PNA 2021 Correção
PNA 2021 Correção
PNA 2021 Correção
CORREÇÃO
1. Um homem de 60 anos é trazido ao serviço de urgência pelos bombeiros por paragem cardiorrespiratória
uma hora após o almoço. Os bombeiros foram ativados para o socorrer em casa há 30 minutos. O doente
encontra-se em manobras de reanimação cardiorrespiratória ligado a um DAE, há 15 minutos. O DAE
deu indicação de “choque não recomendado”. Segundo a família indica, o doente tem antecedentes de
insuficiência renal crónica, tendo sido construída fístula recentemente. Aguardava início de diálise na
próxima semana. Desconhece-se a medicação habitual.
Justificação:
O caso clínico descrito é de um homem de 60 anos, com antecedentes de insuficiência renal crónica
com indicação para início de hemodiálise, que apresenta paragem cardiorespiratória em ritmo não
desfibrilhável (avaliado pelo DAE com indicação de «choque não recomendado»). A resposta certa é
a opção (C), uma vez que se trata de um doente com doença renal crónica grave com indicação para
início para diálise e portanto é um doente com elevado risco de hipercaliemia. Perante uma paragem em
ritmo não desfibrilhável é importante excluir as causas reversíveis de paragem (nomeadamente distúrbios
hidroeletrolíticos, tromboembolismo pulmonar, tamponamento, pneumotórax). Relativamente às
restantes opções de resposta:
Opção (A) – Incorreta. Dado o contexto clínico de doença renal crónica terminal, a causa mais provável
de paragem é a hipercaliemia.
Opção (B) – Incorreta. Dado o contexto clínico de doença renal crónica terminal, a causa mais provável
de paragem é a hipercaliemia. Além disso, a doença renal crónica cursa geralmente com hipocalcemia.
Opção (D) – Incorreta. O quadro clínico não é sugestivo de hipovolemia. Pelo contrário, num doente com
doença renal crónica em estadio terminal não dialisado é expectável que haja hipervolemia.
Opção (E) – Incorreta. O tromboembolismo pulmonar justificaria uma paragem em ritmo não
desfibrilhável, no entanto não há aspectos na história clínica descrita que sugiram esta etiologia.
2. Um homem de 38 anos, vítima de acidente de viação de motociclo, é trazido ao serviço de urgência
por uma equipa de bombeiros, imobilizado em plano duro e com colar cervical. Na admissão apresenta
respiração ruidosa e fratura exposta do fémur direito. O doente está com máscara de O2 (15L/min; 100%)
mas não tem acessos. Quando estimulado não obedece a ordens. À estimulação dolorosa não produz
resposta verbal e não abre os olhos, mas localiza a dor. Os sinais vitais são temperatura axilar 35,9ºC,
frequência respiratória 26/min, frequência cardíaca 100/min e pressão arterial 88/42 mm Hg.
Qual das seguintes alternativas é o próximo passo mais adequado na abordagem inicial deste doente?
Justificação:
Nesta vinheta clínica, é necessário priorizar a abordagem num doente que sofreu uma trauma, devemos,
por isso, realizar uma abordagem ABCDE.
A resposta certa é a opção B, porque logo no “A” – Abordagem da via aérea, percebemos que a via aérea
não se encontra patente.
Opção (A) - Incorreta. Sem dúvida que neste doente será necessário iniciar fluidoterapia, dado encontra-
se hipotenso, no entanto, este parâmetro é abordado no “C”. Logo esse procedimento não é prioritário face
à proteção da via aérea.
Opção (C) - Incorreta. A ecografia abdominal, mais especificamente o EcoFAST deverá ser realizado, mas
numa fase posterior. Este serve nomeadamente para avaliação de perda de volume.
Opção (D) - Incorreta. Num doente com alteração do estado de consciência, um exame de imagem como
a TC-CE, será necessário. No entanto, na avaliação primária de um doente hemodinamicamente instável,
não é prudente realizar um exame de imagem que ainda demorará a ser realizado.
Opção (E) - Incorreta. O mesmo se aplica para a fratura do membro, será necessário ser tratado, mas não
é o mais prioritário neste momento.
3. Uma mulher de 28 anos, bombeira, vem ao consultório médico porque, segundo ela, “tenho o meu pé a
ferver”. Acrescenta: “Há dois dias reparei numa área vermelha no dorso do meu pé.” Esta manhã, a área
ficou mais inchada e dolorosa e a mulher não foi capaz de calçar as suas botas de trabalho. Ela não tem
antecedentes patológicos de relevo e o Programa Nacional de Vacinação está atualizado. Os sinais vitais
são temperatura 37,5ºC, frequência cardíaca 70/min e pressão arterial 104/70 mm Hg. Ao exame físico
apresenta uma área de 2 cm de eritema e calor no dorso do pé, distalmente à articulação talonavicular, a
lesão é dolorosa e apresenta flutuação.
Justificação:
O caso clínico descreve uma jovem com uma lesão eritematosa inflamatória (calor, rubor e dor) de 2 cm
e com flutuação no dorso de um dos pés, com 2 dias de evolução, sugerindo a presença de um abcesso.
A resposta certa é a Opção (D), porque este caso clínico sugere um abcesso cutâneo, provavelmente
consequente a uma celulite, quer pelo curso indolente, quer pelo desenvolvimento de sintomas localizados
e evolução em lesão com flutuação. A doente em questão é bombeira e, como tal, usa um calçado mais
rígido e apertado adequado à profissão, estando provavelmente sujeita a maior fricção da pele, podendo
haver alguma porta de entrada que favoreça o desenvolvimento deste tipo de lesões. Neste caso, a doente
não apresenta sinais de infeção sistémica, apresenta via oral e não está instável,devendo ser drenado o
abcesso e realizada antibioterapia oral. Se não houver resposta às medidas instituídas nas primeiras 24-48h,
a doente deve ser reavaliada e devem ser ponderadas outras medidas, como antibioterapia endovenosa ou
escalar antibioterapia.
Opção (A) – Incorreta. Este caso clínico é sugestivo de um abcesso cutâneo, provavelmente consequente a
uma celulite, quer pelo curso indolente, quer pelo desenvolvimento de sintomas localizados e evolução em
lesão com flutuação. A doente em questão é bombeira e, como tal, usa um calçado mais rígido e apertado
adequado à profissão, estando provavelmente sujeita a maior fricção da pele, podendo haver alguma porta
de entrada que favoreça o desenvolvimento deste tipo de lesões. Nesta fase, a antibioterapia oral deve ser
privilegiada em detrimento da endovenosa, uma vez que a doente está estável, mas será provavelmente
insuficiente sem a drenagem do abcesso.
Opção (B) – Incorreta. Este caso clínico é sugestivo de um abcesso cutâneo, provavelmente consequente a
uma celulite, quer pelo curso indolente, quer pelo desenvolvimento de sintomas localizados e evolução em
lesão com flutuação. A doente em questão é bombeira e, como tal, usa um calçado mais rígido e apertado
adequado à profissão, estando provavelmente sujeita a maior fricção da pele, podendo haver alguma porta
de entrada que favoreça o desenvolvimento deste tipo de lesões. O uso de anti-inflamatório não esteroide
pode ser benéfico nesta fase, mas será insuficiente para resolver a infecção.
Opção (C) – Incorreta. Este caso clínico é sugestivo de um abscesso cutâneo, provavelmente consequente
a uma celulite, quer pelo curso indolente, quer pelo desenvolvimento de sintomas localizados e evolução
em lesão com flutuação. A doente em questão é bombeira e, como tal, usa um calçado mais rígido e
apertado adequado à profissão, estando provavelmente sujeita a maior fricção da pele, podendo haver
alguma porta de entrada que favoreça o desenvolvimento deste tipo de lesões. Neste caso, a doente não
apresenta sinais de infeção sistémica, apresenta via oral e não está instável, mas precisa de um tratamento
dirigido (drenagem do abscesso) e de antibioterapia oral. Os banhos de água morna podem ser realizados
para conforto do doente, não como tratamento dirigido à infeção.
Opção (E) – Incorreta. Este caso clínico é sugestivo de um abscesso cutâneo, provavelmente consequente a
uma celulite, quer pelo curso indolente, quer pelo desenvolvimento de sintomas localizados e evolução em
lesão com flutuação. A doente em questão é bombeira e, como tal, usa um calçado mais rígido e apertado
adequado à profissão, estando provavelmente sujeita a maior fricção da pele, podendo haver alguma
porta de entrada que favoreça o desenvolvimento deste tipo de lesões. Neste caso, a doente não apresenta
sinais de infeção sistémica, apresenta via oral e não está instável, não se justificando o internamento para
antibioterapia endovenosa. Se não houver resposta às medidas instituídas nas primeiras 24h 48h, a doente
deve ser reavaliada e deve ser ponderado o internamento e antibioterapia endovenosa.
4. Um homem de 61 anos vem à consulta por dificuldade de deglutição de sólidos e líquidos a nível da
“garganta”, desde há cinco meses, progressivamente mais intensa. Refere adicionalmente perda de peso de 3
kg desde há três meses. Nega tosse, rouquidão, ardor retrosternal ou dor torácica. Os antecedentes médicos
incluem hipertensão arterial e fibrilhação auricular. A medicação habitual inclui lisinopril, clortalidona e
dabigatrano. Os sinais vitais são temperatura 36,3ºC, frequência respiratória 19/min, frequência cardíaca
77/min e pressão arterial 129/88 mmHg; SpO2 99% (ar ambiente). Ele tem 170 cm de altura e pesa 71 kg,
IMC 24,6 kg/m2. Ao exame físico aparenta bom estado geral, mas ansioso em relação ao problema. A
observação da cavidade oral não revela massas aparentes ou alterações patológicas. O pescoço encontra-
se sem assimetrias nem massas palpáveis. A auscultação cardíaca e pulmonar encontra-se dentro dos
parâmetros de normalidade. Ao exame neurológico é notada atrofia dos músculos extensores em ambas as
mãos e fasciculações ocasionais e intermitentes, dispersas, nos membros e abdómen. Sem outras alterações
na avaliação restante da força, sensibilidade, marcha ou reflexos osteotendinosos dos restantes segmentos
neuromusculares. O restante exame físico encontra-se dentro dos parâmetros de normalidade.
Qual dos seguintes estudos clínicos é mais provável de estabelecer a etiologia da disfagia?
(A) Eletromiografia
(B) Endoscopia digestiva alta
(C) Raio-X do tórax
(D) TC cranioencefálica
(E) Videofluoroscopia da deglutição
A vinheta descreve um caso em que há conjugação de sintomas do neurónio motor superior - disfagia
orofaríngea («ao nível da garganta») - e sintomas do neurónio motor inferior – atrofia muscular e
fasciculações, pelo que o diagnóstico mais provável é o de Esclerose Lateral Amiotrófica. A presença de
disfagia constante, para líquidos e sólidos ad initium é mais característica da uma disfunção da motilidade
e não estrutural, que já seria pouco provável, tendo em conta a ausência de achados ao exame físico da
cavidade oral ou pescoço. Também a idade do doente corrobora a mesma hipótese diagnóstica, sendo a
ELA mais comum a partir da 6.ª década. A ausência de alterações de força/sensibilidade ou alterações da
marcha enquadra-se na apresentação e evolução variável desta doença.
Opção (B) – Incorreta. A Endoscopia Digestiva Alta permitiria detetar a etiologia da disfagia caso esta
tivesse origem esofágica. Além da descrição da disfagia ser mais compatível com origem orofaríngea da
mesma, o doente negava outros sintomas referentes ao esófago como pirose ou toracalgia, pelo que as
hipóteses de acalásia (em que a disfagia é para sólidos e líquidos) ou neoplasia esofágica (geralmente
progressiva, sendo inicialmente apenas para sólidos) são pouco prováveis; de notar que a perda de 3Kg de
peso em 3 meses parece secundária à diminuição da ingesta pela disfagia e não a uma etiologia neoplásica.
Também a atrofia muscular e presença de fasciculações não poderiam ser justificadas por uma patologia
esofágica.
Opção (C) – Incorreta. A radiografia de tórax não tem interesse no estabelecimento da etiologia da disfagia.
Opção (D) – Incorreta. A neuroimagem deve ser realizada no processo diagnóstico de ELA, para exclusão
de diagnósticos diferenciais, sendo de primeira linha a realização de RM CE.
Soro Sangue
Proteína C reativa 110 mg/L Hemoglobina 17,5 g/dL
Leucócitos 18 800/mm2
Neutrófilos, segmentados 79%
Plaquetas 450 x 10/L
A utente é internada para observação e estudo. Realiza colonoscopia, que relava erosões da muscosa
predominantemente ileocecais e de todo o cólon, poupando o reto.
Qual dos seguintes é o gene mais provavelmente implicado na etiopatogenia da doença desta mulher?
(A) ATP7B
(B) FXR
(C) ILI50
(D) JAK2
(E) STAT23
Justificação:
O caso clínico descrito é o de uma jovem, com um quadro de oclusão intestinal e que apresenta
múltiplas erosões e ulcerações em diferentes parte do trato gastrointestinal, que sugerem o diagnóstico
de Doença de Chron. As alterações analíticas são contextualizáveis no quadro de agudização da doença
(elevação de parâmetros inflamatórios e trombocitose reactiva), podendo a poliglobulia ser derivada da
hemoconcentração pela desidratação induzida pelos vómitos.
A resposta certa é a Opção D, porque de entre os genes apresentados, é o que está mais vezes associado ao
risco de desenvolvimento de doença inflamatória intestinal.
Opção (A) – Incorreta. A mutação do gene ATPB7 está implicada na Doença de Wilson, que é caracterizada
pela presença de alterações hepáticas, oculares e neuropsiquiátricas, resultantes da acumuação de cobre
no organismo.
Opção (B) – Incorreta. O gene FRX codifica um receptor de ácidos nucleicos. Estudos recentes estabelecem
uma possível associaçao da mutaçao neste receptor com a Doença de Chron, mas esta relação está menos
estabelecida do que a da JAK2.
Opção (C) – Incorreta. A mutação associada à DII é a da IL-10, IL-12 e recetor de IL-23.
Opção (E) – Incorreta. A mutação associada à DII é a da STAT3, sendo que sinalização JAK-STAT está
envolvida no desenvolvimento de processos inflamatórios.
6. Um rapaz de 4 anos é referenciado à consulta de pediatria, uma vez que os pais têm a impressão de
que apresenta comportamento peculiar. Referem que sempre brincou muito sozinho e apresenta uma
imaginação muito vívida, mas agora estão preocupados que algo não se encontre bem. Referem conversas
elaboradas com um amigo imaginário. Não têm outros filhos e vivem numa zona em que não existem
outras crianças. Ele tem sido saudável, não tem antecedentes patológicos de relevo e não faz medicação
habitual. Frequenta infantário.
Qual das seguintes é a resposta mais adequada face às preocupações manifestadas pelos pais?
(A) “É possível que o vosso filho tenha uma doença grave. Existe história familiar de doença psiquiátrica
grave?”
(B) “Não se preocupem com esta situação. É muito comum as crianças desta idade terem amigos
imaginários.”
(C) “O comportamento do vosso filho é preocupante. Vamos iniciar olanzapina e ver se o comportamento
melhora.”
(D) “O comportamento que descrevem é estranho. Temos de contactar o infantário e perceber se o
comportamento também ocorre na escola.”
(E) “O vosso filho preocupa-me. Vou referenciar à consulta de pedopsiquiatria.”
O caso clínico descreve uma criança de 4 anos, perfeitamente saudável, sem irmãos nem outras crianças
com quem conviver, que é trazido à consulta de pediatria porque os pais estão preocupados com o facto
de brincar sozinho e ter conversas com um amigo imaginário. Este caso clínico está relacionado com o
desenvolvimento psicomotor da criança.
A resposta certa é a Opção B, porque a idade dos 4 anos é caracterizada por cenários de jogos imaginativos/
criativos, criação de momentos irreais e de amigos imaginários, quer porque é divertido, quer porque
trazem companhia e permitem modificar os jogos e brincadeiras. Além disso, esta criança não convive
com outras crianças habitualmente, pelo que é ainda mais natural este cenário.
Opção (A) – Incorreta. A idade dos 4 anos é caracterizada por cenários de jogos imaginativos/criativos,
criação de momentos irreais e de amigos imaginários, quer porque é divertido, quer porque trazem
companhia e permitem modificar os jogos e brincadeiras. Além disso, esta forma de resposta perante uns
pais que estão preocupados e sem experiência prévia nunca seria correta, quer por não ser empática de
modo algum, quer porque revela um pior cenário sem qualquer investigação prévia e sem um diagnóstico
definitivo.
Opção (C) – Incorreta. A idade dos 4 anos é caracterizada por cenários de jogos imaginativos/criativos,
criação de momentos irreais e de amigos imaginários, quer porque é divertido, quer porque trazem
companhia e permitem modificar os jogos e brincadeiras. Além disso, esta resposta não seria correta
porque nem se tem um diagnóstico, nem este foi explicado aos pais, pelo que não se iniciaria para já
terapêutica alguma.
Opção (D) – Incorreta. A idade dos 4 anos é caracterizada por cenários de jogos imaginativos/criativos,
criação de momentos irreais e de amigos imaginários, quer porque é divertido, quer porque trazem
companhia e permitem modificar os jogos e brincadeiras. Assim, esta resposta não está correta.
Opção (E) – Incorreta. A idade dos 4 anos é caracterizada por cenários de jogos imaginativos/criativos,
criação de momentos irreais e de amigos imaginários, quer porque é divertido, quer porque trazem
companhia e permitem modificar os jogos e brincadeiras. Portanto, esta resposta não estaria correta.
7. Um homem de 72 anos, militar reformado, recorre a uma consulta de psiquiatria por “ansiedade
insuportável”. A esposa acrescenta que, nos últimos meses, o doente parece alheado, passa o tempo
deitado e, contrariamente ao seu funcionamento prévio, não evidencia qualquer motivação para realizar
as suas tarefas habituais. Ocasionalmente, não parece capaz de se alimentar autonomamente. Nas últimas
três semanas, esquece-se de conversas recentes e tem tido quedas frequentes. Descreve em pormenor as
pequenas crianças que visualiza na sua sala de estar, não tendo uma explicação para este facto. Mostra-
se preocupado com o seu estado atual, em particular com angústia, que sente permanentemente. Ele diz
“nem na guerra estava assim tão ansioso”. A história médica revela amputação de uma mão na sequência
de um traumatismo de guerra. Não tem outros antecedentes médicos ou cirúrgicos e não faz medicação
habitual. Os sinais vitais são 36,9ºC, frequência respiratória 18/min, frequência cardíaca 104/min e pressão
arterial 142/76 mm Hg. À observação está vígil e orientado no espaço e no tempo, com discurso coerente,
mas facilmente distrátil. Os resultados dos estudos analíticos e o eletrocardiograma encontram-se dentro
dos parâmetros de normalidade.
(A) Delirium
(B) Demência de corpos de Lewy
(C) Demência frontotemporal
(D) Episódio depressivo com sintomas psicóticos
(E) Perturbação do stress pós-traumático
Justificação:
O caso clínico descrito consiste num homem de 72 anos, que, nos últimos meses, tem estado mais “alheado”,
com clinofilia, avolia e compromisso das atividades de vida diária (com dependência de terceiros). Há 3
semanas iniciou quadro de compromisso da memória recente, quedas frequentes, bem como alucinações
visuais liliputianas. Sem antecedentes de relevo, sem medicação habitual. Ao exame objetivo, destaca-se
apenas discretas taquicardia e hipertensão arterial. Encontra-se vígil e orientado, com discurso coerente,
mas facilmente distrátil. Meios complementares de diagnóstico sem alterações de relevo.
A resposta certa é a Opção (B), porque o doente apresenta sintomatologia compatível com uma demência
de corpos de Lewy (alteração da atenção e capacidade visuo-espacial, alucinações visuais (liliputianas),
apatia e compromisso motor, com dependência de terceiros). Relativamente às outras opções de resposta:
Opção (A) – Incorreta. O delirium ocorre tipicamente no contexto de uma intercorrência médica ou
cirúrgica e é caracterizado por alteração do estado de consciência e flutuação da atenção, com desorientação
espacial e temporal (o que não se verifica).
Opção (C) – Incorreta. A Demência fronto-temporal caracteriza-se por alteração do comportamento e/ou
linguagem e ausência de insight.
Opção (D) – Incorreta. Apesar de um quadro depressivo poder cursar com avolia e clinofilia, estes sintomas
são facilmente enquadrados num contexto de apatia relacionada com um quadro demencial. Além disso,
não existe descrição de sintomas fundamentais de depressão (como anedonia e humor deprimido), pelo
que podemos excluir esta hipótese.
Opção (E) – Incorreta. Apesar de o doente ter estado na guerra, o presente quadro não tem relação
temporal nem é caracterizado por clínica sugestiva de uma perturbação de stresse pós-traumático.
2ª Justificação:
O caso descreve um quadro de apatia (diminuição volição) com meses de evolução, com noção de
dificuldades mnésicas nas últimas semanas, quedas frequentes e alucinações, com início por volta dos 70
anos. Tem “insight” conservado (preocupado e angustiado com a sua situação). Há referência a perda de
autonomia (nomeadamente para se alimentar de forma autónoma).
Favorecem a resposta B (demência de corpos de Lewy): a idade de início, a evolução crónica (início do
quadro há meses), referência a alucinações (que parecem ter início concomitante com as dificuldades
mnésicas) e as quedas frequentes, que poderão indiciar (embora não sendo referido diretamente na
vinheta) a presença de uma síndroma parkinsónica.
Concomitantemente apresenta apatia (em si não específico deste diagnóstico, mas frequentemente
observado numa síndroma demencial) e “insight” conservado, o que pode ocorrer num quadro demencial
em início.
Faltaria apenas juntar à vinheta a noção de flutuações cognitivas, uma perturbação do sono REM (perda
da atonia no sono REM) e eventualmente alguma referência a dificuldade visuoespacial.
A. Delirium
Não se descreve um quadro clínico agudo que pudesse aumentar a suspeição de uma síndroma confusional
atribuível a uma intercorrência infeciosa ou disfunção metabólica. O quadro teve início, como a vinheta
indica, há meses.
C. Demência frontotemporal
Embora a apatia possa ser enquadrável numa síndroma frontal, não há referência a outros sintomas
habitualmente presentes neste quadro: desinibição, hiperoralidade (alteração do padrão alimentar com
preferência por alimentos de elevado teor de açúcar), comportamento ritualístico, dificuldades no
relacionamento com os outros (perda de empatia e da capacidade de se solidarizar com o próximo). Por
outro lado, há referência a esquecimentos, o que aponta para um quadro demencial de outra etiologia.
Não são referidos sintomas depressivos, apenas sintomatologia ansiosa que poderá ser reativa à perceção
que o doente tem das suas dificuldades crescentes e alucinações. A apatia e perda de autonomia também
não são concordantes com esta hipótese.
Além dos sintomas do doente serem melhor explicados por outra hipótese diagnóstica, não é de esperar
que o doente inicie sintomatologia atribuível a esta hipótese numa fase tardia da sua vida.
8. Uma mulher de 53 anos vem à consulta por disestesias simétricas dos pés, intensas, com seis meses de
evolução e que foram progredindo de intensidade. Ela refere que a sensação a acorda de noite. A caminhar
tem a sensação de caminhar descalça sobre pedras. Tem história de hipertensão arterial medicada com
irbesartan. Refere que tem diminuído progressivamente o uso dos seus fármacos por hipotensão e tonturas
posturais, nos últimos dois meses. Refere ingestão de álcool 15g/dia. Os sinais vitais são temperatura 36,5ºC,
frequência cardíaca respiratória 16/min e frequência cardíaca 78/min. A pressão arterial é 140/89 mmHg
sentada e 85/60 mm Hg em pé. Ela tem 162 cm de altura e pesa 73 kg; IMC 28 kg/m2. Ao exame físico
apresenta hipoestesia em peúga, ausência de reflexos aquilianos e abolição de sensibilidade vibratória. A
auscultação cardíaca e pulmonar encontra-se dentro dos parâmetros de normalidade. O abdómen está
mole e depressível à palpação.
Soro Sangue
Creatinina 0,8 mg/dL Hemoglobina 13,0 g/dL
Glicose 92 mg/dL VGM 85 fL
Proteína C reativa 20 mg/L HCM 31 pg
T3 115 ng/dL Leucócitos 9500/mm
T4 5 ug/dL
TSH 3,5 µU/mL
Ácido fólico 20 ng/mL Velocidade de sedimentação 50 mm/1ª hora
(N = 3-17 ng/mL) eritrocitária
Vitamina B12 500 pg/mL
(N= 195 – 700 pg/mL)
As serologias da sífilis, VH 1 e 2 são negativas. O exame sumário da urina não apresenta alterações.
O estudo da mutação ATTR V30M para a polineuropatia amiloidótica familiar revelou ausência de
mutações. A eletromiografia revela abolição dos potenciais sensitivos dos membros inferiores com
potenciais motores normais. A TC toracobdominopélvica não revela alterações patológicas. PET-SCAN
sem lesões hipermetabólicas captando FDG. A endoscopia digestiva alta e baixa encontra-se dentro dos
parâmetros de normalidade.
O caso descreve uma senhora de 53 anos com um quadro, com 6 meses de evolução, de neuropatia sensitiva
de início com sintomas produtivos (disestesias e sensação dolorosa ao caminhar sugerindo hiperestesia),
seguido de desenvolvimento de disautonomia (hipotensão ortostática). O exame indicia envolvimento
de fibras de pequeno (hipostesia) e grande diâmetro (abolição de sensibilidade vibratória). Há hábitos
etílicos moderados.
Das análises destaca-se uma VS elevada (50 mm/1.ª h) e PCR discretamente elevada (20 mg/dL). Foi
afastada a hipótese de polineuropatia amiloidótica familiar, com teste genético. A EMG indicia a presença
de uma polineuropatia sensitiva grave (com perda de potenciais sensitivos nos membros inferiores). Foi
excluído tumor oculto (TC-TAP, PET normais, estudos endoscópicos normais), assim como infeção por
VIH ou por T. pallidum.
Embora não haja referência a síndroma sicca, o caso tem vários argumentos que favorecem a resposta D
(Síndroma de Sjogren), com envolvimento do sistema nervoso periférico: idade da doente, VS elevada,
início do quadro com atingimento de nervos de fibras de pequeno diâmetro, progredindo para atingimento
de fibras de maior diâmetro autonómicas. Não foi encontrado tumor oculto que pudesse sustentar a
hipótese alternativa de síndroma paraneoplásica. Entre hipótese D e C, os argumentos expostos, associados
a ausência de menção de exposição a tóxicos, tornam a hipótese D a mais provável.
A. Doença cerebrovascular
O caso descreve uma diminuição ou perda de reflexos (lesão do II neurónio) e alteração sensitiva de tipo
periférico, não sendo compatível com lesão central
Nada é referido em relação à história de exposição da senhora. O padrão de neuropatia descrito poderia ser
compatível, embora fosse de esperar haver também atingimento motor (podem ser neuropatias graves). O
maior argumento para não favorecer esta hipótese é, de facto, a vinheta não sugerir um possível contexto
de exposição (omissão).
C. Porfíria
A neuropatia da porfiria é predominantemente motora e axonal, com envolvimento proximal dos membros
superiores (geralmente inicialmente) e dos membros inferiores. Por vezes tem evolução subaguda e
disautonomia associada, aproximando-se de uma síndroma de Guillain-Barré. O caso é de uma neuropatia
sensitiva com disautonomia.
E. Tabes dorsal
Embora o caso descreva alteração da sensibilidade profunda (habitualmente conduzida pelos cordões
posteriores), a disautonomia e envolvimento pronunciado de fibras de pequeno diâmetro (bem indiciado
pela presença de disestesias e hiperestesia), desfavorecem esta hipótese. A serologia da sífilis foi negativa, o
que também afasta a hipótese (TPHA negativo), não sendo de esperar encontrar marcadores treponémicos
negativos na tabes (ainda que os não treponémicos possam negativar, nalguns contextos, numa sífilis
terciária).
9. Um homem de 78 anos vem ao consultório médico por dor no hemitórax esquerdo que agrava com os
movimentos respiratórios com quatro meses de evolução. Ele refere ainda tosse seca, perda de apetite e
perda de peso de cerca de cinco quilos nos últimos dois meses. Neste período, nega febre ou sudorese
noturna. A história médica revela diabetes mellitus, dislipidemia e obesidade. A medicação habitual
inclui sitagliptina, metformina, rosuvastatina e aspirina. Trabalhou 40 anos na construção civil. Os sinais
vitais são temperatura 36°C, frequência respiratória 16/min frequência cardíaca 89/min e pressão arterial
116/87 mmHg; Sp02 97% (ar ambiente). Ele tem 178 cm de altura e pesa 92 kg; IMC 29 kg/m2. Ao exame
físico apresenta ar doente. As mucosas estão curadas e hidratadas. Não há gânglios palpáveis nas cadeias
do pescoço, supraclavicular e axilar. A auscultação pulmonar mostra diminuição dos sons respiratórios
e da transmissão vocal na metade inferior do hemitórax esquerdo associado a macicez à percussão. Ele
não tem edemas periféricos. O restante exame físico, incluindo a auscultação cardíaca, encontra-se dentro
dos parâmetros de normalidade. O raio-X de tórax mostra derrame pleural esquerdo de médio volume e
aparente espessamento pleural.
Qual dos seguintes estudos clínicos é o mais adequado para confirmar o diagnóstico etiológico mais
provável?
Justificação:
O caso clínico descreve um homem idoso, ex-trabalhador da construção civil, com sintomas constitucionais
(anorexia, perda de peso, tosse seca) com vários meses de evolução, com um derrame pleural unilateral de
médio volume com espessamento pleural,de provável causa neoplásica.
A resposta certa é a Opção (A), porque perante um derrame pleural unilateral de médio volume com
espessamento pleural num doente idoso, ex- trabalhador da construção civil, com sintomas constitucionais
e sem outros sinais ou sintomas sugestivos de patologia cardíaca (excluindo à partida derrame pleural por
congestão,como por exemplo a insuficiência cardíaca) ou infeciosa (excluindo à partida derrame pleural
por infeção, por exemplo, a pneumonia) as principais hipóteses diagnósticas são uma neoplasia ou uma
doença ocupacional. A etiologia deste quadro clínico pode ser melhor esclarecida através da biópsia
pleural.
Opção (B) – Incorreta. O doente apresenta uma dor torácica pleurítica localizada à esquerda com quatro
meses de evolução, pelo que é muito pouco sugestiva de dor torácica com origem cardíaca, existindo
outros diagnósticos mais prováveis, não sendo este exame o mais adequado no diagnóstico etiológico.
Opção (C) – Incorreta. O doente apresenta uma dor torácica pleurítica no hemitórax esquerdo com
quatro meses de evolução, o que é pouco sugestivo de epigastralgia por pirose retrosternal. Apesar de o
doente ter perda de apetite e de peso, em momento algum refere disfagia ou dor abdominal, tendo outros
fatores de risco, sinais e sintomas muito mais sugestivos de outros diagnósticos não gastroenterológicos,
pelo que este não é o exame mais adequado neste caso no diagnóstico etiológico.
Opção (D) – Incorreta. O doente apresenta um derrame pleural unilateral de médio volume com
espessamento pleural sem outros sinais ou sintomas sugestivos de infeção - sem febre, sem tosse produtiva,
sem compromisso hemodinâmico, não sendo a hemocultura o exame mais adequado neste caso.
Opção (E) – Incorreta. Este doente apresenta sintomas constitucionais, mas tem hipersudorese noturna,
febre ou outros fatores de risco para tuberculose. Além disso, a radiografia de tórax mostra apenas um
derrame pleural com espessamento da pleura, o que é muito mais sugestivo de outro diagnóstico.
10. Uma mulher de 57 anos casada, professora de matemática, é trazida ao serviço de urgência pela polícia,
que fora chamada a um stand automóvel onde a doente se encontrava. A doente afirmava pretender
adquirir quatro automóveis, evidenciando comportamento hóstil quando os vendedores mostraram
reservas. Afirmava ser herdeira da família real britânica e necessitar de carros de alta gama para escapar às
perseguições dos vizinhos invejosos, que a têm estado a vigiar nas últimas noites. Os familiares indicam
que a doente tem acompanhamento por psiquiatria desde os 25 anos, tendo dois internamentos prévios,
por quadros similares ao atual, dos quais recuperou, tendo-se mantido a trabalhar de modo produtivo e
tendo constituído família. Há ainda referência a um episódio depressivo, autolimitado, após o nascimento
do primeiro filho. Está medicada com tramadol desde há um ano, após uma lesão ao tornozelo. O marido
refere que a doente consome benzodiazepinas e tramadol em excesso desde há um mês. Não tem outros
antecedentes médicos conhecidos. Ao exame do estado mental apresenta-se hipervigil, orientada em todas
as dimensões, com agitação psicomotora e verborreia. O humor é irritável, colaborando mal na entrevista.
O exame físico e os resultados dos estudos analíticos não evidenciam alterações relevantes, para além de
benzodiazepinas positivas na urina.
Justificação:
O caso clínico descrito é de uma mulher de 57 anos, levada ao serviço de urgência por humor irritável,
gastos excessivos, ideias deliroides de grandiosidade e persecutórias. Tem historia de depressão pós-
parto, dois internamentos em psiquiatria e bom funcionamento intercrises. Destaca-se ainda abuso de
benzodiazepinas (positivo em doseamentos urinários) e tramadol. À observação, destaca-se: hipervigil,
agitação, verborreia, humor irritável.
A resposta certa é a Opção (B), porque o presente episódio com humor irritável, agitação, verborreia,
sintomas psicóticos congruentes com o humor (ideias deliroides grandiosas) configura um episódio
maníaco. Além disso, apresenta uma história típica de doença bipolar (depressão pós-parto, episódios
maniformes e bom funcionamento intercrises). Assim sendo, o diagnóstico de perturbação afetiva bipolar
é o mais provável neste caso. Relativamente às outras opções de resposta:
Opção (A) – Incorreta. Apesar de existir referência a abuso de benzodiazepinas (com propriedades anti-
maníacas) e tramadol, estes não explicam a sintomatologia maniforme descrita. Além disso, a doente
apresenta uma história típica de doença bipolar (depressão pós-parto, episódios maniformes e bom
funcionamento intercrises), pelo que podemos excluir esta hipótese.
Opção (C) – Incorreta. Apesar da perturbação de personalidade paranoide cursar com ideias paranoides,
o delírio persecutório descrito pode ser enquadrado nas ideias deliroides de grandiosidade que a doente
apresenta, com contexto de um episódio maníaco com sintomas psicóticos.
Opção (D) – Incorreta. A perturbação esquizoafetiva deverá ser considerada em doentes que apresentam
episódios de alteração do humor com sintomatologia psicótica e episódios psicóticos na ausência de
alterações do humor, o que não acontece neste caso.
Opção (E) – Incorreta. O diagnóstico de esquizofrenia não se aplica neste caso pois existe um quadro claro
de alteração do humor e, apesar de o doente apresentar sintomatologia psicótica, esta é congruente com o
humor expansivo (irritável) da doente (grandiosa), não tem um conteúdo bizarro e não foram apurados
sintomas de primeira ordem de Schneider.
11. Uma mulher de 25 anos recorre ao serviço de urgência por disartria e estado confusional com um dia de
evolução. O marido refere que ela teve febre vespertina (máximo de 38°C), astenia, anorexia, emagrecimento
(2kg) e artralgia das pequenas articulações das mãos desde há cerca de três meses. A história médica revela
fístula anorretal há quatro meses. Sem outros antecedentes patológicos. Não faz medicação habitual. Os
sinais vitais são temperatura 37,5°C, frequência respiratória 14/min, frequência cardíaca 65/min e pressão
arterial 122/73 mm Hg. Tem 167 cm de altura e pesa 67 kg; IMC 24 kg/m2. Ao exame físico apresenta-se
confusa e sonolenta. Observa-se hemiparesia esquerda (grau 4/5), sinais inflamatórios das articulações
interfalângicas proximais das mãos e petéquias simetrias dos membros inferiores. A auscultação cardíaca
revela sopro pré-cordial sistólico (grau II/VI) desconhecido da doente e da família. O restante exame
físico encontra-se dentro dos parâmetros da normalidade.
Soro Sangue
Creatinina 1,5 mg/dL Hemoglobina 8,5 g/dl
Glucose 110 mg/dL
Proteína C reativa 130 mg/L
A tira-teste de urina revela presença de eritrócitos e de proteínas (++). A TC do crânio revela pequenos
defeitos de perfusão cortical.
Qual das seguintes alternativas é o próximo passo mais adequado na avaliação desta doente?
Justificação:
Este caso clínico diz respeito a uma doente do sexo feminino, jovem (25 anos), que apresenta-se com
síndrome constitucional (febre, astenia, anorexia e perda de peso) com elevação de reagentes de faz aguda
(PCR) ; artrite das pequenas articulações das mãos com 3 meses de evolução ; evidência de envolvimento
neurológico (estado confusional agudo – encefalite + disartria com hemiparesia esquerda com evidência
em TC craniana de pequenos defeitos de perfusão cortical) ; petéquias dos membros inferiores em
possível contexto de trombocitopenia ou vasculite cutânea ; anemia ; envolvimento renal com suspeita
de glomerulonefrite baseada na presença de eritrócitos e proteínas em tira-teste urinário e disfunção
renal – creatinina 1.5mg/dL. Um dos diagnósticos prováveis trata-se de um lúpus eritematoso sistémico
(LES) que engloba o envolvimento constitucional, musculo-esquelético, hematológico, neurológico e
possivelmente renal. As alterações que a doente apresenta em tira-teste urinário são sugestivas da presença
de glomerulonefrite, devendo por isso ser alvo de biópsia renal. Admite-se que um sumário de urina e/
ou urina de 24h seria mais adequado para quantificar a eritrocituria e a proteinúria antes de realizar a
biópsia renal, mas esta hipótese não é considerada. A determinação do tipo de glomerulonefrite tem
implicações terapêuticas major (nomeadamente a necessidade de recurso a imunossupressão adequada
– ciclofosfamida e/ou micofenolato de mofetil) e prognósticas, pelo que é urgente a sua confirmação ou
exclusão.
Opção C – INCORRETA. A doente não apresenta sinais de atingimento cardíaco agudo, nomeadamente
miocardite ou pericardite. É certo que tem um sopro pré-cordial sistólico grau II/VI que, considerando a
faixa etária e quadro clínico de inflamação sistémica, trata-se de provável sopro fisiológico hiperdinâmico,
não necessitando de avaliação no momento.
Opção D – INCORRETA. Embora a realização de ecodoppler dos vasos do pescoço possa ser indicado
tendo em conta o estudo dos defeitos de perfusão cortical, não se trata do próximo passo mais adequado.
Opção E – INCORRETA. A PET-FDG é um exame muito inespecífico, que se justifica em situações muito
particulares como é o caso das vasculites de grandes vasos, não é um exame com interesse clínico neste
caso em particular e que em nada nos iria ajudar do ponto de vista diagnóstico e terapêutico.
12. Uma menina de quatro anos é trazida à consulta de pediatria por episódios recorrentes de dificuldade
respiratória, tosse e sibilância durante o último ano. Os episódios motivaram várias idas ao serviço de
urgência e terapêutica com salbutamol e prednisolone. Encontra-se assintomática entre os episódios. Não
tem medicação em ambulatório. O pai tem antecedentes de asma e a mãe é fumadora. Os sinais vitais
são temperatura 36,5° C, frequência respiratória 19/min, frequência cardíaca 85/min e pressão arterial
95/63 mm Hg. O peso encontra-se no percentil 85. Ao exame físico apresenta bom estado geral e eczema
nas pregas dos membros superiores. O restante exame físico, incluindo auscultação cardíaca e pulmonar,
encontra-se dentro dos parâmetros de normalidade.
Justificação:
O caso clínico descreve uma criança com episódios recorrentes de sibilância associada a tosse e dificuldade
respiratória com resposta a corticoide e broncodilatação em SOS, cujo pai tem antecedentes de asma
e a mãe é fumadora. Portanto, estamos perante um caso clínico de sibilância recorrente, embora não
tenhamos o número de episódios e, provavelmente de asma, embora nos falte a prova terapêutica.
A resposta certa é a Opção (D), porque perante um caso de sibilância recorrente/asma ligeira persistente,
o primeiro passo no tratamento é corticóide inalado em baixa dose diário, que pode ser usado também em
SOS. Relativamente às outras opções de resposta:
Opção (A) – Incorreta. O diagnóstico de asma é essencialmente clínico, baseado nos episódios, nos fatores
de risco e na resposta à broncodilatação. O doseamento de IgE pode ter interesse como indicador de
um fator desencadeante, mas neste caso, não é o próximo passo mais adequado, perante uma asma não
controlada.
Opção (B) – Incorreta. Perante um caso de sibilância recorrente/asma ligeira persistente, o primeiro passo
no tratamento é corticóide inalado em baixa dose diário, que pode ser usado também em SOS. Se este
tratamento não resultar, então aí sim, deve-se pensar numa dose moderada ou na adição do montelucaste
à dose baixa de corticóide inalado.
Opção (C) – Incorreta. O Montelucaste pode ser utilizado na sibilância recorrente/asma ligeira persistente,
no entanto, é menos eficaz do que o corticóide inalado, sendo mais útil na sibilância induzida por vírus e
na rinite alérgica.
Opção (E) – Incorreta. O diagnóstico de asma é essencialmente clínico, baseado nos episódios, nos fatores
de risco e na resposta à broncodilatação. A espirometria tem interesse para melhor caracterização da
asma, mas neste momento não é essencial, perante uma asma não controlada.
13. Uma mulher de 36 anos vem ao consultório médico por dificuldade progressiva em subir escadas e em
se levantar de cadeiras baixas desde há três meses. Ela refere dor nos punhos, ancas e joelhos, e ainda
dificuldade ligeira na deglutição nesse período de tempo. Ela não tem antecedentes patológicos de relevo
e não faz medicação. Os sinais vitais são temperatura 36,7°C, frequência respiratória 14/min, frequência
cardíaca 68/min e pressão arterial 110/70 mm Hg. O exame neurológico revela fraqueza proximal discreta,
reflexos preservados, sem alterações da sensibilidade. O exame dos pares cranianos dentro dos parâmetros
de normalidade. Não há evidência de artrite ao exame físico.
Justificação:
O caso descreve uma senhora de 36 anos com défice de força na cintura pélvica, associado a dores
articulares com envolvimento simétrico de articulações axiais e periféricas, assim como ligeira disfagia,
de evolução subaguda (3 meses). CK 600 U/L
Favorece a resposta D, como mais correta: o padrão de fraqueza muscular proximal de evolução subaguda,
elevação CK (ainda que modesta), dores articulares (fazendo parte do quadro ou eventualmente “overlap”
com outra doença inflamatória articular) e possível envolvimento esofágico (pela disfagia).
Este grupo de doenças hereditárias cursa com fraqueza muscular progressiva e atrofia que envolve as
cinturas escapulares e pélvica. A idade de início é variável, podendo ocorrer na idade adulta. Desfavorece,
neste caso, a hipótese colocada: envolvimento articular (que não acontece nesta doença), a evolução
subaguda, a ausência de menção a história familiar
B. Hipotiroidismo
Alguns doentes desenvolvem uma forma progressiva de fraqueza muscular proximal simétrica, podendo
registar-se elevação da CK. Desfavorece esta hipótese: ausência de menção a outros sintomas e sinais
coexistentes de hipotiroidismo, ausência de menção a reflexos miotáticos “pendulares” (devido ao atraso
do relaxamento muscular), não explica as dores articulares
C. Miastenia gravis
Neste diagnóstico seria de esperar flutuação nos sintomas (tendencialmente mais graves ao final do dia)
e envolvimento de outros sistemas (ocular ou bulbar). Não explica as dores articulares e geralmente não
vemos elevação de CK.
E. Triquinose
Durante a fase sintomática da doença (fase muscular) podem ocorrer dores musculares generalizadas
incapacitantes e articulares, assim como outros sintomas sistémicos. Desfavorecem esta hipótese: evolução
subaguda dos sintomas, padrão bem definido de envolvimento muscular, ausência de menção a contexto
de exposição (consumo de carne crua ou mal passada.
14. Um homem de 50 anos vem ao serviço de urgência por náuseas, vómitos, desconforto abdominal,
prostração e progressiva degradação do estado de consciência nos últimos dias. A esposa menciona que ele
teve perda de peso (6kg), astenia e hipotensão postural nos últimos três meses. Refere ainda que lhe nota
a pele mais escura, principalmente nos mamilos, que estão mais pigmentados. A história médica revela
diabetes mellitus. A medicação habitual inclui metformina + sitagliptina. Os sinais vitais são temperatura
36,2° C, frequência respiratória 13/min, frequência cardíaca 58/min e pressão arterial 96/42 mm Hg. Ao
exame físico encontra-se prostrado e confuso. Existem pequenas manchas hiperpigmentadas na mucosa
oral. A tiroide não é palpável. O abdómen é mole e depressível à palpação e revela desconforto difuso. A
auscultação cardíaca e pulmonar encontra-se dentro dos parâmetros de normalidade.
Soro Sangue
Glucose 130 mg/dL Hemoglobina 12,4 g/dL
Sódio 129 mEq/L Leucócitos 4200/mm2
TSH 0,1 µU/mL
Qual das seguintes alternativas melhor explica o quadro clínico dos últimos dois dias?
Justificação:
O caso descrito trata-se de insuficiência da suprarrenal (ISR) (pela anamnese sugestiva de insuficiência
da suprarrenal primária). O doente apresenta sintomas sugestivos de ISR, nomeadamente náuseas,
vómitos, dor abdominal, astenia, perda ponderal bem como sinais como a hipotensão, bradicardia e a
hiperpigmentação cutânea (decorrente do aumento de ACTH). Também apresenta alterações analíticas
sugestivas de ISR: hiponatremia. Sendo assim, a opção correta é a (C) Crise suprarrenal.
A opção (A) “Abdómen agudo” não está correta porque apesar de ser um diagnóstico diferencial, ao
exame objetivo não apresenta sinais sugestivos de irritação peritoneal.
A opção (B) “Cetoacidose diabética” está errada porque o doente apresenta glicemia normal, o que
torna o diagnóstico menos provável. Apesar dos inibidores da SGLT2 estarem associados a cetoacidose
euglicémica, contudo não temos dados suficientes para afirmar este diagnóstico.
A opção (D) “Enfarte agudo do miocárdio” está errada apesar de alguns enfartes do miocárdio apresentarem
com sintomas gastrointestinais, não possuímos dados suficientes para afirmar este diagnóstico.
A opção (E) “Hipertiroidismo” está errada, apesar da diminuição da TSH, os sintomas e os sinais
apresentados pelo doente não são sugestivos de hipertiroidismo. Esta alteração da TSH é muito
provavelmente enquadrável no euthyroid sick syndrome.
15. Mulher de 62 anos vem ao serviço de urgência por cefaleia localizada na nuca, mais forte e diferente de
todas as que já teve, associada a febre (38°C), com dois dias de evolução. Refere ainda fotofobia e náuseas.
Nega traumatismo recente. Ela tem antecedentes de convulsões na infância, que não se voltaram a repetir,
episódios de enxaquecas, de difícil controle. Os sinais vitais são temperatura 39,2° C, frequência cardíaca
98/min e pressão arterial 124/64 mm Hg. Ao exame físico está lúcida e colaborante, hidratada e anictérica.
Os fundos oculares não mostram alterações. A auscultação cardíaca e pulmonar encontra-se dentro dos
parâmetros de normalidade. O abdómen mole e depressível, não doloroso à palpação. Ela não tem edemas
dos membros inferiores. O exame neurológico revela rigidez de nuca, sem sinais neurológicos focais.
Qual dos seguintes é o próximo passo mais adequado na gestão desta doente?
(A) Eletroencefalograma
(B) Potenciais evocados
(C) Punção lombar
(D) RM cerebral
(E) TC do crânio
Proposta de resposta: (C ou E)
Justificação:
O caso descreve o caso de uma cefaleia numa senhora de 62 anos, com 2 dias de evolução, com sinais de
alarme: febre, alteração do padrão habitual (“mais forte e diferente de todas”), persistência da dor. Ao
exame destaca-se, também, estado de consciência conservado, presença de rigidez da nuca (que invoca
irritação meníngea) e ausência de edema da papila bilateral (que poderia sugerir aumento da pressão
intracraniana) ou outros défices neurológicos focais.
Também é referido que teve crises na infância, que não se voltaram a repetir e que tem diagnóstico prévio
de enxaqueca, de difícil controlo.
A punção lombar (resposta C) é um exame importante a considerar na marcha diagnóstica de um quadro
de cefaleia intensa com febre. A questão é se será o primeiro passo mais adequado na gestão da doente.
Uma diminuição súbita da pressão no líquido céfalo-raquidiano na presença de uma eventual lesão intra-
axial, pode levar a compressão de estruturas encefálicas vitais. Pode-se argumentar que um estado vígil e
consiente, a ausência de edema da papila e de défices neurológicos focais implicam baixo risco de presença
de complicações intracranianas, e que por isso poderemos avançar imediatamente para a punção lombar.
No entanto, são argumentos a favor da resposta E: a facilidade de acesso à tomografia cranioencefálica
em contexto de urgência e sua rapidez de execução, a possibilidade de realizar a punção lombar com
maior segurança e ser prática generalizada a sua realização antes da punção lombar, em circunstâncias
semelhantes ao caso descrito.
A. Eletroencefalograma
Este exame complementar não permite obter nenhuma informação diagnóstica adicional neste quadro,
que não é suspeito de etiologia primariamente epilética
B. Potenciais evocados
O argumento é o mesmo da resposta anterior, este exame é descontextualizado ao caso clínico apresentado
D. RM cerebral
Este meio complementar pode ser informativo, no caso apresentado. Contudo, a acessibilidade a este
exame pode estar reduzida no contexto de urgência e a duração do exame é maior do que uma tomografia
cranioencefálica. Nesta medida, em contexto de urgência, uma tomografia cranioencefálica é geralmente
mais acessível, mais rápida e igualmente informativa sobre a presença de eventuais complicações
intracranianas.
16. Um homem de 47 anos é trazido pela esposa ao serviço de urgência por dor abdominal severa. A esposa
refere que o marido sofre de úlcera péptica desde há seis meses e que tem hipertensão arterial. O doente
revela que teve dor retroesternal e epigástrica de início súbito, com irradiação para região dorsal média.
Ele diz: “É a minha úlcera, doutor. Eu não devia ter comido aquele caril!”. De manhã tomou antiácidos,
que não lhe aliviaram as dores. Os seus sinais vitais agora são temperatura 38° C, frequência respiratória
24/min, frequência cardíaca 140/min e pressão arterial 110/60 mm Hg. Ao exame físico apresenta fácies
de sofrimento e está em stress agudo. Na mesa de observações coloca-se em posição fetal. Ao exame físico
o abdómen está rígido e difusamente doloroso.
Justificação:
Este caso clínico retrata um doente com queixas de abdómen agudo por provável perfuração de úlcera
gástrica, dado o antecedente e o início súbito dos sintomas.
Esta questão em primeiro ligar não é totalmente coerente, dado que refere que a “dor retroesternal e
epigástrica de início súbito”, no entanto, mais à frente no enunciado refere “De manhã tomou antiácidos ,
que não lhe aliviaram as dores”
O segundo ponto é: neste doente será necessária uma intervenção cirúrgica, apresenta um abdómen agudo.
Neste caso o doente necessitaria de uma perfusão de IBP.
A resposta (B) é a que se encontra menos errada, porque nestes caso a fluidoterapia provavelmente será
necessária apesar do doente não se encontra hipotenso.
Apesar que no seu global a questão poderia ser melhor formulada, a fluidoterapia não estará errado fazer.
Opção (D) - Incorreta. Num doente com suspeita de perfuração de úlcera o tratamento seria cirúrgico.
Opção (E) - Incorreta. Não haverá indicação para recorrer a este meio complementar de diagnóstico.
17. Homem de 55 anos e trazido ao consultório médico pelo pai por alterações de comportamento com início
há três anos. Após um casamento com quase 30 anos de duração, o doente está divorciado desde há um
ano. O divórcio resultou da iniciativa da mulher, depois de esta ter descoberto que o doente tinha tido
relações extraconjugais com várias mulheres nos meses anteriores ao divórcio. Esta descoberta deixou
toda a família surpreendida, por não estar de acordo com a personalidade prévia do doente, marcada por
timidez. Por outro lado, apesar de ser um empresário bem-sucedido, a sua empresa está agora a ter algumas
dificuldades. O doente é menos assíduo ao trabalho e não consegue terminar os poucos projetos em que se
envolve. A história médica revela episódio depressivo grave há 10 anos, com recuperação completa sobre
tratamento instituído em consulta de psiquiatria, cuja natureza o doente não sabe reproduzir. O pai é
saudável, a mãe morreu aos 60 anos por complicações de síndrome demencial. O doente tem apresentação
descuidada e vestuário sujo, com uma postura desinibida e desadequada. Conta piadas obscenas e come
chocolates durante a consulta. Está vígil e orientado em todos os domínios. O discurso é pobre e repetitivo.
Não se apura atividade delirante ou alterações da sensório-perceção.
Justificação:
A resposta certa é a Opção (A), porque este quadro pautado por alteração do comportamento e personalidade,
com desinibição e desadequação, desleixo no auto-cuidado, hiperoralidade, hipersexualidade, com
compromisso funcional mas sem prejuízo de outras capacidades do foro cognitivo, na 6ª década de vida é
altamente sugestivo de uma demência fronto-temporal, mais especificamente da variante comportamental.
Relativamente às outras opções de resposta:
Opção (B) – Incorreta. A neurossifilis pode cursar com sintomas neuropsiquiátricos, contudo, o doente
não apresenta história nem alterações ao exame objetivo ou meios complementares de diagnóstico
sugestivos desta condição.
Opção (C) – Incorreta. O diagnóstico de perturbação afetiva bipolar pressupõe a ocorrência de episódios
depressivos e episódios da linha maniforme, o que não se verifica, pelo que podemos excluir esta hipótese.
Opção (D) – Incorreta. O diagnóstico de uma perturbação da personalidade pressupõe a existência de
um padrão persistente (tipicamente desde a adolescência) de experiência interna e comportamento que
se desvia acentuadamente das expectativas da cultura do indivíduo, que não é mais bem explicado como
uma manifestação ou consequência de outra perturbação mental e não é a outra condição médica (como
um traumatismo cranioencefálico ou quadro demencial). Uma vez que o presente quadro é sugestivo de
uma demência fronto-temporal com início na 6ª década de de vida, podemos excluir esta hipótese.
Opção (E) – Incorreta. O presente quadro é sugestivo de uma demência. Apesar de a infeção por VIH
poder condicionar sintomas neuropsiquiátricos, o doente não apresenta história nem alterações ao exame
objetivo ou meios complementares de diagnóstico sugestivos desta patologia, pelo que podemos excluir
esta hipótese.
18. Um homem de 43 anos vem a consulta referindo dor lombar episódica, mais acentuada à direita, desde
a seis meses. Atualmente assintomático, pretende esclarecer se se trata de uma complicação de eventuais
quistos renais. Tem antecedentes de protrusão discal, com compressão radicular direita, submetida a
discectomia há dois anos. A medicação inclui Ibuprofeno (SOS). Tem antecedentes familiares de doença
renal poliquística (avô materno e um primo). Os sinais vitais são temperatura 36°C, frequência respiratória
15/min, frequência cardíaca 78/min e pressão arterial 139/89 mm Hg. Ele tem 176 cm de altura e pesa
84 kg; IMC 27 kg/m2. O exame físico revela bom estado geral. A auscultação cardíaca e pulmonar não
apresenta alterações patológicas. O abdómen está mole e depressível à palpação. A palpação bimanual da
região lombar é dolorosa e sem massas identificáveis.
Qual das seguintes alternativas é a complicação mais provável da atual condição deste doente?
Justificação:
Renal autossómica dominante, pela sintomatologia de dor lombar, antecedentes familiares, bem como
o facto da ecografia revelar a presença de dois quistos renais no rim direito. Tendo em conta todas as
opções listadas, aquela que mais frequentemente surge associado a esta patologia são as infeções urinárias,
nomeadamente a Pielonefrite.
Opção (A) - Incorreta. Não se encontra associado a um risco muito elevado de neoplasia.
Opção (B) - Incorreta. A Doença hepática poliquística é de facto muito frequente, mas é a complicação
extra-renal mais frequente.
Opção (C) - Incorreta. A Doença hepática poliquística associa-se ao surgimento de quistos no parênquima
renal e não ao surgimento de cálculos.
Opção (E) - Incorreta. O problema é estrutural e existe diminuição da taxa de filtração, no entanto, por
não ser uma patologia da membrana glomerular, apesar de poder ocorrer proteinúria, não é algo tão
frequente.
19. Um homem de 18 anos é trazido ao consultório pela sua mãe por perda de apetite, suores noturnos e
perda de peso de 4,5 kg desde há duas semanas. Ele diz: “Não me apetece fazer nada”. Não tem diarreia,
eritema ou tosse. Não há história de trauma recente, viagem ao estrangeiro ou picada de inseto ou outro
animal. É um estudante aplicado, do 12º ano, e está envolvido em muitas atividades extracurriculares.
Não está sexualmente ativo e não consome drogas ilícitas. Nunca estive hospitalizado. Ele tem 175 cm de
altura e pesa 55 kg, IMC 18 kg/m2. Os sinais vitais são temperatura 37°C, frequência respiratória 20/min,
frequência cardíaca 84/min e pressão arterial 108/64 mm Hg. Ao exame físico está pálido e emagrecido.
A auscultação cardíaca e pulmonar encontra-se dentro dos parâmetros da normalidade. Palpa-se um
nódulo de 3 x 4 cm na região supraclavicular direita.
Qual das seguintes alternativas é a causa subjacente mais provável do quadro atual do doente?
Justificação:
O caso clínico descrito é de um doente jovem com sintomas B (sudorese noturna e perda ponderal)
e ao exame objetivo destaca-se um nódulo de 3x4cm sugestivo de adenopatia. Ausência de contexto
epidemiológico, nomeadamente intercorrências infecciosas.
A resposta certa é a Opção (C - linfoma) pela apresentação sugestiva de adenopatia patológica e sintomas
B. Relativamente às outras opções de resposta:
Opção (A- carcinoma metastático do testículo) – Incorreta. Apesar de a idade ser concordante com a
epidemiologia deste carcinoma, a localização da adenopatia supraclavicular direita e ausência de descrição
no exame objetivo de outras adenopatias ou alterações testiculares, tornam esta hipótese pouco provável
Opção (B- leucemia aguda) – Incorreta. Apesar da presença de sintomas constitucionais de evolução
aguda e adenopatia ser possível num quadro de leucemia linfoblástica, seria expectável a presença de
outras alterações no exame objetivo como outras adenopatias e/ou organomegalias e sintomas atribuíveis
a sinais de falência medular, tornando menos provável esta opção.
Opção (D- mononucleose) – Incorreta. A ausência da febre, esplenomegalia e as características da
adenopatia (única e de grandes dimensões), torna esta hipótese menos provável
Opção (E) – Incorreta. A ausência de fatores de risco (doente não sexualmente ativo e sem consumo de
drogas ilícitas), torna esta hipótese pouco provável.
20. Uma mulher de 48 anos vem ao consultório médico por irregularidades menstruais desde há um ano.
Os ciclos menstruais duram 45-60 dias com menstruações abundantes, por vezes com coágulos com 8
dias de duração. Teve menarca aos 12 anos. Gesta 2, para 2 (partos eutócicos sem intercorrências). A
data da última menstruação foi há 21 dias. A história médica revela laqueação tubar bilateral há quatro
anos e asma medicada com salbutamol. Não tem antecedentes familiares de relevo. Os sinais vitais são
temperatura 36,1°C, frequência respiratória 12/min, frequência cardíaca 72/min e pressão arterial 122/71
mm Hg. Ela tem 163 cm de altura e pesa 65 kg, IMC 24,5 kg/m2. O exame físico, incluindo o ginecológico,
não apresenta alterações de relevo.
Soro Sangue
FSH 28 mU/mL Eritrócitos 4,1 x 106/mm3
TSH 4,5µU/mL Hemoglobina 14 g/dL
Tiroxina (T4) 120 nmol/L Hematócrito 38%
Leucócitos 4 500/mm3
Plaquetas 330 x 109/L
Qual das seguintes alternativas é a causa que melhor explica as queixas desta mulher?
Justificação:
O caso clínico descreve uma mulher de 48 anos com irregularidades menstruais desde há 1 ano, com
aumento da FSH, o que sugere um período de perimenopausa. A maior frequência de ciclos anovulatórios
na transição menopáusica tardia introduz uma tendência para um aumento da duração dos ciclos, e,
posteriormente, amenorreia.
A resposta certa é a Opção (A), porque dadas as irregularidades menstruais, os ciclos menstruais longos
de 45-60 dias e os níveis de FSH aumentados (>25-40) definem os ciclos anovulatórios.
Relativamente às outras opções de resposta:
Opção (B) – Incorreta. Os níveis de T4 estão dentro dos limites do normal, pelo que a doente não tem
hipotiroidismo.
Opção (C) – Incorreta. A Insuficiência ovárica prematura pressupõe idade inferior a 40 anos, períodos
de oligoamenorreia ou amenorreia de 4 com uma evolução mínima de 4 meses e elevação da FSH (25-
40 UI/L) em 2 avaliações separadas por 4-6 semanas. Não existe informação quanto a positividade para
21OH-Ab ou TPO-Ab, pelo que esta não parece ser a hipótese mais correta (Consensos de Menopausa
2021 pág. 116).
Opção (D) – Incorreta. A Laqueação tubária não tem efeito na função hormonal, nem no ciclo menstrual
(Consensos de Contracepção 2020, pág 60).
Opção (E) – Incorreta. A alteração da FSH é mais sugestiva de ciclos anovulatórios e é independente da
existência de pólipos endometriais. Os pólipos habitualmente, quando sintomáticos, manifestam-se mais
frequentemente sob a forma de hemorragia intermenstrual ( e não menstruações abundantes como no
caso apresentado). Contudo, podem também ser responsáveis por hemorragia prolongada ou menstrual
abundante, sendo fator etiológico HUA na perimenopausa em 10 a 11,2% dos casos (Consensos de
Hemorragia Uterina Anormal, pág.49 e pág. 67).
21. Um homem de 49 anos, empregado numa livraria, vem à consulta hospitalar para vigilância. Ele tem
antecedentes de colite ulcerosa total com 20 anos de evolução e colangite esclerosante primária há 5 anos.
Encontra-se assintomático. Os sinais vitais são temperatura 36,8⁰C, frequência cardíaca 89/min e pressão
arterial 100/55 mm Hg. O exame físico encontra-se dentro dos parâmetros da normalidade.
Soro Sangue
AST 25 U/L Hemoglobina 11,0 g/dL
ALT 78 U/L Tempo de protrombina 15 segundos
y-glutamil transferase (GGT) 220 U/L
Cálcio total 8,0 mg/dL
Proteínas
Albumina 3,0 g/dL
Qual das seguintes alternativas representa a estratégia de vigilância mais adequada, neste doente?
A vinheta questiona a estratégia de vigilância de um doente com Colite Ulcerosa com 20 anos de evolução,
associada a Colangite Esclerosante Primária (CEP).
A resposta certa é a Opção A. Na colite ulcerosa está recomendada a realização de colonoscopia com
cromoendoscopia em doentes com colite esquerda ou pancolite com ≥8 anos de duração. No entanto, a
presença de CEP confere um risco aumentado de CCR e colangiocarcinoma, pelo que neste doentes está
recomendada colonoscopia anual após diagnóstico de CEP.
Opção (B) – Incorreta. O doseamento de CEA a cada 3-6 meses está indicado nos primeiros dois anos
após cirurgia de resseção de carcinoma colorrectal.
Opção (C) – Incorreta. Não é um método de rastreio recomendado em doentes com DII ou na população
geral.
Opção (D) – Incorreta. Não é um método de rastreio recomendado em doentes com DII ou na população
geral.
Opção (E) - Incorreta. Após cirurgia de CCR, algumas diretrizes sugerem a realização de TC abdominal
anual nos primeiros 5 anos, no entanto a sua realização é discutível.
22. Uma mulher de 45 anos, de origem asiática, vem ao consultório médico por episódios de perda de urina
quando ri, tosse, corre ou salta, desde há um ano e com agravamento progressivo. Nega polaquiúria,
nictúria ou queixas gastrointestinais. Os antecedentes ginecológicos são menarca aos 12 anos, ciclos
menstruais de 28 dias; coitarca aos 22 anos; gesta 4 e para 4 (partos vaginais a termo, de recém-nascidos
com peso 3610 g e 4200 g). Ela não tem antecedentes pessoais relevantes. Faz contraceção com dispositivo
intrauterino de cobre desde há oito anos. Os antecedentes familiares incluem pai com hérnia inguinal
aos 70 anos, corrigida cirurgicamente. Os sinais vitais são temperatura 36⁰C, frequência respiratória 14/
min, frequência cardíaca 68/min e pressão arterial 112/70 mm Hg. Ela mede 158 cm de altura e pesa 65
Kg; IMC 26 kg/m2. O exame físico revela cistocelo estadio II (Pelvic Organ Prolapse Quantification). O
restante exame físico encontra-se dentro dos parâmetros de normalidade.
Qual dos seguintes é o fator de risco que mais contribui para o quadro clínico desta doente?
O caso descrito descreve uma doente com clínica típica de incontinência de esforço associado a um
cistocelo. Esta patologia está fortemente associada a fatores de risco descritos na bibliografia que têm
por base alterações na função de suporte do pavimento pélvico. Um dos principais de fatores de risco
associados a esta patologia são os antecedentes obstétricos, nomeadamente antecedentes de partos vaginais.
A multiparidade associa-se a um enfraquecimento das estruturas de suporte pélvico. Deste modo, a opção
correta é a opção E -Paridade.
Opção A – Excesso de peso – Incorreta – A obesidade é uma condição clínica associada ao aumento da
pressão intra-abdominal e consequentemente associado a disfunção do pavimento pélvico. Esta doente
encontra-se apenas com um IMC caraterístico de excesso de peso, pelo que não é o fator de risco que
melhor justifica a etiologia destas alterações.
Opção B – História Familiar – Incorreta - Antecedentes familiares não estão descrito como fator de risco
associado a patologias do pavimento pélvico.
Opção C – Idade – Incorreta – A idade avançada é considerada um fator de risco, muitas vezes em mulheres
na menopausa. Esta doente encontra-se numa faixa etária ainda na pré-menopausa, pelo que não é o fator
de risco que melhor justifica a etiologia destas alterações.
Opção D – Origem etnográfica – Incorreta – A origem etnográfica não é o fator de risco associado às
patologias do pavimento pélvico.
23. Um lactente de 4 meses é trazido à consulta de pediatria por má evolução ponderal. A mãe refere
associadamente seis a oito dejeções diarreicas diárias, líquidas de cor clara, aparência oleosa e odor
fétido. A gestação foi vigiada e decorreu sem intercorrências. O parto foi de termo às 39 semanas e a
antropometria adequada à idade gestacional. Há referência a três crises prévias de pieira, desde o 1º mês
de vida, com tosse persistente nos intervalos entre crises. Ele tem 52,5 cm de comprimento (P25) e pesa
5200g (P3). Ao exame físico apresenta crepitações dispersas bilateralmente na auscultação pulmonar,
distensão abdominal e eritema perianal, sem outras alterações de relevo.
Qual das seguintes alternativas é a mais adequada para estabelecer o diagnóstico etiológico mais provável?
A resposta certa é a Opção (D), porque perante a suspeita de fibrose quística, o teste mais adequado é o
Teste de Suor.
Opção (A) – Incorreta. O doseamento de elastase fecal é útil nos casos de esteatorreia, no entanto, este
lactente apresenta mais do que só esteatorreia, tendo um historial de infeções respiratórias e uma má
evolução estato-ponderal subjacente, sendo o caso mais sugestivo de fibrose quística e, por isso, o exame
mais adequado o Teste de Suor.
Opção (B) – Incorreta. Neste momento o lactente não apresenta nenhum quadro sugestivo de infeção
respiratória, pelo que este exame seria muito pouco útil.
Opção (C) – Incorreta. Os exames bacteriológico e parasitológico de fezes podem ser úteis no estudo da
diarreia crónica, no entanto, este lactente apresenta um quadro mais sugestivo de fibrose quística e, por
isso, o exame mais adequado o Teste de Suor.
Opção (E) – Incorreta. Neste momento o lactente não apresenta nenhum quadro sugestivo de infeção
respiratória, pelo que este exame seria muito pouco útil.
24. Uma mulher de 73 anos, lavradora, vem à consulta hospitalar por lesão sangrante na face anterior da
perna esquerda com três meses de evolução. Descreve aumento progressivo do tamanho e hemorragia
recorrente e que «não cicatriza». Não tem outras queixas. A história médica inclui coxartrose direita.
Ela não faz medicação habitual. Ao exame físico apresenta-se com bom estado geral. Verifica-se lesão
ulcerada na face anterior da perna esquerda, dura e infiltrativa, com cerca de 3 cm de maior diâmetro,
sem hemorragia ativa. Existe conglomerado adenopático de 7 cm palpável na região inguinal direita. O
restante exame físico encontra-se dentro dos parâmetros de normalidade.
O caso clínico descreve uma mulher idosa com risco elevado de exposição solar (lavradora), com uma
lesão dura, infiltrativa com hemorragia recorrente que tem aumentado de tamanho nos últimos 3 meses,
associado a um conglomerado adenopático de 7 cm na região inguinal direita, sugerindo a presença de
um melanoma com metastização ganglionar local.
A resposta certa é a Opção (C), porque o caso clínico sugere um melanoma, pela evolução clínica, fatores
de risco (exposição solar) e características clínicas (lesão hemorrágica com aumento de tamanho, dura,
infiltrativa; com invasão ganglionar). O primeiro passo é fazer o diagnóstico. O diagnóstico definitivo do
melanoma é histológico. Neste caso, a biópsia da lesão cutânea é o meio complementar de diagnóstico
mais adequado no melanoma.
Opção (A) – Incorreta. Esta doente tem uma lesão dura, infiltrativa e com hemorragia recorrente no
membro inferior, sem sinais inflamatórios locais ou sistémicos, nem outros sinais sugestivos de infeção,
pelo que não estaria recomendada antibioterapia nesta fase.
Opção (B) – Incorreta. O caso clínico sugere um melanoma, pela evolução clínica, fatores de risco
(exposição solar) e características clínicas (lesão hemorrágica com aumento de tamanho, dura, infiltrativa;
com invasão ganglionar). O primeiro passo é fazer o diagnóstico, através da biópsia da lesão. A doente não
tem sinais inflamatórios aparentes, pelo que os anti-inflamatórios não esteroides não seriam o próximo
passo neste caso.
Opção (D) – Incorreta. O caso clínico sugere um melanoma, pela evolução clínica, fatores de risco
(exposição solar) e características clínicas (lesão hemorrágica com aumento de tamanho, dura, infiltrativa;
com invasão ganglionar). O primeiro passo é fazer o diagnóstico, através da biópsia da lesão. Após essa
confirmação diagnóstica, o correto estadiamento deve ser realizado e, nessa fase sim, teria interesse a
biópsia ganglionar.
Opção (E) – Incorreta. O ecodoppler arterial estaria indicado na avaliação de uma úlcera de causa
arterial, como por exemplo na doença arterial periférica. Nesse caso, a doente teria provavelmente
como antecedentes pessoais vários fatores de risco cardiovasculares (diabetes mellitus mal controlados,
tabagismo, dislipidemia, hipertensão arterial, sedentarismo), que não são mencionados e teria outro tipo
de sintomas como a claudicação intermitente, que se pode supor que a doente não tem uma vez que a sua
atividade profissional exige grande esforço físico.
25. Um homem de 43 anos vem à consulta por pé direito pendente. Refere ter tido, no início da semana
anterior, uma dor de intensidade elevada na face anterior da perna direita e febre vespertina (39⁰C) durante
3 dias consecutivos. No dia seguinte não conseguia fazer dorsiflexão do pé direito. Tem antecedentes de
rinite e polipose nasal desde a adolescência. Tem história de asma brônquica de difícil controlo, apesar
de terapêutica inalatória máxima, desde os 20 anos. Os sinais vitais são temperatura 36,5⁰C, frequência
respiratória 16/min, frequência cardíaca 78/min e pressão arterial 126/68 mm Hg. Ele tem 175 cm de altura
e pesa 104 kg; IMC 34Kg/m2. A auscultação cardíaca revela sons presentes sem sopros. A auscultação
pulmonar revela diminuição global dos sons respiratórios e raros sibilos tele-expiratórios. O abdómen
está mole e depressível à palpação. O exame neurológico revela paresia completa da dorsiflexão do pé
direito, reflexo aquiliano direito abolido. O restante exame físico encontra-se dentro dos parâmetros de
normalidade.
Soro Sangue
Creatinina 0,8 mg/dL Hemoglobina 13,0 g/dL
Glucose 88 mg/dL VGM 85 fL
Proteína C reativa 90 mg/L HCM 31 pg
T3 100 ng/dL Leucócitos 30000/mm3
T4 4 µg/dL Neutrófilos, segmentados 33%
TSH 2,0 µU/mL Linfócitos 10%
Ácido fólico 14 ng/mL Eosinófilos 15%
[N=3-17 ng/mL]
Vitamina B12 700 pg/mL Velocidade 110 mm/1.ahora
[N=195-700 pg/mL] de sedimentação
eritrocitária
As serologias da sífilis, VIH 1 e 2 são negativas. O estudo serológico revela anticorpos antinucleares
negativos e anticorpos anticitoplasma dos neutrófilos positivos, ainda sem identificação do tipo. O exame
sumário da urina não apresenta alterações. A eletromiografia revela abolição dos potenciais motores do
nervo tibial anterior direito.
Justificação:
Opção A – Arterite de células gigantes INCORRETO – A ACG é uma vasculite de grandes vasos
predominantemente, com envolvimento frequente dos vasos extra-cranianos. Afeta tipicamente idosos,
sendo altamente improvável (para não dizer impossível) antes dos 50 anos. A clínica habitualmente
apresenta características do envolvimento dos vasos extra-cranianos (cefaleia persistente, claudicação da
mandíbula, diplopia/amaurose, dor à palpação da área temporal). Envolvimento dos vasa nervorum com
neuropatia periférica não acompanha a clínica da ACG.
Opção B – Doença de Behçet INCORRETO – A Doença de Behçet seria um diagnóstico muito pouco
provável neste caso tendo em conta a ausência de aftose oral e/ou genital. A neuropatia periférica é uma
possível manifestação do Behçet contudo isoladamente e ainda, por cima com um contexto imunológico
a apontar para outro tipo de vasculite, torna o diagnóstico pouco provável
26. Um homem de 52 anos vem à consulta para aconselhamento sobre imunização prévia a uma viagem
intercontinental. Ele e a sua esposa planeiam uma viagem de três meses ao Brasil para visitar a sua mãe, que
vive num apartamento numa cidade perto de uma floresta tropical. Eles planeiam ainda fazer um cruzeiro
de duas semanas pelo rio Amazonas. A história médica revela artrite reumatoide, diabetes mellitus tipo
2 e hipertensão arterial. A medicação habitual inclui adalimumab, hidroclorotiazida e metformina. Ele é
um veterano das forças armadas e fez a vacina contra a febre amarela há 30 anos. Os sinais vitais e o exame
físico encontram-se dentro dos parâmetros de normalidade. O doente pergunta se deverá receber outra
dose da vacina contra a febre amarela antes desta viagem.
Qual dos seguintes fatores justifica o fato de a administração de nova dose da vacina contra a febre amarela
ser inapropriada neste momento?
Justificação:
O caso clínico descrito refere-se à imunização contra a febre amarela num homem medicado com
imunomodulador que irá 3 meses para uma área endémica cuja última dose foi há mais de 30 anos.
A resposta certa é a Opção (E), porque uma das contraindicações para a realização da vacina contra
a febre amarela, uma vacina viva atenuada, é a realização de imunomoduladores como o adalimumab.
Relativamente às outras opções de resposta:
Opção (A) – Incorreta. A vacina contra a febre amarela está indicada em todos os indivíduos com 9 meses
ou mais de idade que viagem para áreas endémicas, como a África ou América do Sul , como é o caso, e
que não possuam nenhuma contraindicação (ex: imunodepressão, toma de imunomoduladores, grávidas
e mulheres em amamentação)
Opção (B) – Incorreta. A vacina contra a febre amarela está indicada em todos os indivíduos com 9 meses
ou mais de idade que viagem para áreas endémicas, como a África ou América do Sul , como é o caso, e
que não possuam nenhuma contraindicação (ex: imunodepressão, toma de imunomoduladores, grávidas
e mulheres em amamentação)
Opção (C) – Incorreta. A vacina contra a febre amarela tem imunidade vitalícia, e portanto, a generalidade
das pessoas não necessita de realizar novamente a vacina. No entanto, em alguns casos, pode ser necessário
um reforço da vacina, como em indivíduos cuja última dose da vacina contra a febre amarela foi há mais
de 10 anos e planeiam passar um período prolongado em áreas endêmicas, especialmente durante época
de maior transmissão, por exemplo. Isto pode justificar o facto de esta alínea estar menos correta.
Opção (D) – Incorreta. A vacina contra a febre amarela está indicada em todos os indivíduos com 9 meses
ou mais de idade que viagem para áreas endémicas, como a África ou América do Sul , como é o caso, e
que não possuam nenhuma contraindicação (ex: imunodepressão, toma de imunomoduladores, grávidas
e mulheres em amamentação).
27. Um homem de 78 anos vem ao serviço de urgência por dor torácica anterior, de grande intensidade,
referida como «sensação de rasgar por dentro», com irradiação à região dorsal, desde a noite passada. O
doente está bastante queixoso e refere dor 9/10. Os antecedentes médicos incluem hipertensão arterial,
tabagismo (45 UMA) e dislipidemia. Os sinais vitais são temperatura 36⁰C, frequência respiratória 22/
min, frequência cardíaca 100/min e pressão arterial 200/100 mm Hg. A auscultação cardíaca revela S1
e S2 presentes sem sopros. A auscultação pulmonar revela sons presentes bilateralmente sem ruídos
adventícios. O restante exame físico encontra-se dentro dos parâmetros de normalidade.
Soro Sangue
Creatinina 0,9 mg/dL Hemoglobina 14 g/dL
Ureia 40 mg/dL [N=10-40 mg/dL] HCM 31 pg/célula
AST 23 U/L VGM 95 fL
ALT 24 U/L Leucócitos 9100/mm3
Proteína C reativa 0,3 mg/L Plaquetas 198 × 109 /L
Troponina 0,1 ng/L [N=0-14 ng/L]
O Eletrocardiograma revela sinais de hipertrofia ventricular esquerda.
Qual dos seguintes exames é mais adequado solicitar para estabelecer o diagnóstico?
Justificação:
O caso clínico descrito é de um homem de 78 anos que recorreu ao Serviço de Urgência por dor torácica
anterior intensa (9/10), descrita como «sensação de rasgar por dentro», com irradiação dorsal. Trata-se
de um doente com vários fatores de risco cardiovascular – hipertensão arterial, dislipidemia e tabagismo.
Na admissão apresenta hipertenso (pressão arterial 200/100 mmHg). Analiticamente apresenta troponina
dentro dos limites de referência. O eletrocardiograma revela sinais de hipertrofia ventricular esquerda.
A opção correta é a opção (A), angio-TC torácica. O quadro descrito é altamente sugestivo de dissecção
da aorta, pelo facto de se tratar de um homem de 78 anos com múltiplos fatores de risco cardiovascular e
com dor torácica intensa descrita em rasgadura e com irradiação ao dorso. Assim, a angioTC é o exame
recomendado como 1ª linha para confirmar a suspeita de diagnóstico e avaliar a extensão da dissecção.
Opção (B) – Incorreta. Embora o doente se apresenta com dor torácica, a dor é sugestiva de síndrome
aórtico agudo (dissecção aórtica) e não de enfarte agudo do miocárdio. Por esse motivo, a realização de
cateterismo não é a estratégia mais correta.
Opção (C) – Incorreta. As queixas do doente são compatíveis com dissecção aórtica, sendo que a cintigrafia
de ventilação/perfusão não tem papel no diagnóstico desta patologia.
Opção (D) – Incorreta. A hipertensão arterial é o principal fator de risco para dissecção da aorta e por
isso seria importante a longo prazo monitorizar e optimizar o controlo tensional do doente. Contudo,
perante um quadro compatível com dissecção aórtica a prioridade é a abordagem imediata do quadro com
o diagnóstico por angioTC e eventualmente cirurgia em caso de indicação. Como tal, o MAPA não seria
um exame a solicitar no contexto agudo.
Opção (E) – Incorreta. A radiografia torácica não permite estabelecer o diagnóstico definitivo de
dissecção aórtica, pelo que não seria o exame prioritário a realizar, uma vez que a prioridade é confirmar
o diagnóstico por se tratar de uma situação com elevado risco de morte.
28. Um lactente de 6 meses é trazido ao consultório médico por vómitos persistentes, não biliares, com
um dia de evolução. O débito urinário diminuiu ligeiramente durante este período de tempo. Não teve
febre, exantemas, tosse ou diarreia. Nasceu às 34 semanas de gestação, após parto espontâneo. Não tem
antecedentes patológicos de relevo e não faz medicação habitual. Os sinais vitais são temperatura retal 37,6⁰C,
frequência cardíaca 160/min, frequência respiratória 44/min e pressão arterial 80/40 mm Hg. Encontra-
se no percentil 50 de comprimento, 75 de peso e 90 de perímetro cefálico. Ao exame físico apresenta-se
alerta e irritado, mas consolável ao colo materno. O abdómen está mole, ligeiramente distendido, mas sem
defesa. As extremidades estão frias com pulsos distais ligeiramente mais fracos que os proximais. O exame
genital revela pénis circuncisado. O testículo esquerdo é facilmente palpável no hemiescroto esquerdo; o
testículo direito é difícil de individualizar por tumefação palpável no hemiescroto direito, com aparente
extensão até ao anel inguinal. O restante exame físico encontra-se dentro dos parâmetros de normalidade.
Qual dos seguintes sinais e sintomas é mais específico do diagnóstico desta criança?
Justificação:
O caso clínico descreve uma hérnia inguinal direita num lactente. O sinal mais específico é a objetivação de
uma “tumefação palpável no hemiescroto direito, com aparente extensão até ao anel inguinal”. Enquadra-
se o quadro de vómitos persistentes, não biliares. Como fator de risco, é pre-termo (34 semanas).
A resposta certa é a Opção (D) (vide supra). Relativamente às outras opções de resposta:
Opção (B) – Aumento do volume do hemiescroto direito. Sinal mais compatível com outros diagnósticos
(torção testicular, epididimite).
Opção (E) – Vómitos persistentes. Sinal importante mediante a hipótese de um quadro oclusivo intestinal,
mas inespecífico da etiologia do mesmo.
29. Uma mulher de 31 anos vem ao serviço de urgência por dor na mama esquerda desde há um dia. Teve um
parto por cesariana, a termo, por trabalho de parto estacionário, há 10 dias. Foi a primeira gravidez, bem
vigiada e decorreu sem complicações. O recém-nascido é saudável, pesava 3420g ao nascimento, e está
sob aleitamento materno exclusivo. A mulher usa discos de amamentação absorventes para evitar sujar-se
pois tem «muito leite». Os sinais vitais são temperatura 38,3⁰C, frequência respiratória 13/min, frequência
cardíaca 90/min e pressão arterial 125/85 mm Hg. Ao exame ginecológico verifica-se útero bem involuído,
lóquios normais e incisão operatória sem sinais inflamatórios e com boa evolução cicatricial. A mama
esquerda apresenta fissura mamilar com 5 mm e zona de eritema e edema no quadrante súpero-externo,
mal delimitada e sem sinal de flutuação. Na axila esquerda palpa-se nódulo móvel, doloroso e de contornos
regulares, com 2 cm de maior diâmetro. O restante exame físico encontra-se dentro dos parâmetros de
normalidade.
Justificação:
O caso clínico descreve uma mulher no 10º dia de puerpério cirúrgico a amamentar de forma exclusiva.
Apresenta-se com febre (temperatura 38,3ºC), fissura mamilar e sinais inflamatórios ao nível da mama
esquerda, sem flutuação. É descrito um nódulo axilar doloroso, móvel, provavelmente correspondente a
uma adenopatia reativa.
A resposta certa é a Mastite puerperal (E), já que se trata de uma puérpera que se apresenta com febre,
dor mamária e sinais inflamatórios na mama, sem tumefações delimitáveis, sinal de flutuação ou febre
persistente. A fissura mamilar é o principal fator de risco para o aparecimento de infeções mamárias no
decurso da amamentação.
Opção(A) Abcesso mamário – Incorreta. Não existem tumefações delimitáveis, sinal de flutuação ou febre
persistente.
Opção (B) Dermatite de contacto – Incorreta. A dermatite de contacto não cursa com dor local ou febre.
Opção (C) Galactocelo – Incorreta. O galactocelo corresponde à obstrução de um ducto galactóforo que
origina uma formação quística com retenção de leite, sob tensão, mas sem sinais inflamatórios
Opção (D) Ingurgitamento mamário – Incorreta. O ingurgitamento cursa com dor e edema mamário
bilateral, sem febre.
30. Uma recém-nascida é observada no serviço de urgência aos 10 dias de vida por febre (temperatura
retal 40⁰C), gemido e recusa alimentar com 18 horas de evolução. A gestação foi vigiada e a pesquisa de
Streptococcus do grupo B foi negativa. O parto foi eutócico, tendo ocorrido 10 horas após a rutura de
membranas. A antropometria ao nascimento era adequada à idade gestacional e teve alta no 2º dia de
vida. Ao exame físico apresenta-se hipotónica e pouco reativa, com lesões cutâneas vesiculares no couro
cabeludo.
Soro Sangue
Glucose 80 mg/dL Leucócitos 20000/mm3
AST 330 U/L Neutrófilos, segmentados 25 %
ALT 400 U/L
Proteína C reativa 5 mg/L
Líquido cefalorraquidiano
Células 100/mm3
Mononucleares 90 %
Glucose 60 mg/dL
Proteínas 120 mg/dL
Qual das seguintes alternativas terapêuticas irá, mais provavelmente, alterar o curso da doença?
(A) Aciclovir
(B) Ampicilina + cefotaxima
(C) Amplicilina + gentamicina
(D) Ganciclovir
(E) Gentamicina + vancomicina
Justificação:
O caso clínico descreve uma recém-nascida com 10 dias de vida com febre elevada, gemido e recusa
alimentar com 18h de evolução, apresentando-se hipotónica, pouco reativa e com lesões vesiculares no
couro cabeludo, bem como com um LCR com muitas células mononucleares, o que nos faz suspeitar de
uma encefalite.
A resposta certa é a Opção (A), porque é essencial na suspeita de uma encefalite (vs. meningite vírica cujo
tratamento é essencialmente sintomático).
Opção (B) – Incorreta. Esta recém-nascida apresenta um quadro sugestivo de encefalite e tem ainda
associadas lesões vesiculares no couro cabeludo, pelo que não há indicação para iniciar antibioterapia,
mas sim o aciclovir.
Opção (C) – Incorreta. Esta recém-nascida apresenta um quadro sugestivo de encefalite e tem ainda
associadas lesões vesiculares no couro cabeludo, pelo que não há indicação para iniciar antibioterapia,
mas sim o aciclovir.
Opção (E) – Incorreta. Esta recém-nascida apresenta um quadro sugestivo de encefalite e tem ainda
associadas lesões vesiculares no couro cabeludo, pelo que não há indicação para iniciar antibioterapia,
mas sim o aciclovir.
31. Um homem de 70 anos vem à consulta por astenia de instalação progressiva nos últimos seis meses, sem
outros sintomas. Tem antecedentes de hipertensão arterial controlada com losartan. Os sinais vitais são
temperatura 36⁰C, frequência respiratória 16/min, frequência cardíaca 68/min e pressão arterial 130/70
mm Hg. Ao exame físico observa-se palidez da pele e mucosas; escleróticas anictéricas. A auscultação
cardíaca e pulmonar encontra-se dentro dos parâmetros da normalidade. O abdómen está mole e
depressível; sem organomegalias palpáveis.
Soro Sangue
Creatinina 1,0 mg/dL Hemoglobina 9,0 g/dL
Ureia 40 mg/dL [N=10-40 mg/dL] VGM 99 fL
Glucose 106 mg/dL Leucócitos 4100/mm3
Ferro 50 µg/dL Neutrófilos 65%
Ferritina 150 ng/mL Linfócitos 23%
LDH 80 U/L Plaquetas 125 × 109/L
Bilirrubina total 0,8 mg/dL
Justificação:
O caso clínico descrito é de um homem de 70 anos com antecedentes de HTA e quadro de astenia
arrastada. Objetivamente destaca-se a palidez. Analiticamente com bicitopenia (anemia 9 com VGM 99 e
trombocitopenia 125000) e bioquímica sem alterações.
A resposta certa é a Opção (E- síndrome mielodisplásico). Trata-se de um caso clínico caracterizado por
bicitopenia com provável evolução arrastada, pela sintomatologia descrita (astenia 6 meses de evolução).
A faixa etária deste doente é compatível com diagnóstico de síndrome mielodisplásico. Relativamente ás
outras opções de resposta:
Opção (A- anemia de doença crónica) – Incorreta. A ausência de antecedentes relevantes, ferritina dentro
dos valores de referência e bicitopenia não se enquadram num quadro de anemia por doença crónica,
tornando pouco provável esta opção
Opção (B- anemia hemolítica imune) – Incorreta. Bioquímica sem sinais de hemólise (bilirubina total
normal, LDH normal) torna esta opção incorreta.
Opção (D- mieloma) – Incorreta. A eletroforese proteínas séricas dentro da normalidade torna a hipótese
muito improvável.
32. Uma mulher de 34 anos vem ao consultório médico por fraqueza com evolução progressiva nos últimos dois
meses. Neste período teve três episódios de parestesias com perda de sensibilidade nos membros superiores,
bilateral e simétrica, acompanhadas de dor nos punhos. Ela refere ainda perda de memória e dificuldade
de concentração de ideias. Há cerca de 15 dias, desenvolveu visão turva com dor ligeira à mobilização do
olho direito. Ela tem antecedentes de perturbação de ansiedade generalizada e de traumatismo cervical
em acidente de viação há 12 anos, com fissura vertebral de C7 tratada conservadoramente. A medicação
habitual inclui etinilestradiol e levonorgestrel. Os sinais vitais são temperatura 36⁰C, frequência cardíaca
72/min e pressão arterial 138/76 mm Hg. Ela tem 171 cm de altura e pesa 73,1 Kg; IMC 25 Kg/m2. Ao
exame físico apresenta-se com bom estado geral. O restante exame físico, incluindo a auscultação cardíaca
e pulmonar, exame abdominal e neurológico, encontra-se dentro dos parâmetros de normalidade.
Qual das seguintes alternativas é a mais adequada para confirmar o diagnóstico mais provável?
Justificação:
O caso descreve uma senhora de 34 anos com quadro com 2 meses de evolução de fraqueza, associada
a episódios de parestesias com perda de sensibilidade nos membros superiores, simétrica, com dor
nos punhos. Concomitantemente, refere dificuldades no funcionamento cognitivo e um episódio, há 2
semanas, de diminuição da acuidade visual do olho direito com dor à mobilização, que poderá sugerir
uma neuropatia óptica de etiologia inflamatória.
Há um antecedente relevante de traumatismo cervical há 12 anos, com fissura de C7, tratada
conservadoramente.
A resposta C (RM cerebral) corresponde ao exame que provavelmente fornecerá a informação diagnóstica
mais importante. Ao longo de 2 meses vários sistemas foram afetados: desenvolvimento de défice motor
e sensitivo (ainda que transitório), ao longo de raízes cervicais, dificuldades no funcionamento cognitivo
que sugere envolvimento de regiões corticosubcorticais e nervo ótico, sob a forma de neuropatia ótica
de etiologia inflamatória. Assim, a melhor hipótese para explicar a clínica da doente é a de uma doença
inflamatória da substância branca (desmielinizante), com atingimento supratentorial (lesões subcorticais),
nervo ótico e medular cervical. A RM cerebral (especialmente estudo com contraste) permitirá confirmar
a presença dessas lesões (e estimar a carga lesional) e de outras lesões assintomáticas.
O antecedente de traumatismo cervical (ainda que sem menção expressa a traumatismo medular) leva-
nos a pensar que poderá haver maior risco de desenvolvimento, mesmo vários anos depois, de uma
siringomielia (degeneração quística intramedular progressiva por obstrução da drenagem do LCR pelo
processo de cicatrização, que pode levar à expansão do canal central e compressão medular adjacente),
que pode cursar com sintomas motores, sensitivos, disfunção esfincteriana e dor ou ser assintomática.
No quadro descrito, há sintomas que apontam para outras topografias, como atrás exposto. Deste modo,
ainda que a RM cerebral possa não ajudar a esclarecer adequadamente sobre a presença (ou não) de
uma siringomielia a nível cervical, permanece o exame de diagnóstico mais informativo para a primeira
hipótese diagnóstica colocada, mais provável.
O quadro clínico não aponta para uma lesão primariamente periférica (de nervo ou raíz cervical), podendo
não revelar alterações. Por isso e pelo atrás exposto, não é uma opção correta
B. Potenciais evocados
Esta alínea não refere quais os potenciais evocados considerados. Assumindo que se referem a potenciais
evocados somatosensitivos, tendo em conta que se suspeita de presença de lesão medular, poderá haver
potenciais anormais, especialmente se houver alteração da sensibilidade proprioceptiva dos membros
superiores. Contudo, não permitirá avançar concretamente sobre qual o diagnóstico da doente
C. TC cervical
A tomografia cervical poderá ter acuidade suficiente para avaliar presença de lesão medular cervical ou
mesmo sobre a presença de uma siringomielia. Acresce que não informará sobre a presença de lesão
encefálica. Por isso não é o melhor exame de diagnóstico para doente
D. Teste de Tinel
O quadro não eleva suspeita de síndroma do túnel cárpico, de modo que esta manobra não irá informar
sobre o diagnóstico.
33. Um homem de 34 anos, auxiliar de ação médica, vem ao consultório médico para exame anual de vigilância.
Refere que, no último exame de saúde ocupacional, realizado há uma semana, fez uma prova cutânea de
Mantoux. Hoje, tem uma induração local de 15 × 15 mm. A prova de Mantoux realizada há dois anos foi
negativa. A pesquisa de anticorpos contra VIH foi também negativa.
Qual das seguintes alternativas é o próximo passo mais adequado, neste momento?
(A) Iniciar terapêutica tripla, com isoniazida, rifampicina e pirazinamida por um ano
(B) Prescrever isoniazida e etambutol por um ano
(C) Prescrever isoniazida por seis meses
(D) Repetir o teste de Mantoux ao fim de um ano
(E) Solicitar raio-X do tórax
Justificação:
O caso clínico descreve um profissional de saúde cujo teste tuberculínico foi positivo.
A resposta certa é a Opção (E). O profissional de saúde tem um maior risco de exposição à tuberculose
dada a sua profissão, apesar de não ser referido nenhum contacto conhecido nem qualquer sintoma. No
entanto, apresenta um teste tuberculínico, realizado rotineiramente como rastreio na consulta de saúde
ocupacional. Esse teste deve ser confirmado com um segundo mais específico, o teste IGRA (interferon
gamma release assay) para confirmação do diagnóstico de tuberculose (relembra-se que estes testes não
diferenciam a tuberculose latente, ativa ou passada). No entanto, o primeiro passo no caso deste indivíduo
com risco elevado é excluir a doença ativa ou passada. Tratando-se de um profissional de saúde e, portanto,
com maior risco de exposição, pelo que a radiografia de tórax faz parte da abordagem diagnóstica inicial,
embora não seja capaz de distinguir, por si só, uma tuberculose pulmonar ativa de latente.
Opção (A) – Incorreta. Este profissional de saúde apresenta um teste tuberculínico positivo, que carece
de confirmação com um teste mais específico. Estes testes não diferenciam a tuberculose ativa de latente
ou passada. Uma vez que o doente não tem nada descrito sugestivo de doença ativa (exposição prévia à
tuberculose, sintomas pulmonares ou doença cavitária documentada), antes de se iniciar a terapêutica
deve ser confirmado o diagnóstico. Além disso, a terapêutica é quadrupla com Isoniazida,Rifampicina,
Etambutol e Pirazinamida.
Opção (B) – Incorreta. Este profissional de saúde apresenta um teste tuberculínico positivo, que carece
de confirmação com um teste mais específico. Estes testes não diferenciam a tuberculose ativa de latente
ou passada. Uma vez que o doente não tem nada descrito sugestivo de doença ativa (exposição prévia à
tuberculose, sintomas pulmonares ou doença cavitária documentada), antes de se iniciar a terapêutica
deve ser confirmado o diagnóstico. Além disso, a terapêutica é quadrupla com Isoniazida,Rifampicina,
Etambutol e Pirazinamida.
Opção (C) – Incorreta. O tratamento com Isoniazida isoladamente está indicado na tuberculose latente.
No entanto, este profissional de saúde apresenta um teste tuberculínico positivo, que carece de confirmação
com um teste mais específico, para confirmação do diagnóstico.
Opção (D) – Incorreta. Este profissional de saúde apresenta um teste tuberculínico positivo, que carece de
confirmação com um teste mais específico, nomeadamente o teste IGRA.
34. Homem de 65 anos vem ao consultório médico por disfagia para alimentos sólidos associada a alteração
da voz com rouquidão, com início há três meses e agravamento progressivo. A história médica inclui
doença péptica gástrica, hipertensão arterial e litíase vesicular. A medicação inclui captopril e omeprazol.
É fumador de 40 UMA. Os sinais vitais são temperatura 36,5⁰C, frequência respiratória 13/min, frequência
cardíaca 78/min e pressão arterial 123/67 mm Hg. O exame físico revela mucosas coradas e hidratadas.
O restante exame físico encontra-se dentro dos parâmetros de normalidade. Os resultados da endoscopia
digestiva alta mostram neoplasia do terço distal do esófago, cujo biópsia revelou adenocarcinoma bem
diferenciado. A TC torácica e abdominal não mostra lesões secundárias no pulmão ou no fígado. A
ecoendoscopia esofágica a lesão como T3N1. Os estudos analíticos, incluindo hemograma e bioquímica,
encontram-se dentro dos parâmetros de normalidade.
Justificação:
O caso clinico descrito é de um doente com diagnóstico de adenocarcinoma bem diferenciado do terço
distal, com estadiamento T3N1 após realização de Ecoendoscopia Esofágica. Apesar da TC torácica e
abdominal não mostrar lesões secundárias no pulmão ou no fígado, não podemos excluir de todo lesão
à distância. Por este motivo, a opção PET (B) é a correta pois permite detetar lesões à distância e possui
uma sensibilidade superior à Broncofibroscopia (C) ou à Laringoscopia direta (D), o que permite que os
doentes não sejam submetidos a cirurgia desnecessariamente quer a Laparotomia exploradora (A) ou o
Tratamento cirúrgico (E).
35. Uma mulher de 54 anos vem à consulta por dor abdominal e obstipação intermitente nos últimos três
meses. Refere ter dor de tipo cólica e que as suas fezes ficaram em forma de fita, com menor volume
e calibre. Ela refere perda de peso de cerca de 9 Kg nos últimos dois meses. Nega náuseas ou vómitos
associados. Tem história de histerectomia há oito anos.
Com base apenas na história, qual das seguintes alternativas é a causa mais provável para os sintomas
descritos?
Justificação:
O caso clínico diz respeito a uma mulher de 54 anos com queixas de dor abdominal em cólica, associada
a obstipação intermitente com fezes em fita e perda de peso.
O caso clínico descreve uma história recente (com 3 meses de evolução) de alteração nos hábitos intestinais,
com obstipação e alteração da forma e calibre das fezes, numa mulher de 54 anos. Associadamente a
doente referia dor abdominal em cólica – sugestiva de obstrução – e perda involuntária de peso.
A resposta certa é a opção A) Cancro do cólon. O facto de a doente estar na faixa etária com maior risco
de ter cancro colorretal (>50 anos) e de apresentar diminuição do calibre das fezes com fezes em fita é
muito sugestivo de uma neoplasia do cólon. A perda de peso também pode ser facilmente explicada neste
contexto.
// A resposta correta é a opção A porque estamos perante a presença de sinais de alarme – emagrecimento
involuntário e alteração no padrão dos hábitos intestinais, numa doente com idade superior a 50
anos. A presença de dor em cólica e de fezes em forma de fita, sugerem a presença de obstrução distal,
nomeadamente a nível do cólon ou recto.
Opção C) – Incorreta. A presença de gastrite não está associada a alterações no número de dejeções nem
nas características das fezes. Além disso, a doente negava náuseas e vómitos e não é feita referência a
sintomas dispépticos, que poderiam sugerir gastrite.
Opção D) – Incorreta. A presença de oclusão do delgado poderia ser uma hipótese nesta doente, no
contexto de bridas/aderências associadas aos antecedentes de histerectomia. Apesar da dor em cólica ser
compatível com esta hipótese, as obstruções parciais a nível do delgado caracterizam-se pela presença
de dor e paragem de emissão de fezes (mantendo trânsito para gases) e não por alterações do calibre das
fezes. Os quadros de oclusão por bridas são, ainda, quadros agudos, que se desenvolvem em horas/dias,
não se estendendo ao longo de vários meses, como o caso aqui apresentado e seria ainda expectável a
presença de distensão abdominal ou vómitos.
Opção E) – Incorreta. Embora o Síndrome do Cólon Irritável se possa caracterizar por dor abdominal, e
alterações no número de dejeções e nas características das fezes, a perda de peso apresentada pela doente e
o facto de ter mais de 50 anos, é mais sugestivo de se tratar de um cancro do cólon. Além disso, na vinheta
clínica não é feita referência a fatores de stress psicológico ou co-morbilidades psiquiátricas, geralmente
associadas à Síndrome do Intestino Irritável (SII).
36. Um homem de 46 anos vem ao serviço de urgência por dor epigástrica desde a véspera, acompanhada
de náuseas e vómitos. A dor tem intensidade 8/10, tipo «moinha», com irradiação bilateral para o dorso
e que alivia com a genuflexão. A história clínica revela dispepsia ocasional associada a gastrite crónica,
Helicobacter pylori negativa. Ele nega outros antecedentes ou hábitos tabágicos. Tem hábitos etílicos que
descreve como sociais, apenas ao fim de semana, embora reconheça alguns excessos. Os sinais vitais são
temperatura 38,3⁰C, frequência respiratória 16/min, frequência cardíaca 108/min e pressão arterial 98/56
mm Hg. Ao exame físico apresenta escleróticas ligeiramente ictéricas e dor intensa à palpação profunda
dos quadrantes superiores do abdómen. O exame do tórax não mostra alterações.
Soro Sangue
Bilirrubina Hemoglobina 16,0 g/dL
Total 4,5 mg/dL
Lipase 250 U/L [N = 12-70 U/L]
Qual das seguintes alternativas é a mais adequada para o estadiamento da gravidade deste quadro clínico?
(A) BISAP
(B) CURB
(C) GRACE
(D) MELD
(E) WELLS
Justificação:
O caso clínico descreve um caso clínico típico de pancreatite aguda. O doente cumpre os critérios de
diagnóstico (dor epigástrica característica) e elevação de lípase superior a 3x o limite superior do normal.
Assim, a resposta pretende um score de gravidade para pancreatite aguda sendo a resposta correta BISAP.
Relativamente às outras opções de resposta:
37. Um homem de 90 anos é trazido ao atendimento permanente pelo filho. O doente está letárgico e confuso
e está obviamente com dores – está com as mãos na barriga e balanceia-se de trás para a frente na cadeira.
Segundo o filho: «O meu pai estava bem até hoje de manhã. Acordou com náuseas e diarreia. A minha
mulher encontrou a sanita cheia de fezes com sangue.» A história médica revela doença coronária e
doença arterial periférica e a medicação habitual inclui digoxina diária e amlodipina. Os sinais vitais são
temperatura 37,6⁰C, frequência cardíaca 96/min e pressão arterial 110/75 mm Hg. O exame físico revela
abdómen duro com defesa generalizada e ausência de sons abdominais. O exame retal revela fezes com
sangue vivo e sem massas.
Justificação:
O caso é sobre um homem de 90 anos trazido ao SU por dor abdominal generalizada associada a
hematoquézias e que, no exame objetivo, apresenta irritação peritoneal generalizada.
A resposta certa é a Opção C) Colite isquémica, cujo quadro clínico característico é o de dor abdominal
e perda de sangue nas fezes, sendo mais comum na população idosa e em doentes com antecedentes de
doença cardiovascular, tal como o doente aqui apresentado.
Opção B) – Incorreta. Apesar de o cancro do cólon poder estar associado a hematoquézias, a perda de
sangue é, habitualmente, arrastada no tempo e, quando associada a dor, esta não é geralmente generalizada.
Opção D) – Incorreta. Apesar de a digoxina poder provocar - num terreno de doença arterial já existente
- isquemia mesentérica do tipo não oclusivo, o quadro apresentado é mais típico de isquemia do cólon do
que do delgado, dada a presença de sangue vivo nas fezes.
Opção E) – Incorreta. A hemorragia associada à doença hemorroidária não está associada a dor abdominal.
38. Uma mulher de 62 anos é trazida ao serviço de urgência pelo marido por febre com dois dias de evolução
(39⁰C), prostração e períodos de confusão desde esta noite. Tem antecedentes de gonartrose direita e
carcinoma da mama direita invasor, grau 3, com recetores de estrogénio 70 %, recetores de progesterona
40 %, HER 2 negativo e Ki 67 30 % tratado com cirurgia (pT2 N1) – atualmente sob quimioterapia
adjuvante, tendo realizado o último ciclo de tratamento há nove dias. Os sinais vitais são temperatura
39,4⁰C, frequência respiratória 28/min, frequência cardíaca 128/min e pressão arterial 176/52 mm Hg;
SpO2 91% (ar ambiente). Ela tem 156 cm de altura e pesa 68 Kg; IMC 28 Kg/m2. Ao exame físico revela
mau estar geral; está sonolenta, mas despertável e aparentemente confortável. Está pouco colaborante
e tem discurso incoerente. Sem outras alterações ao restante exame neurológico. A pele e as mucosas
estão descoradas e desidratadas. Observam-se cicatrizes cirúrgicas de mastectomia direita e esvaziamento
ganglionar ipsilateral sem deiscência nem sinais inflamatórios. Sem alterações locais relacionadas com
o cateter central permanente. A auscultação pulmonar revela sons respiratórios diminuídos na base
esquerda. A auscultação cardíaca revela taquicardia com sons rítmicos, sem sopros. O abdómen é indolor
à palpação; sem organomegalias, sem defesa nem sinais de irritação peritoneal.
Soro Sangue
Creatinina 2,3 mg/dL Hemoglobina 8,7 g/dL
Ureia 74 mg/dL [N = 10-40 mg/dL] Leucócitos 1100/mm3
Glucose 112 mg/dL Neutrófilos 35 %
Sódio 148 mEq/L Linfócitos 27 %
Potássio 5,8 mEq/L Plaquetas 108 × 109/L
Cloro 101 mEq/L
Bilirrubina
Total 1,5 mg/dL
Direta 0,9 mg/dL
O raio-X do tórax mostra uma condensação no lobo inferior esquerdo. O eletrocardiograma revela ritmo
sinusal, frequência cardíaca 132/min, sem outras alterações.
Sem melhoria nas primeiras 24 horas após ressuscitação de volume e início de antibioterapia empírica de
largo espectro.
Considerando o quadro clínico, qual dos seguintes é o próximo passo mais adequado?
Justificação:
O caso clínico retrata uma doente que se encontra em tratamento com quimioterapia adjuvante. Em
muitas situações, um dos riscos associados é o surgimento de infeções mais graves, neste caso com foco
respiratório.
Claramente a doente encontra-se hemodinamicamente instável. A primeira questão que se prende é definir
quais os limites de intervenção para a doente em causa e quais as necessidades neste momento. Obtemos
a informação clínica, tendo em conta os sinais vitais de que a doente se encontra hemodinamicamente
instável, sem melhoria nas primeiras 24 horas após ressuscitação de volume (não havendo descrição de
que tipo de fluidoterapia é usada). Dada a infeção com ponto de partida respiratória, ou melhor dizendo
a presença de sépsis com ponto de partida respiratório é necessário iniciar antibioterapia de largo espetro,
tal como está descrito. Toda a toxicidade inerente explicam as alterações iónicas, alteração da função
renal, bem como a pancitopenia, consequência de mielossupressão.
A resposta certa é a opção (D), tendo em conta que será candidata a um maior grau de vigilância, mas sem
necessidade de medidas mais invasivas, pelo menos neste momento.
Opção (A) – Incorreta e Opção (B) - Incorreta. Numa doente que se encontra em tratamento adjuvante
após ter sido submetida a uma cirurgia e existir uma causa para o quadro clínico, não faz sentido neste
momento limitar a nossa atuação. O facto da própria vinheta clínica indicar que foi iniciada antibioterapia
empírica de largo espectro exclui opções que nos limitem na atuação terapêutica.
Opção (C) - Incorreta. Neste momento parece algo excessivo, não sabemos ao certo qual a fluidoterapia
tentada, facto que levanta dúvida a responder, dado que não sabemos que foram tentados vasopressores.
Opção (E) - Incorreta. Poderá ser necessário, a doente encontra-se com uma saturação de oxigénio a ar
ambiente relativamente baixa. No entanto, neste momento poderá ser excessivo. O facto de não dispormos
de informação de gasometria também nos limita numa melhor avaliação.
39. Uma mulher de 70 anos vem ao serviço de urgência duas horas após episódio de sensação de dormência
no braço esquerdo e fraqueza na mão esquerda, que resolveu espontaneamente ao fim de uma hora. A
história médica revela hiperlipidemia e hipertensão arterial e a medicação habitual inclui sinvastatina,
lisinopril e aspirina. Os sinais vitais são temperatura 37⁰C, frequência respiratória 18/min, frequência
cardíaca 75/min e pressão arterial 160/90 mmHg; SpO2 95% (ar ambiente). A auscultação cardíaca revela
sopro carotídeo bilateral. O exame neurológico não revela alterações.
Qual das seguintes alternativas é o próximo passo mais adequado na gestão desta doente?
Justificação:
O caso descreve uma senhora de 70 anos que teve instalação abrupta de síndroma sensitiva e motora
esquerda, cerca de 2h antes, com resolução espontânea ao fim de 1h. Tem antecedentes de fatores de risco
vasculares medicados e está um pouco hipertensa à admissão. Apresenta sopro carotídeo bilateral e não
foram observados défices neurológicos focais.
A hipótese diagnóstica mais provável é tratar-se de um acidente isquémico transitório (AIT), com suspeita
de que possa haver doença aterosclerótica carotídea sintomática bilateral e sintomática à direita (dados os
sopros carotídeos).
Desse modo, o próximo passo mais adequado na gestão da doente é solicitar um TC crânio (resposta B)
para excluir evento cerebrovascular hemorrágico, seguido da restante investigação vascular, onde o estudo
angiográfico por tomografia ou eco-Doppler dos vasos do pescoço, no contexto, poderão ser informativos
acerca da etiologia do evento.
A. RM da coluna cervical
A topografia da lesão é encefálica, de modo que este exame não é adequado para investigar esta doente.
Dado que houve recuperação espontânea de todos os sintomas, não há motivo para realizar tratamento
fibrinolítico nesta doente. Acresce que não foi excluída hemorragia intracerebral previamente com
realização de TC do crânio, de modo que esta hipótese é incorreta.
D. Terapêutica com heparina
A instituição de anticoagulação não faz parte do tratamento agudo do AVC isquémico. Poderá ser instituída
precocemente com intuito de prevenção, na presença de fonte cardiembólica major, contudo, não estamos
nesta fase da gestão da doente
É referido que a doente tem perfil tensional de 160/90 mmHg (<220-110 mmHg). Relembrar que o quadro
é suspeito de AIT/AVC isquémico, com possibilidade de haver estenose carotídea bilateral sintomática
à direita. Baixar a tensão arterial nesta doente seria prejudicial. Apenas num cenário de hemorragia
intracerebral (que ainda não foi investigado nesta fase) faria sentido pensar em reduzir agressivamente as
tensões arteriais para <140-90 mmHg.
40. Uma mulher de 51 anos, secretária numa administração hospitalar, sedentária, vem ao consultório médico
por lombalgia crónica. Ela traz os resultados de densitometria óssea, solicitada para estudo eventual
osteoporose pós-menopausa. Ela não tem antecedentes patológicos de relevo e não faz medicação habitual.
A menopausa cirúrgica ocorreu aos 48 anos. Os sinais vitais são temperatura 36⁰C, frequência respiratória
14/min, frequência cardíaca 73/min e pressão arterial 138/72 mm Hg. O exame físico e os resultados
dos estudos analíticos encontram-se dentro dos parâmetros de normalidade. Os exames radiológicos
da coluna vertebral não mostram alterações degenerativas. A densitometria óssea mostra score T- 2,0
(coluna) e - 1,6 (colo do fémur) com WHO FRAX a 10 anos com probabilidade de fratura da anca = 0,9.
Qual das seguintes alternativas é o próximo passo mais adequado na gestão desta doente?
Justificação:
O caso clínico apresentado mostra-nos uma mulher de 51 anos, já em menopausa desde há 3 anos, sem
fatores de risco major e/ou minor para fratura vertebral. Apresenta uma densitometria com T-score a
nível da coluna e colo do fémur sem critérios de osteoporose densitométrica (menor ou igual a -2.5). O
FRAX calculado não apresenta critérios para alto risco fraturário (fratura da anca >3% - Portugal). Por
conseguinte não tem diagnóstico de osteoporose, não tem indicação para nenhum tipo de análise anual,
apenas terá indicação para modificação de estilos de vida benéficos ao metabolismo ósseo, nomeadamente
atividade física regular (relembrar que o metabolismo ósseo necessita de estímulo mecânico para constante
ciclo de remodeling).
Opção A – No caso de uma primeira densitometria revelar osteopenia, pode a mesma ser repetida apenas
passado 3-5 anos.
Opção B – O doseamento do cálcio e vitamina D poderia ser feito nesta doente no âmbito da sua osteopenia
densitométrica, mas nunca teria interesse como avaliação seriada. Relembra-se ainda que não é o cálcio
sérico que determina bom aporte de cálcio ou necessidade de suplementação, mas sim o seu aporte na
dieta.
Opção C – Bifosfonatos são fármacos inibidores da reabsorção óssea e que são usados no tratamento da
osteoporose. Sem indicação nesta doente.
Opção D – Denosumab é um anticorpo monoclonal que inibe a reabsorção óssea, usado no tratamento da
osteoporose. Sem indicação nesta doente.
41. Uma mulher de 47 anos, empregada de limpeza, recorre novamente ao seu médico de família, com queixas
de falta de força, cansaço, dores musculares generalizadas, ansiedade e sono não repousado. Afirma estar
com grandes dificuldades na realização do trabalho pelo que pede “baixa para descansar”. Queixa-se ainda
que o marido desvaloriza as caixas, não lhe dando qualquer atenção e contribuindo dessa forma para um
ambiente familiar muito tenso. A doente apresenta estas queixas desde os seus 25 anos, altura em que se
casou. Já foi referenciada a consultas de diversas especialidades, de onde teve alta, e realizado diversos
estudos clínicos, que não permitiram encontrar uma causa que explique as suas caixas.
Justificação:
O caso clínico descrito é uma mulher de 47 anos, que recorre ao médico de família por queixas de falta de
força, cansaço, dores musculares generalizadas, ansiedade e sono não repousado, de longa evolução (desde
que se casou, destacando-se também ambiente familiar tenso), com sofrimento emocional e impacto na
funcionalidade associados.
A resposta certa é a Opção (C), porque a investigação etiológica não revelou uma causa orgânica subjacente
ao presente quadro clínico e, tendo em conta a referência a ansiedade e alteração do padrão do sono, bem
como ambiente familiar tenso é bastante provável que se trate de um quadro psicossomático. Pelo exposto,
devemos, de forma empática e sem desvalorizar as suas queixas físicas, introduzir a possibilidade de causa
psicológica para os sintomas. Relativamente às outras opções de resposta:
Opção (A) – Incorreta. Apesar do impacto funcional, dado o carácter crónico das queixas e ausência de
resolução, devemos tentar evitar ou mesmo eliminar fatores que possam contribuir para perpetuar os
sintomas, como, por exemplo, baixa médica por incapacidade.
Opção (B) – Incorreta. Apesar das incongruências, tendo em conta o presente quadro clínico com
sofrimento emocional e compromisso funcional, devemos optar por uma postura empática, de validação
afetiva, tranquilizadora e colaborativa, pelo que não devemos adoptar uma atitude não confrontativa.
Opção (D) – Incorreta. Apesar de a doente referir dores musculares generalizadas, descreve ainda astenia,
ansiedade e alteração do sono, pelo que a prescrição de anti-inflamatórios não está indicada neste caso.
Opção (E) – Incorreta. Uma vez que a doente já foi referenciada a consultas de diversas especialidades, de
onde teve alta, e já foram realizados diversos estudos clínicos, que não permitiram encontrar uma causa
que explique as suas queixas, devemos introduzir a possibilidade de causa psicológica para os sintomas
devemos e explicar que não carece de mais investigação etiológica.
42. Uma mulher de 67 anos, professora, vem a consulta hospitalar por elevação das aminotransferases e
prurido intenso. Ela tem história recente de artralgia as intensas e fenómenos inflamatórios nas pequenas
articulações das mãos. Os sinais vitais são temperatura 36,1°C, frequência cardíaca 87/min e pressão
arterial 145/78 mm Hg. Ela tem 170 cm e pesa 89 kg; IMC 31 kg/m2. Ao exame físico apresenta-se curada
e hidratada. As auscultações cardíaca e pulmonar encontram-se dentro dos parâmetros de normalidade.
O exame do abdómen revela eixo hepático médio de 18 cm e esplenomegalia.
Soro Sangue
AST 670 U/L INR 1,9
ALT 1200 U/L
Bilirrubina
Total 5,5 mg/dL
Proteínas
Albumina 2,9 g/dL
Globulinas 13 g/dL
Qual dos seguintes achados presentes nesta mulher é mais consistente com diagnóstico de hepatite
autoimune?
(A) Hepatoesplenomegalia
(B) Presença de prurido intenso
(C) Sexo feminino
(D) Valor de INR
(E) Valor sérico de albumina
A vinheta clínica direciona o diagnóstico para Hepatite Auto-Imune (HAI). A resposta correta é a opção
C porque, apesar de poder afetar doentes de qualquer sexo, há uma significativa maior proporção de
doentes do sexo feminino (M:H= 3:1, de acordo com as EASL Clinical Practice Guidelines: Autoimmune
Hepatitis). Qualquer outra das opções poderia estar presente numa HAI, nomeadamente numa fase ativa
ou avançada da doença, no entanto, são comuns em diferentes condições de hepatopatia, nomeadamente
nos casos de hepatite aguda ou crónica agudizada. Apesar de não contempladas nas opções de resposta,
também a idade da doente e a sugestão de presença de artrite reumatóide, favoreceriam esta hipótese
diagnóstica. Assim, a HAI deverá ser um diagnóstico a considerar em mulheres de qualquer idade, com
alterações hepática, sem fatores de risco para outros tipos de patologia.
Opção (A) – Incorreta. Na HAI a hepatomegalia e esplenomegalia podem estar presentes, mas não
tornam necessariamente o diagnóstico mais consistente, por serem específicas. O diagnóstico de HAI
é essencialmente clínico e assenta na presença de autoanticorpos, hipergamaglobulinemia e histologia
típica ou compatível.
Opção (B) – Incorreta. A presença de prurido intenso é mais sugestiva de Cirrose Biliar Primária (CBP) e
está inclusivamente recomendado que doentes com aumento de colestase (cuja manifestação frequente é
o prurido), realizem CPRM para exclusão de overlap com CBP ou Colangite Esclerosante Primária.
Opção (D) – Incorreta. A hipoalbuminemia pode estar presente na HAI em fase ativa ou avançada, mas
é um achado laboratorial inespecífico e presente em diferentes patologias (síndromes de malabsorção,
perda de proteínas, desnutrição grave,…).
Opção (E )- Incorreta. Na HAI o INR costuma estar aumentado porém, tal como nas alíneas anteriores, é
um achado inespecífico e não necessário ou sugestivo de HAI.
43. Uma primigesta de 27 anos recorre ao serviço de urgência por hemorragia genital escassa com início há
cinco horas, após atividade sexual. Ela não tem outras queixas. A data da última menstruação foi há seis
semanas. A gravidez foi espontânea e planeada. A história médica revela apendicectomia aos 18 anos.
O grupo sanguíneo é A RhD positivo e do progenitor masculino é A RhD negativo. Está medicada com
ácido fólico. A mãe tem antecedentes de ß-talassemia. Os sinais vitais são temperatura 37°C, frequência
respiratória 11/min, frequência cardíaca 78/min e pressão arterial 124/67 mm Hg. Ela tem 163 cm de
altura e pesa 64 kg; IMC 24 kg/m2. Ao exame físico apresenta mucosas coradas hidratadas. O exame
ginecológico ao espetáculo revela quantidades escassas de sangue escuro na vagina, sem perda hemática
ativa através do orifício cervical externo, colo e mucosa vaginal sem lesões. O toque vaginal revela colo
amolecido, inteiro, fechado e indolor à mobilização, fundos de saco vaginais livres e indolores. A palpação
bimanual revela um útero globoso, de acordo com gravidez inicial; as áreas anexiais não têm alterações
patológicas. Na ecografia pélvica transvaginal observa-se imagem compatível com saco gestacional
intrauterino, regular, com vesícula vitelina. Regista-se ainda cisto simples com 2,5 cm no ovário direito,
sem outros achados.
Qual das seguintes alternativas é o próximo passo mais adequado na gestão desta grávida?
Justificação:
O caso clínico descrito nesta pergunta é um caso de uma grávida que se apresenta no serviço de urgência
com clínica de hemorragia do 1º trimestre, sem queixas álgicas associadas, e com um exame ginecológico
inocente que não identifica a possibilidade de hemorragia intrauterina. Associadamente com presença
de um cisto ovárico identificado ecograficamente. A queixa principal da doente iniciou-se após relações
sexuais, sem outras sintomas associados. Este quadro clínico descrito é inocente, apesar de que não
podemos excluir a possibilidade de ser uma ameaça de abortamento. Neste contexto, tendo em conta
os antecedentes médicos da grávida, o mais correto é encaminhar para uma consulta pré-natal, para
seguimento da patologia hematológica no contexto da gravidez, sendo assim, a resposta correta é a opção
B.
Opção C – Repetir ecografia pélvica em 48 horas – Opção incorreta – Na suspeita de ameaça de abortamento,
a abordagem mais indicada ecográfica é transvaginal, tendo em conta as semanas da gravidez corrente,
também não é necessário reavaliar ecograficamente a doente, exceto se sinais de alarme que motiva nova
reavaliação no serviço de urgência.
Opção D – Solicitar doseamento sérico seriado de B-hCB – Opção incorreta - O doseamento seriado da
B-hCG não é commumente utilizado para avaliação da progressão da gravidez. É também útil na gestão
de uma gravidez ectópica.
Opção E – Solicitar hemograma – Opção incorreta - Nesta doente não há benefício de caraterizar perdas
hemáticas quantitivamente, tendo em conta a clínica escassa da mesma.
44. Uma mulher de 64 anos vem ao consultório médico por dores na perna direita que pontua com 7 valores
em 10, sobretudo na marcha e no trabalho, com sensação de queimadura na face externa da perna direita.
Ela diz: “Isto é muito aborrecido e doloroso. Preciso saber o que é que tenho! É que assim não consigo
trabalhar.” É cuidadora formal de profissão. A história médica revela enxaqueca sem aura, hipotiroidismo,
hipertensão arterial, úlcera duodenal e dores lombares. Está medicada com levotiroxina, amlopidina,
pantoprazol e em SOS com a associação paracetamol + ticolquicósido.
A doente tem 165 cm de altura e pesa 82 Kg; IMC 30kg/m2, estando os sinais vitais dentro de parâmetros
de normalidade. Não se verifica dismetria, nem alterações de força comparando ambos os membros
inferiores, sendo as sensibilidades tátil, térmica e vibratória não diferentes comparando ambas as pernas.
(A) Coxartrose
(B) Espondilartrite inflamatória
(C) Espondilose lombar
(D) Gonartrose
(E) Sacroileíte
Justificação:
O quadro clínico descreve-nos uma dor a nível da perna direita de ritmo mecânico (agrava com marcha e
trabalho) com queixas disestésicas associadas (em queimadura) e que aparentemente tem uma localização
definida (face externa, o que muitas vezes nos faz pensar em patologia radicular ou neuropática). Salienta-
se a dor lombar já presente, o que tem todo o interesse clínico neste caso. Ao exame físico apresenta
força muscular e sensibilidade preservada. Tendo em conta as hipóteses apresentadas, o diagnóstico mais
provável é efetivamente a espondilose lombar e isto tratar-se de uma irradiação para o membro inferior
secundária a compressão radicular.
Opção A – INCORRETA . A coxartrose habitualmente traduz uma clínica de dor na virilha, podendo em
casos raros até ter tradução a nível do joelho. Não causa este tipo de dor a nível da perna direita
Opção E -INCORRETA. A sacroileíte traduz uma dor na região lombossagrada com irradiação em
báscula para as nádegas. Nada relacionado com esta doente.
45. Uma mulher de 57 anos vem ao serviço de urgência por dor no hipocôndrio direito com oito horas de
evolução e agravamento progressivo, associada a náuseas e vómitos. A história médica revela hipertensão
arterial e obesidade. Os sinais vitais são temperatura 36,3°C, frequência respiratória 20/min, frequência
cardíaca 80/min e pressão arterial 140/75 mm Hg. Ela tem 159 cm de altura e pesa 78 kg; e é IMC 31 kg/m2.
Ao exame físico encontra-se eupneica, em decúbito dorsal. O abdómen é plano, com ruídos hidroaéreos
mas com defesa e dor à palpação no hipocôndrio direito. Os resultados dos estudos analíticos revelam:
Soro Sangue
Creatinina 0,6 mg/dL Hemoglobina 13,0 g/dL
Bilirrubina Leucócitos 17 000/mm3
Total 0,7 mg/dL Neutrófilos, segmentados 87%
Proteína C reativa 16 mg/L
Sódio 141 mEq/L
Potássio 4,6 mEq/L
Cloro 106 mEq/L
A ecografia abdominal revela a presença de cálculo único com 2 cm em localização infundibular, com
espessamento da parede da vesícula biliar e líquido perivesicular.
Qual das seguintes alternativas é o evento inicial mais provável do quadro clínico descrito?
Justificação:
O caso é sobre uma mulher de 57 anos, que recorre ao SU por dor abdominal no hipocôndrio direito com
8h de evolução, associada a náuseas e vómitos. Ao exame objetivo, apresenta sinais de irritação peritoneal
localizados ao hipocôndrio direito. Em relação aos exames realizados, destaca-se a presença de leucocitose
nas análises e uma ecografia com sinais sugestivos de colecistite aguda litiásica.
A resposta correta é a resposta B) Impactação de um cálculo no canal cístico. Os sintomas, o exame objetivo
e as alterações nos exames de diagnóstico são todos característicos de colecistite aguda, que sabemos ser
do tipo litiásico pela informação da ecografia. A colecistite aguda litiásica ocorre quando há impactação
de um cálculo no ducto cístico.
Relativamente às outras opções de resposta:
Opção A) Incorreta. A expressão “estase biliar” aplica-se, habitualmente, à diminuição do fluxo de bile,
provocada ou por alterações na secreção da bile pelos hepatócitos ou por obstrução à passagem de bile
na árvore biliar intra ou extra-hepática. A estase biliar não faz parte da fisiopatologia da colecistite aguda,
embora um doente com litíase biliar possa ter um cálculo que migre para o colédoco, e a coledocolitíase
ser uma das causas possíveis para a estase biliar.
Opção C) – Incorreta. A colecistite aguda começa como um quadro inflamatório espoletado pela obstrução
do ducto cístico. A infeção ocorre depois deste quadro inflamatório estar instalado.
Opções D) e E) – Incorretas. Embora a isquemia da parede da vesícula e a oclusão do seu lúmen possam
ser causas de colecistite aguda, tratam-se de causas muito menos frequentes do que a impactação de um
cálculo no ducto cístico (e a presença de cálculos está documentada na ecografia realizada pela doente).
46. Homem de 28 anos vem a consulta de oncologia médica para início do primeiro ciclo de quimioterapia,
por tumor germinativo do testículo, como metastização ganglionar extensa e pulmonar. Ele não tem
outros antecedentes conhecidos. A medicação habitual inclui allopurinol. Os sinais vitais são temperatura
36°C, frequência cardíaca 86/min e pressão arterial 122/64 mm Hg. Ao exame físico apresenta-se com
bom estado geral, é ECOG PS 1. Está corado, hidratado e eupneico. O abdómen mole e depressível, sem
organomegalias palpáveis. A auscultação cardíaca e pulmonar encontra-se dentro dos parâmetros de
normalidade.
Soro Sangue
Creatinina 0,8 mg/dL Hemoglobina 13,1 g/dL
Azoto ureico 10 mg/dL Leucócitos 5 200/mm
Sódio 127 mEq/L Neutrófilos, segmentados 60%
Potássio 4,2 mEq/L Plaquetas 185 x 109L
Cloro 100 mEq/L
Ácido úrico 8 mg/dL
Desidrogenase lática 1 900 U/L
Qual das seguintes alternativas é o próximo passo mais adequado na gestão deste doente?
O caso clínico descrito é de um doente com tumor germinativo com doença volumosa (metastização
ganglionar extensa e pulmonar) e portanto com risco aumentado para síndrome de lise tumoral com o início
do tratamento com quimioterapia. Na vinheta clínica existe a indicação de que o doente já está a realizar
alopurinol, embora não seja indicada a dose realizada e o intuito da prescrição (pressuposto de profilaxia
primária da síndrome de lise tumoral). O doente não apresenta no momento critérios de diagnóstico de
síndrome de lise tumoral (iões bem, boa função renal), mas apresenta uma elevada concentração de LDH
no estudo analítico (no contexto de doença volumosa com proliferação aumentada). Assim, na gestão do
doente em risco para o desenvolvimento de síndrome de lise tumoral, a administração de alopurinol e a
hidratação agressiva são a primeira abordagem na profilaxia primária desta emergência oncológica.
A resposta certa é a Opção (C) - Hidratação abundante, uma vez que a profilaxia primária standard da
síndrome de lise tumoral passa pela administração de alopurinol e hidratação agressiva.
Opção (A) – Associação de rasburicase. Incorreta. Está essencialmente indicada se o tratamento inicial não
resultar ou como profilaxia nos doentes de alto risco para síndrome de lise tumoral (neoplasias hemato-
oncológicas na sua maioria).
Opção (B) – Diferir quimioterapia. Incorreta. Não existe contra-indicação para a realização de
quimioterapia (doente sem citopenias no hemograma e sem evidência de lesão renal).
Opção (D) – Iniciar suporte dialítico. Incorreta. Doente sem distúrbios hidroeletrolíticos, ácido úrico <
10mg/dL e boa função renal.
Opção (E) – Interrupção de alopurinol. Incorreta. A profilaxia primária da síndrome de lise tumoral passa
pela administração de alopurinol. Não existe evidência de lesão renal aguda nem indicação na vinheta de
que o doente possa ser alérgico ao alopurinol.
47. Um homem de 55 anos vem ao consultório acompanhado pela esposa, porque desde há seis meses “não
a deixa dormir com o seu ressonar”. Refere ainda ter halitose matinal. Aumentou nove kg desde que teve
um acidente de viação no ano passado, apresentando atualmente IMC 30 kg/m2. A história médica revela
adenoidectomia aos 14 anos, hipercolesterolemia e hipertensão arterial. A medicação inclui sinvastatina e
enalapril. Os sinais vitais são temperatura 36,5° C, frequência respiratória 20/min, frequência cardíaca 70/
min e pressão arterial 140/90 mm Hg; SpO2 96% (ar ambiente). Ao exame físico apresenta perda de peças
dentárias molares múltiplas. À abertura da boca observa-se apenas língua e palato duro sem se observar
a úvula ou os pilares palatinos.
Qual das seguintes alternativas representa a causa subjacente mais provável para as caixas referidas?
O caso clínico descrito é de um homem com patologia obstrutiva do sono, provavelmente um síndrome
de apneia/hipopneia obstrutiva do sono. O seu diagnóstico é polissonográfico porém existem certas
características na vinheta clínica que apontam para este patologia: homem, mais de 50 anos, roncopatia,
excesso de peso, pressão arterial aumentada e achados ao exame físico compatíveis com obstrução à
passagem do ar (score Mallampati III).
A resposta certa é a Opção (B), porque ao exame objetivo o doente apresenta um score de Mallampati III,
em que com a abertura da boca apenas se visualiza o palato duro e a língua devido a hipertrofia da base da
língua e do palato mole. Esta hipertrofia do tecido da cavidade oral é um fator de risco para a presença de
patologia obstrutiva do sono como SAHOS. Relativamente às outras opções de resposta:
Opção (A) – Incorreta. O desvio do septo nasal pode ser causa de obstrução nasal crónica com necessidade
de respiração bucal nocturna. Porém não é a resposta mais correta com base nos dados do exame objetivo
da vinheta clínica (hipertrofia dos tecidos moles da cavidade oral/orofaringe).
Opção (C) – Incorreta. A insuficiência valvar nasal pode ser uma causa de obstrução nasal crónica, com
colapso do tecido cartilagíneo alar com a inspiração profunda. Porém não é a resposta mais correta com
base nos dados do exame objetivo da vinheta clínica (hipertrofia dos tecidos moles da cavidade oral/
orofaringe).
Opção (E) – Incorreta. O retrognatismo mandibular pode ser causa de patologia obstrutiva do sono no
sentido em que diminui o calibre da via aérea. Porém não é a resposta mais correta com base nos dados do
exame objetivo da vinheta clínica (hipertrofia dos tecidos moles da cavidade oral/orofaringe).
48. Um homem de 70 anos vai ao consultório médico por fraqueza nas pernas e secura dos olhos e da boca com
oito meses de evolução. Perdeu 7 kg deste período, apesar de manter o apetite e a dieta. A história médica
revela enfisema e úlcera péptica. A medicação habitual inclui omeprazol e broncodilatadores. Tem ainda
antecedência de dependência de álcool (bebe 4 unidades de álcool diariamente) e é fumador de um maço
de cigarros por dia, nos últimos 55 anos. Os sinais vitais são temperatura 37°C, frequência respiratória
24/min, frequência cardíaca 96/min e pressão arterial 130/80 mm Hg. Ele tem 183 cm de altura e pesa 93
kg; IMC 28 kg/m. Ao exame físico apresenta tórax em barril, ptose palpebral discreta e ptose da boca. A
auscultação pulmonar revela sons respiratórios de intensidade reduzida. A força muscular é de 4/5 nos
flexores da anca, bilateralmente, e 5/5 nos restantes grupos musculares. Os reflexos tendinosos profundos
estão ausentes. A sensibilidade está intacta e o sinal de Babinsky está ausente. Requer quatro tentativas
para se levantar de uma posição de sentado. O exame da marcha não revela alterações. Os resultados dos
estudos analíticos revelam anticorpos anticanais de cálcio positivos.
O quadro clínico deste doente é, mais provavelmente, uma complicação de qual das seguintes condições?
Justificação:
O caso descreve um senhor de 70 anos com quadro de fraqueza nas pernas e secura ocular e da boca, com 8
meses de evolução, associado a perda ponderal e antecedentes relevantes de enfisema (grande fumador) e
elevado consumo de álcool (inclusive com dependência). O exame revela um padrão de fraqueza proximal
dos membros inferiores, com arreflexia osteotendinosa, ptose palpebral discreta e da boca (?), assim
como estigmas de doença pulmonar obstrutiva crónica (tórax em barril). É referido que tem anticorpos
anticanal de cálcio positivo. A questão colocada é qual é o diagnóstico que motiva a complicação que
justifica os sintomas do doente. A síndroma de Lambert-Eaton é uma síndroma miasténica rara e constitui
uma síndroma neurológica paraneoplásica em cerca de 60% dos casos (tumor de pequenas células do
pulmão). Manifesta-se por um quadro de fraqueza com padrão de atingimento proximal nos membros
inferiores. Pode haver disfunção autonómica associada (xerostomia). A fraqueza é determinada pela ação
dos autoanticorpos (VGCC tipo P/Q) na placa neuromuscular.
A. Artrite reumatóide
Não parece haver nenhum sinal ou sintoma na história que eleva a suspeita deste diagnóstico.
C. Esteatose hepática
D. Miastenia gravis
Não é referida flutuação ou fatigabilidade, em particular da ptose ou fraqueza muscular. Não é referido
atingimento ocular ou bulbar (que podem ocorrer nesta doença). Esta hipótese não explica a disautonomia
e perda ponderal.
E. Síndroma de Sjogren
Embora haja referência a secura das mucosas, uma síndroma de Lambert-Eaton explica melhor o quadro
clínico
49. Uma menina de 5 anos é trazida ao serviço de urgência por febre com dois dias de evolução temperatura
máxima 39,2° C, associada a odinofagia, recusa alimentar e mal-estar generalizado. Não tem antecedentes
patológicos de relevo, tem tido crescimento e desenvolvimento adequados e o programa nacional de
vacinação encontra-se atualizado. Os sinais vitais são temperatura 38,9° C, frequência respiratória 16/
min, frequência cardíaca 110/min regular, e pressão arterial 95/55 mm Hg. Ao exame físico apresenta-
se levemente corada, com úlceras na língua, gengivas e mucosa jugula e hiperemia amigdalina, sem
exsudados. Existem gânglios cervicais bilaterais palpáveis e lesões maculares eritematosas nas mãos e pés.
A auscultação cardíaca e pulmonar encontra-se dentro dos parâmetros de normalidade. O abdómen está
mole e depressível, não doloroso.
Para além de reforço de hidratação oral, qual das seguintes medidas farmacológicas é a mais adequada?
(A) Aciclovir
(B) Amoxicilina
(C) Nistatina
(D) Paracetamol
(E) Prednisolona
Justificação:
O caso clínico descreve-nos uma criança com febre alta e úlceras na mucosa oral associadas a odinofagia,
recusa alimentar e mal-estar e lesões maculares nas mãos e pés, o que nos sugere um quadro de infeção
pelo vírus Coxsackie A16 ou doença mão-pé-boca.
A resposta certa é a Opção (D), porque o tratamento na doença mão-pé-boca é sintomático, neste caso,
para analgesia e anti-pirexia.
Relativamente às outras opções de resposta:
Opção (A) – Incorreta. O tratamento da doença mão-pé-boca é de suporte, neste caso analgesia e anti-
pirexia se mal-estar associado.
Opção (B) – Incorreta. O tratamento da doença mão-pé-boca é de suporte, neste caso analgesia e anti-
pirexia se mal-estar associado.
Opção (C) – Incorreta. O tratamento da doença mão-pé-boca é de suporte, neste caso analgesia e anti-
pirexia se mal-estar associado.
Opção (E) – Incorreta.O tratamento da doença mão-pé-boca é de suporte, neste caso analgesia e anti-
pirexia se mal-estar associado.
50. Uma mulher de 65 anos vem ao consultório médico por anorexia e sensação de enfartamento após as refeições
nos últimos meses, associada a perda de peso, que não quantifica. Tem antecedentes de apendicectomia
aos 15 anos, depressão, hepatite C, litíase renal e hemicolectomia direita por via laparoscópica por
adenocarcinoma bem diferenciado (T2N0M0) aos 46 anos. A doente tem 158 cm de altura e pesa 55
kg, IMC 22 kg/m2. Os sinais vitais são temperatura 36,95°C, frequência respiratória 15/min, frequência
cardíaca 72/min e pressão arterial 122/72 mm Hg. O exame físico revela massa palpável localizada no
hipocôndrio e flanco direitos, dura e indolor à palpação imóvel com os movimentos respiratórios. Os
resultados dos estudos analíticos revelam:
Soro Sangue
Glucose 89 mg/dL Hemoglobina 12 g/dL
AST 187 U/L Leucócitos 6 200/mm3
ALT 138 U/L Plaquetas 130 x 109L
Fosfatase alcalina 160 U/L
y-glutamil transferase (GGT) 355 U/L
Bilirrubina
Total 1,0 mg/dL
Direta 0,4 mg/dL
A ecografia abdominal mostra formação nodular volumosa com 30 X 20 cm localizada no lobo direito do
fígado. A TC torácica e abdominal documento a massa tumoral volumosa, hipovascular, no lobo direito
do fígado, localizada nos segmentos 6,7,5 e 8, com retração da cápsula hepática e compressão duodenal.
A vinheta descreve o caso de uma doente com sintomas constitucionais (anorexia e perda involuntária de
peso) e uma massa palpável no hipocôndrio direito com características suspeitas na TC abdominal, pelo
que a principal suspeita diagnóstica é a de Carcinoma Hepatocelular.
A resposta certa é a Opção A. Numa doente com hepatite C crónica e nódulo hepático, o processo habitual
de diagnóstico seria a investigação de possível cirrose e a caracterização do nódulo por TC trifásico com
contraste ou RMN e elevação de alfa-fetoproteína >400 ng/mL. Assim, na presença de cirrose e de um
nódulo > 1 cm com características suspeitas em angio-TC/RM e elevação de alfa-fetoproteína >400 ng/
mL, seria dispensável a biópsia hepática para diagnosticar CHC. Neste caso, apesar da presença de hepatite
C, não está descrita a presença de cirrose hepática e nem foi realizada TC com contraste trifásico pelo que,
de entre as opções apresentadas, a opção mais correcta é a realização de biópsia hepática.
Opção (B) – Incorreta. A cintigrafia com HIDA tem papel diagnóstico na colecistite aguda, demonstrando
o não preenchimento/visualização da vesícula biliar nos casos de obstrução do cístico.
Opção (D) – Incorreta. A Endoscopia Digestiva Alta não faz parte do processo diagnóstico ou de
estadiamento do CHC.
Opção (E) - Incorreta. A cirurgia poderia estar indicada à posteriori, após o estadiamento do CHC pelos
Critérios de Barcelona (que inclui características do nódulo, Performance Status e Child Pugg).
51. Três dias após admissão hospitalar por politraumatismo na sequência de uma colisão de mota, um
homem de 20 anos apresenta diminuição do débito urinário via cateter vesical, nas últimas 36 horas (20
ml/8h). As lesões incluem fratura pélvica, laceração hepática e fratura do rim esquerdo com a avulsão
do pedículo vascular. À chegada ao serviço de urgência, o doente estava hemodinamicamente instável
e foi feita uma laparotomia exploradora imediata, com reparação de laceração hepática e realização de
nefrectomia esquerda. Um dia depois, realizou-se fixação interna da pélvis, tendo feito um total de 8
U de eritrócitos desde admissão. Os sinais vitais estão estáveis desde laparotomia e hoje apresenta-te a
temperatura 37,3°C, frequência respiratória 17/min, frequência cardíaca 79/min e pressão arterial 120/70
mm Hg. Os resultados dos estudos analíticos revelam:
Soro
Creatinina 1,5 mg/dL
Ureia 17 mg/dL [N = 10–40 mg/dL]
Sódio 138 mEq/L
Potássio 4,0 mEq/L
Cloro 102 mEq/L
Bicarbonato 20 mEq/L
Qual das seguintes alternativas é a causa mais provável para a diminuição do débito urinário?
Justificação:
O caso clínico descreve uma situação de politrauma, em que o doente se apresentou à admissão com
múltiplas lesões e instabilidade hemodinâmica, com necessidade cumulativa de 8 unidades de eritrócitos
desde a admissão. Documentada redução do débito urinário nas últimas 26 horas. Os sinais vitais
descritos não apresentam alterações relevantes e desconhecemos estudos analíticos prévios para comparar
a creatinina.
A resposta certa é a Opção (C), necrose tubular aguda. A vinheta descreve um doente crítico, com
hemorragia maciça, que se depreende pela necessidade de 8 unidades de eritrócitos desde a admissão,
associada a instabilidade hemodinâmica, e portanto diminuição significativa do volume circulante efetivo.
Graças aos mecanismos de regulação local e terapêutica administrada, pode existir compensação numa
fase inicial mas, em casos graves como o descrito, pode não ser suficiente. Adicionalmente, o rácio ureia/
creatinina é 11.3, e como tal, sugere-se uma mecanismo de lesão renal intrínseca, como hipovolémia.
Assim, necrose tubular aguda afigura-se como a resposta mais provável.
Relativamente às outras opções de resposta:
Opção (A) – Incorreta. A embolia gorda tem como origem a oclusão de um vaso sanguíneo por gordura
intravascular, que tem origem habitualmente na fratura de ossos longos e pelve. Apesar de disfunção
renal ser uma das complicações possíveis, normalmente a apresentação clínica difere da descrita, podendo
verificar-se rash petequial, dispneia, febre ou anemia, nenhum dos quais se verifica no doente descrito,
pelo que esta hipótese é menos provável.
Opção (B) – Incorreta. O hematoma pélvico com obstrução da uretra é também uma possibilidade credível.
No entanto, o doente encontra-se hemodinamicamente estável e eupneico desde a cirurgia, pelo que se
mantivesse hemorragia ativa de dimensão suficiente para causar um hematoma com obstrução uretral,
seria expectável que se essa perda hemática tivesse repercussões clínicas. Assim, dada a estabilidade do
doente após a cirurgia, parece pouco provável que mantenha hemorragia ativa e que seja esta a causa da
redução do débito.
Opção (D) – Incorreta. A nefrectomia reduz o número de unidades depurativas (nefrónios), mas que é
normalmente acompanhado pela hiperfiltração compensatória do rim remanescente, não sendo, per se,
causa habitual de redução do débito urinário, pelo que esta opção é menos provável.
Opção (E) – Incorreta. A reação à transfusão, tal como já discutido na embolia gorda, tende a ocorrer de
forma sindromática, sendo que uma das manifestações mais comuns é a elevação da temperatura corporal,
podendo ocorrer também reações allergic-like. A disfunção renal não está frequentemente associada e a
temperatura corporal é normal, pelo que será uma hipótese pouco provável.
52. Uma mulher de 69 anos, professora vem a consulta com o seu psiquiatra assistente por tristeza, falta de
energia e de prazer na realização de qualquer tarefa nas últimas duas semanas. Descreve insónia inicial e
terminal na última semana, assim com a culpa que sente relativamente à morte do pai, apesar de reconhecer
a irracionalidade desde sentimento. Deixou de dar explicações porque se sente lenta e tem cometido muitos
erros na sua atividade profissional. A doente teve vários episódios depressivos semelhantes nos últimos
cinco anos, tendo melhorado sempre com o tratamento com venlafaxina. Em cada um dos episódios, o
tratamento foi interrompido ao fim de seis meses de melhoria. No último ano estive assintomática e sem
necessidade de realizar tratamento.
O caso clínico descrito é de uma mulher de 69 anos, com antecedentes de episódios depressivos tratados
com venlafaxina, neste momento sem medicação antidepressiva, recorre ao psiquiatra por humor
deprimido, anedonia, adinamia com duas semanas de evolução. Descreve ainda insónia inicial e terminal,
bem como sentimentos de culpa, lentificação e incapacidade laboral.
A resposta certa é a Opção (E), porque na seleção de um tratamento antidepressivo, devemos basear-
nos nas respostas anteriores aos fármacos utilizados. Tendo em conta que se trata de uma doente com
uma Perturbação depressiva recorrente com antecedentes de boa resposta (com remissão sintomática) à
venlafaxina, o mais correto será recorrermos novamente a este medicamento para tratar o novo quadro
depressivo. Relativamente às outras opções de resposta:
Opção (A) – Incorreta. O lítio consiste num estabilizador do humor, mais usado na doença bipolar ou
como potenciação em quadros depressivos resistentes ao tratamento, o que não se verifica. A mirtazapina
apesar de poder ajudar na alteração do padrão do sono, não constitui uma opção de primeira linha no
tratamento da depressão e, como já foi referido, a melhor opção terapêutica neste caso é a venlafaxina.
Opção (B) – Incorreta. Tal como já foi referido, o lítio não está indicado neste caso.
Opção (C) – Incorreta. Apesar de estarem indicados como opção farmacológica de primeira na depressão,
o facto de a doente apresentar antecedentes de boa resposta (com remissão sintomática) à venlafaxina, o
mais correto será recorrermos novamente a este medicamento para tratar o novo quadro depressivo.
Opção (D) – Incorreta. A trazodona apesar de poder ajudar na alteração do padrão do sono, não constitui
uma opção de primeira linha no tratamento da depressão e, como já foi referido, a melhor opção terapêutica
neste caso é a venlafaxina.
53. Um homem de 18 anos recorre ao serviço de urgência por episódio de síncope seguida de convulsões
e posterior recuperação espontânea de consciência. Refere que, antes do início deste episódio, estava
a correr e teve a sensação de “coração aos saltos”. Diz ter tido alguns episódios prévios similares, nos
últimos dois meses, que não valorizou. A história médica revela diminuição da acuidade auditiva bilateral
e distúrbio do sono desde há um ano. A medicação habitual inclui amitripilina 10 mg/dia, desde há três
meses. Refere consumo ocasional de canabinóides. A auscultação cardíaca e pulmonar e restante exame
do tórax encontram-se dentro dos parâmetros de normalidade. O eletrocardiograma revela os achados
apresentados na figura seguinte:
Justificação:
O caso clínico descrito é de um homem de 18 anos que recorre ao Serviço de Urgência por síncope
seguida de convulsões e posteriormente recuperação espontânea do estado de consciência, fazendo
referência a que estaria a correr e sentiu o «coração aos saltos» antes do episódio. Refere ainda episódios
prévios semelhantes nos últimos meses. Tem antecedentes de diminuição da acuidade auditiva bilateral
e distúrbio do sono desde há 1 ano, medicado com amitriptilina desde há 3 meses. Consumo ocasional
de canabinóides. Sem alterações no exame objetivo. O eletrocardiograma revela ritmo sinusal com
prolongamento do QT.
Opção (A) – A amitriptlina é um anti-depressivo tricíclico, sendo que esta classe de fármacos se pode
associar a prolongamento do QT. No entanto, quando administrado numa dose baixa (10 mg/dia), não
são esperadas alterações eletrocardiográficas. Como tal, é improvável que esta dose do fármaco esteja na
origem do quadro. Como tal, a hipótese de QT longo congénito é mais provável.
Opção (B) – O consumo de canabinóides poderia ser responsável pela alteração do estado de consciência e
também se associa a prolongamento do QT. Como tal, como afirmado para a opção (A), considera-se que a
origem do quadro foi um evento disrítmico na sequência de prolongamento do QT, mas é improvável que a
magnitude do prolongamento do QT demonstrado no eletrocardiograma possa ser atribuído ao consumo
de canabinóides sem que haja uma patologia congénita subjacente. Por isso, embora o doente apresente
fatores adquiridos para prolongamento do QT (toma de amitriptilina e consumo de canabinóides), a
hipótese de QT longo congénito afigura-se como mais provável.
Opção (C) – Atendendo às alterações eletrocardiográficas (prolongamento QT), o mais provável é que
na origem do quadro de alteração do estado de consciência esteja um evento disrítmico potenciado pelo
prolongamento do QT.
Opção (D) – Apesar da referência a diminuição da acuidade auditiva, que se pode associar a síndrome de
Alport, a hipótese mais provável atendendo ao eletrocardiograma é que a causa seja um prolongamento
do QT. O síndrome de QT longo congénito também se pode associar a surdez neurossensorial (síndrome
de Jervell e de Lange-Nielsen).
54. Uma mulher de 18 anos, estudante universitária, vem a consulta por dores na coluna, esporádicas, que
surgem após estar muitas horas sentadas e que se resolvem espontaneamente. Neste momento está
a sintomática. A mulher solicita a realização de uma densometeria óssea porque está preocupada. “A
minha mãe tem hipertiroidismo e foi-lhe diagnosticado recentemente osteoporose, após fratura do colo
do fémur por queda.” Tem antecedentes de epilepsia, diagnosticado aos cinco anos. Pratica exercício físico
regular. Hábitos tabágicos 1-3 cigarros/ semana; nega hábitos alcoólicos. Medicada habitualmente com
fenitoína. Os sinais vitais são temperatura 36°C, frequência respiratória 15/min, frequência cardíaca 78/
min e pressão arterial 130/76 mm Hg. Ela tem 170 cm de altura e pesa 50 Kg; IMC 17,3 Kg/m2. Ao exame
físico aparenta bom estado geral. A palpação da coluna vertebral não é dolorosa. O restante exame físico,
incluindo o músculo esquelético e neurológico, encontra-se dentro dos parâmetros de normalidade.
Qual das seguintes alternativas e a resposta mais apropriada a ser dada pelo médico?
Justificação:
O caso clínico aborda uma mulher de 18 anos, com 2 fatores de risco minor para osteoporose : tabagismo
atual e tratamento com fármacos antiepiléticos ; + 1 fator de risco major : história familiar de fratura da
anca - mãe. Ora, mesmo de acordo com a NOC 001/2010 para prescrição de osteoporose no adulto, a
utente não tem indicação visto ser pré-menopausa e portanto os fatores de risco minor não contarem, e
ter apenas 1 fator de risco major. Portanto a única recomendação possível será melhorar o metabolismo
ósseo e nesse caso o aporte de cálcio.
Opção B - Parcialmente verdade até pelo benefício da exposição solar nos níveis de vitamina D ,mas
desprovido de contexto por nem sequer sabermos doses.
Opção D - Sem indicação por não apresentar sinais ou sintomas de disfunção tiroideia
Opção E - Lombalgia comum sem sinais de alarme para recurso a exame de imagem.
55. Uma mulher de 31 anos, gesta 3, para 1, vem a consulta de vigilância pré-natal, às 24 semanas de gestação.
Não tem queixas. A gestação decorreu sem intercorrências até ao momento. Aos 25 anos, teve um aborto
espontâneo às 9 semanas, resolvido com tratamento médico e curetagem uterina. Aos 28 anos teve
uma gravidez que decorreu sem complicações até a 35ª semana, altura em que teve um parto vaginal
espontâneo, com filho vivo e saudável. Os antecedentes médicos incluem um episódio depressivo aos 26
anos. Atualmente está medicada com suplemento oral de ferro. Pratica uma dieta sem ingestão de carne
desde os 27 anos. Ela tem 165 cm de altura e pesa 57 kg; IMC 21 kg/m2. Os sinais vitais são temperatura
36,2º C, frequência respiratória 15/min, frequência cardíaca 62/min e pressão arterial 110/60 mm Hg. O
exame ginecológico revela colo posterior, muito amolecido, inteiro e fechado.
Qual dos seguintes antecedentes desta grávida é o principal fator de risco de parto pré-termo?
Justificação:
O caso clínico descrito nesta pergunta é um caso de uma grávida com antecedentes de parto pré-termo.
Os principais fatores de risco associados ao PPT são gravidez múltipla e parto pré-termo anterior. Esta
grávida apresenta antecedentes de parto pré-termo. Nesta situação, a resposta correta é a E – Parto prévia
às 35 semanas.
Opção A – Aborto espontâneo – Opção incorreta - Antecedentes de aborto espontâneo não implica fator
de risco para PPT, ao contrário de ameaças de abortamento que podem estar associado a maior risco de
PPT.
Opção B – Curetagem uterina – Opção incorreta - Antecedentes de curetagem podiam implicar alterações
estruturas uterinas, não descritas neste caso clínico, porém, esta grávida apresenta um grande fator de
risco que se associa a um aumento de risco do PPT, que é antecedentes de PPT.
Opção D – Hábitos dietéticos - Opção incorreta - Quer a presença de antecedentes de episódios depressivos
ou de hábitos dietéticos não se associam a PPT.
56. Uma mulher de 52 anos recorre ao serviço de urgência por diplopia com três dias de evolução.
Adicionalmente, refere cefaléia frontal, mais intensa no canto medial da órbita esquerda. A história médica
inclui dacriocistites aguda de repetição à esquerda e cirurgia aos seios perinasais, sem complicações, há
20 anos. Os sinais vitais são temperatura 36,9°C, frequência respiratória 12/min, frequência cardíaca 76/
min e pressão arterial 155/72 mm Hg. O tónus muscular está mantido e é simétrico. O restante exame
neurológico, incluindo fundoscopia, encontra-se dentro dos parâmetros de normalidade.
Qual das seguintes alternativas é o próximo passo mais adequado para confirmar o diagnóstico mais
provável?
(A) Electromiografia
(B) Estudo analítico, incluindo hemograma
(C) Punção lombar
(D) Raio-X dos seios perinasais
(E) TC do crânio
Justificação:
O caso clínico descrito traduz uma possível recorrência de uma dacriocistite aguda. A tumefação no local
correspondente ao saco lacrimal direito (canto medial da órbita) e a história pregressa são pistas a favor
do diagnóstico. As cefaleias frontais e a diplopia recente podem corresponder a uma expansão do processo
infecioso/ inflamatório até à cavidade orbitária, podendo, portanto, traduzir uma celulite pós-septal com
foco numa dacriocistite.
A resposta certa é a Opção (E) TC do crânio, porque é o exame ideal para distinguir se há ou não
envolvimento pós-septal e por outro lado, permite evidenciar a presença de um processo infecioso
localizado ao saco lacrimal.
Opção (A) Eletromiografia – Incorreta. Teria pertinência no estudo de miopatias sistémicas que podem
ter envolvimento ocular e, consequentemente, causar diplopia, como, por exemplo, a miastenia gravis.
Opção (B) Estudo analítico, incluindo hemograma – Incorreta. Sem relevância para confirmação do
diagnóstico, contudo, poderia ser importante para avaliar a repercussão sistémica do quadro.
Opção (C) Punção lombar– Incorreta. O quadro de cefaleias frontais tem de ser enquadrado no conjunto
das queixas da doente. Não se espera encontrar a pressão intracraniana aumentada. A extensão do foco
para a fossa craniana média através da fissura orbitária superior poderia eventualmente acontecer num
caso exuberante, mas, mais uma vez, a punção lombar não seria um exame diagnóstico de dacriocistite,
mas sim de avaliação da repercussão de uma eventual complicação, apesar de nunca ser um exame à
cabeceira.
Opção (D) Raio-X dos seios paranasais – Incorreta. Uma celulite orbitária ou pós-septal na maioria das
vezes tem foco numa sinusite. Neste caso, o foco mais provável é uma dacriocistite. De qualquer forma, o
raio-X dos seios paranasais é obsoleto e o TAC crânio seria a opção mais correta.
57. Um rapaz de 6 anos é trazido à consulta de pediatria, referenciado pelo médico de família, por perdas
involuntárias de urina durante a noite, sem noites secas. Terá apresentado controle de esfíncteres diurnos
aos dois anos e meio, mas nunca apresentou controle de esfíncteres noturno. A criança e os pais tinham
sido previamente orientados pelo médico assistente no sentido de desculpabilizar a criança, não a acordar
durante a noite para urinar, promover micções regulares durante o dia, otimizar hábitos de ingestão
hídrica, privilegiando a ingestão durante o dia, e manter hábitos intestinais regulares. Tem efetuado
preenchimento de calendário miccional nos últimos dois meses. Não existem antecedentes patológicos
de relevo. O pai tem história de perda involuntária de urina noturna até aos nove anos. O exame físico
encontra-se dentro dos parâmetros de normalidade. A ecografia renovesical revela resíduo pós-miccional
de 15 mL. O exame sumário de urina não mostra alterações de relevo.
Qual das seguintes alternativas é o próximo passo mais adequado na gestão deste doente?
Justificação:
O caso clínico descreve uma criança de 6 anos com incontinência urinária intermitente durante o sono,
ou seja, enurese noturna, já sob terapêuticas de 1ª linha.
A resposta certa é a Opção (C), porque é o tratamento de 2ª linha mais eficaz, específico da enurese.
Opção (B) – Incorreta. A imipramina também faz parte dos tratamentos de 2ª linha da enurese mas pode
ser cardiotóxico, sendo o alarme mais eficaz e sem efeitos adversos desse tipo.
Opção (D) – Incorreta. As medidas já instituídas claramente falharam, pelo que se deve avançar para o
passo seguinte.
Opção (E) – Incorreta. O diagnóstico de enurese está feito e neste momento o mais indicado, perante a
falha das medidas de 1ª linha, é passar aos tratamentos de 2ª linha.
58. Uma adolescente de 14 anos vem ao consultório médico por exantema pruriginoso crónico, mais
exuberante durante os meses de inverno. Ela não tem antecedentes patológicos de relevo. O exame físico
mostra envolvimento proeminente da face, pescoço, mãos e fossas antecubitais e poplíteas. A pele xerótica
e hiperqueratótica. O exantema é caracterizado por numerosas pápulas e eritematosas, algumas lesões de
escoriação, descamação e liquidificação.
Qual das seguintes alternativas é o achado histopatológico mais provável de se encontrar nas lesões desta
doente?
Justificação:
O caso clínico descrito diz respeito a uma dermatite atópica agudizada: presença de lesões de eritema,
descamação, escoriação e liquenificação, mais evidentes nas regiões da face, pescoço, mãos e fossas
cubitais e poplíteas, que são os locais tipicamente atingidos nesta faixa etária. A dermatite atópica é uma
doença cutânea inflamatória crónica tipicamente associada à presença de atopia, isto é, à predisposição
do indivíduo para o desenvolvimento de uma reação exagerada face a fatores externos, normalmente
alergénicos, essencialmente devido a uma desregulação da resposta imunológica, por excesso de resposta
T helper do tipo 2 (Th2) comparativamente a Th1.
Opção (A) – Incorreta. Nas lesões ativas de dermatite atópica, é frequente a colonização bacteriana
tipicamente por estirpes bacterianas de Staphylococcus aureus, muitas vezes com sobreinfeção associada,
microscopicamente com abundância de bactérias e neutrófilos. A ausência de pústulas, bem como outros
sinais de infeção ativa, torna menos provável a presença destes achados.
Esta resposta também deveria ser considerada correta, visto que a hipótese de colonização bacteriana
também é possível e muito provável nos doentes com lesões crónicas de dermatite atópica (ver, por favor,
Langan SM, Irvine AD, Weidinger S. Atopic dermatitis. Lancet. 2020 Aug 1;396(10247):345-360. doi:
10.1016/S0140-6736(20)31286-1. Erratum in: Lancet. 2020 Sep 12;396(10253):758. PMID: 32738956.)
Opção (B) – Incorreta. As células gigantes multinucleadas são um tipo celular frequente nas lesões de
eczema herpético, que também pode surgir na dermatite atópica (por sobreinfeção vírica), caracterizando-
se macroscopicamente por pústulas. Atendendo à ausência de pústulas na descrição das lesões da vinheta
clínica, não estaríamos à espera de encontrar este tipo celular.
Opção (C) – Incorreta. A sobreinfeção fúngica também pode existir na dermatite atópica agudizada,
designando-se de dermatofitose e dizendo respeito à presença de lesões eritematosas circulares com halo
claro (lesões em alvo). A ausência destas lesões no exame objetivo torna menos provável a presença destes
achados a nível histopatológico.
Opção (D) – Incorreta. A presença de elementos parasitários não é típica das lesões de dermatite atópica,
pelo que esta opção está incorreta.
Opção (E) – Correta. A reação de hipersensibilidade diz respeito a uma reação desproporcional do
organismo a determinado fator, na maioria dos casos manifestando-se na forma de alergia (IgE ou não-IgE
mediada), a nível cutâneo, gastrointestinal, cardiovascular, respiratório (sistemas de órgãos mais comuns).
A patofisiologia da doença é complexa e resulta da interação entre fatores do hospedeiro e ambientais,
que desempenham papéis essenciais no desenvolvimento e modulação da doença: alterações estruturais
da barreira cutânea, predisposição genética, desregulação imunológica com predomínio de inflamação T
helper do tipo 2 (Th2), além de fatores externos como a exposição alergénica, clima, consumo tabágico e
o microbioma cutâneo.
Atendendo às opções disponíveis, esta seria uma opção de resposta. Não obstante, o termo “reação de
hipersensibilidade” é muito generalista e não especifica sequer uma alteração histopatológica em concreto,
mas sim dependente do tipo de reação de hipersensibilidade presente.
59. Um homem de 62 anos, engenheiro mecânico, vem ao consultório médico para mostrar resultados de
exames solicitados para estudo de episódios de hematúria macroscópicas, sem outros sintomas associados,
nos últimos dois meses. A história médica revela diabetes mellitus tipo 2 e trombose venosa superficial do
membro inferior há 18 meses. A medicação habitual inclui varfarina e gliclazida. É fumador de 60 UMA
desde há 45 anos.
Soro Sangue
Creatinina 0,8 mg/dL Hemoglobina 13 g/dL
Ureia 45 mg/dL [N= 10-40 mg/dL]
PSA total 1,2 ng/mL [N 4 ng/mL]
Urina
Eritrócitos 200/cga [N 3 cga]
A ecografia renal, vesical e prostática revela rins normais e próstata de 40 mm3, compatível com hiperplasia
benigna.
O caso clínico descreve um doente do sexo masculino com o principal fator de risco para neoplasias
uroteliais, o tabagismo, e hematúria macroscópica, comprovado pela eritrocitúria, sem alterações da
função renal. Sem dúvida que será necessário excluir uma neoplasia. O primeiro passo nestas situações
passará sempre por realizar uma Cistoscopia e citologia urinária (Opção A). As outras opções poderão em
algum momento ser necessários, mas nunca como primeiro passo.
60. Um adolescente de 12 anos vem a consulta de pediatria por obesidade. Ele não tem antecedentes
patológicos de relevo. A mãe é desempregada e foi submetida a colocação de banda gástrica aos 28 anos,
o pai tem antecedentes de hipertensão arterial e dislipidemia. Os sinais vitais são temperatura timpânica
37°C, frequência respiratória 18/min, frequência cardíaca 84/min e pressão arterial 132/81 mm Hg. Traz
registo de pressão arterial avaliada no domicílio com múltiplas medições acima do percentil 95 para sexo,
idade e altura. Ele tem 148 cm de altura e pesa 60 kg; IMC 27,4 kg/m2. Ao exame físico apresenta estrias
venosas no abdómen, acantose nigricans, ginecomastia bilateral simétrica. O volume testicular é de 5 mL.
bilateralmente e apresenta Tanner estádio 2 (genitais e pelo púbico). O restante exame físico incluindo
auscultação cardíaca e pulmonar, encontra-se dentro dos parâmetros de normalidade. Foi pedido estudo
analítico com perfil lipídico, função tiroideia, glucose, insulina e hemoglobina A.
Justificação:
O caso clinico descrito é de (pequeno resumo dos aspectos principais do caso). O caso clínico relata
um paciente de 12 anos, com excesso de peso, aumento de pressão arterial e achados ao exame físico
compatíveis com provável insulinorresistência (acantose nigricans). Existe ainda história familiar paterna
de hipertensão arterial e materna de obesidade. Já foi avançado com um estudo metabólico. Neste momento
aquilo que objetivamente está elevado e deverá ser devidamente identificado para avaliar qual a possível
causa etiológica, é a pressão arterial. Esta poderá ser avaliada através de um MAPA de 24 h (opção E).
Opção (A) - Incorreta. Avançar para cirurgia bariátrica numa criança jovem, com excesso de peso, sem
primeiro realizar um estudo metabólico é algo precoce.
Opção (B) - Incorreta. Um ecocardiograma e exame oftalmológico para avaliação de lesão de órgão-alvo
será também precoce.
Opção (C) - Incorreta. A ginecomastia bilateral simétrica poderá ser explicada pelo aumento de peso.
Opção (D) - Incorreta. O pedido destes parâmetros poderão fazer sentido numa fase posterior.
61. Uma mulher de 45 anos vem à consulta de medicina geral e familiar no início do inverno por cansaço e
tristeza desde há dois meses. Refere que estes sintomas se associam a angústia e falta de motivação para
levar a cabo as suas tarefas habituais. A mulher é divorciada e assistente administrativa numa empresa.
Relata que tem vindo a isolar-se, evitando contatar com vizinhos e familiares, permanecendo nos últimos
dias fechada no seu quarto e com luzes apagadas por longos períodos. Devido à intensidade crescente das
suas queixas, a doente tem faltado ao trabalho na última semana, apesar de referir que gosta do que faz
e que tem boas relações interpares. O médico apura que a doente tem pensado na ideia de morte como
solução para a sua situação, mas não deseja verdadeiramente levar a cabo qualquer ato nesse sentido.
Trata-se de uma mulher que vive só, sem outros antecedentes médicos para além da hipertensão arterial
diagnosticada há seis meses. Está medicada com irbesartan. Os sinais vitais e o exame físico encontram-se
dentro dos parâmetros de normalidade.
Qual dos seguintes é o próximo passo mais adequado na gestão desta doente?
Justificação:
O caso clínico descrito é de uma mulher de 45 anos, com hipertensão medicada com irbesartan, que
recorre ao médico de família por adinamia e humor deprimido desde há dois meses, associado a avolia,
isolamento social, pensamentos de morte (mas sem ideação suicida estruturada) e compromisso laboral.
A resposta certa é a Opção (D), porque a doente apresenta um episódio depressivo, com indicação
para realizar tratamento com um antidepressivo inibidor seletivo da recaptação da serotonina, como
escitalopram. Relativamente às outras opções de resposta:
Opção (A) – Incorreta. Apenas se recomenda a orientação para consulta de Psiquiatria quando há
necessidade de regimes mais complexos de tratamento farmacológico (por exemplo, em caso de resistência
à terapêutica farmacológica de primeira linha - SSRI) ou quando o caso exige um acompanhamento mais
intensivo, como nos casos de crises com ideação suicida.
Opção (B) – Incorreta. Os pensamentos recorrentes de morte podem surgir no contexto de quadros
depressivos. Caso a doente apresentasse ideação suicida, justificar-se-ia o encaminhamento para o serviço
de urgência.
Opção (C) – Incorreta. O diazepam consiste numa benzodiazepina, útil no alívio sintomático de quadros
de ansiedade e insónia durante curtos períodos de tratamento, mas não está indicado no tratamento de
quadros depressivos.
Opção (E) – Incorreta. A luminoterapia tem indicação em quadros de depressão ligeira, o que não se
verifica.
62. Um homem de 63 anos vem à consulta por dispneia progressiva, com um mês de evolução. Refere que,
nas últimas duas semanas, se acompanha de dor tipo pleurítica, primeiro è direita e desde o dia anterior
também à esquerda. Refere ainda tosse muito frequente, não produtiva, que lhe prejudica a qualidade do
sono. Nega perda de peso. Tem antecedentes de tuberculose na infância, neoplasia da próstata controlada
com terapêutica hormonal, há 15 anos, e artrite reumatoide sem medicação específica, há 10 anos. Os
sinais vitais são temperatura 36,2⁰C, frequência respiratória 16/min, frequência cardíaca 60/min e pressão
arterial 130/82 mm Hg. Ao exame físico observa-se edemas depressíveis dos membros inferiores até aos
joelhos. A auscultação cardíaca revela sons cardíacos rítmicos, sem sopros. A auscultação pulmonar revela
sons respiratórios diminuídos nas bases, coincidindo com macicez e diminuição das vibrações vocais,
bilateralmente. O exame do abdómen está normal à observação. O raio-X do tórax revela derrame pleural
bilateral, livre. Realiza toracocentese e colhe sangue periférico para estudo.
Justificação:
O caso clínico descrito é de um derrame pleural bilateral “de novo”, sintomático, submetido a toracocentese
diagnóstica, procedimento este essencial na abordagem posterior do derrame.
Após colhido o líquido pleural (LP), este segue para estudo, nomeadamente o doseamento de proteínas e
de LDH, indispensáveis para verificar o cumprimento dos critérios de Light:
Para efetuarmos os devidos cálculos, pedimos o doseamento dos mesmos parâmetros no plasma
sanguíneo (PS).
Portanto:
A resposta certa é a Opção D, porque a Síndrome Nefrótica é a única das patologias citadas que causa
derrame pleural com critérios de transudado. Os “edemas depressíveis dos membros inferiores” corroboram
a hipótese diagnóstica.
As opções A, B, C e E cursam, tipicamente, com exsudado (logo, pelo menos um dos critérios de Light
devia ser cumprido).
63. Uma mulher de 26 anos vem à consulta de neurologia referindo que planeia engravidar daqui a seis
meses, altura em que o marido regressa do estrangeiro. A mulher não tem queixas. É professora do ensino
secundário. A menarca foi aos 14 anos e a coitarca aos 22 anos. Tem ciclos menstruais de 27-30 dias e períodos
menstruais de 4-5 dias de duração. Teve uma única gravidez, há um ano, que terminou num abortamento
espontâneo precoce. Usa o preservativo masculino como método contracetivo. Os antecedentes médicos
incluem epilepsia diagnosticada aos 15 anos na sequência de um episódio convulsivo. Desde essa altura
que está medicada com ácido valpróico mantendo-se sem episódios convulsivos. Ela tem 163 cm de altura
e pesa 54 Kg; IMC 20 Kg/m2. Os sinais vitais são temperatura 36,1⁰C, frequência respiratória 12/min,
frequência cardíaca 72/min e pressão arterial 110/67 mm Hg. O exame físico, incluindo o ginecológico,
encontra-se dentro dos parâmetros de normalidade.
O caso clínico descrito é de (pequeno resumo dos aspetos principais do caso). A resposta certa é a Opção
(C), porque o ácido valpróico está associado a malformações major, pelo que terá de ser suspenso.
Opção (B) – Incorreta. Seria uma dose superior, dado o abortamento espontâneo precoce.
64. Um homem de 66 anos vem à consulta por polaquiúria e urgência miccional com quatro meses de evolução
e de agravamento progressivo. Refere ainda disúria e «sangue na urina» desde há três meses. Nega outras
queixas. A história médica revela hipertensão arterial, diabetes mellitus tipo 2 e obesidade, a medicação
habitual inclui enalapril e metformina. É fumador de 60 UMA. Os sinais vitais são frequência respiratória
16/min, frequência cardíaca 74/min e pressão arterial 156/94 mm Hg. Ele tem 173 cm de altura e pesa 81
Kg; IMC 27 Kg/m2. Ao exame físico apresenta-se com bom estado geral, eupneico, corado e hidratado.
A auscultação cardíaca e pulmonar encontra-se dentro dos parâmetros de normalidade. O abdómen é
globoso, indolor e sem organomegalias à palpação. O toque retal é indolor e revela próstata ligeiramente
aumentada e elástica, sem áreas endurecidas. A avaliação perineal não mostra alterações.
A causa mais provável dos achados neste doente é uma neoplasia em qual das seguintes estruturas?
(A) Bexiga
(B) Pénis
(C) Próstata
(D) Rim
(E) Testículo
Justificação:
O caso clínico descrito aponta para uma neoplasia urotelial, mais provável da Bexiga pelo fator de risco:
tabagismo (Opção A).
Opção (B) – Incorreta. Neoplasia menos comum e mais provavelmente haveria uma descrição de uma
lesão no pénis ou presença de linfadenopatia.
Opção (C) – Incorreta. O toque retal é indolor e revela próstata ligeiramente aumentada e elástica, sem
áreas endurecidas. Pelo que será menos provável uma neoplasia da próstata que apresentar-se-ia com
áreas endurecidas.
Opção (D) – Incorreta. A maior dúvida prender-se-ia muito provavelmente com esta opção. Os sintomas
urinários baixos (poliaquiúria e urgência miccional), bem como hematúria (apesar de poder surgir
também na neoplasia renal, surge mais tarde).
Opção (E) – Incorreta. Idade menos comum, bem como exame físico menos suspeito, deveria refere mais
provavelmente uma massa.
65. Uma mulher de 33 anos vem ao serviço de urgência por apresentar dor e edema no membro inferior direito.
Ela regressou ontem de uma viagem transatlântica de 11 horas de duração. Fumadora (15 UMA). Não tem
antecedentes médicos e não faz medicação habitual. Os sinais vitais são temperatura 36,1⁰C, frequência
respiratória 18/min, frequência cardíaca 60/min e pressão arterial 115/60 mm Hg. Ela tem 158 cm de
altura e pesa 55 Kg; IMC 22 Kg/m2. Ao exame físico apresenta bom estado geral, pele e mucosas coradas
e hidratadas. Os exames do tórax e abdómen encontram-se dentro dos parâmetros de normalidade. O
exame dos membros revela membro inferior direito com edema depressível na perna e dor à palpação.
Sem alteração da pele e fâneras.
Sangue
Hemoglobina 11,7 g/dL
VGM 90 fL
Leucócitos 7300/mm3
- Contagem diferencial normal
Plaquetas 185 × 109/L
Tempo de protrombina 11 segundos
Tempo de tromboplastina parcial ativada 26 segundos
D-dímeros 610 ng/mL [N < 500 ng/mL]
O restante estudo analítico, incluindo despiste de trombofilias, não apresenta alterações. O exame doppler
venoso dos membros inferiores revela trombo na crossa da safena do membro inferior direito. Após
recomendação da médica assistente, a mulher aceita incorporar um programa de cessação tabágica.
Qual das seguintes é a duração da terapêutica anticoagulante mais adequada para esta mulher?
(A) 10 semanas
(B) 5 meses
(C) 8 meses
(D) 10 meses
(E) 18 meses
O caso clínico remete para uma paciente com clínica e diagnóstico de Trombose Venosa Profunda, como
tal deverá ser medicada com terapêutica anticoagulante (como todas as opções de resposta indicam. Esta
terapêutica deverá ser de pelo menos 3 meses, pelo que apenas a opção (10 semanas) se aproxima deste
valor.
66. Um homem de 63 anos vem ao consultório médico por tosse não produtiva e dispneia com uma semana de
evolução e agravamento nas últimas 24 horas. Ele tem antecedentes de hipertensão arterial medicada com
enalapril desde há três meses. Não tem história de alergias sazonais, asma ou tosse prévia. Os sinais vitais
são temperatura 38,6 ⁰C, frequência respiratória 15/min, frequência cardíaca 110/min e pressão arterial
140/102 mm Hg. A auscultação cardíaca e pulmonar encontra-se dentro dos parâmetros de normalidade.
Justificação:
O caso clínico descreve um homem com sintomas respiratórios com 1 semana de evolução, em agravamento
nas últimas 24h, com febre associada, sugerindo um quadro de infeção das vias aéreas.
A resposta certa é a Opção (B), porque perante um quadro respiratório, em agravamento nas últimas 24h,
com febre associada, o primeiro passo é excluir infeção respiratória, sendo, a par da colheita de material
para estudo microbiológico, a realização de um raio-X do tórax. Além disso, o raio-X do tórax seria útil na
exclusão de descompensação da patologia cardíaca. Relativamente às outras opções de resposta:
Opção (A) – Incorreta. Este caso clínico é muito sugestivo de infeção respiratória, pelo que o primeiro
passo é realizar o diagnóstico, sendo para isso útil o exame de imagem, que nos ajudaria ainda a excluir
descompensação da patologia cardíaca. A adição de outro anti-hipertensor faria sentido no caso de uma
descompensação da doença cardíaca de base.
Opção (C) – Incorreta. Este caso clínico é muito sugestivo de infeção respiratória, pelo que o primeiro
passo é realizar o diagnóstico, sendo para isso útil o exame de imagem. De facto apresenta uma pressão
arterial diastólica um pouco elevada, que pode ser devida ao facto de estar no serviço de urgência e para
isso seria útil a reavaliação da pressão arterial, mas não seria o próximo passo mais adequado.
Opção (D) – Incorreta. Este caso clínico é muito sugestivo de infeção respiratória, pelo que primeiro
seria preciso confirmar o diagnóstico. A alteração da medicação hipertensora não é o próximo passo a
considerar e ainda menos para um fármaco da mesma classe.
Opção (E) – Incorreta. Este caso clínico é muito sugestivo de infeção respiratória, pelo que primeiro
seria preciso confirmar o diagnóstico. A alteração da medicação hipertensora não é o próximo passo a
considerar.
67. Uma mulher de 41 anos vem à consulta por insónias, tonturas e cefaleias que atribui a stress profissional.
Adicionalmente, refere ter galactorreia desde há quatro meses. Os antecedentes médicos incluem
hipotiroidismo tratado com levotiroxina. Os sinais vitais são temperatura 36⁰C, frequência respiratória
26/min, frequência cardíaca 76/min e pressão arterial 120/70 mm Hg. Ela tem 168 cm de altura e pesa 79
Kg; IMC 28 Kg/m2. Ao exame físico aparenta bom estado geral. A palpação da tiroide encontra-se dentro
dos parâmetros de normalidade. A auscultação cardíaca e pulmonar não revela alterações patológicas. O
abdómen está mole e depressível à palpação. O restante exame, incluindo o exame neurológico, encontra-
se dentro dos parâmetros de normalidade.
Soro
TSH 0,5 µU/mL
T3 120 ng/dL
T4 7 µg/dL
Prolactina 98 µg/L [N < 25 µg/L]
Qual dos seguintes é o próximo passo mais adequado na gestão desta doente?
Justificação:
A resposta (A) “Medicar com beta-histina”, está incorreta, apesar das tonturas/vertigens serem enquadráveis
no síndrome vertiginoso, as restantes queixas não são enquadráveis.
A resposta (B) “Medicar com lorazepam” está incorreta porque não se deve iniciar terapêutica para
insónias, perante este quadro sugestivo de prolactinoma, lesão hipofisária deve ser excluída.
A resposta (C) “Realizar ecografia tiroideia” está incorreta porque a doente não apresenta alterações na
tiroide objetivadas na palpação tiroideia.
A resposta (D) “Realizar mamografia” está incorreta porque as alterações apresentadas são mais sugestivas
de patologia hipofisária do que patologia mamária.
68. Uma mulher de 40 anos, primigesta, grávida de 11 semanas, vem à consulta pré-natal de vigilância. A
grávida não tem queixas. Trabalha como secretária de direção. Não tem antecedentes médicos de relevo.
Os antecedentes familiares incluem a mãe, de 65 anos com hipertensão arterial e o pai, de 68 anos, que
tem diabetes mellitus tipo 2. Está medicada com ácido fólico desde há três meses. Nega consumo de
tabaco, álcool ou drogas ilícitas. Ela tem 161 cm de altura e pesa 65 Kg; IMC Kg/m2. Os sinais vitais são
temperatura 36,40C, frequência respiratória 11/min, frequência cardíaca 82/min e pressão arterial 115/72
mm Hg.
Qual dos seguintes estudos clínicos é o mais adequado para solicitar neste momento?
Justificação:
O caso clínico descrito remete para a abordagem da gravidez no 1º trimestre. Uma grávida sem queixas,
com antecedentes familiares de HTA e DM2. Em suplementação vitamínica com um exame objetivo
normal, apenas evidenciando um ligeiro excesso de peso. Tendo em conta os estudos analíticos já
realizados, esta grávida carece de realizar a medição da glucose em jejum, que é um dos parâmetros que
é necessário avaliar nos rastreios do 1º trimestre. Deste modo, a opção correta é a C – Glucose em Jejum.
Relativamente às outras opções:
Opção A – Coombs direto – Opção incorreta - O teste coombs realizado no 1º trimestre é o coombs
indireto (pesquisa de aglutininas irregulares). Apesar desta grávida ser A RhD negativo, não tem indicação
para realização do teste de coombs direto.
Opção B – Ferritina – Opção incorreta - Não é um parâmetro a ser avaliado nas análises rotina do 1º
trimestre.
Opção D – Serologia da hepatite C - Opção incorreta - Não é um parâmetro a ser avaliado nas análises
rotina do 1º trimestre.
Opção E – Serologia do CMV - Opção incorreta - Não é um parâmetro a ser avaliado nas análises rotina
do 1º trimestre.
69. Uma adolescente de 14 anos é observada em consulta em consulta de vigilância. A mãe diz: «A minha filha
sempre pareceu ter excesso de peso para a idade dela, apesar de tentarmos seguir uma dieta equilibrada e
limitar o consumo de doces e refrigerantes.» A adolescente menciona sentir-se bem, com exceção de dores
ocasionais nas pernas ao caminhar. Tem bom aproveitamento escolar e nunca reprovou. Desde a menarca,
que ocorreu há cerca de 14 meses, tem cataménios irregulares. Não tem vida sexual ativa. Existe história
familiar de diabetes mellitus tipo 2 (mãe) e dislipidemia (avô paterno). Ela tem 165 cm altura (P75) e pesa
90 Kg (P95); IMC 33 Kg/m2 (>P97). Os sinais vitais são temperatura 370C, frequência respiratória 20/min,
frequência cardíaca 80/min e pressão arterial 134/84 mm Hg. Ao exame físico apresenta hiperpigmentação
na região cervical e das axilas e obesidade abdominal. O estudo de Tanner é M3 P4.
Qual das seguintes é a causa mais provável para a condição clínica desta adolescente?
Justificação:
O caso clínico descrito é de uma adolescente com excesso de peso e irregularidade menstrual que apresenta
uma descrição compatível com acantose nigricans, sugerindo um caso de insulinorresistência.
A resposta certa é a Opção (E), porque esta adolescente apresenta obesidade e acantose nigricans, associada
a insulinorresistência . Relativamente às outras opções de resposta:
Opção (A) – Incorreta. Esta adolescente apresenta obesidade e acantose nigricans, associada a
insulinorresistência. Os anticorpos anticélulas dos ilhéus pancreáticos relacionar-se-iam com a diabetes
mellitus imunomediada, .
Opção (B) – Incorreta. Esta adolescente apresenta obesidade e acantose nigricans, associada a
insulinorresistência. O aumento do androgénio sérico poderia relacionar-se com um síndrome do ovário
policístico.
Opção (D) – Esta adolescente apresenta obesidade e acantose nigricans, associada a insulinorresistência.
A diminuição da TSH sérica poderia relacionar-se com patologia tiroideia.
70. Uma mulher de 23 anos vem ao consultório médico por ardor e irritação vaginal recorrente. Estes
sintomas iniciaram-se há vários meses, quando suspendeu a toma do contracetivo oral combinado. Desde
essa altura, ela e o marido têm usado o preservativo como método contracetivo. Os sintomas da mulher
surgiram pela primeira vez após o coito e eram ligeiros, mas atualmente iniciam-se durante o ato sexual e
persistem alguns dias após o mesmo. A mulher refere que, quando usam o preservativo masculino no ato
sexual, sente ardor vulvar intenso, edema, sensação de ansiedade e taquipneia. Este quadro sintomático
não acontece quando usam preservativo feminino. A paciente não tem antecedentes conhecidos de alergia
e a revisão por sintomas é normal, exceto a ocorrência ocasional de exantema cutâneo sob os elásticos da
roupa interior. Ela tem 165 cm de altura e pesa 63 Kg; IMC 23 KG/m2. Os sinais vitais são temperatura
370C, frequência respiratória 16/min, frequência cardíaca 78/min e pressão arterial 118/54 mm Hg. O
exame físico, incluindo o exame ginecológico, encontra-se dentro dos parâmetros de normalidade.
Qual das seguintes alternativas é a causa mais provável para a sintomatologia desta mulher?
O caso clínico descrito diz respeito à presença de alterações cutâneas locais, de hipersensibilidade,
associadas ao contacto com produtos específicos, neste caso o látex (do preservativo) e os elásticos da
roupa interior.
Opção (A) – Correta. Os sintomas descritos surgem associados ao contacto com o látex presente no
preservativo. Contudo, este diagnóstico apenas pode ser estabelecido após realização de testes cutâneos e
doseamento de IgE específica ao látex. Por outro lado, a alergia ao látex, neste caso clínico, traduz-se em
sintomas localizados, explícitos na forma de dermatite de contacto provavelmente alérgica. Além disso,
as lesões associadas aos elásticos da roupa interior não se coadunam com este diagnóstico, visto que não
é explícita a composição da roupa interior da doente, pelo que não se poderia afirmar apenas tratar-se de
uma alergia ao látex.
Opção (B) – Incorreta. Embora se compreenda que o principal trigger das queixas seja o látex, não se
pode excluir a presença e uma dermatite de contacto como o diagnóstico, sendo que a mesma pode ser a
expressão da alergia ao látex. Deste modo, esta opção também deveria ser considerada correta.
Opção (C) – Incorreta. O dermografismo diz respeito ao aparecimento de uma lesão maculopapular
pruriginosa em determinada região da pele após a fricção cutânea nesse mesmo local, o que não acontece
neste caso.
Opção (D) – Incorreta. Na presença de uma infeção fúngica, os sintomas não coincidiam sempre
temporalmente com o contacto com o preservativo. Além disso, as lesões associadas ao contacto com os
elásticos não apresentam sinais de infeção.
Opção (E) – Incorreta. A neurodermatite é uma doença cutânea liqueniforme crónica, disseminada ou
localizada, pruriginosa e preferentemente localizada às regiões axilar, cervical, genital, perianal e das
pregas articulares. É, em geral, devida ao stress e não apresenta relação temporal com o contacto com
determinados produtos, mas sim desencadeada pelo ato repetido de coçar (escoriar) a pele.
71. Um homem de 56 anos, funcionário numa repartição de finanças, casado e com dois filhos, é trazido pela
mulher à consulta com o seu médico assistente por preocupações desta em relação ao seu comportamento.
Ele não tinha antecedentes patológicos de relevo até há três meses, altura em que sofreu enfarte agudo do
miocárdio, tratado com revascularização percutânea. A mulher mostra-se preocupada porque, apesar de
os médicos que seguem o doente no hospital se manifestarem satisfeitos com os resultados dos exames mais
recentes e terem já começado a falar na possibilidade de regresso ao trabalho, o doente «não está normal»
e a mulher pensa que não será capaz de retomar as suas funções: « Desde que voltou para casa do hospital
não parece o mesmo… não fala connosco à mesa, irrita-se logo se pedimos para nos dar atenção…». O
doente queixa-se principalmente de dificuldades em concentrar-se e está também preocupado com o
regresso ao trabalho: «Já no hospital não conseguia ler o jornal nem ver o telejornal… acabo sempre a
pensar com os meus botões sobre a minha doença e não consigo seguir as coisas… tenho medo do que
me vai acontecer… o meu pai morreu pouco mais velho do que eu com doença do coração e os médicos
também achavam que ele estava bem… sinto-me mais aliviado quando vou fazer as caminhadas que o
médico me recomendou, e ao fim de semana quando vou ver os jogos do meu filho… mas dura pouco
tempo.»
Qual das seguintes alternativas representa o mecanismo que, mais provavelmente, irá permitir a resolução
do quadro clínico que o doente apresenta?
Proposta de resposta: A
Justificação:
O caso clínico descrito é de um homem de 56 anos, que sofreu um enfarte agudo do miocárdio há 3 meses,
altura em que iniciou um quadro caracterizado por irritabilidade e dificuldades de concentração e leitura,
com ansiedade em torno da sua situação de saúde, em associação com antecedentes familiares (pai com
patologia cardíaca, que morreu de forma inesperada).
A resposta certa é a Opção (A), porque o doente expressamente descreve que está preocupado e ansioso
porque o seu pai, que apresentava uma patologia cardíaca que estaria controlada, morreu de forma
inesperada e, por identificação com a sua situação mórbida, tem receio que do que lhe possa acontecer.
Uma vez que este caso poderá ser compreendido como uma reação de ajustamento de adaptação à doença,
a compreensão da natureza e características da doença cardíaca é fundamental na gestão do doente no
sentido de o tranquilizar. Relativamente às outras opções de resposta:
Opção (B) – Incorreta. Como já foi referido, o doente apresenta preocupações relacionadas com a sua
condição de saúde, pelo que, em primeiro lugar, devemos explicar aspetos referentes à mesma, de modo a
aliviar o sofrimento emocional do doente.
Opção (C) – Incorreta. Para já, é prematuro o retorno à sua atividade laboral, pelo que podemos excluir
esta hipótese.
Opção (E) – Incorreta. Reforçar a opinião do especialista sem ouvir os receios do doente e ir ao encontro
das suas questões, além de não ser uma abordagem empática, fará com que o doente não se sinta ouvido
e ajudado, pelo que, em primeiro lugar, devemos explicar aspetos referentes à sua condição, que tanto o
preocupam.
72. Uma mulher de 56 anos é trazida ao serviço de urgência por prostração de novo desde há 12 horas. Está
acompanhada pelo marido, que refere que, desde há dois dias, a doente apresenta queixas de arrepios,
disúria e polaquiúria, náuseas e um registo de temperatura elevada (38,8⁰C). A história médica inclui
acidente vascular isquémico, sem sequelas, há cinco anos, e diabetes mellitus tipo 2 com 15 anos de
evolução, associada a retinopatia diabética. A medicação habitual inclui ácido acetilsalicílico, lisinopril,
hidroclorotiazida e insulina. Os sinais vitais são temperatura 37⁰C, frequência respiratória 25/min
(irregular), frequência cardíaca 101/min e pressão arterial 112/78 mmHg; SpO2 97% (ar ambiente). A
doente encontra-se na maca, letárgica, mas facilmente despertável, referindo sede e dor abdominal, sem
focalizar. As mucosas estão coradas e desidratadas e o hálito tem cheiro frutado. A auscultação cardíaca
revela sons presentes e taquicardia. A auscultação pulmonar revela hipoventilação global. O abdómen é
doloroso à palpação profunda, sem defesa ou outros sinais de irritação peritoneal. O exame da pele não
mostra alterações. O exame neurológico não mostra assimetrias na avaliação da força nem dos reflexos
osteotendinosos.
Qual dos seguintes é o próximo passo mais adequado na abordagem desta doente?
Justificação:
O caso clínico descreve uma mulher diabética medicada com insulina, com uma aparente pielonefrite que
é trazida ao serviço de urgência letárgica, desidratada, com dor abdominal, polidipsia e um hálito frutado,
o que nos sugere um quadro de cetoacidose diabética.
A resposta certa é a Opção (B), porque perante a suspeita de uma cetoacidose diabética, a gasometria
arterial é um exame inicial imprescindível na avaliação do nível de glicose no sangue, do pH e de possíveis
alterações iónicas, que pode ser realizado à cabeceira do doente e cujo resultado é imediato, permitindo-
nos agir adequadamente de forma rápida.. Relativamente às outras opções de resposta:
Opção (A) – Incorreta. Esta doente tem uma pielonefrite e apresenta-se com uma cetoacidose diabética.
Apesar de apresentar dor abdominal, esta pode ser justificada pela cetoacidose diabética, pelo que a
ecografia abdominal não teria interesse nesta fase.
Opção (C) – Incorreta. Esta doente tem uma pielonefrite e apresenta-se com uma cetoacidose diabética,
com consequente hipoventilação global. A radiografia de tórax não teria interesse.
Opção (D) – Incorreta. Esta doente tem uma pielonefrite e apresenta-se com uma cetoacidose diabética.
A letargia é uma alteração do estado mental que pode ser justificada pela cetoacidose diabética, pelo que
a TC de crânio não teria interesse nesta fase, sendo mais importante a realização da gasometria arterial.
Opção (E) – Incorreta. Esta doente tem uma pielonefrite e apresenta-se com uma cetoacidose diabética. A
urocultura teria interesse na marcha diagnóstica da pielonefrite com posterior ajuste terapêutico de acordo
com o teste de suscetibilidade aos antibióticos, mas nesta fase o mais urgente é confirmar o diagnóstico de
cetoacidose diabética e tratar os distúrbios hidroeletrolíticos subjacentes.
73. Uma mulher de 19 anos recorre à consulta para aconselhamento nutricional. Recentemente passou a ser
vegetariana e tem experimentado vários suplementos nutricionais. Tem sido saudável, à exceção de um
episódio minor de depressão durante a sua adolescência, relativo ao divorcio dos pais. Pratica exercício
diariamente e come duas refeições por dia. A sua dieta é constituída maioritariamente por carboidratos
complexos com uma porção diária de vegetais e várias porções diárias de fruta. O exame físico encontra-
se dentro dos parâmetros de normalidade. Após a avaliação, a doente despeja na sua secretária uma saca
de suplementos alimentares que comprou na loja local de comida saudável e questiona-o acerca de quais
os suplementos que deve tomar.
(A) Selénio
(B) Vitamina B6 (piridoxina)
(C) Vitamina B12 (cianocobalamina)
(D) Vitamina C (ácido ascórbico)
(E) Zinco
Proposta de resposta: C
Justificação:
A dieta vegetariana tem um aporte diminuído ou nulo em certas vitaminas de origem animal como
a vitamina B12. Por isso, deve ser aconselhada suplementação com vitamina B12. Daí a resposta (C)
“Vitamina B12” ser a correta.
A opção (A) “Selénio” está incorreta porque vários alimentos de origem vegetal são ricos em selénio como
trigo, arroz, sementes de girassol, alho e repolho.
A opção (B) “Vitamina B6 pirodoxina” está incorreta porque diversos produtos de origem vegetal são
fontes de vitamina B6 como tomate, melancia, espinafres, lentilhas, ameixas, cenoura, abacate.
A opção (D) “Vitamina C” está incorreta porque as principais fontes alimentares são os citrinos, legumes
verdes, tomates e batatas.
A opção (E) “Zinco” está incorreta porque, para além das fontes animais, feijão de soja e frutos secos,
como a amêndoa ou o amendoim são alimentos ricos em zinco.
74. Um homem de 51 anos vem à consulta para vigilância periódica. Na anamnese, refere dor discreta na
região do ombro direito, em relação com esforços físicos, que relaciona com tendinite recidivante, desde
há 15 anos. Não tem outros antecedentes médicos. Os sinais vitais encontram-se dentro dos parâmetros
de normalidade. O exame físico revela sensibilidade aumentada à palpação da região proximal do braço
direito, sem massas palpáveis. A ecografia revela tendinopatia do músculo supraespinhoso do ombro
direito. O raio-X revela aumento de volume e rarefação óssea, com espessamento da cortical e alterações
escleróticas, sem sinais de fratura, no terço proximal do úmero direito.
Considerando o diagnóstico mais provável, qual dos seguintes é o próximo passo mais adequado na gestão
deste doente?
Justificação:
O caso clínico apresentado revela um quadro de tendinopatia do supraespinhoso, com clínica compatível
e confirmação ecográfica. Até aqui, um quadro de reumatismo abarticular linear, contudo o doente foi
sujeito a avaliação radiográfica que revela alterações escleróticas, com espessamento da cortical e aumento
de volume e por outro lado áreas de rarefação óssea a nível do terço proximal do úmero. Este tipo de
alterações radiográficas pode surgir na doença óssea de Paget, que do ponto de vista analítico beneficia
de avaliação de fosfatase alcalina seriada para avaliar evolução da doença. Habitualmente nos períodos de
maior atividade a FA eleva-se, normalizando quando a doença se encontra inactiva (como é habitual após
tratamento com bifosfonato).
Opção B – O cálcio oral diário não tem qualquer cabimento no contexto de uma tendinopatia do
supraespinhoso assim como não faz parte do tratamento do Paget.
Opção C – A vitamina D não tem qualquer cabimento no contexto de uma tendinopatia do supraespinhoso
assim como não faz parte do tratamento do Paget.
Opção D – A densitometria óssea não tem qualquer interesse no seguimento de um doente com Paget.
Salienta-se ainda que não é por este doente apresentar áreas de rarefação óssea a nível do terço proximal
do úmero que vamos suspeitar de osteoporose.
75. A mãe de um recém-nascido telefona para a maternidade um dia após a alta, porque o filho chora muito e
tem receio de não ter leite suficiente. A mãe é uma adolescente de 17 anos, a gravidez foi vigiada e o parto
eutócico, de termo, sem complicações. O peso ao nascimento foi de 3400 g. A alta da maternidade ocorreu
às 48 horas após o parto, sob aleitamento materno exclusivo. A mãe refere que tenta amamentar cerca de
quatro vezes por dia e a última fralda molhada foi há cerca de seis horas. Segundo a descrição da mãe, o
recém-nascido não aparenta ter icterícia.
(A) A produção de leite materno é insuficiente e deve ser iniciada suplementação com leite adaptado
(B) Chorar muito é frequente nesta idade e pode significar apenas o início de cólicas
(C) Dado não ter icterícia e parecer bem, poderá ser avaliado na consulta de saúde infantil aos 15 dias de
vida
(D) O recém-nascido deve ser observado num serviço de urgência de imediato para avaliação de possível
desidratação
(E) O recém-nascido precisa de ser amamentado com maior frequência e deve ser avaliado no próprio dia
para revisão da técnica de amamentação
Justificação:
O caso clínico descreve um recém-nascido de 3 dias, cuja mãe tem dificuldades na amamentação (mãe
jovem, frequência de amamentação reduzida), onde existe o risco de desidratação - última fralda molhada
seis horas antes, sem outros sinais de alarme. A resposta certa é a Opção E, que valoriza o aleitamento
materno, reforça o aumento da frequência da amamentação e um seguimento próximo para revisão da
técnica de amamentação e gestão de dificuldades. Relativamente às outras opções de resposta:
Opção A – Incorreta. O caso clínico não fornece dados suficientes que permitam determinar que o leite
materno é insuficiente neste caso. A hipogalactia materna é uma causa rara de dificuldades de alimentação
no recém-nascido.
Opção B – Incorreta. Desvaloriza o principal problema neste caso clínico que é o possível défice de aporte
e a necessidade de avaliação do recém-nascido e da técnica de amamentação.
Opção C – Incorreta. Segundo o Programa Nacional de Saúde Infantil e Juvenil, o recém-nascido deve ser
avaliado no centro de saúde na primeira semana de vida. A realização do rastreio de doenças metabólicas
deve ser realizada entre o 3.º e 6.º dias de vida.
Opção D – Incorreta. O Serviço de Urgência não é o local apropriado para avaliação de um recém-
nascido de 3 dias. Deve ser incentivado o aleitamento materno em horário livre e, caso existam dúvidas
ou dificuldades na amamentação, o recurso ao centro de saúde.
76. Uma mulher de 56 anos vem à consulta por dor abdominal persistente no quadrante inferior esquerdo com
três dias de evolução. A dor associa-se a fezes mais moles e estado febril de baixa intensidade. Refere ter
comido um gelado numa esplanada há três dias. Ela não tem antecedentes patológicos de relevo e não faz
medicação habitual. Os resultados da citologia e mamografia realizadas há duas semanas encontravam-se
dentro dos parâmetros de normalidade. A colonoscopia realizada há três anos (má preparação) não revelou
alterações patológicas. Os sinais vitais hoje são temperatura 37,7 ⁰C, frequência respiratória 18/min, pulso
rítmico com frequência cardíaca 88/min e pressão arterial 138/78 mm Hg. O exame abdominal permite
verificar sensibilidade dolorosa aumentada, defesa no quadrante inferior esquerdo baixo e redução dos
ruídos hidroaéreos. O exame retal revela fezes soltas e moles, nas quais uma pesquisa de sangue oculto é
positiva.
Justificação:
Opção (A) – Incorreta. A doente não apresenta outros sinais de alarme para cancro do cólon, para além da
idade superior a 50 anos – as queixas têm 3 dias de evolução, não estão associadas a sintomas constitucionais
ou emagrecimento involuntário e não está descrita história familiar. Ainda assim, a doente deverá realizar
colonoscopia 4-6 semanas após o episódio de diverticulite aguda, para diagnóstico diferencial definitivo
com CCR.
Opção (B) – Incorreta. Na colite ulcerosa a diarreia é crónica e é o sintoma predominante, enquanto neste
caso é a dor abdominal a dominar o quadro clínico.
Opção (D) – Incorreta. Apesar da relação temporal entre a ocorrência de fezes diarreicas e a ingestão
de um alimento com lactose, nestes casos os sintomas acompanhantes mais frequentes são a distensão
abdominal e flatulência, não sendo expectável a presença de febrícula, dor localizada no QIE ou sangue
nas fezes.
Opção (E) - Incorreta. A existência de sinais de alarme – idade superior a 50 anos e PSOF positiva –
excluem a hipótese diagnóstica de Síndrome do Intestino Irritável (SII), de acordo com os Critérios
de Roma. Na SII geralmente existe pseudodiarreia crónica (neste caso tem apenas 3 dias de evolução),
com passagem frequente de pequeno volume de fezes, frequentemente associada a urgência defecatória,
tenesmo, ou sensação de evacuação incompleta.
77. Um homem de 56 anos vem à consulta de medicina geral e familiar por desequilíbrio com duas semanas de
evolução. Tem-se mantido na cama por vómitos e sensação de «paredes a rodar». Refere, adicionalmente,
zumbidos (acufenos), desde há cinco anos, que pioraram desde o acidente de viação ocorrido há três meses.
Nega surdez. Tem história de carcinoma de hipofaringe, diagnosticado há um ano e tratado com cisplatina
durante nove meses. Mantém medicação com furosemida (80 mg/dia) por edemas consequentes àquele
tratamento. é ex-fumador de 30 UMA desde há 12 meses. Sem alterações nas provas estatocinéticas. Os
sinais vitais são temperatura 36,7⁰C, frequência respiratória 14/min, frequência cardíaca 78/min e pressão
arterial 120/70 mm Hg. Ao exame físico não apresenta nistagmo espontâneo. O restante exame físico,
incluindo o otoneurológico, encontra-se dentro dos parâmetros de normalidade.
Soro
Creatinina 1,2 mg/dL
Sódio 132 mEq/L
Potássio 3,7 mEq/L
Cloro 100 mEq/L
Osmolaridade 270 mOsmol/Kg H2O
Justificação:
O caso clínico descrito é de ototoxicidade secundária a fármacos. Doente com quadro vestibular
(desequilíbrio e vertigem) e otológico (acufenos) após toma de fármacos ototóxicos: diuréticos da ansa
(furosemida) e citostáticos (cisplatina). O facto de não ter nistagmo não exclui dano vestibular, uma vez
que a ototoxicidade é geralmente simétrica, não cursando com assimetria na função dos dois vestíbulos.
O próprio acidente de viação pode ter sido um fator que contribui para a diminuição da vascularização do
ouvido interno. Estudo analítico com hiponatremia e diminuição da osmolaridade sérica.
A resposta certa é a Opção (E), uma vez que a suspensão dos diuréticos da ansa está associada a uma
reversão do dano coclear e vestibular. “Loop diuretics such as furosemide have an ototoxic efect on the
stria vascularis at high doses and cause a decrease in the endocochlear potential. This lead to a hearing loss
at all frequencies, which is generally reversible” . Relativamente às outras opções de resposta:
Opção (C) – Incorreta. O repouso pode ajudar no alívio de sintomas de um doente com um síndrome
vestibular agudo, porém não trata o problema deste. Além disso este doente já apresenta uma diminuição
da osmolaridade sérica, não seria o passo mais adequado hidratá-lo.
Opção (D) – Incorreta. As manobras de reabilitação são geralmente efetuadas após a resolução de um
síndrome vestibular agudo, no sentido de promover uma compensação da disfunção vestibular. Sem
indicação neste momento.
78. Um homem de 35 anos vem ao consultório médico por tosse seca com seis meses de evolução, mais
intensa durante o dia. Tem mantido as suas características ao longo do tempo. Nega febre, toracalgia ou
perda de peso neste período temporal. A história médica revela dislipidemia. É engenheiro civil e iniciou
novo emprego há oito meses, num escritório nos arredores da sua cidade, com horário irregular. Os
sinais vitais são temperatura 360C, frequência cardíaca 89/min e pressão arterial 110/78 mm Hg. Ele tem
175 cm de altura e pesa 76 Kg; IMC 25 Kg/m2. Ao exame físico apresenta-se com boa aparência global.
Sem gânglios palpáveis a nível cervical, supraclavicular ou axilar. O restante exame físico, incluindo a
auscultação cardíaca e pulmonar, encontra-se dentro dos parâmetros de normalidade. O doente mostra-
lhe um raio-X de tórax que não revela alterações.
Qual dos seguintes é o próximo passo mais adequado para esclarecimento diagnóstico?
(A) Broncofibroscopia
(B) Doseamento do título de IgE
(C) Endoscopia digestiva alta
(D) Espirometria com prova de broncodilatação
(E) TC do tórax
Justificação:
A resposta certa é a Opção (D), uma vez que, na presença de uma tosse crónica e uma radiografia sem
alterações, é importante avaliar a presença de asma, sendo a espirometria com broncodilatação o gold-
standard no diagnóstico. Relativamente às restantes opções de resposta:
Opção (A) – Incorreta. A broncofibroscopia não é o primeiro exame a realizar na avaliação etiológica
da tosse crónica, mas apenas após realização de exames menos invasivos em primeiro lugar. Além disso,
deveria ser realizada primariamente se houvesse referência a tosse hemoptoica, sintomas constitucionais
ou nódulo isolado na radiografia torácica.
Opção (B) – Incorreta. O doseamento do título de IgE (total e específica) permite avaliar a presença de
sensibilização alérgica, no sentido de identificar um alergénio causador dos sintomas, uma vez que o
doente iniciou sintomas após mudança de local de trabalho (possível asma/rinite alérgicas/ocupacionais).
Contudo, a avaliação inicial da IgE não seria o primeiro passo na avaliação da etiologia da tosse crónica.
Opção (C) – Incorreta. Embora devesse ser realizada uma endoscopia no sentido de excluir a presença de
doença de refluxo gastroesofágico, a coincidência temporal dos sintomas com a mudança laboral e a maior
incidência diurna não favorece tanto este diagnóstico, em detrimento de uma asma/rinite alérgicas. Deste
modo, a endoscopia poderia ser realizada se a prova de função respiratória (e o doseamento de IgE/testes
cutâneos por picada) não apresentasse alterações.
Opção (E) – Incorreta. A TAC torácica não seria o primeiro exame a ser requisitado dada a ausência de
alterações radiográficas e a ausência de agravamento ao longo do tempo, embora pudesse ser requisitada na
suspeita de uma doença pulmonar intersticial, isto é, se outros exames prévios não revelassem alterações.
79. Uma mulher de 35 anos vem à consulta por dispneia de esforço com três meses de evolução e agravamento
progressivo. No último inverno teve vários episódios em que os dedos ficaram subitamente brancos quando
expostos ao frio, seguido de dor e calor intensos. Refere ainda notar espessamento distal da pele dos dedos
das mãos. Não tem antecedentes de relevo. Os sinais vitais são temperatura 36,5⁰C, frequência respiratória
20/min, frequência cardíaca 78/min e pressão arterial 85/40 mm Hg; SpO2 94% (ar ambiente). Ela tem 165
cm de altura e pesa 68 Kg; IMC 25 Kg/m2. Ao exame físico observa-se esclerodactilia isolada das falanges
distais e acrocianose marcada. A auscultação cardíaca revela sons presentes, rítmicos e sopro sistólico
grau 2 mais audível ao longo bordo esternal esquerdo. A auscultação pulmonar releva sons respiratórios
diminuídos sem ruídos adventícios. O abdómen está mole e depressível à palpação.
Soro Sangue
Leucócitos 10500/mm3
O exame sumário da urina não revela alterações patológicas. O raio-X do tórax encontra-se dentro dos
parâmetros de normalidade. O ecocardiograma transtorácico revela dilatação das cavidades direitas;
PSAP estimada de 70 mm Hg (N < 25 mm Hg); boa função sistólica biventricular.
É mais provável que o estudo serológico seja positivo para qual dos seguintes anticorpos?
(A) Anticentrómero
(B) Anti-RNA polimerase
(C) Antitopoisomerase
(D) Anti-U1 RNP
(E) Anti-U3 RNP
Resposta oficial (ACSS): (A)
Justificação:
O caso clínico apresenta um diagnóstico inaugural provável de esclerose sistémica. A doente apresenta
fenómeno de Raynaud e esclerodactilia, e ainda síndrome biológico inflamatório com VS e PCR
elevadas. De salientar que um dos principais envolvimentos da esclerose sistémica é o pulmonar (doença
intersticial e hipertensão pulmonar arterial). Daí que seja extremamente importante a realização de
TCAR com provas funcionais respiratórias e ecocardiograma transtorácico. Este último foi realizado e
demonstra uma PSAP elevada. Muito sugestiva de hipertensão pulmonar arterial que deve obviamente
ser confirmada por cateterismo cardíaco direito. Isto justifica a dilatação das cavidades direitas (por
aumento de pressão da artéria pulmonar), a dispneia de esforço de rápido agravamento e a pressão arterial
baixa (débito cardíaco reduzido por PSAP elevada). A esclerose sistémica cursa na grande maioria dos
casos com anticorpos antinucleares positivos. Desses, os mais específicos e habitualmente encontrados
são: anticorpo anticentrómero (ACA) ; anticorpo anti-topoisomerase I ou também designado anti-Scl70
; anticorpo anti-RNA polimerase II e III. No entanto sabemos que na maioria dos casos as escleroses
sistémicas anticentrómero positivo apresentam esclerose cutânea localizada (não progride proximalmente
a cotovelos e joelhos, nem envolve tórax e abdómen) e cursam com elevado risco de hipertensão pulmonar
arterial, sendo por isso o mais provável anticorpo nesta doente.
Opção D – INCORRETO. O anticorpo anti-U1 RNP é altamente específico da doença mista do tecido
conjuntivo (DMTC) que habitualmente apresenta características clínicas de esclerose sistémica, artrite
reumatoide, lupus eritematoso sistémico e polimiosite. O envolvimento articular é muito frequente. Não
há motivo para suspeita de DMTC neste doente
Opção E – INCORRETO. O anticorpo anti-U3 RNP, também designado anti-fibrilarina, é outro anticorpo
específico de esclerose sistémica, bastante raro. Por conseguinte raramente é referido, mas salienta-se que
é habitualmente específico das formas cutâneas difusas, o que não é o caso desta doente.
80. Uma mulher de 34 anos vem ao consultório médico por dor no quadrante superior direito do abdómen,
febre, arrepios e anorexia com 24 horas de evolução. A doente teve alta de um centro cirúrgico de
ambulatório há 48 horas, após colecistectomia laparoscópica. O cirurgião descreveu que o procedimento
decorreu sem complicações, mas com evidência de alterações inflamatórias agudas e crónicas adjacentes
à vesícula biliar. Parece ansiosa e diz «Quero resolver isto para o casamento da minha irmã, daqui a 10
dias.» Ela não tem antecedentes patológicos de relevo. Tem tomado tramadol desde a data de alta. Não
toma outra medicação. Os sinais vitais são temperatura 39⁰C, frequência respiratória 22/min, frequência
cardíaca 100/min e pressão arterial 145/90 mm Hg. Ela tem 160 cm de altura e pesa 81 Kg; IMC 32 Kg/m2.
O exame abdominal revela dor à palpação do quadrante superior direito sem sinais de irritação peritoneal.
O restante exame físico encontra-se dentro dos parâmetros de normalidade.
Qual dos seguintes estudos de diagnóstico é o mais adequado, neste momento?
Justificação:
O caso clínico refere-se a um pós-operatório recente (2-3º dia) de uma colecistectomia laparoscópica.
Queixas de dor abdominal e febre. Hemodinamicamente estável. Pelo que o estudo diagnóstico inicial a
ser realizado será – C. Leucograma com contagem diferencial.
Opção (A) – Amílase – queixas de dor abdominal distintas de suspeita de pancreatite aguda. Contexto
pós-operatório recente e dor no quadrante superior direito.
Opção (D) – Raio-X tórax – estudo de dor abdominal em contexto pós-operatório, não enquadrável.
Opção (E) – TC abdominal– no estudo das queixas da doente, poderá ser enquadrável, mas não antes de
um estudo analítico ou ponderação de outro estudo imagiológico (ecografia abdominal).
81. Um homem de 54 anos vem ao hospital de dia para reavaliação clínica imagiológica a prévia a novo ciclo de
quimioterapia paliativa por carcinoma espinocelular da laringe metastizado. Ele refere quadro progressivo
de astenia e prostração; a família descreve períodos de confusão e recusa alimentar na última semana.
Nega ter febre. É fumador 100 (UMA) e consome bebidas alcoólicas (8 g/dia). A medicação habitual inclui
omeprazol. Os sinais vitais são temperatura 36,2°C, frequência respiratória 12/min, frequência cardíaca
74/min e pressão arterial 116/68 mm Hg; SpO2 98% (ar ambiente). Dor 0/10. Ele tem 172 cm de altura
e pesa 50 kg; IMC 17 kg/m2. Ao exame físico observa-se mau estado geral e alopecia. Está corado e sem
sinais de icterícia. A pele e mucosas estão desidratadas. Apresenta-se sonolento, mas despertável. Pouco
colaborante. Sem défices focais neurológicos. Sem sinais de irritação meníngea. A auscultação cardíaca
e pulmonar está dentro dos parâmetros de normalidade. O abdómen está mole, depressível e indolor a
palpação. Sem edemas periféricos.
Os resultados dos estudos analíticos revelam:
Soro Sangue
Creatinina 1,3 mg/dL Hemoglobina 10,5 g/dL
Azoto ureico 32 mg/dL HCM 32 pg/célula
Ácido úrico 6,0 mg/dL VGM 93 fL
Bilirrubina 0,8 mg/dL Leucócitos 2 300/mm3
Proteína C reativa 50 mg/L Neutrófilos, segmentados 67,8%
Sódio 142 mEq/L Plaquetas 108 x 109 L
Potássio 4,2 mEq/L
Cálcio total 4,2 mEq/L
Proteínas
Albumina 4,0 g/dL
Qual das seguintes alterações é mais provável de estabelecer o diagnóstico do quadro clínico atual?
Justificação:
O caso clínico descrito é de um doente do sexo masculino com diagnóstico de carcinoma espinocelular
da laringe metastizado, com quadro clínico inespecífico de prostração, sonolência, períodos de confusão,
astenia e anorexia. Hemodinamicamente bem, sem défices neurológicos no exame físico. Analiticamente
com hipercalcemia, leucopenia e trombocitopenia (estas últimas em provável contexto de iatrogenia à
quimioterapia). A vinheta clínica apresentada enquadra-se no diagnóstico de hipercalcemia maligna,
sendo a principal causa desta síndrome paraneoplásica a produção de PTHrP (Parathyroid hormone–
related protein).
A resposta certa é a Opção (B) - PTH diminuída. O doseamento da PTH é útil para excluir o
hiperparatiroidismo primário, uma vez que em contexto de hipercalcemia maligna a concentração de
PTH estará normal ou diminuída.
Opção (A) – Cálcio urinário diminuído. Incorreta. No contexto de hipercalcemia maligna, é expectável
a ocorrência de hipercalciúria.
Opção (E) – Vitamina D aumentada. Incorreta. Em doentes com diagnóstico de linfoma, os níveis de
1,25-dihidroxivitamina D podem estar aumentados, não sendo este o diagnóstico oncológico apresentado
na vinheta clínica.
82. Uma mulher de 51 anos vem ao consultório médico por episódios recorrentes de desconforto suprapúbico,
polaquiúria e nictúria nos últimos dois anos. Ela refere que por vezes se acompanha de dor abdominal
generalizada. Realizou previamente vários estudos clínicos que não revelaram alterações e fez vários
ciclos de antibioterapia, sem melhoria. A história médica revela perturbação de ansiedade generalizada,
depressão major e litíase renal. A medicação habitual inclui sertralina, pregabalina, metamizol e alprazolam
(SOS). A data da última menstruação foi há três meses. Os sinais vitais são temperatura 36°C, frequência
respiratória 16/min, frequência cardíaca 76/min e pressão arterial 135/89 mm Hg. Ela tem 164 cm de
altura e pesa 75 kg; IMC 135/89 mm Hg. Ao exame físico apresenta-se com bom estado geral, pele corada
hidratada. O abdómen é mole e depressível. O restante exame físico incluindo a auscultação cardíaca e
pulmonar, palpação da tiroide e exame ginecológico, encontra-se dentro dos parâmetros de normalidade.
Urina
Sangue 2+
Urocultura Estéril
Justificação:
Neste caso, a dúvida seria muito provavelmente entre a opção “Cistite intersticial” e “Dor pélvica crónica”,
sendo que esta última distingue-se por efetivamente existir uma etiologia associada, sendo que na primeira
não. Ao longo da vinheta clínica existe vários exames complementares de diagnóstico com resultado
completamente normal.
Opção (D) – Incorreta. Nunca poderá ser feito o diagnóstico de Menopausa dado a data da última
menstruação ter sido há três meses.
Opção (E) – Incorreta. Os sintomas são muito mais urinários do que gastrointestinais.
83. Um homem de 23 anos vem ao serviço de urgência por dor torácica retroesternal desde há dois dias,
com intensidade de 5/0. Refere que a dor se agrava quando deitado de costas e com inspiração e alivia
com anteflexão do tronco. Refere ainda ter tido febre, mal-estar e sensação de falta de ar nos últimos três
dias. Ele não tem antecedentes patológicos de relevo. Os sinais vitais são temperatura 37,8°C, frequência
respiratória 18/min, frequência cardíaca 67/min e pressão arterial 110/80 mm Hg. Ao exame físico
aparenta estar desconfortável. A auscultação cardíaca revela atrito audível no fim da expiração, em todos
os focos; sem sopros audíveis. A auscultação pulmonar revela sons respiratórios presentes e simétricos.
Soro Sangue
Creatinina 0,9 mg/dL Eritrócitos 4,4 x 106/mm3
Azoto ureico 40 mg/dL Hemoglobina 14 g/dL
Glucose 89 mg/dL Leucócitos 12 000/mm3
AST 23 U/L
ALT 24 U/L
Proteína C reativa 30 mg/L
Qual das seguintes é a etiologia mais provável do quadro clínico deste doente?
(A) Bacteriana
(B) Imunomediada
(C) Isquémica
(D) Neoplásica
(E) Vírica
Resposta oficial (ACSS): (E)
Justificação:
O caso clínico descrito é de um jovem de 23 anos, sem antecedentes patológicos relevantes, que recorre
ao Serviço de Urgência por dor torácica retroesternal com dois dias de evolução, de intensidade 5/10,
que agrava com o decúbito e com a inspiração e alivia com a anteflexão do tronco. Associado refere
febre, mal-estar e falta de ar. Na observação apresenta-se subfebril, com atrito audível no final da
expiração. Analiticamente destaca-se a presença de elevação dos parâmetros inflamatórios (PCR 30 mg/
dl e leucocitose). O eletrocardiograma demonstra supradesnivelamento difuso do segmento ST com
infradesnivelamento do segmento PR mais evidente nas derivações DI e DII.
A resposta correta é a opção (E). O quadro descrito é altamente sugestivo de pericardite aguda, cumprindo
três critérios de diagnóstico: dor torácica com características sugestivas de pericardite (agravamento com
o decúbito e com a inspiração e alívio com a anteflexão do tronco), presença de atrito na auscultação e
alterações eletrocardiográficas também sugestivas de pericardite (infradesnivelamento do segmento PR
e supradesnivelamento de ST difuso). Atendendo a que se trata de um doente jovem com um quadro
com poucos dias de evolução, e que se apresenta estável, a causa mais provável da pericardite é vírica.
Relativamente às restantes opções de diagnóstico:
Opção (A) – Incorreta. A pericardite bacteriana é um quadro de pericardite grave, mais comum em
doentes com história de intervenção cirurgica cardíaca ou torácica prévia, e que geralmente tem uma
apresentação grave, muitas vezes num contexto de choque séptico. Assim, num doente jovem, sem
história de intervenções recentes, que se apresenta estável e apenas com discreta elevação de parâmetros
inflamatórios (enquadrável no contexto da pericardite viral), considera-se improvável a hipótese de
pericardite bacteriana.
Opção (B) – Incorreta. A pericardite pode surgir no contexto de doenças auto-imunes, mas o caso descrito
não apresenta características clínicas que sugiram a presença de doença auto-imune subjacente, sendo por
isso esta hipótese menos provável que a pericardite vírica.
Opção (C) – Incorreta. O quadro clínico não é sugestivo de doença isquémica subjacente ao quadro de
pericardite, uma vez que nao há antecedentes que apontem para dor torácica de etiologia isquemica ou
para evento coronário recente, e que se trata de um doente jovem.
Opção (D) – Incorreta. O caso clínico descrito não sugere uma origem neoplásica, uma vez que se trata de
um doente jovem sem antecedentes patológicos conhecidos e não são descritos sintomas/sinais sugestivos
de quadro neoplásico subjacente.
84. Uma lactente de seis meses é trazida à consulta de saúde infantil para vigilância. Trata-se de uma criança
previamente saudável, com boa evolução estaturo-ponderal e desenvolvimento psicomotor adequado a
idade. Hoje está prevista a administração das vacinas do Programa Nacional de Vacinação e de BCG, por
pertencer ao grupo de risco (ainda não administrada por rotura de stock). A família tem duas semanas
de férias agendadas no Brasil, com partida em cinco semanas, numa zona onde está a ocorrer surto de
sarampo.
Para além da administração das restantes vacinas do programa Nacional de vacinação, qual das seguintes
alternativas e recomendação mais adequada?
Justificação:
O caso clínico descreve uma criança saudável que pertence ao grupo de risco para a vacinação de BCG,
mas que ainda não a fez por rotura de stock e vai para o Brasil dentro de 5 semanas, para uma zona em
que há um surto de sarampo.
A resposta certa é a Opção (A), porque além das vacinas do PNV, deve ser administrada a BCG que
está em atraso por rotura de stock e deve ainda realizar a VASPR porque vai para uma zona onde há um
surto e há alto risco de infeção. A VASPR normalmente só é administrada aos 12 meses, no entanto “se
for necessária proteção mais precoce, a 1ª dose de VASPR pode ser antecipada para os 6 meses de idade”,
segundo o PNV de 2020 da DGS.
Opção (B) – Incorreta. O lactente tem indicação para realizar, além das vacinas previstas no PNV, a BCG
e a VASPR e não há nenhum motivo que justifique administrações separadas no tempo.
Opção (C) – Incorreta. O lactente tem indicação para realizar, além das vacinas previstas no PNV, a BCG
e a VASPR e não há nenhum motivo que justifique administrações separadas no tempo.
Opção (D) – Incorreta. O lactente tem indicação para realizar, além das vacinas previstas no PNV, a BCG
e a VASPR. A VASPR normalmente só é administrada aos 12 meses, no entanto “se for necessária proteção
mais precoce, a 1ª dose de VASPR pode ser antecipada para os 6 meses de idade”, segundo o PNV de 2020
da DGS.
Opção (E) – Incorreta. O lactente tem indicação para realizar, além das vacinas previstas no PNV, a BCG
e a VASPR e não há nenhum motivo que justifique administrações separadas no tempo.
85. Uma mulher de 51 anos, solteira e sem filhos, é trazida à consulta por uma amiga por alterações do
comportamento com dois anos de evolução. Ela mostra-se muito contrariada pela iniciativa da amiga.
Fala frequentemente do diretor da escola onde trabalha como auxiliar de ação educativa, acreditando
convictamente que este pretende viver com ela, por se encontrar muito apaixonado. Esta ideia desenvolveu-
se gradualmente após ter recebido um email, que o diretor enviou a toda a comunidade escolar, elogiando
o trabalho dos funcionários da escola no ano letivo anterior. Desde então, a doente fica longas horas no
exterior da casa de família do diretor da escola, aguardando que este lhe vá falar. Refere: «Acende e apaga
as luzes para eu perceber que ele gosta de mim, mas não pode ir ter comigo porque a mulher não deixa.»
Apesar destes comportamentos, no seu ambiente de trabalho mantém-se capaz de executar diligentemente
as suas funções. Trata-se de uma mulher com bom funcionamento global, mas tímida e desconfiada. Ao
exame do estado mental mostra-se vígil, orientada em todas as dimensões, não se apurando alterações da
atenção, memória ou discurso. Não se apuram igualmente alterações sensório-percetivas. O exame físico
não revela alterações e os resultados dos estudos analíticos efetuados nos dois últimos anos não revelam
alterações patológicas.
Justificação:
O caso clínico descrito é de uma mulher de 51 anos, solteira e sem filhos, com delírio erotomaníaco
encapsulado, com anos de evolução, sem compromisso funcional. Sem mais dados de relevo.
A resposta certa é a Opção (B), porque este caso, com delírio erotomaníaco encapsulado, de início tardio,
de longa evolução e sem compromisso funcional é compatível com uma perturbação delirante do tipo
erotomaníaco. Relativamente às outras opções de resposta:
Opção (A) – Incorreta. Dado que não existe referência a episódios de alteração do humor (depressivos ou
maniformes) o diagnóstico de uma perturbação bipolar não se coloca.
Opção (C) – Incorreta. A perturbação esquizoafetiva deverá ser considerada em doentes que apresentam
episódios de alteração do humor com sintomatologia psicótica e episódios psicóticos na ausência de
alterações do humor, o que não acontece neste caso.
Opção (D) – Incorreta. Podemos excluir esta hipótese uma vez que não existe referência a sintomatologia
obsessivo-compulsiva, mas sim a um delírio monotemático.
Opção (E) – Incorreta. Apesar de a doente apresentar sintomatologia psicótica com mais de 6 meses
de evolução, não existe um impacto significativo ao nível do funcionamento (típico de Esquizofrenia).
Para além disso, não apresenta sintomas de primeira ordem de Schneider, discurso ou comportamento
desorganizado, nem sintomatologia negativa sugestiva desta entidade.
86. Um homem de 65 anos vem a consulta de medicina geral e familiar para mostrar os resultados do estudo
analítico e de ecografia abdominal. A história médica revela diabetes mellitus tipo dois e doença pulmonar
obstrutiva crónica. É fumador de 40 UMA desde os 25 anos. Os sinais vitais são temperatura 36,5°C,
frequência respiratória 16/min, frequência 84/min e pressão arterial 133/76 mm Hg. Ele tem 168 cm de
altura e pesa 68 kg; IMC 24 kg/m2. O exame físico do abdómen revelou discreta dor à palpação no flanco
esquerdo. O restante exame físico encontra-se dentro dos parâmetros de normalidade. Os resultados dos
estudos analíticos revelam:
Soro Sangue
A ecografia abdominal realizada em ambulatório mostra uma massa no pólo inferior do rim esquerdo,
com cerca de 3 cm de maior diâmetro.
Justificação:
O caso clínico descrito descreve um doente de 65 anos, fumador, com dor à palpação no flanco esquerdo
e descrição na ecografia abdominal de massa no pólo inferior do rim esquerdo, com cerca de 3 cm de
maior diâmetro. Até prova em contrário é uma neoplasia do rim. De todas as opções que nos permite
caracterizar a massa e perceber logo à partida se existe doença à distância, como “próximo passo” é a TC
toracoabdominal.
87. Uma mulher de 23 anos, gesta 2, para 1, grávida com 17 semanas de gestação, vai ao consultório médico
por eritema pruriginoso nas mãos e pernas desde a uma semana. Refere que o eritema se iniciou com
lesões caças em isoladas nas superfícies extensores dos braços e alastrou-se para as pernas. A gravidez
tem decorrido sem complicações até à data. A medicação habitual inclui vitaminas pré-natais. A mulher
trabalha como caixa numa loja de um centro comercial. A sua filha de três anos frequenta o infantário
durante as suas horas de trabalho. Ela refere que a sua filha e o marido tem um eritema semelhante.
Os sinais vitais são 36,9°C, frequência respiratória 16/min, frequência cardíaca 82/min e pressão arterial
100/60 mm Hg. A altura uterina é de 16 cm e a frequência cardíaca fetal de 152/min. A avaliação dos
membros superiores evidencia eritema papular vesicular, formando cordões lineares, nas superfícies
extensores dos braços. A tira-teste da urina é negativa para proteínas e glucose.
Justificação:
O caso clínico descrito é muito sugestivo de um quadro de escabiose - eritema papular vesicular
pruriginoso nas superfícies extensoras dos braços, mãos e membros inferiores, em expansão, formando
cordões lineares e partilhado pelos três membros da família .
A resposta certa é a Opção (B), uma vez que o eritema descrito em cordões lineares, nas superfícies
extensoras dos braços, nas mãos e nos membros inferiores, pruriginoso, em expansão e partilhado pelos
três membros da família, é muito sugestivo de escabiose.
Opção (A) – A colestase intra-hepática da gravidez é caracterizada por prurido que pode até ser intolerável,
geralmente generalizado, mas sobretudo nas palmas das mãos e plantas dos pés e que piora à noite; e
uma elevação nas concentrações séricas de ácidos biliares. Geralmente ocorre no final do segundo e/ou
terceiro trimestres. Esta doente está grávida de 17 semanas e apresenta um quadro mais típico de outro
diagnóstico.
Opção (C) – Incorreta. As manifestações mucocutâneas do lúpus eritematoso sistémico podem ser
muito variadas, no entanto, esta descrição e a partilha entre todos os membros da família sugerem como
diagnóstico mais provável a escabiose.
Opção (D) – Incorreta. A psoríase é uma doença dermatológica inflamatória crónica que se manifesta
mais tipicamente em placas. O eritema descrito neste caso clínico e a partilha do mesmo por todos os
membros da família tornam mais provável a escabiose como diagnóstico.
Opção (E) – Incorreta. A rosácea é uma doença crônica comum que pode se apresentar com uma variedade
de manifestações cutâneas embora mais tipicamente afete a face. O eritema descrito neste caso clínico e a
partilha do mesmo por todos os membros da família tornam mais provável a escabiose como diagnóstico.
88. Um casal vem ao consultório médico por não conseguir procriar após 15 meses de atividade sexual sem
qualquer contraceção. A mulher tem 31 anos e tem antecedentes de um aborto espontâneo às seis semanas
de gestação, há 3 anos, com parceiro anterior. Os ciclos menstruais são regulares, de 28-30 dias, com fluxos
menstruais de 3-4 dias. A paciente nega antecedentes de patologia ginecológica ou cirurgias prévias e não
faz medicação habitual. Os sinais vitais são temperatura 36,5º, frequência respiratória 13/min, frequência
cardíaca 80/min e pressão arterial 128/70 mmHg. Ela tem 170 cm de altura e pesa 65 kg; IMC 23 kg/m2. O
exame físico, incluindo o ginecológico, encontra-se dentro da normalidade. O parceiro atual tem 37 anos,
é saudável e não tem queixas. Ele pratica body building. Treina ginásio três horas por dia e, nos últimos
dois anos, para aumentar a massa muscular recorre a esteróides anabolizantes. Não toma substâncias
farmacológicas. Nega consumo de álcool ou tabaco. Traz análises sanguíneas com doseamento sérico de
LH diminuído e testosterona dentro dos parâmetros de normalidade. Foi efetuada colheita de sémen para
espermograma. O volume ejaculatório foi de 2 mL (N > 1,5mL).
Qual das seguintes alternativas é a explicação mais provável para a infertilidade deste casal?
Justificação:
A resposta certa é a Opção (D), porque em homens que recorrem a esteróides anabolizantes que tenham
infertilidade existe possibilidade de apresentarem uma baixa contagem de espermatozóides dada a muito
baixa secreção de LH. Esta inibição da secreção de LH deve-se à inibição por parte dos anabolizantes.
Relativamente às outras opções de resposta:
Opção (A) – Incorreta. Numa mulher sem antecedentes de patologia ginecológica ou cirurgias prévias
esta hipótese é pouco provável.
Opção (B) – Incorreta. A mulher apresenta ciclos menstruais regulares, de 28-30 dias, com fluxos
menstruais de 3-4 dias, pelo que esta hipótese é pouco provável.
Opção (C) – Incorreta. Segundo a história clínica, o parceiro não tem queixas e foi colhido espermograma
com volume normal.
Opção (E) – Incorreta. Os septos uterinos podem associar-se a perda gestacional recorrente, contudo mais
frequentemente no 2º trimestre. Esta mulher tem apenas 1 perda gestacional de 1º trimestre e com outro parceiro.
89. Um homem de 54 anos é trazido ao serviço de urgência por ter “vomitado sangue” hoje de manhã. Ele
está desde então prostrado e sudorético. A história médica inclui cirrose alcoólica. Os sinais vitais são
temperatura 35,9°C, frequência respiratória 10/min, frequência cardíaca 140/min e pressão arterial 60/42
mm Hg. Ele tem 170 cm e pesa 54 kg; IMC 17,8 kg/m2. Ao exame físico observa-se emagrecimento. O
doente está obnubilado e pouco colaborante. As mucosas tão descoradas hidratadas. Observa-se icterícia
conjuntival. O tempo de perfusão capilar é de 5 segundos. A auscultação pulmonar revela sons respiratórios
bilaterais. A auscultação cardíaca revela taquicardia, sons rítmicos, sem sopros ou galopes. O abdómen
apresenta-se globoso com maciez dos flancos, com sinais de circulação colateral. Sem hemodinâmica após
fluidoterapia intensiva.
Após esta abordagem no serviço de urgência, qual das seguintes é melhor orientação?
Justificação:
A vinheta clínica apresenta um doente com evidência de choque hemorrágico, com origem provável em
varizes gastroesofágicas, tendo em conta os antecedentes de cirrose hepática, atualmente descompensada
- com evidência de icterícia e ascite ao exame físico.
A resposta certa é a opção C. Na presença de hemorragia maciça, sem resposta às medidas de ressuscitação
inicial, está indicado o controlo hemorrágico emergente por Endoscopia Digestiva Alta (ou colocação de
Sonda de Blackmore, se EDA não disponível).
Opção (A) – Incorreta. O doente apresenta instabilidade hemodinâmica, pelo que não deverá ser admitido
em enfermaria.
Opção (B) – Incorreta. A laparotomia exploradora não está indicada na hemorragia digestiva alta - é um
recurso de última linha na hemorragia digestiva baixa.
Opção (D) – Incorreta. Não está indicada na hemorragia digestiva alta; a angiografia consiste numa
alternativa de 2.ª linha na hemorragia digestiva baixa não controlada.
Opção (E)- Incorreta. Não há vantagem na realização de TC AP na presença de hemorragia digestiva alta.
90. Um homem de 74 anos vem a consulta de urologia por queixas de polaquiúria (9 micções/dia), hesitação,
imperiosidade sem incontinência, nictúria (4 micções/noite) e jato diminuído com seis meses de evolução.
A história médica revela diabetes mellitus tipo 2 e síndrome de apneia obstrutiva do sono, e a medicação
habitual inclui metformina. É fumador de 40 UMA desde há 40 anos. Ele tem 166 cm de altura e pesa 84.
Kg; IMC 30 kg/m2 O toque retal revela próstata de cerca de 60 mm3, de consistência elástica, assimétrica,
indolor, sem nódulos. O restante exame físico encontra-se dentro dos parâmetros de normalidade.
Soro Sangue
Creatinina 0,96 mg/dL Hemoglobina 16,5 mg/dL
Ureia 46 mg/dL [N = 10-40 mg D/L]
PSA total 3,5 ng/mL [N ]
A ecografia vesical e prostática suprapúbica confirma o volume prostático de 60 mm3 e mostra um resíduo
pós-miccional de 90 mm3. A urofluxometria mostra um fluxo máximo de 13 mL/s com curva levemente
alongada.
Justificação:
O caso clínico descreve um doente típico de Hiperplasia benigna da Próstata, tendo já realizado
Urofluxometria, pelo que os exames de imagem (TC abdominal e pélvica e ecografia não acrescentariam
nada ao nível de informação). Como próximo passo deveria recorrer-se a um Mapa miccional para que
fossem melhores caracterizados os sintomas urinários baixos e só depois, numa fase seguinte, realizar-se-
ia o Estudo urodinâmico.
A Urofluxometria é um método não invasivo de quantificar o fluxo miccional, e este exame até deveria ter
sido realizado após um Mapa Miccional. Um valor de 13 mL/s, indica uma probabilidade intermédia de
obstrução.
Um resíduo pós-miccional de 90 mm3 não se encontra aumentado para que seja necessário de imediato
um Estudo urodinâmico.
91. Uma lactente de 2 meses é observada no serviço de urgência cerca de 20 minutos após convulsão tónico-
clónica generalizada, com duração de dois minutos. Desde então, encontra-se sonolenta, mas despertável.
A mãe refere febre com dois dias de evolução, associada a tosse e congestão nasal. A gestação foi vigiada e
o parto eutócico, não complicado. O crescimento e desenvolvimento encontram-se dentro dos parâmetros
de normalidade, até à data. Os sinais vitais são temperatura 38,80C, frequência respiratória 40/min,
frequência cardíaca 120/min e pressão arterial sistólica 65 mm Hg. O exame físico revela fontanela anterior
tensa. Existe boa mobilidade e movimento ativos dos quatros membros. Não há alterações ao exame dos
pares cranianos e os reflexos osteotendinosos estão normais. O sinal de Babinski está ausente. A TC do
crânio sem contraste não mostra alterações.
O caso clínico descreve uma lactente de 2 meses com uma convulsão tónico-clónica generalizada de 2
minutos que se apresenta sonolenta, com febre, taquipneica e com uma fontanela anterior tensa, o que
são sinais de alarme. Já realizou uma TC que não revelou alterações. Dados os sinais de alarme e os
antecedentes de febre, tosse e congestão nasal nos últimos 2 dias, devemos suspeitar de uma infeção do
sistema nervoso central.
A resposta certa é a Opção (C), porque a análise do LCR é crucial na suspeita de uma infeção do sistema
nervoso central, não havendo nenhuma contraindicação de momento uma vez que já foi realizada a TC.
Opção (A) – Incorreta. A lactente já não está em convulsão, está ainda no periodo pós-ictal, que está a ser
alarmantemente prolongado.
Opção (B) – Incorreta. A lactente já não está em convulsão, está ainda no periodo pós-ictal, que está a ser
alarmantemente prolongado.
Opção (D) – Incorreta. Perante uma suspeita de infeção do SNC, o próximo passo é colheita de rastreio
séptico, incluindo análise do LCR. O eletroencefalograma poderia ser justificado em caso de convulsões
de repetição, não febris nem associadas a infeção.
Opção (Z) – Incorreta. A lactente já realizou uma TC que não demonstrou alterações.
92. Um homem de 82 anos vem ao consultório médico por tonturas quando se levanta com dois meses de
evolução. Refere que as tonturas passam após cerca de 30 segundos. Vive sozinho e é independente em
todas as atividades da vida diária. Passa a maior parte do tempo num centro de dia da terceira idade.
Afirma não comer nem beber lá, porque prefere a comida e bebida da sua casa. Ele não tem antecedentes
pessoais de relevo e não faz medicação habitual. Os sinais vitais são temperatura 36,60C, frequência
respiratória 16/min, frequência cardíaca 72/min deitado e 80/min em pé e pressão arterial 120/80 mm
Hg deitado e 110/70 mm Hg em pé. A auscultação cardíaca e pulmonar encontra-se dentro parâmetros
de normalidade. O abdómen é mole, depressível e não doloroso à palpação; os ruídos hidroaéreos estão
mantidos.
Qual das seguintes alternativas é a causa subjacente mais provável dos sintomas do doente?
Justificação:
O caso clínico descrito é de um doente idoso com um quadro de tonturas, paroxísticas, de curta duração
(30 segundos), que surgem com a alteração postural, nomeadamente na passagem de uma posição de
decúbito para ortostatismo. Quadro típico de hipotensão ortostática: redução de 20 mmHg ou mais na
pressão sistólica e/ou uma redução de 10 mmHg ou mais na pressão diastólica com a mudança postural.
A frequência cardíaca normalmente aumenta para compensar uma redução postural na pressão arterial.
A resposta certa é a Opção (D), porque o doente apresenta uma redução de pelo menos 10 mm Hg na
pressão arterial diastólica com a mudança de uma posição de deitado para de pé.
Opção (A) – Incorreta. O acidente isquémico transitório é definido, temporalmente, como o início
súbito de um sintoma e / ou sinal neurológico focal com duração inferior a 24 horas, provocado por uma
diminuição transitória do fluxo sanguíneo a uma área cerebral. Este doente não apresenta qualquer défice
neurológico focal de novo e o quadro já tem dois meses de evolução.
Opção (B) – Incorreta. A doença de Ménière corresponde a uma patologia do ouvido interno caraterizada
por fenómenos recorrentes de hidrópsia endolinfática, que se traduzem clinicamente por uma tríade:
vertigem, hipoacusia e acufeno/otalgia/plenitude aural. Este doente não tem clínica compatível com um
síndrome vestibular agudo periférico.
Opção (C) – Incorreta. A hipoglicemia geralmente provoca uma prostração constante, não apenas
associada a alterações posturais.
Opção (E) – Incorreta. A vertigem posicional paroxística benigna, como o nome indica, refere-se a uma
patologia vestibular periférica caracterizada por episódios paroxísticos de vertigem, despoletada por
alterações posicionais, nomeadamente movimentos cefálicos abruptos e decúbito lateral/rotação em
decúbito. Benigna uma vez que não apresenta causa central. O quadro típico da VPPB refere-se a um
doente, com vertigem com duração de segundos, que surge com mudanças súbitas na posição cefálica
(rotação, flexão, extensão), que leva a um deslocamento dos otólitos, desprendidos das máculas, para os
canais semicirculares. Não surge com a mudança da posição de deitado para de pé.
93. Um homem de 62 anos vem à consulta por icterícia e desconforto na região epigástrica, acolia de fezes e
colúria com três meses de evolução. A história médica revela hipertensão arterial, dislipidemia, diabetes
mellitus e adenocarcinoma do reto com metástases hepáticas síncronas, com diagnóstico quatro anos
antes. Foi tratado com quimioterapia neoadjuvante, ressecção anterior do reto e hepatectomia direita por
via laparoscópica três meses depois. A medicação habitual inclui captopril e insulina. Ao exame físico
o abdómen encontra-se mole e depressível, indolor e sem massas palpáveis. O restante exame físico
encontra-se dentro dos parâmetros de normalidade.
Soro Sangue
Creatinina 1,8 mg/dL Hemoglobina 13,1 g/dL
Sódio 134 mEq/L Leucócitos 5 100/mm3
Potássio 4,8 mEq/L Plaquetas 162 × 109/L
Cloro 101 mEq/L
AST 159 U/L
ALT 180 U/L
Fosfatase alcalina 250U/L
y- glutamil transferase (GGT) 300 U/L
Bilirrubina
Total 6 mg/dL
Direta 4 mg/dL
Proteínas
Albumina 3,7 g/dL
O caso clínico descrito refere-se à abordagem de um doente ictérico. A avaliação analítica do doente revela-
nos uma hiperbilirrubinemia não isolada, à custa da fração direta. Avaliando os restantes parâmetros,
confirmamos tratar-se de um padrão colestático (elevação da GGT e FA). A história clínica sugere-nos
uma causa indolente (3 meses de evolução).
A resposta certa é a Opção (B), porque é o primeiro exame a realizar no estudo de uma icterícia com padrão
colestático com o intuito de discriminar tratar-se de uma colestase intra ou extra-hepática. Relativamente
às outras opções de resposta:
Opção (C) – Fluidoterapia. O doente tem via oral permeável e não limitada. Sem enquadramento.
Opção (D) – Sinal de Courvoisier não enquadrável. Não nos acrescenta nada à informação nem dispensa
estudo a seguir.
Opção (E) – TC toraco-abdominal com contraste. No estudo de uma icterícia indolente poderá ter
enquadramento, numa fase posterior à ecografia.
Justificação:
Proposta de resposta:
O caso clínico descrito é de um jovem de 13 anos no percentil 10 de peso e estatura, ainda sem crescimento
testicular e com pouco pêlo púbico, o que parece ser um desenvolvimento normal.
A resposta certa é a Opção (E), porque este rapaz não apresenta nenhuma anomalia. O atraso pubertário
no rapaz é definido como volume testicular <4mL aos 14 anos de idade. Devemos aguardar até essa idade
para nova observação.
Opção (A) – Incorreta. A determinação sérica de hormona de crescimento não tem qualquer valor uma
vez que esta tem uma secreção pulsátil.
Opção (B) – Incorreta. Não havendo um atraso pubertário propriamente dito, não há motivos para realizar
o doseamento da concentração sérica de testosterona.
Opção (C) – Incorreta. Não havendo um atraso pubertário propriamente dito, não há motivos para realizar
o doseamento da concentração sérica de TSH. Este faria sentido no caso de um hipogonadismo.
Opção (D) – Incorreta. Não havendo um atraso pubertário propriamente dito, não há motivos para
realizar a radiografia do punho para determinação da idade óssea.
95. Uma mulher de 39 anos vem ao serviço de urgência por letargia, fraqueza, edema intermitente do
tornozelo, artralgias e febre baixa com três semanas de evolução. Ela teve ainda múltiplos episódios de
náuseas, vómitos e diarreia durante os últimos dias. Ela tem antecedentes de lúpus eritematoso sistémico,
com diagnóstico desde há seis meses. Nessa altura, a doente iniciou uma dose elevada de prednisolona,
recentemente titulada para 5 mg diários. Refere amenorreia, e não está sexualmente ativa. Os sinais vitais
são temperatura 38,40C, frequência cardíaca 88/min, frequência respiratória 16/min e pressão arterial
92/70 mm Hg. O exame físico revela uma mulher com aparência de doente crónica, sem distress agudo,
e sem hábito cushingóide óbvio. O pescoço é flexível. Os fundos oculares encontram-se dentro dos
parâmetros de normalidade. A auscultação cardíaca mostra ritmo regular, sem sopros, e a auscultação
pulmonar revela crepitações bibasais. O abdómen apresenta discreta sensibilidade difusa. Existem sinais
de úlceras cicatrizadas na região pré-tibial, bilateralmente. O exame neurológico encontra-se dentro dos
parâmetros de normalidade.
Soro Sangue
Creatinina 4,2 mg/dL Hemoglobina 9,0 g/dL
Ureia 75 mg/dL [N= 10-40 mg/dL] Hematócrito 27 %
Glucose 178 mg/dL VGM 83 fL
Sódio 132 mEq/L Leucócitos 12 500/ mm3
Potássio 5,5 mEq/L Plaquetas 80 × 109/L
Cloro 102 mEq/L
Bicarbonato 19 mEq/L
Urina
Densidade 1010
Glucose Negativo
Proteínas 2+
Sangue 2+
Cetonas 2+
Esterase laucocitária 1+
Nitritos Negativo
Sódio 10 mEq/L
O exame microscópio de urina revela um elevado número de cilindros hialinos e ocasionalmente cilindros
de eritrócitos.
Justificação:
O caso clínico descrito é de uma doente com diagnóstico recente de lúpus eritematoso sistémico,
atualmente sob corticoterapia em dose reduzida após dose elevada inicial, que se apresenta no serviço
de urgência com múltiplos sintomas, alguns inespecíficos e outros atribuíveis a diferentes sistemas de
órgãos. Analiticamente, destaca-se anemia normocítica, leucocitose, trombocitopénia, hiperglicémia,
disfunção renal com retenção azotada e hipercalémia. A urina apresenta hematoproteinúria. Portanto, a
vinheta remete para potencialmente duas condições clínicas em simultâneo: lúpus eritematoso sistémico
e insuficiência supra-renal secundária à redução da dose de corticoterapia.
A resposta certa é a Opção (B). O quadro descrito, combinação de hipotensão, hiponatrémia e hipercalémia
e eventualmente o edema intermitente dos tornozelos, letargia, amenorreia e sintomas gastrointestinais
podem ser causadas por insuficiência supra-renal, que pode ocorrer em vários contextos, sendo um deles
a redução da corticoterapia em doente cronicamente sob esta terapêutica, como o descrito na vinheta.
Adicionalmente, as alterações de vários sistemas de órgãos numa doente com diagnóstico de de lúpus
é sugestivo de recidiva da doença, mas o aumento da dose de prednisolona não tem impacto imediato.
Assim, tendo em conta a possibilidade de insuficiência supra-renal, em que a corticoterapia tem efeito a
muito curto prazo, o próximo passo mais adequado seria aumentar a dose de prednisolona.
Opção (A) – Incorreta. A administração de insulina não está exatamente indicada nesta doente, pelo que
não é provável que seja o próximo passo.
Opção (C) – Incorreta. Apesar da descrição de febre e leucocitose, estas alterações surgem noutros
contextos além de infeções, como doenças auto-imunes. Além disso, a presença de uma infeção não
explica a constelação de achados descrita na doente, pelo que esta não será a resposta mais provável.
Opção (D) – Incorreta. Punção lombar para exame do fluido cerebroespinhal pode ser uma opção para
exclusão de etiologia infecciosa do sistema nervoso central, como meningite. No entanto, dados os
argumentos descritos para a resposta anterior, a adicionar ao facto de não existir rigidez da nuca, esta
hipótese afigura-se como menos provável, pelo que a punção lombar não seria imediatamente o próximo
passo neste contexto.
Opção (E) – Incorreta. Julgo que esta hipótese é passível de suscitar dúvidas, uma vez que estamos perante
um caso em que verificamos disfunção renal com alterações clínicas e analíticas, e estaria preconizada
a ecografia renal para obter mais informações pertinentes à avaliação de uma doente com lesão renal,
como excluir etiologia pós-renal e verificar sinais de cronicidade. No entanto, face à forte evidência de
a sintomatologia estar provavelmente associada a insuficiência supra-renal e lúpus, o aumento da dose
de corticoterapia será prioritário pois teria impacto clínico e analítico, pelo que seria prioritário em
detrimento da ecografia renal.
96. Um homem de 56 anos vem ao serviço de urgências por dispneia intensa. Acordou hoje, às 3 horas da
manhã, com uma dispneia «angustiante como nunca tinha tido». Ele diz: «Ajude-me, porque estou a
morrer!» A história médica revela hipertensão arterial, dislipidemia, cardiopatia isquémica com dois
episódios de enfarte agudo do miocárdio há quatro e dois anos. No final do último internamento, foi-lhe
dito que tinha ficado com uma função ventricular esquerda muito diminuída. Refere ter os fatores de
risco e sintomatologia cardíaca controlados, com a terapêutica instituída. Os sinais vitais são frequência
respiratória 25/min, frequência cardíaca 114/min e pressão arterial 212/132 mm Hg. Ao exame físico
está ansioso, pálido, diaforético e polipneico com tiragem respiratória. A auscultação cardíaca revela
taquicardia, sendo o restante impercetível. A auscultação pulmonar mostra crepitações, roncos e sibilos
dispersos em todo o campo pulmonar. O abdómen participa no esforço respiratório, sem dor à palpação.
Justificação:
O caso clínico descrito é de um homem de 56 anos de idade, com antecedentes de hipertensão arterial,
dislipidemia e cardiopatia isquémica (com descrição de função ventricular deprimida), que recorreu ao
Serviço de Urgência por dispneia que o despertou de madrugada. Na admissão hospitalar encontrava-
se hipertenso (pressão arterial de 212/132 mmHg), taquicardico (frequência cardíaca de 114/min),
polipneico com sinais de dificuldade respiratória, pálido e diaforético. Na auscultação pulmonar destaca-
se crepitações, roncos e sibilos dispersos em todo o campo pulmonar, sem edema dos membros inferiores.
A resposta correta é a opção (D), reduzir a pressão arterial, uma vez que o caso descrito é compatível com
um quadro de edema agudo do pulmão hipertensivo. Relativamente às restantes opções de resposta:
Opção (A) – Incorreto. O aumento da pré-carga iria agravar o quadro clínico ao aumentar a sobrecarga
volémica ao ventrículo esquerdo.
Opção (B) e (C) – Incorretas. Estas opções não estão corretas uma vez que a prioridade é reduzir a pressão
arterial e é expectável que com isso haja melhoria do quadro.
Opção (E) – Incorreta. A doente encontra-se taquicardica, mas isso pode ocorrer como consequência
do quadro de descompensação e é esperado que à medida que se reduza a pressão arterial e se alívia a
congestão pulmonar ocorra reversão da taquicardia.
97. Uma mulher de 69 anos vem à consulta, trazido por cuidador informal, referindo episódios frequentes
(três na última semana) de fadiga, tonturas, seguidas de diaforese, taquicardia, dilatação pupilar, desvio
do olhar para cima e perda de conhecimento de curto duração (>1 min). Ultimamente tem tido lapsos de
memória e pensamentos negativos. Tem antecedentes de hipertensão arterial, dislipidemia e osteoartroses
múltiplas. A medicação habitual inclui losartan, hidroclorotiazida, atorvastatina e ibuprofeno. Os sinais
vitais são temperatura 360C, frequência respiratória 14/min, frequência cardíaca 79/min e pressão arterial
152/78 mm Hg. Ela tem 158 cm de altura e peso 66 Kg; IMC 28 Kg/m2. Ao exame físico observa-se bom
estado geral. A auscultação cardíaca e pulmonar encontra-se dentro dos parâmetros de normalidade. O
abdómen está mole e depressível à palpação. O exame neurológico não revela alterações focais.
Soro Sangue
Creatinina 1,1 mg/dL Hemoglobina 11,8 g/dL
Glucose 135 mg/dL Hematócrito 42%
Ferro 52 µg/dL VGM 82 fL
HCM 27 pg
Qual dos seguintes é o próximo passo mais adequado na gestão desta doente?
Justificação:
O caso clínico descrito é de uma mulher de 69 anos com antecedentes de hipertensão, dislipidemia e
patologia osteoarticular, que recorre à consulta por episódios frequentes de fadiga e tonturas, seguidas
de diaforese, taquicardia, dilatação pupilar, desvio do olhar para cima e perda de conhecimento de
curta duração (< 1 minuto), associado a referência de lapsos de memória e pensamentos negativos. Na
observação apresenta-se hipertensa, normocárdica (79/min), sem alterações no restante exame objetivo
(nomeadamente no exame neurológico). O eletrocardiograma apresenta-se em ritmo sinusal, com
alterações inespecíficas da repolarização ventricular.
A resposta correta é a opção (C). O passo seguinte mais apropriado é solicitar holter, de modo a excluir
que os episódios descritos têm uma origem disritmica. Este exame seria adequado uma vez que a doente
refere uma frequência de 3 episódios na última semana, sendo por isso provável a sua deteção neste exame.
Relativamente às restantes opções de resposta:
Opção (A) – Incorreta. Não se deverá assumir uma etiologia psiquiátrica até exclusão de outras causas que
implicam tratamento específico dirigido, nomeadamente causas disritmicas.
Opção (B) – Incorreta. O eletroencefalograma não é a causa mais provável perante a apresentação clínica
descrita, uma vez que não há referência a movimentos involuntários ou período de recuperação lento
(confusional) após o episódio.
Opção (D) – Incorreta. A doente apresenta uma anemia discreta (Hb 11.8 g/dl) que não justifica o quadro
clínico apresentado, e não tem indicação para reposição de ferro uma vez que apresenta valores de ferro
dentro dos valores de referência.
98. Uma mulher de 73 anos é trazida pelos familiares à consulta após crise de agressividade dirigida ao marido
e aos filhos. Os familiares relatam que, nos últimos cinco meses, após ter alta de internamento hospitalar,
a doente tem estado progressivamente mais inquieta, alternando períodos de choro e ansiedade com
períodos de desorientação no tempo e no espaço. hoje afirmou ter «malfeitores em casa», acreditando que
os familiares foram substituídos por impostores. Têm ocorrido outros episódios similares, motivando o
recurso frequente ao serviço de urgência, onde fez estudo analítico e imagiológico cerebral sem alterações
de novo, e os tratamentos introduzidos não foram eficazes. Devido a estas alterações de comportamento e
dificuldades na gestão das tarefas domésticas, passou a viver em casa dos filhos. A história médica revela
hipertensão arterial, diabetes mellitus tipo 2 e dislipidemia, com adesão parcial à terapêutica. Há seis
meses, foi internada na sequência de um acidente vascular cerebral, do qual não terão resultado sequelas
motoras e da linguagem.
Qual das seguintes alternativas representa a medida que mais teria contribuído para a prevenção do
quadro clínico atual da doente?
Justificação:
A resposta certa é a Opção (B), porque trata-se de um provável quadro demencial relacionado com evento
cerebrovascular, pelo que o controlo dos fatores de risco cardiovascular (como por exemplo a tensão
arterial) constitui a medida que mais teria contribuído para a prevenção do quadro clínico atual da doente.
Relativamente às outras opções de resposta:
Opção (A) – Incorreta. O consumo diário de café não está indicado como medida preventiva desta
condição.
Opção (C) – Incorreta. A Reabilitação cognitiva precoce poderá estar indicada, contudo, não constitui
uma medida preventiva deste quadro.
Opção (D) – Incorreta. Conforme já foi referido, a medida preventiva com maior evidência consiste no
controlo de fatores de risco cardiovascular.
Opção (E) – Incorreta. Podemos excluir esta hipótese dado que não possuímos elementos sugestivos de
quadro depressivo.
99. Um homem de 54 anos é trazido ao serviço de urgência por dificuldade respiratória agravada desde há
quatro dias. Refere adicionalmente febre, tosse e expetoração esverdeada. Sem toracalgia. Nega conviventes
doentes. Tem antecedentes de obesidade. Não faz medicação. Nega vacinações recentes. Os sinais vitais
são temperatura 38,2⁰C, frequência respiratória 22/min, frequência cardíaca 112/min e pressão arterial
94/64 mm Hg; SpO2 de 87% (cânula nasal a 3 L/min). Ao exame físico observa-se doente ansioso, sentado
e com tiragem intercostal visível. As mucosas estão coradas e hidratadas. Tempo de preenchimento capilar
de 3 segundos. Sem turgescência venosa jugular a 90⁰. A auscultação pulmonar revela sons vocais nessa
área associado a crepitações na base pulmonar direita. A auscultação cardíaca revela taquicardia; sem
sopros. O abdómen está mole e depressível à palpação.
Gases
PO2 42 mm Hg
PCO2 29 mm Hg
pH 7,30
Bicarbonato 22 mEq/L
Lactatos 3,4 mmol/L
Glucose 109 mg/dL
Qual dos seguintes é o próximo passo mais adequado na gestão deste doente?
Justificação:
O caso clínico descrito é de um doente com “Alteração da temperatura + Dispneia + Frequência Cardíaca
> 90 bpm com tempo de preenchimento capilar aumentado + Frequência Respiratória 22 cpm +
Hiperlactacidemia > 2 mmol/l”. Trata-se de um quadro clínico sugestivo de sépsis com provável ponto
de partida numa Pneumonia Adquirida na Comunidade (PAC) → Consultar Norma DGS “Via Verde de
Sépsis no Adulto”.
A resposta certa é a Opção C, porque o doente apresenta gasimetricamente uma hipoxemia paO2 = 42
mmHg, apesar da oxigenoterapia suplementar. A administração de maior débito de O2 deverá ser um
passo prioritário na avaliação e tratamento destes doentes. Relativamente às outras opções de resposta:
Opção (A) – Incorreta. O doente apesar de taquicárdico não apresenta um diagnóstico de taquidisritmia
conhecido previamente ou “de novo”, pelo que não beneficiará da administração de amiodarona (um
antiarrítmico).
Opção (B) – Incorreta. A noradrenalina encontra-se indicada com o objetivo de manter a TA média
> 65mmHg, devendo ser administrada preferencialmente após correção volémica. Ora, o doente não
apresenta critérios de hipotensão (Tas < 90 mmHg), nem foi submetido a fluidoterapia, pelo que esta
intervenção (a noradrenalina) não faz sentido neste momento.
Opção (D) – Incorreta. Este doente deverá colher hemoculturas antes de receber a primeira toma de
antibiótico (na primeira hora de observação), contudo esta atitude não é prioritária à administração do
oxigénio suplementar.
Opção (E) – Incorreta. Tal como a colheita de hemoculturas, a radiografia torácica é essencial na abordagem
do doente, contudo não é prioritária, quando comparada com a correção da hipoxemia com O2.
100. Um homem de 88 anos é internado na sala de observações do serviço de urgência por dor abdominal
intensa e hematoquezias com três dias de evolução. Ele tem antecedentes de acidente vascular cerebral e
enfarte do miocárdio. Os sinais vitais são temperatura 35,5⁰C, frequência respiratória 16/min, frequência
cardíaca 130/min e pressão arterial 85/43 mm Hg. Ele tem 170 cm de altura e pesa 75 Kg; IMC 26 Kg/
m2. Ao exame físico está muito prostrado e desorientado no tempo e no espaço. A auscultação cardíaca e
pulmonar encontra-se dentro dos parâmetros da normalidade. No exame do abdómen apresenta discreta
dor à palpação na região periumbilical, com silêncio abdominal à auscultação. O exame neurológico não
apresenta sinais focais. O restante exame físico encontra-se dentro dos parâmetros de normalidade.
Soro Sangue
Proteína C reativa 230 mg/L Hemoglobina 18,5 g/dL
Amilase 350 U/L Leucócitos 25.000/mm3
Creatinoquinase 340 U/L Neutrófilos, segmentados 93 %
Plaquetas 110 × 109 /L
Qual dos seguintes é o próximo passo mais adequado na gestão deste doente?
O caso clínico descreve um doente hemodinamicamente instável, com queixas abdominais desproporcionais
ao exame físico, com silêncio abdominal à auscultação. Para além destes achados, o doente apresenta ainda
hematoquézias. O facto do eletrocardiograma mostrar fibrilação auricular de resposta ventricular rápida.
No estudo analítico, é de salientar aumento dos parâmetros inflamatórios, bem como a Creatinoquinase.
Todos estes fatores apontam para o diagnóstico de Isquemia Mesentérica.
A resposta certa é a opção (E), porque havendo um alto grau de suspeição e o facto do doente se encontrar
hemodinamicamente instável torna-o candidato imediato para tratamento cirúrgico, não devendo atrasar
com métodos de diagnóstico ou iniciar tratamento com perfusão com heparina não fracionada.
101. Um recém-nascido é observado na sala de partos. O parto ocorreu às 38 semanas e 4 dias, por cesariana, por
registo cardiotocográfico não tranquilizador. A gestação foi vigiada, sem intercorrências. A antropometria
é adequada à idade gestacional. Ao primeiro minuto apresenta frequência cardíaca 120/min, respiração
irregular, flexão das extremidades sem movimentos ativos, reatividade com alguns movimentos e cianose
das extremidades.
(A) 4.
(B) 5.
(C) 6.
(D) 7.
(E) 8.
Justificação:
O caso clínico descreve um recém-nascido avaliado na sala de partos através do Índice de Apgar. Este
índice corresponde a um método de avaliação dos recém-nascidos ao 1.º e 5.º minutos de vida, que traduz
a adaptação à vida extra-uterina. Através deste método é atribuída uma pontuação (0 a 2) a cada um dos
parâmetros: frequência cardíaca, respiração, tónus muscular, resposta a estímulos e cor da pele.
A resposta certa é a Opção C. FC 120 bpm (2 pontos) + respiração irregular (1 ponto) + flexão das
extremidades (1 ponto) + reatividade com alguns movimentos (1 ponto) + cianose periférica (1 ponto) =
6 pontos. Relativamente às outras opções de resposta:
Opção A – Incorreta. FC 120 bpm (2 pontos) + respiração irregular (1 ponto) + flexão das extremidades
(1 ponto) + reatividade com alguns movimentos (1 ponto) + cianose periférica (1 ponto) = 6 pontos.
Opção B – Incorreta. FC 120 bpm (2 pontos) + respiração irregular (1 ponto) + flexão das extremidades
(1 ponto) + reatividade com alguns movimentos (1 ponto) + cianose periférica (1 ponto) = 6 pontos.
Opção D – Incorreta. FC 120 bpm (2 pontos) + respiração irregular (1 ponto) + flexão das extremidades
(1 ponto) + reatividade com alguns movimentos (1 ponto) + cianose periférica (1 ponto) = 6 pontos.
Opção E – Incorreta. FC 120 bpm (2 pontos) + respiração irregular (1 ponto) + flexão das extremidades (1
ponto) + reatividade com alguns movimentos (1 ponto) + cianose periférica (1 ponto) = 6 pontos.
102. Um menino de 4 anos apresenta início súbito de dificuldade respiratória enquanto estava a brincar com
berlindes. Após dois minutos, o menino fica inconsciente, com respiração rápida e superficial. O pai
telefona para a linha nacional de emergência (CODU) e pede ajuda. O técnico do CODU indica que vai
enviar ajuda especializada.
Qual das seguintes alternativas é o próximo passo mais adequado na abordagem deste doente?
Justificação:
O caso clínico descreve uma obstrução da via aérea por corpo estranho, ou sufocação, numa criança
de 4 anos. A maioria das situações de sufocação em lactentes e crianças ocorre enquanto brincam ou
comem e, por isso, são muitas vezes observadas, o que permite que sejam tomadas medidas rapidamente,
se necessário. Neste caso a criança ficou inconsciente, pelo que deve ser iniciada a abordagem ABCDE.
A resposta certa é a Opção A. O primeiro passo na abordagem ABCDE é permeabilizar a via aérea.
Independentemente do método usado para permeabilizar a via aérea, é importante que o reanimador
olhe brevemente para dentro da boca para garantir que não está presente nenhum corpo estranho óbvio.
Se este for visível e o reanimador estiver confiante que o consegue retirar, deve fazê-lo. Relativamente às
outras opções de resposta:
Opção B – Incorreta. Em situações de tosse ineficaz, em que a criança está consciente, devem ser iniciadas 5
pancadas interescapulares, seguidas de 5 compressões abdominais. Neste caso a criança está inconsciente,
pelo que esta não é a abordagem correta.
Opção C – Incorreta. Em situações de tosse ineficaz, em que a criança está consciente, devem ser iniciadas
5 pancadas interescapulares, seguidas de 5 compressões abdominais (no lactente são usadas compressões
torácicas). Neste caso a criança está inconsciente, pelo que esta não é a abordagem correta.
Opção D – Incorreta. Uma vez que a criança ficou inconsciente, deve ser iniciada a abordagem ABCDE.
Antes de iniciar insuflações ventilação/boca a boca (B - breathing), deve ser permeabilizada a via aérea
(A - airway).
Opção E – Incorreta. Em situações de tosse ineficaz, em que a criança está consciente, devem ser iniciadas 5
pancadas interescapulares, seguidas de 5 compressões abdominais. Neste caso a criança está inconsciente,
pelo que esta não é a abordagem correta.
103. Um homem de 48 anos, “sem abrigo”, vai ao serviço de urgência por dor abdominal e náuseas com início
há 24 horas. Ele diz “Tenho um fígado mal porque bebi muito”. Vai habitualmente a outro hospital, mas
“como estava na vizinhança decidi vir aqui”. Ele nega vómitos e defecou pela última vez há algumas horas.
Nega cirurgias abdominais prévias. A sua última bebida alcoólica foi há cerca de 10 horas. Apresenta
aspecto pouco cuidado, mas está orientado e alerta. Os sinais vitais são temperatura 38,5°C, frequência
respiratória 22/min, frequência cardíaca 105/min e pressão arterial 140/95 mm Hg. O exame de abdominal
em decúbito dorsal, revela aumento marcado do perímetro abdominal e maciez nos flancos e onda ascítica
na percussão. Verifica sensibilidade dolorosa moderada e difusa e redução dos ruídos hidroaéreos.
Qual dos seguintes estudos clínicos é o mais adequado para confirmar o diagnóstico mais provável?
Justificação:
O caso clínico descreve um doente com história compatível com cirrose hepática de etiologia alcoólica,
que se apresenta com dor abdominal, náuseas e febre – sintomas que, associados à evidência de ascite no
exame físico e dor à palpação abdominal – colocam como principal suspeita diagnóstica uma Peritonite
Bacteriana Espontânea (PBE).
Opção (A) – Incorreta. A ecografia abdominal poderia ter um papel no diagnóstico de cirrose e ascite,
mas não permitiria o diagnóstico de PBE, que é implica a análise do líquido ascítico.
Opção (C) – Incorreta. O perfil analítico hepático poderia demonstrar evidência de doença hepática
descompensada e revelar aspectos sugestivos de infeção, mas não permite o diagnóstico de PBE.
Opção (D) – Incorreta. A radiografia abdominal simples não tem interesse no diagnóstico de PBE - está
indicada na suspeita de quadros abdominais oclusivos.
Opção (E)- Incorreta. A TC Abdominal poderá estar recomendada na avaliação de doentes com peritonite
bacteriana secundária - a suspeitar perante uma contagem excessivamente elevada de leucócitos e o
crescimento polimicrobiano na cultura do líquido ascítico.
104. Um homem de 63 anos vai ao consultório médico por cansaço para pequenos esforços que se
instalou progressivamente nas últimas três semanas. A história médica revela hipertensão arterial e
hipercolesterolemia. A medicação habitual inclui irbesartan e sinvastatina. Os sinais vitais são temperatura
36,2° C, frequência respiratória 13/min, frequência cardíaca 85/min e pressão arterial 135/80 mm Hg. Ele
tem 174 cm de altura e pesa 73 kg; IMC 24 kg/m2. Ao exame físico apresenta bom estado geral. A pele e
mucosas tão descoradas e as escleróticas levemente ictéricas. À palpação, o abdómen mole e depressível,
palpando-se a ponta do baço no final da inspiração. A auscultação cardíaca e pulmonar encontra-se dentro
dos parâmetros de normalidade. Os resultados dos estudos analíticos revelam:
Soro Sangue
Creatinina 1,38 mg/dL Hemoglobina 8,7 g/dL
Desidrogenase láctica 220 U/L VGM 100 fL
Bilirrubina Leucócitos 11 000/mm3
Total 2,5 mg/dL Neutrófilos 59%
Ferro 70 µg/dL Linfócitos 33%
Ferritina 180 ng/mL Plaquetas 395 x 109/L
Ácido fólico 5 ng/mL[N=3-17 ng/mL]
Vitamina B12 450 pg/mL [N=195-770pg/mL]
Teste de Coombs direto Positivo
Qual das seguintes alternativas é a explicação mais provável para o quadro clínico descrito?
Justificação:
O caso clínico descrito é de um homem de 63 anos, com antecedentes de HTA e hipercolesterolemia, que
se apresenta com queixas de astenia com 3 semanas de evolução. Ao exame objetivo destaca-se palidez,
icterícia das escleróticas e ligeira esplenomegalia. Analiticamente destaca-se anemia macrocítica, sem
outras citopenias, LDH 220, bilirrubina total elevada 2.5 (sem referência a fracção directa/indirecta), sem
aparentes défices vitamínicos, e uma prova de Coombs directa positiva.
A resposta certa é a Opção (D - hemólise causada por IgG antieritrocitária), correspondendo a anemia
hemolítica auto-imune por IgG, porque temos um quadro sugestivo de hemólise com LDH ligeiramente
elevada, bilirrubina total elevada (a confirmar por fracção indireta elevada), e anemia macrocítica
(provavelmente à custa de reticulocitose), e teste de Coombs direto positivo, confirmando a presença
de autoanticorpos ligados aos antigénios eritrocitários. A esplenomegalia ligeira é compatível com um
processo hemolítico crónico/subagudo.
Relativamente às outras opções de resposta:
Opção (A - anemia secundária a insuficiência renal) – Incorreta. A doença renal crónica pode acompanhar-
se de anemia, geralmente normocítica/normocrómica. Não justifica a hiperbilirrubinemia nem o teste de
Coombs direto positivo.
Opção (C - défice de ADAMTS13) – Incorreta. Esta opção corresponderia a uma situação de púrpura
trombocitopénica trombótica. Seria expectável sinais de anemia hemolítica microangiopática, com
anemia, esquizócitos no esfregaço de SP, e trombocitopenia, que não se verifica, e o teste de Coombs
direto seria negativo. Embora a insuficiência renal pudesse ser uma manifestação de PTT, neste contexto
os achados laboratoriais e o contexto clínico não suportam esta hipótese. O doente não apresenta outros
sinais/sintomas de PTT, como alterações neurológicas, febre.
Opção (E - infiltração da medula óssea por mielofibrose primária) – Incorreta. Num quadro clínico de
mielofibrose primária, seria expectável uma esplenomegalia mais evidente. Não justifica os sinais aparentes
de hemólise e o teste de Coombs positivo.
105. Um homem de 39 anos vem a consulta com o médico assistente por sensação de saciedade precoce e
cansaço para médios esforços, que se instalaram progressivamente nos últimos seis meses. Ele não tem
antecedentes médicos de relevo. Os sinais vitais são temperatura 36,2°C, frequência respiratória 15/min,
frequência cardíaca 65/min e pressão arterial 125/70 mm Hg. Ele tem 178 cm de altura e pesa 70 kg;
IMC 22 Kg/m2. Ao exame físico apresenta-se com bom estado geral. A pele e mucosas tão descoradas
e as escleróticas anictéricas. A auscultação cardíaca e pulmonar encontra-se dentro dos parâmetros de
normalidade. O abdómen é mole e depressível e o baço é palpável cerca de 12 cm abaixo do rebordo costal
esquerdo, com consistência firme.
Soro Sangue
Blastos 1%
(A) Beta-talassemia
(B) Hematopoiese extramedular por mielofibrose primária
(C) Linfoma esplênico
(D) Mutação de JAK2
(E) Translocação entre os cromossomas 9 e 22
Justificação:
O caso clínico descrito é de um homem de 39 anos, sem antecedentes de relevo, com queixas de
enfartamento precoce e cansaço para esforços de média intensidade com evolução de 6 meses. Ao exame
objetivo destaca-se palidez e esplenomegalia volumosa com bordo esplénico 12 cm abaixo do rebordo
costal. Analiticamente, destaca-se anemia normocítica ligeira, leucocitose significativa com neutrofilia
e com desvio esquerdo (presença de formas imaturas no sangue periférico, mas mais à custa das formas
mais maduras), com apenas 1% blastos, sem trombocitopenia, e BQ sem alterações de relevo.
A resposta certa é a Opção (E - translocação entre os cromossomas 9 e 2), porque esta translocação é
“driver” da leucemia mielóide crónica, que justifica esta apresentação clínica crónica com leucocitose
significativa à custa dos granulócitos mais maduros e raros blastos, e com esplenomegalia volumosa. A
anemia também é característica na apresentação.
Opção (C - linfoma esplénico) – Incorreta. Um linfoma esplénico poderia ser causa de esplenomegalia
volumosa, mas não justifica a leucocitose à custa de neutrofilia e de outros granulócitos (poderia
acompanhar-se de linfocitose, o que não é o caso).
Qual das seguintes alternativas é a medida mais adequada na gestão da grávida, neste momento?
Justificação:
O caso clínico descrito corresponde a uma primigesta de 38 semanas admitida por rotura de membranas
e trabalho de parto - fase ativa do primeiro estadio (toque à admissão a revelar um colo extinto, com 7cm
de dilatação). A avaliação realizada 4h depois revela dilatação completa, feto em apresentação cefálica de
vértice, no plano 0 de deLee (apresentação encravada). A frequência cardíaca fetal é normal (141 bpm,
com normal variabilidade, presença de acelerações e sem desacelerações) e apresenta contratilidade
uterina regular (3-4 contrações/10min). A resposta certa é a Opção (E) - Não são necessárias medidas
adicionais, porque o caso descreve uma evolução normal e adequada do trabalho de parto, com um estado
fetal tranquilizador.
Opção (A) administrar ampicilina – Incorreta. O caso clínico não descreve nenhum sinal clínico que
origine suspeição de corioamnionite (febre/leucocitose/taquicardia fetal/líquido amniótico fétido).
Opção (B) – Incorreta. Não há indicação para administrar ocitocina na situação descrita no caso clínico.
A sua administração está indicada na aceleração do trabalho de parto ou correção de hipocontratilidade
uterina e nesta situação poderia originar taquissistolia uterina (>5 contrações/10min), já que a contratilidade
uterina apresentada na cardiotocografia do caso clínico é adequada.
Opção (C) Realizar cesariana – Incorreta. Estamos perante um trabalho de parto com normal evolução e
estado fetal tranquilizador.
Opção (D) – Realizar parto instrumentado. Incorreta. Estamos perante um trabalho de parto com normal
evolução e estado fetal tranquilizador.
107. Uma mulher de 35 anos é trazida ao serviço de urgência pelo namorado depois de ter desenvolvido dispneia
severa enquanto comia o jantar. Ela descreve que estava a desfrutar da sua refeição com salada, carne e
batatas quando subitamente desenvolveu dispneia, pieira e um forte aperto torácico. Durante o percurso
de carro para a urgência, desenvolveu náuseas e teve uma dejeção diarreica aquosa logo após chegar ao
serviço de urgência. Também tinha bebido vinho tinto durante o jantar, estava no terceiro copo de vinho
quando os sintomas surgiram. Não teve episódios semelhantes no passado. Não tem alergias alimentares
conhecidas, mas salienta que raramente bebe vinho, especialmente vinho tinto. Tem história de rinite
alérgica, mas sem história de asma ou outros problemas médicos graves. Os sinais vitais são temperatura
37,4°C, frequência respiratória 28/min, frequência cardíaca 120/min e pressão arterial 90/60 mm Hg; SpO2
93% (ar ambiente). A pele da doente apresenta pequenas pápulas eritematosas pruriginosas dispersas. A
auscultação cardíaca é rítmica, com S4 audível e auscultação pulmonar revela sibilos expiratórios discretos.
O exame físico abdominal e o raio X do tórax encontram-se dentro dos parâmetros de normalidade.
(A) Broncoscopia
(B) Cintigrafia pulmonar de ventilação/perfusão
(C) Concentração sérica de complemento
(D) Concentração sérica de histamina
(E) Sem necessidade de estudos adicionais
Justificação:
O caso clínico relata uma doente que aparenta ter desenvolvido uma anafilaxia. Tem antecedentes de rinite
alérgica, mas sem alergias conhecidas. Contudo, todo o quadro após o jantar é a favor de uma anafilaxia:
aparecimento de sintomas cutâneos, respiratórios, cardiovasculares e gastrointestinais, após ingestão de
alimento suspeito (que parece ser o vinho, embora isso teria de ser alvo de estudo posterior em consulta).
A anafilaxia é um diagnóstico maioritariamente clínico, pelo que, neste caso, o primeiro passo seria a
administração de adrenalina, não sendo necessário submeter a doente a outros exames complementares
de diagnóstico.
Em todo o caso, existem análises complementares que podem ser utilizadas para corroborar o diagnóstico
clínico de anafilaxia, nomeadamente o doseamento da triptase sérica, bem como o doseamento de
histamina sérica, pelo que a opção (E) não é totalmente adequada, visto que estes dois marcadores podem
ser utilizados para confirmar o diagnóstico de anafilaxia. Embora se saiba que este é um diagnóstico
essencialmente clínico e que pela história clínica tínhamos atingimento dos quatro sistemas de órgãos, não
pode ser afirmado taxativamente não haver necessidade de estudos adicionais, visto que os biomarcadores
podem ser medidos e isso é feito frequentemente (com a triptase, pela sua elevada sobrevida).
Opção (A) – incorreta, visto que este exame não é utilizado no diagnóstico do doente com anafilaxia.
Opção (B) – incorreta, uma vez que a cintigrafia pulmonar de ventilação/perfusão não tem utilidade no
diagnóstico de anafilaxia, mas sim do doente com tromboembolismo pulmonar (entre outros).
Opção (C) – incorreta, visto que o complemento é doseamento no estudo etiológico de episódios de
angioedema isolado, e não numa anafilaxia.
Opção (D) – pode ser considerada correta, visto este ser um biomarcador de anafilaxia (por favor, ler
explicação acima e referência: Beck, Sarah C et al. “Biomarkers in Human Anaphylaxis: A Critical Appraisal
of Current Evidence and Perspectives.” Frontiers in immunology vol. 10 494. 5 Apr. 2019, doi:10.3389/
fimmu.2019.00494).
108. Um homem de 39 anos vem à consulta por mal-estar geral, rinorreia, tosse e expetoração escassa desde há
uma semana. Ele não tem antecedentes patológicos de relevo e não faz medicação habitual. Os sinais vitais
são temperatura 36,1°C, frequência respiratória 16/min, frequência cardíaca 62/min e pressão arterial
120/70 mm Hg; SpO2 99% (ar ambiente). Ao exame físico apresenta escleróticas ictéricas e rinorreia
não purulenta. Auscultação cardíaca e pulmonar encontra-se dentro dos parâmetros de normalidade. O
abdómen é mole e depressível, sem organomegalias. Os resultados analíticos revelam:
Soro Sangue
ALT 32 U/L Hemoglobina 13,2 g/dL
AST 40 U/L VGM 99 fL
Fosfatase alcalina 95 U/L Leucócitos 5 000/mm3
Bilirrubina Neutrófilos, segmentados 55%
Total 2,9 mg/dL Linfócitos 25%
Direta 0,3 mg/dL Plaquetas 168 x 109/L
Desidrogenase láctica (LDH) 82 U/L Velocidade de sedimentação 13 mm/1.ª hora
eritrocitária
Qual das seguintes alternativas é a causa mais provável de alteração das escleróticas?
O caso clínico descrito é de abordagem ao doente ictérico. Trata-se de um doente sem sintomatologia
associada, de 39 anos. Analiticamente trata-se de uma hiperbilirrubinemia isolada, à custa da fração
indireta. A resposta certa é a Opção (E), Síndrome de Gilbert, porque na ausência de hemólise, uma
hiperbilirrubinemia indireta, isolada, num doente assintomático/saudável pode atribuir a Síndrome de
Gilbert, dispensando avaliações secundárias. Relativamente às outras opções de resposta:
Opção (A) – Deficiente de vitamina B12. Poderia contribuir em casos extremos se houvesse sinais de uma
eritropoiese ineficaz, algo que o hemograma descarta.
Opção (C) – Hepatite vírica. Uma hepatite poderá ser uma causa de icterícia, mas associadamente teria de
ter alterações analíticas associadas, como elevação de transaminases e/ou marcadores de colestase, que no
caso se encontram dentro dos parâmetros da normalidade.
Opção (D) – Litíase biliar. É uma causa frequente de icterícia, mas obstrutiva. Ou seja, com alterações
analíticas associadas, colestáticas.
109. Uma mulher de 47 anos recorre à consulta por artralgias localizadas às mãos, intermitentes, com mais
de seis meses de evolução. Refere dor localizada às pequenas articulações interfalângicas as proximais
e distais das mãos, assimétricas, acompanhadas de calor, rubor e edema. A doente está receosa de ter a
mesma doença da mãe (artrite reumatoide). Ela não tem antecedentes patológicos de relevo. A medicação
habitual inclui ibuprofeno, em S.O.S, frequentemente. Os sinais vitais são temperatura 36°C, frequência
respiratória 16/min, frequência cardíaca 69/min e pressão arterial 132/74 mm Hg. O exame físico revela
deformação das articulações metacarpofalângicas e interfalângicas distais e desvio cubital dos 3º, 4º e 5º
dedos das mãos.
Qual dos seguintes estudos analíticos é mais específico para o diagnóstico mais provável desta doente?
Justificação:
Opção A- INCORRETA. Não há qualquer suspeita de síndrome anticorpo antifosfolipidico (sem evento
trombótico arterial e/ou venoso e sem morbilidade da gravidez, nomeadamente abortamentos, pré-
eclâmpsia ou partos pré-termo.
Opção E – INCORRETA. A velocidade de sedimentação é um reagente de fase aguda, que sabemos que
habitualmente se encontra elevado nas diversas doenças reumáticas inflamatórias, nomeadamente na AR.
Contudo não apresenta qualquer especificidade
110. Um homem de 75 anos vem ao serviço de urgência por notar os membros inferiores e o abdómen aumentados
de volume de forma significativa nos últimos dias. A história médica revela hipertensão arterial, diabetes
mellitus, dislipidemia, enfarto agudo do miocárdio há dois anos, motivo pelo qual mantém seguimento
regular em consulta hospitalar. A medicação habitual inclui furosemida, valsartan, ácido acetilsalicílico,
bisoprolol, metformina e rosuvastatina. É fumador de 60 UMA. Os sinais vitais são temperatura 36,5°C,
frequência respiratória 16/min, frequência cardíaca 58/min e pressão arterial 124/78 mm Hg. Ao exame
físico está lúcido e colaborante, eupneico, com as mucosas coradas e hidratadas. Auscultação cardíaca
revela S1 e S2 presentes sem sopros. Auscultação pulmonar revela escassas crepitações bibasais, sem
broncoespasmo. O abdómen está muito estendido, com sinal da onda de líquido presente. Existem edemas
depressíveis muito marcados dos membros inferiores acima dos joelhos.
Soro Sangue
Creatinina 1,9 mg/dL Hemoglobina 14,2 g/dL
Glucose 104 mg/dL Leucócitos 4 500/mm3
ALT 30 U/L
AST 20 U/L
Troponina I 4 ng/mL
Qual das seguintes alternativas é o próximo passo mais adequado na gestão deste doente?
Justificação:
Proposta de resposta:
O caso clínico descrito é de um homem de 75 anos, com antecedentes de enfarte agudo do miocárdio
e vários fatores de risco cardiovascular (hipertensão arterial, diabetes, dislipidemia e tabagismo), que
recorreu ao Serviço de Urgência por edema dos membros inferiores e abdómen. Encontra-se medicado
em ambulatório com: furosemida, valsartan, ácido acetilsalicílico, bisoprolol, metformina e rosuvastatina.
Na admissão encontra-se hemodinamicamente estável e normotenso; o exame objetivo revela crepitações
bibasais na auscultação pulmonar, ascite e edema marcado dos membros inferiores. Analiticamente a
destacar creatinina 1.9 mg/dl.
A resposta mais correta é a opção (D), solicitar eletrocardiograma, uma vez que se trata de um doente com
antecedentes de patologia cardíaca e que se apresenta com quadro compatível com descompensação de
insuficiência cardíaca com evidência de estase pulmonar e periférica. Relativamente às restantes opções
de resposta:
Opção (A) – Incorreta. O doente apresenta sinais de congestão e por isso teria indicação para terapêutica
diurética, contudo atendendo a que o doente está estável seria razoável aguardar por informação dos
exames complementares e só depois instituir terapêutica, ainda que na prática clínica se fizesse ambas em
simultâneo.
Opção (B) – Incorreta. Embora o doente apresente creatinina de 1.9 mg/dl, em eventual contexto de
doença renal crónica ou lesão renal aguda no contexto de descompensação da insuficiência cardíaca,
não haveria indicação para realizar hemodiálise neste momento, devendo primeiro realizar-se terapêutica
diurética e avaliar a resposta.
Opção (C) – Incorreta. Apesar dos antecedentes pessoais de enfarte agudo do miocárdio, o doente não
faz qualquer referência a dor torácica ou equivalente anginoso (p.ex – dispneia), referindo ter vindo ao
Serviço de Urgência apenas por notar agravamento da ascite e do edema dos membros inferiores. Assim,
não havendo também evidência alterações compatíveis com isquemia em evolução no eletrocardiograma,
não haveria indicação para repetir o doseamento de troponina por não se considerar como hipótese de
diagnóstico um síndrome coronário agudo na origem deste quadro.
Opção (E) – Incorreta. A radiografia de tórax seria um exame importante a ser solicitado neste contexto,
uma vez que permitiria avaliar o derrame pericárdico e detetar alguma alteração pulmonar (p.ex -
consolidação) que pudesse sugerir algum foco infecioso na origem do quadro (fator de descompensação
da insuficiência cardíaca). Contudo, uma vez que não há referência a febre ou queixas respiratórias, e
que é pedido para escolher apenas um exame, considera-se que o passo mais prioritário é solicitar o
eletrocardiograma.
Nota: Na prática clínica, as opções (A), (D) e (E) seriam realizadas em simultâneo, de modo a instituir
de imediato terapêutica de alivio de congestão no doente e reduzir o tempo de permanência no Serviço
de Urgência, pelo que se considera que sobretudo entre as opções (A) e (D) é altamente discutível qual a
opção mais correta.
111. Uma mulher de 47 anos vem à consulta hospitalar para estudo de pico monoclonal em eletroforese de
proteínas. Os sinais vitais são temperatura 36,4°C, frequência cardíaca 64/min e pressão arterial 100/60
mm Hg. Ela tem 165 cm de altura e pesa 55 Kg; IMC 20 kg/m2. O exame físico encontra-se dentro dos
parâmetros de normalidade.
Soro Sangue
Creatinina 1,0 mg/dL Hemoglobina 12,8 g/dL
Cálcio total 9,9 mg/dL Leucócitos 5 300/mm3
Imunoglobulinas Neutrófilos, segmentados 59%
IgA 2 200 mg/dL Linfócitos 31%
IgG 1300 mg/dL Plaquetas 212 x 109/L
IgM 250 mg/dL
Urina
Cadeias leves Negativo
A imunofixação sérica é positiva para IgA e K. O medulograma revela 8% de plasmócitos clonais. O raio-X
do esqueleto não apresenta lesões líticas.
Justificação:
O caso clínico descrito é de uma mulher referenciada para estudo de pico monoclonal. A avaliação revela
gamapatia monoclonal IgA kappa e mielograma com 8% de plasmócitos. O hemograma, bioquímica e Rx
esqueleto excluiu lesões de órgão alvo (nomeadamente anemia, insuficiência renal, hipercalcemia e lesões
líticas)
A resposta certa é a Opção (B- gamapatia monoclonal de significado indeterminado), dado estarmos
perante a presença de proteína monoclonal IgA sem critério definidor de mieloma indolente e sintomático
(visto dada ausência de >10% plasmócito e ausência de lesão órgão alvo). Relativamente às outras opções
de resposta:
Opção (A- doença das cadeias pesadas) – Incorreta. A doença de cadeia pesada mais frequente é do tipo
IgA, que geralmente cursa com envolvimento gastrointestinal (doença imunoproliferativa do intestino
delgado). A ausência de sintomatologia GI e a raridade desta entidade torna o diagnóstico menos provável.
Opção (C- linfoma indolente com gamapatia monoclonal associada) – Incorreta. O linfoma indolente
geralmente cursa com adenopatias periféricas e organomegalias e a gamapatia monoclonal geralmente é
do tipo IgM. O exame físico sem alterações e o pico IgA kappa torna menos possível o diagnóstico.
Opção (D- mieloma indolente) – Incorreta. A ausência de plasmocitose medular >10% exclui o diagnóstico
de mieloma indolente
Opção (E- mieloma sintomático) – Incorreta. A ausência de lesões de órgão alvo excluir o diagnóstico de
mieloma sintomático
112. Um homem de 52 anos vem ao consultório médico para vigilância. Ele refere que se sente bem. A
história médica revela hipertensão arterial e dor lombar baixa intermitente. A medicação habitual inclui
enalapril, hidroclorotiazida e paracetamol em S.O.S. Nega consumo de tabaco, álcool ou drogas ilícitas.
Não tem história familiar de cancro. O IMC é de 24 kg/m2. Os sinais vitais são temperatura 36,5°C,
frequência respiratória 12/min, frequência cardíaca 80/min e pressão arterial 130/87 mm Hg. O exame
físico abdominal não revela alterações. Ele revela estar preocupado com o cancro da próstata, pois um
dos seus amigos teve diagnóstico recente e pergunta se pode fazer algum exame preventivo. Os riscos e as
desvantagens do rastreio são discutidos com o homem.
(A) Estabelecer as expectativas e receios sobre o rastreio de cancro da próstata antes de propor algo
(B) Informar que o rastreio de cancro da próstata não está indicado a não ser que fique sintomático
(C) Iniciar rastreio do cancro da próstata aos 60 anos
(D) Realizar toque retal digital hoje
(E) Solicitar hoje o doseamento do PSA
Justificação:
Sem dúvida que o passo seguinte é discutir e estabelecer expectativas antes de propor algo, essa opção
estará sempre correta.
Opção (C) – Incorreta. Não existe rastreio de cancro da próstata organizado. É algo que é tema de
controvérsia, dada a associação com sobrediagnóstico e sobretratamento.
Opção (D) – Incorreta. Ter atenção de que o toque retal apresenta uma especificidade e sensibilidade, em
média, inferior a 60%.
Opção (E) – Incorreta. Poderá ser feito o doseamento de PSA, portanto um rastreio oportunista, mas não
será o próximo passo tendo em conta as restantes opções.
113. Uma mulher de 72 anos vem ao consultório médico por astenia e mialgias com uma semana de evolução
e febre desde o dia anterior. Refere episódio recente de “grande desgosto”, por perda de familiar. Afirma
que desde há três semanas interrompeu todos os seus hábitos sociais, toma de café (habitualmente sete
por dia) e da medicação. Há cerca de duas semanas, por recomendação de uma vizinha que achou
“muito fraquinha”, iniciou a toma de um complexo vitamínico B, incluindo folato (B9). A história médica
revela diabetes mellitus medicada com dose baixa de insulina de ação lenta à noite e anemia macrocítica
de que não sabe mais detalhes. Os exames vitais são temperatura 38°C, frequência cardíaca 80/min e
pressão arterial 120/70 mm Hg. Ao exame físico apresenta-se lúcida e colaborante, hidratada. A palpação
muscular esquelética é ligeiramente dolorosa. A auscultação cardíaca e pulmonar encontra-se dentro dos
parâmetros de normalidade.
Soro Sangue
Creatinina 0,8 mg/dL Hemoglobina 11,0 g/dL
Glucose 172 mg/dL VGM 99 fL
Sódio 138 mEq/L Leucócitos 4 500/mm3
Potássio 3,0 mEq/L
Cloro 100 mEq/L
Cálcio 9,0 mg/dL
Magnésio 2,5 mEq/L
Qual das seguintes alternativas a explicação mais provável para hipocaliemia presente nesta doente?
Justificação:
O caso clínico descrito é de uma mulher de 72 anos com antecedentes de diabetes mellitus insulino
tratada e anemia macrocítica, que se apresenta em consulta por astenia e mialgias com uma semana de
evolução e febre desde o dia anterior. Interrompeu a medicação e hábitos sociais após perda de familiar
três semanas antes. Iniciou auto-medicação com complexo vitamínico B contendo ácido fólico. Ao exame
objetivo, destaca-se febre com temperatura 38°C e palpação muscular esquelética e ligeiramente dolorosa.
Analiticamente destaca-se hemoglobina 11g/dL, VGM 99fL, magnésio 2.5mEq/L e potássio 3.0mEq/L.
A resposta certa é a Opção (A). A suplementação com ácido fólico para tratamento de anemia macrocítica
foi iniciada semanas antes, o que permitiu uma maior produção de células hematopoiéticas, que se associa
a um aumento da captação de potássio pelas células recém-formadas, o que pode condicionar hipocalémia.
Com os dados da vinheta podemos assumir que esta terapêutica estará a ser bem sucedida, uma vez que
apesar de ainda se verificar anemia, o volume globular médio já está dentro da normalidade.
Opção (B) – Incorreta. Pelo contrário, a hipomagnesémia é causa de hipocalémia. Uma vez que a absorção
tubular de catiões divalentes se encontra associada, o défice de magnésio é causa de hipocalémia, que
tendencialmente é persistente até à correção dos níveis de magnésio.
Opção (C) – Incorreta. A febre é causa de hipercalémia, pelo que não seria causa de hipocalémia. Pelo
contrário, a hipotermia provoca a entrada de potássio nas células e, consequentemente, hipocalémia.
Opção (D) – Incorreta. A cafeína em dose excessiva pode ser causa de hipocalémia através de vários
mecanismos, mas podemos considerar como um dos principais a libertação de catecolaminas, que ativam
a atividade da Na/K ATPase, causando assim um shift de potássio para o compartimento intracelular
Opção (E) – Incorreta. A insulina faz parte do protocolo de tratamento de hipercalémia, uma vez que o
seu efeito consiste no aumento da entrada de potássio nas células, pelo que a sua suspensão deveria ser
causa de hipercalémia, e não hipocalémia.
114. Uma mulher de 49 anos, advogada, vem a consulta por cansaço, mialgias e artralgia generalizadas e
na específicas, desde há um ano. Tem antecedentes de nefrolitíase com episódios recorrentes de cólica
renal. Não toma medicamentos. Nega consumo de álcool, mas é fumadora (30 UMA). Os sinais vitais são
temperatura 36°C, frequência respiratória 14/min, frequência cardíaca 73/min e pressão arterial 138/72
mm Hg. Ela tem 164 cm de altura e pesa 58 kg; IMC 22 kg/m2. O exame físico encontra-se dentro dos
parâmetros de normalidade.
Soro Urina
Cálcio total 11,2 mg/dL Clearence da creatinina 50 mL/min
Fosfatase alcalina 79 U/L Cálcio (urina 24h) 415 mg [N=100-300 mg]
A densitometria óssea revelou score T- 2,0 (coluna) e – 1,6 (colo do fémur). A TC renal revela nefrocalcinose
parenquimatosa bilateral.
Qual dos seguintes é o próximo passo mais adequado na gestão desta doente?
Justificação:
O caso clínico apresentado traduz uma mulher de 49 anos com um fator de risco minor (tabagismo)
que foi submetida a densitometria que revelou osteopenia. As análises apresentam hipercalcemia
com hipercalciúria (cálcio sérico e urinário aumentado) pelo que o estudo do metabolismo ósseo
obrigatoriamente deve ser complementado com doseamento da PTH (paratormona). A hipótese de
hiperparatiroidismo pode justificar as alterações do cálcio e a osteopenia densitométrica (relembra-se
que hiperparatiroidismo é um fator de risco major para osteoporose ao estimular a reabsorção óssea para
aumento do cálcio sérico).
Opção B – INCORRETA. Sem indicação para prescrever bifosfonatos enquanto não for descartado a
presença de hiperparatiroidismo. Caso a doente apresente aí sim pode justificar-se introdução de terapêutica
anti-reabsortiva, bem como obviamente tratamento da causa subjacente (adenoma, hiperplasia, carcinoma
das paratireoides)
Opção C – INCORRETA. Sem indicação para suplementação de vitamina D, ainda por cima porque vai
aumentar a reabsorção intestinal de cálcio potenciando ainda a hipercalcemia.
Opção E – INCORRETA. A doente pode vir a precisar de uma repetição de densitometria caso inicie
terapêutica (em 2 anos) ou para vigilância da osteopenia (em 3-5 anos), mas em nenhum dos casos é o
passo seguinte.
115. Uma mulher de 26 anos vem ao consultório por episódios recorrentes de perda hemática genital em
quantidade escassa, 14 a 16 dias após o período menstrual, desde há 3 meses. A menarca foi aos 14 anos;
a coitarca foi aos 19 anos. Os ciclos menstruais são de 28-30 dias e o período menstrual tem uma duração
de 5 dias. Refere ter sintomatologia pré-menstrual que inclui tensão mamária, alterações do humor e
dismenorreia. Ela tem atividade sexual esporádica e usa o preservativo como método contracetivo. Gesta
1, para 1, com parto eutócico há 2 anos, a termo, sem intercorrências. A data da última menstruação foi
há 3 semanas. Não tem antecedentes pessoais ou familiares de relevo. Não faz medicação habitual. Ela
tem 162 cm de altura e pesa 54 kg; IMC 21 kg/m2. Os sinais vitais e o exame físico, incluindo o exame
ginecológico, encontram-se dentro dos parâmetros de normalidade. A ecografia pélvica revela útero e
anexos sem alterações; o endométrio é descrito como trilaminar, o aspecto característico da fase secretora.
Qual das seguintes é a explicação mais provável para os episódios de hemorragia genital desta paciente?
Justificação:
A resposta certa é a Opção D, porque corresponde a uma hemorragia que ocorre a meio do ciclo menstrual,
numa mulher com ciclos regulares, com última menstruação há 3 semanas. A ecografia apresenta um
endométrio trilaminar característico da fase folicular/proliferativa (na fase secretora é hiperecogénico
e homogéneo). Após a ovulação, o aspeto trilaminar é substituído por espessamento endometrial
homogeneamente hiperecogénico entre 10 a 14 mm.
Opção (A) – Incorreta. Aumento gradual dos níveis séricos de progesterona é o que ocorre na fase lútea.
Quando o corpo lúteo deixa de produzir progesterona ocorre a menstruação (o que se relaciona com
diminuição dos níveis da progesterona).
Opção (B) – Incorreta. Esta mulher apresenta ciclos regulares e duração de período menstrual normal.
Habitualmente os ciclos ováricos anovulatórios apresentam-se por longos períodos de amenorreia que
podem ser seguidos de hemorragias irregulares e, por vezes, muito abundantes.
Opção (C) – Incorreta. Esta mulher apresenta ciclos regulares e duração de período menstrual normal.
Em caso de Défice de Fase Lútea existem hemorragias cíclicas, mas com ciclos muito curtos que adquirem
a designação de hemorragias uterinas anormais precisamente porque estas doentes têm menstruações
muito frequentes e com interlúnios muito curtos.
Opção (E) – Incorreta. Hipertrofia Endometrial - habitualmente utiliza-se o termo Hiperplasia endometrial
e não Hipertrofia. A Hiperplasia Endometrial é muito rara em mulheres jovens, principalmente na ausência
de ciclos anovulatórios ou oligoanovulatórios. O endométrio apareceria espessado e não trilaminar.
116. Uma mulher de 20 anos, estudante e solteira, é trazida ao serviço de urgência por agentes da Polícia de
Segurança Pública, na sequência de ter insultado uma pessoa que não conhecia, na via pública. Um amigo
que a acompanha refere que apresenta comportamentos estranhos desde o dia anterior, na sequência de
uma festa que ambos frequentaram e onde algumas pessoas consumiram substâncias ilícitas. Ela não
tem antecedentes patológicos de relevo e não faz medicação habitual. À observação apresenta-se não
colaborante por agitação franca e atitude agressiva, com olhar perplexo e tensão muscular evidente. O
discurso é escasso. A doente grita frases curtas, sugestivas de se sentir ameaçada («Não! […] Vão-me
matar!»).
Qual das seguintes alternativas é o próximo passo mais adequado?
Justificação:
O caso clínico descrito é de uma mulher de 20 anos, estudante e solteira, com alteração do comportamento
com dois dias de evolução, no contexto de consumo de substâncias. À observação destaca-se tensão,
agitação, agressividade, perplexidade e ideação delirante persecutória.
A resposta certa é a Opção (C), porque estamos perante sintomatologia psicótica, com agitação e
agressividade, pelo que devemos optar por medicação antipsicótica com efeito contentor/sedativo ou
tranquilizante. Relativamente às outras opções de resposta:
Opção (A) – Incorreta. A contenção física deverá ser realizada apenas após contenção química, não
devendo ser aplicada de imediato e de forma isolada, pelo que não constitui a opção mais adequada.
Opção (B) – Incorreta. Apesar do efeito sedativo, o facto de não possuir propriedades antipsicóticas, faz
com que o lorazepam não seja a melhor opção neste caso.
Opção (D) – Incorreta. A pesquisa de drogas na urina é fundamental, contudo, tendo em conta que
este aspeto já foi confirmado pelo acompanhante, torna-se mais urgente o tratamento com medicação
antipsicótica que ajude na angústia e contenção comportamental.
Opção (E) – Incorreta. Apesar de fazer parte do conjunto de exames complementares de diagnóstico
a solicitar perante um primeiro episódio psicótico, o tratamento com medicação antipsicótica é mais
urgente.
117. Uma mulher de 44 anos, enfermeira, vem ao serviço de urgência minutos após picada acidental com uma
agulha no dedo indicador esquerdo. A agulha tinha sido usada para retirar sangue de um doente com
pneumonia por Pneumocystitis e hepatite, de tipo desconhecido. A enfermeira refere ter feito a vacina
contra a hepatite B há três anos e que os testes previamente realizados para anticorpos contra a hepatite
B têm estado negativos. Fez a vacina contra o tétano há seis anos. Os sinais vitais são temperatura 37,5ºC
graus, frequência respiratória 14/min, frequência cardíaca 84/min e pressão arterial 160/95 mm Hg. O
exame físico encontra-se dentro dos parâmetros de normalidade, à excepção de um pequeno ferimento
punctiforme não hemorrágico no dedo indicador esquerdo.
Adicionalmente à profilaxia antirretroviral, qual das seguintes alternativas é a opção terapêutica mais
adequada, neste momento?
Justificação:
O caso clínico descreve uma profissional de saúde que se picou acidentalmente com uma agulha
previamente usada num doente infetado com hepatite de tipo desconhecido. A enfermeira está vacinada
contra a hepatite B mas não apresenta anticorpos suficientes contra a hepatite B. Perante uma picada
acidental com uma agulha cuja fonte possui infeção ou estado de infeção é desconhecido, preocupa-nos o
risco de transmissão dos vírus da hepatite B, hepatite C e HIV.
A resposta certa é a Opção (A), porque perante uma doente com anticorpos negativos para a hepatite B
(não imune) com risco de exposição (neste caso desconhecido mas provável), deve ser administrada a
imunogöobulina anti-hepatite B nas primeiras 24-48h após a exposição.
Opção (B) – Incorreta. A penicilina não está indicada no tratamento ou prevenção das hepatites B e C
nem do HIV.
Opção (C) – Incorreta. A pentamidina é utilizada na profilaxia e tratamento de infeções por Pneumocystis,
que não é transmitido através da picada acidental por agulha.
Opção (E) – Incorreta. A doente fez a vacina do tétano há 6 anos, pelo que não tem indicação para repetir
nesta fase.
118. Um homem de 37 anos vem à consulta para pedir para fazer um exame à próstata. Não tem tido dificuldade
em iniciar a micção ou em esvaziar a bexiga e não tem tido dor ao urinar. Refere que não teve qualquer
exposição a doenças sexualmente transmissíveis. Quando questionado em maior detalhe sobre a função
sexual, responde de forma algo hesitante: «Doutor… eu consigo ter ereções normais, mas assim que
tento ter relações com a minha mulher, fico com o pénis mole e não consigo completar a relação.» Diz
que este problema teve início numa noite há dois meses, quando foi sair com a mulher, tendo estado a
beber e dançar num bar. Ele diz: «Devo ter bebido cerveja estragada.» Nessa noite, teve pela primeira vez
problemas em ter relações com a mulher, e desde aí tem dificuldades em manter a ereção. Ele não tem
antecedentes patológicos de relevo, nunca esteve internado e não faz medicação habitual. Tem história
familiar de diabetes mellitus tipo 2. No final da consulta desabafa: «Acho que o meu casamento vai acabar
se eu não puder ter relações sexuais. Diga-me a verdade, doutor! O que se passa comigo?»
Considerando a anamnese recolhida até ao momento, qual das seguintes alternativas representa a causa
mais provável para a disfunção erétil?
Justificação:
O caso clínico descrito é de um homem de 37 anos, sem antecedentes médicos de relevo, com disfunção sexual
(disfunção erétil), com dois meses de evolução, descrevendo que numa noite teve problemas em manter a
ereção e desde então manteve esse problema - algo que se faz acompanhar de tensão e pressão de performance.
A resposta certa é a Opção (A), porque consiste num homem jovem, sem antecedentes médicos de
relevo, sem fatores cardiovasculares ou relatos de consumo abusivo crónico de álcool, que após uma
noite de dificuldade em manter a ereção, inicia quadro de ansiedade em torno da performance sexual.
Relativamente às outras opções de resposta:
Opção (B) – Incorreta. Apesar de o álcool poder interferir na performance sexual, podemos eliminar
esta hipótese dado que não há referência a consumo crónico excessivo de álcool ou estigmas de doença
hepática crónica alcoólica.
Opção (C) – Incorreta. Apesar de o doente ter antecedentes familiares de diabetes mellitus, não possui esta
condição, pelo que podemos excluir esta hipótese.
Opção (D) – Incorreta. O facto de não existir referência a sinais sugestivos de défice de testosterona e de
existir uma clara relação temporal com uma noite menos bem sucedida em termos de performance sexual,
podemos excluir esta hipótese.
Opção (E) – Incorreta. Podemos excluir esta hipótese uma vez que se trata de um homem jovem, com um
quadro sugestivo de ansiedade de performance sexual, sem fatores cardiovasculares de relevo.
119. Uma mulher de 64 anos vem ao consultório médico por aumento da lentidão na marcha e dificuldade
em levantar-se das cadeiras desde há quatro meses. Há dois anos, desenvolveu tremor na mão esquerda,
em repouso, que progrediu para envolvimento da mão direita, um ano depois. A história médica revela
hipertensão arterial medicada com ramipril. Ela tem 160 cm de altura e peso 60 kg; IMC 23 kg/m2. Os
sinais vitais são temperatura 37ºC, frequência respiratória 12/min, frequência cardíaca 80/min e pressão
arterial 140/84 mm Hg. Ao exame físico apresenta expressão facial diminuída e tremor repouso das mãos,
mais nítido à esquerda. A força muscular está mantida nas extremidades e os reflexos normais e simétricos.
Os reflexos cutâneoplantares são em flexão bilateralmente. A doente tem dificuldade em levantar-se da
cadeira, sem usar os membros superiores como suporte. Tem um andar lento e arrastado.
Justificação:
O caso descreve uma provável síndroma parkinsónica mista (acinético-rígida e tremórica) de início
assimétrico (inicialmente à esquerda, depois com envolvimento bilateral), numa senhora de 64 anos.
Apresenta os seguintes sintomas motores: tremor em repouso, hipomimia (expressão facial diminuída),
bradicinesia global (lentidão na marcha) e dificuldade em levantar-se da cadeira. No contexto apropriado
(como ausência de medicação com efeitos extrapidamidais, boa resposta ao tratamento com levodopa)
poderá tratar-se de uma doença de Parkinson. O diagnóstico é clínico, não sendo necessário nenhum
exame complementar de diagnóstico. Deste modo, a resposta mais apropriada é a E.
Relativamente à opção D, muitos dos doentes que se apresentam com quadros semelhantes fazem um
estudo complementar de neuroimagem (por exemplo com TC cerebral), de forma a excluir causas
secundárias de síndroma parkinsónica (como uma lesão vascular ou hidrocefalia de pressão normal).
Contudo, a marcha de sintomas descrita na vinheta não sugere fortemente que possa tratar-se de uma
forma secundária de parkinsonismo.
Atendendo à idade da doente e à presença de síndroma parkinsónica mista assimétrica, sem menção
sequer a distonia, a hipótese de doença de Wilson é improvável.
Não sendo o quadro típico de uma miopatia, este exame complementar não irá acrescentar qualquer valor
diagnóstico, no quadro clínico
C. Punção lombar para verificar se haveria melhoria no andar após retirar LCR
O quadro clínico não sugere fortemente a hipótese de hidrocefalia de pressão normal [com a tríade de
alteração da marcha, disfunção esfincteriana e disfunção cognitiva (mnésica)], de modo que apenas num
contexto de síndroma parkinsónica secundária e após evidência por estudo de neuroimagem a apontar
para essa hipótese, se justificaria prosseguir com este estudo.
120. Uma mulher de 30 anos vem ao consultório médico por episódios recorrentes de dor precordial em picada
com duração de 20 minutos associado ao esforço, que alivia espontaneamente, desde há seis meses. Não
tem antecedentes médicos de relevo. Os sinais vitais são temperatura 36,4°C, frequência respiratória 13/
min, frequência cardíaca 78/min e pressão arterial 135/78 mm Hg. Tem 165 cm de altura e pesa 67 kg;
IMC 24 kg/m2. O exame físico encontra-se dentro dos parâmetros de normalidade.
Soro
Colesterol
Total 224 mg/dL
HDL 60 mg/dL
LDL 143 mg/dL
Triglicerídeos 110 mg/dL
Além do conhecimento relativo aos fatores de risco de doença isquémica, qual das seguintes alternativas
é o próximo passo mais adequado na gestão desta doente?
Justificação:
O caso clínico descrito é de uma mulher de 30 anos, sem antecedentes médicos de relevo, com queixas de
dor precordial em picada com duração de 20 minutos, associada ao esforço, que alivia espontaneamente,
desde há seis meses. Na observação apresenta-se apirética e hemodinamicamente estável, sem alterações
no exame físico. Da avaliação complementar realizada destaca-se o eletrocardiograma sem alterações
patológicas e LDL 143 mg/dl.
A resposta correta é a opção (E), tranquilização da doente. Considerando que se trata de uma mulher
jovem (30 anos), sem fatores de risco cardiovascular identificáveis à excepção de ligeira dislipidemia, e que
se apresenta com dor torácica de características atípicas (em picada), ainda que com relação com esforço,
considera-se tratar-se de uma doente de baixa probabilidade clínica (<5% se aplicados os critérios de idade
e sintomatologia atípica), pelo que não haveria indicação para exames complementares, devendo optar-
se por sugerir medidas de estilo de vida e tranquilização da doente. Relativamente às restantes opções de
resposta:
Opção (A) e (B) – Incorretas. O caso representa um doente jovem com dor atípica, apesar de referir
relação com esforço, pelo que se considera uma doente de baixa probabilidade e sem indicação para
exames complementares.
Opção (C) – Incorreta. O caso descrito não é sugestivo de evento disrítmico, uma vez que não há referência
a palpitações ou outra sintomatologia sugestivo de taqui ou bradi-disritmia.
Opção (D) – Incorreta. O facto de se tratar de uma doente jovem e com dor de características atípicas torna
a hipótese de isquemia pouco provável e, como explicado acima, seria uma estratégia adequada optar por
não realizar mais exames e simplesmente tranquilizar a doente; contudo, o facto de haver referência a
associação da dor torácica com o esforço poderia motivar a realização de prova de esforço (não só para
avaliar alterações da repolarização mas para perceber se há algum evento disrítmico associado à prática
do esforço).
121. Uma mulher de 23 anos, estudante universitária, recorre ao serviço de urgência após «desmaio». Refere
que está a ser estudada por diarreias persistentes e perda de peso no último ano. Menciona ainda cansaço,
tonturas, ansiedade e tristeza, isolando-se cada vez mais do seu grupo de amigos, no mesmo período de
tempo. Está amenorreica há oito meses, mas não se apuram outras queixas. Realizou colonoscopia há
um mês, que não revelou alterações. O exame das fezes não revelou presença de sangue ou parasitas. Os
sinais vitais são temperatura 35,5°C, frequência respiratória 12/min, frequência cardíaca 54/min e pressão
arterial 90/40 mm Hg. Ela mede 170 cm de altura e pesa 45 kg; IMC 15,8 kg/m2. Ao exame do estado
mental está vígil, orientada e ansiosa, com discurso coerente e sem atividade delirante ou alucinatória. Ao
exame físico as extremidades estão ligeiramente edemaciadas e frias e apresenta pele seca e lanugo facial.
Soro Sangue
Glucose 59 mg/dL Hemoglobina 10 g/dL
Colesterol VGM 85 fL
Total 268 mg/dL Leucócitos 7 560/mm3
Plaquetas 100 x 109/L
Justificação:
O caso clínico descrito é de uma mulher de 23 anos, com queixas de “desmaio”, diarreias persistentes, perda
de peso e amenorreia no último ano. Menciona ainda cansaço, tonturas, ansiedade e tristeza, isolamento
social. Colonoscopia e coprocultura sem alterações. À observação, salienta-se hipotensão, bradicardia,
IMC 15,8 kg/m2, extremidades ligeiramente edemaciadas e frias e pele seca e lanugo facial. Apresenta
ainda anemia.
A resposta certa é a Opção (A), porque, tendo em conta que a doente apresenta um quadro de diarreia
associada a perda de peso com colonoscopia e urocultura normal, podemos excluir patologia orgânica.
A existência de amenorreia, pele seca, lanugo facial, anemia, hipotensão, bradicardia apoiam a hipótese
de uma anorexia nervosa com bastante tempo de evolução. A diarreia persistente pode ser sugestiva de
recurso a laxantes para controlar o peso e a existência de sintomatologia angodepressiva, com isolamento
é também sugestiva desta condição. Relativamente às outras opções de resposta:
Opção (B) – Incorreta. Podemos excluir esta hipótese, uma vez que não apresenta sintomatologia nem
alterações analíticas sugestivas de diabetes.
Opção (C) – Incorreta. Tendo em conta a ausência de outros sinais sugestivos e exclusão de patologia
intestinal por colonoscopia e coprocultura, uma doença inflamatória intestinal, parece pouco provável.
Opção (D) – Incorreta. Apesar de a doente apresentar sintomatologia da linha depressiva, não apresenta
critérios para o diagnóstico de um episódio depressivo propriamente dito e as alterações referidas apontam
no sentido de uma anorexia nervosa.
Opção (E) – Incorreta. Tendo em conta que a doente não apresenta alterações ao exame físico sugestivas de
hipertiroidismo e o presente quadro parece ser mais bem explicado por uma anorexia nervosa, podemos
excluir esta patologia.
122. Uma rapariga de 10 anos é trazida ao serviço de urgência por edema palpebral bilateral com três dias de
evolução e noção de diminuição da diurese e urina escura notada nesse dia. A mãe refere ter tido uma
infeção respiratória superior há duas semanas, medicada com ibuprofeno. Foi objetivado ganho de 2 kg de
peso na última semana. Ela não tem antecedentes patológicos de relevo. Os sinais vitais são temperatura
37,1°C, frequência respiratória 17/min, frequência cardíaca 82/min e pressão arterial 132/85 mm Hg. Ao
exame físico apresenta edema malar e palpebral bilateral e sopro protomesossistólico de grau II/VI no
bordo esquerdo do esterno. O restante exame físico encontra-se dentro dos parâmetros de normalidade.
Os resultados dos estudos analíticos revelam:
Soro Sangue
Creatinina 3,4 mg/dL Hemoglobina 13,4 g/dL
Ureia 113 mg/dL [N=10-40 mg/dL] Leucócitos 14 400/mm3
Ácido úrico 7,5 mg/dL Neutrófilos, segmentados 35%
Proteína C reativa 22 mg/L Linfócitos 46%
Sódio 132 mEq/L
Potássio 5,4 mEq/L
Cloro 101 mEq/L
Fósforo 1,45 mmol/L
Colesterol
Total 132 mg/dL
Proteína
Albumina 3,8 g/dL
Total 6,4 g/dL
Justificação:
O caso clínico descrito é de uma criança de 10 anos com história de infeção respiratória da via aérea
superior duas semanas antes, sem outros antecedentes de relevo, que é admitida no serviço de urgência
por edema palpebral, aumento de 2 Kg, redução do débito urinário e urina escura, tendo sido medicada
na altura com ibuprofeno. Ao exame objetivo destaca-se hipertensão arterial, edema malar e palpebral e
sopro sistólico. Analiticamente, verifica-se aumento dos parâmetros inflamatórios (leucocitose e proteína
C-reativa) e disfunção renal com retenção azotada grave e hipercalémia.
A resposta certa é a Opção (A). A glomerulonefrite pós-infeciosa (mais recentemente está a ser alterada
a terminologia para glomerulonefrite associada a infeção, de acordo com alguma literatura) tende a
ocorrer algumas semanas após a infeção inicial, como descrito na vinheta, e ao contrário do que acontece
na nefropatia IgA (vide infra). Manifesta-se frequentemente como insuficiência renal rapidamente
progressiva, o que, assumindo que uma criança sem antecedentes teria função renal normal previamente
a este episódio , é o que se encontra descrito acima. Verificamos também hipertensão arterial e edema, em
provável contexto da redução da capacidade de filtração glomerular com aumento do volume circulante
efetivo. Não sabemos se existiria algum motivo prévio para o sopro mesossistólico, mas seria importante
excluir que não existiria metastização da infeção. Assim, esta hipótese afigura-se como a mais provável.
Relativamente às outras opções de resposta:
Opção (B) – Incorreta. Apesar de a nefrite lúpica poder ser a forma de apresentação de lúpus eritematoso,
não ocorre na maioria dos doentes. Outras alterações frequentemente associadas a lúpus eritematoso
sistémico, como rash malar, anemia, febre, artralgias não estão presentes, pelo que neste contexto não
seria a hipótese mais provável.
Opção (C) – Incorreta. A toma de anti-inflamatórios não-esteróides, como o ibuprofeno, é uma causa
importante de nefrite intersticial. No entanto, não explica todas as alterações descritas na vinheta, como
urina escura, aumento da contagem de leucócitos e proteína C-reactiva, pelo que não seria a hipótese mais
provável.
Opção (D) – Incorreta. A nefropatia IgA tem uma relação temporal com infeções respiratórias das
vias aéreas superiores, mas ao contrário da glomerulonefrite pós-infeciosa, tende a causar hematúria
sinfaringítica, ou seja, as alterações renais, da qual é exemplo a hematúria, quando esta ocorre, tendem a
ocorrer simultaneamente com a infeção do trato respiratório superior. Pelo contrário, a glomerulonefrite
pós-infeciosa tende a manifestar-se semanas após a infeção, como descrito na vinheta.
Opção (E) – Incorreta. O diagnóstico de síndrome nefrótica requer proteinúria na faixa nefrótica e
hipoalbuminémia. Apesar de o edema ser uma característica frequentemente associada à síndrome
nefrótica, a ausência de hipoalbuminémia permite excluir a sua presença.
123. Uma mulher de 35 anos vem à consulta com o seu médico de família, porque pondera contraceção
definitiva por laqueação tubária. É casada e operária fabril. Atualmente faz contraceção com sistema
intrauterino de levonorgestrel, que lhe provoca hemorragia uterinas irregulares e, por isso, muito
transtorno. Os antecedentes obstétricos são gesta 1, para 1 (parto vaginal sem intercorrências aos 23 anos).
A história médica revela asma e conização por lesão escamosa de alto grau do colo uterino aos 31 anos. A
medicação habitual inclui budesonida + formoterol inalatório. Os sinais vitais e exame físico, incluindo o
ginecológico, encontram-se dentro dos parâmetros de normalidade.
Perante a opção contracetiva desta paciente, qual das seguintes alternativas é a indicação mais adequada?
Justificação:
Opção (A) – Incorreta. A escolha contracetiva deve considerar a opção da mulher. É a própria que após
aconselhamento contracetivo e mediante avaliação de eventuais contra-indicações e necessidade de
contraceção para efeitos não contracetivos, opta por determinado método.
Opção (B) – Incorreta. Asma e lesão escamosa de alto grau do colo uterino não são contra-indicações para
contraceção.
Opção (C) – Incorreta. Não é necessário aguardar 12 meses para tomar a decisão.
Opção (E) – Incorreta. A escolha reprodutiva e de planeamento familiar é da mulher. O facto de ter
apenas 1 filho, não impede a escolha por laqueação tubária. Por exemplo, a nuliparidade não é um fator
associado a maior risco de arrependimento pelo que não deve determinar o não direito à escolha do
método (Consensos de Contraceção pág. 61).
124. Um menino de 9 anos é trazido à consulta após início do ano escolar pelo aparecimento de lesões cutâneas
- algumas acastanhadas e outras hipocrómicas, ligeiramente pruriginosas - com um mês de evolução.
Não tem antecedentes patológicos de relevo. Ao exame físico observam-se lesões maculares, finamente
descamativas, com diferentes dimensões, dispersas nos ombros e região dorsal. No restante exame físico
não há outras alterações de relevo.
Qual dos seguintes agentes patogénicos é a casa mais provável da condição deste doente?
Justificação:
O caso clínico descrito é de uma criança com lesões hiperpigmentadas e outras hipopigmentadas,
pruriginosas, dispersas pelo dorso e ombro, típicas da pitiríase versicolor.
A resposta certa é a Opção (B), porque a pitiríase versicolor, causada pela Malassezia furfur, é uma infeção
fúngica superficial comum, que se apresenta tipicamente com máculas hipopigmentadas, hiperpigmentadas
ou eritematosas no tronco e nas extremidades superiores proximai, tais como as descritas.
Relativamente às outras opções de resposta:
Opção (A) – Incorreta. Este doente apresenta lesões típicas de pitiríase versicolor, causadas pela Malassezia
furfur.
Opção (C) – Incorreta. Este doente apresenta lesões típicas de pitiríase versicolor, causadas pela Malassezia
furfur.
Opção (D) – Incorreta. Este doente apresenta lesões típicas de pitiríase versicolor, causadas pela Malassezia
furfur.
Opção (E) – Incorreta. Este doente apresenta lesões típicas de pitiríase versicolor, causadas pela Malassezia
furfur.
125. Um homem de 55 anos vai ao consultório médico por dor na região gemelar direita quando anda a pé
desde há dois meses. Ele suspeita de ter feito uma “rotura muscular” quando, por esta altura, andou a
fazer mudança de casa. O tempo ou a distância de marcha até ter dor têm sido variáveis, aparecendo mais
cedo em subidas. No entanto, subir os três lances de escadas para chegar a casa não lhe causa incómodo.
A história médica revela obesidade, hipertensão arterial e dislipidemia. A medicação habitual inclui
irbesartan, atorvastatina e ácido acetilsalicílico. É fumador (20 UMA) e refere hábitos etílicos de cerca
de 56 g por dia desde há 20 anos. Os sinais vitais são temperatura 36°C, frequência respiratória 20/min,
frequência cardíaca 76/min e pressão arterial 138/90 mm Hg. Ele tem 174 cm de altura e pesa 106 kg;
IMC 35 kg/m2. Ao exame físico apresenta distribuição normal de faneras. A palpação na região gemelar,
de ambos os membros inferiores, não mostra alterações. O restante exame físico encontra-se dentro dos
parâmetros de normalidade.
Soro Sangue
Creatinina 1.1 mg/dL Hemoglobina 15,3 g/dL
Colesterol
Total 200 mg/dL
HDL 40 mg/dL
LDL 120 mg/dL
Triglicerídeos 200 mg/dL
Qual das seguintes alternativas é a mais adequada para o estudo desta situação clínica, no consultório?
O caso clínico descreve um doente com um risco cardiovascular muitíssimo alto que apresenta dor na
região gemelar direita, principalmente em subidas, pelo que a causa responsável será muito provavelmente
a Aterosclerose. Num consultório médico, um método simples e barato de perceber se existe uma estenose
ou oclusão de artérias dos membros inferiores.
Opção (A) – Incorreta. Não será de todo o modo de diagnóstico mais correto, nem sequer plausível.
Opção (C) – Incorreta. Não acrescenta muita informação sem fazer comparação com os restantes membros.
Opção (D) – Incorreta. Tendo a descrição dos sintomas, será algo que não acrescentará muito à informação
já disponibilizada.
Opção (E) – Incorreta. No consultório muito provavelmente não existirá um aparelho disponível.
126. Uma mulher de 57 anos vem ao consultório médico por história de ansiedade e episódios frequentes
de taquicardia com três meses de evolução. Refere que tem notado que a roupa está mais larga. Não vai
ao médico há vários anos. A história médica revela hipertensão arterial, controlada previamente com
atenolol, mas que a doente descontinuou há mais de uma ano. Foi fumadora de 20 cigarros por dia durante
30 anos, tendo suspendido os consumos à 5 anos. Os sinais vitais são temperatura 37,1⁰C, frequência
respiratória 16/min, frequência cardíaca 120/min e pressão arterial 140/90 mm Hg; IMC 20 Kg/m2. O
exame físico mostra exoftalmia bilateral e bócio, sem nódulos identificáveis.
Soro
TSH 0,1 µU/mL
Tiroxina (T4) 15 µg/dL
Tri-iodotironina (T3) 121 ng/dL
A situação clínica desta doente resulta mais provavelmente do aumento de anticorpos contra qual dos
seguintes?
O caso clínico retrata um caso de hipertiroidismo sugestivo de Doença de Graves com oftalmopatia.
A doente apresenta sintomas e sinais sugestivos de hipertiroidismo como emagrecimento, ansiedade,
taquicardia e hipertensão. O tabagismo é um fator de risco para oftalmopatia de Graves. Analiticamente, a
doente apresenta diminuição da TSH com aumento da T4L, ou seja, um caso de hipertiroidismo primário.
Na doença de Graves, mais frequentemente são positivos os anticorpos anti-recetor da TSH, portanto a
opção (A) é a correta.
A opção (B) “Tiroglobulina” é incorreta, apesar na Doença de Graves, estes anticorpos também poderem
ser positivos, mais frequentemente são positivos os anticorpos anti-recetor da TSH.
A opção (C) “Tiroxina” está incorreta porque não são característicos da doença de Graves. Os anticorpos
antiT3 e pelo antiT4 tem uma prevalência de até 1,8% na população geral e até 40% nos casos de doença
tireoidiana autoimune, mas não são característicos da doença de Graves. A presença desses autoanticorpos
pode ocasionar resultados falsamente elevados ou diminuídos das hormonas tiroideias.
A opção (D) “Transtirretina” está incorreta porque não são característicos da doença de Graves.
A opção (E) “Tri-iodotironina” está incorreta porque não são característicos da doença de Graves. Ver a
justificação da alínea (C).
127. Uma mulher de 39 anos vem ao consultório médico mostrar o resultado de colonoscopia total realizada
para estudo de astenia e anemia ferropénica. A história familiar revela antecedentes de carcinoma do
endométrio (mãe de 76 anos, submetida a histerectomia total com anexectomia bilateral), adenocarcinoma
gástrico (irmão de 54 anos, sob quimioterapia) e carcinoma urotelial (irmaõ 49 anos). A colonoscopia
total mostra a presença de formação ulcerovegetante do cego, pólipo pediculado do ângulo esplénico
com 1 cm (excisado) e pólipo séssil no descendente com 8 mm (excisado). O estudo histológico revela
adenocarcinoma do cego, pólipo adenomatoso com displasia de baixo grau (R0) e pólipo viloso com
displasia de baixo grau (R0) do cólon. Os sinais vitais e o exame físico encontram-se dentro dos parâmetros
de normalidade.
O caso apresentado é de uma doente com 39 anos com diagnóstico de um adenocarcinoma do cego e dois
pólipos cólicos com displasia de baixo grau. A história familiar da doente é sugestiva de uma síndrome
de Lynch, cumprindo os critérios de Amesterdão II: i) 3 familiares com cancros associados à síndrome
de Lynch; ii) 2 gerações sucessivas afetadas; iii) pelo menos 1 familiar com diagnóstico de um cancro
associado à síndrome antes dos 50 anos; iv) 1 é familiar em primeiro grau dos outros 2.
A resposta certa é a Opção B) Investigar a instabilidade de microssatélites. Tal como acima explicado,
a história familiar da doente é sugestiva de uma Síndrome de Lynch. Quando a história clínica de um
doente é sugestiva de Síndrome de Lynch, está indicado investigar a instabilidade de microssatélites, pois
o que caracteriza esta síndrome é a presença de mutações em genes de reparação do ADN que conduzem
à instabilidade de microssatélites.
Opção A) – Incorreta. A história familiar da doente é sugestiva de uma Síndrome de Lynch e, portanto,
de uma alteração genética familiar associada à presença de determinados tipos de cancro. A história não
é sugestiva de exposição a carcinogéneos.
128. Uma mulher de 49 anos vem ao consultório médico por dor lombar direita com dois meses de evolução,
intermitente, por vezes tipo cólica, que resolve com ibuprofeno. Menciona ainda cansaço marcado e
irritabilidade fácil. Ela tem episódios frequentes de disúria desde há mais de 20 anos, sem diagnóstico
preciso de infeções do trato urinário, fazendo automedicação com nitrofurantoína. A história médica
inclui perturbação depressiva. A medicação habitual inclui duloxetina, alprazolam, quetiapina, vitamina
D e omeprazol. Refere hábitos tabágicos de 30 UMA até há 10 anos e nega hábitos etílicos. Ela tem
antecedentes familiares de osteoporose na mãe. Os sinais vitais são temperatura 36,6⁰C, frequência
respiratória 18/min, frequência cardíaca 70/min e pressão arterial 134/78 mm Hg. Ela tem 171 cm de
altura e pesa 76 Kg; IMC 26 Kg/m2. Ao exame físico apresenta palidez da pele e mucosas e cifoescoliose
dorsolombar. O restante exame físico, incluindo a auscultação cardíaca e pulmonar, encontra-se dentro
dos parâmetros de normalidade.
Soro
Creatinina 3,1 mg/dL
Ureia 45 mg/dL [N = 10-40 mg/dL]
Potássio 4,9 mEq/L
Cálcio total 12 mg/dL
Fósforo 3,4 mg/dL
Urina
Proteínas ++
Sangue Negativo
A ecografia renal mostra rins aumentados de tamanho, com nefrocalcinose bilateral, sem outras alterações.
Qual dos seguintes é o mecanismo de doença renal predominante?
Justificação:
O caso clínico descrito é de uma mulher de 49 anos, antecedentes de perturbação depressiva e episódios
de disúria nos últimos vinte anos sem diagnóstico de infeção do trato urinário e antecedentes familiares
de osteoporose, recorre a consulta por dor lombar direita que alivia com ibuprofeno. Sem alterações ao
exame objetivo. Analiticamente com creatinina elevada, hipercalcémia e proteinúria aparente mas não
quantificada. A ecografia mostra rins aumentados e nefrocalcinose.
A resposta certa é a Opção (B). Pelo contexto descrito, doente com hipercalcémia, osteoporose apesar
de jovem e episódios de disúria sem diagnóstico de infeção urinária tornam plausível a possibilidade de
hipercalcémia e hipercalciúria crónicas, que cursaram com degeneração e necrose de células tubulares
renais e consequente fibrose intersticial e calcificação (nefrocalcinose). Os episódios de disúria com anos
de evolução podem ser admitidos em contexto de microlitíase, o que tendo em conta a hipercalcémia,
possibilidade de hipercalciúria e a nefrocalcinose seria uma explicação possível
Opção (A) – Incorreta. A vitamina D em dose excessiva pode causar toxicidade renal, cursando com
hipercalcemia, fraqueza muscular e eventualmente cálculos renais. No entanto, o fenótipo mais frequente
da toxicidade por vitamina D é de lesão renal aguda, o que, pelos restantes achados, principalmente pela
nefrocalcinose, parece menos provável nesta doente.
Opção (C) – Incorreta. A ecografia renal não documenta a presença de hidronefrose, pelo que este não
aparenta ser o mecanismo de lesão predominante.
Opção (D) – Incorreta. A lesão por depósito de cristais apresenta-se mais frequentemente na forma de
lesão renal aguda e secundária à toma de fármacos como anti-retrovirais. Nenhum destes critérios parece
estar presente nesta doente.
Soro Sangue
Proteína C reativa 35 mg/L Leucócitos 10 800/mm3
Neutrófilos, segmentados 46 %
Justificação:
O caso clínico descreve um quadro típico de infeção das vias aéreas superiores de causa vírica - febre,
rinorreia serosa, sem sinais de gravidade e com ruídos de transmissão superior à auscultação pulmonar
num lactente de 6 meses.
A resposta certa é a Opção (A), porque o tratamento de uma infeção das vias aéreas superiores de causa
vírica é de suporte, neste caso antipirético. O doente não apresenta sinais de gravidade, pelo que pode ter
alta, com recomendação para voltar se sinais de alarme ou não melhoria.
Opção (B) – Incorreta. O tratamento de uma infeção das vias aéreas superiores de causa vírica é de
suporte, neste caso antipirético. Se não houver melhoria ou em caso de sinais de alarme podemos presumir
sobreinfeção bacteriana e aí sim, considerar antibioterapia com espectro que inclua os microorganismos
principalmente envolvidos.
Opção (C) – Incorreta. Perante uma infeção das vias aéreas superiores de provável causa vírica, num
lactente previamente saudável e sem sinais de alarme, não há indicação para realização de uma punção
lombar.
Opção (D) – Incorreta. Perante uma infeção das vias aéreas superiores de provável causa vírica, num
lactente previamente saudável, com exame sumário de urina sem alterações e sem sinais de alarme clínicas
e analíticas, não há indicação nesta fase para colher hemoculturas e urocultura.
Opção (E) – Incorreta. Perante uma infeção das vias aéreas superiores de provável causa vírica, num
lactente previamente saudável, com exame sumário de urina sem alterações e sem sinais de alarme clínicas
e analíticas nem alterações sugestivas de pneumonia à auscultação pulmonar, não há indicação nesta fase
para submeter a criança a radiação.
130. Uma menina de 3 anos é trazida ao consultório médico pela mãe por ter notado uma massa abdominal
ao dar banho à criança. A menina tem antecedentes de paralisia cerebral e utiliza cadeira de rodas
por mobilidade reduzida. É alimentada através de tubo de gastrostomia por dificuldades alimentares.
A medicação habitual inclui baclofeno e levetiracetam. Nas duas últimas semanas, a mãe notou menor
número de dejeções, com volume reduzido e por vezes líquidas. Não apresentou vómitos ou resíduo
gástrico. O peso encontra-se no percentil 5, a estatura no percentil 25 e o IMC no percentil 3. Os sinais
vitais encontram-se dentro dos parâmetros de normalidade. À observação, encontra-se vígil e bem-
disposta. O abdómen encontra-se distendido, com uma massa firme e volumosa palpável na fossa ilíaca
esquerda. Apresenta hipertonicidade em todos os membros e clónus aquiliano bilateral. O restante exame
físico encontra-se dentro dos parâmetros de normalidade.
Justificação:
O caso clínico descrito é de uma criança de 3 anos com uma provável obstipação. A favor desta hipótese
diagnóstica temos o facto de se tratar de uma criança com paralisia cerebral, a mobilidade reduzida, a
utilização de fármacos obstipantes, o menor número de dejeções recentemente, com volume reduzido e
a presença de fezes líquidas (soiling). Ao exame objetivo onde observa-se uma massa firme e volumosa
palpável na fossa ilíaca esquerda, muito característica. O facto de não apresentar vómitos ou resíduo
gástrico afasta a hipótese de oclusão intestinal.
A resposta certa é a Opção D. O Raio-X simples do abdómen valoriza a retenção fecal e a existência
ou não de alterações na coluna lombossagrada e visualiza a distensão das ansas e níveis hidroaéreos.
Relativamente às outras opções de resposta:
Opção A – Incorreta. O clister opaco seria uma opção se houvesse suspeita de zonas de estenose e dilatação,
o que não parece ser o caso.
Opção B – Incorreta. A α-fetoproteína é um biomarcador tumoral que, neste caso, não faria qualquer
sentido ser solicitado, dados os antecedentes, história e exame objetivo altamente característicos de um
diagnóstico de obstipação.
Opção E – Incorreta. A TC abdominal e pélvica é um exame que permite uma caracterização bastante
precisa dos órgãos intra-abdominais e pélvicos e a avaliação de eventuais massas existentes. No entanto,
é um exame com elevada radiação e que, neste caso, não se justifica dada a presença de elementos tão
sugestivos de um diagnóstico de obstipação.
131. Um homem de 48 anos, advogado, é trazido ao consultório médico pela sua esposa por aumento de
dificuldade respiratória durante o sono com dois anos de evolução. A esposa diz: «Ele sempre teve um
problema com o ressonar, mas agora deixa completamente de respirar durante vários segundos, e depois
volta a respirar com um empurrão violento.» A esposa refere ainda várias sestas em casa e que o patrão
já se queixou de o encontrar a dormir durante o dia. Ele refere ainda ter sudorese noturna, odinofagia
matinal frequente e dificuldade de concentração durante o dia. Ele não tem antecedentes pessoais de
relevo, não faz medicação habitual e nega consumo de tabaco. Consome três a quatro bebidas alcoólicas ao
fim de semana. Os sinais vitais são temperatura 37⁰C, frequência respiratória 20/min, frequência cardíaca
88/min e pressão arterial 155/100 mm Hg; SpO2 96% (ar ambiente). Ele tem 183 cm de altura e pesa 118
Kg; IMC 35 Kg/m2. O restante exame físico e resultados dos estudos analíticos encontram-se dentro dos
parâmetros de normalidade.
Qual dos seguintes é o próximo passo mais adequado na gestão do problema de sono do doente?
Justificação:
O caso clínico descrito é típico de patologia obstrutiva do sono, nomeadamente síndrome da apneia/
hipopneia obstrutiva do sono: sexo masculino, meia-idade, obeso, com apneias presenciadas,
hipersonolência diurna, fadiga, défice de concentração, sudorese noturna (esforço respiratório) e
odinofagia (respiração bucal noturna e traumatismo da úvula). O exame gold standard para o diagnóstico
da SAHOS é a polissonografia, nomeadamente a de grau I. Na gestão destes doentes, em casos ligeiros,
deve-se iniciar o tratamento com medidas conservadoras, nomeadamente promoção da perda ponderal,
higiene do sono, abstinência alcoólica… Em casos moderados/graves/refratários pode ser necessário
utilizar CPAP ou tratamento cirúrgico dirigido.
A resposta certa é a Opção (D), uma vez que o diagnóstico e a estratificação da gravidade apenas são
fornecidos pela polissonografia do sono. Relativamente às outras opções de resposta:
Opção (A) – Incorreta. Abordagem terapêutica correta em casos de SAHOS, uma vez que o etanol deprime
o SNC e aumenta o colapso das vias aéreas superiores. Porém é necessário ter um diagnóstico correto
primeiro.
Opção (B) – Incorreta. Abordagem terapêutica correta em casos de SAHOS, uma vez que está comprovado
que a perda ponderal diminui a obstrução da via aérea durante o sono. Porém é necessário ter um
diagnóstico correto primeiro.
Opção (C) – Incorreta. Abordagem terapêutica correta em casos de SAHOS, uma vez que o decúbito
dorsal (de costas) promove um maior colapso das vias aéreas durante o sono, aumentando a roncopatia.
Porém é necessário ter um diagnóstico correto primeiro.
Opção (E) – Incorreta. Apenas teria sentido se o doente apresenta-se queixas anginosas, com o objetivo de
estratificar o risco cardiovascular deste doente.
132. Uma mulher de 70 anos vem à consulta por história de bócio multinodular diagnosticado por ecografia.
Refere ainda astenia, edemas duros dos membros inferiores e lentificação motora. A história médica
revela diabetes mellitus, hipertensão arterial e fibrilhação auricular. A medicação habitual inclui, há vários
anos, metformina, furosemida, amiodarona e varfarina. Os sinais vitais são temperatura 36⁰C, frequência
respiratória 16/min, frequência cardíaca 54/min e pressão arterial 110/70 mm Hg; SpO2 95% (ar
ambiente). Ela tem 165 cm de altura e pesa 71 Kg; IMC 26 Kg/m2. Ao exame físico encontra-se consciente
e orientada, com rarefação pilosa. O restante exame físico, incluindo o exame do pescoço, encontra-se
dentro dos parâmetros de normalidade.
Soro Sangue
Creatinina 1,4 mg/dL Hemoglobina 12,5 g/dL
Glucose 127 mg/dL Leucócitos 5 200/mm3
Colesterol Neutrófilos, segmentados 60 %
Total 270 mg/dL Linfócitos 32 %
TSH 16 µU/mL Plaquetas 295 × 109/L
T4 livre 2 µg/dL Velocidade de sedimentação 10 mm/1ªhora
eritrocitária
Qual das seguintes alternativas é a causa mais provável deste quadro clínico?
Estamos perante um caso clínico de hipotiroidismo. A doente apresenta sintomas e sinais sugestivos de
hipotiroidismo, como astenias, lentificação psicomotora, edemas duros dos MIs, bradicardia e rarefação
pilosa. Analiticamente apresenta hipotiroidismo primário (TSH aumentada com T4 livre diminuída). A
amiodarona tem toxicidade tiroideia tanto pode cursar com hipotiroidismo como hipertiroidismo. Dentro
das opções apresentadas, a mais correta é a (D) “Iatrogenia”.
A opção (A) “Carcinoma papilar da tiroide” está incorreta porque no cenário apresentado, este diagnóstico
é menos provável. Normalmente, os carcinomas papilares da tiroide são assintomáticos e diagnosticados
após estudo de um nódulo tiroideu. O hipotiroidismo pode ser encontrado.
A opção (B) “Défice de iodo” está incorreta porque apesar do défice de iodo ser uma causa de hipotiroidismo,
na atualidade com a suplementação alimentar com iodo, o défice de iodo é raro.
A opção (C) “Doença de Graves - Basedow” está incorreta porque se refere a hipertiroidismo após
administrados de produtos iodados. A Tirotixicose induzida pela amiadorona tipo 1 é uma forma de
hipertireoidismo induzido pelo iodo (efeito JodBasedow) em que existe o aumento da síntese e liberação
de hormonas tiroideias.
A opção (E) “Tiroidite de Quervain” está incorreta porque cursa com dor na região cervical anterior e
à palpação tiroideia. Estes sintomas não estão presentes neste caso clínico. Numa fase inicial cursa com
hipertiroidismo e posteriormente com a resolução pode oscilar entre eutiroidismo e hipotiroidismo.
133. Um menino de 18 meses é observado em consulta de vigilância de saúde infantil e juvenil. A mãe
manifesta preocupação porque encontra frequentemente o filho a comer terra quando está a brincar no
exterior. Iniciou o infantário há duas semanas e a mãe tem notado nele maior dificuldade em adormecer.
O crescimento e o desenvolvimento têm sido normais. O Programa Nacional de Vacinação encontra-se
atualizado. A dieta habitual é maioritariamente constituída por leite gordo, sumos e hidratos de carbono.
Vive em casa com os pais, a irmã, dois cães e um gato. A somatometría revela comprimento 80 cm (P25),
peso 11 Kg (P25) e perímetro cefálico 48 cm (P50). Os sinais vitais são temperatura 36,8⁰C, frequência
respiratória 24/min, frequência cardíaca 120/min e pressão arterial 82/48 mm Hg. O exame físico encontra-
se dentro dos parâmetros de normalidade.
Em qual dos seguintes estudos laboratoriais é mais provável encontrar alterações que confirmem o
diagnóstico subjacente?
O caso clínico descreve uma criança de 18 meses com o diagnóstico provável de ferropénia/anemia
ferropénica. A favor deste diagnóstico temos a presença de pica (ingestão de terra), maior dificuldade
em adormecer (associação de ferropénia com síndrome de pernas inquietas) e dieta desequilibrada
(maioritariamente constituída por leite gordo, sumos e hidratos de carbono).
Opção A – Incorreta. ALT e AST são marcadores de lesão hepatocelular, sendo a ALT mais sugestiva de
patologia hepática. Não existem na história elementos sugestivos de agressão hepatocelular , que pudessem
provocar um aumento destes parâmetros.
Opção B – Incorreta. O saturnismo é uma causa rara de anemia microcítica. Não existem na história
elementos sugestivos de intoxicação por chumbo.
Opção D – Incorreta. Apesar do contacto com cães e gatos, este exame apenas deveria ser solicitado em
caso de sintomatologia sugestiva de infeção do tubo digestivo, o que não se verifica.
134. Uma mulher de 18 anos, vem ao consultório por receio de estar grávida. Tem atraso menstrual de seis dias.
A mulher está muito ansiosa e pede sigilo pois não quer que os pais saibam que já tem atividade sexual.
Não tem antecedentes pessoais ou familiares de relevo. A menarca foi aos 12 anos; os ciclos menstruais são
de 26-33 dias. A coitarca foi há um ano. Até ao momento teve dois parceiros sexuais. Usa como método
contracetivo o coito interrompido. Nunca usou preservativo porque eram “namorados fixos” e tem receio
de engordar se tomar contracetivo hormonal. Nega alergias. Ela tem 155 cm de altura e pesa 54 kg; IMC 23
kg/m2. Os sinais vitais encontram-se dentro dos parâmetros de normalidade. Ao exame físico observa-se
a presença de acne facial e oleosidade da pele. O restante exame físico, incluíndo o ginecológico, encontra-
se dentro dos parâmetros de normalidade. O teste imunológico de gravidez é negativo.
Qual dos seguintes é o método contracetivo mais adequado para aconselhar a esta mulher?
A resposta certa é a Opção A, porque a contraceção hormonal combinada para além dos efeitos
contracetivos, também apresenta benefícios não contracetivos, tal como tratamento dos sintomas de
hiperandroginismo (acne e hirsutismo) (consultar Consensos de Contraceção 2020, pág. 23). A dupla
proteção (preservativo e contracetivo hormonal) é o ideal.
Opção (B) – Incorreta. Um dos efeitos adversos possíveis do progestativo oral isolado é o Acne (3%), pelo
que não parece o mais indicado neste caso. Atualmente o espermicida não está disponível em Portugal,
pelo que foi excluída a sua inclusão nos Consensos de Contraceção.
Opção (C) – Incorreta. Em relação ao Sistema Intrauterino de Levonorgestrel (nos primeiros meses de
uso): poderá haver tensão mamária, irritabilidade, cefaleias, aumento de peso, spotting e acne devido aos
efeitos do progestagénio (Consensos de Contraceção 2020, pág. 49).
Opção (D) – Incorreta. Em adolescentes com sinais de androgenização (acne e ou hirsutismo) o implante
não deve ser considerado método de 1.ª linha (Consensos de Contraceção 2020, pág. 73).
Opção (E) – Incorreta. Preservativos com membranas naturais podem conter pequenos poros que
permitem a passagem de vírus, incluíndo vírus da Hepatite B, Vírus Herpes simplex e HIV. Não têm o
mesmo nível de proteção contra as Infeções Sexualmente Transmissíveis e não devem ser recomendados
com este propósito.
135. Uma mulher de 33 anos vem ao serviço de urgência por história de cefaleia severa com duas horas de
evolução. Nega dispneia, desconforto, dor torácica ou confusão. A história médica revela hipertensão
refratária à medicação. Encontra-se medicada habitualmente com amlodipina e hidroclorotiazida e
recentemente iniciou tratamento com enalapril. Não há história familiar de hipertensão. Ela tem 172 cm
de altura e pesa 68 Kg; IMC 23 Kg/m2. Os sinais vitais são temperatura 36,5⁰C, frequência respiratória
20/min, frequência cardíaca 88/min e pressão arterial 220/135 mm Hg, bilateralmente; SpO2 98% (ar
ambiente). A fundoscopia não revela hemorragia retiniana ou edema da papila. A auscultação cardíaca e
pulmonar encontra-se dentro dos parâmetros de normalidade. O abdómen é mole, não distendido, indolor,
sem hepatoesplenomegalia, com um sopro sistodiastólico audível na região periumbilical esquerda; os
ruídos hidroaéreos estão presentes. O exame neurológico não revela alterações da força muscular, da
sensibilidade ou dos pares cranianos. Está orientada no espaço e tempo. A marcha é normal. O restante
exame físico encontra-se dentro dos parâmetros de normalidade.
Qual das seguintes alternativas é a causa mais provável para a hipertensão severa desta doente?
(A) Aterosclerose
(B) Coartação vascular
(C) Displasia fibromuscular
(D) Hipertensão autónoma de aldosterona
(E) Secreção excessiva de catecolaminas
Resposta oficial (ACSS): (C)
Justificação:
O caso clínico descrito é de uma mulher de 33 anos com hipertensão refratária (medicada com amlodipina,
hidroclorotiazida e enalapril), que recorre ao Serviço de Urgência por cefaleia com duas horas de evolução,
sem outra sintomatologia associada. Não apresenta história familiar de hipertensão. Na admissão a doente
apresenta-se hipertensa (pressão arterial 220/135 mmHg), com sopro sistodiastólico audível na região
periumbilical esquerda, sem outras alterações no exame físico.
A resposta correta é a opção (C), displasia fibromuscular. A presença de um sopro abdominal ou no flanco
é sugestivo de hipertensão renovascular, que pode decorrer de aterosclerose ou de displasia fibromuscular.
No caso descrito, considerando que se trata de uma mulher jovem com hipertensão refratária em que
(além da hipertensão) não se identificam outros fatores de risco cardiovascular, a hipótese diagnóstica de
displasia fibromuscular assume-se como a mais provável. Relativamente às restantes opções de resposta:
Opção (A) – Incorreta. Como explicado acima, o facto de se tratar de uma mulher jovem em que, além
da hipertensão, não se identificam outros fatores de risco cardiovascular, torna a hipótese de hipertensão
renovascular por aterosclerose menos provável.
Opção (B) – Incorreta. A coartação da aorta é uma das hipóteses de diagnóstico a considerar em doentes
jovens com hipertensão, sendo por isso importante nestes doentes obter as medições da pressão arterial dos
membros superiores e inferiores de modo a avaliar a presença de diferencial de pressões. No caso clínico
apresentado é referido o valor de pressão 220/135 mmHg, bilateralmente, sem contudo ser dado um valor
de pressão arterial avaliado ao nível dos membros inferiores. Ainda assim, o facto de a doente apresentar o
sopro abdominal torna a hipótese de displasia fibromuscular mais provável, como previamente explicado.
Opção (D) – Incorreta. O hiperaldosteronismo é também uma causa de hipertensão arterial secundária,
mas não há aspectos neste caso clínico que nos apontem para esse diagnóstico.
136. Um lactente de 18 meses, previamente saudável, é trazido ao serviço de urgência por febre elevada
(temperatura máxima 40⁰C, picos 4/4h) com três dias de evolução. O pai refere ainda seis a oito dejeções
aquosas por dia, várias raiadas com sangue vermelho vivo, um a dois vómitos diários, com recusa alimentar
parcial, mas a tolerar ingestão de líquidos. Frequenta infantário e há colegas de turma com quadro
semelhante. Os sinais vitais são temperatura 37,2⁰C, frequência cardíaca 105/min e pressão arterial 86/53
mm Hg. Ao exame físico encontra-se com pele e mucosas pálidas, lábios secos, ativo e reativo a estímulos.
Tem dor abdominal ligeira à palpação difusa, sem sinais de irritação peritoneal.
Os resultados dos estudos analíticos revelam:
Soro Sangue
Creatinina 1,2 mg/dL Hemoglobina 7,1 g/dL
Ureia 69 mg/dL [N=10-40 mg/dL] Plaquetas 86 × 109 /L
Sódio 142 mEq/L Esfregaço Esquizócitos
Potássio 4,6 mEq/L
Qual dos seguintes agentes patogénicos é a causa mais provável da condição deste doente?
Campylobacter jejuni
Norovírus
Rotavírus
Shigella spp
Justificação:
O caso clínico descreve um lactente com febre elevada desde há 3 dias associada a dejeções aquosas
com sangue e a vómitos com recusa alimentar parcial que se apresenta ligeiramente desidratado, com
dor abdominal difusa e uma anemia de provável causa hemolítica dada a presença de esquizócitos no
esfregaço de sangue. Frequenta o infantário, onde estão várias outras crianças com o mesmo quadro.
A resposta certa é a Opção (E), porque perante um quadro clínico de febre elevada associada diarreia
aquosa com sangue, com uma evolução de 3 dias numa criança que frequenta o infantário, onde há mais
casos semelhantes e associado a esquizócitos e anemia, o mais provável é ser causado por uma Shigella
spp. Relativamente às outras opções de resposta:
Opção (A) – Incorreta. O Campylobacter jejuni causa dejeções sanguinolentas com muco, não muito
fétidas, associadas a dor abdominal.
Opção (B) – Incorreta. O Norovírus está associado a surtos em cruzeiros ou grupos de pessoas e não se
apresenta com uma diarreia deste tipo.
Opção (C) – Incorreta. O Rotavírus causa uma diarreia aquosa sem sangue ou muco e uma febre baixa,
estando associado a dor abdominal e vómitos frequentes.
Opção (D) – Incorreta. A Salmonella causa um quadro súbito de febre, afetação do estado geral, náuseas,
vómitos, dor abdominal em cólica e dejeções mucosanguinolentas muito fétidas.
137. Uma mulher de 38 anos é trazida ao serviço de urgência pela equipa de emergência extra-hospitalar por
lipotimia, sem perda de consciência, associada a dor abdominal e hemorragia genital de sangue escuro.
Neste momento, a mulher refere que a dor se está a tornar muito intensa e na maca observa-se uma poça
de sangue. Os antecedentes médicos incluem parto vaginal a termo, auxiliado por fórceps e complicado
por laceração perineal com lesão do esfincter anal, há 15 anos. Foi submetida a conização por lesão
intraepitelial de alto grau do colo uterino, há quatro anos. Os ciclos menstruais são irregulares, de 35-60
dias. A mulher diz que a data da última menstruação foi há três meses. Tem atividade sexual regular e
usa preservativo masculino como contracetivo. Refere hábitos tabágicos de oito cigarros por dia desde há
10 anos e consumo regular de cocaína desde há cinco anos. Ela tem 162 cm de altura e pesa 46 Kg; IMC
18 Kg/m2. Os sinais vitais são temperatura 36,1⁰C, frequência respiratória 15/min, frequência cardíaca
110/min e pressão arterial 95/55 mm Hg. Ao exame físico apresenta um aspeto envelhecido. O abdómen
está aumentado de volume, com abaulamento acima do umbigo. À palpação tem consistência pétrea e é
muito doloroso. O exame pélvico revela hemorragia (sangue escuro) abundante, visível através do orifício
cervical externo. A ecografia abdominal documenta gravidez de feto único com biometrias compatíveis
para 30 semanas de gestação. A placenta está em posição fúndica. A frequência cardíaca fetal é 80/min.
Qual das alternativas é o fator de risco que mais contribui para o quadro clínico atual?
Justificação:
O caso clínico descrito nesta vinheta clínica apresenta uma grávida no 3º trimestre, hemodinamicamente
instável, com hemorragia intra-uterina de grande quantidade associada com dor abdominal, com
agravamento progressivo. Tendo em conta a clínica que nos é apresentada, estamos perante um
quadro de DPPNI (Descolamento prematura de placenta normalmente inserida). Deste modo, existem
vários fatores de risco que justificam esta patologia, um deles é o consumo de cocaína e tabaco,
como é habitual nesta grávida. Deste modo, a opção correta é a C – consumo de tabaco e cocaína.
Relativamente às outras opções:
Opção D – Índice de massa corporal - Opção incorreta - O Índice de massa corporal não está associado
com o DPPNI.
Opção E – Irregularidade dos ciclos menstruais - Opção incorreta - Alterações nos ciclos menstruais não
está associado a DPPNI.
138. Um homem de 46 anos, casado e com dois filhos, vem à consulta com o seu médico de família por
dificuldades em dormir. O doente é militar de profissão e regressou recentemente de uma missão de paz,
onde esteve destacado cerca de um ano. Atribui as suas dificuldades em dormir a essa missão, indicando
que foi um período de muito stress. Descreve em particular um atentado bombista de que foi vítima no
início do destacamento. Refere que esse atentado ocorreu numa escola onde estava em serviço e que, apesar
de não ter sofrido qualquer lesão, logo nos dias seguintes passou a ter pesadelos diários com imagens dos
cadáveres de crianças que observou nesse dia. Refere que esses pesadelos o acordam de madrugada e
que depois tem dificuldade em voltar a adormecer. A mulher, que o acompanha na consulta, insiste na
necessidade de se encontrar um medicamento para o marido dormir, referindo: «Estes problemas do
sono mudaram-no… parece que vive num mundo diferente de nós… qualquer coisa o irrita, não se pode
fazer barulho em casa, e até deixou de levar os miúdos à escola porque diz que dorme ainda pior nos dias
seguintes…»
Qual das seguintes alternativas é a opção terapêutica mais adequada para o quadro clínico apresentado
por este doente?
(A) Fluoxetina
(B) Lorazepam
(C) Suplemento de melatonina ao deitar
(D) Terapia cognitiva e comportamental
(E) Terapia familiar
Justificação:
O caso clínico descrito é de um homem de 46 anos, com dificuldades em dormir, na sequência de evento
traumático (atentado bombista de que foi vítima), que condicionou pesadelos diários com imagens
intrusivas, irritabilidade, sensibilidade ao barulho e impacto na funcionalidade.
A resposta certa é a Opção (D), porque o doente apresenta um quadro sugestivo de uma perturbação
de stress pos-traumático, existindo indicação para realizar psicoterapia cognitivo comportamental (que
apresenta evidência científica no tratamento desta condição). Além disso, aspetos como o sono e o
evitamento, poderão ser abordadas através desta modalidade terapêutica. Relativamente ás outras opções
de resposta:
Opção (A) – Incorreta. Apesar da aplicabilidade dos antidepressivos inibidores seletivos da recaptação
da serotonina em casos de perturbação de stress pós-traumático, estes devem ser considerados em casos
nos quais se verifique uma perturbação depressiva comórbida ou caso não exista resposta terapêutica a
intervenção psicoterapêutica, pelo que esta não constitui a melhor opção neste caso.
Opção (B) – Incorreta. O lorazepam é uma benzodiazepina e, apesar desta classe farmacológica poder ser
útil no alivio sintomático rápido de sintomatologia ansiosa e insónia, não está preconizada no tratamento
da perturbação de stress pós-traumático, devendo até ser evitada pelo risco de desenvolvimento de
dependência.
Opção (C) – Incorreta. Os agentes melatoninérgicos podem ser utilizados na gestão de quadros de insónia
relacionados com atrasos ou avanços de fase do sono, pelo que não têm indicação neste caso.
Opção (E) – Incorreta. Apesar da interferência ao nível da dinâmica família, para já há que considerar
uma psicoterapia individual de modo a adereçar o quadro clínico supramencionado.
139. Um homem de 56 anos vem ao serviço de urgência por palpitações com duas horas de instalação. Ele diz:
«Tive o mesmo problema múltiplas vezes no passado, para o qual o meu médico prescreveu medicação, mas
que acho que não devo tomar quando bebo álcool.» Ele refere ter estado a beber álcool continuamente nas
últimas 48 horas. Nega tonturas, dispneia, sudorese ou dor torácica. Para além da suspeita de alcoolismo,
nega outros antecedentes ou hábitos farmacológicos. Ele não tem antecedentes familiares de relevo. Os
sinais vitais são temperatura 37⁰C, frequência respiratória 26/min, frequência cardíaca 160/min e pressão
arterial 120/82 mm Hg; SpO2 96% (ar ambiente). Ele tem 183 cm de altura e pesa 100 Kg; IMC 30 Kg/m2.
Ao exame físico apresenta-se com bom aspeto geral, alerta e cooperante. Sem hálito etílico. Para além de
taquicardia, o restante exame físico não mostra alterações.
Com base nestas constatações, este doente é mais suscetível de desenvolver qual dos seguintes?
Justificação:
Proposta de resposta:
O caso clínico descrito é de um homem de 56 anos de idade que recorre ao Serviço de Urgência por
palpitações com duas horas, referindo episódios prévios semelhantes no passado para os quais estaria
medicado mas que refere omitir a medicação quando consome álcool. Refere consumo abusivo de álcool
nas últimas 48 horas. Na observação encontra-se taquicárdico (160/min), normotenso, e sem alterações
ao exame físico a merecer destaque.
A opção mais correta é a opção (A), acidente vascular cerebral. O caso descrito é compatível com um
quadro de fibrilhação auricular em contexto de intoxicação alcoólica num doente que, pela informação
descrita, já teria provavelmente episódios prévios de fibrilhação auricular neste contexto. Considerando
que o doente refere fazer medicação habitualmente, poderemos estar perante um doente não anti-
coagulado que se apresenta com fibrilhação auricular com resposta ventricular rápida, e portanto com
risco de formação de trombo e embolização cerebral.
Opção (B) – Incorreta. O quadro descrito não é compatível com enfarte agudo do miocárdio uma vez que
não há referência a dor torácica nem equivalentes anginosos.
Opção (C) – Incorreta. No enunciado é referido que o doente nega antecedentes pessoais além do alcoolismo
e por isso presumivelmente não haverá patologia cardíaca subjacente que predisponha à ocorrência de
fibrilhação ventricular. A intoxicação alcoólica associa-se ao aumento do risco de fibrilhação auricular.
Opção (D) – Incorreta. A intoxicação alcoólica associa-se à ocorrência de fibrilhação auricular e não de
disritmias ventriculares com risco de vida.
Opção (E) – Incorreta. O caso descrito é compatível com fibrilhação auricular em contexto de intoxicação
alcoólica, não havendo associação com trombose venosa profunda.
140. Uma mulher de 54 anos vem à consulta de vigilância com o seu médico de família e para renovação de
medicação. A história médica revela depressão major recorrente e asma desde a adolescência. Atualmente
está assintomática, mas refere períodos de pieira e dispneia cerca de duas vezes por mês, desde a última
consulta. A medicação habitual inclui budesonida + formoterol por via inalatória e salbutamol em SOS,
por nebulização, que utiliza três a quatro vezes por semana e que não suspendeu, conforme recomendado,
por se sentir melhor com o seu uso. Nega história de tabagismo ou consumo de álcool. Os sinais vitais são
temperatura 36⁰C, frequência respiratória 15/min, frequência cardíaca 93/min e pressão arterial 110/67
mm Hg; SpO2 99% (ar ambiente). Ela tem 173 cm de altura e pesa 60 Kg; IMC 20 Kg/m2. Apresenta
bom estado geral. O exame físico, incluindo auscultação cardíaca e pulmonar, encontra-se dentro dos
parâmetros de normalidade.
Esta doente deve ser advertida de que está em maior risco para qual dos seguintes?
Justificação:
O caso clínico descrito é de uma doente com asma brônquica, medicada com LABA + ICS (budesonida
+ formoterol) por via inalatória e SABA (salbutamol) em SOS, por nebulização, que utiliza três a quatro
vezes por semana, apesar de recomendação em contrário.
A resposta certa é a Opção C, porque o tratamento com SABA em SOS, na asma, se associa a um aumento
do risco de exacerbações da doença, mortalidade e diminuição da função pulmonar.
Opção (A) – Incorreta. A doente não apresenta antecedentes de tabagismo, DPOC ou outra patologia que
aumente o risco de vir a desenvolver enfisema pulmonar.
Opção (B) – Incorreta. O uso excessivo de SABA (salbutamol) pode conduzir a hipocaliémia, por favorecer
o influxo de K+ nas células.
Opção (D) – Incorreta. A doente não apresenta fatores de risco conhecidos/ identificados para neoplasia
(tabagismo, alcoolismo, excesso de peso, DPOC, história familiar de neoplasia…), logo não terá um risco
superior ao da população geral.
Opção (E) – Incorreta. Apesar da obesidade ser uma comorbilidade frequente na asma, é ainda pouco
certo se a asma é um fator de risco para obesidade no futuro. UpToDate (22/11/2021): “Asthma at the age
of three to four years is reported to increase the risk of obesity nearly twofold by age eight”, sendo uma
hipótese ainda com pouco suporte científico.
141. Uma mulher de 44 anos, auxiliar de ação técnica num lar de idosos, vem à consulta de medicina geral
e familiar por preocupações em relação à sua capacidade de manter funções profissionais. Refere que
os horários no seu local de trabalho são alterados a cada três meses e que, na mais recente alteração,
passou a estar alocada a turnos noturnos. Desde essa altura sente-se muito cansada, tem dificuldade em
concentrar-se e adormece com facilidade de dia assim como quando está a trabalhar à noite. Por outro
lado, nas manhãs em que regressa a casa de trabalhar não consegue dormir mais do que três ou quatro
horas seguidas. Recentemente, num turno noturno, trocou a medicação de dois idosos do lar, o que a
deixou particularmente preocupada com a situação. Refere ainda que no último período em que ficou
alocada a uma rotação de horários deste tipo ocorreram problemas similares, e chegou mesmo a ter um
acidente de viação em que chocou contra um muro. Está muito preocupada com a possibilidade de poder
cometer um erro profissional importante e pede o seu conselho.
Qual das seguintes é a abordagem mais adequada para prevenir a ocorrência de erros na execução das
funções profissionais da doente?
Justificação:
O caso clínico descrito é de uma mulher de 44 anos, recentemente alocada a turnos noturnos, após os
quais apenas dorme 3/4h, com desenvolvimento de cansaço, compromisso atencional, que condicionaram
erros no trabalho. Tem antecedentes de acidente de viação em altura que trabalhou por turnos, motivo
pelo qual manifesta a sua preocupação. Sem compromisso do sono quando trabalha durante o dia.
A resposta certa é a Opção (B), porque a doente apresenta história de sonolência e acidentes no contexto
de alteração do padrão do sono por trabalho por turnos, pelo que a melhor abordagem para prevenir a
ocorrência de erros na execução das funções profissionais da doente consiste em realizar tratamento com
modafinil (estimulante usado em questões de hipersónia, incluindo na narcolepsia) antes de iniciar o
trabalho noturno. Relativamente ás outras opções de resposta:
Opção (D) – Incorreta. O zolpidem é fármaco indutor do sono, pelo que não será a melhor opção para
prevenir a ocorrência de erros na execução das funções profissionais da doente.
Opção (E) – Incorreta. Apesar de a cafeína ser frequentemente usada para promover a vigília, os
antecedentes pessoais da doente (com erros e acidentes no contexto do trabalho noturno) apontam para a
necessidade de uma medida farmacológica mais assertiva, como o modafinil.
142. Um homem de 52 anos vem ao serviço de urgência por queixas de retorragias. Nega outras queixas.
Tem antecedentes de tabagismo (20 UMA) e hábitos alcoólicos (168 g/dia). A história médica inclui
apendicectomia aos 18 anos e hernioplastia aos 29 anos (hérnia inguinal indireta). Os sinais vitais
encontram-se dentro dos parâmetros de normalidade. Ao exame físico apresenta pele e mucosas coradas
e hidratadas. O exame do tórax e do abdómen não revelou alterações; o toque retal mostrou a presença de
sangue na luva.
Soro
Fosfatase alcalina 150 U/L
y-glutamil transferase (GGT) 102 U/L
CEA 0,5 ng/mL [N = 0-5]
CA19.9 29 U/mL [N = 0-37]
Foi solicitada colonoscopia total, que mostrou neoplasia aos 12 cm da margem anal; a biópsia revelou
adenocarcinoma do reto moderadamente diferenciado. O estadiamento locorregional por ecografia
endorretal é T2N0. A TC torácica, abdominal e pélvica mostra uma lesão nodular hepática sugestiva de
metástase no segmento 3 do fígado e a presença de líquido na cavidade peritoneal de moderado volume.
Justificação:
O caso clínico diz respeito a um homem de 52 anos diagnosticado com um cancro do reto alto cT2N0M1
(uma metástase hepática).
A resposta certa é a Opção D), Quimiorradioterapia. Nos doentes com cancro do reto com doença
oligometastática, o tratamento mais vezes recomendado consiste em QT/RT seguidas de cirurgia. O
tratamento tem intuito curativo. Esta resposta está de acordo com o algoritmo de decisão do Schwartz e
com as guidelines da NCCN e da ESMO.
Opção A – Incorreta. A cintigrafia óssea não é usada por rotina no estadiamento do cancro do reto.
Opção B – Incorreta. Embora os hábitos alcoólicos do doente e a presença de ascite na TC possam sugerir
uma doença hepática crónica, neste momento, a prioridade é tratar a neoplasia.
Opção C – Incorreta. A paracentese não está indicada para excluir ascite carcinomatosa no cancro do reto.
Opção E – Incorreta. Tal como acima explicado, na doença oligometastática associada ao cancro do reto,
o tratamento habitualmente escolhido é a QT/RT seguidas de cirurgia. No entanto, salienta-se que o
tratamento cirúrgico pode ser levado a cabo antes da QT e RT, sobretudo, se as condições para a resseção
da doença metastática forem favoráveis.
143. Uma mulher de 48 anos vem ao consultório médico para exame periódico de vigilância. Expressa
preocupação pela sua incapacidade em perder peso, apesar de ter feito medicação múltipla e dieta
especializada recomendada pela nutricionista. Refere ter feito caminhadas diariamente de 30 minutos nos
últimos três meses, mas suspendeu há um mês pelo agravamento da dor no joelho direito, assim como
pela dificuldade em respirar durante o esforço. A história médica revela hipertensão arterial, dislipidemia,
osteoartrose, diabetes mellitus tipo 2 e retinopatia diabética proliferativa, para a qual fez cirurgia laser no
olho esquerdo há três meses. A medicação habitual inclui metformina, losartan, sinvastatina, amlodipina
e paracetamol. Nega consumo de tabaco ou álcool. Tem um trabalho sedentário. Os sinais vitais são
temperatura 37,20 C, frequência respiratória 18/min, frequência cardíaca 92/min e pressão arterial
140/90 mm Hg. Ela tem 165 cm de altura e pesa 109 Kg; IMC 40 Kg/m2. Não perdeu peso desde a última
visita. A auscultação pulmonar revela diminuição dos sons respiratórios bilateralmente. Existe edema das
extremidades inferiores (2+). O exame dos joelhos mostra crepitação articular bilateral e diminuição da
mobilidade passiva à direita, com dor severa à mobilização ativa do joelho direito. A doente pergunta o
que pode ser feito para ajudar a perder peso e melhorar o seu estado de saúde.
Justificação:
O caso clínico descrito descreve uma doente com IMC: 40 Kg/m2 bem como múltiplos fatores de risco
cardiovasculares. Esta já iniciou dieta e programa de exercício físico, pelo que seria de colocar como
indicação cirurgia bariátrica.
Relativamente às outras opções de resposta:
Opção (A) - Incorreta. Iniciar um anti-depressivo e manter o regime de dieta que não funcionou até ao
momento não será uma boa opção terapêutica.
Opção (B) - Incorreta. Recomendar o ginásio quando já tem várias limitações físicas para desempenhar
atividade física não será o mais indicado.
Opção (D) - Incorreta. A patologia do joelho estará muito provavelmente associada ao excesso de peso.
Opção (E) - Incorreta. Uma doente com IMC tão elevado, com imensos fatores de risco cardiovasculares,
já com atingimento de órgão-alvo, necessita de uma intervenção rápida.
144. Um recém-nascido com 5 dias de vida é trazido ao consultório médico por ter sido notada coloração
amarelada dos olhos desde há três dias. O parto foi de termo, eutócico, sem complicações, e a gestação
decorreu sem intercorrências. Encontra-se sob aleitamento misto, com boa adaptação. Os sinais vitais
encontram-se dentro dos parâmetros de normalidade. Ao exame físico apresenta icterícia.
Soro Sangue
Bilirrubina 15 mg/dL [N= 2-10] Hemoglobina 15,1 g/dL [N= 14,5-22,5]
Direta 0,6 mg/dL [N < 1,5] Hematócrito 45% [N= 44-75%]
Reticulócitos 3,0% [N= 0,5-1,5%]
A causa mais provável da icterícia deste recém-nascido é a diminuição da atividade de qual das seguintes
enzimas?
Justificação:
O caso clínico descreve um recém-nascido com icterícia, com 5 dias, com aumento de bilirrubina à custa
da indireta (um valor bastante significativo). Este encontra-se sob aleitamente misto, com boa adaptação,
sem hemólise associada. Pensando em causas de Hiperbilirrubinemia indireta no recém-nascido:
Síndroma de Gilbert e Síndroma de Crigler-Najjar. Ambos associados a mutações que codificam a enzima
UDP-glucuronosiltransferase. Pelo que a opção correta é a E.
145. Um homem de 85 anos encontra-se internado desde há duas semanas por um quadro de pneumonia com
insuficiência aguda, a evoluir favoravelmente. Tem antecedentes de insuficiência cardíaca, hipertensão
arterial e diabetes mellitus. A medicação atual inclui insulina, pantoprazol, furosemida, lisinopril
e meropenem. Está algaliado e com cateter venoso central na veia jugular direita. Os sinais vitais são
temperatura 36,50 C, frequência respiratória 18/min, frequência cardíaca 78/min e pressão arterial
150/90 mm Hg. Ao exame físico apresenta bom estado geral com mucosas coradas e hidratadas. Sem
sinais inflamatórios no local de inserção dos cateteres. O restante exame físico encontra-se dentro dos
parâmetros de normalidade.
Soro Sangue
Creatinina 1,1 mg/dL Hemoglobina 9,5 g/dL
Azoto ureico 18 mg/dL Leucócitos 9 120/mm3
Proteína C reativa 15 mg/dL Plaquetas 125×109/L
Colheu urina (aspeto normal) para urocultura que isolou Candida albicans.
Justificação:
O caso clínico descrito é de um homem idoso internado por pneumonia com resposta favorável às
medidas instituídas. O doente está algaliado e apresenta uma urocultura com uma Cândida albinas,
mas está assintomático e não tem aumento dos parâmetros inflamatórios, tratando-se portanto muito
provavelmente de uma bacteriúria assintomática.
A resposta certa é a Opção (E), porque perante uma bacteriúria assintomática neste homem que está
algaliado, sem instabilidade hemodinâmica, não deve ser instituída nenhuma antibioterapia. Quanto
muito, deverá ser removida a algália se já não for necessária ou, se necessária, ser trocada.
Opção (C) – Incorreta. O fluconazol pode ser utilizado no tratamento de candidúrias, embora este doente
não precise de tratamento e, mesmo que precisasse, seria preferida a via oral.
Opção (D) – Incorreta. (O voriconazol não está indicado no tratamento de infeções urinárias por cândida.
Além disso, este doente tem uma bacteriúria assintomática e sem repercussões hemodinâmicas, pelo que
se deve manter uma atitude expectante quanto ao início da antibioterapia.
146. Um homem de 66 anos vem à consulta de medicina geral e familiar referindo anorexia, perda de peso
e dor lombar com três meses de evolução. Sem outras queixas. Tem histórias de hipertensão arterial. A
medicação habitual inclui amlodipina. É fumador (40 UMA). Os sinais vitais são temperatura 36,20 C,
frequência respiratória 16/min, frequência cardíaca 73/min e pressão arterial 130/70 mm Hg; SpO2 98 %
(ar ambiente). Ele tem 170 cm de altura e pesa 62 Kg; IMC 21,5 Kg/m2. Ao exame físico tem idade aparente
superior à real e aspeto emagrecido. As mucosas estão descoradas e hidratadas. As auscultações cardíacas
e pulmonares encontram-se dentro dos parâmetros de normalidade. O abdómen está mole e depressível e
indolor à palpação; sem organomegalias. Não tem adenopatias periféricas palpáveis. O toque retal revela
próstata globosa, sem modularidade e sem lesões palpáveis. A palpação das apófises espinhosas de L1 e L2
é dolorosa, sem deformidades. O restante exame físico, incluindo o neurológico, encontra-se dentro dos
parâmetros de normalidade.
A radiografia da coluna lombar revela colapso no corpo de L2 e uma lesão osteolítica em L1.
Qual das seguintes alternativas é o exame diagnóstico mais apropriado neste momento?
Justificação:
Neste caso clínico é descrito um doente de 66 anos, fumador, com mau aspecto geral, emagrecido, lombalgia
há 3 meses, dor nas apófises espinhosas e descrição na radiografia da coluna lombar de “colapso no corpo
de L2 e uma lesão osteolítica em L1”. Tudo isto sugere metastização óssea, daí que um primeiro exame que
faz sentido que seja realizado é uma TC toracoabdominal e pélvica para avaliar uma possível neoplasia.
Opção (A) - Incorreta. Poderá eventualmente ser um exame complementar de diagnóstico necessário,
mas não numa primeira fase.
Opção (B) - Incorreta. Poderá eventualmente ser um exame complementar de diagnóstico necessário, mas
não numa primeira fase.
Opção (D) - Incorreta. Para possível diagnóstico de neoplasia primária ou até metastização poderá ser
importante numa fase posterior.
147. Um homem de 19 anos vem ao consultório médico por queixas de retraimento na relação com os seus pares
desde há quatro anos. Descreve ter poucos amigos e passar grande parte do seu tempo a jogar videojogos
em casa. Apesar de nunca ter procurado ajuda para este problema, após ter sido admitido na faculdade
começou a ter dificuldades importantes para fazer trabalhos em grupo e apresentações em público. Na
verdade, nestas ocasiões refere ficar ansioso, com palpitações e mãos transpiradas, sentindo-se exposto às
críticas dos seus colegas, particularmente quando estes lhe fazem notar de que fica corado. Acabou mesmo
por faltar às aulas, sentindo-se culpabilizado por isso. No decorrer da consulta está inquieto, evitando o
contacto ocular direto e evidenciando claro desconforto quando fala sobre as suas dificuldades. Os sinais
vitais são temperatura 36,2°C, frequência respiratória 16/min, frequência cardíaca 100/min e pressão
arterial 127/76 mm Hg. O restante exame físico encontra-se dentro dos parâmetros de normalidade.
Qual dos seguintes mecanismos está, com maior probabilidade, associado ao quadro que o doente
apresenta?
Justificação:
O caso clínico descrito é de um homem de 19 anos. Refere ansiedade, palpitações e mãos transpiradas,
sentindo-se exposto às críticas dos seus colegas, sobretudo quando estes assinalam que está corado, motivo
pelo qual se tem isolado. À observação, evita o contacto ocular e encontra-se desconfortável, com uma
frequência cardíaca de 100/min.
A resposta certa é a Opção (C), porque consiste num caso de fobia social, na qual a hipervigilância do
desempenho social do próprio é um dos mecanismos mais relevantes. Relativamente às outras opções de
resposta:
Opção (A) – Incorreta. Este caso é sugestivo de uma fobia social, na qual a via dopaminérgica mesolímbica
não está particularmente envolvida.
Opção (B) – Incorreta. Dado que não há referência a sinais sugestivos de hipertiroidismo, esta hipótese
não se coloca.
Opção (D) – Incorreta. Esta opção não está correta pois além do receio de ser julgado pelos outros (e
de poderem surgir pensamentos automáticos neste sentido), na verdade, os doentes com fobia social
apresentam, sobretudo, pensamentos automáticos depreciativos relativamente a si próprios e hipervigilância
do seu desempenho social.
Opção (E) – Incorreta. Podemos excluir esta opção dado que não existem elementos sugestivos de uma
perturbação do neurodesenvolvimento.
148. Uma mulher de 42 anos, professora, vem ao consultório médico por obstrução nasal persistente desde há
três meses, sem outros sintomas acompanhados. Foi submetida a dois ciclos de antibioterapia por suspeita
de sinusite, sem melhoria. Ela não tem antecedentes patológicos de relevo, não faz medicação habitual e
nega consumo de álcool ou tabaco. A TC do crânio mostra espessamento ao nível da nasofaringe suspeito
de infiltração maligna. A biópsia revela alterações compatíveis com carcinoma indiferenciado.
Qual dos seguintes é o agente causal mais provável deste quadro clínico?
(A) Adenovírus
(B) Citomegalovírus
(C) Papilomavírus humano
(D) Vírus Epstein-Barr
(E) Vírus herpes simplex
Justificação:
O caso clínico descrito é de obstrução nasal crónica de causa estrutural, nomeadamente maligna (carcinoma
indiferenciado nasofaríngeo). Os carcinomas não queratinizantes da nasofaringe são subdivididos em
formas diferenciadas e indiferenciadas. A forma endêmica do carcinoma da nasofaringe é comumente o
subtipo indiferenciado, não queratinizante, que está fortemente associado ao vírus Epstein-Barr (EBV) e
tem um prognóstico mais favorável do que outros tipos.
A resposta certa é a Opção (D), porque o vírus Epstein-Barr está implicado na oncogénese dos carcinomas
de nasofaringe, nomeadamente nos indiferenciados. Relativamente às outras opções de resposta:
Opção (B) – Incorreta. Geralmente não é um vírus oncogénico, porém pode estar associado a algumas
formas de glioma e neuroblastoma. Não está associado a carcinomas da nasofaringe.
Opção (C) – Incorreta. Vírus associado a carcinomas da orofaringe e laringe (papilomas das cordas vocais,
únicos, com potencial de malignização).
Opção (E) – Incorreta. Vírus associado a carcinomas do colo do útero (tipo II) e certas formas de linfoma
(HSV 6). Não está associado a carcinomas da nasofaringe.
149. Um homem de 45 anos, empregado do comércio reformado, vem ao consultório médico mostrar resultado
de endoscopia digestiva alta realizada para investigação de melenas. Ele tem antecedentes de doença
de Crohn e obesidade e já esteve internado por enfarte agudo do miocárdio. Previamente tratado com
ciclosporina e prednisolona. Medicado atualmente com infliximab e clopidogrel. É fumador de 20 UMA.
Os sinais vitais são temperatura 37,20 C, frequência respiratória 15/min, frequência cardíaca 76/min e
pressão arterial 140/89 mm Hg. Ele tem 170 cm e pesa 67 Kg; IMC 23 Kg/m2. O exame físico encontra-se
dentro dos parâmetros da normalidade.
A endoscopia digestiva alta revela úlceras gástricas com sinais de hemorragia prévia. A pesquisa de
Helicobacter pylori foi negativa.
Qual dos seguintes fatores no histórico deste doente mais aumentado o risco de ele desenvolver esta
condição?
(A) Clopidogrel
(B) Idade
(C) Infliximab
(D) Prednisolona
(E) Sexo
Justificação:
O caso clínico apresentado é de um jovem, com clínica de melenas, cuja EDA revelou a presença de
úlceras gástricas, com pesquisa de Helicobacter pylori negativa e sem história de consumo de AINES.
Opção (B) – Incorreta. O doente em caso é jovem – o risco de úlcera e complicações aumenta se idade
avançada (superior a 60 anos).
Opção (C) – Incorreta. A evidência ainda é controversa em relação ao risco dos imunossupressores
biológicos como na doença ulcerosa péptica.
Opção (D) – Incorreta. O uso crónico de corticoide está associado a um aumento do risco de desenvolvimento
de úlcera péptica, quando conjugado com AINES. No entanto, não há descrição da sua utilização crónica
nem concomitantes com este último grupo farmacológico.
Opção (E) – Incorreta. Apesar das úlceras gástricas ocorrerem mais frequentemente no sexo masculino
(>50%), este não é o principal fator determinante do risco de desenvolvimento de doença ulcerosa péptica
neste doente.
150. Um homem de 46 anos vem à consulta por ter diagnóstico de novo de infeção por VIH-1. Está atualmente
assintomático. Tem história de consumo de heroína endovenosa, que suspendeu há dois anos.
Soro Sangue
Creatinina 0,9 mg/dL Hemoglobina 11,7 g/dL
Azoto ureico 18 mg/dL Hematócrito 39 %
Glucose 109 mg/dL VGM 83 fL
HCM 30 pg
AST 30 U/L Leucócitos 3 500/mm3
ALT 40 U/L Neutrófilos, segmentados 70 %
Bilirrubina total 0,9 mg/dL Linfócitos 15 %
Eosinófilos 10 %
Monócitos 5 %
Basófilos 0 %
Plaquetas 100 × 109/L
A citometria de fluxo revelou: linfócitos T CD4+: 150 células/mm3; linfócitos T CD8+: 750 células/mm3;
T CD4+/T CD8+= 0,2.
Qual dos seguintes melhor explica a depleção da contagem das células T CD4+?
Justificação:
A resposta certa é a Opção (B), porque numa primeira fase de infeção pelo VIH, há um grande número
de células T CD4 suscetíveis, sem nenhuma resposta imune específica contra o VIH sendo, portanto,a
replicação vírica muito rápida e, ocorrendo, portanto, uma imunoativação celular aberrante que causa
uma depleção inicial de células T CD4.
Opção (A) – Incorreta. À medida que evolui a imunoativação celular aberrante, aumenta em paralelo a
imunidade específica contra o VIH (mediada por células TCD8+), fazendo com que os níveis de RNA
diminuam e haja uma recuperação das células T DC4 e não uma diminuição destas últimas.
Opção (C) – Incorreta. A depleção da contagem de células T CD4+ pode ser explicada pela infeção pelo
VIH dessas células, que são suscetíveis, não havendo ainda uma resposta imune montada contra o VIH.
Durante esta imunoativação celular aberrante há todo um ambiente pró-inflamatório e de replicação viral
rápida subjacente.
Opção (D) – Incorreta. A depleção da contagem de células T CD4+ pode ser explicada pela infeção pelo
VIH dessas células, que são suscetíveis, não havendo ainda uma resposta imune montada contra o VIH.
Em nada está relacionado com os niveis de IL-7.
Opção (E) – Incorreta.A depleção da contagem de células T CD4+ pode ser explicada pela infeção pelo
VIH dessas células, que são suscetíveis, não havendo ainda uma resposta imune montada contra o VIH.