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LISTA 1
Questão 1/5
Coro dos desgraçados: Trabalhamos noite e dia, dia e noite sem parar! Então de nada precisamos, se só precisamos
trabalhar! Há mil anos sem parar! Fizemos as correntes que nos botaram nos pés, fizemos a Bastilha onde fomos
morar, fizemos os canhões que vão nos apontar. Há mil anos sem parar! Não mandamos, não fugimos, não
cheiramos, não matamos, não fingimos, não coçamos, não corremos, não deitamos, não sentamos: trabalhamos. Há
mil anos sem parar! Ninguém sabe nosso nome, não conhecemos a espuma do mar, somos tristes e cansados. Há
mil anos sem parar! Eu nunca ri — eu nunca ri — sempre trabalhei. Eu faço charutos e fumo bitucas, eu faço tecidos e
ando pelado, eu faço vestido pra mulher, e nunca vi mulher desvestida. Há mil anos sem parar! Maria esqueceu de
mim e foi morar com seu Joaquim. Há mil anos sem parar!
(Apito longo. Um cartaz aparece: “Dois minutos de descanso e lamba as unhas.”
Todos vão tentar sentar. Menos o Desgraçado 4 que fica de pé furioso.)
Desgraçado 1: Ajuda-me aqui, Dois. Eu quero me dá uma sentadinha.
(Desgraçado 2 ri de tudo.)
Desgraçado 3: Senta. (Desgraçado 1 vai pôr a cabeça no chão.) De assim, não. Acho que não é com a cabeça não.
Desgraçado 1: Eu esqueci.
Desgraçado 3: A bunda, põe ela no chão. A perna é que eu não sei.
Desgraçado 2: A perna tira.
(Desgraçado 3 e Desgraçado 2 desistem de descobrir. Se atiram no chão.)
Desgraçado 1: A perna dobra! (Senta. Satisfeito.)
Desgraçado 2: Quero ver levantar.
(Todos olham para Desgraçado 4, fazem sinais para que ele se sente.)
Desgraçado 4: Não! Chega pra mim! Eu só trabalho, trabalho, trabalho… (Perde o fôlego.)
Desgraçado 3: Eu te ajudo: trabalho, trabalho, trabalho...
Desgraçado 4: E tenho dois minutos de descanso? Nunca vi o sol, não tomei leite condensado, não canto na rua,
esqueci do sentar, quando chega a hora de descansar, fico pensando na hora de trabalhar! Chega!
Slide: Quem canta seus males espanta.
Desgraçado 1: (cantando) A paga vem depois que a gente morre! Você vira um anjo todo branco, rindo sempre da
brancura, bebe leite em teta de nuvem, não tem mais fome, não tem saudade, pinta o céu de cor de felicidade!
(Peças do CPC, 2016. Adaptado.).
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LISTA DE EXERCÍCIOS
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Questão 2/5
A lavadeira começou a viver como uma serviçal que impõe respeito e não mais como escrava. Mas essa regalia
súbita foi efêmera. Meus irmãos, nos frequentes deslizes que adulteravam este novo relacionamento, geram
dardejados pelo olhar severo de Emilie; eles nunca suportaram de bom grado que uma índia passasse a comer na
mesa da sala, usando os mesmos talheres e pratos, e comprimindo com os lábios o mesmo cristal dos copos e a
mesma porcelana das xícaras de café. Uma espécie de asco e repulsa tingia-lhes o rosto, já não comiam com a
mesma saciedade e recusavam-se a elogiar os pastéis de picadinho de carneiro, os folheados de nata e tâmara, e o
arroz com amêndoas, dourado, exalando um cheiro de cebola tostada. Aquela mulher, sentada e muda, com o rosto
rastreado de rugas, era capaz de tirar o sabor e o odor dos alimentos e de suprimir a voz e o gesto como se o seu
silêncio ou a sua presença que era só silêncio impedisse o outro de viver.
HATOUM. M. Relato de um certo Oriente. São Paulo: Cia das Letras, 2000.
Ao apresentar uma situação de tensão em família, o narrador destila, nesse fragmento, uma percepção das relações
humanas e sociais demarcada pelo
Questão 3/5
Casa dos Contos
& em cada conto te cont
0 & em cada enquanto me enca
nto & em cada arco te a
barco & em cada porta m
e perco & em cada lanço t
e alcanço & em cada escad
a me escapo & em cada pe
dra te prendo & em cada g
rade me escravo & em ca
da sótão te sonho & em cada
esconso me affonso & em
cada claúdio te canto & e
m cada fosso me enforco &
ÁVILA, A. Discurso da difamação do poeta. São Paulo: Summus, 1978.
O contexto histórico e literário do período barroco- árcade fundamenta o poema Casa dos Contos, de 1975. A
restauração de elementos daquele contexto por uma poética contemporânea revela que
A a disposição visual do poema reflete sua dimensão plástica, que prevalece sobre a observação da realidade
social.
B a reflexão do eu lírico privilegia a memória e resgata, em fragmentos, fatos e personalidades da Inconfidência
Mineira.
C a palavra “esconso” (escondido) demonstra o desencanto do poeta com a utopia e sua opção por uma linguagem
erudita.
D o eu lírico pretende revitalizar os contrastes barrocos, gerando uma continuidade de procedimentos estéticos e
literários.
E o eu lírico recria, em seu momento histórico, numa linguagem de ruptura, o ambiente de opressão vivido pelos
inconfidentes.
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LISTA DE EXERCÍCIOS
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Questão 4/5
Porque a realidade é inverossímil
Escusando-me por repetir truísmo tão martelado, mas movido pelo conhecimento de que os truísmos são parte
1 2
inseparável da boa retórica narrativa, até porque a maior parte das pessoas não sabe ler e é no fundo muito
ignorante, rol no qual incluo arbitrariamente você, repito o que tantos já dizem e vivem repetindo, como quem usa
chupetas: a realidade é, sim, muitíssimo mais inacreditável do que qualquer ficção, pois esta requer uma certa
arrumação falaciosa3, a que a maioria dá o nome de verossimilhança. Mas ocorre precisamente o oposto. Lê-se
ficção para fortalecer a noção estúpida de que há sentido, lógica, causa e efeito lineares e outros adereços que
integrariam a vida. Lê-se ficção, ou mesmo livros de historiadores ou jornalistas, por insegurança, porque o absurdo
da vida é insuportável para a vastidão dos desvalidos que povoa a Terra.
(João Ubaldo Ribeiro. Diário do Farol. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2002.)
1
escusando-me: desculpando-me
2
truísmo: verdade trivial, lugar comum
3
falaciosa − enganosa, ilusória
O título do texto soa contraditório, se a verossimilhança for tomada como uma semelhança com o mundo real, com
aquilo que se conhece e se compreende. Essa contradição se desfaz porque, na interpretação do autor, a ficção
organiza elementos da vida, enquanto a realidade é considerada como:
A linear.
B absurda.
C estúpida.
D falaciosa.
Questão 5/5
Zé Araújo começou a cantar num tom triste, dizendo aos curiosos que começaram a chegar que uma mulher tinha se
ajoelhado aos pés da santa cruz e jurado em nome de Jesus um grande amor, mas jurou e não cumpriu, fingiu e me
enganou, pra mim mentiu, pra Deus você pecou, o coração tem razões que a própria razão desconhece, faz
promessas e juras, depois esquece.
O caboclo estava triste e inspirado. Depois dessa canção que arrepiou os cabelos da Neusa, emendou com uma
valsa mais arretada ainda, cheia de palavras difíceis, mas bonita que só a gota serena. Era a história de uma boneca
encantadora vista numa vitrine de cristal sobre o soberbo pedestal. Zé Araújo fechava os olhos e soltava a voz:
Seus cabelos tinham a cor/ Do sol a irradiar/ Fulvos raios de amor./ Seus olhos eram circúnvagos/ Do romantismo
azul dos lagos/ Mãos liriais, uns braços divinais,/ Um corpo alvo sem par/ E os pés muito pequenos/ Enfim eu vi
nesta boneca/ Uma perfeita Vênus.
CASTRO, N. L. As pelejas de Ojuara: o homem que desafiou o diabo. São Paulo: Arx, 2006 (adaptado).
O comentário do narrador do romance “[...] emendou com uma valsa mais arretada ainda, cheia de palavras difíceis,
mas bonita que só a gota serena” relaciona-se ao fato de que essa valsa é representativa de uma variedade
linguística
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LISTA DE EXERCÍCIOS
LISTA 1
Gabarito
1 A B C D E
2 A B C D E
3 A B C D E
4 A B C D
5 A B C D E
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