Figurações Da Violência em "A Confissão de Leontina"

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Revista de Literatura, ISSN 1983-1498 Unioeste /Cascavel - p.

69-81
História e Memória V. 17 – N. 30 - 2021

FIGURAÇÕES DA VIOLÊNCIA EM A CONFISSÃO DE


Revista de Literatura,
LEONTINA, DE LYGIA FAGUNDES TELLES1
História e Memória
Figurations on the violence in
A Confissão de Leontina, by Lygia Fagundes Telles

Veralúcia Pinheiro2
Ewerton de Freitas Ignácio3
Dossiê: Feminismos e literaturas Larissa Landim de Carvalho4
ISSN 1983-1498
VOL. 17 - Nº 30 - 2021 O narrador é o homem que poderia deixar a
luz tênue de sua narração consumir
U N I O E S T E / CA S C A V E L - p. 69-81
completamente a mecha de sua vida. [...] O
narrador é a figura na qual o justo se encontra
consigo mesmo. (Walter Benjamin).

RESUMO: A narrativa, ou melhor, as formas de narrar os eventos-limite, de produzir significado à


vida, como o que acontece no conto “A Confissão de Leontina” (1978), de Lygia Fagundes Telles, nos
fazem interrogar seus sentidos. Segundo Candido (2000), a literatura é essencialmente uma
reorganização do mundo em termos de arte, sendo tarefa do escritor de ficção construir um sistema
arbitrário de objetos, atos, ocorrências e sentimentos. Dessa forma, objetivamos discutir, neste
trabalho, ambiguidades e contradições da sociedade moderna por meio do conto mencionado, cuja
leitura nos inspira a refletir sobre fatos inerentes à condição da mulher pobre na sociedade capitalista.
Tais fatos podem ser representados na ficção de forma a romper com a mera reprodução da vida social,
constituindo-se não apenas como encadeamento de tempos lineares e vazios, como diria Bosi (1996),
mas como construção e tematização da vida-morte degradada, desprovidas da aura positiva com que as
palavras realismo e realidade são utilizadas nos discursos que fazem apologia ao conformismo da vida
como ela é.
PALAVRAS-CHAVE: Lygia Fagundes Telles; Narrativa; Personagem feminina; Violência.

ABSTRACT: The narrative, or rather, the ways of narrating the limit events, of producing meaning to
life, such as what happens in Lygia Fagundes Telles' short story “The Confession of Leontina” (1978),
make us question their senses. According to Candido (2000), literature is essentially a reorganization
of the world in terms of art, and it is the task of the fiction writer to build an arbitrary system of
objects, acts, occurrences, feelings. Thus, we aim to discuss, in this work, ambiguities and
contradictions of modern society through the aforementioned tale, whose reading inspires us to reflect
on facts inherent to the condition of the poor woman in capitalist society. Such facts can be
represented in fiction in order to break with the mere reproduction of social life, constituting not only
as a chain of linear and empty times, as Bosi would say (1996), but as a construction and thematization
of degraded life-death, devoid of the positive aura with which the words realism and reality they are
used in speeches that support the conformity of life as it is.
KEYWORDS: Lygia Fagundes Telles; Narrative; Female character; Violence.

1
O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
– Brasil (CAPES) – Código de Financiamento 001.
2
Doutora em educação pela Unicamp. Professora no Programa de Pós-graduação Interdisciplinar em Educação,
Linguagem e Tecnologias – PPG-IELT, da Universidade Estadual de Goiás.
3
Doutor em Literaturas de Língua Portuguesa com estágio pós-doutoral em Literatura Brasileira. Professor de
Teoria Literária no curso de Letras da Universidade Estadual de Goiás.
4
Advogada. Doutoranda em Letras e Linguística, pela Universidade Federal de Goiás. Mestra em Educação,
Linguagem e Tecnologias, pela Universidade Estadual de Goiás.

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INTRODUÇÃO

Inicialmente, a epígrafe mencionada provoca-nos a ponto de pensarmos: afinal, o que


é uma narrativa literária? Quais relações são pertinentes entre literatura e sociedade
(estereótipos, paradigmas, estigmas)? As expressões da questão social configuram-se como
tópicos ou limites à literatura? No campo das ciências humanas, que é interdisciplinar por
natureza, essas perguntas implicam complexas e variadas respostas, sendo uma delas, talvez a
mais despretensiosa, dada por Walter Benjamin (1994, p. 205), em “O Narrador”. Para
Benjamin, “a narrativa, que durante tanto tempo floresceu num meio artesão [...] é ela própria,
num certo sentido, uma forma artesanal de comunicação” entre autores e seus
leitores/ouvintes. Dessa forma, a narrativa não retrata puramente fatos ou acontecimentos,
mas, como linguagem literária, “mergulha a coisa na vida do narrador para em seguida tirá-la
dele”, deixando entrever sua marca como “a mão do oleiro na argila do vaso”.
Instigadas por reflexões dessa natureza, tomamos como objeto de estudo e de análise o
conto “A Confissão de Leontina”, de Lygia Fagundes Telles, originalmente publicado em
1949, compondo o livro de contos O cacto vermelho, e republicado pela editora Cultura, em
1978, na primeira edição do livro Os filhos pródigos. Posteriormente, na década de 1990, fez
parte da coletânea A estrutura da bolha de sabão, junto a outros contos da autora como, por
exemplo, “A Medalha”, “A Testemunha”, “O Espartilho”, “Fuga”, “Missa do Galo”, “Gaby” e
“A estrutura da bolha de sabão”.
Coincidentemente, a republicação desse conto, na década de 1970, ocorreu no período
da chamada “Segunda Onda” do movimento feminista que, segundo Gohn (2009, p. 136),
teve como preocupação central a luta pela igualdade de direitos ausente nas leis e nos
costumes e influiu diretamente nos embates que se deram por igualdade no mercado de
trabalho, pelo exercício da sexualidade e contra a violência, sobretudo, no espaço doméstico,
e que buscava, também, o fim das leis opressivas e discriminatórias, tal como a do adultério,
que garantia impunidade ao homem ao evocar a “defesa da honra” frente a uma suposta
infidelidade da mulher. Observamos, contudo, que no conto não há nenhuma marca temporal
que nos permita contextualizá-lo com rigor cronológico.
Se havia uma revolução feminista ocorrendo pelo mundo, a protagonista Leontina
passa ao largo disso, seja pela pobreza ou pelo isolamento em que se encontra. Em nível
interpretativo, é perceptível o fato de que, desde os primeiros anos de sua infância, Leontina
internaliza uma herança familiar do meio em que nascera, qual seja o de viver apenas para
servir e esperar. Dessa maneira, nem mesmo quando é atingida frontalmente pela injustiça,

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encarcerada por um crime que cometera em legítima defesa e condenada previamente pela
imprensa e pela opinião pública como “Messalina da boca-do-lixo”, parece não se dar conta
de sua maior tragédia: ser mulher, pobre, sem estudo, desprovida de recursos e órfã de pai,
desde a tenra infância, numa sociedade com fortes traços patriarcais.
Diante desse cenário e levando em conta as análises de Candido (2000), segundo as
quais a literatura é essencialmente uma reorganização do mundo em termos de arte, mediante
a qual o escritor de ficção se propõe a construir um sistema arbitrário de objetos, atos,
ocorrências, sentimentos, representados ficcionalmente conforme um princípio de
organização em sintonia com uma dada situação literária, propomo-nos a discutir
ambiguidades e contradições da sociedade capitalista no conto “A Confissão de Leontina”.
De início, enfatizamos nossa oposição às teses que creditam ao surgimento do
capitalismo o desenvolvimento de um progresso nas relações sociais em sua totalidade. Ao
mesmo tempo, lembramos que a origem desse modelo de sociedade não representa
civilização, humanidade e paz. Marx (2011) deixa isso claro no conhecido capítulo “A assim
chamada acumulação primitiva”. Segundo o autor, na história real desse período, a conquista,
a subjugação, o assassínio para roubar, enfim, a violência, desempenhou papel central e nada
têm de idílico. Em se tratando das mulheres, a história dessa violência que marca a sociedade
capitalista é ainda mais dramática e tem raízes que antecedem o próprio feudalismo. Todo o
processo que provavelmente constituiu as bases do patriarcado cristão e ocidental é anterior,
segundo Scholz (1996), pois sua origem reside na Grécia antiga. Para a autora, assim como a
Grécia criou os fundamentos da matemática e das ciências naturais, também coube a ela
lançar as bases para o desenvolvimento desse sistema que dependia essencialmente do
fomento de uma racionalidade, cujo caráter é masculino e mercantil. Nesse sentido, contribuiu
a própria situação geográfica da Grécia que, isolada por ilhas, dependia do transporte
marítimo. Essa condição do país favoreceu a troca de mercadorias, que resultou na forma
monetária.
Portanto, de modo não coincidente, é exatamente no mundo grego que surge a
primeira cunhagem de moedas (Lídia), uma das condições históricas para o pensamento
racional e abstrato, sem ligação com o mito. Tais condições contribuem com o
desenvolvimento dos homens, livrando-os das limitações impostas pelas crenças, mitos e
superstições. Porém, as mulheres não faziam parte da vida pública, encontrando-se segregadas
no espaço privado e, portanto, privadas desse privilégio. Talvez, um pouco da própria história
da mulher na sociedade capitalista nos ajude a compreender o discurso de Leontina, cuja voz,
plasmada por uma instância narrativa autodiegética, nos dá a conhecer sua história, mediante

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a qual notamos que a narradora protagonista padece, mormente, por sua condição de mulher e,
como se formou nesse contexto de molde e extração patriarcais, não se vê como diferente do
que é para esse sistema, aceitando de forma passiva os rumos de seu destino.

LEONTINA: “PERSONAGENTE”

Dentre os inúmeros neologismos criados por Guimarães Rosa, talvez “personagente”


seja o que melhor se identifica com a personagem constituída pela pena de Lygia Fagundes,
uma narradora-protagonista que ora se individualiza ora se transforma em seres facilmente
encontradiços no plano da vida real. Mas isso só é parte do caso. Fato é que “metade da arte
narrativa está em evitar explicações [e que] o extraordinário e o miraculoso podem ser
narrados com a maior exatidão, mas o contexto psicológico da ação não é imposto ao leitor”
(BENJAMIN, 1994, p. 203), cabendo a ele, portanto, entendê-lo conforme sua miopia, sua
cegueira ou seu arcabouço cultural. É senso comum enfatizarmos, contudo, que o talento de
Telles é propenso a contar histórias cujo mérito maior é, indubitavelmente, narrar sem
explicar, sem procurar justificativas ou soluções. Suas narrativas não são lineares, previsíveis
e, por isso, o leitor fica livre para participar da diegese conforme os contornos e os ditames de
sua própria imaginação.
Ao dar voz à persona, o narrador do conto “A Confissão de Leontina” se abstém de
nos explicar e justificar a condição da personagem, acusada de assassinato e envolvida com
prostituição. Entretanto, a protagonista, em sua aparente humildade, ao se apresentar aos
leitores, os esclarece como os jornais, que, muitas vezes, deturpam a história de sua vida:

Já contei esta história tantas vezes e ninguém quis me acreditar. Vou agora
contar tudo especialmente pra senhora que se não pode ajudar pelo menos
não fica me atormentando como fazem os outros. É que eu não sou mesmo
essa uma que toda gente diz. O jornal me chama de assassina ladrona e tem
um que até deu o meu retrato dizendo que eu era a Messalina da boca-do-
lixo. Perguntei pro seu Armando o que era Messalina da boca-do-lixo e ele
respondeu que essa foi uma mulher muito à toa. E meus olhos que já não têm
lágrimas de tanto que tenho chorado ainda choraram mais (TELLES, 1991,
p. 56).

Essa é a única vez em que Leontina se dirige a uma interlocutora “vou agora contar
tudo especialmente pra senhora” (TELLES, 1991, p. 56). Trata-se de um diálogo com outra
mulher que, de acordo com a diegese, foi a única que se dispôs a escutá-la sem julgamentos e,
embora pareça não ter poder para interceder por ela, pelo menos não aumenta sua angústia. A

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narrativa de Leontina, portanto, direciona-se a essa narratária (GENETTE, 1979), ou seja,


uma figura interna à narrativa, que a recebe em primeira mão. O fato de a autora ter criado
uma narratária, e não um narratário, já é por si só elucidativo de uma percepção que ouvidos
femininos ouviriam com mais atenção e menos julgamento o relato de uma mulher vitimada
pela pobreza, pela incompreensão e pela violência de uma sociedade cujas relações sociais se
pautam sob a égide de um patriarcado tentacular e voraz.
Percebemos que Telles, embora não se fundamente em fatos, como enfatizou Bosi
(1996), sua situação como romancista lhe oferece um espaço amplo de liberdade inventiva e
ela pode trabalhar não só com a memória das coisas realmente acontecidas, mas com todo o
reino do possível e do imaginável, pois, para o autor, o narrador ou a narradora, cria, segundo
seu desejo, representações do bem, representações do mal ou representações ambivalentes,
por meio de técnicas do foco narrativo, as quais ele pode levar ao primeiro plano do texto
ficcional toda uma fenomenologia de resistência do eu aos valores ou antivalores do seu
contexto. Ao assumir a crítica na essência, essa escrita rompe com a mera reprodução do
cotidiano de indivíduos automatizados, de modo que a vida narrada se torna objeto de busca e
construção, não mais se configurando como simples encadeamento de tempos lineares e
vazios. Assim, a tematização dessa “vida-morte aparecerá como tal, degradada, sem a aura
positiva com que as palavras realismo e realidade são usadas nos discursos que fazem a
apologia conformista da vida como ela é” (BOSI, 1996, p. 23).
Nesse contexto, distantes de qualquer neutralidade, posto que autor e leitor se
constituem como sujeitos políticos, interferimos diretamente na trama social e fazemos isso
movidos por valores. Como nos mostrou Bosi (1996), o valor é objeto da intencionalidade da
vontade, é a força propulsora das suas ações, ele está no fim da ação, como seu objetivo; e
está no começo enquanto sua motivação. Por tudo isso, a violência no conto de Telles (1991)
nos provoca de várias maneiras e nos conduz a uma reflexão sobre seu caráter arbitrário e
indigno, que se baseia não na grandeza da ação política, mas na capacidade de destruição que
impede a fala. Reportamo-nos, a esse respeito, ao pensamento de Arendt, para quem
“Somente a pura violência é muda, e por este motivo a violência, por si só, jamais pode ter
grandeza” (1995, p. 35). Advém daí seu caráter arbitrário e indigno, baseado não na grandeza
da ação política que liberta, mas na capacidade de destruição que pode se estender a todos os
setores sociais, impedindo a fala, tornando-a o oposto do diálogo.
Paradoxalmente, o agravamento da violência contra Leontina se dá por meio do
linchamento moral promovido não só pela imposição do silêncio evidente na vida da
personagem como também pelos meios de comunicação após ela mesma ter cometido um ato

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de violência ao tirar a vida de um homem rico e poderoso. A contradição dessa atitude


provoca em nós, leitores, outros pensamentos, outros sentimentos. Levando-nos a refletir
sobre a bestialidade que marca a vida de mulheres que sobrevivem em condições análogas à
ficção de Telles e cuja vivência, ou melhor, cuja sobrevivência nos aponta um mundo
profundamente marcado pelos descalabros perpetrados contra elas, vitimadas por uma ordem
social desigual que por isso mesmo produz estigmas e hostilidades, especialmente contra as
mulheres das classes populares.
Nesse sentido, somos convencidos de que o “silêncio” de Leontina figurativiza, em
certa medida, a violência – moral, simbólica e física – à qual a personagem é exposta, dentro
da diegese, como reflexo do que acontece na sociedade, ou melhor, como o que se assiste nos
telejornais, na imprensa e na vida cotidiana das mulheres pelo mundo afora. Dentro da
narratividade do conto em apreço, o fazer silenciar provoca uma fissura no discurso literário,
cujo fio condutor nos leva a compreender a complexidade dessa violência, ou seja, as palavras
de Leontina, que conformam sua história e sua versão para o crime que fora obrigada a
perpetrar, foram submetidas ao julgamento da sociedade, cuja estrutura patriarcal as silencia,
aprisionando-as na mesma cela em que foi aprisionado o corpo de Leontina.
Nessa direção, o conto em análise, ao adiantar narrativamente o que poderia ser, o que
poderia acontecer, apresenta um caráter atemporal, na medida em que aponta para as
ambiguidades, os conflitos, as lutas que compõem a vida social na contemporaneidade. Trata-
se de uma narrativa que, mesmo que se inscreva no campo da arte, não pode deixar de refletir
aspectos da vida relegados à invisibilidade. Além disso, constatamos que tal narrativa
expressa a liberdade de criação; porém, como toda escolha, condiciona-se por um conjunto de
relações sociais. São escolhas estéticas, mas que carregam consigo paradigmas que são
também de cunho social, político e cultural.
Nesse sentido, como reflete Candido (2000), a literatura constitui-se de fatos
eminentemente associativos, de maneira que obras e atitudes exprimem certas relações dos
homens entre si que, tomadas em conjunto, representam uma socialização dos impulsos
íntimos comungados por meio da palavra que se transfigura em imagem e, desse modo,
podem ser verificados, na descrição e no comportamento da “personagente” Leontina. Vários
planos se entrelaçam e, mesmo em sua aparente simplicidade narrativa, demonstram com
clareza que a exploração e a opressão às quais a narradora-protagonista é exposta são injustas,
conquanto ela não seja capaz de vislumbrar nenhuma forma de alterar esse destino e nem se
insurja contra ele.
Ao relatar sua jornada, de maneira não linear, Leontina vai nos oferecendo elementos

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que a compõem: a cadeia, seu trabalho na boate como dançarina de aluguel, a cidade natal,
Olhos D’água, a felicidade dos primeiros anos de infância com a mãe, o primo Pedro, a
irmãzinha, a morte da mãe, o abandono por Pedro, a fuga, a convivência com a amiga Rubi na
cidade grande, Rogério, o primeiro homem e primeiro amor, o curto período de felicidade, o
abandono por Rogério, os outros homens, mais reminiscências dolorosas da infância e o
episódio fatídico que a levou à prisão.
Ainda que haja laivos de certo contentamento ao se reportar a determinado período de
sua infância, podemos afirmar que a trajetória de Leontina foi marcada pela violência desde
os primórdios de sua vida. Violência decorrente de sua condição de mulher pobre e sem
instrução, de alguém que vivia alijada de uma condição digna de vida, de alguém que vivia
com a mãe, lavadeira, o primo e uma irmãzinha sempre adoentada. Ainda criança se
encarregava de todo trabalho doméstico para que o primo pudesse estudar. O excerto que se
segue mostra como começou a se configurar sua sujeição:

[...] voltava da escola e se metia no mato com os livros e só vinha pra comer
e dormir. Parecia estar pensando sempre numa coisa só. Perguntei um dia em
que ele tanto pensava e ele respondeu que quando crescesse não ia continuar
assim um esfarrapado. Que ia ser médico e importante que nem o doutor
Pinho. Caí na risada ah ah ah. Ele me bateu, mas me bateu mesmo e me
obrigou a repetir tudo o que ele disse que ia ser. Não dê mais risada de mim
ficou repetindo não sei quantas vezes e com uma cara tão furiosa que fui me
esconder no mato com medo de apanhar mais (TELLES, 1999, p. 57).

Verifica-se, por meio da leitura do excerto apresentado, que desde a mais tenra
infância Leontina é vítima de violência, tanto física quanto simbólica. Quando apanha do
primo, porque ousara rir de seu sonho, ferindo, portanto, seu latente orgulho masculino, ela só
consegue fugir e se “esconder no mato”, receosa de que pudesse apanhar mais. Interessante
notar que, infelizmente para ela, o apanhar mais a acompanharia por toda a vida, até o
momento em que ela se veria obrigada a revidar, perfazendo uma ação necessária de
sobrevivência pela qual pagaria caro pelo resto de seus encarcerados dias.
Em outra passagem do conto, ao questionar a mãe sobre os privilégios de Pedro,
desobrigado dos trabalhos braçais, ouve como resposta que o menino precisava estudar para
ser médico e poder, então, cuidar delas. A mãe de Leontina, sozinha na vida com as filhas,
vislumbra na ambição do sobrinho Pedro o esboço de um projeto de homem provedor e, ao
reproduzir esse discurso, também marca profundamente a concepção de Leontina a esse
respeito. Mesmo que a narrativa tenha sido escrita em 1949, época em que, de acordo com
Scheffer (2018), o número de médicas em território brasileiro fosse muitíssimo inferior ao

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número de médicos – em 1950, de um total de 20.745 médicos no Brasil, 13.2% eram


mulheres e 86,8% homens –, apenas em termos ideais seria de se esperar que uma mulher sem
instrução e sem muitas perspectivas de vida fosse incentivar a filha, e não o sobrinho, vulgo o
“homem da casa”, a trilhar os caminhos de uma formação profissional em medicina.
Após a morte da mãe de Leontina, Pedro, para cujo êxito profissional futuro tanto a tia
quanto a prima davam duro para possibilitar, vende os “trastes” da casa, oferece Leontina
como empregada numa casa de família e vai embora da cidade, em busca da realização de seu
projeto de vida.
Anos mais tarde, ao se deparar com Pedro, já então médico, na enfermaria de um
hospital, e ser ignorada por ele que finge não conhecê-la, Leontina, mais uma vez, não se
revolta, mas se envergonha de si mesma: “então me deu uma bruta vergonha daquela vida que
a gente estava levando e que devia mesmo ser uma droga de vida pra Pedro não ter coragem
nem de me cumprimentar” (TELLES, 1991, p. 58). Ainda que tenha sido ignorada pelo primo,
a narradora-protagonista não se ressente dele, achando mesmo natural que ele fingisse não
reconhecê-la.
Nessa perspectiva, até Rubi, grande amiga de Leontina, e companheira de trabalho no
clube de dança, embora se revolte contra o descaso de que Leontina é vítima ao ser ignorada
pelo primo médico, também não concebe a vida sem a tutela de um homem: “O errado não é
ficar dando, mas dar pra pobre como você dá. Nisso é que está o erro” (TELLES, 1991, p.
59). Criada em meio a uma sociedade patriarcal, é perfeitamente natural para ela a violência a
que são expostas, tanto que se conforma com os abusos de que são vítimas por trabalharem na
zona: “Sendo da zona é tratada feito vagabunda e está escrito que tem que ser assim”
(TELLES, 1991, p. 59). Desse modo é que Leontina, ao constatar como o primo – em quem
depositara suas esperanças de uma vida melhor – ascendera socialmente na vida, só consegue
considerar: “Fico pensando que ele era mesmo diferente porque só com ele deu tudo certo e
agora entendo porque merecia um pedaço de carne maior do que o meu” (TELLES, 1991, p.
62).
Ressalte-se que o trabalho no Dancing exigia das mulheres que ali trabalhavam uma
tácita sujeição a várias formas de violência, que transitavam do assédio moral e sexual à
violência física:

Os tipos que transavam pela zona eram todos sem futuro. Agradeça a Deus
se algum deles não se lembrar de te jogar pela janela ou te enfiar uma faca
na barriga. E contou um montão de casos que viu com os próprios olhos de
pequenas assassinadas por dá cá aquela palha. E a polícia não faz nada?

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Perguntei: Ela ia furando com um cigarro a revista da anedota. Não seja


burra Leo. Até que fazem e muito. Acho mesmo que são os que mais fazem e
se não ficam ricos é porque os escrotos acabam deixando o dinheiro no
mesmo lugar de onde arrancam (TELLES, 1991, p. 77).

Levar a vida que Leontina levava, obrigada a desse viver conseguir arrancar seu
sustento, tinha, portanto, de submeter-se cotidianamente à sanha de homens violentos, que
tratavam as mulheres com extrema violência e covardia, fazendo delas seus sacos de
pancadas, configurando um sistema violento que se legitima em meio a uma sociedade que
julga e condena aquelas mulheres que, de uma forma ou de outra, ousam viver uma vida que
destoa do que uma sociedade machista e falocêntrica preconiza como moralmente aceitável.
Ironicamente, é graças à hipocrisia dessa mesma sociedade que lugares como o clube de
dança existem e são frequentados por homens que, a despeito de serem violentos, são também
moralistas.
A mão que espanca, porém, é a mesma da qual se espera um afago, noção que também
é tributária desse modelo de sociedade patriarcal, em que a figura do homem é tanto a do
punho que fere e controla, quanto apanágio de proteção e de provimento. Nesse sentido é que,
por parte da narradora-protagonista, a ideia de ser salva por um homem é tão cristalizada;
tanto é assim que, mesmo se sujeitando ao trabalho mal pago e perigoso de taxi-girl, alimenta
o sonho de que aparecerá ali um homem que a conduzirá para a realidade de uma vida menos
árdua que se desdobre longe desse contexto de horror. Sonho acalentado por histórias como as
que contam seu Armando, pianista da boate, por meio de cujo depoimento Leontina passa a
saber da história de uma dançarina do lugar que se casara com um fazendeiro que a redimira,
retirando-a daquele local, casando-se com ela e fazendo dela uma rainha:

Essa história me animou que só vendo. Mas quando seu Armando viu minha
animação achou graça. Sossega Leo que esse negócio de abóbora virar
carruagem está ficando cada vez mais difícil. Em todo caso não perca a
esperança que eu também não perco a minha de encontrar um dia um rio de
ouro como aconteceu com aquele mendigo da Califórnia (TELLES, 1991, p.
77).

Leontina, por fim, resolve ceder a um homem em troca de uma compensação material,
um vestido que não poderia comprar com seu salário na boate, acabando por se ver exposta a
uma brutal violência, à qual reage instintivamente, provocando a morte de seu agressor. Como
era de se esperar, os meios de comunicação promovem seu linchamento moral. De invisível,
ela se torna símbolo de toda a maldade feminina, um ser naturalmente perverso e imoral, uma
prostituta e assassina atávica que, irreversivelmente, nasceu para cometer crimes. Essa espécie

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de informação, porém, como afirmou Benjamin (2000), só tem valor no momento em que é
nova. Ela só vive nesse instante, precisa entregar-se inteiramente a ele e, sem perda de tempo,
explicar-se nele. Para o narrador, ao contrário, a narrativa não se entrega. Ela conserva suas
forças e o tempo não lhe retira a capacidade de provocar o pensamento, as indagações, as
incertezas...
A consciência ilusória de Leontina e a malandragem de Pedro manifestaram-se de
forma concomitante, ambos contaram com efetiva participação de duas figuras ícones dessa
sociedade – um padre e uma mãe de família. Mas, contada de outro jeito, por outro
personagem, talvez pelo próprio Pedro ou talvez pelo padre, essa história do menino que
roubou a prima, e depois a abandonou nas mãos de um padre indiferente e de uma mulher
cruel e exploradora, transformar-se-ia em uma história fabulosa de sucesso do indivíduo bem
ao gosto dos nossos meios de comunicação. Um rapaz órfão, em precárias condições de
existência, escapa do destino de fracasso coletivo reservado aos segmentos populares e,
graças ao seu próprio esforço e dedicação aos estudos, consegue tornar-se médico, ou seja, as
histórias, sejam ficcionais ou não, exigem mais moralidade e retidão das mulheres do que dos
homens. Saffioti, ao analisar esse aspecto da formação das identidades, discute os conceitos
sobre a mulher numa sociedade patriarcal, considerando que

[...] o patriarcado, quando se trata da coletividade, apoia-se nesse


desequilíbrio resultante de um desenvolvimento desigual de animus e anima
e, simultaneamente o produz. Como todas as pessoas são a história de suas
relações sociais, pode-se afirmar da perspectiva sociológica, que a lenta e
gradual primazia masculina produziu o desequilíbrio entre animus a anima
em homens e mulheres [...] Há uma grande confusão entre conceitos como:
igualdade, diferença, desigualdade, identidade. Considera-se, aqui, errônea
esta concepção. O par da diferença é a identidade (2004, p. 36-37).

Além disso, para Bourdieu (2001), a ascensão de alguns serve para dar uma aparência
de legitimidade ao processo de seleção realizado pela escola. Dessa forma, o sistema escolar
confere às desigualdades culturais uma aprovação bem de acordo com os ideais democráticos
e, ao mesmo tempo, oferece uma importante justificativa para as desigualdades sociais.
Para Leontina, no entanto, nem chegou a haver escola. Houve, sim, muito trabalho, e a
vida com a religiosa D. Gertrudes (a quem fora entregue com a saída de Pedro) era
insuportável. Nada disso, todavia, pode ser considerado anormal ou fora da realidade.
Miríades de crianças e jovens no Brasil, especialmente antes da promulgação do Estatuto da
Criança e do Adolescente, foram – e ainda são – entregues a famílias com maior poder

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aquisitivo, sob o falso argumento de que serão criadas como filhas por essas famílias
substitutas. A melhoria de vida dessas crianças, no entanto, constitui uma mera ilusão. Suas
experiências geralmente se baseiam nos maus tratos, na exploração, nas horas excessivas de
trabalho doméstico, na ausência de uma vida escolar, enfim, na total ausência de dignidade.

DISCUSSÕES FINAIS

Sob uma perspectiva interdisciplinar, realidade e ficção são conceitos pertinentes que
se articulam de modo profícuo no campo das ciências humanas. O historiador Robert Castel
(1999), por exemplo, analisa o processo histórico da inserção marginal de alguns grupos
considerados inúteis para o mundo do trabalho em sociedades do mundo ocidental, o que
justificou, muitas vezes, medidas cruéis estabelecidas pelas legislações da época. Segundo o
autor, as tentativas de definição desses indivíduos classificados como vagabundos foram
relativamente tardias, pois, até o século XVI, termos como vagabundo e inútil encontravam-se
sempre associados a uma série de qualificativos que designavam pessoas mal-afamadas:
ociosos, luxuriosos, rufiões, tratantes, imprestáveis, indolentes e, é claro, prostitutas.
A constituição da modernidade, no Brasil, não prescindiu da marginalização dos
trabalhadores. Engel (1988), por sua vez, pesquisando a condição dos grupos populares no
Rio de Janeiro do século XIX, mostra a ampliação e a diversificação dos segmentos sociais
considerados desclassificados e que eram associados pela intelectualidade da época à ideia de
desordem. Semelhante à representação dos europeus, também no Brasil a presença dos
pobres, em geral (não só dos desclassificados), era tida como indesejável e perigosa. Segundo
a autora, as condições de sobrevivência para estes segmentos sociais, sobretudo o das
mulheres, tornavam-se cada vez mais precárias se levarmos em conta os preconceitos que
restringiam as ocupações passíveis de serem desempenhadas por mulheres. Não restavam,
dessa forma, à mulher livre e pobre, muitas alternativas, além do serviço doméstico, do
pequeno comércio – quitandeiras, vendedoras de doces, de artesanato, costureiras,
cartomantes, feiticeiras, coristas, dançarinas, cantoras, atrizes e prostitutas; quase todas
ocupações depreciadas pela sociedade da época.
No campo literário, a ficção de Telles aborda situações semelhantes. Leontina, mesmo
submissa como se esperava de uma mulher à época, é empurrada pelas contingências para o
trabalho de dançarina, que se confunde com a prostituição, o que determinou sua
estigmatização, pois a transgressão, quando relacionada com a sexualidade, quase sempre está
enredada por representações e mitologias que constituem o imaginário do submundo da

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prostituição, tão dinâmico quanto às práticas do meretrício, pois, embora essa atividade
permaneça no imaginário popular como a profissão mais antiga do mundo, trata-se de uma
naturalização que contradiz sua historicidade.
No Brasil, as práticas de prostituição vincularam-se, desde os tempos da Colônia, à
exploração das escravas pelos senhores de engenho, os quais constantemente cediam jovens
negras e mulatas para serem prostituídas. Naqueles tempos, jovens portuguesas que,
geralmente embarcavam para o Brasil com enganosas promessas de casamento, também eram
obrigadas a se prostituírem. Por se tratar de uma prática que garantia lucro aos escravocratas,
a prostituição não se constituiu em alvo de preocupação do Estado.
De acordo com Rago (1991), as inquietações com a prostituição tiveram início a partir
da expansão do mercado capitalista, pois só então foi possível para chefes de polícia, médicos,
higienistas e juristas isolarem esta atividade, elaborando sobre ela análises e observações.
Para a autora, essas análises, de um lado, silenciaram e estigmatizaram a prostituta e, de outro,
ofereceram explicações essencialmente econômicas sobre a comercialização do corpo
feminino, ou seja, reduziram a prostituta à condição de vítima. Nessa lógica, a prostituição é
focalizada tanto como resposta a uma situação de miséria econômica quanto como
transgressão a uma ordem moral acentuadamente rígida e castradora. Sua função principal
seria, então, a de aliviar esporadicamente a tensão criada pela imposição de estritas regras de
comportamento sexual, permitindo aos homens dar vazão aos impulsos libidinais reprimidos
no interior das famílias.
Por tudo isso, “A Confissão de Leontina”, publicado há mais de 70 anos, ainda nos
dias de hoje nos inspira a refletir sobre a condição da mulher pobre na sociedade capitalista.
Trata-se de uma narrativa que nos faz lembrar dos elevados índices de jovens que, em nossas
cidades, se encontram submetidas a variadas formas de crueldade.

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Recebido: 27/05/2021
Aceito: 25/01/2022

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