Características Da Obrigação - 055103

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UNIVERSIDADE LICUNGO

FACULDADE DE LETRAS E HUMANIDADES

LICENCIATURA EM DIREITO

3º Grupo

ATANÁSIO ALVES LINHA NIQUENHE


ELIAS ALEGRIA DOS SANTOS
FILIMONE TOMÁS CHIVAVELE
FLAVIA BOBONE FILIPE
NAZIR RAFIQUE NUNES

CARACTERÍSTICAS DA OBRIGAÇÃO

QUELIMANE
2024
3º Grupo

ATANÁSIO ALVES LINHA NIQUENHE


ELIAS ALEGRIA DOS SANTOS
FILIMONE TOMÁS CHIVAVELE
FLAVIA BOBONE FILIPE
NAZIR RAFIQUE NUNES

CARACTERÍSTICAS DA OBRIGAÇÃO

Trabalho de carácter avaliativo da cadeira

de Direito Das Obrigações, a ser entregue

na Faculdade de Letras e Humanidades da

Universidade Licungo, Recomendado pelo

docente: PhD. RUI MULIECA MIGANO

QUELIMANE
2024
Índice Pág.
1. Introdução..................................................................................................................4

1.1. Objectivos:..........................................................................................................4

2. Características Da Obrigação.....................................................................................5

2.1. A patrimonialidade.................................................................................................5

2.2. A mediação ou colaboração devida........................................................................8

2.3. A relatividade..........................................................................................................9

2.4. A autonomia..........................................................................................................12

2.5. Características dos direitos obrigacionais para outros autores.............................13

3. Conclusão.................................................................................................................14

4. Bibliografia..............................................................................................................15
4

1. Introdução
As características da obrigação constituem os pilares fundamentais do direito das
obrigações, delineando os contornos e as nuances que permeiam as relações jurídicas
entre as partes envolvidas. Essenciais para a compreensão e aplicação do Direito, essas
características não apenas definem a natureza das obrigações, mas também moldam os
deveres e direitos dos sujeitos jurídicos envolvidos em um contrato ou outra forma de
compromisso legal. Desde a sua origem nas antigas civilizações até as complexas
transações comerciais contemporâneas, as características da obrigação servem como
guia moral e jurídico, delineando os princípios de justiça, equidade e responsabilidade
que regem as interações humanas. Nesta introdução, exploraremos de forma abrangente
e perspicaz as características fundamentais da obrigação, mergulhando nas profundezas
de sua natureza jurídica e destacando sua relevância no panorama legal atual.

1.1. Objectivos:
 Falar das características das obrigações;
 Apontar as características das obrigações;
 Explicar o alcance de cada uma das características.
5

2. Características Da Obrigação

A compreensão do conceito de obrigação levar-nos-á, pois, ao estudo do que


comummente é chamado de características das obrigações.

Pontes de Miranda definiu obrigações como "relações jurídicas de caráter transitório


que submetem uma pessoa, em relação a outra, à observância de um comportamento
determinado, consistente numa prestação positiva ou negativa".

As características da obrigação são atributos essenciais que definem e delimitam as


relações jurídicas entre as partes envolvidas em um contrato ou compromisso legal.
Essas características são fundamentais para a compreensão e aplicação do direito das
obrigações.

As características das obrigações, se bem que estreitamente ligadas ao seu próprio


conceito, situam-se a um nível de menor abstracção.

A compreensão do conceito de obrigação é especialmente útil para a sua distinção dos


direitos reais, uma vez que, no tocante aos restantes direitos subjectivos, a diferenciação
é, normalmente, da apreensão apriorística. Remetemos, por isso globalmente, para a
competente rubrica da disciplina de Direitos Reais.

Recorrendo à história e à doutrina, vamos indagar, sucessivamente, das seguintes


características que têm sido atribuídas às obrigações:

a) a patrimonialidade;
b) a mediação ou colaboração devida;
c) a relatividade;
d) a autonomia.

2.1. A patrimonialidade

Por patrimonialidade entende-se a susceptibilidade de a obrigação ser avaliável em


dinheiro, tendo, portanto, conteúdo económico. A doutrina mais antiga entendia que a
obrigação não se poderia constituir se não fosse susceptível de avaliação pecuniária.
Como argumentos em defesa desta tese invocava-se o facto de a execução apenas se
poder exercer sobre o património do devedor e, como esta execução pressupõe sempre a
liquidação do crédito numa soma pecuniária, daí resultaria a necessidade de a prestação
ter valor pecuniário. Para além disso, estaria em princípio excluída a ressarcibilidade
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dos danos morais causados pelo incumprimento das obrigações. Daqui resultaria para a
tese clássica a insusceptibilidade de se constituirem obrigações sem natureza
patrimonial.

Essa tese, porém, foi ainda na escola pandectística, rejeitada sucessivamente por
WINDSCHEID, que admitiu que a prestação não tinha que ter cariz patrimonial, e por
JHERING, que afirmou ser um erro a doutrina da patrimonialidade da prestação, já que
o Direito Civil não tutela apenas o património das pessoas, mas também outros
interesses seus, admitindo, por isso, não apenas que a prestação não tivesse valor
pecuniário, mas também que o interesse do credor fosse tanto material como ideal (ex.
sentimento religioso, honra), excluindo apenas do âmbito da obrigação relações
extrajurídicas como as de trato social. Na França, esta posição foi sufragada por
SALEILLES.

No âmbito do Código Civil de 1966, a questão da exigência ou não do requisito da


patrimonialidade na obrigação, já que o art. 671.º, n.º 2 do anterior Código Civil
dispunha que não podem legalmente ser objecto de contrato "as coisas ou actos, que não
se podem reduzir a um valor exigível", norma de onde se poderia inferir a necessidade
de que a prestação tivesse valor económico. A doutrina foi, porém, admitindo a
possibilidade de tornear essa norma, através da estipulação de cláusula penal nas
prestações não patrimoniais. Essa foi a opinião logo de GUILHERME MOREIRA que
sustentou que o interesse do credor poderia ser não patrimonial, embora nesse caso, por
vontade das partes ou através da lei, teria que ser atribuído valor patrimonial à
prestação, sem o que o credor não poderia executar o património do devedor, A sua
posição foi seguida por GOMES DA SILVA, que admitia em consequência que a
prestação pudesse "ter carácter moral e ser desprovida de valor pecuniário. No mesmo
sentido, pronunciou-se, ainda na vigência do Código anterior, MANUEL DE
ANDRADE. O actual Código Português afastou-se, porém, dessa orientação refe- rindo
que a prestação não necessita de ter carácter pecuniário, mas deve corresponder a um
interesse do credor, digno de protecção legal (art. 398°, n.º 2). Fica assim consagrada a
admissibilidade de constituir obrigações sem cariz patrimonial, como, por exemplo, a
emissão de um desmentido ou de um pedido de desculpas, ou a obrigação de não fazer
barulho, quando o credor por razões de saúde, não o pode suportar, Resta saber, porém,
que hipóteses estarão excluídas por não corresponderem a um interesse do credor, digno
de protecção legal.
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Para ANTUNES VARELA, esta norma pretende excluir do âmbito da obrigação dois
tipos de prestações: a) as prestações que correspondam a simples caprichos ou manias
do devedor e b) as prestações que correspondam a situações tuteladas por outras ordens
normativas, como a religião, a moral ou o trato social, e que não merecem, por esse
motivo, a tutela do direito. Para MENEZES CORDEIRO não há obstáculos a que se
constituam obrigações relativas a meros caprichos ou manias, desde que se refiram a
situações jurídicas. Apenas se corresponderem a situações oriundas de outros
complexos normativos, é que não será admissível a constituição de obrigações com esse
objecto.

Pensamos ser mais correcta a posição de MENEZES CORDEIRO. Efectivamente, o


facto de o interesse do credor corresponder a uma mania ou capricho para a
generalidade das pessoas (ex: a realização de uma tatuagem) não exclui a sua eventual
importância para o credor e daí a admissibilidade de, através do exercício da autonomia
privada, se constituir uma obrigação com esse objecto. Apenas se a situação disser
exclusivamente respeito a outras ordens normativas (comparecer em certo encontro
social, rezar determinadas orações) é que a sua juridicidade é excluída e daí não poder
se admitir uma efectiva constituição de obrigações.

Conforme refere GALVÃO TELLES, a questão é destituída de interesse prático, já que


a obrigação revestirá natureza patrimonial na esmagadora maioria dos casos. Daí que
seja incorrecto excluir liminarmente a partir da referência ao art. 398.º, n.º 2, a
patrimonialidade como característica das obrigações, uma vez que terão natureza
excepcional as situações em que a obrigação não reveste cariz patrimonial. Justifica-se,
por isso, que se fale como MENEZES CORDEIRO da existência de uma
patrimonialidade tendencial.

Efectivamente, o crédito, enquanto direito à prestação (art. 397°) é garantido através da


acção de cumprimento e da execução do património do devedor (art. 817°).
Consequentemente, o direito de crédito consiste num activo patrimonial do credor da
mesma forma que a obrigação é um passivo no património do devedor. Tal é
demonstrado pelo facto de, no momento do vencimento, a acção executiva permitir a
realização de dinheiro em substituição do objecto da prestação. Mas, mesmo que o
crédito não esteja vencido, ele representa um activo patrimonial do credor, que o pode
transformar em dinheiro, através da sua cessão onerosa a terceiro (art. 577°), ou da sua
afectação a fins de garantia (art. 679°).
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A patrimonialidade significa que as obrigações têm geralmente natureza patrimonial e


por isso a obrigação corresponde a um passivo no património do devedor, da mesma
forma que o crédito corresponde a um activo no património do credor.
Excepcionalmente, no entanto, poderão constituir-se obrigações que não revistam esta
característica.

2.2. A mediação ou colaboração devida

Uma outra característica da obrigação é a de que o credor não pode exercer directa e
imediatamente o seu direito, necessitando da colaboração do devedor para obter a
satisfação do seu interesse. Neste sentido se fala em mediação, uma vez que só através
da conduta do devedor o credor consegue obter a satisfação do seu interesse. O direito
de crédito tem assim como característica a mediação da actividade do devedor ou a
exigência da colaboração deste, para que o credor consiga obter a realização do seu
direito.

A mediação tem sido apontada pela doutrina como uma das qualidades das obrigações
que permite estabelecer a sua distinção dos direitos reais, uma vez que a estes faltaria
essa característica, na medida em que consistiriam num poder directo e imediato sobre
uma coisa. Já os defensores de uma concepção personalista do direito real negam a
possibilidade de utilizar esse critério de distinção, na medida em que, configurando o
direito real como uma obrigação passiva universal, consideram o exercício de poderes
sobre a coisa como um reflexo factual ou económico dessa obrigação. É manifesto, no
entanto, que a mediação existe nas obrigações e falta nos direitos reais, já que enquanto
nestes o direito do credor se exerce directamente sobre coisas, naquelas o direito à
prestação só é realizável através de um intermediário, que é o devedor, que se vincula
assim a prestar a colaboração necessária para que o credor obtenha a satisfação do seu
interesse.

Em certos casos, pode, porém, suceder que, perante a recusa do devedor em prestar, o
credor possa obter a satisfação do seu direito à prestação por via coerciva, como sucede
na execução específica (arts. 827.° e ss.). Tal não justifica, porém, que se deixe de
considerar a mediação como característica das obrigações, já que, se por via judicial se
pode substituir a conduta do devedor em ordem a obter a satisfação do direito do credor,
tal ocorre precisamente porque o devedor se vinculou a prestar essa conduta para esse
efeito. Daí que, como refere MENEZES CORDEIRO, na obrigação exista sempre uma
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vinculação à colaboração por parte do devedor, sendo a colaboração devida o


verdadeiro entendimento da mediação como característica do direito de crédito.

A mediação, ou colaboração devida, significa que o credor necessita da interposição ou


colaboração do devedor para exercer o seu direito. Efectivamente, o crédito é um direito
à prestação, ou seja, um direito a uma conduta do devedor, pelo que o credor necessita
que o devedor realize essa conduta, não podendo obter directamente a satisfação do seu
direito.

2.3. A relatividade

A relatividade costuma ser igualmente apontada como característica das obrigações.


Esta característica é, no entanto, susceptível de ser entendida em dois sentidos
diferentes:

a) através de um prisma estrutural: neste sentido, se refere que o direito de crédito se


estrutura com base numa relação entre credor e devedor.

b) através de um prisma de eficácia: neste sentido se refere que o direito de crédito


apenas é eficaz contra o devedor. Consequentemente só a ele pode ser oposto e só por
ele pode ser violado. Daí que a obrigação não possa ter eficácia externa, ou seja,
eficácia perante terceiros.

A relatividade estrutural do direito de crédito e, consequentemente da obrigação é, a


nosso ver, indubitável. Efectivamente, o direito de crédito apresenta-se como o direito
de exigir de outrem uma prestação. Consequentemente, só pode ser exercido pelo seu
titular, o credor, contra outra pessoa determinada que tenha o correlativo dever de
prestar, ou seja, o devedor, estruturando-se, por isso, com base numa relação jurídica
entre dois sujeitos. Apenas o devedor deve prestar e apenas dele pode o credor exigir
que realize a prestação. Daí concluir-se que o direito de crédito tem carácter
estruturalmente relativo, o que o distingue dos direitos reais, que se caracterizam por
terem carácter estruturalmente absoluto, na medida em que, ao terem por objecto uma
coisa, não se estruturam a partir de uma relação entre pessoas, mas antes pressupõem
uma ausência dessa relação, sendo oponíveis erga omnes.

Já a relatividade no sentido de não eficácia do direito de crédito em relação a terceiros


(não eficácia externa da obrigação) se apresenta como mais discutível. A doutrina
clássica, que foi entre nós defendida por CUNHA GONÇALVES, faz derivar em
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termos conceptualistas da relatividade estrutural do direito de crédito uma relatividade


em termos de eficácia, defendendo que os direitos de crédito nunca podem ser violados
por terceiros, já que, sendo direitos relativos, os terceiros não têm o dever de os
respeitar. Assim, os direitos de crédito só poderiam ser violados pelo devedor, não tendo
o terceiro qualquer responsabilidade pela sua frustração. Essa solução resultaria no
nosso Direito do art. 406.º, n° 2 (que refere que, em relação a terceiros, o contrato só
produz efeitos nos casos previstos na lei) e da distinção entre a responsabilidade delitual
e a responsabilidade obrigacional (já que o art. 483.°, relativo à violação de direitos
absolutos, sujeita à responsabilidade civil, com a consequente obrigação de indemnizar,
a sua violação culposa por qualquer pessoa, enquanto que o art. 798.°, relativo à
violação do direito de crédito, restringe ao devedor a responsabilidade obrigacional).
Daqui resultaria que para os terceiros o direito de crédito seria totalmente irrelevante,
não o podendo violar, nem podendo ser por ele beneficiados, de acordo com o princípio
"res inter alios acta aliis neque nocere neque prodesse potesť".

Essa doutrina clássica teve, porém, desde sempre forte oposição, já que inúmeros
autores entendiam que o dever geral de respeito, que todos têm, de não lesar os direitos
alheios (neminem laedere), também abrangeria os direitos de crédito, que
consequentemente teriam tutela delitual (cfr. art. 483° do Código Civil). Pronunciaram-
se sucessivamente nesse sentido GUILHERME MOREIRA, JOSÉ TAVARES,
GOMES DA SILVA, GALVÃO TELLES, PESSOA JORGE, MENEZES CORDEIRO
e SANTOS JÚNIOR.

Uma posição intermédia neste debate é aquela que, embora não aceite a existência de
um dever geral de respeito dos direitos de crédito, admite alguma oponibilidade dos
créditos perante terceiros, através da aplicação do princípio do abuso do direito (art.
334°). O terceiro poderia ser assim responsabilizado nos casos em que a sua actuação
lesiva do direito de cré- dito se possa considerar como um exercício inadmissível da sua
liberdade de acção ou da sua autonomia privada. Defenderam esta posição,
sucessivamente MANUEL DE ANDRADE, VAZ SERRA, ANTUNES VARELA,
ALMEIDA COSTA, RUI DE ALARCÃO, RIBEIRO DE FARIA e SINDE
MONTEIRO.

A nosso ver, deve ser adoptada esta solução intermédia. É certo que na maioria dos
casos o terceiro que contrata com o devedor não deve ser responsabilizado pelo facto de
este violar as suas obrigações, uma vez que faz parte da autonomia privada de cada um
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a possibilidade de contrair sucessivas obrigações, mesmo que não esteja em condições


de as cumprir todas. Efectivamente, não se exige qualquer requisito de legitimidade para
a constituição de obrigações, sendo plenamente válida a constituição de créditos que o
devedor não poderá satisfazer sem incumprir outros já estabelecidos. Nesse caso, é o
próprio legislador que vem dizer que os créditos anteriores não adquirem qualquer
prevalência sobre os posteriores. Antes pelo contrário, todos concorrem do mesmo
modo sobre o património do devedor (art. 604.º, n.º 1 do Código Civil).

Consequentemente, temos que reconhecer que a constituição de um direito de crédito a


favor de um terceiro é plenamente válida, independentemente de existir um crédito com
este incompatível anteriormente constituído. Ora, sendo válida essa constituição, temos
que considerar a não responsabilização do terceiro nessa situação, uma vez que tal
corresponde à liberdade económica que caracteriza o nosso sistema jurídico, e que tem
como corolário a liberdade de contratar. Efectivamente, quem contrata com outrem não
tem que ponderar a existência de vínculos obrigacionais anteriores do devedor, uma vez
que os dados essenciais do sistema económico são que só o devedor deve responder por
eles.

Em certos casos excepcionais, porém, a responsabilização do terceiro poderá ser


estabelecida, sempre que ele exerça a sua liberdade de contratar em termos por tal forma
disfuncionais aos dados do sistema jurídico, que se tenha que considerar estar perante
um exercício inadmissível de posições jurídicas. Seria, por exemplo, o caso de o credor
se encontrar numa grande situação de dependência em relação à prestação, não haver
mais ninguém em condições de a realizar e o terceiro, com o único fim de lesar o
credor, convence o devedor a não cumprir a obrigação. Em situações como estas que
representem infracções aos princípios da boa fé, dos bons costumes ou da função sócio-
económica da autonomia privada, justificar-se-á estabelecer a responsabilização do
terceiro, para o que se poderá invocar o abuso do direito (art. 334.°), Conclui-se assim
que a obrigação tem como característica a relatividade estrutural e que o regime da
responsabilidade patrimonial implica a admissibilidade de constituir direitos de crédito
incompatíveis entre si, não tendo o direito de crédito anterior prevalência sobre o
posterior. Em certos casos, porém, a constituição do segundo direito de crédito pode ser
vista como abusiva, para efeitos do art. 334°, caso em que o terceiro poderá ser
responsabilizado.
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A relatividade significa que a obrigação se estrutura numa relação entre o credor e o


devedor. Consequentemente, só o devedor tem o dever de prestar e só o credor tem o
direito de exigir o cumprimento. Da relatividade resulta que em princípio só o devedor
deve ser responsabilizado em caso de violação do direito de crédito, porque é só dele
que o credor pode exigir que satisfaça a prestação. Tal não significa, no entanto, que a
obrigação não tenha qualquer eficácia perante terceiros, ou que o terceiro não possa ser
responsabilizado quando proceda à lesão do direito do credor em violação dos vectores
fundamentais do ordenamento jurídico, como os referidos no art. 334°.

2.4. A autonomia

Pela expressão autonomia considerar-se-ia como característica da obrigação o facto de


ser regulada pelo Direito das Obrigações. Assim, não poderiam ser consideradas como
obrigações aquelas situações que embora estruturalmente obrigacionais viessem a ser
reguladas por outros ramos do Direito. Como exemplos poderíamos apontar a obrigação
de pagar impos- tos que se apresenta como estruturalmente obrigacional, mas é regulada
pelo Direito Fiscal ou a obrigação de pagar alimentos, estruturalmente obrigacional,
mas que se apresenta regulada pelo Direito da Família, a obrigação do trabalhador de
prestar trabalho sob autoridade e direcção da entidade patronal, regulada pelo Direito do
Trabalho. Assim, entenderíamos que ao conceito de obrigação, tal como aparece
referido no art. 397°, se deveria acrescentar a regulação pelo Direito das Obrigações, já
que as situações reguladas por outros ramos do Direito não se deveriam considerar
como verdadeiras obrigações. Tal até permitiria que se pudesse inferir a existência de
uma "grave crise do Direito das Obrigações", uma vez que a sucessiva
institucionalização de relações jurídicas obrigacionais, em função do seu
enquadramento em novos complexos normativos orientados pelo seu fim social (Direito
Bancário, Direito dos Seguros, Direito do Consumidor), levaria à contínua desagregação
do Direito das Obrigações, que apenas regularia as obrigações, constantes do Código
Civil, ou seja, precisamente as que revestem menor interesse prático.

Pensamos, no entanto, ser esta uma concepção errada, uma vez que a autonomização de
uma obrigação não impede a sua regulação pelo Direito das Obrigações nas partes não
sujeitas ao seu regime específico. Efectivamente, a estrutura da obrigação autónoma e
não autónoma é idêntica. O regime das duas é que pode divergir em maior ou menor
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medida, o que não impede a qualificação de ambas como verdadeiras obrigações. Ora, o
Direito das Obrigações é um ramo do Direito Civil cuja autonomização assenta
precisamente em características estruturais, uma vez que a classificação germânica do
Direito Civil não tem um critério homogéneo. A autonomização das disciplinas de
Direitos Reais e de Direito das Obrigações tem por base as características estruturais
dos direitos a que se referem. Já o Direito da Família e das Sucessões são
autonomizados em função da fonte de onde resultam as relações de que tratam. É, por
isso, perfeitamente natural que surjam situações estruturalmente obrigacionais noutros
ramos do direito, mas estas não perdem a sua natureza de obrigações em virtude de aí
serem inseridas. Daí que a autonomia não deva ser considerada como uma característica
das obrigações.

2.5. Características dos direitos obrigacionais para outros autores

Autores como Maria Diniz e Emilio Betti, afirmam que os direitos obrigacionais
disciplinam relações jurídicas patrimoniais, que visam prestações de um sujeito em
proveito de outro, evidente está que incluem tão-somente os direitos pessoais. Deveras,
os direitos de crédito regem vínculos patrimoniais entre pessoas, impondo ao devedor o
dever de dar, fazer ou não fazer algo no interesse do credor, que passa a ter o direito de
exigir tal prestação positiva ou negativa.

Daí que Maria Diniz, citando Emilio Betti, explica que na obrigação o vínculo do
devedor constitui a premissa do direito do credor. O direito de crédito realiza-se por
meio da exigibilidade de uma prestação a que o devedor é obrigado; logo, sempre
requer a colaboração de um sujeito passivo. Portanto, o direito das obrigações trata dos
direitos pessoais, ou seja, do vínculo jurídico entre sujeito ativo (credor) e passivo
(devedor), em razão do qual o primeiro pode exigir do segundo uma prestação.

Daí afirmar-se que os direitos de crédito são:

 direitos relativos, uma vez que se dirigem contra pessoas determinadas,


vinculando sujeito ativo e passivo, não sendo oponíveis erga omnes, pois a
prestação apenas poderá ser exigida do devedor;
 direitos a uma prestação positiva ou negativa, pois exigem certo
comportamento do devedor, ao reconhecerem o direito do credor de reclamá-la.
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3. Conclusão

Ao concluir esta análise das características da obrigação, torna-se evidente que esses
elementos essenciais são a espinha dorsal do direito das obrigações, sustentando os
alicerces sobre os quais se erguem as relações jurídicas em sociedade. Essas
características não apenas definem os contornos das obrigações, mas também delineiam
os direitos e deveres das partes envolvidas. No cerne desses princípios reside a busca
pela justiça, equidade e responsabilidade, princípios que transcendem épocas e culturas,
moldando o tecido das interações humanas. Assim, ao compreender e aplicar as
características da obrigação, não apenas fortalecemos o arcabouço jurídico, mas também
promovemos a harmonia e a justiça nas relações entre os indivíduos e as instituições.
15

4. Bibliografia

DINIZ, Maria Helena (2007). Curso de Direito Civil Brasileiro: Teoria geral das
obrigações. 22ª ed. SP: Saraiva

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