Plano Estratégico Aquicultura 2014 2020

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INDICE

1. Apresentação e metodologia de trabalho ............................................................... 1


2. Abreviaturas e siglas mais utilizadas ....................................................................... 3
3. Glossário .......................................................................................................................... 5
4. Enquadramento .............................................................................................................. 8
4.1. Caraterização do setor aquícola português ......................................................... 9
4.1.1. Condições naturais ..................................................................................................... 9
4.1.2. O desenvolvimento da aquicultura em Portugal............................................... 10
4.1.3. Aquicultura em águas marinhas e salobras....................................................... 11
4.1.4. Aquicultura em águas interiores ........................................................................... 14
4.2. A produção aquícola ................................................................................................ 15
4.3. A aquicultura no contexto nacional e europeu ................................................. 20
4.3.1. A produção aquícola no contexto nacional ....................................................... 20
4.3.2. A produção aquícola no contexto europeu ........................................................ 22
4.4. Dificuldades e constrangimentos ......................................................................... 24
4.4.1. Naturais e do meio envolvente .............................................................................. 24
4.4.2. Empresarias ................................................................................................................ 25
4.4.3. Institucionais .............................................................................................................. 25
5. Análise SWOT ............................................................................................................ 27
5.1. Perspetivas de evolução do setor aquícola ....................................................... 27
5.2. Análise SWOT............................................................................................................. 28
5.3. Principais resultados da análise ........................................................................... 31
6. Orientação estratégica para a aquicultura nacional ........................................ 33
6.1. Princípios orientadores ........................................................................................... 33
6.2. Objetivo estratégico para o desenvolvimento sustentável da aquicultura
em Portugal ................................................................................................................. 34
6.2.1. Principais resultados a alcançar ........................................................................... 35
7. Principais eixos de intervenção estratégica ...................................................... 37
7.1. Simplificar os procedimentos administrativos ................................................. 39
7.1.1. Descrição da situação nacional ............................................................................ 39
7.1.2. Intervenções a realizar ............................................................................................. 46
7.1.3. Resultados a alcançar .............................................................................................. 49
7.2. Facilitar o acesso ao espaço e à água ................................................................. 51
7.2.1. Descrição da situação nacional ............................................................................ 51
7.2.2. Intervenções a realizar ............................................................................................. 53
7.2.2.1 Objetivos a prosseguir ............................................................................................ 53
7.2.2.2 Ações a desenvolver ................................................................................................ 53
7.2.3. Resultados a alcançar .............................................................................................. 56
7.3. Reforçar a competitividade da aquicultura e promover condições
equitativas para os operadores da UE................................................................. 58
7.3.1. Descrição da situação nacional ............................................................................ 58
7.3.2. Intervenções a realizar ............................................................................................. 61
7.3.3. Resultados a alcançar .............................................................................................. 69
8. Governação e parceria............................................................................................. 71
8.1. Principais resultados da parceria ......................................................................... 71
8.2. Relações com as prioridades dos programas operacionais financiados
pelos FEEI ................................................................................................................... 72
8.2.1. Programa Operacional financiado pelo FEAMP ................................................ 72
8.2.2. Programas Operacionais financiados pelos outros FEEI .............................. 76
8.3. Relação com o Programa Horizonte 2020 e as Estratégias de
Especialização Inteligente ...................................................................................... 79
8.4. Ponto de contacto ..................................................................................................... 80
9. Boas práticas da aquicultura em Portugal ......................................................... 81
9.1. Projeto de conservação ex-situ de organismos fluviais................................. 81
9.2. Qualidade ambiental e sustentabilidade dos recursos biológicos da Ria
Formosa (QUASUS) .................................................................................................. 85
Nunca é tarde demais para ser aquilo que
sempre se desejou ser 1

1
Por George Eliot, pseudónimo de Mary Ann Evans, romancista autodidata britânica que usava um nome
masculino para que os seus trabalhos fossem levados a sério (1819-1880)
Apresentação e metodologia de trabalho

1. Apresentação e metodologia de trabalho

O Plano Estratégico para a Aquicultura Portuguesa toma como referência duas


orientações estratégicas:
• A Estratégia Nacional para o MAR 2013-2020 (ENM 2013-2020) aprovada pela
Resolução do Conselho de Ministros n.º 12/2014, de 12 de fevereiro;
• A Estratégia de Desenvolvimento Sustentável da Aquicultura Europeia, objeto
de comunicação da Comissão Europeia ao Parlamento Europeu e ao Conselho
Europeu, a qual visou sensibilizar os decisores e os organismos públicos para a
importância da aquicultura na União Europeia (UE).
A Estratégia Nacional para o MAR 2013-2020 assume o oceano como um vetor de
desenvolvimento assente, entre outras vertentes, na exploração dos recursos
marinhos vivos visando, entre outros objetivos, reforçar o potencial económico do
mar, aumentar o contributo para o Produto Interno Bruto e reforçar a capacidade
científica e tecnológica nacional.
O plano de ação que põe em execução esta Estratégia adota como objetivo no domínio
da aquicultura “o fomento desta atividade em linha com o crescimento do
consumo…”, nomeadamente, com vista ao equilíbrio e alinhamento da produção com
as necessidades de consumo.
A segunda orientação estratégica resulta das preocupações da União Europeia com o
diferencial crescente entre o elevado consumo de produtos do mar e o insuficiente
volume da produção comunitária, diferencial este que tem vindo a ser colmatado
através de importações de países terceiros.
Esta preocupação comunitária veio a refletir-se na preparação da estratégia
“Crescimento Azul” da UE, constituindo a aquicultura um dos seus pilares. Para o
efeito, a Comissão adotou em 2009 a Estratégia de Desenvolvimento Sustentável da
Aquicultura Europeia 2, na qual é identificada a necessidade de criar e promover
condições de concorrência equitativas para este setor com vista a assegurar o seu
desenvolvimento sustentável.
Neste contexto, a Comissão Europeia efetuou a comunicação 3 COM (2013) 229 final,
relativa às orientações estratégicas para o desenvolvimento estratégico da aquicultura
na UE, documento que serviu de referência para a preparação do presente Plano.
Efetivamente, a possibilidade da Comissão Europeia emitir orientações estratégicas
não vinculativas sobre as prioridades e os objetivos comuns para o desenvolvimento
de atividades aquícolas sustentáveis está prevista no artigo 34.º do Regulamento (UE)
N.º 1380/2013, do Parlamento Europeu e do Conselho, de 11 de dezembro de 2013,
que aprovou a nova Politica Comum de Pescas.

2
Comunicação da Comissão ao Parlamento Europeu e ao Conselho - Construir um futuro sustentável para a
aquicultura - Um novo ímpeto para a estratégia de desenvolvimento sustentável da aquicultura europeia -
COM/2009/0162 final
3
COM (2013) 229 final - Comunicação da Comissão ao Parlamento Europeu, ao Conselho, ao Comité Económico e
social Europeu e ao Comité das Regiões, de 29 de abril de 2013.

Plano Estratégico para a Aquicultura Portuguesa


1
Apresentação e metodologia de trabalho

Este mesmo regulamento prevê que os Estados-Membros elaborem um plano


estratégico nacional plurianual para o desenvolvimento da aquicultura no seu
território.
A adoção deste plano constitui uma condição prévia à aprovação do programa
operacional (PO) com financiamento do FEAMP para o período de programação de
2014-2020 e deverá ser submetido à Comissão Europeia, o mais tardar, na data de
submissão do novo PO.

Para preparação deste plano foi constituído um Grupo de Trabalho com


representantes das entidades da Administração Pública com intervenção no domínio
da aquicultura, dos recursos hídricos e das associações privadas de aquicultores.
No sentido de atingir os seus objetivos da forma mais célere possível, o Grupo de
Trabalho, cuja 1.ª reunião decorreu em julho de 2013, prosseguiu os trabalhos da
seguinte forma:
• Criação de 3 subgrupos de trabalho, correspondentes a cada um dos objetivos
específicos, constantes da Comunicação da Comissão ao Parlamento Europeu,
ao Conselho, ao Comité Económico e social Europeu e ao Comité das Regiões,
de 29 de abril de 2013, COM (2013) 229 final, de 29 de abril de 2013;
• Cada subgrupo elaborou uma proposta referente ao(s) objetivo(s) específico(s)
que lhe foram atribuídos;
• O Grupo de Trabalho reuniu em plenário para a apresentação de relatórios de
progresso dos trabalhos de cada subgrupo, para debate das questões
consideradas mais relevantes para o progresso dos trabalhos no âmbito de
cada subgrupo e, mais tarde, para apreciar um anteprojeto do plano
estratégico para a aquicultura portuguesa que já sistematizava os contributos
de dois dos subgrupos;
• O projeto do Plano Estratégico para a Aquicultura Portuguesa foi distribuído
aos membros do Grupo de Trabalho e, simultaneamente, submetido a um
processo de consulta pública, através da sua divulgação através do site da
DGRM http://www.dgrm.mam.gov.pt/xportal/xmain?xpid=dgrm, entre 30 de
outubro e 19 de novembro de 2014;
• O projeto de Plano Estratégico para a Aquicultura Portuguesa foi ainda objeto
de divulgação através da consulta pública do Relatório Preliminar relativo à
Avaliação Ambiental Estratégica do Programa Operacional Mar 2020, durante o
período de 23 de janeiro a 20 de fevereiro de 2015, através do site
www.promar.gov.pt;
• Os contributos e sugestões apresentados foram ponderados na preparação da
versão final deste documento.

Plano Estratégico para a Aquicultura Portuguesa


2
Abreviaturas e siglas mais utilizadas

2. Abreviaturas e siglas mais utilizadas

AIA - Avaliação de Impacte Ambiental


APA – Área de Produção Aquícola
APA I.P. - Agência Portuguesa do Ambiente I.P.
APED - Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição
APAQ – Associação Portuguesa de Aquacultores
CCMAR - Centro de Ciências do Mar
CE – Comissão Europeia
CIAM – Comissão Interministerial dos Assuntos do Mar
CIIMAR - Centro Interdisciplinar de Investigação Marinha e Ambiental
DGMARE - Directorate-General for Maritime Affairs and Fisheries of the
European Commission
DGPM- Direção Geral de Política do Mar
DGRM – Direção Geral de Recursos Naturais, Segurança e Serviços Marítimos
DGAV - Direção Geral de Alimentação e Veterinária
DGS - Direção Geral de Saúde
DincA – Declaração de Incidências Ambientais
DRAP – Direções Regionais de Agricultura e Pescas
EATIP - European Aquaculture Technology and Innovation Platform
EMUEAA - Estratégia Marítima da União Europeia para a Área do Atlântico
ENM 2013-2020 - Estratégia Nacional para o Mar 2013-2020
FAO – Food and Agriculture Organization of the United Nations
FEAMP – Fundo Europeu dos Assuntos Marítimos e das Pescas
FEEI - Fundos Europeus Estruturais e de Investimento
FOR-MAR – Centro de Formação das Pescas e do Mar
ICBAS - Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar
ICNF - Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas, I.P.
IEFP – Instituto de Emprego e Formação Profissional
INE – Instituto Nacional de Estatística
INIAV - Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária, I. P.
IPMA - Instituto Português do Mar e da Atmosfera, I.P.
LBOGEM – Lei de Bases da Politica de Ordenamento e Gestão do Espaço
Marítimo Nacional
Objetivos da 2.ª prioridade do FEAMP:
• OE1 – Prestar apoio ao reforço do desenvolvimento tecnológico, da
inovação e da transferência de conhecimento
• OE2 – Aumentar a competitividade e a viabilidade das empresas
aquícolas, incluindo a melhoria das condições de segurança e de
trabalho, em especial das PME

Plano Estratégico para a Aquicultura Portuguesa


3
Abreviaturas e siglas mais utilizadas

• OE3 – Proteção e recuperação da biodiversidade aquática, valorização


dos ecossistemas relacionados com a aquicultura e promover uma
aquicultura eficiente em termos de recursos
• OE4 – Promoção da aquicultura com elevado nível de proteção
ambiental, de saúde e bem-estar animal e da saúde e segurança
públicas
• OE5 – Desenvolvimento da formação profissional, novas competências
profissionais e aprendizagem ao longo da vida
• Objetivos temáticos dos FEEI:
• OT3 – Reforçar a competitividade das PME, do setor agrícola (em
relação ao FEADER) e do setor das pescas e da aquicultura (em relação
ao FEAMP)
• OT4 – Apoiar a transição para uma economia de baixo teor de carbono
em todos os setores
• OT6 – Preservar e proteger o ambiente e promover a utilização
eficiente dos recursos
• OT8 - Promover a sustentabilidade e a qualidade do emprego e apoiar
a mobilidade dos trabalhadores
OGM - Organismos Geneticamente Modificados
PAE - Postos Aquícolas Estatais
PIOEA - Pisciculturas Industriais e Outros Empreendimentos Aquícolas
PMP – Plano Mar Portugal, plano de ação da Estratégia Nacional para o Mar
2013-2020
PO – Programa Operacional
POEM – Plano de Ordenamento do Espaço Marítimo
REN - Reserva Ecológica Nacional
RH - Recursos Hídricos
SPAROS – empresa “spin-off” do Centro de Ciências do Mar da Universidade
do Algarve
STECF – Scientific, Technical and Economic Committee for Fisheries of the
European Commission
SWOT - Sigla dos termos ingleses Strengths (Pontos fortes), Weaknesses
(Pontos fracos), Opportunities (Oportunidades) e Threats (Ameaças), relativa a
uma ferramenta utilizada na análise de cenários alternativos
UALG – Universidade do Algarve
UE – União Europeia
UP – Universidade do Porto

Plano Estratégico para a Aquicultura Portuguesa


4
Glossário

3. Glossário

No âmbito do presente Plano são utilizadas as seguintes definições:


Águas costeiras – as águas superficiais situadas entre terra e uma linha cujos pontos se
encontram a uma distância de 1 milha náutica, na direção do mar, a partir do ponto
mais próximo da linha de base a partir da qual é medida a delimitação das águas
territoriais, estendendo-se, quando aplicável, até ao limite exterior das águas de
transição;
Águas de transição – as águas superficiais na proximidade das fozes dos rios,
parcialmente salgadas em resultado da proximidade de águas costeiras mas que são
também significativamente influenciadas por cursos de água doce;
Águas territoriais – as águas marítimas situadas entre a linha de base e uma linha
distando 12 milhas náuticas da linha de base.
Aquicultura - a criação ou cultura de organismos aquáticos que aplica técnicas
concebidas para aumentar, para além das capacidades naturais do meio, a produção
dos organismos em causa, incluindo as designadas culturas biogenéticas a que se
refere a Lei n.º 58/2005, de 29 de Dezembro e Decreto-Lei n.º 226-A/2007, de 31 de
Maio.
Área de produção aquícola em mar aberto – espaço marítimo compreendido em
águas costeiras e territoriais do Continente, devidamente sinalizado de acordo com o
Regulamento de Balizagem em vigor e as recomendações da International Association
of Aids to Navigation and Lighthouse Authority, repartido em lotes, de forma a
agrupar, no seu interior, um conjunto de estabelecimentos de culturas marinhas,
devidamente individualizados;
Água salgada - água cujo grau de salinidade é elevado e não está sujeito a variações
significativas;
Água salobra - água cujo grau de salinidade é superior à água doce e inferior à água
salgada, sujeita a variações devido aos fluxos de água doce ou do mar;
Água doce – água cujo grau de salinidade é próximo de zero;
Áreas sensíveis:
• Áreas Protegidas, classificadas ao abrigo do Decreto-Lei n.º 19/93, de 23 de
Janeiro ou do Decreto-Lei n.º 142/2008, de 24 de Julho;
• Áreas Classificadas no âmbito da Rede Natura 2000, nos termos de Decreto-
Lei n.º 140/99, de 24 de Abril, na redação do Decreto-Lei n.º 49/2005, de 24 de
Fevereiro e no âmbito das Diretivas nºs 79/409/CEE e 92/43/CEE;
• Zonas protegidas ao abrigo da Lei n.º58/2005, de 29 de Dezembro;
• Áreas de proteção dos monumentos nacionais e dos imóveis de interesse
público definidas nos termos da Lei n.º 107/2001, de 8 de Setembro;
Culturas biogenéticas - as atividades que tenham por finalidade a reprodução, o
crescimento, a engorda, a manutenção ou afinação de espécies aquícolas;

Plano Estratégico para a Aquicultura Portuguesa


5
Glossário

Culturas marinhas - atividades que tenham por finalidade a reprodução e o


crescimento e engorda, a manutenção ou o melhoramento de espécies marinhas;
Cultura em regime de produção extensivo - a produção com recurso a alimentação
exclusivamente natural;
Cultura em regime de produção intensivo - a produção com recurso a alimentação
exclusivamente artificial;
Cultura em regime de produção semi-intensivo - a produção com recurso a
suplemento alimentar artificial;
Domínio público hídrico – compreende, nos termos da Lei n.º 54/2005, de 15 de
novembro, o domínio público marítimo, o domínio público lacustre e fluvial e o
domínio público das restantes águas.
Domínio público marítimo – compreende, nos termos da Lei n.º 54/2005, de 15 de
novembro:
• As águas costeiras e territoriais;
• As águas interiores sujeitadas à influência das marés, nos rios, lagos e lagoas;
• O leito das águas costeiras e territoriais e das águas interiores sujeitadas à
influência das marés;
• Os fundos marinhos contíguos da plataforma continental, abrangendo toda a
zona económica exclusiva;
• As margens das águas costeiras e das águas interiores sujeitadas à influência
das marés;
Espaço Marítimo Nacional 4 – área compreendida entre as linhas de base até ao limite
exterior da plataforma continental para além das 200 milhas marítimas, e organiza-se
geograficamente nas seguintes zonas marítimas:
• Entre as linhas de base e o limite exterior do mar territorial;
• Zona económica exclusiva;
• Plataforma continental, incluindo para além das 200 milhas marítimas.
Estabelecimento de culturas marinhas - instalações que têm por finalidade a
reprodução, o crescimento e engorda de espécies marinhas, qualquer que seja o tipo
de estrutura que utilizem e o local que ocupem; aqui se incluem as culturas
biogenéticas que utilizem águas salgadas ou salobras; estes estabelecimentos
classificam-se em:
• Unidades de Reprodução: Instalações destinadas a produzirem, por métodos
artificiais, as diferentes fases de desenvolvimento embrionário de determinada
espécie – gâmetas, ovos, larvas, pós-larvas, juvenis e esporos;
• Unidades de Crescimento/Engorda: Instalações onde se promove o
crescimento e engorda dos espécimes, independentemente dos tipos de
estrutura e locais utilizados; de acordo com o tipo de estrutura e/ou local de
cultivo, distinguem-se as seguintes instalações de crescimento e engorda:

4
Lei n.º 17/2014, de 10 de abril

Plano Estratégico para a Aquicultura Portuguesa


6
Glossário

 Tanques: Instalações localizadas em terra, constituídas por materiais


diversos, desde terra a betão ou fibra;
 Estruturas flutuantes (para peixe e bivalves): Estruturas localizadas na
massa de água, acima do fundo, constituídas por jaulas flutuantes ou
submersíveis, jangadas ou cabos em suspensão;
 Viveiros de moluscos bivalves: unidades localizadas em zonas
interditais de estuários, rias e outros locais;
Espécie marinha - grupo de animais ou plantas cujos espécimes passam na água
salgada ou salobra uma parte significativa do seu ciclo de vida;
Região hidrográfica – a área de terra e de mar, abrangendo uma ou mais bacias
hidrográficas contíguas e as águas subterrâneas e costeiras que lhes estão associadas;
Zona costeira - Porção de território influenciada direta e indiretamente, em termos
biofísicos, pelo mar (ondas, marés, ventos, biota ou salinidade) e que, sem prejuízo das
adaptações aos territórios específicos, tem, para o lado de terra, a largura de 2
quilómetros medida a partir da linha da máxima preia-mar de águas vivas equinociais e
se estende, para o lado do mar, até ao limite das águas territoriais, incluindo o leito.
Complementa-se com os seguintes conceitos:
• Litoral — termo geral que descreve as porções de território que são
influenciadas direta e indiretamente pela proximidade do mar;
• Orla costeira — porção do território onde o mar, coadjuvado pela ação eólica,
exerce diretamente a sua ação e que se estende, a partir da margem até 500 m,
para o lado de terra e, para o lado do mar, até à batimétrica dos 30 m;
• Linha de costa — fronteira entre a terra e o mar, assumindo-se como
referencial a linha da máxima preia-mar de águas vivas equinociais.
Zonas húmidas: áreas de sapal, paul, turfeira, ou água, sejam naturais ou artificiais,
permanentes ou temporários, com água que está estagnada ou corrente, doce, salobra
ou salgada, incluindo águas marinhas cuja profundidade na maré baixa não exceda seis
metros; as zonas húmidas podem ainda incluir as zonas ribeirinhas ou costeiras a elas
adjacentes, assim como ilhéus ou massas de água marinha com uma profundidade
superior a seis metros em maré baixa, integradas dentro dos limites da zona húmida.

Plano Estratégico para a Aquicultura Portuguesa


7
Enquadramento

4. Enquadramento

Na Conferência Mundial da FAO sobre Aquicultura realizada em Quioto em 1976


previu-se que este subsetor tivesse uma forte expressão nas próximas décadas,
adquirindo uma importância estratégica à escala global. As razões subjacentes a esta
previsão tinham a ver com o impacto positivo através do amortecimento da crise das
pescas; com a necessidade de aplicação de políticas de produção de proteína de
qualidade e barata à escala global; com a criação de emprego e a dinamização de
atividades subsidiárias; com o desenvolvimento de zonas rurais e costeiras isoladas e
mais desfavorecidas.
Anos mais tarde, a Conferência da FAO para o Desenvolvimento da Aquicultura no
Terceiro Milénio, na sua Declaração e Estratégia de Banguecoque (Fev. 2000), reafirma
as teses de Quioto, e acrescenta que «… nas últimas três décadas a aquicultura foi o
setor de produção de alimentos que mais rapidamente cresceu a nível mundial. …
Grande parte da produção aquícola é proveniente de países em vias de
desenvolvimento, contribuindo para a subsistência das populações, segurança
alimentar, alívio da pobreza, fonte de rendimento, de emprego e de comércio.»

Efetivamente, enquanto se verifica, a nível mundial, um aumento sustentado na


produção de produtos da pesca e da aquicultura assiste-se, com maior intensidade a
partir dos anos 90, a uma substituição dos produtos da pesca (captura) por produtos
da aquicultura. As capturas da pesca estagnaram e, no 1.º decénio deste século,
regrediram ligeiramente, aumentando de forma muito significativa a produção
aquícola.

Portugal não foi alheio a esta transformação, com dificuldades crescentes em


abastecer o mercado através da oferta de produtos provenientes da captura e um
aumento da produção aquícola. Apesar do crescimento e modernização do setor
aquícola, potenciado pelos apoios públicos ao investimento e pelo apoio técnico e
científico das instituições de investigação, a aquicultura ainda não conseguiu alcançar
volumes de produção capazes de contribuírem, de forma relevante, para o
abastecimento de pescado, complementando, de maneira significativa, os produtos
provenientes da captura.

A necessidade de desenvolvimento da produção aquícola tem sido objeto das


preocupações das políticas nacionais e comunitárias.
Ainda recentemente, a Estratégia Nacional para o Mar 2013-2020 5 e o seu plano de
ação – Plano Mar Portugal (PMP) veio estabelecer como objetivo para os programas de
ação para a Área Programática da Aquicultura o fomento da atividade em linha com o
crescimento do consumo e segundo uma matriz de desenvolvimento regional com vista

5
Resolução de Conselho de Ministros 12/2014, 12 de fevereiro

Plano Estratégico para a Aquicultura Portuguesa


8
Enquadramento

a alcançar, nomeadamente, o equilíbrio e alinhamento da produção com as


necessidades de consumo.
Também a Assembleia da República 6 já havia recomendado ao Governo a
concretização de medidas de apoio ao setor da aquicultura, nomeadamente ao nível
da competitividade do setor e do seu desenvolvimento sustentável.
Por sua vez, a Comissão Europeia já em 2009 tinha revisto a estratégia de
desenvolvimento sustentável da aquicultura europeia adotada em 2002 e,
reconhecendo os pontos fortes e as debilidades do setor aquícola europeu pretendeu,
através da Comunicação da Comissão ao Parlamento Europeu e ao Conselho, n.º
COM(2009) 162 final, de 8 de abril de 2009, identificar e analisar as causas da sua
estagnação, com vista a melhorar o protagonismo da UE neste setor.
É neste contexto que a Comissão Europeia prevê, no regulamento para a Politica
Comum de Pescas, a preparação de um plano estratégico plurianual para a aquicultura,
o qual constitui uma condição ex-ante 7 para o Programa Operacional Nacional, a
implementar para o período programação de 2014-2020, com financiamento do
FEAMP – Fundo Europeu dos Assuntos Marítimos e das Pescas.

4.1. Caraterização do setor aquícola português

4.1.1. Condições naturais

A localização geográfica da costa continental portuguesa, na transição de duas


importantes sub-províncias oceanográficas do Norte Atlântico - a subtropical e a
subtropical/subpolar - permite a existência de uma grande diversidade de habitats,
sendo por isso considerada uma das zonas mais ricas em termos biológicos,
nomeadamente pela qualidade das suas águas e pela diversidade das espécies nelas
existentes.
A zona costeira tem uma grande variedade geomorfológica, com costas baixas
arenosas, mas também costas altas e rochosas, tendo a linha de costa uma extensão
de cerca 1.187 quilómetros. Verifica-se a existência de algumas desembocaduras de
cursos de água, nomeadamente estuários e rias, suscetíveis de reunir condições
favoráveis para a prática aquícola.

Contudo, as condições geomorfológicas da costa continental portuguesa e das ilhas


atlânticas e, sobretudo, as condições de mar nos meses de inverno, não são das mais
vantajosas para a instalação de unidades de aquicultura oceânica, obrigando ao
recurso a soluções tecnológicas adaptadas às condições do meio. Trata-se de uma
costa muito exposta, sobretudo a costa ocidental do Continente e norte das ilhas
atlânticas, com poucos espaços naturais que possam proteger as estruturas aquícolas

6
Resolução da Assembleia da República n.º 6/2013, de 30 de janeiro.
7
N.º 2 do artigo 34.º do Regulamento (EU) n.º 1380/2013, do Parlamento Europeu e do Conselho

Plano Estratégico para a Aquicultura Portuguesa


9
Enquadramento

em mar aberto, pelo que o seu aproveitamento para a instalação de estabelecimentos


aquícolas exige a utilização de tecnologias inovadores.

Apesar deste constrangimento, a costa algarvia, a costa sul da Madeira, bem como as
lagunas, rias e alguns estuários, para além de algumas baías mais abrigadas, reúnem
condições satisfatórias para a prática da aquicultura em mar aberto, encontrando-se
instalados e em funcionamento vários estabelecimentos nomeadamente, cabos em
suspensão para o cultivo de bivalves no Algarve e jaulas flutuantes para peixes na
Madeira. Foram ainda identificadas, no âmbito dos trabalhos de preparação 8 do Plano
de Ordenamento do Espaço Marítimo (POEM), outras áreas potenciais para fins
aquícolas em mar aberto, sendo necessário para tal inovar e melhorar a tecnologia
existente.

Nas zonas costeiras, lagunas, rias e alguns estuários, para além de algumas baías mais
protegidas, têm vindo a ser instaladas estruturas produtivas de peixes, de bivalves, e
de crustáceos e algas, em tanques em estruturas flutuantes ou com assentamento no
fundo.

De entre as espécies mais comuns da nossa fauna marinha (peixes, moluscos e


crustáceos), algumas já foram domesticadas (trabalhadas zootecnicamente para
produção em cativeiro) e outras reúnem boas características para poder vir a sê-lo.
Tais características passam pelo valor comercial, pela adaptabilidade ao cativeiro e
sobretudo pelas perspetivas do domínio, a médio prazo, do seu ciclo biológico.

4.1.2. O desenvolvimento da aquicultura em Portugal

O cultivo de espécies marinhas e salobras em Portugal começou por ser feito em águas
interiores costeiras, em estuários e lagoas costeiras, utilizando regimes extensivos de
produção, reaproveitando, nomeadamente, as infraestruturas da indústria de sal.
No que respeita à evolução das espécies exploradas, existem três períodos
diferenciados. Até à década de 70, a produção aquícola era dominada pelos
mugilídeos, espécies tipicamente forrageiras e de baixo valor comercial, que
representavam cerca de 80 % da produção piscícola. A década de 80 caracterizou-se
pelo grande aumento das pisciculturas em águas interiores (particularmente de truta
arco-íris), acompanhada pelos bivalves (especialmente a amêijoa) nas águas salobras e
marinhas. A década de 90 é caracterizada pelo forte crescimento e modernização da
aquicultura de espécies marinhas, centrada inicialmente no robalo e na dourada e,
mais recentemente, no pregado e no linguado.

8
Despacho n.º 14449/2012, publicado na 2.ª série do Diário da Republica de 8 de novembro

Plano Estratégico para a Aquicultura Portuguesa


10
Enquadramento

Região Autónoma da Madeira


No domínio da flora marinha estão igualmente a ser dados passos na produção de
algas quer no Continente, quer na Região Autónoma da Madeira.

Na Região Autónoma da Madeira, a atividade aquícola surgiu no final dos anos 50 do


século passado, com a instalação do Posto Aquícola do Ribeiro Frio, para a produção
de juvenis de truta para repovoamento dos ribeiros da ilha e, em 1986, instala-se o
primeiro e único empreendimento comercial existente para a produção de truta.
A aquicultura marinha desenvolveu-se a partir do final da década de 90 do século
passado, pela necessidade de colmatar o défice de oferta de peixe no mercado
regional e como oportunidade de criar novas formas de negócio, com impacte na
redução da importação de peixe. A dourada é a única espécie produzida sendo
utilizadas para o efeito estruturas flutuantes em mar aberto.

Região Autónoma dos Açores


A atividade aquícola de água doce iniciou-se na Região Autónoma dos Açores no final
dos anos 30, com o objetivo de repovoamento de águas interiores. Atualmente,
existem dois postos aquícolas para produção de truta arco-íris utilizada no
repovoamento de ribeiras e lagoas. No entanto, não existe uma tradição de
aquicultura tendo, entre os anos de 2009 e 2011, sido dados os primeiros passos com a
criação de um quadro regulamentar, simples e flexível, para o exercício desta
atividade, com a publicação do Decreto Legislativo Regional nº 22/2011/A, de 4 de
julho, que instituiu o quadro legal da aquicultura Açoriana.
.

4.1.3. Aquicultura em águas marinhas e salobras

Os estabelecimentos aquícolas de culturas marinhas estão localizados na zona costeira


em mar aberto, nas zonas entre marés e em terra, fora das zonas de influência direta
das marés mas suficientemente próximas do mar para efeitos de captação de água.

A aquicultura em Portugal carateriza-se pela existência de um elevado número de


estabelecimentos de pequena dimensão, nomeadamente viveiros de bivalves em
zonas estuarinas ou de ria.

Em 2012 existiam 1.432 estabelecimentos ativos, ou seja, 96% dos 1.492


estabelecimentos licenciados. Daqueles, 94,2% são “Viveiros” para produção de
moluscos bivalves; 4,7 % são “Tanques” para a produção de peixe, 1 % são “Estruturas
Flutuantes”, também destinadas à produção de moluscos bivalves. Tais
estabelecimentos são, maioritariamente, unidades produtivas de base familiar.

Plano Estratégico para a Aquicultura Portuguesa


11
Enquadramento

Gráfico n.º 1
Estabelecimentos aquícolas em águas marinhas e salobras
Tipo de estabelecimentos
N.º de estabelecimentos ativos

1349
1500

1000

500 2 67 14

0
Unidades de Tanques Viveiros Estruturas
Reprodução Flutuantes

Fonte: INE/DGRM

A utilização das infraestruturas da indústria de sal (tejos, diques, comportas, monges,


etc.) pela aquicultura marinha surgiu como um processo barato e fácil, para
transformar essas instalações desativadas em unidades produtivas, com menores
impactos ambientais. Contudo, a dimensão dos tanques, as características dos fundos
e as taxas de fluxo de água, são fatores limitantes da produtividade deste sistema
tradicional de aquicultura, enquadrando-se nos regimes de produção semi-intensiva,
designado por aquicultura de «esteiro» ou «estuarina». Nestes sistemas é utilizado um
regime alimentar misto que, conjuntamente com as baixas densidades utilizadas,
comparativamente com os regimes intensivos, dão ao produto final características
peculiares de sabor e textura da carne que os diferencia de outros produtos de
aquicultura.

Ainda utilizando metodologias tradicionais, nas zonas entre marés encontram-se


viveiros de bivalves, em regime extensivo, que contribuem com uma parcela muito
significativa para a produção aquícola nacional.

Nos últimos anos, instalaram-se alguns estabelecimentos na orla costeira a funcionar


em regime intensivo, captando a água do mar e produzindo, nomeadamente, pregado
e linguado.

Relativamente aos estabelecimentos flutuantes, a possibilidade de utilização de novas


tecnologias em mar aberto, sobretudo na produção de peixes e de moluscos bivalves,
permitirá aliviar alguma pressão exercida nas zonas tradicionais de produção, mais
próximas da costa, em que a aquicultura concorre com outras atividades económicas
pelo espaço disponível, estando também menos sujeita ao impacte ambiental dessas
atividades.

Plano Estratégico para a Aquicultura Portuguesa


12
Enquadramento

A instalação de estabelecimentos em mar aberto ao longo da costa algarvia, que reúne


condições de mar mais favoráveis, tem vindo a ser incentivada, encontrando-se alguns
estabelecimentos já em produção e prevista a instalação de novos em Áreas de
Produção Aquícola (APA) para cultura de moluscos bivalves na costa algarvia e na
costa ocidental (zona Centro) criadas em março deste ano.

Para além destes estabelecimentos de culturas marinhas, há ainda a referir os


estabelecimentos conexos, instalações que podem destinar-se à estabulação
temporária de espécimes marinhos até à sua comercialização (depósitos), que
possibilitam uma melhoria das condições higienossanitárias dos bivalves (depuradoras
ou centros de afinação) ou que criam condições para o embalamento do produto e
colocação no mercado (unidades de acondicionamento de pescado e centros de
expedição).

Quadro I
Área de aquicultura marinha
Unidade: hectares
Área total de zonas húmidas com salgado 30.000
Área afeta à atividade aquícola 8.049
Área em utilização 4.495
Área em instalação ou em análise 1.100
Área disponível para novas instalações 2.454
Fonte: DGRM, abril de 2014

Da área total de zonas húmidas passíveis de utilização para fins aquícolas, cerca de
30.000 hectares, encontram-se afetas à atividade aquícola cerca de 8 mil hectares, dos
quais, pouco mais de metade (4,5 mil hectares) se encontravam em atividade. A área
afeta à aquicultura apresenta ainda tendência para aumentar em resultado,
nomeadamente, da possibilidade de criação de novas áreas de produção aquícola em
mar aberto.
Acresce ainda a possibilidade de reutilização de áreas que já foram afetas à atividade
aquícola e que, à presente data, se encontram sem atividade, que perfazem cerca de
2,5 mil hectares.

Região Autónoma da Madeira


Na Região Autónoma da Madeira, o sistema de cultura em mar aberto, para a cultura
de peixes, surge como o mais indicado para a Região devido ao limitado espaço em
terra e às condições ambientais do mar. As águas marinhas são oligotróficas e não
suportam o crescimento de bivalves. A temperatura média da água do mar no Inverno,

Plano Estratégico para a Aquicultura Portuguesa


13
Enquadramento

situando-se acima dos 17ºC, permite o crescimento dos peixes cultivados e a


realização de ciclos de engorda cerca de 2 a 4 meses inferiores aos da costa atlântica
da Europa.

Região Autónoma dos Açores


Não existindo ainda produção aquícola na Região Autónoma dos Açores, verifica-se
interesse no investimento nesta área, face à crescente procura de produtos do mar.
A aquicultura poderá ajudar a dar resposta a esta procura crescente, complementando
a atividade da pesca com produtos do mar que sejam típicos das águas açorianas, de
forma a potenciar e diversificar uma economia marítima sustentável que traga mais
riqueza para a Região.
“Embora não exista tradição na produção aquícola, a Região Autónoma dos Açores
tem desenvolvido investigação científica específica no cultivo de espécies locais e
autóctones com vantagens competitivas reconhecidas (espécie Megabalanus azoricus
e Ruditapes decussatus), através dos Departamentos de Biologia Marinha e de
Oceanografia e Pescas da Universidade dos Açores.
Em 2014 o Governo Regional celebrou um protocolo para a realização de um estudo
de mapeamento das zonas com potencial para instalar unidades de aquicultura no
arquipélago.

4.1.4. Aquicultura em águas interiores

O sector aquícola de águas interiores em Portugal inclui unidades de natureza pública,


vulgarmente designados Postos Aquícolas Estatais (PAE), e da esfera privada,
designadas, no âmbito da legislação da pesca nas águas interiores, Pisciculturas
Industriais e Outros Empreendimentos Aquícolas (PIOEA).

Postos Aquícolas Estatais (PAE)


Entre 1896, ano em que foi inaugurado o primeiro PAE, e 1980, ano em que entrou em
funcionamento a última unidade, foram construídos em Portugal 12 PAE, destinados à
produção de espécimes para repovoamento piscícola das massas de água, ao
abastecimento de outros empreendimentos aquícolas e à venda de peixe para
consumo.
O número de PAE cresceu acentuadamente entre 1943 e 1945 (3 novos postos),
sucedendo-se um período de crescimento mais lento, com 7 novos postos a entrar em
funcionamento entre 1946 e 1980, ano em que se atingiu o número máximo, 12.
Em 2012, apenas 6 se encontravam em funcionamento, 4 deles sob gestão direta do
ICNF: Torno (Amarante); Fonte Santa (Manteigas); Boticas e Castrelos (Bragança); 1
sob gestão indireta, o Posto Aquícola de Campelo (Figueiró dos Vinhos) e, ainda um,
sob gestão da Direção Regional de Florestas da Madeira.

Plano Estratégico para a Aquicultura Portuguesa


14
Enquadramento

No que respeita à localização geográfica, os PAE em funcionamento restringem-se à


região hidrográfica do Douro (Torno, Boticas e Castrelos), ao Tejo e às Ribeiras do
Oeste (Manteigas e Campelo).

Pisciculturas Industriais e Outros Empreendimentos Aquícolas (PIOEA)


Tendo como objetivo a atividade aquícola, as PIOEA englobam atualmente três
tipologias distintas:
• Pisciculturas industriais, com produção em ciclo completo ou apenas
crescimento e engorda;
• Parques de pesca, para estabulação e eventual crescimento e engorda e
captura por métodos normalmente utilizados na pesca desportiva;
• Depósitos, para a estabulação temporária de espécies provenientes da pesca
profissional, importadas (ou provenientes de trocas intracomunitárias), até à
sua colocação no mercado.

As PIOEA apresentaram, nos últimos 40 anos, três períodos diferenciados no que


respeita à sua evolução em número: um período inicial, (1968 a 1982) caracterizado
por um crescimento lento; um período intermédio (1983 a 1995) caracterizado por um
aumento substancial e sem a ocorrência de casos de cessação de atividade; por último,
o período atual (1996 a 2010) sem um padrão de evolução claro.
Atualmente existem 6 Parques de Pesca e 4 instalações de estabulação temporária,
vulgarmente designados por Depósitos, apesar de as Pisciculturas Industriais ainda
serem o tipo de instalações mais frequentes, com 18 unidades.
No que respeita às espécies utilizadas, a truta é dominante, estando presente em 67%
das instalações. As restantes espécies atualmente exploradas são a carpa e o pimpão,
numa piscicultura industrial com fins ornamentais, e a lampreia, o sável, a savelha e a
enguia, no caso desta última, apenas em instalações de estabulações temporária.

Região Autónoma dos Açores


Na Região Autónoma dos Açores existem dois postos aquícolas, um na ilha de São
Miguel e outro na ilha das Flores, sob gestão da Direção Regional dos Recursos
Florestais

4.2. A produção aquícola

Produção por meios de cultura e espécies

Desde o início dos anos 90 a produção aquícola aumentou de 4.457 toneladas em


1990, para 10.317 toneladas em 2012, representando um valor de 54 milhões de euros
neste último ano.

Plano Estratégico para a Aquicultura Portuguesa


15
Enquadramento

Quadro n.º 2
Evolução da produção aquícola por meios de cultura

Unidade: Toneladas
Meio de cultura 1990 1995 2000 2005 2010 2012
Águas Doces 2.266 958 1.296 845 950 479
Águas Marinhas e Salobras 2.191 4.081 6.240 5.850 7.063 9.839
Total 4.457 5.039 7.536 6.695 8.013 10.317
Fonte: INE/DGRM

No período considerado verificou-se o aumento da diversificação da produção.


Enquanto em 1990 a produção se limitava a duas espécies, truta e amêijoa, em 2012
verificam-se produções significativas de várias espécies quer de peixes, quer de
bivalves, destacando-se a produção de pregado com 4,4 mil toneladas, seguido da
amêijoa boa, com 2,3 mil toneladas.

Ao longo deste período a produção aquícola em águas doces sofreu uma redução,
tanto em termos absolutos como relativos, face às produções provenientes de culturas
em águas marinhas ou salobras.

Gráfico n.º 2
Produção aquícola por meios de cultura

12000

10000

8000
Aguas marinhas e
Toneladas

6000 salobras

4000 Aguas doces

2000

0
1990 2012

Fonte: INE/DGRM

A produção em águas marinhas e salobras tem, pois, mostrado uma tendência de


crescimento, verificando-se que as espécies atualmente mais produzidas são o
pregado, dourada/robalo, amêijoas e ostras.

Plano Estratégico para a Aquicultura Portuguesa


16
Enquadramento

A produção de peixe registou um aumento ao longo do período considerado, sendo de


salientar o aumento significativo da produção de pregado que compensou a quebra
acentuada verificada na produção de robalo e dourada. A redução verificada na
produção destas duas espécies deveu-se à desativação de alguns estabelecimentos e,
também, à passagem de regimes de produção semi-intensivo a regimes de produção
extensivos como forma encontrada pelos produtores para melhor acomodar o
aumento dos custos de produção, viabilizando as suas explorações.

A produção em águas doces caracteriza-se por ser exclusivamente intensiva e


fortemente concentrada:
• Numa única espécie, a truta arco-íris, responsável pela quase totalidade
do pescado produzido;
• Num reduzido número de empreendimentos aquícolas.

Duas pisciculturas industriais (das 28 PIOEA) são responsáveis por mais de 90% do
volume de pescado proveniente das águas doces.
De referir que a produção aquícola da enguia europeia, apesar das intenções de
investimento, não tem tido sucesso, restringindo-se a atividade aquícola a 3 depósitos
de estabulação temporária.

Quadro n.º 3
Evolução da produção aquícola por espécies
Unidade: Toneladas

Meio de cultura/espécie 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012

Águas Doces 1.296 1.220 1.233 954 916 845 948 936 940 936 950 1.115 479

Truta Arco-Íris 1.293 1.213 1.232 953 915 843 942 926 930 931 949 1.113 479
Outras 3 7 1 1 1 2 6 10 10 5 1 2 0
Águas Marinhas e
6.240 6.990 7.054 7.087 5.885 5.850 6.945 6.512 7.047 7.057 7.063 8.051 9.839
Salobras
Pregado 379 343 386 323 275 214 185 167 351 1.276 2.424 3.197 4.406
Robalo Legítimo 653 925 808 1.386 1.234 1.530 1.584 1.192 1.069 444 396 460 531
Dourada 1.815 1.762 1.855 1.449 1.685 1.519 1.623 1.930 1.635 1.383 851 828 895
Amêijoa Boa 2.416 2.724 3.093 3.186 2.014 1.644 2.329 2.021 2.299 2.347 2.539 2.339 2.394
Ostras 252 956 421 423 432 522 679 712 1037 944 548 864 736
Outras 726 280 491 320 245 421 545 490 656 663 305 363 877

Total 7.536 8.210 8.287 8.041 6.801 6.695 7.893 7.448 7.987 7.993 8.013 9.166 10.318
Fonte: INE/DGRM

Plano Estratégico para a Aquicultura Portuguesa


17
Enquadramento

De salientar que os moluscos bivalves representam, em 2012, cerca de 36% da


produção aquícola nacional em águas marinhas e salobras e 35% da produção
nacional.
Na Região Autónoma da Madeira o volume de produção atingiu em 2012 419
toneladas.

Gráfico n.º 3
Produção de peixe e moluscos em águas marinhas e salobras

6000
Produção Aquícola em àqgua
marinhas e salobras (ton)

5000

4000

3000

2000

1000

0
2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012

Peixes Moluscos

Fonte: INE/DGRM

Distribuição geográfica da produção

Em termos de distribuição geográfica da produção aquícola em 2012, a Região Centro


é a mais representativa, com uma produção de 5.465 toneladas, correspondentes a
55,2% da produção aquícola total, seguida do Algarve com 3.509 toneladas. É nesta
região, na Ria Formosa, que se encontra instalada a maioria dos viveiros para produção
de bivalves.
A produção aquícola em valor alcançou, em 2012, cerca de 53,6 M€, sendo a região
Centro a mais representativa, com um valor de produção de 25 M€, logo seguida do
Algarve com 24,1 M€.

Plano Estratégico para a Aquicultura Portuguesa


18
Enquadramento

Gráfico n.º 4
Distribuição regional da produção aquícola em 2012
Unidade: Toneladas

Madeira Norte
419 321

Algarve
3509

Centro
5465
Alentejo Lisboa
248 355

Fonte: INE/DGRM

Regime de exploração

A produção de aquicultura em águas doces é exclusivamente intensiva. Em águas


marinhas e salobras, 39,9% do volume de produção provém do regime extensivo,
utilizado sobretudo para a cultura de bivalves, 10,7%, do regime semi-intensivo e
49,4% do regime intensivo.

Gráfico n.º 5
Produção aquícola por regime de exploração
Unidade: Toneladas

10000
Produção Aquícola (ton)

8000

6000

4000

2000

0
2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012

Extensivo Intensivo Semi-intensivo

Fonte: INE/DGRM

Plano Estratégico para a Aquicultura Portuguesa


19
Enquadramento

Emprego

A aquicultura é um setor económico cujas potencialidades devem ser valorizadas


tanto em termos económicos como sociais, podendo dar um contributo positivo para a
criação ou manutenção de postos de trabalho a nível local ou regional, quer na
operação direta, quer na cadeia de valor, contribuindo para o aproveitamento dos
recursos endógenos.

Em 2011 a atividade aquícola justificava cerca de 2.316 postos de trabalho diretos, dos
quais 18% eram ocupados por mulheres existindo apenas 5 empresas a empregarem
mais de 10 trabalhadores.

Em matéria de qualificações, verifica-se uma forte dicotomia, com a maioria dos


trabalhadores a deterem baixas qualificações, nomeadamente nas unidades de pendor
familiar, mas existindo um grupo significativo de trabalhadores com qualificações de
nível superior.

4.3. A aquicultura no contexto nacional e europeu

4.3.1. A produção aquícola no contexto nacional

Embora a aquicultura constitua um importante complemento das formas tradicionais


de abastecimento de pescado, em Portugal não se tem revelado, até à data, uma
alternativa ao pescado proveniente da atividade da pesca.

Em 2012, a produção aquícola foi de 10.317 toneladas, correspondente a 5,4% das


descargas de pescado.

O volume de descargas de pescado tem sido marcado por limitações de capturas e no


acesso a pesqueiros, nomeadamente os externos, o que levou à sua redução, em linha,
aliás, com o decréscimo verificado a nível europeu. A média das descargas verificada
nos anos 90 (247,2 mil toneladas anuais) reduziu-se para cerca de 210,3 mil toneladas
nos primeiros 12 anos deste século, diferencial que ainda não foi preenchido pela
aquicultura nacional.

Plano Estratégico para a Aquicultura Portuguesa


20
Enquadramento

Gráfico n.º 6
Origem dos produtos da pesca

300.000

250.000

200.000
Toneladas

150.000

100.000

50.000

0
1991 1993 1995 1997 1999 2001 2003 2005 2007 2009 2011 2012
Pescado descarregado (fresco, refrigerado e congelado) Produção Aquícola
Fonte: INE/DGRM

A produção aquícola também não tem sido suficiente para minorar o saldo negativo da
balança comercial dos produtos da pesca. De salientar que parte dos produtos
importados não reúnem condições para serem objeto de substituição pela produção
aquícola nacional, por exemplo, o bacalhau e a pescada.

Sendo Portugal um país com uma elevada capitação no consumo de pescado, cerca de
56,7Kg por habitante/ano, a limitada produção nacional obriga a volumes muito
elevados de importações para satisfazer o consumo nacional, como se verifica no
gráfico n.º 7.

Apesar do saldo externo negativo dos produtos da pesca se ter reduzido ligeiramente,
verificou-se um aumento significativo das importações de pescado, embora
compensado pelo aumento das exportações.

Plano Estratégico para a Aquicultura Portuguesa


21
Enquadramento

Gráfico n.º 7
Saldo externo dos produtos da pesca

600
500 174,2

400 70,6
Saldo
300
Mil Toneladas

395,1 Exportações
200 302,8
100 Importações
0
-100 -220,9
-232,2
-200
-300
2000 2012
Fonte: INE/DGRM

Continua, pois, a verificar-se uma elevada procura de produtos da pesca no espaço


nacional, o que assegura um mercado potencial significativo para os produtos da
aquicultura. De referir que, do pescado fresco comercializado em grandes superfícies9
no ano de 2012, cerca de 90% é proveniente de mercados externos.

4.3.2. A produção aquícola no contexto europeu

Apesar do elevado crescimento da produção aquícola a nível mundial desde os anos 90


(aumentou mais de 4 vezes), em particular na Ásia, a expansão da aquicultura na União
Europeia não acompanhou aquele crescimento, tendo até estagnado nos últimos anos.
A Europa representava, em 2011, apenas cerca de 3,2% do volume da produção da
aquicultura a nível mundial.
Assim, a produção aquícola europeia não se veio a constituir uma alternativa, em
termos quantitativos, à produção proveniente das capturas, a qual tem vindo a sofrer
um declínio permanente.
A produção da União Europeia (28), com 1,28 milhões de toneladas, que corresponde
apenas 1,5% da produção mundial, encontra-se concentrada em 5 países: Espanha,
França, Reino Unido, Itália e Grécia. Estes países, no seu conjunto, justificam 3/4
daquela produção, tanto em peso, como em valor.
Por sua vez, Portugal, no contexto da UE (28), não ultrapassa 2% do valor da produção
aquícola europeia em 2011.

9
Com bases em dados fornecidos pela APED - Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição

Plano Estratégico para a Aquicultura Portuguesa


22
Enquadramento

Gráfico n.º 8
Produção da aquicultura europeia (UE28)
Mil Toneladas

290 Moluscos e
Crustáceos

320 Peixes de Aguas


680
Marinhas ou Salobras
Peixes de Águas
Doces

Fonte: STECF – DGMARE

Apesar deste fraco crescimento e peso a nível mundial, a aquicultura europeia


apresenta algumas características que merecem destaque enquanto pontos fortes,
nomeadamente, a liderança tecnológica, a garantia de qualidade e segurança
alimentares e um clima adequado à cultura de determinadas espécies. Em
contrapartida, a competitividade dos produtores europeus nos mercados europeus e
mundiais confronta-se com produções de outros países que, apesar de
tecnologicamente menos avançados, possuem custos mais baixos, atenta a escala das
respetivas produções e os custos unitários da mão-de-obra.
As principais espécies produzidas pela aquicultura da UE estão descritas no quadro
seguinte:

Quadro n.º 4
Espécies mais produzidas na UE (2009)
Peso vivo Valor Valor médio (€)
Espécies
(Toneladas) (Mil €) por Kg
Mexilhão do Mediterrâneo 315.171 178.542 0,57 €
Truta Arco-íris 199.605 666.263 3,34 €
Mexilhão vulgar 179.041 230.013 1,28 €
Salmão do Atlântico 157.647 533.711 3,39 €
Ostra Gigante 106.065 352.970 3,33 €
Dourada 96.278 373.751 3,88 €
Carpa Comum 70.761 134.493 1,90 €
Robalo europeu 57.478 282.879 4,92 €
Amêijoa Japonesa 34.406 105.979 3,08 €
Pregado 9.019 56.624 6,28 €
Fonte: A Politica Comum de Pescas em Números 2012 - CE

De destacar que, entre as espécies mais valorizadas se encontra o pregado, bem como,
outras espécies piscícolas (robalo e dourada), as quais encontram boas condições de

Plano Estratégico para a Aquicultura Portuguesa


23
Enquadramento

produção em Portugal. Também os bivalves se encontram entre as espécies mais


produzidas e bastante valorizadas, com exceção do mexilhão que apresenta um preço
médio bastante baixo.
De salientar ainda que, de entre estas 10 espécies mais produzidas na Europa, apenas
o salmão não reúne condições para ser produzido em Portugal.

Apresentando o consumidor europeu cada vez mais apetência pelos produtos da


pesca, 13,2 milhões de toneladas em 2011, das quais 65% são provenientes de países
terceiros, está criado um enorme mercado para os produtos da aquicultura, dadas as
naturais limitações na captura de pescado.

4.4. Dificuldades e constrangimentos

Para além das limitações inerentes à concorrência com outras atividades humanas no
uso dos recursos hídricos e do espaço, nomeadamente ao longo da zona costeira, a
atividade aquícola confronta-se com diversos obstáculos limitativos do seu
desenvolvimento, cuja solução constitui um desafio para o subsetor aquícola nos
próximos anos.

4.4.1. Naturais e do meio envolvente

Pese embora a relativa abundância de recursos hídricos marinhos e de águas doces, as


massas de água existentes apresentam algumas limitações, naturais ou decorrentes da
intervenção humana, suscetíveis de restringir o espaço disponível para utilização para
fins da produção aquícola.
Na zona costeira cabe destacar:
• As condições de mar, nomeadamente da costa ocidental do Continente e da
costa norte das ilhas atlânticas, muito expostas e com poucos espaços naturais
que possam proteger as estruturas aquícolas em mar aberto;
• O abaixamento de temperaturas no inverno, especialmente no centro/norte do
país, que determina um crescimento mais lento de algumas das espécies
piscícolas com elevado interesse comercial e, por conseguinte, um ciclo de
produção mais longo;
• As limitações de espaço disponível nas águas mais abrigadas:
 Decorrentes de outras atividades, nomeadamente as portuárias, de
transportes marítimos e das pescas;
 Das atividades ligadas à náutica de recreio e centros de recreio à beira-
mar;
 Em resultado da artificialização das áreas naturais ao longo da costa
devido à urbanização, designadamente junto dos estuários e rias;

Plano Estratégico para a Aquicultura Portuguesa


24
Enquadramento

 Inerentes à vulnerabilidade aos impactes negativos de outras atividades


humanas nas zonas estuarinas e rias, nomeadamente, a poluição das
águas provocada pela urbanização das zonas litorais (águas residuais), e
pelas atividades industriais e agrícolas;
• As limitações existentes em áreas com estatuto de proteção, sujeitas à
interdição ou restrição de usos e atividades humanas.

Nas águas doces, constituídas pelos rios, lagos e albufeiras, verifica-se, por sua vez,
uma forte concorrência no uso deste recurso com a agricultura, a produção de energia
e o abastecimento das populações, cuja utilização está sujeita a fortes
constrangimentos legais, sendo interdita nas albufeiras de águas públicas.

4.4.2. Empresarias

O tecido empresarial assenta em micro e pequenas empresas (1.438 empresas com


menos de 5 trabalhadores), a maioria de raiz familiar, o que limita a inovação e reduz a
capacidade de reação ou de adaptação às dificuldades, sejam de natureza
administrativa ou regulamentar, de mercado, ou relativas aos custos de produção.
Por sua vez, a produção muito dispersa e em quantidades reduzidas, limita fortemente
a capacidade negocial com os compradores, o que seria minorado através de um maior
associativismo.
Face à reduzida escala empresarial e ao risco do negócio, nomeadamente, em
resultado de um ciclo de produção muito longo (ultrapassa frequentemente os 12
meses) e ao período de tempo necessário para obter os títulos/licenças de utilização
do domínio hídrico e de exploração, as empresas do setor sentem dificuldades
significativas no acesso ao financiamento bancário para financiar os seus
investimentos. Este risco do negócio cria um elevado nível de incerteza nas próprias
empresas, o que torna o setor pouco atrativo a novos investimentos.
No que respeita às espécies próprias de águas marinhas ou salobras, a existência de
apenas uma unidade de reprodução (maternidade) dirigida a uma só espécie
(linguado) e de dois berçários (nursery) de ostra japonesa, constitui uma dificuldade
adicional no desenvolvimento de novos projetos e uma dependência do mercado
externo no abastecimento de juvenis e sementes.

4.4.3. Institucionais

A legislação enquadradora da atividade aquícola, nomeadamente quando esta se


desenvolve em áreas do domínio público (cerca de 90% dos estabelecimentos)
encontra-se demasiado dispersa e é complexa, designadamente pelo número alargado
de entidades envolvidas. A esta situação está associado um conjunto de
procedimentos administrativos demasiado morosos e complexos para a obtenção dos

Plano Estratégico para a Aquicultura Portuguesa


25
Enquadramento

títulos de utilização e exploração dos recursos hídricos, aliada, até há poucos anos, a
prazos demasiado curtos das licenças de utilização no domínio hídrico (10/15 anos).
Atualmente, o artigo 25.º do Decreto-Lei n.º 226-A/2007, de 31 de maio, já permite
que o prazo das concessões de utilização privativa dos recursos hídricos no domínio
público marítimo possa ir até 75 anos, atendendo à natureza e à dimensão dos
investimentos associados, bem como à sua relevância económica e ambiental, estando
já em curso licenciamentos para prazos até 30 anos.

A complexidade na atribuição de novas áreas para a produção aquícola,


conjuntamente com a necessidade de envolver várias áreas de conhecimento, a que o
agente económico tem de recorrer, torna o processo de licenciamento demasiado
dispendioso e demorado, dificuldade que constitui um entrave na entrada de novos
investidores que propiciem a renovação do setor. Os encargos inerentes a esta
dificuldade poderão vir a ser minoradas com a atribuição de licenças de utilização dos
recursos hídricos por períodos mais longos.

A regulamentação ambiental, demasiado centrada numa perspetiva de controlo e


imposição de limites e preocupada em assegurar que determinados níveis de poluição
não sejam ultrapassados, não considera uma abordagem holística de alguns
segmentos da atividade aquícola que proporcione uma avaliação global de custos e
benefícios não só na área económica e social, mas particularmente na ambiental.

Esta abordagem deve necessariamente ser considerada nas zonas tradicionais com
maior aptidão para a aquicultura, como são os estuários e as zonas húmidas como as
rias de Aveiro e Formosa, e nas áreas da Rede Natura 2000, onde são aplicáveis
sistemas de cultivo tradicionais em regime extensivo ou semi-intensivo.

Os instrumentos de gestão territorial em vigor e que dispõem sobre os níveis de


proteção dos recursos e sobre os usos do solo não têm identificado, de uma forma
consistente, as áreas onde podem ser instalados os novos estabelecimentos de
atividade aquícola, deixando ao livre arbítrio dos promotores essa seleção, o que
concorre para uma maior morosidade do processo, principalmente quando se trata de
áreas do domínio público.

Contudo, algumas mudanças têm vindo a ocorrer desde 2008, nomeadamente com a
publicação do Decreto Regulamentar n.º 9/2008, de 18 de março, que veio permitir a
criação de áreas de produção aquícola em mar aberto. Mais recentemente, no âmbito
dos trabalhos de preparação do Plano de Ordenamento do Espaço Marítimo (POEM),
foram identificadas outras áreas em mar aberto, suscetíveis de virem a ser
regulamentadas para fins aquícolas.

Plano Estratégico para a Aquicultura Portuguesa


26
Análise SWOT

5. Análise SWOT

5.1. Perspetivas de evolução do setor aquícola

A nível mundial
A produção global dos produtos da pesca, incluindo a aquicultura, irá continuar a
aumentar, projetando a FAO um crescimento de 15% até 2021 (face a 2009-2011),
crescimento que será suportado principalmente pelos produtos aquícolas, mas com
uma desaceleração nas suas taxas de crescimento.
A Europa, principal mercado mundial para os produtos da pesca e da aquicultura,
continuará a ser largamente deficitária no abastecimento do mercado interno, quer
pela quebra que se tem verificado na captura, quer pela estagnação da produção
aquícola que, agora, a Comissão Europeia pretende combater. Em resultado deste
esforço perspetiva-se um crescimento da produção europeia de produtos aquícolas,
nomeadamente das principais espécies que já vêm a ser cultivadas, o salmão, a truta e
carpa, os moluscos e, especialmente, os peixes de águas temperadas (dourada/robalo,
linguado, corvina e pregado), entre outros. Para os peixes de águas temperadas
prevêem-se elevadas taxas de crescimento anuais10 (4%) até 2030.
A aposta em novas espécies aquícolas, que pode surgir dos resultados da investigação
e da experimentação, continuará a ser incentivada, permitindo uma maior oferta e
abertura de novos nichos de mercados.
O mercado europeu de produtos da pesca continua a crescer, assistindo-se
simultaneamente, a uma maior exigência do consumidor europeu em matéria de
qualidade destes produtos e de boas práticas associadas à sua produção, verificando-
se uma cada vez maior procura de produtos certificados. Esta maior exigência tem
como contrapartida a disponibilidade para pagar um preço superior, tratando-se
naturalmente de um nicho de mercado.
O espaço europeu carateriza-se ainda por ser dotado de uma mão-de-obra muito
qualificada e dispor de instituições de ensino e de investigação que potenciam a
existência de elevados padrões tecnológicos. Este ambiente cria condições para o
desenvolvimento de inovações que elevem os níveis de produtividade do trabalho e de
outros fatores produtivos, nomeadamente a melhoria da taxa de conversão das rações
e do controlo biológico do processo de produção.

Em Portugal
Apesar da relativa abundância de recursos hídricos em Portugal, especialmente de
águas marinhas ou salobras, as taxas de crescimento do setor estão limitadas pelas
condições técnicas e/ou naturais de utilização dos recursos existentes, pelos espaços
disponíveis de cultivo e pela disponibilidade de financiamentos. Este crescimento será

10
El futuro de la Acuicultura Europea, EATIP 2012

Plano Estratégico para a Aquicultura Portuguesa


27
Análise SWOT

também afetado pelo aumento estimado dos custos, nomeadamente da energia e das
rações. Contudo, o desenvolvimento tecnológico poderá, nos próximos anos,
possibilitar, por um lado, o recurso a espaços e a recursos hídricos até agora por
explorar ou subaproveitados e, por outro, proporcionar ganhos de eficiência na
utilização dos consumos intermédios.

5.2. Análise SWOT

Os principais fatores que poderão identificar os constrangimentos e as oportunidades


a tomar em consideração na definição das linhas de orientação estratégica para o setor
da aquicultura para o período de 2014-2020 e na definição dos objetivos e principais
intervenções a prosseguir naquele período, sintetizam-se na seguinte análise SWOT:

Ambiente Interno

Pontos fortes Pontos fracos


 Existência de condições naturais favoráveis ao  Incipiente ordenamento com consequente
desenvolvimento da aquicultura; dificuldade de identificação das áreas destinadas
 Domínio da produção de espécies bem à atividade aquícola;
adaptadas às condições naturais;  Prazos das licenças demasiado curtos;
 Potencial para o aumento da produção de  Elevada morosidade e complexidade dos
elevada qualidade e de espécies muito processos de licenciamento da atividade e de
valorizadas; acesso aos regimes de apoio público;
 Disponibilidade de mão-de-obra qualificada;  Atividade percecionada como possuindo elevado
 Produtos suscetíveis de diferenciação através de nível de risco com insuficiente cobertura pela
processos de certificação do produto ou da atividade seguradora;
atividade produtiva;  Insuficiente capacidade de autofinanciamento
 Existência de conhecimento científico e das empresas do setor;
tecnológico para apoiar o setor no processo  Baixos níveis de associativismo e de parcerias
produtivo e na inovação do produto. com a indústria de transformação e com as
instituições científicas e técnicas;
 Insuficiente informação ao consumidor sobre os
produtos da aquicultura;
 Insuficiência de maternidades para a reprodução
de espécies marinhas.

Plano Estratégico para a Aquicultura Portuguesa


28
Análise SWOT

Ambiente Externo

Oportunidades Ameaças
 Existência de um mercado nacional e  Forte concorrência por parte de países
europeu altamente deficitário em produtos terceiros;
da pesca e com uma apetência crescente  Conflito de interesses nas áreas com
pelo consumo de pescado; potencial aquícola;
 Possibilidade de instalação de novos  Encarecimento de alguns fatores de
estabelecimentos em mar aberto e mesmo, produção, nomeadamente a energia e as
em consociação com outras atividades; rações;
 Apetência por produtos certificados,  Probabilidade de ocorrência de surtos de
nomeadamente de produção biológica ou poluição ou de redução esporádica da
multitrófica; qualidade da água decorrente de fatores
 Aposta da Comissão Europeia no climatéricos;
desenvolvimento do setor aquícola  Dificuldade de financiamento decorrente de
europeu; avaliações muito precaucionarias das
 Inserção num espaço económico entidades financeiras.
tecnologicamente desenvolvido e com
potencial de inovação e valorização dos
recursos humanos;
 Aposta, conjuntamente com a indústria, na
transformação do pescado da aquicultura
tendo em vista apresentações apetecíveis
aos consumidores.

Plano Estratégico para a Aquicultura Portuguesa


29
Ambiente Interno Pontos Fracos Pontos Fortes

SÍNTESE DA ANÁLISE SWOT

curtos
público
do setor
naturais

qualificada

aquicultura
aquicultura

Ambiente Externo
atividade produtiva

à atividade aquícola
inovação do produto

Elevada morosidade e
atividade seguradora;
Produtos suscetíveis de

transformação e com as
Insuficiente informação ao

Insuficiente capacidade de

consequente dificuldade de
Existência de conhecimento

acesso aos regimes de apoio


parcerias com a indústria de
Potencial para o aumento da

Incipiente ordenamento com


bem adaptadas às condições

Atividade percecionada como


de espécies muito valorizadas

complexidade dos processos de


com insuficiente cobertura pela

licenciamento da atividade e de
de certificação do produto ou da

possuindo elevado nível de risco


Disponibilidade de mão-de-obra
Existência de condições naturais

instituições científicas e técnicas


consumidor sobre os produtos da
produção de elevada qualidade e

autofinanciamento das empresas


Domínio da produção de espécies
favoráveis ao desenvolvimento da

o setor no processo produtivo e na

identificação das áreas destinadas


Insuficiência de maternidades para
científico e tecnológico para apoiar
diferenciação através de processos

a reprodução de espécies marinhas

Prazos de licenciamento demasiado


Baixos níveis de associativismo e de
Forte concorrência por parte de países terceiros
− − − − − − − − ⁺ ⁺ ⁺ ⁺ ⁺
Conflito de interesses nas áreas com potencial aquícola
− − − ⁺
Encarecimento de alguns fatores de produção,

Plano Estratégico para a Aquicultura Portuguesa


nomeadamente a energia e as rações − − −

Ameaças
⁺ ⁺ ⁺
Dificuldade de financiamento decorrente de avaliações
muito precaucionaria das entidades financeiras − − − − − ⁺ ⁺ ⁺ ⁺ ⁺
Probabilidade de ocorrência de surtos de poluição ou de
redução esporádica da qualidade da água decorrente de
fatores climatéricos
− − − −
Aposta, conjuntamente com a indústria, na transformação
do pescado da aquicultura tendo em vista apresentações
apetecíveis aos consumidores
− ⁺ ⁺ ⁺ ⁺
Inserção num espaço económico tecnologicamente
desenvolvido e com potencial de inovação e valorização dos
recursos humanos
− − − − − − ⁺ ⁺ ⁺ ⁺ ⁺
Aposta da Comissão Europeia no desenvolvimento do setor
aquícola europeu − − − − − ⁺ ⁺ ⁺ ⁺ ⁺
Apetência por produtos certificados, nomeadamente de
produção biológica ou multitrófica

Oportunidades
− ⁺ ⁺ ⁺ ⁺ ⁺
Possibilidade de instalação de novos estabelecimentos em
mar aberto e mesmo, em consociação com outras
atividades
− − ⁺ ⁺ ⁺ ⁺ ⁺ ⁺
Existência de um mercado nacional e europeu altamente
deficitário em produtos da pesca e com uma apetência
crescente pelo consumo de pescado
− − − − − − ⁺ ⁺ ⁺ ⁺ ⁺
(-) Interação negativa: ameaça potenciada ou oportunidade desperdiçada; (+) Interação positiva: ameaça combatida ou aproveitamento de oportunidade
Análise SWOT

30
Análise SWOT

5.3. Principais resultados da análise

A síntese da análise SWOT permite confirmar a existência de oportunidades suscetíveis


de serem aproveitadas pelo setor, nomeadamente um elevado potencial de mercado
aliado à possibilidade de aumento da produção aquícola nacional tendo em conta a
disponibilidade de recursos hídricos apropriados e o domínio das tecnologias de
produção.
Para este aumento são especialmente relevantes as condições que a administração
pública venha a criar com vista à instalação de novos estabelecimentos, salientando-
se:
• A operacionalização de regras e procedimentos mais simples e eficazes que
enquadrem os investimentos no setor e reduzam os custos de contexto;
• A identificação das zonas mais apropriadas para a instalação dos
estabelecimentos aquícolas e para o desenvolvimento da atividade em
consonância com a preservação do meio ambiente;
• A implementação de ações que visem a melhoria da competitividade das
empresas e do setor aquícola em geral.

Não pode deixar de ser referido o suporte científico e tecnológico, especialmente o


público, aos vários níveis do processo produtivo, desde a seleção e maneio dos
espécimes a produzir e racionalização dos custos de produção, até à identificação de
novos produtos com interesse comercial. Este suporte pode consubstanciar-se, por um
lado, no desenvolvimento de projetos-piloto, que testem novas técnicas de cultivo ou
novas espécies e, por outro, na criação de uma rede de monitorização que confira
elevados níveis de confiança a investidores e a consumidores quanto ao pescado
proveniente da aquicultura.

A dimensão do mercado dos produtos da pesca, que se perspetiva continue a crescer,


constitui um enorme potencial para os produtos da aquicultura, mas haverá que ter
em conta condições como:
• A adaptação proactiva dos produtos às preferências dos consumidores, tanto a
nível nacional, como europeu;
• Uma diversificação que aposte na qualidade, produzindo diferente,
nomeadamente produtos certificados ou com denominações de origem;
• Uma melhor perceção e intervenção nos circuitos de comercialização, o que
poderá exigir uma maior escala da oferta.

Naturalmente que a atividade aquícola tem vários pontos fracos e está sujeita a um
conjunto de ameaças, nomeadamente a forte concorrência internacional e o aumento
dos custos de produção. Contudo, uma reposta assertiva por parte da administração

Plano Estratégico para a Aquicultura Portuguesa


31
Análise SWOT

pública na criação de boas condições operativas para o sector poderá promover a sua
evolução e competitividade, permitindo responder aos desafios dos próximos anos.

Sendo o setor constituído, na esmagadora maioria, por empresas de muito pequena


dimensão, salvo algumas exceções, muitas das dificuldades sentidas poderão ser
minimizadas, ou até ultrapassadas, através de um maior grau de associativismo, quer
através da colaboração entre empresas, quer com a indústria de transformação e,
ainda, com as instituições do sistema científico e tecnológico tendo em vista a
melhoria dos processos produtivos.

O setor aquícola nacional não apresenta uma estrutura económica e financeira que lhe
permita responder à concorrência de congéneres europeus nem acomodar acréscimos
de custos operacionais e de contexto, que ciclicamente atravessam a atividade. Existe,
assim, uma grande fragilidade negocial que impede uma efetiva estabilização da
estrutura empresarial.

Mas, a existência de um potencial significativo de aumento da produção aquícola pode


constituir um fator de atratividade para empresas de maior dimensão e mais
competitivas que possam induzir um maior empreendedorismo, a dinamização da
investigação e o desenvolvimento de novas tecnologias.

A atratividade que o setor possa exercer sobre o investimento empresarial é ainda


potenciada pela estratégia de desenvolvimento sustentável da aquicultura europeia,
que se consubstancia num forte empenhamento da Comissão Europeia no apoio ao
desenvolvimento da aquicultura, nomeadamente através do cofinanciamento dos
programas nacionais de apoio ao setor.

Plano Estratégico para a Aquicultura Portuguesa


32
Orientação estratégica para a aquicultura nacional

6. Orientação estratégica para a aquicultura nacional


6.1. Princípios orientadores

Atenta a situação atual do setor, os recursos existentes e as conclusões da análise


SWOT, identificam-se, no presente capítulo, os princípios que vão balizar a Orientação
Estratégica para o desenvolvimento do sector aquícola nacional, na perspetiva, não só
da sua sustentabilidade económico-financeira e social, mas também, da
sustentabilidade ambiental, através de uma abordagem precaucionaria compatível
com o bom estado ambiental ao longo de todo o ciclo de produção.

A aquicultura moderna é ainda uma “inovação” no domínio da produção de peixe e de


outros alimentos de origem aquática que tem registado um crescimento espetacular
nas últimas décadas.

Segundo previsões da FAO 11, o consumo de produtos do mar continuará a aumentar


não sendo expectável que o peixe selvagem consiga satisfazer a procura, mesmo que
as unidades populacionais alcancem níveis que assegurem o rendimento máximo
sustentável. A produção aquícola é pois indispensável como contributo, não só para
satisfazer uma procura crescente e em expansão, como também para compensar a
previsível redução das capturas.

Colmatar aquele défice constitui um dos grandes objetivos da União Europeia.


Pretende-se reforçar a autonomia em termos de abastecimento alimentar criando ao
mesmo tempo postos de trabalho. Com base na atual produtividade do trabalho, cada
ponto percentual do consumo atual da UE que seja produzido pela aquicultura
contribuiria para a criação de 3.000 a 4.000 postos de trabalho a tempo inteiro.12

Portugal, tendo condições naturais que, apesar de algumas limitações, são adequadas
ao desenvolvimento desta atividade e, dominando a tecnologia de produção em
espécies suscetíveis de virem a ocupar importantes nichos de mercado, considera
prioritário o desenvolvimento do setor aquícola nacional, como via para a satisfação da
procura de pescado, assegurando a manutenção de uma fileira produtiva que
proporciona o aumento da riqueza nacional, promove o emprego e contribui para
reduzir a pressão sobre os recursos pesqueiros.

11
“A situação das Pescas e Aquicultura Mundiais em 2012, FAO
12
Elaboração da DG MARE a partir dos dados do STECF (STECF-OWP-12-03)

Plano Estratégico para a Aquicultura Portuguesa


33
Orientação estratégica para a aquicultura nacional

Na Região Autónoma da Madeira o crescimento do sector seguirá o atual modelo de


produção de peixes em mar aberto, mais adaptado às condições do meio, assim como
promoverá a diversificação das espécies.

Na Região Autónoma dos Açores, as características biológicas das águas aconselham a


implementação de um regime de cultivo que tenha em conta as suas especificidades,
tanto na instalação como na exploração das unidades de produção de aquicultura na
Região. A estratégia para o desenvolvimento sustentável nesta Região assenta numa
atividade que ofereça produtos de qualidade, em quantidades limitadas e com o
menor impacto possível no ambiente.

Neste contexto, e considerando a Estratégia Nacional para o Mar 2013-2020, bem


como, as orientações estratégicas da Comissão Europeia, o desenvolvimento da
aquicultura em Portugal terá como referência os seguintes princípios orientadores:
• A exploração sustentável dos recursos utilizando práticas adequadas à
preservação do meio ambiente;
• A utilização dos recursos naturais, nomeadamente os espaços em mar aberto,
zonas costeiras, estuários, rias e rios com aptidão aquícola, privilegiando a
reutilização de áreas inativas;
• O envolvimento institucional, nomeadamente a nível da mobilização das
estruturas administrativas, dos recursos existentes no âmbito da investigação e
desenvolvimento, bem como dos incentivos ao investimento privado;
• O reforço da confiança dos consumidores assente na qualidade e segurança
alimentar dos produtos da aquicultura;
• A manutenção e desenvolvimento do emprego e da qualidade de vida.

6.2. Objetivo estratégico para o desenvolvimento sustentável da aquicultura em


Portugal

A abordagem estratégica a adotar pretende encontrar soluções que, de forma


articulada e integrada, permitam ultrapassar os principais constrangimentos que
condicionam o sector aquícola nacional, indo ao encontro do que se preconiza com o
novo instrumento financeiro para a Política Comum das Pescas (PCP), o Fundo Europeu
dos Assuntos Marítimos e das Pescas (FEAMP), o qual, no horizonte temporal de 2014-
2020, apoiará o desenvolvimento de uma aquicultura inteligente e ecológica, que seja
competitiva, capaz de concorrer a nível mundial e de fornecer aos consumidores da UE
produtos seguros e de elevado valor nutricional.

Plano Estratégico para a Aquicultura Portuguesa


34
Orientação estratégica para a aquicultura nacional

Assim o objetivo estratégico nacional para o período de 2014-2020 visa:

Aumentar e diversificar a oferta de produtos da


aquicultura nacional, tendo por base princípios de
sustentabilidade, qualidade e segurança alimentar,
para satisfazer as necessidades de consumo e contribuir
para o desenvolvimento local e para o fomento do
emprego.

6.2.1. Principais resultados a alcançar

Considerando o esforço já em curso com vista ao ordenamento do espaço marítimo,


nomeadamente com a criação de áreas de produção aquícola, a aquicultura apresenta
um forte potencial de crescimento nos próximos anos, sobretudo no que concerne à
exploração de novas áreas em mar aberto. Perspetiva-se, em resultado do apoio do
FEAMP, alcançar até 2023, fim do período de programação 2014-2020, um aumento
da capacidade produtiva de 25.000 toneladas.

Para este aumento significativo contribui a identificação e disponibilização na costa


atlântica do Continente de novas áreas de produção aquícola em mar aberto,
nomeadamente:
• A área de produção aquícola da Armona destinada ao cultivo de peixes e de
bivalves, delimitada em 2008 e com estabelecimentos já instalados ou em fase
de instalação;
• As áreas de produção aquícola de Monte Gordo e do Centro (ao largo de Vagos)
destinadas à instalação de estabelecimentos de cultivo de bivalves, criadas em
2014;
• A delimitação de novas áreas de produção aquícola;
• A reabilitação de áreas de produção aquícola em zonas de estuário, rias e
outras zonas húmidas, em resultado da melhoria da qualidade das águas e do
reaproveitamento de estabelecimentos inativos.
O forte aumento da capacidade produtiva assenta na criação de novas áreas de
produção aquícola em mar aberto, a atribuir em regime de concessão, com o
consequente aumento da produção, nomeadamente de mexilhão e ostra.

Este objectivo pressupõe uma taxa de crescimento médio anual da capacidade


produtiva da ordem dos 12%.

Plano Estratégico para a Aquicultura Portuguesa


35
Orientação estratégica para a aquicultura nacional

Apesar da taxa média de crescimento prevista, que possibilitará passar a produção


aquícola das atuais 10.000 toneladas para cerca de 35.000 toneladas, não é expectável
que este aumento de produção, de per si ,venha a ter um impacto negativo, ao nível
dos preços pagos aos produtores, considerando:

• O peso pouco significativo da produção portuguesa na produção europeia


(cerca de 1%);
• O elevado deficit da União em produtos da pesca, com um mercado abastecido
em cerca de 65% através de importações13;
• As previsões de aumento da produção e dos preços até 2030, apresentadas na
publicação de 2012 “El Futuro de la Acuicultura Europea” 14, nomeadamente no
que diz respeito aos moluscos, com uma tendência crescente da procura e
aumentos de produção previstos de 30%, em volume, e 47%, em valor, bem
como no que diz respeito aos peixes de águas temperadas, cuja previsão de
aumento é de 100%, em volume, e 120%, em valor.

A meta de 35.000 toneladas de produção total, prevista para 2023, pressupõe o uso
sustentável dos recursos naturais, mitigando eventuais efeitos que possam decorrer
dos sistemas de cultivo mais intensivos mas, especialmente, apostando em culturas:

• De organismos filtradores (mexilhões e ostras) a qual, não sendo objeto de


fornecimento de alimentos, justifica o grande aumento da produção previsto;
• Localizadas em áreas delimitadas pela administração que, pelo hidrodinamismo
local, regimes de ventos, correntes e marés facilmente dispersam eventuais
efluentes;
• Multitróficas, que associem diferentes tipos de organismos, peixes, filtradores
e algas, minimizando o impacte no ambiente da administração de alimento.

Por outro lado, está prevista a monitorização do impacte no ambiente daquelas


explorações, através da recolha periódica e obrigatória de amostras.

13
COMUNICAÇÃO DA COMISSÃO AO PARLAMENTO EUROPEU, AO CONSELHO, AO COMITÉ ECONÓMICO E SOCIAL EUROPEU E AO
COMITÉ DAS REGIÕES - Orientações estratégicas para o desenvolvimento sustentável na aquicultura na EU.
14
Plataforma Tecnológica y de Innovación de la Acuicultura Europea (EATIP)

Plano Estratégico para a Aquicultura Portuguesa


36
Principais eixos de intervenção estratégica

7. Principais eixos de intervenção estratégica

As intervenções necessárias ao alcance do objetivo estratégico para o setor da


aquicultura em Portugal encontram-se agrupadas em três eixos, cada um dos quais
com objetivos específicos e correspondentes ações e/ou projetos a implementar:

• Simplificar os procedimentos administrativos com vista a reduzir os prazos e


trâmites administrativos necessários para a obtenção de licenciamentos,
tornando o processo menos penalizante para o investidor;
• Facilitar o acesso ao espaço e à água que tem por objetivo identificar os
espaços com recursos hídricos com maiores potencialidades para aquicultura e
que tenham menores impactes ambientais, assegurando a sua compatibilização
com outros usos daqueles recursos;
• Reforçar a competitividade da aquicultura e promover condições equitativas
para os operadores da UE, com o objetivo de aumentar, diversificar e valorizar
a produção aquícola nacional.

O quadro da página seguinte apresenta uma matriz dos eixos de intervenção do Plano
Estratégico da Aquicultura Nacional que evidencia os objetivos previstos e as principais
ações, a desenvolver no período de 2014-2020.

Plano Estratégico para a Aquicultura Portuguesa


37
Principais eixos de intervenção estratégica

OBJETIVOS E PRINCIPAIS AÇÕES DO PLANO ESTRATÉGICO PARA A AQUICULTURA PORTUGUESA


EIXOS DE INTERVENÇÃO
OBJETIVO
ESTRATÉGICO
Objetivos operacionais Principais ações previstas
A adaptação da legislação que enquadra o licenciamento da utilização do domínio hídrico e a autorização
Aumentar e diversificar a oferta de produtos da aquicultura nacional, tendo por base principios de sustentabilidade, qualidade e segurança alimentar,

de instalação de estabelecimentos de aquicultura


Reduzir e simplificar os
procedimentos A simplificação dos procedimentos e redefinição dos elementos a apresentar pelos agentes económicos
Administrativos A criação de uma plataforma eletrónica comum para a submissão, análise e tramitação de processos de
licenciamento
Identificar os recursos A melhoria do enquadramento legal e regulamentar
hídricos e atribuir os
espaços com maior
para satisfazer as necessidade de consumo e contribuir para o desenvolvimento local e para o fomento do emprego

O desenvolvimento dos instrumentos de gestão territorial existentes


potencial para a
aquicultura A criação de novas zonas de produção aquícola

O apoio aos investimentos que visem a qualidade do produto e do processo produtivo


O aumento e a diversificação da produção e oferta de novos produtos, incluindo a instalação de novas
unidades e/ou a modernização das existentes

A adoção de métodos de produção que garantam uma elevada segurança alimentar dos produtos

Melhoria das condições operativas dos estabelecimentos aquícolas, incluindo a segurança no trabalho e
das unidades, a proteção de predadores selvagens e a saúde e bem estar dos animais

Reabilitação de zonas húmidas, lagoas, salinas, etc. para fins de produção aquícola
A melhoria da eficiência na utilização dos recursos, nomeadamente da energia e da água, bem como a
redução dos impactes negativos no meio ambiente, incluindo a utilização da aquicultura multitrófica

A recuperação da produção aquícola de espécies autótones para fins de consumo ou de repovoamento

A polivalência da atividade dos estabelecimentos aquícolas através do desenvolvimento de atividades


Aumentar, diversificar e
complementares
valorizar a produção
A criação, modernização ou reconversão de áreas portuárias ou outras áreas comuns, em zonas de elevado
aquícola nacional: potencial aquícola
O apoio e teste de sistemas integrados para melhoria do desempenho ambiental e rentabilização dos
sistemas de produção
A investigação em aquicultura oceânica que permita identificar as zonas costeiras, as espécies e métodos
de cultivo mais adequados à prática da aquicultura

O desenvolvimento tecnológico nas áreas de monitorização e do controlo dos ecosistemas e das espécies

A melhoria dos sistemas de alerta e reporte de doenças, bancos de dados, mecanismos de recolha e
análise de informações sobre as doenças dos animais aquáticos
- Aumentar a produção de A investigação, nomeadamente ao nível da sanidade e da nutrição animal, das tecnologias de produção e
peixes de águas temperadas, do desenvolvimento dos sistemas de cultivo
de crustáceos e de moluscos
O desenvolvimento de rações e/ou eco-rações mais económicas e eficientes do ponto de vista nutricional
bivalves
O apoio à criação e/ou à aquisição de serviços de aconselhamento, bem como a preparação e a divulgação
- Revitalizar as áreas de de guias de boas práticas
salgado inativas para a
A disseminação de conhecimentos científicos, técnicos e de práticas inovadoras
produção aquícola em regime
semi-intensivo ou extensivo O intercâmbio de experiências e boas práticas entre profissionais, respetivas associações e outras
entidades, nomeadamente científicas
O estabelecimento de parcerias entre as instituições de formação e as associações de profissionais,
- Melhorar as condições de nomeadamente o desenvolvimento de planos de formação transversais para o setor da aquicultura
competitividade das empresas
aquícolas A cooperação entre a Administração, associações do setor e entidades do sistema cientifico e tecnológico

- Aumentar o valor O reforço da formação em higiene e segurança alimentar


acrescentado dos produtos da
aquicultura O desenvolvimento de um sistema segurador das produções aquícolas

Medidas de saúde pública e de saúde e bem estar animal


A adoção de medidas compensatórias de perdas de rendimentos ou de acréscimos de custos em resultado
da conversão para métodos de produção biológicos ou da prestação de serviços ambientais
Divulgação dos benefícios do pescado, nomeadamente daquele que foi objeto de certificação, e dos
subprodutos resultantes da aplicação de processos tecnológicos inovadores

Apoio à criação, organização e funcionamento de organizações de produtores

A promoção de parcerias entre os profissionais do setor, a indústria de transformação e as cadeias de


distribuição e de comercialização dos produtos da pesca

Melhoria dos instrumentos de notação para a recolha dos dados estatísticos sobre a aquicultura
A criação de um mecanismo de acompanhamento da evolução das relações entre os diversos atores
intervenientes no desenvolvimento do sector aquícola

Plano Estratégico para a Aquicultura Portuguesa


38
Principais eixos de intervenção estratégica

7.1. Simplificar os procedimentos administrativos

7.1.1. Descrição da situação nacional

A instalação de uma exploração aquícola implica a obtenção de duas licenças, uma


para a utilização dos recursos hídricos (margem, leito e água) e outra para o exercício
da atividade.
As entidades com responsabilidade no licenciamento para a utilização dos recursos
hídricos são a Agência Portuguesa do Ambiente I.P. (APA), as Administrações
Portuárias e a Docapesca, S.A., nas áreas sob a sua jurisdição.

A atribuição das licenças para o exercício da atividade é da responsabilidade da


Direcção-Geral dos Recursos Naturais, Segurança e Serviços Marítimos (DGRM) para as
águas marinhas e salobras e do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas
(ICNF) para as águas interiores, sem prejuízo dos estudos ou pareceres prévios que
sejam necessários.
Nas Regiões Autónomas, as entidades licenciadoras são serviços da Administração
Regional do Ambiente e das Pescas tuteladas pelo respetivo Governo Regional.

a) Licenciamento para utilização do domínio hídrico

O processo de instalação 15 de um estabelecimento aquícola inicia-se com o pedido de


atribuição do título de utilização dos recursos hídricos que deve, entre outros
requisitos, indicar:
• A área do domínio hídrico (público ou privado) a ocupar;
• A estimativa dos volumes de água a utilizar;
• As condições e características das rejeições;
• Os elementos respeitantes à localização específica do estabelecimento de
culturas biogenéticas a instalar.

O pedido é objeto de publicitação e, em caso de surgirem outros interessados, será


iniciado um procedimento concursal para a utilização das áreas do domínio público
hídrico.

Após o desenvolvimento do procedimento concursal, ou na ausência deste, o


licenciamento da utilização dos recursos hídricos é efetuado pela Agência Portuguesa
do Ambiente I.P. (APA I.P.), pelas Administrações Portuárias e pela Docapesca, I.P.,
entidades administrantes do domínio público marinho.

Para as áreas de produção aquícola (APA), em mar aberto, instituídas pelo Decreto-
Regulamentar n.º 9/2008, é emitido um único título para a utilização dos recursos
15
Regulado pela Lei n.º 58/2005, de 29 de dezembro, (Lei da Água) alterada pelo Decreto-lei n.º
130/2012, de 22 de Junho, e pelos Decretos-Lei nº 226-A/2007, de 31 de maio, suas alterações e nº
468/71, de 5 de Novembro, revisto e atualizado pela Lei n.º 16/2003.

Plano Estratégico para a Aquicultura Portuguesa


39
Principais eixos de intervenção estratégica

hídricos e para a instalação de estabelecimentos, o que já constitui um avanço na


simplificação do licenciamento.

Este regime define as condições para a instalação de estabelecimentos de culturas


marinhas em mar aberto, em zonas predefinidas, delimitando a utilização dos recursos
comuns, as condicionantes em matéria de segurança, bem como a monitorização dos
parâmetros ambientais. A atribuição dos lotes que constituem estas áreas de produção
aquícola é realizada mediante concurso público.

Quando a utilização incida sobre os recursos hídricos em áreas protegidas, a APA I.P.
poderá delegar no Instituto de Conservação da Natureza e Florestas (ICNF), total ou
parcialmente, as competências de licenciamento.

Nas áreas do domínio público hídrico afetas às Administrações Portuárias e à


Docapesca, S.A. 16, a Lei da Água considera delegadas nas administrações portuárias
com jurisdição no local, as competências para licenciamento e fiscalização, devendo os
termos e âmbito dessa delegação ser estabelecido por portaria conjunta dos ministros
com a tutela das Obras Públicas, Transportes e Comunicações e do Ambiente, do
Ordenamento do Território e do Desenvolvimento Regional.

Para os estabelecimentos de piscicultura intensiva pode haver lugar a Avaliação do


Impacto Ambiental (AIA), como previsto no Decreto-Lei nº 151-B/2013, de 31 de
outubro.

Na figura da página seguinte ilustra-se, de forma simplificada, os procedimentos


associados ao licenciamento da utilização dos recursos hídricos (RH) nas áreas
particulares e no domínio público.

As autorizações para a utilização dos recursos hídricos emitidas até ao ano de 2007
apresentavam um prazo médio de validade de 10 anos. A partir de 2007 17, passou a
ser possível a atribuição de um título de utilização privativa para a instalação de
estabelecimentos de aquicultura em águas marinhas mediante a celebração de um
contrato de concessão, pelo que o prazo possível para aquela utilização foi alargado
até um máximo de 75 anos. Este prazo é fixado 18 atendendo à natureza e à dimensão
dos investimentos associados, bem como à sua relevância económica e ambiental.

16
Decreto-Lei n.º 16/2014, de 3 de fevereiro
17
Artigo 25.º Decreto-Lei n.º 226-A/2007, de 31 de maio
18
As novas áreas de Produção Aquícola prevêm prazos de 30 anos

Plano Estratégico para a Aquicultura Portuguesa


40
Principais eixos de intervenção estratégica

Figura n.º 1
Licenciamento da utilização de recursos hídricos

b) Licenciamento da atividade aquícola em águas marinhas e


salobras

O licenciamento dos estabelecimentos de culturas marinhas e conexos19, lato sensu,


envolve a prática de dois atos administrativos por parte da DGRM:
• A autorização de instalação;
• A licença de exploração.
No caso dos estabelecimentos que se pretendam instalar em Áreas de Produção
Aquícola em mar aberto, compreendidas em águas costeiras e territoriais do
Continente 20, a licença de utilização do domínio público hídrico emitida pela APA I.P. já
considera a autorização de instalação da DGRM.
Relativamente aos demais estabelecimentos, o pedido é dirigido à DGRM, já

19
Decreto Regulamentar n.º 14/2000, de 21 de setembro,
20
Decreto Regulamentar n.º 9/2008, de 18 de março.

Plano Estratégico para a Aquicultura Portuguesa


41
Principais eixos de intervenção estratégica

acompanhado da licença de utilização do domínio hídrico (ou de viabilidade da sua


utilização), emitida pela entidade administrante do domínio público marítimo e deve
conter os seguintes elementos:
• Identificação do requerente;
• Identificação do estabelecimento, com a indicação da sua localização e
confrontações;
• Memória descritiva e justificativa do processo produtivo, plantas e mapa de
coordenadas;
• Projeto de assinalamento marítimo, no caso de estabelecimentos em “mar
aberto”.

O processo de autorização de instalação pode durar entre 4 a 6 meses sendo esta


concedida após realização de uma vistoria em que tomam parte todas as entidades
competentes para o efeito:
• DGRM;
• ICNF, quando se trate de áreas do domínio hídrico do litoral que estejam
classificadas como áreas protegidas;
• APA I.P. ou outra das entidades administrantes do domínio público maritimo;
• Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA);
• Câmara Municipal;
• Capitão do Porto (caso o estabelecimento se localize em área sob sua
jurisdição);
• Direção Geral de Saúde (DGS);
• Direção Geral de Alimentação e Veterinária (DGAV).

Obtida a autorização de instalação, o empresário realiza todos as obras e instala os


equipamentos necessários ao funcionamento do estabelecimento, após o que poderá
requerer a licença de exploração que lhe vai permitir iniciar a atividade.

A licença de exploração, com prazo de duração idêntico ao da licença de uso privativo


das áreas do domínio público ou de 15 anos, renovável, no caso de estabelecimentos
localizados em terrenos privados, é concedida pela DGRM depois de uma vistoria ao
estabelecimento, em que é acompanhada pelo IPMA e DGAV e pelo ICNF nas áreas sob
sua jurisdição.

Antes desta vistoria, o estabelecimento deverá, em matéria sanitária, ter adotado


manuais de boas práticas de maneio, garantindo que as instalações e produtos reúnem
condições de higiene e salubridade. Se existirem instalações conexas para
acondicionamento ou embalagem do pescado e centro de expedição de bivalves, as
mesmas devem garantir idênticas condições e serem detentores de número de
controlo veterinário atribuído pela DGAV.

A tramitação processual é a que consta da figura seguinte:


Plano Estratégico para a Aquicultura Portuguesa
42
Principais eixos de intervenção estratégica

Figura n.º 2

Tramitação processual do licenciamento de instalação e de exploração

Tomando como referência a instalação de um estabelecimento de culturas marinhas, o


prazo para entrada em funcionamento do estabelecimento, após o pedido de

Plano Estratégico para a Aquicultura Portuguesa


43
Principais eixos de intervenção estratégica

utilização do domínio hídrico, poderá variar entre um ano (não exigência de AIA) e 4
anos, nos casos mais complexos e de construção mais demorada.

Quadro n.º 5

Prazos para a instalação de um estabelecimento

Prazos face à Utilização de Autorização Instalação do Licença de Tempo de


complexidade recursos de instalação estabelecimento exploração implementação
do projeto hídricos pelo promotor (*) do projeto
(em dias) (em dias) (em dias) (em dias) (meses)

Mínimos 105 0 365 ** 30 10-16 **


Máximos 366 246 730 150 49
(*) Processo de emissão iniciado apenas após a conclusão das obras de instalação do estabelecimento
(**) – Admitindo entre 6 meses a um ano para o promotor instalar o estabelecimento

A tabela constante no Anexo II identifica cada um dos principais procedimentos e


respetivos prazos, inerentes à instalação de um estabelecimento de culturas em águas
marinhas em áreas do domínio público.

c) Licenciamento da atividade aquícola em águas interiores

A autorização de instalação de aquiculturas de águas interiores21 (estabelecimentos de


piscicultura industrial e outros empreendimentos aquícolas), a conceder pelo membro
do Governo que tutela o setor, é precedida de proposta do ICNF mediante parecer
favorável da APA I.P., e reveste a forma de Despacho no qual são fixadas as
condicionantes a cumprir pelo titular, nomeadamente, possuir título de utilização dos
recursos hídricos válido.

O pedido de autorização para a instalação de aquiculturas de águas interiores, a


enviar ao ICNF, deve incluir, nomeadamente os seguintes elementos:
• Identificação do requerente;
• Identificação do estabelecimento aquícola;
• Projeto em triplicado, elaborado por engenheiro silvicultor.

A lei não estabelece prazos para a emissão da autorização da instalação dos


estabelecimentos aquícolas, sendo o prazo variável consoante a tramitação do
processo.
Além da licença de utilização do domínio hídrico a emitir pela APA, estes processos
estão ainda sujeitos à apreciação:

21
Art.º 50.º do Decreto n.º 44623, de 10 de outubro de 1962, e Portaria n.º 747/86, de 16 de dezembro.

Plano Estratégico para a Aquicultura Portuguesa


44
Principais eixos de intervenção estratégica

• Da Direção-Geral de Alimentação e Veterinária;


• De outras entidades, quando abrangidos por outros regimes específicos,
nomeadamente quando o local da instalação esteja total ou parcialmente em
área de Reserva Ecológica Nacional, Reserva Agrícola Nacional, Áreas
Protegidas, Rede Natura, e as espécies a utilizar estejam sujeitas a regimes
específicos22;
• Da APA quando os projetos estejam sujeitos a Avaliação de Impacto Ambiental
(AIA).

A maior parte das autorizações emitidas não têm um período de validade, mantendo-
se por período indeterminado, estabelecendo apenas a obrigatoriedade do titular
iniciar o projeto no prazo de 5 anos sob pena da autorização cessar automaticamente.

d) A experiência com as autorizações de instalação de estabelecimentos

O quadro seguinte evidencia a prática verificada com a atribuição de autorizações no


período de 2007-2013, cujos prazos são, na maioria dos casos, inferiores aos prazos
máximos legalmente previstos. Contudo, estes prazos médios são relativamente
elevados e acrescem aos prazos inerentes à obtenção das licenças de utilização de
recursos hídricos, exigíveis sempre que o estabelecimento se localize em áreas do
domínio público, o que acontece em mais de 90% dos casos.

Quadro n.º 6
Autorizações de instalação
Águas marinhas e
Rúbricas Águas doces
salobras

Nº de novas licenças 2007-2013 51 6

Taxa de êxito dos pedidos de licença 82% 100%


Número de pedidos atualmente em
11 5
tratamento
Período médio para terminar os
4 a 6 meses 6 a 12
procedimentos de licenciamento
Número de organismos públicos implicados 7a9 3a4
no procedimento de autorização
Fonte: DGPM e ICNF

Nas licenças de instalação e de exploração a emitir pela DGRM (águas marinhas e


salobras) e nas licenças a emitir pelo ICNF (águas doces), o promotor não paga
quaisquer taxas à Administração.

22
Decreto-Lei n.º 565/99, de 21 de dezembro, que regula a introdução na natureza de espécies não
indígenas da flora e da fauna

Plano Estratégico para a Aquicultura Portuguesa


45
Principais eixos de intervenção estratégica

Relativamente às taxas a pagar para obtenção da licença de utilização dos recursos


hídricos, o quadro seguinte refere os respetivos valores unitários:

Quadro n.º 7
Custos dos procedimentos para a utilização de recursos hídricos

Área Dominial
Rúbrica
Pública Pública e Privada

Análise técnica dos pedidos de


23
utilização dos RH
Licença:
Análise técnica dos pedidos
Mar aberto – 300€
de utilização dos RH
Outras – 150€
Custo médio dos procedimentos Licença captação (150 €) e
Viveiros em espaços abertos
licenciamento para as novas licença de rejeição das águas
Área <5000 m2 – 100€
empresas (150€) bem como os
Área >5000 m2 – 150€
procedimentos de REN e AIA.
Concessão – 750€, a que acresce
o custo do parecer quando a
localização seja em áreas
protegidas

Fonte: APA, I.P.

7.1.2. Intervenções a realizar

7.1.2.1. Objetivo a prosseguir

Atenta a complexidade administrativa e o número de entidades envolvidas, pretende-


se reduzir e simplificar os trâmites administrativos para a obtenção dos licenciamentos
necessários à instalação de estabelecimentos aquícolas e, por conseguinte, assegurar
uma decisão em tempo útil para o investidor, diminuindo o grau de incerteza dos
investimentos.

A simplificação dos processos administrativos, aliada ao ordenamento e zonamento de


locais destinados à atividade, são condições imprescindíveis à agilização de todo o
processo eliminando alguns dos constrangimentos ao desenvolvimento deste sector
produtivo.

23
Despacho n.º 12008/2013, 18 setembro

Plano Estratégico para a Aquicultura Portuguesa


46
Principais eixos de intervenção estratégica

Para alcançar este objetivo é indispensável criar as condições necessárias para que os
processos de licenciamento se tornem mais ágeis. Estas condições implicam processos
devidamente instruídos por parte dos promotores e a redução e simplificação dos
vários procedimentos existentes, para que todo o processo de instalação de um
estabelecimento aquícola seja eficiente, proporcionando aos empresários uma rápida
capacidade de resposta aos estímulos do mercado.

Desenvolvem-se, de seguida, as principais ações a implementar nos próximos anos.

7.1.2.2. Ações a desenvolver

7.1.2.2.1. Adaptação da legislação que enquadra o licenciamento da utilização do


domínio hídrico e a autorização de instalação de estabelecimentos de
aquicultura

O licenciamento das atividades aquícolas pode ser significativamente simplificado com


a emissão simultânea da autorização de instalação e do título de utilização do domínio
hídrico, alargando uma prática já iniciada com a licença de utilização dos recursos
hídricos em Áreas de Produção Aquícola, como é o caso da área piloto da Armona no
Algarve.

Este procedimento permitirá a redução dos tempos de emissão dos pareceres prévios
à emissão daquelas licenças bem como do número de entidades intervenientes.
Sempre que possível, recorrer-se-á à figura do deferimento tácito por ausência de
resposta nos prazos estabelecidos.

A concretização desta ação passa pela criação, com caráter prioritário, de um regime
simplificado que tenha por base a avaliação e definição, em momento prévio ao
processo de licenciamento/concessão, das condições inerentes à atividade na
totalidade de cada área, incluindo as condicionantes de ordem ambiental.

Este processo de adaptação já teve inicio com a publicação da Lei n.º 17/2014, de 10
de abril, que estabeleceu as Bases da Política de Ordenamento e de Gestão do Espaço
Marítimo Nacional e fixa os princípios a que obedece o ordenamento e a gestão do
espaço marítimo nacional. Este novo quadro legal, que aguarda a publicação de
legislação complementar, também tem aplicação à utilização das águas do litoral e
salobras para fins aquícolas, com as necessárias adaptações.

Plano Estratégico para a Aquicultura Portuguesa


47
Principais eixos de intervenção estratégica

7.1.2.2.2. Simplificação dos procedimentos e definição dos elementos a apresentar


pelos agentes económicos

Pretende-se evitar a apresentação pelo investidor de informação não relevante,


definindo procedimentos tipo e a informação mínima necessária de acordo com a
tipologia de estabelecimento.

Assim será identificada toda a documentação necessária ao licenciamento e


disponibilização on-line dos modelos a utilizar, sempre que aplicáveis.

No processo de desenvolvimento dos instrumentos para recolha e tratamento dos


pedidos de licenciamento bem como dos documentos auxiliares, como sejam os
manuais de procedimentos, serão tidas em conta as especificidades das Regiões
Autónomas e incorporados os instrumentos existentes, nomeadamente, os sistemas
de informação.

Simultaneamente com os instrumentos de recolha serão desenvolvidos ou revistos


guias e manuais de apoio técnico direcionados para a apresentação e para a instrução
dos pedidos, que criem condições para a diminuição dos prazos de verificação e de
análise dos elementos entregues.

7.1.2.2.3. Criação de uma plataforma eletrónica

Submissão, análise e tramitação de processos de licenciamento dos


estabelecimentos de aquicultura

A simplificação do processo de licenciamento das atividades aquícolas exige o


desenvolvimento de uma plataforma eletrónica para a submissão, análise e tramitação
dos processos de licenciamento dos estabelecimentos de aquicultura, sem prejuízo de
eventuais sinergias com plataformas já existentes noutras instituições públicas com
funcionalidades comuns.

A plataforma a desenvolver irá interagir com os sistemas de informação já existentes


nas entidades intervenientes no licenciamento e na emissão de pareceres prévios.
Esta plataforma, que se assumirá como “balcão único”, prevê a figura de um gestor
que acompanhará todo o processo e funcionará como o único interlocutor em todas as
fases do processo de licenciamento, da instalação e da exploração, numa lógica de 'um
projeto = um licenciamento'.

Plano Estratégico para a Aquicultura Portuguesa


48
Principais eixos de intervenção estratégica

Desenvolvimento de uma área comum para gestão da informação de


estabelecimentos de aquicultura

Pretende-se desenvolver uma plataforma que permita manter atualizada e partilhe a


informação entre as entidades com responsabilidades de gestão no sector, permitindo
aos agentes económicos:
• A consulta da informação relativa aos seus processos e estabelecimentos;
• A introdução de dados de produção para cumprimentos das obrigações de
natureza estatística;
• A disponibilidade para realizar os registos de trocas intracomunitárias de forma
eletrónica/on-line, de modo a que estes processos se desenrolem de forma
célere;
• A disponibilização de dados de monitorização das áreas de produção aquícola;
• A comunicação entre os investidores e a Administração.

7.1.3. Resultados a alcançar

Os resultados finais a alcançar, em linha com os objetivos identificados, são:

• A redução do tempo de apreciação de todo o processo de licenciamento


aquícola (utilização de recursos hídricos, autorização de instalação e licença de
exploração) para 120 dias úteis, excluindo os períodos de concurso, de AIA (ou
de DincA) e de REN;

• A redução dos custos de contexto para empresas.

As ações a desenvolver, desdobradas por projetos ou fases, encontram-se detalhadas


no quadro seguinte, que também identifica as metas a alcançar, definidas em termos
de prazos para a sua concretização.

Plano Estratégico para a Aquicultura Portuguesa


49
Principais eixos de intervenção estratégica

Quadro n.º 8

Ações a realizar

Estimativa de Entidades
Ações Projetos/ fases Metas (*)
Custos Intervenientes
Emissão simultânea da
1- Adaptação da legislação
autorização de instalação e
que enquadra o
do título de utilização de 12 Meios DGRM, ICNF,
licenciamento necessário
domínio hídrico e redução meses próprios da APA e DGPM
à instalação de
dos prazos de prenuncia das Administração
estabelecimentos de
várias entidades
aquicultura.
Definição do tipo de
procedimentos e da
informação mínima 6 meses Meios
necessária para os próprios da
2 – Simplificação dos
diferentes tipos de Administração
procedimentos e
estabelecimentos
redefinição dos elementos
DGRM, ICNF,
a apresentar pelos
Criação de check-list da APA e DGPM
agentes económicos
documentação necessária 9 meses € 130.000
ao licenciamento e de
modelos de memória
descritiva
12 Meses € 80.000
Disponibilização on-line
Criação de uma plataforma
eletrónica para a submissão, 24 Meses
€ 180.000 DGRM, ICNF,
análise e tramitação dos
APA e DGAV
3 – Desenvolvimento de processos de licenciamento
uma plataforma
eletrónica
Desenvolvimento de uma
área comum para gestão e 30 Meses € 80.000 DGRM, ICNF,
transmissão de informação APA e DGAV
de estabelecimentos de
aquicultura
(*) A contar da data de aprovação do Programa Operacional 2014-2020

Plano Estratégico para a Aquicultura Portuguesa


50
Principais eixos de intervenção estratégica

7.2. Facilitar o acesso ao espaço e à água

7.2.1. Descrição da situação nacional

O ordenamento dos recursos hídricos está sujeito a uma multiplicidade de planos de


gestão e de ordenamento e de disposições legais, nacionais e comunitárias, que
regulam o seu uso, nomeadamente:
• Planos de Gestão de Região Hidrográfica;
• Planos de Ordenamento de Albufeiras;
• Planos de Ordenamento de Estuários;
• Planos de Ordenamento da Orla Costeira;
• Rede Natura 2000;
• Planos de Ordenamento de Áreas Protegidas;
• Servidões e restrições de utilidade pública.

Esta dispersão da informação por diversos instrumentos de planeamento e


ordenamento territorial, sob responsabilidade de distintas entidades públicas, com
objetivos diversos e, por vezes, com a mesma incidência espacial, constitui um ponto
fraco para o setor aquícola, que exige um elevado nível de coordenação por parte das
entidades envolvidas na fixação dos parâmetros necessários ao licenciamento e um
fator de incerteza para o agente económico.

A nível do espaço marítimo, foi recentemente aprovada, através da Resolução do


Conselho de Ministros n.º 12/2014, de 12 de fevereiro, a Estratégia Nacional para o
Mar 2013-2020 (ENM 2013 -2020), que visa criar e manter um ambiente favorável ao
investimento público e privado para o desenvolvimento das várias atividades ligadas
ao mar. No âmbito do trabalhos preparatórios desta estratégia foram elaborados
estudos sobre os usos e as atividades existentes no espaço marítimo sob soberania ou
jurisdição portuguesa, apenas para a área Continente, os quais se encontram
publicados no sítio da internet da DGPM, em
http://www.dgpm.mam.gov.pt/Pages/POEM_PlanoDeOrdenamentoDoEspacoMarinho
.aspx.

Um dos desafios desta estratégia, a nível dos recursos vivos, é o desenvolvimento da


aquicultura. Apesar de algumas limitações físicas do litoral português, a melhoria das
técnicas e tecnologias de produção poderá contribuir para um significativo
desenvolvimento da aquicultura em Portugal, para o que conta com a capacidade das
equipas nacionais de investigação, desenvolvimento e inovação (ID&I), no âmbito das
ciências e tecnologias do mar.

Plano Estratégico para a Aquicultura Portuguesa


51
Principais eixos de intervenção estratégica

Um dos efeitos esperados da implementação do plano de ação incorporado na


Estratégia Nacional para o Mar é o zonamento das áreas com potencial identificado
para a atividade aquícola.

A Lei de Bases da Politica de Ordenamento e de Gestão do Espaço Marítimo Nacional 24


é também um elemento decisivo para a futura delimitação das áreas mais apropriadas
para a atividade aquícola, com o consequente incremento da economia do mar. Este
novo ordenamento jurídico vem também lançar as bases de um regime jurídico para a
atribuição de títulos de utilização privativa no domínio marítimo, atualmente assente
em legislação publicada desde 1919.

Contudo, alguns passos têm sido dados no caminho da delimitação de áreas costeiras
para uso na atividade aquícola, nomeadamente, através da publicação do Decreto-
Regulamentar n.º 9/2008, que define um modelo para a instituição de áreas de
produção aquícola em mar aberto, tendo já sido criadas as áreas de produção aquícola
da Armona (já instalada), de Monte Gordo e do Centro.

A falta de identificação, a nível global, de locais adequados/aptos para a instalação de


estabelecimentos aquícolas, tem constituído um dos maiores constrangimentos ao
desenvolvimento do sector aquícola nacional, predominando a atribuição de novas
áreas de uma forma casuística.

A perspetiva de crescimento da produção aquícola exige disponibilidade de espaço


para a implantação de novos estabelecimentos, nomeadamente na zona costeira.
Estes espaços devem ser adequados para o desenvolvimento da atividade, existindo
um vasto conjunto de condições a que é preciso atender, com reflexos muito
significativos em termos de esforço de investimento, custos de produção e segurança
das instalações.

Neste domínio cumpre referir a experiência iniciada com a identificação de uma zona
piloto 25 de produção na costa algarvia, designada por Área de Produção Aquícola da
Armona que delimitou espaços destinados à piscicultura e à moluscicultura e veio a
integrar uma estação experimental de piscicultura e um estabelecimento de cultura de
atum já existentes.

24
Lei n.º 17/2014, de 10 de abril
25
Decreto Regulamentar n.º 9/2008, de 18 de março.

Plano Estratégico para a Aquicultura Portuguesa


52
Principais eixos de intervenção estratégica

7.2.2. Intervenções a realizar

7.2.2.1. Objetivos a prosseguir

É objetivo desta área de intervenção identificar os recursos hídricos e os espaços a


atribuir com maior potencial para a aquicultura e com menores impactes ambientais e
assegurar a sua compatibilização com outros usos daqueles recursos.
Uma vez delimitadas as áreas mais adequadas para a produção aquícola, a atribuição
dos lotes inseridos em cada zona será objeto de concurso público.

As ações a desenvolver com vista ao prosseguimento deste objetivo irão desenrolar-se


a dois níveis, como se descreve nos pontos seguintes:
• A nível legislativo;
• Ao nível do tratamento da informação sobre os recursos hídricos e dos
instrumentos de gestão e ordenamento existentes.

As ações a desenvolver ao nível deste eixo irão também ter um impacte positivo nos
objetivos do eixo relativo à simplificação administrativa em resultado, quer da
qualidade da informação que venha a ser disponibilizada aos promotores, quer da
criação de áreas a afetar à atividade aquícola que, de per si, já envolve a simplificação
de alguns procedimentos.

7.2.2.2. Ações a desenvolver

7.2.2.2.1. Melhoria do enquadramento legal e regulamentar

Pese embora o Decreto-Regulamentar n.º 9/2008, de 18 de março, já constitua uma


base regulamentar para a definição de “Áreas de Produção Aquícola” em águas
costeiras e territoriais do Continente, a Lei de Bases da Politica de Ordenamento e de
Gestão do Espaço Marítimo (LBOGEM), que inclui no seu âmbito a utilização de águas
do litoral e salobras para fins aquícolas, constitui um elemento essencial para a
definição do campo de atuação de cada uma das partes interessadas em atuar no
espaço marítimo.

O ordenamento do espaço marítimo nacional será efetuado através de planos de


situação e de afetação que definam a distribuição espacial e temporal dos usos e das
atividades atuais e potenciais e afetem as várias áreas e/ou de volumes das zonas do
espaço marítimo nacional a diferentes usos e atividades.

Plano Estratégico para a Aquicultura Portuguesa


53
Principais eixos de intervenção estratégica

A plena aplicação da Lei de Bases da Politica de Ordenamento e de Gestão do Espaço


Marítimo ficará ainda dependente da aprovação dos diplomas complementares que
estabelecem os regimes jurídicos aplicáveis à elaboração, aprovação, alteração,
revisão e suspensão daqueles instrumentos de ordenamento do espaço marítimo
nacional, aos títulos de utilização privativa do espaço marítimo nacional e aos meios de
financiamento das políticas de ordenamento e de gestão do espaço marítimo nacional.

Contudo, os instrumentos jurídicos existentes já fornecem o enquadramento


necessário à identificação de áreas passíveis de serem utilizadas para projetos
aquícolas, pelo que o ordenamento daquelas áreas pode prosseguir simultaneamente
com a melhoria do enquadramento jurídico e regulamentar que se encontra em curso.

7.2.2.2.2. Desenvolvimento dos instrumentos de ordenamento e gestão territorial


existentes

Os diferentes instrumentos de ordenamento e gestão territorial incluem regras que


envolvem a atividade aquícola, ou definem restrições ou condicionantes que devem
ser consideradas no âmbito do licenciamento desta atividade.

Atendendo à dispersão da informação, considera-se oportuno, desenvolver uma


ferramenta que permita sistematizar a informação, bem como incluir a localização das
áreas ocupadas pelas explorações aquícolas autorizadas e outras utilizações existentes.
A sobreposição de diferentes camadas de informação vai permitir mapear áreas
potencialmente atrativas para a prática da aquicultura, áreas interditas e outras onde
estão identificadas as condicionantes conhecidas. A disponibilização desta informação
tanto às entidades responsáveis pelo licenciamento, como aos investidores irá permitir
a seleção de locais com maior aptidão e menores conflitos ambientais ou com outras
utilizações, bem como diminuir os tempos de análise no âmbito dos processos de
licenciamento.

Esta informação, que se propõe sistematizar e instituir uma rotina de atualização, irá
também servir de base para a elaboração, revisão ou alteração dos diferentes
instrumentos de ordenamento e gestão territorial, dado que permitirá um melhor
enquadramento das necessidades e impactes no setor.

O desenvolvimento desta ação decorrerá de acordo com as seguintes fases:

Plano Estratégico para a Aquicultura Portuguesa


54
Principais eixos de intervenção estratégica

Fase 1

Mapeamento de todas áreas associadas a explorações aquícolas autorizadas (ativas e


inativas):
Os resultados obtidos serão disponibilizados através de uma plataforma geográfica nos
”sítios da internet” das entidades públicas, para consulta da informação
georreferenciada, sistematizando a informação das localizações georreferenciadas,
situação dos títulos associados a cada exploração, com a indicação das áreas que
deixaram de ser produtivas.

Fase 2

• Sistematização da informação existente nos diferentes instrumentos de gestão


territorial com o objetivo de identificar os diferentes níveis de proteção e de
condicionantes (tanto na água como para as estruturas em terra): Identificação
das áreas interditas à atividade aquícola;
• Sistematização da informação existente por nível de proteção / condicionantes
(ambientais, segurança, outras utilizações …);
• Disponibilização ao público da informação tratada, dando a conhecer as
condicionantes em termos de localização, facilitando aos promotores a seleção
dos locais para a instalação das explorações aquícolas.

Fase 3

Identificação das áreas com maiores potencialidades para aquicultura versus menores
impactes ambientais e compatibilização com outros usos, realizando-se, nas áreas
identificadas, uma caraterização prévia e detalhada de condicionantes,
potencialidades e tecnologias disponíveis para a instalação de novas explorações Após
esta identificação e caraterização detalhada será possível estabelecer, através dos
instrumentos legais adequados, as áreas mais adequadas para a produção aquícola,
definindo-se os requisitos e as condições de instalação e produção nas áreas definidas.
Esta atribuição será desenvolvida, no caso dos recursos objeto de domínio público, por
iniciativa dos Governos Central e das Regiões Autónomas, através de procedimentos
concursais, ou mediante requerimento do particular

7.2.2.2.3. Criação de novas áreas de produção aquícola

De salientar que, por iniciativa do Estado serão criadas novas áreas de produção
aquícola, nos locais identificados, por reunirem condições adequadas para a instalação
de novos estabelecimentos, assentando numa abordagem integrada que procure
minimizar os potenciais conflitos com outros usos e atividades e garanta a sua

Plano Estratégico para a Aquicultura Portuguesa


55
Principais eixos de intervenção estratégica

compatibilização com a preservação do meio ambiente. Nos projetos de criação de


áreas de Produção Aquícola está previsto um período de consulta pública a fim de
compatibilizar estas áreas com outros usos, como a atividade piscatória, o turismo, a
navegação, etc..
Estas áreas, após loteamento, serão atribuídas à exploração pelos agentes
económicos, mediante procedimentos concursais.
Simultâneamente, será promovido o ordenamento em zonas de estuário e de rias
inseridas no domínio público do Estado, também através da atribuição ou reafetação
de áreas em regime de concessão, procurando reaproveitar áreas atualmente inativas
ou alcançar uma utilização mais eficaz das já existentes.

7.2.3. Resultados a alcançar

Os principais resultados a alcançar são:

• Um melhor conhecimento, por parte dos promotores e dos cidadãos, das


condicionantes e das potencialidades existentes para a utilização de
determinadas zonas e/ou recursos hídricos na atividade aquícola;
• Maior facilidade de acesso aos recursos hídricos situados em áreas delimitadas
para fins de produção aquícola, nomeadamente as áreas de produção aquícola
em mar aberto, compreendidas em águas costeiras e territoriais do
continente 26;
• Maior celeridade no desenvolvimento do processo de atribuição de títulos de
utilização dos recursos hídricos;
• Maior transparência do processo de atribuição dos títulos de utilização dos
recursos hídricos;
• O alargamento da área de zonas húmidas afeta à aquicultura, especialmente na
zona costeira, em cerca de 3.000 hectares.

26
Decreto Regulamentar n.º 9/208, 18 de março.

Plano Estratégico para a Aquicultura Portuguesa


56
Principais eixos de intervenção estratégica

Quadro n.º 9

Ações a realizar

Estimativa de Entidades
Ações Projetos ou fases Metas Intervenientes
Custos

Projeto 1: Regime Jurídico dos


instrumentos do ordenamento
marítimo Meios
Ação 1: Enquadramento Junho de Governos
próprios da
Regulamentar do 2015 Central e
Projeto 2: Regime Jurídico dos Administração
Ordenamento Marítimo Regionais
títulos de utilização privativa do
espaço marítimo
2015 - 16
Projeto 3: Elaboração dos Planos
Fase 1: Mapeamento de áreas
associadas a explorações aquícolas
autorizadas (ativas e inativas) e 6 meses (*) € 480.000 DGRM, APA e
tratamento da informação ICNF
associada
Ação 2: Desenvolvimento dos
instrumentos de gestão Fase 2: Sistematização da DGRM, APA e
territorial existentes informação existente nos 9 meses (*) € 180.000 ICNF
diferentes instrumentos de gestão
territorial
DGRM, APA e
Fase 3: Identificação das áreas com 18 meses (*) € 360.000 ICNF
potencialidades para aquicultura

Meios
Publicação do respetivo diploma próprios da
DGRM, APA e
2014-18 Administração
DGPM
Ação 3: Criação de novas áreas de Procedimentos concursais para
produção aquícola seleção dos concessionários

Instalação de infraestruturas 2016-2018 € 900.000


DGPM
públicas

(*) A contar da data de aprovação do Programa Operacional 2014-2020

Plano Estratégico para a Aquicultura Portuguesa


57
Principais eixos de intervenção estratégica

7.3. Reforçar a competitividade da aquicultura e promover condições equitativas


para os operadores da UE

7.3.1. Descrição da situação nacional

O setor da aquicultura foi objeto, no período de 2007-2013, de apoio público ao


investimento que ultrapassou os 40 milhões de euros, com um potencial produtivo
capaz de mais do que duplicar a produção atual, especialmente de bivalves.

Contudo, em resultado, nomeadamente, da concorrência a preços muito baixos de


espécies piscícolas e das dificuldades financeiras dos últimos anos, a regular
exploração de muitas empresas foi muito afetada, levando ao seu encerramento ou à
não execução de intenções de investimento, conduzindo ao abandono ou subutilização
de muitas explorações.

Existe hoje, pelos motivos atrás apontados, um conjunto muito significativo de espaços
aquícolas subutilizados. Está em causa uma área de cerca de 2,5 mil hectares em zonas
húmidas que reúnem condições para ser reativadas com vista à sua requalificação,
permitindo o aumento de produção, especialmente de espécies piscícolas.

Algumas das zonas húmidas do Continente, por exemplo, os estuários dos principais
rios do Continente, têm vindo a recuperar a qualidade das suas águas em resultado da
redução das atividades industriais mais poluentes e da melhoria do tratamento dos
esgotos domésticos nas respetivas bacias hidrográficas. A revitalização destas zonas
húmidas vem criar condições para o regresso de atividades aquícolas que já foram
muito expressivas, nomeadamente a ostreicultura.

A reutilização destas áreas, conjuntamente com uma maior disponibilidade de


recursos hídricos em mar aberto, nomeadamente para o cultivo de moluscos, é
suscetível de vir a atrair novos investimentos produtivos.

Estas zonas que se localizam nas áreas de influência das principais rias e estuários são
passíveis de utilização em sistemas de cultivo sustentáveis, compatível com a
conservação ambiental e com muito baixos custos energéticos dado recorrer à força
das marés.

É o caso da produção de dourada e robalo em rias e estuários assente no regime de


exploração extensivo em tanques de terra, com densidades reduzidas e utilizando
apenas alimento natural, ou em regimes de produção semi-intensivo, utilizando
simultaneamente alimento natural e artificial. Estas formas de aquicultura
desempenham um papel importante na conservação do património natural costeiro e

Plano Estratégico para a Aquicultura Portuguesa


58
Principais eixos de intervenção estratégica

são suscetíveis de compatibilização com outras atividades complementares da


atividade aquícola (turismo, pesca recreativa, etc.).

Os produtos aquícolas produzidos nestas explorações são suscetíveis de uma maior


valorização, enquanto produto local produzido de acordo com métodos naturais ou
compatíveis com a conservação da natureza.

O esforço no desenvolvimento de ações destinadas à valorização dos produtos


aquícolas, locais ou de espécies autóctones, apresenta-se como uma evidente
vantagem competitiva, a nível nacional e europeu.

Esta valorização pode ser conseguida através do processo de certificação ou de uma


melhor informação ao consumidor, com a criação de marcas e rótulos que diferenciem
estes produtos, de modo a evidenciar as suas características específicas e transferir
certas informações (modo e local de produção, cumprimento com padrões de
qualidade, etc.) ao longo da cadeia de valor, até ao consumidor final.

Num sector tão exposto à concorrência internacional como é o sector aquícola, a


aposta na criação de marcas coletivas ou de produtos certificados e que resultem de
iniciativas dos aquicultores que cooperem, no sentido de promover a comercialização
conjunta, é um elemento a incentivar com vista ao sucesso da valorização destes
produtos junto dos mercados europeus e internacionais.

O associativismo é ainda frágil no subsetor aquícola, o que tem impedido uma maior
intervenção no desenvolvimento de processos de certificação e de denominações de
origem. Reconhece-se que a complexidade e custos inerentes a estes processos
constituem um obstáculo adicional.

Há ainda que ter presente que a insuficiente organização do setor e a consequente


ausência na definição de estratégias comuns de produção, de comercialização e de
promoção do setor impede a criação de um efeito de escala na negociação com as
entidades compradoras mais relevantes.

Importa ter presente que os produtores nacionais ainda não conseguiram ver
reconhecida uma Organização de Produtores no quadro da Organização Comum de
Mercados dos Produtos da Pesca.

O saber fazer constitui uma mais-valia do setor aquícola português. Tem sido objetivo
do sistema educativo, ao nível da capacitação de jovens para a especialização

Plano Estratégico para a Aquicultura Portuguesa


59
Principais eixos de intervenção estratégica

profissional, promover o interesse pela profissionalização em domínios inovadores,


como os que se relacionam com as operações ligadas à produção aquícola.
Portugal dispõe de uma estrutura vocacionada para a formação de profissionais para o
setor da pesca e da aquicultura, enquadrada no Catálogo Nacional de Qualificações.
Esta estrutura, o FOR-MAR – Centro de Formação das Pescas e do Mar, que resultou
de um protocolo entre o Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP) e a
DGRM, é a instituição responsável pela coordenação da formação profissional em
setores ligados ao mar, dispondo de instalações de formação junto dos principais
portos do Continente.

O FOR-MAR realiza formação para qualificação profissional em aquicultura e áreas


conexas, nomeadamente ao nível da produção aquícola, da qualidade alimentar, da
higiene e segurança no trabalho, dos sistemas de frio, etc.. Esta formação, além de
conferir um grau escolar, habilita os alunos com uma qualificação profissional e, em
muito casos, é feita em parceria com instituições do ensino, com vista, também, a
assegurar a empregabilidade junto das empresas.

A um outro nível, o da investigação científica, temos os Laboratórios do Estado que,


em parceria com as universidades e outras instituições, realizam trabalhos de
investigação e experimentação, que são divulgados junto dos produtores aquícolas e
do público em geral.

Importa evidenciar algumas das áreas de estudo fundamentais para o


desenvolvimento do setor em que as entidades anteriormente referidas têm
trabalhado ativamente:
• UP/CIIMAR em nutrição de Peixes e em patologia;
• CIIMAR/ICBAS em nutrição, crescimento e qualidade do pescado em
aquicultura, novas matérias-primas, sistemas e infraestruturas industriais;
• ICBAS/CIIMAR na seleção de espécies de macroalgas marinhas com aptidões
para exploração comercial e para remoção de excesso de nutrientes em
piscicultura;
• IPMA no melhoramento das técnicas de reprodução, crescimento e nutrição
larvar, engorda nas diversas fases do ciclo produtivo, novas tecnologias para
mar aberto, zootecnia, melhoramento e reprodução, desenvolvimento do
cultivo de novas espécies (peixes e bivalves), na qualidade do produto final e
das rações e patologia das espécies aquícolas;
• O IPMA dispõe ainda de um centro de diagnóstico e de referência em bivalves e
de valências na área da profilaxia e de duas estações piloto de aquicultura;
• O Departamento de Oceanografia e Pescas e o Departamento de Biologia
Marinha, ambos da Universidade dos Açores – na produção de conhecimento
sobre o cultivo de espécies locais e autóctones;

Plano Estratégico para a Aquicultura Portuguesa


60
Principais eixos de intervenção estratégica

• UALG/CCMAR/SPAROS em fisiologia da reprodução e processos de


metabolismo em produção larvar, nutrição e processos de alimentação do
peixe, sistemas biológicos e relação com stress/crescimento/bem-estar animal
e ainda em macroalgas;
• INIAV em patologia de peixes.

Os fundos a disponibilizar no âmbito do FEAMP para o período de 2014-2020 virão


potenciar a continuação da realização de investimentos produtivos no reforço da
produção aquícola e noutros domínios que também contribuam para ultrapassar
alguns dos estrangulamentos do setor, nomeadamente ao nível do associativismo, do
desenvolvimento do conhecimento técnico e científico, e da qualidade e segurança do
produto final.

7.3.2. Intervenções a realizar

7.3.2.1. Objetivos a prosseguir

Num contexto mundial dominado por produções aquícolas de baixo custo, a


competitividade deste setor reside na liderança ao nível da inovação em tecnologias
avançadas e ao nível da qualidade, que permitam abastecer o mercado de produtos
com elevados padrões de segurança que satisfaçam um consumidor informado e
exigente, dentro e fora da UE. É, assim, objetivo primordial desta intervenção,
aumentar, diversificar e valorizar a produção aquícola nacional. Este objetivo geral
assenta na definição dos seguintes objetivos específicos:
• Aumentar a produção de peixes de águas temperadas, de crustáceos e de
moluscos bivalves, nomeadamente com recurso a espécies autóctones;
• Revitalizar as áreas de salgado inativas para a produção aquícola em regime
semi-intensivo ou extensivo compatível com a preservação do meio ambiente;
• Melhorar as condições de competitividade das empresas aquícolas;
• Aumentar o valor acrescentado dos produtos da aquicultura e reforçar e
qualificar a fileira da aquicultura.

A aposta na diferenciação pela qualidade e pelos métodos de produção, bem como


pela especificidade dos produtos, tirando partido do conhecimento já existente nos
centros de investigação e das condições biogeográficas do País, de modo a ir de
encontro aos elevados padrões sanitários e de rastreabilidade exigidos na UE, é um
dos caminhos por onde os apoios públicos deverão ser canalisados.
Perante o conhecimento existente é ainda de considerar o desenvolvimento de
sistemas aquícolas integrados, tanto em águas doces, como em águas marinhas,
nomeadamente a aquaponia e a aquicultura multi-trófica, de modo a possibilitar a

Plano Estratégico para a Aquicultura Portuguesa


61
Principais eixos de intervenção estratégica

instalação de explorações aquícolas equilibradas do ponto de vista ambiental e uma


maior estabilidade económica das explorações em resultado de uma produção mais
diversificada.
A produção de alimentos que correspondam àqueles objetivos apoia-se na
investigação e desenvolvimento das seguintes áreas do conhecimento, que potencie a
inovação e a modernização dos sistemas de cultivo:

a) Sanidade

Nesta área procurar-se-á:


• Desenvolver sistemas nacionais mais eficazes de alerta e reporte de doenças,
parasitas e outras contaminações, bem como implementar bancos de dados e
mecanismos de recolha e análise de informações sobre as doenças dos animais
aquáticos;
• Apostar na investigação tecnológica por forma a desenvolver, padronizar e
validar métodos precisos e sensíveis de diagnóstico, terapêuticas seguras e
metodologias eficazes de controlo da doença, promovendo o estudo das
doença e dos agentes patogénicos emergentes;
• Promover uma abordagem holística na gestão de sistemas de saúde dos
animais aquáticos, enfatizando medidas preventivas e mantendo um ambiente
de cultura saudável;
• Desenvolver estratégias alternativas de gestão da saúde como o uso de estirpes
domésticas de animais aquáticos resistentes a doenças, para reduzir o
respetivo impacto;
• Promover a produção de conhecimento na área da ecotoxicologia em
ambientes aquícolas.

b) Nutrição

O desenvolvimento da alimentação animal terá de dar maior ênfase ao uso eficiente


de recursos e á redução dos resíduos da alimentação e descarga de nutrientes. A
redução da utilização de farinha e óleos de peixe em dietas para peixes é importante
para reduzir os custos de alimentação e evitar a concorrência com outros utilizadores
destes produtos.

Estes objetivos podem ser alcançados através de um(a):

• Melhor compreensão dos requisitos nutricionais das espécies de cultura,


incluindo a sua adaptação às condições de cultura;
• Desenvolvimento de dietas específicas para reprodutores que permitam a sua
domesticação completa e a maximização da sua capacidade reprodutiva e
qualidade larvar;

Plano Estratégico para a Aquicultura Portuguesa


62
Principais eixos de intervenção estratégica

• Melhor compreensão das necessidades nutricionais das larvas a fim de


desenvolver compostos para dietas adequadas, que irão reduzir ainda mais a
necessidade de alimento vivo;
• Melhor compreensão dos sistemas aquícolas e das suas potenciais cargas de
nutrientes e perdas para o meio ambiente de modo a maximizar a eficiência de
retenção de nutrientes;
• Melhores estratégias de alimentação com base no uso de subprodutos
agrícolas e da pesca;
• Melhor compreensão da biodisponibilidade de nutrientes e das interações dos
ingredientes utilizados;
• Melhor compreensão dos mecanismos de modulação da resistência a doenças
dos nutrientes;
• Promoção de boas práticas de fabrico de alimentos para aquicultura e de bom
maneio alimentar das explorações.

c) Genética e Aquicultura

A genética tem um papel importante a desempenhar no aumento da produtividade e


sustentabilidade da aquicultura através não só de uma maior sobrevivência, como
também do aumento da taxa de rotatividade da melhor utilização dos recursos, da
redução dos custos de produção e da proteção ambiental.

Reconhecendo que a aquicultura não beneficiou, tanto quanto a pecuária, dos meios
que esta «ferramenta» disponibiliza, tais como a reprodução seletiva e programas de
melhoramento animal, os objetivos a prosseguir nesta área deverão ter em conta:

• O desenvolvimento de práticas para uma melhor domesticação e maneio de


reprodutores, bem como para uma maior eficácia do processo reprodutivo;
• A conceção e promoção de estratégias de divulgação corretas das técnicas de
genética e do uso de organismos geneticamente melhorados;
• A sensibilização da opinião pública para a conservação da biodiversidade
aquática;
• A otimização e o desenvolvimento de protocolos de conservação ou de
produção sustentável de espécies autóctones de elevado valor comercial e
desportivo, com características genéticas compatíveis com o repovoamento de
massas de água naturais.

d) Biotecnologia

A biotecnologia como ciência tem um potencial impacto em todos os setores de


produção de alimentos e também na aquicultura que irá, naturalmente, enfrentar esta
questão através:

Plano Estratégico para a Aquicultura Portuguesa


63
Principais eixos de intervenção estratégica

• Do desenvolvimento e aplicação de inovações biotecnológicas para avanços em


nutrição, genética, saúde e gestão ambiental;
• Das potenciais implicações para a aquicultura, nomeadamente dos Organismos
Geneticamente Modificados (OGM) e outros produtos, importando, por isso,
avaliar o seu impacto de uma forma precaucionaria, prática e segura;
• Da produção de bioprodutos derivados de aquicultura (nomeadamente
biomoléculas) para utilização na indústria farmacêutica, alimentar, cosmética,
etc.

e) Qualidade e segurança alimentar

Com o aumento do conhecimento e da informação disponível para os consumidores,


os produtores de aquicultura, os fornecedores e os processadores dos seus produtos
têm necessidade de melhorar a qualidade e aumentar a segurança e o valor nutricional
do produto final. Simultaneamente, assumindo a indústria a responsabilidade pela
produção e distribuição de produtos seguros, utilizando sistemas de avaliação e
controle de risco adequados, incrementar-se-á uma crescente confiança do
consumidor nos produtos da aquicultura.

Os benefícios obtidos serão, potencialmente, preços mais elevados e,


simultaneamente, o aumento da procura pelo consumidor. Para se alcançarem estes
benefícios será necessário intervir ao nível da:

• Melhoria das dietas e regimes de alimentação para melhorar a qualidade e o


valor nutricional dos produtos da aquicultura;
• Aplicação de padrões internacionais de segurança alimentar, protocolos e
sistemas de qualidade em conformidade com os requisitos internacionais,
como o Codex Alimentarius;
• Utilização de protocolos internacionais de controlo de resíduos na aquicultura e
na pesca;
• Rotulagem adequada e informativa dos alimentos provenientes da aquicultura,
incluindo informações sobre os aditivos, promotores de crescimento e outros
ingredientes utilizados;
• Produção e divulgação de informações relevantes e cientificamente sólidas
para permitir que os produtores e a indústria de processamento possam tomar
decisões informadas que garantam a confiança dos consumidores na segurança
alimentar dos produtos de aquicultura;
• Realização de avaliações de segurança adequadas com base em análise de risco
e em princípios de precaução, antes da aprovação do mercado.

Plano Estratégico para a Aquicultura Portuguesa


64
Principais eixos de intervenção estratégica

f) Tecnologias de produção:

As inovações tecnológicas deverão ser privilegiadas, elencando-se, desde já:

• A melhoria da sustentabilidade de ações e programas de produção ao longo de


todo o ciclo produtivo, tendo em conta as espécies a cultivar, nomeadamente
em mar aberto e o desenvolvimento de sistemas de monitorização ambiental
nas zonas de produção;
• Uma maior ênfase em sistemas integrados de produção para melhoria do
desempenho ambiental e maior rentabilidade;
• A aposta em sistemas de recirculação, nas culturas em mar aberto, no uso
integrado da água, na indução de afloramentos artificiais gerenciadores da
cadeia alimentar nos ecossistemas de cultivo e em outras tecnologias
emergentes;
• A otimização de protocolos de produção de espécies tradicionais e
desenvolvimento de protocolos para novas espécies em maternidade e de
métodos de produção biológica, permitindo a diversificação da oferta;
• A promoção de “boas práticas” na produção de bivalves.

O tratamento destas áreas do conhecimento assenta no desenvolvimento tecnológico


a levar a cabo pelas instituições, sobretudo públicas, (laboratórios de Estado,
universidades, laboratórios associados) e algumas entidades privadas que, através de
núcleos de investigação polivalentes, acolhem e desenvolvem o trabalho de
investigação e desenvolvimento experimental nas várias disciplinas da produção
aquícola.
Este trabalho é acompanhado de ações de partilha dos conhecimentos ao sector
produtivo, através de parcerias com produtores, fábricas de rações e de
medicamentos, indústria de equipamento, de componentes, de instrumentação e
outros.

7.3.2.2. Ações a desenvolver

Com vista ao alcance dos objetivos anteriormente identificados, preveem-se as


seguintes ações:

7.3.2.2.1. A nível do investimento

Através do apoio público, procurar-se-á incentivar os investimentos que visem:

• O aumento, a diversificação da produção e a oferta de novos produtos;

Plano Estratégico para a Aquicultura Portuguesa


65
Principais eixos de intervenção estratégica

• A instalação de novas unidades e/ou a modernização das existentes, visando


dinamizar o sector e criar postos de trabalho;
• A qualidade do produto e do processo produtivo através de práticas de cultura
sustentáveis e compatíveis com o ambiente, adequadamente divulgados na
rotulagem e na informação aos consumidores (ex.: “amêijoa da Ria Formosa”
“ostra portuguesa”, “truta do rio”, etc.);
• A adoção de métodos de produção e utilização de equipamentos que garantam
uma elevada segurança alimentar dos produtos;
• A reabilitação de zonas húmidas, lagoas, salinas, etc. para fins de produção
aquícola;
• A melhoria das condições operativas dos estabelecimentos aquícolas,
nomeadamente, de trabalho e de segurança dos trabalhadores e das instalações,
de proteção face a predadores selvagens e, ainda, as relacionadas com a saúde e
bem-estar dos animais;
• A melhoria da eficiência na utilização dos recursos, nomeadamente da energia e
da água, bem como a redução dos impactes negativos no meio ambiente, tanto
em sistemas abertos, como em sistemas fechados recorrendo, quando viável, a
sistemas aquícolas integrados;
• Recuperação da produção aquícola de espécies autóctones com elevado valor
nutricional ou de conservação, destinadas ao consumo ou ao repovoamento das
massas de água, mediante a reabilitação de instalações aquícolas existentes ou a
instalação de novas unidades;
• A polivalência dos estabelecimentos através do desenvolvimento de atividades
complementares associadas à produção aquícola, como a pesca recreativa, o
turismo da natureza ou atividades de natureza formativa ou didáticas;
• A criação de estruturas em áreas portuárias ou outras áreas de utilização comum
em zonas de elevado potencial aquícola ou a modernização ou reconversão de
estruturas existentes nessas áreas.

7.3.2.2.2. A nível da compatibilidade entre aquicultura e ambiente

O impacte no ambiente proveniente da implementação do presente Plano é


relativamente reduzida, uma vez que se espera um aumento da produção assente no
cultivo de organismos filtradores. Contudo, previamente à criação de novas zonas de
produção aquícola, ao IPMA, enquanto organismo público responsável pela
monitorização da qualidade das águas 27, cabe avaliar as características daquelas zonas.
De notar que o IPMA, no âmbito do Programa Nacional de Monitorização de Moluscos
Bivalves, já monitoriza a sua qualidade, a qual é reveladora do estado do ambiente.

27
Artigo 3.º da Portaria n.º 1421/2006, de 21 de Dezembro.

Plano Estratégico para a Aquicultura Portuguesa


66
Principais eixos de intervenção estratégica

Adicionalmente, caso os operadores desejem utilizar algumas daquelas áreas para a


produção intensiva de peixe deverão, para o efeito, realizar previamente uma
avaliação de impacto ambiental do seu projeto.
Um dos aspetos que preocupa as autoridades nacionais é a resiliência das estruturas a
instalar em mar aberto, atentas as condições naturais mais difíceis na costa ocidental
do Continente. Torna-se necessário aprofundar os estudos sobre as características
destas estruturas para, por uma lado, salvaguardar a viabilidade económica das
unidades produtivas e, por outro, evitar o desmantelamento dessas estruturas.
Assim, para assegurar uma elevada compatibilidade entre a aquicultura e o ambiente,
procurar-se-á, através dos apoios públicos, dinamizar parcerias entre a Administração,
Institutos de Investigação, Universidades e entidades privadas, especialmente
associações de profissionais do setor e outras Organizações Não Governamentais, que
apostem na inovação na aquicultura e realizem ações que visem:
• O apoio e teste de sistemas integrados para melhoria do desempenho
ambiental e para maior rentabilização dos sistemas de produção;
• A cooperação com entidades do sistema científico e tecnológico,
nomeadamente instituições do ensino superior e laboratórios de I & D;
• A conversão de métodos de aquicultura convencional para aquicultura
biológica e a participação em sistemas de ecogestão e auditoria;
• O desenvolvimento tecnológico nas áreas da monitorização da estrutura,
funcionamento e controlo dos ecossistemas e espécies, por forma a permitir o
conhecimento continuado e mais completo sobre as mesmas e a construção de
modelos adequados.

7.3.2.2.3. A nível da Investigação, desenvolvimento e experimentação

• Melhoria dos sistemas nacionais de monitorização e alerta, nomeadamente de


toxinas, e reporte de doenças, bancos de dados, mecanismos de recolha e
análise de informações das doenças dos animais aquáticos, elaboração de
planos de erradicação de doenças e de códigos de conduta relativos à
biossegurança dos espécimes aquícolas e estudos no domínio veterinário;
• Investigação nos domínios do conhecimento que mais interessam ao
desenvolvimento da aquicultura, nomeadamente ao nível da sanidade, da
nutrição animal, da genética, das tecnologias de produção e do
desenvolvimento dos sistemas de cultivo, incluindo a reprodução e o manuseio
dos espécimes;
• O desenvolvimento de rações e/ou “eco-rações” mais económicas e eficientes
do ponto de vista nutricional;
• A preparação e divulgação de guias de boas práticas;

Plano Estratégico para a Aquicultura Portuguesa


67
Principais eixos de intervenção estratégica

• Investigação em aquicultura oceânica, procedendo à recolha de informação


técnica e científica que permita identificar as zonas costeiras com maior
aptidão para a prática da aquicultura, bem como as espécies e os métodos de
cultivo mais adequados.

7.3.2.2.4. A nível da formação dos profissionais

Apostando-se no crescimento da produção fortemente baseada nos moluscos bivalves


em mar aberto (mexilhão, ostra e vieira), com recurso a embarcações para
manipulação das estruturas e do pescado, parte da mão-de-obra a utilizar será
proveniente da pesca extrativa, a qual já detêm um elevado know-how. Em algumas
especialidades (biologia, mergulho, técnicos de aquicultura, operadores de tratamento
de pescado) dispõe-se de um conjunto de instituições com valências suficientes para
ministrar a formação necessária, nomeadamente o FOR-MAR, que resulta de uma
parceria entre a DGRM e o IEFP, Institutos Politécnicos e Universidades com centros de
investigação e desenvolvimento nas áreas do mar (por exemplo, Aveiro e Faro),
prevendo-se contudo, a necessidade de:

• Desenvolvimento de planos de formação transversais para o setor da


aquicultura, que respondam às necessidades de formação contínua dos
empresários, quadros técnicos e outros profissionais qualificados bem como à
formação inicial através de cursos de aprendizagem dual;
• O estabelecimento de parcerias entre as instituições de formação e as
associações de profissionais do setor com vista à aproximação da oferta
formativa às necessidades de pessoal qualificado das empresas do setor;
• O reforço da formação em higiene e segurança alimentar;
• A disseminação de conhecimentos científicos, técnicos e de práticas inovadoras,
nomeadamente através da organização e promoção de eventos de caráter
técnico onde se difundam e consolidem conhecimentos e se apontam soluções
para os estrangulamentos sentidos no setor;
• A criação e/ou a prestação de serviços de aconselhamento de caráter técnico,
cientifico, jurídico ou económico, nomeadamente em matéria de proteção
ambiental e de saúde pública.

7.3.2.2.5. A nível do associativismo

Atendendo à fraqueza identificada na organização dos profissionais do setor,


especialmente quanto à divulgação e comercialização dos seus produtos, será
incentivada a criação ou o desenvolvimento de organizações de produtores com vista a

Plano Estratégico para a Aquicultura Portuguesa


68
Principais eixos de intervenção estratégica

que se possam assumir, coletivamente, como parceiros credíveis, nomeadamente


quanto:
• À definição de estratégias de comercialização dos produtos da aquicultura;
• À criação de marcas ou denominações de origem.

7.3.2.2.6. A nível da competitividade dos profissionais

• O desenvolvimento de um sistema segurador das produções aquícolas que


proteja os profissionais da perda de rendimentos devido à ocorrência de
fenómenos extraordinários, adversos ou a doenças, a que são alheios;
• A adoção de medidas compensatórias da perda de rendimentos ou de
acréscimos de custos resultantes da presença de micro-organismos perigosos
para a saúde pública ou de situações anómalas de doenças nas explorações;
• A promoção do estabelecimento de parcerias entre os profissionais do setor e as
cadeias de distribuição e de comercialização dos produtos da pesca, que se
consubstanciem, nomeadamente, na informação ao consumidor sobre a
qualidade e frescura do pescado da aquicultura, as garantias de cumprimento de
normas ambientais e a compatibilidade com a conservação da natureza em áreas
sensíveis;
• O intercâmbio de experiências e boas práticas entre profissionais, respetivas
associações e outras entidades, nomeadamente científicas;
• A promoção de parcerias entre os profissionais da aquicultura e a indústria de
transformação dos produtos da pesca com vista à preparação de produtos
compatíveis com as expectativas atuais dos consumidores;
• A criação de um mecanismo de acompanhamento da relação entre os diversos
atores intervenientes no desenvolvimento do sector aquícola (produtores
aquícolas e outros utilizadores do espaço, entidades administrantes, entidade
licenciadoras, entidades fiscalizadoras da atividade e organismos de investigação
neste domínio).

7.3.3. Resultados a alcançar

Com a implementação das ações previstas nesta intervenção prevêem-se os seguintes


resultados:
• A realização de investimentos empresariais com cofinanciamento do FEAMP no
valor de 36,5 M€, por forma a assegurar até 2023, fim do período de
programação 2014-2020, um aumento da capacidade produtiva do setor da
ordem das 25.000 toneladas, das quais, 984 toneladas em sistemas de
recirculação;

Plano Estratégico para a Aquicultura Portuguesa


69
Principais eixos de intervenção estratégica

• A manutenção do emprego existente: 1.750 postos de trabalho a tempo


completo;
• A realização de operações coletivas, públicas ou privadas, no domínio da
aquicultura, nomeadamente de investigação, de melhoria dos sistemas
coletivos de apoio aos aquicultores, de formação e de divulgação de
conhecimentos, com financiamento do FEAMP no valor de 15,5 M€, incluindo a
realização de 6 operações em parceria entre os investigadores e os
aquicultores;
• A criação de uma organização de produtores;
• A recuperação e revitalização das zonas húmidas afetas à aquicultura e
atualmente sem atividade, ou até agora inexploradas devido à má qualidade
dos recursos hídricos, em cerca de 1.000 hectares.

Plano Estratégico para a Aquicultura Portuguesa


70
Governação e parceria

8. Governação e parceria

8.1. Principais resultados da parceria

De acordo com a FAO 28, a sustentabilidade constitui o principal objetivo da


Governança do sector aquícola. Refere-se, nomeadamente: A prosperidade a longo
prazo baseia-se no cumprimento prévio dos seguintes requisitos: solidez tecnológica,
viabilidade económica, integridade ambiental e consenso social.

O presente Plano Estratégico adotou como princípios orientadores a sustentabilidade


do setor aquícola nacional e a qualidade e segurança alimentar dos produtos. Para
consensualização destes princípios, do objetivo estratégico e das intervenções a
realizar no período 2014-2020 foi promovido o diálogo entre representantes dos
principais intervenientes, nomeadamente das entidades públicas da Administração
Central e Regional com responsabilidades no setor da aquicultura e dos recursos
hídricos, e do setor privado. As conclusões do grupo de trabalho então criado
consubstanciaram-se em 3 relatórios que serviram de base à preparação do projeto de
Plano Estratégico, o qual foi submetido a consulta pública.

Contudo, a parceria não se limitará à preparação deste plano estratégico,


pretendendo-se que prossiga durante a implementação dos vários instrumentos de
política, nomeadamente na fase de preparação do Programa Operacional 2014-2020 e
no acompanhamento deste Plano.

As políticas públicas que se perspetivam para apoio das ações a desenvolver por
privados e por instituições científicas, serão reforçadas por parcerias a estabelecer, em
domínios relacionados com:
• A informação ao consumidor, que se pretende clara e transparente, sobre a
qualidade, segurança e sustentabilidade dos produtos aquícolas;
• A monitorização dos preços ao longo de toda a cadeia de comercialização;
• A sensibilização dos agentes económicos para uma efetiva participação na
gestão do sector, através da constituição de Organizações Produtores;
• A recolha da informação estatística relevante exigidas pelo Sistema Estatístico
Nacional e pelo Programa de Recolha de Dados;
• A monitorização da atividade obtendo informação necessária, nomeadamente
à execução da Diretiva-Quadro Água e da Diretiva-Quadro Estratégia Marinha;
• A criação de uma Comissão de Acompanhamento do presente Plano
Estratégico, de carácter multidisciplinar, que acompanhe a sua execução,
assegure a avaliação da adequação dos resultados face aos objetivos

28
Exame Anual da Pesca e Aquicultura_2012, pg.107

Plano Estratégico para a Aquicultura Portuguesa


71
Governação e parceria

enunciados e promova a introdução das alterações consideradas pertinentes


até ao final de 2017.

8.2. Relações com as prioridades dos programas operacionais financiados pelos FEEI
8.2.1. Programa Operacional financiado pelo FEAMP

A promoção de uma aquicultura competitiva, economicamente viável, social e


ambientalmente sustentável, será apoiada pelo Programa Operacional 2014-2020,
sendo o presente Plano Estratégico, uma condição ex-ante.
A grande maioria das ações previstas neste Plano Estratégico serão financiadas através
dos fundos do FEAMP incritos na Prioridade 2 do Programa Operacional 2014-2020.
O quadro seguinte refere-se à utilização dos meios financeiros do FEAMP previstos na
Prioridade 2 para apoio às ações a desenvolver no quadro do presente Plano
Estratégico.

Quadro n.º 10
UTILIZAÇÃO DO FEAMP NO PO 2014-2020

Áreas de Intervenção Intervenientes Recursos do FEAMP

Ordenamento do Espaço e do
Entidades Públicas 4.000.000 €
Acesso à Água

Investimentos Produtivos Empresas Aquícolas 36.500.000 €

Setor Cíentifico e
Investigação & Desenvolvimento 7.500.000 €
Tecnológico

Entidades Públicas e
Sustentabilidade da Atividade 9.000.000 €
Empresas Aquícolas

Entidades Científicas, de
Formação e Disseminação de
Formação, Empresas e 2.000.000 €
Conhecimentos
Associações do Setor

O quadro da página seguinte estabelece a relação entre cada uma das ações previstas
neste Plano Estratégico com as medidas do PO 2014-2020 e respetivas dotações do
FEAMP.

Plano Estratégico para a Aquicultura Portuguesa


72
Governação e parceria

RELAÇÃO DO PLANO ESTRATÉGICO PARA A AQUICULTURA PORTUGUESA COM O PROGRAMA OPERACIONAL DO FEAMP

PROGRAMA OPERACIONAL MAR


EIXOS DE INTERVENÇÃO DO PLANO ESTRATÉGICO
2020
Recursos:
Objetivos operacionais Principais ações previstas Medidas
Origem valor
Adaptação da legislação que enquadra o licenciamento da utilização do domínio hídrico e a autorização
n.a. Nacionais n.e.
Reduzir e simplificar os de instalação de estabelecimentos de aquicultura
procedimentos Simplificação dos procedimentos e redefinição dos elementos a apresentar pelos agentes económicos n.a. Nacionais € 210.000
Administrativos Criação de uma plataforma eletrónica comum para a submissão, análise e tramitação de processos de
n.a. Nacionais € 260.000
licenciamento
Identificar os recursos Melhoria do enquadramento legal e regulamentar n.a. Nacionais n.e.
hídricos e atribuir os
espaços com maior Desenvolvimento dos instrumentos de gestão territorial existentes Nacionais € 1.020.000
potencial para a Art.º 51.º
Criação de novas zonas de produção aquícola FEAMP € 4.000.000
aquicultura
Apoio aos investimentos que visem a qualidade do produto e do processo produtivo

Aumento e diversificação da produção e oferta de novos produtos, incluindo a instalação de novas


unidades e/ou a modernização das existentes

A adoção de métodos de produção que garantam uma elevada segurança alimentar dos produtos

Melhoria das condições operativas dos estabelecimentos aquícolas, incluindo a segurança no trabalho Art.º 48.º,
FEAMP € 28.500.000
e das unidades, a saúde e bem estar dos animais e a proteção de predadores selvagens 1., a-d, f-h

Reabilitação de zonas húmidas, lagoas, salinas, etc. para fins de produção aquícola

A recuperação da produção aquícola de espécies autótones para fins de consumo ou de repovoamento

A polivalência da atividade dos estabelecimentos aquícolas através da aquicultura do


desenvolvimento de atividades complementares
Aumentar, diversificar e A melhoria da eficiência na utilização dos recursos, nomeadamente da energia e da água, bem como a Art.º 48.º,
FEAMP € 8.000.000
valorizar a produção redução dos impactes negativos no meio ambiente, incluindo a utilização da aquicultura multitrófica 1., e, i, j, k
aquícola nacional: A criação, modernização ou reconversão de áreas portuárias ou outras áreas comuns, em zonas de Art.º 43.º, FEAMP ou
n.e.
elevado potencial aquícola 1. FEDER
O apoio e teste de sistemas integrados para melhoria do desempenho ambiental e rentabilização dos
sistemas de produção
Investigação em aquicultura oceânica que permita identificar as zonas costeiras, as espécies,
estruturas e métodos de cultivo mais adequados à prática da aquicultura
O desenvolvimento tecnológico nas áreas de monitorização e do controlo dos ecosistemas e das
espécies
Art.º 47.º FEAMP € 7.500.000
Melhoria dos sistemas de alerta e reporte de doenças, bancos de dados, mecanismos de recolha e
análise de informações sobre as doenças dos animais aquáticos
- Aumentar a produção de Investigação, nomeadamente ao nível da sanidade e da nutrição animal, das tecnologias de produção
peixes de águas e do desenvolvimento dos sistemas de cultivo
temperadas, de crustáceos e
de moluscos bivalves Desenvolvimento de rações e/ou eco-rações mais económicas e eficientes do ponto de vista nutricional
O apoio à criação e/ou à aquisição de serviços de aconselhamento, bem como a preparação e a
- Revitalizar as áreas de
divulgação de guias de boas práticas
salgado inativas para a
produção aquícola em A disseminação de conhecimentos científicos, técnicos e de práticas inovadoras Art.º 49.º FEAMP € 1.000.000
regime semi-intensivo ou
O intercâmbio de experiências e boas práticas entre profissionais, respetivas associações e outras
extensivo
entidades, nomeadamente científicas
O estabelecimento de parcerias entre as instituições de formação e as associações de profissionais,
nomeadamente o desenvolvimento de planos de formação transversais para o setor da aquicultura
- Melhorar as condições de
competitividade das A cooperação entre a Administração, associações do setor e entidades do sistema cientifico e
Art.º 50º FEAMP € 1.000.000
empresas aquícolas tecnológico

O reforço da formação em higiene e segurança alimentar


- Aumentar o valor
acrescentado dos produtos O desenvolvimento de um sistema segurador das produções aquícolas Art.º 57.º FEAMP € 3.000.000
da aquicultura
Art.º 55.º
A saúde pública e a saúde e bem estar animal FEAMP € 2.000.000
e 56.º
A adoção de medidas compensatórias de perdas de rendimentos ou de acréscimos de custos em Art.º 53.º
FEAMP € 4.000.000
resultado da conversão para métodos de produção biológicos ou da prestação de serviços ambientais e 54.º
Divulgação dos benefícios do pescado, nomeadamente daquele que foi objeto de certificação, e dos
subprodutos resultantes da aplicação de processos tecnológicos inovadores

Apoio à criação, organização e funcionamento de organizações de produtores Art.º 68.º FEAMP n.e.

A promoção de parcerias entre os profissionais do setor, a industria de transformação e, ou as cadeias


de distribuição e de comercialização dos produtos da pesca
Art.º 77.º,
Melhoria dos instrumentos de notação para a recolha dos dados estatísticos sobre a aquicultura FEAMP n.e.
2., f
A criação de um mecanismo de acompanhamento da evolução das relações entre os diversos atores
n.a. Nacionais n.e.
intervenientes no desenvolvimento do sector aquícola

Plano Estratégico para a Aquicultura Portuguesa


73
Governação e parceria

Além das ações do PEA financiadas no âmbito da Prioridade 2 do PO 2014-2020, outras


ações relevantes para o setor aquícola poderão também ser objeto de apoio deste
Programa, através de outras prioridades, nomeadamente ao nível da divulgação das
vantagens do consumo de pescado e promoção da qualidade dos produtos da
aquicultura, do apoio à criação ou ao funcionamento de organizações de produtores e
da melhoria dos instrumentos de recolha de dados estatisticos.

A contribuição deste Plano para os objetivos do FEEI está representada no diagrama da


página seguinte.

Plano Estratégico para a Aquicultura Portuguesa


74
Governação e parceria

OE1 – Prestar apoio ao reforço do desenvolvimento tecnológico, da OT3 – Reforçar a competitividade das PME, do setor agrícola (em
inovação e da transferência de conhecimento relação ao FEADER) e do setor das pescas e da aquicultura (em
OE2 – Aumentar a competitividade e a viabilidade das empresas relação ao FEAMP)
aquícolas, incluindo a melhoria das condições de segurança e de trabalho, OT4 – Apoiar a transição para uma economia de baixo teor de
em especial das PME carbono em todos os setores
OE3 – Proteção e recuperação da biodiversidade aquática, valorização OT6 – Preservar e proteger o ambiente e promover a utilização
dos ecossistemas relacionados com a aquicultura e promover uma eficiente dos recursos
aquicultura eficiente em termos de recursos OT8 - Promover a sustentabilidade e a qualidade do emprego e
OE4 – Promoção da aquicultura com elevado nível de proteção apoiar a mobilidade dos trabalhadores
ambiental, de saúde e bem-estar animal e da saúde e segurança públicas
OE5 – Desenvolvimento da formação profissional, novas competências
profissionais e aprendizagem ao longo da vida

Plano Estratégico para a Aquicultura Portuguesa


75
Governação e parceria

8.2.2. Programas Operacionais financiados pelos outros FEEI

Os apoios do FEAMP podem ser complementados através de outras ações previstas


nos Programas Operacionais estabelecidos no Acordo de Parceria e na Cooperação
Territorial Europeia e, através destes, contribuir também para os objetivos prioritários
dos FEEI:
Os apoios do FEAMP podem ser complementados através de outras ações previstas
nos Programas Operacionais 29 estabelecidos no Acordo de Parceria e na Cooperação
Territorial Europeia e, através destes, contribuir também para os objetivos prioritários
dos FEEI:
• Sustentabilidade e Eficiência no Uso de Recursos (PO SEUR);
• Competitividade e Internacionalização;
• Capital Humano;
• Programas Operacionais Regionais;
• Programa de Cooperação Transnacional Espaço Atlântico 2014-2020.

Programa Operacional Sustentabilidade no Uso dos Recursos (PO SEUR)

No Eixo prioritário 2. Adaptação às alterações climáticas e prevenção e gestão de


riscos, Objetivo temático “A proteção do litoral e o problema da erosão costeira” é
referido que a zona costeira assume um importante papel enquanto suporte de um
conjunto de atividades económicas de diferentes sectores (e.g., pesca comercial,
aquicultura, turismo, recreio costeiro, náutica de recreio e atividade portuária), uns
orientados para a valorização de recursos do mar, outros retirando da proximidade ao
mar externalidades positivas.

Programa Operacional Competitividade e Internacionalização


No Eixo prioritário 1. Reforço da investigação, do desenvolvimento tecnológico e da
inovação, Objetivo temático “Reforço da investigação, do desenvolvimento
tecnológico e da inovação, a aquicultura estará incluída em áreas de: aumento do
investimento empresarial em I&D, reforçando a ligação entre as empresas e as
restantes entidades do Sistema Nacional de I&D e promovendo o aumento das
atividades económicas intensivas em conhecimento e a criação de valor baseada na
inovação; reforço das redes e outras formas de parceria e cooperação, que visem a
inovação e a internacionalização de empresas e das cadeias de valor.

Programa Operacional Capital Humano


Refere que deverá ser promovida uma política de melhoria da formação marítima que
confira prioridade à capacitação no âmbito das indústrias tradicionais da economia

29
Com base nas versões dos programas operacionais colocadas em consulta pública no 1.º trimestre de 2014

Plano Estratégico para a Aquicultura Portuguesa


76
Governação e parceria

azul. A principal entidade formadora do setor, o FOR-MAR, é financiada pelo Fundo


Social Europeu (FSE), na maior parte das suas ações.

Programas Operacionais Regionais

No PO Regional do Norte 2014-2020 constituiu-se como uma das apostas regionais,


o domínio prioritário Recursos do Mar e Economia, visando o estabelecimento de
relações de articulação entre engenharias aplicadas (civil, mecânica, naval, robótica,
energia, biociências e tecnologias de informação, de materiais), recursos do mar
(nomeadamente, vento, ondas, algas, praias) e atividades económicas que os
valorizem (designadamente, construção naval, produção de energia em offshore,
construção de plataformas, turismo náutico, biocombustíveis, alimentação e
aquacultura em offshore, etc.).

No CENTRO 2020 existe um eixo dedicado à competitividade e internacionalização da


Economia Regional, que tem como principal objetivo o reforço da competitividade das
pequenas e médias empresas e dos setores agrícola, das pescas e da aquicultura.
Neste contexto, a Região Centro vai investir prioritariamente na promoção do espírito
empresarial, facilitando o apoio à exploração económica de novas ideias e
incentivando a criação de novas empresas, no desenvolvimento e aplicação de novos
modelos empresariais para as PME, no apoio à criação e alargamento de capacidades
avançadas de desenvolvimento de produtos e serviços, capacitando as PME para
participar nos processos de crescimento e inovação, privilegiando-se as atividades
ligadas ao Mar enquanto domínio diferenciador na Região.

O PO Região de Lisboa 2014-2020 refere que a prospeção e valorização dos recursos


marinhos é um setor com potencial de crescimento na Região em resultado da
importância assumida pela pesca e pela indústria de conserva de peixe. A pesca e a
aquicultura são atividades económicas determinantes para a produção e para o
consumo alimentar, permitindo responder à grande procura no mercado nacional e
assumir posições competitivas à escala internacional.

O PO Alentejo 2020 inclui as seguintes tipologias de ação relacionadas com a


aquicultura:
• Ordenamento e gestão de áreas classificadas (incluindo meio terrestre e
marinho);
• Valorizar os recursos cinegéticos e aquícolas de águas interiores;
• Execução do Programa Nacional de Sinalização de áreas classificadas;

Plano Estratégico para a Aquicultura Portuguesa


77
Governação e parceria

O CRESC Algarve 2020 refere que, no domínio do crescimento sustentável, será


necessário atuar no sentido de eliminar ou atenuar o constrangimento dos usos
conflituantes na faixa marinha (aquicultura, pesca, navegação, etc.).

Compromisso Madeira 2020


Um dos elementos da estratégia da RA da Madeira é o reforço das exportações
indiretas, incorporadas no setor turístico que poderão introduzir um impulso relevante
nos setores da agricultura e das pescas e nas indústrias alimentares.
No contexto da prioridade “Promoção da Competitividade da Economia”, a Região
pretende estimular o desenvolvimento sustentável da aquicultura tendo fixado como
objetivos: reforçar a competitividade da aquicultura, pela qualidade e diversificação
dos produtos; e alargar o conhecimento científico, visando uma melhor avaliação e
utilização dos recursos.
O financiamento da estratégia regional vai ocorrer num contexto de programação
multifundos que combina deferentes intervenções, de apoio ao investimento
produtivo ou a ações imateriais, nomeadamente na inovação e no desenvolvimento de
competências. O FEAMP é um dos fundos financiadores, verificando-se um
cruzamento e interligação entre o Programa Operacional Pescas 2014-2020 e o
compromisso Madeira 2020.

PO AÇORES 2014-2020

Um dos pontos da estratégia da Região Autónoma dos Açores é privilegiar os


investimentos que sejam geradores de mais-valias para a Região.
Na área do investimento a aposta será fundamentalmente vocacionada para as
atividades ligadas à produção de bens transacionáveis, quer visando a exportação,
quer a substituição de importações, com dinamização da inovação e forte
concentração no conhecimento e na criação de emprego.
Uma das medidas previstas é a definição e implementação de uma estratégia global e
integrada para a economia do mar.

Cooperação Territorial Europeia

Ainda no âmbito dos FEEI, em ligação com a Estratégia Marítima da União Europeia
para a Área do Atlântico (EMUEAA), deverá ser tido em atenção o Programa de
Cooperação Transnacional Espaço Atlântico 2014-2020, nomeadamente quanto à
melhoria da proteção e gestão do ambiente e dos recursos naturais do Espaço
Atlântico, à capacidade de gerir os riscos a que estão sujeitas as regiões costeiras,
explorar e reforçar os ativos naturais e culturais. Este programa irá cobrir os 5 Estados
Membros do Espaço Atlântico: França, Irlanda, Reino Unido, Espanha e Portugal
(incluindo as Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira) e considera, na análise

Plano Estratégico para a Aquicultura Portuguesa


78
Governação e parceria

SWOT, a aquicultura como um dos setores com potencial de crescimento da economia


azul e especialização marítima.
De entre as prioridades desde programa cabe destacar o eixo 1 – Promover a inovação
e a competitividade, no âmbito do qual se pretende o fomento do investimento
empresarial em I+D, ou o desenvolvimento de vínculos e sinergias entre as empresas,
os centros de investigação e desenvolvimento e o setor do ensino superior, bem como,
a criação de clusters e de mecanismos de cooperação entre setores complementares e
entre agentes de investigação e económicos num contexto transnacional.

8.3. Relação com o Programa Horizonte 2020 e as Estratégias de Especialização


Inteligente

A Estratégia Europa 2020 tem uma forte ligação com o programa Horizonte2020, no
que respeita às áreas de investigação e inovação para a promoção do crescimento
inteligente.

Nesse âmbito, e também como condição ex-ante para aprovação do Acordo de


Parceria, foram elaboradas as Estratégias de Especialização Inteligente de Portugal
(ENEI) que articulam a estratégia nacional com as estratégias regionais e setorias de
investigação e inovação, nomeadamente a nível do mar.

No seu diagnóstico as ENEI reconhecem que o perfil de especialização da produção


científica portuguesa revela uma elevada especialização nas Ciências do Mar, para
além de uma especialização relevante em Ambiente e Biologia. Considera ainda, na
análise SWOT, como oportunidadade, o potencial de desenvolvimento de um cluster
marítimo, aproveitando os recursos existentes e setores complementares.

As prioridades estratégicas inteligentes escolhidas foram organizadas por temas, tendo


em conta as capacidades existentes, sendo um deles a Economia do Mar, enquadrado
no eixo temático Recursos Naturais e Ambiente. Neste eixo, a Economia do Mar -
Recursos Alimentares Marinhos (Pesca e Aquicultura) tem como visão a “valorização e
diferenciação do pescado português e dos produtos nacionais sustentáveis da pesca,
através do conhecimento científico das espécies com maior potencial de valorização e
garantia de sustentabilidade ambiental através da aplicação de tecnologias
inovadoras”, sendo-lhe reconhecida as seguintes vantagens competitivas:
• “Diversidade do pescado e capacidade científica sobre este, com competências
e infraestruturas adequadas;
• Organização aglutinadora da “Fileira do Pescado” com atividade importante
junto dos decisores políticos.”

Plano Estratégico para a Aquicultura Portuguesa


79
Governação e parceria

A ENEI e as estratégias regionais e setoriais de especialização inteligente são


orientadoras do sistema de investigação científica nacional e das respetivas redes.
Na área da aquicultura destacam-se os seguintes tópicos principais de investigação,
desenvolvimento e inovação:
• Tecnologias e processos de diversificação das espécies produzidas – novos tipos
de alimento;
• Uso de robótica e biotecnologia;
• Combate a organismos patogénicos e doenças na aquicultura;
• Análise da preferência do consumidor e da valorização da imagem do produto e
da marca de origem (aquicultura e indústria do pescado);
• Segurança alimentar;
• Novas tecnologias e serviços para o desenvolvimento de produtos e processos;
• Demonstração de modelos de negócio inovadores e padrões comportamentais.

No âmbito do eixo relativo à economia do mar (sistemas naturais e recursos


energéticos renováveis) é ainda feita uma referência ao tópico relativo ao
ordenamento do espaço marítimo.

De entre o conjunto de políticas e medidas da Estratégia de Especialização Inteligente,


algumas apresentam uma forte relação com as àreas de intervenção identificadas no
eixo Reforçar a Competitividade da Aquicultura e Promover Condições Equitativas para
os Operadores da UE do PEA, nomeadamente no que respeita à Política de I&D+I:
Reforço de ligações entre instituições de I&D e o setor empresarial e proteção do
conhecimento e à Politica de Inovação.

8.4. Ponto de contacto

Organismo:
Direcção-Geral de Recursos Naturais, Segurança e Serviços Marítimos

Nome:
Miguel Sequeira
(Diretor Geral)

Contactos:
Avenida de Brasília, 1449-030 LISBOA – PORTUGAL
Telefone: 00351 21 3035700
Email:[email protected]

Plano Estratégico para a Aquicultura Portuguesa


80
Boas práticas da aquicultura em Portugal

9. Boas práticas da aquicultura em Portugal

9.1. Projeto de conservação ex-situ de organismos fluviais

a) Enquadramento

Várias espécies de peixes de água doce endémicos do Continente português, bem


como vários outros organismos aquáticos, entre os quais plantas e invertebrados,
encontram-se criticamente ameaçados de extinção. Estes endemismos ocorrem
principalmente em pequenos rios e ribeiras do Sul do país, habitualmente sujeitos a
fortes variações sazonais de caudal, ficando alguns destes cursos de água reduzidos a
pegos esporádicos, facto que torna os organismos aquáticos particularmente
vulneráveis a situações de seca extrema.
De acordo com os cenários desenvolvidos pelos climatologistas para o Sul da Península
Ibérica, relativos às alterações climáticas, prevê-se um aumento da frequência de
situações de seca extrema, o que agrava a vulnerabilidade acima referida. Uma
situação semelhante pode ser descrita relativamente a alguns invertebrados,
salientando-se os bivalves de água doce e algumas plantas aquáticas.
Neste contexto, a Quercus tomou a iniciativa de encetar medidas que permitissem a
conservação ex situ das espécies dulçaquícolas mais ameaçadas de extinção, tendo
estabelecido um programa de colaboração com diversas entidades para a
implementação do “Projeto de Conservação ex situ de Organismos Fluviais”, projeto
que constitui uma boa prática na área da aquicultura em águas interiores.

b) Descrição sucinta do projeto

O “Projeto de Conservação ex situ de Organismos Fluviais”, promovido pela Quercus,


envolve como parceiros a Unidade de Investigação em Eco Etologia do Instituto
Superior Psicologia Aplicada, o Aquário Vasco da Gama, a Faculdade de Medicina
Veterinária, a EDP - Energias de Portugal e a Câmara Municipal de Figueiró dos Vinhos.
No âmbito deste projeto foram selecionados um conjunto de organismos aquáticos
com estatuto de conservação relevante e desenvolvidos programas de conservação e
reprodução ex-situ, destinados à conservação de um repositório em cativeiro, assim
como ao posterior repovoamento de cursos de água com espécimes reproduzidos em
cativeiro.

c) Objetivos previstos

O principal objetivo deste projeto consiste em manter populações ex situ de algumas


das espécies de organismos de água doce mais ameaçadas do Continente português.

Plano Estratégico para a Aquicultura Portuguesa


81
Boas práticas da aquicultura em Portugal

Pretende-se ainda garantir a manutenção de um número suficiente de exemplares de


forma a conservar a diversidade genética intraespecífica.
Numa primeira fase, que durou três anos, a implementação do projeto visou apenas
garantir a manutenção de um repositório genético em cativeiro.
A segunda fase, atualmente em curso, comtempla ações de repovoamento, associadas
a projetos de recuperação de linhas de água.

d) Ações ou atividades desenvolvidas

O projeto está a ser implementado com base em 2 instalações aquícolas: o Posto


Aquícola do Campelo, pertencente ao ICNF e localizado em Campelo, concelho de
Figueiró dos Vinhos, bacia hidrográfica do rio Tejo, e o Aquário Vasco da Gama,
localizado em Algés e pertencente ao Ministério da Defesa Nacional - Marinha.
O “Projeto de Conservação ex situ de Organismos Fluviais” utiliza técnicas de
aquacultura extensiva a semi-intensiva. A alimentação artificial é utilizada como
suplemento à produção natural de alimentos nos tanques.
A técnica de produção de alevins baseia-se numa metodologia que preserva os
comportamentos naturais dos peixes e reduz ao mínimo os custos com mão-de-obra.
Em vez da extração forçada dos gâmetas, os reprodutores são colocados em tanques
de desova com substratos de postura apropriados como molhos de lã ou filamentos
sintéticos onde os ovos ficam protegidos dos próprios adultos. Nos mesmos tanques
são colocadas gaiolas de abrigo com uma rede que permite a entrada das
larvas/alevins mas é demasiado pequena para permitir a entrada dos adultos. Fica
assim reservada para o crescimento dos juvenis uma área do tanque onde estão livres
da predação por peixes maiores. Esta técnica permite preservar os comportamentos
reprodutores dos adultos e os comportamentos de fuga dos alevins, mantendo a
aptidão dos exemplares produzidos em cativeiro para uma posterior devolução ao
meio natural.
Do ponto de vista sanitário, todos os tanques têm fluxos independentes de modo que
uma epizootia que se declare num tanque não se propagará aos restantes. Todos os
tanques estão equipados com sistemas de arejamento da água à entrada e sistemas de
oxigenação de reforço, além de fontes alternativas de captação de água no verão para
o caso da ribeira que abastece o sistema de piscicultura deixar de correr durante as
secas.
A implementação do projeto implicou a realização de capturas em habitat natural de
espécimes de: ruivaco-do-Oeste (Achondrostoma occidentale), boga-portuguesa
(Iberochondrostoma lusitanicum), escalo-do-Mira (Squalius torgalensis), escalo-do-
Arade (Squalius aradensis) e boga-do-Sudoeste (Iberochondrostoma almacai).
Numa fase inicial foi efetuada a captura de um reduzido número de exemplares,
insuficiente para assegurar a diversidade genética das populações a preservar, o que
só se conseguiria com largas centenas de animais. Posteriormente, e com o decorrer

Plano Estratégico para a Aquicultura Portuguesa


82
Boas práticas da aquicultura em Portugal

do aumento dos exemplares produzidos em cativeiro, foram reforçadas as populações


naturais através do repovoamento com exemplares nascidos em cativeiro e,
simultaneamente, capturados exemplares selvagens para renovação do efetivo de
reprodutores em cativeiro.
O projeto abarcou várias iniciativas de divulgação e educação ambiental, cujo principal
objetivo foi a sensibilização do público para a problemática da conservação dos rios e
das espécies aquícolas de águas interiores. A divulgação pública do projeto foi também
efetuada através do sítio do projeto na internet: http://exsitu.quercus.pt/.

e) Resultados alcançados

No âmbito do projeto foi conseguida com sucesso a conservação e reprodução ex-situ


das espécies acima referidas. A produção aquícola atingida permitiu igualmente a
realização de repovoamentos com estas espécies em 7 cursos de água: rio Alcabrichel,
rio Sizandro, ribeira de Colares, ribeira de Grândola, ribeira da Lage, rio Arade e rio
Mira.

f) Riscos e dificuldades

Uma das dificuldades relatadas foi a ocorrência de condições climatéricas adversas que
impediram a realização dos repovoamentos previstos, assim como a captura de novos
exemplares, na altura em que estas operações estavam calendarizadas, em 2012.

g) Elementos distintivos do projeto

Os elementos distintivos do projeto que suportam a sua inclusão como boa prática no
setor aquícola são:
• O desenvolvimento do conhecimento necessário para a conservação e
reprodução ex-situ de espécies com elevado valor de conservação;
• A implementação das melhores práticas no que respeita à caracterização
genética das populações e subpopulações, a definição das unidades de
conservação e consequente maneio aquícola;
• A conservação e a reprodução em cativeiro utilizando técnicas de maneio
específicas, destinadas a assegurar o sucesso aquando da devolução ao
meio natural dos exemplares produzidos em cativeiro;
• A reabilitação funcional de um Posto Aquícola Estatal como uma das
instalações aquícolas de suporte ao projeto, com a inerente modernização
e valorização funcional de uma infraestrutura que se encontrava
subutilizada.
• A integração, nos parceiros do projeto, de entidades diversificadas
relativamente aos seus fins, valências e conhecimento, constituindo

Plano Estratégico para a Aquicultura Portuguesa


83
Boas práticas da aquicultura em Portugal

conjuntamente uma base de apoio multidisciplinar e completa face aos


objetivos do projeto;
• A salvaguarda do princípio da precaução, materializada na conservação ex-
situ de populações piscícolas em duas instalações independentes e
redundantes.

h) Perspetivas de desenvolvimento dos resultados alcançados

O “Projeto de Conservação ex situ de Organismos Fluviais” encontra-se ainda em curso,


continuando as atividades da fase II anteriormente referida.
No seguimento das atividades desenvolvidas no projeto, foi elaborada pela Quercus
uma candidatura ao Programa LIFE +, a qual foi aprovada, dando origem ao projeto
“Ecotone - Gestão de habitats ripícolas para a conservação de invertebrados
ameaçados”, que tem como objetivo conceber, implementar e avaliar metodologias de
gestão ativa do habitat prioritário ― 91E0 *Florestas aluviais de Alnus glutinosa e
Fraxinus excelsior (Alno-Padion, Alnion incanae, Salicion albae) – para incrementar
populações de odonatos (Oxygastra curtisii, Gomphus graslinii e Macromia splendens)
e melhorar o estado de conservação das populações de náiades ameaçadas,
Margaritifera margaritifera e Unio tumidiformis, contemplando a conservação destas
duas últimas espécies a manutenção em cativeiro das espécies ícticas que parasitam
durante parte do seu ciclo de vida

Plano Estratégico para a Aquicultura Portuguesa


84
Boas práticas da aquicultura em Portugal

9.2. Qualidade ambiental e sustentabilidade dos recursos biológicos da Ria Formosa


(QUASUS)

a) Enquadramento

A moluscicultura na Ria Formosa constitui uma das atividades de maior significado


económico, no quadro da exploração dos recursos vivos naturais, devido às condições
favoráveis do ecossistema. A principal produção é a de amêijoa boa (Ruditapes
decussatus).

Contudo, fatores ambientais como a baixa renovação das águas nas zonas mais
interiores, a natureza vasosa do sedimento, e a ocorrência de temperaturas elevadas
no Verão podem contribuir para situações de stress nesta espécie. Tornou-se, por isso,
pertinente avaliar potenciais impactos na produção de amêijoa devido a alterações das
condições ambientais.

A interação produção-ambiente constituiu o principal desafio do projeto QUASUS. No


decurso deste projeto foram realizados diversos ensaios experimentais e a compilação
de dados históricos com vista a avaliar possíveis efeitos da redução das pressões
antropogénicas na qualidade deste ecossistema lagunar.

b) Objetivos previstos

O projeto QUASUS visou contribuir para um melhor conhecimento das interações


entre a produção de amêijoa-boa Ruditapes decussatus na Ria Formosa e as alterações
ambientais, quer causadas por fenómenos naturais, quer resultantes da ação do
homem.

c) Ações ou atividades desenvolvidas

Foram realizados diversos ensaios experimentais na Ria Formosa e a comparação dos


resultados obtidos com dados históricos com o objetivo de avaliar possíveis efeitos da
redução das pressões antropogénicas na qualidade deste ecossistema lagunar. Foram
focados diversos aspetos relativos à qualidade e produção de amêijoas:
(i) Indicadores fisiológicos;
(ii) Distribuição de contaminantes pelos principais tecidos;
(iii) Toxicidade de bivalves por toxinas marinhas;
(iv) Mortalidade elevada de amêijoas;
(v) Capacidade de carga em viveiro-tipo de uma zona problemática;

Plano Estratégico para a Aquicultura Portuguesa


85
Boas práticas da aquicultura em Portugal

(vi) Impacto do recrutamento de mexilhão na produção de amêijoas;


(vii) Problemática de valores máximos recomendáveis para parâmetros
ambientais de qualidade;
(viii) Medidas de precaução para a comercialização de amêijoas em períodos de
elevada precipitação e escorrências.

d) Resultados alcançados

Os resultados obtidos apontam para as seguintes conclusões:


(i) A produção de amêijoa, em 470 hectares da Ria Formosa, constitui a maior
quantidade de bivalves produzida em Portugal envolvendo 1 600 licenças
de exploração e cerca de 10 000 pessoas;
(ii) Os principais constrangimentos à produção de amêijoa na Ria são a
disponibilidade de semente, os picos de mortalidade, e as condições
ambientais desfavoráveis;
(iii) A disponibilidade de semente de amêijoa nos bancos naturais flutua
anualmente, equacionando-se, para superar o deficit existente em alguns
anos, a possibilidade da criação de uma maternidade para bivalves na
região;
(iv) As questões ambientais, que interferem com a produção de amêijoas e o
valor da sua comercialização, estão relacionadas principalmente com:
 A contaminação fecal e o estatuto sanitário das zonas zona de
produção: - embora apresentando uma tendência para uma melhoria,
devido ao tratamento dos efluentes, registam-se, contudo, aumentos
bruscos de E. coli em amêijoas dos viveiros quando ocorre chuva mais
intensa, em particular no Outono;
 A toxicidade pontual das amêijoas devido à ocorrência natural de
blooms de algas tóxicas na zona costeira: - o IPMA procede à vigilância
deste tipo de toxicidade no âmbito da sua missão;
 A contaminação química, que reduziu nos últimos anos provavelmente
devido à diminuição do número de indústrias e às melhores práticas
ambientais;
 Os picos de mortalidade das amêijoas tendem a ser mais acentuados
em viveiros com más práticas de produção e em viveiros localizados nas
áreas interiores da Ria, embora se registe também em viveiros
localizados perto das barras: - contribuem para estas mortalidades
abruptas o decréscimo de lípidos e reservas energéticas nas amêijoas,
causando maior debilidade fisiológica no Verão, a menor oxigenação
das águas, em épocas de temperatura mais elevada e a menor
renovação das águas em marés mortas, levando ao aumento das taxas

Plano Estratégico para a Aquicultura Portuguesa


86
Boas práticas da aquicultura em Portugal

de filtração e respiração, infestação por Perkisus atlanticus, originando a


presença de nódulos nas brânquias e o consequente decréscimo da taxa
de respiração.

e) Perspetivas de desenvolvimento dos resultados alcançados

Foram apresentadas propostas de medidas preventivas para a comercialização de


amêijoas nos períodos de maior contaminação por efluentes.
Com a vista a minorar a mortalidade abrupta das amêijoas na Ria Formosa
propuseram-se medidas de prevenção, inseridas num Programa para Controlo da
Qualidade da Água na Ria Formosa:
(i) Adoção de medidas preventivas a implementar pelos viveiristas e
Administração;
(ii) Monitorização da temperatura das águas, estado de maturação, e
infestação de amêijoas num viveiro de controlo com vista a constituir um
sistema de alerta;
(iii) Ações rápidas dos viveiristas após o alerta.

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87
ANEXOS

ANEXO I
GRUPO DE TRABALHO PARA A PREPARAÇÃO DO PLANO ESTRATÉGICO DA AQUICULTURA

ENTIDADE REPRESENTANTE SUBGRUPO

APA - Agência Portuguesa do Ambiente I.P. Felisbina Quadrado Subgrupo 1, 2 e 3

APA - Associação Portuguesa de Aquacultores Fernando Gonçalves Subgrupo 1, 2 e 3


Carlos Oliveira e João
APS - Administração do Porto de Sines Subgrupo 2
Carvalho
CCDR - Alentejo José Figueira Antunes Subgrupo 2

CCDR - Alentejo Joaquim Roberto Grilo Subgrupo 2

CCDR - Centro Alexandra Rodrigues Subgrupo 2

CCDR - Lisboa e Vale do Tejo Fátima Malheiro Subgrupo 2

Direção-Geral de Alimentação e Veterinária Margarida Vieira Subgrupo 1

Direção Geral de Politica Marítima Carla Frias Subgrupo 1, 2 e 3

Direção Geral de Politica Marítima Paulo Machado Subgrupo 1, 2 e 3

Direção Geral de Recursos Naturais, Segurança e Serviços Marítimos Cristina Borges Subgrupo 1, 2 e 3
Leonor Elias
Direção Geral de Recursos Naturais, Segurança e Serviços Marítimos Coordenação
Luís Duarte
Direção Geral de Recursos Naturais, Segurança e Serviços Marítimos Edgar Afonso Subgrupo 1, 2 e 3

Direção Geral de Recursos Naturais, Segurança e Serviços Marítimos Manuela Duarte Subgrupo 3

PROMAR - Programa Operacional Pesca 2007-2013 Carla Antunes Subgrupo 1, 2 e 3

PROMAR - Programa Operacional Pesca 2007-2013 Tiago Fernandes Subgrupo 1, 2 e 3

DOCAPESCA, SA Graça Cavaco Subgrupo 3

DOCAPESCA, SA Isabel Guerreiro Subgrupo 3

Direção Regional de Pescas dos AÇORES Ana Mendonça Subgrupo 1, 2 e 3

Direção Regional de Pescas da MADEIRA Carlos Andrade Subgrupo 1, 2 e 3

FORMOSA - Cooperativa de Viveiristas da Ria Formosa Marta Rocha Subgrupo 1, 2 e 3

Instituto de Conservação da Natureza e Florestas, IP Luísa Pinheiro Subgrupo 1, 2 e 3

Instituto de Conservação da Natureza e Florestas, IP Ana Cristina Falcão Subgrupo 1, 2 e 3

Instituto de Conservação da Natureza e Florestas, IP Adolfo Franco Subgrupo 1, 2 e 3

Instituto de Conservação da Natureza e Florestas, IP Maria da Graça Sacadura Subgrupo 1, 2 e 3

Instituto Português do Mar e da Atmosfera, I.P. Francisco Ruano Subgrupo 1, 2 e 3

VIVMAR - Associação de Viveiristas e Mariscadores da Ria Formosa Américo Custódio Subgrupo 1, 2 e 3

Plano Estratégico para a Aquicultura Portuguesa


88
ANEXOS

ANEXO II
Tabela de prazos para o licenciamento de estabelecimentos aquícolas

Prazos (dias)
Procedimentos Observações
Administração Promotor Totais
Apresentação do Pedido 1

Pedido de elementos
10 60 Só se necessário
compementares

Promoção de Consultas 15
Emissão de pareceres 45
Licença de utilização de recursos hídricos

Caso surjam outros interessados será


Afixação de edital 30
iniciado um procedimento concursal

Aviso público para Este procedimento também pode ter


30
apresentação de propostas origem em iniciativa da Administração

Apreciação mérito das


30
propostas

Direito de preferência 10 A solicitar pelo requerente inicial

Avaliação de Impacte Caso aplicável, o promotor tem um


120
Ambiental ano para iniciar este procedimento

Emissão título de utilização 15

Após a emissão da licença ou o início


Cauções
da exploração
Mínimo Dias 105 0 105
Máximo Dias 305 61 366
Autorização de instalação (DGRM)

Áreas de produção aquícola (DR 9/2008):


A licença de utilização do domínio público hídrico substitui a autorização de instalação da DGRM

Incorpora-se nos prazos da


Assinalamento marítimo 60
autorização dos recursos hídricos

Outros estabelecimentos em águas marinhas:


Apresentação do Pedido 1
Pedido de elementos Só se necessário; não é fixado prazo
15 60
compementares ao promotor

Parecer dos membros da


20
Comissão de Vistoria

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89
ANEXOS

Elaboração de edital e
convocação da Comissão de 30
vistoria

Afixação de edital 30
Visita ao local pela Comissão É elaborado um auto com o respetivo
30
de vistoria parecer

Comunicação do resultado da
30
vistoria

Correção ou reformulação do Quando a Comissão de Vistoria indicar


30
projeto de instalação correções a efetuar

Emissão da Autorização de
1
instalação
Mínimo Dias 141 0 141
Máximo Dias 156 90 246
Estabelecimento
Instalação do

Prazo máximo para a instalação do


Até 3 anos estabelecimento, após notificação da
autorização de instalação

A requerer pelo promotor após a conclusão dos trabalhos de instalação do estabelecimento


exploração

Pedido da licença 90 Prazo máximo


Licença de

Realização de Vistoria 30
Utilizaram-se prazos idênticos à
Aprovação do Autorização de Instalação
30
estabelecimento

Dias 60 90 150

Plano Estratégico para a Aquicultura Portuguesa


90

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