Esc Enzimatico 2024
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Roberto da Silva
Os alimentos são matrizes complexas compostas por um grande número de compostos com
funções específicas que são dramaticamente modificadas por reações provocadas pela manipulação ou
processamento dos alimentos. Dentre estas reações, estão as de escurecimento. As reações de
escurecimento em alimentos (REA) podem ser de natureza enzimática e não enzimática e têm um
grande impacto na qualidade dos alimentos. As REA ocorrem com grande frequência e tornam-se
evidentes quando o alimento é submetido a processamento ou sofre injuria mecânica. São importantes
em termos de alteração de aparência, flavor e valor nutritivo. Em alguns casos são desejáveis, por
exemplo, chá, café, cerveja, pão, etc. Em outros casos são desejáveis até certo ponto, por exemplo,
suco de maçã, batata frita, etc. Entretanto, em muitos casos são indesejáveis, por exemplo, sucos
congelados, alimentos (frutas e vegetais) desidratados ou mesmo em alimentos in natura, resultando
em flavor e aparência desagradáveis. Assim é importante conhecer os seus mecanismos de ações, suas
implicações sobre a saúde e os métodos de controle e inibição.
1. Escurecimento Enzimático
O escurecimento enzimático é um processo bioquímico, que se inicia em resposta a injúrias
físicas e fisiológicas aos tecidos (frutas e vegetais principalmente), catalisado por enzimas
(polifenoloxidase principalmente) que atuam na oxidação de compostos fenólicos que resulta em
pigmentos marrons. Além de frutas e vegetais, ele pode ser observado também em alguns crustáceos
(camarões, lagostas e caranguejos). O escurecimento enzimático é prejudicial para a qualidade e pode
ser responsável por até 50% de todas as perdas na produção e comercialização de frutas e legumes.
A fruticultura comercial exige cada vez mais profissionalismo, pois o acesso aos mercados
depende de um arcabouço de regulamentos dos países que importam os produtos. O entendimento da
União Europeia (EU), que costuma estabelecer limites ainda mais baixos, sobre Limite Máximo de
Resíduos (LMR) de agrotóxicos em frutas, do que o estabelecido pelo Codex Alimentarius, o que afeta
largamente a importação pelo bloco (Vidal, 2021). Além disso, há implicações internacionais no que
diz respeito à segurança alimentar, relacionada a rastreabilidade da fruta, bem como a sustentabilidade
e controle da qualidade na produção. Sendo assim, os mercados importadores exigem adequações dos
produtos frutícolas aos parâmetros e normas estabelecidos por eles, como medidas não tarifárias, a
exemplos das sanitárias e fitossanitárias.
O Brasil, apesar de ser responsável pela terceira maior produção mundial (Tabela 2), detém um
pequeno percentual do mercado global de frutas; em 2019, respondeu por apenas 2,4% do valor das
exportações mundiais, atrás dos Estados Unidos, Espanha, China, Chile, Tailândia, México, Itália,
Turquia e Equador.
Tabela 2. Principais países produtores de frutas no mundo - 2013
Países Área Produção (t) % Produção
China 13.299.094 190.161.340 26,1
Índia 6.948.950 86.038.600 11,8
Brasil 2.548.730 41.522.181 5,7
EUA 1.235.325 28.250.377 3,9
Turquia 1.337.623 19.240.404 2,6
Itália 1.317.653 18.052.136 2,5
Irã 1.293.834 16.910.521 2,3
Espanha 1.609.160 16.893.520 2,3
México 1.277.845 16.854.079 2.3
Filipinas 1.163.632 16.302.821 2,2
Demais países 27.762.043 278.216.372 38,2
Total 59.793.889 1.28.442.351 100,0
FAO, 2021
O Brasil é um grande produtor (Tabela 3) de frutas. A vasta extensão territorial do Brasil, com
suas variabilidades climáticas e de solos, possibilita uma diversidade frutífera ao longo de todo o ano,
tanto de lavouras permanentes como temporárias (SEBRAE, 2015). Isso faz com que a fruta esteja
sempre presente na vida do brasileiro, consolidando, assim, um mercado interno expressivo. Dados do
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IBGE de 2020 mostra uma comercialização oficial de frutas no Brasil da ordem de 41 milhões de
toneladas. Do total da produção, cerca de 47% vão para o consumo na forma de frutas frescas, sendo
45 pontos percentuais para o mercado interno e outros 2 pontos percentuais para exportações. Os
outros 53% da produção são utilizados nas agroindústrias, a maior parte de suco de laranja, produto
pelo qual o Brasil é o maior exportador e produtor mundial.
Tabela 3. Principais frutas produzidas no Brasil – 2020
Frutas Área (ha) Produção (t) Área (%) Produção (%)
Laranja 572.698 16.707.897 21,6 40,8
Banana 455.004 6.637.308 17,1 16,2
Melancia 98.205 2.184.907 3,7 5,3
Coco-da-Baía 187.497 1.639.226* 7,1 4,0
Abacaxi 64.787 1.637.126* 2,4 4,0
Limão 58.438 1.585.215 2,2 3,8
Manga 71.800 1.569.011 2,7 3,8
Uva 73.726 1.435.596 2,8 3,5
Mamão 28.450 1.235.003 1,1 3,0
Maçã 32.468 983.247 1,2 2,4
Demais frutas** 1.010.931 5.310.702 38,1 12,9
Total 2.654.004 40.925.238 100 100
*Abacaxi e o coco-da-Baía estão em unidades (mil frutos). **Demais frutas: Melão, Abacate, Açaí, Cacau, Caqui, Figo,
Goiaba, Guaraná, Maracujá, Marmelo, Pera, Pêssego e Tangerina. Fonte: Silva, 2021
Frutas e hortaliças são culturas altamente perecíveis, tornando-as um “ponto crítico” na luta
para reduzir a perda e o desperdício de alimentos. Cerca de 22% das frutas e legumes são perdidos
globalmente todos os anos desde a pós-colheita até a distribuição, o que é significativamente maior do
que as perdas de leguminosas e cereais (FAO ,CIRAD. 2021). A estimativa é que o escurecimento
enzimático pode ser responsável por até 50% de todas as perdas na produção e comercialização de
frutas e legumes.
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O escurecimento enzimático é causado por enzimas da classe das Oxidases ou Oxido-redutases,
na qual a mais importante é a Polifenol oxidase (PPO):
1) Polifenol oxidases
2) Peroxidases
3) Ácido ascórbico oxidase
Fig. 1. Estrutura terciária da PPO mostrando o cobre no sitio ativo e suas formas desoxi-PPO
(tirosinase) com os átomos de cobre no estado Cu(I) e capaz de se ligar ao oxigênio molecular para
formar oxi-PPO (tirosinase) na qual o oxigênio molecular está coordenado aos átomos de cobre em
uma conformação peroxi.
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O complexo da PPO pode ser considerado como oxidase de função mista por apresentar 2
tipos de reações: a) Hidroxilação do anel benzênico de monofenois para formar difenois e/ou b)
Remoção do hidrogênio a partir de difenois para formar quinonas. O Mecanismo geral da reação
ocorre conforme a figura 2, abaixo:
Figura 2. Mecanismo resumido de ação da PPO. 1) Hidroxilação lenta de monofenol e oxidação rápida de o-
difenl. 2) Oxidação rápida diretamente em o-difenol. Ambas as reações requerem oxigênio (O2). Os produtos de
o-quinona podem polimerizar levando à formação das melaninas (Mukherjee et al. 2018).
O processo é reversível, assim na presença de agentes redutores a reação pode ser inibida.
Agentes redutores como o ácido ascórbico, sulfito, e outros compostos que tenham potencial redox
inferior ao das quinonas, podem oxidar-se impedindo o prosseguimento da reação (a etapa de
polimerização).
O escurecimento da batata a partir da tirosina já foi bem caracterizado e está apresentado na
figura 3, como exemplo de um mecanismo específico. A oxidação da L-tirosina ilustra bem o processo,
já que este é o composto fenólico mais abundante na batata, e sua concentração parece ser o fator
limitante da taxa de escurecimento.
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Figura 3. Escurecimento da batata (via oxidação da tirosina)
b) Animal: As PPO estão distribuídas não somente em vegetais, mas também em outras formas de
vida, incluindo insetos, pescados como crustáceos (camarões e lagostas) e moluscos e mamíferos,
estando envolvidos na pigmentação da pele, através da ação da PPO sobre a tirosina.
Em camarões o escurecimento, chamado de melanose (uma forma de hiperpigmentação
associada com o aumento da melanina) é importante e deve ser evitado. A figura 5 apresenta um
exemplo de uma escala visual para a progressão da melanose (ponto negro), em camarão rosa
(Penaeus dourarum).
Após a morte do crustáceo ocorre a liberação da hemolinfa (fluido que tem as mesmas funções que o
sangue dos vertebrados, mas com uma composição química diferente), devido à degradação dos
tecidos, que leva à liberação de profenoloxidase (forma inativa da PPO). As enzimas proteolíticas em
contato com a hemolinfa ativam a profenoloxidase formando PPO ativa, que oxidará os substratos
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Figura 4: Estrutura de alguns substratos da PPO
fenólicos, como a tirosina, formando a melanina. Os produtos da melanose não são nocivos, mas são
rejeitados pelos consumidores por sua associação com deterioração microbiana e putrefação, causando
com isso grandes perdas econômicas.
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1.3.4. Características físico-químicas da PPO
- pH ótimo: 6,0 a 7,0; pH estabilidade: 5,0 a 8,0 - T. ótima: 25 a 30 °C; Tª. estabilidade: 10 a 50 °C
O Guaiacol (doador e-) vai ser oxidado a tetraguaiacol (pigmento marrom escuro) produzindo
peróxido que vai ser reduzido a água.
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Ocorrência: em todos vegetais superiores. Ocorre também no leite, sendo chamada de
lactoperoxidase. Também ocorre em microrganismos. Nestes, ela possui FAD como grupo prostético
no lugar do cobre.
A ação destas enzimas pode causar odor/sabor estranho aos vegetais que tenham peróxido
orgânico e peroxidase. A proteína isolada de soja apresenta problema de solubilidade devido a
peróxido orgânico. O tratamento destes isolados com peroxidase melhora a qualidade da proteína
isolada.
A Peroxidase é muito resistente ao calor e por isto muitas vezes é usada como indicador da
eficiência de branqueamento. Na indústria de laticínio ela é chamada de lactoperoxidase e sua ausência
ou presença é utilizada para julgar se o leito foi submetido à temperatura superior à de pasteurização.
O índice de pasteurização é dado pela FOSFATASE, se a pasteurização é perfeita o leite não apresenta
a atividade fosfatase.
Estabilidade térmica da enzima do leite: 70°C por 55’; 75°C por 15 - 19’; 80°C por 25”; 82°C
por 15 - 20”. A perda de atividade peroxidásica no alimento branqueado indica a correspondente perda
de atividade de outras enzimas deteriorativas.
A atividade desta enzima é também conhecida como atividade auto regenerante devido a
Inativação térmica reversível. A enzima é composta de frações de diferentes resistências ao tratamento
térmico e sua atividade pode ser restituída total ou parcialmente durante o período de estocagem a
temperatura ambiente ou mesmo a frio. Por isto o tratamento térmico deve ser rigoroso. Além disso a
inativação térmica depende da fonte, como mostra a tabela 9.
Tabela 9. Efeito da variedade de frutas sobre as condições do Branqueamento
Fruta Tempo (min) Temperatura (°C) Atividade Residual (%)
Pêssego 0,41 87 0
Pêra 4,50 87 0
Os inibidores químicos (atuam sobre o substrato ou complexo intermediário). Os mais usuais
são o dióxido enxofre e sulfitos
L-Ácido ascórbico + ½ O2 ⎯⎯ ⎯→ Ác. desidroascórbico + H2O ⎯⎯→ 2,3 Dicetogulonico ⎯⎯→ Furfural + CO2.
E − Cu
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Figura 10. Reação de escurecimento da ac. ascórbico oxidase
Este tipo de escurecimento é principalmente importante na indústria cítrica, pois pode ocorrer
durante o processamento e estocagem de sucos e concentrados. Na fruta intacta as oxidases além de
estarem compartimentalizadas, estão balanceadas pelas redutases e a interação destes dois sistemas
enzimáticos determina o nível final de ácido ascórbico.
Como nos outros casos de escurecimento, este também pode ser minimizada pelo
branqueamento (vapor) ou pela exclusão do O2 (desaeração).
No caso de alimento enlatado, ele deve ser processado em latas de folha de flandres aberta e o
equipamento livre de íons metálicos (principalmente Cu++), utilizando o túnel de exaustão para
eliminação do oxigênio.
A perda de ácido ascórbico não pode ser completamente prevenida, mas pode ser minimizada
durante o processamento.
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Vacas com mama inflamada liberam leucócitos, que contêm catalase e a sua presença no leite
pode indicar leite mastítico (infecção das glândulas mamarias).
a) Variáveis como fertilizantes, variedade e clima podem afetar a taxa de escurecimento nos alimentos.
Por ex. para batata frita, as melhores variedades são bing, panda, atlantic e lady, as quais são preferidas
por apresentarem menor teor de água e resultar num produto de boa qualidade.
b) Aplicação maciça de potássio aumenta a concentração de PPO em batata.
c) Pulverização com ácido giberélico (giberelina) e/ou Etefon diminuem a biossíntese de PPO,
consequentemente, reduzem taxa de escurecimento.
d) Cuidados com manutenção da integridade celular do tecido vegetal durante a colheita, transporte,
recepção, armazenamento etc., reduzem drasticamente o escurecimento enzimático.
1.8.2. Fase de processamento: Vários métodos têm usados para inativar ou retardar a ação das PPO,
visando a retenção da coloração original do alimento.
1.8.2.1. Branqueamento
O branqueamento é um tratamento térmico curto para destruir ou inativar enzimas antes do
processamento ou congelamento de produtos (principalmente vegetais). Se não for inativada, a
atividade enzimática pode alterar a cor dos vegetais, mesmo durante o congelamento, o que resulta em
perda de qualidade. A vantagem deste tratamento é que outras enzimas deteriorativas também são
inativadas.
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O calor é necessário para uma completa desnaturação da enzima e a temperatura de
branqueamento depende do tipo de enzima que ocorre no produto, mas é geralmente entre 70 e 100 °
C, por vezes superior quando enzimas mais resistentes estão presentes.
As enzimas são proteínas e, portanto, estão sujeitas a perdas de sua estrutura secundária e/ou
terciária por efeito do pH, temperatura e reagentes químicos (Figura 6), resultando na sua desnaturação
(o arranjo tridimensional da cadeia polipeptídica é rompido, fazendo com que, perca sua atividade
catalítica).
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Deve se ter cuidados no tratamento porque, pode resultar em perdas de sabor, aroma e textura,
além de poder clarear a cor (são as desvantagens do processo). Mas tem pouco efeito sobre o teor de
nutrientes ou sabor, pois é um processo relativamente curto.
1.8.2.2. Sulfito: Existem vários agentes químicos anti-escurecimento, dentre eles se destacam o sulfito
e ácido cítrico. Os Sulfitos (cuja forma ativa é dióxido de enxofre (SO2) desempenham um papel
multifuncional em alimentos. Eles tanto apresentam atividade antimicrobiana, quanto inibem as
reações de escurecimento enzimático e não enzimático. Embora sua ação ainda não seja
completamente conhecida, considera-se que atuem de formas reversíveis e irreversíveis. Quando atua
diretamente no sítio ativo da enzima, por mecanismo de inibição competitiva ou quando agem como
agentes redutores, sua ação é considerada reversível. Neste caso, o processo de inibição, consome o
sulfito, conferindo temporária proteção à descoloração, necessitando o uso de mais alta concentração.
Por outro lado, a reação é irreversível, quando ele reage diretamente com as quinonas formando
sulfoquinonas.
A concentração requerida é dependente do período de tempo em que a reação deve estar sob
controle e da natureza do substrato presente. Quando somente monofenóis como a tirosina está
presente, quantidade menor de sulfito pode ser empregada; alface e cogumelo são exemplos desta
situação. Quando difenóis estão presentes (como a catequina), concentrações de sulfito mais elevadas
são necessárias; exemplos desta situação seriam banana e maçã.
Em pescados os sulfitos têm sido amplamente utilizados para inibir a melanose, entre eles o
metabissulfito de sódio, o mais utilizado e o mais efetivo no tratamento da melanose em crustáceos.
É importante ressaltar os problemas de reações alérgicas devido ao uso de sulfitos em
alimentos. Há legislações que impõem limite para o uso dessas substâncias. No Brasil, o uso de
bissulfito de sódio, em pescado, é permitido como conservante em camarão e lagosta desde que o teor
residual de SO2 não ultrapasse 100 ppm.
Abaixo a lista dos prováveis mecanismos da ação do sulfito na prevenção do escurecimento
enzimático:
1) Inibição direta sobre a enzima. Reage com grupo prostético (Cu++) da enzima, através de
mecanismo de inibição competitiva.
2) Interação direta com intermediários formados durante a ação enzimática, impedindo sua
subseqüente participação na reação de polimerização e formação do pigmento escuro. Por exemplo, o
sulfito pode combinar com a quinona, bloqueando sua participação em oxidação e condensação
adicionais (Fig. 7).
3) O sulfito pode atuar simplesmente como agente redutor (Fig. 7), retornando a quinona para a forma
de fenol reduzido.
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Figura 7. Reação do sulfito com quinonas formando sulfoquinonas
Formas químicas do sulfito
SO2: dióxido de enxofre, por ex. Na forma de gás.
SO32-: sulfito, por ex. sulfito de sódio (Na2SO3)
HSO3-: bissulfito, por ex. bissulfito de sódio (NaHSO3)
S2O52-: metabissulfito, por ex. metabissulfito de sódio (Na2S2O5)
Tabela 7. Vantagens e desvantagens do emprego de sulfitos
Barato
Previne oxidação vitamina C
Vantagens Propriedades bactericida (anti-séptico)
Inibe várias outras enzimas (ascorbato oxidase e lipoxigenase)
Pode ser aplicado em casos onde o calor prejudica a textura
Pode alterar sabor* e aroma dependendo da concentração
Pode provocar corrosão de latas
Desvantagens É tóxico em níveis elevados
Destrói a vitamina B1 (tiamina)
Pode causar perda da cor natural: Destrói o carmim (ácido carmínico) ou cochonila**
(seu extrato aquoso) e destrói também a antocianina (uva).
* não é problema muito grave desde que seja removido por vácuo ou aquecimento. ** Corante
extraído de insetos (Dactylopius coccus), usado em panificação, sobremesa, produtos lácteos e xaropes
de frutas.
Formas de uso do sulfito:
- Na forma de SO2 gasoso (dióxido de enxofre): conserva bem a cor de frutas secadas ao sol, tem uma
melhor penetração que em solução.
- Na forma de soluções de sulfitos (Na2SO3), bissulfitos (NaHSO3) ou metabissulfitos (N2S2O5) etc. é
fácil manusear, pois é aplicado pela imersão do produto na solução. O Metabissulfito é considerado a
forma mais eficiente (usa na concentração de 10 a 50 ppm).
Nota2: Apenas o SO2 livre é eficiente na prevenção de escurecimento. Como os alimentos são sistemas
complexos, ele pode reagir com aldeídos ou cetonas presentes, perdendo a capacidade inibidora.
Assim, pode reagir com a glicose (aldeído) ou frutose (cetona) das frutas. Portanto, se muitos destes
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grupos estiverem presentes e a concentração do sulfito não for suficiente, ele vai perder o poder
inibidor das PPO.
1.8.2.3. ácido cítrico: Embora o mecanismo não seja totalmente conhecido, a adição de ácido cítrico
além de baixar o pH, também contribui para inativação das PPOs pela sua complexação com o grupo
prostético (Cu++) da enzima (o ac. cítrico tem efeito quelante sobre o cobre).
O ácido cítrico é geralmente utilizado junto com sulfito para impedir o escurecimento
enzimático no processamento de alimentos. A ação sinergística é mais eficiente. Sozinho não é muito
efetivo, sendo os ácidos málico e ascórbico, comparativamente, mais eficientes se nas quantidades
adequadas.
1.8.2.4. Ácido ascórbico: O ácido ascórbico (vitamina C) age como agente redutor e previne
escurecimento enzimático pela redução da quinona formada à sua molécula precursora (substrato que a
originou) (figura 8). Entretanto, é ele é consumido durante o processo.
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principais: a) pelo preço da enzima e do doador do grupo metila; b) tempo para o tratamento longo, o
produto deve ficar imerso em solução com doador por 3 -5 horas a 20 - 40°C, depois é lavado. Esse
processo não é usado industrialmente.
d) Otimização dos parâmetros de processamento: 1) Lavar o produto em água fria (quanto mais
fria melhor), contendo 1% de ácido cítrico de modo que o pH 4,0 . Tomar cuidado para retirar
excesso de ácido para evitar problemas de sabor. 2) Resfriar e esterilização do produto em um período
mais curto possível após a operação inicial, o que diminui sensivelmente a formação de coloração
indesejável; 3) Exclusão de O2: A imersão em água limita a disponibilidade de O2, entretanto devido
ao oxigênio natural do próprio tecido, ainda pode ocorrer algum escurecimento. A re-exposição do
produto ao ar irá causar o escurecimento. 4) Uso de túnel de exaustão.
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2. Reed, G. and Nagodawithana, T. (Ed.). Enzymes in food processing. 3rd Edition. Academic Press.
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ESTUDO DO BRANQUEAMENTO ENZIMÁTICO ATRAVÉS DA PEROXIDASE E CATALASE
Objetivo: verificar a ação do calor na inativação de enzimas de frutas e hortaliças (batata, maçã, mandioca, nabo e pêra)
Material: batata, maçã, nabo, pêra e mandioca; solução de guaiacol a 0,5 %; placas de porcelana ou vidro de relógio
solução de peróxido de hidrogênio (H2O2) 20V a 40%; banhos a 75°C e em ebulição; pipetas de Pasteur; Béquer de
400(Água quente) e Béquer de 250 mL (água fria); faca e bacia plástica (descascamento)
Procedimento:
1. cortar as amostras na forma de cubos (2 x 2 cm)
2. seguir o esquema abaixo:
QUESTÕES
1. Mostre a reação de oxidação do guaiacol pela peroxidase (com formulas estruturais).
2. Mostre a reação da catalase, indicando o substrato e o produto.
3. Qual das enzimas (P ou C) é mais termoestável? Qual das peroxidasses (origem botânica) é mais termoestável?
4. O que é "branqueamento" de frutos e vegetais? Quais os substratos da PPO nos vegetais analisados?
5. Qual é a enzima usada para indicar eficácia do branqueamento? Por quê?
6. A atividade peroxidase de um alimento branqueado foi zero, 5 minutos após tratamento térmico de 70°C por 10 minutos.
Entretanto, após estocagem a 5°C/3 dias, o material mostrou ter 15% da atividade peroxidase inicial. Explique.
7. Diferencie branqueamento de pasteurização.
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