Para Turmas 1a e Escrita
Para Turmas 1a e Escrita
Para Turmas 1a e Escrita
Maria Martin
Rio De Janeiro - 15 AGO 2017 - 13:37
São 21 horas de uma terça-feira no Rio de Janeiro e Mateus Sales, um garoto loiro e meigo de 13
anos, aguarda com pulinhos de impaciência para tirar uma foto com algum de seus ídolos. O pequeno está
tão emocionado que nem atende sua mãe no telefone e minimiza as mais de sete horas de plantão que
leva à frente de um galpão na zona portuária da cidade. Os ídolos que Mateus e mais seis amigos esperam
não são futebolistas, nem apresentadores de televisão, nem cantores. Tampouco atores.
Estamos às portas de um evento do YouTube cujas estrelas são Júlio Coccielo, Luba ou Whindersson
Nunes, youtubers com milhões de seguidores na rede, que se tornaram os pop-stars de uma geração que
não assiste mais TV. Mateus e seus amigos não sabem o que é almoçar com a trilha do Jornal Hoje nem
vão dormir após o fim da novela das 21h. ―Se eu assisto a TV? TV normal? Como assim?‖, questiona o
garoto. ―Bom, só se houver jogo‖. ―A experiência de ver televisão não é mais familiar, é individual. Foi uma
mudança comportamental das novas gerações‖, afirma a diretora do YouTube no Brasil, Fernanda Cerávolo.
Os novos hábitos dos mais jovens, as chamadas geração Z e os millennials, começam a aparecer
nas pesquisas. Embora a TV aberta continue sendo campeã de audiência no Brasil, o tempo que o brasileiro
passa assistindo a vídeos na Internet vem crescendo em maiores proporções, segundo um estudo de 2016
apresentado pelo YouTube em parceria com o site Meio&Mensagem e a consultoria Provokers. ―Os
brasileiros são consumidores compulsivos de conteúdo em vídeo‖, diz Cerávolo.
Os números da enquete revelam inclusive que o conteúdo da Internet já é mais procurado que o da
televisão a cabo: enquanto 82 milhões de brasileiros, 42% da população, têm costume de assistir a vídeos
na rede, os que assistem a TV por assinatura representam 37%. A pesquisa, que ouviu 1.500 pessoas
entre 14 e 55 anos, das classes A, B e C, revela também que entre os adolescentes a televisão recebe cada
vez menos atenção: 89% declarou estar conectado enquanto está diante da tela tradicional.
Mais próxima dos ídolos aos que Mateus mal consegue ver está Larissa Mariana, de 21 anos. A
gritaria durante o show de Wesley Safadão, outra mina de ouro para o YouTube, faz impossível ouvir
qualquer coisa a não ser na área externa do galpão. ―TV? O que que é isso? Só ligo se alguém falar que
está acontecendo algo importante, fora isso pega poeira‖, diz a jovem.
Larissa dedica boa parte do dia a assistir vídeos sobre jogos, humor e ativismo LGBT. Questionada
pela última publicação de um dos seus youtubers favoritos ela gargalha. No sketch, o jovem parodia o
desespero de estar na casa do namorado ou namorada, ter diarreia, e não encontrar nem papel higiênico
nem chuveirinho no banheiro. ―Eu sei que é coisa de doido, mas é engraçado. São pessoas normais que
falam de situações comuns‖. Além de humor, Larissa encontra acolhida na comunidade virtual. ―Eu me
identifico muito com esse pessoal. Também há discursos sobre violência e fala-se de momentos difíceis. Me
dá a sensação de não estar sozinha, de que, se eu precisar, vou ser ouvida‖.
Boa parte dessas ―pessoas normais‖ parodiando o cotidiano têm produtores, assessores de imprensa
e até mais de 20 milhões de seguidores nos seus canais. Vivem disso. São estrelas. Whindersson
Nunes, que a pesar de se encontrar na mesma sala da reportagem se recusou adar entrevista, conta
com mais de 22 milhões de pessoas seguindo seus vídeos de humor. Ele, de regata, tênis e bermuda
esportiva como pronto para uma aula de educação física, é, conforme a pesquisa do YouTube, a segunda
personalidade mais influente para os jovens brasileiros. Na frente apenas Luciano Hulk. Os youtubers como
Nunes estão desbancando míticos apresentadores de televisão e atores como celebridades nas quais se
espelhar. Nessa lista das dez personalidades mais bem colocadas, na qual aparecem Danilo Gentile, Taís
Araujo, Lázaro Ramos e Tatá Werneck, metade são youtubers. Neles, os entrevistados veem autenticidade,
originalidade, senso de humor e inteligência.
Os jovens fãs desses vloggers, além de ser uma audiência massiva, são incansáveis. Capazes de
aguardar horas num shopping por algo tão vintage como um autógrafo, também averiguam os endereços
de hotel onde ficam seus ídolos e os perseguem por apenas uma foto. Lucas Rossi, conhecido como Luba
–4,6 milhões de assinantes e o sexto na lista de mais influentes–, já teve seu prédio invadido. ―Seria bom
fazer a mesma coisa, não sendo tão famoso‖, lamenta ele, youtuber profissional desde 2014 e um dos
mais queridos por intercalar discursos de tolerância e autoestima entre suas palhaçadas.
Luba, que coleciona momentos hilários com a mãe, acredita que a chave do sucesso é a proximidade
com a audiência. ―Diferentemente de artistas, atores ou cantores, a gente está muito próximo de quem nos
vê. Fazemos vídeo do quarto, da sala... A relação é mais pessoal e nos veem como amigos‖. Ele, com 27
anos, se considera, no entanto, dessa geração que assistia ao JH na hora do almoço e fica surpreso diante
mudanças tão rápidas. ―O filho de sete anos de uma amiga estava assistindo TV em casa porque tinha caído
a Internet. Ele não gostou do desenho animado e pediu para trocar. Mas quando a mãe
lhe explicou que não dava, que tinha que aguardar até o episódio terminar, a criança ficou confusa‖, relata.
Como você explica hoje para um menino de sete anos que você não pode pausar, pular ou escolher outro
episódio? Eles não entendem!‖.
A mudança de hábitos das novas gerações também tem atraído anunciantes a plataformas digitais
fazendo de Facebook e Google, dona do YouTube, colossos que, praticamente, têm o monopólio do que
fazem. As marcas veem neles uma via rápida para se dirigir diretamente ao seu público-alvo. Este ano, de
fato, o valor gasto globalmente em publicidade na Internet prevê superar a publicidade televisiva pela
primeira vez, segundo cálculos da agência de mídia Zenith, recolhidos pela revista britânica The Economist.
Mas esse potencial escancara também uma fraqueza: a falta de controle e filtro dos conteúdos. Um
desafio que não só incomoda aos usuários, mas também aos anunciantes. Segundo a revista, um bom
número de marcas, incluindo Coca-Cola, Walmart e General Motors, anunciaram planos para suspender
seus investimentos em publicidade no YouTube porque os anúncios apareciam em conteúdos ofensivos,
como vídeos de grupos jihadistas ou neonazistas. As perdas da Google, com essa crise, poderiam chegar
a um bilhão de dólares em 2017, ou cerca de 1% da sua receita bruta em publicidade, segundo The
Economist.
No YouTube reconhecem que o controle do que é publicado é um ―desafio‖, mas que a crise com
seus anunciantes já foi resolvida. A companhia criou recentemente filtros mais rígidos para barrar conteúdo
com discursos de ódio e terror, mas afirma que depende da própria comunidade de usuários para se
autorregular. ―O YouTube é uma plataforma muito democrática e a linha entre o que é censura e liberdade
é muito tênue‖, explica a diretora Cerávolo. ―Temos que ter cuidado com isso, porque o que vemos no
YouTube é um reflexo do que acontece na sociedade‖.
4 – Como esses elementos adicionais contribuíram para a construção dos significados do texto?
5 –Quanto à linguagem empregada na reportagem, quais observações você poderia fazer? É uma linguagem
que se aproxima da linguagem cotidiana? Você conhece todas as palavras e expressões utilizadas na
construção do texto?