ESTRATÉGIA What Is Strategy - Versão em Português
ESTRATÉGIA What Is Strategy - Versão em Português
ESTRATÉGIA What Is Strategy - Versão em Português
Uma empresa só é capaz de superar suas rivais se conseguir estabelecer uma diferença e mantê-la. Deve
proporcionar maior valor aos clientes ou criar um valor comparável porém a custos mais baixos, ou ambas as
coisas. Portanto, têm-se a aritmética da lucratividade
Eficácia Operacional versus
superior: ao fornecer um valor maior, uma empresa
Posicionamento Estratégico
pode cobrar preços unitários maiores; maior
eficiência resulta em custos unitários médios mais
baixos.
No final, todas as diferenças entre as empresas,
em termos de custo ou preço derivam-se de centenas
de atividades necessárias para criar, produzir,
vender e distribuir seus produtos ou serviços, tais
como visitar clientes, montar produtos finais e
treinar funcionários. O custo é gerado quando se
executa atividades, e a vantagem nos custos surge
ao se executar atividades específicas com maior
eficiência do que as concorrentes. Da mesma forma, o diferencial surge tanto da seleção de atividades como da
forma como são realizadas. As atividades, então, são as unidades básicas da vantagem competitiva. A vantagem
ou a desvantagem global resulta de todas as atividades de uma empresa, não apenas de algumas.1
Eficácia operacional (OE) significa realizar atividades similares melhor do que as rivais. Eficácia operacional
inclui, mas não se limita à eficiência. Refere-se a qualquer número de práticas que permita que uma empresa
utilize melhor seus insumos, por exemplo, reduzindo defeitos nos produtos ou desenvolvendo produtos
melhores com maior agilidade. Por outro lado, posicionamento estratégico significa realizar atividades
diferentes daquelas das rivais ou realizar atividades semelhantes, mas de formas diferentes.
As diferenças em eficácia operacional entre as empresas são de diversas naturezas. Algumas empresas
conseguem obter mais de seus insumos do que outras, porque eliminam desperdício de esforços, empregam
tecnologias mais avançadas, motivam melhor os
funcionários ou possuem uma visão mais ampla
Uma empresa só consegue
ou aprofundada no gerenciamento de
superar as suas rivais, se puder determinadas atividades ou conjunto de
estabelecer uma diferença e fazê- atividades. Essas diferenças em eficácia
la perdurar. operacional são uma fonte importante de
diferenças em lucratividade entre as concorrentes
porque afetam diretamente posições de custo relativo e níveis de diferenciação.
As diferenças em eficácia operacional foram justamente a essência do desafio que a indústria japonesa
representou para as empresas ocidentais nos anos 80. Os japoneses estavam tão à frente de seus rivais em
eficácia operacional, que conseguiam oferecer custo mais baixo e qualidade superior ao mesmo tempo. Vale
estender-se neste ponto porque uma grande parte da filosofia recente sobre competição depende dele. Imagine,
por um instante, uma fronteira em produtividade que constitua a soma de todas as melhores práticas existentes
em qualquer dado momento. Pense nisso como o valor máximo que uma empresa que forneça um determinado
produto ou serviço consegue criar a um determinado custo, usando as melhores tecnologias, habilidades,
Este artigo beneficiou-se consideravelmente da ajuda de muitos indivíduos e empresas. O autor agradece
especialmete a Jan Rivkin, co-autor de um documento relacionado. Substanciais contribuições de pesquisa
foram feitas por Nicolaj Siggelkow, Dawn Sylvester e Lucia Marshall. Tarun Khanna, Roger Martin e Anita
McGahan forneceram comentários particularmente extensos.
técnicas gerenciais e insumos adquiridos existentes. A fronteira da produtividade pode se aplicar a atividades
individuais, a grupos de atividades relacionadas, como processamento de pedidos e fabricação, e a todas as
atividades de uma empresa. Quando uma empresa melhora sua eficácia operacional, ela se desloca no sentido
da fronteira. Para fazê-lo, pode ser preciso investimento de capital, pessoal diferente ou simplesmente novas
formas de gerenciar.
A fronteira da produtividade está constantemente se afastando da empresa, à medida que novas tecnologias e
abordagens gerenciais são desenvolvidas e novos insumos se tornam disponíveis. Computadores portáteis,
comunicações móveis, Internet, e programas de computador como Lótus Notes, por exemplo, redefiniram a
fronteira da produtividade para as operações da força de vendas e criaram abundantes possibilidades para
associar vendas a atividades como processamento de pedidos e suporte pós-vendas. Da mesma forma, a
produção enxuta, que envolve uma família de atividades, permitiu melhorias substanciais na produtividade de
fabricação e na utilização de ativos.
Pelo menos durante a década passada, os gerentes se preocuparam em melhorar a eficácia operacional. Por
meio de programas como Gestão da Qualidade Total (GQT), competição baseada em tempo, e benchmarking,
os gerentes mudaram a maneira de realizar as atividades a fim de eliminar ineficiências, aumentar a satisfação
dos clientes e atingir as melhores práticas. Na esperança de se manterem atualizados com as mudanças na
fronteira da produtividade, os gerentes adotaram melhorias contínuas, empowerment, gerenciamento de
mudanças e a chamada organização que aprende. A popularidade da terceirização e da corporação virtual reflete
o crescente reconhecimento de que é difícil executar todas as atividades com a mesma produtividade de
empresas especializadas.
À medida que as empresas se deslocam em direção à fronteira, elas normalmente vão alcançando melhorias
em múltiplas dimensões de desempenho, simultaneamente . Por exemplo, os fabricantes que adotaram a prática
japonesa de changeovers (troca de funções/ferramental – a base do just-in-time) nos anos 80 conseguiram
diminuir o custo e aumentar a diferenciação ao mesmo tempo. O que um dia se acreditava ser trade-offs reais –
entre defeitos e custos, por exemplo –, acabou sendo ilusões criadas por uma baixa eficácia operacional. Os
gerentes aprenderam a rejeitar esses falsos trade-offs.
O aperfeiçoamento contínuo na eficácia operacional é necessário para alcançar rentabilidade superior.
Entretanto, isso normalmente não basta. Poucas empresas conseguem competir com êxito baseadas em eficácia
operacional durante um longo período; e permanecer à frente de suas concorrentes fica mais difícil a cada dia
que passa. O motivo mais óbvio para isso é a rápida difusão das melhores práticas. As concorrentes podem
imitar rapidamente técnicas gerenciais, novas tecnologias, melhorias nos insumos e formas melhores de atender
às exigências dos clientes. As soluções mais genéricas – aquelas que podem ser usadas em múltiplos cenários –
se disseminam mais rapidamente. Basta ver a proliferação de técnicas de eficácia operacional, aceleradas com o
apoio de consultores.
A concorrência em eficácia operacional move a fronteira da produtividade, afastando-a, e efetivamente
endurecendo a competição para todos. Porém, embora essa competição gere melhoria absoluta em eficácia
operacional, ela não traz nenhuma melhoria relativa a ninguém. Considere o setor de gráficas dos EUA, uma
indústria de cinco bilhões de dólares. Os principais participantes - R.R. Donnelley & Sons Company, Quebecor,
World Color Press, e Big Flower Press – estão competindo de igual para igual, servindo a todos os tipos de
clientes, oferecendo a mesma gama de tecnologias de impressão (gravuras e web offset), investindo
pesadamente nos mesmos equipamentos novos, operando suas máquinas com maior rapidez e reduzindo o
tamanho de suas equipes. Entretanto, os ganhos resultantes do aumento da produtividade estão sendo captados
pelos clientes e fornecedores de equipamentos, e não retidos em lucratividade superior. Até mesmo a margem
de lucro da Donnelley, líder do setor, consistentemente superior a 7% nos anos 80, caiu para menos de 4,6% em
1995. Este padrão está se exaurindo em um setor após outro. Até mesmo os japoneses, pioneiros da nova
competição, sofrem de lucros persistentemente menores. (Ver o encarte “Empresas Japonesas Raramente Têm
Estratégias”.)
Os japoneses desencadearam uma revolução global em eficácia operacional nos anos 70 e 80, abrindo caminho para
práticas como gestão da qualidade total e melhorias contínuas. Como resultado, durante muitos anos os fabricantes
japoneses usufruíram significativas vantagens de custo e qualidade.
Mas as empresas japonesas raramente desenvolveram posições estratégicas distintas, do tipo dessas discutidas neste
artigo. Aquelas que o fizeram – Sony, Canon e Sega, por exemplo –, foram exceções, em vez de regra. A maioria das
empresas japonesas imita e emula: umas às outras. Todos as rivais oferecem o máximo, senão toda a variedade de
produto, características e serviços; empregam todos os canais e equiparam-se umas às outras quanto nas configurações
de fábrica.
Os perigos da competição ao estilo japonês estão se tornando agora mais fáceis de serem reconhecidos. Nos anos 80,
com rivais atuando longe da fronteira da produtividade, parecia possível vencer indefinidamente, tanto em custo quanto em
qualidade. As empresas japonesas puderam crescer numa economia nacional em expansão e penetrar mercados globais.
Pareciam impossíveis de serem detidas. Mas à medida que a distância em eficácia operacional se encolhe, as empresas
japonesas são cada vez mais pegas em uma armadilha de sua própria criação. Se forem fugir das batalhas mutuamente
destrutivas que agora corroem seus desempenhos, as empresas japonesas terão que aprender estratégia.
Para tal, podem ter que superar fortes barreiras culturais. Notoriamente, o Japão se baseia no consenso, e as empresas
possuem uma forte tendência a mediar as diferenças entre os indivíduos, em vez de enfatizá-las. Por outro lado, estratégia
requer escolhas difíceis. Os japoneses também têm uma tradição profundamente enraizada de serviços que os predispõe a
não medir esforços para satisfazer qualquer necessidade que um cliente manifeste. As empresas que competem dessa
maneira acabam obscurecendo seu posicionamento singular, tornando-se todas as coisas para todos os clientes.
Esta discussão do Japão é extraída da pesquisa do autor com Hirotaka Takeuchi, com a ajuda de Mariko Sakakibara.
A segunda razão que melhorou a eficácia operacional é insuficiente – convergência competitiva – e mais sutil
e traiçoeira. Quanto mais benchmarking é feito pelas empresas, mais elas se assemelham. Quanto mais as
concorrentes terceirizam atividades para terceiras partes eficientes, geralmente sempre as mesmas, mais
genéricas essas atividades se tornam. À medida que as concorrentes imitam as melhorias umas das outras em
termos de qualidade, tempos de ciclo ou parcerias com fornecedores, as estratégias convergem e a competição
se torna uma série de corridas em pistas idênticas, onde não há vencedora. A competição baseada unicamente
em eficácia operacional é mutuamente destrutiva, levando a guerras de atrito que só podem ser suspensas
limitando-se a concorrência..
A recente onda de consolidação de indústrias através de fusões faz sentido no contexto da competição em
eficácia operacional. Levadas por pressões de desempenho, mas precisando de visão estratégica, uma empresa
após a outra não teve uma idéia melhor a não ser comprar suas rivais. O posicionamento à esquerda das
concorrentes muitas vezes é aquele que sobreviveu a outros, não empresas com vantagem real.
Após uma década de ganhos notáveis em eficácia operacional, muitas empresas estão enfrentando retornos
decrescentes. As melhorias contínuas ficaram gravadas no cérebro dos gerentes. Mas suas ferramentas
involuntariamente levam as empresas no sentido da imitação e da homogeneidade. Gradualmente, os gerentes
deixam que a eficácia operacional suplante a estratégia. O resultado é uma competição de soma zero, estática,
ou menores preços e pressões nos custos que comprometem a capacidade das empresas em investir no negócio
para o longo prazo.
A Southwest, por outro lado, adapta todas as suas atividades para oferecer um serviço conveniente,
de baixo custo, no seu tipo específico de rota. Através de tarefas rápidas no portão de apenas 15
minutos, a Southwest consegue manter os aviões no ar, por mais horas do que suas rivais, e fornecer
partidas freqüentes com menos aeronaves. A Southwest não oferece refeições, poltronas numeradas,
transferência de bagagem entre companhias aéreas ou classes superiores de serviço. A
compra/retirada automatizadas de bilhetes no portão estimula os clientes a deixarem de lado os
agentes de viagem, o que permite que a Southwest não tenha que dar comissões. Uma frota
padronizada de aeronaves (Boeing) 737 impulsiona a eficiência da manutenção.
A Southwest assegurou uma posição estratégica única e valiosa com base em um conjunto de
atividades sob medida. Nas rotas servidas pela Southwest, uma empresa aérea de serviços completos
nunca poderia ser tão conveniente ou de baixo custo.
Ikea, a varejista global de mobiliário, baseado na Suécia, também ocupa uma clara posição
estratégica. A Ikea visa consumidores de mobília, que sejam jovens e queiram estilo a preço módico.
O que torna este conceito de marketing uma posição estratégica é o conjunto sob medida de atividades
que o fazem funcionar. Como a Southwest, a Ikea selecionou executar as atividades de maneira
diferente de suas rivais.
Considere a típica loja de mobílias. As salas de exposição exibem amostras da mercadoria. Uma
área pode conter 25 sofás; uma outra exibirá cinco mesas de jantar. Entretanto, esses itens representam
apenas uma fração das escolhas disponíveis para os clientes. Dezenas de livros que exibem amostras
de tecido ou amostras de madeira ou estilos alternativos oferecem aos clientes milhares de variedades
de produto para escolher. Os vendedores geralmente acompanham os clientes pela loja, respondendo
perguntas e ajudando-os a navegar neste labirinto de opções. Assim que um cliente faz uma seleção, o
pedido é transmitido para um fabricante terceirizado. Com sorte, a mobília será entregue na casa do
cliente dentro de seis a oito semanas. Esta é uma cadeia de valor que maximiza a customização e o
serviço, mas o faz a um custo alto.
Por outro lado, a Idea atende clientes que preferem trocar serviços por custo. Em vez de ter um
vendedor acompanhando os clientes pela loja, a Ikea usa um modelo de auto-serviço baseado em
mostruários claros, dentro da loja. Em vez de depender unicamente de fabricantes terceirizados, a Ikea
projeta sua própria mobília modular, de custo acessível, pronta para montar, condizente com o seu
posicionamento. Em grandes lojas, a Ikea exibe cada produto que vende em cenários parecidos com
ambientes reais, para que os clientes não precisem de um decorador para ajudá-los a imaginar como
juntar todas as peças. Adjacente às salas de exposição mobiliadas, encontra-se uma seção de depósito
com os produtos em caixas sobre paletes. Espera-se que os próprios clientes apanhem e transportem
as peças compradas, e a Ikea poderá até vender-lhes um rack-bagageiro para o carro que poderá ser
devolvido para reembolso na próxima visita.
Embora uma grande parte desta posição de baixo custo venha do fato de fazer com que os clientes
“executem por si mesmos”, a Ikea oferece uma série de serviços extras que suas rivais não oferecem.
Creche e recreação para crianças no interior das lojas é um desses serviços. Horas prolongadas são
outro. Esses serviços estão incomparavelmente alinhados com as necessidades de seus clientes, que
são jovens, não ricos, provavelmente com filhos (mas sem babá) e, por trabalharem para viver,
requerem a oportunidade de fazer compras em horas não convencionais.
O Grupo Vanguard, líder no setor de fundos mútuos, é um outro exemplo de posicionamento baseado em
variedade. A Vanguard fornece uma variedade de ações ordinárias, títulos governamentais e fundos do mercado
monetário, que apresentam um desempenho previsível e despesas mínimas. A abordagem de investimento da
empresa sacrifica deliberadamente a possibilidade de um desempenho extraordinário em qualquer ano dado em
troca de um bom desempenho relativo todos os anos. A Vanguard é conhecida, por exemplo, por seus fundos de
índices. Ela evita apostar em taxas de juros e fica longe de grupos de ações de mercado limitado. Os gerentes de
fundos mantêm baixo o número de operações, o que mantém as despesas baixas; além disso, a empresa
desencoraja os clientes a comprar e vender rapidamente porque agir assim provoca aumento de custos e pode
forçar um gerente de fundos a fazer operações a fim de captar novos capitais e levantar dinheiro vivo para
cobrir os resgates. A Vanguard também aplica uma abordagem consistente de custo baixo para gerenciar a
distribuição, o serviço a clientes e o marketing. Muitos investidores incluem um ou mais fundos da Vanguard
em sua carteira, ao mesmo tempo em que compram fundos agressivamente administrados ou especializados das
concorrentes.
As pessoas que usam a Vanguard ou a Jiffy Lube estão respondendo a uma cadeia de valor superior para um
tipo específico de serviço. Um posicionamento baseado em variedade pode servir um espectro mais amplo de
clientes, mas, para a maioria, ele atenderá apenas a um subconjunto de suas necessidades.
Uma segunda base para posicionamento é a de servir a maioria ou todas as necessidades de um grupo
específico de clientes. Chamo isto de posicionamento baseado em necessidades, que chega mais perto da
filosofia tradicional de ter por alvo um segmento de clientes. Surge quando há grupos de clientes com
necessidades diferentes, e quando um conjunto sob medida de atividades pode atender melhor essas
necessidades. Alguns grupos de clientes são mais sensíveis ao preço do que outros, exigem características
diferentes de produtos e precisam de quantidades variáveis de informação, suporte e serviços. Os clientes da
Ikea são um bom exemplo desses grupos. A Ikea
Posições estratégicas podem ser busca atender a todas as necessidades de seus
baseadas nas necessidades dos clientes-alvo em relação a mobiliário, e não
clientes, na facilidade de acesso para apenas a um subconjunto dessas necessidades.
os clientes ou na variedade de produtos Uma variante de posicionamento baseado em
e serviços da empresa. necessidades surge quando o mesmo cliente tem
necessidades diferentes em diversas ocasiões ou
para diferentes tipos de transações. A mesma pessoa, por exemplo, ao viajar a negócios, pode ter necessidades
diferentes do que quando viaja a passeio com a família. Compradores de latas – empresas de bebidas, por
exemplo –, ao comprarem do seu fornecedor principal provavelmente terão necessidades diferentes das
envolvidas nas compras do seu fornecedor secundário.
É intuitivo aos gerentes conceber seus negócios em função das necessidades dos clientes que estejam
atendendo. Mas um elemento crítico do posicionamento baseado em necessidades não é nem um pouco
intuitivo e costuma ser negligenciado. As diferenças em necessidades não se traduzirão em posições
significativas, a menos que o melhor conjunto de atividades para satisfazê-las também seja diferente. Se esse
não fosse o caso, cada concorrente poderia atender a essas mesmas necessidades e não haveria nada de singular
ou valioso a respeito do posicionamento.
Nas atividades de bancárias privadas, por exemplo, a Bessemer Trust Company tem como alvo famílias com
um mínimo de US$5 milhões em ativos disponíveis para investimento e que desejem preservação de capital
combinada com acúmulo de riqueza. Ao designar um gerente de conta sofisticado para cada 14 famílias, a
Bessemer configurou suas atividades para um serviço personalizado. As reuniões, por exemplo, são mais
prováveis de acontecerem no sítio ou no iate de um cliente do que no escritório. A Bessemer oferece um amplo
espectro de serviços customizados, incluindo gestão de investimentos e administração de imóveis, supervisão
de investimentos em petróleo e gás, e contabilidade para cavalos de corrida e aeronaves. Empréstimos, um dos
principais produtos da maioria dos bancos privados, são raramente demandados por clientes da Bessemer e
compõem uma fração bem pequena dos saldos e das rendas de seus clientes. Apesar da generosa remuneração
dos gerentes de contas e o custo mais alto em pessoal como uma percentagem das despesas operacionais, a
diferenciação da Bessemer com suas famílias-alvo produz um retorno sobre o patrimônio líquido estimado
como o mais alto de qualquer concorrente em bancos privados.
O banco privado do Citibank, por outro lado, atende a clientes com ativos mínimos de cerca de US$ 250.000,
que, ao contrário dos clientes da Bessemer, querem acesso conveniente a empréstimos desde grandes hipotecas
até financiamento de negócios. Os gerentes de conta do Citibank são principalmente concessores de
empréstimos. Quando os clientes precisam de outros serviços, o gerente da sua conta os encaminha para outros
especialistas do Citibank, cada um dos quais lida com produtos pré-empacotados. O sistema do Citibank é
menos customizado do que o da Bessemer e permite que tenha um coeficiente mais baixo de gerente por
cliente, sendo este de 1 para 125. As reuniões bianuais no escritório são oferecidas apenas para os clientes
maiores. Tanto a Bessemer como o Citibank customizaram suas atividades para que atendessem às necessidades
de um grupo diferente de clientes de bancos privados. A mesma cadeia de valor não pode atender com lucro às
necessidades dos dois grupos.
A terceira base para o posicionamento é a segmentação de clientes que sejam acessíveis de formas diferentes.
Embora suas necessidades sejam semelhantes às de outros clientes, a melhor configuração de atividades para
alcançá-los é diferente. Chamo isto de posicionamento baseado em acesso. O acesso pode ser uma função de
geografia de cliente ou escala de consumidor – ou de qualquer coisa que exija um conjunto diferente de
atividades para alcançar os clientes da melhor forma possível.
A segmentação por acesso é menos comum e menos compreendida do que as outras duas bases. Carmike
Cinemas, por exemplo, opera salas de exibição exclusivamente em cidades médias e pequenas com populações
abaixo de 200.000. Como a Carmike faz dinheiro em mercados que são não apenas pequenos, mas tampouco
suportam os preços de bilheteria das grandes cidades? Isso é feito através de um conjunto de atividades que
resultam em uma estrutura de custo enxuta. Os clientes de cidade pequena da Carmike podem ser atendidos
com complexos padronizados, de cinemas de baixo custo, com cinemas de cidade grande, com menos telas e
tecnologia de projeção menos sofisticada. O sistema de informações e o processo de gerenciamento
proprietários eliminam a necessidade de se ter funcionários administrativos locais além de um único gerente de
cinema. A Carmike também obtém vantagens das compras centralizadas, aluguel e folha de pagamento de
menor custo (devido às suas localizações) e um overhead corporativo mínimo de 2% (a média do setor é de
5%). Operar em pequenas comunidades também permite que a Carmike pratique uma forma altamente pessoal
de marketing, onde o gerente do cinema conhece os freqüentadores e promove a assiduidade através de
contatos pessoais. Por ser o principal cinema, se não o único, em seus mercados, o principal concorrente
costuma ser o time de futebol da escola – a Carmike também consegue escolher os filmes que deseja exibir e
negociar melhores termos com as distribuidoras.
A distinção entre clientes rurais e clientes urbanos é um exemplo do uso do acesso como elemento norteador
de diferenças nas atividades. Atender a um número pequeno, em vez de a um grande número de clientes, ou a
clientes concentradamente localizados em vez de esparsos são outros exemplos da melhor forma de configurar
atividades de marketing, processamento de pedidos, logística e serviços pós-venda para atender a necessidades
semelhantes de grupos normalmente distintos.
O posicionamento não tem só a ver com a descoberta de um nicho. Uma posição que surja de qualquer fonte
pode ser ampla ou estreita. Uma concorrente focada, como a Ikea, objetiva as necessidades especiais de um
subconjunto de clientes e projeta suas atividades de acordo. Concorrentes focados prosperam com grupos de
clientes que estão servidos em excesso (e, conseqüentemente, pagando preços mais altos que o necessário) por
concorrentes com objetivos mais amplos, ou então estão insuficientemente servidos (e daí, com preços mais
baixos que os potenciais). Uma concorrente que possua um alvo amplo - por exemplo, a Vanguarda ou a Delta
Air Lines – atende a uma vasta gama de clientes, realizando um grupo de atividades designadas a atender suas
necessidades comuns. Ignora ou atende apenas parcialmente as necessidades mais idiossincrásicas de grupos
específicos de clientes.
Seja qual for a base – variedade, necessidades, acesso ou qualquer combinação dos três – o posicionamento
requer um conjunto de atividades sob medida porque é sempre uma função de diferenças no lado do
fornecimento; ou seja, de diferenças nas atividades. Entretanto, o posicionamento nem sempre é uma função das
diferenças em demanda ou do lado do cliente. Os posicionamentos em variedade e acesso, em especial, não
dependem de quaisquer diferenças em clientes. Na prática, contudo, diferenças de variedade ou acesso
normalmente acompanham diferenças de exigências. Os gostos – ou seja, as necessidades de clientes de cidade
pequena da Carmike, por exemplo, são mais no sentido de comédias, filmes de faroeste, filmes de ação e
entretenimento familiar. A Carmike não exibe filmes classificados como NC-17 (filmes proibidos até 17 anos).
Tendo definido posicionamento, podemos agora começar a responder a pergunta, “O que é estratégia?”
Estratégia é a criação de uma posição ímpar e valiosa, envolvendo um conjunto diverso de atividades. Se
houvesse apenas uma posição ideal, não haveria necessidade alguma de estratégia. As empresas teriam apenas
que ganhar uma simples corrida imperativa no sentido de descobrir e apropriar-se da mesma. A essência do
posicionamento estratégico é escolher atividades que sejam diferentes daquelas das concorrentes. Se o mesmo
conjunto de atividades fosse melhor para produzir todas as variedades, e acessar todos os clientes, as empresas
poderiam facilmente se alternar e a eficácia operacional determinaria o desempenho.
tempo em que decidiu manter sua posição como uma empresa aérea de serviço completo, a Continental também
começou a se igualar à Southwest em uma série de rotas ponto-a-ponto. A empresa chamou o novo serviço de
Continental Lite. Eliminou refeições e serviços de primeira classe, aumentou a freqüência das partidas,
diminuiu o preço das passagens e reduziu o tempo gasto no portão de embarque. Como a Continental
permaneceu como uma empresa de serviços completos em outra rotas, ela continuou a usar os agentes de
viagem e sua frota combinada de aviões e fornecer embarque de bagagem e designação de poltronas.
Contudo, uma posição estratégica não é sustentável a menos que haja trade-offs com outras posições. Os
trade-offs ocorrem quando as atividades são incompatíveis. Colocado de forma simples, um trade-off significa
que o aumento de uma coisa requer a diminuição de outra. Uma empresa aérea pode decidir servir refeições –
adicionando custo e diminuindo o tempo gasto no portão de embarque – ou pode decidir não o fazer, mas não
pode fazer as duas coisas sem sofrer grandes ineficiências.
Os trade-offs criam a necessidade de escolha e proteção contra reposições e indecisos. Considere o sabonete
Neutrogena. O posicionamento baseado em variedade da Corporação Neutrogena é construído em um sabonete
sem resíduos para um “tipo de pele” formulado para equilíbrio do pH. Com grande parte da propaganda
invocando dermatologistas, a estratégia de marketing da Neutrogena mais parece uma empresa de substâncias
farmacológicas do que um fabricante de sabonete. Ela coloca anúncios em periódicos médicos, envia mala
direta a médicos, participa de conferências médicas e faz pesquisa em seu próprio Instituto Skincare. Para
reforçar seu posicionamento, a Neutrogena no início concentrou sua distribuição em drogarias e evitou
promoções de preços. A Neutrogena utiliza um processo de fabricação mais lento e caro para moldar o seu
frágil sabonete.
Ao escolher esta posição, a Neutrogena disse não para os desodorantes e os emolientes que muitos clientes
desejam em seu sabonete. Desistiu do grande potencial de volume de vendas em supermercados e de utilizar
promoções de preço. Sacrificou produtividade em fabricação para alcançar os atributos desejados do sabonete.
Em seu posicionamento original a Neutrogena fez toda uma abundância de trade-offs como esses, trade-offs que
protegeram a empresa de imitadores.
Os trade-offs surgem por três motivos. O primeiro é inconsistência em imagem ou reputação. A empresa que
é tida como aquela que distribui um tipo de valor pode carecer de credibilidade e confundir os clientes – ou até
mesmo solapar sua reputação – se apresentar um outro tipo de valor ou tentar distribuir duas coisas
inconsistentes ao mesmo tempo. Por exemplo, o sabonete Ivory, com a sua posição como um sabonete básico,
econômico para uso diário, teria problemas em refazer a sua imagem para chegar à reputação “médica” prêmio
do sabonete da Neutrogena. Esforços para criar uma nova imagem normalmente custam dezenas ou até mesmo
centenas de milhões de dólares em uma grande indústria – uma poderosa barreira à imitação.
Segundo, e mais importante, os trade-offs emergem das próprias atividades. Diferentes posições (com suas
atividades sob medida) exigem diferentes configurações de produtos, equipamento diferente, comportamento
diferente de funcionários, habilidades diferentes e sistemas gerenciais diferentes. Muitos trade-offs refletem
inflexibilidades em maquinário, pessoal ou sistemas. Quanto mais a Idea configurou suas atividades para
diminuir custos permitindo que seus clientes efetuassem sua própria montagem e entrega, menos capaz se
tornou de satisfazer clientes que requerem níveis maiores de serviço.
Entretanto, os trade-offs podem ser ainda mais básicos. Em geral, o valor é destruído se uma atividade for
superprojetada ou subprojetada para o uso a que se destina. Por exemplo, mesmo que um determinado
vendedor fosse capaz de fornecer um alto nível de assistência a um cliente e nenhum a outro, o talento do
vendedor (e alguns de seus custos) seria desperdiçado no segundo cliente. Além do mais, a produtividade pode
melhorar quando a variação de uma atividade é limitada. Ao fornecer um alto nível de assistência o tempo
todo, o vendedor e toda a atividade de vendas poderão, em geral, alcançar capacidade de aprendizagem e
escala.
Finalmente, os trade-offs surgem dos limites sobre a coordenação e o controle internos. Escolhendo
claramente competir de uma forma e não de outra, a gerência sênior tornará claras as prioridades
organizacionais. As empresas que tentam ser tudo para os clientes; por outro lado, arriscam confusão nos
bastidores à medida que os funcionários tentam tomar decisões operacionais diárias sem uma estrutura bem
definida.
O posicionamento dos trade-offs é difuso na competição e essencial para a estratégia. Cria uma necessidade
de escolha e propositadamente limita o que uma empresa oferece. Intimida uma posição hesitante ou um
reposicionamento, porque as concorrentes que se engajam nessas abordagem enfraquecem suas estratégias e
aviltam o valor de suas atividades existentes.
Em última análise, os trade-offs acabaram mantendo a Continental Lite em terra. A empresa aérea perdeu
centenas de milhões de dólares e o Principal Executivo perdeu seu emprego. Seus aviões eram atrasados,
deixando os hubs (pontos centrais) congestionados ou empatando o portão devido a transferências de bagagem.
Os atrasos nos vôos e os cancelamentos geraram milhares de reclamações diárias. A Continental Lite não
conseguiu mais arcar com o custo de competir em preço e ainda ter que pagar comissões-padrão a agentes de
viagem, mas também nada poderia fazer sem os agentes para seus negócios de serviço completo. A empresa
aérea comprometeu-se cortando as comissões para todos os vôos da Continental coletivamente. Da mesma
forma, não conseguiu mais oferecer os mesmos benefícios de viajantes freqüentes (frequent-fliers) aos
passageiros que pagavam os preços muito mais baratos das passagens para os serviços da Lite. Comprometeu-
se novamente em reduzir os rewards de todos os programas de viajantes freqüentes da Continental. Os
resultados: a indignação de agentes de viagem e clientes de serviço completo.
A Continental tentou competir de duas formas ao mesmo tempo. Ao tentar manter os custos baixos em
algumas rotas e serviço completo em outras, a Continental pagou uma penalidade enorme por ficar em cima do
muro. Se não houvesse trade-offs entre as duas posições, a Continental poderia ter sido bem-sucedida. No
entanto, a ausência de trade-offs é uma meia-verdade perigosa que os gerentes precisam desaprender. A
qualidade nem sempre é gratuita. Uma comodidade da Southwest, como um tipo de alta qualidade, por acaso é
consistente com custos baixos porque suas partidas freqüentes são facilitadas por uma série de práticas de baixo
custo – rapidez em tempo gasto no portão e emissão de passagens automatizada, por exemplo. Entretanto,
outras dimensões de qualidade em empresas aéreas – poltronas numeradas, refeições ou transferência de
bagagem – requerem custos para serem fornecidas.
De um modo geral, os falsos trade-offs entre custo e qualidade ocorrem principalmente onde existam esforços
redundantes ou desperdiçados, controle inadequado ou falta de exatidão, ou até mesmo uma coordenação fraca.
Um aperfeiçoamento simultâneo de custo e diferenciação é possível apenas quando a empresa começa muito
atrás da fronteira da produtividade ou quando a fronteira se desloca para fora. Na fronteira, onde as empresas
alcançaram melhores práticas atuais, o trade-off entre custo e diferenciação é, na realidade, muito presente.
Honda descobriu que a única forma de produzir um carro mais econômico seria mesquinhar em características.
Nos Estados Unidos, ela substituiu os freios traseiros a disco no Civic por freios a tambor mais baratos e usou
tecido mais barato para os assentos traseiros, esperando que os clientes não notassem. A Toyota tentou vender
uma versão de seu carro mais vendido – o Corolla – no Japão com pára-choques sem pintura e assentos mais
baratos. No caso da Toyota, os clientes reclamaram e a empresa mais que depressa abandonou o novo modelo.
Durante a última década, à medida que os gerentes foram aperfeiçoando imensamente a eficácia operacional,
eles internalizaram a idéia de que eliminar trade-offs é uma boa coisa. Porém, se não houver trade-offs, as
empresas jamais alcançarão uma vantagem sustentável. Elas terão que correr cada vez mais só para
permanecerem no lugar.
Retornando à pergunta: o que é estratégia? Vemos que os trade-offs adicionam uma nova dimensão à
pergunta. Estratégia é fazer trade-offs ao competir. A essência da estratégia é escolher o que não fazer. Sem
trade-offs, não haveria necessidade alguma de escolha e, dessa forma, nenhuma necessidade de estratégia.
Qualquer idéia boa poderia e seria rapidamente imitada. Mais uma vez, o desempenho dependeria novamente
por completo da eficácia operacional .
A adequação anula os imitadores criando uma cadeia tão resistente quanto o seu elo mais forte. Como na
maioria das empresas com boas estratégias, as atividades da Southwest se complementam de forma a criar
verdadeiro valor econômico. O custo de uma atividade, por exemplo, é reduzido devido à forma como outras
atividades são desempenhadas. Da mesma forma, o valor de uma atividade para os clientes pode ser realçado
por outras atividades da empresa. É assim que a adequação estratégica cria vantagem competitiva e
lucratividade superior.
Tipos de Adequação
A importância da adequação entre as políticas funcionais é uma das idéias mais antigas em estratégia.
Entretanto, gradualmente, ela foi suplantada pela agenda gerencial. Em vez de ver a empresa como um todo, os
gerentes viraram-se para competências “essenciais”, recursos “críticos e fatores-chave de sucesso". Na verdade,
adequação é um componente de vantagem competitiva muito mais central do que a maioria pensa.
A adequação é importante porque atividades discretas geralmente afetam umas as outras. Uma força de
vendas sofisticada, por exemplo, confere uma vantagem maior quando o produto da empresa incorpora
tecnologia de ponta e sua abordagem de marketing enfatiza assistência e apoio aos clientes. Uma linha de
produção com altos níveis de variedade de modelos é mais valiosa quando combinada com um sistema de
estoque e de processamento de pedidos que minimize a necessidade de armazenar produtos prontos, com um
processo de vendas equipado para explicar e encorajar customização, e com um tema de propaganda que
enfatize os benefícios das variações de produtos que atendam às necessidades especiais de um cliente. Essas
complementações são universais em estratégia. Embora parte das adequações entre as atividades seja genérica e
se aplique a diversas empresas, a adequação mais valiosa é específica à estratégia porque otimiza a
singularidade da posição e amplia os trade-offs.2
serviço a auto-
clientes seleção
limitado pelos
clientes
Existem três tipos de adequação, embora eles não sejam mutuamente exclusivos. A adequação de primeira
ordem é consistência simples entre cada atividade (função) e a estratégia como um todo. A Vanguard, por
exemplo, alinha todas as atividades com sua estratégia de custo baixo. Ela minimiza a rotatividade de portfólio
e não precisa de gerentes que ganhem muito dinheiro. A empresa comercializa diretamente os fundos, evitando
comissões a corretores. Também limita a propaganda, dependendo, porém, das relações públicas e de
recomendações boca-a-boca.. A Vanguard vincula os bônus de seus funcionários com economia em custos.
A consistência garante que as vantagens competitivas das atividades acumulem e não se desgastem. Torna a
estratégia mais fácil de ser comunicada aos clientes, funcionários e acionistas, e melhora a implementação
através da homogeneidade de objetivos dentro da corporação.
A adequação de segunda ordem ocorre quando as atividades são reforçadas. A Neutrogena, por exemplo,
comercializa em hotéis de luxo ansiosos por oferecerem aos hóspedes um sabonete recomendado por
dermatologistas. Os hotéis concedem à Neutrogena o privilégio de usar suas embalagens costumeiras enquanto
solicitam outros sabonetes que retratem o nome do hotel. Logo que os hóspedes experimentam o sabonete da
Neutrogena em um hotel de luxo, eles se tornam mais propensos a comprá-lo na drogaria ou a indagar ao seu
médico sobre o mesmo. Assim, as atividades de marketing de hotel e médicas reforçam umas às outras,
Contudo, a Bic vai além de simples consistência porque suas atividades são reforçadoras. Por exemplo, a
empresa utiliza mostruários em pontos de venda e freqüentes mudanças nas embalagens para estimular as
compras por impulso. Para lidar com as tarefas dos pontos de vendas, a empresa precisa de uma grande força de
vendas. A da Bic é a maior em seu setor industrial e lida com as atividades em pontos de vendas melhor do que
suas concorrentes. Além do mais, a combinação de atividade de ponto de venda, forte propaganda pela televisão
e mudanças nas embalagens gera ainda mais compras por impulso do que qualquer atividade isolada geraria.
A adequação da terceira ordem vai além do reforço de atividades para o que chamo de otimização de
esforços. A The Gap, um varejista de roupas informais, considera a disponibilidade dos produtos em suas lojas
como sendo um elemento crítico de sua estratégia. A The Gap poderia guardar os produtos mantendo um
inventário da loja ou reabastecendo-se a partir de depósitos. A The Gap otimizou seus esforços em todas essas
atividades reabastecendo o estoque de sua seleção de roupas básicas quase que diariamente partindo de três
depósitos, daí minimizando a necessidade de manter inventários grandes nas lojas. A ênfase está no
reabastecimento dos estoques porque a estratégia de merchandising da The Gap se prende a itens básicos em
relativamente poucas cores. Enquanto varejistas comparáveis atingem giros de estoque de três a quatro vezes
por ano, a The Gap gira seu estoque sete vezes e meia por ano. A reestocagem rápida, além de tudo, reduz o
custo de implementar o curto ciclo dos modelos (das roupas) da Gap, que é de seis a oito semanas.3
Adequação e Sustentabilidade
A adequação estratégica entre muitas atividades é fundamental, não só para a vantagem competitiva como
também para a sustentabilidade dessa vantagem. É mais difícil para uma concorrente igualar uma série de
atividades interligadas do que meramente imitar uma abordagem específica de uma força de vendas, igualar a
tecnologia de processo, ou duplicar um
Posições estratégicas deveriam ter um conjunto de características de produto. As
horizonte de uma década ou mais, e posições construídas em sistemas de
não de um único ciclo de atividades são muito mais sustentáveis do que
planejamento. aquelas construídas em atividades isoladas.
Considere este simples exercício. A
probabilidade de que concorrentes possam igualar qualquer atividade geralmente é menos do que uma. As
probabilidades então rapidamente se compõem para fazer com que equiparar todo o sistema seja altamente
improvável (0,9 x 0,9 = 0,81; 0,9 x 0,9 x 0,9 x 0,9 = 0,66, e assim em diante). As empresas existentes que
tentam se reposicionar ou ficam em cima do muro serão forçadas a reconfigurar muitas atividades.
E mesmo no caso de novas empresas, embora elas não se deparem com trade-offs perante concorrentes já
estabelecidas, ainda assim, precisam encarar barreiras descomunais à imitação.
Quanto mais o posicionamento de uma empresa residir em sistemas de atividade com adequação de segunda
ou terceira ordem, mais sustentável será sua vantagem. Esses sistemas, pela sua própria natureza, geralmente
costumam ser difíceis de desembaraçar do lado de fora da empresa e, portanto, difíceis de imitar. E mesmo que
concorrentes possam identificar as interconexões relevantes, elas terão dificuldade em duplicá-las. O alcance de
adequação é difícil porque requer a integração de decisões e ações através de muitas subunidades
independentes.
A concorrente que tenta equiparar um sistema de atividades ganha pouco imitando apenas algumas atividades
e não se igualando por inteiro. O desempenho não melhora; pode piorar. Lembremo-nos da tentativa desastrosa
da Continental Lite de imitar a Southwest.
Finalmente, a adequação entre as atividades da empresa cria pressões e incentivos para melhorar a eficácia
operacional, o que torna a imitação até mesmo mais difícil. Adequação significa que um desempenho medíocre
em uma atividade deteriorará o desempenho em outras, de forma que as fraquezas serão expostas e mais
propensas a chamarem a atenção. Por outro lado, as melhorias em uma atividade renderão dividendos em
outras. As empresas com uma adequação forte entre suas atividades raramente se transformas em alvos
convidativos. Sua superioridade em estratégia e em execução simplesmente acresce suas vantagens e eleva as
dificuldades para os imitadores. Quando as atividades complementam umas as outras, as concorrentes extraem
pouco benefício da imitação a menos que elas equiparem todo o sistema com êxito. Essas situações tendem a
promover o tipo de competição do vencedor que leva tudo. A empresa que constrói o melhor sistema de
atividades – a Toys R Us, por exemplo – ganha, enquanto que concorrentes com estratégias semelhantes - Child
World and Lionel Leisure – ficam para trás. Assim, encontrar uma nova posição estratégica costuma ser
preferível a ser o segundo ou o terceiro imitador de uma posição ocupada.
As posições mais viáveis são aquelas cujo sistema de atividades seja incompatível devido a trade-offs. O
posicionamento estratégico estabelece regras de trade-off que definem como cada uma das atividades será
configurada e integrada. Ver a estratégia em termos de um sistema de atividades só faz com que fique mais
claro que a estrutura organizacional, os sistemas e os processos sejam específicos à estratégia. Ajustar a
organização à estratégia, por sua vez, torna as complementações mais atingíveis e contribui para a
sustentabilidade.
Uma implicação é que as posições estratégicas deveriam ter um horizonte de uma década ou mais, não um
ciclo único de planejamento. A continuidade incentiva melhorias em cada uma das atividades e a adequação
em todas as atividades, permitindo que a organização construa capacidades e habilidades ímpares, sob
medida, a sua estratégia. A continuidade também reforça a identidade da empresa.
Por outro lado, freqüentes mudanças em posicionamento custam caro. Uma empresa precisa não só
reconfigurar todas as atividades, como também realinhar sistemas inteiros. Algumas atividades talvez nunca
consigam alcançar a estratégia titubeante. O resultado inevitável de mudanças freqüentes na estratégia, ou
de, em primeiro lugar, deixar de optar por uma posição distinta também é uma configuração de atividade do
tipo “eu-também” ou do tipo resguardado com inconsistências em todas as funções e dissonância
organizacional.
O que é estratégia? Podemos agora completar a resposta a esta pergunta. Estratégia é criar adequação entre
as atividades da empresa. O sucesso de uma estratégia depende de fazer muitas coisas direito, não apenas
algumas – e integrá-las entre si. Se não houver adequação entre as atividades, não haverá uma estratégia
distinta e pouca sustentabilidade resultará. A gerência se reverterá para a tarefa mais simples de
supervisionar funções independentes, e a eficácia operacional determinará o desempenho relativo de uma
organização.
V. Redescobrindo a Estratégia
Deixar de Escolher
Por que tantas empresas deixam de ter uma estratégia? Por que os gerentes evitam fazer escolhas
estratégicas? Ou, tendo feito-as no passado, por que os gerentes permitem que as estratégias muitas vezes se
deteriorem e fiquem obscuras?
De um modo geral, as ameaças à estratégia são vistas como sendo emanadas do lado de fora da empresa
devido a mudanças em tecnologia ou no comportamento de concorrentes. Embora as mudanças externas
possam ser o problema, a maior ameaça à estratégia geralmente vem de dentro. Uma estratégia sólida é
prejudicada por uma visão equivocada de competição, por falhas organizacionais, e, principalmente, pelo
desejo de crescer.
Os gerentes se tornaram confusos sobre a necessidade de fazer escolhas. Quando muitas empresas operam
longe da fronteira da produtividade, os trade-offs parecem desnecessários. Pode parecer que uma empresa
bem dirigida tem condições de ganhar de suas rivais ineficazes em todas as dimensões simultaneamente.
HARVARD BUSINESS REVIEW novembro-dezembro 1996 19 / 25
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WHAT IS STRATEGY?
Ensinados por pensadores gerenciais populares de que eles não têm que fazer trade-offs, os gerentes
adquiriram um sentido machista de que fazer isso é um sinal de fraqueza.
Debilitados por previsões de hipercompetição, os gerentes aumentam a probabilidade imitando tudo em
seus concorrentes. Incitados a pensar em termos de revolução, os gerentes vão à caça de qualquer tecnologia
nova para o seu próprio bem.
A busca por eficácia operacional é sedutora porque é concreta e acionável. Durante a última década, os
gerentes foram cada vez mais pressionados a oferecer melhorias em desempenho que fossem tangíveis,
mensuráveis. Os programas em eficácia operacional produzem progresso tranqüilizador, embora lucros
superiores possam permanecer ilusórios. As publicações e os consultores de negócios enchem o mercado
com informações sobre o que outras empresas estão fazendo, reforçando a mentalidade da melhor prática.
Presos na corrida pela eficácia operacional, muitos gerentes simplesmente não compreendem a necessidade
de ter uma estratégia.
As empresas evitam ou embaçam escolhas estratégicas também por outras razões. A sabedoria
convencional dentro de uma indústria geralmente é uma competição forte e homogênea. Alguns gerentes
confundem “foco de cliente” como se eles precisassem atender todas as necessidades dos clientes ou
satisfizer todos os pedidos dos canais de distribuição. Outros citam o desejo de preservar a flexibilidade.
As realidades organizacionais também funcionam contra a estratégia. Os trade-offs são amedrontadores, e
às vezes não fazer escolha alguma é melhor to que arriscar levar a culpa por uma escolha infeliz. As
empresas imitam umas as outras em um tipo de comportamento de rebanho, cada qual supondo que as rivais
sabem algo que elas não sabem. Funcionários recentemente agraciados com o empowerment, que são
impelidos a buscar toda fonte possível de aperfeiçoamento, muitas vezes carecem de uma visão do todo e a
perspectiva de reconhecer trade-offs. Deixar de escolher às vezes resulta da relutância em decepcionar
gerentes ou funcionários de valor.
A Armadilha do Crescimento
Entre todas as outras influências, o desejo de crescer talvez tenha o efeito mais cruel na estratégia. Os
trade-offs e os limites parecem restringir o crescimento. Servir um grupo de clientes e excluir outros, por
exemplo, coloca um limite real ou imaginário no crescimento da receita. Estratégias que são amplamente
objetivadas e enfatizam os resultados dos preços baixos em vendas perdidas com clientes sensíveis a
características ou serviços. Os diferenciadores perdem vendas para clientes sensíveis a preço.
Os gerentes são constantemente tentados a tomar medidas incrementais que ultrapassam aqueles limites, mas
obscurecem a posição estratégica de uma empresa.. Eventualmente, pressionam para crescer ou uma
saturação aparente do mercado-alvo leva os gerentes a estender as linhas de produtos, adicionando processos
de equivalência e até mesmo fazendo aquisições. Por anos, o sucesso da Maytag Corporação foi baseado em
seu foco em máquinas de lavar roupa (mais tarde, estendendo-se para incluir máquinas de lavar pratos).
Entretanto, a sabedoria convencional emergindo dentro da indústria apóia a noção de vender uma linha toda
de produtos. Preocupada com o lento crescimento da indústria e com a competição de fabricantes de
aparelhos de ampla linha, a Maytag foi pressionada pelos revendedores e encorajada pelos clientes a
expandir sua linha. A Maytag expandiu para refrigeradores e produtos para cozinhar com a marca da Maytag
e adquiriu outras marcas - Tenn-Air, Hardwick Stove, Hoover, Admiral, e Magic Chef – com posições
disparatadas. A Maytag cresceu substancialmente de US$ 684 milhões em 1985 para um pico de US$ 3,4
bilhões em 1994, mas o retorno em vendas declinou de 8% para 12% nos anos 70 e 80 para uma média de
menos que 1% entre 1989 e 1995. A redução em custos melhorará este desempenho, mas os produtos de
máquinas de lavar roupas e de lavar louça ainda servem como âncoras para a lucratividade da Maytag. A
Neutrogena pode ter caído na mesma armadilha. No início dos anos 90, sua distribuição nos Estados Unidos
expandiu incluindo comerciantes em massa como a Wal-Mart Stores. Sob o nome da Neutrogena, a empresa
expandiu-se para uma grande variedade de produtos – produtos para remover maquilagem dos olhos e
xampu, por exemplo, onde não era única e que enfraqueciam a sua imagem, e começou a concentrar-se em
promoções de preços.
moderno, um que seja consistente com as atuais tecnologias e práticas? Este tipo de pensamento pode
levar a um compromisso no sentido de renovar a estratégia e pode desafiar a organização a recuperar a sua
singularidade. Tal desafio pode ser revigorante e pode incutir a confiança para realizar os trade-offs
necessários.
Crescimento Lucrativo
Muitas empresas, após uma década de reestruturação e cortes em custos, estão passando a dar mais atenção
ao seu crescimento. Muitas vezes, esforços em crescer toldam a singularidade, criam compromissos,
reduzem adequações e, em última análise, menosprezam a vantagem competitiva. Na verdade, o crescimento
imperativo é perigoso para a estratégia.
Que abordagens ao crescimento preservam e reforçam a estratégia? Amplamente falando, a prescrição é
concentrar-se em aprofundar uma posição estratégia, em vez de ampliá-la comprometendo-a. Uma
abordagem é procurar extensões da estratégia que alavanquem o sistema existente de atividades
oferecendo características ou serviços que as concorrentes descubram ser impossível equiparar em uma
base independente. Em outras palavras, os gerentes podem se perguntar que atividades, características ou
formas de competição são viáveis ou menos caras para eles devido às atividades de complementação que
sua empresa realiza.
O Papel da Liderança
local apropriado para constante mudança, flexibilidade e esforços incansáveis no sentido de se chegar às
melhores práticas. Em comparação, a agenda estratégica é o lugar certo para definir uma posição ímpar,
efetuando trade-offs claros e estreitando-se a adequação. Envolve a busca contínua de formas para reforçar e
estender a posição da empresa. A agenda estratégica demanda disciplina e continuidade - seus inimigos são a
distração e o compromisso.
Indústrias e Tecnologias Emergentes
Desenvolver uma estratégia em uma recém-emergente indústria ou em um negócio passando por
mudanças tecnológicas revolucionárias é uma proposta que amedronta. Nesses casos, os gerentes se
deparam com um alto nível de incerteza sobre as necessidades dos clientes, os produtos e serviços que
provarão ser os mais desejados, e a melhor configuração de atividades e tecnologias para entregá-los. Por
causa de toda essa incerteza, a imitação e a proteção contra o risco são desenfreadas: incapazes de correr
o risco de estarem erradas ou de serem deixadas para trás, as empresas se igualam quanto a todas as
características, oferecem todos os novos serviços e exploram todas as tecnologias.
Durante tais períodos no desenvolvimento de uma indústria, sua fronteira de produtividade básica está
sendo estabelecida ou restabelecida. O crescimento explosivo pode tornar tais épocas lucrativas para
muitas empresas, mas os lucros serão temporários porque, em última análise, a imitação e a convergência
estratégica destruirão a lucratividade da indústria. As empresas que continuarão bem-sucedidas serão
aquelas que, o mais cedo possível, comecem a definir e incorporar em suas atividades uma posição
competitiva singular. Um período de imitação pode ser inevitável nas indústrias emergentes, mas esse
período reflete o nível de incerteza, em vez de um estado anseio por algo.
Nas indústrias de alta tecnologia, muitas vezes essa fase de imitação continua por mais tempo do que
deveria. Embevecidas pela própria mudança tecnológica, as empresas acumulam mais recursos – a maioria
dos quais jamais será usada – em seus produtos ao mesmo tempo em que cortam os preços em todas as
categorias. Os trade-offs são raramente considerados. A compulsão pelo crescimento com o intuito de
satisfazer as pressões do mercado leva as empresas para toda e qualquer área de produtos. Embora
algumas empresas com vantagens fundamentais prosperem, a maioria está fadada a uma corrida de ratos
da qual ninguém consegue sair vencedor.
Ironicamente, a popular imprensa de negócios, focada nas indústrias da moda, emergentes, está
propensa a apresentar esses casos especiais como prova de que entramos em uma nova era de
competição na qual nenhuma das antigas regras é válida. Na realidade, o oposto é a verdade.
Continuidade estratégica não quer dizer uma visão estática da competição. A empresa precisa aperfeiçoar
continuamente sua eficácia operacional e tentar ativamente mudar a barreira da produtividade. Ao mesmo
tempo, é preciso que haja um esforço contínuo para estender sua singularidade ao mesmo tempo em que
reforça a adequação entre suas atividades. A continuidade estratégica, na verdade, deve tornar o
aperfeiçoamento contínuo de uma organização mais eficaz.
A empresa poderá ter que mudar sua estratégia se houver grandes mudanças estruturais em sua indústria.
Na verdade, novas posições estratégicas normalmente surgem devido a mudanças na indústria, e as novas
empresas sem o peso da história geralmente podem explorar isso com mais facilidade. Entretanto, a escolha
da empresa para uma nova posição deve ser orientada pela capacidade de encontrar novos trade-offs e
alavancar um novo sistema de atividades complementares em uma vantagem sustentável.
2. Paul Milgrom e John Roberts começaram a explorar a economia dos sistemas de função, atividades e funções complementares. Seu foco é na
emergência de uma “fabricação de modem” como um novo conjunto de atividades complementares, sobre a tendência das empresas a reagir a mudanças
externas com um monte de respostas internas, e necessidade de coordenação central – a estratégia de alinhar gerentes funcionais. No último caso, elas
mostram como modelo o que tem há muito tempo sido um princípio fundamental de respostas internas. Ver Paul Milgrom e John Roberts, "The
Economics of Modern Manufacturing: Technology, Estrategy, and Organization," American Economic Review 80 (1990): 511-528; Paul Milgrom,
Yingyi Qian, e John Roberts, "Complementarities, Momentum, and Evolution of Modern Manufacturing," American Economic Review 81 (1991) 84-
88; e Paul Milgrom e John Roberts, "Complementarities and Fit: Estrategy, Structure, and Organizacional Changes in Manufacturing," , Journal of
Accounting and Economics, vol. 19 (março-maio 1995): 179-208.
3. O material sobre estratégias de varejo foi extraído, parcialmente, de Rivkin, "The Rise of Retail Category Killers," trabalho não publicado, janeiro
de 1995. Nicolaj Siggelkow preparou o estudo de caso sobre a The Gap.
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