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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

ESCOLA DE ENGENHARIA DE SÃO CARLOS


DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE ESTRUTURAS

COMPLEMENTOS DE
RESISTÊNCIA DOS MATERIAIS

• Tensões e deformações
• Teoria da elasticidade
• Método da energia
• Método das diferenças finitas
• Método plástico

2ª Edição

JOSÉ ELIAS LAIER


JOÃO CARLOS BARREIRO
WALTER SAVASSI

São Carlos, abril de 2024


UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
Reitor – Prof. Dr. Carlos Gilberto Carlotti Junior Vice-Reitora –
Profa. Dra. Maria Arminda do Nascimento Arruda

ESCOLA DE ENGENHARIA DE SÃO CARLOS


Diretor - Fernando Martini Catalano
Vice-diretor – Antônio Nélson Rodrigues da Silva

Esta obra é de acesso aberto. É permitida a reprodução parcial ou total desta


obra, desde que citado a fonte e autoria e respeitando a Licença Creative
Commons indicada

Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Prof. Dr. Sérgio Rodrigues Fontes da
EESC/USP

Laier, José Elias


L185a Complementos de resistência dos materiais / José Elias
Laier; João Carlos Barreiro; Walter Savassi.-– São Carlos :
EESC/USP, 2024.

[190]p.
ISBN 978-65-86954-42-5
DOI 10.11606/9786586954425

1. Estados de tensão e deformação. 2. Teoria da


elasticidade. 3. Método da energia. 4. Método das diferenças
finitas. 5. Método plástico. I. Barreiro, João Carlos.
II. Walter Savassi. III. Titulo.

Elaborado por Elena Luzia Palloni Gonçalves – CRB 8/4464


i

PREFÁCIO
Primeira Edição

O presente texto vem dar continuidade nas publicações referentes às


disciplinas de Resistência dos Materiais ministradas na Escola de Engenharia de São
Carlos, da Universidade de São Paulo. Constitui pretensão dos autores manter, em
boa parte, os assuntos aqui abordados conforme os preceitos da escola posta em
prática pelo nosso grande mestre Prof. Dr. Frederico Schiel, autor dos primeiros textos
dos cursos básicos.
A primeira parte da exposição é constituída de dois capítulos, apresentando em
sequência o estudo das tensões e deformações e uma introdução à Teoria da
Elasticidade. A segunda parte é composta de três capítulos, sendo os dois primeiros
dedicados ao estudo introdutório dos clássicos métodos de integração numérica;
começando-se pelo método da energia, ou de Ritz-Rayleigh, e completando-se com
o pioneiro método das diferenças finitas na sua versão formulada mediante
operadores denominados centrais. O último capítulo é voltado para o estudo
elementar do chamado método plástico, ou método das rótulas plásticas, de análise
de estruturas aporticadas.
Tendo-se em vista a pretensão colocada de início, os assuntos são tratados
conforme o grau de dificuldade, partindo-se de casos mais simples, para, no final,
apresentar os casos mais gerais, de natureza mais complicada.
Os autores expressam aqui os seus agradecimentos aos Srs. Rui Roberto
Casale, Antonio Valdair Carneiro e aos Srs. João Paulo Moretti e Francisco Carlos
Guete de Brito pelo zeloso trabalho de datilografia e desenho, respectivamente.
A versão, de 2012, contou com a colaboração do Prof. Walter Savassi na
revisão geral do texto, correções, e em esparsos aprimoramentos conceituais
decorrentes de sua vivência ao ministrar esses assuntos, desde 2001, na disciplina
Complementos de Resistência dos Materiais e, desde 1975, quando introduziu a
disciplina Introdução ao Método dos Elementos Finitos na EESC.

José Elias Laier


João Carlos Barreiro

São Carlos, agosto de 1982


ii

PREFÁCIO
Segunda Edição

Nesta segunda edição foram adicionados vários assuntos complementares nos


capítulos à exceção do Capítulo III que trata do Método da Energia, uma vez que esse
método é muito bem explorado nos textos sobre o Método dos Elementos Finitos hoje
em dia muito divulgado no meio da engenharia de estruturas, contemplando desde
versões para iniciantes até textos bem completos.
No Capítulo I, que aborda o tensor das tensões e das deformações, foi
inicialmente trabalhado a questão da ortogonalidade dos autovetores (direções
principais) de modo mais expedito, bem como fato de serem sempre reais os
autovalores (tensões principais). Além disso, a representação gráfica dos tensores em
questão dadas pelo círculo do Mohr foi incluída, não só para esclarecer o caráter
extremo das componentes principais, mas pelo fato de que a representação gráfica
dos tensores constituir uma ferramenta que permite entender melhor tais grandezas
(uma imagem vale mais que mil palavras, diz o dito popular). Uma discussão mais
detalhada da Lei de Hooke com pequenas incursões na descrição do tensor de quarta
ordem das constantes da Lei de Hooke, bem como uma abordagem mais geral no
caso do material isótropo, e finalizando-se discorre-se sobre a energia de deformação
bem como apresenta-se um breve esboço da formulação matemática dos tensores
cartesianos.
No Capítulo II, que expõe uma introdução à Teoria da Elasticidade, foi
acrescentado apenas uma rápida observação sobre o caráter vetorial da equação de
equilíbrio expressa em termos de derivadas do tensor das tensões que, em princípio,
constitui um tensor de terceira ordem.
No Capítulo IV o Método da Diferenças Finitas é agora formulado com base no
desenvolvimento da série de Taylor, procedimento que deixa explícito o grau de
convergência dos operadores de diferenças finitas lagrangeanos objeto de maior
atenção, além de ser apropriado para a formulação de operadores mais gerais, como
os operadores de diferenças finitas hermitianos.
No Capítulo V foi apenas acrescentado o estudo ilustrativo do comportamento
plástico para o caso de cargas repetidas e também alternada indicando de modo
rudimentar a questão da acomodação plástica e do chamado colapso incremental.
Como tais assuntos dependem sobremaneira do comportamento elástico, a
simplicidade da aplicação do Método Plástico deixa de existir tornando muito
complexa uma formulação mais geral.
Por fim, os autores agradecem aos prestimosos serviços de figuras bem
trabalhadas pelo desenhista Francisco Carlos Guete de Brito

José Elias Laier


João Carlos Barreiro
Walter Savassi
iii

São Carlos, abril de 2024

ÍNDICE

1- TENSÃO E DEFORMAÇÃO
1.1 – INTRODUÇÃO... 1
1.2 –TENSÃO... 2
1.3 - ESTADO DE TENSÃO... 3
1.4 – ESTADO PLANO DE TENSÃO... 5
1.4.1 – Transformação de Coordenadas... 5
1.5 – ESTADO TRIDIMENSIONAL DE TENSÃO... 10
1.5.1 – Transformação de Coordenadas... 10
1.6 – ESTADOS DE DESLOCAMETO E DEFORMAÇÃO... 17
1.7 – RELAÇÕES ENTRE O ESTADO DE DESLOCAMENTO E ESTADO DE
DEFORMAÇÃO – CASO PLANO... 18
1.7.1 – Transformação de Coordenadas... 21
1.8 – RELAÇÕES ENTRE O ESTADO DE DESLOCAMENTO E 0 ESTADO DE
DEFORMAÇÃO – CASO TRIDIMENSIONAL... 24
1.8.1 – Transformação de Coordenadas... 26
1.9 – REPRESENTAÇÃO GRÁFICA – CÍRCULO DE MOHR... 27
1.10- RELAÇÃO ENTRE AS COMPONENTES DO ESTADO DE TENSÃO E
AS DO ESTADO DE DEFORMAÇÃO – LEI DE HOOKE... 31
1.11 – EXEMPLOS DE APLICAÇÃO... 36
1.11.1 – Primeiro Exemplo de Aplicação... 37
1.11.2 – Segundo Exemplo de Aplicação... 39

2- ELASTICIDADE BIDIMENSIONAL
2.1 – INTRODUÇÃO... 48
2.2 – COLOCAÇÃO DO PROBLEMA ESTRUTURAL... 49
2.3 – RELAÇÕES BÁSICAS DA ELASTICIDADE PLANA... 50
2.3.1 – Equação de Equilíbrio... 51
2.3.2 – Equação de Compatibilidade... 53
iv

2.4 – ESTADO PLANO DE TENSÃO... 54


2.5 – ESTADO PLANO DE DEFORMAÇÃO... 55
2.6 – FUNÇÃO DE AIRY (FUNÇÃO DE TENSÃO)... 55
2.7 – FUNÇÕES DE AIRY POLINOMIAIS... 57
2.7.1 – Casos Elementares... 58
2.7.2 – Viga em Balanço... 63
2.7.3 – Viga Simplesmente Apoiada... 67
2.8 – TORÇÃO LIVRE... 68
2.8.1 – Equação de Equilíbrio Interno... 72
2.8.2 – Equação de Equilíbrio Externo... 74
2.8.3 – Função de Tensão da Torção... 75
2.8.4 – Primeiro Exemplo de Aplicação... 78
2.8.5 – Analogia de Membrana... 81
2.8.6 – Segundo Exemplo de Aplicação...85

3- MÉTODO DA ENERGIA
3.1 – INTRODUÇÃO... 88
3.2 - CONCEITOS FUNDAMENTAIS... 88
3.3 – PRIMEIRO EXEMPLO DE APLICAÇÃO... 90
3.4 – SEGUNDO EXEMPLO DE APLICAÇÃO.... 96
3.5 – TERCEIRO EXEMPLO DE APLICAÇÃO... 100
3.6 – QUARTO EXEMPLO DE APLICAÇÃO... 106
3.7 – QUINTO EXEMPLO DE APLICAÇÃO... 110
3.8 – SEXTO EXEMPLO DE APLICAÇÃO... 111
3.9 – SÉTIMO EXEMPLO DE APLICAÇÃO... 112
3.10 – OITAVO EXEMPLO DE APLICAÇÃO... 115
3.11 – COMENTÁRIOS FINAIS... 118

4- MÉTODO DA DIFERENÇAS FINITAS


4.1 – INTRODUÇÃO...119
4.2 – SÉRIE DE TAYLOR E ORDEM DO ERRO... 121
4.3 – PRIMEIRO EXEMPLO DE APLICAÇÃO... 124
4.4 – SEGUNDO EXEMPLO DE APLICAÇÃO... 127
4.5 – TERCEIRO EXEMPLO DE APLICAÇÃO... 131
4.6 – QUARTO EXEMPLO DE APLICAÇÃO... 134
v

4.7 – QUINTO EXEMPLO DE APLICAÇÃO... 138


4.8 – OPERADORES DE ORDEM h2 PARA DERIVADAS PARCIAIS... 140
4.9 – SEXTO EXEMPLO DE APLICAÇÃO... 142
4.10 – SÉTIMO EXEMPLO DE APLICAÇÃO... 146
4.11 – COMENTÁRIOS FINAIS... 153

5- MÉTODO PLÁSTICO
5.1 – INTRODUÇÃO... 155
5.2 – MOMENTO D3E PLASTIFICAÇÃO... 157
5.3 – ANÁLISE PLASTICA DE UM CASO SIMPLES... 161
5.4 – PRIMEIRO EXEMPLODE APLICAÇÃO... 164
5.5 – SEGUNDO EXEMPLO DE APLICAÇÃO... 166
5.6 – TERCEIRO EXEMPLO DE APLICAÇÃO... 169
5.7 – QUARTO EXEMPLO DE APLICAÇÃO... 171
5.8 – QUINTO EXEMPLO DE APLICAÇÃO... 172
5.9 – SEXTO EXEMPLO DE APLICAÇÃO... 173
5.10 – SÉTIMO EXEMPLO DE APLICAÇÃO... 174
5.11 – OITAVO EXEMPLO DE APLICAÇÃO... 177
5.12 – CARREGAMENTO REPETIDO E ALTERNADO... 179
1

1 - TENSÃO E DEFORMAÇÃO

1.1 – INTRODUÇÃO

O estudo das tensões e deformações é, no presente texto, apresentado por


meio de formulação matricial, a qual constitui um procedimento típico da análise
tensorial dos tensores de segunda ordem. Outra maneira mais requintada, porém,
pouco comum no nosso meio técnico, consiste na formulação indicial, a qual
apresenta a propriedade de se aplicar aos tensores de qualquer ordem, sem contar
a chamada notação simbólica, mais sintética, mas que necessita ser sempre
explicitada por não ser de uso muito uniforme. A exposição dos assuntos atém-se
apenas ao lado mais prático da questão, e, por essa razão, negligenciam-se
pormenores da Teoria Matemática dos Tensores. Contudo, no que interessa, tais
omissões não prejudicam a compreensão, principalmente, no que respeita aos
alunos de cursos de graduação em Engenharia.
O tratamento das tensões isolado do das deformações é proposital, e tem
em vista deixar evidente o caráter tensorial dessas grandezas, independentemente
da relação existente entre elas, expressa pela clássica lei de HOOKE no domínio
da teoria linear (pequenas deformações e pequenos deslocamentos cujas
definições serão oportunamente discutidas). A lei de HOOKE permite obter as
deformações como causa das tensões, e vice-versa, e com isso o caráter tensorial
de segunda ordem de uma grandeza é, por assim dizer, transferido para a outra.
2

A clássica lei de HOOKE, último assunto deste capítulo, é também colocada


segundo a formulação matricial. Sem tecer maiores considerações, são discutidas
algumas implicações da lei de HOOKE no que diz respeito aos parâmetros do
comportamento elástico linear dos materiais usuais.

1.2 - TENSÃO

O conceito de tensão vem a ser uma extensão do conceito elementar de


pressão, como, por exemplo, a hidrostática, que consiste numa força normal por
unidade de área. Por tensão entende-se uma extensão dessa ideia para os casos
onde a força por unidade de área pode não ser normal ao plano daquela área. Como
ilustração do conceito de tensão, considere-se um corpo sólido, em equilíbrio,
sujeito a certo número de ações externas, conforme se exibe na Figura 1.1 a). Pois
bem, isolando-se uma parte desse sólido, conforme ilustra-se na Figura 1.1 b),
sabe-se que o equilíbrio dela é garantido pelo princípio da ação e reação, por tratar-
se de uma parte de um sólido em equilíbrio. De uma maneira geral, pode-se dizer
que uma área S é responsável por uma parcela F daquelas forças transmitidas
(ação ou reação). Na figura 1.1 c) a parcela F é representada pelas suas
componentes segundo os eixos coordenados Oxyz , com origem no "centro" da área
elementar S , sendo o eixo O z normal à área S no ponto O. Dividindo-se as
componentes da força pela área S definem-se as seguintes grandezas:

P3
P2

z
P4 F S
S
P1
y
x
P5 P5

P8 P8
P6 P6
P7 P7

a) Corpo em equilíbrio b) Força na área  S


z
z
S Fz S

Fy y zy
Fx zx
x

c) Componentes da força na área d) Tensões na área  S


S segundo os eixos coordenados
FIGURA 1.1 – Conceito de tensão
3

Fz
σ z  lim
S  0 S

F
τ zx  lim x (1.1)
S  0 S

Fy
τ zy  lim
S  0 S

Convém notar que as definições expressas em (1.1) são colocadas na forma


de um processo limite, e essa colocação parte da suposição da existência de
continuidade. A grandeza σ z é dita tensão normal (o mesmo que pressão) e as
grandezas τ zx e τ zy são ditas tensões cisalhantes ou tangenciais. Cabe ainda
assinalar que a força F pode, naturalmente, variar de direção e de sentido
dependendo do tamanho da área S ; entretanto, na passagem ao limite tais
características ficam definidas no ponto em consideração (continuidade).

1.3 - ESTADO DE TENSÃO

Na Figura 1.2 mostra-se um elemento infinitesimal de volume dxdydz , onde


se indicam as tensões atuantes nas faces. De início, cabe assinalar que nas faces
opostas as tensões são iguais e de sentidos opostos, em face da continuidade,
juntamente com o princípio da ação e reação. Como ilustrado na Figura 1.2 na face
de cota y as componentes de tensão σ y , τ yx e τ yz no limite com dy tendendo para
zero ficam iguais as da face localizada dy adiante. Em verdade, tudo se passa
como se uma das faces estivesse numa das partes do sólido indicado na Figura
1.1a e a outra face na outra parte (ação e reação); a face de uma parte na posição
y como indicado na Figura 1.2 e essa mesma face logo adiante na posição y  dy
(continuidade). Além disso, com a passagem ao limite, ou seja, dx , dy e dz
tendendo para zero, pode-se também considerar que as tensões atuantes são
uniformes nas faces, visto que eventuais variações são infinitésimas de ordem
superior. Posto isso, percebe-se, facilmente, que o estado de tensão fica
caracterizado, no ponto, por nove parâmetros, ou componentes, ou seja:
σ x , σ x , σ x , τ xy , τ yx , τ xz , τ zx , τ yz e τ zy
As tensões como indicadas na Figura 1.2 são consideradas positivas. A
convenção é muito simples. A tensão normal de tração é considerada positiva, e a
tensão de cisalhamento tem o sinal dado de acordo com a seguinte regra
mnemônica: se, na face em que atua, a tensão normal de tração tem o sentido do
eixo coordenado correspondente, a tensão cisalhante positiva tem o sentido do seu
correspondente eixo; do contrário o sinal da componente de tensão cisalhante é
negativo se também contraria. Em outras palavras, o sentido positivo é dado pelo
4

sentido do sistema de referência dextrorso levado na face correspondente, fazendo


coincidir o sentido de um dos eixos com o da tensão normal de tração.

z
yz zx
yx zy
yx y
y yz
xz y
yz yx
x xy

dy

FIGURA 1.2 – Componentes de tensão

O número de parâmetros ou componentes necessários para caracterizar o


estado de tensão num ponto pode ser reduzido de nove para seis, porquanto o
equilíbrio de momento segundo os eixos coordenados permite estabelecer três
relações entre as seis componentes cisalhantes, ou seja, o equilíbrio do momento
segundo os eixos Oz, Ox e Oy respectivamente, permite exprimir-se:

(τ xy dydz)dx  (τ yx dxdz)dy  0
(τ yz dzdx)dy  (τ zy dydx)dz  0 (1.2)
(τ zx dxdy)dx  (τ xz dydz)dx  0

ou, ainda, cancelando os termos comuns:

τ xy  τ yx
τ yz  τ zy (1.3)
τ zx  τ xz

ressaltando-se que essa igualdade entre tensões de cisalhamento atuantes em


planos perpendiculares, expressa nas equações (1.3), constitui a afirmativa do
clássico teorema de CAUCHY. É oportuno assinalar também que a consideração
5

de eventuais forças volumétricas não altera o resultado expresso em (1.3), pois


eventuais contribuições são infinitésimos de ordem superior.

1.4 - ESTADO PLANO DE TENSÃO

Um estado de tensão é considerado plano quando numa das faces do volume


elementar dxdydz as componentes de tensão correspondentes são nulas; por via
de consequência o mesmo acontece na face oposta. No que se segue, as
componentes de tensão não nulas são tomadas como sendo σ x , σ y e τ xy .

1.4.1 - Transformações de Coordenadas

Admitindo-se que o estado de tensão num determinado ponto P de um corpo


sólido apresenta componentes σ x , σ y e τ xy , segundo o sistema de referência Oxy
é de grande interesse saber as relações existentes entre essas componentes e
aquelas referidas a outro sistema de referência Oxy ou seja, σ x , σ y e τ xy , conforme
se ilustra na Figura 1.3 b). Vale dizer-se que σ x , σ y e τ xy são componentes do
mesmo estado de tensão dado pelas componentes σ x , σ y e τ xy , sendo que a única
diferença diz respeito ao sistema de referência adotado ser outro.

y
y __
xy
y _ y
y p _x
xy _x
x p
x __
xy _y
xy _
x
y

0 x 0 x

a) Componentes de tensão segundo b) Componentes de tensão


_ _ segundo
eixos coordenados 0 x y. eixos coordenados 0 x y.

FIGURA 1.3 – Componentes de um mesmo estado de tensão segundo dois


sistemas de coordenadas

Pois bem, as coordenadas xP e y P , do ponto P no sistema de referência


dextrorso Oxy , estão relacionadas com as coordenadas desse mesmo ponto xP e
6

y P no sistema de referência dextrorso Oxy , por meio da seguinte expressão


matricial (vide Figura 1.4 a) ):

 xP    1  2   xP 
    (1.4)
 y P  m1 m2   y P 

onde

 1  cos α
m1  senα
π (1.5)
 2  cos(
 α)  senα
2
π
m2  s en(  α)  cos α
2
sendo  1 e m1 os cossenos diretores do eixo Ox em relação ao sistema de
referência Oxy (projeção do versor da direção Ox nos eixos Ox e Oy
respectivamente),  2 e m2 os cossenos diretores do eixo Oy . Além disso, o ângulo
α é tomado no sentido dextrorso, ou seja, anti-horário (vide Figura 1.4 a) ), e
também que a inversa da matriz de (1.4) é sua transposta.

y
m2 1.0
_ dS 1 ty dS
__
xy dS ty dS
2 y _x dS
1.0
m1 x dS 1  tx dS x dS 1  
p
_ 1 tx dS
x dS
 xy dS 1 xy dS 1

0 x  xy dSm1 dSm1 xy dSm1
y dSm1 y dSm1

a) Transformação de coordenadas b) Forças em equilíbrio c) Forças em equilíbrio


1a. configuração 2a. configuração

FIGURA 1.4 – Transformações de coordenadas e configurações de equilíbrio

Por seu lado, o equilíbrio do elemento, mostrado na Figura 1.4 b), implica no
seguinte relacionamento entre forças:

 t x dS   σ x τ xy    dS 
   1  (1.6)
t y dS  τ xy σ y  m1dS
7

onde dS é a área elementar onde atuam as tensões t x e t y , cujas resultantes t x dS


e t y dS são forças segundo, respectivamente, os eixos Ox e Oy . Convém salientar-
se que, na expressão (1.6), o diferencial de área pode ser cancelado; todavia tal
não se faz de sorte a tornar evidente o fato de que essa equação exprime o equilíbrio
de forças.
No sistema de coordenadas Oxy , as forças equivalentes a t x dS e t y dS são
dadas por σ x dS e τ xy dS , conforme ilustra-se na Figura 1.4 c). A exemplo da
propriedade expressa em (1.4), tais componentes de força estão relacionadas por:
 t x dS    1  2   σ x dS 
    (1.7)
t y dS m1 m2  τ xy dS

ou seja, a relação (1.7) exprime as transformações de coordenadas, no caso


componentes de força, do sistema de referência Oxy para Oxy .
A equação (1.6), tendo em vista (1.7), passa a escrever-se:

  1  2   σ x dS   σ x τ xy    dS 
    1  (1.8)
m
 1 m 2   τ xy
dS   τ xy σ y  m1dS

Ou, ainda, eliminando-se os termos comuns dS e pré-multiplicando-se ambos os


membros de (1.18) pela matriz transposta dos cossenos diretores, que consiste na
matriz inversa, tem-se:

 σ x    1 m1   σ x τ xy    
    1 (1.9)
τ xy   2 m2   τ xy σ y  m1 

Cabendo-se observar, a propósito, que a inversa da matriz quadrada que contém


os cossenos diretores coincide com a própria matriz transposta. Tal fato é facilmente
verificado com base nas relações (1.5).
Por outro lado, procedendo-se de modo análogo na procura de σ y e τ xy
encontra-se:

τ xy    m   σ x τ xy    
1 1
    2  (1.10)

 σ y   2 m  τ xy
2  σ y  m2 

Reunindo-se, agora, as expressões (1.9) e (1.10) numa só expressão matricial, tem-


se:
8

 σX τ XY    1 m1   σ x τ xy    2 
    1  (1.11)
 τ XY σ Y   2 m2   τ xy σ y  m1 m2 

e, com isso, tem-se, na expressão (1.11), a lei de transformação de componentes


do estado plano de tensão do sistema de referência Oxy para o Oxy .
Algumas constatações de grande interesse prático são examinadas no que
segue. Em primeiro lugar, é fácil perceber-se que existe um sistema de referência
no qual as componentes de tensão tangenciais se anulam. Com efeito, nessa
circunstância tem-se, por exemplo, de (1.9) a seguinte relação:

σ x    1 m1   σ x τ xy    
    1 (1.12)
 0   2 m2   τ xy σ y  m1 

ou seja, (multiplicando à esquerda pela inversa da matriz dos cossenos diretores


ambos os membros e arranjando os termos):

  1  2  σ x    1   σ x τ xy    
    σ x    1 (1.13)
m1 m2   0  m1   τ xy σ y  m1 

resultando-se no problema de altovalor:

σ x  σ x τ xy     0
  1    (1.14)
 τ xy σ y  σ x  m1  0

cuja solução, dado que os cossenos diretores não podem ambos ser nulos, implica
em:

σ x  σ x τ xy 
det  0 (1.15)
 τ xy σ y  σ x 

ou seja:

σ2x  σ x (σ x  σ y )  σ x σ y  τ2xy  0
2
σx  σ y  σx  σy   σ (1.16)
σx      τ 2xy   1
2  2  σ2
 

sendo que a primeira de (1.16) é a correspondente equação característica do


problema de autovalores (1.14), e a segunda explicita os autovalores que são reais;
9

e, que, em verdade, são as componentes do estado de tensão no sistema de


referência procurado. Esse sistema de referência define as chamadas direções
principais do estado de tensão. Com efeito, a nulidade do determinante de (1.14)
significa que uma linha da matriz é proporcional à outra, e com isso os autovetores
correspondentes podem ser obtidos, adotando-se, por exemplo m1  1, resultando:

τ xy σ y  σi
i    (1.17)
σ x  σi τ xy
e, com isso os autovetores passam a ser expressos por:
 τ xy 
 
σ1   σ1  σ x 
 
 1  (1.18)
 τ xy 
 
σ2   σ 2  σ x 
 
 1 

sendo imediato verificar que as raízes (1.16) implicam que os autovetores (1.18)
são ortogonais entre si, e essa ortogonalidade é consistente com o Teorema de
Cauchy expresso em (1.3), ou seja, tensão de cisalhamento nula em uma face
implica nulidade da tensão de cisalhamento também na face ortogonal.
A teoria das equações algébricas mostra que que as raízes de (1.16) estão
relacionadas com as componentes do estado de tensão, ou seja:

σ1  σ 2  σ x  σ y
 σx τ xy  (1.19)
σ1σ2  det  
 τ xy σ y 

sendo que os termos do lado direito de (1.19) são os autovalores de (1.15), os quais
independem do sistema de referência adotado, ou seja, são invariantes, resultando
que o segundo membro de (1.19) também o são.
Outra constatação de interesse diz respeito ao fato de que a tensão normal
atinge valores extremos nas direções principais, com o máximo valendo σ1 e o
mínimo valendo σ2 , A representação gráfica do estado de tensão dada pelo clássico
círculo de MOHR apresentada mais adiante deixará isso evidente de maneira mais
imediata.
10

1.5 - ESTADO TRIDIMENSIONAL DE TENSÃO

O estado tridimensional de tensão é o caso geral, onde eventualmente


algumas das seis componentes podem ser nulas. Seguem-se, aqui, a exemplo do
caso anterior, as convenções já estabelecidas no item 1.3 (vide Figura 1.2).

1.5.1 - Transformações de Coordenadas

De modo análogo ao que se fez no caso do estado plano de tensão, sendo


dado um estado tridimensional de tensão, mediante as componentes segundo um
sistema de referência Oxyz , procura-se a relação existente entre tais componentes
e aquelas, desse mesmo estado de tensão, dadas segundo outro sistema de
referência Oxyz
De início tem-se o seguinte. As coordenadas de certo ponto P , onde o estado
de tensão é considerado, no sistema de referência Oxyz estão relacionadas com
as coordenadas desse mesmo ponto no sistema de referência Oxyz por meio da
seguinte expressão matricial (vide Figura 1.5 a) ):

 xP    1  2  3   xP 
    
 y P   m1 m2 m3   y P  (1.20)
z   n n n3   zP 
 P  1 2

_
_ x
y
P y _
x
m1
1.0

0 x n1 1 x

z
_
z z
_
a) Coordenadas de um ponto em dois b) Cossenos diretores do eixo 0 x
sistemas de referência

FIGURA 1.5 – Transformações de coordenadas


11

onde  1 ,  2 ,  3 , m1 , m2 , m3 , n1 , n2 e n3 são os cossenos diretores dos eixos Ox, Oy e


Oz , correspondentemente, segundo o sistema de referência Oxyz (vide Figura
1.5b)). A expressão matricial (1. 20) é facilmente entendida pensando-se no vetor
que define a posição do ponto P tomado segundo suas componentes nos eixo
Ox, Oy , e Oz ( x, y e z ). Desta feita, a componente segundo o eixo Ox por
exemplo, pode ser obtida mediante a superposição das projeções, nesse eixo, das
componentes segundo os eixos Ox, Oy e Oz , que se faz somando-se a
correspondentes multiplicações pelos cossenos diretores  i .
A matriz que contém os cossenos diretores presente na expressão (1.20)
possui uma característica interessante, pois a sua transposta é a própria inversa.
Essa propriedade é facilmente verificada, porque o produto daquela matriz pela sua
transposta resulta, na posição diagonal, no produto escalar de um versor por ele
mesmo; e nas demais posições resulta no produto escalar de versores ortogonais,
ou seja, unidade na posição diagonal e valores nulos nas demais posições (matriz
unidade).
Por outro lado, o equilíbrio da “pirâmide” de sólido mostrada na Figura 1.6a)
implica em:

 t dS   σ x τ xy τ xz    dS 
 x    1 
 t y dS   τ xy σy τ yz  m1dS (1.21)
    
 t z dS   τ xz τ yz σ z   n1dS 

admitindo-se, naturalmente, que a área dS está contida num plano normal ao eixo
Ox , sendo t x dS, t y dS e t z dS as componentes, segundo Ox, Oy e Oz , da força
elementar que atua em tal área. Nota-se facilmente que as áreas onde atuam as
componentes de tensão segundo o sistema de referência Oxyz podem ser obtidas
como projeções da área elementar dS sobre os planos Oxy, Oxz e Oyz , resultando,
pois, dSn1 , dSm1 e dS 1 .
No sistema de referência Oxyz as componentes da força atuante na área
elementar dS são, conforme se mostra na Figura 1.6b), σ x dS, τ xy dS e τ xz dS , e
estão relacionadas com as componentes dessa mesma força t x dS, t y dS e t z dS
como em (1.19), ou seja:

 t dS     2  3   σ x dS 
 x   1  
t y dS  m1 m2 m3  τ xy dS (1.22)
  n n n3  τ dS
 t z dS   1 2  xz 
12

z z _
x
_ y
x tz dS _x dS y
_ tz dS _
y y
x tydS ty dS
__
xy dS
tx dS tx dS
dS 1
xy xz _
yx z _xz_ dS
zx dSn1
_
z
y yz
zy
z

dSm1
x x

a) Forças em equilíbrio b) Forças equivalentes

FIGURA 1.6 – Mudanças de coordenadas

As equações (1.21) e (1.22) permitem, finalmente, escrever-se:

 σ    m n   σx τ xy τ xz    
1   1
 x  1 1

τ  
 xy   2 m2
n τ
2   xy
σy τ yz  m1  (1.23)
   m n    
τ xz   3 3 3   τ xz
 τ yz σ z   n1 

onde o termo dS , comum, foi suprimido. Cabe assinalar que, nas expressões (1.21)
e (1.22) o termo dS foi mantido de sorte a deixar evidente o fato de tais equações
exprimirem relações entre componentes de forças.
Procedendo-se de maneira análoga na procura das tensões atuantes nos
planos normais aos eixos Oy e Oz encontram-se expressões similares à (1.23), e,
reunindo-se tais expressões numa só expressão matricial, tem-se:

 σx τ xy τ xz    m n   σ x τ xy τ xz    2 3 
   1 1 1 
  1 
 τ xy σy τ yz    2 m2 n2   τ xy σy τ yz  m1 m2 m3  (1.24)
   
 τ xz τ yz σ z   3 m3 n3   τ xz τ yz σ z   n1 n2 n3 

que constitui, por assim dizer, a lei de transformação das componentes do estado
de tensão tridimensional. Em verdade, trata-se da extensão tridimensional do
expresso em (1.11).
Verifica-se, facilmente, de (1.23) que existem direções onde as componentes
cisalhantes anulam-se. De fato, nessa circunstância tem-se, por exemplo, de (1.23):
13

σ x    1 m1 n1   σ x τ xy τ xz    
     1
 0    2 m2 n2   τ xy σy τ yz  m1  (1.25)
 0   m n    
   3 3 3   τ xz
 τ yz σ z   n1 

ou seja, multiplicando à esquerda ambos os membros de (1.25) peIa matriz inversa


(transposta) da matriz dos cossenos diretores e arrumando os termos todos no
primeiro membro:

 σx τ xy τ xz       1  0 
  1    
 τ xy σy τ yz  m1   σ x m1   0  (1.26)
    n  0 
 τ xz τ yz σ z   n1   1  

resultando no problema de autovalores:

σ x  σ x τ xy τ xz     0 
  1  
 τ xy σy  σ x τ yz  m1   0  (1.27)
    
 τ xz τ yz σ z  σ x   n1  0 

cuja solução implica em:

σ x  σ x τ xy τ xz 
 
det  τ xy σy  σ x τ yz   0 (1.28)
 
 τ xz τ yz σ z  σ x 

uma vez que os cossenos diretores (  1 , m1 e n1 ) não podem ser todos eles nulos.
Pois bem, a expressão (1.28) conduz a uma equação algébrica do terceiro
grau assim expressa

σ3x  I1σ2x  I2σ x  I3  0 (1.29)

onde:
14

I1  σ x  σ y  σ z
 σx τ xy  σ τ xz   σy τ yz 
I2  det    det  x   det   (1.30)
 τ xy σ y   τ xz σz   τ yz σ z 
 σx τ xy τ xz 
 
I3  det  τ xy σ y τ yz 
 
 τ xz τ yz σ z 

e que são os chamados invariantes do estado de tensão, uma vez que estão
relacionados com as raízes de (1.29) como segue:

I1  σ1  σ2  σ3
I2  σ1σ2  σ1σ3  σ2σ3 (1.31)
I3  σ1σ2σ3

pela teoria das equações algébricas, sendo σ1  σ2  σ3 as três raízes de (1.29).


Vale registrar ainda que determinação das raízes de (1.29) vai ser examinada mais
adiante (raízes de equação cúbica).
Os autovetores de (1.27) são obtidos facilmente, pois, devido ao fato de o
determinante (1.28) anular-se para os autovalores resulta que uma equação de
(1.27) é combinação das outras duas. Assim sendo, pode-se arbitrar por exemplo
n1  1 e  1 e m1 decorrem da solução do sistema primeiro menor de (1.27).
Além disso, a ortogonalidade dos autovetores pode ser verificada facilmente,
tendo-se em vista o expresso em (1.25) para um caso genérico da raiz σi , ou seja:

 σx τ xy τ xz       1  0
  1    
 τ xy σy τ yz  m1   σ
i
m1   0  (1.32)
  n   n  0 
 τ xz τ yz σ z   1 i  1 i  

Multiplicando-se agora ambos os membros de (1.32) pela transposta do autovetor j


por exemplo, tem-se:

 σx τ xy τ xz      1 
  1  
 1
m1 n1
j
 τ xy σy τ yz  m1   σi  1 m1 n1 m1   0
j
(1.33)
   n 
 τ xz τ yz σ z   n1 i  1 i

ou transpondo-se (1.33):
15

 σx τ xy τ xz      1 
  1  
 1
m1 n1
i
 τ xy σy τ yz  m1   σi  1 m1 n1 m1   0
i
(1.34)
   n 
 τ xz τ yz σ z   n1  j  1 j

em razão da simetria da matriz envolvida. Por outro lado, considerando-se (1.33)


para o autovalor j tem-se:

 σx τ xy τ xz      1 
  1  
 1
m1 n1
i
 τ xy σy τ yz  m1   σ  1 m1 n1 m1   0
j i
(1.35)
   n 
 τ xz τ yz σ z   n1  j  1 j

e assim sendo, subtraindo-se (1.34) de (1.35) tem-se:

 1 
 
(σi  σ j )  1 m1 n1 m1   0 (1.36)
i
n 
 1
j

concluindo-se, pois, que os auto vetores são ortogonais entre si, uma vez que as
raízes são distintas em princípio. O caso de raiz dupla não muda essa constatação,
visto que um estudo específico do limite à esquerda e direita da raiz dupla permite
essa mesma conclusão.
Outra propriedade interessante decorre do fato de a matriz de (1.32) ser
simétrica, resultando que os autovalores são então reais. Tal fato pode ser
facilmente entendido, assumindo-se que se uma das raízes for complexa e sendo
adotado o eixo Ox na direção correspondente tem-se:

 
σ x  σ x 0 0 
det  0 σ *  σx τ** 0 (1.37)
 y y z 
 0 τ σ *  σx 
 y* z* z 

sendo os eixos Ox * e Ox* ortogonais à Ox e ortogonais entre si. Um exame do


expresso em (1.36) mostra não ser isso possível, pois o polinômio da matriz menor
deveria contemplar o conjugado complexo da raiz complexa considerada. Todavia
isso contraria o fato de que esse polinômio deve contemplar sempre o par de raízes
complexas. Sem contar que o determinante menor de (1.37) tem raízes reais (vide
segunda de (1.16)). O princípio da indução permite concluir que qualquer matriz
simétrica tem autovalores reais.
16

Uma outra demonstração igualmente elegante é a seguinte. Sabe-se que o


número complexo z  a  bi tem como conjugado complexo z  a  bi . Esse
conceito pode ser estendido para matrizes, ou seja, entende-se que a matriz  aij 
é conjugada complexo da matriz aij  quando todos os seus elementos são
conjugados complexos dos correspondes da matriz original. Além disso é fácil
verificar a seguinte propriedade: o conjugado do produto de duas matrizes é igual
ao produto do conjugado de cada matriz ( AB  AB ). Assim, retomando-se o
problema de autovalor:

aij  hi   λ hi   0 (1.38)


 

Tomando-se agora o conjugado complexo dessa relação tem-se:

aij  hi   λ hi   0 (1.39)


 

Todavia, em sendo a matriz aij  real uma nova redação para (1.38) é então:

aij  hi   λhi  (1.40)


 

ou procedendo-se a transposição:

T T
h  i
aij   λhi 
  (1.41)

uma vez que a matriz aij  é simétrica. Assim sendo, tem-se das relações anteriores
que:
T T T T
λhi  hi   hi  λ hi   hi  aij  hi   λhi  hi  (1,42)

ou ainda:

T
 λ  λ  h  h   0
i i
(1.43)

Por outro lado, como o produto dos vetores conjugados não é nulo, tem-se:

λ  λ  2bi  0 (1.44)

indicando-se então a nulidade da parte complexa do autovalor, ou seja, o autovalor


é real.
17

Em resumo, as tensões principais são reais e os auto vetores


correspondentes são ortogonais entre si. O fato de as tensões principais serem reais
vai ser explorado mais adiante na sua obtenção mediante as chamadas fórmulas
de Cardan, também conhecidas como de Tartaglia.

1.6 - ESTADOS DE DESLOCAMENTO E DEFORMAÇÃO

Considere-se, por exemplo, o caso em que uma peça estrutural plana, numa
dada situação, apresenta a configuração geométrica ilustrada na Figura 1.7 a),
sendo os seus pontos geometricamente definidos em relação a um sistema de
referência fixo Oxy . Pois bem, numa dada situação deformada, conforme ilustra-se
na Figura 1.7 b), os pontos da estrutura ocupam uma nova posição, ou, em outras
palavras, os pontos movimentam-se da posição original para uma nova posição (de
B para B´ - vide Figura 1.7 b) ). Cabe ressaltar que a causa desse acontecimento
não é, por ora, objeto de exame; podendo, aliás, ocorrer por qualquer razão.

B'
v
y y
B B u

x x

a) Situação original b) Situação deformada

FIGURA 1.7 – Estado de deslocamento

Posto isso, percebe-se que, na realidade, a situação deformada decorre da


existência de um campo de deslocamento, ou seja, cada ponto da estrutura sofre
um movimento.
Ora, no caso plano, esse campo de deslocamentos, ou estado de
deslocamento, é perfeitamente caracterizado por duas componentes u e v ,
funções das variáveis x e y ; no caso tridimensional por três: u, v e w funções de
x, y e z . Todavia, tal colocação só tem significado, em face da integridade da
estrutura, com o concurso de condições de continuidade de tais componentes, no
domínio da estrutura. Conforme ilustração da Figura 1.7 b), u é o movimento
segundo Ox , v segundo Oy ; e, no caso tridimensional, w é o movimento segundo
Oz .
Por outro lado, em vista dos movimentos ocorridos no processo de
deformação da estrutura (mudança de forma), a posição relativa dos pontos fica,
naturalmente, alterada; com isso toma lugar um novo estado denominado estado
de deformação, cujas componentes quantificam a nova configuração. Vale lembrar-
se que, em virtude de o estado de deslocamento descrever os movimentos dos
pontos, não é difícil atentar-se para o fato de haver uma relação entre as
componentes do estado de deslocamento e as componentes do estado de
18

deformação, que quantificam a mudança relativa de forma (movimentos relativos).


Em verdade, a mudança de forma (deformação) é mensurada no ponto com dx, dy
e dz tendendo-se para zero (processo limite), avaliando-se a variação do
comprimento das arestas do cubo elementar (sistema cartesiano) bem como a
variação dos ângulos originalmente retos do triedro como ilustrado mais adiante no
caso plano na Figura 1.8. As componentes do estado de deformação são, portanto,
em número de seis no caso tridimensional e de três no caso plano.
Antes, porém, de se abordarem as relações existentes entre as componentes
do estado de deslocamentos e do estado de deformação, é oportuno acrescentar
algumas considerações a respeito da magnitude das grandezas, agora, em jogo.
Em primeiro lugar, nos casos da prática, as estruturas devem ser projetadas e
dimensionadas para exibirem deslocamentos muito pequenos, ou seja, bem
menores, em valor, que as dimensões características da estrutura. Aliás, esta é uma
das características básicas que se exige de uma estrutura, não só por razões de
conforto dos usuários, mas, sobretudo, por razões de ordem psicológicas
(pouquíssimas pessoas se sentem à vontade numa corda bamba). Além disso,
estruturas muito flexíveis, ou seja, passíveis de grandes movimentos, são também
muito sensíveis aos efeitos dinâmicos. Em segundo lugar, por via de consequência,
dos deslocamentos pequenos decorrem também deformações pequenas. Cabe
ressaltar, a propósito, que, nas estruturas de cabos, por exemplo, as deformações
pequenas não implicam em deslocamentos pequenos, pois os movimentos, nesse
caso, se devem às configurações diferentes de equilíbrio para diferentes
carregamentos. Deformações pequenas é também uma condição decorrente dos
casos práticos, conquanto os materiais geralmente empregados, nas condições de
utilização normais, trabalham em regime de pequenas deformações; mais que isso,
entram em ruptura ainda com pequenas deformações.
Em face das considerações levantadas, enormes simplificações podem ser
introduzidas na análise das relações entre as componentes do estado de
deslocamento e as do estado de deformação, em decorrência da consideração de
pequenos deslocamentos. A primeira delas reside na consideração da geometria
original como válida para a posição deformada, e uma segunda, sem contar as
outras, consiste na consideração das variações de deformação como infinitésimos
de segunda ordem. Outra simplificação de grande importância, que consiste na
base da chamada teoria de primeira ordem, é a consideração de que o estado de
deslocamentos não altera o estado de carregamento, ou seja, a configuração de
equilíbrio não sofre alteração na mudança de forma da estrutura.

1.7 – RELAÇÕES ENTRE O ESTADO DE DESLOCAMENTO E O ESTADO DE


DEFORMAÇÃO – CASO PLANO

A Figura 1.8 exibe três pontos vizinhos P, Q e R , onde os pontos Q e R estão


contidos em retas ortogonais concorrentes no ponto P , e afastados de P ,
respectivamente, por distâncias elementares dx e dy . Os pontos PI , QI e R I indi-
cam, de maneira genérica, as novas posições ocupadas pelos pontos P, Q e R na
situação deformada. Posto isso, e admitindo-se tratar de deslocamentos e
19

deformações pequenos, com base na geometria dos pequenos deslocamentos têm-


se as seguintes relações:

 u 
 u  x dx   u
dx u
   
dx dx x
 v 
v  dy   v
dy y v
    (1.45)
dy dy y
u
dy v dx
y u v
 x  
dy dx y x

u dy
u y

R'

v + yv dy 2
R 1 Q'
v dx
x
y dy P'
v v
u Q
P
0 u + ux dx
x dx

FIGURA 1.8 – Posições inicial e deslocada de três pontos próximos

onde dx e dy são os alongamentos experimentados pelos comprimentos


elementares dx e dy , respectivamente; as rotações experimentadas são objeto da
terceira das (1.45).
É oportuno, nesse ponto, levantar algumas considerações. Em primeiro
lugar, a consideração

u
dx  dx (1.46)
x
20

só tem sentido para

v
dx  dx (1.47)
x

ou seja

v
1 (1.48)
x

porquanto, nessa situação, o ângulo γ1 é pequeno, de tal sorte a se ter


v u
cos γ1  cos  1. De modo análogo, tem-se também cos γ2  cos  1 . Por
x y
outro, tais condições permanecem válidas para outras orientações do sistema de
referência no caso de se ter também:

dx u
 1
dx x
(1.49)
dy v
 1
dy y
em vista de certas relações apresentadas no item seguinte. Todavia, nos casos da
prática tais considerações se verificam.
Pois bem, com base nas relações (1.45) definem-se, então, as componentes
de deformação

dx u
εx  
dx dx
dy v
εy   (1.50)
dy dy
u v
γ xy  γ1  γ2  
y x

que quantificam os alongamentos específicos, no ponto em consideração, segundo


os eixos coordenados Ox e Oy , juntamente com a variação angular experimentada
pelo ângulo reto original. Assim, dado um retângulo inicial, de lados elementares dx
e dy , de posse das grandezas definidas em (1.50), sabe-se da nova forma
apresentada por tal retângulo na posição deformada. Convém alertar-se para o fato
de que, em todas as considerações levantadas, confere-se aos comprimentos
elementares dx e dy um tratamento infinitesimal. Como se percebe, o estado plano
de deformação, a exemplo do estado plano de tensão, fica caracterizado por três
parâmetros ou componentes, quais sejam ε x , ε y e γ xy . Decorre da definição (1.50)
21

o fato de se considerar funções u e v contínuas.

1.7.1 - Transformações de Coordenadas - Caso Plano

A Figura 1.9 exibe dois sistemas de referência cartesianos, Oxy e Oxy ,


defasados de ângulo α . No sistema de referência Oxy os movimentos de um dado
ponto P são dados por u e v , respectivamente, segundo Ox e Oy , e no sistema de
referência Oxy os movimentos desse ponto são dados por u e v conforme se
ilustra na Figura 1.9. Tais componentes de movimento estão, como se sabe,
relacionadas pela seguinte expressão matricial (vide (1.4)):

y
_
y

___ v(x,y)
v(x,y) ___ _
u(x,y) x
p

u(x,y)
0 x

FIGURA 1.9 – Transformações de coordenadas

u    1 m1  u 
    (1.51)
 v    2 m2   v 

Onde  1 e m1 são os cossenos diretores do eixo Ox segundo o sistema original


Oxy , e  2 e m2 são os cosenos diretores do eixo Ox , ou seja:

 1  cos α
m1  senα
(1.52)
 2  senα
m2  cos α

Em suma, a expressão (1.51) relaciona as componentes do vetor deslocamento no


sistema Oxy com as componentes desse mesmo vetor no sistema Oxy .
22

As componentes de deformação no sistema de referência Oxy , em face das


condições aventadas em (1. 50), por força das relações (1.51), são dadas por (vide
(1.50)):

u
εx 
dx
v
εy  (1.53)
dy
 u v
γ xy  
y x

Ou, ainda, tendo em vista (1.51):

u u v
εx   1  m1
dx x x
v u v
εy   2  m2 (1.54)
dy y y
 u v u v u v
γ xy    1  m1  2  m2
y x y y x x

por outro lado, sabe-se, por exemplo, que:

u u x u y
  (1.55)
dx dx x dy  x

pois, dado um acréscimo dx , tudo se passa como se experimentassem acréscimos


dx e dy (regra da cadeia), conforme condição expressa em (1.4), de onde se deduz:

x
 1
x (1.56)
y
 m1
x

e ainda, x y   2 e. y y  m2 . Assim, levando (1.56) na (1.55), e o resultado


na primeira das (1.54) tem-se:

u 2 v 2  u v 
εx    m    m (1.57)
x 1 y 1  y x  1 1

ou seja, tendo em vista (1.50):


23

ε x  εx 21  εym12  γxy 1m1 (1.58)

Finalmente, reunindo-se numa única expressão matricial o resultado expresso em


(1.58), juntamente com as expressões similares para εy e γ xy tem-se:

 1   1 
 εX 2
γ XY    m   εx
2
γ xy    2 
  1 1
  1  (1.59)
1 γ   m2 1
m m2 
εY  2
γ εy   1
 2 XY   2 xy 

que é, em tudo, similar a expressão (1.11), a exceção do fator 1/2 aplicado na


componente de deformação γ xy . Percebe-se, pois, que a lei de transformação de
coordenadas do estado plano de deformação é a mesma da do estado plano de
tensão. Assim sendo, as deformações principais são dadas por:

2
2
 γ xy 
ε  ε x (ε x  ε y )  εx ε y    0
x  2 
 
(1.60)
2 2
εx  ε y  εx  ε y   γ xy   ε
εx        1
2  2   2  ε2
   

onde ε1 e ε2 são as deformações principais e as direções principais de deformação


ortogonais entre si, a exemplo de (1.17), são dadas por:

mi  1
1
γ xy ε y  εi (1.61)
i   2 
εx  εi 1
γ
2 xy

direções nas quais a componente γ xy se anula (o ângulo reto permanece reto). As


deformações principais, igualmente, constituem valores extremos, máximo e
mínimo, da deformação εx . Os invariantes do estado de deformação, a exemplo de
(1.19), são expressos por:
24

ε1  ε2  ε x  ε y
 1 
 εx 2
γ xy  (1.62)
ε1ε2  det  
1 γ εy 
 2 xy 

Finalizando-se é oportuno salientar que o sinal da componente de de-


formação εx é positivo no caso de alongamento, e, por via de consequência,
negativo no caso de encurtamento; além disso, a componente γ xy (distorção, ou
deformação angular) é considerada positiva no caso de decréscimo do ângulo reto,
conforme se aponta na Figura 1.8, e negativa em caso contrário.

1.8 – RELAÇÕES ENTRE O ESTADO DE DESLOCAMENTO E O ESTADO DE


DEFORMAÇÃO – CASO TRIDIMENSIONAL

Considere-se o caso de um corpo sólido, devidamente vinculado, que


experimenta um estado de deslocamentos, cuja componente u, v e w são funções
contínuas que descrevem os movimentos segundo, respectivamente, eixos
coordenados Ox, Oy e Oz de um sistema de referência dextrorso Oxyz . Tais
funções, naturalmente, nas variáveis x, y e z , estão relacionadas, por meio de
derivações, com as componentes do estado de deformação da seguinte maneira:

u
εx 
x
v
εy 
y
w
εz 
z
(1.63)
u v
γ xy  
y x
u w
γ xz  
z x
v w
γ yz  
z y

porquanto o mesmo procedimento levado a efeito no plano xy , no caso plano,


estende-se para os demais planos ( yz e zx ) Ora, dado um volume elementar
𝑑𝑥𝑑𝑦𝑑𝑧, a configuração deformada desse volume pode ser conhecida sabendo-se
o alongamento especifico das arestas dx, dy e dz (três primeiras das expressões
(1.51)), juntamente com as variações experimentadas pelos ângulos retos do triedro
de arestas dx, dy e dz (três últimas das (1.63)).
25

1.8.1 – Mudança do sistema de referência - Caso Tridimensional

Um dado ponto de uma estrutura experimenta movimentos u, v e w segundo


um sistema de coordenadas Oxyz , conforme se indica na Figura 1.10 a). Por outro
lado, esse ponto experimenta movimentos denominados u, v e w num sistema de
referência Oxyz , conforme se indica na Figura 1.10 b). Pois bem, as relações
existentes entre tais componentes do mesmo estado de deslocamento do ponto em
consideração nestes dois sistemas de referência são dadas por:

 u    1 m1 n1   u 
    
 v     2 m2 n2   v  (1.64)
 w    m n  w 
   3 3 3  

onde 1, m1 e n1 ,  2 , m2 e n2 e  3 , m3 e n3 são, respectivamente, os cossenos


diretores das direções dos eixos Ox, Oy e Oz segundo o sistema dextrorso original
Oxyz , a exemplo da notação já utilizada anteriormente, conforme expressão (1.20).
A título de ilustração, conforme Figura 1.10 b), tem-se:

 1  cos α x
m1  cos α y (1.65)
n1  cos α z

y y

v
v (x,y,z) _
_ x
_
y u
_ v
u (x,y,z) y x u
x x
z
w (x,y,z) _
w w
z z
_
z

a) Deslocamentos segundo os eixos b) Mudança de coordenadas para


coordenados 0 xyz. os deslocamentos.
FIGURA 1.10 – Estado de deslocamentos e transformações de coordenadas

sendo α x , α y e αz os ângulos entre o eixo Ox e os eixos Ox, Oy e Oz ,


respectivamente. Cabe lembrar-se, em tempo, que a inversa da matriz quadrada
26

que contém os cossenos diretores, conforme já mencionado, tem por matriz inversa
a sua matriz transposta.
De acordo com as definições expressas em (1.51), no sistema de referência
dextrorso Oxyz as componentes de deformação são dadas por:

u
εx 
x
v
εy 
y
w
εz 
z
(1.66)
u v
γ xy  
y x
u w
γ xz  
z x
v w
γ yz  
z y

Por outro lado, a primeira, por exemplo, das (1.66), tendo em vista a relação (1.64),
permite escrever-se:

u u u u
εx   1  m1  n (1.67)
x x y z 1
visto que:

x
 1
x
y
 m1 (1.68)
x
z
 n1
x

Ora, no caso em questão trata-se de funções de três variáveis; assim sendo tem-se
pela regra da cadeia, por exemplo,

u u x u y u z
   (1.69)
x x x y x z x
27

v w
e, com isso, de (1.69), juntamente com similares correspondentes à e , tem-
x x
se para (1.67) uma nova redação, ou seja:

u 2 v 2 w 2  u v 
εx    m  n    m 
x 1 y 1 z 1  y x  1 1
(1.70)
 v w   u w 
   m1n1      1n1
 z y   z x 

ou, ainda, tendo em vista (1.63):

ε x  εx 21  εym12  εzn12  γxy 1m1  γxz  1n1  γ yzm1n1 (1.71)

Reunindo (1.71), juntamente com as similares relativas às demais


componentes do estado de deformação, tem-se:

 γ xy γ xz   γ xy γ xz 
 εx   εx 
 2 2  2 2 
  m1 n1    2 3 
 γ xy γ yz   1   γ xy γ yz   1 
 εy    2 m2 n2   εy  m1 m2 m3  (1.72)
 2 2 
 3 m3 n3  
2 2 
 
γ γ yz    γ γ yz   n1 n2 n3 
 xz εz   xz εz 
 2 2   2 2 

cuja semelhança com (1.24) é evidente. Assim sendo, todas as propriedades lá


discutidas valem também no caso do estado de deformação tridimensional, como
deformações principais reais, direções principais de deformação ortogonais e
invariantes do estado de deformação, trocando-se na notação as componentes
normais de tensão σi pela deformação axial εi e as componentes cisalhantes τij
pela distorção γij 2 .

1.9 – REPRESENTAÇÃO GRÁFICA: CÍRCULO DE MOHR

Em primeiro lugar, vale ressaltar que a inteligência humana tem mais


facilidade de lidar com imagens, como registra o dito popular de que uma imagem
vale mais que mil palavras. Dessa forma, a busca pela representação de qualquer
grandeza por meio de uma imagem é sempre desejável, especialmente para o
estado de tensão, cuja dimensão não permite visualização direta.
Para se chegar a representação em questão, retoma-se, inicialmente, o
expresso em (1.11) com a consideração de que o sistema de referência Oxy está
28

localizado de tal forma que eixo Ox coincide com a direção principal correspondente
à tensão principal σ1 supondo-se σ1  σ2 , e com isso, tem-se:

σ x  σ1 cos2 α  σ2sen2α
(1.73)
τ xy    σ1  σ2  senα cos α

ou ainda uma nova redação, tendo-se em conta a consideração de arco duplo, ou


seja:

σ1  σ2 σ1  σ2
σx   cos 2α
2 2 (1.74)
σ  σ2
τ xy  1 sen2α
2

que consiste na equação paramétrica do circunferência mostrada na Figura 1.11.


Em outras palavras, o estado de tensão pode então ser representado pela
circunferência indicada, que é chamada de círculo de Mohr do caso plano.
Claramente, a maior tensão normal σ x é σ1 , a menor é σ2 e o maior cisalhamento
em módulo  σ1  σ2  2 .

2 1
1+ 2
2 
2 1- 2
2

FIGURA 1.11 - Círculo de Mohr


29

Do mesmo modo, existe também a representação do estado de deformação


por meio do correspondente círculo de Mohr, trocando-se a tensão normal pela
deformação axial εi e o cisalhamento τij pela distorção γij 2 .
A representação gráfica do estado tridimensional pode ser obtida tomando-
se o sistema de referência coincidente com as direções principais assumindo-se
σ1  σ2  σ3 , e tendo-se em conta o expresso em (1.21) com eliminação do termo
de área dS , ou seja:

t x  σ1 1
t y  σ2m1 (1.74)
t z  σ3n1

que são componentes da mesma força dada pelas componentes σ x , τ xy e τ xz como


ilustrado na Figura 1.6 b). Assim, tem-se a igualdade:

t2x  t2y  t2z  σ1221  σ22m12  σ23n12  σ2x  τ2xy  τ2xz  σ2  τ2 (1.75)

na qual:

σ  σx
(1.76)
τ τ 2xy  τ 2xz

sendo que a última de (1.76) vem a ser o cisalhamento resultante na plano


perpendicular ao eixo Ox .

A expressão (1.23), tomando-se também sistema de referência coincidente


com as direções principais, permite, por sua vez, escrever:

σ  σ x  σ121  σ2m12  σ3n12 (1.77)

Finalmente, o fato de se considerar que 1, m1 e n1 são componentes de um


versor, juntamente com (1.75) e (1.77) permite formular a seguinte equação
matricial:

1 1 1   21   1 
 2 2    
 σ1 σ 2 σ23  m12   σ2  τ2  (1.78)
 σ1 σ 2
 σ3   n12   σ2 

cuja solução fornece:


30

τ 2  (σ  σ2 )(σ  σ3 )
21 
(σ1  σ2 )(σ1  σ3 )
τ2  (σ  σ3 )(σ  σ1 )
m12  (1.79)
(σ2  σ3 )(σ2  σ1 )
τ2  (σ  σ1 )(σ  σ2 )
2
n  1
(σ3  σ1 )(σ3  σ2 )

Por outro lado, como σ1  σ2  σ3 , a primeira de (1.79) permite escrever:

τ2  (σ  σ2 )(σ  σ3 )  0 (1.80)

ou ainda:

2 2

2 σ  σ3   σ 2  σ3 
τ  σ  2    (1.81)
 2   2 

indicando-se que o ponto dado pelas coordenadas σ e τ situa-se fora do círculo


definido por σ2 e σ3 , como mostrado na Figura 12 a).
A segunda de (1.79) seguindo-se raciocínio similar resulta:

2 2
2  σ  σ3   σ1  σ3 
τ  σ  1    (1.82)
 2   2 

indicando-se que o ponto referente ao estado de tensão em questão fica dentro do


círculo definido por σ1 e σ3 . A última de (1.79) resulta:

2 2

2 σ  σ2   σ1  σ 2 
τ  σ  1    (1.83)
 2   2 

indicando-se que o ponto correspondente fica do lado de fora do círculo definido por
σ1 e σ2 . Reunindo-se tais resultados conclui-se então que os pontos referentes ao
estado triplo de tensão ficam sempre na região hachurada na Figura 1.12 b).
Vale finalmente assinalar que o estado de deformação também pode ser
representado por um círculo de Mohr similar ao da Figura 1.12 b), pelas razões já
mencionadas no exame do caso duplo de tensão.
31


2+3
2

2- 3
2 
3 2


2
a) Situação 1 >1

 Estado de
tensão

3 2 1

b) Lugar geométrico do estado de tensão


FIGURA 1.12 –Círculo de Mohr: Estado Triplo

1.10 - RELAÇÕES ENTRE AS COMPONENTES DO ESTADO DE TENSÃO E AS


DO ESTADO DE DEFORMAÇÃO - LEI DE HOOKE

Segundo os historiadores, por volta do distante ano de 1676, o grande


pensador Robert Hooke enunciou uma clássica lei, que leva o seu nome, de acordo
com a qual as deformações acontecem na mesma proporção que as tensões. Assim
sendo, admite-se, portanto, que existe entre as componentes desses dois estados
de tensão uma relação linear envolvendo uma matriz contemplando constantes que
dependem, naturalmente, do material em consideração. No caso tridimensional
tem-se então em notação matricial portanto o expresso em (1.84).
Em primeiro lugar, vale assinalar que a matriz de constantes em (1.84) é
simétrica em decorrência do Teorema de Maxwell, assumindo-se que o processo
da deformação ocorre nos termos do princípio da Conservação da Energia. Esse
tema será melhor esclarecido mais adiante na abordagem da energia de
deformação, que consiste na energia envolvida no processo da mudança de forma,
32

 εx  σ 
   c11 c12 c13 c14 c15 c16   x 
 εy  c c22 c23 c24 c25

c26   σ y 
   21  
 εz  c31 c32 c33 c34 c35 c36   σ z 
    (1.84)
 γ xy  c 41 c 42 c 43 c 44 c45 c 46  τ xy 
 γ  c c52 c53 c54 c55 c56   τ 
 xz   51   xz 
 γ  c61 c62 c63 c64 c65 c66  τ 
 yz   yz 
.
assumindo-se que esse processo é conservativo, ou seja, que a energia em jogo só
depende dos estados iniciais e finais, não sendo influenciada pelo histórico
intermediário. Assim sendo, o número de constantes independentes passa a ser 21
( 21  3  6x6 2 ), e esse é o caso do material denominado anisótropo
(comportamento diferente em diferentes direções), ou material do tipo Green, no
qual, por exemplo, tensão normal provoca distorção, e cisalhamento provoca
deformação axial; sem contar igualmente que o cisalhamento num plano provoca
distorções nos outros planos. Vale assinalar também que as constantes de (1.84)
têm, naturalmente, dimensão de unidade de área por força.
O material de comportamento mais simples é o denominado isótropo (mesmo
comportamento em todas as direções), envolvendo apenas duas constantes
independentes, e mais que isso, são elas invariantes; ou seja, em qualquer direção
essas constantes não se alteram. A matriz de constantes nesse caso é
classicamente assim redigida:

1 E  ν E  ν E 0 0 0 
 
 1 E ν E 0 0 0 
 1E 0 0 0 
  (1.85)
 2(1  ν) E 0 0 
 sim. 2(1  ν) E 0 
 
 2(1  ν) E 

sendo E o módulo de elasticidade e ν o coeficiente de Poisson.


Para evidenciar a natureza tensorial de quarta ordem da grandeza em
questão e simplificar a exposição, considere o caso plano, ou seja:

 ε   1 E ν E 0   σx 
 x     
 εy    ν E 1 E 0   σy  (1.84)
   0 0 2(1  ν) E  τ 
 γ xy    xy 

levando-se em consideração o expresso em (1.11) e (1.59) em nova redação, ou


seja:
33

 σ   2 22 2 1 2   σx 
 x   12   
 σ y    m1 m22 2m1m2   σ y 
   m  m  1m2   2m2  τ 
τ xy   1 1 2 2  xy 
(1.85)
 ε   2 22  1 2   εx 
 x   12   
 ε y    m1 m22 m1m2   εy 
  2 m 2 m  1m2   2m2   γ 
 γ xy   1 1 2 2
 xy 

e, com isso, o expresso em (1.84) permite redigir:

 21 22  1 2   εx 
 2   
 m1 m22 m1m2   εy  
2 m 2 m
 1 1  1m2   2m2   γ 
2 2
 xy 
(1.86)
 1 E ν E 0   21 22 2 1 2   σx 
   2   
ν E 1 E 0   m1 m22 2m1m2   σy 
 0
 0 2(1  ν) E   1m1  2m2  1m2   2m2  τ 
 xy 

podendo-se verificar então, após trabalho algébrico de certa monta, que:

  1m32   2m22m1 22 1m2  32m1 22m1m2   1 2m22 


1  
  1m1m2   2m1 31m2  21 2m1  1 2m12  21m1m2 
2 3

 m   2m1 
3
1 2 2 m2m  2 m m2 2 2m  2 2m 21m22  22m12 
 2 1 2 1 1 2 1 2 1 2 1 2

    
  (1.87)
 1 E ν E 0   21 22 2 1 2   1 E  ν E 0 
   
ν E 1 E 0   m12 m22 2m1m2     ν E 1 E 0 
  
2(1  ν)    1m2   2(1  ν) 
 0 0   1m1  2m2  0 0 
 E   2m2   E 

mostrando-se que, na mudança do sistema de referência, no caso do material


isótropo, as constantes em apreço não se alteram, mas os cossenos diretores agora
estão presentes nas matrizes de (1.86) de forma quadrática, e não mais linear como
em (1.24) e (1.72), mostrando que a matriz de constantes da Lei de Hooke são um
grandeza tensorial de quarta ordem.
O próximo material em complexidade de comportamento é o denominado
material monótropo, indicado para representar material formado por camadas
planas (tipo folheado), como é o caso de barragem de terra compactada por
camadas. Com o eixo Ox transversal às camadas a matriz de constantes fica:
34

1 E  ν E  νz Ez 0 0 0 
 
 1 E  νz E z 0 0 0 
 1 Ez 0 0 0 
  (1.88)
 1G 0 0 
 sim. 1 Gz 0 
 
 1 Gz 

na qual E é o módulo de elasticidade das camadas no seu plano, ν o coeficiente


de Poisson correspondente, Ez o módulo de elasticidade transversal às camadas e
νz o coeficiente de Poisson correspondente,

E
G (1.89)
2(1  ν)

e a quinta constante Gz é o módulo de elasticidade transversal na direção normal


às camadas. Vale ressaltar que, para esse material, a mudança do sistema de
referência já resulta matriz de constantes não nulas nas 21 posições.
Materiais ortótropos é a denominação dada quando o número de constantes
elásticas independentes é igual a 9. Nesse caso existe uma simetria de
comportamento segundo os três planos ortogonais entre si. A matriz de constantes
elásticas tem, então, o seguinte aspecto

1 Ex  νx Ex  νy E y 0 0 0 
 
 1 Ey  νz Ez 0 0 0 
 
 1 Ez 0 0 0 
 (1.90)
1 Gx 0 0 
 
 sim. 1 Gy 0 
 

 1 Gz 

Cabe ser notado que, no caso desses materiais, tensões cisalhantes


segundo um dos planos de simetria não promovem distorção segundo os outros
planos, ou seja, por exemplo, que a tensão de cisalhamento τ xy não promove
distorções γ xz e γ yz . Todavia, como no caso do material monótropo, a mudança do
sistema de referência resulta matriz de constantes com termos também não nulos
nas 21 posições.
A respeito da relação (1.89) cabe um esclarecimento. Em primeiro lugar,
tomando-se como básico o sistema de referência Oxyz segundo as direções
35

principais, o estado de deformação fica então definido envolvendo apenas duas


constantes. Assim sendo o módulo de elasticidade transversal pode, em princípio,
ser uma combinação dessas duas constantes. Essa combinação expressa em
(1.89) pode ser obtida como segue. A tensão de cisalhamento e a distorção
correspondente, por exemplo, τ xy e γ xy , num dado plano do sistema de referência
O xyz , tendo em vista (1.24) e (1.72), ficam:

τ xy  σ x  1 2  σ ym1m2  σ zn1n2
1 (1.91)
γ xy  ε    εym1m2  εzn1n2
2 x 1 2

Pois bem, a primeira das (1.91), tendo em vista a lei de HOOKE para material
isótropo, passa a escrever-se

1 1 
  
 E σ x  ν(σ y  σ z  1 2  E σ y  ν(σ x  σ z m1m2  
γ xy  2  (1.92)
  1 σ  ν(σ  σ n n
 E z  y x 1 2  


ou, ainda, arrumando os termos:

σ σy 
 X   1 2  νm1m2  νn1n2     ν 1 2  m1m2  νn1n2  
γ XY  2 E E  (1.93)
 σz 
   ν 1 2  νm1m2  n1n2  
E 

Acrescentando, agora, termos nulos nas parcelas do segundo membro da


expressão (1.93), ou seja,  ν(1 2  1 2 ) na primeira parcela,  ν(m1m2  m1m2 ) na
segunda e  ν(n1n2  n1n2 ) na terceira, tem-se:

 σx 
  (1  ν) 1 2  ν(  1 2  m1m2  n1n2 ) 
E 
 σy 
γ xy  2   (1  ν)m1m2  ν(  1 2  m1m2  n1n2 )  (1.94)
 E 
 σz 
  E  (1  ν)n1n2  ν(  1 2  m1m2  n1n2 )  
 
onde os termos com ν em evidência são nulos, pois tratam-se do produto escalar
de versores ortogonais. Assim, tem-se então:
36

2(1  ν) 2(1  ν) 2(1  ν)


γ xy  σ x  1 2  σ ym1m2  σ zn1n2 (1.95)
E E E

e, com isso, tendo-se em vista a segunda das (1.91) verifica-se, facilmente, a razão
da relação apontada em (1.89), e também já explícita em (1.85).
Resta ainda registrar que o coeficiente de Poisson de para que o material na
deformação não venha a gerar energia (material instável) deve ser maior que 0.5, e
de modo a não violar a consideração de isotropia não deve ser negativo. Senão,
vejamos. Considere-se o caso do estado de tensão principal σ1  p , com
confinamento σ2  σ 3  p1 , supondo-se ε2  ε3  0 (confinamento), de modo a
não haver alteração da seção transversal no plano 2  3 . Assim sendo, tem-se:

1
ε2  ε3   p  ν(p1  p)  0
E 1
ν
p1  p
ν1

indicando-se que o coeficiente de Poisson não pode ser negativo, pois nesse caso
a tensão de confinamento seria de tração! Por outro lado:

p ν  p 2(0.5  ν)(1  ν)
ε1    1  2ν 
E 1 ν E 1 ν

Indicando-se que, para coeficiente de Poisson maior que 0.5 o processo da


deformação gera energia, pois a deformação ε1 passa então a ser alongamento,
algo não compatível com material dito estável.
Vale também registrar que, para materiais anisótropos, tomando-se por
referência as direções principais de tensão, o estado de deformação fica definido
por apenas 15 constantes; aparentemente indicando que as outras 6 constantes
são combinação dessas 15 constantes. Sucede que, para uma nova orientação do
sistema de referência a transformação da matriz de constantes (tensor de quarta
ordem) vai envolver aquelas 6 constantes. Com isso, as constantes para material
anisótropo são então em número de 21 como já mencionado. No caso do material
isótropo, conforme (1.91) a (1.95) as constantes envolvidas no cisalhamento e
distorção se isolam e são invariantes, valendo também para as direções principais.
Claramente, como deve ser esperado, não é fácil lidar com tensores de ordem alta.

1.11 - EXEMPLOS DE APLICAÇÃO

Apresentam-se, no que segue, dois exemplos de aplicação, onde se chama


a atenção para aspectos ligados à utilização das expressões desenvolvidas.
Contudo, é oportuno apresentar antes as chamadas fórmulas de CARDAN,
que consistem numa maneira exata e expedita de se expressar as raízes de uma
37

equação do terceiro grau. Como nos casos abordados as raízes são reais, dada a
natureza do problema, grandes simplificações podem ser conseguidas.
Dada uma equação do terceiro grau do tipo canônico:

x 3  ax 2  bx  c  0 (1.96)

as raízes podem ser expressas por:

x1  y 1  a / 3
x2  y 2  a / 3 (1.97)
x3  y 3  a / 3

Por outro lado, sabendo-se que as três raízes são reais, têm-se:

y 1  2 3 ρ cos(θ / 3)
y 2  2 3 ρ cos((2π  θ) / 3) (1.98)
y 2  2 3 ρ cos((2π  θ) / 3)

onde:

ρ  R2  Q 2
(1.99)
θ  arc.tg.(Q / R)

sendo:

1  ba 2a3 
R   c  
2 3 27 
3
(1.100)
1  a2  2
Q   b  R
27  3 

com a, b e c tomados com sinal conforme (1.96); sendo necessário tomar cuidado
com os sinais desses coeficientes. Cabe apontar, além disso, que o arco θ pertence
ao primeiro quadrante no caso de R positivo e ao segundo em caso contrário (essa
observação diz respeito à posição do número complexo no plano de Gauss).

1.11.1 – Primeiro exemplo de aplicação

Num dado ponto da superfície de uma estrutura foram medidas, com


extensômetros elétricos de resistência as deformações em três direções, conforme
38

ilustrado na Figura 1.13 (roseta equiângula), sendo encontrados εa  103 ,


εb  103 e εa  103 . Pede-se determinar as deformações principais e as direções
onde ocorrem. Trata-se, naturalmente, de um estado plano de deformação.
No sistema de referência adotado (vide Figura 1.13), das componentes do
estado de deformação só se conhece uma, ou seja:

εy  εc  103

60°
a
30°
b
P x
c

FIGURA 1.13 - Disposições de medidas das deformações

sendo desconhecidas as componentes εx e γ xy . Todavia, tendo-se em vista a


expressão (1.47), tem-se:

π π π π
εa  103  εx cos2  ( 103 )sen2  γ xy sen cos
6 6 6 6
5π 5π 5π 5π
εb  103  εx cos2  ( 103 )sen2  γ xy sen cos
6 6 6 6

ou seja

10 3  0.75ε x  0.25x10 3  0.433γ xy


10 3  0.75ε x  0.25x10 3  0.433γ xy

Resolvendo vem:

εx  1.67x103
γ xy  0.0

De posse dos valores das componentes do estado de deformação no sistema de


referência adotado ou seja, εy  103 , εy  1.67x103 e γ xy  0 , tem-se:
39

2
1.67x103  103  1.67x103  103  3
ε1      1.67x10
2  2 
2
1.67x103  103  1.67x103  103  3
ε2      10
2  2 

e de (1.49) tem-se:

1
(0.0)
tg.α2  2 0
1.67x103  ( 103 )
1
(0.0)
tg.α1  2  in det er min ada
103  ( 103 )

ou seja α1  0 em primeira determinação, significando que a direção principal


correspondente a ε1  1.67x103 é coincidente com a do eixo Ox . Por outro lado,
como a direção principal correspondente a ε2  103 é perpendicular, tem-se que
ela coincide, naturalmente, com a do eixo Oy . No caso desse exemplo, pelo fato
de se ter γ xy  0 sabe-se, de início, que os eixos Ox e Oy já são os principais; por
definição.

1.11.2 – Segundo exemplo de aplicação

Num dado ponto de uma estrutura são conhecidas as componentes do


estado de tensão em N / cm2 , ou seja:

 σ x τ xy τ xz  3x103 4x103 5x103 


   
 σy τ yz    7x103 2x103 
 
sim. σ z   sim. 8x103 

Pedem-se, em primeiro lugar, as tensões principais e as direções onde ocorrem; e


em segundo lugar, sabendo-se que se trata de material elástico, linear e isótropo,
com E  2x107 N / cm2 e ν  0.3 , pedem-se as deformações principais.
Pois bem, de (1.28) tem-se:
40

3x103  σ x 4x103 5x103 


 
det .  4x103 3
7x10  σ x 2x10 3
0
 5x103 2x103 8x10  σ x 
3

ou seja:

σ3x  1.8x103 σ2x  56x106 σ x  227x109  0

De acordo com a forma canônica (1.27) têm-se, então:

a  18x103
b  56x106
c  227x109

e, com isso, de (1.100) têm-se:

109  5.6( 18) 2( 18)3  10


R   2.27    0.0655x10
2  3 27 
3
9 1  ( 18)3 
Q  10   5.6   ( 0.655)2  0.0303x1010
27  3 

Com esses valores, de (1.99) têm-se

ρ  109 ( 0.655)2  (0.3030)2  72.2x109


0.303
tgθ   0.4626
0.655
θ  155.20  24.80

Finalmente, de (1.98) têm-se:

 155, 20 
y 1  2x103 3 0.0722 cos    5160N / cm
2

 3 
 3600  155, 20 
y 2  2x103 3 0.0722 cos    3080N / cm
2

 3 
 360  155, 2 
0 0
y 3  2x103 3 0.0722 cos    8240N / cm
2

 3 
41

e de (1.97) têm-se as três raízes ( a / 3  6000) :

σ1  11160N / cm2
σ2  9080N / cm2
σ3  2240N / cm2

que são naturalmente, as componentes de tensão não nulas nas direções principais.
Por sua vez, a direção correspondente à tensão σ1  11160N / cm2 pode ser
encontrada, tomando-se, por exemplo, n1*  1 em (1.27). Com os valores em
questão tem-se então:

3000  11160 4000   *1   5000 


     
 4000 7000  11160 m1*  2000 

encontrando-se, pois:

 *1  0.713
m1*  0.205

Todavia, em termos do versor dessa direção, tem-se

0.713
1   0.573
2 2
0.713  0.205  1
0.205
m1   0.165
2 2
0.713  0.205  1
1
n1   0.803
0.7132  0.2052  1

De maneira similar, para as tensões σ2  9080 e σ3  2240 encontram-se as


seguintes direções, respectivamente:

 2  0.271
m2  0.885
n2  0.378
 3  0.773
m3  0.435
n3  0.462
42

Cabe, todavia, comentar que os versores correspondentes às direções


principais resultam, em termos numéricos, praticamente ortogonais. Chama-se a
atenção para esse fato no sentido de alertar para a "sensibilidade" numérica veri-
ficada na determinação dos autovetores (a precisão dispensada na determinação
dos autovalores σ1 , σ2 e σ 3 sofre redução na determinação dos auto-vetores).
A segunda questão levantada tem resposta imediata, porquanto a lei de
Hooke permite escrever-se, com (1.85):

1
7 
ε1  11160  0.3(9080  2240)  4.55x104
2x10
1
7 
ε1  9080  0.3(11160  2240)  3.20x104
2x10
1
7 
ε1  2240  0.3(11160  9080)  4.16x104
2x10

lembrando-se, outrossim, que, no caso do material em apreço, as direções


principais de deformação são as mesmas das de tensões.

1.12 – Energia de deformação

A Figura 1.14 a) ilustra a componente de deformação εy correspondente à


componente de tensão σ y . A Figura a.14 b) exibe o gráfico σ y xε y representando o
comportamento linear decorrente da Lei de Hooke. Nesse processo o trabalho
realizado vale:

1 1 1
dT1  (σ y dxdz)ε y dy  σ y ε y dxdydz  σ y c22σ y dxdydz (1.101)
2 2 2

Pois bem, considere-se agora, que depois de aplicada integralmente a


componente de tensão σ y , aplica-se a componente de tensão τ xz , que produz
segundo a Lei de Hooke as deformações:

ε*y  c25 τ xz
(1.102)
γ xz  c55 τ xz

valendo assinalar que a deformação na direção y indicada ne primeira de (1.102)


ocorre em superposição à deformação provocada pela aplicação anterior de σ y .
43

dy

dx zx
x
zx
y dz

y
x y dy
a) Tensões consideradas
zx dz
 zx

y
zx

y 
b) c) Trabalho de cisalhamento

FIGURA 1.14 Energia de deformação

A Figura 1.14 c) exibe a configuração de deslocamento provocada pela ação


da componente de tensão τ xz . O trabalho desenvolvido nessa fase de
carregamento fica então:

1
dT2  (σ y dxdz)  c25 τ xz dy   (τ dxdy)(c55 τ xz dz) (1.103)
2 xz

uma vez que ao acontecer na direção Oy a deformação provocada pela aplicação


da componente τ xz a força σ y dxdz já estava totalmente aplicada, mas a deformação
provocada pela componente de deformação τ xz cresce linearmente com ela (daí o
fator 1 2 na sua parcela). O trabalho total envolvido nessa história de carregamento
fica então:
44

1 1
dT  dT1  dT2  σ y c22σ y dxdydz  σ y τ xz c25dxdydz  τ xz c55 τ xz dxdydz (1.104)
2 2
Invertendo-se a sequência, primeiro aplicando-se totalmente a componente
de cisalhamento τ xz e depois a componente de tensão σ y , o trabalho total resulta:

1 1
dT  σ y c22σ y dxdydz  σ y τ xz c52dxdydz  τ xz c55 τ xzdxdydz (1.105)
2 2
verificendo-se que os únicos parâmetros diferente nos dois casos são as constantes
c25 e c52 que devem ser iguais assumindo-se que a energia no processo de
deformação seja conservativa, ou seja, independente da história considerada.
Procedendo-se de modo análogo com as demais componentes conclui-se
que:

cij  c ji (1.106)

que consiste no conhecido teorema de Maxwell, já mencionado.


O trabalho total quando todas as componentes de tensão são aplicadas pode
ser avaliado considerando-se que todas as componentes de tensão crescem
simultaneamente e na mesma proporção, da posição de repouso até a posição final.
Dada a natureza linear da Lei de Hooke, nesse caso as deformações
correspondentes crescem também linearmente, e com isso o trabalho total
envolvido permite redigir:

dT 1
U0   
σ ε  σ y ε y  σ z ε z  τ xy γ xy  τ xz γ xz  τ yz γ yz
dxdydz 2 x x
 (1.107)

que consiste na expressão da energia de deformação específica (energia por


unidade de volume). Vale assinalar que o expresso em (1.107) é invariante, ou seja,
não se altera com a mudança do sistema de referência, pois energia é uma
grandeza escalar, e esse fato pode ser facilmente verificado no caso plano, ou seja:

σ x εx  σ y ε y  τ xy γ xy  σ x ε x  σ y ε y  τ xy γ xy (1.108)

tendo-se que de (1.11) e (1.56) resulta:


45

σ x  σ x 21  2τ xym1 1  σ ym12


τ xy  σ x  1 2  τ xy (m1 2  m2 1 )  σ ym1m2
σ y  σ x 22  2τ xym2 2  σ ym22
ε x  εx 21  γ xym1 1  ε ym12 (1.109)
ε y  σ x 22  γ xym2 2  ε ym22
 γ xy 
γ xy  2  εx  1 2  (m1 2  m2 1 )  ε ym1m2 
 2 
 

e, com isso, (1.108) pode ser verificada, após manipulações algébricas de alguma
monta, tendo-se em conta que a ortogonalidade dos autovetores implica em:

21  22  1
 1m1   2m2  0
m12  m22  1 (1.110)
( 21  22 )(m12  m22 )  1
etc.

A energia de deformação expressa em (1.107) considerando-se as direções


principais de tensão fica:
1
U0  (σ ε  σ2ε2  σ3ε3 ) (1.111)
2 11

Por outro lado, tendo-se em conta a deformação média, ou seja:

1
εm 
(ε  ε2  ε3 ) (1.112)
3 1
e definindo-se novas deformações como sendo:

ε1*  εm  ε1
ε2*  εm  ε2 (1.113)
*
ε  εm  ε3
3

o expresso em (1.111) ganha uma nova redação, ou seja:


46

1 1
U0  (σ1  σ2  σ3 )εm  (σ1ε1*  σ2ε2*  σ3ε3* ) (1.114)
2 2

sendo que a primeira parcela da energia de deformação específica pode ser


entendida como sendo a parcela da energia referente à expansão volumétrica e a
segunda conhecida como energia de distorção. No caso de material isotrópico,
após operações algébricas, a segunda parcela de (1.114) se exprime:

1 ν
E

(σ1  σ2 )2  (σ1  σ3 )2  (σ2  σ3 )2  (1.115)

que consiste na grandeza envolvida na definição do critério de V. Mises para a


resistência do aço, por exemplo.
Uma outra relação importante decorre do expresso em (1.107), qual seja:

U0
 σi (1.116)
εi

mostrando que a variação (derivada) da energia específica de deformação em


relação a uma componente de deformação resulta na correspondente componente
de tensão.
Para materiais isótropos mais gerais, a Lei de Hooke pode ser expressa
segundo (1.116) em termos da energia específica expressa por:

λ  2G 2   2m 3
U0  I1  2GI2  I1  2mI1I2  nI3 (1.117)
2 3

onde  , m e n são os chamados coeficientes de Murnaghan para o caso da relação


entre tensões e deformações de ordem superior, e I1 ,I2 e I3 são os invariantes do
estado de deformação que, no caso das direções principais de deformação são
dados por:

I1  ε1  ε2  ε3
I2  ε1ε2  ε1ε3  ε2ε3 (1.118)
I3  ε1ε2ε3

valendo-se assinalar que as constantes do material isótropo são então invariantes


do tensor de quarta ordem da Lei de Hooke.
Uma maneira mais direta de se formular tensores cartesianos é a seguinte.
Iniciando-se com uma função escalar φ(x, y, z) , denominada tensor de ordem zero,
suas derivadas parciais em relação às três variáveis formam então o vetor:
47

φx 
 
φ y  (1.119)
 
φz 

contendo-se, pois, três componentes. As derivadas parciais das componentes do


vetor (1.119) resultam, por conseguinte, em nove componentes, mas devido à
igualdade das derivadas mistas, o número de componentes cai para seis, que
consiste no tensor de segunda ordem. Procedendo-se com a derivação parcial das
componentes do tensor de segunda ordem obtém-se as componentes do tensor de
terceira ordem, e assim por diante.
48

2 - ELASTICIDADE BIDIMENSIONAL

2.1 – INTRODUÇÃO

No estudo elementar da Resistência dos Materiais o comportamento das


estruturas é descrito a partir de hipóteses plausíveis quanto à distribuição das
tensões ou das deformações, como, por exemplo, no caso da flexão de barras, onde
se admite que seções planas permaneçam planas na deformação por flexão
(distribuição linear das deformações). É bem verdade que tais hipóteses conduzem
a resultados muito próximos da realidade na maioria dos casos da prática; contudo,
bastantes numerosos são também os casos nos quais aquelas hipóteses conduzem
a resultados muito incorretos, e, além disso, resultados até comprometedores com
relação à segurança.
No modelo matemático da elasticidade as tensões e as deformações
resultam da integração de sistemas de equações diferenciais obtidos a partir de
hipóteses de continuidade, acrescidas da consideração de relações lineares entre
tensões e deformação (Lei de Hooke). As hipóteses de continuidade podem ser, à
primeira vista, contestadas tendo-se por base a descontinuidade da matéria, que é
constituída, como se sabe, por partículas elementares; porém as dimensões dessas
partículas são tão reduzidas que não comprometem em nada os resultados. Por
outro lado, a linearidade entre as tensões e deformações nem sempre é respeitada
pela maioria dos materiais empregados na prática. Contudo, mesmo nesses casos,
a elasticidade pode fornecer algumas indicações de interesse, ou, pelo menos,
constituir ponto de partida para uma análise mais rigorosa.
Por último cabe assinalar que a consideração de se tratar de estruturas
sujeitas a pequenos deslocamentos (ou seja, a ordem de grandeza dos
deslocamentos é muito menor que a ordem de grandeza das medidas geométricas
características das estruturas) permite grandes simplificações (teoria linear). Essa
consideração provém de constatações da prática, porquanto, mesmo nas
vizinhanças do colapso, as estruturas, de um modo geral, não apresentam
deslocamentos significativos em relação às suas medidas geométricas ca-
racterísticas (o alongamento de uma barra tracionada na iminência do colapso é
muito menor que o comprimento original).
49

2.2 - COLOCAÇÃO DO PROBLEMA ESTRUTURAL

Considere-se, de início, a estrutura mostrada na Figura 2.1a), onde se


considera não haver solicitação de qualquer natureza. Sob efeito de uma solicitação
genérica, a estrutura em tela altera a sua forma, que, de maneira exagerada, ilustra-
se na Figura 2.1b). Pois bem, nessa situação dois pontos, P e Q , ocupam, na
posição deformada outras posições, PI e QI . Assim sendo, supondo-se haver con-
tinuidade antes e depois da deformação pode-se afirmar que existem duas funções
contínuas u(x, y) e v(x, y) que descrevem os movimentos dos pontos da estrutura
no caso plano, e u(x, y, z) , v(x, y, z) e w(x, y, z) no caso tridimensional. Tais
funções, u e v no caso plano e u, v e w no caso tridimensional, são as
componentes do denominado estado de deslocamento.

P P u
v
Q u P' 
Q xy
dy dy dy+ dy
v
dx dx dx+ dx
Q'

y y
x x

a) Estrutura em repouso b) Estrutura sob efeito de solicitações

FIGURA 2.1 – Estrutura original e deformada

Outro acontecimento nesse fenômeno da deformação que merece destaque


diz respeito à medida da deformação. Nesse propósito, convém analisar de perto o
que sucede com um retângulo elementar de lados dx e dy . Pois bem, na situação
deformada, conforme se exagera na Figura 2.1b), o retângulo elementar está com
uma configuração de paralelogramo ( dx e dy são comprimentos elementares e,
por conseguinte (continuidade) dx  dx e dy  dy são também elementares; daí
a consideração de lados retos e paralelos na situação deformada), cujos lados são
diferentes dos do retângulo original, e os ângulos deixam de ser retos; isso num
caso genérico. Assim sendo, para se definir a configuração deformada torna-se
necessário o conhecimento de três parâmetros, ou seja, distorção γ xy e
alongamentos dx e dy no caso plano; e seis parâmetros no caso tridimensional,
como já visto no capítulo anterior. Por comodidade, adotam-se, como já visto
também no capítulo anterior, no lugar de dx e dy os parâmetros adimensionais
50

ε x  dx dx e ε y  dy dy a exemplo da distorção γ xy . Disso tudo se percebe que


entra em cena o denominado estado de deformação, cujas componentes ε x , εy e
γ xy são os parâmetros que quantificam, de modo adimensional, a deformação
ocorrida em cada ponto, ou seja, ε x , εy e γ xy são funções contínuas das variáveis
x e y no caso plano, conforme já oportunamente mencionado no capítulo anterior.
Por último resta saber-se das interações, ações a reações, que aparecem na
estrutura quando da solicitação. Convêm relembrar-se das condições de equilíbrio,
já mencionadas no capítulo precedente, onde se evidencia a necessidade de três
parâmetros σ x , σ y e τ xy ,no caso plano, para caracterizar as condições, sob as
quais um cubo elementar fica em equilíbrio. Com isso verifica-se a existência de um
estado denominado de tensão, cujas componentes são aqueles parâmetros
mencionados.
Pelo exposto verifica-se, facilmente, que o problema estrutural, ou estudo do
comportamento da estrutura, consiste na busca das componentes de três estados,
quais sejam, estado de deslocamento, deformação e tensão, obedecidas, ainda, as
condições de contorno. Assim sendo, no caso plano tem-se um total de oito funções
incógnitas que são u , v , εx , εy , γ xy , σ x , σ y e τ xy . No que se segue buscam-se as
oito relações necessárias, de modo a se ter um sistema de equações compatíveis
com tal número de incógnitas.

2.3 - RELAÇÕES BÁSICAS DA ELASTICIDADE PLANA

Pelo exposto no capítulo anterior têm-se já, de início, seis relações entre as
componentes dos estados envolvidos no problema estrutural, ou seja, três relações
entre as componentes do estado de deslocamento e o de deformação:

u
εx 
x
v
εy  (2.1)
y
u v
γ xy  
y x

e mais três relações entre as componentes do estado de deformação e as do de


tensão, expressas pela clássica lei de Hooke, que, no caso plano de tensão, ou
seja: σ z  τ xz  τ yz  0 , são dadas por:
51

ε   1 ν 0   σx 
 x  1    
 εy   ν 1 0   σy  (2.2
  E0 0 2(1  ν)  τ 
 γ xy    xy 

e que, no caso plano de deformação: εz  γ xz  γ yz  0 , são dadas por:

ε   1  ν2 (1  ν)ν 0   σx 
 x  1  2   
 ε y    (1  ν)ν 1  ν 0   σy  (2.3)
  E 0 0 2(1  ν) τ 
 γ xy    xy 

restando saber, agora, das duas relações que ainda faltam para completar as oito
necessárias. A propósito, as condições de equilíbrio em forças não foram ainda
utilizadas, pois ao nível das tensões constituem expressões redundantes (tensões
em faces opostas são iguais e opostas).

2.3.1 - Equações de Equilíbrio

Em resposta à especulação colocada, estudam-se, agora, as condições de


equilíbrio em forças (em momento conduz ao resultado preconizado pelo Teorema
de Cauchy); todavia, visto que ao nível de tensões tratam-se de condições
redundantes, a atenção é agora voltada para os infinitésimos de ordem superior;
com isso devem-se considerar também as forças volumétricas.
A Figura 2.2 mostra um elemento infinitesimal, de lados dx e dy , sujeito, no
ponto P , ao estado de tensão, cujas componentes são σ x , σ y e τ xy . Por outro lado,
na face distante dx do ponto P as componentes σ x e τ xy são incrementadas de
seus diferenciais segundo a variável x , e na face distante dy as componentes σ y
e τ xy recebem incrementos diferenciais segundo a variável y . A força por unidade
de volume apresenta componentes X e Y , respectivamente, segundo os eixos
coordenados Ox e Oy . A espessura é simplesmente designada por dz , no sentido
de se ater ao caráter elementar, porém, tratando-se de um caso plano, tal dimensão
e comum às faces onde agem as componentes de tensão em jogo no equilíbrio,
podendo, pois, ser substituída até pela unidade.
52

y dy
y+ y xy
xy+ y
dy
xy
Y xy+ x
dx

y
x
x
X x + dx
xy x

espessura dz
xy
0 x
y

FIGURA 2.2 – Diferenciais de tensão

O equilíbrio de forças segundo o eixo Ox e Oy é expresso, respectivamente,


por (vide Figura 2.2):

 τ xy 
σ x dydz  τ xy dxdz   τ xy  dy  dxdz 
 y 
 
 σ x 
 σx  dx  dydz  Xdxdydz  0
 x 
(2.4)
 τ xy 
σ y dxdz  τ xy dydz   τ xy  dx  dydz 
 x 
 
 σ y 
 σy  dy  dxdz  Ydxdydz  0
 y 
 

ou, ainda, excluindo-se os fatores comuns:

σ x τ xy
 X0
x y
(2.5)
σ y τ xy
 Y0
y x

que consiste nas duas relações que faltavam. Cabe assinalar que tais relações
exprimem condições no que respeita às derivadas das componentes do estado de
tensão, que, em princípio, são tensores de terceira ordem. Todavia tais relações
são vetoriais, e assim, a combinação dos tensores de terceira ordem devem resultar
em grandeza vetorial. O equilíbrio expresso em (2.5) ganha a seguinte redação num
outro sistema de referência:
53

σ x τ xy
 X0
x y
(2.6)
σ y τ xy
 Y0
y x

e isso pode ser verificado com base nas relações (1.4) e (1.11) apresentadas no
capítulo anterior, resultando para (2.5) depois de algumas operações algébricas:

 σ τ xy   σ y τ xy 
1  x   X     Y  2  0
 x y   y x 
(2.7)
 σ τ xy   σ y τ xy 
m1  x   X     Y  m2  0
 x y   y x 

indicando-se a equivalência entre o equilíbrio expresso em (2.5) e em (2.6), visto


que os cossenos diretores não são nulos simultaneamente.

2.3.2 - Equação de Compatibilidade

As componentes do estado de deformação, ε x , εy e γ xy são, naturalmente,


parâmetros independentes; contudo, convém ser observada a natureza das
relações (2.1), onde as três componentes do estado de deformação (parâmetros
independentes) são definidas em termos de apenas duas funções (componentes do
estado de deslocamento); por conseguinte deve-se esperar alguma relação ao nível
de derivadas daquelas componentes que amarra, por assim dizer, tais
componentes, uma vez que se relacionam com as duas componentes do estado de
deslocamento (em resumo, três parâmetros independentes derivados de apenas
dois!). Pois bem, especulativamente devem-se esperar também relações dessa
natureza entre as componentes do estado de tensão.
Com efeito, as relações (2.1) permitem que se escreva:

 2ε x 2  u  3u
   
y 2 y 2  x  y x
2

 2ε y 2
 v  3 v
 2
  2 (2.8)
x2  y  x y
x
2 γx 2  u v  3u 3 v
     
xy xy  y x  y 2x x 2y

e, por via de consequência, tem-se


54

 2ε x  2ε y  2 γ xy
  (2.9)
y 2 x2 xy

que constitui a denominada equação de compatibilidade, pois exprime uma


condição que se origina da suposta continuidade dos deslocamentos (as derivadas
mistas são idênticas independentemente da ordem de derivação).

2.4 – ESTADO PLANO DE TENSÃO

Um grande número de peças estruturais, nas quais uma das dimensões é


bem menor que as demais que, por outro lado, apresentam a mesma ordem de
grandeza, possuem a função estrutural de resistir esforços contidos no plano das
grandes dimensões. É o caso, por exemplo, das vigas paredes. Nessa situação, o
tratamento plano justifica-se tendo-se em vista que a dimensão menor pode ser
considerada como um diferencial em relação às demais (dimensão menor dz ).
Assim sendo, tudo se passa corno se as componentes dos estados de
deslocamento, tensão e deformação não variassem com a coordenada z . Todavia,
cabe adiantar que tratamento plano conduz às discrepâncias nas regiões próximas
do contorno, porém esse assunto é objeto de comentários posteriores (Princípio de
Saint-Venant).
Na integração das oito equações nas componentes dos três estados
envolvidos no problema estrutural é clássica a variante onde se procura colocar as
expressões em deformação e deslocamentos em termos das componentes de
tensão (Método dos esforços ou da flexibilidade). Para tanto, torna-se conveniente
redigir a equação de compatibilidade (2.9), tirando-se partido, no caso do estado
plano de tensão, das relações (2.2), tendo-se em vista as (2.5), ou seja:

 2σ x  2σ x  2σ y  2σ y  X Y 
    (1  ν)    (2.10)
 x y 
2 2 2 2
x y y x

ou, ainda, em termos simbólicos:

 2 2   X Y 
 2  2  (σ x  σ y )  (1  ν)    (2.11)
 x y   x y 

Com isso, do conjunto de oito equações, destaca-se um conjunto de apenas três


equações nas componentes do estado de tensão, ou seja, as equações (2.5)
juntamente com (2.11). Esse procedimento de buscar a solução com essas três
relações é denominado processo dos esforços, uma vez que as incógnitas são
todas mecânicas, não envolvendo incógnitas geométricas.
55

2.5 - ESTADO PLANO DE DEFORMAÇÃO

O estado plano de deformação caracteriza-se pelo fato de serem nulas três


das componentes de deformação, ou seja: εz  γ xz  γ yz  0 . Dentre as estruturas,
esse é o caso, por exemplo, de algumas estruturas de barragens de gravidade e
das estruturas de revestimento de túneis em rocha (para a estrutura se alongar
segundo o seu eixo longitudinal carece que os grandes maciços de suporte também
se alonguem; o que na prática não ocorre).
Pois bem, a variante do Método dos Esforços implica, de modo análogo ao
caso plano de tensão, na seguinte equação de compatibilidade; expressa, agora,
em termos das componentes de tensão:

 2 2  1  X Y 
 2  2 
(σ x  σ y )      (2.12)
 x y  1  ν  x y 

lembrando-se, em tempo, que essa nova redação deriva da equação (2.9), tendo-
se em vista as relações (2.3) e (2.5).

2.6 - FUNÇÕES DE AIRY (FUNÇÃO DE TENSÃO)

Uma notável contribuição à Teoria da Elasticidade foi dada pelo inglês G.B.
AIRY (1862) ao descobrir uma engenhosa manobra algébrica, segundo a qual
aquele conjunto de três equações nas componentes do estado de tensão pode de
ser reduzido a tão somente uma equação a uma incógnita, à custa de um
levantamento da ordem de derivação (na matemática, como no mundo, tudo tem o
seu preço, mesmo com o concurso de procedimentos geniais).
Antes, porém, de se abordar esse assunto, carece esclarecer certos
pormenores referentes à natureza das forças de volume. De acordo com os
conceitos da Física clássica, as forças de volume encontram razão de ser na e-
xistência de campos de força como, por exemplo, o gravitacional, que mais de perto
interessa aos técnicos do ramo civil. Pois bem, tais forças podem ser expressas por
meio da variação do potencial do campo correspondente, ou seja:


X
x
(2.13)

Y
y

onde  é o potencial, sendo que o sinal negativo provém do fato de que o trabalho
da força sendo positivo, por exemplo, Xdx positivo, indica uma queda no campo de
forças. Convém atentar-se para o fato de que, no caso plano, o potencial  é uma
função das variáveis x e y , a exemplo das componentes dos estados envolvidos
no problema estrutural.
56

A função de AIRY, denominada de φ , é definida a partir da suposição da


existência de uma função que possui as seguintes características

 2φ
 σx  
y 2
 2φ
 σy   (2.14)
x2
2φ
  τ xy
xy

ou seja, da existência de uma função, cujas derivadas segundas resultam nas


componentes de tensão, a menos do potencial para as componentes normais.
Constata-se facilmente que a função φ , que goza das propriedades
apontadas em (2.14), satisfaz, de imediato e simultaneamente, as equações de
equilíbrio (2.5), recaindo-se numa identidade verificada para derivadas mistas. Por
outro lado, a equação de compatibilidade (2.11), correspondente ao caso plano de
tensão ganha, em termos de φ , uma nova redação, ou seja:

 4φ  4φ  4φ   2  2 
 2 2 2  4  (1  ν)  2   (2.15)
x 4 x y y  x y 2 

e a equação de compatibilidade (2.12), que corresponde ao caso plano de


deformação, ganha a redação:

 4φ  4φ  4φ 1  2ν   2  2 
 2       (2.16)
x 4 x2y 2 y 4 1  ν  x 2 y 2 

e, assim sendo, o problema estrutural consiste na procura de uma função 𝜙 que


obedece a equação (2.15) ou (2.16), conforme o caso, e que no contorno é
compatível com as ações aí aplicadas.
Nos problemas práticos a integração da equação (2.15), ou (2.16), é em parte
aliviada, porquanto as forças volumétricas de origem gravitacional variam muito
pouco no espaço ocupado pelas estruturas, ou seja:

X  2
 2 0
x x
(2.17)
Y  2
 2 0
y y

A propósito cabe esclarecer que uma mesma massa tem, no alto da cordilheira dos
Andes, por exemplo, praticamente o mesmo peso que tem ao nível do mar. Assim,
57

tanto no caso plano de tensão, como no de deformação, a equação a ser integrada


consiste em:

 4φ  4φ  4φ
 2  0 (2.18)
x 4 x 2y 2 y 4

e simplificação adicional ocorre nos casos onde o peso próprio pode ser desprezado
em face das demais solicitações, pois, nesses casos, as expressões (2.12) simplifi-
cam, ou seja:

 2φ
σx 
y 2
 2φ
σy  (2.19)
x2
 2φ
τ xy 
xy

valendo acrescentar que mesmo nos problemas onde o peso próprio é significativo,
a integração pode ser alcançada lançando-se mão da propriedade da superposição
de soluções, ou seja, nesse caso φ é dada pela soma de duas funções, na qual a
primeira conduz às tensões referentes à solicitação externa e a segunda às tensões
referentes às forças de volume, sendo que essas duas funções devem obedecer às
equações (2.18) e (2.19) e as correspondentes condições de contorno (compatível
no contorno com as solicitações aí existentes).
Para finalizar, convém esclarecer que, na Teoria da Elasticidade, os
problemas têm sido tratados com um procedimento inverso, ou seja, dada uma
solução da equação (2.18), por exemplo, procura-se o problema estrutural resolvido
com tal solução. Parece, à primeira vista, um procedimento muito estranho, pois o
normal é o contrário, ou seja, dado um problema procura-se a solução; e não dada
uma solução procura-se o problema. Todavia, achar o problema resolvido com uma
dada solução constitui também um problema. O procedimento normal, que consiste
na análise do comportamento de uma estrutura dada, em geral só e viável mediante
integração numérica, pois o caminho analítico (soluções de forma fechada) não
parece meio eficiente, a não ser em casos muito particulares (em geral a solução
não é nenhuma das funções conhecidas). A propósito dos métodos de integração
numérica, dois deles serão objeto dos próximos capítulos.

2.7 - FUNÇÕES DE AIRY POLINOMIAIS

Alguns problemas práticos podem ser resolvidos satisfatoriamente por meio de


polinômios (algébricos, por exemplo). É o caso da flexão de barras sob certas
condições de carregamento. No que se segue são expostos alguns casos, onde
soluções polinomiais resolvem alguns problemas da prática.
58

2.7.1 - Casos Elementares

Considere-se, em primeiro lugar, a função de AIRY que obedece à relação


(2.18):

φ  A1x2  A2 xy  A3 y 2 (2.20)

que consiste num polinômio, cujos termos são do segundo grau. Naturalmente, em
face das relações (2.19), verifica-se, facilmente, que a inclusão de termos de grau
menor em nada altera o campo de tensão. Pois bem, a função expressa em (2.20)
corresponde às seguintes componentes de tensão (vide (2.19)):

σ x  2A3
σ x  2A1 (2.21)
σ x  A2

ou seja, um estado de tensão uniforme. Essa resposta parece trivial, porém deve-
se atentar para o fato de que tal solução garante a existência de estados uniformes
de tensão mesmo em casos não a nível elementar, onde a uniformidade é garantida
pela continuidade das funções em jogo.
É interessante constatar que, no caso de se ter A1  A 2  0 , o problema
resolvido trata do conhecido caso de solicitação de uma barra, ou chapa, por força
normal, ou tração uniforme, com A3 valendo, naturalmente, P 2S , sendo P a força
axial e S a área da seção transversal da barra. A Figura 2.3a) e b) ilustra o problema
em questão.

 x P
 = 2A3 = S
y

a) Configuração da solicitação

x

y

b) Barra vinculada

FIGURA 2.3 – Barra sob tração uniforme


59

Com relação ao estado de deformação tem-se nesse caso de força normal o


seguinte (Lei de Hooke):

2A2 P
εx  
E ES
2A2 νP
εy   ν  (2.22)
E ES
γ xy  0

e, com relação ao estado de deslocamento:

u P
 εx 
x ES
v P
 εy  ν (2.23)
y ES
u v
  γ xy  0
y x

Por outro lado, integrando-se as duas primeiras das (2.23) encontram-se:

Px
u  f (y)  C1
ES 1 (2.24)
Py
v  ν  f2 (x)  C2
ES

onde f1(y) e f2 (x) são funções apenas nas variáveis y e x , respectivamente, sendo
C1 e C2 constantes de integração. Levando as (2.24) na terceira das (2.23)
encontra-se:

f1(y) f2 (x)


 0 (2.25)
dy dx

cabendo-se, agora, analisar em que condições a (2.25) pode ser satisfeita,


lembrando-se que esta relação deve ser obedecida para todo x e y , como, por
exemplo, para o ponto de coordenadas x  1 e y  2 ; e também para o ponto de
coordenadas x  2 e y  1. Ora, tal condição só pode se verificar com:
60

f1(y)
 C3
dy
(2.26)
f2 (x)
 C3
dx

com c3 sendo uma constante. Assim sendo, a (2.24) ganha a redação:

Px
u  C3 y  C1
ES (2.27)
Py
u  ν  C 3 x  C2
ES

onde C1 e C2 são constantes de integração (vide expressão (2.24) ).


No caso da vinculação apontada na Figura 2.3b), lembrando-se que o
engaste indicado não impede movimentos transversais, tem-se:

u(x  0, y  0)  0  C1  0
v(x  0, y  0)  0  C2  0 (2.28)
u(x  0, y  0)  0  C3  0

e, com isso, tem-se, nesse caso:

u  Px ES
(2.29)
u   νPy ES

sendo oportuno assinalar que o problema em tela, dentro das considerações


levantadas, está resolvido, pois as componentes do estado de deslocamentos são
dadas por (2.29), as do estado de deformação por (2.22) e as do de tensão por
(2.21) com A3  P 2S e A1  A 2  0 .
Outro caso interessante é o da flexão pura, conforme ilustra-se na Figura 2.4,
sendo esse caso resolvido com a função de tensão:

φ  Ay 3 (2.30)

sendo 𝐴 uma constante. Com efeito, o estado de tensão correspondente (vide 2.19)
é dado por:

σ x  6Ay (2.31)

com σ y  τ xy  0 .
61

1.0  
M M
c
x x
2c
y c y
 seção

a) Configuração da solicitação b) Configuração de tensões nas bordas

x v f
y

c) Configuração de deslocamentos

FIGURA 2.4 – Barra sob flexão pura

Por outro lado, a constante 𝐴 está relacionada com a magnitude do momento


fletor aplicado; porquanto, por considerações de equlíbrio, tem-se:

 (σ dS)y  M
S x
(2.32)

onde S é a área da seção transversal da viga, ou seja:

6A  y 2dS  M
S

M
A (2.33)
6I
I   y 2dS
S

sendo I o momento de inércia da seção transversal da viga. Com isso tem-se,


finalmente:

M
σx  y
I
σy  0 (2.34)
τ xy  0

o que confirma os resultados já preconizados pela Resistência dos Materiais. No


que respeita às componentes do estado de deformação, supondo-se material
obediente à lei de Hooke, têm-se:
62

σx M
εx   y
E EI
νσ νM
εy   x   y (2.35)
E EI
γ xy  0

e, finalmente, as componentes do estado de deslocamento podem ser encontradas


mediante um procedimento análogo ao já utilizado no caso anterior. De início tem-
se:

M
u yx  f1(y)  C1
EI (2.36)
νM y 2
v  f2 (x)  C2
EI 2

onde C1 e C2 são constantes de integração. Todavia, a terceira das (2.35), que


consiste na nulidade da distorção, implica em:

Mx df2 (x) df1(y)


  0 (2.37)
EI dx dy

ou seja, com base nas mesmas considerações já levantadas anteriormente, tem-


se:

Mx df2 (x)
  C3
EI dx
(2.38)
df1(y)
 C3
dy

onde C3 é uma nova constante de integração; ou, ainda, por integração de (2.38):

Mx2
f2 (x)  C3x 
2EI (2.39)
f1(y)  C3 y

e, com isso, a (2.36) fica, agora, com a seguinte redação:


63

M
u yx  C3 y  C1
EI
(2.40)
M  y2 x2 
v   ν    C3 x  C 2
EI  2 2

onde as constantes de integração C1 , C2 e C3 dependem do tipo de vinculação da


viga. Por exemplo, no caso de viga em balanço, conforme se exibe na figura 2.4c),
tem-se:

u(x  0, y  0)  0
v(x  0, y  0)  0 (2.41)
v(x  0, y  0)
0
x

ou seja, da primeira das (2.42) deduz-se C1  0 , da segunda C2  0 e da terceira


C3  0 . Assim sendo, nesse caso tem-se:

M
u xy
EI
(2.42)
M  x2 y2 
v  ν 
EI  2 2 

o que vem confirmar, mais uma vez, os resultados da Resistência dos Materiais com
relação ao movimento da linha de ordenada média dada por y  0 . Cabe ressaltar,
a propósito, que não deve causar estranheza o fato de ser nulo na linha média o
movimento u , porquanto, conforme reiteradas vezes mencionado, aborda-se o
assunto em teoria de pequenos deslocamentos (o movimento u dos pontos da linha
media é muito menor que o movimento v , e dessa forma é que deve ser entendido
esse valor nulo).

2.7.2 - Viga em Balanço

A Figura 2.5 mostra uma viga em balanço de largura unitária, altura 2c e


comprimento  , engastada numa extremidade e submetida a uma solicitação de
resultante P na extremidade livre. O engastamento da viga e o modo como a
solicitação é aplicada será assunto para um comentário posterior.
Em conformidade com a solicitação em pauta, as tensões no contorno devem
obedecer às seguintes condições (vide Figura 2.5).

a) para y  c e x qualquer se tem: σ y  τ xy  0


64

b) para x  0 e y qualquer (extremidade livre) tem-se σ x  0 e ainda:

τ
S xy
dS  P (2.43)

e tais condições podem ser obedecidas combinando convenientemente um


polinômio com termos do quarto grau com um de termos do segundo grau. No caso
em apreço a função de AIRY é dada por:

3P  xy 3 
φ  xy  2  (2.44)
4c  3c 

(é fácil constatar-se que o polinômio em questão constitui uma função de AIRY, pois
na variável 𝑥 a potência é unitária) e as tensões correspondentes por:

 2φ 3P
σx  2
  3 xy
y 2c
 2φ
σy  2  0 (2.45)
x
3P   y  
2
 2φ
τ xy    3 1    
xy 4c   c  
 

cabendo ser notado que as expressões (2.45) coincidem com as preconizadas pela
Resistência dos Materiais, uma vez que:

1(2c)3 2 3
I  c
12 3
ms  1(c  y)  y  (c  y) / 2 (2.46)
M  Px
V  P

c x
0
c

b 
P
y

FIGURA 2.5 – Viga em balanço


65

sendo I o momento de inércia da seção transversal, ms o momento estático da área


correspondente ao nível onde se calcula o cisalhamento, M e V , respectivamente,
o momento fIetor e a força cortante na seção em consideração.
Exibem-se na Figura 2.6 as tensões que ocorrem no contorno, para essa
solução apontada.

diagrama de
x
3 P
3 P 4 bc
4 bc c
x
3 P
y c 2 C2

diagrama de
xy  diagrama de
xy

FIGURA 2.6 – Tensões no contorno da viga em balanço

Cabe, neste ponto, esclarecer um aspecto de grande interesse prático. Na


solução apresentada o carregamento externo é dado por uma distribuição
parabólica de cisalhamento na face da extremidade livre, cuja resultante é P; todavia
há outras maneiras de aplicação do carregamento como, por exemplo,
cisalhamento uniforme num certo trecho da face da extremidade livre e de resultante
P. Esse carregamento promove em regiões afastadas tensões praticamente iguais
às do caso anterior. Tal constatação fundamenta-se no Princípio de Saint-Venant,
que garante a propagação limitada das perturbações locais do estado de tensão.
De um modo geral, são duas as maneiras de se enunciar esse Princípio.

Primeira Maneira: As tensões criadas por forças em equilíbrio -resultante nula-


aplicadas numa parte pequena de um corpo elástico desaparecem, praticamente,
numa extensão que tem por ordem de grandeza a dimensão da zona de aplicação
das forças. Como ilustração imediata dessa colocação tem-se o caso das tensões
criadas por uma ferramenta de corte, como mostra a Figura 2.7a). As tensões
criadas por uma turquesa ao se cortar um arame ficam restritas à região do corte
(não faz muito sentido uma propagação ilimitada, pois, se assim fosse, os danos
causados pelo corte se estenderiam por uma grande extensão). Cumpre, contudo,
chamar a atenção para a necessidade de se definir bem o que seja parte pequena,
conforme colocado no Princípio. As tensões criadas por momentos opostos
aplicados nas mesas de um perfil I, conforme se ilustra na Figura 2.7b), propagam-
se para dentro da peça, pois o perfil, nesse caso de seção delgada, comporta-se
como se as mesas fossem duas vigas independentes, e cada uma, isoladamente,
sujeita à flexão (a alma por ser também delgada apresenta pouca rigidez
transversal). Assim sendo a altura h do perfil não seria, nesse caso, uma dimensão
pequena, todavia a espessura d das mesas e a da alma.
Segunda Maneira: Substituindo-se um grupo de forças por outro estaticamente
equivalente -de mesma resultante- as variações criadas no estado de tensão
66

desaparecem, praticamente, numa extensão, cuja ordem de grandeza é de ordem


das da zona na qual foram aplicadas as forças.
Exemplifica-se essa segunda maneira de enunciar o Princípio com o caso do
ensaio de peças à tração. As castanhas da máquina de ensaio introduzem a tração
mediante pressões locais e forças de atrito, criando localmente, nas regiões de
engastes, tensões muito irregulares, conforme se ilustra na Figura 2.8a).

tôrques

arame M

d
h

a) Região tensionada no corte b) Definição de "parte pequena"

FIGURA 2.7 – Ilustração do Princípio de Saint-Venant (1º enunciado)

 = NS

d  = NS
d

d  = NS

 = NS

a) Tensões irregulares na b) Tensão uniforme de c) Tensão uniforme em ambos


extremidade com resultante resultante N= .S os carregamentos  = N/S
normal N
FIGURA 2.8 – Ilustração do Princípio de Saint-Venant (2º enunciado)

Na Figura 2.8b) a mesma tração é vista como uma solicitação aplicada segundo
tensão uniforme; e nesse caso a tensão é uniforme também no interior da peça,
conforme já visto anteriormente. Assim sendo, o Princípio de Saint-Venant garante
que em ambos os casos a tensão no interior da peça, conforme mostra a Figura
2.8c), é uniforme (se isso não ocorresse, os resultados obtidos em ensaios de tração
não teriam nenhuma validade).
Como se nota, o Princípio de Saint-Venant não permite uma definição muito
clara, e também não é possível prová-lo na sua generalidade; contudo sua
veracidade é constatada em inúmeros casos especiais de cálculo mais requintado.
Tais defeitos conceituais não diminuem em nada a utilidade do Princípio, pois ele
67

permite, por certas idealizações, tornar acessíveis ao cálculo problemas estruturais


bastante complexos.

2.7.3 - Viga Simplesmente apoiada

A viga mostrada na Figura 2.9 apresenta vão livre de 2 , altura 2c ,


espessura unitária, e a solicitação provém de uma carga uniformemente distribuída
aplicada na face superior.
As condições que o estado de tensão deve satisfazer no contorno da viga,
tendo em vista a colocação do sistema de referência indicado na Figura 2.9, são:

a) para y  c e x qualquer tem-se: τ xy  0


b) para y  c e x qualquer tem-se: σ y  q
c) para y  c e x qualquer tem-se: σ y  0
d) para x   (extremidades) tem-se:

 τ   q
S xy

 σ ds  0
S x
(2.47)

 σ ydS  0
S x

q q

c
q x q 2c
c y

  1,0

FIGURA 2.9 – Viga sobre dois apoios

onde S indica a área da seção. Convém ser notado que as integrais indicadas em
(2.47) correspondem, respectivamente, à força cortante, força normal e momento
fletor nas extremidades da barra.
As condições de contorno apontadas são satisfeitas por uma conveniente
combinação de termos de polinômios do segundo, terceiro e quarto graus. A função
de AIRY desse caso conduz ao seguinte estado de tensão:
68

q 2 q 2 2 
σx  (   x 2 )y   y 3  c2 y 
2I 2I  3 5 
q1 2 
σ y    y 3  c 2 y  c3  (2.48)
2I  3 3 
q 2
τ xy   
2I

c  y2 x

cabendo-se esclarecer que a primeira parcela da expressão de σ x corresponde à


já conhecida da Resistência dos Materiais. A segunda, conforme se percebe
facilmente, corresponde a um carregamento auto-equilibrado e, mais que isso, nos
casos onde   c a magnitude do valor correspondente é muito menor que o da
primeira; o que indica a validade prática da teoria técnica da flexão. O mesmo fato
ocorre com σ y , segunda das expressões (2.48). Finalizando, a expressão de τ xy
coincide com a preconizada pela Resistência dos Materiais.
São poucos os problemas práticos resolvidos de maneira explícita como até
aqui analisado. Em verdade, a solução geral de equações diferenciais parciais são
transcendentes, uma vez que o contorno contempla uma infinidade de pontos e, em
decorrência, uma infinidade de constantes de integração. Em consequência,
apenas soluções aproximadas via integração numérica são viáveis; a exemplo do
método das diferenças finitas, método dos elementos finitos, dos elementos de
contorno, entre outros.

2.8 - TORÇÃO LIVRE

Para simplificar a exposição, considere-se, por exemplo, uma barra de seção


qualquer, porém constante ao longo do comprimento, sujeita a uma solicitação por
torção, conforme se ilustra na Figura 2.10. Nessa situação, tudo indica ser plausível
supor que, dentre as componentes do estado de tensão, apenas as componentes
τ xy e τ xz , conforme sistema de referência apontado na figura, tenham valores não
nulos, sendo as demais nulas em qualquer ponto da barra. Tal consideração faz
sentido, pelo menos à primeira vista, pois o exame do equilíbrio de uma parte da
barra mostra que a resultante das tensões atuantes na seção da barra consiste
apenas num momento torçor, igual e de sentido contrário ao do aplicado na
extremidade.
Pois bem, em se tratando de material elástico, linear, homogêneo e isótropo,
aquelas considerações implicam em algumas restrições no estado de
deslocamentos. Em primeiro lugar, pelo fato de serem nulas as tensões normais, ou
seja: σ x  σ y  σ z  0 , tem-se:
69

u
εx  0
x
v
εy  0 (2.49)
y
w
εz  0
z

e com isso percebe-se que o movimento u não varia com x , v com y e w com z
, ou seja:
u  u(y, z)
v  v(x, z) (2.50)
w  w(x, y)

mas, por outro lado, as componentes de distorção ficam então:

u(y, z) v(x, z)
γ xy  
y x
u(y, z) w(x, z)
γ xz   (2.51)
z x
v(y, z) w(x, z)
γ xz   0
z y

y (v)
Mt

z (w) x (u)

Mt

FIGURA 2.I0 – Barra de seção qualquer submetida à torção

e mais, tendo-se em vista que em todas as seções o momento torçor solicitante é o


mesmo, torna-se também plausível supor que τ xy e τ xz não variam com x , ou seja,
γ xy e γ xz não variam com x . Assim sendo, de (2.51) constata-se algo de grande
interesse. Com efeito, da primeira de (2.51) tira-se que v(x, z) dx é uma função só
70

de z , pois γ xy não varia com x ; do mesmo modo, da segunda de (2.51) tira-se que
w(x, y) x é uma função só de y . Com relação à terceira de (2.51) duas situações
são possíveis, ou seja: ou v(x, z) dz  C e w(x, z) dy  C , onde C é uma
constante; ou então v(x, z) dz  f(x) e w(x, y) dy  f(x) ,onde f(x) é uma função
exclusiva da variável x . O primeiro caso não faz sentido pois, por exemplo,
v(x, z) dz é, por força de considerações anteriores, uma função exclusiva de z ,
ou seja, v é do tipo:

v  xf(z)

e, assim sendo, v(x, z) z  x df dz e, por isso, não pode ser constante. Dessa
forma só resta como situação possível o segundo caso, e mesmo assim com df dz
resultando constante. Esclarecendo melhor:

v df(z)
x  Kx
z dz
(2.52
w df(z)
x  Kx
y dz

onde K é uma constante. Em resumo, o estado de deslocamento tem por


componentes funções do tipo:

u  F(y, z)
v  Kxz (2.53)
w  Kxy

finalizando assim a parte cinemática da torção.


O problema em estudo é colocado de uma forma mais clássica, tendo-se em
vista as duas últimas de (2.53), mediante a consideração de rotações elásticas
relativas, onde K é a rotação relativa por unidade de comprimento, denominada
doravante de 𝜃. Ilustra-se essa colocação na Figura 2.11. Considere-se, de início,
um ponto genérico " A " , distante " x " de uma dada seção em consideração. Após
a rotação θx , ou seja, sob efeito de um momento torçor, o ponto " A " passa a
ocupar uma posição A´ . Pois bem, em se tratando de pequenas rotações, ou seja,
ângulo θx pequeno (para se ter uma ordem de grandeza, θx  5π 180 ), é lícito
escrever-se:

v  rθx cos α  θxz


(2.24)
w  rθx s enα  θxy
71

onde r é a distância do ponto A ao centro de rotação e α o ângulo que r faz com


eixo z . Para maior facilidade algébrica, o movimento u é expresso na forma:

u  θψ(y, z) (2.55)

e não como expresso na primeira das (2.53). Sendo oportuno registrar que a função
ψ(y, z) expressa o empenamento da seção.
As componentes não nulas do estado de deformação, com base nas
expressões (2.54) e (2.55), passam a ser expressas por:

A V
 seção
A' x
W

z

FIGURA 2.11 – Configuração de deslocamentos na rotação elástica

u v  ψ 
γ xy    θ  z
y x  y  (2.56)
u w  ψ 
γ xz    θ  y
z x  z 

e as correspondentes componentes do estado de tensão ganham a seguinte


redação:

 ψ 
τ xy  Gγ xy  Gθ   z
 y 
(2.57)
 ψ 
τ xz  Gγ xz  Gθ   y
 z 

sendo G o módulo de elasticidade transversal. Assim sendo, resta, agora, buscar


duas relações de modo a permitir a determinação das duas incógnitas em jogo, ou
72

seja, θ e ψ(y, z) , lembrando-se, todavia, que as relações entre as componentes do


estado de deslocamentos e as do de deformação já foram utilizadas; o mesmo
acontecendo com as relativas à lei de Hooke. Assim sendo, resta, no fundo, lançar
mão de equações de equilíbrio: uma interna, ou seja, uma condição nas variações
das tensões, e outra relativa ao equilíbrio entre as tensões internas e o esforço
torçor aplicado.

2.8.1 - Equação de Equilíbrio Interno

A Figura 2.12 mostra um elemento infinitesimal da barra, onde aparecem as tensões


atuantes nas faces do paralelepípedo elementar. Cabe ressaltar, conforme
considerações anteriores, que as tensões cisalhantes não variam com a variável
longitudinal x . Assim, são indicados apenas os diferenciais correspondentes às
variações segundo Ox , Oy e Oz . Pois bem, o equilíbrio segundo Ox implica em:

xy
xy + y
dy
y

xy xz xz


x dx

dy
z
xy seção

xy
xz xz
xz+ z dz

FIGURA 2.12 – Configuração de tensão num volume elementar

 τ   τ xy 
τ xz dxdy  τ xy dxdz   τ xz  xz  dxdy   τ xy   dxdz  0 (2.58)
 z   y 
 

ou seja, cancelando os termos comuns tem-se:

τ xy τ xz
 0 (2.59)
y z

ou, ainda, tendo-se em vista (2.57), essa expressão ganha a seguinte redação:
73

2ψ 2ψ
 2 0 (2.60)
y 2 z

sendo que no contorno da seção transversal, a equação diferencial (2.59), ou (2.60),


deve obedecer às condições aí impostas ao estado de tensão, ou seja, a
componente de cisalhamento normal ao contorno deve ser nula, por força do
teorema de CAUCHY, porquanto na face externa da barra supõe-se não haver
solicitação. A Figura 2.13 exibe uma seção transversal genérica, onde se indica a
configuração de tensão no contorno. Tomando, para o contorno, uma coordenada
curvilínea s , a componente de cisalhamento normal ao contorno é dada por

__ xy y
xy
s
cos (m) = dz
ds
xz seção
_ sen (m) = - dy
y ds
xz
__ ds

dy
_
z m
z m
dz

a) Configuração de tensão no contorno b) Configuração geométrica


no contorno
FIGURA 2.13 – Condições de contorno

dz dy
τ  τ xy  τ xy  τ xz 0 (2.61)
ds ds

que consiste na transformação de coordenadas do sistema Oyz para um sistema


Oyz com o eixo Oy normal ao contorno (vide Figura 2.13a) ), onde o sinal negativo
do segundo termo indica, no caso em questão, o fato de y decrescer com o
aumento da coordenada s , conforme se ilustra na figura 2.13b). A expressão (2.61),
tendo em vista (2.57), passa a escrever-se:

 ψ  dz  ψ  dy
  z   y 0 (2.62)
 y  ds  y  ds
74

encerrando-se assim a formulação cinemática do problema, pois a função ψ(y, z)


expressa deslocamento.

2.8.2 - Equação de Equilíbrio Externo

Supondo-se a barra sujeita a uma solicitação por momento torçor Mt , o


equilíbrio de uma parte genérica da barra, tendo em vista a configuração de tensões
apontada na Figura 2.14, implica em:

Mt   (τ
S xz
y τ xy z)dS (2.63)

y
s

xy
seção
dS
dy
xz z
dz
y
z

FIGURA 2.14 – Configuração de tensão na seção

ou ainda, tendo-se em vista (2.57):

 ψ ψ 
Mt  Gθ  y z  y 2  z 2 dS (2.64)
S z y
 

resultando:

Mt
θ (2.65)
GIt

onde:
75

 ψ ψ 
  z y  y z  y
2
It   z2 dS (2.66)
S

sendo It comumente denominado momento de inércia à torção.


Além da equação de equilíbrio (2.63) duas outras devem também ser
satisfeitas em decorrência do fato de o esforço cortante ser nulo, ou seja:

Vy  τS xy
dS  0
(2.67)
Vz  τ xz
dS  0
S

ou, ainda, tendo-se em vista (2.57):


 ψ 
S  y  z dS  0
(2.68)
 ψ 
S  z  y dS  0
e, para finalizar, cumpre esclarecer que o problema da torção está, agora,
equacionado, visto que a solução da equação diferencial (2.60), cuja condição no
contorno se expressa em (2.62), levada em (2.64), permite obter a rotação por
unidade de comprimento em função do momento torçor; além disso, levados tais
resultados em (2.54), (2.55), (2.56) e (2.57) encerrando-se assim a formulação em
questão.

2.8.3 - Função de Tensão da Torção

A exemplo da simplificação alcançada na elasticidade plana com a função de


AIRY, aqui também é possível lançar mão de artifícios analíticos de modo a
simplificar a solução do problema. De fato, definindo-se uma função φ(y, z) tal que:

φ
τ xy  
z
(2.69)
φ
τ xz 
y

verificando-se, de imediato, que a equação de equilíbrio interno (2.59) fica


automaticamente satisfeita, porquanto recai-se numa subtração de derivadas
mistas, ou seja:
76

τ xy  2φ

y zy
(2.70)
τ xy  2φ

z yz

Por outro lado, tendo-se em vista (2.57) e (2.69), têm-se ainda:

τ xy  2φ   2ψ 
   Gθ  1  
z z 2  yz 
(2.71)
τ xz  2φ   2ψ 
  Gθ  1  
y y 2  zy 

ou seja:

2φ  2φ
 2  2Gθ (2.72)
z2 y

que consiste na equação diferencial envolvendo a função de tensão da torção.


Tendo-se em conta agora (2.69), a condição de contorno expressa em (2.61) ganha
a seguinte redação:

φ dz φ dy
 0 (2.73)
z ds y ds

e verifica-se que a expressão (2.73) exprime, em verdade, a condição:


0 (2.74)
ds

ou seja, a condição de contorno, agora em termos da função φ , exprime-se na


forma de φ constante no contorno ( dφ ds  0 implica em φ = constante no
contorno s ). Tendo-se em vista que as grandezas de interesse em jogo dependem
de derivadas da função φ , é natural arbitrar-se um valor nulo no contorno para tal
função; o que permite simplificar a parte numérica do problema.
A condições expressas em (2.67) ficam também obedecidas, pois, por
exemplo:

φ
Vz  
S
τ xz dS  
S y
dS (2.75)
77

ou seja:

z2  y2 φ 
Vz    
z1 y1 y
dy dz

(2.76)

onde y 1 , y 2 , z1 e z 2 são coordenadas genéricas do contorno; porém:

y2 φ
 y1 y
dy  φ(y 2 )  φ(y1)  0 (2.77)

pois, no contorno, φ , conforme já mencionado, é constante. De modo similar


verifica-se a nulidade da força cortante na direção y ( Vy  0 ) que consiste na
primeira das (2.67).
Para finalizar, levando, agora, (2.69) em (2.63) tem-se:

 φ φ 
Mt    y y 
S
z dS
z 
(2.78)

mas, por outro lado:

φ z2  y2 φ 
 S y
ydS    
z1 y1 y
ydy dz

(2.79)

porém, integrando por partes, tem-se:

y2 φ y y2
y1 y
ydy  φy  2 
y1 y1
φdy (2.80)

na qual:

y
φy  2  0 (2.81)
y1

quando se considera φ nulo no contorno. Com isso tem-se que:

φ
S y
ydS    φdS
S
(2.82)

e de modo similar tem-se também:


78

φ
S z
zdS    φdS
S
(2.83)

e, assim sendo, a expressão (2.78) permite escrever:

Mt  2 φdS (2.84)


S

e assim, nessa nova formulação, o problema da torção de barras de seção


constante qualquer consiste na procura de uma solução da equação diferencial
(2.72), cuja condição de contorno se expressa pela nulidade da função no contorno
(equação de LAPLACE). Essa formulação é denominada método dos esforções,
pois a incógnita φ está relacionada diretamente com tensão, como explicita a
expressão (2.69).

2.8.4 - Primeiro Exemplo de Aplicação

Considere-se, por exemplo, o caso da torção de barra de seção circular, cuja


solução já se conhece da Resistência dos Materiais. Trata-se, aqui, apenas de
constatar que aquela solução é correta sob todos os aspectos.
A equação da circunferência que define o contorno, como ilustra a Figura
2.15a), é dada por:

y 2  z2  R2  0 (2.85)

sendo R o raio, e assim,, se função de tensão da torção φ for expressa por:

φ  K(y 2  z 2  R 2 ) (2.86)

seus valores, como se percebe facilmente, anulam-se no contorno do círculo de raio


R , conforme se ilustra na figura 2.15a). Levando (2.86) em (2.72) tem-se:

2K  2K  2Gθ (2.87)

ou seja, a constante K nesse caso é dada por:


K (2.88)
2

E assim, tendo-se em conta (2.86) a expressão (2.84) ganha a redação:

 πR 4  πR 4
Mt  Gθ  (R2  y 2  z 2 )dS  Gθ  πR 4    Gθ (2.89)
S
 2  2
79

y y

xy
R xz R


z z

a) Seção b) Configuração de tensão

FIG. 2.15 – Seção circular de raio R


ou ainda:

2Mt Mt
θ = (2.90)
πGR 4 GIt

onde:

πR 4
It  (2.91)
2

que consiste no momento de inércia à torção da seção circular.


As tensões de cisalhamento correspondentes à solução apresentada são
dadas por:

φ  2Mt 
τ xy     4 
z
z  πR 
(2.92)
φ  2Mt 
τ xz   y
y  πR 4 

podendo-se verificar com certa facilidade, que a tensão resultante apresenta


direção perpendicular ao raio e é proporcional a este, conforme hipótese da
Resistência dos Materiais, como ilustrado na Figura 2.15b).
Cabe, para finalizar, examinar o que sucede em termos do empenamento,
ou seja, qual a função ψ correspondente. Pois bem, em face de (2.57) e (2.92) tem-
se:
80

2Mt  ψ 
τ xy   z  Gθ   z
 y
4
πR  (2.93)
2Mt  ψ 
τ xz  y  Gθ   y
 z
4
πR 

cuja integração conduz, respectivamente, a:

2Mt yz
ψ  yz  f1(y)  C1
πR 4 Gθ (2.94)
2Mt yz
ψ  yz  f2 (z)  C2
πR 4 Gθ

onde f1(y) e f2 (z) são funções exclusivas das variáveis apontadas, e C1 e C2 são
constantes de integração. Pois bem, um exame das expressões (2.94) leva,
respectivamente a concluir, ainda, que:
ψ  f1(y)  C1
(2.95)
ψ  f2 (z)  C2

porquanto as somas das duas primeiras parcelas são identicamente nulas (note-se,
a propósito, o expresso em (2.90)). Obviamente a única solução viável em face de
(2.95) é a condição ψ constante na seção, que pode ser:

ψ(y, z)  0 (2.96)

ou, em outras palavras, no caso da seção circular, a torção não promove


empenamento. Convém esclarecer que as hipóteses da Resistência dos Materiais
levaram à solução desse particular problema por causa dessa propriedade.
Todavia, para outras seções uma imposição na distribuição das tensões não
apresenta sucesso, dada a complexidade real de tal distribuição (de certa forma, a
ocorrência de empenamento dificulta visualizar uma plausível distribuição de
tensão).
Outros dois casos com solução analítica explícita são a seção elítica, cuja
função de tensão da torção é dada por:

 z2 y2 
φ  K  2  2  1
a b 

resultando:
81

πa3b3
It 
a2  b2
πab2
Wt 
2

considerando-se b o raio menor; e a seção em forma de triângulo equilátero, cuja


função de tensão da torção é expressa por:

 z 2  y 2 z 3  3xy 2 2a2 
φ  Gθ    
 2 2a 27 

sendo a a altura do triângulo, o sistema de referência com origem no centro de


gravidade do triângulo e eixo Oy paralelo a uma dos lados do triângulo. Cumpre
assinalar que a função de tensão da torção nesse caso é o produto das equações
das retas segundo os lados do triângulo. Os parâmetros de torção são então:

3a4
It 
45
2 3a3
Wt 
45

encerrando-se assim as possíveis soluções de analíticas de interesse prático em


forma fechada.
Para seções de forma diferentes destas abordadas a solução envolve o
concurso de integrações numéricas (diferenças finitas, elementos finitos e outros),
mas a chamada analogia de membrana, assunto a seguir, permite encontrar várias
soluções aproximadas expeditas.

2.8.5 - Analogia de Membrana

O problema da torção é, do ponto de vista puramente matemático, em tudo


parecido com o problema do equilíbrio de uma membrana sujeita à pressão; e por
essa razão existe uma analogia entre tais problemas.
A Figura 2.16 mostra uma configuração genérica de equilíbrio de uma
membrana sujeita a uma pressão interna 'p ' , onde h é a ordenada da superfície
apresentada pela membrana. No contorno a membrana encontra-se vinculada, ou
seja, no contorno tem-se h nulo. Pois bem, dentro da consideração de pequenos
deslocamentos ( h pequeno em face das dimensões da membrana) o equilíbrio da
membrana assim se expressa (vide fig. 2.16b) e c) ):
82

d /2
s
h
y  + d
dz
dy
z s s d /2
d /2 
s p
d
contorno pressão p
a) Membrana b) Elemento de membrana c) Vista lateral
FIGURA 2.16 – Configuração de equilíbrio de membran

dθ dθI
pdzdy  2sdysen  2sdzsen (2.97)
2 2

onde s é a força por unidade de comprimento da membrana, suposta constante,


dθ e dθI são os ângulos contidos entre os raios de curvatura segundo os planos
xz e xy . Em se tratando de pequenos deslocamentos têm-se ainda:

h
θ
z
h
θI 
y
(2.98)
sendθ dθ 1  2h
  dz
2 2 2 z 2
sendθI dθI 1  2h
  dy
2 2 2 y 2

e, com isso a expressão (2.97) permite escrever:

2h 2h p
 2  (2.99)
y 2
z s

cabendo-se esclarecer que, nas deduções aqui apresentadas, as simplificações


decorrentes da consideração de pequenos deslocamentos são as seguintes: Em
primeiro lugar, da consideração de h pequeno decorre pequenas inclinações na
membrana, ou seja:
83

h
θ  senθ  tgθ 
z
h
θI  senθI  tgθI 
y

e, por outro lado, em sendo θ e θI ângulos pequenos tem-se também:

cos θ  cos θI  1

e, com isso, a projeção horizontal da área do elemento infinitesimal de membrana


dydz coincide com a área desse elemento. Para finalizar, cabe ainda ressaltar que
o sinal negativo nas duas últimas das (2.98) provem do fato de h decrescer,
respectivamente, com z e y , ou seja, as segundas derivadas de h são negativas;
lembrando-se de terem sido os ângulos considerados em primeira determinação na
equação de equilíbrio (2.97). Além disso, resta ainda chamar a atenção para o fato
de se considerarem verticais os raios de curvatura. A equação (2.99) é conhecida
como Equação de Laplace.
Tendo-se em vista a mesma natureza matemática das equações (2.99) e
(2.72), inclusive no que diz respeito às condições de contorno ( h  0 e φ  0 no
contorno), pode-se dizer que, a menos de um fator, as duas funções, h e φ , são
idênticas, ou seja:

h  Kφ (2.100)

onde K é um fator constante, cuja dimensão é área dividida por força ( h tem
dimensão de comprimento e φ tem dimensão de força por unidade de comprimento
pois a derivada de φ tem dimensão de tensão).
Essa analogia permite, mediante a experimentação com membrana de bolha
de sabão, cujas propriedades satisfazem a condições estabelecidas: s constante, e
no contorno não ocorrem perturbações de molhamento, obter os parâmetros de
torção It e Wt , que constituem os parâmetros geométricos da seção de interesse
no caso. Com efeito, de (2.84) e (2.100) tem-se:

2
Mt  2 φds 
K S
hdS (2.101)
S

ou ainda:

2V
Mt  (2.102)
K
84

onde V é o volume desenvolvido pela membrana deformada. Por outro lado, de um


exame de (2.99) e (2.72) deduz-se:

p
K (2.103)
2Gθs

e, com isso, (2.102) ganha uma nova redação, ou seja:

4V
Mt  Gθ (2.104)
p/s

ou ainda, tendo-se em vista (2.65):

Mt 4V
 It  (2.105)
Gθ p/s

ou seja, o momento de inércia a torção é igual a quatro vezes o volume desenvolvido


pela membrana dividido pela razão da pressão aplicada e a força por unidade de
comprimento da membrana, parâmetros estes passíveis de medição em laboratório.
Para encerrar a questão, resta agora estudar a relação existente entre as
tensões cisalhantes e os correspondentes parâmetros do problema da membrana.
Ilustra-se na Figura 2.17a) configuração de tensão num dado ponto da seção
transversal de uma barra, indicando-se a tensão cisalhante resultante nesse ponto.
Pois bem, a exemplo do expresso em (2.61) tem-se:

τ xy  τ xy cos α  τ xz senα (2.106)

ou, ainda, tendo-se em vista (2.69):

φ φ
τ xy   cos α  s enα (2.107)
z y

e, por outro lado, como os cossenos diretores são dados por:

z
cos α 
z (2.108)
y
senα  
z

o expresso em (2.109) permite a redação:

φ z φ y φ
τ xy     (2.109)
z z y z z
85

__
xy
 xy

_
xz y

z
_
z
FIGURA. 2.17 – Tensão cisalhante resultante

ou seja, a tensão de cisalhamento resultante é dada pela inclinação da função 𝜙,


com o sinal trocado, segundo a direção normal à da tensão resultante. Tendo-se em
vista (2.100) a (2.109) permite exprimir-se:

1 h β
τ xy   (2.110)
K z K

onde β é a inclinação da membrana segundo a direção Oz , ou, tendo-se em vista


(2.103) e (2.105):

β Mβ
τ xy  2Gθ  t (2.111)
p/s 2V

resultando-se:

Mt
τmax 
Wt
(2.112)
2V
Wt 
βmax

onde βmax é a maior inclinação verificada na superfície da membrana inflada.

2.8.6 – Segundo exemplo de aplicação

Considere-se, por exemplo, a função de tensão de torção:


86

 t2 
φ  K  y2   (2.113)
 4

que tem valor nulo para y   t 2 . Trata-se, por conseguinte, da solução de um


problema de torção de uma barra, cuja seção transversal é um retângulo de
comprimento, a rigor, infinito (vide Figura. 2.18a). Todavia, cabe ressaltar que tal
solução constitui uma boa aproximação para os casos de retângulos muito delgados
como o mostrado na Figura 2.18b), visto que o volume deslocado pela membrana
correspondente é praticamente o mesmo, tendo ou não o retângulo comprimento
infinito. Em verdade, as perturbações existentes nas extremidades do retângulo
comprido pouco alteram o resultado final e, mais que isso, as grandes inclinações
da membrana não ocorrem nas extremidades e sim ao longo das bordas mais
longas, como o sentimento indica.
Pois bem, levando (2.113) em (2.72) tem-se:

K  Gθ (2.114

e, com isso o expresso em (2.84) permite redigir:

c/2  t/2  2 t2   t3 c
Mt  2
 c / 2  t / 2
 Gθ  y   dy dz  Gθ (2.115)
  2   3

ou seja, nesse caso o momento de inércia à torção vale:

t 3c
It  (2.116)
3

y y
t/2

z t z t
c c

a) Retângulo de comprimento infinito b) Retangulo muito delgado


(t << c)

FIGURA 2.18 – Seção retangular delgada

e, com relação à inclinação, ou tensão de cisalhamento, tem-se:


87

φ
τ xz   2Gθy (2.117)
y

com o máximo cisalhamento ocorrendo, naturalmente, para y   t 2 e tendo-se


em vista (2.115) resulta:

3Mt
τmax  Gθt  2
(2.118)
t c

ou seja:

t2c
Wt  (2.119)
3

a exemplo de (2.112).
A solução aqui apresentada serve de base para resolver também os casos
de seção transversal formada por retângulos alongados, a exemplo do ilustrado na
Figura 2.19. Nesses casos, onde as perturbações criadas nas regiões de conexão
dos retângulos não introduzem alterações apreciáveis, os parâmetros podem ser
assim estimados:

1 n 3
It  t c
3 i 1 i i
(2.120)
1 n 2
Wt  t c
3tmax i 1 i i

FIGURA 2.19 – Seção aberta de parede delgada

onde n é o numero de retângulos na seção. Cumpre esclarecer que, na região de


maior espessura, o cisalhamento é máximo, porquanto nessa região a inclinação da
membrana é maior, daí a presença de tmax no denominador da segunda das (2.120).
88

3 - MÉTODO DA ENERGIA

3.1 – INTRODUÇÃO

O Método da Energia enquadra-se dentro da área de conhecimento da


Matemática Operacional no chamado Cálculo Variacional. Todavia, em conformi-
dade com o espírito do presente texto, o tratamento matemático mais requintado é,
aqui, contornado no intuito de não perturbar o leitor pouco familiarizado com as
costumeiras abstrações típicas da Matemática. Por outro lado, cabe esclarecer que
se procura substituir, no tratamento matemático, a abstração pela intuição, na
medida do possível.

3.2 - CONCEITOS FUNDAMENTAIS

Convém ressaltar, de início, que no estudo da estática e da instabilidade das


estruturas apenas duas manifestações de energia estão, por assim dizer, em jogo.
A primeira, relacionada com o trabalho das forças atuantes, é conhecida como
energia potencial das forças externas, e a segunda, relacionada com o trabalho das
forças reativas, é conhecida como energia de deformação. Por outro lado, pode-se
afirmar com base no Princípio da Conservação da Energia que, em qualquer
89

situação, a energia retirada de uma das manifestações passa a pertencer à outra.


Por exemplo, o trabalho produzido pelas forças atuantes segundo os
deslocamentos da estrutura acumula-se sob a forma de energia de deformação da
estrutura.
Para conceituar melhor a energia potencial das forças externas, considere-
 
se, por exemplo, o movimento de uma força P segundo um caminho elementar δd
, conforme se ilustra na Figura 3.1. O trabalho elementar produzido nesse
 
acontecimento é dado pelo produto escalar do vetor P pelo vetor δd , ou seja:
 
δT  P.δd (3.1)

d P

FIGURA 3.1 – Movimento elementar de uma força

sendo positivo o trabalho da força, ou seja, resultando positivo o produto escalar


indicado em (3.1), entende-se que a força perdeu potencial, o que, de certa forma,
indica que ocorreu uma diminuição na capacidade de trabalho da força. Assim,
chamando de  o potencial da força, tem-se:

δ  δT (3.2)

e essa colocação provém do fato de que toda força tem a sua razão na existência
de um campo, como, por exemplo, o gravitacional, e o trabalho positivo da força
corresponde, no fundo, a uma queda nesse campo.
Por sua vez, a energia de deformação origina-se, conforme já foi
mencionado, do trabalho das forças internas. É oportuno lembrar que as forças
internas não trabalham em movimentos de corpo rígido, uma vez que tais forças
são auto equilibradas (são ações e reações entre vizinhos). Assim, a energia em
consideração provém do trabalho realizado pelas forças internas segundo os
deslocamentos oriundos da deformação da estrutura. A energia de deformação, em
se tratando de material elástico linear (material obediente à lei de HOOKE), é dada,
como já exposto no primeiro capítulo, por:

1
2 V x x
U (σ ε  σ y ε y  σ z εz  τ x y γ x y  τ x z γ x z  τ yz γ yz )dV (3.3)

onde V é o volume da estrutura.


90

O Princípio da Conservação da Energia, tendo-se em vista haver apenas as


duas manifestações de energia em jogo, permite escrever:

δU  δ  0 (3.4)

onde a notação δ significa qualquer variação. Em outras palavras, no fenômeno de


deformação da estrutura pela ação de forças a energia total não se altera; o que
ganha de energia uma dada manifestação decorre da diminuição da outra. Nesse
ponto vale ressaltar que, no fenômeno em apreço, outras manifestações de energia
também intervêm. É o caso, por exemplo, de mudanças no estado interno do
material, manifestações térmicas, etc.; todavia tais manifestações apresentam
magnitudes desprezíveis na maioria dos casos da prática da engenharia.
Por outro lado, chamando a energia total de π , ou seja:

π U (3.5)

o princípio da conservação da energia passa a ser dado por

δπ  δU  δ  0 (3.6)

ou seja, o princípio da conservação da energia impõe condição estacionária para a


energia total. A condição de energia total estacionária, uma lei da natureza, serve
de suporte para a obtenção de soluções aproximadas e, mediante um tratamento
variacional, alcançar as condições de equilíbrio, e daí as soluções exatas. Todavia,
pretende-se, aqui, abordar apenas o procedimento que conduz às soluções
aproximadas, e, como já foi mencionado, deixar de lado os aspectos matemáticos
mais requintados. No intuito de facilitar o entendimento, a maneira de alcançar
soluções aproximadas, com base na condição estacionária da energia total, é
apresentada nos diversos exemplos de aplicação arrolados no que segue.

3.3 - PRIMEIRO EXEMPLO DE APLICAÇÃO

Para mostrar a maneira de se obter soluções aproximadas utilizando o


conceito expresso em (3.6), considere-se a viga em balanço sujeita a uma força
concentrada P na extremidade livre, mostrada na Figura 3.2. Pretende-se, por
exemplo, determinar uma elástica aproximada.
Com base na teoria técnica da flexão tem-se apenas o envolvimento de σ x
e ε x na energia de deformação, pois sabe-se que a parcela referente à energia de
deformação da força cortante (trabalho do cisalhamento) pode ser desprezada
porquanto tal parcela é, em geral, de pequena magnitude em comparação com a de
flexão, tendo-se portanto:

1
2 V x x
U σ ε dV (3.7)
91

Por outro lado, para a seção transversal na posição genérica x , e nela um


ponto distante y do eixo neutro, a teoria técnica da flexão (seção plana permanece
plana na deformação por flexão) prescreve:

u(x)   yv I (x) (3.8)

resultando:

du
εx    yvII (x) (3.9)
dx

e ainda em decorrência da lei de Hooke:

σ x  Eεx  EyvII (x) (3.10)

e portanto:

U
1
2V
1 
σ x εx dV  
2 0
  σ ε dS dx  21  E   y dS (v ) dx 
S x x

0 S
2 II 2

1 
2 0
EI(vII )2 dx
(3.11)

e assim, a energia de deformação fica expressa em termos da elástica, cuja solução


aproximada é procurada. Em (3.11) S é a área da seção transversal da viga e I o
seu momento de inércia; lembrando-se, igualmente, que o sistema de referência
Oxy indicado na Figura 3.2 tem origem no centro de gravidade da seção do
engaste, sendo que o eixo Ox alinha-se com o eixo da barra e Oy alinha-se com
um dos eixos principais de inércia da seção transversal, suposto contido no plano
do carregamento.
A energia potencial da força externa é, no presente exemplo, dada por:

  Pv(x   ) (3.12)

e, assim, com base em (3.11) e (3.12) tem-se:

1 
π  EI(vII )2 dx  Pv(x   ) (3.13)
2 0
92

y v(x)
 linha
elástica

FIGURA 3.2 – Viga em balanço

Pois bem, considere-se como primeira solução aproximada um polinômio do


segundo grau, ou seja:

v a  A 0  A1x  A2x2 (3.14)

com as condições de vinculação:

v(x  0)  0
(3.15)
v I (x  0)  0

Implicando-se em A0 e A1 nulos, ficando pois:

v  A2 x2 (3.16)

Levando-se, agora, a solução aproximada expressa em (3.16) na energia


total expressa em (3.13) tem-se:
1  4A2
π   EI(2A2 )2 dx  P(A22 )  EI 2   PA22 (3.17)
2 0 2

no caso com o produto EI constante ao longo da barra, ficando-se, pois, a energia


total em função apenas do parâmetro A2 , uma vez fixada a geometria da viga e o
carregamento. Nesse caso, a condição de energia total estacionária implica em:

π
δπ  δA2  0
A2
(3.18)
π
0
A 2

uma vez que 𝛿𝐴 é arbitrário, e não necessariamente nulo (acréscimo da variável


independente). Assim, no caso em apreço, tem-se:
93

π
 4EIA2  P2  0
A2
(3.19)
P
A2 
4EI

e com isso, a solução aproximada passa a ser expressa por:

P 2
va  x (3.20)
4EI

e os esforços internos correspondentes por:

a) momento fletor:
P
M  EIvII   (3.21)
2

b) força cortante:

V EIv III  0 (3.22)

e o valor da energia total fica:

P22
π (3.23)
8EI

encerrando-se assim essa solução aproximada.


Tomando, agora, como solução aproximada um polinômio do terceiro grau,
que obedece às condições de vinculação dadas em (3.15), tem-se:

v a  A2x2  A3 x 3 (3.24)

resultando-se na energia total:

1 
π  EI(2A2  6A3 x)2dx  P(A2 2  A 33 ) 
2 0
(3.25)
EI
(4A22   12A2 A 32  12A 233 )  P(A22  A 33 )
2

ficando-se, pois, a energia total função, agora, dos parâmetros A2 e A3 ; e, como a


condição de energia total estacionária deve ser atendida para qualquer variação,
então tem-se:
94

π π
δπ  δπ  δA 2  δA3  0 (3.26)
A2 A3

ou seja:

π EI
 (8A2   12A32 )  P2  0
A2 2
(3.27)
π EI
 (12A22  24A33 )  P3  0
A3 2

que, em forma matricial ganha a redação:

 4 6   A2  P 1
    (3.28)
 6 12  A3  EI 1

cuja solução é dada por:

P
A2 
2EI (3.29)
P
A2  
6EI

e, assim sendo, a função aproximada fica sendo dada por:

P 2 P 3
va  x  x (3.30)
2EI 6EI

e os esforços internos correspondentes ficam:

M  EIvII  P(   x)
(3.31)
V  EIvIII  P

que consiste na solução exata. A energia total se expressa:

P22
π (3.32)
6EI

ficando claro trata-se da energia total mínima ( -1/6<-1/8). Tal fato se explica tendo-
se em vista que o problema em questão trata-se do estudo de um equilíbrio estável,
ou, em outras palavras, o equilíbrio é atingido em condições de energia total mínima.
De fato, a segunda derivada de π em relação à A2 a primeira de (3.27) e em
95

ralação à A3 a segunda, tem-se:

2 π
 4EI
A22
(3.33)
2 π
 4EI3
A23

resultando-se expressões positivas (condição de mínimo).


A título de ilustração exibem-se na Figura 3.3 os resultados alcançados com
as duas soluções estudadas. O exame dessa figura mostra que, em termos de
deslocamento (elástica), o polinômio do segundo grau já se mostra razoável;
contudo, em termos de esforços internos, deixa muito a desejar.

P
P P
3 3
Momento P/2 x 3EJ 4EJ
_
elástica
x

aproximado
Força + P
cortante exato
x zero

FIGURA 3.3 – Linhas Elásticas e diagramas de esforços solicitantes

Adotando-se, a título de curiosidade, como solução aproximada o polinômio


do terceiro grau acrescido de um termo de grau genérico n tem-se:

v a  A 2 x 2  A 3 x 3  An x n (3.34)

que conduz a:

1 
π  EI(2A 2  6A3 x  n(n  1)An )2 dx  P(A 22  A 33  Ann ) (3.35)
2 0

e a condição de energia total estacionária fica, então, expressa por:


96

π 1 
  2EI(2A2  6A3 x  n(n  1)Anxn  2 )2dx  P( 2 )  0
A2 2 0
π 1 
  2EI(2A2  6A3 x  n(n  1)Anxn  2 )6xdx  P( 3 )  0 (3.36)
A2 2 0
π 1 
  2EI(2A2  6A3 x  n(n  1)Anxn  2 )n(n  1)xn  2dx  P( n )  0
A2 2 0

Resultando-se, pois, no seguinte sistema de equações:

 
4 6 2n  A  1
2
   P  
6 12 6(n  1)   A3   1 (3.37)
EI
 n2 (n  1)2  An  1
(n  2)
2n 6(n  1)   
 2n  3 

cuja solução se expressa:

P
A2 
2EI
P
A3   (3.38)
6EI
An  0

em outras palavras, o acréscimo de um termo na solução exata em nada a modifica.


Aproveitando-se ainda o estudo em apreço, é oportuno salientar que um exame das
expressões (3.35) e (3.38) permite concluir que a energia total é igual à metade da
energia potencial das forças, ou seja:

P
π (A22  A33  Ann ) (3.39)
2

e essa propriedade torna mais fácil a obtenção, como se pode perceber, do valor
da energia total.

3.4 - SEGUNDO EXEMPLO DE APLICAÇÃO

Exibe-se na Figura 3.4 uma viga simplesmente apoiada sujeita a uma força
uniformemente distribuída q . Para tal viga procura-se, no que segue, estudar
algumas elásticas aproximadas.
Em primeiro lugar, a expressão da energia total, em termos da elástica, é
agora dada por:
97

1  

2 0 
π EI(vII )2 dx  qvdx (3.40
0

y v (x)
linha elástica

FIGURA 3.4 – Viga sobre dois apoios sob força uniforme

sendo que, no tocante à parcela da energia de deformação, tendo-se em vista a não


consideração da contribuição da energia de deformação por força cortante, não
ocorre mudança. Todavia, a parcela do trabalho das forças externas é facilmente
compreendida, pois o produto qdx fornece a resultante da força distribuída ao longo
do trecho elementar dx e assim, o produto dessa resultante pelo deslocamento v
ocorrido nesse ponto fornece o trabalho aí produzido; a soma, ou integração, de
todos eles fornece o trabalho total das forças externas.
Tomando, de início, como solução aproximada um desenvolvimento do tipo:

v a  A 0  A1x  A2 x2 (4.41)

e impondo-se as condições de vinculação:

v a (x  0)  0
(4.42)
v a (x   )  0

que correspondem a deslocamentos nulos nas extremidades, tem-se:

v a  A2 (x2  x) (3.43)

e a condição de energia total estacionária conduz, nesse caso, a:

π 1  
  2EI(2A 2 )2dx   q(x 2  x)dx (3.44)
A2 2 0 0

ou seja:

q3
4EIA2  0 (3.45)
6
98

resultando-se:

q2
A2   (3.46
24EI

e com isso, a solução aproximada (4.41) passa a escrever-se

q2
va  ( x  x 2 ) (3.47)
24EI

e os esforços internos correspondentes dados por:

q 2
II
M  EIv 
12 (3.48)
III
V  EIv  0

e finalmente, a energia total fica sendo dada, a exemplo do expresso em (3.39), por:

1  q25
2 0
π qA 2
(x 2
  x)dx   (3.49)
288EI

Tornando-se agora como nova solução aproximada um desenvolvimento do


terceiro grau satisfazendo as condições de contorno (4.42), ou seja:

v  A2 (x 2  x)  A3 (x3  2 x) (3.50)

a condição de energia total estacionária passa a ser dada, agora, por:

π  
  EI(2A 2  6A3 x)2dx   q(x 2  x)dx  0
A2 0 0
(3.51)
π  
  EI(2A 2  6A3 x)6xdx   q(x   x)dx  0
3 2

A3 0 0

ou seja:

 4 6   A 2  q2 1 6 
     (3.52)
 6 12  A3   EI 1 4 

cuja solução resulta:


99

q
A2  
24EI (3.53)
A3  0

𝐴 =0

ou seja, essa solução aproximada é a mesma já encontrada anteriormente.


Continuando, considere-se como solução aproximada um desenvolvimento
do quarto grau:

v a  A 2 (x2  x)  A3 (x3  2x)  A 4 (x 4  3 x) (3.54)

na qual as condições de contorno (4.42) já estão atendidas, e assim, a condição de


energia estacionária implica em:

4 6 8   A2   1/ 5 
   q 2  
 6 12 18   A 3    EI  1 / 4  (3.55)
 8 18 28.8 A 4 2   
   3 / 10 

cuja solução é dada por:

A2  0
q
A3   (3.56)
12EI
q
A4 
24EI

resultando-se pois:

q 2  2 2 1 
va   (  x  x 3 )  2 (x 4  3 x) (3.57)
24EI    

que constitui a solução exata encontrada na teoria técnica da flexão. Os esforços


internos ficam então dados por:

II q 2 x x 2
M  EIv  (  )
2  2 (3.58)
q x
V  EIvIII  (1  2 )
2 
100

e a solicitação dada por:

q  EIv IV  q (3.59)

e finalmente, a energia total passa a ser dada pelo produto vetorial:

 
 0 
 
1 1  q3 q 4 3q5   q  q25
π        (3.60)
2 2  6 4 10   12EI  240EI
 q 
 24EI 

cabendo-se notar que menor que o expresso em (3.49), como era de se esperar.
Para finalizar o presente exemplo de aplicação confrontam-se na Figura 3.5
os resultados encontrados com as soluções estudadas. Basicamente, as
observações de caráter prático que se pode tirar de um exame dos resultados
lançados nessa figura são as mesmas já levantadas no exemplo anterior. Cabe,
ainda, acrescentar que a pesquisa de polinômios de grau acima de quatro conduz
à mesma solução já encontrada com o polinômio do quarto grau, a exemplo do que
já se constatou no exemplo anterior.

aproximado
exato
Elástica Momento

q4 q2
96 EJ 12
q2
q4 q 8
76,8 EJ
Cortante q
q/2 +
_ zero zero
Solicitação
q /2

FIGURA 3.5 – Linhas Elásticas, esforços solicitantes e força externa

3.5 - TERCEIRO EXEMPLO DE APLICACÃO

Como terceiro exemplo de aplicação considere-se uma viga simplesmente


apoiada sujeita a uma força concentrada P no meio do vão, conforme mostra a
Figura 3.6. Pretende-se, aqui, a exemplo dos casos anteriores, estudar elásticas
101

aproximadas. Cabe adiantar que as soluções já adotadas no exemplo anterior são


aqui aproveitadas, visto que as condições de vinculação são as mesmas.

P
x

y
/2 /2

FIGURA 3.6 – Viga bi apoiada sob força concentrada

Toma-se como primeira solução novamente a função:

v a  A2 (x2  x) (3.61)

e, com isso, a energia total fica:

1   2 2
π    EI  2A2  dx  PA 2 (  )
2
(3.62)
2 0 4 2

e condição de energia total estacionária implica em:

P
A2   (3.63)
16EI

e, finalmente:

P
va  ( x  x 2 )
16EI
p
M
8
V0 (3.64)
q0
1  2 2 P2 3
π   PA2 (  )  
2 4 2 12EI

claramente uma aproximação grosseira.


Com a solução aproximada:

v  A2 (x 2  x)  A3 (x3  2 x) (3.65)

tem-se:
102

1  2  A22 3A33 
2 0  2
π EI  A (2)  A 3
(6x) 
 dx  P    (3.66)
 4 8 

e a condição de energia total estacionária implica em:

 4 6   A 2  P 1 / 4 
     (3.67)
 6 12  A3  EI 3 / 8

ou seja, o resultado encontrado conduz à mesma solução aproximada anterior.


Tomando agora, o desenvolvimento do quarto grau:

v a  A2 (x2  x)  A3 (x3  2 x)  A2 (x3  3 x) (3.68)

tem-se:

1  2  A 3A3 7A 4 
  
2
π EI  A 2
(2)  A 3
(6x)  A 4
(12x )  dx  P   2    (3.69)
2 0
 4 8 16 

e a condição de energia total estacionária conduz a:

4 6 8   A2   1/ 4 
   P  
 6 12 18   A 3    EI  3 / 8  (3.70)
 8 18 28.8  A 4 2   
    7 / 16 

cuja solução é dada por:

1.5P
A2 
96EI
15P
A3    (3.71)
96EI
7.5P
A2 2 
96EI

e assim, a solução aproximada em questão fica sendo dada por:

P 3   x 2 x   x 3 x  x 4 x 
va  1.5  ( )    15  ( )    7.5  ( )    (3.72)
96EI           

e os resultados de interesse ficam:


103

P  x x 
M  3  90  90( )2 
96    
P  x 
V  90  180( )
96   
(3.73)
P
q  1.875

1 A 3A 3 7A 4  P2  3
π    2     
2 4 8 16  97.52EI

ainda uma solução grosseira.


A Figura 3.7 exibe os resultados encontrados para os esforços internos ( M e
Q ) e solicitação ( q ), em confronto com os corretos dados pela teoria técnica de
flexão, acrescidos de resultados mais precisos encontrados com soluções de grau
mais elevado. É digno de nota que, apesar da extraordinária convergência
observada nos valores da energia total, o mesmo não se pode dizer com relação
aos esforços solicitantes; em particular da força cortante e solicitação. Tal fato se
explica, de certa forma, tendo em vista a descontinuidade existente nesses esforços
em contradição com a continuidade das funções aproximadas adotadas. Todavia
convém ressaltar que, no limite, tais descontinuidades serão alcançadas; dentro,
naturalmente, do conceito de funções limite (algo similar ao que ocorre com as
aproximações dadas por séries de FOURIER).
No intuito de contornar as perturbações inerentes às descontinuidades é
conveniente tomar como solução aproximada o concurso de duas funções nesse
caso, ou seja, no primeiro trecho, que vai de 0 a  / 2 (primeira metade) adota-se,
por exemplo, uma função do tipo:

v1  Ao  A1x  A2x2  A3 x3 (3.74)

e no segundo, que vai de  / 2 a  (segunda metade), uma função, por exemplo,


também do terceiro grau, ou seja:
104

Elástica Momento

P
3
P
3 P
4,92 P/4
48,8 EJ 48 EJ

P/1,07 Cortante
1,87P
+ P/2 
P/2 _
q 00
dx 0
P/1,07 qdx = P

FIGURA 3.7 – Linhas Elásticas, esforços solicitantes e solicitação

v1  AI0  A1I x  AI2 x2  AI3 x3 (3.75)

e de modo a aliviar o trabalho algébrico e eliminar a maioria dos parâmetros


incógnitos, em número de oito, impõe-se, de início, às duas funções as condições
de vinculação acrescidas de condições de continuidade no meio do vão, ou seja:

v1(x  0)  v 2 (x   )  0
v1(x   / 2)  v 2 (x   / 2)  0
vI1(x   / 2)  v I2 (x   / 2)  0 (3.76)
v (x   / 2)  v (x   / 2)  0
II
1
II
2

vII1 (x  0)  vII2 (x   )  0

sendo que a segunda, terceira e quarta de (3.76) exprimem a continuidade da


elástica, da inclinação e do momento fletor no meio do vão; já a quinta indica
momento fletor nulo nas extremidades da viga. Em forma matricial, o expresso em
(3.76) ganha a redação:

A 
1 0 0 0 0 0 0   0  0 
   A1   
0 0 0 1   2
 3
   0 
8 4 22 8 4 22 3   A 2    3 
     
 0 4 4 0 4 4 32 0  AI0   A3 32  (3.77)
0 0 2 0 0 0 0   AI   0 
   1  
0 0 0 0 0 2 6   AI   0 
0 0  2  
 2 0 0 2 3   I   3 
 A3 
105

cuja solução levada em (3.74) e (3.75) conduz a:

v 1  A3 (x 3  62 x / 8)
(3.78)
v 2  A3 (23 / 8  182 x / 8  3x2  x 3 )

ficando, pois, a energia total dada por:

  P  A    6  
3 3
1  /2 
 / 2  3    3  8 16  
2
π  EI(6A 3x)2 dx  EI A (6  6x) dx (3.79)
2 0
   

cuja condição de energia total estacionária implica em:

A3  P / 12EI (3.80)

resultando, pois, a seguinte solução para a elástica:

P 6 2 3
v1   xx 
12EI  8 
(3.81)
P  18 2 23 
v1   x  3x2  x3 
12EI  8 8 

e, em correspondência, aos seguintes resultados de interesse:

P
M1  x
2
P
V1 
2
P
M2  (   x) (3.82)
2
P
V2  
2
P2  3
π
96EI

verificando-se, assim, que a solução em apreço é aquela da teoria técnica da flexão.


Esse exemplo, de uma viga simplesmente apoiada solicitada por uma força
concentrada no meio do vão, evidencia, por meio das várias soluções estudadas,
um fato interessante, ou seja, a existência de descontinuidades deve ser tratada
com soluções também descontínuas, a exemplo dessa última, porquanto as
soluções contínuas, conforme pode ser constatado, apesar da boa convergência na
106

energia total, o mesmo não se verifica nos esforços internos, que apresentam
descontinuidade (a solução exata apresenta continuidade ao nível da elástica,
primeira e segunda derivadas; nos demais níveis apresenta descontinuidades).

3.6 - QUARTO EXEMPLO DE APLICAÇÃO

Estuda-se, no que segue, o problema da flambagem de uma coluna


comprimida por uma força P conforme ilustra-se na Figura 3.8a). Trata-se, também,
de um problema de procurar elásticas aproximadas.
De início, cabe esclarecer que, desprezadas as parcelas da energia de
deformação referentes à força cortante e força normal, de pequenas magnitudes,
tem-se:

1 
 
2
U
2 0
EI vII dx (3.83)

e, por outro lado, com relação à energia potencial do carregamento, torna-se


necessário introduzir algumas explicações adicionais.

u

 v
du
v' dx
x x 

y y dx

a) Coluna biapoiada b) Elástica característica c) Movimento vertical

FIGURA 3.8 – Caso simples de flambagem

Em primeiro lugar, dado que o problema de flambagem enquadra-se em


teoria de segunda ordem, a consideração da configuração deformada da coluna
constitui o ponto de partida.
Assim, na figura 3.8b) indica-se o movimento u , do ponto de aplicação da
força, decorrente da deformação da coluna por flexão. É oportuno assinalar que a
deformação da coluna por força normal em nada influi no estudo em andamento,
visto que não existe uma dependência entre o movimento apontado e o provocado
107

pela força normal; dentro, naturalmente, da consideração de pequenos


deslocamentos (em outras palavras, considera-se que  já seja o comprimento final
da coluna depois de processada a deformação por força normal).
Exibe-se na figura 3.8c) um elemento dx da coluna na posição inicial
(vertical) e o seu correspondente na posição deformada. O ângulo contido entre
eles é, com base na consideração de pequenos deslocamentos, a própria derivada
da deformada, pois:

v I  tgθ  senθ  θ (3.84)

para θ pequeno, ou seja, grosso modo θ  0.0873rd . Por outro lado, a configuração
geométrica permite escrever:

du  dx(1  cos θ)  dx(cos2 θ  sen2θ  (cos2 θ / 2  sen2θ / 2)) 


θ (vI )2 (3.85
dx(2sen2θ / 2)  2( )2  dx
2 2

e, assim sendo, a energia potencial da força passa a ser expressa por:

P  I2
2 0
  Pu   (v ) dx (3.86)

que consiste numa expressão de integração do quadrado na deformada.


Tomando-se, de início, como solução aproximada uma função do tipo:

v a  A2 (x2  x) (3.87)

em obediência às condições de vinculação, a energia fica expressa por:

1  
EI(2A2 )2 dx  P   A 2 (2x   )  dx 
2
π 
2  0 0 
(3.88)

e, assim, a condição de energia total estacionária implica no problema de autovalor:

3
4EIA 2  PA2 0 (3.89
3
cujo autovalor se expressa ( A 2  0 ):

12EI
P (3.90)
2

ou seja, a carga crítica aproximada correspondente apresenta um erro de


aproximadamente 24%; porém, deve-se ressaltar, contra a segurança. Em verdade,
108

as soluções aproximadas correspondem, no fundo, a uma introdução de vínculos,


uma vez que se leva em consideração apenas alguns graus de liberdade. Assim
sendo, não deve causar estranheza o fato de que, no método da energia, as
soluções aproximadas conduzem a forças críticas superiores ao valor correto. Outro
fato interessante diz respeito à variação da energia total com a variação de P . Vale
notar, por exemplo, que o valor de π anula-se quando P atinge o valor de P crítico;
dado, no caso por (3.90), porquanto:

 P 3 
π  A22 2EI  
 6 
(2.91)
 P 3 
δπ  2A2 2EI  0
 6 

e π tem sempre valores positivos para P menor que P crítico e valores sempre
negativos para P maior. De fato, no caso de P menor que P crítico a energia de
deformação deve ser maior que o potencial da força, pois trata-se de um problema
estável, ou seja, a estrutura não aceita, por assim dizer, uma situação deformada,
ao contrário do caso instável que ocorre com P maior que P crítico, onde a estrutura
entra em movimento , pois parte da energia potencial da força se transforma em
energia cinética.
Tomando como solução aproximada uma função do tipo:

v  A2 (x2  x)  A3 (x3  2 x) (3.92)

tem-se:

2
1  1 
π   EI(2A 2  6A3 x)2  P   A 2 (2x   )  A3 (3x2  2 ) dx (3.93)
2 0 2 0

e a condição de energia total estacionária implica em:

 P 3 P 4 
  4EI  6EI2   
A  0
 3 2   2    (3.104)
 P 4 8P5  A  0
 2  6EI
2
 12EI3   3   
 10 

cujos autovalores se expressam:


109

12EI
P1 
2 (3.95)
60EI
P2  2

valendo-se notar que a primeira raiz, ou valor de P crítico, não sofreu alteração em
relação à solução anterior; todavia dessa nova solução decorre um segundo valor
de P crítico.
A título de curiosidade, tomando como solução aproximada um
desenvolvimento do quarto grau, que obedece, além das condições de vinculação,
também condições mecânicas mais imediatas (momento nulo nas extremidades),
do tipo:

v a  A 4 (x 4  2x3  3 x) (3.96)

tem-se:

9.88EI
P (3.97)
2

cujo erro é de tão somente 0,13%.


Na Figura 3.9 confronta-se o modo de flambagem da solução em apreço com
o da solução exata.

9,88EJ
aprox. (Pc = )

2

v
exato (Pc =
2 EJ )

2

y senóide
x

FIGURA 3.9 – Modos de flambagem (Elástica)


110

3.7 - QUINTO EXEMPLO DE APLICAÇÃO

Considere-se o problema de flambagem da coluna indicada na Figura 3.10,


onde o produto de inércia EI no terço inferior da altura é 16 vezes o produto de
inércia do restante.
Em atenção à descontinuidade de seção, de maneira similar ao que foi feito
no terceiro exemplo de aplicação, toma-se como solução no terço inferior uma
função do tipo:
v1  A0  A1x  A2 x2  A3 x3 (3.98)

e no restante:

v 2  AI0  A1I x  AI2 x2  AI3 x3 (3.99)

e eliminam-se, de início, sete dos parâmetros incógnitos mediante a imposição de


condições de continuidade, vinculação e mecânicas mais imediatas, ou seja:

v1(x  0)  v 2 (x   )
v1(x   / 3)  v 2 (x   / 3)
vI1(x   / 3)  vI2 (x   / 3) (3.100)
v (x  0)  v (x   )  0
II
1
II
2

16vII1 (x   / 3)  vII2 (x   / 3)

resultando-se:

v 1  A3 (x 3  52 x)
(3.101)
v 2  A3 ( 8x 3  24x 2  182 x  23 )

EJ
2/3

x 16EJ
/3

y
111

FIG. 3.10 – Coluna de seção variável

ficando-se, pois, a energia total dada por:

π
1
2  /3
16 EI  6A3 x  dx 
0
2
/3


EI( 48A3 x  48A3 )dx 
(3102)

P 16
0
 /3
3A x
3
2
 5A3 2

2
dx  

 /3
( 24A3 x  48A3x  18A3 ) dx
2 2 2

ou seja:

π  117.33A233EI  9.35A235P (3.103)

cuja variação nula implica em:

12.5EI
P (3.104)
2

cujo erro em relação ao valor exato ( 11.1EI / 2 ) é da ordem de 13%. Será, então,
necessário prosseguir para uma solução mais apurada usando-se polinômios de
grau mais elevado.

3.8 - SEXTO EXEMPLO DE APLICAÇÃO

O presente exemplo de aplicação é dedicado ao estudo da flambagem da


coluna mostrada na Figura 3.11, cujo carregamento é dado por uma carga axial ρ
uniformemente distribuída ao longo da altura.
A energia total é, nesse caso, dada por:

1  
 x (vI )2 dx  dx 
   0
II 2
π EI(v ) dx  ρ   (3.105)
2  0 0   
112


FIGURA 3.11 – Coluna sob força axial distribuída

que obedece às condições de vinculação v(x  0)  0 , vI (x  0)  0 e à condição


mecânica vII (x  )  0 , tem-se:

π  6EIA233  0.75ρA236 (3.106)

cuja variação nula implica em:

EI
ρ8 (3.107)
3

e cujo erro em relação ao valor exato ( 7.83EI / 3 ) é da ordem de apenas 2%.

3.9 - SÉTIMO EXEMPLO DE APLICAÇÃO

Considere-se a chapa de espessura unitária, altura 2c e vão  , mostrada na


Figura 3.12 cujo carregamento é dado por uma força q horizontal uniformemente
distribuída ao longo da altura.
Trata-se, por conseguinte, de um problema de elasticidade plana que se
enquadra no estado plano de tensão. Assim sendo a energia total é dada por:

1
2 V x x
π (σ ε σ y ε y  τ xy γ xy )dV  q u(x  c, y)dS (3.108)
S

onde:
113

σ x  K1ε x  K 2ε y
σ x  K 2ε x  K1ε y (3.109)
τ xy  K 3 γ xy

com:

E
K1 
1  ν2
νE
K2  (3.110)
1  ν2
E
K3 
2(1  ν)

sendo E o módulo de elasticidade e ν o coeficiente de Poisson.

q

y
x

c c

FIGURA 3.12 – Chapa sob força horizontal uniforme

Assim, a expressão (3.108) escreve-se:

1
π
2 V
(K 1ε2x  2K 2εx ε y  K1ε2y  K 3 γ2x )dV  q u(x  c, y)dS
S

(3.111)

e, lembrando-se que:
114

u
εx 
x
v
εy  (3.112)
y
u v
γ xy 

y x
adotando-se como solução aproximada:

u  Ax2 y  By 2 x
(3.113)
v  Ay 3  Bx2 y

que satisfazem as condições de vinculação, ou seja, u  v  0 para y  0 , bem


como u y  0 para x  y  0 , tem-se:

εx  2Axy  By 2
εx  3Ay 2  Bx 2 (3.114)
γ xy  Ax 2  4Bxy

e com isso, a expressão (3.111) ganha a redação:

 8 2 3 3 2 2 5 6 2 2 3 3 
K1  A c   B c   2K 2  ABc  B c   
5

 9 5  5 9  
1   18 2 5 2 2 5 12   2 32  
π  K1  A c  B c   ABc3 3   K 3  A2c5  B2c33   (3.115)
2  5 5 9  5 9 
 1 1  
 q  Ac22  Bc3  
  2 3  

e a condição de energia total estacionária conduz a:

 16K1 3 36K1  
 α  α
 12K 2 12K1 3  
 9 5   α α  
 4K 3 5   5 9  
  α    A  q  α 
2

  5      2α  (3116)
  4K 1 8K 2 3    B  2  
 12K  α α  3 
12K1 3  5 9
 2
α α   
 5 9   4K 1 5 64K 3 3  
  α  α 
  5 9 
115

onde α  c /  .
A título de ilustração, tomando-se   c  100cm , E  21000kN / cm2 e
ν  1 / 3 , o sistema de equações (3.116) tem a seguinte solução:

A  3.45q108
(3.117)
B  4.89q108

e, assim, os resultados de interesse são dados por:

u  108 q(3.45x2 y  4.89y 2 x)


v  108 q(3.45y 3  4.89x2 y)
εx  108 q(6.9xy  4.89y 2 ) (3.118)
ε y  108 q(10.35y 2  4.89x2 )
γ xy  108 q(3.45x2  19.56yx)

e ainda:

σ x  105 q(3.85x2  16.3xy  19, 7y 2 )


σ y  105 q(11.55x 2  5.43xy  28.3y 2 ) (3.119)
τ xy  105 q(2.72x2  15.4y 2 )

cujo erro é de grande magnitude. Para se ter uma ideia da precisão dos resultados
em unidades do sistema técnico, onde se adota E  2100tf / cm2 , exibe-se na
Figura 3.13 o carregamento encontrado em confronto com o dado, onde se nota
uma grande disparidade, especialmente nas regiões onde as tensões são nulas.
Vale assinalar que a busca por solução melhor não consiste, na prática, na adoção
de polinômios de ordem elevada, mas de separação da região de integração em
subdomínios (elementos finitos), e neles adotando-se polinômios de ordem menor
e adequados.

3.10 - OITAVO EXEMPLO DE APLICAÇÃO

Como último exemplo de aplicação do Método da Energia seja considerado


o problema de torção livre de uma barra de seção retangular de lados 2a e 2b ,
conforme ilustra-se na Figura 3.14.
A expressão da energia total é, nesse caso, dada por:

1
(τ γ  τ xz γxz )dV  Mtθ
2 V xy xy
π (3.120)
116

carregamento dado
carregamento encontrado

0,34q + 0,45q (y )

0,28q

0,18q + 0,18q (xy )

0,15q
0,18q 0,07q 0,40q 0,18q

+ + +

100cm
0,07q 0,01q y 0,17q 0,07q

x
0,03q 0,04q q 0,04q 0,03q
200cm
(xy) (x ) (x ) (xy )

FIGURA 3.13 – Confronto do carregamento dado com o encontrado

b
z

b y

a a

FIGURA 3.14 – Seção retangular

onde θ é a rotação por unidade de comprimento da barra e  o comprimento.


Sabe-se, por outro lado, que o estado de deslocamento é, nesse caso, dado
por:
117

u  θψ(y, z)
v  θxz (3.121)
w  θxz

bem como:

 ψ 
γ xy  θ   z
 y 
 ψ 
γ xz  θ   y
 z  (3.122)
 ψ 
τ xy  Gθ   z
 y 
 ψ 
γ xz  Gθ   y
 z 

e, dessa forma, a energia total passa a ser dada por:

Gθ2   ψ 
2
 ψ  
2

π
2 S  z   y  dS  Mtθ
  y   z (3.123)
 

cuja expressão envolve a função empenamento, bem como o giro por unidade de
comprimento, o comprimento da barra e o módulo de elasticidade da torção.
Tomando-se, por exemplo, como solução aproximada uma função do tipo:

ψ  Ayz (2.124)
tem-se:
Gθ2 
π (A  1)2  y 2dS  (A  1)2  z 2dS  Mtθ (3.125)
2  S S 

e, assim, a condição de energia total estacionária resulta:

16ab2 16a2b
2(A  1)  2(A  1) 0 (2.126
12 12

ou seja:

a2  b2
A (3.127)
a2b2

e assim, o momento de inércia à torção (vide expressão (2.66) ) correspondente é


118

então dado por:

 ψ ψ 
  z y  y z  y  z 2  dS   (A  1)y 2  (A  1)z 2 dS
2
It 
S S
 (3.128)
64a2b2

12(a2  b2 )

cujo erro para o caso de b  2a é da ordem de 16%, porquanto se tem It  8.53a4 ,


enquanto a solução exata é It  7.33a4 .

3.11 - COMENTÁRIOS FINAIS

O Método da Energia da maneira como apresentado não se mostra muito


interessante do ponto de vista computacional, pois não se vislumbra aí um
procedimento sistemático e absolutamente geral. Cabe lembrar, a propósito, que
nos casos de descontinuidade, há a necessidade de se adotar mais de uma função
dentro do domínio de integração, e, com isso, as condições de continuidade na
ligação dessas funções introduzem equações de natureza um tanto diferente
daquelas decorrentes da condição estacionária para a energia total. Para contornar
tais inconvenientes, e outros que não cabe aqui adiantar, foi desenvolvido nas
décadas de 60 e 70 do século passado o conhecido Método dos Elementos Finitos
que, no fundo, em uma de suas versões trata-se de uma sistematização bastante
engenhosa do Método da Energia.
Finalizando, convém assinalar, a bem da verdade, que as soluções bastante
simples aqui abordadas chamam a atenção para dois aspectos interessantes, quais
sejam: as descontinuidades do problema a ser tratado devem ser obedecidas pela
função aproximada; e o controle da convergência deve ser levado a efeito
examinando-se cada grandeza (momento fletor e força cortante) em particular. No
caso da maioria dos exemplos tratados, as condições de equilíbrio constituem bons
indicadores. Valendo-se assinalar que, de acordo com o que se pode constatar, a
medida da convergência da energia total nada indica à respeito da convergência
das outras grandezas.
119

4 - MÉTODO DAS DIFERENÇAS FINITAS

4.1 – INTRODUÇÃO

O Método das Diferenças Finitas, dentre os métodos de integração numérica


usuais, é sem dúvida o de conceituação mais simples, e, por essa razão, um dos
primeiros a ser formulado. Segundo alguns autores, o seu desenvolvimento
sistemático deve-se ao grande pensador LAGRANGE.
Em linhas gerais, o Método das Diferenças Finitas baseia-se na definição
geométrica de derivada, negligenciando-se a passagem ao limite do argumento.
Dessa forma, podem-se obter operadores de derivadas, que, aplicados a valores da
função incógnita, segundo a formulação Iagrangeana, permitem exprimir, de
maneira aproximada, as derivadas dessa função. A título de ilustração, considere-
se a função genérica f(x) mostrada na Figura 4.1a).
De acordo com a definição geométrica de derivada tem-se:

df(x) y  yi
y I (x  xi )   lim i  1 (4.1)
dx i hi  0 hi
120

y = f(x) y = f(x)

f(x)
f(x)

yi yi+1 yi+2
yi+1
yi

xi xi+1 x xi xi+1 xi+2 x


hi hi hi

FIGURA 4.1 – Conceito geométrico de derivada primeira e malha para


derivada segunda

Por outro lado, a consideração de hi finito, ou seja, sem a passagem no limite,


no quociente indicado exprime com certo grau de precisão, cuja magnitude é objeto
de menções dadas mais adiante, o valor da derivada dessa função. Cabe ressaltar
que o grau de precisão aumenta na razão inversa do espaçamento hi , como é fácil
de perceber da definição de derivada. Assim sendo é lícito escrever:

yi 1  yi
y I (x  xi )  y Ia  (4.2)
hi
Pois bem, de posse da relação (4.2) as derivadas de ordem superior podem
ser expressas, por via de consequência, de forma similar, como, por exemplo, o
caso da derivada segunda:

y Ii  1  y Ii
y II (x  xi )  yIIa  (4.3)
hi

onde no numerador figura, agora, a diferença de valores da derivada primeira. É


oportuno assinalar que, certamente, o nome Diferenças Finitas tem sua origem no
fato de que, a menos do fator 1 hi a derivada constitui uma diferença entre valores
discretos da função; com isso a diferença tem um valor finito, e não um infinitésimo
como seria na conceituação de derivada.
É fácil perceber-se que as derivadas de ordem superior podem ser colocadas
em termos dos valores da função. De fato, considere-se a função genérica mostrada
na Figura 4.1b), da qual se conhece, por exemplo, três valores distintos espaçados
igualmente por hi . Com base na expressão (4.2) é lícito que se escreva:
121

y i 1  y i
y Ii 
hi
(4.4)
y  y i 1
y Ii 1  i2
hi

E, assim sendo, tem-se:

y Ii  1  y Ii y  2y i  1  y i
y IIi (x  xi )   i 2 (4.5)
hi h2i

Convém notar que, para exprimir a derivada segunda em função dos valores
da função, introduz-se uma aproximação adicional, ou seja, as derivadas primeiras
foram substituídas por expressões já aproximadas (vide (4.4)).
O procedimento até aqui seguido caracteriza-se pelo fato de se estimar a
derivada num dado ponto a partir do conhecimento do valor da função nesse ponto
e em seus vizinhos situados no sentido crescente da variável x ; disso decorre a
formulação de operadores ditos ascendentes. Todavia é possível formular outros
operadores a partir da ideia básica de se colocar a derivada em termos de diferença
em outras configurações de vizinhança, gerando-se assim operadores
descendentes, onde os vizinhos situam-se no sentido decrescente da variável x , e
os centrais, onde os vizinhos rodeiam o ponto de consideração.
Conforme já mencionado, os operadores de diferença exprimem com certo
grau de precisão as derivadas; e, assim sendo, é de grande interesse prático
quantificar esse grau de precisão. Para tanto, o desenvolvimento de funções em
série de Taylor, assunto de fácil exposição, é a seguir apresentado

4.2 – SÉRIE DE TAYLOR E ORDEM DO ERRO

A teoria das séries de Taylor foi sem dúvida uma revolução na chamada
matemática operacional, afinal ela permitiu pela primeira vez na história da
matemática explicitar de maneira exata, além das funções trigonométricas, muitas
outras funções.
Em verdade a série de Taylor é uma expansão polinomial tendo por base o
valor da função e de suas derivadas em um determinado valor da variável, em
especial para o valor nulo da variável, da mesma forma como ocorre com qualquer
polinômio.
Por exemplo, considere-se um polinômio genérico do tipo:

p  x   C0  C1x  C2 x 2  C3 x3  C4 x 4  ... (4.6)

onde Ci são as constantes do polinômio. Suas derivadas sucessivas são expressas


por:
122

d
p  x   pI (x)  C1  2C2 x  3C3 x 2  4C4 x 3  ...
dx
d
2
p  x   pII  x   2C2  6C3 x  12C4 x2  ...
dx (4.7)
d
3
p  x   pIII  x   6C3  24C4 x  ...
dx
d
4
p  x   pIV  x   24C4  ...
dx

onde o numeral romano como expoente indica o nível de derivação. Assim sendo,
para valor nulo da variável x tem-se de imediato:

p  x  0   C0  0!C0  p0
pI  x  0   C 1 1!C1  pI0
pII  x  0   2C2  2!C2  pII0
(4.8)
pIII  x  0   6C3  3!C3  pIII0
pIV (x  0)  24C4  4!C4  pIV
0

.........

e com isso o polinômio (4.6) ganha a seguinte escrita:

x1 x2 x3 x4
p  x   p0  pI0  pII0  pIII0  pIV
0  ... (4.9)
1! 2! 3! 4!

Em outras palavras, conhecendo-se a função polinomial e suas derivadas para o


valor nulo da variável x, por exemplo, o polinômio acha-se determinado, pois existe
uma relação direta desses valores com as constantes do polinômio, e essa
propriedade vale para qualquer que seja o grau do polinômio.
A expressão (4.9) permite, por exemplo, escrever:

h2 h3 h4
y i 1  yi  y Iih  yIIi  yIIIi  yIV
i
 ...
2! 3! 4! (4.10)
h2 h3 h4
y i 1  y i  y Iih  y IIi  y IIIi  yIV
i
 ...
2! 3! 4!

o que permite redigir as seguintes expressões


123

y i 1  y i y II y III
y I (x)   y Ii  i h  i h2  ....
h 2! 3!
III
y  y i 1 2y
y I (x)  i 1  2yIi  i h2  ... (4.11)
h 3!
y  2y i  y i 1 2y iVI 2
y II (x)  i 1  y II
i
 h  ...
h2 4!

permitindo-se, pois, formular os seguintes operadores de diferenças finitas


explicitando-se a ordem do erro:

y i 1  y i y IIi
y Ii   h  ....  o(h)
h 2!
y  y i 1 yIIIi 2
y Ii  i 1  h  ...  o(h2 ) (4.12)
2h 3!
II y i 1  2y i  y i 1 2y iVI 2
yi   h  ...  o(h2 )
h 2
4!

evidenciando-se que o operador central de primeira derivada:

y i  1  y i 1
y Ii  (4.13)
2h
e o operador central de segunda derivada:

y i 1  2y i  y i 1
y IIi  (4.14)
h2
apresentam erro de segunda ordem, e, consequentemente, ao serem aplicados em
relações diferencias resultam, coerentemente em conjunto, igualmente erros de
segunda ordem.
Os operadores de diferenças finitas (4.13) e (4.14) que expressam derivadas
em termos de valores da função na vizinhança são denominados lagrangeanos
centrais de passo duplo. Todavia existem também operadores de diferenças finitas
mais gerais denominados operadores de diferenças finitas hermitianos, como
mostrado a seguir, apenas a título de exemplificação.
Considere-se para tanto os seguintes desenvolvimentos:
h2 h3 h4
y i 1  yi  y Iih  yIIi  yIIIi  yIV
i
 ...
2! 3! 4! (4.15)
I h2 h3 I h
4
y i 1
 yIi  y IIi h  yIIIi  yIV i
 y i
 ...
2! 3! 4!
124

os quais permitem obter um operador de diferenças finitas hermitianas de terceira


ordem como segue:

y III 3
y i  ay i  1  byIi  cy Ii  1  0  (h ) (4.16)
12

ou seja:

1 a  0
1  ch  bh  0 (4.17)
1
 ch  0
2

resultando a  1, b   1 2h , c   1 2h , sendo pois o operador em questão


expresso por:

h
y i 1  y i  (y Ii  y Ii 1 ) 0 (4.18)
2

que consiste no clássico operador trapezoidal empregado na integração de


equações diferencias da dinâmica das estruturas, por exemplo. Cumpre assinalar
que os operadores são obtidos anulando-se os termos da combinação até a ordem
desejada como explicitado em (4.17).
No que se segue são apresentados vários exemplos de aplicação
empregando-se apenas operadores de diferenças finitas centrais lagrangeanos
(4.13) e (4.14), por serem de mais fácil manipulação e envolver apenas o entorno
próximo com erro de aproximação de segunda ordem, exigindo-se a consideração
de apenas dois pontos fora do domínio de integração como ilustrado nos próprios
exemplos.

4.3 - PRIMEIRO EXEMPLO DE APLICACÃO

Como primeiro exemplo de aplicação do Método das Diferenças Finitas, via


operadores de passo duplo centrais lagrangeanos considere-se o problema de
determinação da elástica de uma viga em balanço sujeita a uma força concentrada
P na extremidade livre, conforme se ilustra na Figura 4.2a).
Da teoria técnica da flexão sabe-se que a relação momento-curvatura assim
se expressa:

M
vII   (4.16)
EI

sendo M o momento fletor, E o módulo de elasticidade e I o momento de inércia


da viga em apreço.
125

P
1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 6
x v x x
y elástica /2 /2 /2 /2 /3 /3 /3 /3 /3

a) Viga em balanço b) Primeira malha (h=  /2) c) Segunda malha (h=  /3)

FIGURA 4.2 – Viga em balanço e malhas adotadas

Para a vinculação indicada tem-se:

v(x  0)  0
(4.17)
v I (x  0)  0

Como primeira solução toma-se para o espaçamento h o valor  2 , e, por


via de consequência, considera-se a malha regular indicada na Figura 4.2b). Assim,
as condições dadas em (4.15) implicam em:

v2  0
v 3  v1 (4.18)
0

onde na segunda de (4.18) emprega-se o operador de diferença central (4.13).
Por outro lado, a condição (4.16) levada nos pontos 2, 3 e 4 implica em:

v1  2v 2  v 3 P

  2 EI
2

v 2  2v 3  v 4 P
 (4.19)
  2 2EI
2

v 3  2v 4  v5
0
  2
2

Desta feita, o sistema de equações formado por (4.18) e (4.19) resolvido, no


que interessa, resulta:
126

v2  0
v 3  P3 8EI (4.20)
v 4  P 2.67EI
3

A título de curiosidade, v 4 apresenta um erro de 12% em relação ao valor


exato P3 3EI .
Com a malha indicada na Figura 4.2c), onde o espaçamento é h   3 tem-
se:

v2  0
(v 3  v1 ) / (2 / 3)  0
(v1  2v 2  v 3 ) / (  / 3)2  P / EI
(4.21)
(v 2  2v 3  v 4 ) / ( / 3)2  2P / EI
(v 3  2v 4  v5 ) / ( / 3)2  P / 3EI
(v 4  2v5  v 6 ) / ( / 3)2  0

cuja solução é:

v2  0
v 3  P3 / 18EI
(4.22)
v 4  P3 / 5.4EI
v 5  P3 / 2.84EI

Nesse caso o erro contido no deslocamento v 5 da extremidade livre é de


apenas 5%. Com base no fato de que o erro contido nos operadores é da ordem do
quadrado do espaçamento, é possível, então, achar uma melhor estimativa para o
deslocamento da extremidade livre (extrapolação de Richardson), dado que este
ponto está contido nas duas malhas estudadas. De fato, com a primeira malha (
h   2 ) tem-se:

P 3 o( 2 )
v5   (4.23)
2.67EI 4

e com a segunda malha ( h   3 ) tem-se:

P 3 o( 2 )
v5   (4.24)
2.84EI 9
127

Das relações (4.23) e (4.24) conclui-se:

0.161P3
o( 2 )   (4.25)
EI

e, assim sendo, de (4.23) conclui-se:

P 3 ( 0.161P3 ) P 3
v5    (4.26)
2.67EI 4EI 2.99EI

que constitui uma aproximação do deslocamento da extremidade livre altamente


mais precisa, ou seja, apresenta erro da ordem de 0,3%.

4.4 - SEGUNDO EXEMPLO DE APLICAÇÃO

Considere-se, agora, o problema da determinação da força de flambagem da


coluna indicada na Figura 4.3a).

P
5 6
/2 /3
5
4
/3
/2 4
 3 /3
3
/2
2 /3
x 2
/2 /3
1 1
y

a) Coluna b) Primeira malha (h=  /2) c) Segunda malha (h=  /3)

FIGURA 4.3 – Flambagem de coluna e malhas adotadas

A equação diferencial que governa o equilíbrio da coluna em questão é dada


por:

v II  (P EI)v  0 (4.27)

e as condições de vinculação são dadas por:

v(x  0)  0
(4.28)
v(x   )  0
128

A solução com a malha de espaçamento h   2 indicada na Figura 4.3b),


implica no problema de autovalor:

v2  0
v4  0
(v1  2v 2  v 3 ) / (  / 2)2  (P / EI)v 2  0 (4.29)
(v 2  2v 3  v 4 ) / (  / 2)  (P / EI)v 2  0
2

(v 3  2v 4  v 5 ) / (  / 2)2  (P / EI)v 2  0

cujo autovalor decorre de:

0 1 0 0 0
 
0 0 0 1 0
det  1 α 1 0 0  0 (4.30)
 
0 1 α 1 0
0 0 1 α 1

onde

P 2
α 2 (4.31
4EI

resultando:

α  0 (4.32)

ou seja:

P  8EI 2 (4.33)

cujo erro em relação ao valor exato π2EI 2 é da ordem de 19%.


A solução correspondente à malha indicada na Figura 4.3c), cujo
espaçamento é de  3 , implica em:
129

0 1 0 0 0 0
 
1 α 1 0 0 0
0 1 α 1 0 0
det  0 (4.34)
0 0 1 α 1 0
0 0 0 1 α 1
 
0 0 0 0 1 0 

onde

P 2
α 2 (4.35)
9EI

resultando-se, pois:

α2  1  0 (4.36)

cujas raízes são ±1 e, portanto de (4.35):

9EI
P1 
2 (4.37)
27EI
P1  2

sendo o erro na primeira raiz da ordem de 9%. A segunda raiz, segunda carga de
flambagem, não será aqui objeto de exame por se tratar de uma espécie de efeito
colateral no aumento da precisão da carga de flambagem. Lançando-se mão do
critério de correção já mencionado no exemplo anterior (extrapolação de
Richardson), que também se aplica a autovalores, uma vez que o equilíbrio
expresso em (4.27) é redigido em diferenças finitas com erro de ordem o(h2 )
independente do valor de P , tem-se:

8EI o( 2 )
P 
2 4
(4.38)
9EI o( 2 )
P 2 
 9

cuja solução implica em:

9.798EI
P (4.39)
2
130

com erro, agora, de apenas 0,7%.


Vale assinalar que o modo de flambar obtido numericamente é igual ao modo
de flambar exato fornecido pela teoria de Euler nesse caso, pois o equilíbrio
numérico de (4.27) se expressa:

v i 1  (2  α)v i  v i  1  0 (4.40)

sendo α  Ph2 EI , e a equação de diferença (4.40), que relaciona a função v em


posições diferentes da variável, tem por solução:

v n  Aλn (4.41)

a qual substituída em (4.40) e eliminando-se os termos comuns resulta:

λ2  (2  α)λ  1  0 (4.42)

cujas raízes:

2
2α 2  α
λ1,2     1 (4.43)
2  2 

são complexas para 0  α  4 que é o domínio naturalmente esperado para malhas


refinadas, ou seja:

2
2α 2  α
λ1,2   i 1   (4.44)
2  2 

sendo i a unidade imaginária, ou ainda em forma polar:

λ1,2  ρe  θi (4.45)

onde

2 2
2  α 2  α
ρ    1   1
 2   2  (4.46)
2
4α  α
Tgθ 
2α

e a solução da equações de diferença (4.40) ganha então a seguinte redação:


131

vn  Aenθi  Benθi (4.47)

Impondo-se agora à solução (4.47) as condições de contorno, ou seja:

vn0  0  A  B
(4.48)
v n  m  0  Aemθi  Bemθi

resulta, tendo-se em conta fórmula de Euler:

 
v m  A emθi  emθi  2Aisen(mθ)  0 (4.49)

implicando-se mθ  0, π, ...nπ e modo de flambagem (4.47) com a redação:

 
v n  A enθi  enθi  2Aisen(nθ)  Csen(nθ) (4.50)

ou seja, o modo de flambagem resultante da aplicação do método da diferenças


finitas nesse caso é exato (função senoidal); e isso é uma garantia adicional de que
o autovalor (carga crítica) obtido pelo método das diferenças finitas apresenta
também segunda ordem de convergência, uma vez que as três últimas de (4.29)
apresentam erro de segunda ordem.

4.5 - TERCEIRO EXEMPLO DE APLICACÃO

Considere-se o problema da flambagem de coluna sujeita a um


carregamento axial uniformemente distribuído ao longo da altura, conforme se
ilustra na Figura 4.4a).

Elástica 5 6
v
 /2 /3
5
4
 v /3
 x /2 4
M 3 /3
x 3
/2
2 /3
y 2
a) Coluna e carga b) Deformada
/2 /3
1 1

c) Primeira malha (h= /2) d) Segunda malha (h=  /3)

FIGURA 4.4 – Flambagem por força axial uniforme e malhas adotadas.

De início cabe deduzir a equação diferencial que governa o fenômeno de


flambagem em questão, o que é bastante simples. De fato, na Figura 4.4b) exibe-
132

se a configuração deformada da coluna juntamente com um trecho isolado, cujo


equilíbrio permite escrever:


M    ρ(v η  v)dη (4.51)
x

onde, no integrando, 𝜌 que é a carga vertical distribuída e v não variam com a


variável η Assim, de (4.51) deduz-se:


M  ρv(   x)  ρ v ηdη (4.52)
x

ou, ainda, por derivação:

MI  ρv I (   x)  ρv( 1)  ρv  ρv I (   x) (4.53)

Por outro, a relação momento curvatura permite também escrever-se:

MI  EIvIII (4.54)

respeitada, naturalmente, a convenção de sinal da teoria técnica da flexão. O


equilíbrio entre o momento externo, dado em (4.53), e o momento interno, dado em
(4.54) implica em:

ρ
vIII  (   x)vI  0 (4.55)
EI

que constitui a equação procurada. As condições de contorno, no caso, são:

v(x  0)  0
vI (x  0)  0 (4.56)
v (x  )  0
II

sendo que a última provém do fato de ser nulo o momento fIetor no topo, e as
primeiras são imposições da vinculação.
Todavia, é mais conveniente tratar o problema mediante a equação
diferencial:

ρ
φII  (   x)φ  0 (4.57)
EI

com as condições de contorno


133

φ(x  0)  0
(4.58)
φI (x  0)  0

onde se toma φ  v I .
Adotando-se a malha indicada na Figura 4.4c), as equações de diferenças
finitas ficam:

φ2  0
φ1  2φ2  φ3 ρ
 (   0)φ2  0
(  2)2
EI
φ2  2φ3  φ 4 ρ
 (    2)φ3  0 (4.59)
(  2)2
EI
φ3  2φ4  φ5 ρ
 (   )φ 4  0
(  2)2
EI
φ5  φ3
0

Constituindo-se em um problema de autovalor cuja solução implica em:

0 1 0 0 0
 
1 α  2 1 0 0
det 0 0 (α  4) 2 1 0  0 (4.60)
 
0 0 1 2 1
0 0 1 0 1

onde

α  ρ3 4EI (4.61)

resultando-se α  2 , ou seja:

8EI
ρ (4.62)
3

cujo erro em relação ao valor exato 7.837EI 3 é da ordem de 2%. Por outro lado,
com a malha indicada na Figura 4.4d), tem-se que o determinante, da matriz do
sistema, a ser anulado, será agora:
134

0 1 0 0 0 0
 
1 β  2 1 0 0 0
0 1 2β 3  2 1 0 0
det  0 (4.63
0 0 1 β 32 1 0
0 0 0 1 2 1
 
0 0 0 1 0 1

onde β  ρ3 9EI , resultando:

ρ1  7.91EI 3
(4.64)
ρ1  46.09EI 3

cujo erro da primeira raiz em relação à solução exata é de tão somente 0,93%, não
tendo significado físico a segunda raiz. Todavia, refinando o resultado (extrapolação
de Richardson), de modo similar aos exemplos anteriores, com base nas relações:

ρ  8EI 3  o( 2 ) 4
(4.65)
ρ  7.91EI 3  o( 2 ) 9

tem-se:

7.838EI
ρ (4.66)
3

cujo erro já é da insignificância de 0,013%.

4.6 - QUARTO EXEMPLO DE APLICAÇÃO

Estuda-se, agora, o problema da flexão de segunda ordem da coluna


mostrada na Figura 4.5a), onde se leva em consideração a flexão adicional
introduzida pela força normal.
135

5 7
P P
/2 6
/4
4
5
/4
/2 /4
q q v 3 4
 /2 3
/4
elástica
x
2
2
/4
/2 /4
1 1
y

a) Coluna e carregamento b) Deformada c) Primeira malha d) Segunda malha


(h= /2) (h= /4)
FIGURA 4.5 – Flexão em segunda ordem e malhas adotadas

Nesse caso o momento externo é agora dado, conforme se ilustra na Figura


4.5b), por:

q
M  Pv  ( x  x 2 ) (4.67)
2

e o momento interno dado pela relação momento curvatura.

EI
M (4.68)
v II

e combinando-se as equações (4.67) e (4.68) tem-se, finalmente a equação


diferencial que governa o comportamento da coluna, ou seja:

Pv q(x 2  x)
v II   (4.69
EI 2EI

om as condições de vinculação são dadas por:

v(x  0)  0
(4.70)
v(x  )  0

Adotando-se inicialmente a malha indicada na Figura 4.5 c), com


espaçamento  2 , tem-se:

2v 3 Pv 3 q
  (  2)2  (  2) (4.71)
(  2)
2
EI 2EI  
136

resultando-se, pois:

1
q 4  P 2 
v3   2   (4.72)
32EI  4EI 

e, assim sendo, o momento fletor no ponto 3 passa a ser dado por:

1
 2v 3  q2  P 2 
M3  EI  2 
 2   (4.73)
 (  2)  4  4EI 

A título de comparação, considere-se o caso onde a força normal é a metade


da carga crítica aproximada com essa malha, ou seja:

1  8EI 
P   (4.74)
2  2 

o expresso em (4.73) resulta:

q 2
M (4.75)
4

enquanto o valor correto é:

q 2
M  1.015 (4.76)
4

o que implica num erro de tão somente 1,5%. Considerando-se agora uma força
normal de 3/4 da força crítica a solução aproximada conduz a:

 q 2 
M  2  (4.77)
 4 

enquanto a exata é:

 q 2 
M  2.046   (4.78)
 4 

constatando-se, pois, um erro da ordem de 2%.


Tomando-se a malha indicada na Figura 4.5 d), de espaçamento  4 , tem-
se o seguinte sistema de equações:
137

α 1 0   v 3  3 / 128 
   q 4  
 1 α 1   v 4    4EI  4 / 128  (4.79)
 0 1 α   v5   
   3 / 128 

onde:

P2
α 2 (4.80)
16EI

cuja solução é dada por:

q 4  4 3α  2
v3     / (α  2)
4EI  128 128 
q  6
4
4α  2
v4     / (α  2) (4.81)
4EI  128 128 
q 4  4 3α  2
v5     / (α  2)
4EI  128 128 

A título de comparação, a exemplo do que foi feito na primeira solução, com


uma força normal igual à metade da força crítica tem-se:

q 2
M  1.013 (4.82)
4

enquanto o valor exato é de 1.015q2 / 4 , ou seja, o erro é da ordem de 0,2%. No


outro caso, força normal igual à 3/4 da força crítica, tem-se:

q 2
M  2.041 (4.83)
4

cujo erro em relação ao valor exato( 2.046q2 / 4 ) é de apenas 0,25%.


É oportuno assinalar que a ordem do erro na estimativa do momento fletor
não é aquela verificada na elástica e na força crítica, que no caso é da ordem de h2
, e daí carece de sentido um refinamento do momento com procedimento já levado
a efeito nos exemplos anteriores. Todavia os resultados encontrados já são mais
que precisos em termos práticos.
138

4.7 - QUINTO EXEMPLO DE APLICAÇÃO

Resolve-se, no que segue, o problema da flexão de uma barra sobre base


elástica (modelo Winkler), cujo esquema é mostrado na Figura 4.6 a). Cabe
esclarecer que a barra é solidária à base elástica, sendo a elasticidade da base
caracterizada por uma constante elástica definida por:

q
k (4.84)
v

suposta constante ao longo do comprimento, sendo q o carregamento distribuído.


Na Figura 4.6 b) exibe-se um elemento diferencial da viga sujeito às ações
externas e internas. Assim, as condições de equilíbrio implicam em:

dM
V
dx (4.85)
dV
 q  kv
dx

onde V é o esforço cortante na viga.

q
q
M M+dM
V

V+dV
 kv
dx

a) Viga sobre base elástica b) Configuração de equilíbrio

1 2 3 4 5 1 2 3 4 5 6 7

/2 /2 /2 /2 /4 /4 /4 /4 /4 /4

c) Primeira malha (h=  /2) d) Segunda malha (h=  /4)


FIGURA 4.6 – Viga sobre base elástica e malhas adotadas

Por outro lado, tendo em vista a relação momento curvatura e as relações


(4.85) tem-se então a equação diferencial:
139

k q
vIV  v (4.86)
EI EI

cuja integração deve apresentar solução obediente às condições de contorno:

v(x  0)  0
vI (x  0)  0
(4.87)
v(x   )  0
vII (x  )  0

Tomando-se, de início, a primeira malha indicada na figura 4.8c) ( h   2 ) e


adotando-se o operador de diferenças finitas centrais de derivada quarta com erro
de segunda ordem, ou seja:

v 1  4v 2  6v 3  4v 4  v5
v IV
i
 (4.88)
2 4
tem-se:

v2  0
v 3  v1  0
k 4 q 4
v1  4v 2  6v 3  4v 4  v5  v3  (4.89)
16EI 16EI
v 3  2v 4  v5  0
v4  0

cuja solução, no que interessa, é:

q 4  1 
v3    (4.90)
16EI  6  k / 16EI 
4

A título de ilustração numérica, tome-se, por exemplo, o caso onde


  120cm , q  43400N / cm , E  3.107 N / cm2 , I  3.103 cm4 e k  2604N . Com
esses dados tem-se de (4.90):

v 3  0.98cm (4.91)

cujo erro em relação ao valor exato 0,5086cm é da ordem de 80% (um senhor erro!).
Todavia, com a segunda malha ( h   4 ) indicada na figura 4.8d) tem-se:
140

v 3  0.34cm
v 4  0.64cm (4.92)
v 5  0.51cm

sendo que nesse caso v 4 apresenta um erro já da ordem de 20% em relação ao


valor exato. Por outro lado é possível se obter uma estimativa mais acurada da
flecha no meio do vão, a exemplo dos casos anteriores, ou seja:

v 4  0.98  o( 2 ) 4
(4.93)
v 4  0.64  o( 2 ) 16

obtendo-se

v 4  0.53cm (4.94)

cujo erro já é da ordem de apenas 4%.


Com relação à curvatura, também no meio do vão, tem-se:

0.34  2x0.64  0.51


vII3   6.88 2 (4.95)
(  / 4)2

com erro de 13,06%. Igualmente, corrigindo em (4.92) os valores de v 3 e v 5 com o


mesmo percentual relativo à flecha no meio do vão (100x(0,64-0,53)/0,53), tem-se:

0.28  2x0.53  0.42


v II3   5.71 2 (4.96)
(  4)2

cujo erro cai para 5% em relação ao valor exato 6.08 2 . Tendo em vista a relação
momento curvatura, deduz-se ser este também a ordem do erro relativo ao
momento fletor no meio do vão.

4.8 - OPERADORES DE ORDEM h2 PARA DERIVADAS PARCIAIS

Os operadores de derivadas ordinárias apresentados no item 4.2 permitem,


de maneira bastante imediata, obter operadores para derivadas parciais. De fato,
considere-se, por exemplo, uma função φ(x, y) , cujo valor é conhecido em 5 pontos
pertencentes à malha regular de espaçamento h , conforme ilustra-se na Figura 4.7
a).
Usando-se os operadores já apresentados tem-se no ponto 𝑖:
141

φ φ j  φl

x 2h
φ φk  φm

y 2h
(4.97)
2φ φl  2φ i  φ j

x 2 h2
2φ φm  2φ i  φk

y 2 h2
y y
h h h h
s
k P k O h

l i j h h
t l i j r
h h
m m
q n
h h h
u

x x
a) Operador da torção b) Operador de elasticidade

FIGURA 4.7 – Malhas para operadores de derivadas parciais

Assim sendo, o operador Laplaciano, ou harmônico, aplicado à função φ


passa a ser dado por:

2φ  2φ φl  2φi  φ j φm  2φi  φk


2φ   2   
x2 y h2 h2 (4.98)
1
(φl  φ j  φk  φm  4φi )
h2

De modo análogo, com a malha indicada na Figura 4.7 b), tem-se ainda os
seguintes operadores relativos às derivadas no ponto i:
142

 φ   φ 
   
 2φ  φ  y  j  y l φo  φn  φp  φq
  
xy x y 2h 4h2
 4φ  4φ  4φ
2

 φ  2

x 4

2 2 2 
x y y 4
 (4.99)

1 
 k l m 
n o p
20φ  8 φ  φ  φ  φ  2 φ  φ  φ  φ
i j q 
h4    φr  φs  φt  φu  
 

Para maior clareza na representação dos operadores apresentados utilizam-


se, usualmente, as chamadas moléculas matemáticas, ou seja:

0 1 0 
2 1  
  2
h  1 4 1 (4.100)
0 1 0 
 

 1 0 1 
2 1  
  2
h 0 0 0 (4.101)
 1 0 1
 

0 0 1 0 0
 
0 2 8 2 0
1 
 ( )  4  1 8 20 8
2 2
1 (4.102)
h  
0 2 8 2 0
0 0 1 0 0 

Com base nos mesmos conceitos de aproximação utilizados na dedução dos


operadores de derivadas, pode-se também deduzir operadores para integração.
Deixando-se de lado as deduções pertinentes, que são similares às apresentadas
para avaliação de derivadas, o operador de integração com erro de ordem h2 é
dado, em notação molecular, por:
143

1 2 2 ... 2 1 
 
2 4 4 ... 4 2 
c d h2  2 4 4 ... 4 2 
a c φdsdy  
4 ...

... ... ... ... ... 
(4.103)

2 4 4 ... 4 2 
 
 1 2 2 ... 2 1 

ou seja, a integração apontada é equivalente, a menos do termo h2 4 , a 4 vezes a


soma dos valores no domínio acrescida da soma dos valores nas quinas e mais
ainda 2 vezes a soma dos demais valores do contorno.

4.9 - SEXTO EXEMPLO DE APLICACÃO

Como exemplo de aplicação da utilização de operadores de diferença para


derivadas parciais considere-se, de início, o problema da torção livre de uma barra
de seção quadrada de lado ' a ' , sujeita a um momento torçor Mt . Trata-se, em
verdade, de determinar os parâmetros It e Wt , necessários, como se sabe, para
obtenção da rotação por unidade de comprimento e tensão de cisalhamento
máxima, respectivamente. As relações entre as grandezas em jogo são as
seguintes:

Mt
θ
GIt
(4.104)
M
τmax  t
Wt

onde G é o módulo de elasticidade transversal e θ é a rotação por unidade de


comprimento. Por outro lado, da teoria da torção livre têm-se as seguintes relações:
2φ  2φ
 2  2Gθ
x2 y
φ
τ xy  
dz (4.105)
φ
τ xz 
dy
Mt  2 φdS
S

sendo a primeira das (4.105) a equação diferencial da torção, cuja condição de


contorno consiste na nulidade de 𝜙 no contorno do domínio de integração; as
demais relações, uma vez conhecida a função, permitem determinar os parâmetros
144

procurados.
Considere-se inicialmente a malha indicada na figura 4.8 a). Nesse caso tem-
se apenas uma incógnita, que é a função φ no centro da seção. Assim, em termos
de diferença, a equação da torção se expressa:

y y

a/4
a/2 3 2
A a/4
1 1
a/4
a/2
a/4
z z
a/2 a/2 a/4 a/4 a/4 a/4

a) Primeira malha (h= a/2) b) Segunda malha (h= a/4)

FIGURA 4.8 – Torção livre e malhas adotadas

4φ1 / (a / 2)2  2Gθ (4.106)

ou seja:

φ1  0.125Gθa2 (4.107)

e, com isso, a tensão de cisalhamento no ponto A fica:

φ 4φ1
τ xy     Gθa / 2 (4.108)
dz 2(a / 2)

cujo erro em relação ao valor exato é da ordem de 50%. Cabe esclarecer que, na
estimativa da derivada indicada na expressão, utilizou-se o operador de diferenças
ascendentes de ordem h2 , dado por:

1
y Ii 
2h
 3y i  4yi 1  yi 2  (4.109)

Da quarta das relações (4.105), tendo em vista o operador de integração


expresso em (4.103), tem-se:

(a / 2)2
Mt  2 (4φ)  0.0625θa4 (4.110)
4
145

cujo erro em relação ao valor exato ( 0.141Gθa4 ) é bastante elevado (mais de 100%).
Com a malha indicada na figura 4.10b e tendo em vista a simetria existente
tem-se:

( 4φ3  2φ2 ) / (a / 4)2  2Gθ


(2φ3  4φ2  φ1 ) / (a / 4)2  2Gθ (4.111)
2
(4φ2  4φ1) / (a / 4)  2Gθ

cuja solução é dada por:

φ1  0.141Gθa2
φ2  0.109Gθa2 (4.112)
φ3  0.0859Gθa2

e assim, no ponto 𝐴 tem-se:

1
τ xy  (4φ2  φ1 )  0.59Gθa (4.113)
2(a / 4)

cujo erro em relação ao valor correto 0.678Gθa já é da ordem de 13%. Da quarta


das relações (4.105) juntamente com o operador de integração (4.103) resulta:

 (a / 4)2 
Mt  2  (16φ3  16φ2  φ1 )  0.115Gθa4 (4.114)
 4 

cujo erro em relação ao valor exato, já mencionado, é da ordem de 18%.


Procedendo, agora, um refinamento no valor de φ1 (extrapolação de
Richardson)) tem-se:

φ1  0.125Gθa2  o(h2 ) / 4
(4.115)
φ1  0.141Gθa2  o(h2 ) / 16

e com isso, o valor mais exato da função φ(x, y) no centro da seção fica:

φ1  0.146Gθa2 (1.116)

e, assim, aplicando o mesmo percentual de correção nos demais valores da malha


de espaçamento a / 4 tem-se:
146

φ2  0.113Gθa2
(4.117)
φ3  0.0889Gθa2

Como tais valores da função φ o valor mais correto dos parâmetros de


interesse fica:

τ xy  0.61Gθa (4.118)

cujo erro em relação ao valor correto já cai para 9% e

Mt  0.119Gθa4 (4.119)

com erro agora de 15%. Para finalizar, é oportuno assinalar que, adotando-se uma
malha com espaçamento 𝑎/6, e os resultados refinados, a ordem do erro cai para
menos de 1%. Todavia, com os resultados apontados em (4.118) e (4.119) tem-se,
tendo em vista (4.104), os seguintes valores para It e Wt :

It  0.119a4
(4.120)
Wt  0.19a3

sendo que no valor de Wt o erro é da ordem de 7% ao contrário de τmax dado em


(4.118) com 9% de erro ( Wt exato é 0.208a3 ). Convém notar que a solução
encontrada com o método das Diferenças Finitas já evidencia claramente que a
posição de cisalhamento máximo ocorre na posição média dos Iados (nesses
pontos a inclinação de φ já se mostra ser maior que nos outros pontos).

4.10 - SETIMO EXEMPLO DE APLICAÇÃO

Outro interessante emprego dos operadores de diferença para derivadas


parciais consiste na resolução de problemas da elasticidade plana formulados com
emprego da função de AIRY. Cabe, igualmente, adiantar que se estudam aqui
apenas os casos isostáticos, ou seja, aqueles onde as ações no contorno são
conhecidas; os casos hiperestáticos com hiperestaticidades em número finito
podem ser resolvidos mediante a técnica da superposição de efeitos, usual do
cálculo hiperestático.
Antes, porém, de se abordar a formulação das equações da elasticidade
plana em termos de diferenças, é necessário colocar de um modo adequado as
condições de contorno. Considere-se, por exemplo, um trecho genérico do
contorno, conforme se ilustra na Figura 4.9 a), que está sujeito a uma solicitação
com componentes X e Y (força por unidade de área).
147

Na Figura 4.9 b) exibe-se um trecho elementar do contorno e as tensões


atuantes, cujas condições de equilíbrio se expressam (vide Fig. 4.9 b) ):

(σ x ds)senα  (τ xy ds) cos α  Xds


(4.121)
(σ y ds) cos α  (τ xy ds) s enα  Yds

onde s é uma coordenada curvilínea dirigida segundo o contorno. Por


considerações de ordem geométrica tem-se (vide Figuras 4.9 a) e b) ):

dy
senα 
ds (4.122)
dx
cos α 
ds

_
Y
y
_
Y
_
_
dy
x X
X dy ds
s dx 
xy
contorno y
dx
x
a) Configuração de contorno b) Configuração de equilíbrio

FIGURA 4.9 – Condição de contorno

onde o sinal negativo na segunda das (4.112) indica que, no caso, x decresce com
o aumento de 𝑠. As equações (4.121), em face da (4.122), e eliminação do fator
comum ds , passam a escrever-se:

dy dx
σx  τ xy X
ds ds (4.123)
dx dy
σ y  τ xy Y
ds ds

ou, ainda, tendo em vista a definição da função de AIRY:


148

2φ dy  2φ dx
 X
y 2 ds xy ds
(4.124)
2φ dx 2φ dy
  Y
x2 ds xy ds

ou seja:

d φ
X
ds dy
(4.125)
d φ
 Y
ds dx

Por outro lado, a integração das equações (4.125) segundo a variável s


permite escrever-se:

φ
y s
 Xds
(4.126)
φ
   Yds
x s

Convém, neste ponto, assinalar que, mediante as expressões (4.126), é


possível determinar o valor de φ x e φ y ao longo do contorno, uma vez
estabelecido, por exemplo, um valor arbitrário dessas grandezas num dado ponto
do contorno. De fato, ao se completar a integração ao longo do contorno o valor
final daquelas derivadas parciais coincide com o valor arbitrário de partida, visto que
a soma das ações externas segundo Ox e Oy é nula por condições de equilíbrio do
conjunto.
A exemplo das derivadas parciais de φ em relação às variáveis x e y , o
valor da função φ ao longo do contorno também pode ser determinado. De fato, da
definição de derivada pode-se escrever:

dφ φ x φ y
  (4.127)
ds x s y s

cuja integração por partes conduz a:

φ φ  d φ d φ 
φx
x
y
y
  x ds x
s
y ds
ds y 
(4.128)

ou ainda, tendo em vista (4.125):


149

φ  x  Yds  y  Xds   xYds   yXds (4.129)


s s s s

É fácil perceber que, para se determinar o valor da função φ ao longo do


contorno conforme expressão (4.129), o procedimento é análogo ao já mencionado
no caso da determinação das derivadas parciais. Cabe lembrar, por outro lado, que
os valores arbitrários adotados não alteram em nada os resultados de interesse,
visto que as tensões e, por via de consequência as deformações, dependem de
derivadas de ordem superior da função φ .
Como exemplo de aplicação do Método das Diferenças Finitas na
Elasticidade Plana, considere-se a estrutura mostrada na Figura 4.10, que consiste
numa viga parede, cuja altura é igual ao comprimento.

y
x
4q s 4q

0,1 a 0,8 a 0,1 a

FIGURA 4.10 – Chapa e solicitação externa encontrada

O carregamento considerado encontra-se também indicado na Figura 4.10,


bem como o posicionamento do sistema de referência Oxy , cuja origem coincide
com a da coordenada s . Para simplificação dos cálculos toma-se φ x , φ y e
φ como sendo nulos na origem da coordenada s .
Considerando-se, de início, uma malha regular com espaçamento de a / 2 ,
conforme indica-se na Figura 4.11 a), as condições de contorno ficam:
150

 φ  0.5a 0.5a
    0 Yds   0.4a 4qds  0.4qa
 x 2
 φ   φ   φ 
       0.4qa
 x 3  x  4  x 2
 φ   φ   2a 
       1.6a ( q)ds   0.0qa (4.130)
 x 5   x 4  
 φ   φ   2.4a 
       2a ( q)ds   0.4qa
 x 6  x 5  
 φ   φ   φ 
       0.4qa
 x 7  x 8  x 6

Por outro lado, o valor de φ y ao longo do contorno é nulo, visto que a


componente X do carregamento ao longo do contorno inexiste. Os resultados até
agora encontrados estão indicados nos “diagramas” mostrados nas Figuras 4.11 a)
e b).

 1  1
a) x . qa b) y . qa

0,4 0,0 -0,4 0,0 0,0 0,0

a/2 a/2
0,4 -0,4 0,0 0,0
a/2 a/2

0,4 0,0 -0,4 0,0 0,0 0,0

_
c) 1 2 Y x ds d)  . 1 2
qa qa
0,1 -0,02 0,1 -0,02
0,18 0,18

a/2 a/2
0,18 0,18 -0,02 -0,02
a/2 a/2

0,18 0,0 0,18 -0,02 0,0 -0,02

FIGURA 4.11 – Valores de contorno

O valor da função φ no contorno é obtido, em cada ponto, multiplicando cada


valor do "diagrama" de φ x por x , adicionando-se os correspondentes valores
do diagrama φ y multiplicados por y , mais os resultados correspondentes aos
dois últimos integrandos da expressão (4.129), conforme indicado na expressão
(4.118). Por outro lado, o diagrama correspondente a tais integrandos apresenta,
151

nos pontos em consideração, os seguintes valores (lembrando em tempo que a


componente X é nula):

0.5a
Ponto : 2  
0.4a
s(4q)ds  0.18qa2
Pontos : 3  4  2  0.18qa
2a
Ponto : 5  0.18qa2   1.6a
s(2a  s)( q)ds  0.1qa2 (4.131)
2.4a
Ponto : 6  0.1qa2  2a
s(2a  s)( q)ds  0.18qa2
Pontos : 7  8  6  0.18qa2

Com esses valores monta-se o “diagrama” indicado na Figura 4.11c).


Efetuando-se, então, as operações já mencionadas obtém-se o “diagrama” de 𝜙
ilustrado na Figura 4.11d).
Pois bem, na Figura 4.12a) indica-se a malha em consideração e a
numeração dos nós, tendo-se, por conseguinte, um total de 13 incógnitas. Todavia,
das condições de contorno indicadas na Figura 4.12 têm-se 12 relações
independentes, ou seja, nos oito pontos de contorno são conhecidos os valores de
φ ; do conhecimento das derivadas parciais de φ no contorno tem-se as seguinte
relação como, por exemplo, no caso do ponto 3 (vide Figura. 4.12 a) ).

11 9

6 5 4 -0,02qa2 0,1qa2
-0,02qa2

12 7 9 3 10 -0,02qa2 -0,02qa2
2
2 9  -0,4qa
9-0,4qa 9
1
8 2 -0,02qa2 0,0 -0,02qa2

13 9
a) Malha adotada b) Situação final

FIGURA 4.12 – Configuração de pontos e situação final de valores

 φ  φ10  φ9
   0.4qa  (4.132)
 x 3 2(a / 2)

Assim, no que interessa, têm-se os resultados indicados na Figura 4.12b).


Utilizando-se, agora, o operador expresso em (4.102), que representa a equação
152

diferencial em termos de diferenças, tem-se:

20φ9  8qa2 (0.1  2x0.2  0.0)  2qa2 ( 4x0.02)  4φ9  qa2x2x0.4  0 (4.133)

ou seja:

φ9  0.06qa2 (4.134)

cujo erro em relação a um valor mais correto, 0.064qa2 , obtido com uma malha de
espaçamento a / 6 , é de apenas 6%. Todavia, com relação às tensões nos pontos
1 e 5, por exemplo:

  2φ  2φ9  2x0.1qa2
(σ x )5   2   2
 0.32q
  y 5 (a / 2)
(4.135)
 φ
2
2φ9  0.0qa2
(σ x )1   2    0.48q
 y 1 (a / 2)2

Já se verificam erros bastante elevados em relação a uma solução mais


correta, respectivamente 0.488q e 1.268q .
A título de ilustração, na Figura 4.13 encontram-se lançados os valores de
interesse correspondentes à malha de espaçamento a / 3 , onde já se considera a
simetria existente no problema em apreço. Nesse caso, em que aparecem apenas
duas incógnitas, as equações correspondentes aos pontos 2 e 1 ficam:

14φ2  6φ1  0.724qa2


(4.136)
6φ2  14φ1  0.117qa2

cuja solução é dada por:

φ1  0.0383qa2
(4.137)
φ2  0.0698qa2

cujo erro em relação a valores mais exatos já é da ordem de 30%. Mais ainda, as
tensões nos pontos 1 e 2 ficam:

(σ x )1  0.0612q
(4.138)
(σ x )2  0.1017q

sendo que, nesse caso, o erro ainda é bastante grande em relação a valores mais
exatos.
153

 1  1 _
a) x . qa b) y . qa c) 1 2 Y x ds
qa
0,17 0,17 0,0 0,0 0,11 0,11
0,4 -0,4 0,0 0,0 0,18 0,18

0,4 -0,4 0,0 0,0 0,18 0,18

0,4 -0,4 0,0 0,0 0,18 0,18

0,4 -0,4 0,0 0,0 0,18 0,18


0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0

d)  .
1
e)  final
2 2
qa2
0,09 0,09 -0,02qa2 0,09qa2 -0,02qa2
-0,02 -0,02
0,09qa2

-0,02qa2 2 2 -0,02qa2
-0,02 -0,02
2-0,267qa2 2-0,267qa2
-0,02qa2 -0,02qa2
-0,02 -0,02
1-0,267qa2 1 1 1-0,267qa2

-0,02 -0,02 -0,02qa2 -0,02qa2


0,0 0,0

1 1

FIGURA 4.13 – Valores para malha com h  a / 3

Finalmente, é bastante importante esclarecer que, neste exemplo, com as


duas malhas não refinadas em consideração, não se pode proceder a um
refinamento dos resultados; mais ainda, como a ordem dos erros é muito elevada
em ambos os casos, o refinamento carece, obviamente, de sentido.

4.11 - COMENTÁRIOS FINAIS

Um exame global dos resultados encontrados nos diversos exemplos de


aplicação do Método das Diferenças Finitas apresentados evidencia ser tal método
de grande interesse prático, principalmente por permitir ter sob controle de forma
explicita a ordem do erro. Todavia tal virtude deixa de existir no trato com malhas
irregulares, as quais são indispensáveis na abordagem de domínios de contorno
irregular, que se encontram, a bem da verdade, em grande número na prática.
O desempenho do método em questão no trato com problemas
bidimensionais (os dois últimos exemplos de aplicação e com as malhas
154

empregadas) mostrou-se decepcionante, em face do bom desempenho nos casos


unidimensionais. Esse fato não deve causar estranheza, porquanto o erro nas
soluções mais simples é, nesses casos, de grande monta, e isso também pode
ocorrer em casos unidimensionais. Todavia, com o refinamento da malha os erros
caem rapidamente, mesmo com a utilização de operadores de segunda ordem,
conforme se constata facilmente nos exemplos arrolados.
Finalizando, é oportuno ressaltar que procedimentos computacionais simples
podem ser desenvolvidos com base no Método das Diferenças Finitas; podendo-se,
assim, estudar vários problemas práticos mediante malhas bastante refinadas, com
um mínimo de esforço operacional.
155

5 - MÉTODO PLÁSTICO

5.1 - INTRODUÇÃO

A desafiante pergunta: "Dada uma estrutura sujeita a uma configuração de


carregamento, qual o valor que produz o colapso?", constitui, sem dúvida, a grande
indagação na arte de construir. No estágio atual do conhecimento já se sabe com
segurança que o método elástico não fornece resposta adequada a essa pergunta,
visto que a reserva de capacidade dos materiais além do regime elástico varia muito
de um material para outro, sem contar, naturalmente, que o comportamento nessa
situação também é diferente de um material para outro. Todavia tem sido constatado
que a grande maioria das estruturas usuais entra em colapso ainda em regime de
pequenos deslocamentos. Pois bem, nessas condições a análise da estrutura na
iminência do colapso é tarefa bastante facilitada em virtude das enormes
simplificações decorrentes, no trato com as grandezas geométricas e estáticas em
jogo. Decorre desse fato também a utilidade prática dessa análise, visto que se o
colapso ocorresse em situações de grandes deslocamentos aquela análise deixaria
de ter sentido, uma vez que a ruína da estrutura, nesse caso, estaria associada às
condições de deslocamentos na iminência do intolerável, mesmo que a estrutura
ainda apresentasse maior capacidade de carregamento. Posto isso, cabe ressaltar
que a resposta àquela pergunta é dada, de maneira satisfatória, pelo Método Plástico,
que permite a análise da estrutura na iminência do colapso e, mais ainda, de modo
156

bastante simples.
Na Figura 5.1a) exibe-se o diagrama tensão-deformação do aço doce para
tensão crescente. Pode-se notar, por exemplo, que no trecho BD , após o trecho
correspondente ao regime elástico, ocorrem grandes deformações sob tensão
praticamente constante. Pois bem, considerando-se, agora, uma barra sujeita a flexão
pura, na medida em que se vai aumentando o momento solicitante, o diagrama de
tensão numa seção genérica passa pelos três estágios indicados na Figura 5.1b),
onde σp e εp são, respectivamente a tensão e a deformação correspondente no final
do trecho elástico (proporcionalidade entre tensão e deformação), σ e e εe os
correspondentes ao início do escoamento e ε´e uma deformação genérica no trecho
plástico.


e C D
p B

A p e 'e 
a) Diagrama Tensão - deformação

 < p  = p e e e

Viga p

Seção Vista Lateral 1º estágio 2º estágio 3º estágio


b) Processo de Plastificação da seção

FIGURA 5.1 – Diagrama tensão-deformação e estágios de plastificação

De fato, num primeiro estágio as tensões na seção são menores que a tensão
limite de proporcionalidade, ou seja, estão no trecho AB indicados na Figura 5.1a).
Aumentando-se o momento solicitante as tensões na região das bordas mais
afastadas superam a tensão limite de proporcionalidade, percorrendo o trecho BC
indicado na Figura 5.1b) e, finalmente, não mais se alteram, permanecendo
constantes até que, praticamente, em toda a seção a tensão seja uniforme de
compressão e de tração, conforme se mostra na última das ilustrações da Figura
5.1b). Assim, nessa última situação o momento solicitante, dito de plastificação,
corresponde ao momento de colapso, visto que a barra esgotou sua capacidade de
resistência. A plastificação total da seção constitui, em verdade, uma idealização
somente viável se o patamar correspondente à tensão de escoamento σ e (vide Figura
5.1a) ) for realmente bastante, por assim dizer, longo. Para se ter uma ordem de
grandeza, a dimensão do patamar, trecho CD da Figura 5.1a) é da ordem de vinte
vezes a deformação limite de proporcionalidade, ou seja, (vide Figura 5.1a) ):
157

ε´e  20εp (5.1)

Dessa constatação decorre que as "fibras" mais afastadas dispõem de grande


capacidade de deformação sob tensão constante ( σ e ) para esperar que as "fibras"
internas entrem também no regime plástico.
Sob um ângulo mais, por assim dizer, sintético, o fenômeno descrito pode ser
melhor apresentado com a análise do diagrama momento-curvatura, conforme ilustra-
se na Figura 5.2. No trecho AB, regime elástico, a relação momento-curvatura é dada,
de acordo com a teoria técnica da flexão, a menos de sinal por:

M  EIk (5.2)

onde EI é o produto de rigidez à flexão da viga e k é a curvatura, que, no regime de


pequenos deslocamentos e deformações (teoria linear), é aproximadamente igual à
derivada segunda da deformada v II .

M
Mp C
B D

A curvatura k

FIGURA 5.2 – Diagrama momento-curvatura

Para momentos superiores àquele que corresponde ao limite do regime


elástico, trecho BC, a relação momento curvatura deixa de ser linear e o momento
tende assintoticamente para um valor constante (que depende da forma da seção)
quando a plastificação da seção se completa, conforme a última ilustração da Figura
5.1b). Em verdade tudo se passa como se, a medida em que a plastificação vai se
estendendo para dentro da seção, o momento de inércia I diminuísse, tendendo para
zero; acrescido ainda do fato de que também o módulo de elasticidade segue caminho
idêntico.
É oportuno, nessa altura, assinalar que barras feitas com uma grande
variedade de materiais apresentam diagramas momento-curvatura muito parecidos
com o mostrado na Figura 5.2, e mesmo o concreto armado pertence a esse grupo,
com algumas ressalvas é bem verdade.

5.2 - MOMENTO DE PLASTIFICAÇÃO

O momento de plastificação Mp é o parâmetro básico do Método Plástico,


porquanto constitui o valor extremo da resistência à flexão de uma barra. Assim sendo,
158

é conveniente, antes de tudo, buscar relações práticas para estimativa de tal


parâmetro a partir do conhecimento da geometria da seção da barra e da tensão de
plastificação, ou escoamento, do material utilizado.
Considere-se, de início, o caso de uma seção retangular e material com tensão
de plastificação σ e , conforme indica-se na Figura 5.3. Das condições de equilíbrio
tem-se:

compressão
e

h h
y
tração
b b Diagrama de tensão
Seção

FIGURA 5.3 – Plastificação de seção retangular

σ e (by)  σ e b(h  y)  0


y hy (5.3)
σ e (by)  σ e b(h  y)  Mp
2 2

ou seja:

h
y
y
(5.4)
bh2
Mp  σ e
4

É usual, na literatura, estender a notação da teoria técnica da flexão para o


regime plástico, ou seja:

Mp  Wpσe (5.5)

sendo que no caso da seção retangular, por exemplo:

bh2
Wp  (5.6)
4

e, dessa forma, o momento de plastificação passa a ser dado pelo produto de um


termo que depende das características geométricas da seção pela tensão de
plastificação, que depende do material.
Para se ter uma ideia da reserva de resistência da seção em apreço basta
comparar, por exemplo, o momento dado na segunda das (5.4) com aquele dado no
regime elástico, ou seja:
159

bh2
Me  σ e (5.7)
6
tendo-se, pois:

Mp  1.5Me (5.8)

onde Me corresponde ao momento que inicia o escoamento na seção (final do trecho


elástico linear)
Em outras palavras, a reserva de resistência da seção retanguIar é da ordem
de 50% em relação ao momento que inicia a plastificação da seção. Constata-se
assim que a segurança medida em termos da tensão máxima, usual no método elásti-
co, carece, pois, de sentido.
Outro caso interessante é o da seção duplo T indicada na Figura 5.4, cujo
equilíbrio expressa-se:

compressão
d

a
h

d
b tração Diagrama de tensão
Seção

FIGURA 5.4 – Plastificação de seção duplo T

σe bd  a(y  d)  σ e bd  a(h  y  d)  0


d (y  d)2 d (h  y  d)2 (5.9)
σebd(y  )  σea  σ ebd(h  y  )  σea  Mp
2 2 2 2

ou seja:

h
y
2
 (5.10)
 h  2d  
2

Mp  σe bd(h  d)  a   
  2  

Como no caso anterior, considerando-se, por exemplo, h=2b e a=d=h/10 tem-


se:

Mp  0.061(h3σ e ) (5.11)
160

e no caso elástico:

Me  0.0492(h3σe ) (5.12)
ou seja, a reserva de resistência da seção é, agora, de somente 24%. Todavia no caso
de h=b a reserva seria de apenas 18%. Esses resultados numéricos mostram que a
reserva de resistência do perfil duplo T pode ser até bem menor, dependendo da
geometria da seção. Em outras palavras, a distância que separa o início da
plastificação da plastificação total pode ser, nesses casos, muito curta.
Cabe, agora, alertar que a presença de força normal na barra altera o momento
de plastificação. Nesse caso, indique-se com MpN o momento plastificação tendo-se
em conta o efeito da força normal N. Esse fato pode ser facilmente constatado, por
exemplo, no caso da seção retangular anteriormente estudada.
Para uma seção retangular submetida simultaneamente a momento fletor M e
N, ambos positivos, considere-se, conforme indicado na Figura 5.5, a decomposição
do diagrama final de tensões referente ao efeito conjunto MpN  N como uma parte
devida a N, e outra devida ao momento MpN .
Para facilitar a exposição são definidos os seguintes valores relativos a força
axial (5.13) e ao momento fletor (5.14), respectivamente, também apresentados na
Figura 5.5:

- -
-
e -
+ h +
CG +
e + +
+ +
+

N MpN MpN +N Mpr Mp Np


b

FIGURA 5.5 – Ação simultânea de momento fletor e força axial

N  σeb(2e)  σe AN
Np  σebh  σ e A (5.13)
AN 2e

A h

bh2
Mp  σe
4
b(2e)2
Mpr  σ e  σ ebe2 (5.14)
4
MpN  Mp  Mpr
161

podendo-se escrever:

2
MpN Mpr be2 A 
 1  1 2  1  N  (5.15)
Mp Mp bh 4  A 

Por outro lado, como (vide (5.13) ):

N A
 N (5.16)
Np A

tem-se pois:

   
2
N
MpN  Mp 1     (5.17)
  Np  
   

sendo que a expressão (5.17), em face da segunda das (5.4), confirma o fato
mencionado e, mais que isso, mostra que o momento de plastificação, como
esperado, sofre uma redução tanto para força normal de compressão como de tração.
Sendo oportuno também notar que carece de sentido físico a existência de força
normal superior ao valor dado na segunda das (5.13), e, assim, da (5.17) também
deixa de ter sentido momento de plastificação negativo.
Expressões similares à (5.17) podem ser encontradas para outros tipos de
seção, porém esse assunto não será, aqui, objeto de maior atenção. Além da força
normal, a força cortante também altera o momento de plastificação; todavia, em
atenção ao espírito introdutório que norteia o presente texto, esse assunto também
será negligenciado. Vale alertar, a propósito, que tais influências no momento de
plastificação são, na maioria dos casos práticos, muito pequenas.

5.3 - ANÁLISE PLÁSTICA DE UM CASO SIMPLES

Considere-se uma viga simplesmente apoiada sujeita a uma força concentrada no


meio do vão, conforme se ilustra na Figura 5.6a). De imediato cabe ressaltar que o
diagrama de momento fletor, mostrado na figura 5.6b, guarda uma proporcionalidade
com a força até para valores na iminência do colapso, visto que se trata, conforme já
mencionado, de problema dentro do regime de pequenos deslocamentos. Assim, o
momento máximo é dado, em qualquer circunstância antes do colapso por:

P
M (5.18)
4

Imaginando-se, agora, que a força 𝑃 aumente lentamente até o colapso ser


atingido, o que se pode perceber, de imediato, é que a seção da viga que plastifica
primeiro, pelo menos em termos teóricos, é aquela situada logo abaixo da força.
Assim, tem-se então:
162

P
M  Mp (5.19)
4

ou seja:

4Mp
P (5.20)

que consiste, pois, na carga de colapso da viga simplesmente apoiada.

+
/2 /2
P/4

a) Viga e carregamento b) Diagrama de Momento

rótula P

/2.1 1 2
/2 /2 1+ 2
/2 /2
c) Rótula plástica
d) Estado virtual de deslocamento

FIGURA 5.6 – Viga, carregamento e rótula plástica

Pois bem, da maneira como foi o problema colocado, o que se fez, no fundo,
foi admitir-se a existência de uma rótula plástica na seção que primeiro plastifica, ou
seja, nessa seção sabe-se, de antemão, o valor do momento máximo que se pode
conseguir, que é o momento de plastificação Mp . Na Figura 5.6c) mostra-se, então, a
configuração de equilíbrio na iminência do colapso, onde já se configura uma rótuIa
plástica logo abaixo da força aplicada.
Por outro lado, o resultado obtido, expresso em (5.20), pode ser alcançado de
uma maneira mais cômoda e, ao mesmo tempo, mais geral mediante o Princípio dos
Trabalhos Virtuais, que consiste num poderoso instrumento para a análise das
condições de equilíbrio (sob uma roupagem diferente tal princípio já foi utilizado em
todo o desenvolvimento do Capítulo 3, pois energia estacionária implica em trabalho
virtual nulo). Na Figura 5.6d) exibe-se um estado de deslocamento virtual, onde as
rotações indicadas são pequenas, de tal sorte a não introduzirem alteração na
geometria original. Assim sendo tem-se:


Mp (2θ1 )  P θ (5.21)
2

resultando:
163

4Mp
P (5.22)

como era de se esperar.


Cabe assinalar que o estado de deslocamento virtual considerado não inclui os
deslocamentos de regime elástico, ou seja, os dois trechos da barra permanecem
indeformáveis.
Uma discussão bastante interessante diz respeito à localização da rótula
plástica. Por exemplo, a localização da rótula plástica no problema estudado pode ser
determinada a partir do conhecimento do diagrama de momento fletor, porquanto se
trata de uma estrutura isostática e, dessa forma, a formação da rótula não altera a
configuração de esforços internos. Todavia, a posição da rótula plástica pode ser
determinada com a condição de força mínima, ou seja, dentro de todas as possíveis
configurações de colapso a correta é aquela correspondente à menor força de
colapso. De fato, considere-se novamente o problema da viga simplesmente apoiada
sujeita a uma força no centro do vão, conforme reproduz-se na Figura 5.7a).
Admitindo-se que a rótula plástica aconteça numa seção de ordenada x genérica,
conforme se ilustra na Figura 5.7b), o Princípio dos Trabalhos Virtuais permite
exprimir-se:

P 1
P 2 1 P 2
 
/2 /2 x 1 1+ 2 x 1 1+ 2
x -x x -x
a) Viga e carregamento b) Primeira configuração c) Segunda configuração

FIGURA 5.7 – Possíveis configurações de rótulas plásticas

Mp (θ1  θ2 )  P (5.23)

onde, por considerações geométricas (vide Figura 5.7b) tem-se:

xθ1
θ2 
x (5.24)
 xθ1

2x

e, assim sendo, tendo-se em conta as relações (5.24) e (5.23), resulta:

2Mp
P (5.25)
x

ou seja, a carga P diminui com o aumento da variável x Considerando-se, agora, a


164

rótula plástica situada numa ordenada superior a  2 , conforme se ilustra na Figura


5.7c), a força correspondente é dada por:

2Mp
P (5.26)
x

ou seja, nesse caso, para  2  x   o valor de P cresce no sentido decrescente da


variável x; e um exame da expressão (5.25) juntamente com a (5.26) deixa evidente
que o menor valor da carga de colapso corresponde, como de fato deveria ser, à rotula
plástica no meio do vão (é natural, e por isso óbvio, que a estrutura entra em colapso
com a menor das "cargas de colapso").
Uma estimativa da flecha no meio vão pode ser feita supondo-se que a região
parcialmente plastificada seja reduzida e, assim, praticamente toda a barra encontra-
se, na iminência do colapso, em regime elástico; como de fato um grande número de
experimentações realizadas comprova ser tal idealização bastante razoável. Assim
sendo tem-se:

Pp 3  4Mp  3 Mp 2
fp     (5.27)
48EI    48EI 12EI

enquanto no regime elástico, encontra-se:

Pe3 P  2 2
fe   e  Me (5.28)
48EI 4 12EI 12EI

resultando-se:

fp  1.5fe (5.29)

ou seja, se a flecha no regime elástico fe se configura no regime de pequenos


deslocamentos, o mesmo ocorre com a flecha fp na iminência do colapso, que são da
mesma ordem de grandeza. Tal fato indica, então, ser realmente plausível a suposição
de que, na iminência do colapso, a estrutura encontra-se ainda no regime de
pequenos deslocamentos (ou, pelo menos, no mesmo regime de deslocamentos do
regime elástico).

5.4 - PRIMEIRO EXEMPLO DE APLICAÇÃO

Considere-se, agora, o problema da determinação do valor de colapso da


carregamento uniforme q, sobre uma viga, ainda simplesmente apoiada, conforme se
ilustra na Figura 5.8a). De início, sabe-se que a rótula plástica deve ocorrer no meio
do vão por condições estáticas; todavia, procura-se, aqui, um caminho mais longo,
porém mais geral, que consiste, em primeiro lugar, em se determinar a posição da
rótula pela condição de carga mínima e depois exprimir o valor da carga
correspondente.
Assim, exibe-se na figura 5.8b) o estado de deslocamentos virtuais
correspondentes à rótula plástica numa posição genérica de ordenada x . O Princípio
165

dos Trabalhos Virtuais nessas circunstâncias assim se expressa:


0
qvdx  Mp (θ1  θ2 ) (5.30)

ou ainda, tendo-se em vista condições de ordem geométrica:

(xθ1 )  x 
q  Mpθ1  1   (5.31)
2    x

q q
1
x v
2
 x 1 1+ 2
x -x
a) Viga e carregamento b) Configuração de rótula
FIGURA 5.8- Viga sob força uniforme e configuração de rótula

ou seja:

2Mp
q (5.32)
x(   x)

tendo-se em conta, naturalmente, a primeira de (5.24).


A condição de extremo valor para q implica em:

dq  (   x)  x( 1)
 2Mp  0 (5.33)
dx  x(   x)
2

ou seja


x (5.34)
2

como já era de se prever. Desse modo, finalmente, encontra-se:

8Mp
q (5.35)
2

que consiste no carregamento distribuído de colapso.


Finalizando-se, convém assinalar que a pesquisa da posição da rótula plástica
166

é, em casos isostáticos, como o em apreço, perfeitamente dispensável, uma vez que


a posição do maior momento é bastante imediata, e deve coincidir com a posição da
rótula, obviamente. Cabe assinalar, também, que a condição de extremo da expressão
(5.32) dada em (5.34) corresponde a uma condição de mínimo, conforme pode-se
facilmente verificar pelo sinal positivo da segunda derivada, ou mesmo por alguns
testes numéricos (mais cômodos).

5.5 - SEGUNDO EXEMPLO DE APLICAÇÃO

Como segundo exemplo de aplicação considere-se o caso de uma viga


hiperestática, conforme se ilustra na Figura 5.9a), com um grau de hiperestaticidade.
Nesse caso o colapso ocorre com o aparecimento de duas rótulas plásticas, porquanto
com o aparecimento da primeira rótula configura-se uma estrutura isostática, visto que
o momento fletor na posição de tal rótula é conhecido e igual a Mp . Exibem-se nas
Figuras 5.9b) e 5.9c) as possíveis configurações de rótulas plásticas.

P a P  a P P
2 1 2
1 2

x1 x1 1
a -a x2 1+ 2 x2 1+ 2 1+ 2

  a -a
a) Viga e solicitação b) Primeira configuração c) Segunda configuração d) Terceira configuração

FIGURA 5.9 – Viga hiperestática e configurações de rótulas

Na primeira configuração, mostrada na Figura 5.9b), tem-se, já levando em


conta relações de ordem geométrica:

 2  x1  x 2 
P(a  x1)θ1  Mpθ1   (5.36)
   x2 

ou seja:

2  x1  x 2
P  Mp (5.37)
(a  x1 )(   x2 )

e, por outro lado, a condição de carga mínima pode ser analisada a partir do
comportamento das derivadas:

P (2  x1  x 2 )(   x 2 )  (a  x1 )(   x2 )
 Mp
x1 (a  x1 )(   x 2 )
2

(5.38)
P (2  x1  x 2 )(a  x1)  (a  x1)(   x 2 )
 Mp
x2 (a  x1 )(   x2 )
2
167

ou seja, o sinal da derivada em relação à variável x1 é sempre positivo para valores


de x1 e x 2 no intervalo de zero a ℓ, porquanto o numerador da primeira das
expressões (5.38) dado por:

(   x 2 )(2  a  x 2 ) (5.39)

que é positivo nas condições mencionadas; o denominador é, obviamente, sempre


positivo. Com isso a condição de força mínima em relação à variável x1 se dá para x1
nulo, uma vez que o sinal positivo dessa derivada indica carga P crescente com x1
crescente. O numerador correspondente à derivada em relação à variável x 2 pode ser
colocado na forma (segunda das expressões (5.38)):

(a  x1 )(   x1 ) (5.40

ou seja, tal derivada é também positiva no intervalo considerado, indicando P


crescente para valores crescentes da variável x 2 . Assim, o valor mínimo de P ocorre
na situação de menor valor de x 2 , ou seja, x 2  a . Em resumo, o mínimo valor da
carga de colapso é dado pela configuração de rótulas indicada na figura 5.9d), sendo
dado por:

2  a
P  Mp (5.41)
a(   a)

como se verifica em (5.37).


Com a outra configuração de rótulas ilustrada na Figura 5.9c), as derivadas de
interesse ficam:

P 2(   x1 )(   x 2 )
 M
x1 (   a)(x  x )2 p
 2 1 
(5.42)
P 2(   a)(   x1 )
 Mp
x 2 (   a)(x2  x1)
2

ou seja, a carga P é, no intervalo considerado para x1 e x 2 , crescente com x1


(derivada positiva) e decrescente com x 2 (derivada negativa). Assim, a configuração
de rótulas correspondente ao menor valor da força é a dada por x1  0 e x 2  a que
é a anteriormente encontrada e ilustrada na Figura 5.9d).
Aproveitando-se ainda o exemplo em questão, é oportuno levantar algumas
considerações com relação ao diagrama de momento fletor na iminência do colapso.
Na Figura 5.10a) exibe-se o diagrama de momento fletor correspondente ao caso
isostático bi apoiado, sendo o momento máximo dado por:

Pa(   a)
M (5.43)

168

Na Figura 5.10b) exibe-se o diagrama na iminência do colapso, encontrado no


exemplo em tela. Ora, as condições de equilíbrio na iminência do colapso implicam
em:

   a a
Mp  1    Pa (5.44)
   

e, com efeito, essa relação é satisfeita com a força de colapso encontrada, ou seja:

2  a
P  Mp (5.45)
a(   a)

Todavia, essa conclusão trivial chama a atenção para outro aspecto muito
interessante, ou seja, no caso de se ter:

a    a
Pa  Mp  1   (5.46)
   

P P

Mp 
-a
P (-a)a 
 Mp

(M)
Mp
a -a a -a

a) Situação isostática b) Situação de colapso


(Hiperestático)

Mp

Mp

c) Primeira situação d) Segunda situação e) Terceira situação


sem colapso sem colapso sem colapso

FIGURA 5.10 – Diagramas de momento estaticamente admissíveis

os possíveis diagramas de momento fletor estaticamente admissíveis encontram-se


indicados nas Figuras 5.10c), d), e) (estaticamente admissível é um termo usado para
indicar que as condições de equilíbrio da estática são obedecidas; no caso significa
que o diagrama é compatível com a força aplicada). Ora, nesses casos tem-se de
(5.46):
169

2  a
P  Mp (5.47)
a(  a)

e com isso percebe-se que, qualquer diagrama de momento estaticamente admissível


e seguro, ou seja, que em nenhum ponto o diagrama ultrapassa o valor máximo Mp (
Mp ou Mp ; vide Figuras 5.10c), d), e) ), está associado a um valor de carga P , no
caso, inferior ao valor da força de colapso. Assim, dado um diagrama estaticamente
admissível e seguro, sabe-se que o valor da força correspondente consiste num limite
inferior da força de colapso. Essa propriedade juntamente com o fato de que a
qualquer configuração de rótulas possível corresponde a uma força superior à da
configuração exata (porquanto a exata corresponde à força mínima) fornece um
critério para encontrar um intervalo, no qual seguramente o valor da força de colapso
se encontra. Todavia, tal critério não será explorado no presente texto, apesar de
interessante, mas trabalhoso.

5.6 - TERCEIRO EXEMPLO DE APLICAÇÃO

Como terceiro exemplo de aplicação seja considerado o problema da


determinação da força de colapso da viga engastada numa extremidade e apoiada na
outra, sujeita a uma carga uniforme q, conforme se ilustra na Figura 5.11a).

q q

1
x1 2
 x2 1+ 2
(2- 2 ) ( 2- 1)

a) Viga e carregamento b) Configuração de rótulas c) Configuração correta

FIGURA 5.11- Colapso de viga hiperestática sob força uniforme

Pois bem, considerando-se uma configuração genérica de rótulas, conforme


exibe-se na Figura 5.11b) encontra-se:

2  x1  x 2
q  2Mp (5.48)
(   x1 )(   x 2 )(x 2  x1 )

cujas derivadas em relação às variáveis x1 e x 2 são dadas por:

q (   x 2 ) (   x1 )2  (   x 2 )(x 2  x1)  (   x 2 )(   x1)


 2Mp
x1 (   x1 )(   x 2 )(x 2  x1 )
2

(5.49)
q (   x1 ) (   x1 )(x2  x1 )  (   x1 )(   x2 )  (   x 2 )2 
 2Mp
x1 (   x1 )(   x2 )(x2  x1 )
2
170

sendo que um exame da primeira das (5.49) mostra que a derivada de q na variável
x1 é positiva para qualquer valor de x1 e x 2 no intervalo de zero a  ; sendo ainda
naturalmente x 2  x1 . Assim, em relação à variável x1 o menor valor de q é dado para
x1 nulo. Com isso, o valor extremo de q , segundo a variável x 2 , está relacionado com
o valor nulo da segunda das (5.49), ou seja:

x2  (   x2 )  (   x 2 )2  0 (5.50)
resultando:

x 2  (2  2) (5.51)

sendo que dessa solução interessa apenas a raiz:

x 2  (2  2) (5.52)

que corresponde à configuração de rótulas indicada na Figura 5.11c). O valor da carga


de colapso é, então, dada por:

2Mp 2
q (5.53
 2
3 24

Cabendo-se agora apenas verificar, por curiosidade, o diagrama de momento


fletor na iminência do colapso. Antes, porém, é útil definir a posição de momento
máximo no caso de diagrama parabólico como, por exemplo, o caso genérico
mostrado na Figura 5.12a). Uma análise elementar permite exprimir-se:

 Me  Md
x0   (5.54)
2 q

onde, nesta expressão da posição do momento máximo, Me e Md são supostos


momentos de sentido dextrorso (vide Figura 5.12b) ). Por outro lado, o momento fletor
nessa posição é dado por:

 q 2 x qx2
M  Me    Me  Md  0  0 (5.55)
 2   2

Mp M máx
Mp Md

Mp Me

parábola
(2- 2 )  ( 2- 1) parábola
x0 
a) Diagrama do momento no colapso
b) Posição do momento máximo
171

FIGURA 5.12 – Diagrama de momento e posição de momento máximo

e, assim sendo, no caso em questão (Figura 5.12a) ) tem-se:

 Mp
x0   (5.56)
2 q

ou, tendo em vista (5.53):

x 0  (2  2) (5.57)

e, levando agora (5.57) em (5.55) tem-se a confirmação de que realmente o momento


máximo coincide com o valor de Mp , como era de se esperar

5.7 - QUARTO EXEMPLO DE APLICAÇÃO

Considere-se o caso da viga contínua sujeita a forças concentradas, conforme


se mostra na Figura 5.13a). Sabe-se, de início, que o diagrama de momento fletor é,
nesse caso, linear por trechos, e, assim, apresenta de maneira genérica a
configuração ilustrada na Figura 5.13b). Pois bem, as duas rótulas, necessárias para
se obter o mecanismo de colapso, podem ocorrer segundo as configurações
mostradas nas Figuras 5.13c) e d), porquanto tais configurações são plausíveis em
face do diagrama genérico mostrado na figura 5.13b.
A primeira configuração de rótulas (Figura. 5.13c)) implica em:

1 α  1
P1θ1     Mpθ1 1  (1  ) (5.58)
3 6   2

onde:

α  P2 P1 (5.59)

ou seja:

15Mp
P1  (5.60)
(2  α)

cuja magnitude depende da relação α .


Por outro lado, com a segunda configuração de rótulas (Figura 5.13d) )
encontra-se:

12Mp
P1  (5.61)
(1  2α)

cuja magnitude depende agora do dobro daquela relação.


Um exame das expressões (5.60) e (5.61) evidencia que, para α  0.5 , o
172

menor valor da carga de colapso é dado pela expressão (5.61), e a configuração de


colapso é a mostrada na Figura 5.13d); caso contrário, α  0.5 , o menor valor é
encontrado com a expressão (5.60), e com a configuração de rótulas mostrada na
Figura 5.13c). O caso particular α  0.5 implica numa indeterminação da posição da
rótula do vão, que tanto pode situar-se conforme configuração da Figura 5.13c) como
da Figura 5.13d). É fácil verificar que qualquer posição dessa rótula entre as duas
cargas leva ao mesmo resultado, porquanto, nesse caso, o momento fletor é constante
entre as duas cargas; indicando-se, pois, que todas as seções situadas nesse
intervalo plastificam ao mesmo tempo

P1 P2

 /3 /3 /3  /3 /3 /3

a) Viga hiperestática e carregamento b) Forma genérica do diagrama


de momento

P1 P2 P1 P2

c) Primeira configuração de rótulas d) Segunda configuração de rótulas

FIGURA 5.13 – Viga continua e configurações de rótulas

5.8 - QUINTO EXEMPLO DE APLICAÇÃO

Como quinto exemplo de aplicação toma-se o caso de uma viga bi engastada


sujeita a uma carga uniforme na metade do vão, de acordo com o mostrado na Figura
5.14a). A configuração de rótulas plásticas, em número de três, apresenta
indeterminação apenas no tocante a posição da rótula do vão, porquanto a forma
genérica do diagrama de momento fletor indica momentos grandes nas extremidades,
e a posição de maior valor ao longo do vão deve ocorrer na região carregada.
Assim sendo, com a configuração de rótulas apontada na Figura 5.14b), tem-
se:

 x   2 x   2x 
q  x    (   x)  Mp  2   (5.62)
 2 2 2     x

ou seja:

q  4Mp (5.63)
(   x)( x  2 4)

cuja condição de mínimo implica em:


173

5
xx (5.64)
8

e, por conseguinte, a carga distribuída de colapso é dada por:

28.44Mp
q (5.65)
2

com precisão de quatro algarismos.

q q q

/2 /2
x -x 5/8 3/8

a) Viga hiperestática b) Configuração de rótulas c) Configuração correta

FIGURA 5.14 – Viga hiperestática e configurações de rótulas

Conferindo-se, a título de curiosidade, a posição de momento máximo, segundo


a expressão (5.54) (trecho carregado entre rótulas):

1  3  2Mp
x0    0 (5.66)
2  9   28.44Mp   3 
  
 2  8 
 

confirmando-se, pois, o resultado encontrado em (5.64) pela via estática. Ou seja, a


rótula encontra-se exatamente na posição de momento máximo.

5.9 - SEXTO EXEMPLO DE APLICAÇÃO

Considere-se o pórtico tri-articulado mostrado na Figura 5.15a), cujo


carregamento consiste numa carga horizontal P atuando no topo. Um exame da forma
genérica do diagrama de momento fletor indica apenas, nesse caso isostático, duas
possibilidades para a posição da rótula plástica, conforme as Figuras 5.15b) e c).
174

     
2
P 
 
  
2
       

a) Pórtico e carregamento b) Primeira configuração c) Segunda configuração

FIGURA 5.15 – Pórtico tri-articulado e configuração de rótulas

Pois bem, no primeiro caso o mecanismo de colapso, indicado em tracejado,


permite que se escreva:

Pθ  Mp (2θ) (5.67)

ou seja
2Mp
P (5.68)

e, no segundo caso, tem-se também:

Pθ  Mp (2θ) (5.69)

resultando pois o mesmo valor expresso em (5.68). Cabe, todavia, esclarecer que a
cadeia cinemática (ou mecanismo) indicada em tracejado pode ser facilmente
entendida. Com efeito, imprimindo-se uma rotação θ na coluna da esquerda (vide
Figura 5.15b) ), a extremidade superior translada de   θ (regime de pequenos
deslocamentos), e essa translação é conferida, igualmente, para a articulação e para
a extremidade da coluna da direita. Assim, por considerações de ordem geométrica
encontram-se as demais grandezas em jogo.

5.10 - SÉTIMO EXEMPLO DE APLICAÇÃO

Como exemplo de aplicação toma-se, agora, o caso do pórtico biarticulado


indicado na Figura 5.16a), onde se indica também o carregamento considerado. Trata-
se de um caso uma vez hiperestático, e, por via de consequência, o mecanismo de
colapso deve apresentar a formação de duas rótulas plásticas.
175


P
 
P 2
P/2 P/2 

 
   

a) Pórtico e carregamento b) Primeira configuração

    
P P
P/2  P/2

2
      

c) Segunda configuração d) Terceira configuração

FIGURA. 5.16 – Pórtico biarticulado e configuração de rótulas

Um exame da forma genérica do diagrama de momento fletor aponta três


possíveis configurações de rótulas, conforme ilustram-se nas Figuras 5.16b), c) e d).
Pois bem, com a primeira configuração tem-se (vide Figura 5.16b) ):

P
θ  Pθ  Mp (4θ) (5.70)
2

ou seja:

8Mp
P (5.71)

que constitui um resultado sem significado, pois o trabalho das forças externas é,
nesse caso, negativo (de onde sairia a energia necessária para o trabalho positivo
realizado nas rótulas?). Por outro lado, com a configuração indicada na Figura 5.16c)
tem-se:

P
θ  Pθ  Mp (4θ) (5.72)
2

ou seja:

8Mp
P (5.73)
3
176

e, finalmente com a última configuração (vide Figura 5.16d) ) tem-se:

P θ
 Mp (2θ) (5.74)
2

ou seja:

4Mp
P (5.75)

decorrendo-se de um exame dos resultados expressos em (5.69) e (5.71) ser o


expresso em (5.73) o valor correto da carga de colapso da estrutura em apreço.
Convém alertar-se para o fato de que se considera, no colapso, a proporção apontada
para o carregamento ( P vertical e P 2 horizontal).
Com relação aos mecanismos de colapso estudados, uma observação muito
interessante consiste no seguinte. Os dois mecanismos ilustrados nas Figuras 5.16b)
e c) podem ser obtidos pela superposição de apenas dois mecanismos. Tais
mecanismos, ilustrados nas Figuras 5.17a) e b), são denominados, respectivamente,
mecanismo de andar ilustrado na Figura 5.17a) e mecanismo de viga na Figura 5.17b).
Com efeito, com o primeiro mecanismo tem-se:

P
θ  Mp (2θ) (5.76)
2

e com o segundo tem-se:

Pθ  Mp (4θ) (5.77)


em outras palavras, adicionando-se ao mecanismo de andar o mecanismo de viga
tem-se o mecanismo mostrado na Figura 5.17c). Igualmente, convém ser notado que,
nessa superposição, a rótula da extremidade superior da coluna da esquerda,
existente nos dois mecanismos elementares, desaparece. Com efeito, as rotações das
barras concorrentes nesse ponto possuem o mesmo sentido em ambos os
mecanismos elementares. O contrário ocorre na extremidade superior da coluna da
direita. Assim, o Princípio dos Trabalhos Virtuais exprime somando-se membro a
membro as equações (5.76) e (5.77), subtraindo-se do segundo membro (trabalho
interno) o correspondente à soma das rotações de mesmo sentido, ou seja:

P
θ  Pθ  Mp (2θ)  Mp (4θ)  Mp (2θ) (5.78)
2
177

  P
P/2  

2
    

2  

a) Mecanismo de andar b) Mecanismo de viga

   
2
 

2
     

c) Primeira combinação d) Segunda combinação

FIGura 5.17 – Mecanismos elementares e combinações

resultando-se, pois, no valor expresso em (5.73). Por outro lado, subtraindo-se do


mecanismo de andar o mecanismo de viga encontra-se o mecanismo mostrado na
Figura 5.17d). Nesse caso as rotações de mesmo sentido acontecem na extremidade
superior da barra da direita. Assim sendo tem-se:

P
θ  Pθ  Mp (2θ)  Mp (4θ)  Mp (2θ) (5.79)
2

encontrando-se, pois, o resultado carente de sentido físico da expressão (5. 71).

5.11 - OITAVO EXEMPLO DE APLICAÇÃO

Considere-se o pórtico do exemplo anterior sujeito, agora, ao carregamento


indicado na Figura 5.18a). O mecanismo de colapso, a exemplo do caso anterior,
constitui uma combinação do mecanismo de andar com um de viga, sendo que desta
feita a posição da rótula situada no vão não está definida.
Tomando-se, então, o mecanismo indicado na Figura 5.18b), tem-se:

αP xθ1  2x 
Pθ1  2  Mp  2θ1  θ1  (5.80)
 2  2  x 

onde α é o fator de relação entre as cargas em jogo (vide Figura 5.18a) ). A expressão
(5.80) permite escrever-se:

4
P  Mp (5.81)
(   ax)(2  x)
178

cuja condição de carga mínima implica em:

P 4 α(2  x)  (   αx)( 1)


 Mp 0 (5.82)
x (   αx)(2  x)
2

q= P/
  
x 1 2
P

1 1 1
 1+ 2

2 x 2-x

a) Pórtico e carregamento b) Configuração de rótulas

FIGURA 5.18 – Pórtico biarticulado, carregamento e mecanismo

ou seja:

(2α  1)
x (5.83)

e, com isso, a força de colapso (vide (5.77)) fica:

16αMp
P (5.84)
(4α2  4α  1)

merecendo os resultados expressos em (5.83) e (5.84) alguns comentários.


Em primeiro lugar a posição da rótula situada no vão implica, em face do
mecanismo em consideração, na restrição:

(2α  1)
0x  2 (5.85)

e, mais ainda, no caso:

α0 (5.86)

ou seja, carga distribuída dirigida para baixo. Assim sendo, no caso de x  0 tem-se:
179

(2α  1)
(5.87)

ou seja:

α  0.5 (5.88)

e no caso de x  2 tem –se:

(2α  1)
 2 (5.89)

ou seja:

α  0.5 (5.90)

e examinando-se as expressões (5.86), (5.88) e (5.90) verifica-se que a solução


expressa em (5.84) é somente válida para α  0.5 . Igualmente, com α  0.5 a
expressão (5.84) fica:

2Mp
P (5.91)

que coincide com o resultado encontrado com mecanismo de andar. Ora, esse fato
permite concluir-se que, para 0  α  0.5 , o mecanismo de colapso da estrutura é o
de andar, e o valor da carga é, então, o expresso em (5.85), considerando–se o caso
limite com 𝛼 tendendo para infinito tem-se de (5.89):


lim .x     (5.92)
α  2α

ou seja, a rótula, nesse caso, tende a ocupar a posição centraI. O valor da carga
correspondente passa a ser dado por (vide (5.80) ):

4Mp 4α2 4Mp


lim .P   (5.93)
α  α (4α  4α  1)
2
α

ou seja, o valor da carga de colapso tende para o valor encontrado com o mecanismo
de viga. Esse resultado era de se esperar, porquanto o caso de α tendendo para
infinito corresponde, em termos físicos, ao caso de se solicitar a estrutura somente
por carga uniforme, ou, na razão inversa, carga horizontal tendendo para zero.

5.12 – CARREGAMENTO REPETIDO E ALTERNADO

O modelo de plastificação assumido logo de início (vide Figuras 5.1a) e 5.2) )é


o chamado modelo plástico perfeito, cujo comportamento acha-se agora ilustrado com
mais detalhes na Figura 5.19. Para carregamento crescente a curvatura cresce
inicialmente proporcionalmente até atingir o momento de plastificação (trecho OA). A
180

partir da plastificação não há mais aumento do momento (saturação), mas a curvatura


pode aumentar indefinidamente (treco AB). Havendo descarregamento segue-se
apenas a recuperação da deformação proporcional (trecho BC), sobrando-se uma
curvatura residual plástica (trecho CO). O comportamento descrito para momento
positivo é também retratado para momento negativo, com plastificação ao contrário.
Todavia, como bem sabido, havendo reversão da plastificação a ruptura nominal é
atingida, pois com poucas reversões (algo como uma centena de vezes, ou até
milhares) o material deixa de resistir vindo a se desintegrar.

A B
Mp

0
C curvatura k

Mp D
FIGURA 5.19 – Modelo plástico perfeito

Para examinar esse tema, considere-se a viga hiperestática mostrada na


Figura 5.20), engastada numa extremidade e simplesmente apoiada na outra, sob
carregamento concentrado no meio do vão. O mecanismo de plastificação envolve a
formação de duas rótulas como ilustrado na Figura 5.20b) resultando:

EI Mp 

/2 /2 2

a) Viga hiperestática b) Rótulas plásticas


FIGURA 5.20 – Viga hiperestática


P θ  Mp (3θ)
2
(5.94)
6Mp
P

sendo que esse resultado é alcançado com o carregamento crescente até atingir esse
valor. Todavia, o comportamento durante esse carregamento é no começo em regime
elástico linear até atingir a formação da primeira rótula, e a partir d´aí continua em
regime elástico linear, mas com momento plástico no local da primeira rótula formada,
181

encerrando-se com a formação da segunda e última rótula ao atingir o carregamento


expresso na segunda de (5.94).
A Figura 5.21a) exibe a configuração de momento fletor no regime elástico
linear, ficando claro que a primeira plastificação ocorre no engaste resultando:

6 P
32 5 P Mp
- 32
+
P M p
4 2
a) Regime elástico linear b) Regime plástico
FIGURA 5.21 – Evolução da plastificação

6P
Mp 
32
(5.95)
32Mp
P
6

e a Figura 5.21b) exibe a configuração de momento fletor para carregamento


crescente acima do valor expresso na segunda de (5.95), até atingir a formação da
segunda rótula, agora no meio do vão, ou seja:

P Mp
Mp  
4 2 (5.96)
6Mp
P

sendo que, durante esse aumento de carregamento, a rótula do engaste permite a


rotação plástica:

 P 2 Mp
φp  Mp   (5.97)
3EI 16EI 24EI

visto que o carregamento final é o dado pela segunda de (5.96), e mais, a viga para
essa fase do carregamento agora torna-se isostática com carregamento no centro e
momento de plastificação no engaste. A primeira parcela de (5.97) é a rotação
decorrente da aplicação de Mp negativo no engaste, e a segunda a rotação decorrente
do carregamento central no apoio onde antes havia engaste.
Pois bem, ao descarregar sucede que o momento fletor não será zerado em
razão de a rotação plástica (5.97) ser residual (não é restituída). Assim sendo, o
momento residual deve provocar rotação igual à rotação plástica (5.97), ou seja:
182

Mr  Mp 
φr   φp 
3EI 24EI (5.98)
Mp
Mr 
8

como ilustrado na Figura 5.22a) e momento fletor residual na Figura 5.22b).

a) Rotação plástica b) Momento residual


FIGURA 5.22 - Descarregamento

O recarregameto P na fase elástica linear provoca o momento fletor que deve


se superpor ao residual como ilustrado na Figura 5.23, e então a plastificação no apoio
resulta:

6P Mp
   Mp
32 8
6Mp
P (5.99)

e a plastificação no centro resulta:

5P Mp / 2
  Mp
32 8 (5.100)
6Mp
P

ou seja, a recarga pode ser realizada com carga expressa na segunda de (5.94) que
é a carga de colapso para carga crescente, e com isso, o carregamento repetido tem
a mesma magnitude da carga de colapso original. Todavia, em outras configurações
estruturais e de carregamento a repetição pode levar a uma acomodação
(shakedown) plástica para valores de carregamento maior que o definido no regime
elástico linear, ou então para colapso incremental para carregamento superior ao da
acomodação plástica (a rotação plástica ocorrendo com acréscimos fracionários com
a série geométrica correspondente resultando um valor finito, ou, caso contrário, com
razão superior à unidade resultando rotação crescente indefinidamente). De qualquer
modo o estudo de carregamento repetido envolve sempre análise do comportamento
elástico linear em todas as fases do descarregamento e recarregamento; exigindo-se
estudo particular de cada caso de estrutura e de carregamento. De qualquer modo,
os casos de acomodação (shakedown) plástica e de colapso incremental não será
aqui objeto de estudo, embora em combinação de carregamento permanente (peso
próprio) e acidental (carga de ocupação e vento por exemplo) esses fenômenos
podem ocorrer.
183

Para estudo do caso de carregamento alternado, como já mencionado, tem-se


que examinar a reversão da plastificação, que leva ao colapso da seção, ou seja, no
caso da viga em questão, a primeira plastificação ocorre com:

32Mp
P (5.101)
6

enquanto que no restante da viga o regime ainda é elástico linear, ocorrendo na


inversão do carregamento recuperação total (sem momento residual). Todavia haverá
reversão de deformação plástica na seção do apoio ao inverter o carregamento. Assim
sendo, o máximo valor para o carregamento alternado é dado por (5.101) de modo a
não colapsar a seção de apoio. Em resumo, para carga repetida a magnitude está
limitada a 6Mp  e para carregamento alternado limitada a 5Mp / 32 .

M k /2

Mk +

_
+
6 P _
32 5 P
- 32
+

FIGURA 5.23 Recarregamento

Para finalizar, cabe assinalar que, em todos os exemplos de aplicação


abordados, o momento de plastificação foi suposto constante em todas as barras e
em todas as seções. Todavia esse fato não constitui, obviamente, uma restrição ao
Método Plástico, mas apenas coerência com o espírito redobradamente introdutório
com o qual foi abordado o assunto.
O Método Plástico vem sendo bastante estudado e largamente empregado no
projeto estrutural, em especial como parte importante da teoria da confiabilidade
estrutural.

6 – BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA

ANDERMANN, F. – Plaques retangulaires chargées dans leur plan. Paris: Dunod,


1969.
NEAL, B.G. – The plastic methods of structural analysis. Londres: Chapman and Hall
Ltd., 1977.
TIMOSHENKO, S.P., GERE, J.E. – Mecânica dos materiais. Vol. I e II. Rio de Janeiro:
Livros Técnicos e Científicos Editora S.A., 1983.
TIMOSHENKO, S.P., GOODIER, J.N. – Teoria da elasticidade. Rio de Janeiro: Editora
Guanabara Dois, 1980.

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