Lesão Renal Aguda: AGUDO: Evolução Rápida e Reversível
Lesão Renal Aguda: AGUDO: Evolução Rápida e Reversível
Lesão Renal Aguda: AGUDO: Evolução Rápida e Reversível
TFG: quantifica a função renal. VR 120 ml/min. ~170 L de plasma são filtrados nos glomérulos por dia e 168 retornam
para o intracelular por reabsorção. O restante é eliminado como urina.
→ Como avaliar a função renal: ureia sérica, creatinina sérica, clearance de creatinina..
Definições de IRA
A Insuficiência Renal/injúria renal aguda (IRA) pode ser definida como a queda na taxa de filtração glomerular
(TFG), podendo ou não haver azotemia.
- Essa taxa representa o volume de sangue (mL) que os glomérulos filtram a cada minuto e, consequentemente,
alterações hidroeletrolíticas, distúrbios ácido-base e acúmulo de escórias nitrogenadas, como a ureia e a creatina.
- Essa elevação desses metabólitos consiste na azotemia.
- **azotemia se refere ao aumento das concentrações séricas de uréia, creatinina e outros compostos
nitrogenados não-protéicos no sangue, no plasma ou no soro.
- A LRA é uma anomalia funcional ou estrutural do rim que se manifesta em 48 horas, sendo determinada
pelos exames de sangue, urina, biópsias ou exames de imagem.
Fatores de risco para IRA são conhecidos e devem ser lembrados no atendimento: doença renal crônica,
insuficiência cardíaca, cirrose hepática, doença pulmonar crônica, diabetes, doenças autoimunes como LES.
CRITÉRIOS DE IRA:
● Aumento da cr sérica pelo menos 0,3 md/dL em 48h OU
● Aumento da cr sérica de 1,5x ou superior em relação ao basal em 7 dias OU
● Volume urinário inferior a 0,5 ml/kg/h durante 6h
Epidemiologia
- Maioria acontece no ambiente hospitalar em pacientes hospitalizados em UTI
Injúria renal aguda (IRA) ou lesão renal aguda (LRA) é uma síndrome frequente em pacientes admitidos no
departamento de emergência (DE), pacientes hospitalizados e em unidades críticas.
● A incidência → 10 a 15% em pacientes internados, e alcança 60% em pacientes internados em unidade de
terapia intensiva (UTI).
Classificação
A classificação RIFLE → acrônimo de progressão de gravidade (risco, injury ou lesão, falência) e de desfecho (perda
de função ou loss, doença renal, estágio final ou end-stage renal disease).
● Os primeiros três estágios utilizam os níveis séricos de creatinina e o débito urinário, enquanto os dois últimos,
relativos ao desfecho, remetem à duração da perda de função renal.
A classificação AKIN (Acute Kidney Injury Network) → Piora de creatinina acima do limite em 48 horas define IRA.
Recentemente foram introduzidos os critérios de estadiamento do KDIGO (Kidney Disease: Improving Global
Outcomes), que consideram uma elevação da creatinina sérica dentro de 48 horas ou um declínio na TFG ao
longo de 7 dias.
DX
● Creatinina – marcador de escolha
○ >= 0,3 mg/dL em 48h OU
○ >= 50% em 7 dias
■ Chegou com 1 e foi pra 1,5 em 7 dias
● Débito urinário
○ Bom parâmetro de função renal agudamente
○ <0,5 mL/kg/h (6h) pode falar que tem LRA
ETIOLOGIAS E FISIOPATOLOGIA
→ INJÚRIA PRÉ-RENAL
Consiste na etiologia mais prevalente dentre as três.
Essa lesão é acompanhada por uma hipoperfusão renal com PAS < 80 mmHg, havendo integridade do parênquima
renal. Ou seja, consiste num problema hemodinâmico e não no néfron!
Sendo assim, suas manifestações clínicas podem ser revertidas caso o fluxo renal seja restaurado.
- Hipovolemia não hemorrágica (vômitos, diarreia); Cirrose Hepática; uso de AINES, IECA (vasodilatação da via
aferente e contração da eferente)
- A hipoperfusão renal pode ocorrer devido a diversas causas (hipovolemia, vasodilatação sistêmica, aumento da
resistência vascular etc.), ativando mecanismos adaptativos de autorregulação, sistema nervoso simpático e o sistema
renina-angiotensina aldosterona (SRAA) para manter a taxa de filtração glomerular (TFG).
Fisiopatologia
● Redução do fluxo sanguíneo renal → arteríola aferente sofre dilatação por conta de mediadores químicos (ex.:
prostaglandinas, NO, etc.) e do reflexo miogênico por conta do estímulo dos barroreceptores nesse vaso →
aumentando esse fluxo.
● De forma sinérgica, as arteríolas eferentes sofrem contração devido sistema renina-angiotensina-aldosterona (ele
é ativado devido a diminuição da pressão)
○ Tudo isso ocorre a fim de manter a TFG.
● No entanto, essa autorregulação possui certo limite: só é feita até uma pressão arterial sistólica igual a 80mmHg.
Abaixo disso, o paciente entra num estado de hipoperfusão renal gravíssima e duradoura, apresentando tal lesão
renal, podendo até evoluir com necrose tubular aguda isquêmica. Essa hipoperfusão renal, quer seja por
hipovolemia ou hipotensão sistêmica, consiste no mecanismo fisiopatológico da IRA.
****Causada por situações que diminuem a perfusão renal pela redução do volume intravascular → sepse, IC,
insuficiência hepática ou por medicações que reduzem a perfusão capilar glomerular como os IECA, BRA e AINES 3
Clínica:
↓ débito urinário, urina com coloração escura (cor de coca cola), anorexia, náuseas, gosto metálico, prurido, confusão
mental, retenção hídrica e hipertensão
- Aumento da razão uréia/creatinina >40 → a uréia filtrada é reabsorvida e a creatinina é excretada na
azotemia pré renal.
- Na IRA pré-renal ocorre aumento na reabsorção proximal de uréia, o que gera uma desproporção entre a
elevação de uréia e creatinina no plasma (a relação uréia/creatinina normal de aproximadamente 20 pode
atingir um valor acima de 40).
TTO:
Restauração da perfusão → concentrado de hemácias, solução fisiológica, evitar hiperidratação), monitorização de
potássio sérico e equilíbrio ácido básico
PRINCIPAIS CAUSAS
• Doença vascular renal: Ocorrem por conta de obstrução do lúmen, por trombo ou êmbolo, de vasos de
médio-grande calibre e/ou microvasculatura renal, ou de uma vasculite (isquemia)
- Exemplos: Infarto renal decorrente de dissecção da aorta, tromboembolismo sistêmico, trombose aguda em
veia renal anormalidade em artéria renal como aneurisma, púrpura trombocitopênica trombótica (PTT),
síndrome hemolítico-urémico (SHU), esclerodermia, nefroesclerose hipertensiva maligna;
• Doenças tubulares e intersticiais: Ocorre quando há um dano na estrutura tecidual e/ou celular do túbulo do néfron
ou do interstício do rim.
- Exemplos: Necrose tubular aguda (NTA), nefrite intersticial aguda (NIA), nefropatia urinária aguda por conta de
síndrome de lise tumoral
NTA
80 a 90% dos casos de lesão renal intrínseca, especialmente aqueles internados em UTI, são causados por
necrose tubular aguda (NTA).
● Isso ocorre quando as células tubulares do rim morrem por isquemia (diante uma hipoperfusão renal severa), pela
interação com substâncias nefrotóxicas (ex.: certos medicamentos – aminoglicosídeos, aciclovir, anfotericina B,
penicilina; contrastes radiológicos; pigmentos – hemoglobina, mioglobina e bilirrubina; metais pesados – mercúrio;
e peçonhas de animais) ou pela reação autoimune em nosso corpo (diante de uma sepse).
● Tanto pela forma isquêmica como tóxica, a patogenia da NTA consiste na morte das células tubulares, resultando
em obstrução do túbulo do néfron e extravasamento do filtrado para o interstício.
NIA
Também vale destacar como outro subtipo da lesão renal intrínseca: a nefrite intersticial aguda, que consiste numa
inflamação aguda do interstício renal por conta dos efeitos adversos ou abuso de medicamentos (como antibióticos,
diuréticos, corticoides), em que o paciente apresenta rash cutâneo eritematoso, febre, eosinofilia e eosinofilúria, e
cilindros piocitários.
- medicamentos: penicilinas, cefalosporinas, sulfonamidas e AINES,
- infecções bacterianas ou virais
- processo autoimune sistêmico ou confinado aos rins, como o LES, síndrome de Sjogren, crioglobulinemia e
cirrose biliar primária.
Por conta dessa lesão no parênquima, a função reabsortiva foi prejudicada, ao ponto da urina do paciente
com IRA intrínseca tende a ter uma urina mais diluída, por conta do excesso de ureia e sódio. A depender da
fisiopatologia específica, pode repercutir ou não com oligúria.
• Doenças glomerulares: Consiste na inflamação ou degeneração do glomérulo renal, que pode ser classificada
como primária (caso seja idiopática e não esteja relacionado com outras patologias sistêmicas) e secundária (induzida
por síndromes paraneoplásicas, drogas ou doenças reumatológicas sistêmicas).
São observados dois padrões dessas doenças:
◊ Padrão nefrítico: O paciente apresenta uma urina com bastante sedimentos, como hemácias disfórmicas e
leucócitos, podendo apresentar certo grau de proteinúria (geralmente microscópica). Ocorre em casos de
glomerulonefrites proliferativas, como a GNRP (glomerulonefrite rapidamente progressiva);
◊ Padrão nefrótica: Nesse caso, o paciente apresenta uma severa proteinúria, sendo um padrão de glomerulopatia não
proliferativa, como a GNM (glomerulonefrite membranosa).
→ INJÚRIA PÓS-RENAIS
● Causada por uma interrupção no sistema urinário coletor (ureter, bexiga e uretra), que ocorre por conta de
uma obstrução mecânica de causas congênita ou adquirida.
● Da mesma forma que a pré-renal, por não afetar diretamente o aparelho de filtração e reabsorção renal, ou seja, o
néfron, tende a ser potencialmente reduzido caso o motivo da obstrução seja corrigido.
Fisiopatologia
Por conta do congestionamento da urina, a pressão glomerular se torna maior, reduzindo a TFG.
Essa obstrução pode ocorre por conta desses principais fatores:
• Estruturais: Obstrução causada por uma perturbação na anatomia de sistema coletor, como cálculos, coágulos,
prostatite e hiperplasia prostática benigna (nesses dois casos, há aumento da próstata).
• Funcionais: Ocorre em casos de bexiga neurogênica ou uso de medicamentos, como antidepressivos,
antiarrítmicos, anticolinérgicos, antipsicóticos e reposição hormonal.
- Dessa forma, por conta da redução da TFG, há um menor influxo de sódio, água, ureia e creatinina para
dentro do néfron, aumentando suas concentrações sanguíneas.
- Ademais a isso, o aumento da pressão dentro dos túbulos, por conta da obstrução, faz com que a reabsorção das
substância, que já se encontram em níveis menores, diminua ainda mais. Portanto, o portador dessa injúria
pós-renal, além de apresentar oligúria, possui uma urina concentrada.
****A obstrução extrarrenal (p. ex., hipertrofia da próstata, fibrose retroperitoneal, entre outros) ou intrarrenal (p. ex.,
nefrolitíase, coágulos sanguíneos, entre outros) leva a um aumento da pressão intratubular, diminuição do fluxo
sanguíneo renal e processos inflamatórios que podem resultar em complicações graves, dependendo da função renal
anterior, da gravidade da obstrução e do tempo de início na LRA.
→ ALTERAÇÕES HIDROELETROLÍTICAS
Sabemos que, com a lesão do rim, sua função de filtrar e reabsorver água e eletrolíticos são perturbadas. Ou seja, há
menos filtração dessas substâncias e, consequentemente, menos reabsorção.
● Com a retenção de sódio na circulação, gerando uma hipernatremia e, consequentemente de água, há uma
sobrecarga do volume intravascular que pode ser percebida de diversas facetas, como HAS leve, edema cerebral,
edema agudo de pulmão, aumento da pressão venosa jugular, edema periférico.
- Com a diluição desse sódio, o paciente com IRA pode repercutir com hiponatremia e, quando agudizada,
tal comorbidade pode resultar em edema cerebral, crise convulsivas, cefaleia, confusão e estupor, coma
(distúrbios neurológicos)
● Já no que tange ao potássio, o mais comum é de encontrar, com sua retenção na corrente sanguínea, a
hipercalemia. Mesmo sendo menos incidente que a hipernatremia, é um distúrbio mais grave por conta do teor
cardiotóxico dessa substância quando em excesso (é assintomático em doses baixas)
● A hiperfosfatemia e hipercalcemia podem estar presentes de forma concomitante. Isso ocorre por conta do
excesso de fosfato que o sangue apresenta nesses pacientes, eletrólito que apresenta forte relação com o cálcio
no sangue.
→ DISTÚRBIO ÁCIDO-BASE
Por outro lado, pacientes com IRA grave tendem a apresentar uma acidose metabólica, que se instala no organismo
quando há retenção de metabólitos de proteínas ácidos por conta da falha na sua filtração.
● Essa acidose da IRA possui o intervalo aniônico (ânion gap) elevado, que se instaurou por conta da diminuição da
excreção de ácidos proteicos e da reabsorção de bicarbonato (HCO3-), além do acúmulo de sulfatos, fosfatos,
uratos e hipuratos.
● Em casos graves, o paciente com acidose metabólica apresenta náuseas e vômitos, letargia e hiperpneia.
DIAGNÓSTICO
O diagnóstico de uma IRA começa a partir da identificação da patologia de base. Mas isso não é o suficiente para
diagnosticarmos um paciente com esse quadro, pois precisamos de exames laboratoriais e, se for necessário, de
imagem.
EXAMES COMPLEMENTARES
Exames laboratoriais são importantes para reconhecer e confirmar a IRA, avaliar progressivamente a evolução da
função renal e adicionar em termos de diagnóstico diferencial
➢ Injúria pré-renal: não há aspecto químico diferente do normal; >densidade por <concentração de solvente (água);
sedimentos ausentes ou cilindros hialinos
➢ Injúria intrínseca: hematúria, piúria, proteinúria e glicosúria (por lesão do parênquima); <densidade (diluida por ↓ da
capacidade de reabsorção); células epiteliais, leucócitos e cilindros
➢ Pós renal: hematúria e piúria (por lesão); pode ficar [] se a obstrução tornar a pressão mt grande; sedimentos
ausentes
Métodos de imagem
→ A ultrassonografia (USG) renal com Doppler é um exame de grande utilidade na avaliação da IRA.
- Alterações parenquimatosas renais podem ser facilmente distinguidas pelo ultrassom, com o achado de aumento
da ecogenicidade, com especificidade de 96%. Essa alteração, isoladamente, não distingue IRA de DRC, mas sua
associação com redução dos tamanhos dos rins possui boa correlação com DRC.
- Outra utilidade da USG é na IRA pós-renal. A sensibilidade do exame é de 100%, quando há hidronefrose de
moderada a importante.
PREVENÇÃO E TRATAMENTO
O manejo dos pacientes com lesão renal aguda envolve medidas simples como:
● Verificar fatores reversíveis que possam causar ou contribuir para a perpetuação da IRA, como hipovolemia,
hipotensão, baixo débito cardíaco, sepse, obstrução, hipertensão intra-abdominal e drogas nefrotóxicas.
● Lembrar dos agentes nefrotóxicos mais comuns: contraste iodado, anti-inflamatórios não esteroidais,
antimicrobianos (aminoglicosídeos, anfotericina, vancomicina).
- Sempre que possível, essas medicações devem ser evitadas em pacientes com suspeita ou risco de
IRA.
- No caso de IRA pré-renal, convém evitar diuréticos, inibidores da ECA e bloqueadores de receptor de
angiotensina.
● Suporte nutricional: dieta hipossódica e pobre em potássio provavelmente é adequada para a maioria dos
pacientes. Proteínas 0,8 a 1 g/kg em pacientes não dialíticos e 1 a 1,5 g/kg se dialítico.
● Ajustar dose de medicamentos conforme função renal.
Não existem diretrizes que definem especificamente como deve ser feito o manejo volêmico e hemodinâmico de
pacientes com IRA. Provavelmente, esse manejo depende da apresentação causal.
→ Hipocalcemia e hiperfosfatemia são comuns na IRA. Entretanto, não há estudos randomizados que avaliaram o
benefício de tratar essas alterações. Sugere-se o tratamento da hiperfosfatemia > 6 mg/dL.
● Quelantes a base de cálcio ou outros quelantes (Sevelamer) podem ser utilizados para esse fim, além de restrição
de fósforo na dieta.
● A reposição de cálcio deve ser evitada ao máximo devido ao risco de precipitação de fosfato de cálcio, sobretudo
em níveis alarmantes de fósforo (maiores que 8 a 10 mg/dL).
TRATAMENTO
Compõe a medidas de suporte às complicações da síndrome urêmica e medidas direcionadas ao tratamento
específico da etiologia.
A injúria pré-renal responde bem ao restabelecimento do fluxo sanguíneo renal, podendo ser alcançada através da
reposição volêmica.
- Nos pacientes com IRA pré-renal associada a ICC, o melhor procedimento é tratar a doença base com
vasodilatadores, diuréticos ou agentes inotrópicos caso necessário.
- É fundamental suspender drogas nefrotóxicas (AINE, IECA).
O tratamento para injúria intrínseca é direcionada para a causa base, por exemplo, GN associada à vasculite ou LES
responde à glicocorticóides em altas doses.
A abordagem de injúria pós-renal envolve o urologista, podendo ser necessárias intervenções simples (sonda de
Foley por exemplo) ou complicada (stentes ureterais)
Pacientes idosos, portadores de doença cardiovascular e pacientes com história de doença renal em familiares têm
grande potencial para desenvolver lesão renal e devem ser investigados com triagem de exames de urina e dosagem
de creatinina no sangue.
DRC