Comentário Bíblico de Marcos - Itamir Neves
Comentário Bíblico de Marcos - Itamir Neves
Comentário Bíblico de Marcos - Itamir Neves
COMENTÁRIO BÍBLICO DE
MARCOS
ATRAVÉS DA BÍBLIA
ITAMIR NEVES
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Sumário
Contracapa
Prefácio
Introdução geral à série de comentários através da Bíblia
O evangelho de Marcos e sua importância
A história dos primeiros escritos
A primazia do Evangelho de Marcos
Questões introdutórias relativas ao evangelho de Marcos
O problema sinótico
Comparação entre os objetivos dos quatro evangelhos
Autoria
O homem Marcos
Propósitos
Data
Local de origem
Destinatários
Verso-chave
Peculiaridades do Evangelho de Marcos
ESBOÇO DE MARCOS
II – O SACRIFÍCIO DO SERVO. A SALVAÇÃO DO SERVO
O desafio do Evangelho de Marcos para nós
Marcos 1 - O servo e o início do ministério
Anunciado, batizado, provado, demonstrado e autenticado
Onde tudo começou
Mc 1.1
João Batista, o precursor do prometido
Mc 1.2–3
João Batista testemunha sobre Jesus
Mc 1.4–8
João Batista batiza Jesus
Mc 1.9–11
Jesus é testado
Mc 1.12–13
Jesus anuncia o reino de Deus
Mc 1.14–15
Jesus chama os primeiros discípulos
Mc 1.16–20
Jesus expulsa o demônio num sábado
Mc 1.21–28
Jesus cura a sogra de Pedro
Mc 1.29–31
Jesus realiza muitas curas e libertações e pede segredo
Mc 1.32–34
Jesus se retira para orar e prossegue em pregar e curar
Mc 1.35–39
Jesus cura um leproso e insiste no segredo messiânico
Mc 1.40–45
Marcos 2 - O servo quebra as tradições
Come com os pecadores e cura num sábado
Jesus cura um homem amado por seus amigos
Mc 2.1–12
Jesus continua chamando discípulos
Mc 2.13–14
Jesus rompe com os padrões sociais discriminatórios
Mc 2.15–17
Jesus ensina sobre os verdadeiros espirituais
Mc 2.8–22
Jesus quebra o tradicionalismo vazio
Mc 2.23–28
Marcos 3 - O servo convoca homens para uma tarefa divina
Designação dos apóstolos, oposição das autoridades e incompreensão da família
Jesus cura novamente num sábado
Mc 3.1–6
Jesus cura muitos à beira-mar
Mc 3.7–12
Jesus escolhe seus doze apóstolos
Mc 3.13–19
Jesus ensina sobre o pecado imperdoável
Mc 3.20–30
Jesus e sua família
Mc 3.31–35
Marcos 4 - O servo ensina as verdades relativas ao reino de Deus
Objetivos das parábolas e o poder sobre a natureza
Jesus conta a parábola do semeador
Mc 4.1–9
Jesus explica a parábola do semeador
Mc 4.10–20
Jesus conta a parábola da candeia
Mc 4.21–25
Jesus conta a parábola da semente
Mc 4.26–29
Jesus conta a parábola do grão de mostarda
Mc 4.30–32
Jesus tinha razões para ensinar por meio de parábolas
Mc 4.33–34
Jesus ensina através do milagre de acalmar o mar
Mc 4.35–41
Marcos 5 - O servo demonstra seu divino e incomparável poder
Ele é maior que Satanás, a doença e a morte
Jesus expulsa uma legião de demônios
Mc 5.1–14
Jesus é rejeitado pelos gerasenos
Mc 5.14–20
Jesus ouve o pedido de Jairo
Mc 5.21–24
Jesus cura uma mulher com hemorragia
Mc 5.25–34
Jesus ressuscita a filha de Jairo
Mc 5.35–43
Marcos 6 - O servo é rejeitado pelos conhecidos e recebido pelos distantes
Rejeição em Nazaré, morte de João Batista, a primeira alimentação e a recepção em Genesaré
Jesus prega em Nazaré e é rejeitado pelos conhecidos
Mc 6.1–6
Jesus instrui e envia os doze discípulos
Mc 6.7–13
Jesus foi confundido com João Batista, morto por Herodes (6.14–29)
Jesus realiza o milagre da multiplicação de pães e peixes
Mc 6.30–44
Jesus anda sobre o mar e vai de novo a Genesaré
Mc 6.45–56
Marcos 7 - O servo repudiado pelos líderes judeus estende suas bênçãos aos gentios
O que contamina o homem, a libertação de uma menina e a cura de um surdo-gago
Jesus mostra o que contamina o homem
Mc 7.1–23
Jesus expulsa do demônio de uma menina
Mc 7.24–30
Jesus cura um surdo-gago
Mc 7.31–37
Marcos 8 - O servo e a sua identificação
A segunda alimentação, o pedido de um sinal e a confissão de Pedro
Jesus realiza pela segunda vez o milagre da multiplicação de pães e peixes
Mc 8.1–10
Jesus sofre com a incredulidade dos líderes judaicos
Mc 8.11–13
Jesus previne os discípulos sobre o fermento dos fariseus
Mc 8.14–21
Jesus cura um cego em Betsaida
Mc 8.22–26
Jesus é identificado como Cristo, o Messias de Israel
Mc 8.27–30
Jesus prediz pela primeira vez a sua morte e ressurreição
Mc 8.31–33
Jesus apresenta os requisitos do discipulado
Mc 8.34–38
Marcos 9 - O servo confirmado em divindade instrui os discípulos
A transfiguração e as exigências do discipulado
Jesus é transfigurado diante dos discípulos
Mc 9.1–13
Jesus liberta um menino possuído por um espírito mudo e surdo
Mc 9.14–29
Jesus prediz pela segunda vez a sua morte e ressurreição
Mc 9.30–32
Jesus ensina seus discípulos sobre a humildade
Mc 9.33–37
Jesus ensina seus discípulos sobre a tolerância
Mc 9.38–41
Jesus ensina seus discípulos sobre os tropeços
Mc 9.42–48
Jesus ensina seus discípulos sobre o papel deles como o sal da terra
Mc 9.49–50
Marcos 10 - O servo dá ensinamentos a diversos interlocutores
Ensinos sobre divórcio, crianças, riquezas e humildade
Jesus ensina sobre o divórcio, em resposta aos fariseus
Mc 10.1–12
Jesus ensina sobre o reino de Deus, abençoando as crianças
Mc 10.13–16
Jesus ensina sobre as prioridades, em resposta ao jovem rico
Mc 10.17–22
Jesus ensina sobre o perigo das riquezas aos discípulos
Mc 10.23–31
Jesus ensina sobre o seu sacrifício pela terceira vez aos discípulos
Mc 10.32–34
Jesus ensina sobre a atitude de servir, em resposta a Tiago e João
Mc 10.35–45
Jesus ensina sobre a objetividade usando o exemplo de Bartimeu
Mc 10.46–52
Marcos 11 - O servo é recebido em triunfo pelos desamparados
A entrada triunfal, a figueira, a purificação do templo e a sua autoridade
Jesus chega e entra triunfalmente em Jerusalém
Mc 11.1–11
Jesus amaldiçoa uma figueira
Mc 11.12–14
Jesus purifica o templo
Mc 11.15–19
Jesus ensina sobre o poder da fé
Mc 11.20–26
Jesus é questionado, mas confronta os líderes judaicos
Mc 11.27–33
Marcos 12 - O servo é desafiado em seu ensino
Uma parábola, o ensino sobre o tributo, a ressurreição e o grande mandamento
Jesus ensina através da parábola dos lavradores maus
Mc 12.1–12
Jesus ensina sobre o pagamento do tributo
Mc 12.13–17
Jesus ensina sobre a ressurreição
Mc 12.18–27
Jesus ensina sobre o grande mandamento
Mc 12.28–34
Jesus ensina sobre o Cristo
Mc 12.35–37
Jesus ensina sobre a hipocrisia
Mc 12.38–40
Jesus ensina sobre a verdadeira adoração
Mc 12.41–44
Marcos 13 - O servo proclama seu sermão profético
O princípio das dores, a grande tribulação e a vinda do Filho do Homem
Jesus é interrogado pelos discípulos
Mc 13.1–4
Jesus ensina sobre os eventos antecedentes à sua segunda vinda
Mc 13.5–23
Jesus ensina sobre a vinda do Filho do Homem
Mc 13.24–27
Jesus ensina sobre o reconhecimento do tempo
Mc 13.28–31
Jesus ensina sobre a necessidade da vigilância
Mc 13.32–37
Marcos 14 - O servo se prepara para o seu sacrifício vicário
A sua unção, a Páscoa, a traição, a Ceia, a prisão, o julgamento e a negação
Jesus é o alvo de um plano sinistro
Mc 14.1–2
Jesus é ungido em Betânia
Mc 14.3–9
Jesus é alvo da traição de Judas Iscariotes
Mc 14.10–11
Jesus orienta os preparativos da Páscoa e a celebra com os doze
Mc 14.12–21
Jesus institui a Ceia Memorial
Mc 14.22–26
Jesus avisa que Pedro o negará
Mc 14.27–31
Jesus passa momentos de aflição no Getsêmani
Mc 14.32–42
Jesus é preso
Mc 14.43–52
Jesus enfrenta o julgamento do Sinédrio
Mc 14.53–65
Jesus é negado por Pedro
Mc 14.66–72
Marcos 15 - O servo é crucificado e morre em nosso lugar
O julgamento, a crucificação, a morte e o sepultamento
Jesus é levado diante de Pilatos
Mc 15.1–5
Jesus é rejeitado pela multidão
Mc 15.6–15
Jesus é entregue aos soldados romanos para ser crucificado
Mc 15.16–20
Jesus é ajudado por Simão a carregar a cruz
Mc 15.21
Jesus é crucificado
Mc 15.22–32
Jesus morre diante do Pai, da multidão, das autoridades e dos seus
Mc 15.33–41
Jesus é sepultado
Mc 15.42–47
Marcos 16 - O servo ressuscita e ordena a proclamação do evangelho
A ressurreição, os aparecimentos, a ordem para evangelização e a ascensão
Jesus é alvo de uma demonstração de profundo amor
Mc 16.1–2
Jesus surpreende seus seguidores em todos os detalhes
Mc 16.3–5
Jesus é anunciado ressurreto por um anjo
Mc 16.6–8
Jesus aparece a Maria Madalena
Mc 16.9–11
Jesus aparece a dois de seus discípulos
Mc 16.12–13
Jesus aparece aos onze discípulos e lhes ordena a evangelização
Mc 16.14–18
Jesus é recebido em glória e coopera com os discípulos na evangelização
Mc 16.19–20
Referências bibliográficas
Prefácio
7 – O Servo rejeitado pelos líderes judeus estende suas bênçãos aos gentios (capítulo 7)
6. Jesus queria impactar aquele auditório não “apenas” com mais uma cura
física. Ele quis que percebessem a revelação progressiva da sua divindade. A
frase do verso 5, Filho, os teus pecados estão perdoados, é significativa. A
expressão “filho” indicava a acolhida de Jesus para com aquele que estava
sofrendo. A expressão “os teus pecados” indica que Jesus estava preocupado
com a situação concreta do relacionamento entre aquele homem e Deus. Jesus
não tratou dos traumas, das angústias ou do sentimento de culpa daquele
paralítico. Jesus tratou do maior problema do ser humano, o problema que
nos separa de Deus: o pecado. A expressão “estão perdoados” mostra a
divindade, a compaixão, a misericórdia e o amor de Jesus e,
consequentemente, de Deus! Ao proclamar o perdão para aquele necessitado,
Jesus estava anunciando parabolicamente que um novo tempo tinha chegado.
Era a “invasão” da divindade na história humana, era a intervenção de Deus,
enviando seu Filho para o perdão dos nossos pecados! Jesus, com essas
palavras, declarava a sua divindade!
7. Nos versos 6 e 7, os religiosos criticaram a atitude de Jesus, negando-lhe a
possibilidade de usar tais palavras. Eles sabiam que só Deus tinha o poder de
perdoar os pecados. Para eles, nem o Messias tão ansiosamente aguardado
tinha esse poder, porque o viam apenas como um líder político e bélico.
Diante disso, consideraram as palavras de Jesus uma blasfêmia. Mas por quê?
Porque só Deus podia perdoar os pecados, e nisso estavam certos. Mas
também porque não podiam supor que o Messias era um ser divino e
espiritual e não um homem poderoso e político e, portanto, com total
condição para perdoar os pecados.
8. Ao perceber o comentário dos escribas, Jesus confrontou-os com um
argumento simples e poderoso, conforme o verso 9: Qual é mais fácil?. Era
mais fácil perdoar os pecados ou curar o físico? Na verdade, para os
religiosos, as duas ações seriam difíceis e impossíveis. Mas para o Messias, o
próprio Deus encarnado, seria possível não só curar fisicamente, mas
principalmente salvar e curar espiritualmente.
9. E mais uma vez Marcos destaca que Jesus aproveitou a oportunidade para
ensinar. Conforme o verso 10, Jesus ensinou aos cinco amigos, ao povo que o
escutava e aos líderes judaicos que Ele, o Filho do Homem (pois era assim
que Ele se autodenominava), exerceria o seu messianato de modo espiritual e
não como um líder político.
10. O desfecho dessa narrativa se encontra nos versos 11 e 12, que nos dão
conta que Jesus também curou o homem fisicamente e provou o seu poder,
ordenando que se levantasse e carregasse o seu leito, uma espécie de maca, e
fosse para casa. Ele levantou-se e obedeceu. E o resultado foi a glorificação
de Deus. Jamais vimos coisa assim!
Uma das lições que se destaca nessa passagem é a dureza do coração dos
líderes religiosos. A crítica que fizeram a Jesus é que Ele agia fora do padrão das
estruturas organizadas. Jesus confrontava essas estruturas não porque queria
chamar a atenção para si, mas porque as estruturas, as instituições, em vez de
ajudar, frustram e aprofundam mais o vazio do coração humano. Mas, sobretudo,
Jesus quis demonstrar que Ele ama mais as pessoas do que as estruturas. Outra
lição que devemos aplicar em nossas vidas é sobre a fé. Jesus valorizou a fé dos
amigos do paralítico. Mas a salvação dele só aconteceu porque Jesus também viu
em seu interior a sua fé pessoal. Muitas vezes agimos como aqueles religiosos e
nos esquecemos de que o que Deus quer de nós é que sejamos um povo
confiante, um povo com uma fé prática. O problema é que nos esquecemos de
que só há perdão, só há salvação, quanto pessoalmente cremos que Jesus pode
nos transformar.
O que fazer com essas lições? Elas devem ser aplicadas em nosso dia a dia.
Confiemos em Deus e peçamos a sua capacitação para agirmos com fé.
Jesus continua chamando discípulos
Mc 2.13–14
O segundo episódio relatado por Marcos trata-se da chamada, da convocação de
Levi, ou Mateus, filho de Alfeu, para o discipulado. Vamos considerá-lo fazendo
algumas observações.
1. No verso 13, Marcos de novo destaca que Jesus ensinava o povo,
demonstrando ser esse aspecto parte fundamental do seu ministério. Portanto,
o ensino, a proclamação e a pregação também devem ser parte fundamental
do nosso ministério individual e coletivo como igreja.
2. Outro aspecto fundamental do ministério de Jesus, sem dúvida, era as
convocações, as chamadas, os convites que estendia para que pessoas se
tornassem seguidoras dele. Assim como convidou, ainda continua, através de
nós, seus discípulos, convidando a todos para que aceitem o seu gracioso
convite.
3. Embora tenhamos comentado sobre a sua chamada para o discipulado
quando estudamos o Evangelho de Mateus, é ainda necessário destacar mais
uma vez como Jesus confrontou-se com a tradição que, em vez de valorizar,
expunha e desprezava as pessoas.
4. Mateus era o nome que os romanos, seus senhores, tinham lhe dado para
desempenhar a sua função. Levi era o nome judaico. Portanto,
provavelmente, Mateus era um homem da tribo de Levi que poderia estar
trabalhando no templo. Não nos é possível imaginar as razões dessa condição,
mas pelas circunstâncias da vida ele estava exercendo uma profissão bem
diferente daquela para a qual a sua tribo tinha sido designada.
5. Nesse aspecto, outro detalhe que merece ser destacado é a própria maneira
como Mateus, no seu evangelho, refere-se a si mesmo. Em Mateus 9.9–13 ele
se chama de Mateus. No relato de Marcos e no de Lucas, ele é chamado de
Levi (Lc 5.27,29). Essa auto identificação com seu nome romano talvez possa
demonstrar que desejava se esquecer da possibilidade de estar exercendo uma
função dentro do judaísmo e, por isso, quando Jesus, um mestre judeu, o
chamou, imediatamente deixou tudo e o seguiu.
6. Como era judeu, porém cobrador de impostos trabalhando para os
romanos, Mateus era desprezado e até discriminado.
Ele era judeu, porém sua profissão não era muito judaica, considerando que ele arrecadava impostos
para o tão odiado governo romano! Tais homens nem sempre eram reconhecidos por sua
honestidade; para dizer a verdade, eram tratados com menosprezo, como prostitutas, como a ralé da
sociedade (MACDONALD, 2008, p. 112).
Temos que aprender a buscá-lo não apenas por aquilo que pode fazer por nós,
em nosso benefício. Temos que buscá-lo por Ele ser quem é, o Deus
encarnado que veio até nós trazer a salvação, e pela possibilidade de
novamente termos comunhão com Ele.
5. No verso 11 lemos: Também os espíritos imundos, quando o viam,
prostravam-se diante dele e exclamavam: Tu és o filho de Deus. Os
espíritos maus conheciam Jesus. Eles são seres inteligentes e poderosos que
se apossam das criaturas humanas, e só o poder de Cristo pode
verdadeiramente libertar o homem do poder satânico. Como Jesus desde a
eternidade já tinha vencido Satanás e seus asseclas, eles sabiam quem Jesus
era. Jesus é, em sua encarnação, o Filho de Deus! Infelizmente, muitos em
nossos dias adoram a Satanás. O culto a Satanás se estende por toda a parte.
Mas quem deve ser adorado é o Criador e não a criatura, principalmente um
ser que se desviou das intenções que Deus tinha para ele.
6. Novamente podemos destacar em Marcos o “segredo messiânico”. As
palavras do verso 12 nos ajudam a entender essa ênfase de Jesus: Mas Jesus
lhes advertia severamente que não o expusessem à publicidade. Os
espíritos imundos reconheciam Jesus e o seu poder, mas Jesus não queria o
testemunho deles. Este verso é notável, porque nos mostra claramente que
Jesus não aceitou o testemunho desses demônios. E certamente tendo ouvido
sobre esse exemplo, assim também procedeu Paulo em Atos 16.16–18,
quando expulsou o demônio de uma jovem que dava testemunho dele e de
Silas, dizendo a todos que eles eram servos do Deus Altíssimo e anunciavam
o caminho da salvação. Temos que entender que Jesus, seus ministros e sua
igreja não precisam do louvor e do testemunho de Satanás.
7. Jesus queria manter o segredo messiânico porque ainda não tinha chegado
a sua hora. Em vez de fama, de aparecer, Jesus procurou ser discreto. A igreja
brasileira precisa aprender esse princípio de humildade.
A experiência eclesiástica brasileira necessita de uma reforma. Precisamos de
uma reforma eclesiástica porque temos cometido dois erros:
A. A igreja, ao colocar seus líderes num pedestal, trata-os como
semideuses. Eles são os maiorais. A igreja se esquece de que colocar
alguém em primeiro lugar é pecado. Devemos honrar aquele que serve ao
Senhor, que é instrumento nas mãos divinas, mas tratá-lo como Anjo do
Senhor, como ungido, o único que possui a revelação divina, é perigoso.
Por isso temos a Bíblia em nossas mãos. É nosso dever estudá-la!
B. O segundo erro é cometido pelos que são ou se fazem líderes, esses
líderes idolatrados. Muitos gostam dessa honraria, desse tratamento quase
divino e de serem chamados de “ungidos do Senhor”. Gostam de ser
bajulados, de ficar no pedestal. Gostam tanto da fama e do poder que se
autodenominam com nomes mais pomposos. Eles se esquecem de que
foram chamados a servir, como o Filho do Homem. Muitos líderes se
esquecem de que receberam dons para servir, para serem instrumentos e
colaboradores nas mãos do Senhor (Mc 10.45; 1Co 3.5–9; 1Pe 4.10).
Se seguíssemos o exemplo de Jesus, seríamos diferentes. Ele saiu da
sinagoga, da fama e admiração que tinha obtido no lugar da religião. Ele foi para
a casa humilde de um pescador. Mas de lá também saiu, pois toda a cidade veio
àquela casa. Foi então para fora da cidade, para beira-mar. Não quis ficar
instalado, “curtindo” a adoração do povo. Não! Ele foi para a rua, para o meio do
povo, onde havia necessidade. Foi enfrentar o inimigo. Foi servir o povo pobre e
necessitado. Jesus veio para servir, e foi isso que fez. Ele rejeitou e proibiu o
testemunho a seu respeito. Não queria que ninguém divulgasse os seus feitos.
Nem os demônios, nem os que foram curados!
Quanta diferença dos nossos dias! Que Deus nos perdoe como igreja por
idolatrarmos os líderes, dando-lhes uma posição que só pertence ao Senhor. Mas
que Deus perdoe também os líderes que apreciam o poder, a fama e o pedestal!
Que o Senhor tenha misericórdia da sua igreja!
Jesus escolhe seus doze apóstolos
Mc 3.13–19
Quando Jesus escolheu os doze, já sabia que deixaria a sua missão em mãos
humanas, em mãos frágeis e pecadoras. Mas mesmo assim separou para estarem
com Ele aqueles a quem iria capacitar. Aqui encontramos o propósito soberano
de Deus para escolher os doze apóstolos. Vamos entender bem essa chamada.
1. Em João 15.16, Jesus disse que seus discípulos haviam sido divinamente
escolhidos. Tinham sido escolhidos por Ele mesmo, pelo próprio Cristo, pelo
Messias: Não fostes vós que me escolhestes a mim; pelo contrário, eu vos
escolhi a vós outros e vos designei para vades e deis fruto, e o vosso fruto
permaneça… Destaca-se aqui não só a escolha divina, mas a escolha com
um propósito: produzir fruto. Creio que o fruto aqui se refere não apenas ao
testemunho que deram a partir da vinda do Espírito Santo sobre suas vidas.
Certamente, o foco também está no “fruto do Espírito”, isto é, uma mudança
de caráter, fazendo com que o discípulo se torne cada dia mais parecido com
o Mestre.
2. Como no quadro mostrado anteriormente, temos aqui a terceira etapa da
chamada, da convocação de Jesus. Os doze discípulos foram chamados para
serem apóstolos, isto é, enviados. É importante frisar que Jesus não os
chamou por causa da fé que tinham, pois ela era frágil e muito pequena. Ele
não os escolheu porque eram talentosos e habilidosos nas Escrituras, pois
nenhum se destacava nesse quesito. Não os convocou porque já tinham dado
prova de coragem e ousadia, pois quando ela foi necessária todos o
abandonaram. Eles foram escolhidos conforme o critério do próprio Senhor
Jesus, conforme as palavras de Marcos: … e chamou os que ele mesmo
quis… (v. 13).
3. Os doze apóstolos eram distintos em suas origens, características e
ocupações. Mateus era cobrador de impostos e trabalhava para Roma (Mt
9.9). Simão, o Zelote, era um revolucionário extremamente nacionalista que
utilizava as armas contra Roma (Lc 6.15). Simão, depois chamado de Pedro
por Jesus, era o típico pescador que sempre tinha o que falar antes dos outros
(Mt 16.17–18). João era pescador e bem relacionado com alguns da cúpula
religiosa dos judeus, alguém com energia que corria bem (Jo 18.15; 20.4).
Tiago, junto com seu irmão, era tão explosivo que ganhou o apelido de “filho
do trovão” (Lc 9.54). Bartolomeu, ou Natanael, era zeloso cumpridor da lei e,
portanto, preconceituoso (Jo 1.45–47). Tomé, o gêmeo, era ao mesmo tempo
corajoso e impulsivo, mas revelou-se duvidoso (Jo 20.25). Filipe gostava de
contar as novidades e era questionador e cético (Jo 1.45; 6.5,7). Tiago, filho
de Alfeu, também chamado de “o menor”, era provavelmente o mais jovem
do grupo (Mc 15.40). André, irmão de Pedro, tinha um bom coração e levou
seu irmão e alguns gregos até Jesus (Jo 1.40–42; 12.20–22). Judas, filho de
Tiago, também chamado de Judas Tadeu, não entendeu a revelação de Jesus
dada primeiramente a eles e não ao mundo (Jo 14.22). Judas Iscariotes, que
traiu Jesus, não era galileu, mas da província de Queriot, ao sul da Judeia; era
também cobiçoso e traiçoeiro (Lc 22.2–6).
4. Jesus chamou esses doze homens para estarem com ele (v. 14). Marcos
resumiu nessa pequena expressão o grande segredo do discipulado. Discípulo
é quem gasta a sua vida com o mestre! Veja que este foi o critério usado para
a escolha do substituto de Judas (At 1.21–22). Eu e você, se quisermos ser
considerados discípulos de Cristo, temos que gastar tempo com Ele!
5. Jesus os enviou para pregar, isto é, conforme o original grego, para
proclamar, para anunciar como arautos a vinda do reino de Deus. Você tem
testemunhado, tem proclamado a presença do reino de Deus entre nós? Tem
mostrado através da sua vida o que significa pertencer ao reino de Deus?
6. Jesus lhes concedeu autoridade, como lhes declarou também em Mateus
28.18–20. Essa autoridade tinha a finalidade de promover a libertação dos
homens cativos nas garras de Satanás. Por isso, como igreja, temos essa
autoridade e essa tarefa dada por Jesus Cristo. Não podemos nos esquecer
dela, pois, afinal, Jesus veio a esse mundo também para destruir as obras de
Satanás. Nós somos o seu exército e temos essa missão (Ef 6.12; 1Jo 3.8). Às
vezes, o diabo possui fisicamente uma pessoa, mas em outras ocasiões ele a
aprisiona por meio de medo, pavor, doenças, necessidades sociais, enfim, usa
todas as estratégias para manter o homem afastado de Deus. Mas, como
igreja, como discípulos de Cristo, temos autoridade para libertar os que estão
aprisionados.
7. Os doze discípulos eram homens normais e extremamente falhos, porém,
depois de serem revestidos pelo Espírito Santo, tornaram- se ousados no
cumprimento da tarefa que lhes fora designada (At 2.1–4). Falharam e
pecaram ainda, mas certamente foram usados para proclamar as boas novas
que transformam a vida de todo aquele que crê (At 2.43; 3.1–10).
Jesus ensina sobre o pecado imperdoável
Mc 3.20–30
Nestes versos Jesus provavelmente está de novo na casa de Pedro. E aqui temos
o seu ensino sobre o pecado imperdoável. Jesus foi acusado de expulsar
demônios pelo poder do próprio diabo e enfrentou também a incompreensão da
sua família, pois julgaram que estivesse fora de si (v. 20–21). Vamos analisar
essa situação junto com os versos 31 a 35. Consideraremos nesses versos a
acusação dos escribas, professores da lei, através de algumas observações.
1. No verso 22 lemos que os escribas, pela própria profissão que exerciam,
vieram em comitiva de Jerusalém para a região pobre da Galileia. Essa
região, ao norte da Palestina, chamada de Galileia dos Gentios, era
menosprezada pela elite religiosa dos judeus que vivia na Judeia e,
principalmente, em Jerusalém.
2. Os escribas vieram para observar, para se inteirar dos acontecimentos
relativos a esse “novo profeta”. Vieram para “julgar” Jesus, o Filho de Deus,
o Deus encarnado que viera para servir. E, ao verem o alvoroço do povo
querendo os benefícios que só Jesus podia lhes dar, deram a sua sentença. Os
escribas proclamaram o seu veredicto: Ele está possesso de Belzebu. E: É
pelo maioral dos demônios que expele os demônios (v. 22).
3. A palavra “Belzebu” é uma junção de duas palavras, conforme nos explica
a Bíblia de Estudo Almeida (2006, p. 12): Belzebu – nome dado ao diabo
como chefe dos demônios; é derivado do hebraico Baalzebub (2Rs 1.2–3),
nome depreciativo (“senhor das moscas”), com que os antigos hebreus
chamavam o deus cananeu Baal. Ou, como aponta Mulholland (2006, p. 73),
Belzebu poderia significar “deus do estrume”. Portanto, afirmar que Jesus
estava possesso e expelia demônios por essa divindade pagã era, de fato,
monstruoso.
4. As obras que Jesus realizou foi por meio do poder do Espírito Santo. Ele
nasceu por obra e graça do Espírito Santo e foi ungido de poder pelo Espírito
Santo para a realização do seu ministério. Portanto, aqui o vemos sendo
caluniado. Jesus estava sendo acusado de estar fazendo milagres por
instrumentalidade do diabo, quando na verdade estava fazendo milagres por
meio do poder do Espírito Santo.
5. Jesus respondeu essa acusação com as palavras dos versos 23 a 26, onde
argumentou que seria um contrassenso Satanás expelir a Satanás. Era como se
um reino lutasse contra si mesmo. Não poderia subsistir. Assim, Jesus
afirmou: Se, pois, Satanás se levantou contra si mesmo e está dividido,
não pode subsistir, mas perece (v. 26), mostrando que não havia lógica, não
havia sensatez na conclusão dos escribas.
6. Jesus continuou aprofundando seu raciocínio e usou uma ilustração. Para
saquear a casa de um valente é necessário que primeiramente o valente seja
amarrado. E para poder fazê-lo, somente alguém mais valente, alguém mais
poderoso que aquele valente. Jesus mostrou-lhes que somente alguém que
tivesse poder ainda maior do que o diabo conseguiria expulsá-lo da vida de
uma pessoa. Assim, em outras palavras, Ele estava provando que, pelo fato de
conseguir expulsar Satanás das vidas que oprimia, o fazia com o poder
sobrenatural, o poder de Deus para quem não há impossíveis. Jesus expulsava
os demônios pelo poder do Espírito Santo, prenunciando que um dia o
amarraria e o imobilizaria por mil anos. Como disse Barclay (1974, p. 91):
Jesus estava mostrando que havia chegado um homem mais poderoso e que a
conquista ou a derrota de Satanás já havia começado!
7. E finalizando este trecho tão marcante, Jesus fala sobre a blasfêmia contra
o Espírito Santo. Os líderes judaicos rejeitaram o poder de quem podia
transformar as suas vidas. Eles rejeitaram o poder do Espírito Santo. É o
pecado da incredulidade que leva o homem a perdição. É este o pecado
imperdoável. O homem que se recusa a aceitar o testemunho do Espírito de
Deus no seu coração, fechando-o para a operação divina, está
irremediavelmente perdido. Não existe meio de escape, não há perdão.
Porém, quando o homem crê, quando aceita a verdade de Deus, então recebe
o perdão para qualquer um e para todos os seus pecados. Por quê? Porque não
há pecado que Deus não possa perdoar, em Cristo, a não ser o pecado da
incredulidade, o pecado contra a pessoa e o ministério do Espírito Santo, o
Espírito da Verdade tão bem descrito por Jesus e registrado por João (Jo 16.7–
11,13; 15.26).
Cristo morreu na cruz por todos os pecados e não somente por alguns. Não há
pecado que tenhamos cometido que não possa ser perdoado se houver fé e
arrependimento. A morte de Cristo é eficaz para nos resgatar. O seu sangue nos
purifica de todo o pecado, porém, é preciso que haja arrependimento e fé, é
preciso aceitar a ação de Deus no coração por meio do Espírito Santo.
Muitos cristãos ficam abalados e preocupados com a possibilidade de terem
cometido esse tipo de pecado para o qual não há perdão. Mas se esse
pensamento passar por sua mente, não se desespere. Como disse Lopes (2008, p.
205): Ninguém pode sentir tristeza pelo pecado sem a obra do Espírito Santo
(em sua vida). Quem comete esse pecado jamais sente tristeza por ele. O medo
angustiante de pensar ter cometido o pecado imperdoável é por si só evidência
de que tal pessoa não o cometeu!
Que possamos agradecer e valorizar a obra do Espírito Santo em nossas vidas,
fazendo-nos cada vez mais semelhantes ao Senhor Jesus Cristo!
Jesus e sua família
Mc 3.31–35
Nos versos 20 e 21, finalmente chegamos ao assunto que conclui este capítulo.
Vamos fazer as nossas considerações, subdividindo esse parágrafo em algumas
seções.
1. Nos versos 20 e 21, os parentes de Jesus, isto é, sua mãe e seus irmãos
(conforme o verso 31 e as passagens paralelas dos outros Sinóticos), ouvindo
que a multidão se aglomerara em frente à casa de Pedro, foram ver o que
estava acontecendo. Nem mesmo tempo para se alimentar Jesus e os
discípulos tinham!
2. Mesmo sem ser o foco aqui, vale a pena ressaltar que Jesus foi criado numa
família normal, nos padrões judaicos. A família era formada por José, Maria,
os irmãos Tiago, José, Judas, Simão e pelo menos duas irmãs. Nessa época,
José não era mais mencionado. Eles eram unidos e demonstravam
preocupação com o bem-estar do irmão mais velho, mesmo não crendo nele
(Jo 7.5).
3. Sem entenderem a dimensão espiritual da sua presença, sem entenderem a
sua responsabilidade ministerial, quiseram retirá-lo, porque criam que estava
fora de si, confirmando a completa descrença por parte daqueles que tinham
convivido com Ele até pouco tempo antes.
4. Este relato continua nos versos 31 a 35, quando informam a Jesus que sua
mãe e irmãos estavam do lado de fora da casa procurando-o, pedindo que
fosse ter com eles. Por não compreenderem o significado do que estava
acontecendo e quem, de fato, Ele era, a família queria colocá-lo sob sua
proteção.
5. Mas, na verdade, este relato mostra a família de Jesus dificultando e
embaraçando a prática do seu ministério, desviando sua atenção. Pensavam
que Ele estava fora de si, e não conseguia mais controlar a situação.
6. Jesus, então, conforme os versos 33 a 35, olhando ao redor, para aqueles
que ouviam os seus ensinos, disse a famosa frase: qualquer que fizer a
vontade de Deus, esse é meu irmão, irmã e mãe (v. 35). Jesus mostrou-lhes
a sua prioridade ministerial, apontando para aqueles que o ouviam. Mesmo
sem saber das suas origens, das suas histórias, da posição social, financeira ou
educacional, Jesus considerou como família aqueles que lhe davam atenção e
queriam ouvir seus ensinamentos. Você se encaixa nessa definição de
pertencente à familia de Jesus?
7. Jesus mostrou que todo cristão tem com seus irmãos de fé uma relação
muito mais forte do que com sua família carnal, se porventura ela for um
obstáculo ao discipulado cristão. Fazer a vontade de Deus, isto é, cumprir e
obedecer os desígnios divinos, deve ser prioridade para nós!
A obediência a Deus tem até prioridade sobre as responsabilidades familiares,
mas elas não são excludentes! Ame a sua família e seja também membro da
família de Deus!
Herodes pensava que Jesus era João Batista. Alguns achavam que Jesus
era Elias, pois havia uma profecia de que o Messias viria no espírito de Elias
(Ml 4.5). E outros criam que Jesus era mais um profeta, como os outros
profetas do Antigo Testamento. Havia muita divergência de opinião a respeito
de Jesus. E ainda hoje existe esta divergência. O povo olha para Jesus de
diferentes maneiras. Dizem que Ele é um filósofo, mestre, ético, ou religioso.
Enfim, temos as mais diversas opiniões sobre Jesus. Espero, entretanto, que
você tenha Jesus como seu Senhor e Salvador, o verdadeiro Deus encarnado
que morreu na cruz para nos salvar dos pecados!
7. Os versos finais, 27 a 29, nos dão conta que depois de ter sido executada a
trama maldosa de Herodias, João Batista foi decapitado. Seus discípulos logo
que souberam do triste fim prepararam o sepultamento, certamente com
respeito, dor e muita tristeza.
Como disse MacDonald (2008, p. 123), Herodes foi pego numa armadilha.
Teve que agir contra a sua vontade para atender ao pedido da sua amante. O
pecado tinha feito uma teia ao seu redor e ele foi derrotado por uma mulher
madura, com um desígnio mau, e por uma mulher jovem, com uma dança
sensual.
Como você tem se comportado diante de tentações semelhantes a essas?
Jesus realiza o milagre da multiplicação de pães e peixes
Mc 6.30–44
Nesses versos encontramos a narrativa de Marcos sobre a primeira multiplicação
de pães e peixes. Aqui, Marcos destaca a autoridade de Jesus sendo consagrada.
O evento foi tão marcante que se tornou o único milagre que os quatro
evangelhos registraram. Além dos três Sinóticos (Mateus, Marcos e Lucas),
João, mesmo depois de 65–68 anos, também o registrou em detalhes. E para isso
“gastou” todo o capítulo 6 do seu evangelho. Vamos considerar essa consagração
da autoridade de Jesus.
1. Nos versos 30 e 31, Marcos descreve de modo vívido o estado físico e
emocional dos doze depois da viagem missionária (6.12–13). Eles prestaram
um relatório detalhado a Jesus, mas estavam cansados, estafados, e nem
tinham tempo para se alimentar diante da grande necessidade de tantas
pessoas que iam e vinham.
2. Conforme o verso 32, Jesus mostrou cuidado e sensibilidade para com os
discípulos, levando-os de barco a Betsaida (conforme Lc 9.10), um lugar
sossegado, para se refazerem.
3. Porém, a multidão necessitada antecipou-se a eles (v. 34). Quando
desembarcaram, aproximadamente quinze mil pessoas esperavam por Jesus e
pelos discípulos.
4. O verso 34 é significativo pelas palavras de Jesus: a multidão, aos olhos de
Jesus, era como ovelhas que não tinham pastor. Mas por que Jesus fez essa
comparação? Porque as pessoas não tinham alimento, água da vida, um
aprisco e alguém que as protegesse e indicasse o caminho para se livrarem
dos perigos.
5. Jesus, como o bom pastor, conforme Ele mesmo se nomeou em João 10.14,
não teria outra atitude senão atender as necessidades fundamentais de todo ser
humano. Jesus queria ensiná-las, trazendo suprimento para a vida espiritual e
para a vida física.
6. Então, diante do avançado da hora, os discípulos apresentaram a Jesus uma
solução (v. 35–36). Mas o Mestre, mostrando mais uma vez cuidado pela
multidão, e querendo também ensinar aos discípulos compaixão e fé,
desafiou-os a que alimentassem a multidão (v. 37). Eram cinco mil homens,
mas se contarmos o mesmo número de mulheres e crianças chegaremos ao
total de quinze mil pessoas.
Os discípulos queriam resolver logo o problema despedindo a multidão. Mas Jesus não concordou
com isso. O Evangelho de João nos diz que foi Filipe quem calculou serem necessários mais de
duzentos denários de pão para dar de comer a todos (Jo 6.7). O denário era o que se pagava ao
trabalhador por um dia de serviço. Os recursos dos discípulos por certo eram poucos e não
chegavam a tantos (PETERSON, 1989, p. 70).
Sim! Jesus revelou de forma clara e objetiva a sua autoridade, mas mostrou
nesses episódios o seu grande amor e compaixão. Jesus mostrou que o seu
propósito e o do evangelho é resgatar o ser humano na sua integralidade. Não
apenas espiritualmente, mas fisicamente também. Assim, o convite é para que
você entregue seus problemas a Jesus. Ele é um Salvador poderoso! Se Jesus é
seu Senhor e Salvador, entregue-lhe todos os seus problemas. Mas se ainda não
é, entregue-lhe a sua vida! Vale a pena!
Você crê que Jesus pode transformar assim a vida de uma pessoa? Você tem
experimentado Jesus dessa maneira? Entregue a sua vida e experimente as
transformações que só Ele pode fazer. Confie e descanse em Jesus!
Quando Jesus falou sobre o fermento dos fariseus e de Herodes neste texto, o
fermento simbolizava o mal. Da mesma maneira que para a massa do pão crescer
basta uma pequena quantidade de fermento, a dureza do coração dos líderes
judeus podia penetrar e contaminar toda a sociedade judaica e fazer com que as
pessoas não cressem em Jesus, o que infelizmente, posteriormente, de fato ficou
constatado.
Jesus chamou a atenção dos discípulos para a interpretação errada que deram
à sua palavra. Ele não estava preocupado com o pão físico. Afinal, já tinha
multiplicado pães e peixes em duas ocasiões. E se lhes faltasse alimento,
certamente teria condições de providenciá-lo.
Jesus advertiu os discípulos, e nos adverte, para não sermos vagarosos no
entendimento das coisas espirituais. Embora Cristo nos tenha feito superar
provações e tentações no passado, em muitas ocasiões temos dificuldade em crer
que Ele também o fará no presente.
Será que o seu coração está tão fechado que você não consegue compreender
tudo o que Deus pode fazer em seu favor?
Não seja como os discípulos, demorando para entender os ensinos de Jesus.
Ouça Jesus e não as falsas interpretações dos líderes que se acham acima dos
princípios da lei divina. Infelizmente temos hoje no cenário evangélico, no
cenário denominado “gospel”, muitos líderes declarando-se “ungidos do Senhor”
e proclamando verdades bíblicas misturadas com interpretações humanas. É o
próprio fermento que dentro da massa a contamina e a faz crescer. Jesus chama
nossa atenção para essa situação: devemos estar prevenidos (v. 15), nos guardar
(v. 15), considerar (v. 17), ver (v. 18), ouvir (v. 18), nos lembrar (v. 18) e
compreender (17,21) para não sermos enganados pelos outros e por nós mesmos!
Jesus cura um cego em Betsaida
Mc 8.22–26
Nesses versos encontramos mais um relato exclusivo de Marcos. O evangelista
nos fala sobre a cura de um cego. Os ensinamentos do parágrafo anterior
aconteceram no barco, enquanto estavam indo para Betsaida. Os ensinamentos
aqui descritos acontecem em terra firme, em Betsaida. Ao chegarem naquela
cidade trouxeram a Jesus um cego, pedindo que o Mestre o tocasse. Ele se
retirou com o cego para um local mais reservado, fora da aldeia, e ali realizou
um dos milagres mais peculiares, narrado somente neste evangelho. Foi um
milagre realizado em duas etapas.
Jesus usou um método bem peculiar para dar vista ao cego. Ele usou sua
própria saliva para restabelecer-lhe a visão, certamente para desafiar, comprovar
e aumentar a fé dele. Depois de aplicar saliva nos olhos do cego, perguntou-lhe
se estava vendo. O homem olhou ao redor e disse que estava vendo pessoas
como árvores, andando. Certamente aquele cego já tinha se chocado com alguma
árvore nas suas andanças, por isso podia reconhecer uma árvore, com seu tronco
e galhos. Porém, ele via as pessoas que, como árvores, se movimentavam. Daí a
razão da sua resposta.
Alguns têm tentado explicar porque Jesus fez esse milagre em duas etapas, e
uma possível explicação é que na primeira, no primeiro toque de Jesus, os olhos
foram atingidos e assim ele recobrou a capacidade de ver, de enxergar (v. 24). Na
segunda etapa, Jesus colocou novamente a mão sobre os olhos do cego,
provavelmente atingindo e capacitando o cérebro a dar-lhe a percepção mental
das imagens captadas pelos olhos, e assim, conforme o verso 25, o cego ficou
completamente restabelecido, distinguindo todas as coisas perfeitamente.
Que lição podemos tirar desse milagre especial? Certamente Jesus quis nos
mostrar que algumas curas são feitas gradualmente e não instantaneamente.
Jesus quis mostrar que as verdades espirituais são compreendidas
progressivamente. Mas este milagre pode ser usado como um exemplo da
condição do crente hoje. Nós não vemos as coisas espirituais completamente
nítidas, pois como diz o apóstolo Paulo, vemos parcialmente, como que por meio
de espelho (1Co 13.12).
Há muitos que dizem que entendem todas as coisas espirituais de modo
completo, de modo perfeito, porque têm o dom do discernimento espiritual.
Entretanto, creio que essa afirmação é muitas vezes usada incorretamente, com
orgulho e arrogância. Ninguém hoje pode dizer que tem conhecimento perfeito
de todas as coisas espirituais. Há certas coisas que ainda não entendemos
perfeitamente, por isso o Espírito Santo nos foi dado, para nos guiar a toda a
verdade.
Um dia nós conheceremos a Cristo perfeitamente, pois o veremos face a face
(1Jo 3.2). Porém, por enquanto, vemos como que por espelho. Por isso é que nos
reunimos para estudar a Palavra de Deus. Por isso é que temos programas em
que se estuda a Bíblia com profundidade para entendermos, para percebermos
suas lições e aplicá-las em nossas vidas. É com a iluminação do Espírito Santo
que vamos entendendo e vendo mais nitidamente.
O que aprendemos através dessa cura especial é que Jesus usa métodos
diversos para atender as pessoas. Vemos aqui Jesus tocando nos olhos deste
homem. Em algumas ocasiões Ele disse apenas uma palavra. E em outras,
mesmo à distância, a cura foi realizada. Foi diferente também com o cego do
tanque de Siloé. Jesus mandou-o lavar-se no tanque e assim que o cego
obedeceu, voltou enxergando. Temos que entender definitivamente que o Senhor
divino não se prende a apenas um método. Ele usa vários métodos e maneiras
diferentes para beneficiar o seu povo, para honrar a fé daquele que nele crê. Não
tente vivenciar em sua experiência a experiência de outros. Jesus nos trata com
singularidade!
Jesus é identificado como Cristo, o Messias de Israel
Mc 8.27–30
No quinto parágrafo deste capítulo, nos versos 27 a 30, encontramos a
declaração de Pedro a respeito de Jesus, enquanto caminhavam em direção a
Cesareia de Filipe, bem ao norte da Palestina, uma cidade eminentemente gentia.
Ela era conhecida por sua adoração aos deuses gregos e seus templos dedicados
a Baal, deus conhecido desde os tempos do Antigo Testamento. Conforme vimos
no capítulo 6, Herodes Filipe foi traído por sua esposa Herodias e por seu irmão
Herodes Antipas. Esse Filipe, desejando que essa cidade não fosse confundida
com a cidade costeira de Cesareia, capital da província governada por Antipas,
acrescentou seu nome ao nome original. Nesta cidade extremamente pagã e
idólatra, Jesus, de modo bem significativo, perguntou aos discípulos o que
achavam da sua identidade.
Os discípulos relataram o que ouviram pelas ruas: alguns acham que o Senhor
é João Batista, outros dizem que é Elias e ainda outros que é um dos profetas.
Assim como a cidade tinha várias divindades adoradas, também eram muitas as
opiniões a respeito de Jesus. Mas Jesus perguntou a opinião dos próprios
discípulos. Então Pedro, tomando à frente, respondeu afirmativamente: Tu és o
Cristo (v. 29). E Jesus ainda pediu-lhes para não ser revelado!
Na verdade, mesmo depois de Jesus ter estado conosco, realizado seu
ministério, morrido, ressuscitado e ter sido exaltado, as dúvidas a respeito da sua
pessoa continuaram e continuam até hoje. No início do cristianismo surgiram
muitas teorias a respeito de Jesus. Conforme House (1999, p. 63), tivemos
diversas concepções falsas a respeito da pessoa de Cristo, dentre as quais é
possível destacar os ebionistas e os arianistas, que negavam a natureza divina de
Jesus. Por outro lado, os docetistas negavam a natureza humana do Senhor; os
nestorianos, a união de suas naturezas divina e humana; os eutiquianos, a
distinção dessas mesmas naturezas. Enfim, como naqueles dias, ainda hoje a
pessoa de Jesus, o Cristo, é motivo de muita disputa, e as opiniões sobre Ele são
as mais diversas, como bem lembrou Lopes (2006, p. 383):
Ao longo da História, houve vários debates acerca de quem é Jesus. Os ebionistas acreditavam que
Jesus era apenas uma emanação de Deus, os gnósticos não acreditavam na sua divindade. Os
arianos não acreditavam na sua eternidade. E, hoje, há aqueles que creem que Jesus é um mediador,
mas não o mediador entre Deus e os homens. Há aqueles que dizem que Jesus é apenas um espírito
iluminado, um mestre, mas não o Senhor e Mestre. Há aqueles que ainda escarnecem de Jesus e
colocam-no apenas como um homem mortal que se casou com Maria Madalena e teve filhos, como
ensina o livro Código da Vince.
Que possamos estar com nossos olhos espirituais abertos para vermos as
realidades a respeito de Jesus. Que possamos ter discernimento para não sermos
iludidos por Satanás. Que a nossa oração seja um pedido a Deus para nos
proteger dos erros e dos enganos.
Jesus apresenta os requisitos do discipulado
Mc 8.34–38
Finalmente, nesse último parágrafo, nos versos 34 a 38 encontramos Jesus dando
uma clara explicação sobre o discipulado, tendo em vista a sua própria missão de
morrer por nós.
Jesus disse claramente: Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue,
tome a sua cruz e siga-me (v. 34).
A cruz era um instrumento violento e doloroso de execução. “Tomar a cruz” era levar o braço
horizontal da cruz para o local da execução, geralmente através de uma multidão apupando. Em
termos fortes, retoricamente, Jesus descreve aquilo que todo verdadeiro discípulo tem que estar
pronto para fazer. Se querem seguir a Jesus têm que estar prontos para literalmente enfrentar
escárnio e morte, pois têm que seguir para a cruz (KEENER, 2004, p. 164).
Essa interpretação faz sentido especialmente porque Pedro, que estava lá,
anos depois fez referência a esse fato, na sua segunda carta, em 1.16–18. Entre
outras coisas ele disse que relembrava da transfiguração ocorrida quando
estavam no monte santo:
16. Porque não vos demos a conhecer o poder e a vinda de nosso
Senhor Jesus Cristo seguindo fábulas engenhosamente inventadas,
mas nós mesmos fomos testemunhas oculares da sua majestade,
17. pois ele recebeu, da parte de Deus Pai, honra e glória, quando pela
Glória Excelsa lhe foi enviada a seguinte voz: Este é o meu Filho
amado, em quem me comprazo.
18. Ora, esta voz, vinda do céu, nós a ouvimos quando estávamos com
ele no monte santo.
O apóstolo Pedro referiu-se à glória que João, Tiago e ele viram na pessoa de
Jesus no monte da transfiguração. Por isso é possível entender o verso 1 como
referência à transfiguração que está relatada nos versos 2 a 13.
Alguns destaques devem ser feitos em relação à transfiguração.
1. O verso 3 nos dá a dimensão da glória, majestade e santidade de Jesus
glorificado, a tal ponto que Pedro, interpretado por Marcos, não tinha com
que comparar o que vira. Nada humano, nenhum homem ou produto de
limpeza humana poderia produzir aquela glória, aquela brancura, aquele
brilho visto nas vestes de Jesus.
2. Conforme o verso 4, o fato de aparecerem Moisés e Elias junto com Jesus é
significativo, pois demonstra o cumprimento do propósito divino na lei,
através de Moisés, nos profetas, através de Elias, que agora se cumpria
integral e perfeitamente no evangelho, através de Jesus.
3. O fato de Pedro expressar o desejo de fazer cabanas para todos ficarem ali,
mostra que a transfiguração foi tão grandiosa e poderosa e causou tamanho
impacto nos discípulos que Pedro nem sabia o que falar, conforme os versos 5
e 6.
4. No verso 7, a voz vinda do céu, vinda do Pai em relação ao Filho, era uma
complementação do testemunho que o próprio Pai dera do seu Filho
unigênito, quando também manifestou-se do céu na ocasião do batismo.
5. Conforme o verso 8, assim como repentinamente houve a manifestação de
glória e majestade, assim também tudo acabou. Depois da nuvem os
discípulos só viram a Jesus. Por isso, podemos considerar simbolicamente
este verso, mostrando que a normalidade da vida cristã não é feita de
manifestações espetaculares e sobrenaturais. Elas são exceções, e por isso
mesmo são sobrenaturais. O natural, o normal da vida cristã, é caminhar com
fé na companhia de Jesus!
6. No verso 9 ainda temos o segredo messiânico, pois Jesus pediu para não
revelarem esses acontecimentos senão após a sua ressurreição. Também nesse
verso é possível percebermos a falta de visão espiritual por parte dos
discípulos (v. 10), pois ainda não entendiam o que Jesus queria dizer sobre
ressuscitar dos mortos.
7. O parágrafo termina com mais um ensino de Jesus. Em resposta ao
questionamento dos discípulos, disse-lhes que Elias já tinha vindo. Isto é,
João Batista, simbolizando Elias, realizara o ministério de preparação para a
vinda do Messias, do próprio Jesus (Ml 4.1–2). Os dois ministérios, de João
Batista e de Jesus Cristo, envolveriam sofrimento e morte. Como bem disse
MacDonald (2008, p. 129): “A morte de João Batista foi um sinal adiantado
do que eles fariam com o filho do Homem. Rejeitaram o precursor e,
certamente, rejeitariam o Rei”. Portanto, essa é a realidade em relação a Jesus
e os discípulos. Teremos momentos de êxtase, de bênçãos, de manifestações,
e também de tristeza, de dor, de sofrimento e de morte. Você está disposto a
isso? Você está disposto a se comprometer com um Messias desse tipo?
Como os discípulos, que não conseguiam entender que os valores do reino de
Deus eram diferentes dos valores deste mundo, muitas pessoas não querem se
comprometer com Jesus. A visão que têm ainda está limitada às próprias
circunstâncias e ao próprio bem-estar. E você? Qual tem sido a sua opção?
Mas, o episódio ainda continua…
Jesus liberta um menino possuído por um espírito mudo e surdo
Mc 9.14–29
Na sequência, nos versos 14 a 29, temos mais uma manifestação poderosa do
Senhor Jesus. Enquanto Jesus, Pedro, João e Tiago estavam no monte, um pai
necessitado veio até os outros nove discípulos e lhes pediu que libertassem o
filho que estava possesso por um demônio, que o atirava no chão, fazendo-o
espumar, ranger os dentes e definhar. Mas eles não conseguiram libertá-lo.
Quando Jesus ouviu o relato frustrado daquele pai, quando Jesus viu toda
aquela manifestação e até alguns escribas discutindo, exclamou com profundo
pesar: Ó geração incrédula, até quando estarei convosco? Até quando vos
sofrerei? Trazei-mo (v. 19). Então, diante dessa situação, podemos perguntar:
Por que os discípulos não puderam expulsar o demônio? Ora, se em Marcos 6.12
lemos que eles expulsaram demônios em sua missão às aldeias vizinhas, por que
não conseguiam agora? Talvez porque tenham recebido autoridade especial
apenas para aquela viagem, porque a fé e o entusiasmo dos discípulos tinham
diminuído, ou porque não criam plenamente, conforme indica a expressão de
Jesus condenando a incredulidade.
O menino foi levado à presença de Jesus, e quando o demônio viu quem
estava à sua frente, manifestou-se novamente. Jesus procurou descobrir detalhes
sobre o endemoninhado e, ao relatar todos os acontecimentos, o pai do menino,
clamando, pediu a Jesus que, se fosse possível, tivesse compaixão e fizesse
alguma coisa por eles (v. 22).
Nesse ponto do relato, creio que já temos lições importantes, pois é
contrastada a fé dos discípulos e a fé desse pai. Jesus respondeu-lhe que tudo é
possível ao que crê (v. 23). E numa das mais surpreendentes confissões dos
evangelhos, o pai, chorando, respondeu: Eu creio! Ajuda-me na minha falta de
fé! (v. 24), que quer dizer: eu creio, mas a minha fé é pequena. Eu creio, mas
preciso crer mais. Fortaleça a minha fé. Veja que o problema não estava em
Jesus, mas no pai do menino. Se o homem cresse, se tivesse fé, Jesus podia
ajudá-lo, Jesus poderia libertar o endemoninhado.
Com lágrimas, esse homem se entregou ao Senhor. Ele compreendeu que não se alcança a fé com
um esforço de vontade própria. Ele se reconheceu incapaz. Ele reconheceu a necessidade da
intervenção divina. Nós precisamos da ajuda divina não somente para a libertação propriamente
dita, mas até mesmo para pedir por ela (KOECHLIN, 2001, p. 88).
Na verdade, Jesus pode todas as coisas, pode realizar até o que é impensável
para nós. Por quê? Porque é totalmente onipotente! E o restante do parágrafo
mostra que Jesus libertou aquele menino e devolveu-o são e salvo ao seu pai.
Mas é preciso fazer algumas considerações sobre esse episódio. Em primeiro
lugar, temos que admitir que a fé não é algo palpável, que pode ser tomado como
se fosse um remédio. A fé é uma atitude interior de confiança e crença, conforme
lemos em Hebreus 11.6. Mas veja bem, até a nossa capacidade de crer é um dom
de Deus (Ef 2.8–9). E não importa quanta fé tenhamos, jamais chegaremos ao
ponto de sermos autossuficientes. A fé não pode ser acumulada como fazemos
com o dinheiro no banco. Por isso, o desafio é crescer na fé. Porém, é bom saber
que crescer na fé é um processo constante de renovação diária da nossa
confiança em Jesus Cristo.
Em segundo lugar, além dessa lição desafiadora para todos nós, vale ressaltar
que Jesus estava dizendo aos discípulos que eles enfrentariam situações difíceis
que só poderiam ser resolvidas com muita oração e jejum sincero que
demonstrasse a completa e total dependência de Deus.
E, em terceiro lugar, precisamos aprender que, enquanto a oração demonstra
nossa confiança em Deus, o jejum demonstra humildade, dependência de Deus,
que não há nada mais importante do que Ele para nós e nossa crença nas ações
divinas em nosso favor.
Você tem experimentado vitórias em situações impossíveis, usando esse
método que Jesus apresentou? Lembre-se de que a oração e o jejum são práticas
espirituais muito boas se forem desenvolvidas com sinceridade e desejo de
agradar a Deus.
Jesus prediz pela segunda vez a sua morte e ressurreição
Mc 9.30–32
Nesse parágrafo vemos que Jesus tinha um plano bem estabelecido na etapa final
do seu ministério. Jesus não queria que as multidões soubessem que Ele e seus
discípulos passariam pela Galileia, rumando em direção a Jerusalém. Ele sabia
que era necessário ministrar particularmente aos discípulos.
Jesus precisava ensiná-los sobre todos os detalhes do plano eterno de Deus.
Ele, o Messias, o Filho do Homem, mesmo que ressurgisse ao terceiro dia, teria
que ser entregue nas mãos dos homens e morto. Jesus tinha que mostrar-lhes a
necessidade dessa morte vicária, substitutiva, pois afinal era o cordeiro de Deus
que tira o pecado do mundo. E isso só aconteceria através do seu sacrifício na
cruz.
Mas em meio a tantos milagres e evidências de poder, os discípulos ainda
estavam cegos e pensavam apenas no reino físico, material. Por não
compreenderem a profundidade das palavras de Jesus, ficaram envergonhados e
temerosos de pedir maiores explicações.
A lentidão dos discípulos, no tocante às realidades espirituais, apareceu novamente, no momento em
que esse ensino foi dado. Nessas palavras, houve tanto o que parecia ser mal como o era bom; tanto
o que seria amargo, como o que seria doce ao extremo; nesse ensino Jesus falou-lhes da morte, mas
falou-lhes da vida; falou da cruz, mas falou também da ressurreição… Mas, as suas mentes
continuavam repletas de ideias equivocadas a respeito do reinado de seu Senhor sobre a terra. Eles
pensavam que o reino terrestre de seu Senhor haveria de manifestar-se imediatamente. Quando os
preconceitos e as opiniões obscurecem os nossos olhos, somos lentos em entender (RYLE, 2007, p.
114).
Essa dificuldade para entender certas verdades não acontece com você
também? Ficamos sem entender certos acontecimentos, mas em vez de nos
abrirmos diante de Deus, conversando e compartilhando nossas dúvidas, ficamos
quietos e temerosos. Sabe por quê? Porque muitas vezes o inimigo nos coloca
nessa situação de vergonha diante do Pai, tentando impedir-nos de crescer no
conhecimento e na graça de Jesus Cristo.
Apropriemo-nos da verdade de Hebreus 10.19: que tenhamos ousadia e
liberdade para entrar no Santo dos Santos pelo novo e vivo caminho que o
Senhor Jesus nos deu ao entregar sua vida por nós na cruz do Calvário; que
possamos entrar na sua presença para desfrutar da comunhão e do ensino do
nosso Senhor.
Jesus ensina seus discípulos sobre a humildade
Mc 9.33–37
Nos versos 33 a 37 temos o ensino sobre a humildade. Inicia-se aqui a seção
nova no Evangelho de Marcos, denominada “O caminho para Jerusalém”, que
vai de 9.33 a 10.52. Mesmo depois de terem ouvido as declarações de Jesus, pela
segunda vez, sobre a necessidade do seu sofrimento e morte (v. 30–32), não
compreenderam o significado completo desse ensino, estando em Cafarnaum,
preparando-se para ir para a capital do país.
Enquanto se preparavam, provavelmente na casa de Pedro, para ir à cidade
que era o centro das grandes manifestações nacionais, os discípulos discutiram
entre si sobre quem seria o maior no reino de Deus. Certamente ainda
influenciados pelos conceitos populares sobre o Messias e seu reino, disputavam
um lugar de destaque. Jesus perguntou-lhes sobre o que falavam no caminho e,
diante do silêncio deles, mas conhecendo os seus corações, chamou-os e,
assentado, ensinou-lhes o princípio da humildade.
É interessante que Marcos nos tenha dado esses pequenos detalhes. Não mais
no caminho, mas em casa; não mais em pé, mas assentado; não mais no meio de
muitas pessoas, mas na intimidade dos doze, Jesus ensinou-lhes sobre a
humildade, característica fundamental para quem quer fazer parte do reino de
Deus.
Trazendo uma criança para estar entre eles, pegando-a no colo, usou-a como
exemplo. Quem seria essa criança? Se fosse a casa de Pedro, quem era essa
criança? Talvez o seu filho mais novo? Ou será que seria um neto do apóstolo?
Fosse essa criança quem fosse, ela serviu para Jesus ensinar sobre uma atitude
que se requer do discípulo de Cristo e daquele que é súdito do seu reino.
Qualquer que receber uma criança, tal como esta, em meu nome, a mim me
recebe; e qualquer que a mim me receber, não recebe a mim, mas ao que me
enviou (v. 37).
Com essas palavras Jesus ensinou que toda e qualquer arrogância, orgulho ou
ambição pessoal é condenável. O serviço, mesmo o de cuidar de um pequenino,
feito em nome de Jesus, tem valor. O cuidado dispensado aos outros é a medida
da nossa grandeza. Por outro lado, qualquer que prejudicar ou deixar de cuidar
de alguém está pecando. Quando Jesus colocou essa criança no meio deles,
estava quebrando mais um paradigma, pois elas, até aquele tempo, como tantas
outras minorias, eram desprezadas e não eram contadas pela sociedade.
Mesmo não sendo esse o ensino principal, é possível inferir dessa atitude de
Jesus a importância que, como igreja e pais, devemos dar aos nossos filhos,
àqueles que dependem de nós. Tão sério como o estudo e ensino para os adultos,
assim também deve ser a nossa ministração aos pequeninos. Você tem praticado
isso com os que estão ao seu redor?
Mas a grande lição que Jesus quis ensinar a todos que em todas as épocas são
seus discípulos é a lição da humildade.
No mundo, quem está em posição superior é servido pelos demais. Mas não é assim no reino de
Deus. O primeiro lugar estabelece uma posição da qual se serve os outros. Os doze, porém não
estavam praticando o ensino de Jesus. A autonegação sucumbe ao desejo de prestígio e poder…
Jesus, que foi servo de todos até a cruz (Fp 2.5–8), conclama seus discípulos a serem servos
também (MULHOLLAND, 2006, p. 150).
Neste trecho Ele chamou a atenção para a possibilidade de fazer cair um dos
pequeninos. Nesse caso, o pequenino a que Jesus se referia era o homem que
expulsara demônio em seu nome, mas que tinha sido rejeitado pelos discípulos.
Mas por que os discípulos rejeitaram e proibiram aquele homem? Porque
queriam manter tudo sobre controle. Jesus os repreendeu e ensinou que seria
preferível amarrar uma pedra de moinho e se jogar no mar do que deixar de fora
alguém que queria ministrar.
Certamente Jesus não estava estimulando a mutilação física como caminho
para o reino de Deus. Ele não poderia se contradizer, pois tinha dito que o mal
que pode deixar alguém de fora do reino está dentro do ser humano (7.21–23).
Mas certamente estava mostrando que devemos ser muito objetivos, retirando
qualquer empecilho que possa nos deixar fora do reino de Deus.
Ao apresentar essa figura de linguagem exagerada, dizendo que deveríamos
cortar a mão, o pé, e arrancar o olho para poder entrar no reino, Jesus estava
mexendo com a tradição dos religiosos. A tradição dizia que as pessoas
deficientes, não podiam entrar no templo e, assim, não podiam entrar no reino de
Deus quando o messias chegasse. Jesus ensinou o contrário e apelou para que
aceitemos os pequeninos, deixando de lado essas tradições legalistas. O desafio
de Jesus para todos nós é que não ofendamos os pequeninos, porque também
foram feitos à imagem de Deus.
Se o homem não agir com objetividade, tirando tudo o que o impede de entrar
no reino de Deus, pode ser lançado no inferno, no fogo inextinguível, onde não
lhes morre o verme, nem o fogo se apaga (v. 44,46,48). E embora os versos 44
e 46 não estejam nos melhores manuscritos, a verdade do verso 48 é muito
objetiva:
O inferno não é uma figura mitológica, mas uma realidade solene. Há céu e inferno; há luz e trevas;
há salvação e perdição; há bem-aventurança e condenação eterna. Jesus foi quem mais falou sobre o
inferno. Ele o descreveu como um lugar de tormento eterno, onde o fogo jamais se apaga e o bicho
jamais deixa de roer (LOPES, 2006, p. 428).
Aos olhos do Senhor Jesus, servir a esses que o mundo rejeita, servir a esses
que o mundo hostiliza, tem muito mais valor do que manter as aparências e a
maneira do mundo pensar. Agindo dessa maneira nos afastamos do inferno e nos
aproximamos do reino de Deus.
Mesmo que para isso tenhamos que perder mão, pé e olho (certamente uma
hipérbole, isto é, um exagero de linguagem), o verdadeiro discípulo de Cristo
não pode prejudicar ou deixar de fazer o bem aos pequeninos. Mesmo que o
mundo não valorize o nosso agir, a grandeza que permanece é medida apenas
pelos padrões divinos.
A grande pergunta é: qual a medida que usamos para medir os nossos feitos: o
nosso sucesso pessoal ou o serviço altruísta?
Jesus ensina seus discípulos sobre o papel deles como o sal da terra
Mc 9.49–50
E finalmente, concluindo o seu ministério na Galileia, Jesus apresentou aos
discípulos o papel que pretendia que executassem depois da sua partida. Nos
versos 49 e 50 temos o ensino sobre os discípulos como sal da terra.
O verso 49 traz essas palavras: Porque cada um será salgado com fogo. A
interpretação dessas palavras não tem sido totalmente satisfatória, porém, é
possível concordar com essa colocação:
No Antigo Testamento, os sacrifícios estavam associados ao fogo (v. 48) e ao sal (Lv 2.13; Ez
43.24). Essas palavras-chave levam a uma metáfora do discipulado: “cada um será salgado com
fogo”. Assim como o sal é necessário para preservar a vida e preservar da deterioração, a
autodisciplina dos discípulos dá vida e preserva aquilo que é bom. Pelo fogo das provas e da
perseguição (1Pe 1.7; 4.12; Is 48.10) Deus nos purifica de tudo o que é contrário à sua vontade
(MULHOLLAND, 2006, p.153).
Com as palavras do verso 50 Jesus ainda usou o sal para ilustrar as qualidades
que devem ser encontradas na vida de cada cristão.
1. Devemos ter uma vida cristã eficaz como o sal é eficaz para dar sabor aos
alimentos. Se perdermos a função de salgar o mundo com a mensagem do
evangelho nos tornaremos inúteis. Mas, para isso, a purificação pelo fogo das
provas é necessária.
2. Devemos ter um padrão moral puro, como o sal é puro, para determos a
corrupção que existe no mundo. Mas para isso a autodisciplina de “cada um”
(v. 49) é necessária.
3. Devemos viver de um modo agradável, em paz. Assim como o sal, na
medida certa, torna o alimento agradável, se vivermos em paz e harmonia em
nossos relacionamentos, promoveremos um ambiente agradável onde
estivermos inseridos. Mas para isso é necessário a renúncia pessoal. Jesus
disse que o mundo saberia que tinha sido enviado pelo Pai se fôssemos um,
como Ele era um com o Pai (Jo 17.21). Assim como Jesus agiu, se entregando
por nós, se nos dermos uns pelos outros estaremos “salgando” o ambiente
onde fomos colocados.
Você tem feito diferença no meio em que está inserido? Avalie-se diante desse
ensino de Jesus!
Jesus quer que nos voltemos para a simplicidade de uma criança, para a
simplicidade da fé em Cristo. Algumas questões merecem ser levantadas para
aplicarmos esse ensino às nossas vidas. Como você tem tratado seus filhos
pequenos? Como igreja, temos tratado corretamente as nossas crianças? Temos
embaraçado o caminho delas ou deixado que encontrem em Jesus o amigo
maravilhoso que traz diferença às suas vidas? Como você tem procurado entrar
no reino de Deus? Tem apresentado seus atos de justiça e religiosidade como
chave para entrar no reino? Ou tem dependido continuamente da graça de Deus,
manifestada em Jesus Cristo?
Jesus ensina sobre as prioridades, em resposta ao jovem rico
Mc 10.17–22
O terceiro encontro, narrado nos versos 17 a 22, nos mostra uma das cenas mais
impactantes dos evangelhos. Jesus é surpreendido por um homem que ajoelhou-
se diante dele e perguntou: Bom Mestre, que farei para herdar a vida eterna?
(v 17). Esse relato, mencionado pelos três Sinóticos, merece algumas
considerações.
1. No tempo de materialismo em que vivemos, este incidente e o ensino de
Jesus sobre as prioridades são muito importantes.
2. Mateus nos diz que o jovem perguntou o que poderia fazer de bom para
alcançar a vida eterna (Mt 19.16–22).
3. Marcos nos diz que o moço chamou Jesus de bom Mestre, mas Jesus
replicou que só Deus é bom. A maneira como o jovem dirigiu-se a Ele
poderia implicar que reconhecia essa capacidade de Jesus. Mas, além disso,
ao responder que só Deus é bom, Jesus queria que o moço percebesse que não
herdamos a vida eterna, que não alcançamos o reino de Deus por mérito, por
fazermos coisas boas.
4. Esse moço vivia sob o sistema mosaico, e então Jesus mencionou diversos
mandamentos que deveriam ser obedecidos.
5. É interessante notar que Jesus mencionou somente os deveres que ele tinha
para com as pessoas, sem mencionar os deveres que, conforme a lei, ele tinha
para com Deus.
6. O moço respondeu que obedecia a todos desde a sua juventude.
7. Então, Jesus passou a mostrar-lhe o seu dever para com Deus. A resposta
de Jesus surpreendeu aquele moço: E Jesus, fitando-o, o amou e disse: Só
uma coisa te falta: Vai, vende tudo o que tens, dá-o aos pobres e terás um
tesouro no céu; então, vem e segue-me (v. 21). Sabemos que Jesus é Deus.
Provavelmente aquele jovem também reconhecia a divindade dele. Então,
Jesus claramente expôs o dever do jovem rico para com Deus: Dar-lhe o
primeiro lugar em sua vida!
Bem, o moço agora estava ciente da sua responsabilidade diante de Deus.
Jesus mandou que vendesse as suas propriedades, desse o dinheiro aos pobres e
o seguisse. E Jesus prometeu-lhe um tesouro no céu. A prioridade daquele moço
que queria herdar a vida eterna (v. 17) era dar o primeiro lugar em sua vida a
Deus, o dono do reino eterno!
O texto termina dizendo que o jovem foi embora entristecido, porque era
muito rico. Sabe por que Jesus pediu que ele vendesse suas propriedades e desse
o dinheiro aos pobres? Porque sabia que o amor ao dinheiro é a raiz de todos os
males. Ele sabia que o primeiro lugar de nossas vidas deve ser dado a Deus!
Jesus mostrou que o dinheiro pode comprar tudo, menos a vida eterna. A vida
eterna é dom, é presente, é dádiva divina.
Avalie-se agora. Você crê que tem a vida eterna porque leva uma vida correta
diante de Deus, porque tem cumprido os mandamentos desde há muito tempo?
Ou crê que tem a vida eterna porque já a recebeu pela graça de Deus? Responda
diante de Deus. Essa é uma questão fundamental!
Jesus ensina sobre o perigo das riquezas aos discípulos
Mc 10.23–31
Nos versos 23 a 31, dando sequência ao assunto, Marcos mostra que Jesus
ensinou aos discípulos sobre o perigo das riquezas. Diante das afirmações
objetivas de Jesus, falando sobre a impossibilidade dos que confiam nas riquezas
serem salvos, os discípulos perguntaram: Então, quem pode ser salvo? (v. 26).
Os discípulos ficaram maravilhados mas, certamente, ao mesmo tempo, ficaram
preocupados.
Como judeus vivendo sob a lei, eles corretamente consideravam as riquezas como indicação das
bênçãos de Deus. Sob o código mosaico, Deus prometera prosperidade aos que lhe obedecessem.
Os discípulos concluíram que se uma pessoa rica não pode entrar no reino, então ninguém mais
poderia (MACDONALD, 2008, p. 133).
Jesus sabia da sua missão; sabia o que tinha vindo fazer entre nós. Estava
mostrando que caminhava com segurança para o cumprimento da missão que
nos trouxe a salvação! Você tem agradecido a Deus por esse plano tão detalhado
que revelou sua graça e seu amor por nós?
Jesus ensina sobre a atitude de servir, em resposta a Tiago e João
Mc 10.35–45
Nos versos 35 a 45, Jesus tem um encontro específico com dois discípulos, dos
três com quem tinha mais intimidade. Na verdade, esse foi um encontro que os
dois primos de Jesus quiseram ter com Ele, pois imaginavam que, sendo
parentes, poderiam gozar de certos privilégios (os dois discípulos eram primos
em primeiro grau de Jesus, já que eram filhos de Salomé, irmã de Maria, mãe de
Jesus – Mt 27.56; Mc 15.40; Jo 19.25).
Mas, além disso, com esse relato Marcos nos mostra exatamente como
pensavam os discípulos em meio aos acontecimentos. No verso 37, o pedido de
Tiago e João para que ocupassem postos no reino, um ao lado direito de Jesus e
outro ao esquerdo, demonstra a falta de visão espiritual dos discípulos. No verso
38 a resposta de Jesus foi clara: Não sabeis o que pedis. Podeis vós beber o
cálice que eu bebo ou receber o batismo com que sou batizado?
Diante da resposta que impensadamente deram, no verso 39 Jesus acrescentou
que eles beberiam o cálice que beberia e receberiam o batismo a que se
submeteria. E nós sabemos que Tiago foi o primeiro mártir dentre os doze (At
12.1–2), e João o último a morrer, possivelmente também como mártir, exilado
na ilha de Patmos (Ap 1.9).
Ainda pensando em termos do reino político de Israel, Tiago e João queriam
as posições mais elevadas no reino que Jesus viera implantar. Para eles que agora
caminhavam para Jerusalém, a capital política e religiosa do país, era a hora de
reivindicar uma posição de destaque nesse novo reino. Os discípulos ainda
estavam espiritualmente cegos. Jesus quis abrir-lhes os olhos e lhes disse que a
verdadeira grandeza é servir aos outros.
Jesus contrastou a maneira do mundo com a maneira de agir no reino de
Deus: Mas entre vós não é assim; pelo contrário, quem quiser tornar-se
grande entre vós, será esse o que vos sirva; e quem quiser ser o primeiro
entre vós será servo de todos (v. 43–44). No reino de Deus, o serviço
dispensado aos outros é a maneira de nos tornarmos grandes. O desejo de ocupar
as mais destacadas posições é um impedimento e não uma ajuda para o
verdadeiro cristão. E Marcos, em resumo, sintetiza o ensino de Jesus anotando as
palavras que formam o versículo-chave do seu evangelho: Pois o próprio Filho
do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em
resgate por muitos (v. 45). Jesus nos desafia a imitarmos o seu exemplo.
Como exemplo dessa atitude, ele citou a sua própria atitude, pois veio para servir (v. 45). É bem
provável que, por dedução, ele fez a reivindicação aqui de cumprir o papel do “Servo” de Deus,
predito em Is 52.13–53.12, de quem o profeta declarou: “ele derramou sua vida na morte” e: “levou
o pecado de muitos” (Is 53.12); pois ele retratou o seu ato supremo de serviço a favor dos homens
como dando a sua vida em resgate por muitos… (BRUCE, 2009, p. 1623).
É muito significativo o fato de Jericó estar num vale, abaixo do nível do mar,
e Jesus ter trazido vista para que pudessem contemplá-lo morto na cruz, no
monte do Calvário. Assim, Ele mesmo disse: E eu, quando for levantado da
terra, atrairei todos a mim mesmo (Jo 12.32). Jesus sabia que só com os olhos
desvendados Bartimeu e todos nós poderíamos reconhecê-lo como Senhor e
Cristo. Só com os nossos olhos espirituais o enxergamos como o Senhor
vitorioso. Esse milagre significativamente ocorreu em Jericó, antes da entrada
em Jerusalém, pois na cidade santa Jesus seria sacrificado como o “Cordeiro de
Deus” que tira o pecado do mundo. Todos nós temos que ver isso!
Mas, além disso, na cura de Bartimeu Marcos enfatiza o princípio da
objetividade. Que queres que eu te faça? (v. 51), perguntou Jesus. E Bartimeu
respondeu: Mestre que eu torne a ver (v. 51). Então Jesus lhe disse: Vai, a tua
fé te salvou. E imediatamente tornou a ver e seguia a Jesus estrada fora (v.
52).
Jesus também está perguntando o que você quer que Ele lhe faça. Ele é
objetivo conosco. Ele também deseja que você seja objetivo no seu pedido. Ele
quer que você tenha visão espiritual perfeita para ver as maravilhas do amor de
Deus!
E sendo objetivo ao aplicar esse texto às nossas vidas, vamos estruturá-lo de
tal maneira para que você possa compartilhá-lo com objetividade com outras
pessoas que também necessitam contemplar as maravilhas do amor de Deus.
Bartimeu era cego e estava assentado à beira do caminho. Ele gritou, clamou
e pediu misericórdia. Quando pedimos misericórdia a Deus, muitas vezes as
pessoas nos mandam ficar quietos. Mas Jesus, mesmo em meio à multidão,
ouviu o seu clamor e ele não perdeu a oportunidade. Bartimeu foi claro e
objetivo e Jesus o atendeu. É interessante ver que Tiago e João também fizeram
um pedido (10.37), e Jesus não os atendeu. Mas por quê? Porque pediram mal,
para o seu próprio prazer, conforme o outro Tiago escreveu anos mais tarde:
pedis e não recebeis, porque pedis mal, para esbanjardes em vossos prazeres
(Tg 4.3). Jesus atendeu a Bartimeu porque seu pedido era justo, visava à
reparação de uma necessidade básica fundamental, a possibilidade de enxergar.
Neste texto encontramos sete ações que devemos praticar ao nos
relacionarmos com Jesus. Assim como Bartimeu, precisamos:
A. Ouvir a Jesus (v. 47), já que o vemos como por espelho (1Co 13.12).
B. Expressar nossa fé (v. 47), clamando pela compaixão divina (Hb 4.15).
C. Não permitir que outros nos impeçam de ter contato com Jesus (v. 48),
clamando, crendo e confessando-o como Messias e Salvador (Rm 10.9).
D. Confessar a nossa própria mendicância (v. 48), apelando para a
misericórdia de Cristo (Hb 4.16).
E. Livrar-nos de tudo que dificulte nosso caminhar até Jesus (v. 50),
desembaraçando-nos de todo o peso e de todo o pecado (Hb 12.1).
F. Atender o chamado de Jesus (v. 50–51), falando-lhe objetivamente (Gl
1.15–17).
G. Seguir a Jesus (v. 52), usufruindo da salvação e sendo iluminados por
Ele (Jo 8.12).
Jesus foi objetivo e desafiou a fé de Bartimeu. Bartimeu foi objetivo e
recebeu a bênção que procurava! Meu desejo é que você seja objetivo e
compartilhe essas verdades com aqueles que estão ao seu lado e ainda não
enxergaram o grande amor de Deus, expresso a cada um de nós através de Jesus
Cristo!
O templo refletia o estado espiritual do povo judeu, e essa figueira que foi
condenada por Cristo mostra exatamente o desagrado de Cristo com todas as
igrejas e cristãos que em suas vidas só têm folhas. É realmente desagradável aos
olhos do Senhor este tipo de religião. Como você se posiciona em relação a essa
situação? Você reconhece em sua vida muitas folhas, muita aparência? Ou numa
análise sincera percebe frutos da ação do Espírito Santo em sua vida?
Jesus purifica o templo
Mc 11.15–19
O terceiro episódio deste capítulo, nos versos 15 a 19, mostra a purificação do
templo. O verso 15 relata: E foram para Jerusalém. Entrando ele no templo,
passou a expulsar os que ali vendiam e compravam; derribou as mesas dos
cambistas e as cadeiras dos que vendiam pombas. Jesus fez uma verdadeira
limpeza no templo. João nos diz que Jesus havia feito outra limpeza assim bem
no começo do seu ministério (Jo 2.13–22). E agora Ele repete essa ação no fim
do seu ministério, fazendo-nos concluir que foram duas as purificações no
templo.
Os cambistas tinham um lugar reservado e próprio para o negócio. Os
estrangeiros que vinham de países distantes precisavam ter a moeda legal aceita
no templo. Esses cambistas executavam um trabalho necessário. Os que
compravam as moedas faziam com o melhor propósito. Mas Jesus combateu os
cambistas severamente, dizendo que eram ladrões que tinham transformado o
templo numa casa de negócios, na qual exploravam os que queriam trocar o
dinheiro, e cometiam injustiça.
Esta é a razão porque os religiosos que fazem negócios devem ser sempre
examinados. Jesus não quer que a sua obra seja transformada numa casa de
negócio, onde se ganha dinheiro e se obtém lucro. Quando uma igreja se
transforma em fonte de renda, ela perde o seu propósito, o seu poder espiritual.
Deixa de ser casa de Deus e se torna casa de negócio.
Como Jesus purificou o templo de Jerusalém, pode fazer a mesma coisa nas
igrejas que têm imitado aquele mau exemplo. Por quê? Porque Ele mesmo,
citando Isaías 56.7, disse: Não está escrito: A minha casa será chamada casa
de oração para todas as nações? Vós, porém, a tendes transformado em
covil de salteadores (v. 17).
O ataque de Jesus não foi contra a função dos cambistas e dos vendedores de
animais. O ataque foi ao mau uso que faziam das suas atribuições, do lucro
exagerado, da ganância e da impiedade de seus corações. Jesus os condenou
porque estavam usando o pátio dos gentios para o comércio defraudador,
impedindo que os próprios gentios pudessem estar ali e adorar.
Uma vez que aquela casa era para todos os povos, para todas as nações, os
judeus deveriam dar espaço aos gentios para adorarem, mas o preconceito e o
desprezo desferido contra eles fizeram com que a elite sacerdotal estivesse mais
interessada nos ganhos do que em promover o nome de Deus entre todos. Mas
Jesus atacou também aqueles que transitavam pelo templo, usando-o apenas
como um caminho mais curto para os seus afazeres diários:
Uma lei rabínica posterior também instruía contra o perigo de tornar os pátios do templo impuros
pelo fato de se carregar através deles itens desnecessários, mas ninguém protestou tão fortemente
quanto Jesus o fez, e ninguém parece haver questionado a necessidade da atividade comercial no
pátio externo durante a festa (KEENER, 2004, p. 173).
O texto nos mostra que eles fizeram uma rápida conferência entre si: Se
dissermos: Do céu, dirá: Então, porque não acreditastes nele? Se, porém,
dissermos: dos homens, é de temer o povo. Porque todos consideravam a
João como profeta (v. 31–32). Jesus, percebendo a intenção do coração deles e
querendo mostrar ao povo quem eram esses líderes religiosos, fez a pergunta que
os calou. Poderiam responder, mas qualquer resposta que dessem os denunciaria
diante do povo.
O silêncio desses religiosos provou que não estavam interessados na resposta.
Provou que era uma armadilha, mas diante de Jesus ela não funcionou. O
silêncio e a negativa em responder a pergunta de Jesus provaram que queriam
apenas apanhar Jesus numa armadilha, porque Ele era uma constante ameaça ao
sistema que impuseram de uma religião vazia e hipócrita.
O verso 33 conclui esse relato com as seguintes palavras: Então,
responderam a Jesus: Não sabemos. E Jesus, por sua vez, lhes disse: Nem eu
tampouco vos digo com que autoridade faço estas coisas.
Jesus se recusou a atender seus oponentes, se recusou a responder a pergunta
dos inimigos porque não criam (8.11–13). Cristo sempre respondeu a todos os
que lhe perguntavam interessados em aprender. Porém, sempre confrontou os
que perguntavam com más intenções, com artimanhas, querendo derrotá-lo por
não crerem nele.
A maneira como Jesus os tratou foi a melhor possível. Eles tentaram
confundi-lo com perguntas, mas saíram confundidos diante de Jesus. Esses
religiosos não imaginavam que Jesus tinha percebido suas intenções. Mas o
Senhor Jesus revelou o seu discernimento. Ele conhece perfeitamente o interior e
a motivação do homem. Ele conhece o nosso interior. Jesus não lhes respondeu
por que percebeu más intenções e incredulidade em seus corações.
E você? Quando questiona Jesus, o faz com fé, humildemente? Ou questiona
o seu Senhor exigindo satisfação sobre a maneira como age com você e com o
mundo ao seu redor? Lembre-se: nós somos servos. Jesus é o Senhor!
A resposta que Jesus deu aos saduceus do seu tempo foi surpreendente. A
pergunta que se faz necessária hoje é: você crê na ressurreição? E ainda mais:
você tem certeza de que, ressuscitado, estará para sempre com o Deus dos vivos
eternamente?
Jesus ensina sobre o grande mandamento
Mc 12.28–34
Motivado pela resposta que Jesus tinha dado aos saduceus, e percebendo que a
base da sua argumentação tinha sido a lei claramente citada, um escriba, que
aparentemente era sincero e também conhecia a lei, perguntou a Jesus sobre o
grande mandamento. O ensino aconteceu quando o escriba lhe perguntou qual
era o principal dos mandamentos. A resposta de Jesus foi clara: Ouve, ó Israel,
o Senhor, nosso Deus, é o único Senhor! Amarás, pois, o Senhor, teu Deus,
de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu entendimento e de
toda a tua força (v. 29–30). Nessa resposta Jesus citou a passagem de
Deuteronômio 6.4–5.
Mas Jesus foi além, e acrescentou: O segundo é: Amarás o teu próximo
como a ti mesmo. Não há outro mandamento maior do que estes (v. 31). Ele
citou outro texto da lei (Lv 19.18) como complemento à sua resposta. O escriba,
por sua parte, demonstrando seu conhecimento da lei, concordou com Jesus e
ainda acrescentou que esse mandamento excedia a todos os holocaustos e
sacrifícios (v. 33). Quando o escriba concordou e até elogiou a resposta de Jesus,
acrescentou essa frase sobre os holocaustos e sacrifícios, pois, na verdade:
Ele percebeu os erros da ênfase dos escribas no ritualismo e sacrifícios. Tendo avaliado aquele que
o veio avaliar, Jesus diz: “Não estás longe do reino de Deus” (34). Em contrastes com os saduceus
que estavam se afastando das Escrituras e do poder de Deus (12.24), esse escriba está se
aproximando do reino de Deus (MOLHOLLAND, 2006, p. 188).
E você, qual tem sido a sua posição em relação a essa promessa que, no
tempo certo, no tempo divino, será cumprida? Se você tem algumas dúvidas,
creio que este estudo pode ajudá-lo. Vamos refletir sobre cada uma dessas cinco
partes.
Jesus é interrogado pelos discípulos
Mc 13.1–4
Em primeiro lugar, nos versos 1 a 4, Jesus ensina sobre a destruição do templo.
Para entendermos bem essas palavras de Jesus precisamos entender o contexto
em que elas foram ditas. No Evangelho de Mateus, na terça-feira da última
semana, ainda no templo, Jesus advertiu severamente os religiosos judeus (Mt
23.13–36). Saindo do templo e olhando para a cidade, fez um lamento sobre ela,
declarando que um dia ficaria deserta até que dissesse novamente: Bendito o que
vem em nome do Senhor, como tinha ocorrido no domingo, quando entrou em
Jerusalém montado num jumentinho (Mt 23.37–39).
Os apóstolos não entenderam como aquilo poderia acontecer com Jerusalém,
o centro religioso da nação, e chamaram a atenção de Jesus para o templo,
porque aquela construção era tão sólida, tão perfeita, com pedras tão grandes e
tão firmes que achavam que seria impossível se concretizar o que Ele havia dito.
Eles mostraram a Jesus as pedras, as construções, como que duvidando do
cumprimento da profecia feita por Jesus (v. 1).
De fato, aquela era uma construção que impressionava. Por volta de 19 a.C.,
cerca de 15 anos antes de Jesus nascer, Herodes começou a reconstruir o templo
que fora reconstruído por Esdras depois da volta do exílio da Babilônia, em 516
a.C. Herodes fez do templo uma das mais belas construções de Jerusalém. Seu
objetivo não era agradar a Deus, mas agradar e apaziguar os judeus, a quem
governava. Essa construção só foi terminada por volta de 64 d.C., mas logo
depois, em 70 d.C., quando os romanos invadiram Jerusalém sob o comando de
Tito, o templo foi completa e definitivamente destruído, e ainda permanece em
ruínas 21 séculos depois.
Diante da observação dos discípulos, salientando a construção do templo,
Jesus foi mais enfático e disse que não ficaria pedra sobre pedra que não fosse
removida (v. 2). Diante das palavras de Jesus, Pedro, Tiago, João e André,
perguntaram em particular a Jesus: Quando essas palavras serão cumpridas? E
que sinal haverá desses acontecimentos (v. 3)?
Essas perguntas que deram origem ao pronunciamento de Jesus têm sido
repetidas durante toda a história da Igreja. Muitas tentativas de interpretação da
resposta de Jesus têm sido dadas. Vamos analisar as palavras de Jesus para
entender a sua resposta.
Entretanto, é notório que muitos de nós nos orgulhamos das cidades em que
moramos, admiramos as grandes construções que temos em nossa vizinhança e
ficamos tão envolvidos com as visões desta vida que nem nos lembramos da
realidade da volta de Jesus. Porém, é bom lembrarmos que um dia tudo
desaparecerá, tudo será destruído. Todas as coisas serão arruinadas e removidas.
Nada aqui é eterno, senão as nossas vidas. Diante desse tema, você tem
construído sua vida alicerçada em valores humanos e passageiros ou está
firmado na rocha que é Jesus Cristo, sabendo que um dia Ele voltará?
Jesus ensina sobre os eventos antecedentes à sua segunda vinda
Mc 13.5–23
A partir do verso 5, Jesus começou a responder às perguntas dos discípulos
relativas à destruição do templo, advertindo-os contra os falsos mestres e contra
os falsos ensinos, pois como dissemos anteriormente, esse é uma tema em que as
opiniões e as afirmações são as mais diferentes possíveis. Temos que estar muito
atentos, porque por todo este capítulo vamos perceber que estão ligados ao
anúncio da destruição do templo que ocorreu em 70 d.C. e às profecias acerca
dos acontecimentos relacionados ao fim do mundo. Na verdade, conforme
Hendriksen (2003, p. 651), temos que entender que os acontecimentos
profetizados sobre a destruição do templo de certa maneira antecipavam e
serviam como tipo, como prefiguração dos acontecimentos do final dos tempos.
Nos versos 5 a 23 encontramos dez colocações feitas por Jesus sobre esse
tempo situado entre as duas vindas. Esse período é o tempo conhecido, referido e
descrito desde o Antigo Testamento e por todo o Novo Testamento. Além de
outras designações, esse tempo foi chamado de: “O ano aceitável da salvação”
(Lc 4.19); “o tempo dos gentios” (Lc 21.24); “Dia do justo juízo de Deus” (Rm
2.5); “Dispensação da graça” (Ef 3.2); “Dia de Cristo Jesus” (Fp 1.6, 2.16); “Dia
do Senhor” (1Ts 5.2, 2Pe 3.10); “Dia de Hoje” (Hb 3.13); “Dia que se aproxima”
(Hb 10.25); e “Dia de Deus” (2Pe 3.12). É o tempo que ultrapassa à queda do
templo e chega à segunda vinda de Jesus, quando Ele vier em poder e glória.
1. Jesus advertiu e pediu ações concretas de extrema cautela: ninguém vos
engane; não se assustem; não é o fim; ficai de sobreaviso; ai das que tiveram
grávidas; orai; não acrediteis; e, novamente, ficai de sobreaviso. Jesus, em
resumo, pediu vigilância.
2. Jesus mostrou alguns sinais desse tempo: muitos virão em meu nome;
muitos dirão “sou eu”; muitos serão enganados; ouvireis de guerras e rumores
de guerra; se levantará nação contra nação; reino contra reino; haverá
terremotos; haverá fomes; sereis presos; sereis açoitados; sereis colocados
diante de governadores e reis; haverá traição entre irmãos; entre pais e filhos;
sereis odiados de todos por causa do meu nome. Jesus, em resumo, mostrou
as dificuldades que todo cristão enfrentaria.
3. Jesus especificou a necessidade de alguns processos, pois tanto a
destruição do templo de Jerusalém como a segunda vinda não aconteceriam
sem antes acontecer aquilo que Ele mesmo chamou de “o princípio das dores”
(Mt 24.8). Essa expressão literalmente significa: “dores de parto”, isto é, o
nascimento de uma nova época (Jo 16.16–22).
4. Jesus disse que o evangelho deveria ser pregado à governadores, reis e a
todas as nações (v. 9–10). E isso de fato aconteceu, pois antes de 70 d.C., data
da queda do templo, o evangelho já tinha chegado ao conhecimento de reis e
governadores (At 25–26), a Roma, a capital, e às mais diversas localidades do
império (At 28.30–31; Rm 15.18–29).
5. Jesus especificou também que o Espírito Santo daria as palavras certas para
que os cristãos testemunhassem quando estivessem diante dos seus
acusadores (v. 11). Tal orientação não deve ser mal-entendida, pois em épocas
normais, para que possamos pregar a genuína Palavra, mantendo a fidelidade
da sã doutrina, necessitamos estudá-la e interpretá-la corretamente. E isso de
fato aconteceu, como por exemplo, com Estevão, que conhecia bem a Palavra
e a quem os seus opositores não puderam resistir (At 6.8–10).
6. Jesus especificou a necessidade da perseverança (v. 13). Embora a salvação
não tenha como pré-requisito a perseverança, mas a fé, a perseverança é
prova da verdadeira salvação (Ef 2.8–9; Hb 10.36).
7. Jesus especificou a necessidade do discernimento quando o templo fosse
profanado, quando fosse visto o abominável da desolação, o sacrilégio
terrível situado onde não deveria estar (v. 14). Sobre essa profecia temos três
indicações:
A. Antes da queda de Jerusalém, em 70 d.C., por volta de 66 d.C., quando
os zelotes tomaram o poder, eles mataram muitos sacerdotes no próprio
templo, profanando o local.
B. Em 70 d.C. o marechal Tito colocou um ídolo no local onde ficava o
templo, queimado e destruído junto com a cidade de Jerusalém. Ele
profanou o templo.
C. Referindo-se ao futuro, essa abominação pode ser uma referência a
profanação da Igreja, o templo de Deus, através da entrada de heresias,
falsas doutrinas ensinadas por falsos mestres, como infelizmente vemos
em nossos dias (1Tm 4.1; 2Tm 3.1).
8. Jesus especificou que haveria grande destruição, grande tribulação, como
nunca tinha acontecido e nunca mais aconteceria, conforme o verso 19 e
conforme Hendriksem (2003, p. 648). Isso de fato ocorreu, pois como nos
dizem os historiadores Josefo e Tácito, naqueles dias do cerco a Jerusalém,
por volta de 66–70 d.C., aqueles que estavam na cidade experimentaram uma
catástrofe de dimensões sobrenaturais, com a direta participação divina no
julgamento da cidade que crucificou o Salvador (Lc 19.43–44). Entretanto,
mesclando as duas épocas (ano 70 d.C. com a segunda vinda de Jesus), e
interpretando essa “grande tribulação” como os dias finais, esse período
causará grande perturbação, angústia e sofrimento, mas não acontecerá sem
que primeiro venha a apostasia e seja revelado o homem da iniquidade, o
filho da perdição (2Ts 2.3).
9. Jesus especificou também que, por causa dos eleitos, cristãos da primeira e
da última geração, esse tempo aterrorizante seria abreviado (v. 20). Alguns
cristãos judeus do primeiro século, atendendo essas palavras de Jesus,
fugiram de Jerusalém e se refugiaram em Pela, cidade próxima ao mar Morto.
E em relação aos cristãos em geral, antes da volta gloriosa de Jesus esse
tempo também seria abreviado, pois muitos dos eleitos poderiam ser
enganados pela artimanha do inimigo (v. 22; 1Jo 2.18).
10. Mas Jesus especificou também, conforme dissemos, que todos esses
sinais não seriam o fim (v. 7). Eles seriam apenas o princípio das dores (v. 8).
Na verdade, seriam os eventos cotidianos durante o tempo entre as duas
vindas de Jesus Cristo. Mas, sobretudo, Jesus revelou em termos gerais que
essas palavras não serviam para encorajar a especulação, mas para prevenir os
discípulos contra o engano. E como Ele mesmo tinha sofrido durante o tempo
do seu ministério, os seus discípulos deveriam estar preparados para o
sofrimento durante a jornada cristã (Ap 6.1–17).
Jesus ensina sobre a vinda do Filho do Homem
Mc 13.24–27
Os versos 24 a 27 referem-se à vinda do Filho do Homem. O texto diz assim:
24. Mas, naqueles dias, após a referida tribulação, o sol escurecerá, a
lua não dará a sua claridade,
25. as estrelas cairão do firmamento, e os poderes dos céus serão
abalados.
26. Então, verão o Filho do homem vir nas nuvens, com grande poder
e glória.
27. E ele enviará os anjos e reunirá os seus escolhidos dos quatro
ventos, da extremidade da terra até à extremidade do céu.
Estes versos apontam para a volta gloriosa de Jesus. Haverá um cataclismo
celeste, como profetizou Joel em 2.30–31, quando os astros serão abalados,
demonstrando que a vinda do Messias afetará tanto a humanidade como a
natureza. Quando o Filho do Homem vier sobre as nuvens do céu, virá com
grande poder e glória, glória que simboliza a presença de Deus, a glória
“schekiná”. O ponto máximo da história será a volta de Jesus Cristo. Na primeira
vinda, Jesus veio como servo, conforme vimos em 10.45. Mas na segunda vinda
Ele virá publicamente como Senhor do universo e da história, Rei dos reis,
Senhor dos senhores (Ap 19.16).
Mas um detalhe deve ser destacado. Como o plano salfívico de Deus, como a
salvação é universal, como a graça divina não faz acepção de pessoas, raças ou
qualquer outra divisão humana, Ele enviará os seus anjos, que reunirão os seus
escolhidos dos quatro ventos, de uma a outra extremidade dos céus, isto é, de
todos os lugares, de todos os cantos do mundo. Os eleitos, os escolhidos, serão
reunidos e certamente se alegrarão, ficarão agradecidos e encantados.
Nesse ponto, vale à pena interrompermos o detalhamento do texto para mais
uma vez perguntar: você se atemorizará diante da vinda do Messias, do Senhor
Jesus Cristo, não mais como Salvador, mas como Juiz? Ou se alegrará, pois
sendo um dos escolhidos será reunido pelos anjos divinos para estar para sempre
com o Senhor?
Jesus ensina sobre o reconhecimento do tempo
Mc 13.28–31
No quarto parágrafo, nos versos 28 a 31, encontramos a parábola da figueira.
Nessa parábola temos a exortação sobre a percepção dos sinais dos tempos. A
figueira pode referir-se a Israel, como já comentamos anteriormente. Mas, como
no texto paralelo de Lucas 21.29, Jesus fala sobre “a figueira e todas as árvores”,
não devemos fixar a interpretação pensando somente na nação judaica. O texto
diz assim:
28. Aprendei, pois, a parábola da figueira: quando já os seus ramos se
renovam, e as folhas brotam, sabeis que está próximo o verão.
29. Assim, também vós: quando virdes acontecer estas coisas, sabei
que está próximo, às portas.
30. Em verdade vos digo que não passará esta geração sem que tudo
isto aconteça.
31. Passará o céu e a terra, porém as minhas palavras não passarão.
Este é mais um dos ensinos em que vemos intercaladas palavras relativas
àqueles dias, àquela geração, com palavras relativas ao final dos tempos, à
segunda vinda de Cristo. No capítulo 13, esse sermão profético, além de nos
mostrar o cumprimento do que aconteceu à primeira geração, nos revela os
acontecimentos e nos mostra os sinais da segunda vinda de Cristo. Portanto,
esses sinais devem chamar a nossa atenção, devem nos fazer ficar atentos.
Como dissemos anteriormente, embora nem todos os cristãos tenham a
mesma posição escatológica, muitos entendem que a figueira seja símbolo de
Israel. Então, a figueira já está brotando, porque depois de séculos espalhados
por todas as partes do mundo, agora Israel já se acha em forma de país, em
forma de Estado. O povo judeu que se achava até quase meados do século
passado sem terra, sem pátria, já tem a sua terra. Nesse simbolismo, a figueira
que está brotando, Israel, é um país que causa admiração ao mundo.
Jesus ensinou aqui que, antes da sua segunda vinda, a figueira produziria folha. Em 1948, a nação
independente de Israel foi formada. Hoje essa nação exerce uma influência nos negócios mundiais
que está fora de toda proporção com seu tamanho. Pode-se dizer de Israel que “está brotando
folhas”. Mas ainda não há fruto até que o Messias volte a um povo que está disposto a recebê-lo
(MACDONALD, 2008, p. 141).
Ainda outros entendem que “esta geração” pode ser uma referência específica
aos judeus e aos descrentes que estarão presentes por todas as gerações:
… a palavra geração, genea, pode estar sendo usada em um de seus outros possíveis sentidos, que
incluem “família”, “raça”, e até mesmo “época”. Se genea está sendo usada com algum destes
sentidos, Jesus pode estar se referindo ao povo judeu, e pode querer dizer que eles serão
preservados como uma raça distinta até o final que foi previsto pelos profetas do Antigo
Testamento. Ou ele pode referir-se a “esta geração” como caracterizando aquela classe de pessoas
que não creem e são perversas, uma classe que irá persistir ao longo da história até que Jesus volte,
apesar do poder sobrenatural da mensagem do evangelho (RICHARDS, 2007, p. 79).
Contudo, podemos entender “esta geração” como “esta raça”, isto é, esta raça
de judeus incrédulos, de acordo com MacDonald (2008, p. 1410), pois “o
testemunho da história é que ‘esta geração’ não passou”. Porém, o fato é que
esses acontecimentos devem nos fazer ficar atentos e vigilantes para que
percebamos os sinais desse grande acontecimento.
E finalizando este parágrafo, no verso 31 Marcos registra as seguintes
palavras: Passará o céu e a terra, porém as minhas palavras não passarão.
Aqui está o poder das Palavras de Jesus. Elas se cumprirão literalmente. Esse é o
aviso de Jesus, pois Ele mesmo disse: E eis que venho sem demora (Ap 22.12).
Você tem estado atento aos sinais que estão surgindo pouco a pouco, nos
avisando da seriedade desses eventos? Não fica impressionado com a exatidão
do cumprimento das profecias bíblicas? Devemos ter consciência clara de que
tudo pode passar, mas as palavras de Jesus são infalíveis.
E o que fazer enquanto esses eventos não acontecem? Lembremos e sigamos
o conselho do apóstolo João: E a si mesmo se purifica todo o que nele tem
esta esperança, assim como ele é puro (1Jo 3.3).
Jesus ensina sobre a necessidade da vigilância
Mc 13.32–37
Nos versos finais, de 32 a 37, temos uma advertência para que sejamos
vigilantes. Quando Cristo vem? Qual é o dia? Qual é a hora? De acordo com as
palavras de Jesus, ninguém sabe, senão o Pai. Por estas palavras vemos que
falham todos aqueles que têm anunciado o dia e a hora da volta de Jesus. Muitos
têm feito previsões até detalhadas, mas todos têm errado. As palavras de Jesus
foram muito claras: Estai de sobreaviso, vigiai e orai porque não sabeis
quando será o tempo (v. 33). Jesus, ainda com o objetivo de que todos
entendessem claramente a urgência da vigilância, contou mais uma pequena
parábola:
34. É como se um homem que, ausentando-se do país, deixa a sua casa,
dá autoridade aos seus servos, a cada um a sua obrigação, e ao
porteiro ordena que vigie.
35. Vigiai, pois, porque não sabeis quando virá o dono da casa: se à
tarde, se à meia-noite, se ao cantar do galo, se pela manhã;
36. para que, vindo ele inesperadamente, não vos ache dormindo.
Como podemos notar nestas palavras finais do sermão escatológico, há uma
grande necessidade de estarmos preparados e vigilantes, aguardando a volta de
Cristo. Quando o dono retornar e encontrar o porteiro dormindo, certamente o
destituirá, pois seria uma comprovação da sua negligência, do seu desprezo e do
seu desrespeito às ordens do seu senhor.
Quanta necessidade há na igreja de vigilância! O que temos visto em nossos
dias é triste e preocupante. Os cristãos vivem como se essa fosse a vida
definitiva. Estão vivendo conforme os valores do mundo, lutando com as armas
do mundo e tentando conquistar posições e bens desse mundo. Muitos estão
totalmente desatentos.
Por outro lado, enquanto vigiamos, o nosso trabalho deve continuar, pois
quando feito no Senhor, ele não é vão (1Co 15.58). Trabalhemos para edificação
da igreja, para que muitos ainda possam receber Jesus como seu Salvador.
Trabalhemos de tal forma que glorifiquemos a Deus. Mas, sobretudo, lembremos
dessas palavras finais, objetivas e diretas: O que, porém, vos digo, digo a
todos: Vigiai! (v. 37). Vigiemos pois e oremos para não sermos surpreendidos
com a volta gloriosa de Jesus. Você está preparado para esse encontro?
Jesus certamente não estava ensinando que devemos nos esquecer dos pobres,
nem queria justificar a indiferença para com eles. Mas pelo contrário, através da
sua vida ministerial, demonstrou cuidado e atenção para com todos os excluídos
da sociedade. No entanto, Jesus quis destacar a atitude generosa de adoração de
Maria.
Conforme o verso 8, Jesus deu o verdadeiro significado daquele ato de amor:
Ela fez o que pôde: antecipou-se a ungir-me para a sepultura. E ainda
afirmou que em todos os locais por onde o evangelho fosse pregado, essa
história seria repetida (v. 9), como estamos fazendo hoje, demonstrando a
sensibilidade e o amor de Maria pelo Senhor.
Nessa ação vemos uma antecipação da unção que se fazia para os mortos.
Maria, certamente dirigida pelo Espírito Santo, percebeu que Jesus caminhava
deliberadamente para a cruz, para morrer em nosso lugar! Somente uma mulher
que escolheu a melhor parte e se assentou aos pés de Jesus para ouvir seus
ensinamentos (Lc 10.38–42); somente uma mulher com liberdade para
questionar o amigo Jesus em razão da morte do seu irmão (Jo 11.32); somente
uma mulher com sensibilidade, com discernimento espiritual, dirigida e
orientada pelo Espírito Santo, poderia, através de uma ação como essa,
homenagear e ungir o Filho de Deus, o Rei de Israel, profetizando que sua morte
aconteceria dentro em breve.
Como você tem tratado Jesus em seu viver? Como tem tratado os pobres?
Sem deixar de atender os necessitados, você tem deixado que outras coisas
importantes ocupem o lugar que só Jesus deve ter em sua vida? Você tem feito
tudo o que é possível para homenageá-lo? Não ame a Jesus apenas pelo que Ele
pode fazer por você. Ame-o e adore-o por Ele ser quem é!
Jesus é alvo da traição de Judas Iscariotes
Mc 14.10–11
Nos versos 10 e 11, de modo lacônico, encontramos o pacto da traição. O texto
diz: E Judas Iscariotes, um dos doze, foi ter com os principais sacerdotes,
para lhes entregar Jesus. Eles, ouvindo-o, alegraram-se e lhe prometeram
dinheiro; nesse meio tempo buscava ele uma boa ocasião para o entregar.
Que relato triste! Aqui temos a ação de Judas, um dos doze. Este texto vem
logo depois do registro da ação de amor de Maria. Judas traiu Jesus, e Maria,
movida pelo amor, homenageou Jesus. Que contraste!
Mas por que Judas queria traí-lo? Embora o texto não diga, podemos com
segurança afirmar que, como os outros discípulos e boa parte dos judeus daquela
geração, Judas esperava que, como o Messias prometido, Jesus desse início a
uma rebelião política para libertar Israel do poder de Roma. Também, como
tesoureiro, Judas esperava receber uma posição de destaque, assim como Tiago e
João desejavam ocupar lugares importantes no reino que eles imaginavam que
Jesus implantaria. Mas quando Judas viu a reação de Jesus louvando Maria, que
gastou uma grande quantia para homenageá-lo, percebeu que o reino de Jesus
não era o reino que ele e os demais esperavam.
Judas percebeu que ele mesmo não usufruiria de qualquer vantagem material.
O reino de Jesus não era deste mundo, como logo anunciaria a Pilatos: O meu
reino não é deste mundo. Se o meu reino fosse deste mundo, os meus
ministros se empenhariam por mim, para que não fosse eu entregue aos
judeus; mas agora o meu reino não é daqui (Jo 18.36). O reino de Jesus era
espiritual. Jesus viera inaugurar o reino de Deus, implantando-o pela fé no
coração das pessoas! Por isso, com o coração cheio de cobiça e dominado pela
avareza, Judas procurou os líderes religiosos judeus, vendendo Jesus para poder
usufruir algum lucro financeiro. Mas como bem sinalizou Bruce (2009, p. 1630),
no final das contas, o ato foi inspirado pelo próprio Satanás (Lc 22.3; Jo 13.2,
27).
O desejo de Judas, movido pela avareza, proporcionou aos líderes religiosos
judaicos a oportunidade que tinham planejado somente para depois das festas.
Judas, então, se associava aos inimigos de Jesus para matá-lo. O plano era trair
Jesus, e Judas aguardava a ocasião oportuna.
Judas e os principais sacerdotes exercitam sua livre vontade; e são responsáveis por suas ações
deliberadas. Ao mesmo tempo, Deus previu isso (Zc 11.12), controlando o momento e coordenando
tudo de acordo com seus propósitos. A forma passiva de paradidomi (ser entregue) (cf. 1.14; 9.31;
10.33), no verso 10, sugere que é Deus, em última instância, que entrega Jesus à morte
(MULHOLLAND, 2006, p. 208).
E o texto termina mostrando que após esse jantar tão especial Jesus e os
discípulos foram cantando um hino, caminhando para o monte das Oliveiras.
Normalmente a cerimônia da Páscoa começava com o canto dos Salmos 113 e
114 e, conforme Mulholland (2006, p. 212), a comunhão à mesa terminava com
o entoar responsivo da segunda metade dos Salmos de Hallel (115–118). Jesus
fez das palavras destes salmos sua própria oração de ação de graças e louvor.
Você tem agradecido a Deus por tanto amor mostrado simbolicamente nessa
cerimônia tão rica? Ao participar da próxima Ceia Memorial, agradeça a Deus
por sua salvação!
Jesus avisa que Pedro o negará
Mc 14.27–31
No sexto parágrafo deste capítulo, nos versos 27 a 31, Jesus avisa que Pedro irá
traí-lo. Como vimos anteriormente, depois que terminaram o jantar da Páscoa,
onde Judas foi apontado como traidor e já não estava mais com eles, Jesus e os
discípulos saíram do cenáculo e foram para o monte das Oliveiras, cantando e
louvando a Deus. Nesses momentos finais, antes da sua prisão, Jesus ainda teve
o cuidado de preparar os discípulos para os fatos que ocorreriam dali a algumas
horas.
Jesus, então, disse as seguintes palavras: Todos vós vos escandalizareis,
porque está escrito: Ferirei o pastor, e as ovelhas ficarão dispersas. Mas,
depois da minha ressurreição, irei adiante de vós para a Galileia (v. 27–28).
Ele estava antecipando o sentimento dos discípulos que horas mais tarde
veriam o seu Mestre ser preso, sofrer nas mãos dos principais líderes religiosos e
não reagir. Jesus não usaria o poder que tantas vezes usara para salvar as
pessoas. Preocupado com a fé dos discípulos, antecipou-se no seu cuidado. É
possível percebemos o cuidado de Jesus? Ele sabia que dali a algumas horas
todos estariam perplexos e principalmente decepcionados com a sua falta de
reação. Eles seriam como ovelhas dispersas, por lhes faltar o pastor. Quanto
amor podemos ver nessas palavras de Jesus! E como afirmou Ryle, é possível
percebermos nesses versos as dimensões desse amor divino:
Cristo concedeu-lhes o grande privilégio de estarem continuamente em sua companhia e ouvirem a
sua voz, apesar de estar plenamente consciente da melancólica debilidade e da pequenez da fé que
eles mostrariam no final do seu ministério terreno. Esse é um detalhe notável, que merece estar
continuamente em nossa memória (RYLE, 2007, p. 186).
É interessante destacarmos como Judas saudou a Jesus. Ele disse: Mestre! (v.
45), e não Senhor. Isso aconteceu para que aprendamos de vez que só o Espírito
Santo inspira o homem a chamar Jesus de Senhor. Judas o chamou
hipocritamente de mestre, isto é, professor, porque não o via mais como o
Messias libertador de Israel, o Senhor da história. Para ele, Jesus não supria o
anseio, não supria a expectativa do Messias. Então, diante do beijo, o sinal
previamente acertado por Judas, os soldados identificaram e prenderam a Jesus
(v. 46).
Mas, conforme o verso 47, essa prisão arbitrária não ficou sem reação: Nisto,
um dos circunstantes, sacando da espada, feriu o servo do sumo sacerdote e
cortou-lhe a orelha. É interessante destacarmos que não houve reação divina,
mas humana. Reação da carne, da força própria, e não reação dependente do
Senhor. Pedro era o circunstante, e certamente tinha a intenção de cortar a cabeça
do servo do sumo sacerdote. Mas errou. Ele era pescador e sabia usar muito bem
a rede de pescar, mas não tinha habilidade para usar a espada.
Marcos não relata, mas conforme Lucas 22.51 e João 18.10–11, Jesus
repreendeu Pedro e, tocando a orelha de Malco, curou-o completamente. Mas
Jesus também questionou seus inimigos: Saístes com espadas e porretes para
prender-me, como a um salteador? Todos os dias eu estava convosco no
templo, ensinando, e não me prendestes (v. 48). Em certo sentido Jesus
perguntou-lhes: o que significa isso? Mas ao mesmo tempo em que demonstrava
a incoerência daquela atitude, Jesus aceitou a situação, pois tudo o que acontecia
era para que se cumprissem as Escrituras. Como assinalou bem Pohl (1998, p.
415):
Jesus percebeu totalmente a atitude baixa, covarde e maligna dos seus captores. Mais
incompreensível ainda a frase seguinte deve ter sido para os discípulos: “Contudo, é para que se
cumpram as Escrituras” (49). Em vez de exterminar o mal com poder divino, Jesus aceita o papel de
criminoso com vontade de Deus. Mas, que Deus é este? Aqui, na fé depositada em Deus, tem início
a desagregação dos doze. Eles não entendem mais nada.
Sem a intenção de justiça, e com toda essa motivação impura, Jesus, preso,
foi se deixando conduzir para que o plano eterno se concretizasse. No trajeto até
a cruz Ele esteve por sete vezes diante de pessoas ou tribunais, sendo julgado de
modo errado, injusto e ilegal.
Jesus esteve diante:
A. De Anás, o sumo sacerdote (Jo 18.12–14).
B. Do Sinédrio, na casa de Caifás (Mc 14.53–65).
C. Do Sinédrio, no próprio Sinédrio (Mc 15.1; Lc 22.66–71).
D. De Pilatos (Mc 15.1b–5; Lc 23.1–6).
E. De Herodes Antipas (Lc 23.7–12).
F. De Pilatos, pela segunda vez (Mc 15.6–11; Lc 23.13–18).
G. Da multidão, que preferiu soltar Barrabás (Mc 15.12–15; Lc 23.19–25)
e matar a Jesus Cristo.
Mas quando esteve diante das autoridades, conforme os versos 53 a 65, sete
fatos sobre o julgamento de Jesus se destacam:
A. Ele foi irregular quanto ao horário, isto é, de madrugada (v. 54).
B. Ele foi irregular quanto ao local, isto é, na casa do sumo sacerdote (v.
54).
C. Ele foi irregular quanto a pressa incomum, isto é, sem possibilidade de
testemunhas favoráveis a Jesus (v. 55).
D. Ele foi irregular quanto às testemunhas que depuseram contra Jesus,
pois eram falsas (v. 56–57).
E. Ele foi irregular quanto ao entendimento falho das palavras de Jesus
sobre o templo, pois Ele nunca disse que destruiria o templo de Herodes,
mas que o seu corpo, se fosse destruído, estaria novamente em pé após três
dias, sinalizando a sua ressurreição (v. 58).
F. Ele foi irregular pela falta de coerência na acusação, pois acusaram-no
de falar contra o templo e condenaram-no por confirmar ser o Cristo (v.
56,59).
G. Ele foi irregular pelas ações violentas contra o prisioneiro – cuspes,
socos, murros e bofetadas (v. 65).
Em acréscimo a essas colocações, em relação à falta de coerência e o motivo
final da condenação de Jesus (o ponto F), vale à pena citar:
Os líderes entrevistaram pessoas dispostas a dar falso testemunho contra o Senhor, mas seus
testemunhos não eram coerentes. Finalmente, o sumo sacerdote perguntou a Jesus abertamente:
“Você é o Cristo, o Filho do Deus Bendito?”. Jesus respondeu: “Sou”, Para os líderes, a declaração
era uma blasfêmia. Jesus afirmara ser o próprio Deus! E a punição para a blasfêmia era a morte
(RICHARDS, 2004, p. 731).
O nosso dever é orar e vigiar, para não cairmos na mesma tentação em que
Pedro caiu.
Talvez você condene Judas, o traidor, o Sinédrio injusto e Pedro, o
autoconfiante que negou. Mas não se esqueça de que quando não dependemos de
Jesus podemos fazer o mesmo. Que Deus nos livre de tais atitudes.
Você percebe que rumo infeliz tomou Pilatos diante deste processo? Tinha nas
mãos o poder para decidir a questão, pois era governador e juiz. Mas para
contentar o povo, para agradar a liderança religiosa de Israel, e pensando em si
próprio, condenou Jesus, mandou açoitá-lo e o entregou para ser crucificado.
Pilatos colocou a justiça de lado para agradar a outros, certamente motivado
por seus próprios interesses!
Jesus é entregue aos soldados romanos para ser crucificado
Mc 15.16–20
A terceira cena que Marcos nos apresenta é de muita dor, sofrimento e
humilhação. Aqui, Jesus é entregue aos soldados romanos. Nestes versos,
encontramos Jesus sofrendo sem nenhuma culpa, por causa dos nossos pecados.
Devemos nos lembrar que Pilatos não achou nenhuma culpa, pecado ou qualquer
crime em Jesus. Mas foi bom Ele ter sido julgado por Pilatos, a máxima
autoridade naquela ocasião. Assim ficaria absolutamente claro diante de todos,
em todos os tempos, que Jesus não tinha nenhum pecado. Dessa maneira vemos
o Cordeiro de Deus em condição de ser crucificado, porque nas cerimônias da
Páscoa, o cordeiro sacrificado não deveria ter nenhuma falha, nenhum defeito.
Entretanto, mesmo que não houvesse qualquer falha em nosso Senhor, Ele foi
humilhado e espezinhado como nenhum outro:
O estilo solene mostra que se chegou ao meio da cena: “E o saudavam, dizendo: Salve, rei dos
judeus!” (v. 18) Eles irromperam em aclamações impetuosas como as que conheciam do culto ao
imperador, gritavam entusiasmados bênçãos para Sua Majestade e não paravam de dar-lhe vivas. O
brado de “salve” era um elemento importante dos hinos aos deuses. É claro que tudo isto era feito
entre risos, debaixo das gargalhadas de toda a turba… A profundeza da sua humilhação era seu
maior momento de triunfo… “Davam-lhe na cabeça com um caniço, cuspiam nele” (v. 19). Era um
misto selvagem de maus tratos que se repetiam e submissão fingida. Mas será que no gesto de
cuspir não havia uma alusão ao beijo de reverência? “E, pondo-se de joelhos, o adoravam” (v. 19).
Vejam, seus rostos estavam colados no chão em devoção. Que importa que o gesto foi feito
zombeteiramente?! Era profecia de tirar o fôlego (POHL, 1998, p. 434).
Embora Pilatos não tenha visto nenhum crime em Jesus, ele o entregou nas
mãos dos soldados para ser crucificado. Como o texto diz, o Senhor Jesus, o
autor da Criação, foi insultado, xingado, menosprezado e ridicularizado.
1. Com o sentimento de zombaria vestiram Jesus de púrpura, pois essa era a
cor da realeza.
2. Os espinhos que apareceram na terra como consequência da maldição, por
causa do pecado, agora era usado como coroa para punir Jesus pelos pecados
de toda a humanidade. Como bem salientou Henry:
Será um manto púrpura ou escarlate uma questão de orgulho para um cristão, se foi uma questão de
reprovação e vergonha para Cristo? Ele levou a coroa de espinhos que nós merecíamos, para que
pudéssemos levar a coroa de glória que ele merece (HENRY, 2002, p. 812).
3. A ultrajante saudação “salve, rei dos judeus!” era uma zombaria, por Ele
estar sendo condenado como rei dos judeus.
4. Bater na cabeça, cuspir no rosto e ajoelhar-se diante dele para adorá-lo de
modo desrespeitoso foram outras provocações que Jesus suportou.
5. A troca de roupas, da púrpura real para o traje simples do andarilho das
estradas poeirentas da Palestina, foi a última ação dos soldados contra Jesus
antes de conduzirem-no para ser crucificado.
Apesar do escárnio, os soldados declaram a verdade, pois, de fato, aquela pessoa humilhada é o
verdadeiro “Rei de Israel”. Sem saber cumpriam as profecias do Antigo Testamento (Sl 22.6; Is
50.6–7; 53.3 e 5) (MULHOLLAND, 2006, p. 227).
Mesmo que não saibam, os ímpios são servos de Deus (como, por exemplo,
Isaías 45.1–5). Deus atua até através daqueles que não o obedecem, a fim de que
os seus planos e as divinas profecias sejam cumpridos detalhadamente. Os
soldados, em vez de estarem ultrajando Jesus, estavam cumprindo as profecias
divinas!
Agradeçamos a Deus por esse plano tão amoroso para conosco!
Jesus é ajudado por Simão a carregar a cruz
Mc 15.21
No verso 21, Marcos nos apresenta um personagem totalmente desconhecido até
então. Simão é convocado e obrigado a levar a cruz de Jesus. Como ressaltou
Mulholland (2006, p. 228), “na ausência dos discípulos ou qualquer voluntário,
os soldados obrigam um espectador, Simão de Cirene, a levar a cruz”.
Cirene era uma cidade importante do norte da África, na Líbia atual.
Provavelmente, havia lá uma colônia judaica. E possivelmente alguns deles,
morando em Jerusalém, eram frequentadores da sinagoga dos Libertos a qual
Lucas se referiu (At 6.9).
Estando Simão em Jerusalém por ocasião da Páscoa, teve o privilégio de
ajudar o Senhor a carregar a cruz. Depois dessa inusitada e direta experiência
com a cruz do Salvador, certamente este homem se converteu, assim como sua
família. Posteriormente sua esposa e filhos, Alexandre e Rufo, se tornaram
cristãos conhecidos na comunidade cristã de Roma (Rm 16.13).
É muito provável que alguns cireneus estivessem em Jerusalém 50 dias
depois (At 2.10). E depois da vinda do Espírito Santo, já convertidos, foram para
outras regiões. Alguns estudiosos identificam esse Simão com Simeão, Níger,
que junto com Lúcio de Cirene era um dos líderes da igreja de Antioquia (At
13.1).
A experiência de Simão ser obrigado a carregar a cruz de Jesus serve como
uma antítese simbólica de como o verdadeiro discípulo, tomando
espontaneamente a sua própria cruz, deve seguir o Senhor de sua vida. Espero
que você seja um verdadeiro seguidor de Jesus Cristo!
Jesus é crucificado
Mc 15.22–32
Na sequência do texto, encontramos a narrativa da crucificação. Vamos analisar
este parágrafo fazendo sete considerações:
1. O local era uma pequena colina com formato de caveira, motivo pelo qual
provavelmente recebeu o nome de Gólgota. Era um local fora da cidade (v.
22).
2. A bebida oferecida a Jesus como analgésico foi vinho com mirra. Essas
especiarias tinham um poder analgésico e comumente eram oferecidas aos
crucificados para atenuar suas dores.
Aqui se oferecia vinho narcótico às vítimas para amortecer a sensibilidade dos seus sentidos; isso
era feito pelas mulheres de Jerusalém. Faziam-no de forma rotineira por consideração às palavras de
Pv 31.6. Jesus, no entanto, rejeitou o narcótico (v. 23), tanto em vista da sua declaração de 14.25
quanto também pela sua determinação de não evitar nada do sofrimento designado a ele por seu Pai
(BRUCE, 2009, p. 1633).
Jesus não bebeu esse unguento (v. 23), porque queria sofrer
conscientemente em favor do ser humano. Ele preferiu sofrer todas as nossas
dores para que a salvação que nos oferece seja completamente suficiente. Não
precisamos acrescentar mais nada à obra salvífica de Jesus Cristo!
3. A crucificação era a morte mais desprezível, reservada a assassinos,
escravos e outros criminosos vis que normalmente não eram romanos.
Conforme o verso 24, depois de colocá-lo pendurado na cruz, repartiram suas
vestes, em cumprimento do Salmo 22.18. Como acontecia costumeiramente,
os executores tinham direito às roupas do condenado.
4. Conforme o verso 25, Era a hora terceira quando o crucificaram. O
horário da crucificação foi às 9 horas da manhã.
5. A placa indicando a acusação era levada pelo prisioneiro enquanto
caminhava para a execução. Ela foi ordenada por Pilatos e tinha a seguinte
inscrição: [O REI DOS JUDEUS (v. 26)].
6. Jesus foi crucificado em companhia de dois ladrões (v. 27–28), em
cumprimento da profecia de Isaías 53.12.
7. E a última consideração diz respeito às zombarias que Jesus sofreu.
29. Os que iam passando, blasfemavam dele, meneando a cabeça e
dizendo: Ah! Tu que destróis o santuário e, em três dias, o reedificas!
30. Salva-te a ti mesmo, descendo da cruz!
Conforme os versos 31 e 32, os principais sacerdotes e os escribas
escarneciam, e os dois ladrões que com Jesus foram crucificados o insultavam.
Mas por que tudo isso? A fim de que nós, que somos miseráveis transgressores, tanto por natureza
quanto por prática, fôssemos considerados inocentes… Isto sucedeu a fim de que nós, que não
somos dignos de nada senão de condenação, sejamos contados como dignos… isto aconteceu a fim
de que nós, em nossos últimos momentos de vida, mediante a fé em Cristo, tenhamos forte
consolação. Todas essas coisas aconteceram a Cristo, a fim de que desfrutássemos de uma
inabalável segurança… (RYLE, 2007, p. 204).
Todos estes foram desafiando Jesus com as frases que erroneamente tiraram
dos seus ensinos. E injustamente, por amor a todos nós, Ele foi suportando as
injúrias conscientemente. Jesus sofreu por amor!
O que você tem feito em retribuição a essa tão impressionante demonstração
de amor?
Jesus morre diante do Pai, da multidão, das autoridades e dos seus
Mc 15.33–41
Marcos nos apresenta, nos versos 33 a 41, a sua descrição da morte de Jesus.
Jesus ficou na cruz durante 6 horas, das 9 da manhã até o meio da tarde, isto é,
até às 15 horas. As trevas duraram 3 horas, do meio dia até às 15 horas.
Jesus foi crucificado às 9 horas da manhã (v. 25). Do meio dia até as 15 horas, o céu se escureceu
(v. 33), e esse sinal simbolizava o descontentamento de Deus por aquilo que os homens estavam
fazendo ao seu Filho (BRUCE, 2009, p. 1634).
Mas sobre esse clamor, sobre essa invocação ao Pai, ainda é preciso
observarmos que
De certo modo ele também sentiu a dor do rompimento, não em sua substância, mas em sua
atuação. A autorrevelação de Deus se dividiu e entrou em tensão consigo mesma. De maneira
incrível Deus estava contra Deus, Deus lutou com Deus, Deus venceu a si mesmo (POHL, 1998, p.
443–445).
Toda a iniciativa foi de Deus. O véu que separava já não separa mais!
Deus abriu a possibilidade de entrarmos no Santo dos Santos pelo precioso
sangue de Jesus derramado na cruz.
6. Por escrever para um público romano, Marcos destacou o testemunho do
centurião, um soldado romano:
Em Marcos, somente o centurião é focalizado. Para ele, essa afirmação do centurião parece ser uma
reação à escuridão e à forma como Jesus reagiu a tudo. A confissão é: “Realmente este homem era o
Filho de Deus!”. Em Lucas, a reação parece ser uma resposta aos mesmos fatores que Marcos
registrou. A confissão é: “Certamente este homem era díkaios (Lc 23.47)”. O termo grego pode ser
traduzido tanto por “justo” como por “inocente”. Qualquer uma das duas traduções faz sentido aqui,
porque dizer que Jesus era justo é o mesmo que afirmar sua inocência (BOCK, 2006, p. 362).
O texto do verso 43 diz que José de Arimateia, com uma atitude objetiva e resoluta, foi até Pilatos e
pediu-lhe o corpo de Jesus para sepultá-lo ainda naquelas últimas horas da sexta-feira, por ser
sábado o dia seguinte.
3. No verso 44, Pilatos se admirou de Jesus ter morrido tão rapidamente, pois
o normal era o crucificado demorar muito tempo, às vezes alguns dias, para
morrer. Mas a morte de Jesus ocorreu mais rapidamente, porque
espontaneamente se entregou por nós.
4. Conforme os versos 44 e 45, Pilatos pediu confirmação para ver se Jesus
de fato tinha morrido. Diante da confirmação do comandante, cedeu o corpo a
José de Arimateia para que o sepultamento se realizasse.
5. No verso 46, José e Nicodemos, o seu parceiro de fé, membro do Sinédrio
(Jo 19.39–40), tiraram o corpo da cruz e o sepultaram. E no dizer de Pohl
(1998, p. 451): “Deus, que abandonara seu Filho na cruz, apesar de tudo se
confessa em favor deste morto. Do madeiro maldito ele foi direto para o
túmulo honroso. Um ponto de exclamação que prenuncia a Páscoa!”.
O sepultamento se deu num sepulcro novo aberto numa rocha, em
cumprimento da profecia de Isaías 53.9. Em todos os detalhes a Palavra de
Deus estava se cumprindo completamente!
6. No verso 46 vemos que o sepulcro foi fechado com uma pedra colocada na
entrada do túmulo. “O túmulo era um pequeno quarto esculpido na rocha. A
porta era selada com uma pedra, com formato de moeda, que era rolada
dentro de um sulco esculpido na rocha” (MACDONALD, 2008, p. 148).
Nas entrelinhas do relato é possível confirmar que Jesus de fato tinha
morrido, porque seu corpo inerte foi envolvido num lençol e recebeu todos os
unguentos costumeiros para a ocasião, pesando cerca de 100 libras (uns 30
quilos), conforme João nos relata em 19.39. Mas, além disso, percebemos
todo o cuidado e honra dedicada àquele que tinha dado a vida pela
humanidade. Essa atitude de reverência e amor para com Jesus é o que Ele
ainda espera de nós!
7. Terminando este capítulo, no verso 47 Marcos registra que algumas
mulheres que estavam na crucificação também presenciaram o sepultamento,
vendo onde colocavam o corpo inerte do Senhor da vida. Como destaca
Cardoso Pinto:
A presença das mulheres na hora final da vida de Jesus (15.40–41,47) acha um equivalente em sua
presença no evento glorioso do primeiro dia da semana. Sua fidelidade diante das provações é
recompensada com a primeira alegria da ressurreição e a primeira responsabilidade da proclamação
(CARDOSO PINTO, 2008, p. 102).
E esse mesmo autor, concordando com outros estudiosos, aconselha que não é
sábio usarmos esse texto para firmarmos e alicerçarmos posições teológicas
baseando-nos exclusivamente em suas palavras. Em apoio a essa recomendação,
afirmamos que é sensato basearmos as doutrinas e as posições teológicas que
vemos aqui em tantos outros textos, pois eles não levantam qualquer dúvida em
relação à sua autenticidade.
Entretanto, ao mesmo tempo em que essa opinião é firmada, outros homens
de Deus, profundos estudiosos, conhecedores e autoridades no estudo da Palavra
de Deus, entendem e creem firmemente que o capítulo todo é tão autêntico como
qualquer outro texto. Além de outras razões claramente expostas em seus
comentários, mencionados na bibliografia, esses estudiosos têm essa posição
porque o conteúdo dos versos 9 a 20 é citado por vários escritores antigos já no
final do segundo século, e uma grande quantidade de manuscritos de Marcos
contém o capítulo 16 com os seus 20 versos, como temos em nossas Bíblias.
Um dos estudiosos que tem essa posição, ao apresentar as razões do seu
entendimento, faz a seguinte afirmação:
É necessária aqui uma palavra sobre o fim do Evangelho de Marcos, um tópico acaloradamente
debatido ao longo dos últimos quinze séculos. Creio que os doze últimos versículos de Marcos (9–
20) pertencem ao lugar em que se acham e foram escritos pelo próprio Marcos, sob a direção do
Espírito Santo (CARDOSO PINTO, 2008, p. 82).
Como nos dias de hoje, quando levamos flores para homenagear nossos
mortos, elas levaram os aromas em homenagem a Jesus. Que dedicação, que
amor essas mulheres tinham por Jesus! Será que temos essa mesma dedicação
por Ele?
Jesus surpreende seus seguidores em todos os detalhes
Mc 16.3–5
Conforme o verso 3, preocupadas em homenagear Jesus, as mulheres iam
antecipando um possível problema a respeito da remoção da pedra que havia
sido colocada na entrada da tumba, do túmulo. Colocar a pedra fechando o
túmulo era fácil, mas depois de encaixada na canaleta aberta na rocha, tirá-la era
difícil demais e quase impossível para um grupo de mulheres. Por meio do verso
4 podemos aprender desse episódio que nunca devemos sofrer antecipando um
problema, porque ele pode não existir. Uma grande parte do sofrimento de muita
gente é devido a problemas que são irreais, que não existem, são apenas “pré-
ocupações”.
Elas sabiam que não seria fácil. Sabiam que uma grande pedra fora rolada na boca do túmulo.
Sabiam acerca do selo romano e da guarda dos soldados. Mas o amor salta por sobre as montanhas
de dificuldades para alcançar o objeto de sua afeição… elas estavam imaginando em voz alta quem
poderia remover a pedra da entrada do túmulo… mas, olharam e viram que já havia sido removida!
Quantas vezes, quando estamos concentrados em honrar o Salvador, acontece de as dificuldades
serem removidas antes de chegarmos lá! (MACDONALD, 2008, p. 148).
Temos de saber que quando caminhamos com Cristo Ele sempre nos
surpreende, pois … é poderoso para fazer infinitamente mais do que tudo
quanto pedimos ou pensamos, conforme o seu poder que opera em nós… (Ef
3.20). Assim, como a pedra fora removida, o problema não mais existia. Deus
quer que descansemos nas suas providências.
Mas conforme o verso 5, as mulheres tiveram uma segunda surpresa: Jesus
não estava lá. Ele tinha ressuscitado! E elas tiveram ainda uma terceira surpresa:
entrando no túmulo, viram um jovem assentado do lado direito, vestido de
branco, e ficaram surpreendidas e atemorizadas (v. 5). Ora, não era para
menos: encontrar o sepulcro aberto com a pedra removida; não encontrar o corpo
de Jesus que tinham vindo homenagear; e encontrar um jovem assentado lá
dentro, vestido de branco, foi impactante. Sem dúvida elas ficaram atemorizadas.
De acordo com os outros evangelhos, aquele não era um jovem comum, como
inicialmente pensaram. Era um anjo que lhes anunciaria uma excelente notícia!
Jesus é anunciado ressurreto por um anjo
Mc 16.6–8
Desde o Antigo Testamento, como já temos estudado, os anjos apareciam na
forma humana trazendo mensagens divinas. Afinal, são … espíritos
ministradores, enviados para serviço a favor dos que hão de herdar a
salvação (Hb 1.14). E assim como os anjos serviram a Jesus, depois do seu
período de testes, logo no início do seu ministério (1.13), esse anjo também o
serviu dirigindo às mulheres palavras muito significativas. Aquelas palavras
mudaram a história da humanidade.
Foi a maior mensagem de todos os tempos: Não vos atemorizeis; buscais a
Jesus, o Nazareno, que foi crucificado; ele ressuscitou, não está mais aqui;
vede o lugar onde o tinham posto. Mas ide, dizei a seus discípulos e a Pedro
que ele vai adiante de vós para a Galileia; lá o vereis, como ele vos disse (v.
6–7). O anjo sabia de tudo, ele estava bem informado. Foram feitas cinco
afirmações:
A. Não tenham medo. O anjo queria tranquilizá-las para a importante e
maravilhosa notícia que lhes daria.
B. Vocês estão buscando a Jesus, que foi crucificado. Ele ressuscitou.
C. Vejam o lugar.
D. Digam aos seus discípulos e a Pedro: Ele já está indo para a Galileia.
E. Lá o vereis como Ele disse.
Esse cuidado especial dispensado a Pedro certamente se deve ao fato de,
depois de ter negado a Jesus, ele estar se sentindo culpado e envergonhado. Mas
um destaque que deve ser feito é em relação ao cumprimento das palavras de
Jesus. Tudo aconteceu como tinha previsto.
Conforme o verso 8, diante desse encontro com o anjo e diante dessas
palavras tão inacreditáveis, as mulheres saíram do sepulcro e fugiram espantadas
e temerosas. Elas estavam tão abaladas emocionalmente que nada disseram a
ninguém, mostrando como o ser humano reage e se comporta diante do
sobrenatural.
… esta fuga nada tem em comum com a fuga dos discípulos em 14.50. Lá os discípulos queriam se
esconder, mas essas mulheres atenderam à sua missão. O fato de saírem correndo da câmara
mortuária se explica pela condição em que encontravam: “Porque estavam possuídas de temor e de
assombro” (8). Nossa surpresa diante disto pode estar relacionada com nosso embotamento quanto à
mensagem da Páscoa. Nós festejamos a Páscoa todos os anos… Estas mulheres, porém, não tinham
experiência na área. A Páscoa simplesmente as derrubou… De forma alguma quis Marcos retratar a
desobediência delas aqui, mas sua obediência de fé… as mulheres obedeceram direitinho. Nada lhes
fora ordenado além de notificar os discípulos, e elas não se deixam desviar para o anúncio
generalizado pelas ruas e praças, no templo ou em casa. A pregação a todos será tarefa dos
discípulos (POHL, 1998, p. 457–458).
Jesus tinha ressuscitado, e essa era uma grande notícia! Essa maravilhosa
notícia que deveria ter provocado naquelas mulheres uma grande e profunda
alegria, deixaram-nas espantadas e tomadas de medo. Mas esse é o
comportamento humano diante de feitos e de fatos sobrenaturais. O ser humano
não está acostumado com estes fatos. O medo é uma força que chega a paralisar
as pessoas. As mulheres que foram ao sepulcro e viram a tumba vazia, provando
que Jesus havia ressuscitado, viram o anjo e ouviram suas palavras. Com medo,
mas em obediência, nada disseram a ninguém senão aos discípulos.
Porém, por causa do medo que domina muitos crentes ainda hoje, por causa
da falta de coragem para testemunhar e certamente por causa da vergonha em
proclamar que acreditam no sobrenatural, muitos estão vivendo sem
experimentar a transformação que a mensagem mais poderosa deste mundo, a
mensagem do Jesus Cristo ressuscitado, pode provocar na vida humana. O medo
é uma força paralisante. Que o medo, a falta de coragem e a vergonha não nos
impeçam de experimentar e anunciar Jesus Cristo ressuscitado!
Jesus aparece a Maria Madalena
Mc 16.9–11
Nos versos 9 a 11 Jesus aparece a Maria Madalena. Este relato é muito direto e
objetivo:
9. Havendo ele ressuscitado de manhã cedo no primeiro dia da
semana, apareceu primeiro a Maria Madalena, da qual expelira sete
demônios.
10. E, partindo ela, foi anunciá-lo àqueles que, tendo sido
companheiros de Jesus, se achavam tristes e choravam.
11. Estes, ouvindo que ele vivia e que fora visto por ela, não
acreditaram.
Vamos analisar este parágrafo fazendo sete considerações.
1. Marcos confirma que Jesus ressuscitou no domingo, de manhã cedo.
2. Quando Marcos foi escrito, aproximadamente entre os anos 55–68 d.C., o
domingo já era considerado como o primeiro dia da semana pelos cristãos,
exatamente porque Jesus tinha ressuscitado depois do sábado. Assim, o
primeiro dia depois do sábado foi considerado o dia inicial de uma nova
semana.
3. O nome Madalena derivava de Magdala, uma cidade à margem sudoeste do
mar da Galileia. Jesus apareceu primeiro a Maria Madalena, fato confirmado
pelos outros evangelhos, principalmente por João (20.11–18), que narra esse
encontro.
4. O texto nos diz que dela Jesus expulsou sete demônios, e tal registro
concorda com o ambiente descrito por Marcos, pois por todo o livro ele
mostra a completa autoridade de Jesus sobre Satanás e seus demônios.
A ela, antes que a qualquer outro dos filhos de Adão, foi concedo o privilégio
de ter sido a primeira pessoa a contemplar o Salvador ressurreto. Maria, a mãe
de nosso Senhor, continuava viva. João, o discípulo amado, continuava na terra.
No entanto, ambos foram preteridos, nessa ocasião, em favor de Maria
Madalena. Uma mulher que, antes de sua conversão, provavelmente fora uma
das principais pecadoras, uma mulher que antes estivera possessa por sete
demônios. Essa mulher foi a primeira pessoa a quem Jesus se mostrou vivo,
depois que Ele ressurgiu vitorioso do sepulcro. Esse fato é notório e repleto de
instruções (RYLE, 2007, p. 214).
5. No verso 10, Maria Madalena, depois de ter visto Jesus, foi e anunciou o
milagre da ressurreição aos discípulos. Jesus apareceu primeiramente a ela,
que teve o privilégio de anunciar aos discípulos o maravilhoso milagre da
ressurreição!
6. Os companheiros de Jesus estavam tristes, certamente porque as ambições
políticas e sociais que tinham se desfizeram. Concordando com o conceito
inadequado do povo sobre o Messias, os discípulos estavam tristes e
frustrados com a morte daquele em quem depositavam esperança.
7. Os discípulos choravam desalentados, pois além de não terem mais a
presença de Jesus com eles, também sentiam culpa por terem abandonado o
Mestre, deixando-o sozinho enfrentando as autoridades judaicas e romanas.
No seu nascimento, Jesus esteve sozinho, sem um lugar adequado para vir ao
mundo. Agora, na sua morte, Ele estava sozinho, abandonado pelos seus
companheiros. E você, tem dado o lugar adequado a Jesus? Você tem se
comprometido com Ele ou o tem negado através de suas ações?
O choro deles foi de tristeza, e certamente de culpa e arrependimento. Mas
graças a Deus, Maria Madalena trouxe-lhes a mensagem da ressurreição!
Jesus aparece a dois de seus discípulos
Mc 16.12–13
Prosseguindo na comprovação da sua ressurreição, Jesus apareceu a dois de seus
discípulos, que iam para o campo. O texto diz: Depois disto, manifestou-se em
outra forma a dois deles que estavam de caminho para o campo. E, indo,
eles o anunciaram aos demais, mas também a estes dois eles não deram
crédito (v. 12–13). O relato completo sobre esse episódio está em Lucas 24.13–
35. Faremos agora sete observações.
1. Conforme o verso 12, a palavra “manifestou-se” demonstra, pelo verbo
grego, que Jesus desejava se revelar, se mostrar ressurreto. Mas Ele só se
manifestou aos seus escolhidos, àqueles que o acompanhavam desde o
começo.
2. A frase manifestou-se em outra forma é também significativa. Para
Maria, Jesus apareceu como jardineiro. Para esses dois discípulos, como um
viajante. Por quê? Porque as notícias da sua aparição dadas progressivamente
facilitariam os discípulos lembrarem-se das suas promessas e crerem com
alegria neste fato sobrenatural.
3. Conforme o verso 12, é possível deduzir que os dois iam para o campo, por
causa da morte do seu líder. Não crendo e sem esperanças, eles talvez
estivessem desistindo do discipulado.
4. Porém, o verso 13 diz que tão logo constataram que o Senhor estava vivo,
em vez de guardarem as boas novas para si mesmos, não tiveram medo e,
deixando a incredulidade de lado, foram levar as boas novas da ressurreição
aos demais discípulos.
5. Ainda no verso 13, em relação à frase eles o anunciaram aos demais,
percebemos que a atitude deles, assim como aconteceu com Maria Madalena
(v. 10), foi a de compartilhar com os outros a grande novidade da
ressurreição. Essa atitude chama atenção para a nossa responsabilidade. Todo
cristão que tem visto pelos olhos da fé o Senhor ressurreto não pode e nem
deve se calar, mas anunciar que o nosso Senhor é vivo!
6. Porém, a frase final do verso 13 é sintomática: mas também a estes dois
eles não deram crédito. Os demais discípulos continuaram incrédulos. É
possível explicarmos esse tipo de atitude? Essa atitude só é explicada quando
olhamos para nós mesmos. Em muitas ocasiões, mesmo diante da intervenção
de Deus, não acreditamos no seu poder sobrenatural e na sua capacidade
extrema de nos amar!
7. Por isso, em relação à incredulidade, vale a pena lembrarmos que, como
somos falhos e titubeantes, é possível que a dúvida brote em nossos corações.
Como disse Ryle (2007, p. 216):
Somos pessoas sujeitas às mesmas paixões dos apóstolos. Não podemos considerar coisa estranha
se a nossa experiência, algumas vezes, assemelha-se às experiências deles, ou se a nossa fé, tal
como a deles, algumas vezes desfalece. Resistamos com ousadia à incredulidade.
Será que essa censura foi apenas para os discípulos? Certamente, num
primeiro momento se aplicava a eles, que ainda estavam cegos para
contemplar que para Deus não há impossíveis, conforme o próprio Jesus lhes
tinha ensinado anteriormente: … porque para Deus tudo é possível (10.27).
Mas essa censura é extensiva a nós também, pois mesmo vendo as grandes
transformações que Deus faz em nossas próprias vidas, ainda cheios de
incredulidade não cremos na sobrenaturalidade do nosso Deus trino!
3. Porém, graças a Deus, Jesus não enfatizou somente o negativo, e logo lhes
chamou a atenção para algo positivo. Jesus lhes ordenou explicitamente que
fossem por todo o mundo e pregassem o evangelho a toda a criatura: Ide por
todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura (v. 15). Essa era a
tarefa de Jesus para os discípulos da primeira geração, mas é também a ordem
para todos nós que somos seus discípulos. O evangelho é a comunicação da
graça salvadora e universal de Deus! A nossa tarefa é anunciar essa “tão
grande salvação” em Jesus Cristo!
4. Na sequência, nos é dito que essa proclamação deveria ser recebida pela fé
e confirmada no batismo, como diz o texto: Quem crer e for batizado será
salvo; quem porém, não crer será condenado (v. 16). Entretanto, é
importante entendermos corretamente essas palavras. A ênfase é sobre a
necessidade de crer, sobre a obrigatoriedade de crer. Se qualquer pessoa crer
no sacrifício de Jesus será salvo. O batismo é um simbolismo da nova vida
em Cristo; é uma identificação com Cristo, mas não é determinante para a
salvação. A condenação só é destinada àquele que não crer!
5. Nos versos 17 e 18 Jesus ainda acrescentou que sinais sobrenaturais
acompanhariam os que cressem. Jesus mencionou cinco sinais: expulsar
demônios (At 8.7; 16.18), falar em novas línguas (At 10.46; 19.6), pegar em
serpentes (At 28.3–6), tomar veneno e impor as mãos sobre os doentes e eles
serem curados (At 9.17–18; 28.8).
6. Embora crendo que todos esses sinais seguiriam e ainda seguem os
discípulos de Cristo, é importante mencionar que entre todos, apenas o de
beberem alguma coisa mortífera (v. 18) não foi registrado no livro de Atos
dos Apóstolos. Entretanto, passagens como Romanos 15.19 e Hebreus 2.3–4
referem-se a todos esses sinais.
7. Ao finalizar esse parágrafo, uma pergunta vale a pena ser considerada:
Qual foi o propósito desses milagres prometidos? Certamente a resposta deve
vir de Hebreus 2.3–4. O texto diz:
3. Como escaparemos nós, se negligenciarmos tão grande salvação? A
qual, tendo sido anunciada inicialmente pelo Senhor, foi-nos depois
confirmada pelos que a ouviram;
4. dando Deus testemunho juntamente com eles, por sinais, prodígios e
vários milagres e por distribuições do Espírito Santo, segundo a sua
vontade.
As ações sobrenaturais divinas que seguiram os discípulos de Jesus com
certeza foram permitidas e aconteceram por vontade de Deus. O propósito divino
era testemunhar, era confirmar a mensagem do evangelho, a proclamação das
boas novas. A proclamação da chegada do reino de Deus foi sendo autenticada
por essas maravilhosas ações, nas quais o próprio Senhor usava os discípulos
para que fosse comprovada.
Mas ao respondermos essa questão, certamente surge outra que nos afeta
diretamente: esses sinais e manifestações sobrenaturais ainda seguem os
discípulos de Jesus nos dias de hoje?
Embora alguns estudiosos entendam que esses sinais ficaram restritos a época
em que a Bíblia estava sendo escrita, não encontramos na própria Escritura base
suficientemente clara para afirmarmos que esses sinais, e as manifestações das
distribuições do Espírito Santo, segundo a sua vontade, se encerraram
naqueles primeiros dias do cristianismo.
Temos de perguntar a nós mesmos se estamos disponíveis para sermos usados
por Deus, pelo Senhor Jesus e pelo Espírito Santo como canais das suas
poderosas manifestações que têm a finalidade de mostrar a verdade do
evangelho. Essa é uma questão que só você pode responder diante de Deus!
Jesus é recebido em glória e coopera com os discípulos na
evangelização
Mc 16.19–20
Como último parágrafo, nos versos 19 e 20, temos o relato da ascensão de Jesus.
Sobre esses versos temos também sete constatações.
1. Conforme o verso 19, Jesus continuou por algum tempo falando, ensinando
os discípulos. Jesus ficou com eles durante 40 dias, dando provas da sua
ressurreição e conversando a respeito do reino de Deus (At 1.3).
2. Ainda conforme o verso 19, Jesus foi recebido no céu, completando
totalmente a sua missão salvífica por todos nós. A glorificação de Jesus
significou a aceitação por parte de Deus Pai do seu sacrifício em nosso lugar.
Como justo, Ele pagou pelos injustos e assim a justiça de Deus foi vindicada.
Ter sido recebido no céu significou que a sua atuação no desempenho da sua
missão foi aceita, e assim Ele obteve lugar de honra e poder.
3. Jesus ocupou o lugar de destaque à direita do Pai (v. 19), numa clara
referência a autoridade, ao poder que lhe foi concedido. No primeiro embate
entre os apóstolos e as autoridades, depois da glorificação de Jesus, Pedro
deixou isso bem claro quando disse em Atos 4.10–12:
10. Tomai conhecimento, vós todos e todo povo de Israel, de que, em
nome de Jesus Cristo, o Nazareno, a quem vós crucificastes, e a quem
Deus ressuscitou dentre os mortos, sim, em seu nome é que este está
curado perante vós.
11. Este Jesus é pedra rejeitada por vós, os construtores, a qual se
tornou a pedra angular.
12. E não há salvação em nenhum outro; porque abaixo do céu não
existe nenhum outro nome, dado entre os homens, pelo qual importa
que sejamos salvos.
4. O verso 20 registra que os discípulos partiram para o cumprimento de sua
missão. Depois da ordem de Jesus (v. 15), os discípulos foram anunciando as
boas novas de salvação em nome de Jesus Cristo. Porém, como é possível
deduzir, a proclamação das boas novas só aconteceu depois de terem ficado
em Jerusalém aguardando, em oração, a promessa da vinda do Espírito Santo
(At 1.4,12–14), a qual se concretizou no dia de Pentecostes (At 2.1–4).
5. O relato é significativo, pois como vemos por todo o livro de Atos, todos
os apóstolos se envolveram na proclamação do reino de Deus (At 2.43),
incluindo o próprio Marcos, o autor desse evangelho (At 13.5; 15.37–39).
Sim! Recebendo a ordem e autoridade de Jesus os discípulos difundiram a
mensagem do evangelho por todo o mundo antigo. Em aproximadamente 30
anos o evangelho saiu de Jerusalém e chegou a Roma, a capital do grande
Império.
6. Ainda conforme o verso 20, o Senhor Jesus cooperava com eles no
ministério de proclamação da Palavra. A promessa que Mateus registrou
estava se cumprindo literalmente: E eis que estou convosco todos os dias até
a consumação do século (Mt 28.20). E a grande bênção para nós é que essa
promessa ainda é válida. Jesus está conosco continuamente e, certamente,
quando nos dispomos a anunciar as boas novas de salvação fazendo e
trazendo novos discípulos para o seguirem.
7. A última frase do livro de Marcos carrega uma palavra de esperança,
segurança e vitória, pois o Senhor Jesus confirmava o ministério dos
discípulos. Jesus confirmava a palavra por meio de sinais, que se seguiam,
conforme Lucas testemunhou no seu livro que registrou o início da igreja
cristã (At 2.43; 5.12; 6.8; 8.6,13; 14.3; 15.12; 19.11). E a boa notícia é que
essa esperança, segurança e vitória estão disponíveis a nós, se crermos (v. 17).
Ao final deste estudo constatamos que ele é básico para nossa fé. Assim como
a morte de Jesus nos proporcionou a possibilidade de entrarmos no Santo dos
Santos, a ressurreição e a ascensão de Jesus nos concedeu autoridade para
proclamar o evangelho.
O evangelho de Marcos salienta o poder de Jesus assim como a sua posição
de servo. A vida e os ensinos de Jesus transformaram o mundo. Jesus tinha toda
a autoridade e poder, mas preferiu servir o ser humano.
Seguir a Jesus significa receber este mesmo poder para servir. Como cristãos,
somos chamados para ser servos. Assim como Cristo serviu, nós devemos servir
também!
Amém!
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Notas
[←1]
Santos, J. C. dos. (2012). Prefácio. In I. Mazzacorati (Org.), Comentário Bíblico de Marcos:
Através da Bíblia (Primeira edição, p. 1–237). São Paulo, SP: Rádio Trans Mundial.