Trabalho de FILOSOFIA JONH RAWLS

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CURSO DE DIREITO

TRABALHO DE FILOSOFIA

TEMA: A JUSTIÇA NA VISÃO DE JOHN RAWLS

PROFESSOR:ÂNGELO KALANGE
INTEGRANTES DO GRUPO nº2

1*Antonio Gerson Tenge Alexandre


2*Delcio Leandro Lima Fortes
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SUMARIO

1 INTRODUÇÃ --------------------------------------------------------------------------------2

2 BIOGRAFIA--------------------------------------------------------------------------------3

3 DESENVOLVIMENTO----------------------------------------------------------------------4

3.1 A TEORIA DA JUSTIÇA DE JOHN RAWLS-----------------------------------------4

3.2 JUSTIÇA COMO EQUIDADE. UMA CONCEPÇÃO POLÍTICA, NÃO


METAFÍSICA-----------------------------------------------------------------------------------7

4 CONCLUSÃO--------------------------------------------------------------------------------10

5 BIBLIOGRAFIA----------------------------------------------------------------------------11
2

1 INTRODUÇÃO
O debate sobre o tema ‘Justiça’, embora antigo, continua atual, e sobre ele ainda não
se chegou a um consenso. Na disputa entre interesses diversos, a balança da justiça
haverá de pender sempre para um dos lados, o que coloca em xeque, paradoxalmente,
a própria noção de justo. Decisões acerca de questões cotidianas diversas suscitam
tomadas de posição (sejam elas no campo econômico, político, da saúde ou da
educação), e as respostas a essas demandas são essenciais para pôr fim às discussões e
garantir avanços sociais.

No presente trabalho académico, a preocupação central foi de investigar a existência


de critérios justos, a partir das teorias de justiça apresentadas por John Rawls ,
sobretudo no aspecto da justiça como equidade. A partir da proposta de um modelo de
justiça ancorado nas bases primárias da sociedade, esse autor desenvolve ideias sobre
o justo (os princípios da justiça) que entendem devam estar presentes nas instituições,
uma vez que seriam elas as intermediadoras entre as pessoas no convívio social.

Rawls1 parte da concepção de que a distribuição de recursos deve ocorrer em duas


etapas. Na primeira, a preocupação seria com a distribuição igual de direitos e deveres
básicos. Na segunda, a partir do princípio da diferença, seriam compensadas as
desigualdades injustas, particularmente aquelas que atingissem os mais
desfavorecidos, garantindo-se a todos iguais oportunidades. Na teoria desenvolvida
por Rawls, sua preocupação se fundou na distribuição dos bens primários sociais
essenciais, considerados por ele como sendo: a liberdade, a oportunidade, a renda, a
riqueza e as bases do autorrespeito. A saúde foi concebida por ele como um bem
primário natural, que seria distribuído a contento em uma sociedade em que as bases
da justiça estivessem solidamente estabelecidas. Por isso, saúde, para Rawls, seria
consequência de uma sociedade justa, razão pela qual alega que a discussão sobre os
seus efeitos distributivos seria irrelevante.

A partir da teoria da justiça como equidade, de Rawls, ampliou a visão sobre a saúde
e, relacionando-a ao princípio da oportunidade, desenvolveu uma teoria na qual
destacou a importância moral da saúde, em virtude de seu impacto nas oportunidades
de vida das pessoas. Nessa linha de raciocínio, apresenta uma reflexão específica
acerca do que seja justiça em saúde e busca responder a questões relacionadas
ao status à possibilidade de se admitirem injustiças e às formas de se distribuírem
recursos de forma justa.

O objetivo da pesquisa, portanto, foi analisar as teorias da justiça formuladas por John
Rawls. Sob o prisma metodológico, trata-se de estudo puramente teórico, sem
experimento ou trabalho de campo, que, a partir da literatura sobre o tema,
fundamentou-se, num primeiro momento, na análise dos aspectos gerais da teoria da
justiça, de Rawls, passando, em seguida, às especificidades por ele trabalhadas com
relação aos princípios da diferença e da oportunidade, até chegar à análise da possível
aplicação de sua teoria .
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2 BIOGRAFIA
JOHN RAWLS
Filósofo norte-americano, nasceu em 1921, em Baltimore, e frequentou as
Universidades de Oxford e de Havard, tendo mais tarde lecionado nesta
última.
A sua obra é essencialmente uma reflexão sobre os domínios da ética e da
teoria política. Na sua obra Teoria da Justiça, ressuscita a ideia de
Contrato Social que, de uma ou outra forma, tinha sido alvo de reflexão
por parte de Hobbes, Locke e Jean-Jacques Rousseau. O seu objetivo é o
de ultrapassar o utilitarismo dominante na época moderna. O conceito de
justiça não diz somente respeito a princípios morais, mas também a um
conjunto mais vasto da atividade humana: as instituições políticas, os
sistemas jurídicos, as formas de organização social. A este respeito diz
Rawls: "a justiça é a primeira virtude das instituições sociais, como a
verdade o é em relação aos sistemas de pensamento."
Faleceu a 24 de novembro de 2002.
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3 DESENVOLVIMENTO

3.1 A TEORIA DA JUSTIÇA DE JOHN RAWLS

Insatisfeito com os argumentos filosóficos tradicionais acerca da justiça das


instituições, bem como sobre o que justifica as ações políticas e sociais, Rawls buscou
estabelecer uma justiça social racional a partir de um contrato social hipotético. A
reflexão do autor parte de uma pergunta inicial: caso houvesse uma aproximação
contratual, baseada em um acordo tácito entre os membros de uma sociedade
colocados em posição de igualdade, e todos pudessem entrar em sintonia, que tipo de
providência estaria dentro do senso comum?

Em sua obra, o filósofo argumenta que uma maneira de se pensar a justiça é se


perguntar quais princípios básicos seriam por todos aceitos em uma situação de
igualdade. Árdua tarefa, tendo em vista que escolhas tais são sempre influenciadas por
nossas crenças políticas e religiosas, nossa posição social e econômica e por nossos
interesses. À primeira vista, portanto, uma missão impossível, já que um contrato
social firmado diante de tais aspectos jamais seria justo. Foi diante de tais
circunstâncias adversas que Rawls elaborou mecanismos de sustentação de sua teoria,
que, segundo ele, buscam contraposição com as clássicas teorias do utilitarismo e do
intuicionismo, que, por longo tempo, dominaram as tradições filosóficas.

Na introdução de seu trabalho, Rawls apresenta as seguintes ponderações: “a justiça é


a primeira virtude das instituições sociais, assim como a verdade o é para os sistemas
de pensamento”as leis e as instituições, por mais eficientes e bem estruturadas que
sejam, devem ser reformadas ou abolidas caso sejam injustas todo indivíduo tem
direito à inviolabilidade pessoal fundada na justiça, que não pode ser sobreposta nem
mesmo para atender ao bem-estar de toda a sociedade, ou seja, não se concebe que o
sacrifício imposto a alguns seja maior que a soma das vantagens obtidas pela maioria;
“uma injustiça só é tolerável quando necessária a evitar uma injustiça ainda maior”
faz-se necessário, diante dos conflitos de interesse de uma coletividade, e em razão
dos vários arranjos sociais possíveis, estabelecer princípios que propiciem uma justa
distribuição de recursos. Esses seriam os princípios de justiça social, capazes de
estabelecer direitos e obrigações dentro da estrutura básica da sociedade, e de definir
as bases da cooperação social na distribuição dos benefícios e ônus.

Como, então, definir princípios na estrutura básica de uma sociedade marcada por
diversidades de toda sorte? Para possibilitar tal empreitada, Rawls propõe o seguinte
exercício mental: todas as pessoas seriam colocadas numa situação denominada
‘posição original’, que permitiria o estabelecimento de um procedimento justo de
estipulação dos princípios a serem acordados. Para tanto, todos os indivíduos seriam
colocados atrás do que ele chamou de ‘véu da ignorância’, que neutralizaria a tentação
de cada pessoa de explorar os fatores sociais e naturais a seu favor. Se não pudesse
conhecer como as várias alternativas poderiam afetar o seu caso particular, o
indivíduo seria obrigado a avaliar os princípios com base apenas em considerações
gerais, pois ninguém saberia sua posição na sociedade, suas habilidades e forças,
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condições psicológicas, as noções de bem, as particularidades de seu plano racional de


vida. Também não saberia sua situação política ou qualquer particularidade da
sociedade que ocuparia, como nível de evolução ou grau de desenvolvimento cultural.
As pessoas na posição original não teriam informações acerca, sequer, da geração a
que pertenceriam. A partir dessa situação de ignorância, bem como levando-se em
conta que partiriam da mesma posição inicial, deveriam escolher princípios para os
quais estivessem preparadas a aceitar as consequências, qualquer que fosse a situação
em que viessem a ser colocadas na sociedade. Parte-se, portanto, da premissa de que
todos conhecem apenas os aspectos gerais da sociedade, como as questões políticas,
econômicas e as bases da organização social e das leis de psicologia humana, ou seja,
presume-se que conhecem somente os fatores capazes de afetar a escolha dos
princípios da justiça e a aceitação de suas implicações.

Do aludido contrato hipotético, Rawls idealiza o surgimento de dois princípios. O


primeiro garantiria o máximo de liberdade básica igual a todos os cidadãos. O
segundo, relativo a preocupações de igualdade social e econômica e subdividido em
duas partes, prevê a possibilidade de existência de desigualdades relativamente aos
bens primários básicos, desde que as diferenças sirvam ao benefício de todos
(princípio da diferença), bem como estabelece direito de igual acesso a cargos e
postos oficiais, os quais devem ser abertos a todos, em qualquer circunstância
(princípio da oportunidade). Rawls afirma que sociedades e instituições somente são
justas se pautadas por cada um desses princípios básicos, descritos originalmente da
seguinte maneira:

Primeiramente: cada pessoa tem direito igual a mais extensa liberdade


básica compatível com uma liberdade semelhante para os outros. Em
segundo lugar: desigualdades sociais e econômicas devem ser
dispostas de modo que sirvam tanto como vantagem razoável a todos, e
ligadas a posições e cargos abertos a todos.

Posteriormente, Rawls muda, em alguns aspectos, o ponto de vista inicialmente


apresentado na obra ‘Uma Teoria da Justiça’, a fim de tornar mais clara a redação dos
princípios, bem como de alguns outros pontos obscuros do referido trabalho. A justiça
como equidade teria sido elaborada para as instituições políticas, sociais e
econômicas, portanto, não poderia ser entendida como uma concepção moral geral a
ser aplicada à estrutura básica da sociedade. Sustenta, ainda, que no Estado moderno
deve prevalecer a diversidade de doutrinas e o pluralismo de ideias, e que a justiça
como equidade por ele defendida apresenta-se como uma alternativa ao utilitarismo e
ao intuicionismo. Pondera que, nas democracias modernas, discussões acerca de
direitos fundamentais, às vezes, parecem problemas sem solução. Quando isso ocorre,
sugere que as questões sejam debatidas de modo a se encontrar uma resposta
plausível, capaz de trazer algum consenso que, ainda que não ideal, seja ao menos
razoável, baseada na cooperação política e no mútuo respeito.

Após a revisão dos princípios, estes, então, passaram a apresentar a seguinte redação:

Primeiro: cada pessoa deve ter um direito igual ao mais abrangente


sistema de liberdades básicas iguais que seja compatível com um
sistema semelhante de liberdades para as outras. Segundo: as
desigualdades sociais e econômicas devem ser ordenadas de tal modo
que sejam ao mesmo tempo consideradas como vantajosas para todos
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dentro dos limites do razoável, e vinculadas a posições e cargos


acessíveis a todos.

Embora as alterações dos princípios não tenham sido significativas, o que ele buscou,
principalmente com a mudança de redação do primeiro princípio, foi demonstrar que
não se atribui prioridade às liberdades de forma geral e absoluta, como valor principal
de um sistema político e social de justiça. O modo como justifica as liberdades
básicas é um dos grandes diferenciais do liberalismo político de Rawls, que não
defende um ideal moral abrangente, na forma preconizada pelos demais defensores do
liberalismo ético-político. No tratado apresentado pelo filósofo norte-americano sobre
os princípios da justiça, ele destaca que os dois princípios por ele defendidos
consubstanciam um caso especial de uma concepção mais ampla de justiç:. Segundo
ele, todos os valores sociais, tais como liberdade e oportunidade, renda e riqueza, e as
bases do autorrespeito (que são para ele os bens primários sociais essenciais), devem
ser distribuídos igualmente, a não ser que a distribuição desigual de um ou de todos
esses valores seja feita para o benefício de todos. Para ele, portanto, injustiça é
simplesmente desigualdade que não serve ao bem de todos.

O princípio da diferença, de Rawls, preconiza que o tratamento desigual entre


indivíduos tem um objetivo prático específico: compensar desigualdades e reduzir a
distância social e econômica entre as pessoas. A busca da equidade pressupõe a
existência de diferenças nas condições de vida dos indivíduos, e tais diferenças devem
ser reduzidas mediante ações de políticas públicas e participação da sociedade.

Bobbio, ao tratar da igualdade das oportunidades, chama a atenção para o fato de que
a vida é uma corrida ao alcance de bens escassos. Como em toda competição, se o
ponto de partida é diferente para as pessoas, aquele cuja linha esteja mais à frente
certamente vencerá a corrida. Por isso, defende a necessidade de igualdade dos pontos
de partida, assim como a inclusão dos menos favorecidos. Ainda que se possa afirmar
que as posições de partida variam de sociedade para sociedade, assim como Rawls,
Bobbio ressalta que, para colocar pessoas desiguais por nascimento no mesmo ponto
de partida é necessário favorecer uns em detrimento de outros.

Ainda que os escritos de Rawls não tenham sido específicos quanto à forma de
diminuir desigualdades, sua teoria serviu de semente e de fundamento para ações
políticas e sociais difundidas e aplicadas pelo mundo. As ações afirmativas no campo
da educação, por meio da instituição de cotas, é um grande exemplo, já que cria uma
igualdade, mediante a correção de uma desigualdade anterior.
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3.2 JUSTIÇA COMO EQUIDADE. UMA CONCEPÇÃO POLÍTICA, NÃO


METAFÍSICA
A justiça não detém um conceito metafísico ou ontológico, mas sim político,
resultante de acordo político das diferenças sociais, culturais, religiosas e econômicas,
comumente existentes numa sociedade de estrutura democrática. A concepção
particular de justiça é submissa aos anseios de justiça da sociedade em geral, que vem
a ser exteriorizada por meio de órgãos legitimados para tanto pela constituição do
Estado.

Nesse contexto, a norma injusta deve ser cumprida, muito embora esteja sujeita a
todos os métodos de hermenêutica jurídica, inclusive à luz da Constituição vigente,
que é presumivelmente justa.

A justiça como equidade é pensada para aplicação ao que se chama de estrutura


básica de uma democracia constitucional moderna. A estrutura básica designa as
principais instituições políticas, sociais e econômicas dessa sociedade, e o modo pelo
qual elas se combinam num sistema de cooperação social. O fundamental é que, do
ponto de vista político, nenhuma concepção moral geral pode fornecer uma base
publicamente reconhecida para uma concepção de justiça num estado democrático
moderno. A concepção política de justiça dá espaço a uma diversidade de doutrinas e
à pluralidade de concepções conflitantes e, na verdade, incomensuráveis, do bem tal
como adotados pelos membros das sociedades democráticas existentes.

Não há uniformidade no estabelecimento das instituições básicas de uma democracia


constitucional que especifiquem e assegurem os direitos e garantias fundamentais dos
cidadãos e atendam às demandas de igualdade democrática quando considerados
pessoas livres e iguais. É de interpretação controvertida a fixação de valores de
liberdade e igualdade como integrantes da estrutura básica da sociedade, isso em
conseqüência à liberdade de pensamento e de consciência.

A justiça como equidade tem como fundamento básico, primeiramente, a observância


de dois princípios, o da liberdade e o da igualdade. No segundo plano, que tais
princípios são superiores a todos os demais aplicáveis aos cidadãos, enquanto pessoas
livres e iguais. Entretanto, o ponto nodal é saber o que significa conceber os cidadãos
como pessoas livres e iguais. Em síntese, a realização dos valores de liberdade e
igualdade na estrutura básica da sociedade incide sempre que os cidadãos são
considerados pessoas detentoras das necessárias capacidades de personalidade que as
habilitam a participar da sociedade vista como um sistema de cooperação justa para o
benefício mútuo.

A filosofia, a moral ou a religião não têm como estabelecer as formas institucionais


mais apropriadas à liberdade e à igualdade. Apenas uma base pública de acordo
político o seria capaz, dado as diferenças e fortes convicções setoriais. O acordo
político, do qual resulta a concepção de justiça, nem sempre é livre de coercibilidade,
embora compatível à concepção de que pessoas são livres e iguais. A concepção
política de justiça é apresentada não como uma concepção da justiça verdadeira, mas
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como uma concepção que pode servir de base a um acordo político informado e
voluntário entre cidadãos vistos como pessoas livres e iguais. Do ponto de vista
filosófico, religioso ou moral, o acordo político sobre a justiça como eqüidade não
pode ser alcançado sem o desrespeito estatal das liberdades básicas. A filosofia como
busca da verdade independente não tem como oferecer uma concepção de justiça
numa sociedade democrática. É imperativo que seja aplicável à própria filosofia o
princípio da tolerância. Por meio do acordo político, as diferenças existentes entre
visões políticas concorrentes passam a ser moderadas, senão inteiramente removidas,
de tal maneira que a cooperação social com base no respeito mútuo possa ser mantida.
A idéia global fundamental de justiça política é a idéia da sociedade como um sistema
equitativo de cooperação entre pessoas livres e iguais. Não raramente, os cidadãos não
vêem a ordem social como uma ordem natural fixa, ou como uma hierarquia
institucional, sob o fundamento de valores religiosos ou aristocráticos. A moralidade
pessoal, ou dos membros de uma associação, ou da doutrina religiosa ou filosófica
adotada por uma pessoa, nem sempre coincidem com a ordem social. Porém, no
contexto político, tais diversidades individuais devem ser afastadas. São três os
elementos de cooperação social.

A cooperação é guiada por normas e procedimentos publicamente reconhecidos, que


são aceito pelos que cooperam como normas e procedimentos que regulam
apropriadamente suas condutas. A equidade da cooperação social parte da idéia de
reciprocidade ou mutualiberdade de maneira que os benefícios produzidos pelos
esforços de todos sejam equitativamente adquiridos e divididos de uma geração para a
subseqüente. A idéia de cooperação social requer a idéia da vantagem racional, ou
bem, de cada participante.

As pessoas, como participantes da cooperação social, são aquelas consideradas


cidadãs. Além de possuírem duas capacidades morais, as capacidades de senso de
justiça e de concepção do bem, as pessoas também têm uma concepção particular do
bem que tentam obter. O senso de justiça é a capacidade de entender, de aplicar e de
agir a partir da concepção pública de justiça que caracteriza os termos equitativos da
cooperação social. A capacidade de concepção do bem é a capacidade da pessoa de
formar, de revisar e racionalmente perseguir uma concepção da vantagem racional, ou
do bem. Nos negócios particulares ou na vida privada de associações, os cidadãos
frequentemente têm concepções distintas da concepção política de justiça. São
afeições, devoções e lealdades das quais dificilmente os cidadãos se separam para
avaliá-las do ponto de vista racional. A concepção de pessoas como seres dotados
dessas duas capacidades morais é inerente à cultura pública de uma sociedade
democrática.

A questão da posição originária diz respeito à especificidade dos princípios mais


apropriados à realização da igualdade e liberdade de sociedade na qual impera o
sistema de cooperação entre pessoas livres e iguais. É assim a melhor maneira para
elaborar um concepção política de justiça para a estrutura básica da sociedade.
Inicialmente, os cidadãos são livres ao conceber-se, e uns aos outros, como detentores
da capacidade moral de ter uma concepção do bem. Em um segundo plano, os
cidadãos percebem-se livres sempre que consideram-se como fontes auto-suscitantes
de reivindicações válidas. Por último, os cidadãos são tidos como livres quando
capazes de assumir a responsabilidade por seus fins, e isso afeta a maneira pela qual
suas várias reivindicações são avaliadas. Na posição originária são dois os princípios
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fundamentais. O primeiro princípio é que “cada pessoa tem de ter um igual direito ao
mais extensivo sistema total de básicas liberdades iguais, compatíveis com um similar
sistema de liberdade para todos”. O segundo princípio dispõe que “as desigualdades
sociais e econômicas têm de ser ajustadas de maneira que sejam tanto: para o maior
benefício dos menos privilegiados, consistente com o princípio justo de poupança;
como ligadas a cargos e posições abertos a todos, sob condições de equitativa
igualdade de oportunidade”. Os princípios auxiliares estão assim delimitados. A
primeira prioridade é a da liberdade, da qual os princípios de justiça têm de ser
ordenados em sequência léxica e, portanto, a liberdade só pode ser restringida por
conta da própria

liberdade e nos seguintes casos: uma liberdade menos extensa deve fortalecer o total
sistema de liberdade, compartilhado por todos; uma liberdade menos que igual, deve
ser aceitável àqueles como a liberdade menor. A segunda prioridade é a da justiça
sobre a eficiência e bem estar: uma desigualdade de oportunidade deve realçar as
oportunidades daqueles com menor oportunidade; uma excessiva taxa de poupança
deve, em equilíbrio, mitigar o fardo daqueles que estão suportando esse encargo. A
concepção política de justiça, como já consignado, embora moral, não é um ideal de
moral para a condução da vida, mas tão-somente a ser aplicada à estrutura básica da
sociedade. É a única doutrina compatível com o liberalismo do estado democrático,
no qual existem concepções conflitantes.

Daí, a possibilidade e, talvez, necessidade de impor restrições a indivíduos e


associações, contudo sempre em prol da justiça política. A autonomia e a
individualidade absoluta não são apropriadas para uma concepção política de justiça.
A sustentação das instituições democráticas é incompatível com o liberalismo
(individualidade e autonomia) irrestrito. Dessa maneira, a justiça como equidade é
similar à doutrina de Kant e Mill, porém em oposição a elas. Na justiça como
equidade, a unidade social e a lealdade dos cidadãos com respeito a suas instituições
comuns não estão calcadas na idéia de que todas as pessoas sustentam a mesma
concepção do bem, mas em que aceitam publicamente um concepção política de
justiça para regular a estrutura básica da sociedade. O conceito de justiça é
independente do conceito de bem, e anterior a ele. A interface consensual é o
consenso no qual doutrinas diferentes e mesmo conflitantes sustentam a base
publicamente partilhada dos arranjos políticos. Platão e Aristóteles, bem como a
tradição cristã tal como representada por Agostinho e Tomás de Aquino, estão entre
os que reconhecem apenas um bem racional. Tais perspectivas teleológicas tendem a
afirmar que as instituições são justas na medida em que efetivamente promovem
aquele determinado bem. Aliás, a filosofia moral, a teologia e a metafísica perseguem
uma concepção racional de justiça. O liberalismo, ao contrário, supõe que há muitas
concepções conflitantes e incomensuráveis do bem, sendo cada uma compatível com
a plena racionalidade das pessoas, desde que observados os princípios apropriados de
justiça. É o liberalismo uma cultura democrática livre.
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4 CONCLUSÃO

Apesar das dificuldades em se definir o que é justo, a estipulação de critérios de


justiça deve ocorrer desde a formação das bases de uma sociedade, mediante critérios
estabelecidos por seus membros, num sistema de cooperação, respeito e benefícios
mútuos. As teorias propostas por Rawls propiciam a visão de que as escolhas sociais
têm influência nas condições gerais e que é um valor a ser preservado e distribuído de
forma compatível com o pluralismo moral, mediante políticas de alocação de recursos
voltadas à eliminação ou redução das diferenças evitáveis entre os diversos grupos
sociais.

A teoria da justiça, de Rawls, em especial o segundo princípio (que engloba os


princípios da diferença e da oportunidade), tem relevância e repercussão nas
discussões acerca de justiça social, da saúde pública, guardando uma certa interface
com as chamadas bioéticas latino-americanas, em que a noção de responsabilidade
social envolve a necessidade de proteção pública e estatal dos mais vulneráveis12. Em
Daniels, foi reforçado o papel da saúde como bem primário garantidor de
oportunidades. Além disso, o autor teve o mérito de rever suas ideias iniciais quanto à
justiça na saúde e reconhecer que a equidade não se restringe ao acesso, mas, numa
sociedade justa, deve levar em conta pelo menos os determinantes sociais da saúde.

A concepção de justiça como equidade, a partir da obra de Rawls seria aquela que,
além de garantir o exercício das liberdades básicas, asseguraria a todos, de forma
equânime, a distribuição dos bens primários essenciais, compensando-se, sempre que
possível, as loterias biológicas e sociais. Assim, conclui-se que a ideia de justiça como
equidade, de Rawls não é outra senão aquela que garante que o exercício das
liberdades assegura a todos, de forma ponderada, a distribuição de bens primários
sociais essenciais.

Apesar de não apresentarem uma resposta mais ampla e definitiva sobre como
distribuir recursos de forma justa, as teorias de Rawls remetem a reflexões sobre a
necessidade de se reduzir injustas desigualdades bem como suscitam debates sobre
questões como cooperação social, liberdades, as bases da igualdade, alocação de
recursos escassos, distribuição adequada de rendas e riquezas e de oportunidades. De
modo geral, pode-se afirmar que as teorias de justiça, de Rawls , possibilitam avanços
teórico-práticos, contribuindo positivamente para o enfrentamento de problemas
associados às políticas de acessibilidade e de justa distribuição de recursos no campo
da justiça.
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5 BIBLIOGRAFIA

RAWLS, John. Justiça como eqüidade : uma concep- ção política, não metafísica. Lua Nova, v. 25.
Uma teoria da justiça. Lisboa : Presença, 1993. SILVA, Robert
Rawls J. A theory of justice. USA: The Belknap press of Harvard University press; 1971.
Daniels N. Just Health: meeting health needs fairly. New York, Cambridge: Cambridge University
Press; 2008

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