(DISSERTAÇÃO) José Orlando Ferreira de Miranda Júnior
(DISSERTAÇÃO) José Orlando Ferreira de Miranda Júnior
(DISSERTAÇÃO) José Orlando Ferreira de Miranda Júnior
EDUCAÇÃO E SURDEZ:
CARTOGRAFIAS DA LIBRAS COMO LÍNGUA MENOR
CAMETÁ/PARÁ
2017
JOSÉ ORLANDO FERREIRA DE MIRANDA JÚNIOR
EDUCAÇÃO E SURDEZ:
CARTOGRAFIAS DA LIBRAS COMO LÍNGUA MENOR
CAMETÁ/PARÁ
2017
JOSÉ ORLANDO FERREIRA DE MIRANDA JÚNIOR
EDUCAÇÃO E SURDEZ:
CARTOGRAFIAS DA LIBRAS COMO LÍNGUA MENOR
BANCA EXAMINADORA
Orientadora:
________________________________________________
Profa. Dra. Gilcilene Dias Costa – PPGEDUC/UFPA
Examinador Interno:
________________________________________________________
Prof. Dr. José Valdinei Miranda – PPGEDUC/UFPA
Suplente:
_________________________________________________________
Prof. Dr. Cezar Luís Seibt – PPGEDUC/UFPA
Sigo agradecendo a minha família, que sempre me apoiou em minhas escolhas: meu
eterno pai, que mesmo não estando fisicamente, se fez presente ao longo dessa jornada, sei o
quanto você sonhou este sonho. A minha mãe, Rita Dias, uma fã incontrolável, que me
impulsiona sempre mais, obrigado pelas palavras de afeto e força, quando o caminhar era
árduo. Por vocês dois estou aqui, amor incondicional. Amor eterno amor. Aos meus irmãos,
Anderson e André, obrigado pela força vinda sempre em boa hora.
“Simeudeus”, nossa, estou aqui para te agradecer, tua vital presença para que eu
chegasse até aqui, obrigado pelo amor, companheirismo, inclusive madrugada adentro, que
você seguia a me acompanhar, tuas palavras me energizavam para seguir em fluxos, ainda que
desterritorializados, me faziam seguir. Amo-te incondicionalmente.
Agradeço a minhas bolsistas Kelly Cristina, Ana Karoline e Jacigraça Sepeda, que
impulsionaram as atividades do projeto para que obtivéssemos o resultado final. Obrigado,
meninas! Pela dedicação em cada uma das atividades propostas e o cuidado necessário com
cada professor-participante.
Agradeço a minha avó materna, Ivette Villas-Boas, pelas orações diárias e incentivo
ao longo desta escrita. Minha tia, Ivette Dias, obrigado pelas palavras que me foram ditas para
continuar mesmo estando longe, o que a fez tão perto neste processo.
Aos amigos de hoje e de sempre, que a vida me proporcionou ter, muito obrigado pelo
entendimento em minhas ausências em nossos encontros. Vocês me proporcionam o melhor
da vida, a presença de vocês em nosso mundo: Iranilde, Shirlene, Socorro, Jéssica, Rosângela,
Cláudio, entre tantos outros...
Minha querida-amiga Ciléia Menezes, se parar para pensar, você foi a grande
idealizadora deste sonho, me impulsionou quando ainda estava na graduação, me escolheu
para ser aquele aluno-amigo, obrigado pela aprendizagem e amizade.
Aos amigos que o Cuntins me proporcionou ter, que meio aos afazeres se
preocupavam no cuidado para comigo e minha família, em especial, Mariana Parreira,
Lucilena Gonzaga, Doriedson Rodrigues e Glaucy Figueiredo que vivenciaram minhas
inquietações.
E...e...e... G-R-A-T-I-D-Ã-O!
Às minhas-meninas Sophia e Laura, vocês me impulsionaram a cada dia seguir.
Esposa e amiga de horas a fio, a sua companhia no decorrer desta escrita, foi sem dúvida meu fôlego.
Como não te dedicar? Meu Pai, tua falta me corrói por dentro, mas teu amor me afaga em todas as horas, viver
num paradoxo sem tua presença/presença constante, me fazem seguir e te ouvir todas, às vezes, dizer: “-Você é
você, meu filho!” Ahhh, pai (...), nosso amor continuará para sempre, estamos conectados pelo elo que sempre
nos uniu, Amo-te sem F-I-M. Mãe, a ti a dedicação, pelo amor e dedicação para comigo e minha família, te
amamos...
RESUMO
Esta pesquisa surge a partir da elaboração/execução do projeto PIBEX 2015 intitulado Ensino
de Libras na Amazônia Tocantina: Formação de Professores da Educação Infantil, em
parceria com a SEMED Cametá, o qual visou contribuir para a formação de 210 professores
que atuam na Educação Infantil do município de Cametá-PA. A problemática da pesquisa
consiste em averiguar a constituição da Libras como diferença na Educação, percorrendo uma
zona de vizinhança e distanciamento entre Estudos Surdos e a Filosofia da Diferença. Trata-se
de um exercício autocrítico e analítico que toma o projeto de formação de professores como
atividade do seu próprio pesquisar, por um exercício do pensar capaz de tensionar visões
historicamente instituídas sobre a inclusão e a visão do outro como deficiência e, de modo
afirmativo, almeja potencializar a Libras como diferença na Educação, em atenção às suas
singularidades. O estudo aponta a ideia de um devir-surdo no ensino de Libras, sinalizando a
própria Libras como língua menor atravessada por processos de “desterritorialização” da
língua e cultura surda, e dos elementos voltados para o “político” e o “coletivo” da formação
de professores. Como interlocutores teóricos, dialogou-se com Deleuze e Guattari (2014),
Guattari e Rolnik (1996), Gallo (2012), Skliar (2001), Larrosa (2004), Veiga-Neto (2012),
Meyer e Paraíso (2014), Passos e Kastrup e Escóssia (2015), entre outros, no intuito de
perspectivar olhares multifacetados sobre a Libras como diferença na Educação, articulando
teias de relacionamentos com o outro nos liames da formação. Neste movimento de devir, a
Cartografia de inspiração deleuziana e guattariana forneceu as pistas metodológicas
necessárias para a construção dos itinerários da pesquisa, para estar com o outro e escutar a
sua pergunta (da diferença) na Educação, para captar os fluxos e os processos de um ir e vir
na formação de professores. A composição coletiva de um devir-surdo de percepções da
Libras como língua menor constituiu um dos desafios desta pesquisa, de modo que a cada
leitura foi possível perceber movimentos diferenciados da surdez em meio aos processos
formativos produzidos no decorrer da pesquisa, sinalizando o seu próprio inacabamento e as
fissuras deixadas enquanto possibilidades de descortinar outros estudos no campo da
Educação de Surdos entrecruzada com a Filosofia da Diferença, a fim de refazer
permanentemente a pergunta pelo outro e do outro na Educação.
1 ROTAS DE ENTRADA
Neste momento em que preciso me apropriar da escrita para discorrer sobre a proposta
de pesquisa por mim trilhada, ponho-me a retornar aos “porões” do pensar com Veiga-Neto
(2012), quando ele chama atenção para uma revisita aos porões do pensamento e da memória,
pois eles potencializam o encontro com o inusitado da pesquisa, superando os medos e as
limitações que se impõem. Cada revisitar me fez perceber quão necessárias serão essas idas e
vindas aos porões de minha graduação, nos idos de 2005, em que fui convidado a participar
das ações do projeto PROINT1, cuja temática relacionava-se à Educação de Surdos na Ilha de
Marajó. Nas ações do projeto, visitei localidades pertencentes aos municípios de Soure e
Salvaterra para mapear os surdos existentes nesses dois municípios marajoaras. Já naquele
tempo me envolvia com a temática da inclusão, voltada para a Educação que era negada aos
surdos daquelas cidades e como sobreviviam com os resquícios educacionais que lhes eram
oferecidos em suas famílias.
A pesquisa que aqui irei apresentar surge a partir de uma dupla relação: inicialmente,
da relação entre minha prática profissional e a continuidade dos estudos voltada para a
qualificação profissional. Desde o ano de 2014 atuo como docente de nível superior da
Faculdade de Linguagem, da Universidade Federal do Pará, no Campus Universitário do
Tocantins/Cametá (CUNTINS), e tenho atuado nos cursos de Licenciatura deste Campus, nas
diversas disciplinas relacionadas à Educação Especial e Ensino de Libras.
De outra parte, a partir do envolvimento docente, no ano de 2015, quando me propus a
executar um Projeto de Extensão intitulado Ensino de Libras na Amazônia Tocantina:
Formação de Professores da Educação Infantil, em parceria com a Secretaria Municipal de
Educação de Cametá (SEMED), que visa contribuir com a formação continuada dos
professores que atuam na Educação Infantil das escolas municipais do espaço rural e urbano
deste município, o que demarca uma estreita relação desta pesquisa com a Educação Básica.
Esse projeto despertou, concomitantemente, o interesse em concorrer ao Curso de
Mestrado Acadêmico em Educação e Cultura (PPGEDUC-UFPA), na Linha de Pesquisa
1
Programa Integrado de Apoio ao Ensino, Pesquisa e Extensão vinculado à Pró-Reitoria de Ensino de
Graduação da Universidade Federal do Pará.
15
2
Dados fornecidos pela Divisão de Educação Infantil, vinculada à Secretaria Municipal de Educação de Cametá,
referente ao ano letivo de 2015.
16
componente curricular para uma Educação Inclusiva, mas, sobretudo, abriram espaço para a
construção de uma dimensão interligada da Libras com a cultura e as perspectivas sociais da
comunidade surda. Entre os sete platôs propostos, foram trabalhadas as seguintes temáticas:
Língua Surda I, Canto Surdo, Língua Surda II, O outro surdo3, Debulhar Pedagógico,
Fabulação Surda e Rotas Cartográficas.
Imbuído pelos Estudos Surdos e por trilhar pelos emaranhados do pensar, que por si só
se constitui de múltiplas entradas, adjacências e saídas, percorro e retorno sempre que
necessário às leituras da Filosofia da Diferença, sentindo a necessidade de percorrer os
labirintos do pesquisar e, em meio a estes labirintos, ir ao encontro da inquietude do outro na
Educação, não para enfatizar sua diferença como exótica ou abjeta, vitimizada ou excluída (tal
como predomina em uma visão colonial historicamente legitimada), mas sim, por meio de um
diálogo com a diferença, para ressignificar os olhares e as culturas juntamente com o outro
que nos constitui e que nos provoca, para então recolocar, com justeza ética, “a pergunta do
outro na educação” (SKLIAR, 2003, p.25).
Assim, em meio aos estilhaços de pensamento desta pesquisa, questiono: Como pensar
rizomaticamente a Educação de Surdos no contexto da formação continuada de professores
em Libras na Amazônia Tocantina para além do paradigma da Inclusão? Como abrir
caminhos para pensar o ‘outro’ na Educação, indo ao encontro de sua inquietude? Como
pensar uma Educação de Surdos a partir de um devir-surdo, tendo a Libras como língua
menor, como singularidade cultural desta região? Que agenciamentos políticos e coletivos da
Libras como “língua menor” são possíveis de vislumbrar a partir do projeto desenvolvido?
Como a formação continuada dos professores em Libras se tece em meio às práticas
pedagógicas da diferença no decorrer dos cursos de formação? Que conexões podem ser
produzidas entre a Filosofia da Diferença e os Estudos Surdos no caminhar em direção a uma
‘Pedagogia da Diferença’? Como cartografar os processos de uma formação surgida por entre
estilhaços de um devir-surdo4 na Educação de Surdos? O que vem a ser um devir-surdo da
Libras na Educação?
3
Este platô ocorreu em parceria com o INES – Instituto Nacional de Educação de Surdos, com sede no Rio de
Janeiro, uma parceria interinstitucional para o fortalecimento das ações do projeto, foram 12 profissionais que
vieram com a equipe do Instituto para formar os professores da região em temáticas voltadas para a Educação
Infantil.
4
A noção de devir-surdo remete à ideia de um movimento de platôs que propiciam múltiplos deslocamentos do
pensar/existir a Educação de Surdos em meio às surdas fermentações da linguagem que se abrem à transmutação
da própria língua. Essa noção perpassará o texto desta Dissertação, esclarecendo que não se encontra
necessariamente em um campo autoral dos filósofos da diferença, mas aqui está sendo experimentada pela
potencialidade que a Filosofia da Diferença possibilita à abertura do pensar.
17
Seguir por fluxos desterritorializados não me faz seguir um modelo, nem ter a intenção
de criá-lo e/ou recriá-lo, porém, leva-me a pensar que a partir de uma não fixidez imposta pela
estrutura do pensar, irei resistir, e assim, não somente voltar inúmeras vezes aos porões da
pesquisa, mas principalmente percorrer os seus rizomas, seguir as linhas de fuga nos labirintos
do pensar, sem fixar-me, experimentando a aposta na perspectiva da Libras como diferença na
Educação.
Ao propor descrever o procedimento teórico-metodológico, em um primeiro momento
percebi-me sem trilhas a percorrer, ao pensar no tradicionalismo científico não me via
contemplado em tal pesquisa, e me questionava, pela veracidade do “objeto” a ser estudado;
em algumas disciplinas do programa fui questionado, por colegas e professores, sobre a
metodologia a ser empregada, pois pela pesquisa que objetivava, se tornara difícil percorrer
um caminho teórico-metodológico. Garanto que tais observações me fizeram pensar que todo
investimento feito até o presente momento, seriam trilhas descobertas e/ou percorridas, porém
temia não serem aceitas e/ou válidas pelo Programa. Ao narrar tal aflição à minha orientadora,
20
ela me tranquilizou sem me dizer o caminho a trilhar, mas com um simples gesto de
apresentar-me o necessário para então descobrir que descaminho seguir.
Ao pensar em caminhos/trilhas metodológicas, tive a oportunidade de verificar
inúmeras, porém, em nada conseguia articular as ações de minha pesquisa em andamento, a
aflição tomava conta, pensava nos procedimentos metodológicos que há muitos embasam os
estudos da pós-graduação e dos pesquisadores, mas que, nesse caso, não definiam nem
acompanhavam o meu fazer-acadêmico. Então, fui ao encontro do livro Metodologias de
Pesquisas Pós-críticas em Educação (2014), organizado pelas autoras Dagmar Meyer e
Marlucy Paraíso, o qual instigou-me a conhecer os desafios dos estudos pós-críticos em
Educação; não pensava em fazer pesquisa qualitativa, quantitativa ou qualiquantitativa, pois
me questionava pela intensidade da pesquisa que venho tentando trilhar até aqui, levando em
conta as paisagens da cultura local que abrigam os cenários da pesquisa.
Fui questionado como iria trabalhar com Filosofia da Diferença e Estudos Surdos, pois
ambos exploram campos diferenciados, mas o que me movia nesse caminhar era a
possibilidade de Cartografia entre ambas, sem me fixar nelas, pois seria prudente de minha
parte observar as contribuições para a minha pesquisa muito além de um caráter normativo,
pois não encontraria nos manuais o “como fazer”, poderia encontrar nas teorias pós-críticas da
Educação, autores que desconstruíssem as normas metodológicas e me colocassem ao
enfrentamento com os desafios de uma pesquisa, sem deixar de lado o rigor científico da
Academia, permitindo pensar maneiras alternativas de pesquisar e analisar tais fenômenos.
Após o contato com as metodologias pós-críticas de pesquisa, precisei observar
atentamente cada uma delas para melhor entendê-las. Prosseguindo o caminhar, deparei-me
com a Cartografia, percebendo uma maior ressonância com minha pesquisa, e então precisei
desbravar suas pistas para extrair dela uma perspectiva valiosa ao caminho a trilhar. Meyer e
Paraíso (2014) assim expressam o modo cartográfico de pesquisar:
Pesquisar talvez seja mesmo ir por dentro da chuva, pelo meio de um oceano, sem
guarda-chuva, sem barco. Logo, percebemos que não há como indicar caminhos
muito seguros ou estáveis. Pesquisar é experimentar, arriscar-se, deixar-se perder.
No meio do caminho, irrompem muitos universos díspares provocadores de
perplexidade, surpresas, temores, mas também de certa sensação de alívio e de
liberdade do tédio. (MEYER; PARAÍSO, 2014, p. 281).
Neste sentido, deparei-me adentrando as cartografias dos igarapés, furos e ramais que
formam o Rio Tocantins, através de uma configuração rizomática, um pensar nascido pelo
21
meio dos infinitos rios e igarapés que compõem a Amazônia Tocantina. Recorrendo a
Deleuze e Guattari (1995), ao falarem do pensamento rizomático:
Rencontrer, c'est trouver, c'est capturer, c'est voler, mais il n'y a pas de méthode pour
trouver, rien qu'une longue préparation. Voler, c'est Ie contraire de plagier, de
copier, d'imiter ou de faire comme.Lacapture est toujours une double-capture, le vol,
un double-vol, et c'est cela qui fait, non pas quelque chose de mutuel, mais un bloc
asymétrique, une évolution a-paralléle, des noces, toujours <hors> et <entre> 6.
(DELEUZE; PARNET, 1998, p. 13).
5
É um conceito deleuziano, pensado nem pensável, mas a imagem do pensamento, a imagem que o pensamento
se proporciona do que significa pensar, é a impossibilidade de uma relação entre duas determinações.
6
Minha tradução: “Encontro é achar, é capturar, é roubar, mas não existe um método para descobrir, só uma
longa preparação. Roubar é o contrário de plagiar, copiar, imitar ou fazer como. A captura é sempre uma dupla
captura, roubo, um vôo duplo, e isso é o que faz, não algo mútuo, mas um bloco assimétrico, uma evolução a-
paralela, núpcias sempre <fora> e <entre>”.
22
navegarei trajetos não representativos, sem a fixidez, mas num transitar-molecular por trajetos
rizomáticos, por deslocamentos múltiplos do pensar.
Em Deleuze e Guattari (2014) algo inquieta para ir em direção ao outro e, na
companhia desses filósofos da diferença, buscarei percorrer uma zona de vizinhança e de
distanciamento entre a Filosofia da Diferença e os Estudos Surdos, partindo da premissa da
Libras como diferença na Educação, percorrerei os territórios destas duas teorias, no intuito de
tensionar o Paradigma da Inclusão (amplamente propagado no meio educacional, porém,
pouco problematizado), mas sobretudo, buscarei potencializar a Libras como “língua menor”,
como diferença na Educação de Surdos, uma singularidade inscrita na linguagem desta região,
desta cultura tocantina, em contato e em contraste com outras. Assim, no decorrer do estudo,
farei um duplo movimento: tensionar os territórios paradigmáticos da inclusão e espreitar as
condições de possibilidade da Libras como “língua menor” na Educação de Surdos.
A Dissertação aqui proposta não prima pela temática criadora, mas arrasta consigo
conceitos como desterritorialização da língua, agenciamentos políticos e enunciações
coletivas, estes que estão relacionados à Libras como “língua menor”. Amparo-me, sobretudo,
em conceitos trabalhados por Deleuze e Guattari (2014), Larrosa (2004), Gallo (2013), Skliar
(2014), Lopes (2007), Amorim (2004), entre outros que operaram como linhas moleculares
para transitar entre os campos até aqui apresentados, perfazendo um trilhar pela Educação de
Surdos e Filosofia da Diferença, sem que haja hierarquias ou prioridades, mas que delas
surjam ressonâncias para pensar uma perspectiva da diferença na Educação de Surdos no
contexto desta região. Recorrendo a Gallo e Veiga-Neto (2007), ao explicitarem o outro como
um conjunto de dispositivos e estratégias:
A rigor, cada um não vê o sujeito da mesma maneira que o outro está vendo; no
limite e por mais paradoxal que pareça, não se trata de um mesmo sujeito aquilo que
cada um chama de sujeito. Mas, seja como for, para cada um a educação tem a maior
importância. (GALLO; VEIGA-NETO, 2007, p. 19).
Ao perpassar por Gallo e Veiga-Neto (2007) percebo existir um fluxo continuum que
move a diferença como atravessamento e não como fator determinante, fixo. A própria
linguagem, como devir-surdo, foi inspirada em Deleuze e Guattari (2014), para que as
possibilidades de inúmeros olhares se multipliquem a cada ângulo. Com esses autores, lanço o
desafio de desconstruir caminhos anteriormente percorridos, e com os arranjos de cores, a
possibilidade de ter um novo olhar, pois a pergunta pelo outro na Educação precisa ser
revisitada, uma vez que muito se tem perguntado “quem” é o outro, na ânsia de saber o que
23
lhe falta, mas pouco se tem inquietado com o outro, ouvir sua pergunta, perceber sua
diferença (SKLIAR, 2003). Desse modo, ir aos porões se faz necessário para percorrer e
perceber tais estilhaços. Interstícios entre os Estudos Surdos e a Filosofia da Diferença me
movem na direção de Kafka: por uma literatura menor, a percorrer os labirintos de um
castelo kafkiano de entradas e saídas e percorrer por eles as linhas de fuga que servirão de fio
condutor para a pesquisa.
No primeiro movimento irei percorrer por estilhaços da pesquisa, por onde fala o
pesquisador e seu outro, por entre as formações existentes no projeto a explanar os platôs
24
No terceiro movimento após percorrer por furos, lagos, igarapés, a imensidão do Rio
Tocantins que desenha e configura a cidade de Cametá, vou intentar, por agenciamentos
deleuziano-guattarianos, a partir da Libras como uma “língua menor”, movimentos que
possam dobrar a língua por um devir-surdo, atento às surdas fermentações que essa língua
emana nos emaranhados da linguagem. Os movimentos de desterritorialização da linguagem,
os agenciamentos políticos e enunciações coletivas dessa “língua menor”serão relacionados à
comunidade surda e sua língua, composta por coletividades e fluxos molares-moleculares7
que transcorrem neste trabalho. Cabe esclarecer que os movimentos desse devir-surdo foram
7
Conceito deleuziano e guattariano que expressa para linhas molares (fixas) e moleculares (fuga), de acordo com
estes conceitos percorri por fluxos de ir e vir.
25
dispostos em separado apenas para fins de ênfase no desenvolvimento da pesquisa, posto que,
entre esses movimentos não há separação interna, mas uma intrínseca relação de seus
componentes, interligados rizomaticamente.
Finalmente, para não finalizar, apresento as rotas de saída da pesquisa rumo a outros
rios e mares da temática da Educação de Surdos, recorro às perguntas que navegaram comigo
pela Dissertação, não mais com o intuito de respondê-las, mas de experimentar
multiplicidades de olhares para as temáticas da educação e surdez aqui apresentadas,
perspectivas móveis que surgiram rizomaticamente neste estudo, que fazem observar por
outros movimentos do devir-surdo dos quais não foram tocados. As lentes se configuram e
reconfiguram a busca inquietante pelo outro, sua pergunta, sua diferença, por entre rios, lagos,
igarapés e ramais da Amazônia Tocantina.
26
Ao iniciar a escrita de uma Dissertação por estilhaços, que irão compor tais escritos,
percorro estas linhas iniciais das quais irei descrever a partir das ações do projeto de extensão
Ensino de Libras na Amazônia Tocantina: Formação de Professores da Educação Infantil,
com período de vigência de março de 2015 a fevereiro de 2016. Este projeto foi desenvolvido
em parceria com a Secretaria Municipal de Educação de Cametá, para a formação continuada
dos professores de Educação Infantil. Ao total, são 310 professores vinculados à Divisão de
Educação Infantil da SEMED, sendo que 240 deles participaram dos platôs do projeto.
Foram feitos sete platôs, cada um com quatro turmas, compostas de acordo com os
distritos existentes no município de Cametá, em seu espaço urbano e rural. Cada platô buscou
apresentar aspectos não apenas linguísticos, mas também culturais da comunidade surda
existente nos ambientes escolares em Cametá, ainda que em uma demanda pequena se
comparar o quantitativo universal de alunos matriculados na rede municipal. Das ações de um
projeto de extensão, parafraseando Deleuze e Guattari (2014), em uma direção perpendicular,
de forma transversalizada, desenvolvo as ações do projeto de extensão e sou mobilizado a
pensar, o pesquisador que rói por dentro as ações planejadas e a partir delas pensa, repensa e
faz o estranhamento e distanciamento necessário para seguir a pesquisa.
Para Amorim (2004), o estranhamento se faz necessário, pois é condição primária para
todo o desenrolar da pesquisa:
vigilante para os indícios/pistas e/ou rumos à deriva que as águas do Rio Tocantins navegam.
Larrosa; Lara (1998, p. 190) apresenta o pensar como algo a ser vivido, experimentado, uma
realidade a ser vivida: “Pensar a partir de nossos espaços impõe uma realidade, a realidade do
que há; sair de nossos espaços para pensar outra realidade, ainda não imposta, ainda não
havida, propõe uma maravilha: “a maravilha de sair com o outro”, por exemplo.”.
Neste duplo movimento, preciso transitar nos estilhaços dispostos e como tais
estilhaços me ajudaram a des (trilhar) este caminho na formação de professores da Educação
Infantil no município de Cametá. Percorrer este caminhar de formação continuada dos
professores me fez perceber o quanto nós, educadores, fazemos a pergunta pelo/sobre o outro,
porém não permitimos que o outro responda ou refaça a pergunta sobre si. Nuria Perez me fez
perceber um outro de mim, que nasce fora de mim, e faz voluntariamente percorrer, por
inúmeras vezes, os caminhos percorridos, fazer os ajustes necessários para que o outro não
seja evidenciado, mas que ele reverbere em formações, leis, em espaços da Escola em todos
os lugares.
Os discursos sobre a inclusão levam à generalização do outro, fazem pensar, que para
além da deficiência, somos únicos e não podemos generalizar a partir de um grupo em
específico, neste caso, com a surdez, já que, na opinião de Lopes (2013), “geram efeitos
distintos nos sujeitos”:
Portanto, para analisar a inclusão não basta mapear o presente a partir de coletas
políticas, leis, regulamentos, histórias de vida, testemunhos, estatísticas, etc. É
condição para entender a sua emergência focar nos acontecimentos passados,
buscando estabelecer, sempre de forma arriscada e perigosa, relações entre
acontecimentos aparentemente desconexos, mas que são capazes de nos fazer
entender aquilo que nos tornamos, aquilo que lutamos e aquilo que acreditamos no
presente. (LOPES, 2013, p. 19).
Se eles vivem entre corpos, vozes e gestos que ainda não tiveram a sorte de serem
hóspedes da hospitalidade (a atenção à...), muito menos o privilégio de receber tal
divino mote (diversidade). E que, muito pelo contrário, foram e continuam sendo
objetos permanentes de uma hostilidade do mesmo. (SKLIAR, 2003, p. 21).
29
Olhar em atenção ao outro, não somente sobre o outro, precisa-se sim estar atento para
a diferença existente no outro e assim conviver na diferença, sem estereótipos que enquadrem
na “normalidade”.
Aqui vale salientar a pergunta pelo outro, é preciso refazer a pergunta que há muito
vem sendo respondida “sobre” o outro, pois precisa-se de respostas que vão ao encontro do
outro, não convém continuar com binarismos que ao longo da história se perpetuam, ainda
que se tenha a pergunta sobre o outro: “Os pares semelhante/dessemelhante, mesmo/outro,
idêntico/diferente onde a escolha é exclusivamente binária, é importante para validar toda
procura do outro, que respeite a identidade e a alteridade de si e de outrem.” (AMORIM,
2004, p. 71). Desde tempos passados, procura-se entender o binarismo, sem estar atentos para
as diferenças, olhar para o outro sem prerrogativas, condicionantes, sem validar
idêntico/diferente, mas ser capaz de perceber o outro em sua diferença.
Para o autor, é preciso refazer a pergunta sobre o outro, para que ela não se volte à
“mesmidade”, assim, os discursos não devem ser gerados sobre o outro, e sim, pelo outro,
situação sine qua non, de escutar o outro e sua pergunta, no convívio com a diferença.
Deve-se perceber, que a partir das diferenças existentes entre a minha voz e do outro,
existirão inúmeras diferenças, pelo simples fato de sermos diferentes, sem a necessidade de
comparações, é preciso sair do campo dos discursos da igualdade, e atentar ao conceito da
multiplicidade, sem a necessidade de sobreposição. Para Rancière (2011):
30
Para elucidar essa senda, Rancière (2011) apresenta quão importante é a igualdade, e
mesmo importante ela se faz ausente em contextos inclusivos, nossa necessidade de
“normalização” ou aproximar-se para a “normalidade” nos deixa sem perceber a condição de
individuo único que somos, e perceber que nesta unidade, existem micropartículas que fazem
a composição do Coletivo.
outro”. Potencializar o outro, como o reconhecimento de outrem que se difere do eu, este
outro que precisa ser ouvido na sua Diferença, Educação e Linguagem.
Ao falar pelo outro, jamais terei certezas, mas antes, dúvidas que irão estar sempre
presentes: se fosse... talvez seria... Não podemos tratar o outro como massa amorfa, que sem
rosto vai obtendo formas a partir do que o eu diz a seu respeito. Skliar (2014) adverte:
Talvez fosse necessário tentar que essa palavra não dissesse mais do que diz, isto é,
que a palavra “outro” renunciasse, se despojasse, se desvestisse, estivesse
desprovida desses travestismos discursivos que, apesar de sua espetacularidade, não
acabam senão por ser fixações vãs, tipificações, enquadramentos de um outro
específico, singular, material. (SKLIAR, 2014, p. 126).
A palavra “outro” é uma palavra que não precisa de enquadramentos, não se pode
rotular o outro como um limite, mas como um labirinto, um devir-surdo de múltiplas
possibilidades, um “labirinto da travessia”. Skliar (2014) fala da impossibilidade de traçar
linhas retas ou utilitárias, mas a partir de encontros e desencontros de desconhecidos, sem
saber as possibilidades, algo plural, sem a fixidez de uma palavra ou simples significado
linguístico.
Na contemporaneidade, pensar no outro, respeitar o outro e fazer a pergunta pelo
outro, tem se tornado enfadonho, engessado, autoritário, precisa-se recolocar/refazer a
pergunta ao outro, devolvendo-lhe a palavra, sem que seja algo mecânico, conversar e discutir
com o outro, sem pensar o outro como o “diverso”, um “outro eu”, e sim, em uma diferença
existente entre o eu e tu, nós e os outros, nossos outros, recolocar a pergunta ao outro, fazer
atravessar o labirinto sem se fixar em margens, desterritorializando-se das amarras
existentes/insistentes de falar sobre o outro e o que lhe falta.
Não se faz necessário aqui, nem é oportuno medir forças entre o eu e o outro, mas
muito mais que isso, fazer com que este outro seja protagonista de sua própria história com
sua linguagem que lhe é peculiar e principalmente as diferenças, que estão para além de
grupos, pois estão na travessia do ser, estamos territorializados, mas a desterritorialização lhe
é particular, ainda que a luta seja por coletivos, que as imagens do outro não sejam um reflexo
de nossas lutas e conquistas, mas que pelos movimentos aqui realizados e, ainda outros que
possam ser feitos, sejam capazes de protagonizar a diferença, não apenas, perguntar sobre o
outro, mas ouvir dele a sua pergunta.
32
Perceber o outro como diferença radical e não como diferença em relação a uma
identidade impõe à educação confrontar-se com uma problemática filosófica
complexa. As políticas educacionais recentes no Brasil têm lidado com a diferença,
mas num registro filosófico que toma o outro como diferença em relação ao
idêntico. Nesse registro, o outro pode ser assimilado, acolhido, incluído. Mas o
preço é o pagamento de sua diferença radical, na homogeneidade de uma
democracia que a todos acolhe, borrando os conflitos. (GALLO, 2012, p. 139).
O fora vem de uma experiência do acaso, sem limites, sem representação, mas uma
condição do acontecimento que circula no fora, sem as clausuras limítrofes. O lugar
fronteiriço do outro, não como representação geográfica, mas como uma cartografia existente,
com múltiplas entradas e saídas, que remetem ao castelo de Kafka e aos inúmeros
movimentos do devir-surdo, não como possibilidades preexistentes, mas como movimentos
de sua própria expressividade, com todas as rotas possíveis. Tais rotas estão presentes na
cultura, língua e indícios de um (lugar, posição) espaço fronteiriço, o espaço do outro. Skliar
(2003) alerta:
Entre tantas imagens, entre tantos olhares do mesmo e do outro, talvez devêssemos
optar por uma cartografia em parte semelhante e em parte diferente das descritas
anteriormente. Uma cartografia e não uma cópia dos espaços talvez simultâneos,
certamente paradoxais, obrigatoriamente disjuntivos, indubitavelmente irredutíveis
entre o mesmo e o outro. (SKLIAR, 2003, p. 103).
Sem disciplinaridades ou normas, sem procurar uma cópia ao olhar para o outro, o
movimento da cartografia lança ao desconhecido e mobiliza a um pensar-outro, o movimento
molecular por entre os espaços para transitar nos emaranhados advindos ao encontro do rio
com a terra, possibilidades que serão lançadas em meio à travessia, sobretudo, de ficar à
espreita aos movimentos e conexões advindas do espaço cartográfico.
Devir é jamais imitar, nem fazer como, nem ajustar-se a um modelo, seja ele de
justiça ou de verdade. Não há um termo de onde se parte, nem um ao qual se chega
ou se deve chegar. Tampouco dois termos que se trocam. (DELEUZE; PARNET,
1998, p. 10).
As linhas de esboço feitas por este estudo percorrem a extensão do Rio Tocantins no
município de Cametá, rio que se banha e é banhado por inúmeros lagos, igarapés e ramais,
pois o objetivo é apresentar não as linhas e sua fixidez demarcadas pelas linhas gerais do
mapa, representativo e/ou extensão geográfica do município, mas evidenciar suas expansões,
fissuras, aberturas e possibilidades de encontros e desencontros, sem a fixidez e/ou
engessamento da estrutura, nos estudos cartográficos, aqui denominados “navegabilidade
cartográfica”.
Escolho aqui o método da Cartografia por perceber que, para além da extensão do Rio
Tocantins, que em extensão ultrapassa os 2.000 km percorrendo por inúmeras cidades
brasileiras, o impiedoso Tocantins deságua e percorre a extensão territorial do município de
Cametá. Pelos meios e caminhos dos quais nos deslocamos diariamente na cidade, pelos
igarapés, ramais, lagos e rios que se confluem ao Tocantins, percebo a relação deste rio com o
castelo de Kafka, que possui múltiplas entradas e saídas, sem prevalecer nenhuma delas, mas
com a possibilidade de acessar o castelo.
Para tal proposição, a partir do rizoma e suas múltiplas entradas, Deleuze e Guattari
(2011) mencionam:
40
O mapa não produz um inconsciente fechado sobre ele mesmo, ele o constrói. Ele
contribui para a conexão dos campos, para o desbloqueio dos corpos sem órgãos,
para sua abertura máxima sobre um plano de consistência. Ele faz parte do rizoma.
O mapa é aberto, é conectável em todas as suas dimensões, desmontável, reversível,
suscetível de receber modificações constantemente. (DELEUZE; GUATTARI,
2011, p. 30).
Daí a ideia de Platô, definida por Deleuze e Guattari (2011), pois um rizoma é feito de
platôs, algo que se conecta com outras hastes, novas possibilidades, e aqui trabalharei com
três variantes geográficas conectáveis entre si e por si, conforme apresentado no mapa abaixo.
41
Com Barros e Kastrup (2015), afirmo que “cartografar é acompanhar processos”, dos
quais acontecem simultaneamente, e não apenas na apresentação de fatos/dados, experienciar
a partir dos contextos aqui vivenciados e/ou constituídos no percorrer dos trajetos e nuances
dos quais vivenciei com o projeto. De modo, a não precisar enrijecer o navegar para obter os
objetivos propostos, navegar sem a pretensão de ter o itinerário de antemão, mas permitir-se
navegar pelo Tocantins. A partir de Barros e Kastrup (2015) são apresentadas as quatro
variedades da atenção do cartógrafo, e irei navegar-atravessar-sentir-experienciar para
perceber os elos existentes, em busca das intensidades que estão por todos os lados.
Tocantins. O mapa, segundo Deleuze e Guattari (1995, p. 33): “Se é verdade que o mapa ou o
rizoma têm essencialmente entradas múltiplas, consideraremos que se pode entrar nelas pelo
caminho dos decalques ou pela via das árvores-raízes, observando as precauções
necessárias.”.
Refiro-me novamente ao castelo de Kafka, com múltiplas entradas, das quais irei
adentrar para apresentar os platôs do projeto de extensão. No que tange à escrita aqui
apresentada, mostro as linhas que foram traçadas das inúmeras possibilidades, sem a
necessidade de um esgotamento ou a simples relevância de uma única possibilidade, visto que
o mapa nos liga as multiplicidades e a fazer conexões, bem como o devir-surdo, aqui também
relacionado ao rizoma (DELEUZE; GUATTARI, 2011). A transversalização a ocorrer nesta
pesquisa perfaz uma operação a ser realizada pela Filosofia da Diferença e pelos Estudos
Surdos, em um triplo movimento: o processo de desterritorialização da Libras, o
agenciamento político e as enunciações coletivas presentes ao longo de cada formação.
Não se pode reduzir um indivíduo a um grupo, pois ainda que sejam do mesmo grupo,
existem diferenças entre ambos, ou melhor, entre todos, assim sendo, irei percorrer por linhas
44
Desta forma, a Cartografia formulada por Deleuze e Guattari (2011) visa acompanhar
processos e não representar um objeto. Para Passos e Kastrup e Escóssia (2015):
A cartografia é sempre um método ad hoc. Todavia, sua construção caso a caso não
impede que se procurem estabelecer algumas pistas que têm em vista descrever,
discutir e, sobretudo, coletivizar a experiência do cartógrafo. (PASSOS; KASTRUP;
ESCÓSSIA, 2015, p. 32).
Como cartógrafo definindo o caminhar, não pretendo aqui expô-lo como uma via
única, mas como possibilidade das multiplicidades existentes por entre os rios, furos e
igarapés que se interconectam ao Rio Tocantins, como um fio de Ariadne em busca de um fio
condutor que se conecte, sem uma visão totalizante, mas com uma infinidade de pistas. É por
isso que, em algumas palavras de Larrosa e Skliar (2011), há o reconhecimento da
multiplicidade:
Não existe totalidade dentro de si, sem que eu precise das incertezas, a perspectiva do
outro me faz perceber o quanto somos serem inconclusos, e não se deve pensar em seres
totalizantes, que somos um rizoma, pois, para Deleuze e Guattari (2011), ele não começa e
nem conclui, mas nasce no meio, entre coisas, como um tecido conjuntivo. Por entre os lagos,
rios, igarapés e ramais, irei aqui percorrer a extensão do Rio Tocantins num transitar
cartográfico ao qual apresentarei e adentrarei por inúmeras entradas e múltiplas saídas cada
um dos platôs existentes no projeto. Navegar, remar, adentrar e até à deriva ficar, porém, sem
cais, portos ou pier para paradas preestabelecidas, mas seguir pelas afluências do Rio
Tocantins em busca das cartografias da Libras como uma “língua menor” a partir das ações do
projeto, sem evidenciar a completude, sua totalidade, mas vislumbrar algumas perspectivas.
conseguiu outra bolsa estudantil custeada pela SEMED, por fim, concordo com Meyer e
Paraíso (2014) ao falar do navegar sobre o rio.
Um segundo rio corre neste que todo mundo vê. Atrás ou à frente as margens
desaparecem. La ou aqui, forças de velocidade infinita inundam a vida. Seus
movimentos deixam rastros, marcas, traços, linhas. Uma cartografia se situa, de
entrada, no meio, no complexo, no jogo das linhas. (MEYER; PARAÍSO, 2014, p.
289).
O mover-se pelo Rio Tocantins me faz percorrer linhas de segmentação que vão
reagindo uma sobre as outras, sem a necessidade rígida ou enfadonha de se percorrer
metodologicamente a estrutura apresentada, percebe-se uma variante de linhas e a
segmentaridade que as conectam num emaranhado de fios, aqui denominados como
movimentos de um devir-surdo, trata-se da afirmação da incompletude, deixar-se afetar por
agenciamentos que possibilitam seguir em buscar de fundações e não fundamentos, expor
alguns movimentos aqui realizados, para Fonseca e Kirst (2003):
um território, que até então não se habitava, percorrer para então produzir conhecimento ao
longo do percurso, uma cartografia do desassossego.
Pelos atravessamentos perpassados ao longo do processo de cartografar, os
movimentos aqui “recortados” ativam a postura de um professor-militante, partícipe de um
trabalho cartográfico, percorrendo os registros de navegação em busca de endereços e
passagens de uma composição múltipla e permeada por suas diferenciações. Na pesquisa
cartográfica não se prima pela exatidão em suas respostas, ou por enrijecer sua pesquisa, mas
por permitir que de seu ato de cartografar, seja repensada sua eterna criação.
Vale salientar a diferença existente entre os distritos apresentados no mapa geográfico
do município de Cametá, dez ao todo: Vila do Carmo, Carapajó, Janua Coeli, Porto Grande,
Curuçambaba, Torres do Cupijó, Cametá, Moiraba, Areião e Juaba. Já os distritos descritos e
organizados no Projeto de Extensão 2015 totalizam nove, mas diferem-se por não
contabilizarem Moiraba como distrito e sim pertencente a Porto Grande; e Areião pertencente
ao Distrito de Vila do Carmo, bem como não apresenta a divisão entre Cametá sede e rural.
Deste modo, esclareço que em nada alterou a participação dos professores, e esta divisão
territorial ocorre de acordo com a totalidade de alunos x escolas em cada distrito para fins da
SEMED. De fato, percebe-se que o próprio mapa não reproduz um inconsciente fechado,
como disse Deleuze e Guattari (2011), com a possibilidade de reencontros, ou linhas que se
re-estratificam.
Faz-se uma ruptura, traça-se uma linha de fuga, mas corre-se sempre o risco de
reencontrar nela organizações que reestratificam o conjunto, formações que dão
novamente o poder a um significante, atribuições que constituem um sujeito.
(DELEUZE ; GUATTARI, 2011, p. 26).
A equipe do INES era composta por profissionais que atuam na Educação de Surdos
no próprio instituto, bem como um representante da Coordenação Geral, o Professor Marcelo
Cavalcanti, Diretor-Geral.
✓ As parcerias firmadas entre a UFPA, SEMED e INES por se entender que a Educação
é para todos, sem a necessidade de se excluir, bem como afirma os documentos, leis e
diretrizes vigentes;
As dimensões estão para além das geográficas, mas para uma formação crítica e
inclusiva, que irá contribuir no processo escolar dos alunos surdos, pois os professores
buscam um melhor aprendizado para que este reverbere em sua sala de aula. Um
51
atravessamento reticente faz seguir as ecceidades (ou singularidades) existentes neste platô,
sem a tentativa do esgotamento dos movimentos existentes, mas o que aqui se rastreia para
acompanhar a processualidade existente nos movimentos do devir-surdo.
O permanecer neste lugar, para o cartógrafo, é a importante localização das pistas, mas
jamais será a totalidade de suas percepções, rastrear para acompanhar os processos aos quais
se dispõe. Há pelo menos dez anos, o INES já realizou inúmeros seminários como este em
diversas cidades brasileiras e uma das formadoras ainda capta algo tão peculiar em nossa
região, algo imprevisível, para quem há anos está nesse movimento por inúmeros locais, algo
diferente, pertencente ao gesto de rastrear em busca de novas composições. O deslocamento
cartográfico de um devir-surdo sinaliza a abertura ao encontro do outro-surdo, seja este outro
um usuário da Libras, um professor-formador ou alguém desconhecedor dela, de modo que
entre esses diferentes sujeitos perpassam as indeterminações de uma língua surda em pleno
processos de construção-reconstrução.
A composição do outro-surdo, não se dá/define pelo canal da Libras como língua, mas
pela disposição deste outro, em se relacionar com o surdo, numa tentativa de comunicação,
talvez não conheça sua língua, ou esteja em aprendizagem, mas sente-se na necessidade de se
comunicar nesta língua outra, aflora um desejo de se entender nesse espaço que se faz
diferente, o outro-surdo, ainda em minoria, está presente nos setores sociais, e principalmente
na Escola, local para qual se trabalha essa língua-rizoma, possibilidades de se trabalhar uma
língua-outra.
Ainda que, ao que tudo indica, não se tem um ponto fixo, o propósito foi iniciar a
ação, sem que precise se iniciar pelo começo, de acordo com Deleuze e Guattari (2012, p.
149): “Não se trata mais de impor uma forma a uma matéria, mas de elaborar um material
cada vez mais rico, cada vez mais consistente, apto a partir daí a captar forças cada vez mais
intensas”.
Sem o impositivo, mas com um captar de forças que começam por entre os platôs, no
Platô I, em específico, foi sobre um breve panorama histórico sobre surdez e a legislação
vigente no Brasil, em questões linguísticas aprendeu-se alfabeto, numerais, calendário,
identidade e cumprimentos, pronomes, expressão facial e as cores. Tais conteúdos foram
trabalhados em atividades práticas e contextualizadas em diálogos, entregues previamente aos
participantes, pois, “Com efeito, não é o ponto que faz a linha, é a linha que arrasta o ponto
desterritorializado, que arrasta para sua influência exterior; então, a linha não vai de um ponto
a outro, mas entre os pontos ela corre numa outra direção que os torna indiscerníveis.”
(DELEUZE; GUATTARI, 2012, p. 102).
Em mais um zoom, adentro aqui para perceber os inúmeros caminhos que se abrem
neste pouso, propor aos professores-participantes que, a partir dos materiais por eles
confeccionados, pudessem de modo atencional, debulhar o ambiente escolar, explorar suas
potencialidades de criação com recurso ao novo e ao existente disponível na escola, sendo
importante experimentar possibilidades-outras de inovar o ensino-aprendizagem da Libras,
fazendo uso de materiais novos e disponíveis, pousar nos ambientes da Escola e perceber o
quanto há de se debulhar em cada pouso realizado.
E assim aproximo tal prática a partir do zoom neste platô, movimento que os
professores-participantes realizaram, ao trazer os seus materiais para que fizéssemos junto
55
com eles materiais para composição do ambiente de sua sala de aula, e que estes materiais
fossem utilizados por alunos surdos e ouvintes, promovendo um ambiente inclusivo,
garantindo a aprendizagem de todos, ajustando o itinerário sempre que necessário.
Trabalhando com as diferenças na Escola, os recursos pedagógicos e de acessibilidade
colaboram para que pessoas com deficiência participem ativamente do processo escolar, de
acordo com Fabris e Klein (2013):
Nos leva a pensar a inclusão educacional de outros modos, mas também e talvez
principalmente, permite nos qualificarmos no sentido de sairmos do lugar-comum da
celebração fácil das políticas e práticas inclusivas e, de fato, conseguirmos promover
algumas mudanças sociais. (FABRIS; KLEIN, 2013, p. 12).
Passei a entender, por outros movimentos, que o processo de inclusão precisa refazer a
pergunta sobre o outro, estando atento à sua pergunta e percepções aos contextos
educacionais, perguntar aos alunos surdos sobre o seu processo de alfabetização,
instrumentalizá-lo em Língua Portuguesa, e proporcionar um ambiente favorável para seu
aprendizado em Libras, em prol de um objetivo social.
A própria formação inicial se utilizou diversas vezes deste rio, para que o professor se
deslocasse para fazer seu curso de Pedagogia, mas delimita o zoom do aluno surdo. Quando a
confecção de materiais já não é mais simplesmente produção pedagógica, mas possibilidade
de encontro e convivência plural com o outro em sala de aula e na Escola. Estar atento ao
zoom, não pode ser confundido com um gesto focal, pois a percepção será momentânea,
sempre no intuito de fazer do debulhar um gesto experimental de criação.
Debulhar como um ato de compor um novo modo de educar, outras atividades, novas
possibilidades para uma língua-rizoma, que se configura em platôs em movimento,
constituídos por composições que se debulham no fazer pedagógico, presente para além dos
platôs, inserido no cotidiano das escolas: “ – Muito importante para nossa sala de aula” – o
olhar de uma professora ao perceber na língua-rizoma, a partir do existente em sala de aula;
percepção que a faz esquecer que ela não tem proficiência nesta língua rizomática, e que a faz
57
perspectivar possibilidades dessa língua surda e de poder ensinar essa língua-outra de outro
modo, a partir dos materiais debulhados e (re) construídos.
ainda que se estranhe e se perceba aprender ainda que a ‘gagueira’ insista reverberar.
Potencializando a noção de “gagueira” da língua em Deleuze (2011), diria com ele que:
Gaguejar não supõe a impossibilidade da fala, mas sim que os afetos da relação com a
língua surda afetam a fala. Produzir sinais, anteriormente desconhecidos, torna o falante da
língua gago da própria língua, tornar-se estrangeiro em sua própria língua, faz conexões de
sua própria língua com a língua do outro, balbucio de si mesma. De um lado, destaco a
gagueira como desterritorialização da própria língua, que a faz fugir diante do balbucio que
sinaliza. De outro, e num mesmo plano do pensar, sinalizo que a partir da conversação de uma
língua estranha se abre a possibilidade de um compartilhar de mundos diferentes, pois a
gagueira existe e passa a habitar a língua do outro, na possibilidade do progredir: “ – é o que o
professor nos disse: – tudo vai do treino, eu treino em casa meus filhos, pensavam que eu
estava doida. Eu disse: – Vamos treinar comigo, eles agora estão como eu, treinando.”
(Professor C – Distrito de Torres).
Gaguejar a língua, confundir suas estruturas, balbuciar a loucura da língua que lhe
pertence – um movimento sinalizado por Deleuze em Crítica e clínica como a
desterritorialização absoluta da linguagem, sua diferença radical. Um movimento rizomático
em atenção ao duplo processo da diferença existente na mesma língua, entre línguas,
conexões existentes entre a minha língua e a língua do outro, um sistema em complexo
desequilíbrio entre eu e o outro, um entrecruzamento com linhas díspares de linguagens e
culturas, que são os segmentos moleculares de nossa formação: “Aprendemos não a falar, mas
a balbuciar, e só pondo-nos à escuta do barulho crescente do século, e uma vez
embranquecidos pela espuma de sua crista, é que adquirimos uma língua” (DELEUZE, 2011,
p. 139).
De qualquer modo, eis uma linha muito diferente da precedente, uma linha de
segmentação maleável ou molecular, onde os segmentos são como quanta de
desterritorialização. É nessa linha que se define um presente cuja própria forma é de
um algo que aconteceu, já passado, por mais próximo que se esteja dele, já que a
matéria inapreensível desse algo está inteiramente molecularizada, em velocidades
que ultrapassam os limiares ordinários de percepção. (DELEUZE; GUATTARI,
2012, p. 75).
Por entre o gaguejar da língua-surda, a professora introduz aos seus alunos uma língua
que insiste em gaguejar, em diferenciar-se de si mesma, diferença que faz de sua presença e
8
Nome de embarcação de pequeno porte, muito utilizado na região, inclusive é o meio de transporte escolar
utilizado tanto pelos alunos das ilhas e localidades ribeirinhas, quanto pelos professores que se deslocam para ir
trabalhar nas escolas.
60
Observa-se na fala de Pelbart e Costa (2003), que tanto os atos teóricos quanto os
práticos contribuem para o processo de formação, e assim foi organizada, para que atendesse
à demanda existente, voltada para as enunciações coletivas. Apresentar os cantos surdos
possibilitou aproximar o universo escolar infantil e dispô-lo ao surdo, os fragmentos talvez
não sejam os mais adequados, mas permitirão um transitar no mundo do outro. A organização
se deu a partir das cantigas apresentadas aos professores-participantes: Borboletinha, A Dona
Aranha, Fui à Feira, Indiozinho e Pintinho Amarelinho, com o intuito desterritorializado de
viabilizar relação entre a sala de aula e as ações do projeto.
61
Neste contexto, a observância está para uma ação que o já sabido retorna em uma
outra língua, nos cantos surdos, produzindo novas aprendizagens e significados, o quanto esta
experiência vem colaborando na aprendizagem dos alunos e, principalmente, dos professores
e a oportunidade de conhecer a Libras em diversos aspectos não apenas os linguísticos, pois
conforme Silva (2006):
De fato, a sociedade precisa não apenas dar voz ao surdo, como efetivar sua política
linguística e cultural pertencentes a uma comunidade minoritária com características próprias
que independem da majoritária, percebe-se como este platô foi significativo para o processo
de ensino-aprendizagem-afetividade entre professores e alunos das escolas que não possuem
surdos, as cantigas foram realizadas também por interesse dos alunos em aprender um novo
idioma, relatos que se faziam presentes a cada formação, pois sempre era perguntado aos
professores como o projeto reverberava com os alunos deles: “ – Eu já sabia as cantigas mais
com gestos, aí pra nós, professores, é fácil, o diferente aqui é que estamos como nossos alunos
brincando e aprendendo, que os gestos são imitações e que os sinais de Libras é a língua dos
surdos”. (Professora B – Distrito de Carapajó).
A relação que pude estreitar com meus alunos, me fez entender como o processo de
inclusão pode estar presente no ambiente escolar na ausência do surdo, o relato da professora,
mesmo não tendo alunos surdos, mas que levou os cantos surdos e ensinou aos seus alunos do
Jardim II mostra isto. Os fragmentos de uma língua num balbuciar de afetos de crianças que
se tornam sensíveis ao mundo surdo, um devir-criança presente nos fragmentos inadequados.
Este canto surdo que permite não só o balbucio das palavras, mas a interação entre a
minoria linguística presente na Escola, fragmentos de afetos entre alunos-professor-surdo,
tornando-os sensíveis ao mundo do outro. O silêncio do canto se conecta entre os fragmentos
de uma língua-rizoma, o cantar em expressões, aproxima a língua-outra, do contexto escolar e
o faz presente neste ambiente, desde o balbucio as primeiras palavras sinalizadas neste cantar.
projetar um individuo, mas o coletivo, os devires, algo empreendedor, que enuncia a história
de um povo, ‘escrever por um povo que falta...’ extrair dela “o suco” que fala por um povo,
tão impessoal e íntimo.
A interação dos professores neste platô foi total, assim como no platô das cantigas de
roda, a questão do Teatro, enfatizada aqui, se caracterizou não apenas em sinalizar a fábula
em Libras, mas se envolver em todo o cenário: desde a caracterização de personagens até a
caracterização do espaço, inclusive como este platô foi apresentado em uma escola na
localidade cametaense de Biribatuba, aqui recorro a Deleuze e Guattari (2011, p. 120): “ Um
território, que não é um meio, nem mesmo um meio a mais, nem um ritmo ou passagem entre
meios. O território é o produto de uma territorialização dos meios e dos ritmos.”.
Este foi um meio, pelo qual adentrou-se na Educação de Pessoas Surdas, a abordagem
linguística da Libras, por meio da fabulação, envolve adultos e crianças por meio do lúdico,
sem esquecer do público pelo qual idealizou-se o projeto, assim sendo, o Teatro está presente
no processo de formação dos alunos da Educação Infantil, em processo de territorialização,
65
sem a definição dos meios pelos quais se desterritorializa, como uma ação em linha de fuga
iniciada por mim, pois fui até a escola de várzea para apresentar e falar com os alunos sobre a
inclusão no ambiente escolar. Assim, de fato, o processo é se territorializar-desterritorializar-
reterritorializar, reverberando automovimentos realizados em infinitudes variáveis.
Quem são os outros? (...) a pergunta não é casual, pois vem ao encontro de um
tempo de instabilidade discursiva, no qual conceitos tais como: cultura, identidade,
inclusão/exclusão, diversidade e diferença parecem ser facilmente intercambiáveis,
sem custo nenhum para quem assume, se apodera e governa as representações de
determinados grupos sociais. (LARROSA; SKLIAR, 2011, p. 119).
No decorrer do projeto sempre me fiz e refiz esta pergunta, não por ser um clichê para
muitos que defendem a Educação Inclusiva, mas de fato, fazer questionamentos aos
professores que ali estão por pensar neste modelo de Educação, em que as diferenças sejam
respeitadas, e que o aluno seja visto como um ser singular e não uma espécie, somos
diferentes uns dos outros, e nossas diferenças independem de nossa cultura, identidade, entre
outros fatores.
66
porque apesar de percebermos que nossos alunos não possuem alguma necessidade específica
como a surdez”. (Professora E – Distrito Vila do Carmo).
Ao citar a fala da Professora E, ao dizer que se deve ter um único olhar para cada
criança, remete-se ao poema de Carlos Drummond de Andrade, Igual – Desigual, que diz que
ninguém é igual a ninguém, pois somos iguais com diferenças inalcançáveis, e que é preciso
olhar a diferença pela diferença e não pela igualdade. Perceber que tais reverberações estão
para além do território escolar, e que os platôs se desterritorializam a cada atravessamento
potencializado pelos movimentos do pensar. Os atravessamentos realizados ao longo dos
platôs irão se reterritorializar em cada escola, percorrer por rotas que melhor propaguem as
ações desenvolvidas ao longo do projeto.
davam suporte para garantir que esse aluno permanecesse, agora tivemos a
oportunidade de ver que isso é possível trabalhar com este aluno, pois além de
incluir também nos deu a oportunidade de ir além, nos deu um norte de como seguir
adiante e garantir a permanência do aluno surdo junto com os ouvintes”. (Professora
H – Distrito de Curuçambaba).
Esclareço que a delimitação dos três movimentos aqui apresentados, são apenas para
fins desta pesquisa, pois, em se tratando do pensamento da multiplicidade, as imagens e
olhares se multiplicam e para além destes movimentos escolhidos. Eis o Devir para Deleuze
(2011):
Devir não é atingir uma forma (identificação, imitação, Mimese), mas encontrar a
zona de vizinhança, de indiscernibilidade ou de indiferenciação tal que já não seja
possível distinguir-se de uma mulher, de um animal ou de uma molécula: não
imprecisos nem gerais, mas imprevistos, não-preexistentes, tanto menos
determinados numa forma quanto se singularizam numa população. (DELEUZE,
2011, p. 11).
Ao perceber a Libras como “língua menor” irei percorrer meu próprio patuá nos
movimentos do devir-surdo: 1 – Desterritorialização da Linguagem; 2 – Agenciamentos
Políticos; 3 – Enunciações Coletivas. Pelo movimentar-se, irei percorrer por deslocamentos
conceituais, operar com a noção de uma “língua menor”, como salienta Carlos Drummond de
Andrade, que todas as criaturas são iguais, porém nenhum outro é igual ao homem, pois ele é
um ser ímpar, na infinitude que se assemelha, percebe a diferença existente no eu-tu-ele-nós.
Sejamos ímpares em nossa singularidade mais coletiva. Deleuze (2011) diz que:
O trajeto se confunde não só com a subjetividade dos que percorrem um meio, mas
com a subjetividade do próprio meio, uma vez que este se reflete naqueles que o
percorrem. O mapa exprime a identidade entre o percurso e o percorrido. Confunde-
se com seu objeto quando o próprio objeto é movimento. (DELEUZE, 2011, p. 83).
Ser cartógrafo me faz ser o próprio viajante, sem encerrar-me em minha própria
subjetividade, mas fazer reverberar, ao longo do percurso, os rizomas que se interconectam
pelo próprio meio, a ponto de confundir-se com o próprio objeto, que tais fluxos, sejam como
um barco à deriva, que se deixe esvair pelos sopros de uma correnteza, mas que jamais se
prenda pelas amarras de uma corrente. Hardt (2003, p. 154) denomina Biopoder à produção
de subjetividades coletivas: “Biopoder é o poder de criação da vida; é a produção das
subjetividades coletivas, da sociabilidade e da própria sociedade. A observação atenta dos
afetos e das redes de produção de afetos revela esses processos de constituição social.”.
que atentamente, percorre, faz pausas e observações, ao longo do trajeto, anotações sempre
pertinentes. Fazem-me a cada observação uma nova possibilidade. Tais rotas de inclusividade
foram realizadas ao longo dos platôs do projeto, pois o professor-participante poderia escolher
qualquer uma das rotas de inclusividade.
Aqui, como um cartógrafo, irei percorrer por movimentos que farão ao leitor deste
texto dissertativo, a produzir outras rotas, que não sejam as minhas, mas a partir delas
produzir, reproduzir, desproduzir e...e...e... que estas múltiplas formas não cessem os espaços
cartografados e possam observar novos espaços que foram vistos antes, mas agora por outros
olhares...Observa-se, então que a intenção não está em apresentar verdades que constituem a
Libras como língua menor, mas para que a partir delas se possa constituir outras
segmentaridades para se pensar a Educação, as movimentações possíveis de se realizar,
independente de um território, pois a desterritorialização, reterritorialização, ações políticas e
coletivas irão conduzir para novas articulações, na perspectiva de romper com os sentidos já
conhecidos.
Neste primeiro fio condutor será descrita a Libras como uma “língua menor”, conceito
deleuziano e guattariano, por assim expressar, uma literatura menor, em que nela está contido
72
o germe de sua “língua menor”, sem levar ao pensamento simplista de inferioridade de uma
língua ou à superposição de uma a outra, pois, ao propor uma “língua menor”, Deleuze e
Guattari (2014, p. 29) fazem pensar na pluralidade da linguagem, conforme discorrem: “assim
se constitui uma conjunção de fluxos de desterritorialização, que transborda a imitação
sempre territorial”.
A aprendizagem é algo que escapa que foge ao controle, resistir é sempre possível.
Desterritorializar os princípios as normas da educação maior, gerando possibilidades
de aprendizado insuspeitadas naquele contexto. Ou, de dentro da máquina opor
resistência, quebrar os mecanismos, como ludistas pós-modernos, botando fogo na
máquina de controle, criando novas possibilidades. A educação menor age
exatamente nessas brechas para, a partir do deserto e da miséria da sala de aula,
fazer emergir possibilidades que escapem a qualquer controle. (GALLO, 2012, p.
67).
Esta condição plural da linguagem remete à “condição babélica da língua”, essa marca
da pluralidade, ao causar instabilidade e confusão, faz ir mais longe rumo à
desterritorialização da linguagem, num processo em que a própria linguagem se caracteriza
como infinita. Como não remeter à Babel e pensar como Larrosa (2004, p. 87) ao defini-la
como “uma pluralidade de línguas, e uma língua plural, e uma língua que é sempre mais e
74
outra coisa que ela mesma”. Nestas inúmeras formas e possibilidades de um devir-surdo no
cenário de formação em Libras, propor a pluralidade, o devir como multiplicidade e diferença,
jamais configura uma captura ou uma reprodução da norma.
Desbravar caminhos outros nessas rotas do pensar implica espreitar, por labirintos os
movimentos que se formam no devir-surdo por múltiplas visões da formação, um perder-se
para se descobrir coletivamente, por entre contornos e cores, nos interstícios da Libras como
diferença na Educação. Observa-se na fala da Professora F, como as atividades propostas pelo
projeto se relacionam com a prática pedagógica do professor em sala de aula.
“Os eixos trabalhados durante o período de formação, sem dúvidas [sic] foram de
muita importância para nós, professores, uma vez que nos ajudou a compreender
esse universo de inclusão e assim promover uma melhoria nas nossas práticas
pedagógicas contribuindo significativamente para nossa atuação como profissionais
e como cidadãos, pois muitos de nós nem conhecíamos Libras” (Professora F –
Distrito de Carapajó).
O outro fala uma língua diferente do mestre, o mestre fala uma outra língua diferente
daquela do aluno. Mas o mestre Jacotot era o estrangeiro. A sua língua era a língua
estrangeira. A pergunta, então, já não é mais se receber a palavra do mestre é um ato
de igualdade ou desigualdade, mas, ao meu ver, outras bem diferentes: como é
possível responder à questão de quem é o outro? Qual é a língua que se torna a
mesmice da pedagogia e qual a língua que advém como língua do outro? (SKLIAR,
2003, p.236).
E...e...e...
76
Como uma das possibilidades, retoma-se aos movimentos do devir-surdo, para que
esses agenciamentos políticos traçados no decorrer do projeto sejam capazes de potencializar
as parcerias estabelecidas, para que de fato o ensino da Libras, como no depoimento acima, e
as ações do projeto oportunizem a formação continuada para todos os professores da
77
Gallo e Veiga-Neto (2007) compreendem o sujeito não como algo dado, que estivesse
sempre ali, mas como algo que se mostra por diferentes movimentos e saberes, por relações
de poder que cada um estabelece consigo mesmo e com o outro. Pensar no outro, como uma
ressonância ao sistema educacional, faz pensar e recolocar a pergunta: Que educação de
surdos é capaz de expressar a Libras como diferença? Problematizando essa questão, busca-se
não somente em Gallo e Veiga-Neto (2007), mas especialmente em Deleuze e Guattari (2014)
que permitem aproximações com a Filosofia da Diferença como um segmento de pensamento.
Percebendo, então, que este agenciamento político da Libras como “língua menor”,
como diferença na Educação, percebe-se que as diferenças emergem como devires
minoritários por movimentos de forças e fluxos que transitam em seu próprio território e/ou
em espaços segmentados. Não posso deixar de salientar que os estilhaços podem forjar um
coletivo de uma ‘comunidade por vir’ (noção que será mais adiante discorrida), em que as
diferenças perpassem os agenciamentos políticos de desejos capazes de deslocar e recriar os
territórios da formação coletivamente.
O acesso ao coletivo transpassa o político, este por sua vez torna-se como um
movimentar-se de múltiplas imagens, esses agenciamentos produzem diferenças. Tem-se uma
necessidade de pensar sobre o que as diferenças produzem nos estudos de Libras, sem fixar no
terreno da fixidez, por meio de um devir-surdo que produza ressonâncias e sinalizações, sem
que haja prioridades entre elas, mas que sejam polifonias criadoras e multiplicadoras do novo.
Comunidade plural, quer dizer, Babel, pode significar que o que existe é uma
pluralidade que se comunica. E aí a língua é o meio da comunicação entre as
diferenças, ainda que seja da difícil ou até da impossível comunicação. Mas,
comunidade plural, quer dizer, Babel, pode significar também que o que existe é
uma comunicação que pluraliza. E aí é o âmbito da pluralização e da disseminação.
(LARROSA, 2004, p. 96).
Na imagem acima, tem-se um registro do qual nos falam as enunciações coletivas, que
estão para além do registro fotográfico, pôde-se presenciar em momento anterior para o
registro: Um dos surdos do INES conversava com os surdos de Cametá, para registrar esse
momento, explicava aos surdos que os de Cametá fariam o sinal em Libras que representa o
INES e os surdos do INES fariam o sinal em Libras representando a associação de surdos de
Cametá (ASSURCAM), só que ao registrar, os surdos de Cametá fizeram o sinal da
Associação (Configuração de mão esquerda em A, configuração de mão em C sobreposta na
mão esquerda). Somente um surdo entendeu, de fato, a informação e assim o fez, pois no
registro é o único surdo de Cametá a representar o sinal de INES em Libras. Observa-se nesta
imagem, o quanto se tornam indivisíveis os movimentos aqui escolhidos para adentrar no
devir-surdo, pois, os movimentos aqui escolhidos são inseparáveis para Deleuze e Guattari
(2014), pois em cada um, se faz presente o outro, operam como um platô, e desencadeiam
suas variáveis e estas irão desencadear tantas outras, que se interligam por linhas de
segmentaridades, numa perpétua interação.
5 ROTAS DE SAÍDA
Para não simplificar uma produção tão complexa, que trabalha com várias dimensões,
pode-se dizer que a obra de Deleuze e Guattari, Kafka: por uma literatura menor, como uma
obra aberta faz olhar a ‘questão do outro’, da linguagem, como deslocamento político e
coletivo em atenção à diferença.
No meio dos emaranhados /rizomas, chega-se por entre os movimentos aqui realizados
e outros ainda advindos do que poderia, aqui ter feito, se não foi feito, não por hesitação, mas
por precisar fazer escolhas, mas permite-se ao leitor que percorra seus próprios movimentos,
83
que serão advindos de minhas escolhas, ou não, mas lhe farão repensar a partir de minhas
impossibilidades, meus movimentos perpassam por minha militância, então desejo aos
leitores que realizem sua própria cartografia, sejam navegadores de um devir-surdo, que
advém dos movimentos aqui realizados.
Aqui posso grafar que esta Dissertação faz parte de minha experimentação
cartográfica, produzida a partir de rizomas, e sempre aberta. Por tessituras que não cessam,
sem a demarcação de começo ou fim, um e... e... e...
Minha postura militante me faz lembrar o que disse em minhas rotas de entrada nesse
texto dissertativo, sem amarras, mas com um olhar atento para as nuances que perpassariam a
partir das ações do projeto, disposto a cartografar os processos de uma formação continuada,
partindo do diálogo feito entre a Filosofia da Diferença e pelos Estudos Surdos. A partir dos
estilhaços de pesquisa, exercitei o olhar cartográfico a partir das quatro variedades de atenção
do cartógrafo, percorri por linhas segmentares, com a ideia de percorrer o caminho que se
constituía ao longo do caminhar. A partir de inquietudes ao longo da caminhada, externei a
partir dos estilhaços em meu pensamento, refazer a pergunta sobre o outro, passou a ser uma
direção possível, ouvir a sua voz e as suas ausências, um devir-surdo, como fio condutor neste
trabalho, e perspectivar a Libras como língua menor, a desterritorialização, as enunciações
coletivas e agenciamentos políticos que perpassaram o curso de formação de professores.
Leitor, fique à vontade para que esta leitura lhe permita outras tantas ressonâncias e
que, de fato, a pesquisa seja um tear sem fim, que por inúmeros fios provoque a repensar a
relação com o outro.
84
Ao pensar na obra de Kafka: por uma literatura menor, escrita a quatro mãos e por
fios de segmentaridades que fazem pertencer e também escrever a obra, junto com Deleuze e
Guattari (2014), assim percebo que este trabalho também foi escrito/tecido/cartografado por
inúmeras mãos, uma espécie de ziguezague, tecida por linhas que se intercruzam a cada linha
descrita, escritas múltiplas, para os movimentos labirínticos que da escrita advém, os
deslocamentos aqui realizados.
Esta pesquisa não prima pela criação de conceitos, ou temática criadora, mas advém
dos conceitos trabalhados por Deleuze e Guattari (2014) que aqui denominei de língua-
rizoma, perfazendo um caminhar com todos os 210 professores participantes do projeto, a
plasticidade do pensar deleuziano-guattariano, o deslocamento dos próprios conceitos se faz
necessário. O navegar cartográfico, a partir dos platôs do projeto para melhor, elucida a
composição rizomática deste trabalho.
Sem a intenção de encerrar por estas rotas de saída deste trabalho, desejo que seus
rizomas se conectem a outras linhas do pensar para compor outros rizomas, numa operação
cartográfica feita de fluxos e cortes, de encontros e afecções povoados de uma coletividade a
reverberar nos movimentos singulares do devir-surdo.
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Anais... Caxambu, 2002.
APÊNDICES
89
para o mundo da criança Surda justamente com as ouvintes; inúmeros recursos didáticos
pedagógicos foram construídos e adaptados para promover o ensino o ensino e a
aprendizagem da criança surda no contexto de uma educação inclusiva a começar pela
infância.
Vale ressaltar o como ponto importantíssimo do projeto foi o compromisso de todos os
envolvidos, desde o coordenador até os voluntários.
As oficinas, as palestras com as temáticas voltadas para educação com foco na
inclusão vieram a somar para uma prática docente mais consistente.
Falar de pontos negativos é desconsiderar o empenho dos envolvidos nessa iniciativa
primeira, primeira, realizada no município de Cametá.
4) Existe uma sugestão vinda dos professores sobre uma possível reelaboração do
projeto, quais as possibilidades dessa sugestão ser aceita?
R: Considerar uma extensão do projeto é uma prática salutar para o preparo dos profissionais
de educação no acolhimento dos alunos deficientes com condições de igualdade de
oportunidade e de direitos e possibilidades, sim uma vez que o reconhecimento, por parte dos
professores, sobre a importância dos projetos é um ponto de partida para que o mesmo
aconteça.
91
R: Dos eixos posso destacar as cantigas e as fábulas, pois foram as que mais me chamaram
atenção e é a que mais chama a atenção das crianças. Elas adoram cantar fazendo gestos e
aprendem com facilidade.
94
R: O que mais utilizei foi a musicalização em Libras, que foi bastante aproveitada pelos meus
alunos, pois criança aprende muito rápido e logo aprenderam as músicas em Libras, mas
agora venho tentando utilizar o teatro em Libras, espero alcançar meus objetivos.
97
7) Quais os eixos trabalhados ao longo do projeto que você pode destacar, e que
inclusive já tenha utilizado em sala de aula?
R: Como já mencionei anteriormente, eu me identifiquei muito com as cantigas de roda,
também com as historinhas em LIBRAS, com os jogos (amarelinha, dado etc.), mas o que eu
trabalhei realmente foi [sic] as cantigas, onde pude perceber que as crianças adoravam, pois
me pediam para cantar e fazer os sinais.
101
R: Não tive alunos surdos ainda, essa formação contribuiu com a minha prática no sentido de
socializa-la com meus alunos para que eles saibam conversar e acolher os colegas surdos.
6) Quais os eixos trabalhados ao longo do projeto que você pode destacar, e que
inclusive já tenha utilizado em sala de aula?
R: R: Sim, foram ótimas, gostaria da continuação do curso quem sabe até em forma de
especialização lato sensu.
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7) Quais os eixos trabalhados ao longo do projeto que você pode destacar, e que
inclusive já tenha utilizado em sala de aula?
R: A parte musical, as cantigas não só atraem a atenção das crianças como sua curiosidade em
aprender a fazer os sinais com as mãos, como o abecedário e demonstrar o nome etc.
103
8 PROFESSORA H: CURUÇAMBABA
R: Não.
7) Quais os eixos trabalhados ao longo do projeto que você pode destacar, e que
inclusive já tenha utilizado em sala de aula?
R: As cantigas de roda, porque cantando eles aprendem mais. Acho que o projeto precisaria
ter uma continuidade.
105
R: Não tive e não tenho, mas com certeza essas temáticas foram de muita importância. Cada
conhecimento adquirido é único.
R: Sem resposta.
R: Sem resposta.