Mariana Soares - Província Mantiqueira

Fazer download em docx, pdf ou txt
Fazer download em docx, pdf ou txt
Você está na página 1de 7

Disciplina de Geologia do Brasil

Curso de Geologia
Docente: Prof. Dr. José de Araújo Nogueira Neto
Discente: Mariana Soares Fortes Borges

PROVÍNCIA MANTIQUEIRA

A Província Mantiqueira é uma entidade geotectônica instalada a leste dos crátons


São Francisco e Rio de La Plata/Paraná, ao final do Neoproterozoico e início do Paleozoico.
Estende-se por cerca de 3.000 km com orientação NNE–SSW ao longo da costa atlântica, de
Montevidéu (Uruguai) ao sul da Bahia. A província guarda o registro de uma longa e
complexa evolução do Neoproterozoico na América do Sul (900–520 Ma) preservando
também remanescentes de unidades paleotectônicas arqueanas, paleoproterozoicas e
mesoproterozoicas. Constitui, juntamente com a extremidade meridional da Província
Tocantins, o arcabouço pré-cambriano do sudeste brasileiro desenvolvido em resposta ao
“Ciclo Brasiliano” de Almeida (1967). O Sistema Orogênico Mantiqueira é formado pelos
orógenos Araçuaí, Ribeira, Dom Feliciano e São Gabriel, e pela zona de interferência entre os
orógenos Brasília e Ribeira.
Figura 01: Subdivisão do Sistema Orogênico
Mantiqueira. As cores roxo e laranja indicam os
terrenos que alojam os arcos magmáticos
neoproterozóicos. (Heilbron et al., 2004).
De forma geral, a Província Mantiqueira registra diferentes etapas do Ciclo de
Wilson, que Hasui (2010) apresenta como Ciclo dos Supercontinentes, envolvendo fases de
fragmentação, deriva de massas continentais e abertura oceânica. Segue-se então fases de
convergência e aglutinação de tais massas, com fechamento dos oceanos e colisão de
continentes. Por fim, tem-se o colapso do orógeno, com erosão e implementação de um
regime distensivo. Sendo assim, a fase antecessora da Orogênese Brasiliana é marcada por
processos de rifteamento das margens do Supercontinente Rodínia com consequente etapa de
abertura oceânica, por volta de 930-880 Ma (Heilbron et al., 2004), a qual mostra-se bem
documentada na Província Mantiqueira através de faciologias típicas de bacias de margens
passivas e restos de sequências ofiolíticas. Contemporaneamente, houve geração de arcos
magmáticos, ressaltando o caráter diacrônico do evento. A etapa de Colisão I, segundo
Heilbron et al., (2004) resulta do choque frontal entre os paleocontinentes Paranapanema e
São Fancisco, entre 630-610 Ma, ocasionando o fechamento do Oceano Goianides. Essa fase
teria estruturado a porção sul do Orógeno Brasília e o Orógeno Dom Feliciano, dando origem
a um complexo sistema de nappes de cavalgamento sub-horizontais que são vergentes para
leste, além de intensa deformação, com dobras apertadas e forte xistosidade e lineação de
estiramento. A Colisão III, por sua vez, marca o final dos processos de aglutinação, entre 535-
510 Ma, gerando deformação e metamorfismo em alguns terrenos já previamente
amalgamados, além de importante deformação de baixo ângulo no Terreno Cabo Frio. Por
fim, sucedendo a aglutinação do Gondwana Ocidental, houve a transição para um regime
extensional, interpretado como resultante do colapso dos orógenos do Sistema Mantiqueira.
Esta etapa de colapso extensional está melhor identificada nos orógenos Araçuaí e Ribeira, e é
representada tanto por zonas de cisalhamento normais e dobras de gravidade com vergência
para leste, como por zonas de cisalhamento transtensionais transversais aos orógenos. Além
disso, ocorreu importante magmatismo bimodal associado a este episódio tectônico.

1. Segmento setentrional: Orógeno Araçuaí:


O Orógeno Araçuaí-Congo Ocidental (Araçuaí-West- Congo Orogen) para
referir o conjunto orogênico neoproterozóico-cambriano contido na grande reentrância
delineada pelos crátons do São Francisco e Congo, cujo limite meridional no Brasil
seria balizado pela extremidade sul do Cráton do São Francisco na altura do paralelo
21º S (Pedrosa-Soares & Noce 1998, Pedrosa-Soares & Wiedemann-Leonardos 2000,
Pedrosa-Soares et al. 2001). Nesta conceituação, o Orógeno Araçuaí-Congo Ocidental
é identificado por um conjunto de componentes geotectônicos que caracterizam um
orógeno colisional sucessor de um orógeno acrescionário de margem continental ativa,
tais como depósitos de margem passiva, lascas ofiolíticas, zona de sutura, arco
magmático, granitos sin-colisionais e plutonismo pós-colisional. Mas, o Orógeno
Araçuaí-Congo Ocidental tem uma característica singular que é seu confinamento à
reentrância (a cratonic embayment) limitada pelos crátons do São Francisco e Congo
(Pedrosa-Soares et al. 2001).

2. Segmento Central
2.1 Orógeno Ribeira:
O termo Faixa Ribeira foi proposto inicialmente para as rochas geradas no
Ciclo Brasiliano, expostas na região entre São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e
Paraná. O Orógeno Ribeira, que apresenta trend estrutural NE-SW, resulta da
interação entre o Cráton do São Francisco e outra(s) placas e/ou microplaca(s) e/ou
arco de ilhas situado(s) a sudeste deste cráton, bem como com a porção sudoeste do
Cráton do Congo. Esta segunda etapa de colisão continental (Colisão II, ca. 580 Ma)
resultou no empilhamento de terrenos de leste para oeste-noroeste. Como a colisão
entre estes terrenos foi oblíqua, a deformação principal exibe clara partição entre
zonas com predomínio de encurtamento frontal e zonas com componente
transpressivo destral. Assim, contrastando com a extremidade sul do Orógeno
Brasília, os limites entre os compartimentos tectônicos são representados por
empurrões com mergulhos mais íngremes (>30º), ou por zonas de cisalhamento
oblíquas.
O Orógeno Ribeira é subdividido em cinco terrenos tectono-estratigráficos (no
sentido de Howell, 1989) separados ora por falhas de empurrão, ora por zonas de
cisalhamento oblíquas transpressivas. Estes terrenos são denominados Ocidental,
Paraíba do Sul, Embu, Oriental e Cabo Frio. A docagem destes terrenos é
caracterizada pelo imbricamento de escamas crustais com vergência para oeste, em
direção à margem do Cráton do São Francisco. Os quatro primeiros foram
amalgamados há cerca de 580 Ma, enquanto que o Terreno Cabo Frio só foi colado
aos demais cerca de 520 Ma.

2.2. Orógeno Apiaí:


A evolução do Terreno Apiaí, juntamente com os terrenos Curitiba, São Roque
e Luís Alves, remonta às sequências metassedimentares de idades mesoproterozoica
e neoproterozoica que foram acrescidas como um terreno durante o Neoproterozoico
(Faleiros, 2008). Acredita-se que as sequências mesoproterozoicas desses terrenos
registrem uma história metamórfica e de deformação antes da instalação das bacias
neoproterozoicas apresentando em geral um metamorfismo na fácies xisto verde
baixo, podendo chegar a fácies xisto verde alto e anfibolito na Formação Água Clara
(Heilbron et al., 2004). Existem indícios de fase de deformação de baixo ângulo com
dobramento recumbente associada ao desenvolvimento da xistosidade das séries
neoproterozoicas. Um subsequente evento tectono-metamórfico se relaciona com o
cinturão de cisalhamento de alto ângulo, com dobramentos e traços axiais de direção
NE, associado à formação de uma xistosidade fina. As principais zonas de
cisalhamento, as quais controlam os contatos entre as diferentes unidades
estratigráficos e os diferentes terrenos, são destacadas por Campanha (2002) como
sendo a de Agudos Grandes, Taxaquara, Ribeira, Lancinha, Cubatão e Morretes-
Faxinas.

3. Segmento Meridional: Orógeno Dom Feliciano:


O segmento meridional da Província Mantiqueira inclui o orógeno Dom
Feliciano que se estende por cerca de 1.200 km, de Punta del Este (Uruguai) ao
nordeste do Estado de Santa Catarina e uma ramificação no extremo sudoeste, com
cerca de 5.000 km² onde está exposta uma fração do Orógeno São Gabriel. Este
segmento da Província Mantiqueira é marginal ao Cráton Rio de La Plata, situado no
oeste do Rio Grande do Sul e no Uruguai, Cráton do Paraná ou Paranapanema
(encoberto pela Bacia do Paraná) e ao maciço cratônico de Luis Alves que separa os
orógenos Dom Feliciano e Ribeira.
Os orógenos São Gabriel e Dom Feliciano apresentam identidades tectono-
estruturais distintas, com picos metamórficos separados por cerca de 70-90 Ma,
caracterizando mais um exemplo de evolução diacrônica durante o Neoproterozóico.
O Orógeno Dom Feliciano é constituído por sequências de margens passivas
neoproterozóicas (grupos Brusque, em Santa Catarina, Porongos, no Rio Grande do
Sul, e Lavalleja, no Uruguai), extensos segmentos de arcos magmáticos
neoproterozóicos (Florianópolis, Pelotas e Aygua, este no Uruguai), e restos do
embasamento paleoproterozóico a arqueano.
4. Considerações Metalogenéticas:
Na Província Mantiqueira, é conhecida a ocorrência de importantes recursos
minerais, a exemplo dos depósitos de Pb-Zn associados a calcários, Au e Cu em bacias
molássicas, Sn e W em greisen e concentração de pegmatitos ricos em gemas e
minerais industriais (Heilbron et al., 2004). Mais especificamente na porção sul
paulista e leste paranaense, principalmente no Vale do Rio Ribeira, existe a
potencialidade para ouro, prata e outros metais base (Faleiros, 2008). Em geral, as
ocorrências de ouro conhecidas são filoneanas e estão associadas a veios de quarzto
encaixados em rochas metavulcanossedimentares e neoproterozoicas dos grupos
Açungui e São Roque, com exceção do Morro do Ouro, em Apiaí, que apresenta veios
de quartzo com ouro lamelar encaixados em rocha carbonosa (Pereira et al., 2014).
A região do Vale do Ribeira recebe os principais depósitos de zinco, chumbo e
cobre do Cinturão Ribeira, também do tipo filoneano. Ocorrem também
mineralizações de metais raros relacionados a granitogênese Brasiliana, como no caso
do Complexo Três Córregos, que apresenta depósitos de scheelita e wollastonita
associados a skarns (Pereira et al., 2014).
5. Referências Bibliográficas:
 Ranolfi, L. F. 2017. Investigação Geológica e Petrográfica das Rochas
Graníticas Neoproterozoicas na Região Centro Sul da Folha Araçaíba, Sul do
Estado de São Paulo. Trabalho de Conclusão de Curso. Universidade Estadual
Paulista. 88 p. Rio Claro – São Paulo.
 Phillipp, R. P; Pimentel, M. M.; Chemale Jr., F. 2016. Tectonic evolution of
the Dom Feliciano Belt in Southern Brazil: Geological relationships and U-Pb
geochronology. Brazilian Journal of Geology, 46(Suppl 1): 83-104, June 2016.
 CPRM. Província Mantiqueira. Disponível em:
https://www.sgb.gov.br/publique/media/recursos_minerais/livro_geo_tec_rm/
cap_V_c.pdf. Acessado em: janeiro/2024.
 Heilbron, Monica et al. Província Mantiqueira. Geologia do continente sul-
americano: evolução da obra de Fernando Flávio Marques de Almeida.
Tradução . São Paulo: Beca, 2004.
 Pedrosa-Soares, A. C. et al. 2007. ORÓGENO ARAÇUAÍ: SÍNTESE DO
CONHECIMENTO 30 ANOS APÓS ALMEIDA 1977. GEONOMOS 15(1): 1
– 16.
 Hasui, Y., Fuck, R. 1977. Províncias Estruturais Brasileiras. Actas. Disponível
em: https://www.researchgate.net/publication/284664191. Acessado em
janeiro/2024.
 Hasui, Y. 2010. A Grande Colisão Pré-Cambriana do Sudeste Brasileiro e a
Estruturação Regional. Geosciences, v. 29, n. 2.
 Pedrosa-Soares, A.C., Noce, C.M., Wiedemann, C.M. & Pinto, C.P. 2001. The
Araçuaí–West Congo orogen in Brazil: An overview of a confined orogen
formed during Gondwanland assembly. Precambrian Research, 110: 307-323.
 Faleiros, F.M. 2008. Evolução de terrenos tectono-metamórficos da Serrania
do Ribeira e Planalto Alto Turvo (SP, PR). Instituto de Geociências,
Universidade de São Paulo, São Paulo, 306 p.
 Campanha, G.A.C., 2002. O papel do sistema de zonas de cisalhamento
transcorrentes na configuração da porção meridional da Faixa Ribeira. Tese de
Livre-Docência. Instituto de Geociências da Universidade de São Paulo. São
Paulo.
 Pereira, R. M.; Heilbron, M.; Valeriano, C. Metalogênese da Faixa Ribeira.
2014. In: SILVA, M. G.; NETO, M. B. R.; JOST, H.; KUYUMIJAN, R. N.
(Coords.) Metalogênese das províncias tectônicas brasileiras. Belo Horizonte,
CPRM/Serviço Geológico do Brasil.

Você também pode gostar