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CISTITE EM FELINO: RELATO DE CASO

BUSS, Nicolly Mantovani1


MADUREIRA, Eduardo Miguel Prata2

RESUMO

A cistite idiopática felina é uma inflamação intersticial da bexiga que pode levar a obstrução e que não tem sua etiologia
conhecida, seu diagnóstico é realizado através da exclusão de outras doenças do trato urinário inferior, podendo apresentar
periúria, disúria e hematúria. Pacientes com tal doença devem ser tratados como emergência, seu tratamento consiste em
desobstrução uretral, fluidoterapia e reestabelecimento do fluxo urinário. Foi atendida no consultório veterinário paciente
felino, sem raça definida, que apresentou sinais como astenia, constipação intestinal, retenção urinária. Para fechamento
de diagnóstico foi realizado urilárise e passagem de sonda uretral. Tratamento prescrito foi de metilprednisolona por 5
dias e marbofloxacina por 7 dias, no final do tratamento animal foi examinado e constatado cura clínica.

PALAVRAS-CHAVE: Cistite, felino, metilprednisolona, marbofloxacina, ceftriaxona.

1. INTRODUÇÃO

A denominação de Cistite Idiopática Felina (CIF) tem por base o significado de cistite, uma vez
que se desenvolve com inflamação intersticial da bexiga, e o de idiopática, por não ser conhecida sua
etiologia (OLIVEIRA et al, 2017).
Seu diagnóstico é feito através da exclusão de outras causas de doença do trato urinário inferior
e a cooperação do proprietário é fundamental para o sucesso do tratamento (SILVA et al, 2013). E os
sinais clínicos incluem diversas manifestações como periúria, disúria ou até mesmo hematúria
(TORRES et al, 2020).
Os felinos com obstrução uretral devem ser tratados como pacientes de emergência, e quando
não tratados podem ter alterações hidroeletrolíticas e acidobásicas, a terapia do paciente obstruído é
a desobstrução uretral, fluidoterapia e o reestabelecimento do fluxo urinário (OLIVEIRA, 2020).
Esse trabalho teve como objetivo relatar, selecionar e concluir as principais alterações corporais
causadas pela cistite em felino, sem raça definida, de três anos de idade.

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

O sistema urinário desempenha importantes funções para o funcionamento adequado do


organismo como a excreção através da urina, de produtos do metabolismo e substâncias em excesso
na corrente sanguínea. A função normal do sistema urinário pode ser prejudicada por diversas

1
Aluno no curso de Medicina Veterinária no Centro Universitário FAG. E-mail: [email protected]
2
Economista. Mestre em Desenvolvimento Regional e Agronegócio. Professor do Centro Universitário FAG e da
Faculdade Dom Bosco. E-mail: [email protected]

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alterações que predispõem a uma afecção podendo progredir e causar comprometimento sistêmico,
fazendo com que o prognóstico seja desfavorável (PORTELA, 2016).
O termo Doença do Trato Urinário Inferior em Felinos (DTUIF) abrange qualquer desordem
que afete a vesícula urinária ou uretra dos gatos, sendo algumas destas doenças a Cistite Idiopática
Felina (CIF), plug uretral, urolitíase, infecção neoplasias e distúrbios comportamentais (PAGNO,
2020).
Para Luz (2019) a prevalência desta enfermidade pode chegar a 70% dos felinos atendidos em
clinicas com problemas urinários, sendo que no Brasil, a casuística não apresenta predisposição racial,
podendo acometer machos e fêmeas na mesma proporção e idade de dois a seis anos. A cistite
idiopática felina ou intersticial felina (CIF) se apresenta como uma inflamação intersticial da vesícula
urinária, e ainda não tem sua etiologia bem conhecida (XAVIER JÚNIOR, 2019).
Embora a CIF possa ser obstrutiva, ou não, na sua apresentação a obstrução é mais comum em
gatos machos que em fêmeas, sem diferenças entre gatos inteiros ou castrados, fatores como stress
ambiental e comportamental podem estar associados a Cistite idiopática felina (CUNHA, 2016).
Tal como Norsworthy e Grace (2004) essa enfermidade tem sido comparada á cistite intersticial
da mulher, por causa dos sinais clínicos e aspectos macroscópico e histológico da vesícula urinaria,
que são bastante parecidos, cita ainda que felinos machos possam vir a sofrer obstrução de fluxo de
saída secundária ao acumulo em tecido esfacelado e de células no interior do lúmem uretral, ou por
tampão de matriz cristalina alojado na uretra distal.
Para Assis e Taffarel (2018) qualquer afecção do trato urinário dos felinos irá causar sinais
clínicos como hematúria, polaciúria, estrangúria, micção fora da caixa de areia, obstrução uretral ou
não entre outros, tais manifestações isoladas ou em conjunto, e por serem sintomatologias muito
similares, independente da etiologia primária, são necessários exames laboratoriais ou de imagem
para confirmar o diagnóstico.
Os fatores estressantes ambientais desempenham um importante papel na ocorrência da CIF,
favorecendo a recorrência de sinais clínicos, as condições estressantes podem incluir conflitos com
outros gatos, mudanças abruptas na dieta, superpopulação de animais, estresse dos tutores e chegada
de outros animais de estimação podem desencadear os sintomas de Cistite Idiopática Felina
(VALUTO, 2016).
De acordo com Freitas (2019) a abrangência dos sinais clínicos relacionados a Cistite idiopática
tornam os procedimentos diagnósticos mais exaustivos pela multiplicidade de aspectos patológicos
que levam o proprietário a solicitar serviços veterinários por outros motivos que não a sintomatologia
urinária.

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Corroborando com Ferreira (2013) a forma obstrutiva resulta em um quadro clínico dramático,
pois se o fluxo urinário não for reestabelecido a tempo pode resultar em interrupção da filtração
glomerular, uremia aguda grave e risco de óbito.
Fundamentando com Assis e Taffarel (2018), Lima (2018) diz que se deve realizar urinálise,
com análise de sedimento e cultura bacteriana em todos os animais com os sinais clínicos
supracitados, para avaliação da presença de cristais, pH urinário, presença de células vesicais e
sanguíneas, proteinúria, densidade urinária e presença de infecção. Para Santos (2018) a presença de
cristais na urina é um achado significativo, salvo casos de cristalúria em excesso ou obstrução por
urólito, ou em casos de cistite, onde o epitélio vesical apresenta-se danificado e poderá resultar na
formação de tampão uretral.
Siqueira (2020) acredita a inflamação crônica da vesícula urinária induz á diminuição da
integridade vascular, e consequentemente o aumento da concentração de proteínas na urina, aumento
do pH urinário, cristalúria e a formação de tampões uretrais.

A vesícula urinária possui em seu epitélio uma camada delgada de muco, composto de
glicosaminoglicanas (componentes de tecido conjuntivo) que tem como função a proteção
contra bactérias e cristais, e gatos com CIF demonstram uma redução na excreção de
glicosaminoglicanas na urina, aumentando a permeabilidade da vesícula urinaria, permitindo
a invasão do epitélio vesical por substâncias nocivas na urina, que posteriormente vai induzia
a inflamação. Logo o diagnóstico da CIF é feito por exclusão, já que na patologia apresenta
sinais clínicos semelhantes aos de outras afecções do trato urinário e não possui nenhum sinal
clinico patognomônico (LOPES, 2018, p. 12).

Em casos de obstrução uretral, Birchard e Sherding (2008), recomendam que seja realizada a
reidratação do paciente com fluido livre de potássio, correção da obstrução e esvaziar a vesícula
urinária com cateter urinário.

Cita ainda que gatos com obstrução de fluxo urinária causada por tampão uretral não
apresentam infecção do trato urinário associado. Portanto, não se justifica o uso empírico de
antimicrobianos em gatos portadores de tampões uretrais. Administre antimicrobiano caso a
urocultura indique resultado positivo para bactéria. [...] Administre antimicrobiano empírico
ou profilático apenas quando houver obstrução urinária acompanhada por sinais clínicos de
urosepse, confirmados por achados na urinálise (BIRCHARD; SHERDING, 2008 p. 121).

Para Alho, Pontes e Pomba (2016) é recomendado o uso de antiespasmódicos para a prevenção
do espasmo uretral causado pela inflamação e dor local, e como estes animais são geralmente vitimas
de dor crônica persistente é indicada terapêutica analgésica para alivio dos episódios agudos e anti-
inflamatória para quebrar o ciclo de inflamação e dor crônica, ainda cita que a antibioticoterapia só é
recomendada quando constatada infecção do trato urinário, corroborando com Birchard e Sherding
(2008).

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Admitindo Landim (2019) quando a CIF não é obstrutiva o tratamento é sintomático e


medicamentoso, visando o aumento da ingestão hídrica, sendo assim a analgesia deve ser realizada
em animais que apresentem sinais de dor, e a cautela no uso de anti-inflamatório não esteroide
(AINEs) devido a possível injuria causada no sistema renal, porem glicocorticoides podem ser usados
para minimizar a disúria.

3. RELATO DE CASO

Foi atendido na Clinica Veterinária Amar os Bichos, na cidade de Cascavel – Paraná, um felino
macho, sem raça definida (SRD), três anos de idade, pesando 5,1 kg, castrado, vacinado, com queixa
de constipação intestinal.
Durante a anamnese o animal se apresentava apático, porém com estado nutricional normal e
levemente desidratado, realizado auscultação cardíaca e respiratória que também se mostraram dentro
dos parâmetros que para Richard e Sherding (2008) a frequência respiratória deve estar entre 20 e 30
movimentos por minuto e a cardíaca entre 140 a 250 bpm, a proprietária relatou também que reside
em área urbana, e que o animal não possui contato com o exterior da casa.
Ao submeter o animal a palpação abdominal a bexiga apresentou repleta com aspecto de bola
de tênis, o qual a tutora relatou não saber se o animal estava eliminando ou não urina, corroborando
com Pereira (2011) que inclui qualquer desordem da vesícula urinária ou uretra dos gatos sinais
clínicos mais frequentes em doença do trato urinário inferior dos felinos (DTUIF). Na apalpação o
animal liberou jato de urina de coloração amarronzada, turva e contínua, que corrobora com Martins,
Martini e Meirelles et al (2013) onde relatam que os gatos acometidos por DTUIF apresentem
hematúria, polaciúria, disúria ou estrangúria, distensão vesical e sinais de uremia, como vômitos,
anorexia, letargia, fraqueza e anúria. Coletado material para exames laboratoriais observou-se
presença de cristais de fosfato triplo, conforme resultado da urinálise na tabela 1:

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Tabela 1 – Resultado de urinálise de paciente com Doença do trato urinário inferior dos felinos.
Valores De
Exame Do Sedimento Referência
Leucócitos ++++ Raras
Hemácias ++++ Ausente
Flora bacteriana raros Ausente
Cilindros granulosos ausentes Ausente
Células transicionais raros Ausente
Células descamativas + Raras
Cristais Fosfato Triplo ++++ Ausente
Muco ausente Ausente
Fonte: Dados da pesquisa.

Após o resultado da urinálise, constatou-se uma infecção na vesícula urinária comumente


chamada de cistite que é caracterizada por uma inflamação intersticial da bexiga (ALVES et al, 2020).
A terapêutica estabelecida baseou-se no uso de Marbofloxacina 13,75 mg/animal (SID, 5 dias),
Metilprednisolona 5 mg/animal (SID, 5 dias), diante disso foi associado mudança de dieta para
alimentação seca nutricionalmente formulada para a doença do trato urinário inferior felina,
proprietária também foi orientada sobre cuidados e observações devido ao risco de obstrução uretral.
Na manhã seguinte, tutora retornou com o animal presentando escúria e disúria, levando a
suspeita a um quadro de obstrução uretral, animal foi submetido à sedação e procedimento de
desobstrução. Ao realizar a higiene do local e exposição do pênis, observou-se a saída de um tampão
uretral de aproximadamente 4 mm e drenado 85 ml de urina, que corrobora com Pereira (2019), onde
os tampões uretrais são a maior causa de obstrução nos machos, e estes são compostos por proteínas
do processo inflamatório associado ou não a matriz mineral.
Realizado lavagem da vesícula urinária até que o liquido saísse límpido, animal foi
encaminhado ao internamento permanecendo com a sonda uretral até estar totalmente despertado da
sedação. Estabelecido protocolo farmacêutico com Ceftriaxona 50mg/kg (BID, 4 dias), Omeprazol
1,6 mg/kg (BID, 4 dias), Dexametasona 0,32 mg/kg (SID, 2 dias), butilbrometo de escopolamida
0,4mg/kg associado a dipirona sodia 50mg/kg (BID, 2 dias) que de acordo com Yepes, Freitas e
Gomes (2019) a necessidade de antibioticoterapia profilática deverá ser determinada com base no
quadro do paciente e a utilização de analgésicos é recomendada, pois o quadro de obstrução leva a
dor intensa.
Após despertar da sedação foi retirada a sonda, e quando realizado palpação abdominal em
região de vesícula urinária o paciente eliminou jato de urina contínuo, límpido e expeliu mais um

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tampão uretral com aproximadamente 8 mm de comprimento. Após este não apresentou mais quadro
de dor ou obstrução.
Depois de 48 horas em observação o animal apresentou melhora em seu quadro clínico e
recebeu alta sob prescrição de metilprednisolona 5 mg (SID, 5 dias) e marbofloxacina 13,75 mg (SID,
7 dias). Após 7 dias paciente voltou para reavaliação, não teve recidiva e apresentou cura clínica.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Embora a Doença do trato inferior felina esteja presente frequentemente na clinica de pequenos
animais e que acomete grande proporção de pequenos felinos, vale ressaltar que o manejo correto na
profilaxia da doença é de frende importância, tal qual o diagnóstico e tratamento precoce da mesma.
Conclui-se que o sucesso de recuperação do paciente, deu-se devido a utilização do protocolo
correto desde a chegada ao consultório ao final do tratamento, não houve recidiva e proprietária
adotou medidas de prevenção e controle seguindo as orientações da médica veterinária.

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