Direitos Humanos - Noções Gerais

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 Atualizado em 13/11/2023

SUMÁRIO
DIREITOS HUMANOS ................................................................................................................................ 2
JUSNATURALISMO VS. ESCOLA POSITIVISTA .......................................................................................... 2
DIREITOS DO HOMEM, DIRETOS FUNDAMENTAIS E DIREITOS HUMANOS ............................................... 2
PRINCÍPIOS DE INTERPRETAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS .................................................................... 3
CARACTERÍSTICAS DOS DIREITOS HUMANOS ......................................................................................... 4
GERAÇÕES OU DIMENSÕES DOS DIREITOS HUMANOS ............................................................................ 7
TEORIA DOS STATUS (GEORG JELLINEK).................................................................................................. 8
IDC – INCIDENTE DE DESLOCAMENTO DE COMPETÊNCIA ........................................................................ 9
BLOCO DE CONSTITUCIONALIDADE ...................................................................................................... 13
JUSTICIABILIDADE DOS DIREITOS SOCIAIS ............................................................................................ 14
TEORIA DO DUPLO ESTATUTO DOS TRATADOS INTERNACIONAIS DE DIREITOS HUMANOS .................... 15
PROCESSO DE INCORPORAÇÃO DOS TRATADOS INTERNACIONAIS........................................................ 16
CONTROLE DE CONVENCIONALIDADE .................................................................................................. 20
EIXO DA PROTEÇÃO DE DIREITOS NO PLANO INTERNACIONAL .............................................................. 23
SISTEMA GLOBAL VS. SISTEMAS REGIONAIS ........................................................................................ 23
CARTA INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS (INTERNATIONAL BILL OF RIGHTS)........................... 24
INFORMATIVOS 2023 DO STF ................................................................................................................. 27
INFORMATIVOS 2023 DO STJ .................................................................................................................. 31

Área do aluno:
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DIREITOS HUMANOS

AUTOR: MARCO TORRANO


INSTAGRAM: @MARCOAVTORRANO/@PROLEGES
E-MAIL: [email protected]

JUSNATURALISMO
VS. ESCOLA POSITIVISTA

O que se entende por jusnaturalismo?


É a corrente do pensamento jurídico segundo a qual existe um conjunto de normas vinculantes anterior e
superior ao sistema de normas fixadas pelo Estado (ou seja, superior ao direito posto).

Jusnaturalismo Escola Positivista


De cunho metafísico, pois se funda na existência de Escola positivista, de forte influência ao longo dos sé-
um direito preexistente ao direito produzido pelo ho- culos XIX e XX, traduziu a ideia de um ordenamento
mem, oriundo de Deus (escola de direito natural de jurídico produzido pelo homem, de modo coerente e
razão divina) ou da natureza inerente do ser humano hierarquizado.
(escola de direito natural moderno).
Seus adeptos defendem a superioridade de normas Para os positivistas, essas normas reveladoras da jus-
escritas e inerentes a todos os seres humanos, reve- tiça não pertencem ao ordenamento jurídico, não se
ladoras da justiça, em face de normas postas incom- falando em antagonismo/choque com a norma posta
patíveis. (= direto posto).
Referência bibliográfica: RAMOS, André de Carvalho Ramos. Curso de Direitos Humanos..., 2021.

DIREITOS DO HOMEM, DIRETOS FUNDAMENTAIS


E DIREITOS HUMANOS

Direitos Direitos Diretos


do Homem Fundamentais Humanos
Direitos não expressamente pre- Direitos previstos nos textos cons- Direitos previstos em normas in-
vistos no direito interno ou no di- titucionais. ternacionais, especialmente em
reito internacional (cunho jusnatu- tratados internacionais.
ralista).

Fonte da imagem: MAZZUOLI, Valerio de Oliveira. Curso de Direitos Humanos. 6. ed. Rio de Janeiro: Forense. 2019.

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PRINCÍPIOS DE INTERPRETAÇÃO
DOS DIREITOS HUMANOS

Princípios de interpretação dos direitos humanos


Princípio pro homine (ou pro persona)
1. Exige que a interpretação dos direitos humanos seja sempre a que tem por objetivo a proteção da
pessoa humana.
Máxima efetividade
(regra do efeito útil, effet utile
2. ou principle of effectiveness)
A interpretação deve ter por resultado a que mais proteja e efetive os direitos humanos.
Eficácia direta (ou autoexecutoriedade)
3. Significa que os Estados não podem alegar ausência de lei para que os direitos humanos possam ser
aplicados (são autoexecutáveis).
Interpretação autônoma
4. Os tratados de direitos humanos são interpretados de forma autônoma, e não de acordo com o di-
reito interno.
Interpretação evolutiva (ou dinâmica)
5. Os tratados de direitos humanos devem ser interpretados de acordo com a realidade (no momento
de sua aplicação).
*Tabela baseada na obra RAMOS, André de Carvalho Ramos. Curso de Direitos Humanos..., 2021.
 (Defensor DPEPI 2022 Cespe correta) Em consideração ao princípio interpretativo das convenções sobre direitos humanos, os
Estados nacionais podem ampliar a proteção dos direitos humanos em seus sistemas domésticos, por meio do princípio pro perso-
nae, interpretando os tratados e as sentenças internacionais da maneira mais favorável possível àquele cujos direitos tenham sido
violados.

O que se entende por


teoria da margem de apreciação
(margin of appreciation)?
“Essa tese [teoria da margem de apreciação] é baseada na subsidiariedade da jurisdição internacional e
prega que determinadas questões polêmicas relacionadas com as restrições estatais a direitos protegidos
devem ser discutidas e dirimidas pelas comunidades nacionais, não podendo o juiz internacional apreciá-
las. Assim, caberia, a princípio, ao próprio Estado estabelecer os limites e as restrições ao gozo de direitos
em face do interesse público” (RAMOS, André de Carvalho. Teoria geral dos direitos humanos na ordem
internacional. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2012).
É utilizada com frequência pela Corte Europeia de Direitos Humanos. E também, mas de maneira excepcio-
nal, pela Corte Interamericana (nessa última, por exemplo: Caso Castañeda Gutman; OC 24/2016; OC
4/1984).
 Caso Castañeda Gutman: a Corte IDH entendeu que cabe aos Estados uma “margem de apreciação” para
definirem as características dos seus sistemas eleitorais.
 OC 24/2017: conferiu margem de apreciação sobre a natureza do procedimento para alteração de regis-
tros de identidade de gênero autopercebida.
 OC 4/1984: a Corte IDH admitiu expressamente uma margem de apreciação por parte dos Estados a res-
peito da fixação dos requisitos exigidos para a naturalização, desde que não sejam arbitrário ou discrimina-
tórios.
 (Defensor DPEMA 2011 Cespe incorreta). Consoante a teoria da margem de apreciação, nenhuma norma
de direitos humanos pode ser invocada para limitar o exercício de qualquer direito.

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 (Defensor DPEPB 2014 FCC incorreta). A teoria da margem da apreciação é baseada na subsidiariedade
da jurisdição internacional e ponderada pelo princípio da proporcionalidade, sendo esse instrumento de
interpretação adotado frequentemente pela Corte Interamericana de Direitos Humanos.
 (Defensor DPEPE 2018 Cespe incorreta). A teoria da margem da apreciação nacional poderá ser utilizada
em substituição ao princípio da proporcionalidade.
 (Defensor DPEPE 2018 Cespe incorreta). A aplicação dessa teoria exige uma decisão vinculante pelo Es-
tado com base em uma menor capacidade decisória (NA VERDADE: HÁ UMA MAIOR CAPACIDADE DECISÓ-
RIA DO ESTADO EM DETRIMENTO DOS ÓRGÃOS INTERNACIONAIS).
 (Defensor DPEMG 2019 Fundep correta). De acordo com a Teoria da Margem de Apreciação, em certos
casos polêmicos, deve-se aceitar a posição nacional sobre o tema, evitando impor soluções interpretativas
às comunidades nacionais.
A teoria da margem de apreciação já foi utilizada pelo STJ?
SIM, na análise da tipificação do crime de desacato.
• Ainda que existisse decisão da Corte (IDH) sobre a preservação dos direitos humanos, essa circuns-
tância, por si só, não seria suficiente a elidir a deliberação do Brasil acerca da aplicação de eventual
julgado no seu âmbito doméstico, tudo isso por força da soberania que é inerente ao Estado. Apli-
cação da Teoria da Margem de Apreciação Nacional (margin of appreciation). O desacato é especial
forma de injúria, caracterizado como uma ofensa à honra e ao prestígio dos órgãos que integram
a Administração Pública. Apontamentos da doutrina alienígena. O processo de circunspeção evo-
lutiva da norma penal teve por fim seu efetivo e concreto ajuste à proteção da condição de funcio-
nário público e, por via reflexa, em seu maior espectro, a honra lato sensu da Administração Pú-
blica. Preenchimento das condições antevistas no art. 13.2. do Pacto de São José da Costa Rica, de
modo a acolher, de forma patente e em sua plenitude, a incolumidade do crime de desacato pelo
ordenamento jurídico pátrio, nos termos em que entalhado no art. 331 do Código Penal. STJ. 3ª
Seção. HC 379.269/MS, Rel. Min. Reynaldo Soares Da Fonseca, Rel. p/ Acórdão Ministro Antonio Sal-
danha Palheiro, julgado em 24/05/2017.
 (Juiz TJM/MG 2022 Fundep correta) O STJ, no julgamento do HC 379269 e do HC 141949, em sede de controle de convenciona-
lidade, perfilhou o entendimento de que o crime de desacato não estaria em conflito com o Pacto de São José da Costa Rica,
inexistindo ofensa à liberdade de expressão e do pensamento, mostrando-se a conduta tipificada compatível com o Estado Demo-
crático de Direito. Dentre os argumentos trazidos, o da teoria da margem de apreciação tem como característica: A criação de uma
margem de discricionariedade para temperamento de algumas decisões proferidas internacionalmente, quando de seu cumpri-
mento no âmbito interno.

CARACTERÍSTICAS
DOS DIREITOS HUMANOS

Características dos direitos humanos


Universalidade ou universalismo
O universalismo atribui os direitos humanos a todos os seres humanos, sem qualquer distinção. A
universalidade possui vínculo indissociável com o processo de internacionalização dos direitos hu-
manos.
 Defensor DPEES 2012 Cespe (correta): A universalidade e a indivisibilidade são características próprias da
concepção contemporânea dos direitos humanos.

1. Obs. Segundo os que defendem o relativismo cultural, o universalismo é ocidental e desconsidera as


diferentes culturas mundiais.

Obs2. Tentando solucionar esse embate entre universalismo e relativismo cultural, a doutrina apre-
sentou algumas propostas filosóficas:
a) Boaventura de Souza Santos (hermenêutica diatópica): a concepção multicultural de direitos hu-
manos – a hermenêutica diatópica como caminho para o diálogo intercultural (artigo:
https://bit.ly/3ooNjjQ).

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 (Procurador PGERO 2022 Cespe correta) Boaventura de Sousa Santos propõe uma superação do debate so-
bre universalismo e relativismo a partir de uma concepção multicultural dos direitos humanos.
b) Herrera Flores (o universalismo de chegada ou de confluência).
 (Defensor DPERR 2013 Cespe correta) O conceito de universalismo de chegada sintetiza as garantias univer-
sais aptas a sustentar uma teoria dos direitos humanos intercultural.
 (Defensor DPETO 2022 Cespe correta) O universalismo de chegada corresponde a uma concepção discursiva,
fruto do entrecruzamento dos diversos particularismos e o universal, em uma ampla gama de relações que en-
volvem o local–global e o global–local.

Obs3. Relativismo forte vs. Relativismo fraco:


“A doutrina relativista sustenta, basicamente, que os meios culturais e morais de determinada sociedade devem ser
respeitados, ainda que em detrimento da proteção dos direitos humanos nessa mesma sociedade. Entende tal doutrina
que não existe uma moral universal, e que o conceito de moral, assim como o de direito, deve ser compreendido levando-
se em consideração o contexto cultural em que se situa. O relativismo pode ser forte ou fraco. O relativismo forte atribui
à cultura a condição de fonte principal de validade das regras morais ou jurídicas. O relativismo fraco, por sua vez, sus-
tenta que a cultura pode ser um auxiliar importante na determinação de validade de uma regra de direito ou moral”
(MAZZUOLI, Valerio de Oliveira. Curso de Direitos Humanos. 6. ed. Rio de Janeiro: Forense. 2019).

Indivisibilidade, interdependência e unidade


Indivisibilidade: todos os direitos humanos possuem a mesma proteção jurídica, pois são essenciais
para uma vida digna.
Interdependência ou inter-relação: reconhecimento de que todos os direitos humanos contribuem
(e se complementam) para a concretização da dignidade humana.
Unidade: os direitos humanos formam uma unidade de direitos tida como indivisível, interdepen-
dente e inter-relacionada.
2. “O propósito da Conferência de Viena de 1993 foi o de revigorar a memória da Declaração Universal de 1948, trazendo
novos princípios (além do já consagrado princípio da universalidade) para os direitos humanos contemporâneos, quais
sejam:
1) Princípio da indivisibilidade: os direitos humanos – direitos civis e políticos e direitos sociais, econômicos e culturais
– não se sucedem em gerações, mas, ao contrário, se cumulam e se fortalecem ao longo dos anos;
2) Princípio da interdependência: os direitos do discurso liberal hão de ser sempre somados com os direitos do discurso
social da cidadania, além do que democracia, desenvolvimento e direitos humanos são conceitos que se reforçam mu-
tuamente;
3) Princípio da inter-relacionariedade: os direitos humanos e os vários sistemas internacionais de proteção não devem
ser entendidos de forma dicotômica, mas, ao contrário, devem interagir em prol de sua garantia efetiva” (MAZZUOLI,
Valerio de Oliveira. Curso de Direitos Humanos. 6. ed. Rio de Janeiro: Forense. 2019).

Abertura dos direitos humanos, não exaustividade e fundamentalidade


Abertura dos direitos humanos: é a possibilidade de expansão do rol dos direitos humanos (não
exauribilidade ou não exaustividade = rol exemplificativo).
Obs. O art. 5º, § 2º, da CF/88 prevê o princípio da não exaustividade dos direitos fundamentais (aber-
3. tura da Constituição aos direitos humanos).
Obs2. A abertura está relacionada com a fundamentalidade dos direitos humanos no ordenamento
jurídico. Os direitos humanos possuem uma fundamentalidade formal (por estarem previstos em
normas constitucionais e em tratados de direitos humanos), mas possuem, ainda, uma fundamenta-
lidade material (reconhecimento da indispensabilidade de determinado direito para a promoção da
dignidade humana).
Imprescritibilidade, inalienabilidade, irrenunciabilidade/indisponibilidade
Imprescritibilidade: os direitos humanos não se perdem pela passagem do tempo.
 (Defensor DPEPI 2009 Cespe correta): A imprescritibilidade dos direitos fundamentais vincula-se à sua proteção con-
tra o decurso do tempo.
4.
Inalienabilidade: não é possível atribuir uma dimensão pecuniária dos direitos humanos para fins de
venda.
Irrenunciabilidade/indisponibilidade: impossibilidade de o titular abrir mão de sua condição humana
e permitir a violação dos seus direitos (ex.: caso francês – “arremesso de anões”).

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 (Procurador SEGEPMA 2016 FCC correta): A irrenunciabilidade determina que a autorização ou consentimento do
titular do direito humano não justifica ou convalida qualquer violação ao seu conteúdo.

Proibição/vedação do retrocesso (efeito cliquet ou princípio do não retorno da concretização)


5. Os direitos humanos não admitem regresso, admitindo somente aprimoramentos e acréscimos em
seu catálogo de direitos.
Relativização/relatividade dos direitos humanos
6. Os direitos humanos podem sofrer limitações (= podem ser relativizados).
Em regra, os direitos humanos guardam em si a característica da relatividade.
Questões
 (Promotor MPEMT 2008 FMP correta) Sobre os direitos humanos, têm como características a universa-
lidade, a historicidade e a indivisibilidade.
 (Policial Rodoviário Federal PRD 2015 Cespe correta) A historicidade, a inalienabilidade, a imprescritibi-
lidade, a irrenunciabilidade, a relatividade, a universalidade e a aplicabilidade imediata são características
dos direitos humanos.
 (Defensor DPEPA 2015 FMP correta) Os direitos humanos são caracterizados pela indivisibilidade e com-
plementariedade, de forma que compõem um único conjunto de direitos, cuja observância deve ser sistê-
mica e lastreada no princípio da dignidade da pessoa humana.
Subespécies do princípio da proibição do retrocesso. André de Carvalho Ramos identifica cinco subespécies
da proibição do retrocesso já reconhecidas pelo STF ou em debate na doutrina:
i) vedação do retrocesso social: atingido determinado nível de natureza prestacional (direito social), busca-
se evitar/reduzir/suprimir qualquer tentativa de retrocesso.
“Para a Min. Cármen Lúcia, que foi relatadora da Ação Direta de Inconstitucionalidade sobre a reforma da
Previdência Social (julgada improcedente), a proibição do retrocesso só seria aplicada se a aposentadoria,
enquanto direito social, fosse abolida, mas não seria o caso de invocá-la no caso de mudança dos critérios
para aposentadoria tão somente (ADI 3104)” (RAMOS, 2020).
ii) vedação do retrocesso político: trata-se da aplicação da proibição do retrocesso no âmbito do Direito
Eleitoral.
“Para a Min. Cármen Lúcia, a proibição de retrocesso político- constitucional impede que direitos conquistados
(como o da garantia de voto secreto pela urna eletrônica) retroceda para dar lugar a modelo superado (voto
impresso) exatamente pela sua vulnerabilidade (ADI 4.543- MC, rel. Min. Cármen Lúcia, j. 19-10-2011, Plená-
rio)” (RAMOS, 2020).
iii) vedação do retrocesso civil: trata-se da aplicação da proibição do retrocesso no âmbito do Direito Civil.
“A tese fixada pelo VER (repercussão geral) estabelece que “é inconstitucional a distinção de regimes suces-
sórios entre cônjuges e companheiros prevista no art. 1.790 do CC/2002, devendo ser aplicado, tanto nas
hipóteses de casamento quanto nas de união estável, o regime do art. 1.829 do CC/2002” (RE 878694/MG,
rel. Min. Roberto Barroso, j. 10-5-2017)” (RAMOS, 2020).
iv) vedação do retrocesso institucional: trata-se da aplicação da proibição do retrocesso no âmbito das ins-
tituições públicas e privadas.
“O Decreto n. 9.831, de 11 de junho de 2019, remanejou onze cargos de perito do Mecanismo Nacional de
Prevenção e Combate à Tortura – MNPCT para outra área do Poder Público federal, exonerando os seus ocu-
pantes, e determinando que a participação no Mecanismo seria considerada doravante “prestação de serviço
público relevante, não remunerada”. A Procuradoria-Geral da República ingressou com arguição de descum-
primento de preceito fundamental contra tal modificação no MNPCT, alegando vedação à proibição do retro-
cesso institucional. De fato, a medida teve caráter regressivo do ponto de vista institucional, na medida em
que esvaziou significativamente o MNPCT, órgão essencial para o combate à prática de tortura e demais tra-
tamentos degradantes ou desumanos em ambientes de detenção e custódia coletiva de pessoas, ao transfor-
mar o mecanismo, antes profissional, em trabalho voluntário e precário. Reduziu-se o âmbito de proteção
normativa ao direito de não submissão à tortura ou tratamentos e penas cruéis e degradantes de pessoas sob
custódia do Estado, configurando ofensa ao princípio da vedação do retrocesso institucional (petição inicial
da PGR, ADPF 607, rel. Min. Luiz Fux, em trâmite)” (RAMOS, 2020).

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v) vedação do retrocesso ecológico: trata-se da aplicação da proibição do retrocesso no âmbito do Direito
Ambiental.
“O princípio da proibição de retrocesso ecológico ou socioambiental é fruto da tutela constitucional (art. 225
da CF/88) e internacional do meio ambiente (Protocolo de San Salvador e Pacto Internacional de Direitos
Econômicos, Sociais e Culturais, entre outros), que restringe a discricionariedade do legislador (Estado- legis-
lador) na adoção de medidas contrárias à proteção ambiental, bem como impede que haja regresso no que
tange à estrutura organizacional do Estado (recursos humanos e materiais) voltada à implementação de po-
líticas públicas. A proibição do retrocesso ecológico evita uma atuação legislativa e administrativa inexistente
ou insuficiente na promoção do direito ao meio ambiente, sendo também faceta da proibição da proteção
deficiente dos direitos humanos. O VER reconheceu já a proibição do retrocesso socioambiental, exigindo a
avaliação da proporcionalidade e do respeito ao núcleo essencial dos direitos ecológicos por parte de novas
medidas restritivas adotadas pelos Poderes Públicos (VER, ADI 4.717/DF, rel. Min. Cármen Lúcia, j. 5-4-2018,
Dje 15-2-2019)” (RAMOS, 2020).
*Tabela baseada na obra RAMOS, André de Carvalho Ramos. Curso de Direitos Humanos..., 2021.

GERAÇÕES OU DIMENSÕES
DOS DIREITOS HUMANOS

A classificação a seguir não é uníssona na doutrina (adotamos a classificação do Prof. André de Carvalho Ramos):
Gerações ou dimensões dos direitos humanos
Teoria geracional
(Karel Vasak)
A teoria geracional foi desenvolvida por Karel Vasak (1979). Cada geração da referida teoria foi asso-
ciada a um dos componentes do dístico da Revolução Francesa: “liberté, egalité et fraternité” (liber-
dade, igualdade e fraternidade).
Direitos de liberdade (direitos civis e políticos).
Os direitos de primeira geração têm como base histórica a Constituição Ameri-
1ª geração
cana de 1787, e a Declaração Francesa dos Direitos do Homem e do Cidadão de
(liberdade)
1789, tendo, portanto, como marco as revoluções liberais do século XVIII na Eu-
ropa e Estados Unidos.
Direitos de igualdade (direito sociais). Precedentes históricos: Constituição Me-
xicana de 1917, Constituição alemã de Weimar de 1919 e, no direito internacio-
2ª geração nal, o Tratado de Versailles, que criou a Organização Internacional do Trabalho,
1. (igualdade) reconhecendo direitos dos trabalhadores.
 Defensor DPEAC 2012 Cespe (correta): A Constituição Mexicana de 1917 e a Constituição de
Weimar de 1919 são marcos da afirmação dos direitos humanos de segunda geração.

Direitos de fraternidade ou solidariedade (direito ao meio ambiente equili-


brado, direito à paz, direitos difusos e coletivos, transindividuais ou metaindivi-
duais).
Mauro Cappelletti: "A quem pertence a titularidade do ar que eu respiro?".
 (Juiz TJMSP 2016 Vunesp correta): Os direitos de terceira dimensão são direitos transindividu-
3ª geração ais que extrapolam os interesses do indivíduo, focados na proteção do gênero humano. Evidencia-
(fraternidade) se nesse contexto a ideia de humanismo e universalidade.
 (Auxiliar PCSP 2013 Vunesp adaptada correta): São direitos de primeira, segunda e terceira
gerações, respectivamente: civis, sociais e à paz.
 (Investigador PCSP 2018 Vunesp correta): Considerando a evolução histórica dos direitos hu-
manos, assinale a alternativa que indica corretamente as três gerações de direitos, na ordem his-
tórica em que elas são classificadas pela doutrina: Direitos de liberdade negativa, civis e políticos;
direitos econômicos, sociais e culturais; e direitos de fraternidade ou de solidariedade.

Paulo Bonavides
2.
e Norberto Bobbio

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Resultado da globalização dos direitos humanos: a) direito de participação de-
mocrática: Paulo Bonavides; e b) limites à manipulação genética: Norberto Bob-
bio.
4ª geração  (Promotor MPERO 2008 Cespe incorreta): A DUDH protege o genoma humano como unidade
fundamental de todos os membros da espécie humana e também reconhece como inerentes sua
dignidade e sua diversidade. Em um sentido simbólico, a DUDH reconhece o genoma como a he-
rança da humanidade.

Direito à paz (Karel Vasak à classifica como sendo de 3ª geração).


5ª geração  (Auxiliar PCSP 2013 Vunesp adaptada correta): São direitos de primeira, segunda e terceira
gerações, respectivamente: civis, sociais e à paz.

Como o STF utiliza a teoria geracional?


O Supremo Tribunal Federal utiliza a teoria geracional, com a seguinte síntese: “os direitos de PRIMEIRA
GERAÇÃO (direitos civis e políticos) – que compreendem as liberdades clássicas, negativas ou formais –
realçam o princípio da liberdade e os direitos de SEGUNDA GERAÇÃO (direitos econômicos, sociais, cultu-
rais e ambientais – DESCAs) – que se identifica com as liberdades positivas, reais ou concretas – acentuam
o princípio da igualdade, os direitos de TERCEIRA GERAÇÃO, que materializam poderes de titularidade
coletiva atribuídos genericamente a todas as formações sociais, consagram o princípio da solidariedade
e constituem um momento importante no processo de desenvolvimento, expansão e reconhecimento dos
direitos humanos, caracterizados, enquanto valores fundamentais indisponíveis, pela nota de uma essen-
cial inexauribilidade” (MS 22.164, rel. Min. Celso de Mello, j. 30/10/1995).
Críticas à teoria geracional:
i) transmite a ideia de uma geração substitui a anterior;
ii) transmite ideia historicista (como uma fosse consequência da outra), o que é falho, pois as Convenções da OIT (= direitos de
segunda geração) surgiram antes dos direitos de primeira geração.
iii) ofende a indivisibilidade (uma das características dos direitos humanos);
iv) ignora outras dimensões ou interpretações sobre o conteúdo dos direitos (como, por exemplo, os direitos de 1ª geração também
exigem prestações positivas por parte do Estado).
Obs. Para minimizar tais críticas, alguns utilizam a expressão “dimensões”, e não “gerações”. Porém, ainda assim, não afasta todas
as críticas levantadas.
 (Procurador MPT 2007 correta): o termo “geração” conduz à idéia equivocada de que os direitos humanos fundamentais se
substituem ao longo do tempo, enquanto “dimensão” melhor reflete o processo gradativo de complementaridade, pelo qual não
há alternância, mas sim expansão, cumulação e fortalecimento. (correta)
*Tabela baseada na obra RAMOS, André de Carvalho Ramos. Curso de Direitos Humanos..., 2021.

TEORIA DOS STATUS


(GEORG JELLINEK)

Teoria dos status (Georg Jellinek)


Trata-se de uma teoria desenvolvida no final do séc. XIX, no contexto das revoluções liberais, com forte
repúdio ao “jusnaturalismo”, de modo que a teoria dos status defende que os direitos devem ser traduzidos
em normas jurídicas estatais para que possam ser garantidos e concretizados.
 (Analista MPERS 2021 AOCP correta): Dentre as teorias que tentam explicar o papel desempenhado pelos direitos fundamen-
tais, existe a teoria dos quatro status de Jellinek, elaborada no final do século XIX.

Status passivo (status subjectionis ou estado de submissão)

1. É a posição de subordinação em face do Estado, o qual passa a ter atribuições e prerrogativas, aptas
a vincular o indivíduo e exigir determinadas condutas ou ainda impor limitações (proibições) a suas
ações. Surgem, portanto, deveres do indivíduo perante o bem comum.
Status negativo (status libertatis)
2. É o conjunto de limitações em face da ação do Estado (voltados para o respeito dos direitos do indi-
víduo). É a resistência do indivíduo em face do Estado.
3. Status positivo (status civitatis)

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Conjunto de pretensões do indivíduo para invocar a atuação do Estado em prol dos seus direitos
(atender os pleitos do indivíduo). Ex.: direito à moradia; direito à saúde.
Status ativo (status activus)
Conjunto de prerrogativas e faculdades que o indivíduo possui para participar da formação da von-
tade do Estado, refletindo no exercício de direitos políticos e no direito de aceder aos cargos em
órgãos públicos; ampliação para o status activus processualis (Peter Häberle – a sociedade aberta
4. dos intérpretes da Constituição: o indivíduo possui o direito à participação no procedimento da
tomada de decisão estatal, inclusive nos Tribunais Constitucionais).
O status activus processualis é visto, por exemplo, na adoção do amicus curiae e da audiência pública
no processo do controle abstrato de constitucionalidade no Brasil (Leis 9.868/99 e 9.862/99). Pode-
ríamos estender também para a Defensoria Pública na figura de custos vulnerabilis.
Referência bibliográfica: RAMOS, André de Carvalho Ramos. Curso de Direitos Humanos..., 2021.

Noções gerais
Questões
 (Promotor MPEPR 2019 correta) A edição da Declaração Universal de Direitos Humanos foi o marco da
universalidade e inerência dos direitos humanos.
 (Defensor DPEMS 2008 Vunesp correta) Considerando a evolução histórica, os marcos jurídicos funda-
mentais e a estrutura normativa dos Direitos Humanos, pode-se afirmar que a Declaração Universal dos
Direitos Humanos introduziu internacionalmente a concepção contemporânea desses direitos.
 (Promotor MPEPR 2012 correta) A Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948, representou
um avanço radical, em relação à Declaração americana de 1776 ou à proclamação francesa de 1789, pois
incluiu não apenas direitos políticos básicos, mas também o direito ao trabalho, o direito à educação, a
proteção contra o desemprego e a pobreza, o direito de sindicalização e até mesmo o direito a uma remu-
neração justa e favorável.
 (Defensor DPEAM 2011 Instituto Cidades correta) A Declaração Universal de Direitos Humanos, procla-
mada em Paris, em 10 de dezembro de 1948, tem como fundamento: a dignidade da pessoa humana. (cor-
reta)
 (Defensor DPEMA 2009 FCC correta) Ao introduzir a concepção contemporânea de direitos humanos, a
Declaração Universal de Direitos Humanos de 1948 afirma que a universalidade, a indivisibilidade e a inter-
dependência dos direitos humanos, conferindo paridade hierárquica entre direitos civis e políticos e direitos
econômicos, sociais e culturais.
 (Defensor DPEMS 2008 Vunesp adaptada correta) A Declaração Universal dos Direitos Humanos intro-
duziu internacionalmente a concepção contemporânea dos direitos humanos.
 (Defensor DPEMS 2008 Vunesp correta) Quando se fala em Direitos Humanos, considerando sua histo-
riciedade, é correto dizer que a internacionalização dos Direitos Humanos surge a partir do Pós-Guerra,
como resposta às atrocidades cometidas durante o nazismo.
 (Delegado PCPA 2021 AOCP correta) A partir de um resgate da visão kantiana, a única condição exigida
para que alguém seja titular de Direitos Humanos é sua condição de ser humano.
 (Defensor DPEES 2012 Cespe incorreta) A universalidade dos direitos humanos, necessariamente, impõe
a visão de mundo ocidental plasmada na Declaração Universal de Direitos Humanos.

IDC – INCIDENTE DE DESLOCAMENTO


DE COMPETÊNCIA

IDC – INCIDENTE DE DESLOCAMENTO DE COMPETÊNCIA


 Previsão: art. 109, § 5º, da CF/88.
§ 5º Nas hipóteses de grave violação de direitos humanos, o Procurador-Geral da República, com a
finalidade de assegurar o cumprimento de obrigações decorrentes de tratados internacionais de direitos

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humanos dos quais o Brasil seja parte, poderá suscitar, perante o Superior Tribunal de Justiça, em qualquer
fase do inquérito ou processo, incidente de deslocamento de competência para a Justiça Federal.

LEGITIMIDADE ➔ Procurador Geral da República (PGR).

COMPETÊNCIA ➔ Superior Tribunal de Justiça (STJ).


 (Analista DPEAM 2022 FCC correta) Para a federalização de um crime contra os direitos humanos, o incidente de deslocamento
de competência deve ser impetrado pelo Procurador-Geral da República no Superior Tribunal de Justiça.

Em qualquer fase do inquérito ou processo.


MOMENTO ➔
 Ou seja, pré-processual ou processual.

Cível ou criminal, bem como qualquer espécie de direitos humanos,


ABRANGÊNCIA ➔ desde que se refiram a casos de “graves violações de direitos huma-
nos”.

➔ Grave violação de direitos humanos.


REQUISITOS ➔ Autoridades locais (falhas).
PARA OCORRÊNCIA DO IDC
Risco de responsabilização do Brasil por violação às normas interna-

cionais de direitos humanos.
 Nas palavras do STJ: “Os requisitos do incidente de deslocamento de competência são: a) grave violação
de direitos humanos; b) necessidade de assegurar o cumprimento, pelo Brasil, de obrigações decorrentes de
tratados internacionais; c) incapacidade - oriunda de inércia, omissão, ineficácia, negligência, falta de vontade
política, de condições pessoais e/ou materiais, etc. - de o Estado-Membro, por suas instituições e autorida-
des, levar a cabo, em toda a sua extensão, a persecução penal (IDC n. 1/PA, Terceira Seção do STJ).” (IDC n.
9/SP, relator Ministro João Otávio de Noronha, Terceira Seção, julgado em 10/8/2022, Info 744).

Info 1107/STF:
o IDC é constitucional e de aplicabilidade imediata
DIREITO CONSTITUCIONAL – EMENDA À CONSTITUIÇÃO; DIREITOS HUMANOS; PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS;
DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS; COMPETÊNCIA JURISDICIONAL; TRIBUNAIS REGIONAIS FEDERAIS
E JUÍZES FEDERAIS
DIREITO PROCESSUAL CIVIL – INCIDENTE DE DESLOCAMENTO DE COMPETÊNCIA; JUSTIÇA FEDERAL
EC 45/2004: INCIDENTE DE DESLOCAMENTO DE COMPETÊNCIA NAS HIPÓTESES DE GRAVE VIOLAÇÃO DE
DIREITOS HUMANOS.
É constitucional — por não afrontar a forma federativa de Estado e os direitos e as garantias individuais
— o art. 1º da EC 45/2004, no que se refere à criação do incidente de deslocamento de competência (IDC)
para a Justiça Federal, nas hipóteses de grave violação de direitos humanos (inclusão do inciso V-A e do §
5º ao art. 109 da CF/1988).
A aplicabilidade do IDC é imediata (não é necessária norma legal regulamentadora, pois o art. 109, § 5º, da
CF, possui todos os requisitos para a incidência do IDC), atribuindo-se ao Procurador-Geral da República
(PGR) a responsabilidade de verificar a ocorrência de grave violação dos direitos humanos, previstos em
instrumentos normativos internacionais, sem o intermédio de uma legislação de regência.
STF. Plenário. ADIs 3.486/DF e 3.493/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 11.9.2023 (Info 1107).

Resumo:
A criação do IDC representa a adoção de mecanismo de equacionamento jurídico da problemática da
ineficiência do aparato estatal de repressão às graves violações dos direitos humanos. Considerou-se, em
especial, o papel da União como garante, em nível interno e externo, dos compromissos internacionais fir-
mados pelo Brasil com relação ao tema (1), de modo que a federalização dessas específicas causas é medida
excepcional e subsidiária.

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Nesse contexto, a retirada de parcela da competência jurisdicional da magistratura estadual não enseja
quebra de cláusula pétrea (CF/1988, art. 60, § 4º, I e IV), nem ofensa ao pacto federativo ou a qualquer
cláusula de autonomia dos órgãos judiciários locais, em razão do caráter único e nacional do Poder Judiciá-
rio.
Também não há qualquer ofensa à legalidade, à segurança jurídica, ao devido processo legal, ao contra-
ditório e à ampla defesa, ao princípio do juiz natural, bem como à garantia constitucional do Tribunal do
Júri.
Não é necessária norma legal regulamentadora, pois o preceito constitucional (art. 109, § 5º, da CF) já
possui todos os elementos qualificadores necessários à sua incidência (CF/1988, art. 5º, § 1º).
Assim, o papel atribuído ao PGR configura mecanismo de equilíbrio e ponderação: ele tem o dever-poder
de suscitar o deslocamento quando observar a presença dos requisitos. Não há se falar em arbitrariedade
na formulação desse ato, que, em última análise, se submeterá ao crivo do STJ, cuja apreciação é pautada
por critérios jurídicos e não políticos.
Com base nesses e em outros entendimentos, o Plenário, por unanimidade, em apreciação conjunta, jul-
gou improcedentes as ações, para assentar a constitucionalidade do art. 1º da EC 45/2004, relativamente à
inclusão do inciso V-A e do § 5º ao art. 109 da CF/1988 (2).

(1) CF/1988: “Art. 21. Compete à União: I – manter relações com Estados estrangeiros e participar de orga-
nizações internacionais; (...) Art. 49. É da competência exclusiva do Congresso Nacional: I – resolver defini-
tivamente sobre tratados, acordos ou atos internacionais que acarretem encargos ou compromissos gravo-
sos ao patrimônio nacional; (...) Art. 84. Compete privativamente ao Presidente da República: (...) VIII – ce-
lebrar tratados, convenções e atos internacionais, sujeitos a referendo do Congresso Nacional;”
(2) CF/1988: “Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:
(...)
V – A as causas relativas a direitos humanos a que se refere o § 5º deste artigo;
(...)
§ 5º Nas hipóteses de grave violação de direitos humanos, o Procurador-Geral da República, com a finali-
dade de assegurar o cumprimento de obrigações decorrentes de tratados internacionais de direitos huma-
nos dos quais o Brasil seja parte, poderá suscitar, perante o Superior Tribunal de Justiça, em qualquer fase
do inquérito ou processo, incidente de deslocamento de competência (IDC) para a Justiça Federal.”

IDCs já julgados
Até 12/09/2023, a Terceira Seção do STJ já julgou onze incidentes de deslocamento de competência e, em
seis casos, determinou a transferência da competência para a Justiça Federal. Confira a relação:
IDC Caso Deslocamento
IDC 1
Homicídio da missionária americana Dorothy Stang no Estado do Pará. Improcedente
2005
Assassinato do advogado e vereador pernambucano Manoel Bezerra de Mat-
IDC 2 tos Neto, no Município de Pitimbu/PB, depois de sofrer diversas ameaças e
Procedente
2010 atentados, supostamente em decorrência de sua atuação contra grupos de ex-
termínio.
IDC 3 Deslocamento de investigações em Goiás relativas a crimes supostamente pra-
Procedente
2013 ticados por membros de unidades militares de elite.
Homicídio de um promotor de Justiça de Pernambuco, vítima de grupos de
IDC 5
extermínio atuantes no interior do estado, no chamado Triângulo da Pistola- Procedente
2014
gem.
IDC 14 Apuração dos fatos ocorridos na greve protagonizada pelos policiais militares
Improcedente
2018 do Estado do Espírito Santo em 2017.

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IDC 10 Chacina do Cabula, operação policial conduzida em Salvador/BA que resultou
Improcedente
2018 na morte de 12 pessoas entre 15 e 28 anos.
IDC 24 Investigação sobre os mandantes do assassinato da vereadora Marielle Franco
Improcedente
2020 e de seu motorista, Anderson Gomes.
IDC 21 Apuração contra autoridades policiais supostamente responsáveis pelas cha-
Improcedente
2021 cinas ocorridas na Favela Nova Brasília, no Estado do Rio de Janeiro.
IDC 15 Caso do Lagosteiro, que envolve crimes contra a vida praticados por integran-
Procedente
2022 tes de grupos de extermínio no Ceará.
IDC 9 Chacina do Parque Bristol, no contexto do Maio Sangrento, em represália à
Procedente
2022 rebelião nos presídios paulistas.
Homicídio de lideranças de movimentos em prol de trabalhadores rurais e das
IDC 22
pessoas que denunciaram grilagem de terras e extração ilegal de madeira, Procedente
2023
ocorridos em contexto de conflito agrário no Estado de Rondônia.

Questões
 (Promotor MPEPA 2023 Cespe correta) No que concerne à decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ)
no caso Irmã Dorothy Stang, dada a amplitude e a magnitude da expressão “direitos humanos”, é verossímil
que o constituinte derivado tenha optado por não definir o rol dos crimes que passariam para a competência
da justiça federal, sob pena de restringir os casos de incidência do dispositivo.
 (Juiz TJMS 2023 FGV correta) De acordo com o entendimento do Superior Tribunal de Justiça, é sempre
necessário, entre outros pressupostos, haver evidência de que os órgãos do sistema estadual não mostram
condições de seguir no desempenho da função de apuração, processamento e julgamento do caso com a
devida isenção.
 (Procurador da República MPF 2022 correta) A legitimidade para propositura é de titularidade exclusiva
do Procurador-Geral da República.
 (Defensor DPEAP 2022 FCC correta) Conforme previsão constitucional, tem legitimidade, exclusiva ou
não, para suscitar o incidente de deslocamento de competência para fins de federalização de casos de grave
violação de direitos humanos, o Procurador-Geral da República.
 (Procurador ALSP 2022 Vunesp correta) Uma das formas de proteção dos direitos humanos no direito
brasileiro é a federalização de crimes graves contra os direitos humanos, que pode ser efetivada por meio
de incidente de deslocamento de competência para a Justiça Federal, no inquérito ou no processo, suscitado
pelo Procurador-Geral da República, perante o Superior Tribunal de Justiça, com a finalidade de assegurar
o cumprimento de obrigações decorrentes de tratados internacionais de direitos humanos dos quais o Brasil
seja parte.
 (Juiz TJM/MG 2022 Fundep correta) Para o acolhimento do incidente de deslocamento de competência,
é necessária a demonstração do caráter excepcionalíssimo de seu uso, diante de sua necessidade e
imprescindibilidade.
 (Consultor Legislativo Senado Federal 2022 FGV correta) Com a finalidade de assegurar o cumprimento
de obrigações decorrentes de tratados internacionais de direitos humanos dos quais o Brasil seja parte, o
Procurador-Geral da República, na hipótese de grave violação a tais direitos, poderá suscitar, perante o
Superior Tribunal de Justiça, em qualquer fase do inquérito ou processo, incidente de deslocamento de
competência para a Justiça Federal.

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BLOCO DE
CONSTITUCIONALIDADE

Bloco de constitucionalidade amplo


 Além da própria Constituição escrita, reconhece-se como sendo de hierarquia constitucional outros
diplomas normativos (ex.: tratados internacionais sobre direitos humanos), inclusive normas infra-
constitucionais.
1.  Os defensores desta corrente fundamentam o bloco de constitucionalidade amplo com base no §
2º do art. 5º da CF/88: “§ 2º Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros
decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a
República Federativa do Brasil seja parte”.
 Não é a posição adotada pelo STF.
Bloco de constitucionalidade restrito
 Não obstante o § 2º do art. 5º da CF/88, o bloco de constitucionalidade restrito apenas abarca os
tratados internacionais aprovados pelo rito especial do art. 5º, § 3º, da CF/88, introduzido pela EC
45/2004.
 Exemplos de tratados aprovados de acordo com esse rito (= equivalentes à emenda constitucional,
ou seja, com status de norma constitucional):
(i) Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência
2. (ii) e seu Protocolo Facultativo,
(iii) o Tratado de Marraqueche para Facilitar o Acesso a Obras Publicadas às Pessoas Cegas, com
Deficiência Visual ou com outras Dificuldades para ter Acesso ao Texto Impresso, bem como
(iv) a Convenção Interamericana contra o Racismo.
 Exemplo de consequência prática: somente a CF/88 e os tratados internacionais retromencionados
(aprovados pelo rito especial do art. 5º, § 3º, CF) serviriam de parâmetro para fins de controle de
constitucionalidade a respeito de eventual lei federal em uma ADI.
 É a posição adotada pelo STF (bloco de constitucionalidade restrito).

Questões
 (Procurador ALMG 2023 Fumarc correta) Segundo a doutrina, bloco de constitucionalidade é o conjunto
de normas e princípios extraídos da Constituição, que serve de paradigma para o Poder Judiciário averiguar
a constitucionalidade das leis. Sobre o bloco de constitucionalidade e sua aplicação no direito brasileiro, é
CORRETO afirmar: O conceito de bloco de constitucionalidade, mesmo em sua máxima extensão, não
abrange as normas infraconstitucionais, ainda que materialmente constitucionais.
 (Delegado PF 2021 Cespe correta) Conforme o conceito de bloco de constitucionalidade, há normas
constitucionais não expressamente incluídas no texto da CF que podem servir como paradigma para o
exercício de controle de constitucionalidade.
 (Analista Prefeitura de Fundão/ES 2020 IDCAP correta) Bloco de constitucionalidade consiste no
conjunto de normas de nível constitucional que servem para o confronto de aferição de constitucionalidade
das demais normas que integram o Ordenamento Jurídico, ou seja, servem de parâmetro para o controle
de constitucionalidade.
 (Consultor Legislativo Senado Federal 2022 FGV incorreta) Os tratados e convenções internacionais
sobre direitos humanos são automaticamente incorporados ao ordenamento brasileiro como normas
equivalentes às emendas constitucionais, inserindo-se no bloco de constitucionalidade como cláusula
pétrea.
 (Juiz Federal TRF4R incorreta) No Brasil, o controle de convencionalidade de matriz nacional – exame da
compatibilidade das normas nacionais diante das normas internacionais de direitos humanos – deve ser
exercido exclusivamente pelo Supremo Tribunal Federal, exceto diante das normas internacionais que
compõem o bloco de constitucionalidade restrito – aprovadas pelo rito especial do art. 5º, § 3º, da
Constituição Federal,– cujo controle de convencionalidade deve ser exercido por todos os juízes e tribunais.

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JUSTICIABILIDADE DOS DIREITOS SOCIAIS

Proibição do retrocesso
Efeito cliquet, princípio do não retorno Consiste na vedação da eliminação da concretização já alcan-
da concretização ou princípio da proibi- çada na proteção de algum direito, admitindo-se somente de
ção da evolução reacionária aprimoramentos e acréscimos.
Consiste na preservação do mínimo já concretizado dos direitos
Entrenchment fundamentais, impedindo o retrocesso, que poderia ser reali-
ou entrincheiramento zado pela supressão normativa ou ainda pelo amesquinhamento
ou diminuição de suas prestações à coletividade.
Proibição do Proteção contra efeitos retroativos: este é proibido por ofensa
retrocesso ao ato jurídico perfeito, à coisa julgada e ao direito adquirido.
vs. Proibição do retrocesso: proíbe as medidas de efeitos retrocessi-
Proteção contra vos, que são aquelas que objetivam a supressão ou diminuição
efeitos retroativos da satisfação de um dos direitos humanos.
1) Estado Democrático de Direito;
2) dignidade da pessoa humana;
3) aplicabilidade imediata das normas definidoras de direitos
Fundamentos da Constituição brasileira fundamentais;
para a proibição do retrocesso 4) proteção da confiança e segurança jurídica (a lei não prejudi-
cará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada);
e
5) cláusula pétrea prevista no art. 60, § 4º, IV, da CF.
Condições para que eventual diminuição 1) que haja justificativa também de estatura jusfundamental;
na proteção normativa ou fática de um 2) que tal diminuição supere o crivo da proporcionalidade; e
direito seja permitida 3) que seja preservado o núcleo essencial do direito envolvido.
Subespécies do princípio da proibição do retrocesso. André de Carvalho Ramos identifica cinco subespécies
da proibição do retrocesso já reconhecidas pelo STF ou em debate na doutrina:
i) vedação do retrocesso social: atingido determinado nível de natureza prestacional (direito social), busca-
se evitar/reduzir/suprimir qualquer tentativa de retrocesso.
“Para a Min. Cármen Lúcia, que foi relatadora da Ação Direta de Inconstitucionalidade sobre a reforma da
Previdência Social (julgada improcedente), a proibição do retrocesso só seria aplicada se a aposentadoria,
enquanto direito social, fosse abolida, mas não seria o caso de invocá-la no caso de mudança dos critérios
para aposentadoria tão somente (ADI 3104)” (RAMOS, 2020).
ii) vedação do retrocesso político: trata-se da aplicação da proibição do retrocesso no âmbito do Direito
Eleitoral.
“Para a Min. Cármen Lúcia, a proibição de retrocesso político- constitucional impede que direitos conquistados
(como o da garantia de voto secreto pela urna eletrônica) retroceda para dar lugar a modelo superado (voto
impresso) exatamente pela sua vulnerabilidade (ADI 4.543- MC, rel. Min. Cármen Lúcia, j. 19-10-2011, Plená-
rio)” (RAMOS, 2020).
iii) vedação do retrocesso civil: trata-se da aplicação da proibição do retrocesso no âmbito do Direito Civil.
“A tese fixada pelo VER (repercussão geral) estabelece que “é inconstitucional a distinção de regimes suces-
sórios entre cônjuges e companheiros prevista no art. 1.790 do CC/2002, devendo ser aplicado, tanto nas
hipóteses de casamento quanto nas de união estável, o regime do art. 1.829 do CC/2002” (RE 878694/MG,
rel. Min. Roberto Barroso, j. 10-5-2017)” (RAMOS, 2020).
iv) vedação do retrocesso institucional: trata-se da aplicação da proibição do retrocesso no âmbito das ins-
tituições públicas e privadas.
“O Decreto n. 9.831, de 11 de junho de 2019, remanejou onze cargos de perito do Mecanismo Nacional de
Prevenção e Combate à Tortura – MNPCT para outra área do Poder Público federal, exonerando os seus ocu-
pantes, e determinando que a participação no Mecanismo seria considerada doravante “prestação de serviço

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público relevante, não remunerada”. A Procuradoria-Geral da República ingressou com arguição de descum-
primento de preceito fundamental contra tal modificação no MNPCT, alegando vedação à proibição do retro-
cesso institucional. De fato, a medida teve caráter regressivo do ponto de vista institucional, na medida em
que esvaziou significativamente o MNPCT, órgão essencial para o combate à prática de tortura e demais tra-
tamentos degradantes ou desumanos em ambientes de detenção e custódia coletiva de pessoas, ao transfor-
mar o mecanismo, antes profissional, em trabalho voluntário e precário. Reduziu-se o âmbito de proteção
normativa ao direito de não submissão à tortura ou tratamentos e penas cruéis e degradantes de pessoas sob
custódia do Estado, configurando ofensa ao princípio da vedação do retrocesso institucional (petição inicial
da PGR, ADPF 607, rel. Min. Luiz Fux, em trâmite)” (RAMOS, 2020).
v) vedação do retrocesso ecológico: trata-se da aplicação da proibição do retrocesso no âmbito do Direito
Ambiental.
“O princípio da proibição de retrocesso ecológico ou socioambiental é fruto da tutela constitucional (art. 225
da CF/88) e internacional do meio ambiente (Protocolo de San Salvador e Pacto Internacional de Direitos
Econômicos, Sociais e Culturais, entre outros), que restringe a discricionariedade do legislador (Estado- legis-
lador) na adoção de medidas contrárias à proteção ambiental, bem como impede que haja regresso no que
tange à estrutura organizacional do Estado (recursos humanos e materiais) voltada à implementação de po-
líticas públicas. A proibição do retrocesso ecológico evita uma atuação legislativa e administrativa inexistente
ou insuficiente na promoção do direito ao meio ambiente, sendo também faceta da proibição da proteção
deficiente dos direitos humanos. O VER reconheceu já a proibição do retrocesso socioambiental, exigindo a
avaliação da proporcionalidade e do respeito ao núcleo essencial dos direitos ecológicos por parte de novas
medidas restritivas adotadas pelos Poderes Públicos (VER, ADI 4.717/DF, rel. Min. Cármen Lúcia, j. 5-4-2018,
Dje 15-2-2019)” (RAMOS, 2020).
*Tabela baseada na obra RAMOS, André de Carvalho Ramos. Curso de Direitos Humanos..., 2021.

TEORIA DO DUPLO ESTATUTO


DOS TRATADOS INTERNACIONAIS DE DIREITOS HUMANOS

O que motivou o STF a adotar a teoria do duplo estatuto?


 Foi a introdução do § 3º do art. 5º da CF/88 pela EC 45/2004.
Leading case (que analisou a teoria do duplo estatuto)
 RE 466.343 (prisão civil do depositário infiel).
O que ficou estabelecido pelo STF?
a) tratados internacionais de direitos humanos incorporados pelo rito especial do art. 5º, § 3º, CF:
integram o bloco de constitucionalidade restrito, podendo servir de parâmetro para avaliar a
constitucionalidade de norma infraconstitucional.
b) os tratados internacionais de direitos humanos incorporados pelo rito simples: não têm estatuto
constitucional (= não tem status de norma constitucional), mas sim supralegal, logo não fazem parte do
bloco de constitucionalidade restrito.
 Nas palavras do André de Carvalho Ramos (Curso de direitos humanos 2022, p. 314): “Ficou consagrada
a teoria do duplo estatuto dos tratados de direitos humanos: a) natureza constitucional para os aprovados
pelo rito do art. 5º, § 3º; b) natureza supralegal para todos os demais, quer sejam anteriores ou posteriores
à Emenda Constitucional n. 45 e que tenham sido aprovados pelo rito comum (maioria simples, turno único
em cada Casa do Congresso)”.

Questões
 (Promotor MPEMS 2022 AOCP correta) O STF firmou a teoria do duplo estatuto dos tratados de direitos
humanos, consagrando de natureza constitucional os aprovados pelo rito do art. 5º, §3º, da CF/88 (quórum
especial) e de natureza supralegal para todos os demais aprovados pelo rito comum (maioria simples, turno
único em cada Casa do Congresso).

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 (Juiz TJSC 2022 FGV correta) Após a Emenda Constitucional nº 45/2004, os tratados e convenções
internacionais sobre direitos humanos passaram a ter natureza hierarquicamente superior, quando
aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos
membros. Diante disso, à luz da jurisprudência majoritária do Supremo Tribunal Federal, é correto afirmar
que os referidos tratados e convenções: possuem natureza de norma constitucional e podem ser parâmetro
de controle de constitucionalidade.
 (Procurador Câmara de Monte Alto/SP 2019 Vunesp correta) A “Teoria do Duplo Estatuto” dos tratados
de Direitos Humanos, adotada pelo Supremo Tribunal Federal e por parte da doutrina, consiste em conferir
natureza constitucional aos tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem
aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos
membros, e natureza supralegal a todos os demais, anteriores ou posteriores à emenda constitucional que
estabeleceu o rito do art. 5º, § 3º, e que tenham sido aprovados pelo rito comum.
 (Advogado Prefeitura de Bom Jesus do Sul/PR 2020 FAUEL correta) O Pacto de São José da Costa Rica
proíbe a prisão por dívidas, exceto a decorrente de alimentos, e possui estatura jurídica supralegal, a ensejar
a paralisação da eficácia da legislação infraconstitucional que permite a prisão do depositário infiel, apesar
de a Constituição da República de 1988 admiti-la expressamente.
 (Promotor MPEGO 2022 FGV correta) A República Federativa do Brasil celebrou tratado internacional,
direcionado à proteção de determinado grupo minoritário. Nesse ajuste, os Estados-partes assumiram a
obrigação de adotar medidas internas voltadas ao reconhecimento de direitos de liberdade e de direitos
prestacionais. À luz da sistemática vigente, mais especificamente do entendimento do Supremo Tribunal
Federal, esse tratado internacional, após a aprovação do Congresso Nacional, pode ser incorporado à ordem
interna: apenas como emenda constitucional ou norma supralegal.
 (Analista DPEAM 2022 FCC correta) A ratificação de tratados internacionais de direitos humanos na
forma do artigo 5º, § 3º, da Constituição Federal, implica a recepção do respectivo tratado com status: de
emenda constitucional.
 (Consultor Legislativo Senado Federal 2022 FGV correta) No ano de 2015, o Tratado de Marraquexe,
cujo escopo é facilitar o acesso a obras publicadas às pessoas cegas, com deficiência visual ou com outras
dificuldades para ter acesso ao texto impresso, foi aprovado em cada Casa do Congresso Nacional em dois
turnos, por três quintos dos votos de seus respectivos membros. Dessarte, no âmbito da hierarquia das
normas no ordenamento jurídico interno, o supracitado tratado possui status de norma constitucional.

PROCESSO DE INCORPORAÇÃO
DOS TRATADOS INTERNACIONAIS

Processo de incorporação dos tratados internacionais


na ordem jurídica interna e suas fases
Para que um tratado internacional seja formado é necessária a conjugação de vontades do Poder Executivo
e do Poder Legislativo, daí falar em “TEORIA DA JUNÇÃO DE VONTADES” ou “TEORIA DOS ATOS
COMPLEXOS” (adotada pelo Brasil), ocorrendo, assim, o processo de formação da vontade do Estado em
celebrar e incorporar tratados internacionais de direitos humanos na ordem jurídica interna.
1ª fase
(fase da assinatura)
Aqui, temos a negociação dos termos do tratado e a assinatura por parte do Estado, ambas — ne-
1. gociação e assinatura — de atribuição do Presidente da República.
Após a assinatura, cabe ao Poder Executivo encaminhar o texto assinado do futuro tratado ao Con-
gresso Nacional, no momento em que julgar oportuno (não há prazo, entendendo-se como ato dis-
cricionário do Presidente).
2ª fase
2. (fase da aprovação congressual ou fase do Decreto Legislativo)
Ocorre a aprovação do texto do tratado pelo Congresso Nacional.

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 Atenção (rito especial/qualificado): a partir de 2004, houve a inserção do § 3º do art. 5º da CF,
que dispõe: “Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados,
em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos
membros, serão equivalentes às emendas constitucionais”. Ou seja, para que o tratado receba o qua-
lificativo do rito do § 3º do art. 5º da CF, é necessário que o Decreto Legislativo seja aprovado, por
maioria de 3/5 e em dois turnos em cada Casa do Congresso Nacional. Sendo, ainda assim, obrigató-
rio percorrer as demais fases (ratificação e promulgação). Exemplos de tratados aprovados de acordo
com esse rito (= equivalentes à emenda constitucional, ou seja, com status de norma constitucional):
(i) Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência
(ii) e seu Protocolo Facultativo,
(iii) o Tratado de Marraqueche para Facilitar o Acesso a Obras Publicadas às Pessoas Cegas, com
Deficiência Visual ou com outras Dificuldades para ter Acesso ao Texto Impresso, bem como
(iv) a Convenção Interamericana contra o Racismo.
3ª fase
(fase da ratificação)
Trata-se fase da ratificação pelo Presidente da República, ato por meio do qual o Estado consente
em obrigar-se aos termos do ato internacional (concluindo esta fase da ratificação, em regra, o tra-
tado entra em vigor no plano internacional, o que pode ensejar a responsabilização internacional do
3. Estado).
Obs1. O Presidente pode formular reservas, além daquelas que obrigatoriamente lhe foram impos-
tas pelas ressalvas ao texto aprovado pelo Congresso. A reserva é o ato unilateral pelo qual o Estado,
no momento da celebração final, manifesta seu desejo de excluir ou modificar o texto do tratado.
Obs2. Não há a necessidade de submeter essas novas reservas ao Congresso.
Obs3. Não há um prazo no qual o Presidente da República deve celebrar em definitivo o tratado.
Obs4. O Presidente da República não é obrigado a ratificar.
4ª fase
(fase da promulgação, fase do Decreto Presidencial ou fase Decreto de Promulgação)
Finalmente, aqui, ocorre a incorporação legislativa do tratado na ordem jurídica interna mediante
decreto de promulgação do Presidente da República.
Embora criticada por parte da doutrina, a qual enxerga no art. 5º, § 1º, da CF, uma imposição para
4. que os tratados de direitos humanos sejam automaticamente incorporados e imediatamente aplica-
dos, trata-se — a fase de promulgação — de uma fase exigida pelo STF (CR 8279-AgR, j. 17-6-1998),
sem a qual o tratado não tem vigor na ordem jurídica interna.
Obs1. Não há prazo para a edição do Decreto de Promulgação. Aqui existem duas consequências
práticas, se ausente o Decreto de Promulgação:
1) o Brasil fica responsabilizado na ordem internacional, pois superada a fase da ratificação;
2) o Brasil não fica responsabilizado na ordem interna, pois pendente a fase da promulgação.
*Tabela baseada na obra RAMOS, André de Carvalho Ramos. Curso de Direitos Humanos..., 2021.
 Obs1. O Congresso Nacional é obrigado a adotar o rito especial/qualificado do art. 5º, § 3º, da CF? Não.
Porém, conforme entendimento do STF, se não adotado o rito especial do art. 5º, § 3º, da CF, o tratado
internacional de direitos humanos ingressará na ordem jurídica interna com posição de norma supralegal.
 Obs2. Pode o Congresso Nacional adotar o rito especial/qualificado do art. 5º, § 3º, da CF, em outro
momento? Sim. Ou seja, o Congresso Nacional pode ter aprovado inicialmente o tratado por maioria simples
e, posteriormente, decida submetê-lo ao procedimento especial/qualificado do art. 5º, § 3º. Bloco de cons-
titucionalidade restrito: os tratados internacionais de direitos humanos submetidos ao procedimento espe-
cial do art. 5º, § 3º, passam a integrar o bloco de constitucionalidade restrito. A consequência prática seria,
por exemplo, a possibilidade de o tratado servir como parâmetro do controle concentrado de constituciona-
lidade.
 Obs3. Há posição minoritária (Valerio de Oliveira Mazzuoli) de que o decreto de promulgação não seria
necessário para que o tratado de direitos humanos passasse a vigorar na ordem jurídica interna: “Sem dúvida,
é responsabilidade do governo promulgar e publicar tratados, mas a falta desses atos (até mesmo à luz do
art. 27 da Convenção de Viena de 1969) não pode ser motivo para impedir aos cidadãos o acesso à justiça,
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uma vez que o tratado (de direitos humanos) em causa já se encontra ratificado pelo Estado (ou seja, o Brasil
já é parte dessa normativa)” (MAZZUOLI, Curso de direitos humanos..., Método, 2019).

Atualmente, então, são 4 os tratados internacionais


internalizados no ordenamento jurídico brasileiro
com status de emenda constitucional:
1. Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência; [1]
Protocolo Facultativo da Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência;
2.
[2]
Tratado de Marraqueche (para facilitar o acesso a obras publicadas às pessoas cegas, com deficiên-
3.
cia visual ou com outras dificuldades para ter acesso ao texto impresso);
Convenção Interamericana contra o Racismo.
4.
 Novidade importante 2022
[1] Também chamada de "Convenção de Nova York"; "Convenção da ONU sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência".
[2] Também chamado “Protocolo Adicional da Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência”.

Qual é a natureza jurídica dos tratados internacionais promulgados pelo Brasil?


Os tratados internacionais são equivalentes a que espécie normativa?
1. Tratados internacionais que não tratem sobre direitos humanos; Status de lei ordinária
Tratados internacionais que versem sobre direitos humanos, mas que
não tenham sido aprovados na forma do art. 5º, § 3º, da CF/88 (acres- Status
2. centado pela EC 45/2004). supralegal
 (Procurador PGERO 2022 Cespe correta) A Emenda Constitucional n.º 45/2004 ins-
titui uma dupla hierarquia para os tratados internacionais de direitos humanos.

Status
3. Tratados internacionais sobre Direito Tributário (art. 98 do CTN).
supralegal[1]
Tratados internacionais sobre matéria processual civil (art. 13 do Status
4.
CPC/2015). supralegal[1]
Tratados internacionais que versem sobre direitos humanos e que te-
nham sido aprovados na forma do art. 5º, § 3º, da CF/88 (acrescentado Emenda
5. pela EC 45/2004). constitucional
 (Procurador PGERO 2022 Cespe correta) A Emenda Constitucional n.º 45/2004 ins-
titui uma dupla hierarquia para os tratados internacionais de direitos humanos.
[1] Posição defendida por Paulo Portela (Direito Internacional Público e Privado. Salvador: Juspodivm, 2021,
p. 152) e pela maioria dos internacionalistas. Vale ressaltar, contudo, que o tema é polêmico e que há posi-
ções em sentido contrário, especialmente entre os autores de Direito Tributário. Para fins de prova, acho
importante conhecer a redação da previsão legal:
CTN, art. 98. Os tratados e as convenções internacionais revogam ou modificam a legislação tributária interna, e serão
observados pela que lhes sobrevenha.
CPC/2015, art. 13. A jurisdição civil será regida pelas normas processuais brasileiras, ressalvadas as disposições específicas
previstas em tratados, convenções ou acordos internacionais de que o Brasil seja parte.
 Conteúdo (Dizer o Direito): https://bit.ly/33qpUY7.

Dúvidas mais frequentes no tocante


ao tema da hierarquia dos tratados de direitos humanos
NOÇÃO CORRETA
O Brasil não adota nem nunca recepcionou a supraconstitucionalidade dos tratados.
Tratados de direitos humanos não mais têm hierarquia de lei ordinária.

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Os tratados de direitos humanos não estão acima da Constituição. Logo, não confundir “supraconstitucio-
nalidade” com “supralegalidade”.
Depois da EC 45/2014, apenas os tratados de direitos humanos aprovado no rito especial do § 3º do art. 5º
da CF/88 têm status de emenda constitucional:
CF/88, art. 5º (...)
§ 3º Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em
cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos mem-
bros, serão equivalentes às emendas constitucionais.
O mínimo de votos necessários para aprovação dos tratados de direitos humanos, para fins do § 3º do art.
5º da CF, é de 3/5 dos membros, em 2 turnos, de cada Casa do Congresso Nacional.
Todos os tratados, de direitos humanos ou não, são sempre aprovados pelas duas Casas do Congresso Na-
cional, embora apenas os tratados de direitos humanos possam enfrentar dois turnos de votação.
1. Tratados em geral:
● Infraconstitucionalidade: tratados equivalem à lei ordinária e submetidos também aos critérios cronológi-
cos e da especialidade.
2. Tratados de direitos humanos:
● Entendimento da doutrina após o art. 5º, § 2º, da CF/88: status constitucional.
● Entendimento tradicional do STF num primeiro momento: equivalência com a lei ordinária.
● Novos entendimentos do STF para os tratados anteriores à EC/45: supralegalidade (majoritário) e constitu-
cionalidade material (minoritário).
● Abandono do entendimento de que os tratados de direitos seriam equivalentes à lei ordinária.
● Tratados de direitos humanos aprovados nos termos do procedimento previsto no art. 5.º, § 3º, da CF
(EC/45): status de emenda constitucional (constitucionalidade material e formal).
3. Tratados de direito tributário:
● Tendência à supralegalidade.
 PORTELA, Paulo Henrique Gonçalves. Direito internacional público e privado..., Juspodivm, 2021, p.
152/153.

Questões
 (Defensor DPESP 2019 FCC correta) É documento internacional de direitos humanos incorporado ao or-
denamento jurídico brasileiro sob o rito estabelecido pelo artigo 5º, parágrafo 3º, da Constituição Federal:
Tratado de Marraqueche para Facilitar o Acesso a Obras Publicadas às Pessoas Cegas, com Deficiência Visual
ou com Outras Dificuldades para ter Acesso ao Texto Impresso.
 (Juiz TJGO 2021 FCC correta) Tratado internacional que venha a ser celebrado pela República Federativa
do Brasil em matéria de proteção da igualdade será incorporado ao direito nacional e deverá ser cumprido
em território brasileiro após sua aprovação pelo Congresso Nacional e posterior promulgação pelo Presi-
dente da República, sendo equivalente à emenda constitucional desde que seja aprovado, em cada Casa do
Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros.
 (Promotor MPEGO 2019 correta) Para valer no plano interno, o tratado de direitos humanos, conforme
o entendimento do STF, depende da promulgação de um decreto executivo do Presidente da República
autorizando a execução do tratado.
 (Defensor DPEPR 2017 FCC correta) Segundo jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, os tratados de
direitos humanos serão incorporados pela ordem jurídica brasileira a partir da promulgação, por um decreto
executivo do Presidente da República.
 (Juiz do Trabalho TRT23R 2015 FCC correta) Considere um hipotético tratado internacional sobre direitos
humanos ratificado pelo Brasil no ano de 2001. Seu processo de aprovação nacional perante o Congresso
Nacional e posterior envio de carta de ratificação, bem como promulgação mediante decreto presidencial,
foram regularmente completados. O tratado está em vigor internacional desde 2001, imediatamente após
a ratificação nacional. Com relação a sua aplicação no Brasil, de acordo com a posição mais recente do Su-
premo Tribunal Federal − STF, esse tratado equivale a uma norma infraconstitucional mas supralegal, tendo
sido aprovado, em cada Casa do Congresso Nacional, por maioria simples e turno único de votação.

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 (Promotor MPEGO 2019 incorreta) Segundo o STF, a aplicação dos tratados de direitos humanos na or-
dem jurídica brasileira pode se dar a partir da sua ratificação e depósito no cenário internacional, caso se
constate mora irrazoável em promover a promulgação na ordem interna.

CONTROLE
DE CONVENCIONALIDADE

Controle de convencionalidade
 Conceito:
“O controle de convencionalidade consiste na análise da compatibilidade dos atos internos (comissivos ou
omissivos) em face das normas internacionais (tratados, costumes internacionais, princípios gerais de di-
reito, atos unilaterais, resoluções vinculantes de organizações internacionais)” (RAMOS, 2022, p. 319).

 Efeito negativo vs. positivo:


i) efetivo negativo (chamado controle destrutivo ou saneador de convencionalidade): consiste na invali-
dação das normas e decisões nacionais, pois contrárias às normas internacionais.
ii) efeito positivo (chamado controle construtivo de convencionalidade): busca compatibilizar o direito in-
terno com as normas internacionais por meio da interpretação das normas (hermenêutica).

 Subcategorias:
i) controle de convencionalidade de matriz internacional (autêntico ou definitivo): é o controle de conven-
cionalidade exercido pelos órgãos internacionais (ex.: CIDH ou Corte IDH). Evitando a figura do judex in causa
sua, ou seja, evitando que o próprio Estado seja, ao mesmo tempo, fiscal e fiscalizado.
ii) controle de convencionalidade de matriz nacional (interno): é o controle de convencionalidade exercido
por autoridades públicas nacionais (ex.: defensor, promotor, procurador, juiz de primeiro grau, tribunal de
justiça, STF ou STJ), compatibilizando o ordenamento jurídico interno com as normas internacionais incor-
poradas.
 A Corte IDH (Caso Gelman vs. Uruguai) adota o chamado “controle de convencionalidade de matriz
nacional não jurisdicional”, ou seja, “além dos juízes, é possível que o controle de convencionalidade naci-
onal seja feito pelas autoridades administrativas, membros do Ministério Público e Defensoria Pública (no
exercício de suas atribuições) e haja, inclusive, o controle preventivo de convencionalidade na análise de
projetos de lei no Poder Legislativo” (RAMOS, 2022, p. 319).
 André de Carvalho Ramos classificação ainda o controle de convencionalidade de matriz nacional em
concentrado (exercido pelo STF) e difuso (exercido por qualquer juízo ou tribunal nacional).
 (Juiz TJRS 2018 Vunesp correta) São sujeitos a um controle de convencionalidade difuso, sendo dever do
juiz nacional examinar a compatibilidade das normas internas com as convencionais, mediante provocação
da parte ou de ofício.
 (Promotor MPERO 2017 incorreta) Juízes e Promotores de Justiça podem exercer o controle de conven-
cionalidade concentrado das normas previstas no ordenamento jurídico.

 Competência (controle de convencionalidade internacional):


São dos órgãos internacionais (ex.: CIDH, Corte IDH etc.), criados por normas internacionais (ex.: CADH), as
quais foram incorporadas pelo Estado (ex.: Brasil).

 Parâmetro (controle de convencionalidade internacional):


É a norma internacional (ex.: artigo de um determinado tratado internacional).

 Objeto de controle (controle de convencionalidade internacional):


É toda a norma interna, não importando a hierarquia nacional. Logo, até mesmo a norma constitucional
pode ser objeto de controle de convencionalidade por parte da Corte IDH (ex.: um artigo específico da Cons-
tituição de 1988).
 OC 14/2004: leis internas (inclusive a Constituição) são meros atos atribuíveis ao Estado.

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 Diferenças entre controle de convencionalidade internacional e nacional:
“1) O parâmetro de confronto no controle de convencionalidade internacional é a norma internacional; seu
objeto é toda norma interna, não importando a sua hierarquia nacional, podendo mesmo ser oriunda do
Poder Constituinte Originário. No controle nacional, há limite ao objeto de controle, uma vez que não se
analisam normas do Poder Constituinte Originário.
2) No controle de convencionalidade nacional, a hierarquia do tratado-parâmetro depende do próprio Di-
reito Nacional, que estabelece o estatuto dos tratados internacionais. No controle de convencionalidade
internacional, o tratado de direitos humanos é sempre a norma paramétrica superior.
3) A interpretação do que é compatível ou incompatível com o tratado-parâmetro não é a mesma e o con-
trole nacional nem sempre resulta em preservação dos comandos das normas contidas nos tratados tal qual
interpretados pelos órgãos internacionais” (RAMOS, 2022, p. 320).
RAMOS, André de Carvalho. Curso de direitos humanos. Saraiva, 2022.

Teoria do Diálogo das Cortes


 Busca a compatibilização entre o controle de constitucionalidade e o controle de convencionalidade.
 Segundo André de Carvalho Ramos, para evitar que o “Diálogo das Cortes” seja mera peça de retórica
judicial, há que se levar em consideração os seguintes parâmetros na análise de uma decisão judicial nacio-
nal:
1) a menção à existência de dispositivos internacionais convencionais ou extraconvencionais de direitos hu-
manos vinculantes ao Brasil sobre o tema;
2) a menção à existência de caso internacional contra o Brasil sobre o objeto da lide e as consequências
disso reconhecidas pelo Tribunal;
3) a menção à existência de jurisprudência anterior sobre o objeto da lide de órgãos internacionais de direi-
tos humanos aptos a emitir decisões vinculantes ao Brasil;
4) o peso dado aos dispositivos de direitos humanos e à jurisprudência internacional.
 #Crítica André de Carvalho Ramos entende que a teoria do diálogo das cortes desnatura a independência
funcional e o Estado Democrático de Direito:
“Claro que não é possível obrigar os juízes nacionais ao ‘Diálogo das Cortes’, pois isso desnaturaria a
independência funcional e o Estado Democrático de Direito. Assim, no caso de o diálogo inexistir ou
ser insuficiente, deve ser aplicada a teoria do duplo controle ou crivo de direitos humanos, que
reconhece a atuação em separado do controle de constitucionalidade (STF e juízos nacionais) e do
controle de convencionalidade internacional (órgãos de direitos humanos do plano internacional).”
(RAMOS, 2022, p. 322).

Teoria do duplo controle


 Reconhece a atuação em separado do controle de constitucionalidade nacional e o controle de convenci-
onalidade internacional.
 A teoria do duplo controle faz com que ambas as Cortes (nacional e internacional) respeitem o posiciona-
mento de cada uma.
 Ex.: Lei de Anistia (STF - constitucional); Lei de Anistia (Corte IDH - inconvencional), ainda assim – pela
teoria do duplo controle – o STF deve respeitar a decisão da Corte IDH.
 Com isso, evita-se o antagonismo entre o STF e os órgãos internacionais de direitos humanos, evitando a
ruptura e estimulando a convergência em prol dos direitos humanos, superando a crítica da teoria do diá-
logo das cortes (retromencionada).
 (Procurador da República MPF 2017 correta) A teoria do duplo controle da proteção de direitos humanos
no Brasil prega a possibilidade de conciliação entre as deliberações judiciais nacionais e internacionais refe-
rentes a direitos humanos.

Resolução 123/2022 do CNJ


Art. 1º Recomendar aos órgãos do Poder Judiciário:
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I – a observância dos tratados e convenções internacionais de direitos humanos em vigor no Brasil e a utili-
zação da jurisprudência da Corte Interamericana de Direitos Humanos (Corte IDH), bem como a necessidade
de controle de convencionalidade das leis internas.
II – a priorização do julgamento dos processos em tramitação relativos à reparação material e imaterial das
vítimas de violações a direitos humanos determinadas pela Corte Interamericana de Direitos Humanos em
condenações envolvendo o Estado brasileiro e que estejam pendentes de cumprimento integral.

Questões
 (Procurador da República MPF 2022 correta) O controle de convencionalidade de matriz internacional é
aquele realizado por órgão internacional, o qual analisa a compatibilidade entre norma ou decisão nacional
em face de normas internacionais.
 (Defensor DPESP 2023 FCC correta) A Corte Interamericana de Direitos Humanos, em 2020, julgou o caso
Fernandez Prieto y Tumbeiro vs. Argentina, que consistiu em importante precedente internacional sobre o
tema. Nesse caso julgado, a decisão da Corte é vinculante apenas para o Estado condenado, mas a interpre-
tação dada aos direitos em jogo enseja controle de convencionalidade interno pelos Estados signatários da
Convenção Americana de Direitos Humanos.
 (Defensor DPEAP 2022 FCC correta) O controle de convencionalidade é reconhecido pela jurisprudência
da Corte Interamericana de Direitos Humanos, sendo que, no caso Almonacid Arellano e Outros vs. Chile,
assentou-se que o controle deve considerar tanto os tratados quanto sua interpretação pela Corte.
 (Procurador Prefeitura de Porto Alegre/RS 2022 Fundatec correta) Conforme a doutrina de Valerio Maz-
zuoli: “O controle da convencionalidade das leis – isto é, a compatibilidade vertical das normas domésticas
com os tratados internacionais de direitos humanos (mais benéficos) em vigor no Estado – é uma obrigação
convencional que provém, em nosso entorno geográfico, da Convenção Americana sobre Direitos Huma-
nos”. Em vista disso, quanto ao controle jurisdicional de convencionalidade, é correto afirmar que normas
municipais: Se submetem tanto ao controle em concreto, quanto ao controle em abstrato de convenciona-
lidade, realizado tanto pela corte interamericana de direitos humanos, quanto pelos órgãos da jurisdição
nacional.
 (Defensor DPESP 2019 FCC correta) O controle de convencionalidade deve ser realizado ex officio como
função e tarefa de qualquer autoridade pública, no marco de suas competências, e não apenas por juízes
ou tribunais, que sejam competentes, independentes, imparciais e estabelecidos anteriormente por lei.
 (Promotor MPEGO 2019 correta) A Corte Interamericana de Direitos Humanos não toma apenas os tra-
tados de direitos humanos como paradigmas do controle de convencionalidade, mas também a sua própria
jurisprudência.
 (Promotor MPEGO 2019 correta) A Corte Interamericana de Direitos Humanos entende que é paradigma
de controle de convencionalidade das normas domésticas, no sistema interamericano de proteção dos di-
reitos humanos, todo o corpo jurídico internacional de proteção, o que inclui o sistema global de direitos
humanos.
 (Analista DPEAM 2018 FCC correta) No âmbito da proteção dos direitos humanos, entende-se por con-
trole de convencionalidade o trabalho de compatibilização ou controle de validade das normas do ordena-
mento jurídico interno de um Estado tendo como parâmetro os tratados de direitos humanos ratificados
por este Estado que estejam em vigor.
 (Residência Jurídica DPERJ 2021 correta) A respeito do controle de convencionalidade, em âmbito in-
terno, é um poder-dever não só dos membros do Poder Judiciário, mas de toda e qualquer autoridade pú-
blica.
 (Juiz Federal TRF4R 2022 incorreta) No Brasil, o controle de convencionalidade de matriz nacional –
exame da compatibilidade das normas nacionais diante das normas internacionais de direitos humanos –
deve ser exercido exclusivamente pelo Supremo Tribunal Federal, exceto diante das normas internacionais
que compõem o bloco de constitucionalidade restrito – aprovadas pelo rito especial do art. 5º, § 3º, da
Constituição Federal,– cujo controle de convencionalidade deve ser exercido por todos os juízes e tribunais.
 (Juiz Federal TRF3R 2022 incorreta) O controle de convencionalidade de matriz internacional é realizado
pela Corte Interamericana de Direitos Humanos tanto no exercício de sua jurisdição contenciosa quanto na

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sua jurisdição consultiva, ficando excluída somente a aferição de compatibilidade de norma constitucional
em face da Convenção Americana de Direitos Humanos.
 (Advogado Prefeitura de Bom Jesus do Sul/PR 2020 FAUEL incorreta) Ao lado do controle de constituci-
onalidade das leis, há o controle de convencionalidade, que deve ser realizado com exclusividade pelas cor-
tes internacionais, a exemplo da Corte Interamericana de Direitos Humanos.

EIXO DA PROTEÇÃO DE DIREITOS


NO PLANO INTERNACIONAL

Eixos da proteção de direitos no plano internacional


Direito Internacional dos Direitos Humanos: proteção do ser humano em todos os aspectos, englo-
1.
bando direitos civis e políticos e também direitos sociais, econômicos e culturais.
Direito Internacional dos Refugiados: age na proteção do refugiado, desde a saída do seu local de
2.
residência, concessão do refúgio e seu eventual término.
Direito Internacional Humanitário: foca na proteção do ser humano na situação específica dos con-
3.
flitos armados (internacionais e não internacionais).
 RAMOS, André de Carvalho. Curso de direitos humanos. Saraiva, 2022, p. 86.

SISTEMA GLOBAL
VS. SISTEMAS REGIONAIS

Sistema global
1. Sistema universal/global/onusiano: Nações Unidas.

Sistemas regionais de proteção


1. Sistema Europeu: Corte Europeia de Direitos Humanos.
Sistema Interamericano: Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) e Corte Interameri-
2.
cana de Direitos Humanos (Corte IDH).
Sistema Africano: Comissão Africana dos Direitos Humanos e dos Povos e Corte Africana dos Direitos
3.
Humanos e dos Povos.

Não são sistemas regionais


Mundo Árabe: dispõe apenas de uma Carta Árabe de Direitos Humanos, não perfazendo (ainda) um verda-
deiro “sistema” regional de proteção.
Ásia: não há qualquer tratado internacional de proteção de direitos humanos na Ásia.

Questões
 (Delegado PCSP 2022 Vunesp correta) Os sistemas internacionais de proteção dos direitos humanos são
o conjunto de normas, órgãos e mecanismos internacionais surgidos a partir de 1945 com o intuito de pro-
mover a proteção dos direitos humanos em todo o mundo. É correto afirmar que, na atualidade, existem 3
sistemas regionais de proteção (interamericano, europeu e africano) e 1 sistema universal (Nações Unidas).
 (Investigador PCMG 2014 Fumarc correta) Ao lado do sistema global de proteção dos direitos humanos,
existem os sistemas regionais. Os principais sistemas regionais de proteção dos direitos humanos, não inci-
pientes, são, EXCETO o asiático.

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CARTA INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS
(INTERNATIONAL BILL OF RIGHTS)

O que se entende por Carta Internacional dos Direitos Humanos (International Bill of Rights)?
Compreende o seguinte conjunto
de diplomas internacionais:
1. Declaração Universal de Direitos Humanos (DUDH);
2. Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos de 1966 (PIDCP);
3. Pacto Internacional sobre Direitos Econômicos, Sociais e Culturais de 1966 (PIDESC).

Fonte da imagem: MAZZUOLI, Valerio de Oliveira. Curso de Direitos Humanos. 6. ed. Rio de Janeiro: Forense. 2019.

Fonte da imagem: MAZZUOLI, Valerio de Oliveira. Curso de Direitos Humanos. 6. ed. Rio de Janeiro: Forense. 2019.

Questões
 (Defensor DPEAP 2018 FCC adaptada) Integram a denominada Carta Internacional dos Direitos Hu-
manos − International Bill of Rights: Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais,
Pacto Internacional sobre Direitos Econômicos, Sociais e Culturais e a Declaração Universal de Direi-
tos Humanos. (correta)
 (Promotor MPESP 2017) Tais estudos resultaram na formação da denominada Carta Internacional
dos Direitos Humanos (International Bill of Rights), que decorre da conjugação do Pacto Internacional
de Direitos Civis e Políticos, do Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais e da
Declaração Universal. (correta)
 (Defensor DPEPR 2012 FCC) Um dos efeitos do embate ideológico do pós-Segunda Guerra no desen-
volvimento do Direito Internacional dos Direitos Humanos foi a cisão dos direitos civis e políticos em
relação aos direitos econômicos, sociais e culturais. (correta)

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 (Promotor MPEMS 2018) A Carta Internacional dos Direitos Humanos (International Bill of Rights)
decorre exclusivamente da conjugação do Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos e do Pacto
Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais. (incorreta)

DUDH tem efeito vinculante?


Natureza jurídica
(DUDH)
Resolução 217-A da Assembleia-Geral da ONU.
Não possui natureza jurídica de tratado.
“Assim, a priori, seria a Declaração somente uma “recomendação” das Nações Unidas, adotada sob a forma de resolução
1. da Assembleia Geral, a consubstanciar uma ética universal em relação à conduta dos Estados no que tange à proteção
internacional dos direitos humanos. Apesar de não ser um tratado stricto sensu, pois nascera de resolução da Assembleia
Geral da ONU, não tendo também havido sequência à assinatura, o certo é que a Declaração Universal deve ser enten-
dida, primeiramente, como a interpretação mais autêntica da expressão ‘direitos humanos e liberdades fundamentais’,
constante daqueles dispositivos já citados da Carta das Nações Unidas (v. Capítulo V, item 1, supra). Em segundo lugar,
é possível (mais do que isso, é necessário) qualificar a Declaração Universal como norma de jus cogens internacional (v.
infra)” (MAZZUOLI, Valerio de Oliveira. Curso de Direitos Humanos. 6. ed. Rio de Janeiro: Forense. 2019).

A DUDH tem efeito vinculante ou não?


Posição majoritária: SIM!
Embora não tenha a natureza jurídica de tratado (e sim de resolução), a DUDH, diante do seu valor
jurídico e por revelar sendo costume internacional na seara dos direitos humanos, acaba tendo
efeito vinculante (semelhante ao dos tratados de direitos humanos). Portanto, com os passar do
tempo, a DUDH alcançou o status normativo de norma vinculante. Contudo, ainda assim, na dou-
trina vemos 3 correntes sobre (posição majoritária: DUDH tem efeito vinculante):
“Em virtude de ser a DUDH uma declaração e não um tratado, há discussões na doutrina e na prática dos Estados sobre
2. sua força vinculante. Em resumo, podemos identificar três vertentes possíveis:
(i) aqueles que consideram que a DUDH possui força vinculante por se constituir em interpretação autêntica do termo
‘direitos humanos’, previsto na Carta das Nações Unidas (tratado, ou seja, tem força vinculante); (ii) há aqueles que
sustentam que a DUDH possui força vinculante por representar o costume internacional sobre a matéria;
(iii) há, finalmente, aqueles que defendem que a DUDH representa tão somente a soft law na matéria, que consiste em
um conjunto de normas ainda não vinculantes, mas que buscam orientar a ação futura dos Estados para que, então,
venha a ter força vinculante” (RAMOS, André de Carvalho. Curso de direitos humanos..., 2021).
 Defensor DPEPA FCC 2009 (correta): A Declaração Universal de Direitos Humanos apresenta força jurídica vinculante,
seja por constituir uma interpretação autorizada do artigo 55 da Carta das Nações Unidas, seja por constituir direito
costumeiro internacional, conforme sustenta parte considerável da doutrina, consagrando ainda a ideia de que, para ser
titular de direitos, basta ser pessoa. (correta)

Questões
 (Juiz TJMSP 2016 Vunesp) Não apresenta força de lei, por não ser um tratado. Foi adotada pela As-
sembleia das Nações Unidas sob a forma de resolução. Contudo, como consagra valores básicos uni-
versais, reconhece-se sua força vinculante. (correta)
 (Defensor Federal DPU 2010 Cespe) A Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948, apesar
de ter natureza de resolução, não apresenta instrumentos ou órgãos próprios destinados a tornar
compulsória sua aplicação. (correta)
 (Procurador da República PGR 2011) No tocante à Declaração Universal dos Direitos Humanos, é cor-
reto dizer que não é formalmente vinculante, mas é indicativo de amplo consenso internacional, in-
tegrando o chamado soft law. (correta)
 (Delegado PCAM 2022 FGV) A DUDH é conceitualmente distinta do jus cogens, não influindo no seu
surgimento e não sendo por ele afetada. (incorreta)
 (Promotor MPEAC 2014 Cespe) A Declaração Universal dos Direitos Humanos tem estatuto de tratado
internacional e marca o início da chamada fase de universalização dos direitos do homem. (incorreta)

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INFORMATIVOS 2023
DO STF

INFO 1107
DIREITO CONSTITUCIONAL – EMENDA À CONSTITUIÇÃO; DIREITOS HUMANOS; PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS;
DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS; COMPETÊNCIA JURISDICIONAL; TRIBUNAIS REGIONAIS FEDERAIS
E JUÍZES FEDERAIS
DIREITO PROCESSUAL CIVIL – INCIDENTE DE DESLOCAMENTO DE COMPETÊNCIA; JUSTIÇA FEDERAL
EC 45/2004: INCIDENTE DE DESLOCAMENTO DE COMPETÊNCIA NAS HIPÓTESES DE GRAVE VIOLAÇÃO DE
DIREITOS HUMANOS.
É constitucional — por não afrontar a forma federativa de Estado e os direitos e as garantias individuais
— o art. 1º da EC 45/2004, no que se refere à criação do incidente de deslocamento de competência (IDC)
para a Justiça Federal, nas hipóteses de grave violação de direitos humanos (inclusão do inciso V-A e do §
5º ao art. 109 da CF/1988).
A aplicabilidade do IDC é imediata (não é necessária norma legal regulamentadora, pois o art. 109, § 5º, da
CF, possui todos os requisitos para a incidência do IDC), atribuindo-se ao Procurador-Geral da República
(PGR) a responsabilidade de verificar a ocorrência de grave violação dos direitos humanos, previstos em
instrumentos normativos internacionais, sem o intermédio de uma legislação de regência.
STF. Plenário. ADIs 3.486/DF e 3.493/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 11.9.2023 (Info 1107).

Resumo:
A criação do IDC representa a adoção de mecanismo de equacionamento jurídico da problemática da
ineficiência do aparato estatal de repressão às graves violações dos direitos humanos. Considerou-se, em
especial, o papel da União como garante, em nível interno e externo, dos compromissos internacionais fir-
mados pelo Brasil com relação ao tema (1), de modo que a federalização dessas específicas causas é medida
excepcional e subsidiária.
Nesse contexto, a retirada de parcela da competência jurisdicional da magistratura estadual não enseja
quebra de cláusula pétrea (CF/1988, art. 60, § 4º, I e IV), nem ofensa ao pacto federativo ou a qualquer
cláusula de autonomia dos órgãos judiciários locais, em razão do caráter único e nacional do Poder Judiciá-
rio.
Também não há qualquer ofensa à legalidade, à segurança jurídica, ao devido processo legal, ao contra-
ditório e à ampla defesa, ao princípio do juiz natural, bem como à garantia constitucional do Tribunal do
Júri.
Não é necessária norma legal regulamentadora, pois o preceito constitucional (art. 109, § 5º, da CF) já
possui todos os elementos qualificadores necessários à sua incidência (CF/1988, art. 5º, § 1º).
Assim, o papel atribuído ao PGR configura mecanismo de equilíbrio e ponderação: ele tem o dever-poder
de suscitar o deslocamento quando observar a presença dos requisitos. Não há se falar em arbitrariedade
na formulação desse ato, que, em última análise, se submeterá ao crivo do STJ, cuja apreciação é pautada
por critérios jurídicos e não políticos.
Com base nesses e em outros entendimentos, o Plenário, por unanimidade, em apreciação conjunta, jul-
gou improcedentes as ações, para assentar a constitucionalidade do art. 1º da EC 45/2004, relativamente à
inclusão do inciso V-A e do § 5º ao art. 109 da CF/1988 (2).

(1) CF/1988: “Art. 21. Compete à União: I – manter relações com Estados estrangeiros e participar de orga-
nizações internacionais; (...) Art. 49. É da competência exclusiva do Congresso Nacional: I – resolver defini-
tivamente sobre tratados, acordos ou atos internacionais que acarretem encargos ou compromissos gravo-
sos ao patrimônio nacional; (...) Art. 84. Compete privativamente ao Presidente da República: (...) VIII – ce-
lebrar tratados, convenções e atos internacionais, sujeitos a referendo do Congresso Nacional;”
(2) CF/1988: “Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:
(...)
V – A as causas relativas a direitos humanos a que se refere o § 5º deste artigo;
(...)

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§ 5º Nas hipóteses de grave violação de direitos humanos, o Procurador-Geral da República, com a finali-
dade de assegurar o cumprimento de obrigações decorrentes de tratados internacionais de direitos huma-
nos dos quais o Brasil seja parte, poderá suscitar, perante o Superior Tribunal de Justiça, em qualquer fase
do inquérito ou processo, incidente de deslocamento de competência (IDC) para a Justiça Federal.”

INFO 1099
DENÚNCIA DE TRATADOS INTERNACIONAIS: NECESSIDADE DA MANIFESTAÇÃO DA VONTADE DO CON-
GRESSO NACIONAL.
A denúncia pelo Presidente da República de tratados internacionais aprovados pelo Congresso Nacional,
para que produza efeitos no ordenamento jurídico interno, não prescinde da sua aprovação pelo Con-
gresso.
Em homenagem ao princípio da segurança jurídica, deve ser mantida a validade do Decreto 2.100/1996,
por meio do qual o Presidente da República tornou pública a denúncia da Convenção 158 da OIT.
STF. Plenário. ADC 39/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 16/6/2023 (Info 1099).
 Em decorrência do próprio Estado Democrático de Direito e de seu corolário, o princípio da legalidade, é necessária a manifes-
tação de vontade do Congresso Nacional para que a denúncia de um tratado internacional produza efeitos no direito doméstico,
razão pela qual é inconstitucional a denúncia unilateral pelo Presidente da República. Contudo, esse entendimento deve ser apli-
cado somente a partir da publicação da ata do presente julgamento (a partir de 23/6/2023), mantendo-se a eficácia das denúncias
realizadas até esse marco temporal.
 A exclusão das normas incorporadas ao ordenamento jurídico interno não pode ocorrer de forma automática, por vontade
exclusiva do Presidente da República, sob pena de vulnerar o princípio democrático, a separação de Poderes, o sistema de freios
e contrapesos e a própria soberania popular. Assim, uma vez ingressado no ordenamento jurídico pátrio mediante referendo do
Congresso Nacional, a supressão do tratado internacional pressupõe também a chancela popular por meio de seus representantes
eleitos (1).
(1) CF/1988: “Art. 49. É da competência exclusiva do Congresso Nacional: I - resolver definitivamente sobre tratados, acordos ou
atos internacionais que acarretem encargos ou compromissos gravosos ao patrimônio nacional; (...) Art. 84. Compete privativa-
mente ao Presidente da República: (...) VIII - celebrar tratados, convenções e atos internacionais, sujeitos a referendo do Con-
gresso Nacional;”
 Essa participação do Poder Legislativo ganha importância ainda mais elevada quando se tem em perspectiva normas de prote-
ção aos direitos humanos. Na espécie, trata-se de denúncia da Convenção 158 da Organização Internacional do Trabalho - OIT,
cujo intuito é proteger os trabalhadores contra a dispensa arbitrária ou sem justa causa (direito social previsto no art. 7º, I, da
CF/1988).
 Embora, à luz do ordenamento constitucional, a denúncia de tratados internacionais dependa de anuência do Congresso Na-
cional para surtir efeitos internamente, a prática institucional resultou em uma aceitação tácita da denúncia unilateral por reite-
radas vezes e em períodos variados da história nacional, de modo que se consubstanciou em costume consolidado pelo tempo e
que vinha sendo adotado de boa-fé e com justa expectativa de legitimidade, eis que, até então, não foi formalmente invalidado.
 Com base nesses entendimentos, o Plenário, por maioria, julgou procedente a ação para manter a validade do Decreto
2.100/1996 e formular apelo ao legislador “para que elabore disciplina acerca da denúncia dos tratados internacionais, a qual
preveja a chancela do Congresso Nacional como condição para a produção de efeitos na ordem jurídica interna, por se tratar de
um imperativo democrático e de uma exigência do princípio da legalidade”.
 Não foi aceita a seguinte tese: “voto divergente do Ministro Edson Fachin, que declarava a inconstitucionalidade do Decreto
nº 2.100, de 20 de dezembro de 1996, e, ainda, determinava que o Presidente da República, no prazo de 30 (trinta) dias, retire a
carta de denúncia, julgando, por consequência, improcedente a presente ação declaratória, propondo, por fim, a seguinte tese:
A denúncia pelo Presidente da República de tratados e convenções internacionais aprovados pelo Congresso Nacional, em todas
as hipóteses, sejam denúncias anteriores, sejam denúncias posteriores a esse julgamento, depende da aprovação pelo Congresso
Nacional, para que produza efeitos no ordenamento jurídico interno”.

#Decisão: O Tribunal, por maioria, julgou procedente o pedido formulado na presente ação declaratória de constitucionalidade,
mantida a validade do Decreto nº 2.100, de 20 de dezembro de 1996, formulou apelo ao legislador para que elabore disciplina
acerca da denúncia dos tratados internacionais, a qual preveja a chancela do Congresso Nacional como condição para a produção
de efeitos na ordem jurídica interna, por se tratar de um imperativo democrático e de uma exigência do princípio da legalidade,
e, por fim, fixou a seguinte tese de julgamento: “A denúncia pelo Presidente da República de tratados internacionais aprovados
pelo Congresso Nacional, para que produza efeitos no ordenamento jurídico interno, não prescinde da sua aprovação pelo
Congresso”, entendimento que deverá ser aplicado a partir da publicação da ata do julgamento (23/6/2023), mantendo-se a
eficácia das denúncias realizadas até esse marco temporal. Tudo nos termos do voto do Relator, vencidos os Ministros Edson
Fachin, Ricardo Lewandowski, que votara em assentada anterior, e Rosa Weber (Presidente). Plenário, Sessão Virtual de 9.6.2023
a 16.6.2023.

#André de Carvalho Ramos critica a posição tradicional do STF (= denúncia unilateral pelo Presidente da República), pois viola o
fenômeno do “paralelismo das formas” (inclusive adotado pela Corte IDH): “É necessário consagrar o ‘paralelismo das formas’:

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como foi exigida a anuência do Congresso para a ratificação (junção de vontades positiva), deve ser exigida sua anuência para a
denúncia. A melhor interpretação atual da Constituição é o reconhecimento da exigência da ‘junção de vontades’ (junção de
vontades negativa) também para o ato de denúncia do tratado. Fica ressalvada, em nome da urgência na defesa dos interesses
nacionais, que possa existir rito célere de aprovação da denúncia no Congresso Nacional, em mais um uso dos ‘diálogos institu-
cionais’ como já exposto. (...) Assim, há a tendência da superação da visão tradicional referente ao poder arbitrário do Presidente
da República para denunciar tratados, devendo ser obtida previamente a anuência do Congresso Nacional. Caso o STF confirme
esse entendimento, deve ser observado, ainda, no caso dos tratados de direitos humanos aprovados pelo rito especial do art. 5º,
§3º, o quórum qualificado de 3/5 para aceitação, pelo Congresso, da denúncia. Além disso, em qualquer hipótese, a denúncia de
um tratado de direitos humanos submete-se ao crivo da proibição do retrocesso (efeito cliquet), ou seja, deve existir motivo para
a denúncia que não acarrete diminuição de direitos e ainda cabe controle judicial para verificação da constitucionalidade da
denúncia.” (RAMOS, 2022, p. 316).
 A Corte IDH (OC 26) adota o paralelismo das formas nos casos denúncia em face da CADH (RAMOS, 2022, p. 277). Ou seja, que
o mesmo formato interno utilizado para a ratificação seja utilizado para a denúncia. Ex.: se a ratificação exige a aprovação prévia
do Congresso, a denúncia deveria exigir tal aprovação parlamentar.
 RAMOS, André de Carvalho. Curso de direitos humanos. Saraiva, 2022.

#Resumindo
Denúncia unilateral pelo Presidente da República
de tratados internacionais aprovados pelo Congresso Nacional
ANTES DA ADC 39/DF DEPOIS DA ADC 39/DF
Não prescinde (= não há necessidade) Prescinde (= há necessidade)
da aprovação do Congresso Nacional. da aprovação do Congresso Nacional.
É possível a denúncia unilateral pelo Presidente da Não é possível a denúncia unilateral pelo Presi-
República de tratados internacionais aprovados dente da República de tratados internacionais apro-
pelo Congresso Nacional. vados pelo Congresso Nacional.[1]
[1] “Em decorrência do próprio Estado Democrático de Direito e de seu corolário, o princípio da legalidade,
é necessária a manifestação de vontade do Congresso Nacional para que a denúncia de um tratado inter-
nacional produza efeitos no direito doméstico, razão pela qual é inconstitucional a denúncia unilateral
pelo Presidente da República. Contudo, esse entendimento deve ser aplicado somente a partir da publi-
cação da ata do presente julgamento (a partir de 23/6/2023), mantendo-se a eficácia das denúncias reali-
zadas até esse marco temporal.” (STF, Info 1099).
 Atualmente (a partir de 23/6/2023), portanto, o STF adota o fenômeno do paralelismo das formas e passa
a ficar alinhado com a posição adotada pela Corte IDH (OC 26).

#Não confundir
Processo de incorporação dos tratados internacionais na ordem jurídica interna:
teoria da junção de vontades positiva vs. teoria da junção de vontades negativa
Teoria da junção de vontades positiva
(incorporação)
 Ocorre no momento da incorporação do tratado internacional na ordem jurídica interna, por meio
das 4 fases: i) fase da assinatura; ii) fase da aprovação congressual (ou fase do decreto legislativo);
iii) fase da ratificação; iv) fase do decreto presidencial (ou decreto de promulgação.
Obs. Não há prazo para a edição do Decreto de Promulgação. Aqui existem duas consequências práticas, se ausente o
1. Decreto de Promulgação: 1) o Brasil fica responsabilizado na ordem internacional, pois superada a fase da ratificação;
2) o Brasil não fica responsabilizado na ordem interna, pois pendente a fase da promulgação.
 Lembrando que o Brasil adota a teoria da junção de vontades positiva, ou seja, ambos (Congresso
Nacional e Poder Executivo) atuam no processo de incorporação do tratado internacional para que
tenha validade nos planos interno e internacional.
 STF (CR 8279-AgR, j. 17-6-1998): apenas com o decreto de promulgação (4ª fase) a norma válida
internacionalmente será também válida internamente.[1]
Teoria da junção de vontades negativa
2.
(denúncia)

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 Ocorre no momento em que o Estado já incorporou o tratado internacional, mas quer deixá-lo e
busca formalizar a sua retirada. Isso pode variar a depender do tratado internacional, pois cada tra-
tado apresenta regramento próprio.
 Ex.: art. 21 da Convenção Interamericana contra o Racismo – Dec. 10.932/2022 (“Esta Convenção permanecerá em
vigor indefinidamente, mas qualquer Estado Parte poderá denunciá-la mediante notificação por escrito dirigida ao Se-
cretário-Geral da Organização dos Estados Americanos. Os efeitos da Convenção cessarão para o Estado que a denunciar
um ano após a data de depósito do instrumento de denúncia, permanecendo em vigor para os demais Estados Partes.
A denúncia não eximirá o Estado Parte das obrigações a ele impostas por esta Convenção com relação a toda ação ou
omissão anterior à data em que a denúncia produziu efeito”).
 Para isso (retirada efetiva), apresenta-se a chamada denúncia, por parte do Presidente da Repú-
blica (ou ainda por lei do Poder Legislativo, ordenando ao Executivo que denuncie o tratado no plano
internacional).
 Exemplo (Decreto 2.100/1996): “O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, torna público que deixará de vigorar para o Brasil, a
partir de 20 de novembro de 1997, a Convenção da OIT nº 158, relativa ao Término da Relação de Trabalho por Iniciativa
do Empregador, adotada em Genebra, em 22 de junho de 1982, visto haver sido denunciada por Nota do Governo
brasileiro à Organização Internacional do Trabalho, tendo sido a denúncia registrada, por esta última, a 20 de novembro
de 1996”.
 STF (ADC 39/DF): a partir de 23/6/2023 o STF adotou a teoria da junção de vontades negativa,
sendo inconstitucional a denúncia unilateral pelo Presidente da República. Para que ocorra a de-
núncia, portanto, é necessário que ambos (Congresso Nacional e Poder Executivo) atuem na cha-
mada “denúncia”, privilegiando o fenômeno do “paralelismo das formas”.
[1] Tratado internacional com status de norma constitucional: para que o tratado receba o qualificativo do
rito do § 3º do art. 5º da CF (não basta a mera incorporação), é necessário que o Decreto Legislativo seja
aprovado, por maioria de 3/5 e em dois turnos em cada Casa do Congresso Nacional, que se dá na fase de
aprovação congressual ou fase do decreto legislativo. Também será obrigatório percorrer as demais fases
(ratificação e promulgação). Exemplos de tratados aprovados de acordo com esse rito (= equivalentes à
emenda constitucional, ou seja, com status de norma constitucional):
(i) Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência
(ii) e seu Protocolo Facultativo,
(iii) o Tratado de Marraqueche para Facilitar o Acesso a Obras Publicadas às Pessoas Cegas, com Deficiência
Visual ou com outras Dificuldades para ter Acesso ao Texto Impresso, bem como
(iv) a Convenção Interamericana contra o Racismo.

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INFORMATIVOS 2023
DO STJ

INFO 775 DO STJ


PROVAS. É cabível o acesso aos elementos de prova já documentados nos autos de inquérito policial aos
familiares das vítimas, por meio de seus advogados ou defensores públicos, em observância aos limites
estabelecidos pela Súmula Vinculante n. 14. STJ. 6ª Turma. Processo em segredo de justiça, Rel. Min. Ro-
gerio Schietti Cruz, julgado em 18/4/2023 (Info 775).
 No âmbito desta Corte, com base nessa mesma premissa, as duas Turmas que integram a Terceira Seção já concederam acesso
ao inquérito policial a advogados das vítimas, pois deve "ser assegurado à suposta vítima, assim como ao próprio investigado -
ambos legitimamente interessados nos rumos dos trabalhos desempenhados pela Polícia Judiciária e que, inclusive, poderão
colaborar com as autoridades competentes na elucidação dos fatos investigados - amplo acesso aos elementos de prova já docu-
mentados" (RMS 55.790/SP, Rel. Ministro Jorge Mussi, Quinta Turma, DJe 14/12/2018).
 Caso Gomes Lund e outros vs. Brasil (Guerrilha do Araguaia), no qual a Corte IDH salientou que "as vítimas de violações de
direitos humanos ou seus familiares devem contar com amplas possibilidades de ser ouvidos e atuar nos respectivos processos,
tanto à procura do esclarecimento dos fatos e da punição dos responsáveis, como em busca de uma devida reparação" (Sentença
de 24 de novembro de 2010, § 139).
 Caso Cosme Genoveva e outros vs. Brasil (Favela Nova Brasília), a Corte Interamericana de Direitos Humanos determinou que
"o Estado deverá adotar as medidas legislativas ou de outra natureza necessárias para permitir às vítimas de delitos ou a seus
familiares participar de maneira formal e efetiva da investigação de delitos conduzida pela polícia ou pelo Ministério Público".
 Sobre o tema, a Regra n. 35 do Protocolo de Minnesota - documento elaborado pelo Alto Comissariado da ONU para os Direitos
Humanos destinado à investigação de mortes potencialmente ilícitas - estabelece que: "35. La participación de los miembros de
la familia y otros parientes cercanos de la persona fallecida o desaparecida constituye un elemento importante en una investiga-
ción eficaz. El Estado debe permitir a todos los parientes cercanos participar de manera efectiva en la investigación, aunque sin
poner en peligro su integridad".

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