Conto - Sueli Maria de Regino - 2016

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Adaptação: Sueli Maria de Regino

O PRÍNCIPE SAPO OU ENRIQUE DE FERRO

Há muito tempo, quando os desejos se realizavam, vivia um rei com


suas três lindas filhas em um grande castelo. A mais bela das três princesas
era a caçula, menina tão linda que até o sol ficava admirado sempre que
iluminava o seu rosto.

Ao lado do castelo do rei havia um bosque e no meio desse bosque,


entre velhas árvores, uma lagoa profunda e escura refrescava tudo ao redor.
Nos dias mais quentes, a linda princesinha ia até o gramado, ao lado da
lagoa, para brincar com sua bola de ouro. Ela jogava a bola para o alto e
corria para pegar, antes que caísse no chão. E assim, a princesa jogava
sozinha, por um bom tempo, até se cansar de brincar.

Uma tarde, a princesa se distraiu e deixou sua bola de ouro cair na


grama, de onde ela rolou e mergulhou na água escura da lagoa. Ao ver sua
bola desaparecer no lodo, a princesinha começou a chorar. Chorou tanto e
tão alto, que chamou a atenção de um sapo.
Aos pulos, ele se aproximou e perguntou o que havia acontecido. A
princesa, quando viu o sapo, achou o bicho muito feio, mas parou de chorar e
contou que a sua bola de ouro havia caído na lagoa.

O sapo, que costumava espiar a princesa brincando, disse que poderia


procurar a bola, mas antes, queria saber o que ela lhe daria em troca. Como
a menina queria muito ter sua bola de volta, respondeu bem depressa:

⎯ O que você quiser, querido sapo! Minhas roupas, minhas pérolas,


minhas joias, minha coroa de ouro... o que você quiser!

O sapo disse que não se interessava por roupas, nem por pérolas ou
joias. O que ele queria era uma promessa da princesa. E perguntou:

⎯ Você promete que me aceita como seu companheiro de todas as


horas? Promete que vai brincar comigo, que vai me deixar sentar ao seu lado
na mesa, comer em seu pratinho de ouro, beber em seu copinho de prata e
dormir em sua cama, entre os lençóis de seda? Se você prometer, vou até o
fundo da lagoa e trago a sua bola.

A princesinha, sem pensar no que fazia, prometeu aceitar o pedido do


sapo. Achava que um bicho tão feio e bobo, que só sabia pular e coaxar, não
iria, certamente, cobrar as promessas de uma princesa.

Quando o sapo ouviu a confirmação da menina, mergulhou na lagoa.


Pouco depois, voltou nadando com a bola na boca e, ao chegar à margem,
lançou-a sobre a grama.

Muito feliz por ter de novo o seu brinquedo, a princesinha pegou a bola
de ouro e saiu correndo para o palácio, sem se importar com o sapo. Ao ver
como a menina corria, o sapo gritou:

⎯ Ei, espere por mim! Quero ir com você!


A princesa, porém, correu ainda mais depressa, deixando o sapo para
trás, certa de que ele desistiria de cobrar a sua promessa. O pobre sapo, ao
ver que não conseguia, com seus saltinhos, acompanhar a menina, voltou
para a lagoa. No dia seguinte, porém, na hora do jantar, quando a princesa
se sentou à mesa com o pai e as irmãs, bateram na porta e uma voz chegou
até o salão onde todos jantavam:

⎯ Princesa, minha princesa, abra a porta!

A princesa foi ver quem batia e, quando abriu, viu o sapo. Assustada,
bateu a porta e voltou para o seu lugar à mesa. O rei, percebendo o
nervosismo da filha, perguntou quem estava chamando lá fora e a princesa,
aflita, respondeu:

⎯ Ah, meu pai, é um sapo.

⎯ E por que esse sapo veio bater à nossa porta?

A princesinha contou ao pai o que havia acontecido, mas não contou


que havia feito uma promessa. Do lado de fora, o sapo voltou a bater e gritou,
bem alto:

⎯ Princesa, minha princesa, abra a porta! Esqueceu sua promessa?

O pai perguntou que promessa era aquela e a princesa, sem outra


saída, contou o que havia prometido ao sapo. O rei, que era um homem
justo, disse, então, a sua filha:

⎯ Aquilo que se promete, deve ser cumprido. Deixe o sapo entrar e


faça o que foi combinado.

Como não podia contrariar o pai, a princesa foi abrir a porta. O sapo
saltou para dentro da sala e, aos pulinhos, chegou junto à mesa, onde pediu
para comer a comida que estava no prato da moça.
Quando viu o sapo ao lado de seu prato, comendo sua comida, a
princesa ficou enjoada e quis sair da mesa, mas o rei ordenou que ela ficasse
ali, até que o sapo terminasse de comer.

Depois do jantar, o sapo disse que estava cansado e pediu à menina


para levá-lo ao seu quarto, onde dormiriam juntos. A princesinha, então,
começou a chorar, pois não gostava da ideia de dormir com um sapo em sua
caminha macia e limpa. O rei, aborrecido com as atitudes da filha, lhe falou:

⎯ Não devemos desprezar aqueles que nos ajudam quando


precisamos. O sapo fez a parte dele, agora, faça a sua.

Enojada, a princesinha, com dois dedos, pegou o sapo por uma perna
e o levou para o quarto, onde o largou embaixo do armário. Mas o sapo foi
pulando até a cama e disse:

⎯ Estou cansado. Também quero dormir. Se você não me colocar na


cama, vou contar ao seu pai que não está cumprindo o que me prometeu.

A princesa, muito aborrecida, pegou o sapo por um pé e o atirou


contra a parede. Pois assim que caiu no chão, o sapo se transformou em um
lindo príncipe. O rapaz contou que havia sido transformado em sapo por uma
bruxa malvada e que ela, a princesinha, o havia libertado do feitiço. Afinal, a
princesa, encantada com a beleza do príncipe, cumpriu a promessa e aceitou
dividir com ele a sua cama.

Quando o rei descobriu o que havia acontecido, disse que iriam ao


reino do príncipe acertar o casamento. No dia seguinte, porém, chegou ao
palácio uma linda carruagem, puxada por oito cavalos brancos, e conduzida
pelo criado do príncipe, o fiel Enrique. Desde a transformação do príncipe em
sapo, Enrique havia colocado três faixas de ferro em volta do peito, para que
seu coração não arrebentasse de tristeza.

Enrique levou o rei e os noivos para o castelo dos pais do jovem


príncipe, que esperavam ansiosos para conhecer a noiva. Na viagem, todos
iam muito alegres, pensando na festa do casamento, quando, de repente,
ouviram um ruído alto, como de alguma coisa se quebrando. O príncipe,
então, perguntou ao criado:

⎯ Enrique, o que foi que se quebrou? Foi a carruagem?

E o bom Enrique respondeu:

⎯ Não meu senhor, não foi a carruagem. Foi uma das faixas de ferro
que prendiam o meu coração. A alegria de ver o meu príncipe fez com que se
desprendesse.

Por mais duas vezes o príncipe ouviu o ruído. Quando perguntava a


Enrique o que havia acontecido, o criado respondia que havia se quebrado
mais uma das faixas de ferro que prendiam o seu coração.

Os dois reinos fizeram grandes festas para comemorar o casamento


do príncipe e da princesa, que foram abençoados com muitos anos de
felicidade.

Este texto é parte integrante da


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