Livro Pedologia Base para A Distincao de Ambientes

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PEDOLOGIA

BASE PARA DISTINÇÃO DE AMBIENTES

1
2
Mauro Resende
Nilton Curi
Sérvulo Batista de Rezende
Gilberto Fernandes Corrêa

PEDOLOGIA
BASE PARA DISTINÇÃO DE AMBIENTES

EDITORA

Lavras - MG

3
© 2002 by Mauro Resende, Nilton Curi, Sérvulo Batista de Rezende e Gilberto Fernandes Corrêa
2007 5.ª Edição revisada
Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida, por qualquer meio ou forma, sem a autorização
escrita e prévia dos detentores do copyright.
Direitos de publicação reservados à Editora UFLA.
Impresso no Brasil ISBN:
UNIVERSIDADE FEDERAL DE LAVRAS
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Diretoria Executiva - Marco Antônio Rezende Alvarenga (Diretor), Elias Tadeu Fialho, Renato Paiva
Conselho Editorial - Marco Antônio Rezende Alvarenga (Presidente), Amaury Alves de Alvarenga,
Carlos Alberto Silva, Elias Tadeu Fialho, Luiz Carlos de Oliveira Lima, Renato Paiva
Editoração Eletrônica: Luciana Carvalho Costa, Alézia C. Modesto Ribeiro e Christyane A. Caetano
Revisão de Texto: Jane Cherém
Referências Bibliográficas: Márcio Barbosa de Assis
Marketing e Comercialização: Bruna de Carvalho Naves
Secretária: Glenda Fernanda Morton
Capa: Helder Tobias

Ficha Catalográfica Preparada pela Divisão de Processos Técnicos da


Biblioteca Central da UFLA

P371
Pedologia: base para distinção de ambientes / Mauro Resende ... [et al.]. --
5. ed. rev. -- Lavras : Editora UFLA, 2007.
322 p. : il.

Inclui bibliografia e índice.

1. Pedologia. 2. Meio ambiente. 3. Geografia do solo. 4. Ecossistema


Classificação. I. Resende, M.

CDD-631.4

4
AUTORES

MAURO RESENDE, Engo Agro, Ph.D.


Professor Aposentado do Departamento de Solos
Universidade Federal de Viçosa
Viçosa, Minas Gerais

NILTON CURI, Engo Agro, Ph.D.


Professor e Bolsista do CNPq
Departamento de Ciência do Solo
Universidade Federal de Lavras
Lavras, Minas Gerais

SÉRVULO BATISTA DE REZENDE, Engo Agro, Ph.D.


Professor Aposentado do Departamento de Solos
Universidade Federal de Viçosa
Viçosa, Minas Gerais

GILBERTO FERNANDES CORRÊA, Engo Agro, D.Sc.


Professor do Departamento de Agronomia
Universidade Federal de Uberlândia
Uberlândia, Minas Gerais

5
6
AGRADECIMENTOS

A Amaury de Carvalho Filho e João Bosco Vasconcellos Gomes (Embrapa


Solos), João Carlos Ker (UFV), João José Marques (UFLA), Adélia Aziz Alexandre
Pozza (Bolsista de Pós-Doutorado da Fapemig) e Rita Maria de Souza (Neput), pelo
apoio incondicional e espontâneo nas várias edições deste livro.

7
8
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ......................................................................................... 23
1.1. Solo como Fator Ecológico ................................................................. 25
1.2. Variação Tridimensional dos Solos ..................................................... 27
1.3. Análise do Solo .................................................................................... 29
1.4. Experimentação e Extensão ................................................................. 30
1.5. Bibliografia .......................................................................................... 31

2. PROPRIEDADES DO SOLO E INTERPRETAÇÃO........................... 33


2.1. Propriedades ........................................................................................ 33
2.2. Propriedades e Inferências ................................................................... 36
2.2.1. Constituição .............................................................................. 36
2.2.2. Cor ............................................................................................. 54
2.2.3. Textura ...................................................................................... 60
2.2.4. Estrutura .................................................................................... 65
2.2.5. Cerosidade ................................................................................. 68
2.2.6. Porosidade ................................................................................. 69
2.2.7. Consistência .............................................................................. 73
2.2.8. Cimentação ............................................................................... 76
2.2.9. Pedoclima .................................................................................. 77
2.2.10. Pedoforma ............................................................................... 81
2.3. Bibliografia ......................................................................................... 85

3. MATÉRIA ORGÂNICA E SEUS COMPONENTES ........................... 91


3.1. Composição e Estrutura do Húmus .................................................... 91

9
3.2. Dinâmica e Acúmulo de Matéria Orgânica ......................................... 93
3.3. Bibliografia ......................................................................................... 96

4. ORGANISMOS DO SOLO ...................................................................... 99


4.1. Aspectos Gerais ................................................................................... 99
4.2. Murundus das Áreas de Cerrados e Campos Tropicais Brasileiros .... 104
4.2.1. Descrição Morfológica ............................................................. 106
4.2.2. Origem dos Murundus: Hipóteses ............................................ 108
4.2.3. Ciclo Evolutivo: Gênese e Senescência ................................... 116
4.3. Bibliografia ......................................................................................... 119

5. GÊNESE - ASPECTOS GERAIS ........................................................... 123


5.1. Processos ............................................................................................. 124
5.1.1. Podzolização ............................................................................. 125
5.1.2. Latolização ............................................................. .................. 127
5.1.3. Calcificação .............................................................................. 127
5.1.4. Hidromorfismo .......................................................................... 128
5.1.5. Halomorfismo ........................................................................... 129
5.2. Horizontes Diagnósticos ...................................................................... 129
5.3. Seqüências Gerais ................................................................................ 131
5.3.1. Seqüência Cronológica ............................................................. 132
5.3.2. Seqüência Litológica ................................................................. 137
5.4. Bibliografia ......................................................................................... 141

6. SOLO E PAISAGEM ............................................................................... 143


6.1. Relevo ................................................................................................. 143
6.2. Vegetação e Clima .............................................................................. 144
6.3. Aspectos Socioeconômicos ................................................................. 145
6.4. Bibliografia .......................................................................................... 146

7. CLASSIFICAÇÃO E GEOGRAFIA DE SOLOS .................................. 147


7.1. O Problema da Transferência de Conhecimentos ............................... 147
7.1.1. Avaliação da Terra .................................................................... 148

10
7.1.2. Classificação para Alguns Tipos de Transferência de
Conhecimentos ................................................................................. 148
7.1.3. A Necessidade de Estratificação ............................................... 150
7.2. Sistemas de Classificação de Aptidão Agrícola das Terras ................ 151
7.2.1. Sistema de Classificação da Capacidade de Uso ...................... 151
7.2.2. Sistema FAO/Brasileiro ............................................................ 154
7.3. Solos com Problemas .......................................................................... 168
7.3.1. Redução .................................................................................... 169
7.3.2. Práticas de Redução "versus" Convivência .............................. 172
7.3.3. Práticas de Convivência ........................................................... 174
7.4. Geografia de Solos .............................................................................. 174
7.4.1. Domínio Pedobioclimático da Amazônia ................................ 174
7.4.2. Domínio do Subárido Nordestino ............................................ 176
7.4.3. Domínio dos Mares de Morros Florestados ............................. 177
7.4.4. Domínio do Cerrado ................................................................ 178
7.4.5. Domínio do Planalto das Araucárias ........................................ 180
7.4.6. Domínio das Pradarias Mistas .................................................. 181
7.4.7. Mais sobre os Domínios Pedobioclimáticos ............................ 182
7.4.8. Lições de Geografia de Solos ................................................... 183
7.5. Classificação de Solos ........................................................................ 185
7.5.1. Propósitos da Classificação ...................................................... 186
7.5.2. Sistema Americano de Classificação de Solos
(Soil Taxonomy) ...................................................................... 186
7.5.2.1. Alguns Problemas na Aplicação da Soil Taxonomy no
Brasil ........................................................................... 187
7.5.3. Classificação Brasileira de Solos ............................................. 188
7.5.3.1. Esquema das Principais Classes de Solos do Brasil ... 191
7.5.3.2. Solos com horizonte B Latossólico ............................ 193
7.5.3.3. Solos com horizonte B Textural - Não Hidromórficos . 195
7.5.3.4. Solos com horizonte B Textural - Hidromórficos ...... 197
7.5.3.5. Solos Hidromórficos sem horizonte B Textural (com
ou sem horizonte Plintico) .......................................... 198
7.5.3.6. Cambissolos ............................................................... 199

11
7.5.3.7. Solos Litólicos, Aluviais e Regossolos ................ ...... 200
7.5.3.8. Rendzinas e Vertissolos ............................................. 201
7.5.4. Principais Tipos de Horizonte A ............................................. 201
7.5.5. Atividade das Argilas e Saturação do Complexo de Troca ...... 202
7.5.6. Relações com a Soil Taxonomy ............................................... 205
7.6. Bibliografia ......................................................................................... 206

8. LEVANTAMENTO DE SOLOS ............................................................. 211


8.1. Tipos de Levantamento de Solos ....................................................... 213
8.1.1. Autênticos ou Originais ........................................................... 214
8.1.2. Compilados .............................................................................. 214
8.2. Interpretação para Finalidades não Agrícolas .................................. 216
8.2.1. Para Estradas ........................................................................... 216
8.2.2. Para Localização de Cidades .................................................. 216
8.2.3. Para Auxiliar Trabalhos de Geologia ..................................... 216
8.2.4. Para Lazer e Turismo .............................................................. 217
8.3. Bibliografia ........................................................................................ 217

9. MICROBACIAS HIDROGRÁFICAS .................................................... 219


9.1. Unidade de Estudo e Planejamento ..................................................... 219
9.2. A Interação Solo-Água-Vegetação ...................................................... 221
9.3. Bibliografia .......................................................................................... 232

10. MICROMORFOLOGIA DO SOLO ..................................................... 235


10.1. O Problema da Amostragem ............................................................ 236
10.2. Alguns Conceitos Básicos em Micromorfologia ....................... ...... 237
10.2.1. Intemperismo e Minerais Índices ......................................... 237
10.2.2. Estrutura, Trama e Pedalidade ............................................. 239
10.2.3. Níveis de Organização ......................................................... 239
10.3. Terminologia Descritiva .................................................................. 240
10.3.1. Constituintes do Solo ........................................................... 240
10.3.2. Organização do Plasma ou Tessitura Plásmica ................... 241
10.3.3. Distribuição Relativa do Esqueleto e do Plasma ................. 242

12
10.3.4. Estruturas Associadas (Feições Pedológicas) ...................... 242
10.4. Apresentação Sinótica das Descrições e Avaliações
Micromorfológicas: Exemplo ......................................................... 243
10.5. Considerações Finais ...................................................................... 245
10.6. Bibliografia ..................................................................................... 246

11. POLUIÇÃO AMBIENTAL ................................................................... 249


11.1. Metais Pesados ............................................................................... 249
11.2. Pesticidas ....................................................................................... 252
11.3. Resíduos Orgânicos ....................................................................... 253
11.4. Outros Processos Relacionados ..................................................... 253
11.4.1. Movimento de Nitrato para Cursos D'água ...................... 253
11.4.2. Efeito Estufa ...................................................................... 254
11.5. Considerações Finais ..................................................................... 255
11.6. Bibliografia .................................................................................... 255

12. CLASSIFICAÇÃO DE ECOSSISTEMAS ........................................... 257


12.1. Análise sob Várias Escalas .......................................................... 257
12.2. Hierarquia dos Ecossistemas ........................................................ 258
12.3. Solos ............................................................................................. 262
12.4. Bibliografia ................................................................................... 283

ÍNDICE REMISSIVO POR ASSUNTO .................................................... 287


ÍNDICE REMISSIVO POR AUTOR ......................................................... 293
FOTOS ........................................................................................................... 297

13
14
LISTA DE FIGURAS
Figura 1.A – Inter-relações representadas pelo tetraedro. ......................... 26
Figura 1.B – Segmentos de paisagem comuns na Zona da Mata mineira
com distintas características de solo e uso. ................................................ 28
Figura 2.A – Relação entre idade dos solos e equilíbrio de cargas elétricas.. 37
Figura 2.B – O equilíbrio dinâmico que ocorre nos solos (LINDSAY,
1979). ......................................................................................................... 49
Figura 2.C – Relação entre a hematita (Hm)/Hm + goethita (Gt) e o
matiz úmido de horizontes B de Latossolos do Sudeste e do Sul do
Brasil (adaptado de KÄMPF et al., 1988).................................................. 56
Figura 2.D – Representação das classes de textura pelo triângulo ............ 61
Figura 2.E – Solo antes (a) e depois de compactado (b), mostrando
redução dos poros maiores melhorando a condução de água (e
nutrientes) até às raízes. ............................................................................ 71
Figura 2.F – Esboço do processo de trocas gasosas no solo (HILLEL,
1982)…………………………………………………………………...... 73
Figura 2.G – Representação esquemática da consistência do solo
conforme o grau de umidade (teor de água). Em destaque a faixa de
friabilidade, apropriada para aração etc., estreita nos solos de argila de
atividade alta (Vertissolos, por exemplo) e bem mais ampla em alguns
Latossolos. ................................................................................................. 73
Figura 2.H – Províncias vegetacionais do Brasil, segundo modificações
feitas por CALDAS et al. (1978), a partir dos dados de EITEN (1972).
Dentro de cada província a composição da flora pode variar. Assim, na
extremidade sul da Mata Atlântica, há a presença dominante de
araucária...................................................................................................... 78
Figura 2.I – As nove pedoformas básicas (TROEH, 1965) e suas
combinações .............................................................................................. 83
Figura 2.J – Contraste entre as formas do barranco exposto de solos com
horizonte B textural e de Latossolos........................................................... 84

15
Figura 3.A Esquema mostrando separação das frações húmicas pela
solubilidade ou não em bases e ácidos. Na horizontal há solubilidade; na
vertical, precipitação ................................................................................. 92
Figura 4.A Esquema mostrando os ambientes aeróbicos e anaeróbicos
no interior do agregado de um solo bem drenado (TIEDJE et al.,
1984)........................................................................................................... 102
Figura 4.B Distribuição em profundidade de minhocas (número por
m2), crotovinas abaixo do horizonte A1(barras hachuradas, % em
volume) e conteúdo de C orgânico (%), em Latossolos Amarelos
(Latossolos Amarelos Distrocoesos), sob mata (a) e sob pastagem de
capim-colonião (b) com 12 anos (UFV, 1984).......................................... 103
Figura 4.C Inventário de áreas de ocorrência de microrrelevos, tipo
murundus, em solos de drenagem moderada a imperfeita no território
brasileiro (Corrêa, 1989). Observa-se que estas áreas coincidem, em
geral, com a do domínio de vegetação dos cerrados.................................. 106
Figura 4.D Bloco-diagrama que evidencia a condição mais comum de
ocorrência dos murundus (cabeceiras de vale do tipo vereda). ................. 108
Figura 4.E Concepção da gênese dos murundus através da erosão
diferencial (FURLEY, 1985, 1986). .......................................................... 109
Figura 4.F Corte de murundu (CORRÊA, 1989), mostrando a estrutura
de um termiteiro ativo, na parte superior (a), e de restos dessas
construções de térmitas, em diversos graus de conservação, em
profundidade (b)......................................................................................... 112
Figura 4.G Posicionamento do lençol freático no início da estação seca
e dos 4 segmentos apresentados na Tabela 4.B, concernente a um campo
de murundus sobre uma vertente de vale tipo vereda (CORRÊA, 1989)... 115
Figura 4.H Ciclo evolutivo de murundus do Brasil Central: gênese e
senescência (CORRÊA, 1989). ................................................................. 117
Figura 5.A Fatores de formação do solo e pedogênese. ......................... 124
Figura 5.B Bloco-diagrama ilustrando a influência do relevo na idade
dos solos (taxa pedogênese/erosão). As setas indicam o aumento da
erosão e da pedogênese. ............................................................................. 132
Figura 5.C Algumas tendências nas relações entre idade do solo e suas
características (nomes dos solos apenas no sistema antigo). ..................... 133
Figura 5.D Influência da estrutura da rocha de origem na idade relativa
dos solos (nomes dos solos apenas no sistema antigo). ............................. 135
Figura 6.A Solos e relevo: algumas tendências na paisagem brasileira
(nomes dos solos apenas no sistema antigo). ............................................ 144

16
Figura 6.B Algumas tendências de relações entre vegetação natural e
propriedades do solo e do ambiente. ......................................................... 144
Figura 7.A Domínio pedobioclimático da Amazônia (AB'SABER, 1970)... 175
Figura 7.B Domínio pedobioclimático das depressões interplanálticas
subáridas do Nordeste, revestidas por caatingas (AB'SABER, 1970). .......... 177
Figura 7.C Domínio pedobioclimático dos Mares de Morros
Florestados (AB'SABER, 1970). ............................................................... 178
Figura 7.D Domínio pedobioclimático do Cerrado (AB'SABER, 1970). ..... 179
Figura 7.E Domínio pedobioclimático do Planalto das Araucárias
(AB'SABER, 1970). .................................................................................. 180
Figura 7.F Domínio pedobioclimático das Pradarias Mistas
(AB'SABER, 1970). .................................................................................. 181
Figura 7.G Áreas de transição entre domínios pedobioclimáticos
(AB'SABER, 1970). .................................................................................. 182
Figura 7.H Tendências de produção das culturas anuais em função de
A e N nas zonas da Mata, Agreste e Sertão. As barras verticais
representam as produções máximas e mínimas; a linha horizontal a
heterogeneidade (variação) de precipitação, na estação de
crescimento: maior no Sertão e mínima na Mata. ..................................... 184
Figura 8.A Bloco-diagrama ilustrando distintos aspectos de uma
paisagem hipotética, com unidades de mapeamento correspondentes,
representadas em um mapa de solo (nomes e símbolos apenas no
sistema antigo). LV - Latossolo Vermelho-Amarelo; LEc - Latossolo
Vermelho-Escuro câmbico; PE - Podzólico Vermelho-Escuro; A Solos
Aluviais; G - Gleissolos; Cd - Cambissolo distrófico; RE Regossolo. .. 212
Figura 9.A As pequenas bacias de drenagem são uma unidade natural
básica. Isto permite detalhamento progressivo de estudo, sem perda do
sentido de conjunto. ...................................................................................... 220
Figura 9.B Solo desprotegido favorece a enxurrada e, assim, a erosão.. 221
Figura 9.C Esquema de delimitação pelos divisores topográficos das
pequenas bacias de drenagem. ................................................................... 222
Figura 9.D Variáveis básicas de controle do deflúvio e seus possíveis
desdobramentos. ........................................................................................ 222
Figura 9.E Divisores topográficos (externos) e freáticos (internos) de
uma pequena bacia de drenagem e fluxos formadores do deflúvio........... 223
Figura 9.F Esquema de STRAHLER (1958) de hierarquização da
drenagem. Números representativos de drenagens de primeira a quarta
ordens .. 223

17
Figura 9.G Fator de forma da bacia de drenagem. ................................. 224
Figura 9.H Lei do número de canais. NW = número de canais; W =
ordem de drenagem. .................................................................................. 225
Figura 9.I Relação entre textura (silte + argila) e água retida a 30 kPa
(Ac = capacidade de campo) e 1500 kPa (Am = ponto de murcha). As
equações são de ARRUDA et al., 1987; os demais pontos são de
Latossolos brasileiros (CORDEIRO, 1977; FERREIRA, 1988). .............. 226
Figura 9.J No domínio dos Latossolos e Areias Quartzosas (Neossolos
Quartzarênicos) em relevo plano e suave ondulado, os cursos d'água são
mais espaçados; a instabilidade das bordas das chapadas (ao fundo, à
direita) põe em risco as bacias a jusante. .................................................. 230
Figura 9.K Aspectos inerentes às paisagens de solos desenvolvidos de
rochas graníticas. Aí o comportamento hídrico é intermediário entre os
Latossolos de relevo acidentado e os solos rasos de rochas pelíticas
(pobres). ..................................................................................................... 230
Fi Figura 9.L Os recursos hídricos de superfície, nas áreas de baixa
densidade de drenagem, são muito vulneráveis à poluição........................ 231
Figura 12.A Espessura do "sólum" (horizontes A + B) de várias
classes de solos (RESENDE, 1985). Os nomes dos solos estão apenas no
sistema antigo............................................................................................. 272
Figura 12.B Esquemas mostrando bloco-diagrama de uma paisagem,
mapa de solos e fluxo de informações do levantamento de solos. ............ 272
Figura 12.C Esquema ilustrando o relacionamento entre solos epiálicos
endoeutróficos e epieutróficos endoálicos e raízes de plantas
sensíveis ao alumínio, sob duas condições de deficiência de água:
pronunciada (1) e (2) e nula (3) e (4) (RESENDE & REZENDE, 1983).. 273
Figura 12.D Chave simplificada de identificação das classes de solo de
nível categórico mais elevado (Ordem) do novo Sistema Brasileiro de
Classificação de Solos (EMBRAPA, 2006). Se o solo possui a
propriedade diagnóstica identificada por um código e definida na Tabela
12.L, segue-se pela direita (SIM); caso contrário, para baixo (NÃO)....... 278
Figura 12.E Chave geral de identificação dos solos brasileiros
(Classificação em uso). Se o solo possui a característica identificada por
um código e definida na Tabela 12.L, segue-se pela direita (SIM); caso
contrário, para baixo (NÃO). Adaptado de RESENDE & KER (1991).
Junto com a definição das 13 ordens estão, como adjetivos à ordem, as
classes de segundo nível do Sistema Brasileiro de Classificação de Solos
(EMBRAPA, 2006). Por exemplo, NEOSSOLO LITÓLICO,
NEOSSOLO FLÚVICO, e assim por diante. ............................................ 282

18
LISTA DE TABELAS
Tabela 2.A – Tamanho das partículas do solo. .......................................... 36
Tabela 2.B – Dados sobre componentes das frações argila, silte e areia
dos solos. ................................................................................................... 41
Tabela 2.C – Minerais silicatados de maior interesse para os solos. ......... 44
Tabela 2.D – Seqüência de aumento do topo para a base, de resistência
ao intemperismo de minerais primários, segundo vários autores. ............. 48
Tabela 2.E – Distribuição das frações granulométricas por classes de
tamanho. .................................................................................................... 60
Tabela 2.F – Tipos de estrutura, suas características e onde ocorrem. ...... 66
Tabela 2.G – Relações gerais entre organização microscópica das
partículas de argila, condições em que ocorrem e seu efeito na
consistência. .............................................................................................. 74
Tabela 2.H – Tipos de pãs características, ocorrência e importância para
os solos brasileiros. .................................................................................... 76
Tabela 2.I – Formas de vegetação empregadas como fases de unidades
de mapeamento de solos (adaptado de EMBRAPA, 1988b). .................... 81
Tabela 3.A – Análises elementares de ácidos húmicos (AH) e fúlvicos
(AF) extraídos de solos de condições climáticas tropicais e subtropicais
(SCHNITZER, 1978). ............................................................................... 92
Tabela 3.B – Parâmetros referentes à curva de distribuição de carbono
com profundidade, segundo a equação C = apb, em solos de alguns
ecossistemas brasileiros. ............................................................................ 95
Tabela 4.A – Microrganismos comuns em solos (BRADY, 1974). .......... 100
Tabela 4.B – Variações registradas em um campo de murundus tomado
como referência para a situação de vertente em vale tipo vereda
(CORRÊA, 1989). ..................................................................................... 115
Tabela 4.C – Térmitas encontradas em campos de murundus em dois
setores de referência (CORRÊA, 1989). ................................................... 116

19
Tabela 5.A Tipos de processos primordiais de formação do solo e
exemplos. ................................................................................................... 124
Tabela 5.B Condições bioclimáticas e locais associadas às classes de
processos de formação do solo (tendências). ............................................ 125
Tabela 5.C Alguns horizontes diagnósticos (EMBRAPA, 1988), suas
características, solos onde ocorrem e processos (nomes apenas no
sistema antigo). .......................................................................................... 130
Tabela 5.D Influência da variação da atividade bioclimática na idade
relativa do solo em conformidade com a Figura 5.B. ................................ 133
Tabela 5.E Principais vantagens e desvantagens de solos novos e
velhos para culturas anuais e perenes. ...................................................... 136
Tabela 5.F Rochas agrupadas para fins pedológicos gerais, assim
como uma idéia de sua composição química. ........................................... 137
Tabela 5.G Relações gerais entre rocha matriz e alguns atributos dos
solos. .......................................................................................................... 140
Tabela 7.A Relação entre solo ideal ( i = 0, onde i = N, A, O, E e M)
e solo real ( i 0). .............................................................................. 156
Tabela 7.B Graus de desvio (limitações) das condições agrícolas dos
solos em relação a um solo ideal, quanto à deficiência de nutrientes ou
fertilidade (N), deficiência de água (A), deficiência de oxigênio (O),
suscetibilidade à erosão (E) e impedimentos à mecanização (M). ............ 158
Tabela 7.C Classes de viabilidade de melhoramento. ............................ 160
Tabela 7.D Níveis de manejo considerados na avaliação da aptidão
agrícola. ..................................................................................................... 161
Tabela 7.E Grupos e classes de aptidão agrícola e alternativas gerais
de utilização. .............................................................................................. 163
Tabela 7.F Alternativas de utilização das terras de acordo com o grupo
de aptidão agrícola. .................................................................................... 164
Tabela 7.G Classes de aptidão agrícola e características relacionadas... 164
Tabela 7.H Resultado do confronto entre os desvios da unidade LVa1,
após estimativa de redução (quando viável), conforme o nível de manejo
e os requisitos de máxima limitação permissível para determinada classe
de aptidão e tipo de uso estabelecidos no quadro-guia, referentes à
região tropical úmida. ................................................................................ 165
Tabela 7.I Quadro-guia para classificação da aptidão agrícola na
Região Tropical Úmida. ........................................................................... 167
Tabela 7.J Exemplos de práticas pertinentes às classes a e b de
viabilidade de melhoramento (redução do ) (Sistema FAO/Brasileiro). ...... 169

20
Tabela 7.K Níveis de exigências (NE) referentes à necessidade de
redução dos desvios ( ). Os níveis gerais de exigências são
especificados pelos números 1 a 4, expressando, nesta ordem, aumento
de capital, refinamento de técnica, ou nível de dificuldade para redução
dos deltas. . 171
Tabela 7.L Classificação das práticas agrícolas em práticas de redução
e práticas de convivência. Estão excluídos os fatores biológicos (pragas,
doenças etc.), geográficos (localização, transporte etc.) e
socioeconômicos. ....................................................................................... 173
Tabela 7.M Nomes das ordens, elementos formativos e sua derivação
(ESTADOS UNIDOS, 1975 e 1999). ....................................................... 187
Tabela 7.N Correlação entre classes de solo dos Sistemas Brasileiros
anterior à hierarquização (CAMARGO et al., 1987; OLIVEIRA et al.,
1992) e o novo sistema hierarquizado (EMBRAPA, 2006). ..................... 189
Tabela 7.O Esboço das principais classes de solos do Brasil. ................ 192
Tabela 7.P Saturação por bases e por alumínio, nos horizontes A e B, e
especificações correspondentes (RESENDE & REZENDE, 1983. .. 205
Tabela 7.Q Relações entre a Soil Taxonomy e a Classificação de Solos
Brasileira. ................................................................................................... 205
Tabela 9.A Número de canais, ordem de drenagem e razão de
bifurcação de uma bacia de drenagem. ...................................................... 224
Tabela 9.B Textura semelhante e contraste na porosidade entre um
Planossolo eutrófico vértico (PLev) e um Latossolo Vermelho-Escuro
textura média (LEm) (nomes dos solos apenas no sistema antigo). .......... 226
Tabela 9.C Adaptação de forrageiras aos desvios dos fatores abióticos
do ambiente, resistência ao fogo e palatabilidade. .................................... 227
Tabela 10.A Caracteres micromorfológicos de horizontes de um
Latossolo Plíntico concrecionário (Plintossolo Pétrico Concrecionário). . 244
Tabela 11.A Concentração típica de alguns metais pesados na crosta
terrestre, em rochas, sedimentos e solos do mundo (Sparks, 1995). ......... 249
Tabela 11.B Teor total de metais pesados em Latossolos brasileiros
(Campos et al., 2003). ................................................................................ 250
Tabela 11.C Teores de referência e teores limites máximos de metais
pesados em grupos de solos brasileiros, de acordo com Fadigas et al.
(2006). Os valores entre parênteses referem-se ao teor estabelecido
como limite máximo. As características definidoras de cada grupo de
solos podem ser encontradas em Fadigas et al. (2006). 251
Tabela 12.A Hierarquia dos ecossistemas. ............................................. 258

21
Tabela 12.B Hierarquização de classes das áreas geográficas ou
ecorregiões. ................................................................................................ 259
Tabela 12.C Vegetação campestre brasileira e condições ambientais. .. 260
Tabela 12.D Resultados de análises químicas de amostras de dois
solos Litólicos (Neossolos Litólicos) eutróficos (CE2 e CE3) e um
distrófico (CE1), todos sob cerrado. .......................................................... 261
Tabela 12.E Ordenação de floresta, cerrado e caatinga quanto à
tolerância às deficiências de água e nutrientes. ......................................... 261
Tabela 12.F Horizontes do perfil de solo: algumas características e
implicações. ............................................................................................... 263
Tabela 12.G Equivalência entre símbolos em sistemas de notação de
horizontes nos EUA, pela FAO e Brasil. ................................................... 264
Tabela 12.H Sufixos e sinais convencionais para distinções
subordinadas de horizontes e camadas principais. .................................... 266
Tabela 12.I Resumo das características dos principais horizontes
diagnósticos, atualizados conforme EMBRAPA (2006), e dos solos
onde ocorrem e alguns processos pedogenéticos. ..................................... 267
Tabela 12.J Classes de solos de alto nível da nova classificação
(EMBRAPA, 1988, 1999, 2006). .............................................................. 270
Tabela 12.K Relação entre distrófico, álico e eutrófico. ........................ 273
Tabela 12.L Critérios usados nas chaves simplificadas de identificação
das classes de solos brasileiros (Figuras 12.D e 12.E), com comentários
de interesse biológico. ............................................................................... 274

22
INTRODUÇÃO

1
INTRODUÇÃO

Há vantagens em aprender sempre mais a respeito do solo. Ele ocupa uma


posição peculiar ligada às várias esferas que afetam a vida humana. É, além disso, o
substrato principal da produção de alimentos1 e uma das principais fontes de nutrientes
e sedimentos que vão para os rios, lagos e mares. A natureza é um sempre presente
laboratório onde as diferenças entre os solos, em seus atributos, como cor, topografia,
profundidade, textura e a sua utilização, afetando os aspectos socioeconômicos,
constituem um verdadeiro livro para a aprendizagem. Espera-se que em algumas
páginas deste livro o leitor tenha condição de tirar conclusões sobre fenômenos
pertinentes, como, por exemplo, os ajustamentos do homem aos problemas do solo.
Estes problemas são muito peculiares a algumas regiões e, talvez, mesmo àquelas
onde o leitor está trabalhando ou vai trabalhar.
Os conhecimentos e as generalizações a respeito dos solos e seu comportamento,
quando integrados no quadro socioeconômico, ainda estão muito longe de serem
sistematizados. Isto significa que, com grande probabilidade, muitos terão de aguçar
freqüentemente a observação no sentido de eles próprios compreenderem para,
compreendendo, decidir melhor.
Nesse contexto, tais anotações têm dois objetivos:
1. Fornecer uma base geral para facilitar a compreensão de alguns fenômenos
perceptíveis no campo e estimular novas observações, facilitando, assim, as
decisões.
2. Sugerir a utilização de informações existentes que podem ser aplicadas diretamente
nos planejamentos regionais ou, se agrupadas às considerações do item (1),
poderão somar no sentido de servir de referencial para tomadas de decisão, em
níveis mais específicos.
Com tais objetivos, estas anotações foram assim estruturadas:
Introdução – É a parte inicial, onde se enfatiza a importância da classificação e da
geografia dos solos na sistematização e transferência de conhecimentos.

1
Há, ao contrário de uma idéia anterior, mais fotossíntese nos ecossistemas terrestres do que nos aquáticos;
no entanto, os oceanos têm fundamental importância no balanço do gás carbônico: sem os oceanos o gás
carbônico na atmosfera teria aumentado muito. As estimativas dão conta de que a produtividade primária
líquida dos ecossistemas continentais é mais do que o dobro da dos marinhos (117,5 x 109 versus 55 x 109 t/
ano) (WHITTAKER & LIKENS, 1975).

23
PEDOLOGIA: BASE PARA DISTINÇÃO DE AMBIENTES

Propriedades do solo e interpretação – É dedicado à revisão dos atributos2 do


solo. Procura-se sempre, na discussão de cada atributo, enfatizar as possíveis
interpretações práticas e as exemplificações com solos brasileiros.
Matéria orgânica e seus componentes, e organismos do solo – Esses dois capítulos
têm como objetivo comum completar o quadro geral acerca da composição básica do
solo, facilitando, assim, a noção de interação entre as diversas fases do sistema solo
como um todo.
Gênese do solo – Embora muito de gênese do solo tenha sido abordado nos capítulos
anteriores, esse tem o objetivo de integrar, mais detalhadamente, o que foi dito sobre
cada atributo.
Solo e paisagem – Da mesma forma que o capítulo sobre gênese do solo, esse tem
um aspecto mais de síntese, num preparativo para os posteriores. Nele é dada a
exemplificação da influência dos solos em alguns aspectos socioeconômicos.
Classificação e geografia de solos – Nesse capítulo são apresentadas algumas
classificações de solos e de aptidão agrícola, e também se discutem alguns problemas
na aquisição e transferência de conhecimentos.
Levantamento de solos – Os principais tipos de mapas de solos e seus respectivos
objetivos são enfocados nesse capítulo, bem como algumas interpretações para
finalidades não agrícolas.
Microbacias hidrográficas – É evidenciada a interdependência dos fenômenos da
natureza, particularmente no interior da microbacia hidrográfica, unidade natural de
estudo dos ecossistemas terrestres. São feitas previsões gerais de comportamento
das pequenas bacias, relativas aos atributos de solos do seu interior. São apresentadas
algumas características, como sugestão, para classificar as bacias de drenagem para
fins de planejamento.
Micromorfologia do solo – Para compreender mais pormenorizadamente a natureza
da estrutura do solo, seu aspecto dinâmico e, possivelmente causal, de comportamento,
é apresentado esse capítulo. Assinala-se a importância da análise integrada e
progressiva desde o solo na paisagem até ao que se depara sob a objetiva de um
microscópio petrográfico. O trabalho de Brewer (1976), principalmente, norteia o
capítulo e, ao final, é dado um exemplo de apresentação, num quadro sinótico, dos
caracteres micromorfológicos de um solo.
Poluição ambiental – Como o solo é, em última instância, o receptáculo final de uma
ampla gama de detritos e o local de reações de compostos que podem poluir o ambiente,
alguns aspectos dentro dessa linha são enfocados, de maneira genérica, nesse capítulo.
2
Atributo, do latim attributu, qualidade, propriedade, acidente, caráter próprio (do solo); característica do
que é distinto, particularidade; peculiaridade que identifica um membro de um conjunto observado.

24
INTRODUÇÃO

Classificação de ecossistemas – A classificação dos ecossistemas deve ter, à


semelhança de outras taxonomias, uma estrutura hierárquica: nos níveis mais genéricos
os fatores climáticos ou bioclimáticos são dominantes; e nos níveis mais detalhados os
fatores pedológicos dominam. Nas regiões sem aspectos climáticos extremos, os
elementos pedológicos são aplicáveis, mesmo em níveis mais altos. Este capítulo
apresenta, de forma condensada, as informações ligadas à classe de solo. Portanto,
contém as anotações referentes aos aspectos do solo e algumas de suas relações com
outros fatores do meio ambiente3.
Quanto aos nomes dos solos freqüentemente citados ao longo dos capítulos,
esta edição leva em consideração o novo Sistema Brasileiro de Classificação de Solos
em sua 2ª edição (EMBRAPA, 2006). Porém, ainda preserva a base de conhecimento
utilizada para conceber o trabalho, ou seja, a classificação de solos usada nos
levantamentos pedológicos do País até antes de existir esse novo sistema. De forma
que: 1) as classes de solo citadas no sistema antigo (como nas primeiras edições do
livro), são seguidas pelo nome correspondente, entre parênteses, ao novo sistema
(correlação). As exceções ocorreram em parte do Capítulo 7, que, assumidamente,
trata da classificação antiga e, também, no caso daquelas classes que mantiveram o
mesmo nome no sistema atual (por exemplo: os Latossolos), além de algumas tabelas
e figuras especificadas, quando for o caso; 2) as alterações em alguns conceitos e
definições que foram alteradas no novo sistema (por exemplo: atividade da argila);
quando conveniente, chama-se a atenção; e 3) no tocante ao horizonte B textural, na
quase totalidade dos casos, ele foi empregado no seu sentido mais amplo conforme
concebido no antigo sistema, englobando os atuais B texturais, B plânicos e B níticos.
Por que se faz questão, aqui, de manter a informação da classificação anteriormente
usada, até prioritariamente, à classificação do novo sistema? Três razões explicam o
fato: 1) toda a base de informações de solos do País está preservada com os “antigos”
nomes; 2) a própria expressão desses nomes ainda vai se fazer por muito tempo pela
troca de informações entre técnicos, sempre se fazendo uma correlação com o novo
sistema; e 3) o novo sistema, pela primeira vez um sistema hierarquizado, deverá
sofrer, gradativamente, alterações significativas.

1.1. Solo como Fator Ecológico


As idéias simples e os fatos comuns são, com alguma freqüência, quase
completamente esquecidos e, muitas vezes, justamente eles têm uma importância
fundamental que, paradoxalmente, se ignora.
3
Meio refere-se às condições físicas e mesmo biológicas de uma forma geral e descritiva, não visa um
organismo diretamente: meio ambiente ou simplesmente ambiente refere-se à vida. A lua, sem vida, é um
meio, o meio lunar. Essa diferença é sutil e algumas das principais línguas do mundo só têm uma palavra:
ambiente (environment, por exemplo), não fazendo distinção entre meio e ambiente. (Essa interpretação
foi inicialmente dada a um de nós, MR, pela Professora Maria José de Araújo Lima, do Instituto de
Ecologia Humana, Universidade Federal Rural de Pernambuco, Recife).

25
PEDOLOGIA: BASE PARA DISTINÇÃO DE AMBIENTES

Ecologia é o estudo das relações entre os organismos e o meio ambiente. As


plantas que nos fornecem alimentos, fibras, madeiras e substâncias medicinais
dependem dos fatores ecológicos: clima, solo e biota (organismos). Neste último
fator está inclusa a atividade humana. O solo, por sua vez, é resultado de combinações
de clima, organismos, material de origem (rocha) e tempo. Como o solo é considerado
um corpo tridimensional, subentende-se que o relevo faz parte dele.
A disponibilidade de água, nutrientes e ar nos solos varia bastante, condicionando
uma produtividade diferente das culturas, quando os outros fatores são considerados
constantes.
Com o tetraedro (Figura 1.A) pretende-se mostrar, esquematicamente, as inter-
relações de dependência dos quatro vértices.

Figura 1.A – Inter-relações representadas pelo tetraedro.

Para isso, deve-se enfocar com mais cuidado os seguintes aspectos:


a) no tetraedro, os vértices da base representam os fatores ecológicos: clima, solo
e organismos;
b) no vértice superior estão representados os aspectos socioeconômicos que se
relacionam aos três fatores ecológicos da base;
c) as arestas do tetraedro representam as inter-relações respectivas. Por exemplo:
a aresta do tetraedro que liga clima e aspectos socioeconômicos quer representar
as relações entre estes dois vértices especificamente, ou seja, a influência dos
fatores climáticos sobre os aspectos socioeconômicos;
d) as faces do tetraedro apresentam um nível maior de inter-relações, isto é, entre
três vértices. Por exemplo: no contraste que se presencia atualmente entre as
áreas do Planalto Atlântico (sul do ES, RJ e mesmo no Nordeste, entre outros)
e o Brasil subárido são facilmente perceptíveis, em linhas gerais, as inter-relações
expressas no triângulo (face) clima-solo-aspectos socioeconômicos;
e) o sólido, o tetraedro, representa as inter-relações globais. Nossas preocupações
não chegam, muitas vezes, a passar das inter-relações unidimensionais, isto

26
INTRODUÇÃO

é, entre dois vértices (representados por uma linha) e algumas vezes sem
dimensão alguma (um ponto). No entanto os fatos se encontram inter-
relacionados em todo o sólido (três dimensões);
f) como os fatores nos vértices do tetraedro podem sofrer mudanças, alterando
seu campo de inter-relações com os outros fatores, poder-se-ia adicionar, extra-
tetraedro, um outro fator: tempo;
g) o fator tempo, como se verá posteriormente, poderá alterar as inter-relações
solo-organismos-aspectos socioeconômicos para grande parte do território
brasileiro nos próximos decênios.
Nestas notas estudam-se aspectos do fator ecológico solo, frisando certas
inter-relações com outros vértices do tetraedro e observando que o fator tempo,
que condiciona outros fatores, poderá ter implicações muito importantes na utilização,
por exemplo, de grande parte dos Latossolos4 brasileiros.

1.2. Variação Tridimensional dos Solos


Os solos variam com as condições ambientais (clima, organismos, material de
origem e tempo), numa escala continental ou local. É comum a diferença entre os
solos de elevações e os das baixadas (terraços e leitos maiores5). Neste contexto, o
relevo se inclui como parte do solo (Figura 1.B).
Essas diferenças, em pequena ou grande escala, refletem-se, em geral, em
substanciais diferenças no uso. Outras áreas têm padrões distintos, e é sempre um
bom exercício de observação verificar essas relações na paisagem. As principais
diferenças entre os solos das várias regiões do Brasil serão estudadas no Capítulo 7.
A diferença comentada até agora referiu-se a uma variação que se pode observar
através de uma viagem rápida, apenas constatando os aspectos apresentados à
superfície (anisotropia6 horizontal).
4
Os Latossolos são solos muito velhos, profundos, como os de Brasília, que apresentam, em geral, baixa
fertilidade natural e topografia bastante suavizada; apresentam pouca diferença no teor de argila com
profundidade, sem minerais primários facilmente intemperizáveis e com estrutura tipicamente granular,
semelhante à terra de formiga, dando ao solo um aspecto arenoso. A cor vermelho-acinzentada (arroxeada)
de Latossolos desenvolvidos de rochas basálticas, com a estrutura já descrita, lembra pó de café.
5
Terraço, superfície relativamente plana ou ligeiramente inclinada, menos ampla que um platô; limitada
por rampas íngremes, descendentes e ascendentes. O terraço fluvial já foi um leito maior, não sendo mais
inundável. Esta acepção mais restritiva parece ser mais útil sob o ponto de vista ambiental, do que
considerar tudo como terraço.
6
Anisotropia, em física, refere-se à qualidade duma substância ou sistema dependendo da direção
(FERREIRA, 1975); alguns solos apresentam considerável variação vertical, mas em quase todos eles
algumas propriedades tendem a decrescer exponencialmente com a profundidade: teor de matéria orgânica,
capacidade de troca de cátions, às vezes teor de nutrientes. As camadas dos depósitos aluviais costumam
ser bastante variáveis tanto de cima para baixo, quanto para os lados: neste sentido dão origem a solos
muito anisotrópicos.

27
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES

Área inundada Área não mais inundável. Grande Área de relevo acidentado,
periodicamente (leito concentração das atividades usada para pastagem,
maior). Usada para humanas - urbanas e agrícolas. principalmente. Muita evidência
arroz. Solos jovens. Solos um pouco mais velhos que de antigas lavouras de café.
os do leito maior. Solos bem mais velhos.

Figura 1.B Segmentos de paisagem comuns na Zona da Mata mineira com distintas
características de solo e uso.

Em cortes de estrada ou em paredes de trincheira observa-se no solo a


ocorrência de uma sucessão vertical de camadas diferenciáveis entre si; são os
horizontes produzidos pela ação dos processos de formação do solo. Essa superfície
vertical exposta, com seu conjunto de horizontes ou camadas, é denominada perfil7 do
solo, o qual apresenta variação predominantemente no sentido vertical (anisotropia
vertical). O solo apresenta, portanto, anisotropia horizontal e vertical; é assim um
corpo com variação em três dimensões.
Os vários horizontes e camadas componentes de um perfil de solo nem sempre
são evidentes e nem sempre têm limites bem definidos. Em depósitos sedimentares
muito recentes, tais como material aluvial depositado às margens de rios, lagos e
encostas íngremes muito erodidas, horizontes de solo podem não ser distinguíveis. À
medida que a formação do solo prossegue, podem ser detectados horizontes8, em

7
Perfil, uma seção vertical do solo até o material de origem, ou seja, até a rocha consolidada ou não. O perfil
é formado de camadas ou horizontes mais ou menos paralelos à superfície; numa caracterização de solos
os horizontes e camadas são, em geral, descritos e analisados química, física e mineralogicamente. Tanto
a descrição de campo quanto as análises de laboratório são usadas para prever as limitações e qualidades
do solo para vários usos.
8
Os Solos Aluviais (Neossolos Flúvicos), ao longo dos rios, não têm horizonte B; não há tempo para a
formação do horizonte B; as taxas de erosão e de deposição são mais rápidas do que a de formação do
horizonte B. Com pouco tempo não há horizonte B; com um pouco, horizonte B incipiente; se o tempo
é ainda maior dá solo com horizonte B textural. Só nos solos muito, muito velhos, é que se forma o B
latossólico característico dos Latossolos.

28
INTRODUÇÃO

seus primeiros estádios, somente através do estudo de amostras em laboratório. Mais


tarde (talvez centenas de anos), eles se tornam mais evidentes no campo (YAHNER
et al., 1980)9.
Por outro lado, alguns solos tropicais (Latossolos), por serem muito evoluídos e
bastante profundos, revelam menor diferenciação de horizontes, sendo, às vezes, difícil
separá-los sem um exame mais minucioso. À medida que novas técnicas vão sendo
incorporadas, são evidenciados os aspectos de variabilidade naquilo em que se
enxergava apenas uma massa homogênea de solo. Nesse contexto, as técnicas de
micromorfologia (veja Capítulo 10) desempenham papel significativo.

1.3. Análise do Solo


Ao se analisar determinada amostra de solo, a fim de precisar a sua riqueza em
nutrientes, procede-se à extração de elementos do material de solo com soluções
específicas (extratores) e determinam-se, no extrato obtido, os elementos em questão.
Idealmente, o extrator possui o mesmo poder de extração das raízes, mas essa
condição ideal inexiste pelas seguintes razões:
a) as plantas diferem entre si quanto à capacidade de absorção de nutrientes (as
gramíneas, por exemplo, têm maior poder de absorção de potássio do que as
leguminosas);
b) os solos diferem entre si na cessão de nutrientes à solução extratora;
c) desde que o solo é um meio heterogêneo, é provável que as amostras,
principalmente para os solos com anisotropia acentuada, não representem a
média do que as raízes exploram;
d) finalmente, desde que alguns experimentos indicam que apenas uma raiz (de
milho, por exemplo), pode, em determinadas circunstâncias, absorver todo o
fósforo e nitrogênio necessários para o crescimento normal da planta
(OHLROGGE, 1958), a amostragem é deveras crítica. Pode-se estar
amostrando uma parte do solo e a planta utilizar outra parte que apresenta um
teor em nutrientes não representado na amostra.
O fato de o solo formar a interface entre a litosfera e a atmosfera faz com que
ele apresente alta anisotropia vertical em atributos como temperatura e teor de água.
Os primeiros milímetros podem, ao contrário do que normalmente se pensa, ser a
parte mais inóspita do solo para as raízes (RUSSELL, 1973), apesar de comumente
ser a região mais rica em nutrientes (MEDEIROS, 1977) e em matéria orgânica
9
Muitos atributos são mais fáceis de ser inferidos a partir de observações de campo do que através de
análises de laboratório. Por exemplo, a presença de maghemita na argila, pela magnetização; a presença de
hematita pela cor e, em alguns casos, até a presença de gibbsita pela estrutura. Bouma (1973) realça o
papel das características morfológicas na hidrologia do solo.

29
PEDOLOGIA: BASE PARA DISTINÇÃO DE AMBIENTES

(BENNEMA, 1974; MEDEIROS, 1977). Estes fenômenos são muito importantes no


que se refere à amostragem, relação laboratório (casa de vegetação) x campo,
ecofisiologia de raízes etc.
Isto posto, pode-se compreender a profunda luta sustentada pelo pessoal que
faz e interpreta análises de solo, quando seleciona os extratores e relaciona as
quantidades de nutrientes extraídos com a resposta da planta à adubação em que
aqueles nutrientes são incluídos.

1.4. Experimentação e Extensão


Os trabalhos de experimentação agronômica10 são, por motivos práticos,
realizados em pequenas áreas (geralmente de poucos metros quadrados). Quando se
utilizam as conclusões gerais de um experimento feito num determinado local (área
experimental) em outras áreas, supõe-se que haja semelhança de condições: a área11
para a qual se vão extrapolar os conhecimentos é semelhante à área do
experimento.
A adubação, manejo, comportamento de variedades, controle de erosão etc.
variam, de modo geral, com os fatores ecológicos (clima, solo e organismos). Daí
pode-se tirar as seguintes conclusões:
a) é de interesse prático que os experimentos, cujas respostas são influenciadas
pelos fatores ecológicos, sejam instalados em áreas que representem aquelas
onde vão ser utilizadas as conclusões dos experimentos;
b) com o intuito de apressar e valorizar as informações dadas por um experimento,
é necessário que se tenha conhecimentos específicos sobre as características
de solo, clima e dos organismos da área onde se está trabalhando;
c) os resultados experimentais só poderão ser extrapolados, com relativa
probabilidade de sucesso, para áreas semelhantes12 à do experimento.

10
Agronômica, derivativo de agronomia, do grego agros, campo, e nomos, lei, princípio; estudo dos
métodos agrícolas (BUENO, 1967); arte de manejo do solo ou da terra e produção das culturas
(WEBSTER’S..., 1989).
11
Observa-se aqui um fato muito interessante: há uma população amostrada estatisticamente (ao acaso),
a área do experimento, e uma outra população - que não foi amostrada casualmente que é a área para a qual
se pretende transferir o conhecimento. Conclusão: por maior que seja o rigor estatístico na área experimental,
sempre há um elemento de empirismo, de imprecisão, para o qual as informações sobre geografia e
classificação de solos são de grande valia.
12
A interpretação da qualidade de um atributo só tem sentido num determinado contexto; num solo raso,
o atributo profundidade pequena tem qualificações numa área úmida (Amazônia, por exemplo) diferentes
das de uma área seca; no primeiro caso pode indicar deficiência de oxigênio; no segundo, deficiência de
água. Isso é válido para todos os atributos. A expressão eutrófico, num Cambissolo de argila de alta
atividade (Ta), está associada com altos teores de minerais primários facilmente intemperizáveis e muitas
bases trocáveis; num Latossolo, com baixa reserva de nutrientes.

30
INTRODUÇÃO

1.5. Bibliografia
BENNEMA, J. Organic carbon profiles of Oxisols. Pedologie, Ghent, v. 24, p. 119-142, 1974.

BOUMA, J. Guide to the study of water movement in soil pedons above the watertable. Madison:
University of Wisconsin, 1973. 194 p.

BREWER, R. Fabric and mineral analysis of soils. New York: Krieger, 1976. 482 p.

BUENO, S. Grande dicionário etimológico prosódico da língua portuguesa. São Paulo: Sa-raiva,
1967. 8 v.

EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA. Centro Nacional de Pesquisa de


Solos. Sistema brasileiro de classificação de solos. 2. ed. Brasília, DF: Embrapa Produção de
Informação; Rio de Janeiro: Embrapa Solos, 2006. 306 p.

FERREIRA, A. P. H. Novo dicionário da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira,


1975. 1449 p.

MEDEIROS, L. A. R. Caracterização e gênese de solos derivados de calcários e, de sedimentos


terciários da região da Jaíba, Norte de Minas. 1977. 107 f. Dissertação (Mestrado) - Universi-
dade Federal de Viçosa, Viçosa, 1977.

OHLROGGE, A. J. How root tap a fertilizer band. Plant Food Review, [S.l.], Summer-Fall, p. 4-9,
1958.

RUSSELL, E. W. Soil conditions and plant growth. 10. ed. New York: Longman, 1973. 849 p.

WEBSTER’S encyclopedic unabridged dictionary of the english language. New York: Gramercy,
1989. 2078 p.

WHITTAKER, R. H.; LIKENS, G. E. The biosphere and man. In: LIETH, H.; WHITTAKER, R. H.
(Eds.). Primary productivity of the biosphere. New York: Springer-Verlag, 1975. p. 305-328.

YAHNER, J. E.; STEINHARDT, G. C.; FRANZMEIER, D. P.; GALLOWAY, H. M.; ZACHARY, A.


L. Understanding and judging Indiana soils. West Lafayette: Purdue University, 1980. 59 p.

31
PEDOLOGIA: BASE PARA DISTINÇÃO DE AMBIENTES

32
PROPRIEDADES DO SOLO E INTERPRETAÇÃO

2
PROPRIEDADES DO SOLO E INTERPRETAÇÃO

2.1. Propriedades
O solo é variável nas três dimensões. Quando se observa a variação vertical
num corte de estrada, tem-se um perfil, isto é, a face de um conjunto de seções, zonas
ou faixas, mais ou menos paralelas à superfície. Quando essas camadas evidenciam a
diferenciação do perfil, por efeito dos processos formadores do solo, são chamadas
de horizontes; caso contrário, são apenas camadas.
A, E e B são sempre considerados horizontes; C, O, H e F, dependendo da
evolução pedogenética, podem ser horizontes ou camadas (EMBRAPA, 1988a;
OLIVEIRA et al., 1992).
Num corte de estrada na Zona da Mata, em Minas Gerais, em solos
desenvolvidos de gnaisse13, por exemplo, distinguem-se, de cima para baixo:
1. camada ou seção superficial escurecida, que corresponde ao horizonte A;
2. horizonte espesso, vermelho, ou vermelho-amarelado - o horizonte B;
3. seção rósea14, que se estende até a rocha (ou camada R). Trata-se do horizonte
C, onde os vestígios da estrutura da rocha ainda são visíveis: corresponde à
camada Cr.
Entre os solos e dentro de cada solo, os horizontes podem diferir entre si nas
propriedades: a - constituição; b - cor; c - textura; d - estrutura; e - cerosidade; f -
porosidade; g - consistência; h - cimentação; i - pedoclima; e j - pedoforma.
a. Constituição
O solo é constituído por minerais e poros (ocupados por água e ar), além de matéria
orgânica e organismos. A natureza e a proporção de cada uma destas partes podem variar
bastante. Desse modo, nos solos hidromórficos15, por exemplo, os poros são ocupados por
13
Gnaisse, do alemão gneiss; palavra usada pelas mineradoras de Erzgebirde, distrito de Freiberg, introduzida
por Saussure (1779); rocha metamórfica em que bandas ou lentículas de material granular de cor clara
(quartzo e feldspatos), alternam-se com outras de minerais de hábitos micáceos ou alongados de cor
escura (biotita, hornblenda): é a alternância de camadas félsicas (claras) e máficas (escuras) (BATES &
JACKSON, 1987; BUENO, 1967).
14
Quando se observa na porção inferior do horizonte C, uma coloração algo esverdeada, é porque ainda
não houve a formação de hematita, a qual, quando presente, mesmo em pequena quantidade, num fundo
branco dado pela caulinita, imprime ao todo uma coloração rósea.
15
Solos hidromórficos, como o nome indica, têm sua morfologia relacionada com a água; a cor cinzenta,
gleizada (tabatinga), resulta da redução do ferro, de trivalente para bivalente, com ou sem remoção do
mesmo.

33
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES

água durante longos períodos, em detrimento da fase gasosa. Devido à deficiência de


oxigênio (falta de arejamento), que restringe a atividade decompositora dos
microrganismos16, há, em condições naturais, maior acúmulo de matéria orgânica. As
chamadas Areias Quartzosas (Neossolos Quartzarênicos), por outro lado, possuem
muito pouca argila e predomínio de partículas do tamanho de areia (0,05 a 2 mm de ,
ou diâmetro equivalente), constituídas quase exclusivamente de quartzo17. Assim, além
de tenderem a ser pobres em matéria orgânica, via de regra apresentam baixa atividade
de organismos.
b. Cor
Característica facilmente distinguível; os solos tropicais bem drenados tendem
a ter tonalidades vermelhas e amarelas (cores bem vivas). Os solos hidromórficos
tendem a ser acinzentados, sendo que, mais próximo à superfície, os maiores teores
de matéria orgânica, imprimem-lhes uma coloração escura.
c. Textura
Proporção relativa das partículas que constituem o solo, por tamanho, isto é, argila,
silte e areia. Cascalhos, quando em proporções significativas ( 8%), são considerados
como elemento qualitativo da textura; matacões e calhaus constituem a pedregosidade.
d. Estrutura
Agregação das partículas em unidades maiores; pode ser: granular, laminar, em
blocos, prismática e colunar.
e. Cerosidade
Filmes ou películas de argilas que, trazidas dos horizontes superiores (horizonte
A e/ou E) pela água, se depositam nas unidades estruturais do horizonte B, ou resultam
da segregação ou rearranjamento de material coloidal inorgânico, nas faces das unidades
estruturais. Sua presença indica solos que sofreram o processo de podzolização, à
exceção dos Podzóis 18 (Espodossolos). Refere-se, portanto, a solos não tão
intemperizados (velhos e lixiviados) quanto os Latossolos.
16
As plantas são mais tolerantes às limitações do que os organismos decompositores; estes têm estrutura e
fisiologia mais simples: são incapazes de se ajustar ativamente às limitações; no entanto, os microrganismos,
dependendo da espécie, conseguem viver nos ambientes mais extremos.
17
Não se conhece bem a origem do nome quartzo, um dos minerais mais comuns e mais bem estudados. Parece
que vem de quartz (alemão), ganga dos filões metalíferos; palavra divulgada pelos mineradores alemães,
transcrita como quartz pelos franceses e quartzo em português (BETEJTIN, 1977; BUENO, 1967).
18
Perfil de um Podzol (Espodossolo) apresenta-se escuro à superfície (horizonte A), claro em seguida
(horizonte E ou antigo A2; a cor cinzenta, zola, em russo, que deu nome ao solo) e escuro logo abaixo
(horizonte B podzol, atual B espódico). O material arenoso das restingas não retém os compostos orgânicos
completamente, os quais são carreados, dando a coloração escura às águas das restingas. As águas escuras
que deram origem ao nome do rio Negro, na Amazônia, e as do rio Taquari, no Pantanal, por exemplo, estão
associadas a áreas de Podzol (Espodossolo).

34
PR OPR IEDADES DO SOLO E IN TER PR ETAÇÃO

f. Porosidade
Espaço no solo ocupado por ar e água. Divide-se em macroporos e microporos
(menores do que 8 ou do que 60 micrômetros de diâmetro19). Essa propriedade está
intimamente relacionada com a estrutura e com a textura do solo.
g. Consistência
Comportamento mecânico do pedomaterial sob condições variáveis de umidade.
Está relacionada com a composição mineralógica do solo. Solo macio (quando seco),
friável (quando úmido) e ligeiramente pegajoso (quando molhado), se argiloso indica,
em geral, alto teor de óxidos de ferro (Fe) e de alumínio (Al), boas condições físicas e
pobreza em bases20. Solos duros, firmes e muito pegajosos podem indicar menos
óxidos de Fe e de Al, materiais mais ricos em bases e condições físicas - permeabilidade,
traficabilidade e manejo - piores21.
h. Cimentação
União das partículas do solo por agente cimentante. Pode formar camadas
impermeáveis às raízes e à água.
i. Pedoclima
Regime hídrico e térmico do solo. O pedoclima não pode ser previsto com base
só no clima atmosférico (ou vigente na atmosfera). De fato, existem solos hidromórficos
(com excesso de água) em plena área desértica. As formas de vegetação original
(fases)22 têm sido usadas no Brasil, com bons resultados, para uma caracterização
pedoclimática geral.

19
O diâmetro de separação entre macroporos e microporos varia bastante: 8 micrômetros (LOZET &
MATHIEU, 1986); 10 a 60 mm (MILLER & DONAHUE, 1990). As raízes capilares têm de 8 a 12 mm
de diâmetro (MILLER & DONAHUE, 1990) ou de 5 a 17 mm (NEWMAN, 1974).
20
Estas generalizações podem apresentar exceções.
21
A consistência, quando o solo está seco, reflete o ajuste face a face; é, assim, um importante indicador
das condições do material, talvez mais do que a friabilidade. As partículas de argila silicatada têm forma de
placas. Quando as partículas se ajustam face a face há um máximo de coesão, o torrão torna-se duro. O
barro amassado, por exemplo, quando preparado para cerâmica, apresenta-se bastante duro ao secar.
Dessa forma os perfis de solos que se apresentam naturalmente duros quando secos têm maior número de
partículas face a face.
22
Esta idéia do uso de formas de vegetação original (de Marcelo Nunes Camargo e Jakob Bennema)
foi aprimorada com as contribuições de Geraldo Mendes Magalhães, Dárdano de Andrade-Lima,
Carlos Toledo Rizzini e outros. (Agradecemos a Paulo Klinger Tito Jacomine, por parte dessas
informações).

35
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES

j. Pedoforma23
O solo é um corpo tridimensional, portanto carece de sentido solo sem topografia
(pedoforma). Ao lado da cor, a pedoforma é outro elemento muito importante no
reconhecimento e identificação24 dos solos.

2.2. Propriedades e Inferências


2.2.1. Constituição
O solo é constituído por minerais, poros ocupados por ar e água e material
orgânico. Neste embasamento, faz-se sentir a atividade biológica.
A fração mineral pode ser constituída de partículas de tamanhos variáveis,
desde argila (partículas menores que 2 micrômetros de diâmetro equivalente) até
matacões e lajes de tamanho bastante grande (Tabela 2.A).

Tabela 2.A Tamanho das partículas do solo.


Partícula Diâmetro (mm)
Matacões >200
Calhaus 200-20
Cascalhos 20-2
Areia grossa 2-0,20
Areia fina 0,20-0,05
Silte 0,05-0,002
Argila <0,002

Fração argila
Na fração argila ocorrem muitos fenômenos. Um deles é o da troca iônica -
que já se disse ser o fenômeno mais importante25 para a humanidade, depois da
fotossíntese. Existem duas cargas na natureza: positiva e negativa (Figura 2.A).

23
Pedoforma, à semelhança da expressão superfície pedomórfica (YAALON, 1971), é usada para enfatizar
o aspecto tridimensional do solo. É afim à expressão soilscape (BUOL et al., 1973).
24
Identificar é determinar a que grupo ou classe um elemento, no caso o solo, pertence; enquanto classificar
é arranjar ou organizar por classes, ordenar de acordo com as classes (WEBSTER S..., 1989).
25
Os fenômenos encontram-se de tal forma inter-relacionados que pode não haver muito sentido em dizer-
se que um é mais importante do que o outro. Um exemplo: quase não se fala na importância da floculação,
isto é, da precipitação dos colóides em suspensão - a limpeza da água suja. As águas do rio Amazonas, se
não fosse esse fenômeno, sujariam o oceano, alterariam a atividade biológica, as trocas gasosas, a absorção
de CO2, por exemplo e, isso talvez modificasse a vida na Terra.

36
PR OPR IEDADES DO SOLO E IN TER PR ETAÇÃO

Figura 2.A Relação entre idade dos solos e equilíbrio de cargas elétricas.

A fração argila e outras frações, como por exemplo, o silte, porém em menor
quantidade, podem apresentar essas duas cargas.
A maioria dos solos na crosta terrestre apresenta o número de cargas negativas
maior do que o número de cargas positivas - são solos eletronegativos. Existem, no
entanto, particularmente entre os Latossolos, alguns solos que apresentam a densidade
de cargas negativas menor do que a de cargas positivas - são solos eletropositivos26.
As cargas negativas, que estão na superfície dos minerais de argila e da matéria
orgânica, são capazes de adsorver íons com cargas opostas (cátions): Ca2+, Mg2+, K+,
H+ etc. Estes cátions adsorvidos podem ser substituídos, isto é, trocados uns pelos
outros. A esse fenômeno dá-se o nome de troca de cátions, e ao conjunto das cargas
negativas dá-se o nome de capacidade de troca catiônica (CTC ou valor T), que é
normalmente expressa em cmolc/dm3 de solo ou meq/100 cm3 de terra fina 27. Ao
somatório das bases, Ca2+ + Mg2+ + K+ + Na+, dá-se o nome de soma de bases (SB
ou valor S), via de regra expressa em cmolc/dm3 de terra fina.

26
Solos eletropositivos são muito raros no mundo, mas ocupam grandes áreas do Brasil, nas chapadas
mais elevadas, principalmente quando argilosos. Esses perderam grande parte da sílica, têm Ki baixo, são
gibbsíticos e estão em processo de destruição, mas já ocuparam áreas muito mais extensas.
27
meq/100 g é uma unidade de carga; é a quantidade da substância que reage com o equivalente de
hidrogênio (H+); assim, 1 meq/100 g de uma substância indica que 100g dessa substância tem a
capacidade de reagir com o equivalente a 1 mg de H+. Atualmente, pelo sistema internacional, essas cargas
são expressas em cmolc/dm3 ou cmol de cargas por dm3, ou seja, molécula-grama por dm3 de solo ou terra
fina.

37
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES

A fração argilosa dos solos é composta principalmente de argilas silicatadas e


oxídicas - óxidos, termo inclusivo para óxidos, hidróxidos e oxidróxidos, de Fe e de Al
- que, juntamente com a matéria orgânica, determinam o equilíbrio e conteúdo de
cargas elétricas do solo. As argilas silicatadas (filossilicatos28) se formam pelo arranjo
de duas unidades básicas: tetraedros de sílica e octaedros de alumínio.

Tetraedro

Estes tetraedros juntam-se de forma a ter, cada um, três oxigênios comuns. O
trapézio está representando a camada formada pela união dos tetraedros.

Octaedro

OH

28
Filossilicato, do grego phyllon, folha; silicatos na forma de placas ou folhas, como as micas. Caracterizam-
se por repartir três dos quatro oxigênios dos tetraedros, formando as placas.

38
PR OPR IEDADES DO SOLO E IN TER PR ETAÇÃO

O retângulo é usado para representar a camada formada pela união dos octaedros.
Tanto os tetraedros de sílica, como os octaedros de alumínio se organizam
formando lâminas constituídas exclusivamente de cada uma dessas unidades. Têm-se
assim lâminas tetraedrais (representadas pelo trapézio) e lâminas octaedrais
(representadas pelo retângulo) que ocorrem associadas, pelo compartilhamento de
oxigênios das unidades básicas de cada uma, formando camadas. Essas camadas
podem ocorrer pela junção de uma lâmina de tetraedros com uma de octaedros (argila
1:1) ou duas lâminas de tetraedros e uma de octaedros (argila 2:1), que é a composição
básica de vários tipos de argila silicatada.

Tanto o Si do tetraedro como o Al do octaedro podem ser substituídos por


alguns outros cátions. A isto se dá o nome de substituição isomórfica, isto é, a
substituição de um elemento por outro, sem ser alterada substancialmente a forma do
mineral.

39
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES

As cargas negativas das argilas são originadas do seguinte modo:


1. substituição isomórfica: quando um cátion de menor valência substitui o Si no
tetraedro ou o Al no octaedro. Por exemplo: se o Fe2+ entra no lugar do Al3+, no
octaedro, haverá a sobra de uma carga negativa;
2. como as lâminas dos octaedros e tetraedros não se prolongam indefinidamente,
na quebra (beirada) pode haver um desequilíbrio de cargas não satisfeitas,
conferindo carga negativa às partículas;
3. finalmente, verifica-se na estrutura do octaedro, nos vértices do mineral, a
presença de hidroxilas, as quais, por dissociação, originam cargas negativas.

R-OH R-O- + H+

CARGA NEGATIVA

A substituição isomórfica (item 1) é mais importante para argilas do tipo 2:1,


enquanto as argilas do tipo 1:1 têm suas cargas originadas, principalmente, nas beiradas
quebradas29 (item 2) e dissociação das hidroxilas (item 3).
As cargas positivas estão também presentes nos solos e tendem a aumentar
nos solos latossolizados30, sendo os óxidos, principalmente, e as argilas do tipo 1:1
(grupo da caulinita) os principais responsáveis por isto. Admite-se que o fenômeno
ocorre provocado por uma dissociação de OH (hidroxila) dos compostos de Fe e de
Al e dos octaedros das argilas silicatadas, conforme a concentração hidrogeniônica
(pH) do meio.

OH- H+
-
R-O + H2O R-OH R-OH2+
(a) (b)

Pelas reações esquematizadas verifica-se o quanto o número de cargas negativas


(capacidade de troca catiônica - CTC) aumenta com o aumento do pH (reação a), e
também como o número de cargas positivas aumenta com a redução do pH (reação b).
Como se pode observar na Tabela 2.B, as argilas silicatadas diferem
grandemente entre si em propriedades como área específica e capacidade de troca
catiônica.

29
A forma laminar da caulinita (argila 1:1) faz a superfície exposta, expressa, por exemplo, em metros
quadrados por grama (m2g-1), depender da espessura da lâmina; a capacidade de troca, relacionada à
exposição das beiradas, não depende diretamente da espessura da lâmina.
30
Latolização é o processo de formação de solo com predominância de perda de sílica e bases, com
concentração residual de ferro e alumínio.

40
PR OPR IEDADES DO SOLO E IN TER PR ETAÇÃO

A atividade das argilas, isto é, sua capacidade de troca catiônica e área específica,
tende a crescer da caulinita31 (menos ativa) para a esmectita ou montmorilonita32
(mais ativa).

Tabela 2.B Dados sobre componentes das frações argila, silte e areia dos solos.
Área Específica Capacidade de Troca Catiônica
Mineral ou Partícula Estrutura
(m2/g) (cmolc/kg)
Caulinita 1:1 10-20 3-15
33
Haloisita 1:1 21-43 5-50
34
Ilita 2:1 70-120 10-40
Clorita 2:1 79-150 10-40
35
Vermiculita 2:1 300-500 100-150
Esmectita 2:1 700-800 60-150
36
Alofana amorfa 70-300 25-70
Silte <1 muito pequena
Areia fina <0,1 muito pequena
Areia grossa <0,01 muito pequena
Fonte: valores de área específica compilados por Bohn et al. (1979) e Russell (1973), e de capacidade
de troca catiônica por Grim (1968).

Visualizando melhor a grandeza da área específica das argilas silicatadas, um


campo de futebol (praticamente um ha) pode ter sua área presente em cerca de: 500
a 1000 g de caulinita (10.000 m2 dividido por 20 m2g-1 ou por 10 m2g-1, respectivamente)

31
Caulinita, do monte Kaoling (kao, alto; ling, monte), perto de Jauchu Fa, na China, de onde se extraiu o
primeiro caulim; o principal constituinte do caulim (HURLBUT, 1971; WEBSTER S..., 1989). Há
indicações (RESENDE et al., 1988) de que nos solos brasileiros, a superfície específica da caulinita atinge
maiores valores. Pela origem do nome deveria ser caulinita, com a letra o, à semelhança de varias línguas:
espanhol, francês, inglês. Apesar dessas considerações, caulinita e não caolinita é registrada nas principais
fontes (ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS, 1981; BRANCO, 1993; FERREIRA, 1975).
32
Montmorilonita, nome de Montmorillon, região da França onde ela foi encontrada (BUENO, 1967;
WEBSTER S..., 1989); esse nome corresponde a um grupo de minerais incluindo montmorilonita,
nontronita, saponita, hectorita, sauconita, beidelita, volkoncoita ou grifitita. É o mesmo que esmectita, do
grego smektikos, sem gordura, limpo (BATES & JACKSON, 1987; BUENO, 1967).
33
Halloysita, nome em homenagem a Omalius D Halloy. É o mesmo que metahalloysita (autores europeus)
ou endelita (autores norte-americanos) (BATES & JACKSON, 1987; BUENO, 1967).
34
Ilita, nome proposto como um termo geral, em homenagem ao estado de Illinois (EUA). Intermediário
em atributos entre moscovita e esmectita. Contém menos potássio e mais água do que as micas verdadeiras;
mais potássio que caulinita e montmorilonita (BATES & JACKSON, 1987).
35
Vermiculita, porque contrai-se na forma semelhante a vermes, mediante a perda de água por aquecimento
(HURLBUT, 1971).
36
Alofana, do grego allos, outro, e phainein, parecer.

41
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES

ou em cerca de 14 g de montmorilonita (argila silicatada ausente nos solos mais


intemperizados).
Os óxidos de Fe, Al, Mn e Ti fazem também parte da fração inorgânica dos
solos, principalmente dos mais intemperizados, como é o caso geral dos solos
tropicais, particularmente nas áreas mais suaves, de superfícies geomórficas37
mais antigas.
Os óxidos de Al e de Fe no solo, cujo conteúdo pode ser expresso na forma de
Sesquióxidos38 são ainda menos ativos que a caulinita, no que se refere à capacidade
de troca de cátions.
Quanto mais intemperizado (velho) é um solo, menos ativa é a sua fração
coloidal39 inorgânica. Deste modo, solos como os Latossolos (solos profundos, muito
intemperizados) apresentam baixa atividade em sua fração argilosa (composta
basicamente de argilas do tipo 1:1 e óxidos), enquanto solos de regiões mais secas,
menos intemperizados, apresentam argila com atividade maior.
Capacidade de retenção de cátions, comportamento em relação ao manejo de
aração e gradagem, infiltração e retenção de água, porosidade etc. são características
grandemente relacionadas com a natureza coloidal do solo.
Fração Grosseira
É principalmente na fração grosseira, silte e areia, que se encontram os minerais
capazes de fornecer, após intemperização, nutrientes para as plantas40. Entretanto,
solos tropicais, bastante intemperizados e situados em superfícies antigas e/ou estáveis
na paisagem, já perderam, quase completamente, os minerais primários facilmente
intemperizáveis, ficando como produtos finais: argila e uma fração arenosa constituída
de quartzo, concreções argilosas e ferruginosas, magnetita e outros componentes que
não fornecem nutrientes para as plantas ou, se o fazem, é de forma muito lenta.
Em razão disso, a análise mineralógica da fração grosseira pode permitir uma
estimativa do potencial do solo em fornecer nutrientes em longo prazo. Assim, por

37
As superfícies de aplainamento, como por exemplo, os grandes chapadões, são erodidos muito lentamente;
cada partícula permanece um longo período exposta à atuação bioclimática antes de ser removida. Isso
permite a remoção intensa de sílica e bases, ficando um resíduo rico em óxidos de Fe, Al, Ti e Mn.
38
Sesquióxido vem do latim sesqu - abreviação de sexisque (um e meio) - mais óxido: óxido que contém
uma vez e meia mais oxigênio que o protóxido, alumínio ou ferro. Um solo rico em sesquióxidos (Fe2O3
e Al2O3) tem altos teores de ferro e alumínio (Fe e Al).
39
Sistema físico-químico que contém duas fases, uma das quais, a fase dispersa está extremamente
subdividida e imersa na outra, a fase dispersora. As partículas da fase dispersa (micelas) podem ter
dimensões que variam aproximadamente entre 5 x 10-5 e 10-7 cm de diâmetro equivalente e se difunde com
extrema lentidão, como um gel.
40
A fração argila é mais estável à intemperização, apesar da maior superfície específica, porém não é muito
rica em macronutrientes na sua constituição.Apenas retém cátions e ânions em sua superfície.

42
PR OPR IEDADES DO SOLO E IN TER PR ETAÇÃO

exemplo, nos solos originados de rochas máficas41, a magnetita contém micronutrientes


(Cu, Zn, Fe, Mn) cujo suprimento às plantas, ainda que muito lento, deve ser considerado
(CURI & FRANZMEIER, 1987).

A presença de minerais primários ricos em nutrientes em


potencial não significa necessariamente que o solo seja fértil.
Os solos desenvolvidos de rochas ricas sob condições de alta
lixiviação e taxa de intemperização mais lenta são muito pobres em
nutrientes disponíveis, mesmo quando ainda apresentam substancial
quantidade de minerais decomponíveis. Assim, os solos jovens ou
pouco evoluídos desenvolvidos de basalto em regiões frias e chuvosas
podem apresentar altos teores de alumínio trocável e baixos teores de
nutrientes disponíveis.

Em todas as frações do solo (argila, silte e areia), os minerais silicatados formam


o grupo mais importante (Tabela 2.C). As argilas silicatadas - filossilicatos - já foram
discutidas.
Nas frações mais grosseiras do solo os minerais tendem a ser herdados da
rocha; isto é, não são produzidos pela pedogênese, como no caso dos minerais de
argila.
Além dos óxidos de Fe e de Al, outros minerais não silicatados ocorrem nos
solos, como calcita42, dolomita43 e apatita44 (este muito importante como supridor de
fósforo).
Os minerais têm composição e resistência ao intemperismo muito diferentes
entre si. A resistência ao intemperismo pode ser mais bem compreendida usando-se a
classificação dos silicatos. O tetraedro de sílica (como se comentou no estudo da
estrutura das argilas silicatadas - filossilicatos) é a unidade básica. A maneira pela
qual esses tetraedros estão ligados origina a classificação dos silicatos em cinco grupos,
isto de acordo com o número de oxigênios comuns (servindo a dois tetraedros
simultaneamente).

41
Máfico, termo mnemônico lembrando magnésio e ferro; foi proposto para substituir outro criado com
o mesmo espírito mas menos eufônico: femag. Aplicado às rochas ígneas compostas principalmente de
minerais escuros ferromagnesianos; aplicado a esses minerais. O símbolo M é as vezes usado para indicar
minerais máficos e relacionados (biotita, anfibólios, piroxênios, olivinas, minerais opacos, epídoto, granada,
carbonatos primários etc.) (BATES & JACKSON, 1987).
42
Calcita, do latim calx, cal queimada (HURLBUT, 1971), nome dado por Haidinger (1845); do latim
chalcitis e grego khalkitis (BUENO, 1967).
43
Dolomita, nome dado em honra ao químico francês Deodato Gratel Dolomieu (1750-1801), seu
descobridor (BUENO, 1967; HURLBUT, 1971).
44
Apatita, do grego apatao, decepcionar, porque variedades de gemas foram confundidas com outros
minerais (BUENO, 1967; HURLBUT, 1971).

43
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES

Tabela 2.C Minerais silicatados de maior interesse para os solos.


Classificação, número de oxigênios comuns (entre parênteses), exemplos e composição
Nesossilicato45 (Oxigênios comuns = 0)
Olivina (Fe,Mg)2 (SiO4 )
Granada M3Al2 (SiO4)3, onde (M=Fe, Ca, Mg, Mn)
Zircão ZrSiO4
Cianita Al2Si2O5
Silimanita Al2O2Si2O5
Andaluzita Al2Si2O5
Estaurolita Fe2Al9O7(SiO4)4 OH
Titanita CaTiO(SiO4)
Sorossilicato46 ( = 1)
Epídoto Ca2(Al,Fe)Al2O(SiO4)(Si2O7)(OH)
Inossilicato47 simples ( = 2)
Piroxênios Ca(Mg,Fe)(SiO3)2[(Al,Fe)2O3]x
Ciclossilicatos48 ( = 2)
Turmalina (Na,Ca) (Mg,Fe,Al,Li)3Al6(BO3)3Si6O18(OH)4
Inossilicato duplo ( = 2 e 3)
Anfibólios (Ca,Na)3(Mg,Fe,Al,Fe2+)5(Si,Al)8O22(OH,F,O)2
Filossilicatos ( = 3)
Micas, argilas silicatadas
Tectossilicatos49 ( = 4)
Quartzo e Feldspatos: SiO2 e MAl(Al,Si)3O8, sendo M = K, Na, Ca, Ba, Rb, Sr ou Fe

45
Nesossilicato, do grego nesos, ilhas; silicatos sem oxigênios comuns entre os tetraedros. A ligação faz-
se por cátions como Mg e Fe, nas olivinas, ou Zr como no zircão ou zirconita. Por isso, variam dos mais
suscetíveis (olivina) aos mais resistentes à intemperização (zircão).
46
Sorossilicato, do grego soros, acúmulo, aglomerado; silicatos cujos tetraedros (SiO4) repartem um de
seus quatro átomos de oxigênio com um tetraedro vizinho; hemimorfita e epídoto são alguns dos minerais
deste grupo (BUENO, 1967; HURLBUT, 1971).
47
Inossilicato, do grego is, inos, fibra; silicatos em que cadeias simples juntam-se repartindo oxigênios em
tetraedros alternados (piroxênios); ou com cadeias duplas (anfibólios) em que metade dos tetraedros
repartem três oxigênios e a outra metade reparte apenas dois oxigênios.
48
Ciclossilicato, do grego kyklos, círculo; silicatos caracterizados pela ligação dos tetraedros em anéis
(berilo, cordierita, turmalina etc). São, pela estrutura, muito resistentes à alteração.
49
Tectossilicato, do grego tektos, derretido; silicatos em que todos os oxigênios, de cada tetraedro, são
repartidos com outros tetraedros; nos vazios entre os tetraedros alojam-se os cátions como K (feldspatos
potássicos), Na e Ca (plagioclásios calco-sódicos).

44
PR OPR IEDADES DO SOLO E IN TER PR ETAÇÃO

Estudando a Tabela 2.C e adicionando-se algumas outras informações, pode-


se observar:
1. as ligações entre tetraedros de sílica são feitas através de um oxigênio comum
ou por intermédio de cátions: Mg, Fe, Ca, Al, Zr etc. As ligações seguem a
seguinte ordem geral de resistência a rompimento:
O - Zr > O - Si > O - Ti > O - Al > O - M onde M = Fe, Mg, Ca, Na e K
2. o número de oxigênios comuns (número de ligações O - Si) aumenta dos
nesossilicatos para os tectossilicatos. O número dos outros tipos de ligação
com oxigênio (principalmente O - M) diminui na mesma direção. É em M que
estão os elementos mais importantes para a nutrição de plantas. Por unidade de
peso, os nesossilicatos são mais ricos em M e, em seqüência, os tectossilicatos
são mais pobres em M;
3. as generalizações anteriores apresentam algumas exceções importantes, de
grande interesse para a Pedologia:
a) dos nesossilicatos listados, apenas a olivina possui grande concentração de
M, isto é, Mg e Fe; é, portanto, muito facilmente intemperizável. O zircão50,
outro nesossilicato, no lugar de M apresenta Zr (tetravalente positivo e por
isto tem muita resistência à quebra). O zircão é um dos minerais mais
resistentes ao intemperismo;
b) a turmalina51, a mais importante fonte inorgânica de B no solo, adiciona um
outro elemento de resistência ao mineral em razão de sua estrutura em anel
(ciclossilicato);
c) os filossilicatos podem apresentar baixa resistência ao intemperismo, como
a biotita52 (mica com K, Fe e Mg em sua estrutura), ou podem ser bastante
resistentes, como a moscovita53 (a mica branca ou malacacheta que, dos
elementos acima, possui apenas o K em grande quantidade);
4. os tectossilicatos possuem, em cada tetraedro, quatro oxigênios comuns. O quartzo
vai ser considerado aqui como protótipo desse grupo. É um dos minerais mais
resistentes (M = 0). O quartzo pode ser representado pela fórmula nSiO2. Se n
for igual a 4, tem-se:
4 Si O2 = (Si4 O8)0

50
Zircão vem de palavras persas deformadas com o tempo; tsar (ouro) e gun (cor) (BETEJTIN, 1977); de
tsargun passou a zircon, em francês.
51
Turmalina vem do singalês toramalli (BUENO, 1967).
52
Biotita, palavra criada por Hausmann (1847) em homenagem ao físico Jean Baptiste Biot que pesquisou
vários ramos da física. Seus estudos sobre a polarização da luz formaram a base dos sacarímetros
modernos (BUENO, 1967; ENCYCLOPAEDIA BRITTANICA, 1970).
53
Em vez de muscovita, o nome deveria ser moscovita. No passado, placas de vidro de Moscou, depois
moscovita, eram exportadas de Moscou para o Ocidente (BETEJTIN, 1977); moscovita vem de Moscov
+ ita (BUENO, 1967).

45
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES

Os feldspatos54 têm grande afinidade com a expressão anterior. Se de cada 4


átomos de Si um for substituído por Al, tem-se:
(Al Si3O8)-1

Os parênteses e o expoente (-1) indicam que, ao contrário do quartzo (Si4O8)0,


há, neste caso, um desequilíbrio de cargas. Falta uma carga positiva na unidade. Se
houver uma substituição mais intensa (o dobro da apresentada acima), tem-se:
(Al2Si2O8)-2
As cargas positivas que estão faltando nas estruturas anteriores podem ser
satisfeitas por K, Na e Ca, assim:
K Al Si3O8 - feldspato-K como ortoclásio55, microclina56, sanidina57
Na Al Si3O8 albita58 Ab
Ca Al2Si2O8 anortita59 An
A albita e a anortita constituem membros extremos da série dos plagioclásios60. Os
plagioclásios de rochas máficas tendem a ser mais ricos em cálcio do que os de rochas
félsicas (rochas mais claras, mais ricas em quartzo e mais pobres em Fe, Ca e Mg).
As diferenças de composição e estrutura têm influência direta na resistência
dos minerais ao intemperismo. Essas diferenças quanto à resistência ao intemperismo
são evidenciadas na Tabela 2.D. As seqüências apresentadas referem-se,
principalmente, a minerais como estão na rocha original e, em geral, constituem a
fração grosseira dos solos.
54
Feldspato, não se conhece a origem da denominação (BETEJTIN, 1977).
55
Ortoclásio , do grego orthos (reto, direito) e klass (quebro, rompo); refere-se ao fato de os planos de
clivagem formarem entre si ângulos de 90 graus (BETEJTIN, 1977; BUENO, 1967).
56
Microclína, do grego mikros (pequeno) e klino (inclinação); refere-se ao fato de os planos de clivagem não
se diferenciarem de 90 graus por mais do que 20 segundos de graus (BETEJTIN, 1977; BUENO, 1967).
57
Sanidina, do grego sanis, sanidos (mesa), pela forma do cristal, lembrando mesa. É formado sob condições
de alta temperatura, encontrando-se nas rochas efusivas. Foi descoberto em traquitos da ilha de Pantelleria
na Itália (BETEJTIN, 1977; BUENO, 1967).
58
Albita, do latim albus, i, branco; é o membro sódico do grupo dos feldspatos plagioclásicos. É branco,
às vezes esverdeado, amarelo ou vermelho-carne; encontrado nas rochas alcalinas; constituinte comum
dos granitos e de várias rochas ígneas, de ácidas a intermediárias; bem distribuído nas rochas de baixo grau
de metamorfismo (fácies xisto-verde) e pode ser depositado de soluções hidrotermais em cavidades e
veios. Esse nome foi dado em 1814 por Gahn e Berzelius (BATES & JACKSON, 1987; BETEJTIN,
1977; BUENO, 1967; BRANCO, 1992; WEBSTER S..., 1989).
59
Anortita, do grego an (negação) + orthos, reto, direito (BUENO, 1967), ou oblíquo (BETEJTIN, 1977);
membro cálcico do grupo dos feldspatos plagioclásicos; branco ou acinzentado. Ocorre em rochas ígneas
básicas e ultrabásicas (gabro, norito, anortosito) e raramente em metamórficas.
60
Plagioclásio, do grego plágios, oblíquo, e klass, que se quebra. Nome introduzido por Breithaupt
(1847), aplicando-o a todos os feldspatos com ângulos oblíquos entre as duas principais clivagens
(BATES & JACKSON, 1987; BUENO, 1967). Designa uma série isomórfica entre a albita (An0-10) e a
anortita (An90-100) e os membros intermediários são: oligoclásio (An10-30), andesina (An30-50), labradorita
(An50-70) e bytownita (An70-90).

46
PR OPR IEDADES DO SOLO E IN TER PR ETAÇÃO

Examinando cuidadosamente a Tabela 2.D, observa-se que há uma grande


discordância entre os estudiosos na ordenação de cada mineral. Ocorre aqui, nesta
divergência, um ensinamento muito importante: não existe uma seqüência única de
resistência à intemperização.
Na Tabela 2.D, observa-se também que:
1. os números referem-se aos minerais a eles relacionados; quando numa mesma
linha significa semelhança quanto à resistência ao intemperismo;
2. os elementos entre parênteses são os de maior importância para as plantas,
contidos no mineral ao se decompor;
3. os minerais em negrito são os que têm sido constatados nos Latossolos, e a
magnetita e ilmenita nos solos desenvolvidos de rochas máficas (Latossolo Roxo,
atual Latossolo Vermelho férrico);
4. magnetita e ilmenita são particularmente ricas em elementos-traço
(micronutrientes);
5. os feldspatos (feldspatos - K e plagioclásios) 26 a 33 são mais comuns nas
rochas e solos, junto com augita, hornblenda e micas. Muscovita, feldspatos e
quartzo são os principais minerais das rochas pelíticas (de textura fina) - as
mais abundantes na superfície terrestre;
6. a seqüência clássica de estabilidade dos minerais de rochas ígneas (GOLDICH,
1938) - Série de Bowen) é: quartzo > moscovita > feldspato K > biotita >
plagioclásio Na > plagioclásio Na - Ca = hornblenda > plagioclásio Ca - Na >
augita > plagioclásio Ca > olivina.
Isso se deve, em parte, às condições ambientais. A magnetita61, por exemplo,
varia muito sua resistência conforme a condição seja oxidante ou redutora. Até mesmo
a disposição dos minerais na rocha pode alterar a ordem de intemperização. A taxa de
intemperização da biotita, por exemplo, pode ser reduzida conforme sua disposição no
gnaisse, aparentemente em razão de uma menor permeabilidade local. Disso poder-
se-ia concluir que:
1. existe apenas uma seqüência geral, a largos traços, de resistência ao intemperismo,
não se podendo especificar, com segurança, as diferenças entre minerais
próximos;
2. a ordem pode ser alterada, dependendo do ambiente. Nesse caso, incluem-se os
aspectos pedobioclimáticos e mesmo os micropedobioclimáticos. Por exemplo:
é comum, em muitos solos desenvolvidos de rochas máficas, no Brasil, a presença
de blocos arredondados com muitos minerais, em princípio, facilmente
intemperizáveis, mergulhados em massa caulinítica-hematítica-goethítica.
61
Magnetita, nome provavelmente advindo de Magnésia, região perto da Macedônia; segundo fábula
contada por Plínio, o pastor Magnes descobriu o mineral no monte Ida ao notar que os pregos dos sapatos
e artefatos de ferro aderiam ao chão (BETEJTIN, 1977).

47
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES

Se essas rochas ocorrem na forma de diques encaixados em material gnáissico,


por exemplo, observa-se que nos solos originados do gnaisse circundante não
aparecem tais blocos. É que a estrutura gnáissica, apesar do maior teor de minerais
félsicos, favorece uma intemperização mais completa. Por outro lado, nos solos
desenvolvidos da rocha máfica, ao redor dos blocos arredondados de aspecto
algo maciço, há a criação de um microambiente bioclimaticamente menos ativo.

Tabela 2.D Seqüência de aumento do topo para a base, de resistência ao


intemperismo de minerais primários, segundo vários autores.
Pettijohn (1941) Weyl (1952) Graham (1950) Marel (1949)
1.Olivina (Mg, Fe) 1. 1. 35.vid.bas.vul.*
2.Actinolita (Ca, Mg) 11. 17. 35.vid.bas.vul.
3.Diopsídio (Ca, Mg) 6. 26. Anortita (Ca) 4.
4.Hiperstênio (Mg) 19. 27. Bitownita (Ca) 18.
5.Silimanita 12. 18. 6.
6.Augita (Ca, Mg) 14. 6. 4., 6.
7.Zoizita (Ca) 13. 11. 26.
8.Esfeno (Ca) 5. 19. 12.
9.Topásio 10. 12. 27.
10.Andaluzita 21. 28. Labradorita (Ca) 29.
11.Hornblenda (Ca, Mg, K) 22. 29. Andesina (Ca) 33.
12.Epidoto (Ca) 23. 14. 24.
13.Cianita 8. 30. Ortoclásio (K) 19.
14.Estaurolita (Mg) 15. 31. Microclínio (K) 30.
15.Magnetita 32. Albita 31.
16.Ilmenita 33. Oligoclásio (Ca) 32.
17.Apatita (P, Ca) 34. Quartzo 36. Alunita
18.Biotita (K, Mg) 24. 22.
19.Granada 21. 14.
20.Monazita 23. 23.
21.Turmalina (B) 16. 21.
22.Zircão 25. 34.
23.Rutilo 13.
24.Moscovita (K) 8.
25.Anatásio 15.
*vid.bas.vul.= Vidro básico vulcânico.
Alguns autores agrupam os minerais em classes de resistência. Assim dos menos aos mais resistentes
tem-se, segundo Hubert (1971): (minerais 1, 6, 11, 16, 15, 19, 18, 12, 13, 5, 14, 20, 17), (24, hematita,
clorita, leucoxeno) e (21, 22, 23); de acordo com Mohr et al. (1972): (27, 26, 1, 18), (33, 17, serpentinita),
(30, 31), (sanidina, 32, 24, 13, 8, 21, 19) e (34, 22, 23, bruquita, 51, 16),); enquanto Thomas (1974) lista:
(1), (27, 28), (6), (11), (33, 32), (18) e (30, 34, 24).

48
PR OPR IEDADES DO SOLO E IN TER PR ETAÇÃO

Além desses aspectos, as diferenças de tamanho e composição (maior ou


menor conteúdo de elementos acessórios) dos minerais podem também modificar a
resistência à intemperização. Isso ajuda a explicar parte das discordâncias observadas
na Tabela 2.D.
Solução do Solo
As frações inorgânicas (argila, silte, areia e mesmo partículas maiores), vistas
anteriormente, formam como que a base de um sistema onde estão ainda incluídas a
solução do solo (a fase líquida) e o ar do solo (a fase gasosa). Os organismos que
vivem no solo e os produtos de sua atividade, interagindo sobre todas essas fases,
completam o sistema (Figura 2.B).
A composição química do solo, assim como as outras propriedades discutidas
até aqui, são o resultado da ação dos fatores de formação do solo: clima, organismos,
material de origem e tempo.

ABSORÇÃO DE NUTRIENTES
PELAS PLANTAS

AR DO SOLO ÍONS TROCÁVEIS +


SUPERFÍCIES DE
SOLUÇÃO ADSORÇÃO

DO
SOLO

FASE SÓLIDA
MATÉRIA ORGÂNICA + +
MICRORGANISMOS MINERAIS

CHUVA + EVAPORAÇÃO
DRENAGEM
ADIÇÃO DE FERTILIZANTES

Figura 2.B O equilíbrio dinâmico que ocorre nos solos (LINDSAY, 1979).

Os minerais existentes na rocha de origem, quando expostos a condições


diferentes daquelas em que foram formados, começam a se decompor, liberando
elementos à solução e formando minerais mais estáveis às novas condições. A
composição química da solução é que parece determinar, em geral, a formação e a
estabilidade de um ou outro mineral. Assim, a gibbsita, Al(OH)3, muito comum nos
Latossolos argilosos mais velhos, só se forma na virtual ausência de sílica na solução.

49
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES

Com teores maiores de sílica, a caulinita é formada, em vez de gibbsita. Se os teores


são ainda maiores, há a formação de argila 2:1 (com mais sílica na sua composição).
Exemplificando, veja a equação:
A B+C
REAGENTE PRODUTOS
Nesta equação, lê-se:
1. o reagente A decompõe-se (transforma-se) nas substâncias (produtos) B e C;
2. as setas contrárias indicam que ao lado da reação de decomposição, os produtos
B e C, por sua vez, podem reagir entre si, produzindo a substância A.
Todo sistema em equilíbrio, quando alterado, tende a reagir no sentido de
neutralizar a alteração. No solo, para uma dada reação, o que controla basicamente o
processo representado na equação acima é a atividade do íon em solução. Assim, se
B ou C forem retirados da solução, removidos pela água da chuva que lava o solo
(lixiviação) ou precipitados, a reação tende a ir para a direita.
A retirada de B por exemplo, através da lixiviação, faz com que haja maior
decomposição de A para neutralizar a alteração (o desequilíbrio momentâneo
provocado).
Por outro lado se B fosse apenas precipitado (em vez de removido do sistema
por lixiviação), haveria agora, dependendo da solubilidade do composto formado, a
liberação de íons diretamente desse precipitado, que, em alguns casos, pode ter
baixíssima solubilidade; isto é: B passaria a integrar um composto muito pouco solúvel,
o que, sob o ponto de vista da equação anterior, pode equivaler a uma retirada de B do
sistema, facilitando a mais rápida e completa decomposição de A.
Como é que isso ocorre no solo, ao natural?
O componente A pode ser o mineral que vai ser intemperizado, fornecendo íons
à solução. Os componentes biológicos e seus produtos têm, em geral, um papel muito
ativo nesses processos. Ademais, o solo é, como já se enfatizou, um componente do
ecossistema, constituindo o substrato para os organismos no contato entre a litosfera
e a atmosfera. Portanto, depreende-se ser instrutiva uma tentativa de integração do
que foi estudado, enfatizando-se a origem do solo e suas transformações. A energia
solar62, através da fotossíntese, formando matéria orgânica tão importante no
intemperismo é o passo inicial na formação do solo. Os elementos químicos liberados
seguem vários destinos. A esse conjunto de transformações, envolvendo solos e
organismos, em que há ciclagem de elementos, dá-se o nome de ciclo geobioquímico.

62
Duas fontes de energia movimentam os processos da Terra: a energia interna e a do Sol. Parte da energia
interna vem dos processos iniciais (acréscimo, o ajustamento das partículas; diferenciação dos núcleos e
desintegração radioativa) (OZIMA, 1991). A energia do Sol, por sua vez, vem de fonte nuclear.

50
PR OPR IEDADES DO SOLO E IN TER PR ETAÇÃO

Ciclo Geobioquímico
Para melhor compreensão do solo como componente do ecossistema, torna-
se válido um pequeno exercício de imaginação. Imagine uma rocha exposta:
organismos inferiores (liquens) como que colorem a superfície da massa rochosa,
onde uma série de processos bioquímicos está acontecendo; é a atuação do elemento
vivo sobre a massa inorgânica, é a recapitulação de um processo que marca o início
dos ecossistemas terrestres. Os compostos orgânicos atuam sobre os minerais da
rocha, rompendo a sua rede cristalina e liberando os nutrientes para um longo ciclo
- o ciclo geobioquímico. Nesse processo, extraordinariamente belo, a energia do
Sol, através dos organismos, atua sobre a massa inorgânica - é o início do processo
de formação do solo.

Os liquens, que já foram confundidos com musgos e hepáticas no passado, se formam por
uma associação de fungos (Ascomycetos, Corapavonium, Dictyonema) e algas (Cyanophyta e
Chlorophyta); essa associação, um consórcio ou simbiose, traz grandes vantagens: as algas fixam
nitrogênio do ar e realizam a fotossíntese, os fungos protegem, absorvem e retêm água e nutrientes.
Os liquens se dão bem nos ambientes inóspitos; dominam as tundras, onde servem de alimento
aos caribus, bois almiscarados e, principalmente, às renas. Essas pastagens têm baixo poder de
suporte, exigem um pousio de 35 a 38 anos, condicionando o nomadismo dos lapões que vivem da
rena; na Islândia e Groenlândia servem aos carneiros, gado e até mesmo diretamente ao homem.
Nas superfícies rochosas os liquens apresentam cores variadas: verde, cinzenta, amarela, bruna,
preta e vermelha. As cores são dadas pelas algas; as pretas são muito comuns no Sudeste do
Brasil, por exemplo; liquens vermelhos colorem freqüentemente materiais quartzosos do subárido
brasileiro. Os ácidos excretados, a absorção de cátions, desestruturando os cristais, e a expansão
e contração ajudam no intemperismo das rochas, propiciando condições aos musgos e outras
plantas (ENCYCLOPAEDIA..., 1970; WEBSTER S..., 1989).

Pela atuação dos organismos a rocha se modifica substancialmente,


transformando-se numa camada terrosa de poucos milímetros.
As alterações continuam. Outros organismos encontram condições favoráveis
à sua instalação (mais propícias à viabilidade de sementes e esporos). Esses organismos
ampliam a camada alterada63, criando novas condições.

63
A palavra alteração tem sido usada neste trabalho como sinônimo de intemperização, a transformação da
rocha em solo, ou em horizonte C. Não nos parece consistente a idéia de se reduzir pedogênese à formação
de horizontes A e B; neste sentido a classificação de Leptossolos, Arenossolos etc. da FAO/UNESCO
(1988) não estaria lidando com solo. Embora esse não seja o uso comum, a pedogênese tem sentido mais
amplo que intemperismo ou alteração; esses são apenas uma fase da pedogênese.

51
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES

Novos organismos encontram, então, ambiente para prosperar; e, refletindo


as modificações em seqüência, constituem os estádios serais64, expressando um
grau de complexidade cada vez maior da população de organismos.
Em resumo: a energia solar, através dos organismos, rompe a rede cristalina
dos minerais, iniciando um processo de circulação de elementos e modificando
gradativamente o meio, favorecendo a instalação de novos organismos, num conjunto
de inter-relações cada vez maior. O rompimento da rede cristalina dos minerais é
um processo de capital importância. Ele reflete uma lei básica da natureza: a busca
de novos equilíbrios.
Os minerais da rocha foram formados sob condições bem diferentes das
agora vigentes (com a atuação dos organismos). A água das chuvas, que já consegue
se infiltrar na camada modificada, arrasta alguns dos subprodutos da atividade
biológica, estendendo ainda mais o raio de ação dos organismos. Alguns elementos,
os mais solúveis, são também lavados, em parte; outros se arranjam em novas
combinações cristalinas mais adaptadas às novas condições vigentes.
Entre essas combinações se encontram os óxidos de Fe e de Al, e os minerais
de argila (esmectita, vermiculita, clorita, ilita, caulinita etc.). Estes últimos, com o
passar do tempo, darão origem a outros mais estáveis às novas condições (a própria
caulinita e a gibbsita). Esses minerais têm, via de regra, alta área específica e
possuem capacidade de troca catiônica (principalmente os primeiros) e aniônica
(principalmente os últimos). Os elementos químicos adsorvidos nessas cargas
resistem, até certo ponto, à ação de remoção (lixiviação) pelas águas da chuva.
Quanto mais velho o solo, mais suscetível ele é à lixiviação de bases e mais
apto à adsorção aniônica.
Os átomos (elementos nutritivos) liberados da rede cristalina, pela ação da
energia solar através dos organismos, podem ter vários destinos:
1. ficam adsorvidos nas cargas opostas dos minerais da fração argila, podendo
eventualmente ser postos em solução e absorvidos pelas plantas;

64
Estádios serais ou sere, série de estádios numa sucessão ecológica (WEBSTER S..., 1989); começa pela
comunidade pioneira (acese), as primeiras espécies que se instalam numa região despovoada (ROCHA et
al., 1992) e termina na comunidade clímax, estável. Dependendo da natureza do meio inicial pode ser
xerossere, hidrossere e litossere para meios seco, de água e rochoso, respectivamente. Dependendo do
fator de maior influência no determinar o clímax têm-se clímaces climático, de fogo (piroclímax), edáfico.
Quando a comunidade inclui espécies estranhas a ela pela perturbação pelo homem ou animais tem-se
disclímax (clímax perturbado); as queimadas periódicas das pastagens provoca, por exemplo, um disclímax
pelo fogo (ACIESP, 1987).

52
PR OPR IEDADES DO SOLO E IN TER PR ETAÇÃO

2. lixiviados (lavados)65 para o lençol freático que vai alimentar as fontes de água,
riachos, rios e oceanos;
3. ficam na estrutura dos minerais da fração argila como componentes principais
ou como impurezas.
Os elementos essenciais para os organismos (macro e micronutrientes), estão
assim distribuídos:
1. presos à estrutura dos minerais ainda não intemperizados;
2. na solução do solo ou adsorvidos nas superfícies dos minerais da fração argila
ou da matéria orgânica;
3. absorvidos da solução do solo e distribuídos a toda a planta, e, portanto, ligados
ao ciclo orgânico;
4. levados em solução, na água que percola através do solo e alimenta as nascentes
e filetes de água, e que, por sua vez somados, constituem os córregos, rios e
oceanos.
Sendo a maioria dos elementos essenciais66 para as plantas absorvidos da solução
do solo ou das massas de água, compreende-se facilmente a importância do solo
como componente dos ecossistemas terrestres e como fonte originária dos nutrientes
encontrados nas águas, e que são fundamentais à manutenção dos ecossistemas
aquáticos.
Quanto mais intensa for a atuação dos organismos e do clima (bioclima),
maior será a energia empregada na liberação dos nutrientes da rede cristalina, na
remoção dos nutrientes da solução do solo para os oceanos e também na
transformação dos minerais secundários (minerais de argila) em outros mais
estáveis, de menor capacidade de troca catiônica e maior capacidade de adsorção
aniônica (principalmente caulinita, gibbsita, hematita e goethita, em diferentes
proporções).

65
Por intemperismo os minerais da rocha decompõem-se; nisso são formados novos minerais, mais
ajustados às novas condições. Esses minerais possuem, na sua estrutura, poucos nutrientes - os pontos
fracos por onde o intemperismo ataca. Os nutrientes liberados podem ficar adsorvidos nas cargas negativas,
até serem retirados por lixiviação, perfil abaixo. Há, essencialmente, dois processos distintos:
intemperização e lixiviação. A lixiviação depende da quantidade de água que se infiltra; a alteração depende
da atividade bioclimática, muito dependente da temperatura. Nos subtrópicos, Planalto Meridional do
Brasil, as temperaturas relativamente baixas reduzem o intemperismo a ponto de não compensar a alta
lixiviação pelo excedente hídrico. Podem, nesse caso, ocorrer solos ricos em minerais primários facilmente
intemperizáveis mas, pobres em nutrientes disponíveis.
66
Nutrientes essenciais são aqueles sem os quais a planta não pode viver: carbono, hidrogênio, oxigênio,
nitrogênio, potássio, fósforo, enxofre, cálcio, magnésio, ferro, boro, manganês, cobre, zinco, molibdênio
e cloro; alguns são essenciais para algumas plantas: cobalto, níquel, silício, sódio e vanádio. O homem e
outros animais necessitam de 15 dos 16 da primeira lista; apenas boro deixa de ser essencial (MILLER &
DONAHUE, 1990).

53
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES

2.2.2. Cor
A cor67 é uma das características mais fáceis de serem percebidas. Os principais
agentes pigmentantes, responsáveis pela cor dos solos, são a matéria orgânica e os
compostos de Fe. Esses pigmentos atuam, em geral, num fundo de cor branca, dado
pelos silicatos.
O Fe pode apresentar-se na forma reduzida, oxidada hidratada e oxidada
desidratada:
Fe(II) Fe(III) Fe(III)
CINZENTO AMARELO VERMELHO
FeOOH Fe2O3
Goethita (Gt)68 Hematita (Hm)69

De modo geral, a cor dos solos está relacionada com os seguintes aspectos:
drenagem, matéria orgânica, forma e conteúdo de ferro, fixação de fósforo e fertilidade
em geral.
Drenagem
Em condições de excesso de água o ambiente é de redução; nesta condição,
Fe(III) Fe(II) 70, a coloração tende a ser cinzenta (gleizada); é a tabatinga71,
presente sob a camada mais rica em matéria orgânica dos solos hidromórficos.
A cor cinzenta pode estar misturada com outras cores, apresentando-se, deste
modo, como mosqueada. Mesmo que o solo já não tenha mais excesso de água, as
cores gleizadas, em alguns casos, ainda permanecem.
A cor cinzenta está relacionada à ausência de ferro oxidado, Fe(III), isto é,
se as condições são suficientes para promover a redução total dos óxidos de ferro
(ou se o solo for tratado com substância capaz de reduzir todo o ferro), a massa do
solo terá uma coloração cinzenta, com ou sem a presença de ferro reduzido, Fe(II).

67
Várias tentativas foram feitas para se criar um sistema padrão de cores; A.H. Munsell, um artista de
Boston, foi quem idealizou o sistema mais usado, que veio se aperfeiçoando: Atlas do Sistema Munsell de
Cores (1915), Livro de Cores Munsell (1929). Em 1946, o Soil Survey Color Commitee do Departamento
de Agricultura dos Estados Unidos solicitou, e aprovou, a Carta de Cores de Solo Munsell com 264 cores,
de 7,5R a 5Y (preparada e distribuída pela Munsell Color Co., Inc.) (ENCYCLOPAEDIA , 1970;
JUDD & WYSZECKI, 1964).
68
Goethita, em homenagem a Johann Wolfgang Von Goethe (1749-1932), poeta, dramaturgo, novelista e
filósofo alemão (WEBSTER S..., 1989).
69
Hematita, do grego haima, atos, sangue (BUENO, 1967).
70
Fe(III) refere-se a compostos de Fe3+. O mesmo se aplica a Fe(II) e Fe2+.
71
Tabatinga, do tupi taba, casa, e tinga, branca, argila branca, barro branco. Teodoro Sampaio acha que seja
corruptela de tauá-tinga e tauá; é o mesmo que taguá, argila, barro (BUENO, 1987). O barro da tabatinga
é branco porque há ausência de pigmentos mais fortes (matéria orgânica, hematita e goethita): os silicatos
podem mostrar a sua cor. É comum o uso da tabatinga como se fosse caiação em casebres.

54
PR OPR IEDADES DO SOLO E IN TER PR ETAÇÃO

A permanência da cor cinzenta ou de uma coloração branca, após a secagem desse


solo, indica que o ferro foi todo ou quase todo, removido do sistema por lixiviação.
O manganês e o cobalto são elementos de comportamento semelhante ao do
ferro. É de se esperar, portanto, que os solos gleizados (cinzentos), quando mais
bem drenados (natural ou artificialmente), sejam muito pobres naqueles elementos,
provocando deficiências de Mn e de Fe nas plantas, e de Co nos animais. A razão da
frase quando mais bem drenados é que em solos encharcados (ambiente de redução)
é de se esperar que existam muitos elementos em solução, ainda não arrastados por
lixiviação, podendo até ser fitotóxicos nestas condições.
Matéria Orgânica
Apesar de, dentro de certas restrições geográficas, a relação entre cor escura
e matéria orgânica ser muito boa, tal generalização está longe de ser universal.
Os Latossolos, mais ricos em óxidos de ferro, tendem a ter colorações que
não refletem o seu conteúdo de matéria orgânica, isto é, a mesma coloração (por
exemplo, vermelho-escuro) ocorre em solos com conteúdos variáveis de matéria
orgânica.
A hematita é um pigmento muito ativo: apenas cerca de 1 a 2% de hematita
finamente pulverizada é suficiente para dar tonalidade avermelhada ao solo (RESENDE,
1976; SCHEFFER et al., 1958). Assim, tende a haver melhor correlação entre cor
escura e teor de matéria orgânica em solos sem presença efetiva de hematita. A
matéria orgânica aí expressa melhor a sua cor escura.
Por outro lado, solos como os VERTISSOLOS podem apresentar colorações
muito escuras, mesmo com baixo teor de matéria orgânica72.
Forma e Conteúdo de Fe
As cores (amareladas ou avermelhadas) dominantes no horizonte B dos solos
brasileiros estão relacionadas, basicamente, com dois componentes: goethita (Gt), que
é responsável pela cor amarela, e hematita (Hm), o pigmento vermelho73.
O conteúdo de Hm tende a estar refletido na intensidade da cor (Figura 2.C).

72
Estes exemplos já servem para ilustrar o fato importantíssimo de ser muito difícil os atributos se
relacionarem quando estão inclusos solos muito diferentes no conjunto de suas características.
73
As cores variam como um continuum entre amarelo e vermelho, formando uma faixa de indefinição entre
2,5YR (definitivamente vermelho) e 6,25 YR (amarelo). Quando se adiciona hematita num material
qualquer, de fundo branco, por exemplo, dado pela caulinita ou pelo quartzo, há, no início, grandes
mudanças de cor para cada pequeno acréscimo do pigmento; depois a cor tende a se estabilizar. Quanto
maior a área a colorir, mais difícil é a saturação: a argila requer mais hematita do que o silte; este mais do
que a areia fina; e esta mais do que a areia grossa.

55
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES

10R

2,5YR
Matiz

5YR

7,5YR

10YR
0 0,2 0,4 0,6 0,8 1

Hm/(Hm+Gt)

Figura 2.C Relação entre a hematita (Hm)/Hm + goethita (Gt) e o matiz úmido de
horizontes B de Latossolos do Sudeste e do Sul do Brasil - adaptado de Kämpf et al. (1988).

Os técnicos do SNLCS, Serviço Nacional de Levantamento e Conservação de


Solos (atual CNPS)74, têm observado que os fatores climáticos atuam sobre a relação
entre cor vermelha e o conteúdo de óxidos de Fe nos Latossolos, das seguintes
maneiras:
1. nas regiões com período seco pronunciado (parte sul do Planalto Central, grande
parte dos Estados de São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro etc.), há boa
relação entre cor vermelha e conteúdo de óxidos de ferro, exceto alguns solos
de textura média, desenvolvidos de arenito com cimento ferruginoso, de cor
vermelha, porém contendo baixos teores de ferro (hematita herdada);
2. nas áreas com umidade mais bem distribuída, sem período seco pronunciado
(como é o caso de parte da Amazônia, litoral sul da Bahia, planalto sul-rio-
grandense etc.), os solos tendem a menos avermelhados, independentemente
do seu teor em óxidos de ferro.
Os solos originados de rochas máficas (basaltos, diabásios, anfibolitos etc.)
tendem a ter cores em direção ao vermelho-escuro, refletindo a presença do maior

74
CNPS, Centro Nacional de Pesquisa de Solos, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
(EMBRAPA), instituído em 1958 com o nome de Comissão de Solos, e depois muitos outros nomes, é
o grupo responsável, a nível nacional, pelo levantamento, classificação e correlação de solos. Essa equipe,
ao longo de muitos anos, e sob forte liderança, manteve um padrão de alta qualidade e consistência.

56
PR OPR IEDADES DO SOLO E IN TER PR ETAÇÃO

teor de óxidos de Fe na forma de hematita. O grande poder pigmentante da hematita


mostra que os solos amarelos não a contêm75.
Almeida (1979), após analisar criticamente a ocorrência de hematita e goethita
no solo, propôs que a presença de Fe3+, isto é, Fe(III), em solução, está relacionada
com a formação de hematita.
Os teores de Fe(III), segundo o modelo proposto, são reduzidos em decorrência
de: pobreza em Fe total da rocha original; liberação muito lenta deste Fe; altos teores
(atividade) da matéria orgânica; e condições de redução (excesso d água).

ALTO HEMATITA
Fe(III)
BAIXO GOETHITA
Hematita ou goethita = f [Fe(III) na solução do solo]

Considerando válido esse modelo, podem-se prever vários fenômenos relativos


à cor dos solos:
1. em condições comparáveis, os solos desenvolvidos de rochas máficas (rochas
em geral escuras, ricas em Fe e em outros nutrientes) serão mais vermelhos do
que os originados de rochas mais pobres em Fe;
2. em condição bioclimática muito seca, os solos não são tão vermelhos, pois há
liberação lenta de Fe devido à taxa de intemperismo ser baixa;
3. sob condições bioclimáticas muito ativas, muita umidade durante longos períodos
e grande atividade biológica, o solo tenderá a ser mais amarelado: as áreas
depressionais de pior drenagem, agora ou no passado, da mesma forma tendem
a produzir solos mais amarelados. Então, para rochas semelhantes (diabásio,
por exemplo) o solo deverá ser mais vermelho no Planalto Central e mais amarelo
no Rio Grande do Sul e na Amazônia. Quando possuem médios a altos teores
de Fe, os solos amarelados estão ou estiveram sob condições bioclimáticas
mais úmidas, ou em áreas depressionais, ou tendendo para o talvegue76. Em
resumo, estão ou estiveram sob condições pedoclimáticas mais úmidas,
apresentando maior efeito anti-hematítico da matéria orgânica. Nessas condições
esses solos tendem a apresentar uma coloração um pouco mais brunada no
horizonte B, em relação a outros solos de cor semelhante, mas com menores
teores de Fe;

75
Informação inicialmente dada a um dos autores (MR) por U. Schwertmann, em comunicado pessoal
(1975).
76
Talvegue, do alemão thalweg, caminho do vale, linha divisória ao fundo de duas montanhas ou colinas
por onde correm as águas; linha que une os pontos mais fundos de um vale. É o oposto de crista.

57
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES

4. mesmo que o solo seja intensamente vermelho, espera-se que a relação


goethita/ hematita seja maior nos horizontes superficiais (maior efeito da
matéria orgânica).
A grande mensagem desse modelo é que a intensidade de uma condição pode
suplantar o efeito oponente de outra. Assim, mesmo sob condições periódicas de
excesso de água, a hematita pode formar-se, desde que haja concentração suficiente
de Fe(III). É o que ocorre nos mosqueados vermelhos que dão origem às chamadas
plintitas.
Fixação 77
_de P
A fixação de P nos solos tropicais está bastante relacionada aos óxidos de Fe e
de Al. Os Latossolos mais ricos nestes constituintes fixam bastante P. Rochas máficas
(contendo muitos minerais ricos em Fe e Mg) dão origem a solos com altos teores de
Fe, que tendem, quando bem drenados, a ter cores bastante avermelhadas, quando
existe período seco pronunciado, conforme visto anteriormente. A cor pode, então,
fornecer a indicação da capacidade do solo em reter P. Porém, mesmo a rocha sendo
apenas relativamente rica em minerais máficos, os processos de formação do solo
nas áreas tropicais concentram, residualmente, os óxidos de Fe e de Al. Solos originados
de material pobre em minerais máficos (arenito, por exemplo) tendem a ser mais
pobres em óxidos de Fe e de Al, fixando menos fósforo.
Aqui há necessidade de cautela. A gibbsita78, Al(OH)3, tem um alto poder adsorvente,
o que pode compensar o efeito dos óxidos de Fe, isto é, pode haver um solo relativamente
pobre em óxidos de Fe, mas rico em gibbsita e, portanto, com alta capacidade de adsorção
de P. Via de regra a goethita tende a adsorver mais P do que a hematita (BAHIA FILHO
et al., 1983; CURI, 1983; SOUZA et al., 1991), mas nem sempre isto acontece79 (CORRÊA,
1984; LEAL & VELLOSO, 1973; RESENDE, 1976), havendo até registro de situação
em que a hematita adsorve mais (GUALBERTO et al., 1987).
É fundamental considerar a textura, ao lado do conteúdo de óxidos (de Fe e de
Al), no processo de fixação de P. Em condições comparáveis, solos mais argilosos
apresentam maior fixação de P. No entanto, em razão dos comentários anteriores, a
aplicabilidade dessas generalizações restringe-se a solos afins.

77
Alguns preferem que se use fixação , entre aspas, para ressaltar o aspecto de mobilidade (ainda que em
taxa muito lenta) de quase todo o P no solo.
78
Gibbsita, nome em homenagem a George Gibbs, mineralogista americano (WEBSTER S..., 1989);
também conhecida como hidrargilita, do grego hidro, água, e argilos, argila branca, descoberta nos Montes
Urais. A gibbsita aparentemente dificulta o arranjo da caulinita face a face: ela age como uma cunha,
desorganizando o arranjo das partículas.
79
A quantidade de fosfato adsorvida em cada mineral depende muito da superfície específica dele; quanto
maior sua superfície específica maior a adsorção deste ânion.

58
PR OPR IEDADES DO SOLO E IN TER PR ETAÇÃO

Fertilidade Geral
Como foi comentado, a cor pode fornecer indicações sobre o material de origem,
conteúdo de matéria orgânica, condições de drenagem e teores de óxidos de Fe (fixação
de P), dando idéia sobre a fertilidade geral do solo. Isso pode ser consubstanciado
num exemplo da região do Triângulo Mineiro, onde o Latossolo Roxo (Latossolo
Vermelho férrico) ao longo dos rios principais é distinguido, pela cor, dos outros solos
originários de materiais quimicamente mais pobres (nesse caso a vegetação e/ou a
atração pelo magneto também ajudam a distingui-lo).
Em várias partes do Brasil, intrusões de diabásio ou de anfibolitos (rochas
máficas) dão origem a solos de coloração vermelha mais escura do que os solos
circunvizinhos (desenvolvidos de gnaisse, por exemplo).
No entanto, a aplicabilidade dessas relações talvez seja mais útil no que se
refere a elementos-traço (Zn, Cu, Co) e fósforo total:
1. os solos mais vermelhos, mais ricos em óxidos de Fe, têm também, em geral,
maiores teores de elementos-traço e de fósforo total;
2. apesar da afinidade geral entre elementos-traço e Fe, em concreções80 tem-se
verificado (FONTES et al., 1985) haver melhor relação dos primeiros com o
teor de manganês. As concreções mais ricas em Mn (o que quer dizer, até onde
se conhece, em elementos-traço também) podem ser reconhecidas pela
coloração negra, evidente quando quebradas, o que é consubstanciado pela
efervescência com H2O2 (água oxigenada);
3. os solos desferrificados, como discutido no item referente à drenagem, são
pobres quanto aos elementos-traço mencionados. Pode-se ter uma idéia relativa
do teor de Fe (e de todas as suas implicações) baseando-se na facilidade de
desferrificação. Os cupins esbranquiçados (que refletem a cor da caulinita),
quando ocorrem em posições relativamente elevadas da paisagem, tendem a
indicar baixos teores de Fe no material de origem. Não é muito fácil encontrar
solo cinzento nas áreas de rochas basálticas. Há, nesse caso, muito Fe a ser
reduzido para que a cor cinzenta se expresse81.

80
Concreções, concentração local de um composto químico, por exemplo, óxidos de ferro, na forma de
grãos ou nódulos de vários tamanhos, formas e dureza (GLOSSARY..., 1973). Nas bordas dos chapadões,
ocorrem às vezes, formando grandes blocos. Essas concreções formam-se continuamente e não são, como
se supunha, exclusivas do Terciário. Seu uso como marcador estratigráfico pode, assim, levar a resultados
contraditórios.
81
Em alguns trechos das Zonas da Mata e Rio Doce, em MG, os terraços aluviais, apesar de terem estado
sob ambiente semilacustre, não foram desferrificados: os elevados teores de ferro dos solos das elevações
circunvizinhas (Latossolos Unas, atuais Latossolos Amarelos e Vermelho-Amarelos com teor de Fe2O3
entre 11 e 30%, em grande parte) contribuem para sedimentos mais ricos em ferro e maior dificuldade de
desferrificação.

59
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES

2.2.3. Textura
A parte inorgânica (sólida) do solo é constituída de partículas de diferentes
tamanhos: argila, silte e areia, as quais, em conjunto, constituem a fração terra fina
(<2mm) e cascalhos, calhaus e matacões.
A textura82 refere-se à proporção das frações argila, silte e areia (Tabela 2.E).
As frações maiores do que areia: cascalhos (2-20mm) são considerados como
elementos modificadores da classe textural quando presentes em quantidades
significativas ( 8%); já calhaus (20-200mm) e matacões (>200mm) constituem a
pedregosidade.

Tabela 2.E Distribuição das frações granulométricas por classes de tamanho.


Nome Limite de diâmetro (mm)
Areia grossa 2-0,2
Areia fina 0,2-0,05
Silte 0,05-0,002
Argila Menor que 0,002

As frações granulométricas areia (grossa + fina), silte e argila são representadas


em termos de concentração relativa ou percentual nas arestas do triângulo textural
(Figura 2.D).
A textura ou composição granulométrica de um solo depende, como outros
atributos, da rocha de origem e do grau de intemperização (idade) daquele.
O quartzo, sendo um mineral muito resistente quando de tamanho maior do que
cerca de 0,05 mm de diâmetro é, no entanto, pouco resistente se ocorre nas frações
argila e silte. Tende a se concentrar em muitas rochas sedimentares - arenitos (rochas
psamíticas83).
Há uma tendência de os solos originários de rochas psamíticas apresentarem
altos teores de areia e baixos teores de argila. Por outro lado, os solos derivados de
rochas de textura fina, tais como: argilitos, folhelhos, ardósias etc. (rochas pelíticas84),
apresentam baixo teor de areia e alto teor de argila.
82
Textura, do latim textura - teia, tecido; em solos refere-se às proporções relativas de areias, silte e argila;
nas rochas, tamanho, forma e arranjo dos grãos da rocha sedimentar, cristalinidade, granularidade e trama
dos elementos nas rochas ígneas. É aplicado à superfícies pequenas de uma rocha homogênea. O termo
estrutura é usado para aspectos maiores. Em francês, textura e estrutura têm sentidos opostos aos
mencionados (BATES & JACKSON, 1987; WEBSTER S..., 1989).
83
Psammos (do grego) quer dizer areia.
84
Pelítica, do grego pelos, lama, lodo; rocha sedimentar de textura fina (pelito) ou rocha metamórfica,
derivada de um pelito (BATES & JACKSON, 1987; BUENO, 1967).

60
PR OPR IEDADES DO SOLO E IN TER PR ETAÇÃO

Para se determinar a composição granulométrica (proporção das diferentes


classes de partículas) no laboratório, geralmente é usada a tamisação (peneiragem)
para a fração areia (mais grosseira), e para as frações menores usa-se a sedimentação
diferencial das partículas, conforme o tamanho.
As diferentes possibilidades de composição granulométrica, organizadas em
classes texturais, são em geral representadas com o auxilio de um triângulo (Figura
2.D), cujos lados correspondem a cada uma das frações granulométricas, com areia
grossa e areia fina, formando um conjunto único (a fração areia).
Em cada vértice do triângulo estão representadas as frações granulométricas
com 100% de uma das frações consideradas (areia, silte ou argila), cuja proporção
decresce paralelamente à base que lhe é oposta. O vértice superior corresponde à
ocorrência exclusiva de argila.
Analisando a representação das classes texturais pelo triângulo, observa-se que:
1. nos vértices estão as classes de textura identificadas pelo nome de determinada
fração, com exceção do vértice superior; a classe textural franca (barro, em
algumas publicações) corresponde àquela classe textural em que, supostamente,
não há predominância marcante de nenhuma das frações. Ela se posiciona
aproximadamente no meio do polígono pentagonal. As frações argila, silte e
areia estão presentes em diferentes proporções. A fração argila ocorre em
menor quantidade, cerca de 20%, enquanto que areia e silte correspondem a,
aproximadamente, 40% cada. Isto porque a argila tem um papel físico-químico
muito mais pronunciado do que o das outras duas frações;

Figura 2.D Representação das classes de textura pelo triângulo.

61
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES

2. da classe franca para os vértices, tem-se maior participação de cada uma das
frações:

FRANCO-ARGILOSA

FRANCA

FRANCO-ARENOSA FRANCO-SILTOSA

3. a fração argila, pela sua atividade, empresta seu nome a várias classes de textura,
isto é, das treze classes, sete apresentam a palavra argila ou argilosa na sua
denominação. Isso não acontece com qualquer das outras frações, a não ser
com a palavra franca (seis vezes), a qual não representa uma fração.

MUITO ARGILOSA

ARGILO-ARENOSA ARGILA ARGILO-SILTOSA

FRANCO-ARGILOSA

FRANCO-ARGILO-ARENOSA FRANCO-ARGILO-SILTOSA

FRANCA

A classificação textural é realizada também em nível mais generalizado


(utilizado, por exemplo, na distinção de unidades taxonômicas) pelos seguintes
grupamentos texturais, que englobam uma ou mais classes primárias:
textura arenosa, compreende as classes texturais: areia e areia-franca, ou seja,
composições granulométricas em que % areia - % argila > 70;
textura média, % argila < 35 e % areia 15, excluídas as classes texturais areia
e areia franca;
textura siltosa, % argila < 35 e % areia < 15;
textura argilosa, % argila 35 e 60;
textura muito argilosa, % argila > 60

62
PR OPR IEDADES DO SOLO E IN TER PR ETAÇÃO

A fração cascalhenta, quando presente em proporções significativas ( 8% em


relação à terra fina), é também considerada como qualitativa da textura, conforme as
distinções: pouco cascalhenta (% cascalho 8 e < 15); cascalhenta (% cascalho 15
e < 50); e muito cascalhenta (% cascalho 50).
Materiais grosseiros resistentes ao intemperismo, tais como quartzo, material
enriquecido e/ou cimentado por óxidos de ferro, não são ativamente destruídos pelo
intemperismo nem removidos do sistema pela erosão. Resultado: formam-se camadas
cascalhentas e/ou pedregosas na superfície do solo, as quais podem ser posteriormente
cobertas por novo material, formando, assim, um leito de cascalhos. Muito
freqüentemente são encontrados cascalhos e calhaus arredondados85, evidenciando
atividade abrasiva por movimentação de água (rios), mesmo que atualmente não haja
outras evidências facilmente perceptíveis de que o leito do rio tenha estado naquele
local.
As propriedades dos solos dependem muito da textura e, como já foi comentado
quando se estudou a constituição do solo (item 2.2.1), dependem também da constituição
mineralógica de cada uma das frações.
Após essa parte inicial sobre a textura, passa-se à análise das suas implicações
no comportamento do solo, principalmente em relação à planta.
Grau de Intemperização do Solo
As partículas do tamanho de areia e silte, sob a ação do intemperismo,
transformam-se em argila, que é, geralmente, mais resistente e menos rica em reserva
de nutrientes (na sua constituição) do que o material que lhe deu origem. Os minerais
resistentes permanecem sob o tamanho de areia e a fração silte fica, então, sendo o
ponto de máxima instabilidade, isto é, somente solos mais novos apresentam alto teor
de silte, que é mínimo nos Latossolos, os solos mais comuns no Brasil.
A fração silte serve então como indicadora do grau de intemperização do solo
e também do seu potencial em conter minerais primários facilmente intemperizáveis
(MPFI), isto é, de sua reserva em nutrientes.
A relação silte/argila tem sido proposta como índice do grau de intemperismo
do material de solo: por exemplo, abaixo de 0,15 o material é considerado muito
intemperizado (WAMBEKE, 1962); valores da relação silte/argila de 0,7, quando a

85
É comum no nordeste subárido brasileiro, em terrenos cristalinos, em particular associados com os
Brunos Não Cálcicos (Luvissolos Crômicos), a presença de lençóis extensos de cascalhos quartzosos bem
arredondados. O quartzo só se arredonda por atrito; isso pressupõe transporte por água (ou gelo) a
grandes distâncias. No caso do Sertão é o registro de antigas paisagens, antigos rios, várias gerações deles.
Veios de quartzo na rocha original, que se estendia muitos metros acima da superfície atual, fornecem o
quartzo; o rio, pelo atrito, o arredonda; a erosão, ao longo dos milênios removendo as partículas mais
finas, concentra o material mais grosseiro.

63
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES

textura for média, e de 0,6, quando for argilosa ou muito argilosa, são utilizadas entre
outros parâmetros para distinguir Cambissolos (solos jovens) de Latossolos (os solos
mais velhos), caso as características morfológicas sejam semelhantes (EMBRAPA,
1988b).
Em solos que sofreram um profundo intemperismo há algumas ressalvas. Onde
a formação dos solos está tendo como substrato não a rocha inalterada, mas um
horizonte C já bastante intemperizado e lixiviado, o silte pode ter sido formado de
material estéril. Em grande parte do sudeste do Brasil, os solos com sólum (horizontes
A + B) estreito freqüentemente apresentam relação silte/argila elevada (> 0,7, por
exemplo), mas o silte é formado por flocos de caulinita86 (GOMES, 1976; PINTO,
1971; REZENDE, 1980). Nesse caso, os altos teores de silte não correspondem a
altos teores de minerais primários facilmente intemperizáveis.
Tendência a Encrostamento
A massa do solo, sob a ação do impacto das gotas de chuva e dos ciclos de
umedecimento e secagem, pode ter sua estrutura modificada, havendo o rearranjo
das partículas, provocando o aparecimento de uma camada superficial que tende a se
dispor em forma de lâminas, dificultando a infiltração de água e mesmo a emergência
de plântulas. A este fenômeno dá-se o nome de encrostamento.
A fração silte desempenha um papel muito importante no encrostamento
(LEMOS, 1956), sendo de se prever que solos mais ricos em silte tenham uma tendência
mais acentuada à sua ocorrência.
É comum, em muitos solos brasileiros, com bastante evidência nas áreas dos
cerrados e no Latossolo Roxo (Latossolo Vermelho férrico) do Triângulo Mineiro,
a formação de um pequeno encrostamento que dificulta a infiltração de água e a
emergência de plântulas, o que pode ter implicações na perda de água do solo na
forma de vapor e de erosão. Como os Latossolos são, por definição, pobres em
silte e sua fração argila tende a agregar-se, formando pequenos grânulos bem
individualizados, parece muito provável que estes estejam se comportando,
funcionalmente, com silte e areia muito fina (LIMA, 1995; LIMA et al., 1990;
RESENDE, 1985).
Desde que um dos métodos para evitar encrostamento é manter o terreno
coberto a maior parte do tempo, parece que o mesmo procedimento deve ser observado
também para as áreas de Latossolos. Isso é muito importante quando se trata de
determinadas forrageiras como o colonião, comumente mal manejadas em muitas
86
Pelo conhecimento dos autores, a primeira constatação de pseudomorfos de caulinita em solos brasileiros
foi feita por Pinto (1971) no horizonte Cr de Latossolos desenvolvidos de biotita-gnaisse da região de
Viçosa, MG. Os grandes cristais de caulinita, além de desenvolvidos diretamente da biotita, podem sê-lo
dos feldspatos (PARZANESE, 1991).

64
PR OPR IEDADES DO SOLO E IN TER PR ETAÇÃO

áreas do Brasil (uso de fogo e pisoteio excessivos), o que deixa o solo exposto,
favorecendo o encrostamento com todas as suas conseqüências indesejáveis.
Área Específica
À medida que o volume inicial de um corpo se subdivide, a área exposta aumenta.
Os fenômenos físico-químicos que ocorrem no solo são, na sua maioria,
fenômenos de superfície. As argilas, sendo as menores partículas do solo, principalmente
aquelas em estado coloidal, apresentam, assim, papel de máxima importância.
Pode-se, então, concluir:
1. quanto maior o teor de argila (para um mesmo tipo de argila) maior a área
específica do solo e maior a intensidade de fenômenos como retenção de água,
capacidade de troca, resistência à erosão e fixação de fósforo;
2. o tipo de argila, como pode ser verificado na Tabela 2.B, tem enorme influência
sobre a área específica e, assim, sobre as propriedades que com ela se
correlacionam.

2.2.4. Estrutura
As partículas primárias (argila, silte e areia) geralmente se encontram agrupadas,
formando unidades maiores (agregados), dando ao solo a sua estrutura (Tabela 2.F).
Se a massa do solo for coerente e não apresentar estrutura definida, diz-se que o solo
é maciço; ou com grãos simples, se a massa for solta.
As argilas silicatadas têm a forma de placas ou lâminas; e, por isso, tendem a
se ajustar, face a face, aumentando a coesão entre as placas e formando uma massa
compacta e impermeável. Os solos mais velhos e intemperizados (Latossolos), ricos
em gibbsita, ao contrário, apresentam-se como um material parecendo terra de formiga
ou pó de café: pequenos grânulos, soltos, deixando entre eles um grande espaço poroso.
Não há, neste caso, um arranjo face a face; a gibbsita dificulta esse arranjo, pois atua
como uma cunha, impedindo esse ajuste. Entre esses extremos, a terra poeirenta dos
Latossolos ou solos mais velhos, com partículas mais desorganizadas ao nível
microscópico, e a massa compacta, com o máximo de arranjo face a face, existem as
posições intermediárias; assim, as estruturas (blocos subangulares, blocos angulares,
prismas e colunas), dispõem-se refletindo esse grau de arranjo. As moléculas de matéria
orgânica desempenham aparentemente o mesmo papel. A ligação direta entre goethita
e moléculas orgânicas (FONTES, 1990) parece, neste aspecto, atuar semelhantemente
à gibbsita.
Uma estrutura formada de grânulos muito pequenos, como a do Latossolo Roxo
(Latossolo Vermelho férrico), que se apresenta com aparência de pó de café, é descrita,
às vezes, como tendo aspecto de maciça porosa. Essa é a estrutura típica dos
Latossolos.

65
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES

Tabela 2.F Tipos de estrutura, suas características e onde ocorrem.


Forma (Tipo) Características Ocorrência típica
Grânulos Não há direção preferencial; os No horizonte A, rico em matéria
agregados têm mais ou menos as orgânica, e nos Latossolos(1)
mesmas dimensões em todos os
eixos. Muito porosos em conjunto

Grumos Semelhante aos grânulos, porém No horizonte A chernozêmico de


mais porosos, grande influência da alguns solos
matéria orgânica

Blocos Semelhante a grânulos, mas as Horizonte B dos solos com B


faces tendem a ser mais planas, e textural (principalmente
no solo estão em contato através Podzólicos e Terras Roxas
das faces Estruturadas; atualmente
Argissolos, Luvissolos e
Nitossolos)
Prismas O eixo vertical é maior. É uma Em muitos solos com B textural.
estrutura alongada, formada No corte exposto dos Latossolos
geralmente de agregados menores (nesse caso geralmente não é
em blocos composto de blocos)

Colunas Semelhante aos prismas, mas a Horizonte B nátrico (atualmente B


parte superior é arredondada. São plânico com alto teor de Na+)
compactas (muito pouco porosas)

Laminar O eixo vertical é menor No horizonte E (de eluvial,


anteriormente designado A2) de
muitos Podzólicos (Argissolos e
Luvissolos). Por efeito de
compressão, pisoteio, por
exemplo, na camada superficial.
(1)
Nos Latossolos, apenas no horizonte B, é que a estrutura tende a ser verdadeiramente granular; no
horizonte A, onde há maior atividade de expansão e contração, os grânulos mais se parecem blocos.

66
PR OPR IEDADES DO SOLO E IN TER PR ETAÇÃO

A análise cuidadosa do que foi comentado, anteriormente, permite as seguintes


generalizações:
1. os óxidos de Fe e de Al, a matéria orgânica e o excesso de sais tendem a
produzir estrutura granular;
Prismática

colunas prismas blocos grânulos

gibbsita, hematita, goethita, matéria orgânica

2. o excesso de sais tende a formar grânulos (como nos solos salinos) enquanto o
Na tem efeito oposto, tendendo a formar estrutura prismática ou, em geral,
colunar (como nos Solonétz Solodizados, atuais Planossolos Nátricos)87.
3. a expansão e contração de todo material mais ou menos rico em argila, quando
exposto a ciclos sucessivos de umedecimento e secagem em meio mais
conservador de umidade (ou mais favorecido por lixiviação oblíqua), tende a
destruir a estrutura granular, dando origem a estrutura em blocos, isto é, ocorre
uma deformação plástica dos agregados (EUA, 1967; MONIZ, 1980).
4. num Latossolo, a taxa de infiltração de água tende a ser maior no horizonte B
do que no horizonte A; o oposto ocorre quando a argila é mais ativa (o material
de solo se expande e contrai mais). Nesse caso, a matéria orgânica reduz a
expansão e a contração mais próximo à superfície, onde o efeito tende a ser
mais intenso.Em solos com argila mais ativa, portanto, a maior proporção de
macroporos, ou maior infiltração de água, encontra-se mais à superfície, ou no
horizonte A;
5. sendo a esfera o sólido que apresenta o mínimo de área exposta por unidade de
volume, e como o grânulo é a estrutura que mais se aproxima da esfera, conclui-
se: os materiais que apresentam estrutura granular tendem a ter o mínimo de
coerência entre os grânulos. Estes, se forem pequenos, podem ser facilmente
deslocáveis pela água, daí os Latossolos mais ricos em óxidos de Al e de Fe (os
Latossolos mais velhos) serem, ao contrário do que se apregoa normalmente,
de fácil erodibilidade quando submetidos a fluxo de água concentrado, a exemplo
de alguns Latossolos Roxos, atualmente Latossolos Vermelhos férricos. Isso
não é notado com maior freqüência porque tais solos tendem a ocorrer em
superfícies bem suaves (pequena declividade);

87
Solonetz, do russo sol, sal, e etz, fortemente expresso; solo com camada delgada e friável sobre camada
com estrutura colunar, escura, muito alcalina. Os Solonchaks (Gleissolos Sálicos), sol e chak, área salgada,
têm estrutura granular devido ao excesso de sais (solos salinos).

67
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES

6. os solos pobres em óxidos de Al e de Fe tendem a apresentar estrutura bastante


afastada do tipo granular, exceto próximo à superfície, onde se faz sentir o
efeito do teor mais elevado de matéria orgânica e da atividade da pedofauna, e,
até certo ponto, também dos ciclos de umedecimento e secagem. Os solos
hidromórficos (gleizados ou acinzentados), nos horizontes pobres em matéria
orgânica, apresentam muito poucos macroporos (relacionados essencialmente
à granularidade da estrutura nos outros solos).

2.2.5. Cerosidade
Às películas ou filmes de argila, partículas finíssimas que, trazidas dos horizontes
superficiais se deposita nas faces das unidades estruturais dos horizontes inferiores,
dá-se o nome de cerosidade. Podem também se formar por simples rearranjo de
material coloidal na superfície dos blocos ou prismas, devido à alternância de expansão
e contração do material de solo88.
Os Latossolos, solos mais intemperizados, mais ricos em óxidos de Fe e de Al,
geralmente mais pobres em nutrientes e mais profundos, via de regra não possuem
essas películas de argila, as quais constituem característica dos solos com horizonte B
textural (Bt).
Portanto, a cerosidade, aliada a outras informações, pode servir, dentro de certos
limites, para indicar a riqueza relativa de um solo em nutrientes (estádio de
intemperismo).
As raízes das plantas encontram algum obstáculo para penetrar nos agregados
quando há cerosidade. Essa película também influencia na difusão de alguns elementos
como P e K. Isto dá a esta característica uma grande importância, por causa das
possíveis implicações na absorção de nutrientes.
A cerosidade guarda relação com outras feições causadas por partículas finas.
Assim à semelhança das argilas, outras substâncias podem depositar-se, formando
películas que envolvem os agregados. Todos esses revestimentos recebem o nome de
cutãs (veja Capítulo 10). A cerosidade é o cutã argilã. Mangã, ferrã e orgã são os
revestimentos de compostos de manganês, ferro e matéria orgânica, respectivamente.
A cerosidade leva milênios para se formar (EUA, 1967).
Assim como conclusões têm-se:
1. os blocos, através da contração (quando o solo está secando), tendem a se
separar uns dos outros, sempre no mesmo lugar. A cerosidade é, portanto, a
resultante de um processo cumulativo;

88
A importância dos ciclos de umedecimento e secagem, favorecendo a formação da cerosidade e da
estrutura, é reconhecida desde as primeiras edições internas da Soil Taxonomy, por exemplo Supplement
to Soil Classification System; 7th Approximation (EUA, 1967).

68
PR OPR IEDADES DO SOLO E IN TER PR ETAÇÃO

2. a presença de cerosidade em solo desenvolvido num depósito aluvial indica que


há milênios essa área não sofre inundações. Isso pode ser de grande utilidade
prática na previsão de enchentes em locais com inundações muito raras (apesar
de não registradas historicamente). Pode ser, portanto, um critério de uso plausível
em áreas de colonização recente;
3. ao contrário da expansão-contração, favorecida por alternância de
umedecimento e secagem, a atividade biológica tende a destruir a cerosidade.
Por isso, a cerosidade só consegue permanecer claramente na parte inferior do
perfil. Aí a atividade biológica não destrói a cerosidade acumulada lentamente,
isto é, os blocos tendem a se separar sempre ao longo das mesmas faces. Mas,
como nem todas as faces são bem distintas, é comum encontrar-se cerosidade
no interior dos blocos, revestindo como que antigas faces, agora incorporadas a
outros blocos;
4. a atividade de expansão-contração dos blocos faz com que haja um grande
empacotamento de partículas no seu interior, mas ainda mais pronunciadamente
na superfície, enfatizado pela cerosidade. Daí os macroporos, por onde as raízes
crescem, situarem-se entre os agregados (blocos). O interior dos agregados
tende a ser pouco explorado pelas raízes, que atapetam a superfície, em contato
com a cerosidade. Nessas condições, elas ficam num ambiente sujeito a grandes
esforços físicos, havendo, inclusive, freqüentes rupturas e amassamento. Nesse
caso, os resultados obtidos em laboratório, nos trabalhos em que a estrutura é
alterada (por exemplo, para a determinação do ponto de murcha), requerem
uma interpretação especial para ajuste às condições de campo.

2.2.6. Porosidade
Todo solo possui poros, mas seu número, tamanho, distribuição e continuidade
são variáveis conforme o solo.
Ao se examinar o solo com atenção, principalmente quando com o auxílio de
uma lupa, percebe-se que existem pequenos vazios naquela massa. Ao se adicionar
água, esta se infiltra com maior ou menor rapidez devido à presença desses vazios ou
poros do solo.
Os poros do solo são divididos em duas classes: microporos e macroporos,
menores e maiores do que cerca de 0,05 mm de diâmetro, respectivamente. Assim, é
de se esperar que um solo argiloso (muitas partículas < 0,002 mm) apresente grande
microporosidade; um solo arenoso (muitas partículas > 0,05 mm) apresente grande
macroporosidade. Porém a estrutura do solo tem influência marcante na distribuição
do tamanho de poros.
Como visto anteriormente, as partículas primárias (argila, silte e areia) podem
agregar-se formando unidades maiores, de cuja forma, tamanho e organização irá
depender também a configuração do espaço poroso do solo.

69
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES

Existem também poros feitos pelas atividades da fauna e da flora.


Recordando que a porosidade está muito relacionada com o ar e a água no solo,
pode-se frisar o seguinte89:
1. todo solo argiloso tem grande microporosidade, contudo pode possuir também
grande macroporosidade em decorrência da agregação (estrutura);
2. as raízes crescem melhor através dos macroporos;
3. os agentes que agregam as partículas primárias (argila, silte e areia), como
matéria orgânica, Ca, e óxidos de Fe e de Al, favorecem o arejamento e a
infiltração de água, enquanto os agentes que dispersam as partículas e destroem
os agregados, como o sódio (Na), compactação e puddlagem90, têm efeito
inverso, prejudicando sobremaneira o crescimento das raízes;
4. a água é retida com mais força nos poros menores: nos poros maiores, a própria
gravidade a remove; nos menores, a água não é tão disponível para as plantas,
predominam a retenção da água por adsorção e a condutividade capilar, enquanto
a infiltração e o arejamento (trocas gasosas) diminuem. Entre esses extremos
existem poros intermediários em tamanho e tendência de comportamento;
5. a estrutura granular, quando bem expressa, como no caso do horizonte B dos
Latossolos muito velhos, determina no solo a existência de duas populações de
poros mais ou menos distintas (figura anterior): os macroporos, entre os
agregados, e os microporos, no interior dos agregados. Isso tende a enquadrar
a água retida nestes solos em duas classes bem distintas: a que ocupa os poros

89
Estas generalizações são baseadas nos trabalhos de Almeida (1979), Ernesto Sobrinho (1979) e Fernandes
et al. (1978).
90
Puddlagem refere-se à camada de menor permeabilidade formada pela orientação das argilas, sob a ação
de implementos agrícolas, em solos trabalhados quando os teores de água são muito elevados.

70
PR OPR IEDADES DO SOLO E IN TER PR ETAÇÃO

maiores do que cerca de 1 mm (3 bars) e a água correspondente a poros com


diâmetro equivalente menor que 0,2 mm (15 bars), que é retida mais fortemente.
Isso quer dizer que nesses solos não há praticamente poros entre esses dois
limites91. Tal conclusão é válida também para solos arenosos. Os solos que não
possuem estrutura granular já tendem a apresentar geralmente maior incidência
de poros entre 1 e 0,2 mm de diâmetro equivalente.
As constatações anteriores, aliadas ao fato da maior parte da água disponível
estar em poros que variam de 1 a 30mm de diâmetro, sugerem que, para alguns solos
com elevada macroporosidade, a compactação poderia ser benéfica por aumentar a
quantidade de poros na faixa mencionada. Isto é, seria possível, em princípio, para
alguns Latossolos, o aumento do teor de água disponível pela transformação de parte
dos poros maiores do que 30 mm (retida em 0,1 bar) em poros menores. Como exemplo,
pode ser citado que um aumento da densidade de 1,15 para 1,30 g.cm-3 do horizonte
subsuperficial de um Latossolo Roxo (Latossolo Vermelho férrico), em área de
empréstimo no Triângulo Mineiro, estimulou o crescimento das leguminosas arbóreas
angico amarelo e cássia verrugosa (OLIVEIRA, 1995). É provável que o contato
mais íntimo entre raiz e solo, nessas condições, possa realmente ser importante,
conforme sugere o esquema abaixo (Figura 2.E).

Figura 2.E Solo antes (a) e depois de compactado (b), mostrando redução dos
poros maiores, melhorando a condução de água (e nutrientes) até às raízes.

Como sempre acontece em sistemas naturais, é preciso cautela para que não
ocorram os efeitos contrários. Se a compactação for muito intensa, começa a atuar
todo um conjunto de fatores adversos: menor infiltração de água, maior erosão, menor
91
Isso faz com que a condutividade hidráulica não saturada (ou condutividade capilar), embora muito alta
no início (após saturação pela água da chuva, por exemplo), caia bruscamente em cerca de 2 semanas, a
valores de apenas 0,3 mm/dia (SANS, 1986). A deficiência hídrica nesses solos só não é maior pela grande
profundidade efetiva das raízes das plantas perenes; e, talvez, pelo acentuado desenvolvimento das raízes
profundas na época seca.

71
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES

crescimento de raízes, menor taxa de difusão de alguns elementos como fósforo


(NOVAIS, 1987; RUIZ, 1985) etc.
A seguir são feitos alguns comentários concernentes à fase gasosa (AHLRICHS,
1972). Basicamente essa fase no solo é constituída de ar atmosférico modificado: na
sua parte superficial o ar do solo tem composição similar àquela do ar atmosférico,
obedecendo ao gradiente de difusão que existe entre ambos; nos horizontes e camadas
mais profundos ocorre o efeito de uma troca lenta. Embora outros mecanismos tenham
sido propostos, a difusão parece ser o mecanismo primário na troca de gases.
As mais importantes modificações produzidas pelos microrganismos e raízes
de plantas são o consumo de O2 e a produção de CO2 (Figura 2.F). A maior parte do
CO2 no ar do solo é atribuída à atividade dos microrganismos. O ar do solo comumente
contém até 1% de CO2, enquanto o ar atmosférico tem cerca de 0,03%.
O teor de O2 na atmosfera é, geralmente, de 21% e decresce no ar do solo. O
abaixamento é usualmente proporcional ao incremento em CO2 devido à taxa consumo
de O2/produção de CO2 ser próxima a 1:1 na respiração da comunidade biológica do
solo. Os microrganismos do solo também respiram e, sob condições de aeração
deficiente, podem competir com as raízes das plantas superiores por oxigênio. Em
condições de encharcamento, o O2 dissolvido desaparece rapidamente devido à
demanda microbiana e à menor difusão do O2 na água; o sistema torna-se anaeróbio.
Em solos muito molhados, a quantidade de O2 tende a diminuir muito mais do que a
elevação do nível de CO2 porque, além do efeito dos microrganismos, o CO2 se
dissolve em água com intensidade muito maior do que o O2.
No solo, a difusão do ar é reduzida devido à tortuosidade dos poros contínuos
disponíveis e ao espaço poroso efetivo (porção vazia do solo). O espaço poroso total
tende a ser maior nos solos argilosos do que nos arenosos (BLACK, 1968). Assim, a
difusão do ar é geralmente maior nos solos argilosos, quando secos. Entretanto a maioria
dos solos de climas tropicais úmidos encontra-se, em geral, com umidade elevada na
maior parte do ano, o que mantém os poros menores dos solos argilosos ocupados por
água, apresentando, dessa forma, uma reversão do comportamento normal de difusão.
O processo de aeração é um dos mais importantes fatores determinantes da
produtividade do solo (HILLEL, 1982). Uma respiração adequada de raízes requer que
o solo seja aerado92, isto é, que a troca de gases entre o ar do solo e a atmosfera ocorra
numa taxa que evite a deficiência de O2 e o excesso de CO2 na rizosfera (Figura 2.F).

92
O oxigênio livre é essencial para o funcionamento de raízes. Plantas tolerantes a lugares encharcados
possuem estruturas especiais capazes de conduzir oxigênio do ar às raízes. Assim, é comum nos solos
cinzentos a presença de cores de ferrugem (dadas pelos óxidos de ferro: goethita, ferrihidrita), ao longo das
raízes. As raízes do buriti parecem ter grande habilidade neste aspecto. Quando mortas funcionam como
importantes condutores de água e ar. Fluxos intensos de água, numa taxa incomum para solos hidromórficos,
foram observados em muitas raízes de buriti, no Sudoeste da Bahia (COUTO et al., 1985).

72
PR OPR IEDADES DO SOLO E IN TER PR ETAÇÃO

Figura 2.F Esboço do processo de trocas gasosas no solo (HILLEL, 1982).

2.2.7. Consistência
A manifestação das forças de coesão (atração das partículas entre si) e de adesão
(atração das partículas por um outro corpo), sob várias condições de umidade, determina
a consistência do solo. A consistência do solo tem implicações diretas no seu manejo.
Solos muito plásticos e muito pegajosos, como os Vertissolos, apenas podem ser trabalhados
(arados, gradeados etc.) em amplitude estreita de umidade. Em solos mais plásticos e
mais pegajosos, de lugares mal drenados93 (agora ou originalmente) deve-se ter mais
cuidado com o conteúdo de água no solo por ocasião dos trabalhos de manejo, a fim
de evitar dificuldades no seu preparo e a puddlagem. Os Latossolos, por outro lado,
podem ser trabalhados em maior amplitude de umidade. (Figura 2.G).

Seco Úmido Molhado Muito Molhado


Dureza Friabilidade Plasticidade Pegajosidade Suspensão

Aração, etc. Puddlagem


Vertissolos

Latossolos

Figura 2.G Representação esquemática da consistência do solo conforme o grau


de umidade (teor de água). Em destaque a faixa de friabilidade, apropriada para aração
etc., estreita nos solos de argila de atividade alta (Vertissolos, por exemplo) e bem
mais ampla em alguns Latossolos.

93
Os solos podem ser dispostos numa seqüência de drenagem, de excessivamente drenados (D1) de um
lado, a muito mal drenados (D8) de outro. D1, D2, D3 e D4 classificados como excessivamente, fortemente,
acentuadamente e bem drenados, respectivamente, são de boa drenagem, conhecidos genericamente como
bem drenados. D8, D7 e D6, respectivamente como, muito mal, mal e imperfeitamente drenados, são
considerados em geral como de drenagem deficiente: os mal drenados. Entre esses dois grupos estão os
moderadamente drenados (D5).

73
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES

A gibbsita, os óxidos de Fe (hematita, goethita) e a matéria orgânica tendem a


desorganizar as partículas no seu nível microestrutural94. Isso significa que a maiores
teores desses componentes, corresponde um arranjo mais casual das partículas de
argilas silicatadas, que têm geralmente a forma laminar (Tabela 2.G).
Em condições de campo, quando se está descrevendo um perfil de solo, procura-
se determinar a consistência nos três estados de umidade: seco, úmido e molhado.
Um solo macio (seco)95, muito friável (úmido), pouco plástico e pouco pegajoso
(molhado), indica riqueza em óxidos de Fe e de Al, como é o caso geral dos Latossolos.
Por outro lado, um solo duro (seco), firme (úmido), muito plástico e muito pegajoso
(molhado), permite inferir que se trata de um solo pobre em R2O3 (óxidos de Fe e de
Al), bem provido de argilas com maior capacidade de troca catiônica, menos
intemperizado e menos pobre em nutrientes.

Tabela 2.G Relações gerais entre organização microscópica das partículas de argila,
condições em que ocorrem e seu efeito na consistência.
Organização
Partículas bem organizadas, aumento de coesão e Partículas mal organizadas, diminuição de coesão e
adesão adesão

Agentes
Compressão Presença de altos teores de óxidos de Al, de Fe e de
Uso de máquinas, tendo o solo elevado teor de matéria orgânica
água Argila com baixa área específica (caulinita)
Argila com alta área específica
Ciclos de expansão-contração
Condições em que ocorrem com freqüência
Solos desferrificados, cinzentos, pobres em Solos de natureza latossólica
matéria orgânica Solos com altos teores de matéria orgânica e cálcio
Solos menos intemperizados, pobres em matéria
orgânica
Efeitos na consistência
Aumento de dureza, plasticidade e pegajosidade Aumento de friabilidade

94
Exames micromorfológicos de alguns Latossolos (LIMA, 1988) revelam a existência de agregados
pequenos, micropeds arredondados de menos de 1 mm de diâmetro, podendo estar bem delimitados nos
Latossolos mais gibbsíticos ou aglutinando-se em micropeds e peds maiores; alguns Latossolos, como o
Latossolo Amarelo (Latossolo Amarelo distrocoeso) e o Latossolo Bruno não apresentaram os micropeds
individualizados.
95
A consistência do solo quando seco, reflete o ajuste face a face; é, assim, um importante indicador das
condições do material (mais do que a friabilidade, possivelmente).

74
PR OPR IEDADES DO SOLO E IN TER PR ETAÇÃO

É comum, em alguns lugares do Brasil, a presença de solos arenosos bastante


endurecidos. A proporção de areias de vários tamanhos, juntamente com o pouco de
argila e silte que esses solos apresentam, induzem, quando trabalhados (às vezes até
sem trabalhar), a um empacotamento dessas frações, formando uma camada muito
dura na superfície. Aqui, além da pobreza natural, por ser o solo arenoso, em agentes
desorganizadores (óxidos de Fe e de Al, e matéria orgânica), a fração areia apresenta
uma distribuição de tamanho pouco selecionada, o que facilita o empacotamento,
aumentando a coesão e dificultando operações de máquinas e penetração de raízes e
de água.
As seguintes observações podem ser feitas:
1. material muito rico em agentes desorganizadores, em geral, não é bom para
cerâmica comum. De fato, o barro para uso em cerâmica é amassado, em
parte, para aumentar a coesão entre partículas. As argilas dos solos
hidromórficos97, pobres em Fe, são geralmente as mais procuradas para isso;
2. material para enchimento de vasos para mudas que vão ser transportadas não
deve ser muito pobre nos agentes desorganizadores, pois, neste caso, haveria
um grande endurecimento e restrição ao crescimento de raízes. Por outro
lado, quando os teores desses agentes são muito elevados, por haver pouca
coerência entre os grânulos, o torrão se parte com facilidade. Isto é
muito comum nos torrões feitos de material de Latossolos das chapadas;
tais solos tendem a ser ricos em gibbsita e óxidos de Fe, que são agentes
desorganizadores;
3. se o solo for muito argiloso mas apresentar-se muito friável, desmanchando-se
com facilidade sob qualquer teor de água, então ele deve ter altos teores de
agentes desorganizadores, isto é, trata-se de um solo muito velho (Latossolo),
com todas as implicações em termos de lixiviação de nutrientes, fixação de P,
penetração de raízes etc. que o Latossolo apresenta;
4. os solos cinzentos, por serem pobres em óxidos de Fe, se forem friáveis, porosos
e argilosos possuem altos teores de gibbsita. Estes ocorrem nos chapadões do
Planalto Central 98, em geral associados ao microrrelevo de murundus,
relacionados às veredas.

97
Em solos formados sob condições de excesso de água, ou seja, falta de oxigênio, há perda de Fe do
sistema. O Fe(III) é reduzido a Fe(II), que é mais solúvel e removido com facilidade. Com o aquecimento
do tijolo, todas as formas de Fe presentes passam à hematita, que, mesmo em pequenas quantidades, dá
cor vermelha. Quando os teores de hematita são muito baixos, os tijolos são róseos. Quando não há
hematita, os tijolos são amarelos ou cinzentos.
98
Neste caso, esse material tem sido usado para cerâmica mais refinada.

75
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES

2.2.8. Cimentação
A consistência, tratada anteriormente, pressupõe, até certo ponto, ausência de
qualquer agente cimentante entre partículas, o que significa que os torrões se
desmancham rapidamente na água. Quando existe algum agente cimentante (e, neste
caso, os torrões não se desmancham na água), dá-se o nome de cimentação.
As camadas cimentadas têm o nome genérico de pan, em inglês e, no Brasil,
pã (Tabela 2.H). Como os pãs têm, como comportamento típico, a restrição à
movimentação de água e à penetração de raízes, esse termo tem sido também aplicado
a horizontes que não têm, necessariamente, qualquer agente cimentante, mas que têm
comportamento, quanto à água e raízes, semelhante ao dos pãs típicos. Assim, horizontes
B argilosos, contrastantes com horizontes A bastante arenosos, têm sido chamados
argipãs99 (claypans). Os argipãs possuem camada subsuperficial densa, com teor de
argila muito mais alto que o material suprajacente, do qual está separada por um limite
abrupto. Há acúmulo de argila e a estrutura é prismática ou em blocos. Nesse tipo de
pã existe enorme dificuldade de penetração de raízes e de água nos horizontes
subsuperficiais, devido a sua elevada densidade aparente e à grande plasticidade.
Pode ser horizonte genético ou não. Possui argila 2:1 e também 1:1. É comum em
Planossolos, Solonetz-Solodizados (Planossolos Nátricos) e solos com descontinuidade
litológica. Estes pãs ocorrem nos Planossolos do RS e do NE brasileiro (Planossolos e
solos com B nátrico, atual B plânico com Na+ elevado).

Tabela 2.H Tipos de pãs, características, ocorrência e importância para os solos


brasileiros.
Tipos Características Solos Ocorrência
Fragipã ou pã Textura intermediária (franco- Podzólicos Em alguns solos dos
quebradiço siltosa, por exemplo). Estrutura (Argissolos) Tabuleiros Costeiros
maciça ou em blocos com prismas Amarelos e (Grupo Barreiras) no
grandes compostos de lâminas ou Acinzentados. NE e ES; bem como
blocos. Duro, quando seco; em alguns das
quebradiço, quando úmido. Alta regiões subáridas
densidade aparente, gênese obscura,
sílica já foi sugerida como cimento.
Ortstein A textura tende a ser mais grosseira. Podzóis Nas classes que
Estrutura maciça, grãos simples, (Espodossolos) incluem horizonte B
geralmente com pelotas de tamanho podzol (B espódico),
de silte. Origem: iluvial(1); óxidos de cimentado ou não.
Fe e matéria orgânica como agentes
cimentantes.
Continua...
99
O nome argimperme (mais complexo que argipã) tem sido também usado, principalmente em Portugal.

76
PR OPR IEDADES DO SOLO E IN TER PR ETAÇÃO

Tabela 2.H Continuação...


Tipos Características Solos Ocorrência
Plintita Em geral de cor bem vermelha ou Plintossolos (nos Na Amazônia.
vermelho-escura, apresenta-se como levantamentos de Ocupa grandes
mosqueados, ou em horizontes de solos mais antigos extensões no MA, no
cor variegada (sem predomínio chamados de Vale do Mearim
de nenhuma cor de fundo), Lateritas (solo eutrófico).
contrastando com as cores mais Hidromórficas), e Ocorre também no
pálidas ou acinzentados da matriz. A solos com Planalto Central e
plintita endurece-se quando exposta adjetivação até mesmo, em
a ciclos de umedecimento e plíntica. menor proporção,
secagem. sob caatinga.
Bancada O endurecimento parece estar Solos No Brasil
laterítica(2) relacionado com a cristalização dos Concrecionários e Setentrional, nas
laterita, óxidos de ferro. Petroplitossolos, bordas das chapadas
canga100, (Plintossolos do Planalto Central,
petroplintita Pétricos); em toda a Baixada
(plintita Latossolos, Cuiabana e
endurecida), Cambissolos e capeando as serras
ironstone Solos Litólicos itabiríticas do
(Neossolos Quadrilátero
Litólicos) quando Ferrífero (MG).
concrecionários ou
petroplínticos
Duripã101 Cimentado principalmente por sílica Solonetz- Em alguns Solonetz-
e secundariamente por ferro e Solodizados Solodizados
carbonatos (Planossolos (Planossolos
Nátricos). Náuticos).
(1)
Iluvial - vindo dos horizontes A ou E, acumulando-se nos horizontes B.
(2)
Nem sempre há formação de uma camada de permeabilidade menor do que a que está acima.

2.2.9. Pedoclima
As plantas absorvem água do solo. O arejamento no ambiente das raízes é
fundamental para muitos dos processos que interessam à planta. Todavia as condições
de água, ar e temperatura no solo não podem ser previstas só pelas condições climáticas
atmosféricas. Dependendo do lençol freático, existem solos com excesso de água,

100
Canga, vem de tapiocanga (itapanhoacanga?), variação de tapunhunacanga, do tupi ta pui una a kãga,
cabeça-de-negro (FERREIRA, 1975); crosta ferruginosa ou petroplíntica.
101
Duripã, do latim durus mais pã, do inglês pan com o significado geral de camada de baixa permeabilidade;
sinônimo de durimperme.

77
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES

mesmo em regiões desérticas. Por sua vez, a água das chuvas não se infiltra igualmente
em toda a extensão do terreno.
Numa macroescala pode-se generalizar o pedoclima com base nas condições
climáticas das regiões. No entanto, no Brasil, os técnicos do Serviço Nacional de
Levantamento e Conservação de Solos (SNLCS, atualmente CNPS) têm usado, já há
muitos anos, as chamadas fases de vegetação original para caracterizar o pedoclima.
Essas fases102de vegetação original, indicam, porém, várias outras propriedades
importantes, dentre as quais se destacam a fertilidade do solo, o arejamento (drenagem),
a vegetação clímax (que é muito importante, principalmente na agricultura nômade).
Fases de vegetação
As principais províncias vegetacionais em nosso país podem ser visualizadas
na Figura 2.H. Nos levantamentos de solos essas províncias são bastante subdivididas,
para dar melhores indicações sobre as condições ecológicas do solo.

Figura 2.H Províncias vegetacionais do Brasil, segundo modificações feitas por


Caldas et al. (1978), a partir dos dados de Eiten (1972). Dentro de cada província a
composição da flora pode variar. Assim, na extremidade sul da Mata Atlântica, há a
presença dominante de araucária.

102
A fase é uma informação adicional ao nome do solo principal, ou de cada solo componente, de uma
unidade de mapeamento (representação das classes de solo que ocorrem em uma ou mais áreas delimitadas
em um mapa pedológico e identificadas por um mesmo símbolo) para ajudar na interpretação para vários
usos agrícolas e não agrícolas.

78
PR OPR IEDADES DO SOLO E IN TER PR ETAÇÃO

Existem atualmente mais de 50 formas de vegetação reconhecidas pelos


levantamentos de solos no Brasil. Pode-se, porém, grupar as seguintes fases: floresta,
cerrado 103, campos, caatinga, vegetação de restinga e outras formações mais
localizadas, tais como as relacionadas com: carnaúba, praias e dunas, solos salinos,
manguezal e as rupestres (nos afloramentos de rocha).
As três primeiras formações (floresta, cerrado e campos) são subdivididas,
cada uma, segundo estejam nas regiões equatorial (porção mais interior da Amazônia),
tropical e subtropical, o que já indica aspectos gerais importantes referentes à
temperatura do solo. A equatorial é mais quente e menos variável de estação para
estação; nas subtropicais os solos têm temperaturas menores que variam mais ao
longo do ano. No entanto, maiores informações quanto ao regime hídrico (aplicadas
às florestas e parcialmente aos cerrados) encontram-se na seqüência:

Hidrófila-Higrófila - Perúmida - Perenifólia - Subperenifólia - Subcaducifólia - Caducifólia104


de várzea
Deficiência hídrica
Número de meses secos
Aumento em
Queda de folhas (caducifolismo)

A caatinga105 é subdividida em hipoxerófila (a menos seca das caatingas),


hiperxerófila, caatinga do pantanal e caatinga de várzea.

103
Cerrado vem, aparentemente, de campo cerrado para indicar campo com algo mais além da vegetação
rasteira, tipicamente campestre; passou a designar quase todas as expressões na gradação: campo limpo,
campo sujo, campo cerrado, cerrado arbóreo arbustivo e cerradão ou mata xeromórfica. Em função
principalmente da densidade, porte e maior ou menor presença de estrato graminóide e as covariações
destas características com a composição florística, o cerrado (nome genérico) é dividido em: cerradão
(mata xeromórfica), árvores de porte maior e menos tortuosas, vegetação graminóide reduzida; cerrado
arbóreo-arbustivo (cerrado propriamente dito), vegetação de gramíneas também reduzida; campo cerrado,
árvores e arvoretas tortuosas esparsas, entremeadas por gramíneas rasteiras que secam na época de
estiagem; campo sujo, arvoretas e arbustos misturados com vegetação de gramíneas, freqüentemente
barba-de-bode; e campo limpo, domínio quase absoluto de vegetação rasteira, principalmente gramíneas
(RESENDE, 1978).
104
Hidrófila (ávida por água); higrófila (vive em lugares úmidos); perúmida (precipitação >
evapotranspiração potencial durante todos os meses do ano); perenifólia (ausência de estação seca
marcante); subperenifólia (estação seca de aproximadamente 2-3 meses); subcaducifólia (estação seca de
3-5 meses); caducifólia (estação seca de 5-7 meses).
105
O uso do nome estepe para a vegetação de caatinga (como fez Drude, citado por ANDRADE-LIMA
(s.d.); e, mais recentemente, VELLOSO & GOES-FILHO (1982)) não parece muito apropriado nem pelo
dicionário, nem pelo testemunho de algumas autoridades incontestes. Dárdano de Andrade-Lima, que foi
dos maiores conhecedores das caatingas e da flora brasileira como um todo, diz: caatingas não podem ser
classificadas como estepe .

79
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES

De forma semelhante à floresta, a vegetação campestre é subdividida


inicialmente em equatorial, tropical e subtropical. Cada uma destas divide-se em
hidrófila e higrófila de várzea, expressando, nessa ordem, melhoria de arejamento
do solo, ainda que ligeira. Ainda são incluídos campos xerófilos, hidrófilos de
surgente (nas cabeceiras das veredas) e pampas. Os campos, ou a vegetação
campestre, são muito relacionados com extremos de pedoclima: ou muita falta de
oxigênio (campos hidrófilos) ou falta de nutrientes muito acentuada, ligada a altos
teores de Al trocável, aliado ao clima frio, como é o caso dos campos subtropicais
altimontanos.
Os tipos de vegetação utilizados como fase nos levantamentos de solos
(EMBRAPA, 1988b), são apresentados na Tabela 2.I. O estudo cuidadoso dessa
tabela conduz a algumas observações muito interessantes:
1. os teores de água no solo diminuem, da esquerda para a direita;
2. a deficiência de oxigênio (encharcamento) no solo aumenta para a esquerda,
principalmente no que se refere às três últimas colunas;
3. no preparo do terreno para plantio, se houver necessidade de queima da floresta,
esta será mais difícil em direção à esquerda;
4. para culturas que necessitam de um período seco para maturação, colheita
etc., as fases mais à esquerda (perúmida, perenifólia e até mesmo parte de
subperenifólia) podem apresentar problemas.
5. os campos (a vegetação campestre) são muito relacionados com extremos de
pedoclima: ou muita falta de oxigênio (campos hidrófilos) ou falta de nutrientes
muito acentuada , ligada a altos teores de Al trocável, como é o caso dos campos
subtropicais altimontanos.
A posição do solo como interface
A posição do solo entre a atmosfera e a litosfera leva à ocorrência de grandes
mudanças nas condições pedoclimáticas com a profundidade. O solo se aquece e
seca pela superfície. Os primeiros centímetros do solo (veja item 1.3) podem tornar-
se muito inóspitos para as raízes, em algumas circunstâncias. Nesse caso, o efeito
será mais acentuado com o aumento do déficit hídrico. A colocação de adubos
deveria, por esse critério (e só por esse critério), ser mais profunda à medida que o
déficit hídrico se torna mais crítico. Por outro lado, práticas de manejo do solo,
como a cobertura morta, por exemplo, que estimulam a proliferação de raízes mais
próxima à superfície, pode ser contraproducente se o solo se apresentar seco por
período relativamente longo, coincidente com a necessidade da cultura (cafeeira,
por exemplo). Essas práticas, portanto, devem ser mais promissoras sob regime
hídrico de seca não muito pronunciada, equivalente às fases subperenifólia e mais
úmidas (Tabela 2.I).

80
PR OPR IEDADES DO SOLO E IN TER PR ETAÇÃO

Tabela 2.I Formas de vegetação empregadas como fases de unidades de


mapeamento de solos - adaptado de Embrapa (1988b).
VEGETAÇÃO
hidrófila higrófila perúmida perenifólia subperenifólia subcaducifólia caducifólia
FLORESTA
Equatorial (A)(B) (A)(B) (A)
Tropical (D) (D) (C) (C) (C) (C) (C)
Subtropical (B) (B)
CERRADÃO
Tropical
CERRADO
Equatorial
Tropical
CAMPO
Equatorial(B)
Tropical
Subtropical(B)
(A) Acrescentar dicótilo-palmácea (babaçual), quando for o caso.
(B) Distinguir altimontana, quando for o caso.
(C) De várzea, quando for o caso.
(D) No caso de campinaranas, adicionar especificação.
Exemplo: floresta equatorial subperenifólia dicótilo-palmácea.

2.2.10. Pedoforma
O solo é um corpo tridimensional. Como tal possui uma forma externa que vem
a ser a sua topografia (pedoforma). Ao lado da cor, a pedoforma é a característica
mais facilmente visível do solo, isto é, a pedoforma e a cor constituem os elementos
normais de relação entre o homem e o solo. Isto oferece mais interesse do que pode
parecer à primeira vista. A pedoforma é uma característica da pedopaisagem. Um
trecho de chapadão e de um terraço fluvial podem ter a mesma pedoforma mas são
duas pedopaisagens muito distintas.
As relações entre a pedoforma e algumas outras propriedades do solo já foram
estudadas anteriormente. O fator tempo, por exemplo, está muito relacionado com a
evolução do relevo. As grandes chapadas (áreas altas e de pedoforma suave) possuem,
em geral, os solos mais velhos. Os solos mais jovens (com todas as suas implicações)
situam-se nas partes mais rejuvenescidas da paisagem, apresentando um relevo mais
acidentado. Aí a erosão geológica, natural, é muito mais acelerada; a vida média de
exposição do material do solo é relativamente pequena, isto é, o material é removido

81
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES

pela erosão natural antes de atingir um envelhecimento muito acentuado. Os


afloramentos de rocha estão, portanto, associados a pedoformas mais acidentadas,
mas, como ocorre com todas as propriedades do solo, há necessidade de se considerar
todo o conjunto de fatores envolvidos. Assim, se a condição bioclimática é pouco ativa
(Nordeste semi-árido106, por exemplo), os solos são jovens, há muito afloramento de
rocha, mesmo numa pedoforma muito suave. O calcário, por exemplo, aflora muito na
Chapada do Apodi (RN), em área com pedoforma muito suave, conforme se infere do
nome chapada.
Tipos básicos de pedoforma
Os Latossolos (os solos mais velhos) têm em geral pedoformas convexo-
convexas. Esta expressão significa que a curva de nível (curvatura) é convexa e que
o perfil (inclinação), perpendicular à curva de nível, também é convexo. Uma bola de
futebol, ou uma laranja cortada ao meio, apresenta do lado de fora uma forma convexo-
convexa. Do lado de dentro (no caso da bola, ou da laranja sem o bagaço) a forma é
côncavo-côncava. Tais formas apresentam perfil (inclinação) e curvatura (curva de
nível). A curvatura C e o perfil P podem apresentar forma côncava, convexa ou linear,
indicadas respectivamente pelos sinais (+), (-) e (o). Deve-se lembrar que a forma
côncava (+) favorece a concentração de água no sistema enquanto a forma convexa
(-) favorece a dispersão e perda de água do sistema.
Pela combinação das possíveis formas de curvatura e perfil (Figura 2.I), podem-
se obter nove tipos básicos de pedoforma (TROEH, 1965), que servem como orientação
para se avaliar o comportamento de uma encosta quanto a importantes características
do ambiente.

C+P- - curvatura côncava, perfil conexo, C+Po - côncavo-linear


isto é: forma côncavo-convexa
C+P+ - côncavo-côncava CoP- - linear-convexa
CoPo - linear-linear CoP+ - linear-côncava
C-P- - convexo-convexa C-Po - convexo-linear
C-P+ - convexo-côncava

Implicações
Sendo C-P- a forma típica dos Latossolos, isto parece indicar ser essa a forma
de equilíbrio. A área de exposição de uma esfera é a menor possível. Todos os corpos
tendem a reduzir sua área de exposição: da gota de água aos astros, a forma esférica

106
Semi, em latim, metade, meio, não parece apropriado para designar regiões semi-áridas; melhor seria
subáridas, à semelhança de subtropical, e, mutatis mutandis, subcaducifólia, em vez de semi-caducifólia,
subperenifólia, em vez de semiperenifólia.

82
PR OPR IEDADES DO SOLO E IN TER PR ETAÇÃO

é a tendência maior. O processo de erosão - a busca de novos equilíbrios - tende a


destruir as formas convexo-convexas através, por exemplo, do processo de ravinamento:
pequenas ravinas107 que depois se ampliam formando o que se chama comumente de
grota. Os solos mais novos tendem a apresentar maior incidência de ravinas. A
pedoforma aí torna-se mais interrompida (mais descontínua), o que tem implicações
na penetração de água108 e na mecanização.

- o +

Figura 2.I As nove pedoformas básicas (TROEH, 1965)109 e suas combinações.

Quando o material de origem já foi muito intemperizado, antes do ciclo atual de


pedogênese, pode haver solos muito velhos com relevo acidentado e pedoformas
bastante variadas, refletindo uma fase de rejuvenescimento atual.
Este é o caso, como já foi discutido, de grande parte do Sudeste do Brasil;
mas vale também para algumas áreas graníticas do Centro-Oeste do Pará (UFV,
1979).

107
Ravinas, provavelmente de rava, despenhadeiro, desbarrancamento, de uso na toponímia dos Alpes
(BUENO, 1967). Há duas acepções: escavação provocada pela enxurrada, barranco; ou pequena depressão
estreita e profunda, menor do que um cânion e maior do que um sulco. Ravinas podem ser vistas como
linhas de drenagem nas encostas, que são cobertas por vegetação, em contraste com as voçorocas, sem
vegetação.
108
Uma superfície ravinada concentra a água em canaletas, drenando rapidamente outros locais, o que
diminui a infiltração, aumentando a erosão.
109
Imagine uma manilha na posição vertical, cortada longitudinalmente ao meio: a parte externa corresponde
à forma C-Po e a parte interna a C+Po. Uma bola de borracha, cortada ao meio, mostra externamente C-P-
e internamente C+P+.

83
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES

Com o devido cuidado, a pedoforma, principalmente associada à cor e vegetação


natural, poderá ajudar muito, localmente, na identificação rápida das classes de solos
e das propriedades pertinentes.
O critério de pedoforma, no entanto, se funciona bem em algumas áreas, em
outras se torna menos útil. Assim, na Chapada do Apodi (RN), sendo os desníveis
muito pequenos, a cor e os afloramentos de rocha refletem, com muito mais intensidade,
as diferenças entre os solos: a pedoforma ali não ajuda muito.
Por outro lado, nas áreas mais acidentadas, a pedoforma é usada como principal
critério de separação, subsidiada, conforme a situação, pela cor e por outras propriedades.
Além desses aspectos relativos à macroescala (chapadões) e à mesoescala
(uma elevação, um morro), há variações da pedoforma em nível bastante localizado,
como expressões da conformação do barranco (em cortes de estrada) que podem ser
muito úteis na identificação preliminar de solos.
Assim, os solos com horizonte B textural tendem a apresentar, abaixo do horizonte
A, na transição para o horizonte B, uma reentrância formando como que uma aba,
devido à maior resistência à remoção do horizonte B em relação ao A, exceto na parte
superior deste horizonte, onde se faz sentir a influência do maior enraizamento. Abaixo
da reentrância o horizonte B fica inclinado na forma de uma saia . Quando o solo é
um Latossolo, não há a saia (Figura 2.J).

Figura 2.J Contraste entre as formas do barranco exposto de solos com horizonte
B textural e de Latossolos.

Quando o barranco se apresenta muito perfurado (ninhos de passarinho),


geralmente há duas possibilidades: ou o solo tem textura mais arenosa, em geral é um
Latossolo de textura média110 ou, sendo argiloso, ele reflete altos teores de agentes
desorganizadores em nível microestrutural. Trata-se de solo muito oxídico, com altos
teores de gibbsita e óxidos de Fe. A areia que se acumula ao longo das linhas de
drenagem serve, nesse caso, para auxiliar na identificação do Latossolo, que é mais
arenoso.
110
Menos de 35% de argila, mais de 15% de areia e % areia - % argila <70.

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PR OPR IEDADES DO SOLO E IN TER PR ETAÇÃO

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89
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES

90
MATÉRIA ORGÂNICA E SEUS COMPONENTES

3
MATÉRIA ORGÂNICA E SEUS COMPONENTES

A matéria orgânica do solo tem sido definida como a fração orgânica, incluindo
resíduos (frescos e em todos os estádios de decomposição) de plantas, animais e
micróbios e o húmus relativamente estável (NELSON & SOMMERS, 1982).
Entretanto, a matéria orgânica do solo, em análises de rotina, inclui somente aqueles
materiais orgânicos que acompanham as partículas do solo através de uma peneira
de malha de 2 mm, ou seja, aqueles presentes na terra fina (TF).
É difícil determinar o teor de matéria orgânica presente no solo. A análise do
carbono tem sido usada, mas os teores de carbono na matéria orgânica variam bastante
entre um solo e outro e, num mesmo solo, decrescem com a profundidade. Sua própria
constituição é variável ao longo do perfil (a relação C/N, por exemplo, tende a decrescer,
em profundidade). Na prática, os resultados têm sido expressos em proporção relativa
a TF (g kg-1), ou em percentagem de carbono ou, o que é menos aconselhável, admite-
se que toda a matéria orgânica do solo tem 58% de carbono (isso corresponde ao
fator 1,724 de Van Bemmelen). Os fatores 2,5 e 1,9 têm sido sugeridos como mais
apropriados para os horizontes superficiais e subsuperficiais, respectivamente
(BROADBENT, 1953; NELSON & SOMMERS, 1982).

3.1. Composição e Estrutura do Húmus


A composição e estrutura do húmus do solo são muito complexas e
incompletamente conhecidas (BOHN et al., 1979). Há certa controvérsia quanto
ao número de frações a considerar no húmus e quanto a sua nomenclatura.
Comumente admite-se que o húmus seja constituído por três frações, denominadas
ácidos húmicos, ácidos fúlvicos e humina (COSTA, 1973).
As partículas componentes de substâncias húmicas têm forma globular e,
ao contrário das argilas, não produzem padrões tão bem definidos de difração de
raios-X. Em seu estado natural elas têm cargas negativas que podem ser
neutralizadas em condições de pH muito baixo. Essas substâncias sorvem água
fortemente, atuam como ácidos fracos, participam no processo de troca de cátions,
formam complexos com íons metálicos e interagem com argilominerais (JENNY,
1980).
Existem diversos métodos para fracionamento de substâncias húmicas. Eis um
deles, Figura 3.A:

91
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES

Solúvel em NaOH (ou Solúvel em HCl ÁCIDO FÚLVICO


NH4OH) diluído

ÁCIDO HÚMICO

HUMINA

Figura 3.A Esquema mostrando separação das frações húmicas pela solubilidade
ou não em bases e ácidos. Na horizontal há solubilidade; na vertical, precipitação.

Pela Figura 3.A, percebe-se que a humina é insolúvel em base e em ácido,


enquanto os ácidos fúlvicos são solúveis tanto em base quanto em ácido; os ácidos
húmicos, por sua vez, são solúveis em base mas insolúveis em ácido.
Composição elementar de ácidos húmicos e fúlvicos111, extraídos de solos de
regiões tropicais e subtropicais, é mostrada na Tabela 3.A. Em geral, os ácidos húmicos
(AH) contêm mais C e N, porém menos H, S e O, em comparação com os ácidos
fúlvicos (AF). À medida que aumenta a relação AF/AH aumentam a capacidade de
troca de cátions, os grupos reativos, a solubilidade e o caráter ácido (HAYES &
SWIFT, 1977). Segundo Volk & Zelazny (1973), um baixo conteúdo de humina ou um
alto teor de ácidos fúlvicos favorece uma taxa maior de subsidência (rebaixamento da
superfície) em Solos Orgânicos (Organossolos).

Tabela 3.A Análises elementares de ácidos húmicos (AH) e fúlvicos (AF)


extraídos de solos de condições climáticas tropicais e subtropicais (SCHNITZER,
1978).

Região Climática
Elemento Subtropical Tropical
(%) AH AF AH AF

C 53,6 - 55,0 42,4 - 44,3 54,4 - 54,9 42,8 - 50,6


H 4,4 - 5,0 5,9 - 7,0 4,8 - 5,6 3,8 - 5,3
N 3,3 - 4,6 3,1 - 3,2 4,1 - 5,5 2,0 - 3,3
S 0,8 - 1,5 2,5 0,6 - 0,8 1,3 - 3,6
O 34,8 - 36,3 43,1 - 46,2 34,1 - 35,2 39,7 - 47,8

111
Ácido fúlvico, do latim fulvus, amarelo, louro, cor de ouro, de bronze; matéria orgânica de composição
indefinida, solúvel em solução alcalina, e que permanece em solução quando acidificada. A cor escura de
alguns rios brasileiros, como o rio Negro (Amazônia), rio Taquari (Pantanal) e os rios de restinga, é dada
pelo ácido fúlvico. A água desses locais, vista de perto, tem cor amarelo ocre .

92
M A TÉR I A OR GÂ N I CA E S EUS COM PON EN T ES

Há poucos estudos de caracterização das frações componentes do húmus em


nossos solos. Volkoff et al. (1978), utilizando material de Latossolos da Bahia, através
de fracionamento físico-químico e estudos isotópicos (13C e 14C)112, concluíram que o
húmus desses solos é constituído de duas partes distintas: (a) ácidos fúlvicos livres e
humina de precipitação que se renovam lentamente; e (b) ácidos húmicos e humina
herdada, que são menos resistentes à biodegradação. Analisando horizontes superficiais
de solos sob vegetação de campos de altitude em MG, PR e SC, Volkoff et al. (1984)
encontraram elevadas proporções de ácidos fúlvicos livres, frações alcalino-solúveis
e pouca humina, além de uma evidente acumulação de húmus.

3.2. Dinâmica e Acúmulo de Matéria Orgânica


Pela vegetação pode-se inferir que o regime de matéria orgânica dos solos sob
floresta é mais dinâmico (maior produção e maior decomposição por unidade de tempo)
do que aquele dos solos sob cerrado. Essa dinâmica é mais importante no influenciar
a mineralogia do que o teor de matéria orgânica em si (RESENDE, 1976).
Plantas superiores e resíduos animais constituem a principal fonte de nutrientes
e energia para os microrganismos do solo. Após a deposição e incorporação desses
resíduos ao solo, os microrganismos iniciam o processo de decomposição desses
materiais, utilizando-os como fonte de nutrientes e energia. Assim, o teor de C orgânico
do solo é resultante do balanço entre incorporação e decomposição da matéria orgânica.
Sob condições ótimas para a atividade microbiana, o material orgânico é decomposto
tão rapidamente que não há acumulação significativa. Por outro lado, sua acumulação
ocorre quando a produção anual de matéria orgânica é alta ou há restrições para a sua
decomposição devido a ambientes com baixa temperatura, falta d água, deficiência
de oxigênio ou carência de nutrientes. Entretanto, em ambientes marginais, caso as
condições de decomposição sejam inadequadas, a acumulação pode ser grande, a
despeito da produção vegetativa ser baixa.
As gramíneas incorporam mais material orgânico ao solo do que as florestas; e
um teor mais elevado de argila favorece o incremento de carbono orgânico no solo,
pois a associação entre compostos orgânicos e argila dificulta a decomposição113
(RUSSEL, 1973). Greenland (1965) demonstrou, para ampla variação de solos, que
52 a 98% do carbono orgânico estava associado à fração argila. Mais recentemente
em FONTES (1990) foi documentada a ligação entre goethita e ácidos húmicos,

112
As plantas C4, como muitas gramíneas tropicais (cana-de-açúcar, por exemplo) têm um conteúdo de
13
C maior do que as plantas C3 (leguminosas em geral). Isso permite estudar a evolução da matéria
orgânica no solo; isto é, saber de que grupo de plantas vem o carbono (CERRI, 1986).
113
A matéria orgânica do solo interage com as partículas de argila. Parece razoável o modelo de que as
moléculas, interagindo mais com as argilas, permanecem mais tempo, antes de se decomporem. As mais
afastadas, mais livres, decompõem-se mais rapidamente: têm uma vida média menor.

93
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES

reduzindo, substancialmente, a adsorção de fósforo. A presença de moléculas orgânicas


entre as camadas de esmectita é um registro antigo, sendo até considerada como
responsável pelo escurecimento dos Vertissolos. Essa matéria orgânica entre as
camadas de esmectita foi detectada, por exemplo, em Solos Aluviais (Neossolos
Flúvicos) vérticos salinos da Paraíba (BATISTA, 1977).
À medida que a decomposição do material orgânico aumenta, ocorre um
estreitamento da razão carbono-nitrogênio (relação C/N). A incorporação dos solos
de áreas de floresta ao sistema produtivo reduz a relação C/N, e valores de 10-12
predominam, o que é vantajoso para a mineralização do nitrogênio. É comum, nos
solos brasileiros, um decréscimo pronunciado da relação C/N com a profundidade,
não sendo raro o registro de valores tão baixos quanto o valor 2. Ainda não há uma
elucidação completa deste fenômeno. Medeiros (1977) sugeriu como possibilidades:
movimentação preferencial de compostos mais ricos em N, adsorção de nitratos, fixação
de NH4+ entre as camadas de argilominerais, (pouco importantes nos Latossolos), ou
por compostos orgânicos. Os ácidos fúlvicos, que têm menor teor de carbono, aumentam
com a profundidade em relação aos ácidos húmicos (LONGO et al., 1984), mas as
diferenças nos teores de nitrogênio entre eles são de tal ordem (Tabela 3.A) que não
podem explicar esse decréscimo tão acentuado da relação C/N.
Ao contrário do que é apregoado em muitas publicações, os solos tropicais não
são necessariamente pobres em carbono orgânico. Há grandes extensões de
Latossolos húmicos (Latossolos com horizonte A húmico) em várias regiões do Brasil,
nos quais a carência generalizada de nutrientes parece ser a principal limitação ecológica
à atividade dos microrganismos (RIBEIRO et al., 1972). Já no caso do Latossolo Bruno
e especialmente do Cambissolo Bruno, ambos com A húmico, a temperatura mais baixa
associada à pobreza em nutrientes são, provavelmente, os fatores mais limitantes à
decomposição do material orgânico. Não se podem excluir também os solos hidromórficos,
onde a deficiência de oxigênio restringe a atividade dos microrganismos. Por outro lado,
os solos das regiões nordestinas subáridas e as Areias Quartzosas (Neossolos
Quartzarênicos) tendem a ter baixos teores de carbono orgânico.
É oportuno mencionar que nos ambientes hidromórficos tropicais, o acúmulo de
matéria orgânica tende a ser maior onde o lençol freático flutua menos e onde, por
alguma razão, a água livre é menos oxigenada114.

114
Alguns lugares como a lagoa Suruaca, no Espírito Santo, possuem muitos Solos Orgânicos (Organossolos),
com A proeminente. O Pantanal e a lagoa Suruaca têm, em comum, a deficiência de drenagem mais acentuada
em determinada época do ano. A intensidade e permanência do encharcamento é diferente: no Pantanal, a
variação do nível da água é muito acentuada, há alternância pronunciada entre excesso e deficiência da água.
As águas são mais arejadas e mais ricas em nutrientes; não há grande acúmulo de matéria orgânica; os solos
tendem a ser mais ricos. Na grande área do delta fluviomarinho do rio Doce o substrato inorgânico é, em geral,
muito pobre, podendo ser até tiomórfico (contém quantidades elevadas de sulfitos e sulfatos).

94
M A TÉR I A OR GÂ N I CA E S EUS COM PON EN T ES

Os teores de carbono tendem a decrescer exponencialmente com a profundidade


(BENNEMA, 1974), seguindo curvas do tipo C = apb, onde C = conteúdo de carbono, a
e b são constantes e p = profundidade, Tabela 3.B.
Pelo Sistema Brasileiro de Classificação de Solos, os Solos Orgânicos
(Organossolos) diferem dos demais, basicamente, por apresentar horizonte turfoso
(atualmente horizonte hístico), ocupando mais do que 50% dos primeiros 80 cm de
profundidade. Nesse contexto o conteúdo de carbono orgânico é um critério chave de
alguns dos principais horizontes diagnósticos superficiais, tais como os horizontes A
húmico, A chernozêmico115, A proeminente e A fraco (EMBRAPA, 2006).

Tabela 3.B Parâmetros referentes à curva de distribuição de carbono com


profundidade, segundo a equação C = apb, em solos de alguns ecossistemas brasileiros.
BIOCLIMA a b R2 FONTE
(Fase de Vegetação)

------------------------------------------------------ Latossolos ----------------------------------------------------


Floresta Subperenifólia 5,69 -0,44 0,97 g
Cerrradão 16,44 -0,63 0,98 f
Cerrado 3,91 -0,25 0,92 e
Caatinga 4,92 -0,71 0,96 b
Floresta Caducifólia 6,64 -0,72 0,79 b
Floresta Caducifólia/Caatinga 1,64 -0,39 0,93 b

--------------------------------------------- Podzólicos (Argissolos) -------------------------------------------


Floresta Subperenifólia 54,82 -1,12 0,92 d

--------------------------- Areias Quartzosas (Neossolos Quartzarênicos) ---------------------------


Caatinga 0,93 -0,39 0,91 b

--------------------------------------------------- Cambissolos ---------------------------------------------------


Caatinga 2,49 -0,42 0,94 a

----------------------------------------------------- Vertissolos ----------------------------------------------------


Caatinga 1,28 -0,26 0,54 c

----------------------------------- Regossolos (Neossolos Regolíticos) -----------------------------------


Caatinga 0,59 -0,76 0,92 c

a - Ernesto Sobrinho (1979); b - Medeiros (1977); c - Lima et al. (1989);


d - Vitorino (1986); e - Sans (1986); f - Batista (1977); g - UFV (1979).
115
Horizonte A chernozêmico, do russo chern, preto, e zemlja, terra; dá conotação de solos ricos em
matéria orgânica, apresentando uma cor preta. O horizonte A moderado é o mais comum no território
brasileiro; não satisfaz os requisitos para horizonte A chernozêmico muito mais pelas cores mais claras,
baixa fertilidade ou pequena espessura do que pelo teor de matéria orgânica. O A húmico apresenta altos
teores de carbono até grandes profundidades; o A fraco ocorre principalmente no subárido brasileiro; e o
A proeminente é semelhante ao A chernozêmico, mas ao contrario dele é pobre em nutrientes.

95
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES

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97
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES

98
ORGANISMOS DOS SOLO

4
ORGANISMOS DO SOLO

4.1. Aspectos Gerais


A atividade biológica no solo e os processos bioquímicos correspondentes são
agentes muito importantes. A porção viva desse sistema é representada principalmente
por microrganismos (bactérias, fungos, actinomicetos e algas), raízes de plantas e
animais viventes (meso e macrofauna) do solo. A reciclagem da água e de nutrientes
pelos vegetais superiores complementa este panorama.
Essa fase viva, responsável pelas alterações dos compostos orgânicos depositados
no solo, é numerosa e diversificada. Bactérias, actinomicetos e fungos, que representam
a maior parte da população de microrganismos na maioria dos solos, podem provocar
alterações significativas em substratos e influenciar grandemente a composição do ar
e da solução do solo. Os efeitos desta atividade decrescem com a profundidade do
solo devido à menor aeração e ao menor suprimento de matéria orgânica. A Tabela
4.A apresenta uma estimativa do número relativo e da biomassa (peso por unidade de
volume ou área de solo), de grupos de organismos que ocorrem comumente em solos
de regiões de clima temperado.
Já que a atividade metabólica é normalmente relacionada à biomassa, é fácil
inferir que os primeiros quatro grupos de organismos (Tabela 4.A) e as minhocas
dominam a fase viva dos solos. Por outro lado, Goffinet (1975), referindo-se à zona
intertropical e particularmente aos Latossolos, admite que as térmitas116 têm, nesse
meio, uma importância comparável àquela atribuída às minhocas, em solos de regiões
temperadas.

116
Térmitas, formigas, minhocas e minhocuçus são importantes. A maior significância de cada um é local.
As térmitas ou cupins não são muito importantes no subárido brasileiro, que nisso difere das savanas
africanas; os minhocuçus são particularmente expressivos em alguns Latossolos sob cerrado, em Minas;
os campos de cupinzeiros, em particular nos Latossolos ricos em matéria orgânica, evidenciam a importância
dos termiteiros; as formigas, localmente, mostram-se muito ativas.

99
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES

Tabela 4.A Microrganismos comuns em solos (BRADY, 1974).

Valores Comuns na Camada Superficial dos Solos(1)


Organismos
Número por m2 Biomassa(2) em kg ha-1
1. Bactérias 1013 - 1014 400 - 4000
117 12 13
2. Actinomicetos 10 - 10 400 - 4000
10 11
3. Fungos 10 - 10 500 - 5000
9 10
4. Algas 10 - 10 50 - 500
9 10
5. Protozoários 10 - 10 15 - 150
118 6 7
6. Nematóides 10 - 10 10 - 100
7. Outros 103 - 105 15 - 150
(1)
Considera-se, via de regra, uma profundidade de 15 cm, porém, em alguns casos, uma profundidade
maior é utilizada.
(2)
Valores são expressos na base de peso vivo; a matéria seca constitui cerca de 20-25% destes valores.

A energia para o crescimento microbiano provém da decomposição enzimática


dos compostos orgânicos e da oxidação de compostos inorgânicos de N, S e metais
(ALEXANDER, 1977). Os resíduos vegetais, após serem incorporados ao solo, tendem
a perder rapidamente sua forma original, sendo parte transformada em substâncias
húmicas, que são relativamente estáveis e resistentes ao ataque microbiano, conforme
mostram os estudos de datação119 usando 14C. Sabe-se, também, que a idade da
matéria orgânica do solo está mais relacionada ao tipo de solo e aos processos de sua
formação do que à zona climática (STOUT et al., 1981).

117
Actinomicetos são relacionados às bactérias e aos fungos; assemelham-se aos fungos na forma de
micélio ramificado e às bactérias, quando quebrados. Produzem muitos antibióticos: estreptomicina,
aureomicina, terramicina e neomicina. Atuam na decomposição da matéria orgânica e secretam substâncias
que estabilizam a estrutura do solo. Fixam N simbioticamente com sete famílias de plantas superiores
diferentes, nisso diferem do rizóbio quase exclusivo das leguminosas. Dão-se melhor nos solos ricos em
matéria orgânica fresca e em solo neutro ou ligeiramente ácido (MILLER & DONAHUE, 1990).
118
Nematóides: vermes não segmentados; podem viver principalmente da matéria orgânica do solo, os
mais comuns (onívoros). São predadores de bactérias, fungos, algas e até de outros nematóides; infestam
raízes, produzindo galhas (parasitas). A entrada dos nematóides nas plantas facilita a entrada de outros
patógenos.
119
A datação pelo 14C é baseada no princípio de que raios cósmicos produzem na atmosfera pequenas
quantidades de 14C; este faz parte do CO2 que os organismos absorvem. Com a morte destes, a
radioatividade do 14C decresce exponencialmente com o tempo. Depois de 5730 anos, período de meia
vida, resta apenas a metade do 14C inicial; depois de 3 x 5730 anos, 17190 anos, um oitavo e assim por
diante, de acordo com a expressão t = -8267 lnp, onde p = razão entre atividades de 14C da amostra e
de um material contemporâneo, ln = logaritmo neperiano e t = idade da amostra. A possibilidade de
datação pelo 14C vai até cerca de 70 mil anos.

100
OR GA N I S M OS DOS S OL O

A fase viva introduz no solo um grande número de enzimas120, sendo que


boa parte delas tem-se revelado ativa no solo, entre as quais se incluem óxido-
redutases, hidrolases e transferases (LYNCH, 1986). Enzimas extracelulares,
liberadas com a destruição das células e excretadas no meio, desintegram os
compostos de grande peso molecular até que eles possam entrar através das
membranas das células microbianas. A separação entre enzimas extra e
intracelulares é dificultada porque a autólise das células libera material intracelular
no solo.
Tendo-se em mente que os exsudatos de raízes, a autólise de células de
raízes e as populações especializadas de microrganismos, que usualmente habitam
a rizosfera, podem prover enzimas, infere-se que é na rizosfera que se processa a
maior parte da atividade enzimática do solo. Entretanto muitas enzimas podem
ser retidas nas superfícies dos argilominerais e da matéria orgânica e, assim, sua
atividade enzimática é bloqueada. Também pode ocorrer que o substrato natural
dessas enzimas fique retido nessas mesmas superfícies. Proteínas adsorvidas entre
as camadas de esmectitas são normalmente hidrolisadas por microrganismos
(ESTERMANN et al., 1959). Já que os microrganismos são muito grandes para
penetrar naquele espaço, provavelmente, neste caso, são as enzimas extracelulares
que alcançam as proteínas.
Os solos podem tamponar várias reações que, normalmente, desativariam
enzimas em sistemas aquosos (AHLRICHS, 1972). Também as partículas do solo
podem exercer influências diversas na taxa de ação enzimática. Alguns sistemas
mostram atraso enquanto outros revelam estímulo ou nulidade a esse respeito. A
maior parte dos pesticidas e dos compostos orgânicos naturais pode ser decomposta
pelos organismos do solo, porém ocorrem limitações. Como os organismos
normalmente sobrevivem e se desenvolvem à custa de substratos naturais, alguns
pesticidas e condicionadores do solo que contém estruturas moleculares pouco
comuns, podem ter a decomposição pelos organismos, reduzida.
A quantidade de CO2 e O2 na fase gasosa do solo é grandemente influenciada
pelos organismos. Logo após inundação, o suprimento de oxigênio e o potencial de

120
Enzimas, do grego enzymos, levedo; substâncias orgânicas que se originam de células vivas e são
capazes de produzir certas reações químicas por ação catalítica; isto é, o catalisador acelera a reação
química, mas não é permanentemente afetado pela reação (WEBSTER, 1989), as enzimas são os
catalizadores dessas reações. Exemplos de algumas enzimas e suas funções: celulase quebra a celulose,
importante na decomposição da matéria orgânica; urease decompõe uréia; fosfatase libera H3PO4 da
matéria orgânica; sulfatase libera S da matéria orgânica; protease libera aminoácidos (MILLER &
DONAHUE, 1990).

101
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES

oxirredução121 tendem a diminuir, e processos anaeróbicos passam a dominar o


metabolismo. Desde que O2 não esteja presente para servir como receptor final de
elétrons, outras substâncias oxidadas, tais como NO3-, MnO2, Fe3+ e SO4 2-, passam a
exercer tal função. Uma conseqüência disto é a redução dos compostos de Fe e de
NO3-. Os óxidos contendo Fe (III) têm uma solubilidade baixa, mas as formas ferrosas
são bastante solúveis. Assim, nas condições anaeróbicas, com adequado suprimento
de energia, há liberação de altas concentrações de Fe (II) em solução e o NO3- é
reduzido para várias formas gasosas contendo N (NO, N2O e N2), que são liberadas
do sistema por volatilização sendo perdidas para a atmosfera. Por outro lado, a
decomposição anaeróbica de substratos orgânicos também produz ácidos graxos e
outros ácidos orgânicos de grande interesse agronômico e ambiental.
Além de ambientes inundados, em que os processos anaeróbicos ocorrem de
forma generalizada, estes podem também estar restritos à situações muito
temporárias.Os microporos, por exemplo, tendem a estar saturados com água durante
a maior parte do período úmido. Assim, no interior dos agregados pode existir um
microambiente anaeróbico, mesmo em um solo bem drenado (Figura 4.A), devido à
baixa solubilidade e à difusão de O2 na água, propiciando diferentes microssítios para
atuação microbiana diferenciada.

Figura 4.A Esquema mostrando os ambientes aeróbicos e anaeróbicos no interior


do agregado de um solo bem drenado (TIEDJE et al., 1984).

121
A quantidade de elétrons disponíveis no solo, expressa em Eh ou pe (à semelhança do pH, usado para
quantificar os átomos de hidrogênio),indica o potencial de oxirredução. Ao se decompor, a matéria
orgânica libera elétrons, esses elétrons são recepcionados pelo oxigênio, o grande oxidante da natureza,
que se reduz ao recebê-los. Nos solos de drenagem deficiente, encharcados, o oxigênio disponível esgota-
se logo. Os próximos oxidantes, substituindo o oxigênio na recepção de elétrons, são nitratos e alguns
compostos de manganês; quando estes se esgotam, e fazem-no rapidamente, pois em geral existem em
pequena quantidade, o ferro de valência 3,presente na estrutura dos óxidos de Fe (goethita e hematita),
passa a ser o recepcionador de elétrons e se reduz, passando de Fe(III) para Fe(II), dando a cor cinzenta
das tabatingas.

102
OR GA N I S M OS DOS S OL O

A atividade de minhocas pode ser bastante expressiva. Há registros de até


mais de 40 metros de galerias por m2 (LOPES-ASSAD, 1987). As canaletas podem
ser preenchidas por materiais mais ricos em matéria orgânica e nutrientes, vindos do
horizonte A. Essas galerias escurecidas (crotovinas) constituem locais de maior
desenvolvimento do sistema radicular. Isso é marcante nos Latossolos Amarelos dos
Platôs Litorâneos (Latossolos Amarelos Distrocoesos), solos com alta compacidade
(adensamento) e pobres em nutrientes (Figura 4.B). Nesse caso, as raízes nas canaletas
estão num microambiente mais rico. Uma análise do material global, sem levar em
conta esses aspectos, estaria subestimando o teor de nutrientes em disponibilidade.
Sob vegetação natural, a maior parte dos nutrientes está na biomassa. A derruba
e a queima da vegetação colocam à superfície, e depois nos primeiros centímetros do
solo, uma quantidade considerável de nutrientes, propiciando uma boa produtividade
do colonião e um aumento na atividade das minhocas (Figura 4.B).

Figura 4.B Distribuição em profundidade de minhocas (número por m2), crotovinas


abaixo do horizonte A1(barras hachuradas, % em volume) e conteúdo de C orgânico
(%), em Latossolos Amarelos (Latossolos Amarelos Distrocoesos), sob mata (a) e
sob pastagem de capim-colonião (b) com 12 anos (UFV, 1984).

Galerias vermiformes, preenchidas com material terroso distinto da massa


circundante, perfuram, até grandes profundidades (20 a 30 metros), alguns solos do
Sudeste do Brasil (CORRÊA, 1984; LANI, 1987; REZENDE, 1980). A constância
das classes de diâmetro ao longo de todo o perfil, a disposição e a abundância em
grandes profundidades, com evidências de terem estado até associadas com camadas
de drenagem deficiente, tornam muito pouco provável que essas galerias sejam devidas
à atividade de raízes. Além disso, a disposição do material em superposição conchoidal

103
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES

sucessiva e contínua, no interior das galerias ou pedotúbulos, chega a sugerir o sentido


da progressão do paleoverme. O fato de estarem preenchidas e a ausência de qualquer
evidência de canais modernos sugere a possibilidade de terem sido formadas por
organismos já extintos. Essas galerias, preenchidas, têm sido registradas em praticamente
todo o Brasil: Sudeste, Centro-Oeste, Nordeste, no estado de Roraima etc.
Os autores postulam que, sob o ponto de vista da pedogênese, esses organismos
atuaram diretamente em dois processos:
(1) facilitando a lixiviação de bases, talvez até a perda de sílica, favorecendo a
formação de gibbsita nos trechos mais elevados do Sudeste do Brasil (foram
encontrados em profusão, como litorrelíquias bauxíticas numa mineração em
Cataguases - MG); e
(2) transformando o horizonte Cr, com estrutura da rocha ainda preservada, em
horizonte C.Além das minhocas e minhocuçus, outros organismos também
deixam as suas marcas. A biopedoturbação promovida pelas formigas e
térmitas merece destaque na paisagem brasileira.
As galerias produzidas pelas formigas têm, pelo aumento da taxa de infiltração,
trazido preocupações ou mesmo impedido a irrigação em sulcos em alguns locais.
A chamada terra de formiga tem uma semelhança de tal ordem com a estrutura
granular dos Latossolos que já houve sugestão de que a estrutura desses solos fosse
de origem biológica122. Outros organismos, além das formigas, produzem esse tipo de
estrutura, sendo até comum, quando se examinam perfis de solos, a presença de
ninhos ou canaletas preenchidos por material granular, às vezes até com o restante do
solo de estrutura maciça ou em blocos.
Os termiteiros podem alterar substancialmente a topografia de certas áreas,
originando, por exemplo, microrrelevos tipo murundus. A maior parte deste capítulo
será dedicada a essas formações.

4.2. Murundus das Áreas de Cerrados e Campos Tropicais


Brasileiros123
O termo murundu, cujo significado é montículo (FERREIRA, 1986), integra o
vocabulário geomorfológico-pedológico no Brasil, cabendo, portanto, ao domínio das
ciências da terra definições mais específicas (FERREIRA, 1980; GUERRA, 1978).
122
Essa sugestão foi trazida à atenção de um dos autores (MR) pelo professor Jackob Bennema. A
destruição desses microagregados só seria feita naqueles casos em que as condições mineralógicas e de
umidade favorecessem a expansão e contração do material do solo. O efeito cumulativo desse processo de
bioestruturação do solo, ao longo dos milênios, explicaria a estrutura dos Latossolos. A presença de
gibbsita, por reduzir a expansão-contração (RESENDE, 1985; RESENDE et al., 1992), tenderia a manter
essa estruturação microgranular mais bem expressa nos Latossolos argilosos mais velhos.
123
Um dos autores (GFC) agradece ao Dr. A. Herbillon, professor da Universidade de Nancy, sob cuja
orientação foi desenvolvido o trabalho que serviu de base para a maior parte das anotações desta seção.

104
OR GA N I S M OS DOS S OL O

O trabalho de CORRÊA (1989) permite definir murundus, que em geral estão


associados a condições de má drenagem, como: formações naturais de configuração
aproximadamente cônica, apresentando dimensões bastante variáveis, em geral da
ordem de 3 a 15 m de diâmetro à base, por uma altura que raramente excede
3 metros, constituindo grupamentos específicos que caracterizam um microrrelevo
peculiar.
A configuração topográfica que essas formações imprimem à paisagem tem
sido mais propriamente denominada de microrrelevos de murundus (CORRÊA, 1989;
EMBRAPA, 1982; PENTEADO-ORELLANA, 1980), mas recebe também a
denominação de campos de murundus (ARAÚJO NETO et al., 1986; FUNCH, 1985;
FURLEY, 1985, 1986), além de termos mais regionais (ABREU, 1981; OLIVEIRA
FILHO & FURLEY, 1990).
Essas formações não ocorrem ao acaso na paisagem, mas associadas a certas
áreas onde reinam as seguintes condições:
1. nitidamente úmidas, provocadas seja por ressurgências sazonais do lençol freático,
(conforme se observa em algumas vertentes de vales do tipo vereda124) ou por
um regime de inundações temporárias, como é o caso de certas depressões
fechadas, formando lagoas intermitentes, e de algumas planícies de inundação
fluvial;
2. sem maiores restrições de drenagem, em áreas relacionadas às formações
terciárias do Grupo Barreiras125 e afins, como nos Platôs Litorâneos e ao longo
do Vale do São Francisco. Há ainda os montículos que ocorrem na região de
Itapetinga - Itambé (BA) e os que existem em algumas áreas elevadas do
Sudeste do Brasil, dentro do domínio morfoclimático que Ab Saber (1970)
denominou de Mares de Morros Florestados .
A ênfase neste texto, será limitada aos murundus associados a condições de
má drenagem.
Ainda não existe um levantamento sistemático da ocorrência dessas microformas
de relevo no território brasileiro (Figura 4.C).

124
Refere-se às cabeceiras de cursos d água, formando vales abertos que caracterizam o início das veredas
típicas das chapadas no interior brasileiro.
125
Quando se formou o Grupo Barreiras, o Brasil já estava separado da África; mas antes da deposição
dos sedimentos que dariam origem ao Barreiras, foram formadas ao longo das costas dos antigos continentes
sul-americano e africano, bacias de deposição cretáceas, hoje em grande parte submersas, e onde está o
petróleo brasileiro. Ou seja, abaixo do Grupo Barreiras. A deposição do Barreiras deu-se antes do Holoceno,
em pleno período das glaciações; o nível do mar estava mais baixo e isso propiciou uma erosão acentuada
do continente.

105
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES

Figura 4.C Inventário de áreas de ocorrência de microrrelevos, tipo murundus, em


solos de drenagem moderada a imperfeita no território brasileiro (CORRÊA, 1989).
Observa-se que estas áreas coincidem, em geral, com a do domínio de vegetação dos
cerrados.

A Figura 4.C, elaborada com base em diferentes trabalhos (ABREU, 1981;


ARAÚJO NETO et al., 1986; EITEN, 1985; EMBRAPA, 1982; FUNCH, 1985;
FURLEY, 1985, 1986; MATHEWS, 1977; PENTEADO-ORELLANA, 1980;
SUGUIO et al., 1976; TRICART, 1957) e em observações dos autores, revela que na
área de domínio da vegetação de cerrado encontra-se a maioria das ocorrências desse
microrrelevo.

4.2.1. Descrição Morfológica


Os murundus podem variar sensivelmente em altura e apresentar maior ou
menor convexidade. Em geral a base é arredondada quando ocorrem em depressões
fechadas (lagoas intermitentes, com declividade quase nula) e em certas planícies de
inundação fluvial. Quando se distribuem em vertentes de vales tipo vereda, eles são
mais freqüentemente elípticos. Neste caso, o eixo maior da base coincide com o
sentido da drenagem superficial, particularmente nos terços superior e médio da
vertente.

106
OR GA N I S M OS DOS S OL O

A cobertura vegetal é, mais ou menos, contínua à superfície dos murundus.


É interrompida muitas vezes pelos traços recentes da atividade faunística (construções
de térmitas, buracos de tatus etc.), principalmente no terço superior dos murundus
que conseqüentemente fica mais exposto à ação direta das chuvas.
Em sua composição e estrutura, a cobertura vegetal sobre os murundus é variada
e difere da vegetação que lhe é circunvizinha. Enquanto esta última pertence em geral
a uma flora higrófila (essencialmente graminácea), sobre eles, ao contrário, este caráter
se atenua126.
Os murundus mais altos são freqüentemente cobertos por uma vegetação cuja
composição se diversifica ainda mais e inclui, geralmente, espécies lenhosas. Essa
diversidade florística está relacionada à melhor condição de drenagem aí existente.
A regularidade da superfície dos murundus é interrompida notadamente pela
existência de termiteiros, aleatoriamente distribuídos, o que pode causar uma certa
dissimetria na sua forma. Buracos de tatus são freqüentes e costumam estar situados
na base desses termiteiros.
Compacta em seu conjunto, a superfície se apresenta revolvida em torno dos
termiteiros e das vias de passagem de tatus. Nesses locais, encontram-se espalhados
numerosos fragmentos provenientes da destruição parcial dos termiteiros,
principalmente pelos tatus.
Nas camadas superiores dos murundus a organização interna apresenta uma
relação estreita com aquela que é observada na superfície. No seu interior encontram-
se estruturas granulares (< 2 mm) associadas a fragmentos que revelam o mesmo
tipo de organização estrutural característico de construções de térmitas. Presentes
em abundância, tais fragmentos, cujo tamanho varia freqüentemente entre 1 e 5 cm,
podem representar aproximadamente a metade da massa total do solo. Ao se aproximar
da meia altura do murundu, a presença dessas estruturas diminui sensivelmente. Já na
sua metade inferior a estrutura toma um aspecto muito homogêneo e de aparência
massiva. No entanto, constata-se, também aí, uma grande porosidade e uma consistência
muito friável. Nódulos argilosos pequenos (< 1 cm), mais ou menos endurecidos, são
aí freqüentemente observados.
Essa morfologia é mais bem expressa nos murundus mais elevados. Variações
são observadas particularmente com relação aos situados mais à montante, nas
vertentes. Nesses locais eles são freqüentemente mais rebaixados e sua morfologia
interna torna-se comparável àquela do Latossolo, que ocupa o alto dos interflúvios
(regiões entre cursos d água adjacentes).

126
Nos murundus associados com solos de boa drenagem da Mata da Jaíba, Norte de Minas, a baixa
permeabilidade superficial deles e sua forma declivosa criam uma acentuada aridez local, indicada pela
maior incidência de cactáceas; e, em alguns casos, pela presença de carbonato de cálcio livre no centro do
murundu, apesar de o solo, como um todo, ser distrófico.

107
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES

Os murundus formam, portanto, perfis de solo excepcionais, seja em razão de


sua estrutura particular (murundu típico), seja por causa do forte contraste que eles
representam em relação aos solos hidromórficos com os quais estão diretamente
associados.
Em conseqüência das condições redutoras (ambiente hidromórfico) reinantes
nas áreas onde eles ocorrem, dos baixos teores de ferro e ausência de hematita, e dos
teores relativamente baixos de matéria orgânica (inferiores a 2%), abaixo dos vinte
primeiros centímetros, a cor dos murundus é geralmente clara: bruno-amarelada
(10YR 5/4-6)127, e mesmo mais pálida (10YR 6/2, por exemplo).
Em geral, sob esses murundus, assim como no solo entre eles, existe um horizonte
plíntico (ou petroplíntico, atual concrecionário ou litoplíntico), pouco espesso e contínuo.

4.2.2. Origem dos Murundus: Hipóteses


Esta microforma de relevo(Figura 4.D), tão variada e complexa, de ampla
distribuição no Brasil, depende, para sua melhor compreensão, de uma abordagem
multidisciplinar.

Figura 4.D Bloco-diagrama que evidencia a condição mais comum de ocorrência


dos murundus (cabeceiras de vale do tipo vereda).

Além de serem poucos os trabalhos que tratam de sua gênese e evolução, há


necessidade de se usarem técnicas como micromorfologia qualitativa e/ou quantitativa.
Outro ângulo do problema em nível de campo, refere-se à necessidade de se ter sítios
bem representativos.

127
Os números 4-6 estão indicando que o croma pode variar de 4 a 6, incluindo os extremos.

108
OR GA N I S M OS DOS S OL O

Duas hipóteses dividem as opiniões sobre a origem dos murundus: geomorfológica


e biológica. Algumas considerações sobre cada uma dessas hipóteses são apresentadas
a seguir.
Hipótese Geomorfológica
Segundo esta hipótese, os murundus seriam relevos residuais que resultam da
ação erosiva diferencial, provocada essencialmente pelas águas de escoamento
superficial (FURLEY, 1985, 1986; PENTEADO-ORELLANA, 1980).
O esquema proposto por Penteado-Orellana (1980), para áreas do Planalto
Central brasileiro, estabelece que os murundus correspondem a um estádio recente
na evolução de certas vertentes de natureza alúvio-coluvial. A atual fase de retomada
erosiva, que se teria iniciado há cerca de 2.500 anos, comandada pelo aprofundamento
da rede de drenagem, teria produzido o microrrelevo de murundus. Este corresponderia
portanto a uma dinâmica regressiva que, a termo, deveria resultar no desaparecimento
desses montículos residuais.
Segundo Furley (1985, 1986), os processos modeladores, que aparecem como
importantes na evolução desses microrrelevos, são devidos à ação das águas de
superfície e de infiltração. Uma parte considerável das depressões entre os murundus
seria constituída por canais cuja escavação estaria associada ao efeito do escoamento
das águas de superfície. Nos campos de murundus mais desenvolvidos, a ação dos
fluxos verticais e das ressurgências laterais solaparia a margem superior, isolando,
assim, novos montículos (Figura 4.E).

DEPRESSÕES COBERTAS
POR GRAMÍNEAS

CAMPO LIMPO E
CAMPOS DE MURUNDUS

Figura 4.E Concepção da gênese dos murundus através da erosão diferencial


(FURLEY, 1985, 1986).

109
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES

Furley (1985, 1986) considera que nesses campos, o nível correspondente ao


topo dos murundus se situaria no prolongamento do alto da vertente, o que, segundo
este autor, indicaria que os montículos são bem o resultado dos efeitos de uma erosão
diferencial, ligada à emergência das águas do lençol freático, e que, em conseqüência,
eles devem ser considerados como relevos residuais.
Embora a associação murundus-termiteiros seja assinalada tanto por Penteado-
Orellana (1980) como por Furley (1985, 1986), nenhum argumento é por eles
apresentado dessa relação no plano genético.
Hipótese Biológica
De acordo com esta hipótese, os murundus seriam construções resultantes da
atividade de térmitas.
Da análise de trabalhos que privilegiam tal hipótese, depreende-se que a
natureza dessas formações, no Brasil, é mais diversificada do que pode revelar um
estudo regionalizado. A vasta distribuição territorial de tais microrrelevos pode
corresponder a condições diversas de meio, o que conduz naturalmente a variações,
mais ou menos importantes, dessas formações. Todavia, apesar dessa diversidade,
os murundus analisados com o apoio dessa teoria podem ser subdivididos em dois
grandes grupos:
a) um primeiro grupo compreende murundus que se identificariam como grandes
termiteiros, fósseis ou ativos, apresentando em seu interior organização estrutural
característica de construções de térmitas. As formações descritas por Abreu
(1981) e Funch (1985), respectivamente, no norte do Estado de Minas Gerais e
no sul do Estado da Bahia, seriam desse tipo, isto é, construídos por uma única
colônia de térmitas. Seriam, portanto, similares aos termiteiros gigantes da África,
descritos por Grasse & Noirot (1957), assim como por Pullan (1979), que os
chamou de termite hills . Na África, essas grandes construções elaboradas
pelos térmitas erguem-se sobre planaltos caracterizados por solos bem drenados,
do tipo Latossolo128, como nos revelam, por exemplo, os trabalhos de Aloni
(1975), Goffinet (1979) e Sys (1955), no Zaire, e de Raunet (1979) no Quênia.
As descrições fornecidas por Abreu (1981) e Funch (1985) sobre seus sítios de
estudo, não indicam se as formações são situadas em meio hidromórfico.
Depreende-se, por exemplo, que os montículos denominados catanduvas,
estudados por Abreu (1981), ocupam uma posição bem drenada de alto de
interflúvio.
128
No Brasil, existem áreas consideráveis, geralmente relacionadas com depósitos terciários, de solos bem
drenados, com grandes murundus, principalmente nas regiões costeiras e em muitas áreas ao longo do Vale
do São Francisco. Esses murundus são, em sua maioria, construídos por espécies já desaparecidas. Ao
contrário dos enfatizados neste trabalho, esses ocorrem em locais de boa drenagem e até em posições de
declive acentuado.

110
OR GA N I S M OS DOS S OL O

Podem-se então , a priori, considerar as formações descritas por Abreu (1981)


e Funch (1985), embora as descrições sejam muito breves, como sendo mais
próximas dos grandes termiteiros da África que dos murundus típicos do Brasil
Central. Todavia cabe assinalar que as grandes construções de térmitas referidas
ao território africano atingem dimensões bem superiores àquelas de similares
observados no Brasil. Por exemplo, Boyer (1971) descreve construções
atribuídas a térmitas da espécie Belli-cositermes bellicosus rex, cuja altura
pode atingir 6 a 7 metros por uma base de 40 a 60 metros de diâmetro,
considerando-se a parte coluvial periférica dessas construções. Sys (1955) relata
a existência de termiteiros com altura de 8 a 11 metros, cujo diâmetro, à base,
é de 14 a 15 metros. Essas mesmas ordens de grandeza de construções de
térmitas, na África, são também citadas por Aloni (1975), Goffinet (1975, 1979),
Grasse & Noirot (1957) e Pullan (1979).
b) os murundus do segundo grupo resultariam de um processo cumulativo a partir
de restos provenientes de uma sucessão de termiteiros, iniciando por um substrato
formado pelo desmantelamento de um primeiro termiteiro. Tal seria o caso dos
termites hillocks descritos por MATHEWS (1977) nas proximidades de
Xavantina, no estado do Mato Grosso. O microrrelevo de buttes basses
(montículos) com termiteiros, descritos por SOYER (1983) no sul do Zaire,
resultaria dessa mesma dinâmica de formação. Tais montículos, gerados por
uma atividade cumulativa dos térmitas, estão sistematicamente associados a
um meio afetado pelo hidromorfismo, contrariamente aos termiteiros gigantes
mencionados anteriormente.
Discussão sobre as hipóteses
Com base em observações e estudos, pode-se dizer que a interpretação da
gênese dos murundus que ocorrem no Brasil Central não é simples. As divergências
de opinião a este respeito corroboram essa afirmativa.
Com relação à hipótese biológica, observa-se que, em geral, a estrutura interna
dos murundus não sugere uma organização tipicamente biológica. Ao contrário, ela se
aproxima, por vários aspectos, da estrutura dos Latossolos que lhes estão
geograficamente associados.
Por sua vez, a hipótese de uma origem geomorfológica (erosão diferencial)
para os murundus, embora pareça mais privilegiada na literatura, é incompatível
com certos aspectos inerentes a esse tipo de microrrelevo e às situações em que ele
ocorre.
Depreende-se que, em face da complexidade do fenômeno murundus, estudos
pontuais têm pouca chance de fornecer elementos suficientes para esboçar uma
teoria global da gênese desse microrrelevo. Por exemplo, nos campos de murundus
sobre vertentes (margens de veredas), se se limitar à porção mais afastada do

111
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES

talvegue, pode-se facilmente aderir à hipótese de uma gênese por erosão diferencial.
Isto porque além desses murundus apresentarem uma grande uniformidade entre
si, sua estrutura interna é simples e comparável àquela do Latossolo vizinho
(CORRÊA, 1989).
Por outro lado, essa hipótese não parece adequada às observações e estudos
sobre esses microrrelevos em depressões fechadas, efetuados na região de São Gotardo
(MG) por Corrêa (1989). Eles aí aparecem claramente como construções, no interior
das quais são visíveis numerosos fragmentos de termiteiros (Figura 4.F).

Figura 4.F Corte de murundu (CORRÊA, 1989), mostrando a estrutura de um


termiteiro ativo, na parte superior (a), e de restos dessas construções de térmitas, em
diversos graus de conservação, em profundidade (b).

Portanto, para conciliar as observações feitas em depressões fechadas, com


aquelas relativas às vertentes de vales tipo vereda, atenção particular deve ser dada à
forma e à disposição dos microrrelevos existentes em posições mais baixas nessas
vertentes. Nesta posição, ao lado de murundus de tamanhos variáveis, mas menores
e em maior número que no alto da vertente, existem numerosos pequenos montículos.
Estes apresentam, em geral, um diâmetro inferior a 1,5 m e uma altura de alguns
decímetros. Essa diversidade no tamanho dos montículos (murundus) é também
ressaltada no estudo realizado por Araújo Neto et al. (1986), no qual foram registradas
alturas variando de 0,05 a 2 m e volumes da ordem de 0,01 a 140 m3, aproximadamente.
Numa dinâmica de erosão diferencial, os murundus deveriam ser mais uniformes
em um mesmo nível da vertente, além de apresentar uma forma mais alongada no
sentido do escoamento superficial. Para ser coerente com tal hipótese, os montículos
deveriam também aumentar de tamanho em direção à parte baixa da vertente, conforme
sugere Pullan (1979). Mas não é este o caso.

112
OR GA N I S M OS DOS S OL O

Outro fato que não se ajusta a uma dinâmica de erosão diferencial é o fenômeno
de coalescência dos murundus existentes nas zonas onde este microrrelevo é mais
irregular. Este ponto será discutido mais adiante.
Nesta mesma ordem de raciocínio, pode-se interrogar sobre a ausência de
montículos nas zonas de ressurgência permanente, que aparecem, às vezes, no interior
de certos campos de murundus ou sistematicamente no segmento de vertente situado
imediatamente abaixo dessas formações, igualmente afetado por ressurgências
permanentes do lençol freático. Tais segmentos, em razão da permanência do fluxo
d água, produzindo um escoamento superficial considerável, deveriam também ser
mais erodidos que o resto da vertente. No entanto, estas zonas estão em continuidade
regular com a superfície entre os murundus adjacentes sem haver qualquer variação
textural diferenciando segmentos da vertente (CORRÊA, 1989).
Enfim, provavelmente o maior argumento contra a hipótese de uma gênese por
erosão diferencial é o fato dessa teoria não permitir explicar a existência de murundus
no interior de depressões fechadas (bem exemplificada na região de São Gotardo -
MG) onde, no entanto, esse microrrelevo tende a ser bem mais desenvolvido do que
sobre as vertentes de vales tipo vereda.
Por outro lado, contrariamente à interpretação de Furley (1985, 1986), a
existência de canais de escoamento de água, de caráter intermitente, que existem
entre murundus, parece ser a conseqüência e não a causa desse microrrelevo, pois as
águas de escoamento superficial tendem naturalmente a se concentrar entre os
montículos. Além disso, o aprofundamento de canais, que pode ser observado em
campos de murundus sobre vertentes, parece ter sua origem essencialmente no pisoteio
de bovinos e não no simples escoamento das águas de superfície. Tal aprofundamento
é, nesse caso, facilitado pela umidade do solo resultante da emergência de água entre
os murundus.
Nos trabalhos que tratam da origem de tais microrrelevos, qualquer que
seja a hipótese considerada, aquela da erosão diferencial ou a hipótese biológica,
dois fatos essenciais, sempre mencionados, vão de encontro às observações aqui
expostas:
a) a ocupação praticamente sistemática dos murundus por termiteiros;
b) a associação estrita desse microrrelevo com certas condições mesológicas
específicas, mais particularmente com aquelas caracterizadas por um
hidromorfismo temporário, condicionando a existência de uma vegetação
herbácea.
Ora, esses fatos não parecem independentes uns dos outros, e podem mesmo
ser relacionados com a morfologia externa dos murundus e com sua organização
interna.

113
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES

Os ambientes caracterizados pelos murundus correspondem, de uma maneira


geral, àqueles onde a atividade de térmitas (cupins) é notoriamente maior que no
restante da área circunvizinha. Por exemplo, sobre vertentes de vales tipo veredas o
número de termiteiros por hectare (Tabela 4.B) é mais elevado no segmento onde o
hidromorfismo temporário (estacional) é mais acentuado (segmento 4 - Figura 4.G). É
também nesse segmento que a irregularidade dos murundus é mais pronunciada e,
justamente aí, que o fenômeno de coalescência é mais freqüente, provocando um
mecanismo de ampliação dos montículos.
Estudos morfológicos e micromorfológicos (CORRÊA, 1989) mostram que a
estrutura interna dos murundus pode ser complexa e encerrar numerosos elementos
macroscópicos provenientes de termiteiros ou, ao contrário, ser relativamente simples,
desprovida desses elementos, e apresentar, nesse caso, uma organização que
corresponda àquela do Latossolo. Os estados de organização interna revelam relação
estreita com o número de termiteiros recobrindo os murundus. Por exemplo, na região
de São Gotardo (MG), onde se observam murundus com estrutura interna rica em
restos de construções de térmitas, o número médio de termiteiros sobre os murundus
é próximo de seis. Ao contrário, a média se situa em torno de um nos murundus que
ocorrem em posição mais alta, nas vertentes de veredas; no interior deles já se observa
uma organização homogênea, correspondendo a uma estrutura granular fina, similar
àquela dos Latossolos em geral.
As relações entre esses fatos e os caracteres morfológicos dos murundus
apontam mais para um modo de formação ligado a uma ação biológica. No entanto
a busca de provas suplementares para suportar esta hipótese revela-se difícil em
áreas de solos profundamente intemperizados e lixiviados, bem exemplificados nos
chapadões do Brasil Central. Nesse caso, o aporte de material pelas térmitas, a
partir de horizontes mais profundos mas também muito intemperizados e lixiviados,
não traduz qualquer modificação na composição à superfície nem enriquecimento
em bases nem variações na textura ou na mineralogia, que poderia servir como
elemento indicador para apoiar a hipótese de uma origem termítica dos murundus.
Entretanto, uma amostragem sumária de térmitas em dois campos de murundus
(CORRÊA, 1989) reivindica a tese de uma origem biológica. Onze gêneros de
térmitas foram identificados (Tabela 4.C). Essa diversidade se manifesta pela
construção de termiteiros diversos e de resistência variável, o que determina a maior
ou menor permanência de seus restos nos murundus.

114
OR GA N I S M OS DOS S OL O

Tabela 4.B Variações registradas em um campo de murundus tomado como


referência para a situação de vertente em vale tipo vereda (CORRÊA, 1989).
Variáveis Segmentos do Transecto(*)
1 2 3 4
Características do campo de murundus
Extensão (m) 556 184 87 230
Declividade (%) 0,5 1,0 2,4 4,6
Murundus/ha 47 56 - 70
Murundus incipientes/ha - 50 - 140
Dimensões dos murundus
No sentido da 13,5 13,7 - 8,5
declividade (m) (cv=21%, n=12) (cv=34%, n=10) (cv=30%, n=13)
No sentido contrário à 12,0 11,7 - 9,7
declividade (m) (cv=16%, n=12) (cv=28%, n=10) (cv=34%, n=13)
Altura média dos 0,80 1,0 - 0,80
murundus (m)
Número de termiteiros
Sobre murundus 1,2 3,7 - 4,8
desenvolvidos (cv=84%, n=23) (cv=44%, n=15) (cv=49%, n=10)
Sobre murundus - 1 - 1
incipientes
Total/ha 56 257 - 476
(*)
Nos segmentos 1, 2 e 4 ocorrem ressurgências estacionais do lençol freático; no segmento
3 este fenômeno é de caráter permanente (veja Figura 4.G).

Figura 4.G Posicionamento do lençol freático no início da estação seca e dos 4


segmentos apresentados na Tabela 4.B, concernente a um campo de murundus sobre
uma vertente de vale tipo vereda (CORRÊA, 1989).

115
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES

Tabela 4.C Térmitas encontradas em campos de murundus em dois setores de


referência (CORRÊA, 1989).
Térmitas Setor de Localização do Observações Relativas à
Identificadas(*) Referência Termiteiro Toposseqüência
Procornitermes araujoi São Gotardo(MG) Sobre murundu -
Cornitermes cumulans " " -
Paracornitermes emersoni
+ Embritermes e " " -
Diversitermes
Armitermes sp. " " -
Orthognathotermes " Entre murundus Terreno plano entre murun-
dus
Spinitermes trispinosus " " -
Paracornitermes emersoni " " -
Procornitermes araujoi Uberaba (MG) Alto da Zona bem drenada do
toposseqüência interflúvio (sem
murundus)
Cornitermes bequaerti " Sobre murundu 1º segmento
Nasutitermes sp. " " "
Diversitermes sp. " " "
Syntermes dirus " " 2º segmento
Heterotermes sp. " " "
Armitermes sp. " " "
Nasutitermes sp. " Montículos Extremidade jusante do 2º
incipientes segmento
Armitermes sp. " Fixado a um tufo Parte inferior da vertente
de gramínea
Procornitermes araujoi " Sobre murundu "
(*)
Segundo E. Marques Concello, do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo.

4.2.3. Ciclo Evolutivo: Gênese e Senescência


Variações observadas na atividade de térmitas sobre murundus e na estrutura
interna destes (CORRÊA, 1989), bem como suas relações com fatores como o
hidromorfismo temporário, permitem propor um esquema evolutivo, baseado no modelo
biológico, concernente à gênese dessas formações (Figura 4.H). Seguindo os passos
indicados nessa figura tem-se:

116
OR GA N I S M OS DOS S OL O

Figura 4.H Ciclo evolutivo de murundus do Brasil Central: gênese e senescência


(CORRÊA, 1989).

Gênese
1. Inicialmente, algumas espécies de térmitas, capazes de se instalar sobre terrenos
submetidos a um forte hidromorfismo temporário, constroem termiteiros fixados
em tufos de gramíneas.
2. Após o abandono e desmantelamento desses termiteiros pioneiros, persiste um
substrato. Este vai servir de base a um novo termiteiro que, por sua vez, também
sucumbirá à ação de predadores e, assim, seus materiais constitutivos passam
a contribuir para o alargamento do substrato inicial. Posteriormente outras
gerações de térmitas repetem o ciclo.
3. Essa dinâmica é responsável pela origem dos montículos ainda incipientes.
Espécies de térmitas pertencentes aos gêneros Nasutitermes e Armitermes,
cujos termiteiros foram observados, respectivamente, sobre esses montículos
iniciais ou fixados a tufos de gramíneas (CORRÊA, 1989), estão provavelmente
relacionados com a origem desses montículos ainda relativamente simples.
4. A partir da formação desses montículos, outras espécies de térmitas encontram
aí condições de se instalar, participando conseqüentemente da ampliação do
murundu. Os termiteiros sobre esses montículos são de aspecto variado, o que
revela uma certa pluralidade de espécies construtoras. A atividade biológica, no
seu conjunto faunístico e vegetal, diversifica-se gradativamente sobre esses
locais elevados, que constituem refúgios ecológicos em um meio hostil, ao menos
temporariamente, em razão da periodicidade das inundações.

117
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES

5. A edificação dos murundus traduz, portanto, um processo cumulativo. Contudo,


dentro dessa dinâmica, duas vias, pelo menos, podem ser consideradas na
evolução dessas formas:
a) pelo desenvolvimento a partir de um único montículo inicial. Esse tipo de
evolução é característico de campos de murundus situados em terrenos
sujeitos a inundações temporárias (lagoas intermitentes e algumas planícies
fluviais).
b) por um processo de coalescência, tendo por origem uma associação de
montículos. Esse tipo de evolução é freqüentemente observado nos campos
de murundus situados em áreas de ressurgência temporária (intermitente)
do lençol freático (vertentes de veredas). Nesses locais eles se apresentam
em diversos estádios de desenvolvimento; são em geral numerosos e, em
conseqüência, próximos uns dos outros, o que torna comum, entre eles, o
fenômeno de coalescência. Por esta razão é freqüente, nessas áreas, a
ocorrência de murundus de conformação atípica, em geral alongada. Essas
junções são devidas ao desenvolvimento de uma nova geração de montículos
entre os mais velhos. Nas depressões fechadas (lagoas temporárias), os
murundus são mais espaçados e o fenômeno de coalescência torna-se raro.
Nesses locais, eles são também muito mais uniformes.
No processo de formação desse microrrelevo, em que a atividade das térmitas
é o fator determinante, é preciso também ter em conta a contribuição indireta dos
predadores desses organismos, em particular os tatus e os tamanduás. Estes animais,
ao destruírem parcialmente os termiteiros, obrigam as térmitas a efetuar um trabalho
suplementar de reconstrução, intensificando sua atividade de aporte de material de
solo sobre os murundus.
Senescência
A erosão progressiva dos murundus, até seu arrasamento completo, ocorre
quando a atividade das térmitas, isto é, o aporte de material de solo que elas promovem
sobre essas formações não é mais suficiente para compensar a taxa de erosão.
Essa fase pode ser observada na porção superior dos campos de murundus sobre
vertentes. São esses murundus que apresentam um perfil já comparável ao do
Latossolo que domina os interflúvios, sob vegetação de cerrado. Em geral, já não se
encontram, no seu interior, estruturas residuais, facilmente identificáveis, provenientes
de termiteiros.
Em resumo, a observação de certos campos de murundus pode fazer pensar
que eles têm uma origem puramente geomorfológica. No entanto um estudo
comparativo, sobre sítios apropriados, mostra que esta hipótese não permite explicar
todas as situações encontradas.

118
OR GA N I S M OS DOS S OL O

De fato, o microrrelevo de murundus, inerente à paisagem do Brasil Central, é


devido a uma atividade biológica marcante, essencialmente termítica, resultante de
um processo cumulativo que tem sua origem numa sucessão de ciclos de construção
e de destruição de termiteiros, que se traduzem em aporte bruto considerável de
material terroso à superfície do solo.
Esse remonte de material de solo pelas térmitas pode, no entanto, não resultar
em qualquer modificação mineralógica, química ou textural no material dos murundus,
em razão do grau avançado de intemperismo-lixiviação do solo associado. Além disso,
ocorre que a ação das térmitas em profundidade é limitada pelo nível mais alto do
lençol freático, que, particularmente sobre as vertentes de vales tipo vereda, se situa
próximo à superfície.
São as condições de hidromorfismo temporário que determinam a localização
dos murundus observados no Brasil Central. Por conseqüência, os sítios onde ocorrem
correspondem: ou a depressões fechadas, sujeitas a inundações temporárias em razão
da elevação do lençol freático (o mesmo ocorrendo em certas planícies de inundação);
ou a vertentes de veredas onde se produzem ressurgências sazonais ao nível de
emergência do lençol freático, no interior dos chapadões.
A senescência dos murundus, resultante de uma sensível modificação das
condições bióticas, traduz-se por um arrasamento destes. O processo resulta de uma
abrasão desses montículos que não é mais compensada pelo remonte de material
pelas térmitas. Essa dinâmica está ligada essencialmente à evolução geral da paisagem,
governada pelo aprofundamento da drenagem, que tem por efeito o desaparecimento,
nesses sítios ou em parte deles, da emergência do lençol freático.

4.3. Bibliografia
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122
GÊNESE – ASPECTOS GERAIS

5
GÊNESE – ASPECTOS GERAIS

A gênese de cada propriedade foi abordada no Capítulo 2. Aqui a idéia é dar


uma visão global, sem se ater a uma propriedade específica.
Sabe-se que os solos variam de um lugar para outro e que são muitas as suas
características. Deste modo, é difícil para nossa mente manejá-las todas. É necessário,
então, que se recorra à classificação dos solos129 para que se possa entender melhor
as semelhanças e relações entre eles. Mutatis mutandis, isso acontece com outras
ciências, por exemplo, Botânica, Zoologia etc.
Os conhecimentos de gênese favorecem muito a compreensão do solo na
paisagem, suas propriedades e classificação.
As propriedades que foram discutidas (constituição, cor, textura, estrutura
etc.) são função dos fatores de formação do solo, nos quais o relevo, que aparece
na maioria das publicações, não é aqui incluído pelo simples argumento de que sendo
o solo um corpo tridimensional, ele tem uma forma externa que vem a ser a sua
topografia. Em outras palavras, o relevo faz parte do solo e, sendo assim, não tem
sentido incluí-lo entre os fatores de sua formação.
Solo = f (clima, organismos, material de origem e tempo)
Clima e organismos atuam sobre o material de origem (rocha) e, com o correr
do tempo, transformam esse substrato inicial em solo (Figura 5.A). Estudando a
Figura 5.A, pode-se observar:
1. os fatores ativos (clima e organismos) atuam de cima para baixo, isto é, os
solos são mais intemperizados (velhos)130 à superfície do que em camadas
mais profundas. Há também formação de camadas mais ou menos paralelas à
superfície. São os horizontes e/ou camadas propriamente ditas;
2. os processos de pedogênese estão ligados, é lógico, ao tempo, ambos controlados
pelo relevo (posição na paisagem).
129
A classificação, por grupar elementos afins (no caso solos), permite a identificação de relações mais
consistentes entre as variáveis, por manter dentro de uma faixa relativamente estreita a amplitude de
variação de muitos atributos. Pode-se dizer muito mais sobre os Latossolos, que variam em cor, teor de
argila e estrutura, do que se poderia dizer sobre todos os solos. Em outras palavras, a classificação ajuda
a limitar a aplicabilidade das relações.
130
Solos velhos, embora o uso dessa expressão com sentido de solo maturo ou muito intemperizado possa
ser criticado, é comum falar-se em solos jovens e solos velhos. A idade do solo, contada em número de
anos, é, em geral, menos importante do que o grau de maturidade: se o solo tem muitos ou poucos minerais
primários facilmente intemperizáveis. Os termos jovens, ou novos, e velhos são mais simples e usuais e,
dificilmente deixarão de ser usados no sentido de, respectivamente, imaturos e maturos.

123
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES

Figura 5.A Fatores de formação do solo e pedogênese.

5.1. Processos
Na formação dos solos ocorrem reações físicas, químicas e biológicas que
determinam os diferentes horizontes com suas características peculiares.
Há uma tendência de se expressar o desenvolvimento do solo em termos de
quatro processos primordiais (Tabela 5.A).

Tabela 5.A Tipos de processos primordiais de formação do solo e exemplos.


Processo Exemplos
Transformação Ruptura da rede cristalina dos minerais primários
Gênese dos minerais de argila
Decomposição da matéria orgânica
Remoção Lixiviação de elementos para o lençol freático
Erosão
Translocação Eluviação de matéria orgânica, argila silicatada e óxidos do horizonte
A para o B
Movimentação de material dentro do perfil em outras direções
Adição Incorporação de matéria orgânica ao solo
Sedimentação ligeira
Fonte: Simonson (1959).

A atuação diferenciada desses processos primordiais, inter-relacionada com as


condições bioclimáticas, com o material de origem e com a posição na paisagem, ao
longo do tempo resulta em feições pedológicas peculiares (expressas nos horizontes
do solo). Essas feições são reconhecidas como diferenciais de processos pedogenéticos
gerais (neste texto, designadas classes de processos pedogenéticos). Assim, tem sido
generalizado o uso de expressões que indicam a dominância de alguns processos

124
GÊNESE ASPECTOS GER AIS

associados com certa condição de clima e organismos, isto é, bioclimática, ou a uma


condição local de topografia e excesso de água ou de sais (Tabela 5.B).

Tabela 5.B Condições bioclimáticas e locais associadas às classes de processos de


formação do solo (tendências).
Condição Bioclimática Condição Local
Frio e Frio e Excesso de Excesso de Água e
seco úmido Água de Sais

Pradaria Floresta
(gramínea)
Podzolização
Podzolização
Calcificação e Hidromorfismo Halomorfismo
Latolização
Latolização
Quente Quente
e e
seco úmido

Examinando o esquema da Tabela 5.B, pode-se observar e inferir que os solos:


1. que sofreram calcificação devem ser mais ricos em nutrientes que os outros,
pois a precipitação não é suficiente para lixiviar os nutrientes nem para manter
uma floresta;
2. brasileiros estão, em grande parte, no centro inferior direito (região quente e
úmida), devendo ser, portanto, bastante lixiviados e, conseqüentemente,
empobrecidos em nutrientes;
3. que têm sua gênese ligada a uma condição local de excesso de água, estão nas
partes mais baixas da paisagem e têm, como material de origem, em grande
parte, aquele trazido pela água, por erosão e escorrimento subsuperficial das
elevações da região;
4. que têm sua gênese ligada ao excesso de água e de sais devem estar em regiões
onde há riqueza de sais, por deficiência de precipitação ou por enriquecimento
pela água do mar (nas regiões costeiras). São associados a depressões onde há
excesso de água, pelo menos periodicamente, e maior concentração de sais.
5.1.1. Podzolização
Essa classe de processos pedogenéticos consiste essencialmente na
translocação de material dos horizontes superiores (A ou E), acumulando-se no

125
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES

horizonte B. Pode ocorrer tanto em condições hidromórficas, quanto em condições de


drenagem livre.
Se o material translocado é matéria orgânica e óxidos de Fe e de Al, de baixa
cristalinidade - o que geralmente acontece quando o material de origem é pobre em
argila (por exemplo, quartzito ou arenito pobre ou sedimentos quartzosos) - e a drenagem
é deficiente, tem-se um solo com B podzol (ou B espódico)131.
A área bioclimática típica desses solos está nas regiões frias do globo, com
vegetação de coníferas mas algumas condições locais como, por exemplo, ao longo
das áreas de restinga, trechos de Platôs Litorâneos, no chamado Leque do Taquari
(Pantanal) e num trecho muito expressivo da bacia do Rio Negro na Amazônia (AM
e RR), podem dar origem a tais solos, mesmo em regiões mais quentes.
Se o material translocado é argila silicatada (solos de constituição não tão
arenosa), que vai se acumular no horizonte B (com freqüência recobrindo a superfície
dos agregados na forma de cerosidade), resultando em gradiente textural expressivo
em profundidade no perfil, tem-se um solo com B textural (Bt).
Pelo que foi dito, pode-se inferir que:
1. os solos que sofreram o processo de podzolização têm os horizontes bem
diferenciados, em razão da translocação de material da superfície para o
horizonte B;
2. os solos com B podzol (B espódico) são bastante pobres e ácidos132, visto
que a vegetação, quando se decompõe, imprime grande acidez ao solo e o
material de origem é muito pobre;
3. os solos com B textural são mais férteis do que os com B podzol (B espódico),
apresentando mais argila no horizonte B do que no horizonte A133;
4. quando os solos com horizontes B podzol (B espódico) e B textural (Bt)
encontram-se em relevo movimentado, tendem a ser facilmente erodíveis, por
causa do material arenoso e menos estruturado que apresentam nos horizontes
superficiais A ou E. No caso dos solos com B textural, principalmente, a diferença

131
Os solos Aluviais (Neossolos Flúvicos) também podem apresentar (como os Podzóis, atuais
Espodossolos), camadas subsuperficiais ricas em matéria orgânica; mas nesse caso ela não é translocada.
Os solos Aluviais (Neossolos Flúvicos) são formados de sedimentos depositados pelo rio (depósitos
aluviais ou aluviões). A cada ano, ou no intervalo de alguns anos, novas camadas cobrem as anteriores, às
vezes enterrando algumas plantas pioneiras, quando o intervalo entre deposições permite. A distribuição
de matéria orgânica, em profundidade, nesses solos é irregular, registrando esses eventos.
132
A presença de conchas calcárias, mergulhadas em alguns locais na areia das restingas, pode originar
Podzóis (Espodossolos) até eutróficos (GOMES et al., 1998). Arenitos arcozianos, em São Paulo,
também têm originado Podzóis (Espodossolos) eutróficos (MONIZ et al., 1995).
133
O fato de se identificar o horizonte B textural, pela sua relação com o horizonte A, ilustra a importância
do contexto - um princípio chave para o entendimento e interpretações pedológicas.

126
GÊNESE ASPECTOS GER AIS

de textura entre os horizontes A e B 134 dificulta a infiltração de água


imediatamente abaixo do A (ou E), o que favorece o processo de erosão.
5.1.2. Latolização
Essa classe de processos consiste basicamente na remoção acentuada de
sílica e de bases do perfil, após transformação (intemperismo) dos minerais constituintes.
Praticamente, não há translocação de material para o horizonte B, como no caso da
podzolização.
Os solos formados por essa classe de processos pedogenéticos são aqueles
com horizonte B latossólico. São os mais desenvolvidos (velhos) da crosta terrestre,
ocupando, portanto, as partes há muito tempo expostas da paisagem. Em geral, ocupam
as superfícies mais elevadas (planaltos) em relação à paisagem circundante.
Portanto, depreende-se que:
1. os Latossolos são solos profundos, com pouca diferenciação entre horizontes,
bastante intemperizados; como conseqüência, apresentam argilas de baixíssima
atividade, pouca retenção de bases e virtual ausência de minerais primários
facilmente intemperizáveis;
2. como a sílica e outros elementos vão sendo lixiviados, há um enriquecimento
relativo em óxidos de Fe e de Al. Estes, por serem agentes agregantes,
principalmente a gibbsita, dificultam o ajuste face a face da caulinita (veja
estrutura), promovem, nos estádios mais avançados de evolução, a formação
de estrutura granular muito pequena, dando à massa do solo aspecto maciço
poroso (esponjoso), aumentando a macroporosidade, com reflexo na resistência
à erosão (veja item 2.2.4.), a maciez (quando seco) e alta friabilidade (quando
úmido), facilitando o trabalho no solo, mesmo depois das chuvas.
5.1.3. Calcificação
Essa classe de processos consiste na translocação (redistribuição) de CaCO3
no perfil, o que provoca sua maior concentração em alguma parte do solo.
A área bioclimática típica desse processo corresponde às regiões onde a
precipitação não é suficiente para remover do solo todos os carbonatos; a vegetação
é de pradaria, havendo um grande acúmulo de matéria orgânica. Há formação de
horizonte A espesso, rico em matéria orgânica e com alta saturação por bases. Este é
o horizonte A chernozêmico (veja item 5.2.), que, embora apresente forte relação
com solos calcimórficos, não é exclusivo deles.
134
A exceção correspondia a alguns solos essencialmente argilosos com horizonte Bt e baixo gradiente
textural, quais sejam: Terra Roxa Estruturada, Terra Bruna Estruturada, Rubrozém e parte dos Podzólicos
Vermelho-Escuros, que atualmente correspondem aos solos com horizonte B nítico, distribuídos nas
ordens dos Nitossolos e Luvissolos.

127
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES

Solos que sofreram o processo de calcificação podem também ocorrer sob


florestas em regiões não muito secas. Nesses casos não há tendência tão pronunciada
de formação de um horizonte A chernozêmico.
Depreende-se, então que:
1. os solos que sofreram calcificação são solos férteis, pois contêm ainda muitos
minerais primários facilmente intemperizáveis e muitos nutrientes ainda não
lixiviados;
2. a deficiência de água e, principalmente, a má distribuição de chuvas constituem
as limitações principais desses solos;
3. no território brasileiro135, tais solos tendem a ocorrer nas regiões menos úmidas
do Polígono das Secas. No entanto, mesmo aí, essa classe de processos não é
muito expressiva geograficamente.
5.1.4. Hidromorfismo
O excesso de água imprime ao solo certas características peculiares.
O arejamento deficiente condiciona uma decomposição lenta da matéria orgânica,
provocando seu acúmulo e um ambiente de redução (baixo potencial de oxirredução),
que transforma Fe e Mn em formas reduzidas (solúveis), facilitando sua migração ou
a toxidez para as plantas.
A ausência de Fe (III) (Fe oxidado), com ou sem ou a presença de Fe (II) (Fe
reduzido), faz com que o solo tenha o aspecto acinzentado, esverdeado ou azulado
(gleizado)136, abaixo da camada rica em matéria orgânica. A coloração esverdeada ou
azulada quase sempre implica na presença de Fe (II).
Assim, pode-se inferir:
1. os solos hidromórficos estão nas depressões, isto é, nas partes mais baixas do
terreno;
2. quando são drenados, natural ou artificialmente, podem apresentar deficiência
de Fe e Mn, que são levados para fora do alcance das raízes. O Mn é reduzido
mais rapidamente do que o Fe, porém é reoxidado mais lentamente.O cobalto
comporta-se de maneira semelhante ao Fe e ao Mn, mas sua deficiência se
reflete nos animais137.

135
Os solos carbonáticos, no Brasil, não são muito comuns. Oliveira et al. (1992) registram o horizonte
cálcico em Brunizéns (Chernossolos), Vertissolos, Planossolos e Litólicos (Neossolos Litólicos) do Rio
Grande do Sul e Mato Grosso do Sul. No Norte de Minas, região de Jaíba, perto de Janaúba, foram
registrados alguns Cambissolos carbonáticos (UFV, 1969).
136
Cores gleizadas - cores cinzentas vêm de um nome local russo - gley - massa de solo orgânico; as
camadas gleizadas situam-se abaixo do material orgânico; é conotativo de excesso de água.
137
Cobalto, necessário às leguminosas para fixação de nitrogênio; um composto específico contendo
cobalto, a vitamina B12, é essencial para os animais.

128
GÊNESE ASPECTOS GER AIS

5.1.5. Halomorfismo
O excesso de sais também imprime ao solo certas características peculiares.
Os solos halomórficos estão em depressões onde possa ocorrer excesso de
sais e de água, temporariamente. Os sais são trazidos das elevações circunvizinhas
pela enxurrada ou pelo lençol freático. Muitas vezes o local é rico em sais por causa
de depósitos marinhos.
Nessas depressões, com excesso de água (pelo menos temporário) e de sais,
são formados os solos salinos (Solonchaks, atuais Gleissolos Sálicos).
Se o excesso de sais é removido, ficando muitos íons sódio (Na+) adsorvidos
nas argilas, tem-se um solo alcalino, Solonetz; se o Na+ é removido e substituído pelo
H+, tem-se o Solodi. Quando a remoção do Na ocorre mais completamente no horizonte
A do que no B, há, nessa fase intermediária, formação do Solonetz-Solodizado
(Planossolo Nátrico).
Com base no que foi visto, depreende-se que:
1. há melhoria de drenagem (maior lixiviação ) no sentido:
Solos Salinos Solonetz Solonetz-Solodizado Solodi
2. sais e H+ são floculantes (tendem a promover agregação)138; portanto, os solos
salinos e o Solodi têm macroporosidade maior que o Solonetz;
3. há maior eluviação (translocação) de argila do horizonte A para o horizonte B
no Solonetz, em razão do Na+ que é dispersante;
4. o pH será máximo no Solonetz, por causa do Na e mínimo no Solodi, em razão
do H+. O pH dos solos salinos é alto, mas intermediário entre os outros dois
(Solonetz e Solodi);
5. Os Solonetz-Solodizados (Planossolos Nátricos) apresentam valores de pH
relativamente baixos no horizonte A e altos no B.

5.2. Horizontes Diagnósticos


Para classificar os objetos, há necessidade de critérios. Esses critérios vão
evoluindo à medida que os conhecimentos sobre os objetos vão aumentando.
Na década de 50, os conhecimentos sobre os solos do Brasil eram bastante
incipientes. Hoje, em razão principalmente dos trabalhos orientados e conduzidos
pelos órgãos do Ministério da Agricultura, responsáveis pelos levantamentos de solos
no Brasil, que deram origem ao Serviço Nacional de Levantamento e Conservação de
138
A estruturação, formando grânulos, é mais do que simples floculação: os Latossolos Amarelos coesos
- os menos estruturados dos Latossolos - têm floculação indistinguível, por exemplo, da de um Latossolo
Roxo (Latossolo Vermelho férrico) gibbsítico do Planalto Central; a presença, neste caso, de gibbsita, que
dificulta o arranjo face a face da caulinita é fundamental. A consistência do solo, quando seco, reflete esse
arranjo.

129
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES

Solos (atual CNPS), da EMPRAPA, os dados sobre os nossos solos já aumentaram


consideravelmente e, com eles, os critérios para sua classificação.
De forma semelhante a outros esquemas de classificação natural, também a
taxonomia de solos baseia-se em grande medida, nas relações de parentesco entre
indivíduos para distinção de classes, nos diferentes níveis hierárquicos. No caso da
classificação de solos, essas relações genéticas, em nível de maior significância, são
estabelecidas pela conceituação de horizontes diagnósticos, cujas características
distintivas refletem a atuação preponderante de um ou mais processos pedogenéticos.
A par de outros atributos diagnósticos para a classificação dos solos brasileiros, os
horizontes diagnósticos são extremamente importantes, não só sob o ponto de vista de
sistematização dos nossos conhecimentos, mas também de fundamental interesse
prático.
Na Tabela 5.C encontra-se o resumo desses horizontes como delineados na
classificação de solos usada nos levantamentos pedológicos do País até antes da
existência do novo sistema, que impôs algumas mudanças.

Tabela 5.C Alguns horizontes diagnósticos (EMBRAPA, 1988), suas características,


solos onde ocorrem e processos (nomes apenas no sistema antigo).
Horizonte Características Solos e Processos
A Chernozêmico Horizonte espesso, escuro, rico Presente em muitos solos,
em matéria orgânica; alta principalmente os originados de
saturação por bases, macio rochas ricas em nutrientes, em
quando seco. regiões não muito secas.
A Húmico Idem, mas com baixa saturação Presente em muitos Latossolos de
(fortemente por bases e reação ácida. altas chapadas ou no sopé das
desenvolvido) Atinge, às vezes, mais de 1,5 m elevações; é comum em solos
de espessura. hidromórficos pobres em nutrientes.
B Podzol Rico em matéria orgânica e/ou Presente só nos Podzóis; originado
óxidos de Fe e de Al, de baixa pela translocação de matéria
cristalinidade, pobre em argilas. orgânica e, muitas vezes, de óxidos
Pode ser endurecido. É ácido. do horizonte A (ou E) para o B
(processo de podzolização).
B Textural Expressivo aumento de argila Presente nos Podzólicos, Terras
em relação ao(s) horizonte(s) A Roxas Estruturadas, Planossolos,
ou E (gradiente textural) e/ou Brunos Não Cálcicos, Brunizéns
estrutura em blocos envolvidos Avermelhados, entre outros;
por películas de argila silicatada originado, tipicamente, pela
(cerosidade); em geral ainda translocação de argila do horizonte
possui algum mineral primário A para o horizonte B.
facilmente intemperizável.
Continua...

130
GÊNESE ASPECTOS GER AIS

Tabela 5.C Continuação...

Horizonte Características Solos e Processos


B Latossólico Estrutura granular com aspecto Presente nos Latossolos; originado
de maciça porosa (esponjosa), pela remoção de sílica e de bases, e
profundo, muito intemperizado retenção de óxidos.
e praticamente sem mineral
primário facilmente in-
temperizável; argilas 1:1 e
oxídicas é que formam a fração
mineral fina deste horizonte.
B Nátrico Estrutura colunar, pouquíssimo Presente no Solonetz e Solonetz-
poroso, raso, de coloração acin- Solodizado; originado pela remoção
zentada; muito Na trocável, pH do excesso de sais de um solo
extremamente alto. salino, deixando muito Na+ trocá-
vel, que dispersa a argila.
B Incipiente Estrutura variável (blocos, Presente nos Cambissolos, alguns
prismas ou maciça porosa), desenvolvidos em depósitos alu-
geralmente pouco espesso, viais mais antigos; ainda não houve
muito mineral primário atuação marcante de nenhum
facilmente intemperizável e/ou processo pedogenético, mas houve
muito silte e/ou argila mais liberação de Fe e de Al dos
ativa. minerais, com desenvolvimento de
cor e formação de estrutura.
Plíntico Mosqueados ou plintitas (mais Presente nos Plintossolos (nos
de 15%), em camada de 15 cm trabalhos mais antigos
ou mais de espessura, que se denominados Laterita
endurecem quando expostos a Hidromórfica); é muito comum na
ciclos de umedecimento e Amazônia, ocupa grandes extensões
secagem. do Maranhão, no Vale do Mearim
(solo eutrófico); ocorre também no
Pantanal, no Planalto Central e, até
mesmo, em menor proporção, sob
caatinga.

5.3. Seqüências Gerais


Apesar de freqüentemente os fenômenos ambientais serem vistos como
discretos, isolados uns dos outros, prevalecem quase sempre variações em seqüências
gradativas. Por exemplo, num mapa climático, a linha representada não existe na
realidade, isto é, não existe mudança assim tão brusca, o que não invalida a utilidade
da separação.

131
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES

Neste item serão apresentadas algumas seqüências com dois propósitos:


1. resumir e recordar seqüências implícitas em questões abordadas anteriormente;
2. aprimorar idéias já esboçadas, complementando-as com outras informações.
5.3.1. Seqüência Cronológica
A seqüência básica de solos é a seqüência de idade (cronosseqüência). Por
exemplo, na Figura 5.B, os solos são mais novos (menos intemperizados) em a, e mais
velhos (mais intemperizados) em d.

Solos Litólicos Cambissolos Solos com Latossolos


(Neossolos Litólicos) B textural
a b c d

Figura 5.B Bloco-diagrama ilustrando a influência do relevo na idade dos solos


(taxa pedogênese/erosão). As setas indicam o aumento da erosão e da pedogênese.

Os Solos Litólicos (Neossolos Litólicos), Solos Aluviais (Neossolos Flúvicos)


e os solos com B incipiente são muito influenciados pelo material de origem e
freqüentemente fogem às tendências apresentadas na Figura 5.C.
Se a atividade bioclimática (ação dos organismos e do clima) for menos
intensa, desde que a topografia seja a mesma, o solo será mais novo em cada uma
das posições (a, b, c, d) conforme a Tabela 5.D. Nela são exemplificadas as
tendências de ocorrência dos solos nos vários segmentos de paisagem, conforme
a intensidade maior ou menor (em relação ao bioclima de referência) dos agentes
bioclimáticos.

132
GÊNESE ASPECTOS GER AIS

SOLOS LITÓLICOS SOLOS COM SOLOS COM SOLOS COM


E ALUVIAIS B INCIPIENTE B TEXTURAL B LATOSSÓLICO

MICA CAULINITA GIBBSITA

ENVELHECIMENTO DO SOLO

-INTEMPERIZAÇÃO
-PROFUNDIDADE
-POROSIDADE
AUMENTO EM -RESISTÊNCIA À EROSÃO LAMINAR
-FIXAÇÃO DE P
-LIXIVIAÇÃO

-FERTILIDADE NATURAL
-ATIVIDADE DA FRAÇÃO ARGILA (CAPACIDADE DE TROCA
CATIÔNICA)
DIMINUIÇÃO EM -MINERAIS PRIMÁRIOS FACILMENTE
INTEMPERIZÁVEIS
-TEOR DE SILTE
-RESISTÊNCIA À EROSÃO EM SULCOS

Figura 5.C Algumas tendências nas relações entre idade do solo e suas características
(nomes dos solos apenas no sistema antigo).

Tabela 5.D Influência da variação da atividade bioclimática na idade relativa do


solo em conformidade com a Figura 5.B.
Bioclima Segmentos da Paisagem
a b c d
De referência Solos Litólicos Cambissolos Solos com Latossolos
(Neossolos B textural
Litólicos)
Menos ativo Afloramento de Solos Litólicos Cambissolos Solos com
rochas (Neossolos B textural
Litólicos)
Mais ativo Cambissolos Solos com Latossolo Latossolo
B textural caulinítico e/ou oxídico e/ou
menos profundo mais profundo

133
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES

No Nordeste brasileiro, por exemplo, onde a condição bioclimática é menos


ativa, pode inexistir o Latossolo139, mesmo que, topograficamente, a paisagem seja
bem suave, favorecendo, neste aspecto, um envelhecimento maior do solo. O grau de
intemperismo ali não é pronunciado em razão da baixa intensidade dos fatores
bioclimáticos, em comparação com o intenso processo erosivo140.
Da mesma forma que a intensidade da atividade bioclimática, os outros fatores
de formação como material de origem e tempo, podem também modificar a idade
relativa ou o grau de intemperismo de um solo. Distinguem-se três parâmetros relativos
à rocha de origem que interessam de perto à intemperização. São eles:
a) composição química ou mineralógica;
b) estrutura ou fábrica;
c) granulometria.
As rochas ricas em minerais máficos (com altos teores de Fe e Mg, e
acessoriamente elementos-traço, tais como olivinas141, anfibólios142, piroxênios143 e
biotita - veja Tabela 2.C), como basalto, diabásio etc., são em princípio, mais facilmente
intemperizáveis do que as ricas em minerais félsicos, mas, mesmo aí, a estrutura ou
fábrica pode inverter esta ordem.
Assim, no Planalto de Viçosa (MG) e em outras regiões do Brasil, os solos
originados de intrusões máficas (anfibolitos e diabásios) são mais novos (Terra Roxa
Estruturada, atual Nitossolo Vermelho férrico) - apresentando até blocos de rocha -
do que os solos desenvolvidos de gnaisse encaixante, que apresentam um profundo
manto de intemperismo, com material latossólico. A estrutura em bandas alternadas
de composição mineralógica distinta aparentemente favorece a maior intemperização
do gnaisse, apesar de os teores de minerais ferromagnesianos serem, naturalmente,
maiores nas rochas máficas.
139
Os Latossolos no Nordeste subárido estão relacionados com rochas psamíticas, que se alteram com
facilidade, originando solos profundos e muito intemperizados; isto é, sem muitos minerais primários
facilmente intemperizáveis. As rochas cristalinas só dão origem aos Latossolos nas partes mais elevadas
da paisagem (superfícies mais antigas), de clima menos seco.
140
O horizonte B, a partir de material do horizonte C, leva muitos anos para se formar. A erosão natural
vai retirando aos poucos a parte superficial, sem destruir a vegetação, enquanto a pedogênse segue
aprofundando todos os horizontes. Se a taxa de erosão diminui, o horizonte B se espessa; reduz-se até
zero - deixa de existir - expondo o horizonte C, se a erosão se acelera muito. Como a erosão no subárido
brasileiro é intensa, e há solos, ainda que rasos, mesmo em áreas bastante declivosas, não há outra
conclusão: a pedogênese, mesmo no subárido, deve ser muito acentuada nos solos rasos (no período
chuvoso); caso contrário, a rocha estaria toda exposta.
141
Olivina, do grego olivina, oliva ou semelhante ao verde da oliva, o fruto da oliveira (BUENO, 1967;
WEBSTER, 1989).
142
Anfibólio, do grego amphibolos, ambíguo, duvidoso, nome dado por Hauy, em virtude das muitas
variedades em que se apresenta (BATES & JACKSON, 1987; BUENO, 1967).
143
Piroxênio, do grego pyr, fogo, e xenos, estrangeiro, aparentemente referindo-se à errônea idéia inicial de
que era uma substância estranha às rochas ígneas (BUENO, 1967; WEBSTER, 1989).

134
GÊNESE ASPECTOS GER AIS

Outro exemplo, talvez mais interessante, é o que envolve o basalto e o tufito.


Ambos são rochas ricas em minerais máficos, mas o tufito (originado da consolidação
de cinzas vulcânicas) não apresenta o aspecto massivo144 do basalto. O tufito
intemperiza-se mais rapidamente. Para a mesma pedoforma, os solos de tufito145 são
mais intemperizados que os originados de basalto (Figura 5.D).
O Latossolo originado de basalto (Latossolo Roxo, atual Latossolo Vermelho
férrico) tende a formar uma superfície mais suave que o Latossolo de gnaisse ou, em
outras palavras, para a mesma idade (grau de envelhecimento relativo), o solo de
gnaisse forma uma superfície mais acidentada: isto é, paradoxalmente, o gnaisse é
mais facilmente intemperizável do que o basalto.

Tufito Cambissolo Terra Roxa Estruturada Latossolo Latossolo oxídico


caulinítico e/ou e/ou mais profundo
menos profundo
Basalto Litossolo Cambissolo Terra Roxa Latossolo
Estruturada
Gnaisse Cambissolo Podzólico Vermelho- Latossolo Latossolo oxídico
Amarelo caulinítico e/ou e/ou mais profundo
menos profundo

Figura 5.D Influência da estrutura da rocha de origem na idade146 relativa dos


solos (nomes dos solos apenas no sistema antigo).
144
Maciço, compacto, cheio, espesso, que não é oco. Não tem, em português, a acepção de homogêneo. A
palavra massivo, em afinidade com o inglês massive, está sendo usada com o sentido de rochas que têm
aspecto homogêneo, sem foliação, clivagem, xistosidade etc. Se em camadas, essas têm mais de 10 cm de
espessura (BATES & JACKSON, 1987; FERREIRA, 1975; WEBSTER, 1989). A própria grafia de
maciço é questionada por Bueno (1967): deveria ser massivo por se originar do latim massa.
145
Tufito é um tufo contendo materiais piroclásticos e detríticos, com predominância de piroclásticos;
tufo é um termo geral para todas as rochas piroclásticas consolidadas; sedimento tufáceo contém até 50%
de tufos (BATES & JACKSON, 1987). O vulcanismo, que produziu os piroclásticos do tufito, na região
de Patos de Minas, há 80 Ma (milhões de anos), coincide com a abertura do Atlântico, a separação entre
Brasil e África. As agitações crustais desta separação produziram, do final do Jurássico (190-135 Ma) até
quase o término do Cretáceo (135-65 Ma), lavas e cinzas - que se consolidaram como rochas basálticas e
tufitos - os materiais de origem das chamadas terras roxas, mas de outros solos também, inclusive alguns
com elevados teores de alumínio trocável, dependendo das condições ambientais.
146
O solo nunca chega ao extremo de velhice porque as transformações (pedogênese) - muito rápidas no
início - tornam-se lentas no solo já mais velho e a instabilidade tectônica (elevação do continente ou
abaixamento do mar, ou mesmo modificações locais como falhamentos), e bioclimática (mudança de clima
afetando a vegetação) aceleram a erosão, provocando um processo de rejuvenescimento. Os solos do
Brasil, em geral, assim como a paisagem brasileira como um todo, estão em processo de rejuvenescimento.

135
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES

Quando se consideram as propriedades de um solo novo para um solo velho, há


as seguintes tendências:
Solo novo Solo velho
Argila (minerais do tipo 1:1 e óxidos)
Areia (principalmente quartzo)
Silte - diminui
Argila 2:1 - diminui
Profundidade - aumenta
Permeabilidade - aumenta
Minerais fornecedores de
nutrientes - diminuem

Na Tabela 5.E estão algumas observações de interesse prático quando se


comparam solos velhos e novos, desenvolvidos da mesma rocha de origem.
A lição objetiva que pode ser tirada da Tabela 5.E, é que a adequação para uso
de um solo novo e de um solo velho vai depender da disponibilidade de insumos
colocados para melhorar as condições do solo velho. Assim, na ausência de insumos
(corretivos, fertilizantes etc.), o solo novo é mais adequado para culturas anuais. Se
houver aplicação suficiente de insumos, o solo velho passa a ser mais adequado para
culturas anuais.

Tabela 5.E Principais vantagens e desvantagens de solos novos e velhos para


culturas anuais e perenes.
Solo Vantagens Desvantagens
Culturas Anuais
Novo -menor deficiência de nutrientes -maior infestação por ervas daninhas
-maiores impedimentos à mecanização
-maior suscetibilidade à erosão
Velho -menor ocorrência de ervas daninhas -pobreza em nutrientes
-maior facilidade de mecanização -maior custo da produção
-menor suscetibilidade à erosão
Culturas Perenes
Novo -menor deficiência de nutrientes -alguma restrição ao desenvolvimento
do sistema radicular
Velho -facilidade de desenvolvimento do -pobreza em nutrientes
sistema radicular (melhor -maior custo da produção
aproveitamento de água e nutrientes)

De uma maneira geral, considerando que os solos brasileiros, em sua maior


parte, são mais velhos do que novos, e que, para a maioria dos agricultores brasileiros,
a possibilidade de aplicação de insumos é pequena, conclui-se: as culturas perenes

136
GÊNESE ASPECTOS GER AIS

(incluindo pastagens) são mais adequadas. Evidentemente a conclusão aqui se refere


apenas às qualidades da terra. Muitos outros fatores, conforme será comentado no
capítulo 7, estão envolvidos num estudo de aptidão agrícola.
5.3.2. Seqüência Litológica
A seqüência cronológica vista anteriormente é a fundamental: é a que explica,
por exemplo, as diferenças mais gerais entre os solos dos vários continentes. A
seqüência litológica vem em seguida, em escala de importância. Em escala local
ou regional a seqüência litológica assume, freqüentemente, importância capital.
Os arenitos e os basaltos (como no Sul do País, estendendo-se até ao sul do
Planalto Central), as ardósias, filitos e micaxistos (como nas áreas de Brasília e
da Serra da Canastra), os quartzitos (como em muitos trechos do Espinhaço e da
Chapada Diamantina), os calcários (como em Irecê (BA), Bodoquena (MS), Apodi
(RN), Arcos e Pains (MG), por exemplo) imprimem características marcantes
aos solos que originam. Para fins pedológicos, podem-se agrupar as rochas segundo
a Tabela 5.F.

Tabela 5.F Rochas agrupadas para fins pedológicos gerais, assim como uma idéia
de sua composição química.
Rocha Minerais Fe P K Ca Mg Co Cu Zn B Mn Fonte(2)
principais(1)
----------------- % ------------------ -------------- mg kg-1 -----------------
Granítica Fp, Qz, Bt 2,2 0,08 3,36 1,5 0,6 4 20 50 9 1,2 a
Máfica Ca-Fp, Py, 8,7 0,11 0,83 7,6 4,6 48 87 105 5 1,5 a
Mt
Pelítica Ms, Fp, Qz 4,7 0,07 2,66 2,2 1,5 19 45 95 100 2,6 a
Psamítica Qz+ cimento 1,0 0,02 1,07 1,1 0,7 0,3 x(3) 16 35 0,2 a
Ferruginosa Hm, Mt 49 0,05 0,01 299 24 24 b
Calcária Cc, Dm, Ms, 0,4 0,04 0,27 30,2 4,7 0,1 4 20 20 0,4 a
Fp, Qz
Gnáissica Fp, Qz, Mi, 2,7 0,09 2,45 2,3 1,2 c
Hb
(1)
Símbolos: Fp - feldspato (K); Qz - quartzo (SiO2); Bt - biotita (K, Mg, Fe); Ca-Fp - feldspato calco-
sódico (Ca, Na); Py - piroxênio (Ca, Mg); Mt - magnetita (Fe2 3+ Fe2+ O4); Ms - moscovita, mica branca
ou malacacheta (K); o cimento das rochas psamíticas pode ser calcário, óxidos de Fe ou argila; Hm -
hematita (Fe2O3); Cc-calcita (CaCO3); Dm-dolomita (Mg, CaCO3); Mi - micas, incluindo biotita e
moscovita; Hb hornblenda (Ca, Mg, K). Entre parênteses, principais elementos de interesse para as
plantas contidos no mineral ou sua composição química.
(2)
a - Turekian & Wedepohl (1962); b - concreções de solos originados de itabirito, do Quadrilátero
Ferrífero (FONTES et al., 1985; SOARES, 1980); c - dados compilados por Huang (1962).
(3)
x = ordem de magnitude de 1 dígito antes da vírgula.

137
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES

Como quase sempre ocorre na natureza, há transições de uma classe para


outra. Assim, as rochas pelíticas (rochas de granulometria muito fina) com maior teor
de calcário, como nas margas, confundem-se pedologicamente com o calcário.
A Tabela 5.F, associada aos conhecimentos gerais de pedologia, indica alguns
fenômenos muito interessantes:
1. os elementos químicos existentes nas rochas podem ser removidos com facilidade,
como Ca, Mg e K, ou podem ser até concentrados residualmente, como Fe, P
e elementos-traço. Assim, os solos originados de rochas máficas tendem a ser
mais ricos em Fe, P, Co, Cu e Zn; por outro lado, tendem a ser mais pobres em
B e Mo;
2. os teores de B tendem a ser maiores nos solos de rochas pelíticas. O B é mais
concentrado nos sedimentos de origem marinha;
3. os solos originados de rochas psamíticas e graníticas tendem a ser os mais
arenosos. Essas são as rochas mais ricas em quartzo (Qz);
4. as rochas pelíticas, em relação aos macroelementos de maior interesse, são
ricas apenas em K, sendo pobres em Ca, Mg e P. Os baixos teores de bases
(exceção do K) e a presença de muito Al na estrutura da moscovita (Ms) e do
feldspato (Fp) fazem com que os solos jovens, desenvolvidos de rochas pelíticas,
tenham altos teores de Al trocável. Nos solos mais velhos de rochas pelíticas,
os teores de Al na solução tendem a ser menores, pois há a formação de gibbsita.
A vegetação natural reflete essas diferenças: na área de Brasília, por exemplo,
os solos dos topos das chapadas são ricos em gibbsita, e apesar de a vegetação
ser cerrado, ela é mais desenvolvida do que os campos cerrados e campos
sujos dos solos mais acidentados147;
5. dependendo do cimento, os arenitos (rochas psamíticas) podem dar origem a
solos muito ricos. O arenito Bauru, com cimento calcário, origina um dos melhores
solos do Estado de São Paulo. No entanto, existem no Brasil áreas gigantescas
de solos muito pobres, originados de arenito. O Estado do Piauí, por exemplo,
associa, em seu território, grandes áreas de material psamítico, alternado com
material pelítico. Os chamados GERAIS, dos Estados de Minas e da Bahia,
são outro exemplo;
6. a associação entre classe de solo e rocha de origem pode servir de elemento
valioso para se predizer, no campo, ainda que de uma forma apenas geral, os
teores (ou níveis gerais) dos elementos que tendem a se concentrar
residualmente. Isso, na prática, tem sido verificado, por exemplo, com o Latossolo
Roxo (Latossolo Vermelho férrico), originado de rochas máficas, facilmente

147
As propriedades físicas também são melhores nos solos das chapadas (permeabilidade, facilidade de
penetração de raízes etc.).

138
GÊNESE ASPECTOS GER AIS

identificável no campo, por seu material ser atraído por um magneto148. Mesmo
quando sob cerrado e com baixíssimos teores de elementos disponíveis, responde
muito bem à adubação relativamente simples. Tal não é o caso, por exemplo,
com o Latossolo Vermelho-Escuro (Latossolo Vermelho com teor de Fe2O3
< 18%), desenvolvido de rochas pelíticas.

NOTA É importante observar que essas generalizações se referem mais aos elementos
que se concentram residualmente. Os elementos mais móveis, como Ca, Mg e K, e as
formas disponíveis dos que se concentram são inferidos a partir das condições relativas à
cronosseqüência, isto é, o basalto pode originar um solo pobre em Ca, no Planalto
Central, enquanto no sertão do Seridó (RN), o granito, muito mais pobre neste nutriente
(Tabela 5.F), pode originar um solo muito rico em Ca. O mesmo basalto, como ocorre no
Planalto Central, pode originar Latossolo Roxo (Latossolo Vermelho férrico) sob cerrado
(muito pobre em nutrientes, atual Latossolo Vermelho Distroférrico), e, próximo, pode-se
ter o Latossolo Roxo sob floresta (eutrófico, rico em nutrientes, atual Latossolo Vermelho
Eutroférrico), ou mesmo a Terra Roxa Estruturada eutrófica, atual Nitossolo Vermelho
Eutroférrico (relevo mais acidentado), um dos solos mais férteis do Brasil.

A Tabela 5.G mostra algumas relações gerais entre rochas e atributos dos solos
de maior interesse na paisagem brasileira (nesta tabela é utilizada a antiga Classificação
Brasileira de Solos).
As generalizações na Tabela 5.G possuem algumas restrições de aplicabilidade:
Pedoforma - o aplainamento pode horizontalizar a paisagem,
independentemente da rocha.
Cor - O horizonte A é escuro, com grau de desenvolvimento e espessura
variáveis. O excesso de água (falta de oxigênio) tende a favorecer a redução e retirada
de Fe do sistema. Menores teores de Fe e clima mais úmido (mesmo sem deficiência
de oxigênio) favorecem a formação de goethita, dando cor amarela (hematita ausente).
Textura - solos mais novos são mais siltosos que solos mais velhos.
Nutrientes - solo de praticamente qualquer rocha pode ser pobre ou rico. Os
mais velhos, tendendo aos Latossolos, são mais pobres.

148
A magnetização foi usada inicialmente como base para a distinção de Latossolos Vermelho-Escuros
(Latossolos Vermelhos com teor de Fe2O3 < 18%) dos Latossolos Roxos (Latossolos Vermelhos férricos);
estes são fortemente atraídos por um magneto (ímã). Essa separação, não contemplada muito claramente
na Soil Taxonomy, separa os Latossolos com maior teor de ferro, de fósforo total, de muitos micronutrientes
e caulinita de pior grau de cristalinidade.

139
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES

Tabela 5.G Relações gerais entre rocha matriz e alguns atributos dos solos.
Pelítica Psamítica Máfica Granítica
------------------------------------------------------------- Pedoforma -------------------------------------------------------------
Formas suaves (não Tabular, ruiniforme, Suave ou acidentada. Suave ou acidentada.
pontiagudas), ondulada (dunas) Afloramentos em Afloramentos em
menos aci- e pontiagudas forma de blocos forma de blocos
dentadas (quartzito) (rocha massiva)
------------------------------------------------------ Cor do horizonte B ---------------------------------------------------------
Amarela - solo novo Depende do clima, Vermelha Amarelada
drenagem e
Vermelha solo velho
cimento
------------------------------------------------------------- Textura ------------------------------------------------------------------
Argilosa a muito argi- Arenosa (compreende Argilosa a Arenosa a
losa as classes
muito argilosa argilosa
texturais areia e
areia franca)
------------------------------------------------------------ Nutrientes ---------------------------------------------------------------
Solos pobres, álicos Depende do cimento Solos ricos Solos pobres
------------------------------------------------------------ Seqüências -------------------------------------------------------------
Ra - Ca - LEa Pva -Led -LVd - AQ Re - Ce - TRe - LRd PVa - LVa
d d a a d d a a e d
e e e(raro) a a d e d e (raro)

Cor vermelha
(Gibbsita/Caulinita)
------------------------------------------------------- Relações litológicas -----------------------------------------------------
Relações entre algumas rochas em termos de diagênese-metamorfismo (sedimentares, metamórficas)
e granulometria (ígneas)

argila (silte) areia gabro diorito granito

argilito

folhelho arenito diabásio andesito riólito

ardósia (siltito)

filito quartzito basalto obsidiana

micaxisto pobre

SÍMBOLOS: a = álicos (alta saturação por Al), d = distróficos (baixa saturação por bases), e = eutróficos
(alta saturação por bases), R = Solo Litólico; C = Cambissolo; PE, PV, TR = Solos com B textural; LV,
LR = Latossolos; AQ = Areias Quartzosas.

140
GÊNESE ASPECTOS GER AIS

5.4. Bibliografia
BATES, R. L.; JACKSON, J. A. (Eds.). Glossary of geology. 3th ed. Alexandria: American
Geological Institute, 1987. 788 p.

BUENO, S. Grande dicionário etimológico prosódico da língua portuguesa. São Paulo: Saraiva,
1967. 8 v.

FERREIRA, A. P. H. Novo dicionário da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira,


1975. 1449 p.

FONTES, M. P. F.; RESENDE, M.; RIBEIRO, A. C. Concreções ferruginosas de alguns solos


brasileiros: I. caracterização química. Revista Brasileira de Ciência do Solo, Campinas, v. 9, p.
113-117, 1985.

GOMES, J. B. V.; RESENDE, M.; REZENDE, S. B. de; MENDONÇA, E. de S. Solos de três áreas
de restinga: I. morfologia, caracterização e classificação. Pesquisa Agropecuária Brasileira,
Brasília, v. 33, p. 1907-1919, 1998.

HUANG, W. T. Petrology. New York: McGraw-Hill Book, 1962. 480 p.

MONIZ, A. C.; OLIVEIRA, J. B.; CURI, N. Mineralogia da fração argila de rochas sedimentares
e de solos da Folha de Piracicaba, SP. Revista Brasileira de Ciência do Solo, Campinas, v. 19,
p. 375-385, 1995.

OLIVEIRA, J. B.; JACOMINE, P. K. T.; CAMARGO, M. N. Classes gerais de solos do Brasil:


guia auxiliar pra seu reconhecimento. Jaboticabal: FUNEP, 1992. 201 p.

SIMONSON, R. W. Outline of a generalized theory of soil genesis. Soil Science Society America
Proceedings, Madison, v. 23, p. 152-156, 1959.

SOARES, M. F. Caracterização química e mineralógica de concreções ferruginosas de alguns


solos brasileiros. 1980. 62 f. Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal de Viçosa, Viçosa,
1980.

TUREKIAN, K. K.; WEDEPOHL, K. H. Distribution of the elements in some units of the Earth.
Geological Society of America Bulletin, Madison, v. 72, p. 175-192, 1962.

UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA. Levantamento de reconhecimento de solos da bacia


de irrigação do Rio Gorutuba. Viçosa: UREMG, 1969. 143 p.

WEBSTER S ENCYCLOPEDIC UNABRIDGED. Dictionary of the English language. New York:


Gramercy, 1989. 2078 p.

WHITESIDE, E. P. Some relationships between the classification of rocks by geologists and


the classification of soils by soil scientists. Soil Science Society America Proceedings,
Madison, v. 17, p. 138-143, 1953.

141
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES

142
SOLO E PAISAGEM

6
SOLO E PAISAGEM

A paisagem é a expressão resultante da atuação dos fatores representados no


tetraedro (clima, solo, organismos e aspectos socioeconômicos).
É quadro comum, na paisagem brasileira, as descontinuidades acentuadas,
correlacionadas, em muitos casos, com uma descontinuidade nas classes de solo.
A título de exemplificação podem ser citadas as áreas do Triângulo Mineiro e
grande parte do Planalto Central, onde se observa uma transição marcante entre a
paisagem ao longo dos rios principais, embasada principalmente em Latossolo Roxo
(fase floresta), atual Latossolo Vermelho férrico, e a apresentada pelas áreas
circundantes de Latossolo Vermelho-Escuro (Latossolo Vermelho com teor de Fe2O3
< 18%), e Latossolo Vermelho-Amarelo (ambos fase cerrado).

6.1. Relevo
O relevo149 está intimamente ligado ao fator tempo na gênese dos solos; é,
portanto, de se esperar que na paisagem brasileira, onde os processos de pedogênese
são bastante ativos, ele tenha um papel crítico como controlador do tempo de exposição
aos agentes bioclimáticos.
As partes mais velhas (expostas ao intemperismo há mais tempo) são justamente
as grandes e altas chapadas, que são comuns no território brasileiro. Nessas áreas
ocorrem os solos mais velhos e lixiviados, geralmente cobertos por vegetação de cerrado.
As partes rejuvenescidas, mais baixas, e, na maioria das vezes, mais acidentadas, já
apresentam solos mais novos, com vegetação mais exuberante (Figura 6.A).
Parece lógico pensar que em muitas áreas do Planalto Atlântico, com expressiva
ocorrência de Latossolos, mesmo onde o relevo é acidentado, este já tenha sido mais
suave, com solos bastante velhos, cujo material intemperizado foi, em parte,
redistribuído pelas vertentes. Aí os solos são também velhos mas, nesse caso, a
vegetação é florestal.
Além dos aspectos gerais de relação solo-relevo (Figura 6.A), pode-se ainda
observar que, quando em topografia acidentada, os Latossolos estão em elevações com
superfície suave (regular, sem descontinuidades), enquanto os solos com B textural
estão em elevações com superfície irregular (com descontinuidades, rupturas de declive).
149
Para melhor entendimento do solo como corpo tridimensional, isto é, da pedoforma - um atributo do
solo - veja item 2.2.10.

143
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES

Figura 6.A Solos e relevo: algumas tendências na paisagem brasileira (nomes dos
solos apenas no sistema antigo).

6.2. Vegetação e Clima


Os técnicos do Serviço Nacional de Levantamento e Conservação de Solos
(atualmente, Centro Nacional de Pesquisa de Solos, da EMBRAPA) usam a vegetação
original como fase para dar uma idéia (na falta de melhores dados climáticos) sobre
as condições climáticas da área (Figura 6.B)150.

----------------------------------Floresta-----------------------------------
Perenifólia Subperenifólia------- Subcaducifólia Caducifólia Caatinga151

Aumento em
Aridez de número de meses secos
Fertilidade do solo
Queda de folhas

Cerradão Cerrado Campo Cerrado Campo Sujo Campo Limpo

Aumento
Da pobreza em nutrientes
Em Al3+

Figura 6.B Algumas tendências de relações entre vegetação natural e propriedades


do solo e do ambiente.

150
Para maior detalhamento das formas de vegetação (usadas como fase) como indicadoras de pedoclima,
veja item 2.2.9.
151
No norte de Minas, mata da Jaíba, está a caatinga hipoxerófila de porte arbóreo alto (mata densa, 25 a
30 m, com três estratos). É a menos seca das caatingas, com pau-d arco-roxo, pereiro, aroeira, barriguda
(ANDRADE-LIMA, 1981).

144
S OLO E PA IS AGEM

As fases de vegetação indicam a vegetação clímax152 da área: a que prevalece


após o terreno ter sido abandonado durante muitos anos.

6.3. Aspectos Socioeconômicos


Com exceção das áreas de colonização inexistente ou apenas incipiente (como
grande parte da bacia amazônica), há, no Brasil, estreita relação entre os aspectos
socioeconômicos e o solo153.
As áreas de maior progresso estão localizadas em solos com maior disponibilidade
de nutrientes. Alguns exemplos:
1. supõe-se que o progresso de São Paulo tenha sido bastante influenciado pela
fertilidade de seus solos, principalmente os Podzólicos Vermelho-Amarelos
eutróficos ( 50% de saturação por bases), atualmente Argissolos Vermelho-
Amarelos eutróficos, textura média, desenvolvidos do Arenito Bauru e Latossolo
Roxo e Terra Roxa Estruturada (Latossolo Vermelho férrico e Nitossolo
Vermelho férrico, respectivamente), originados de rochas basálticas;
2. as áreas progressistas do Triângulo Mineiro eram, há algumas décadas,
sustentadas pela fertilidade de seus solos, principalmente do Latossolo Roxo
(Latossolo Vermelho férrico);
3. a criação de gado nas regiões do Médio Jequitinhonha, Mucuri e Vale do Rio
Doce (MG) está intimamente ligada às pastagens de colonião que se
desenvolvem bem nos solos com B textural, de alta fertilidade;
4. os Latossolos sob vegetação de cerrado e os Solos Litólicos (Neossolos Litólicos),
Cambissolos e Latossolos pouco profundos das áreas dos campos de altitude
de Minas Gerais são exemplos típicos de áreas pobres quanto à agricultura. No
caso dos Latossolos, a principal limitação é a carência de nutrientes, as outras
condições de solos que interessam ao uso são boas ou, pelo menos, razoáveis.
Desse modo, com muito capital, é possível tornar esses solos bastante produtivos;
5. os solos de terra firme da Amazônia, em sua maior parte, são muito pobres em
nutrientes. Na ausência de adubação (em geral proibitiva por contingências
econômicas), a agricultura nômade e as pastagens são conseqüências naturais
no que se refere a nutrientes. No entanto, como já foi ressaltado, o uso da terra
depende de vários fatores e é possível que a utilização de grandes áreas como

152
Vegetação clímax, estado final estável no desenvolvimento de determinado ecossistema.
153
O perfil fundiário brasileiro, está em grande parte relacionado com a possibilidade de pastagens
extensivas. Essas tendem a ocorrer sob duas condições: áreas extensas de solos férteis, capazes de
sustentar pastagens manejadas com o uso do fogo; e áreas de pastagens naturais, apresentando limitações
às plantas arbóreas. No primeiro grupo estão os solos ricos das regiões quentes, sendo a área preparada
com o uso do fogo; no segundo, as áreas campestres de solos pobres, campos subtropicais, tropicais,
equatoriais e hidromórficos e as áreas subáridas.

145
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES

reservas extrativistas e a agrossilvicultura sejam, no momento, as formas de


utilização mais adequadas para não comprometer demasiadamente um potencial
de riqueza genética e ambiental único.
A relação entre tipo de horizonte B e utilização agrícola (B textural versus B
latossólico, por exemplo) evidencia a validade do uso desta característica diferencial,
em classificação de solos. Ao se estudar o relatório do levantamento de solos da
região sob influência do reservatório de Furnas (CAMARGO et al., 1962), verificar-
se-á que as propriedades físicas dos solos com B latossólico (como acontece
geralmente), são mais favoráveis do que aquelas dos solos com B textural, inclusive
em aspectos como facilidade de mecanização.
Sabe-se que numa agricultura de baixa aplicação de insumos (sem uso de
adubação, com cultivos manuais etc.), a fertilidade natural do solo é extremamente
importante. Numa agricultura em que a adubação é prática comum e em que as
operações são mecanizadas, as propriedades físicas assumem o papel mais crítico.
Com a mudança nos aspectos socioeconômicos (conhecimentos técnicos,
facilidade de aquisição e uso de adubos e máquinas, e sobretudo de comercialização
em nível internacional etc.), os Latossolos, dificilmente adaptados a uma agricultura
sem investimentos em insumos, estão se transformando em solos preferidos numa
agricultura empresarial.
É possível que este fato tenha uma importância muito maior para o futuro da
humanidade do que se tem pensado, visto que grande parte das áreas tropicais (hoje
em desenvolvimento) e, em particular, o território brasileiro, estão embasadas em
solos com essas características.
A título de conclusão poder-se-ia dizer que parece haver uma desarmonia entre
a agricultura que se pratica e a que se adaptaria melhor aos nossos solos. E ela é tão
grande, que solos de potencial enorme ou são hoje praticamente abandonados ou são
usados de tal forma que sua produção mal consegue sustentar pouco mais que algumas
famílias, numa área muito grande.

6.4. Bibliografia
ANDRADE-LIMA, D. The caatingas dominium. Revista Brasileira de Botânica, Viçosa, v. 4, p.
149-153, 1981.

CAMARGO, M. N. et al. Levantamento de reconhecimento dos solos da região sob influência


do reservatório de Furnas. Rio de Janeiro: CNEPA-SNPA, 1962. 462 p. (Boletim técnico, 13).

GATES, D. M. Biophysical ecology. New York: Springer-Verlag, 1980. 611 p.

GATES, D. M.; PAPIAN, L. E. Atlas of energy budgets of plant leaves. London: Academic, 1971.
278 p.

146
CLASSIFICAÇÃO E GEOGRAFIA DE SOLOS

7
CLASSIFICAÇÃO E GEOGRAFIA DE SOLOS

Nos capítulos anteriores foram feitas algumas observações gerais sobre a


classificação e a distribuição geográfica de alguns solos. Neste capítulo esses aspectos
recebem ênfase maior e, em especial, os ligados às classificações técnicas, isto é, as
classificações que têm em vista a utilização do solo.
As classificações podem ser: naturais, também denominadas taxonômicas,
quando um grande conjunto de atributos ou propriedades do solo é considerado
simultâneamente; ou técnicas, em que poucas propriedades do solo são consideradas
e um objetivo específico, de aplicação prática, é colimado. As classificações técnicas,
no sentido amplo, no entanto, transcendem os aspectos puramente físicos (os do solo,
clima e organismos, ou seja, a base do tetraedro ecológico - veja Figura 1.A), por
considerarem também os aspectos socioeconômicos154. É um trabalho de natureza
interdisciplinar. Como qualquer classificação, estas também têm um objetivo: servir
de ferramenta para previsão.

7.1. O Problema da Transferência de Conhecimentos


Um agricultor observa que uma dada cultura ou prática de manejo vai muito
bem em determinada parte de sua roça, mas não em outras. Ele está interessado em
experimentar essa relação (associação entre unidades de terra e comportamento da
cultura) em outra área de sua propriedade. Um outro fazendeiro amigo, entusiasmado
com a idéia, quer também tentar a mesma coisa em sua propriedade, situada num
outro Estado. Esses são problemas que envolvem previsão e transferência de
conhecimento.
O último fazendeiro observa que nem todos os terrenos da fazenda de seu
amigo são iguais aos seus. Há diferenças. Além do mais, no seu Estado, o preço dos
insumos que deveria colocar na lavoura, o preço de mercado, o tempo de carência e
a qualificação da mão-de-obra são diferentes.
A questão é: pode-se transferir a experiência ganha, de um local para outro?
Como fazer para minimizar as chances de insucesso?

154
Embora não seja usada neste sentido, poder-se-ia pensar, com certa razão, que esta é que seria a
mais próxima de uma classificação verdadeiramente ecológica, isto é, a que considera todo o tetraedro
(Figura 1.A).

147
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES

7.1.1. Avaliação da Terra


A classificação ou avaliação da terra, englobando os aspectos físicos (solo,
clima e organismos) e socioeconômicos, visa servir de elemento de transferência de
informações e experiências. É um mecanismo de previsão. É uma síntese do que se
sabe ou do que se prevê.
A avaliação ou classificação das terras (ecossistemas) consta de:
(1) uma parte física, que caracteriza e sintetiza as qualidades da terra, incluindo a
identificação dos problemas principais e a previsão da relação entre aplicação
de insumos e redução desses problemas; o levantamento de solos e mais os
outros aspectos ligados ao clima, hidrologia, vegetação etc., estão aí incluídos;
(2) uma avaliação socioeconômica, que envolve aspectos como preço dos produtos,
preço do trabalho, relação entre insumos e produção em termos econômicos
etc.
A avaliação da terra é, pois, um processo de estimativa do comportamento
da terra quando usada para propósitos específicos (FAO, 1974, 1976).
Os problemas de transferência de informações, cuja solução preocupa os
fazendeiros do exemplo anterior, encontram, na classificação (ou avaliação) da aptidão
da terra, não a solução, mas um guia valioso, uma moldura de referência para facilitar
o bom senso e o discernimento.
No caso dos fazendeiros, a necessidade da separação de diferentes unidades
de terra significa que elas são diferentes. A separação é feita basicamente procurando-
se qualificar os problemas de cada uma. Aí, no entanto, estão envolvidos não somente
os problemas mas também uma estimativa da conveniência e viabilidade de sua redução.

7.1.2. Classificação para Alguns Tipos de Transferência de Conhecimentos


A classificação acima delineada, embora possa dar algumas idéias ao fazendeiro
do outro Estado, pode não mencionar especificamente a cultura ou a prática de manejo
que ele está considerando para a transferência. A classe de aptidão agrícola pode
dizer alguma coisa referente à aptidão para culturas, mas não especificamente para a
que ele está interessado.
Ele (o fazendeiro do outro Estado) pode fazer o seguinte: tentar escolher na sua
propriedade uma área que, no seu julgamento, mais se aproxime da do seu compadre
fazendeiro que teve tanto sucesso. Isto é o que geralmente se faz. Pode se ter sucesso
ou insucesso. Se tiver insucesso, é provável que nem ele, nem os seus conhecidos
(que tomarem conhecimento do fato), façam nova tentativa. Entretanto, se a avaliação
da aptidão, mesmo geral (para culturas), já tiver sido feita, há uma chance um pouco
maior de uma escolha melhor mas, ainda assim, a possibilidade de uma escolha errada
persiste. Havendo a preocupação de serem usados, entre os solos com boa aptidão

148
CLASSIFICAÇÃO E GEOGR AFIA DE SOLOS

para culturas, aqueles mais semelhantes aos da fazenda original, as oportunidades de


sucesso aumentam.
Mas ainda restaria saber: que produção se poderia esperar dessa cultura, usando
o mesmo manejo empregado na fazenda de referência?
Há dois modos (índices) gerais de se estimar a produção:
1. medindo diretamente a produção de alguns anos para estimar a dos anos
subseqüentes.
Esse método a posteriori não resolve a questão imediata e, principalmente, a
que mais interessa ao agricultor. E se ele quiser expandir a área de plantio
dentro da mesma unidade de terra? Qual a produção? Será a mesma do local
em que foi feita a experiência?
Mas já é sabido que, mesmo em se tratando de solo taxonomicamente (ou não)
colocado na mesma classe, há diferenças: nos teores de nutrientes, por exemplo.
E justamente eles, com freqüência, é que determinam a produção. Isto sugere
um outro método:
2. dentro de uma mesma unidade taxonômica, procurar relacionar as características
variáveis: teores de P, Ca, Mg, matéria orgânica, saturação por Al etc., com a
produção. Estas variáveis podem ter pesos diferentes, mas a produção final é
estimada pela contribuição de todas elas. Selecionam-se as que tiverem maior
contribuição e, então, pela análise de alguns parâmetros (P, Ca, Al, textura, a
cor, o croma a 50 cm de profundidade etc.), pode-se estimar razoavelmente a
produção. Esse método é o chamado método paramétrico. Outro exemplo de
aplicação do método paramétrico, agora de uma forma mais geral, é a chamada
equação universal de perdas de solo por erosão155:

A=RKLSCP

onde:
A = perdas de solo em t/ha
R, K, L, S, C, P = fatores relativos à erosividade da chuva (R), erodibilidade do solo
(K), comprimento da encosta (L), grau do declive (S), uso e manejo (C) e, práticas de
controle à erosão (P).

155
Esta equação, também conhecida como equação de WISCHMEIER, tem sido estudada em várias partes
do mundo, mas ela também, no que se refere à estimativa dos parâmetros, K por exemplo, necessita de
ajuste para muitos solos tropicais. Walt H. Wischmeier começou a trabalhar com o Serviço de Conservação
do Solo em 1940, em Columbia, Missouri, EUA; em 1953 foi para a Universidade de Purdue onde criou
e operou a Central Nacional de Dados de Perdas de Água e Solo do USDA-ARS, em cooperação com a
Universidade de Purdue. Sob sua liderança, analisando mais de 10 mil parcelas-ano de dados de pesquisa
em erosão de 37 localidades, foi desenvolvida uma Equação Universal de Perdas de Solo.

149
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES

7.1.3. A Necessidade de Estratificação156


O êxito do método paramétrico (medir vários parâmetros para estimar a
produção por uma equação) em situações locais e a facilidade de se utilizarem
computadores têm estimulado muito a aplicação deste método. Mas há alguns
problemas envolvidos:
A influência, no comportamento do solo, de qualquer de suas características,
ou da variação de qualquer uma delas, depende da combinação das demais .
Isso significa que as equações do método paramétrico só são realmente úteis
em ambientes com certo grau de uniformidade nas outras propriedades que não são
expressas na equação mas que, mesmo assim, podem influir se variarem muito.
Entretanto, a ampliação do número de variáveis, além de tornar a equação mais
complicada, ainda apresenta um problema maior: as interações entre variáveis vão
tender a produzir equações não lineares e aí é um Deus-nos-acuda! Em outras palavras:
há necessidade de se estratificar o universo das relações ambiente-cultura, por exemplo,
para aí aplicar métodos específicos.
Os levantamentos de solos fornecem os estratos mais pormenorizados que se
tem do ambiente.
As estratificações poderiam ser classificadas em escalas157:
1. grandes regiões do Brasil: Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sul e Sudeste;
2. zonas fisiográficas dos estados;
3. microrregiões homogêneas;
4. unidades de paisagem como baixadas (leito maior, com dique aluvial ou pestana
e área pantanosa; escarpa de terraço e terraço), parte côncava no sopé das
elevações, segmento convexo, topo, parte íngreme etc.
Uma outra forma, talvez mais natural, é utilizar-se das chamadas regiões
morfoclimáticas (pedoclimáticas) do Brasil (AB SABER, 1970) como a escala mais
geral:
1. terras baixas florestadas da Amazônia;
2. depressões interplanálticas subáridas do Nordeste, revestidas de caatingas;
3. mares de morros florestados;
4. chapadões recobertos por cerrado e penetrados por florestas-galerias;
156
Estratificar, separar uma área maior em porções mais ou menos homogêneas. Identificar, numa área
heterogênea, as partes componentes, apresentando, cada qual, considerável homogeneidade. O mapa é,
neste contexto, uma representação gráfica especial em superfície plana e em escala menor, dos estratos de
um território qualquer. Nas estratificações de ambiente objetiva-se, em geral, a separação de estratos
potencialmente diferentes quanto às comunidades possíveis. Por exemplo, previsões sobre o
comportamento de tal ou tal comunidade, pastagens, talhões florestais, cultivos anuais etc.
157
Mais será visto sobre a hierarquia na classificação de ecossistemas no Capítulo 12.

150
CLASSIFICAÇÃO E GEOGR AFIA DE SOLOS

5. planaltos de araucárias;
6. pradarias mistas.
O fato mais importante disso, a não ser quando há vegetação natural, que reflete
em si o que se quer medir (os estratos de vegetação constituem uma expressão sintética
da interação ambiental), é que se tem de prever, com base em outras qualidades da
terra, qual é o comportamento da parte biótica.
O bioclima e grandes traços litológicos - planaltos basálticos, capeamentos de
arenito, áreas de calcário, áreas gnáissico - graníticas etc. - dão uma primeira
estratificação bastante generalizada.
Para se prever o comportamento da parte biótica ao nível de propriedade, com
certa precisão, são necessárias estratificações mais pormenorizadas158. Quando se
trata de áreas pequenas, o solo é o principal estratificador do ambiente159.

7.2. Sistemas de Classificação de Aptidão Agrícola das Terras


Existem muitos sistemas de classificação de aptidão. Alguns, específicos
apenas para determinadas culturas em determinada região, outros mais gerais, mas
que sofrem adaptações em vários países. Alguns já mais antigos e com certa
estabilidade; outros em rápido processo de mudança.
Aqui serão apresentados apenas os dois sistemas mais usados no Brasil: o
Sistema de Classificação da Capacidade de Uso (MARQUES, 1971; LEPSCH et al.,
1983;) e o sistema FAO/Brasileiro de Avaliação da Aptidão Agrícola das Terras
(BENNEMA et al., 1965; RAMALHO FILHO et al., 1978, 1983; RAMALHO FILHO
& BEEK, 1995).

7.2.1. Sistema de Classificação da Capacidade de Uso


Este foi, até há alguns anos, possivelmente o sistema mais influente de todos.
Com modificações mais ou menos acentuadas, ele foi e ainda é usado em várias
partes do mundo. O sistema foi estruturado pelo Serviço de Conservação do Solo dos

158
Um sistema de inventário da terra (Land System Survey), procurando estratificar as paisagens, usando
critérios climáticos, litológicos, de pedoforma geral (geomorfologia) e de vegetação, com menos ênfase no
solo diretamente, é usado na Austrália, mas este sistema (geossistema) está sendo abandonado lá (MOORE,
1978), aparentemente por não ter servido bem para a transferência de conhecimentos. O sistema é
atrativo por ser de fácil execução, principalmente com o uso de fotografias aéreas (WILSON, 1968), mas
não oferece os elementos suficientes para uma boa estimativa das qualidades da terra. Não parece ser
muito informativo naquilo que se refere a nutrientes no solo, camadas afetando raízes etc.
159
A identificação dos diferentes ambientes pelo pequeno agricultor está profundamente ligada aos processos
biológicos de produção. Assim, a exposição das encostas pode, dependendo do contexto, ser crítica
quanto a danos pelas geadas, deficiência de água, temperaturas críticas etc. Todos esses exemplos têm
sido documentados por informes de agricultores brasileiros.

151
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES

EUA, para grupar solos (já mapeados) em classes de capacidade de uso para programas
de planejamento agrícola, principalmente sob um enfoque conservacionista160.
O sistema enquadra as terras em oito classes, representadas por algarismos
romanos (I a VIII), que constituem três grupos, conforme a potencialidade de uso:
I até IV - com aptidão para culturas;
VI e VII - necessitam de manejo especial;
VIII - imprópria ao uso agrícola (não apresenta retorno para insumos referentes
a manejo para culturas, pastagens ou florestas).
A classe V refere-se a terras sem problemas de erosão, mas com limitações
acentuadas, devido a problemas de drenagem, de pedregosidade etc., ou de adversidade
climática, que exigem utilização de técnicas especiais para exploração com culturas.
São os seguintes os grupos e classes de capacidade de uso:
A - Terras cultiváveis
Classe I - terras cultiváveis aparentemente sem problemas especiais de
conservação (áreas verde-claras nos mapas de capacidade de uso);
Classe II - com problemas simples de conservação (cor amarela);
Classe III - com problemas complexos de conservação (cor vermelha);
Classe IV - terras cultiváveis apenas ocasionalmente ou em extensão limitada,
com sérios problemas de conservação (cor azul).
B - Terras cultiváveis apenas em casos especiais de algumas culturas
permanentes, mas em geral adaptadas para pastagem ou reflorestamento
Classe V - terras aptas apenas para culturas especiais, ou para pastagem ou
reflorestamento, sem necessidade de práticas especiais de conservação (cor
verde-escura);
Classe VI - terras aptas apenas para culturas especiais, ou para pastagem ou
reflorestamento, com problemas especiais de conservação (cor alaranjada);
Classe VII - terras aptas apenas para culturas especiais, ou para pastagem ou
reflorestamento, com problemas complexos de conservação (cor marrom).
C - Terras impróprias para uso agrícola
Classe VIII - terras impróprias para culturas, pastagens ou reflorestamentos,
podendo ser destinadas à preservação da flora e da fauna silvestres161 ou para
fins de recreação, turismo ou de armazenamento de água (cor roxa).
160
Talvez a grande contribuição deste sistema tenha sido influenciar todos os sistemas subseqüentes que
incluem a produção sustentada, isto é, controle da erosão e, que hoje se estende também às idéias de
controle da poluição, ou melhor, do uso sem degradação socioecológica.
161
Na formulação inicial da idéia das limitações ecológicas (BENNEMA et al., 1965), para referir-se à
deficiência de nutrientes, usou-se a expressão limitação por fertilidade, simbolizada por Resende (1982)
como DF. O uso de deficiência de nutrientes, DN, parece mais apropriado; até mesmo por referência aos
três fatores básicos do ambiente: radiação, água e nutrientes.

152
CLASSIFICAÇÃO E GEOGR AFIA DE SOLOS

Na classificação da capacidade de uso são avaliadas características específicas


do solo, referentes a: profundidade efetiva; textura da camada superficial e
subsuperficial; permeabilidade dessas camadas; declividade do terreno; erosão e uso
atual das terras. Estes parâmetros são representados por índices indicativos da condição
de cada um deles (MARQUES, 1971; LEPSCH et al., 1983;), dispostos na forma de
fração, com os três primeiros no numerador e os dois subseqüentes no denominador.
A fórmula assim constituída é apresentada após a classe de aptidão (I até VIII),
seguida por símbolos (relacionados a seguir) indicando os principais problemas, além
daqueles possíveis de serem evidenciados pelas características de textura, profundidade,
permeabilidade, declive e erosão e depois o símbolo do uso atual:
pd - pedregosidade di - distrofismo
i - inundação al - característica álica
ab - abrupto ct - baixa retenção de cátions
ve - vértico ti - tiomorfismo
hi - hidromorfismo so - sodificação
se - seca prolongada sl - salinização
gd - geada ou vento frio ca - carbonatos

Exemplos:
III 2-3/2-1/2 pd-di-La - classe III, profundidade efetiva (classe 2), textura
superficial (3) e subsuperficial (2), permeabilidade superficial (1) e subsuperficial
(2), declive (classe B), erosão (classe 17), com problemas de pedregosidade e
distrofismo; uso atual (lavoura anual-La);
II i - classe II, com problemas de inundação, numa representação simplificada.
Observações: O sistema de classificação da capacidade de uso, como foi mencionado,
sofreu adaptações em vários países. No país de origem (EUA), essa classificação
tem o objetivo de tornar a informação, já existente nos levantamentos de solos (nível
detalhado), acessível, de forma prática, ao usuário. É uma interpretação dos mapas de
solos dos levantamentos mencionados (KLINGEBIEL & MONTGOMERY, 1961).
Nos países sem levantamento detalhado, procurou-se suprir esta deficiência mapeando
atributos como declive, textura, permeabilidade etc. A principal dificuldade deste
sistema, assim modificado, é que ele é difícil de ser aperfeiçoado por trabalhar com
muitas variáveis (isoladas), o que torna impraticável uma interpretação de maior
abrangência geográfica. Por exemplo, a textura superficial não indica muita coisa
quando se tratam juntos Latossolos e Vertissolos. Além do mais, a textura em si não é
importante para a planta, mas são muito importantes: água, nutrientes, oxigênio,
suscetibilidade à erosão e impedimentos à mecanização, que são aspectos ligados de
forma peculiar à textura, conforme a classe taxonômica do solo.

153
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES

Em outras palavras: apesar do aspecto didático e intuitivo desse sistema quanto


à sua feitura e apresentação final, ele não funciona como um elemento de transferência
de experiência se não for ligado à classe taxonômica; por outro lado, tem como ponto
muito forte a simplicidade de apresentação.

7.2.2. Sistema FAO/Brasileiro


No início da década de 60, foi criado no Brasil um sistema de classificação de
aptidão agrícola com características bem inovadoras:
1. esse sistema, pela primeira vez, passa a considerar explicitamente, na sua
estrutura, os chamados níveis de manejo, num reconhecimento altamente válido
para países como o Brasil, de que os problemas de solo não são igualmente
importantes para o grande e o pequeno agricultor. De fato, para uma agricultura
mecanizada os problemas relativos aos impedimentos à mecanização são
fundamentais, enquanto que para o pequeno agricultor, que em geral não usa
máquinas, isto já não é tão importante;
2. o sistema considera também uma estimativa da viabilidade de redução dos
problemas através do uso de capital e técnica, o que vai afetar diferentemente
o grande e o pequeno agricultor. Por exemplo: completando o item anterior, os
problemas de impedimento à mecanização muitas vezes não podem ser reduzidos,
isto é, a viabilidade de melhoramento da qualidade do ecossistema, neste aspecto,
é nula (não é viável). A redução da deficiência de nutrientes depende de outras
qualidades do ecossistema e também dos insumos e conhecimentos técnicos a
serem aplicados. Nesse contexto, para o pequeno agricultor (de baixa renda),
no caso mais típico, a viabilidade de redução é nula, enquanto para o grande
agricultor, capaz de aplicar insumos (adubos e corretivos), a redução do problema,
isto é, da deficiência de nutrientes, pode ser mais ou menos completa. O sistema
FAO/Brasileiro considera, assim, três níveis de manejo, a serem apresentados
posteriormente;
3. o sistema FAO/Brasileiro tem uma estrutura que permite seu ajustamento a
novos conhecimentos, inclusive adaptações regionais, sem perder a sua unidade.
Parte desse ajustamento é dado pela metodologia, que sintetiza as qualidades
do ecossistema em relação a cinco parâmetros: nutrientes (N), água (A), oxigênio
(O), mecanização (M) e erosão (E).
A aplicação deste sistema baseia-se nos seguintes itens:
a) estimativa dos problemas relativos a cada um dos cinco parâmetros;
b) estimativa da viabilidade da redução destes problemas conforme o nível de
manejo considerado;
c) confronto das informações de (a) e (b), geralmente expressas na forma de
tabelas, com um quadro-guia ou tabela de conversão para cada grande área
climática do Brasil.

154
CLASSIFICAÇÃO E GEOGR AFIA DE SOLOS

Passos na determinação da classe de aptidão agrícola das terras:


a - Estimativa dos desvios N, Trabalho de síntese da influência das
A, O, E, M) várias propriedades do ecossistema
em termos daquelas fundamentais
para as plantas ou para utilização
agrícola.
b - Estimativa da viabilidade de Balanço entre a intensidade dos
redução dos desvios ( ), nos desvios e a possibilidade, dificuldade
vários níveis de manejo e conveniência de sua redução,
considerando as opções dos vários
níveis de manejo.
c - Uso de uma tabela de Identificação da classe de aptidão,
conversão (quadro-guia) para confrontando-se as informações sobre
determinar a classe de os desvios e a viabilidade de sua
aptidão redução às contidas no quadro-guia.

Para a consecução dos itens a e b são necessários, por ordem:


1. uma lista de atributos do solo e do ambiente;
2. uma síntese das qualidades do ecossistema, quanto ao crescimento de plantas e
uso agrícola. Os atributos nutrientes, água, oxigênio, impedimentos à mecanização
e suscetibilidade à erosão são estimados em termos de desvio ( ) destes em
relação a um solo ideal162;
3. estimativa da viabilidade de redução desses desvios conforme as condições
técnicas e de capital (níveis de manejo).
Solo ideal e solo real
Na execução das fases desse sistema ocorreram algumas inovações em relação
aos sistemas anteriores. Houve, por exemplo, uma preocupação no sentido de sintetizar
o que há de importante no ambiente para uso agrícola, sendo criado, para isto, o
modelo de um solo ideal. Além do mais, todos os atributos do solo que interessam às
plantas e ao uso agrícola foram sintetizados nas qualidades referentes a nutrientes,
água, oxigênio, erosão e mecanização. Em vez de se falar em textura, profundidade,
estrutura, declividade, pH etc., o técnico já interpreta a influência destes atributos
(propriedades) em termos de qualidade (comportamento) do ecossistema. Isto é muito
importante: nada se pode dizer a respeito da influência do teor de argila se forem
misturados Latossolos (solos velhos, ricos em óxidos de Fe e de Al) e Vertissolos
162
Este conceito de solo ideal tem sido criticado (BEEK, 1978), na argumentação de que há um solo ideal
para cada uso. No entanto, quando se estima o grau de limitação (estimativa da grandeza de um problema),
está implícito que pode existir, pelo menos idealmente, uma unidade de terra sem limitações. Solo ideal é,
portanto, apenas uma forma de expressão do que já está implícito na estimativa dos graus de limitação,
mas, como se verá posteriormente, cada planta se adapta diferentemente às condições do solo.

155
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES

(como os massapês do Recôncavo Baiano, solos muito ricos em argila 2:1 que se
expandem e se contraem de forma acentuada). Deve-se proporcionar ao planejador
essas nuanças de forma já interpretada. A influência da profundidade do solo, por
exemplo, dependendo do contexto climático em que se encontra, vai influenciar a
planta de maneira diferente. A distinção entre atributos e qualidade (comportamento)
é essencial.
O solo ideal é aquele que não apresenta problema algum de deficiência de
nutrientes ou fertilidade (N), nem deficiência de água (A), nem de oxigênio (O), isto é,
nenhum problema de drenagem; nem tampouco oferece problemas de suscetibilidade
à erosão (E), nem qualquer dificuldade ao uso de máquinas (M). Evidentemente este
solo não existe. Todo solo real desvia-se do solo ideal em relação a N, A, O, E ou M.
Esse desvio (afastamento) do solo ideal pode ser estimado em graus (nulo = 0, ligeiro
= 1, moderado = 2, forte = 3, e muito forte = 4), expressando, nesta ordem, um
agravamento da situação, maiores problemas a corrigir, maiores desvios ou limitações
para reduzir (Tabela 7.A).

Tabela 7.A Relação entre solo ideal ( i = 0, onde i = N, A, O, E e M) e solo real


( i 0).
Parâmetro Solo Ideal Solo Real
Deficiência de nutrientes ( N) N=0 N 0

Deficiência de água ( A) A=0 A 0

Deficiência de oxigênio ( O) O=0 O 0

Suscetibilidade à erosão ( E) E=0 E 0

Impedimentos à mecanização ( M) M=0 M 0

Estimativa do grau de desvio


Esta estimativa equivale a sintetizar as qualidades do ambiente163 sem suprimir
qualquer dado importante. Esse passo ainda é muito subjetivo, em parte porque ainda
não é possível estimar esses desvios com base simplesmente nos dados analíticos,
havendo necessidade de se considerar todo o ecossistema (BENNEMA et al., 1965).

163
Estão sendo consideradas aqui apenas as qualidades do solo ou as que se expressam no solo. As
qualidades do ambiente atmosférico, tais como luminosidade, risco de geadas etc. ainda não foram
incorporadas ao sistema. O comportamento do ecossistema em vários aspectos, depende do fator que
está em mínimo. Este funciona num contexto variável ao longo do tempo: A, por exemplo, é mais crítico
em algumas fases como a do estabelecimento da planta.

156
CLASSIFICAÇÃO E GEOGR AFIA DE SOLOS

Por exemplo, dois solos com os mesmos teores de nutrientes, um sob floresta e outro
sob cerrado, o primeiro vai ter, no ecossistema agrícola, maior teor de nutrientes, pelo
menos inicialmente. As observações das culturas, do gado etc., são essenciais. Há
outras qualidades ainda menos quantificáveis, como rupturas de declive, importantes
na estimativa de M, deficiência de oxigênio etc.
Há, no entanto, como nos critérios de descrição de perfil, uma tendência à
convergência, isto é, há hoje maior uniformidade, mesmo em escala internacional, do
que havia há alguns anos. Na impossibilidade de se quantificar com precisão (o que
poderia reduzir o número de parâmetros a serem medidos), quanto maior o número de
critérios, melhor. A Tabela 7.B - elaborada com base em Ramalho Filho et al. (1983)
- sumariza os critérios mais usados no Brasil, para estimativa dos desvios ( ), isto é,
dos problemas que o ecossistema oferece à utilização.
À semelhança do solo ideal (solo de referência), existem na Tabela 7.B outras
condições de referência. Os deltas não se referem a uma planta em particular. São
definidos de uma forma geral. Assim, por exemplo, o arroz, uma planta especial quando
se trata de O, não é considerada na estimativa de O. Quanto ao E, as definições
referem-se a uma planta expositora, plantada morro abaixo.
Viabilidade de melhoramento
Como já foi mencionado, alguns problemas podem ser reduzidos, em maior ou
menor intensidade, com emprego de capital; outros são praticamente irredutíveis.
Aplainar uma área como a de Ouro Preto, em Minas Gerais, para reduzir M, seria
um desses casos extremos. Entretanto pode-se fazer uma estimativa da viabilidade de
melhoramento (Tabela 7.C). É importante observar que nem sempre o melhoramento
soluciona integralmente o problema. Por exemplo, um solo pode ter N = 3. Com
muita adubação e corretivo ele pode melhorar sua condição de fertilidade, embora
não a ponto de se igualar a um solo ideal ( N = 0), mas reduzindo-a talvez só até N
= 1. Se este for o caso, isso equivale a enquadrá-lo na classe b de melhoramento. A
qualidade do ecossistema, quanto ao N, será:
N = 3, antes do melhoramento;
N = 1b, após o melhoramento.

157
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES

Tabela 7.B Graus de desvio (limitações) das condições agrícolas dos solos em
relação a um solo ideal, quanto à deficiência de nutrientes ou fertilidade (N), deficiência
de água (A), deficiência de oxigênio (O), suscetibilidade à erosão (E) e impedimentos
à mecanização (M).
0 (nulo)
N Elevada reserva de nutrientes. Nem mesmo plantas exigentes respondem à adubação.
Ótimos rendimentos por mais de 20 anos. Ao longo do perfil: V > 80%, S > 6 cmolkg-1,
Sat.Al = 0 na camada arável, e condutividade elétrica < 4 dSm-1 a 25oC.
A Floresta perenifólia ou presença de lençol freático mais elevado ou sob irrigação. Não
há deficiência de água em nenhuma parte do ano. Incluem-se áreas de campos
hidrófilos, higrófilos e subtropicais sempre úmidos. Quanto a A, são possíveis dois
cultivos por ano.
O Aeração boa em qualquer época do ano - solos bem (D4) a excessivamente drenados
(D1).
E Após 10-20 anos de uso com lavouras: horizonte A permanece intacto. Erosão ligeira,
que possa ocorrer, é controlada facilmente. Relevo plano (p), ou quase, declive < 3%, e
solo bem permeável.
M Podem ser usados na maior parte da área, sem dificuldades, todo o ano, com todos os
tipos de maquinaria agrícola; rendimento do trator (RT) > 90%. Solos planos (p) ou
suave ondulados (s) com < 8% de declive, sem outros impedimentos à mecanização
(pedregosidade, rochosidade, texturas extremas e argila 2:1).
1 (ligeiro)
N Boa reserva de nutrientes. Boa produção por mais de 10 anos, com pequena exigência
para manter a produção depois. V > 50%, S > 3cmolkg-1, Sat.Al < 30%, condutividade
elétrica < 4 dSm-1 e TNa < 6% (Latossolos eutróficos, por exemplo).
A Água disponível (Ad): pequena deficiência durante período curto, na estação de cresci-
mento. Só plantas bem sensíveis é que são prejudicadas. Floresta subperenifólia
(estação seca de 1 a 3 meses). Em climas mais secos: solos com lençol freático mais
elevado, condicionando boa disponibilidade de água às plantas, ou irrigados. Aptidão
para dois cultivos é marginal.
O Plantas de raízes mais sensíveis têm dificuldades na estação chuvosa; solos
moderadamente drenados (D5).
E Após 10-20 anos de uso com lavouras: <25% do horizonte A original, removido da
maior parte da área; Ap formado de material de A (exceto se A for muito pouco
espesso). Erosão bem controlada por culturas selecionadas (cana-de-açúcar) ou cultivos
arbóreos ou parcelas pequenas. Relevo suave ondulado (s), declive 3-8% (SSM: classe
1 de erosão).
M Uso da maioria dos tipos de maquinaria sem ou com ligeira dificuldade; RT: 75-90%.
Solos (a) suave ondulados (s), com 3-8% de declive, sem outros impedimentos; ou (b)
planos, com alguma pedregosidade (0,5 a 1,0%) e rochosidade (2-10%) ou com
profundidade limitante; ou (c) planos, com textura muito grosseira (arenosa, cascalhenta
etc.); ou argilosa com argila 2:1 ou com problemas de drenagem.
Continua...

158
CLASSIFICAÇÃO E GEOGR AFIA DE SOLOS

Tabela 7.B Continuação...


2 (moderado)
N Um ou mais nutrientes com reserva limitada. Bons rendimentos só nos poucos anos
iniciais. Pequena reserva no solo ou no ciclo orgânico ou condutividade elétrica 4-
8 dSm-1 ou Sat Na 6-15% (Latossolos não eutróficos sob floresta, por exemplo).
A Ad: deficiência durante período um tanto longo; plantas não muito sensíveis podem ser
cultivadas. Floresta subcaducifólia (estação seca de 3-6 meses, ou 3 se solo arenoso). Em
clima mais seco: com lençol freático raso ou água estagnada (temporária). Também
floresta caducifólia em solos com alta capacidade de retenção de Ad. Praticamente não há
possibilidade de dois cultivos por ano.
O A maioria das plantas sensíveis não se desenvolve bem; solos imperfeitamente
drenados (D6) ou com risco permanente de inundação ocasional (recorrência: > 5
anos).
E Após 10-20 anos de uso com lavouras: 25 a 75% do horizonte A é removido da maior
parte da área; horizonte Ap é constituído localmente de material do B. Pequenas
voçorocas podem ocorrer. Controle à erosão deve ser intensivo. Cultivo de árvores sem
a completa remoção da vegetação ainda funciona bem, relevo ondulado (O), declive 8-
20% (SSM: classe 2 de erosão).
M Só tipos mais leves de equipamentos podem ser usados, algumas vezes só durante parte
do ano, tracionados por animais; se usado trator, RT: 50-75%. Solos (a) ondulados, 8-
20% de declive, sem outros impedimentos; ou (b) com declive < 20%, com
pedregosidade, rochosidade ou profundidade limitante, ou com sulcos freqüentes e
profundos; ou (c) planos, com textura muito grosseira (arenosa, cascalhenta etc.),
argilosa com argila 2:1, ou com problemas de drenagem.
3 (forte)
N Um ou mais nutrientes em pequenas quantidades; elementos tóxicos permitem bons
resultados só de culturas adaptadas, o rendimento de outras culturas e pastagens é
baixo. Cerrado fechado ou terras exauridas ou condutividade elétrica 8-15 dSm-1 ou
TNa > 15% (por exemplo, Latossolos sob cerrado propriamente dito).
A Ad: grande deficiência. Só possível plantas mais adaptadas. Caatinga hipoxerófila;
floresta caducifólia; transições de cerrado e floresta para caatinga (estação seca de 6 a 8
meses, 3 a 7 se solo arenoso); precipitação (P) = 600 a 800 mm/ano e irregular;
temperatura (T) alta é predominante.
O Culturas mais sensíveis necessitam de drenagem artificial, ainda viável ao nível do
agricultor; solos mal (D7) e muito mal drenados (D8) ou sujeitos a inundações
freqüentes (recorrência: 1 a 5 anos).
E Após 10-20 anos de uso com lavouras: > 75% do horizonte A removido na maior parte
da área; o horizonte Ap apenas localmente guarda vestígios do antigo A. Ocorrem
voçorocas rasas, algumas profundas. Controle é difícil, dispendioso ou inviável. Relevo
forte ondulado (f), declive 20-45% (SSM: classe 3 de erosão).
M Só implementos manuais, de tração animal ou especiais podem ser usados na maior
parte da área; RT < 50%. Solos (a) forte ondulados, declive de 20-45%, sem outros
impedimentos; ou (b) com declividade <20%, com pedregosidade, rochosidade ou
solos rasos, ou com sulcos freqüentes e profundos.
Continua...

159
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES

Tabela 7.B Continuação...


4 (muito forte)
N Conteúdo de nutrientes muito restrito com possibilidade remota de uso com agricultura,
pastagens ou reflorestamento. Somente plantas com muita tolerância conseguem
adaptar-se. Campo cerrado ou solos salinos com condutividade elétrica > 15 dSm-1, ou
solos tiomórficos. Exemplo: solos rasos álicos sob vegetação campestre (Solos
Litólicos, atuais Neossolos Litólicos, e Cambissolos), originários de rochas pelíticas
pobres do Grupo Bambuí.
A Deficiência é severa. Estação de crescimento curta ou mesmo ausente. A vegetação
natural é escassa ou só presente durante parte do ano. Caatinga hiperxerófila (estação
seca de 8 a 10 meses, P = 400-600 mm/ano, irregular, e T alta).
O Idem a grau forte, mas melhoramento não é viável ao nível do agricultor.
E Sob uso agrícola os solos são destruídos em poucos anos; voçorocas médias e
profundas praticamente inutilizam a área. Risco de danos para pastagem é muito
grande. Relevo montanhoso e escarpado, ou com declividade >45%.
M Não é possível nem o uso de implementos manuais. Solos (a) montanhosos ou escar-
pados, com (b) declividade > 45%, com pedregosidade, rochosidade ou solos rasos, ou
com voçorocas.
SÍMBOLOS: N = deficiência de nutrientes: V = saturação por bases, S = soma de bases, Sat.Al
= saturação por Al (100 Al/Al +S), Sat. Na = saturação por Na (100 Na/T); A = deficiência de
água: Ad= água disponível, P= precipitação, T= temperatura; E = suscetibilidade à erosão:
relevo p = plano (0-3% de declive), s= suave ondulado (3-8%), ondulado (8-20%), f= forte
ondulado (20-45%); SSM= Soil Survey Manual - adaptado de Ramalho Filho et al. (1983) - M
= impedimentos à mecanização: RT= rendimento do trator (horas relativas de trabalho efetivo).
Para M seguiram-se as indicações de Bennema et al. (1965).

Tabela 7.C Classes de viabilidade de melhoramento.


CLASSE VIABILIDADE DE MELHORAMENTO
(1)
Classe a melhoramento viável com práticas simples e pequeno emprego de capital
Classe b melhoramento viável com práticas intensivas e mais sofisticadas e
considerável aplicação de capital. Esta classe ainda é considerada
economicamente compensadora
Classe c melhoramento viável somente com práticas de grande vulto, aplicadas a
projetos de larga escala que estão, normalmente, além das possibilidades
individuais dos agricultores
Classe d sem viabilidade técnica ou econômica de melhoramento
(1)
As letras minúsculas a, b e c são usadas, além da indicação da classe de viabilidade de
melhoramento, também para indicar aptidão para lavouras. Embora seu uso fique bem claro no
contexto, quando indica viabilidade de melhoramento a letra é grifada.
Fonte: Adaptado de Ramalho Filho et al. (1983).

160
CLASSIFICAÇÃO E GEOGR AFIA DE SOLOS

A viabilidade de melhoramento está intimamente ligada às condições


socioeconômicas164 sintetizadas neste esquema de classificação (um crivo grosseiro),
com o nome de níveis de manejo.
São três os níveis de manejo (Tabela 7.D).

Tabela 7.D Níveis de manejo considerados na avaliação da aptidão agrícola.


Capital aplicado no
Nível de Práticas Trabalho
melhoramento e conservação
manejo agrícolas
do solo e nas lavouras
A refletem baixo praticamente não é aplicado principalmente braçal, alguma
nível tração animal, com
tecnológico implementos simples
B refletem nível modesta aplicação tração animal
tecnológico
médio
C refletem alto aplicação intensiva mecanização em quase todas as
nível fases da operação agrícola
tecnológico

Os níveis de manejo são definidos de acordo com o nível tecnológico (práticas


agrícolas), capital aplicado no melhoramento e manutenção das condições agrícolas e
da lavoura, e na força de trabalho. Para pastagem plantada e silvicultura está prevista
uma modesta aplicação de fertilizantes, defensivos e corretivos, o que corresponde ao
nível de manejo B. Para pastagem natural está implícita uma utilização sem
melhoramento tecnológico: corresponde ao nível de manejo A.
Classes de aptidão agrícola
Após os passos anteriores, ou seja: estimativa dos graus de desvio (deltas) - o
que é feito apoiando-se nas observações e registros do ecossistema e nas análises de
laboratório e estimativa da viabilidade, conveniência e intensidade da redução dos
deltas - chega-se à fase da classificação165, a mensagem que será levada ao planejador.
Há aqui um problema que envolve quase toda classificação: ela é uma síntese, e toda

164
A viabilidade de melhoramento depende do contexto; por exemplo, das condições socioecológicas.
Assim, a melhoria de ambientes deficientes em nutrientes, que exigem grandes aplicações de adubos, está
fora da realidade do pequeno agricultor; a agricultura empresarial, de exportação direta, e, ainda assim,
subsidiada, pode fazê-lo. Mas a mudança dos preços no mercado internacional, pode tornar mais vantajosa
a criação de gado, onde não há necessidade tão premente desse tipo de melhoramento. Numa agricultura
sustentável, visando o balanço custo/benefício da sociedade como um todo, o contexto dessas decisões
pode ser outro.
165
Para evitar muita digressão, o uso do quadro-guia ou tabela de referência será apresentado posteriormente.

161
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES

síntese, até certo ponto, é difícil de ser lida com aproveitamento de toda a mensagem
que ela encerra.
A mensagem final chega geralmente na forma de um mapa colorido com
símbolos, assim: 1aBC, 2ab, 2abc, 3(abc), 4p, 5N, 5(s), 6 etc.
Há aqui muita informação. Analise-se, por exemplo:
1Ab(c)

A presença das letras a, b ou c, maiúsculas ou minúsculas, fora ou dentro de


parênteses, indica que o solo tem aptidão para culturas. A letra maiúscula A indica que
o solo tem aptidão boa no sistema de manejo A (Tabela 7.E), a letra minúscula b
indica aptidão regular no sistema de manejo B e a letra c minúscula, entre parênteses
(c), indica aptidão restrita no sistema de manejo C. A linha interrompida, sob o
símbolo, significa que na unidade de mapeamento (a mancha representada no mapa),
existem áreas de solos de pior aptidão agrícola (e melhor, se a linha for cheia).
A ausência de qualquer das letras significa inaptidão; por exemplo: 2ab significa
que o solo tem aptidão regular (letra minúscula, sem parênteses) para culturas nos
manejos A e B, mas é inapto no manejo C.
Além das letras A, B e C que se referem à lavoura, já vistas anteriormente, P
refere-se à pastagem plantada, S à silvicultura e N à pastagem natural166.
As letras minúsculas simplesmente e minúsculas entre parênteses referem-se,
respectivamente, às classes de aptidão regular e restrita. Exemplos:
3 (a b c) - grupo de aptidão 3, tem aptidão para lavoura, classe restrita para
níveis de manejo A, B e C.
1(a)bC - grupo de aptidão 1, classe restrita para lavoura, no nível de manejo
A, regular no nível B e boa no nível C.
2(a)b - grupo de aptidão 2, classe restrita para lavoura no nível de manejo A,
regular no nível B e inapta no nível C.
4p - grupo de aptidão 4, regular para pastagem plantada, inapta para lavoura.
As informações relativas às alternativas de utilização, consideradas em relação
aos grupos de aptidão, são apresentadas na Tabela 7.E.
Aptidão agrícola obviamente está sendo usada aqui no sentido amplo de aptidão
para lavouras, pastagens plantadas, pastagens naturais e silvicultura, reserva biológica
e recreação. Essa ordem expressa também uma adequação do uso ao aumento do
grau das limitações.

166
Pastagem natural está sendo usada aqui no sentido de pastagem não plantada; neste sentido inclui
pastagens nativas (pré-históricas) e naturais propriamente ditas - não plantadas, mas pós-colonização.

162
CLASSIFICAÇÃO E GEOGR AFIA DE SOLOS

Observe a redução do número de alternativas167, com o aumento do grau de


desvio (Tabela 7.F).

Tabela 7.E Grupos e classes de aptidão agrícola e alternativas gerais de utilização.


Alternativas Aptidão Agrícola Nível de manejo
de uso e
limitações
Grupo Classe A B C
Lavouras
A L 1 boa 1A 1B 1C
L I 2 regular 2a 2b 2c
T M 3 restrita 3 (a) 3 (b) 3 (c)
E I Pastagem plantada
R T 4 boa 4P
N A 4 regular 4p
A Ç 4 restrita 4 (p)
T Õ Silvicultura e/ou pastagem natural
I E 5 boa 5N 5S
V S 5 regular 5n 5s
A 5 restrita 5 (n) 5 (s)
S Sem aptidão para uso agrícola
6 Inapta: preservação da flora e da fauna ou recreação

Assim é que um solo com alguma aptidão para uso de certa intensidade, como,
por exemplo, para pastagem plantada, tem, em geral, boa aptidão para todos os usos
menos intensivos, no caso, silvicultura e/ou pastagem natural (considerados no mesmo
grupo) e reserva biológica.
A Tabela 7.G fornece subsídios concernentes às classes de aptidão agrícola.
Observe então que os números de 1 a 6, que identificam o grupo de aptidão,
indicam, na realidade, o maior uso intensivo possível, com os números de 1 a 3 indicando
a melhor condição de uso (melhor classe de aptidão), em um dos três níveis de manejo,
para uso com lavouras. Por exemplo: 1(a)bC está no grupo 1, porque existe a melhor

167
As alternativas de uso reduzem-se com o aumento das limitações; as áreas com menores limitações
tendem a ser usadas primeiro; portanto, neste aspecto, diminuem as opções de uso. Isso requer maior grau
de criatividade e engenhosidade, alocando melhor os recursos numa otimização de seu uso, sob o enfoque
natureza/sociedade.

163
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES

condição (aptidão boa) para uso com lavoura o uso mais intensivo possível sob
manejo C. Num dos exemplos apresentados (4p), o solo está no grupo de aptidão 4
por ser inapto para lavoura mas alguma aptidão para pastagem plantada, além de
outros usos menos intensivos, como silvicultura e pastagem natural.

Tabela 7.F Alternativas de utilização das terras de acordo com o grupo de aptidão
agrícola.
Alternativas Grupo Intensidade ou condições de uso
e de Preservação Silvicultura Pastagem Lavoura
Limitações Aptidão da flora e da e / ou plantada Aptidão Aptidão Aptidão
(desvios) fauna pastagem restrita regular boa
natural
1

2
Alternativas

Limitações

3
4

6
Fonte: Ramalho Filho et al. (1983).

Tabela 7.G Classes de aptidão agrícola e características relacionadas.


Classes de Limitações
Produções no manejo A Remoção de restrições
aptidão gerais
BOA ligeiras boa no período de 20 anos
REGULAR moderadas boa no período de 10 anos parcialmente no manejo A
RESTRITA fortes médias e baixas no período de opção por culturas adaptadas
10 anos devido a limitações não
removíveis no manejo A
INAPTA excluem a possibilidade de produção sustentada do tipo de utilização em questão

Uso dos quadros-guias


A estimativa dos deltas, dos desvios do ecossistema em relação ao solo ideal
(qualidades do ecossistema) e da viabilidade de redução dos deltas, conforme o nível de
manejo (refletindo diferenças em insumos e técnica) podem ser sintetizadas na forma
de uma tabela (Tabela 7.H). Nesta avaliação são utilizados os critérios sintetizados nas
Tabelas 7.B e 7.C, levando-se em consideração os níveis de manejo (Tabela 7.D).

164
CLASSIFICAÇÃO E GEOGR AFIA DE SOLOS

Tabela 7.H Resultado do confronto entre os desvios da unidade LVa1, após estimativa
de reducão (quando viável), conforme o nível de manejo e os requisitos de máxima
limitação permissível para determinada classe de aptidão e tipo de uso estabelecidos
no quadro-guia, referentes à região tropical úmida.
N A O E M
A B C A B C A B C A B C A B C
(1) LVa1 3 2a 1b 1 1 1 0 0 0 2/3 2a 1/2b 2 2 2
(*)
(2) Quadro-guia 3 2a 1b 1/2 1/2 1/2 1 1a 0/1a 3 2a - 2/3 2 2
(3) Classe de aptidão n (b) c A B C A B C (a) (b) - a b (c)
e uso mais intensivo
(4) Uso potencial n (b)
(5) Conclusão 5n 3(b), que é representado no mapa como 3(b). Em geral, representa-se
apenas a aptidão para o uso mais intensivo possível, neste caso, para lavoura
(talvez fosse melhor a representação completa, isto é, aptidão em todos os
níveis de manejo, quer seja para lavoura ou não).
(*)
Os valores desta linha referem-se aos assinalados (em negrito) na Tabela 7.I.

(1) Estimativa dos graus de desvio para a unidade LVa1 (0 = nulo, 1 = ligeiro, 2 =
moderado, 3 = forte, 4 = muito forte, / = intermediário; a,b = classes a e b de
viabilidade de melhoramento, respectivamente).
(2) Grau máximo de desvio ( ), estabelecido no quadro-guia (Tabela 7.I), referente
à unidade LVa1, para determinado fator de limitação e nível de manejo. Os
valores referem-se aos assinalados (em negrito), na Tabela 7.I.
(3) Uso mais intensivo permitido e melhor classe de aptidão para a unidade LVa1,
referente a cada fator de limitação e nível de manejo (determinados com base
na Tabela 7.I).
(4) Uso potencial e classe de aptidão referentes aos três níveis de manejo (A, B, C).
(5) Aptidão agrícola da unidade LVa1: restrita para lavoura, no nível de manejo B,
regular para pastagem natural no nível de manejo A e inapta no nível C.
A classificação da aptidão agrícola é realizada pelo confronto entre os valores
estimados para os desvios ( ) e os estabelecidos em um quadro-guia, ou tabela de conversão,
em que está representado o grau máximo de desvio permitido para cada fator limitante
( N, A, O, E e M), referente às classes de aptidão boa, regular e restrita, em cada
nível de manejo correspondente aos tipos de utilização considerados: lavoura (níveis de
manejo A, B, e C), pastagem plantada e silvicultura (nível de manejo B) e pastagem natural
(nível de manejo A). Desta forma, para cada fator limitante e nível de manejo é indicado,
no quadro-guia, o uso mais intensivo possível e a melhor classe de aptidão, conforme
o grau de desvio do solo que está sendo avaliado. O mesmo não pode exceder o
estabelecido no quadro-guia referente à determinada classe de aptidão e tipo de uso.

165
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES

Assim, no exemplo da unidade LVa1 (Tabela 7.H), o desvio estimado para N,


no nível de manejo A ( N = 3), é maior do que o grau de limitação máximo estabelecido
no quadro-guia (Tabela 7.I), elaborado para a região tropical úmida (RAMALHO
FILHO et al., 1983), para uso com lavoura em qualquer das classes de aptidão: boa
( N = 0/1), regular ( N = 1/2) e restrita ( N = 2/3); excede também o previsto para
a classe boa ( N = 2/3), mas não para a classe regular ( N = 3), referente ao uso
com pastagem natural. Portanto, para esse fator limitante ( N) e nível de manejo (A),
é indicado, como máximo aproveitamento possível, o uso com pastagem natural e
assim mesmo com aptidão regular, representado pela letra minúscula n (Tabela 7.H).
Por outro lado, quanto à deficiência de água ( A), em qualquer um dos três níveis de
manejo, o desvio estimado para a unidade LVa1 ( A = 1), é inferior ao limite máximo
estabelecido no quadro-guia (Tabela 7.I), para a classe boa no uso com lavoura ( A =
1/2), aptidão esta indicada pelas letras maiúsculas A, B e C na Tabela 7.H. Já com
relação à suscetibilidade à erosão ( E), o grau de limitação, no nível de manejo C ( E
= 1/2b), mesmo considerando-se os melhoramentos previstos, conforme indica a letra
b sublinhada (Tabela 7.C), supera o valor máximo para a classe de aptidão restrita no
uso com lavoura ( E = 1b). Como esta é a única forma de utilização agrícola prevista
para o nível mais tecnificado, a unidade LVa1 é classificada como inapta, no nível de
manejo C, conforme indicado pela ausência de letra na Tabela 7.H.
Com base na indicação do uso potencial máximo obtido para cada fator limitante
e nível de manejo, chega-se então à aptidão agrícola, pela aplicação do princípio de
que o uso não pode ser mais intensivo do que o fator de limitação que está em mínimo.
Assim, a unidade LVa1, apresenta, no nível de manejo A, aptidão regular para pastagem
natural - n, decorrente das limitações impostas pela deficiência de nutrientes, ainda
que os outros fatores permitam usos mais intensivos (Tabela 7.H); pelo mesmo princípio,
é indicada aptidão restrita no nível de manejo B (b), e ausência de aptidão (classe
inapta) no nível C168. A unidade LVa1 apresenta, portanto, aptidão restrita para lavoura
no nível de manejo B, regular para pastagem natural no nível A e inapta ao uso no
manejo C, representada pelo símbolo 3(b)5n. Esse número 3 indica aptidão para lavoura
na classe restrita e o número 5 aptidão para pastagem natural. No entanto, é
representada apenas a aptidão referente ao uso mais intensivo possível, no caso 3(b),
ficando subentendida a possibilidade de exploração com outros tipos de uso menos
intensivos.Entretanto seria melhor apresentar-se a classificação completa.

168
As plantas, as culturas, adequam-se diferentemente às limitações; o arroz tolera condições inadequadas
para o feijão, a mandioca produz bem onde a soja tem sérios problemas. Mas, mesmo dentro de cada
cultura, há variedades com diferentes graus de tolerância. Definidos da forma mais precisa possível, os
graus das limitações (ainda que para uma planta arbitrária), tabelas de adequação e quadros-guias,
poderiam ser construídos para cada cultura ou variedade.

166
CLASSIFICAÇÃO E GEOGR AFIA DE SOLOS

A Tabela 7.I é, evidentemente, muito geral. Cada cultura deve ter uma tabela
de conversão própria. O arroz, por exemplo, não será tão limitado por falta de oxigênio
quanto outras culturas, e entre estas haverá também diferenças. O que foi dito para
O é válido também para os outros deltas (ou limitações).

Tabela 7.I Quadro-guia para classificação da aptidão agrícola(1) na Região Tropical


Úmida.
Aptidão N A O E M
Agrícola(2) A B C A B C A B C A B C A B C
1ABC 0/1 0/1a 0b 1/2 1/2 1/2 1 1a 0/1b 1/2 0/1a 0b 2 1 0
2abc 1/2 1a 1b 2 2 2 2 1/2a 1b 2 1/2a 0/1b 2/3 2 1
3(abc) 2/3 2a 1/2b 2/3 2/3 2/3 2/3 2a 1/2b 3 2a 1b 3 2/3 2

4P 2a 2 3a 2/3a 2/3
4p 2/3a 2/3 3a 3a 3
4 (p) 3a 3 3a 4 3

5S 2/3a 2 1a 3a 2/3
5s 3a 2/3 1a 3a 3
5 (s) 4 3 1/2a 4 3
5N 2/3 2/3 2/3 3 4
5n 3 3 3 3 4
5 (n) 4 4 3 3 4
6 sem aptidão agrícola
LVa1 3 2a 1b 1 1 1 0 0 0 2/3 2a 1/2b 2 2 2
(1)
Os valores assinalados (em negrito) indicam utilização mais intensiva permitida para desvios
após melhoramento (se viável) do solo (unidade LVa1) que está sendo classificado quanto à
aptidão agrícola (indicado na Tabela 7.H). Os graus de limitação (D) referentes a este solo estão
repetidos abaixo (última linha) para facilitar a comparação.
(2)
Letra maiúscula - aptidão boa; letra minúscula - aptidão regular; letra minúscula entre
parênteses - aptidão restrita; ausência de letra - inapta.

Nota importante
Sabe-se algo a respeito das exigências climáticas de uma cultura, mas é muito
pouco o que se sabe sobre as exigências edáficas. Ainda não se tem as tabelas acima,
referentes às culturas. A solução, sob o ponto de vista prático, é a utilização da natureza

167
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES

como um grande experimento169: observando cuidadosamente como o agricultor usa


as suas terras; em que lugar coloca determinadas culturas, por que não em outros
locais; quais os principais problemas e soluções encontrados.
Observações finais
O sistema FAO/Brasileiro, à semelhança do sistema visto anteriormente, tem
suas desvantagens e suas vantagens. A principal desvantagem é que ainda não foi
trabalhado suficientemente ao nível do usuário. Por ora está mais afeito às avaliações
para escala muito pequena (grandes regiões) e não tem sido usado intensamente ao
nível de propriedade. Por outro lado, e talvez venha a ser esta a sua principal vantagem,
ele põe nossa ignorância a descoberto. Ignoramos as exigências edáficas de quase
todas as culturas170. Isto significa que em termos de zoneamento ecológico não se
conseguiu ir além de zoneamento agroclimático.
Outro ponto importante desse sistema é que na estimativa dos deltas e na
viabilidade de sua redução entra uma forte dose de informações não quantificáveis e,
às vezes, nem expressáveis, adquiridas pela vivência na área por parte do avaliador. É
o conhecimento empírico (um sentimento de percepção), elemento fundamental nas
decisões do agricultor que vive na área.

7.3. Solos com Problemas


O título desta seção é evidentemente genérico. Não existe solo ideal. Todo solo
tem, em maior ou menor grau, num ou mais fatores, os seus problemas.
Geograficamente, a largos traços, numa megaescala, poder-se-ia indicar a geografia
dos problemas dos solos no Brasil. Isto é bem expresso pelas regiões bioclimáticas.
Onde não há problema de água ( A), há falta de nutrientes ( N); onde água e
nutrientes são razoáveis, a suscetibilidade à erosão ( E) e os impedimentos à
mecanização ( M) se sobressaem.
A Amazônia, o Planalto Central, a faixa florestal costeira (o Mar de Morros -
áreas acidentadas da faixa leste do Brasil) e o Planalto das Araucárias têm como
principal problema N. As Depressões Interplanálticas Subáridas do Nordeste,
revestidas pela caatinga, apresentam A pronunciado. As Pradarias Mistas apresentam
O relativamente pronunciado. É claro que existem muitas exceções nestas
generalizações: o basalto e o tufito do Planalto Central produzem solos com N mais
reduzido (mas, ainda aí, este é o problema maior, ao lado de A); existem muitos solos
com alto N, originados de arenito no Nordeste, sob caatinga. Há, na Amazônia,
169
Este importante tópico será discutido posteriormente.
170
Esta afirmativa é também embasada nos comentários do Dr. R. Dudal (na época, técnico da FAO),
sobre esta carência marcante de informações, no mundo todo.

168
CLASSIFICAÇÃO E GEOGR AFIA DE SOLOS

manchas bastante extensas (pequenas pelas dimensões amazônicas) de terras com


N bem mais reduzido do que o normal (trechos do Acre, Rondônia e Pará, por
exemplo). Até mesmo no chamado Mar de Morros há pequenas áreas com M mais
reduzido.
Já que o problema existe sempre, pode-se ter, quanto a ele, apenas duas atitudes:
1. redução do problema - redução do delta, ou
2. convivência com ele.
7.3.1. Redução
A Tabela 7.J apresenta algumas práticas de redução dos problemas.
As práticas (Tabela 7.J) estão agrupadas de acordo com o grau de viabilidade,
segundo o critério técnico-econômico. As práticas de irrigação não foram incluídas.
Estas, no entanto, em geral, ou têm viabilidade b ou estão além do alcance individual
do agricultor.

Tabela 7.J Exemplos de práticas pertinentes às classes(1) a e b de viabilidade de


melhoramento (redução do ) (Sistema FAO/Brasileiro)
Classe a Classe b
Deficiência de nutrientes, N
Adubação verde Adubação com NPK + micronutrientes
Incorporação de esterco Adubação foliar
Aplicação de tortas diversas Dessalinização
Correção do solo (calagem) Correção do solo (gessagem)
Adubação com NPK Adubação fosfatada corretiva
Rotação de culturas Combinação destas práticas com "mulching"
Deficiência de água, A(2)
"Mulching" ou cobertura morta
Plantio em faixas
Construção de cordões, terraços e covas
Ajustamento dos cultivos à época das chuvas
Seleção de culturas adaptadas à falta de água
Deficiência de oxigênio, O
Construção de valas Trabalhos intensivos de drenagem
Suscetibilidade à erosão, E
Aração mínima (mínimo preparo do solo) Terraços em nível
Enleiramento de restos culturais em nível Terraços em patamar
Continua...

169
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES

Tabela 7.J Continuação...


Classe a Classe b
Culturas em faixas Banquetas individuais
Cultivos em contorno Diques
Rotação de culturas Interceptadores (obstáculos)
Pastoreio controlado Controle de voçorocas
Impedimentos à mecanização, M
Limpeza do terreno com uso do fogo Construção de estradas
Remoção parcial de pedras e de restos Drenagem
vegetais (troncos, raízes etc.)
Remoção de pedras
Sistematização do terreno
(1)
Classe a: melhoramento (redução do ) viável, com práticas simples e pequeno emprego de
capital; classe b: necessidade de práticas intensivas, mais sofisticadas, e considerável emprego
de capital. (2) Grande parte das práticas de redução de A subentende classe de viabilidade c
(práticas de grande vulto Tabela 7.C). Em muitos casos específicos pode ser classe b ou até
mesmo classe a (pequenas hortas onde há muita água).
Fonte: Adaptado de Ramalho Filho et al. (1983).

A redução dos problemas não é igualmente fácil para todos os solos, mesmo
tendo estimativamente o mesmo grau de limitação. Por exemplo: para reduzir um
determinado valor de delta para zero ou para outro valor de delta mais baixo que o
primeiro, devem-se aplicar insumos que podem ser diferentes conforme o solo. A
Tabela 7.K grupa os níveis de exigências de capital e refinamento de técnica para N,
E e M (neste caso é avaliado o grau de dificuldade de utilização de máquinas).

170
CLASSIFICAÇÃO E GEOGR AFIA DE SOLOS

Tabela 7.K Níveis de exigências (NE) referentes à necessidade de redução dos


desvios ( ). Os níveis gerais de exigências(1) são especificados pelos números 1 a 4,
expressando, nesta ordem, aumento de capital, refinamento de técnica, ou nível de
dificuldade para redução dos deltas.
NE N E M
1 Mínima exigência de Medidas simples ( E = 0 a 1). ( M 0), declives < 3%;
fertilizantes. Algumas das Práticas culturais e de manejo: rendimento efetivo do
características do solo(2) : aração mínima; rotação de trator > 0,90
T >8; V>50; S>4; Al<0,3; Ca+ culturas; culturas em faixas;
Mg>3; K>135; P>30; Sat.Na cultivos em contorno; pastoreio
<10; CE<4 controlado
2 Moderada exigência de Medidas intensivas ( E = 1 a 2). ( M = 1 a 2),declives de 3
fertilizantes, mínima de Práticas de engenharia de solo e a 8%; rendimento do
calagem. Algumas das água: terraços com base larga; trator: 0,7 - 0,9
características: terraços com base estreita
T=6 a 8; V=35 a 50; S=3 a 4; (cordões); terraços com canais
Al=0,3 a 1,5; Ca+Mg=2 a 3; largos; diques
K=45 a 135; P=10 a 30;
Sat.Na=10 a 20; CE=4 a 8
3 Alta exigência de fertilizantes, Medidas muito intensivas ( E = ( M = 2 a 3), declives de
moderada de calagem. 2 a 3) e complexas, incluindo 8 a 20%; rendimento do
Algumas das características: práticas onerosas de engenharia trator: 0,5 - 0,7
T=4 a 6; V<35; S<3; Al=1,5 a de solo e água: terraços em nível;
4; Ca+Mg<2; K<45; P<10; terraços em patamar; banquetas
Sat.Na=20 a 50; CE=8 a 15 individuais; interceptadores
(obstáculos); controle de
voçorocas
4 Alta exigência de fertilizantes Medidas técnica e ( M = 4), declives > 20%;
e alta de calagem. Algumas economicamente pouco viáveis rendimento do trator < 0,5
das características: ( E = 3 a 4); não devem receber
T<4; V<35; S<3; Al>4; tratos periódicos. Indicados, com
Ca+Mg<2; K<45; P<10; restrição, para pastagem ou
Sat.Na>50; CE>15 silvicultura; ou, nos casos
extremos, para preservação da
flora e da fauna
(1)
No caso do M referem-se aos graus de dificuldade para utilização de máquinas. (2) Símbolos:
T = capacidade de troca catiônica (cmol kg-1); K e P (mg kg-1); V = saturação por bases (%),
100S/T; S = soma de bases (cmol kg-1); Al = Al3+ (cmol kg-1); Ca+Mg = soma dos cátions
trocáveis Ca2+ e Mg2+ (cmol kg-1); Sat.Na = saturação por sódio (%), 100Na/T; CE = condutividade
elétrica a 25oC (dSm-1).

171
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES

7.3.2. Práticas de Redução versus Convivência


Na busca de solução para os problemas, quase sempre se pensa em reduzir171
esses problemas, e isto é quase sempre tido, em nossa psicologia, como o único sinônimo
de solução de um problema. Essa atitude seguramente muito influenciou e ainda
influencia os pensamentos relativos ao manejo da terra.
A Tabela 7.L apresenta as limitações ambientais (além das já vistas: N, A,
O, E e M, adicionaram-se T, L, C e V para se referir a problemas de
temperatura do solo ou do ar, luminosidade, gás carbônico e vento, respectivamente).
Supõe-se que foram incluídos todos os fatores ambientais pertinentes ao meio físico172.
Nesta Tabela 7.L estão sendo consideradas, como práticas de redução (em relação
ao solo), apenas aquelas práticas que modificam o próprio solo em alguns dos seus
atributos, mesmo que seja o seu relevo, por exemplo, através de cordões de contorno,
sulcos etc. As práticas de convivência são aquelas que afetam inicialmente os fatores
externos do solo; visam uma adaptação aos desvios, sem, contudo, reduzi-los.
Na Tabela 7.L podem ser observados alguns aspectos interessantes: a agricultura
considerada como avançada, com alto nível tecnológico, prima pela aplicação de esforço e
insumos na redução dos deltas. Observe - e este é um aspecto muito crucial nos tempos
atuais - as quantidades de insumos na forma de energia combustível. Daí, a grosso modo,
as práticas de redução estarem ligadas, mais tipicamente, ao chamado manejo C (Tabela
7.D), com aplicação intensiva de capital, alto nível tecnológico e mecanização em todas
as fases da operação agrícola. As práticas de convivência, por outro lado, até agora
quase sinônimo de práticas de sobrevivência173, caracterizam o agricultor de baixa renda:
baixo nível tecnológico, o capital praticamente não é aplicado e a força de trabalho é
principalmente braçal ou alguma tração animal, com implementos simples.
As práticas de convivência têm contra si toda uma engrenagem histórica. Só
nos últimos anos, por exemplo, é que está havendo preocupação por parte dos
melhoristas de plantas, no sentido de adaptar a planta às deficiências do solo, mormente
aquelas difíceis de corrigir. Os trabalhos de melhoramento, envolvendo competição de
variedades etc., eram feitos de forma a receber altas doses de adubo, havendo, com
isto, quase uma seleção negativa para variedades adaptadas a N.

171
A idéia de conquista da natureza parece ter criado a de que as limitações são problemas que precisam
ser removidos a qualquer custo. Considera-se exótica a idéia de convivência com os problemas. As
pressões sobre a otimização das relações sociedade/natureza de uma forma sustentada, necessariamente
tendem a enfatizar as práticas de convivência; mesmo porque, com a escassez de recursos (quantidade e
qualidade), a viabilidade de melhoramento reduz-se.
172
É possível que o campo magnético venha a ser acrescentado a este elenco, no futuro.
173
No contexto de um sistema de problemas de várias naturezas, a agricultura de subsistência premia as
práticas de convivência - viver com o que se tem. Esta parece ser embrionariamente a idéia chave na futura
relação sociedade/natureza.

172
CLASSIFICAÇÃO E GEOGR AFIA DE SOLOS

Tabela 7.L Classificação das práticas agrícolas em práticas de redução e práticas


de convivência. Estão excluídos os fatores biológicos (pragas, doenças etc.),
geográficos (localização, transporte etc.) e socioeconômicos.
Limitações ( ) Práticas de Redução Práticas de Convivência
Nutrientes, N Adubação, calagem, aplicação de Espécies e variedades
gesso, adubação verde etc. selecionadas, agricultura
nômade com pousio e
queima
Água, A Irrigação, "mulch", terraços, sulcos Espécies e variedades
selecionadas, lavoura-seca,
plantas de ciclo curto e
época de plantio, culturas
em faixas, "mulch"
Oxigênio, O Drenagem, enleiramento Espécies (arroz) e varieda-
des selecionadas
Erosão, E Terraceamento, cordões em con- Semeadura em curvas de
torno, terraços em patamar, banco nível, culturas em faixas,
ou escada; banquetas individuais; cobertura do terreno, culti-
enleiramentos permanentes; vale- vos alternados, renques de
tamento; coveamento e encordoa- vegetação cerrada, agricul-
mento do mato tura nômade - pequenos
talhões, consorciação de
culturas
Mecanização, M Pouco usadas: nivelamento do ter- Ajuste dos implementos
reno, preparo de terraços, retirada cada vez mais leves até a
de pedras, construção de patamares, tração animal e mesmo
destruição de termiteiros implementos manuais,
conforme o agravamento
do desvio, ajuste do
implemento (tamanho de
rodas, por exemplo)
Temperatura, T "Mulch", sombreamento, combate à Espécies e variedades
geada, estufa, estufim (fermentação selecionadas, época de
de material orgânico e cobertura plantio, profundidade de
plástica) plantio, exposição da
encosta
Luminosidade, L Estufas, sombreamento, pintura em Espécies e variedades
cor branca. selecionadas, época de
plantio, sombreamento
Gás Carbônico, Direcionamento, decomposição Espécies, variedades e
C biológica espaçamento
Vento, V Quebra-vento, alinhamento Espécies e variedades
selecionadas, tratos
conforme hora do dia

173
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES

7.3.3. Práticas de Convivência


Os fatos apontados anteriormente trouxeram algumas surpresas. A primeira
delas é que identificada a importância do agricultor de baixa renda e decidindo-se
estudar a melhor forma de se fazer alguma ação, vem a surpresa: pesquisadores,
extensionistas e talvez até as agências creditícias estão despreparadas para enfrentar
esse novo desafio.
Talvez essa dificuldade venha abrir uma nova perspectiva: a de que os técnicos
mencionados possam desenvolver novos caminhos para este problema. No que se
refere ao pesquisador, há aí uma riqueza de informações e experiências digna de ser
investigada174. Ninguém vive e sente melhor todo o sistema agrícola do que o agricultor
e, em particular, o agricultor de baixa renda. A insistência do agricultor em determinadas
práticas pode ser muito significativa175.

7.4. Geografia de Solos


A distribuição geográfica do recurso solo no Brasil e seus problemas relativos à
utilização serão abordados muito sucintamente a seguir. Este item objetiva mais
diretamente a síntese sobre alguns padrões gerais, já mostrados pelos trabalhos de
levantamento de solos, principalmente os realizados pelo SNLCS (CNPS) e RADAM.

7.4.1. Domínio Pedobioclimático176 da Amazônia


Área coberta por florestas equatorial e tropical (Figura 7.A). Inclui a floresta
com muitas palmáceas (babaçu177), que começa na divisa do AM/PA, para leste. Há
cerrado nas transições, nas divisas do Brasil ao norte e em direção ao Planalto Central
ao sul. São comuns Latossolos Amarelos (Latossolos Amarelos Distrocoesos) e
Podzólicos Amarelos (Argissolos Amarelos), ambos álicos (alta saturação por Al),

174
No sistema complexo de limitações, sem viabilidade de grandes melhoramentos, e enfatizando as
práticas de convivência, o pequeno agricultor ajusta-se convergentemente ao contexto. Isto é fonte valiosa
de informações para a compreensão das relações sociedade/natureza.
175
As práticas de agricultura nômade, a consorciação de culturas etc. são alguns dos exemplos que só mais
recentemente estão sendo reconhecidos como tecnicamente fundamentados.
176
Usou-se aqui a expressão domínio pedobioclimático em vez da expressão original de Ab Saber (1970) -
domínio morfoclimático - por duas razões: (1) por considerar-se solo como um corpo tridimensional; e
(2) a ênfase é na geografia de todas as características do solo, e não apenas na pedoforma. A expressão
domínio pedobioclimático, por outro lado, enfatiza a base do tetraedro ecológico (Figura 1.A), o que nos
parece mais harmônico com o escopo deste texto.
177
A palmeira babaçu (Orbignia martiana) existe distribuída na Amazônia; com a queimada ela se expande.
Essa, supõe-se, é a origem da mata dos cocais no Maranhão. O babaçu é pouco exigente no que se refere
às condições de solo: ocorre em solos ricos, pobres e de drenagem variável. A competição pela floresta,
eliminada pela queima, e a participação de alguns animais na distribuição das sementes contribuem para
a expansão dessa palmeira.

174
CLASSIFICAÇÃO E GEOGR AFIA DE SOLOS

pobres em Fe e de baixíssima capacidade de troca catiônica. Nas áreas de ruptura do


declive das elevações e nos locais de drenagem mais deficiente são comuns os solos
com plintita. Há solos ricos, relacionados com os aluviões dos rios que são influenciados
pelos sedimentos dos Andes, nas áreas de intrusões de rochas máficas e em alguns
locais da ilha de Marajó.

Figura 7.A Domínio pedobioclimático da Amazônia (AB SABER, 1970).

Os Latossolos e Podzólicos (Argissolos) são tipicamente cauliníticos e


goethíticos e possuem um horizonte A delgado. A riqueza química encontra-se ligada
à vegetação (fitotessela). A queima faz aumentar temporariamente178 o teor de
nutrientes na superfície; as colheitas decrescem a níveis não compensadores, a
partir do terceiro ano.
Plantas perenes nativas ou culturas especiais, como pimenta-do-reino, é que se
têm mantido melhor. As pastagens de braquiárias (exceção ao braquiarão, mais exigente
em nutrientes) têm-se saído bem. No Sul do Pará o colonião vai razoavelmente bem,

178
Os nutrientes no ecossistema (ecotessela), podem estar em maior quantidade no solo (pedotessela) -
como na área das caatingas - ou na vegetação (fitotessela) - como na Amazônia. A derrubada e queima da
vegetação expõem toda a riqueza de nutrientes à superfície, no caso da Amazônia; no caso do subárido, a
ecotessela ainda tem grande reserva em nutrientes, mesmo após a queima e erosão.

175
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES

desde que se lhe apliquem cerca de 50 kg de P2O5/ha, após cinco anos da instalação
da pastagem179 (SERRÃO et al., 1978). O uso de reservas extrativistas, no entanto,
parece ser o mais adequado para muitas áreas, e quase a única opção para algumas
outras (RESENDE & PEREIRA, 1988).

7.4.2. Domínio do Subárido Nordestino


Esta é uma área rebaixada em relação às chamadas serras, como Martins,
Araripe etc. O Seridó do Rio Grande do Norte e da Paraíba é um bom exemplo.
Nesse domínio (Figura 7.B), percebem-se duas pedopaisagens distintas: a de intensa
remoção de sedimentos, associada aos afloramentos de rochas (inselbergs) e
elevações menores, em nível abaixo deles; e a outra pedopaisagem que expressa
acúmulo de sedimentos, estando mais próxima ao piso do vale. Os solos
Litólicos180(Neossolos Litólicos) e Brunos Não Cálcicos181(Luvissolos Crômicos)
formam a primeira pedopaisagem, enquanto a segunda está associada a solos com
horizonte B textural, com evidências de hidromorfismo (atualmente B plânico) ou B
nátrico. Pastagem e algodão arbóreo são os usos principais. A cultura de vazantes,
inclusive com o capim-andrequicé [Echinochlea colunum (L.) Link], é um exemplo
marcante de convivência com as condições regionais. O capim-panasco (Aristida
adscensionis L.) é bastante comum nos Brunos Não Cálcicos (Luvissolos Crômicos).
Os solos são rasos e pedregosos.
A falta de água controla a produção182, mas, mesmo aí, a fertilidade do solo é
fundamental. As elevações (chapadas ou serras) dessa região com solos menos férteis
constituem transição das áreas de caatinga (superfície rebaixada) para o cerrado do
Planalto Central (Araripe) ou para o domínio dos Mares de Morros Florestados, já
mais próximo do litoral (Borborema).

179
Pastagens na Amazônia: a deficiência de nutrientes e a alta pressão de ocupação pela vegetação nativa,
nos lugares mais pluviosos, torna difícil a manutenção de pastagens; o fogo, por exemplo, no caso do
capim-colonião, enfraquece a pastagem por acelerar a exportação daquilo que tende a estar em mínimo -
os nutrientes - mesmo nos lugares suavemente declivosos.
180
Os Solos Litólicos (Neossolos Litólicos) podem ter um horizonte A diretamente sobre a rocha; ou, o
que é mais comum, existe um horizonte C pouco espesso entre o horizonte A e a rocha (R). Quando a
soma dos horizontes A e C dá mais de 50 cm, tem-se um Regossolo (Neossolo Regolítico).
181
Brunos Não Cálcicos (Luvissolos Crômicos) - solos comuns nas áreas de rochas cristalinas das regiões
subáridas brasileiras. São solos pouco profundos, têm horizonte A arenoso, freqüentemente cascalhento,
sobre horizonte B textural tendo alta atividade de argila, apresentando cerca de 50 cm de espessura.
182
A área das caatingas tem, pelas condições atmosféricas, céu limpo por boa parte do tempo, alta
radiação, grande variação de temperatura entre dia e noite. A condição de subaridez reduz substancialmente
as pragas e doenças de plantas e animais. O gado, por exemplo, é praticamente isento de parasitas (bernes,
carrapatos etc.) tão comuns em outras áreas do Brasil. Além desse quadro ambiental peculiar, afetando a
vida, há uma intensa renovação dos solos, liberando os nutrientes. A produção de hortifrutíferas e de
pequenos criatórios, ambos subsidiados por pequena irrigação, são muito promissores.

176
CLASSIFICAÇÃO E GEOGR AFIA DE SOLOS

Figura 7.B Domínio pedobioclimático das depressões interplanálticas subáridas do


Nordeste, revestidas por caatingas (AB SABER, 1970).

7.4.3. Domínio dos Mares de Morros Florestados


Esta área estende-se por uma faixa ao longo da costa brasileira desde o extremo
sul do País até o Nordeste (Figura 7.C).
O nome Mar de Morros é dado porque a região, vista de uma posição mais
alta, lembra as ondas do mar. A vegetação é dominantemente subperenifólia. Esta
área é tipicamente gnáissico-granítica e os solos apresentam relevo bastante acidentado.
O horizonte C é em geral muito profundo183 e os solos são geralmente pobres em
nutrientes. Apesar do relevo acidentado, os Latossolos são muito resistentes à erosão
(têm permeabilidade acentuada e ainda alguma coerência entre os grânulos
(RESENDE, 1985). Os deslizamentos de terra são, no entanto, comuns em áreas

183
O horizonte C quando apresenta evidências da estrutura da rocha, é identificado pelo acréscimo do
sufixo r - Cr. Mais próximo da superfície a atividade biológica destrói evidências da estrutura da rocha: o
horizonte Cr passa a horizonte C. A intemperização das rochas gnáissico-graníticas do Brasil chamou a
atenção de antigos naturalistas: de Darwin, que passou pelo Rio de Janeiro de 4 de abril a 5 de julho de
1832 e novamente em 1836, registrando a profundidade e o colorido do horizonte C; de Gardner (1836-
1841), que atentou para o barro vermelho, os atuais horizontes C e Cr; assim como de Samuel Allport, em
Salvador (décadas de 1850 a 1860); e Richard Burton, em 1867, que notou o espesso manto de argila
vermelha (horizontes C e Cr) sobre o gnaisse cinzento da Serra do Mar (LEONARDOS, 1970).

177
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES

mais íngremes, em razão do contraste entre o horizonte B, argiloso, estreito, e o


horizonte C, muito profundo, pouco coerente, muito siltoso, com grandes lâminas (silte
e areia) de caulinita. Pastagens (capim-gordura) e lavouras de café, nos solos mais
pobres, e pastagens de colonião e jaraguá e culturas anuais, nos solos melhores (e
com maior A), constituem o padrão geral de utilização. A cana-de-açúcar ocupa
alguns desses solos. Esse domínio pedobioclimático, em função da pluviosidade maior,
mas também do profundo manto de alteração (maior armazenamento de água), intenso
dissecamento, e com eficiente cobertura vegetal, é muito bem provido de pequenos
cursos de água. As implicações disto para uso ainda não foram devidamente exploradas.

Figura 7.C Domínio pedobioclimático dos Mares de Morros Florestados


(AB SABER, 1970).

7.4.4. Domínio do Cerrado


No domínio do Cerrado (Figura 7.D) as grandes chapadas e os trechos mais
suaves são formados por Latossolos com teores de óxidos de Fe e gibbsita maiores que
os da Amazônia; a permeabilidade e a espessura do horizonte A são também maiores.
As Areias Quartzosas (Neossolos Quartzarênicos) são também comuns. Nos trechos
acidentados, geralmente com substrato de rochas pelíticas pobres, os solos são muito
rasos, quase que sem horizonte A, freqüentemente cascalhentos e muito encrostados.
O período seco é pronunciado, a umidade relativa é baixa e venta muito.

178
CLASSIFICAÇÃO E GEOGR AFIA DE SOLOS

Figura 7.D Domínio pedobioclimático do Cerrado (AB SABER, 1970).

Grandes insumos na forma de corretivos, fertilizantes etc. têm incorporado


muitas áreas de pastagem nativa pobre ao processo produtivo. O uso de máquinas
tem, em poucos anos, compactado bastante o solo. Há muito reflorestamento com
eucalipto e algum plantio de café, proporção esta que tende a se inverter.
Os solos mais jovens, como Cambissolos, Solos Aluviais (Neossolos Flúvicos) e
solos hidromórficos associados aos cerrados, freqüentemente têm alto teor de Al
trocável, como os da área de Brasília.
Nas bordas das chapadas ocorre a tapiocanga (petroplintita), muito usada como
piso de estrada, cuja presença é muito importante na manutenção dos remanescentes
das chapadas. Ao longo das linhas de drenagem (parte mais baixa da paisagem) existem
florestas-galerias184. Nos limites com as regiões mais secas, como no sul do Piauí, há
transições para caatingas185.

184
A floresta-galeria ocorre ao longo dos cursos d água em faixa de largura variável, mas bem menor do que
a vegetação não florestal das partes mais altas (cerrados e campos).
185
O cerrado pode, em algumas condições, perder as folhas completamente, tornar-se caducifólio. Isso
tende a ocorrer, como esperado, nas áreas transicionais para as caatingas; são relativamente comuns no
Norte de Minas (JACOMINE et al., 1979).

179
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES

7.4.5. Domínio do Planalto das Araucárias


As matas de araucária e os campos a elas associados ocupam partes do Norte
do Estado do Rio Grande do Sul até o Nordeste do Paraná186(Figura 7.E).
A temperatura é mais baixa que em outras regiões do Brasil. A deficiência de
água é também menor. Os solos possuem altos teores de matéria orgânica e altos
teores de Al trocável nos trechos mais suaves. Nos entalhamentos dos vales há também
solos muito férteis.
A araucária é mais expressiva em alguns trechos de Santa Catarina (ALONSO,
1977), mas há gradações para os campos que lhe estão geograficamente associados.
Nessas áreas, trigo e soja têm sido bastante cultivados.

Figura 7.E Domínio pedobioclimático do Planalto das Araucárias (AB SABER, 1970).

186
Existem ocorrências esparsas de araucária na parte leste de São Paulo, prolongando-se pelas áreas
elevadas de Minas (como Sul de Minas e região de Barbacena), até o Vale do Rio Doce. Alguns exemplares
desse pinheiro foram encontrados no fim da década de 1940, no município de Prata, no Triângulo
Mineiro, por Adalgiso Fernandes Corrêa (pai de GFC), então comerciante no ramo de madeira. Isso tudo
parece estar no contexto de que o clima do Brasil já foi mais frio. Plantas do gênero Myroxylon distribuem-
se do norte da Argentina ao México; pouco presentes na Amazônia, mas freqüentes nas serras úmidas
(brejos) do Nordeste. A expansão das plantas desse gênero teria ocorrido durante uma das marés de frio
no Pleistoceno; com o retorno de temperaturas mais altas, teriam permanecido nos brejos. A araucária
também ocupou uma área muito maior (BIGARELLA et al., 1975; HESTER & COUTO, 1975).

180
CLASSIFICAÇÃO E GEOGR AFIA DE SOLOS

7.4.6. Domínio das Pradarias Mistas


Esta área corresponde à Campanha do Rio Grande do Sul (Figura 7.F). Aí os
solos apresentam um relevo suave, sendo cobertos por vegetação graminóide e matas-
galerias subtropicais. Há grandes áreas de solos com problemas de drenagem. Há um
período seco no verão (janeiro e fevereiro)187. A menor precipitação nesta época (a
mais quente) e a pouca profundidade do solo trazem problemas acentuados de falta
de água. Os solos tendem a ser bastante escuros, apresentando com freqüência argilas
de alta atividade (Vertissolos188, Brunizéns189 - atuais Chernossolos Ebânicos e solos
afins). Latossolos com horizonte A escurecido ocupam as áreas mais elevadas. As
pastagens extensas usadas para gado de raças européias e o relativo vazio populacional
humano são característicos.

Figura 7.F Domínio pedobioclimático das Pradarias Mistas (AB SABER, 1970).

187
O fato de o período seco coincidir com meses quentes torna o bioclima muito mais seco; o estresse
hídrico fica mais pronunciado. Além disso, há uma erraticidade nas precipitações mensais, não detectada
pelas médias, resultando num bioclima ainda mais seco. A desertificação, aparentemente anômala pelos
totais de precipitação, pode ter aí um importante contributo.
188
Vertissolo, do latim, vertere; dá conotação de inversão da superfície do solo. Tem muito alta atividade
de argila, apresentando expansão e contração pronunciadas com umedecimento e secagem, produzindo
superfícies de fricção e grande fraturas, respectivamente.
189
Brunizém (Chernossolo Ebânico), apresenta horizonte B incipiente ou B textural de cores não muito
vivas; nisto difere do Brunizém Avermelhado (Chernossolo Argilúvico).

181
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES

7.4.7. Mais sobre os Domínios Pedobioclimáticos


Obviamente, esses domínios pedobioclimáticos são muito amplos. Há ainda,
áreas de grande significância que podem apresentar caracteres transicionais entre
domínios ou mesmo apresentar características peculiares (Figura 7.G).

Figura 7.G Áreas de transição entre domínios pedobioclimáticos (AB SABER, 1970).

Nesse contexto estão as áreas basálticas e areníticas com vegetação original


de floresta, desde o sul do Planalto Central até o domínio da floresta com araucária,
nos estados sulinos. Por outro lado, o Pantanal constitui uma unidade à parte,
onde o período de grande umidade (outubro a março) é alternado com seca
pronunciada (abril a setembro), e onde à vegetação dos campos (formando as
pastagens nativas) adicionam-se paisagens diferentes, identificadas por nomes
relacionados às plantas dominantes ou muito expressivas - carandazal, paratudal,
piuval, buritizal, acurizal, pindaibal, pirizal, pajonal etc. (PEREIRA, 1966). Nesse
ambiente os solos hidromórficos, embora variáveis no tempo e no espaço quanto
ao grau de deficiência de oxigênio, constituem a principal expressão pedológica.
Outra variação são os campos altimontanos, como os existentes no Quadrilátero
Ferrífero, outras porções do Espinhaço e também no Sul de Minas, Serra da
Canastra etc. Seus solos são pobres e geralmente rasos, expressando a pobreza

182
CLASSIFICAÇÃO E GEOGR AFIA DE SOLOS

das rochas de origem190, como quartzitos (como o Pico do Itacolomi) e rochas


pelíticas pobres (filitos e micaxistos). Estes últimos de pedoformas mais suaves nos
contornos, mesmo quando o relevo (desnível) é muito pronunciado. Mas a ocorrência
mais comum é de áreas transicionais para cerrado, floresta e caatinga.
Há, sob os critérios de reconhecimento dos domínios pedobioclimáticos, uma
situação peculiar na parte centro-setentrional de Roraima. Aí as pedopaisagens se
assemelham, em muitos aspectos, mais ao Pantanal do que à Amazônia. Os solos da
região, na maioria distróficos (Latossolos Amarelos), estão sob vegetação de cerrado,
apesar de ser um ambiente tipicamente conservador. Porém localmente, nas áreas de
afloramento de rochas cristalinas ácidas, o efeito conservador do sistema se manifesta
e, assim, sob a mesma fitofisionomia, são encontrados solos solódicos (SCHAEFER
et al., 1993).

7.4.8. Lições de Geografia de Solos


A distribuição dos solos nas regiões morfoclimáticas, com suas características,
inclusive pedoclimáticas, ou mesmo numa área menor, como uma propriedade agrícola,
por exemplo, trazem importantes lições.
Mata-Agreste-Sertão, uma seqüência agropedoclimática
A seqüência de solos da Zona da Mata, passando pelo Agreste até o Sertão,
na direção leste-oeste no Nordeste Brasileiro, mostra alguns aspectos interessantes
relacionados com N e A (deficiência de nutrientes e de água, respectivamente).
A parte leste, a Zona da Mata, apresenta maior precipitação pluvial, e seus solos
maior lixiviação de nutrientes, isto é, possuem alto N e baixo A. Os solos do
Sertão, no outro extremo, apresentam inversamente maior A e menor N. O
Agreste ocupa, a este respeito, uma posição intermediária: não tão seca como o
Sertão, nem tão pobre em nutrientes como a Zona da Mata (Figura 7.H).
A Figura 7.H ilustra alguns aspectos interessantes:
1. os riscos são menores na Zona da Mata, onde A é mínimo, mas, em
compensação, o valor de N está no máximo. A redução de N exige muito
capital;
2. os riscos são maiores no Sertão, onde A é o problema maior e N está em
mínimo. A redução de A está sendo considerada fora das possibilidades para
a maioria dos agricultores;

190
Além da pobreza química genérica das rochas há, pela evapotranspiração reduzida e precipitações
elevadas, uma lixiviação intensa com uma taxa de intemperização não tão acentuada; nesta circunstância
pode ocorrer a presença de minerais primários facilmente intemperizáveis (moscovita, por exemplo) num
solo com baixa saturação por bases, freqüentemente álico (CARVALHO FILHO et al., 1991).

183
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES

3. o Agreste191 representa a melhor otimização dos deltas. O A não é aí tão


acentuado como no Sertão, nem o N tão extremo quanto na maior parte dos
solos da Zona da Mata.

SERTÃO AGRESTE MATA

Figura 7.H Tendências de produção das culturas anuais em função de A e N


nas zonas da Mata, Agreste e Sertão. As barras verticais representam as produções
máximas e mínimas; a linha horizontal a heterogeneidade (variação) de precipitação
na estação de crescimento: maior no Sertão e mínima na Mata.

Os fenômenos acima sugerem192 que o crédito para a lavoura deveria ser maior,
no montante, para a Zona da Mata mas com menor tempo de carência. Deveria, por
outro lado, ser menor no Sertão mas com muito maior tempo de carência. O Agreste
ocuparia, nesse contexto, a posição intermediária. Por outro lado, estudos sobre
probabilidade de precipitação193 poderiam sugerir a possibilidade de seleção de cultivares
com ciclos diferentes para as três zonas. Em princípio, prevê-se que quanto mais
curto for o ciclo de uma cultura, mais adaptável ela será no Sertão (Seridó, por exemplo).
Aí a absorção de nutrientes pode ser elevada, havendo água. Na Zona da Mata, onde
o teor de nutrientes é baixo e os riscos de A são menores, parece que as culturas de
ciclo um pouco mais longo teriam mais vantagens.
Uso simultâneo de várias unidades de terra
Além da necessidade de regionalização das linhas mestras de apoio ao agricultor ou
de estudos a esse respeito, deve-se ter em mente a heterogeneidade a nível mais local.
191
As condições bioclimáticas do Agreste, vegetação relativamente fechada, não ofereciam boas pastagens
originalmente, isso ao contrário do Sertão. É provável que isso tenha contribuído para um certo desinteresse
do grande proprietário. O Agreste, em alguns trechos de Pernambuco e da Paraíba, talvez seja o local de
maior densidade rural sustentável, pelo menos até agora, no Brasil (RESENDE, 1992).
192
Estes exemplos representam o que se prevê, com base tão somente no que foi relatado anteriormente.
O problema, no entanto, tem muitas facetas e exige conhecimentos especializados, alheios à experiência
dos autores.
193
As médias de precipitação, mesmo se não muito baixas, acobertam uma grande variabilidade.

184
CLASSIFICAÇÃO E GEOGR AFIA DE SOLOS

Em consonância com o que foi visto sobre a necessidade de estratificação


(item 7.1.3.) ao nível de implementação ou como subsídio mesmo para programas
gerais, há necessidade de pelo menos algum exame mais detalhado nos estratos.
As grandes áreas pedobioclimáticas, por exemplo, são separadas com base na
identificação de conjuntos de paisagens recorrentes (semelhantes, até certo grau), na
área toda. Quanto ao aspecto físico, o funcionamento de uma propriedade agrícola
depende freqüentemente da consideração simultânea das várias unidades de terra.
Por exemplo: o agricultor, numa área do domínio do Mar de Morros, pode ter como
melhor solução para o seu problema de forrageira, o plantio de capineira nos terraços
e segmentos côncavos das elevações, deixando as pastagens de capim-gordura nas
elevações restantes. Apesar de os solos de terraços e partes côncavas ocuparem
uma área pequena, eles podem representar um papel dos mais essenciais no contexto
da exploração da área como um todo (CURI et al., 1992). Uma análise geral, baseada
no tamanho da área de ocorrência de cada solo, por exemplo, tenderia a desconsiderar
esses aspectos.

7.5. Classificação de Solos


A classificação é um meio de comunicação. As palavras que identificam uma
classe de solo194 (ou de qualquer objeto) representam uma síntese de tudo o que se
sabe, sistematicamente, sobre os solos que pertencem àquela classe. As classificações
de solos estão ainda longe da perfeição relativa das classificações botânicas, zoológicas
etc. No entanto grandes progressos têm sido realizados nos últimos anos. E isto pode
ter implicações práticas: há um esforço, apenas começando, mas que desperta muita
esperança, para se estudar a transferência de agrotecnologia de um país para outro,
não da Europa ou dos Estados Unidos para o Brasil, por exemplo, mas entre países
situados nas áreas intertropicais. Percebe-se, pelo que já foi comentado anteriormente,
que para tal transferência há que se considerar uma definição melhor do sistema
ecológico. A classificação taxonômica de solos é, aí, insubstituível.
A FAO publicou em 1974, com revisões em 1988 e 1994, o mapa de solos do
mundo. Trata-se de um trabalho básico para um melhor entendimento dos problemas
da geografia da fome . Para esse trabalho usou-se uma classificação especial de
solos, a classificação da FAO. O sistema de classificação mais bem trabalhado é o
dos Estados Unidos (Soil Taxonomy), mas este é pouco desenvolvido no que se

194
Há, quase sempre, uma dificuldade no uso dos nomes das classes de solo. Parte do problema é porque
os nomes não são familiares: a atribuição de nomes regionais às unidades de mapeamento no Rio Grande
do Sul (unidade Vacaria, Erexim, Caxias etc.) propiciou, aparentemente, uma melhoria neste aspecto. O
acervo de informações ambientais contempladas na classe de solo (e unidade de mapeamento) é tão grande
que é uma pena que ainda não tenhamos conseguido colocá-lo de forma mais acessível ao usuário.

185
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES

refere à algumas classes de solos de domínio tropical. Resultado: cada país tende a ter
um sistema de classificação próprio que mais se ajuste às suas condições; ao mesmo
tempo procura-se, nas publicações principais, estabelecer relações com as classes
dos outros dois sistemas: FAO e Soil Taxonomy.

7.5.1. Propósitos da Classificação


a) Organizar os conhecimentos195, contribuindo para a economia de pensamento.
b) Salientar e entender relações entre indivíduos e classes da população que está
sendo classificada.
c) Relembrar propriedades dos objetos classificados.
d) Aprender novas relações e princípios dentro da população que está sendo
classificada.
e) Estabelecer grupos ou subdivisões (classes) de objetos sob estudo, de uma
maneira útil para propósitos práticos aplicados em:
predizer o comportamento;
identificar os melhores usos;
estimar a produtividade;
prover objetos ou unidades para pesquisa e para extensão, bem como
possibilitar a extrapolação dos resultados de pesquisa ou de observações.
7.5.2. Sistema Americano de Classificação de Solos (Soil Taxonomy)
É um sistema que introduziu uma nova estruturação e nomenclatura
completamente diferente das outras classificações pedológicas desenvolvidas no mundo
até então, sendo considerado o mais bem elaborado.
Tem seis níveis categóricos196: ordem, subordem, grande grupo, subgrupo, família
e série. Nesta mesma direção (ordem série), verifica-se: menor grau de abstração
(menor generalização), maior homogeneização de classes, maior possibilidade de
previsões a respeito do comportamento das classes etc. Os critérios de distinção de
classes, no primeiro nível categórico, baseiam-se em processos de gênese, expressos
nos horizontes diagnósticos, em sua relação com outras características do solo

195
Informação é conhecimento; é antônimo de ignorância. A classe de solo traz muitas informações a
respeito do ambiente para as raízes; também quanto a impedimentos à mecanização, erodibilidade,
infiltração de água etc. Se, além do nome central da classe, houver informações sobre o relevo e a vegetação
original, como nas unidades de mapeamento da maioria dos levantamentos de solos realizados no Brasil,
o volume de dados aumenta muito; emergem novas possibilidades de conhecimento, interações peculiares
de cada classe.
196
As classificações botânicas, zoológicas e pedológicas são estruturadas em diferentes níveis de generalidade;
as classes de alto nível são em pequeno número, mas, cada qual, com um grande número de elementos: são
classes muito heterogêneas. O número de classes vai aumentando em direção aos níveis categóricos
inferiores; e o número de elementos em cada classe vai diminuindo: tornam-se mais homogêneas.

186
CLASSIFICAÇÃO E GEOGR AFIA DE SOLOS

consideradas de maior relevância. No segundo nível (subordem) as distinções têm como


parâmetro o regime de umidade e de temperatura do solo197, e em terceiro nível são
consideradas características morfológicas importantes. Dentro do escopo destas anotações,
apenas a categoria de ordem é abordada, mesmo assim de maneira bem generalizada.
A Tabela 7.M fornece alguns subsídios básicos a respeito do nível categórico
mais genérico deste sistema de classificação.

Tabela 7.M Nomes das ordens, elementos formativos e sua derivação (ESTADOS
UNIDOS, 1975, 1999).
Ordem Elemento Formativo Derivação *
Vertisol ert L. - vertere, inverter
Entisol ent Ent, de recente; lembra solos jovens
Inceptisol ept L. - inceptum, início
Aridisol id L. - aridus, seco
Spodosol od G. - spodos, cinzas de madeira
Ultisol ult L. - ultimus, último
Mollisol oll L. - mollis, macio
Alfisol alf relativamente rico nesses elementos: Al e Fe.
Oxisol ox F. - oxide, óxido
Histosol ist G. - histos, tecido
Andisol and J. - ando, solo escuro
Gelisol el L. - gelare, gelo
*L. = Latim; G. = Grego; F. = Francês; J. = Japonês.

7.5.2.1. Alguns Problemas na Aplicação da Soil Taxonomy no Brasil


Além do já bem conhecido fato de que a Soil Taxonomy ainda está muito
incipiente no que se refere a solos tropicais, existem alguns problemas como:
a) na carência de dados precisos, a aplicação do regime hídrico e térmico do solo
torna sua separação, mesmo em alto nível categórico, muito problemática;
b) ela dá muito pouca ênfase ao solo como corpo tridimensional; há muita ênfase
no perfil e pouca ênfase na paisagem198;

197
A aplicação dos regimes hídrico e térmico do solo à classificação, em particular em alto nível categórico,
apresenta dificuldades. Além da deficiência de dados para muitas partes do mundo, trata-se de um dado
probabilístico; por exemplo, um Latossolo Vermelho-Escuro (Latossolo Vermelho com teor de Fe2O3 <
18%) num período de 52 anos (SANS, 1986) tem, em média, 51 dias em que o solo (seção de controle) está
parcial ou totalmente seco; mas essa amplitude vai de 8 a 144 dias (SANS, 1986; RESENDE et al., 1992).
198
No Planalto de Viçosa, numa área interpretada como tendo havido coluviações, há acúmulo gradativo
ou episódico de material, podendo haver, lado a lado, diferentes perfis de carbono, dando valores acima e
abaixo de 16 kg/m3; o limite de 16 kg de carbono por metro cúbico separa Humox de Orthox.

187
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES

c) ela dá pouca ênfase à cor do solo199;


d) a nomenclatura utilizada é de difícil leitura, até para aqueles cuja língua nativa é
o inglês.
7.5.3. Classificação Brasileira de Solos
Este sub-capítulo será dedicado à classificação de solos usada nos
levantamentos pedológicos do País, antes da existência do novo Sistema Brasileiro
de Classificação de Solos (EMBRAPA, 1999), elaborado por técnicos de várias
instituições de pesquisa e universidades brasileiras sob a coordenação da Embrapa
Solos (CNPS), que atualmente se encontra em sua segunda edição (EMBRAPA,
2006). Isso se faz necessário, como já mencionado no Capítulo 1, devido ao grande
volume de informações, preservado com os nomes antigos dos solos e, pela própria
expressão desses nomes ainda se fazer presente na troca de informações entre
técnicos. Significa que o esquema de classificação de solos usado formalmente no
Brasil, até o final da década passada, ainda será empregado no exercício de
correlação com o atual sistema por um bom par de anos. A classificação anterior ao
novo sistema é, sob certa forma, uma mistura de nomes antigos com conceituações
novas. Alguns nomes constantes dos sistemas americanos de 1938 (com revisões
de 1949)200 são usados mas definidos de uma forma mais precisa. Neste aspecto,
muitas das conceituações da Soil Taxonomy (ESTADOS UNIDOS, 1975) foram
adotadas mas não estritamente.
A classificação anteriormente usada no Brasil, e aqui discutida, é profundamente
relacionada com a ocorrência do solo na paisagem. Objetiva principalmente servir ao
levantamento de solos. Isto torna muito estreita a correspondência entre os conceitos
de cada classe e a ocorrência dos solos na paisagem.
O novo Sistema Brasileiro de Classificação de Solos (EMBRAPA, 1999)
apresenta seis níveis categóricos, inclui treze classes no nível de ordem e encontra-
se estruturado até o 4o nível categórico (subgrupo). Representa um esforço na
tentativa de hierarquizar o sistema anteriormente em uso, com alterações de
nomenclatura. Este sistema, já em sua segunda edição (EMBRAPA, 2006), deverá
ser aprimorado ao longo dos anos, a exemplo da Soil Taxonomy que se encontra na
oitava edição das chaves de classificação (ESTADOS UNIDOS, 1998), tendo sido
originalmente publicada em 1975.No entanto existe um hiato entre o solo tal como é
encontrado no campo e as classes a que deveriam corresponder, em um nível
categórico mais baixo. Isto é, a classificação brasileira deve se desenvolver para

199
Mais recentemente tem havido mudanças nesse sentido.
200
Alguns termos usados nas aproximações da Soil Taxonomy, e depois abandonados, foram mantidos na
classificação brasileira, com definições adaptadas.

188
CLASSIFICAÇÃO E GEOGR AFIA DE SOLOS

dar significado taxonômico às unidades mais homogêneas de solo, como as separadas


no campo em levantamentos detalhados.
Em toda referência a classes de solo, neste livro, são citadas a classificação
antiga e também o novo sistema, nesta ordem. Isso só não é feito para aquelas classes
cujo nome não foi alterado do sistema anterior para o atual, como por exemplo, a
classe dos Cambissolos. Neste sub-capítulo, como o intuito é discorrer sobre a
classificação antiga201 e seus já tradicionais nomes de classes de solos brasileiros, não
se faz a correlação com o novo sistema no texto, mas apenas na Tabela 7.N. Também
se preservam os atributos e horizontes diagnósticos como definidos na classificação
antiga (EMBRAPA, 1988), sendo que as modificações do novo sistema quanto a
esses aspectos serão mostradas nos itens 7.5.4., 7.5.5. e no Capítulo 12.

Tabela 7.N Correlação entre classes de solo dos Sistemas Brasileiros, anterior à
hierarquização (CAMARGO et al., 1987; OLIVEIRA et al., 1992), e o novo sistema
hierarquizado (EMBRAPA, 2006).
Sistema antigo Sistema novo
Latossolos Ferríferos Latossolos Vermelhos Perférricos
Latossolos Roxos Latossolos Vermelhos Acriférricos
Latossolos Vermelhos Aluminoférricos
Latossolos Vermelhos Distroférricos
Latossolos Vermelhos Eutroférricos
Pequena parte dos Latossolos Vermelhos Perférricos
Latossolos Vermelho-Escuros Latossolos Vermelhos Ácricos
Latossolos Vermelhos Distróficos
Latossolos Vermelhos Eutróficos
Latossolos Vermelho-Amarelos Latossolos Vermelho-Amarelos Ácricos
Latossolos Vermelho-Amarelos Alumínicos
Latossolos Vermelho-Amarelos Distróficos
Latossolos Vermelho-Amarelos Eutróficos
Parte dos Latossolos Amarelos Ácricos
Parte dos Latossolos Amarelos Alumínicos
Parte dos Latossolos Amarelos Distróficos
Parte dos Latossolos Amarelos Eutróficos
Latossolos Amarelos Latossolos Amarelos Distrocoesos
Latossolos Una Latossolos Amarelos Acriférricos
Latossolos Amarelos Distroférricos
Parte dos Latossolos Amarelos Ácricos
Parte dos Latossolos Amarelos Alumínicos
Continua...

201
O fato de a classificação de solos, anterior ao novo sistema, não ter uma organização em classes
hierarquizadas, faz com que os taxa sejam mostrados em diferentes níveis categóricos; por outro lado, a
sua forte vinculação à paisagem torna sua percepção relativamente fácil à nível de campo.

189
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES

Tabela 7.N Continuação...


Sistema antigo Sistema novo
Parte dos Latossolos Amarelos Distróficos
Parte dos Latossolos Amarelos Eutróficos
Latossolos Brunos Latossolos Brunos
Terras Roxas Estruturadas Nitossolos Vermelhos Distroférricos
Nitossolos Vermelhos Eutroférricos
Terras Brunas Estruturadas Nitossolos Brunos
Podzólicos Vermelho-Escuros Argissolos Vermelhos
Parte dos Luvissolos Crômicos
Parte dos Nitossolos Vermelhos
Podzólicos Vermelho-Amarelos Argissolos Vermelho-Amarelos
Argissolos Amarelos Alíticos
Argissolos Amarelos Alumínicos
Argissolos Amarelos Distróficos
Argissolos Amarelos Eutróficos
Parte dos Luvissolos Crômicos
Parte dos Nitossolos Háplicos
Podzólicos Bruno-Acinzentados Argissolos Bruno-Acinzentados
Parte dos Luvissolos Háplicos
Parte dos Nitossolos Háplicos
Podzólicos Amarelos Argissolos Amarelos Distrocoesos
Argissolos Amarelos Eutrocoesos
Podzólicos Acinzentados Argissolos Acinzentados
Podzóis e Podzóis Hidromórficos Espodossolos
Brunizéns Chernossolos Ebânicos
Brunizéns Avermelhados Chernossolos Argilúvicos
Rubrozéns Parte dos Argissolos Vermelhos Alíticos
Parte dos Argissolos Vermelho-Amarelos Alíticos
Pequena parte dos Nitossolos Vermelhos Alíticos
Brunos Não Cálcicos Luvissolos Crômicos
Planossolos Planossolos Háplicos
Solonetz-Solodizados Planossolos Nátricos
Solonchaks Gleissolos Sálicos
Cambissolos Cambissolos
Pequena parte dos Chernossolos Argilúvicos
Pequena parte dos Chernossolos Háplicos
Plintossolos (Lateritas Hidromórficas) Plintossolos Argilúvicos
Plintossolos Háplicos
Petroplintossolos Plintossolos Pétricos
Hidromórficos Cinzentos Parte dos Gleissolos Melânicos
Parte dos Gleissolos Háplicos
Gleis Húmicos Gleissolos Melânicos
Gleis Pouco Húmicos Gleissolos Háplicos
Gleis Tiomórficos Gleissolos Tiomórficos
Continua...

190
CLASSIFICAÇÃO E GEOGR AFIA DE SOLOS

Tabela 7.N Continuação...


Sistema antigo Sistema novo

Vertissolos Vertissolos
Rendzinas Chernossolos Rêndzicos
Solos Litólicos (Litossolos) Neossolos Litólicos
Organossolos Fólicos Fíbricos líticos
Organossolos Fólicos Hêmicos líticos
Organossolos Fólicos Sápricos líticos
Regossolos Neossolos Regolíticos
Areias Quartzosas Neossolos Quartzarênicos
Solos Aluviais Neossolos Flúvicos
Solos Orgânicos Organossolos

7.5.3.1. Esquema das Principais Classes de Solos do Brasil


De forma genérica, as classes de solos reconhecidas no Brasil, pelo esquema
de classificação anterior ao novo sistema, podem ser agrupadas conforme apresentado
na Tabela 7.O.
Estudando a Tabela 7.O, pode-se assinalar:
a) Os retângulos representam uma seqüência cronológica. Os Latossolos são os
solos mais velhos e geralmente mais profundos; os solos mais novos são os
Solos Litólicos (a rocha está próxima à superfície), os Solos Aluviais (horizonte
C em camadas), os Regossolos (horizonte C sem estratos e com minerais
primários, além de quartzo) e as Rendzinas (horizonte A chernozêmico sobre
calcário).
b) Os Cambissolos e Latossolos não apresentam muita variação nos teores de
argila entre o horizonte A e o horizonte B. Os Cambissolos, ao contrário dos
Latossolos, possuem a relação silte/argila maior e/ou maior proporção de minerais
primários facilmente intemperizáveis.
c) Os solos com horizonte B textural, que apresentam um maior número de classes,
possuem em geral considerável diferença no teor de argila entre o horizonte A
(mais arenoso) e o horizonte B (mais argiloso), quase sempre implicando numa
diferença de permeabilidade (diminui em profundidade). Algumas destas classes
são influenciadas por excesso de água ou de sódio (solos alcalinos). Neste
sentido assumem características semelhantes às dos solos hidromórficos202 e
halomórficos (influência de excesso de sais). As classes são separadas com

202
Na Classificação Brasileira há uma tendência de se considerar os solos com hidromorfismo como
classes à parte: os Gleissolos; e Plintossolos, se houver plintita próxima à superfície, ou imediatamente
abaixo de horizontes com evidências de gleização e que não sejam horizonte B textural ou B incipiente. A
Soil Taxonomy inclui Plintossolos na classe dos Oxisols, na subordem dos Aquox.

191
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES

base na atividade da fração argila, no tipo de horizonte A (presença de A


chernozêmico ou não), e na diferenciação do perfil, a qual está muito relacionada
com a rocha de origem: rochas máficas, calcárias e pelíticas podem originar
solos com menor diferença de textura entre horizontes A e B; as mais ricas em
quartzo, perfis mais diferenciados.

Tabela 7.O Esboço das principais classes de solos do Brasil.


Classes de solos do Brasil
Solos Litólicos Solos com Solos com Solos com
Solos Aluviais B incipiente B textural B latossólico
Regossolos (Cambissolos) (Latossolos)
Rendzinas
Horizontes principais

A A A A A
R C Bi Bt Bw
C C C

Solos não hidromórficos


(1)
Re , Rd Ce, d, a PVe, d, a LAd, a
Ra, Ae, d, a PEe, d, a LVe, d, a
REe, d, a TRe, d, a LEe, d, a
TBe, d, a LBe, d, a
NC LRe, d, a
BV LFd
LUd, a
Solos hidromórficos
PLe, d, a
SS
HCe, d, a
Outras classes de solos
Hidromórficos Halomórficos Tiomórficos Calcimórficos
Areno-quartzosos profundos Vertissolos
(1)
Símbolos são definidos no texto a seguir.

192
CLASSIFICAÇÃO E GEOGR AFIA DE SOLOS

d) Os solos tiomórficos (altos teores de enxofre e por isso exalam um mau cheiro
característico) ocorrem nas faixas litorâneas. Os solos calcimórficos não são
muito importantes no Brasil. Os areno-quartzosos profundos incluem as Areias
Quartzosas (AQ) e Areias Quartzosas Hidromórficas (HAQ), quando em
ambiente redutor, que são solos sem horizonte B (perfil AC), profundos, muito
arenosos (classes texturais areia e areia franca)203, distróficos, sendo o quartzo
o mineral quase exclusivo. Ocupam área bastante significativa do território
brasileiro. Na faixa costeira recebem o nome de Areias Quartzosas Marinhas
(AM), que podem ser antigas dunas colonizadas pela vegetação.
e) Exceto alguns poucos solos, todos os outros, independentemente da idade, podem
ser eutróficos (e) - alta saturação por bases; distróficos (d) - baixa saturação
por bases; ou álicos (a) - os distróficos com alta saturação por Al. Os solos
álicos oferecem uma barreira química ao desenvolvimento de raízes de plantas
mais sensíveis.

7.5.3.2. Solos com horizonte B Latossólico


Os principais critérios usados para a distinção dos Latossolos são: os teores de
Fe2O3 relacionados às rochas de origem; a coloração, à forma de ferro (goethita x
hematita), e o comportamento associado à relação entre os teores de gibbsita/caulinita.
Latossolo Amarelo (LA) - Este é o Latossolo que tipicamente ocorre nos Tabuleiros
Costeiros e numa extensão muito grande na Amazônia. Tem baixos teores de Fe2O3,
cor amarelada e é tipicamente caulinítico e goethítico, apresentando os torrões com
uma grande coesão204 e que não se desmancham como pó de café. É quase sempre
álico (alta saturação por Al3+).
Latossolo Vermelho-Amarelo (LV) - Esta classe é bastante ampla no que se refere
à coloração e mesmo a teores de Fe2O3. Esta classe é caracterizada por cores
amareladas ou vermelho-amareladas em associação com teores de Fe2O3 de no máximo
11%, e constituição mineralógica não exclusivamente caulinítica. Estes solos são muito
expressivos no domínio pedobioclimático do Mar de Morros Florestados; ocorrem
extensamente também no Planalto Central; são geralmente álicos ou distróficos, mas
podem ser eutróficos em extensões consideráveis nas regiões mais secas205.
Latossolo Vermelho-Escuro (LE) - Distinguem-se pela cor avermelhada e < 18% de
Fe2O3. A falta de relação direta entre os teores de Fe2O3 e a coloração (pequena
quantidade de hematita colore o solo de vermelho) faz com que os mapas de solos
203
As classes areia e areia franca satisfazem a relação % areia - % argila > 70.
204
Essa coerência tende a diminuir nos LA mais arenosos, principalmente se predominar a areia mais
grossa.
205
Os Latossolos no Nordeste subárido estão relacionados com rochas psamíticas, que se alteram com
facilidade, originando solos profundos e muito intemperizados; isto é, dão origem aos Latossolos nas
partes mais elevadas da paisagem, de clima menos seco. Em alguns casos são LA.

193
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES

representem LE com teores desse óxido bastante variáveis. São muito expressivos no
Planalto Central e na Depressão do São Francisco. Ocorrem esparsamente em todo
o território brasileiro não muito úmido. Podem também ser eutróficos, distróficos ou
álicos. Na maioria, como todos os Latossolos, são distróficos ou álicos, mas ocorrem
como eutróficos mais freqüentemente que o LV.
Latossolo Bruno (LB) - Este solo ocorre nas áreas basálticas elevadas do sul do
país. São solos com altos teores de Fe2O3 mas não possuem a coloração vermelha
típica do LR (Latossolo Roxo); a atração pelo magneto é também menor e o solo é
bastante duro quando seco. Possuem teores substanciais de vermiculita com hidróxido
de alumínio nas entrecamadas.
Latossolo Roxo (LR) - É o Latossolo desenvolvido de rochas máficas (basalto,
diabásio, gabro, tufito ou rochas afins). Tem cor vermelha, teores de Fe2O3 > 18% e
é fortemente atraído pelo magneto (ímã). É geralmente distrófico, mas existem áreas
consideráveis em que é eutrófico. Quando isto ocorre, é muito usado. Existem grandes
extensões de LR sob cerrado mas, mesmo aí, devido aos maiores teores de P2O5 total
e de micronutrientes, respondem melhor (do que os outros Latossolos em geral) a
adubações relativamente simples.
Latossolo Ferrífero (LF) - Solo cuja constituição mineralógica é dominada amplamente
por óxidos de Fe (>36% de Fe2O3). É fortemente atraído pelo magneto, como ocorre
com o LR, e tende a apresentar a relação Fe2O3/TiO2 mais alta do que aquele (CURI
& FRANZMEIER, 1987), mas há sobreposição de valores. É derivado de rochas
metamórficas muito ricas em ferro, compreendendo itabiritos, crostas ferruginosas e
materiais correlatos. Este Latossolo tem sido, até agora, encontrado na região do
Quadrilátero Ferrífero (MG) (EMBRAPA, 1982). A existência de Latossolos
Ferríferos sem quartzo na sua constituição (mineral abundante no itabirito), sugere os
dolomitos com impureza ferruginosa - ankerita206 (MOUKARIKA et al., 1991), como
uma fonte importante destes solos no Quadrilátero Ferrífero. Neste caso a concentração
do ferro dá-se residualmente pela dissolução dos carbonatos.
Latossolo Una207 (LU) - É comum apresentar, no horizonte Bw, cores brunadas,
amareladas e vermelho-amareladas e, percentagens médias (11-18%) a altas (> 18%)
de Fe2O3, razão pela qual este solo é considerado como LU e não como LV. A cor

206
Os calcários dolomíticos podem possuir ferro; este pode concentrar-se dando origem a solos muito
ricos em ferro. O ferro pode estar na estrutura do carbonato, por exemplo na ankerita, Ca (Fe, Mg, Mn)
(CO3)2. É uma ferro-dolomita (BATES & JACKSON, 1987), por intemperização produz maghemita
(MOUKARIKA et al., 1991).
207
A denominação Latossolo Variação Una, apesar de muito usada, inclusive por dois dos autores deste
trabalho (MR e NC), não é correta; a variação, neste caso, refere-se não ao conceito de Latossolo, mas
de Latossolo Vermelho-Amarelo; assim, o apropriado é Latossolo Vermelho-Amarelo variação Una ou
Latossolo Una, neste caso sem a palavra variação.

194
CLASSIFICAÇÃO E GEOGR AFIA DE SOLOS

desses solos, associada ao teor de ferro relativamente elevado, está relacionada às


condições de clima mais úmido (JACOMINE et al., 1977) ou às áreas tendendo para
o talvegue (OLIVEIRA et al., 1991) ou com evidências de paleodrenagem: presença
de concreções ferruginosas e bancadas lateritícas, onde atualmente o lençol freático
se encontra bem profundo.

7.5.3.3. Solos com horizonte B Textural Não Hidromórficos


O esquema a seguir ilustra algumas relações importantes.
Acima da linha horizontal cheia estão os solos com B textural não hidromórficos,
que apresentam horizonte A chernozêmico; abaixo, os com outros tipos de horizonte
A. Os da esquerda possuem argila menos ativa do que os da direita. Assim, o Podzólico
Amarelo (PA) não tem horizonte A chernozêmico e a sua argila tem atividade baixa
(menos de 24 cmol por quilograma de argila); tanto o Brunizém (B) quanto o Brunizém
Avermelhado (BV) possuem A chernozêmico e argila de atividade elevada (acima de
24 cmol kg-1); em todos os casos é descontada a contribuição da matéria orgânica.

A Chernozêmico Solos com B textural e argila Solos com B textural e argila


de atividade baixa (Tb) de atividade alta (Ta)
PE, TR, PV B, BV
A Moderado, A Fraco, PA, PE, PV, TR, TB, PB PV Ta, PB Ta, NC
A Proeminente ou A Húmico PE Ta, RB

>24 cmol kg-1 de argila


Atividade da fração argila
Deficiência de água ( A)

Brunizém Avermelhado (BV) - Tem sido registrado em maior escala na Bahia e no


Rio Grande do Sul. Possui, necessariamente, horizonte A chernozêmico (espesso,
escuro, rico em matéria orgânica e com alta saturação por bases) e é um dos solos
mais ricos (é eutrófico, por definição). Ocorre associado a rochas máficas,
principalmente.
Brunizém (B) - Difere do BV por ter horizonte B mais escuro; ou, além disso,
pode ter B incipiente em vez de B textural. Esse é um raro caso em que a mesma
classe pode apresentar mais de um tipo de horizonte diagnóstico subsuperficial
(endopedon) - B textural ou B incipiente: as cores escuras têm prevalência
taxonômica.
Bruno Não Cálcico (NC) - É o solo típico dos sertões nordestinos. O horizonte A
tem coloração clara e torna-se endurecido quando seco. É um solo geralmente muito
cascalhento.

195
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES

Podzólico Bruno-Acinzentado (PB)208- Solo com B textural mais caracteristicamente


de argila de atividade alta, apresentando escurecimento peculiar na parte superior do
horizonte B. Encontra-se distribuído nas regiões do Planalto Meridional, Serra do
Sudeste e Campanha Gaúcha, sob condições de clima subtropical (EMBRAPA, 1982;
KER et al., 1986).
Podzólico Amarelo (PA) - Está comumente associado aos Latossolos Amarelos
originados do Grupo Barreiras e a sedimentos afins, pobres em ferro. É comum nos
Platôs Litorâneos e na Amazônia.
Podzólico Vermelho-Amarelo (PV) - É o solo com B textural mais comum no Brasil;
é razoavelmente bem distribuído no território brasileiro, inclusive na Amazônia.
Apresenta maior diferenciação de textura entre os horizontes A e B em relação à
Terra Roxa Estruturada e à Terra Bruna Estruturada, por ser originado de materiais
que tendem a dar origem a solos menos argilosos. Ocupa na paisagem, via de regra,
as áreas de relevo mais acidentado, com superfícies pouco suaves e áreas de relevo
suave mais jovem (rebaixadas). Os principais solos agrícolas de SP, originados do
arenito Bauru (com cimento calcário) são, em grande parte, PV eutrófico, textura
média.
Podzólico Vermelho-Escuro (PE) - Pode originar-se de calcário ou de outros
materiais, excluídos apenas aqueles derivados total ou predominantemente de rochas
máficas. Esta classe abrange solos desde álicos até eutróficos e, freqüentemente
(mas não exclusivamente), de argila de atividade baixa. A distribuição territorial mais
expressiva desses solos ocorre nas regiões Sul, Sudeste, Nordeste (principalmente no
Ceará) e porção meridional da região Centro-Oeste (EMBRAPA, 1982).
Rubrozém (RB) - Tem horizonte A escuro e espesso sobre horizonte B textural
vermelho; tem argila de atividade alta e é álico. Ocorre na área urbana de Curitiba,
Paraná.
Terra Bruna Estruturada (TB)209 - Tem cor bruna, elevados teores de carbono
orgânico nos horizontes superficiais e estrutura bem desenvolvida. Origina-se de rochas
básicas, intermediárias e alcalinas, ocorrendo nos planaltos elevados do Rio Grande
do Sul, Santa Catarina, Paraná e Minas Gerais (Poços de Caldas) (EMBRAPA, 1982).
208
O Podzólico Bruno-Acinzentado tem alguma afinidade morfológica, com solos da Série Miami, comum
no Centro-Oeste dos Estados Unidos. O PB tende a ser mais rico em matéria orgânica, álico, e é desenvolvido
de rochas efusivas basálticas; a Série Miami, pobre em matéria orgânica, rica em bases, e é originada
principalmente de sedimentos glaciais calcários (calcareous glacial till).
209
Terra Bruna Estruturada, Cambissolo Bruno e Latossolo Bruno, em conjunto, são os Solos Brunos de
Altitude, ou Solos Brunos Subtropicais, grupo de solos que têm em comum, além da localização nas áreas
subtropicais (Planalto Meridional e áreas elevadas do Sudeste do Brasil) e da cor brunada, conteúdo
significante de vermiculita com ilhas de hidróxido de alumínio nas entrecamadas, consistência bastante
dura quando secos, tendência a fendilhamento nos barrancos expostos, altos teores de matéria orgânica e
de alumínio trocável.

196
CLASSIFICAÇÃO E GEOGR AFIA DE SOLOS

Terra Roxa Estruturada (TR) Solo desenvolvido de rochas máficas, tem teor de
Fe2O3 > 15% e de TiO2 > 1,5% e a fração grosseira é, em geral, bastante atraída pelo
magneto. É comum apresentar, na parte inferior do perfil, horizonte maciço poroso
semelhante a B latossólico (TR latossólica). As originadas de diabásio e gabro revelam,
freqüentemente, blocos arredondados da rocha em decomposição, ao longo do perfil.
São solos geralmente eutróficos. As maiores áreas contínuas de TR estão nos estados
sulinos. São dos melhores solos do Brasil. Quando associadas ao LR, ocupam as
áreas mais acidentadas.

7.5.3.4. Solos com horizonte B Textural Hidromórficos


Estes solos apresentam B textural e influência acentuada de excesso de água
(falta de oxigênio).
Hidromórfico Cinzento (HC) e Planossolo (PL) - O Planossolo210 é, em geral,
bastante arenoso no horizonte A, apresentando um aumento muito brusco (abrupto)
no teor de argila deste horizonte para o Bt. Isto significa uma mudança brusca
(diminuição) na permeabilidade. O Hidromórfico Cinzento (HC), por outro lado,
apresenta um aumento do teor de argila mais gradativo com a profundidade.
O Hidromórfico Cinzento (HC) ocorre próximo às veredas, nas áreas de cerrado,
quando os solos são de textura arenosa e em alguns outros locais, como na Baixada
Fluminense. O Planossolo (PL) é muito comum no Nordeste e também no Rio Grande
do Sul (as áreas de cultivo de arroz irrigado por inundação, pelo menos em parte, são
de PL).
Solonetz-Solodizado (SS) - Apresenta horizontes A e E mais arenosos e ácidos
(solodizados) em relação ao horizonte subsuperficial Bt, mais argiloso e bastante alcalino
(solonétzico), com saturação por sódio (100.Na/T) maior que 15%. Manchas
desprovidas de vegetação onde ocorrem crostas esbranquiçadas de sais à superfície
do solo211, são facilmente perceptíveis em algumas áreas. No Brasil, estes solos têm
sido registrados principalmente ao longo da costa, no Pantanal, nas regiões subáridas
do Nordeste e também em Roraima.

210
Pela própria característica de hidromorfia, esses solos tendem a apresentar topografia plana, em
terrenos baixos ou terços inferiores de encostas pouco declivosas. No Nordeste subárido há Planossolos
bem rasos, quase Solos Litólicos, alguns correspondendo ao conceito de Leptossolos (FAO), em
pequenas elevações suaves.
211
Esses solos ocorrem associados aos Solos Salinos ou Solonchaks, sem horizonte B e com condutividade
elétrica em alguma parte do perfil maior do que 4 decisiemens por metro (4dSm-1 ou 4 mmhos cm-1).

197
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES

7.5.3.5. Solos Hidromórficos sem horizonte B Textural (com ou sem horizonte


Plíntico)
Estes solos cuja gênese está relacionada a ambientes sujeitos a encharcamento,
pelo menos temporário, distinguem-se pela presença de camada orgânica espessa
(horizonte turfoso) ou de horizontes glei ou plíntico logo abaixo dos horizontes
superficiais. Assim, se um solo parecido com os solos Aluviais apresentar cores
acinzentadas nos primeiros 50 cm de profundidade, ele é considerado como solo
hidromórfico (Gleissolo). Conforme dispostos a seguir, tendem a expressar uma
seqüência de melhoria das condições de drenagem:
Solo Orgânico - horizonte turfoso;
Glei Húmico - horizonte A proeminente ou A chernozêmico ou A húmico;
Glei Tiomórfico - presença de enxofre;
Glei Pouco Húmico - horizonte A moderado;
Plintossolo212 (antiga Laterita Hidromórfica) - horizonte plíntico.
Solo Orgânico (O) - Difere dos outros por ter horizonte turfoso, apresentando teor
de carbono orgânico [C (8 + 0,067 (% de argila)], em mais de 50% dos primeiros 80
cm de profundidade. Este é a turfa, na qual, devido à facilidade de combustão, a
drenagem deve ser feita com muito cuidado para evitar queima (por combustão natural)
e subsidência (rebaixamento da superfície).
Glei Húmico (GH) e Glei Pouco Húmico (GP) - São solos minerais que apresentam
um horizonte A espesso e escuro (Glei Húmico), sobre horizonte geralmente gleizado.
O Glei Pouco Húmico apresenta um horizonte A menos espesso e/ou mais claro.
Glei Tiomórfico (GT) - Apresenta altos teores de enxofre; e isso provoca um grande
abaixamento do pH quando o solo seca. Situa-se nas áreas litorâneas, sob vegetação
de mangue ou campos halófilos.
Plintossolo (PT) - A presença do horizonte plíntico (horizonte contendo plintita, em
geral como mosqueados vermelhos e vermelho-amarelos, macios quando úmidos, mas
que endurece, irreversivelmente quando secam, formando nódulos duros), dentro dos
primeiros 40 cm; ou até 160 cm, desde que abaixo de horizontes E, ou com muito
mosqueado de redução, ou essencialmente petroplíntico, é tida como a principal
característica diferencial dos Plintossolos (EMBRAPA, 1982; OLIVEIRA et al., 1992).

212
Os solos com hidromorfismo acentuado, com horizonte glei (espessura 15 cm, cores cinzento-
oliváceas esverdeadas, azuis ou de croma muito baixo) a menos de 50 cm de profundidade tendem a ser
chamados de: Gleissolos ou Plintossolos, dependendo do que vem a seguir em profundidade. Parte do
que era chamada Laterita Hidromórfica atualmente seria Gleissolo; a maior parte se enquadra como
Plintossolos.

198
CLASSIFICAÇÃO E GEOGR AFIA DE SOLOS

Quanto à quantidade de plintita no horizonte plíntico213, o requisito é que ocupe no


mínimo 15% do volume do horizonte e tenha no mínimo 15 cm de espessura
(EMBRAPA, 1988). Dentro desta classe estão incluídas grande parte das anteriormente
chamadas Lateritas Hidromórficas. Apresentam restrições temporárias à percolação
da água ou oscilação pronunciada do lençol freático. Sua fertilidade natural é muito
variável e nem todo Plintossolo é hidromórfico.
Solos semelhantes aos anteriores, mas com camada plíntica de 15 cm ou mais
de espessura e tendo 10% de plintita em volume, portanto, não satisfazendo os
requisitos para horizonte plíntico, e estando presente em alguma parte de um Bt ou
Btg, sob mudança textural abrupta, são reconhecidos como Planossolos intermediários
com Plintossolos; os de mudança textural não abrupta são os Hidromórficos Cinzentos
plínticos. Nos casos de plintita insuficiente para caracterizar o horizonte plíntico, em
horizontes B textural, B incipiente ou glei (Bt, Bi, Bg ou Cg), ou suficiente mas abaixo
deles, as classes correspondentes são: Podzólicos, Cambissolos e Gleissolos com
adjetivação plíntica - por exemplo - Podzólico Vermelho-Amarelo plíntico (OLIVEIRA
et al., 1992). A classe Laterita Hidromórfica (HL), usada anteriormente, foi subdividida:
os Plintossolos são um subconjunto dela.

7.5.3.6. Cambissolos
Solos não hidromórficos caracterizados essencialmente pelo horizonte B
incipiente214- Bi, que apresenta um pequeno grau de desenvolvimento pedogenético
que o distingue do horizonte C, mas insuficiente para caracterizar qualquer outro tipo
de B diagnóstico. Em suas características morfológicas pode, por vezes, assemelhar-
se ao horizonte B latossólico, do qual se distingue por uma ou mais das seguintes
características (EMBRAPA, 1988): presença de muito mineral primário facilmente
intemperizável ( 4% ou 6% de moscovita, determinados na fração areia); ou argila
mais ativa (> 13 cmol kg-1); ou Ki > 2,2; ou teores elevados de silte em relação à
argila (silte/argila 0,7, quando a textura for média; 0,6, quando argilosa, indicando
baixo grau de intemperismo); ou espessura menor que 50 cm; ou resquícios da rocha
mãe ou saprolito (> 5% do volume). Os solos que possuem esse horizonte ocupam,
geralmente, as partes jovens da paisagem.
213
Horizonte plíntico (do grego plinthos, tijolo), materiais com cores variegadas ou com mosqueados
vermelhos, indicando redução e oxidação do ferro; os mosqueados (plintita) ao endurecer-se formam as
concreções. Nestas pode haver concentração de elementos-traço, principalmente quando ricas também
em manganês e fósforo (FONTES et al., 1985). As raízes têm, em geral, dificuldade em se aprofundar
nesses sistemas. Não é muito adequado, em especial, para plantas perenes, que precisam de água
durante todo o ano.
214
Incipiente, do latim incipientum, principiante, que começa a desenvolver-se. É o horizonte típico dos
Cambissolos (C é o símbolo de Cambissolos), tem teor de argila uniforme em profundidade como os
Latossolos, mas há indicação de que sejam mais novos.

199
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES

Os Cambissolos, assim como os solos com B textural, constituem um grupo


bastante heterogêneo em termos de ambiente (RESENDE et al., 1988). No Brasil,
quando desenvolvidos de ardósia ou filitos, são cobertos tipicamente por formações
vegetais tipo campo limpo ou campo sujo. Quando desenvolvidos de gnaisse215, estão,
em geral, sob floresta. Os Cambissolos distróficos eram anteriormente denominados
Solos Brunos Ácidos Similares.

7.5.3.7. Solos Litólicos, Aluviais e Regossolos


Solos Litólicos (R) - Solo raso (< 50 cm) sobre rocha. Geralmente, em condições de
topografia acidentada, há a formação de um solo raso, perfil tipo A-R, isto é, um
horizonte A sobre a rocha, ou tipo A-C-R, sendo o C pouco espesso. Onde há muitos
afloramentos de rocha, com freqüência estes solos estão presentes. Ocupam áreas
de intenso rejuvenescimento (remoção de material), podendo ser eutróficos (Re),
distróficos (Rd) ou álicos (Ra), em função da rocha de origem e das condições
climáticas216.
Solos Aluviais (A) - São aqueles provenientes de depósitos aluviais. Normalmente
possuem um horizonte escurecido (A) sobre camadas estratificadas (C). São
caracteristicamente muito variáveis a pequenas distâncias, tanto na horizontal quanto
na vertical. Geralmente são os solos mais férteis de uma paisagem.
Regossolos217(RE) - Solos sem horizonte B (perfil tipo A-C, > 50 cm de profundidade),
apresentam um horizonte A sobre um horizonte C, sem estratos. São relativamente
ricos em minerais primários facilmente intemperizáveis. A textura destes solos pode
ser essencialmente arenosa ou não. São bastante comuns em alguns estados
nordestinos.

215
A relação silte/argila é usada como um índice de maturidade do solo. A lógica desta aplicação é a de que
o silte é a partícula mais instável; mas em muitos horizontes C de solos originados de rochas gnáissicas
e granitóides há flocos de caulinita (pseudomorfos) do tamanho de silte (e até areia). A caulinita é
resistente à alteração química, mas quebra-se com facilidade no ambiente do horizonte C. Assim a
relação silte/argila parece válida também neste caso.
216
Rd, símbolo para Solo Litólico distrófico. Os Litólicos são distróficos ou álicos em duas situações:
rochas muito pobres, e, mais interessante, quando as condições pedoclimáticas favorecem mais a
lixiviação do que a intemperização: caso dos Litólicos desenvolvidos do basalto do Planalto Meridional
(CARVALHO FILHO et al., 1991).
217
Regossolo, do grego rhegos, lençol; daí a conotação de manto de material solto cobrindo rochas duras;
não apresenta horizonte B; o horizonte A situa-se diretamente sobre o horizonte C, com muitos
minerais facilmente intemperizáveis. As Areias Quartzosas, que estão geograficamente mais associadas
aos Latossolos ou às áreas de restingas, diferem dos Regossolos por apresentarem classes texturais
areia e areia franca, ou seja, %areia - %argila >70; e, como o nome diz, serem constituídas essencialmente
de quartzo, sem minerais primários facilmente intemperizáveis. Em geral são mais profundas do que os
Regossolos.

200
CLASSIFICAÇÃO E GEOGR AFIA DE SOLOS

7.5.3.8. Rendzinas e Vertissolos


Rendzinas (RZ)218- Solos pouco desenvolvidos, rasos ou muito rasos, possuindo
seqüência de horizontes A-C-R ou A-R, sendo o horizonte A chernozêmico, com
teores elevados de CaCO3 equivalente; têm material calcário como substrato.
Vertissolos (V) - Esta classe de solos, da qual apenas parte é hidromórfica, é
constituída de solos de coloração acinzentada ou preta, sem diferença significativa
no teor de argila entre a parte superficial e a subsuperficial do solo. Apresenta
seqüência de horizontes (perfil) do tipo A-C. Têm alto teor de argilas 2:1 expansivas
e fertilidade geralmente alta, mas apresentam problemas relacionados com suas
propriedades físicas. A aração, por exemplo, torna-se muito dificultada tanto com o
solo seco, como quando este se encontra com elevado teor de água. Estes solos, no
Brasil, estão presentes em maior escala no Mato Grosso do Sul e no Nordeste.

7.5.4. Principais Tipos de Horizonte A219


Horizonte A chernozêmico220 - Horizonte mineral superficial, relativamente espesso,
escuro, rico em matéria orgânica, no qual cátions divalentes (principalmente o cálcio)
dominam o complexo sortivo. A saturação por bases é igual ou superior a 50% (limite
redefinido para 65% pelo novo sistema de classificação).
Horizonte A fraco221 - Horizonte superficial que apresenta teores de carbono orgânico
inferiores a 0,6% (1% de matéria orgânica), cores claras, com valor igual ou superior
a 4 (úmido) ou a 6 (seco), e sem desenvolvimento de estrutura ou com estrutura
fracamente desenvolvida (ou com menos de 5 cm de espessura, pela definição atual).
É um horizonte característico da grande maioria dos solos da zona subárida, com
vegetação de caatinga hiperxerófila porém não exclusivo de solos dessa região.

218
Rendzina, do polonês rzdzic, barulho; dá conotação do barulho feito ao cultivar-se o solo raso e
pedregoso. É formada de horizonte A chernozêmico sobre material calcário.
219
Horizontes A são horizontes minerais [%C < 8 + 0,067 (% argila)], enriquecidos em matéria orgânica.
Contrasta nisso com o horizonte turfoso (hístico), um horizonte orgânico, com %C 8 + 0,067 (% argila),
com espessura 20 cm.
220
1. Estrutura só maciça se material mais macio que duro; prisma > 30 cm de diâmetro é considerado como
maciça; 2. [a] croma 3 u (úmido e úmido amassado) e valor 3 u e < 5 s (seco); [b] quando CaCO3 eq.
40%, basta valor 5u; [c] valor mais escuro (uma unidade) e croma menor (duas unidades) do que o
horizonte 1C e, se somente ocorrerem 2C e R (ausência de 1 C), do que o horizonte imediatamente acima
desses; 3. V 50%; 4. C 0,6% em todo o horizonte; se CaCO3 eq. 40%, C 2,5% nos 18 cm superficiais;
5. [a] espessura > 18 cm e > 0,33 (A + B) se A + B < 75 cm; [b] > 25 cm se A + B > 75 cm; [c] > 10 cm se
horizonte A estiver sobre contato lítico, petrocálcico ou duripã; 6. P2O5 (ácido cítrico) < 250 g kg-1.
221
Os horizontes A fraco, A moderado e A proeminente ou A chernozêmico seguem uma ordem crescente
de expressividade. O horizonte A fraco tem simultaneamente: % C < 0,6; cor clara com valor 4 (úmido)
e 6 (seco) e estrutura fraca ou maciça. O horizonte A moderado é uma espécie de resíduo (em cor, matéria
orgânica e espessura). Os requisitos do A chernozêmico já foram definidos. O A proeminente difere do A
chernozêmico por ter V < 50%(pela classificação atual 65%).

201
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES

Horizonte A moderado - Horizonte superficial que apresenta teores de carbono


orgânico variáveis, espessura e/ou cor que não satisfaçam aqueles requeridos para
caracterizar um horizonte A chernozêmico ou A proeminente, além de não satisfazer,
também, os requisitos para caracterizar os horizontes A antrópico222, A fraco, A húmico
e turfoso (hístico).
Horizonte A proeminente - Semelhante ao horizonte A chernozêmico em cor,
consistência, estrutura, conteúdo de carbono orgânico e espessura, mas apresentando
saturação por bases inferior a 50% (atualmente 65%). Difere do horizonte A húmico
por não satisfazer os requisitos quanto ao teor de carbono orgânico em relação à
profundidade e ao teor de argila.
Horizonte A húmico - Horizonte superficial, rico em matéria orgânica, relativamente
espesso, bastante escuro, com baixa saturação por bases. Mesmo quando revolvido,
apresenta alto teor de carbono orgânico em profundidade, pelas definições atuais
variável conforme o teor de argila223.

7.5.5. Atividade das Argilas e Saturação do Complexo de Troca


Atividade das argilas224
Refere-se à capacidade de troca de cátions (valor T ou CTC) estimada para a
fração argila. Aqui existem diferenças importantes entre o conceito válido para a
classificação de solos antiga (item 7.5.3.) e o novo sistema.
Na classificação antiga, a atividade das argilas referia-se à CTC da fração
mineral, deduzida a contribuição da matéria orgânica, calculada pela expressão
(BENNEMA & CAMARGO, 1964):
Tr = [T - (%C x 4,5)] x (100/% argila)
onde:
Tr = CTC da argila, em cmolC kg-1 (ou meq/100 g)
T = CTC do solo em cmolC kg-1 (ou meq/100 g)
C = carbono orgânico
222
A antrópico, do grego anthropos, homem; dá conotação de horizonte A produzido pela atividade
humana. É um horizonte escuro e espesso, com elevado conteúdo de fósforo; são comuns os cacos de
cerâmica, como nas Terras Pretas dos Índios, na Amazônia.
223
Espessura conforme definido para A chernozêmico e com teor de carbono inferior ao limite para
caracterizar o horizonte hístico e que atenda à equação: C (dos subhorizontes A) 60 + (0,1x média
ponderada do conteúdo de argila); C orgânico e conteúdo de argila em g/kg (EMBRAPA, 2006).
224
As argilas com maior capacidade de troca de cátions têm geralmente maior relação silício/alumínio. As
denominadas 2:1 por exemplo, têm duas lâminas de tetraedros de sílica para uma de octaedro de alumínio; as
1:1, uma de cada. As condições que favorecem a presença de silício e de bases, favorecem as argilas 2:1. No
subárido os solos são rasos pela erosão intensa, os minerais intemperizáveis estão próximos à superfície e
a presença de sílica e bases em solução tende a ser sempre muito elevada. Os Podzólicos Tb (Argissolos e
Nitossolos) já são solos relativamente profundos, com rocha fresca a maiores profundidades, mas os do
Nordeste subárido, com mais freqüência, são mais rasos e possuem argila de atividade alta (Luvissolos).

202
CLASSIFICAÇÃO E GEOGR AFIA DE SOLOS

O valor 4,5, na expressão, corresponde a uma média geral dos valores de


capacidade de troca da matéria orgânica, correspondente a 1 grama de carbono225.
É considerada como argila de atividade alta (Ta), aquela cujo valor for
24 cmolC kg-1 de argila; de atividade baixa (Tb), aquela < 24 cmolC kg-1 de argila.
É importante lembrar que. para perfis de solo classificados anteriormente ao
novo sistema, sempre que mencionada a atividade de argilas, vale o conceito acima
descrito.
No novo sistema de classificação de solos (EMBRAPA, 1999, 2006), a atividade
das argilas refere-se à CTC da fração argila, calculada pela expressão:

Tr = T x 100/% argila

onde: Tr e T têm o mesmo significado da fórmula anterior e como pode ser observado, não
ocorre correção para carbono. É considerada Ta aquela cujo valor for 27 cmolC kg-1
de argila e Tb valor inferior a este.

Saturação do Complexo de Troca226


Eutrofismo
Eutrófico227 - Solo que apresenta saturação por bases (valor V) > 50%, expressa
pela fórmula:
V (%) = 100 S/T

onde: S = soma de bases trocáveis (Ca2+ + Mg2+ + K+ + Na+) em meq/100g ou


cmolC kg-1
T = capacidade de troca de cátions (valor S + H+ + Al3+) em meq/100g ou
cmolC kg-1

225
Estudando dados de Latossolos de várias partes do mundo, Klamt & Sombroek (1988) acharam uma
capacidade de troca por grama de carbono, variando de 1,4 a 9,4, média de 3,36 meq. Isso equivale a uma
capacidade de troca da matéria orgânica de 81 a 545 meq/100g de matéria orgânica, média de 195 meq/
100g. Esses valores médios estão na faixa de 100 a 300 meq/100g, registrados como normais por Moller
& Donahue (1990).
226
No novo sistema (EMBRAPA, 2006), os atributos diagnósticos eutrófico e distrófico sofreram subdvisão
para diferenciar os solos no 5º nível categórico (ainda não estruturado). Assim, considerando a saturação
por bases (V), tem-se: hiperdistrófico, V < 35%; mesodistrófico, V 35% e < 50%; mesoeutrófico, V
50% e < 75%; e hipereutrófico, V 75%.
227
Eutrófico, do grego eu, bem, e trophè, alimento; solos ricos em nutrientes; distrófico do grego dys,
dificuldade, e trophè, alimento; solos pobres em nutrientes. Esses termos, usados inicialmente por pedólogos
suecos, foram depois usados pelo limnólogo sueco Einer Naumann (1891-1934) para classificar os lagos
(ESTEVES, 1988).

203
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES

Distrofismo e característica álica


Distrófico228 - Solo que apresenta saturação por bases (valor V) < 50%.
Álico - Denominação empregada para especificar saturação por alumínio
(valor m) 50%, expressa pela fórmula:

m (%) = 100Al3+ / (Al3+ + S)

onde: S = soma de bases trocáveis


Al3+ = acidez extraída por solução neutra de KCl 1N
De acordo com o novo sistema, concomitante com saturação por Al3+ 50%, o
teor de Al3+ deve ser 0,5 cmolC kg-1 ( 0,3 cmolC kg-1na classificação antiga), para
que o solo seja considerado álico.
É comum a existência de uma especificação no nome do solo quanto à riqueza
ou pobreza em nutrientes ou, pelo menos, para dar uma idéia sobre sua fertilidade.
As expressões usadas são: distrófico, eutrófico e álico, relativas à saturação do
horizonte B, ou do C na ausência daquele (por exemplo, Latossolo Vermelho-Amarelo
Álico A moderado textura muito argilosa fase cerrado relevo plano), enquanto os
termos epieutrófico, epiálico, endoálico etc. referem-se simplesmente à variação
em profundidade (Tabela 7.P) [epi = acima (horizonte A); endo = interior (horizonte
B ou C)].
Muitas das combinações da Tabela 7.P já foram registradas em solos brasileiros.
A importância ecológica dessas variações só poderá ser mais bem apreciada se houver
informações sobre a sensibilidade da planta e sobre as condições pedoclimáticas
(RESENDE et al., 1988).

228
Os Solos Podzolizados Variação Lins, por exemplo, registrados em São Paulo, no final da década de 50
(LEMOS et al., 1960), referiam-se a uma variação do conceito de Podzólico Vermelho-Amarelo, até então
todos distróficos. Esses solos de São Paulo pareciam-se com os Podzólicos Vermelho-Amarelos (Red-
Yellow Podzolic), mas eram eutróficos. Depois passaram a ser denominados Podzólico Vermelho-Amarelo
Equivalente Eutrófico e, finalmente, Podzólico Vermelho-Amarelo Eutrófico (Argissolo Vermelho-Amarelo
Eutrófico). A importância desses solos justifica tirá-los do conceito de Solo Variante ou Variação; por
outro lado, o Rubrozém (Alissolo Crômico Húmico), denominado, desde o início, como uma classe à
parte, talvez devesse ter permanecido como um solo variante.

204
CLASSIFICAÇÃO E GEOGR AFIA DE SOLOS

Tabela 7.P Saturação por bases e por alumínio, nos horizontes A e B (1), e
especificações correspondentes (RESENDE & REZENDE, 1983).
Horizontes Especificações
A B
(2)
a a álico
a d distrófico (epiálico)
a e eutrófico (epiálico)
d a álico (epidistrófico)
d d distrófico
d e eutrófico (epidistrófico)
e a álico (epieutrófico)
e d distrófico (epieutrófico)
e e eutrófico
(1)
Na ausência do horizonte B usa-se o C, quando for o caso. (2)a=álico; d = distrófico; e=
eutrófico.

7.5.6. Relações com a Soil Taxonomy


Embora muitos conceitos expressos na Soil Taxonomy sejam usados no Brasil,
isto é feito apenas parcialmente. Também existem diferenças dessas relações com a
classificação anterior de solos usada nos levantamentos pedológicos do País e o novo
sistema. A Tabela 7.Q salienta essas diferenças.

Tabela 7.Q Relações entre a Soil Taxonomy e a Classificação de Solos Brasileira.


Características Soil Taxonomy Classificação Brasileira
Anterior à Sistema hierarquizado
hierarquização (novo sistema)
Solos com drenagem Oxisols os Latossolos não os incluem, com uma tendência dos
deficiente incluem solos hidromórficos constituírem classes à parte
Solos originados de Não existe Constituem classes à Separados em 3o nível,
rochas máficas distinção de parte através do teor de
classes ferro (solos férricos)
Respeito aos níveis Presente Ausente, com classes Presente, mas pouco
categóricos diretamente trabalhada com o que
relacionadas ao ocorre no campo
levantamento de solos e
dependentes de
expressão geográfica
Regime hídrico e de Definido por A vegetação natural é usada (como fase) para
temperatura do solo regras rígidas caracterizar as condições climáticas,
principalmente ligadas ao regime hídrico
Contribuição da Desconsiderada Descontada Desconsiderada
matéria orgânica na
atividade de argila

205
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES

7.6. Bibliografia
AB SABER, A. N. Províncias geológicas e domínios morfoclimáticos no Brasil. Geomorfologia,
São Paulo, v. 20, p. 26, 1970.

AB SABER, A. N. A organização natural das paisagens inter e subtropicais brasileiras. In:


SIMPÓSIO SOBRE O CERRADO, 1971, São Paulo. Anais... São Paulo: USP, 1971. p. 1-14.

ALONSO, M. T. A. Vegetação. In: FIBGE. Geografia do Brasil. Rio de Janeiro: SERGRAF-IBGE,


1977. v. 5.

BATES, R. L.; JACKSON, J. A. (Eds.). Glossary of geology. 3th ed. Alexandria: American
Geological Institute, 1987. 788 p.

BEEK, K. J. Land evaluation for agricultural development. Wageningen: International Institute


for Land Reclamation and Improvement, 1978. 333 p.

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Brasil: primeiro esboço: um sistema de classificação da capacidade de aptidão de uso da terra
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209
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES

210
LEVANTAMENTO DE SOLOS

8
LEVANTAMENTO DE SOLOS

O mapa é, em geral, o modo mais eficiente e simples de representação da


distribuição geográfica de um fenômeno. Num país como o Brasil, onde fatores
ecológicos (clima, solo, organismos) variam tanto, mesmo dentro de distâncias bem
pequenas, e considerando que os trabalhos de observação e experimentação
agronômica são realizados em poucas áreas - sendo as generalizações de importância
capital - compreende-se a conveniência do uso de mapas, em especial o de solo229,
pelo pessoal encarregado de estender as conclusões experimentais de uma área a
outras, nas quais se deseja aplicar as conclusões gerais conseguidas.
Escala
A proporção entre mapa e imagem natural constitui a escala de um mapa, por
exemplo: 1:50.000 (1 cm = 0,5 km).
Observa-se que à medida que a escala diminui (aumenta o denominador), há
um decréscimo na precisão da representação dos detalhes (escala muito pequena).
Como é de se esperar, os mapas de solos variam quanto à sua escala, o que
vale dizer, quanto ao seu detalhe.
Mapas de solos
Num levantamento pedológico, os solos são identificados, sua ocorrência (na
paisagem) representada em um mapa e, posteriormente, procede-se à interpretação
para uso agrícola e não agrícola. O mapa e o relatório formam um conjunto no final. O
mapa representa graficamente os solos e sua distribuição. O relatório é a explicação
detalhada, um manual dos solos da área mapeada. Do relatório constam:
a) explicação de como se utilizam o mapa e o relatório;
b) índice;
c) descrição geral da área mapeada (localização, material de origem, relevo, clima,
vegetação etc.);

229
Nos levantamentos de solos do Brasil, feitos pelos técnicos do Serviço Nacional de Levantamento e
Conservação de Solos (atualmente CNPS), além do nome central da classe de solo (geralmente em letras
maiúsculas), são especificadas a riqueza em nutrientes, a expressão do horizonte superficial escurecido,
a textura geral do perfil, a forma de vegetação original e o relevo. Algumas outras adjetivações podem ser
adicionadas ao nome central.

211
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES

d) legenda de identificação das unidades de mapeamento;


e) descrição das unidades de mapeamento;
f) previsões e recomendações para uso230. Estas variam conforme o nível de
detalhe231 do mapeamento e a somatória de conhecimentos já conseguidos sobre
o comportamento de cada solo.
Unidades taxonômicas e de mapeamento
O que está representado (limitado por uma linha fechada) no mapa de solos
(Figura 8.A) é uma unidade de mapeamento, que identifica áreas com distintos padrões
de ocorrência de solos na paisagem.

Figura 8.A Bloco-diagrama ilustrando distintos aspectos de uma paisagem hipotética,


com unidades de mapeamento correspondentes, representadas em um mapa de solo
(nomes e símbolos apenas no sistema antigo). LV - Latossolo Vermelho-Amarelo; Lc -
Latossolo câmbico; PE - Podzólico Vermelho-Escuro; A - Solos Aluviais; G - Gleissolos;
Cd - Cambissolo distrófico; RE - Regossolo.

230
Os componentes das unidades de mapeamento freqüentemente podem ser identificados por critérios
simples a nível de campo. Como cada componente apresenta, em geral, qualidades e limitações muito
peculiares, requer também manejo diferente. Conclusão: há necessidade, localmente, de se identificar
cada componente no campo.
231
É conveniente definir detalhe do levantamento de solos em termos de densidade de observações, em
vez da simples definição da escala. O nível de detalhe seria o grau de segurança e o número de previsões
a respeito de determinado local representado no mapa. Nas estratificações de ambiente objetiva-se, em
geral, a separação de estratos potencialmente diferentes quanto às comunidades possíveis. Por exemplo,
previsões sobre o comportamento de tal ou tal comunidade, pastagens, talhões florestais, cultivos
anuais etc.

212
LEV A N T A M EN T O DE S OLOS

Os solos, na natureza, variam como um continuum, sem se individualizarem


como plantas ou animais mas, para melhor abrangência do conceito pela nossa mente,
eles são enquadrados em unidades taxonômicas, cuja concepção é constituída por um
núcleo (perfil modal) com variações, dentro de uma amplitude definida. Cada tipo de
solo corresponde, portanto, a uma unidade taxonômica.
Por sua vez, a unidade de mapeamento é constituída, na grande universalidade
dos casos, por mais de uma unidade taxonômica, sendo identificada, em geral, pelo
símbolo correspondente àquela que é dominante.
Alguns conceitos:
Associação de solos: agrupamento de unidades taxonômicas, ou tipos de terrenos,
em associação geográfica regular (ocorrem juntas na paisagem). Constitui uma
unidade de mapeamento composta por necessidade de generalização cartográfica,
em razão da escala do mapa ou do padrão de ocorrência dos solos de uma área.
Esses componentes normalmente podem ser separados em levantamentos mais
pormenorizados.
Complexo de solos: associação em que os componentes não podem ser separados em
mapas, mesmo nos de escala maior, por causa do padrão intrincado em que se
apresentam.
Inclusão de solo: unidade taxonômica distinta dos componentes da unidade de
mapeamento, que ocorre em proporção considerada insuficiente (<20% em área)
para integrar uma associação de solos.
Solo variante (variação): desvio do conceito da unidade taxonômica, pelo menos em
uma característica diferencial (aquelas usadas como base do grupamento); área não
suficiente para constituir nova unidade taxonômica.

8.1. Tipos de Levantamento de Solos


Os vários tipos de levantamento de solos não são igualmente adequados para
os diferentes objetivos232. A cada tipo de levantamento corresponde um tipo de
mapa.
Os mapas de solos podem ser (EMBRAPA, 1995; ITURRI LARACH, 1983;
REUNIÃO..., 1979):

232
A busca de soluções universais, sem antes passar pelo processo de compreensão mais aprofundada,
tem retardado a caminhada. Hoje, e a nível de aplicabilidade, reconhece-se melhor o valor da regionalização,
da estratificação. Os enganos e tropeços têm ensinado a conveniência de se reduzir o escopo dos resultados
a limites justos, a estratos mais homogêneos e, mesmo aí, a interrogar: será que todas as variáveis
pertinentes foram contempladas?

213
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES

8.1.1. Autênticos ou Originais


(a) ultradetalhado
(b) detalhado
(c) semidetalhado
(d) reconhecimento (de intensidade baixa, média ou alta)
(e) exploratório
8.1.2. Compilados
(a) generalizado
(b) esquemático
Mapa Ultradetalhado: são separadas unidades de mapeamento com variação
estreita, muito homogêneas. No trabalho de separação no campo, toda área é
percorrida com intervalos mínimos entre observações.
Este tipo de levantamento é utilizado para planejamento e localização de áreas
de exploração muito pequenas, como, por exemplo, parcelas experimentais, áreas
residenciais etc. Em geral são conduzidos onde são necessárias decisões em termos
de pequenas áreas para planejamento de sistemas sofisticados de agricultura, áreas
urbanas e industriais e em projetos especiais de irrigação.
Escala de publicação : > 1:10.000
Área mínima mapeável: < 0,4 ha
Mapa Detalhado 233 : são separadas unidades de mapeamento bastante
homogêneas, com variação menos estreita. As classes de solos são identificadas, no
campo, por observações sistemáticas ao longo de transversais.
Este tipo de levantamento é utilizado para provimento de bases adequadas para
mostrar diferenças significativas de solos em projetos conservacionistas, áreas
experimentais, uso da terra e práticas de manejo em áreas de uso agrícola, pastoril ou
florestal intensivo, em projetos de irrigação e de engenharia civil.O mapa básico234
deve ter escala maior ou igual a 1:25.000.
Escala de publicação: 1:10.000 a 1:25.000
Área mínima mapeável: 0,4 a 2,5 ha
Mapa Semidetalhado: as classes de solos são identificadas no campo por
observações a pequenos intervalos no interior das áreas de padrões diferentes.

233
O Serviço Nacional de Levantamento e Conservação de Solos, atual Centro Nacional de Pesquisa de
Solos, da EMBRAPA, lançou o Mapa de Solos do Brasil, na escala 1:5.000.000 (EMBRAPA, 1981), o
que constituiu um marco significativo para o conhecimento dos nossos solos.
234
Mapa básico é o usado no campo para receber diretamente os delineamentos, separando as unidades de
mapeamento. A escala de publicação é geralmente menor.

214
LEV A N T A M EN T O DE S OLOS

Este tipo de levantamento é utilizado para provimento de bases para seleção de


áreas com maior potencial de uso intensivo da terra e para identificação de problemas
localizados, nos planejamentos gerais de uso e conservação dos solos.
Escala de publicação: 1:25.000 a 1:100.000
Área mínima mapeável: 2,5 a 40 ha.
Mapa de Reconhecimento: as unidades de mapeamento são bem menos
homogêneas do que no levantamento detalhado. No trabalho de separação no campo,
observações e prospecções são feitas a intervalos regulares mas continuamente em
toda a área.
A partir do início dos trabalhos de mapeamento de solos no Brasil, na década de
50, vem sendo realizado, sob a responsabilidade do Serviço Nacional de Levantamento
e Conservação de Solos (atual CNPS), da EMBRAPA e órgãos antecessores, um
levantamento de reconhecimento sistemático do território nacional, cuja progressão,
no entanto, foi bastante reduzida nas duas últimas décadas.
O levantamento de reconhecimento é básico, visa planejamento para
desenvolvimento de novas áreas, como, por exemplo, indicar melhor localização
de estações experimentais. A finalidade desse tipo de levantamento não é fornecer
soluções imediatas para os problemas específicos de utilização do solo, embora,
de maneira generalizada, possa incluir, entre os seus objetivos, a solução de
problemas de uso agrícola dos solos mapeados, tais como programas de adubação,
práticas conservacionistas, de reflorestamentos e outros, sobretudo em casos como
o do Brasil, onde estes estudos apenas começaram (LEMOS et al., 1960). Por
atenderem ampla faixa de objetivos e necessidades (REUNIÃO..., 1979), são
considerados três níveis de reconhecimento: de alta, média e baixa intensidade
que expressam, nessa ordem, a diminuição do grau de detalhamento e precisão do
mapeamento.
Mapa básico: 1.100.000 a 1:250.000
Escala de publicação : 1:100.000 a 1:750.000
Área mínima mapeável: 0,4 km2 (40 ha) a 22,5 km2
Mapa Exploratório: as unidades mapeadas são muito pouco homogêneas;
são verificadas no campo, mas os limites são grandemente compilados de outras fontes.
Empregados em grandes áreas não desbravadas ou pouco utilizadas.
Escala de publicação : 1:750.000 a 1:2.500.000
Área mínima mapeável: 22,5 a 250 km2
Mapa Generalizado: mapa compilado, feito em escritório. Baseia-se em dados
e informações, publicados ou não. Elimina detalhes. Escalas muito variáveis. Usado
para visualização e planejamento de grandes áreas.

215
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES

Mapa Esquemático: é baseado nos fatores de formação dos solos. Usado


para áreas inexploradas ou desconhecidas.
Escala de publicação : < 1:1.000.000
Área mínima mapeável: > 40 km2

8.2. Interpretação para Finalidades Não Agrícolas


Além das finalidades agrícolas, inúmeras interpretações para usos não agrícolas
podem ser feitas a partir dos levantamentos de solos, podendo-se citar, por exemplo
(ITURRI LARACH, 1983):
8.2.1. Para Estradas
Certos solos concrecionários, Solos Litólicos (Neossolos Litólicos) e
Cambissolos, quando de substrato diaclasado, indicam a presença de fontes de material
para recobrimento de estradas235. Os afloramentos de rocha, normalmente associados
aos Solos Litólicos (Neossolos Litólicos), indicam a presença de rochas à superfície
ou próximas dela, as quais podem, potencialmente, ser utilizadas como pedreiras236.
Material de boa qualidade para ser usado como piso de estradas pode ser geralmente
retirado de áreas de solos de textura média e de Latossolos.
8.2.2. Para Localização de Cidades
Áreas de solos férteis e/ou produtivos não devem constituir prioridade para a
localização de cidades, mas sim aquelas áreas com condições adequadas para suportar
as construções, eliminar resíduos e poluentes ambientais (veja Capítulo 11) etc. Os
mapas de solos e seus respectivos relatórios fornecem tais informações. A associação
de regolito (horizontes A + B + C) profundo, sólum (A + B) raso e relevo movimentado,
por exemplo, indicam áreas de risco (desabamentos) em potencial.

8.2.3. Para Auxiliar Trabalhos de Geologia237


Certas vezes os limites entre manchas de solos coincidem com os contatos
geológicos, como acontece, por exemplo, no mapa pedológico do Triângulo Mineiro
235
Agradecemos esse lembrete ao Dr. Igo F. Lepsh, então no Instituto Agronômico de Campinas.
236
Em princípio, toda a água retirada do leito da estrada deve ser conduzida até o talvegue (canaletas
cimentadas, manilhas etc.); caso contrário, não há solo que resista à quantidade de água vinda dessa forma:
não é uma questão de conservação do solo - é de engenharia. Pelas informações pedológicas pode-se
prever, no entanto, onde a situação é mais crítica. Os solos profundos, com rocha fresca resistente à
erosão a grandes profundidades são, nesse aspecto, os mais problemáticos.
237
A importância do conhecimento pedológico é particularmente relevante para os trabalhos de geologia
onde o solo é profundo, quase não havendo afloramentos de rochas. As áreas de influência basáltica
podem ser mapeadas com grande precisão a partir dos mapas pedológicos.

216
LEV A N T A M EN T O DE S OLOS

(GOMES et al., 1982), no qual se percebe uma clara separação entre os solos
desenvolvidos a partir da alteração de rochas basálticas (principalmente o Latossolo
Roxo, atual Latossolo Vermelho férrico), ao longo dos rios principais, e aqueles
influenciados pelos arenitos (sobretudo o Latossolo Vermelho-Escuro, atual Latossolo
Vermelho com teor de Fe2O3 < 18%, textura média).
8.2.4. Para Lazer e Turismo
Informações sobre áreas que devido às suas características e propriedades
não são adequadas para atividades agrícolas mas que podem ter condições favoráveis
à implementação de lazer e turismo, podem ser obtidas a partir dos levantamentos de
solos238.

8.3. Bibliografia
EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA. Centro Nacional de Pesquisa de
Solos. Procedimentos normativos de levantamentos pedológicos. Brasília, DF, 1995. 116 p.

GOMES, I. A. et al. Levantamento de média intensidade dos solos e avaliação da aptidão agrícola
das terras do Triângulo Mineiro. Rio de Janeiro: Embrapa-SNLCS, 1982. 526 p. (Boletim de
pes-quisa, 1).

ITURRI LARACH, J. O. Usos de levantamento de solos. Informe Agropecuário, Belo Horizonte,


v. 9, p. 26-33, 1983.

LEMOS, R. C. et al. Levantamento de reconhecimento dos solos do Estado de São Paulo. Rio de
Janeiro: CNEPA-SNPA, 1960. 634 p. (Boletim técnico, 12).

REUNIÃO TÉCNICA DE LEVANTAMENTO DE SOLOS, 10., 1979, Rio de Janeiro. Súmula...


Rio de Janeiro: Embrapa-SNLCS, 1979. 83 p. (Série miscelânia, 1).

238
Para o Parque Florestal do Rio Doce (MG), um dos autores (SBR), baseando-se no levantamento de
solos (escala 1:32.500), escalonou os ambientes quanto à erosão, nutrientes, oxigênio e traficabilidade.
Isso permitiu zonear as oportunidades e restrições quanto a construções, estradas, estacionamentos e
trilhas rústicas. A espessura do horizonte B, um indicador de instabilidade, teve um peso bastante grande
na ordenação.

217
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES

218
MICROBACIAS HIDROGRÁFICAS

9
MICROBACIAS HIDROGRÁFICAS

9.1. Unidade de Estudo e Planejamento


É comum o tratamento não integrado dos estudos dos fenômenos naturais,
talvez na pressuposição de que conhecendo as partes de um sistema pode-se conhecer
suficientemente o todo239. Porém as peças de um quebra-cabeças somente cumprem
sua finalidade se articuladas no quebra-cabeças montado; e os ecossistemas
manifestam-se numa trama de interdependência entre suas variáveis. Assim, o estudo
da associação dessas variáveis mostra a importância do fenômeno global, expresso
nos ecossistemas, como parâmetro maior.
A observação e a análise integrada (mesmo se apenas qualitativa) são mais
eficientes para a compreensão de fenômenos complexos; e as descobertas serão
mais úteis e pertinentes por resultarem do conhecimento (ainda que parcial, porém
mais abrangente), dos mecanismos da interdependência. A utilização e/ou manipulação
dos ecossistemas à luz desse conhecimento integrado é mais adequada e harmoniosa,
convergindo para o conceito de beleza e permanência (SCHUMACHER, 1973).
Para conservar a natureza, particularmente o solo e a água, é necessário o
envolvimento coordenado e integrado de todos. A Figura 9.A facilita o entendimento
da interdependência energética geral de uma pequena bacia de drenagem e sugere
a possibilidade da crescente abstração dos níveis de detalhe, permitindo um enfoque
mais abrangente, sem perda da noção de conjunto. Problemas de posse da terra e
injunções legais deveriam ser analisados nas áreas cuja pressão de uso esteja
colocando em risco o solo e a água. Além disso, na orientação de programas de
desenvolvimento de pequenas bacias, a ênfase dada à análise econômica (relação
custo/benefício) sobrepõe-se, muitas vezes, à qualidade de vida, em que a alimentação
adequada, o abrigo, o vestuário e o trabalho para todos seriam alguns dos seus
parâmetros mais lícitos, mas que, usualmente, não têm merecido o mesmo nível de
importância.

239
As propriedades do todo não podem ser reduzidas à soma das propriedades das partes; em outras
palavras, a floresta é mais do que uma mera coleção de árvores (ODUM, 1985). Essas propriedades que
surgem pela interação, e não simples soma das partes, são as propriedades emergentes.

219
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES

Figura 9.A As pequenas bacias de drenagem são uma unidade natural básica. Isto
permite detalhamento progressivo de estudo, sem perda do sentido de conjunto.

E mais: o planejamento e/ou exercício da conservação têm, freqüentemente,


enfoques reducionistas e aplica(m)-se apenas a segmentos da paisagem geral, o
que leva ao desequilíbrio do ambiente natural por erosão, assoreamento e
eutrofização das águas. Portanto a bacia de drenagem, particularmente a pequena
bacia, parece localizar, de forma natural, o problema da conservação dos recursos
naturais em razão da interdependência dos atributos bióticos e abióticos no seu
interior.
Parece lógico, então, que a pequena bacia de drenagem deva corresponder à
unidade fundamental de trabalho na conservação do meio ambiente. Por outro lado,
na utilização de pequenas bacias devem controlar as enchentes; reabilitar as terras
improdutivas; tratar e utilizar os resíduos; manter ou até aumentar o fluxo dos cursos
d água e a recarga da água subterrânea; e implementar os pequenos reservatórios
de água.
Finalmente, é de fundamental importância a previsão, controle e monitoramento
dos efeitos ambientais à jusante da pequena bacia, de forma a manter-se um
encadeamento harmônico no trato com o meio ambiente.

220
M I CR OBA CIA S H IDR OGR ÁFICAS

9.2. A Interação Solo-Água-Vegetação


Numa microbacia são encontradas as relações tetraedrais: clima-solos-
organismos-aspectos socioeconômicos. Essas relações têm vários aspectos.
A água que não se infiltra por deficiente cobertura vegetal, causando
encrostamento ou devido a precipitações acentuadas, vai concentrar-se na superfície
e escoar, ganhando energia e provocando erosão(Figura 9.B). É importante conhecer
os atributos do solo e da vegetação que possam interferir nesse processo de degradação
do ambiente. Do solo, são pertinentes a porosidade, a espessura do horizonte A, a
profundidade do sólum, a textura, a declividade, a irregularidade da superfície, a
orientação da vertente; da vegetação, o tipo e a intensidade de cobertura. Esses atributos,
bem interpretados240, subsidiam as previsões de comportamento e realçam as relações
de interdependência, na pequena bacia, e isto deve resultar em alternativas mais
adequadas de manejo.

Figura 9.B Solo desprotegido favorece a enxurrada e, assim, a erosão.

A dinâmica da água, sua qualidade e quantidade podem servir de eixo a algumas


reflexões sobre essas interrelações.
A bacia de drenagem é a área na qual a precipitação flui para um único canal
natural; separa-se das demais pelos divisores de água (Figura 9.C).
Embora importantes, as avaliações hidrométricas, sedimentométricas ou
meteorológicas mais particulares não serão contempladas em detalhe: serão comentados
aspectos gerais desses e de outros atributos relativos ao solo e de como podem interferir
na dinâmica da bacia. Essas variáveis podem ser desdobradas conforme as circunstâncias
e os níveis de detalhe em que as medições possam ser feitas. Entretanto, apenas um
modelo das interrelações gerais possíveis entre essas é apresentado.
240
A interpretação da qualidade de um atributo, nunca é demais repetir, só tem sentido num determinado
contexto. Assim, as interrelações têm um forte contributo local, mesmo considerando apenas os aspectos
ecológicos: essa complexidade aumenta muito com os aspectos sociais; a microbacia, como unidade
socioecológica (aberta, comunicando-se com o exterior), forma um contexto singular.

221
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES

DIVISORES

Figura 9.C Esquema de delimitação pelos divisores topográficos das pequenas bacias
de drenagem.

Qualquer área da paisagem está numa bacia de drenagem onde as variáveis


componentes do balanço hídrico podem ser avaliadas, de forma coerente, para fins práticos
(Figura 9.D). Assim, é preciso identificar o perímetro da pequena bacia, revelado por seus
divisores externos (topográficos), mas também os efeitos dos divisores internos (freáticos).
O deflúvio resulta de fluxos líquidos superficiais e subsuperficiais (Figura 9.E).

P = precipitação medida no campo aberto; T = transpiração; IC = interceptação pela copa; ED = evaporação


do solo e de superfícies líquidas; IP = interceptação pelo piso; ET = evapotranspiração; Q = deflúvio; s =
variação do armazenamento da água do solo; L = vazamento freático; PP = percolação profunda (devido
falhas na rocha); Rs = escoamento superficial (em canais ou à superfície); Rss = escoamento subsuperficial;
Rb = escoamento básico (água subterrânea); f = infiltração; PC = precipitação direta nos canais; U =
vazamento (água que flui para fora do leito).

Figura 9.D Variáveis básicas de controle do deflúvio e seus possíveis desdobramentos.

222
M I CR OBA CIA S H IDR OGR ÁFICAS

Outro fato importante é o conceito de hierarquia (STRAHLER, 1958) ou


ordenação da drenagem (Figura 9.F): as linhas que dissecam a paisagem na direção
dos divisores da bacia é que fornecem dados importantes de fluxos e que, associadas
à forma da bacia, contribuem para delinear a dinâmica no seu interior.

Figura 9.E Divisores topográficos (externos) e freáticos (internos) de uma pequena


bacia de drenagem e fluxos formadores do deflúvio.

Figura 9.F Esquema de Strahler (1958) de hierarquização da drenagem. Números


representativos de drenagens de primeira a quarta ordens.

A densidade de drenagem é, também, uma variável importante; semelhantemente,


a forma da bacia, como indicada pelo fator de forma (Figura 9.G), também o é. De
fato, não é difícil compreender que uma bacia circular faz com que o fluxo centrípeto

223
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES

dos canais de menor para o de maior ordem hierárquica tenda para a simultaneidade
ao atingir este último, o que favorece a ocorrência de enchentes maiores. Por outro
lado, as enchentes em uma bacia mais alongada e estreita tendem a ser menores
(com picos mais baixos), porém mais duradouras.

onde:
F = fator de forma; A = área da bacia; L = eixo da bacia (comprimento)
__________________________________________________
L obtém-se:
a) canal principal incluindo-se seu prolongamento ao limite da bacia
b) linha aproximadamente paralela ao canal principal
c) diâmetro máximo da bacia (da saída ao ponto mais longíquo)

Figura 9.G Fator de forma da bacia de drenagem

A razão de bifurcação ou de ramificação (HORTON, 1945) é a relação


entre o número de canais de uma determinada ordem (n) e o de ordem
imediatamente superior (n + 1). Assim, de acordo com a Tabela 9.A, em que o
drenador de quarta ordem é o drenador principal, existem 3 valores para a razão
de bifurcação.

Tabela 9.A Número de canais, ordem de drenagem e razão de bifurcação de uma


bacia de drenagem.
Número de canais (Nw) Ordem de drenagem (w) Razão de bifurcação
32 1 -
10 2 3,2
3 3 3,3
1 4 3,0

224
M I CR OBA CIA S H IDR OGR ÁFICAS

A relação entre número de canais (Nw) e ordem de drenagem (w) configura


uma reta241. Esta relação geométrica simples (tangente da curva) corresponde à chamada
lei do número de canais (Figura 9.H). Os valores componentes da lei do número de
canais não são constantes e dependem da natureza do solo e do substrato geológico.

Figura 9.H Lei do número de canais. Nw = número de canais; w = ordem de


drenagem.

A água é armazenada por retenção nos poros capilares do solo e no interior de


rochas porosas ou diaclasadas242; parte percola devido à saturação, ficando no interior
das rochas porosas ou entre as fraturas das rochas maciças, e parte se perde por
evapotranspiração.
O fluxo e a retenção de água no solo dependem da profundidade, textura,
estrutura, porosidade e pedoforma, as quais se podem integrar das mais variadas
maneiras. Portanto, não se pode prever sempre, para todas as classes de solo, a
retenção de água somente a partir da textura (Figura 9.I). Isso se dá porque, além da
textura, são importantes os efeitos concorrentes, principalmente da mineralogia, da
estrutura e da porosidade. De fato, pouco se pode dizer a respeito do comportamento
de um solo que tenha, por exemplo, 50% de argila, exceto que ele é argiloso.
Solos com a mesma classe textural podem apresentar (Tabela 9.B) um contraste
na distribuição da porosidade e, por conseqüência, na economia de água.
Freqüentemente ocorre que sob a mesma cobertura vegetal e sob idêntica
pedoforma, a proporção entre a água que se infiltra e a que escorre à superfície
(enxurrada), varia de solo para solo.

241
No exemplo, Nw = ae-bw (r2 = 0,9996), com a = 101,89 e b = -1,1601, tem melhor ajuste que log Nw =
log a - b log w (r2 = 0,9479).
242
Diáclase, fraturas sem deslocamento entre as partes; nisto diferem das falhas.

225
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES

Figura 9.I Relação entre textura (silte + argila) e água retida a 30 kPa (Ac =
capacidade de campo) e 1500 kPa (Am = ponto de murcha). As equações são de
Arruda et al. (1987); os demais pontos são de Latossolos brasileiros (CORDEIRO,
1977; FERREIRA, 1988).

Tabela 9.B Textura semelhante e contraste na porosidade entre um Planossolo


eutrófico vértico (PLev) e um Latossolo Vermelho-Escuro textura média (LEm)(nomes
dos solos apenas no sistema antigo).
Areia
Solo Grossa Fina Silte Argila Porosidade
..........................................................%........................................................
(1)
PLev 53 13 11 23 31
LEm (2) 53 19 5 23 47
Fonte: (1) JACOMINE et al.(1975); GOMES et al. (1982).

Portanto é importante, ao se reconhecer e estratificar os solos de uma pequena


bacia de drenagem, avaliar sua profundidade, declive, pedoforma, variação vertical da
textura, porosidade, eventual presença de camadas impermeáveis etc. Estes atributos,
uma vez identificados e avaliados, podem subsidiar uma previsão da suscetibilidade à
erosão, os possíveis efeitos da poluição, particularmente da poluição não localizada,
bem como, opostamente, do potencial anti-poluente do solo. Finalmente, objetivando
uma sistematização do conhecimento, poder-se-iam identificar características
diferenciais associadas a outras (covariantes) que delineassem classes de solo
suficientemente homogêneas, significativas e observáveis no campo, que expressassem
as experiências do pequeno agricultor e assim se incorporassem à massa crítica da
pesquisa agropecuária.
Nas áreas latossólicas acidentadas, a profundidade e porosidade do regolito
(horizontes A + B + C) condicionam a perenidade de uma densa rede de pequenos
córregos. Todavia a pobreza química desses solos e a ocorrência de pedoformas que

226
M I CR OBA CIA S H IDR OGR ÁFICAS

favorecem a erosão ou mesmo a exposição do horizonte C põem em risco essas


áreas. De fato, em muitos trechos é comum perceber-se, independentemente da estação
do ano, a exposição localizada da superfície já praticamente desprovida de
vegetação.Os solos ao fundo dos vales, correspondentes aos terraços fluviais, são
menos desenvolvidos, menos porosos e menos pobres em nutrientes por constituírem
um ambiente mais conservador. Em razão do teor de silte relativamente elevado,
estes solos são propensos ao encrostamento243 na superfície, provocado pelo impacto
direto da gota de chuva.
Portanto, nessas áreas deve-se considerar a profundidade dos solos
(particularmente do solum) e a pedoforma, em razão dos riscos de exposição do
horizonte C e do encrostamento. Quanto à cobertura vegetal (Tabela 9.C), nem todas
as forrageiras têm a mesma plasticidade ecológica. Assim, além das condições locais,
a interferência humana, como o uso do fogo ou pressão de pastejo, pode provocar
alterações na cobertura vegetal.

Tabela 9.C Adaptação de forrageiras aos desvios dos fatores abióticos do ambiente,
resistência ao fogo e palatabilidade
Fatores Adaptação
Deficiência de nutrientes batatais > gordura > jaraguá = angola > colonião
Deficiência de água colonião > jaraguá > gordura > batatais > angola
Deficiência de oxigênio angola > batatais > jaraguá > colonião > gordura244
Temperatura alta colonião > jaraguá > gordura
Temperatura baixa gordura > jaraguá > colonião
Resistência ao fogo batatais > colonião = jaraguá > angola > gordura
Palatabilidade gordura > colonião > jaraguá > angola > batatais
Fonte: Baruqui et al. (1985).

Nas áreas de rochas pelíticas pobres, os solos rasos têm baixo poder tamponante
quanto à economia de água. Isto é, o fluxo superficial é sazonalmente, muito intenso,
o que facilita a erosão laminar, removendo matéria orgânica, sementes e nutrientes,
dificultando também a reinstalação da vegetação natural após degradação.

243
O encrostamento é provocado pelo impacto direto das gotas de chuva; dificulta a infiltração da água das
chuvas, em particular as primeiras, e, conseqüentemente, provoca o arraste de sementes; mecanicamente,
o encrostamento dificulta a germinação e o estabelecimento da plântula.
244
A presença de capim-gordura em solos rasos, Solo Litólicos (Neossolos Litólicos), sobre rocha dura
(lajedos), em muitos trechos do Sudeste do Brasil, é estranha, à primeira vista. O capim-gordura (Mellinis
minutiflora) é, em geral (existem ecótipos mais tolerantes), muito pouco tolerante à deficiência de oxigênio
no solo (BARUQUI et al., 1985); a posição inclinada desses solos possibilita a remoção eficiente do
excesso de água: é um solo bem arejado, permitindo a ocorrência do capim-gordura.

227
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES

A instabilidade dos solos (Cambissolos e Solos Litólicos, atuais Neossolos


Litólicos, ambos álicos), nessas áreas (ALMEIDA & RESENDE, 1985), decorre do
período sazonal pronunciadamente seco e da facilidade de encrostamento superficial
do solo, devido aos altos teores de silte + areia muito fina e à cobertura vegetal pobre
e descontínua. As usuais queimadas são um agravante nesse contexto.
Algumas áreas apresentam a deficiência de nutrientes ( N) como o principal
problema; noutras há deficiência de água ( A). Em algumas poucas há deficiência
de água e de nutrientes: estas são as áreas típicas de tensão 245. Elas são
particularmente frágeis, pois são raras as espécies adaptadas simultaneamente a
esses dois extremos.
Tudo isso torna esse sistema pouco conservador de nutrientes e de água;
deve-se, nesse caso, procurar manter a cobertura vegetal e conservar a água em
pequenas bacias, pela construção de pequenas depressões coletoras (armazenadoras)
de água, o que é aí propício em razão da baixa permeabilidade dos solos e/ou do
substrato.
Freqüentemente nesse domínio há ocorrência de cascalhos e pedregulhos
(provenientes dos filões de quartzo que aparecem no substrato metapelítico246) que
seletivamente se acumulam à superfície, em conseqüência da remoção progressiva
do material mais fino.
É essa mesma pedregosidade uma componente na defesa do solo contra a
erosão. De fato, a remoção desse material, para construção de rodovias, desencadeia
em alguns locais a formação de voçorocas.
A pedregosidade à superfície reduz as perdas de água por evaporação; todavia
a utilização mais produtiva desses solos continua a desafiar o engenho e a arte dos
pesquisadores.
As bacias no domínio dos Latossolos e Areias Quartzosas (Neossolos
Quartzarênicos), em relevo plano e suave ondulado, apresentam uma rede de drenagem
pouco expressiva, isto é, os cursos d água são mais espaçados em razão do menor

245
Áreas de tensão, áreas com combinação de limitações, em geral deficiências de água e de nutrientes,
proporcionando o contato de dois ou mais biomas, havendo mistura de espécies ou contato na forma de
enclave; neste caso, cada formação guarda a sua identidade. Cada formação envolvida tende a ser,
tipicamente, tolerante à limitação para a qual a outra formação não apresenta tolerância. O fato de as duas
formações coabitarem significa que as áreas de tensão não apresentam limitações em grau extremo.
246
A presença de muitas rochas pelíticas (metapelíticas) pré-cambrianas é intrigante; esses materiais
implicam na preexistência de intemperização acentuada para produzir as grandes massas de argila - o
material de origem, por assim dizer, das rochas pelíticas. Essa intensa e extensa alteração, em princípio,
estaria ligada à intensa atividade biológica, o que não é confirmado pela paleontologia. Será que as
condições atmosféricas pré-cambrianas teriam algo especial, favorecendo a intemperização?

228
M I CR OBA CIA S H IDR OGR ÁFICAS

dissecamento das mesmas (menor densidade de drenagem). Entretanto, nas bordas


das chapadas desses domínios a dissecação é severa (Figura 9.J). Aí o progresso da
erosão remontante247 evidencia a instabilidade dos solos, o que seriamente põe em
risco não só as pequenas bacias que bordejam as chapadas, mas igualmente as
cabeceiras de grandes rios. Desse modo, o grau de risco é tal que se faz necessário
um efetivo programa de controle da erosão nas pequenas bacias que descem dessas
chapadas, incluindo a preservação de uma faixa de vegetação natural, ainda nas
chapadas, bordejando essas áreas. Com isso não só se impediria o desencadeamento
da erosão mas, também, os solos aí seriam uma barreira à contaminação da água por
agrotóxicos ( no point pollution )248, muito utilizados nas grandes culturas emergentes
hoje nos chapadões.
Nas áreas de calcário o comportamento hídrico das bacias de drenagem é
peculiar, em razão da dissolução subterrânea do calcário, dando aparecimento a um
sem número de depressões fechadas (dolinas), formando lagoas, permanentes ou
não, além de sumidouros nos cursos de água. A circulação subterrânea tende a
diminuir a disponibilidade de água à superfície e nos solos. Portanto, a proteção do
solo, de um lado, e o manejo da água, de outro, requerem um tratamento especial
nessas áreas. Assim, a aplicação das normas de estudo em pequenas bacias de
áreas calcárias requer um cuidado muito especial. A permeabilidade do solo, a
natureza mineralógica das argilas, a configuração do embasamento calcário249, a
variação da profundidade do lençol freático e a localização de possíveis
descontinuidades litológicas são alguns aspectos que devem ser objeto de atenção,
ao serem estudadas essas bacias.

247
Quando a erosão é muito intensa e a rocha fresca está próxima à superfície, erosão e intemperismo
podem se equivaler e a taxa de pedogênese/erosão se aproximar da unidade. Também nos chapadões a
equivalência entre ambos tende a prevalescer, mas por efeito contrário, tanto erosão, como pedogênese,
são pouco atuantes, devido, respectivamente, ao relevo aplainado, alta permeabilidade do solo, e ao fato
da rocha encontrar-se a grandes profundidades, dificultando a atuação dos agentes intempéricos.
248
A poluição das águas pode ocorrer de duas formas: uma localizada pelos efluentes dos esgotos diversos;
outra não localizada, que afeta o lençol freático.
249
As rochas cristalinas, ígneas e metamórficas, alteram-se com mais dificuldade do que o calcário, não
deixam a água se infiltrar; a irregularidade de intemperização, além de características estruturais, cria
freqüentemente bacias naturais entre as pedras; a construção de pequenos barreiros é particularmente
facilitada e o acúmulo de sedimentos ou solos sobre essas rochas ajuda sobremaneira na economia de água
(agradecemos a Francisco Ernesto Sobrinho por ter alertado um de nós, MR, para essas importantes
relações). Apesar dessas características favoráveis, as rochas cristalinas, em si, são maus aqüíferos. As
áreas calcárias, por sua vez, não têm as vantagens das de substrato psamítico (arenitos), bons aqüíferos,
nem as das rochas cristalinas.

229
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES

Figura 9.J No domínio dos Latossolos e Areias Quartzosas (Neossolos


Quartzarênicos) em relevo plano e suave ondulado, os cursos d água são mais
espaçados; a instabilidade das bordas das chapadas (ao fundo, à direita) põe em risco
as bacias a jusante.

Nas áreas de domínio de rochas graníticas (Figura 9.K), os baixos teores de


ferro250, a baixa fertilidade natural e a pouca profundidade dos sola, em geral, tornam
o comportamento hídrico das pequenas bacias intermediário entre o de Latossolos de
relevo acidentado, e o de solos rasos de rochas pelíticas (pobres) e quartzíticas.

Figura 9.K Aspectos inerentes às paisagens de solos desenvolvidos de rochas


graníticas. Aí o comportamento hídrico é intermediário entre os Latossolos de relevo
acidentado e os solos rasos de rochas pelíticas (pobres).

250
Para que o ferro seja removido do sistema em solução ele precisa ser reduzido (passar a Fe2+) e, em
seguida, ser removido. O Fe(III) é um oxidante, apto a recepcionar os elétrons; onde existe muito Fe (III)
torna-se difícil a presença de altos teores de Fe2+, pois, os elétrons são recepcionados com facilidade.
Deve haver um contínuo processo de troca de elétrons entre Fe2+ e Fe(III) não permitindo que o mesmo
átomo se mantenha reduzido por muito tempo. Isso talvez ajude também a explicar porque os solos ricos
em ferro, mesmo quando submetidos a encharcamento, permanecem ricos em Fe2O3. Os Latossolos Unas
(Latossolos Amarelos e Vermelho-Amarelos com teor de Fe2O3 entre 11 e 30%), associados às áreas
basálticas, constituem um exemplo (OLIVEIRA et al., 1991).

230
M I CR OBA CIA S H IDR OGR ÁFICAS

Os recursos hídricos de superfície são os mais afetados pela poluição. As


pequenas bacias de drenagem, como até aqui mencionadas, apresentam
peculiaridades que as tornam mais ou menos suscetíveis à poluição, isto é, áreas
com baixa densidade de drenagem, como, por exemplo, as áreas de Latossolos
planos e de Areias Quartzosas (Neossolos Quartzarênicos), podem ter toda a água
superficial comprometida pela poluição de um único curso d água a partir de um
único ponto poluidor (Figura 9.L).

Figura 9.L Os recursos hídricos de superfície, nas áreas de baixa densidade de


drenagem, são muito vulneráveis à poluição.

Os solos não muito profundos, pobres em ferro e, por extensão, em elementos-


traço (RESENDE, 1976), são muito sujeitos à erosão (particularmente voçorocas).
Portanto, em tais áreas um programa de proteção das pequenas bacias é fundamental
para que os solos de suas várzeas possam ser utilizados de forma mais intensiva do
que os das encostas. Estas, por outro lado, devem ser cuidadosamente protegidas.
Neste aspecto, o conhecimento da profundidade do solum e do regolito, bem como da
textura e da mineralogia, e ainda, a caracterização das pedopaisagens e pedoformas,
a conformação da rede de drenagem, a configuração do contato entre as várzeas e as
encostas, e a adaptabilidade de espécies vegetais (nativas ou não), são parâmetros
fundamentais nos programas de manejo.
Por outro lado, nas pequenas bacias com Latossolos argilosos profundos, como
nas áreas do Mar de Morros, por exemplo, os solos têm um poder tamponante hídrico
eficiente e, assim, poderiam ser utilizados na retenção de resíduos de várias naturezas,
dentro da capacidade da bacia.
É útil ressaltar alguns aspectos intrínsecos e extrínsecos do solo como importantes
na elaboração bem conduzida de estudo para sua utilização como destino de resíduos.
Entre esses podem ser citados: a permeabilidade, a profundidade, a presença de
camadas impermeáveis ou a possibilidade de compactação, presença de cascalhos,
pedoforma, trafegabilidade durante o ano, vegetação natural, suscetibilidade à erosão,

231
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES

drenagem superficial, profundidade do lençol freático, proximidade de mananciais,


conformação e natureza do substrato geológico, condições do horizonte C, possibilidades
de inundação, grau de salinidade dos resíduos e extensão da área a ser utilizada.A
baixa capacidade de adsorção de líquidos poluentes pela maioria dos solos tropicais
(devido à baixa CTC da fração argila) é um fato. Entretanto essa deficiência parece,
em muitos casos, compensada pela maior profundidade do solum e pelo elevado teor
de argila (principalmente nos Latossolos). Desse modo o solo, em alguns casos, pode
minimizar a poluição potencial.
É evidente, contudo, que, na elaboração de um programa nessa direção, não
podem ser negligenciados os problemas relativos aos metais pesados, ao nitrogênio e
suas formas, aos patógenos, ao potencial de contaminação dos produtos agrícolas em
face dos poluentes e finalmente à localização de aterros sanitários.
Os aterros sanitários não devem ser localizados nas pequenas bacias de
drenagem que sejam habitadas por pequenos agricultores, isto é, esses aterros devem
ser localizados em áreas desabitadas, mas circunscritas ao perímetro urbano/suburbano.
Estas áreas, após cumprida sua finalidade como aterro sanitário, podem ser
utilizadas para parques, jardins etc. Também aqui os problemas a considerar são
semelhantes aos até agora levantados neste particular, e da mesma forma devem ser
objeto de pesquisas futuras.
A convergência de idéias leva a concluir que a pequena bacia de drenagem é
harmônica, como unidade natural, ao estudo integrado e sistemático dos fatores
ecológicos, bióticos e abióticos, emoldurados no seu interior. Todavia sua
hierarquização por tamanho, cujos intervalos de área correspondem a conceitos
como grande, sub-bacia, micro e minibacia, não parece harmônica com seu caráter
unitário conceitual.
Na ausência de um consenso sobre essas questões e nem sendo a classificação
com base em medidas de superfície a mais apropriada, outros atributos mais
adequados deveriam servir de critérios para distinguir as bacias de drenagem
(hidrográficas), particularmente as pequenas bacias. Estes seriam, por exemplo: (a)
a ordem de drenagem; (b) o comprimento da soma dos cursos d água; (c) as
possibilidades de influência dos divisores freáticos; (d) o substrato litológico; (e) a
profundidade dos solos; e (f) a perenidade dos cursos d água. Esses parâmetros
poderiam ser testados na sua pertinência, de forma isolada ou combinada, ou mesmo
adaptados regionalmente.

9.3. Bibliografia
ALMEIDA, J. R.; RESENDE, M. Considerações sobre o manejo de solos rasos desenvolvidos
de rochas pelíticas do Estado de Minas Gerais. Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v. 11, n.
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232
M I CR OBA CIA S H IDR OGR ÁFICAS

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Brasil Central. 1977. 123 f. Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal Rural do Rio de
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233
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES

234
MICROMORFOLOGIA DO SOLO

10
MICROMORFOLOGIA DO SOLO

Objetiva-se aqui veicular alguns conceitos básicos e parte da terminologia


descritiva em micromorfologia do solo, que se considera mais imediatamente necessária
à introdução neste domínio da pedologia. As informações apresentadas baseiam-se
essencialmente em Brewer (1964), uma das obras fundamentais da pedografia251.
Muitas das definições aqui apresentadas têm por referência os trabalhos de Bocquier
(1973), Boulet (1978), Fedoroff (1979) e Leprun (1979).
O primeiro ponto de abordagem é o procedimento de amostragem. No desfecho
do capítulo é apresentado um exemplo, num quadro sinótico, dos caracteres
micromorfológicos de um solo.
Conforme sugere o termo, micromorfologia refere-se, em pedologia, ao estudo
da organização do solo em escala microscópica, através de seções finas (aprox. 25 μm
de espessura), com auxílio do microscópio ótico polarizante. Uma das vantagens desta
técnica é o fato de se trabalhar com amostras em sua estrutura natural indeformada,
tendo como limite de resolução aumentos que vão de 10 até 100 vezes, podendo
chegar a 300 e, excepcionalmente, até 500 vezes, em seções finas normais. A
identificação de partículas torna-se difícil, se menores que 20 μm; impossível, na maior
parte dos casos, se menor que 5 μm.
A micromorfologia é muito importante no estudo da estrutura do solo, bem
como em estudos de porosidade, permeabilidade, compactação, encrostamento e
avaliação de como as práticas agrícolas podem afetar essas propriedades
(CHARTRES, 1987).
Esta técnica permite identificar com segurança os processos a partir de seus
efeitos sobre a organização microscópica do solo (FEDOROFF, 1979). Um estudo
micromorfológico deve estar sempre associado ao exame do perfil do solo e da
paisagem na qual este se encontra. Dentro dessa premissa situam-se, por exemplo,
os trabalhos de Bennema et al. (1970), Corrêa (1989), Demattê (1975), Lepsch
(1975), Moura Filho (1968), Rezende (1980), Ribeiro (1982), Ribeiro et al. (1991) ,
Santos et al. (1991) e Gomes et al. (2004).

251
Descrição sistemática dos solos baseada em observações de campo, em amostras de mão (macropeds)
e no estudo de seções finas, além de informações, obtidas por outras técnicas, sobre tamanho, forma,
arranjo e identificação dos constituintes do solo.

235
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES

10.1. O Problema da Amostragem


Um dos problemas inerentes ao estudo do solo refere-se à representatividade
da amostragem. Em micromorfologia isso é ainda mais evidente em razão da escala
de observação. Por isso tem sido sugerido (FEDOROFF, 1979), de preferência, o uso
de seções finas de maior formato: 150 x 80 mm (tipo mamute ), minimizando assim
possíveis efeitos produzidos durante a manipulação da amostra no preparo da lâmina.
O tamanho padrão é de 90 x 60 mm. A espessura final do vidro, sobre o qual a seção
de solo é montada, deve ter em torno de 2 mm.
Na petrografia é padronizado um tamanho de lâmina (45 x 30 mm) em vidro
com 1,5 mm de espessura. Em estudos de solos, essa dimensão de lâmina é indicada
em geral quando se fazem microanálises (usando microssonda).
A amostragem do solo para estudos de micromorfologia requer alguns cuidados,
relacionados por Doirisse (1989), de modo a manter a estrutura do solo e a orientação
da amostra252.
Esta deve:
- ter um tamanho conveniente, que é de 100 x 60 x 50 mm, para uma lâmina
padrão;
- apresentar um mínimo de calhaus (um máximo de material fino);
- conter os aspectos característicos do horizonte amostrado.
Uma das maneiras recomendáveis de se retirar a amostra é utilizar uma caixa
de alumínio ou inox, aberta dos dois lados. Tendo este envoltório como molde, é
esculpido, com auxílio de uma faca, um bloco (amostra). As raízes devem ser cortadas
com tesoura, nunca arrancadas. Deve-se ajustar a caixa ao bloco esculpido na parede
do perfil de solo de modo a acondicioná-lo o mais perfeitamente possível, tampar o
lado externo, soltar o outro lado do bloco da parede do perfil usando a faca, desbastar
o excesso e fechar a caixa. Se a amostra estiver muito seca, umedecê-la
cuidadosamente antes de fechar a caixa para que não ocorram rachaduras durante o
transporte. A identificação da amostra deve ser feita na própria caixa, com tinta não
solúvel em água, anotando-se todos os dados relevantes como o número do perfil,
horizonte e profundidade da amostragem. Indicar a orientação, por exemplo, com
uma seta apontando para a superfície do solo. Envolver a caixa com fita adesiva,
transportando-a em embalagem acolchoada.

252
Em micromorfologia, a orientação da amostra é indispensável, a fim de se observar a acumulação de
materiais orgânicos e minerais resultantes de processos de migração (iluviação, por exemplo), diferenciar
fendas estruturais (poros naturais) de rachaduras (poros artificiais) etc.

236
M I CR OM OR FOLOGI A DO S OLO

A amostra destinada ao estudo de micromorfologia não deve ser colocada para


secar em estufa. Isto provocaria o aparecimento de rachaduras, comprometendo a
análise microestrutural. Em alguns casos a secagem da amostra é problemática. Como
exemplo, Doirisse (1989) menciona o caso de horizontes ricos em húmus, contendo
elevada percentagem de água. Neste caso promove-se a substituição da água por
acetona, sob condição de vácuo, o que pode ser feito por diferentes métodos. Materiais
de Solos Orgânicos (turfa), atuais Organossolos, argilas marinhas, ou amostras contendo
argilas expansivas (esmectitas) não podem ser secas ao ar, devendo, por exemplo, ser
liofilizadas, conforme recomenda Fedoroff (1979). Este autor também menciona como
problemático o preparo de amostras de solos salinos.

10.2. Alguns Conceitos Básicos em Micromorfologia


A pedogênese altera a posição e o tamanho dos constituintes do solo, dando-
lhes uma nova organização, assim originando as mais variadas configurações.
Contribuem nesse processo os produtos e as alterações provocadas pela atividade da
pedofauna. Além do mais, a natureza mineralógica, principalmente a do plasma,
influencia propriedades muito importantes no estudo da micromorfologia do solo. Estes
e outros termos pertinentes à análise micromorfológica serão definidos posteriormente
(seção 10.3).

10.2.1. Intemperismo e Minerais Índices


Na estimativa do avanço do intemperismo são importantes as informações sobre
a composição do material de origem e, assim, a partir da diversidade e proporção dos
minerais componentes, pode-se escolher:
(a) um determinado mineral particularmente estável aos processos de formação
atuantes no perfil do solo;
(b) a proporção entre esse e os demais minerais ao longo do perfil do solo.
Certamente torna-se difícil selecionar um material de origem uniforme em todo
o perfil. Brewer (1976) recomenda, essencialmente, duas alternativas para testar essa
uniformidade com base nos princípios de análises de minerais.
A primeira se refere à elaboração de uma distribuição relativa dos percentuais
das espécies minerais ao longo do perfil do solo. A forma da curva assim construída
deve indicar (porém não prova) se as diferenças encontradas são devidas ao
intemperismo ou às diferenças existentes no material de origem. Assim, uma curva
suave e contínua deve indicar um intemperismo gradativo, enquanto que bruscas
variações devem indicar diferenças no material de origem ou, então, diferentes fases
de deposição (caso sedimentos estejam sendo considerados). Entretanto é preciso

237
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES

ter-se em conta as variações morfológicas, muitas vezes bruscas, acarretadas por um


determinado tipo de pedogênese como, por exemplo, na formação de Planossolos e de
outros solos com marcante gradiente textural, principalmente de transição abrupta.Na
tentativa de superar tais interferências na análise, Ruhe (1956) usa a variação
proporcional entre mineral resistente/mineral vulnerável (zircão + turmalina/piroxênios
+ anfibólios ou quartzo/feldspatos), ao longo da profundidade do solo.
A segunda alternativa é o uso da relação de minerais resistentes como índice,
por exemplo, zircão/turmalina (HASEMAN & MARSHALL, 1945), que se espera
ser mais constante ao longo do perfil, mesmo naqueles em condições de descontinuidade
provocadas pela pedogênese. Essa relação poderia ser referida ao material total ou
apenas relativa à frações granulométricas específicas. Os valores serão, assim, mais
constantes desde que o material de origem seja uniforme.
Um critério útil na escolha de um constituinte estável que possa ser utilizado na
estimativa do intemperismo (BREWER, 1976; HASEMAN & MARSHALL, 1945),
é o uso de uma análise química do material total ou na forma fracionada por tamanho,
peso específico, separação magnética etc. A análise química, em geral, é feita
paralelamente à detecção de determinado elemento exclusivo ao mineral escolhido
para índice, como zircônio no zircão e boro na turmalina ou, então, que esses minerais
sejam considerados como parâmetros de reconstituição mineralógica a partir dos
elementos analisados quimicamente. Neste caso o uso da sílica não funciona, devido
à sua origem múltipla e mesmo por ser ela componente importante das argilas silicatadas,
que são particularmente vulneráveis ao ataque químico, o que mascararia os resultados.
Finalmente, como o tamanho dos minerais torna-se cada vez menor com o avanço do
intemperismo, a ocorrência do mineral índice, particularmente do zircão, num
determinado tamanho, pode ser tomada como elemento indicador modal.
Quartzo e zircão têm sido muito utilizados nesse tipo de estudo devido à sua
resistência e, por isso, são minerais especialmente indicados como índice em solos das
áreas intertropicais, sujeitas que são ao mais intenso intemperismo. As evidências de
que esses minerais se intemperizam sob certas condições, como assinalado por vários
autores, conforme citados por Brewer (1976), e que o quartzo possa ter origem
autigênica253, e o zircão possa concentrar-se em zonas de acumulação de óxidos de
ferro, constituem dificuldades ao seu emprego como índices nas estimativas de
intemperismo. O rutilo e o anatásio são também bastante resistentes, porém sua origem
autigênica é comum.

253
Formado ou gerado no lugar; cristalizado depois da deposição do sedimento original, não transportado
(BATES & JACKSON, 1987).

238
M I CR OM OR FOLOGI A DO S OLO

10.2.2. Estrutura, Trama e Pedalidade


O conceito mais comum de estrutura em pedologia significa o arranjo entre os
grãos do esqueleto e o plasma para formar unidades maiores - os peds (agregados).
Na descrição de perfil no campo, esses agregados são classificados segundo seu grau
de desenvolvimento, tamanho e forma.
Trama (fábrica) é definida como a expressão física dada pelo arranjo espacial
das partículas sólidas do solo e os poros a elas associados (plasma + grãos do esqueleto
+ poros). As formas pelas quais a trama se dispõe podem ser, em muitos casos, uma
indicação segura de fenômenos ao deslindar eventos importantes na gênese do solo e,
por conseqüência, esclarecer não somente aspectos puramente classificatórios mas
também tendências sobre o comportamento do solo. É claro, todavia, que não se pode
perder de vista as correlações de interdependência porventura existentes entre as
análises megascópica e microscópica da trama254.
Muita ênfase é particularmente dada ao tamanho, forma e arranjo das partículas na
descrição da estrutura e, por extensão, dos peds. O termo pedalidade (BREWER, 1976)
refere-se à constituição física expressa pelo tamanho, forma e arranjo dos peds; estes são
agregados naturais e individuais constituídos por conjuntos de partículas primárias, separados
entre si por superfícies de fraqueza, as quais são reconhecidas pelos poros ou pela
ocorrência de cutãs: não são, portanto, torrões quebrados indistintamente.

10.2.3. Níveis de Organização


Alguns termos, para melhor esclarecimento, serão aqui apresentados conforme
conceituação de Brewer (1976).
Estrutura plásmica: estrutura do plasma da matriz-s255, isto é, o tamanho, a
forma e o arranjo das partículas do plasma e poros simples associados. A estrutura
plásmica corresponde à organização dos constituintes do plasma que não foram
concentrados ou cristalizados a ponto de formarem estruturas associadas (feições
pedológicas), definidas como tal.

254
Houve, na definição de horizonte argílico da Soil Taxonomy, ênfase demasiada nas análises
micromorfológicas, na presença e quantificação da argila orientada. Isso criou muitos problemas nos solos
com B textural (conceito mais amplo do que argílico) de argila de atividade baixa. Como resultado das
propostas advindas do Workshop Internacional on Low Activity Clays, realizado no Brasil em 1978,
houve modificação na Soil Taxonomy: a criação do horizonte cândico, semelhante ao horizonte argílico,
mas tendo argila de atividade baixa e não tendo nenhum requisito quanto à ocorrência de argila orientada.
Nas definições de Alfisol e Ultisol, onde se lia requer horizonte argílico , leia-se: requer horizontes
argílico ou cândico . Assim, Rezende (1980) classificou, inicialmente como Alfisol, um Podzólico
Vermelho-Escuro (Argissolo Vermelho) eutrófico, devido à cerosidade forte e abundante; com base na
análise micromorfológica, foi reclassificado como Eutrorthox: apenas um cutã (argilã) foi encontrado no
horizonte BC; atualmente (SOIL SURVEY STAFF, 1999), seria novamente Alfisol (Kanhapludalf).
255
Matriz-s = matriz do solo.

239
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES

Estrutura básica: estrutura da matriz-s, isto é, o tamanho, forma e arranjo dos


grãos simples (plasma e grãos do esqueleto) e poros dos peds primários ou material
apedal, excluídas as estruturas associadas.
Estrutura primária: estrutura dentro do material apedal ou dentro do ped
primário, incluindo tamanho, forma e arranjo de todas as estruturas associadas inclusas
na matriz-s e a estrutura básica (estrutura da matriz-s).
Estrutura elementar: é um nível simplificado da estrutura primária, isto é, integra
tamanho, forma e arranjo de estruturas específicas associadas e da estrutura básica
(estrutura da matriz-s).
Estrutura secundária: tamanho, forma e arranjo dos peds primários, seus
poros interpedais e estruturas associadas interpedais.
Estrutura terciária: tamanho, forma e arranjo dos peds secundários
(empacotamento dos peds primários), seus poros interpedais e estruturas associadas
interpedais.

10.3. Terminologia Descritiva


Conforme as considerações introdutórias, será apresentado aqui um glossário
mínimo essencial de termos de descrição micromorfológica. Na tradução dos termos
originais (BREWER, 1976) para o português, sempre que possível, seguiu-se a nota
técnica apresentada por Stoops (1986) e o glossário apresentado por Lima et al. (1985).

10.3.1. Constituintes do Solo


Matriz-s (Fundo matricial): material que se encontra no interior dos peds
primários (mais simples), ou compondo materiais apédicos, no qual ocorrem as feições
pedológicas (que podem, por sua vez, ter a sua própria matriz-s interna). É o conjunto
do plasma e/ou grãos primários e poros associados que não ocorrem como estruturas
associadas, à exceção daquelas classificadas como tramóides (entidades caracterizadas
mais por uma mudança significativa no arranjo dos constituintes do que na concentração
de alguma fração do plasma).
Plasma: todo material, mineral e orgânico, de tamanho coloidal e materiais
relativamente solúveis (carbonatos, sulfatos), que não está retido em grãos do esqueleto.
Consiste de material mineral e orgânico que é capaz de ser ou que tenha sido
movimentado e/ou concentrado pelos processos de formação do solo.
Esqueleto (estrutura básica): compreende os minerais primários e os
fragmentos orgânicos duros, de tamanho superior ao coloidal.
Poros: eles se manifestam sob diferentes tamanhos (micro-, meso- e macroporos)
e formas:
- Fendas: poros muito longos em relação à abertura;
- Cavidades: poros tão longos quanto largos, apresentando as formas mais
variadas;

240
M I CR OM OR FOLOGI A DO S OLO

- Vesículas: poros isolados, de forma circular;


- Poros de empacotamento (empilhamento): resultam de organizações de
estruturas granulares (grãos do esqueleto, agregados etc.). Eles são subdivididos
em poros de empacotamento livre (os grânulos tocam-se livremente) e em
poros de empacotamento compacto (os grânulos são soldados).

10.3.2. Organização do Plasma ou Tessitura Plásmica


A tessitura plásmica traduz os domínios de orientação relativa que produzem
uma birrefringência256 em luz polarizada. Diferentes tessituras plásmicas podem ser
observadas:
Isotrópica: qualquer que seja a intensidade luminosa e o aumento, nenhum
domínio birrefringente é observado.
Assépica: caracterizada por domínios anisotrópicos muito pequenos, com
birrefringência fraca, distribuídos ao acaso. O plasma aparece finamente salpicado
(mosqueado). Distinguem-se dois tipos:
argilassépica - exibe padrão de extinção pontuado, com domínios
reconhecíveis;
silassépica - exibe padrão de extinção pontuado mas com domínios difíceis
de se reconhecer, devido à grande proporção de silte.
Sépica: os domínios birrefringentes com padrão de extinção estriado são
claramente identificáveis e freqüentemente distribuídos de forma específica. São
divididos em:
Insépica: domínios anisotrópicos com orientação estriada. Ocorrem em
manchas (tipo mosqueado);
Mossépica: extremo desenvolvimento da tessitura plásmica insépica. Os
domínios anisotrópicos estriados são mais numerosos e ocorrem mais
próximos uns dos outros ou unidos, originando um padrão variegado (tipo
mosaico);
Onissépica: todo o plasma ocorre como um complexo padrão de orientação
estriada;
Oossépica - Vossépica (Porossépica) - Esquelssépica: os domínios
birrefringentes bordam, respectivamente, agregados circulares, fendas
(paredes de poros) e grãos do esqueleto;
Massépica: o plasma apresenta domínios anisotrópicos estriados paralelos,
subparalelos ou desorientados em relação uns aos outros, ou podem ocorrer

256
Birrefringência, habilidade dos cristais de partir o raio de luz ordinária em dois feixes de velocidades
diferentes; isso só não acontece nos cristais isométricos ou do sistema cúbico (diamante, ouro, granadas,
prata, sodalita etc.) (BATES & JACKSON, 1987; BRANCO, 1992).

241
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES

em conjuntos de duas (bimassépica) ou três (trimassépica) zonas


paralelas.Cada conjunto com uma inclinação definida em relação aos outros.
Quando essa inclinação forma um ângulo reto, denomina-se ortobimassépica
e quando forma ângulo agudo, clinobimassépica;
Latissépica: trata-se essencialmente de uma variedade de bimassépica.
Consiste em dois conjuntos de domínios anisotrópicos estriados, muito curtos
e descontínuos, que formam ângulos retos entre si.
Undúlica: o plasma é praticamente isotrópico a baixas magnificações e altas
intensidades de luz. Os domínios não são reconhecíveis ou são indistintos, mesmo a
altas magnificações. Uma variação dessa tessitura plásmica denominada inundúlica
apresenta domínios pequenos, bastante indistintos.
Crística: o plasma é usualmente anisotrópico e consiste em cristais reconhecíveis
ao microscópio, geralmente originados das frações mais solúveis do plasma. Ocorre
mais comumente em certas estruturas associadas, como por exemplo, glébulas
carbonáticas.
Tessituras plásmicas mistas podem ser igualmente observadas. Elas são
designadas combinando os prefixos utilizados para os tipos simples. O tipo de tessitura
dominante é escrito por último. Por exemplo: esquelvossépico, esquelbimassépico etc.

10.3.3. Distribuição Relativa do Esqueleto e do Plasma


A distribuição entre grãos e plasma de material do solo foram classificadas por
Brewer (1964), em quatro tramas principais:
Porfirosquélica ou porfirogrânica: os grãos do esqueleto estão inseridos
num plasma quase contínuo, a exemplo dos fenocristais numa rocha porfirítica;
Aglomeroplásmica: o preenchimento do plasma entre os grãos do esqueleto é
frouxo e incompleto;
Intertéxtica: os grãos do esqueleto são ligados por pontes de plasma ou situados
no interior de um fundo plásmico muito poroso;
Granular: só o esqueleto está presente.

10.3.4. Estruturas Associadas (Feições Pedológicas)


São unidades morfológicas reconhecíveis, supostamente de origem pedológica. Elas
se distinguem do fundo matricial pelas diferenças de concentração do plasma, de orientação,
de arranjo e de origem dos constituintes. As principais estruturas associadas são:
Cutãs: termo geral designando uma acumulação ou uma diferenciação textural
ou de produtos solúveis, cobrindo paredes de poros ou a superfície de grãos do esqueleto
ou, ainda, de agregados. Conforme sua origem, os cutãs são classificados em cutãs de
iluviação, de difusão, de tensão e complexos. Exemplos:

242
M I CR OM OR FOLOGI A DO S OLO

Argilãs: cutãs constituídos principalmente de argilominerais;


Ferriargilãs: cutãs compostos de argila silicatada e de óxidos de ferro;
Ferrãs: cutãs formados de uma concentração de óxidos de ferro;
Neoferrãs: revestimentos formados pela concentração de óxidos de ferro,
situados na vizinhança imediata de superfícies naturais às quais estão
associados;
Esqueletãs: acumulações de conformações variadas, constituídas do
empacotamento (empilhamento) de grãos análogos àqueles presentes no
fundo matricial adjacente.
Concreções: glébulas257 com estrutura geralmente concêntrica em torno de
um ponto, linha ou plano.
Nódulos: glébulas com organização (tessitura) interna indiferenciada, de óxidos
de ferro, de manganês, de calcita etc. Neles pode ser reconhecida a estrutura de
materiais herdados da rocha de origem mais ou menos alterada (litorrelíquias), de
depósitos superficiais (sedirrelíquias) e de estruturas pedológicas pretéritas
(pedorrelíquias).
Pedotúbulos: material de solo (grãos do esqueleto simplesmente ou em
associação com plasma), apresentando forma externa tubular, tanto em tubos isolados
como ramificados. Sua forma externa é consonante com a definição de canais.
Pápulas: glébulas compostas dominantemente de minerais argilosos, com
tessitura (trama) interna contínua e/ou lamelar; têm transições externas nítidas, mais
comumente elipsoidais alongadas e algo arredondadas.

10.4. Apresentação Sinótica das Descrições e Avaliações


Micromorfológicas: Exemplo
Sistematicamente a discussão e interpretação dos caracteres micromorfológicos
do solo desenvolvem-se a partir de um quadro sinótico das descrições e avaliações
decorrentes da análise ao microscópio ótico.
Conforme já assinalado, a discussão e interpretação dos caracteres
micromorfológicos (Tabela 10.A) não se ajustam ao escopo deste capítulo. No entanto,
com relação à tabela apresentada, é oportuno lembrar que as contagens e estimativas
visuais ao microscópio ótico polarizante devem ser efetuadas sob um determinado
aumento. No exemplo dado (Tabela 10.A), este aumento foi da ordem de 35 vezes.
257
Glébulas são corpos que ocorrem no interior do fundo matricial (matriz-s), habitualmente de forma
elipsoidal alongada a equidimensional. Elas são reconhecidas como unidades, seja por causa de uma maior
concentração de algum constituinte e/ou diferença na organização interna, quando comparada ao material
envolvente, ou em razão de uma delimitação distinta com o material envolvente (LOZET & MATHIEU,
1986).

243
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES

Depreende-se, portanto, que os percentuais relativos à porosidade, apresentados nessa


tabela, correspondem a uma apreciação parcial da macroporosidade258. Quanto aos
baixos percentuais de grãos do esqueleto, não obstante as limitações de uma estimativa
visual, trata-se de um solo cuja percentagem de argila é da ordem de 90% (CORRÊA,
1989), portanto essencialmente muito argiloso.
A discussão e interpretação dos caracteres microestruturais requerem, em geral,
ilustrações fotográficas das feições micromorfológicas relevantes.

Tabela 10.A Caracteres micromorfológicos de horizontes de um Latossolo Plíntico


concrecionário (Plintossolo Pétrico Concrecionário).
HORIZONTE E PROFUNDIDADE (cm)
CARACTERES Bw3 Bwf BC1 BC2
65 84 110 190
Matriz-s (fundo matricial)
Plasma muito abundante; localmente ausente ou muito abundante; muito abundante;
amarelo-brunado em pouco abundante; bruno-amarelado bruno muito pálido
LN(1); isotrópico amarelo-brunado; em LN; isotrópico em LN; isotrópico
isotrópico com alguns domínios
fracamente
anisotrópicos, com
extinção rolante
Esqueleto quartzo; <3,5 quartzo; <1,2 mm; quartzo; <3 mm; quartzo; <0,5 mm;
mm; arredondados e arredondados e arredondados e arredondados e
angulosos angulosos;concentrados angulosos;distribu- angulosos;
entre os nódulos ição ao acaso distribuição ao acaso
Esqueleto (%) 3 20 3 2
Poros fendas e cavidades fendas e cavidades fendas e poros de fendas numerosas; ca-
numerosas; poros de pouco numerosas; poros empacotamento vidades pouco
empacotamento de empacotamento muito numerosos; numerosas; poros de
muito numerosos localmente raros ou numerosas cavida- empacotamento muito
pouco numerosos des numerosos
Poros (%) 16 7 18 7
Distribuição relativa
Domínios porfirosquélicos e granulares e porfirosquélicos e porfirosquélicos e
aglomeroplásmicos aglomeroplásmicos aglomeroplásmicos aglomeroplásmicos
Estruturas associadas (feições pedológicas)
Nódulos argilo-ferruginosos; argilo-ferruginosos; argilo- argilo-ferruginosos;
0,1-3,3 mm; pouco 0,1-5,0 mm; muito ferruginosos; 0,2- 0,2-1,5 mm; pouco
abundantes abundantes 2,0 mm; pouco abundantes
abundantes
Continua...

258
Macroporosidade ou porosidade não capilar, nesta análise, compreende os poros com diâmetro maior
que 8 m; microporosidade ou porosidade capilar, corresponde aos poros com diâmetro inferior a 8 m
(LOZET & MATHIEU, 1986).

244
M I CR OM OR FOLOGI A DO S OLO

Tabela 10.A Continuação...


Horizonte e Profundidade (cm)
Caracteres Bw3 Bwf BC1 BC2
65 84 110 190
Ferruginizações impregnações impregnações fraca impregnação fracas impregnações
ferruginosas nas ferruginosas nas ferruginosa ferruginosas na matriz;
estruturas estruturas nodulares generalizada; ferrãs cobrindo a
nodulares; alguns ferriargilãs e parede de pedotúbulos;
sítios com fraca neoferrãs impregnações
impregnação abundantes; ferruginosas nas
ferruginosa estruturas nodulares estruturas nodulares
com impregnações
ferruginosas
Acumulações argilãs pouco esqueletãs argilãs abundantes argilãs muito
texturais abundantes abundantes abundantes
Pedotúbulos muito abundantes abundantes abundantes muito abundantes
(1)
LN = luz natural.
Fonte: Corrêa (1989).

10.5. Considerações Finais


Para se inferir, de forma mais eficiente, sobre a dinâmica do solo como classe,
é necessário, além da análise micromorfológica do seu material, avaliar as condições
e interdependências geomórficas da paisagem e descrever o perfil do solo.
Deve-se, para maior eficiência na interpretação da análise micromorfológica,
avaliar o solo como indivíduo e como material.
A amostra é irrisória como representação do conjunto maior. Entretanto a
premissa da repetibilidade de características, tanto em área como em profundidade,
de forma quase constante, leva à necessidade de se estabelecer unidades maiores do
que os volumes utilizados em micromorfologia. Portanto a concatenação cuidadosa
entre as escalas macroscópica e microscópica (macrocosmo e microcosmo), torna
possível a avaliação micromorfológica desde que a esta se somem as outras avaliações,
tais como aquelas concernentes à pedopaisagem, pedoforma, natureza do material de
origem e principalmente à morfologia do solo, no sentido de se compreender o solo
como componente previsível do ambiente.
Portanto, é certamente da maestria interpretativa e da interdependência das
micro e macroavaliações que as previsões de comportamento podem ser mais eficientes
e, desta forma, a análise micromorfológica pode simultaneamente ser enriquecida e
enriquecer de significado o estudo do solo.

245
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES

10.6. Bibliografia
BATES, R. L.; JACKSON, J. A. (Orgs.). Glossary of geology. Falls Church: American Geological
Institute, 1987. 751 p.

BENNEMA, J.; JONGERIUS, A.; LEMOS, R. C. Micromorphology of some oxic and argillic
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BOCQUIER, G. Genèse et évolution de deux toposéquences de sols tropicaux du Tchad.


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Strasbourg, 1973.

BOULET, R. Toposéquences de sols tropicaux en Haute - Volta: equilibre et déséquilibre


pédobio-climatique. 1978. 272 f. Thèse (Doctor) - University Strasbourg, Strasbourg, 1978.

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247
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES

248
POLUIÇÃO AMBIENTAL

11
POLUIÇÃO AMBIENTAL

O solo é um recurso natural não-renovável na escala de tempo humana. Por


isso ele não deveria, em princípio, ser o receptáculo final de detritos e resíduos
descartados pelo Homem. No entanto, uma pergunta se impõe: O que fazer com a
enorme quantidade de resíduos gerados por nossa sociedade? Essa não é uma pergunta
fácil de ser respondida e, entre as diversas alternativas de descarte, a deposição no
solo é sem dúvida uma das mais atraentes, já que o solo possui a capacidade – limitada
– de atuar como filtro e tampão.
Três grupos gerais de poluentes (metais pesados, pesticidas e resíduos orgânicos),
bem como alguns outros processos inter-relacionados, serão comentados.

11.1. Metais Pesados


A expressão “metais pesados”, quimicamente refere-se a elementos de caráter
metálico e de densidade elevada. Essa expressão, no entanto, adquiriu um significado
diferente à medida que se tornou conhecida do grande público. Hoje em dia a expressão
“metais pesados” refere-se a qualquer elemento químico que seja tóxico. Alguns deles,
como arsênio e selênio, não são, quimicamente falando, verdadeiros metais pesados.
A maioria dos metais pesados ocorre naturalmente no solo em baixas
concentrações e em formas não prontamente disponíveis para as plantas e organismos
vivos. A Tabela 11.A apresenta os teores típicos de alguns desses elementos, em
diferentes compartimentos naturais da Terra.

Tabela 11.A – Concentração típica de alguns metais pesados na crosta terrestre, em


rochas, sedimentos e solos do mundo (SPARKS, 1995).
Metal pesado Crosta terrestre Basaltos Granitos Sedimentos Solos
-1
–––––––––––––––––––––––––– mg kg ––––––––––––––––––––––––––
Arsênio 1,5 2 2 7,7 6
Cádmio 0,11 0,2 0,15 0,17 0,35
Chumbo 14 6 18 19 35
Cobre 50 90 15 33 30
Cromo 100 200 20 72 70
Mercúrio 0,05 0,05 0,06 0,19 0,06
Níquel 80 140 8 52 50
Zinco 75 110 40 95 90

249
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES

Devido à grande importância dos Latossolos no Brasil, Campos et al. (2003)


fizeram análises de elementos-traço em diversos desses solos, cujos resultados são
mostrados na Tabela 11.B.

Tabela 11.B Teor total de metais pesados em Latossolos brasileiros (CAMPOS et


al., 2003).
Classe de Solo Localização Cádmio Cobre Níquel Chumbo Zinco
-1
mg kg
LVd Ijuí-RS 0,87 200 27 28 96
LVd Chapecó-SC 0,39 50 9 27 47
LVdf Londrina-PR 0,92 238 40 24 91
LVdf Dourados-MS 0,84 227 45 25 79
LVef Campinas-SP 0,85 140 36 26 41
LVd Passo Fundo-RS 0,48 40 9 22 47
LVdf Ponta Grossa-PR 1,01 52 22 37 49
LVd Paranavaí-PR 0,39 23 3 17 20
LVdf Jaboticabal-SP 0,72 17 9 24 28
LVdf Lavras-MG 0,68 51 17 21 23
LVdf Sete Lagoas-MG 0,57 25 20 49 36
LVdf Goiânia-GO 0,72 43 22 20 35
LVdf Planaltina-DF 0,54 13 14 18 25
LVdf S. João del Rei-MG 0,73 33 12 13 17
LVAd S. João del Rei-MG 0,47 37 13 13 21
LAd Ubajara-CE 0,37 5 10 16 24
LAd Lavras-MG 0,83 16 11 17 12
LAd Areia-PB 0,43 8 10 17 26
LAc Tomé-Açu-PA 0,66 3 5 10 12
LVdf: Latossolo Vermelho distroférrico; LVef: Latossolo Vermelho eutroférrico; LVd: Latossolo
Vermelho distrófico; LVAd: Latossolo Vermelho-Amarelo distrófico; LAd: Latossolo Amarelo
distrófico; LAc: Latossolo Amarelo coeso.

A maioria das amostras estudadas por Campos et al. (2003) apresenta valores
muito elevados de cádmio, bem acima dos valores típicos registrados para solos (Tabela
11.A). Além do Cd, apenas está acima dos valores típicos o Cu, particularmente nos
Latossolos Vermelhos férricos. Tal constatação é importante, pois já foi dito que os
Latossolos brasileiros possuem teores naturalmente mais elevados que os solos mundiais
(BUOL & ESWARAN, 2000), o que implicaria em riscos à saúde humana. Na verdade,
os Latossolos brasileiros situam-se perfeitamente na média mundial quanto ao teor de
metais pesados.

250
POLUIÇÃ O AM BIEN T AL

Não obstante, os teores mais elevados de Cd nos Latossolos Vermelhos férricos


são dignos de registro. Esse metal tem tendência de se acumular em plantas e animais,
é mais móvel no solo, é mais facilmente absorvido pelas plantas do que outros metais
pesados e tem maior potencial para movimentar-se do solo para a planta e desta para
o Homem (STEVENSON, 1986). Portanto, seria útil o incentivo a análises e estudos
de metais pesados em solos, especialmente o Cd, que em geral apresenta teores
elevados em solos originários de rochas máficas, tais como os Latossolos Vermelhos
férricos.
Recentemente, Fadigas et al. (2006) propuseram uma série de valores de
referência para metais pesados em solos. Eles também propuseram, para cada grupo
de solos, um limite máximo de concentração de metais pesados a partir do qual os
solos poderiam ser considerados contaminados. A Tabela 11.C mostra esses resultados.
Fadigas et al. (2006) agruparam 110 perfis de solos pertencentes às principais
classes de solos existentes no Brasil, em sete grupos, com propriedades semelhantes.
Infelizmente, contudo, Fadigas et al. (2006) não levaram em conta a classificação do
solo ao elaborar os seus agrupamentos. Isso dificulta, ou mesmo impede, que a valiosa
informação que eles geraram seja utilizada conjuntamente com mapas de solos.

Tabela 11.C Teores de referência e teores limites máximos de metais pesados em


grupos de solos brasileiros, de acordo com Fadigas et al. (2006). Os valores entre
parênteses referem-se ao teor estabelecido como limite máximo. As características
definidoras de cada grupo de solos podem ser encontradas em Fadigas et al. (2006).
Grupo Cromo Cobalto Níquel Cobre Zinco Cádmio Chumbo
de solo
................................................................... mg kg-1 ...................................................................
G1 55 (114) 20 (44) 35 (92) 119 (283) 79 (149) 1,0 (2) 19 (35)
G2 48 (94) 10 (34) 18 (45) 19 (41) 44 (92) 0,8 (2) 25 (66)
G3 65 (131) 4 (12) 25 (46) 16 (48) 23 (42) 1,6 (4) 16 (31)
G4 35 (81) 10 (21) 17 (43) 12 (41) 35 (65) 0,9 (2) 18 (60)
G5 23 (61) 4 (9) 7 (21) 6 (11) 12 (24) 0,4 (1) 22 (84)
G6 43 (53) 2 (3) 12 (19) 2 (2) 12 (14) 0,4 (1) 3 (4)
G7 19 (41) 2 (8) 5 (10) 3 (5) 6 (13) 0,3 (1) 40 (154)

Microrganismos, plantas e animais, incluindo o Homem, requerem alguns destes


metais em baixos teores para o seu metabolismo normal. Porém, os organismos podem
ser afetados negativamente em concentrações maiores desses mesmos metais
(TYLER, 1981).
Rejeitos e poluentes industriais, resíduos de esgotos, fertilizantes, pesticidas e
outros, têm adicionado grandes quantidades de metais pesados ao ambiente. Assim

251
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES

que esses elementos chegam ao solo, ocorrem várias reações, as quais são dependentes
do tipo e teor do metal pesado e da classe de solo. De fato, a toxicidade relativa dos
metais pesados é grandemente modificada pelas propriedades do solo onde são
depositados.

11.2. Pesticidas
Os pesticidas são predominantemente aplicados em pulverização foliar, na
superfície do solo, ou são a ele incorporados. Em qualquer dos casos, uma grande
proporção desses pesticidas, eventualmente, movimenta-se no solo (BRADY, 1974).
Uma vez no solo, os pesticidas - na sua maioria muito pouco voláteis - podem
ser adsorvidos, submetidos a reações químicas, decompostos e transportados pela
água, pela erosão ou por lixiviação. No último caso, a sorção dos pesticidas em solos
assume papel relevante. De fato, a maioria dos inseticidas, nematicidas e fungicidas é
eletricamente neutra, e é retida principalmente pela matéria orgânica. Esses pesticidas
podem ser carreados até horizontes mais profundos, ao lençol freático e daí aos poços
e minas d água. Pela erosão esses compostos podem ser arrastados até córregos,
riachos, represas e rios.
São poucos os trabalhos, realizados no Brasil, sobre o destino de pesticidas em
solos. A maioria se restringe a estudos sobre sua persistência (remoção e degradação),
como o realizado em Latossolo Roxo (LR, atual Latossolo Vermelho férrico) e Podzólico
Vermelho-Amarelo (PV, atual Argissolo Vermelho-Amarelo) da região Sul de Minas
Gerais (PIFFER, 1989). Foi estimada em 16% da dose aplicada, a quantidade de
resíduos de Aldicarbe transportada para além dos 50 cm de profundidade no LR. Por
outro lado, apenas 2,5% do produto ultrapassaram a profundidade de 1 m. No PV,
cujos teores de matéria orgânica são maiores e a permeabilidade menor, esses
percentuais foram ainda mais baixos. O referido autor assinala ainda que, como nos
solos estudados o lençol freático está localizado a muitos metros de profundidade, não
seria esperada, naquelas condições, a contaminação do lençol freático, mesmo na
dosagem normalmente considerada alta.
Os Latossolos brasileiros, apesar de receberem um grande volume de pesticidas
quando sob agricultura mecanizada, são relativamente menos erodíveis, armazenam
maior volume de água e têm lençol freático a grandes profundidades, além de possuírem
normalmente teores de argila médios ou altos. Essas características podem, de certa
forma, minimizar os impactos ambientais potencialmente causados pelo uso de tais
substâncias. Situação oposta é apresentada pelos solos de várzea (solos hidromórficos
e Solos Aluviais, estes últimos correspondendo aos atuais Neossolos Flúvicos). Como
o lençol freático está mais próximo à superfície, os solos de várzeas constituem
ambiente mais vulnerável (CURI et al., 1988). Os solos com horizonte B textural (não

252
POLUIÇÃ O AM BIEN T AL

hidromórficos) e Cambissolos (excluindo-se aqueles de depósitos aluviais antigos)


têm, neste aspecto, comportamento intermediário. O comportamento diverso dos
pesticidas em relação às classes de solo e às diversas regiões geográficas brasileiras
reforça a necessidade de avaliações mais pormenorizadas dos efeitos ecológicos dos
produtos tóxicos.

11.3. Resíduos Orgânicos


Os resíduos orgânicos urbanos, como aqueles provenientes das indústrias de
processamento de fibras e de alimentos, aterros sanitários etc., não serão tratados
neste capítulo.
Entre os resíduos orgânicos agro-industriais utilizados na agricultura, a vinhaça
ocupa, no Brasil, lugar de destaque. A vinhaça é um subproduto do processamento do
álcool. É um resíduo líquido de substâncias orgânicas, com elevado teor de potássio.
Seu pH varia entre 4,0 e 5,0; é corrosivo, tem altos índices de demanda biológica de
oxigênio (DBO), e de demanda química de oxigênio (DQO). É, portanto, um sério
agente poluidor (FONTES, 1989; MENEZES, 1980). Quando aplicado como fertilizante,
as quantidades não devem ultrapassar a capacidade de retenção de água do solo
(VIEIRA, 1986).
Na região oeste de São Paulo, por exemplo, deve-se ter muito cuidado com a
aplicação de vinhaça nos solos. O volume de armazenamento de água nos Latossolos
Roxos (Latossolos Vermelhos férricos), Latossolos Vermelho-Escuros (Latossolos
Vermelhos com teor de Fe2O3 < 18%) e Latossolos Vermelho-Amarelos que dominam
a paisagem (LEMOS et al., 1960), não deve ser ultrapassado pela aplicação da vinhaça.
Além disso, a proteção contra a erosão deve ser uma preocupação constante. De
fato, nessas áreas a densidade de drenagem é reduzida e, como o uso de vinhaça é
comum, o efeito concentrador daquela aumenta a poluição à jusante.

11.4. Outros Processos Relacionados


11.4.1. Movimento de Nitrato para Cursos D água
Nos últimos anos tem aumentado a preocupação acerca do impacto dos nitratos
na saúde da população humana e animal. Segundo STEVENSON (1986), o impacto
dos nitratos atinge:
a) saúde humana (metaemoglobina em crianças, câncer, doenças respiratórias);
b) saúde animal (morte de animais domésticos);
c) crescimento diminuto ou excessivo de plantas;
d) qualidade do ambiente (eutrofização e anoxia).

253
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES

Os padrões especificam que o teor de N-NO3 na água, para consumo, não


deveria exceder 10 ppm (10 mg L-1).
Aqui serão abordados apenas alguns aspectos relacionados ao movimento de
nitratos, do solo para os cursos d água.
Existem bons indícios (HOEFT, 1990) de que a agricultura não é a única fonte
de aumento dos níveis de nitratos em cursos d água; trabalhos recentes indicam que a
urbanização pode ser o fator principal em algumas áreas, onde altas doses de fertilizantes
(além das necessárias), aplicadas em alguns jardins e gramados representam perigo
potencial. Outra fonte urbana de nitrato é o lançamento de esgotos sem tratamento
prévio, diretamente nos cursos d água, situação mais comum em nosso país.
Os solos arenosos, devido à menor capacidade de armazenamento de água
(maior potencial de lixiviação) e por serem mais sujeitos à erosão, têm maior potencial
de contaminar os cursos d água. A prevenção desse problema envolve:
a) ajuste das épocas de aplicação de N às necessidades das plantas;
b) uso de inibidores do processo de nitrificação, objetivando retardar a formação
de NO3-;
c) aplicações múltiplas, conforme a demanda das plantas;
d) aplicação de fertilizantes na água de irrigação;
e) colocação específica de fertilizantes contendo N;
f) uso de fontes apropriadas de N;
g) uso de teores adequados de P, K e outros nutrientes para maximizar a eficiência
do uso de N (HOEFT, 1990);
h) proteção contra erosão;
i) manutenção de teores razoáveis de matéria orgânica no solo.

11.4.2. Efeito Estufa


Esse efeito refere-se à absorção de energia emitida pela superfície terrestre
dentro da atmosfera, com conseqüente elevação da temperatura (BOUWMAN, 1989).
Os principais gases responsáveis pelo efeito estufa são CO2, CH4, N2O, NO e CO,
cuja concentração na atmosfera vem aumentando sensivelmente.
A biosfera é, na verdade, um pequeno reservatório de CO2, comparado aos
carbonatos no fundo dos oceanos. Um aumento no teor de CO2 atmosférico
estimula o crescimento das plantas, consumindo CO2 e, o que é mais importante,
aumenta a precipitação de carbonatos nos oceanos. O desmatamento adiciona
grande quantidade de CO2 na atmosfera, no momento do corte da vegetação
nativa. No entanto, com o estabelecimento de uma nova vegetação (lavoura,
pastagem, floresta plantada, ou mesmo capoeira) sobre a área desmatada, pelo
menos parte do CO2 emitido quando do desmatamento é reutilizada pelas plantas,
minorando o impacto do desmatamento.

254
POLUIÇÃ O AM BIEN T AL

Acredita-se que as principais fontes de CO2 da atmosfera vêm da queimada de


combustíveis fósseis pelas emissões industriais e pelos veículos automotores. O
incremento na concentração de CH4 é causado, principalmente, pelo aumento das
áreas de cultivo de arroz por inundação, produção de dejetos da atividade humana e
animal, queima da biomassa e aumento de fontes não biogênicas.
As principais fontes biogênicas de CO são a queima da biomassa e da vegetação,
enquanto os solos funcionam como seu reservatório. Seu incremento, entretanto, é
causado principalmente pela oxidação de metano atmosférico e outros hidrocarbonetos.
As principais fontes biogênicas de N2O e NO são: o solo (estado natural e
cultivado), os oceanos e a queima da biomassa. As causas do aumento da concentração
desses gases na atmosfera são, provavelmente, o incremento e a tendência global de
utilização de quantidades cada vez maiores de fertilizantes químicos.

11.5. Considerações Finais


Pelo fato de ser o solo um componente do ecossistema impõe evitar-se, ao
máximo, qualquer processo de contaminação dele por compostos que, após várias
reações, poluam o ambiente via água ou ar. Os solos integram diversos fatores do
meio e, portanto, são determinantes de condições mesológicas diversas. Deste fato
resulta que os poluentes têm comportamento variável em função das classes de solos,
exigindo atenção especial no manejo integrado de agroecossistemas. Embora ainda
haja muitas incertezas quanto às causas e consequências do efeito estufa, é certo que
os solos terão um importante papel a desempenhar na solução desse problema.

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256
CLASSIFICAÇÃO DE ECOSSISTEMAS

12
CLASSIFICAÇÃO DE ECOSSISTEMAS

12.1. Análise Sob Várias Escalas


Os ecossistemas variam; e se variam, como classificá-los?
As classificações naturais, tanto de plantas, como de animais e de solos, têm
uma estrutura hierárquica:

Reino ⎯ Animalia
Filo ⎯ Chordata
Subfilo ⎯ Vertebrata
Classe ⎯ Mammalia
Ordem ⎯ Carnivora
Família ⎯ Canidae
Gênero ⎯ Canis
Espécie ⎯ Canis familiaris

O interesse e as generalizações que se quer fazer podem estar centrados em


qualquer dos níveis hierárquicos do reino à espécie. Quando uma espécie é identificada,
todas as informações acumuladas nos vários níveis hierárquicos vêm à tona. Sabe-se,
por exemplo, que o Canis familiaris (cão doméstico) apresenta dois grandes caninos
por maxilar, com arestas cortantes; produz leite para alimentar os filhotes e é
homeotermo e placentário; tem hemácias anucleadas, pêlos e glândulas; tem dedos
separados e coluna vertebral; é eucariota e multicelular; heterotrófico por ingestão de
alimento etc. Muito mais importante do que as informações anteriores lidas de baixo
para cima, da espécie ao reino, está o fato de que a classificação é uma estrutura que
reflete tudo o que se sabe e é por ela que se pode saber o que se sabe. É um instrumento
para armazenar e informar.
Com exceção do nome específico, Canis familiaris, todas as outras informações
são válidas também para lobos, tigres, onças etc. O conhecimento específico, pertinente
somente ao cão doméstico, deve ser procurado no nível categórico de espécies, ou
abaixo, raças, por exemplo. Para quem tem um cachorro em casa, provavelmente vão
interessar as peculiaridades daquele indivíduo, o que não interessa para a maioria das
pessoas: como está de saúde, que idade tem, se não tem pulgas etc.

257
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES

Em resumo, todos os níveis categóricos de classificação, mesmo informais259,


podem ser importantes, dependendo do interesse de cada um.
E com os ecossistemas, o que acontece?

12.2. Hierarquia dos Ecossistemas


Os planejadores em nível de país ou estado, por exemplo, provavelmente estarão
interessados numa informação direta e genérica; os do município precisam de mais
detalhes; ao agricultor interessam as informações dos seus campos de cultivo, hectares
ou frações de hectares. Para atender a essas exigências em diferentes escalas há
necessidade de uma classificação hierárquica, apropriada às várias escalas; os critérios
climáticos, vegetacionais e edáficos tendem a ser enfatizados nesta ordem, do geral
para o mais específico (Tabela 12.A).

Tabela 12.A Hierarquia dos ecossistemas260.


Nome Critério
1. Domínio - Área subcontinental climaticamente relacionada.
2. Divisão - Clima regional simples, correspondente à classificação de tipos
climáticos de Köppen (TREWARTHA, 1943).
3. Província - Vegetação geral com o mesmo tipo ou tipos de solos zonais.
4. Seção - Clímax climático de tipos de vegetação potencial de Küchler
(1964).
5. Distrito - Parte de uma seção, tendo geomorfologia uniforme no nível
das regiões de formas de geossuperfícies de Hammond (1964).
6. Associação de tipos - Grupo de geótopos vizinhos com padrão recorrente de
geoformas, litologia, solos e associação de vegetação.
7. Geótopos (Land Type) - Grupo de fases vizinhas com séries ou famílias de solos ou
com comunidades similares de plantas, conforme os tipos de
habitat de Daubenmire (1968).
8. Fase de geótopo - Grupo de sítios vizinhos pertencentes à mesma série de solo
com tipos de habitat afins.
9. Sítio - Tipo de solo ou fase e tipo de habitat ou fase.
Fonte: Adaptado de Bailey (1976).
259
Alguns grupos indígenas demonstram uma grande habilidade na identificação correta de alguns animais,
por exemplo insetos; eles usam o comportamento dos insetos, um critério que, pelo menos por ora, é
extrataxonômico. Essa mesma habilidade de identificar grupos significativos pode estender-se a outros
componentes do ecossistema, inclusive aos solos.
260
Esse sistema, aplicado nos Estados Unidos, incluindo Havaí e Alasca, produziu 12 domínios. Os critérios
usados são bem distintos, climáticos no topo e edáficos na base; os Domínios de Ab Saber têm maior nível
de integração e talvez se aproximem mais do conceito de Província, como usado por Bailey (1976).

258
CLA S S IFICAÇÃO DE ECOS S IS TEM AS

As classes de solos estão (Tabela 12.A) nos níveis mais detalhados da hierarquia.
Em regiões não sujeitas a invernos rigorosos, a diferenciação do ambiente físico
depende, ainda mais, de variações no substrato, isto é, do solo. Assim, para o Brasil, o
uso apenas de critérios climáticos261, como nos Domínios e Divisões de Bailey (1976),
não parece promissor.
Este fato foi percebido por Ab Saber mesmo em nível categórico elevado, quando
elegeu com maestria os seus Domínios Morfoclimáticos (AB SABER, 1970). Para o
território brasileiro sugere-se uma simplificação dos critérios hierárquicos de
estratificação das ecorregiões (Tabela 12.B).

Tabela 12.B Hierarquização de classes das áreas geográficas ou ecorregiões.


Domínio Corresponde, em geral, aos Domínios Morfoclimáticos
(AB'SABER, 1970): Mar de Morros, Amazônia, Depressões
Interplanálticas Subáridas do Nordeste, Cerrados, Planaltos das
Araucárias, Pradarias Mistas, Pantanal etc.
Região ou Zona Manchas representadas nos mapas exploratórios ou
esquemáticos de solos, por exemplo, manchas representadas no
Mapa de Solos262 do Brasil, escala 1:5.000.000 (EMBRAPA,
1981).
Província263 Áreas representadas nos mapas de reconhecimento ou
exploratórios de solos, escala 1:250.000 a 1:1.000.000
Distrito Grupos de paisagens recorrentes dentro da província; algumas
vezes indicadas como componentes da província.
Paisagem Unidade geográfica de solos facilmente reconhecível no campo
e, em geral, abrangida pela vista do observador. Não é,
necessariamente, pura taxonomicamente.
Fase de série (Sítio) Menor unidade de paisagem, mapeável ou identificável a nível
(Sítio) de campo com significado biológico.

O uso das informações dos levantamentos de solos na estratificação dos


ambientes é insubstituível. Isso é particularmente notável onde existem áreas de tensão

261
O que está sendo tratado não é o critério de importância, a estação de crescimento nos trópicos, mais
do que qualquer outro fator, é determinada pelo início e fim do período chuvoso; o que se procura é a
formação de classes de ecossistemas com o máximo de significado e o mínimo razoável de níveis categóricos.
262
As unidades de mapeamento de solos no Brasil incluem as fases de vegetação original e relevo; assim há
mais informação do que os dados do perfil do solo: numa unidade com relevo acidentado, as variações de
insolação, conforme a exposição, são diferentes das da área mais suave.
263
Essa posição da província abaixo da região é consistente com Webster (1989). A região é usada também
no sentido genérico de classe de área, uma parte da superfície da Terra que se distingue, de alguma forma,
das áreas vizinhas (GRIGG, 1974).

259
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES

ecológica; e, nestes casos, às vezes pequenas alterações provocam grandes diferenças


na vegetação. Essas alterações estão, geralmente, na disponibilidade de nutrientes ou na
de água. A disponibilidade de água, por exemplo, pode depender da exposição do solo264.
A vegetação natural, até mesmo com a justificativa de que ela melhor expressa
a influência do clima, dando assim indicação sobre as disponibilidades de água e
nutrientes, tem sido usada como indicador ambiental; mas nos trópicos a situação
pode ser mais complexa.
Por exemplo, a presença de capões de mato265 nas encostas voltadas para
leste, no Nordeste de Minas, numa área de campo cerrado, não está relacionada com
a maior riqueza em nutrientes nos solos: está relacionada com o menor estresse hídrico
na encosta voltada para leste, que não recebe o sol da tarde. Na parte da manhã,
quando recebe insolação direta, há a presença de nevoeiro, orvalho etc. amenizando
as perdas de água pela ecotessela (RESENDE, 1986). A previsão de solos mais férteis
baseada na vegetação, em casos como este levaria a erros.
O uso de vegetação campestre como indicador das deficiências de água e de
nutrientes é também problemático. A presença de vegetação campestre pode ser
devida a vários fatores (Tabela 12.C).
Nas várias expressões de campos de vegetação graminóide das áreas elevadas
no Brasil tropical e subtropical, a deficiência de nutrientes é uma constante, podendo
estar associada às expressões máximas de toxidez de alumínio e episódicas ou
estacionais de deficiências de água e de oxigênio.

Tabela 12.C Vegetação campestre brasileira e condições ambientais.


Campo Interpretação
Hidrófilo, higrófilo de várzea Deficiência de oxigênio
De várzea Deficiência de oxigênio, água266 e nutrientes
Limpo, sujo Deficiência de nutrientes
Xerófilo Deficiência de água e de oxigênio
Restinga Deficiência de água e de nutrientes
Fonte: Resende (1992).
264
Durante todo este trabalho enfatizou-se a idéia das limitações (BENNEMA et al., 1965), como sínteses
informativas sobre as qualidades do ambiente; as deficiências de água, por exemplo, não dependem só do
solo nem só do clima: a carga energética recebida pelas encostas, dependendo da exposição e época do ano,
pode afetar muito a deficiência de água.
265
Os capões de mato têm freqüentemente a forma arredondada; isso talvez se deva ao processo inicial de
ocupação por plantas arbóreas pioneiras, criando ambiente, com tendência de redução à sua área mínima,
no entorno.
266
Mesmo nas várzeas, pode haver forte deficiência de água para algumas plantas: o lençol freático
elevado pode fazer com que as raízes se aprofundem muito pouco, e, quando há abaixamento dele, as
raízes ficam num pequeno volume de solo que logo perde a água disponível.

260
CLA S S IFICAÇÃO DE ECOS S IS TEM AS

A divulgada relação entre pobreza em nutrientes dos solos267 e cerrado exige


cuidado: o cerrado pode ocorrer em solos eutróficos (Tabela 12.D).

Tabela 12.D Resultados de análises químicas de amostras de dois solos Litólicos


(N eossolosLitólicos)eutróficos(C E2 e C E3)e um distrófico (C E1),todossob cerrado (1).
Solo C org. pH P K+ Al3+ Ca2+ Mg2+ H++Al3+ Na+
--- g/kg --- --- mg/kg --- ------------- cmol/kg ------------ --- mg/kg ---
CE - 1 2,7 5,6 3 120 0,50 0,4 0,4 1,98 12
CE - 2 28,8 5,6 13 156 0 3,6 1,5 3,63 4
CE - 3 5,1 6,5 1 196 0,30 2,2 2,9 0,33 15
(1)
A composição florística (não apresentada) foi feita pela Botânica Mitzi Ferreira.
Fonte: Resende et al. (1988).

Mesmo naqueles casos em que as relações podem parecer mais simples, há


necessidade de um esforço de contextualização. No que se refere à distribuição de
floresta, cerrado e caatinga, Resende (1992) propõe uma ordenação de tolerância às
deficiências de água e nutrientes (Tabela 12.E).

Tabela 12.E Ordenação de floresta, cerrado e caatinga quanto à tolerância às


deficiências de água e nutrientes.
Grau de Tolerância à
tolerância Deficiência de água Deficiência de nutrientes
Mais tolerante Caatinga Cerrado
Mediamente tolerante Cerrado Floresta
Menos tolerante Floresta Caatinga
Fonte: Resende (1992).

Neste modelo, como explicar a ocorrência de caatinga em solos distróficos?


A caatinga só ocorre em solos distróficos sob estresse hídrico suficientemente
pronunciado para excluir o cerrado; isso ocorre, por exemplo, em Areias Quartzosas
(Neossolos Quartzarênicos) Distróficas do Rio Grande do Norte e Ceará (JACOMINE
et al., 1971, 1973).

267
A idéia dos teores de alumínio como os principais responsáveis pela presença do cerrado não corresponde
aos trabalhos pedológicos (os maiores teores de alumínio em solos brasileiros não estão nas áreas sob
cerrado; e mais: existem solos eutróficos sob cerrado); nem é consistente com a previsão de que as
sementes de espécies tortuosas de cerrado devem perder essas características, quando colocadas em solos
ricos em nutrientes; nem com os dados palinológicos de expansão das áreas de cerrado onde é hoje a
floresta Amazônica, com solos tão ou mais ricos em alumínio do que os sob cerrado.

261
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES

A conclusão desta seção é a de que os critérios para estratificar os ecossistemas


devem levar em consideração os componentes do ecossistema com ênfase diferencial
conforme o contexto. Vegetação ou plantas indicadoras, e solos, incluindo a sua forma
externa ou relevo, são os principais, a nível de detalhe. Nos trópicos, na ausência de
invernos rigorosos que tornem a paisagem homogênea por grandes espaços, há grande
variação de habitat a pequenas distâncias; e, neste caso, aumenta a chance de classes
de solos indicarem com mais segurança os ambientes. Assim, no restante deste capítulo
serão enfatizados os dados e informações pedológicas que possam ajudar no
entendimento das limitações e potencialidades da ecorregião, em particular no que se
refere às disponibilidades de água e de nutrientes.
Parte da complexidade da relação entre vegetação e ambiente, no território
brasileiro, foi delineada anteriormente268.
Nas seções seguintes será aprofundada a questão do solo como estratificador
de ambientes.

12.3. Solos
O solo forma como se fosse a pele do planeta Terra, é a interseção da litosfera,
biosfera, atmosfera e hidrosfera; é, de certa forma, um fenômeno de superfície e,
como tal, variável a pequenas distâncias; exige estudo detalhado para ser mais bem
compreendido nas suas funções dentro das ecorregiões e como sinalizador das
propriedades e limitações dos ecossistemas.
Os solos possuem horizontes ou camadas relativamente homogêneas paralelas
à superfície (Tabela 12.F). Os horizontes são, em si mesmos, ambientes distintos; o
horizonte A, além de ser mais influenciado pela atividade biológica, sofre maiores
flutuações de temperatura e de água; apesar de ser, em geral, mais rico em nutrientes,
com freqüência não tem água para que esses nutrientes sejam absorvidos efetivamente.
Os primeiros centímetros do horizonte A podem ser, em algumas circunstâncias, a
parte mais inóspita do solo para as plantas. Acima do horizonte A podem acumular-se
detritos orgânicos, com diferentes graus de decomposição.

268
Alguns pontos foram enfatizados: 1) a disponibilidade de água ( A) e a disponibilidade de nutrientes
( N) é que essencialmente afetam a distribuição das principais formas vegetacionais no território brasileiro;
a deficiência de oxigênio (drenagem), por afetar o crescimento de raízes e a disponibilidade de nutrientes
(toxidez etc.), influi tanto em N quanto em A. A e N têm forte interação: nos lugares mais úmidos
a ciclagem de nutrientes compensa a pobreza em nutrientes do solo; 2) o arraste de sementes encosta
abaixo, nos solos rasos e encrostados, dificulta o estabelecimento de vegetação; isso se acentua se o solo
for pobre em nutrientes, A for pronunciado e a vegetação arbórea estiver abaixo ou distante; 3) tanto a
vegetação quanto o solo são corpos históricos, não dependem só da situação atual: são, em grande parte,
metaestáveis em busca de novos equilíbrios; a interferência humana, nesses casos, tende a causar grandes
alterações.

262
CLA S S IFICAÇÃO DE ECOS S IS TEM AS

Tabela 12.F Horizontes do perfil de solo: algumas características e implicações.


Horizontes Interpretação
A Mais escuro e mais rico em matéria orgânica. Tende a ser mais bem
expresso nas áreas mais elevadas, menos quentes ou com deficiência de
drenagem. É nele que o contato com a maioria das plantas e animais se faz
mais intenso. Nele há, em geral, mais raízes, mais microrganismos, mais
vida.
B É, em geral, o mais argiloso e menos erodível dos horizontes. Se sua
estrutura é granular, bem expressa, como em alguns Latossolos, é muito
suscetível à erosão em sulcos. Apesar de chegar até ele um número menor
de raízes do que no horizonte A, essas poucas raízes, em algumas épocas
do ano, são as únicas a absorver água e nutrientes.
C Tende a ser o menos argiloso, mais siltoso, mais erodível e de coloração
menos homogênea dos horizontes. Dependendo da profundidade em que
se encontra, algumas raízes podem chegar até ele e o que foi dito para o
horizonte B, a respeito de água e nutrientes, vale aqui também.
R Rocha fresca, ainda não intemperizada. Ela é impermeável e tende a
segurar o lençol d'água; as raízes só conseguem penetrar ao longo de
fraturas. A rocha fresca possui minerais com nutrientes por liberar; essa
liberação tende a ser maior quanto mais quente for o clima, menor for o
fragmento da rocha fresca e mais próxima ela estiver da superfície.

Neste estudo mais detalhado do ambiente alguns símbolos (compostos de


letras) foram criados para facilitar a descrição e a comunicação entre as pessoas.
Esses símbolos, embora possam parecer estranhos à primeira vista, não são assim
tão complicados. Há, inicialmente, os horizontes orgânicos (O, H); horizontes
minerais superficiais (A, E); transicionais entre horizontes A e B, e A e C;
transicionais entre B e A, e B e E; horizontes subsuperficiais B de vários tipos;
transicionais entre B e C; transicionais entre C e A, C e B, C e R; e a rocha
fresca.
Todos os horizontes podem ser subdivididos; e, o que será visto mais
detalhadamente depois, adjetivados com sufixos e sinais. A nomenclatura desses
horizontes, importantes indicadores ambientais, tem sofrido alterações (Tabela
12.G).

263
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES

Tabela 12.G Equivalência entre símbolos em sistemas de notação de horizontes


nos EUA, pela FAO e Brasil.
Brasil EUA FAO Comentário
Velho Novo Velho Novo
1962 1986 1962 1981 1974
----------------------------------------------- Horizontes orgânicos--------------------------------------------
O O O O O Horizontes ou camadas orgânicas sem res-
trição de drenagem, ou sem excesso de água
O1 Oo, Ood O1 Oi, Oe - Detritos orgânicos por decompor, inteira-
mente (Oo), ou em grande parte (Ood) (parte
não decomposta da serapilheira)
O2 Od, Odo O2 Oa, Oe - Detritos orgânicos decompostos ou em
fermentação, inteiramente (Od) ou em
grande parte (Odo) (parte decomposta da
serapilheira)
- H O O H Horizonte ou camada com excesso de água;
horizonte superficial dos Solos Orgânicos
(Organossolos)
--------------------------------------- Horizontes minerais superficiais-------------------------------------
A1 A A1 A A Horizonte mineral, em geral escurecido,
enriquecido de matéria orgânica; camada
geralmente preparada para plantio
- A/O, A/H - - - Horizonte A com menos de 50% de
inclusões de O ou H
A2 E A2 E E Perda de argila, ferro ou alumínio; pode se
apresentar como uma camada mais clara
entre os horizontes A e B; pela erosão do
horizonte A pode ficar à superfície
------------------------------------------Horizonte subsuperficial B ------------------------------------------
B2 B (1) B2 B, Bw B(1) Máxima expressão do horizonte B, tende a
ter cores homogêneas e maior teor de argila.
------------------------------------------------------- Horizonte C-----------------------------------------------
C C C C C Horizontes ou camadas não consolidadas,
em geral de cor heterogênea, maiores teores
de silte, menores de argila
------------------------------------------------ Rocha fresca------------------------------------------------------
R R R R R Rocha dura, permitindo penetração de raízes
apenas pelas ocasionais fraturas
Continua...

264
CLA S S IFICAÇÃO DE ECOS S IS TEM AS

Tabela 12.G Continuação...

Brasil EUA FAO Comentário


Velho Novo Velho Novo
1962 1986 1962 1981 1974
-------------------- Horizontes transicionais entre horizontes A e B, A e C e A e E-------------------
A3 AB, EB A3 AB, EB AB, EB Transição entre horizontes A e B, mais
parece A; ou entre E e B, mais parece E
A & B A/B, E/B A&B E/B A/B, Horizonte A ou E com menos de 50% de
E/B inclusões de B; as perfurações pela fauna
por onde penetra material do A no B, e
raízes, causam isso
AC AC AC AC AC Transição entre horizontes A e C. Em solos
rasos, novos ou demasiado arenosos para
formar estrutura ou cor de horizonte B
---------------------------------- Horizontes transicionais entre B e A e B e E----------------------------
B1 BA, BE B1 BA, BE BA, BE Transição entre horizontes B e A ou B e E,
mais parece B
B & A B/A, B/E B&A B/E B/A, Horizonte B com menos de 50% de
B/E inclusões de A ou E
------------------------------ Horizontes transicionais entre B e C e B e R -------------------------------
B3 BC B3 BC, CB BC Transição entre horizontes B e C, mais
parece B
- B/C - B/C B/C Horizonte B com menos de 50% de
inclusões de C
- B/R - B/R -
--------------------------- Horizontes transicionais entre C e A, C e B e C e R--------------------------
C1 CA - - CA Transição entre horizontes C e A
- C/A - C/A C/A Horizonte C com menos de 50% de
inclusões de A
C1 CB - - CB Transição entre horizontes C e B, mais
parece C
- C/B - C/B C/B Horizonte C com menos de 50% de inclusões
de B
- C/R - - C/R
- B/C/R - - -
(1)
Sempre qualificado, pelo menos por um sufixo subordinado.

265
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES

As letras maiúsculas O, H, A, B, C, R, de certa forma, classificam os ambientes


do perfil do solo num nível genérico. As letras minúsculas, especificando qualidades
importantes, subdividem as classes identificadas pelas letras maiúsculas, em ambientes
mais específicos (Tabela 12.H).

Tabela 12.H Sufixos e sinais convencionais para distinções subordinadas de


horizontes e camadas principais.
Símbolo Definição
a Propriedades ândicas
b Horizonte enterrado
c Concreções
d Acentuada decomposição do material orgânico
e Escurecimento da parte externa dos agregados por matéria orgânica não associada a
sesquióxidos
f Plintita
g Glei
h Acumulação iluvial de matéria orgânica
i Incipiente desenvolvimento de horizonte B
j Tiomorfismo
k Presença de carbonatos
k Acumulação de carbonato de cálcio secundário
m Extremamente cimentado (consolidação)
n Acumulação de sódio
o Material orgânico mal ou não decomposto
p Aração ou outras pedoturbações
q Acumulação de sílica
r Rocha branda ou saprólito, aplicável ao horizonte C
s Acumulação iluvial de sesquióxidos com matéria orgânica
t Acumulação de argila silicatada
u Modificações e acumulações antropogênicas
v Características vérticas
x Cimentação aparente, reversível
w Intensa alteração com inexpressiva acumulação de argila, com ou sem concentração de
sesquióxidos
y Acumulação de sulfato de cálcio
z Acumulação de sais mais solúveis que sulfato de cálcio
' Símbolo que qualifica o segundo horizonte, repetido na mesma seqüência
" Idem terceiro horizonte
Fonte: Embrapa (1988).

266
CLA S S IFICAÇÃO DE ECOS S IS TEM AS

As várias combinações de letras maiúsculas dos horizontes com as minúsculas,


sufixos e sinais, identificam ambientes peculiares; alguns desses ambientes, na forma
de camadas ou estratos paralelos à superfície, são conhecidos como horizontes
diagnósticos (Tabela 12.I).

Tabela 12.I Resumo das características dos principais horizontes diagnósticos,


atualizados conforme Embrapa (2006), e dos solos onde ocorrem e alguns processos
pedogenéticos.
Principais Principais Solos e Processos
Horizonte
Características Pedogenéticos
A chernozêmico Essencialmente mineral, espesso, Nos Chernossolos, desenvolvidos em
escuro, rico em matéria orgânica, pradarias e os originados em
com alta saturação por bases e superfícies geomórficas recentes
macio quando seco. sobre rochas máficas ou calcário, em
climas com prolongada estação seca.
A proeminente e Semelhantes ao A chernozêmico Solos de elevadas altitudes, Latossolo
A húmico com exceção da saturação por bases húmico, em situação de topo quase
que é baixa. Ácidos. O A húmico269 plano ou no sopé das elevações. É
se distingue do A proeminente pela comum também em Solos
maior expressão de espessura e/ou Hidromórficos.
teor de matéria orgânica.
A moderado Moderadamente espesso com teores É o mais comum nos solos não
médios de matéria orgânica. hidromórficos brasileiros.
A fraco Teores muito baixos de matéria Característico de solos de regiões
orgânica (C < 6g/kg), cores claras e subáridas e de alguns Neossolos
pouco desenvolvimento de estrutura. Quartzarênicos, em geral.
A antrópico Horizonte escuro e espesso, formado Nas Terras Pretas de Índios. Formado
pela ação do homem, com em áreas submetidas a longo tempo
características similares ao A de cultivo e fertilização ou "fundos de
chernozêmico, mas com conteúdo de quintal" de antigas aldeias indígenas.
fósforo mais elevado. Cacos de
cerâmica são comuns.
Hístico Essencialmente orgânico, de colo- Nos solos hidromórficos e em outros
ração escura. Em alguns casos, pode solos de algumas regiões muito
apresentar-se soterrado por elevadas. Formado em decorrência do
horizonte A. Sob condições de acúmulo de resíduos vegetais em
excesso de água (H) ou não (O). condições de excesso de água.
Continua...

269
Os teores mínimos de carbono e a profundidade crítica a ser considerada vão depender da espessura dos
horizontes A+B ou A+C.

267
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES

Tabela 12.I Continuação...


Principais Principais Solos e Processos
Horizonte
Características Pedogenéticos
B textural Estrutura em blocos envolvidos por Nos Argissolos e alguns
películas de argila (cerosidade). Chernossolos. Originado pela
Conteúdo de argila maior que o translocação, em suspensão, de argila
horizonte A suprajacente. Ainda do horizonte A para o B.
pode possuir algum mineral
primário facilmente intemperizável.
B nítico Semelhante ao B textural, mas sem Nos Nitossolos.
incremento suficiente de argila com
profundidade, agregados com
superfícies reluzentes. Sempre
argilosos ou muito argilosos.
B plânico Tipo especial de B textural, Nos Planossolos.
precedido por mudança textural
abrupta, apresentando geralmente
estrutura prismática ou colunar,
adensado e de muito baixa
permeabilidade. Pode ou não ter
caráter sódico ou salino. Este
horizonte incorporou o B nátrico.
Vértico Semelhante ao caráter vértico. Nos Vertissolos.
Esmectita suficiente para provocar
slickensides, estrutura cuneiforme
ou paralelepipédica, com faces
inclinadas, fendas acentuadas etc.
B latossólico Profundo, muito intemperizado, Nos Latossolos. Comum em
relativamente homogêneo e friável. superfícies estáveis e/ou antigas em
Iluviação inexpressiva. Argila tipo 1:1 climas tropicais úmidos.
e óxidos de Fe e de Al. Originado por
intenso e/ou duradouro intemperismo,
removendo sílica e bases, provocando
acúmulo relativo de sesquióxidos.
B espódico Rico em óxidos de Fe e Al e/ou Só presente no Espodossolo.
matéria orgânica iluviais, pobre em Originado pela translocação, em
argila. Pode ser endurecido. É ácido. suspensão, de matéria orgânica e/ou
sesquióxidos do horizonte A para o B.
B incipiente Estrutura variável; geralmente pouco No Cambissolo. Moderado
espesso com minerais primários desenvolvimento do perfil sem
intemperizáveis, iluviação atuação pedogenética marcante;
inexpressiva. apenas liberação de Fe e Al dos
minerais, fragmentação de rocha e
formação de estrutura.
Continua...

268
CLA S S IFICAÇÃO DE ECOS S IS TEM AS

Tabela 12.I Continuação...


Principais Principais Solos e Processos
Horizonte
Características Pedogenéticos
Plíntico Cores vermelhas, características de Nos Plintossolos e solos plínticos.
plintita, que está em quantidades Forma-se em locais de restrição
15% (por volume), em camada de 15 temporária à percolação de água,
cm de espessura ou mais. devido à ciclos alternados de redução
e precipitação do ferro, formando a
plintita.
Glei Cor cinzenta, com ou sem Nos solos hidromórficos gleizados,
mosqueado, encontrado em áreas onde houve redução de ferro.
permanente ou intermitentemente
encharcadas.
Sulfúrico Horizonte mineral ou orgânico, Nos solos tiomórficos que ocorrem
apresentando altas quantidades de em áreas planas influenciadas por
enxofre e, em conseqüência, pH < depósitos marinhos recentes e/ou
3,5 quando seco. água salobra.
Cálcico Enriquecido de carbonato de cálcio Em solos calcários de regiões su-
e/ou magnésio secundários (CaCO3 báridas, desenvolvidos de rochas ricas
150g/kg). em cálcio e/ou magnésio.
Fonte: Adaptado de Resende (1982), ACIESP (1987) e Embrapa (2006).

Esses horizontes e características são importantes indicadores das qualidades


e limitações do ambiente. Por exemplo, a presença de horizonte glei traz muita
informação referente a potencial redox, difusão de gases, facilidade de penetração de
raízes, toxicidade de determinados elementos etc. Isso é útil, mas incompleto. Um
horizonte glei pode estar a 150 cm de profundidade ou vir até a superfície. O grande
poder informativo da classe de solo é que ela contextualiza o atributo. Essa
contextualização é ainda maior, incluindo presença simultânea de outros atributos,
grau de expressão etc.
Com essa complexidade, a Classificação é um trabalho para especialistas e
passa geralmente por muitos erros e tentativas, mas o uso das classes, essencial para
que elas tenham utilidade, pode ser facilitado através de chaves de identificação (isso
será visto mais adiante). Na realidade, no nosso dia a dia criamos chaves de identificação
para fenômenos que nos interessam, independente de critérios taxonômicos mais
elaborados. Por exemplo, o feijoeiro comum (Phaseolus vulgaris) pode ser identificado
facilmente pelo porte, folhas etc. Esses indicadores simplificam a tarefa onde há poucas
plantas parecidas com o feijoeiro. Esses critérios podem não funcionar quando estão
envolvidas plantas afins. Nesse caso, não se pode abandonar a ajuda de um especialista.
Até certo ponto o mesmo processo ocorre na Pedologia.

269
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES

As chaves são tanto mais úteis quanto mais contextualizadas, por exemplo,
chaves das classes de solo de interesse de uma pequena comunidade em vez de
chaves de solos do Brasil. A chave é apenas uma forma de apresentação. Ela pode
usar, ao contrário da classificação de solos, de critérios extra-solos. É legitimo usar-
se o material de origem ou localização geográfica ou outros, dependendo do contexto.
No Sistema de Classificação de Solos, recentemente formalizado no Brasil
(EMBRAPA, 2006), as classes de solos em alto nível podem ser de uma forma
simplificada associadas a alguns horizontes e características (Tabela 12.J).

Tabela 12.J Classes de solos de alto nível da nova classificação (EMBRAPA,


1988, 1999, 2006).
Neossolos
Sem horizonte B, glei, vértico, plíntico ou A chernozêmico junto com caráter carbonático,
ou conjugado com horizonte C cálcico, ou com caráter carbonático.
Vertissolos
Teores substanciais de argilas esmectíticas, mínimo de 300 g/kg de argila de 0 a 20 cm,
fendas 1cm de largura até no mínimo 50 cm de profundidade, na época seca (horizonte
vértico). Seqüências de horizontes A-Cv ou A-Biv-C. O horizonte A pode ser
chernozêmico. As características vérticas prevalecem sobre horizonte glei, cálcico,
duripã, caráter solódico, sódico, salino ou sálico.
Cambissolos
Horizonte A ou hístico (<40 cm) sobre horizonte B incipiente.
Chernossolos
Horizonte A chernozêmico com CaCO3 eq. 150 g/kg sobre rocha ou sobre C cálcico ou
carbonático ou A chernozêmico sobre B textural ou B incipiente, todos com argila de
atividade alta e alta saturação por bases.
Luvissolos
Horizonte B textural com argila de atividade alta e alta saturação por bases,
imediatamente abaixo de qualquer tipo de horizonte A, exceto A chernozêmico, ou sob
horizonte E.
Argissolos
Solos com B textural, argila de atividade baixa, ou alta conjugada com saturação por
bases baixa ou caráter alítico (Al3+ 4 cmol/kg, associado à atividade de argila 20
cmol/kg de argila e saturação por Al 50% e/ou saturação por bases < 50%).
Latossolos
Horizonte B latossólico abaixo de qualquer horizonte A dentro de 200 cm da superfície
ou de 300cm se horizonte A tiver mais de 150 cm de espessura. O horizonte B latossólico
não pode estar abaixo de horizonte hístico.
Continua...

270
CLA S S IFICAÇÃO DE ECOS S IS TEM AS

Tabela 12.J Continuação...


Espodossolos
Horizonte B espódico imediatamente abaixo de horizonte E, A ou horizonte hístico, nos
primeiros 200cm ou dentro de 400 cm, se a soma dos horizontes suprajacentes for > 200
cm.
Plintossolos
Expressiva plintização, com ou sem formação de petroplintita (concreções).
Imperfeitamente ou mal drenados; horizonte plíntico, f, em algum sub-horizonte de 0 a 40
cm, ou de 0 a 200 cm: nesse caso, quando abaixo de horizonte E ou de horizonte com
propriedades hidromórficas, como cores variegadas ou mosqueados abundantes e com
matiz 5Y ou matizes 7,5YR, 10YR ou 2,5Y com croma 4.
Gleissolos
Horizonte glei dentro dos primeiros 150cm da superfície do solo, imediatamente abaixo
de horizonte A ou E, ou de horizonte hístico <40cm.
Planossolos
Horizonte B plânico, imediatamente abaixo de horizonte A ou E.
Organossolos
Material orgânico (C 80 g/kg) apresentando horizonte hístico nos primeiros 40 cm (60
cm se 75% do material orgânico consistir de tecido vegetal), a partir da superfície ou
cumulativamente de 0 a 80 cm; espessura pode ser menor se sobre rocha ou material
fragmentado com interstícios preenchidos com material orgânico.
Nitossolos
Horizonte B nítico, teor de argila > 350 g/kg, argila de atividade baixa ou caráter alítico,
estrutura em blocos ou prismática moderada ou forte e superfícies reluzentes relacionadas
à cerosidade e/ou superfícies de compressão. A relação textural é 1,5.
Fonte: Adaptado de Embrapa (1988, 1999, 2006).

Usando como exemplo os Latossolos, estes são os solos mais profundos (Figura
12.A) e possuem seqüência de horizontes ABwC (veja significado de w na Tabela
12.H). A seqüência e natureza dos horizontes dão indicações ambientais da capacidade
de armazenamento de água: para a mesma precipitação, por exemplo, as enchentes
serão mais catastróficas na área de Cambissolos e Solos Litólicos (Neossolos Litólicos)
do que na de Latossolos. E entre os Latossolos elas tenderiam a ser mais pronunciadas
nos Latossolos Amarelos Coesos da Amazônia e nos Tabuleiros Costeiros e nos
Latossolos Brunos Subtropicais do que nos Latossolos Vermelho-Escuros (Latossolos
Vermelhos com teor de Fe2O3 < 18%) e Latossolos Vermelho-Amarelos Gibbsíticos
do Planalto Central, no domínio dos cerrados.

271
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES

Figura 12.A Espessura do sólum (horizontes A + B) de várias classes de solos


(RESENDE, 1985). Os nomes dos solos estão apenas no sistema antigo.

As classes de solos, como usadas nos levantamentos, vêm num contexto bastante
informativo (Figura 12.B).
O símbolo Cd, indicando Cambissolo distrófico, representa um solo raso (Figura
12.A) e pobre em nutrientes (Tabela 12.K).

Figura 12.B Esquemas mostrando bloco-diagrama de uma paisagem, mapa de solos e


fluxo de informações do levantamento de solos.

272
CLA S S IFICAÇÃO DE ECOS S IS TEM AS

Tabela 12.K Relação entre distrófico, álico e eutrófico.


Distrófico Álico Eutrófico
(1)
Bases < 50% < 50% 50%
Acidez (Al + H) > 50% > 50% < 50%
Alumínio (Al) < 50% > 50% < 50%
(1)
A soma de bases (S): cálcio + magnésio + potássio + sódio; a saturação por bases (V): V
= S x 100/T; saturação por alumínio (m): m = Al x 100/Al + S e capacidade de troca (T): T = S
+ Al + H.

As expressões da Tabela 12.K e suas derivadas permitem caracterizar melhor


o perfil do solo quanto à disponibilidade de nutrientes.
Para uma planta sensível à toxidez de Al, o solo endoálico inibe o aprofundamento
de raízes. Isso se torna dramático onde há deficiência de água, por exemplo, nos
veranicos (1 e 2, Figura 12.C).

Figura 12.C Esquema ilustrando o relacionamento entre solos epiálicos -


endoeutróficos e epieutróficos - endoálicos e raízes de plantas sensíveis ao alumínio,
sob duas condições de deficiência de água: pronunciada (1) e (2) e nula (3) e (4)
(RESENDE & REZENDE, 1983).

Quando há abundância de água, desestimulando o aprofundamento de raízes, o


solo epiálico-endoeutrófico é ambiente mais restritivo que epieutrófico-endoálico (3 e
4, Figura 12.C).
As classes de alto nível, listadas na Tabela 12.J, podem ser identificadas através
de uma chave simplificada de identificação. Para isso primeiramente sintetizam-se várias

273
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES

informações úteis à identificação dessas classes de solo (Tabela 12.L), muitas delas já
vistas em outras seções deste livro. São os chamados critérios para distinção de classes
de solos. Com o auxílio desses critérios (propriedades diagnósticas) define-se a chave
para identificação das classes de solos de alto nível categórico (Figura 12.D).

Tabela 12.L Critérios usados nas chaves simplificadas de identificação das classes
de solos brasileiros (Figuras 12.D e 12.E), com comentários de interesse biológico.
(1) HO - (Horizonte hístico). Altos teores de matéria orgânica. Ocorrem em solos
encharcados; podem, dependendo de como são drenados, subsidir e pegar fogo.
(2) f - (Horizonte plíntico). Cores variegadas ou com mosqueados vermelhos, indicando
redução e oxidação do Fe; os mosqueados podem endurecer-se, formando nódulos ou
concreções. Nestas, pode haver concentração de elementos-traço, principalmente quando
ricas também em manganês e fósforo (FONTES et al., 1985).
(3) Bw - (Horizonte B latossólico). Profundos, em geral porosos, mesmo quando muito
argilosos, pobres em nutrientes; muito espaço para penetração de raízes e água. A
presença de gibbsita (indicada por valores baixos de Ki, critério(20), quando Ki = 0,75, %
gibbsita = % caulinita), mesmo em pequenas quantidades, favorece essa estrutura
esponjosa (pó-de-café); os com pouca gibbsita, como os Latossolos Amarelos (Área
Costeira e Amazônica: Ki > 1,5 e % Fe2O3 < 7%) e os Latossolos Brunos (Áreas
Subtropicais: Ki > 1,5 e % Fe2O3 variável, indo até > 25%), têm estrutura mais compacta
quando secos.
(4) Bt - (B textural). É bem mais argiloso do que o horizonte suprajacente A; é menos
espesso e tem, em geral, maior teor de minerais ricos em nutrientes do que o Bw; as
raízes e a água, mesmo sem camadas impeditivas declaradas, têm certa dificuldade de
penetração.
(5) 2,5YR - (cores tão ou mais vermelhas que 2,5YR 5/4). Solos bem vermelhos,
Rhodic. Isso indica: presença de hematita que indica altos teores de ferro se clima for
muito úmido; teores altos ou intermediários de ferro se pedoclima for seco ou
parcialmente seco, por alguns meses; hematita herdada da rocha original (arenitos e
pelitos vermelhos), e por isso mais resistente, se teores de ferro forem muito baixos. Em
qualquer dos casos indica boa drenagem.
(6) Em - (altos teores de esmectita). Argila que se expande e se contrai com extrema
facilidade, dando ao solo grandes fraturas quando seco, rompendo raízes e acelerando
perda de água. Moléculas orgânicas alojam-se entre as camadas expandidas, acentuando a
cor escura.
Continua...

274
CLA S S IFICAÇÃO DE ECOS S IS TEM AS

Tabela 12.L Continuação...


(7) Ta - (argila de atividade alta). Material do solo tem expansão-contração acentuada,
porém menos do que esmectita; as raízes podem ser amassadas e têm dificuldade de pe-
netrar no interior dos blocos (torrões naturais, em destaque quando o solo seca). A
infiltração de água é reduzida no solo umedecido (expandido), mas pode ser muito alta
pelas fraturas nas primeiras chuvas. Essa água que se infiltra arrasta partículas da
superfície (matéria orgânica, nutrientes, sementes); as raízes, que crescem nessas fraturas
onde há mais troca gasosa, mesmo depois do solo úmido, ficam num microssítio
enriquecido, principalmente em fósforo, um elemento privilegiado biologicamente na
absorção e, por isso, muito ligado à parte orgânica. Atividade de argila 27 cmolC kg-1
define Ta.
(8) Fe > 11% - (teor de Fe2O3 > 11% e < 18%, dado pelo ataque sulfúrico). Indica teores
bastante elevados de goethita nos solos amarelados e goethita e hematita nos vermelhos.
Esses são os dois principais adsorventes ferruginosos de ânions.
(9) Fe > 18% - (teor de Fe2O3 > 18%, dado pelo ataque sulfúrico). Os solos com esses
teores bastante elevados de ferro são originados, geralmente, de rochas máficas e
ferríferas. Os solos originados das máficas são ricos em elementos-traço e fósforo total.
Alguns solos originados de formações ferríferas, e até calcários dolomíticos associados a
essas, formando um ambiente inóspito para as plantas, apresentam quase ausência de
silicatos. A disponibilidade de fósforo pode ser muito baixa, dada pela forte interação
dele com goethita e hematita.
(10) Bi - (horizonte B incipiente). Não tem gradiente textural significativo, isto é, o teor de
argila não é muito maior do que aquele do horizonte suprajacente; nisto difere do Bt, e pa-
rece-se com o Bw, do qual difere por uma das 4 razões seguintes: i) ter minerais ricos em
nutrientes; ii) ter argila Ta; iii) apresentar evidência de rocha e/ou estrutura da rocha; e iv)
ter pequena espessura (< 50 cm).
(11) Cor viva (solo mais bem drenado que imperfeitamente drenado - D1 a D5 da Tabela
4.2F e Figura 2.5D). Pode existir mosqueado, mas não gleizamento na parte inferior do
horizonte B.
(12) Fe > 7% - (teor de Fe2O3 > 7%, dado pelo ataque sulfúrico). Teor baixo, mas não
muito baixo, de Fe2O3 com as implicações já vistas nos critérios (8) e (9).
(13) STA (subtropical de altitude). Os solos desses ambientes no Brasil tendem a ser
ácidos, álicos, com teores substanciais de vermiculita cloritizada (vermiculita com
hidróxido de alumínio entrecamadas); os solos fraturam-se quando secos, têm
permeabilidade restringida mesmo quando classificados como Latossolos (critério (3)).
(14) Máficas - (rochas máficas). A influência da rocha máfica é inferida a partir dos teores
elevados de Fe2O3 e TiO2; no campo ocorre elevada suscetibilidade magnética, principalmente
em solos vermelhos.
Continua...

275
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES

Tabela 12.L Continuação...

(15) Glei - (horizonte glei). Indica ausência dos pigmentos ferruginosos, goethita e
hematita. O ferro foi reduzido; se o solo é encharcado permanentemente pode existir
grande quantidade de ferro reduzido (Fe2+); se não, houve remoção quase completa e o
material de origem era pobre em ferro e, freqüentemente, em fósforo, elementos-traço etc.
(16) B plânico - (horizonte B plânico). Tipo especial de horizonte Bt (critério (4)),
apresentando uma transição muito pronunciada no teor de argila entre os horizontes A ou E e
B. As raízes e água freqüentemente têm dificuldade em penetrar no horizonte B; se a camada
suprajacente arenosa for bastante espessa pode-se formar um ambiente favorável, se pouco
espessa, ambiente desfavorável.
(17) 5YR 4/6,8 - (cores tão ou mais vermelhas que 5YR 4/6 ou 4/8). As mesmas
considerações feitas no critério (5).
(18) A chernoz (horizonte A chernozêmico). Tem altos teores de bases, principalmente
cálcio. Está associado a regiões com estresse hídrico acentuado; e, geralmente, com
rochas ricas em cálcio, como calcário, basalto etc. Representa, de certa forma, uma
otimização do processo de precipitações insuficientes para lixiviar os nutrientes
intensamente, mas suficientes para permitir considerável adição de matéria orgânica ao
solo. Associado tipicamente às Pradarias e Estepes; no Brasil ocorre sob floresta; em
particular caducifólia e subcaducifólia.
(19) Va - (saturação por bases alta). Lixiviação reduzida; intemperização acentuadamente
maior do que a lixiviação. Nos solos com baixa capacidade de troca e ausência de minerais
ricos em nutrientes, a absorção e ciclagem de nutrientes das camadas não muito profundas
suplantou a lixiviação.
(20) Ki > 1,5 - (relação molecular SiO2/Al2O3, dada pelo ataque sulfúrico, > 1,5). A
caulinita tem Ki = 2,00; as argilas Ta têm Ki maior, até cerca de 5. Quanto mais
intemperizado o solo, menor o Ki.
(21) AmodAfraco - (Horizontes A moderado e A fraco). O horizonte A fraco é típico de
regiões mais secas, apresenta-se freqüentemente encrostado à superfície; sofre um intenso
processo de erosão laminar. Assim, além da relação produção/decomposição não favorecer o
acúmulo de matéria orgânica, a remoção pela erosão reduz seu teor. O horizonte A moderado é
o mais comum nos solos não hidromórficos brasileiros, sendo moderadamente espesso e
apresentando teores médios de matéria orgânica.
(22) j - (horizonte sulfúrico). Ocorre em alguns solos dos mangues; há formação de ácido
sulfúrico com a exposição ao ar, abaixando muito o pH. Indica um ambiente que deve ser
mantido como reserva, embora em alguns países (Guiné-Bissau e Holanda) sejam muito
importantes agricolamente.
(23) Na% > 15% - (saturação por sódio, relação 100Na/T > 15%). Define caráter sódico. O
sódio dispersa as argilas, dando uma estrutura compacta, dificultando em grau extremo a
penetração de água e raízes. O pH muito elevado, pH > 8,4, dificulta também a absorção de
vários nutrientes.
(24) TBE (topo do B escuro). Feição típica de alguns solos subtropicais de altitude do Brasil.
Continua...

276
CLA S S IFICAÇÃO DE ECOS S IS TEM AS

Tabela 12.L Continuação...

(25) FeTi - (teores de Fe2O3 > 15% e TiO2 > 1,5%, dados pelo ataque sulfúrico).
Identifica solos com Bt, originados de rochas máficas, com todas as implicações em
termos de teor de fósforo total, elementos-traço etc.
(26) Prof >50 - (profundidade > 50 cm até rocha fresca, contato lítico, ou rocha semi-
alterada, contato litóide). Essa característica distingue dois grandes ambientes no que se
refere, principalmente, ao armazenamento de água e penetração de raízes.
(27) B nítico (horizonte B nítico). Textura argilosa ou muito argilosa, sem, ou com
pouco incremento de argila do horizonte A para B, no que difere do horizonte Bt (critério
(4)). Em outras características assemelha-se ao horizonte Bt.
(28) Na% > 6% - (saturação por sódio, relação 100Na/T > 6% e < 15%). Mesmo tendo
de 6 a 15% de saturação por sódio, esse ambiente já é problemático quanto às
dificuldades indicadas anteriormente no critério (23).
(29) FeArg - (teor de Fe2O3 > 3,75 + 0,062 x %argila). Expressão para ajustar teor de
Fe2O3 ao teor de argila.
(30) KK - (horizonte cálcico e material carbonático). Indicam ambientes de pouca
precipitação, lixiviação reduzida, deficiência d'água e de acumulação de CaCO3.
(31) Unif - (camadas uniformes). Sem estratificação pronunciada até, pelo menos, 200 cm.
(32) z (acúmulo de sais). Indicam ambiente com deficiência de drenagem, déficit
hídrico e acúmulo de sais.
(33) MPFI - (minerais primários facilmente intemperizáveis). Minerais ricos em
nutrientes. A liberação desses nutrientes é mais rápida nas regiões mais quentes; nas
regiões de temperaturas menores, mas precipitação elevada, a intemperização é mais lenta
do que a lixiviação: o solo é ácido, poucas bases disponíveis, embora tendo muitos
minerais ricos em nutrientes.
(34) Cinza - (ausência de pigmentos ferruginosos). Compostos orgânicos, ácidos
fúlvicos, atravessam o perfil de material arenoso e vão colorir as águas de cor escura
(negra, à distância). É um material desferrificado, indicando pobreza em fósforo e ele-
mentos-traço, efeito de lavagem. São muito pobres em nutrientes.
(35) Rest (ambientes de restinga). Ambiente com substrato arenoso à beira-mar.
(36) Bhs (Horizonte espódico). Subsuperfície escura, indicando que houve
movimentação de matéria orgânica num perfil muito arenoso; lixiviação intensa; pobreza
acentuada de nutrientes.
(37) 7,5YR - (cores 7,5YR ou menos vermelhas ou mais amarelas). Praticamente
separa os solos que têm dos que não têm hematita. No novo Sistema Brasileiro de
Classificação de Solos esse limite é 5YR.
(38) Pálido - (cores mais amarelas que 7,5YR, valor 5 e croma 4). No novo Sistema
Brasileiro de Classificação de Solos usa-se cores mais amarelas que 5YR. Indicam solos
muito pobres em ferro e, em geral, em muitos outros nutrientes. Indicam áreas que estão
ou estiveram sob influência de lençol freático elevado.

277
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES

Código do critério, como definido na Tabela 12.L SIM Ordem

NÃO

(36) Bhs Espodossolo

(4) Bt (2) f Plintossolo

(15) Glei Gleissolo

(18) A chernoz. (7) Ta Chernossolo


Argissolo
(7) Ta (19) Va Luvissolo
Argissolo
(27) B nítico (6) Em Vertissolo

(18) A chernoz. (7) Ta Chernossolo


Nitossolo
(7)Ta (19) Va Luvissolo
Nitossolo
(3) Bw (2) f Plintossolo

(15) Glei Gleissolo


Latossolo
(10) Bi (6) Em Vertissolo

(2) f Plintossolo

(15) Glei Gleissolo


Cambissolo
(16) B plânico (2) f Plintossolo
Planossolo
(1) HO Organossolo

(6) Em Vertissolo

(2) f Plintossolo

(15) Glei Gleissolo


Neossolo

Figura 12.D Chave simplificada de identificação das classes de solo de nível


categórico mais elevado (Ordem) do novo Sistema Brasileiro de Classificação de
Solos (EMBRAPA, 2006). Se o solo possui a propriedade diagnóstica identificada por
um código e definida na Tabela 12.L, segue-se pela direita (SIM); caso contrário, para
baixo (NÃO).

278
CLA S S IFICAÇÃO DE ECOS S IS TEM AS

Como exemplo de leitura da Figura 12.D, suponha-se um solo que apresente


horizonte Bw (3) e horizonte glei (15), seguindo a chave: Não para (36) Bhs; Não
para (4) Bt; Não para (27) B nítico; Sim para (3) Bw; Não para (2) f; Sim para (15)
glei, dando um solo da ordem Gleissolo. Uma outra leitura: os Nitossolos têm atividade
de argila baixa (Tb), a saturação por bases pode ser alta ou baixa e podem ter ou não
A chernozêmico; apresentam, embora não seja exclusividade desta classe, o horizonte
B nítico. Todas as classes podem ser identificadas de uma forma mais detalhada sem
necessidade da chave simplificada, mas a chave pode ajudar a ter-se uma visualização
da relação entre as classes.
Os Neossolos, apesar de constituírem a classe de alto nível mais heterogênea
sob o enfoque do ambiente, conotam a idéia de instabilidade, de ambiente em mudanças
ou muito suscetível a mudanças. Os componentes dos Neossolos são muito
diversificados (Tabela 12.J): podem ser rasos (Solo Litólico) ou espessos quanto à
profundidade efetiva (Regossolo, Areia Quartzosa, Areia Quartzosa Marinha e Areia
Quartzosa Hidromórfica); distróficos ou eutróficos; ter muitos (Solo Litólico, Regossolo
e Solo Aluvial) ou poucos (Areia Quartzosa, Areia Quartzosa Marinha, Areia Quartzosa
Hidromórfica) minerais primários facilmente intemperizáveis.
Na prática, ambientes de interesse de um determinado usuário podem ser
identificados com o uso de um mapa de solos, que, dependendo da escala, pode permitir
apenas uma visão geral; para uma identificação mais local, pode ser útil o uso do
mapa existente para a área e o emprego de uma chave de identificação usando, de
preferência, critérios simples de campo.
As classes de alto nível categórico, em número de 13, foram ou redefinidas
ou recém-criadas (EMBRAPA, 2006); em alguns casos elas praticamente coincidem
com as classes que vêm sendo usadas nos levantamentos de solos no Brasil; é o
caso das classes dos Vertissolos, Latossolos, Espodossolos (Podzóis), Gleissolos,
Cambissolos, Plintossolos, Planossolos e Organossolos. Apesar da identidade dos
nomes houve redefinição dos limites; portanto, algumas classes como Planossolos,
por exemplo, estão mais abrangentes: nela se incluem os antigos Planossolos e
outros solos.
As classes, como usadas presentemente nos levantamentos de solos, não
guardam vinculação necessária com nível categórico; assim, entre as classes de nível
elevado e as usadas nos levantamentos pode existir um ou mais grupamentos
taxonômicos, níveis hierárquicos; esta parte está bem mais elaborada na publicação
da Embrapa (2006).
Na Figura 12.E estão relacionadas as classes de alto nível categórico (Ordens)
do novo Sistema Brasileiro de Classificação (EMBRAPA, 2006), com as classes de
solos como usadas, anteriormente, nos levantamentos.

279
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES

Código do critério, como definido na Tabela 12.L, por SIM Classe de solo
Classe de solo de mais alto nível categórico (Ordem) da nova anteriormente
Classificação (EMBRAPA, 2006) NÃO usada(1)

---------------------------------------------------- Neossolos --------------------------------------------------


Sem horizonte B, glei, vértico, plíntico ou A chernozêmico carbonático ou cálcico (Litólicos,
Flúvicos, Regolíticos, Quartzarênicos)
(26) Prof > 50 (31) Unif (33) MPFI RE

(34) Cinza AQH

(35) Restinga AM
AQ
A
R
----------------------------------------------------- Vertissolos ------------------------------------------------
Horizonte vértico entre 25 e 100 cm de profundidade (Hidromórficos, Ebânicos, Háplicos)
(6) Em V
--------------------------------------------------- Cambissolos ------------------------------------------------
Horizonte A ou hístico com menos de 40 cm sobre horizonte B incipiente (Húmicos, Flúvicos,
Háplicos)
(10) Bi C
-------------------------------------------------- Chernossolos ------------------------------------------------
Horizonte A chernozêmico com CaCO3 eq. 150 g/kg sobre rocha ou sobre C cálcico ou
carbonático ou A chernozêmico sobre Bt ou Bi, Ta (Rêndzicos, Ebânicos, Argilúvicos, Háplicos)
(10) Bi B

(4) Bt BH

(30) KK RZ
BV
---------------------------------------------------- Luvissolos ------------------------------------------------
Horizonte B textural, argila de atividade alta (Ta) e alta saturação por bases (Va); sem A
chernozêmico (Crômicos, Háplicos)
(17) 5YR 4/6,8 (25) FeTi ?

(21) A fraco NC

(29) FeArg PE TaVa


PV Ta Va
(24) TBE PB Ta Va
PV Ta Va
Continua...

280
CLA S S IFICAÇÃO DE ECOS S IS TEM AS

Código do critério, como definido na Tabela 12.L, por SIM Classe de solo
Classe de solo de mais alto nível categórico (Ordem) da nova anteriormente
Classificação (EMBRAPA, 2006) NÃO usada(1)

---------------------------------------------------- Nitossolos --------------------------------------------------


Horizonte B nítico e argila de atividade baixa (Brunos, Vermelhos, Háplicos)
(17) 5YR 4/6,8 (25) FeTi TR

(29) FeArg PE
PV
(24) TBE PB Tb?

(13) STA TB

(29) FeArg PE Tb
PV Tb
--------------------------------------------------- Argissolos --------------------------------------------------
Horizonte B textural e argila de baixa atividade (Bruno-Acinzentados, Acinzentados, Amarelos,
Vermelhos, Vermelho-Amarelos)
(37) 7,5YR (38) Pálido PZ
PA
PV Tb
------------------------------------------------------ Latossolos ------------------------------------------------------
Horizonte B latossólico abaixo de horizonte A - dentro de 200 cm ou 300 cm se horizonte A >
150 cm (Brunos, Amarelos, Vermelhos, Vermelho-Amarelos)
(5) 2,5YR (9) Fe > 18% (14) Máficas LR
LF
LE
(8) Fe > 11% (13) STA LB
LU
(12) Fe > 7% LV

(37) 7,5YR (38) Pálido LP(2)

(20) Ki > 1,5 LA


LV
LV
--------------------------------------------------- Espodossolos -------------------------------------------------
Horizonte espódico sob E ou A, nos primeiros 200 cm ou 400 cm se A + E >200 cm
(Humilúvicos, Ferrilúvicos, Ferrihumilúvicos)
(36) Bhs P
Continua...

281
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES

Código do critério, como definido na Tabela 12.L, por SIM Classe de solo
Classe de solo de mais alto nível categórico (Ordem) da nova anteriormente
Classificação (EMBRAPA, 2006) NÃO usada(1)
--------------------------------------------------- Planossolos ---------------------------------------------------
Horizonte plânico imediatamente abaixo de horizonte E ou A (Nátricos, Háplicos)
(23) Na% >15% SS

(28) Na% > 6% PS


PL
--------------------------------------------------- Plintossolos --------------------------------------------------
Horizonte plíntico a menos de 40 cm da superfície ou imediatamente abaixo de horizonte E ou
de horizonte de cores variegadas (Pétricos, Argilúvicos, Háplicos)
(2) f PT
------------------------------------------------- Gleissolos ---------------------------------------------------
Horizonte glei a menos de 150 cm da superfície (Tiomórficos, Sálicos, Melânicos, Háplicos)
(4) Bt HC

(22) j GT

(21) A mod A fraco (32) z SK


GP
GH
------------------------------------------------ Organossolos ------------------------------------------------
Horizonte hístico 40 cm nos primeiros 80 cm (Tiomórficos, Fólicos, Háplicos)
(1) HO HO
(1)
SIMBOLOGIA - RE = Regossolo; AQH = Areia Quartzosa Hidromórfica; AM = Areia Quartzosa
Marinha; AQ = Areia Quartzosa; A = Aluvial; R = Litólico; V = Vertissolo; C = Cambissolo; B = Brunizém;
BH = Brunizém Hidromórfico; RZ = Rendzina; BV = Brunizém Avermelhado; NC = Bruno Não Cálcico;
PE = Podzólico Vermelho-Escuro; PV = Podzólico Vermelho-Amarelo; PB = Podzólico Bruno-Acinzentado;
RB = Rubrozém; TR = Terra Roxa Estruturada; TB = Terra Bruna Estruturada; PZ = Podzólico Acinzentado;
PA = Podzólico Amarelo; LR = Latossolo Roxo; LF = Latossolo Ferrífero; LE = Latossolo Vermelho-
Escuro; LB = Latossolo Bruno; LU = Latossolo Una; LV = Latossolo Vermelho-Amarelo; LP = Latossolo
Pálido; LA = Latossolo Amarelo; P = Podzol; SS = Solonetz-Solodizado; PS = Planossolo Solódico; PL =
Planossolo; PT = Plintossolo; HC = Hidromórfico Cinzento; GT = Glei Tiomórfico; SK = Solonchack; GP
= Glei Pouco Húmico; GH = Glei Húmico; HO = Orgânico; Ta = argila de atividade alta; Tb = argila de
atividade baixa; Va = alta saturação por bases; Vb = baixa saturação por bases.
(2)
Latossolo Pálido, símbolo LP, sugerido para Latossolos com baixo teor de ferro, Ki alto ou baixo, matiz
7,5YR, valor 5 e croma de 1 a 4.
Figura 12.E Chave geral de identificação dos solos brasileiros (Classificação em uso).
Se o solo possui a característica identificada por um código e definida na Tabela 12.L,
segue-se pela direita (SIM); caso contrário, para baixo (NÃO). Adaptado de Resende &
Ker (1991). Junto com a definição das 13 ordens estão, como adjetivos à ordem, as classes
de segundo nível do Sistema Brasileiro de Classificação de Solos (EMBRAPA, 2006). Por
exemplo, NEOSSOLO LITÓLICO, NEOSSOLO FLÚVICO, e assim por diante.

282
CLA S S IFICAÇÃO DE ECOS S IS TEM AS

A combinação das chaves (Figuras 12.D e 12.E) com os comentários sobre os


critérios usados (Tabela 12.L), lendo-se do fim para o começo, permite a leitura do
ambiente.
Vamos supor que haja interesse em saber o que significa, num mapa, o símbolo
TR. A legenda no próprio mapa diz Terra Roxa Estruturada... Mas é preciso mais: O
que significa? Que informações úteis podem ser tiradas?
Acompanhando as ramificações do símbolo TR (Figura 12.E), de baixo para
cima, é identificada a seqüência: TR, critério (25) e critério (17). Na Tabela 12.L lê-
se: critério (25), solos ricos em Fe, P e elementos-traço, têm, por outro lado, alta
capacidade de adsorção de P; critério (17) solos de cores vermelhas (o próprio nome
na legenda já diz isso), boa drenagem, presença de hematita. Esta classe, TR, pertence
à classe dos Nitossolos, no nível categórico mais elevado (Figura 12.D), que apresentam
ausência de gradiente textural significativo entre os horizontes A e B; argila de atividade
baixa; baixa capacidade de troca de cátions; ausência de expansão-contração
acentuada; podem existir mosqueados, mas não gleização na parte inferior do perfil;
em relação a Latossolos, em geral, são menos profundos, menos permeáveis e as
raízes não penetram no horizonte B com tanta facilidade.
A leitura da chave, nos outros casos, segue esse mesmo esquema. Sugere-se
que, identificado o ambiente, por exemplo, LV proceda-se, na chave da Figura 12.E a
leitura da direita para a esquerda e para cima: o LV tem Ki < 1,5 e teor de Fe2O3 > 7%
(critério (3)) ou, independente do Ki, tem Fe2O3 entre 7 e 11% (critério (12)); e cores
mais amarelas que 2,5YR (negação ao critério (5)). E mais, na chave da Figura 12.D
lê-se para os Latossolos: não apresentam horizontes glei e plíntico (negação aos critérios
(15) e (2)) e têm B latossólico (critério (3)), com todas as implicações de profundidade,
grau de intemperização e maturidade de paisagem.
O fato de um solo apresentar teores de Fe2O3 abaixo de 7% tem significado:
menos fósforo será fixado pelas argilas (BAHIA FILHO et al., 1983), a argila pode
ser caulinítica, para os casos de Ki > 1,5, e os teores de goethita são baixos. Por maior
que seja o teor de informação lido da classe de solo diretamente, há um substancial
enriquecimento se essa classe é contextualizada pelas fases de vegetação original e
relevo; isso, no entanto, não quer dizer que se possa dispensar o conceito central da
classe de solo, substituindo-a pela cobertura vegetal, relevo e litologia: não é possível
prever-se as disponibilidades de água e nutrientes de forma consistente, baseando-se
só nesses fatores, com esquecimento da classe de solo.

12.4. Bibliografia
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