Brasil Império 1 Ano João Furtado

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Reinado (1840-1889), concentrou

Brasil Império
também a formação de instituições
Brasil Império é o nome que se dá ao
importantes, que permanecem até os
período histórico brasileiro entre a
dias de hoje, como as Forças Armadas e
Independência do Brasil, em 1822, e a
o IHGB, além de projetos de
Proclamação da República, em 1889.
infraestrutura fundamentais para o
desenvolvimento econômico já no século
XX e todo um imaginário político e
simbólico sobre o Brasil enquanto nação.
Ao contrário do que a historiografia
tradicional apontou durante muitos anos,
não se tratou de um período “pacífico”,
de poucos conflitos, em comparação com
os processos de independência e crises
políticas dos vizinhos sul-americanos.
Toda a formação do Brasil, enquanto
Durante a formação do Brasil Império, nação autônima, cercou-se de
uma série de símbolos foram construídos um histórico de disputas violentas
com o objetivo de criar uma identidade interna e externamente, sendo um dos
nacional. exemplos mais mencionados a Guerra do
O período do Brasil Império teve início Paraguai (1864-1870), que deixou marcas
com o processo de Independência do profundas no Brasil e seus vizinhos
Brasil (1821-1825) e terminou com envolvidos, Paraguai, Argentina e
a Proclamação da República (1889). Em Uruguai.
1822, o que era “Reino Unido de O período imperial teve fim em 15 de
Portugal, Brasil e Algarves” tornou-se, novembro de 1889, com a Proclamação
oficialmente, “Império do Brasil”, o qual da República no Brasil.
estabeleceu como forma de governo Veja também: Período Joanino: o início
uma monarquia constitucional de diversas alterações sociais no Brasil
parlamentarista e D. Pedro I como O que deu início ao Brasil
primeiro imperador do Brasil.
Tradicionalmente, dividimos o Brasil Império?
Império em três fases: Primeiro Reinado Podemos compreender o processo de
(1822-1831), Período Regencial (1831- Independência do Brasil e,
1840) e Segundo Reinado (1840-1889). consequentemente, da constituição do
Brasil Império, a partir de
Resumo sobre Brasil Império três contextos que se inter-relacionam:
O Brasil Império (1822-1889) foi um
transcontinental, americano e local.
período na história do Brasil de grandes
→ Contexto transcontinental
transformações políticas e econômicas.
Com a Revolução Francesa (1789), a
Dividido em três fases, o Primeiro
Europa passou por uma série
Reinado (1822-1831), o Período
de transformações políticas, sociais e
Regencial (1831-1840) e o Segundo
econômicas, que se estenderam em
diversos conflitos até o século XIX. Esses etc. Em 1815, o Estado do Brasil tornou-
conflitos ocorriam entre o movimento se oficialmente Reino de Portugal,
revolucionário, em grande medida Brasil e Algarves, mesmo ano em que
representado pela França, e as forças Napoleão foi derrotado na Batalha de
reacionárias, representadas, sobretudo, Waterloo, embora as tropas francesas já
pelas monarquias do Império Britânico, haviam desocupado Portugal em 1811.
Império da Rússia, Reino da Prússia e → Contexto nas Américas
Império Austríaco. Essas monarquias É importante destacar também que, na
pretendiam a volta do Antigo Regime no segunda metade do século XVIII, iniciou-
continente europeu. se um irreversível processo
À frente dos franceses, estava Napoleão de independência nas colônias no
Bonaparte, que, após se declarar continente americano. O primeiro foi
Imperador da França em 1804, construiu os Estados Unidos, em 1776, que se
também o exército mais poderoso já visto tornou independente do Reino Unido;
na Europa. A Grã-Bretanha, por outro depois o Haiti, com a Revolução Haitiana,
lado, já se destacava como principal que teve início em 1791 e culminou na
potência econômica no século XIX e, independência do país em relação à
desde o século XVII, mantinha fortes França em 1804.
relações diplomáticas com o Reino de Dom João VI foi o príncipe regente do
Portugal. Brasil após a transferência da família real
Napoleão Bonaparte foi um grande líder para o Rio de Janeiro.
político francês e conquistou um vasto → Contexto no Brasil
território. Logo após a transferência da família real
Nesse contexto, em 1806, Napoleão portuguesa para o Rio de Janeiro,
estabeleceu o Bloqueio Continental, Portugal, na figura de seu príncipe
decreto que impedia os países europeus regente Dom João de Bragança, assinou
de manterem relações comerciais com a o “Decreto de Abertura dos Portos às
Inglaterra. Entre os países sob o bloqueio, Nações Amigas”, em 1808, que, na
estava Portugal, que se recusou a aceitar prática, colocou fim ao “pacto colonial”
as ordens do imperador francês. No ano ao permitir que colônias portuguesas
seguinte, após negociar secretamente pudessem estabelecer relações
com a Espanha, Napoleão decidiu comerciais com outras nações europeias.
invadir Portugal. Esse teria sido um dos primeiros
Portugal e Grã-Bretanha assinaram uma movimentos em direção ao processo de
convenção secreta no mesmo ano, independência do Brasil.
transferindo a sede da monarquia da Criou-se, portanto, uma cisão entre a
metrópole (Portugal) para a então capital classe burguesa em Portugal – que,
da colônia portuguesa, o Rio de Janeiro. após a expulsão de Napoleão, começou a
Em janeiro de 1808, fugindo de protestar a perda de seus privilégios
Napoleão, a família real portuguesa coloniais em razão dos novos tratados –
desembarcou no Brasil, trazendo uma e a classe burguesa instalada no
estrutura institucional, hábitos da corte Brasil, que detinha grande desejo de
emancipação após os sucessivos ganhos 12 de outubro, recebeu o título de Dom
que esses mesmos tratados lhes Pedro I do Brasil, com apenas 24 anos,
proporcionaram. tornando-se imperador do Brasil.
Como resultado, surgiu, em 1820, Portugal só reconheceu oficialmente a
a Revolução Liberal do Porto, em independência de sua antiga colônia em
Portugal, que concentrava camadas 1825, após o pagamento, por parte do
amplamente insatisfeitas com as Brasil, de uma indenização a Portugal,
conquistas do outro lado do Atlântico, que, por sua vez, foi proveniente de
exigindo, inclusive, a volta do rei de recursos emprestados pela Inglaterra.
Portugal à antiga metrópole para a Leia também: A chegada da Corte e a
formação de uma Assembleia música no período joanino
Constituinte que pudesse organizar o Primeiro Reinado (1822-
novo governo após a expulsão das tropas
francesas. Temendo perder o trono, D.
1831)
João VI retornou a Lisboa, em 1821, Mesmo após a permanência de D. Pedro
deixando seu filho, Pedro de Bourbon e I e a instauração de uma monarquia
Bragança, como regente do Brasil. independente nos trópicos, o início do
Pedro defendia ideais liberais e, após a período imperial foi bastante
volta de seu pai, passou a promulgar conturbado, acumulando diversas crises.
decretos que garantiam direitos O imperador, apesar de ter proclamado a
individuais, a redução de independência do Brasil, ainda buscava
impostos, além de suas visões assegurar os interesses de Portugal ao
abolicionistas. As cortes portuguesas, mesmo tempo em que precisava conter a
insatisfeitas com as posturas do regente fragmentação de seu território.
do Brasil, promoveu uma série de D. Pedro I declarou a Independência do
retaliações, como a dissolução do Brasil.
governo central no Rio de Janeiro e a Havia, no Brasil, grupos mais
ordem imediata de que Pedro de conservadores e outros de inclinação
Bourbon e Bragança retornasse a mais liberal. Temas como o
Portugal. abolicionismo, mais liberdade para
Após o acolhimento de uma petição com negociar produtos livremente, entre
mais de 8 mil assinaturas pela sua outros, despertavam reações calorosas
permanência no Brasil, Pedro teria nos debates.
declarado, em 9 de janeiro de 1822: No início de 1823, D. Pedro I deu início à
"Se é para o bem de todos e felicidade geral formação de uma Assembleia
da Nação, estou pronto. Digam ao povo que Constituinte para a elaboração de uma
fico!" Constituição para o país. A Assembleia
Esse episódio ficou conhecido como “Dia chegou a ser dissolvida por D. Pedro I,
do Fico”. Após conflitos e tentativas de em novembro de 1823, por não
manter unidade com Portugal ao propor concordar com os termos que limitavam
regulamentações próprias do Brasil, seus poderes. Esse episódio ficou
Pedro, no dia 7 de setembro de 1822, conhecido como Noite da Agonia. A
declarou a Independência do Brasil. Em versão final da Constituição de 1824 foi
outorgada no dia 24 de março e possuía real portuguesa para o Brasil e composto
um caráter centralizador, dando, por comerciantes, latifundiários e
inclusive, poderes “sagrados” ao proprietários de escravos que lutavam
imperador. pelos interesses do território americano)
Nesse contexto, no Nordeste do país, passou a ocupar um papel de oposição a
mais especificamente na Província de D. Pedro I, ao passo que o Partido
Pernambuco, iniciou-se um movimento Português ofereceu apoio ao imperador.
revoltoso exigindo mais autonomia em Após inúmeros desgastes, os
relação ao Império. A revolta acabou portugueses organizaram uma recepção
espalhando-se por outras províncias da ao Imperador no dia 13 de março de
região, como Paraíba, Ceará e Rio Grande 1831, mas foram surpreendidos por
do Norte, formando a Confederação do pedras e garrafas arremessadas por
Equador. brasileiros. Esse episódio ficou conhecido
O movimento foi severamente como Noite das Garrafadas.
reprimido pelo governo, e a Província de Nessa época, Portugal vivia também uma
Pernambuco acabou, inclusive, perdendo profunda crise após a morte de D. João
parte do seu território para a Província da VI, pai de D. Pedro I, em razão da
Bahia. Os líderes da rebelião foram sucessão do trono português. Todo esse
enforcados ou fuzilados, como Frei cenário resultou, em 7 de abril de 1831,
Caneca (1779-1825), e outros foram na abdicação de D. Pedro I ao
aprisionados, como Cipriano Barata trono brasileiro. O imperador decidiu
(1762-1838). Com isso, no Nordeste, voltar para Portugal, deixando seu filho,
onde a popularidade de D. Pedro I já não de apenas 5 anos, como sucessor do
era das melhores, sua figura passou a ser Império do Brasil.
questionada cada vez mais. Leia também: Cinco curiosidades sobre
Logo em seguida, o Brasil envolveu-se D. Pedro I
em um conflito internacional, a Guerra Período Regencial (1831-
da Cisplatina (1825-1828), na tentativa
de evitar a anexação da Cisplatina, atual
1840)
Uruguai, às Províncias Unidas do Rio da Embora não tenha completado uma
Prata, atual Argentina. Nessa guerra, o década, o Período Regencial registrou
Império acumulou uma série de derrotas, uma série de eventos decisivos e
além de contrair dívidas, minando ainda momentos de tensão política. Segundo
mais a popularidade do imperador. a Constituição vigente de 1824, a
Como resolução do conflito, ambas as maioridade para a ocupação do cargo de
partes concordaram em abrir mão do imperador era 21 anos de idade.
território, reconhecendo, então, em 1828, Como D. Pedro II tinha apenas 5 anos e
a independência da República Oriental 4 meses de idade quando seu pai, Pedro
do Uruguai. I, voltou para Portugal, a Constituição de
Durante as crises do Primeiro Reinado, o 1824 determinava que “Durante a sua
Partido Brasileiro (estabelecido menoridade, o Império será governado
informalmente após a vinda da família por uma Regência, a qual pertencerá ao
parente mais chegado ao Imperador,
segundo a ordem de sucessão, e que seja O Brasil começou a se
maior de vinte e cinco anos”. modernizar, havendo a construção de
Assim, até D. Pedro II alcançar a estradas de ferro, a introdução dos
maioridade para assumir o cargo, telégrafos e de aparelhos telefônicos, o
houve quatro regências, a saber: que, inclusive, deu certo protagonismo
• Trina Provisória (1831); mundial ao Brasil. Foi também o
• Trina Permanente (1831-1835); momento em que o Brasil começou a
• Una de Feijó (1835-1837); se industrializar, tendo como figura
• Una de Araújo Lima (1837-1840). central o Barão de Mauá (1813-1889).
O final desse período foi marcado D. Pedro II foi imperador do Brasil por 49
pelo Golpe da Maioridade, quando o anos.
Senado declarou D. Pedro I, com apenas Foi um momento também
15 anos, maior de idade, podendo de florescimento das artes, como
assumir, portanto, o cargo de imperador literatura, teatro, arquitetura, artes visuais
do Brasil. e, até mesmo, fotografia. Começou-se a
Durante essa fase, houve pensar na imagem que o país queria criar
diversas revoltas que ameaçaram a de si mesmo. Nomes ilustres, como
unidade territorial do Império, tais como Joaquim Nabuco, Alberto Salles, Sílvio
a Balaiada (1838-1841), Romero, Lopes Trovão, André Rebouças,
a Sabinada (1837-1838), a Revolta dos entre outros, compuseram um grupo que
Malês (1835), a Guerra dos ficou historicamente conhecido como
Cabanos (1835-1840), a Guerra dos Geração de 1870.
Farrapos (1835-1845), entre outras. Ao Contudo, não tardaram também de
mesmo tempo, houve a estruturação das surgir momentos de crise e
Forças Armadas para garantir a instabilidades profundas, que, ao final
integridade do território nacional. do século, provocaram o fim do Período
Durante a regência, dois partidos Imperial, com a Proclamação da
políticos centralizaram as discussões: República, em 15 de novembro de 1989.
o Partido Liberal, fundado em 1831, e Três questões marcaram a crise do
o Partido Conservador, fundado em Império, a saber:
1836. Ambos os partidos alternaram-se → Questão escravocrata
no poder durante a regência, ditando Ainda no Período Regencial, uma lei,
seus interesses. conhecida como Lei Feijó, promulgada
Segundo Reinado (1840- em 1831, já tinha proibido a importação
de escravos no Brasil, sob pressão da
1889) Inglaterra. Uma vez em vigor, a lei era
O Segundo Reinado foi o período de dificilmente cumprida. Em grande parte
maior estabilidade política do do mundo, todavia, o trabalho escravo já
Brasil durante o Império. D. Pedro II havia sido abolido.
conseguiu manter o equilíbrio entre Novamente sob pressão da Inglaterra, o
liberais e conservadores, além de Brasil promulgou, em 1850, a Lei Eusébio
aparelhar as instituições públicas com de Queirós, proibindo novamente a
aliados políticos.
importação de escravos africanos e Império e a Igreja estavam sensivelmente
passava, dessa vez, a criminalizar quem abaladas.
infringisse a lei. A campanha → Questão militar
abolicionista, que se estendeu por um Os militares, após a Guerra do Paraguai
longo período até chegar realmente à (1864-1870), saíram fortalecidos e
abolição (em 1888), gerou ocupando, cada vez mais, espaços no
descontamento nas elites econômicas, debate político. Já o Império, além de ter-
que se sustentavam por meio do trabalho se desgastado bastante durante o
escravo. conflito, saiu extremamente endividado,
Leia também: Limitações da Lei Áurea: sobretudo com a Inglaterra.
como os ex-escravos ficaram após a Após o término da guerra em 1870, os
abolição familiares dos militares mortos ou
→ Questão religiosa mutilados deveriam receber assistência
Sobre a Questão Religiosa, é importante custeada pelo Império. Contudo, ainda
entender a relação específica que a Igreja em 1883, esse direito não havia sido
matinha com os Reinos de Portugal e pago. Isso ocasionou uma série
Espanha. Existia a instituição de embates entre o Exército e a
do Padroado, que concedia uma série de monarquia.
privilégios para esses dois reinos, ao O desfecho desse imbróglio ocorreu com
mesmo tempo em que os reis ibéricos militares influentes aderindo à campanha
detinham o poder exclusivo de organizar republicana, representada por nomes
e administrar as atividades religiosas nos civis de prestígio, como Benjamin
domínios de suas terras descobertas. Constant, Rui Barbosa, Quintino
Assim, o monarca possuía um forte Bocaiuva, entre outros. Assim, em 15 de
poder sobre as instituições religiosas. novembro de 1889, o marechal Deodoro
No Segundo Reinado, um acontecimento da Fonseca depôs a monarquia e
abalou as relações da Igreja com o proclamou a república no Brasil,
Imperador: os bispos de Olinda e Belém colocando fim ao período imperial.
acataram as ordens do Papa Pio IX, sem
a aprovação régia, que proibiam o
casamento de católicos e maçons e
puniam os seguidores que
frequentassem maçonarias ou as
apoiassem.
D. Pedro II, embora não tenha sido
maçom, possuía laços com nomes
importantes da maçonaria, além de
possuir simpatia pela instituição. O
episódio fez com que os dois bispos
fossem condenados a quatro anos de
prisão. Logo depois, receberam o perdão
imperial, contudo as relações entre o

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