12 Diagnóstico Precoce de Autismo Uma Revisão Literária
12 Diagnóstico Precoce de Autismo Uma Revisão Literária
12 Diagnóstico Precoce de Autismo Uma Revisão Literária
Bruna Freitas Steffen1; Izabela Ferreira de Paula1; Vanessa Morais Ferreira Martins1; Mónica Luján López2
1. Faculdade Morgana Potrich – FAMP, Acadêmicas no Curso de Medicina - Mineiros/ GO, Brasil. E-mail:
[email protected]
2. Bióloga, MSc e PhD em Genética e Biologia Molecular pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Docente da Faculdade Morgana
Potrich (FAMP). Mineiros-GO, Brasil.
ABSTRACT - Autistic Spectrum Disorder is one of the Global Developmental Disorders described in the
Diagnostic and Statistical Manual of Health-Related Mental Disorders, and is characterized by the impairment
of social skills such as communication, interaction and behavioral learning. The main objective of this study
was to describe the importance of early diagnosis of autism spectrum disorder, as well as early multiprofessional
therapeutic interventions. The data presented in this review demonstrate that early diagnosis and immediate
Keywords: Autism, treatment provide a significant evolution in adaptation, social interaction and a better cognitive development.
Autistic Spectrum This prognosis is given through regular therapies by a multiprofessional team that accompany the development
Disorder, Psychology, of the autistic child. However, the need for a greater concentration of efforts is necessary so that the diagnosis
Neuropediatrics and treatment of autism occur in an increasingly early manner, because the more time passes, the symptoms
will be more consolidated.
Tabela 1. Critérios utilizados para diagnosticar o Autismo considerando o cognitivo e psicossocial. Sendo assim, fica evidente a
espectro das características:
importância de intervenções precoces para potencializar o
DSM-V: Critérios diagnósticos dos Transtornos do crescimento normal infantil (4,22).
Espectro Autista 299.00 (F84.0)
Desta forma, os piores prognósticos estão diretamente
Critério Características
relacionados com o diagnóstico após os três anos de idade, uma
A Deficiências persistentes na comunicação e interação social: vez que após essa idade a criança tem mais dificuldade de se
1. Limitação na reciprocidade social e emocional; adaptar para uma melhor relação consigo e com os outros.
2. Limitação nos comportamentos de comunicação não
verbal utilizados para interação social;
Assim, um prognóstico favorável será possível por meio da
3. Limitação em iniciar, manter e entender relacionamentos, adoção do tratamento antes da cristalização dos sintomas (23).
variando de dificuldades com adaptação de comportamento Entretendo, apesar dos grandes avanços nos estudos, muitas
para se ajustar às diversas situações sociais. crianças ainda continuam por muitos anos sem um diagnóstico
B Padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses ou com diagnósticos inadequados, devido ao grande prejuízo em
ou atividades, manifestadas pelo menos por dois dos termos de capacitação e conhecimento profissional. Assim,
seguintes aspectos observados ou pela história clínica:
1. Movimentos repetitivos e estereotipados no uso de objetos
profissionais da saúde, educação e outras áreas relacionadas, que
ou fala; possuem a infância como foco, devem estar cada vez mais
2. Insistência nas mesmas coisas, aderência inflexível às preparados para se deparar com casos de autismo nas suas
rotinas ou padrões ritualísticos de comportamentos verbais e práticas, sendo de extrema importância o conhecimento do tema
não verbais;
3. Interesses restritos que são anormais na intensidade e foco;
para identificação dos sinais, diagnóstico e intervenção precoce
4. Hiper ou hiporreativo a estímulos sensoriais do ambiente (24).
C Os sintomas devem estar presentes nas primeiras etapas do
desenvolvimento. Eles podem não estar totalmente AUTISMO E SAÚDE PÚBLICA
manifestos até que a demanda social exceder suas O acompanhamento das crianças e famílias deve ser
capacidades ou podem ficar mascarados por algumas realizado por equipes multidisciplinares de Unidades e Centros
estratégias de aprendizado ao longo da vida.
de Desenvolvimento, portanto a detecção precoce é do domínio
D Os sintomas causam prejuízo clinicamente significativo nas dos cuidados primários de saúde é de suma importância. O
áreas social, ocupacional ou outras áreas importantes de
diagnóstico precoce, bem como uma avaliação adequada e uma
funcionamento atual do paciente.
intervenção atempada e intensiva melhoram o prognóstico sendo
E Esses distúrbios não são melhores explicados por deficiência
fundamental o conhecimento da clínica do autismo (17).
cognitiva ou atraso global do desenvolvimento.
No Brasil, a maior parcela dos atendimentos às pessoas
Fonte: American Psychiatric Association, 2014
com TEA acontece no Sistema Único de Saúde, o SUS. O
atendimento de pacientes com TEA acontece principalmente nos
Os sintomas que devem ser observados para a suspeita níveis da Atenção Básica e da Atenção Especializada (25). Na
do autismo incluem contato visual anormal, falta de orientação assistência especializada, destacam-se os Centros de Atenção
para o nome, falta de uso de gestos para apontar e ou mostrar, Psicossocial (CAPS) (25) que são serviços abertos e
falta de brincadeiras interativas, falta de sorriso, falta de comunitários que devem prestar atendimento em regime de
compartilhar e falta de interesse em outras crianças. Sendo que, atenção diária, oferecer cuidado clínico eficiente e
atrasos combinados de linguagem e sociais e regressão dos personalizado, promovendo a inserção social do usuário, além
marcos de linguagem ou sociais são alertas precoces importantes de dar suporte e supervisionar a atenção à saúde mental na rede
a uma avaliação imediata (18). básica. Para o atendimento de crianças e adolescentes foram
Não existe cura para indivíduos diagnosticados com criados os Centros de Atenção Psicossocial Infanto-juvenil
autismo, mas existem intervenções que podem melhorar suas (CAPSI) (26). Este centro proporciona um atendimento bem
habilidades de comunicação, socialização e funções motoras. dimensionado por ser composto de equipes multiprofissionais,
Sendo um diagnóstico precoce essencial para o prognóstico (19). atuar no território e respeitar a necessidade/demanda de cada
Estudos apontam que as intervenções fornecidas antes dos 36 caso (25).
meses de vida levam a melhores resultados positivos no No Brasil, por diversos motivos, as políticas
desenvolvimento, pela maior plasticidade cerebral nesse período governamentais propriamente direcionadas as pessoas com
e maior potencial para alterar o curso do desenvolvimento (20). diagnóstico de autismo manifestou-se de maneira tardia. Até o
A fase em que o cérebro se desenvolve mais surgimento de uma política pública para o TEA infantil, no
rapidamente vai desde a concepção até os três anos de idade início do século XXI, está população encontrava atendimento
assim, qualquer programa de estimulação do desenvolvimento apenas em instituições filantrópicas, como a Associação
da criança deve ser realizado nesta fase (21). Se houver demora Pestalozzi e a Associação dos Pais e Amigos dos Excepcionais
no diagnóstico e início nas terapêuticas necessárias, os sintomas (APAE) (27).
ficarão mais consolidados prejudicando o desenvolvimento
A inclusão tardia da saúde mental infantil e juvenil na perspectiva dessa família, como também, a necessidade de
política pública de saúde mental, pode ser atribuída a múltiplos alterar a rotina e os horários, tempo, gasto de energia podem ser
fatores. Em primeiro lugar, à ampla gama de problemas dificuldades no convívio da família, afetando a forma com que
relacionados à saúde mental da infância e adolescência. Além da os pais lidam com a criança nessa nova fase (32). É de suma
sintomatologia, há considerável variação no período de importância um apoio social para essa família, com
incidência. A formulação de um diagnóstico de qualidade exige aconselhamento familiar, trocas de experiência entre famílias,
procedimentos de avaliação específicos que incluem, além das mobilização de amigos e da comunidade. Com esse apoio a
próprias crianças e adolescentes, o recurso a fontes de família estará mais preparada, diminuindo o estresse familiar e
informação diversas, como familiares, responsáveis, professores proporcionando o melhor desenvolvimento da criança (33).
e outros (28). Outro fato que pode estar relacionado às Desta forma, a abordagem do tratamento depende da
dificuldades de inclusão diz respeito ao caráter recente do idade do paciente e etapa de desenvolvimento, assim:
conhecimento sistematizado sobre frequência, persistência, Crianças pequenas, a prioridade deveria ser a terapia da fala, da
prejuízo funcional e consequências na vida adulta associadas aos interação social/linguagem, educação especial e suporte
TEA (29). familiar. Já com adolescentes, os alvos seriam os grupos de
Na atenção primária a caderneta de saúde da criança é habilidades sociais, terapia ocupacional e sexualidade. Com
considerada a ação eixo por conter os dados necessários para o adultos, questões como as opções de moradia e tutela deveriam
acompanhamento da saúde da criança. Na caderneta da criança ser focadas. (KLIN, 2006, p. 10).
foi incluso um guia básico de acompanhamento de crianças em A intervenção multidisciplinar se destaca por
situações especiais, como síndrome de Down e autismo. Ela possibilitar uma melhora significativa na qualidade de vida da
informa que a detecção precoce do autismo é fundamental para criança, respeitando o nível de desenvolvimento e
a imediata intervenção, de forma a favorecer a construção de particularidades de cada um. A equipe multidisciplinar é
abordagens que viabilizam o percurso da pessoa com autismo e composta por psicólogo, fonoaudiólogo, terapeuta ocupacional,
de seus familiares. Além de exemplificar sinais e sintomas, nutricionista, pedagogos, entre outros; além de uma estrutura de
garantindo um acesso fácil a informação aos pais e por integração sensorial. Assim a intervenção com estes
profissionais da saúde (30). profissionais torna-se importante devido os conhecimentos
técnicos sobre desenvolvimento humano (35).
TRATAMENTO E O ACOMPANHAMENTO
MULTIPROFISSIONAL
O tratamento do autismo deve ser baseado na CONSIDERAÇÕES FINAIS
estimulação do desenvolvimento de funcionalidades, na
compensação das limitações funcionais e na prevenção de uma A transtorno do espectro autista é uma doença de alta
maior deterioração de suas capacidades, reintroduzido assim a complexidade que deve ser abordada de maneira multicêntrica,
criança no meio social, ao apresentar uma melhora significativa visando uma melhora integral do paciente. Portanto, o
em âmbito emocional, cognitivo e de linguagem (23). diagnóstico precoce do TEA é um divisor de águas entre as
O tratamento é complexo e deve ser centrado nos crianças que irão conseguir uma maior autonomia futuramente e
sintomas alvo do paciente, como agitação, agressividade e as que serão sempre dependentes de alguém. Quanto mais cedo
irritabilidade. São utilizados os neurolépticos, a combinação for essa identificação mais ações de intervenção serão eficazes,
vitamina B6-magnésio, fenfluramina, carbamazepina, ácido visto que quanto mais tardia a percepção do autismo, mais
valpróico e lítio, visando a remissão desses sintomas. Esta consolidados estarão os sintomas.
abordagem medicamentosa possibilita encaminhamento para Após o início do tratamento, a maioria das crianças com
programas de estimulação e educacionais, porém não é usada de autismo apresenta melhora nos relacionamentos sociais, na
forma exclusiva. Além disso, por se tratar de pacientes crônicos comunicação e nas habilidades de autocuidado. Sabe-se que a
exige monitoração constante dos profissionais envolvidos, para ordem e a vida regrada são essenciais para o aprendizado diário
que tenham uma dimensão exata do transtorno (31). dos autistas, e um acompanhamento adequado proporcionará
Existem quatro alvos básicos para qualquer tratamento: que elas entendam suas próprias limitações e a limitação do
“1) estimular o desenvolvimento social e comunicativo; 2) outro em entendê-lo.
aprimorar o aprendizado e a capacidade de solucionar
problemas; 3) diminuir comportamentos que interferem com o
aprendizado e com o acesso às oportunidades de experiência do REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
cotidiano; e 4) ajudar as famílias a lidarem com o autismo” (22).
Uma das grandes exigências dos programas de intervenção é a 1. Gadia, C. Aprendizagem e autismo: transtornos da
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