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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

ESCOLA DE COMUNICAÇÕES E ARTES


PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARTES CÊNICAS

ISIS HARUMI AKAGI

NIKKEI EM CENA:
CORPO EM SUSPENSÃO

MESTRADO EM ARTES CÊNICAS

São Paulo
2017
ISIS HARUMI AKAGI

NIKKEI EM CENA:
CORPO EM SUSPENSÃO

Dissertação apresentada à Escola de


Comunicações e Artes da Universi-
dade de São Paulo para obtenção do
título de Mestre em Artes Cênicas

Área de Concentração:
Texto e Cena

Orientadora:
Profa. Dra. Maria Helena Franco de
Araujo Bastos

São Paulo
2017
Ficha Catalográfica

Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial deste trabalho, por


qualquer meio convencional ou eletrônico, para fins de estudo e pesquisa,
desde que citada a fonte.

Catalogação na Publicação
Serviço de Biblioteca e Documentação
Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo
Dados fornecidos pelo(a) autor(a)

Akagi, Isis Harumi


Nikkei em cena: Corpo em suspensão / Isis Harumi Akagi. -
- São Paulo: I. H. Akagi, 2017.
5 v.: il. + CD, caderno "traca-traca".

Dissertação (Mestrado) - Programa de Pós-Graduação em Artes


Cênicas - Escola de Comunicações e Artes / Universidade de
São Paulo.
Orientadora: Maria Helena Franco de Araujo Bastos
Bibliografia

1. Corpo 2. Nikkei 3. Miscelânea 4. Deslocamento 5.


Artistas I. Bastos, Maria Helena Franco de Araujo II.
Título.

CDD 21.ed. – 792


Nome: AKAGI, Isis Harumi
Título: Nikkei em cena: corpo em suspensão

Dissertação apresentada à banca


examinadora do Programa de Pós-
Graduação em Artes Cênicas da
Universidade de São Paulo como
requisito parcial para a obtenção do
título de Mestre na área de Teoria e
Prática do Teatro – linha de pesquisa
Texto e Cena.

Aprovado em:
Banca examinadora:

Prof(a).Dr(a). ________________________________________________________
Instituição: _________________________________________________________
Julgamento: ________________________________________________________

Prof(a).Dr(a). ________________________________________________________
Instituição: _________________________________________________________
Julgamento: ________________________________________________________

Prof(a).Dr(a). ________________________________________________________
Instituição: _________________________________________________________
Julgamento: ________________________________________________________
A Ivan Kenzo Akagi,
que tão-logo veio,
partiu
rumo às estrelas.
Agradecimentos

À minha mãe Maria, pelo amor incondicional e por me ensinar a olhar


poeticamente para o mundo.

Ao meu pai Arthur, pelo apoio (moral e financeiro) e por sempre respeitar
e acreditar nas minhas escolhas.

Ao meu irmão Maurício, pela pronta ajuda sempre que necessário.

À Helena Bastos, minha orientadora, pela confiança, pelas palavras de


incentivo, pelo olhar atento.

Aos companheiros de vida e de casa: Danilo, Luíza, Leojorge, Adriano,


Andreas, Fagundes, Isabel, Maurício, Rafael, Victor – pela paciência, pelo
afeto, pelas refeições, pelas risadas, pelo acolhimento.

Às amigas-irmãs Sahsha e Natália, pela presença constante, e ao Gael,


afilhado querido, pelo sorriso aberto e abraços apertados.

Às amigas terapeutas Nilce, Maiz, Julia e Cacá, que me mantiveram


relaxada e focada.

Aos amigos e parentes que me acompanharam à distância e entenderam


(e compreenderam) meu isolamento.

Aos colegas de LADCOR que já estavam, que estão e que passaram: Cacá,
Celia, Nathalia, Laura, Tatiana, Fernanda, Catarina, Camila, Flavia, Ilana,
Marcelo, Marina, Danielle.

Aos amigos que leram e me deram valiosas devolutivas: Aline, Mai, Samir,
Henrique.

Às entrevistadas: Alice K., Erika Kobayashi, Emilie Sugai, Key Sawao, Letícia
Sekito, Susana Yamauchi, Tatiana Melitello.

À CAPES, que financiou e possibilitou esta investigação.

Aos funcionários do Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas


(PPGAC), do departamento de Artes Cênicas (CAC) e demais funcionários
da Escola de Comunicações e Artes (ECA).

A todos que direta ou indiretamente participaram da elaboração desta


pesquisa.
Há uma pessoa que faz coleção de
areia. Viaja pelo mundo e, quando
chega a uma praia de mar, à orla de
um rio ou de um lago, a um deserto,
a uma charneca, recolhe um pu-
nhado de areia e o carrega consigo.

(Ítalo Calvino)
Resumo

Esta pesquisa analisa o papel da nipobrasileira a partir da perspectiva de


artista do corpo, tendo como contexto a cena artística paulistana: uma
realidade brasileira de imigração e diáspora, num viés praticoteórico.
Partimos de processos de contaminação entre ocidente e oriente,
representados aqui por Brasil e Japão, respectivamente, e a partir de
experiências singulares que resultam dessa relação, trazendo o relato de
seis artistas mulheres nikkeis. Levamos em consideração a mestiçagem
(PINHEIRO, 2013; LAPLANTINE & NOUSS, 2016; GRUZINSKI, 2001)
decorrente desse encontro utilizando, inclusive, termos da cultura
japonesa, Ma (間) e Dō (道), devidamente deslocados em seus sentidos e
ressignificados no contexto mencionado. A Teoria Corpomídia de Greiner
e Katz (2001) é importante para a compreensão de co-relação e co-
evolução inestanque e mútua de corpo e ambiente. Os estudos de
Hashiguti (2008) e Takeuchi (2016), que tratam especificamente do corpo
nipobrasileiro, também compõem as referências teóricas deste estudo.

Palavras-chaves: Artista do Corpo Nipobrasileiro (nikkei); Mestiçagem;


Ma; Dō
Abstract

This research analysis the roll of the Brazilian Japanese descendant from
the perspective of an artist of the body, with the scenic arts of the city of
São Paulo as context: a Brazilian reality of immigration and diaspora, in a
practicaltheoretical bias. Our start points are the processes of contamina-
tion between West and East, represented here by Brazil and Japan,
respectively, and the singular experiences that result from this relation,
which are represented by the conversation with six Brazilian nikkei artists.
We are considering the Miscegenation (mestiçagem) (PINHEIRO, 2013;
LAPLANTINE & NOUSS, 2016; GRUZINSKI, 2001) that occurs from this
rendez-vous, using terms from the Japanese culture, inclusive, Ma (間)
and Dō (道), properly displaced from its meaning and resignified in the
context that we mentioned before. The Corpomídia Theory from Greiner
and Katz (2001) is important for the comprehension of the co-relation and
co-evolution of body and environment which is mutual and non-stagnant.
The studies of Hashiguti (2008) and Takeuchi (2016) that reflect specifi-
cally the Japanese descendant body also compose the theorical refer-
ences of this study.

Key words: Brazilian-Japanese descendant Artist of the Body;


Miscegenation; Ma; Dō
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Sobre a transliteração

Método Hepburn
Pontuo alguns esclarecimentos em relação à transliteração de
vocábulos da língua japonesa para letras romanizadas. Utilizamos o
método Hepburn, atualmente talvez o mais disseminado para transliterar
vocábulos do japonês para idiomas que usam caracteres romanos, como
é o caso do português.
O sistema Hepburn (hēbonshiki) foi projetado por James Curtis
Hepburn (1815-1911), um missionário americano da Filadélfia, que
chegou ao Japão em 1859 e compilou o primeiro dicionário moderno
japonês-inglês, cerca de uma década depois1.
Assim, enumero algumas especificidades em relação à escrita e à
leitura de termos transliterados2:
1) Adota-se um traço para indicar o prolongamento sonoro de
vogais, como em ā (aa), ū (uu), ē (ee) e ō (oo);
2) S é sempre grafado sozinho e tem som sibilante (ss | ç);
3) Sh tem som de x | ch;
4) Ch tem som de tch (como em “tchau”);
5) Tsu é um fonema bastante específico e constitui uma única
sílaba (não separa em “ti-su”);
6) H é sempre aspirado – e não mudo, como no português (por
exemplo, hai lê-se “rai”);
7) Ya, yu e yo são lidos como “ia”, “iu” e “io”. Não há equivalentes
para “ie” ou “ii”;
8) R é sempre uma consoante vibrante alveolar, como em “caro”,
mesmo no início da palavra;
9) Wa é lido como “ua”;
10)N é uma sílaba, diferentemente do português, em que essa
consoante se conecta com a sílaba anterior (por exemplo “can-

1
Fonte: http://www.acbj.com.br/index.php/romaji/ Acessado em 13/05/2017
2
Utilizou-se os trabalhos de Michiko Okano (2007: 05), o livro “Curso de Língua Japonesa I”, do
Centro de Estudos Japoneses da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (2001, 2ª
edição) e observações minhas.
to”; em japonês, essa mesma palavra seria divida em três sílabas:
“ca-n-to”);
11)Coloca-se apóstrofe depois do n quando o som esperado é
mudo e se siga a esta sílaba é uma vogal ou as sílabas ya, yu, yo
e derivadas (por exemplo: ten’nyō lê-se “te-n-nhoo”);
12)G não tem som de “j”, assim, ge e gi lêem-se “gue” e “gui”,
respectivamente;
13)Ji lê-se “dji”;
14)Quando duas consoantes são grafadas juntas, elas representam
uma pequena interrupção na pronúncia do termo, chamadas de
sílabas glotizadas ou ejectivas (por exemplo nikkei).
Glossário

Burajirijin (ブラジル人) – Burajiru é como se pronuncia Brasil no


idioma japonês. Jin é o sufixo que designa “pessoa” ou “nacionalidade”.
Portanto, significa “pessoa brasileira”, de nacionalidade brasileira.

Dekasegui (出稼ぎ) - Designa todos os estrangeiros que trabalham


e moram no território japonês, descendentes de japoneses ou não.

Dō (道) – Significa caminho. Também pode ser lido como michi


(“miti”). No idioma japonês, cada ideograma pode ter mais de uma forma
de leitura possível, porque se manteve a leitura chinesa ao acrescentarem
a forma japonesa de dizer as palavras. No entanto, seu significado é
sempre o mesmo.

Gaijin (外人) – Pessoa de fora, estrangeiro.

Geixa (芸者) – Mulheres que estudam e treinam desde crianças a


cantar, dançar e/ou tocar instrumentos tradicionais japoneses. Vestem-se
e maquiam-se de maneira também tradicional. Não são prostitutas, como
muitos acreditam, mas mulheres extremamente cultas e politizadas, que
seguem rigorosos treinamentos técnicos para conseguirem manter viva
esta tradição.

Hāfu (ハーフ) – Termo oriundo do inglês half, que significa


“metade” ou “meio”.

Hiragana (ひらがな) – Um dos alfabetos do idioma japonês e que,


geralmente, é ensinado primeiro. Trata-se de um alfabeto silábico, ou
seja, cada letra tem o som de uma sílaba – diferentemente do português,
em que é necessário juntar duas letras para obter uma sílaba. (Exemplo:
B+A=BA. Em japonês, BA é apenas ば). A origem dos hiragana está
pautada nos kanji.
Hashi (はし) – Par de palitos utilizados como talher, tanto para
servir quanto para comer.

Issei (一世) – Primeira geração, os próprios imigrantes.

Kanji (漢字) – Um dos alfabetos do idioma japonês, proveniente da


China. É chamado de “ideograma” porque é um símbolo que traduz uma
ideia ou conceito. Por causa disso, os kanji, no idioma japonês, possuem
duas ou mais formas de leitura (a leitura chinesa, importada com a escrita,
e a forma como os japoneses já pronunciavam as palavras designadas
pelos mesmos). Os kanji mais simples são chamados de “pictogramas”
porque se originaram dos desenhos que representam. (Exemplo: ki ou
moku (木) significa árvore. Juntando duas árvores (林), temos um bosque
e juntando três (森), uma floresta. Esses dois últimos são ideogramas
porque trazem um conceito, uma ideia a partir do pictograma original.

Kasato Maru (笠戸丸) – Primeiro navio a atracar no porto de Santos


em 1908. Maru (丸) é geralmente colocado como um sufixo em nomes de
navios.

Katakana (カタカナ) – Um dos alfabetos do idioma japonês que,


geralmente, é ensinado logo após o hiragana. É utilizado para grafar
palavras de origem estrangeira, adaptadas aos sons possíveis no idioma
japonês. (Exemplo: em japonês, não existe o som de consoantes mudas,
nem do “L”. McDonald’s é pronunciado makudonarudo, マクドナルド). A
origem dos katakana está pautada nos kanji.

Kokoro (心) – Mente e coração.

Koroniago (コロニア語) - Go é o sufixo que designa “língua” ou


“idioma”. Koronia vem do português “colônia”. É a mistura entre o idioma
japonês e seus os fonemas possíveis com palavras e sons próprios do
português que não tinham equivalentes em japonês.

Ma (間) – Termo que faz parte do modus operandi próprio da


cultura japonesa. É uma forma de perceber o mundo e que não é
facilmente explicável para aqueles que não possuem esse entendimento.
Ma é literalmente “o sol entre a portinhola”, aquilo que é possível ver pela
fresta e serve para designar um vão, um vazio (vazio para os japoneses é
diferente do vazio ocidental – no primeiro caso, é prenhe de
possibilidades, é a partir do vazio que tudo pode vir a ser; no segundo
caso, tem a ver com nada, com impossibilidade). É usado tanto no dia a
dia em expressões idiomáticas como Ma ga warui ou Manuke, quanto em
produções artísticas – as “deixas” em boa parte das artes tradicionais
japonesas geralmente seguem o Ma, como se fosse um feeling, o timing
certo e não uma contagem definida ou falada em voz alta por alguém.

Mochi (もち) – Bolinho de arroz cozido e amassado em pilão e


moldado em pequenas bolinhas. Pode ser consumido puro ou com
acompanhamentos. Hoje, é possível encontrar panelas elétricas que
preparam o mochi.

Mochigome (もち米) – Variedade de arroz japonês utilizado para


fazer mochi ou osekihan. Gome é uma supressão da palavra kome,
palavra que designa “arroz cru”.

Nihon (日本) – Japão no idioma japonês.

Nihongo (日本語) – Go é os sufixo que designa “língua” ou


“idioma”. Portanto, significa “língua japonesa” ou “idioma japonês”.

Nihongo Gakkō (日本語学校) – Gakkō significa escola. Portanto,


significa “escola de língua japonesa”.
Nihonjin (日本人) – Jin é o sufixo que designa “pessoa” ou
“nacionalidade”. Portanto, significa “pessoa japonesa”, de nacionalidade
japonesa.

Nikkei (日系) – Descendente de japonês, nascido fora do Japão, ou


seja, o nipodescendente – que pode ser brasileiro, americano, paraguaio,
entre outros. Designa, portanto, os descendentes nascidos fora do
território japonês, bem como os japoneses que vivem regularmente em
outras localidades.

Nisei (二世) – Segunda geração, filhos de imigrantes.

Origami (折り紙) – Arte das dobraduras de papel.

Osekihan (お赤飯) – Mistura de mochigome, variedade de arroz


japonês com azuki, variedade de feijão também japonês. São feitos
bolinhos com a mistura dos dois e pode-se comer frio ou quente.

Sansei (三世) – Terceira geração, netos de imigrantes.

Shakuhachi (尺八) – Flauta feita de bambu. Pode ser inteiriça ou


com um encaixe no meio. Tem quatro furos na parte de cima e um furo
na parte de trás. A embocadura é bem diferente das flautas doce e
transversal.

Shamoji (しゃもじ) – Espécie de espátula, usada para servir arroz. É


feita de materiais que não riscam teflon (como bambu, plástico ou
madeira), que geralmente revestem o interior das panelas elétricas onde é
cozido o arroz tipo oriental.

Shinzō (心臓) – Órgão coração, responsável por bombear sangue


pelo corpo.
Shōyu (しょうゆ) – Molho de soja fermentada.

Take (竹) – Bambu.

Takenoko (竹の子) – Broto de bambu.

Wabi Sabi (詫寂) – Termo oriundo do zen budismo e que não


possui uma tradução exata. Trata-se de uma percepção de mundo, em
que se valoriza a beleza da impermanência e a contemplação da
passagem do tempo, visível, por exemplo, na ferrugem, na pátina, na
rachadura, no puído.

Yonsei (四世) – Quarta geração, bisnetos de imigrantes.

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