2022reflexões Sobre Fazeres em Alfabetização
2022reflexões Sobre Fazeres em Alfabetização
2022reflexões Sobre Fazeres em Alfabetização
SOBRE FAZERES
EM ALFABETIZAÇÃO
LEILA NASCIMENTO DA SILVA
ROSELMA DA SILVA MONTEIRO
SÔNIA VIRGINIA MARTINS PEREIRA
[Org.]
REFLEXÕES
SOBRE FAZERES
EM ALFABETIZAÇÃO
RECIFE
2022
Universidade Federal de Pernambuco
Reitor: Alfredo Macedo Gomes
Vice-Reitor: Moacyr Cunha de Araújo Filho
Editora UFPE
Diretor: Junot Cornélio Matos
Vice-Diretor: Diogo Cesar Fernandes
Editor: Artur Almeida de Ataíde
Editoração
Revisão de texto: Igor Andreas Rodrigues Bandim
Projeto gráfico: Pedro Henrique Santos
Catalogação na fonte
Bibliotecária Kalina Ligia França da Silva, CRB4-1408
6 Apresentação
Leila Nascimento da Silva
Roselma da Silva Monteiro
Sônia Virginia Martins Pereira
PARTE I
CONSTRUTOS TEÓRICOS DA ALFABETIZAÇÃO
12 1. Alfabetizar letrando em busca de uma
identidade: o trabalho com o texto literário
e com a tertúlia dialógica
Maria Silvia Cintra Martins
PARTE II
SOCIALIZAÇÃO DE RESULTADOS
DE PESQUISA NA ÁREA
34 2. “Modos de fazer” de professoras
alfabetizadoras ante as prescrições
do Programa Alfa e Beto
Alexsandro da Silva
Nayanne Nayara Torres da Silva
65 3. Alfabetização de crianças e uso de obras
complementares: recursos didáticos
em discussão
Edenice Cavalcanti Soares
Erika Souza Vieira
Telma Ferraz Leal
PARTE III
REFLEXÕES SOBRE O FAZER PEDAGÓGICO
DE PROFESSORAS ALFABETIZADORAS
116 5. Os recursos didáticos a serviço da tarefa
de alfabetizar
Suely Maria de Souza
Jaciane Alves de Araújo
Leila Nascimento da Silva
193 Autores(as)
APRESENTAÇÃO
As organizadoras
CONSTRUTOS
TEÓRICOS DA
ALFABETIZAÇÃO
Reflexões iniciais
É fato que, quando visitei várias pré-escolas, já há uns bons dez anos,
chamaram-me a atenção alguns exercícios que se propunham às
crianças dos quatro aos seis anos: uma dessas atividades envolvia
1 Uma versão inicial deste trabalho está publicada em Martins (2014), como parte
da coletânea Linguagens em diálogo, disponível no site www.leetra.ufscar.br.
Chama o Alexandre!
Chama!
Olha a chuva que chega!
É a enchente.
Olha o chão que foge com a chuva…
Olha a chuva que encharca a gente,
Põe a chave na fechadura.
Fecha a porta por causa da chuva,
Olha a rua como se enche!
3 A pesquisa envolveu a gravação dos dados gerados. Nesse caso, transcrevo uma das
encenações, esclarecendo que houve diferentes versões da mesma. A transcrição
envolveu normatização ortográfica.
Considerações finais
É hora de esclarecermos que articulações existem entre nos-
sas reflexões iniciais e os dois relatos que trazemos para análise.
Chamei atenção, de início, para as seguintes questões:
SOCIALIZAÇÃO
DE RESULTADOS
DE PESQUISA
NA ÁREA
Alexsandro da Silva
Nayanne Nayara Torres da Silva
Experiência
profissional
Professoras
Graduação
Graduação
atuação na
lato sensu
Tempo de
rede
Pós-
Gestão e Supervisão
Normal Ciências
A Escolar 21 anos 21 anos
Médio Sociais
(em andamento)
Organização
Pedagógica da
Estudos
B Pedagogia Escola – 5 anos 3 anos
Gerais
Supervisão Escolar
(em andamento)
Normal
C Pedagogia – 30 anos 4 anos
Médio
Normal
D Letras – 20 anos 20 anos
Médio
4ª aula
6ª aula
7ª aula
8ª aula
2ª aula
Total
3ª aula
5ª aula
1ª aula
Livro didático 6
Minilivro 1
Grafismo e caligrafia
(letras cursiva 2
e de imprensa)
Outros 1
1 No diálogo transcrito, assim como nos outros transcritos neste artigo, a letra P
será utilizada para indicar a professora, enquanto a letra A, os alunos.
10ª aula
8ª aula
6ª aula
9ª aula
7ª aula
2ª aula
Total
5ª aula
4ª aula
3ª aula
1ª aula
Livro
5
didático
Minilivros 3
Alfabeto
1
móvel
Outros 7
P – E aí, a gente vai fazer o que? Leiam pra mim (as crianças leem a
questão, depois a professora lê novamente).
P – Qual o som dessa letra aqui (apontando para o “J”).
A – “J” (dizem o nome da letra).
P – Como é o som do “J”? Esse é o nome. E o som? É /j/.
A – /j/.
P – A primeira palavra, ACHO, tem o som de /j/?
A – Não.
2ª aula
Total
5ª aula
4ª aula
3ª aula
1ª aula
Livro didático 5
Minilivros 1
Grafismo e
caligrafia (letras
1
cursiva e de
imprensa)
Outros 1
P – Veja bem. Vamos ler comigo? Conte os sons […] JÁ, AJA, GIA, AGIU, JACA,
JEGUE (a professora leu o enunciado da atividade e as palavras).
P – Vamos ler comigo cada som. Que letra é essa?
A – “J”.
P – Que som eu formei?
A – JÁ.
P – Ouçam direito para usar a consciência fonêmica. A consciência
fonêmica vocês ouvem os sons das letras. Vocês escutam quantos sons na
palavra JÁ? Vocês escutam o som das duas letras?
A – Sim. Dois sons.
P – Então a gente tem duas letras e dois sons. […]
4ª aula
2ª aula
Total
3ª aula
5ª aula
1ª aula
Livro didático 3
Minilivros 4
Grafismo e caligrafia (letras
2
cursiva e de imprensa)
Alfabeto móvel 2
Outros 1
Considerações finais
Os resultados deste estudo evidenciaram que, de modo geral, as
práticas de alfabetização das professoras eram organizadas em
torno dos materiais didáticos do Programa Alfa e Beto, principal-
mente do livro didático, conforme prescrito no próprio Programa.
Esses dados coincidem com os de Coutinho-Monnier (2009), que
1 De acordo com Schnewuly e Dolz (1999, p. 7): “Gêneros textuais são formas rela-
tivamente estáveis tomadas pelos enunciados em situações habituais, entidades
culturais intermediárias que permitem estabilizar os elementos formais e rituais
das práticas de linguagem”.
2 Alfabetização na perspectiva do letramento é uma abordagem em que se defende
que a pessoa alfabetizada é aquela que domina o sistema de escrita alfabética e
é capaz de ler e escrever textos de diferentes gêneros para interagir em variadas
3 Tais tipos de hipóteses têm sido denominados como realismo nominal, pois as
crianças que as apresentam acreditam que o número de letras na palavra tem
relação com as características dos objetivos que as palavras representam.
Ficha de atividade
complementares
Livro didático
alfabetização
Jogos de
Outros
Obras
Aula
10
Percentual de aulas
em que os recursos 40% 20% 90% 50% 40%
foram utilizados
Marcelo, marmelo,
Macaco danado
Ossos do ofício
A, E, I, O, U
Aves
Atividade de
familiarização
com as letras
Atividades que
objetivam a
construção de
palavras estáveis
Atividades de
reflexão fonológica
Atividades de
composição e
decomposição de
palavras
Atividades de
comparação entre
palavras escritas
Marcelo, marmelo,
Macaco danado
Ossos do ofício
A, E, I, O, U
Aves
Atividades de escrita
de palavras através
do preenchimento
de lacunas
Atividades de
permuta, inserção
ou retirada de
letras e sílabas para
formação de novas
palavras
Atividade de
ordenação de letras
e sílabas
Atividades de leitura
de palavras
Atividades de escrita
de palavras
Princípios
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Ensino centrado na
100%
problematização
Ensino centrado
na interação em 20%
pares e em grupos
Ensino centrado
na explicitação 100%
verbal
Percentual
nas aulas
Princípios
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Favorecimento da
70%
argumentação
Sistematização dos
90%
saberes
Valorização dos
conhecimentos 100%
dos alunos
Incentivo à
participação dos 100%
alunos
Diversificação
de estratégias 90%
didáticas
Ensino centrado
100%
na progressão
Conclusões
A partir das reflexões anteriores é possível concluir que a docente
utilizou recursos variados para trabalhar o Sistema de Escrita
Alfabética. Em sua prática, torna-se notória a presença do ensino
sistemático do SEA de modo simultâneo ao trabalho com textos.
A concepção de alfabetização adotada pela docente é pau-
tada na perspectiva do alfabetizar letrando, pois, durante as aulas
Referências
ALVES-MAZZOTTI, A. J; GEWANDSZNAJDER, F. O método nas ciências natu-
rais e sociais: pesquisa quantitativa e qualitativa. São Paulo: Pioneira,
2001.
Regularidade/Ano P B T D F V
3º ano 1 3 2 0 2 0
4º ano 1 2 0 1 1 0
TOTAL 2 5 2 1 3 0
Regularidade/Ano P B T D F V
3º ano 0 0 1 0 0 0
4º ano 0 0 0 0 0 0
TOTAL 0 0 1 0 0 0
Comentários finais
Discutimos, ao longo desse capítulo, que o ensino da ortografia
ainda tem que avançar bastante. Os professores precisam conhe-
cer os princípios didáticos que orientam o ensino desse objeto de
conhecimento. A intencionalidade docente, o planejamento e o
monitoramento são essenciais para uma aprendizagem efetiva da
norma ortográfica pelos alunos.
Numa perspectiva lúdica, na pesquisa aqui apontada, as crian-
ças conseguiram avançar em suas escritas, mesmo sem ter sido ofe-
recido um ensino transmissivo. Elas foram colocadas para expor,
para explicitar os motivos pelos quais empregaram tal ou qual letra
e, assim, passaram a tomar consciência de que deveriam ficar aten-
tas às relações entre letra e som.
Esclarecemos que, apesar de reconhecermos que os jogos po-
dem, sim, potencializar as aprendizagens de regularidades e ir-
regularidades de nossa norma, a opção por tais recursos não eli-
mina outras formas de tratamento desse objeto de estudo que
Referências
ALMEIDA, Tarciana Pereira da Silva. A relação entre mediação docente e o
desempenho ortográfico de alunos participantes de jogos de ortografia. 2013,
144 f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade Federal de Per-
nambuco, Centro de Educação, Programa de Pós-Graduação em Educação,
Recife, 2013.
LEMLE, Miriam. Guia teórico do alfabetizador. 13. ed. São Paulo: Ática, 1986.
MELO, Janaína Paz de. Alternativas didáticas para o ensino das regras orto-
gráficas de tipo morfológico: em estudo em didática da língua portuguesa.
2001. Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal de Pernambuco,
Recife, 2001.
MELO, Kátia Leal Reis de; REGO, Lúcia Lins Browne. Inovando o ensino da
ortografia na sala de aula. Cadernos de Pesquisa, n. 105, nov. 1998.
MORAIS, Artur Gomes de; BIRUEL, A. Como os professores das séries iniciais
concebem e praticam o ensino e a aprendizagem da ortografia. IX Encontro
Nacional de Didática e Práticas de Ensino (ENDIPE), 1998.
PESSOA, Ana Cláudia; MELO, Kátia Leal Reis de. Recursos didáticos e
ensino da ortografia: jogos e dicionário. In: LEAL, Telma Ferraz; SILVA,
Alexsandro da (Org.). Recursos didáticos e ensino de língua portuguesa:
computadores, livros… e muito mais. Curitiba: Editora CRV, 2011.
REFLEXÕES
SOBRE O FAZER
PEDAGÓGICO
DE PROFESSORAS
ALFABETIZADORAS
ENSOLARADA DESENCANTADA
COMPUTADOR DOR
REFLEXÃO CORAÇÃO
ROSINHA PRINCESINHA
NAMORAR VESTIBULAR
SOFRER DEVER
BEIJAR CANTAR
APROVADOS ADVOGADOS
NAMORADOS APAIXONADOS
FIZ FELIZ
Pré-silábico 0 1 - 1
Silábico quantitativo 2 2 - 4
Silábico qualitativo 4 4 1 9
Silábico alfabético 2 3 - 5
Alfabético 7 0 - 7
Considerações finais
Como vem sendo discutido, atualmente, na escola pública, o pro-
fessor conta com diversos materiais distribuídos pelo Ministério
da Educação ou pelas próprias secretarias de educação. Todavia, ter
à sua disposição não significa, necessariamente, fazer uso desses
recursos em sala de aula. Muitos professores não utilizam, porque
não têm acesso a eles livre nas escolas. Outros sequer conhecem tais
materiais disponibilizados. Há ainda aqueles que os conhecem, mas
não se sentem seguros para realizar um trabalho em sala de aula.
Enfim, a utilização dos recursos didáticos é um tema que precisa ser
amplamente discutido nos cursos de formação inicial e continuada.
Os relatos apresentados acima mostram o trabalho pedagógico
de duas professoras que se lançaram ao desafio de utilizar variados
recursos didáticos a serviço da alfabetização.
Nesse trabalho, as professoras evidenciam a importância de se
planejar uma intervenção voltada para as necessidades dos alunos.
Contudo, contemplar as especificidades de cada estudante não é
tarefa fácil para o professor, por isso ele precisa de ajuda para pen-
sar estratégias para lidar com alunos de vários níveis de aprendiza-
gem da leitura e escrita e garantir que todos progridam.
No primeiro relato, entrou em cena a supervisora, que trouxe
consigo uma proposta de diferenciação do ensino. Acreditamos
que todos os demais atores da escola (supervisores, gestores, pais
de alunos etc.) também são responsáveis pelo desenvolvimento
dos discentes. Assim, não é apenas papel da professora, regente da
sala, pensar estratégias para superar as dificuldades dos alunos. Foi
essa a compreensão que teve a supervisora da escola, que logo ela-
borou um plano de ação, envolvendo materiais didáticos que, de
fato, pudessem atrair a atenção dos alunos (jogos e livros literários).
Referências
Introdução
Este relato tem o objetivo de refletir e discutir sobre os efeitos de uma prá-
tica de ensino voltada para a alfabetização, por meio da realização de
sequências didáticas que sejam devidamente planejadas e que abordem
os conteúdos de forma sistemática. Para isso, faremos uma breve contex-
tualização do tema alfabetização e de algumas posturas teóricas as quais
fundamentam nossa prática. Em seguida, descreveremos o trabalho reali-
zado em uma turma do 1º ano do Ensino Fundamental I, da Rede Municipal
de Jaboatão dos Guararapes, região metropolitana do Recife, no ano de
2013. Finalmente, discutiremos os impactos que as atividades tiveram sobre
os aprendizes e algumas implicações didáticas que podem favorecer tanto
a reflexão sobre a escrita e suas propriedades quanto o desenvolvimento
da leitura.
Quando se fala em turmas de alfabetização, muitas concepções e prá-
ticas pedagógicas surgem com o intuito de ditar melhores “métodos” de se
ensinar a ler e a escrever. No entanto, muito se tem estudado nas duas últi-
mas décadas, a respeito dos conhecimentos dos sujeitos sobre a escrita e a
leitura. Entre esses estudos, Ferreiro e Teberosky (1999) demonstraram que
sujeitos não alfabetizados já formulavam ideias sobre o funcionamento da
língua escrita, antes mesmo de frequentar a escola. Essas teorias internas
que o aprendiz formula evoluem por meio de reflexões que ele próprio faz
sobre o sistema de escrita ao longo do tempo (e ninguém pode fazer por
ele) e também por meio das interações que realiza com as informações que
o ambiente lhe oferece. Trata-se de uma evolução conceitual e não exclu-
sivamente gráfica.
Se voltássemos um pouco no tempo encontraríamos um período no
qual, ao se falar sobre alfabetização, pensava-se em termos como “pron-
tidão”, “habilidades psiconeurológicas”, dentre outros. Nesta perspectiva, a
aprendizagem da leitura e da escrita resultaria de um “amadurecimento”
de certas habilidades, de modo que o “ensino” estaria condicionado a um
“desabrochar natural” que, supostamente, deveria ocorrer por volta dos seis
ou sete anos (BRANDÃO; ROSA, 2010). Com os avanços dos estudos sobre o
desenvolvimento da linguagem oral e escrita e com base, sobretudo, nos
Caracterização da turma
A turma era composta por 20 alunos, sendo 12 meninos e 8 meninas, todos
com faixa etária entre 6 e 7 anos. Um dos alunos havia sido diagnosti-
cado com necessidades educacionais especiais, pois tinha comprometi-
mento cognitivo, psicomotor e na linguagem; ainda assim, ele foi imerso
Para iniciar esta sequência, foi escolhido o livro De avestruz a zebra (CARRIL;
FRANK, 1988). No primeiro momento, após as atividades de rotina (acolhida,
cantigas, contagem dos alunos), dei início à roda de leitura explorando
os elementos da capa e convidando as crianças a elaborarem hipóteses
sobre o conteúdo do livro. Essas estratégias de leitura (SOLÉ, 1998) ajudam
as crianças a controlarem a própria leitura e regulá-la, gerando hipóteses
sobre o que se vai ler.
Diante das expectativas das crianças, expliquei para a turma que não
se tratava de uma história, mas sim de um texto informativo sobre os ani-
mais, escrito “como se fosse um dicionário”, pois cada bicho aparecia na
ordem alfabética. Todos quiseram saber quem eram os autores e ilustra-
dores e, além desses aspectos, informei também o ano de publicação e a
cidade onde o livro foi escrito.
Após a fase de exploração do suporte, iniciei a leitura, que foi inter-
rompida com frequência para comentários dos alunos, dúvidas ou curio-
sidades sobre os animais do livro e identificação das rimas presentes nas
descrições dos animais. Este aspecto deixou a atividade ainda mais rica e
lúdica, pois a turma se divertiu com as rimas durante a leitura e participou
ativamente de cada momento.
Logo após a leitura, a turma participou de um jogo idealizado por
mim. O mesmo tinha a finalidade de ajudar aqueles alunos que ainda não
dominavam a ordem alfabética e não reconheciam todas as letras por
seus nomes; para isso, utilizei um alfabeto com letras móveis. Cada aluno
Resultados e discussão
A avaliação dos alunos durante a execução da sequência foi realizada
mediante a observação de sua participação nas atividades e por meio do
ditado de palavras, no qual as crianças eram convidadas a ler, apontando
com o dedo, o que tinham acabado de escrever. No dia seguinte ao término
da sequência, realizei a segunda avaliação institucional do Pnaic, através
da qual também pude verificar os avanços da turma nas áreas que privi-
legiei no trabalho pedagógico desenvolvido. Logo após a sequência, tam-
bém realizei um novo diagnóstico para identificar as hipóteses de escrita.
Palavras finais
Ao longo deste relato busquei demonstrar minhas estratégias metodológi-
cas quanto às práticas de leitura e escrita, por meio da execução de uma
sequência didática em que priorizei o uso de livros do acervo disponibili-
zado pelo MEC e dos jogos pedagógicos do Ceel. Além desses instrumen-
tos, percebi que seria produtivo trabalhar com poemas, brincar com rimas
Considerações finais
Para além do que não pode ser observado por terceiros ou dos gestos
pedagógicos que não são manifestados imediatamente, como asse-
gura Chartier na citação anterior, as estratégias metodológicas ado-
tadas pelos professores podem não ser escolhidas por seus subsídios
teóricos, mas, possivelmente, pelos aspectos práticos que venham
a contribuir para a realização do trabalho docente. Certas metodo-
logias, por não contemplarem, de alguma forma, esses critérios
Referências
Modos de escrever
A escola tomou para si as tarefas de ensinar a ler e a escrever. Desse
modo, adquirir essas tecnologias passa também a ser a via de acesso
a um status social que viabilizaria outros objetivos.
Desde a escola grega, a escrita registrava o que antes era man-
tido pela tradição oral. O registro garantiu a preservação da mensa-
gem no que diz respeito ao tempo e à sua distribuição, socializando
um produto que é fruto de formulações individuais ou grupais. Na
escola, depois do processo de apropriação do sistema de escrita, os
indivíduos registram mensagens no caderno e obtêm conhecimen-
tos por meio dos registros contidos nos livros, práticas estas incor-
poradas em um cotidiano escolar que estimula a transcrição. Mas
esta é apenas uma das dimensões da escrita: o registro, a reprodu-
ção, a repetição. Outra função da escrita pode ser concebida como
a constituição de mensagens escritas que envolvem a dimensão da
criação, ou seja, a produção de textos. Apesar de a escola viver o tri-
vial da reprodução, da cópia, ela exalta a criação, e é possível ver,
no escriba, seja professor ou aluno, categorias básicas de discursos
que, no dizer de Curi (2002), constituem as chamadas “reprodução,
paráfrase e criação”, operando-se com os gêneros escolares tradi-
cionais, que contém as tipologias da descrição, narração e disserta-
ção. A produção textual, por sua vez, implica um processo de cons-
trução, de elaboração, e esse processo pode se iniciar desde a mais
tenra idade.
A intertextualidade
Ao produzir um texto por meio de um processo criador, o produto
da criação, o texto, será sempre fruto da relação com outros textos.
Tanto na leitura como na produção textual a competência de domi-
nar o conhecimento linguístico não é suficiente. Para ler e escrever
com proficiência é preciso conhecer outros textos e estar imerso nas
relações intertextuais, pois um texto nasce de/em outros textos. A
essa relação que se estabelece entre textos e que alcança níveis mais
ou menos elevados, implícitos ou explícitos, chamamos de inter-
textualidade. Observamos que, geralmente, a intertextualidade
é tratada na leitura, sendo também comum na produção escrita.
Como ferramenta, ela se apresenta como um caminho para mon-
tar o texto e para a busca da construção de sentido. No tocante às
práticas escolares, possibilitar, apresentar e permitir esse diálogo
entre textos é uma prática que advém, também, do recente traba-
lho com os gêneros textuais.
A interdisciplinaridade
A escola, em toda sua dimensão, e no trabalho educativo que rea-
liza, é disciplinar. A organização do currículo e das formas de lidar
Considerações finais
Muitas vezes o resultado de um trabalho como o acima relatado não
é visivelmente percebido em um curto espaço de tempo, mas é ine-
gável que ele corrobora a boa formação do indivíduo, a ampliação
do nível de letramento e uma alfabetização muito mais prazerosa.
Atualmente, a discussão sobre o lugar da literatura na escola
se amplia, ao considerarmos a multiplicidade de textos e de obje-
tos culturais envolvidos. As políticas públicas têm reconhecido a
necessidade da criação de acervos escolares para tornar acessível
ao aluno o maior número possível de objetos literários. Assim, o
Referências
ANDRADE, Lucimary Barnabé Pedrosa. Educação Infantil: discurso, legis-
lação e práticas institucionais. São Paulo: Cultura Acadêmica, 2010.