Livro Pedologia Base para A Distincao de Ambientes
Livro Pedologia Base para A Distincao de Ambientes
Livro Pedologia Base para A Distincao de Ambientes
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2
Mauro Resende
Nilton Curi
Sérvulo Batista de Rezende
Gilberto Fernandes Corrêa
PEDOLOGIA
BASE PARA DISTINÇÃO DE AMBIENTES
EDITORA
Lavras - MG
3
© 2002 by Mauro Resende, Nilton Curi, Sérvulo Batista de Rezende e Gilberto Fernandes Corrêa
2007 5.ª Edição revisada
Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida, por qualquer meio ou forma, sem a autorização
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Revisão de Texto: Jane Cherém
Referências Bibliográficas: Márcio Barbosa de Assis
Marketing e Comercialização: Bruna de Carvalho Naves
Secretária: Glenda Fernanda Morton
Capa: Helder Tobias
P371
Pedologia: base para distinção de ambientes / Mauro Resende ... [et al.]. --
5. ed. rev. -- Lavras : Editora UFLA, 2007.
322 p. : il.
CDD-631.4
4
AUTORES
5
6
AGRADECIMENTOS
7
8
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ......................................................................................... 23
1.1. Solo como Fator Ecológico ................................................................. 25
1.2. Variação Tridimensional dos Solos ..................................................... 27
1.3. Análise do Solo .................................................................................... 29
1.4. Experimentação e Extensão ................................................................. 30
1.5. Bibliografia .......................................................................................... 31
9
3.2. Dinâmica e Acúmulo de Matéria Orgânica ......................................... 93
3.3. Bibliografia ......................................................................................... 96
10
7.1.2. Classificação para Alguns Tipos de Transferência de
Conhecimentos ................................................................................. 148
7.1.3. A Necessidade de Estratificação ............................................... 150
7.2. Sistemas de Classificação de Aptidão Agrícola das Terras ................ 151
7.2.1. Sistema de Classificação da Capacidade de Uso ...................... 151
7.2.2. Sistema FAO/Brasileiro ............................................................ 154
7.3. Solos com Problemas .......................................................................... 168
7.3.1. Redução .................................................................................... 169
7.3.2. Práticas de Redução "versus" Convivência .............................. 172
7.3.3. Práticas de Convivência ........................................................... 174
7.4. Geografia de Solos .............................................................................. 174
7.4.1. Domínio Pedobioclimático da Amazônia ................................ 174
7.4.2. Domínio do Subárido Nordestino ............................................ 176
7.4.3. Domínio dos Mares de Morros Florestados ............................. 177
7.4.4. Domínio do Cerrado ................................................................ 178
7.4.5. Domínio do Planalto das Araucárias ........................................ 180
7.4.6. Domínio das Pradarias Mistas .................................................. 181
7.4.7. Mais sobre os Domínios Pedobioclimáticos ............................ 182
7.4.8. Lições de Geografia de Solos ................................................... 183
7.5. Classificação de Solos ........................................................................ 185
7.5.1. Propósitos da Classificação ...................................................... 186
7.5.2. Sistema Americano de Classificação de Solos
(Soil Taxonomy) ...................................................................... 186
7.5.2.1. Alguns Problemas na Aplicação da Soil Taxonomy no
Brasil ........................................................................... 187
7.5.3. Classificação Brasileira de Solos ............................................. 188
7.5.3.1. Esquema das Principais Classes de Solos do Brasil ... 191
7.5.3.2. Solos com horizonte B Latossólico ............................ 193
7.5.3.3. Solos com horizonte B Textural - Não Hidromórficos . 195
7.5.3.4. Solos com horizonte B Textural - Hidromórficos ...... 197
7.5.3.5. Solos Hidromórficos sem horizonte B Textural (com
ou sem horizonte Plintico) .......................................... 198
7.5.3.6. Cambissolos ............................................................... 199
11
7.5.3.7. Solos Litólicos, Aluviais e Regossolos ................ ...... 200
7.5.3.8. Rendzinas e Vertissolos ............................................. 201
7.5.4. Principais Tipos de Horizonte A ............................................. 201
7.5.5. Atividade das Argilas e Saturação do Complexo de Troca ...... 202
7.5.6. Relações com a Soil Taxonomy ............................................... 205
7.6. Bibliografia ......................................................................................... 206
12
10.3.4. Estruturas Associadas (Feições Pedológicas) ...................... 242
10.4. Apresentação Sinótica das Descrições e Avaliações
Micromorfológicas: Exemplo ......................................................... 243
10.5. Considerações Finais ...................................................................... 245
10.6. Bibliografia ..................................................................................... 246
13
14
LISTA DE FIGURAS
Figura 1.A – Inter-relações representadas pelo tetraedro. ......................... 26
Figura 1.B – Segmentos de paisagem comuns na Zona da Mata mineira
com distintas características de solo e uso. ................................................ 28
Figura 2.A – Relação entre idade dos solos e equilíbrio de cargas elétricas.. 37
Figura 2.B – O equilíbrio dinâmico que ocorre nos solos (LINDSAY,
1979). ......................................................................................................... 49
Figura 2.C – Relação entre a hematita (Hm)/Hm + goethita (Gt) e o
matiz úmido de horizontes B de Latossolos do Sudeste e do Sul do
Brasil (adaptado de KÄMPF et al., 1988).................................................. 56
Figura 2.D – Representação das classes de textura pelo triângulo ............ 61
Figura 2.E – Solo antes (a) e depois de compactado (b), mostrando
redução dos poros maiores melhorando a condução de água (e
nutrientes) até às raízes. ............................................................................ 71
Figura 2.F – Esboço do processo de trocas gasosas no solo (HILLEL,
1982)…………………………………………………………………...... 73
Figura 2.G – Representação esquemática da consistência do solo
conforme o grau de umidade (teor de água). Em destaque a faixa de
friabilidade, apropriada para aração etc., estreita nos solos de argila de
atividade alta (Vertissolos, por exemplo) e bem mais ampla em alguns
Latossolos. ................................................................................................. 73
Figura 2.H – Províncias vegetacionais do Brasil, segundo modificações
feitas por CALDAS et al. (1978), a partir dos dados de EITEN (1972).
Dentro de cada província a composição da flora pode variar. Assim, na
extremidade sul da Mata Atlântica, há a presença dominante de
araucária...................................................................................................... 78
Figura 2.I – As nove pedoformas básicas (TROEH, 1965) e suas
combinações .............................................................................................. 83
Figura 2.J – Contraste entre as formas do barranco exposto de solos com
horizonte B textural e de Latossolos........................................................... 84
15
Figura 3.A Esquema mostrando separação das frações húmicas pela
solubilidade ou não em bases e ácidos. Na horizontal há solubilidade; na
vertical, precipitação ................................................................................. 92
Figura 4.A Esquema mostrando os ambientes aeróbicos e anaeróbicos
no interior do agregado de um solo bem drenado (TIEDJE et al.,
1984)........................................................................................................... 102
Figura 4.B Distribuição em profundidade de minhocas (número por
m2), crotovinas abaixo do horizonte A1(barras hachuradas, % em
volume) e conteúdo de C orgânico (%), em Latossolos Amarelos
(Latossolos Amarelos Distrocoesos), sob mata (a) e sob pastagem de
capim-colonião (b) com 12 anos (UFV, 1984).......................................... 103
Figura 4.C Inventário de áreas de ocorrência de microrrelevos, tipo
murundus, em solos de drenagem moderada a imperfeita no território
brasileiro (Corrêa, 1989). Observa-se que estas áreas coincidem, em
geral, com a do domínio de vegetação dos cerrados.................................. 106
Figura 4.D Bloco-diagrama que evidencia a condição mais comum de
ocorrência dos murundus (cabeceiras de vale do tipo vereda). ................. 108
Figura 4.E Concepção da gênese dos murundus através da erosão
diferencial (FURLEY, 1985, 1986). .......................................................... 109
Figura 4.F Corte de murundu (CORRÊA, 1989), mostrando a estrutura
de um termiteiro ativo, na parte superior (a), e de restos dessas
construções de térmitas, em diversos graus de conservação, em
profundidade (b)......................................................................................... 112
Figura 4.G Posicionamento do lençol freático no início da estação seca
e dos 4 segmentos apresentados na Tabela 4.B, concernente a um campo
de murundus sobre uma vertente de vale tipo vereda (CORRÊA, 1989)... 115
Figura 4.H Ciclo evolutivo de murundus do Brasil Central: gênese e
senescência (CORRÊA, 1989). ................................................................. 117
Figura 5.A Fatores de formação do solo e pedogênese. ......................... 124
Figura 5.B Bloco-diagrama ilustrando a influência do relevo na idade
dos solos (taxa pedogênese/erosão). As setas indicam o aumento da
erosão e da pedogênese. ............................................................................. 132
Figura 5.C Algumas tendências nas relações entre idade do solo e suas
características (nomes dos solos apenas no sistema antigo). ..................... 133
Figura 5.D Influência da estrutura da rocha de origem na idade relativa
dos solos (nomes dos solos apenas no sistema antigo). ............................. 135
Figura 6.A Solos e relevo: algumas tendências na paisagem brasileira
(nomes dos solos apenas no sistema antigo). ............................................ 144
16
Figura 6.B Algumas tendências de relações entre vegetação natural e
propriedades do solo e do ambiente. ......................................................... 144
Figura 7.A Domínio pedobioclimático da Amazônia (AB'SABER, 1970)... 175
Figura 7.B Domínio pedobioclimático das depressões interplanálticas
subáridas do Nordeste, revestidas por caatingas (AB'SABER, 1970). .......... 177
Figura 7.C Domínio pedobioclimático dos Mares de Morros
Florestados (AB'SABER, 1970). ............................................................... 178
Figura 7.D Domínio pedobioclimático do Cerrado (AB'SABER, 1970). ..... 179
Figura 7.E Domínio pedobioclimático do Planalto das Araucárias
(AB'SABER, 1970). .................................................................................. 180
Figura 7.F Domínio pedobioclimático das Pradarias Mistas
(AB'SABER, 1970). .................................................................................. 181
Figura 7.G Áreas de transição entre domínios pedobioclimáticos
(AB'SABER, 1970). .................................................................................. 182
Figura 7.H Tendências de produção das culturas anuais em função de
A e N nas zonas da Mata, Agreste e Sertão. As barras verticais
representam as produções máximas e mínimas; a linha horizontal a
heterogeneidade (variação) de precipitação, na estação de
crescimento: maior no Sertão e mínima na Mata. ..................................... 184
Figura 8.A Bloco-diagrama ilustrando distintos aspectos de uma
paisagem hipotética, com unidades de mapeamento correspondentes,
representadas em um mapa de solo (nomes e símbolos apenas no
sistema antigo). LV - Latossolo Vermelho-Amarelo; LEc - Latossolo
Vermelho-Escuro câmbico; PE - Podzólico Vermelho-Escuro; A Solos
Aluviais; G - Gleissolos; Cd - Cambissolo distrófico; RE Regossolo. .. 212
Figura 9.A As pequenas bacias de drenagem são uma unidade natural
básica. Isto permite detalhamento progressivo de estudo, sem perda do
sentido de conjunto. ...................................................................................... 220
Figura 9.B Solo desprotegido favorece a enxurrada e, assim, a erosão.. 221
Figura 9.C Esquema de delimitação pelos divisores topográficos das
pequenas bacias de drenagem. ................................................................... 222
Figura 9.D Variáveis básicas de controle do deflúvio e seus possíveis
desdobramentos. ........................................................................................ 222
Figura 9.E Divisores topográficos (externos) e freáticos (internos) de
uma pequena bacia de drenagem e fluxos formadores do deflúvio........... 223
Figura 9.F Esquema de STRAHLER (1958) de hierarquização da
drenagem. Números representativos de drenagens de primeira a quarta
ordens .. 223
17
Figura 9.G Fator de forma da bacia de drenagem. ................................. 224
Figura 9.H Lei do número de canais. NW = número de canais; W =
ordem de drenagem. .................................................................................. 225
Figura 9.I Relação entre textura (silte + argila) e água retida a 30 kPa
(Ac = capacidade de campo) e 1500 kPa (Am = ponto de murcha). As
equações são de ARRUDA et al., 1987; os demais pontos são de
Latossolos brasileiros (CORDEIRO, 1977; FERREIRA, 1988). .............. 226
Figura 9.J No domínio dos Latossolos e Areias Quartzosas (Neossolos
Quartzarênicos) em relevo plano e suave ondulado, os cursos d'água são
mais espaçados; a instabilidade das bordas das chapadas (ao fundo, à
direita) põe em risco as bacias a jusante. .................................................. 230
Figura 9.K Aspectos inerentes às paisagens de solos desenvolvidos de
rochas graníticas. Aí o comportamento hídrico é intermediário entre os
Latossolos de relevo acidentado e os solos rasos de rochas pelíticas
(pobres). ..................................................................................................... 230
Fi Figura 9.L Os recursos hídricos de superfície, nas áreas de baixa
densidade de drenagem, são muito vulneráveis à poluição........................ 231
Figura 12.A Espessura do "sólum" (horizontes A + B) de várias
classes de solos (RESENDE, 1985). Os nomes dos solos estão apenas no
sistema antigo............................................................................................. 272
Figura 12.B Esquemas mostrando bloco-diagrama de uma paisagem,
mapa de solos e fluxo de informações do levantamento de solos. ............ 272
Figura 12.C Esquema ilustrando o relacionamento entre solos epiálicos
endoeutróficos e epieutróficos endoálicos e raízes de plantas
sensíveis ao alumínio, sob duas condições de deficiência de água:
pronunciada (1) e (2) e nula (3) e (4) (RESENDE & REZENDE, 1983).. 273
Figura 12.D Chave simplificada de identificação das classes de solo de
nível categórico mais elevado (Ordem) do novo Sistema Brasileiro de
Classificação de Solos (EMBRAPA, 2006). Se o solo possui a
propriedade diagnóstica identificada por um código e definida na Tabela
12.L, segue-se pela direita (SIM); caso contrário, para baixo (NÃO)....... 278
Figura 12.E Chave geral de identificação dos solos brasileiros
(Classificação em uso). Se o solo possui a característica identificada por
um código e definida na Tabela 12.L, segue-se pela direita (SIM); caso
contrário, para baixo (NÃO). Adaptado de RESENDE & KER (1991).
Junto com a definição das 13 ordens estão, como adjetivos à ordem, as
classes de segundo nível do Sistema Brasileiro de Classificação de Solos
(EMBRAPA, 2006). Por exemplo, NEOSSOLO LITÓLICO,
NEOSSOLO FLÚVICO, e assim por diante. ............................................ 282
18
LISTA DE TABELAS
Tabela 2.A – Tamanho das partículas do solo. .......................................... 36
Tabela 2.B – Dados sobre componentes das frações argila, silte e areia
dos solos. ................................................................................................... 41
Tabela 2.C – Minerais silicatados de maior interesse para os solos. ......... 44
Tabela 2.D – Seqüência de aumento do topo para a base, de resistência
ao intemperismo de minerais primários, segundo vários autores. ............. 48
Tabela 2.E – Distribuição das frações granulométricas por classes de
tamanho. .................................................................................................... 60
Tabela 2.F – Tipos de estrutura, suas características e onde ocorrem. ...... 66
Tabela 2.G – Relações gerais entre organização microscópica das
partículas de argila, condições em que ocorrem e seu efeito na
consistência. .............................................................................................. 74
Tabela 2.H – Tipos de pãs características, ocorrência e importância para
os solos brasileiros. .................................................................................... 76
Tabela 2.I – Formas de vegetação empregadas como fases de unidades
de mapeamento de solos (adaptado de EMBRAPA, 1988b). .................... 81
Tabela 3.A – Análises elementares de ácidos húmicos (AH) e fúlvicos
(AF) extraídos de solos de condições climáticas tropicais e subtropicais
(SCHNITZER, 1978). ............................................................................... 92
Tabela 3.B – Parâmetros referentes à curva de distribuição de carbono
com profundidade, segundo a equação C = apb, em solos de alguns
ecossistemas brasileiros. ............................................................................ 95
Tabela 4.A – Microrganismos comuns em solos (BRADY, 1974). .......... 100
Tabela 4.B – Variações registradas em um campo de murundus tomado
como referência para a situação de vertente em vale tipo vereda
(CORRÊA, 1989). ..................................................................................... 115
Tabela 4.C – Térmitas encontradas em campos de murundus em dois
setores de referência (CORRÊA, 1989). ................................................... 116
19
Tabela 5.A Tipos de processos primordiais de formação do solo e
exemplos. ................................................................................................... 124
Tabela 5.B Condições bioclimáticas e locais associadas às classes de
processos de formação do solo (tendências). ............................................ 125
Tabela 5.C Alguns horizontes diagnósticos (EMBRAPA, 1988), suas
características, solos onde ocorrem e processos (nomes apenas no
sistema antigo). .......................................................................................... 130
Tabela 5.D Influência da variação da atividade bioclimática na idade
relativa do solo em conformidade com a Figura 5.B. ................................ 133
Tabela 5.E Principais vantagens e desvantagens de solos novos e
velhos para culturas anuais e perenes. ...................................................... 136
Tabela 5.F Rochas agrupadas para fins pedológicos gerais, assim
como uma idéia de sua composição química. ........................................... 137
Tabela 5.G Relações gerais entre rocha matriz e alguns atributos dos
solos. .......................................................................................................... 140
Tabela 7.A Relação entre solo ideal ( i = 0, onde i = N, A, O, E e M)
e solo real ( i 0). .............................................................................. 156
Tabela 7.B Graus de desvio (limitações) das condições agrícolas dos
solos em relação a um solo ideal, quanto à deficiência de nutrientes ou
fertilidade (N), deficiência de água (A), deficiência de oxigênio (O),
suscetibilidade à erosão (E) e impedimentos à mecanização (M). ............ 158
Tabela 7.C Classes de viabilidade de melhoramento. ............................ 160
Tabela 7.D Níveis de manejo considerados na avaliação da aptidão
agrícola. ..................................................................................................... 161
Tabela 7.E Grupos e classes de aptidão agrícola e alternativas gerais
de utilização. .............................................................................................. 163
Tabela 7.F Alternativas de utilização das terras de acordo com o grupo
de aptidão agrícola. .................................................................................... 164
Tabela 7.G Classes de aptidão agrícola e características relacionadas... 164
Tabela 7.H Resultado do confronto entre os desvios da unidade LVa1,
após estimativa de redução (quando viável), conforme o nível de manejo
e os requisitos de máxima limitação permissível para determinada classe
de aptidão e tipo de uso estabelecidos no quadro-guia, referentes à
região tropical úmida. ................................................................................ 165
Tabela 7.I Quadro-guia para classificação da aptidão agrícola na
Região Tropical Úmida. ........................................................................... 167
Tabela 7.J Exemplos de práticas pertinentes às classes a e b de
viabilidade de melhoramento (redução do ) (Sistema FAO/Brasileiro). ...... 169
20
Tabela 7.K Níveis de exigências (NE) referentes à necessidade de
redução dos desvios ( ). Os níveis gerais de exigências são
especificados pelos números 1 a 4, expressando, nesta ordem, aumento
de capital, refinamento de técnica, ou nível de dificuldade para redução
dos deltas. . 171
Tabela 7.L Classificação das práticas agrícolas em práticas de redução
e práticas de convivência. Estão excluídos os fatores biológicos (pragas,
doenças etc.), geográficos (localização, transporte etc.) e
socioeconômicos. ....................................................................................... 173
Tabela 7.M Nomes das ordens, elementos formativos e sua derivação
(ESTADOS UNIDOS, 1975 e 1999). ....................................................... 187
Tabela 7.N Correlação entre classes de solo dos Sistemas Brasileiros
anterior à hierarquização (CAMARGO et al., 1987; OLIVEIRA et al.,
1992) e o novo sistema hierarquizado (EMBRAPA, 2006). ..................... 189
Tabela 7.O Esboço das principais classes de solos do Brasil. ................ 192
Tabela 7.P Saturação por bases e por alumínio, nos horizontes A e B, e
especificações correspondentes (RESENDE & REZENDE, 1983. .. 205
Tabela 7.Q Relações entre a Soil Taxonomy e a Classificação de Solos
Brasileira. ................................................................................................... 205
Tabela 9.A Número de canais, ordem de drenagem e razão de
bifurcação de uma bacia de drenagem. ...................................................... 224
Tabela 9.B Textura semelhante e contraste na porosidade entre um
Planossolo eutrófico vértico (PLev) e um Latossolo Vermelho-Escuro
textura média (LEm) (nomes dos solos apenas no sistema antigo). .......... 226
Tabela 9.C Adaptação de forrageiras aos desvios dos fatores abióticos
do ambiente, resistência ao fogo e palatabilidade. .................................... 227
Tabela 10.A Caracteres micromorfológicos de horizontes de um
Latossolo Plíntico concrecionário (Plintossolo Pétrico Concrecionário). . 244
Tabela 11.A Concentração típica de alguns metais pesados na crosta
terrestre, em rochas, sedimentos e solos do mundo (Sparks, 1995). ......... 249
Tabela 11.B Teor total de metais pesados em Latossolos brasileiros
(Campos et al., 2003). ................................................................................ 250
Tabela 11.C Teores de referência e teores limites máximos de metais
pesados em grupos de solos brasileiros, de acordo com Fadigas et al.
(2006). Os valores entre parênteses referem-se ao teor estabelecido
como limite máximo. As características definidoras de cada grupo de
solos podem ser encontradas em Fadigas et al. (2006). 251
Tabela 12.A Hierarquia dos ecossistemas. ............................................. 258
21
Tabela 12.B Hierarquização de classes das áreas geográficas ou
ecorregiões. ................................................................................................ 259
Tabela 12.C Vegetação campestre brasileira e condições ambientais. .. 260
Tabela 12.D Resultados de análises químicas de amostras de dois
solos Litólicos (Neossolos Litólicos) eutróficos (CE2 e CE3) e um
distrófico (CE1), todos sob cerrado. .......................................................... 261
Tabela 12.E Ordenação de floresta, cerrado e caatinga quanto à
tolerância às deficiências de água e nutrientes. ......................................... 261
Tabela 12.F Horizontes do perfil de solo: algumas características e
implicações. ............................................................................................... 263
Tabela 12.G Equivalência entre símbolos em sistemas de notação de
horizontes nos EUA, pela FAO e Brasil. ................................................... 264
Tabela 12.H Sufixos e sinais convencionais para distinções
subordinadas de horizontes e camadas principais. .................................... 266
Tabela 12.I Resumo das características dos principais horizontes
diagnósticos, atualizados conforme EMBRAPA (2006), e dos solos
onde ocorrem e alguns processos pedogenéticos. ..................................... 267
Tabela 12.J Classes de solos de alto nível da nova classificação
(EMBRAPA, 1988, 1999, 2006). .............................................................. 270
Tabela 12.K Relação entre distrófico, álico e eutrófico. ........................ 273
Tabela 12.L Critérios usados nas chaves simplificadas de identificação
das classes de solos brasileiros (Figuras 12.D e 12.E), com comentários
de interesse biológico. ............................................................................... 274
22
INTRODUÇÃO
1
INTRODUÇÃO
1
Há, ao contrário de uma idéia anterior, mais fotossíntese nos ecossistemas terrestres do que nos aquáticos;
no entanto, os oceanos têm fundamental importância no balanço do gás carbônico: sem os oceanos o gás
carbônico na atmosfera teria aumentado muito. As estimativas dão conta de que a produtividade primária
líquida dos ecossistemas continentais é mais do que o dobro da dos marinhos (117,5 x 109 versus 55 x 109 t/
ano) (WHITTAKER & LIKENS, 1975).
23
PEDOLOGIA: BASE PARA DISTINÇÃO DE AMBIENTES
24
INTRODUÇÃO
25
PEDOLOGIA: BASE PARA DISTINÇÃO DE AMBIENTES
26
INTRODUÇÃO
é, entre dois vértices (representados por uma linha) e algumas vezes sem
dimensão alguma (um ponto). No entanto os fatos se encontram inter-
relacionados em todo o sólido (três dimensões);
f) como os fatores nos vértices do tetraedro podem sofrer mudanças, alterando
seu campo de inter-relações com os outros fatores, poder-se-ia adicionar, extra-
tetraedro, um outro fator: tempo;
g) o fator tempo, como se verá posteriormente, poderá alterar as inter-relações
solo-organismos-aspectos socioeconômicos para grande parte do território
brasileiro nos próximos decênios.
Nestas notas estudam-se aspectos do fator ecológico solo, frisando certas
inter-relações com outros vértices do tetraedro e observando que o fator tempo,
que condiciona outros fatores, poderá ter implicações muito importantes na utilização,
por exemplo, de grande parte dos Latossolos4 brasileiros.
27
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES
Área inundada Área não mais inundável. Grande Área de relevo acidentado,
periodicamente (leito concentração das atividades usada para pastagem,
maior). Usada para humanas - urbanas e agrícolas. principalmente. Muita evidência
arroz. Solos jovens. Solos um pouco mais velhos que de antigas lavouras de café.
os do leito maior. Solos bem mais velhos.
Figura 1.B Segmentos de paisagem comuns na Zona da Mata mineira com distintas
características de solo e uso.
7
Perfil, uma seção vertical do solo até o material de origem, ou seja, até a rocha consolidada ou não. O perfil
é formado de camadas ou horizontes mais ou menos paralelos à superfície; numa caracterização de solos
os horizontes e camadas são, em geral, descritos e analisados química, física e mineralogicamente. Tanto
a descrição de campo quanto as análises de laboratório são usadas para prever as limitações e qualidades
do solo para vários usos.
8
Os Solos Aluviais (Neossolos Flúvicos), ao longo dos rios, não têm horizonte B; não há tempo para a
formação do horizonte B; as taxas de erosão e de deposição são mais rápidas do que a de formação do
horizonte B. Com pouco tempo não há horizonte B; com um pouco, horizonte B incipiente; se o tempo
é ainda maior dá solo com horizonte B textural. Só nos solos muito, muito velhos, é que se forma o B
latossólico característico dos Latossolos.
28
INTRODUÇÃO
29
PEDOLOGIA: BASE PARA DISTINÇÃO DE AMBIENTES
10
Agronômica, derivativo de agronomia, do grego agros, campo, e nomos, lei, princípio; estudo dos
métodos agrícolas (BUENO, 1967); arte de manejo do solo ou da terra e produção das culturas
(WEBSTER’S..., 1989).
11
Observa-se aqui um fato muito interessante: há uma população amostrada estatisticamente (ao acaso),
a área do experimento, e uma outra população - que não foi amostrada casualmente que é a área para a qual
se pretende transferir o conhecimento. Conclusão: por maior que seja o rigor estatístico na área experimental,
sempre há um elemento de empirismo, de imprecisão, para o qual as informações sobre geografia e
classificação de solos são de grande valia.
12
A interpretação da qualidade de um atributo só tem sentido num determinado contexto; num solo raso,
o atributo profundidade pequena tem qualificações numa área úmida (Amazônia, por exemplo) diferentes
das de uma área seca; no primeiro caso pode indicar deficiência de oxigênio; no segundo, deficiência de
água. Isso é válido para todos os atributos. A expressão eutrófico, num Cambissolo de argila de alta
atividade (Ta), está associada com altos teores de minerais primários facilmente intemperizáveis e muitas
bases trocáveis; num Latossolo, com baixa reserva de nutrientes.
30
INTRODUÇÃO
1.5. Bibliografia
BENNEMA, J. Organic carbon profiles of Oxisols. Pedologie, Ghent, v. 24, p. 119-142, 1974.
BOUMA, J. Guide to the study of water movement in soil pedons above the watertable. Madison:
University of Wisconsin, 1973. 194 p.
BREWER, R. Fabric and mineral analysis of soils. New York: Krieger, 1976. 482 p.
BUENO, S. Grande dicionário etimológico prosódico da língua portuguesa. São Paulo: Sa-raiva,
1967. 8 v.
OHLROGGE, A. J. How root tap a fertilizer band. Plant Food Review, [S.l.], Summer-Fall, p. 4-9,
1958.
RUSSELL, E. W. Soil conditions and plant growth. 10. ed. New York: Longman, 1973. 849 p.
WEBSTER’S encyclopedic unabridged dictionary of the english language. New York: Gramercy,
1989. 2078 p.
WHITTAKER, R. H.; LIKENS, G. E. The biosphere and man. In: LIETH, H.; WHITTAKER, R. H.
(Eds.). Primary productivity of the biosphere. New York: Springer-Verlag, 1975. p. 305-328.
31
PEDOLOGIA: BASE PARA DISTINÇÃO DE AMBIENTES
32
PROPRIEDADES DO SOLO E INTERPRETAÇÃO
2
PROPRIEDADES DO SOLO E INTERPRETAÇÃO
2.1. Propriedades
O solo é variável nas três dimensões. Quando se observa a variação vertical
num corte de estrada, tem-se um perfil, isto é, a face de um conjunto de seções, zonas
ou faixas, mais ou menos paralelas à superfície. Quando essas camadas evidenciam a
diferenciação do perfil, por efeito dos processos formadores do solo, são chamadas
de horizontes; caso contrário, são apenas camadas.
A, E e B são sempre considerados horizontes; C, O, H e F, dependendo da
evolução pedogenética, podem ser horizontes ou camadas (EMBRAPA, 1988a;
OLIVEIRA et al., 1992).
Num corte de estrada na Zona da Mata, em Minas Gerais, em solos
desenvolvidos de gnaisse13, por exemplo, distinguem-se, de cima para baixo:
1. camada ou seção superficial escurecida, que corresponde ao horizonte A;
2. horizonte espesso, vermelho, ou vermelho-amarelado - o horizonte B;
3. seção rósea14, que se estende até a rocha (ou camada R). Trata-se do horizonte
C, onde os vestígios da estrutura da rocha ainda são visíveis: corresponde à
camada Cr.
Entre os solos e dentro de cada solo, os horizontes podem diferir entre si nas
propriedades: a - constituição; b - cor; c - textura; d - estrutura; e - cerosidade; f -
porosidade; g - consistência; h - cimentação; i - pedoclima; e j - pedoforma.
a. Constituição
O solo é constituído por minerais e poros (ocupados por água e ar), além de matéria
orgânica e organismos. A natureza e a proporção de cada uma destas partes podem variar
bastante. Desse modo, nos solos hidromórficos15, por exemplo, os poros são ocupados por
13
Gnaisse, do alemão gneiss; palavra usada pelas mineradoras de Erzgebirde, distrito de Freiberg, introduzida
por Saussure (1779); rocha metamórfica em que bandas ou lentículas de material granular de cor clara
(quartzo e feldspatos), alternam-se com outras de minerais de hábitos micáceos ou alongados de cor
escura (biotita, hornblenda): é a alternância de camadas félsicas (claras) e máficas (escuras) (BATES &
JACKSON, 1987; BUENO, 1967).
14
Quando se observa na porção inferior do horizonte C, uma coloração algo esverdeada, é porque ainda
não houve a formação de hematita, a qual, quando presente, mesmo em pequena quantidade, num fundo
branco dado pela caulinita, imprime ao todo uma coloração rósea.
15
Solos hidromórficos, como o nome indica, têm sua morfologia relacionada com a água; a cor cinzenta,
gleizada (tabatinga), resulta da redução do ferro, de trivalente para bivalente, com ou sem remoção do
mesmo.
33
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES
34
PR OPR IEDADES DO SOLO E IN TER PR ETAÇÃO
f. Porosidade
Espaço no solo ocupado por ar e água. Divide-se em macroporos e microporos
(menores do que 8 ou do que 60 micrômetros de diâmetro19). Essa propriedade está
intimamente relacionada com a estrutura e com a textura do solo.
g. Consistência
Comportamento mecânico do pedomaterial sob condições variáveis de umidade.
Está relacionada com a composição mineralógica do solo. Solo macio (quando seco),
friável (quando úmido) e ligeiramente pegajoso (quando molhado), se argiloso indica,
em geral, alto teor de óxidos de ferro (Fe) e de alumínio (Al), boas condições físicas e
pobreza em bases20. Solos duros, firmes e muito pegajosos podem indicar menos
óxidos de Fe e de Al, materiais mais ricos em bases e condições físicas - permeabilidade,
traficabilidade e manejo - piores21.
h. Cimentação
União das partículas do solo por agente cimentante. Pode formar camadas
impermeáveis às raízes e à água.
i. Pedoclima
Regime hídrico e térmico do solo. O pedoclima não pode ser previsto com base
só no clima atmosférico (ou vigente na atmosfera). De fato, existem solos hidromórficos
(com excesso de água) em plena área desértica. As formas de vegetação original
(fases)22 têm sido usadas no Brasil, com bons resultados, para uma caracterização
pedoclimática geral.
19
O diâmetro de separação entre macroporos e microporos varia bastante: 8 micrômetros (LOZET &
MATHIEU, 1986); 10 a 60 mm (MILLER & DONAHUE, 1990). As raízes capilares têm de 8 a 12 mm
de diâmetro (MILLER & DONAHUE, 1990) ou de 5 a 17 mm (NEWMAN, 1974).
20
Estas generalizações podem apresentar exceções.
21
A consistência, quando o solo está seco, reflete o ajuste face a face; é, assim, um importante indicador
das condições do material, talvez mais do que a friabilidade. As partículas de argila silicatada têm forma de
placas. Quando as partículas se ajustam face a face há um máximo de coesão, o torrão torna-se duro. O
barro amassado, por exemplo, quando preparado para cerâmica, apresenta-se bastante duro ao secar.
Dessa forma os perfis de solos que se apresentam naturalmente duros quando secos têm maior número de
partículas face a face.
22
Esta idéia do uso de formas de vegetação original (de Marcelo Nunes Camargo e Jakob Bennema)
foi aprimorada com as contribuições de Geraldo Mendes Magalhães, Dárdano de Andrade-Lima,
Carlos Toledo Rizzini e outros. (Agradecemos a Paulo Klinger Tito Jacomine, por parte dessas
informações).
35
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES
j. Pedoforma23
O solo é um corpo tridimensional, portanto carece de sentido solo sem topografia
(pedoforma). Ao lado da cor, a pedoforma é outro elemento muito importante no
reconhecimento e identificação24 dos solos.
Fração argila
Na fração argila ocorrem muitos fenômenos. Um deles é o da troca iônica -
que já se disse ser o fenômeno mais importante25 para a humanidade, depois da
fotossíntese. Existem duas cargas na natureza: positiva e negativa (Figura 2.A).
23
Pedoforma, à semelhança da expressão superfície pedomórfica (YAALON, 1971), é usada para enfatizar
o aspecto tridimensional do solo. É afim à expressão soilscape (BUOL et al., 1973).
24
Identificar é determinar a que grupo ou classe um elemento, no caso o solo, pertence; enquanto classificar
é arranjar ou organizar por classes, ordenar de acordo com as classes (WEBSTER S..., 1989).
25
Os fenômenos encontram-se de tal forma inter-relacionados que pode não haver muito sentido em dizer-
se que um é mais importante do que o outro. Um exemplo: quase não se fala na importância da floculação,
isto é, da precipitação dos colóides em suspensão - a limpeza da água suja. As águas do rio Amazonas, se
não fosse esse fenômeno, sujariam o oceano, alterariam a atividade biológica, as trocas gasosas, a absorção
de CO2, por exemplo e, isso talvez modificasse a vida na Terra.
36
PR OPR IEDADES DO SOLO E IN TER PR ETAÇÃO
Figura 2.A Relação entre idade dos solos e equilíbrio de cargas elétricas.
A fração argila e outras frações, como por exemplo, o silte, porém em menor
quantidade, podem apresentar essas duas cargas.
A maioria dos solos na crosta terrestre apresenta o número de cargas negativas
maior do que o número de cargas positivas - são solos eletronegativos. Existem, no
entanto, particularmente entre os Latossolos, alguns solos que apresentam a densidade
de cargas negativas menor do que a de cargas positivas - são solos eletropositivos26.
As cargas negativas, que estão na superfície dos minerais de argila e da matéria
orgânica, são capazes de adsorver íons com cargas opostas (cátions): Ca2+, Mg2+, K+,
H+ etc. Estes cátions adsorvidos podem ser substituídos, isto é, trocados uns pelos
outros. A esse fenômeno dá-se o nome de troca de cátions, e ao conjunto das cargas
negativas dá-se o nome de capacidade de troca catiônica (CTC ou valor T), que é
normalmente expressa em cmolc/dm3 de solo ou meq/100 cm3 de terra fina 27. Ao
somatório das bases, Ca2+ + Mg2+ + K+ + Na+, dá-se o nome de soma de bases (SB
ou valor S), via de regra expressa em cmolc/dm3 de terra fina.
26
Solos eletropositivos são muito raros no mundo, mas ocupam grandes áreas do Brasil, nas chapadas
mais elevadas, principalmente quando argilosos. Esses perderam grande parte da sílica, têm Ki baixo, são
gibbsíticos e estão em processo de destruição, mas já ocuparam áreas muito mais extensas.
27
meq/100 g é uma unidade de carga; é a quantidade da substância que reage com o equivalente de
hidrogênio (H+); assim, 1 meq/100 g de uma substância indica que 100g dessa substância tem a
capacidade de reagir com o equivalente a 1 mg de H+. Atualmente, pelo sistema internacional, essas cargas
são expressas em cmolc/dm3 ou cmol de cargas por dm3, ou seja, molécula-grama por dm3 de solo ou terra
fina.
37
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES
Tetraedro
Estes tetraedros juntam-se de forma a ter, cada um, três oxigênios comuns. O
trapézio está representando a camada formada pela união dos tetraedros.
Octaedro
OH
28
Filossilicato, do grego phyllon, folha; silicatos na forma de placas ou folhas, como as micas. Caracterizam-
se por repartir três dos quatro oxigênios dos tetraedros, formando as placas.
38
PR OPR IEDADES DO SOLO E IN TER PR ETAÇÃO
O retângulo é usado para representar a camada formada pela união dos octaedros.
Tanto os tetraedros de sílica, como os octaedros de alumínio se organizam
formando lâminas constituídas exclusivamente de cada uma dessas unidades. Têm-se
assim lâminas tetraedrais (representadas pelo trapézio) e lâminas octaedrais
(representadas pelo retângulo) que ocorrem associadas, pelo compartilhamento de
oxigênios das unidades básicas de cada uma, formando camadas. Essas camadas
podem ocorrer pela junção de uma lâmina de tetraedros com uma de octaedros (argila
1:1) ou duas lâminas de tetraedros e uma de octaedros (argila 2:1), que é a composição
básica de vários tipos de argila silicatada.
39
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES
R-OH R-O- + H+
CARGA NEGATIVA
OH- H+
-
R-O + H2O R-OH R-OH2+
(a) (b)
29
A forma laminar da caulinita (argila 1:1) faz a superfície exposta, expressa, por exemplo, em metros
quadrados por grama (m2g-1), depender da espessura da lâmina; a capacidade de troca, relacionada à
exposição das beiradas, não depende diretamente da espessura da lâmina.
30
Latolização é o processo de formação de solo com predominância de perda de sílica e bases, com
concentração residual de ferro e alumínio.
40
PR OPR IEDADES DO SOLO E IN TER PR ETAÇÃO
A atividade das argilas, isto é, sua capacidade de troca catiônica e área específica,
tende a crescer da caulinita31 (menos ativa) para a esmectita ou montmorilonita32
(mais ativa).
Tabela 2.B Dados sobre componentes das frações argila, silte e areia dos solos.
Área Específica Capacidade de Troca Catiônica
Mineral ou Partícula Estrutura
(m2/g) (cmolc/kg)
Caulinita 1:1 10-20 3-15
33
Haloisita 1:1 21-43 5-50
34
Ilita 2:1 70-120 10-40
Clorita 2:1 79-150 10-40
35
Vermiculita 2:1 300-500 100-150
Esmectita 2:1 700-800 60-150
36
Alofana amorfa 70-300 25-70
Silte <1 muito pequena
Areia fina <0,1 muito pequena
Areia grossa <0,01 muito pequena
Fonte: valores de área específica compilados por Bohn et al. (1979) e Russell (1973), e de capacidade
de troca catiônica por Grim (1968).
31
Caulinita, do monte Kaoling (kao, alto; ling, monte), perto de Jauchu Fa, na China, de onde se extraiu o
primeiro caulim; o principal constituinte do caulim (HURLBUT, 1971; WEBSTER S..., 1989). Há
indicações (RESENDE et al., 1988) de que nos solos brasileiros, a superfície específica da caulinita atinge
maiores valores. Pela origem do nome deveria ser caulinita, com a letra o, à semelhança de varias línguas:
espanhol, francês, inglês. Apesar dessas considerações, caulinita e não caolinita é registrada nas principais
fontes (ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS, 1981; BRANCO, 1993; FERREIRA, 1975).
32
Montmorilonita, nome de Montmorillon, região da França onde ela foi encontrada (BUENO, 1967;
WEBSTER S..., 1989); esse nome corresponde a um grupo de minerais incluindo montmorilonita,
nontronita, saponita, hectorita, sauconita, beidelita, volkoncoita ou grifitita. É o mesmo que esmectita, do
grego smektikos, sem gordura, limpo (BATES & JACKSON, 1987; BUENO, 1967).
33
Halloysita, nome em homenagem a Omalius D Halloy. É o mesmo que metahalloysita (autores europeus)
ou endelita (autores norte-americanos) (BATES & JACKSON, 1987; BUENO, 1967).
34
Ilita, nome proposto como um termo geral, em homenagem ao estado de Illinois (EUA). Intermediário
em atributos entre moscovita e esmectita. Contém menos potássio e mais água do que as micas verdadeiras;
mais potássio que caulinita e montmorilonita (BATES & JACKSON, 1987).
35
Vermiculita, porque contrai-se na forma semelhante a vermes, mediante a perda de água por aquecimento
(HURLBUT, 1971).
36
Alofana, do grego allos, outro, e phainein, parecer.
41
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES
37
As superfícies de aplainamento, como por exemplo, os grandes chapadões, são erodidos muito lentamente;
cada partícula permanece um longo período exposta à atuação bioclimática antes de ser removida. Isso
permite a remoção intensa de sílica e bases, ficando um resíduo rico em óxidos de Fe, Al, Ti e Mn.
38
Sesquióxido vem do latim sesqu - abreviação de sexisque (um e meio) - mais óxido: óxido que contém
uma vez e meia mais oxigênio que o protóxido, alumínio ou ferro. Um solo rico em sesquióxidos (Fe2O3
e Al2O3) tem altos teores de ferro e alumínio (Fe e Al).
39
Sistema físico-químico que contém duas fases, uma das quais, a fase dispersa está extremamente
subdividida e imersa na outra, a fase dispersora. As partículas da fase dispersa (micelas) podem ter
dimensões que variam aproximadamente entre 5 x 10-5 e 10-7 cm de diâmetro equivalente e se difunde com
extrema lentidão, como um gel.
40
A fração argila é mais estável à intemperização, apesar da maior superfície específica, porém não é muito
rica em macronutrientes na sua constituição.Apenas retém cátions e ânions em sua superfície.
42
PR OPR IEDADES DO SOLO E IN TER PR ETAÇÃO
41
Máfico, termo mnemônico lembrando magnésio e ferro; foi proposto para substituir outro criado com
o mesmo espírito mas menos eufônico: femag. Aplicado às rochas ígneas compostas principalmente de
minerais escuros ferromagnesianos; aplicado a esses minerais. O símbolo M é as vezes usado para indicar
minerais máficos e relacionados (biotita, anfibólios, piroxênios, olivinas, minerais opacos, epídoto, granada,
carbonatos primários etc.) (BATES & JACKSON, 1987).
42
Calcita, do latim calx, cal queimada (HURLBUT, 1971), nome dado por Haidinger (1845); do latim
chalcitis e grego khalkitis (BUENO, 1967).
43
Dolomita, nome dado em honra ao químico francês Deodato Gratel Dolomieu (1750-1801), seu
descobridor (BUENO, 1967; HURLBUT, 1971).
44
Apatita, do grego apatao, decepcionar, porque variedades de gemas foram confundidas com outros
minerais (BUENO, 1967; HURLBUT, 1971).
43
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES
45
Nesossilicato, do grego nesos, ilhas; silicatos sem oxigênios comuns entre os tetraedros. A ligação faz-
se por cátions como Mg e Fe, nas olivinas, ou Zr como no zircão ou zirconita. Por isso, variam dos mais
suscetíveis (olivina) aos mais resistentes à intemperização (zircão).
46
Sorossilicato, do grego soros, acúmulo, aglomerado; silicatos cujos tetraedros (SiO4) repartem um de
seus quatro átomos de oxigênio com um tetraedro vizinho; hemimorfita e epídoto são alguns dos minerais
deste grupo (BUENO, 1967; HURLBUT, 1971).
47
Inossilicato, do grego is, inos, fibra; silicatos em que cadeias simples juntam-se repartindo oxigênios em
tetraedros alternados (piroxênios); ou com cadeias duplas (anfibólios) em que metade dos tetraedros
repartem três oxigênios e a outra metade reparte apenas dois oxigênios.
48
Ciclossilicato, do grego kyklos, círculo; silicatos caracterizados pela ligação dos tetraedros em anéis
(berilo, cordierita, turmalina etc). São, pela estrutura, muito resistentes à alteração.
49
Tectossilicato, do grego tektos, derretido; silicatos em que todos os oxigênios, de cada tetraedro, são
repartidos com outros tetraedros; nos vazios entre os tetraedros alojam-se os cátions como K (feldspatos
potássicos), Na e Ca (plagioclásios calco-sódicos).
44
PR OPR IEDADES DO SOLO E IN TER PR ETAÇÃO
50
Zircão vem de palavras persas deformadas com o tempo; tsar (ouro) e gun (cor) (BETEJTIN, 1977); de
tsargun passou a zircon, em francês.
51
Turmalina vem do singalês toramalli (BUENO, 1967).
52
Biotita, palavra criada por Hausmann (1847) em homenagem ao físico Jean Baptiste Biot que pesquisou
vários ramos da física. Seus estudos sobre a polarização da luz formaram a base dos sacarímetros
modernos (BUENO, 1967; ENCYCLOPAEDIA BRITTANICA, 1970).
53
Em vez de muscovita, o nome deveria ser moscovita. No passado, placas de vidro de Moscou, depois
moscovita, eram exportadas de Moscou para o Ocidente (BETEJTIN, 1977); moscovita vem de Moscov
+ ita (BUENO, 1967).
45
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES
46
PR OPR IEDADES DO SOLO E IN TER PR ETAÇÃO
47
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES
48
PR OPR IEDADES DO SOLO E IN TER PR ETAÇÃO
ABSORÇÃO DE NUTRIENTES
PELAS PLANTAS
DO
SOLO
FASE SÓLIDA
MATÉRIA ORGÂNICA + +
MICRORGANISMOS MINERAIS
CHUVA + EVAPORAÇÃO
DRENAGEM
ADIÇÃO DE FERTILIZANTES
Figura 2.B O equilíbrio dinâmico que ocorre nos solos (LINDSAY, 1979).
49
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES
62
Duas fontes de energia movimentam os processos da Terra: a energia interna e a do Sol. Parte da energia
interna vem dos processos iniciais (acréscimo, o ajustamento das partículas; diferenciação dos núcleos e
desintegração radioativa) (OZIMA, 1991). A energia do Sol, por sua vez, vem de fonte nuclear.
50
PR OPR IEDADES DO SOLO E IN TER PR ETAÇÃO
Ciclo Geobioquímico
Para melhor compreensão do solo como componente do ecossistema, torna-
se válido um pequeno exercício de imaginação. Imagine uma rocha exposta:
organismos inferiores (liquens) como que colorem a superfície da massa rochosa,
onde uma série de processos bioquímicos está acontecendo; é a atuação do elemento
vivo sobre a massa inorgânica, é a recapitulação de um processo que marca o início
dos ecossistemas terrestres. Os compostos orgânicos atuam sobre os minerais da
rocha, rompendo a sua rede cristalina e liberando os nutrientes para um longo ciclo
- o ciclo geobioquímico. Nesse processo, extraordinariamente belo, a energia do
Sol, através dos organismos, atua sobre a massa inorgânica - é o início do processo
de formação do solo.
Os liquens, que já foram confundidos com musgos e hepáticas no passado, se formam por
uma associação de fungos (Ascomycetos, Corapavonium, Dictyonema) e algas (Cyanophyta e
Chlorophyta); essa associação, um consórcio ou simbiose, traz grandes vantagens: as algas fixam
nitrogênio do ar e realizam a fotossíntese, os fungos protegem, absorvem e retêm água e nutrientes.
Os liquens se dão bem nos ambientes inóspitos; dominam as tundras, onde servem de alimento
aos caribus, bois almiscarados e, principalmente, às renas. Essas pastagens têm baixo poder de
suporte, exigem um pousio de 35 a 38 anos, condicionando o nomadismo dos lapões que vivem da
rena; na Islândia e Groenlândia servem aos carneiros, gado e até mesmo diretamente ao homem.
Nas superfícies rochosas os liquens apresentam cores variadas: verde, cinzenta, amarela, bruna,
preta e vermelha. As cores são dadas pelas algas; as pretas são muito comuns no Sudeste do
Brasil, por exemplo; liquens vermelhos colorem freqüentemente materiais quartzosos do subárido
brasileiro. Os ácidos excretados, a absorção de cátions, desestruturando os cristais, e a expansão
e contração ajudam no intemperismo das rochas, propiciando condições aos musgos e outras
plantas (ENCYCLOPAEDIA..., 1970; WEBSTER S..., 1989).
63
A palavra alteração tem sido usada neste trabalho como sinônimo de intemperização, a transformação da
rocha em solo, ou em horizonte C. Não nos parece consistente a idéia de se reduzir pedogênese à formação
de horizontes A e B; neste sentido a classificação de Leptossolos, Arenossolos etc. da FAO/UNESCO
(1988) não estaria lidando com solo. Embora esse não seja o uso comum, a pedogênese tem sentido mais
amplo que intemperismo ou alteração; esses são apenas uma fase da pedogênese.
51
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES
64
Estádios serais ou sere, série de estádios numa sucessão ecológica (WEBSTER S..., 1989); começa pela
comunidade pioneira (acese), as primeiras espécies que se instalam numa região despovoada (ROCHA et
al., 1992) e termina na comunidade clímax, estável. Dependendo da natureza do meio inicial pode ser
xerossere, hidrossere e litossere para meios seco, de água e rochoso, respectivamente. Dependendo do
fator de maior influência no determinar o clímax têm-se clímaces climático, de fogo (piroclímax), edáfico.
Quando a comunidade inclui espécies estranhas a ela pela perturbação pelo homem ou animais tem-se
disclímax (clímax perturbado); as queimadas periódicas das pastagens provoca, por exemplo, um disclímax
pelo fogo (ACIESP, 1987).
52
PR OPR IEDADES DO SOLO E IN TER PR ETAÇÃO
2. lixiviados (lavados)65 para o lençol freático que vai alimentar as fontes de água,
riachos, rios e oceanos;
3. ficam na estrutura dos minerais da fração argila como componentes principais
ou como impurezas.
Os elementos essenciais para os organismos (macro e micronutrientes), estão
assim distribuídos:
1. presos à estrutura dos minerais ainda não intemperizados;
2. na solução do solo ou adsorvidos nas superfícies dos minerais da fração argila
ou da matéria orgânica;
3. absorvidos da solução do solo e distribuídos a toda a planta, e, portanto, ligados
ao ciclo orgânico;
4. levados em solução, na água que percola através do solo e alimenta as nascentes
e filetes de água, e que, por sua vez somados, constituem os córregos, rios e
oceanos.
Sendo a maioria dos elementos essenciais66 para as plantas absorvidos da solução
do solo ou das massas de água, compreende-se facilmente a importância do solo
como componente dos ecossistemas terrestres e como fonte originária dos nutrientes
encontrados nas águas, e que são fundamentais à manutenção dos ecossistemas
aquáticos.
Quanto mais intensa for a atuação dos organismos e do clima (bioclima),
maior será a energia empregada na liberação dos nutrientes da rede cristalina, na
remoção dos nutrientes da solução do solo para os oceanos e também na
transformação dos minerais secundários (minerais de argila) em outros mais
estáveis, de menor capacidade de troca catiônica e maior capacidade de adsorção
aniônica (principalmente caulinita, gibbsita, hematita e goethita, em diferentes
proporções).
65
Por intemperismo os minerais da rocha decompõem-se; nisso são formados novos minerais, mais
ajustados às novas condições. Esses minerais possuem, na sua estrutura, poucos nutrientes - os pontos
fracos por onde o intemperismo ataca. Os nutrientes liberados podem ficar adsorvidos nas cargas negativas,
até serem retirados por lixiviação, perfil abaixo. Há, essencialmente, dois processos distintos:
intemperização e lixiviação. A lixiviação depende da quantidade de água que se infiltra; a alteração depende
da atividade bioclimática, muito dependente da temperatura. Nos subtrópicos, Planalto Meridional do
Brasil, as temperaturas relativamente baixas reduzem o intemperismo a ponto de não compensar a alta
lixiviação pelo excedente hídrico. Podem, nesse caso, ocorrer solos ricos em minerais primários facilmente
intemperizáveis mas, pobres em nutrientes disponíveis.
66
Nutrientes essenciais são aqueles sem os quais a planta não pode viver: carbono, hidrogênio, oxigênio,
nitrogênio, potássio, fósforo, enxofre, cálcio, magnésio, ferro, boro, manganês, cobre, zinco, molibdênio
e cloro; alguns são essenciais para algumas plantas: cobalto, níquel, silício, sódio e vanádio. O homem e
outros animais necessitam de 15 dos 16 da primeira lista; apenas boro deixa de ser essencial (MILLER &
DONAHUE, 1990).
53
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES
2.2.2. Cor
A cor67 é uma das características mais fáceis de serem percebidas. Os principais
agentes pigmentantes, responsáveis pela cor dos solos, são a matéria orgânica e os
compostos de Fe. Esses pigmentos atuam, em geral, num fundo de cor branca, dado
pelos silicatos.
O Fe pode apresentar-se na forma reduzida, oxidada hidratada e oxidada
desidratada:
Fe(II) Fe(III) Fe(III)
CINZENTO AMARELO VERMELHO
FeOOH Fe2O3
Goethita (Gt)68 Hematita (Hm)69
De modo geral, a cor dos solos está relacionada com os seguintes aspectos:
drenagem, matéria orgânica, forma e conteúdo de ferro, fixação de fósforo e fertilidade
em geral.
Drenagem
Em condições de excesso de água o ambiente é de redução; nesta condição,
Fe(III) Fe(II) 70, a coloração tende a ser cinzenta (gleizada); é a tabatinga71,
presente sob a camada mais rica em matéria orgânica dos solos hidromórficos.
A cor cinzenta pode estar misturada com outras cores, apresentando-se, deste
modo, como mosqueada. Mesmo que o solo já não tenha mais excesso de água, as
cores gleizadas, em alguns casos, ainda permanecem.
A cor cinzenta está relacionada à ausência de ferro oxidado, Fe(III), isto é,
se as condições são suficientes para promover a redução total dos óxidos de ferro
(ou se o solo for tratado com substância capaz de reduzir todo o ferro), a massa do
solo terá uma coloração cinzenta, com ou sem a presença de ferro reduzido, Fe(II).
67
Várias tentativas foram feitas para se criar um sistema padrão de cores; A.H. Munsell, um artista de
Boston, foi quem idealizou o sistema mais usado, que veio se aperfeiçoando: Atlas do Sistema Munsell de
Cores (1915), Livro de Cores Munsell (1929). Em 1946, o Soil Survey Color Commitee do Departamento
de Agricultura dos Estados Unidos solicitou, e aprovou, a Carta de Cores de Solo Munsell com 264 cores,
de 7,5R a 5Y (preparada e distribuída pela Munsell Color Co., Inc.) (ENCYCLOPAEDIA , 1970;
JUDD & WYSZECKI, 1964).
68
Goethita, em homenagem a Johann Wolfgang Von Goethe (1749-1932), poeta, dramaturgo, novelista e
filósofo alemão (WEBSTER S..., 1989).
69
Hematita, do grego haima, atos, sangue (BUENO, 1967).
70
Fe(III) refere-se a compostos de Fe3+. O mesmo se aplica a Fe(II) e Fe2+.
71
Tabatinga, do tupi taba, casa, e tinga, branca, argila branca, barro branco. Teodoro Sampaio acha que seja
corruptela de tauá-tinga e tauá; é o mesmo que taguá, argila, barro (BUENO, 1987). O barro da tabatinga
é branco porque há ausência de pigmentos mais fortes (matéria orgânica, hematita e goethita): os silicatos
podem mostrar a sua cor. É comum o uso da tabatinga como se fosse caiação em casebres.
54
PR OPR IEDADES DO SOLO E IN TER PR ETAÇÃO
72
Estes exemplos já servem para ilustrar o fato importantíssimo de ser muito difícil os atributos se
relacionarem quando estão inclusos solos muito diferentes no conjunto de suas características.
73
As cores variam como um continuum entre amarelo e vermelho, formando uma faixa de indefinição entre
2,5YR (definitivamente vermelho) e 6,25 YR (amarelo). Quando se adiciona hematita num material
qualquer, de fundo branco, por exemplo, dado pela caulinita ou pelo quartzo, há, no início, grandes
mudanças de cor para cada pequeno acréscimo do pigmento; depois a cor tende a se estabilizar. Quanto
maior a área a colorir, mais difícil é a saturação: a argila requer mais hematita do que o silte; este mais do
que a areia fina; e esta mais do que a areia grossa.
55
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES
10R
2,5YR
Matiz
5YR
7,5YR
10YR
0 0,2 0,4 0,6 0,8 1
Hm/(Hm+Gt)
Figura 2.C Relação entre a hematita (Hm)/Hm + goethita (Gt) e o matiz úmido de
horizontes B de Latossolos do Sudeste e do Sul do Brasil - adaptado de Kämpf et al. (1988).
74
CNPS, Centro Nacional de Pesquisa de Solos, da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
(EMBRAPA), instituído em 1958 com o nome de Comissão de Solos, e depois muitos outros nomes, é
o grupo responsável, a nível nacional, pelo levantamento, classificação e correlação de solos. Essa equipe,
ao longo de muitos anos, e sob forte liderança, manteve um padrão de alta qualidade e consistência.
56
PR OPR IEDADES DO SOLO E IN TER PR ETAÇÃO
ALTO HEMATITA
Fe(III)
BAIXO GOETHITA
Hematita ou goethita = f [Fe(III) na solução do solo]
75
Informação inicialmente dada a um dos autores (MR) por U. Schwertmann, em comunicado pessoal
(1975).
76
Talvegue, do alemão thalweg, caminho do vale, linha divisória ao fundo de duas montanhas ou colinas
por onde correm as águas; linha que une os pontos mais fundos de um vale. É o oposto de crista.
57
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES
77
Alguns preferem que se use fixação , entre aspas, para ressaltar o aspecto de mobilidade (ainda que em
taxa muito lenta) de quase todo o P no solo.
78
Gibbsita, nome em homenagem a George Gibbs, mineralogista americano (WEBSTER S..., 1989);
também conhecida como hidrargilita, do grego hidro, água, e argilos, argila branca, descoberta nos Montes
Urais. A gibbsita aparentemente dificulta o arranjo da caulinita face a face: ela age como uma cunha,
desorganizando o arranjo das partículas.
79
A quantidade de fosfato adsorvida em cada mineral depende muito da superfície específica dele; quanto
maior sua superfície específica maior a adsorção deste ânion.
58
PR OPR IEDADES DO SOLO E IN TER PR ETAÇÃO
Fertilidade Geral
Como foi comentado, a cor pode fornecer indicações sobre o material de origem,
conteúdo de matéria orgânica, condições de drenagem e teores de óxidos de Fe (fixação
de P), dando idéia sobre a fertilidade geral do solo. Isso pode ser consubstanciado
num exemplo da região do Triângulo Mineiro, onde o Latossolo Roxo (Latossolo
Vermelho férrico) ao longo dos rios principais é distinguido, pela cor, dos outros solos
originários de materiais quimicamente mais pobres (nesse caso a vegetação e/ou a
atração pelo magneto também ajudam a distingui-lo).
Em várias partes do Brasil, intrusões de diabásio ou de anfibolitos (rochas
máficas) dão origem a solos de coloração vermelha mais escura do que os solos
circunvizinhos (desenvolvidos de gnaisse, por exemplo).
No entanto, a aplicabilidade dessas relações talvez seja mais útil no que se
refere a elementos-traço (Zn, Cu, Co) e fósforo total:
1. os solos mais vermelhos, mais ricos em óxidos de Fe, têm também, em geral,
maiores teores de elementos-traço e de fósforo total;
2. apesar da afinidade geral entre elementos-traço e Fe, em concreções80 tem-se
verificado (FONTES et al., 1985) haver melhor relação dos primeiros com o
teor de manganês. As concreções mais ricas em Mn (o que quer dizer, até onde
se conhece, em elementos-traço também) podem ser reconhecidas pela
coloração negra, evidente quando quebradas, o que é consubstanciado pela
efervescência com H2O2 (água oxigenada);
3. os solos desferrificados, como discutido no item referente à drenagem, são
pobres quanto aos elementos-traço mencionados. Pode-se ter uma idéia relativa
do teor de Fe (e de todas as suas implicações) baseando-se na facilidade de
desferrificação. Os cupins esbranquiçados (que refletem a cor da caulinita),
quando ocorrem em posições relativamente elevadas da paisagem, tendem a
indicar baixos teores de Fe no material de origem. Não é muito fácil encontrar
solo cinzento nas áreas de rochas basálticas. Há, nesse caso, muito Fe a ser
reduzido para que a cor cinzenta se expresse81.
80
Concreções, concentração local de um composto químico, por exemplo, óxidos de ferro, na forma de
grãos ou nódulos de vários tamanhos, formas e dureza (GLOSSARY..., 1973). Nas bordas dos chapadões,
ocorrem às vezes, formando grandes blocos. Essas concreções formam-se continuamente e não são, como
se supunha, exclusivas do Terciário. Seu uso como marcador estratigráfico pode, assim, levar a resultados
contraditórios.
81
Em alguns trechos das Zonas da Mata e Rio Doce, em MG, os terraços aluviais, apesar de terem estado
sob ambiente semilacustre, não foram desferrificados: os elevados teores de ferro dos solos das elevações
circunvizinhas (Latossolos Unas, atuais Latossolos Amarelos e Vermelho-Amarelos com teor de Fe2O3
entre 11 e 30%, em grande parte) contribuem para sedimentos mais ricos em ferro e maior dificuldade de
desferrificação.
59
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES
2.2.3. Textura
A parte inorgânica (sólida) do solo é constituída de partículas de diferentes
tamanhos: argila, silte e areia, as quais, em conjunto, constituem a fração terra fina
(<2mm) e cascalhos, calhaus e matacões.
A textura82 refere-se à proporção das frações argila, silte e areia (Tabela 2.E).
As frações maiores do que areia: cascalhos (2-20mm) são considerados como
elementos modificadores da classe textural quando presentes em quantidades
significativas ( 8%); já calhaus (20-200mm) e matacões (>200mm) constituem a
pedregosidade.
60
PR OPR IEDADES DO SOLO E IN TER PR ETAÇÃO
61
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES
2. da classe franca para os vértices, tem-se maior participação de cada uma das
frações:
FRANCO-ARGILOSA
FRANCA
FRANCO-ARENOSA FRANCO-SILTOSA
3. a fração argila, pela sua atividade, empresta seu nome a várias classes de textura,
isto é, das treze classes, sete apresentam a palavra argila ou argilosa na sua
denominação. Isso não acontece com qualquer das outras frações, a não ser
com a palavra franca (seis vezes), a qual não representa uma fração.
MUITO ARGILOSA
FRANCO-ARGILOSA
FRANCO-ARGILO-ARENOSA FRANCO-ARGILO-SILTOSA
FRANCA
62
PR OPR IEDADES DO SOLO E IN TER PR ETAÇÃO
85
É comum no nordeste subárido brasileiro, em terrenos cristalinos, em particular associados com os
Brunos Não Cálcicos (Luvissolos Crômicos), a presença de lençóis extensos de cascalhos quartzosos bem
arredondados. O quartzo só se arredonda por atrito; isso pressupõe transporte por água (ou gelo) a
grandes distâncias. No caso do Sertão é o registro de antigas paisagens, antigos rios, várias gerações deles.
Veios de quartzo na rocha original, que se estendia muitos metros acima da superfície atual, fornecem o
quartzo; o rio, pelo atrito, o arredonda; a erosão, ao longo dos milênios removendo as partículas mais
finas, concentra o material mais grosseiro.
63
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES
textura for média, e de 0,6, quando for argilosa ou muito argilosa, são utilizadas entre
outros parâmetros para distinguir Cambissolos (solos jovens) de Latossolos (os solos
mais velhos), caso as características morfológicas sejam semelhantes (EMBRAPA,
1988b).
Em solos que sofreram um profundo intemperismo há algumas ressalvas. Onde
a formação dos solos está tendo como substrato não a rocha inalterada, mas um
horizonte C já bastante intemperizado e lixiviado, o silte pode ter sido formado de
material estéril. Em grande parte do sudeste do Brasil, os solos com sólum (horizontes
A + B) estreito freqüentemente apresentam relação silte/argila elevada (> 0,7, por
exemplo), mas o silte é formado por flocos de caulinita86 (GOMES, 1976; PINTO,
1971; REZENDE, 1980). Nesse caso, os altos teores de silte não correspondem a
altos teores de minerais primários facilmente intemperizáveis.
Tendência a Encrostamento
A massa do solo, sob a ação do impacto das gotas de chuva e dos ciclos de
umedecimento e secagem, pode ter sua estrutura modificada, havendo o rearranjo
das partículas, provocando o aparecimento de uma camada superficial que tende a se
dispor em forma de lâminas, dificultando a infiltração de água e mesmo a emergência
de plântulas. A este fenômeno dá-se o nome de encrostamento.
A fração silte desempenha um papel muito importante no encrostamento
(LEMOS, 1956), sendo de se prever que solos mais ricos em silte tenham uma tendência
mais acentuada à sua ocorrência.
É comum, em muitos solos brasileiros, com bastante evidência nas áreas dos
cerrados e no Latossolo Roxo (Latossolo Vermelho férrico) do Triângulo Mineiro,
a formação de um pequeno encrostamento que dificulta a infiltração de água e a
emergência de plântulas, o que pode ter implicações na perda de água do solo na
forma de vapor e de erosão. Como os Latossolos são, por definição, pobres em
silte e sua fração argila tende a agregar-se, formando pequenos grânulos bem
individualizados, parece muito provável que estes estejam se comportando,
funcionalmente, com silte e areia muito fina (LIMA, 1995; LIMA et al., 1990;
RESENDE, 1985).
Desde que um dos métodos para evitar encrostamento é manter o terreno
coberto a maior parte do tempo, parece que o mesmo procedimento deve ser observado
também para as áreas de Latossolos. Isso é muito importante quando se trata de
determinadas forrageiras como o colonião, comumente mal manejadas em muitas
86
Pelo conhecimento dos autores, a primeira constatação de pseudomorfos de caulinita em solos brasileiros
foi feita por Pinto (1971) no horizonte Cr de Latossolos desenvolvidos de biotita-gnaisse da região de
Viçosa, MG. Os grandes cristais de caulinita, além de desenvolvidos diretamente da biotita, podem sê-lo
dos feldspatos (PARZANESE, 1991).
64
PR OPR IEDADES DO SOLO E IN TER PR ETAÇÃO
áreas do Brasil (uso de fogo e pisoteio excessivos), o que deixa o solo exposto,
favorecendo o encrostamento com todas as suas conseqüências indesejáveis.
Área Específica
À medida que o volume inicial de um corpo se subdivide, a área exposta aumenta.
Os fenômenos físico-químicos que ocorrem no solo são, na sua maioria,
fenômenos de superfície. As argilas, sendo as menores partículas do solo, principalmente
aquelas em estado coloidal, apresentam, assim, papel de máxima importância.
Pode-se, então, concluir:
1. quanto maior o teor de argila (para um mesmo tipo de argila) maior a área
específica do solo e maior a intensidade de fenômenos como retenção de água,
capacidade de troca, resistência à erosão e fixação de fósforo;
2. o tipo de argila, como pode ser verificado na Tabela 2.B, tem enorme influência
sobre a área específica e, assim, sobre as propriedades que com ela se
correlacionam.
2.2.4. Estrutura
As partículas primárias (argila, silte e areia) geralmente se encontram agrupadas,
formando unidades maiores (agregados), dando ao solo a sua estrutura (Tabela 2.F).
Se a massa do solo for coerente e não apresentar estrutura definida, diz-se que o solo
é maciço; ou com grãos simples, se a massa for solta.
As argilas silicatadas têm a forma de placas ou lâminas; e, por isso, tendem a
se ajustar, face a face, aumentando a coesão entre as placas e formando uma massa
compacta e impermeável. Os solos mais velhos e intemperizados (Latossolos), ricos
em gibbsita, ao contrário, apresentam-se como um material parecendo terra de formiga
ou pó de café: pequenos grânulos, soltos, deixando entre eles um grande espaço poroso.
Não há, neste caso, um arranjo face a face; a gibbsita dificulta esse arranjo, pois atua
como uma cunha, impedindo esse ajuste. Entre esses extremos, a terra poeirenta dos
Latossolos ou solos mais velhos, com partículas mais desorganizadas ao nível
microscópico, e a massa compacta, com o máximo de arranjo face a face, existem as
posições intermediárias; assim, as estruturas (blocos subangulares, blocos angulares,
prismas e colunas), dispõem-se refletindo esse grau de arranjo. As moléculas de matéria
orgânica desempenham aparentemente o mesmo papel. A ligação direta entre goethita
e moléculas orgânicas (FONTES, 1990) parece, neste aspecto, atuar semelhantemente
à gibbsita.
Uma estrutura formada de grânulos muito pequenos, como a do Latossolo Roxo
(Latossolo Vermelho férrico), que se apresenta com aparência de pó de café, é descrita,
às vezes, como tendo aspecto de maciça porosa. Essa é a estrutura típica dos
Latossolos.
65
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES
66
PR OPR IEDADES DO SOLO E IN TER PR ETAÇÃO
2. o excesso de sais tende a formar grânulos (como nos solos salinos) enquanto o
Na tem efeito oposto, tendendo a formar estrutura prismática ou, em geral,
colunar (como nos Solonétz Solodizados, atuais Planossolos Nátricos)87.
3. a expansão e contração de todo material mais ou menos rico em argila, quando
exposto a ciclos sucessivos de umedecimento e secagem em meio mais
conservador de umidade (ou mais favorecido por lixiviação oblíqua), tende a
destruir a estrutura granular, dando origem a estrutura em blocos, isto é, ocorre
uma deformação plástica dos agregados (EUA, 1967; MONIZ, 1980).
4. num Latossolo, a taxa de infiltração de água tende a ser maior no horizonte B
do que no horizonte A; o oposto ocorre quando a argila é mais ativa (o material
de solo se expande e contrai mais). Nesse caso, a matéria orgânica reduz a
expansão e a contração mais próximo à superfície, onde o efeito tende a ser
mais intenso.Em solos com argila mais ativa, portanto, a maior proporção de
macroporos, ou maior infiltração de água, encontra-se mais à superfície, ou no
horizonte A;
5. sendo a esfera o sólido que apresenta o mínimo de área exposta por unidade de
volume, e como o grânulo é a estrutura que mais se aproxima da esfera, conclui-
se: os materiais que apresentam estrutura granular tendem a ter o mínimo de
coerência entre os grânulos. Estes, se forem pequenos, podem ser facilmente
deslocáveis pela água, daí os Latossolos mais ricos em óxidos de Al e de Fe (os
Latossolos mais velhos) serem, ao contrário do que se apregoa normalmente,
de fácil erodibilidade quando submetidos a fluxo de água concentrado, a exemplo
de alguns Latossolos Roxos, atualmente Latossolos Vermelhos férricos. Isso
não é notado com maior freqüência porque tais solos tendem a ocorrer em
superfícies bem suaves (pequena declividade);
87
Solonetz, do russo sol, sal, e etz, fortemente expresso; solo com camada delgada e friável sobre camada
com estrutura colunar, escura, muito alcalina. Os Solonchaks (Gleissolos Sálicos), sol e chak, área salgada,
têm estrutura granular devido ao excesso de sais (solos salinos).
67
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES
2.2.5. Cerosidade
Às películas ou filmes de argila, partículas finíssimas que, trazidas dos horizontes
superficiais se deposita nas faces das unidades estruturais dos horizontes inferiores,
dá-se o nome de cerosidade. Podem também se formar por simples rearranjo de
material coloidal na superfície dos blocos ou prismas, devido à alternância de expansão
e contração do material de solo88.
Os Latossolos, solos mais intemperizados, mais ricos em óxidos de Fe e de Al,
geralmente mais pobres em nutrientes e mais profundos, via de regra não possuem
essas películas de argila, as quais constituem característica dos solos com horizonte B
textural (Bt).
Portanto, a cerosidade, aliada a outras informações, pode servir, dentro de certos
limites, para indicar a riqueza relativa de um solo em nutrientes (estádio de
intemperismo).
As raízes das plantas encontram algum obstáculo para penetrar nos agregados
quando há cerosidade. Essa película também influencia na difusão de alguns elementos
como P e K. Isto dá a esta característica uma grande importância, por causa das
possíveis implicações na absorção de nutrientes.
A cerosidade guarda relação com outras feições causadas por partículas finas.
Assim à semelhança das argilas, outras substâncias podem depositar-se, formando
películas que envolvem os agregados. Todos esses revestimentos recebem o nome de
cutãs (veja Capítulo 10). A cerosidade é o cutã argilã. Mangã, ferrã e orgã são os
revestimentos de compostos de manganês, ferro e matéria orgânica, respectivamente.
A cerosidade leva milênios para se formar (EUA, 1967).
Assim como conclusões têm-se:
1. os blocos, através da contração (quando o solo está secando), tendem a se
separar uns dos outros, sempre no mesmo lugar. A cerosidade é, portanto, a
resultante de um processo cumulativo;
88
A importância dos ciclos de umedecimento e secagem, favorecendo a formação da cerosidade e da
estrutura, é reconhecida desde as primeiras edições internas da Soil Taxonomy, por exemplo Supplement
to Soil Classification System; 7th Approximation (EUA, 1967).
68
PR OPR IEDADES DO SOLO E IN TER PR ETAÇÃO
2.2.6. Porosidade
Todo solo possui poros, mas seu número, tamanho, distribuição e continuidade
são variáveis conforme o solo.
Ao se examinar o solo com atenção, principalmente quando com o auxílio de
uma lupa, percebe-se que existem pequenos vazios naquela massa. Ao se adicionar
água, esta se infiltra com maior ou menor rapidez devido à presença desses vazios ou
poros do solo.
Os poros do solo são divididos em duas classes: microporos e macroporos,
menores e maiores do que cerca de 0,05 mm de diâmetro, respectivamente. Assim, é
de se esperar que um solo argiloso (muitas partículas < 0,002 mm) apresente grande
microporosidade; um solo arenoso (muitas partículas > 0,05 mm) apresente grande
macroporosidade. Porém a estrutura do solo tem influência marcante na distribuição
do tamanho de poros.
Como visto anteriormente, as partículas primárias (argila, silte e areia) podem
agregar-se formando unidades maiores, de cuja forma, tamanho e organização irá
depender também a configuração do espaço poroso do solo.
69
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES
89
Estas generalizações são baseadas nos trabalhos de Almeida (1979), Ernesto Sobrinho (1979) e Fernandes
et al. (1978).
90
Puddlagem refere-se à camada de menor permeabilidade formada pela orientação das argilas, sob a ação
de implementos agrícolas, em solos trabalhados quando os teores de água são muito elevados.
70
PR OPR IEDADES DO SOLO E IN TER PR ETAÇÃO
Figura 2.E Solo antes (a) e depois de compactado (b), mostrando redução dos
poros maiores, melhorando a condução de água (e nutrientes) até às raízes.
Como sempre acontece em sistemas naturais, é preciso cautela para que não
ocorram os efeitos contrários. Se a compactação for muito intensa, começa a atuar
todo um conjunto de fatores adversos: menor infiltração de água, maior erosão, menor
91
Isso faz com que a condutividade hidráulica não saturada (ou condutividade capilar), embora muito alta
no início (após saturação pela água da chuva, por exemplo), caia bruscamente em cerca de 2 semanas, a
valores de apenas 0,3 mm/dia (SANS, 1986). A deficiência hídrica nesses solos só não é maior pela grande
profundidade efetiva das raízes das plantas perenes; e, talvez, pelo acentuado desenvolvimento das raízes
profundas na época seca.
71
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES
92
O oxigênio livre é essencial para o funcionamento de raízes. Plantas tolerantes a lugares encharcados
possuem estruturas especiais capazes de conduzir oxigênio do ar às raízes. Assim, é comum nos solos
cinzentos a presença de cores de ferrugem (dadas pelos óxidos de ferro: goethita, ferrihidrita), ao longo das
raízes. As raízes do buriti parecem ter grande habilidade neste aspecto. Quando mortas funcionam como
importantes condutores de água e ar. Fluxos intensos de água, numa taxa incomum para solos hidromórficos,
foram observados em muitas raízes de buriti, no Sudoeste da Bahia (COUTO et al., 1985).
72
PR OPR IEDADES DO SOLO E IN TER PR ETAÇÃO
2.2.7. Consistência
A manifestação das forças de coesão (atração das partículas entre si) e de adesão
(atração das partículas por um outro corpo), sob várias condições de umidade, determina
a consistência do solo. A consistência do solo tem implicações diretas no seu manejo.
Solos muito plásticos e muito pegajosos, como os Vertissolos, apenas podem ser trabalhados
(arados, gradeados etc.) em amplitude estreita de umidade. Em solos mais plásticos e
mais pegajosos, de lugares mal drenados93 (agora ou originalmente) deve-se ter mais
cuidado com o conteúdo de água no solo por ocasião dos trabalhos de manejo, a fim
de evitar dificuldades no seu preparo e a puddlagem. Os Latossolos, por outro lado,
podem ser trabalhados em maior amplitude de umidade. (Figura 2.G).
Latossolos
93
Os solos podem ser dispostos numa seqüência de drenagem, de excessivamente drenados (D1) de um
lado, a muito mal drenados (D8) de outro. D1, D2, D3 e D4 classificados como excessivamente, fortemente,
acentuadamente e bem drenados, respectivamente, são de boa drenagem, conhecidos genericamente como
bem drenados. D8, D7 e D6, respectivamente como, muito mal, mal e imperfeitamente drenados, são
considerados em geral como de drenagem deficiente: os mal drenados. Entre esses dois grupos estão os
moderadamente drenados (D5).
73
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES
Tabela 2.G Relações gerais entre organização microscópica das partículas de argila,
condições em que ocorrem e seu efeito na consistência.
Organização
Partículas bem organizadas, aumento de coesão e Partículas mal organizadas, diminuição de coesão e
adesão adesão
Agentes
Compressão Presença de altos teores de óxidos de Al, de Fe e de
Uso de máquinas, tendo o solo elevado teor de matéria orgânica
água Argila com baixa área específica (caulinita)
Argila com alta área específica
Ciclos de expansão-contração
Condições em que ocorrem com freqüência
Solos desferrificados, cinzentos, pobres em Solos de natureza latossólica
matéria orgânica Solos com altos teores de matéria orgânica e cálcio
Solos menos intemperizados, pobres em matéria
orgânica
Efeitos na consistência
Aumento de dureza, plasticidade e pegajosidade Aumento de friabilidade
94
Exames micromorfológicos de alguns Latossolos (LIMA, 1988) revelam a existência de agregados
pequenos, micropeds arredondados de menos de 1 mm de diâmetro, podendo estar bem delimitados nos
Latossolos mais gibbsíticos ou aglutinando-se em micropeds e peds maiores; alguns Latossolos, como o
Latossolo Amarelo (Latossolo Amarelo distrocoeso) e o Latossolo Bruno não apresentaram os micropeds
individualizados.
95
A consistência do solo quando seco, reflete o ajuste face a face; é, assim, um importante indicador das
condições do material (mais do que a friabilidade, possivelmente).
74
PR OPR IEDADES DO SOLO E IN TER PR ETAÇÃO
97
Em solos formados sob condições de excesso de água, ou seja, falta de oxigênio, há perda de Fe do
sistema. O Fe(III) é reduzido a Fe(II), que é mais solúvel e removido com facilidade. Com o aquecimento
do tijolo, todas as formas de Fe presentes passam à hematita, que, mesmo em pequenas quantidades, dá
cor vermelha. Quando os teores de hematita são muito baixos, os tijolos são róseos. Quando não há
hematita, os tijolos são amarelos ou cinzentos.
98
Neste caso, esse material tem sido usado para cerâmica mais refinada.
75
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES
2.2.8. Cimentação
A consistência, tratada anteriormente, pressupõe, até certo ponto, ausência de
qualquer agente cimentante entre partículas, o que significa que os torrões se
desmancham rapidamente na água. Quando existe algum agente cimentante (e, neste
caso, os torrões não se desmancham na água), dá-se o nome de cimentação.
As camadas cimentadas têm o nome genérico de pan, em inglês e, no Brasil,
pã (Tabela 2.H). Como os pãs têm, como comportamento típico, a restrição à
movimentação de água e à penetração de raízes, esse termo tem sido também aplicado
a horizontes que não têm, necessariamente, qualquer agente cimentante, mas que têm
comportamento, quanto à água e raízes, semelhante ao dos pãs típicos. Assim, horizontes
B argilosos, contrastantes com horizontes A bastante arenosos, têm sido chamados
argipãs99 (claypans). Os argipãs possuem camada subsuperficial densa, com teor de
argila muito mais alto que o material suprajacente, do qual está separada por um limite
abrupto. Há acúmulo de argila e a estrutura é prismática ou em blocos. Nesse tipo de
pã existe enorme dificuldade de penetração de raízes e de água nos horizontes
subsuperficiais, devido a sua elevada densidade aparente e à grande plasticidade.
Pode ser horizonte genético ou não. Possui argila 2:1 e também 1:1. É comum em
Planossolos, Solonetz-Solodizados (Planossolos Nátricos) e solos com descontinuidade
litológica. Estes pãs ocorrem nos Planossolos do RS e do NE brasileiro (Planossolos e
solos com B nátrico, atual B plânico com Na+ elevado).
76
PR OPR IEDADES DO SOLO E IN TER PR ETAÇÃO
2.2.9. Pedoclima
As plantas absorvem água do solo. O arejamento no ambiente das raízes é
fundamental para muitos dos processos que interessam à planta. Todavia as condições
de água, ar e temperatura no solo não podem ser previstas só pelas condições climáticas
atmosféricas. Dependendo do lençol freático, existem solos com excesso de água,
100
Canga, vem de tapiocanga (itapanhoacanga?), variação de tapunhunacanga, do tupi ta pui una a kãga,
cabeça-de-negro (FERREIRA, 1975); crosta ferruginosa ou petroplíntica.
101
Duripã, do latim durus mais pã, do inglês pan com o significado geral de camada de baixa permeabilidade;
sinônimo de durimperme.
77
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES
mesmo em regiões desérticas. Por sua vez, a água das chuvas não se infiltra igualmente
em toda a extensão do terreno.
Numa macroescala pode-se generalizar o pedoclima com base nas condições
climáticas das regiões. No entanto, no Brasil, os técnicos do Serviço Nacional de
Levantamento e Conservação de Solos (SNLCS, atualmente CNPS) têm usado, já há
muitos anos, as chamadas fases de vegetação original para caracterizar o pedoclima.
Essas fases102de vegetação original, indicam, porém, várias outras propriedades
importantes, dentre as quais se destacam a fertilidade do solo, o arejamento (drenagem),
a vegetação clímax (que é muito importante, principalmente na agricultura nômade).
Fases de vegetação
As principais províncias vegetacionais em nosso país podem ser visualizadas
na Figura 2.H. Nos levantamentos de solos essas províncias são bastante subdivididas,
para dar melhores indicações sobre as condições ecológicas do solo.
102
A fase é uma informação adicional ao nome do solo principal, ou de cada solo componente, de uma
unidade de mapeamento (representação das classes de solo que ocorrem em uma ou mais áreas delimitadas
em um mapa pedológico e identificadas por um mesmo símbolo) para ajudar na interpretação para vários
usos agrícolas e não agrícolas.
78
PR OPR IEDADES DO SOLO E IN TER PR ETAÇÃO
103
Cerrado vem, aparentemente, de campo cerrado para indicar campo com algo mais além da vegetação
rasteira, tipicamente campestre; passou a designar quase todas as expressões na gradação: campo limpo,
campo sujo, campo cerrado, cerrado arbóreo arbustivo e cerradão ou mata xeromórfica. Em função
principalmente da densidade, porte e maior ou menor presença de estrato graminóide e as covariações
destas características com a composição florística, o cerrado (nome genérico) é dividido em: cerradão
(mata xeromórfica), árvores de porte maior e menos tortuosas, vegetação graminóide reduzida; cerrado
arbóreo-arbustivo (cerrado propriamente dito), vegetação de gramíneas também reduzida; campo cerrado,
árvores e arvoretas tortuosas esparsas, entremeadas por gramíneas rasteiras que secam na época de
estiagem; campo sujo, arvoretas e arbustos misturados com vegetação de gramíneas, freqüentemente
barba-de-bode; e campo limpo, domínio quase absoluto de vegetação rasteira, principalmente gramíneas
(RESENDE, 1978).
104
Hidrófila (ávida por água); higrófila (vive em lugares úmidos); perúmida (precipitação >
evapotranspiração potencial durante todos os meses do ano); perenifólia (ausência de estação seca
marcante); subperenifólia (estação seca de aproximadamente 2-3 meses); subcaducifólia (estação seca de
3-5 meses); caducifólia (estação seca de 5-7 meses).
105
O uso do nome estepe para a vegetação de caatinga (como fez Drude, citado por ANDRADE-LIMA
(s.d.); e, mais recentemente, VELLOSO & GOES-FILHO (1982)) não parece muito apropriado nem pelo
dicionário, nem pelo testemunho de algumas autoridades incontestes. Dárdano de Andrade-Lima, que foi
dos maiores conhecedores das caatingas e da flora brasileira como um todo, diz: caatingas não podem ser
classificadas como estepe .
79
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES
80
PR OPR IEDADES DO SOLO E IN TER PR ETAÇÃO
2.2.10. Pedoforma
O solo é um corpo tridimensional. Como tal possui uma forma externa que vem
a ser a sua topografia (pedoforma). Ao lado da cor, a pedoforma é a característica
mais facilmente visível do solo, isto é, a pedoforma e a cor constituem os elementos
normais de relação entre o homem e o solo. Isto oferece mais interesse do que pode
parecer à primeira vista. A pedoforma é uma característica da pedopaisagem. Um
trecho de chapadão e de um terraço fluvial podem ter a mesma pedoforma mas são
duas pedopaisagens muito distintas.
As relações entre a pedoforma e algumas outras propriedades do solo já foram
estudadas anteriormente. O fator tempo, por exemplo, está muito relacionado com a
evolução do relevo. As grandes chapadas (áreas altas e de pedoforma suave) possuem,
em geral, os solos mais velhos. Os solos mais jovens (com todas as suas implicações)
situam-se nas partes mais rejuvenescidas da paisagem, apresentando um relevo mais
acidentado. Aí a erosão geológica, natural, é muito mais acelerada; a vida média de
exposição do material do solo é relativamente pequena, isto é, o material é removido
81
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES
Implicações
Sendo C-P- a forma típica dos Latossolos, isto parece indicar ser essa a forma
de equilíbrio. A área de exposição de uma esfera é a menor possível. Todos os corpos
tendem a reduzir sua área de exposição: da gota de água aos astros, a forma esférica
106
Semi, em latim, metade, meio, não parece apropriado para designar regiões semi-áridas; melhor seria
subáridas, à semelhança de subtropical, e, mutatis mutandis, subcaducifólia, em vez de semi-caducifólia,
subperenifólia, em vez de semiperenifólia.
82
PR OPR IEDADES DO SOLO E IN TER PR ETAÇÃO
- o +
107
Ravinas, provavelmente de rava, despenhadeiro, desbarrancamento, de uso na toponímia dos Alpes
(BUENO, 1967). Há duas acepções: escavação provocada pela enxurrada, barranco; ou pequena depressão
estreita e profunda, menor do que um cânion e maior do que um sulco. Ravinas podem ser vistas como
linhas de drenagem nas encostas, que são cobertas por vegetação, em contraste com as voçorocas, sem
vegetação.
108
Uma superfície ravinada concentra a água em canaletas, drenando rapidamente outros locais, o que
diminui a infiltração, aumentando a erosão.
109
Imagine uma manilha na posição vertical, cortada longitudinalmente ao meio: a parte externa corresponde
à forma C-Po e a parte interna a C+Po. Uma bola de borracha, cortada ao meio, mostra externamente C-P-
e internamente C+P+.
83
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES
Figura 2.J Contraste entre as formas do barranco exposto de solos com horizonte
B textural e de Latossolos.
84
PR OPR IEDADES DO SOLO E IN TER PR ETAÇÃO
2.3. Bibliografia
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PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES
90
MATÉRIA ORGÂNICA E SEUS COMPONENTES
3
MATÉRIA ORGÂNICA E SEUS COMPONENTES
A matéria orgânica do solo tem sido definida como a fração orgânica, incluindo
resíduos (frescos e em todos os estádios de decomposição) de plantas, animais e
micróbios e o húmus relativamente estável (NELSON & SOMMERS, 1982).
Entretanto, a matéria orgânica do solo, em análises de rotina, inclui somente aqueles
materiais orgânicos que acompanham as partículas do solo através de uma peneira
de malha de 2 mm, ou seja, aqueles presentes na terra fina (TF).
É difícil determinar o teor de matéria orgânica presente no solo. A análise do
carbono tem sido usada, mas os teores de carbono na matéria orgânica variam bastante
entre um solo e outro e, num mesmo solo, decrescem com a profundidade. Sua própria
constituição é variável ao longo do perfil (a relação C/N, por exemplo, tende a decrescer,
em profundidade). Na prática, os resultados têm sido expressos em proporção relativa
a TF (g kg-1), ou em percentagem de carbono ou, o que é menos aconselhável, admite-
se que toda a matéria orgânica do solo tem 58% de carbono (isso corresponde ao
fator 1,724 de Van Bemmelen). Os fatores 2,5 e 1,9 têm sido sugeridos como mais
apropriados para os horizontes superficiais e subsuperficiais, respectivamente
(BROADBENT, 1953; NELSON & SOMMERS, 1982).
91
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES
ÁCIDO HÚMICO
HUMINA
Figura 3.A Esquema mostrando separação das frações húmicas pela solubilidade
ou não em bases e ácidos. Na horizontal há solubilidade; na vertical, precipitação.
Região Climática
Elemento Subtropical Tropical
(%) AH AF AH AF
111
Ácido fúlvico, do latim fulvus, amarelo, louro, cor de ouro, de bronze; matéria orgânica de composição
indefinida, solúvel em solução alcalina, e que permanece em solução quando acidificada. A cor escura de
alguns rios brasileiros, como o rio Negro (Amazônia), rio Taquari (Pantanal) e os rios de restinga, é dada
pelo ácido fúlvico. A água desses locais, vista de perto, tem cor amarelo ocre .
92
M A TÉR I A OR GÂ N I CA E S EUS COM PON EN T ES
112
As plantas C4, como muitas gramíneas tropicais (cana-de-açúcar, por exemplo) têm um conteúdo de
13
C maior do que as plantas C3 (leguminosas em geral). Isso permite estudar a evolução da matéria
orgânica no solo; isto é, saber de que grupo de plantas vem o carbono (CERRI, 1986).
113
A matéria orgânica do solo interage com as partículas de argila. Parece razoável o modelo de que as
moléculas, interagindo mais com as argilas, permanecem mais tempo, antes de se decomporem. As mais
afastadas, mais livres, decompõem-se mais rapidamente: têm uma vida média menor.
93
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES
114
Alguns lugares como a lagoa Suruaca, no Espírito Santo, possuem muitos Solos Orgânicos (Organossolos),
com A proeminente. O Pantanal e a lagoa Suruaca têm, em comum, a deficiência de drenagem mais acentuada
em determinada época do ano. A intensidade e permanência do encharcamento é diferente: no Pantanal, a
variação do nível da água é muito acentuada, há alternância pronunciada entre excesso e deficiência da água.
As águas são mais arejadas e mais ricas em nutrientes; não há grande acúmulo de matéria orgânica; os solos
tendem a ser mais ricos. Na grande área do delta fluviomarinho do rio Doce o substrato inorgânico é, em geral,
muito pobre, podendo ser até tiomórfico (contém quantidades elevadas de sulfitos e sulfatos).
94
M A TÉR I A OR GÂ N I CA E S EUS COM PON EN T ES
95
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97
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES
98
ORGANISMOS DOS SOLO
4
ORGANISMOS DO SOLO
116
Térmitas, formigas, minhocas e minhocuçus são importantes. A maior significância de cada um é local.
As térmitas ou cupins não são muito importantes no subárido brasileiro, que nisso difere das savanas
africanas; os minhocuçus são particularmente expressivos em alguns Latossolos sob cerrado, em Minas;
os campos de cupinzeiros, em particular nos Latossolos ricos em matéria orgânica, evidenciam a importância
dos termiteiros; as formigas, localmente, mostram-se muito ativas.
99
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES
117
Actinomicetos são relacionados às bactérias e aos fungos; assemelham-se aos fungos na forma de
micélio ramificado e às bactérias, quando quebrados. Produzem muitos antibióticos: estreptomicina,
aureomicina, terramicina e neomicina. Atuam na decomposição da matéria orgânica e secretam substâncias
que estabilizam a estrutura do solo. Fixam N simbioticamente com sete famílias de plantas superiores
diferentes, nisso diferem do rizóbio quase exclusivo das leguminosas. Dão-se melhor nos solos ricos em
matéria orgânica fresca e em solo neutro ou ligeiramente ácido (MILLER & DONAHUE, 1990).
118
Nematóides: vermes não segmentados; podem viver principalmente da matéria orgânica do solo, os
mais comuns (onívoros). São predadores de bactérias, fungos, algas e até de outros nematóides; infestam
raízes, produzindo galhas (parasitas). A entrada dos nematóides nas plantas facilita a entrada de outros
patógenos.
119
A datação pelo 14C é baseada no princípio de que raios cósmicos produzem na atmosfera pequenas
quantidades de 14C; este faz parte do CO2 que os organismos absorvem. Com a morte destes, a
radioatividade do 14C decresce exponencialmente com o tempo. Depois de 5730 anos, período de meia
vida, resta apenas a metade do 14C inicial; depois de 3 x 5730 anos, 17190 anos, um oitavo e assim por
diante, de acordo com a expressão t = -8267 lnp, onde p = razão entre atividades de 14C da amostra e
de um material contemporâneo, ln = logaritmo neperiano e t = idade da amostra. A possibilidade de
datação pelo 14C vai até cerca de 70 mil anos.
100
OR GA N I S M OS DOS S OL O
120
Enzimas, do grego enzymos, levedo; substâncias orgânicas que se originam de células vivas e são
capazes de produzir certas reações químicas por ação catalítica; isto é, o catalisador acelera a reação
química, mas não é permanentemente afetado pela reação (WEBSTER, 1989), as enzimas são os
catalizadores dessas reações. Exemplos de algumas enzimas e suas funções: celulase quebra a celulose,
importante na decomposição da matéria orgânica; urease decompõe uréia; fosfatase libera H3PO4 da
matéria orgânica; sulfatase libera S da matéria orgânica; protease libera aminoácidos (MILLER &
DONAHUE, 1990).
101
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES
121
A quantidade de elétrons disponíveis no solo, expressa em Eh ou pe (à semelhança do pH, usado para
quantificar os átomos de hidrogênio),indica o potencial de oxirredução. Ao se decompor, a matéria
orgânica libera elétrons, esses elétrons são recepcionados pelo oxigênio, o grande oxidante da natureza,
que se reduz ao recebê-los. Nos solos de drenagem deficiente, encharcados, o oxigênio disponível esgota-
se logo. Os próximos oxidantes, substituindo o oxigênio na recepção de elétrons, são nitratos e alguns
compostos de manganês; quando estes se esgotam, e fazem-no rapidamente, pois em geral existem em
pequena quantidade, o ferro de valência 3,presente na estrutura dos óxidos de Fe (goethita e hematita),
passa a ser o recepcionador de elétrons e se reduz, passando de Fe(III) para Fe(II), dando a cor cinzenta
das tabatingas.
102
OR GA N I S M OS DOS S OL O
103
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES
104
OR GA N I S M OS DOS S OL O
124
Refere-se às cabeceiras de cursos d água, formando vales abertos que caracterizam o início das veredas
típicas das chapadas no interior brasileiro.
125
Quando se formou o Grupo Barreiras, o Brasil já estava separado da África; mas antes da deposição
dos sedimentos que dariam origem ao Barreiras, foram formadas ao longo das costas dos antigos continentes
sul-americano e africano, bacias de deposição cretáceas, hoje em grande parte submersas, e onde está o
petróleo brasileiro. Ou seja, abaixo do Grupo Barreiras. A deposição do Barreiras deu-se antes do Holoceno,
em pleno período das glaciações; o nível do mar estava mais baixo e isso propiciou uma erosão acentuada
do continente.
105
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES
106
OR GA N I S M OS DOS S OL O
126
Nos murundus associados com solos de boa drenagem da Mata da Jaíba, Norte de Minas, a baixa
permeabilidade superficial deles e sua forma declivosa criam uma acentuada aridez local, indicada pela
maior incidência de cactáceas; e, em alguns casos, pela presença de carbonato de cálcio livre no centro do
murundu, apesar de o solo, como um todo, ser distrófico.
107
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES
127
Os números 4-6 estão indicando que o croma pode variar de 4 a 6, incluindo os extremos.
108
OR GA N I S M OS DOS S OL O
DEPRESSÕES COBERTAS
POR GRAMÍNEAS
CAMPO LIMPO E
CAMPOS DE MURUNDUS
109
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES
110
OR GA N I S M OS DOS S OL O
111
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES
talvegue, pode-se facilmente aderir à hipótese de uma gênese por erosão diferencial.
Isto porque além desses murundus apresentarem uma grande uniformidade entre
si, sua estrutura interna é simples e comparável àquela do Latossolo vizinho
(CORRÊA, 1989).
Por outro lado, essa hipótese não parece adequada às observações e estudos
sobre esses microrrelevos em depressões fechadas, efetuados na região de São Gotardo
(MG) por Corrêa (1989). Eles aí aparecem claramente como construções, no interior
das quais são visíveis numerosos fragmentos de termiteiros (Figura 4.F).
112
OR GA N I S M OS DOS S OL O
Outro fato que não se ajusta a uma dinâmica de erosão diferencial é o fenômeno
de coalescência dos murundus existentes nas zonas onde este microrrelevo é mais
irregular. Este ponto será discutido mais adiante.
Nesta mesma ordem de raciocínio, pode-se interrogar sobre a ausência de
montículos nas zonas de ressurgência permanente, que aparecem, às vezes, no interior
de certos campos de murundus ou sistematicamente no segmento de vertente situado
imediatamente abaixo dessas formações, igualmente afetado por ressurgências
permanentes do lençol freático. Tais segmentos, em razão da permanência do fluxo
d água, produzindo um escoamento superficial considerável, deveriam também ser
mais erodidos que o resto da vertente. No entanto, estas zonas estão em continuidade
regular com a superfície entre os murundus adjacentes sem haver qualquer variação
textural diferenciando segmentos da vertente (CORRÊA, 1989).
Enfim, provavelmente o maior argumento contra a hipótese de uma gênese por
erosão diferencial é o fato dessa teoria não permitir explicar a existência de murundus
no interior de depressões fechadas (bem exemplificada na região de São Gotardo -
MG) onde, no entanto, esse microrrelevo tende a ser bem mais desenvolvido do que
sobre as vertentes de vales tipo vereda.
Por outro lado, contrariamente à interpretação de Furley (1985, 1986), a
existência de canais de escoamento de água, de caráter intermitente, que existem
entre murundus, parece ser a conseqüência e não a causa desse microrrelevo, pois as
águas de escoamento superficial tendem naturalmente a se concentrar entre os
montículos. Além disso, o aprofundamento de canais, que pode ser observado em
campos de murundus sobre vertentes, parece ter sua origem essencialmente no pisoteio
de bovinos e não no simples escoamento das águas de superfície. Tal aprofundamento
é, nesse caso, facilitado pela umidade do solo resultante da emergência de água entre
os murundus.
Nos trabalhos que tratam da origem de tais microrrelevos, qualquer que
seja a hipótese considerada, aquela da erosão diferencial ou a hipótese biológica,
dois fatos essenciais, sempre mencionados, vão de encontro às observações aqui
expostas:
a) a ocupação praticamente sistemática dos murundus por termiteiros;
b) a associação estrita desse microrrelevo com certas condições mesológicas
específicas, mais particularmente com aquelas caracterizadas por um
hidromorfismo temporário, condicionando a existência de uma vegetação
herbácea.
Ora, esses fatos não parecem independentes uns dos outros, e podem mesmo
ser relacionados com a morfologia externa dos murundus e com sua organização
interna.
113
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES
114
OR GA N I S M OS DOS S OL O
115
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES
116
OR GA N I S M OS DOS S OL O
Gênese
1. Inicialmente, algumas espécies de térmitas, capazes de se instalar sobre terrenos
submetidos a um forte hidromorfismo temporário, constroem termiteiros fixados
em tufos de gramíneas.
2. Após o abandono e desmantelamento desses termiteiros pioneiros, persiste um
substrato. Este vai servir de base a um novo termiteiro que, por sua vez, também
sucumbirá à ação de predadores e, assim, seus materiais constitutivos passam
a contribuir para o alargamento do substrato inicial. Posteriormente outras
gerações de térmitas repetem o ciclo.
3. Essa dinâmica é responsável pela origem dos montículos ainda incipientes.
Espécies de térmitas pertencentes aos gêneros Nasutitermes e Armitermes,
cujos termiteiros foram observados, respectivamente, sobre esses montículos
iniciais ou fixados a tufos de gramíneas (CORRÊA, 1989), estão provavelmente
relacionados com a origem desses montículos ainda relativamente simples.
4. A partir da formação desses montículos, outras espécies de térmitas encontram
aí condições de se instalar, participando conseqüentemente da ampliação do
murundu. Os termiteiros sobre esses montículos são de aspecto variado, o que
revela uma certa pluralidade de espécies construtoras. A atividade biológica, no
seu conjunto faunístico e vegetal, diversifica-se gradativamente sobre esses
locais elevados, que constituem refúgios ecológicos em um meio hostil, ao menos
temporariamente, em razão da periodicidade das inundações.
117
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES
118
OR GA N I S M OS DOS S OL O
4.3. Bibliografia
ABREU, R. M. Catanduva: um problema no norte de Minas. Viçosa: UFV, 1981. 8 p.
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BOYER, J. Propriedades dos solos e fertilidade. Salvador: UFBA, 1971. 196 p. (Programa de
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BRADY, N. C. The nature and properties of soils. 8. ed. New York: MacMillan, 1974. 639 p.
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122
GÊNESE – ASPECTOS GERAIS
5
GÊNESE – ASPECTOS GERAIS
123
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES
5.1. Processos
Na formação dos solos ocorrem reações físicas, químicas e biológicas que
determinam os diferentes horizontes com suas características peculiares.
Há uma tendência de se expressar o desenvolvimento do solo em termos de
quatro processos primordiais (Tabela 5.A).
124
GÊNESE ASPECTOS GER AIS
Pradaria Floresta
(gramínea)
Podzolização
Podzolização
Calcificação e Hidromorfismo Halomorfismo
Latolização
Latolização
Quente Quente
e e
seco úmido
125
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES
131
Os solos Aluviais (Neossolos Flúvicos) também podem apresentar (como os Podzóis, atuais
Espodossolos), camadas subsuperficiais ricas em matéria orgânica; mas nesse caso ela não é translocada.
Os solos Aluviais (Neossolos Flúvicos) são formados de sedimentos depositados pelo rio (depósitos
aluviais ou aluviões). A cada ano, ou no intervalo de alguns anos, novas camadas cobrem as anteriores, às
vezes enterrando algumas plantas pioneiras, quando o intervalo entre deposições permite. A distribuição
de matéria orgânica, em profundidade, nesses solos é irregular, registrando esses eventos.
132
A presença de conchas calcárias, mergulhadas em alguns locais na areia das restingas, pode originar
Podzóis (Espodossolos) até eutróficos (GOMES et al., 1998). Arenitos arcozianos, em São Paulo,
também têm originado Podzóis (Espodossolos) eutróficos (MONIZ et al., 1995).
133
O fato de se identificar o horizonte B textural, pela sua relação com o horizonte A, ilustra a importância
do contexto - um princípio chave para o entendimento e interpretações pedológicas.
126
GÊNESE ASPECTOS GER AIS
127
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES
135
Os solos carbonáticos, no Brasil, não são muito comuns. Oliveira et al. (1992) registram o horizonte
cálcico em Brunizéns (Chernossolos), Vertissolos, Planossolos e Litólicos (Neossolos Litólicos) do Rio
Grande do Sul e Mato Grosso do Sul. No Norte de Minas, região de Jaíba, perto de Janaúba, foram
registrados alguns Cambissolos carbonáticos (UFV, 1969).
136
Cores gleizadas - cores cinzentas vêm de um nome local russo - gley - massa de solo orgânico; as
camadas gleizadas situam-se abaixo do material orgânico; é conotativo de excesso de água.
137
Cobalto, necessário às leguminosas para fixação de nitrogênio; um composto específico contendo
cobalto, a vitamina B12, é essencial para os animais.
128
GÊNESE ASPECTOS GER AIS
5.1.5. Halomorfismo
O excesso de sais também imprime ao solo certas características peculiares.
Os solos halomórficos estão em depressões onde possa ocorrer excesso de
sais e de água, temporariamente. Os sais são trazidos das elevações circunvizinhas
pela enxurrada ou pelo lençol freático. Muitas vezes o local é rico em sais por causa
de depósitos marinhos.
Nessas depressões, com excesso de água (pelo menos temporário) e de sais,
são formados os solos salinos (Solonchaks, atuais Gleissolos Sálicos).
Se o excesso de sais é removido, ficando muitos íons sódio (Na+) adsorvidos
nas argilas, tem-se um solo alcalino, Solonetz; se o Na+ é removido e substituído pelo
H+, tem-se o Solodi. Quando a remoção do Na ocorre mais completamente no horizonte
A do que no B, há, nessa fase intermediária, formação do Solonetz-Solodizado
(Planossolo Nátrico).
Com base no que foi visto, depreende-se que:
1. há melhoria de drenagem (maior lixiviação ) no sentido:
Solos Salinos Solonetz Solonetz-Solodizado Solodi
2. sais e H+ são floculantes (tendem a promover agregação)138; portanto, os solos
salinos e o Solodi têm macroporosidade maior que o Solonetz;
3. há maior eluviação (translocação) de argila do horizonte A para o horizonte B
no Solonetz, em razão do Na+ que é dispersante;
4. o pH será máximo no Solonetz, por causa do Na e mínimo no Solodi, em razão
do H+. O pH dos solos salinos é alto, mas intermediário entre os outros dois
(Solonetz e Solodi);
5. Os Solonetz-Solodizados (Planossolos Nátricos) apresentam valores de pH
relativamente baixos no horizonte A e altos no B.
129
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES
130
GÊNESE ASPECTOS GER AIS
131
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES
132
GÊNESE ASPECTOS GER AIS
ENVELHECIMENTO DO SOLO
-INTEMPERIZAÇÃO
-PROFUNDIDADE
-POROSIDADE
AUMENTO EM -RESISTÊNCIA À EROSÃO LAMINAR
-FIXAÇÃO DE P
-LIXIVIAÇÃO
-FERTILIDADE NATURAL
-ATIVIDADE DA FRAÇÃO ARGILA (CAPACIDADE DE TROCA
CATIÔNICA)
DIMINUIÇÃO EM -MINERAIS PRIMÁRIOS FACILMENTE
INTEMPERIZÁVEIS
-TEOR DE SILTE
-RESISTÊNCIA À EROSÃO EM SULCOS
Figura 5.C Algumas tendências nas relações entre idade do solo e suas características
(nomes dos solos apenas no sistema antigo).
133
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES
134
GÊNESE ASPECTOS GER AIS
135
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES
136
GÊNESE ASPECTOS GER AIS
Tabela 5.F Rochas agrupadas para fins pedológicos gerais, assim como uma idéia
de sua composição química.
Rocha Minerais Fe P K Ca Mg Co Cu Zn B Mn Fonte(2)
principais(1)
----------------- % ------------------ -------------- mg kg-1 -----------------
Granítica Fp, Qz, Bt 2,2 0,08 3,36 1,5 0,6 4 20 50 9 1,2 a
Máfica Ca-Fp, Py, 8,7 0,11 0,83 7,6 4,6 48 87 105 5 1,5 a
Mt
Pelítica Ms, Fp, Qz 4,7 0,07 2,66 2,2 1,5 19 45 95 100 2,6 a
Psamítica Qz+ cimento 1,0 0,02 1,07 1,1 0,7 0,3 x(3) 16 35 0,2 a
Ferruginosa Hm, Mt 49 0,05 0,01 299 24 24 b
Calcária Cc, Dm, Ms, 0,4 0,04 0,27 30,2 4,7 0,1 4 20 20 0,4 a
Fp, Qz
Gnáissica Fp, Qz, Mi, 2,7 0,09 2,45 2,3 1,2 c
Hb
(1)
Símbolos: Fp - feldspato (K); Qz - quartzo (SiO2); Bt - biotita (K, Mg, Fe); Ca-Fp - feldspato calco-
sódico (Ca, Na); Py - piroxênio (Ca, Mg); Mt - magnetita (Fe2 3+ Fe2+ O4); Ms - moscovita, mica branca
ou malacacheta (K); o cimento das rochas psamíticas pode ser calcário, óxidos de Fe ou argila; Hm -
hematita (Fe2O3); Cc-calcita (CaCO3); Dm-dolomita (Mg, CaCO3); Mi - micas, incluindo biotita e
moscovita; Hb hornblenda (Ca, Mg, K). Entre parênteses, principais elementos de interesse para as
plantas contidos no mineral ou sua composição química.
(2)
a - Turekian & Wedepohl (1962); b - concreções de solos originados de itabirito, do Quadrilátero
Ferrífero (FONTES et al., 1985; SOARES, 1980); c - dados compilados por Huang (1962).
(3)
x = ordem de magnitude de 1 dígito antes da vírgula.
137
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES
147
As propriedades físicas também são melhores nos solos das chapadas (permeabilidade, facilidade de
penetração de raízes etc.).
138
GÊNESE ASPECTOS GER AIS
identificável no campo, por seu material ser atraído por um magneto148. Mesmo
quando sob cerrado e com baixíssimos teores de elementos disponíveis, responde
muito bem à adubação relativamente simples. Tal não é o caso, por exemplo,
com o Latossolo Vermelho-Escuro (Latossolo Vermelho com teor de Fe2O3
< 18%), desenvolvido de rochas pelíticas.
NOTA É importante observar que essas generalizações se referem mais aos elementos
que se concentram residualmente. Os elementos mais móveis, como Ca, Mg e K, e as
formas disponíveis dos que se concentram são inferidos a partir das condições relativas à
cronosseqüência, isto é, o basalto pode originar um solo pobre em Ca, no Planalto
Central, enquanto no sertão do Seridó (RN), o granito, muito mais pobre neste nutriente
(Tabela 5.F), pode originar um solo muito rico em Ca. O mesmo basalto, como ocorre no
Planalto Central, pode originar Latossolo Roxo (Latossolo Vermelho férrico) sob cerrado
(muito pobre em nutrientes, atual Latossolo Vermelho Distroférrico), e, próximo, pode-se
ter o Latossolo Roxo sob floresta (eutrófico, rico em nutrientes, atual Latossolo Vermelho
Eutroférrico), ou mesmo a Terra Roxa Estruturada eutrófica, atual Nitossolo Vermelho
Eutroférrico (relevo mais acidentado), um dos solos mais férteis do Brasil.
A Tabela 5.G mostra algumas relações gerais entre rochas e atributos dos solos
de maior interesse na paisagem brasileira (nesta tabela é utilizada a antiga Classificação
Brasileira de Solos).
As generalizações na Tabela 5.G possuem algumas restrições de aplicabilidade:
Pedoforma - o aplainamento pode horizontalizar a paisagem,
independentemente da rocha.
Cor - O horizonte A é escuro, com grau de desenvolvimento e espessura
variáveis. O excesso de água (falta de oxigênio) tende a favorecer a redução e retirada
de Fe do sistema. Menores teores de Fe e clima mais úmido (mesmo sem deficiência
de oxigênio) favorecem a formação de goethita, dando cor amarela (hematita ausente).
Textura - solos mais novos são mais siltosos que solos mais velhos.
Nutrientes - solo de praticamente qualquer rocha pode ser pobre ou rico. Os
mais velhos, tendendo aos Latossolos, são mais pobres.
148
A magnetização foi usada inicialmente como base para a distinção de Latossolos Vermelho-Escuros
(Latossolos Vermelhos com teor de Fe2O3 < 18%) dos Latossolos Roxos (Latossolos Vermelhos férricos);
estes são fortemente atraídos por um magneto (ímã). Essa separação, não contemplada muito claramente
na Soil Taxonomy, separa os Latossolos com maior teor de ferro, de fósforo total, de muitos micronutrientes
e caulinita de pior grau de cristalinidade.
139
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES
Tabela 5.G Relações gerais entre rocha matriz e alguns atributos dos solos.
Pelítica Psamítica Máfica Granítica
------------------------------------------------------------- Pedoforma -------------------------------------------------------------
Formas suaves (não Tabular, ruiniforme, Suave ou acidentada. Suave ou acidentada.
pontiagudas), ondulada (dunas) Afloramentos em Afloramentos em
menos aci- e pontiagudas forma de blocos forma de blocos
dentadas (quartzito) (rocha massiva)
------------------------------------------------------ Cor do horizonte B ---------------------------------------------------------
Amarela - solo novo Depende do clima, Vermelha Amarelada
drenagem e
Vermelha solo velho
cimento
------------------------------------------------------------- Textura ------------------------------------------------------------------
Argilosa a muito argi- Arenosa (compreende Argilosa a Arenosa a
losa as classes
muito argilosa argilosa
texturais areia e
areia franca)
------------------------------------------------------------ Nutrientes ---------------------------------------------------------------
Solos pobres, álicos Depende do cimento Solos ricos Solos pobres
------------------------------------------------------------ Seqüências -------------------------------------------------------------
Ra - Ca - LEa Pva -Led -LVd - AQ Re - Ce - TRe - LRd PVa - LVa
d d a a d d a a e d
e e e(raro) a a d e d e (raro)
Cor vermelha
(Gibbsita/Caulinita)
------------------------------------------------------- Relações litológicas -----------------------------------------------------
Relações entre algumas rochas em termos de diagênese-metamorfismo (sedimentares, metamórficas)
e granulometria (ígneas)
argilito
ardósia (siltito)
micaxisto pobre
SÍMBOLOS: a = álicos (alta saturação por Al), d = distróficos (baixa saturação por bases), e = eutróficos
(alta saturação por bases), R = Solo Litólico; C = Cambissolo; PE, PV, TR = Solos com B textural; LV,
LR = Latossolos; AQ = Areias Quartzosas.
140
GÊNESE ASPECTOS GER AIS
5.4. Bibliografia
BATES, R. L.; JACKSON, J. A. (Eds.). Glossary of geology. 3th ed. Alexandria: American
Geological Institute, 1987. 788 p.
BUENO, S. Grande dicionário etimológico prosódico da língua portuguesa. São Paulo: Saraiva,
1967. 8 v.
GOMES, J. B. V.; RESENDE, M.; REZENDE, S. B. de; MENDONÇA, E. de S. Solos de três áreas
de restinga: I. morfologia, caracterização e classificação. Pesquisa Agropecuária Brasileira,
Brasília, v. 33, p. 1907-1919, 1998.
MONIZ, A. C.; OLIVEIRA, J. B.; CURI, N. Mineralogia da fração argila de rochas sedimentares
e de solos da Folha de Piracicaba, SP. Revista Brasileira de Ciência do Solo, Campinas, v. 19,
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SIMONSON, R. W. Outline of a generalized theory of soil genesis. Soil Science Society America
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TUREKIAN, K. K.; WEDEPOHL, K. H. Distribution of the elements in some units of the Earth.
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141
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES
142
SOLO E PAISAGEM
6
SOLO E PAISAGEM
6.1. Relevo
O relevo149 está intimamente ligado ao fator tempo na gênese dos solos; é,
portanto, de se esperar que na paisagem brasileira, onde os processos de pedogênese
são bastante ativos, ele tenha um papel crítico como controlador do tempo de exposição
aos agentes bioclimáticos.
As partes mais velhas (expostas ao intemperismo há mais tempo) são justamente
as grandes e altas chapadas, que são comuns no território brasileiro. Nessas áreas
ocorrem os solos mais velhos e lixiviados, geralmente cobertos por vegetação de cerrado.
As partes rejuvenescidas, mais baixas, e, na maioria das vezes, mais acidentadas, já
apresentam solos mais novos, com vegetação mais exuberante (Figura 6.A).
Parece lógico pensar que em muitas áreas do Planalto Atlântico, com expressiva
ocorrência de Latossolos, mesmo onde o relevo é acidentado, este já tenha sido mais
suave, com solos bastante velhos, cujo material intemperizado foi, em parte,
redistribuído pelas vertentes. Aí os solos são também velhos mas, nesse caso, a
vegetação é florestal.
Além dos aspectos gerais de relação solo-relevo (Figura 6.A), pode-se ainda
observar que, quando em topografia acidentada, os Latossolos estão em elevações com
superfície suave (regular, sem descontinuidades), enquanto os solos com B textural
estão em elevações com superfície irregular (com descontinuidades, rupturas de declive).
149
Para melhor entendimento do solo como corpo tridimensional, isto é, da pedoforma - um atributo do
solo - veja item 2.2.10.
143
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES
Figura 6.A Solos e relevo: algumas tendências na paisagem brasileira (nomes dos
solos apenas no sistema antigo).
----------------------------------Floresta-----------------------------------
Perenifólia Subperenifólia------- Subcaducifólia Caducifólia Caatinga151
Aumento em
Aridez de número de meses secos
Fertilidade do solo
Queda de folhas
Aumento
Da pobreza em nutrientes
Em Al3+
150
Para maior detalhamento das formas de vegetação (usadas como fase) como indicadoras de pedoclima,
veja item 2.2.9.
151
No norte de Minas, mata da Jaíba, está a caatinga hipoxerófila de porte arbóreo alto (mata densa, 25 a
30 m, com três estratos). É a menos seca das caatingas, com pau-d arco-roxo, pereiro, aroeira, barriguda
(ANDRADE-LIMA, 1981).
144
S OLO E PA IS AGEM
152
Vegetação clímax, estado final estável no desenvolvimento de determinado ecossistema.
153
O perfil fundiário brasileiro, está em grande parte relacionado com a possibilidade de pastagens
extensivas. Essas tendem a ocorrer sob duas condições: áreas extensas de solos férteis, capazes de
sustentar pastagens manejadas com o uso do fogo; e áreas de pastagens naturais, apresentando limitações
às plantas arbóreas. No primeiro grupo estão os solos ricos das regiões quentes, sendo a área preparada
com o uso do fogo; no segundo, as áreas campestres de solos pobres, campos subtropicais, tropicais,
equatoriais e hidromórficos e as áreas subáridas.
145
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES
6.4. Bibliografia
ANDRADE-LIMA, D. The caatingas dominium. Revista Brasileira de Botânica, Viçosa, v. 4, p.
149-153, 1981.
GATES, D. M.; PAPIAN, L. E. Atlas of energy budgets of plant leaves. London: Academic, 1971.
278 p.
146
CLASSIFICAÇÃO E GEOGRAFIA DE SOLOS
7
CLASSIFICAÇÃO E GEOGRAFIA DE SOLOS
154
Embora não seja usada neste sentido, poder-se-ia pensar, com certa razão, que esta é que seria a
mais próxima de uma classificação verdadeiramente ecológica, isto é, a que considera todo o tetraedro
(Figura 1.A).
147
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES
148
CLASSIFICAÇÃO E GEOGR AFIA DE SOLOS
A=RKLSCP
onde:
A = perdas de solo em t/ha
R, K, L, S, C, P = fatores relativos à erosividade da chuva (R), erodibilidade do solo
(K), comprimento da encosta (L), grau do declive (S), uso e manejo (C) e, práticas de
controle à erosão (P).
155
Esta equação, também conhecida como equação de WISCHMEIER, tem sido estudada em várias partes
do mundo, mas ela também, no que se refere à estimativa dos parâmetros, K por exemplo, necessita de
ajuste para muitos solos tropicais. Walt H. Wischmeier começou a trabalhar com o Serviço de Conservação
do Solo em 1940, em Columbia, Missouri, EUA; em 1953 foi para a Universidade de Purdue onde criou
e operou a Central Nacional de Dados de Perdas de Água e Solo do USDA-ARS, em cooperação com a
Universidade de Purdue. Sob sua liderança, analisando mais de 10 mil parcelas-ano de dados de pesquisa
em erosão de 37 localidades, foi desenvolvida uma Equação Universal de Perdas de Solo.
149
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES
150
CLASSIFICAÇÃO E GEOGR AFIA DE SOLOS
5. planaltos de araucárias;
6. pradarias mistas.
O fato mais importante disso, a não ser quando há vegetação natural, que reflete
em si o que se quer medir (os estratos de vegetação constituem uma expressão sintética
da interação ambiental), é que se tem de prever, com base em outras qualidades da
terra, qual é o comportamento da parte biótica.
O bioclima e grandes traços litológicos - planaltos basálticos, capeamentos de
arenito, áreas de calcário, áreas gnáissico - graníticas etc. - dão uma primeira
estratificação bastante generalizada.
Para se prever o comportamento da parte biótica ao nível de propriedade, com
certa precisão, são necessárias estratificações mais pormenorizadas158. Quando se
trata de áreas pequenas, o solo é o principal estratificador do ambiente159.
158
Um sistema de inventário da terra (Land System Survey), procurando estratificar as paisagens, usando
critérios climáticos, litológicos, de pedoforma geral (geomorfologia) e de vegetação, com menos ênfase no
solo diretamente, é usado na Austrália, mas este sistema (geossistema) está sendo abandonado lá (MOORE,
1978), aparentemente por não ter servido bem para a transferência de conhecimentos. O sistema é
atrativo por ser de fácil execução, principalmente com o uso de fotografias aéreas (WILSON, 1968), mas
não oferece os elementos suficientes para uma boa estimativa das qualidades da terra. Não parece ser
muito informativo naquilo que se refere a nutrientes no solo, camadas afetando raízes etc.
159
A identificação dos diferentes ambientes pelo pequeno agricultor está profundamente ligada aos processos
biológicos de produção. Assim, a exposição das encostas pode, dependendo do contexto, ser crítica
quanto a danos pelas geadas, deficiência de água, temperaturas críticas etc. Todos esses exemplos têm
sido documentados por informes de agricultores brasileiros.
151
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES
EUA, para grupar solos (já mapeados) em classes de capacidade de uso para programas
de planejamento agrícola, principalmente sob um enfoque conservacionista160.
O sistema enquadra as terras em oito classes, representadas por algarismos
romanos (I a VIII), que constituem três grupos, conforme a potencialidade de uso:
I até IV - com aptidão para culturas;
VI e VII - necessitam de manejo especial;
VIII - imprópria ao uso agrícola (não apresenta retorno para insumos referentes
a manejo para culturas, pastagens ou florestas).
A classe V refere-se a terras sem problemas de erosão, mas com limitações
acentuadas, devido a problemas de drenagem, de pedregosidade etc., ou de adversidade
climática, que exigem utilização de técnicas especiais para exploração com culturas.
São os seguintes os grupos e classes de capacidade de uso:
A - Terras cultiváveis
Classe I - terras cultiváveis aparentemente sem problemas especiais de
conservação (áreas verde-claras nos mapas de capacidade de uso);
Classe II - com problemas simples de conservação (cor amarela);
Classe III - com problemas complexos de conservação (cor vermelha);
Classe IV - terras cultiváveis apenas ocasionalmente ou em extensão limitada,
com sérios problemas de conservação (cor azul).
B - Terras cultiváveis apenas em casos especiais de algumas culturas
permanentes, mas em geral adaptadas para pastagem ou reflorestamento
Classe V - terras aptas apenas para culturas especiais, ou para pastagem ou
reflorestamento, sem necessidade de práticas especiais de conservação (cor
verde-escura);
Classe VI - terras aptas apenas para culturas especiais, ou para pastagem ou
reflorestamento, com problemas especiais de conservação (cor alaranjada);
Classe VII - terras aptas apenas para culturas especiais, ou para pastagem ou
reflorestamento, com problemas complexos de conservação (cor marrom).
C - Terras impróprias para uso agrícola
Classe VIII - terras impróprias para culturas, pastagens ou reflorestamentos,
podendo ser destinadas à preservação da flora e da fauna silvestres161 ou para
fins de recreação, turismo ou de armazenamento de água (cor roxa).
160
Talvez a grande contribuição deste sistema tenha sido influenciar todos os sistemas subseqüentes que
incluem a produção sustentada, isto é, controle da erosão e, que hoje se estende também às idéias de
controle da poluição, ou melhor, do uso sem degradação socioecológica.
161
Na formulação inicial da idéia das limitações ecológicas (BENNEMA et al., 1965), para referir-se à
deficiência de nutrientes, usou-se a expressão limitação por fertilidade, simbolizada por Resende (1982)
como DF. O uso de deficiência de nutrientes, DN, parece mais apropriado; até mesmo por referência aos
três fatores básicos do ambiente: radiação, água e nutrientes.
152
CLASSIFICAÇÃO E GEOGR AFIA DE SOLOS
Exemplos:
III 2-3/2-1/2 pd-di-La - classe III, profundidade efetiva (classe 2), textura
superficial (3) e subsuperficial (2), permeabilidade superficial (1) e subsuperficial
(2), declive (classe B), erosão (classe 17), com problemas de pedregosidade e
distrofismo; uso atual (lavoura anual-La);
II i - classe II, com problemas de inundação, numa representação simplificada.
Observações: O sistema de classificação da capacidade de uso, como foi mencionado,
sofreu adaptações em vários países. No país de origem (EUA), essa classificação
tem o objetivo de tornar a informação, já existente nos levantamentos de solos (nível
detalhado), acessível, de forma prática, ao usuário. É uma interpretação dos mapas de
solos dos levantamentos mencionados (KLINGEBIEL & MONTGOMERY, 1961).
Nos países sem levantamento detalhado, procurou-se suprir esta deficiência mapeando
atributos como declive, textura, permeabilidade etc. A principal dificuldade deste
sistema, assim modificado, é que ele é difícil de ser aperfeiçoado por trabalhar com
muitas variáveis (isoladas), o que torna impraticável uma interpretação de maior
abrangência geográfica. Por exemplo, a textura superficial não indica muita coisa
quando se tratam juntos Latossolos e Vertissolos. Além do mais, a textura em si não é
importante para a planta, mas são muito importantes: água, nutrientes, oxigênio,
suscetibilidade à erosão e impedimentos à mecanização, que são aspectos ligados de
forma peculiar à textura, conforme a classe taxonômica do solo.
153
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES
154
CLASSIFICAÇÃO E GEOGR AFIA DE SOLOS
155
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES
(como os massapês do Recôncavo Baiano, solos muito ricos em argila 2:1 que se
expandem e se contraem de forma acentuada). Deve-se proporcionar ao planejador
essas nuanças de forma já interpretada. A influência da profundidade do solo, por
exemplo, dependendo do contexto climático em que se encontra, vai influenciar a
planta de maneira diferente. A distinção entre atributos e qualidade (comportamento)
é essencial.
O solo ideal é aquele que não apresenta problema algum de deficiência de
nutrientes ou fertilidade (N), nem deficiência de água (A), nem de oxigênio (O), isto é,
nenhum problema de drenagem; nem tampouco oferece problemas de suscetibilidade
à erosão (E), nem qualquer dificuldade ao uso de máquinas (M). Evidentemente este
solo não existe. Todo solo real desvia-se do solo ideal em relação a N, A, O, E ou M.
Esse desvio (afastamento) do solo ideal pode ser estimado em graus (nulo = 0, ligeiro
= 1, moderado = 2, forte = 3, e muito forte = 4), expressando, nesta ordem, um
agravamento da situação, maiores problemas a corrigir, maiores desvios ou limitações
para reduzir (Tabela 7.A).
163
Estão sendo consideradas aqui apenas as qualidades do solo ou as que se expressam no solo. As
qualidades do ambiente atmosférico, tais como luminosidade, risco de geadas etc. ainda não foram
incorporadas ao sistema. O comportamento do ecossistema em vários aspectos, depende do fator que
está em mínimo. Este funciona num contexto variável ao longo do tempo: A, por exemplo, é mais crítico
em algumas fases como a do estabelecimento da planta.
156
CLASSIFICAÇÃO E GEOGR AFIA DE SOLOS
Por exemplo, dois solos com os mesmos teores de nutrientes, um sob floresta e outro
sob cerrado, o primeiro vai ter, no ecossistema agrícola, maior teor de nutrientes, pelo
menos inicialmente. As observações das culturas, do gado etc., são essenciais. Há
outras qualidades ainda menos quantificáveis, como rupturas de declive, importantes
na estimativa de M, deficiência de oxigênio etc.
Há, no entanto, como nos critérios de descrição de perfil, uma tendência à
convergência, isto é, há hoje maior uniformidade, mesmo em escala internacional, do
que havia há alguns anos. Na impossibilidade de se quantificar com precisão (o que
poderia reduzir o número de parâmetros a serem medidos), quanto maior o número de
critérios, melhor. A Tabela 7.B - elaborada com base em Ramalho Filho et al. (1983)
- sumariza os critérios mais usados no Brasil, para estimativa dos desvios ( ), isto é,
dos problemas que o ecossistema oferece à utilização.
À semelhança do solo ideal (solo de referência), existem na Tabela 7.B outras
condições de referência. Os deltas não se referem a uma planta em particular. São
definidos de uma forma geral. Assim, por exemplo, o arroz, uma planta especial quando
se trata de O, não é considerada na estimativa de O. Quanto ao E, as definições
referem-se a uma planta expositora, plantada morro abaixo.
Viabilidade de melhoramento
Como já foi mencionado, alguns problemas podem ser reduzidos, em maior ou
menor intensidade, com emprego de capital; outros são praticamente irredutíveis.
Aplainar uma área como a de Ouro Preto, em Minas Gerais, para reduzir M, seria
um desses casos extremos. Entretanto pode-se fazer uma estimativa da viabilidade de
melhoramento (Tabela 7.C). É importante observar que nem sempre o melhoramento
soluciona integralmente o problema. Por exemplo, um solo pode ter N = 3. Com
muita adubação e corretivo ele pode melhorar sua condição de fertilidade, embora
não a ponto de se igualar a um solo ideal ( N = 0), mas reduzindo-a talvez só até N
= 1. Se este for o caso, isso equivale a enquadrá-lo na classe b de melhoramento. A
qualidade do ecossistema, quanto ao N, será:
N = 3, antes do melhoramento;
N = 1b, após o melhoramento.
157
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES
Tabela 7.B Graus de desvio (limitações) das condições agrícolas dos solos em
relação a um solo ideal, quanto à deficiência de nutrientes ou fertilidade (N), deficiência
de água (A), deficiência de oxigênio (O), suscetibilidade à erosão (E) e impedimentos
à mecanização (M).
0 (nulo)
N Elevada reserva de nutrientes. Nem mesmo plantas exigentes respondem à adubação.
Ótimos rendimentos por mais de 20 anos. Ao longo do perfil: V > 80%, S > 6 cmolkg-1,
Sat.Al = 0 na camada arável, e condutividade elétrica < 4 dSm-1 a 25oC.
A Floresta perenifólia ou presença de lençol freático mais elevado ou sob irrigação. Não
há deficiência de água em nenhuma parte do ano. Incluem-se áreas de campos
hidrófilos, higrófilos e subtropicais sempre úmidos. Quanto a A, são possíveis dois
cultivos por ano.
O Aeração boa em qualquer época do ano - solos bem (D4) a excessivamente drenados
(D1).
E Após 10-20 anos de uso com lavouras: horizonte A permanece intacto. Erosão ligeira,
que possa ocorrer, é controlada facilmente. Relevo plano (p), ou quase, declive < 3%, e
solo bem permeável.
M Podem ser usados na maior parte da área, sem dificuldades, todo o ano, com todos os
tipos de maquinaria agrícola; rendimento do trator (RT) > 90%. Solos planos (p) ou
suave ondulados (s) com < 8% de declive, sem outros impedimentos à mecanização
(pedregosidade, rochosidade, texturas extremas e argila 2:1).
1 (ligeiro)
N Boa reserva de nutrientes. Boa produção por mais de 10 anos, com pequena exigência
para manter a produção depois. V > 50%, S > 3cmolkg-1, Sat.Al < 30%, condutividade
elétrica < 4 dSm-1 e TNa < 6% (Latossolos eutróficos, por exemplo).
A Água disponível (Ad): pequena deficiência durante período curto, na estação de cresci-
mento. Só plantas bem sensíveis é que são prejudicadas. Floresta subperenifólia
(estação seca de 1 a 3 meses). Em climas mais secos: solos com lençol freático mais
elevado, condicionando boa disponibilidade de água às plantas, ou irrigados. Aptidão
para dois cultivos é marginal.
O Plantas de raízes mais sensíveis têm dificuldades na estação chuvosa; solos
moderadamente drenados (D5).
E Após 10-20 anos de uso com lavouras: <25% do horizonte A original, removido da
maior parte da área; Ap formado de material de A (exceto se A for muito pouco
espesso). Erosão bem controlada por culturas selecionadas (cana-de-açúcar) ou cultivos
arbóreos ou parcelas pequenas. Relevo suave ondulado (s), declive 3-8% (SSM: classe
1 de erosão).
M Uso da maioria dos tipos de maquinaria sem ou com ligeira dificuldade; RT: 75-90%.
Solos (a) suave ondulados (s), com 3-8% de declive, sem outros impedimentos; ou (b)
planos, com alguma pedregosidade (0,5 a 1,0%) e rochosidade (2-10%) ou com
profundidade limitante; ou (c) planos, com textura muito grosseira (arenosa, cascalhenta
etc.); ou argilosa com argila 2:1 ou com problemas de drenagem.
Continua...
158
CLASSIFICAÇÃO E GEOGR AFIA DE SOLOS
159
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES
160
CLASSIFICAÇÃO E GEOGR AFIA DE SOLOS
164
A viabilidade de melhoramento depende do contexto; por exemplo, das condições socioecológicas.
Assim, a melhoria de ambientes deficientes em nutrientes, que exigem grandes aplicações de adubos, está
fora da realidade do pequeno agricultor; a agricultura empresarial, de exportação direta, e, ainda assim,
subsidiada, pode fazê-lo. Mas a mudança dos preços no mercado internacional, pode tornar mais vantajosa
a criação de gado, onde não há necessidade tão premente desse tipo de melhoramento. Numa agricultura
sustentável, visando o balanço custo/benefício da sociedade como um todo, o contexto dessas decisões
pode ser outro.
165
Para evitar muita digressão, o uso do quadro-guia ou tabela de referência será apresentado posteriormente.
161
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES
síntese, até certo ponto, é difícil de ser lida com aproveitamento de toda a mensagem
que ela encerra.
A mensagem final chega geralmente na forma de um mapa colorido com
símbolos, assim: 1aBC, 2ab, 2abc, 3(abc), 4p, 5N, 5(s), 6 etc.
Há aqui muita informação. Analise-se, por exemplo:
1Ab(c)
166
Pastagem natural está sendo usada aqui no sentido de pastagem não plantada; neste sentido inclui
pastagens nativas (pré-históricas) e naturais propriamente ditas - não plantadas, mas pós-colonização.
162
CLASSIFICAÇÃO E GEOGR AFIA DE SOLOS
Assim é que um solo com alguma aptidão para uso de certa intensidade, como,
por exemplo, para pastagem plantada, tem, em geral, boa aptidão para todos os usos
menos intensivos, no caso, silvicultura e/ou pastagem natural (considerados no mesmo
grupo) e reserva biológica.
A Tabela 7.G fornece subsídios concernentes às classes de aptidão agrícola.
Observe então que os números de 1 a 6, que identificam o grupo de aptidão,
indicam, na realidade, o maior uso intensivo possível, com os números de 1 a 3 indicando
a melhor condição de uso (melhor classe de aptidão), em um dos três níveis de manejo,
para uso com lavouras. Por exemplo: 1(a)bC está no grupo 1, porque existe a melhor
167
As alternativas de uso reduzem-se com o aumento das limitações; as áreas com menores limitações
tendem a ser usadas primeiro; portanto, neste aspecto, diminuem as opções de uso. Isso requer maior grau
de criatividade e engenhosidade, alocando melhor os recursos numa otimização de seu uso, sob o enfoque
natureza/sociedade.
163
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES
condição (aptidão boa) para uso com lavoura o uso mais intensivo possível sob
manejo C. Num dos exemplos apresentados (4p), o solo está no grupo de aptidão 4
por ser inapto para lavoura mas alguma aptidão para pastagem plantada, além de
outros usos menos intensivos, como silvicultura e pastagem natural.
Tabela 7.F Alternativas de utilização das terras de acordo com o grupo de aptidão
agrícola.
Alternativas Grupo Intensidade ou condições de uso
e de Preservação Silvicultura Pastagem Lavoura
Limitações Aptidão da flora e da e / ou plantada Aptidão Aptidão Aptidão
(desvios) fauna pastagem restrita regular boa
natural
1
2
Alternativas
Limitações
3
4
6
Fonte: Ramalho Filho et al. (1983).
164
CLASSIFICAÇÃO E GEOGR AFIA DE SOLOS
Tabela 7.H Resultado do confronto entre os desvios da unidade LVa1, após estimativa
de reducão (quando viável), conforme o nível de manejo e os requisitos de máxima
limitação permissível para determinada classe de aptidão e tipo de uso estabelecidos
no quadro-guia, referentes à região tropical úmida.
N A O E M
A B C A B C A B C A B C A B C
(1) LVa1 3 2a 1b 1 1 1 0 0 0 2/3 2a 1/2b 2 2 2
(*)
(2) Quadro-guia 3 2a 1b 1/2 1/2 1/2 1 1a 0/1a 3 2a - 2/3 2 2
(3) Classe de aptidão n (b) c A B C A B C (a) (b) - a b (c)
e uso mais intensivo
(4) Uso potencial n (b)
(5) Conclusão 5n 3(b), que é representado no mapa como 3(b). Em geral, representa-se
apenas a aptidão para o uso mais intensivo possível, neste caso, para lavoura
(talvez fosse melhor a representação completa, isto é, aptidão em todos os
níveis de manejo, quer seja para lavoura ou não).
(*)
Os valores desta linha referem-se aos assinalados (em negrito) na Tabela 7.I.
(1) Estimativa dos graus de desvio para a unidade LVa1 (0 = nulo, 1 = ligeiro, 2 =
moderado, 3 = forte, 4 = muito forte, / = intermediário; a,b = classes a e b de
viabilidade de melhoramento, respectivamente).
(2) Grau máximo de desvio ( ), estabelecido no quadro-guia (Tabela 7.I), referente
à unidade LVa1, para determinado fator de limitação e nível de manejo. Os
valores referem-se aos assinalados (em negrito), na Tabela 7.I.
(3) Uso mais intensivo permitido e melhor classe de aptidão para a unidade LVa1,
referente a cada fator de limitação e nível de manejo (determinados com base
na Tabela 7.I).
(4) Uso potencial e classe de aptidão referentes aos três níveis de manejo (A, B, C).
(5) Aptidão agrícola da unidade LVa1: restrita para lavoura, no nível de manejo B,
regular para pastagem natural no nível de manejo A e inapta no nível C.
A classificação da aptidão agrícola é realizada pelo confronto entre os valores
estimados para os desvios ( ) e os estabelecidos em um quadro-guia, ou tabela de conversão,
em que está representado o grau máximo de desvio permitido para cada fator limitante
( N, A, O, E e M), referente às classes de aptidão boa, regular e restrita, em cada
nível de manejo correspondente aos tipos de utilização considerados: lavoura (níveis de
manejo A, B, e C), pastagem plantada e silvicultura (nível de manejo B) e pastagem natural
(nível de manejo A). Desta forma, para cada fator limitante e nível de manejo é indicado,
no quadro-guia, o uso mais intensivo possível e a melhor classe de aptidão, conforme
o grau de desvio do solo que está sendo avaliado. O mesmo não pode exceder o
estabelecido no quadro-guia referente à determinada classe de aptidão e tipo de uso.
165
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES
168
As plantas, as culturas, adequam-se diferentemente às limitações; o arroz tolera condições inadequadas
para o feijão, a mandioca produz bem onde a soja tem sérios problemas. Mas, mesmo dentro de cada
cultura, há variedades com diferentes graus de tolerância. Definidos da forma mais precisa possível, os
graus das limitações (ainda que para uma planta arbitrária), tabelas de adequação e quadros-guias,
poderiam ser construídos para cada cultura ou variedade.
166
CLASSIFICAÇÃO E GEOGR AFIA DE SOLOS
A Tabela 7.I é, evidentemente, muito geral. Cada cultura deve ter uma tabela
de conversão própria. O arroz, por exemplo, não será tão limitado por falta de oxigênio
quanto outras culturas, e entre estas haverá também diferenças. O que foi dito para
O é válido também para os outros deltas (ou limitações).
4P 2a 2 3a 2/3a 2/3
4p 2/3a 2/3 3a 3a 3
4 (p) 3a 3 3a 4 3
5S 2/3a 2 1a 3a 2/3
5s 3a 2/3 1a 3a 3
5 (s) 4 3 1/2a 4 3
5N 2/3 2/3 2/3 3 4
5n 3 3 3 3 4
5 (n) 4 4 3 3 4
6 sem aptidão agrícola
LVa1 3 2a 1b 1 1 1 0 0 0 2/3 2a 1/2b 2 2 2
(1)
Os valores assinalados (em negrito) indicam utilização mais intensiva permitida para desvios
após melhoramento (se viável) do solo (unidade LVa1) que está sendo classificado quanto à
aptidão agrícola (indicado na Tabela 7.H). Os graus de limitação (D) referentes a este solo estão
repetidos abaixo (última linha) para facilitar a comparação.
(2)
Letra maiúscula - aptidão boa; letra minúscula - aptidão regular; letra minúscula entre
parênteses - aptidão restrita; ausência de letra - inapta.
Nota importante
Sabe-se algo a respeito das exigências climáticas de uma cultura, mas é muito
pouco o que se sabe sobre as exigências edáficas. Ainda não se tem as tabelas acima,
referentes às culturas. A solução, sob o ponto de vista prático, é a utilização da natureza
167
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES
168
CLASSIFICAÇÃO E GEOGR AFIA DE SOLOS
169
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES
A redução dos problemas não é igualmente fácil para todos os solos, mesmo
tendo estimativamente o mesmo grau de limitação. Por exemplo: para reduzir um
determinado valor de delta para zero ou para outro valor de delta mais baixo que o
primeiro, devem-se aplicar insumos que podem ser diferentes conforme o solo. A
Tabela 7.K grupa os níveis de exigências de capital e refinamento de técnica para N,
E e M (neste caso é avaliado o grau de dificuldade de utilização de máquinas).
170
CLASSIFICAÇÃO E GEOGR AFIA DE SOLOS
171
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES
171
A idéia de conquista da natureza parece ter criado a de que as limitações são problemas que precisam
ser removidos a qualquer custo. Considera-se exótica a idéia de convivência com os problemas. As
pressões sobre a otimização das relações sociedade/natureza de uma forma sustentada, necessariamente
tendem a enfatizar as práticas de convivência; mesmo porque, com a escassez de recursos (quantidade e
qualidade), a viabilidade de melhoramento reduz-se.
172
É possível que o campo magnético venha a ser acrescentado a este elenco, no futuro.
173
No contexto de um sistema de problemas de várias naturezas, a agricultura de subsistência premia as
práticas de convivência - viver com o que se tem. Esta parece ser embrionariamente a idéia chave na futura
relação sociedade/natureza.
172
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173
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES
174
No sistema complexo de limitações, sem viabilidade de grandes melhoramentos, e enfatizando as
práticas de convivência, o pequeno agricultor ajusta-se convergentemente ao contexto. Isto é fonte valiosa
de informações para a compreensão das relações sociedade/natureza.
175
As práticas de agricultura nômade, a consorciação de culturas etc. são alguns dos exemplos que só mais
recentemente estão sendo reconhecidos como tecnicamente fundamentados.
176
Usou-se aqui a expressão domínio pedobioclimático em vez da expressão original de Ab Saber (1970) -
domínio morfoclimático - por duas razões: (1) por considerar-se solo como um corpo tridimensional; e
(2) a ênfase é na geografia de todas as características do solo, e não apenas na pedoforma. A expressão
domínio pedobioclimático, por outro lado, enfatiza a base do tetraedro ecológico (Figura 1.A), o que nos
parece mais harmônico com o escopo deste texto.
177
A palmeira babaçu (Orbignia martiana) existe distribuída na Amazônia; com a queimada ela se expande.
Essa, supõe-se, é a origem da mata dos cocais no Maranhão. O babaçu é pouco exigente no que se refere
às condições de solo: ocorre em solos ricos, pobres e de drenagem variável. A competição pela floresta,
eliminada pela queima, e a participação de alguns animais na distribuição das sementes contribuem para
a expansão dessa palmeira.
174
CLASSIFICAÇÃO E GEOGR AFIA DE SOLOS
178
Os nutrientes no ecossistema (ecotessela), podem estar em maior quantidade no solo (pedotessela) -
como na área das caatingas - ou na vegetação (fitotessela) - como na Amazônia. A derrubada e queima da
vegetação expõem toda a riqueza de nutrientes à superfície, no caso da Amazônia; no caso do subárido, a
ecotessela ainda tem grande reserva em nutrientes, mesmo após a queima e erosão.
175
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES
desde que se lhe apliquem cerca de 50 kg de P2O5/ha, após cinco anos da instalação
da pastagem179 (SERRÃO et al., 1978). O uso de reservas extrativistas, no entanto,
parece ser o mais adequado para muitas áreas, e quase a única opção para algumas
outras (RESENDE & PEREIRA, 1988).
179
Pastagens na Amazônia: a deficiência de nutrientes e a alta pressão de ocupação pela vegetação nativa,
nos lugares mais pluviosos, torna difícil a manutenção de pastagens; o fogo, por exemplo, no caso do
capim-colonião, enfraquece a pastagem por acelerar a exportação daquilo que tende a estar em mínimo -
os nutrientes - mesmo nos lugares suavemente declivosos.
180
Os Solos Litólicos (Neossolos Litólicos) podem ter um horizonte A diretamente sobre a rocha; ou, o
que é mais comum, existe um horizonte C pouco espesso entre o horizonte A e a rocha (R). Quando a
soma dos horizontes A e C dá mais de 50 cm, tem-se um Regossolo (Neossolo Regolítico).
181
Brunos Não Cálcicos (Luvissolos Crômicos) - solos comuns nas áreas de rochas cristalinas das regiões
subáridas brasileiras. São solos pouco profundos, têm horizonte A arenoso, freqüentemente cascalhento,
sobre horizonte B textural tendo alta atividade de argila, apresentando cerca de 50 cm de espessura.
182
A área das caatingas tem, pelas condições atmosféricas, céu limpo por boa parte do tempo, alta
radiação, grande variação de temperatura entre dia e noite. A condição de subaridez reduz substancialmente
as pragas e doenças de plantas e animais. O gado, por exemplo, é praticamente isento de parasitas (bernes,
carrapatos etc.) tão comuns em outras áreas do Brasil. Além desse quadro ambiental peculiar, afetando a
vida, há uma intensa renovação dos solos, liberando os nutrientes. A produção de hortifrutíferas e de
pequenos criatórios, ambos subsidiados por pequena irrigação, são muito promissores.
176
CLASSIFICAÇÃO E GEOGR AFIA DE SOLOS
183
O horizonte C quando apresenta evidências da estrutura da rocha, é identificado pelo acréscimo do
sufixo r - Cr. Mais próximo da superfície a atividade biológica destrói evidências da estrutura da rocha: o
horizonte Cr passa a horizonte C. A intemperização das rochas gnáissico-graníticas do Brasil chamou a
atenção de antigos naturalistas: de Darwin, que passou pelo Rio de Janeiro de 4 de abril a 5 de julho de
1832 e novamente em 1836, registrando a profundidade e o colorido do horizonte C; de Gardner (1836-
1841), que atentou para o barro vermelho, os atuais horizontes C e Cr; assim como de Samuel Allport, em
Salvador (décadas de 1850 a 1860); e Richard Burton, em 1867, que notou o espesso manto de argila
vermelha (horizontes C e Cr) sobre o gnaisse cinzento da Serra do Mar (LEONARDOS, 1970).
177
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES
178
CLASSIFICAÇÃO E GEOGR AFIA DE SOLOS
184
A floresta-galeria ocorre ao longo dos cursos d água em faixa de largura variável, mas bem menor do que
a vegetação não florestal das partes mais altas (cerrados e campos).
185
O cerrado pode, em algumas condições, perder as folhas completamente, tornar-se caducifólio. Isso
tende a ocorrer, como esperado, nas áreas transicionais para as caatingas; são relativamente comuns no
Norte de Minas (JACOMINE et al., 1979).
179
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES
Figura 7.E Domínio pedobioclimático do Planalto das Araucárias (AB SABER, 1970).
186
Existem ocorrências esparsas de araucária na parte leste de São Paulo, prolongando-se pelas áreas
elevadas de Minas (como Sul de Minas e região de Barbacena), até o Vale do Rio Doce. Alguns exemplares
desse pinheiro foram encontrados no fim da década de 1940, no município de Prata, no Triângulo
Mineiro, por Adalgiso Fernandes Corrêa (pai de GFC), então comerciante no ramo de madeira. Isso tudo
parece estar no contexto de que o clima do Brasil já foi mais frio. Plantas do gênero Myroxylon distribuem-
se do norte da Argentina ao México; pouco presentes na Amazônia, mas freqüentes nas serras úmidas
(brejos) do Nordeste. A expansão das plantas desse gênero teria ocorrido durante uma das marés de frio
no Pleistoceno; com o retorno de temperaturas mais altas, teriam permanecido nos brejos. A araucária
também ocupou uma área muito maior (BIGARELLA et al., 1975; HESTER & COUTO, 1975).
180
CLASSIFICAÇÃO E GEOGR AFIA DE SOLOS
Figura 7.F Domínio pedobioclimático das Pradarias Mistas (AB SABER, 1970).
187
O fato de o período seco coincidir com meses quentes torna o bioclima muito mais seco; o estresse
hídrico fica mais pronunciado. Além disso, há uma erraticidade nas precipitações mensais, não detectada
pelas médias, resultando num bioclima ainda mais seco. A desertificação, aparentemente anômala pelos
totais de precipitação, pode ter aí um importante contributo.
188
Vertissolo, do latim, vertere; dá conotação de inversão da superfície do solo. Tem muito alta atividade
de argila, apresentando expansão e contração pronunciadas com umedecimento e secagem, produzindo
superfícies de fricção e grande fraturas, respectivamente.
189
Brunizém (Chernossolo Ebânico), apresenta horizonte B incipiente ou B textural de cores não muito
vivas; nisto difere do Brunizém Avermelhado (Chernossolo Argilúvico).
181
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES
Figura 7.G Áreas de transição entre domínios pedobioclimáticos (AB SABER, 1970).
182
CLASSIFICAÇÃO E GEOGR AFIA DE SOLOS
190
Além da pobreza química genérica das rochas há, pela evapotranspiração reduzida e precipitações
elevadas, uma lixiviação intensa com uma taxa de intemperização não tão acentuada; nesta circunstância
pode ocorrer a presença de minerais primários facilmente intemperizáveis (moscovita, por exemplo) num
solo com baixa saturação por bases, freqüentemente álico (CARVALHO FILHO et al., 1991).
183
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES
Os fenômenos acima sugerem192 que o crédito para a lavoura deveria ser maior,
no montante, para a Zona da Mata mas com menor tempo de carência. Deveria, por
outro lado, ser menor no Sertão mas com muito maior tempo de carência. O Agreste
ocuparia, nesse contexto, a posição intermediária. Por outro lado, estudos sobre
probabilidade de precipitação193 poderiam sugerir a possibilidade de seleção de cultivares
com ciclos diferentes para as três zonas. Em princípio, prevê-se que quanto mais
curto for o ciclo de uma cultura, mais adaptável ela será no Sertão (Seridó, por exemplo).
Aí a absorção de nutrientes pode ser elevada, havendo água. Na Zona da Mata, onde
o teor de nutrientes é baixo e os riscos de A são menores, parece que as culturas de
ciclo um pouco mais longo teriam mais vantagens.
Uso simultâneo de várias unidades de terra
Além da necessidade de regionalização das linhas mestras de apoio ao agricultor ou
de estudos a esse respeito, deve-se ter em mente a heterogeneidade a nível mais local.
191
As condições bioclimáticas do Agreste, vegetação relativamente fechada, não ofereciam boas pastagens
originalmente, isso ao contrário do Sertão. É provável que isso tenha contribuído para um certo desinteresse
do grande proprietário. O Agreste, em alguns trechos de Pernambuco e da Paraíba, talvez seja o local de
maior densidade rural sustentável, pelo menos até agora, no Brasil (RESENDE, 1992).
192
Estes exemplos representam o que se prevê, com base tão somente no que foi relatado anteriormente.
O problema, no entanto, tem muitas facetas e exige conhecimentos especializados, alheios à experiência
dos autores.
193
As médias de precipitação, mesmo se não muito baixas, acobertam uma grande variabilidade.
184
CLASSIFICAÇÃO E GEOGR AFIA DE SOLOS
194
Há, quase sempre, uma dificuldade no uso dos nomes das classes de solo. Parte do problema é porque
os nomes não são familiares: a atribuição de nomes regionais às unidades de mapeamento no Rio Grande
do Sul (unidade Vacaria, Erexim, Caxias etc.) propiciou, aparentemente, uma melhoria neste aspecto. O
acervo de informações ambientais contempladas na classe de solo (e unidade de mapeamento) é tão grande
que é uma pena que ainda não tenhamos conseguido colocá-lo de forma mais acessível ao usuário.
185
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES
refere à algumas classes de solos de domínio tropical. Resultado: cada país tende a ter
um sistema de classificação próprio que mais se ajuste às suas condições; ao mesmo
tempo procura-se, nas publicações principais, estabelecer relações com as classes
dos outros dois sistemas: FAO e Soil Taxonomy.
195
Informação é conhecimento; é antônimo de ignorância. A classe de solo traz muitas informações a
respeito do ambiente para as raízes; também quanto a impedimentos à mecanização, erodibilidade,
infiltração de água etc. Se, além do nome central da classe, houver informações sobre o relevo e a vegetação
original, como nas unidades de mapeamento da maioria dos levantamentos de solos realizados no Brasil,
o volume de dados aumenta muito; emergem novas possibilidades de conhecimento, interações peculiares
de cada classe.
196
As classificações botânicas, zoológicas e pedológicas são estruturadas em diferentes níveis de generalidade;
as classes de alto nível são em pequeno número, mas, cada qual, com um grande número de elementos: são
classes muito heterogêneas. O número de classes vai aumentando em direção aos níveis categóricos
inferiores; e o número de elementos em cada classe vai diminuindo: tornam-se mais homogêneas.
186
CLASSIFICAÇÃO E GEOGR AFIA DE SOLOS
Tabela 7.M Nomes das ordens, elementos formativos e sua derivação (ESTADOS
UNIDOS, 1975, 1999).
Ordem Elemento Formativo Derivação *
Vertisol ert L. - vertere, inverter
Entisol ent Ent, de recente; lembra solos jovens
Inceptisol ept L. - inceptum, início
Aridisol id L. - aridus, seco
Spodosol od G. - spodos, cinzas de madeira
Ultisol ult L. - ultimus, último
Mollisol oll L. - mollis, macio
Alfisol alf relativamente rico nesses elementos: Al e Fe.
Oxisol ox F. - oxide, óxido
Histosol ist G. - histos, tecido
Andisol and J. - ando, solo escuro
Gelisol el L. - gelare, gelo
*L. = Latim; G. = Grego; F. = Francês; J. = Japonês.
197
A aplicação dos regimes hídrico e térmico do solo à classificação, em particular em alto nível categórico,
apresenta dificuldades. Além da deficiência de dados para muitas partes do mundo, trata-se de um dado
probabilístico; por exemplo, um Latossolo Vermelho-Escuro (Latossolo Vermelho com teor de Fe2O3 <
18%) num período de 52 anos (SANS, 1986) tem, em média, 51 dias em que o solo (seção de controle) está
parcial ou totalmente seco; mas essa amplitude vai de 8 a 144 dias (SANS, 1986; RESENDE et al., 1992).
198
No Planalto de Viçosa, numa área interpretada como tendo havido coluviações, há acúmulo gradativo
ou episódico de material, podendo haver, lado a lado, diferentes perfis de carbono, dando valores acima e
abaixo de 16 kg/m3; o limite de 16 kg de carbono por metro cúbico separa Humox de Orthox.
187
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES
199
Mais recentemente tem havido mudanças nesse sentido.
200
Alguns termos usados nas aproximações da Soil Taxonomy, e depois abandonados, foram mantidos na
classificação brasileira, com definições adaptadas.
188
CLASSIFICAÇÃO E GEOGR AFIA DE SOLOS
Tabela 7.N Correlação entre classes de solo dos Sistemas Brasileiros, anterior à
hierarquização (CAMARGO et al., 1987; OLIVEIRA et al., 1992), e o novo sistema
hierarquizado (EMBRAPA, 2006).
Sistema antigo Sistema novo
Latossolos Ferríferos Latossolos Vermelhos Perférricos
Latossolos Roxos Latossolos Vermelhos Acriférricos
Latossolos Vermelhos Aluminoférricos
Latossolos Vermelhos Distroférricos
Latossolos Vermelhos Eutroférricos
Pequena parte dos Latossolos Vermelhos Perférricos
Latossolos Vermelho-Escuros Latossolos Vermelhos Ácricos
Latossolos Vermelhos Distróficos
Latossolos Vermelhos Eutróficos
Latossolos Vermelho-Amarelos Latossolos Vermelho-Amarelos Ácricos
Latossolos Vermelho-Amarelos Alumínicos
Latossolos Vermelho-Amarelos Distróficos
Latossolos Vermelho-Amarelos Eutróficos
Parte dos Latossolos Amarelos Ácricos
Parte dos Latossolos Amarelos Alumínicos
Parte dos Latossolos Amarelos Distróficos
Parte dos Latossolos Amarelos Eutróficos
Latossolos Amarelos Latossolos Amarelos Distrocoesos
Latossolos Una Latossolos Amarelos Acriférricos
Latossolos Amarelos Distroférricos
Parte dos Latossolos Amarelos Ácricos
Parte dos Latossolos Amarelos Alumínicos
Continua...
201
O fato de a classificação de solos, anterior ao novo sistema, não ter uma organização em classes
hierarquizadas, faz com que os taxa sejam mostrados em diferentes níveis categóricos; por outro lado, a
sua forte vinculação à paisagem torna sua percepção relativamente fácil à nível de campo.
189
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES
190
CLASSIFICAÇÃO E GEOGR AFIA DE SOLOS
Vertissolos Vertissolos
Rendzinas Chernossolos Rêndzicos
Solos Litólicos (Litossolos) Neossolos Litólicos
Organossolos Fólicos Fíbricos líticos
Organossolos Fólicos Hêmicos líticos
Organossolos Fólicos Sápricos líticos
Regossolos Neossolos Regolíticos
Areias Quartzosas Neossolos Quartzarênicos
Solos Aluviais Neossolos Flúvicos
Solos Orgânicos Organossolos
202
Na Classificação Brasileira há uma tendência de se considerar os solos com hidromorfismo como
classes à parte: os Gleissolos; e Plintossolos, se houver plintita próxima à superfície, ou imediatamente
abaixo de horizontes com evidências de gleização e que não sejam horizonte B textural ou B incipiente. A
Soil Taxonomy inclui Plintossolos na classe dos Oxisols, na subordem dos Aquox.
191
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES
A A A A A
R C Bi Bt Bw
C C C
192
CLASSIFICAÇÃO E GEOGR AFIA DE SOLOS
d) Os solos tiomórficos (altos teores de enxofre e por isso exalam um mau cheiro
característico) ocorrem nas faixas litorâneas. Os solos calcimórficos não são
muito importantes no Brasil. Os areno-quartzosos profundos incluem as Areias
Quartzosas (AQ) e Areias Quartzosas Hidromórficas (HAQ), quando em
ambiente redutor, que são solos sem horizonte B (perfil AC), profundos, muito
arenosos (classes texturais areia e areia franca)203, distróficos, sendo o quartzo
o mineral quase exclusivo. Ocupam área bastante significativa do território
brasileiro. Na faixa costeira recebem o nome de Areias Quartzosas Marinhas
(AM), que podem ser antigas dunas colonizadas pela vegetação.
e) Exceto alguns poucos solos, todos os outros, independentemente da idade, podem
ser eutróficos (e) - alta saturação por bases; distróficos (d) - baixa saturação
por bases; ou álicos (a) - os distróficos com alta saturação por Al. Os solos
álicos oferecem uma barreira química ao desenvolvimento de raízes de plantas
mais sensíveis.
193
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES
representem LE com teores desse óxido bastante variáveis. São muito expressivos no
Planalto Central e na Depressão do São Francisco. Ocorrem esparsamente em todo
o território brasileiro não muito úmido. Podem também ser eutróficos, distróficos ou
álicos. Na maioria, como todos os Latossolos, são distróficos ou álicos, mas ocorrem
como eutróficos mais freqüentemente que o LV.
Latossolo Bruno (LB) - Este solo ocorre nas áreas basálticas elevadas do sul do
país. São solos com altos teores de Fe2O3 mas não possuem a coloração vermelha
típica do LR (Latossolo Roxo); a atração pelo magneto é também menor e o solo é
bastante duro quando seco. Possuem teores substanciais de vermiculita com hidróxido
de alumínio nas entrecamadas.
Latossolo Roxo (LR) - É o Latossolo desenvolvido de rochas máficas (basalto,
diabásio, gabro, tufito ou rochas afins). Tem cor vermelha, teores de Fe2O3 > 18% e
é fortemente atraído pelo magneto (ímã). É geralmente distrófico, mas existem áreas
consideráveis em que é eutrófico. Quando isto ocorre, é muito usado. Existem grandes
extensões de LR sob cerrado mas, mesmo aí, devido aos maiores teores de P2O5 total
e de micronutrientes, respondem melhor (do que os outros Latossolos em geral) a
adubações relativamente simples.
Latossolo Ferrífero (LF) - Solo cuja constituição mineralógica é dominada amplamente
por óxidos de Fe (>36% de Fe2O3). É fortemente atraído pelo magneto, como ocorre
com o LR, e tende a apresentar a relação Fe2O3/TiO2 mais alta do que aquele (CURI
& FRANZMEIER, 1987), mas há sobreposição de valores. É derivado de rochas
metamórficas muito ricas em ferro, compreendendo itabiritos, crostas ferruginosas e
materiais correlatos. Este Latossolo tem sido, até agora, encontrado na região do
Quadrilátero Ferrífero (MG) (EMBRAPA, 1982). A existência de Latossolos
Ferríferos sem quartzo na sua constituição (mineral abundante no itabirito), sugere os
dolomitos com impureza ferruginosa - ankerita206 (MOUKARIKA et al., 1991), como
uma fonte importante destes solos no Quadrilátero Ferrífero. Neste caso a concentração
do ferro dá-se residualmente pela dissolução dos carbonatos.
Latossolo Una207 (LU) - É comum apresentar, no horizonte Bw, cores brunadas,
amareladas e vermelho-amareladas e, percentagens médias (11-18%) a altas (> 18%)
de Fe2O3, razão pela qual este solo é considerado como LU e não como LV. A cor
206
Os calcários dolomíticos podem possuir ferro; este pode concentrar-se dando origem a solos muito
ricos em ferro. O ferro pode estar na estrutura do carbonato, por exemplo na ankerita, Ca (Fe, Mg, Mn)
(CO3)2. É uma ferro-dolomita (BATES & JACKSON, 1987), por intemperização produz maghemita
(MOUKARIKA et al., 1991).
207
A denominação Latossolo Variação Una, apesar de muito usada, inclusive por dois dos autores deste
trabalho (MR e NC), não é correta; a variação, neste caso, refere-se não ao conceito de Latossolo, mas
de Latossolo Vermelho-Amarelo; assim, o apropriado é Latossolo Vermelho-Amarelo variação Una ou
Latossolo Una, neste caso sem a palavra variação.
194
CLASSIFICAÇÃO E GEOGR AFIA DE SOLOS
195
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES
196
CLASSIFICAÇÃO E GEOGR AFIA DE SOLOS
Terra Roxa Estruturada (TR) Solo desenvolvido de rochas máficas, tem teor de
Fe2O3 > 15% e de TiO2 > 1,5% e a fração grosseira é, em geral, bastante atraída pelo
magneto. É comum apresentar, na parte inferior do perfil, horizonte maciço poroso
semelhante a B latossólico (TR latossólica). As originadas de diabásio e gabro revelam,
freqüentemente, blocos arredondados da rocha em decomposição, ao longo do perfil.
São solos geralmente eutróficos. As maiores áreas contínuas de TR estão nos estados
sulinos. São dos melhores solos do Brasil. Quando associadas ao LR, ocupam as
áreas mais acidentadas.
210
Pela própria característica de hidromorfia, esses solos tendem a apresentar topografia plana, em
terrenos baixos ou terços inferiores de encostas pouco declivosas. No Nordeste subárido há Planossolos
bem rasos, quase Solos Litólicos, alguns correspondendo ao conceito de Leptossolos (FAO), em
pequenas elevações suaves.
211
Esses solos ocorrem associados aos Solos Salinos ou Solonchaks, sem horizonte B e com condutividade
elétrica em alguma parte do perfil maior do que 4 decisiemens por metro (4dSm-1 ou 4 mmhos cm-1).
197
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES
212
Os solos com hidromorfismo acentuado, com horizonte glei (espessura 15 cm, cores cinzento-
oliváceas esverdeadas, azuis ou de croma muito baixo) a menos de 50 cm de profundidade tendem a ser
chamados de: Gleissolos ou Plintossolos, dependendo do que vem a seguir em profundidade. Parte do
que era chamada Laterita Hidromórfica atualmente seria Gleissolo; a maior parte se enquadra como
Plintossolos.
198
CLASSIFICAÇÃO E GEOGR AFIA DE SOLOS
7.5.3.6. Cambissolos
Solos não hidromórficos caracterizados essencialmente pelo horizonte B
incipiente214- Bi, que apresenta um pequeno grau de desenvolvimento pedogenético
que o distingue do horizonte C, mas insuficiente para caracterizar qualquer outro tipo
de B diagnóstico. Em suas características morfológicas pode, por vezes, assemelhar-
se ao horizonte B latossólico, do qual se distingue por uma ou mais das seguintes
características (EMBRAPA, 1988): presença de muito mineral primário facilmente
intemperizável ( 4% ou 6% de moscovita, determinados na fração areia); ou argila
mais ativa (> 13 cmol kg-1); ou Ki > 2,2; ou teores elevados de silte em relação à
argila (silte/argila 0,7, quando a textura for média; 0,6, quando argilosa, indicando
baixo grau de intemperismo); ou espessura menor que 50 cm; ou resquícios da rocha
mãe ou saprolito (> 5% do volume). Os solos que possuem esse horizonte ocupam,
geralmente, as partes jovens da paisagem.
213
Horizonte plíntico (do grego plinthos, tijolo), materiais com cores variegadas ou com mosqueados
vermelhos, indicando redução e oxidação do ferro; os mosqueados (plintita) ao endurecer-se formam as
concreções. Nestas pode haver concentração de elementos-traço, principalmente quando ricas também
em manganês e fósforo (FONTES et al., 1985). As raízes têm, em geral, dificuldade em se aprofundar
nesses sistemas. Não é muito adequado, em especial, para plantas perenes, que precisam de água
durante todo o ano.
214
Incipiente, do latim incipientum, principiante, que começa a desenvolver-se. É o horizonte típico dos
Cambissolos (C é o símbolo de Cambissolos), tem teor de argila uniforme em profundidade como os
Latossolos, mas há indicação de que sejam mais novos.
199
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES
215
A relação silte/argila é usada como um índice de maturidade do solo. A lógica desta aplicação é a de que
o silte é a partícula mais instável; mas em muitos horizontes C de solos originados de rochas gnáissicas
e granitóides há flocos de caulinita (pseudomorfos) do tamanho de silte (e até areia). A caulinita é
resistente à alteração química, mas quebra-se com facilidade no ambiente do horizonte C. Assim a
relação silte/argila parece válida também neste caso.
216
Rd, símbolo para Solo Litólico distrófico. Os Litólicos são distróficos ou álicos em duas situações:
rochas muito pobres, e, mais interessante, quando as condições pedoclimáticas favorecem mais a
lixiviação do que a intemperização: caso dos Litólicos desenvolvidos do basalto do Planalto Meridional
(CARVALHO FILHO et al., 1991).
217
Regossolo, do grego rhegos, lençol; daí a conotação de manto de material solto cobrindo rochas duras;
não apresenta horizonte B; o horizonte A situa-se diretamente sobre o horizonte C, com muitos
minerais facilmente intemperizáveis. As Areias Quartzosas, que estão geograficamente mais associadas
aos Latossolos ou às áreas de restingas, diferem dos Regossolos por apresentarem classes texturais
areia e areia franca, ou seja, %areia - %argila >70; e, como o nome diz, serem constituídas essencialmente
de quartzo, sem minerais primários facilmente intemperizáveis. Em geral são mais profundas do que os
Regossolos.
200
CLASSIFICAÇÃO E GEOGR AFIA DE SOLOS
218
Rendzina, do polonês rzdzic, barulho; dá conotação do barulho feito ao cultivar-se o solo raso e
pedregoso. É formada de horizonte A chernozêmico sobre material calcário.
219
Horizontes A são horizontes minerais [%C < 8 + 0,067 (% argila)], enriquecidos em matéria orgânica.
Contrasta nisso com o horizonte turfoso (hístico), um horizonte orgânico, com %C 8 + 0,067 (% argila),
com espessura 20 cm.
220
1. Estrutura só maciça se material mais macio que duro; prisma > 30 cm de diâmetro é considerado como
maciça; 2. [a] croma 3 u (úmido e úmido amassado) e valor 3 u e < 5 s (seco); [b] quando CaCO3 eq.
40%, basta valor 5u; [c] valor mais escuro (uma unidade) e croma menor (duas unidades) do que o
horizonte 1C e, se somente ocorrerem 2C e R (ausência de 1 C), do que o horizonte imediatamente acima
desses; 3. V 50%; 4. C 0,6% em todo o horizonte; se CaCO3 eq. 40%, C 2,5% nos 18 cm superficiais;
5. [a] espessura > 18 cm e > 0,33 (A + B) se A + B < 75 cm; [b] > 25 cm se A + B > 75 cm; [c] > 10 cm se
horizonte A estiver sobre contato lítico, petrocálcico ou duripã; 6. P2O5 (ácido cítrico) < 250 g kg-1.
221
Os horizontes A fraco, A moderado e A proeminente ou A chernozêmico seguem uma ordem crescente
de expressividade. O horizonte A fraco tem simultaneamente: % C < 0,6; cor clara com valor 4 (úmido)
e 6 (seco) e estrutura fraca ou maciça. O horizonte A moderado é uma espécie de resíduo (em cor, matéria
orgânica e espessura). Os requisitos do A chernozêmico já foram definidos. O A proeminente difere do A
chernozêmico por ter V < 50%(pela classificação atual 65%).
201
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES
202
CLASSIFICAÇÃO E GEOGR AFIA DE SOLOS
Tr = T x 100/% argila
onde: Tr e T têm o mesmo significado da fórmula anterior e como pode ser observado, não
ocorre correção para carbono. É considerada Ta aquela cujo valor for 27 cmolC kg-1
de argila e Tb valor inferior a este.
225
Estudando dados de Latossolos de várias partes do mundo, Klamt & Sombroek (1988) acharam uma
capacidade de troca por grama de carbono, variando de 1,4 a 9,4, média de 3,36 meq. Isso equivale a uma
capacidade de troca da matéria orgânica de 81 a 545 meq/100g de matéria orgânica, média de 195 meq/
100g. Esses valores médios estão na faixa de 100 a 300 meq/100g, registrados como normais por Moller
& Donahue (1990).
226
No novo sistema (EMBRAPA, 2006), os atributos diagnósticos eutrófico e distrófico sofreram subdvisão
para diferenciar os solos no 5º nível categórico (ainda não estruturado). Assim, considerando a saturação
por bases (V), tem-se: hiperdistrófico, V < 35%; mesodistrófico, V 35% e < 50%; mesoeutrófico, V
50% e < 75%; e hipereutrófico, V 75%.
227
Eutrófico, do grego eu, bem, e trophè, alimento; solos ricos em nutrientes; distrófico do grego dys,
dificuldade, e trophè, alimento; solos pobres em nutrientes. Esses termos, usados inicialmente por pedólogos
suecos, foram depois usados pelo limnólogo sueco Einer Naumann (1891-1934) para classificar os lagos
(ESTEVES, 1988).
203
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES
228
Os Solos Podzolizados Variação Lins, por exemplo, registrados em São Paulo, no final da década de 50
(LEMOS et al., 1960), referiam-se a uma variação do conceito de Podzólico Vermelho-Amarelo, até então
todos distróficos. Esses solos de São Paulo pareciam-se com os Podzólicos Vermelho-Amarelos (Red-
Yellow Podzolic), mas eram eutróficos. Depois passaram a ser denominados Podzólico Vermelho-Amarelo
Equivalente Eutrófico e, finalmente, Podzólico Vermelho-Amarelo Eutrófico (Argissolo Vermelho-Amarelo
Eutrófico). A importância desses solos justifica tirá-los do conceito de Solo Variante ou Variação; por
outro lado, o Rubrozém (Alissolo Crômico Húmico), denominado, desde o início, como uma classe à
parte, talvez devesse ter permanecido como um solo variante.
204
CLASSIFICAÇÃO E GEOGR AFIA DE SOLOS
Tabela 7.P Saturação por bases e por alumínio, nos horizontes A e B (1), e
especificações correspondentes (RESENDE & REZENDE, 1983).
Horizontes Especificações
A B
(2)
a a álico
a d distrófico (epiálico)
a e eutrófico (epiálico)
d a álico (epidistrófico)
d d distrófico
d e eutrófico (epidistrófico)
e a álico (epieutrófico)
e d distrófico (epieutrófico)
e e eutrófico
(1)
Na ausência do horizonte B usa-se o C, quando for o caso. (2)a=álico; d = distrófico; e=
eutrófico.
205
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES
7.6. Bibliografia
AB SABER, A. N. Províncias geológicas e domínios morfoclimáticos no Brasil. Geomorfologia,
São Paulo, v. 20, p. 26, 1970.
BATES, R. L.; JACKSON, J. A. (Eds.). Glossary of geology. 3th ed. Alexandria: American
Geological Institute, 1987. 788 p.
CARVALHO FILHO, A.; RESENDE, M.; KER, J. C. Solos distróficos ricos em minerais primários
facilmente intemperizáveis. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIA DO SOLO, 23., 1991,
Porto Alegre. Resumos... Porto Alegre: UFRGS, 1991. p. 275.
CURI, N. et al. Problemas relativos ao uso, manejo e conservação do solo em Minas Gerais.
Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v. 16, p. 5-16, 1992.
CURI, N.; FRANZMEIER, D. P. Effect of parent rocks on chemical and mineralogical properties of
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PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES
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CLASSIFICAÇÃO E GEOGR AFIA DE SOLOS
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Horizonte: Embrapa/CNPMS/CIMMYT, 1992.
209
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES
210
LEVANTAMENTO DE SOLOS
8
LEVANTAMENTO DE SOLOS
229
Nos levantamentos de solos do Brasil, feitos pelos técnicos do Serviço Nacional de Levantamento e
Conservação de Solos (atualmente CNPS), além do nome central da classe de solo (geralmente em letras
maiúsculas), são especificadas a riqueza em nutrientes, a expressão do horizonte superficial escurecido,
a textura geral do perfil, a forma de vegetação original e o relevo. Algumas outras adjetivações podem ser
adicionadas ao nome central.
211
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES
230
Os componentes das unidades de mapeamento freqüentemente podem ser identificados por critérios
simples a nível de campo. Como cada componente apresenta, em geral, qualidades e limitações muito
peculiares, requer também manejo diferente. Conclusão: há necessidade, localmente, de se identificar
cada componente no campo.
231
É conveniente definir detalhe do levantamento de solos em termos de densidade de observações, em
vez da simples definição da escala. O nível de detalhe seria o grau de segurança e o número de previsões
a respeito de determinado local representado no mapa. Nas estratificações de ambiente objetiva-se, em
geral, a separação de estratos potencialmente diferentes quanto às comunidades possíveis. Por exemplo,
previsões sobre o comportamento de tal ou tal comunidade, pastagens, talhões florestais, cultivos
anuais etc.
212
LEV A N T A M EN T O DE S OLOS
232
A busca de soluções universais, sem antes passar pelo processo de compreensão mais aprofundada,
tem retardado a caminhada. Hoje, e a nível de aplicabilidade, reconhece-se melhor o valor da regionalização,
da estratificação. Os enganos e tropeços têm ensinado a conveniência de se reduzir o escopo dos resultados
a limites justos, a estratos mais homogêneos e, mesmo aí, a interrogar: será que todas as variáveis
pertinentes foram contempladas?
213
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES
233
O Serviço Nacional de Levantamento e Conservação de Solos, atual Centro Nacional de Pesquisa de
Solos, da EMBRAPA, lançou o Mapa de Solos do Brasil, na escala 1:5.000.000 (EMBRAPA, 1981), o
que constituiu um marco significativo para o conhecimento dos nossos solos.
234
Mapa básico é o usado no campo para receber diretamente os delineamentos, separando as unidades de
mapeamento. A escala de publicação é geralmente menor.
214
LEV A N T A M EN T O DE S OLOS
215
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES
216
LEV A N T A M EN T O DE S OLOS
(GOMES et al., 1982), no qual se percebe uma clara separação entre os solos
desenvolvidos a partir da alteração de rochas basálticas (principalmente o Latossolo
Roxo, atual Latossolo Vermelho férrico), ao longo dos rios principais, e aqueles
influenciados pelos arenitos (sobretudo o Latossolo Vermelho-Escuro, atual Latossolo
Vermelho com teor de Fe2O3 < 18%, textura média).
8.2.4. Para Lazer e Turismo
Informações sobre áreas que devido às suas características e propriedades
não são adequadas para atividades agrícolas mas que podem ter condições favoráveis
à implementação de lazer e turismo, podem ser obtidas a partir dos levantamentos de
solos238.
8.3. Bibliografia
EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA. Centro Nacional de Pesquisa de
Solos. Procedimentos normativos de levantamentos pedológicos. Brasília, DF, 1995. 116 p.
GOMES, I. A. et al. Levantamento de média intensidade dos solos e avaliação da aptidão agrícola
das terras do Triângulo Mineiro. Rio de Janeiro: Embrapa-SNLCS, 1982. 526 p. (Boletim de
pes-quisa, 1).
LEMOS, R. C. et al. Levantamento de reconhecimento dos solos do Estado de São Paulo. Rio de
Janeiro: CNEPA-SNPA, 1960. 634 p. (Boletim técnico, 12).
238
Para o Parque Florestal do Rio Doce (MG), um dos autores (SBR), baseando-se no levantamento de
solos (escala 1:32.500), escalonou os ambientes quanto à erosão, nutrientes, oxigênio e traficabilidade.
Isso permitiu zonear as oportunidades e restrições quanto a construções, estradas, estacionamentos e
trilhas rústicas. A espessura do horizonte B, um indicador de instabilidade, teve um peso bastante grande
na ordenação.
217
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES
218
MICROBACIAS HIDROGRÁFICAS
9
MICROBACIAS HIDROGRÁFICAS
239
As propriedades do todo não podem ser reduzidas à soma das propriedades das partes; em outras
palavras, a floresta é mais do que uma mera coleção de árvores (ODUM, 1985). Essas propriedades que
surgem pela interação, e não simples soma das partes, são as propriedades emergentes.
219
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES
Figura 9.A As pequenas bacias de drenagem são uma unidade natural básica. Isto
permite detalhamento progressivo de estudo, sem perda do sentido de conjunto.
220
M I CR OBA CIA S H IDR OGR ÁFICAS
221
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES
DIVISORES
Figura 9.C Esquema de delimitação pelos divisores topográficos das pequenas bacias
de drenagem.
222
M I CR OBA CIA S H IDR OGR ÁFICAS
223
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES
dos canais de menor para o de maior ordem hierárquica tenda para a simultaneidade
ao atingir este último, o que favorece a ocorrência de enchentes maiores. Por outro
lado, as enchentes em uma bacia mais alongada e estreita tendem a ser menores
(com picos mais baixos), porém mais duradouras.
onde:
F = fator de forma; A = área da bacia; L = eixo da bacia (comprimento)
__________________________________________________
L obtém-se:
a) canal principal incluindo-se seu prolongamento ao limite da bacia
b) linha aproximadamente paralela ao canal principal
c) diâmetro máximo da bacia (da saída ao ponto mais longíquo)
224
M I CR OBA CIA S H IDR OGR ÁFICAS
241
No exemplo, Nw = ae-bw (r2 = 0,9996), com a = 101,89 e b = -1,1601, tem melhor ajuste que log Nw =
log a - b log w (r2 = 0,9479).
242
Diáclase, fraturas sem deslocamento entre as partes; nisto diferem das falhas.
225
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES
Figura 9.I Relação entre textura (silte + argila) e água retida a 30 kPa (Ac =
capacidade de campo) e 1500 kPa (Am = ponto de murcha). As equações são de
Arruda et al. (1987); os demais pontos são de Latossolos brasileiros (CORDEIRO,
1977; FERREIRA, 1988).
226
M I CR OBA CIA S H IDR OGR ÁFICAS
Tabela 9.C Adaptação de forrageiras aos desvios dos fatores abióticos do ambiente,
resistência ao fogo e palatabilidade
Fatores Adaptação
Deficiência de nutrientes batatais > gordura > jaraguá = angola > colonião
Deficiência de água colonião > jaraguá > gordura > batatais > angola
Deficiência de oxigênio angola > batatais > jaraguá > colonião > gordura244
Temperatura alta colonião > jaraguá > gordura
Temperatura baixa gordura > jaraguá > colonião
Resistência ao fogo batatais > colonião = jaraguá > angola > gordura
Palatabilidade gordura > colonião > jaraguá > angola > batatais
Fonte: Baruqui et al. (1985).
Nas áreas de rochas pelíticas pobres, os solos rasos têm baixo poder tamponante
quanto à economia de água. Isto é, o fluxo superficial é sazonalmente, muito intenso,
o que facilita a erosão laminar, removendo matéria orgânica, sementes e nutrientes,
dificultando também a reinstalação da vegetação natural após degradação.
243
O encrostamento é provocado pelo impacto direto das gotas de chuva; dificulta a infiltração da água das
chuvas, em particular as primeiras, e, conseqüentemente, provoca o arraste de sementes; mecanicamente,
o encrostamento dificulta a germinação e o estabelecimento da plântula.
244
A presença de capim-gordura em solos rasos, Solo Litólicos (Neossolos Litólicos), sobre rocha dura
(lajedos), em muitos trechos do Sudeste do Brasil, é estranha, à primeira vista. O capim-gordura (Mellinis
minutiflora) é, em geral (existem ecótipos mais tolerantes), muito pouco tolerante à deficiência de oxigênio
no solo (BARUQUI et al., 1985); a posição inclinada desses solos possibilita a remoção eficiente do
excesso de água: é um solo bem arejado, permitindo a ocorrência do capim-gordura.
227
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES
245
Áreas de tensão, áreas com combinação de limitações, em geral deficiências de água e de nutrientes,
proporcionando o contato de dois ou mais biomas, havendo mistura de espécies ou contato na forma de
enclave; neste caso, cada formação guarda a sua identidade. Cada formação envolvida tende a ser,
tipicamente, tolerante à limitação para a qual a outra formação não apresenta tolerância. O fato de as duas
formações coabitarem significa que as áreas de tensão não apresentam limitações em grau extremo.
246
A presença de muitas rochas pelíticas (metapelíticas) pré-cambrianas é intrigante; esses materiais
implicam na preexistência de intemperização acentuada para produzir as grandes massas de argila - o
material de origem, por assim dizer, das rochas pelíticas. Essa intensa e extensa alteração, em princípio,
estaria ligada à intensa atividade biológica, o que não é confirmado pela paleontologia. Será que as
condições atmosféricas pré-cambrianas teriam algo especial, favorecendo a intemperização?
228
M I CR OBA CIA S H IDR OGR ÁFICAS
247
Quando a erosão é muito intensa e a rocha fresca está próxima à superfície, erosão e intemperismo
podem se equivaler e a taxa de pedogênese/erosão se aproximar da unidade. Também nos chapadões a
equivalência entre ambos tende a prevalescer, mas por efeito contrário, tanto erosão, como pedogênese,
são pouco atuantes, devido, respectivamente, ao relevo aplainado, alta permeabilidade do solo, e ao fato
da rocha encontrar-se a grandes profundidades, dificultando a atuação dos agentes intempéricos.
248
A poluição das águas pode ocorrer de duas formas: uma localizada pelos efluentes dos esgotos diversos;
outra não localizada, que afeta o lençol freático.
249
As rochas cristalinas, ígneas e metamórficas, alteram-se com mais dificuldade do que o calcário, não
deixam a água se infiltrar; a irregularidade de intemperização, além de características estruturais, cria
freqüentemente bacias naturais entre as pedras; a construção de pequenos barreiros é particularmente
facilitada e o acúmulo de sedimentos ou solos sobre essas rochas ajuda sobremaneira na economia de água
(agradecemos a Francisco Ernesto Sobrinho por ter alertado um de nós, MR, para essas importantes
relações). Apesar dessas características favoráveis, as rochas cristalinas, em si, são maus aqüíferos. As
áreas calcárias, por sua vez, não têm as vantagens das de substrato psamítico (arenitos), bons aqüíferos,
nem as das rochas cristalinas.
229
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES
250
Para que o ferro seja removido do sistema em solução ele precisa ser reduzido (passar a Fe2+) e, em
seguida, ser removido. O Fe(III) é um oxidante, apto a recepcionar os elétrons; onde existe muito Fe (III)
torna-se difícil a presença de altos teores de Fe2+, pois, os elétrons são recepcionados com facilidade.
Deve haver um contínuo processo de troca de elétrons entre Fe2+ e Fe(III) não permitindo que o mesmo
átomo se mantenha reduzido por muito tempo. Isso talvez ajude também a explicar porque os solos ricos
em ferro, mesmo quando submetidos a encharcamento, permanecem ricos em Fe2O3. Os Latossolos Unas
(Latossolos Amarelos e Vermelho-Amarelos com teor de Fe2O3 entre 11 e 30%), associados às áreas
basálticas, constituem um exemplo (OLIVEIRA et al., 1991).
230
M I CR OBA CIA S H IDR OGR ÁFICAS
231
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES
9.3. Bibliografia
ALMEIDA, J. R.; RESENDE, M. Considerações sobre o manejo de solos rasos desenvolvidos
de rochas pelíticas do Estado de Minas Gerais. Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v. 11, n.
128, p. 19-26, 1985.
232
M I CR OBA CIA S H IDR OGR ÁFICAS
ARRUDA, F. B.; ZULLO JÚNIOR., J.; OLIVEIRA, J. B. Parâmetros de solo para o cálculo da
água disponível com base na textura do solo. Revista Brasileira de Ciências do Solo, Campinas,
v. 11, p. 11-15, 1987.
BRADY, N. C. The nature and properties of soils. 8. ed. New York: MacMillan, 1974. 639 p.
GOMES, I. A. et al. Levantamento de média intensidade dos solos e avaliação da aptidão agrícola
das terras do Triângulo Mineiro. Rio de Janeiro: Embrapa-SNLCS, 1982. 526 p. (Boletim de
pesquisa, 1).
SCHUMACHER, E. F. Small is beautiful: economics as if people mattered. New York: Harper &
Row, 1973.
233
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES
234
MICROMORFOLOGIA DO SOLO
10
MICROMORFOLOGIA DO SOLO
251
Descrição sistemática dos solos baseada em observações de campo, em amostras de mão (macropeds)
e no estudo de seções finas, além de informações, obtidas por outras técnicas, sobre tamanho, forma,
arranjo e identificação dos constituintes do solo.
235
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES
252
Em micromorfologia, a orientação da amostra é indispensável, a fim de se observar a acumulação de
materiais orgânicos e minerais resultantes de processos de migração (iluviação, por exemplo), diferenciar
fendas estruturais (poros naturais) de rachaduras (poros artificiais) etc.
236
M I CR OM OR FOLOGI A DO S OLO
237
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES
253
Formado ou gerado no lugar; cristalizado depois da deposição do sedimento original, não transportado
(BATES & JACKSON, 1987).
238
M I CR OM OR FOLOGI A DO S OLO
254
Houve, na definição de horizonte argílico da Soil Taxonomy, ênfase demasiada nas análises
micromorfológicas, na presença e quantificação da argila orientada. Isso criou muitos problemas nos solos
com B textural (conceito mais amplo do que argílico) de argila de atividade baixa. Como resultado das
propostas advindas do Workshop Internacional on Low Activity Clays, realizado no Brasil em 1978,
houve modificação na Soil Taxonomy: a criação do horizonte cândico, semelhante ao horizonte argílico,
mas tendo argila de atividade baixa e não tendo nenhum requisito quanto à ocorrência de argila orientada.
Nas definições de Alfisol e Ultisol, onde se lia requer horizonte argílico , leia-se: requer horizontes
argílico ou cândico . Assim, Rezende (1980) classificou, inicialmente como Alfisol, um Podzólico
Vermelho-Escuro (Argissolo Vermelho) eutrófico, devido à cerosidade forte e abundante; com base na
análise micromorfológica, foi reclassificado como Eutrorthox: apenas um cutã (argilã) foi encontrado no
horizonte BC; atualmente (SOIL SURVEY STAFF, 1999), seria novamente Alfisol (Kanhapludalf).
255
Matriz-s = matriz do solo.
239
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES
240
M I CR OM OR FOLOGI A DO S OLO
256
Birrefringência, habilidade dos cristais de partir o raio de luz ordinária em dois feixes de velocidades
diferentes; isso só não acontece nos cristais isométricos ou do sistema cúbico (diamante, ouro, granadas,
prata, sodalita etc.) (BATES & JACKSON, 1987; BRANCO, 1992).
241
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES
242
M I CR OM OR FOLOGI A DO S OLO
243
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES
258
Macroporosidade ou porosidade não capilar, nesta análise, compreende os poros com diâmetro maior
que 8 m; microporosidade ou porosidade capilar, corresponde aos poros com diâmetro inferior a 8 m
(LOZET & MATHIEU, 1986).
244
M I CR OM OR FOLOGI A DO S OLO
245
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES
10.6. Bibliografia
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247
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES
248
POLUIÇÃO AMBIENTAL
11
POLUIÇÃO AMBIENTAL
249
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES
A maioria das amostras estudadas por Campos et al. (2003) apresenta valores
muito elevados de cádmio, bem acima dos valores típicos registrados para solos (Tabela
11.A). Além do Cd, apenas está acima dos valores típicos o Cu, particularmente nos
Latossolos Vermelhos férricos. Tal constatação é importante, pois já foi dito que os
Latossolos brasileiros possuem teores naturalmente mais elevados que os solos mundiais
(BUOL & ESWARAN, 2000), o que implicaria em riscos à saúde humana. Na verdade,
os Latossolos brasileiros situam-se perfeitamente na média mundial quanto ao teor de
metais pesados.
250
POLUIÇÃ O AM BIEN T AL
251
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES
que esses elementos chegam ao solo, ocorrem várias reações, as quais são dependentes
do tipo e teor do metal pesado e da classe de solo. De fato, a toxicidade relativa dos
metais pesados é grandemente modificada pelas propriedades do solo onde são
depositados.
11.2. Pesticidas
Os pesticidas são predominantemente aplicados em pulverização foliar, na
superfície do solo, ou são a ele incorporados. Em qualquer dos casos, uma grande
proporção desses pesticidas, eventualmente, movimenta-se no solo (BRADY, 1974).
Uma vez no solo, os pesticidas - na sua maioria muito pouco voláteis - podem
ser adsorvidos, submetidos a reações químicas, decompostos e transportados pela
água, pela erosão ou por lixiviação. No último caso, a sorção dos pesticidas em solos
assume papel relevante. De fato, a maioria dos inseticidas, nematicidas e fungicidas é
eletricamente neutra, e é retida principalmente pela matéria orgânica. Esses pesticidas
podem ser carreados até horizontes mais profundos, ao lençol freático e daí aos poços
e minas d água. Pela erosão esses compostos podem ser arrastados até córregos,
riachos, represas e rios.
São poucos os trabalhos, realizados no Brasil, sobre o destino de pesticidas em
solos. A maioria se restringe a estudos sobre sua persistência (remoção e degradação),
como o realizado em Latossolo Roxo (LR, atual Latossolo Vermelho férrico) e Podzólico
Vermelho-Amarelo (PV, atual Argissolo Vermelho-Amarelo) da região Sul de Minas
Gerais (PIFFER, 1989). Foi estimada em 16% da dose aplicada, a quantidade de
resíduos de Aldicarbe transportada para além dos 50 cm de profundidade no LR. Por
outro lado, apenas 2,5% do produto ultrapassaram a profundidade de 1 m. No PV,
cujos teores de matéria orgânica são maiores e a permeabilidade menor, esses
percentuais foram ainda mais baixos. O referido autor assinala ainda que, como nos
solos estudados o lençol freático está localizado a muitos metros de profundidade, não
seria esperada, naquelas condições, a contaminação do lençol freático, mesmo na
dosagem normalmente considerada alta.
Os Latossolos brasileiros, apesar de receberem um grande volume de pesticidas
quando sob agricultura mecanizada, são relativamente menos erodíveis, armazenam
maior volume de água e têm lençol freático a grandes profundidades, além de possuírem
normalmente teores de argila médios ou altos. Essas características podem, de certa
forma, minimizar os impactos ambientais potencialmente causados pelo uso de tais
substâncias. Situação oposta é apresentada pelos solos de várzea (solos hidromórficos
e Solos Aluviais, estes últimos correspondendo aos atuais Neossolos Flúvicos). Como
o lençol freático está mais próximo à superfície, os solos de várzeas constituem
ambiente mais vulnerável (CURI et al., 1988). Os solos com horizonte B textural (não
252
POLUIÇÃ O AM BIEN T AL
253
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES
254
POLUIÇÃ O AM BIEN T AL
11.6. Bibliografia
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256
CLASSIFICAÇÃO DE ECOSSISTEMAS
12
CLASSIFICAÇÃO DE ECOSSISTEMAS
Reino ⎯ Animalia
Filo ⎯ Chordata
Subfilo ⎯ Vertebrata
Classe ⎯ Mammalia
Ordem ⎯ Carnivora
Família ⎯ Canidae
Gênero ⎯ Canis
Espécie ⎯ Canis familiaris
257
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES
258
CLA S S IFICAÇÃO DE ECOS S IS TEM AS
As classes de solos estão (Tabela 12.A) nos níveis mais detalhados da hierarquia.
Em regiões não sujeitas a invernos rigorosos, a diferenciação do ambiente físico
depende, ainda mais, de variações no substrato, isto é, do solo. Assim, para o Brasil, o
uso apenas de critérios climáticos261, como nos Domínios e Divisões de Bailey (1976),
não parece promissor.
Este fato foi percebido por Ab Saber mesmo em nível categórico elevado, quando
elegeu com maestria os seus Domínios Morfoclimáticos (AB SABER, 1970). Para o
território brasileiro sugere-se uma simplificação dos critérios hierárquicos de
estratificação das ecorregiões (Tabela 12.B).
261
O que está sendo tratado não é o critério de importância, a estação de crescimento nos trópicos, mais
do que qualquer outro fator, é determinada pelo início e fim do período chuvoso; o que se procura é a
formação de classes de ecossistemas com o máximo de significado e o mínimo razoável de níveis categóricos.
262
As unidades de mapeamento de solos no Brasil incluem as fases de vegetação original e relevo; assim há
mais informação do que os dados do perfil do solo: numa unidade com relevo acidentado, as variações de
insolação, conforme a exposição, são diferentes das da área mais suave.
263
Essa posição da província abaixo da região é consistente com Webster (1989). A região é usada também
no sentido genérico de classe de área, uma parte da superfície da Terra que se distingue, de alguma forma,
das áreas vizinhas (GRIGG, 1974).
259
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES
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267
A idéia dos teores de alumínio como os principais responsáveis pela presença do cerrado não corresponde
aos trabalhos pedológicos (os maiores teores de alumínio em solos brasileiros não estão nas áreas sob
cerrado; e mais: existem solos eutróficos sob cerrado); nem é consistente com a previsão de que as
sementes de espécies tortuosas de cerrado devem perder essas características, quando colocadas em solos
ricos em nutrientes; nem com os dados palinológicos de expansão das áreas de cerrado onde é hoje a
floresta Amazônica, com solos tão ou mais ricos em alumínio do que os sob cerrado.
261
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES
12.3. Solos
O solo forma como se fosse a pele do planeta Terra, é a interseção da litosfera,
biosfera, atmosfera e hidrosfera; é, de certa forma, um fenômeno de superfície e,
como tal, variável a pequenas distâncias; exige estudo detalhado para ser mais bem
compreendido nas suas funções dentro das ecorregiões e como sinalizador das
propriedades e limitações dos ecossistemas.
Os solos possuem horizontes ou camadas relativamente homogêneas paralelas
à superfície (Tabela 12.F). Os horizontes são, em si mesmos, ambientes distintos; o
horizonte A, além de ser mais influenciado pela atividade biológica, sofre maiores
flutuações de temperatura e de água; apesar de ser, em geral, mais rico em nutrientes,
com freqüência não tem água para que esses nutrientes sejam absorvidos efetivamente.
Os primeiros centímetros do horizonte A podem ser, em algumas circunstâncias, a
parte mais inóspita do solo para as plantas. Acima do horizonte A podem acumular-se
detritos orgânicos, com diferentes graus de decomposição.
268
Alguns pontos foram enfatizados: 1) a disponibilidade de água ( A) e a disponibilidade de nutrientes
( N) é que essencialmente afetam a distribuição das principais formas vegetacionais no território brasileiro;
a deficiência de oxigênio (drenagem), por afetar o crescimento de raízes e a disponibilidade de nutrientes
(toxidez etc.), influi tanto em N quanto em A. A e N têm forte interação: nos lugares mais úmidos
a ciclagem de nutrientes compensa a pobreza em nutrientes do solo; 2) o arraste de sementes encosta
abaixo, nos solos rasos e encrostados, dificulta o estabelecimento de vegetação; isso se acentua se o solo
for pobre em nutrientes, A for pronunciado e a vegetação arbórea estiver abaixo ou distante; 3) tanto a
vegetação quanto o solo são corpos históricos, não dependem só da situação atual: são, em grande parte,
metaestáveis em busca de novos equilíbrios; a interferência humana, nesses casos, tende a causar grandes
alterações.
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Os teores mínimos de carbono e a profundidade crítica a ser considerada vão depender da espessura dos
horizontes A+B ou A+C.
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As chaves são tanto mais úteis quanto mais contextualizadas, por exemplo,
chaves das classes de solo de interesse de uma pequena comunidade em vez de
chaves de solos do Brasil. A chave é apenas uma forma de apresentação. Ela pode
usar, ao contrário da classificação de solos, de critérios extra-solos. É legitimo usar-
se o material de origem ou localização geográfica ou outros, dependendo do contexto.
No Sistema de Classificação de Solos, recentemente formalizado no Brasil
(EMBRAPA, 2006), as classes de solos em alto nível podem ser de uma forma
simplificada associadas a alguns horizontes e características (Tabela 12.J).
270
CLA S S IFICAÇÃO DE ECOS S IS TEM AS
Usando como exemplo os Latossolos, estes são os solos mais profundos (Figura
12.A) e possuem seqüência de horizontes ABwC (veja significado de w na Tabela
12.H). A seqüência e natureza dos horizontes dão indicações ambientais da capacidade
de armazenamento de água: para a mesma precipitação, por exemplo, as enchentes
serão mais catastróficas na área de Cambissolos e Solos Litólicos (Neossolos Litólicos)
do que na de Latossolos. E entre os Latossolos elas tenderiam a ser mais pronunciadas
nos Latossolos Amarelos Coesos da Amazônia e nos Tabuleiros Costeiros e nos
Latossolos Brunos Subtropicais do que nos Latossolos Vermelho-Escuros (Latossolos
Vermelhos com teor de Fe2O3 < 18%) e Latossolos Vermelho-Amarelos Gibbsíticos
do Planalto Central, no domínio dos cerrados.
271
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES
As classes de solos, como usadas nos levantamentos, vêm num contexto bastante
informativo (Figura 12.B).
O símbolo Cd, indicando Cambissolo distrófico, representa um solo raso (Figura
12.A) e pobre em nutrientes (Tabela 12.K).
272
CLA S S IFICAÇÃO DE ECOS S IS TEM AS
273
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES
informações úteis à identificação dessas classes de solo (Tabela 12.L), muitas delas já
vistas em outras seções deste livro. São os chamados critérios para distinção de classes
de solos. Com o auxílio desses critérios (propriedades diagnósticas) define-se a chave
para identificação das classes de solos de alto nível categórico (Figura 12.D).
Tabela 12.L Critérios usados nas chaves simplificadas de identificação das classes
de solos brasileiros (Figuras 12.D e 12.E), com comentários de interesse biológico.
(1) HO - (Horizonte hístico). Altos teores de matéria orgânica. Ocorrem em solos
encharcados; podem, dependendo de como são drenados, subsidir e pegar fogo.
(2) f - (Horizonte plíntico). Cores variegadas ou com mosqueados vermelhos, indicando
redução e oxidação do Fe; os mosqueados podem endurecer-se, formando nódulos ou
concreções. Nestas, pode haver concentração de elementos-traço, principalmente quando
ricas também em manganês e fósforo (FONTES et al., 1985).
(3) Bw - (Horizonte B latossólico). Profundos, em geral porosos, mesmo quando muito
argilosos, pobres em nutrientes; muito espaço para penetração de raízes e água. A
presença de gibbsita (indicada por valores baixos de Ki, critério(20), quando Ki = 0,75, %
gibbsita = % caulinita), mesmo em pequenas quantidades, favorece essa estrutura
esponjosa (pó-de-café); os com pouca gibbsita, como os Latossolos Amarelos (Área
Costeira e Amazônica: Ki > 1,5 e % Fe2O3 < 7%) e os Latossolos Brunos (Áreas
Subtropicais: Ki > 1,5 e % Fe2O3 variável, indo até > 25%), têm estrutura mais compacta
quando secos.
(4) Bt - (B textural). É bem mais argiloso do que o horizonte suprajacente A; é menos
espesso e tem, em geral, maior teor de minerais ricos em nutrientes do que o Bw; as
raízes e a água, mesmo sem camadas impeditivas declaradas, têm certa dificuldade de
penetração.
(5) 2,5YR - (cores tão ou mais vermelhas que 2,5YR 5/4). Solos bem vermelhos,
Rhodic. Isso indica: presença de hematita que indica altos teores de ferro se clima for
muito úmido; teores altos ou intermediários de ferro se pedoclima for seco ou
parcialmente seco, por alguns meses; hematita herdada da rocha original (arenitos e
pelitos vermelhos), e por isso mais resistente, se teores de ferro forem muito baixos. Em
qualquer dos casos indica boa drenagem.
(6) Em - (altos teores de esmectita). Argila que se expande e se contrai com extrema
facilidade, dando ao solo grandes fraturas quando seco, rompendo raízes e acelerando
perda de água. Moléculas orgânicas alojam-se entre as camadas expandidas, acentuando a
cor escura.
Continua...
274
CLA S S IFICAÇÃO DE ECOS S IS TEM AS
275
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES
(15) Glei - (horizonte glei). Indica ausência dos pigmentos ferruginosos, goethita e
hematita. O ferro foi reduzido; se o solo é encharcado permanentemente pode existir
grande quantidade de ferro reduzido (Fe2+); se não, houve remoção quase completa e o
material de origem era pobre em ferro e, freqüentemente, em fósforo, elementos-traço etc.
(16) B plânico - (horizonte B plânico). Tipo especial de horizonte Bt (critério (4)),
apresentando uma transição muito pronunciada no teor de argila entre os horizontes A ou E e
B. As raízes e água freqüentemente têm dificuldade em penetrar no horizonte B; se a camada
suprajacente arenosa for bastante espessa pode-se formar um ambiente favorável, se pouco
espessa, ambiente desfavorável.
(17) 5YR 4/6,8 - (cores tão ou mais vermelhas que 5YR 4/6 ou 4/8). As mesmas
considerações feitas no critério (5).
(18) A chernoz (horizonte A chernozêmico). Tem altos teores de bases, principalmente
cálcio. Está associado a regiões com estresse hídrico acentuado; e, geralmente, com
rochas ricas em cálcio, como calcário, basalto etc. Representa, de certa forma, uma
otimização do processo de precipitações insuficientes para lixiviar os nutrientes
intensamente, mas suficientes para permitir considerável adição de matéria orgânica ao
solo. Associado tipicamente às Pradarias e Estepes; no Brasil ocorre sob floresta; em
particular caducifólia e subcaducifólia.
(19) Va - (saturação por bases alta). Lixiviação reduzida; intemperização acentuadamente
maior do que a lixiviação. Nos solos com baixa capacidade de troca e ausência de minerais
ricos em nutrientes, a absorção e ciclagem de nutrientes das camadas não muito profundas
suplantou a lixiviação.
(20) Ki > 1,5 - (relação molecular SiO2/Al2O3, dada pelo ataque sulfúrico, > 1,5). A
caulinita tem Ki = 2,00; as argilas Ta têm Ki maior, até cerca de 5. Quanto mais
intemperizado o solo, menor o Ki.
(21) AmodAfraco - (Horizontes A moderado e A fraco). O horizonte A fraco é típico de
regiões mais secas, apresenta-se freqüentemente encrostado à superfície; sofre um intenso
processo de erosão laminar. Assim, além da relação produção/decomposição não favorecer o
acúmulo de matéria orgânica, a remoção pela erosão reduz seu teor. O horizonte A moderado é
o mais comum nos solos não hidromórficos brasileiros, sendo moderadamente espesso e
apresentando teores médios de matéria orgânica.
(22) j - (horizonte sulfúrico). Ocorre em alguns solos dos mangues; há formação de ácido
sulfúrico com a exposição ao ar, abaixando muito o pH. Indica um ambiente que deve ser
mantido como reserva, embora em alguns países (Guiné-Bissau e Holanda) sejam muito
importantes agricolamente.
(23) Na% > 15% - (saturação por sódio, relação 100Na/T > 15%). Define caráter sódico. O
sódio dispersa as argilas, dando uma estrutura compacta, dificultando em grau extremo a
penetração de água e raízes. O pH muito elevado, pH > 8,4, dificulta também a absorção de
vários nutrientes.
(24) TBE (topo do B escuro). Feição típica de alguns solos subtropicais de altitude do Brasil.
Continua...
276
CLA S S IFICAÇÃO DE ECOS S IS TEM AS
(25) FeTi - (teores de Fe2O3 > 15% e TiO2 > 1,5%, dados pelo ataque sulfúrico).
Identifica solos com Bt, originados de rochas máficas, com todas as implicações em
termos de teor de fósforo total, elementos-traço etc.
(26) Prof >50 - (profundidade > 50 cm até rocha fresca, contato lítico, ou rocha semi-
alterada, contato litóide). Essa característica distingue dois grandes ambientes no que se
refere, principalmente, ao armazenamento de água e penetração de raízes.
(27) B nítico (horizonte B nítico). Textura argilosa ou muito argilosa, sem, ou com
pouco incremento de argila do horizonte A para B, no que difere do horizonte Bt (critério
(4)). Em outras características assemelha-se ao horizonte Bt.
(28) Na% > 6% - (saturação por sódio, relação 100Na/T > 6% e < 15%). Mesmo tendo
de 6 a 15% de saturação por sódio, esse ambiente já é problemático quanto às
dificuldades indicadas anteriormente no critério (23).
(29) FeArg - (teor de Fe2O3 > 3,75 + 0,062 x %argila). Expressão para ajustar teor de
Fe2O3 ao teor de argila.
(30) KK - (horizonte cálcico e material carbonático). Indicam ambientes de pouca
precipitação, lixiviação reduzida, deficiência d'água e de acumulação de CaCO3.
(31) Unif - (camadas uniformes). Sem estratificação pronunciada até, pelo menos, 200 cm.
(32) z (acúmulo de sais). Indicam ambiente com deficiência de drenagem, déficit
hídrico e acúmulo de sais.
(33) MPFI - (minerais primários facilmente intemperizáveis). Minerais ricos em
nutrientes. A liberação desses nutrientes é mais rápida nas regiões mais quentes; nas
regiões de temperaturas menores, mas precipitação elevada, a intemperização é mais lenta
do que a lixiviação: o solo é ácido, poucas bases disponíveis, embora tendo muitos
minerais ricos em nutrientes.
(34) Cinza - (ausência de pigmentos ferruginosos). Compostos orgânicos, ácidos
fúlvicos, atravessam o perfil de material arenoso e vão colorir as águas de cor escura
(negra, à distância). É um material desferrificado, indicando pobreza em fósforo e ele-
mentos-traço, efeito de lavagem. São muito pobres em nutrientes.
(35) Rest (ambientes de restinga). Ambiente com substrato arenoso à beira-mar.
(36) Bhs (Horizonte espódico). Subsuperfície escura, indicando que houve
movimentação de matéria orgânica num perfil muito arenoso; lixiviação intensa; pobreza
acentuada de nutrientes.
(37) 7,5YR - (cores 7,5YR ou menos vermelhas ou mais amarelas). Praticamente
separa os solos que têm dos que não têm hematita. No novo Sistema Brasileiro de
Classificação de Solos esse limite é 5YR.
(38) Pálido - (cores mais amarelas que 7,5YR, valor 5 e croma 4). No novo Sistema
Brasileiro de Classificação de Solos usa-se cores mais amarelas que 5YR. Indicam solos
muito pobres em ferro e, em geral, em muitos outros nutrientes. Indicam áreas que estão
ou estiveram sob influência de lençol freático elevado.
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PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES
NÃO
(2) f Plintossolo
(6) Em Vertissolo
(2) f Plintossolo
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CLA S S IFICAÇÃO DE ECOS S IS TEM AS
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PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES
Código do critério, como definido na Tabela 12.L, por SIM Classe de solo
Classe de solo de mais alto nível categórico (Ordem) da nova anteriormente
Classificação (EMBRAPA, 2006) NÃO usada(1)
(35) Restinga AM
AQ
A
R
----------------------------------------------------- Vertissolos ------------------------------------------------
Horizonte vértico entre 25 e 100 cm de profundidade (Hidromórficos, Ebânicos, Háplicos)
(6) Em V
--------------------------------------------------- Cambissolos ------------------------------------------------
Horizonte A ou hístico com menos de 40 cm sobre horizonte B incipiente (Húmicos, Flúvicos,
Háplicos)
(10) Bi C
-------------------------------------------------- Chernossolos ------------------------------------------------
Horizonte A chernozêmico com CaCO3 eq. 150 g/kg sobre rocha ou sobre C cálcico ou
carbonático ou A chernozêmico sobre Bt ou Bi, Ta (Rêndzicos, Ebânicos, Argilúvicos, Háplicos)
(10) Bi B
(4) Bt BH
(30) KK RZ
BV
---------------------------------------------------- Luvissolos ------------------------------------------------
Horizonte B textural, argila de atividade alta (Ta) e alta saturação por bases (Va); sem A
chernozêmico (Crômicos, Háplicos)
(17) 5YR 4/6,8 (25) FeTi ?
(21) A fraco NC
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CLA S S IFICAÇÃO DE ECOS S IS TEM AS
Código do critério, como definido na Tabela 12.L, por SIM Classe de solo
Classe de solo de mais alto nível categórico (Ordem) da nova anteriormente
Classificação (EMBRAPA, 2006) NÃO usada(1)
(29) FeArg PE
PV
(24) TBE PB Tb?
(13) STA TB
(29) FeArg PE Tb
PV Tb
--------------------------------------------------- Argissolos --------------------------------------------------
Horizonte B textural e argila de baixa atividade (Bruno-Acinzentados, Acinzentados, Amarelos,
Vermelhos, Vermelho-Amarelos)
(37) 7,5YR (38) Pálido PZ
PA
PV Tb
------------------------------------------------------ Latossolos ------------------------------------------------------
Horizonte B latossólico abaixo de horizonte A - dentro de 200 cm ou 300 cm se horizonte A >
150 cm (Brunos, Amarelos, Vermelhos, Vermelho-Amarelos)
(5) 2,5YR (9) Fe > 18% (14) Máficas LR
LF
LE
(8) Fe > 11% (13) STA LB
LU
(12) Fe > 7% LV
281
PEDOLOGIA: BASE PAR A DISTIN ÇÃO DE AM BIEN TES
Código do critério, como definido na Tabela 12.L, por SIM Classe de solo
Classe de solo de mais alto nível categórico (Ordem) da nova anteriormente
Classificação (EMBRAPA, 2006) NÃO usada(1)
--------------------------------------------------- Planossolos ---------------------------------------------------
Horizonte plânico imediatamente abaixo de horizonte E ou A (Nátricos, Háplicos)
(23) Na% >15% SS
(22) j GT
282
CLA S S IFICAÇÃO DE ECOS S IS TEM AS
12.4. Bibliografia
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