua marca registrada. Havia
uma energia fervorosa no matiz, uma afirmação de quem e do que ela era.
oltar os olhos — Não ouvia isso desde que era criança — disse ela.
Os lábios de Isla se crisparam. A menção à infância de Red — ao fato de
que ela fora uma criança um dia, filha de Isla, e de que ela mandaria a própria
ceu horas, as prole para a floresta — sempre parecia inquietar a mãe.
Red apontou para o saiote.
— Escarlate para um sacrifício.
Um instante se passou. Isla enfim pigarreou.
Encarou Isla — A delegação floriana chegou à tarde, assim como o mensageiro de
s. Mas brigarKarseckan Re. A primeira conselheira meduciana lamenta por não poder
Enquanto se comparecer, mas diversos outros conselheiros estarão presentes. Sacerdotisas
um comandoda Ordem de todo o continente chegaram ao longo do dia e estão se
revezando para rezar no santuário. — Todas as palavras foram ditas em tom
sereno e afetado, como se ela recitasse uma lista enfadonha. — Os Três
minava, atentaDuques de Alpera e seus séquitos devem chegar antes da procissão…
á estavam se — Ah, que bom — disse Red, fitando as próprias mãos, ainda pálidas
teve por umcomo as de um cadáver. — Seria uma pena se perdessem isso.
em aquilo foi Os dedos de Isla se moveram em um espasmo. Seu tom de voz, no entanto,
ma prova de permaneceu altivo.
o continente
dequado que — A Suma Sacerdotisa está otimista — disse ela, olhando para todos os
cantos da sala, exceto para a filha. — Por haver um longo intervalo entre
tando com avocê e… e as outras. Ela acredita que o Lobo pode finalmente libertar os
Reis.
s dentes com — Aposto que acredita. Vai ser muito constrangedor para ela quando eu
quilo quandofor para a floresta e absolutamente nada acontecer.
cava. Àquela — Guarde suas blasfêmias para si — censurou Isla, embora de maneira
strada. Haviabranda.
Red nunca descobrira como arrancar emoções da mãe. Tentara quando era
mais nova — com presentes, com flores. Já mais velha, puxava e derrubava
— ao fato decortinas e arruinava jantares com sua embriaguez, tentando provocar fúria, já
aria a própriaque não tivera sucesso em obter algo mais terno. E, mesmo assim, nunca
recebera nada além de um suspiro ou revirar de olhos.
Era preciso ser uma pessoa inteira para ser digna de lágrimas. Algo que ela
jamais fora para a mãe. Para Isla, Red nunca passara de um bem a ser
ostentado.
ensageiro de — Você acredita que eles vão voltar? — Uma indagação atrevida que não
or não poderousaria fazer se já não estivesse com um pé em Wilderwood. Ainda assim,
SacerdotisasRed não conseguiu se fazer soar sincera, não conseguiu suavizar as farpas na
a e estão se voz. — Acha que se o Lobo me considerar aceitável, devolverá os Reis?
ditas em tom O silêncio pairou na sala, mais frio do que o ar do lado de fora. Red não
— Os Trêssentia nada parecido com fé, mas desejava a resposta como absolvição. Para a
mãe. Para ela.
ainda pálidas Isla sustentou o olhar da filha por um instante longo, um instante que se
arrastou em dimensões inusitadas. O momento durou uma vida e carregava o
z, no entanto, peso de anos de coisas não ditas. No entanto, ao se manifestar, Isla desviou os
olhos.
— Não vejo como isso pode ser relevante.
para todos os E foi isso.
tervalo entre Red se pôs de pé, afastando a pesada cortina formada por seu cabelo e
te libertar oslimpando a mancha vermelha da mão no saiote do vestido.
— Então, por favor, Sua Majestade, vamos mostrar a todos que o sacrifício
la quando euestá pronto.
piscou para
uma mão o
lorando pela
caíssem. Ela
gunda Filha,
o tronco do
guntava se a
Elas haviam sido tomadas por uma coragem imprudente depois daquele
outro baile desastroso, por uma coragem imprudente e muito vinho. Tinham
roubado cavalos e cavalgado na direção norte, duas garotas contra um
monstro e uma floresta sem fim munidas apenas de pedras e fósforos e um
amor inabalável uma pela outra.
Um amor que ardia tão intensamente que fazia parecer que o poder que se
enraizara em Red era uma troça deliberada. Wilderwood, provando ser mais
forte. Provando que os laços de Red com a floresta e o Lobo que a aguardava
sempre seriam mais fortes.
Red engoliu em seco, a garganta apertada. Era uma ironia cruel o fato de
que, não fosse por aquela noite e o que ela causara, ela talvez fizesse o que
Neve queria. Talvez fugisse.
Virou-se para o norte, cerrando os olhos contra o vento gelado. Em algum
lugar além do nevoeiro e das luzes baças da capital estava Wilderwood. O
Lobo. A longa espera estava prestes a terminar.
— Estou indo — murmurou ela. — Vocês venceram. Estou indo.
Ela se virou em um esvoaçar de tecidos carmesim e voltou para dentro.
2
O sono foi fragmentário. Quando o nascer do sol invadiu o céu, Red já estava
de pé próxima à janela, os dedos entrelaçados enquanto olhava na direção do
Santuário.
A vista do quarto dela dava para os jardins internos, um espaço repleto de
árvores e flores cultivadas com esmero, cuidadosamente selecionadas para
resistir ao frio. O Santuário ficava escondido nos fundos, mal era visível
debaixo de um frondoso arvoredo. O sol nascente iluminava a beira da arcada
de pedra e a tingia de um leve tom dourado.
Os membros da Ordem estavam espalhados pelo jardim verde,
aglomerados perto das flores, um mar de vestes brancas e devoção. Ali
estavam todas as sacerdotisas que tinham Valleyda como lar, além de todas
as que tinham viajado até lá vindas de Rylt, do outro lado do mar, de
Karsecka, na extremidade norte do continente, e de todos os lugares que
ficavam entre os dois pontos. Todos os Templos possuíam um pedaço da
árvore branca, uma pequena lasca de Wilderwood para a qual se rezava, mas
era uma honra especial fazer a difícil jornada até o Templo de Valleyda, onde
havia um verdadeiro bosque delas. Era um privilégio rezar entre os galhos
brancos como ossos que constituíam a prisão dos Reis e suplicar pelo seu
retorno.
No entanto, naquela manhã, nenhuma das sacerdotisas entrou no Santuário.
A única pessoa que tinha permissão para rezar em meio aos galhos brancos
naquele dia era Red.
Distraída, Red passou o dedo pela área embaçada que sua respiração
deixara no vidro. Suas amas costumavam fazer isso no passado, desenhando
histórias nas vidraças. Histórias de como Wilderwood era antes da criação
das Terras Sombrias, quando toda a magia existente no mundo estava ali
encerrada para aprisionar as criaturas divinas que reinavam em terror.
Antigamente, a floresta fora um lugar de verão interminável, um local de
Red já estavaconforto em um mundo movido por violência. As amas contavam que ela
na direção dofora capaz até mesmo de conceder dádivas àqueles que deixavam sacrifícios
dentro de seus limites — mechas de cabelo, dentes de leite, papéis salpicados
ço repleto decom sangue. A magia existia livremente naquele mundo, acessível a todos
ionadas paraque aprendessem a utilizá-la.
al era visível No entanto, quando os Cinco Reis fizeram um pacto com a floresta para
ira da arcada que esta confinasse os deuses monstruosos — para que criasse as Terras
Sombrias como uma prisão para eles —, toda a magia se foi, absorvida por
rdim verde, Wilderwood para assim realizar a monumental tarefa.
devoção. Ali Mas mesmo naquela época a floresta ainda podia barganhar — e
lém de todasbarganhou com Ciaran e Gaya, o primeiro Lobo e a primeira Segunda Filha.
do mar, deNo Ano Um do Pacto, o mesmo ano em que os monstros foram aprisionados,
lugares queeles buscaram refúgio em Wilderwood para fugir do pai de Gaya, Valchior, e
m pedaço da seu prometido, Solmir — dois dos lendários Cinco Reis. Wilderwood atendeu
e rezava, masao pedido de Gaya e Ciaran, dando a eles um lugar para que se escondessem,
alleyda, ondeum lugar onde poderiam ficar juntos para sempre. Ela os encerrou dentro de
tre os galhossuas fronteiras e os transformou em algo sobre-humano.
icar pelo seu A história das amas parava ali. Elas não contavam que os Reis tinham
voltado a entrar em Wilderwood cinquenta anos depois do Pacto, e que de lá
no Santuário.nunca mais tinham saído. Não contavam que Ciaran levara o corpo sem vida
alhos brancosde Gaya até a fronteira do bosque um século e meio depois do
desaparecimento dos Reis.
ua respiração Red ainda se lembrava da história. Ela a lera centenas de vezes — tanto em
, desenhandolivros vistos como sagrados quanto naqueles considerados de menor
es da criaçãoimportância —, todas as versões que encontrara. Embora alguns detalhes
do estava alifossem diferentes, a história era a mesma de maneira geral. Ciaran levava
Gaya até a fronteira de Wilderwood. Seu corpo, em processo de
um local dedecomposição, perfurado e atravessado por vinhas e raízes e trepadeiras
vam que elacomo se ela tivesse estado emaranhada no próprio cerne da floresta. As
m sacrifíciospalavras dele para aqueles que o viram, alguns aldeões anônimos que de
éis salpicadosrepente acabaram fazendo parte da história religiosa: Mandem a próxima.
sível a todos E assim uma história de amor se transformou em tragédia, assim como o
verão interminável se desbotou e se transformou em outono sem vida.
floresta para Red afastou a mão quando as bordas da tela embaçada começaram a
se as Terrasdesaparecer. Os traços deixados por seus dedos pareciam arranhões deixados
bsorvida por por uma garra.
Houve uma batida hesitante à porta. Red encostou a testa na janela.
ganhar — e — Só um segundo.
egunda Filha. Respirou profundamente o ar gelado e se pôs de pé. Sua camisola ficou
aprisionados, grudada ao suor gelado em suas omoplatas e ela puxou o tecido para soltá-lo.
a, Valchior, e De maneira quase inconsciente, seus olhos pousaram sobre a pele na região
wood atendeu acima do cotovelo. Ainda sem Marca, e ela precisava se esforçar para impedir
escondessem, a esperança de cravar garras em seu peito.
rou dentro de Não havia relato algum sobre a aparência das Marcas, apenas diziam que
elas surgiam no braço da Segunda Filha em algum momento aos dezenove
Reis tinham anos, exercendo uma atração implacável em direção ao norte, em direção a
o, e que de láWilderwood. Depois de seu último aniversário, ela passara a inspecionar
rpo sem vida cuidadosamente a pele toda manhã, examinando cada pinta e cada sarda.
depois do Outra batida. Red encarou a porta fechada como se a força de sua ira
pudesse transpassar a madeira.
s — tanto em — A menos que queiram que eu reze nua, terão que esperar um segundo.
s de menor As batidas cessaram.
uns detalhes Um roupão amarrotado estava embolado a seus pés. Red o puxou e o
Ciaran levavavestiu, depois abriu a porta sem se dar ao trabalho de pentear os cabelos.
processo de Três sacerdotisas esperavam em silêncio no corredor. Todas eram um tanto
e trepadeiras familiares, então talvez fossem do Templo de Valleyda e não visitantes.
floresta. AsTalvez a intenção fosse que isso servisse de consolo.
imos que de Se sua aparência desgrenhada surpreendeu as sacerdotisas, elas não
deixaram transparecer. Apenas inclinaram a cabeça, as mãos escondidas
ssim como o dentro de longas mangas brancas, e a conduziram pelo corredor rumo ao dia
claro e gelado.
começaram a A multidão sacra nos jardins permanecia imóvel como se fosse feita de
ões deixados pedra, as cabeças baixas, ladeando o caminho adornado com flores que
levava até a entrada do Santuário. O coração de Red batia cada vez mais alto
na garganta a cada sacerdotisa pela qual passava. Red não olhou para
nenhuma delas; manteve o olhar sempre em frente ao cruzar sozinha as
amisola ficou sombras sob o arco.
para soltá-lo. O primeiro aposento do Santuário era simples e quadrado. Perto da porta
ele na regiãohavia uma pequena mesa repleta de velas para as orações, e no centro da sala
para impedirse erguia uma estátua de Gaya, alta e imponente. Aos pés da estátua jazia a
lasca branca na qual sua sentença fora escrita, o pedaço da árvore onde Gaya
s diziam que e Ciaran tinham feito a primeira barganha. A irmã de Gaya, Tiernan, ajudara-
aos dezenoveos a escapar e retornara trazendo o tronco consigo como prova de que o
em direção acompromisso de Gaya com Solmir já não era mais válido.
a inspecionar Red franziu o cenho diante da predecessora. Fora um trabalho delicado, o
que fizera Gaya ser venerada e o Lobo blasfemado, um cuidadoso processo
a de sua irade completar uma história desconhecida. Os Cinco Reis haviam desaparecido
no território do Lobo, e por isso a culpa caía sobre ele. Ninguém nunca
soubera ao certo as razões pelas quais o Lobo teria prendido os Reis — para
obter mais poder, talvez. Ou, depois de virar um monstro conforme a floresta
o puxou e o à qual estava conectado se tornava tortuosa e obscura, ele apenas estivesse
fazendo o que monstros faziam. A Ordem dizia que Gaya fora morta tentando
ram um tanto resgatar os Reis de onde quer que Ciaran os tivesse escondido, mas não havia
ão visitantes. uma maneira de realmente saber, havia? Tudo o que se sabia era que os Reis
tinham desaparecido e que Gaya estava morta.
as, elas não Velas escarlates e bruxuleantes — escarlate para um sacrifício; acho que
s escondidas orações também contam — eram a única fonte de luz, insuficiente para
rumo ao dia permitir a leitura. Mas Red sabia as palavras de cor.
A Primeira Filha é para o Trono. A Segunda Filha é para o Lobo. E os
osse feita deLobos são para Wilderwood.
m flores que A luz das velas bruxuleava sobre as gravuras nas paredes. Eram cinco
vez mais alto figuras à direita, vagamente masculinas — os Cinco Reis. Valchior, Byriand,
o olhou paraMalchrosite, Calryes e Solmir. Três na parede do lado esquerdo, gravadas em
r sozinha as estilo mais delicado. As Segundas Filhas — Kaldenore, Sayetha, Merra.
Red correu os dedos pelo espaço livre ao lado dos contornos grosseiros de
erto da portaMerra. Um dia, quando já não passasse de ossos na floresta, sua imagem
centro da salatambém seria gravada ali.
státua jazia a Uma brisa entrou pela porta de pedra que estava aberta, agitando a cortina
re onde Gayaleve na parede às costas da estátua de Gaya. O segundo aposento do
nan, ajudara-Santuário. Red estivera ali apenas uma vez além daquela — um ano antes, em
va de que oseu aniversário de dezenove anos, ajoelhada no chão enquanto as sacerdotisas
da Ordem rezavam para que sua Marca aparecesse logo. Ela não via sentido
o delicado, oem se demorar em locais de devoção.
oso processo Ainda assim, um ano não fora suficiente para esmorecer a lembrança dos
desaparecidogalhos brancos ao longo das paredes, partes das árvores de Wilderwood
nguém nuncafundidas na pedra para continuarem de pé. Os membros pálidos e sem vida
Reis — parajamais se moviam, mas Red se recordava da estranha sensação de que se
me a florestaestendiam na direção dela, como as samambaias e coisas orgânicas faziam
nas estivesse quando ela não era capaz de manter seu fragmento de magia reprimido e
orta tentando rigidamente controlado. Ela sentiu gosto de terra na boca durante toda a
mas não haviaoração das sacerdotisas.
a que os Reis Nervosa, Red brincava com o tecido amassado da saia. Ela deveria entrar
no segundo aposento, deveria aproveitar esse tempo se preparando para
io; acho queadentrar Wilderwood, mas a perspectiva de estar em meio àqueles galhos
ficiente paraoutra vez fazia seu sangue gelar.
— Red?
o Lobo. E os Um vulto familiar estava na porta que dava para o jardim, os contornos
iluminados pelo brilho da manhã em contraste com a penumbra do Santuário.
Eram cincoNeve caminhou depressa até ela, segurando uma vela trêmula recém-acesa.
ior, Byriand, Um sentimento de confusão desabrochou no peito de Red, embora
gravadas emacompanhado de uma quantidade razoável de alívio.
— Como entrou aqui? — Ela olhou por cima do ombro de Neve. — As
grosseiros de sacerdotisas…
sua imagem — Eu disse a elas que não entraria no segundo aposento. Não ficaram
muito contentes, mas me deixaram passar. — Uma lágrima se soltou dos
ndo a cortina cílios de Neve. Ela a enxugou, irritada. — Red, você não pode fazer isso. Não
aposento dohá razão alguma além de palavras em um pedaço velho de casca de árvore.
ano antes, em Red se lembrou de estar cavalgando destemida pela noite, cabelos ao
s sacerdotisas vento, com a irmã ao lado. Ela se lembrou de pedras arremessadas e uma
o via sentidointrepidez que fez o peito arder.
Depois, ela se lembrou de sangue. De violência. Do que se retorcia sob sua
mbrança dos pele, uma semente aguardando o momento de germinar.
Wilderwood Aquela era a razão. Não monstros, não palavras em cascas de árvores. A
s e sem vida única forma de garantir que a irmã estaria a salvo era a deixando para trás.
se Nenhuma palavra servia de consolo. Red puxou a irmã gêmea para perto
nicas faziamde si, encaixando a testa de Neve no vão de sua clavícula. Nenhuma das duas
reprimido echorou, mas o silêncio foi quase pior, interrompido apenas pelo som de
rante toda a respirações entrecortadas.
— Você precisa confiar em mim — murmurou Red com o rosto no cabelo
deveria entrarda irmã. — Sei o que estou fazendo. As coisas precisam ser assim.
parando para — Não. — Neve balançou a cabeça, o cabelo preto roçando as bochechas
queles galhosda irmã. — Red, eu sei que… Eu sei que você se culpa pelo que aconteceu
naquela noite. Mas você não tinha como saber que estávamos sendo
seguidas…
os contornos — Não. — Red fechou os olhos. — Por favor, não.
do Santuário. Os ombros de Neve se retesaram sob os braços de Red, mas ela parou de
falar. Por fim, afastou-se.
Red, embora — Você vai morrer. Se for para o Lobo, você vai morrer.
— Você não sabe. — Red engoliu em seco, tentando em vão desmanchar o
Neve. — As nó na garganta. — Não sabemos o que aconteceu com as outras.
— Sabemos o que aconteceu com Gaya.
Não ficaram Red não tinha resposta para aquilo.
e soltou dos — Você claramente está determinada a ir. — Neve tentou erguer a cabeça,
zer isso. Nãomas seu queixo tremia. — E eu claramente não posso impedir.
Ela deu meia-volta e marchou em direção à porta, passando pelos entalhes
, cabelos ao dos Cinco Reis e das Segundas Filhas e pelas velas tremeluzentes de orações
sadas e umainúteis. Mais de uma se apagou com os movimentos de Neve.
Entorpecida, Red pegou uma vela e um fósforo da pequena mesa. Precisou
orcia sob suapraguejar algumas vezes até o pavio se acender, queimando seus dedos. A
dor era quase bem-vinda, um fio de sensação atravessando a couraça que ela
de árvores. Aconstruíra.
ea para perto Red colocou com força a vela sobre a base da estátua de Gaya. Uma poça
uma das duasde cera se acumulou e escorreu pela borda da casca de árvore gravada.
pelo som de — Que as sombras te carreguem — sussurrou. Era a única oração que faria
ali. — Que as sombras carreguem todos nós.
sto no cabelo
Horas mais tarde, de banho tomado, perfumada e vestindo vermelho, Red foi
as bochechasoficialmente abençoada como sacrifício para o Lobo em Wilderwood.
ue aconteceu Os cortesãos estavam enfileirados ao longo do corredor cavernoso, todos
vamos sendovestidos de preto. Havia mais pessoas aglomeradas do lado de fora, cidadãos
da capital misturados aos aldeões vindos de todo lugar pela oportunidade de
ver uma Segunda Filha consagrada pela Ordem.
ela parou de Do ponto de vista de Red, que estava sobre o tablado na frente do salão, o
público parecia apenas uma massa disforme, algo feito de membros inertes e
olhos atentos.
desmanchar o O tablado era circular e Red estava sentada de pernas cruzadas em um altar
de pedra escura bem ao centro, rodeada por sacerdotisas de diferentes
Templos de todo o continente, escolhidas a dedo para a situação de honra.
Todas usavam as vestes brancas tradicionais com o complemento de um
uer a cabeça, manto, também branco, e um grande capuz que escondia o rosto. Estavam de
costas para Red. As sacerdotisas que não tinham sido escolhidas para
elos entalhes participar também usavam mantos, e estavam sentadas em uma fileira solene
es de orações bem em frente ao tablado.
Em contraste, as vestes de Red eram escarlates como as que usara para o
esa. Precisoubaile, mas dessa vez de um modelo solto e sem corte — em qualquer outra
eus dedos. Acircunstância, seria um traje confortável. Seu cabelo estava solto sob um véu
uraça que ela igualmente cor de sangue, amplo o suficiente para cobrir o corpo todo e cair
pela borda do altar.
Branco para a devoção. Preto para a ausência. Escarlate para o sacrifício.
ya. Uma poça Na fileira atrás das sacerdotisas, Neve estava sentada entre Arick e Raffe,
tensa na beira do assento. O véu de Red fazia com que todos eles parecessem
ção que fariaensanguentados.
A Suma Sacerdotisa de Valleyda, o nível mais alto de autoridade religiosa
no continente, estava diretamente na frente de Red. Seu manto era mais longo
elho, Red foi do que o de todas as outras sacerdotisas e, para Red, quase parecia ser de um
tom mais claro de branco. Ela estava de frente para o altar e de costas para a
ernoso, todoscorte; a barra do saiote escorria pela borda do tablado e formava uma poça de
ora, cidadãostecido branco no chão.
ortunidade de Devoção transbordante. Uma gargalhada alta e estridente ficou presa na
garganta de Red; ela reprimiu o riso.
e do salão, o Com os olhos ocultos nas sombras profundas do capuz, a Suma
bros inertes eSacerdotisa se aproximou. Zophia ocupava o cargo desde que Red conseguia
se lembrar. O cabelo já não tinha cor alguma, e o rosto era marcado por sinais
s em um altar sugerindo uma idade que só poderia ser descrita como anciã. Ela segurava
de diferentesum galho branco nos braços com uma gentileza que se assemelhava à de uma
ão de honra.mãe que segura o filho recém-nascido, e o entregou à sacerdotisa ao lado com
mento de umo mesmo cuidado.
. Estavam de Embora estoicas, a maioria das outras sacerdotisas ao menos exibia algum
olhidas paratipo de emoção — alegria, na maioria dos casos. Sutil, mas ainda presente.
fileira soleneNão era possível dizer o mesmo da sacerdotisa que recebera o pedaço de
galho. Olhos azuis e impassíveis sob uma madeixa de cabelos cor de fogo
usara para ofitavam Red com uma expressão parecida com a de alguém que observa um
ualquer outrainseto. Seu olhar não esmoreceu quando Zophia estendeu o braço e retirou o
o sob um véuvéu de Red, dobrando o tecido nas mãos.
o todo e cair O medo do qual Red se blindara a atingiu em cheio quando o véu foi
retirado, como se este fosse uma espécie de armadura. Ela agarrou as
Arick e Raffe,extremidades do altar com força, as unhas a ponto de se quebrar contra a
s parecessempedra.
— Honramos seu sacrifício, Segunda Filha — sussurrou Zophia.
dade religiosa Ela se afastou e levantou os braços em direção ao teto. Ao seu redor, a
ra mais longoOrdem imitou o gesto em uma onda, começando diante do tablado e se
cia ser de umespalhando para trás em um mar de mãos erguidas.
costas para a Por um breve e esperançoso momento, Red pensou em fugir, em esquecer
uma poça deo fragmento de magia que vivia em seu peito e tentar salvar a si mesma em
vez de todos os outros. Quão longe conseguiria chegar se pulasse do altar,
cou presa naenrolada em véu vermelho? Eles a trariam de volta à força? A nocauteariam?
O Lobo se importaria se ela chegasse ferida?
uz, a Suma Ela pressionou as unhas contra a pedra outra vez. Uma delas se quebrou.
ed conseguia — Kaldenore, da Casa Andraline — anunciou a Suma Sacerdotisa em
ado por sinais direção ao teto, iniciando a litania das Segundas Filhas. — Enviada no Ano
Ela segurava Duzentos e Dez do Pacto.
ava à de uma Kaldenore, sem laços sanguíneos, nascida na mesma Casa que Gaya. Ela
ao lado comera criança quando o Lobo levara o corpo de Gaya até os limites da floresta,
quando os monstros irromperam de Wilderwood um ano mais tarde — uma
exibia algumtormenta de coisas indistintas, de acordo com testemunhas, vultos sombrios e
nda presente. transmorfos capazes de tomar a forma que bem entendessem. Quando a
o pedaço deMarca de Kaldenore apareceu, os monstros já caçavam os aldeões nortenhos
cor de fogo havia quase dez anos; segundo relatos, algumas vezes tinham alcançado até
e observa um mesmo Floriane e Meducia.
ço e retirou o Ninguém sabia o que a Marca significava, não inicialmente. Mas, certa
noite, Kaldenore foi encontrada sonambulando descalça em direção a
do o véu foiWilderwood, como que em transe.
a agarrou as Depois disso as peças se encaixaram, as palavras na casca da árvore no
santuário e o significado da morte de Gaya fizeram sentido. Kaldenore fora
brar contra aenviada a Wilderwood e os monstros tinham desaparecido.
— Sayetha, da Casa Thoriden. Enviada no Ano Duzentos e Quarenta do
Pacto.
seu redor, a Mais um nome, mais uma tragédia. A família de Sayetha era nova na
tablado e segovernança e acreditava que a oferenda da Segunda Filha se aplicava apenas
à linhagem de Gaya. Estavam enganados. Valleyda estava presa em seu
em esquecer acordo independentemente de quem estivesse no trono.
si mesma em — Merra, da Casa Valedren. Enviada no Ano Trezentos do Pacto.
asse do altar, Ao menos ela era uma ancestral de sangue. Os Valedren haviam assumido
ocauteariam? o trono depois que a última Rainha Thoriden não teve um herdeiro. Merra
nasceu quarenta anos depois de Sayetha ter sido enviada a Wilderwood, e o
nascimento de Sayetha aconteceu apenas dez anos depois da partida de
cerdotisa em Kaldenore.
viada no Ano — Redarys, da Casa Valedren. Enviada no ano Quatrocentos do Pacto. —
A Suma Sacerdotisa pareceu erguer as mãos ainda mais alto; o galho que
ue Gaya. Elaempunhava emitia sombras irregulares. Seus olhos se desviaram dos dedos e
s da floresta,pousaram no rosto de Red. — Quatrocentos anos desde que nossos deuses
tarde — umaafastaram os monstros. Trezentos e cinquenta anos desde que desapareceram,
os sombrios eafastados eles mesmos pela perfídia do Lobo. Amanhã, quando o sacrifício
m. Quando aatingir a idade de vinte anos, a mesma idade de Gaya quando vinculada ao
ões nortenhos Lobo e à Floresta, nós a enviaremos consagrada, vestida em branco, preto e
alcançado atéescarlate. Oramos para que seja suficiente para o retorno de nossos deuses.
Oramos para que seja suficiente para manter a escuridão longe de nossas
e. Mas, certaportas.
m direção a O coração de Red tamborilava seco em seus ouvidos. Ela permaneceu tão
imóvel quanto o próprio altar de pedra, tão imóvel quanto a estátua no
da árvore noSantuário. A efígie que esperavam que ela fosse.
aldenore fora
— Que você não se esquive de seu dever. — A voz nítida de Zophia era
Quarenta doum chamado retumbando com doçura. — Que encare seu destino com
dignidade.
era nova na Red tentou engolir, mas a boca estava seca.
icava apenas Zophia tinha um olhar frio.
resa em seu — Que seu sacrifício seja considerado suficiente.
Houve silêncio na câmara.
A Suma Sacerdotisa baixou os braços, pegando de volta o galho branco
am assumido que a mulher de cabelos ruivos segurava. Outra sacerdotisa se aproximou,
deiro. Merra segurando um pequeno recipiente com cinzas escuras. Com gentileza, Zophia
derwood, e omergulhou uma das pontas do galho nas cinzas e depois a passou pela testa
a partida de de Red, traçando um risco preto de têmpora a têmpora.
A casca de árvore estava morna. Red retesou cada um dos músculos para
do Pacto. —reprimir um arrepio.
o galho que — Marcamos você como vinculada — disse ela em tom sereno. — O Lobo
m dos dedos ee Wilderwood receberão aquilo a que têm direito.
ossos deuses
sapareceram,
o o sacrifício
vinculada ao
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— Que você não se esquive de seu dever. — A voz nítida de Zophia era
um chamado retumbando com doçura. — Que encare seu destino com
dignidade.
Red tentou engolir, mas a boca estava seca.
Zophia tinha um olhar frio.
— Que seu sacrifício seja considerado suficiente.
Houve silêncio na câmara.
A Suma Sacerdotisa baixou os braços, pegando de volta o galho branco
que a mulher de cabelos ruivos segurava. Outra sacerdotisa se aproximou,
segurando um pequeno recipiente com cinzas escuras. Com gentileza, Zophia
mergulhou uma das pontas do galho nas cinzas e depois a passou pela testa
de Red, traçando um risco preto de têmpora a têmpora.
A casca de árvore estava morna. Red retesou cada um dos músculos para
reprimir um arrepio.
— Marcamos você como vinculada — disse ela em tom sereno. — O Lobo
e Wilderwood receberão aquilo a que têm direito.
3
eiva. Um por
os cheios de
ltou a correr.
o corpo, mas
cureceu. Red
a respeito do
fosse decidir
d a devorasse
ça de que ela
ponsável por
apetite com a
o no suor do
dela, ele ia de
saparecer na
e um castelo
pela floresta
Red se levantou. Suas pernas bambeavam. Devagar, empurrou o portão
com as duas mãos.
4
cio tinha um
de Karsecka,
a da magia,
democracia
e os cheiros
alma quando
o silêncio da
orçar o som a
livro aberto,
ta-tinteiro. A
força de um
homem, não de um monstro; os dedos que seguravam a caneta eram longos e
elegantes, nada parecidos com garras. Ainda assim, havia algo de
sobrenatural em suas feições, algo que tinha um toque humano, mas não
apenas isso.
— Eu não tenho chifres, se é o que está se perguntando.
Tinha se virado para Red enquanto ela encarava as mãos dele. O Lobo
semicerrou os olhos.
— Você deve ser a Segunda Filha.
5
m estivesse se
— Seguindo pelo corredor, há um quarto que pode ser seu. — Eammon
abriu a porta e fez um gesto para que ela saísse. — Bem-vinda à Fortaleza
Negra, Redarys.
A porta se fechou às costas de Red, e então ela estava sozinha.
Apenas quando chegou ao último degrau Red percebeu onde havia visto as
mãos dele, por que o formato dela e suas cicatrizes pareciam tão familiares.
Na noite de seu aniversário de dezesseis anos, quando Red cortara a mão
em uma pedra e acidentalmente sangrara na floresta — o momento em que
Wilderwood fragmentara sua magia amaldiçoada, transferindo-a para a
corrente sanguínea de Red através do corte na palma —, ela vira alguma
coisa, algo como que impresso nas pálpebras fechadas. Uma visão. Mãos que
não eram as dela, grandes e cheias de cicatrizes e enterradas na terra como as
dela haviam estado. Um sentimento de urgência, um medo cego que
espelhava o seu, mas que não era o dela.
Fora apenas um vislumbre em meio ao pânico, turvo e indistinto,
dificultado pelas sombras projetadas pelos galhos. Até então, ela quase se
conformara com a ideia de que fora sua imaginação. Mas agora…
Agora ela as vira em carne e osso. Agora ela sabia a quem pertenciam
aquelas mãos, e estava certa de que nada naquela noite tinha sido sua
imaginação.
Ela vira as mãos do Lobo.
6
guida, recuou
es, soltou um
também a si
ria Neve ou
ovocara com
O contentamento era, no máximo, oco.
Respirou fundo, inspirando o máximo que conseguia, até sentir os pulmões
queimarem mais que os olhos. Em movimentos delicados, Red tirou o manto.
A fuga por Wilderwood o danificara, deixando-o cheio de rasgos e sujeira,
mas a Segunda Filha o manuseava como se fosse a mais elegante e
inestimável das peças.
Era ridículo. Sua mente estava lúcida o suficiente para que soubesse disso.
Era ridículo querer guardar a coisa que a marcava como um sacrifício. Mas as
lembranças que o manto carregava eram de Neve ajudando Red a se vestir,
desamarrotando o tecido como fizera tantas vezes antes. A não ser pelas mãos
de Red, as de Neve tinham sido as últimas a tocar o tecido escarlate.
Havia outras razões, razões mais intensas. Razões que vinham das mesmas
partes profundas de Red que a faziam se sentir indomitamente contente com a
coincidência do nome que lhe fora dado. A parte dela que sorria quando ela
tomava para si uma herança farpada e a sentia fazê-la sangrar.
Red segurou o manto por um momento, sentindo a trama do tecido com a
ponta dos dedos. Em seguida, com o mesmo cuidado que tivera ao tirá-lo,
dobrou-o com as partes não rasgadas para cima e o guardou no armário.
INTERLÚDIO
VALLEYDIANO I
Não havia sacerdotisas nos jardins quando Neve caminhou até o Santuário.
Ela estava preparada para abrir passagem em meio a uma turba delas,
dissimuladas e vestidas de branco, aguardando para ver se o sacrifício
finalmente traria seus deuses de volta. As vigílias oficiais para o retorno dos
Cinco Reis começavam à meia-noite, ela sabia, então tinha algum tempo;
mesmo assim, ficou surpresa com o vazio dos jardins.
Curvou os dedos em garras e mordeu o lábio com tanta força que quase o
cortou. Era melhor que nenhuma das sacerdotisas estivesse ali. Era possível
que ela tivesse uma atitude pouco digna de uma Primeira Filha.
Seus pés mal faziam barulho sobre o cascalho, o luar absorvido pelo tecido
da túnica. Era diferente da que usara para a procissão, menos ornamentada,
mas ainda era o preto da ausência. Ela não sabia quando seria capaz de usar
outra cor.
Na verdade, Neve não sabia por que tinha se dado ao trabalho de ir até lá.
Nunca tinha sido do tipo que encontrava conforto em orações, embora já
tivesse tentado. Quando tinha dezesseis anos, depois… depois do que
acontecera com Red, ela experimentara a religião por uma semana ou duas,
tentando descobrir se aquilo suavizaria as arestas de seus pensamentos,
tornando-os menos cortantes e nocivos. Sua irmã era um peão, uma peça a ser
usada — enviem-na para Wilderwood e talvez, desta vez, os Cinco Reis
retornem. Na pior das hipóteses, ela manteria longe os monstros das lendas.
Não havia nada que uma das duas pudesse fazer para mudar isso, e talvez ela
conseguisse encontrar conforto na religião se pudesse simular devoção. Um
bálsamo para a dor.
Mas não encontrou. O Santuário não passava de um salão de madeira cheio
de velas e galhos. Não havia conforto. Não havia absolvição.
E a maneira como Red olhava para ela naquelas duas semanas em que ela
estava experimentando a religião… Era como se ela estivesse observando a
o Santuário. preparação de seu próprio túmulo.
turba delas, Então agora, enquanto se esgueirava até o Santuário em suas vestes pretas
o sacrifício de luto, sabia que não fazia sentido. Quaisquer palavras que pudesse dizer,
o retorno dos quaisquer velas que pudesse acender não seriam capazes de preencher a
lgum tempo; devastadora lacuna deixada pela irmã gêmea. Mas o luto era como uma pedra
sob as solas dos pés: ela o sentia com mais intensidade quando estava imóvel.
que quase o O Santuário ao menos seria um lugar com privacidade para chorar.
Era possível Neve passou pelo arco florido e adentrou as sombras do aposento de pedra.
Estacou, os olhos arregalados e marejados. O choro que esperava liberar
o pelo tecido ficou preso na garganta.
ornamentada, O local não estava vazio. Três sacerdotisas estavam de pé em volta da
capaz de usarestátua de Gaya, velas vermelhas de oração nas mãos. Ainda usavam a
habitual veste branca, mas não o manto, reservado apenas para a cerimônia
o de ir até lá.que abençoara Red como sacrifício. A sacerdotisa mais próxima à parede
s, embora jáonde as Segundas Filhas tinham sido esculpidas foi a primeira a vê-la. Houve
pois do queo vislumbre de uma emoção contida em seu semblante — pena, mas do tipo
ana ou duas, apático, como o que se sentiria por uma criança que perdeu o animal de
pensamentos,estimação.
ma peça a ser Neve cerrou os punhos ao lado do corpo.
s Cinco Reis De maneira delicada, a sacerdotisa posicionou a vela aos pés de Gaya,
s das lendas. fixando-a na cera derretida que era resultado de suas orações. Fechou as mãos
o, e talvez eladiante do corpo enquanto se aproximava.
devoção. Um — Primeira Filha.
Um sotaque suave, os erres soando ásperos. De Rylt, provavelmente; uma
madeira cheiodaquelas que enfrentara uma jornada e cruzara o mar pelo privilégio de rezar
ali, de ver o sacrifício histórico de uma Segunda Filha. Neve não disse nada,
s em que ela as unhas enterradas na palma das mãos.
observando a As outras duas sacerdotisas se entreolharam antes de voltarem a atenção
para as velas. Sensatas. Podiam identificar no rosto de Neve a expectativa de
vestes pretasque dissessem algo que poderia jogar lenha na fogueira que ardia em seu
udesse dizer, peito.
preencher a Se a sacerdotisa de Rylt percebera o erro que estava cometendo ao se
mo uma pedra aproximar, não deixou transparecer. A pena em seu olhar se acentuou e os
stava imóvel. cantos de sua boca se retorceram para baixo.
— É uma honra, Alteza — disse ela em voz baixa. Havia uma brasa de
nto de pedra. fervor em seus olhos verdes. — É uma honra que sua irmã vá para os bosques
erava liberarsagrados para aplacar o Lobo e assim nos manter a salvo dos monstros.
Estamos otimistas de que ela será a que o fará libertar os Reis. E será uma
em volta da honra para você, também, poder um dia governar o reino onde fica a fronteira
da usavam ados bosques sagrados. A Rainha de Valleyda é a rainha mais amada por
a cerimônia nossos deuses.
ma à parede Neve não conseguiu conter um riso sarcástico, sonoro e inadequado para o
vê-la. Houve ambiente de pedra e chamas silenciosas.
, mas do tipo — Uma honra — repetiu ela, as sobrancelhas arqueadas em uma expressão
o animal deincrédula. — Sim, é uma grande honra minha irmã ser assassinada em prol do
possível retorno dos Reis que vocês decidiram ser deuses. — A risada se
tornou uma gargalhada cortante e ligeiramente exagerada, escapando por
pés de Gaya, entre os dentes e tornando a respiração de Neve entrecortada. — Como sou
chou as mãos
abençoada por reinar em um território congelado e árido que faz divisa com
uma floresta mal-assombrada.
elmente; uma A sacerdotisa de Rylt pareceu enfim perceber seu erro. Arregalou os olhos,
égio de rezaro rosto angelical pálido e paralisado em uma expressão de espanto. Atrás
o disse nada,dela, as outras duas sacerdotisas continuavam tão imóveis quanto a estátua
para a qual rezavam; cera pingava nas mãos inertes.
em a atenção Neve não percebeu que avançara um passo até a sacerdotisa recuar,
xpectativa deaumentando a distância entre elas. A boca de Neve se retorceu em um sorriso.
ardia em seu — É muito fácil para vocês — murmurou. — Todas vocês, sacerdotisas da
Ordem vindas de longe. Em segurança dentro de suas fronteiras, a
etendo ao sequilômetros de distância de seus bosques sagrados.
centuou e os A sacerdotisa de Rylt quase perdeu o equilíbrio quando a panturrilha se
chocou contra os pés de pedra de Gaya. Eles estavam cobertos por cera
uma brasa devermelha. Mesmo assim, não tirou os olhos de Neve. Seu rosto estava
ra os bosques praticamente da cor das vestes.
os monstros. — É quase patético — continuou Neve, inclinando a cabeça. Havia uma
. E será umainsinuação de sorriso cruel em seus lábios, mas os olhos continuavam
ca a fronteira impassíveis. — A religião que seguem não exige nada de vocês. De séculos
s amada porem séculos, quando nasce uma Segunda Filha, vocês mandam uma garota
vestida de branco, preto e vermelho para Wilderwood, mas nada que vocês
quado para o fazem é suficiente para trazer os Reis de volta. Talvez eles não queiram
retornar para penitentes tão covardes, que nunca fazem nada além de oferecer
ma expressãosacrifícios inúteis e acender velas inúteis.
da em prol do As três sacerdotisas a observavam em silêncio. Três pares de olhos
A risada se arregalados atentos a seu rosto. A cera que escorria pelos dedos delas
capando porprovavelmente estava fervendo, mas não bastava para que se mexessem, não
— Como sou bastava para despertá-las do terrível torpor de tristeza de Neve e de como ele
a tornava cruel.
z divisa com Neve estendeu os dedos, abrindo as mãos em um gesto frustrado.
— Saiam.
lou os olhos, Elas obedeceram sem proferir uma palavra, levando as velas consigo.
spanto. Atrás Enfim sozinha, Neve desmoronou como se sua raiva tivesse sido a única
nto a estátuacoisa a mantê-la de pé. Conteve o ímpeto de se apoiar na estátua de Gaya. Ela
se recusava a buscar qualquer tipo de conforto ali.
otisa recuar, Em vez disso, atravessou a cortina escura e leve atrás da efígie de pedra e
m um sorriso.entrou no segundo aposento do Santuário.
cerdotisas da Estivera ali apenas uma vez, quando fora oficialmente nomeada herdeira
fronteiras, ado trono em seu décimo aniversário. Prenderam nos ombros dela o manto de
coroação todo bordado com os nomes das Rainhas anteriores de Valleyda e a
panturrilha se levaram até ali para as orações por ela. Em seu olhar infantil, os galhos
tos por cera brancos pareciam tão altos quanto as próprias árvores, projetando sombras
rosto estavapontudas nas paredes de pedra.
Era o que esperava ver quando passou pela cortina — uma floresta como
a. Havia umaaquela que havia devorado a irmã. Mas era apenas uma sala. Uma sala cheia
continuavamde galhos em bases de mármore, a maioria alcançando no máximo a altura de
s. De séculos seu ombro. Uma Wilderwood em miniatura. Nada como o que vira quando
m uma garotaela e Red cavalgaram até a fronteira quatro anos antes. Nada como a floresta
vocêsdentro da qual Red acabara de desaparecer.
não queiram O peito de Neve queimava, pesado e vazio demais ao mesmo tempo. Ela
m de oferecernão podia ferir aquela Wilderwood.
Mas podia ferir a do Templo.
es de olhos Um galho estava em sua mão antes que pudesse se dar conta do que fazia,
dedos delas antes que sua mente tivesse tempo de assimilar o movimento do corpo. Ela
exessem, nãobaixou o braço em um movimento brusco e o galho se partiu com um estalo
de como elesonoro, como o de um osso se quebrando.
Neve ficou imóvel por apenas um momento. Depois, cerrando os dentes,
com um grunhido enraivecido, arrancou outro, saboreando o ruído seco ao
ouvi-lo se quebrar e ao sentir a madeira cedendo em suas mãos.
sido a única Perdeu a conta de quantos galhos havia quebrado até sentir uma presença
de Gaya. Ela às suas costas. Neve se virou segurando pedaços de madeira quebrados como
se fossem punhais. A força de sua respiração balançava os cabelos escuros
ie de pedra eque lhe cobriam o rosto.
Uma sacerdotisa de cabelos vermelhos e pele clara estava parada à porta.
eada herdeiraSua expressão era implacável. Era um pouco familiar — do templo
a o manto deValleydiano, então. Neve se perguntou se isso importaria. Não conhecia
Valleyda e a detalhes do conceito de heresia, mas destruir o Santuário provavelmente se
il, os galhosencaixaria com facilidade na definição. Qual seria a punição para uma
ndo sombras Primeira Filha, aquela que era herdeira do trono? Neve tentou se importar,
mas não conseguiu encontrar forças.
loresta como No entanto, a sacerdotisa não fez nada. Permaneceu em silêncio. Seus
ma sala cheia olhos azuis e inexpressivos analisaram o dano antes de se focarem em Neve.
mo a altura de A respiração voltou ao normal aos poucos. Neve relaxou os pulsos e abriu
vira quando as mãos, deixando que os dois pedaços de madeira que estava segurando
mo a florestacaíssem no chão de pedra.
Neve e a sacerdotisa se encaravam. Havia certo arrojo em ambos os
o tempo. Elaolhares, um ímpeto de medir algo, embora Neve não soubesse identificar o
quê.
Por fim, a sacerdotisa entrou no aposento, recolhendo pedaços de madeira
do que fazia, branca em movimentos ágeis.
do corpo. Ela — Venha — disse de forma brusca, mas não grosseira. — Nunca vão
om um estalo perceber se limparmos tudo.
Neve levou um momento para entender o que ela dizia, tão diferente era a
mensagem do que ela esperava. Mas a sacerdotisa se abaixou, juntando lascas
do os dentes, brancas nas mãos; depois de um momento, Neve se juntou a ela.
uído seco ao Um pequeno berloque pendia do pescoço da mulher, girando em círculos
como um pêndulo. Parecia uma lasca de madeira como as que se espalhavam
uma presençapelo chão depois do ataque de fúria de Neve. A única diferença era a cor;
brados comoenquanto os galhos eram de um branco puro e brilhante, o pingente da
belos escuros sacerdotisa era coberto por listras pretas.
Uma expressão confusa tomou conta do rosto de Neve. Era estranho que
rada à porta.uma sacerdotisa usasse acessórios — não era exatamente proibido, mas
do templonenhuma fazia isso. Todas trajavam apenas as vestes brancas sem nenhum
Não conhecia adorno.
avelmente se A mulher percebeu o olhar de Neve. Deu um sorriso discreto e segurou o
ão para uma pingente entre os dedos.
se importar, — Outro pedaço de Wilderwood — disse ela, como se estivesse se
explicando. — Ela se quebra mais fácil do que imagina, com a pressão certa.
ilêncio. Seus Com as ferramentas certas.
Neve franziu a testa. A sacerdotisa a observava como se pudesse adivinhar
ulsos e abriusuas perguntas e as quisesse extrair. Neve as trancou na garganta.
va segurando Apesar de toda a destruição, a sujeira que fizera coube facilmente em
quatro mãos. A sacerdotisa esticou os saiotes brancos das vestes e envolveu
m ambos ostodos os pedaços de madeira neles, segurando-os como uma bolsa de pano.
identificar o — Vou dar um fim nisso.
— Quer dizer que vai fazer mais pingentes? — Neve não conseguiu evitar
s de madeirao tom agressivo.
Ela estava cansada, extremamente cansada de manter a compostura. De
— Nunca vão fingir que tudo aquilo não perfurava sua pele e expulsava aquele tipo de
reação.
iferente era a — Ah, não. — Apesar da resposta desaforada de Neve, os olhos azuis da
ntando lascas mulher continuaram a observando com atenção. — Estes não servem para
isso. Não ainda.
o em círculos Neve sentiu o peito se inquietar.
e espalhavam A sacerdotisa permaneceu imóvel. Conseguia manter o ar altivo apesar da
ça era a cor;maneira como segurava a saia para carregar os pedaços de árvore.
pingente da — Está aqui por causa de sua irmã?
— Por que mais estaria? — Neve quis soar grosseira, mas sua voz saíra
estranho quebaixa e frágil. Já tinha gastado toda sua ferocidade. — Rezar não me
roibido, masinteressa.
sem nenhum A sacerdotisa assentiu, relevando a blasfêmia.
— Gostaria de saber o que aconteceu com ela ao entrar em Wilderwood?
o e segurou o Em um primeiro momento, Neve não soube como reagir diante de uma
pergunta tão importante feita de maneira tão casual.
estivesse se — Você… Você sabe?
pressão certa. — Você também. — A sacerdotisa deu de ombros como se estivessem
discutindo algo trivial como o clima. — Sua irmã está emaranhada à floresta.
sse adivinhar Como Gaya esteve, como todas as outras estiveram. Ela foi para o Lobo e ele
a vinculou ao local, assim como ele mesmo está vinculado.
acilmente em Neve conhecia a história: o Lobo arrastara o corpo de Gaya, tomado pela
s e envolveu floresta, até o limite do bosque, um símbolo macabro da oferenda que ele
passaria a exigir. Fazia sentido que as outras Segundas Filhas tivessem o
mesmo destino. Fazia sentido que o Lobo tecesse Wilderwood nos ossos
seguiu evitar delas, fundisse a floresta em seus alicerces, garantindo assim que elas não
pudessem escapar.
mpostura. De — Mas ela está viva. — Neve emitiu um som débil e prendeu a respiração,
quele tipo de aguardando a resposta.
A sacerdotisa assentiu, virando-se em direção à porta.
lhos azuis da — Mas ela está viva.
servem para
Sobre pernas cambaleantes, Neve seguiu a mulher de cabelos vermelhos
quando ela saiu do Santuário em direção aos jardins escuros. Avançou alguns
vo apesar da passos, ultrapassando a sacerdotisa para inalar o ar gelado e revigorante.
A meia-noite se aproximava. Em breve, todas as sacerdotisas que haviam
viajado para assistir ao sacrifício de Red se reuniriam ali. Rezariam noite
sua voz saíraadentro para que ela fosse considerada aceitável pelo Lobo, para que ele
ezar não mefinalmente libertasse os Cinco Reis do aprisionamento injusto.
Fechando os olhos, Neve ainda conseguia ver o manto escarlate
desaparecendo no escuro, entre as árvores.
Ela está viva.
ante de uma — Você não vai falar sobre isso com ninguém. — Neve pretendia dar uma
ordem, mas soou como se fizesse uma pergunta.
— Mas é claro. — Uma pausa. O silêncio era denso. — Seu raciocínio está
e estivessem correto, Primeira Filha.
da à floresta. Foi suficiente para que ela abrisse os olhos, para que fitasse a mulher por
o Lobo e elesobre os ombros em um movimento abrupto. A sacerdotisa estava imóvel e
serena; sua expressão era indecifrável.
tomado pela — Wilderwood não permitirá que ela vá embora. — Uma madeixa de
enda que ele cabelos vermelhos caiu sobre seus ombros quando ela inclinou a cabeça,
s tivessem ocomo em respeito ao luto de Neve. — A floresta se tornou mais fraca no
od nos ossos último século, mas não o suficiente. Ela não conseguiria escapar mesmo se
que elas não tentasse. — Seus olhos brilharam ao refletir a luz da lua. — Não agora, ao
menos.
a respiração, Algo febril e esperançoso despontou no peito de Neve.
— O que quer dizer?
A sacerdotisa tocou delicadamente o colar com a enigmática lasca de
árvore.
— A floresta é tão forte quanto permitimos que seja.
os vermelhos De sobrancelhas franzidas, Neve não movia um músculo no ar gelado da
ançou algunsnoite.
— Seus segredos estão a salvo comigo, Neverah.
s que haviam Depois de uma breve reverência, a sacerdotisa foi embora a passos ágeis e
zariam noitedesapareceu no jardim escuro com suas vestes alvas.
para que ele A brisa fria tocava os braços de Neve, e o cheiro das primeiras flores do
verão era inebriante. Ela se concentrou naquelas coisas, buscando firmeza
nto escarlatenelas. Na sua mente, um manto escarlate aparecia e desaparecia em meio a
uma floresta mergulhada na escuridão.
aciocínio está
a mulher por
ava imóvel e
madeixa de
ou a cabeça,
mais fraca no
ar mesmo se
Não agora, ao
tica lasca de
De sobrancelhas franzidas, Neve não movia um músculo no ar gelado da
noite.
— Seus segredos estão a salvo comigo, Neverah.
Depois de uma breve reverência, a sacerdotisa foi embora a passos ágeis e
desapareceu no jardim escuro com suas vestes alvas.
A brisa fria tocava os braços de Neve, e o cheiro das primeiras flores do
verão era inebriante. Ela se concentrou naquelas coisas, buscando firmeza
nelas. Na sua mente, um manto escarlate aparecia e desaparecia em meio a
uma floresta mergulhada na escuridão.
7
de suas íris
m embate de
xpressão era
m direção ao
— Vá calçar seus sapatos. Não pode perambular por Wilderwood descalça.
As botas endurecidas de lama estavam logo do lado de dentro da porta do
quarto de Red. Ela limpou parte do barro e as vestiu depressa, suspeitando
que o Lobo mudaria de ideia se ela se demorasse demais. Pensou em pegar a
capa vermelha no guarda-roupa, mas ela já sofrera demais por um dia.
Quando retornou ao saguão, Eammon tinha tirado o casaco. Ele o segurava
estendido como se o oferecesse, mas não olhou para ela.
— Está frio.
Depois de hesitar por um momento, ela aceitou o casaco e o jogou por
cima dos ombros. Chegava até seus joelhos e tinha cheiro de livros velhos e
café, além de um aroma amadeirado de folhas secas. O agasalho ainda
conservava a temperatura do corpo de Eammon.
Com cara de poucos amigos, Eammon abriu a porta e marchou em direção
à neblina.
8
undas Filhas
Wilderwood
orpo caído da
nítida quanto
uantas vezes
e aquietaram.
o que estiver
Redarys, mas
gue suficiente
Ela precisou
um peso que
o à Fortaleza.
o era neutra,
espasmo. —
s gravetos se
INTERLÚDIO
VALLEYDIANO II
conseguia dar
eu suavizar a
pela benção
— Vou partir por um tempo — explicou Arick. — Não queria que se
preocupasse.
— Vai voltar para Floriane?
Não houve resposta. Depois de um momento, Arick ficou de pé. Ele
estendeu a mão.
Neve a segurou e deixou que ele a ajudasse a se levantar, ainda que sem
liberar a tensão na expressão. Os olhos verdes de Arick procuraram pelos
dela; seus lábios estavam comprimidos. Ele deu um beijo rápido na testa de
Neve.
— Eu volto logo — disse ele, em um sussurro. — Vou encontrar uma
maneira de salvá-la, Neve.
Ele foi embora passando pelas árvores floridas.
Neve permaneceu debaixo das árvores por um bom tempo. A pele
formigava onde os lábios dele haviam tocado. Uma culpa lenta e vaga se
fechou ao redor de seu pescoço, como se, sem querer, ela tivesse passado
adiante uma espécie de condenação.
Mas Red estava viva. E precisavam encontrar uma maneira de salvá-la.
9
Devido à iluminação sempre igual, Red não sabia quanto tempo havia
passado quando acordou com a cabeça zonza e dolorida. Por um momento,
não se lembrou de onde estava. E, ao se lembrar, a dor que sentia piorou.
Ela se sentou. A barriga doía. No caos da noite anterior, tinha se esquecido
completamente de pedir um pouco de comida. Agora, o estômago vazio
parecia se contorcer contra as costas.
O casaco de Eammon estava pendurado no gancho da porta, rasgado por
espinhos e sujo de lama. Red o fitou, mordendo o lábio inferior. Em seguida,
lançou um olhar desconfiado para as trepadeiras que cresciam sobre o vidro
da janela. Naquele momento, ao menos, estavam imóveis.
A água na banheira estava limpa, mas congelante mesmo assim. Ela se
lavou depressa, vestiu-se — de azul marinho desta vez — e parou no meio do
quarto, um tanto incerta sobre o que fazer a seguir.
Aquela era sua nova vida, tão vasta e sombria e indefinível quanto a
floresta que a cercava.
Não. Red sacudiu a cabeça. Não podia se deixar abater naquele momento,
não quando tinha sobrevivido contrariando todas as expectativas. Aquela
nova vida podia ser estranha, mas ela estava viva, e isso por si só era um
milagre.
Não fugira, apesar de todas as súplicas de Neve. Mas sobrevivera mesmo
assim. E precisava tirar proveito da situação; devia isso à irmã.
Outro ronco do estômago trouxe sua mente de volta da extensão do dia que
jamais achara que viveria para ver.
— Comida — enunciou.
Determinada, escancarou a porta.
Havia uma bandeja no chão musgoso do lado de fora do quarto. A torrada,
queimada e coberta por uma generosa camada de manteiga, vinha
tempo havia acompanhada de uma caneca de café puro. Ambos estavam quentes, mas
m momento, quem quer — ou o que quer — que a tivesse deixado ali tinha ido embora
havia muito tempo. Nada se mexia no saguão além de grãos de poeira contra
se esquecidoa luz, e as folhas no fim do corredor estavam inertes.
ômago vazio Red estava com muita fome para se importar com a origem do café da
manhã. Sentou-se encostada na parede cheia de musgo e comeu a torrada em
rasgado portrês bocadas. A crosta quase carbonizada era mais gostosa do que qualquer
Em seguida,outra coisa que já comera em Valleyda.
sobre o vidro O café estava forte. Red o bebericou devagar, perguntando-se se o
responsável por entregar a comida retornaria. Provavelmente era uma das
assim. Ela sevozes que ouvira falando com Eammon na noite anterior; não conseguia
u no meio do imaginar o Lobo cozinhando.
Os destroços no fim do corredor pareciam diferentes. Um dia antes havia
vel quanto aapenas arbustos viçosos, musgo, pedras quebradas e raízes. Agora, havia uma
rosa brotando ereta e aprumada do meio da desordem, erguendo-se quase até
ele momento,o teto.
ivas. Aquela O café respingou da caneca de Red quanto ela se levantou, queimando os
si só era um dedos. O broto de flor era comprido e hirto; não havia sinal de degradação
sombria em seu caule — diferente da árvore da noite anterior, apodrecida e
ivera mesmocercada por uma poça de solo escuro e esponjoso.
O que Eammon tinha dito mesmo? Algo sobre as árvores brancas —
árvores-sentinela, agora ela se lembrava, ele as chamara de árvores-sentinela
ão do dia que — saírem da floresta e aparecerem na Fortaleza depois de um certo ponto da
infecção?
A sentinela não se mexia, silenciosa, magra e pálida como um espectro na
escuridão. Não estava onde deveria estar, mas também não era uma ameaça
to. A torrada,imediata. Mesmo assim, a imagem dos troncos se abrindo para revelar dentes
teiga, vinha afiados de madeira ainda estava fresca na mente de Red; ela encarou
quentes, masdesconfiada a árvore enquanto voltava pelo corredor, girando a caneca agora
a ido embora vazia entre as mãos.
poeira contra Os sons ecoavam no saguão vazio; havia nuvens finas de poeira flutuando
nos feixes de luz crepuscular que entravam pela janela rachada. A não ser
m do café da pela poeira, Red não tinha companhia.
a torrada em De repente, a porta se abriu.
que qualquer Ela se agachou como se pudesse se esconder sob os restos do tapete cheio
de musgo quando a velha porta de madeira se escancarou; uma luz suave cor
ndo-se se ode lavanda delineava os contornos de uma forma feminina e esguia que tinha
era uma das uma coroa de cabelos cacheados e trazia uma lâmina curva na mão. Algo
ão conseguiaescorria do objeto afiado, uma mistura de seiva e o que parecia ser sangue.
A mulher tinha pele escura e um rosto de traços delicados. Ela parou,
a antes havia estreitando os olhos pretos.
ra, havia uma — Redarys?
-se quase até Era a voz musical da noite anterior, aquela que ela ouvira falando com
Eammon. Aparentemente vinha de uma garganta humana. Constrangida, Red
ueimando osse levantou, ruborizando.
e degradação — Eu… hum… — gaguejou, gesticulando atrapalhada como se estivesse
apodrecida e prestes a fazer uma reverência e detendo-se ao perceber que seria absurdo. —
Isso. Sou eu.
s brancas — A mulher soltou uma risadinha zombeteira, mas abriu um sorriso brilhante
ores-sentinelade canto.
erto ponto da — Bem que desconfiei. Sou a Lyra.
Ela se aproximou, puxando um pano de uma pequena bolsa de couro que
m espectro natrazia na cintura e esfregando-o na lâmina ensanguentada. A porta se fechou
uma ameaçaatrás dela. Sem o clarão do outro cômodo, o sangue em sua roupa era óbvio.
evelar dentesA camisa branca e as calças escuras quase completamente cobertas pelo
ela encaroulíquido cor de cobre ainda úmido, por gavinhas de fungo escuro e seiva
caneca agoraescura como alcatrão.
Red emitiu um som gorgolejante involuntário.
ira flutuando — Você está bem? Pelos Reis, como sequer está de pé?
a. A não ser Lyra pareceu confusa por um momento, depois acompanhou o olhar de
Red.
— Ah, isso. Não se preocupe, Eammon é o único que se corta lá, na hora;
tapete cheio ele é o Lobo, tem uma conexão complexa com Wilderwood, por isso a
luz suave corfloresta gosta do sangue dele direto da veia. Mas ela não é tão exigente com o
uia que tinha resto de nós. — Lyra tirou um pequeno frasco do bolso. Um líquido escarlate
a mão. Algose agitou quando ela sacudiu o vidro no ar. — Usei pelo menos cinco destes
— disse ela, como se aquilo explicasse algo. — Várias criaturas de sombras
s. Ela parou, por aí hoje. Precisei voltar para reabastecer. Com uma careta, ela foi em
direção ao arco quebrado e ao cômodo depois dele. — Talvez para trocar de
roupa também.
falando com O espanto de Red deu lugar à confusão; ela franziu as sobrancelhas e foi
trangida, Redatrás de Lyra.
— Esse sangue é seu?
o se estivesse — Claro que é. — Lyra encolheu os ombros. — Pode ser de Fife, na
a absurdo. — verdade. Nós dois temos a Marca, então o sangue de ambos funciona com as
criaturas de sombras. — Ela empurrou a pequena porta nos fundos da sala,
riso brilhanteque levava a uma cozinha apertada. — Nosso sangue consegue segurar as
mudas por um dia, mais ou menos, e ajuda um pouco com as sentinelas
de couro quetomadas pelas sombras, mas não adianta merda nenhuma para as brechas.
rta se fechou A parede dos fundos estava repleta de armários que pareciam muito
pa era óbvio. velhos; no canto, havia um fogão à lenha e uma mesa arranhada. Lyra foi até
cobertas pelo o armário perto do fogão e o abriu. Dentro dele havia frascos e mais frascos,
curo e seiva todos cheios de sangue. Era de um vermelho vivo, não havia verde algum —
diferente do de Eammon.
Red se jogou em uma das cadeiras diante da mesa. Os pensamentos se
enroscavam, embaraçados. Na noite anterior, quando Eammon lutara contra o
u o olhar de cadáver, a criatura de ossos da floresta — a criatura de sombras, o monstro
da lenda, pelos Reis, é tudo verdade —, o sangue dele fora o que enfim a
a lá, na hora; detivera. Pelo jeito, Lyra — e Fife, quem quer ele que fosse, possivelmente a
d, por isso a outra voz que ela ouvira — também usava o próprio sangue para deter as
igente com ocriaturas de sombras.
uido escarlate No entanto, quando Red sangrou em Wilderwood, a floresta a atacou. As
cinco destes árvores brancas se transformaram em predadoras. Teria sido porque ela era
s de sombrasuma Segunda Filha? Será que algo em seu sangue e o pacto ao qual estava
a, ela foi ematrelado fazia com que a floresta a tratasse de maneira diferente?
para trocar de E quem eram Fife e Lyra, afinal? As lendas não faziam menção a mais
ninguém habitando Wilderwood.
ncelhas e foi — Você disse que tem a Marca?
A pergunta interrompeu o tilintar dos frascos que Lyra guardava na bolsa.
— Todos que fazem um pacto com Wilderwood têm. — Lyra puxou a
r de Fife, na manga para cima. Ali estava, no mesmo lugar que a de Red: uma pequena
ciona com asraiz circular, logo abaixo da primeira camada da pele. Era menor que a da
ndos da sala,Segunda Filha, e as ramificações não chegavam tão longe, mas era a mesma,
ue segurar assem dúvida. Lyra desceu a manga. — Um pequeno pedaço de Wilderwood.
as sentinelas Por isso meu sangue e o de Fife funcionam contra as criaturas de sombras. O
poder da floresta fala mais alto do que o poder das Terras Sombrias.
eciam muito — O sangue do Lobo também?
. Lyra foi até — Ah, com certeza. — Lyra riu, taciturna, depois pegou mais um frasco e
mais frascos,fechou o armário. Em seguida, prendeu a bolsa ao cinto e dirigiu-se à porta.
rde algum —— Mas o pedaço que ele tem de Wilderwood jamais poderia ser chamado de
pequeno.
nsamentos se Por mais estranha que fosse a ideia de armazenar sangue em frascos,
utara contra otambém trazia certo alívio. Eammon queria que ela aprendesse a usar a magia
as, o monstroque a floresta colocara sob seus ombros; aparentemente, ele acreditava que
que enfim a isso manteria as árvores-sentinela sob controle. Mas aquela decerto não seria
ssivelmente aa única solução, já que magia e sangue corriam ali de forma tão congruente.
para deter asNão sangrar nas árvores era a primeira regra que ele estabelecera, mas talvez
fosse diferente se o sangue viesse de um frasco em vez de uma veia.
a atacou. As E Red preferiria encher cálices e mais cálices com seu sangue a usar a
orque ela era maldita magia.
o qual estava — Tem uma faca por aí? — perguntou ela. — Algo que eu possa usar
para…
enção a mais — Não. — Lyra girou, dando as costas para porta. Seus olhos escuros se
estreitaram e ela suspirou. — Digo, eu não… Eu não sou… Pergunte a
Eammon. Ele vai saber. — Puxou a camisa para vê-la melhor e fez uma
careta. — Preciso mesmo trocar de roupa. Nos vemos depois.
Lyra puxou a Lyra se foi e Red continuou largada na cadeira. Mais uma vez, aquela
uma pequena sensação de deslocamento, de irrealidade, de não saber o que fazer ou como
nor que a da se mexer.
era a mesma, Livros. O pensamento veio como a luz de um farol, algo para manter os
Wilderwood. pés no chão. Eu trouxe livros.
e sombras. O Mas infelizmente deixara-os na biblioteca. Red não sabia quais eram os
horários de Eammon — o crepúsculo contínuo fazia com que fosse difícil
distinguir noite e dia —, mas ele devia estar lá.
s um frasco e Pergunte a Eammon, dissera Lyra. Mas Eammon só falaria de novo sobre
iu-se à porta. usar magia, sobre fazer com que aquele pedaço da floresta aninhado nos
chamado deossos dela trabalhasse de acordo com sua vontade.
Ela respirou fundo e endireitou os ombros. Se ele perguntasse, responderia
em frascos,que ainda não havia decidido. Pegaria os livros, voltaria para o quarto e
usar a magia tentaria se distrair por algumas horas antes de ter que pensar nisso outra vez.
creditava que As velas de madeira na biblioteca estavam todas acesas com as estranhas e
erto não seriaimóveis chamas, banhando os livros com uma luz bruxuleante. Red fechou a
o congruente.porta o mais silenciosamente que pôde. Perto dela, viu a mesma caneca
a, mas talvezequilibrada sobre a mesma pilha de livros, desta vez vazia. Analisou o objeto
por um momento antes de afastar as mãos da saia, decidida, e se pôr a
gue a usar a percorrer o corredor entre as prateleiras.
Não havia sinal do Lobo, mas a bagunça dele ainda estava lá: um livro
u possa usar aberto em meio a um amontoado de papéis e canetas, outra pilha junto à
escrivaninha deixada à sombra pelas velas.
os escuros se Red se aproximou da mesa, discreta e cautelosa. Eammon não ficaria
… Pergunte a muito feliz em vê-la bisbilhotando suas anotações, mas ela foi dominada pela
or e fez umacuriosidade. Espiou o papel rabiscado.
Parecia… uma lista de compras? Palavras como pão e queijo tinham sido
vez, aquela rabiscadas em um garrancho meio torto; algumas estavam riscadas.
azer ou como Perguntar à Asheyla sobre as botas estava escrito no fim da página e, em
tinta fresca, casaco novo.
ra manter os Ela fez uma careta. Deixou a lista para lá e focou no livro.
A página em que estava aberto exibia uma tabela. Não havia título, mas ela
reconheceu os nomes de alguns capítulos — “A peste terrível”, “Taxonomia
uais eram os de pequenos monstros”, “Ritos dos antigos”. Sentiu-se tentada a se sentar e
fosse difícil folhear as demais páginas, mas a disposição dos pertences de Eammon fazia
parecer que ele tinha saído às pressas; poderia voltar a qualquer momento.
e novo sobre Red fez menção de continuar a busca, mas a pilha de livros perto da
aninhado nos escrivaninha chamou sua atenção. Algo neles era estranho, como se as
proporções estivessem erradas. Chegou mais perto, depois recuou.
, responderia Lendas, o livro que havia sujado de sangue no dia anterior, estava no topo,
a o quarto emetade consumido por Wilderwood.
Raízes finas e rasteiras se esgueiravam pelas rachaduras na parede de
as estranhas e pedra, esticando-se e grudando na mancha de sangue na capa. Alastravam-se
Red fechou ae penetravam nas páginas, infiltrando-se no resto da pilha abaixo como se os
esma caneca livros fossem o solo no qual estavam plantadas.
isou o objeto Red xingou, atônita, e recuou aos tropeços. As raízes ficaram imóveis,
, e se pôr acomo se momentaneamente satisfeitas, e o coração dela se agitou dentro do
peito.
lá: um livro Eram os livros dela. Por isso Red estava ali. Eram os livros dela, não
pilha junto à aquele que ela tinha sujado de sangue sem querer, outra coisa perdida para
aquela maldita floresta intrusa.
n não ficaria A bolsa de couro estava do lado oposto da mesa, quase fora do círculo de
ominada pelaluz das velas estáticas. Red passou a alça pelo ombro e se apressou em
direção à porta.
tinham sido Antes de sair, ela se agachou para inspecionar a bolsa. Depois de toda a
am riscadas.correria no dia de seu vigésimo aniversário, ela não sabia se todos os livros
página e, emtinham saído ilesos. Havia um em particular que ela queria ter certeza de que
ainda estava inteiro.
Red deu um suspiro de alívio quando seus dedos se fecharam em torno da
ítulo, mas ela encadernação familiar de couro. Puxou o livro da bolsa, passando a mão
“Taxonomia
a se sentar e pelas letras douradas que descascavam. Era um livro de poemas. O único
ammon faziapresente que lembrava ter ganhado da mãe.
Tinha dez anos e já era uma leitora voraz. Dias depois de seu aniversário,
ros perto daIsla entrara em seu quarto, sem companhia.
como se as — Pegue. — Não havia embrulho e Isla mal olhara para ela. — Achei que
seria de seu agrado.
tava no topo, Não fora. Ao menos, não no começo. Mas quando Isla saiu, praticamente
assim que Red colocara as mãos no livro, a Segunda Filha se sentara perto da
na parede dejanela e o lera inteiro duas vezes.
Alastravam-se Os poemas eram infantis e, àquela altura, ela os sabia de cor. Não abria o
o como se oslivro para lê-lo de verdade havia anos, mas gostava de tê-lo por perto. Era a
prova de um momento de afeto.
ram imóveis, Red guardou os livros de volta na bolsa e partiu para as escadas, mas parou
ou dentro dode repente ao se deparar com o sujeito no corredor.
Um emaranhado de cabelos ruivos era sua principal característica,
, nãoligeiramente familiar. Estava ajoelhado diante da muda que Red vira naquela
perdida paramanhã, inspecionando as raízes. Sua pele era branca; mantinha uma das
mãos, coberta por cicatrizes feias, junto à barriga.
do círculo de Então aquele devia ser Fife.
apressou em Ele xingou baixinho, vasculhando o bolso à procura de alguma coisa —
outro frasco de sangue —, e se aproximou da árvore.
ois de toda a — Cuidado!
dos os livros Ver alguém tão próximo de algo que ela presenciara arreganhar os dentes
erteza de que em ameaça fez com que ela gritasse em advertência antes que se desse conta.
Ele morava em Wilderwood; é claro que sabia que precisava ter cuidado.
em torno da Ele se deteve em meio ao movimento antes de virar a cabeça, o braço ainda
sando a mãoestendido. Erguia uma das sobrancelhas alaranjadas.
Red trocou o peso de perna.
mas. O único — Desculpe, é que… às vezes elas atacam.
Ele ergueu a sobrancelha ainda mais.
u aniversário, — Elas só atacam você, Segunda Filha.
Se a intenção era que aquilo servisse de consolo, ele falhara tragicamente.
— Achei que Os detritos da floresta já tinham crescido ao redor da árvore, das
trepadeiras e dos arbustos floridos. Com cuidado, Fife os afastou, expondo a
praticamentebase do broto que havia por baixo.
ntara perto da — Pelos Reis… — Ele se sentou sobre os calcanhares. — Esta é a segunda
a aparecer na Fortaleza nos últimos dias. Com um movimento preciso, Fife
. Não abria oabriu o frasco com uma mão, mantendo a outra, a com as cicatrizes, ainda
r perto. Era a junto à barriga, e derramou o sangue sobre as raízes. Nada mudou, ao menos
nada que Red tenha percebido, mas ele não fez mais nada. Olhou para Red.
as, mas parou — Fez alguma coisa com ela hoje de manhã?
— Com ela, quem? Com a árvore?
característica, — Sim, com a árvore. Eammon te disse para fazer alguma coisa?
vira naquela —Não. — A incredulidade dela tornou a resposta mais afiada do que
nha uma das pretendia. — Ele me disse para ficar longe dela. De todas elas, na verdade.
Todas as árvores brancas.
Fife pressionou os lábios, observando Red com uma expressão
uma coisa — indecifrável, e no instante seguinte voltou a fitar a muda.
— Bom, isso deve ser suficiente até que Eammon possa vir dar uma
olhada. — Ele se levantou. — Já que ele aparentemente ainda está decidido a
har os denteslidar com isso por conta própria.
desse conta. Red franziu as sobrancelhas, alternando o olhar entre Fife, que se afastava,
e a muda de sentinela. Franziu os lábios e se apressou para segui-lo pelo
o braço aindacorredor.
— Meu nome é Redarys. Mas você sabia disso.
— Correto.
— E você é Fife.
— Nota dez.
— Quer dizer então que seu sangue não só mata as criaturas de sombras,
mas também faz algo com as árvores?
árvore, das Lyra havia mencionado algo do gênero na cozinha, algo sobre manter as
u, expondo amudas sob controle. Ao ouvir a pergunta, ele finalmente parou e, olhando-a
de esguelha, respondeu depois de um momento:
a é a segunda — Estabiliza as árvores. Retarda o progresso do fungo-de-sombra até que
preciso, Fife Eammon possa mandá-las para onde elas devem ir.
atrizes, ainda Ele voltou a avançar a passos largos na direção do saguão.
ou, ao menos Red o seguiu, apesar do rápido olhar de Fife deixando claro que ele
ou para Red.gostaria que ela não o fizesse.
— Obrigada pelo café da manhã — tentou ela, soltando a bolsa de livros
no chão.
— Cortesia do melhor cozinheiro da Fortaleza. — Fife foi até uma porta
fiada do queatrás da escada. — Não que isso signifique muita coisa. Eammon acha que é
, na verdade.aceitável comer pão e queijo em todas as refeições, e as habilidades culinárias
de Lyra se resumem a fazer chá.
a expressão Ele estendeu o braço para empurrar a porta. Quando o fez, sua manga
escorregou. Lá estava: outra Marca, um reflexo da de Lyra.
vir dar uma Fife percebeu o olhar de Red.
tá decidido a — Todo mundo aqui tem uma. Gaya e Ciaran não foram os únicos tolos o
suficiente para fazer pactos.
e se afastava, Red tocou a própria Marca escondida sob a manga azul-escura.
segui-lo pelo — Eu não fiz pacto algum.
— Eammon também não. — Ele escancarou a passagem. — Mas o Lobo e
a Segunda Filha originais se foram, então Wilderwood aceita o que mais se
aproxima disso.
A porta os levou até o pátio dos fundos, onde havia o muro de pedra
desmoronado e a estranha torre tomada pela floresta. Fife foi para a esquerda,
de sombras,seguindo o caminho do corredor quebrado onde ficavam os aposentos de
Red. Havia mais três mudas brancas brotando dos escombros, estendendo-se
bre manter asna direção do nevoeiro.
e, olhando-a Ela tomou certa distância enquanto Fife se aproximava delas.
— Estou deduzindo que essas também não deveriam estar aqui?
mbra até que — Que espertinha.
Fife examinou as raízes das mudas de perto. A escuridão as consumia,
embora o solo ao redor ainda parecesse firme, nada parecido com a textura
laro que ele esponjosa que ela vira na noite anterior. — Ele vai precisar curar estas
primeiro — murmurou, destampando outro frasco de sangue e despejando o
olsa de livrosconteúdo no solo. A escuridão recuou gradualmente, uma diferença tão sutil
que Red não teria notado se não estivesse prestando atenção. — Já estão
té uma porta enfraquecendo. A que está lá dentro pode esperar, ainda não está tomada pelo
on acha que é fungo-de-sombra.
des culinárias — Fungo-de-sombra?
Outro olhar mordaz, como se as perguntas dela o irritassem. Mas Fife
, sua manga apontou para a floresta além do portão, escondida atrás da neblina.
— Consegue ver?
Bem no limite onde as árvores começavam havia uma mancha preta no
nicos tolos o chão da floresta — o mesmo chão escurecido e úmido de onde a criatura
surgira. Red assentiu.
— Aquele é o lugar vazio onde uma dessas sentinelas deveria estar. As
Terras Sombrias tentaram abrir caminho, então ela se desprendeu e cresceu
Mas o Lobo eaqui, mais perto de Eammon, para que ele pudesse curá-la. Só as mais fortes
que mais se conseguem fazer isso. As outras apodrecem onde estão, deixando brechas que
precisamos encontrar e fechar.
uro de pedra — A que vimos estava assim. Estava apodrecendo quando a encontramos,
a a esquerda,e Eammon disse que ela teria aparecido na Fortaleza em questão de dez
aposentos deminutos.
stendendo-se Os olhos acastanhados de Fife se voltaram depressa para Red.
— Eammon permitiu que fosse com ele?
Ele soou cismado a ponto de Red pensar que talvez não devesse ter dito
nada. Ela encolheu os ombros.
— Ele não gostou da ideia, mas deixou.
as consumia, — Hummm. — Fife manteve os olhos nela por mais um momento,
om a texturafranzindo o cenho, depois se virou outra vez para a floresta. — Parece que ele
r curar estas está muito disposto a convencer você de que pode confiar nele, então.
despejando o Red mudou o peso de perna.
ença tão sutil Fife apontou para as estrias escuras no tronco da muda.
— Já estão — Quanto mais o fungo-de-sombra as devora quando estão aqui, mais
tomada pelodifícil é mandá-las de volta. As sentinelas são como tijolos em uma parede,
cada uma é posicionada estrategicamente. Mexer em uma enfraquece todo o
resto.
m. Mas Fife — O que é o resto?
— Wilderwood inteira.
Red cruzou os braços sobre o peito, olhando apreensiva para as árvores
cha preta no brancas. As sentinelas. Elas pareciam lascas de osso fincadas na terra.
de a criatura — Então elas são… do bem.
— As sentinelas não são do bem. — Disse Fife, como se a ideia fosse
eria estar. Asridícula. — Mas também não são do mal. Wilderwood tem um trabalho a
deu e cresceu fazer, e ela toma o que for preciso para que isso seja possível.
s mais fortes — E, neste momento, o que ela exige é sangue.
o brechas que Um olhar sério.
— Neste momento, sim — respondeu Fife, cauteloso.
encontramos, — E por que o sangue de todos? O do Lobo parece ser o único a fazer uma
estão de dezdiferença real.
Mais uma pausa, mais um olhar indecifrável.
— A conexão de Eammon com a floresta é a mais forte — disse ele após
um momento, ponderando as palavras. — Apenas o sangue dele é capaz de
vesse ter ditocurar as brechas. O sangue ou a magia. O que quer que ele se sinta mais
seguro para usar no momento.
Ela pensou na noite anterior, em como Eammon pusera as mãos no chão
m momento,antes de recorrer ao punhal, na casca aparecendo em sua pele, nas veias
arece que elepulsando esverdeadas. Ele usara a magia e isso o transformara, fizera com
que o equilíbrio de seu corpo pendesse mais para floresta do que para
homem.
Red sentiu uma onda de pânico no estômago, embora não soubesse bem o
o aqui, maisporquê.
uma parede, — Lyra e eu estamos conectados com a floresta por causa dessa porcaria.
quece todo o— Fife apontou para a Marca com o queixo. — Mas a conexão é fraca.
Podemos retardar as criaturas de sombras, matá-las se forem fracas,
estabilizar as sentinelas até que Eammon possa lidar com elas. Mas ele é o
único que pode consertar as coisas de verdade. — Fife fez uma pausa. Seus
ra as árvoresolhos pareceram cintilar. — Ele e você.
Red engoliu em seco. Havia uma tensão densa no ar, palpável como a
neblina que pairava sobre o chão.
a ideia fosse Ela se virou, ficando de frente para a torre e para a Fortaleza.
m trabalho a — E onde está Eammon, afinal?
Esperava vê-lo mais cedo ou mais tarde; não havia muitos lugares onde ele
pudesse se esconder. O fato de ainda não o ter encontrado provocou uma
comichão em Red, especialmente depois do que vira na noite anterior.
o a fazer uma — Ele saiu para curar outra brecha que Lyra encontrou hoje de manhã.
Deve voltar logo.
Eammon devia estar bem, se já estava curando mais brechas. A
isse ele apóspreocupação de Red se dissipou, ainda que não por completo.
e é capaz de Chegaram à porta da Fortaleza no topo da colina, que rangeu quando Fife a
se sinta maisabriu com um empurrão.
— Vou arranjar algo para comer.
mãos no chão Quase contra a vontade, ele acrescentou:
le, nas veias — Quer vir?
a, fizera com Foi uma decisão de uma fração de segundo. Red negou com a cabeça.
do que para Ele a encarou por um segundo, austero.
— Não saia para além dos portões — avisou ele, por fim, antes de fechar a
ubesse bem o porta com um estrondo.
Red provavelmente deveria ter ido. Mas, agora que estava lá fora, a ideia
essa porcaria.de se ver do lado de dentro das paredes em escombros outra vez era
exão é fraca.sufocante. Deu as costas para a passagem e caminhou pátio adentro.
orem fracas, O ar de Wilderwood estava gelado e a neblina rodopiava perto do chão,
Mas ele é o esvoaçando sob a saia de Red.
a pausa. Seus O céu tinha vários tons de lavanda; não havia lua, estrelas ou nuvens. Era
bonito de uma forma estranha e sinistra. Olhando ressabiada para as mudas
ável como ana base da colina mais uma vez, Red se pôs a caminhar na direção oposta,
pulando o muro baixo de pedra para dar a volta na Fortaleza. Pilhas de pedra
despontavam em meio ao nevoeiro como gigantes adormecidos.
Algo chamou a atenção dela do outro lado do portão. Uma silhueta
ares onde eleirrompendo da névoa e desaparecendo de novo antes que ela pudesse
rovocou umadistinguir o que era. Red parou, estreitando os olhos.
O vulto se ergueu de novo, como alguém tropeçando e tentando recobrar o
equilíbrio. Com cautela, Red deu um passo à frente, os passos silenciosos no
je de manhã.chão coberto de musgo.
O vulto se ergueu outra vez, agora perto o suficiente para que Red pudesse
brechas. A enxergar a face. Maçãs do rosto definidas, nariz adunco. Olhos verdes como a
primavera.
quando Fife a A respiração dela congelou nos pulmões e o coração parou no peito. Não
era possível. Ninguém além da Segunda Filha podia entrar em Wilderwood,
ninguém além dela podia atravessar a floresta. Era impossível, mas…
A neblina moldou contornos que ela reconhecia.
Red se controlou o suficiente para não correr, mas por pouco. Atravessou a
névoa e passou pelas pedras quebradas da Fortaleza decaída como se
estivesse em transe, mal ousando respirar até estar a menos de um metro de
es de fechar adistância. Olhando para baixo, para uma cabeça familiar de cabelos escuros,
para ombros e olhos verdes que ela reconhecia, para um rosto arranhado e
fora, a ideiasujo de sangue. Ele parecia cansado e machucado, os olhos fundos e escuros
utra vez era e as roupas rasgadas do confronto com a floresta hostil.
— Red — arfou Arick.
erto do chão,
u nuvens. Era
ara as mudas
reção oposta,
lhas de pedra
Uma silhueta
ela pudesse
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ilenciosos no
chão coberto de musgo.
O vulto se ergueu outra vez, agora perto o suficiente para que Red pudesse
enxergar a face. Maçãs do rosto definidas, nariz adunco. Olhos verdes como a
primavera.
A respiração dela congelou nos pulmões e o coração parou no peito. Não
era possível. Ninguém além da Segunda Filha podia entrar em Wilderwood,
ninguém além dela podia atravessar a floresta. Era impossível, mas…
A neblina moldou contornos que ela reconhecia.
Red se controlou o suficiente para não correr, mas por pouco. Atravessou a
névoa e passou pelas pedras quebradas da Fortaleza decaída como se
estivesse em transe, mal ousando respirar até estar a menos de um metro de
distância. Olhando para baixo, para uma cabeça familiar de cabelos escuros,
para ombros e olhos verdes que ela reconhecia, para um rosto arranhado e
sujo de sangue. Ele parecia cansado e machucado, os olhos fundos e escuros
e as roupas rasgadas do confronto com a floresta hostil.
— Red — arfou Arick.
10
nha surpresa,
a. A mesma
ão ao mesmo
versa inteira
e se forçou a
curos dela se
zá-lo. — Ele
s lembranças
presas, fossos
conversavam,
inda que sua
ozes dos dois
panhou até a
INTERLÚDIO
VALLEYDIANO III
A cadeira vazia do outro lado da mesa era barulhenta como uma sirene.
Fora mais fácil ignorá-la quando Arick fazia as refeições com elas, nas
poucas vezes em que isso acontecera antes da partida de Red. Por mais
desconfortáveis que fossem os jantares com apenas Arick e a Rainha Isla, ele
sempre amenizava o clima agindo como o consorte perfeito, uma barreira de
contenção entre a terra de Neve e o mar gelado de sua mãe. Mas agora ele se
fora, partira com sua dor e um repentino arroubo de heroísmo, e a sala de
jantar se tornara um túmulo com apenas duas ocupantes.
Na verdade, jantares com a Rainha jamais tinham sido confortáveis. Neve
e Red não jantavam com a mãe com frequência; quando o faziam, porém,
sentavam-se uma de frente para a outra. Isla ficava na cadeira da cabeceira.
Embora os jantares fossem quase silenciosos, Neve ao menos não ficava
completamente à deriva. Red sempre fora sua âncora.
Agora Neve olhava fixamente para o prato vazio, sabendo que cada
garfada desceria como chumbo, sabendo que uma hora ali pareceria um dia
inteiro. Desde que Red se fora — desde que Red fora sacrificada —, o tempo
com a mãe tinha ares de penitência. Principalmente porque Isla não parecia
nem um pouco abalada. Se sentia a mesma dor que Neve, nem sequer
chegava perto de demonstrar.
A porta se abriu e os criados entraram, trazendo um único carrinho com
pratos empilhados. O mero cheiro da comida fez Neve torcer o nariz.
Reverente, um deles acendeu as três velas no centro da mesa — uma
branca, uma vermelha e uma preta. Isla curvou a cabeça. Depois de um
momento, Neve a imitou, aborrecida.
A Rainha olhou em expectativa para Neve, que rangeu os dentes.
Com um suspiro, Isla fechou os olhos.
— Aos Cinco Reis damos graças — entoou ela — por nossa segurança e
por nosso sustento. Na santidade e no sacrifício e na ausência.
As velas foram apagadas. Os criados serviram a comida e o vinho e depois
om elas, nas foram embora, ágeis e silenciosos. Neve não tocou o garfo, mas agarrou a
ed. Por maistaça de vinho e tomou um longo gole.
ainha Isla, ele — O rito de agradecimento tem duas frases, Neverah. — Isla levou o garfo
ma barreira deà boca delicadamente. — Tenho certeza de que não doeria para você
s agora ele sedemonstrar fé de vez em quando.
, e a sala de — Prefiro não fazer isso, muito obrigada.
E esvaziou a taça. Em sua visão periférica, viu a mão da mãe se tensionar
rtáveis. Nevesobre a mesa.
ziam, porém, Isla tomou um gole de vinho. Depois pousou a taça na mesa, com mais
da cabeceira.força do que o necessário, fazendo ecoar um estalido suave e cristalino.
s não ficava — Permiti que vocês duas se aproximassem demais — disse ela, tão
silenciosamente que a boca mal se mexia. — Deveria ter impedido isso
do que cada quando vocês eram crianças, deveria ter protegido vocês…
eceria um dia — Não era eu quem precisava de proteção.
—, o tempo A Rainha estremeceu.
a não parecia A parte de Neve que desejava ser uma filha obediente sentiu uma pontada
nem sequer de dor. Era a mesma parte dela que desejava algo a que se agarrar, que
desejava um porto seguro em meio ao mar de culpa e incerteza. Era o que
carrinho comuma mãe deveria ser, não era? Um porto seguro, ainda que Neve já não fosse
uma criança? Mas o papel de Isla naquilo tudo era inegável. Ela aceitara
mesa — uma tamanha violência em silêncio, como se não passasse de um dano colateral;
epois de um sua conivência tinha a forma de uma filha perdida coberta por uma capa
vermelha.
Neve amava a mãe, mas ela merecia se encolher.
A garganta da Primeira Filha doía como se tentasse engolir lâminas, os
a segurança e dedos arqueados como garras nos joelhos sob a mesa. O silêncio crescia, e
Neve desejou que a mãe o preenchesse com alguma coisa. Qualquer coisa.
inho e depois Quando Isla finalmente se mexeu, foi um movimento discreto, um sutil
mas agarrou a subir de ombros ao suspirar. Por um momento, sua máscara se desfez e a
Rainha de gelo de repente pareceu cansada e vazia. Mas depois olhou para
levou o garfo Neve, recompondo-se.
a para você — Me lembrei de uma coisa — disse ela, como se aquela fosse uma
conversa normal. — Precisamos começar os preparativos para o casamento.
Neve ficou boquiaberta; a mudança de assunto havia sido abrupta, e sua
e se tensionar mente demorou para acompanhar. Quando enfim se situou, a resposta veio
direta e sem polidez, em um rompante de nítida fúria.
sa, com mais — Não quero me casar com Arick. Você sabe disso.
— E você sabe que isso não importa. — Isla endireitou a postura; seus
isse ela, tão olhos refletiam as chamas das velas. — Acha que eu queria me casar com seu
mpedido issopai? Um homem com o dobro de minha idade que ficou na corte apenas
tempo suficiente para gerar um herdeiro e morreu antes de saber que tinha
gerado duas? O casamento da Primeira Filha é sempre político. Sempre foi
assim. Você não é a exceção. — Isla sorveu o resto do vinho. — Nenhuma de
uma pontadavocês poderia ser a exceção.
agarrar, que — Arick está apaixonado por Red. — Neve queria soltar a informação
a. Era o que como uma bomba, mas sua voz estava frágil demais para soar como um
e já não fosse ataque.
Ela aceitara
ano colateral; Ainda assim aquilo pareceu afetar a mãe, transpondo seu verniz de
or uma capa indiferença. Isla fechou os olhos e suas mãos se afrouxaram sobre a toalha.
Ela inspirou fundo.
Então seus olhos se abriram, olhando para nada em específico.
r lâminas, os — Então ele é mais ingênuo do que eu pensava. — Isla ficou de pé
cio crescia, e devagar, como se cada movimento exigisse esforço. — Pode ser bom para
você, Neverah. Homens tolos são os mais fáceis de controlar.
eto, um sutil Com os saiotes azul-gelo, a rainha saiu pela porta, andando pelo chão de
se desfez e amármore como se deslizasse. Seus movimentos eram rijos, mas ninguém
is olhou paraalém de Neve notaria. Ela havia sido treinada para aquele mesmo caminhar,
aquele que exibia poder e graça, por isso conseguia enxergar as rachaduras.
a fosse uma A garrafa de vinho no centro da mesa estava cheia, já aberta e pronta para
ser servida. Neve não se deu ao trabalho e bebeu direto do gargalo.
brupta, e sua Quando não restava nada além da borra, ela se pôs de pé sobre pernas
resposta veio molengas. A sala girava, mas não havia ninguém para oferecer um braço no
qual ela pudesse se apoiar — a sala de jantar estava vazia, e nenhum criado
havia esperado do lado de fora para atender a suas necessidades reais. Ela
postura; seus provavelmente os assustara com seus modos nada nobres, com sua fala
asar com seu descortês.
corte apenas No estado embriagado em que se encontrava, isso era quase engraçado.
ber que tinha Seguiu devagar até o salão, a mão preparada para se firmar em uma parede
. Sempre foicaso fosse preciso. Ela não sabia que horas eram, apenas que já era tarde; as
Nenhuma dejanelas eram de vidro escuro e dava para ver as estrelas lá fora.
As janelas davam para o norte, na direção de Wilderwood. Com um
a informação movimento desajeitado devido ao excesso de vinho, Neve cuspiu no chão.
ar como um Algo chamou sua atenção, desaparecendo em um corredor. Foi um
vislumbre de vermelho e branco, familiar de uma maneira que provavelmente
teria sido óbvia se ela não estivesse bêbada. Franzindo as sobrancelhas, ela
u verniz deavançou, virando na mesma direção onde o que quer que fosse havia acabado
obre a toalha.de desaparecer.
Sacerdotisas. Cerca de duas dúzias, um pouco mais do que vira quando
discutira com Raffe no dia anterior. Cada uma segurava uma vela — fato que,
ficou de pépor si só, não era estranho, já que sacerdotisas da Ordem costumavam levar
ser bom paravelas vermelhas de oração por aí. No começo, achou que as velas fossem
pretas, como se tivesse topado com uma procissão funerária ou rito de
pelo chão dedespedida fora de hora.
mas ninguém Mas cerrou os olhos. Não, não eram pretas. Eram cinzentas, do mesmo tom
mo caminhar,de uma sombra.
O grupo deslizava em silêncio pelo corredor em direção aos jardins,
e pronta para liderado pela sacerdotisa de cabelos ruivos. Kiri.
É claro.
sobre pernas — Você!
um braço no Neve mal reconheceu a própria voz. Mesmo aquela única palavra soou
enhum criado arrastada, o que provavelmente teria sido vergonhoso se ela tivesse forças
des reais. Ela para sentir qualquer coisa.
om sua fala Os ombros das sacerdotisas se enrijeceram, uma por uma, como crianças
flagradas roubando doces. Em busca de instruções, olharam para Kiri, que
continuava serena. Ela se virou devagar; na percepção de Neve, o movimento
m uma paredefoi vagaroso demais. O pequeno pingente de galho pendia do pescoço da
era tarde; as mulher. As estrias de escuridão na casca branca eram quase invisíveis devido
à pouca luz.
od. Com um Elas se encararam por um instante. Então Kiri olhou para uma das
sacerdotisas e acenou com a cabeça. Torceu o canto do lábio em um
dor. Foi umsorrisinho.
rovavelmente Seus olhos frios e azuis piscaram de volta para Neve enquanto o grupo de
ancelhas, ela sacerdotisas seguia em silêncio pelo corredor.
avia acabado — Posso ajudá-la, Vossa Alteza?
A ira momentânea de Neve tinha esfriado, ofuscada pela estranheza das
vira quando sacerdotisas no escuro, seu silêncio e suas velas de cor sombria.
a — fato que, — Eu vi você ontem — murmurou Neve, agora mais curiosa do que
mavam levar zangada. — Você estava falando com Arick.
velas fossem — Estava. — A luz bruxuleante distorcia as feições de Kiri.
a ou rito de — O que ele queria?
O rosto dela permaneceu implacável enquanto a chama da vela dançava em
o mesmo tomseus olhos.
— A mesma coisa que você, naquela noite no Santuário.
aos jardins, Um calafrio percorreu os ombros de Neve.
— Você disse a ele como salvá-la.
Não houve resposta. Apenas silêncio, apenas sombras trêmulas projetadas
na parede pela vela cinzenta de Kiri.
palavra soou —Mas como você sabe? — A voz da Primeira Filha soou vulnerável no
ivesse forças escuro. — Como sabe o que aconteceu com Red, como sabe como trazê-la de
volta? — Engoliu em seco, trêmula. — Por que não me disse primeiro?
omo crianças Kiri segurou o pingente com certa reverência.
ara Kiri, que — Desde criança, muito antes de entrar para a Ordem, eu sirvo aos Reis.
o movimento Fui guiada por eles ao buscar esclarecimento, ao conhecer os verdadeiros
o pescoço dacaminhos. Não é possível confiar a verdade a todos, Alteza. Ela é volátil,
síveis devido assustadora. — Ela apertou o pingente com mais força. — A cautela é a
chave, assim como agir em segredo para abrir espaço para a luz.
ara uma das — Eu sou digna de confiança. — Neve assentiu brevemente, o que serviu
ábio em umapenas para desencadear o início de uma dor de cabeça. — Quero saber a
verdade, Kiri.
o o grupo de Nada além de silêncio, a luz dançante vinda da vela e olhos azuis e
impassíveis que a observavam, analisavam. Kiri mexeu no pingente outra
vez.
stranheza das Havia uma mancha escura com cheiro ferroso em um de seus dedos. Os
olhos da mulher se fecharam ao pressioná-lo contra a madeira, quase como se
riosa do queestivesse ouvindo alguma coisa.
Kiri abriu os olhos ao soltar o pingente.
— Venha. — A sacerdotisa retomou o passo lento pelo corredor, levando a
única fonte de luz e deixando Neve no escuro. Quão tarde será que era? Por
a dançava emque nenhuma das arandelas estava acesa?
Neve olhava para ela.
— Para onde está indo? — Seu tom não era acusatório. Era curiosidade
genuína.
A chama deixou entrever um sorriso sutil e sugestivo quando Kiri olhou
as projetadaspor cima do ombro.
— Venha — repetiu, virando em direção à porta que levava até os jardins.
vulnerável no Até o Santuário.
mo trazê-la de As sacerdotisas estavam agrupadas do lado de fora, com as mãos em
concha em volta das chamas para protegê-las da brisa noturna. Neve trocou o
peso de perna, inquieta.
rvo aos Reis. — Pelo amor dos Reis. — Em silêncio, ela as seguiu escuridão adentro.
s verdadeiros Nenhuma delas olhou para Neve enquanto atravessavam o jardim,
Ela é volátil, deslizando como um mar de fantasmas. Era lua nova, e a noite profunda
A cautela é atransformava o vulto das sebes em sombras bestiais, cada arco um monstro à
espreita.
o que serviu Entraram no Santuário, depois seguiram até a esvoaçante cortina escura ao
uero saber a fundo. Kiri foi a primeira a entrar, mas não a manteve aberta; cada
sacerdotisa entrou sozinha, impossibilitando qualquer vislumbre da sala do
lhos azuis e outro lado.
ngente outra
A Primeira Filha sabia o que havia lá, mas sentiu um calafrio mesmo
us dedos. Osassim.
uase como se A última sacerdotisa desapareceu pela cortina. Neve respirou fundo e
depois a seguiu.
A miniatura de Wilderwood. Segurando as misteriosas velas cinzentas, as
or, levando asacerdotisas formavam um círculo em torno dela. Mas havia algo diferente.
que era? PorOs pedaços de tronco estavam marcados, manchados com algo escuro.
Sangue? Mas não podia ser, a cor era estranha, escarlate repleto de veias
escuras. Pelos Reis, a cabeça dela doía.
a curiosidade — Neve?
Ela girou sobre os calcanhares. Arick estava atrás dela. Sua mão estava
do Kiri olhouenrolada em um curativo sujo de vermelho. Bem no meio da palma, uma
mancha escura irradiava pelo tecido branco como um pequeno sol.
O rosto cansado do rapaz se iluminou com um sorriso franco.
— Encontrei um jeito.
as mãos em
Neve trocou o
m o jardim,
oite profunda
um monstro à
ina escura ao
aberta; cada
e da sala do
A Primeira Filha sabia o que havia lá, mas sentiu um calafrio mesmo
assim.
A última sacerdotisa desapareceu pela cortina. Neve respirou fundo e
depois a seguiu.
A miniatura de Wilderwood. Segurando as misteriosas velas cinzentas, as
sacerdotisas formavam um círculo em torno dela. Mas havia algo diferente.
Os pedaços de tronco estavam marcados, manchados com algo escuro.
Sangue? Mas não podia ser, a cor era estranha, escarlate repleto de veias
escuras. Pelos Reis, a cabeça dela doía.
— Neve?
Ela girou sobre os calcanhares. Arick estava atrás dela. Sua mão estava
enrolada em um curativo sujo de vermelho. Bem no meio da palma, uma
mancha escura irradiava pelo tecido branco como um pequeno sol.
O rosto cansado do rapaz se iluminou com um sorriso franco.
— Encontrei um jeito.
11
Ela demorou quase quatro dias, ao menos até onde conseguia se situar no
crepúsculo perpétuo de Wilderwood, para elaborar um plano. Red passava a
maior parte do tempo no quarto, rodeada por seus livros, encontrando uma
fuga nos trechos familiares. E era boa em fugir.
Por mais estranhos e nebulosos que fossem seus dias, ao menos seguiam
certo ritmo. Três refeições na pequena cozinha contígua à sala de jantar que
raramente era utilizada, às vezes com Fife ou Lyra, às vezes sozinha. O
armário farto era abastecido com comidas simples e, embora suas habilidades
culinárias fossem quase inexistentes, ela não corria o risco de morrer de
fome. Fife não dizia nada na maior parte do tempo; Lyra era educada, mas
distante.
E, se estivesse por perto do saguão quando o céu escurecia e ganhava um
tom violeta, ela via Eammon.
A primeira vez foi um acidente, um dia depois de ele a salvar da criatura de
sombras que parecia Arick. Depois de terminar de ler boa parte dos livros que
levara, Red foi até a biblioteca para procurar outros. Teve êxito na missão —
havia uma prateleira nos fundos repleta de romances e livros de poesia, todos
com capas desgastadas e orelhas nas páginas que denunciavam manuseio
frequente.
Estava subindo as escadas com cautela, segurando a pilha que escolhera,
quando o viu.
Eammon estava parado diante da porta ainda aberta, delineado contra a luz
fraca. Sua cabeça pendia sobre o peito e havia exaustão em seus ombros; os
cabelos soltos escondiam os olhos. Uma das mãos segurava um punhal; a
outra estava coberta de cortes que sangravam devagar, expelindo também
uma seiva fina e esverdeada que escorria em maior quantidade. Sua pele tinha
aparência de casca de árvore na altura do pulso. Embora Eammon estivesse
se situar noencolhido, ainda era nítido como era alto. A magia se enroscava em torno
ed passava adele como uma guirlanda.
ntrando uma Red permaneceu em silêncio, mas ainda assim ele a percebeu e olhou para
ela, como se a atmosfera tivesse mudado com a presença da Segunda Filha.
enos seguiamEammon se endireitou, apertando a barriga com a mão ferida. Seu rosto foi
de jantar quetomado por uma expressão de dor quando ele guardou o punhal. Havia
s sozinha. O círculos escuros sob seus olhos brilhantes, cuja parte branca tinha um tom de
s habilidades esmeralda. Era como se estivesse prestes a desmoronar a qualquer momento,
de morrer de como se apenas a recusa em parecer fraco diante dela o mantivesse de pé.
educada, mas Talvez ela devesse ter dito algo, mas Red não tinha ideia do que seria
apropriado. O que poderia fazer? Perguntar se ele estava tendo uma noite
ganhava um agradável?
Olhares cruzados, sentimentos indecifráveis cintilando nos dois rostos.
da criatura deEntão Eammon ergueu o queixo em um cumprimento de olá e despedida ao
dos livros quemesmo tempo e subiu as escadas devagar até o segundo andar da Fortaleza.
na missão — Na manhã seguinte, havia três novas mudas de sentinelas no corredor. Era
poesia, todossinal de três novas brechas surgindo em Wilderwood, três novas
am manuseiooportunidades para que monstros escapassem. Três novos lugares onde
Eammon precisaria sangrar na tentativa de manter fechados todos os limites
ue escolhera,frágeis da floresta.
Naquele exato instante, o plano de Red começou a tomar forma.
o contra a luz Naquele momento, no que parecia ser de manhã bem cedo, ela estava na
s ombros; os porta do pátio com a mão contra a madeira, mas não exatamente a
um punhal; a empurrando. Tinha pensado em fazer um experimento com uma das mudas
ndo tambémdentro da Fortaleza, mas corria o risco de ser vista.
Sua pele tinha E Eammon fora muito insistente ao dizer que ela não deveria sangrar.
mon estivesse Sentiu o estômago embrulhar quando enfim entrou no redemoinho de
ava em tornoneblina, em direção ao canto desmoronado do corredor onde as mudas
erguiam os ramos pálidos rumo ao céu cor de lavanda. O frasco de vidro que
e olhou parasurrupiara do armário na cozinha era escorregadio. Dentro dele, escarlate
egunda Filha.como o manto em seu armário, havia três gotas de sangue.
Seu rosto foi Não era muito. Não havia nada no quarto que pudesse usar, então Red
unhal. Havia cutucara uma cutícula até se ferir e apertara o dedo, deixando o sangue
ha um tom deescasso pingar dentro do frasco.
uer momento, Era apenas o suficiente para entender se fazia diferença. Apenas o
suficiente para descobrir se havia outra forma além de usar a magia que quase
do que seria matara a irmã.
do uma noite A lembrança de Wilderwood a perseguindo depois do corte na bochecha
ainda a preocupava. No entanto, pensava ela, aquele sangue tinha saído direto
dois rostos.da veia — que era a única maneira de Wilderwood aceitar o sangue do Lobo,
despedida ao segundo Lyra. E Eammon era parte da floresta, estava conectado a ela…
Talvez sangrar da mesma forma que ele tivesse sido a razão para que
corredor. EraWilderwood a atacasse, a razão pela qual a floresta tentara se enfiar sob sua
três novas pele. Se ela sangrasse apenas no frasco, não haveria ferida aberta por onde a
ugares onde floresta pudesse tentar entrar.
os os limites E ela precisava fazer alguma coisa. Era evidente que Eammon estava por
um fio; a ideia de criaturas de sombras se libertando da floresta era
inconcebível.
ela estava na Ela não podia usar magia, disso estava certa. O medo a sufocava, tinha as
xatamente agarras cravadas fundo em seu coração. A magia era um beco sem saída, mas
ma das mudas com certeza havia algo que ela pudesse fazer. Tinha que haver.
Red parou diante da sentinela mais distante do portão. Havia pedras
cobertas de lodo em volta das raízes e bruma enrolada como um laço na base
demoinho dedos galhos. Não a tocou, mas se aproximou como jamais fizera com qualquer
de as mudasoutra sentinela, e algo no gesto fez a atmosfera mudar. O ar parecia vibrar
de vidro quecontra sua pele de maneira inédita, mas não desagradável; ao piscar, Red
ele, escarlateenxergou uma luz dourada atrás das pálpebras.
Respirou fundo. Endireitou a coluna. Foram necessárias algumas tentativas
r, então Redaté conseguir abrir o frasco; quando o fez, o cheiro ferroso de sangue pareceu
do o sanguemais forte do que era possível. Com a mão firme, Red suspendeu o recipiente
acima das raízes da muda.
a. Apenas o — O que está fazendo?
gia que quase A voz dele era suave. Red olhou para trás.
Eammon estava logo atrás dela. A neblina esvoaçava ao redor de suas
na bochechabotas e das gavinhas em seus cabelos soltos e compridos demais. Seu rosto
a saído diretoera inexpressivo, com os olhos escuros e impenetráveis e os lábios cheios
gue do Lobo,ligeiramente entreabertos.
tado a ela… Ela continuou segurando o frasco com firmeza, mas não derramou o
ão para queconteúdo.
nfiar sob sua — Acho que você está mentindo para mim — disse Red. — Acho que meu
ta por onde asangue pode matar as criaturas de sombras e curar as sentinelas. Se o de Fife
e o de Lyra e o seu podem por causa da Marca, então o meu também pode,
on estava por não importa o quanto… o quanto eu seja diferente das outras Segundas
floresta era Filhas.
Ela esperava que ele a refutasse outra vez, que mantivesse a mentira. Mas
o único movimento de Eammon foi o da garganta enquanto engolia.
cava, tinha as — Não é tão simples assim, mas você está certa. Seu sangue pode fazer
m saída, mas isso. — Ele ainda falava com suavidade, calmo e estoico como as árvores ao
redor. — Mas o preço é maior do que eu estou disposto a deixar você pagar,
Havia pedrasRedarys. Se der seu sangue a Wilderwood, ela não vai parar aí. Não vai
laço na base conseguir.
com qualquer A criatura de sombras se transformando no cadáver de Merra, raízes
arecia vibrar caindo de seu ventre aberto. Gaya, morta e invadida pela floresta. As outras
piscar, Red Segundas Filhas desaparecendo entre árvores, atraídas pela escuridão. Presas
a Wilderwood, mas de um modo diferente de Red. Modo este que Eammon
mas tentativasnão explicava com clareza e dizia apenas ter a ver com o poder terrível e
ngue pareceudestrutivo que crescia em seu sangue como erva daninha.
u o recipiente Isso termina em raízes e ossos.
Red olhou para ele. A mão que segurava o frasco começou a tremer de
leve.
— Pode ser que eu esteja disposta a pagar o preço. Pode ser que eu prefira
edor de suassangrar em suas árvores e enfrentar quaisquer que sejam as consequências do
is. Seu rosto que tentar usar a maldita magia.
lábios cheios — Teme a si mesma tanto assim?
A voz dele adquirira um tom incrédulo, mas também uma tristeza que a
derramou oatingiu em cheio e agravou o tremor em sua mão.
— Você estava lá. — Foi quase um sussurro. — Você viu como ela me
cho que meu transformou em algo horrível.
Se o de Fife — Eu só vi partes. Estava concentrado em… em outras coisas. Mas sei que
ambém pode,o poder é volátil, principalmente no começo. Tenho certeza de que o que quer
as Segundas que tenha acontecido não foi tão terrível quanto se lembra. — Um passo
hesitante em frente, uma mão tomada por cicatrizes se estendendo na direção
mentira. Masdela. — Você não é horrível.
e pode fazer Eles se entreolharam acima do chão cheio de musgo e névoa. Por fim,
as árvores ao muito devagar, Red baixou a mão que segurava o frasco, deixando-a pender
r você pagar, ao lado do corpo. Em seguida, estendeu-a e pousou o frasco na palma de
aí. Não vaiEammon. Seus olhos ardiam, e sua respiração emitiu um som agudo, mas o
Lobo foi gentil e fingiu não notar.
Merra, raízes Os dedos dele roçaram os dela ao pegar o frasco; suas cicatrizes eram
ta. As outrasásperas ao toque.
ridão. Presas — Por isso insistiu tanto em ficar? Por causa do que aconteceu naquela
que Eammonnoite?
der terrível e Ela assentiu, com medo de preencher o espaço entre eles com palavras.
Eammon suspirou, guardando o frasco de sangue e passando uma mão pelo
cabelo.
a tremer de — Estou tentando pensar em alternativas. Algo mais que pudéssemos
fazer, algo que…
ue eu prefira Pacto.
equências do Um ruído abafado de vegetação, um barulho de galhos formando uma
palavra. Em uma das pedras próximas ao pé de Red, o musgo verde ficou
marrom e murchou.
risteza que a O Pacto. Devem ser dois. Como antes.
Mais musgo morria, contorcendo-se em espirais frágeis. O preço da fala
como ela mepara Wilderwood.
Dois. Gaya e Ciaran. Um Lobo e uma Segunda Filha, juntos.
. Mas sei que A magia é mais forte quando há dois.
ue o que quer A última frase foi mais silenciosa, como se a floresta estivesse cansada. A
— Um passograma morreu sob os pés de Red, quebradiça. Alarmada, ela recuou e quase
do na direção colidiu contra Eammon.
A mão dele pousou sobre o ombro de Red, firme e quente, coberta por
cortes que ainda não estavam cicatrizados. Red se atrapalhou com os próprios
voa. Por fim,pés ao dar um passo atrás, cruzando os braços para conter um calafrio.
ndo-a pender Eammon olhou para ela, olhos escondidos na sombra do cabelo, os lábios
na palma de comprimidos. Sua mão pairou no ar por um breve instante, ainda onde o
agudo, mas oombro dela estivera segundos antes, e depois caiu, agitando a névoa ao redor
deles. Os olhos do Lobo inspecionaram o rosto de Red com cuidado, como se
catrizes eram a resposta de um enigma estivesse impressa nele.
Depois, deu as costas para a Segunda Filha e desapareceu na névoa,
eceu naqueladeixando-a sozinha.
do pedaço de
e demais para
lderwood, eu
do nos olhos
lívio em Red
— Me encontre na torre do pátio quando acordar.
Ele fez uma pausa, depois continuou com voz serena:
— Vou me certificar de que a magia não machuque você ou qualquer outra
pessoa. Eu prometo. Não precisa ter medo.
Ela assentiu. O ar entre eles parecia sólido, algo que podia ser empurrado
para fora do caminho.
Eammon abriu a porta que dava para o corredor pintado pela luz
crepuscular. Ao sair, apontou para o fogo.
— Não se preocupe em apagar o fogo antes de dormir. A madeira não vai
se queimar nem deixar que as chamas se alastrem para qualquer outro lugar.
— Como consegue fazer isso?
Ele respondeu com um sorriso irônico.
— Talvez essa seja a lição de amanhã. — Seu novo marido se virou e
adentrou a escuridão do corredor, deixando-a sozinha no quarto. — Boa
noite, Redarys.
12
A respiração de Red era só mais uma nuvem de vapor no pátio tomado por
neblina, espiralando de seus lábios no ar frio. Ela olhou para cima enquanto
seguia até a torre. Daquele ângulo, as janelas no topo se alinhavam
perfeitamente, abrindo lacunas de céu na pedra.
A porta cheia de musgo rangeu levemente quando ela a abriu, quebrando o
silêncio de Wilderwood. Diante dela, uma escadaria subia escuridão acima.
Havia vegetação forrando as paredes, folhas e flores claras colorindo a rocha
cinza em tons de branco e verde. Diferente da Fortaleza, a natureza não
parecia sinistra ali — parecia ser parte da estrutura em vez de uma invasora.
Mesmo assim, Red teve o cuidado de não a tocar.
A escadas eram longas e deixaram Red cansada antes de enfim terminarem
no centro de uma sala circular. Ali não havia vegetação, e sim quatro janelas
equidistantes abertas na parede curva, com flores e trepadeiras esculpidas em
madeira nos peitoris. Entre duas delas havia uma lareira crepitante abastecida
de madeira intocada e uma pequena mesa, também de madeira, com duas
cadeiras. O teto, de um azul intenso e escuro, erguia-se até um ponto acima
da escada, onde havia um sol de papel pendurado, trabalhado em camadas de
dourado e amarelo.
Constelações pintadas em prata rodeavam o sol de papel, primorosamente
detalhadas — as Irmãs, mãos partindo do norte e do sul e se encontrando no
centro; o Leviatã, rasgando o céu ocidental; as Estrelas da Peste, amontoadas
sobre o esboço de um navio. A lenda dizia que as Estrelas da Peste tinham
aparecido para guiar o navio que transportava comerciantes infectados com a
Grande Peste de volta ao continente. As estrelas tinham desaparecido quando
os afligidos foram súbita e miraculosamente curados.
— Que lindo — murmurou Red, girando no lugar com os olhos ainda no
teto.
Um riso anasalado despertou sua atenção. Eammon estava encostado no
o tomado porparapeito da janela com uma mão no bolso e a outra segurando uma caneca
ma enquanto fumegante. Seu cabelo estava amarrado; atrás de sua orelha, havia um tufo
e alinhavamcurto e espetado de onde ela cortara a mecha para o enlace dos dois.
— Obra de Wilderwood. A torre e a Fortaleza surgiram quando Gaya e
quebrando oCiaran selaram o pacto, totalmente mobiliada. — Ele deu um gole no líquido
uridão acima.da caneca. — Um presentinho para o casal. Ciaran construiu o restante.
rindo a rocha Ciaran. Gaya. Ele nunca se referia a eles como seus pais, apenas usava os
natureza nãonomes ou títulos, transformando-os em pessoas distantes e sem afeto.
ma invasora. O sentimento era familiar.
Red se aproximou da lareira e aqueceu as mãos. As janelas não tinham
m terminarem vidros, e a sala estava tão gelada quanto a floresta lá fora.
uatro janelas — Então Wilderwood fez isso? — Ela gesticulou para as pinturas no teto.
sculpidas em — Não. — Eammon foi até a mesa no centro da sala e se serviu de mais
te abastecidacafé de uma garrafa. Havia outra caneca; ele olhou para Red como se fizesse
ra, com duasuma pergunta. Quando ela assentiu, ele serviu a segunda caneca. — Foi Gaya
ponto acimaquem pintou.
m camadas de Os olhos de Red se voltaram para as constelações outra vez. Uma sensação
estranha e pesada tomava seu peito.
morosamente — Alguma razão específica para nos encontrarmos aqui? — Ela pegou a
contrando no caneca que ele havia servido, segurando-a com as duas mãos para sentir o
, amontoadascalor. — Desculpe pelo comentário, mas você não parece gostar muito daqui.
Peste tinham
ctados com a Eammon emitiu um ruído rouco que podia ter sido uma risada. Soltou o
ecido quandopeso sobre uma das cadeiras e depois a inclinou, gangorreando sobre as duas
pernas traseiras.
hos ainda no — Porque este lugar foi feito por Wilderwood, então a magia é mais forte
aqui.
encostado no O nó da magia em Red ainda parecia mais leve naquela manhã,
o uma caneca desembaraçado e solto. Ela sabia que era resultado do rápido enlace;
avia um tufopensando bem, porém, um pouco daquilo provavelmente se devia à torre,
também. Brotando junto às flores nas paredes enquanto ela subia as escadas.
ando Gaya e Ainda assim, a ideia de usar a magia fazia crescer um buraco no estômago
le no líquido dela.
O café estava forte e amargo. Red fez uma careta.
nas usava os — Será que a magia de Wilderwood conseguiria arranjar um pouco de
leite?
— Sinto dizer que não. Vou colocar na lista de compras. — Eammon
s não tinhamsorveu um longo gole. — Mesmo com toda a força, o poder de Wilderwood é
bastante limitado. Ele age sobre seres vivos ou ligados à floresta, mas só.
— Também pode curar feridas.
erviu de mais — Só se a pessoa ferida estiver ligada a Wilderwood.
mo se fizesse Ela apertou a caneca para conter o impulso de tocar o próprio rosto, a
— Foi Gaya região na bochecha onde o espinho a machucara uma semana antes.
— Na verdade, você não me curou — disse ela. — Você simplesmente…
Uma sensação pegou o corte para você. Ele apareceu no seu corpo.
— A dor tem que ir para algum lugar. — As pernas da cadeira rangiam
Ela pegou a quando Eammon as inclinava para trás. — É uma questão de equilíbrio. A
para sentir o trepadeira que ilumina a Fortaleza segura as chamas sem se queimar, mas ela
muito daqui. não cresce. Nem os lugares de onde a madeira foi cortada. Ferimentos não
podem só desaparecer. Eles são transferidos.
ada. Soltou o Não estavam virados um para o outro, mas a atmosfera entre eles era sólida
sobre as duascomo um olhar fixo. Red tomou outro gole do café forte.
— Seu poder deve funcionar de forma semelhante ao meu — disse
a é mais forteEammon, olhando para o teto. — Já que são mais ou menos a mesma coisa.
Ela franziu o cenho.
uela manhã, — Mas quando não consigo controlar, eu não… Quero dizer… Não é
pido enlace;como acontece com você, quando… — Ela deixou a frase incompleta, sem
devia à torre,saber como dizer aquilo.
— Você não se transforma como eu — disse ele, em voz baixa e de
no estômago maneira direta.
— Não — murmurou ela. — Não me transformo.
A garganta de Eammon se mexeu quando ele engoliu a saliva.
um pouco de — Minha conexão com Wilderwood é mais forte do que a sua — explicou
ele. — E quando uso o poder da floresta, ela… ela toma parte de mim. As
— Eammon transformações costumam desaparecer, mas ainda assim não é agradável. E
Wilderwood éalgumas permanecem. — Ele deu de ombros e se endireitou. — Por isso às
vezes uso sangue. Funciona da mesma maneira sem me deixar vulnerável a
tantas alterações.
A última palavra soou ressentida. Ainda olhando para o teto, Eammon
prio rosto, a esfregou a região acima do pulso, onde Red vira a pele transformada em
casca de árvore.
mplesmente… Red assentiu, desviando o olhar da silhueta dele para o reflexo ondulante
em sua caneca de café.
eira rangiam — Então eu não vou me transformar porque minha magia não é tão forte
equilíbrio. Aquanto a sua.
mar, mas ela — Exatamente. Não tão forte, e mais caótica.
rimentos não — Para dizer o mínimo.
les era sólida — Então vamos focar em controlá-la. Em canalizar apenas uma pequena
quantidade de cada vez, e direcionada a um propósito específico.
meu — disse Red ficou nervosa e se pôs a procurar alguma distração para adiar o
inevitável. Sentou-se na cadeira de frente para ele, segurando a caneca com
firmeza.
zer… Não é — Por que a magia afeta seres vivos?
ompleta, sem — Quando Ciaran e Gaya fizeram o pacto, as sentinelas se enraizaram
neles. Se tornaram parte deles. — As pernas da cadeira rangeram quando
z baixa e de Eammon se inclinou para trás, olhando para cima como se contasse a história
ao sol de papel, como se dando a Red a oportunidade de adiar aquilo, caso ter
todas as respostas fosse deixá-la confortável. — Assim, o Lobo e a Segunda
Filha podem controlar seres da terra, seres com raízes. Eles estão sob
a — explicouinfluência das sentinelas, e, portanto, sob a nossa.
de mim. As A mente de Red se agitou ao lembrar de todas as vezes em que precisara
agradável. E reprimir seu grão de magia, a quilômetros e quilômetros de distância de
— Por isso às Wilderwood.
vulnerável a — Para algo com um alcance tão limitado, a influência das sentinelas
parece se estender bastante longe.
eto, Eammon — Não sei dizer. Faz séculos que saí desta maldita floresta pela última vez.
sformada em— As quatro pernas da cadeira bateram no chão. — Ela aprisiona os
Guardiões muito melhor do que aprisiona as sombras.
xo ondulante — Guardiões?
— Guardiões e Lobos têm propósitos muito semelhantes.
ão é tão forte — Precisa existir uma explicação melhor do que essa.
— Ciaran era caçador. — Eammon ficou de pé e cruzou a sala, indo em
direção a uma das janelas de peitoril esculpido. Ali havia um pequeno vaso
de cerâmica; era possível ver alguns ramos verdes caindo pela borda. Ele o
pegou e levou-o de volta para a mesa, segurando-o com as duas mãos. —
uma pequena Antes de fugir com Gaya, sua maior conquista tinha sido matar um lobo
gigante e monstruoso que rondava a aldeia onde morava. Um filhote de um
para adiar odos seres das Terras Sombrias, antes de todos morrerem. Eles o chamavam de
caneca com Lobo muito antes de ele vir para cá, e a palavra para “Guardião” não pegou
com a mesma força. — Com um sorriso largo, ele deslizou o vaso sobre a
mesa em direção a Red. — Para ser sincero, prefiro Lobo.
e enraizaram — Talvez as pessoas não pensassem que você é um monstro se fosse
eram quandochamado de Guardião.
sse a história — Talvez eu não me importe que pensem que sou um monstro.
uilo, caso ter A intenção era soar impetuoso — e, superficialmente, de fato soou. Mas
e a Segundahavia algo em como ele disse aquilo que fez Red sentir uma pontada no peito.
es estão sob Com os dedos, ela torceu uma das gavinhas com delicadeza.
Eammon se sentou na cadeira — da forma correta desta vez, sem incliná-la
que precisarapara trás.
distância de — Vamos começar do começo. — Ele fez um gesto na direção da
plantinha. — Faça-a crescer.
as sentinelas Red deslizou a caneca para o lado, torcendo para que ele não percebesse
como tremia quando segurou o vaso com as duas mãos.
a última vez. — Como faço isso sem causar uma catástrofe? O que fizemos deixou a
aprisiona osmagia mais fácil de controlar, mas não me sinto confiante.
A menção ao casamento, por mais indireta que fosse, fez com que ambos
desviassem o olhar.
— Precisa focar na intenção — disse Eammon, depois de um momento
tenso. — Quando enxergar o poder da floresta com clareza na mente, abra-se
ala, indo em a ele. É meio… intuitivo. Ele levantou o olhar das cicatrizes dos dedos e
pequeno vaso olhou para o rosto de Red. — É parte de você.
borda. Ele o Parte de você. Ela pensou nas mudanças que a magia causara nele, na
uas mãos. —casca e nos olhos verdes, na altura e na voz sobreposta. Uma balança
atar um lobopendendo para a frente e para trás, do homem para a floresta, do osso para o
ilhote de um galho.
chamavam de A magia em seu peito buscou sair. Era algo que ela poderia dominar se
o” não pegou fosse corajosa o bastante. Se pudesse engolir as lembranças do passado antes
vaso sobre aque…
Red fechou os olhos e sacudiu a cabeça levemente, como se os
stro se fossepensamentos pudessem ser dissipados com o gesto.
— Estou pronta.
— Estou aqui.
to soou. Mas A tranquilidade que ele transmitiu acalmou um pouco a tensão em seus
ada no peito. membros. Respirando fundo bem devagar, ela tentou acalmar os pensamentos
acelerados e se concentrar na intenção. Crescimento, raízes escavando o solo
em incliná-la à medida que as folhas cresciam.
Quando isso ficou claro em sua mente, canalizou o poder. Foi hesitante, o
a direção damais leve dos toques, mas a magia desabrochou como uma flor.
E, por um breve momento, Red pensou que conseguiria.
o percebesse Mas a memória era como uma correnteza, e o toque deliberado em seu
poder a puxou para as profundezas, afogando-a em pânico. Tudo aquilo
mos deixou apassou por seus olhos como se estivesse acontecendo novamente: uma
erupção de galhos e raízes e espinhos, sangue jorrando, costelas rasgadas por
m que ambos troncos afiados, Neve caindo no chão…
— Red!
um momento Ela ouviu o chamado do outro lado de seu torpor, distante como um grito
mente, abra-se em meio a um ciclone. Tudo que enxergava era floresta escura, céu escuro, e
dos dedos e na boca predominava o sabor de terra e sangue. Longe, ela sentiu a coluna
travar, a garganta puxar o ar que não vinha, o corpo se fechando em uma
sara nele, naúltima tentativa de manter a magia sob controle.
Uma balança
o osso para o Então, com um forte aperto nos ombros, ela foi girada de frente para um
par de olhos âmbar, depois sentiu as mãos quentes e feridas do Lobo em suas
a dominar sebochechas.
passado antes — Red, volte!
A voz e os olhos dele arrancaram-na das garras da memória. Red ofegava,
como se ospuxando ar para dentro dos pulmões, que de repente voltaram a funcionar.
Eammon a soltou quase no mesmo instante, como se sua pele queimasse.
— Pelas sombras, o que foi isso?
Ela pressionava as costas contra a borda da mesa, um contraponto à
nsão em seus pulsação desenfreada.
pensamentos — Não consigo. Pensei que poderia depois que nos casamos, mas não
vando o solo consigo.
— Você já fez isso. Fez isso há uma semana!
i hesitante, o — Aquilo não era controle! Eu mal consegui me conter! — Red esticou a
mão em direção à janela. — Quer tentar me jogar para Wilderwood outra
vez? Para ver se isso desperta algum tipo de controle?
rado em seu Eammon recuou, mãos erguidas em rendição. A luz do fogo iluminou as
Tudo aquilo cicatrizes nas palmas.
amente: uma A porta no andar inferior se abriu e rasgou o silêncio. Em seguida, os dois
rasgadas porouviram passos subindo depressa. Os cabelos vermelhos de Fife apareceram
no topo da escada, colados na testa pelo suor.
— Notícias da Fronteira — informou ele, ofegante. — Há uma brecha na
omo um grito direção oeste. Com complicações.
céu escuro, e — Que complicações? — Eammon ainda olhava para Red. Sua expressão
ntiu a colunaera um misto de zanga e mágoa.
ndo em uma A mandíbula de Fife se retesou.
— Estavam procurando por uma abertura na fronteira, como sempre. Em
vez disso, encontraram uma brecha total. E alguém… caiu.
ente para um Isso bastou para atrair a atenção de Eammon. Ele assentiu em um
Lobo em suasmovimento brusco.
— Tranque a Fortaleza, depois volte aqui. É mais seguro.
— Eu deveria ir com você.
Red ofegava, — É perigoso demais. Se alguém caiu em uma brecha total, vão tentar
puxar outros. Você será mais útil aqui.
Quase imperceptivelmente, o olhar de Eammon foi de Fife para Red,
voltando para Fife logo em seguida.
ontraponto à O outro homem franziu o cenho e concordou com a cabeça.
Fife desceu as escadas e Eammon se dirigiu à lareira. Uma faca longa
mos, mas não cintilava sobre ela, bem como o punhal curto que ele usava para abrir cortes
na mão. Eammon pegou as duas armas.
— Fique aqui. — Ele olhou para ela por cima do ombro, muito sério. —
Red esticou aNão saia da torre.
erwood outra Mil perguntas e sugestões invadiram a cabeça de Red. Quando ela abriu a
boca, porém, tudo o que saiu foi:
iluminou as — Tome cuidado.
guida, os dois
e apareceram
ma brecha na
ua expressão
sempre. Em
Isso bastou para atrair a atenção de Eammon. Ele assentiu em um
movimento brusco.
— Tranque a Fortaleza, depois volte aqui. É mais seguro.
— Eu deveria ir com você.
— É perigoso demais. Se alguém caiu em uma brecha total, vão tentar
puxar outros. Você será mais útil aqui.
Quase imperceptivelmente, o olhar de Eammon foi de Fife para Red,
voltando para Fife logo em seguida.
O outro homem franziu o cenho e concordou com a cabeça.
Fife desceu as escadas e Eammon se dirigiu à lareira. Uma faca longa
cintilava sobre ela, bem como o punhal curto que ele usava para abrir cortes
na mão. Eammon pegou as duas armas.
— Fique aqui. — Ele olhou para ela por cima do ombro, muito sério. —
Não saia da torre.
Mil perguntas e sugestões invadiram a cabeça de Red. Quando ela abriu a
boca, porém, tudo o que saiu foi:
— Tome cuidado.
13
Red estava sentada perto da janela, roendo a unha do polegar. Fife trouxera
um cesto com algumas maçãs meio murchas para o almoço, mas a
preocupação fazia com que ela sentisse um nó no estômago, e não fome.
Ridículo. Preocupar-se com o Lobo, indo fazer coisas de Lobo. Estava sendo
realmente ridícula.
Ainda assim…
Não considerava Eammon um amigo propriamente dito. Nem sabia ao
certo se gostava dele, apesar da estranha afinidade que tinham desenvolvido
naquela armadilha em que ambos se encontravam. Mas ele a salvara, duas
vezes; mesmo que fosse mais por precisar dela do que por qualquer motivo
pessoal, aquilo ainda contava. Ele ainda não tinha conquistado a amizade
dela, mas ganhara seu respeito, e o fato de que só aquilo os unia tornava o
laço ainda mais forte.
E se acontecesse algo com Eammon, o que significaria para Wilderwood?
Todo aquele fardo, as sentinelas enfraquecidas e os fungos-de-sombra e os
monstros que clamavam por liberdade — será que tudo cairia sobre os
ombros dela? Red não sabia se conseguiria fazer aquilo sozinha, não por
muito tempo. Eammon não tinha conseguido. O que aconteceria com Neve, e
com todo o mundo além de Wilderwood, quando ela certamente fracassasse?
Daí toda a preocupação. Queimação no estômago, mãos formigando e o
olhar fixo na floresta, aguardando o retorno dele.
Fife a observava, sentado na cadeira que Eammon tinha deixado vaga,
virada ao contrário para apoiar a mão boa no encosto. Não tinha falado nada
desde que voltara da torre. O silêncio estranho talvez tivesse incomodado
Red em outra situação, mas ela estava nervosa demais para notar — até que
ele falou.
— Ele vai ficar bem, sabe? — Fife bateu com os nós dos dedos no encosto
Fife trouxerada cadeira. — Isso é normal por aqui. Bem, a menos que alguém caia na
moço, mas abrecha, mas mesmo assim, Eammon tem mais facilidade para cuidar disso do
e não fome.que o resto de nós. Os aldeões estão sempre desafiando as divisas.
Estava sendo A voz dele a sobressaltou, mas a interação não foi indesejável. Red franziu
as sobrancelhas.
— O que isso significa? Desafiar as divisas? E a que aldeões você se
em sabia aorefere?
desenvolvido — Na Fronteira, além da divisa de Wilderwood ao norte. Descendentes de
salvara, duas exploradores que tentaram ver o que tinha além dela, há muito tempo.
lquer motivoQuando as divisas da floresta se fecharam, eles ainda estavam lá e ficaram
o a amizade presos. Wilderwood não permite que saiam, mas isso não impede que
nia tornava o continuem procurando pontos fracos, achando que podem encontrar um lugar
que permitirá a saída. — Fife deu de ombros. — Não adianta. Se você está
Wilderwood? preso aqui, vai ficar preso aqui para sempre.
-sombra e os Red nunca tinha ouvido falar da Fronteira nem de nada além de
ria sobre osWilderwood, mas Fife não parecia ser a pessoa certa para quem pedir mais
nha, não porinformações. Não quando o ressentimento na voz dele era quase palpável.
com Neve, e De qualquer forma, estava ansiosa demais para dar vazão à própria
curiosidade.
migando e o — Ele só parece… — Ela parou de falar sem saber como descrever as
olheiras profundas de Eammon e a contratura constante do maxilar. —
Cansado.
eixado vaga, — Todos nós estamos cansados.
a falado nada Fife pegou uma maçã com a mão boa e os olhos de Red foram atraídos
incomodadooutra vez para a bandagem fina de raízes em torno do braço dele. A pele sob
ar — até que a manga formigava — a Segunda Filha mantivera sua Marca coberta desde
que aparecera, exceto quando a tinha mostrado para Eammon naquele
os no encostoprimeiro dia na biblioteca.
guém caia na — Você acha que ele levou alguns frascos com ele? — perguntou ela,
idar disso dopensando nos ferimentos nas mãos dele e em como ele parecia verter mais
seiva do que sangue. Em como o sangue era para evitar que a floresta o
. Red franziumodificasse. — Para o caso de ficar sem… e precisar de mais?
— Ele não vai. O meu sangue e o de Lyra são praticamente inúteis em
eões você secomparação ao dele.
— Então por que vocês dois continuam sangrando?
cendentes de — Termos do pacto. — Ele bateu na própria Marca. — Quando você faz
muito tempo. um pacto por uma vida, a sua parte não é concluída até gastar certa
lá e ficaramquantidade de sangue a serviço de Wilderwood. Parece que eu ainda não
impede que sangrei o suficiente.
trar um lugar De novo, ressentimento, transparecendo na voz dele como uma corrente
Se você estámortífera. Red pegou uma maçã, mais para ter algo a fazer com as mãos.
— E qual foi o seu pacto, Fife?
da além de O ar ficou carregado entre eles, e Red achou que ele não responderia. Mas
m pedir maisele olhou para ela com expressão defensiva e perguntou:
— Quanto você sabe sobre pactos com Wilderwood?
ão à própria — Não tanto quanto eu deveria, pelo jeito.
Fife levantou uma das sobrancelhas com ar de incredulidade e, depois,
descrever as encolheu os ombros.
maxilar. — — Todo pacto tem um preço. Os menores você paga com dentes e tufos de
cabelo, sabe? Mas um pacto para salvar uma vida é diferente. Wilderwood
marca você e pode te chamar. Ninguém sabia para quê. Eu fiz o meu pacto,
oram atraídos ganhei minha Marca e não sabia o que ela faria até a floresta me chamar de
e. A pele sobvolta, me puxando como um peixe em um anzol, para depois me sangrar
oberta desde como um também. — Ele atirou o talo da maçã na lareira. A madeira sibilou.
mon naquele— Lyra e eu fomos os únicos dois a fazer um pacto por uma vida. Que tolos
nós fomos.
erguntou ela, — Ou corajosos — sugeriu Red, baixinho.
a verter mais — Ela, talvez. Eu, não.
a floresta o Fife se recostou, em silêncio, pressionando a mão contra o corpo.
— Havia uma garota — começou ele depois de um momento, quase como
e inúteis em se estivesse falando consigo mesmo. — Ela sofreu um acidente. A perna foi
esmagada por um moinho. A ferida supurou, ela ardeu em febre. A morte era
inevitável. Então, fiz o pacto. Minha vida pela dela. — O cabelo ruivo roçou
ndo você faza tez sardenta enquanto ele se ajeitava na cadeira. — Ela se casou com outra
gastar certa pessoa, mas talvez tenha sido melhor assim. Wilderwood se fechou dois anos
eu ainda nãodepois, e nos chamou, Lyra e eu, antes disso, os tolos com a Marca do Pacto
com uma dívida com a floresta. Ela teria ficado viúva.
uma corrente Red revirava o talinho da maçã não comida.
— Foi isso que aconteceu com a sua mão também? Parte do pacto?
Ele contraiu o rosto, e a mão estremeceu como se talvez ele fosse tentar
onderia. Masescondê-la. Mas Fife suspirou, olhando para a confusão de cicatrizes. Linhas
lúgubres que marcavam dos nós dos dedos até o punho, a maioria
concentrada em torno das veias do pulso.
— Não. Isso aconteceu quando tentei cumprir a minha parte do pacto de
de e, depois, uma vez só… Derramar todo o sangue que a floresta quisesse. Não
funcionou, é claro. Tudo que consegui foi romper alguns tendões e ficar
tes e tufos de desmaiado por dois dias. — Ele encolheu os ombros. — Nunca vi Lyra tão
Wilderwood
o meu pacto, zangada. Nem Eammon tão quieto. Demorou um pouco para tudo voltar ao
me chamar de normal depois daquilo.
s me sangrar Aquela cicatriz grossa em volta do pulso dele… Red sentiu um aperto de
deira sibilou.pena no coração, mas não demonstrou por saber que era a última coisa que
da. Que tolos ele iria querer.
— Sinto muito, Fife.
— Não precisa. — Brusco, mas não zangado. — Se eu não tivesse feito o
pacto, não teria conhecido Lyra.
Red arrancou o talinho da maçã.
, quase como — Vocês dois…
. A perna foi — Não. — A resposta foi bem rápida. — Quer dizer… Não desse jeito.
. A morte era Não assim. É complicado. — Fife tamborilou no encosto da cadeira,
o ruivo roçou procurando palavras. — Lyra não é mulher para romance. Nunca foi. Mas é a
ou com outra pessoa mais importante da minha vida, já há alguns séculos agora. E isso
hou dois anosbasta.
arca do Pacto Red assentiu, sentindo que não deveria insistir mais. Ele já tinha falado
mais com ela nos últimos cinco minutos do que durante todo o tempo em que
ela estivera na Fortaleza.
— E por que Lyra fez um pacto?
e fosse tentar — Não é a minha história para que eu te conte. — Fife pegou outra maçã.
rizes. Linhas— É bem mais longa e mais nobre que a minha.
, a maioria Ficaram em silêncio — um pouco frio ainda, mas mais confortável do que
antes. Red levou a maçã à boca; antes de chegar a mordê-la, porém, algo…
do pacto deestremeceu no seu campo de visão. Um lampejo de sombras verdes, na forma
uisesse. Não de folhas e galhos.
ndões e ficar Aquilo a fez se lembrar daquela noite. Quando Wilderwood correu para
a vi Lyra tão ela, como se a palma da mão cortada fosse um portal. Quando viu a mão de
udo voltar ao Eammon pela primeira vez, a conexão entre eles foi forjada em galho e
sangue.
um aperto de Franziu as sobrancelhas e balançou a cabeça. Não tinha uma visão daquele
ma coisa quetipo havia uns quatro anos; não havia motivo para achar que teria outra. Do
outro lado da mesa, Fife não percebeu nada enquanto mastigava a maçã e
encarava o vazio, perdido em pensamentos.
vesse feito o Ela contraiu os lábios.
Quando o tremeluzir estranho voltou, não foi tão sutil quanto as sombras
da floresta. Foi como um raio caindo bem atrás dos olhos, encobrindo a torre
por completo para mostrar uma cena totalmente diferente. A hera no vaso
jeito.sobre a mesa estendeu os dedos verdes em direção a ela, e as maçãs murchas
da cadeira,ficaram roliças e mais vermelhas.
a foi. Mas é a Fife praguejou e se levantou depressa, mas Red não o ouviu. Red não via
agora. E issomais a torre nem nada lá dentro. Em vez disso, assim como na noite do seu
aniversário de dezesseis anos, viu mãos.
tinha falado Mãos cobertas de cicatrizes, segurando uma adaga, e um filete de sangue
empo em queverde correndo pelas palmas.
Além das mãos, uma criatura, um monstro. Com uma forma vaga de
homem, mas como se estivesse envolto em cordões de sombras, a forma
u outra maçã. curvada nos ângulos errados e coberta por uma tinta preta que parecia
escorrer dela. Olhos leitosos e boca que parecia gritar. Atrás dele, a névoa
rtável do queenvolvia uma árvore branca com fungos pretos subindo pelo tronco. A
orém, algo…criatura deu uma risada baixa em um tom discordante e desafinado, erguendo
des, na formaas garras para atacar.
Outro lampejo escuro de folhas e galhos. Os olhos dela voltaram a ver
d correu paraapenas a torre. Red abriu e fechou a boca, emitindo um som abafado
viu a mão deenquanto levava a mão à barriga, certa de que tinha sentido as entranhas
quentes e viscosas saindo dali.
em galho e Mas não era ela que estava enfrentando o monstro. Era Eammon. Eammon,
a visão dele ainda mais forte do que tinha sido antes.
visão daquele O enlace fazia com que fosse mais fácil controlar a magia — pelo menos
ria outra. Dona teoria, quando ela não ficava paralisada pelas lembranças. Parecia que a
va a maçã eunião lhes dera outras habilidades também, criando uma conexão tão forte
que ela conseguia ver através dos olhos dele.
Ver que havia algo horrivelmente errado.
o as sombras — Tudo bem? — Fife levantou uma das sobrancelhas.
brindo a torre — Eu… — Ela não sabia como descrever o que tinha visto. Era passado ou
hera no vasopresente? Futuro? Os parâmetros daquela nova união entre eles eram
açãs murchasdesconhecidos. — Eu vi Eammon… Eammon sendo ferido, ferido por
alguma coisa… alguma coisa sombria…
Red não via Fife arregalou os olhos e pareceu preocupado.
noite do seu — Você o viu?
— Já aconteceu antes. — Ela não sabia bem como explicar, então nem
ete de sanguetentou. Red se levantou rápido, fazendo a cadeira cair atrás dela. — Eu tenho
que ir.
rma vaga de — Isso está fora de cogitação. — Fife balançou a cabeça com tanta
ras, a forma veemência que o cabelo ficou em pé. — Eammon disse…
que parecia — Eu não posso simplesmente deixá-lo. — Ela ainda podia ver as formas
dele, a névoa sombrias da floresta no canto do campo de visão, galhos afiados e vinhas
lo tronco. Atrepadeiras. No peito, o poder girava e crescia, subindo e se expandido,
do, erguendofazendo a hera já enorme sobre a mesa estremecer. — Foi real, Fife,
exatamente como da última vez. Eu tenho que fazer alguma coisa.
ltaram a ver Ele franziu as sobrancelhas com uma emoção que ela não soube identificar.
som abafadoPor fim, Fife suspirou e se levantou.
as entranhas — Tudo bem. — Ele se virou para seguir para a escada. — Mas quando
Eammon perguntar quem teve essa brilhante ideia, não espere que eu vá
on. Eammon,salvar sua pele.
Bem, isso é
receberia um
o, mas Red
mo a mão se
abertura para
a cabeça de
do baixinho,
A dor transparecia na expressão de Eammon. A bainha rasgada da camisa
deixava antever os lanhos sangrentos e sujos de lama. Ele abriu a boca e a
fechou de novo, engolindo em seco. Red não sabia como quebrar o silêncio e
contraiu os lábios.
Atrás dele, o homem infectado pelas sombras resmungava coisas sem
sentido. Red olhou por sobre os ombros e viu que os olhos cegos e leitosos do
sujeito estavam pousados sobre eles.
— Solmir mandou dar um oi, Lobo — murmurou Bormain.
14
das Sombras.
o. — Logo à
— Não pense
— disse ele,
Estou falando
oda vez que
— Eu salvei
utra situação
— Vou fazer o possível. — Eammon passou cambaleando pelo portão e
tropeçou em uma pedra solta. Ele cambaleou de leve, apertando os ferimentos
na barriga. — Pelo amor de todos os Reis.
— Tem certeza de que não quer que eu…
— Absoluta.
A porta da Fortaleza se abriu, mostrando a silhueta esbelta de Lyra com
seu cabelo encaracolado.
— E quando é que vocês planejavam nos contar que se casaram?
Red parou no meio do pátio.
— Eu…
— Que ótimo — resmungou Eammon, cambaleando pela colina com a
camisa ensanguentada grudando na pele. — Eu vou matar Fife.
INTERLÚDIO
VALLEYDIANO IV
onvincente o
sol fraco. —
osto sobre as
s conseguir o
es, de provas
as, floresta e
sombra e a
ados. Por que
ra voltar para
adilha que os
vam histórias
para preencher as lacunas que não compreendiam, e a religião crescia em
torno delas como um fungo em uma árvore derrubada.
Quatrocentos anos era tempo suficiente para que se misturassem fatos e fé,
evidências concretas e mitos que acabaram se tornando verdades sagradas.
Mas aquele poder… a torção de um pilar concreto de crença, extraindo dele a
magia para provar algo… aquele poder pegava as duas forças opostas e as
fundia de uma maneira que deixava Neve aterrorizada e empolgada ao
mesmo tempo.
Estranho que tivesse encontrado a própria fé na blasfêmia.
Neve assentiu, baixando a cabeça.
— Parece que temos um plano, então. — Ela se virou e voltou por onde
tinha vindo, em direção ao palácio.
Atrás dela, o vento finalmente pegou a folha morta da cerca viva e a girou
no ar.
15
os contraídos
wood o tinha
deixado ainda maior, mas a diferença de altura ainda não tinha retrocedido
totalmente, o que parecia deixá-la nervosa.
— Sei que existe um armário com roupas de cama em algum lugar por
aqui — disse Lyra, por fim. — Podemos improvisar uma cama para você no
meu quarto…
— Nenhuma das duas vai dormir no chão. — Eammon ainda estava
olhando para o corredor e para toda a destruição provocada pela floresta. A
mão estremeceu, e ele cerrou os punhos.
— Somos quatro e só há três camas. Alguém vai ter que dormir no chão.
— E esse alguém sou eu. — Eammon não olhou para ninguém enquanto se
virava para a escadaria. — Red pode dormir na minha cama. Vou dormir no
corredor.
O tom dele não deixou espaço para discussões. Lyra contraiu os lábios,
alternando o olhar entre Fife e Eammon, como se estivesse havendo uma
discussão silenciosa entre eles.
— Bem, bons sonhos, então.
— Isso soou terrivelmente otimista — resmungou Fife, mas uma
cotovelada de Lyra o fez calar a boca.
Eammon já tinha subido metade da escada, sem olhar para trás nem uma
vez. Com um suspiro profundo, Red pisou no primeiro degrau. O musgo que
crescera e formara uma parede para impedi-la de passar tinha regredido.
Com expressão determinada, Red embolou o manto e seguiu o Lobo.
16
em um tom
uer coisa que
da de Red se
tra coisa era
ra que havia
m com quem
ondeu ela —
Ela se apoiou no cotovelo e, sob o brilho das brasas da lareira, olhou para
onde Eammon estava deitado. Com uma das mãos ele afastava o cabelo do
rosto, e a outra descansava sobre o peito. A luz só revelava os contornos:
ombros largos, nariz torto. Ele se virou e os olhares se encontraram.
— Eu também — disse ela.
As rugas de preocupação permanente do semblante de Eammon se
suavizaram. Sem dizer mais nada, ele assentiu.
Red se deitou e virou de lado. Depois de um tempo, ouviu Eammon fazer o
mesmo, e a respiração dele foi se aquietando até ficar completamente
tranquila.
Por fim, o mesmo aconteceu com ela.
INTERLÚDIO
VALLEYDIANO V
ecoando nasA batida na porta soou rápida e brusca, quase furtiva. Neve parou de andar de
ser unânime.um lado para o outro e franziu a testa. A bandeja com o jantar quase intocado
s até chegar a já tinha sido retirada, e ela avisara à criada que não precisaria de ajuda para se
despir.
rte apesar da Outra batida furtiva.
— Neve, abra a porta.
ouxa na mão. Raffe.
bem pelo que Ela o puxou para dentro, sentindo o rosto enrubescer. Se pegassem Arick e
Isla seguia ela sozinhos no quarto, haveria fofocas; mas ela e Raffe causariam um
e tinham sido verdadeiro escândalo.
as restrições — Você faz ideia do problema que enfrentaria por vir aqui sem uma
acompanhante?
empre tivesse — Provavelmente o mesmo que você vai enfrentar por aquele espetáculo
se mantendo que fez na confirmação. — Ele arqueou uma das sobrancelhas. — O que foi
rick pousou aaquilo?
interpretar a Neve se sentou diante da escrivaninha. Não tinha energia para fingir.
— Você sabe o que foi aquilo.
o olhar fixo à Não tudo, com certeza. Mas Raffe a conhecia o suficiente para entender
essão plácidaque tinha a ver com Red.
as candidatas Raffe praguejou, passando a mão pelo cabelo cortado bem curto.
— Você precisa aceitar, Neverah. Isso está acabando com você, e eu…
ncarou Neve Ele parou de falar e suspirou. Em um movimento fluido, Raffe se agachou
diante dela e pegou suas mãos. Neve deveria avisar que aquilo era
inapropriado, lembrá-lo do que poderiam dizer. Mas o toque dele era tão
cálido…
nos de Neve — Neve. — Ele disse o nome dela com firmeza, como se ela sempre
pudesse contar com ele. — Red se foi.
— Ela está viva — sussurrou Neve, olhando para as mãos dela
u de andar deentrelaçadas às dele.
uase intocado — Mesmo que esteja, ela está presa a Wilderwood e perdida para nós.
ajuda para se Tão perto da verdade, mito e fato em uma dança hábil.
Raffe apertou a mão da Primeira Filha.
— Você precisa parar de tentar se perder também.
Neve já tinha se perdido. Sua mente era uma floresta, cheia de sombras
profundas e vinhas rasteiras, um labirinto de arrependimento. E agora que o
ssem Arick eplano tinha caído por terra, por culpa dela… Nem percebeu que uma lágrima
ausariam umescorria pelo rosto até sentir o gosto salgado nos lábios.
Raffe a enxugou com o polegar, envolvendo o rosto dela com delicadeza.
qui sem uma — O que você gostaria que ela fizesse? Se ela tivesse nascido primeiro, se
você fosse a destinada para o Lobo, o que gostaria que ela fizesse?
le espetáculo — Se eu tivesse sido destinada para o Lobo — cochichou Neve com
foiconvicção —, eu teria lutado. Eu teria fugido. Se eu tivesse que me entregar
para uma floresta mágica, não seria por algo inútil.
— Mas ela não fugiu. — Raffe colocou uma mecha de cabelo atrás da
orelha de Neve. — Ela escolheu ir. E você tem que encontrar uma maneira de
para entenderconviver com isso.
Neve contraiu os lábios até ficarem brancos. Fechou os olhos e encostou a
testa na dele.
— Que lindo isso — disse uma voz vinda da porta.
e se agachou Neve abriu os olhos de imediato. Raffe soltou a mão dela e se levantou,
e aquilo eraarrumando o casaco.
dele era tão Com uma sobrancelha arqueada, Arick se encostou no batente da porta,
segurando uma garrafa de vinho. Entrou cambaleando e a ofereceu para
e ela sempre Raffe, tropeçando no tapete. Com um sorriso forçado, Raffe recusou, mas
lançou um olhar apreensivo para Neve.
mãos dela — Eu não queria interromper. — Arick se sentou em uma cadeira diante
de Neve. O cabelo era uma confusão de mechas pretas na testa, os olhos
estavam vermelhos e feridos. Ele levou a mão enfaixada ao peito.
— As coisas seguiram um rumo interessante esta tarde, não foi?
— Talvez você consiga fazê-la entender — disse Raffe, cruzando os
braços. — Ela precisa esquecer isso.
a de sombras — Talvez eu consiga. — Arick tomou um longo gole da bebida. — Afinal,
agora que oeu sou o prometido dela.
uma lágrima Raffe contraiu o maxilar.
— Ou talvez — continuou Arick, girando a garrafa com o que restava do
vinho — eu possa simplesmente apoiar qualquer decisão que Neve tomar.
o primeiro, se Raffe deu outro sorriso forçado.
— Mesmo se tais decisões forem perigosas?
u Neve com — E o que é a vida sem um pouco de perigo, Raffe?
me entregar — Você está bêbado.
— Acho que vocês dois se divertiriam muito mais se seguissem meu
belo atrás daexemplo.
ma maneira de — Eu me divertiria muito mais se vocês dois parassem de falar como se eu
não estivesse aqui — retrucou Neve, levando os dedos às têmporas, tentando
e encostou acontrolar uma dor de cabeça latejante.
Desconfiara que talvez Arick fosse aparecer para discutirem um plano
alternativo. Em vez disso, ele parecia mais preocupado em afogar as mágoas
se levantou,na bebida, fazendo com que a raiva crescesse no peito dela, o tipo de raiva
tranquilo que podia ser muito perigoso.
nte da porta, O tipo que a fazia pensar em veias sombrias e convocação de poder, e em
fereceu paracomo usá-lo seria fácil.
recusou, mas Raffe suspirou.
— Neve…
adeira diante — Me deixem em paz, por favor. — Ela respirou fundo, levantando o
sta, os olhosrosto. — Estou cansada.
Raffe abriu a boca como se talvez fosse dizer mais alguma coisa, mas
pousou o olhar em Arick e decidiu ficar quieto.
cruzando os Arick se levantou com pernas vacilantes, agarrou o ombro de Raffe e disse:
— Você ouviu a dama.
da. — Afinal, Raffe se empertigou e se virou para a porta. Arick o seguiu. Mas, quando
chegou à porta, olhou para ela novamente e fez um gesto com o queixo em
direção à garrafa que deixara na escrivaninha.
ue restava do — Talvez a ajude a dormir. — O curativo na mão se destacava nas
sombras. — Já me ajudou.
Neve franziu a testa.
— Você tem tido dificuldade para dormir?
Ele não sorriu, embora a boca tenha se contraído como se estivesse
tentando.
guissem meu — Algo assim. — Arick saiu cambaleando. — Não se preocupe, Neve —
murmurou ele, arrastando as palavras. — Nem tudo está perdido.
ar como se eu Ela franziu a testa de novo, observando enquanto ele cambaleava pelo
ras, tentandocorredor, deixando a porta entreaberta.
Neve pegou a garrafa pelo gargalo e a levou aos lábios. O vinho era forte o
m um plano suficiente para que sentisse a cabeça leve depois de apenas um gole, mas
ar as mágoas aquilo era preferível a sentir o peso do fracasso. Bebeu mais um pouco e
tipo de raiva limpou a boca com as costas da mão.
Em questão de minutos, esvaziou a garrafa, o que fez seus pensamentos
e poder, e emficarem confusos e conferiu um brilho quente e embotado aos acontecimentos
daquela tarde.
Pela porta entreaberta, viu um lampejo branco no corredor. Neve se
levantou, sentindo as pernas leves e revirando os olhos. Se alguma criada
levantando o estivesse em um encontro furtivo com algum cortesão, ela não queria ouvir.
Foi até a porta e, depois de algumas tentativas de pegar a maçaneta, espiou o
a coisa, mascorredor.
Uma túnica branca conhecida desapareceu em um canto, junto a um brilho
Raffe e disse:de cabelo vermelho. Kiri?
Quem quer que fosse, já tinha desaparecido quando ela chegou ao
Mas, quando corredor. Neve fechou a porta, tirou o vestido, desajeitada, e finalmente
o queixo emmergulhou no sono.
estacava nas
se estivesse
upe, Neve —
baleava pelo
ho era forte o
m gole, mas
um pouco e
pensamentos
ontecimentos
Pela porta entreaberta, viu um lampejo branco no corredor. Neve se
levantou, sentindo as pernas leves e revirando os olhos. Se alguma criada
estivesse em um encontro furtivo com algum cortesão, ela não queria ouvir.
Foi até a porta e, depois de algumas tentativas de pegar a maçaneta, espiou o
corredor.
Uma túnica branca conhecida desapareceu em um canto, junto a um brilho
de cabelo vermelho. Kiri?
Quem quer que fosse, já tinha desaparecido quando ela chegou ao
corredor. Neve fechou a porta, tirou o vestido, desajeitada, e finalmente
mergulhou no sono.
17
O armário estava com cheiro de poeira, o que não era incomum na Fortaleza,
com a floresta tão perto quanto a respiração seguinte. Mas, em geral, esse
cheiro se misturava com outros: de plantas e terra. Ali, o cheiro era só de
poeira, de algo fechado por tanto tempo que acabou perdendo todas as suas
características.
Red sacudiu as mãos para evitar que o pó suspenso caísse nos olhos.
— Parece que faz uns cem anos que alguém abriu este armário.
— Pode reclamar com Fife — retrucou Lyra. — Mas, em defesa dele, a
Fortaleza ficou muito mais difícil de limpar depois que a floresta começou a
invadir.
O cinto roubado de Eammon escorregou para o quadril de Red, que
resmungou enquanto o ajeitava na cintura.
— Qualquer coisa será uma melhora, acho.
Quando o corredor ruiu, Red perdera todas as roupas. Nas semanas desde
então, tinha se virado com a camisola que estava usando naquele dia e
camisas de Eammon com ajustes: elas chegavam quase aos joelhos dela e,
com o cinto que também pegara emprestado dele, davam para o gasto. Fife
mal tinha notado, mas, na primeira vez que Eammon a vira com o vestido
improvisado, ficou com a ponta das orelhas vermelha.
Dividir o quarto a única faceta do casamento de conveniência à qual
aderiram, mesmo que fosse apenas um detalhe técnico. Red dormia sozinha e
acordava sozinha. O único sinal de que Eammon tinha estado lá eram as
roupas de cama emboladas em um canto do cômodo e o hábito dele de deixar
as portas do guarda-roupa abertas. Red sempre as fechava.
Havia dias em que ela nem mesmo o via. Ele ficava na biblioteca ou saía
para Wilderwood. Não seguia os mesmos horários que ela — ninguém
seguia, na verdade — e, às vezes, ela acordava e o ninho de cobertores dele
ainda estava imaculado.
na Fortaleza, De vez em quando, havia um bilhete na escrivaninha bagunçada, escrito na
m geral, esseletra inclinada do Lobo, pedindo que ela fosse até a torre. A magia que
iro era só detreinava com a ajuda dele era pequena, nada tão arriscado quanto curar um
todas as suas ferimento; ela conseguiu fazer com que heras crescessem e alguns botões se
abrissem com sucesso. Não era tão fácil de direcionar quanto tinha sido
naquela noite em que o curara, mas conseguia controlá-la se mantivesse as
lembranças de lado e pensasse em Eammon, deixando que a união deles pelo
efesa dele, acasamento e com a floresta transformasse a magia em algo fácil de manejar.
ta começou aA proximidade física entre os dois parecia ajudar também, mas a ideia de
mencionar aquilo a ele fazia com que Red se sentisse vulnerável de um jeito
de Red, queque não queria analisar com muita atenção, então guardava a informação para
si.
Red estremeceu e sentiu a pele da canela se arrepiar. Além de indecentes,
manas desdeas camisas de Eammon não ajudavam muito a protegê-la do frio de
aquele dia e Wilderwood. Lyra deu a ideia de procurar roupas antigas pelo castelo, e as
elhos dela e,duas tinham conferido todos os armários que ainda existiam na Fortaleza até
o gasto. Fifeencontrá-las.
om o vestido — Eu bem que poderia emprestar alguma coisa para você — disse Lyra,
encostando-se na parede. Estava limpando a unha com uma adaga, tentando
ência à qualsoar casual. — Se você quiser.
mia sozinha e Desde que Red chegara à Fortaleza, Lyra tinha sido bem mais amigável do
o lá eram asque Fife, mas ainda assim mantinha certa distância. Nas últimas semanas,
ele de deixarporém, Lyra demonstrara querer aprofundar a amizade, contando para Red
sobre as criaturas de sombras que via na floresta e histórias da estranha
oteca ou saía existência dela, de Fife e Eammon em Wilderwood. A favorita de Red até
— ninguémaquele momento era a de quando Eammon tinha decidido aprender a cozinhar
bertores delee mandara Fife para a Fronteira com uma lista de ingredientes maior do que o
braço do rapaz. Aparentemente, Eammon quase ateara fogo na cozinha, e Fife
da, escrito na passara a ser o responsável pela comida a partir de então.
A magia que Aquilo fez com que Red se perguntasse sobre as outras Segundas Filhas e
nto curar umcomo fora a vida delas ali antes de Wilderwood matá-las e drená-las. Parecia
uns botões seum bom sinal o fato de Lyra tentar se aproximar, como se acreditasse que
to tinha sidoRed ainda fosse ficar lá por um tempo.
mantivesse as Red se inclinou para ver além da porta aberta do armário, arqueando
ão deles pelodeliberadamente uma das sobrancelhas enquanto olhava para a compleição de
l de manejar.Lyra, que era muito mais magra do que ela.
as a ideia de — Tentar usar suas roupas pode acabar em um resultado ainda mais
l de um jeitoindecente do que usar as de Eammon.
ormação para Lyra encolheu os ombros.
— Você que sabe.
e indecentes, Os vestidos estavam dobrados na prateleira mais baixa. Red passou as
do frio demãos com cuidado pela seda macia e pelo brocado suntuoso, temendo que
castelo, e as fossem se desfazer sob o toque. Havia vestidos de vários tamanhos e com
Fortaleza até estilos que só tinha visto em livros de história. O peso dos séculos que tinham
passado guardados os tornava mais pesados do que deveriam.
— disse Lyra, Lyra espiou pela porta do armário, que ficava atrás da escadaria, e ergueu
aga, tentando as sobrancelhas. Sob a luz pálida da janela do solário, parecia que uma
auréola emoldurava os cachos fechados e ruivos.
amigável do — Que tal?
mas semanas,
ndo para Red O vestido que Red segurava era de um tom profundo de verde, com
da estranhabordados de vinhas douradas ao longo das mangas e da bainha.
a de Red até — Este parece promissor.
er a cozinhar Fife e Eammon não estavam por perto, então Red se trocou atrás da
aior do que oescadaria. O vestido ficou um pouco apertado no peito e no quadril, mas
ozinha, e Fifeserviu. Ela baixou o braço e perguntou:
— Ficou bom?
ndas Filhas e — Ficou.
á-las. Parecia Havia um brilho estranho de desconforto no olhar de Lyra que nem mesmo
reditasse queo sorriso conseguiu disfarçar.
Red passou os dedos pelo bordado.
o, arqueando — Você sabe de quem era?
ompleição de — Merra, eu acho.
Merra. A Segunda Filha antes de Red. O tecido parecia estranho contra a
o ainda maispele.
Lyra levou a mão à alça que mantinha seu tor preso, depois verificou a
bolsinha na cintura para conferir se tinha um bom estoque de sangue.
— Vou sair para fazer a patrulha. Torça para que eu não encontre monstros
ed passou as — disse, e saiu para o corredor banhado pela luz crepuscular.
temendo que A saia verde do vestido de Merra escorregava pelas pernas nuas de Red; a
anhos e com manga pinicava os braços. Ela se virou para descer a escadaria e seguir para a
os que tinhambiblioteca. Já que passaria o dia sozinha, pretendia aproveitar para ler.
Deu uma olhada no corredor, uma verificação rápida que se tornara parte
aria, e ergueuda rotina. As sentinelas não tinham se movido desde aquela noite em que
cia que uma Wilderwood fora atrás dela. Nos dias que praticavam magia, Eammon sempre
fazia um exame minucioso das mãos de Red para ver se havia alguma ferida
antes de permitir que ela tocasse em qualquer coisa. Uma vez, tinha chegado
ao ponto de obrigá-la a colocar um curativo em um corte feito por um papel.
verde, com Mesmo assim, Red sempre dava uma olhada nos arredores também, só para
prevenir.
Com cuidado, passou o olhar pela confusão de raízes e vinhas. Mesmo
cou atrás da assim, levou um instante para perceber o que havia de errado: o buraco no
quadril, maspatamar assombrado com o qual já tinha se acostumado.
As sentinelas tinham desaparecido.
Sentiu o sangue gelar nas veias, procurando nas sombras, certa de que as
árvores brancas tinham adentrado mais na Fortaleza, talvez se preparando
e nem mesmopara atacá-la de novo. Mas não havia nada se mexendo além da poeira.
Devagar, Red foi até a exata linha que indicava onde Eammon tinha
cortado a floresta. Folhas soltas e raízes magras se espalhavam pelo chão,
quietas e silenciosas.
Havia uma mancha de sangue em uma das folhas mortas. Escarlate
anho contra aentremeado de verde. Depois de vê-la, ficou mais fácil notar outras manchas
de sangue: no musgo, nos galhos.
s verificou a Fife verificava as sentinelas todos os dias, estabilizando-as com o próprio
sangue o máximo que podia. Até onde Red sabia, estavam livres de fungos-
ntre monstrosde-sombra, bem o suficiente até Eammon recuperar as forças para poder
movê-las. Mas se ele tinha sentido a necessidade de sangrar por elas agora
uas de Red; a todas de uma vez…
seguir para a Então, estava piorando. Ainda estava piorando, apesar de ela usar a magia
da floresta, apesar do enlace deles. Ainda estava tirando partes de Eammon,
tornara partefosse através de uma veia ou de uma mudança no seu corpo.
noite em que Red mordeu o lábio e, tomando uma decisão rápida, dirigiu-se à porta.
mmon sempre No pátio, a neblina cobria o chão, quebrada apenas por uma forma fora de
lguma ferida lugar na paisagem antes de escondê-la de novo. Era algo alto e reto além da
inha chegadotorre, perto do portão.
por um papel. Outra sentinela.
bém, só para E, ao lado dela, de joelhos, Eammon. A ponta afiada da adaga na mão dele
brilhava sob a penumbra da luz lavanda.
nhas. Mesmo — Espere! — Red levantou a saia do vestido de Merra e correu descalça
o buraco nopelo musgo, as batidas do coração um lembrete do sangue no chão. —
Eammon, espere!
Ele ergueu a cabeça, empertigando os ombros como se ela o tivesse
rta de que asflagrado fazendo alguma coisa proibida. Manteve a lâmina apontada para a
e preparandopalma da própria mão antes de afastá-la. Quando ficou de pé, foi em um
movimento lento, como se sentisse que os ossos eram pesados demais para os
ammon tinha músculos levantarem.
m pelo chão, Red parou quando o alcançou, ofegante. A jovem sentinela estava do lado
de fora do portão, tão alta quanto Eammon, com nodos indicando o começo
as. Escarlatede galhos na copa pálida.
tras manchas — Eu vi o corredor — disse ela, tentando acalmar a respiração. — Por que
você tirou todas de uma vez?
om o próprio — Foi preciso. — Eammon fechou os dedos, como se quisesse esconder os
es de fungos- cortes na palma da mão dos quais ainda escorria seiva. — Fife as verificou
s para poderhoje cedo. Fungos-de-sombra tinham tomado até quase metade dos troncos.
agora, Ele passou a mão cansada pelo rosto, deixando uma mancha de escarlate e
verde na testa, antes de continuar:
usar a magia — Se eu não as levasse agora para o lugar delas, não conseguiria mais.
de Eammon, Teriam apodrecido onde estavam. E eu não posso… Wilderwood não vai
conseguir lidar com tantos pontos fracos.
A sentinela infectada por sombras parecia delgada na penumbra anormal,
orma fora de erguendo-se na direção do céu sem estrelas como se pudesse escapar do solo.
reto além da — Eu não entendo. Estou usando a magia. Nós nos casamos. — Ela
fechou os dedos, como se fosse socar o tronco branco. — Por que isso não é
suficiente?
na mão dele Os olhos de Eammon percorreram o rosto dela, tomados por um brilho de
tristeza, mas ele não respondeu.
rreu descalça Red cerrou os dentes. Deu um passo na direção dele, tentando cobrir a
no chão. —distância entre os dois, e estendeu a mão para a adaga que ele segurava.
Eammon a afastou.
ela o tivesse — Não.
ontada para a — O que mais posso fazer? O meu sangue foi a única coisa que fez alguma
, foi em umdiferença até agora!
emais para os Os olhos dele cintilaram, e o Lobo segurou a adaga com mais força.
— Não — repetiu ele, como se a palavra fosse um escudo.
stava do lado — Tem que haver mais alguma coisa que a gente possa fazer. Alguma
do o começo coisa que não envolva sangue. — Ela mordeu o lábio, e seus olhos
encontraram os dele. — E quanto à magia?
o. — Por que Eammon desviou o olhar, quase contraindo o rosto. Curvou os ombros
como se de repente estivesse superciente dos três centímetros extras que não
e esconder oshaviam retrocedido.
as verificou Red percebeu que as mudanças o assustavam. Que Eammon parecia se
envergonhar daquilo. Só não sabia se era vergonha das modificações que
de escarlate eWilderwood provocava ou do medo que ele sentia em relação a elas.
— Talvez as mudanças não continuem por muito tempo — sussurrou Red.
eguiria mais. — Elas continuaram da última vez.
wood não vai Pelo amor de todos os Reis, como a voz dele soava cansada.
— Você estava fazendo isso sozinho — argumentou ela. — Mas não vai
bra anormal, fazer mais.
apar do solo. A resposta dela pareceu assustá-lo e o fez engolir em seco. Os olhos cor de
. — Elaâmbar passaram da sentinela para ela, como se estivesse medindo a distância
ue isso não é entre a garota e a árvore.
um brilho de — Não gosto de você tão perto delas, Red — disse ele em voz baixa. —
Mesmo quando não há nenhum corte para elas tentarem entrar, nenhum
ndo cobrir asangue. Eu sei o que elas querem fazer.
— E eu sei que você não vai permitir. — Ela cruzou os braços, passando
os dedos pelo bordado da manga. — Nós nos casamos, e isso fez a magia vir
com mais facilidade, mas fazer ervas crescerem em vasos claramente não está
ue fez algumaajudando em nada. Então, vamos tentar usá-la agora.
Cada linha do rosto de Eammon demonstrou que ele não gostava nada da
ideia, os lábios contraídos e as sobrancelhas baixas.
— Eu confio em você. — Ela tentou dizer de forma leve, mas as palavras
azer. Alguma não poderiam ter soado mais impertinentes. — Você deveria fazer o mesmo.
seus olhos Silêncio. Então, Eammon suspirou e passou a mão no rosto outra vez.
Quando voltou a olhar para ela, finalmente notou o vestido e arregalou os
u os ombros olhos.
xtras que não — Onde você pegou isto?
— Lyra e eu encontramos. Eu já estava farta de usar suas roupas.
on parecia se Ele enrubesceu.
ficações que — Justo.
Rachaduras finas de fungos-de-sombra subiam pelo tronco da jovem
sentinela, avançando mais do que instantes antes. Red olhou para aquilo
como se fosse um exército chegando para atacá-los.
— Me diga o que fazer.
Mas não vai Depois de um instante, Eammon enfim guardou a adaga.
— Me deixe ver suas mãos.
olhos cor de Ela as estendeu com a palma virada para cima. Eammon as pegou, as
do a distânciacicatrizes dele roçando a pele macia dela, analisando-as com atenção para
detectar qualquer traço de ferimento. Satisfeito, ele as soltou e o ar frio
substituiu a calidez do toque dele.
voz baixa. — — A localização de cada sentinela é deliberada.
trar, nenhum — Como tijolos em uma muralha.
— Exatamente. Como tijolos em uma muralha. — Eammon colocou a mão
ços, passandono tronco branco. — Para impedir que a Terra das Sombras consiga passar.
z a magia virPara manter a muralha forte, temos que colocar as sentinelas de volta onde
ente não estádeveriam estar. Quando elas se curam, retornam para o lugar.
— E como nós as curamos?
tava nada da — Direcionando a magia para afastar o fungo.
— Por meio do toque, imagino. — Ela não entendeu por que a voz saiu tão
s as palavras baixa e rouca.
Eammon contraiu os ombros, e a resposta dele soou irritada.
to outra vez. — Exatamente.
arregalou os As cicatrizes antigas na mão dele eram brancas, combinando com o tronco
da sentinela sob seu toque. Por instinto, Red cobriu a mão dele com a dela.
— Na árvore, Red — sussurrou Eammon.
Ela afastou a mão, sentindo o rosto afogueado. Depois de uma breve
hesitação, tocou a sentinela de leve.
Assim que a pele entrou em contato com o tronco, Red sentiu uma corrente
o da jovempassar por todos os membros e subir pela espinha. O poder se desdobrou
para aquilo dentro dela, florescendo e fluindo por todo o corpo até chegar à palma das
mãos, a agulha de uma bússola que tinha a sentinela como norte. Por um
instante, a pele parecia uma barreira indesejável que a impedia de se unir a
algo do qual estava separada havia muito tempo. Red sibilou entredentes.
— O que foi? — A voz de Eammon vacilou com ansiedade, a postura
as pegou, ascontraída de tensão.
atenção para — É uma sensação diferente da que eu esperava. — Ela tentou sorrir. — E
u e o ar frio agora?
Ele pareceu prestes a cancelar tudo no espaço entre a pergunta dela e a
resposta dele. Contraiu o maxilar, o olhar se alternando entre a mão dela e o
olocou a mão rosto. Red apertou os lábios.
nsiga passar. Por fim, ele suspirou.
de volta onde — Se as sentinelas são uma muralha de tijolos, nós somos o cimento que
os une. — Eammon olhou para a árvore branca. — Nossa magia é um pedaço
de Wilderwood. Assim como a sentinela. Para curá-la, transferimos nosso
poder para ela, canalizando-o de volta à fonte. Wilderwood vai ficar mais
a voz saiu tão forte e nos fortalecer de volta, como a chuva que alimenta um rio que evapora
e vira chuva de novo.
— Um ciclo. — Havia uma sincronicidade naquilo. Ciclos de Lobos.
Ciclos de Segundas Filhas. Ciclos de pesar.
com o tronco — Exatamente — disse Eammon com voz suave. — Só precisa deixar a
magia fluir através de você. Liberá-la.
A sentinela vibrava sob o toque dela. Havia algo atrás da casca da árvore,
e uma breve uma energia atraída por ela, empurrando. Sentiu um frio de antecipação na
barriga.
uma corrente A expressão dela talvez tenha mostrado algo, porque Eammon meneou a
se desdobrou cabeça e disse:
à palma das — Você não…
orte. Por um — Pode deixar, eu consigo.
de se unir a Red se concentrou no fluxo que corria por suas veias, no calor da casca da
árvore sob a palma da mão. Controlou a respiração, diminuindo o ritmo,
de, a posturaenquanto contava as batidas do metrônomo do próprio coração até que
estivessem em sincronia. Pensou em Eammon ao lado dela, precisando de
u sorrir. — E ajuda, e acalmou o caótico oceano do poder dela até as águas ficarem
plácidas enquanto fechava os olhos.
unta dela e a Um verde profundo tomou a mente de Red, mudando de tonalidade atrás
mão dela e o das pálpebras fechadas, pintando todos os pensamentos em tons de verde-
marinho a esmeralda, iluminado no centro por um brilho suave dourado.
Quanto mais se concentrava, mais claro ficava. O brilho era a jovem muda,
cimento que uma forma brilhante em um mar de formas brilhantes. Uma rede dourada de
é um pedaçoárvores altas e retas com raízes profundas, luzes fortes lançando sombras
erimos nossosuficientes para segurar o mundo inteiro.
ai ficar mais Algumas sentinelas brilhavam menos; as mais fracas eram como a chama
o que evaporadébil de uma vela, enquanto outras eram como as labaredas fortes de uma
fogueira. As raízes formavam um conjunto complexo de linhas douradas
os de Lobos.irregulares. Mas todas levavam a uma forma familiar, a rede vasta se unindo
em uma silhueta que ela conhecia muito bem.
cisa deixar a Eammon. Tão parte de Wilderwood como qualquer outra sentinela. As
raízes passando por ele como se ele próprio fosse o solo da floresta. O
ca da árvore,homem entrelaçado intrinsecamente com a floresta, partes iguais de galhos e
ntecipação naossos. Metade dele integrada a Wilderwood, mas não drenada por ela, não
como tinha acontecido com os pais e as outras Segundas Filhas. Mantendo
on meneou a tudo com uma força que ela nem conseguia imaginar, com uma determinação
que a maravilhava e assustava ao mesmo tempo.
Ele não era humano. Ela sabia disso, tinha visto a prova várias e várias
vezes. Eammon era diferente, um ser tão misterioso quanto a floresta que
r da casca dahabitava. A floresta que habitava nele.
ndo o ritmo, Aquela era a primeira vez que o lembrete provocava uma dor no coração
ação até que dela.
recisando de — Red? — A voz dele soou hesitante.
guas ficarem Ela pressionou os dedos contra a tronco como se o Lobo fosse capaz de
sentir, uma pressão tranquilizadora.
nalidade atrás — Eu estou bem. — Uma pausa longa enquanto ela o analisava em sua
ns de verde- mente, a semente da qual toda Wilderwood florescia. — É lindo.
Silêncio. A floresta parecia prender a respiração.
jovem muda, — Siga minhas orientações — disse Eammon por fim.
e dourada de Então, a silhueta dourada nos pensamentos dela brilhou ainda mais. Uma
ndo sombrasluz líquida escorria dele junto à rede brilhante à qual ele estava preso, mas
seguindo diretamente para a sentinela.
omo a chama Com gentileza, como uma flor se abrindo para o sol, Red deixou o poder
ortes de uma crescer, fluindo pelo seu âmago até chegar à palma das mãos, com calma e
has douradaspropósito por causa da proximidade com Eammon. A luz que emanava não
sta se unindoera tão forte como a dele, mas tão bem-vinda quanto.
O brilho da sentinela diante deles começou a aumentar aos poucos, a
sentinela. Aschama da vela ganhando força enquanto a luz deles afogava a sombra.
a floresta. O Red se manteve firme, pressionando as mãos contra a árvore branca, e
s de galhos e deixou a magia circular, a chuva alimentando o rio. À medida que a imagem
por ela, nãoturva da sentinela começava a brilhar em sua mente, sentiu um poder dourado
as. Mantendo fluindo para dentro dela também. Assustou-se no início, o medo se
determinaçãoespalhando pelas escápulas. Naquele momento, porém, Wilderwood não
tinha intenção de conquistar. Era apenas parte do ciclo, um encaixe nas
árias e váriasengrenagens. O filamento fino e cintilante de magia que adentrava o corpo
floresta quedela brilhava, circundando languidamente seus ossos.
A sensação… era boa. Ela se sentiu bem, e foi a primeira vez em que
or no coraçãorealmente acreditou naquilo, apesar da insistência de Eammon e Fife de que
as sentinelas não eram más apesar de sedentas por Red. Parecia um conceito
simples demais para uma coisa tão complexa, mas Red e Wilderwood
sse capaz de estavam enfim de acordo, ao menos no nível mais básico. Queriam as
mesmas coisas. Wilderwood estava empenhada na própria sobrevivência, na
própria necessidade.
isava em sua Red lembrou-se de estar correndo pela floresta no seu aniversário, o forte
desejo de viver dentro dela. Era exatamente o que sentia naquela sentinela e
em Wilderwood, a floresta à qual estava ligada. Uma determinação profunda
e impulsiva de viver.
a mais. Uma Quando a sentinela se foi e a palma da sua mão tocou na de Eammon em
a preso, masvez de no tronco, ela não fazia ideia de quanto tempo tinha se passado.
Abriu os olhos, deixando a rede brilhante de Wilderwood para trás para
ixou o poder olhar para o homem diante dela. Eammon a observava sob as sobrancelhas
com calma ebaixas, os lábios carnudos ligeiramente entreabertos, o cabelo preto caindo na
emanava nãotesta. A parte branca do olho ainda tinha traços de esmeralda; sua sombra no
chão, maior do que antes, exibia extremidades emplumadas como folhas.
os poucos, aTinha arregaçado as mangas, mostrando os antebraços revestidos com cascas
de árvore.
ore branca, e Eammon não tentou esconder as mudanças que a magia provocava. Ficou
ue a imagem parado ali, permitindo que ela visse.
oder dourado Os pulsos de Red estavam pressionados contra os dele, a rede das veias
o medo se dela contornada em verde. Sentiu o impulso de cobri-las, mas manteve as
derwood nãomãos onde estavam. Se ele não estava escondendo as modificações, ela
encaixe nas também não esconderia. Tinham acabado de curar Wilderwood, mesmo que
rava o corpo apenas uma pequena parte dela. Fizeram aquilo juntos e sem derramar
sangue, o que acabou por forjar uma honestidade entre eles.
vez em que Lentamente, o verde dos olhos dele retrocedeu. A casca de árvore
e Fife de que desapareceu, revelando apenas a pele cicatrizada; a altura diminuiu, as
um conceito extremidades da sombra dele ficaram mais sólidas. Nenhuma mudança
Wilderwoodpermanente, pelo menos daquela vez, embora aqueles centímetros adicionais
Queriam aspermanecessem. Apenas mais uma cicatriz, outra marca deixada pela floresta.
evivência, na Eammon ficou olhando para ela por mais um tempo, as linhas sérias do
rosto inescrutáveis enquanto as veias que subiam pelos braços dela
sário, o forte desbotavam e voltavam ao tom de azul. Então, Eammon afastou a mão da
la sentinela edela e se virou.
ção profunda Red pressionou a palma contra as coxas, banindo o calor do toque dele que
ainda sentia na pele. Aos seus pés, onde a sentinela estivera, havia apenas
Eammon emmusgo intacto.
— Parece que funcionou.
ara trás para Eammon confirmou com um resmungo baixo. Red acompanhou o olhar
sobrancelhasdele: um pouco além do portão, entre uma fileira de outras árvores, a jovem
eto caindo nasentinela crescia.
ua sombra no Só que não era mais uma muda jovem, e sim uma árvore totalmente
como folhas. crescida e com tronco forte. As folhas brotavam dos galhos brancos
s com cascas agrupados na copa vibrante e verdejante.
— Parece que sim.
ocava. Ficou A expressão dele parecia ser de surpresa, transformando as linhas duras do
semblante iluminado pela floresta e pela névoa.
ede das veias Escondida sob a manga do vestido, Red sentiu a Marca do Pacto repuxar.
s manteve asApertou-a em um movimento rápido enquanto se obrigava a desviar o olhar
ficações, eladele e voltá-lo para a sentinela.
, mesmo que Eammon sibilou. Red tinha visto a floresta entrelaçada a ele, enraizada
em derramar entre os ossos, o fracasso da floresta o ferindo.
— Você não vai mais sangrar por ela — declarou Red com veemência,
a de árvore mas em tom suave. — Essa maldita floresta não vai tirar mais pedaços de
diminuiu, as você enquanto eu estiver aqui.
ma mudança Havia negação nos olhos dele; quando olhou para ela, porém, um brilho
os adicionaistênue e indecifrável a substituiu.
pela floresta. A palma da mão de Red ainda vibrava; ela a balançou para tentar espantar
has sérias do a sensação.
braços dela — Tem outras? Nós podemos…
ou a mão da — Não vamos fazer mais nada até você calçar um par de sapatos. —
Eammon lançou um olhar expressivo para os pés descalços dela.
oque dele que Ela afundou os dedos no musgo.
havia apenas — Wilderwood comeu minhas botas, lembra? — Andar descalça tinha
funcionado até aquele momento. Se fosse apenas correr pelo pátio para
chegar à torre ou permanecer na Fortaleza, até que dava para o gasto. Além
nhou o olhar disso, tinha roubado algumas meias de Eammon para quando precisasse. —
ores, a jovemNenhuma das Segundas Filhas deixou sapatos extras.
Eammon fez um movimento com o braço e, por um instante, Red achou
e totalmenteque ele fosse pegá-la no colo para que não pisasse no chão frio.
hos brancos Mas o momento passou, e ele se virou para a torre.
— Eu procurei nas despensas e encontrei um par antigo que pode ficar para
você. Eu os deixei perto da lareira. — Ele olhou por sobre o ombro antes de
nhas duras dovoltar o olhar para a torre. — Não vão servir, mas isso não a impediu de usar
minha camisa.
acto repuxar. — Estava frio demais para andar pelada por aí.
sviar o olhar Ele não se virou, mas abriu a mão ao lado do corpo e fez um som abafado.
Atrás dele, Red sorriu.
le, enraizada Ela percebeu um ligeiro tremor nos ombros de Eammon quando abriram a
porta da torre, embora os passos subindo a escada continuassem firmes. Ele
m veemência,nunca conseguia esconder dela a exaustão que realmente sentia, e, depois de
s pedaços de ver como Wilderwood estava profundamente entranhada nele, Red entendia o
motivo.
m, um brilho Até mesmo ali, Eammon tentava esconder. Como se fosse algo
vergonhoso, algo que estava determinado a suportar sozinho. Aquilo fez Red
ntar espantar desejar incutir magia em todas as árvores daquela maldita floresta, para
fortalecê-las e puni-las em igual medida.
e sapatos. — — Tenho uma coisa para te mostrar mesmo — disse o Lobo. A lareira
brilhava nas constelações prateadas do teto quando ele olhou por sobre o
ombro. — Duas coisas, na verdade.
escalça tinha Ele foi até a única mesa, puxando o cabelo para trás em um gesto de
o pátio paranervosismo.
gasto. Além — Não estão novinhos em folha, mas pelo menos já dá para ler — disse
recisasse. — ele.
Red se aproximou devagar. Havia livros espalhados pela mesa, ao lado de
e, Red achou uma bolsa de couro que ela conhecia bem.
Os livros dela.
Ela deu uma risadinha ofegante, passando o dedo pelas lombadas
ode ficar paraempoeiradas. Havia marcas de lama nas capas e manchas verdes onde alguma
mbro antes devegetação havia crescido e escurecido a tinta.
pediu de usar — Achei que os tivesse perdido quando o corredor ruiu.
— Quase. Deu muito trabalho tirá-los do meio do musgo.
Ela ficou com os olhos marejados.
som abafado. — Obrigada.
O livro de poemas da mãe estava no topo da pilha. A terra havia tirado
do abriram atodo o dourado da capa. Red o pegou e o abraçou junto ao peito.
m firmes. Ele — Obrigada, Eammon — repetiu ela.
e, depois de — De nada.
ed entendia o Ele se remexeu como se não soubesse bem como se comportar. Abriu e
fechou as mãos ao lado do corpo.
fosse algo Depois de um momento, Eammon se afastou e apontou para a lareira.
quilo fez Red — As botas estão ali — disse ele, sem necessidade. — E tem mais uma
loresta, para coisa.
Red enfiou o pé na bota; eram grandes demais, mas quentinhas. Foi até
onde Eammon estava, perto das janelas com molduras com vinhas
bo. A lareiraentalhadas. Havia algo apoiado na parede, envolto em um tecido cinzento.
por sobre o — Talvez não funcione mais. — Ele lançou um olhar sério para ela, todo o
nervosismo de antes cuidadosamente controlado. — Mas não achei certo
um gesto deesconder de você.
— Parece sinistro.
a ler — disse Eammon afastou o tecido. Abaixo havia um espelho ou algo do tipo —
mas, em vez de refletir a imagem deles, a superfície tinha um tom fosco de
a, ao lado de cinza. A cor no meio variava, como se Red estivesse olhando em um jarro
cheio de fumaça.
— O que é?
as lombadas — Minha mãe fez isto com a magia de Wilderwood. — Eammon olhou
onde algumapara ela com olhos inescrutáveis. — Para ver a irmã dela, Tiernan.
A compreensão atingiu Red como uma onda. Ela sentiu as mãos dormentes
ao lado do corpo. Alternou o olhar entre o espelho e Eammon, a cautela
suplantada pela saudade. Tinha se acostumado a afastar os pensamentos de
Neve nas últimas semanas na floresta, mas só a menção da palavra irmã foi o
suficiente para fazer seu coração parecer querer saltar do peito.
havia tirado — Ah.
— É antigo — avisou Eammon. — Há séculos que ninguém o usa e, do
jeito que Wilderwood está agora, talvez seja completamente inútil. Mas eu…
— Ele parou de falar e respirou fundo. — Você disse que, se pudesse fazer
rtar. Abriu e qualquer coisa, diria para sua irmã que está em segurança. Você não vai
conseguir falar com ela através do espelho, mas, pelo menos, vai conseguir
vê-la.
em mais uma Gratidão era um termo que não chegava nem perto de descrever a leveza
que a Segunda Filha sentiu no peito, como se um peso enorme que estava
nhas. Foi atécarregando de repente tivesse sido retirado dali.
com vinhas
— Eammon… — Ela fez uma pausa, engolindo em seco. — Eammon, isto
ra ela, todo oé…
o achei certo — Sinto muito que seja tudo que tenho para dar para você.
— É o suficiente. — A voz dela saiu de forma imediata e instintiva. Na luz
da lareira, os olhos dele pareciam mel.
o do tipo — Red deu um passo para a frente, estendendo a mão para o espelho, mas
tom fosco desem tocá-lo.
em um jarro — Como funciona?
— Sacrifício. — Eammon deu uma risada seca. — É claro.
— Sangue?
mmon olhou — Não. — A resposta foi rápida e afiada. — Quer dizer, funcionaria, mas
talvez devêssemos dar um descanso para o sangue.
os dormentes A trança grossa de Red caia sobre o ombro; ela arrancou um fio pela raiz e
on, a cautelaergueu a mão.
nsamentos de — Que tal isto?
foi o Eammon assentiu, com os braços cruzados e o maxilar contraído.
— Vou ficar bem aqui — disse ele com voz preocupada de novo. — Se
alguma coisa parecer remotamente estranha, puxo você de volta.
m o usa e, do Red fez um som distraído de concordância, concentrando toda a atenção na
til. Mas eu… superfície fosca do espelho. Com cuidado, enrolou o longo fio de cabelo nas
pudesse fazerespirais da moldura, deu um passo para trás e olhou para a escuridão.
Você não vai Esperando.
vai conseguir Cinco batidas do coração. Seis. Nada. Sentiu o gosto amargo da decepção
no fundo da garganta. Estava preste a desistir quando viu um brilho nas
ever a levezaprofundezas do espelho.
e que estava A luz dele a arrebatou, fazendo-a girar, uma mancha prateada sobre o
cinza. Quanto mais ela olhava, maior e mais brilhante ficava, a fumaça
Eammon, isto ondulando pelo brilho, crescendo e crescendo até ocupar totalmente a visão
dela.
Houve uma explosão silenciosa de luz, como uma estrela explodindo, a
ntiva. Na luz fumaça serpenteando pelo cosmos escuro.
E quando a fumaça desapareceu, lá estava Neve.
espelho, mas
cionaria, mas
io pela raiz e
novo. — Se
a atenção na
de cabelo nas
a escuridão.
da decepção
m brilho nas
eada sobre o
va, a fumaça
ondulando pelo brilho, crescendo e crescendo até ocupar totalmente a visão
dela.
Houve uma explosão silenciosa de luz, como uma estrela explodindo, a
fumaça serpenteando pelo cosmos escuro.
E quando a fumaça desapareceu, lá estava Neve.
18
Era como olhar através de uma janela. Não, não era bem assim… era mais
como estar presa em uma janela, prensada entre duas camadas de vidro.
Tentou se mexer, mas não conseguia; não conseguia sequer sentir o corpo. A
consciência parecia rala, difusa e refratada em vários feixes.
Neve estava no Santuário, atrás da estátua de Gaya. A imagem estava
borrada, mas Red conseguiu perceber que a irmã estava mais magra que
antes, com o rosto encovado. Um curativo envolvia a mão esquerda.
Red tentou chamá-la, esquecendo-se de que de nada adiantaria, de que o
espelho só tinha uma via e era só para ver. À distância, sentiu as próprias
cordas vocais em ação, mas não ouviu som algum, nada.
Mesmo assim, o grito pareceu despertar algo, como se sua vontade tivesse
fortalecido a magia do espelho. Aos poucos, a imagem de Neve foi ficando
mais nítida e sólida.
— Estamos fazendo isso há um mês e ela ainda não voltou. — A irmã
virou de lado, sobrancelhas baixas, estreitando os olhos. Mordeu o lábio, um
gesto de nervosismo que as gêmeas compartilhavam. — Por que ela ainda
não fugiu de lá?
Red não sabia com quem Neve estava falando; as imagens eram borradas e
sombreadas. O espelho tinha sido construído para mostrar apenas a Primeira
Filha, nada além disso.
— Vai levar tempo. — A voz chegou abafada, quase indistinguível. — É
isso que acontece com os grandes feitos. Você precisa ter paciência, Neverah.
— Será que não existe uma forma de acelerar o processo?
Neve cruzou os braços. Quando levantou a cabeça, a luz do fogo iluminou
o diadema prateado que enfeitava o cabelo. Mais ornamentado que o que
costumava usar. Familiar de um jeito que incomodou Red, como se aquilo
parecesse estranho de alguma forma.
— Talvez.
m… era mais — Me diga o que precisamos fazer, Kiri. — Neve não tinha problema
das de vidro.algum em usar um tom de comando, mas havia uma nova força ali. Era a voz
ir o corpo. A de alguém que sabia, sem sombra de dúvida, que seria obedecida. — Me diga
do que precisamos, e eu vou me certificar de que aconteça.
magem estava A pausa que se seguiu foi longa e pareceu desconfortável. A linha da
s magra que mandíbula de Neve estremeceu. Ela estendeu a mão e tocou o diadema que
enfeitava o cabelo, ajustando-o na testa.
ria, de que o — Suponho que possa fazer isso sem restrições agora, não é? — Havia
u as próprias algo maligno na voz abafada. Algo que provocou um calafrio na coluna de
Red. — Agora que Isla morreu. Agora que você é a Rainha.
ntade tivesse Rainha.
e foi ficando Mesmo naquele estranho estado de consciência suspensa, Red sentiu que
ficava sem ar, sentiu o meio grito rouco subir pela garganta.
u. — A irmã No espelho, Neve contraiu o rosto de leve.
u o lábio, um Red sentiu as mãos de Eammon nos ombros dela; soube que ele a tinha
que ela aindaouvido, sentido que havia alguma coisa errada. O toque dele a arrancou da
visão, enquanto fumaça e uma luz prateada apagavam a imagem de Neve,
m borradas emas não antes que Red ouvisse uma última frase daquela voz abafada.
as a Primeira — Você pode oferecer mais sangue.
E depois… O chão duro contra os joelhos, o cheiro de café e papel de
nguível. — ÉEammon pairando sobre ela.
cia, Neverah.
— Red? — A voz era calma, mas tinha um ligeiro tom de preocupação. —
ogo iluminou Red, o que houve?
o que o que — Minha mãe morreu — murmurou ela, com olhos arregalados. — Minha
mo se aquilomãe morreu.
ver Eammon — Caso precise de algo mais forte que chá. — Um sorriso discreto se
a curta. — A insinuou no canto dos lábios. — Lyra me disse que não é meduciano. Valdrek
amaldiçoada faz o próprio vinho na Fronteira, e eu tenho quase certeza de que o dilui com
água antes de vender para mim.
Ela tentou sorrir, mas os lábios mal se mexeram.
Hesitante, Eammon se sentou na cadeira diante da escrivaninha, com as
mãos entrelaçadas por cima dos joelhos. O silêncio pairava no ar, quebrado
apenas pelo crepitar da chama, mas era confortável.
êncio pesado, Red terminou o chá e ficou olhando para a borra.
deveria tê-la — Agora a gente sabe que o espelho funciona. Acho que isso é bom.
m força para — Sinto muito, Red — disse Eammon, olhando para o chão, como se
achasse que o olhar dele não seria bem-vindo. — Sua irmã parecia… Sua
am que tinhairmã estava…
— Ela parecia cansada. Cansada e… e triste. — Red tentou dar de ombros,
uer forma —mas o movimento foi forçado. — Não sei se Neve está pronta para ser
Rainha. Para assumir o lugar da nossa mãe.
— Acho que nunca estamos prontos para assumir o que nossos pais
deixam para nós. — Eammon olhou para as mãos calejadas. — Os espaços
que ficam raramente servem.
os. Franziu a Os nós dos dedos brancos desmentiam a indiferença do Lobo, traduzindo a
afirmação para uma linguagem que ambos conheciam. A sombra dos pais
dele, grande e escura. O legado de um Lobo e uma Segunda Filha que
nenhum dos dois tinha escolhido.
. O chá tinha — Estou mais preocupada com Neve do que triste em relação à minha
ole, sentiu o mãe. — Uma confissão cheia de vergonha. — Sou uma pessoa horrível por
isso?
nde a caneca — Não é horrível. O luto é estranho.
O relacionamento de Red com Isla sempre fora pesado e cheio de camadas,
o discreto se nada fácil de explicar. Mas sua ausência, a lacuna que tinha deixado, fez com
ano. Valdrekque Red quisesse tentar. A única absolvição que poderia dar a ela.
e o dilui com — Nós… Minha mãe e eu… Nós nunca fomos próximas.
Os nós dos dedos dele ficaram mais brancos, as mãos ainda entrelaçadas
entre os joelhos.
inha, com as — Por causa de… — Ele ergueu uma das mãos e fez um gesto no ar
ar, quebrado indicando os dois.
— Não só por isso. — Red balançou a cabeça. — Ela também não era
muito próxima de Neve, mas acho que gostaria de ter sido. — Ficou olhando
para os fios soltos da coberta, os dois evitando olhar um para o outro. — Ela
ão, como seprecisava de um herdeiro e acabou tendo duas filhas, sendo que não poderia
arecia… Suaficar com uma delas. Era mais fácil fingir que eu não existia. Principalmente
depois… — Ela parou de falar, mas não precisava terminar. O fragmento de
ar de ombros,magia de Wilderwood no seu âmago floresceu, e ela sentiu o gosto vago de
onta para serterra.
Eammon encolheu os ombros, como se a culpa fosse uma força física. Red
nossos pais sentiu um impulso de tocar neles para que voltassem a ficar retos. Passar os
— Os espaçosdedos pelo cabelo dele e fazer os dois pensarem em outras coisas.
Red apertou a caneca com mais força. Conhecia bem a culpa, e como era
traduzindo anecessário bem mais que mãos quentes e lábios cálidos para espantá-la.
bra dos pais Culpa. Tudo girava em torno da culpa.
da Filha que — Eu sei que você não viu tudo que aconteceu naquela noite — Ela se
virou na cama. — Mas você me viu?
ção à minha — Nada além das suas mãos. Eu só… senti você. — Uma mecha do cabelo
horrível porcaiu no rosto dele, escondendo os olhos. Ele a afastou com a mão cheia de
cicatrizes. — Eu senti Wilderwood perseguindo algo, mas não sabia o que
era, não no começo. Quando ela tocou em você, porém, eu senti a sua dor. O
de camadas, seu pânico. Isso afogou todo o resto.
ado, fez com Ela apertou os lábios.
— Eu tentei impedir. — Ele apoiou os antebraços nas pernas. — E
claramente fracassei. Não consegui garantir que não ficasse nada dentro de
entrelaçadasvocê. Mas, mesmo que Wilderwood tenha dado um fragmento do próprio
poder para você, achei que talvez eu conseguisse evitar que você fosse
gesto no archamada. Se eu mantivesse a floresta forte, talvez a sua Marca nunca
aparecesse. Talvez o ciclo pudesse ser quebrado. — Engoliu em seco. —
bém não eraTambém fracassei nisso.
icou olhando Eammon vinha tentando salvá-la por muito tempo, mantendo-a longe o
outro. — Ela máximo que conseguiu. Até que Wilderwood decidisse que a dívida deveria
e não poderiaser paga, não importando de quanto de si o Lobo precisasse abrir mão.
incipalmente Respirando fundo, Red se empertigou, baixando os joelhos para se sentar
fragmento decom as pernas cruzadas sobre a colcha. Nunca tinha contado para ninguém
osto vago detudo que acontecera naquela noite em que ela e Neve correram para
Wilderwood. Os atacantes tinham morrido. Neve bloqueara aquilo da
ça física. Redmemória. A lembrança era uma ferida que ela havia coberto, sem nunca
os. Passar os permitir que respirasse, que se curasse.
Nunca passara pela cabeça de Red que aquela lembrança não era só dela,
a, e como eraque partes da lembrança eram de Eammon também. Outra ferida
compartilhada, outra marca espelhada. Um fardo que talvez ficasse mais leve
se carregassem juntos.
ite — Ela se — Foi no nosso aniversário de dezesseis anos. — Red manteve o olhar
fixo no colchão, embora estivesse dolorosamente ciente dos olhos surpresos
cha do cabelo de Eammon sobre ela. Se olhasse para ele, talvez quebrasse o encanto e a
mão cheia de cadência daquela história, que a tornava mais fácil de contar. — Teve um
sabia o quebaile.
a sua dor. O Como se sentisse que ela precisava daquilo, Eammon se manteve imóvel e
em silêncio, esperando que ela continuasse. A luz da lareira lançava sombras
no rosto dele.
pernas. — E — Foi… desagradável. Foi a primeira vez que realmente notei como Neve
da dentro dee eu éramos diferentes. Como as nossas vidas seriam diferentes. — Ela fez
o do própriouma pausa. — Minha mãe mal falava comigo.
e você fosse Eammon cerrou os punhos.
Marca nunca — Depois, Neve me encontrou chorando e perguntou o que poderia fazer.
em seco. —Eu disse que nada, a menos que soubesse alguma forma de se livrar de
Wilderwood. E foi isso que tentamos fazer. — Red deu uma risada seca. —
do-a longe oTodo mundo estava bêbado, então roubar os cavalos foi bem mais fácil do
ívida deveriaque deveria. Fomos galopando até a fronteira.
Os cavalos resfolegavam rápido, a respiração ressoando no frio da noite.
ara se sentar Red se lembrava de pensar que a fuga para o norte não tinha durado o
para ninguémsuficiente. Que queria correr sob o céu estrelado ao lado da irmã para sempre.
orreram para — Os fósforos que Neve levou não funcionaram — continuou em voz
a aquilo da baixa. — Wilderwood não pega fogo, sempre ouvimos isso, mas nenhuma de
, sem nuncanós acreditava até aquela noite. Acho que Neve ficou com medo de ver a
prova de que a floresta não era apenas uma floresta, era mais. Ela
o era só dela,provavelmente teria voltado depois daquilo, colocando um ponto final na
Outra ferida aventura. Mas eu encontrei uma pedra.
sse mais leve Ela pegara a pedra e a atirara com toda a força contra as árvores. O som
resultante não tinha sido alto o suficiente para ela, só um tum abafado nos
nteve o olhararbustos. Então Red começara a berrar e, depois de começar, não tinha
hos surpresosconseguido mais parar. Tinha pegado todas as pedras que encontrava e as
encanto e aatirado cegamente contra as árvores, aproximando-se cada vez mais da
— Teve um beirada da floresta. Lembrava-se de como a pele parecia zunir, vibrando nos
ossos. A floresta a atraindo cada vez mais enquanto não permitia que
eve imóvel e ninguém mais entrasse.
çava sombras Neve encontrou uma pedra para si também a atirou contra Wilderwood,
aproximando-se o máximo que podia. Os berros dela se juntaram aos de Red,
i como Neve duas garotas perdidas na fronteira do mundo que conheciam, gritando e
s. — Ela fez atirando pedras porque não havia mais nada que pudessem fazer, e
precisavam fazer alguma coisa.
— Uma das pedras cortou a minha mão — contou Red, parecendo ver a
poderia fazer. cena atrás das pálpebras como se em um teatro de sombras. — E tropecei
se livrar de quando a atirei. Tentei parar a queda com a mão cortada e caí do outro lado
sada seca. — da fronteira.
mais fácil do — E Wilderwood foi pegar você. — A voz de Eammon soou rouca e
baixa, como se estivesse sem falar por horas, em vez de apenas minutos.
frio da noite. — E você a impediu — acrescentou Red suavemente, sem abrir os olhos,
ha durado opois sabia que perderia a coragem se os abrisse. Mas sentia que Eammon
para sempre. estava olhando para ela, sentia o peso da atenção dele como um braço
nuou em voz apoiado no ombro.
nenhuma de Ela fez uma pausa antes de continuar:
edo de ver a — Toda aquela gritaria chamou atenção, assim como duas garotas com
a mais. Eladois bons cavalos cruzando a estrada. Não sei por quanto tempo eles ficaram
onto final na à espreita, por quanto tempo ficaram nos observando. Mas pegaram Neve,
depois que ela me arrancou da floresta pela perna. Encostaram uma faca no
vores. O sompescoço dela. E eu… — Red apertou mais os olhos. — Eu soltei tudo.
abafado nos Ela se lembrava de um momento de quietude. Um momento no qual a
ar, não tinha magia fincada no âmago dela havia parado, quase surpresa, como vinhas
contrava e asalongadas e decepadas. As veias dos pulsos se acendendo em um verde
vez mais da incandescente, subindo pelos braços e pelo peito em direção ao coração de
vibrando nos Red. Uma explosão de luz dourada atrás dos olhos.
permitia que E o fragmento de magia estilhaçada entrou em erupção.
Um tronco surgira do chão e empalara um dos ladrões, saindo pela boca
Wilderwood,dele coberto de sangue e vísceras, abrindo os galhos que saíam quebrando os
m aos de Red,ossos. Vinhas surgiram rastejando pelo chão e derrubaram outro ladrão antes
m, gritando e de o estrangular até o rosto inchar, ficar roxo e estourar, como uma bolha de
em fazer, esabão.
O homem que segurava Neve cambaleara para trás, deixando-a cair
ecendo ver a desmaiada no chão. Uma raiz se ergueu atrás dele e o derrubou, enquanto
— E tropecei moitas de espinhos cresceram em um instante, perfurando a pele dele como
do outro ladopapel e saindo pela boca e pelos olhos.
Mas o pior foi Neve. Red a vira deitada lá, e os espinhos surgindo do chão
soou rouca eem volta dela, só mais um corpo preso no turbilhão que Red criara. Mais uma
coisa que sua magia caótica da floresta poderia matar.
brir os olhos, Foi a primeira vez que Red bloqueou seu poder, a dor como se a espinha
que Eammonestivesse sendo arrancada do corpo. Ela o bloqueara e caíra de joelhos,
mo um braçoberrando sem parar.
— Eu os matei. — A voz saía rápida e no mesmo tom. Red tropeçava nas
palavras na pressa de deixá-las sair. — Eu os matei. E quase matei Neve
garotas com também. Mas consegui bloquear a magia na hora.
eles ficaram — Foi por isso que você disse que precisava ficar aqui — disse Eammon,
garam Neve,encaixando as peças. — Quando tentei obrigá-la a ir embora.
uma faca no Red assentiu. Não conseguia mais falar, não conseguia pensar muito
naquilo ou a culpa faria sua garganta se fechar.
to no qual a — Depois que consegui bloquear a magia, a floresta… se retraiu. As
como vinhasvinhas, as árvores e os espinhos, tudo voltou para debaixo do chão, deixando
m um verdeapenas os corpos. — Corpos e poças de sangue, tanta carne morta… A
o coração de garganta dela ardia com um grito mesmo ali, enquanto contava a história.
Red começou a tremer e não parou mais. — Neve desmaiou antes de ver
qualquer coisa. Ela não se lembra do que eu fiz. E quando os guardas
do pela bocafinalmente chegaram, o que pareceu ser horas depois, era como… Eu disse
quebrando ospara eles que os ladrões tinham se voltado uns contra os outros. Mas fui eu.
ladrão antesFui eu que fiz aquilo.
uma bolha de A voz dela foi morrendo na garganta até não passar de um sussurro. Só
percebeu que estava chorando quando sentiu o gosto de sal nos lábios, e só
xando-a cairpercebeu que Eammon estava sentado ao lado dela quando a mão calejada
ou, enquanto dele envolveu seu rosto.
le dele como Eammon passou os polegares nas bochechas da Segunda Filha, secando as
lágrimas. Devagar, os tremores foram cedendo, até ela ficar imóvel. Quando
indo do chãoele afastou as mãos, Red precisou se controlar para não as pegar de volta.
ra. Mais uma — Você a salvou. — O tom de Eammon estava baixo e sério. — Nada do
que aconteceu foi culpa sua.
se a espinha — Eu nem penso mais em termos de culpa. — Red curvou os ombros e
a de joelhos,apoiou a testa nos braços cruzados. — Aconteceu. Tenho que conviver com
isso. — Ela olhou para ele. — E antes de você me ensinar como controlar
ropeçava nasesse poder, como usá-lo, eu era obrigada a conviver com o medo do que eu
matei Neve poderia fazer de novo.
A expressão de Eammon era indecifrável.
sse Eammon, — Mas e aí? Você vai voltar agora? — A voz dele saiu baixa, como se
tivesse medo de ouvir o que estava falando. — Agora que sabe como
pensar muitocontrolá-lo?
— Claro que não. — A resposta soou dura como se Red não acreditasse
e retraiu. As que ele estava fazendo aquela pergunta. — Você precisa de mim aqui.
ão, deixando Ele arregalou os olhos, só um pouco, e aquele segundo foi o suficiente para
e morta… A que Red desejasse que as palavras fossem algo físico que pudesse pegar,
va a história.enfiar de volta na boca e engoli-las.
antes de ver Mas Eammon não a refutou.
o os guardas Red suspirou, afastando o cabelo do rosto.
o… Eu disse — Então, eu não estou triste com a morte da minha mãe e sou uma
. Mas fui eu. assassina. — Ela tentou dar um sorriso trêmulo, mas não conseguiu. — Duas
confissões terríveis na mesma noite.
sussurro. Só — Nada em você é terrível — murmurou Eammon. — Eu já disse isso
s lábios, e sóantes. E você deveria acreditar.
mão calejada O momento pareceu se prolongar enquanto estavam ali, sentados tão
próximos e confortáveis na cama. Então, Eammon se levantou, sem graça,
a, secando aspassando a mão pelo cabelo. Pegou a taça de vinho e tomou um gole antes de
óvel. Quandooferecê-la para Red.
— Fife está tentando fazer uma sopa. Você quer?
. — Nada do — Acho que só quero dormir.
Eammon assentiu e se virou para a escada.
os ombros e — Boa noite, então.
conviver com — Você também precisa dormir.
mo controlar Ele parou, olhando para ela por sobre o ombro com uma sobrancelha
do do que euarqueada.
Red tomou um gole de vinho.
— Chega de virar a noite — disse ela com firmeza. — Você está exausto,
ixa, como se Eammon.
e sabe como — Eu prometo que vou dormir.
— Aqui. Com cobertas adequadas, ao menos. Não debruçado na mesa da
o acreditasse biblioteca.
Com a sobrancelha ainda mais arqueada e um ar de sorriso, ele perguntou:
uficiente para — Mas alguma ordem, Lady Lobo?
udesse pegar, Ela sentiu o rosto enrubescer, mas ergueu o queixo.
— Não no momento, Guardião.
Eammon inclinou a cabeça em uma deferência debochada antes de descer.
Embora não fosse meduciano e com certeza tivesse sido diluído em água,
e e sou umaRed terminou de tomar o vinho e se acomodou na cama, seus movimentos
uiu. — Duastrazendo o cheiro de livros antigos e folhas caídas.
Mas, quando fechou os olhos, foi em Arick que pensou.
já disse isso Arick, que agora era o Consorte Eleito para a Rainha, não apenas para a
Primeira Filha. Arick, passional e impetuoso, que não costumava recorrer ao
sentados tãocérebro para tomar decisões.
u, sem graça, Red não sentia ciúmes, não mais. Na verdade, nunca tinha sentido. O
gole antes derelacionamento deles era baseado na amizade, na conveniência e na solidão
dolorosa, e ela sempre soube que não duraria. Os sentimentos complexos que
sentira por ele eram como estrelas no céu do meio-dia, lembranças afogadas
por uma nova luz.
Mas se os sentimentos por Arick eram sombras apagadas, os por Eammon
eram a escuridão de um aposento que ela não ousava explorar. A porta estava
sobrancelhaentreaberta, mas se não olhasse com atenção o bastante, não precisaria pensar
no que a esperava lá dentro.
Lentamente, o crepitar da lareira embalou seu sono, enquanto pensava em
está exausto,sombras e em portas entreabertas.
o na mesa da
ído em água,
movimentos
penas para a
a recorrer ao
a sentido. O
e na solidão
omplexos que
ças afogadas
Mas se os sentimentos por Arick eram sombras apagadas, os por Eammon
eram a escuridão de um aposento que ela não ousava explorar. A porta estava
entreaberta, mas se não olhasse com atenção o bastante, não precisaria pensar
no que a esperava lá dentro.
Lentamente, o crepitar da lareira embalou seu sono, enquanto pensava em
sombras e em portas entreabertas.
INTERLÚDIO
VALLEYDIANO VI
O manto era grande demais, e Neve se sentia uma criança com ele sobre os
ombros, medindo os passos enquanto caminhava em direção ao trono de
prata. O vestido também era prateado, assim como a adaga presa ao cinto.
Tudo aquilo eram peças essenciais da cerimônia. Atrás dela, duas
sacerdotisas seguravam a ponta do manto de veludo preto de forma que os
nomes das rainhas anteriores, lavrados em fio de prata, brilhassem sob a luz.
Os pontos do nome dela estavam frouxos, bordados às pressas.
Tudo era feito com celeridade.
A coroação era apenas uma formalidade, já que, de acordo com as leis
valleydianas de sucessão matriarcal, Neve se tornava rainha no exato instante
em que a vida deixasse o corpo de Isla. Mesmo assim, toda a situação parecia
agourenta e pesada. O coração de Neve estava disparado como se ela tivesse
corrido por quilômetros, embora os pés dessem passinhos curtos e precisos
que a levavam para cada vez mais perto do trono.
Na manhã seguinte à confirmação de Tealia como a nova Suma
Sacerdotisa, a condição de saúde de Isla se deteriorara visivelmente. A
maquiagem não era mais suficiente para esconder a doença, e a Rainha ficou
de cama, se mexendo apenas para tomar um pouco de canja de vez em
quando. Depois de uma semana, ela partiu.
Uma semana, e Neve passou de Primeira Filha a Rainha.
Ela não parava de pensar naquilo, desempenhando seu papel de forma
automática. Minha mãe morreu. O pensamento ecoava na sua mente
enquanto comia, enquanto se encontrava com Kiri, Arick e os outros no
Santuário. Reverberava na sua mente naquele exato instante, mesmo
enquanto Tealia observava sua aproximação com olhos cautelosos,
flanqueada por uma vela branca e uma escarlate. Minha mãe morreu, minha
mãe morreu.
ele sobre os E havia uma camada extra de ressonância, enterrada o mais fundo que
ao trono de conseguia: Minha mãe morreu, e não estou triste.
esa ao cinto. As emoções de Neve eram um oceano de história e sentimento; a tristeza
dela, duasera apenas a espuma das ondas. Pensou pela milésima vez no último jantar
orma que os que haviam tido juntas, nas pequenas dicas no jeito com que a mãe que
em sob a luz. segurara a taça de vinho, como os olhos dela brilhavam… Isla também estava
sofrendo, de uma maneira que talvez Neve jamais fosse capaz de
compreender. Se alguma coisa pequena e indefinível tivesse saído de outra
com as leisforma, talvez elas tivessem se unido para acabar com o tributo da Segunda
exato instanteFilha e trazer Red de volta para casa.
uação parecia Neve não conseguia pensar naquilo por muito tempo. Doía demais.
se ela tivesse A sincronicidade estranha e cruel de tudo aquilo ainda a deixava tonta. A
os e precisos Suma Sacerdotisa, e logo depois a Rainha, doente e morta, abrindo caminho
para os seus planos mesmo quando achava que tinham saído dos trilhos. Neve
nova Sumaestava no olho do furacão da morte, que rodopiava ao redor dela como a
velmente. A cauda de um vestido.
Rainha ficou Sentiu a culpa subir pela garganta enquanto a coroa prateada era colocada
a de vez emna sua cabeça, os dedos de Tealia se afastando rapidamente para evitar tocar a
pele dela. Mesmo que as mortes tivessem ocorrido por causas naturais,
pesavam como pedras em volta do pescoço de Neve, esperando o mar subir.
pel de forma Tentou manter a frieza em relação a tudo porque era o que podia fazer, a
a sua menteúnica forma de conseguir carregar aquele peso.
os outros no Chorara por Isla apenas uma vez. Naquela primeira noite, sozinha no
ante, mesmo quarto, agarrando o pingente com o fragmento de madeira que Kiri lhe dera
cautelosos, até cortar a mão já ferida.
orreu, minha Um momento estranho de quietude se seguira. Uma consciência, fria sobre
seus ombros, como se alguém a estivesse observando por uma janela
is fundo queembaçada. O som de um arfar que parecia estar apenas na sua cabeça, como
uma palavra que não tinha se formado ainda.
nto; a tristeza Neve esfregara o sangue do fragmento de madeira e fizera um curativo na
último jantarmão. Uma vez limpo o pingente, a sensação estranha passou. Mesmo assim,
e a mãe quenão tinha mais encostado naquilo, e olhava para gaveta onde o guardara como
mbém estava olharia para uma cobra engaiolada.
e capaz de Agora, coberta de joias de prata em vez de madeira, sentiu o rosto corar
aído de outracom o calor de centenas de velas. Metade delas era branca, para simbolizar a
o da Segundapureza do seu propósito; a outra metade era vermelha, simbolizando os
sacrifícios que teria de fazer para reinar.
Ninguém ali sabia nem metade do que estava acontecendo.
xava tonta. A Neve se levantou e se virou para a corte. Raffe estava na primeira fileira,
ndo caminhocom braços cruzados e lábios contraídos. Tentou sorrir quando os olhares se
trilhos. Neveencontraram, e o coração frio de Neve disparou.
dela como a Tinha se mantido longe de Raffe nos últimos dias, tanto por causa do
tempo quanto por causa do terror profundo e ilógico que sentia de que, de
era colocada alguma forma, a morte tivesse se agarrado a ela, abrindo espaço onde quer
evitar tocar aque Neve precisasse. Não fazia o menor sentido, e ela sabia que não era
sas naturais, verdade. Nunca tinha matado ninguém nem mandado matar ninguém.
o mar subir. Mas não podia arriscar. Não com Raffe.
odia fazer, a Eles teriam tempo. Quando tudo aquilo acabasse, ela e Raffe teriam todo o
tempo do mundo. Ela não teria mais que se preocupar em estar de alguma
, sozinha noforma colocando o rapaz em risco, marcando-o para morrer para atender às
Kiri lhe derasuas necessidades.
— Neverah Keyoreth Valedren. — A voz de Tealia soou alta e ofegante, o
cia, fria sobresom reverberando pelo vasto salão. — A sexta Rainha da sua Casa.
uma janela Aplausos educados na plateia. O recinto não estava muito cheio; apenas os
cabeça, comopoucos nobres valleydianos e alguns de Floriane e do norte de Meducia
tinham viajado para participar da coroação apressada. Os outros países do
m curativo nacontinente haviam cumprido a obrigação ao participar da despedida de Red e
Mesmo assim, não deviam estar nada ansiosos para se aventurar no frio desagradável de
uardara comoValleyda até o vencimento dos próximos tributos.
Arick subiu ao palco, um diadema fino de prata cobrindo a testa. A mão
o rosto corarainda estava envolta por uma faixa, mas o tecido estava limpo, sem traços de
simbolizar apreto nem vermelho. Com um sorriso tranquilizador, ele ofereceu o braço e a
bolizando osacompanhou pelo corredor. Os músculos se contraíram sob o toque de Neve,
e ele cobriu a mão dela com a dele.
Raffe ficou olhando enquanto passavam, e ela manteve os olhos fixos à
meira fileira, frente.
os olhares se A relação entre ela e Arick tinha mudado desde que ele voltara. Uma
proximidade estranha e rápida surgida por guardarem os mesmos segredos
por causa dosobre o Santuário e o que faziam lá. Havia algo diferente nele agora, algo que
a de que, deela não conseguia definir. Arick, embora fosse um bom amigo, sempre tivera
ço onde quer uma tendência a ser autocentrado. Não era malicioso, nem parecia proposital;
que não eramas Arick se preocupava primeiro e principalmente com ele mesmo, e o que
não tinha a ver com ele parecia não lhe interessar.
Mas, ultimamente, a relação dos dois estava mudando. Ele vinha cobrindo
Neve de atenções desde a morte de Isla. Na manhã seguinte ao falecimento,
teriam todo o ele aparecera na porta dela, trazendo café e um prato cheio de doces.
ar de alguma — Sinto muito, Neverah — dissera.
ra atender às Aquela tinha sido a ocorrência estranha número um. Arick nunca a
chamava pelo nome completo. Em geral, Neve reclamaria, mas vindo dele,
e ofegante, osoara diferente do que dos outros cortesãos. Usado pela gravidade do
momento, para lhe dizer que estava sendo sincero.
io; apenas os Ela havia apertado os lábios em uma linha sem cor e assentido. Então,
de Meducia respirando fundo, dissera a ele o que a vinha incomodando durante toda a
os países do noite, a parte afiada de algo que não era bem luto.
dida de Red e — Isso talvez facilite as coisas.
agradável de A luz matinal na janela tinha apagado muitos detalhes da expressão do
rosto dele, como um borrão banhado de sol e sem sombras, mas Neve
testa. A mãopercebera o arquear de uma das sobrancelhas.
sem traços de Engolira em seco e se empertigara:
u o braço e a — Estamos fazendo o que é necessário.
que de Neve, Depois de uma pausa, ele assentira, entregando a ela a bandeja e a xícara:
— Estamos fazendo o que é necessário.
olhos fixos à Ela sabia o que aquela nova proximidade entre eles parecia para todo
mundo. Mas Raffe conhecia ela e Arick melhor do que a maioria das pessoas,
voltara. Uma bem o suficiente para saber que nenhum dos dois tinha se esquecido de Red
mos segredostão facilmente. Ainda assim, havia tristeza no rosto dele enquanto observava
ora, algo queArick e Neve passarem pelo corredor, e ela sentiu uma queimação no
sempre tivera estômago.
ia proposital; Neve queria contar para Raffe. Queria tanto que parecia que as palavras
smo, e o que queimavam a garganta. Mas Kiri e Arick insistiam que mantivessem o mais
absoluto segredo. Kiri porque as ideias da sua segunda e menor Ordem
nha cobrindoconstituíam tecnicamente um sacrilégio até que Neve e ela as cimentassem na
falecimento,
verdade da religião com seu poder político. Arick porque… Bem, ela não
sabia ainda.
ick nunca a As portas se fecharam atrás deles. Neve afastou a mão do braço de Arick.
s vindo dele, — Quanto tempo nós temos?
gravidade do Ele olhou para o ponto no braço onde ela o tocara, um movimento rápido
dos olhos com uma emoção que ela não conseguiu interpretar.
ntido. Então, — Não tem pressa. Vamos dar a Tealia mais alguns momentos para
urante toda aaproveitar seu papel de Suma Sacerdotisa.
Estavam sozinhos, mas Neve endireitou as costas. Virou a cabeça de um
lado para o outro para olhar para os corredores e se certificar de que ninguém
expressão doestava ouvindo.
s, mas Neve — Calma, Neverah — murmurou Arick. — Tudo vai dar certo.
Ela cruzou os braços, mas a confiança dele de alguma forma a tranquilizou.
— Tealia vai levar pelo menos dez minutos para voltar para o templo. —
Arick apoiou o pé na parede atrás dele sem se importar com as marcas que a
bota deixaria. — Kiri já deve estar esperando com os outros.
Neve ficou andando de um lado para o outro.
ia para todo — E você providenciou a posição para ela? No Templo em Rylt?
das pessoas, — Estão esperando a chegada dela no final da semana. O clima em Rylt é
ecido de Redainda menos agradável do que em Valleyda, e não há muitas irmãs dispostas
to observavaa morar lá. Estão muito felizes por recebê-la, assim como qualquer uma que
ueimação no se recuse a entrar na Ordem das Cinco Sombras. — Arick contraiu o maxilar.
— Ainda acho esse nome ridículo.
e as palavras Aquilo a tranquilizou mais um pouco. As sacerdotisas que não quisessem
essem o mais entrar para a ordem delas iriam embora de Valleyda pelo mar. Sua estranha
menor Ordemonda de mortes não precisaria atingir mais ninguém.
mentassem na Arick ficou observando enquanto ela andava de um lado para o outro com
um brilho apreensivo nos olhos, mas não falou nada; nada mais na postura
Bem, ela nãodele demonstrava nervosismo. Na verdade, Arick parecia quase tranquilo,
encostado na parede, com os braços cruzados, um cacho escuro e insolente
caindo na testa.
Passaram-se dez minutos. Arick tocou de leve o braço dela, fazendo com
mento rápido que parasse de andar. Um sorriso apareceu no canto da boca enquanto fazia
um gesto para ela avançar:
omentos para — Minha Rainha.
Aquilo fez Neve parar por um instante. Ela logo se recuperou, porém,
abeça de um abrindo um meio sorriso trêmulo enquanto ele a acompanhava até o Templo.
que ninguém O Templo tinha a forma de um anfiteatro, com apenas dois corredores
levando à câmara principal inferior: um vindo dos jardins do palácio e outro,
muito mais longo e bem protegido, vindo das ruas. Os dois estavam
tranquilizou.completamente vazios. Sussurros criavam um burburinho atrás da porta à
o templo. — medida que se aproximavam, e Arick fez uma leve e tranquilizadora pressão
marcas que a no ombro dela antes de soltá-la.
Neve fechou os olhos e acalmou as mãos. Então, abriu a porta.
O rosto de Tealia parecia calmo. Ela estava parada na plataforma na parte
inferior do anfiteatro, as mãos cruzadas sob as mangas, mas havia um brilho
ma em Rylt é quase de pânico nos olhos dela. Kiri e as seguidoras da Ordem das Cinco
mãs dispostas Sombras se espalhavam atrás da Suma Sacerdotisa. As outras sacerdotisas
quer uma que estavam em silêncio em suas fileiras separadas por graduação, e o pavor
iu o maxilar. pairava denso no ar como a fumaça de uma vela.
A Suma Sacerdotisa fez uma referência rápida enquanto Neve descia até a
ão quisessemplataforma.
Sua estranha — Vossa Majestade, a que devemos a honra? Se eu soubesse que desejava
uma audiência, poderíamos ter marcado. — O medo a deixava ousada, os
o outro comolhos brilhando de raiva mesmo enquanto a voz se mantinha solícita. —
is na postura
se tranquilo, Existem protocolos para essas coisas. Se bem me lembro, nenhum deles
o e insolenteenvolve uma reunião marcada por uma sacerdotisa que não seja eu.
Atrás de Tealia, Kiri continuava com a expressão neutra, mas a malícia
fazendo comiluminava seus olhos. Neve não disse nada, ainda deslizando com cuidado
nquanto faziapelos degraus, canalizando aquela postura gelada que aprendera com a mãe.
No peito, o coração batia disparado como o de um beija-flor.
Tealia soltou uma risada aguda.
erou, porém, — Decerto nada que temos a discutir envolve todas as sacerdotisas da
capital.
is corredores — Envolve — respondeu Neve.
lácio e outro, Tealia se calou.
dois estavam Neve finalmente chegou à plataforma. Não havia nenhum roteiro para
s da porta à aquilo, e ela não tinha energias para prolongar o assunto. Ergueu uma das
adora pressãomãos e a pousou no ombro de Tealia.
— Agradeço pelos serviços prestados. Você está dispensada agora.
A Suma Sacerdotisa estremeceu sob o toque de Neve, e a Rainha teve que
orma na partecontrolar o impulso de esfregar a mão na saia para limpá-la.
via um brilho — Há uma posição aguardando por você em Rylt — disse ela, quase
m das Cinco tropeçando nas palavras tamanho o desejo de pôr logo um fim naquilo. —
sacerdotisasVocê parte em uma hora. O Consorte Eleito vai acompanhá-la.
o, e o pavor Arick entrou pela porta no alto da escada, com as mãos atrás das costas e
uma expressão pétrea no rosto.
e descia até a Lágrimas de fúria brilharam nos olhos de Tealia, a boca contraída de raiva.
— É verdade, então — disse ela. — Você se tornou uma herege. Acha que
que desejavaeu não sabia o que estavam fazendo no Santuário? Que você, Kiri e o
a ousada, osprostituto floriano que dividia com sua irmã tinham um plano em andamento?
a solícita. — — Ela ergueu a voz, voltando-se para as sacerdotisas reunidas ali. — Vocês
enhum deles vão seguir aqueles que ousam profanar a floresta sagrada? Rainha ou não, tal
sacrilégio só merece a ira…
mas a malícia A adaga era cerimonial. Na verdade, Neve nem sabia se era afiada — tinha
com cuidado sido amarrada à cintura dela enquanto as criadas a vestiam às pressas, de
a com a mãe. forma tão apressada quanto todo o resto naquela maldita coroação, junto
apenas de palavras sucintas sobre força nacional. Mas ela a desembainhou,
sem pensar, e a apontou para o pescoço da antiga Suma Sacerdotisa.
cerdotisas da — A floresta sagrada — disse a Rainha em tom neutro — é o motivo de
os Reis não terem voltado.
Silêncio. Os lábios de Kiri se curvaram em um sorriso frio. No alto do
anfiteatro, os olhos de Arick brilharam, algo quase raivoso neles.
roteiro para Tealia olhou para Neve através de lágrimas honestas, o sangue pulsando na
ueu uma dasartéria contra a ponta da adaga.
— Blasfema — sibilou ela. — Esses pecados voltarão para você
multiplicados por dez, Neverah Keyoreth. Ninguém fere Wilderwood e sai
nha teve queileso.
Neve manteve a adaga firme e deu de ombros.
se ela, quase A Suma Sacerdotisa deposta respirou fundo e fechou os olhos. Quando os
m naquilo. — abriu, estavam calmos, e Neve afastou a adaga. Era obrigada a dar crédito
para Tealia: ao sair do anfiteatro, ela o fez com o queixo erguido e sem tentar
das costas eesconder as lágrimas.
Neve olhou para todas as outras sacerdotisas, um mar de túnicas brancas e
aída de raiva. olhos assustados. Os dedos pareciam dormentes em volta do cabo da adaga;
ge. Acha quequando a colocou na bainha, a lâmina pegou seu polegar, deixando uma linha
cê, Kiri e o de sangue.
m andamento? Afiada, então. Sentiu as pernas bambas, mas manteve a pose. Depois de
ali. — Vocês tudo que tinha acontecido para que pudesse chegar até ali, ameaçar alguém
com uma adaga afiada não deveria ser um choque.
ha ou não, tal — Há espaço no navio para qualquer uma de vocês que queria seguir
Tealia. — Neve fez um gesto na direção da porta. — Vocês a ouviram.
iada — tinha Sabem no que acreditamos. Sabem o que estamos fazendo.
s pressas, de A voz dela soava sincera, embora um fio de dúvida ainda envolvesse seu
oação, junto coração. Estou fazendo isso por Red. Tudo isso é por Red.
esembainhou, Ela se virou para as sacerdotisas atrás dela.
— Kiri. Pelos nossos Reis perdidos e pela magia de outrora, peço que
o motivo deassuma a tarefa de liderar suas irmãs.
O arfar coletivo não emitiu som algum, mas estava presente. Cintilava nos
. No alto do olhos de Kiri e pesava no ar que pareceu mais espesso.
Kiri inclinou a cabeça.
e pulsando na — Como queira.
Neve prendeu a respiração ao olhar para a plateia reunida ali. As outras
o para vocêsacerdotisas estavam espantadas, mas nenhuma delas se levantou em
erwood e saidiscordância. Sentiu uma onda de coragem.
— O sacrifício da Segunda Filha é uma prática inútil — declarou ela, a voz
se elevando no salão silencioso. — Enviá-las para aplacar a sede de sangue
s. Quando osdo Lobo não adianta nada. Os monstros que o serviam já morreram, isso se
a dar crédito não forem apenas mito. E ele não vai libertar os Reis, não importa a
e sem tentar qualidade do sacrifício que mandemos.
Os lábios dela se contraíram ao dizer aquilo. Tinha de usar com as
cas brancas esacerdotisas os mesmos termos que elas usariam — mas, maldição, como as
bo da adaga; palavras tinham um gosto amargo. Ela continuou:
do uma linha — Os Reis estão detidos na prisão que ajudaram a criar, mantidos cativos
por Wilderwood. Enfraquecer a floresta nos trará poder. Quando os Reis
e. Depois deforem libertados, haverá uma recompensa ainda maior.
eaçar alguém A Ordem ouviu em silêncio, as túnicas claras se borrando como se
formassem uma única criatura. Arick estava atrás delas, depois de ter
queria seguir entregado Tealia para os guardas. A mandíbula estava contraída, os olhos,
s a ouviram. inescrutáveis.
— O processo já começou. Se conseguirmos desenraizar Wilderwood o
nvolvesse seusuficiente, os Reis poderão voltar para casa. — Neve engoliu em seco. —
Redarys poderá voltar para casa.
Kiri se virou para ela, com os olhos chispando, mas a nova Suma
ra, peço queSacerdotisa nada disse.
— O navio para Rylt parte em meia hora. — Neve se virou para a escada
Cintilava nosque a levaria até a porta. As últimas palavras foram ditas por sobre o ombro,
ricocheteando no mármore. — Vocês podem se juntar a nós ou podem partir.
li. As outras
levantou em
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ção, como as
ntidos cativos
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epois de ter
entregado Tealia para os guardas. A mandíbula estava contraída, os olhos,
inescrutáveis.
— O processo já começou. Se conseguirmos desenraizar Wilderwood o
suficiente, os Reis poderão voltar para casa. — Neve engoliu em seco. —
Redarys poderá voltar para casa.
Kiri se virou para ela, com os olhos chispando, mas a nova Suma
Sacerdotisa nada disse.
— O navio para Rylt parte em meia hora. — Neve se virou para a escada
que a levaria até a porta. As últimas palavras foram ditas por sobre o ombro,
ricocheteando no mármore. — Vocês podem se juntar a nós ou podem partir.
19
am. Qualquer
pressionou a
e virava para
avançar a passos largos até os muros da cidade. — Vamos. Precisamos ser
rápidos.
Red o observou, franzindo o cenho, notando como a forma rígida com que
ele se movia contrastava com sua graça usual. Vinhas envolviam seus ossos,
cordas tentando puxá-lo de volta. Outro lembrete: por mais que parecesse, ele
não era humano.
Ainda assim, ela sentia a mão quente onde ele a havia tocado.
Eammon bateu nos portões de madeira. Red fez uma careta, acostumada
com a quietude de Wilderwood, mas a batida quase não foi ouvida com o
barulho do vilarejo.
Uma fresta da porta se abriu. Olhos azuis e perscrutadores espiaram por
ela.
— Nome?
— Quem você acha que é, Lear? — Eammon revirou os olhos, mas sorriu.
— Trouxe uma convidada.
O guardião do portão arregalou os olhos, abrindo também o portão. Atrás
dele, era possível ver um vilarejo animado, não muito diferente da capital de
Valleyda.
— Milady.
O cabelo do homem era castanho avermelhado como as folhas de outono, e
ele tinha um rosto bonito e bem barbeado. Ela o reconheceu. Estava na
floresta no dia em que ela tivera a visão e fora atrás de Eammon.
Lear abriu totalmente o portão.
— Sejam bem-vindos, Lobos.
20
s a pele não
rtas e claras,
m voltado às
árvore nos
da maior pela
coço e abaixo
do coração,
Ele balançou a cabeça. Cerrou os dentes e contraiu a mandíbula. Bem
devagar, a escuridão parou de correr pelas veias do Lobo. Ficaram verdes e
desbotaram para azul, as mudanças e as sombras se soltando dele como se
fossem sangue de uma ferida. Eammon estremeceu, uma careta enquanto os
dentes retrocediam atrás dos lábios.
A dor precisa ser transferida. Ele pegara os fungos-de-sombra, permitira
que circulassem por ele e os afogara na magia de Wilderwood.
Os joelhos dela perderam a força de repente, exaustão e alívio chegando
como um soco na cara. Red cambaleou e Eammon a envolveu nos braços, as
veias novamente com a cor normal da dos humanos, embora o branco dos
olhos ainda exibisse traços esverdeados.
— Eu estou bem — sussurrou ele contra o cabelo dela. — Eu estou bem.
— Vocês conseguiram. — Lágrimas escorriam pelo rosto de Valdrek, e um
brilho de reverência iluminou sua expressão. — Em nome de todos os Reis e
todas as sombras! Vocês conseguiram.
Mas Red nem terminou de ouvir, porque perdeu os sentidos e desmaiou.
21
e descobrir o
a desfiada da
finir o que o
com apenas
, ele pegou a
xando-o mais
ente de cada
ângulo mais
a única coisa
ero ficar em
os olhos se
22
Eammon não estava mais no quarto quando Red acordou. O cobertor estava
embolado, e havia um bilhete com a letra dele na escrivaninha: Torre.
Ela se vestiu rápido — uma calça justa e a camisa dele, porque velhos
hábitos são difíceis de perder — e passou os dedos pelo cabelo para
desembaraçar os nós, mas o deixou solto. Desceu a escada devagar, tomando
cuidado para não escorregar nas arestas desbastadas pelos musgos. A luz
lavanda banhava o emaranhado de galhos e pedras que costumava ser o
corredor, tornando-o quase bonito.
Quando ela chegou à torre, tremendo no frio matinal, Eammon estava
encostado no peitoril entalhado da janela, segurando uma caneca em uma das
mãos e um livro na outra. Não reagiu à chegada dela além de erguer os olhos
do livro, mas segurou a caneca com mais força.
Eammon tinha servido uma xícara para ela, até colocara leite. Red a levou
aos lábios enquanto se sentava em uma cadeira. Havia um único galho no
meio da mesa com ramos curvados como garras. Faixas de tinta prateada
tinham sido pintadas às pressas no ponto onde os galhos se separavam do
tronco principal.
— Projeto de arte?
Eammon fechou o livro com um movimento brusco e o colocou embaixo
do braço.
— Não.
Quando levou a xícara aos lábios, a camisa subiu um pouco, expondo uma
faixa estreita de pele pálida e cicatrizada.
Red tomou um gole de café rápido demais e queimou a garganta.
Eammon se sentou e colocou a xícara, agora vazia, ao lado do galho,
passando o polegar sobre a tinta prateada.
— Pintei essas faixas para vermos quanto o galho vai crescer. Para
bertor estava marcarmos o progresso.
— Mas isso não vai crescer. — Red tomou um gole, tomando cuidado para
orque velhosnão se queimar de novo. — Está morto.
cabelo para — Assim como o arbusto de espinhos ontem — argumentou Eammon.
gar, tomando A menção ao dia anterior fez ambos desviarem o olhar.
usgos. A luz Red achara que poderiam ignorar o que tinha acontecido. Que, se
umava ser o fingissem que nada tinha acontecido, a lembrança ia desaparecer, não
passando de um momento de fraqueza que ambos tinham superado.
mmon estava Que tolice a dela.
a em uma das — Eu vi a moita — disse Eammon com a voz neutra, embora a ponta das
guer os olhos orelhas estivesse vermelha. Ele foi até a cornija e guardou o livro, mantendo-
se de costas para ela. — Passamos por ela um pouco antes de notarmos que a
Red a levousentinela tinha desaparecido. Estava morta e seca, e obedeceu ao seu
ico galho nocomando mesmo assim. — Os músculos das costas dele se contraíram
inta prateadaquando ele cruzou os braços. — Mesmo na morte, as coisas continuam
eparavam doligadas a Wilderwood.
A voz dele estava baixa, rouca com uma emoção que ela não conseguia
distinguir sem ver o rosto dele. Hesitante, tocou no galho, quase esperando
cou embaixoque ele saísse andando como uma aranha para baixo da mesa, mas ele
permaneceu imóvel.
O silêncio se estendeu até ela estreitar o olhar para Eammon, que ainda se
mantinha de costas para ela.
expondo uma — Um pouco de orientação viria bem a calhar, Eammon.
Não tinha planejado dizer o nome dele. Mesmo irritada, ele parecia pesar
na boca, íntimo demais depois do que tinham compartilhado e da forma como
do do galho, ele tinha se afastado.
Por todos os reis, ela queria beijá-lo de novo.
crescer. Para Ele se virou, enfim, com os olhos cintilando com uma mistura de raiva e
excitação.
cuidado para — Você se saiu muito bem sozinha, ontem.
Ele precisava parar de mencionar o dia anterior, desgraçado. Estava
dizendo aquilo como se a desafiasse.
Red se recostou na cadeira e cruzou os braços.
do. Que, se — Eu já expliquei. Meu poder funciona melhor quando estamos próximos.
parecer, não — Qual seria exatamente a distância de que você precisa, Redarys?
Isso a fez parar por um instante, com os lábios entreabertos, enquanto
respostas possíveis passavam pela sua cabeça como chamas lambendo galhos
a a ponta das frescos. Ela optou por:
o, mantendo- — Mais perto que isso.
tarmos que a Ficaram se olhando, um em cada ponta do aposento, o ar entre eles quente
eceu ao seue cheio de expectativa. Com um suspiro impaciente, Eammon se aproximou
e contraíram até ficar quase ao alcance do toque dela.
as continuam — Melhor?
Red queria dizer que não. Ela se lembrava dele no dia anterior, na floresta,
ão conseguia beijando-a como se ela fosse uma fonte de calor no inverno antes de empurrá-
se esperandola — e por todos os Reis e todas as sombras, era aquela a proximidade que
esa, mas eleela desejava.
Mas assentiu e voltou a atenção para o galho da árvore.
que ainda se O poder dela não queria cooperar. Tentar tomá-lo era como tentar segurar
água nas mãos. Red não conseguia fazê-lo florescer, não conseguia fazer
nada além de persegui-lo sem conseguir alcançar. Com um gemido frustrado,
parecia pesarabriu os olhos e ficou olhando para o galho ainda morto, os dedos
a forma comopressionando a madeira da mesa.
— Não está funcionando.
— Funcionou muito bem antes.
ra de raiva e — Você estava mais perto antes.
Ela cerrou os dentes assim que as palavras escaparam da boca, mas estas
ficaram pairando no ar como um machado e não podiam ser desditas.
çado. Estava Eammon não falou nada, mas Red ouviu a respiração dele, o ar entrando e
saindo dos pulmões envolvidos pelas raízes.
— É uma questão emocional? — A tentativa de aspereza não deu certo e
os próximos. só serviu para a voz dele ficar mais rouca, fazendo-a sentir um calor no
coração. — Estou me referindo à proximidade de que você precisa. Ou… ou
os, enquantoé física?
bendo galhos — As duas coisas. — Red fechou os olhos, sabendo que estava se
rendendo, sabendo que não se importava. — As duas parecem ajudar.
Manteve os olhos fechados, mas a atmosfera mudou quando ele se
e eles quenteaproximou, quente e carregado como o ar antes de uma tempestade. Um arfar
se aproximou de hesitação antes de ele afastar o cabelo de Red e pousar a mão cálida na
nuca dela.
— Eu não vou estar lá. — O tom era de um pedido desculpas. — Nem
r, na floresta, sempre vou poder estar com você, Red.
s de empurrá- Ela bem sabia. Ele estava preso àquela maldita floresta, atolado nela até o
ximidade quepescoço. As sentinelas o prendiam tanto quanto qualquer criatura de sombras,
qualquer rei malvado, e ele não estaria lá em Valleyda para acalmar o caos
interior dela com a proximidade dele. Quanto mais Red praticasse o controle,
entar segurarmais conseguiria recriá-lo sem ele, mas não era o que estavam fazendo
nseguia fazernaquele momento, e os dois sabiam muito bem.
do frustrado, Estavam enrolando. Estavam aproveitando a proximidade enquanto
o, os dedospodiam.
— Estar aqui agora é o suficiente — sussurrou Red.
As pontas dos dedos dele se enrolaram na raiz do cabelo dela.
O poder no âmago dela se acumulou e se estabilizou, como se aquilo fosse
o que ele queria o tempo todo. Passou a ser fácil para Red pegá-lo agora,
ca, mas estas simples manipulá-lo a seu bel prazer.
ser desditas. O galho na mesa tinha um brilho dourado discreto quando Red abriu a
ar entrando emente para Wilderwood, como estrelas atrás de uma nuvem. O suficiente
para que aquele pedacinho dela que lhe pertencia, aquele fio serpenteando por
o deu certo e Red, pudesse se conectar e comandar. Quando a Segunda Filha arqueou os
um calor nodedos, viu o galho crescer, os galhos avançando além das marcações
isa. Ou… ouprateadas.
Quando abriu os olhos, ele estava um pouco maior, mas não muito. Talvez
ue estava sedois centímetros entre as faixas prateadas e o galho principal.
Eammon se afastou abruptamente, retirando os dedos da nunca dela e
ando ele se caminhando em direção à janela. Passou a mão pelo cabelo solto antes de
ade. Um arfarenfiá-la no bolso.
mão cálida na — Pronto — disse ele, quase com pressa. — Você conseguiu.
Red mordeu o lábio, a mente agitada com pensamentos sensuais. Os lábios
pas. — Nemdele no pescoço dela, as mãos dele no cabelo dela, o tronco de árvore contra
as costas dela enquanto ele pressionava o corpo contra o dela. Eammon
do nela até oachava que aquilo era um erro, mas ela não concordava e agora teria que
a de sombras,partir. Mesmo que fosse voltar. Droga, ela ia voltar, mas ouvira o tom
almar o caos determinado da voz dele. A frase que murmurara quando achou que ela já
se o controle,tinha dormido.
vam fazendo Talvez você devesse ficar.
de enquanto Ouvir aquilo a deixara com raiva, saber que ele podia ter dúvidas, que
podia pensar que ela fosse querer ficar em qualquer lugar que não perto o
suficiente para ver aquela cicatriz discreta no rosto dele. Que podia achar que
eles eram as mesmas pessoas que tinham se enfrentado em uma biblioteca no
e aquilo fosse aniversário dela de vinte anos, que parecia ter sido séculos atrás, que podia
egá-lo agora,acreditar que a distância entre eles não tinha mudado completa e
irrevogavelmente.
Red abriu a Red se levantou, a cadeira arranhando o chão.
O suficiente — Eu posso fazer mais.
enteando por Ele se empertigou.
a arqueou os — Sou capaz de fazer mais, e você sabe disso — continuou Red. Apoiou o
s marcaçõesquadril contra a beirada da mesa, os dedos segurando a madeira, e as palavras
seguintes foram um apelo, um convite e um desafio, tudo de uma vez, a voz
muito. Talvezrouca de desejo. — Me ajude a fazer mais.
Ele pareceu demorar uma eternidade para se virar para ela. Os braços do
nunca dela eLobo caíram ao lado do corpo, os dedos já curvados como se estivessem
olto antes desegurando alguma coisa. O primeiro passo foi hesitante, depois ele atravessou
o aposento como se estivesse marchando para uma batalha com uma
expressão determinada no rosto. Ele bateu com as mãos na mesa ao lado do
ais. Os lábiosquadril dela, tenso o suficiente para que ela pudesse ver claramente os
árvore contratendões.
ela. Eammon — Tem certeza? — A voz saiu controlada, tensa. Suplicando por uma
ora teria queresposta.
ouvira o tom — Funcionou ontem, não foi?
ou que ela já — Você convocou Wilderwood antes do beijo.
Os dedos dela tocaram o rosto dele, a unha traçando aquela linha fina e
branca. A primeira marca que deixara nele.
— Mas não antes de eu querer que você me beijasse.
dúvidas, que Um sorriso discreto e triste apareceu no rosto dele, mas os olhos estavam
não perto oávidos enquanto os dedos escorregavam pelas costas dela, por baixo do
dia achar quetecido da camisa dele que ela ainda vestia. Ela traçou o contorno da orelha e
biblioteca no da mandíbula do Lobo, sentindo a barba áspera por fazer. Eammon pousou a
ás, que podiaoutra mão no rosto dela, acariciando a pele com o polegar, enquanto a palma
completa e áspera e coberta de cicatrizes escorregava para o pescoço.
— Estou perto o suficiente? — O espaço entre os lábios dele e a pulsação
no pescoço dela era ínfimo.
Red puxou o cabelo dele, inclinando a cabeça para que seus lábios quase
roçassem nos dele.
ed. Apoiou o — Ainda não.
e as palavras O beijo do dia anterior tinha surgido por medo, desespero e alívio.
ma vez, a vozEsquecê-lo não seria fácil, mas seria possível — um deslize, um lapso de
julgamento, algo fácil de desconsiderar.
Os braços do Mas aquilo era diferente. Era deliberado, e deslindaria os laços que tinham
e estivessem criado por necessidade, transformando-os irrevogavelmente em outra coisa.
le atravessouOs olhos dele ardiam de desejo em busca de aprovação.
a com uma Quando Red o puxou, Eammon entreabriu os lábios com um suspiro.
sa ao lado do A língua dele invadiu os lábios úmidos dela de forma lenta e resoluta. Ela
laramente osgemeu e pressionou mais o corpo contra o dele, enterrando os dedos nas
costas do Lobo e puxando o máximo que conseguia, buscando cada espaço
ndo por uma vazio que pudesse preencher enquanto uma das mãos cheias de cicatrizes
passeava pela cintura e pelo quadril e a outra a segurava pela nuca, como se
Red fosse algo frágil demais, algo que ele tinha medo de perder.
O polegar dele pressionou o lábio inferior dela, abrindo sua boca para
linha fina eoutro beijo profundo.
— E agora?
lhos estavam — Ainda não. — Ela arqueou o corpo contra o dele enquanto as xícaras se
por baixo do espatifavam no chão, ávida por tocá-lo e ressentida pelas camadas de tecido
o da orelha eentre eles. — Mais perto.
mon pousou a Ele riu baixo contra o pescoço dela.
anto a palma — Tente primeiro.
Estavam reduzidos a poucas palavras, as bocas ávidas por fazer outras
e a pulsaçãocoisas.
Red capturou os lábios dele enquanto curvava os dedos na direção
lábios quase aproximada do galho. Uma luz dourada cintilante atrás dos olhos dela, uma
visão momentânea deles dois entrelaçados como raízes — ele como um farol
brilhante, ela como uma chama bruxuleante e fraca de uma vela alimentada
ero e alívio. pela proximidade com ele.
um lapso de Um farfalhar ao lado deles, mas nenhum dos dois olhou. Os dedos dela
mergulhados no cabelo dele, puxando-o para mais um beijo.
s que tinham O poder dela se redirecionou sozinho enquanto Eammon pressionava o
outra coisa.corpo contra o dela, enquanto e o calor crescia entre eles e a respiração de
ambos ficava cada vez mais ofegante. Red sentia Wilderwood em volta deles,
dentro deles, florescendo. A agitação das raízes sob o solo da torre, os galhos
resoluta. Elase alongando em direção às janelas, a floresta tão atraída por ela quanto ela
os dedos naspor ele. Laços se soltando, o que quer que os estivesse mantendo presos
cada espaçorelaxando e deixando Wilderwood se aproximar mais…
de cicatrizes Eammon congelou no lugar, as mãos na pele nua da cintura dela por baixo
uca, como seda camisa. Os dedos afundaram na carne dela, e ele a beijou novamente com
ferocidade antes de soltá-la como se ela fosse carvão em brasa, afastando-se
ua boca paraenquanto ofegava.
Red estendeu a mão por um segundo. Mas ele tinha se virado de costas
para ela, e a mão dela caiu no vazio.
— Eammon?
as xícaras se — Me dê um minuto, Red. — Ele passou a mão pelo cabelo, deixando
das de tecido algumas madeixas em pé. — Só… me dê um minuto.
A magia dela se recolheu devagar, recuando para suas entranhas. Enquanto
o pulso acalmava o ritmo trovejante, ela notou as janelas.
A mata do lado de fora da torre tinha florescido em uma primavera
fazer outras desordenada e anacrônica, bloqueando o crepúsculo lavanda de Wilderwood
com grandes flores brancas e folhas verdejantes. Gavinhas grossas cobriam o
s na direçãopeitoril, estendendo-se em direção à mesa na qual ela estava sentada, ornadas
os dela, umacom pequenos botões.
omo um farol Enquanto Red observava — com Eammon de costas para ela, a respiração
a alimentadaainda agitada —, todo aquele novo crescimento começou a recuar. As
gavinhas se retraíram, escorregando de volta pela janela e se afastando dela.
s dedos delaOs botões brancos se fecharam. As folhas também caíram das vinhas
enquanto estas voltavam para seus lugares adequados, abrindo espaço pelos
ressionava o quais era possível ver o céu. Os movimentos eram rítmicos e combinavam
respiração de com a respiração de Eammon.
m volta deles, Ele tinha dito que conter Wilderwood exigia toda a sua concentração. E ali,
rre, os galhosenquanto a beijava, distraído daquele propósito em particular, a magia se
la quanto elalibertara, escapando da gaiola cuidadosa na qual ele a mantinha presa.
tendo presos — Sinto muito — sussurrou ele. — Eu achei que eu conseguiria… Não
importa o que achei. Isso foi um erro.
ela por baixo Red cruzou os braços e se encolheu como se pudesse se esconder e ficar
vamente com invisível. A cicatriz na barriga, o ferimento dele que ela curara tanto tempo
afastando-seantes, repuxou pela primeira vez em semanas. De alguma forma, dizer que
sentia muito doía mais do que dizer que tinha sido um erro.
do de costas Alguma coisa roçou no braço dela. Red olhou para o outro lado da mesa. O
galho para o qual direcionara sua magia estava imenso, as faixas prateadas a
elo, deixando mais de trinta centímetros do galho principal. Folhas verdes brotavam nos
ramos verdejantes.
as. Enquanto Ela deve ter emitido algum som, porque Eammon se virou um pouco, com
uma expressão de preocupação no rosto, como se achasse que ela pudesse
ma primavera estar chorando. Arregalou os olhos ao ver o galho.
Wilderwood — Eu disse que eu conseguia fazer mais.
as cobriam o A voz dela estava vazia. As lágrimas que ele achava que ela fosse derramar
tada, ornadasqueimavam a garganta dela.
O cabelo escuro escorreu pelos ombros de Eammon quando ele baixou a
a respiraçãocabeça e passou a mão cicatrizada pelo rosto.
a recuar. As — Gostaria que as coisas fossem diferentes. Mas elas simplesmente… não
astando dela.são. Não vou conseguir mantê-la longe de você, se eu… — Ele deixou a frase
das vinhas morrer. Respirou fundo. — Manter Wilderwood longe de você exige tudo
espaço pelos que tenho — disse ele, as palavras controladas e medidas. — Toda a minha
combinavam concentração. Toda a minha força. Tudo. Não me resta mais nada. A floresta
está tão entranhada em mim, tão perto da superfície… — Um gesto curto e
ntração. E ali,bruto em direção ao crescimento em volta deles. — Quando eu me aproximo
, a magia sede você, ela também se aproxima. Não vou permitir que ela a prenda aqui,
Red. Não vou.
guiria… Não Não resta muito mais de mim para oferecer a outra pessoa.
Não me resta mais muita coisa.
onder e ficar Ele tinha pedido que ela confiasse nele no dia anterior, quando ele
tanto tempointerrompera o beijo e fora resolver as coisas dele como se aquilo nunca
ma, dizer que tivesse acontecido. Em vez disso, porém, tinham insistido, rompendo as
barreiras tênues que tinham erguido entre eles. As peças estavam muito
o da mesa. Oquebradas para serem encaixadas de novo.
s prateadas a O que tinham acabado de romper era a única coisa que poderiam ter.
Red deslizou de cima da mesa.
brotavam nos — Eu também gostaria que as coisas fossem diferentes.
Ela desceu a escada para que ele não visse as lágrimas que tinham
m pouco, com começado a escorrer pelo rosto.
e ela pudesse
osse derramar
ele baixou a
mente… não
deixou a frase
ê exige tudo
Toda a minha
da. A floresta
gesto curto e
me aproximo
prenda aqui,
quando ele
aquilo nunca
rompendo as
tavam muito
— Eu também gostaria que as coisas fossem diferentes.
Ela desceu a escada para que ele não visse as lágrimas que tinham
começado a escorrer pelo rosto.
23
uma pergunta
ste em ficar
— Ficar sozinho é o mais seguro para nós dois.
— Você não pode simplesmente…
— Eu as matei.
A declaração foi um rosnado entre dentes arreganhados e lupinos. Ele
olhou para ela como um predador. Por instinto, Red deu um passo para trás.
— Wilderwood drenou as outras porque eu não a contive. — A força
aparecia em cada músculo do seu corpo, mas ele não conseguia esconder os
olhos, que estavam perdidos e vazios, satisfeitos por ela ter se afastado. — Eu
me permiti ser fraco, não aguentei sozinho, e a floresta as matou. Que as
sombras me amaldiçoem se eu permitir que o mesmo aconteça com você.
Red balançou a cabeça, um movimento lento e triste.
Ele fez um gesto em direção ao brilho branco na base da sentinela mais alta
com o tronco marcado. A coisa que aparecera na visão quando ela enxergara
através dos olhos dele, a coisa que ela não examinara com atenção pois
estivera assustada demais. O olhar dela seguiu a mão dele, e era impossível
não reconhecer as formas.
Ossos. Ossos entranhados nas raízes e vinhas. Três caixas torácicas, três
crânios, um caos de outros ossos cujos nomes ela não conhecia.
Tudo que restava das Segundas Filhas.
A voz de Eammon soou rouca e áspera:
— Você não quer fugir agora, Red?
24
Escolha.
scolheu isso,
Red teve a impressão de ter ouvido a palavra de novo, sussurrada em
matagais e caramanchões, mas nenhuma folha caiu e nenhum musgo
culpa minha.
retrocedeu. Como se Wilderwood sussurrasse direto no fio fino de magia que
nvocando as
a Segunda Filha carregava dentro de si, para que só ela fosse capaz de ouvir.
z saiu firme e
Quando chegaram à Fortaleza, Red subiu para o quarto com o braço de
os, como se
Eammon em torno dela, dando tanto suporte quanto possível mesmo que sua
cabeça mal batesse no ombro dele. Ela o levou para a cama, apesar dos
Segurou com
protestos.
catrizes dele
— Você precisa dela mais do que eu.
Eammon olhou por entre as mechas de cabelo, franzindo a boca em uma
xo. — E nãoexpressão inescrutável.
Ela quis beijá-lo, mas não o fez.
rescia dentro O manto se espalhou ao redor dela como um cobertor quando ela se deitou
deria destruí- no chão. Red tocou o bordado, os lobos dourados emaranhados em raízes de
árvore perto da bainha.
— Eu deixaria — É lindo.
Eammon ficou em silêncio por tempo suficiente para ela achar que ele já
ssão. — Meestava dormindo.
— Espero que não se importe — disse ele por fim. — Se quiser o manto
e cicatrizes e mais simples, Asheyla pode…
— Não. — Forte e decidida. — É perfeito.
Outra pausa.
— Você merece um manto matrimonial de verdade — murmurou Eammon
s com seiva ena penumbra do quarto. — Mesmo que tenha sido só um enlace.
imóvel. Red Red sentiu um calor na ponta dos dedos e um frio na barriga.
e lento que — Você disse que aquilo foi o suficiente para consumar o casamento.
Havia uma pergunta ali, uma que relembrava bocas e mãos e outras formas
de se consumar um casamento. Coisas que ele não permitia que acontecessem
porque seriam uma distração de manter Wilderwood sob controle, o que seria
ussurrada em
o fim de ambos.
nhum musgo
Ele inspirou profundamente. Entendia o que ela estava perguntando.
de magia que
Talvez fosse cruel perguntar aquilo e deixar o próprio desejo transparecer na
voz. Mas ele tivera espaço para dúvidas antes, espaço para achar que ela
m o braço de
talvez não voltasse. Ela precisava que ele soubesse que voltaria. Cedesse ele
esmo que sua
ou não ao desejo dela, ela sempre voltaria.
a, apesar dos
— O suficiente. — A voz dele saiu controlada.
boca em uma Ela não sabia quanto tempo ficaram deitados ali, olhando para o teto e
dolorosamente cientes da presença um do outro. Quando Red enfim
adormeceu, seus sonhos foram ardentes.
ela se deitou
em raízes de
uiser o manto
rou Eammon
outras formas
acontecessem
e, o que seria
perguntando.
ansparecer na
char que ela
. Cedesse ele
Ela não sabia quanto tempo ficaram deitados ali, olhando para o teto e
dolorosamente cientes da presença um do outro. Quando Red enfim
adormeceu, seus sonhos foram ardentes.
INTERLÚDIO
VALLEYDIANO VII
A luz do sol nos jardins feriu os olhos de Neve depois do tempo que passara
na penumbra do Santuário. Sem pensar, ergueu a mão para proteger o rosto,
deixando uma mancha de sangue na bochecha e fazendo o novo corte repuxar
com uma pontada de dor ligeira, mas intensa.
Praguejando, limpou o sangue e olhou para a palma da mão. Sempre
tomava o cuidado de se cortar em pontos diferentes. Cortes finos e precisos
feitos com a adaga de Kiri, que pareciam nunca cicatrizar totalmente.
Roubar pedaços de Wilderwood era um trabalho sangrento.
Sangrar nos galhos e depois apertá-los contra o tronco das árvores das
quais tinham sido cortados fazia com que as árvores desaparecessem da
floresta para aparecer na caverna do Santuário. Cresciam de novo estranhas e
retorcidas, como se estivessem resistindo, mas apareciam. Havia pelo menos
uma dúzia delas agora, uma floresta não natural envolta em pedras, crescendo
da rocha e sendo regada com sangue.
E, ao oferecer sangue, a pessoa recebia em troca a magia afiada e fria como
adagas de gelo. Magia da Terra das Sombras que deixava geada na ponta dos
dedos e escurecia as veias. Parecia o inverno serpenteando em volta dos
ossos.
Magia que Neve finalmente parara de recusar.
Ela havia resistido por um tempo. Aquele poder estranho nunca tinha sido
seu objetivo, pois não ligava para nada além de enfraquecer a prisão da irmã
para que Red pudesse voltar. Mas quanto mais sangrava para conseguir seu
objetivo, mais o poder a atraía, sombrio e sedutor, prometendo controle, pelo
menos sobre aquilo.
No fim das contas, ela não tinha conseguido obrigar Red a fugir, e agora
não conseguia obrigá-la a deixar Wilderwood. Mas podia tirar o poder dela.
Ali estava algo completamente ao seu alcance e, quanto mais o tempo
passava, mas tolo parecia não usar aquele poder.
o que passara Com um simples toque, Neve conseguia fazer uma planta murchar. Com
teger o rosto,um estalar de dedos, fazia uma folha passar de verde para marrom e, às vezes,
corte repuxarparecia que as sombras ficavam ainda mais longas quando se aproximava
delas, como se estivessem esperando ordens dela. O contorno delicado de
mão. Sempre escuridão nas suas veias demorava mais tempo para desbotar do que antes.
os e precisos E Red ainda não tinha voltado.
Havia guardas no vilarejo perto da fronteira, aguardando o retorno dela.
Kiri dizia que precisavam ter cautela — mesmo que os laços que prendiam
árvores das Red a Wilderwood enfraquecessem o suficiente para permitir sua fuga, talvez
arecessem daela não ficasse totalmente livre deles, e não havia como saber como a floresta
o estranhas e a tinha modificado. Mas nada surgiu da fronteira de árvores.
a pelo menos Franzindo a testa, Neve fez um gesto em direção a um arbusto no caminho.
as, crescendo Sentiu frio na ponta dos dedos e as veias ficaram negras como tinta. As folhas
se curvaram, tingindo-se de marrom e secando antes de caírem no chão.
a e fria como Kiri surgiu das sombras do Santuário, os olhos azuis ávidos enquanto
na ponta dos cobria a palma da mão ferida. Sempre fazia cortes profundos, dando mais
em volta dos sangue do que o necessário. Neve achava que não era algo que fazia para
receber mais magia do que os outros; acreditava que Kiri simplesmente
gostava de dar mais sangue.
ca tinha sido Outras sacerdotisas entraram em silêncio no jardim atrás de Kiri,
risão da irmãenfaixando as próprias feridas. Adornando o pescoço de cada uma, o pingente
conseguir seude madeira, a casca branca da árvore adornada por uma sombra sutil.
controle, pelo A nova Suma Sacerdotisa ergueu os dedos manchados de sangue e tocou o
pingente de leve. Fechou os olhos por um breve instante como se precisasse
ugir, e agora se acalmar. Depois os abriu com um sorriso discreto no rosto, totalmente
o poder dela.relaxado, visível apenas naqueles breves instantes em que o sangue ainda era
ais o tempofresco.
Neve ainda mantinha o próprio pingente na gaveta da escrivaninha. Não
murchar. Comtocara mais nele desde o dia em que o sujara acidentalmente de sangue, o dia
m e, às vezes,em que tivera a forte sensação de estar sendo observada. Kiri parecera irritada
aproximavapor aquele pequeno ato de rebeldia no início, mas não a pressionou. Arick,
delicado deque não recebera o estranho colar por motivos que Neve desconhecia, parecia
quase… aliviado.
Mas as outras sacerdotisas ainda usavam o colar com o pingente feito por
retorno dela. Kiri depois da primeira oferta de sangue, quando cada uma delas recebera a
que prendiammagia da Terra das Sombras pela primeira vez. Neve não sabia onde Kiri
a fuga, talvez conseguia a madeira; não era de nenhuma das árvores que enchiam o
mo a florestaSantuário. Não perguntou.
Notícias de mudanças na Ordem se espalhavam lentamente pelo
no caminho. continente. Não os detalhes concretos, mas sim como elas estavam fazendo
nta. As folhascoisas mais concretas para libertar os Reis em vez de apenas enviar as
Segundas Filhas para Wilderwood, como as velas do Santuário tinham
dos enquantomudado de vermelho para cinza obscuro. Neve tinha se preparado para
dando maissofrerem retaliação, mas Kiri estava certa. O que quer que Valleyda
ue fazia para decidisse, os outros Templos seguiam, principalmente depois que a notícia do
simplesmenteque tinham feito no porto de Floriane se espalhou.
Ninguém sabia o escopo completo do que estava acontecendo ali. Neve
rás de Kiri,nem sabia como seria possível começar a explicar aquilo, aliás. Mas algumas
a, o pingentesacerdotisas de outros países eram curiosas o suficiente para irem a Valleyda
se juntar ao movimento. A Ordem ainda estava menor do que fora antes de
gue e tocou obanirem as dissidentes para Rylt, mas o crescimento era lento e constante.
se precisasse Uma das sacerdotisas que saía do Santuário carregava uma xícara
o, totalmentemanchada de sangue, a contribuição diária de Arick. Neve nunca o vira como
gue ainda era uma pessoa sensível, mas de uns tempos para lá ou ele enviava o sacrifício
por uma sacerdotisa, ou trazia a xícara em vez de oferecer o sangue direto da
vaninha. Nãoveia. Funcionava mesmo assim. Sangue era sangue, e tinha sido o de Arick
sangue, o diaque despertara os fragmentos de galhos no início, possibilitando que
ecera irritada retirassem as árvores brancas da floresta.
ionou. Arick, — O Consorte Eleito logo vai estar aqui para assistir à nova chegada —
hecia, pareciadisse Kiri para Neve. — Você planeja ficar?
Não planejava. Neve estava a caminho da guarita para perguntar a
ente feito porNoruscan, o capitão da guarda, se ele tinha recebido notícias de Wilderwood.
as recebera aKiri sabia daquilo. Mesmo assim, perguntou, como se estivesse desafiando
bia onde KiriNeve a dar uma resposta diferente.
e enchiam o — Já vou me recolher. — Neve se virou, seguindo pela trilha. — Diga para
Arick ir aos meus aposentos quando terminarem.
amente pelo Precisava conversar com ele. Arick também estava estranhamente
vam fazendocauteloso em relação a Red, alertando Neve de que a pessoa que voltasse
as enviar astalvez não fosse mais a que tinham perdido, de que os laços de Wilderwood
uário tinham talvez fossem difíceis demais de desatar. O jeito que ele falara com ela era
eparado paraquase frio. Aquilo fez Neve se perguntar por que ele estava fazendo aquilo, às
ue Valleydavezes, quando ela tinha energia para pensar no assunto, mas Red e Arick
e a notícia dosempre tinham sido uma equação complexa. Os laços que uniam todos eles
estavam embolados em nós inextricáveis.
do ali. Neve Ela já estava na metade do caminho quando Kiri voltou a falar:
Mas algumas — Nós a tornamos Rainha por muitos motivos, Neverah. E você parece
m a Valleydapensar em apenas um — disse a Suma Sacerdotisa. Neve vacilou e parou de
fora antes deandar. — Não fizemos isso apenas para trazer Redarys de volta. — A voz de
Kiri soou irritada ao dizer o nome da Segunda Filha. — Não apenas para nos
uma xícaravingarmos do Lobo. Mas pela restauração dos nossos deuses. Começo a me
a o vira comoperguntar se há chances de que vacile no seu trabalho caso sua irmã
a o sacrifícioreapareça.
gue direto da Ela vacilaria? Neve não sabia. Mas a magia fria aninhada na palma das
o o de Arick mãos restabeleceu sua confiança, como segurança e controle, e seria muito
ilitando que difícil abrir mão daquilo.
— Asseguro que isso não vai acontecer.
a chegada — — Espero realmente que não. — Uma pausa, e a voz de Kiri ficou mais
baixa. — Talvez tenhamos sido apressados demais em começar o seu reino.
perguntar a Em fazer você.
Wilderwood. As palavras despertaram uma ideia conhecida, uma forma escura em um
e desafiandocômodo escuro que Neve mantinha cuidadosamente fechado. Aquilo
assombrava sua mente quando não conseguia dormir, um pensamento em
— Diga paraforma de sombra que não a deixava em paz.
Então, Neve não parou para pensar. Simplesmente caminhou até a Suma
stranhamente Sacerdotisa e tocou o braço dela, deixando todo o poder estranho e sombrio
que voltassesair.
Wilderwood Tinha sido um acidente a primeira vez que fizera aquilo, quando tocara nas
com ela era costas de Arick para pedir que ele lhe passasse o vinho. Uma fagulha gelada
ndo aquilo, àsbrilhara entre eles, como se estivessem se reconhecendo. Tinha sido o
Red e Aricksuficiente para fazê-lo gemer.
m todos eles Neve tentara pedir desculpas, mas ele meneara a cabeça.
— Não há do que se desculpar. — Os dedos dele tinham estremecido na
haste da taça. — Você se encaixou nesse papel de um jeito que eu nem
você parecepoderia ter imaginado, Neverah.
ou e parou de
— A voz de Ela sentira o rosto corar inexplicavelmente. Voltara a atenção para a
enas para nosprópria taça, mas continuara com a impressão de ter os olhos dele focados
Começo a menela, brilhando com uma emoção que não tinha conseguido interpretar.
so sua irmã Agora, Neve queria que aquela magia fria machucasse. E a respiração
chiada que Kiri soltou entredentes lhe mostrou que conseguira o intento.
na palma das — Você não me fez. — Neve fechou os dedos como garras. Geada cobria
e seria muito as palmas das mãos, e as veias se tingiram de negro. — Seja lá o que já tenha
feito, você com certeza não me fez.
Os olhos azuis se estreitaram.
ri ficou mais — Eu lhe dei poder, Neverah. Nunca se esqueça disso.
r o seu reino. — Você me mostrou onde ele estava. Eu mesmo a tomei. — Ela apertou
mais o toque. — Não houve nada dado, apenas tomado.
scura em um Neve soltou o braço da sacerdotisa, deixando uma marca azulada na pele,
ado. Aquilocomo uma queimadura de frio.
nsamento em Kiri cobriu a marca com a outra mão.
— Não tente tomar muito para si, Vossa Majestade — murmurou ela. —
u até a SumaIsso é maior que você. Maior que sua irmã. E, mesmo que ela volte, estará
ho e sombrioligada a Wilderwood de maneiras que você não é capaz de entender. Se você
a quiser de volta, por completo, você precisa de mim.
do tocara nas Neve sentiu um calafrio, pois sabia que Kiri estava certa.
gulha gelada — Veremos. — A Rainha se virou, puxando o capuz do manto negro para
Tinha sido ocobrir a cabeça, e deixou a Suma Sacerdotisa para trás.
A guarita estava quase vazia. Metade da força de combate estava em
Floriane, de prontidão contra a ameaça eterna de um levante. Havia alguns
tremecido nahomens na fronteira de Wilderwood, atentos a qualquer sinal do retorno de
que eu nemRed. Provavelmente era tolice deixar a capital tão pouco protegida.
Neve flexionou as mãos. A grama que crescia ente as pedras do pavimento
ficou seca enquanto a geada cobria os dedos dela. Talvez não tão pouco
nção para aprotegida, afinal.
dele focados Noruscan aguardava perto da porta, como sempre. Neve olhou para ele sob
o capuz — uma tentativa tosca de disfarce, mas o suficiente para a curta
a respiraçãodistância.
— Alguma notícia?
Geada cobria — Hoje, não, Majestade.
o que já tenha O tom de alívio na voz dele fez com que ela ficasse nervosa. Eles sempre
haviam temido Red, vendo-a mais como uma relíquia do que como uma
garota, a prova de que o mundo era maior e mais aterrorizante do que
gostariam. Agora, uma centelha daquele mesmo medo surgia quando viam
— Ela apertou Neve.
Parte dela gostava daquilo.
lada na pele, — Quando ela vier — disse Neve, repetindo a resposta de sempre —,
quero que a traga diretamente para mim.
O comandante assentiu, como sempre fazia.
murou ela. — Após concluir sua tarefa, Neve seguiu para seus aposentos. Não tinha
volte, estará mudado de quarto depois de se tornar Rainha. Dormir no mesmo lugar que
nder. Se vocêIsla dormira não lhe parecia agradável. O jantar já a aguardava em um
carrinho diante da escrivaninha. Quando chegava a fazer alguma refeição, era
lá que comia.
to negro para Alguém também a aguardava no cômodo, com os antebraços apoiados no
joelho e a cabeça baixa.
e estava em Raffe.
Havia alguns O coração de Neve disparou. Não se lembrava da última vez que o tinha
do retorno devisto. Aqueles dias tinham passado em um borrão de sangue e planejamento,
pouca comida e menos sono ainda. Ela levou a mão ao cabelo e ao rosto
do pavimentoencovado; não tinha passado muito tempo se olhando no espelho, mas sabia
ão tão pouco
que sua aparência não era nada boa. Não tinha pensado em se importar com
u para ele sob isso até aquele momento.
para a curta — Peço perdão pelo incômodo — disse Raffe, ainda olhando para as mãos.
— Não é incômodo algum.
Ela pressionou o corpo contra a porta, as costas eretas contra a onda de
sentimentos despertada quando vira o rapaz. Tristeza, calor, vergonha.
Eles sempre Ficaram assim, cada um de um lado do aposento. Nenhum dos dois
e como uma sabendo como estreitar o espaço entre eles.
ante do que Raffe suspirou ao se levantar, um som profundo o suficiente para afogá-la.
quando viamOs olhos dele pousaram no corte da mão dela antes de se desviarem.
— Passando muito tempo no Santuário de novo?
Neve cerrou o punho, sentindo as beiradas do corte repuxarem.
e sempre —, — Assuntos da Ordem.
Raffe emitiu um som baixo. Hesitante, como se ela talvez fosse rejeitá-lo,
deu um passo na direção de Neve. Quando ela não objetou, aproximou-se
s. Não tinha mais e pegou a mão dela.
mo lugar que Virou a palma para cima mesmo sabendo que não conseguiria ver muita
dava em um coisa na penumbra. Aquela era apenas uma desculpa para tocá-la.
refeição, era — Estou preocupado com você — murmurou ele.
Neve não respondeu. Não podia dizer para que ele não se preocupasse,
apoiados no nem fingir que não havia razões para tal.
Em vez de dizer qualquer coisa, ela o beijou, porque, por todos os Reis e
todas as sombras, talvez aquela fosse a única coisa que podia acontecer do
z que o tinha jeito que ela queria, mesmo que apenas por um instante.
lanejamento, Raffe nunca fazia nada pela metade, e beijar não era exceção. Quando
lo e ao rostoenfim se afastou, deixando espaço para os temores e dúvidas voltarem, Neve
ho, mas sabia estava ofegante, com o cabelo bagunçado e os lábios doloridos.
Raffe apoiou a testa na dela.
mportar com — Seja lá o que tenha feito — sussurrou ele —, não é tarde demais para
desfazer.
para as mãos. — Não posso. — Ela havia pensado em desfazer? Talvez, na calada da
noite, quando a escuridão de pensamentos indesejáveis pairava sobre ela,
ra a onda de grande demais para ignorar. — Raffe, eu preciso fazer isso. Se eu conseguir
libertar Red…
um dos dois — Red não está aqui — sussurrou ele com intensidade. Neve pressionou a
testa contra a dele, como se pudesse se afogar no rapaz. — Você não pode
para afogá-la.trazê-la de volta. Ela se foi.
Ela afundou os dedos nas costas dele e o beijou de novo. Não foi um beijo
suave, mas sim um para sufocar todas as questões. Por um momento, Raffe
permitiu, mas depois se afastou e mergulhou os dedos no cabelo dela.
— Neve. — Ele se inclinou para trás o suficiente para olhar nos olhos dela.
sse rejeitá-lo,— Não existe nada neste mundo que me faça deixar de amá-la, não importa o
aproximou-se que você tenha feito nem quão terrível seja. Você sabe disso, não sabe?
As palavras foram um golpe no coração dela, pesado e leve ao mesmo
ria ver muitatempo. Era a primeira vez que ele declarava seu amor por ela e sob o peso de
tudo aquilo.
O que Kiri dissera no jardim voltou à sua mente: Talvez tenhamos sido
preocupasse,apressados demais em começar o seu reino.
A resposta mal passou de um sussurro:
dos os Reis e — E o que você acha que eu fiz, Raffe?
acontecer do — Parece que eu sempre chego na hora errada, não é?
Raffe a soltou, afastando-se como se ela fosse carvão em brasa. Neve se
ção. Quando virou, o estômago embrulhando com a culpa inexplicável que sentia.
ltarem, Neve Arick estava parado na porta, com um sorriso sem calidez alguma no rosto.
A expressão nos olhos não era exatamente de raiva, mas eles emitiam uma
luz estranha enquanto ele olhava de Neve para Raffe.
demais para — Que bom encontrar você aqui, Raffe. Eu queria mesmo falar com você.
— Já faz tempo mesmo que não nos falamos. — Raffe ergueu o queixo. —
na calada da Você anda ocupado demais.
va sobre ela, — Nós dois andamos. — Arick fez um gesto em direção a Neve, indicando
eu conseguirquem era a outra metade do nós. — Muito gentil da sua parte ajudar a Rainha
a relaxar.
pressionou a O luar refletiu nos dentes de Raffe, mas foi Neve quem deu um passo à
ocê não pode frente.
— Arick, não faça isso.
foi um beijo Ele parou no meio do caminho, um brilho momentâneo de surpresa no
mento, Raffe rosto. O luar claro conferia um tom azulado e estranho aos olhos dele.
— Queira me perdoar.
os olhos dela. Silêncio pesado. Quando as coisas tinham ficado assim entre os três?
não importa o Furtivas, secretas e duras, sendo que antes era tudo tão fácil?
Neve engoliu em seco, sentindo um nó na garganta.
e ao mesmo — Você disse que queria falar comigo — disse Raffe, por fim. — Pois
sob o peso defale.
Arick deu um sorriso lento, mas os olhos estavam alertas.
nhamos sido — O que você está fazendo aqui?
Raffe fez uma expressão de surpresa, depois suspirou e disse:
— Eu entendo que você e Neve…
— Não estou me referindo a isso. — A declaração de Arick não soou
totalmente verdadeira, como se sentisse algum tipo de emoção ligada ao beijo
asa. Neve se que tinha acabado de interromper mas não quisesse lidar com o assunto
naquele momento. — Eu quero saber o que você está fazendo em Valleyda,
uma no rosto.Raffe.
emitiam uma Raffe estreitou o olhar.
— Você já sabe há anos tudo que há para saber sobre as rotas comerciais.
o queixo. —A sua família está ansiosa para recebê-lo de volta. — Arick encolheu os
ombros. — Você não quer vê-los?
ve, indicando Raffe não respondeu de cara, alternando o olhar entre Arick e Neve.
udar a Rainha — Claro que quero — respondeu Raffe com calma. — Mas eu quero estar
aqui para dar todo meu apoio a Neve depois… depois de tudo.
u um passo à — Você com certeza já fez isso. — Arick estava muito diferente
ultimamente, mas os três já se conheciam havia tempo o bastante para que
Neve reconhecesse o sofrimento dele quando o ouvia.
surpresa no Ela olhou para ele sem compreender. O luar apagava qualquer vestígio de
sombras, e ele parecia tão tomado pelo sofrimento quanto ela.
Raffe olhou para Neve e engoliu em seco.
ntre os três? — Nos falamos depois. Lembre-se do que eu disse, Neve. — Ele lançou
um último olhar para Arick e saiu, fechando a porta.
Neve se largou na cadeira diante da escrivaninha, apoiando a testa na mão.
fim. — Pois Havia algo de quase inseguro na forma como Arick estava se
comportando, parado no meio do quarto. O constrangimento não combinava
com ele, sempre tão relaxado e casual.
— Você deveria comer — disse ele.
— Não estou com fome.
Arick não insistiu. Pelo canto dos olhos, Neve o viu cruzar os braços.
ck não soou — O que ele pediu para você lembrar?
gada ao beijo Um tom estranho na voz dele, como se ambos quisessem e, ao mesmo
m o assunto tempo, não quisessem que ela respondesse.
em Valleyda, Ela não respondeu. Em vez disso, fez outra pergunta, colocando em
palavras o pensamento sombrio que a perseguia, as suposições que a
mantinham acordada à noite.
— Arick, o que realmente aconteceu com a minha mãe?
s comerciais. Um momento de silêncio pesado.
encolheu os — Por que você está perguntando isso?
E aquilo já era a resposta.
Neve baixou a cabeça. Um som baixo e sofrido escapou por trás dos
u quero estar dentes. Devia ter desconfiado. A doença de Isla, a forma como a tomara tão
rapidamente… Ela devia ter desconfiado.
ito diferente O pior de tudo era que uma parte dela sempre soubera. Tinha reconhecido
nte para queque havia alguma coisa estranha acontecendo e simplesmente ignorara
porque assim ficaria mais perto daquilo que queria.
er vestígio de A irmã em casa. E, por todos os Reis sagrados, algum controle.
Neve ouviu os passos de Arick se aproximarem e sentiu uma mudança no
ar quando ele estendeu a mão. Desistiu de encostar nela, porém, por saber
— Ele lançou que aquilo seria ir longe demais. Mas ela sentiu que ele queria tocá-la. Um
desejo profundo e ressentido de oferecer conforto.
— E a Suma Sacerdotisa? — Ela olhou para as próprias mãos, entrelaçadas
k estava secomo vinhas, apertadas a ponto de prender a circulação. — Ela também?
o combinava — Sim.
Não tinham sido reviravoltas do destino. Nem provas de que ela estava
certa. Assassinatos.
— Quem mais sabe?
— Só Kiri. — Uma pausa. — Kiri matou as duas.
Kiri, com sua boca sempre torcida em um esgar de reprovação e sua
e, ao mesmopresunção. Lá desde o início, orquestrando a queda.
Ela o ouviu engolir em seco.
olocando em — Meu plano não envolvia nenhuma morte, mas… ambas serviram a um
ições que a objetivo. Eu não contei nada porque não faria diferença. — A mão dele
finalmente se aproximou e pousou de leve sobre a dela. Estava fria, mas ela
não rechaçou o toque. — Estamos fazendo o necessário.
Um eco da noite posterior à morte de Isla. Não a noite em que tudo
mudara, mas a noite em que tinham tomado a decisão de fazer alguma coisa.
Ela colocara as engrenagens em movimento, e agora tinha de se manter firme
por trás dosaté atingirem o objetivo.
a tomara tão Respirou fundo. Sentiu os lábios dormentes.
— Estamos fazendo o necessário.
reconhecido Toda aquela morte tinha de servir para alguma coisa.
nte ignorara — Você é uma mulher extraordinária, Neve. — Ele usou o apelido dela, o
que era raro naqueles dias. Ele só o usava quando dizia algo que parecia não
ter certeza se deveria. — Você se provou em cada desafio e aguentou todos
mudança noos fardos que ninguém deveria ser obrigado a carregar. Você é uma Rainha
m, por saber melhor do que este lugar merece. — O polegar dele estremeceu, como se
tocá-la. Umquisesse acariciar a mão dela, mas não o fez. — Você é boa demais para isso
tudo.
entrelaçadas Neve olhou para Arick, a incerteza e a confusão mantendo-a congelada no
lugar. Sob a luz prateada que entrava pela janela, os olhos dele pareciam
azuis em vez de verdes.
ue ela estava Ele apertou a mão dela uma vez antes de afastar a dele.
— Tudo isso logo vai acabar.
Em seguida, Arick fez uma reverência e desapareceu na escuridão.
ovação e sua
erviram a um
A mão dele
fria, mas ela
Um eco da noite posterior à morte de Isla. Não a noite em que tudo
mudara, mas a noite em que tinham tomado a decisão de fazer alguma coisa.
Ela colocara as engrenagens em movimento, e agora tinha de se manter firme
até atingirem o objetivo.
Respirou fundo. Sentiu os lábios dormentes.
— Estamos fazendo o necessário.
Toda aquela morte tinha de servir para alguma coisa.
— Você é uma mulher extraordinária, Neve. — Ele usou o apelido dela, o
que era raro naqueles dias. Ele só o usava quando dizia algo que parecia não
ter certeza se deveria. — Você se provou em cada desafio e aguentou todos
os fardos que ninguém deveria ser obrigado a carregar. Você é uma Rainha
melhor do que este lugar merece. — O polegar dele estremeceu, como se
quisesse acariciar a mão dela, mas não o fez. — Você é boa demais para isso
tudo.
Neve olhou para Arick, a incerteza e a confusão mantendo-a congelada no
lugar. Sob a luz prateada que entrava pela janela, os olhos dele pareciam
azuis em vez de verdes.
Ele apertou a mão dela uma vez antes de afastar a dele.
— Tudo isso logo vai acabar.
Em seguida, Arick fez uma reverência e desapareceu na escuridão.
25
eu tenho que Eammon lançou um olhar de curiosidade para o manto enquanto Red
está tentando descia a escada. Seu olhar logo foi atraído para o rosto dela, mas ele
permaneceu em silêncio. Red pressionou os lábios e pendurou a bolsa no
ombro.
o um sibilar, Lyra olhou de um para o outro antes de se virar para a porta.
— Vou esperar no portão.
Fife abriu a boca, mas a fechou sem dizer nada. Apenas levantou uma das
mãos e deu um aceno constrangido, passando pelo arco quebrado e indo para
ar de Red e oa sala de jantar.
Então, Red e o Lobo ficaram sozinhos.
Eammon permaneceu em silêncio. Ainda acreditava que aquilo seria para
na escadaria,sempre — ela conseguia ver isso na forma como apertava os próprios braços
e como engolia em seco.
Tantas palavras não ditas entre eles, e um adeus era a única que ele diria.
Eammon para Ela não permitiu.
— Volto em três dias. — Red se virou, colocou o capuz vermelho e passou
nha da boca pela porta, deixando o Lobo nas sombras.
am para Red.
A lâmina da tor nas costas de Lyra parecia a lua minguante. Ela foi se
Eu esqueci de entranhando de forma hábil Wilderwood adentro, com Red a seguindo de
perto.
matrimonial Caminharam em silêncio por alguns minutos até Red ouvir um barulho; um
na lareira. O som distante, mas inconfundível, de um bum reverberando na floresta.
Outra brecha se abrindo.
uma pilha de — Droga. — Lyra desembainhou a tor e pegou um frasco de sangue na
ta afiada combolsa na cintura com um movimento bem treinado. — Vamos continuar, mas
fique atenta ao chão.
Red assentiu, cerrando os punhos. O fio de magia no seu peito se espiralou,
nquanto Redpronto para ser usado.
ela, mas ele Elas avançaram e finalmente chegaram à borda escura de um buraco no
u a bolsa no qual antes devia haver uma sentinela irrompendo de um bolsão de neblina.
Na beira do fosso, um pequeno ciclone de folhas e galhos girava. Lyra
abriu o frasco de sangue e o derramou sobre a coluna rodopiante. Ela se
desfez com um choramingo, fazendo folhas apenas um pouco marcadas por
ntou uma das sombras pousarem no chão.
o e indo para — Consegui ser bem rápida dessa vez. — Mas não voltou a embainhar a
tor. — Eammon vai ter que…
ilo seria para A criatura seguinte se formou mais rápido, como se tivesse aprendido a
óprios braçoslição com a anterior lenta demais. Um rodamoinho de galhos e folhas mortos
e ossos soltos se formou, sem se importar em tentar uma forma humanoide,
simplesmente saindo do chão e partindo para cima delas.
Ambas agiram por instinto. Red curvou os dedos, convocando sua magia e
elho e passoufazendo com que vinhas saíssem de um arbusto, chicoteando no ar. Estas
atravessaram a criatura de sombras ainda em formação, o suficiente para
desfazê-la e diminuir sua velocidade, mas a criatura de sombras voltou a se
e. Ela foi se formar logo em seguida.
seguindo de Lyra estava pronta. Pegou outro frasco de sangue, derramando-o na lâmina
da tor em um arco gracioso, e depois se lançou contra o monstro.
m barulho; um O brilho curvo da tor cortou a penumbra, espirrando sangue e seiva. A
lâmina era uma extensão de Lyra, a curva da arma parecendo o braço de um
dançarino que girava na escuridão. As vinhas de Red continuavam açoitando
de sangue naa coisa, desfazendo-a em pedacinhos; Lyra continuou, rasgando-a com a
ontinuar, maslâmina ensanguentada até fazer as partes que a formavam caírem no chão da
floresta. Em questão de segundos a criatura de sombras desapareceu, restando
se espiralou, apenas um monte de detrito podre e escuro no solo.
As duas ficaram paradas por um tempo, ofegando. Red relaxou os dedos, e
m buraco no as vinhas retrocederam para o arbusto. Engoliu o gosto de terra enquanto suas
veias passavam do verde para o azul novamente. Tinha sido a vez que usara a
girava. Lyramagia de Wilderwood com mais sucesso desde que ajudara Eammon a lutar
iante. Ela se contra o monstro que parecia um verme no caminho de volta da Fronteira,
marcadas pormas não pareceu ser um grande feito. Afinal, não tinham conseguido fechar a
brecha e, enquanto ela estivesse aberta, a vitória seria apenas temporária.
embainhar a Um instante de silêncio, as duas querendo ver se a brecha lançaria mais
alguma coisa. Então, Lyra embainhou a tor sem se preocupar em limpá-la.
aprendido a — Esta brecha é pequena. A criatura de sombras não vai ter tempo de se
olhas mortosreanimar até Eammon chegar aqui. É o que espero. — Ela se virou, seguindo
a humanoide,por entre a floresta de novo. — Eu até usaria o sangue, mas acho que seria
um desperdício do que ainda tenho. E não faria muita diferença.
o sua magia e Red ficou olhando por mais um momento para o fosso de sombras, escuro
no ar. Estase podre no chão. Praguejando baixinho, virou-se para seguir Lyra.
ficiente para As árvores começaram a ficar mais espaçadas à medida que se
s voltou a se aproximavam da fronteira. A névoa espessa era quase um muro separando
Wilderwood do mundo exterior, mas dava para ver pedaços do céu azul
o-o na lâminabrilhando através da neblina. Valleyda parecia perto o suficiente para tocar, e
as únicas emoções que Red sentia eram apreensão e uma certa nostalgia.
e e seiva. A Chegaram rápido demais à linha de árvores.
braço de um — Volto em três dias — anunciou Red, exatamente como fizera com
am açoitandoEammon, como se Wilderwood fosse capaz de ouvi-la e marcar o tempo da
ndo-a com a mesma forma que ele. — Isso não vai levar mais que três dias. E, depois, eu
m no chão davou voltar.
ceu, restando Os raios de sol que passavam por entre as árvores fizeram brilharem as
mechas acobreadas do cabelo cacheado de Lyra quando ela assentiu.
u os dedos, e — Três dias. — Ela se virou de costas e seguiu para a neblina, a caminho
nquanto suasda Fortaleza. A caminho de casa.
z que usara a — Cuide dele — murmurou Red. — Por favor.
mmon a lutar — Sempre cuidei. — Lyra olhou por sobre o ombro, os olhos escuros
da Fronteira, brilhando docemente na penumbra. — Lembre-se do que eu disse.
uido fechar a Red assentiu. A magia da floresta florescia no peito ela, esperando.
Quando Lyra se afastou, Red se virou para as árvores pelas quais passara
ançaria mais no seu vigésimo aniversário. Respirando fundo, passou por elas novamente.
A claridade do dia pareceu um peso sobre nos ombros, uma faca cintilante
perfurando os olhos. Por um momento, ela ficou parada ali, piscando, uma
tempo de se mulher de vermelho na borda da floresta. O outono tingia o céu de um tom de
ou, seguindo azul, e o vento trazia o cheiro de uma fogueira. Atrás dela, um murmúrio.
cho que seriaRed se virou, olhando por entre as sombras de Wilderwood enquanto ela
sussurrava naquela língua estranha de folhas e espinhos:
mbras, escuro Vamos esperar sua escolha.
Um galho se soltou do tronco, seco e morto ao cair no chão da floresta. Um
dida que segrupo de pequenos arbustos se encolheu, curvando-se como um besouro
ro separandomoribundo.
do céu azul Mas vamos tomá-lo, se for necessário.
para tocar, e Ela contraiu o maxilar ao sentir as palavras vibrando em seus ossos, o
fragmento afiado de Wilderwood que carregava dentro de si ecoando nos
espaços vazios.
o fizera com — Vá se danar — murmurou ela.
r o tempo da Wilderwood não respondeu.
E, depois, eu Red se apressou para descer a encosta gramada em direção à estrada e ao
vilarejo um pouco além. Sentiu os pulmões queimarem, como se o ar fora da
brilharem as floresta fosse diferente do que respirava quando estava nela. Red se sentiu um
pouco fraca.
a, a caminho Quando chegou à estrada, parou e apertou os olhos. Viu uma estrutura alta
e estreita se erguendo na extremidade do vilarejo, perto o suficiente para
perceber que era uma torre de vigia.
olhos escuros Red se permitiu apenas um instante para pensar naquilo, a mente ocupada
com preocupações de ordem mais prática. A viagem de carruagem para a
capital levava metade de um dia, e ela não tinha nem dinheiro nem cavalo.
quais passaraCaminhar seria…
Um apito alto e agudo interrompeu seus pensamentos, alto o suficiente
aca cintilantepara ela contrair o rosto. Gritos soaram ao longe, perto das montanhas, um
iscando, uma
de um tom desom trovejante como um tropel. Ela viu uma nuvem de poeira se erguer perto
m murmúrio.da torre de vigia.
enquanto ela Red sentiu uma onda de pânico, mas foi uma coisa passageira. A torre
devia ter sido construída para vigiar Wilderwood, pois não havia mais nada
para se ver naquela direção. O que significava que a comoção era por causa
floresta. Umdela, e de nada adiantaria tentar se esconder.
um besouro Em vez disso, Red parou na curva da estrada, mantendo o queixo erguido,
o manto escarlate nos ombros. Não se encolheu quando o grupo de cavaleiros
chegou até ela, sem fôlego e com as espadas desembainhadas.
seus ossos, o Um deles apontou a espada para ela, cuja lâmina cintilava sob a luz do dia,
ecoando nos com uma claridade com a qual Red não estava mais acostumada.
Red levantou as mãos em rendição.
— Entendo que estejam preocupados, mas…
— Não se aproxime mais. — A arma oscilou na mão do cavaleiro,
estrada e aodenunciando seu tremor.
e o ar fora da — Espere. — Outro guarda, com a listra prateada de comandante no
se sentiu umombro, ergueu a mão. Ele se inclinou e franziu o cenho, olhando para Red.
— Eu conheço você.
estrutura alta — Como bem deveria.
ficiente para Ele passou os olhos pelas dobras do manto, e seu rosto demonstrou todo o
espanto.
ente ocupada — Segunda Filha.
agem para a Red não estava em posição de ser exigente, mas contraiu os lábios, os
nem cavalo.dentes brilhando na caridade que não lhe era mais familiar.
— Lady Lobo — corrigiu ela.
o suficiente
ontanhas, um
som trovejante como um tropel. Ela viu uma nuvem de poeira se erguer perto
da torre de vigia.
Red sentiu uma onda de pânico, mas foi uma coisa passageira. A torre
devia ter sido construída para vigiar Wilderwood, pois não havia mais nada
para se ver naquela direção. O que significava que a comoção era por causa
dela, e de nada adiantaria tentar se esconder.
Em vez disso, Red parou na curva da estrada, mantendo o queixo erguido,
o manto escarlate nos ombros. Não se encolheu quando o grupo de cavaleiros
chegou até ela, sem fôlego e com as espadas desembainhadas.
Um deles apontou a espada para ela, cuja lâmina cintilava sob a luz do dia,
com uma claridade com a qual Red não estava mais acostumada.
Red levantou as mãos em rendição.
— Entendo que estejam preocupados, mas…
— Não se aproxime mais. — A arma oscilou na mão do cavaleiro,
denunciando seu tremor.
— Espere. — Outro guarda, com a listra prateada de comandante no
ombro, ergueu a mão. Ele se inclinou e franziu o cenho, olhando para Red.
— Eu conheço você.
— Como bem deveria.
Ele passou os olhos pelas dobras do manto, e seu rosto demonstrou todo o
espanto.
— Segunda Filha.
Red não estava em posição de ser exigente, mas contraiu os lábios, os
dentes brilhando na caridade que não lhe era mais familiar.
— Lady Lobo — corrigiu ela.
26
ho certeza de
odo o nosso
osso trabalho
pronome de
d arqueou as
ho escuro no
ás das outras,
otivo de estar
em tramoias
era familiar e
mon sujo de
ar trazerem o
o ombro. A
va algo mais
profundo do que um simples desprazer. Os olhos dela se encontraram com os
de Red, azuis e frios o suficiente para queimar, e a porta se fechou.
27
esse prestes a
constrangida
ara Valleyda
retorno para
vosismo dela.
— Entendi.
Havia várias camadas de significado na voz da Rainha, uma profundidade
que a palavra não revelou. Mas quando os olhos dela encontraram os de Red,
ostentava um brilho de determinação, não de lágrimas. Ela entregou a
camisola.
— Vejo você amanhã de manhã. Aí poderemos ir ao Santuário.
Neve quase saiu correndo do quarto, as saias farfalhando ao passar pela
porta. Red ficou sozinha pela primeira vez desde que voltara para Valleyda, e
até mesmo o ar lhe parecia hostil.
A camisola serviu perfeitamente, mas o tecido pinicava sua pele. A cama
tinha cheiro de rosas, muito diferente do cheiro de café e folhas com o qual
tinha se acostumado. Red era uma peça retorcida de um quebra-cabeça; as
mudanças que sofrera eram sutis demais para serem percebidas, mas
suficientes para que não se encaixasse mais no lugar que deixara para trás.
Mesmo assim, adormeceu quase no instante em que fechou os olhos, a
exaustão a atraindo para a escuridão.
28
ro som a não
acos de ossos
iores caíam,
vez menor à
medida que os escombros se acumulavam ao redor dela. Engolindo outro
soluço, Red correu em direção à passagem estreita, passando pelas estátuas
de pedra das outras Segundas Filhas e pelas velas acesas. Uma das mãos
sangrava e a outra estava quebrada.
Caiu de joelhos nas pedras do lado de fora do Santuário. Tentou se
levantar, mas não conseguiu. Um grito passou sibilante entre os dentes
cerrados, enquanto a dor a atingia em ondas.
— Redarys?
As botas de Arick entraram no seu campo de visão quando o rapaz se
agachou sob o som outonal. A voz dele saiu rouca e entrecortada.
— O que foi que você fez? Onde está Neve?
Red não respondeu. Em vez disso, concentrou-se nas pedras atrás dele. No
que não estava lá. A dor lhe trouxe uma clareza, enquanto ela dizia a verdade
nua e crua:
— Você não tem sombra.
Ele parou. Então, uma coisa afiada atingiu a lateral da cabeça de Red, e o
mundo ficou preto.
29
Olhos âmbar e boca suave, cabelo escuro entre os dedos. Red não queria
acordar, mesmo enquanto água fria escorria pelo pescoço e as pedras
machucavam suas costas. Mas despertou e abriu os olhos, a dor ficando mais
aguda à medida que os sonhos com Eammon se apagavam.
Paredes rochosas e úmidas, grades de metal. Um calabouço.
É claro que sabia que havia calabouços embaixo do palácio de Valleyda,
mas não se lembrava de já terem sido usados. O teto começava a poucos
centímetros da sua cabeça, e a única fonte de luz era uma arandela gotejante.
Mal conseguia ver a outra cela na penumbra do outro lado do corredor
estreito e úmido. Uma massa de sombras espreitava de trás das grades.
Red se atreveu a olhar para a mão. Uma confusão de ângulos horríveis,
tudo retorcido para o lado errado sob a pele. A outra mão, a que cortara,
estava vermelha e inchada e com crosta de sangue. A dor a deixava nauseada.
Ela teve ânsia, mas não conseguiu vomitar.
Cerrando os dentes, Red colocou a mão lacerada contra a parede. Atrás
dela, conseguia sentir as raízes profundas do que crescia na superfície, grama
e mato se entrelaçando na terra. Soltou uma expiração trêmula e baixou os
dedos devagar, tentando capturar o fio tênue da magia no peito, para ver se
conseguia atraí-la para si, apenas como um teste.
A magia despertou, mas só um pouco. O suficiente para Red senti-la, mas
não para usá-la, não para afetar o que crescia atrás da parede. Deixou a mão
cair ao lado do corpo.
Fechou os olhos, absorvendo os pensamentos estilhaçados pela dor
enquanto tentava entender o que a tinha levado até lá. Arick perguntando de
Neve. A bota dele acertando a têmpora dela. Ele a levara para aquele
calabouço onde ninguém pensaria em procurar por ela.
E ele não tinha sombra.
Red sentiu o desespero crescer, formando um nó na garganta. Dobrou os
d não queriadedos da mão que não estava quebrada em uma nova tentativa vã de ativar o
e as pedras próprio poder.
ficando mais — São as paredes.
Arick avançava pelo corredor úmido, iluminado por uma tocha gotejante,
com as mãos atrás das costas. Movia-se de forma diferente. Antes Arick
de Valleyda,caminhava como se o mundo fosse servi-lo, de forma tranquila e lânguida.
ava a poucosAgora, a postura dele era quase militar. Na penumbra, não havia como
ela gotejante. verificar sua sombra.
do corredor Red engoliu em seco, sentindo a garganta arranhar.
— O quê?
los horríveis, Arick bateu casualmente com os dedos na parede ao lado das grades.
que cortara, — Elas enfraquecem a magia. Não tenho muita certeza, para ser sincero.
va nauseada. Valchior era um rei severo, e não gostava que alguém fosse mais eficiente em
convocar o poder que ele, na época em que a magia corria livre para quem a
parede. Atrás quisesse usar. Ainda não gosta. — Outra batida na parede antes de colocar as
erfície, gramamãos de volta atrás das costas, uma postura nobre apesar da umidade. — De
e baixou osqualquer forma, ele não compartilhou segredo algum com o resto de nós.
, para ver se Ela sentiu uma pontada de dor na cabeça, e aquele falatório sem sentido só
tornava tudo pior.
senti-la, mas — Você me chutou.
Deixou a mão — Chutei. — Ele não parecia arrependido. — Você machucou Neve.
Neve. Red olhou para ele, sentindo uma esperança repentina e forte.
os pela dor — Ela está viva? Conseguiu escapar?
rguntando de Arick abriu a boca para responder, mas foi outra voz que fez isso.
para aquele — Não graças a você.
Uma figura esguia apareceu na luz fraca. Kiri. Duas marcas azuladas de
mão carimbavam a lateral do pescoço onde Neve a segurara, deixando-a
a. Dobrou os rouca.
vã de ativar o — Você já viveu bem mais do que seria útil, Segunda Filha. Agora, não
passa de um risco.
— Kiri. — Os olhos de Arick tinham um brilho sem cor. — Quieta.
ha gotejante, O corpo todo de Red era um nó de agonia. Ela analisou o rosto de Arick,
Antes Arickprocurando algum sinal de afeto, qualquer eco do homem que conhecera.
a e lânguida.Mas ele a observava como se ela fosse um animal enjaulado, assistindo à dor
havia como dela sem demonstrar nada além de uma vaga curiosidade.
Atrás dele, na cela mal iluminada, a massa de sombras se mexeu.
Red cobriu os olhos com as mãos feridas e latejantes.
— Neve está viva. — Se ela não formulasse como uma pergunta, a
resposta não podia ser não. — Ela está bem.
a ser sincero. — Neve está segura. — A voz de Arick tinha uma nota estranha de
eficiente emsuavidade. — O mais segura que conseguimos deixá-la.
para quem a Red sentiu uma onda de alívio.
de colocar as — Por que estou aqui? Que lugar é este?
idade. — De — Um lugar contra as coisas que trabalham contra os nossos deuses. —
Kiri contraiu o lábio superior. — Coisas como você.
em sentido só Arick contraiu o maxilar.
— Nós vamos salvá-los. — Kiri olhou para o teto do calabouço úmido e
mofado com o semblante de alguém olhando para algo santificado. Levou as
mãos ao peito, como se seu coração fosse algo que pudesse aninhar nos
braços. — Agora que você está aqui, agora que sabemos que está vazia e que
o Lobo está sozinho. Nós enfraquecemos Wilderwood, a hora deles está
chegando. Nossos Reis finalmente voltarão, e nossas recompensas serão
grandes. — Os olhos frios se voltaram para Arick, e ela baixou a cabeça em
azuladas deuma mesura. — Todos os nossos Reis, em carne e osso.
, deixando-a O nojo transpareceu nas linhas da boca de Arick, mas ele não disse nada.
Arick, que se esforçava para pensar em Wilderwood e nos Cinco Reis o
. Agora, não mínimo possível. Arick, que não tinha paciência para nada que fosse
considerado sagrado.
— Vocês não querem os Reis de volta. — Red balançou a cabeça que não
sto de Arick, parava de latejar. — Eammon disse…
e conhecera. — Claro que disse. — Arick revirou os olhos. — O garoto é exatamente
sistindo à dor como o pai, confundindo tolice com nobreza. Eu bem que avisei Ciaran que
as coisas acabariam mal quando ele e Gaya tramaram aquele plano idiota. Ele
nunca me ouviu também.
A informação entrou na cabeça de Red, mas a dor ocupava espaço demais
pergunta, a para que ela conseguisse entender. A menção de Ciaran entrou na sua mente
como um borrão, e ela estreitou os olhos. Arick tinha mencionado o pai de
estranha deEammon como se fosse um amigo.
Ou um rival.
— Que sorte a sua o garoto ter aprendido a controlar melhor as coisas —
continuou Arick. — Ele bem que tentou manter as raízes longe das outras
os deuses. —Segundas Filhas, mas Wilderwood conseguiu o que queria no final. Você foi
a primeira que teve escolha. — Ele estreitou os olhos. — Você poderia ter
saído a qualquer momento, salvado a sua irmã de um mundo de sofrimento.
uço úmido eAfinal de contas, nunca houve nada de Wilderwood em você, não o suficiente
do. Levou aspara fazer a diferença. Você não tem raízes, Redarys. Nada além de ossos e
aninhar nos sangue.
á vazia e que
ra deles está Arick se agachou para que o rosto de ambos ficasse na mesma altura. Com
pensas serãocerteza era um truque da penumbra ou da mente anuviada, mas os olhos dele
a cabeça em pareciam estranhos, como se fossem da cor errada.
— Você não se deixa ser salva. — Os olhos estranhos perscrutaram os
o disse nada.dela. — Foi isso que ele me contou. Não por ele, não por Neve. Determinada
Cinco Reis oa ser uma mártir.
a que fosse — Que ela seja uma mártir, então. — O fervor estava presente na voz e nas
mãos curvadas em garra de Kiri. — A única utilidade que tinha era manter a
beça que não Rainha sob controle, mas nem para isso ela serviu. — Ela apontou para as
marcas no pescoço. — Ela se revoltou, precisamos…
é exatamente — Kiri. — O nome dela foi dito como uma bofetada, e a Suma Sacerdotisa
ei Ciaran que baixou as mãos como uma criança amedrontada. Os olhos eram pedras de
no idiota. Ele gelo. — Vamos mantê-la aqui — continuou Arick. Uma pausa, e o tom dele
ficou suave. — Neve já perdeu demais. Não vou permitir que perca a própria
spaço demais irmã.
na sua mente Aquilo deveria ser reconfortante, mas o rosto dele deixou tudo bem claro:
ado o pai deRed só estava viva por causa de Neve. Havia uma ironia amarga naquilo.
— Além disso — sussurrou Arick, quase para si mesmo —, ela poderia se
provar muito útil. Eu vou precisar de uma rendição completa do Lobo para
as coisas —isso funcionar. — A luz da arandela iluminou os olhos dele, que brilharam
ge das outras com frieza. — Ele é bem familiarizado com pactos.
nal. Você foi — Arick. — Foi um sussurro, um pedido. Os lábios rachados de Red
ê poderia tersangraram. — Eu não estou entendendo.
e sofrimento. Atrás dele, a massa de sombras na outra cela se moveu. Gemeu.
o o suficiente Kiri se virou, pronta para atacar, mas Arick ergueu uma das mãos.
m de ossos e — Não. — Ele desviou o olhar da Suma Sacerdotisa e o pousou em Red,
como se estivesse pensando. Então, deu de ombros. — Deixe que ela veja.
Fico cansado de manter a ilusão.
a altura. Com Arick baixou os braços, e os traços do rosto se reorganizaram, emitindo
os olhos delefumaça de sombras.
Red piscou, certa de que o ferimento na cabeça estava afetando sua visão.
scrutaram osMas as feições dele continuaram a derreter e mudar, como água escorrendo
Determinada em um quadro com tinta ainda fresca. Um maxilar mais marcado que o de
Arick, coberto por uma barba cerrada e escura. Cabelo comprido além dos
na voz e nas ombros, em um tom entre castanho e dourado. Pele clara. Olhos azuis. Bonito
era manter a de um jeito cruel.
ontou para as A pessoa que não era Arick girou os ombros enquanto um sorriso aparecia
no canto da boca diante da expressão horrorizada de Red. Ao seu lado, os
a Sacerdotisadentes de Kiri brilharam como os de um predador.
m pedras de — Pergunte o nome dele — sussurrou ela em voz baixa e forte. —
e o tom delePergunte o nome dele e estremeça.
erca a própria O homem sorriu para Red.
— Acho que ela já sabe quem sou.
do bem claro: — Solmir. — A voz saiu rouca e certa.
O mais jovem dos Cinco Reis assentiu.
ela poderia se — Astuta. — Ele deu um passo para o lado, fazendo um gesto régio na
do Lobo paradireção das grades da cela atrás dele. — Mas outra pessoa deseja uma
ue brilharam audiência com você, Segunda Filha.
As sombras se aglutinaram, como se ele tivesse dado permissão, e se
ados de Redtornaram um corpo. Olhos familiares piscaram sob a luz das tochas. Um rosto
conhecido, embora coberto de sujeira e sangue. As mãos do verdadeiro
Arick, cobertas de cortes, seguraram as grades.
— Red?
sou em Red, Red tentou emitir algum som, tentou chamá-lo, mas tudo que conseguiu foi
que ela veja. soluçar enquanto levava a mão cortada à boca.
am, emitindo — Arick — sussurrou ela com lágrimas escorrendo pelo rosto, deixando
marcas na terra e na poeira que marcavam a pele. — Arick, o que foi que
do sua visão.você fez?
a escorrendo — O que ele tinha que fazer. — Solmir estava parado ali como um
ado que o decarcereiro, com braços cruzados e sobrancelhas baixas. — Ele viu uma
ido além doschance e a aproveitou. Todos nós fazemos idiotices por amor. Para sentir que
azuis. Bonitotemos um propósito. — Ele fez um gesto para Kiri, que pegara uma xícara
gasta no chão, com sangue coagulado nas beiradas. — Vamos lá, Arick.
rriso aparecia Conte para ela. Tenho certeza de que ela quer ouvir sua história sórdida.
seu lado, os Arick fechou os olhos e apoiou a testa nas grades.
— Eu fiz um pacto — disse ele baixinho enquanto Kiri pegava a mão do
e forte. —rapaz e fazia um corte com uma pequena adaga. — Fui até Wilderwood e
encontrei uma das árvores brancas perto da fronteira. Ela… se inclinou. Se
inclinou na minha direção, como se fosse cair, como se o chão sob ela fosse
ceder. Foi assim que eu consegui tocá-la. Só um galho. Com dificuldade. —
Ele meneou a cabeça devagar. — Doeu, o zunido, como se alguém tivesse
enfiado uma serra inteira entre minhas costelas. Mas cheguei perto o
esto régio nasuficiente.
deseja uma — Por quê? — Ela balançou a cabeça, e a dor a fez ver estrelas atrás das
pálpebras. — Como? Wilderwood não faz mais pactos. Não tem mais força o
missão, e se suficiente.
has. Um rosto — Mas as coisas nas Terra das Sombras têm. — Ele não parecia estar se
o verdadeirogabando. Parecia cansado, na verdade. Solmir se encostou na parede.
— Um sacrifício vivo. — Kiri abriu um sorriso de beata. — Um sacrifício
vivo, sangue fresco de uma veia.
conseguiu foi Escarlate e negro empoçaram na palma da mão de Arick, sombras girando
no sangue que gotejava na xícara.
sto, deixando — E depois que sangue é usado no pacto com a Terra das Sombras —
que foi quecontinuou Kiri —, ele pode ser usado para inverter Wilderwood. O sangue do
garoto, maculado pelas sombras, despertou os galhos do Santuário e deu um
ali como um propósito mais nobre a eles. E todos que ofereceram mais sangue depois
Ele viu uma puderam colher o poder, exatamente como prometido para mim nos meus
ara sentir que longos anos de oração. — Aparentemente satisfeita, Kiri soltou a mão mole e
a uma xícarasangrenta de Arick e foi até Red. — Você acha que venceu ao destruir o
os lá, Arick.nosso bosque, sua maldita? Você não sabe nada. Cinco vidas são…
— Sombras amadas, mulher, você nunca para de falar? — Solmir cobriu
os olhos com as mãos de dedos longos e Kiri calou a boca.
ava a mão do — É por isso que você não tem uma sombra. — O instinto fez Red curvar
Wilderwood e os dedos apesar dos ferimentos, e uma nova onda de dor a fez cerrar os
inclinou. Sedentes. — Você é a sombra de Arick. E ele é a sua, quando precisa ser. — Ela
sob ela fosse meneou a cabeça. — Tudo isso e você nem está aqui de verdade.
ficuldade. — — Ah, eu estou aqui. — Solmir baixou a mão com os olhos brilhando. —
guém tivesseEstou aqui o suficiente.
guei perto o — Foi fácil ver a árvore branca. — Arick falava baixo e com voz quase
arrastada, como se estivesse contando um sonho. Um exorcismo, vomitando
elas atrás das toda a história agora que tinha começado. — Muito pálida em contraste com
mais força oas outras, como osso. — A mão que Kiri havia cortado se abriu de forma
convulsiva. A ferida na palma brilhou vermelha com pontos pretos de
recia estar se fungos-de-sombra no meio, que se estendiam como gavinhas doentes pela
pele dele. — Eu sangrei nela. Um sacrifício vivo. Exatamente como Kiri me
Um sacrifíciodisse.
A Suma Sacerdotisa sorriu.
mbras girando — E ela… se abriu. — Mesmo enquanto contava, Arick parecia
horrorizado, como se não conseguisse acreditar no que tinha feito. — O galho
retrocedeu como… como uma coisa viva, como um cavalo assustado. E eu
Sombras —ouvi um som, um som horrível de algo se rasgando, e um bum. E, então, lá
O sangue doestava ele, parado diante de mim na fronteira das árvores, sombras girando
rio e deu um em volta dele como correntes. E ele me perguntou o que eu queria e o que eu
angue depoisdaria para ter o meu desejo realizado.
m nos meus — E o que você pediu? — Ela sabia, mas perguntou assim mesmo.
a mão mole e Arick não respondeu, mas baixou mais a cabeça.
ao destruir o — Ele queria uma forma de salvar você — disse Solmir, como se aquilo o
entediasse. — E disse que estava disposto a tudo.
Solmir cobriu Ah, Arick. Arick, repetindo várias e várias vezes que a amava, mesmo sem
que ela jamais correspondesse. Arick, construindo um castelo no ar no qual
z Red curvarpoderiam ter um final feliz, cimentando-o com sangue e promessas vazias.
fez cerrar os — No início, ele era apenas a minha sombra. — Arick voltou a contar a
sa ser. — Ela história, mantendo o olhar fixo no chão úmido, como se olhar para Red
doesse. — Mas, então… quando as coisas…
brilhando. — — Ele não teve estômago para fazer o que precisava ser feito. — Kiri girou
a xícara com o sangue dele sob o nariz, como se fosse uma taça de vinho, e
m voz quase inspirou fundo. — Não conseguiu lidar quando descobriu que elas
o, vomitandoprecisavam morrer, a Suma Sacerdotisa e a Rainha. Então, eles trocaram de
ontraste com lugar. A sombra e o homem.
riu de forma — Aqui sou obrigado a lembrar que você decidiu sozinha que elas
os pretos deprecisavam morrer — sussurrou Solmir. — Mas, quando isso aconteceu,
doentes pelaArick quis… distância de toda a situação.
omo Kiri me Red conseguia sentir o gosto do coração batendo. Sentiu um aperto na
barriga.
— Como você pôde? — Era um som quase sussurrado, uma ferida no ar.
rick parecia— Como pôde fazer isso com Neve?
o. — O galho — Foi para Neve. — Solmir se desencostou da parede, a boca retorcida.
ustado. E eu— Kiri talvez tenha se excedido, mas era o que Neve queria, admitindo ela
. E, então, láou não. Estava tão desesperada para salvar você quanto Arick. Ela faria
mbras girandoqualquer coisa por você, Redarys. Você não merece um décimo do amor
ia e o que eudela.
Red se atirou contra as grades, a mão que não estava quebrada se chocando
contra o metal. Ela reconheceu a calidez na voz dele, a forma das coisas que
ele não tinha dito.
o se aquilo o — Se você tocou nela — ameaçou ela com voz rouca —, eu vou matar
você.
, mesmo sem Solmir olhou para ela com olhos inescrutáveis e punhos cerrados, que
no ar no qualrelaxou em seguida.
— Não toquei — disse ele, baixo o suficiente para mascarar qualquer que
ou a contar a fosse a emoção ali.
har para Red Atrás dele, Arick respirou fundo.
— Nós só queríamos salvar você. — Ele ergueu os olhos cansados e
— Kiri girouescuros. — Principalmente quando descobrimos o que estava para acontecer.
a de vinho, eNós só queríamos salvar você.
iu que elas — Calma, não precisa se humilhar ainda mais. — Totalmente recomposto,
trocaram deSolmir apoiou o pé na parede de novo. — Redarys salvou a si mesma.
Ela cerrou os dentes.
nha que elas — Eu ainda não sei do que você está falando.
o aconteceu, — As raízes. — Solmir revirou os olhos. — Você não as aceitou, embora
esteja bem claro que você se importa com o Lobo. Você é uma mulher
um aperto naprática, ao que tudo indica. Descobriu que o amor não é motivo suficiente
para se arruinar. Escolheu se salvar.
ferida no ar. Escolha.
Red pensou naquela Wilderwood na caverna, na consciência de que a
oca retorcida. floresta precisava de mais dela, de algo que não poderia simplesmente pegar.
dmitindo ela Pensou em Eammon, desgastando-se sob o peso das sentinelas enquanto elas
ck. Ela faria iam atrás dela sem parar, tentando terminar uma coisa iniciada muito tempo
mo do amorantes. Pensou nos ossos na base de uma árvore, testemunhos de todas as
Segundas Filhas que tinham vindo antes dela, drenadas por uma floresta
se chocandodesesperada que não tinha aprendido a lição. Que ainda não tinha aprendido
as coisas queque uma coisa roubada só murcharia, ao passo que algo dado poderia crescer.
Ela pensou em raízes.
eu vou matar Os lábios de Solmir se curvaram.
— Wilderwood vai ser destruída. O Lobo vai morrer. Os Reis vão ficar
errados, que livres. — Ele encolheu os ombros, estreitou os olhos e continuou a falar com
voz cruel. — E todo mundo vai ter o que queria.
qualquer que A compreensão chegou como o florescimento repentino de uma flor
noturna se abrindo de uma vez só sob uma nova luz.
Uma escolha precisava ser feita, e ali estava a dela.
s cansados e — Eu aceito. — A voz de Red saiu em um sussurro.
ra acontecer. Três pares de olhos pousaram nela, todos com a expressão confusa, mas
Red não deu atenção. Concentrando todo o seu foco, toda a sua vontade, ela
recomposto,puxou o fio fino de poder verde profundo no âmago do seu ser e o fez
florescer apesar das paredes que enfraqueciam a magia. A impressão era a de
que aquilo a mataria; cada corrente de sangue que passava pelas veias era um
desafio, mas, mesmo assim, ela puxou.
eitou, embora Red respirou fundo e pressionou a palma da mão cortada contra o osso do
uma mulher quadril até sentir o sangue começar a escorrer pela pele. Com um arfar de
vo suficientedor, espalmou a mão ensanguentada no piso da cela.
Sangrando, e com a esperança de que as árvores sentissem o gosto.
— Eu quero as raízes — disse ela com a voz clara como o cristal. —
cia de que aEntendo o que isso significa e quero assim mesmo, porque eu fui feita para o
mente pegar.Lobo, e os Lobos foram feitos para Wilderwood.
enquanto elas
muito tempo Por um instante, os quatro ficaram congelados, suspensos em silêncio.
de todas asEntão… um estrondo, como se um milhão de pedras se revirasse de uma só
uma florestavez, como se alguma coisa corresse a toda velocidade pelo chão como uma
ha aprendido grande fera disparando sob a superfície do mar.
deria crescer. Raízes, vindas do norte em um fluxo veloz em direção à ferida aberta.
O piso se rompeu enquanto as raízes de Wilderwood subiam na direção da
mão dela, quilômetros de viagem em um instante pela convocação do sangue
eis vão ficarda Segunda Filha. Red sentiu dor logo que a floresta começou a pressionar o
u a falar comcorte da sua mão, mas, depois disso, o modo como as raízes entravam e
envolviam seus ossos parecia uma volta para casa.
de uma flor Wilderwood finalmente tinha aprendido, naquela noite em que Eammon
quase se perdera totalmente para ela. Uma Marca e palavras em uma árvore e
sangue invadido não poderiam mais sustentá-la. A floresta precisava que Red
a escolhesse.
confusa, mas Que escolhesse o Lobo.
vontade, ela E era o que vinha fazendo, bem aos poucos, desde que o conhecera.
ser e o fez Escolhendo o cacho preto do cabelo e a textura áspera das cicatrizes e o jeito
ssão era a decomo o lábio dele se levantava só um pouquinho quando ela dizia algo que
veias era umele achava engraçado. As sobrancelhas baixas quando lia e como, logo antes
de dormir, soltava um suspiro longo e suave e, Reis, a sensação dos lábios
tra o osso do dele sobre os dela e como ele se agarrava a ela como a hera subindo pelas
um arfar deparedes da Fortaleza.
No fim das contas, foi a escolha mais fácil que já fizera.
A semente dentro dela foi crescendo e crescendo, totalmente livre porque
o cristal. —era dela, tanto pela palavra quanto pelo sangue.
ui feita para o Foi uma tempestade silenciosa de raízes e espinhos e galhos, uma
enxurrada de Wilderwood enfim a inundando por inteiro — não como um
predador, mas sim como a parte que faltava, grata por finalmente se encaixar
em silêncio.nas beiradas lascadas que deixara. A fina gavinha de poder que recebera
se de uma só quatro anos antes correu para encontrar o resto de si mesma e, quando Red
o como uma respirou fundo, sentiu o gosto de argila, coisas crescendo e mel.
Arick, magro como sombras, cobriu o rosto com o braço. Solmir se afastou
da parede com os dentes arreganhados.
na direção da — Maldita seja…
ão do sangue As palavras dele se perderam em meio a tudo que estava acontecendo. O
pressionar opoder que habitava o âmago de Red encontrou o poder externo, colidiu com
s entravam eele e floresceu, enchendo-a de raízes e galhos. A floresta cresceu nos espaços
nos pulmões e subiu pela espinha, vinhas envolvendo cada órgão e semeando
que Eammonsua medula.
uma árvore e A escuridão atrás das pálpebras de Red tinha a forma de folhas. E, quando
sava que Red clareou, ela viu Eammon. Não apenas as mãos, não apenas o mundo através
dos olhos dele, mas ele, inteiro, quase uma coisa que poderia tocar se
estendesse a mão.
o conhecera. Ele se levantou da cama, como se a estivesse vendo tão claramente quanto
rizes e o jeitoela o via. Os olhos cor de âmbar demonstraram o choque e as dúvidas e
izia algo que finalmente o terror quando ele se levantou e estendeu a mão no ar vazio, os
o, logo antes lábios formando o nome dela…
ão dos lábios Então, ele desapareceu, e ela começou a emitir um brilho dourado no
ubindo pelas calabouço com as raízes de Wilderwood entre seus ossos.
Red estendeu as mãos com os dedos curvados. As pequenas raízes de
grama acima deles se alongaram em direção a ela, espalhando-se pelo teto,
livre porquecomo estilhaços de estrelas, provocando uma chuva de pedras e poeira.
Kiri tentou se proteger perto de Solmir, mas ele a empurrou e também
galhos, umacurvou os dedos em garras. As sombras começaram a se juntar, mas Red
ão como um estava repleta do poder de uma Wilderwood completa e curada, e tudo que
e se encaixar precisou fazer foi arquear uma das mãos na direção de Solmir. A luz dourada
que recebera prendeu os punhos dele, fazendo-o estender os dedos, e ele gemeu em agonia
quando Redolhando para o teto de pedra enquanto toda a sua magia fria era consumida e
cancelada.
mir se afastou — Você vai abandoná-la. — Solmir rangeu os dentes, os olhos azuis
brilhando na luz de Red. Você vai ficar presa em Wilderwood para sempre.
Você escolheu o Lobo em detrimento da própria irmã.
ontecendo. O Aquilo fez o coração dela parecer grande demais para o próprio peito, fez
, colidiu comcom que cada batida contra as vinhas e flores fosse dolorida.
u nos espaços — Se Wilderwood cair e a Terra das Sombras se libertar, eu perco os dois.
o e semeando — Então você tem pouca fé nela. — Ainda um resmungo entredentes, mas
havia um toque de tristeza ali. — Neve combina com as sombras melhor do
as. E, quandoque você imagina.
undo através Red afastou os lábios dos dentes ao detectar aquela calidez na voz dele
eria tocar senovamente. Cerrou um dos punhos e fez um movimento súbito para o lado.
A luz que envolvia as mãos de Solmir o lançou na direção do gesto de Red,
mente quantofazendo com que ele batesse com a cabeça em uma rocha caída do teto. Ele
as dúvidas e caiu ao lado de Kiri e ficou imóvel.
o ar vazio, os O brilho de Red banhava todo o calabouço, embora a dor já estivesse
começando, as raízes a arrastando em direção a Wilderwood. A floresta a
dourado no puxava como se as raízes no seu corpo fossem a linha de uma pipa. Mais
terra continuou caindo do teto, os sons de pedras se soltando em uma sinfonia
nas raízes de discordante.
-se pelo teto, Encolhido contra a parede, Arick parecia quase um cadáver. Os olhos
estavam vazios, os ossos da bochecha afiados como faca. Ele fez uma careta,
ou e também como se doesse olhar para ela.
tar, mas Red Red estendeu a mão para ele.
a, e tudo que — Venha comigo!
A luz dourada
eu em agonia Uma pedra caiu do teto e o teria atingido. Em vez disso, caiu no chão,
consumida ecomo se Arick fosse feito de fumaça, como se ele tivesse se tornado a
sombra.
olhos azuis Arick balançou a cabeça.
para sempre. — Eu não posso, Red. — Uma lágrima escorreu pelo rosto do rapaz,
limpando a sujeira. — Estou preso a ele. Não posso partir.
rio peito, fez — Por favor. — Ela estendeu a mão por entre as grades, como se pudesse
agarrar a mão ensanguentada dele. Sabia que era inútil, mas implorou assim
mesmo. — Por favor.
edentes, mas — Vá, Red. — Outra pedra caiu, outra chuva de terra. — você precisa ir.
as melhor do Chorando por causa da dor, física e emocional, Red curvou os dedos
novamente. As raízes de grama se enrolaram nas grades com a força intensa
na voz dele da magia de Wilderwood e elas se partiram, soltando-se da rocha com um
som terrível. Red escalou, espremendo-se entre a parede e as rochas já caídas,
gesto de Red,seguindo com os pés descalços e sangrando.
a do teto. Ele Neve. Precisava encontrar Neve. Red fechou os olhos, atravessando
cegamente o corredor como se o brilho dourado das raízes pudesse guiá-la
já estivesseem direção à irmã. A dor rasgava cada membro do seu corpo, mas ela cerrou
A floresta aos dentes e continuou. Uma grade à frente filtrava a luz das estrelas que
a pipa. Maisbanhava o chão de pedra; Red passou por ali, deixando uma trilha de sangue
uma sinfoniacom fios verdes que escorria da mão que não estava quebrada, a outra ainda
provocando uma onda de agonia. Saiu em um beco vazio perto dos muros do
er. Os olhos palácio e tentou avançar, procurando um portão, uma forma de entrar.
z uma careta, Um grito escapou pela garganta quando as raízes apertaram seus ossos,
puxando-a na direção oposta. Red resistiu, fazendo um apelo em voz alta:
— Por favor, eu tenho que ao menos me despedir dela, por favor…
Wilderwood não respondeu, não com palavras. Mas ela sentiu seu pedido
de desculpas, sentiu as vinhas puxarem gentilmente a sua espinha e algo
aiu no chão, florescendo no seu peito, crescendo. Algo crescendo e a puxando
se tornado ainexoravelmente para longe.
Mesmo assim, tentou avançar. A visão ficou turva, e ela caiu de joelhos no
pavimento de pedras com um soluço rouco escapando da garganta. Com o
to do rapaz, máximo de cuidado possível, as sentinelas estenderam as raízes para ela,
envolvendo cada um dos órgãos e a chamando de volta para casa.
mo se pudesse Casa.
plorou assim Neve não estava morta. Solmir dissera que ela estava segura — e, embora
Red odiasse a suavidade com que ele dizia o nome da irmã, acreditou nele.
Acreditou que ele não a machucaria, que a protegeria do seu modo
ou os dedos deformado.
força intensa E Red saberia se Neve tivesse morrido.
cha com um Ela baixou a cabeça e soltou mais um soluço sofrido. Então, virou-se e
has já caídas, correu em direção a Wilderwood.
atravessando
desse guiá-la
mas ela cerrou
estrelas que
ha de sangue
a outra ainda
dos muros do
m seus ossos,
u seu pedido
pinha e algo
florescendo no seu peito, crescendo. Algo crescendo e a puxando
inexoravelmente para longe.
Mesmo assim, tentou avançar. A visão ficou turva, e ela caiu de joelhos no
pavimento de pedras com um soluço rouco escapando da garganta. Com o
máximo de cuidado possível, as sentinelas estenderam as raízes para ela,
envolvendo cada um dos órgãos e a chamando de volta para casa.
Casa.
Neve não estava morta. Solmir dissera que ela estava segura — e, embora
Red odiasse a suavidade com que ele dizia o nome da irmã, acreditou nele.
Acreditou que ele não a machucaria, que a protegeria do seu modo
deformado.
E Red saberia se Neve tivesse morrido.
Ela baixou a cabeça e soltou mais um soluço sofrido. Então, virou-se e
correu em direção a Wilderwood.
30
Red bateu no flanco do cavalo roubado, fazendo com que ele corresse
sozinho em direção ao vilarejo. Duvidava muito que ela mesma fosse voltar
para a capital. Ele era um animal de boa qualidade, e quem quer que o
encontrasse perdido e vagando por ali talvez fizesse melhor uso dele do que
algum lorde beberrão.
A floresta nos seus ossos a tinha guiado pela cidade, invisível como uma
mendiga qualquer com os pés descalços e o vestido ensanguentado. A dor
ainda parecia rasgar o seu corpo, mas dava para aguentar, e ia diminuindo à
medida que seguia para o norte. Roubara o cavalo que estava amarrado
frouxamente na frente da taverna. Galopar sob a proteção do manto azul
escuro do céu estrelado a fez lembrar de Neve e dela quando tinham
dezesseis anos, e ela chorou na crina do animal.
Wilderwood estava diferente. Quando a deixara no dia anterior — nem
parecia que só havia se passado um dia —, ela parecia morta como o inverno,
com galhos retorcidos e sem folhas, que se espalhavam cinzentas pelo chão.
Agora as cores de outono brilhavam em tons de dourado e ocre, as estações
parecendo se mover ao contrário. No seu peito, as raízes se alongavam,
esticando-se por entre os espaços entre as costelas como se ela fosse água, ar
e sol.
Doía quando Red se virava na direção de Valleyda, fazendo repuxarem as
raízes conforme cresciam, mas ela se virou assim mesmo. Ficou parada na
colina baixa um pouco antes da fronteira da floresta, na encruzilhada dos seus
dois lares que não estavam satisfeitos em compartilhá-la.
Fechou os olhos, enquanto as lágrimas escorriam pelo rosto. Talvez, se
ficasse ali por tempo suficiente, bem na fronteira do seu mundo, Neve
pudesse senti-la. Talvez Red conseguisse instilar seu raciocínio na terra,
enviando algum tipo de compreensão no ar para que sua irmã gêmea pudesse
ele corressecaptar um dia.
a fosse voltar — Eu amo você.
quer que o Um eco da primeira vez que desaparecera por entre aquelas mesmas
o dele do que árvores. A promessa que Neve fizera naquele dia tinha se realizado: elas
realmente voltaram a se encontrar. Red não fizera uma promessa, não em voz
el como uma alta, mas sentiu que estava se tornando realidade de qualquer forma. O lugar
ntado. A dordela sempre tinha sido na floresta.
diminuindo à Respirou fundo o ar de fora uma última vez antes de entrar em
va amarradoWilderwood.
o manto azul As árvores se erguiam, altas, os galhos se abrindo com alarde. O musgo era
ando tinham um tapete para os pés descalços. As sentinelas irrompiam do chão, altas e
orgulhosas sem nenhum traço de fungo-de-sombra em volta das raízes.
erior — nem Um truque de luz fez com que parecessem se curvar para ela.
mo o inverno, A floresta dentro dela ferroava enquanto crescia, conforme se ancorava.
as pelo chão.Acima dela, o céu passou de lavanda para um tom de ameixa, e Red sentiu a
e, as estaçõesrespiração presa no peito.
alongavam, Wilderwood a acalmava com a voz do farfalhar das folhas. Uma vinha
osse água, ar arranhou seu ombro em um gesto de conforto.
— Red? — Lyra caminhava pela floresta com a habilidade de um cervo.
repuxarem as— Achei que você tivesse dito três dias.
ou parada na — Fiquei com saudade de casa — sussurrou Red.
hada dos seus Folhas douradas estalavam sob os pés de Lyra enquanto ela se aproximava
com as sobrancelhas franzidas com uma pergunta para a qual já sabia a
o. Talvez, seresposta. Hesitante, pousou a mão no braço de Red. A estática fez o ar estalar
mundo, Neve como a atmosfera antes da tempestade; Lyra sibilou, afastando a mão e
nio na terra,arregalando os olhos.
êmea pudesse — Ah… — Ela suspirou, demonstrando a compreensão com um único
som.
Red sentiu os joelhos fracos.
elas mesmas — Eu descobri.
alizado: elas Tudo corria na direção dela, tudo queria alcançá-la. Sentiu a adrenalina
, não em vozaumentar enquanto era tomada por lembranças de Arick, das sentinelas
rma. O lugarretorcidas, da adaga de Kiri e do rosto de Solmir. E de Neve. Neve, que ela
não podia salvar. A visão ficou turva.
e entrar em — Onde está Eammon?
A expressão de Lyra era inescrutável.
O musgo era — Esperando por você. — Ela olhou as mãos de Red, uma com um corte
chão, altas e aberto e a outra claramente quebrada. — Precisamos cuidar disso. Venha.
Red seguiu Lyra em silêncio por entre as árvores. A floresta parecia ter
criado uma trilha para ela, Wilderwood recolhendo as raízes e os espinhos
se ancorava.enquanto folhas caíam pelo chão.
Red sentiu a Uma delas ficou presa entre os cachos de Lyra. Ela a pegou e a virou entre
os dedos.
. Uma vinha — Por todos os Reis — murmurou ela em tom de surpresa. — Não foi
assim antes. Nem mesmo com… as outras.
de um cervo. — As outras não tiveram escolha. — Red estendeu a mão cortada e a
pousou no tronco de uma sentinela pela qual passaram. Estava quente sob seu
toque, reconfortante contra os cortes. — Eu tive. Eammon se certificou de
que eu tivesse.
e aproximava Lyra assentiu. Abriu a mão, deixando a folha cair no chão.
al já sabia a Quando chegaram ao portão, ele estava esperando. O Lobo o abriu antes
z o ar estalar que elas chegassem, correndo pela floresta com os olhos brilhando, os lábios
ndo a mão edecididos e os braços estendidos, que envolveram Red em um abraço
apertado e forte o suficiente para levantá-la do chão.
m um único Os dedos dele tremiam enquanto afastavam o cabelo do rosto dela,
acariciando seu maxilar. Red apoiou a testa no peito dele. O sentimento
floresceu, a floresta nele dando as boas-vindas para a floresta nela, o pedaço
que faltava finalmente se encaixando no lugar.
a adrenalina — O que foi que você fez, Red? — O medo transpareceu na voz dele e,
as sentinelasquando ela o olhou nos olhos, viu que também havia um brilho de terror ali.
Neve, que ela Ele pressionou a testa contra a dela, engolindo em seco. — O que foi que
você fez?
Fife trouxe comida e vinho, mas não ficou com eles, os movimentos dos
om um corte olhos curtos e os olhos inescrutáveis. A voz dele se juntou à de Lyra quando
ele desceu a escada, em cochichos baixos e indistintos.
a parecia ter Eammon colocou a bandeja na cama, as feições sombreadas por conta do
os espinhosfogo crepitando na lareira. As mãos de Red descansavam nos joelhos, uma
cortada e ralada e a outra quebrada. Depois de aceitar as raízes, tinha quase
a virou entre esquecido da dor, mas agora era difícil até de respirar.
— Eles machucaram você.
. — Não foi Eammon olhou para os ferimentos dela como se os catalogasse. Dívidas a
serem cobradas.
cortada e a A floresta no peito de Red farfalhou.
uente sob seu — Eu estou aqui agora. Vou ficar bem.
certificou de — Você não está nada bem.
Ele manteve o olhar nas mãos dela, como se pudesse intimidá-las a se
o abriu antes curar, mas a veemência na voz dele deixou claro que estava se referindo a
ndo, os lábiosmuito mais do que ossos quebrados e cortes de adagas.
um abraço Ela tocou o pulso dele, deixando uma mancha de sangue.
— Eammon, eu…
o rosto dela, Os dedos dele se fecharam em volta dos dela. Ela tentou se afastar,
O sentimento sabendo o que ele ia fazer, mas a luz quente e dourada começou a brilhar
ela, o pedaçoantes que ela tivesse chance. Eammon gemeu entredentes quando cortes se
abriram em uma das mãos, mas não parou e pegou a outra. Um estalo e os
a voz dele e,ossos dela voltaram para o lugar enquanto os dele se quebravam, o
de terror ali.movimento bem nítido contra a pele dela.
que foi que Red fez uma careta. Olhou para Eammon esperando as mudanças, uma
nova altura ou o branco dos olhos ficando completamente verde. Mas além de
um tom fraco de esmeralda nas veias de Eammon, nada aconteceu. Os
vimentos dosbraceletes de casca de árvore nos pulsos dele permaneciam, e as linhas verdes
Lyra quando em volta da íris âmbar dos olhos também, mas Wilderwood não provocou
mais nenhuma nova modificação nele.
por conta do Ela havia aceitado metade das raízes, reequilibrando a balança e deixando-
joelhos, umao mais perto do seu lado humano do que da floresta.
, tinha quase Eammon arregalou os olhos e olhou direto nos dela. Então, fechou e
contraiu o maxilar por causa da dor que assumira para si.
— Filho da mãe, sempre se martirizando — murmurou ela.
se. Dívidas a Um resmungo baixo foi a única resposta. Eammon foi até a escrivaninha
cheia de papéis espalhados, procurando uma bandagem para a mão que
sangrava. Quando a encontrou, voltou a atenção para os dedos quebrados.
Red virou o rosto e fechou os olhos, sem querer vê-lo colocar os ossos no
lugar. Ouviu outro gemido baixo e controlado e um estalo que a fez franzir o
rosto.
midá-las a se Quando olhou de novo, as duas mãos do Lobo estavam enfaixadas. Ele
e referindo afalou olhando para elas em vez de para Red:
— Você não deveria ter feito isso. Sem as raízes, Wilderwood teria
deixado você partir.
— E teria pegado você. — A imagem dele desumanizado na floresta era
u se afastar, tão fácil de se lembrar quanto um pesadelo recente. — Ela precisa de dois,
çou a brilharEammon. Você não é capaz de carregar esse peso sozinho. Eu não podia
ndo cortes sedeixá-lo…
m estalo e os — Você deveria ter me deixado aqui para apodrecer. — Eammon ergueu o
uebravam, o olhar para ela. — Você sabe o que vai acontecer.
A voz dele estava rouca; a última palavra saiu quase como um sopro. Ele
danças, uma se virou de costas como se não quisesse que ela o visse perder o controle.
Mas além de — Não vai acontecer desta vez. — Ela tinha certeza absoluta, assim como
conteceu. Os tinha certeza de que os lábios dele se encaixavam perfeitamente nos dela. —
linhas verdes Dessa vez é diferente, porque eu escolhi aceitá-las, mesmo sabendo as
não provocouconsequências.
— Não importa.
a e deixando- — Claro que importa.
Ela se levantou da cama devagar, atravessando o quarto até ficar atrás dele.
ão, fechou eEles não se tocaram, e ele não se virou, mas cada parte do corpo dele estava
em sintonia com as do corpo dela.
— Eammon, eu aceitei as raízes porque eu am…
escrivaninha — Não. — Um sussurro baixo e rouco. — Não diga.
a mão que Ela pressionou os lábios para impedir a confissão.
s quebrados. Ficaram ali em silêncio. O queixo de Eammon tremia por causa do esforço
os ossos no de mantê-lo contraído. Finalmente, ele tirou o cabelo do rosto com os dedos
fez franzir oenfaixados.
— Conte tudo que aconteceu.
faixadas. Ele Aquilo trouxe todo o turbilhão de volta, todas as emoções que a tinham
feito chorar enquanto galopava no cavalo roubado. A respiração saiu trêmula,
erwood teriae o tremor que começou na voz se estendeu até as mãos.
— Eles estão com a minha irmã. Pegaram a minha irmã, e agora não tenho
a floresta eracomo chegar até ela, e escolhi isso porque era o que eu queria, mas eles estão
ecisa de dois,com ela, e eu…
Eu não podia — Shhh. — As mãos enfaixadas aninharam o rosto dela, enquanto o Lobo
perdia todo o controle que tinha mantido ao ver as lágrimas dela. — Nós
mon ergueu ovamos pensar em alguma coisa, Red. Eu prometo. Vamos encontrar um jeito.
Bem devagar, Red foi se acalmando com o carinho no cabelo e o cheiro de
m sopro. Ele biblioteca que sentia a cada inspiração. Ela percebeu o instante em que ele se
retesou de novo, quando interrompeu a carícia e deu um passo para trás.
, assim como Mas continuou segurando a mão dela. E aquilo lhe deu estabilidade
nos dela. — suficiente para respirar fundo o ar de Wilderwood e começar a história do
sabendo asinício.
Eammon ficou imóvel e calado durante o relato, até que Red contou do
corte que Kiri fizera na mão dela. Isso o fez ranger os dentes com tanta força
que ela conseguiu ouvir por sobre o crepitar do fogo na lareira.
car atrás dele. A voz dela falhou de novo quando chegou à parte do calabouço.
o dele estava — Você consegue sentir quando uma nova brecha se abre?
Ele franziu a testa.
— Logo que virei o Lobo, eu sentia, mas não mais.
— Arick… Ele abriu uma brecha. Mais do que uma brecha. Ele sangrou
em uma sentinela e abriu a Terra das Sombras. — Uma pausa. — Ele fez um
sa do esforçopacto com Solmir.
om os dedos Silêncio. Até mesmo o crepitar do fogo pareceu mais fraco. A respiração
de Eammon ficou ofegante; ele retesou todos os músculos e o corte da mão
voltou a sangrar, manchando a bandagem na mão que segurava a dela.
que a tinham A duras penas, Red recontou tudo. Arick e o terrível pacto, o sangue dele
saiu trêmula,despertando os galhos de sentinela no Santuário e as tirando de Wilderwood.
Eammon não disse nada, o que era mais desconcertante do que se ele gritasse.
ora não tenho — Ele achou que eu não tinha aceitado as raízes porque não queria. — Red
mas eles estãolançou um olhar para Eammon, incapaz de controlar a raiva que fazia seus
lábios se contraírem. — Achou que você tivesse me contado tudo.
uanto o Lobo A raiva no rosto dele desvaneceu, substituída por uma expressão triste e
dela. — Nósmais suave.
rar um jeito. — Meu medo era contar tudo para você e, mesmo assim, você aceitar.
e o cheiro deVocê ia tentar me ajudar. — Ele deu uma risada, olhando para o chão, o
em que ele se cabelo solto cobrindo os olhos. — Eu estava certo.
— Claro que estava. — Ele a conhecia bem, o seu Lobo. — Eammon… —
estabilidade A voz dela falhou ao lembrar de como ele reagira quando ela quase tinha se
a história dodeclarado para ele. — Eu escolhi isto. Eu escolhi você.
— Mas não deveria. — A voz ele era um sussurro. — Eu não fui forte o
ed contou do suficiente para salvá-las, Red. Mesmo depois que Wilderwood as pegou,
m tanta forçatentei evitar o pior, tentei manter o peso total longe delas. E, mesmo assim, a
floresta as drenou completamente. — Uma respiração trêmula. — E se eu não
conseguir salvar você?
— É isso que você não entende. Sou eu que estou salvando você. —
Hesitante, ela levou a mão ao rosto dele. — Me deixe fazer isso.
Eammon passara o relato todo com o corpo completamente retesado, mas,
Ele sangrouquando ela tocou no rosto dele, toda a tensão se esvaiu. Ele entreabriu os
— Ele fez umlábios e os olhos âmbar brilharam.
— Reis — praguejou ele, como se fosse um pedido de misericórdia, e
A respiração fechou os olhos enquanto o polegar dela acariciava seu lábio inferior. — Reis
corte da mão e sombras, Redarys.
o sangue dele — Você não me deixou terminar antes, e é muito importante que eu diga.
Wilderwood. — Ela segurou o rosto dele com mais firmeza e usou um tom bem sério,
e ele gritasse.quase como se o desafiasse a contradizê-la de novo. — Eu amo você
ueria. — Red Eammon.
ue fazia seus Ele exalou.
— E eu gostaria muito de beijar você — continuou ela, num sussurro. —
essão triste e Mas não antes de saber como você se sente em relação ao que eu disse.
O riso dele foi mais doce por ter sido inesperado, embora baixo e triste. Ele
você aceitar. levou uma das mãos à cintura dela, puxando-a para si enquanto passava a
ra o chão, ooutra pelo cabelo de Red.
— É claro que eu também amo você. — Havia fogo no toque dele, fogo no
ammon… — olhar, enquanto ele olhava para ela. — É por isso que estou com tanto medo.
uase tinha se — Podemos deixar o medo para amanhã — murmurou Red.
E, então, as bocas se encontraram, em um beijo cálido e doce e com gosto
ão fui forte o de mel. Não havia medo nas mãos dele na pele dela, nem medo na sensação
od as pegou,do lábio dele entre os dentes dela. Ele aninhava o rosto dela como se fosse
smo assim, a algo que deveria proteger, algo sagrado. Eammon roçou a língua na dela,
— E se eu nãodepois escorregou a boca pelo pescoço de Red, acompanhando o ritmo rápido
da pulsação da Segunda Filha. Ela ofegou, gemendo baixinho, enquanto se
. —deitavam no chão, tentando desatar os laços para que não houvesse mais nada
entre eles. Ele ficou olhando para ela por um instante, deitada no piso de
etesado, mas,madeira do quarto da torre com o cabelo solto e bagunçado, o anel da Marca
entreabriu osdo Pacto nítido na pele nua e rosada.
A Marca estava maior, como uma representação da floresta que florescia
isericórdia, enos ossos de Red. Havia gavinhas saindo do anel de raízes um pouco abaixo
erior. — Reis do cotovelo; elas seguiam em todas as direções, chegando ao meio do
antebraço e subindo até a curva do ombro, criando um padrão rendado na
pele dela.
que eu diga. Eammon passou os dedos sobre o desenho, bem de leve, quase sem a tocar,
m bem sério,os olhos maravilhados enquanto absorvia toda a beleza dela.
amo você, — Que todas as sombras me carreguem… Como você é linda — sussurrou
ele antes de beijar a Marca, os lábios roçando a dobra sensível do braço e
subindo até o ombro.
sussurro. — Ela tentou arquear o corpo para beijá-lo na boca de novo, mas a mão de
Eammon encontrou o outro ombro e a empurrou de volta para o chão.
o e triste. Ele — Não. Eu desejei isso por muito tempo para apressar as coisas agora.
nto passava a — Isso é uma ordem?
Ele arqueou uma das sobrancelhas sobre o olhar âmbar ardente.
dele, fogo no — Se você quiser que seja.
— Eu quero.
Ele riu, e ela sentiu um calor crescer dentro dela.
e com gosto — Bom saber. — Ele continuou beijando os ombros, o peito e a curva dos
na sensação seios antes de subir pelo pescoço de Red, deixando-a ofegante e com o
omo se fossecoração disparado.
gua na dela, — Eu quis tudo — murmurou ela contra os lábios dele antes de beijá-lo de
ritmo rápidonovo. — As raízes, a Marca, eu quis tudo.
enquanto se — Eu acredito em você. — Outro beijo profundo que fez Red quase se
se mais nada contorcer. Um sorriso malicioso. — Mas vou deixar você provar.
a no piso de Red passou a mão na saliência do quadril dele, puxando-o para ela, os
nel da Marca lábios curvados em um sorriso tão malicioso quanto o dele. Ele gemeu baixo,
os dedos entrelaçados no cabelo dela e puxando para que ela erguesse o
que florescia queixo. Os dentes de Eammon encontraram a pele do pescoço dela em uma
pouco abaixomordida que deveria ter doído, mas não doeu, fazendo-a gemer e ondular o
ao meio doquadril em direção ao dele enquanto os lábios desciam pelo corpo dela. Ele
o rendado nasorriu contra a pele dela, acariciando-a enquanto usava o joelho para separar
suas pernas, e Red arqueava o corpo em um pedido mudo por mais. Mais
e sem a tocar, daquilo, mais de tudo de que tinham fugido por tanto tempo. Ela queria sentir
cada uma das cicatrizes que ele carregava e conhecê-las de cor.
— sussurrou Eammon parou, o fogo da lareira iluminando o tórax delineado enquanto
el do braço eos braços apoiavam a cabeça de Red. Ela se retorcia embaixo do calor dele,
tentando se colar ao Lobo o máximo possível.
mas a mão de Ele passou o polegar pela testa dela, traçando uma meia-lua.
— Tem certeza?
— Tenho. — Ela roçou a ponta dos dedos nos lábios inchados de Eammon,
que estremeceu. — Sempre tenho certeza com você.
Ele avançou, e eles se deixaram levar. As raízes de Wilderwood pulsaram,
enterrando-se cada vez mais fundo, entrelaçando-se como os Lobos no chão.
e a curva dos
nte e com o
de beijá-lo de
Red quase se
para ela, os
gemeu baixo,
a erguesse o
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rpo dela. Ele
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daquilo, mais de tudo de que tinham fugido por tanto tempo. Ela queria sentir
cada uma das cicatrizes que ele carregava e conhecê-las de cor.
Eammon parou, o fogo da lareira iluminando o tórax delineado enquanto
os braços apoiavam a cabeça de Red. Ela se retorcia embaixo do calor dele,
tentando se colar ao Lobo o máximo possível.
Ele passou o polegar pela testa dela, traçando uma meia-lua.
— Tem certeza?
— Tenho. — Ela roçou a ponta dos dedos nos lábios inchados de Eammon,
que estremeceu. — Sempre tenho certeza com você.
Ele avançou, e eles se deixaram levar. As raízes de Wilderwood pulsaram,
enterrando-se cada vez mais fundo, entrelaçando-se como os Lobos no chão.
31
A certa altura, eles se levantaram do chão e foram para a cama. Red acordou
sentindo dor em alguns pontos, mas por causa de coisas muito mais
prazerosas do que o piso duro. A pele de Eammon estava quente sob o rosto
dela, o braço em torno do pescoço e a mão apoiada na cabeça dela. A
respiração do Lobo estava profunda e tranquila, mas, quando ela se virou
para dar um beijo no ombro dele, ele gemeu baixo e a puxou mais para perto.
Red apoiou o queixo no peito cheio de cicatrizes. O cabelo comprido de
Eammon estava bagunçado e arrepiado em pontos estranhos por causa dos
dedos dela. O rosto estava relaxado durante o sono, e a linha permanente
entre as sobrancelhas tinha desaparecido. Bem devagar para não o acordar,
ela passou a ponta dos dedos ali.
Wilderwood, enrolada nos ossos dela, apertou-a um pouco mais. Red se
encolheu por causa da dor. Ancorar uma floresta inteira no corpo não tinha
nada de confortável, principalmente quando a mata começava a se sentir mais
confortável.
Outra fisgada, o suficiente para fazê-la franzir o rosto, e um som baixinho
vindo da janela aberta. Um suspiro formado pelo farfalhar das folhas e o
crescimento das flores nos galhos.
De cenho franzido, Red se soltou de Eammon com cuidado. Ele
resmungou, mas não acordou, afundando mais a cabeça no travesseiro. Ela
pegou a primeira peça de roupa que encontrou no chão, a camisa dele, e a
vestiu, cruzando os braços enquanto ia até a janela.
O vento outonal soprava por Wilderwood. Vermelho e dourado, uma faixa
de cores do entardecer mais vibrantes do que qualquer coisa que Red tivesse
visto em Valleyda. A neblina ainda cobria o chão, mas agora parecia uma
coisa etérea e suave em vez de algo sinistro. Folhas caídas forravam o solo da
floresta, mas as que ainda estavam presas aos galhos brilhavam fortes e
verdes, como se o outono estivesse se revertendo e lentamente se abrindo
Red acordoupara o verão.
muito mais Por um momento, Red ficou envolvida demais para tentar resistir ao
e sob o rosto chamado. Ela e Eammon tinham tornado Wilderwood inteira de novo,
beça dela. A finalmente tinham encontrado o equilíbrio. A beleza quase lhe roubava o ar.
ela se virou Mas ainda havia mais uma coisa para fazer, e a floresta a incitava a
s para perto. continuar.
comprido de Red contraiu os lábios. O ar gelado que entrava pela janela fez sua pele se
or causa dos arrepiar. Olhou para trás. Eammon ainda dormia.
a permanente Vou deixá-lo dormir, pensou. Eu mesma posso colocar os ossos para
ão o acordar,descansar.
E parecia ser o certo a se fazer. Parecia certo que fosse Red a responsável
mais. Red sepor tentar, mesmo que com dificuldade, dar paz às outras Segundas Filhas.
po não tinha Pegou uma calça no armário e calçou as botas. Fez menção de buscar o
se sentir maismanto vermelho antes de lembrar que tinha ficado em Valleyda. Suspirando
por tê-lo deixado lá, tentou pensar que o casamento era mais que um manto.
som baixinhoE os outros motivos para mantê-lo, a declaração de quem era e o que era,
as folhas e o também não eram mais necessários. Sabia aquilo no fundo do coração, usava
a declaração nos olhos em vez de nos ombros.
cuidado. Ele O bilhete que deixara para Eammon sobre querer a cama de volta ainda
vesseiro. Elaestava na escrivaninha dele, como se ele o tivesse devolvido cuidadosamente
misa dele, e aao lugar em que encontrara. Red o virou e escreveu outra mensagem. Estou
do, uma faixa na clareira. Depois, com um sorriso nos lábios, acrescentou: Assuntos de
e Red tivesseLobo.
parecia uma
vam o solo da O céu exibia um tom de lilás clarinho em vez de lavanda, como se quisesse
vam fortes emostrar um amanhecer, e Wilderwood permaneceu em um silêncio respeitoso
e se abrindo enquanto Red a atravessava. A trilha até a clareira onde salvara Eammon
cortava a floresta, emoldurada por folhas douradas. O único som era o estalar
ar resistir aodelas sob os pés de Red.
ra de novo, A sentinela com os ossos das Segundas Filhas presos às raízes era mais alta
do que todas as outras, os galhos já cobertos de folhas verdejantes. A cicatriz
a incitava a no tronco ainda estava lá, de onde algo tinha sido cortado. E ela descobriu o
que era: aquela era a árvore na qual Gaya e Ciaran tinham feito o pacto deles.
z sua pele se Fora ali que tinham se tornado os Lobos. Se todas as outras Segundas Filhas
tinham sido atraídas até aquela sentinela para morrer ou se os ossos haviam
s ossos para aparecido ali por causa de alguma magia estranha de Wilderwood, Red não
sabia ao certo. Mas parecia fazer sentido.
a responsável Red tinha a sensação de que aquele lugar era muito mais sagrado do que o
Santuário.
de buscar o Havia três crânios depositados em pontos equidistantes ao longo do tronco
a. Suspirandoda sentinela. Kaldenore, Sayetha, Merra. Três mulheres que Wilderwood
ue um manto.tomara e drenara por puro desespero. Três mulheres que Eammon tentara
era, salvar.
oração, usava O crescimento ao redor dos crânios parecia vagamente com ossos, como se
as Segundas Filhas tivessem se tornado floresta enquanto jaziam ali. Raízes
e volta aindase entrelaçavam às aberturas das caixas torácicas, flores cresciam por entre as
dadosamentevértebras. Red pressionou a mão na barriga, perguntando-se se também era
Estouassim por baixo da pele.
Assuntos de As folhas farfalharam, uma brisa isolada provocando um rodamoinho de
dourado que agitou seu cabelo. Não havia palavras de amor ali; elas já tinham
passado daquele ponto, ela e Wilderwood, mas Red entendia mesmo assim.
o se quisesse — O medo nos faz cometer tolices — disse ela.
cio respeitoso Ao lado da bota dela, um caule fino irrompeu do chão. Cresceu devagar até
ara Eammonflorescer e se transformar em uma flor branca e grande que tocou a palma da
era o estalarmão de Red.
Red passou os dedos pelas pétalas. Não falou nada, mas assentiu, e aquilo
era mais altapareceu ser o suficiente para a floresta.
es. A cicatriz Sentiu a presença de Eammon antes de vê-lo, o corpo dela em total
a descobriu osintonia com os movimentos dele. O Lobo avançou devagar até parar ao lado
o pacto deles.dela, olhando para os ossos arrumados em volta da árvore. Passou os dedos
gundas Filhasna flor e pegou a mão de Red.
ossos haviam — Isso nunca mais vai acontecer de novo — disse ele em voz baixa e
ood, Red nãofirme.
Mais uma chuva de folhas, outro galho se quebrando. Era Wilderwood
ado do que oconcordando com ele.
Agindo por instinto, Red deu um passo à frente. Eammon apertou a mão
go do tronco dela uma vez antes de soltá-la, uma única testemunha silenciosa assistindo à
Wilderwoodbênção dela.
mmon tentara Red pousou a mão sobre o primeiro crânio. Soube de alguma forma que
era o de Kaldenore. Tinha participado de poucos funerais na vida e nunca
ssos, como seprestara muita atenção a nenhum deles. Então, as palavras que Red
m ali. Raízesmurmurou foram bem simples:
m por entre as — Descanse em paz. Acabou.
também era Quase sem pensar, convocou a magia dourada da floresta que residia
dentro de si. Algo tão fácil de fazer agora, como flexionar os dedos ou
damoinho dearquear as costas. O poder fluiu até a palma da mão, passando para o que
elas já tinhamrestara de Kaldenore. Apagando todo o horror, inundando-a com luz.
Quando abriu os olhos, sua mão tocava a terra. O crânio tinha afundado no
chão, Wilderwood absorvendo o último vestígio da mulher que lhe servira de
u devagar até sacrifício. Obedecendo às palavras de Red para finalmente deixá-la descansar
u a palma daem paz.
Passou para as outras, dando a elas a mesma bênção. Primeiro Sayetha e
ntiu, e aquilo depois Merra. Quando o crânio de Merra desapareceu, ela voltou para
Eammon, piscando para controlar a ardência que sentia nos olhos. Ele a
ela em totalabraçou, envolvendo-a com o cheiro que era uma mistura de papel, café e
parar ao ladofolhas. Quando a respiração dela ficou trêmula, ele abraçou-a com mais força.
sou os dedos — Eammon!
Lyra vinha correndo pela floresta tomada pelas cores do outono, parando
voz baixa e de repente com as mãos apoiadas nos joelhos. Estava ofegante e sem ar, e a
expressão do rosto era de preocupação.
Wilderwood — Fife me encontrou no portão e me mandou vir procurar vocês. Tem
alguém na Fortaleza.
pertou a mão Eammon abraçou Red com mais força.
a assistindo à — A floresta deixou alguém passar?
— É o que parece. — Ela fez um gesto irônico para o brilho outonal em
ma forma quevolta deles. — Ele disse que se chama Raffe.
vida e nunca
as que Red Raffe e Fife pareciam não saber bem como agir um com outro. Quando Red
abriu a porta, estava sem fôlego por causa da corrida pela floresta. Os dois
homens aguardavam, um de cada lado da escadaria, olhando-se com cautela.
que residia Fife segurava uma colher de pau da qual escorria sopa na frente do peito,
os dedos oucomo se fosse um escudo, mas o brilho nos olhos dele fazia com que
o para o que parecesse uma arma sinistra em vez de ridícula. A mão de Raffe descansava
sobre o cabo da adaga presa no cinto.
afundado no Red arqueou as sobrancelhas.
he servira de — Raffe?
-la descansar Ele pareceu surpreso por vê-la, desviando a atenção da colher de pau de
Fife. Mas, então, Raffe a agarrou pelos ombros e a puxou em um abraço
ro Sayetha eapertado.
voltou para — Eles machucaram você?
olhos. Ele a — Não, é claro que não. — Ela deu um passo para trás, com uma
papel, café eexpressão confusa. — O que você…
m mais força. — Eu agradeço se você tirar suas mãos da minha mulher. — Eammon
apareceu na porta com os olhos faiscando.
ono, parando — Reis amados, Eammon! Eu estou bem. Muito bem. — Red afastou as
e sem ar, e amãos de Raffe dos ombros. — Eammon, este é Raffe. Um amigo de
Valleyda. Raffe, este é Eammon. — Ela fez uma pausa. — O Lobo.
vocês. Tem — Imaginei. — Raffe levou os dedos à adaga e, quando voltou a falar, foi
quase em um rosnado. — O que foi que você fez com Neve?
Ela ficou surpresa.
— Como assim?
o outonal em — Ela sumiu, Red.
Red piscou. O aposento pareceu entrar e sair de foco, enquanto as coisas
perdiam a nitidez.
Quando Red Neve. O pânico da noite anterior, a tempestade de emoções que Eammon
esta. Os doisajudara a acalmar, tudo voltou à lembrança. Ela e Eammon iam dar um jeito,
com cautela. ela precisava acreditar naquilo, o que mais poderia fazer? Mas agora, com a
nte do peito, expressão cansada e preocupada de Raffe diante dela, a vulnerabilidade no
zia com querosto…
Ela sentiu as pernas bambas.
e descansava — Você veio até Wilderwood para fazer acusações? — Eammon pousou a
mão no ombro de Red para acalmá-la, como se sentisse que ela estava a um
passo de se afogar. O maxilar dele era uma linha dura na penumbra. — A
Rainha não está aqui.
er de pau de — Foi exatamente o que eu disse para ele — disse Fife em um tom
m um abraçosombrio. Ele apontou para Raffe com a colher de pau. — Mas ele não
acreditou.
— Ela não está em Valleyda, nem em Floriane. Ela desapareceu, e a única
s, com umacoisa que falava desde a partida de Red era sobre trazê-la de volta. — Raffe
fuzilou com o olhar a mão do Lobo no ombro de Red, contraindo os lábios.
— Eammon — Será que não basta uma irmã?
— Raffe! — A própria voz de Red ajudou a clarear a névoa que estava
ed afastou as tomando seus pensamentos. Red se aconchegou mais sob a mão de Eammon.
m amigo de— Eu juro que ela não está aqui. Conte logo o que aconteceu. — A voz dela
saiu trêmula. — Por favor.
ou a falar, foi Os olhos de Raffe passaram de Red para Eammon, a desconfiança bem
clara.
— Ele talvez a tenha escondido. — A voz dele era cortante. — Ele é o
Lobo, Red, e não importa o que ele disse…
— Eu sei quem ele é, Raffe.
nto as coisas — Ele não é… — Raffe deu um passo adiante, com os lábios contraídos,
mas algo atrás de Red chamou a atenção dele. Toda a raiva desapareceu e se
que Eammontransformou em incredulidade, depois em descrença.
dar um jeito, Lyra estava parada na porta, tor desembainhada, iluminada pela luz
agora, com a outonal que formava uma coroa ao redor dos cachos escuros. Ela estreitou os
rabilidade noolhos para Raffe, com uma mistura de sorriso e careta no rosto.
— Pode continuar — disse ela, com voz educada como qualquer cortesã.
— Se eu quiser que você pare de falar, eu aviso.
mon pousou a Os olhos de Raffe estavam arregalados. Ele mexia a boca, mas parecia não
estava a umsaber o que dizer. Lentamente, levou o punho à testa, e Red demorou um
umbra. — Atempo para se lembrar de que já tinha visto o movimento, um cumprimento
tradicional de um nobre meduciano para outro.
em um tom — Aquela que acabou com a praga — murmurou Raffe. — Você… Minha
Mas ele nãonossa, você é igualzinha à estátua.
Fife e Eammon trocaram um olhar, com expressão idêntica de aceitação
, e a única controlada. O que quer que tivesse acabado de acontecer com Raffe não era
olta. — Raffesurpresa para eles. Mas havia uma nova tensão no corpo de ambos, como se
do os lábios.estivessem prontos a sair em defesa de Lyra à menor provocação.
Depois de um instante, Lyra embainhou a tor. Fechou o punho, levou-o
a que estava brevemente à testa e cruzou os braços.
de Eammon. — Não sabia que ainda contavam essa história.
— A voz dela Red franziu o senho. Aquela que acabou com a praga… Como o mito das
Estrelas da Praga, uma constelação inteira se apagando no momento da cura
onfiança bemmiraculosa. E a faixa de raízes em volta do braço de Lyra e a resposta de Fife
quando ela perguntara qual tinha sido o pacto de Lyra: A história dela é bem
e. — Ele é omais longa e mais nobre que a minha.
— Nem todo mundo conhece. — Raffe parecia meio hipnotizado. — Mas
há aqueles em Meducia que se lembram de você, que a veneram mais do que
s contraídos,aos Reis. O altar ainda existe, nos penhascos perto do porto. Eles deixam
apareceu e se moedas de ouro para você e rezam pela cura de doenças. — Ele meneou a
cabeça. — Meu pai levou algumas uma vez. Quando eu era pequeno. Eu
ada pela luz estava doente e, depois que ele rezou, eu melhorei.
a estreitou os Lyra sorriu, mas o olhar era inescrutável.
— Duvido que eu tenha tido alguma coisa a ver com isso.
quer cortesã. — Mesmo assim. — Ele deu um passo hesitante na direção dela, com a
cabeça baixa como se talvez fosse fazer uma reverência, mas pareceu mudar
s parecia não de ideia. — Como você fez aquilo? Como conseguiu acabar com a praga?
demorou um Os olhos de Lyra brilhavam como mel sob a luz de velas, os braços
cumprimentocruzados.
— Eu fiz um pacto — disse ela, com voz controlada. — Meu irmão… —
ocê… Minha A respiração pareceu ficar presa na garganta antes de ela engolir em seco e
continuar. — Meu irmão caçula foi infectado. Então, fiz o pacto. Criei um
de aceitaçãolaço com Wilderwood em troca de uma cura.
Raffe não era A expressão de Raffe era inescrutável. Ele olhou de Lyra para Eammon e,
bos, como sedepois, para a Fortaleza.
— E você mora aqui — disse ele devagar. — Com o Lobo. Em
nho, levou-oWilderwood.
— Conosco. — Fife deu um passo para a frente. A colher de pau na sua
mão não parecia mais tão tola.
mo o mito das Lyra encolheu os ombros.
mento da cura — Existem lugares piores para estar. — Ela arqueou uma das
posta de Fifesobrancelhas. — E já que você está perguntando — acrescentou ela —, a
a dela é bemRainha não está aqui.
O olhar de Raffe se alternou entre Lyra e Eammon. Ele fechou os olhos e
zado. — Mas toda a tensão dos ombros relaxou, como se a raiva fosse a única coisa a
mais do quesustentar sua espinha.
Eles deixam — Então, não faço a menor ideia de onde ela pode estar.
Ele meneou a O chão estava firme sob os pés dela, mas Red teve a sensação de estar
pequeno. Eu caindo. A mão de Eammon no seu ombro era a única coisa que a mantinha
em pé, um contraponto ao turbilhão de pensamentos na sua mente. Neve
tinha desaparecido. Red a deixara, puxada pelas raízes nos seus ossos, e agora
a irmã tinha desaparecido. Sentiu um nó fechando a garganta.
dela, com a — O que aconteceu? — perguntou Eammon.
areceu mudar Raffe se sentou no primeiro degrau, passando a unha no musgo.
— Ninguém a viu no palácio desde ontem de manhã. — A voz dele estava
s, os braçosrouca, como se as palavras fossem pesadas demais para a garganta. — Não
desde o incidente no Santuário. O rumor é que a Segunda Filha estava lá…
u irmão… — — Você achou que eu a tivesse pegado? — A voz de Red saiu dura.
lir em seco e Raffe não assentiu, mas a forma como cerrou os punhos foi a resposta.
cto. Criei um — Eu não… — Ele parou de falar. — Eu sabia que ela estava fazendo
alguma coisa que afetava Wilderwood. E eu sabia…
a Eammon e, — E por que você a deixou? — Red não percebeu que tinha avançado até o
peso da mão de Eammon desaparecer. — Se você sabia o que estava
o Lobo. Emacontecendo, como pôde deixá-la?
— Você acha que foi uma escolha minha? — As palavras soaram irritadas,
e pau na suacomo se ele estivesse tentando se controlar. — Não foi. A Ordem me mandou
embora.
— E você permitiu?
u uma das — Arick praticamente me obrigou. — Apesar do tom cortante, havia
tou ela —, a tristeza no rosto de Raffe. Arick fora amigo dele também. — Ele disse que eu
não tinha nada a ganhar ao me envolver na política valleydiana. E disse isso
ou os olhos ecomo uma clara ameaça. Aluguei um quarto na cidade e fiquei de olho nas
única coisa a coisas da melhor forma que consegui. Era tudo o que eu podia fazer. — Ele
passou a mão no cabelo curto em um gesto que mostrava toda a sua
vulnerabilidade. — Mas não foi o suficiente.
ação de estar Red pegou sua tristeza e a enterrou no fundo do seu ser, algo com o que
e a mantinhalidaria mais tarde. Por ora, seus pensamentos giravam em torno de
mente. Neve possibilidades, das soluções.
ossos, e agora Uma se encaixou.
— Já sei como podemos encontrá-la. — Ela se virou para a porta dos
fundos. — Venham comigo.
z dele estava
anta. — Não
tava fazendo
vançado até o
o que estava
ram irritadas,
m me mandou
rtante, havia
disse que eu
. E disse isso
de olho nas
fazer. — Ele
toda a sua
o com o que
m torno de
a porta dos
32
esta ancorada
mada por um
os de Kiri se
lou a Suma
de estrelas e
ilderwood no
alquebradas e
ais o pescoço
Então, mãos puxaram os braços da Suma Sacerdotisa. Ela soltou Red, que
conseguiu respirar. Solmir praguejou baixinho, pegando Red pelo braço e a
puxando na direção da árvore esfarrapada.
Ainda ofegando, Red ouviu ao longe sons de passos correndo e os gritos de
Eammon.
— Mais trabalho do que vale, realmente — resmungou Solmir, arrastando-
a pelo braço de uma forma que a fez tropeçar, caindo de joelhos no chão. —
Mas é mais útil viva do que morta.
Red abriu a boca para xingá-lo, para chamar por Eammon. Mas Solmir a
puxou para o outro lado da fronteira, e cada fibra do seu ser, cada nervo, tudo
explodiu em uma dor ardente que a consumiu por inteiro. Qualquer
pensamento sobre qualquer outra coisa despareceu da sua mente naquele
momento, enquanto seu grito reverberava por Wilderwood.
As árvores se curvaram com pesar.
33
ou os olhos
ntendeu. Ele
sta, desistido
ara tudo para
nteiro. Tinha
numanos não
. Através das
ri tingida de
esmo tempo,
xplodiram do
mbras que se
Solmir fez aquela estranha forma com a mão de novo. As sombras rolaram
pelo chão como uma onda negra, atraídas para ele como pássaros e emitindo
sons loucos. Elas foram se aglutinando em Solmir, tornando-o maior,
envolvendo-o em escuridão.
Com um sorriso e sombras fervilhando, ele acenou.
E Wilderwood — Eammon — disparou na direção dele com um rugido.
34
o, de árvore,
o buraco que
— Não podemos deixá-la!
— Não temos escolha!
A terra foi carcomendo as laterais do caixão de Neve, cobrindo-o de sujeira
e escuridão. Um vislumbre de um mundo em tons de cinza com um horizonte
engolido pelas sombras, e ela desapareceu.
Raffe a puxou para longe, além do anel de terra rodopiante, como um
furacão se enfiando na terra. A única parte sólida que restava do bosque era
onde o corpo de Arick jazia. Ele estava se transformando, revirando-se e se
tornando uma outra coisa.
A carne e a sombra, unindo-se de novo. Ela quase sentiu pena quando o
corpo enfim assumiu a aparência de Solmir, vivo, poque aquilo significava
que ela não teria nada de Arick para enterrar.
— Você não entende! — berrou ele com os olhos arregalados, buscando os
de Red. — Você não entende. Eles ainda…
Uma sombra se fechou em volta do pescoço dele e cobriu-lhe a boca, como
uma mordaça, devorado pelo túmulo do qual escapara.
Um estrondo estremecedor, uma nuvem de terra e pedras, e o bosque
desapareceu. A porta tinha se fechado.
Com Neve do lado errado.
35
O mato alto e moribundo pinicava a pele de Red através das roupas. Estava
em silêncio ao lado de Fife, ambos olhando para Lyra. O tempo passara em
um borrão indistinto e, sempre que piscava, tudo que ela via era a terra
cobrindo o rosto de Neve.
A respiração de Lyra estava estável, e as batidas do coração, fortes. Mesmo
assim, Fife segurava a mão dela no próprio colo, mantendo os dedos ao redor
do pulso, contando os sinais de que estava viva, ainda que inconsciente.
— Neve não está morta. — Raffe estava ajoelhado ao lado deles. Depois
que o bosque desaparecera, ele, Red e os outros tinham ido até Fife e Lyra, os
quatro unidos pela perda como se pudessem se juntar contra ela. — Sei que
não está.
— Ela está viva. — Os lábios de Red mal se mexeram, os olhos fixos no
mato que balançava ao vento. — Só está presa.
— Nós vamos trazê-la de volta. — O rosto de Raffe estava manchado de
lágrimas, e o maxilar formava uma linha decidida. Pressionou as mãos no
chão, como se pudesse cavar o próprio caminho até a Terra das Sombras. —
O que vamos fazer?
— Eu não sei — respondeu Red. — Eu não sei.
Silêncio. Então, Raffe praguejou e se levantou.
— Isso não é o suficiente, Red. — Ele se embrenhou no mato morto, e
tudo o que ela pôde fazer foi observar enquanto se afastava.
Ao desaparecer, o bosque tinha levado os corpos de todas as sacerdotisas.
Menos o de Kiri, que não tinha morrido, e ainda estava largada no mato a
alguns metros de distância. O peito se movia em uma respiração rasa, as
mãos sujas de sangue coagulado contraídas em forma de garra. Red sabia que
deveria sentir raiva e nojo. Mas tudo que conseguia sentir era pena.
— Sinto muito — disse Fife, baixinho, ainda olhando para Lyra. — Sinto
oupas. Estavamuito por sua irmã.
o passara em Red abriu a boca, mas não encontrou som algum. Deixara Neve, mais uma
a era a terravez. Deixara Neve em um caixão, e deixara o caixão ser dragado para a Terra
das Sombras. Red decepcionara a irmã, de novo.
ortes. Mesmo Mordeu o lábio trêmulo.
edos ao redor Fife engoliu em seco de forma audível. Quando ergueu o olhar, os olhos
brilharam, e ele contraiu os lábios de forma decidida. Colocou com cuidado o
deles. Depoispulso de Lyra no colo de Red.
ife e Lyra, os — Fique com ela — disse ele. — Tem uma coisa que preciso fazer.
a. — Sei que Ele se levantou e seguiu direto até o vulto alto e chifrudo na fronteira da
floresta. O instinto de Red foi de fechar os olhos só para não o ver. Mas
lhos fixos no respirou fundo, soltou o ar de forma trêmula e se obrigou a encarar aquilo em
que Eammon tinha se transformado.
manchado de O que surgira no lugar dele.
as mãos no O contorno do perfil do deus-floresta não tinha mudado. Ele se virou para
Sombras. — olhar a aproximação de Fife, com o rosto ainda anguloso e o cabelo escuro.
Fitou o outro homem por um único instante antes de fixar o novo olhar
esverdeado em Red.
Não havia o brilho do amor ali. Nem mesmo de reconhecimento. A cada
mato morto, ebatida, o coração de Red doía no peito.
Doía demais. Red baixou o olhar para Lyra. Sua manga ainda arregaçada
onde Fife tinha procurado a Marca, a pele ainda imaculada. Ao absorver toda
sacerdotisas. a floresta para se tornar Wilderwood, ele os libertara. Os libertara do pacto
da no mato aque tinham feito.
ação rasa, as Pacto. A palavra a atingiu com um raio, fazendo os pensamentos
Red sabia que rodopiarem ao redor uns dos outros.
Sua mão se fechou sobre a manga, onde sua marca estivera. Sabia que não
yra. — Sinto estava mais lá, mas não teve coragem de olhar. Em vez disso, os olhos dela
acompanharam Fife, ainda caminhando na direção do deus-floresta, e ela
ve, mais umasoube de imediato o que ele estava prestes a fazer.
o para a Terra O mesmo plano que ela estava começando a traçar, ambos com a esperança
de que aquilo fosse suficiente.
Ela se levantou, as pernas fracas e dormentes. Sentiu uma pontada de culpa
har, os olhospor deixar Lyra ali sozinha, mas estava tudo calmo agora que o bosque tinha
om cuidado odesaparecido, e não havia nada ali para incomodá-la. Com passos hesitantes,
Red atravessou o campo ainda segurando o braço vazio.
Eram dores diferentes, Neve e Eammon, dilacerando seu coração. Se
a fronteira da salvasse um, poderia salvar o outro? Ela se lembrou do brilho de Wilderwood
o o ver. Masnos seus ossos, na luz para controlar a sombra. A mesma sombra que prendia
rar aquilo em Neve agora. As duas pessoas que ela mais amava, as duas pessoas que ela
precisava salvar. Luz e sombra, presas em uma armadilha, horríveis e belas e
ambas tirando algo dela.
se virou para Se ela se tornasse algo horrível e belo, conseguiria clamar aquilo de volta?
abelo escuro. Parou a alguns metros de Fife e do que um dia tinha sido Eammon. O
o novo olharhomem mais baixo lançou um olhar ardente de determinação para o deus que
era Wilderwood, que retribuiu com uma expressão de ligeira curiosidade.
ento. A cada O nariz ainda era torto. Ainda ele, em algum lugar lá dentro, perdido no
meio de toda a magia, de toda a luz.
da arregaçada — Você tomou minha vida uma vez, para salvar a de outra pessoa. Quero
absorver toda que a aceite de volta. — Fife puxou a manga e estendeu o braço. — Me dê a
tara do pactomaldita Marca e cure Lyra. Faça com que ela… — A voz falhou, e ele
engoliu em seco. — Faça com que ela fique inteira.
pensamentos O deus inclinou a cabeça.
— Você queria sua liberdade — disse ele, em tom reflexivo e uma voz que
Sabia que nãocontinha os ecos de folhas caindo e galhos estalando ao vento.
os olhos dela — Tudo que eu quero é ela — respondeu Fife.
oresta, e ela Uma pausa.
— Eu entendo.
m a esperança Havia um tom de quase perplexidade naquela voz florestal. O deus
entendia o desejo desesperado de Fife, sua disposição a fazer qualquer coisa
tada de culpapara salvar alguém que amava, mas não sabia bem o porquê.
bosque tinha Red mordeu o lábio.
os hesitantes, O deus estendeu a mão coberta de veias esmeralda e fechou os dedos em
torno do braço de Fife, que ofegou uma vez e cerrou os dentes. Quando a
coração. Semão do deus relaxou, uma nova Marca do Pacto brilhava na pele de Fife.
Wilderwood Vindo de trás deles, do ponto no qual Lyra estava, ouviram uma respiração
a que prendiaprofunda e o som de alguém se mexendo no mato.
ssoas que ela Sem palavras, apenas um aceno brusco. Então, Fife se virou e começou a
veis e belas ecorrer em direção a Lyra. A liberdade que ele tanto ansiara finalmente tinha
sido conquistada, só para ser negociada de novo.
Wilderwood observou enquanto ele se afastava. Então, os olhos verdes
Eammon. Opousaram em Red.
ra o deus que Ela ficou se perguntando se deveria se aproximar como uma suplicante, se
deveria se ajoelhar. Fife não o fizera, mas o pacto dele envolvia uma coisa
o, perdido no muito mais direta do que o de Red.
Decidiu não fazer nada daquilo. Em vez disso, se aproximou e olhou para
essoa. Quero ele com o queixo decidido e os olhos estreitos, com a mesma determinação
. — Me dê a
falhou, e eleque mostrara na biblioteca, vestida com o manto vermelho rasgado e o rosto
sangrando.
A sombra dele caiu sobre ela, e a forma no chão era de uma floresta, com
uma voz que árvores altas e retas. Chifres de alabastro saíam da testa; a hera cobria o
cenho. Os olhos estranhos olharam para ela, âmbar cercado de verde, com um
brilho de reconhecimento. Como se ele conhecesse a forma de Red, mas não
o espaço que ela deveria ocupar.
Wilderwood a conhecera, assim como Eammon. Mas ao se unirem,
stal. O deustornando-se indistinguíveis um do outro, haviam se transformado em uma
ualquer coisacoisa nova. Uma coisa que não tinha nenhum contexto de Segundas Filhas,
nenhuma lembrança de mantos bordados e cabelo emaranhado em troncos.
Aquilo foi o suficiente para fazê-la hesitar, mas só por um momento.
os dedos em Red se empertigou. Mesmo antes, ela mal chegava à altura do ombro dele;
es. Quando a agora, precisava apertar os olhos para ver o rosto dele.
— Redarys? — Ele disse o nome dela como algo esquecido, como se
ma respiraçãoestivesse se esforçando para lembrar.
Red tentou falar alto, mas a voz saiu fraca mesmo assim.
e começou a — Vim fazer um pacto com Wilderwood.
almente tinha Silêncio. Os olhos dele pareciam anuviados com uma tristeza elevada a
proporções divinas e desconhecidas.
olhos verdes Em um movimento que poderia ser considerado hesitante, ele estendeu a
mão. Red pousou a dela sobre a palma de veias verdes. As cicatrizes ainda
suplicante, se estavam lá.
ia uma coisa — O que você deseja? — A voz ressonante, vibrando nos ossos.
Ela desejava que ele nunca tivesse tido que testemunhar a morte dos pais.
e olhou paraQue as cicatrizes nas mãos dele fossem de trabalhar na fazenda ou como
determinação ferreiro ou por causa de uma traquinagem quando era criança, em vez de
cortes feitos para alimentar uma floresta. Que eles dois talvez pudessem ter se
ado e o rosto conhecido em circunstâncias diferentes, um homem e uma mulher sem
magia, nem um destino grandioso, sem nada a não ser o amor.
floresta, com E desejava salvar Neve. Desejava que aquele homem que tanto amava e
hera cobria oque se tornara um deus que ela não sabia como alcançar arrancasse a irmã das
erde, com um sombras — as sombras que a própria Neve escolhera no final. Uma
Red, mas nãoreivindicação, uma redenção. Red não sabia bem os detalhes, mas, de alguma
forma, compreendia em um nível profundo.
se unirem, A mesma compreensão profunda de que um simples pacto não funcionaria
ado em umapara salvar a irmã. O tempo que passara entrelaçada a Wilderwood lhe dera
undas Filhas, um conhecimento instintivo de suas limitações, fazendo com que soubesse
em troncos.que não poderia simplesmente desejar tirar alguém da Terra das Sombras.
Aquela porta estava fechada, e abri-la exigiria mais que um pacto, maculando
ombro dele; seu coração de forma que nem conseguia imaginar.
Havia muito pouco que poderia fazer pela irmã. Mas poderia salvar
do, como seEammon. E juntos, talvez conseguissem encontrar uma forma de salvar Neve.
— Me devolva o Lobo — sussurrou Red.
O deus inclinou a cabeça, analisando-a através daqueles olhos que eram
tão estranhos e tão familiares ao mesmo tempo. A boca que já a beijara se
za elevada a abriu. A mão que já acariciara o corpo dela se retesou, e ela sentiu tudo, tudo,
uma corrente do que estava se passando entre eles como medula através de
le estendeu a um osso.
catrizes ainda — E o que está preparada para dar em troca? — perguntou ele, em uma
voz que ainda tinha traços da de Eammon escondidos sob as camadas de
espinhos e folhas. — Um pacto por uma vida exige um enlace.
orte dos pais. — Já estivemos enlaçados antes. Podemos nos enlaçar novamente.
nda ou como Wilderwood, dourada e brilhante, olhou para ela através dos olhos de
a, em vez de Eammon.
dessem ter se
mulher sem — Eu amo você, Eammon. — Ela pressionou a mão dele com mais força,
como se pudesse transmitir todo aquele sentimento através da pele. — Você
anto amava e se lembra?
se a irmã das E, quando as raízes começaram a sair da mão dele para a dela, Red viu que
final. Umaele se lembrava.
as, de alguma Uma onda de luz dourada irrompeu dos dedos de Eammon, encontrando
um lugar nos espaços entre as costelas dela e nos vácuos dos pulmões. A rede
o funcionaria que formava Wilderwood se dividiu igualmente em duas, raízes se alongando
wood lhe derapelas veias dela e florescendo ao longo da espinha. A floresta se doou,
que soubesse fazendo dela um receptáculo em vez de apenas uma âncora, metade de uma
das Sombras. floresta nos seus ossos.
o, maculando Ela ofegou e sentiu gosto de coisas verdejantes, o gosto de Eammon.
Ouviu o ofegar dele como um eco, enquanto sentia Wilderwood fluir dele,
oderia salvar deixando apenas Eammon no seu lugar.
salvar Neve. Quase o seu Eammon. Quase toda Wilderwood fluiu. Mas uma parte não
se foi, ficou nela. Lobos e deuses, a linha entre eles não tão nítida como
hos que eramoutrora.
á a beijara se Ela abriu os olhos, e o mundo parecia diferente. As cores mais vivas, como
iu tudo, tudo, um quadro recém-pintado. A pele dela vibrava e, quando olhou para as mãos
la através deunidas, arfou.
Uma rede delicada de raízes visível sob sua pele, começando um pouco
ele, em uma abaixo do cotovelo e descendo até o meio da mão. Elas se entrelaçavam
camadas decomo tinta, um verde profundo em contraste com a pele branca. Sua Marca,
alterada para representar o pacto que não tinha feito, assim como o que
acabara de fazer.
dos olhos de Ela ergueu os olhos para Eammon. Ainda estava mais alto do que antes. A
casca de tronco ainda cobria os antebraços, o halo fino de verde circundava a
íris âmbar, e duas protuberâncias apareciam sob o cabelo escuro. Os dois
m mais força,tinham mudado, perdendo alguns traços humanos para que pudessem
ele. — Vocêsustentar a totalidade de Wilderwood entre eles, não apenas as raízes.
Mas aqueles olhos a conheciam. E, quando os lábios encontraram os dela,
, Red viu quea reconheceram também.
Atrás deles, onde Wilderwood costumava estar, havia apenas uma floresta
encontrando normal, com as cores outonais filtradas pelas árvores, coroadas com folhas
mões. A rede vermelhas e amarelas. Todo o poder — as sentinelas, a rede que controlava as
se alongando sombras — morava nela e em Eammon.
sta se doou, Ela o beijou de novo, roçando os dedos nas fibras grossas da floresta no
etade de umapulso dele, e sentiu que estava em casa.
A voz de Lyra cortou o brilho dourado no qual estavam, uma bolha de
de Eammon. realidade que ignorava todas as outras.
od fluir dele, — A divindade combina com vocês, Lobos. Ou será que devo chamar
vocês de Wilderwood agora?
ma parte não — Por favor, não — gemeu Eammon.
nítida como Red se virou, com um sorriso tímido no rosto. Lyra abraçava a cintura de
Fife para se apoiar um pouco. O sorriso dela demonstrava cansaço, mas era
s vivas, comogenuíno, e ela estava mancando um pouco. Ao lado dela, Fife estava em
para as mãos silêncio e com a expressão defensiva.
Red notou que a manga estava baixada.
do um pouco — Você sabe tudo sobre divindade — disse Red com leveza para Lyra,
entrelaçavamafastando-se de Eammon, mas mantendo as mãos entrelaçadas. — Aquela
. Sua Marca,que acabou com a praga.
como o que Lyra fez uma careta.
— Acho que não é exatamente a mesma coisa.
que antes. A — Bem parecido, acho eu — resmungou Eammon, com a voz ainda
circundava a carregando um pouco da estranha ressonância. Os olhos se voltaram para
uro. Os doisFife. Os dois trocaram um olhar inescrutável.
ue pudessem Afastando-se de Fife, Lyra levantou a manga, arqueando uma das
sobrancelhas e olhando de Red para Eammon.
aram os dela, — A não ser que eu tenha sangrado muito enquanto fiquei inconsciente,
acho que a minha marca não deveria ter desaparecido. — Um ligeiro tremor
uma florestana voz dela. — E o que acontece agora se eu não tenho mais laços com a
s com folhas floresta?
controlava as Eammon encolheu os ombros, o movimento como o vento ondulando por
entre a copa das árvores.
a floresta no — Você viveu muito tempo dentro de Wilderwood. Viveu muito tempo
fora dela também. Os laços estabelecidos pela magia não são fáceis de se
ma bolha dedesfazer. — A voz dele ficou mais suave, como um farfalhar de folhas no
chão. — Agora você pode compensar o tempo perdido.
devo chamar Um sorriso apareceu no rosto dela, iluminando os traços delicados
enquanto ela baixava a manga da camisa.
Fife olhou para ela de esguelha, mas manteve o silêncio.
a a cintura de Na colina atrás deles, Valdrek estava acordando. Lear o ajudou a se
aço, mas eralevantar sobre as pernas trêmulas. Tinha o rosto todo sujo de sangue do
fe estava emferimento da cabeça, mas parecia estar bem-humorado. Eammon apertou a
mão de Red antes de soltá-la e ir conversar com os dois homens em tom
baixo.
za para Lyra, No mato seco, Kiri ainda estava inconsciente, sem dar sinais de acordar,
Aquela embora o peito subisse e descesse no ritmo da respiração. Raffe, de braços
cruzados, olhava para a sacerdotisa caída com expressão clara de desdém.
— Vou colocá-la no primeiro navio para Rylt — disse ele quando Red se
aproximou. — Que todas as sombras me carreguem, mas eu não vou aparecer
a voz aindaem Valleyda com uma Suma Sacerdotisa catatônica e dizer que a Rainha
oltaram paradesapareceu. Vão me matar antes do inverno.
do uma das Red pressionou os lábios. As raízes no braço dela brilharam em um tom de
dourado.
inconsciente, — Se Floriane souber da ausência dela, será um verdadeiro caos. E
igeiro tremorArick… — Raffe meneou a cabeça, sem olhar para ela quando a voz falhou
laços com aao dizer o nome. — Você claramente tem outras obrigações agora que se
tornou o receptáculo de toda uma maldita floresta…
ndulando por — Ela ainda é minha irmã, Raffe. — O tom saiu mais ríspido do que Red
queria e, em volta dos pés, as pontas do mato seco ficaram verdejantes. — Eu
muito tempovou encontrá-la — sussurrou ela. — Não sei como, mas vou encontrá-la e
fáceis de setrazê-la de volta. Essa é a minha obrigação.
de folhas no Ele estreitou os olhos, observando a Marca, o mato morto ficando verde de
novo. E assentiu devagar.
os delicados Red apontou um dedo para Kiri. A vegetação alta começou a se entrelaçar,
formando cordas que prenderam os pés e as mãos da sacerdotisa com força de
ferro. Raffe a pegou antes que Red tivesse a chance de perguntar se precisava
ajudou a se de ajuda e se virou em direção ao vilarejo, carregando-a no ombro. Não olhou
e sangue do para trás.
on apertou a Ela ficou olhando até perdê-lo de vista sob o brilho do sol e foi se juntar
mens em tom aos outros.
— Então é isso? — A voz de Valdrek estava um pouco arrastada e os olhos
s de acordar, pareciam distantes, mas, fora isso, ele não parecia muito mal. — Wilderwood
fe, de braços não pode mais nos prender aqui porque Wilderwood é… você.
Eammon deu de ombros.
uando Red se — Mais ou menos isso.
vou aparecer — Então, nós podemos voltar. — Um sorriso apareceu nos lábios de
ue a Rainha Valdrek, enquanto os olhos recobravam o foco. — Que os Reis e as sombras
me carreguem!
m um tom de — Nem todo mundo vai querer ir. — Lear passou a mão que não estava
apoiando Valdrek na testa suja de sangue. — Alguns vão ficar. Alguns não
eiro caos. Evão saber mais como viver no mundo lá fora.
a voz falhou Valdrek encolheu os ombros, afastando a mão de Lear para se manter de
agora que sepé sozinho.
— Acho que é uma coisa que pode ser aprendida. — Ele se virou para a
o do que Redfloresta. — Não há melhor momento que o presente para descobrir, depois
jantes. — Eu que compartilharmos as boas novas!
encontrá-la e Lear revirou os olhos, mas de um jeito amigável. Com um aceno, seguiu
Valdrek por entre as árvores.
ndo verde de Então, ficaram só os quatro, como tinha sido na Fortaleza. Havia certa
distância entre eles agora, um espaço entalhado pela mudança e pela
se entrelaçar, violência, e, por um momento, ficaram em silêncio.
com força de — Podemos ir para qualquer lugar — murmurou Lyra. Fife contraiu os
se precisavalábios, mas ela não notou. Arqueou uma das sobrancelhas para Red e
o. Não olhouEammon. — Vocês podem ir para qualquer lugar. Que conveniente, carregar
a floresta dentro de vocês.
foi se juntar — Conveniente talvez seja uma hipérbole — resmungou Eammon.
Lyra riu.
da e os olhos — Embora eu entenda a questão de ir para qualquer lugar, em tese —
Wilderwood disse ela —, acho que gostaria de dormir na minha própria cama esta noite.
— Ela se virou e puxou a manga de Fife. — Venha, vamos deixar os deuses a
sós.
Fife a seguiu para a floresta, ainda em silêncio, mas, quando chegaram
os lábios de perto da linha de árvores, ele pegou a mão dela e entrelaçou os dedos com os
e as sombrasdela.
E Eammon e Red ficaram sozinhos.
ue não estava Ele pegou a mão dela, e ela se encostou no ombro dele, sentindo a
. Alguns nãoexaustão pesar nos braços e nas pernas, além da preocupação com a irmã e a
confusão do que talvez ainda estivesse por vir.
se manter de Mas, por ora, por um instante, Red se permitiu aproveitar a sensação de
contentamento. Permitiu-se sentir aquilo.
virou para a Parecia que seu aniversário de vinte anos tinha sido eras antes. Os lábios
obrir, depoisdela se abriram em um sorriso irônico.
— Você se lembra de quando a gente se conheceu?
aceno, seguiu Eammon se virou e acariciou o cabelo dela com fios finos de hera
entrelaçados no louro escuro.
Havia certa — Quando você sangrou na minha floresta — disse ele — ou quando você
ança e pelaapareceu do nada na minha biblioteca?
— Eu estava pensando na segunda vez — respondeu Red. — Quando você
e contraiu osme disse que não tinha chifres. — Ela estendeu a mão e tocou nos pontinhos
para Red eque apareciam no meio do cabelo escuro, reminiscências dos galhos. —
ente, carregar Irônico.
Ele deu uma risada e o som fez o vento soprar por entre os galhos. Os
lábios se encontraram cálidos e famintos, e ele a pegou no colo e girou com
ela nos braços enquanto folhas de cores outonais voavam em volta deles.
, em tese — Ele a colocou no chão e apoiou a testa na dela. Respiraram o mesmo ar,
ma esta noite. Lady Lobo e Lorde Lobo e, por um momento, era tudo que queriam.
ar os deuses a — Vamos para casa — murmurou Eammon.
E, de mãos dadas, os Guardiões atravessaram a floresta deles.
do chegaram
dedos com os
Ele pegou a mão dela, e ela se encostou no ombro dele, sentindo a
exaustão pesar nos braços e nas pernas, além da preocupação com a irmã e a
confusão do que talvez ainda estivesse por vir.
Mas, por ora, por um instante, Red se permitiu aproveitar a sensação de
contentamento. Permitiu-se sentir aquilo.
Parecia que seu aniversário de vinte anos tinha sido eras antes. Os lábios
dela se abriram em um sorriso irônico.
— Você se lembra de quando a gente se conheceu?
Eammon se virou e acariciou o cabelo dela com fios finos de hera
entrelaçados no louro escuro.
— Quando você sangrou na minha floresta — disse ele — ou quando você
apareceu do nada na minha biblioteca?
— Eu estava pensando na segunda vez — respondeu Red. — Quando você
me disse que não tinha chifres. — Ela estendeu a mão e tocou nos pontinhos
que apareciam no meio do cabelo escuro, reminiscências dos galhos. —
Irônico.
Ele deu uma risada e o som fez o vento soprar por entre os galhos. Os
lábios se encontraram cálidos e famintos, e ele a pegou no colo e girou com
ela nos braços enquanto folhas de cores outonais voavam em volta deles.
Ele a colocou no chão e apoiou a testa na dela. Respiraram o mesmo ar,
Lady Lobo e Lorde Lobo e, por um momento, era tudo que queriam.
— Vamos para casa — murmurou Eammon.
E, de mãos dadas, os Guardiões atravessaram a floresta deles.
EPÍLOGO
Red
Wilderwood Neve
cilmente, e a
sse caído no Cinza. Tudo que conseguia ver era cinza. Vários tons de cinza, claros e
histórias, masescuros, fumaça e carvão, mas tudo era única e exclusivamente cinza.
Só que às vezes via algo azul, olhando para ela. O azul mais límpido que já
um preço altotinha visto, cercado por algo escuro, como um cabelo comprido. Ela gostava
uma segunda de azul. Era reconfortante de alguma forma.
de si que se Lentamente, voltou a sentir os braços e as pernas. Não se lembrava de
ão no espelhomuita coisa — prata e gritos e árvores crescendo —, mas sabia que estar
deitada ali, em um mar de cinza com vislumbres de azul, não era o que
deveria estar fazendo.
a linha das Demorou um tempo para perceber que conseguia se mexer. Primeiro os
ndos de lá debraços, depois as pernas, os músculos formigando. Sem pensar muito, ergueu
Valleyda nasas mãos, pressionando-as contra o vidro que a cobria. Foi fácil erguê-lo.
s antes disso. Ao levantar os braços, notou as sombras escuras sobre a pele, como se
estivessem cobertos por mangas de renda negra. Franziu a testa por um
instante. Havia quase um pulsar nos fios de escuridão, como se fossem um
segundo conjunto de veias. Aquilo despertava uma lembrança, mas ela não
os e beijou o conseguia encaixar todas as peças.
ela. — Sobre No silêncio, parecia que a escuridão também estava na sua cabeça. Algo
agachado no canto da sua mente, algo que existia nela, mas, ao mesmo
ada um delestempo, era separado.
se curvaram Passou as pernas pela beirada de uma laje de pedra. Sentou-se.
reacendia no O aposento era circular. Quatro janelas em pontos equidistantes, o peitoril
entalhado com linhas sinuosas como fumaça. Acima dela havia um céu
noturno pintado, estrelas e constelações em todos os tons de cinza possíveis
atrás de uma lua de papel pendurada.
Além das janelas, o mundo era cinza também. Uma floresta, com os galhos
crescendo para baixo enquanto as raízes cresciam para cima, desaparecendo
em um céu espesso feito de neblina. Enquanto observava, alguma coisa se
nza, claros e moveu entre as árvores invertidas — algo imensamente grande, e deslizando
como uma cobra.
mpido que já Sentiu medo e ficou com vontade de se deitar embaixo do vidro de novo.
. Ela gostava — Olá, Neve.
Ela virou a cabeça de súbito, desviando o olhar da floresta invertida, e viu
lembrava deum homem no canto do aposento. As mãos estavam entre os joelhos, o cabelo
bia que estarcomprido escorria pelos ombros. Eram tão cinza quanto o restante do lugar,
ão era o que mas, se ela olhasse com atenção, ainda conseguia ver traços de um castanho
dourado.
Primeiro os — Você acordou. — Olhos azuis se fixaram nela. — Eu estava esperando.
muito, ergueu
ele, como se
esta por um
instante. Havia quase um pulsar nos fios de escuridão, como se fossem um
segundo conjunto de veias. Aquilo despertava uma lembrança, mas ela não
conseguia encaixar todas as peças.
No silêncio, parecia que a escuridão também estava na sua cabeça. Algo
agachado no canto da sua mente, algo que existia nela, mas, ao mesmo
tempo, era separado.
Passou as pernas pela beirada de uma laje de pedra. Sentou-se.
O aposento era circular. Quatro janelas em pontos equidistantes, o peitoril
entalhado com linhas sinuosas como fumaça. Acima dela havia um céu
noturno pintado, estrelas e constelações em todos os tons de cinza possíveis
atrás de uma lua de papel pendurada.
Além das janelas, o mundo era cinza também. Uma floresta, com os galhos
crescendo para baixo enquanto as raízes cresciam para cima, desaparecendo
em um céu espesso feito de neblina. Enquanto observava, alguma coisa se
moveu entre as árvores invertidas — algo imensamente grande, e deslizando
como uma cobra.
Sentiu medo e ficou com vontade de se deitar embaixo do vidro de novo.
— Olá, Neve.
Ela virou a cabeça de súbito, desviando o olhar da floresta invertida, e viu
um homem no canto do aposento. As mãos estavam entre os joelhos, o cabelo
comprido escorria pelos ombros. Eram tão cinza quanto o restante do lugar,
mas, se ela olhasse com atenção, ainda conseguia ver traços de um castanho
dourado.
— Você acordou. — Olhos azuis se fixaram nela. — Eu estava esperando.
1
Neve
gou em seus
enquanto os
la, emoções
quase matou
deu aqui com
e curvou os
eles, as veias
a dos dedos.
, na verdade,
entou mitigar
Neverah. Se
Mas não era.
trouxe você
romessa para
qui sã e salva
Juro pela minha vida e pelo meu sangue. Um juramento antigo, o qual ela
só lera em livros de história. Aquilo deveria ter deixado seus pensamentos em
turbilhão de novo, afastando-se do centro como uma pulseira de contas
arrebentada. Mas, na verdade, ofereceu-lhe uma espécie de apoio.
— Você e eu vamos destruir este mundo subterrâneo — murmurou Solmir.
— Nós vamos queimá-lo até que não reste mais nada, e vamos levar os Reis
junto.
AGRADECIMENTOS
ulmer, Steph
pressar o que
e não fossem
mentoras que
ndo ele ainda
mo revisar e
rtega, Kelsey
erra Elmore,
Paige Cober,
n Ashbaugh e
o para mim e
Layne Fargo,
Cañas, minha
lho de nós. E
brilhantes, e
a Fitzgerald,
: amo muito
todas vocês já há muito tempo, e sou muito grata por ter o apoio e a amizade
de vocês e todos os memes que me mandam.
E é claro, um enorme agradecimento para toda a equipe da Orbit; foi
incrível trabalhar com vocês. Vocês são demais.
Por fim, obrigada a todos os leitores que se animaram com este livro desde
o início. Obrigada por permitirem que eu conte histórias.
CALEB WHITTEN
HANNAH WHITTEN gosta de escrever desde que aprendeu a segurar uma caneta e,
quando estava no ensino médio, descobriu que outras pessoas também poderiam
gostar de suas histórias. Quando não está trabalhando em seus livros, ela lê,
compõe músicas ou tenta cozinhar. Mora no Tennessee com o marido e os filhos
em uma casa comandada por um gato temperamental.
CALEB WHITTEN
HANNAH WHITTEN gosta de escrever desde que aprendeu a segurar uma caneta e,
quando estava no ensino médio, descobriu que outras pessoas também poderiam
gostar de suas histórias. Quando não está trabalhando em seus livros, ela lê,
compõe músicas ou tenta cozinhar. Mora no Tennessee com o marido e os filhos
em uma casa comandada por um gato temperamental.
Copyright © 2021 by Hannah Whitten
Publicado mediante acordo com Orbit, Nova York, Nova York, EUA. Todos os direitos reservados.
Grafia atualizada segundo o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990, que entrou em vigor
no Brasil em 2009.
Título original
For the Wolf
Capa
Lisa Marie Pompilio
Ilustrações de capa
Arcangel
Shutterstock
Ilustrações de miolo
Shutterstock
Preparação
Jana Bianchi
Revisão
Bonie Santos
Thiago Passos
Versão digital
Rafael Alt
ISBN 978-65-5782-633-1
Sor Duncan, o Alto, ou apenas Dunk para os íntimos, não teve uma vida fácil.
Filho bastardo de uma prostituta, ele nunca pertenceu a nenhuma Casa, e suas
oportunidades de vida parecem bastante reduzidas. Mas a esperança de
alcançar a glória não está perdida, e Dunk está decidido a se tornar um grande
guerreiro em Westeros. Dentre todos os grandes, Dunk quer escrever o seu
nome na história como um verdadeiro Cavaleiro dos Sete Reinos. O único
problema é que existem muito mais pretendentes do que posições
disponíveis.
A sorte começa a mudar quando ele encontra Egg, um garoto careca e cheio
de atitude que se prontifica a ser o seu escudeiro. Quanto mais Dunk conhece
o menino, porém, mais Egg parece o oposto de ser um mero plebeu,
demonstrando uma inteligência muito além de sua idade.
Juntos, eles viajam em busca de trabalho e aventuras — sem jamais revelar a
verdadeira identidade do menino àqueles que encontram pelo caminho. Uma
grande amizade nasce entre esses dois heróis improváveis, que persiste
mesmo quando, anos mais tarde, eles assumem papéis centrais na estrutura de
poder de Westeros.
Reunindo os três primeiros contos protagonizados por Dunk e Egg — "O
cavaleiro andante", "A espada juramentada" e "O cavaleiro misterioso" —, O
cavaleiro dos Sete Reinos é o livro perfeito para quem quer se aventurar no
fantástico mundo criado por George R.R. Martin e para aqueles que anseiam
por mais histórias de Westeros, dos Targaryen e do fascinante universo de As
Crônicas de Gelo e Fogo.
"O verdadeiro motivo para ler esta coletânea é a excelente narrativa. Martin
desenvolveu um mundo vivo, cheio de detalhes, de uma maneira que poucos
autores conseguem fazer."— Tech Times
"Pura fantasia e aventura, com dois dos personagens mais encantadores que
George R. R. Martin já criou."— Bustle
O verão pode durar décadas. O inverno, toda uma vida. E a guerra dos tronos
começou.
Como Guardião do Norte, lorde Eddard Stark não fica feliz quando o rei
Robert o proclama a nova Mão do Rei. Sua honra o obriga a aceitar o cargo e
deixar seu posto em Winterfell para rumar para a corte, onde os homens
fazem o que lhes convém, não o que devem... e onde um inimigo morto é
algo a ser admirado.
Longe de casa e com a família dividida, Eddard se vê cada vez mais enredado
nas intrigas mortais de Porto Real, sem saber que perigos ainda maiores
espreitam a distância.
Nas florestas ao norte de Winterfell, forças sobrenaturais se espalham por trás
da Muralha que protege a região. E, nas Cidades Livres, o jovem Rei Dragão
exilado na Rebelião de Robert planeja sua vingança e deseja recuperar sua
herança de família: o Trono de Ferro de Westeros.
"A guerra dos tronos é a maior obra de fantasia desde que Bilbo encontrou o
Anel." — SF Reviews