TESE Rone Peterson
TESE Rone Peterson
TESE Rone Peterson
TESE DE DOUTORADO
Salvador - BA
2018
RONE PETERSON CERQUEIRA OLIVEIRA
Salvador
2018
Dedico este trabalho à minha família, em
especial, a Paula, Pedro e Fernanda, pois são
eles a maior motivação da minha vida, o
estímulo que se renova a cada dia, a cada
sorriso que busco em seus olhares, sempre me
impulsionando a melhorar como pessoa,
profissional, pai, amigo e companheiro. Vocês
são a “energia positiva” que me movimenta e
que me demonstra, a cada minuto, que a beleza
e felicidade da vida está naquilo que é mais
simples, junto àqueles que nos amam.
AGRADECIMENTOS
Fundamento: Apenas uma proporção das pacientes com sintomas de trabalho de parto
prematuro inicial evolui para nascimento antes de 37 semanas. Uma melhor predição da
ocorrência dessas condições pode prevenir internamentos desnecessários e focar mais
atenção às pacientes de maior risco, tornando o sistema de saúde mais eficiente. Objetivo:
Identificar preditores e construir um modelo probabilístico para parto antes de 37 semanas
em gestantes com ameaça de parto prematuro. Métodos: Estudo de coorte prospectiva,
incluindo 57 gestantes entre 24 a 34 semanas com contrações regulares e dilatação cervical
de até 3 cm. Fatores de risco clínicos para prematuridade e o comprimento cervical foram
pesquisados em todas as pacientes, realizando analise univariada e multivariada para
identificar a associação com os desfechos analisados. Resultados: Das gestantes estudadas,
27 (47%) evoluíram para parto antes de 37 semanas. O etilísmo, tabagismo, uso de drogas,
nuliparidade, método de avaliação da contração, cervicometria e presença de afunilamento
ou sludge demonstraram potencial associação com este desfecho, porém apenas a
cervicometria permaneceu no modelo de predição final, com Odds Ratio de 0,90 (IC 95%,
0,85 a 0,95), com área sob a curva ROC de 0,82 (IC 95%, 0,70 a 0,91). O melhor ponto de
corte obtido foi de 16,5 mm para nascimento antes de 37 semanas (sensibilidade de 66,7%,
especificidade de 86,7%, razão de probabilidade positiva de 5,0 e negativa de 0,38).
Conclusão: Em gestantes com sintomas de trabalho de parto prematuro inicial, sem rotura
de membranas, o método da cervicometria é o único preditor independente de parto
prematuro e geralmente os marcadores clínicos não são capazes de aprimorar sua acurácia.
A cervicometria apresenta relação inversa com a ocorrência de prematuridade, com valores
baixos aumentando o risco de nascimento prematuro. Embora não exista uma garantia
absoluta da ocorrência ou não deste desfecho, o método apresenta bom desempenho em
populações mais carentes, podendo auxiliar no uso adequado de recursos.
Background: Only a proportion of patients with threatened preterm birth progress to birth
before 37 weeks. A better prediction of the occurrence of conditions can prevent
unnecessary hospitalizations and focus more attention on patients at greater risk, making the
health system more efficient. Objective: To identify predictors and to construct a
probabilistic model for birth before 37 weeks in pregnant women with threatened preterm
labor. Methods: Prospective cohort study, including pregnant women between 24 and 34
weeks with regular contractions and cervical dilatation up to 3 cm. Clinical risk factors for
prematurity and cervicometry were investigated in all patients, performing univariate and
multivariate analysis to identify an association with the outcomes analyzed. Results: Fifty-
seven patients were studied, and 27 (47%) were evolved for birth before 37 weeks.
Alcoholism, smoking, drug use, nulliparity, contraction evaluation method, cervicometry
and presence of funneling or sludge demonstrated a potential association with this outcome,
but only cervicometry remained at final prediction model, with OR 0.90 (95% CI, 0.85 to
0.95), with an area under the ROC curve of 0.82 (95% CI, 0.70 to 0.91). The best cutoff
point obtained was 16.5 mm for birth before 37 weeks (sensitivity of 66.7%, specificity of
86.7%, positive likelihood ratio of 5.0 and negative of 0.38). Conclusion: in patients with
threatened preterm birth without rupture of membranes, the cervicometry method is the only
independent predictor of preterm birth and clinical markers are generally unable to improve
their accuracy. Cervicometry presents an inverse relation with the occurrence of prematurity,
with good performance in poorer populations, and may help in the adequate use of
resources. However, despite showing good accuracy, there are no cut-off points where it is
possible to affirm with absolute certainty the occurrence or not of these outcomes.
Figura 1 - Distribuição dos partos prematuros em todo o mundo no ano de 2010 ................ 16
Tabela 2 - Desfechos das gestantes admitidas com suspeita de trabalho de parto prematuro
inicial e gestação única entre 24 e 34 semanas ...................................................................... 45
Tabela 6 – Acurácia dos diversos pontos de corte da cervicometria, para predição de parto
antes de 37 semanas em gestantes com suspeita de trabalho de parto prematuro inicial e
gestação única entre 24 e 34 semanas...................................................................................... 51
Tabela 7 - Distribuição dos partos antes de 37 semanas e o custo envolvido com a assistência,
de acordo com o valor utilizado da cervicometria .................................................................. 52
Tabela 11 - Acurácia dos diversos pontos de corte da cervicometria, para predição de parto
em até 7 dias da admissão, em gestantes admitidas com suspeita de trabalho de parto
prematuro inicial e gestação única entre 24 e 34 semanas...................................................... 57
Tabela 12 - Distribuição dos partos antes de 7 dias e o custo envolvido com a assistência, de
acordo com o valor utilizado da cervicometria........................................................................ 58
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 13
2 OBJETIVOS ................................................................................................................. 15
3 REVISÃO DA LITERATURA ................................................................................... 16
3.1 Conceituação, fisiopatologia e epidemiologia ............................................................. 16
3.2 Importância da detecção precoce ................................................................................ 17
3.3 A dificuldade do diagnóstico........................................................................................ 19
3.4 Preditores de prematuridade....................................................................................... 20
3.4.1 Preditores clínicos .......................................................................................................... 20
3.4.2 Preditores bioquímicos ................................................................................................... 23
3.4.3 Preditores biofísicos ....................................................................................................... 24
3.4.4 Modelos de predição ....................................................................................................... 34
4 MATERIAL E MÉTODOS ......................................................................................... 38
4.1 Desenho do estudo ........................................................................................................ 38
4.2 Características da população alvo .............................................................................. 38
4.3 Critérios de Inclusão e Exclusão ................................................................................. 38
4.4 Aspectos éticos .............................................................................................................. 39
5 ANÁLISE DE DADOS ................................................................................................. 40
5.1 Hipóteses estatísticas .................................................................................................... 40
5.1.1 Hipótese nula .................................................................................................................. 40
5.1.2 Hipótese alternativa ........................................................................................................ 40
5.2 Definição das variáveis do estudo................................................................................ 40
5.3 Cálculo do tamanho amostral ...................................................................................... 42
5.4 Análise das variáveis e controle das variáveis de confusão ...................................... 42
6 RESULTADOS ............................................................................................................. 43
6.1 Predição do parto antes de 37 semanas ...................................................................... 46
6.2 Predição do parto em até 7 dias da admissão ............................................................ 52
7 DISCUSSÃO ................................................................................................................. 59
8 LIMITAÇÕES E PERSPECTIVAS DO ESTUDO................................................... 65
9 CONCLUSÕES............................................................................................................. 67
REFERÊNCIAS ........................................................................................................... 68
APÊNDICES ................................................................................................................. 77
13
1 INTRODUÇÃO
pacientes sintomáticas têm sido obtidos com modelos preditores que combinam preditores
clínicos, bioquímicos e biofísicos (16-19).
Entretanto, a aplicação combinada de marcadores clínicos e biofísicos em populações
de países em desenvolvimento, onde justamente o uso racional de recursos poderia ter um
grande impacto nos serviços de saúde, não tem sido adequadamente testada. Este estudo teve
o objetivo de desenvolver um modelo probabilístico, composto por características clínicas e
biofísicas que possam ser capazes de predizer a ocorrência de parto prematuro e do
nascimento em até 7 dias da admissão, bem como testar isoladamente a acurácia da
cervicometria em gestantes atendidas em unidades de referência da rede pública de Salvador-
Bahia, capital do Nordeste brasileiro com maior índice de prematuridade.
15
2 OBJETIVOS
3 REVISÃO DA LITERATURA
6,95% para 11,43%, respectivamente(23). O Nordeste brasileiro, ao longo desses anos, era
responsável por 24,6% a 31,2% do total de prematuros do país, sendo a Bahia o estado
nordestino que mais contribui para partos prematuros nesta região, com cerca de 23,5%(23).
Dentre as morbidades que atingem o prematuro, encontram-se a síndrome do
desconforto respiratório, hemorragias intraventriculares, enterocolite necrotizante e sepse,
sendo sua ocorrência inversamente proporcional à idade gestacional. A prematuridade
promove assim, um aumento de custos a curto e longo prazo, com medicações, equipamentos,
equipes especializadas, serviços de educação especial e perda da produtividade econômica,
sendo estimado um gasto anual de 26 bilhões de dólares por ano nos EUA(1,2,20).
O processo que resulta em trabalho de parto prematuro espontâneo pode ser
compreendido como um evento sindrômico, resultante de uma fisiopatologia diversa,
envolvendo origem inflamatória, infecciosa, hemorrágica, isquêmica, relacionada ao estresse
ou imunologicamente mediada(3,4). Essa origem diversa dificulta identificar quem serão as
pacientes realmente em risco e, portanto, qual método de predição que será utilizado. A
detecção precoce das pacientes que possuem um real risco de prematuridade poderia
favorecer uma maior atuação das equipes de saúde e o uso mais adequado dos recursos
destinados à prevenção desse agravo.
melhoram o VPP se a prevalência do desfecho for alta e VPN se a prevalência for baixa.
Assim, para uma melhor comparação da capacidade de predição de um determinado teste
entre as populações, é interessante atentar para as características inerentes dos testes de
predição, como sensibilidade, especificidade, razão de probabilidade positiva (RPP) e razão
de probabilidade negativa (RPN), ao invés de utilizar apenas os VPP e VPN, que variam
fortemente com a prevalência da doença na população estudada.
O desempenho de alguns testes preditores de prematuridade em populações
específicas, como no caso de gestantes com sintomas de trabalho de parto prematuro, tem sido
publicado. Nesse grupo específico de gestantes, a presença de atividade uterina regular
associada à mudança cervical, favorece uma incidência maior de prematuridade em
comparação ao grupo de gestantes assintomáticas. Enquanto a prevalência global de
(22,36)
prematuridade gira em torno de 11,1% , no grupo de mulheres sintomáticas a incidência
de prematuridade tende a ser maior, próxima de 50% (5,11,37).
gestantes com suspeita clínica de trabalho de parto prematuro inicial, sendo evidenciado que
cerca de 50% daquelas que fizeram uso de placebo permaneciam sem evolução para parto
(43-45)
antes de 37 semanas . Esses achados foram comprovados em um estudo nacional,
(46)
realizado por Rios e cols (2006) , que acompanharam uma coorte prospectiva de mulheres
admitidas com sintomas de trabalho de parto prematuro inicial e observaram que 51,1%
evoluíram para parto antes de 37 semanas, confirmando a limitada utilização do diagnóstico
clínico de trabalho de parto prematuro e o grande número de falsos diagnósticos realizados.
estar relacionada ao aumento do parto prematuro induzido e não do espontâneo, devido a sua
associação com doenças hipertensivas e diabetes (58).
Uso de técnicas de fertilização – recente metanálise publicada por Cavoretto
(60)
e cols , em 2018, analisando 61.677 nascimentos, dos quais 8.044 foram concebidos por
fertilização in vitro ou injeção intracitoplasmática de espermatozoide, mostrou que este grupo
de mulheres possui um risco aumentado de parto prematuro (OR 1,75, IC 95% 1,5-2,0). No
entanto, a qualidade de evidência até então demonstrada sobre o tema, foi considerada baixa.
Abuso de drogas – o estudo chamado Epipage (61) analisou 864 pacientes com
nascimentos prematuros e comparou com as características sociais de 567 pacientes de um
grupo controle, observando que o tabagismo aumentava o risco de prematuridade, com OR
ajustado de 1,7 (IC 95% 1,3-2,2). Em relação a outras drogas, existem divergências em
relação aos resultados, como demonstrado por uma coorte prospectiva de 7.740 gestantes, das
quais 2,3% utilizavam cocaína e 11%, maconha. Os autores não conseguiram identificar
aumento do risco de prematuridade com o uso dessas duas substâncias, que obtiveram um OR
(62)
ajustado de 1,3 (IC 95% 0,9-2,0) e 1,1 (IC 95% 0,8-1,3), respectivamente . Em outro
estudo de coorte prospectiva, após realizar exame toxicológico em 425 gestantes, Kliegman e
cols (1999) (63) evidenciaram que o uso de cocaína oferecia um OR ajustado de 13,4 (IC 95%
1,2-145).
Gestação múltipla - as gestações gemelares são responsáveis por 18 a 25%
dos nascimentos prematuros na atualidade, embora representem apenas cerca de 1,5 a 3,0%
do total de gestações (64). Este risco costuma ser diretamente proporcional ao número de fetos
e ainda influenciado pela corionicidade.
Abortamento - a relação do abortamento com o nascimento prematuro tem
sido bem estabelecida, em parte, devido ao método utilizado para a assistência a este
processo, o que pode gerar danos à cérvice e à cavidade uterina e explicar a redução
relacionada a este fator de risco nos últimos anos, em virtude da introdução de métodos
(65)
medicamentosos para resolução deste quadro . Estudos de metanálise demonstram um OR
de 1,43 (IC 95% 1,05-1,56) para aquelas mulheres com apenas um episódio de abortamento
prévio, enquanto para aquelas com múltiplos episódios de abortamento, o OR estimado foi de
2,27 (IC 95%, 1,98-2,81) (65, 66).
Condições de trabalho – estudos analisando a interferência do trabalho no
risco de prematuridade são difíceis de realizar e comparar devido às diversas variações de
exposição da gestante. Um grande estudo europeu de caso-controle, denominado Europop(67),
23
envolvendo 13.056 pacientes, demonstrou que condições específicas apresentavam uma maior
chance de prematuridade, como trabalhar > 42h/semana (OR 1,33, IC 95% 1,1-1,6), trabalhar
em pé por mais do que 6h/dia (OR 1,26, IC 95% 1,1-1,5) ou apresentar insatisfação com o
trabalho (OR 1,27, IC 95% 1,1 a 1,5).
Fatores de risco como infecção genito-urinária, baixo nível socioeconômico, estresse,
má nutrição, contratilidade uterina aumentada, por possuírem uma alta prevalência e baixo
risco associado ao desfecho, possuem uma influência difícil de ser mensurada (47).
No entanto, apenas uma pequena parcela das pacientes que entram efetivamente em
trabalho de parto possui algum fator de risco reconhecido, com cerca de 50% das mulheres
com este desfecho não possuindo nenhum fator de risco clínico identificável (1, 47, 68, 69).
Desde que foi descrita como marcador bioquímico associado à prematuridade por
(70)
Lockwood e cols (1991) , a fibronectina fetal é, até o momento, o mais promissor
(16)
biomarcador utilizado para esta finalidade . Trata-se de uma glicoproteína de matriz
extracelular, produzida pelas células fetais localizadas entre o córion e a decídua, estando
presente nos fluidos cervicovaginais até aproximadamente 18 semanas, quando geralmente se
(71)
torna indetectável . Devido a alterações inflamatórias, mecânicas ou infecciosas da matriz
extracelular, a fibronectina volta a estar presente no canal de parto neste período, sendo
(71)
comumente associada ao parto prematuro . Alguns fatores modificam o resultado do teste
de fibronectina, como dilatação cervical acima de 3 cm, ruptura das membranas, ato sexual,
exame digital ou presença de sangramento vaginal moderado, situações em que o teste não
deve ser realizado (12).
Os primeiros trabalhos sobre fibronectina como preditor de prematuridade utilizavam
resultados qualitativos, considerando o ponto de corte de 50 ng/ml como o de melhor
acurácia, apresentando um alto VPN (70). Em estudo de coorte de pacientes sintomáticas entre
24 e 34 semanas, com dilatação menor do que 3 cm, o teste negativo para fibronectina
demonstrou um VPN entre 82-99% para o nascimento em 14 dias, enquanto o VPP
permaneceu inferior a 30%(72, 73).
Nos últimos anos, vários estudos têm demonstrado que a quantificação da fibronectina
parece ser mais vantajosa do que seu resultado qualitativo, melhorando sua capacidade
(74)
preditora. Abbot e cols analisaram 300 pacientes com ameaça de parto prematuro em uma
coorte prospectiva, entre 22 e 35 semanas, sendo submetidas à dosagem de fibronectina
24
Para realiza-la, a paciente deve deitar na posição de litotomia, com a bexiga vazia,
pois o aumento do volume da bexiga pode aumentar artificialmente o comprimento cervical
(77, 78)
em cerca de 4 mm e obscurecer a presença do afunilamento . A cérvice deve ser medida
no seu eixo longitudinal, sendo que o colo uterino deve ocupar 50-75% da imagem na tela,
com o probe exercendo pouca pressão para não aumentar as medidas do colo. O caliper deve
ser colocado adequadamente sobre o orifício externo e interno, em casos de afunilamento,
deve ser colocado no ápice do funil. O exame deve durar cerca de 3 a 5 min, visto que a
imagem não é estática e pode variar com a presença de contrações uterinas ou com a posição
da paciente. A técnica de realização é geralmente reprodutível e com rápida curva de
aprendizagem, sendo necessário pouco mais do que 20 exames supervisionados para que um
profissional sem experiência com a técnica passe a realizar exames considerados adequados
(79)
. No entanto, variação das medições da cervicometria, tanto intra, quanto inter-observador,
(78, 80)
de até 4 mm ocorrem em 95% dos casos . Por esse motivo e devido às características
dinâmicas do exame, é recomendável que sejam realizadas 3 medições da cérvice e utilizada a
menor delas, que ofereceria o cenário de pior risco para a paciente (81).
(15)
clínicos obtidos através do exame digital da cérvice uterina (critérios de Bishop) , sendo
ainda mais importante quando a dilatação cervical for muito discreta ou inexistente. A
importância desse marcador biofísico na melhora do diagnóstico de trabalho de parto
prematuro conseguiu ser demonstrada em trabalhos como o de Hiersch e cols (2016) (82) onde,
através da realização de uma coorte retrospectiva composta por 1.068 pacientes com sintomas
de trabalho de parto prematuro inicial, observaram que o comprimento cervical obteve uma
correlação altamente significante para a ocorrência de prematuridade, mesmo após analise
multivariada e independente da dilatação cervical inicial.
A alta taxa de falso positivo para o diagnóstico de trabalho de parto prematuro com a
utilização de critérios clínicos favorece a utilização, por grande parte das gestantes, de
(13)
corticoterapia, terapia tocolítica e uso de antibióticos desnecessariamente . Evidências têm
demonstrado que a utilização da cervicometria poderia reduzir o custo dessas intervenções
(14) (14)
excessivas . Lucovnik e cols (2013) analisaram a cervicometria de 139 pacientes com
diagnóstico clínico de trabalho de parto prematuro submetidas à detenção do trabalho de parto
e observaram que 36% delas tinham um colo superior a 30 mm. Nenhuma paciente com
medida cervical superior a 30 mm evoluiu para parto prematuro. O total de custo
disponibilizado para o atendimento destas pacientes foi estimado em $ 1.018.589 (14).
Outro estudo observacional incluiu 216 gestantes com sintomas de trabalho de parto
prematuro inicial, entre 24 a 36 semanas e membranas íntegras, buscando verificar a
(10)
ocorrência de nascimento em 7 dias após o diagnóstico . Apenas 10% das pacientes
evoluíram para parto em 7 dias, embora todas as pacientes tenham recebido corticoterapia e
25% tocolíticos, confirmando mais uma vez a limitação do diagnóstico clínico. Se o ponto de
corte de 15 mm da cervicometria fosse utilizado como triagem, apenas 1 de 173 pacientes
(0,5%, IC 95% 0 – 1,5%) com cervicometria superior ou igual a esse valor teriam seu parto
ocorrendo em até 7 dias, sendo, portanto, considerado um instrumento útil para distinção das
pacientes que efetivamente não evoluiriam para parto em curto prazo (10).
Em 2007, o resultado de um estudo multicêntrico, randomizado, realizado em
hospitais do Reino Unido e Espanha, incluiu 41 pacientes abaixo de 34 semanas, com
membranas integras e gravidez única, dividindo-as em um grupo de mulheres que realizavam
a triagem com cervicometria antes da administração de medicações e outro grupo que fazia
(13)
uso de corticoterapia e tocolíticos baseado apenas na avaliação clínica . A presença de
sintomas sugestivos de trabalho de parto prematuro não foi capaz de caracterizar efetivamente
a população de risco para parto prematuro, visto que, cerca de 85% das mulheres
permaneceram sem evolução para parto em até 7 dias e somente 12% tiveram parto antes de
27
34 semanas. No grupo que fez a triagem ultrassonográfica, apenas 33% das pacientes
apresentaram comprimento cervical < 15mm e foram submetidas à terapia convencional.
Nenhuma paciente com colo superior a 15 mm evoluiu para parto em 7 dias. Comparadas ao
grupo controle, houve redução da exposição ao uso de tocolíticos (RR 0,3 IC 95% 0,15-0,54)
(13)
e redução drástica do uso inapropriado da corticoterapia (RR 0,16 IC 95% 0,05-0,39) .
Apesar de reconhecerem que a triagem ultrassonográfica possa permitir o nascimento
prematuro de algumas pacientes privadas da terapia convencional, os autores concluem que
nenhuma tocólise deve ser oferecida a pacientes com sintomas de trabalho de parto prematuro
e cervicometria superior a 15 mm (13).
A cervicometria também pode ser útil para avaliar quais pacientes devem ter alta
precoce após serem admitidas por suspeita de trabalho de parto prematuro. Estudo publicado
por Palacio e cols (2017)(83) avaliou a utilização da cervicometria de forma randomizada em
um grupo de 149 gestantes com suspeita de trabalho de parto prematuro inicial. A
cervicometria foi posteriormente aplicada às pacientes que não evoluíam para parto em 24-
48h, sendo recomendado que aquelas que possuíam comprimento cervical superior a 25mm
fossem liberadas do hospital. O tempo de internamento foi menor no grupo que foi submetido
(83)
ao exame, sem no entanto, modificar a idade gestacional do parto nos dois grupos . Em
(84)
2007, Ness e cols realizaram um ensaio clínico randomizado com utilização da
cervicometria e dosagem da fibronectina na triagem de pacientes com suspeita de trabalho de
parto prematuro inicial e gestação única entre 24 e 33 semanas e 6 dias, para decidir sobre o
uso da terapia para parto prematuro. As mulheres submetidas à cervicometria obtiveram
redução no tempo de avaliação na triagem (1:58h ± 0:50h vs 2:53h vs ± 0:50h, p = 0,004) e
menor incidência de parto pretermo (13,0 vs 36%, p = 0,01) (84).
Revisão sistemática da Cochrane Library(85) publicada em 2013, incluindo 290
pacientes com gravidez única e suspeita de trabalho de parto prematuro inicial, não observou
redução significativa na ocorrência de parto prematuro antes de 37 semanas com o uso da
cervicometria (22,3% vs 34,7%, RR 0,59, IC 95% 0,26-1,32) ou antes de 34 semanas (6,9%
vs 12,6%, RR 0,55, IC 95% 0,25-1,20). No entanto, nova revisão sistemática e metanálise,
publicada pelos mesmos autores em 2017, avaliou a efetividade da condução de pacientes
admitidas com suspeita de trabalho de parto prematuro inicial, com gestação única, entre 24 a
35 semanas e 6 dias, de acordo com o resultado da cervicometria, comparando o grupo de
pacientes conduzidas com a realização da cervicometria, com um grupo controle, onde este
exame não era disponibilizado(86). Após analise inicial de 22 estudos, apenas 3 preencheram
todos os critérios de inclusão, possuindo baixa heterogeneidade ou risco de viés. Foi possível
28
evidenciar que o uso da cervicometria permitiu uma redução da taxa de partos prematuros
abaixo de 37 semanas (22,1% vs 34,5%, RR 0,64) e um aumento da idade gestacional no
parto, no entanto, reconhecem a dificuldade de interpretar estes resultados devido à utilização
de pontos de corte diferentes para tomada de decisão clínica (15, 20 e 25 mm), assim como
pelas diferentes definições de trabalho de parto prematuro utilizadas. A sugestão dos autores
foi que pacientes entre 24 semanas e 33 semanas e 6 dias sejam conduzidas como trabalho de
parto prematuro se a cervicometria for < 20 mm, liberadas se > 30 mm e admitidas entre 20-
29 mm apenas se fibronectina for positiva(86).
A acurácia da cervicometria como preditor de prematuridade pode ser influenciada
pela própria definição de trabalho de parto prematuro adotada, pela associação de fatores de
risco adicionais para prematuridade e pela idade gestacional em que a paciente se encontra, já
(5, 37, 87)
que se acredita existir um encurtamento fisiológico do colo ao longo da gestação .
Como citado anteriormente, diversos fatores relacionados à população estudada também
podem interferir no resultado do método diagnóstico testado, devido a variações na
probabilidade pré-teste, que corresponde à prevalência de prematuridade na população em
estudo. Assim, a cervicometria pode ter seu desempenho modificado de acordo com a
prevalência de prematuridade na população, sendo maior em populações de maior risco, como
em pacientes com ruptura de membranas, com passado de prematuridade, com menor nível
socioeconômico, em populações negras, gestações múltiplas e em pacientes com sintomas de
trabalho de parto prematuro (64).
(88)
Melamed e cols publicaram em 2013 o resultado de uma coorte retrospectiva
composta por gestantes com sintomas de trabalho de parto prematuro inicial, gravidez única e
bolsa íntegra, analisando a existência de associação entre o comprimento cervical e a
prematuridade, além da acurácia da cervicometria com a predição para nascimentos com
intervalo de 7 a 14 dias do internamento, antes de 32, 35 e 37 semanas. Os autores
identificaram que seria necessário um ponto de corte da cervicometria de 40-42mm para se
atingir uma sensibilidade de 90%, porém, teríamos uma taxa de falso positivo de 79,8 a
86,5%. Para se obter um falso positivo de apenas 10%, deveria ser utilizado o ponto de corte
de 17-21 mm, com o ponto de inflexão da curva ROC (Receiver Operating Characteristic)
situado entre 20,5-28,5mm. Os autores ainda encontraram que a cervicometria obteve uma
área sob a curva ROC (AUROC) de 0,62 a 0,69 para detecção das pacientes que teriam seus
partos entre 7 e 14 dias respectivamente. Neste ponto, a sensibilidade do método seria de
apenas 51,7 a 58,6% e especificidade de 66,3 a 84,7%. Utilizando o ponto de corte de 15mm,
se obteve um VPN para nascimento com menos de 37 semanas e menos de 7 dias da
29
Para a identificação das pacientes que poderiam ter parto em 48h após serem
admitidas, três estudos envolvendo 1.266 pacientes utilizaram o ponto de corte de 15 mm,
obtendo uma capacidade preditora de 71,1%, mas com importante heterogeneidade de
sensibilidade e especificidade entre os estudos, com RPP e RPN de 5,92 e 0,35,
respectivamente(5-7, 38).
Para a predição do nascimento em até 7 dias da admissão em gestantes com sintomas
de parto prematuro, gravidez única e membranas integras, com uso da cervicometria, uma
metanálise composta por 25 trabalhos, apenas estudos prospectivos e de caso-controle,
concluiu que para paciente com menos de 34 semanas, uma cervicometria inferior a 15 mm
seria capaz de predizer 70% dos nascimentos em 7 dias, e quando superior a este valor teria
um VPN de 96% e, portanto, somente 4% das mulheres sintomáticas com menos de 34
semanas evoluiriam para parto dentro de 7 dias(5). O aumento do ponto de corte não parece ser
capaz de aumentar o VPN, guardando uma correlação direta com a sensibilidade e inversa
com a especificidade (24). No entanto, menos de 10% das mulheres sintomáticas apresentam
um colo < 15 mm (5).
Ainda em relação a esse desfecho, outros seis estudos também utilizaram o ponto de
corte de 15 mm, envolvendo 1.781 pacientes, com uma incidência de 11,1%, demonstrando
uma capacidade preditora de apenas 59,9%, com intensa heterogeneidade de sensibilidade e
especificidade entre os estudos, com RPP e RPN de 5,71 e 0,51, respectivamente(5).
Posteriormente, Boots e cols (24), igualmente em revisão sistemática e metanálise, concluiriam
que o ponto de corte de 15mm seria o mais acurado para a predição de parto em 7 dias,
estimando uma sensibilidade de 74% e especificidade de 89%. Quatro estudos, envolvendo
1.263 pacientes, utilizaram o ponto de corte de 20 mm para predição de nascimento em 7 dias,
diante de uma incidência de 9,3%, este ponto de corte foi capaz de predizer 75,4% dos casos,
também com intensa heterogeneidade de sensibilidade e especificidade entre os estudos, com
RPP e RPN de 3,74 e 0,33, respectivamente(6,9,37,91). Outros quatro estudos utilizaram, desta
vez, o ponto de corte de 25 mm, envolvendo 856 pacientes, com 9,7% destas evoluindo para
parto em 7 dias, possuindo uma sensibilidade de 78,3%, especificidade de 70,8%, valor da
(8,9,37,92)
RPP de 2,81 e RPN de 0,36 . Estima-se que aproximadamente 50% das pacientes
admitidas por suspeita de trabalho de parto prematuro inicial possuem cervicometria superior
a 30 mm, e a chance de evoluir para nascimento em até 7 dias da admissão seria inferior a
2%(84).
Para predizer o nascimento antes de 34 semanas, quatro estudos utilizaram o ponto de
corte de 15 mm, envolvendo 429 pacientes, sendo que 18,2% das pacientes evoluíam com este
32
analisadas, na idade gestacional, raça, critérios de inclusão dos estudos são possíveis
explicações para a persistência dessa incerteza e da dificuldade na realização de metanálises
(88)
.
A comparação da cervicometria com outros instrumentos utilizados para predição de
prematuridade tem sido realizada por alguns estudos. Comparada à avaliação clínica da
cérvice uterina através do exame digital, caracterizado pelo escore de Bishop, muitos
trabalhos têm demonstrado que a cervicometria atinge resultados similares para a predição de
prematuridade, sendo em algumas situações, considerado superior, com excelente VPN e
possuindo a vantagem de utilizar parâmetros mensuráveis, que podem ser registrados e
(5-7,37,99-101) (102)
conferidos . Sharvit e cols realizaram um estudo de caso-controle com o
objetivo de comparar o valor preditivo da cervicometria com o do Bishop em pacientes que
apresentam contrações regulares entre 24-34 semanas e membranas íntegras, confirmando a
existência de forte correlação entre o encurtamento da cervicometria e o aumento do valor do
Bishop, concluindo que os dois métodos eram similares em predizer a ocorrência de
nascimentos antes de 37 semanas. As AUROC para ambos foram similares, sendo de 0,61
para Bishop e de 0,64 para cervicometria.
Entretanto, a cervicometria teve um desempenho um pouco melhor em nuliparas, com
AUROC de 0,72, enquanto o exame digital atingiu um valor de 0,64 (p = 0,03)(102). Em 2017,
Pinton e cols(42), objetivando verificar a capacidade preditora do Bishop e da cervicometria
para a ocorrência de parto antes de 34 semanas, publicaram o resultado de uma coorte
prospectiva com 395 mulheres sintomáticas, com gestação única entre 23 e 34 semanas.
Novamente, os dois métodos demonstraram associação com o desfecho na analise univariada,
porém, em análise multivariada, nenhum parâmetro obtido no exame digital conseguiu ser
preditor de prematuridade. Os autores concluíram que o exame digital não adiciona
informações à cervicometria para a predição de parto antes de 34 semanas(42).
Em relação à fibronectina e movimentos respiratórios fetais (MRF), a cervicometria
com ponto de corte de 15mm e a dosagem de fibronectina possuem desempenhos similares
para resultados negativos em gestantes com suspeita clínica de trabalho de parto prematuro(10).
(24)
Revisão sistemática e metanálise publicada por Boots e cols em 2014, incluindo coortes
retrospectivas e prospectivas, comparou a acurácia da cervicometria, fibronectina e da
ausência de MRF, quanto à predição de parto prematuro em mulheres sintomáticas para a
ocorrência de nascimento em até 48h e 7 dias da admissão. A sensibilidade e especificidade
somadas para a predição de parto com 48h foram superiores, respectivamente, com a
utilização da cervicometria e com a ausência de MRF, que obteve a maior AUROC, de 0,91.
34
A OR e a RPP para a ausência de MRF para nascimento em até 48h e 7 dias foram de 10,4 e
31,6, respectivamente, superiores aos demais testes. A cervicometria de 15 mm obteve a
menor RPN, tanto para nascimento com 48h quanto para 7 dias da admissão, com AUROC de
0,90 para ambos os desfechos (24). Para o nascimento em 7 dias, embora a sensibilidade tenha
sido maior com o uso da fibronectina, a ausência de MRF obteve maior especificidade, OR e
RP (24). Os autores sugerem que a combinação da cervicometria com a ausência de MRF seja
uma boa proposta de modelo de predição a ser testado, diante de possuírem, boas razões de
probabilidade para o teste negativo e positivo, respectivamente (24).
Assim, apesar da cervicometria ser reconhecida como um método promissor em
identificar aquelas mulheres que não deveriam ser admitidas para detenção do trabalho de
parto prematuro e ao mesmo tempo, sua forte associação com a prematuridade, porém com
limitada acurácia para o teste positivo, deve-se identificar o melhor ponto de corte para a
técnica para cada desfecho desejado, considerando os aspectos fisiopatológicos envolvidos em
cenários diversos, para demonstrar a real capacidade preditora do método (34). Desta maneira,
estudos com análises multivariada e preferencialmente com associação da cervicometria a
métodos adicionais, clínicos ou bioquímicos, criando os chamados modelos de predição, pode
ser uma alternativa mais eficaz para predizer a ocorrência do parto prematuro.
(105)
Marcones e cols em 1999 . Todas as pacientes incluídas no estudo possuíam dilatação
cervical inferior a 3 cm, bolsa integra e foram submetidas ao mesmo regime de tocólise, sendo
considerados como casos, pacientes que evoluíam para parto dentro de 7 dias e aquelas que
ultrapassassem este período, eram consideradas controle. A dilatação cervical, o baixo peso
materno e a idade gestacional admissional, não demonstraram associação com o desfecho
analisado. O melhor modelo preditor foi obtido com a utilização do registro de sangramento
vaginal e de abuso de drogas, porém, ainda com limitada capacidade de predição,
apresentando sensibilidade de 46% e especificidade de 76% (105).
Em 2012, Bastek e cols (12) realizaram a primeira coorte prospectiva, composta por 583
gestantes sintomáticas para trabalho de parto prematuro, entre 22 e 33 semanas e 6 dias,
objetivando utilizar apenas dados clínicos para elaboração de um modelo preditor capaz de
identificar quais mulheres teriam parto prematuro 10 dias após o internamento e
secundariamente, aquelas com risco de nascimento antes de 37 semanas. Foram testadas
idade, história obstétrica, IMC, existência de cuidados pré-natais e tabagismo. Cerca de 15,4%
das pacientes evoluíram para parto em 10 dias e 35,0% tiveram parto < 37 semanas. O modelo
de predição para o objetivo principal foi composto pela dilatação cervical inicial, ausência de
pré-natal e tabagismo, demonstrando AUROC de 0,75, superior à AUROC obtida pela
dilatação cervical inicial isolada, que foi de 0,71. Já o modelo de predição para o nascimento
abaixo de 37 semanas foi composto pela dilatação cervical inicial, ausência de pré-natal e
tabagismo, demonstrando uma AUROC de 0,73, superior a AUROC obtida pela dilatação
cervical inicial isolada, que foi de 0,70. A ausência desses fatores de risco listados acima
representava um VPN de 94,67% para parto em 10 dias e de 81,54% para parto antes de 37
semanas, semelhante ao uso da fibronectina. Embora tenha conseguido uma validação interna
dos seus dados, os autores reconhecem a carência de validação externa através de coortes
independentes, não podendo assim, generalizar os seus resultados(12). Diante da limitação da
utilização apenas de marcadores clínicos para construção de modelos preditores para parto
prematuro, surge a possibilidade de associação desses preditores com marcadores biofísicos
e/ou bioquímicos como alternativa para melhoria dos modelos preditores (105).
Celik e cols (2), em 2008, construíram um dos modelos de predição de prematuridade
mais utilizados atualmente, que combinou história clínica com cervicometria após análise de
quase 60.000 gestantes. Os autores concluíram que a combinação de cervicometria e histórico
obstétrico constituía em um modelo preditor que oferece a melhor capacidade de
discriminação das pacientes que terão parto prematuro. Entretanto, os autores excluíram
gestantes com contrações uterinas de suas análises, tornando a aplicabilidade do modelo neste
36
grupo de mulheres limitada, uma vez que a dinâmica uterina pode precipitar mudanças mais
agudas na cérvice, alterando a capacidade preditora em curto e longo prazo.
Com o objetivo de analisar o desempenho de modelos de predição de prematuridade
em pacientes com sintomas de trabalho de parto prematuro, utilizando a associação de escore
(16)
de risco clínico, cervicometria e dosagem de fibronectina fetal, Tieksen e cols analisaram
170 pacientes, com gestações únicas, membranas integras e idade gestacional entre 24 e 34
semanas e 6 dias, entre 2001 a 2004. Os autores buscaram demonstrar a associação de
diversas variáveis clínicas, como dados demográficos, idade, paridade, passado de parto
prematuro, IMC pré-gestacional, dilatação cervical e índice de Bishop, além da cervicometria,
da dosagem de fibronectina e da pesquisa de infecção genital, com a ocorrência de parto
prematuro. No entanto, apenas o passado de prematuridade, a cervicometria e a dosagem de
fibronectina apresentaram associação com o nascimento prematuro e fizeram parte dos
modelos de predição testados. Dois modelos foram testados, denominados de CLEOPATRA I
e II. O modelo CLEOPATRA I incluía apenas variáveis que demonstraram associação com
prematuridade e que estavam presentes na admissão da paciente, sendo composto apenas pelo
passado de parto prematuro e pelo valor da cervicometria, ambos analisados de forma
dicotômica. No segundo modelo, o CLEOPATRA II, além das variáveis utilizadas no
CLEOPATRA I, a dosagem de fibronectina foi adicionada, porém, a cervicometria não
permaneceu no modelo final de análise. Observando as AUROC dos dois modelos de
predição, o poder de discriminação do CLEOPATRA I obteve uma AUCROC de 0,69,
considerado aceitável, enquanto o CLEOPATRA II obteve uma AUROC de 0,81, sendo
apenas este último considerado excelente (16).
Divergente do CLEOPATRA, que buscava predizer a ocorrência de parto prematuro,
recentemente foram criados modelos para predição de parto prematuro em 48h e antes de 32
semanas. Allouche e cols(17), em 2011, foram um dos grupos pioneiros na criação de
nomogramas em pacientes com trabalho de parto inicial, utilizando a combinação dos fatores
de risco presentes em determinada paciente (incluindo ruptura prematura de membranas e
(17)
gestação múltipla) e valor do comprimento cervical . Os resultados foram favoráveis à
associação de métodos preditores clínicos (número de fetos, sangramento vaginal, integridade
das membranas ovulares e presença de contrações uterinas) e da cervicometria, obtendo uma
AUROC de 0,83 para parto com 48h e de 0,79 para nascimento antes de 32 semanas, sendo
(17)
validados internamente . A validação externa do modelo de predição elaborado por
Allouche e cols foi testada por uma coorte austríaca confirmou que a acurácia para o modelo
37
de predição de parto em 48h entre 0,77-0,81 e para o modelo de predição para parto < 32
semanas, variou de 0,73-0,72.
Na tentativa de aprimorar o modelo desenvolvido por Allouche e cols foi desenvolvida
(19)
uma coorte com 617 pacientes entre 2007 e 2012, por Mailath-Pokorny e cols . Após
análise multivariada os autores propuseram acrescentar a dosagem de proteína C reativa para
a predição de parto em 48h, além da presença de RPMO e cervicometria. Já para o modelo de
predição para parto antes de 32 semanas, permaneceram a presença de RPMO, sangramento
vaginal, cervicometria, idade gestacional, nível sérico de proteína C reativa e dosagem de
(19)
fibronectina fetal . A validação interna desse novo modelo demonstrou valores de c-índice
aparentemente superiores ao modelo apresentado anteriormente, de 0,80 e 0,85,
respectivamente, para predição de parto em até 48h e abaixo de 32 semanas. As calibrações
realizadas em ambos os modelos foram satisfatórias (19).
(18)
Em 2017, Dabi e cols publicaram os resultados da validação clínica de um novo
modelo após acompanharem 379 pacientes em uma coorte prospectiva, com gestação única e
membranas íntegras. Apenas 14,5% das pacientes evoluíram para parto em 48h, 13,5%
tinham passado de prematuridade e 53,1% tinham colo < 15mm. Utilizando 6 parâmetros para
construção do modelo (número de fetos, duração da gestação em semanas e dias,
comprimento cervical, presença de sangramento vaginal, integridade das membranas e
presença de contrações uterinas requerendo terapia tocolítica), obteve-se uma AUROC de
0,88 para a predição de nascimento com 48h, com sensibilidade de 80%, especificidade de
82%, VPP de 39,8% e VPN de 94,8% (18).
Embora os modelos de predição tenham demonstrado uma aparente melhora na
capacidade discriminatória, a aplicabilidade das informações obtidas, com orientações claras
de quais são os critérios para transferir ou internar pacientes com risco de parto em 48h ou 7
dias, bem como aquelas que não devem ser admitidas, reduzindo os custos desnecessários,
ainda merecem discussão e amadurecimento. O desafio dos pesquisadores está em estudar
diferentes modelos e analisar se estes são igualmente válidos em diferentes populações, bem
como analisar o uso de tocolíticos, estratificando os resultados através da cervicometria.
38
4 MATERIAL E MÉTODOS
O estudo tem como população alvo gestantes com suspeita de trabalho de parto
prematuro atendidas no Sistema Único de Saúde (SUS) do Brasil. A amostra será composta
por gestantes atendidas em duas maternidades na cidade de Salvador (BA): a Maternidade de
Referência Professor José Maria de Magalhães Netto (MRPJMMN) e a Maternidade Climério
de Oliveira da Universidade Federal da Bahia (MCO-UFBA), sendo que ambas atendem
gestantes pertencentes ao SUS e são referência para a capital e toda a região metropolitana
para a assistência à prematuridade.
Foram considerados como critérios de inclusão: pacientes com gestação única, com
idade gestacional entre 24 semanas completas e 33 semanas e 6 dias, admitidas em uma das
maternidades participantes do estudo com suspeita de trabalho de parto prematuro inicial,
definido como a presença de contrações uterinas regulares associadas à dilatação cervical de
até 3 cm percebida ao exame digital, atendidas em uma das maternidades participantes do
estudo, no período de maio de 2016 a setembro de 2017, que aceitaram participar
espontaneamente do estudo, assinando o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
(TCLE). Como critérios de exclusão foram considerados: sinais de sofrimento fetal agudo ou
crônico, contraindicações para o uso de terapia tocolítica, malformações fetais, ruptura de
membranas, polidramnia, oligodramnia, sinais de corioamnionite, placenta prévia,
descolamento prematuro da placenta, pré-eclâmpsia, hipertensão grave ou perda de
seguimento.
39
5 ANÁLISE DE DADOS
O tamanho amostral foi estimado para 100 gestantes com suspeita clínica de trabalho de
parto prematuro, estimando-se que apenas cerca de 30% evoluiriam efetivamente para parto
prematuro, conforme dados da literatura (5,11,12,37). No entanto, foi observado que a incidência
de prematuridade no projeto foi superior à registrada na literatura, próxima de 50%, sendo
necessária a coleta de dados de 60 pacientes para se obter a mesma quantidade de desfechos.
Assim, através de 30 desfechos identificados, seria possível avaliar uma ferramenta de
predição multivariada com capacidade para analisar até 6 variáveis independentes(108),
esperando-se atingir um nível de significância de 5% e um poder de 80%.
6 RESULTADOS
vaginais 45 (78,9%), com média de peso ao nascer de 2672,0 ± 662,9. Duas pacientes (3,5%)
evoluíram para nascimento em até 48h da admissão, 11 (19,3%) pacientes em até 7 dias da
admissão, 11 (19,3%) evoluíram para nascimento antes de 34 semanas e 27 (47,4%) antes de
37 semanas. A taxa de internamento na UCI/UTI, morbidade composta e mortalidade
perinatal foram, respectivamente, de 26,8%, 33,3% e 5,3% (Tabela 2).
Tabela 2 – Desfechos das gestantes admitidas com suspeita de trabalho de parto prematuro
inicial e gestação única entre 24 e 34 semanas.
Pacientes com sintomas de
Desfechos TPP
(n = 57)
Custo internamento materno (R$), média (± DP) 4196,9 (3673,1)
IG no parto (semanas), média (± DP) 36,2 (3,0)
Intervalo até o parto (dias), média (± DP) 35,9 (25,2)
Parto em até 48h, n (%) 02 (3,5)
Parto em até 7 dias, n (%) 11 (19,3)
Parto até 34 semanas, n (%) 11 (19,3)
Parto até 37 semanas, n (%) 27 (47,4)
Tipo de parto
Vaginal, n (%) 45 (78,9)
Vaginal assistido (Fórceps/Vácuo), n (%) 01 (1,8)
Cesariana, n (%) 12 (19,3)
Peso ao nascer, média (± DP) 2672,0 (662,9)
Ápgar 1o min, média (± DP) 7,6 (2,2)
Ápgar 5o min, média (± DP) 8,8 (1,8)
Morbidade composta neonatal, n (%) 19 (33,3)
Necessidade de internamento em UCI/UTI, n (%) 15 (26,8)
Internamento do RN (dias) 7,0 (7,1)
Óbito perinatal, n (%) 3 (5,3)
TPP: trabalho de parto prematuro; DP: desvio padrão; IG: idade gestacional; UCI: unidade de cuidados
intermediários; UTI: unidade de cuidados intensivos; RN: recém-nascido.
46
Patologias prévias
HAS, n (%) - 1 (3,3) 0,34
DM, n (%) - 1 (3,3) 0,34
Outras, n (%) 7 (25,9) 4 (13,3) 0,23
Avaliação das contrações 0,05b
Percepção do profissional, n (%) 27(100) 25 (83,3)
Cardiotocografia, n (%) - 5 (16,7)
Dilatação cervical 0,45
Até 1cm, n (%) 13 (48,1) 17 (56,7)
2 cm, n (%) 7 (25,9) 11 (33,3)
3 cm, n (%) 7 (25,9) 3 (10,0)
Cervicometria (mm), média (± DP) 14,8 (9,5) 27,8 (11,0) 0,000
Afunilamento, n (%) 17 (65,4) 11 (36,7) 0,03
Ausência de eco glandular, n (%) 7 (38,9) 5 (21,7) 0,23
Sludge, n (%) 4 (15,4) - 0,04b
48
Tabela 3 - Análise univariada de fatores associados ao parto antes de 37 semanas, em
gestantes admitidas com suspeita de trabalho de parto prematuro inicial e gestação única,
entre 24 e 34 semanas. (Continuação)
A acurácia da cervicometria foi demonstrada pela AUROC de 0,82 (IC 95%, 0,70 a
0,91, p < 0,0001), com calibração satisfatória no teste de Hosmer-Lemeshow, com p = 0,28
(Figura 3).
Cervico
100
80
Criterion: ≤16,5
40
20
0
0 20 40 60 80 100
100-Specificity
O ponto de corte mais adequado para predição do parto antes de 37 semanas foi o de
16,5 mm, obtendo sensibilidade de 67% (IC 95% 46 a 84%), especificidade de 87% (IC 95%
69 a 96%), razão de probabilidade positiva de 5,3 (IC 95% 1,9 a 12,9) e negativa de 0,4 (IC
95% 0,2 a 0,7).
Nesta amostra, valores abaixo de 10 mm demonstraram RPP superior a 10,0, RPN
de 0,6 (IC 95%, 0,4-0,8), com especificidade de 100% (IC 95% 86 a 100%), sensibilidade de
40,7% (IC 95%, 23,0-61,0%), VPP de 100% e VPN de 65% (Tabela 6).
Das pacientes que evoluíram para parto prematuro, 3 (11,1%) apresentavam
cervicometria acima de 30 mm. Nenhum nascimento ocorreu com cervicometria acima de 35
mm, demonstrando um razão de probabilidade negativa nula. Para esta amostra, o ponto de
51
corte de 35 mm apresentou ainda sensibilidade de 100% (IC 95% 84,5-100%), VPN de 100%
(IC 95%, 63 a 100%), especificidade de 30% (IC 95% 15,4-49,6%), VPP de 56,4% (IC 95%
41,3-70,2%) e RPP (IC 95% 1,1-1,8) (Tabela 6).
Tabela 6 - Acurácia dos diversos pontos de corte da cervicometria, para predição de parto
antes de 37 semanas em gestantes com suspeita de trabalho de parto prematuro inicial e
gestação única entre 24 e 34 semanas.
Medi Sensibilidade Especificidade RPP RPN VPP VPN
da % % % % % %
(mm) (IC 95%) (IC 95%) (IC 95%) (IC 95%) (IC 95%) (IC 95%)
10,0 40,74 100 0,59 100 65,2
∞
(23,0-61,0) (0,86-100) (0,4-0,8) (67,9-100) (49,7-78,2)
15,0 55,56 86,67 4,17 0,51 78,9 68,4
(35,6-74,0) (68,4-95,6) (1,6-11,0) (0,3-0,8) (53,9-93,0) (51,2-81,9)
16,5 66,67 86,67 5,00 0,43 73,1 74,2
(46,0-83,5) (69,3-96,2) (1,9-12,9) (0,3-0,8) (51,9-87,6) (55,1-87,4)
20,0 74,07 70,0 2,47 0,37 68,9 75,0
(53,4-88,1) (50,4-84,6) (1,4-4,5) (0,2-0,7) (49,0-84,0) (54,8-88,6)
25,0 81,48 63,33 2,22 0,29 66,7 79,2
(61,2-92,9) (43,9- 79,5) (1,3-3,7) (0,1-0,7) (48,1-81,4) (57,3-92,1)
30,0 88,89 43,33 1,57 0,26 58,5 81,3
(69,7-97,1) (25,9-62,3) (1,1-2,2) (0,08-0,8) (42,2-73,3) (53.7-95,0)
35,0 100,0 30,0 1,42 56,4 100
0,00
(84,5-100,0) (15,4-49,6) (1,1-1,8) (41,3-70,2) (62,9-100)
RPP: razão de probabilidade positiva; RPN: razão de probabilidade negativa; IC: intervalo de confiança; VPP:
valor preditivo positivo; VPN: valor preditivo negativo.
Do total gasto com o internamento das pacientes, 13,3% foi direcionado para pacientes
com cervicometria acima de 35 mm (15,8% do total), que tiveram média de intervalo até o
nascimento de 66 ±26 dias e que não evoluíram para parto antes de 37 semanas (Tabela 7).
52
Tabela 7 - Distribuição dos partos antes de 37 semanas e o custo envolvido com a assistência,
de acordo com o valor utilizado da cervicometria.
Valor da cervicometria (mm)
< 10 10 a 35 ≥ 35
No de pacientes (%) 11 (19,3) 37 (64,9) 9 (15,8)
Parto < 37 semanas, n (%) 11 (40,7%) 16 (59,3%) -
Latência até o parto
14 (11) 39 (23) 66 (26)
(dias), média (±DP)
Valor gasto R$32.334,98 R$156.691,45 R$28.885,06
(% do total) (14,84%) (71,90%) (13,26%)
DP: desvio padrão
pacientes que evoluíam ou não para o nascimento em 7 dias (p = 0,000). As gestantes que
evoluíram com nascimento em até 7 dias da admissão possuíam ainda menor idade
gestacional na época do parto, menor peso do RN ao nascer (1779,1 ± 345,5 vs 2884,2 ±
521,7 gramas, p = 0,000), maior morbidade composta neonatal (63,6% vs 26,1%, p = 0,02) e
maior taxa de óbito perinatal, presente em 27,3% desses casos, contra nenhum caso no grupo
de nascimento após 7 dias da admissão (p = 0,01) (Tabela 9).
DP: desvio padrão; IG: idade gestacional; HAS: hipertensão arterial sistêmica; DM: diabetes mellitus; UCI:
unidade de cuidados intermediários; UTI: unidade de cuidados intensivos; a Teste de Mann-Whitney; b Teste de
Fisher.
A análise multivariada com ajuste para as variáveis com potencial associação com o
nascimento em até 7 dias, obtido pela regressão logística, demonstrou que apenas a
56
cervicometria permaneceu de forma significante como fator relacionado a este desfecho, com
OR de 0,84 (IC95%, 0,74 a 0,95), p = 0,004 (Tabela 10).
80
60
Sensitivity
40
20
0
0 20 40 60 80 100
100-Specificity
Na amostra estudada, o ponto de corte de 19,1 mm foi o mais acurado para predição de
parto em até 7 dias, com sensibilidade de 100% (IC 95%, 68 a 100%), especificidade de 63%
(IC 95%, 48 a 77%), VPN de 100% (IC a 95%, 85 a 100%), VPP de 37,9% (IC 95%, 21,3 a
57,6%), RPP de 2,7 (IC 95%, 1,9 a 3,9) e RPN igual a 0 (Tabela 11). Por outro lado, o ponto
de corte de 8,9 mm resultou em especificidade de 95,65% e RPP de 10,45 (Tabela 11).
Tabela 11 - Acurácia dos diversos pontos de corte da cervicometria, para predição de parto
em até 7 dias da admissão, em gestantes admitidas com suspeita de trabalho de parto
Tabela 12 - Distribuição dos partos antes de 7 dias e o custo envolvido com a assistência, de
acordo com o valor utilizado da cervicometria.
Valor da cervicometria (mm)
< 10 10 a 20 ≥ 20
No de pacientes (%) 11 (19,3%) 18 (31,6%) 28 (49,1%)
Parto < 7 dias, n (%) 6 (54,4%) 5 (45,5%) -
Latência até o parto
14 (11) 33 (27) 52 (23)
(dias), média (±DP)
Valor gasto R$32.334,98 R$60.460,78 R$125.115,73
(% do total) (14,84%) (27,75%) (57,42%)
DP: desvio padrão.
59
7 DISCUSSÃO
O impacto negativo que a prematuridade pode promover aos serviços de saúde ficou
bem demonstrado neste estudo. Os RN prematuros apresentaram maior morbidade composta e
menor peso ao nascer, sendo ainda mais evidente no caso daqueles que nasceram em até 7
dias da admissão, onde o tempo de internamento, a frequência de admissão em UTI/UCI e a
taxa de mortalidade foram significativamente maiores.
O nosso trabalho confirmou que a maioria das gestantes admitidas com suspeita de
trabalho de parto prematuro inicial, entre 24 e 34 semanas, com gestação única e membranas
integras, não evoluem para prematuridade, com incidência pouco inferior a 50%, compatível
(5,11,12,37)
com as taxas descritas por diversos autores . O desempenho limitado do diagnóstico
clínico de trabalho de parto como elemento preditor da ocorrência de prematuridade ficou
ainda mais evidente quando observamos a ocorrência iminente de prematuridade. A evolução
para parto em 48h foi ainda inferior às baixas incidências descritas por alguns autores, que
(5-7)
variam entre 5-7% , mas divergente dos 21,3% encontrados por Allouche e cols que, no
(17,18)
entanto, incluíram pacientes com RPMO e gravidez múltipla em sua amostra . A
incidência de nascimento em 7 dias ficou dentro da faixa de 8,4 a 31% registrada na literatura
(5-10)
. Este fato é preocupante, pois a corticoterapia antenatal foi realizada de forma universal,
baseado apenas nos dados clínicos, cerca de 80% das mulheres foram expostas aos riscos das
medicações sem usufruir dos seus benefícios mais importantes.
Na presente amostra, a associação de critérios clínicos à cervicometria não agregou
valor ao uso isolado deste método, impedindo a elaboração de um modelo probabilístico. Esse
achado foi divergente do encontrado por Celik e cols (2), que concluíram que a combinação de
histórico obstétrico e comprimento cervical constituiria o modelo preditor com melhor
capacidade discriminatória em relação à prematuridade, após analisarem quase 60.000
mulheres. No entanto, esses autores excluíram mulheres com contrações uterinas de suas
análises, tornando limitada a aplicabilidade deste modelo combinado em gestantes
sintomáticas(2). Bastek e cols (12), em 2012, através de uma coorte prospectiva, elaboraram um
modelo de predição composto por dilatação cervical inicial, ausência de pré-natal e
tabagismo, obtendo uma AUROC de 0,73 para parto prematuro, porém reconheciam a
carência de validação externa através de coortes independentes. O número de mulheres com
tabagismo, etilismo e uso de drogas em nesta amostra foi muito pequeno e não conseguimos
demonstrar tal associação. Outro modelo de predição para parto prematuro, denominado
CLEOPATRA I, elaborado por Tieksen e cols (16), combinou comprimento cervical e passado
60
de prematuridade, obtendo uma AUROC de 0,69 (IC 95% 0,56-0,82). Os resultados da coorte
independente apresentada neste projeto demonstram que apenas o comprimento cervical pode
ser utilizado como um adequado preditor, com AUROC parecida ou superior à dos modelos
combinados citados acima, obtendo uma AUROC de 0,82 (IC 95%, 0,70 a 0,91, p < 0,0001).
A justificativa para a ausência de associação de fatores de risco clássicos para
prematuridade, como dilatação cervical inicial e passado de prematuridade, com os desfechos
analisados em nossa população de gestantes sintomáticas pode ser justificada. Enquanto o
passado de prematuridade está bem consolidado como elemento de fundamental importância
em gestantes assintomáticas, nas quais se indica o uso de progesterona como terapia
preventiva para prematuridade, a presença desse histórico no subgrupo de gestantes
sintomáticas parece questionável como elemento de predição. Sabe-se que apenas uma
pequena parcela, cerca de 10-23% das mulheres que evoluem para prematuridade, possui
passado de prematuridade(68, 69).
Embora 30% da amostra do estudo possuísse esse fator de risco, o mesmo se distribuiu
de forma semelhante entre os grupos. Tekesin e cols (16) referem que a importância do passado
de prematuridade em gestantes sintomáticas varia de acordo com o número de partos
prematuros e a idade gestacional de ocorrência, dado que não foi explorado em nosso estudo.
Adicionalmente, o comprimento cervical, principal preditor encontrado em no presente
estudo, se comportou de forma semelhante entre mulheres com ou sem o passado de
prematuridade, tanto em relação aos valores médios encontrados, quanto à acurácia do
método para predição do desfecho. Este achado, em especial, foi divergente do encontrado
(88)
por Melamed e cols , que após realizarem uma grande coorte retrospectiva com 1.023
mulheres, consideraram limitada a utilização da cervicometria em pacientes com suspeita de
trabalho de parto prematuro inicial e histórico de prematuridade.
A imprecisão do exame digital e seu caráter subjetivo, com possibilidade de variações
entre os observadores e imprecisão de suas medidas, ficou bem demonstrada em neste estudo,
visto que quase metade das pacientes que evoluíram para nascimento antes de 37 semanas e
um terço daquelas com nascimento em até 7 dias, foram avaliadas como possuindo dilatação
de até 1 cm. Diversos trabalhos têm demonstrado essa limitação do exame digital e o melhor
desempenho da cervicometria para predição de parto prematuro(5-7,37,99-101).
Sobre a acurácia da cervicometria e o ponto de corte a ser utilizado, o presente estudo
indicou o ponto de 16,5 mm como o mais equilibrado em relação à sensibilidade e
especificidade para a predição de nascimento antes de 37 semanas. Estudo nacional realizado
por Rios e cols, indicou que a medida de 20 mm seria a mais adequada para predição deste
61
CERVICOMETRIA
CERVICOMETRIA
pode ser agregado à prática clínica. O uso inadequado de corticoterapia pode ser revisto e
embora promissora, a medida do comprimento cervical ainda carece de certezas quanto aos
pontos de corte que devem ser utilizados para cada desfecho que se propõe predizer. Devido
ao seu caráter observacional, este estudo apenas levanta hipóteses, que poderão ser elucidadas
em estudos futuros, com desenhos mais adequados para esta finalidade.
67
9 CONCLUSÕES
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