Epidemias
Epidemias
Epidemias
Coordenador
José Luís Jobim
Revisão
André Cabral de Almeida Cardoso, Claudete Daflon, Pedro Sasse
Diagramação e editoração
Casa Doze Projetos e Edições
EPIDEMIAS:
literatura, história e cultura
ORGANIZADORES
Rio de Janeiro
2021
Conselho Consultivo
APRESENTAÇÃO 7
O CINEMA-CATÁSTROFE E AS NARRATIVAS DE 45
EPIDEMIA
Marcio Markendorf
ÍNDICE 332
EPIDEMIAS: LITERATURA, HISTÓRIA E CULTURA
Apresentação
André Cardoso
Claudete Daflon
Pedro Sasse
EPIDEMIAS: LITERATURA, HISTÓRIA E CULTURA
Parte I
Epidemia e imaginário
(Orgs.) André Cabral de Almeida Cardoso . Claudete Daflon . Pedro Sasse .
bem sabe que tudo o que lhe resta é amargurar-se pelas escolhas do
passado e tentar resistir a seu martírio com estoicismo.
Independentemente de qual seja o resultado final, em ambos
os casos estamos diante de narrativas que tratam da doença de um
indivíduo e que estudam as inúmeras e idiossincráticas reações ao
adoecimento. Em literatura, os textos pertencentes a esta categoria
são numerosos e, com alguma frequência, recebem o nome do en-
fermo. Basta pensar em Dombey e filho (1848), de Charles Dickens,
Mastro-don Gesualdo (1889), de Giovanni Verga, A consciência de
Zeno (1923), de Italo Svevo ou Doutor Fausto (1947), de Thomas
Mann. Na literatura brasileira poderíamos lembrar da tuberculose
em Lucíola (1862), de José de Alencar, da loucura em Triste fim de
Policarpo Quaresma (1911), de Lima Barreto, ou da AIDS em “Linda,
uma história horrível” (1988), de Caio Fernando Abreu. Por vezes, o
doente não é nomeado explicitamente, mas designado por algo que
o caracterize: O Alienista (1882) de Machado de Assis, A dama das
camélias (1852), de Dumas, “O bebê de tarlatana rosa” (1910), de
João do Rio, Diário de um pároco de aldeia (1936), de Bernanos.
19
A doença enquanto experiência de um indivíduo – seja o
enfermo o personagem principal ou secundário ou ainda o próprio
narrador – é certamente a forma mais comum de tratar do tema em
literatura, tanto que, em seu clássico estudo Antropologia da doença
(2010, 1993, p. 24), François Laplantine consulta nada menos do
que quatrocentas narrativas pertencentes a esse grupo.
Entretanto, o adoecer pode também ser retratado de forma
despersonalizada em narrativas em que a doença transforma-se no
personagem principal. Nesses casos, o texto procura retratar não
o adoecimento de um indivíduo em específico, mas sim a própria
doença, em terceira pessoa por assim dizer. Isto cria, porém, alguns
problemas para a representação literária já que as doenças não dei-
xam de ser abstrações teóricas sem existência real no mundo. A raiva
(Orgs.) André Cabral de Almeida Cardoso . Claudete Daflon . Pedro Sasse .
20
Eu sou a importuna acelerada,
Chamada de vós, gente surda e cega,
A quem morte vem antecipada.
Eu sou a que matei a gente grega
E troiana, e no último os romãos,
Que todos minha foice corta e cega.
Não deixo povos gentios nem cristãos,
Chego quando por mim menos se espera,
Atalho mil pensamentos, todos vãos.
(PETRARCA, 2006, I, 37-45)
EPIDEMIAS: LITERATURA, HISTÓRIA E CULTURA
22
Figura 1: Arnold Böcklin, A peste, 1898, têmpera sobre madeira, 149.5 x 104.5 cm,
Museu das Belas Artes da Basileia
27
Figura 2: Pieter Bruegel, O triunfo da morte, c. 1562, pintura sobre painel, 117 x
162cm, Museu do Prado, Madri
(Orgs.) André Cabral de Almeida Cardoso . Claudete Daflon . Pedro Sasse .
REFERÊNCIAS
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torio da Bibliotheca Portugueza, 1852.
SITES
Marcio Markendorf1
46
Figura 1. Enredo de O impossível. Do autor, 2020.
50
Figura 3. Filme genérico de catástrofe. Fonte: Pikiart de Adriano Kitani, 20 jan 2013.
Epidemias no cinema
Desde que eclodiu pela primeira vez em 1976, o vírus Ebola
produziu outros surtos pelo continente africano, tendo sido o maior
deles registrado entre 2014-2016. O modo como a doença foi descrita
pela mídia – altamente contagiosa, sem cura e fatal – pode ter ins-
pirado o roteiro de Epidemia (Outbreak, Wolfgang Petersen, 1994),
no qual um novo vírus, oriundo do interior africano, ameaça a bios-
segurança dos EUA. Encabeçada por médicos militares, a narrativa
explora conflitos éticos e morais diante de surtos e epidemias, o que
revela outras instâncias de poder que remetem igualmente à biopo-
lítica e à necropolítica. Logo nos primeiros minutos, por exemplo, o
espectador acompanha a destruição de um campo de mercenários,6
situado no Vale do Rio Motaba,7 no Zaire, por um bombardeio aéreo
norte-americano, realizado com o intuito de conter a propagação
do vírus Motaba – responsável por uma febre hemorrágica letal
na região. Logo se percebe que o controle do vírus e sua ocultação
faziam parte de estratégias de guerra do governo norte-americano,
demonstrando que a presença dos EUA na área não estava a ser-
64
viço da biossegurança local ou internacional. Tratava-se da luta
pelo controle de uma potencial arma bélica, de natureza biológica.
No entanto, o esquema é descoberto quando, anos mais tarde, um
novo surto atinge o mesmo local no Zaire e, por meio do tráfico de
animais, acaba por ameaçar uma pequena cidade da Califórnia. A
fim de recuperar uma das metáforas de Sontag (2007), vale destacar
– embora a sequência narrativa não ganhe maior relevância para
a trama – que tenha sido levantada uma hipótese punitiva para a
doença, de ordem ecológica. A única pessoa não infectada em torno
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Filmografia
Pedro Sasse1
9 “During all the summer and fall of 1976 China was an inferno. There
was no eluding the microscopic projectiles that sought out the remotest
hiding places. The hundreds of millions of dead remained unburied and
the germs multiplied themselves, and, toward the last, millions died daily
of starvation. Besides, starvation weakened the victims and destroyed their
natural defences against the plagues. Cannibalism, murder, and madness
reigned. And so perished China”.
(Orgs.) André Cabral de Almeida Cardoso . Claudete Daflon . Pedro Sasse .
10 “The way led along upon what had once been the embankment of a rail-
road. But no train had run upon it for many years. The forest on either side
swelled up the slopes of the embankment and crested across it in a green
wave of trees and bushes”.
11 “The human race is doomed to sink back farther and farther into the
primitive night ere again it begins its bloody climb upward to civilization.”
EPIDEMIAS: LITERATURA, HISTÓRIA E CULTURA
12 “True savages.”
13 Um dos poucos exemplos de narrativa que não só alcança essa supe-
ração como reinicia o ciclo destrutivo que Jack London já frisava em sua
obra é Um cântico para Leibowitz (1959), de Walter M. Miller Jr., dividido
em três partes que poderiam ser associadas, respectivamente, à transição
para a situação neofeudal, a transição para sua superação e, por fim, um
retorno à crise e um novo cataclismo.
(Orgs.) André Cabral de Almeida Cardoso . Claudete Daflon . Pedro Sasse .
14 Há, no entanto, certa variação entre eles. Edwin, cujo nome ainda
aponta para a velha civilização, recebe um mínimo de educação e é
capaz de absorver mais rápido as informações do velho, assim como é
o que demonstra maior sensibilidade, empatia e interesse pela história.
Justifica-se isso, na história, pelo grau educacional dos patriarcas de cada
clã, capazes de transmitir às gerações futuras apenas o que estava na
limitação de seu próprio conhecimento de mundo.
EPIDEMIAS: LITERATURA, HISTÓRIA E CULTURA
têm 614 bilionários, dentre os quais Jeff Bezos, que pode se tornar o pri-
meiro trilionário do mundo até 2026.
EPIDEMIAS: LITERATURA, HISTÓRIA E CULTURA
23 “In the midst of our civilization, down in our slums and labour ghettoes,
we had bred a race of barbarians, of savages; and now, in the time of our ca-
lamity, they turned upon us like the wild beasts they were and destroyed us.”
24 “Ten thousand years of culture and civilization passed in the twinkling
of an eye, ‘lapsed like foam.’” Esse trecho, parte de uma frase maior – os
sistemas efêmeros extinguiram-se como espuma –, é algo que Granser
murmura algumas vezes ao longo da obra, reforçando a ideia de fragilida-
(Orgs.) André Cabral de Almeida Cardoso . Claudete Daflon . Pedro Sasse .
26 “The plague had already well diminished their numbers, but enough
still lived to be a constant menace to us.”
EPIDEMIAS: LITERATURA, HISTÓRIA E CULTURA
29 “‘You had your day before the plague’, he said; ‘but this is my day, and
a damned good day it is. I wouldn’t trade back to the old times for any-
thing.’”
(Orgs.) André Cabral de Almeida Cardoso . Claudete Daflon . Pedro Sasse .
30 “But it will be slow, very slow; we have so far to climb. We fell so hope-
lessly far. If only one physicist or one chemist had survived! But it was not
to be, and we have forgotten everything.”
(Orgs.) André Cabral de Almeida Cardoso . Claudete Daflon . Pedro Sasse .
que obrigará, pela força, um dos irmãos a trabalhar para si; e Edwin,
herdeiro mais próximo da verve intelectual de seu avô, diz que apren-
derá muito com o velho, a ponto de conseguir reinventar as armas
de fogo e, assim, dominar os irmãos e todos os demais. Diante dessa
mistura de vislumbres dos poderes do passado e esboço de um futuro
de repetição, Granser, em uma das últimas reflexões do livro, conclui:
Apenas permanecem as forças cósmicas e a matéria, sempre em
movimento, sempre agindo e reagindo e concretizando os eternos
tipos do sacerdote, do soldado e do rei. Na boca dos pequenos
vem a sabedoria de todas as eras. Alguns vão lutar, alguns vão
reinar, alguns vão orar; e todos os demais labutarão e sofrerão
todo tipo de dor enquanto, sobre suas carcaças sangrando, serão
erguidas de novo e de novo, sem fim, a fantástica beleza e insupe-
rável maravilha do estado civilizado.31 (LONDON, 1916, p. 120)
Considerações finais
Percebemos, com uma análise detida nos tropos que formam
a ficção pós-apocalíptica, que o gênero mantém uma arquiestrutu-
ra muito semelhante, mesmo havendo passado mais de cem anos
102
desde sua consolidação. É claro que, conforme nos aproximamos
do presente, as narrativas tentarão subverter algumas estruturas e
convenções, comportamento comum não apenas na ficção pós-apo-
calíptica. O mundo submerso (1962), de J. G. Ballard, por exemplo,
seguindo a tendência da ficção científica new wave, trará para o
gênero questões do subconsciente, do sonho e das memórias atávicas
da humanidade, afastando-se da abordagem social tão marcada no
gênero; já Memórias de um sobrevivente (1974), de Doris Lessing,
31 “Only remain cosmic force and matter, ever in flux, ever acting and re-
acting and realizing the eternal types the priest, the soldier, and the king.
Out of the mouths of babes comes the wisdom of all the ages. Some will
fight, some will rule, some will pray; and all the rest will toil and suffer sore
while on their bleeding carcasses is reared again, and yet again, without
end, the amazing beauty and surpassing wonder of the civilized state.”
EPIDEMIAS: LITERATURA, HISTÓRIA E CULTURA
REFERÊNCIAS
105
(Orgs.) André Cabral de Almeida Cardoso . Claudete Daflon . Pedro Sasse .
6 No original: “The last time he saw his childhood home was on Last
Night. It, too, had looked normal from the outside, in that new meaning
of normal that signified resemblance to the time before the flood. Normal
meant ‘the past’. Normal was the unbroken idyll of life before. The present
was a series of intervals differentiated from each other only by the degree
of dread they contained. The future? The future was clay in their hands.”
As traduções de todos os trechos citados em língua estrangeira são de res-
ponsabilidade do autor, a não ser quando indicado.
(Orgs.) André Cabral de Almeida Cardoso . Claudete Daflon . Pedro Sasse .
REFERÊNCIAS
Filmografia:
Impressões da pandemia
Em um texto publicado no jornal Folha de S. Paulo em 28 de
setembro de 2020, quando o número de mortos pela covid-19 em
todo o mundo chegava à marca de um milhão, Junot Díaz ressaltou
a dificuldade de compreendermos esse número, de darmos conta
de sua enormidade, para depois frisar que a atual pandemia é um
apocalipse, não pela destruição que causa, mas porque “nos mostra
o que estava escondido ou não era assumido no mundo; ele [o apo-
calipse] fala de nós como países, como sociedades, como planeta, 131
e nos traz notícias, o tipo de notícia mais arraigada que muitos de
nós não querem ouvir ou absorver” (DÍAZ, 2020, s/p). A doença
provoca, então, uma oscilação entre a perplexidade, causada por um
choque que ameaça apagar qualquer tipo de sentido, e a clareza da
revelação apocalíptica, que põe à mostra aquilo que de outra forma
permaneceria oculto ou percebido apenas de modo parcial. O horror
da covid-19 estaria em parte no fato de a pandemia escancarar o que
não conseguíamos ou não queríamos ver, o que talvez intuíssemos,
mas preferíamos recalcar por ser desagradável demais.
Há um tom enfático na argumentação de Díaz. A covid-19 é
superlativa não só devido ao gigantesco número de vítimas fatais
que provoca, mas também por atravessar o local e o global: ela nos
fala ao mesmo tempo “como países” e “como planeta”. Mais ainda,
nos interpela como indivíduos, obrigados a dar conta da noção de
um milhão de mortos decorrentes de um evento que se desenrolava
há menos de um ano, mas dotados de um coração que “sente mes-
mo sem entender” (DÍAZ, 2020, s/p) – ou seja, é na nossa emoção
mais íntima que encontramos a reação mais adequada, ou pelo
menos mais imediata e espontânea, para a doença (por outro lado,
permanecemos assombrados por esse um milhão de mortos, que
não apresentam nenhuma distinção entre si, que não pertencem a
nenhum grupo específico, e que, portanto constituem uma massa
indiferenciada à qual qualquer um de nós poderá se juntar um dia).
A doença nos mostra as nossas verdades mais arraigadas, aquilo que
temos de mais profundo e essencial.
A pandemia surge, assim, como fenômeno que nos envolve por
inteiro, estando intimamente ligada à imagem que formamos de nós
mesmos. Espera-se que nossas reações diante dela definam quem
somos, ao mesmo tempo em que as reações de nossas instituições
132
definiriam a natureza das nossas relações de poder. Contudo, o mais
significativo na maneira como Junot Díaz se refere à covid-19 em seu
pequeno artigo é que ela nos fala. Figurativamente, ela se constitui
como entidade geradora de sentido que nos interpela diretamente,
quase como se fosse dotada de uma consciência própria, não só no
sentido de sua capacidade de articular significado, mas também
no de nos ensinar (ao menos potencialmente) um comportamento
ético. Para Díaz, a única esperança que a covid-19 pode trazer é a de
que ela nos ensine a ter mais solidariedade e compaixão e nos leve
a lidar com a verdade de forma efetiva (2020, s/p).
É significativo que Junot Díaz abra seu texto com uma alusão
à experiência de ensinar narrativas apocalípticas a seus alunos, já
que muito do que ele tem a dizer sobre a covid-19 é um reflexo do
imaginário relacionado às epidemias na ficção apocalíptica. Não é o
EPIDEMIAS: LITERATURA, HISTÓRIA E CULTURA
Revelação
Para Susan Sontag (1978, p. 5), as doenças consideradas mais
mortais e misteriosas são também aquelas que agem de forma mais
potente no nosso imaginário. A própria análise que Sontag conduz
das metáforas relacionadas à tuberculose, ao câncer e à AIDS,
porém, indica que a atribuição de uma carga simbólica à doença
atende também a necessidades específicas do contexto em que
elas surgem – em seus primórdios, a AIDS era vista, por exemplo,
como uma doença que revelava um tipo de identidade que ficaria
oculta de vizinhos, amigos, familiares e colegas de trabalho, além
de reforçar a tendência bastante antiga de associar a enfermidade
a uma espécie de punição moral (SONTAG, 1989, p. 25, 57), o que
adquiria uma relevância particular em um momento de crescente
conservadorismo em todo o mundo.
Já vimos como a covid-19 foi ligada a um tipo de revelação
que se dá em vários níveis, além de escancarar disputas políticas
que continuam a se desenrolar a perder de vista. Entretanto, no que
diz respeito à doença em si, ela se apresenta de maneira diferente
138
da tuberculose e do câncer e, de certa forma, também da AIDS. Ao
contrário do que houve com essas doenças, a causa da covid-19
tornou-se pública desde cedo, praticamente ao mesmo tempo em
que a epidemia começava a chamar a atenção do ocidente. Nesse
sentido, não se tratava de uma enfermidade misteriosa, uma vez
que já existia um padrão de epidemias semelhantes e outros vírus
aparentados ao SARS-CoV-2 eram conhecidos. A suposta trans-
parência da covid-19 iria se consolidar no nosso imaginário com a
popularização de imagens do vírus que a causa. Por outro lado, o
caráter misterioso da doença volta a se reafirmar na nebulosidade de
seus sintomas, frequentemente impossíveis de distinguir de outras
síndromes respiratórias, e, de modo mais dramático, na aparente
aleatoriedade com que às vezes se mostra letal e às vezes sequer
EPIDEMIAS: LITERATURA, HISTÓRIA E CULTURA
5 Em 2021, tanto Sweet Tooth quanto Y: The Last Man ganharam adap-
tações para o formato de série televisiva. Sweet Tooth está disponível no
serviço de streaming Netflix, enquanto Y: The Last Man é transmitida
pelo canal FX. Meus comentários aqui se limitam às versões em quadri-
nhos das duas obras, das quais as séries se afastam em vários pontos.
EPIDEMIAS: LITERATURA, HISTÓRIA E CULTURA
82 “The hidden world, which reveals nothing other than its hiddenness, is
a blank, anonymous world that is indifferent to human knowledge, much
less to our all-too-human wants and desires.”
EPIDEMIAS: LITERATURA, HISTÓRIA E CULTURA
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(Orgs.) André Cabral de Almeida Cardoso . Claudete Daflon . Pedro Sasse .
8 “Yet more than that, this book would like to argue, they are mythic
registers of anthropogenesis: visions of an end that immerse us into an
anthropological imaginary – a realm where what is human, what is not
human, and what lies between the two is negotiated, forged, and challen-
ged, so as to function as a relatively autonomous sphere of symbolic and
performative repertoires of humanity.”
(Orgs.) André Cabral de Almeida Cardoso . Claudete Daflon . Pedro Sasse .
10 “Arguably, this last scene puts forth the most difficult view of the de-
mon – not a transcendent, governing cause, and not an emanating, radia-
ting flow – but a concept of the demonic that is fully immanent, and yet
never fully present” (grifos meus).
11 “In this pre-modern understanding of contagion, the demon is concep-
tualized in much the same way we saw earlier – as a paradoxical manifes-
tation that is, in itself, ‘nothing’ or ‘non-being’.”
(Orgs.) André Cabral de Almeida Cardoso . Claudete Daflon . Pedro Sasse .
12 “The hidden world, which reveals nothing other than its hiddenness, is
a blank, anonymous world that is indifferent to human knowledge, much
less to our all-too-human wants and desires.”
EPIDEMIAS: LITERATURA, HISTÓRIA E CULTURA
13 “The realization that humans – all humans, rich or poor – come late
in the planet’s life and dwell more in the position of passing guests than
possessive hosts has to be an integral part of the perspective from which
we pursue our all-too-human but legitimate quest for justice on issues to
do with the iniquitous impact of anthropogenic climate change.”
14 “The two modes of thinking represent two different kinds of knowled-
ge and, for humans, two different ways of comporting themselves to the
world within which they find themselves.”
(Orgs.) André Cabral de Almeida Cardoso . Claudete Daflon . Pedro Sasse .
mos que colonizam nosso trato digestivo, por exemplo. Somos, desta
forma, uma “nuvem multiespécie orgânica, que conjuga bactérias,
vírus e elementos não-orgânicos”; “identidades genéticas de uma
bricolagem específica” (COCCIA, 2020, s.p.).
Se no discurso biomédico canônico os vírus sobressaíram
como agentes patogênicos, em uma perspectiva ecológica e mul-
tiespécies eles despontam como componentes de constelações
biológicas e interdependentes, nas quais também estão submetidos
às pressões evolutivas. São os seres mais abundantes do planeta.
Surgiram há 3,5 bilhões de anos e participaram da evolução dos
outros organismos que os sucederam, inclusive do homem. Cerca
de 8% do nosso DNA é de origem viral. É graças a essa incorporação
do material genético de vírus que parasitaram nossos ancestrais que
se forma a placenta; ou seja, o vírus participa de uma etapa crucial
da reprodução e desenvolvimento humano. O mesmo é válido para
outras espécies. Além da sua função na evolução e desenvolvimento
de organismos, reconhece-se hoje o papel ecológico dos vírus nos
ecossistemas. Os vírus participam dos mecanismos de defesa de
181
seus hospedeiros, podendo ajudar na proteção contra a invasão
por outros organismos; regulam a biodiversidade pelo extermínio
de bactérias e outros seres que se reproduzem em excesso em um
ecossistema; integram as cadeias alimentares, como se tem notado
com frequência em ambientes marinhos; ajudam no controle do
ciclo biogeoquímico de nutrientes como carbono, fósforo e nitrogê-
nio; e podem auxiliar seus hospedeiros na capacidade de colonizar
novos territórios (O’MALLEY, 2016; PRADEU, 2016; PRADEU;
KOSTYRKA; DUPRÉ, 2016).
Conforme nos lembra Tobias Rees (2020, s.p.), toda a rede
da vida que se desenvolveu na Terra envolveu a participação dos
micróbios; todos os organismos, inclusive os humanos, emergiram
a partir de bactérias e vírus e, em função disso, “estão insepara-
velmente associados a eles e deles dependentes”. Os vírus nos
(Orgs.) André Cabral de Almeida Cardoso . Claudete Daflon . Pedro Sasse .
15 “What does it mean to have reason, when reason is not separable from
a brain or from neurons, when the evolutionary and developmental emer-
gence of brains and neurons was impossible without viruses and our 8%
viral DNA?”
EPIDEMIAS: LITERATURA, HISTÓRIA E CULTURA
16 “What does it mean to have a mind, when the mind is not separable
from neurotransmitters — neurotransmitters that are produced by bacte-
ria in our guts? And that this gut flora is in turn contingent on what food
we eat and where and how this food is produced?”
(Orgs.) André Cabral de Almeida Cardoso . Claudete Daflon . Pedro Sasse .
REFERÊNCIAS
195
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200
EPIDEMIAS: LITERATURA, HISTÓRIA E CULTURA
Parte II
Epidemias e políticas da destruição
(Orgs.) André Cabral de Almeida Cardoso . Claudete Daflon . Pedro Sasse .
202
(BRANDÃO, 2012 [1981],
p. 88).
nos Estados Unidos. Por mais que ferisse direitos já tutelados pelas
sensibilidades do iluminismo, não impedia que sociedade e economia
fossem consideradas modernas porque complementavam a economia
europeia (BOSI, 1998). Essa visão pode parecer estranha na medida
em que, para a socióloga e historiadora Angela Alonso (2015), as
maiores correntes do movimento abolicionista no Brasil também se
julgavam liberais, no sentido político, e que os conservadores seriam
antiliberais tanto em termos políticos quanto econômicos.
De fato, no contexto de mudanças da Idade Média para a
Modernidade, há um processo de controle e normalização das pes-
soas com modificações na lógica de atuação dos Estados modernos.
Para o filósofo Michel Foucault (1999), antes da modernidade, os
governos não se preocupavam em gerir vidas, apenas em deixar viver
ou fazer morrer, conforme os interesses do poder soberano. Já na
modernidade o foco voltou-se para a criação de um biopoder capaz
de fazer viver, de regular a vida e o corpo, uma anátomo-política de
controle sobre a reprodução da espécie, a vitalidade racial, a natali-
dade, a saúde e a longevidade. Para Foucault, uma das bases dessa
207
biopolítica, que foi elemento indispensável ao desenvolvimento do
capitalismo, consistiu em tornar os corpos úteis, eficientes, disci-
plinados e adequados às normas produtivas. O consumo, por sua
vez, passou a funcionar como recompensa que gera um conforto
para esse corpo que se deixa disciplinar, docilizar ou normalizar
(FOUCAULT, 1999; 2012).
Contudo, parece que nas colônias esse investimento e mudan-
ça da gestão da vida nunca existiram porque a preocupação teria sido
exclusivamente o enriquecimento da metrópole, baseado no trabalho
escravo e na pura espoliação. O Estado adaptado às colônias é dife-
rente do Estado das metrópoles. Grosso modo, esse pensamento é
um dos princípios da necropolítica definida por Achille Mbembe para
compreender a ação do ocidente europeu sobre suas colônias. Aqui,
uma ex-colônia formal, a preocupação foi exercer o controle para
(Orgs.) André Cabral de Almeida Cardoso . Claudete Daflon . Pedro Sasse .
de 2019, por sua vez, revela que 75,5% das vítimas de assassinato
eram indivíduos negros. Como se pode perceber, a violência letal
não ocorre de forma aleatória, mas atinge alvos específicos, os
quais não se alteram, ainda que haja flutuações nos índices de
letalidade (RAMOS et al., 2020, p. 32).
Outro dado interessante sobre os homicídios (lembrar que o
perfil de vítima mais comum é de pessoas negras e menos favorecidas
economicamente) é que “no Brasil a situação se agravou com as medi-
das adotadas para impedir o avanço do novo coronavírus”, diferente do
que ocorreu em alguns países latino-americanos, “onde os indicadores
decresceram com o isolamento social”. Sobre a violência letal, Ramos
e colaboradores (2020) destacam o caso do Estado do Ceará, porque
os números de homicídios na pandemia dobraram se comparados com
os mesmos meses de 2019, sendo que já vinham em curva ascendente
graças a motim da Polícia Militar ocorrido meses antes.
A necropolítica brasileira também tem sido caracterizada por
um forte genocídio dos povos indígenas, que historicamente vêm
sofrendo distintas formas de violências e ataques aos seus direitos
216 básicos, mas que resistem de diversas maneiras, lutando cotidia-
namente contra invasões em suas reservas demarcadas. Durante
a pandemia da covid-19 a situação tem se agravado ainda mais,
conforme a imprensa nacional e internacional tem denunciado:
A invasão de terras indígenas não é um problema que começou
na pandemia. Invasores, muitas vezes motivados por negócios
ilegais de grilagem, mineração e do setor madeireiro, se insta-
lam há décadas em áreas de terra indígena. Ali criam conflitos e
degradam o meio ambiente, impunes por causa da ausência de
fiscalização em muitos territórios.
REFERÊNCIAS
[...]
Aranha
10 A definição do autor para sua expressão pode ser encontrada em: <ht-
tps://www.academia.org.br/academicos/afranio-peixoto/textos-escolhi-
dos>. Acesso em: 14 de set. 2020.
11 A Rua, Rio de Janeiro, 28 set. de 1918, Rio de Janeiro: 2. A partir de
agora utilizarei as notas para referenciar as fontes dos periódicos, o que
deve oferecer ao leitor o itinerário do arquivo que apresento.
EPIDEMIAS: LITERATURA, HISTÓRIA E CULTURA
[...]
Assim mesmo os clientes não lhe deixaram a porta até pela ma- 241
nhã, quando S. S. cahiu novamente nos braços do povo...
Solfieri de Albuquerque
22-10-918
Finis Culpae?
Horácio
Ah! quem foi que morreu que o sino tanto chóra? 243
– Li os jornaes...
EPIDEMIAS: LITERATURA, HISTÓRIA E CULTURA
– Não, filho. Isso tudo não diverte. Prezo-me de ter bom coração,
de não ser tão egoista quanto pareço. Isso tudo não me divertiria.
Arranjei outra coisa e essa de truz. Adivinhas?
– Não. Conta.
– Eu tambem.
O diálogo, representando o humor que ocupou as páginas
de Fon-Fon!, desliza entre a crítica ao comportamento elitista, ao
cobrar uma sensibilidade do solteiro rico diante das mazelas, e a
concordância entre os atores, a princípio, marcados na enuncia-
ção por uma distância de posições – o interlocutor que interpela
a personagem rica parece não concordar com sua propensão ao
divertimento – que acabam por se encontrar na crítica às atitudes
do governo durante a epidemia.
Marcando uma posição bastante crítica ao governo, as re- 245
Salpicos...
Se um sujeito sorridente
por um mal que lhe aconteça
tem uma dor de cabeça
ou quebra um caco de um dente,
– diz o povinho pachola:
246
– “Coitado!
daquelle pobre grippado!
É a hespanhola!”
[...]
Isto agora em qualquer roda
é a mesma melodia:
é a doença da moda
é a molestia do dia.
Se um Fulano que bebia
bebe mais limão com soda
e tudo bebe à vontade
[...]
[...]
[...]
[...]
– Já foram à polícia?
[...]
[...]
[...]
– Aqui tem.23
Escolhi essa reportagem para encerrar a pequena amostra
do que chamei de “arquivo febril”, que pode ser continuado pelos
leitores, de acordo com as balizas que apresentei neste texto, ou
mente na política da arte: quem pode ser visto e ter sua visibilização
considerada? Quem pode ser não somente ouvido, mas ter o lugar
garantido e validado de sua voz nas decisões da cidade, dos espaços
e das políticas da vida?
A hipótese que um arquivo como esse teria de se alinhar a
um pensamento que considera que a intelectualidade e, no caso, a
escrita intelectual e sua participação no campo cultural são decisivas
na construção de uma sociedade em que as classes subalternizadas
ou, como quer o historiador Joel Rufino dos Santos (2004), os
sem-classe, possam contar com intelectuais que trabalhem para os
pobres, como uma etapa para que os intelectuais do pobre possam
assumir seu espaço no campo cultural e político. A literatura, com
Lima Barreto e Graciliano Ramos, de acordo com Rufino, deu mos-
tras de que é possível pavimentar esse caminho de aberturas – desde
que os intelectuais-para-os-pobres deixem o lugar de representar
o pobre por meio da ludicidade, o que só acontecerá quando estes
acabarem por “realizar sua máxima potência e finalidade: desparecer
enquanto tal” (p. 242), ou seja, abrirem o espaço do aparecimento
252
do intelectual dos pobres, quando a mediação não se fará mais ne-
cessária ou deixar de ser exclusiva.
A minha sugestão com esta proposta é que os jornais, da ma-
neira como vão constituir uma escrita que transita entre os recursos
da estruturação escrita do fato e aqueles da literatura, puderam, no
caso aqui discutido – marcado por uma epidemia que, de certa forma,
suspende a sociabilidade naturalizada –, abrir-se à visibilização dos
marginalizados e a vozes que contestam os espaços destinados aos
pobres, constituindo, no coração do cotidiano das classes sociais
(auto)constituídas, mediações para o pensamento e as posições
vindas de outro lugar, do lugar dos sem-classe, ainda que, como
mediações, não confiram espaço para que os sujeitos da experiência
partilhem das técnicas de narratividade da imprensa. Ainda: essa
escrita poderia alinhar-se a uma das formas que o sensível, segundo
EPIDEMIAS: LITERATURA, HISTÓRIA E CULTURA
REFERÊNCIAS
255
(Orgs.) André Cabral de Almeida Cardoso . Claudete Daflon . Pedro Sasse .
3 Ver https://covid19.socioambiental.org/?gclid=Cj0KCQiA2uH-BRC-
CARIsAEeef3lSATNYFI6TB6H8rQFDEOIkED9lF4uaWvdlDmar_728wq
UZsL2xp0UaAq4HEALw_wcB.
EPIDEMIAS: LITERATURA, HISTÓRIA E CULTURA
REFERÊNCIAS
pt/%22Toda_essa_destrui%C3%A7%C3%A3o_n%C3%A3o_%C3
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(Orgs.) André Cabral de Almeida Cardoso . Claudete Daflon . Pedro Sasse .
280
EPIDEMIAS: LITERATURA, HISTÓRIA E CULTURA
Claudete Daflon1
295
Fig. 1
REFERÊNCIAS
Rubelise da Cunha1
A epidemia colonial
Neste momento tão singular que estamos vivenciando devido
à pandemia de covid-19, meu intuito é, a partir de minha experiên-
cia com o estudo das literaturas dos povos originários da América
do Norte, em especial do Canadá, fazer uma ponte de conexão com
os saberes dos povos originários do Brasil e com a experiência
histórica que nos conecta como “americanos”: a colonização e as
312
epidemias. Epidemias de sarampo, varíola, difteria e gripes fizeram
parte da vida dos povos originários desde a chegada dos europeus
nas Américas. Se, por um lado, estas poderiam ser vistas como
o trágico e inevitável preço pago pelo contato com o Outro (leia-
-se aqui o Outro a partir da perspectiva dos povos originários, ou
seja, como o colonizador, o diferente que veio de fora e se impôs),
os relatos históricos de estratégias coloniais genocidas, como a
entrega de cobertores contaminados com o vírus do sarampo para
os indígenas enfrentarem o inverno no Canadá, apenas reafirmam
o quanto a presença do homem branco nas Américas é pautada
por uma política de apagamento dos povos originários (CUNHA,
força criadora, mas em uma lógica que não pode ser traduzida em
nossos conceitos binários de bem em mal, portanto seus planos
podem não funcionar e causar estragos. No entanto, como a própria
Maracle enfatiza, o objetivo é que os membros de sua comunidade
percebam a vida como um constante crescimento espiritual e uma
transformação social. Esse Corvo Fêmea sabe que a epidemia tam-
bém deixará os Salish fisicamente doentes, mas seu objetivo é que
essa doença ensine os colonos (os brancos) novas formas de existir
e os transforme de “organismos parasitas” a “simbióticos”. Em seu
artigo, Leggatt enfatiza justamente que a ação do Corvo é para que
as duas culturas compartilhem seus conhecimentos medicinais não
somente para se curarem da epidemia, mas também para curarem
a Terra, a qual Maracle descreve como “um paciente cuja saúde de-
pende do equilíbrio dos diferentes micro-organismos que habitam
seu corpo” (1993, p. 164). Sendo assim, o romance expande a ideia
de patologia e apresenta a doença física não necessariamente como
má e a morte como uma parte natural da regeneração. A voz do
Corvo no romance nos diz:
319
A mudança é um assunto sério [...]. Com os humanos, é impor-
tante que venha com grande intensidade. Fortes tempestades
alteram a terra, amadurecem a vida, limpam o mundo do velho,
trazendo o novo. Os humanos chamam isso de catástrofe. Apenas
nascimento, canta o Corvo. A catástrofe humana é acompanhada
por lágrimas e dor, exatamente como a da terra, apenas a terra
é menos inclinada a ficar amargurada por causa da dor. (1993,
p. 14)
Apesar da motivação do Corvo ser a aproximação entre os
lados opostos, os tabus culturais e o medo de contaminação enfa-
tizam a separação de brancos e indígenas durante a epidemia. Os
brancos culpam os indígenas pela doença e dizem que resulta de suas
péssimas condições sanitárias, enquanto os indígenas acreditam
que os europeus trazem uma forma de doença psíquica que infecta
(Orgs.) André Cabral de Almeida Cardoso . Claudete Daflon . Pedro Sasse .
REFERÊNCIAS
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327
(Orgs.) André Cabral de Almeida Cardoso . Claudete Daflon . Pedro Sasse .
Sobre os autores
331
(Orgs.) André Cabral de Almeida Cardoso . Claudete Daflon . Pedro Sasse .
Índice
A
Agronegócio: 281, 288, 293-294, 295-298
AIDS: 19, 38, 138, 141, 149, 186, 291
Amazônia: 12, 256, 258, 260-262, 263-264, 265, 270, 271, 288,
308, 314
Animal: 64, 85, 96, 115, 140, 141-142, 148, 153, 159, 164, 166, 167,
171, 172, 175, 177, 180, 182-184, 187, 190, 191, 193, 194, 263, 293,
294, 298, 308, 314, 316
Antropoceno: 11, 164, 165-168, 169-170, 173, 175, 178, 183-184, 191,
193, 195
Antropologia: 19, 56, 175, 291-292, 307, 318
Antropocentrismo: 157, 167, 180, 184, 194, 299, 303-308, 317
Apocalipse: 10, 47, 56, 66, 75, 76, 78, 79, 84, 86, 87-92, 110, 111,
118, 131, 132-134, 135, 141, 142, 155, 174, 175
B
332 Bactéria: 33, 75, 91, 180, 181, 182, 183, 184, 185, 188, 282, 283, 306
Biodiversidade: 164, 165, 168, 169, 171, 172, 175, 181, 190
Biopolítica: 59-60, 64, 70, 176, 189, 207, 212
Brasil: 7, 9, 11, 12-13, 19, 34, 59, 75, 81, 106, 113, 123, 202-220, 228-
230, 234-235, 238, 241, 256, 258, 259-262, 263-267, 271-276, 281,
284, 286, 288, 293, 297-298, 299, 300, 301, 303-304, 308, 312,
316-317, 318, 323
Bubônica, peste: 25, 29, 32, 37, 75, 77, 112, 287
C
Capitalismo: 9, 56, 59, 60, 70, 89, 99, 125, 127, 128-129, 143, 167,
172, 178, 193, 205, 206, 207, 215, 217-219, 226, 234, 283, 284, 285,
286, 287, 307
Cataclismo: 10, 56, 66, 79, 85, 86, 87, 89-91, 92-93, 94, 97, 101,
287, 304
EPIDEMIAS: LITERATURA, HISTÓRIA E CULTURA
Catástrofe: 9, 33, 45-46, 47-48, 49, 50, 52, 53-56, 58, 61, 63, 65-67,
76-77, 79, 80, 87, 89, 90, 111, 117, 119, 122, 125, 129, 133, 134, 137,
157, 174, 283, 319
Ciência: 8, 22, 33, 38, 48, 49, 51-53, 66-67, 70, 82, 101, 145-146,
148-149, 158, 166, 173, 174, 176, 178, 179, 190, 191, 203, 211-214,
259, 291-292, 296, 303-304, 309, 313-314, 317, 321
Cinema: 8, 9, 10, 38, 45-70, 74, 80, 87, 90, 103, 106-129, 174, 242,
244
Civilização: 50, 55-56, 67, 70, 74, 77, 78, 79, 80, 83, 84-86, 88, 90,
92, 93-94, 96, 97, 98, 100, 102, 103, 126, 142, 143, 144, 156, 188,
210, 234, 259, 286, 307
Cólera: 23, 24, 30-31, 36-37, 62, 75, 76
Colonialismo: 11, 32, 111, 158, 167-168, 189, 192-194, 204, 205,
206, 209-211, 214, 220, 226, 231, 253-254, 264, 282, 284, 285,
289, 294, 302, 307, 312-313, 315-316, 318, 324-326
Conhecimento: 13, 40, 51-52, 86, 88, 107, 142, 146, 152, 157-158,
176-179, 275, 290-291, 296, 297, 298, 301-304, 309, 313, 315, 317-
321, 322-323, 324-326
Contágio: 22, 23, 60, 62, 63, 64, 82, 95, 119, 124, 135-136, 139, 140,
141, 142, 144, 147-149, 150, 153-154, 160, 174, 177, 185-187, 189, 333
224, 272, 274, 284, 306
Contaminação: 14, 57-58, 60, 63, 68-69, 77, 95-96, 112-113, 120,
122-123, 141-142, 147, 152, 154, 160, 238, 240, 288-289, 306, 312,
319, 321
Contemporaneidade: 52, 66, 78, 135-136, 143, 155, 173, 209, 214-
215, 226, 300, 303-304, 307, 308, 317, 318
Coronavírus: 34, 37, 39-40, 56, 58, 60, 62, 69, 133, 164, 165, 168,
171, 172, 180, 184, 216, 224, 226, 233, 274, 289, 296
Corpo: 22-23, 56, 59-60, 63, 88, 96, 100, 124, 126, 134, 135, 140-
141, 144, 145, 148, 150, 152, 160, 177, 185, 187, 189, 190, 203, 207,
211-212, 214, 230-231, 236, 254, 287, 301, 308, 319-320, 321, 322,
325
Covid-19: 7, 10, 11, 12, 13, 56-60, 63, 68, 70, 74, 112, 122, 123, 131-
133, 136, 138-139, 155, 159, 164-168, 169-174, 182-184, 187-188,
(Orgs.) André Cabral de Almeida Cardoso . Claudete Daflon . Pedro Sasse .
190-191, 194, 204, 216-217, 220, 224, 256, 272-274, 275-276, 281,
287-288, 293, 295, 298, 302, 307, 312, 313, 323
Cultura: 8, 10, 14, 18, 22-24, 26, 30, 31, 32, 37, 47, 51, 52, 57, 59,
86, 87, 93, 99, 109, 135-137, 142, 143, 149, 155, 159, 165, 173, 174,
185, 189, 226, 231-234, 238, 239, 241-242, 251-252-253, 256, 259,
266, 267, 275, 283, 289-292, 296, 298-304, 308, 319-321, 323-324
Cura: 18, 64, 65, 67, 115, 119, 120, 148, 259, 273, 313, 314, 318-322
D
Decolonial: 168, 193, 253-254
Desastre: 9, 39, 41, 45, 46, 47, 48-49, 52, 53, 55, 61, 68, 79, 88, 112,
147, 157, 165, 167, 176, 286, 306
Desenvolvimento: 12-13, 33, 144, 156, 180-181, 182, 192-193, 207,
210, 214, 256-257, 260-261, 263-264, 267, 274, 284, 286-287, 297,
299-300, 304, 307, 315-317, 325
Disaster movies: 45, 47, 48, 49, 55, 60, 61, 62
Distopia: 11, 81, 119, 124, 203, 217, 219
Doença: 7, 8, 9, 10, 12, 16-17, 19-24, 29-30, 31-33, 36-39, 41, 57,
58-59, 62-63, 64-65, 67-70, 74-77, 80, 82, 88, 90, 92, 95-96, 112,
334 119, 120, 121, 131, 132, 133, 134, 135, 136, 137, 138-144, 145, 147-
148, 149-150, 151, 153, 154-156, 158-161, 166-167, 170, 171, 172, 174,
184, 185, 186-187, 189-190, 192, 194, 203, 204, 224, 228-230, 235,
237, 241-242, 246, 250, 254, 256, 262, 263-265, 268-270, 272-274,
281, 283-284, 288, 290, 293, 296, 298, 306, 309, 313, 314-315,
318-322, 324, 326
E
Enfermidade: 18-20, 22, 23, 41, 63, 69, 112, 134, 135, 136, 137, 138-
140, 142, 144-145, 147-148, 154, 160, 185, 250, 273
Epidemia: 8, 9, 10, 11, 12, 13, 14, 21-23, 24, 29, 31-33, 35-37, 38,
39-40, 41, 45, 56, 57, 59-60, 62, 63, 64, 65-66, 67, 68, 74-75, 96,
111-114, 116, 119, 121-123, 132, 133, 135-137, 138-140, 141-142, 143-
145, 147, 153-154, 155-157, 158-159, 161, 165-166, 170, 172, 174, 182,
185, 186-187, 191, 203, 226-227, 230, 231, 232, 233, 234, 235, 237,
240-242, 245, 248-251, 252, 254, 256, 259, 270, 272, 282-284,
287-290, 296-297, 298, 306, 309, 312-314, 317-324, 325
EPIDEMIAS: LITERATURA, HISTÓRIA E CULTURA
Escravidão: 32, 98, 100, 107, 120, 206, 207-208, 210, 214, 219-
220, 231, 283-284
Espécie: 9, 11, 21, 32, 67, 92, 96, 97, 103, 139, 141, 148, 153, 157, 159,
160, 164, 165, 168, 171, 172-173, 175-176, 180-182, 184, 186, 193,
194, 207, 212, 268, 293, 295, 308
Estado: 12-13, 37, 59, 116, 119, 123, 135, 186, 187-188, 203, 207,
208, 215, 219, 220, 226, 236, 253, 256, 259, 266, 275, 297, 299,
300, 303, 314
Eugenia: 11, 209-214, 215, 217-218, 235, 289
Extermínio: 14, 48, 64, 140, 147, 167, 181, 190, 254, 282, 287
Extinção: 55, 76, 93-94, 160, 164-166, 172-173, 174, 175, 177, 195,
203, 234, 235-236, 258, 268, 298, 303
Extrativismo: 13, 164, 193, 284-288, 290, 294, 297-298, 300, 301,
309
F
Ficção científica: 48, 51, 53, 55, 82, 102, 139, 146, 202
Filme-catástrofe: 45-56, 57, 60-61, 63, 65-70, 91
G 335
Genocídio: 12, 13, 214, 216-217, 231, 256, 263, 264, 267, 274, 275,
284, 312
Gripe: 13, 36, 37, 171, 172, 174, 259, 287, 312, 323, 324
Gripe Espanhola: 12, 36, 37, 226, 230, 232, 234-235, 237, 240-242,
244-251
H
História: 8, 9, 11-12, 13, 14, 25, 31, 32, 36, 54, 55, 63, 82-83, 84,
86, 106, 115, 157, 164, 167, 173, 178-180, 182, 183, 188, 189, 192,
193, 195, 204-205-206, 208, 209-210, 211, 214, 216, 218, 219, 220,
227, 228, 232, 234, 235, 241, 251, 256-257, 260, 261, 275, 282, 284,
286, 287, 296, 299, 302, 304, 312-313, 318, 324-325
HIV: 38, 39, 63, 186, 296
Horror: 7, 48, 51, 52, 70, 131, 176, 177, 214
(Orgs.) André Cabral de Almeida Cardoso . Claudete Daflon . Pedro Sasse .
Humanidade: 11, 36, 55, 56, 59, 76, 87, 90, 94, 101, 102, 103, 140,
142, 153-154, 160-161, 173, 175-176, 190, 296, 300, 305, 307-308
Humanismo: 99-100
Humano(a): 9, 11, 14, 16, 17, 20, 22, 23, 26, 32, 33, 50, 51, 52, 53,
55, 61, 68, 83, 84, 87-88, 89, 93, 95, 96, 97, 98, 99, 103, 109, 112,
115, 121, 123, 128, 129, 134, 139, 140, 141, 142, 144, 148, 149, 156,
157-159, 160, 164, 165-168, 170-171, 172, 173, 174-177, 178-180, 181,
182-183, 184, 187, 190-191, 193-195, 203-204, 205-206, 212, 213,
215, 217, 219, 220, 231, 267, 271, 273, 290, 291, 293, 296, 297, 299,
303, 305, 306, 307, 308-309, 313, 315-316, 317, 319, 321, 326
I
Ideologia: 12, 13, 14, 33, 51, 133, 190, 193, 211, 212, 213, 219, 235,
240, 256, 260, 275, 294, 298, 304, 325
Imaginário: 8, 10, 11, 36, 53, 57, 61, 62-63, 74-75, 76, 109, 132, 133,
134, 136, 137, 138, 143, 144, 150, 154, 156, 158, 159, 165-168, 173,
174, 175, 184, 185, 186, 195, 208, 261, 301, 303
Indígena: 12-14, 193, 204, 209, 210, 214, 216-218, 256-261, 262,
263-267, 268-276, 281-284, 286-290, 294, 297-299, 301-304,
306, 309, 312-315, 317-320, 321-326; índio: 257-258, 262, 264,
336 266, 283, 287, 316
Infecção: 12, 30, 36, 58, 60, 64, 65, 68, 81, 88, 95, 96, 107, 113-114,
120, 149, 184-186, 190, 192, 262, 274, 281-283, 288, 290, 293, 306,
319
Isolamento: 28, 34, 57-58, 60, 80, 90, 92, 94, 95, 97, 133, 150, 187,
216, 226, 261, 264, 272, 282, 283, 302
L
Literatura: 7, 8, 9, 11-12, 13, 16, 19, 22-23, 28, 31-33, 35, 37, 38, 39-
42, 52, 54, 62, 74, 87, 139, 209, 210, 224, 226-228, 231, 232, 233,
234, 237-240, 242, 251, 252, 253, 289, 301, 302-304, 306, 309,
312, 314, 315, 317-318, 325, 330, 331, 332
M
Malária: 186, 262, 263, 265, 268-269, 287
Medicina: 7, 12, 18, 22, 25, 33, 64, 65, 167, 174, 177, 181, 183, 185,
EPIDEMIAS: LITERATURA, HISTÓRIA E CULTURA
188, 189, 190, 191, 192, 212, 214, 226, 230, 231, 235, 241, 242, 248,
249, 250, 256, 257, 259, 262, 264, 270, 271, 273, 319, 320
Meio ambiente: 52, 53, 66, 67, 70, 115, 157, 158, 165, 169, 181, 182,
188, 190, 191-192, 203, 212, 216, 220, 267-268, 270, 271, 272, 276,
286, 287, 288, 289, 293-294, 304
Memória: 33, 35, 83, 100, 203, 230, 242, 282
Microrganismo: 74-75, 81, 88, 141, 147, 148, 180-182, 185-186,
282-283, 290, 296, 298, 319
Modernidade: 11, 12, 23, 33, 37, 75, 77, 81, 84, 86, 87, 89, 100, 106,
108, 137, 142, 156, 160, 167, 183, 188-189, 190, 193, 206-207, 210,
211, 218, 219, 227, 228, 230-231, 232-236, 237, 239, 240, 242, 245,
246, 251, 253-254, 286, 287, 291-292, 304, 313, 314, 315, 317, 324,
325
Morte: 7, 9, 16, 18, 20, 21, 25, 26, 28, 34, 35, 36, 37, 55, 60-61, 65,
68, 80, 81, 82-83, 88, 106-107, 108-109, 113-114, 117, 124, 126, 127,
131, 132, 138, 139, 140, 142, 146, 149, 154, 166, 177, 187, 189, 194,
203-204, 205, 214, 215, 218-219, 225, 229, 230-231, 233, 234, 243-
244, 248, 256, 265, 268, 270, 273, 275, 283, 288, 293, 302, 306,
313, 315, 319, 320
Mortos-vivos: 27, 107, 108-111, 113, 116, 118, 119, 120, 121, 123, 124- 337
125, 126, 128-129, 205
Mudanças climáticas: 45, 48, 164-165, 169-171, 178, 188, 190, 191,
192, 202, 297
N
Não-humano: 11, 14, 159, 166, 167, 168, 175, 176, 177, 183, 184, 187,
193, 194-195, 291, 313, 315-316, 317, 326
Narrativa: 9, 10, 14, 18, 19, 23, 24, 32, 40, 41-42, 45, 50-51, 55, 62,
63, 66, 68, 69, 70, 74, 76, 77-80, 82, 83-84, 85, 86, 89, 95, 98, 100,
101, 103, 109, 110, 111, 112-113, 114, 116, 119, 120, 122, 123, 125, 129,
132, 134, 136, 137, 153, 155, 167, 174, 179, 185, 187, 192, 194, 206,
209-210, 230, 237, 238, 240, 241, 251, 252, 289, 291, 296, 298,
301, 302, 305, 322
Natureza: 31, 45, 48, 49, 51, 52-54, 56, 63, 65, 66, 67, 68, 76, 84,
88, 96-97, 115, 129, 143, 148, 154, 155-156, 157, 158-159, 160, 170,
(Orgs.) André Cabral de Almeida Cardoso . Claudete Daflon . Pedro Sasse .
172, 175-176, 180, 183, 187, 193-194, 208, 284-285, 287, 291, 292-
293, 297, 298, 299, 300, 303, 307, 308-309, 313, 316, 317, 318
Necropolítica: 8, 9, 11, 59, 64, 70, 189, 204, 206, 207, 216, 220,
231-232, 236, 253-254
Neoliberalismo: 203, 205, 215, 219, 220, 294
Novo normal: 7, 10, 112, 115-116, 119, 124, 127, 15
O
Organismo: 74, 75, 81, 140, 141, 148, 177, 178, 180, 181, 182, 184,
185, 188, 250, 282, 283, 290, 298, 319, 325.
Originários, povos: 256, 259, 260, 261, 262, 263, 267, 268, 269,
273, 275, 281, 287, 288, 289, 294, 298, 303, 309, 312, 313, 315,
317, 326.
P
Pandemia: 30, 31, 34, 35, 36, 37, 38, 39, 40, 56, 57, 58, 59, 60, 62,
67, 68, 69, 70, 74, 75, 76, 77, 88, 89, 90, 91, 92, 113, 114, 115, 116,
122, 123, 124, 131, 132, 133, 136, 137, 139, 140, 145, 146, 147, 149,
154, 155, 156, 157, 159, 160, 164, 165, 168, 169, 170, 171, 172, 174,
175, 175, 176, 184, 185, 187, 188, 190, 203, 204, 214, 216, 217, 220,
338 225, 226, 231, 233, 254, 256, 257, 272, 273, 274, 275, 281, 287, 296,
297, 298, 302, 307, 312, 313, 323.
Pandêmico: 58, 63, 75, 78, 88, 89, 90, 166, 168, 175, 184, 186, 195.
Patógeno: 20, 30, 63, 65, 67, 69, 172, 174, 186, 189, 194, 282, 289,
296.
Peste: 20, 21, 22, 23, 24, 25, 28, 29, 30, 31, 32, 35, 36, 37, 52, 75,
110, 112, 142, 146, 154, 174, 175, 230, 287, 306.
Poder: 41, 53, 58, 60, 63, 64, 65, 81, 87, 92, 95, 96, 98, 99, 101, 102,
119, 120, 123, 132, 143, 146, 154, 155, 156, 171, 176, 203, 207, 208,
225, 266, 272, 273, 291, 299, 305.
Pós-apocalíptica: 68, 74, 76, 78, 81, 82, 84, 85, 87, 89, 90, 92, 94,
95, 97, 98, 99, 100, 101, 102, 103, 111, 116, 127, 137, 143.
Pós-apocalíptico: 77, 78, 79, 80, 84, 89, 91, 96, 112, 116, 117, 125.
Povos indígenas: 214, 216, 217, 218, 257, 265, 266, 267, 268, 272,
EPIDEMIAS: LITERATURA, HISTÓRIA E CULTURA
273, 274, 275, 281, 283, 284, 286, 294, 301, 302, 303, 314, 323.
Praga: 63, 74, 75, 83, 95, 96, 99, 139, 141, 144, 145, 148, 149, 160,
172, 318.
Q
Quadrinhos: 103, 113, 114, 137, 140, 145.
Quarentena: 57, 65, 69, 95, 113, 115, 122, 123, 186, 187, 225, 226,
229.
R
Raça: 52, 84, 93, 106, 128, 193, 209, 210, 211, 212, 214, 215.
Racial: 110, 111, 120, 189, 193, 205, 207, 209, 210, 211, 212, 213,
214, 220, 235, 242.
Racismo: 59, 106, 108, 111, 117, 121, 128, 206, 208, 209, 210, 211,
212, 213, 214, 215, 217, 218, 219, 274, 275, 320.
Razão: 56, 62, 170, 182, 188, 253.
S
SARS-cov-2: 56, 62, 63, 69, 138, 164, 166, 167, 177, 178, 180, 195,
288, 293, 297.
339
Saúde: 12, 13, 16, 17, 18, 21, 57, 58, 59, 60, 65, 122, 134, 164, 167,
168, 172, 174, 183, 184, 185, 186, 187, 188, 189, 190, 191, 192, 193,
194, 195, 207, 212, 215, 216, 218, 231, 235, 243, 247, 256, 257, 258,
259, 260, 262, 263, 264, 265, 266, 267, 269, 270, 271, 272, 273,
275, 281, 298, 319, 321, 323.
Saúde coletiva: 273.
Sociedade: 12, 13, 23, 25, 31, 38, 39, 40, 50, 52, 57, 58, 69, 70, 75,
77, 79, 80, 84, 85, 86, 94, 111, 116, 122, 123, 124, 131, 133, 136, 139,
143, 144, 155, 159, 189, 190, 204, 205, 206, 207, 208, 209, 212, 213,
214, 218, 220, 231, 235, 240, 251, 252, 253, 260, 265, 282, 283,
291, 292, 297, 301, 302, 304, 307, 308, 318, 321, 325.
Surto: 22, 24, 25, 28, 29, 30, 31, 32, 36, 37, 40, 64, 75, 77, 112, 145,
147, 167, 174, 185, 186, 194.
(Orgs.) André Cabral de Almeida Cardoso . Claudete Daflon . Pedro Sasse .
T
Tempo: 20, 29, 31, 32, 33, 34, 35, 39, 41, 53, 54, 60, 62, 75, 78, 80,
83, 84, 85, 86, 88, 90, 97, 99, 100, 101, 120, 121, 124, 125, 132, 133,
135, 138, 140, 145, 146, 148, 151, 152, 164, 170, 174, 178, 203, 204,
205, 206, 210, 214, 218, 225, 228, 238, 247, 251, 258, 262, 270,
275, 281, 282, 291, 292, 296, 298, 306, 313, 322, 325.
Terra: 47, 134, 148, 164, 165, 166, 169, 176, 178, 180, 181, 191, 208,
217, 244, 248, 287, 299, 300, 307, 314, 315, 317, 319, 325.
Tuberculose: 17, 19, 20, 23, 136, 138, 141, 186, 263.
V
Vacina: 60, 67, 68, 70, 139, 185, 236, 264, 281, 297.
Vida: 13, 16, 18, 22, 24, 27, 32, 35, 36, 52, 55, 56, 60, 67, 75, 85, 89,
94, 95, 99, 107, 111, 114, 116, 118, 120, 124, 125, 128, 141, 143, 147,
165, 166, 169, 171, 173, 179, 180, 181, 182, 188, 189, 190, 194, 202,
204, 205, 206, 207, 208, 214, 218, 219, 228, 233, 237, 238, 244,
251, 252, 258, 267, 268, 269, 270, 274, 281, 287, 297, 298, 299,
300, 301, 302, 303, 304, 305, 307, 309, 312, 315, 317, 319, 322,
323, 326.
Violência: 50, 53, 55, 63, 68, 80, 92, 93, 94, 95, 98, 117, 150, 206,
340 208, 209, 210, 215, 216, 248, 275, 283, 285, 297, 313, 318, 321, 325.
Viral: 58, 65, 135, 147, 148, 181, 182.
Vírus: 14, 20, 23, 36, 39, 58, 63, 64, 68, 70, 75, 81, 83, 88, 91, 112,
113, 115, 121, 122, 123, 129, 133, 136, 138, 139, 147, 148, 154, 155,
165, 166, 167, 168, 171, 172, 174, 176, 177, 180, 181, 182, 183, 184,
187, 188, 189, 190, 194, 225, 282, 283, 284, 289, 291, 293, 296,
297, 298, 309, 312, 318, 321, 323.
X
Xamã: 65, 101, 106, 107, 108, 110, 282, 315, 317, 320, 321.
Z
Zumbi: 10, 103, 106, 107, 108, 109, 110, 111, 112, 113, 114, 115, 117,
119, 121, 123, 124, 125, 126, 128.