Raciocinio
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1. Introdução
Os tópicos de Estatı́stica, estão incluı́dos, por determinação dos Parâmetros Curriculares
Nacionais (PCN), no bloco “Tratamento da Informação”, que é um dos cinco blocos de
conteúdos conceituais e procedimentos para o ensino da Matemática. Os tópicos relati-
vos à Estatı́stica na Educação Básica estão presentes nos 8o e 9o anos (final do Ensino
Fundamental II) e no 2o ano do Ensino Médio.
Apesar desta determinação, a Estatı́stica, segundo
[Cazorla and SANTANA 2006], ainda é vista timidamente na Educação Básica.
Ensina-se, na maioria das vezes, apenas com recursos tradicionais. Além disso, há
o agravante da disposição dos seus conteúdos programáticos aparecerem nos últimos
tópicos dos livros didáticos adotados e, muitas vezes, não serem ensinados aos alunos,
conforme elucida o autor [PANAINO 1998].
Ainda segundo [PANAINO 1998], a Estatı́stica foi introduzida em 1988 no
currı́culo escolar brasileiro da Educação Básica, a partir da publicação dos PCN, que
determinam que ela deva ser ensinada durante o Ensino Fundamental e Médio nas aulas
de Matemática, desde as séries iniciais.
Apesar disso os conteúdos de Estatı́stica não são trabalhados ou, em alguns casos,
sequer vistos em sala de aula,mas por outro lado, são exigidos em exames oficiais que
medem a aprendizagem dos alunos através de avaliações nacionais como: a Prova Brasil,
as Olimpı́adas Brasileiras de Matemática das Escola Públicas (OBMEP), as Olimpı́adas
Brasileiras de Matemática (OBM) e o Exame Nacional de Ensino Médio (ENEM).
O resultado destas avaliações nacionais aponta um déficit neste conteúdo, o que
gerou a motivação para trabalhar com os conceitos de Análise Combinatória e Probabi-
lidade em duas diferentes perspectivas: com professores da Educação Básica pública da
Bahia e com os alunos da licenciatura em Matemática da Universidade Federal da Bahia
- UFBA.
Para isso, foi proposta a oficina “Análise Combinatória e Probabilidade”, com o
objetivo de apresentar métodos e recursos didáticos não convencionais aos professores da
rede pública e aos alunos da Licenciatura em Matemática, frente às necessidades vistas
na relação ensino-aprendizagem. Assim, a oficina surgiu como uma atividade de extensão
do Instituto de Matemática e Estatı́stica - IME/ UFBA.
Este artigo tem por objetivo apresentar o modus operandi de uma oficina desenvol-
vida sobre um tema pouco trabalhado em aulas de matemática do ensino básico público
da Bahia – Ensino Fundamental e Médio – além de avaliar as preferências dos professores
no uso das metodologias para o ensino de Análise Combinatória e Probabilidade. Relatar
os resultados visı́veis da aplicação da Oficina de Análise Combinatória e Probabilidade
com professores da Educação Básica é, também, compreender os caminhos do ensino ma-
temático na contemporaneidade com o intuito de buscar soluções exequı́veis. Para tanto,
a seção 2 trará conceitos fundamentais sobre o Raciocı́nio Computacional e o Software
R atrelado à noção educacional de construtivismo, que podem ser compreendidos como
os suportes teóricos deste trabalho. Em sequência, a Seção 3 exibirá a metodologia de
desenvolvimento da oficina e a seção 4 apresentará, em forma de reflexão, os resultados
de sua aplicação entre os dois públicos selecionados.
2. Pensamento/Raciocı́nio Computacional
No artigo de [Wing 2006] incluso no periódico Communications of the ACM, vemos
vários exemplos de como aspectos da Ciência da Computação estão presentes na vida
cotidiana e poderiam ser ensinados a crianças e adolescentes, de forma a possibilitar uma
melhor compreensão de um mundo permeado por dispositivos computacionais. Wing de-
fine o termo “Pensamento Computacional” para se referir ao conjunto de competências
e habilidades da Computação que podem ser úteis em outras áreas do conhecimento,
através de conceitos como abstração, decomposição, entre outros. No mesmo trabalho o
Pensamento Computacional também é apresentado como uma metodologia de resolução
de problemas que expande o domı́nio da informática em todas as disciplinas, proporcio-
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ao uso do software fez-se necessário uma comparação entre tipos de ensino e métodos.
Com isso, chegou-se ao conceito de construtivismo.
O construtivismo nasce do pensamento de Piaget, que estimula uma forma de
pensar onde o aprendiz, em vez de assimilar o conteúdo passivamente, reconstrói o co-
nhecimento existente, promovendo a mudança a que denominamos aprendizagem. Neste
esteio, por meio dos conceitos de [Papert 1980], criador do construcionismo que propôs o
uso do computador segundo essa abordagem nos modelos, criando uma relação dialética
entre o pensamento abstrato e o concreto, que se refere às suas ideias ”concretizadas”pelo
computador. Assim, compreende-se que o construtivismo necessita do uso de material
concreto denominado “modelo”, que auxilia as situações nas quais os alunos constroem
conhecimento com o suporte do computador.
Nesta metodologia é o aluno que deve ser colocado como elemento principal da
construção do conhecimento, ficando o professor como mediador/facilitador. O professor
tem a função de colocar o estudante diante de situações (práticas ou teóricas) para que
estes encontrem soluções e construam o conhecimento. Assim, a experiência de vida do
aluno e seus conhecimentos anteriormente adquiridos são de fundamental importância.
Ao docente cabe também a função de incentivar os alunos na busca por novos conheci-
mentos e na aprendizagem de novos conceitos, tendo a oportunidade de escolha de qual
método é o mais apropriado para o momento do aluno, para construir o aprendizado a
partir de conhecimentos e/ou conceitos anteriores.
A aplicação da metodologia construtivista com o apoio do Software R serviu como
base para a proposição da oficina nos dois diferentes momentos previstos. Antes, no en-
tanto, de apresentar o modelo e a execução da oficina, faz-se necessário considerar um
trabalho correlato de suma importância. Em pesquisa semelhante, Ferreira (2011) em
“Ensino de Probabilidade com o uso do programa estatı́stico R numa perspectiva cons-
trucionista”, investigou a aprendizagem de conceitos probabilı́sticos nos ambientes papel
e lápis e computacional (software R), sob a perspectiva do letramento probabilı́stico de
Gal e do construcionismo de Papert. O autor aponta que a maior autonomia dos alunos na
construção de seu conhecimento está atrelada ao uso do recurso computacional, consti-
tuindo uma importante ferramenta para a construção do conhecimento probabilı́stico com
uma perspectiva construcionista, e que o uso do software R corresponde às expectativas
propostas. Apesar de todas as dificuldades detectadas, tanto no que se refere ao enten-
dimento do conceito probabilı́stico, quanto no nı́vel de autonomia dos alunos, o autor
acredita, que apesar deste tipo de trabalho ainda não ser comum no cotidiano escolar, que
a experiência proporcionou aos alunos reflexões mais abrangentes em relação ao conceito
de probabilidade por meio de uma visão diferenciada do uso do computador com o uso do
software R. O autor também apontou a necessidade de estudos posteriores que reforcem
ou dialoguem com os resultados por ele alcançados.
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vagas. Os interessados deveriam fazer sua inscrição via e-mail . Para os professores o dia
escolhido foi uma quarta-feira, devido à disponibilidade para atividades complementares,
para os alunos foi uma quinta-feira, dia destinado às atividades do PIBID. Salienta-se
que o único pré-requisito para participação era ser atuante como professor de matemática
na Educação Básica pública da Bahia ou estar devidamente matriculado na instituição
UFBA. Essa oficina foi gratuita e forneceu certificado.
Foram selecionados na primeira oficina 43 professores de matemática, com
duração de 8 h. Ao chegarem ao IME, todos assinaram o Termo de Consentimento Livre
e Esclarecido (TCLE) e iniciaram as dinâmicas sem prévio conhecimento das técnicas
e do que era esperado deles. Responderam 2 questões, adaptadas dos bancos de dados
das avaliações nacionais (ENEM, OBEMEP, Prova Brasil) sobre Análise Combinatória
e Probabilidade, com o objetivo de analisar e verificar o conhecimento prévio de cada
participante, utilizando a metodologia tradicional.
A seguir foi apresentado através de slides o tema trabalhado utilizando a metodo-
logia tradicional, mostrando as fórmulas principais do assunto e exercı́cios já resolvidos,
neste momento os participantes só observaram. Após isso, foi pedido que fizessem a
resolução de outros problemas com apoio de material concreto os “modelos”, utilizando a
metodologia construtivista para entender o raciocı́nio lógico dos participantes. A próxima
etapa foi a apresentação do software R, sua interface e seus comandos básicos no labo-
ratório de informática. Durante estas atividades os participantes receberam uma folha em
branco para que escrevessem as impressões que estavam tendo da oficina e suas expec-
tativas. No perı́odo da tarde a oficina foi aplicada segundo o método DQL: foi feito um
rodı́zio dos participantes por meio de sorteio no software R, de modo que fossem criados
3 grupos de professores, denominados P1 , P2 e P3 (compostos por uma média de 14 par-
ticipantes). Foram separados os grupos e dadas instruções de como ocorreria a Oficina
no sentido de que fariam rodı́zios sem prévias instruções sobre a metodologia que seria
aplicada em cada etapa.
As questões propostas tinham igual grau de dificuldade e foram adaptadas dos
bancos de dados das avaliações nacionais. Elas foram previamente resolvidas pela equipe
responsável e deveriam ser respondidas ao mesmo tempo pelos 3 grupos, utilizando a
metodologia referente à sala que se encontrava o participante, num intervalo de 1 hora
(50 minutos para cada questão e 10 minutos para troca de ambiente) conforme rodı́zio.
Assim tivemos: P1 , P2 e P3 grupos de professores, participando de 3 metodologias (ensino
tradicional, construtivismo e linguagem de programação com o software R) em 2 salas e 1
laboratório de computação, respondendo grupos de questões Q3 ,4 , Q5 ,6 e Q7 ,8 , referentes
à Análise Combinatória e Probabilidade, retiradas das avaliações nacionais.
A confecção dos modelos concretos para a Metodologia Construtivista foi apoiada
pelos alunos do projeto de pesquisa de Laboratório de Ensino de Matemática (LEMA),
com materiais reciclados e/ou baixo custo, feitos a partir de impressão em papel A4.
A aplicação do software R como calculadora se deu mediante o uso das operações
aritméticas básicas (+,-,*,/), e os comandos: combn (x,y) mostra as combinações
possı́veis, choose(x,y) mostra o número de combinações, e factorial(x): fatorial do
número x, onde (x,y) são os valores dados nas questões a serem calculados.
Instalados os grupos em suas respectivas salas/laboratório, foi explicado qual era
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árvore de tomada de decisão com três perguntas norteadoras (o número de objetos é igual
ao número de posições, a ordem importa e tem reposição), onde a ordem dessas perguntas
pode ser aleatória, trabalhando assim a decomposição e composição, outro pilar das habi-
lidades do RC. Estas atividades foram fundamentais na interpretação, no entendimento e
na resolução dos exercı́cios.
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5. Considerações Finais
A análise dos dados foi realizada a partir de um questionário aplicado aos participantes,
concentrando-se em questões relevantes para conhecer a satisfação e interesse dos pro-
fessores. Ao analisar os resultados e, principalmente, quando consideramos as questões
que permearam todas as metodologias, notamos um interesse por inserir novas metodolo-
gias no cotidiano das salas de aula para um maior entendimento do conceito de Análise
Combinatória e Probabilidade, uma vez que a avaliação da Oficina pelos professores foi
satisfatória.
Notamos que o uso do software R despertou o interesse por parte dos participantes,
tornando os comandos e as aplicações das fórmulas como algo significativo para aprendi-
zagem. Foi relevante o contato através de simulações e a experimentação que ocorreu com
o manuseio dos modelos durante a Metodologia Construtivista, possibilitando o amadu-
recimento dos conceitos, uma vez que a maioria dos professores já dominavam a teoria,
afastando um pouco o abstrato e obtendo novas metodologias de ensino com maior ênfase
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Referências
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