17-Texto Do Artigo-103-1-10-20201026
17-Texto Do Artigo-103-1-10-20201026
17-Texto Do Artigo-103-1-10-20201026
RESUMO:
O presente artigo pretende analisar a abrangência do direito à saúde e a responsabilidade civil do Estado no que diz
respeito ao fornecimento de medicamentos e alimentos essenciais. Primeiramente, traça r-se-á um paralelo acerca dos
direitos fundamentais e sociais e a importância do direito à saúde na concretização ao direito à vida. Em seguida,
analisaremos a obrigação do constitucional do Estado em efetivar e implementar esse direito. Ademais exploraremos a
consequente inefetividade dessa prestação estatal, qual seja, no campo jurídico, a judicialização do direito à saúde,
especificamente para o fornecimento de medicamentos e alimentos essenciais. também será apresentado um levantamento
que realizamos sobre o posicionamento jurisprudencial e doutrinário acerca do tema. E, por fim, Abordar-se-ão algumas
medidas adotadas pelo Estado a fim de cumprir sua obrigação e minimizar os efeitos da concretização extraordinária
desse direito.
ABSTRACT:
The present article intends to analise the scope o fright to healt hand the responsibility of the State concerning the supply
of medicines and essencial food. Firstly, wedraw a parallel on fundamental and social rights and the importance of the
right to health in the realization of the right to life. After that, we will analise the constitutional obligation of the State in
accomplish to implement this right; as well as explore the consequentin effec tiveness of this state provision and its
consequence in the legal field, in other words, the judicialization of the right to health, specifically for the supply of
medicines and essencial food. In this aspect, the doctrinal under standing sand the positions of the Courts on the subject
will be high lighted. And, lastly, some measures adopted by the State with the scope of fulfilling its obligation and
minimizing the effects of the extraordinary realization of this right will be addressed.
1 INTRODUÇÃO
1
Renato Arenhardt, Farmacêutico, Acadêmico de Direito do Centro Universitário da Fundação Assis Gurgacz. [email protected]
2
Eduardo Hoffman, Mestre em Direito, Docente do Centro Universitário da Fundação Assis Gurgacz. [email protected] .
Em análise macro, a prestação do direito à saúde por parte do Estado se efetivará mediante
ações específicas em uma dimensão individualizada e também mediante a promoção de amplas
políticas públicas, que visem a diminuição do risco de doença e agravos.
Em consequência disso, a Lei Federal 8.080/90 criou o Sistema Único de Saúde, que
estabelece e regula as ações para promoção e manutenção da saúde em todo o território nacional. O
artigo 6º da referida lei dispõe acerca do campo de atuação do Sistema Único de Saúde, trazendo
especificamente na alínea "d" do inciso I e inciso IV, a obrigação de todos os entes federativos de
fornecerem medicamentos e alimentos essenciais à manutenção da saúde:
Art. 6º Estão incluídas ainda no campo de atuação do Sistema Único de Saúde (SUS):
I - a execução de ações:
d) de assistência terapêutica integral, inclusive farmacêutica;
IV - a vigilância nutricional e a orientação alimentar;
Nesse sentido, para cumprir a sua obrigação em garantir aos seus cidadãos o direito fundamental
à saúde, cabe objetivamente ao Estado o fornecimento de medicamentos, alimentos para fins
especiais, além de outras preparações e tratamentos, considerados pela ciência médica
imprescindíveis para a manutenção, recuperação e reabilitação da saúde e da vida humana.
A partir do momento em que o Estado deixa de fornecer tais subsídios para manutenção da
saúde humana, restam violadas regras e princípios constitucionais. Surge daí, a responsabilidade civil
do Estado em reparar o dano causado, pautada no dever legal de prestar saúde à população e fornecer
o necessário para a manutenção da saúde.
Desta forma, o presente estudo busca evidenciar a responsabilidade do Estado em promover
e assegurar a saúde de seus cidadãos, seja pela assistência por meio das práticas convencionais, o que
engloba o fornecimento de medicamentos, seja por meio do provimento de alimentos especiais e
outras práticas que visem à redução de doenças, à proteção e à recuperação da saúde.
99
sociedade dos indivíduos, independentemente de sua religião, etnia, cor ou condição social. Quando
ausentes os direitos fundamentais, o homem não é capaz sequer de sobreviver (BULOS, 2015).
Desta forma, os direitos fundamentais assumem posição concreta no seio da sociedade a partir
do momento em que transforma a relação do Estado com o indivíduo, pois reconhece que
primeiramente o indivíduo possui direitos, para só então se transformar em um sujeito de obrigações
perante o Estado. Portanto, os direitos dos indivíduos frente ao Estado partem do pressuposto de que
existem em função do dever do próprio Estado de melhor cuidar das necessidades de seus cidadãos
(MENDES, 2013).
O fundamento básico desta obrigação estatal e dos direitos fundamentais do cidadão é a
dignidade da pessoa humana, que se traduz, segundo o doutrinador Uadi Lammêgo Bulos (2015),
como valor máximo social que consubstancia a integridade moral do ser humano, com um conteúdo
amplo que envolve os valores espirituais, materiais, saúde, educação, convertendo-se em um conjunto
de valores civilizatórios incorporados ao patrimônio do homem com força jurídica, que nasce desde
a concepção e se perdura além da morte, tornando-se inata ao ser humano.
Nesta esteira, os direitos fundamentais são o mínimo existencial para que a vida possa se
desenvolver e se realizar. Com isso, a dignidade da pessoa humana impõe o respeito ao ser humano
e, não admite relativizações aos direitos fundamentais (MARTINS FILHO, 2012).
O direito à vida é o mais elementar de todos os direitos fundamentais e firma-se como requisito
essencial para o efetivo exercício de todos os demais direitos (MORAIS, 2017). Por este motivo, a
Constituição Federal assegura a todos, a inviolabilidade do direito à vida.
Nesse sentido, tem-se que a existência humana é a condição primária de todos os demais
direitos dispostos na Carta Magna da República. Não faria sentido declarar qualquer outro direito se
primariamente o próprio direito de estar vivo para desfrutá-lo não fosse assegurado. Portanto, a sua
capital relevância é superior a qualquer outro interesse (MENDES, 2013).
Rememorando a existência do princípio da dignidade da pessoa humana, que resulta da
abrangência do direito fundamental ao direito a uma existência digna, tanto no aspecto espiritual,
quanto no material, o direito à vida não se reduz ao direito à sobrevivência física (ALEXANDRINO,
2017).
100
Neste sentido, vale transcrever o ensinamento do doutrinador Marcelo Alexandrino:
O direito fundamental à vida possui duplo aspecto: sob o prisma biológico traduz o direito à
integridade física e psíquica (desdobrando-se no direito à saúde, na vedação à pena de morte,
na proibição do aborto etc); em sentido mais amplo, significa o direito a condições materiais
e espirituais mínimas necessárias a uma existência condigna à natureza humana
(ALEXANDRINO, 2017, p.115).
Ainda, para o professor Alexandre Morais (2017), "A Constituição Federal proclama,
portanto, o direito à vida, cabendo ao Estado assegurá-lo em dupla acepção, senda a primeira
relacionada ao direito de continuar vivo e a segunda de ter uma vida digna quanto à subsistência".
101
2.2 DIREITO À SAÚDE
102
Na visão de Mendes (2012), é de fácil percepção que o texto expresso pelo artigo
constitucional apresenta tanto um direito individual, quanto um direito coletivo de salvaguarda à
saúde, conduzindo o indivíduo e o Estado a uma relação jurídica obrigacional. O dispositivo
constitucional, portanto, deixa cristalino que, para além do direito fundamental à saúde, existe a
obrigação de prestação e promoção da saúde por parte do Estado.
Nas palavras do doutrinador Dirley da Cunha Junior:
O direito social à saúde é tão fundamental, por estar mais diretamente ligado ao direito à
vida, que nem precisava de reconhecimento explícito. Nada obstante, a Constituição
brasileira dispôs que a saúde é um direito de todos e dever do Estado, garantido mediante
políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e
ao acesso universal e igualitário às ações e serviços para a sua promoção, proteção e
recuperação. Assim, constitui exigência inseparável de qualquer Estado que se preocupa
com o valor vida humana, o reconhecimento de um direito subjetivo público à saúde
(CUNHA JUNIOR, 2012, p. 768).
Para o doutrinador Professor José Afonso da Silva (2014) o direito à saúde abarca duas
vertentes, a primeira de natureza negativa, que se traduz no direito a exigir do Estado que se abstenha
de qualquer atentado contra saúde, e a segunda de natureza positiva, que expressa o direito do
indivíduo a medidas e prestações do Estado que visem a prevenção das doenças e o tratamento delas.
Ainda, o direito à saúde transparece outras duas noções: uma relacionada ao direito de defesa,
que nada mais é que a salvaguarda da saúde individual e coletiva contra quaisquer ingerências
indevidas, seja do Estado, seja do particular, e outra que se relaciona com o direito à prestação,
especificamente na imposição de deveres de proteção por parte do Estado à saúde pessoal e pública
(SARLET, 2011).
Nesse sentido, seguindo o declarado pelo Ministro Gilmar Mendes, é possível concluir que a
promoção, manutenção e o desenvolvimento da saúde é dever do Estado, que mediante políticas
sociais e econômicas deve garantir a concretização desse direito. Além disso, deve o Estado assegurar
o acesso universal e igualitário aos serviços públicos de Saúde (MENDES, 2012).
É seguindo a premissa de garantir o direito ao acesso à saúde mediante o desenvolvimento de
políticas sociais, que a Constituição Federal de 1988, em seu artigo 198 criou o Sistema Único de
Saúde - SUS:
Art. 198. As ações e serviços públicos de saúde integram uma rede regionalizada e
hierarquizada e constituem um sistema único, organizado de acordo com as seguintes
diretrizes: I - descentralização, com direção única em cada esfera de governo;
II - atendimento integral, com prioridade para as atividades preventivas, sem prejuízo dos
serviços assistenciais; III - participação da comunidade.
103
A efetivação infraconstitucional do Sistema Único de Saúde (SUS) veio com a Lei 8080/1990,
que por sua vez no artigo 2º referenda os dizeres constitucionais apontando a saúde como direito
fundamental do ser humano (MENDES, 2012).
A intenção da Constituição Federal ao criar o SUS é, além de além de efetivar o direito à
saúde, estabelecer um modelo básico organizacional, em que, solidariamente, todos os entes
federativos estão integrados e hierarquizados de forma descentralizada.
Nesse sentido, pelo caráter regionalizado do SUS, a competência de cuidar da saúde da
população é comum a todos os entes da federação. Ainda, o artigo 23, inciso II, da Constituição
Federal fixa ao reverberar que a responsabilidade pela saúde junto ao indivíduo e a coletividade é
solidária à União, Estados, Municípios e Distrito Federal (MENDES, 2012).
O SUS é regido pela baliza de alguns princípios norteadores, quais sejam: Universalidade,
equidade e integralidade.
Merece especial destaque para compreensão da responsabilidade dos entes federativos pela
saúde do indivíduo e da coletividade os dizeres do doutrinador André Ramos Tavares acerca do
princípio da integralidade:
Resta evidente diante do exposto, que como o Estado colocou-se na posição de agente
garantidor do direito à saúde, por meio de políticas públicas, caso não venha a cumprir seu papel
central em garantir a saúde e, principalmente, o acesso a ela, a norma do artigo 196 da Constituição
Federal, poderá servir como fundamento necessário para exigir que o agente garantidor, o Estado,
adote as medidas cabíveis para efetivar o direito previsto no texto constitucional (SILVA, 1998).
Ainda, no caso de ausência ou insuficiência da integralidade dessas prestações, cabe de maneira
indubitável a efetivação judicial desse direito constitucionalmente garantido. Assim, cabe ao titular
do direito exigir judicialmente do Estado a providência necessária para concretização da prestação
que lhe é necessária, a fim de resguardar a sua saúde (CUNHA JUNIOR, 2012).
104
2.3. DA RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO
Digamos, então, que responsável, responsabilidade, assim como, enfim, todos os vocábulos
cognatos, exprimem ideia de equivalência de contraprestação, de correspondência. É
possível, diante disso, fixa uma noção, sem dúvida ainda imperfeita, de responsabilidade, no
sentido de repercussão obrigacional da atividade do homem. Como esta varia até o infinito,
é lógico concluir que são também inúmeras as espécies de responsabilidade, conforme o
campo em que se apresenta o problema: na moral, nas relações jurídicas, de direito público
ou privado (DIAS, 2012, p. 2).
De maneira simples e objetiva, Yussef Said Cahali (2007) define Responsabilidade Civil do
Estado como sendo a obrigação legal, que lhe é imposta, de ressarcir os danos causados a terceiros
por suas atividades.
Ainda de acordo com o ilustre doutrinador, essa responsabilidade apenas compreende a
reparação dos danos causados por atos ilícitos, não abarcando portanto, qualquer indenização ou
reparação em decorrência de atividade legítima do Poder Público.
Desta forma, no que tange à responsabilidade civil do Estado, a Constituição Federal de 1988,
a consagrou no artigo 37 § 6º com os seguintes dizeres: “As pessoas jurídicas de direito público e as
de direito privado prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa
qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de
dolo ou culpa" (BRASIL, 1988).
Consagrada no artigo 37 § 6º da CRFB/1988 a responsabilidade objetiva propende a
satisfazer-se apenas com a simplicidade do nexo de causalidade material, sem qualquer necessidade
105
de prova de culpa, sendo suficiente, apenas, a identificação do vínculo etiológico – qual seja, a
atividade do Estado, como a causa para o dano sofrido pelo particular (CAHALI, 2007).
De acordo com Cavalieri Filho (2012), o dispositivo constitucional determina em um primeiro
momento que o Estado responde objetivamente pelo dano causado pelos seus agentes a terceiros.
Condicionando à responsabilidade objetiva do Poder Público ao dano decorrente de sua atuação. Isto
é, se faz necessária uma relação de causalidade, sem a qual não é possível responsabilizá-lo
objetivamente.
No dizeres de Nader (2016), uma vez apurado o dano a um cidadão e evidenciado o nexo de
causalidade entre o prejuízo e a conduta do representante Estatal, resta clara a responsabilidade do
Estado, sem qualquer necessidade de se demonstrar a culpa.
Em suma, nas palavras de Cavalieri Filho (2012, p 262) “Haverá a responsabilidade do Estado
sempre que se possa identificar um laço de implicação recíproca entre a atuação administrativa, ainda
que fora do estrito da função, e o dano causado a terceiro”.
Art. 6º Estão incluídas ainda no campo de atuação do Sistema Único de Saúde (SUS):
I - a execução de ações:
d) de assistência terapêutica integral, inclusive farmacêutica;
IV - a vigilância nutricional e a orientação alimentar;
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Ressalte-se que a responsabilidade pelos compromissos de bem-estar social e erradicação de
desigualdades se estende solidariamente aos Estados, Municípios, Distrito Federal e à União,
corolário da sistemática do federalismo cooperativo adotado pela Constituição Federal, em seu artigo
23. O SUS é modelo desse federalismo por cooperação, pois é estruturado com caráter interestatal, o
que torna a gestão da saúde pública e a gestão de distribuição de medicamentos e alimentos essenciais,
por força de lei, uma obrigação solidária aos entes federativos (MENDES, 2012).
A clara efetivação da mencionada cooperação solidária dos entes federativos, no que tange à
gestão da saúde pública, pode ser concretamente observada no atual entendimento proferido pelo
Egrégio Superior Tribunal de Justiça, no julgamento do Agravo em Recurso Especial n.
1147998/MG, abaixo ementado:
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(...) Deve-se considerar, ainda, que modificações qualitativas e quantitativas no consumo de
medicamentos são influenciadas pelos indicadores demográficos, os quais têm demonstrado
clara tendência de aumento na expectativa de vida ao nascer.
(...) Acarretando um maior consumo e gerando um maior custo social, tem-se novamente o
processo de envelhecimento populacional interferindo sobretudo na demanda de
medicamentos destinados ao tratamento das doenças crônico-degenerativas, além de novos
procedimentos terapêuticos com utilização de medicamentos de alto custo. Igualmente,
adquire especial relevância o aumento da demanda daqueles de uso contínuo, como é o caso
dos utilizados no tratamento das doenças cardiovasculares, reumáticas e da diabetes. Frise-
se o fato de que é bastante comum, ainda, pacientes sofrerem de todas essas doenças
simultaneamente (Portaria Nº 3.916, de 30 De Outubro De 1998).
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e, efetivamente, garantem o acesso da população à saúde, qualidade de vida e bem estar social
(MENDES, 2012).
Nos casos em que o acesso universal e igualitário à saúde é comprometido, o cidadão,
individualmente considerado, não pode ser punido pela administração ineficaz ou até pela omissão
do sistema de saúde em não considerar determinado fármaco essencial, ou não ter em quantidades
suficientes para atender a demanda (MENDES, 2012).
Neste sentido, não há dúvida que resta configurado um direito subjetivo à prestação de saúde,
passível de efetivação por meio do Poder Judiciário (MENDES, 2012).
A efetivação do direito à saúde, especificamente o fornecimento de medicamentos, pelo poder
Judiciário vem sendo fruto de inúmeras demandas e relacionam-se a diversas espécies de fármacos.
No recente Acórdão proferido pelo Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, no Agravo de
Instrumento nº 2029825-28.2018.8.26.0000, foi reconhecida a indisponibilidade do direito à saúde
no caso concreto, sendo determinada a prestação do medicamento pelo E. Tribunal, em detrimento
de suposta padronização no fornecimento de apenas determinados medicamentos pelo ente
federativo, conforme se vê da ementa abaixo:
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Recentemente, visando uniformizar a judicialização e o acesso aos medicamentos não
cobertos pelo SUS, o Egrégio Superior Tribunal de Justiça fixou a tese de que constitui obrigação do
poder público o fornecimento de medicamentos não incorporados em atos normativos do SUS, desde
que presentes, cumulativamente, os requisitos presentes na ementa do RECURSO ESPECIAL Nº
1.657.156 - RJ (2017/0025629-7):
É de se inferir, portanto, que a saúde, nela englobado o acesso a medicamentos, constitui bem
vinculado à dignidade do homem. E que, sim, o desenvolvimento dela deve ficar a cargo de políticas
públicas. No entanto, muitas vezes a sua efetivação dado o caráter essencial, fundamentale pleno
desse direito – será através do acionamento da máquina judicial, que por sua vez, deverá criar
mecanismos que visem a tutela e efetivação desse direito fundamental, sem, todavia, extrapolar os
limites do necessário e mínimo para existência da saúde do indivíduo.
110
2.3.2 – Responsabilidade do Estado no fornecimento de alimentos essenciais.
111
saúde da paciente. Desse modo, não pode a Administração Pública se eximir da sua
obrigação de assistência aos necessitados pelo simples fundamento de que o medicamento
requerido não integra a denominada RENAME - Relação Municipal de Medicamentos
Essenciais vez que tais normas administrativas que delimitam a prestação a determinadas
espécies de procedimentos médicos restringem o atendimento, violando, assim, os
preceitos constitucionais da garantia do direito à saúde e à dignidade da pessoa humana.
Não bastasse isso, o Município de Juiz de Fora não trouxe qualquer elemento que pudesse
demonstrar a viabilidade de outro tratamento no âmbito do SUS, que pudesse ser aplicado
com sucesso no intuito de reverter o quadro clínico da paciente. (...) Destarte, tendo sido
comprovada a necessidade e urgência dos suplementos prescritos, deve ser mantida a
sentença ora analisada" (fls. 103-110, e-STJ). A revisão desse entendimento implica reexame
de matéria fático-probatória, o que atrai o óbice da Súmula 7/STJ. Precedentes: AgInt no
AREsp 964.531/DF, Rel. Ministra Assusete Magalhães, Segunda Turma, DJe 8.3.2017;
AgRg no AREsp 708.411/PE, Rel. Ministro Og. Fernandes, Segunda Turma, DJe
18.11.2016; e AgInt no AREsp 962.285/DF, Rel. Ministro Sérgio Kukina, Primeira Turma,
DJe 5.10.2016. 3. Recurso Especial não conhecido.
É possível inferir da competente decisão que cabe ao Estado precipuamente garantir a saúde
de seus cidadãos, independentemente da necessidade do cidadão em questão estar coberta por
determinada lista ou critério estabelecido pelo governo. Essa decisão claramente coaduna-se com o
texto constitucional, pois determina que independente do que está planejado, para saúde, há
necessidade de haver adaptações para alcançar a responsabilidade do Estado em garantir o pleno gozo
de saúde de seus cidadãos.
Ciente da sua obrigação constitucional em promover, manter, e assegurar a saúde aos seus
cidadãos o Estado cada vez mais objetiva a prevenção da saúde. Entende-se que quanto maior a
ausência de doença, menor é o custo empregado no provimento dos múltiplos anseios individuais em
sede da judicialização desse direito à saúde.
Nesse sentido, surgem, como evolução no que diz respeito a essa responsabilidade, políticas
preventivas dos entes estatais a fim de dar manutenção e promoção à saúde do povo brasileiro.
Deste novo entendimento surge a Política Nacional de práticas integrativas e complementares
do SUS, tendo como principal objetivo incorporar e implementar ao SUS a perspectiva de prevenção
de agravos e da promoção e recuperação da saúde, com ênfase na atenção básica, primária, voltado
para um cuidado continuado e integral. Com isso, objetiva-se contribuir para o aumento da
resolutividade do SUS (PNPIC, 2018).
112
Dentre as principais práticas estão: A medicina tradicional chinesa, homeopatia, o uso de
plantas medicinais, a hipnoterapia, constelação familiar, reike, dentre outras. Essa terapias
complementares estão presentes em mais de 9.350 estabelecimentos, num total de 3.173 municípios
no ano de 2017 foram realizados aproximadamente 1,4 milhões de atendimentos, e a estimativa é que
entre atendimento individuais e coletivas cerca de 5 milhões de pessoas tenham sido beneficiadas
(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2018).
A luz do exposto é possível perceber que o Estado cada vez mais busca formas diferentes de
concretizar o disposto no artigo 196 da Constituição Federal. Essas novas práticas de saúde visam de
certa maneira cercar toda e qualquer possibilidade do risco doença, vez que uma população saudável
gera um custo menor ao Estado e cada vez menos acionar a máquina do judiciário para demandas que
geram um gasto extraordinário e muitas vezes voluptuoso, além de que, promover a saúde é uma
obrigação constitucional dos entes estatais.
3. CONSIDERAÇÕES FINAIS
113
imposta constitucionalmente, visando assim, além de realmente promover saúde digna, sua obrigação
precípua, deixar de extraordinariamente, de maneira não programada e onerosa, efetivar o direito à
saúde.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei Federal nº 8080 de 19 de Setembro de 1990 - Dispõe sobre as condições para a
promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços
correspondentes e dá outras providências. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8080.htm/> Acesso em: 27 Fevereiro 2018.
114
BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso especial representativo de controvérsia. Tema 106.
Julgamento sob o rito do art. 1.036 do CPC/2015. Fornecimento de medicamentos não constantes
dos atos normativos do SUS. Possibilidade. Caráter excepcional. Requisitos cumulativos para o
fornecimento. Recurso Especial nº 1.657.156 - RJ 2017/0025629-7. Rio de Janeiro. Relator:
Ministro Benedito Gonçalves, Julgamento: 26/04/2017, S1, Primeira Seção. Publicação:
03/05/2017.
CAHALI. Yussef. RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO. 3.ed. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2007.
DIAS, José de Aguiar. DA RESPONSABILIDADE CIVIL. 12. ed. São Paulo: Lumen Juris, 2012.
MORAIS, Alexandre de. DIREITO CONSTITUCIONAL. 33. ed. São Paulo: Atlas, 2017.
SÃO PAULO. Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo. Ação de obrigação de fazer.
Fornecimento de medicamento. TJ-SP 2029825-28.2018.8.26.0000. São Paulo. Relator: Claudio
Augusto Pedrassi, Data de Julgamento: 09/04/2018, 2ª Câmara de Direito Público, Data de
Publicação: 09/04/2018.
116